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Gestão do Conhecimento, Capital Intelectual e

Inteligência Competitiva: Entrevista exclusiva


com Jayme Teixeira Filho, presidente da
Sociedade Brasileira de Gestão do
Conhecimento

Jayme Teixeira Filho é consultor da Informal Informática e professor do Departamento de Informática da


Puc/Rj e do MBA em gestão de negócios e tecnologia da Informação da FGV/RJ. Colunista do Diário
Comercial do Rio de Janeiro e autor de livros técnicos em informática. Formado em matemática pela
UFRJ e em adminsitração pela UFF e especialista em sistemas de informação.

Com mais de vinte anos de atuação no mercado de informática, vem desenvolvendo trabalhos para
empresas como Petrobras, Dataprev, Souza Cruz, Datamec, Andersen Consulting, SEBRAE, Ministério
do Trabalho, PRODERJ, Ministério das Relações Exteriores, O Globo, Mantel.com , Oracle, Unitech,
CSN, Correios e IPLAN Rio, entre outras. Autor de artigos sobre sobre Gestão do Conhecimento,
Tecnologia da Informação, Cultura Organizacional, Trabalho, Globalização e Estratégia Competitiva e
assuntos correlatos. É autor dos livros "Gerenciando Conhecimento" e "Comércio Eletrônico", ambos
pela Editora SENAC Rio.

Seguramente é uma das maiores autoridades brasileiras em Gestão do Conhecimento e moderador da


comunidade virtual Competitive-Knowledge , com quase 3 anos de existência e centenas de membros
ativos no Brasil e no exterior, dedicada ao debate de questões relativas à Gestão do Conhecimento. Os
membros desta comunidade estiveram reunidos recentemente para a formação da SBCG - Sociedade
Brasileira de Gestão do Conhecimento presidida por Jayme T. Filho.

Todeschi - O que significa Gestão do Conhecimento?

Jayme T. Filho - Gestão do Conhecimento (GC) é uma abordagem da empresa buscando pontos onde
o conhecimento traga vantagem competitiva. Pode ser vista como o processo amplo de criação, uso e
disseminação do conhecimento na empresa. A GC se traduz numa série de práticas facilitadoras do
compartilhamento do conhecimento na empresa, tanto sobre seus processos internos, quanto sobre
seus clientes e seu ambiente competitivo.

Todeschi - O você poderia nos dar uma explicação do que é a SBCG e seus objetivos?

Jayme T. Filho - A SBGC é uma associação independente, sem fins lucrativos, reunindo profissionais e
empresas interessados em GC, com o objetivo de ser uma fonte de informação de referência sobre a
evolução desse assunto no Brasil e no mundo. A SBGC pretende fomentar o intercâmbio de
experiências entre empresas e profissionais atuando em projetos de GC, além de manter um painel dos
fornecedores e soluções existentes nesta área.

Todeschi - Quem participa da SBCG?

Jayme T. Filho - A SBGC é uma entidade aberta a pessoas físicas e jurídicas interessadas em Gestão
do Conhecimento, Capital Intelectual e Inteligência Competitiva, tendo sido criada em um encontro
nacional, no início de maio deste ano, com a participação de cerca de 170 pessoas, de 95 empresas, 14
universidades, oriundos de 9 diferentes estados brasileiros.
Todeschi - Como você avalia o cenário atual da Nova Economia para os empreendedores que desejam
ingressar na internet utilizando-se dos benefícios que a tecnologia proporciona?

Jayme T. Filho - A chamada Nova Economia é muito mais que a Internet, muito mais que tecnologia. Há
muito trabalho a ser feito, por exemplo, em Logística. Uma maior atividade em comércio eletrônico gera
maior necessidade de infra-estrutura de distribuição dos produtos. Há muito o que ser feito em
segurança de informações. Há muito o que se desenvolver em gestão de conteúdo e comunicação
organizacional. Há muitas oportunidades de evolução no marketing personalizado, na gestão de
competências, etc.. Enfim, esta é uma época de confluência de oportunidades em diversas áreas de
atividade.

Todeschi - Qual é a importância do "talento do indivíduo" na era da informação ?

Jayme T. Filho - Se pensarmos o talento como competência, isto é como um conjunto de habilidades,
conhecimentos e atitudes favoráveis ao desempenho da pessoa na sua ocupação, então hoje o talento é
fundamental. As atividades repetitivas, rotineiras, que não envolvem inteligência e decisão, estão sendo
automatizadas. Na empresa fica apenas o espaço para a criação, para a solução de problemas, para
quem traz valor ao negócio. E saber usar as informações disponíveis nesse processo é um talento cada
vez mais valorizado.

