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Caos Particular The Order I - Cissa Anders
Caos Particular The Order I - Cissa Anders
Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais,
vivas ou mortas, é mera coincidência e não é pretendida pelo autor.
ISBN: 978-65-00-31065-8
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transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro,
sem a permissão expressa por escrito do autor.
Sumário
SUMÁRIO
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
EPÍLOGO
PRÓLOGO
AGRADECIMENTOS
Sinopse
Como não poderia deixar de ser, a história de Bia e Oliver reúne os meus
dois pontos fracos, o amor quente e apaixonado e o rock’n’roll. Espero ter
conseguido retratar bem, tanto um quanto o outro. Vocês vão encontrar partes
de letras do rock nacional em cada início de capítulo. Que eu adoro e foi o
meu jeito de homenagear a nossa música em sua época mais explosiva. Oh
Saudade! Saudade de ter um belo e arrebatador show de rock nacional para
ir e com isso muita história para contar.
Bia
– Princesa, tenho que admitir, os caras mandam bem! – fala meu pai
grudado ao meu ouvido.
– Fala sério pai, você sempre soube. Mais alguma coisa que queira admitir,
papaizinho querido?
– Rá, vai sonhando Bia. Elogiar o talento profissional dele é o máximo que
você vai arrancar de mim. Ninguém nunca vai ser bom suficiente para você aos
meus olhos, meu bem. Ainda mais um cabeludo antipático como ele.
– Quando eu for uma solteirona rabugenta com cinco gatos passeando pelo
apartamento, quero ver se você vai continuar falando assim. – Sorrio, mesmo
que uma parte de mim sinta certa angústia com o pensamento.
– Você nem gosta de gato, Beatriz!
– Verdade. – Rio e volto a prestar atenção no show.
Ele é maravilhoso lá em cima! Todos eles são.
Lian Mace, o guitarrista, tem um ar de malícia estampado no rosto o tempo
todo. Como se vivesse com o foda-se sempre ligado. Nesse seu jeito
displicente de ser, é o que mais se comunica com o público. Cabelos negros
longos caindo no rosto, olhos de um azul intenso e braços musculosos tatuados
completam o conjunto.
Kellan Wells, o baixista, faz parte do grupo há pouco tempo. O antigo
integrante saiu da banda no ano passado. O anúncio de que o loiro de olhos
verdes e cabelos espetados, de apenas dezessete anos, seria o novo baixista da
The Order, causou muita surpresa aos fãs. Foram muitas críticas na mídia,
contudo, um ano depois, o talento do menino de jeito tímido e doce está mais
do que comprovado. Kellan é um prodígio. Muito elogiado pela crítica
especializada e um dos indicados ao Grammy de melhor baixista no ano
passado.
Max Connor é a cola que mantém todos unidos. O baterista é o porta voz da
banda, é ele que se encarrega de pôr panos quentes na mídia quando alguma
bomba envolvendo Oliver ou Lian vem à público. Cabelos ruivos bagunçados,
barba por fazer, olhos castanhos amendoados e um porte altivo, lhe conferem
um ar de glamour e elegância naturais.
E então tem ele. Ele e o seu olhar de felino.
Oliver Rain é uma figura complexa.
Não conversa com o público além do boa noite e obrigado.
Não concede entrevistas. Não dá declarações.
Não recebe fãs e não distribui autógrafos.
Ele sobe ao palco, toca, canta e fim.
Entretanto, quando a batida da música começa e ele se concentra na canção,
toda uma aura de envolvimento e sentimento toma conta dele. É possível ler no
seu rosto, no seu corpo e principalmente nos seus olhos tudo aquilo que ele
canta.
É hipnotizante.
Todos os olhares se concentram nele e viajam junto com o som e as
palavras que saem da sua voz rouca.
Decifrar seus mistérios passa a ser o sonho de cada mulher e muitos homens
ali presentes, pois, por mais que quem esteja ali em cima seja o mito, há tanta
verdade na cena que é impossível não acreditar que aquilo também represente,
de alguma forma, o homem por trás dela.
E como se não bastasse, para completar a obra, ele é o homem mais lindo
que meus olhos já viram. O rosto másculo, maxilar quadrado, barba levemente
aparente, os cabelos castanhos na altura dos ombros, ora soltos, ora
amarrados, os olhos extraordinariamente incomuns, os músculos tonificados e
bem marcados, tudo na medida certa.
Ele é uma afronta aos mortais.
Sua imponente presença é uma imagem quase celestial.
Apesar dos demais integrantes serem um pouco mais acessíveis, recebendo
uns poucos fãs nos bastidores e concedendo entrevistas vez ou outra,
principalmente nos lançamentos de uma nova música ou turnê, uma coisa todos
têm em comum: as suas vidas particulares são uma incógnita.
Não há biografias em sites ou Wikipédia. Tudo que há são rumores e boatos
sobre suas origens, famílias, infância. Ou fofocas pontuais de envolvimentos
amorosos que tão rápido quanto surgem, desaparecem das redes.
De oficial sobre eles nas mídias, só há o que diz respeito às suas vidas
profissionais ou a sua amizade com os colegas de profissão, captadas em
eventos ou uma ou outra foto que surge vez ou outra. Supõe-se que todos
estejam solteiros, para a alegria das fãs Sasaeng[1].
Os álbuns são produzidos pela Three Minds, que pertence aos integrantes
que deram origem a banda, Max, Lian e Oliver. Diz-se que têm uma equipe
focada em evitar que seus familiares sejam conhecidos e expostos. E que todas
as pessoas que passam a fazer parte do seu círculo pessoal mais restrito
precisam assinar termos de confidencialidade.
A The Order não chegou ao topo pela simpatia de seus integrantes, isso é
fato. O que os levou até ali foi o talento incomum dos meninos que começaram
a chamar a atenção do mundo do rock antes de entrarem na casa dos vinte anos.
Suas músicas causam impacto e a maioria vira hit.
Estar aqui hoje, ao lado do meu pai, vendo-o tão bem e animado, é
maravilhoso para mim.
Papai não me deixa acompanhá-lo nas consultas médicas e tratamentos, é
irredutível quanto a isso, já tentei convencê-lo de inúmeras maneiras, mas ele
alega que me fez frequentar hospitais por tempo demais durante a doença de
mamãe e enquanto tiver forças para ir sozinho, é assim que será. Seu câncer já
foi tratado e dado como curado, contudo, há uns meses voltou a dar sinais.
Segundo ele, a doença está em remissão novamente e as sessões de quimio
serão necessárias como prevenção por um tempo ainda e eu acredito nele, pois
vejo que, apesar de alguma falta de ar vez ou outra, ele parece bem. Nem os
cabelos ele perdeu com o tratamento desta vez. Isso, aliado a emoção que
assistir a The Order e rever Oliver pessoalmente me causam, enchem meu
coração de uma imensa felicidade e talvez eu possa novamente arriscar, em
breve, a ter sonhos de um futuro de paz.
– Pai, a próxima música será a última. Será que não é melhor já nos
encaminharmos para a saída? Não quero que você seja espremido no meio de
uma multidão.
– Mas eles ainda não tocaram a sua música preferida.
– É a última, a gente vai ouvindo enquanto sai...
– Nem pensar! Vamos ficar aqui até terminar. Se precisar deixamos todos
saírem e então vamos. Não é como se tivéssemos algum compromisso
inadiável amanhã, não é mesmo?
– Ok, mas não vamos nos meter no meio do tumulto, já é demais para você
estar no meio de tanta gente.
Nessa hora o primeiro acorde começa. As notas da música que tanto amo e
embalaram meus inalcançáveis sonhos de menina. Uma das poucas com uma
pegada mais lenta. Perto do refrão fecho meus olhos e, cantando junto, viajo,
me concentrando na imagem de tantos anos atrás.
Naquele olhar.
“Lá onde habita a sua essência. Onde não há máscaras nem enredos.
Onde tudo está bem. É lá onde quero morar, querida. Para me perder e me
encontrar de vez”.
Quando saio do meu transe e volto à realidade, tomo um baque.
Oliver tem os olhos fixos em mim.
Em mim!
Ele está cantando e olhando diretamente para mim.
Eu congelo, sustentando seu olhar. Um torpor sobe pela minha espinha.
Nem que eu quisesse conseguiria me mexer dali, nem cantar consigo mais.
Ele continua cantando e encarando.
O ar de repente parece pouco, sinto gotas de suor descer pela minha testa e
isso não tem nada a ver com o clima ou com número de pessoas a nossa volta.
Aliás, nem lembro se há alguém a nossa volta.
Há apenas eu e ele dentro de uma bolha em algum universo paralelo. Então
a última nota soa.
Ainda fixado em mim, ele solta um obrigado no microfone, lança um meio
sorriso de lado, dá as costas e sai do palco. ELE NUNCA SORRI. Jamais!
Levo um tempo para me recuperar e voltar a ter os meus sentidos
funcionando novamente. Respiro fundo e começo a me convencer de que muito
provavelmente eu imaginei todo esse clima. Com certeza! Com tantas pessoas
para ele direcionar a atenção e ensaiar um sorriso, coisa que nem é do seu
feitio, por que eu?
Realmente só nos meus sonhos.
– Pai, você por acaso também teve a impressão de que...
– De que o bonitão cantou quase a música inteira te olhando? De que o
único sorriso que ele deu a noite inteira foi na sua direção? Não tive a
impressão não, tenho certeza. – Passo a mão no pescoço tentando dissipar o
calor que me abate.
– Ele deve ter tido um torcicolo, só pode. – Tento brincar, ainda meio
atordoada.
– Torcicolo, sei... ele estava é secando a minha filha, na minha frente e na
maior cara de pau. Mas como eu sei que isso deve ter feito você ganhar o ano,
não vou nem tentar ir lá no camarim tirar satisfação com o molha calcinhas aí.
– É estranho ouvir essas coisas de meu pai, então não me impeço de rir quando
o ouço.
– Ele deve ter melado algumas cuecas também – digo entrando na
brincadeira.
– Eeerg Beatriz, não crie essas imagens na mente de um pobre ancião.
De repente uma ideia me ocorre. Uma que seria bem a cara do meu pai. Já
pensando no sermão que vou dar caso meu pensamento se confirme, pergunto:
– Assim, só por acaso, será que o senhor não entrou de alguma forma em
contato com algum assessor da banda, contou a triste história da garotinha que
um dia encontrou o ídolo no hospital, depois perdeu a mãe, o pai ficou doente
e que seu maior sonho era falar novamente com o tal ídolo frente a frente? –
Meu pai tem os olhos arregalados, o que me dá indícios de que estou no
caminho certo, então continuo. – Daí, muito respeitosamente, é claro, esse
mesmo assessor responde que o ídolo em questão não concede esses favores,
mas que ele poderia, muito encarecidamente, visto o drama da pobre moça, lhe
conceder uma olhadinha e um quase sorriso ao final do show? – Agora além
dos olhos arregalados o meu pai está também com a boca aberta. De repente
ele se dobra pra frente e cai na gargalhada, rindo até sair lágrimas.
– Não venha com essa de rir para desviar o assunto não, Sr. Thompson.
– Ah Bia, filha. Eu sei que você é criativa e que tem muita fé em mim, mas
essa realmente foi demais. – Nova crise de risos. – Posso garantir que
orquestrar a encarada que o rockstar te deu está além de todas as minhas
capacidades de super pai. O moço te olhou, filha. Só suspira e aceita! Se você
soubesse como é linda, não estaria aí toda desconfiada agora.
– Pai, eu sei que eu não sou feia, mas daí para o nível de beleza das
mulheres que eles pegam tem uma enorme diferença. E não adianta fazer cara
de surpreso, você sabe que se a ideia tivesse passado pela sua cabeça, você
teria, sim, tentando um encontro.
Ainda tentando se recuperar da crise de risos, meu pai completa:
– Sabe filha, há muitos anos, quando vi o quanto você ficou fascinada por
esse rapaz que te deu atenção num momento que você precisou tanto, eu
procurei entrar em contato com ele. Até para agradecer o gesto, afinal foi ali
que sua mãe e eu percebemos o que estava acontecendo com você e pudemos
te ajudar. Eu tentei muito, mas nenhuma das minhas tentativas rendeu frutos.
Não te contamos na época para não gerar expectativas. Os caras realmente são
inacessíveis. Então não, princesa, o seu velho aqui não teve nada a ver com
isso, fora o fato de ter comprado ingressos para a área mais próxima possível
ao palco.
Suspiro, acreditando nele, por mais surreal que seja admitir que Oliver
Rain e eu trocamos olhares em meio a um show com mais de duzentas mil
pessoas.
E que eu que ganhei um sorriso seu.
E que este nem foi o primeiro.
Estou me encaminhando para as saídas, quando percebo que meu pai não me
acompanha, continuando próximo ao palco, concentrado em algo além da grade
de segurança.
– Pai a saída é pra cá, vamos logo! Só tem a gente aqui, logo vão desligar
as luzes.
– Calma Bia, só mais um minutinho.
– O que você tá fazendo aí grudado na grade pai? Vamos embora.
– Só falta um sair filha, calma aí.
– Um o que?
– Você já vai entender.
De repente meu pai dá um impulso com os braços e pula a grade de
segurança se engalfinhando debaixo das estruturas metálicas que sustentam o
palco.
Suando frio, corro para perto da grade já imaginando o soco que um dos
brutamontes vai acertar nele quando o vir. Ao longe escuto uma voz:
– Hei cara, você não pode entrar aqui não. – E só espero pelo som da
porrada. Mas antes que possa chegar ao meu destino, para meu alívio, ele já
está pulando a grade de novo, segurando um papelão enorme na mão esquerda.
Ele joga o troço pela grade e pula, pega-o novamente, corre na minha direção,
segura a minha mão e diz:
– Corre Bia! – Me puxando em disparada para a saída.
Assim que chegamos no lado de fora paramos, ofegantes, e em meio a risos
pergunto:
– Pai, o que foi isso? Não aprontou na juventude e tá querendo tirar o
atrasado?
– Foi divertido, confessa!
– Divertido? Foi assustador. Já me vi tendo que vender a televisão pra
pagar a sua fiança na delegacia.
– Que nada! – E virando o objeto que motivou o seu crime de frente pra
mim, ele diz: – Feliz aniversário, princesa!
Olho para aquele boneco de papelão com a figura de Oliver impressa nele,
sexy para caralho, numa foto sem camisa e calça jeans clara rasgada, a guitarra
pendendo em uma das mãos, o olhar matador na última potência e não resisto.
– Pai, se eu ficar com esse negócio no meu quarto, me olhando todas as
noites, vou engravidar sem nunca ter feito sexo na vida.
E assim, pela segunda vez na noite, eu faço meu pai rir até não aguentar
mais. Depois que ele se acalma eu insisto:
– Sério pai, o que deu no senhor pra se arriscar desta forma?
– Sei lá, eu vi o troço lá, achei que você iria gostar. Um símbolo entre a
gente, eu sendo o pai fodão que se arriscou para trazer para você algo que te
faz feliz. – Ele sorri, mas há algo de hesitante, como se ele ficasse pensando no
que nenhum de nós ousava dizer, que, em algum momento, ele iria partir e me
deixar sozinha. – Assim se um dia eu não estiver mais presente, você poderá
contar seus segredos e suas angústias olhando para o bonitão, mas conversando
com o velho aqui.
– Ah pai – digo e me atiro em seu pescoço, lhe dando um abraço apertado,
com os olhos cheios de lágrimas. – Você vai estar presente por tanto tempo que
vou ser obrigada a contar meus segredos, minhas angústias e minhas alegrias
olhando nessa sua carinha mesmo, só que bem mais enrugada. – Seco os olhos
e aproveito. – Obrigada por hoje. Eu nunca vou esquecer esse dia. Ele foi
especial demais, o melhor aniversário que eu poderia pensar em ter. Você é o
melhor! Te amo, velhinho.
– Te amo demais filha. Sem você não teria aguentado metade das provações
que passamos. Tenho orgulho de entregar ao mundo uma menina tão madura
quanto você. De onde eu estiver vou tentar garantir que você realize seus
sonhos, ninguém merece ser feliz mais do que você. Minha guardiã, que cuidou
e me amparou em tantos momentos, mesmo quando ainda deveria estar só
brincando de boneca. Sinto por não ter tido a infância e a adolescência que
toda menina deveria ter. Sinto não poder ter feito mais.
– Pai, você está me assustando. Tem algo que não estou sabendo?
– Não princesa, está tudo bem. – Então ele se afasta levemente e pisca para
mim quando diz, taciturno: – Mas se tem duas pessoas que entendem o
significado da frase “nunca se sabe o dia de amanhã”, essas pessoas somos
nós, não é mesmo?
E o amanhã chegou rápido demais.
Capítulo 2
Oliver
Um dia antes
Após nossa rápida foda na cozinha, voltamos para onde estão os outros. O
fedelho não está mais no sofá, já deve estar comendo a loira em algum canto da
casa. Tina está rebolando no colo de Lian e Kate está sentada numa
espreguiçadeira com cara de poucos amigos. Max se aproxima nos lançando
um sorriso de lado e oferecendo um copo de whisky para cada um.
