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Apostila Ieps Avançado Mod. III
Apostila Ieps Avançado Mod. III
VOLUME 1
1ª. Edição – 2020
1
Esta apostila foi elaborada com a finalidade de AUXILIAR os participantes da
Formação Continuada em futuros Tradutores/Intérpretes da Língua Brasileira de Sinais
– LIBRAS.
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ADAPTAÇÃO
Ana Paula Pereira da Silva
REVISÃO DE TEXTO
APOIO:
E-mails: insitutoeducacionalpaulasilva_libras@outlook.com /
institutoeducacionalpaulasilva@gmail.com
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SUMÁRIO
1 – INTRODUÇÃO....................................................................................................................5
2 – EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA.........................................................6
2.1 – Adaptações curriculares na Educação Inclusiva..............................................................8
2.2 – Educação Inclusiva dos surdos.......................................................................................10
3 – METODOLOGIA DE ENSINO BILÍNGUE..........................................................................11
3.1 – Oralismo..........................................................................................................................11
3.2 – Comunicação Total..........................................................................................................11
3.3 – Bilinguismo......................................................................................................................12
3.4 – A aquisição de L1 e L2: O Contexto da pessoa surda....................................................12.
4 – LIBRAS...............................................................................................................................13
4.1 – Alfabeto manual brasileiro...............................................................................................16
4.2 – Libras x Língua Portuguesa.............................................................................................16
5 – O LÉXICO OU VOCABULÁRIO DA LIBRAS......................................................................21
5.1 – Estrutura sublexical dos sinais a partir de suas unidades mínimas distintivas................23
6 – MORFEMAS LEXICAIS E MORFEMAS GRAMATICAIS...................................................28
7 – FORMAÇÃO DE PALAVRAS POR DERIVAÇÃO E POR COMPOSIÇÃO........................30
8 – ASPECTO VERBAL............................................................................................................31
9 – ITENS LEXICAIS PARA TEMPO E MARCA DE TEMPO...................................................33
10 – QUANTIFICAÇÃO E INTENSIDADE.................................................................................35
11 – CLASSIFICADORES.........................................................................................................36
12 – INCORPORAÇÃO DE ARGUMENTO...............................................................................38
13 – INTÉRPRETE DE LIBRAS................................................................................................40
13.1 – ATRIBUÍÇOES DO INTÉRPRETE................................................................................ 41
13.2 – HISTÓRIA DO PROFISSIONAL TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LINGUA DE LÍNGUA
BRASILEIRA DE SINAIS..............................................................................................42
13.3 – CÓDIGO DE ÉTICA.......................................................................................................44
13.4 – INTÉRPRETE EDUCACIONAL.....................................................................................47
14 – REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................51
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1 – INTRODUÇÃO
5
2 – EDUCAÇÃO ESPECIAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA
Entende-se por inclusão uma escola que esteja ciente de sua função pedagógica
à disposição do aluno com procedimentos, recursos e pessoal disponível para
desenvolver seu papel com competência e compromisso.
6
O Conceito de Escola Inclusiva conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais para
Educação Especial (MEC/SEESP, 1998).
(...) implica uma nova postura da escola comum, que propõe no projeto
político pedagógico, no currículo, na metodologia de ensino, na avaliação
e na atitude dos educadores, ações que favoreçam a integração social e
sua opção por práticas heterogêneas. A escola capacita seus professores,
prepara-se, organiza-se e adapta-se para oferecer educação de qualidade
para todos, inclusive, para os educandos com necessidades especiais (...)
Fonte. Htttp.//www.ab.com.br/ansis15/Sem10/leniscortega.htm.
7
De acordo com GLAT (1999) a inclusão é fundamental para a construção de uma
sociedade democrática. O respeito às diferenças e a igualdade de oportunidade requer
o movimento de incluir, que faz uma ruptura com o movimento da exclusão. Este debate
vem sendo promovido por diferentes instâncias e países, incluindo o Brasil, portanto a
inclusão é a garantia a todos do acesso contínuo ao espaço comum na vida em
sociedade, que deverá estar organizada e orientada, respeitando a diversidade humana,
as diferenças individuais, promovendo igualdade de oportunidade de desenvolvimento
para toda a vida.
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Inclusive às necessidades educacionais especiais, de forma a favorecer-lhes o
acesso ao conhecimento e seu uso funcional, na administração de sua própria vida, e no
processo de transformação da sociedade.