Todeschi - Quais os principais objetivos e benefícios de um sistema de inteligência competitiva para


uma pequena empresa?

Jayme T. Filho - Inteligência Competitiva é o acompanhamento sistemático do ambiente de negócios,


monitorando as informações sobre clientes, fornecedores, concorrentes, agentes reguladores, governo,
novas tecnologias e tudo mais que possa influir no mercado da empresa. Para as micro e pequenas
empresas, numa economia globalizada, a sobrevivência vem da capacidade de competir
internacionalmente, seja penetrando no mercado externo, seja se defendendo de competidores
estrangeiros. Isso se dá em praticamente todos os setores de atividade. E vale não só para o mercado
fora do Brasil, mas para os mercados regionais também.
Todeschi - Qual a principal recomendação para uma organização que está iniciando um processo de
aplicação de novas tecnologias em seu ambiente operacional?

Jayme T. Filho - Cada caso é um caso, mas em geral pensar mais é melhor política do que gastar mais.
Uma recomendação em prol da prudência, da análise dos impactos, da estimativa de custos e
benefícios, da escolha cautelosa de soluções e de fornecedores, sempre é no sentido de poupar a
empresa de desgastes e gastos inúteis.

Todeschi - Qual a importância do Planejamento Estratégico dentro de uma organização?

Jayme T. Filho - Estratégia tem a ver com caminho, com direção com escolhas em relação ao futuro,
com o aprendiizado pela experiência anterior e também com a comunicação clara de objetivos. A
importância disso se faz mais evidente quando a organização precisa mudar de rumo, recuperar
mercado, re-estruturar sua operação, etc.. Mas é fundamental como prática cotidiana, justamente se a
empresa quer ter um domínio mais amplo de suas alternativas de ação quando o cenário competitivo
muda.

Todeschi - O impacto da Gestão do Conhecimento nas organizações pode alterar drasticamente o


posicionamento de uma empresa no mercado ?

Jayme T. Filho - Estamos ainda começando a praticar a GC nas empresas, mas já há exemplos
estratégicos. O desafio maior não é usar mais uma ferramenta para redução de custos ou aumento da
eficiência. A chave está em entender como mudar o negócio da empresa para ele se basear em
conhecimento. Um exemplo é o setor de cartão de crédito, onde as empresas estão paulatinamente
deixando de ser meros intermediários financeiros, e passando a lucrar cada vez mais com o
direcionamento de produtos e serviços pelo conhecimento dos hábitos de consumo dos clientes.
Todeschi - Como está o processo de Gestão do Conhecimento no Brasil em relação aos países
desenvolvidos?

Jayme T. Filho - As diferenças têm a ver com a capacidade de investimento da sociedade e das
empresas brasileiras e com as diferenças culturais. O Brasil tem uma base educacional muito fraca em
relação aos países da Europa e América do Norte. O volume de dinheiro disponível para investimento
em novos projetos é muito menor aqui do que nos EUA, por exemplo. Por outro lado, os obstáculos e
carências das empresas brasileiras em relação à GC são diferentes das americanas ou espanholas.
Mas, de uma forma geral, estamos todos ainda no início de uma curva global de crescimento em relação
ao Capital Intelectual.
Todeschi - Qual a estratégia de marketing na internet que têm apresentado melhores resultados ?

Jayme T. Filho - Personalização tem sido a manifestação na Internet do princípio da customização de


massa. As empresas, com melhores resultados no E-Business, têm procurado usar as características de
interadividade e individualização da Internet para criar uma relacionamento mais personalizado com seus
clientes. É a busca por uma gestão customizada do relacionamento com os clientes, aprendendo
continuamente sobre suas preferências e necessidades, sobre seu comportamento e seus hábitos de
consumo.

Todeschi - Como você avalia o espaço das comunidades virtuais na gestão do conhecimento?

Jayme T. Filho - A fomação e sustentação de comunidades de práticas - virtuais ou não - é uma das
bases do compartilhamento de conhecimento em uma organização, e por isso fundamental para a GC.
Comunidades virtuais são uma alternativa com várias características atraentes, desde o baixo custo, a
abrangência geográfica ilimitada e o respeito ao tempo de reflexão individual, até o recurso de registro
da memória das discussões. O uso de comunidades virtuais têm crescido expressivamente nas
empresas em geral, e são uma ótima porta de entrada para a GC.

Todeschi - Como o você avalia a integração entre o meio acadêmico, empresas e comunidade e qual a
importância desta integração para o desenvolvimento da Humanidade?