– Foram rápidos! Kate não ficou muito feliz com a sumida de vocês – diz
lançando um olhar na direção da intrusa.
– Riley, é a última vez que quero ver a Kate aqui dentro. A entrada dela no
nosso condomínio continua expressamente proibida. Fui claro?
– Vou reforçar com toda a equipe e qualquer nova tentativa dela de se
aproximar será barrada, fique tranquilo.
– Ótimo, agora vou lá ouvir o que ela tem a me dizer – digo, dando um
último gole na minha bebida, tomando coragem para uma tarefa que não estou
ansioso para fazer.
Me aproximo da mulher, torcendo para que eu tenha paciência com ela.
– Oi Kate. Fui informado que você tem algo a me dizer, certo? Vamos logo
acabar com isso para que você possa ir embora? – Ela me encara com os olhos
arregalados e magoados.
– Não precisa ser grosso Oliver. Não vim aqui para te atacar. Vim aqui para
pedir desculpas pelo que fiz. E dizer que gostaria que voltássemos a ser
amigos.
– Não há a menor chance de uma reaproximação entre nós. O que você fez
foi muito sério. Fico feliz que esteja bem e se tratando, mas não quero ser
responsável por qualquer recaída sua.
– Eu me apaixonei por você. Foi difícil quando quis se afastar de mim. Eu
me abri com você naquele dia.
– Sim, você se abriu e eu repeti o que sempre te falei, para mim nunca foi
nada além de sexo e amizade. E daquele dia em diante, em respeito aos seus
sentimentos, que eu não poderia retribuir, eu me afastei de você. Eu não te
afastei das nossas casas, do nosso grupo. Eu continuei permitindo que você
convivesse no nosso meio como sempre fez. Quem se privou de participar das
reuniões quando você estava fui eu. Mas você insistiu em me perseguir e
terminou protagonizando aquela cena na minha frente e na frente da minha avó.
– Eu sei Oliver. Eu estava desesperada, deprimida. Você me evitava a todo
custo e eu sentia sua falta. Como eu poderia te esquecer? Impossível que você
não lembre com carinho dos nossos momentos, impossível que você se
arrependa do que vivemos.
– O que eu me arrependo é de não ter percebido antes que você estava
fantasiando algo que nunca existiu da minha parte. Claro que tivemos bons
momentos, claro que me lembro deles, mas nunca foi diferente para mim dos
momentos que eu divido com Riley ou com Tina. – E assim as lágrimas que ela
tanto estava segurando despencam.
– Você transou com a Riley lá dentro, não transou?
– Kate... isso não é da sua conta – digo irritado.
– Tudo bem, tudo bem, desculpa.
– Principalmente para a sua saúde, peço que não tente se aproximar
novamente. Esse ambiente não lhe faz bem. O que você espera de mim jamais
poderei lhe dar. Já tivemos esta conversa antes. Nada mudou. Não pretendo ter
nenhuma outra mulher em minha vida exercendo qualquer poder sobre ela,
além de minha avó. Essa é uma decisão tomada há muito tempo. Se você
precisar de ajuda para qualquer coisa, como custear seu tratamento, que você
não deve parar, fale para a Tina. Te ajudarei no que puder para que volte a se
sentir bem e feliz. Não desejo sua infelicidade Kate, muito pelo contrário.
– Posso te dar um abraço?
– Pode, mas será um abraço de despedida. Depois, a Riley vai te levar até
um dos seguranças que estão do lado de fora, ele vai te acompanhar para a
saída do condomínio e um dos nossos motoristas te levará para casa. Tudo
bem?
– Tudo bem. – E assim ela me abraça e chora no meu ombro. Me dói saber
que sou a causa do seu desespero, mas nunca a iludi ou enganei.
– Vamos lá Kate – digo, enquanto a afasto e a ajudo a se levantar. Peço a
Riley para a acompanhar conforme o combinado e sigo para perto de Max,
Lian e Tina, que agora estão na bancada do bar, aproveitando do grande
estoque de bebidas caras.
– Tenso? – pergunta Max.
– Sempre. – Suspiro em derrota. Me viro para Tina, a encarando com raiva.
– E você, – digo, exalando irritação – violou muito a nossa confiança hoje.
Atender aos apelos da Kate em voltar aqui, burlando a segurança, quando
acompanhou tudo que aconteceu com ela e sabe que deixei bem claro que não
queria mais contato, foi uma atitude muito irresponsável. Você, como amiga
dela, como diz, deveria ter sido a primeira a desencorajar essa ideia e não a
trazer para cá. Ainda mais quando sua amiga se diz apaixonada e a não muito
tempo atrás você estava ali, naquele sofá, com o meu pau enfiado no seu rabo.
Estou muito puto com você, Tina! Cuide se não quiser ser a próxima pessoa
proibida a passar por aqueles portões. – Me volto dela para Lian.
– Lian, amanhã à tarde venho pra cá, ficarei uns dias hospedado aqui. – Sem
esperar que ele diga qualquer coisa, dou as costas e vou embora.
Capítulo 3
Bia
Oliver
O dia amanhece nublado. Faço a higiene matinal e sigo para a cozinha, onde
já escuto vozes.
– Kellan, aconteceu alguma tragédia que não estou sabendo? Você acordado
antes do meio-dia e já aqui é realmente um acontecimento.
– Bom dia para você também – diz, me lembrando da minha pouca
educação.
– Bom dia. E aí, trouxe a mudança? – pergunto enquanto me acomodo e
preparo uma xícara de café.
– Porra, vocês não dão folga mesm... Aí!
– Olha a boca pirralho – adverte Lian, dando um tapa na cabeça do
moleque. – Sou seu tio, tenho que te educar.
– Tio o cacete! PRIMO, só primo.
– É como se fosse, troquei suas fraldas, então acostume-se.
– Está vendo por que estou adiando a merda da mudança, Oliver? Você
aguenta? Eu não.
– Neste ponto sou obrigado a concordar com você.
– Aos dois engraçadinhos, que não vivem sem mim, vou barrar a entrada
nas minhas festas, aí quero ver se vão continuar me tratando assim. Tenho
coração sabiam? Eu magoo – exagera o infeliz, fazendo cara de cachorro
pidão.
– Vá a merda, toma logo o seu café e vamos lá para a academia queimar
toda essa mágoa.
– Está vendo sobrinho, ele reclama, mas nem correr na esteira corre sem
mim. Só não me peça para estar presente quando for mijar Oliver, porque olhar
para o seu pau torto me rende uma semana de pesadelos.
– Anda sonhando com o meu pau Lian?
– Os dois preferem que eu saia para discutirem a relação mais à vontade? –
fala Kellan olhando de um para o outro. – Aí! – Agora sou eu que lhe dou uma
bordoada antes de seguir para academia.
A caminho de lá, meu telefone vibra, indicando uma mensagem
Oi filho, já acordado?
Oi vó, bom dia! Sim, não
consegui dormir muito hoje.
Como estão as coisas aí?
Tudo ótimo meu bem. Helen está
aqui, almoçará conosco. Ela gostou
muito de Bia também. Sabe, eu
estava pensando. Não há
necessidade de você ficar tanto
tempo com Lian. Volte hoje ainda
Vocês não estão sendo muito
precipitadas? Trocaram o que?
Meia dúzia de palavras e são
melhores amigas? De qualquer
forma não sei se Peter e Riley
conseguem preparar os
documentos hoje e falar com
ela. É uma situação
completamente diferente de
qualquer outra que passamos.
Eles têm que analisar bem o
caso
Ok querido, faça como achar
melhor, mas se eles conseguirem,
tente resolver tudo. Não há motivos
para você ficar fora da sua casa.
Beatriz é tranquila e super madura
para a idade dela. O sofrimento faz
as pessoas olharem de forma
diferente para as coisas. Você sabe
Vou pensar. Aviso a senhora
sobre qualquer mudança nos
planos
Bia
Oliver
Bia
Acordo com o sol já alto lá fora e mesmo assim ainda estou com sono.
Levanto minha cabeça e escaneio o ambiente. À minha direita, cabelos ruivos
descem até um traseiro nu e empinado. Do outro lado, boceta depilada, grandes
seios siliconados, lábios de Botox e cabelos loiros que se espalham pelo
travesseiro.
Estou num dos quartos da casa de Lian. Não lembro direito como parei ali
com as duas mulheres. Saí de casa irritado, cheguei na festa, onde já havia
muitas pessoas e grudei na garrafa de whisky. Bebi muito.
A mulherada não deu folga, então fodi muito também.
As últimas coisas de que me lembro foram de comer a ruiva na hidro e
depois pegar uma mulata deliciosa contra uma das paredes externas. E pelo
visto continuei com o banquete no quarto, fazendo um repeteco com a ruiva e
acrescentando a loira ao cardápio.
Olho para baixo e vejo que estou nu, com a camisinha ainda pendurada no
pau. Me arrasto até o pé da cama e desço à procura da minha roupa e do meu
telefone. Mais duas camisinhas estão largadas no chão.
Bom, pelo menos parece que não vacilei.
Olho o telefone e vejo que já são três e quinze da tarde. Passo uma
mensagem para Peter providenciar a retirada das garotas dali.
Nossa, nem sei quando foi a última vez que fiquei tão bêbado. Normalmente
não me arrisco assim.
Cato tudo, camisinhas, roupas e vou para o banheiro. Jogo as camisinhas no
vaso, tomo banho, me visto e saio do quarto.
Encontro Lian e Kellan sentados no deck, com uma cerveja na mão. Me jogo
no sofá ao lado deles e fecho os olhos, pois o sol potencializa a dor de cabeça
ocasionada pela ressaca.
– E aí bonitão, noite agitada, hein? O que aconteceu para chutar o balde
desse jeito, Oliver? Dormir com as garotas foi... uau! Pelo menos depois das
loucuras que fizemos lá no início da fama, não lembro de você ter passado a
noite inteira com uma mulher.
– Sei lá, cara. Exagerei na bebida e foi isso.
– Não fez besteira, não é?
– Pela quantidade de camisinhas que encontrei pelo quarto, acho que não.
– E bebeu tanto por quê?
– E precisa de motivo Lian? Comecei a beber, passei da conta, simples
assim.
– Olha, acho ótimo quando você relaxa um pouco, sai desse seu mundo em
que cada passo deve ser medido e controlado. Acontece que você estava
estranho. Mais estranho que o normal.
– Vai se foder. Tô com uma baita dor de cabeça. Me esquece.
– Chegou quem faltava – diz Kellan, se referindo a Max, que se aproxima
pela praia.
– E aí? Que cara é essa? – pergunta dando um tapa no meu ombro e se
sentando ao meu lado.
– Ressaca – diz Kellan, me poupando o trabalho.
– Você entortou ontem velho, nem te reconheci. O que houve?
– Aff, nem minha vó pega tanto no pé, sabiam?
– É bom que você veja como é, Oliver. Eu tenho que aguentar isso de vocês
três!
– Você nem saiu das fraldas fedelho, sua opinião aqui não conta – rebate
Lian.
– Mas falando na sua avó, mamãe falou que haverá um jantar com todos lá
hoje, certo? – Max questiona.
Puxo o ar num suspiro longo.
– É o que parece.
– Sério? Estamos comemorando alguma coisa que esqueci? – pergunta Lian.
– Apresentação da menina – explica Max.
– Opa, finalmente vamos conhecer sua irmãzinha? Não vejo a hora...
– Irmãzinha o cacete. Mas sim, vocês vão conhecê-la hoje, pelos planos de
dona Laura.
A verdade é que eu não estava muito a fim de analisar os motivos que me
fizeram sair tanto dos trilhos ontem. Por que me afetou tanto aquela conversa
no jantar?
Claro que não quero ter nenhum envolvimento com a garota.
Céus, não, ela tem praticamente a idade de Hazel.
O correto é que ela se interesse por garotos da idade de Kellan.
Será que estou tomando mesmo as dores de irmão mais velho?
Não.
O que eu acho mesmo é que toda essa história de ter alguém diferente dentro
de casa mexeu demais comigo devido a certas lembranças. A outro rosto tão
lindo quanto, que me causava o mesmo impacto.
É isso!
Isso explicaria também a estranha sensação de saudade que sinto ao olhar
para ela. Não processei ainda essa novidade direito e acabei me irritando com
a garota. Só pode ser.
– Vou para casa. Preciso de um remédio e de um quarto escuro para sair
desse inferno – digo massageando as têmporas. – Até mais tarde, bundões.
Sigo pela praia até em casa e entro direto pelo meu quarto. Interfono para
Gia e peço que mande o remédio. Me jogo na cama e fico esperando alguém
aparecer. Minutos depois, duas batidas soam na porta.
– Oliver, posso entrar? Trouxe seu remédio. – Tudo que eu não queria agora
era conversar com dona Laura, mas pelo visto não vou escapar.
– Pode vó, claro.
– O que você tem, filho? – pergunta, me estendendo o remédio e um copo de
água.
– Ressaca, só isso. Preciso apenas tomar isso aqui. – Pego o comprimido
de sua mão e o engulo. – E ficar um tempo deitado até aliviar.
– Tudo bem. Me assustou a sua reação ontem no jantar. Beatriz ficou
incomodada. Tentei amenizar dizendo que não foi por ela estar ali que você
agiu daquela forma, mas ela não se convenceu. Sei que não é o momento de
falar disso agora, mas gostaria de entender aquilo.
– Ah, nem eu sei direito. Acho que o fato de ter alguém estranho aqui que
me deixou irritado. Mas não se preocupe, logo me acostumo, e até lá vou
controlar os meus rompantes. Prometo.
– Certo. Descanse então.
– Tchau vó.
Bia
Eu olhava em volta daquela sala e ainda não acredita que no que estava
vivendo. Era fantástico demais. Quando, por mais fértil que fosse a minha
imaginação, eu poderia acreditar que estaria ali, cercada por todos os
integrantes da The Order e me sentindo em casa.
Sim, eu estava me sentindo em casa.
Por incrível que pareça, todos, com exceção de Oliver, estavam me tratando
muito bem. Como se eu já fosse da família.
Max, um cavalheiro, como eu já imaginava que fosse. Lian, divertido
demais, impossível ficar imune a ele. Kellan, apesar de mais tímido, me
cercou de gentilezas. Helen, Alicia e Johnathan me trataram como filha, assim
como Laura fez desde minha chegada.
E Hazel, nossa, a garota parece que ficou mais empolgada comigo do que eu
poderia esperar. Conversamos bastante na sala antes do jantar.
Pelo pouco que pude perceber, Hazel, assim como eu, é carente de
amizades. Pela vida mais reservada que precisam manter, ela diz que é difícil
encontrar amigas verdadeiras, visto que não pode fazer tudo que outras garotas
fazem e nem revelar muito sobre sua vida. Então quando descobriu que uma
menina da sua idade passaria a morar ali com Laura, ficou animada demais.
Não contei que não pretendo ficar muito tempo para não estragar o humor
dela, que já está planejando tarde de garotas na praia e uma série de outros
programas.
Seria ótimo ter uma amiga como Hazel, ela é um doce.
E eu certamente estou precisando ter alguém assim em minha vida. Alguém
com quem eu possa compartilhar os meus sonhos e angústias e que consiga me
entender como igual. Mas não posso me iludir. Nossa amizade provavelmente
será muito breve.
Oliver manteve-se praticamente a noite toda distante. Não me tratou mal,
nem nada do tipo, mas também não se envolveu muito nas conversas à mesa.
Ficou mais como expectador. Eu achei ótimo, porque depois do que vi na noite
de ontem, não sei nem como olhar direito para ele.
O que piorou um pouco mais depois da conversa no deck com ele e Max, na
qual admiti que eu os achava bonitos.
Só eu mesma para falar aquilo!
Senti meu rosto pegar fogo logo que as palavras deixaram minha boca. Foi
difícil ficar naquele deck com eles, aquele aroma de menta invadindo o meu
olfato o tempo todo trazido pela brisa.
E ele estava tão lindo!
A bermuda caqui deixando à mostra parte de suas pernas bem torneadas. A
camiseta azul petróleo, que agarrava todos os seus músculos do braço, peitoral
e abdômen. Os cabelos molhados jogados e meio bagunçados. A barba por
fazer. Uma verdadeira tentação dos deuses.
Quando foco nele ali na sala, a sensação de animosidade que todos os
outros me passam se dissipa e me sinto péssima.
Não posso deixar de pensar que ele não interagiu devidamente com sua
família, porque minha presença não o deixa à vontade. Ninguém deve se sentir
mal dentro da sua própria casa.
Estamos todos ali, na sala, numa enorme “roda de amigos”, degustando uma
deliciosa sobremesa, enquanto respondo as perguntas que me fazem com a
intenção de me conhecer.
– ...E foi isso, depois do funeral do meu pai, fiquei no apartamento o
máximo de tempo que consegui, até que não tive mais como evitar a entrega
aos novos proprietários. – De repente escuto alguém fungar, e mais alguém.
