Resposta A Acusação Cleuson

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AO JUÍZO DE DIREITO DA 1ª VARA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL DA

COMARCA DE MACAPÁ/AP

PROCESSO Nº: XXXXXX-XX.XXXX.X.XX.XXXX

AMÉRICO SILVA DA SILVA, nacionalidade X, estado civil X, portador do CPF nº


XXX.XXX.XXX-XX e RG nº XXXXX, residente e domiciliado na X, por intermédio de
seu defensor constituído, conforme instrumento particular de procuração (em anexo),
vem, respeitosamente, com fulcro nos artigos 396 e 396-A do Código de Processo
Penal, apresentar:

RESPOSTA À ACUSAÇÃO

Pelos motivos e razões a seguir expostos.

1) DO RESUMO DA DEMANDA
O Ministério Público do Estado do Amapá ofertou denúncia em face dos
acusados Américo Silva da Silva e Caio Silva Andrade, por furto qualificado pelo
concurso de pessoas descrito no artigo 155, §4º, IV, bem como, denunciou o acusado
Américo Silva pelo crime disposto no artigo 158, §2º, ambos do Código Penal.
Consta dos autos que o acusado Caio Silva subtraiu um televisor, no valor de
R$ 5.000,00 (cinco mil reais), da residência do senhor Aluízio Amores. A mencionada
vítima, dois dias após o fato, obteve o monitoramento eletrônico do local, por meio do
qual conseguiu identificar o autor do crime e reportou às autoridades policiais.
Após o registro dos fatos, a polícia militar localizou a residência do acusado. Ao
chegar ao local e questionar o mesmo acerca da localização do bem, este declarou
que a TV se encontrava em uma pequena loja de móveis usados, a qual tinha por
proprietário o segundo acusado, Américo Silva.
Durante as investidas policiais, o Televisor foi encontrado na sala do segundo
acusado, sendo utilizado para uso pessoal.
No dia 06 de junho de 2022, a 1ª Vara do Juizado Especial Criminal da comarca
de Macapá/AP recebeu a denúncia, ordenando a citação dos acusados no dia 07 de
junho de 2022 para apresentar defesa da acusação imputada.
É a síntese necessária.
2) DAS PRELIMINARES
2.1. DA INCOMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL
Excelência, conforme simples análise dos autos, o crime imputado ao acusado é
de extorsão, descrito no artigo 158, § 2º do CP. A redação do referido artigo demonstra
que para o ato de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o
intuito de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar
que se faça ou deixar de fazer alguma coisa, tem se a pena de quatro a dez anos de
reclusão e multa.
Ocorre que, ao ofertar a referida denúncia, o Ministério Publico endereçou-a ao
Juizado Especial Criminal da comarca de Macapá/AP, sendo este Juízo incompetente
para julgar a presente demanda. Aqui faz-se necessário a leitura dos seguintes
artigos, presentes na Lei dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais:

Art. 60. O Juizado Especial Criminal, provido por juízes togados ou togados
e leigos, tem competência para a conciliação, o julgamento e a execução das
infrações penais de menor potencial ofensivo, respeitadas as regras de
conexão e continência.
Art. 61. Consideram-se infrações penais de menor potencial ofensivo, para
os efeitos desta Lei, as contravenções penais e os crimes a que a lei comine
pena máxima não superior a 2 (dois) anos, cumulada ou não com multa.

Os dispostos legais são claros quanto a competência do Juizado Especial


Criminal, determinado que a pena máxima dos crimes que serão por ele julgados não
pode ser superior a 02 anos. De igual modo, tendo crime de extorsão pena superior a
4 (quatro) anos, o procedimento a ser adotado é o ordinário, conforme se verifica do
Código de Processo Penal. Analisemos:

Art. 394. O procedimento será comum ou especial. (Redação dada pela Lei
nº 11.719, de 2008).
§ 1º. O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo:
(Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima
cominada for igual ou superior a 4 (quatro) anos de pena privativa de
liberdade; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008). (grifo nosso)
II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada
seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade; (Incluído pela
Lei nº 11.719, de 2008).
III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo,
na forma da lei. (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).