Jayme T. Filho - Essa é uma questão muito ampla e eu vou preferir focar em um aspecto dela que é o
da obsolescência. A integração entre ensino e pesquisa, entre universidade e mercado, entre teoria e
prática, é uma busca já de séculos na sociedade. Mas um aspecto curioso hoje é que cada elemento
desses está em plena crise de mudança, forçado a se reinventar sob o risco da obsolescência. A
universidade hoje discute o fim de um modelo acadêmico com já mais de novecentos anos. As empresas
estão em vertiginosa evolução desde as últimas décadas do século XX. E nossa noção de comunidade
está em profunda transformação, a reboque das alterações que a tecnologia tem provocado nas nossas
idéias sobre espaço e tempo. Integrar ciência, negócios e comunidade é fundamental, mas talvez nunca
tenha sido tão complexo como hoje.
Todeschi - As empresas brasileiras estão preparadas para o enfrentar desafio da Globalização no setor
de tecnologia?

Jayme T. Filho - Individualmente, sim. Mas coletivamente, não. Temos exemplos de empresas
brasileiras de tecnologia que são sucesso no exterior. Temos grandes talentos trabalhando em empresas
nacionais. As filiais brasileiras de várias corporações transnacionais estão liderando em inovação.
Existem sempre os heroísmos e as genialidades. Mas, no aspecto coletivo, nos falta muita coisa. Nos
falta uma política de desenvolvimento tecnológico claramente definida. Nos falta o fôlego dos
investimentos de longo prazo. Nos falta base educacional adequada. Enfim, de uma forma geral, o
cenário não nos é favorável.

Todeschi - Quais são as expectativas de expansão do comércio eletrônico no Brasil?

Jayme T. Filho - Friamente, fomos até onde as desigualdades econômicas internas nos permitiram. No
Brasil, só uma pequena parcela da população tem nível cultural e econômico para poder usufruir do
comércio eletrônico. O acesso a isso passa por equipamentos mais baratos, telecomunicações mais
abrangentes e de menor custo, educação dos usuários, investimento para empreendedores, entre outros
fatores. Fora iniciativas espasmódicas do governo, o comércio eletrônico no Brasil deverá se expandir
seguindo a expansão geral da economia, quando esta acontecer.

Todeschi - Como os leitores podem adquirir o seu livro Gerenciando o Conhecimento?

Jayme T. Filho - O livro está disponível nas livrarias em geral - Sodiler, Siciliano, etc. e pode ser
adquirido diretamente junto a Editora Senac Rio, pelo e-mail editora@rj.senac.br , tel. (21) 582 5569.

Todeschi - Quais os riscos que estão correndo os gestores que não se preocupam com a Gestão do
Conhecimento em suas organizações?

Jayme T. Filho - Costumo dizer que tende a acontecer com a GC o que aconteceu com a Qualidade. Há
alguns anos, as empresas de ponta estavam usando a Qualidade como um diferencial competitivo. Hoje,
ter Qualidade não é nenhuma vantagem. Quem não tem é que está fora do jogo competitivo. Assim
também, hoje estamos vendo empresas inovarem com a GC. Mas num curto espaço de tempo isso será
lugar comum, e quem não tiver GC estará em desvantagem.
Todeschi - Como o você avalia as iniciativas de e-learning, ensino à distância, através da internet?

Jayme T. Filho - O aprendizado está mudando de uma forma geral, e não só pelo uso da tecnologia.
Acredita-se hoje que o aprendizado deve ser em serviço, no ambiente de trabalho, segundo a
necessidade de cada um, respeitando seu próprio tempo de reflexão e capacidade de absorção. As
iniciativas de EAD que usam a tecnologia para oferecer alternativas de aprendizado com essas
características estão sendo bem sucedidas. Já as que usam a Internet pela Internet tendem a ser mais
uma moda passageira.

Todeschi - Qual a diferença entre informação e conhecimento?

Jayme T. Filho - Esta é uma questão de maior importância teórica do que prática, já que tanto
informação quanto conhecimento são importantes no dia-a-dia da organização. A Informática
condicionou as pessoas a pensarem em informação em termos objetivos e quantitativos, como "dado
com significado", de forma clara e precisa. O conhecimento, nessa linha de raciocínio, abrange também
a experiência, a memória, as impressões advindas da prática, enfim, uma série de aspectos não tão
estruturados. Eu costumo dizer que, para transformarmos dado em informação, precisamos de
ferramenta. Mas para transformarmos informação em conhecimento, precisamos de tempo. Tempo para
a reflexão.