Olho para o lado e Hazel está contendo o choro, olho à frente e Lian tem
lágrimas escorrendo pelo rosto sem se importar muito em expor seus
sentimentos. Eu não pretendia entrar em assuntos tristes, mas eles tinham
curiosidade em saber sobre meus pais, minha infância, minha vida e foi
inevitável. Tento confortá-los.
– Lian, Hazel, por favor, não fiquem assim. Não contei minha história para
trazer tristeza. Já passou. Sabem, tivemos menos anos do que o esperado
juntos, convivemos com a doença por bastante tempo, mas nossa casa nunca foi
triste. Eu fui muito amada pelos meus pais. Papai e mamãe procuravam manter
o bom humor e a esperança. E eles acreditavam que a morte não é o fim. Que o
que morre é o nosso corpo e que vivemos muitas e muitas vezes. A cada uma
dessas vezes nos tornamos pessoas melhores do que já fomos. – Olho em volta
após o meu pequeno discurso e vejo que todos tem a atenção totalmente
voltada para mim, inclusive Oliver. Então prossigo.
– Papai estava angustiado e triste em me deixar, claro, mas ele estava feliz
que iria reencontrar mamãe. Eles se amavam. Ele sempre me disse que depois
que a conheceu é que entendeu o que era felicidade e que não houve tempo
melhor para ele, nesta vida, do que o tempo em que estavam juntos. Ele
brincava que só foi conhecer o amor aos quarenta e um anos porque estava
procurando por ela. E ela dizia o mesmo. – Percebo que Lian já se acalmou,
assim como Hazel. E suspiro.
– Isso é muito bonito Bia, – fala Helen – eu entendo. – Sua expressão a
deixa meio aérea.
– Papai também era muito engraçado, ele vivia inventando histórias e
aprontando.
– Era mesmo – confirma Laura. – Onde Robert estava não havia mal humor.
– Poxa Bela-Bia, que pena Oliver não ter conhecido o seu pai, quem sabe
ele tivesse aprendido a ser uma pessoa mais agradável – provoca Lian.
– Lian, me esquece – rebate Oliver.
– Quando eu tinha entre cinco e seis anos – começo a contar para ver se
levanto o astral de todos. – Entrei numa fase em que não gostava de tomar
banho. Eu inventava mil e uma histórias para fugir daquele momento. Meus
pais não sabiam mais o que fazer para que eu entrasse na banheira ou no
chuveiro sem chorar ou espernear. Então um dia, ele teve a brilhante ideia de
me contar uma história. Ele pegou um álbum de fotos, o segurou fechado em
seu colo e de um jeito muito sério e preocupado, me disse:
–“Sabe filha, antes de você nascer, você teve um irmão. Esse irmão era
lindo e inteligente, assim como você, só que assim como você, ele não
gostava de tomar banho. Não tinha jeito, ele chorava, brigava, reclamava,
mas não entrava na água. Sua mãe e eu paramos de levá-lo para o banho
porque era muito sofrimento. E sabe o que aconteceu com ele por conta
disso?”
– Lembro que eu estava tão curiosa sobre o meu suposto irmão, que nem
piscava enquanto ele contava, depois que eu neguei, ele continuou:
–“Ele foi murchando e murchando, enrugando e ficando cada vez menor,
até que, antes de desaparecer de vez, ficou assim.”
– E nesse momento ele abre o álbum de fotos da família e lá está, uma foto
dele e de mamãe com um minúsculo cogumelo enrugado na palma da mão. –
Mal termino de falar, uma risada solitária preenche a sala.
Todos os olhos se voltam para uma única direção. Olho também. Oliver tem
os olhos fechados e ri como se visualizasse a cena. Nada mais se escuta,
ninguém respira, todos abismados, olhando para ele. Quando se dá conta de
que virou o centro das atenções, ele olha para todos e se faz de indignado.
– Que foi? Nunca viram?
– Você, rindo assim? – diz Lian. – Acho que não, ou pelo menos, faz muito
tempo. Garota, você é minha ídola. Arrancar uma risada tão espontânea do
zangado, não é para os fracos. – Oliver responde resmungando e mostrando o
dedo do meio pra ele.
– Verdade Bia – diz Laura. – É raro este som assim, tão claro e alto por
aqui.
– Vó, não exagera – defende-se ele.
– Ah Oliver, sou obrigado a concordar com Laura – reforça Johnathan.
– Mas então Beatriz, a história do seu pai funcionou? – pergunta Oliver, se
dirigindo a mim pela primeira vez desde o deck. Acho que é mais para tirar a
atenção de cima dele, do que por vontade de saber o desfecho da minha
história.
– Se funcionou? Nossa, eu saí em disparada para o banho. Quase nem tirei a
roupa de tão apavorada. Sonhei com aquele cogumelo e rezei pelo meu irmão
murcho por meses. Às vezes pedia para tomar banho mais de uma vez por dia,
com medo de ter o mesmo destino que o dele. – Agora a sala toda é só risadas.
A onda de bom humor se estende, entrando na discussão de qual deveria ser
o nome do meu pobre e infeliz irmão, cada um tem uma ideia mais inusitada
que a anterior.
Menos Oliver, claro.
Lá pelas tantas, Alicia e Johnathan se levantam e vêm até mim. Eles são
bonitos de se observar juntos, parecem combinar e estar em sintonia.
– Bia, adoramos te conhecer. – Ela me abraça e continua – quando quiser
aparecer lá em casa para conversar com Hazel, é só avisar.
– Isso mesmo. – Agora é Johnathan que me puxa contra si. – Hazel também
é muito sozinha, ficaremos bem felizes se vocês se tornarem amigas.
– Já somos – diz a garota sorridente, me cercando de carinho. Sinto meus
olhos ficarem cheios, mas me controlo. Não estou acostumada a tantas
demonstrações de afeto.
– Obrigada. Também gostei muito de conhecê-los. Hazel e eu já trocamos
os nossos números de telefone, então demos o primeiro passo. – Pisco para a
garota. Logo vão embora.
Kellan os acompanha até a porta, mas volta instantes depois. Helen se
despede na sequência e vai.
– Crianças, sei que para vocês a noite está apenas começando, mas vou me
deitar. – Se despede Laura.
Então um desespero me toma, eu que não vou ficar ali, sozinha com a The
Order inteira.
– Também vou me deitar, Laura – digo, mais rápido que um foguete. Dou um
rápido boa noite aos meninos e disparo para o quarto.
Capítulo 6
Bia
Não o vejo mais pelo resto da manhã e nem à tarde. Ele não almoçou em
casa, ou então se manteve no quarto para não me encontrar. Sozinha naquela
casa, sem poder sair ao ar livre em razão do clima, não me restou muitas
opções a não ser me manter no quarto também.
Mesmo eu não pedindo, Gia trouxe uma refeição para mim ali mesmo. Com
o intuito de me distrair, baixei um livro no meu celular, o que me entreteve por
algumas horas. Até que uma mensagem de Hazel trouxe esperança de tornar as
coisas mais animadas.
Meia hora depois, seguimos pela praia até a casa de Max. A chuva parou,
mas o dia está bem fechado. Hazel já corre ao meu encontro e me abraça antes
mesmo de passarmos pela porta.
– Oi Bia – diz, me abraçando e me dando um beijo na bochecha.
– Oi – devolvo o carinho beijando sua bochecha também.
– Não ganho um abraço também? – provoca-a Oliver.
– Oi Estrela – cumprimenta, lhe mostra a língua, mas não me solta para
abraçá-lo.
– Olá Bia. – Max aproxima-se e me cumprimenta passando os braços pelos
ombros de Hazel. – Fico feliz que veio. E que você e essa mocinha aqui
estejam se tornando amigas. Fique à vontade. A casa é sua.
– Obrigada.
Hazel me arrasta para a sala de jogos, onde estão os outros. Johnathan e
Lian jogando bilhar e Kellan no videogame. Oliver já está ali também,
assistindo à partida de bilhar.
– Bela-Bia, quero te dar um beijo, mas agora preciso em concentrar aqui. –
Explica-se Lian ao me ver.
– Tudo bem Lian, desta vez passa. – Brinco com ele, já sentindo intimidade
com aquele rapaz.
– Está vendo como as mulheres são, Kellan? Basta você pisar na bola uma
vez para a sua classificação despencar no conceito delas.
– Há mulheres com quem não se deve pisar na bola. Nunca! – O rapaz
responde, vindo me dar um beijo na bochecha e fazendo as mesmas ficarem da
cor do fogo quente do inferno.
– Fiuuu.
– Uau.
– Oinn. – Zoam Max, Johnathan e Lian, cada um à sua maneira. Oliver só
continua lá, de cara amarrada.
– Oh Don Juan, a Biazinha não vai cair nesse papinho meloso. Elas gostam
é de pegada e não de babação, moleque – fala o guitarrista.
– E o que você entende sobre mulheres, Lian? – Johnathan ajuda o filho.
– Obrigado pai.
– Me devendo, garoto – responde o Wells mais velho.
Acabamos Hazel, Kellan e eu jogando boliche até que o almoço foi servido,
enquanto os outros quatro seguiram no bilhar. Boliche é uma coisa que eu e
papai fazíamos de vez em quando. E por isso, até que eu mando bem.
No meio da tarde, Johnathan resolve voltar para casa e ficamos apenas os
seis, sentados na parte coberta do deck, bebendo e conversando. Os garotos na
cerveja e Hazel e eu no suco.
Estou sentada praticamente de frente para Oliver. Um Oliver descontraído e
relaxado. Interagindo com os amigos.
Acho que é a primeira vez que o vejo assim e que tenho chance de observá-
lo.
Realmente observá-lo.
E o que posso dizer?
Hoje é um dia feliz. Muito feliz.
Teve aquele lance de manhã e agora... isso...
A paisagem nunca esteve tão maravilhosa quanto neste sábado chuvoso.
Admiro.
Ai Ai.
Ele é gato.
E é gostoso! Muito gostoso.
Calma. Eu sei! Só... me deem uns minutos, ok?
Vai passar.
Mal saí da adolescência e não tive muitas oportunidades, lembram?
Eu posso. E mereço.
É o meu sonho. Bem aqui, na minha frente.
E ele é... respiro fundo. Preciso admitir.
Eu sonho alto.
Nossa!
Uau!
Que espetáculo!
Ok, ok... Pronto.
Baixo meus olhos e bebo meu suco. É rápido. Logo os ergo novamente.
Animada em, quem sabe, continuar com a análise minuciosa do material. Mas,
oh oh... Sou surpreendida pelo motivo dos meus suspiros me olhando de
esguelha e com um sorrisinho indeciso querendo se formar no canto de boca.
Fui pega?
Pega com a mão no ar, prestes a invadir o pote do biscoito proibido?
Creio que sim. Desvio o olhar.
De repente parece que o sol resolveu começar a brilhar. Só que bem no
meio das minhas bochechas.
– Cara, ainda não acredito que perdi para vocês. Aquela última tacada era
impossível de acertar. Vou descobrir a marmelada que os dois aprontaram,
podem apostar. – A fala de Lian captura sua atenção. Ainda bem.
– Pare de choramingar Lian. Você só ganha porque corre fazer dupla com
Johnathan e dificilmente ele perde. Só que eu e Max temos treinado cabeção.
Seus dias de glória com o titio terminaram.
– Rá. Rá. Também jogo bem, bonitão. O mérito da nossa parceria bem
sucedida não é só do meu tio.
– Bia, você sabe jogar bilhar? – pergunta Kellan lá pelas tantas, me fazendo
aterrizar de supetão ao voltar forçadamente de Nárnia. Hã? Bilhar? Era disso
que estavam falando?
– Não, nunca joguei.
– Quer aprender? – Hazel tosse e se engasga com o seu suco. Lian e Max
caem na gargalhada.
– Sério, Kellan? – questiona Oliver.
– Irmão, você foi sutil como um jumento – Hazel lhe joga a real.
Se eu pudesse, me enfiava debaixo da mesa agora, sério.
– Ué? Qual o problema? – defende-se. Oliver dá um olhar enviesado para
ele.
– Essa é mais velha do que andar para a frente, fedelho. Seja mais criativo
– opina Max.
– Nada a ver... – Justifica-se o rapaz, ficando nitidamente envergonhado por
ser sido tão óbvio.
– Nada a ver? Sei... somos todos macacos velhos aqui, pirralho. Conta
outra. – Oliver acrescenta.
– Nada a ver mesmo – insiste o garoto.
– Ah é? Tudo bem então. Vamos lá Beatriz, será você e eu contra Kellan e
Hazel. – Oliver determina e todos gargalham da cara que Kellan faz.
– Se deu mal, moleque. – Lian goza.
Bom, acho que não tenho escapatória, certo? Caso contrário, o que eu
diria?
Desculpe Oliver, mas não posso porque não conseguiria ficar tão próxima
de você sem querer te atacar?
Não é uma opção.
Suspiro. Vamos lá encarar essa então.
Na sala de jogos, Oliver começa me explicando as regras do jogo e a dar
orientações básicas sobre como segurar o taco, posicionar, mirar e bater. Eu
presto atenção. Mais no professor do que na lição. Quem ousaria me
recriminar? Mas é quando ele me pede para demonstrar que a minha tortura
começa. Ele posiciona algumas bolas na mesa e pede para eu acertar a bola
branca e fazer esta rolar até bater em alguma das outras.
Me inclino tentando imitar o que ele demonstrou antes. Miro e não acerto.
Nem na branca!
Aff! Ele ri. Um sorriso lindo.
Derreto.
Nem ligo em ser o motivo da piada.
Pede para eu tentar de novo. Tudo que você quiser, baby.
Repito o movimento, e de novo o taco acerta apenas o espaço vazio. Tento
mais uma vez e consigo acertar a branca, mas ela não chega nem perto de
nenhuma das outras.
Isso vai ser bem mais difícil do que eu supunha...
– Acho melhor vocês desistirem. Sou péssima! – admito o que todos já
constataram.
– Que nada, logo você pega o jeito – incentiva Hazel.
– O problema é o seu professor. Se tivessem deixado eu ensiná-la... –
Aproveita Kellan para jogar a sua indireta.
– O cacete! Vem Beatriz, vamos tentar de novo.
Pego o taco e me posiciono, já prevendo o novo vexame, mas antes que eu
possa impulsioná-lo, Oliver segura a minha mão e se inclina sobre mim,
deixando seu tronco tocar as minhas costas.
Meu corpo reage instantaneamente. Seu calor me envolve, uma eletricidade
me transpassa. Tenho certeza de que ele sentiu a reação. O tremor que me
percorreu de cima a baixo. Seu cheiro delicioso, mentolado, grudado em mim é
uma baita tortura. Ouço sua respiração, parece pesada, ofegante, o ar quente
sai das suas narinas tocando o meu ouvido, enquanto tenta posicionar minha
mão e meu corpo da forma correta. Sinto gotas de suor se formando em minha
testa. Preciso de ar.
Assim que se dá por satisfeito, se afasta. Meu alívio é imediato. Consigo
respirar outra vez.
– Agora, de leve – orienta.
Não me mexo nem um milímetro da posição em que ele me deixou. Não
poderia, estou em transe. Só movimento o braço, de leve, como mandou.
Acerto a bola branca, que bate na bola azul, que por sua vez, rola e cai na
caçapa.
Acertei? Pisco para ter certeza que estou vendo direito. Caraca, estou.
Huhu! Pulo comemorando e no impulso me lanço contra ele, Oliver se
assusta, mas me segura e me aperta contra si.
– Você conseguiu – diz baixinho, próximo à minha têmpora, seus lábios
roçando de leve a minha pele, me fazendo arrepiar e trepidar outra vez. Ele
sorri. Só então me dou conta de como nossos rostos estão próximos. Tão
próximos!
– Obrigada. – Me ergo na ponta dos pés e beijo sua bochecha. Ah vai, não
me julgue... Não resisti! Foi mais forte que eu.
Ele fica desconcertado e rapidamente se afasta outra vez.
Tentamos jogar uma partida e ele continua me ajudando, mas em nenhum
momento de forma tão próxima outra vez.
Estamos perdendo de lavada, é claro, afinal tanto Kellan quanto Hazel
jogam bem.
Kellan tenta vez ou outra me orientar com algum lance, mas Oliver não
permite que se aproxime demais, sempre se antecipa. E terminamos o jogo
como os bons perdedores que somos.
Mas eu me sinto como uma verdadeira vencedora. Com direito a quebra do
recorde mundial e medalha de ouro no peito.
– Treine Bia, que a próxima será meninas contra meninos – avisa Hazel.
– Você tem coragem! – alerto, reviro os olhos e rimos.
Oliver
Que porra é essa angústia em meu peito? O que a menina tem que mexe tanto
comigo? Por que o senso de posse me domina quando estou perto dela? Tento
analisar meus sentimentos, sentado na cadeira do escritório, depois de
voltarmos de Max e eu tomar um banho. Não passei o dia bem. O tempo todo
uma sensação esquisita aparecia do nada e me esmagava por dentro.