Dessa forma, conforme já exposto, o Juizado Especial Criminal é destinado a


promover a execução de infrações de menor potencial ofensivo, não sendo cabível a
sua atuação no crime acima mencionado. Neste sentido atua o entendimento do
Egrégio Tribunal de Justiça do Estado do Amapá. Vejamos:

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. VARA CRIMINAL E JUIZADO


ESPECIAL CRIMINAL. DANO QUALIFICADO E COMUNICAÇÃO FALSA DE
CRIME OU DE CONTRAVENÇÃO. CONCURSO DE CRIMES.
COMPETÊNCIA DEFINIDA PELA SOMA DAS PENAS MÁXIMAS
COMINADAS AOS DELITOS. PENA MÁXIMA SUPERIOR A DOIS ANOS.
COMPETÊNCIA DO JUIZADO CRIMINAL AFASTADA. CONFLITO
JULGADO PROCEDENTE. 1) Em concurso de crimes, a competência é
definida pela soma das penas máximas cominadas aos delitos, de modo que,
ultrapassado o máximo previsto no artigo 61 da Lei 9.099/95, afasta-se a
competência do Juizado Especial Criminal para processar e julgar o feito. 2)
Conflito de competência julgado procedente, firmando a competência da 4ª
Vara Criminal da Comarca de Macapá.
(CONFLITO DE COMPETENCIA(CC). Processo Nº 0003486-
32.2023.8.03.0000, Relator Desembargador JOAO LAGES, TRIBUNAL
PLENO, julgado em 22 de Junho de 2023, publicado no DOE Nº 115 em 28
de Junho de 2023)

Assim, requer que seja declarada a incompetência deste Juízo, com a


consequente remessa do processo ao juízo competente.

2.2. DA INÉPCIA DA INICIAL PELA AUSÊNCIA DE JUSTA CAUSA


Para o Doutrinador Badaró (2018), só há que se falar em justa causa quando
existir certeza da materialidade do fato e indícios mínimos de autoria. Diante disso, a
denúncia ofertada pelo Ministério Público indicia o acusado Américo pelo crime de
furto, mediante concurso de pessoas.
Ocorre, Excelência, que as mídias trazidas pela vítima expõem claramente que o
autor do furto do televisor foi Caio Silva, o qual estava sozinho no ato. É evidente que
a denúncia não é capaz de reunir indícios mínimos de autoria dos delitos por parte
acusado Américo, vez que a gravação demonstra a sua não-participação, bem como
não houve o seu reconhecimento pela vítima, não havendo subsídios para seguimento
da denúncia e muito menos para a condenação do mesmo.
Nesses moldes, faz-se necessário trazer à baila o que dispõe o Código de
Processo Penal. In verbis:

Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela
Lei nº 11.719, de 2008).
I - for manifestamente inepta; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - faltar pressuposto processual ou condição para o exercício da ação
penal; ou (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - faltar justa causa para o exercício da ação penal. (Incluído pela Lei
nº 11.719, de 2008).
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com
todas as suas circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos
pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e, quando
necessário, o rol das testemunhas.

Como bem se vê, a denúncia narra o fato típico e imputa-o genericamente ao


acusado. É cristalino que Ministério Público não pode oferecer denúncia de forma
abstrata contra qualquer indivíduo, pois a deflagração de uma ação penal sem justa
causa, fere diretamente o postulado da presunção de inocência.
Desse modo, pelos motivos acima expostos, a denúncia deve ser
imediatamente rejeitada, com fulcro no artigo 395, inciso I, do Código de Processo
Penal.

3) DO MÉRITO
3.1. DA EXCLUSÃO DO CRIME DE FURTO QUALIFICADO
Excelência, conforme se observa na denúncia, o conjunto probatório utilizado para
embasar a autoria do crime de furto é composto por uma por imagens obtidas através
de monitoramento eletrônico do local do crime e identificação do autor pela vítima.
Acontece, Excelência, quem em nenhuma dessas oportunidades se houve a
comprovação da participação do acusado Américo no crime. O monitoramento das
câmeras não registra a presença do mesmo no local, bem como, em sede de
identificação pela vítima, ela sequer cita a existência de um segundo autor.
Resta claro que não existe a relação de Américo no crime de furto qualificado
a qual o foi imputado. O núcleo do crime aqui em discussão expõe a seguinte redação:

Art. 155 - Subtrair, para si ou para outrem, coisa alheia móvel: Pena -
reclusão, de um a quatro anos, e multa.

De acordo com a Teoria do crime, o primeiro ato a ser praticado para sua
caracterização é a conduta. Nesse aspecto, não tendo o acusado América realizado
a conduta de subtrair para si coisa alheia móvel, este não cometeu um ato criminoso!
Na mesma síntese, a qualificadora de concurso de pessoas também não merece
prosperar vez que não se tem qualquer vestígio que os acusados estiveram
em comunhão de vontades, para a prática de um mesmo delito.
Com o exposto, é importante a compreensão do artigo 397 do Código de
Processo Penal. Vejamos:

Art. 397. Após o cumprimento do disposto no art. 396-A, e parágrafos, deste


Código, o juiz deverá absolver sumariamente o acusado quando verificar:
(Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
I - a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato;
(Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - a existência manifesta de causa excludente da culpabilidade do
agente, salvo inimputabilidade; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - que o fato narrado evidentemente não constitui crime; ou (Incluído
pela Lei nº 11.719, de 2008).
IV - extinta a punibilidade do agente. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).