Um currículo que leve em conta a diversidade deve ser, antes de tudo, flexível e
passível de adaptação, sem perda de conteúdo.
Deve ser desenhado tendo como objetivo geral a redução de barreiras atitudinais
e se pautar em uma ressignificação do processo da aprendizagem na sua relação com
o desenvolvimento humano. (Oliveira & Machado apud. GLAT. 2007).
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A inclusão dos alunos com necessidades especiais na classe regular, implica o
desenvolvimento de ações adaptativas, visando à flexibilização do currículo, para que
ele possa ser desenvolvido de maneira efetiva em sala de aula, a atender as
necessidades individuais de todos os alunos.
Caso seja focalizada a leitura labial, oralização, leitura e escrita reflete uma
educação voltada para as habilidades do professor ouvinte não para a criança surda,
deixando de considerar que a principal língua do surdo é a LIBRAS. É importante
proporcionar intérpretes de língua de sinais para melhor acompanhamento das aulas.
10
Entretanto, com a inclusão dos surdos no processo educacional, vimos que esses
sujeitos não alcançam desenvolvimento pleno em virtude do seu historicismo, ou seja, o
poder dos ouvintes que queriam que os sujeitos surdos se adaptassem ao modelo
ouvinte, impondo o oralismo e o treino auditivo, não respeitando a identidade surda.
Porém, agora, a difusão da língua de sinais e de sua identidade cultural permitiu, aos
sujeitos surdos os meios de desenvolvimento de seu potencial.
Para que haja a inclusão social das pessoas surdas, com o objetivo de participação
social efetiva, sem a inevitável submissão, as quais as minorias são expostas, as escolas
precisam organizar-se, considerando três critérios: a interação por intermédio da língua
de sinais, a valorização de conteúdos escolares e a relação conteúdo-cultura surda.
3.1 – ORALISMO
Tem como objetivo integrar os surdos nas comunidades ouvintes por meio da fala
condicionando-os na linguagem oral. Para se ter uma boa comunicação é importante que
o surdo oralize bem. O oralismo tem como principal objetivo habilitar o surdo a falar,
fazendo que ele se integre nas comunidades ouvintes.
Tem como objetivo a comunicação, usando ao mesmo tempo duas línguas: oral e
visual, por exemplo, no nosso caso. Português e Libras, os sinais são usando na ordem
da Língua Oral (S.V.O/ S.O.V), não respeitando a própria Língua de Sinais, uma
comunicação BIMODAL.
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Passou-se a trabalhar com um português sinalizado: ou seja, fazia-se uma
tentativa de usar a estrutura gramatical da língua portuguesa representada.
3.3 – BILINGUISMO
É uma proposta de ensino usada por escolas, igrejas, empresas que se propõe a
deixar acessível aos Surdos às duas Línguas. Priorizando as seguintes ordens:
- Sinais;
- Leitura;
- Escrita;
- Fala (opcional)
A partir dos anos 80, crianças que eram surdas e com pais surdos, que tiveram
contato com as línguas de sinais, tiveram condições iguais às de crianças ouvintes, pois
lhes foi dado o direito de usar uma língua visual espacial, que garantiu uma compreensão
melhor de mundo. (MEIR, 1980: LOUEW, 1984; LILLO-MARTIN, 1988; PETITTO, 1987).
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Os articuladores primários das línguas de sinais são as mãos que movimentam no
espaço em frente ao corpo e articulam sinais em determinadas locações nesse espaço.
Um sinal pode ser articulado com uma ou duas mãos. Um mesmo sinal pode ser
articulado com a mão direita (tipicamente) para os destros ou com a esquerda (para os
canhotos), sem altera o seu significado, sendo que sinais articulados com as duas mãos
também ocorrem e apresentam restrições em relações ao tipo de interação entre as
mãos. LIBRAS, assim como as outras línguas de sinais, é basicamente produzida pelas
mãos, embora movimentos do corpo e da face também desempenham funções
fundamentais.
4 – LIBRAS
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A LIBRAS é a língua visual-gestual utilizada pela comunidade surda do Brasil. O
surdo não aprende sozinho a LIBRAS. Ele precisa conviver com um surdo adulto que
use esta língua para que possa adquirir língua e linguagem.
Existem sinais diferentes em outras regiões do país, como também acontece com
algumas palavras da Língua Portuguesa.