Ver Beatriz interagindo com minha família, tão à vontade, tanto hoje quanto
no jantar feito em sua homenagem, me deixou extasiado. Ela não percebeu, mas
teve todos a sua volta o tempo todo, maravilhados, como mariposas em torno
da luz.
Eu fiquei só observando a interação das pessoas que amo com a nova
moradora da minha casa. Em uma única noite, ela fez todos se apaixonarem por
ela.
E um de nós, pelo jeito, se apaixonou em todos os sentidos.
Nunca vi Kellan agir da forma que agiu naquela noite. O garoto sempre foi
expansivo, comunicativo, alegre e conquistador. E naquele dia passou a noite
acanhado, enfeitiçado, eu diria até amedrontado. Parecia não acreditar que
existe, sob a face da terra, uma criatura mítica como aquela.
Hoje ele tentou se aproximar. Inúmeras vezes criou situações para estar
perto, tocar, até a mais ousada, sua tentativa frustrada de levar a garota para a
sala de jogos e ficar sozinho com ela lá, na desculpa de ensiná-la a jogar
bilhar.
E eu minei os planos dele.
Por que, caramba?
O momento em que deitei sobre o seu corpo para ajudá-la a achar o ângulo
e a posição correta da tacada, não foi na malícia, mas assim que o seu calor me
envolveu e o seu perfume me atingiu feito um raio, me dei conta da merda que
estava fazendo.
Sua bunda tocando levemente a minha virilha...
Ela se excitou. Nitidamente. E eu também.
Minha respiração pesou e consegui conter o pau no lugar a custo de muito
esforço.
Depois se atirou em mim quando acertou o lance. Eu não resisti e me
aproveitei para envolvê-la e me inebriar um pouco mais com o seu cheiro doce
de baunilha. Aí ela beijou minha bochecha e o aperto no peito me esmagou
outra vez.
E mais cedo teve a palhaçada que eu fiz ao limpar a cobertura do bolo do
seu rosto. Ali não foi inocente. Eu flertei descaradamente com ela.
Eu, um homem de quase trinta e um anos, que conhece muito bem o poder de
sedução que tem, lançar sua artilharia para cima de uma menina de dezessete?
Uma menina que não tem ninguém olhando por ela? Patético!
Ela nem respirava! Parecia ainda mais menina, encabulada, confusa e com a
carinha de anjo coberta de chocolate.
Tão linda!
Balanço a cabeça em negativa. Eu só posso ter enlouquecido. Preciso tomar
vergonha na cara, urgentemente.
No meio daquela análise de consciência, percebo um vulto à na porta.
Levanto os olhos naquela direção e Beatriz está lá, parada, olhando para a
estante do escritório onde guardo meus prêmios com a The Order e algumas
fotos oficiais de turnês e álbuns.
– Entre, pode olhar de perto – convido, a assustando.
– Ah, desculpe, não percebi que você estava aí. Achei que tinham
esquecido a porta aberta.
– Não tem problema, pode olhar, entre.
Ela se aproxima da estante e vai olhando cada item exposto com muita
atenção. Para próxima a uma foto do lançamento do nosso segundo álbum e se
demora mais nela.
– Essa foto foi pouco antes do lançamento do nosso segundo álbum – digo.
– Sim. Just a Fucked Dream. Há nove anos.
– Sim, isto mesmo. Você conhece bastante de nossa carreira mesmo, não é?
– Tudo que é possível saber, eu sei.
– Por causa de Private Chaos? – Ela se demora por alguns instantes, mas
confirma.
– Sim, por causa da música.
Me aproximo ainda mais. Não sei o porquê, mas preciso. Coloco-me atrás
dela, a poucos centímetros de seu ouvido, e canto.
“ A sua escolha me deixou nesse breu
Marcou minha pele
Cravou meu destino
Matou o melhor em mim
Me lançou do topo
Para o fundo do meu caos particular
E então é lá que eu quero estar agora
Lá onde habita a sua essência.
Onde não há máscaras nem enredos.
Onde tudo está bem.
É lá que eu quero morar, querida.
Para me perder e me encontrar de vez”
No dia seguinte, finalmente a chuva se foi e o sol está a pino. Olho o celular
e já são três horas. Nossa, dormi muito. Devo ter voltado da casa de Max já
passando das cinco da manhã.
Apesar de todo o sexo e desgaste físico de ontem, a sensação estranha ainda
me acompanha. E o prazer dos orgasmos que tive não amenizaram a
inquietação da forma que gostaria. Posso sentir os resquícios dela sempre me
rondando.
Afasto aquilo por hora, levanto, me arrumo e saio do quarto. Não sinto
fome, por mais que tenha gasto muita energia na noite anterior.
– Boa tarde, vó. – Me anúncio.
– Oi, boa tarde, filho. Vou pedir a Gia para colocar o seu almoço.
– Agora não vó, estou sem fome, mais tarde.
– Como não está com fome? Sua última refeição foi quando, no jantar de
ontem? Já passa das três da tarde. Não estou gostando disso, Oliver. Te
conheço, qual o problema?
– Nenhum, daqui a pouco eu como. Não estou bem, me sentindo um pouco...
enjoado. Deve ser efeito da bebida de ontem, apesar de eu ter bebido pouco.
Cadê Beatriz?
– Está ali fora no deck, conversando com Kellan.
– Kellan, aqui?
– Sim, ele almoçou conosco. – O moleque está determinado. Engulo em
seco e tento disfarçar a minha cara de descontentamento para que vovó não
perceba meu desconforto.
– Ele está marcando em cima. Ontem na casa de Max, não saiu de perto dela
– digo como quem não quer nada.
– É, ele parece realmente encantado por ela. Até Alicia comentou ontem
que nunca o viu assim por uma menina antes. – A angústia no meu peito
aumenta. Fecho os olhos. Que merda é essa?
– Vou um pouco lá fora também, ver se o ar fresco me ajuda com esse enjoo
– digo, para disfarçar os motivos de me juntar a eles.
– Talvez comer ajude. – Vovó comenta elevando a voz, enquanto eu caminho
para a saída.
O que ajudaria comer, eu não posso! Penso comigo mesmo.
– Daqui a pouco – resmungo de volta.
Assim que piso no deck, estanco. Ela está linda, radiante. Uma regatinha
amarela, os cabelos num rabo de cavalo alto, os cachos pendendo dele, um
sorriso lindo de iluminar Paris. O que a faz sorrir tanto para ele?
– Boa tarde, crianças! – digo. – Quais os planos para hoje? – Sento-me um
pouco afastado deles.
– Boa tarde – responde Beatriz, sem me olhar.
– Pretendo passar o dia com Bia – admite o fedelho.
– E você já perguntou se ela quer você enchendo o saco o dia todo?
– Kellan é muito divertido, claro que topo passar o dia com ele – rebate,
olhando para o moleque. Ela está flertando com ele?
– A festinha com as meninas no Max ontem, foi boa, hein? Pelo horário que
acordou... – O pentelho me expõe na frente dela. A raiva me sobe.
– Não se faça de santo, fedelho, sabe muito bem que costuma participar bem
ativamente das festinhas. – Ele fecha a cara para mim.
– Não participo de nada há um bom tempo – defende-se.
– Bom tempo? Há o que? Três dias? – Ele bufa. Beatriz tem os olhos baixos
e o semblante triste. Nem um resquício do sorriso largo que vi antes de me
juntar a eles. Vejo Lian se aproximando. Ele beija Beatriz e senta-se ao meu
lado.
– E aí?
– Oi – respondo, irritado.
– Que foi? Que cara é essa?
– Nada – digo, áspero. Lian me olha intrigado. – Karen não faz mais almoço
na sua casa, que o fedelho vem comer na minha?
– O tipo de refeição que ele busca só tem na sua, gostosão.
– Não fode. – Ele me encara ainda mais.
– O que está pegando Oliver? Te achei estranho aquele dia na festa, que
você arregaçou. Sábado no jantar, estava distante, ontem no Max, muito mais
calado do que o normal. Agora está implicando por Kellan querer se
aproximar da menina? Qual o problema?
– Não sei. – Sei que não convenci. Lian pode ter esse jeito de quem não
está nem aí, mas ele é muito perspicaz e observador. E o cara com o maior
coração que eu conheço. Ele daria a vida por qualquer um de nós ali. Sempre
foi com ele que consegui me abrir mais. E eu preciso fazer isso com alguém. –
Não ando me sentindo bem.
– Como assim? Está doente? São as...
– Não, não assim. – Ele me analisa enquanto tento me comunicar com ele
sem o uso de palavras. Desvia então o olhar para Beatriz e Kellan e volta a me
olhar. Fecha os olhos e sei que matou a charada.
– Não... não vai me dizer que... – Eu não digo nada, só o encaro. – Puta
Merda! Não é possível... – Minha vez de fechar os olhos. Ele ri. – Se tá aí uma
coisa que eu tinha certeza que jamais fosse estar vivo para ver é isso. Oliver
Rain mexido por causa de uma mulher. Pior ainda, uma menina.
– Eu sei, mas deve ser por ela estar aqui, dentro da minha casa. Acho que
isso está me remetendo a velhas lembranças e sentimentos, você sabe. – Ele
assente. – Só pode ser, ou então estou enlouquecendo...
Ele me estuda e não concorda, nem discorda da minha conclusão.
– Sabe que não pode brincar com ela, não é? Cara, ela já é da família, todos
aqui sentem carinho por esta menina. Não é como se pudesse pedir ao Peter
para se livrar dela no dia seguinte. Além disso, é de menor e depende de você.
Não dá!
– Claro que eu sei, não sou irresponsável. Jamais me envolverei com ela.
Só que me incomoda! Eu sinto como se ela me pertencesse e não sei de onde
isso vem.
– Não sei o que dizer, velho. Nunca senti nada parecido para poder opinar.
Talvez fosse o caso de você conversar de novo com a sua avó para arranjarem
outro lugar para ela ficar. Tenho certeza que meus tios ficariam felizes em tê-la
lá. E Hazel iria adorar, fariam companhia uma à outra. É uma ótima solução,
não a afastamos daqui, mas a afastamos de você.
– Não – respondo brusco, rápido e categórico. Lian arregala os olhos.
– Porra! É pior do que eu pensava. Oliver, isso vai dar merda, ouça bem o
que eu estou te dizendo. Faça algo enquanto pode. Porque cara, eu te amo, mas
se você ferrar ainda mais com a vida daquela menina, eu serei o primeiro a
ficar do lado dela. Só para você saber. – Nunca vi Lian falar algo com tanta
energia, como a chamada que me deu agora.
Eu apenas assinto. Ele está certo.
Bia
Não sei nem o que pensar de tudo o que vivi ontem. Sobre a foto e o bilhar
eu até posso ter deixado meus hormônios fantasiarem além da realidade. Mas e
aquele momento no escritório? O que foi aquilo? Alguma coisa aconteceu ali.
Não fui só eu que ficou envolvida. Ele também. Vi ternura em seu olhar, mas
vi outra coisa também... desejo. Como é possível? Não sei. Então vou parar de
pensar a respeito, porque quanto mais tento entender, mais confusa fico.
E para alimentar ainda mais a minha confusão, meu sétimo dia no paraíso da
The Order não está indo bem. Assim que Kellan insinuou que Oliver não
dormiu em casa e sim na casa de Max, onde rolou mais uma das suas
“festinhas”, meu humor azedou. Ridículo, eu sei. Mas difícil evitar.
Kellan foi uma distração bem-vinda para o meu dia. Impediu que imagens
como a de uma bela ruiva subindo e descendo no colo de um certo Deus do
Rock dominassem meus pensamentos. Quem será que sentou naquele colo
ontem? Ruiva? Loira? Morena? Uma de cada? Inferno!
Oliver ficou horas conversando em tom baixo com Lian lá no deck. Lian em
algum momento pareceu se alterar um pouco com ele, mas não deu para
entender do que falavam. Assim que o guitarrista foi embora, se enfiou dentro
de casa e não deu mais as caras.
O bebê da banda foi todo prestativo comigo. Conversamos principalmente
sobre a minha vida, meus pais e infância. Ele me convidou algumas vezes para
um banho de mar ou piscina, mas além de eu não querer fazer isso com Oliver
e Lian observando, há também o fato de que não possuo nenhuma roupa de
banho. Então jogamos cartas, depois lanchamos juntos ali no deck mesmo e
quando o sol já não estava tão forte, tentamos o frescobol na areia, onde eu
mais o fiz correr atrás da bolinha do que efetivamente jogamos. Esportes nunca
foram o meu forte.
Ao pôr-do-sol, Kellan foi embora e eu fui para o quarto tomar banho e
trocar de roupa.
– Oi Laura. – Encontro-a na sala ao sair do quarto.
– Oi Bia, teve um dia divertido?
– Sim, muito.
– Está com fome? Acabei jantando...
– Na verdade não muita, exagerei no lanche que Gia levou para nós lá fora.
– Laura não está normal, ela fala comigo, mas seu pensamento está longe.
– Estou te achando um pouco triste. Aconteceu alguma coisa?
– Nada de mais. Estou preocupada com Oliver na verdade. Ele não comeu o
dia inteiro. Oliver se isolar e não comer é um grande fator de alerta para mim.
– Não compreendo o comentário e não quero ser invasiva. Mas um ponto me
toca. – E ele praticamente não saiu daquele quarto hoje, Bia.
– Será que ele está se sentindo incomodado com a minha presença? Porque
se for isso, por favor, seja sincera comigo e eu dou um jeito. Não quero causar
mal-estar a nenhum de vocês.
– Não é nada disso. – Esclarece uma voz rouca, firme e imponente. – Você
não incomoda e vovó está exagerando. Só quis recuperar o sono.
– Que bom que veio se juntar a nós, filho. Passou o enjoo?
– Está melhor. – Procura o meu olhar enquanto fala. Desvio. Ele se joga no
sofá a nossa frente, a vontade, relaxado, balança as pernas e passa a mexer no
telefone.
– Então Bia, você e Kellan tem se dado bem, não é? – Pergunta Laura.
Oliver desvia a atenção do aparelho e assim como a avó, me observa em
expectativa.
– É, estamos criando uma amizade bacana – respondo.
– Só amizade? – pergunta ela. E se alguém quiser fritar um ovo na minha
bochecha agora, pode ficar à vontade.
– Sim, apenas isso – digo.
– Nem uma chance de virar algo mais? – Ela insiste. Ele continua me
observando atentamente.
– Laura, Kellan é ótimo. Qualquer garota ficaria feliz em tê-lo como
namorado. Não posso dizer o que vai ser do futuro, mas por enquanto não há
nada além de amizade entre nós. – Ele volta a se concentrar no celular, a cara
fechada, já não o sinto tão relaxado.
– Torço para que vocês se acertem, formariam um casal muito bonito.
Alicia também está animada com a possibilidade – fala ela. Ai senhor, como
dizer a ela que tenho uma outra visão do casal bonito? Uma onde a sogra não é
Alicia.
– Desculpem, mas piorou o meu enjoo. Vou voltar para o quarto. Boa noite
às duas. – De repente ele se levanta e sai.
Laura nitidamente volta a ter o ar preocupado de antes. Faço companhia a
ela e procuro falar de outros assuntos para tentar distrai-la.
Perto da meia noite, escuto alguém chamando meu nome do lado de fora.
Laura abre um sorriso enorme.
– Acho que Kellan não aguentou esperar até amanhã –diz. Olho pelo vidro e
realmente é ele quem está lá. Vou ao seu encontro, entender o que ele quer.
– Bia, eu... eu pensei se talvez... Você gostaria de se juntar a nós na casa de
Lian, estamos bebendo e conversando no deck. Por favor. – Convida,
encabulado e esperançoso.
Ah, meu Deus!
Bem... vamos lá.
No que me volto para avisar Laura que sairei com ele, Oliver está de volta
à sala. Ele tem o semblante fechado, o maxilar travado e os olhos fixos em
mim. Será que ele não aprova minha amizade com o Kellan?
Ahh, quer saber? Que Oliver se exploda! Não vou estragar a minha noite e
não vou ser mal educada com Kellan, que me tratou muito bem o dia todo.
Aceito e saio com o garoto.
Se no dia do jantar de apresentação consegui escapar e não ficar sozinha
com a The Order inteira, hoje não tive a mesma sorte.
E hoje é muito, muito pior.
Estou irritadíssima com Oliver. Idiotice, eu sei.
Que direito eu tenho sobre a vida dele? Sobre o que fez na noite anterior e
sobre onde e em quem ele enfiou o ... Argh!! Só de lembrar... só de pensar...
A princípio o Sr. Bipolar não deveria fazer parte da reunião, contudo, nem
cinco minuto após chegarmos ele veio se juntar ao grupo.
Oliver vira e mexe fixa os olhos em minha pessoa, aparentemente
incomodado com a minha proximidade com o baixista. E eu, evito os dele a
todo custo.