Todeschi - Qual a importância da gestão de projetos dentro das organizações?

Jayme T. Filho - Hoje quase tudo o que há para ser feito em uma empresa está relacionado a alguma
forma de gestão: de processos, de pessoas, de problemas, de clientes ou de projetos. Muito do que é
feito de inovador em uma organização nasce na forma de um projeto. Assim, gerir bem projetos é
essencial nas empresas hoje.

Todeschi - Qual o papel da TI (tecnologia da informação) na Gestão do Conhecimento?

Jayme T. Filho - A TI é habilitadora e potencializadora, mas pode também ser uma cortina de fumaça. A
tecnologia pode facilitar a implantação de GC numa empresa, mas também pode desviar a atenção dos
aspectos realmente importantes e mais intangíveis. Enfim, a tentação de comprar uma ferramenta de TI ,
acreditando estar implantando GC na empresa, é muito forte na maioria das organizações.

Todeschi - Como o você avalia a questão da Inovação para a vantagem competitiva das organizações?

Jayme T. Filho - A inovação é um dos quadrantes da Nova Economia, uma arena em que muitas
empresas estão disputando mercado. A competência para inovar continuamente traz vantagem
competitiva, e não é fácil de ser criada, estando muito associada à cultura organizacional e às práticas
de gestão.

Todeschi - De que forma o governo brasileiro está utilizando a Gestão do Conhecimento para sanar os
problemas sociais do país?

Jayme T. Filho - Posso falar apenas dos esforços que temos assistido mais de perto. Há um programa
incentivado pelo governo - Programa Sociedade da Informação – com estratégias específicas para
inserção do país no bloco dos produtores de conhecimento. Por sua vez, o SEBRAE tem um
direcionamento estratégico em relação à GC para as micro-empresas. O governo tem anunciado
também fortes investimentos para dar às classes mais pobres acesso à tecnologia e à informação. E há
uma iniciativa de modernização do próprio governo - que tem sido chamada de e-government - que
também envolve pesados investimentos em conhecimento e tecnologia.

Todeschi - Qual a sua avaliação do ensino superior no Brasil em relação aos Estados Unidos e Europa?

Jayme T. Filho - A universidade brasileira - com as honrosas exceções de praxe - me parece passar por
uma profunda crise, de múltiplas facetas. Há uma crise de identidade, relacionada a sua finalidade. Há
uma crise de viabilidade, associada ao modelo de financiamento de seu funcionamento. Há uma crise de
qualidade, no momento em que ocorre uma proliferação de cursos sem o nível adequado de ensino. Há
uma crise de talentos, na medida em que estamos perdendo continuamente bons valores - tanto alunos
quanto professores e pesquisadores - para o exterior. Há uma crise de gestão - tanto nas universidades
públicas quanto nas particulares - que não nos está aproximando de padrões de excelência. E há
mesmo uma crise de público, pois a juventude não percebe a universidade como uma alternativa
interessante de futuro. Assim sendo, a comparação com Europa e EUA não nos é favorável.

Todeschi - Qual o perfil ideal para o profissional na área de Tecnologia da Informação?

Jayme T. Filho - Esta é uma questão ampla também, e vou preferir focar em um aspecto essencial, que
é a capacidade de aprender a aprender, pois esta é uma área em que o profissional tem que estar em
constante aperfeiçoamento.

Todeschi - Qual é a melhor forma de contactar você?

Jayme T. Filho – Através do e-mail : gestao@informal.com.br ou do tel: (21) 556 7903 Informal
Informática - www.informal.com.br

Todeschi – Obrigado pela gentileza Jayme e parabéns pelo trabalho que vem desenvolvendo frente à
Sociedade Brasileira de Gestão do Conhecimento.

Luiz Guilherme Todeschi, acadêmico de administração de empresas, é conhecido como um profissional de


internet dedicado a contemplar os adventos da nova economia com experiência no mercado e-business e
em criação de novas idéias e conceitos. Idealizador do e-book em Business Plan (MBPS) e criador de
nomencalturas interessantes como BPS, PDS, BPI entre outras. Atualmente é CEO do website
www.fazendobp.com.br e vem trabalhando com consultoria estratégica e na elaboração de um portal voltado
para o EAD que em breve será lançado na internet. Ministra palestras para o público empreendedor ou in
company e inaugurou os Painéis de Negócios I e II em parceria com a empresa IMPRENSA Web
www.imprensaweb.com.br onde atuou como diretor de planejamento estratégico no Rio de Janeiro.

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