É a língua MATERNA dos surdos brasileiros e como tal, pode ser aprendida por
qualquer pessoa interessada pela comunicação com a comunidade surda. Como Língua,
esta é composta de todos os componentes pertinentes às línguas orais, como gramática,
semântica, pragmática, sintaxe e outros elementos, preenchendo, assim os requisitos
científicos para ser considerada instrumento linguístico de poder e força. Possui todos
os elementos classificatórios identificáveis de uma língua e demanda de prática para seu
aprendizado, como qualquer outra língua.
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Apesar de haver várias questões controvertidas perpassando a discussão nessa
área, além de ambiguidades e indefinições nas propostas, quanto à necessidade desse
caminho para a escolarização do surdo. Concretizá-lo envolve desafios, como o modo
pelo qual se pode lidar com a participação de duas línguas nas experiências escolares.
Alguns mitos são comuns em relação às línguas de sinais em geral, e com LIBRAS
não é diferente. Eis os principais:
MITO 2 – Haverá uma única e universal língua de sinal usada por todas as pessoas
surdas. Porém essa concepção ainda faz parte do senso comum.
Língua de Sinais pode ser definida como uma língua natural e utilizada pela
maioria dos Surdos do mundo. A Língua de Sinais tem como estrutura fundamental o
visual-gestual, sendo pronunciada pelo corpo e percebida pela visão, sua aprendizagem
requer atenção visual, memória visual, expressão corporal e facial e agilidade manual.
Língua Brasileira de Sinais é utilizada pela maioria dos surdos no Brasil. Como
qualquer outra língua, possui expressões que diferem de região para região
(regionalismo), que traz mais legitimidade como língua.
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Ao contrário do que muitos pensam, a Língua de Sinais não são simplesmente
mímicas ou gestos soltos utilizados para facilitar a comunicação, possui estrutura
gramatical própria, iniciada por Eduard Huest, educador trazido da França pelo
imperador Dom Pedro II, para o ensino dos Surdos.
Ex.: V-A-L-D-I-R
ALFABETO MANUAL
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Ela não é derivada do português e contém estruturas e processos que não
encontramos no português. Tampouco é uma língua simplificada. É uma língua completa
com uma gramática própria e única.
A tabela abaixo ilustra algumas das principais diferenças entre LIBRAS e a Língua
Portuguesa.
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TABELA 1 – DIFERENÇAS ENTRE LIBRAS E LÍNGUA PORTUGUESA
18
À comunidade ouvinte por meio do desenvolvimento da expressão oral.
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O povo surdo é o conjunto de sujeitos surdos que não habitam o mesmo local, -
mas que estão ligados por uma origem tais como: a cultura surda usa a LIBRAS, têm
costumes e interesses semelhantes, histórias e tradições comuns e qualquer outro laço
compartilhado. (STROBEL, 2006). O surdo tem o direito de se organizar em grupo,
mantendo sua identidade linguística e cultural como qualquer grupo minoritário.
Da mesma forma, tem o direito de frequentar escola onde a língua natural, a língua
de sinais se faz presente para que tenha acesso a todos os conteúdos escolares e
desenvolvimento pleno em todas as áreas (VALENTIM, 1995).
A discussão anterior deve deixar claro que, na comunidade surda, atitudes específicas
bastante intensas estão associadas à língua. É importante que o aprendiz da 2ª. língua
seja exposto a essas atitudes por duas razões: em primeiro lugar, porque isso ajudará a
compreender as pessoas surdas e o contexto cultural, em segundo lugar, terá contato
com a cultura surda, onde desenvolverá processos de aquisição de linguagens nos
diferentes níveis, adquirindo identidade e fluência na comunidade.
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5 – O LÉXICO OU VOCABULÁRIO DA LIBRAS
O léxico pode ser definido a “grosso modo” como o conjunto de palavras de uma
língua. No caso da LIBRAS, as palavras ou itens lexicais são os sinais. Pensa-se
frequentemente que as palavras ou sinais de uma língua de sinais são constituídas de
alfabeto manual como por exemplo:
Entretanto, não é este o caso. A soletração manual das letras de uma palavras em
português, como no exemplo (1), é a mera transposição para o espaço, por meio das
mãos, dos grafemas da palavra da língua oral, isto é, um meio de se fazerem
empréstimos em LIBRAS. Assim, como temos a palavras “xerox” em português que é
um empréstimo do inglês, os exemplos em (1) ilustram os inúmeros empréstimos da
LIBRAS.