Kellan levanta-se. Provavelmente para buscar nossas bebidas e ele parece
relaxar um pouco.
– Conta aí Oliver, o que rolou para mudar de ideia e vir se juntar a nós
nesta linda e fresca noite estrelada para uma cerveja? Cansamos de te convidar
e você negou categoricamente. E de repente aparece? – Lian tem um sorriso
debochado e um ar provocativo. Oliver o encara com irritação e uma velada
advertência estampada na cara.
– Também estou curioso. Passou o enjoo?
– Não. Só piora. – Lian ri quando ele responde bruscamente à pergunta de
Max e sinto que me encara outra vez.
Que saco!
Qual o problema dele? Será que não me quer ali? Participando do momento
com eles? Ou... putz... só posso estar sendo uma bela de uma empata foda. Se
eu não estivesse ali eles provavelmente já estariam cercados de amigas, não?
Meu mal humor acaba de piorar.
Kellan retorna para a mesa trazendo dois copos e duas cervejas. Ele pousa
um dos copos na minha frente e me serve.
– Você não deveria beber. – Ah Oliver, não é um bom momento para
implicar comigo, não mesmo... Respiro fundo. Preciso achar a calma dentro de
mim.
– Larga do pé da garota, Oliver.
– A conversa não é com você, fedelho.
– Quem não deveria beber é você – retruco, irritada. Pelo visto, a calma
não será minha parceira hoje.
– É mesmo? – Ele cruza os braços. – E por que eu não deveria beber
Beatriz? Fiquei curioso. – Lian parece relaxado e só observa, divertido. Max
tem os olhos em expectativa, confuso e também bem interessado em entender
porque eu desafiei o vocalista.
– Porque você não comeu nada o dia todo, Oliver. Por isto! Sua avó está
bem preocupada com você. – Ele suaviza a expressão, descruza os braços e
passa as mãos pelos cabelos. Lian pega o telefone e digita alguma coisa.
– Ela reclamou disso também com você?
– Brilhante dedução, Sherlock. – Os outros três riem e Oliver estreita os
olhos para mim.
Deus! Controle a raiva, Bia... ou então pelo menos mantenha a boca calada
perto dele.
– Você está no modo petulante, pelo visto.
– É. Acontece sempre que estou na presença de alguém no modo implicante.
– Max deixa escapar um “porra” e Lian uma gargalhada. Kellan está com cara
de quem não está entendendo muita coisa.
Também não me reconheço, Kellan.
Eu não tinha prometido manter a boca fechada?
Ele estreita ainda mais os olhos, só que agora de um jeito diferente.
Parecem repletos de... promessas... Elencando coisas que gostaria de fazer co-
mi-go por causa do meu atrevimento. Um calafrio sobe pela minha espinha e
me faz estremecer ante aquela deliciosa possibilidade. Lian sai da mesa.
– Já passou da hora de crianças estarem na cama, Beatriz, sabia?
– Por que Oliver? Estou atrapalhando alguma coisa? Se estiver é só falar,
vou para a cama num instante.
– Não atrapalha nada não, Bia. – Max intercede. – Baixa a bola, Oliver.
– Não vejo porque deveria. Eu sou o implicante, vou fazer jus ao título.
Sabe-se lá quantos outros títulos eu tenho negligenciando. Tem mais algum a
qual eu deva dar a devida atenção, Beatriz?
– O de babaca talvez. – Responde Kellan antes de mim.
– É. Esse até que combinaria bem com você. – Descarrego a frustração sem
nem medir as palavras e meu rosto incendeia na sequência.
Até que demorou.
Cacete! Eu e minha coragem fora de hora! Mas por Deus, a cara de surpresa
de Oliver agora é impagável. Max tenta muito segurar a gargalhada, mas não
consegue, Kellan acompanha e eu acabo entrando na onda e rindo junto. Até
Oliver, no fim das contas, deixa escapar uma risadinha, aliviando o clima. Lian
se aproxima com um prato na mão e o coloca na frente dele.
– Coma. Seu mal é fome. – Ele olha para o sanduíche e torce o nariz. Mas
no fim o pega e dá uma mordida.
Senhor... até isso ele consegue fazer de um jeito sexy... Minha boca enche de
água de repente. E não é pelo sanduíche.
Uma gelada brisa do mar sopra um pouco mais forte que o normal, me
causando arrepios. Esfrego uma das mãos pelo meu braço em reflexo ao frio
repentino. Kellan percebe, aproxima mais sua cadeira e passa um dos braços
pelo meu ombro me puxando de encontro a si.
Oh oh! Não esperava por isso.
Fico sem jeito de afastá-lo. Lian e Max erguem as sobrancelhas para o
garoto. Oliver, que se preparava para mais uma mordida em seu lanche, para
com a comida a centímetros da boca, aparentemente indigesto. Kellan dá um
beijo em minha cabeça e o Sr. Bipolar larga a comida no prato e se levanta.
– Desculpe Lian, mas o enjoo tá foda de aguentar. Não consigo comer. Boa
noite!
– Mas... Já vai? – Max o olha preocupado. Lian também, só que de uma
forma diferente, mais alarmante.
– Vou Max, isso. – Ele faz movimentos circulares em frente ao estômago. –
Está me deixando extremamente irritado. Se eu não sair daqui posso fazer
coisas de que me arrependa. Inclusive cometer um ato de violência.
Dá as costas e vai embora. Ele realmente não me tolera no meio deles.
Depois que os outros entraram, Kellan sugere uma caminhada pela praia.
Aceito.
No início fiquei com receio de que ele avançasse o sinal, mas apenas tentou
me conhecer melhor. E caminhar foi ótimo para desestressar e dissipar a minha
raiva.
Fomos um pouco além da distância que cheguei na fatídica noite. Ele me
explicou que o paredão de pedras foi construído ali para inibir a entrada de
moradores das áreas vizinhas do condomínio. E que a construção que
avistamos é mesmo uma marina. No mais, ele me contou sobre seus estudos,
como se preparou desde novinho para assumir o baixo na banda, o que sempre
foi o seu sonho. Ele cresceu admirando o primo e os amigos e sempre teve a
certeza de que era aquilo que queria também para o seu futuro.
Elogiei seu trabalho, descrevi todas as diferenças que percebi nas músicas
depois que ele entrou e ele ficou maravilhado com isso. Se espantou por eu
conhecer tanto. Então contei para ele um pouco da minha vida no colégio, da
bolsa pelo meu envolvimento com o coral e das minhas tentativas frustradas de
arranhar alguma coisa no piano.
Ao retornarmos, ele me acompanha até a frente da casa de Oliver, nos
despedimos ali na areia mesmo.
– Obrigada pela companhia, Bia. Adorei a nossa noite. – Me puxa para um
abraço um pouco demorado demais, me dá um beijo na bochecha, me deseja
boa noite e diz que sentirá saudades no meu ouvido. Não consigo dizer nada.
Assim que ele se vai, rumo para dentro de casa.
– Foi bom o passeio? – Ouço, ao me aproximar da entrada da sala. Fecho
meus olhos e respiro fundo antes de olhar na direção dele. Volto-me devagar e
procuro-o. Ele está numa mesa mais afastada do deck, depois da piscina,
protegido por sombras que dificultam perceber sua presença. Permaneço onde
estou, embora agora esteja olhando para ele.
– Foi ótimo! A noite está fresca e bonita, e Kellan é um amor – respondo
com certa raiva. Sabe aquela questão que a caminhada amenizou? Não mais.
Por que cargas d’agua tudo nele hoje me irritada? Deve ser a TMP.
– Ele é sim. Um bom menino – diz.
Espero uns instantes e como ele não acrescenta mais nada, desisto.
– Vou me deitar. Boa noite, Oliver.
– Não vá – pede antes que eu consiga alcançar a porta. Fecho meus olhos
em desespero. – Fique um pouco aqui, comigo.
Meu coração dispara. Acho que até Oliver é capaz de ouvir o som das
batidas lá de onde está. Minha razão diz para eu dar as costas de vez e ir para
o quarto. Ainda mais quando Oliver e as palavras fique e comigo estão todas
juntas no mesmo pacote. Mas minhas pernas têm vida, e vontade, próprias, e
lentamente me levam para perto dele.
Me aproximo da mesa em que está, o aroma de menta me tonteia, o desejo
de tocá-lo ascende e está cada vez mais difícil de disfarçar. Puxo uma cadeira
e me sento. Vejo que ele está bebendo uma cerveja.
– Quer uma cerveja? – oferece, depois de um tempo estudando meu rosto.
Ele só pode estar de sacanagem, né?
– Acho que não tenho idade para beber, lembra? – falo, irônica, o
encarando de volta.
– Verdade. Não tem. – Devolve ele, sem desfazer o contato. – Não tem
idade para beber e nem para ficar dando voltinhas às duas da manhã com
pirralhos pela praia escura.
O que? Ele disse mesmo isso? Me deu um pito como se fosse o que? Meu
pai? Aquilo eleva o nível da minha ira. Minha raiva adquire um tom bem
alaranjado, próprio das ruivas.
Inferno! Quem ele pensa que é?
– Pirralho ou não, ele me tratou muito bem o tempo todo. – O fogo na
bochecha sobe, ainda bem que está escuro.
Pelo visto a coragem de antes não me abandonou.
Mas sustento o seu olhar, que não afrouxa.
Ele dá um sorriso de lado. Debochado.
– Sim, diferente do implicante e babaca aqui... – Engulo em seco. Eu
realmente falei aquilo para o homem que está me dando abrigo em sua casa?
Acho que ele tem um pouco de razão em estar zangado comigo. – Ele é ótimo!
O que mais mesmo? Deixe-me ver se me lembro de tudo...Talentoso, divertido,
bonito. Esqueci de algo? Ah sim, um amor! E qualquer garota gostaria de tê-lo.
Ali, já não estou entendendo o que exatamente ele quer dizer com aquilo.
Acho que na verdade ele está meio bêbado.
– Qual o objetivo de toda essa... panaceia?
– Uhm, escolha interessante de palavra. Você o considera isso? A sua
panaceia, Beatriz?
Ah querido, não... não ele...
– Onde você quer chegar com isso? Diga de uma vez. – Sigo firme, sem
parar para pensar de onde vem a ousadia. Mas aproveito, antes que o meu
momento carruagem acabe e eu vire abóbora de novo.
– Onde eu quero chegar? Não sei. E você, Beatriz? Onde você quer chegar?
Meu chão some com suas palavras. Devo ter ficado até branca.
Será que... será que eu entendi direito e ele está mesmo insinuando que
estou me aproximando deles, ou de Kellan, com interesses escusos?
Repasso a fita das nossas interações e então eu entendo tudo. O motivo do
seu enjoo e do seu distanciamento. Aquela cena no escritório, a conexão que eu
senti. Todas as outras interações que ele provocou... Tudo armado! Armado
para me testar. Ver se me insinuaria de alguma forma para ele também, como
ele imagina que estou fazendo com Kellan.
Sinto meus olhos encherem de água. Pensar que qualquer outro cara tenha
uma ideia assim a meu respeito me magoaria. Saber que ele tem, me fere!
Profundamente.
Me levanto e respiro fundo, tentando conter o choro.
– Não se preocupe, Oliver. Sei que não está feliz com a minha presença
aqui. Até o final da semana prometo que resolvo minha situação.
Viro as costas para ele, mas antes que eu consiga dar o primeiro passo ele
segura o meu pulso, me impedindo. A eletricidade estonteante, efervescente,
que só a sua proximidade me provoca, percorre meu corpo outra vez e eu já
não tenho mais noção nem do espaço e nem do tempo. Mas ela não cabe ali.
Ele me machucou demais com a sua insinuação.
– Me olhe, por favor. – Faço um esforço sobre-humano para não ser mal-
educada e atender ao seu pedido.
O encaro outra vez.
Oliver desliza os dedos do meu pulso até a palma da minha mão, causando
choques por onde passa, entrelaça os dedos nos meus, puxa minha mão em
direção ao seu rosto, leva-a até a boca e dá um beijo demorado no dorso,
fazendo-me sentir o calor dos seus lábios. Tudo sem tirar os olhos dos meus.
– Me perdoe se te magoei – diz ao afastar minha mão dos seus lábios, mas
sem soltá-la.
Eu não tenho mais forças para dizer qualquer coisa, apenas assinto, puxo
minha mão e vou embora. Chego ao quarto, me troco e me deito.
Sentimentos conflitantes me acompanham. Ao mesmo tempo que deixo
algumas lágrimas caírem, levo minha mão ao rosto, tentado sentir se sobrou
algum aroma do perfume dele. A pele formiga onde ele beijou e tocou. Fico
ali, esvaziando a decepção e desfrutando ao máximo daquela sensação que o
nosso contato deixou.
Até que o sono me pega.
Eu sonho com olhos felinos, lábios quentes, mãos entrelaçadas e sorvete de
menta.
Capítulo 7
Oliver
Acordo com o meu celular vibrando. Estico minha mão até o criado-mudo e
pego-o. É de Lian.
São dez e trinta. Levanto, tomo um banho rápido, coloco uma bermuda e
uma camiseta e saio em busca do café da manhã. Ao me aproximar da cozinha,
vejo que vovó e Beatriz ainda estão ali tomando seu café. Me aproximo e beijo
o topo da cabeça de dona Laura.
– Bom dia vó. Beatriz – digo me dirigindo as duas.
– Bom dia, querido.
– Bom dia – responde a garota, ríspida. Nem posso reclamar, mereço.
Percebo então que dona Laura está muito arrumada para alguém que vai
passar o dia em sua casa à beira-mar.
– Onde vai assim? – Ergo a sobrancelha para ela.
– Combinei com Alicia e Helen de irmos ao shopping em Long Beach. Ela
quer comprar algo para o aniversário de Hazel. Aliás, Hazel virá almoçar aqui
e passar a tarde com a Bia.
– Certo.
– Queridos, se me dão licença eu vou indo. Caso contrário, chegaremos
muito tarde em Long Beach.
– Claro, Laura.
– Até mais tarde, vó.
Como um repeteco da noite anterior, ficamos apenas Beatriz e eu à mesa.
Depois do que fiz ontem tenho que começar a pensar em alguma coisa para me
redimir com ela.
– Você e Hazel se deram muito bem, não? – começo.
– Sim, ela é um amor.
– Não sei como eram as suas amizades lá em Chicago, mas se quiser
convidar alguma amiga para vir aqui, pode convidar. Basta organizar as coisas
com Peter e Riley antes.
– Obrigada Oliver, mas não tenho amigas. E mesmo que tivesse, não ficarei
aqui tempo suficiente para isso.
E ali está novamente, o olhar sentido e a menção de se mudar daqui.
Respiro fundo, tentando ganhar tempo para achar as palavras corretas.
– Beatriz, eu sinto muito. Sinto muito mesmo pelas coisas que eu disse
ontem à noite. Nem por um segundo eu pensei, ou penso, que você esteja aqui,
ou que tenha se aproximado de qualquer um de nós, para levar algum tipo de
vantagem. Eu fui um idiota dizendo aquilo para você, que certamente não
merece. Me senti péssimo quando vi o quanto você ficou magoada, ainda estou.
Ela se vira para mim e não gosto da raiva e ressentimentos que vejo.
– Na verdade eu acho que você pensa sim. Por que outro motivo insinuaria
aquilo? E você está no seu direito de pensar o que quiser, afinal fui eu que
invadi o seu espaço. Só por favor, não tente colocar panos quentes e assuma de
uma vez o que acha da situação. É nítido o seu descontentamento sempre que
estou por perto. Ou perto de Kellan. Prefiro encarar a realidade de frente logo.
A vida me ensinou que essa é sempre a nossa única opção. Não precisa se
preocupar comigo, eu sou bem mais forte do que pareço.
Deus, as palavras dela são um soco no meu estômago. Se ela soubesse o
real motivo de não gostar de vê-la perto do fedelho... Decido ser o mais
sincero possível.
– Realmente, eu não gostei quando vovó falou que teríamos alguém
invadindo nossa vida. Eu fui contra trazê-la para cá, não fui contra a ajudá-la,
veja bem, mas sugeri a dona Laura que fizéssemos isso sem nos envolver
diretamente. Ela não aceitou, foi irredutível, disse que caso você não pudesse
vir, ela iria morar com você em outro lugar.
– Entendo. E para que ela não fosse embora, você foi obrigado a concordar.
– Sim.
– Bom Oliver, eu só posso pedir desculpas por causar problemas. Eu não
fazia ideia para onde eu estava vindo, e com certeza papai também não, ele
teria me dito se soubesse. A única coisa que posso fazer para consertar isso é
prometer que sairei daqui o quanto antes.
– A questão não é essa Beatriz, isto que eu lhe contei é verdade, mas não
tem nada a ver com me sentir desconfortável quando você está por perto, ou
com ter dito o que disse ontem.
– Não?
– Não.
– Então, por quê?