O dispositivo mencionado expõe como motivo para a absolvição sumária do


agente a existência manifesta de causa excludente da ilicitude do fato. Fica claro,
Excelência, que os autos se encaixam na citada possibilidade, em razão dos claros
indícios de que não houve ato ilícito praticado pelo acusado, nem sendo possível,
portanto, puni-lo de acordo com o que está sendo acusado.
Assim, requer a sua absolvição sumária, nos termos do art. 397 do CPP.

4) DAS MEDIDAS DESPENALIZADORAS


4.1. DA SUSPENSÃO CONDICIONAL DO PROCESSO
Conforme se verifica do art. 180 do CP, que trata de receptação simples, vê-se
que a pena cominada ao delito é de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa. Tais aspectos
oportunizam o oferecimento do benefício da Suspensão Condicional Do Processo,
conforme art. 89 da lei nº 9.099. Vejamos:

Art. 89. Nos crimes em que a pena mínima cominada for igual ou inferior a
um ano, abrangidas ou não por esta Lei, o Ministério Público, ao oferecer a
denúncia, poderá propor a suspensão do processo, por dois a quatro anos,
desde que o acusado não esteja sendo processado ou não tenha sido
condenado por outro crime, presentes os demais requisitos que autorizariam
a suspensão condicional da pena.

Nesses moldes, é entendimento do STJ que o referido instituto se trata de sursis


processual, o qual possui natureza jurídica despenalizadora. Por esse aspecto, a sua
concessão confere na aplicabilidade das garantias asseguradas pela constituição da
república de 1988.
Dessa forma, deve ser concedido a Suspensão Condicional do Processo, haja
vista que o réu preenche todos os requisitos previstos no art. 89, da lei n 9.099/95.

4.2. DO OFERECIMENTO DE ACORDO DE NÃO PERSECUÇÃO PENAL


Excelência, cumpre destacar que o instituto em discussão é uma ferramenta de
reprovação e prevenção do crime, mediante condições ajustadas cumulativa e
alternativamente. O Código de Processo Penal, em seu art. 28-A assim estabelece:

Art. 28-A. Não sendo caso de arquivamento e tendo o investigado confessado


formal e circunstancialmente a prática de infração penal sem violência ou
grave ameaça e com pena mínima inferior a 4 (quatro) anos, o Ministério
Público poderá propor acordo de não persecução penal, desde que
necessário e suficiente para reprovação e prevenção do crime, mediante as
seguintes condições ajustadas cumulativa e alternativamente

Assim, entendido que o réu atende a todos os requisitos acima descritos, eis que
o crime fora cometido sem violência ou grave ameaça e com pena mínima inferior a 4
(quatro) anos, resta demonstrado, dessa forma, a possibilidade de oferecimento do
acordo de não persecução penal ao caso do réu.
Trata-se também de direito e garantia prevista no artigo 2º do Código Penal: “A lei
posterior, que de qualquer modo favorecer o agente, aplica-se aos fatos anteriores,
ainda que decididos por sentença condenatória transitada em julgado.”
Portanto, no caso de rejeição da suspenção condicional do processo, requer o
deferimento do Acordo de Não persecução penal (ANPP), na forma do art. 28 do CPP,
c/c 89 da lei 90995 c/c art. 28-A do CPP.

5) DOS PEDIDOS
Por todo o exposto, requer:

A) Que seja recebida a presente resposta à acusação.


B) Que as preliminares sejam acolhidas, a primeira para que seja remetida
aos autos para o juízo competente, em caso de indeferimento, que seja acolhida e
reconhecida a ausência de justa causa e ainda que de forma tardia seja rejeitada a
presente denúncia nos termos do item 2.2.
C) De forma subsidiária, em caso de superação das preliminares, requer
outrossim o decote do crime de furto qualificado, por manifesta inexistência do
crime em relação ao denunciado Américo. Pois como foi sinalizado no item 3, este
segundo acusado não concorreu para o crime, por isso, requer sua absolvição
sumária - Art. 397 CPP.
D) Que após a exclusão do crime de furto qualificado, que os autos sejam
remetidos para o Ministério Público e seja oferecida a Suspensão Condicional do
Processo ou o Acordo de Não persecução penal (ANPP), na forma do art. 28 do
CPP, c/c 89 da lei 90995 c/c 28-A do CPP.
E) De forma residual, requer a designação de audiência de instrução e
julgamento, bem como a oitiva das testemunhas (X, Y e Z), que nesse ato sejam
ouvidas com cláusula de imprescindibilidade.

São os termos em que pede deferimento.


Local e Data

ADVOGADO
OAB

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