Exemplo (2):
(= Vou apresentá-la a você, o nome dela é M-Y-R-N-A. Seu sinal (nome próprio em
LIBRAS é Myrna.
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Exemplo (3):
A: C-E-R-T-O (= certo)
Ou então, uma pessoa pode soletrar C-E-R-T-O para mostrar a outra como se
escreve esta palavra em português. Nesse caso, a soletração manual é um meio de
verificação, questionamento ou veiculação da ortografia de uma palavra em português.
certo
C ER T O
C-E-R-T-O
Agora sim temos uma palavra de LIBRAS. Podemos perceber que ela não é
articulada de forma linear como são as soletrações em (1).
Esta palavra ou sinal tem uma estrutura distinta daquelas das soletrações ou das
palavras em português.
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5.1 – ESTRUTURA SUBLEXICAL DOS SINAIS A PARTIR DE SUAS UNIDADES
MÍNIMAS DISTINTAS
xatu = chato x/ - ch
ou, às vezes uma só letra pode representar mais de um fonema, como em:
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São duas palavras ou sinais distintos com significados também distintos somente
pelo fato de o primeiro sinal APRENDER ser articulado na testa e o segundo SÁBADO
ser articulado na boca do usuário. isto é, há uma característica especial distintas nos
sinais: o ponto de articulação que os distingue. Essas características, na testa e na boca,
são unidades mínimas distintivas equivalentes aos fonemas das palavras PATA e BATA
do português, /p/ e /b/, que também distinguem as formas linguísticas e seus significados.
EDUCAR/EDUCAÇÃO ACOSTUMAR/COSTUME
Por exemplo, a LIBRAS não tinha um sinal para o conceito “linguística” até poucos
anos. À medida que os surdos foram se inteirando do que se faz em linguística, do que
significa linguística, houve a necessidade de gerar um sinal para esse conceito. O sinal
LINGUÍSTICA não é soletração da palavra em português, porém, tem um vestígio de
empréstimo porque a configuração da mão escolhida é (apenas os dedos polegar e
indicador estendidos) uma configuração própria da LIBRAS, porém, que costuma
representar a letra “L” no alfabeto manual. Este sinal é realizado com as duas mãos,
palmas para baixo com o polegar de um mão quase tocando a outra, na frente do busto,
fazendo movimento de rotação positiva e de translação retilínea para os lados.
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Desse modo, uma forma constituída a partir das unidades mínimas da LIBRAS
não será aceita enquanto palavra dessa língua se fugir aos padrões que regem a
formação de suas palavras. Por exemplo: um sinal em que o articulador principal é a
mão esquerda ou em que a mão direita é a mão de apoio não será considerado uma
palavras bem formada da LIBRAS. As unidades descritas acima são chamadas unidades
mínimas distintivas porque distinguem palavras, como nos exemplos citados para a
LIBRAS, APRENDER e SÁBADO, que se distinguem pelo ponto de articulação: testa e
boca, respectivamente.
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CONFIGURAÇÃO DE MÃO DA LIBRAS
Rosto
Parte Superior
Sobrancelhas franzidas
Olhos arregalados
Lance dos olhos
Sobrancelhas levantadas
Rosto
Parte Inferior
Bochechas infladas
Bochechas contraídas
Lábios contraídos e projetados e sobrancelhas franzidas
Correr da língua contra a parte inferior interna da bochecha
Apenas a bochecha direito inflada
Contração do lábio superior
Franzir do nariz
Cabeça
Balanceamento para frente e para trás (sim)
Balanceamento para os lados (não)
Inclinação para frente
Inclinação para o lado
Inclinação para trás
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Rosto e Cabeça
Cabeça projetada a frente, olhos levente cerrados, sobrancelhas franzidas (ex.: o que?,
quando?, como?, por que?)