– Aconteceram coisas na minha vida que me marcaram muito. De uma forma
ruim. Não vem ao caso aqui o que aconteceu, mas o efeito que isso teve sobre
mim. Eu não quero ter em minha vida alguém a quem eu possa me apegar, além
de dona Laura e das pessoas que você conheceu ontem, é claro. E é quase
impossível não se apegar a você, anjo.
Ela me olha, surpreendida. Continuo.
– Eu não estou sabendo lidar com isso. Ao mesmo tempo que quero manter
distância pelos motivos que acabei de revelar, também não quero pensar em
você indo embora daqui e ficando sozinha em qualquer lugar que seja. Quero
que fique. Acho que estou prestes a assumir o lugar daquele cogumelo murcho,
para a alegria do pentelho do Lian – digo, brincando com ela. Bia tem os olhos
cheios e um sorriso fraco no rosto. Mas pelo menos, o sorriso foi para mim.
– Eu...
– Por favor, me deixe terminar – peço. – Por não conseguir administrar isso,
eu senti raiva, raiva de mim mesmo. E acabei descontando em você ontem lá
no deck e em outros momentos também. Então sim, eu fui um escroto, idiota e
prepotente. Mas eu não penso aquilo, em nenhum momento, desde que te
conheci pensei algo assim sobre você. Muito pelo contrário. Mesmo você
tendo feito aquela bagunça toda lá na mesa do chá quando me viu. – Agora ela
solta um risinho gostoso e as bochechas coram.
– Nem me lembre daquilo. Nossa, que vergonha!
Deus, como é linda!
– Não se desculpe, deveríamos tê-la preparado. E também, foi bem
engraçado. – Ela me dá um empurrãozinho no ombro, como quem diz “pare
com isso” e quando percebe o que fez arregalada os olhos. Eu não estava
esperando o contato, mas gostei do toque e que se sentiu à vontade a ponto de
fazer aquilo.
– Desculpe...
– Não. – Seguro a mão dela e olho bem dentro dos seus olhos, para que
pare. – Fico feliz que se sentiu relaxada o suficiente em minha presença para
brincar comigo assim. Quero que sejamos amigos. – Ela leva os olhos às
nossas mãos unidas em cima da bancada. Olho para lá também. Sinto o seu
calor na minha pele e uma vontade enorme de puxá-la contra mim e abraçá-la,
assim como Kellan fez. Mas resisto e desfaço o toque. – Será que podemos
começar de novo?
– Tudo bem. – Suspiro aliviado. Finalmente me sentindo um pouco melhor.
– Agora sobre o seu futuro. Realmente gostaria que você pensasse com
carinho em cursar uma universidade. Não há necessidade de você trabalhar
agora. – Ela tenta falar algo, mas levanto minha mão para que espere.
– Anjo, te ajudar com isso, para mim, não é nada. O gasto com toda a sua
faculdade e tudo que ela possa envolver, é menos do que ganhamos em um mês.
Então por favor, me deixe fazer isso por você. Senão por você, então pelo seu
pai e o que ele representou para dona Laura. Não responda já. Pense.
– Ok, vou pensar – concorda e sorrio para ela. Meu celular vibra. Retiro do
bolso para olhar a mensagem.
Bia
Apesar das palavras de Oliver mais cedo terem mexido muito comigo, e de
vez em quando invadirem meus pensamentos sem pedir licença, principalmente
a frase “impossível não se apegar a você, anjo”. E de eu ainda conseguir
sentir a sensação da sua mão na minha, a manhã com Hazel está sendo muito
divertida. Nossa afinidade é surpreendente. Nos sentimos tão à vontade uma
com a outra que não parece que nos conhecemos há pouco mais de uma
semana. Já conversamos sobre tantas coisas... Estamos no deck, na sombra,
tomando uma limonada. Está um dia muito quente, mesmo assim preferimos
ficar ali.
– Srta. Thompson, desculpe incomodar, mas sabe se o Sr. Rain virá para o
almoço? – Gia me pergunta antes de entrar.
– Não sei Gia, ele não falou. Me chame de Bia, por favor.
– Mandaremos uma mensagem para ele, Gia – fala Hazel.
– Ok Hazel, obrigada.
– Ah Gia, já adianto que o mala do meu irmão deve almoçar conosco.
– Tudo bem – diz e se retira.
– Aff, nem imagino qual a motivação de Kellan querer almoçar comigo... –
diz Hazel, me lançando um olhar meio de lado.
– Para Hazel... Imagina... – digo, já sem graça.
– O que? Imagina? É certo como dois e dois são quatro. O Kellan não é
daquele jeito que você viu no jantar ou no Max. Ele é bem extrovertido e
safado, isso sim. Deu mole, ele cai em cima. E esses dias está todo, todo...
doce... – Ela faz uma careta. – Não tira os olhos de você. Você abalou as
estruturas do meu irmãozinho. Vou adorar te ter como cunhada. – Para um
instante e mexe no celular. – Te mandei aí o número de Oliver.
– Por quê? Mande você a mensagem para ele...
– Mande você. Aproveita e fique com o contato para quando precisar.
– Tudo bem. – Salvo o número nos meus contatos e envio rapidamente a
mensagem para ele. Sério mesmo que tenho o nome Oliver Rain salvo nos
meus contatos? E não é fake? Olha isso, pai!
– Você acha mesmo que o seu irmão está dando em cima de mim? Porque a
gente passou um tempo juntos e tal, mas ele foi bem educado, não tentou nada.
– Ele está encantado! Não tentou ainda....
– Ai, céus! O que eu faço?
– Ué, se ficou interessada, dê corda. Senão coloque o pentelho no lugar
dele. – Eu não aguento e gargalho.
– Hazel, essa sua última frase ficou no mínimo... estranha... – Ela pensa um
pouco, lembrando o que disse e cai na gargalhada também. Meu telefone apita.
É Oliver avisando que virá almoçar. Peço licença a Hazel, vou rapidamente
dar o recado a Gia e retorno. Resolvo perguntar de uma vez o que estou louca
para saber.
– Posso te fazer uma pergunta bem íntima? Se você achar que estou sendo
enxerida demais não precisa responder.
– Ah Bia, até já sei o que você vai me perguntar. E quanto a ser enxerida,
por favor, seja. É desse tipo de amizade que nós duas precisamos, não é
mesmo? Do tipo que é possível contar tudo uma para a outra.
– Sim, bem desse tipo. – Sorrio para ela. – E então? Vai responder sua
amiga enxerida?
Ela suspira.
– Você promete não me julgar?
– E por que eu julgaria?
– Porque eu acho que você ficará horrorizada. – Arregalo os olhos. Será
que ela é chegada em coisas bizarras? Hazel não espera que eu questione.
– Nunca fiz. Sou tão virgem quanto era no dia em que vim ao mundo.
– E por que isso me deixaria horrorizada? Você sabe a minha situação...
– É que eu não sei se algum dia isso vai mudar. Daí você vai me perguntar
por que, e quando eu te contar, você vai se horrorizar. – Eu me afogo um pouco
com a limonada e tusso, ela está me assustando.
– Ué? Por quê? – Resolvo perguntar mesmo assim.
– Porque eu só me imagino fazendo isso com uma única pessoa. Que é
quatorze anos mais velho do que eu. Faz parte da minha “família”. – Ela faz
aspas com os dedos – Ou seja, alguém que jamais vai olhar para mim dessa
forma.
Puta-merda! Meu coração dispara. Será que ela também é secretamente
apaixonada por Oliver? Deus, era só o que faltava... Acho que não poderei
contar tudo para ela final. Melhor saber de uma vez.
– Oliver? – indago, com medo da sua resposta. Ela arregala os olhos para
mim, mas antes que possa confirmar ou negar, vemos Kellan se aproximando e
Oliver logo atrás dele. Isso vai ser estranho, penso.
– Oi, Bia – cumprimenta Kellan.
– Também estou aqui maninho – cobra Hazel.
– Oi pentelha – diz ele, revirando os olhos.
– Oi meninas. – Chega Oliver logo em seguida.
– Também estou aqui, Oliver. – Kellan imita a fala de Hazel, para irritá-la.
– Pois então, o que eu falei? Me-ni-nas! – provoca Oliver, com um meio
sorriso nos lábios.
– Vá se foder!
– Vamos almoçar. O quanto antes fizermos isso, mais cedo me livro de
você.
Nos dirigimos ao interior da casa, rumo a mesa posta.
Pretendo me sentar no lugar de sempre, onde ficaria à frente de Laura e na
diagonal de Oliver. Hazel se aproxima de onde Laura normalmente senta e
Oliver vai se encaminhando para o seu local costumeiro, porém muda de ideia
e puxa a cadeira ao meu lado. Como não me aproximei totalmente ainda e nem
Hazel se sentou também, discretamente empurro-a para se sentar ao lado dele e
tomo o assento ao lado de Kellan, que agora já está acomodado ali. Hazel me
olha assustada, mas não discute. Depois do que ela quase me confidenciou lá
fora, não pretendo criar nenhum mal estar entre nós. Então melhor que ela se
sente logo ao lado dele.
Começamos a nos servir. Percebo que Kellan tem um leve sorrisinho no
rosto e Oliver parece meio emburrado. Segundo Lian, esse é o “natural” dele,
então melhor me acostumar e não dar muita importância.
– Hazel, sua festa foi aprovada. – Oliver quebra o silêncio.
– O que? – Ela se vira para ele com os olhos brilhando. Me dando mais um
indício de que as minhas suspeitas estão corretas.
– Isso que você ouviu. A reunião no Lian era sobre a sua festa. Seu pai já
conseguiu a reserva da casa noturna. Está tudo certo.
– Huhuuuuuu! – Ela grita. – Não acredito! – completa e se lança no pescoço
dele, dando-lhe um beijo estalado na bochecha. Ele repuxa um pouco mais os
cantos da boca e lhe devolve o beijo. Fico incomodada.
– Que bom que está feliz – diz ele.
– Claro que estou. Terei uma festa de gente grande. Finalmente!
– Você sempre será o nosso bebê. – Oliver fala.
– Ela não é mais um bebê. – Me atravesso e instantaneamente o que
acontece? As bochechas flamejantes dão o ar de sua graça. Hazel arregala os
olhos para mim e Oliver continua comendo sem me olhar.
– Eu sei que não é. Mas sempre seremos os seus irmãos mais velhos.
– Ela já tem um irmão, não precisa de outro. – O que tinha naquela
limonada? Não sei se falei isso por causa de Hazel ou se foi pelo fato dele ter
sugerido mais cedo que tomaria o lugar do meu irmão-cogumelo, o que não me
deixou um gosto bom na boca.
Oliver larga os talheres e me olha fixamente, devolvo a encarada. Hazel
treme a boca como que tentando conter uma risada. Até Kellan me olha em
expectativa.
– O irmão dela é um fedelho que não sabe tomar conta nem das próprias
bolas – larga ele, raivoso. – Quem dirá cuidar de uma mulher. – Mulher.
Ele falou mulher.
E não menina.
Então ele enxerga sim ela como uma mulher.
– Cara, o que eu fiz para você? Por que deu para implicar comigo? –
reclama Kellan, obrigando Oliver e eu a quebrarmos o contato visual.
– Nada, desculpa.
Hazel levanta e se aproxima de mim para dizer algo em meu ouvido, bem
baixinho.
– Não é Oliver, sua louca. Mas depois você vai me explicar algumas coisas
bem direitinho. – Uma onda de alívio me invade instantaneamente. Nem eu
tinha ideia de que estava tão tensa.
– O que as duas estão cochichando aí? – pergunta Kellan.
– Não é da sua conta. – Ela corta o irmão.
– O que vocês vão fazer hoje à tarde? – Tenta Kellan mais uma vez.
– De novo, não é da sua conta! – reforça Hazel.
– Vamos tomar um banho de piscina? – convida, ignorando Hazel e se
virando em minha direção.
– Dá o fora, Kellan! – Oliver se intromete e explode, alto e ríspido, antes
que eu possa responder.
– Porra, de novo? – Kellan se altera também.
– O problema, se você não percebeu, é que elas querem ter uma tarde de
garotas. Garotas! Então, a não ser que tenha passado pelo processo de
mudança de sexo recentemente, dê o fora!
– Verdade maninho – ajuda Hazel. – Hoje seremos só Bia e eu, temos muito
o que conversar. Vá ciscar em outro terreiro. – Eu já imagino a conversa que
ela quer ter comigo.
Bia
Não consigo dormir. Não vou conseguir. Preciso fazer alguma coisa,
esvaziar da mente todas as emoções de hoje.
Primeiro a vontade de esganar Kellan, que teve a cara de pau de convidar
Beatriz para um banho de piscina, deixando claro que ele vai partir para cima,
com tudo. Depois a visão dela naquela hidro, com aquele biquíni preto,
minúsculo, deixando o formato dos seus seios bem visíveis. E pareciam tão
redondos e macios. Lindos! Tive um trabalhão para manter o meu pau
adormecido e não passar vergonha ali na frente delas de sunga branca.
Por fim, o que fodeu comigo de vez. Nossos momentos à noite.
Quando ela tentou arrumar o meu cabelo por impulso, gelei.
Sentir sua mão deslizando por meus cabelos, tocando o meu rosto, foi tão
gostoso. Não resisti e fechei os olhos, apreciando o contato. Ao reabri-los, vi
o meu desejo refletido nos seus olhos e me perdi. Eu precisava saber. Saber se
ela pretendia se envolver com o fedelho. E quando ela me perguntou se devia,
eu deveria ter respondido que sim. Claro que sim. Se for para ela se envolver
com alguém aqui, que seja com ele. Quem mais? Ele é o cara certo para ela. O
único.
Forcei as palavras racionais a atravessarem a minha garganta e chegarem a
minha boca, para assim poder liberá-las. Mas na hora em que verbalizei,
acabei dizendo o que eu realmente quero.
Que ela se mantenha bem longe dele.
Admitir aquilo em voz alta foi demais para mim.
Eu precisava deixar aquela sala, pensar em tudo aquilo, me acalmar.
Só sai e fui andando em direção ao costão.
Percebi que ela estava vindo atrás de mim e me desesperei. Eu não iria
conseguir me manter imune se tivesse que falar com ela naquele momento.
Como vi que não desistiria de me seguir, sentei-me no tronco na areia e
esperei.
Eu pedi para ela ir embora, eu precisava que ela fosse.
Mas ela não foi.
Ela não se intimidou.
Ficou ali, ajoelhada à minha frente e eu resistindo a vontade de puxá-la para
os meus braços e me perder no seu sabor de baunilha e amêndoas.
Assim que me acalmei um pouco, tive coragem de levantar o rosto e encará-
la. E quando olhei, não sei porque lembrei da menina que consolei num
hospital quando eu tinha vinte e um anos.
Os olhos delas eram iguais.
Então veio a grande revelação. Como pode? Como aquela criança acabou,
nove anos depois, na minha casa? Eu nem soube o seu nome na época. Como
essa menina chegou novamente para mim no momento em que não tinha mais
ninguém no mundo?
Que tipo de coincidência é essa?
O que isso significa?
Significa que eu tenho que cuidar dela.
E com esse pensamento em mente, puxo-a para mim. Ela se agarra e libera
toda sua emoção, apoiada na curva do meu pescoço. Seu cheiro me inebria e
eu afundo meu nariz em seus cabelos, beijando sua cabeça.
E o que ela começa a fazer dali em diante, roubou todas as minhas forças no
sentido de manter o autocontrole. Seu toque, seus beijos, seus carinhos
delicados. Nossa, ela estava tão entregue a mim ali.
Ela era totalmente minha.
Suas carícias me imploravam para que eu a tomasse para mim. E eu quis.
Deus, como eu quis.
Meu corpo estava em chamas, e eu, no esforço sobre-humano para não
deixar uma ereção monstro se formar. Seria impossível esconder usando uma
calça de moletom sem cueca como eu estava.
Por um segundo pensei em ceder e deixar aquilo acontecer, me entregar,
assim como ela, àquela ideia deliciosa de nos perdermos no calor um do outro.
Subi a mão pelas suas costas, alcançando seu pescoço, me preparando para
beijá-la.
Mas então eu lembrei que ela é só uma menina, que está ali, totalmente
dependente e que eu preciso protegê-la e não a arrastar para as minhas merdas.
E o sinal de alerta final foi o iminente beijo que ela estava prestes a roubar de
mim. Precisei pará-la, afastá-la, pois mais um toque e não haveria prudência
alguma que me faria recuar novamente.
Mando mensagem para Peter pedindo que envie alguém para me pegar e me
levar até o estúdio. Preciso tocar, preciso compor, preciso tirar essa frustração
de dentro de mim de alguma forma.
Chego no estúdio e apanho a minha guitarra. Pego uma tonalidade e começo
a dedilhar uma melodia, tentando expressar essa confusão que se alojou em
mim, que tomou posse do meu discernimento, dos meus sentimentos. Conforme
vou gostando, transcrevo para a partitura. Quando me dou por satisfeito, passo
para a etapa de encaixar os acordes da harmonia.
Em determinado momento, ouço som de passos se aproximando e me
transporto novamente para a realidade. Olho o telefone e percebo que já são
quatro da manhã, estou ali há quase cinco horas e nem me dei conta.
– O que houve para vir para cá em plenas férias e de madrugada, Oliver? –
diz Riley, entrando no estúdio.
– Falta de sono.
– E o que anda tirando o seu sono, gostosão? Em outros tempos você estaria
resolvendo isso de um jeito muito mais excitante.
– Nada em específico. Tive algumas ideias, fiquei ligado e precisa colocá-
las no papel – minto.
– Sei. – A mulher me avalia, sem acreditar nem um pouco em minhas
palavras. Ela me conhece muito bem. – Quer ajuda para relaxar?
Olho para ela, que está gostosa como sempre e claramente me oferendo
sexo, mas não sinto vontade.
– Obrigada Riley, mas o que eu preciso é continuar mais um pouco aqui.
Ela aproxima-se, com expressão safada, exalando tesão, certamente não
confiando na minha recusa.
– Vamos só fazer uma pausa, garanto que depois você estará mais inspirado
ainda. – Desliza a mão pela minha coxa.
Fico ali, olhando para a mão dela subindo, chegando no meu pau, alisando-
o por sobre a minha calça. Mas não quero esse contato, não sinto nada. Na
verdade, me sinto sujo. Parece tão errado. Não quero tirar de mim o aroma de
baunilha e as sensações do toque inocente de Beatriz que ainda formigam pelo
meu corpo. Então, quando ela ameaça levar a mão para dentro do meu
moletom, seguro o seu pulso.
– Eu disse que não-estou-a-fim.
– Porra, o que deu em você?
– Não sei. Vergonha na cara, talvez? – provoco-a.
– Como assim, vergonha na cara? – Me olha abismada. – A gente transa
desde que eu tinha quatorze anos. Todos esses anos foram poucas as vezes em
que estivemos sozinhos no mesmo ambiente e não trepamos. Por que agora
seria errado?
– Não é questão de certo ou errado, é questão de você aceitar a minha
recusa. Mas já que entramos nesse assunto, talvez esteja mesmo na hora de
você repensar a sua vida. Caramba Riley, você é linda, inteligentíssima, tem
uma vida estável e confortável, possui um faro para encrenca como poucos e
ainda se presta ao papel de ser o nosso brinquedinho casual? Por quê? – Ela
vai falar, mas ergo o braço impedindo.
– Não estou aqui sendo moralista, não acho de maneira alguma que uma
mulher deva se privar de sexo, ou que só deva fazer sexo quando está em um
relacionamento, de jeito nenhum penso assim. Mas, como você mesma disse,
estamos nisso desde que você tinha quatorze anos e eu quinze. É tempo demais.
E nunca vi você se envolver com mais ninguém além de mim, Lian ou Max. Por
que nunca procurou por alguém diferente? A gente se encontrar de vez em
quando e se pintar um clima, deixar rolar, é uma coisa, mas você ir às festinhas
de Lian e se rebaixar ao nível do bando de garotas que não tem a menor
importância para nós e estão indo lá apenas para dar e tentar levar alguma
vantagem, francamente, você não precisa disso. – As lágrimas rolam pela sua
face e me comovo. Abraço-a.
– Eu sinto falta, Oliver. Sinto falta do sexo. Tenho medo de perder o que
temos.
– E o que temos?
– Amizade, entrosamento, conhecemos o corpo um do outro como ninguém.
E eu tenho esperança que em algum momento no futuro você perceba que eu
sempre estive ao seu lado e a gente se acerte. – Eu gelo.
– Você está me dizendo que esse tempo todo ficou porque tem esperanças de
um relacionamento?
– Não dessa forma, calma. A questão é que eu gosto de você. Você sabe que
de todos os meninos, a minha ligação com você sempre foi maior. O sexo com
você é o melhor que já tive, nos damos bem, somos amigos. Então no futuro,
quando nós dois estivermos mais sossegados, eu fico pensando, por que não? –
Olho para ela incrédulo.
– Não vai rolar. Primeiro porque não pretendo ter alguém assim em minha
vida e você sabe o motivo. Segundo por que...
– Por quê?
– Não seria você, Riley. – Sou sincero. Ela me olha abismada.
– Como você pode ter certeza? Então... então você já sabe quem seria.
– Claro que não – repondo rápido. – Só sei que nós, não aconteceria.
– Tudo bem. Só me prometa que você não vai surtar com essa nossa
conversa a ponto de cortar relações comigo como fez com Kate. Não estou
dizendo que estou apaixonada, que não vivo sem você e nem que vou começar
a te perseguir ou exigir exclusividade. Gostaria apenas que, se pintar o clima,
como você disse, pudéssemos transar de novo.
– Fique tranquila. A nossa amizade vai muito além do que eu tinha com a
Kate. Jamais vou te cortar da minha vida. Como pode pensar algo assim depois
de tudo que já passamos? Quanto ao sexo, vamos esperar para ver. Se nós dois
estivermos a fim, não vou colocar barreiras.
– Ok. Desculpa pela minha insistência hoje e vou pensar sobre o que você
falou.
– Fique bem, quero o melhor para você, sabe disso, não é?
– Sei sim, tchau.
– Tchau Riley.
Fico mais umas duas horas por ali, deixando a música praticamente pronta.
Quando já passa um pouco das seis da manhã, peço para Peter arranjar a minha
volta para casa. Chegando, vou direto para o quarto, tomo banho, me jogo na
cama, e consigo finalmente dormir um pouco.
Quando acordo já passa de uma da tarde. Ouço vozes na área externa. Me
troco e vou atrás de uma refeição. Vovó está na sala com Helen.
– Bom dia meninas. Que horas chegaram ontem?
– Chegamos já era quase uma da manhã. Saímos de Long Beach perto das
onze horas – fala Helen.
– Tiveram um dia agitado então.
– Fizemos compras, fomos ao cinema, jantamos. Foi ótimo – fala vovó.
– Que bom. Já almoçaram?
– Ainda não filho, estamos só esperando Kellan e Bia sair da piscina e já
peço para Gia servir.
– Kellan está aqui? De novo? – pergunto incrédulo.
– Sim, ele veio, tomou café conosco, depois ele e Bia foram para a piscina.
Está tão calor!
– Porra! Desde o café da manhã? O fedelho não vai mais largar o osso?
– O que é isso Oliver? Qual o problema? – questiona vovó.
– O problema? Ele está cercando Beatriz o tempo todo. Ontem tive que
dizer para dar o fora, senão a tarde de garotas que Hazel pretendia ter viraria
tarde de uma única garota. Ela, sozinha!
– Eu ficaria feliz se Beatriz namorasse Kellan. – Ouvir vovó repetir aquilo
dói em mim.
– Eu também acho que eles fariam um casal muito fofo – reforça Helen.
– Só o que me faltava – resmungo e vou atrás dos dois.
Vejo os dois no centro da piscina, conversando, tão entretidos que nem me
notam. Estão muito próximos para o meu gosto. Tiro minha camiseta e
mergulho. Os dois se assustam. Quando emerjo, os olhos de Beatriz estão em
mim e os de Kellan nos peitos dela. Inferno.
– Bom dia, pombinhos – digo em tom debochado, encarando apenas
Beatriz.
– Vá se ferrar, Oliver. – Ele rebate.
– Oi. – Beatriz me observa com cautela.
– Então fedelho, vou ter que aturar a sua cara aqui todos os dias?
– Não se preocupe, depois do almoço Bia vai passar o dia comigo lá em
casa. – Puta-merda, então ela vai mesmo dar uma chance ao moleque. Engulo
em seco.
– Certo – digo. – Beatriz, não se esqueça que temos uma conversa para
terminar.
– Temos? – pergunta ela, espantada.
– Temos sim, seus estudos.
– Ah, isso. – Fico satisfeito quando ela parece decepcionada.
– Isso – afirmo. – Espero que tenha pensado sobre o assunto e não apenas
perdido tempo rodando por aí com Kellan. – Assim que solto a frase me
arrependo. De novo minha raiva me fez descontar a frustração nela.
– Não se preocupe, eu pensei sim. Mas se você preferir posso ficar apenas
dentro de casa. Afinal, o lugar é seu – diz ofendida apontando o entorno, o
sarcasmo claro em sua voz.
– Não liga Bia, ele é um idiota. – Kellan me encara, claramente insatisfeito
com a forma que a tratei.
Eu também estou.
De novo.
– Kellan, vou sair da água. Depois nos falamos – avisa ela, fazendo
aumentar o gosto amargo em minha boca.
– Tudo bem Bia, já vou sair daqui a pouco também – fala ele.
Então ela sai pela escada e eu quase infarto. O corpo lindo, cheio de carne
e curvas nos lugares certos. E molhado. A calcinha do biquíni preto, o mesmo
de ontem, é minúscula. Aquela bunda empinada, perfeita e deliciosa fica
praticamente à mostra. Vejo Kellan com os olhos fixos lá, rapidamente dou o
impulso para sair da água, agarro um pano que reveste a espreguiçadeira e
estendo para ela.
– Cubra-se! – Ordeno. – Esse biquíni é pequeno demais.
– Para mim ele está ótimo – diz, desvia do pano que lhe estendo e se vai.
Kellan já está fora da água, com os braços cruzados e me encarando. Só o
que me falta é ter que dar explicações para o moleque.
– Desembucha, Oliver.
– Desembucha o que, fedelho?
– Sem essa. Você está estranho. Me tratando mal o tempo todo. Reclamando
da minha aproximação com Bia. Agora falou do biquíni dela. Hazel usa
biquínis menores e você nunca falou nada. – É que não reparo nos biquínis de
Hazel, penso. – Tratou a menina mal lá dentro da piscina porque ela estava
comigo. O que está pegando?
– Não tem nada pegando aqui. Tem é alguém querendo pegar alguém que
está dentro da minha casa neste momento.
– E qual seria o problema? Ela é livre, eu também. Ela tem dezessete anos e
eu dezoito. Não vejo onde está o enrosco.
Está na ânsia que eu sinto ao imaginar vocês dois enroscados.
Não é o que eu respondo.
– O enrosco é que ela está sob minha responsabilidade. Ela não tem mais
ninguém para olhar por ela.
– E você acha que eu quero brincar com ela? É isso? Porque se for, pode
ficar tranquilo, não é o caso. Eu estou interessado nela de verdade. Se ela
quiser, será namoro. E não vou me envolver com mais ninguém a partir de
então. – Deus, ele está mesmo apaixonado.
Ele pretende pedi-la em namoro.
Namoro.
E acabou de garantir que será fiel a ela.
O que eu posso dizer para impedir isso?
Nada, absolutamente nada.
Como o fedelho mesmo disse, eles são livres. E como eu mesmo cheguei à
conclusão ontem, ele é o cara ideal para ela.
Então por que pensar nessa possibilidade dói tanto?
– Tudo bem, Kellan. – As palavras rasgam minha garanta quando saem. –
Mas se você vacilar, é comigo que você vai se entender. Fui claro?
– Não vou vacilar, Oliver. – Assinto e vou para dentro do meu quarto de
novo.
Perdi completamente a fome e o bom-humor.
Bia
Até o momento em que saí com Kellan para irmos à casa de Lian, Oliver
ainda não havia saído do quarto. Estamos na sala de jogos, Lian e Max jogam
bilhar e Kellan tenta me ensinar um jogo no videogame, como é a primeira vez
que jogo, não está sendo muito fácil. Não sei como ele ainda não perdeu a
paciência comigo.
Kellan foi uma companhia divertida até agora. Estou inquieta e ansiosa
porque sei que o momento dele partir para o ataque está cada vez mais
próximo, e não sei qual será a minha reação, muito menos se quero aquilo.
– Bia, que tal assistirmos um filme? – pergunta.
– Acho melhor, porque esse jogo está de mal comigo. – Ele ri.
– É, você e o videogame tem sérios problemas de relacionamento. – Rio.
– Concordo, por isso estou mais do que pronta para terminar o nosso
namoro relâmpago.
– Bom, pelo menos já tenho um programa na lista do que não fazer, certo? –
Rimos. – Então vamos? – Ele me estende a mão.
Eu a pego e ele me guia pela sala, passando por Max e Lian, que lhe lançam
um sorrisinho debochado. Uma pequena parte minha pergunta se eu concordo
com o que os rapazes estão pensando e se me sinto bem por isso.
Entramos na casa, seguimos até o final do corredor e então ele abre uma
porta, revelando a sala de cinema, muito parecida com a da casa de Oliver.
– O que você quer assistir?
– Será que podemos ver o terceiro filme do Harry Potter? Assisti apenas os
dois primeiros.
– Podemos sim. – Ele seleciona o filme e enquanto roda a abertura se dirige
a pipoqueira e faz uma deliciosa pipoca doce para nós, pega dois refrigerantes
e senta-se ao meu lado.
O filme vai passando, a pipoca termina, ele retira o balde do nosso meio e
ao se ajeitar novamente em seu assento, pega a minha mão e segura-a sobre sua
perna, entrelaçando nossos dedos. Eu deixo, mais porque estou sem reação do
que por qualquer outro motivo.
O toque não é ruim, mas não me faz ofegar, nem formigar como um outro
toque faz. Ele faz carinho com os dedos na minha mão.
E agora? Será que eu quero isso?
E se ele quiser me beijar?
Deixo?
Por que não?
Porque não é a boca dele que você quer na sua, intromete-se a minha
consciência sem ser convidada. Por outro lado, a boca de quem você quer não
está disposta a te beijar, argumenta o outro lado da mesma consciência
intrometida.
E aí? Encaro o mesmo destino de Hazel, só que pior?
Morrer de boca virgem?!
Por sorte, ele não avança mais que isso. Terminamos o filme assim, apenas
de mãos dadas. Depois que a cena do Harry voando feliz na sua ultra-mega-
power veloz vassoura nova acaba, ele se vira de lado na poltrona em minha
direção.
Será que é agora? O que eu faço?
Mas ele apenas fala.
Ufa!
– Bia, eu queria te levar para um passeio agora. Será que você toparia dar
uma volta de lancha comigo?
Aiiii, vai ser lá!
Lá na lancha em alto mar, onde eu não terei para onde correr. É lá que ele
vai tentar me beijar.
Tenho que admitir, ele está sendo muito fofo e romântico. Creio que são
poucas as garotas que têm um “primeiro encontro” assim.
Por que eu não poderia estar encantada por ele?
Seria tão mais fácil!
Por que eu tenho que querer o mega star, intocável, ranzinza e bipolar
Oliver Rain?
Quer saber? Vou tentar.
Vai que é isso o que eu preciso para virar essa página de vez.
– Topo sim. – Ele então abre um sorriso lindo de viver.
Meu celular acusa uma mensagem. É Hazel. Enquanto Kellan organiza as
coisas por ali, eu aproveito para respondê-la.
Oliver?
Kkkkk ok
Preparada ?
Não
É Oliver. Apago rapidamente a tela para que Kellan não consiga ler. Ignoro
Oliver e guardo o fone novamente no meu bolso.
Mas bastou essa mensagem para eu ficar com as minhas pernas moles feito
gelatina e reviver em minha mente nosso momento perto do costão.
E assim, a parca confiança que eu tinha de dar uma chance a Kellan se esvai
de vez.
– Bia, está tudo bem? – pergunta ele, com certeza notando o meu
atordoamento.
– Está sim. – Ele tenta tocar o meu rosto de novo, mas dessa vez eu não
consigo e recuo. Ele baixa as mãos em desalento.
– Kellan, o nosso dia foi maravilhoso, de verdade. Adorei cada pedacinho
dele. Eu não poderia ter tido companhia melhor. Mas eu preciso ser sincera
com você. Eu não me sinto pronta para dar esse passo agora. E não posso te
garantir que um dia estarei, mas estou disposta a tentar novamente. Só que... eu
preciso que continuemos na amizade por um tempo, se você quiser, é claro. Eu
sinto muito.
– Tudo bem, eu entendo – diz em meio a um sorriso franco. Mas a decepção
em seus olhos me diz que ele não parece entender, está angustiado. – E sim,
nossa amizade continua, claro.
– Obrigada. – Lhe dou um abraço. Ele me aperta contra o seu corpo.
– Bom, já está escurecendo, seria melhor voltarmos, mas se você quiser ver
as luzes de Long Beach à noite, a gente arrisca e volta mais tarde. Você quem
sabe.
– Vamos voltar.
– Ok. – Voltamos a cabine para ele ligar os motores e iniciamos o retorno
ao condomínio.
Durante o trajeto, meu telefone soa mais uma vez. Fico na dúvida se leio ou
não. Com certeza é Oliver exigindo uma resposta para sua pergunta, e eu não
estou a fim de falar com ele agora. Mas a curiosidade vence e eu olho. É
Hazel, respiro aliviada.
Como foi ?
Não consegui
Estamos ferradas!