Os morfemas são unidades que podem ter funções lexicais ou gramaticais. Por
exemplo, as palavras casas, construção e impossível do português são constituídas
dos seguintes morfemas:
casas s (plural)
possível im (negação)
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Vejamos algumas ilustrações dos sinais acima:
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7 – FORMAÇÃO DE PALAVRAS POR DERIVAÇÃO E POR COMPOSIÇÃO
Por meio desses exemplos, observa-se que as primeiras palavras são formadas a
partir de seus radicais aos quais se juntam afixos ou morfemas gramaticais pelo processo
de derivação. As palavras ou sinais em LIBRAS também podem ser formados pelo
processo de composição, isto é, pela adjunção de dois sinais simples em formas
compostas. Por exemplo:
Alguns sinais como SENTAR e CADEIRA são distintos quanto à forma para as
categorias verbo e nome, porém a maioria deles não se distingue quanto às categorias
verbo, nome, adjetivo e adverbio. O que vai defini-las como tal é sua função na sentença.
Podemos entretanto ilustrar alguns casos de palavras que poderiam ser derivadas de
outras como é o caso de CONSTRUIR e CONSTRUÇÃO, em português. Por exemplo,
nas sentenças abaixo, identificamos um mesmo item lexical como nome ou verbo,
dependendo da sentença em que aparece.
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ELE NÃO LIMPAR CHÃO – Cl Y (com escova)
LIMPAR-CHÃO-Cl:Y – verbo
LIMPAR-CHÃO-Cl:Y – nome
8 – ASPECTO VERBAL
A LIBRAS, assim como várias línguas de sinais e orais, modula o movimento dos
sinais para distinguir entre os aspectos pontual, continuativo ou durativo e iterativo. O
aspecto pontual se caracteriza por se referir a uma ação ou evento ocorrido e terminado
em algum ponto bem definido no passado. Em português quando dizemos ele falou na
televisão ontem, sabemos que a ação de falar se deu no passado, em um período de
tempo determinado ontem. Em LIBRAS temos um sinal FALAR para um contexto
linguístico similar. Por exemplo: ELE FALAR VOCE ONTEM. (= Ele falou com você
ontem).
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Entretanto temos também o sinal FALAR-SEM-PARAR, que se refere a uma ação
que tem uma continuidade no tempo como no exemplo: ELE FALAR-SEM-PARAR
AULA( = /ele falou sem parar durante a aula). Vejam alguns sinais:
O mesmo ocorre com o verbo OLHAR que pode sofrer alteração em um ou mais
de seus parâmetros e, então, denotar aspecto durativo. Os sinais ilustrados abaixo
poderiam aparecer em contextos linguísticos como os que se seguem:
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No segundo sinal para “OLHAR”, a configuração de mão e o ponto de articulação
mudam de G1 para 5 e dos olhos para o nariz. Com isso, temos a formação de outra
palavra com valor aspectual durativo.
O verbo VIAJAR com valor aspectual pontual abaixo poderia ser utilizada em
sentenças como PAULO VIAJOAR BRASÍLIA ONTEM, enquanto que o sinal verbal com
valor iterativo apareceria em sentenças do tipo PAULO VIAJAR. MUITAS VEZES. O
aspecto iterativo refere-se à ação ou evento que se dá repetidas vezes:
A LIBRAS não tem em suas formas verbais a marca de tempo como o português.
Como vimos, essas formas podem se modular para aspecto. Algumas delas também se
flexionam para número e pessoa. Dessa forma, quando o verbo refere-se há tempo
passado, futuro ou presente, o que vai marcar o tempo da ação ou do evento serão itens
lexicais ou sinais adverbiais como ONTEM, AMANHÃ, HOJE, SEMANA-PASSADA,
SEMANA QUE VEM.
Com isso, não há risco de ambiguidade porque se sabe que o que está sendo
narrado iniciou-se com uma marca no passado, enquanto não aparecer outro item ou
sinal para marcar outro tempo, tudo será interpretado como tendo ocorrido no passado.
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Os sinais que veiculam conceito temporal, em geral, vêm seguidos de uma marca
de passado, futuro ou presente da seguinte forma: Movimento para trás, para o passado;
Movimento para a frente, para o futura; e movimento no plano do corpo, para presente.
Alguns desses sinais, entretanto, incorporam essa marca de tempo não requerendo, pois
uma marca isolada como é o caso dos sinais ONTEM E ANTEONTEM ilustrados a
seguir:
É interessante notar, que uma linha do tempo constituída a partir das coordenadas
passado (atrás), presente (no plano do corpo), futuro (na frente), pode ser observada
também em línguas orais como o português e o inglês como mencionado no início desse
curso. Uma estruturação completamente diferente do tempo foi observada por nós na
Língua de Sinais. Urubu-Kaapor, língua de sinais da comunidade indígena.
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Urubu, habitante da Floresta Amazônica, onde o tempo futuro é para cima e o presente
no torso do usuário dessa língua. O passado não parece ser marcado.
Isso levou-nos a considerar que as línguas Portuguesa e LIBRAS não são tão
distintas assim naquilo que não depende de restrições decorrentes da modalidade visual-
espacial, veiculando assim uma visão de mundo muito similar, pelo menos nos aspectos
semânticos até o momento estudados por nós.
10 – QUANTIFICAÇÃO E INTENSIDADE
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Às vezes, alongando-se o movimento dos sinais e imprimindo-se a ele um ritmo
mais acelerado, obtém uma maior intensidade ou quantidade. Isso é o que ocorre com
os sinais FALAR e FALAR SEM PARAR, falado anteriormente e com os sinais LONGE
E MUITO LONGE ilustrados abaixo:
11 – CLASSIFICADORES
Como algumas línguas orais e como várias línguas de sinais, a LIBRAS possui
classificadores, um tipo de morfema gramatical que é afixado a um morfema lexical ou
sinal para mencionar a classe a que pertence o referente desse sinal para descrevê-lo
quanto à forma e tamanho, ou para descrever a maneira como esse referente é segurado
ou se comporta na ação verbal. Em LIBRAS, como dificilmente se pode falar em prefixo
e em sufixo porque os morfemas ou outros componentes dos sinais se juntam ao radical
simultaneamente preferimos dizer que os classificadores são afixos incorporados ao
radical verbal ou nominal.
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Assim nos exemplos abaixo, pode-se observar o classificador V e V, que
respectivamente, referem-se à maneira como uma pessoa anda e como um animal anda.
O Classificador em ANDAR (para pessoa) pode ser utilizado também com outros
significados como “duas pessoas passeando” ou “um casal de namorados” (no caso das
pontas dos dedos estarem voltados para cima), “uma pessoa em pé” (pontas dos dedos
para baixo), etc. Este classificador é representado pela configuração de mãos em V,
como se segue:
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Outros classificadores podem ser os morfemas, representados pelas
configurações de mão B e Y como se segue:
12 – INCORPORAÇÃO DE ARGUMENTO
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Em LIBRAS, o processo de incorporação de argumento é muito frequente e visível
devido as características secretas e cômicas dos sinais. Os três verbos abaixo ilustram
esse tipo de incorporação. O primeiro, o verbo BEBER/TOMAR pode ser usado sem
incorporação em sentenças do tipo:
Porém, se o objeto direto do verbo for, por exemplo, café ou chá, o verbo
incorporará este argumento e teremos formas verbais diferentes, como demostram as
ilustrações a seguir:
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O mesmo processo de incorporação pode ser também observado no sinal que
deriva do sinal verbal COMER, ao qual se incorpora o objeto direto MAÇÃ.
Exercício:
______________________________________________________________________
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13 – INTÉRPRETE DE LIBRAS
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O intérprete é um profissional bilíngue, que efetua a comunicação. O intérprete
deve ter:
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13.2 – HISTÓRIA DO PROFISSIONAL TRADUTOR E INTÉRPRETE DE LÍNGUA DE
SINAIS.
42
f) Em 2000, foi disponibilizada a página dos intérpretes da língua de sinais
WWW.interpretels.hpg.com.br. Também foi aberto um espaço para participação
dos intérpretes por meio de uma lista de discussão via e-mail. Esta lista é aberta
para todos os intérpretes interessados e pode ser acessada por meio da página
dos intérpretes.
g) No dia 24 de Abril de 2002, foi homologada a Lei Federal que reconhece a Língua
Brasileira de Sinais como língua oficial das comunidades surdas brasileiras. Tal
lei representa um passo fundamental no processo de reconhecimento e formação
do profissional intérprete da língua de Sinais no Brasil, bem como a abertura de
várias oportunidades no mercado de trabalho que são respaldadas pela questão
legal.
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Além do domínio das línguas envolvidas no processo de tradução e interpretação,
o profissional precisa ter qualificação específica para atuar como tal (isso significa ter
domínio dos processos, dos modelos, das estratégias e técnicas de tradução e
interpretação). O profissional intérprete também deve ter formação específica na área de
sua atuação (por exemplo: na área de educação).
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CAPÍTULO 1
Princípios Fundamentais
Artigo 1º. – São deveres fundamentais do intérprete: 1º. O intérprete deve ser uma
pessoa de alto caráter moral, honesto, consciente, confidente e de equilíbrio
emocional. Ele guardará informações confidenciais e não poderá trair
confidências, as quais foram confiadas a ele;
4º. O intérprete deve reconhecer seu próprio nível de competência e ser prudente
em aceitar tarefas, procurando assistência de outros intérpretes e/ou profissionais,
quando necessário, especialmente em palestras técnicas;
5º. O intérprete deve adotar uma conduta adequada de se vestir, sem adereços,
mantendo a dignidade da profissão e não chamando atenção indevida sobre si
mesmo, durante o exercício da função.
CAPÍTULO 2
45
CAPÍTULO 3
Responsabilidade profissional
8º. O intérprete jamais deve encorajar pessoas surdas a buscarem decisões legais
ou outras em seu favor;
Ele também deve estar pronto para aprender e aceitar novos sinais, se isso for
necessário para o entendimento;
CAPÍTULO 4
Relações com os colegas
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13.4 – O INTÉRPRETE EDUCACIONAL
O intérprete especialista para atuar na área da educação deverá ter um perfil para
intermediar as relações entre os professores e os alunos, bem como, entre os colegas
surdos e os colegas ouvintes.
47
processo de ensino-aprendizagem ao professor, por exemplo. Se essa possibilidade
existe, poder-se-á prever que o intérprete, assumiria a função de tutoria mediante a
supervisão do professor, o que em outras circunstâncias de interpretação não seria
permitido. No entanto, isso poderia gerar, muitos problemas. Os intérpretes-tutores
deveriam estar preparados para trabalharem com as diferentes áreas do ensino.
A criança surda tende a estabelecer o vínculo com quem lhe dirige o olhar. No
caso, o intérprete é aquele que estabelece essa relação. Além disso, o intérprete deve
ter afinidade para trabalhar com crianças. Por outro lado, o adolescente e o adulto lidam
melhor com a presença do intérprete. Nos níveis posteriores, o intérprete passa a
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necessitar de conhecimentos cada vez mais específicos e mais aprofundados para poder
realizar as interpretações compatíveis com o grau de exigência dos níveis cada vez mais
adiantados da escolarização.
Cabe apresentar outra questão, há vários professores que também são intérpretes
de língua de sinais. O próprio MEC está procurando formar professores enquanto
intérpretes. Isso acontece, pois alguns professores acabam assumindo a função de
intérprete por terem um bom domínio da Língua de sinais. Nesse caso, esse profissional
tem duas profissões: a de professor e a de intérprete de língua de sinais. A proposta do
MEC tem formar intérpretes, selecionando professores da rede regular de ensino objetiva
abrir este campo e atuação dentro das escolas. Assim, o professor-intérprete, deve ser
o profissional cuja carreira é a do magistério e a atuação na rede de ensino pode efetivar-
se com dupla função:
49
O objetivo específico da pesquisa desenvolvida por Quadros (2001), oi identificar
os tipos de problemas encontrados no processo da interpretação da língua fonte (o
português) para a língua alvo (a língua brasileira de sinais).
50
14 – PROLIBRAS – EXAME NACIONAL DE CERTIFICAÇÃO DE INTÉRPRETE E
PROFESSORES DE LIBRAS.
Este exame tem como meta certificar a proficiência de pessoas surdas ou ouvintes,
com escolaridade de nível médio ou superior, com fluência no uso e competência no
ensino de LIBRAS, bem como certificar a proficiência de pessoas ouvintes com
competência para os serviços de tradução e interpretação de
LIBRAS/Português/LIBRAS.
Questionamento:
51
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ASSIS PETERSON, Ana Antônia de. A aprendizagem de segunda língua: alguns pontos
de vista. Revista Espaço. Rio de Janeiro: INES. n.9,p.30-37, janeiro-junto, 1998.
AVÉROUS, Pierre: COLLIN. Marie Marthe. De olho no céu e na terra. São Paulo:
Scipione. 1991.
DAMÁZIO, Marlene Ferreira Macedo. Educação Escolar de Pessoa com Surdez. Uma
proposta inclusiva, 2005. 117 (Tese Doutorado). Universidade Estadual de Campinas.
Campinas, SP. 2005.
52