É, estamos
Oliver
Depois que Bia saiu para a casa de Lian com Kellan, não consegui mais
ficar em casa. Fui novamente para o estúdio e entrei no mesmo processo da
noite passada. Que merda está acontecendo comigo? Por que não consigo
afastar essa sensação esquisita? Como posso deixar uma menina bagunçar a
minha cabeça desse jeito? Isso é coisa de adolescente e não de um homem que
já viveu mais coisas do que gostaria. Nem na minha adolescência me lembro
de ter vivido uma confusão de sentimentos tão grande.
E não é nem só a questão da idade que me impede de deixar acontecer o que
meu corpo está pedindo, na verdade isso é o de menos.
O problema mesmo é o fato de que eu não tenho nada a oferecer a ela. No
que eu iria transformá-la no final das contas? Em mais uma das muitas que
passaram pela minha cama? Porque não iria durar. Quando os desejos se
saciassem ou os medos ficassem insuportáveis eu me afastaria e nossa relação
estaria fadada a desgraça, pois não me afastar não é uma opção. Não posso
passar por aquilo de novo e certamente iria acontecer.
Não, não quero isso para ela.
Tenho que me esforçar ao máximo para vê-la como vejo Hazel, apenas uma
irmãzinha.
Sim, a única opção é esta, me afastar do que me machuca. Afastá-la do
sofrimento certo.
Pelo menos até essa sensação de perda se assentar e eu conseguir voltar a
ser quem eu era até ela cair de paraquedas no meio do meu mundo.
Lian e Max ficaram mandando várias mensagens no grupo da The Order
para que eu fosse me juntar a eles na casa de Lian, mas eu não poderia ficar lá
e presenciar Kellan e Bia aos beijos e abraços.
Então vim para o estúdio. Quanto mais longe, melhor. Até que algumas
mensagens que eu não tinha visto me chamam a atenção. Já são dezoito e
cinquenta e logo começará a escurecer lá fora.
16:31: E aí cabeção. Não vai
Tento ligar
aparecer não? Jogar poker em dois
não tem graça. pra ele.
Caixa postal.
Merda!
16:33: É velho, chega aí. Merda! Merda!
Como ele faz
uma porra
17:21: Cri cri cri cri dessas?
Mando uma
18:52: Chamem o fedelho mensagem para
18:54: Porra, finalmente. Que
Beatriz também,
houve Oliver para não sair da toca se ela me
hoje? responder pelo
menos sei que
18:54: O fedelho a essa altura
está bem. Se não
está trepando em alto mar
responder...
18:55: Como assim? Bom, daí ou deu
merda ou estão
18:56: Como, como assim fazendo merda.
Oliver? Esqueceu como se faz? Nenhuma das
duas opções me
18:57: Ele levou a Bia para
um passeio de lancha as 17h e ainda
agrada.
não voltaram
Entro em casa e vejo vovó no deck. Assim que ela percebe minha chegada,
vem ao meu encontro na sala. Vou até o bar interno e me sirvo de um whisky.
– Oliver, estou preocupada com você. O que houve?
– Nada vó, está tudo bem. – Ela me conhece como ninguém, não é fácil
enganá-la.
– Não tem nada bem aqui. Você comeu alguma coisa o dia inteiro por
acaso? – Merda, realmente não comi nada hoje.
– Não.
– E agora está aí, bebendo? – Ela pega o interfone.
– Gia, prepare um lanche para Oliver antes do jantar.
– Vó, não quero comer nada. – Tento.
– Obrigada Gia – diz e desliga. – E você vai comer sim, nem que eu tenha
que enfiar goela abaixo.
– Deus, faz tempo que não me diz uma coisa dessas.
– Faz tempo que você não se comporta como uma criança. – Ai, essa doeu!
– Fez aquela cena com o Kellan hoje de manhã, depois se trancou no quarto e
então foi para o estúdio até essa hora. Sendo que já virou a madrugada ontem
lá.
– Como a senhora sabe?
– Tem poucas coisas que eu não sei a seu respeito, filho. – Respiro fundo.
– Sra. Evans, o lanche está na bancada da cozinha.
– Obrigada Gia. Vamos! Terminamos esta conversa enquanto você se
alimenta.
– Você fez o de salpicão, Gia? – pergunto antes que se afaste. Assim evito
os questionamentos de dona Laura por mais tempo.
– Fiz sim. E não pense que não vejo que não está comendo. Se sua avó não
enfiar aquele sanduiche pela sua garganta, eu mesma faço. – Se vira e vai.
Porra, até Gia?
Seguimos até a bancada, nos sentamos e como sei que não tenho escolha,
começo a comer o sanduíche. Antes que vovó possa continuar questionando os
motivos do meu comportamento anormal, decido introduzir outro assunto.
– Vó, por acaso você se lembra de quando o Lian teve que ser internado por
causa das drogas e na saída do hospital, encontramos uma menina desesperada
porque não conseguia mais olhar o corredor por onde os pais entraram? – Os
olhos de vovó ficam marejados na hora. E uma sensação de angústia me aperta
quando percebo que ela já sabia que era ela.
– Eu lembro. Ela te contou ou você percebeu a semelhança?
– Um pouco de cada. Eu comentei que só havia visto olhos como os dela
uma vez, e então ela repetiu a frase que eu disse a ela antes de deixar o
hospital. E no seu caso? – Vovó pensa no que dizer.
– Ela me contou. Mas contou antes de saber que estava na sua casa. Um
pouco antes da entrevista com Riley ela apareceu com uma camiseta da The
Order, ao ver eu fiquei em alerta e questionei porque ela estava usando aquilo,
me parecia coincidência demais. Mas parece que tudo que liga você a Beatriz
é um emaranhado de coincidências, não? – Estranho aquele comentário, mas
deixo passar. Ela continua – ela ficou assustada pela minha reação, começou a
explicar que não se tratava de uma seita e sim de uma banda.
– Sério? – Eu não aguento e caio na gargalhada.
– Sério! E você imagina o esforço que precisei fazer para não ter a mesma
reação que a sua.
– Imagino. – Rio mais um pouco.
– Bom, enfim, quando percebi que ela realmente colocou aquela camiseta
na inocência, comecei a questionar se gostava de rock, se era fã daquela banda
e ela me contou que a partir daquele dia no hospital começou a acompanhar a
sua carreira. E disse mais, confidenciou que toda vez que se sentia
desesperada, era a visão dos seus olhos que a acalmava. – Engulo em seco.
Não esperava por isso.
– Aí me diz Oliver, como isso é possível? Como aquela criança, que se
apegou a uma imagem sua por tanto tempo, vem bater de encontro a sua vida
novamente num momento de desalento? Deus, era o meu amigo que estava lá
dentro com a esposa doente e eu nunca fiquei sabendo. Era a filha dele ali...
– Eu fiquei me fazendo a mesma pergunta. Será que o pai dela realmente
não sabia?
– Não sabia. Ele falou com a Laura amiga de infância e não com a Laura
avó de um rockstar. Você nem era nascido quando perdemos o contato.
Vivienne era uma criança de uns onze anos no máximo. Ele me perguntou como
estava a minha filha. Robert não me machucaria desta forma se soubesse.
– Então realmente é incrível como tudo se deu.
– Sim, é. Mas me diga filho, é isso que está te incomodando a ponto de
querer fugir de casa? – Realmente nada escapa a Dona Laura, então não
adianta ficar arrumando desculpas.
– Ela mexe comigo. – Aos poucos, ela abre um sorriso de orelha a orelha e
eu me ponho incrédulo.
– Ah Oliver, mesmo que eu não desconfiasse, a sua cena de ciúmes quando
viu que os dois estavam na piscina teria te entregado.
– Eu não fiz cena de ciúmes. – Torço o nariz para ela e agora é a vez de ela
gargalhar.
– Tá bom, não vou discutir. – O sorriso dela continua ali.
– Vó, é impressão minha ou ficou feliz com a minha confissão? Você não
pode estar sugerindo que seria bom um envolvimento desse tipo entre Beatriz e
eu, não é?
– Não vou opinar sobre isso, eu só vou dizer uma coisa. Você precisava
disso e eu achei que não estaria mais viva para ver. – Sorri ainda mais. –
Agora vou tomar um banho. – Ela beija minha testa e vai.
Por que diabos eu preciso disso?
Outros passos e um aroma de baunilha, amêndoas e mar ganha o ambiente.
Ela passa reto em direção ao corredor.
– Boa noite, Beatriz. – Ela para, mas não se vira para me olhar.
– Boa noite, Oliver.
– Se divertiu?
– Muito.
– É falta de educação não olhar para as pessoas enquanto fala com elas,
sabia? – Ela se volta para a minha direção.
– Satisfeito?
– Não. – Deve estar estampado na minha cara o meu descontentamento.
– E o que mais eu posso fazer para que fique? – Porra, como eu queria
poder responder a esta pergunta.
– Por que não respondeu minha mensagem?
– Porque eu estava ocupada. – Aquele gosto amargo ganha minha boca ao
imaginar o que poderia estar mantendo-a assim tão ocupada.
Vou direto ao ponto. Preciso saber.
Não quero, mas preciso.
– Vocês estão juntos?
– Não é da sua conta.
– Responda!
– Não te interessa! – diz, alterada.
Ela está linda demais, as bochechas rosadas pelo contato do sol e do vento.
As coxas deliciosas expostas pelo short curto, o quadril redondinho como um
violão e a regata bem colada que evidencia os seus seios. Tudo isso aliado
àquela carinha de anjo irritado.
Nossa. Ela é uma visão e tanto!
Que vontade de beijá-la e arrancar aquele bico da sua boca na marra.
Me aproximo encarando-a e deixando nossos rostos a menos de um palmo
de distância.
– Enquanto você estiver morando na minha casa, tudo que disser respeito a
você é da minha conta e do meu interesse. – Sei que fui clichê e arrogante na
declaração.
– Vá se foder Oliver! – xinga, vira as costas e se vai.
Simples assim.
Me deixa ali, plantado no lugar.
Com o queixo caído e a boca aberta.
Ela não foi nada clichê.
E por essa ela me paga. Ah se paga!
Capítulo 9
Bia
Oliver
Voltamos para casa e o clima já não era mais tão leve quanto na ida. Um
Max emburrado que voltou a se sentar no banco da frente e uma Hazel
magoada no banco de trás ao meu lado. Depois da primeira portaria, Hazel
fica em sua casa e nós três partimos para a praia. Paramos para Max descer e
então, só Oliver e eu seguimos até à frente da casa dele, onde deixamos o carro
que alguém logo recolherá dali. Pego minha sacola e desço do carro. São
dezenove horas e o sol já está se pondo.
– Oliver, muito obrigada por isso – digo levantando a sacola. – Pelo
sorvete e pela companhia, foi uma tarde maravilhosa.
– Não há de que. Também gostei muito da nossa tarde. Fazia muito tempo
que eu não saia como alguém normal, apenas para tomar um sorvete e
conversar com amigos. Foi especial – a declaração dele me aquece.
Entramos em casa, passamos pela sala e não achamos Laura. Gia está ali,
organizando alguma coisa na bancada.
– Gia, vovó saiu?
– Sim, ela foi jantar na casa de Helen. Querem jantar agora?
– Daqui a uns trinta minutos, preciso de um banho. Tudo bem para você,
Bia?
– Claro, também quero tomar um banho antes.
Tomo um banho gostoso e demorado, lavo e seco meus cabelos, coloco o
vestidinho azul que usei no meu primeiro dia ali. Céus, parece que já faz tanto
tempo e não duas semanas. Saio do quarto em direção a sala de jantar, mas
avisto Oliver, agora sem disfarce, na mesa do chá, perto da parede de vidro.
– Pedi para Gia servir aqui se você não se importar. Aquela mesa de jantar
enorme é imponente demais para mim. – Sorrio para ele.
– Para mim está ótimo.
Com você, eu encaro até jantar de cabeça para baixo.
– Então sente-se, vamos comer.
– Com licença – me acomodo.
– Posso te servir? O peixe com molho branco que a Gia faz é delicioso.
– Pode, obrigada.
– Purê? Salada?
– Os dois, por favor. – Ele me serve, depois se serve.
Ele está tão cheiroso!
Evito, mas evito muito mesmo não me deixar levar pela minha tendência
natural de lançar para cima dele aquele olhar embasbacado.
– Vinho? Este é branco, não é tão forte quanto o outro que você provou.
– Posso? – Ele dá um sorrisinho maroto e vai me servindo.
– Se você prometer que não vai me agarrar depois, pode. – Eu
imediatamente fico como Max na mesa da sorveteria. Ele ri mais alto agora. –
Calma, estou brincando com você, não precisa ficar assim.
– Parece que eu e Max temos o mesmo problema, não? – Tento a todo custo
desviar o foco da questão agarrar.
– É, Max também não consegue esconder quando fica constrangido.
– Humm esse peixe realmente está maravilhoso – continuo minha técnica
com o objetivo de não voltar ao tema Bia se atirando em Oliver. E bebo um
gole do vinho que realmente está geladinho e bem mais agradável do que o
tinto, para o meu paladar.
– Me conte alguma coisa sobre você, Bia.
– O que você quer saber?
– Qualquer coisa. O que gosta de comer, por exemplo?
– Eu adoro comida mexicana.
– É mesmo? Burritos e Chilli Beans?’
– Exato. E modéstia à parte, acho que cozinho bem.
– Ora, ora, Beatriz... Qualquer dia vou querer uma prova de que não é
apenas este rostinho bonito.
– Ah Oliver, se formos levar para este lado, você é muito mais decorativo
do que eu. – Ele franze a testa e leva a mão ao coração, teatralmente.
E eu? Devo estar da cor da bandeira da China.
– Srta. Thompson! Recebi um elogio? Acho que foi a primeira vez.
– Há coisas que saltam aos olhos. Não as admitir é sinal de tolice, teimosia
e altamente incongruente com o óbvio. – Ele abre um sorriso de abalar
estruturas.
É lindo demais!
Que vontade de beijá-lo.
– Está flertando comigo? – Seu sorriso agora não cabe em seu rosto.
E eu estou mesmo, não estou? Flertando com ele?
– Impressão sua.
– Bem, de qualquer forma, penso que foi um belo salto no meu ranking. De
babaca implicante a enfeite de ambiente. Acho que estou indo bem.
– Arrisco dizer que sim. – Rimos e ele me olha com ternura.
– Topa dar uma caminhada pela praia comigo depois do jantar?
Ai senhor, a última vez que eu bebi vinho e nós caminhamos na praia, teve
aquele efeito. Meu coração acelera só de pensar.
– Claro, está uma noite linda. Mas você não tem uma festa para ir? –
Lembrar de que ele se encontrará com a advogada mais tarde me angustia.
– Não vou.
– Não? – Acho que não consegui disfarçar a animação exagerada na minha
voz – Por quê?
– Não estou no clima.
– Pensei que você tinha marcado com sua amiga. – Ele suspira.
– Riley supera. – Rodo um pouco os dedos em torno da borda da taça de
vinho, pensando se pergunto ou não.
Foda-se! Decido pelo sim.
– Ela não é apenas uma amiga, certo? – Ele me olha como alguém que não
esperava por aquela pergunta.
– Não, ela também é minha funcionária.
– Você entendeu o que eu quis dizer.
– Entendi, mas preferi dar essa resposta ao invés da que você me deu
quando perguntei se você e o fedelho estavam juntos.
– Ok, eu mereci. – Aceito resignada. – Minha dívida está paga?
– Nem de longe, anjo, nem de longe.
– Porra, o que você quer?
– Olha a boca, Beatriz.
– Ah, vá se... desculpe. – Paro quando percebo que na brincadeira iria
xingá-lo da mesma forma que me rendeu a tal dívida. Ele explode numa
gargalhada.
– Essa foi por pouco, não é mesmo? Quase que a dívida duplica. – Rio
também.
– É, foi por muito pouco. Não vai me contar mesmo? Sobre a sua amiga?
– O que exatamente você quer saber?
– Se vocês... se vocês, você sabe.
– Se a gente transa? Sim, a gente transa. – Acho que acabei de cometer um
crime civil queimando a bandeira da China.
Ouvir aquela palavra saindo de sua boca me deixou com tesão e raiva ao
mesmo tempo.
Por que fui insistir nessa merda? O que eu achei que ele diria?
– E você gosta dela? – Dizem que a declaração de burrice não é errar. É
insistir no erro.
Ele estanca com o garfo perto de sua boca, para poder me encarar.
– Eu gosto. Conheço Riley desde os meus dez anos de idade. Começamos a
nos envolver quando eu tinha quinze anos e ela quatorze. Desde lá ela sempre
esteve por perto e me ajudou em diversas situações. Fez direito e assumiu a
parte jurídica da banda, do condomínio e da produtora por um pedido meu,
pois confio muito nela. Tenho muito carinho e muito respeito por ela. – Droga,
a coisa só piora.
Eu e minha boca!
Ela é muito mais importante para ele do que eu imaginava, são namorados
desde a adolescência, caramba.
Meu peito dói.
– E ela não se importa, hum, com as outras?
– Outras? Que outras?
– As outras com quem você transa, Oliver! – digo meio irritada por ele se
fazer de desentendido.
– E como você sabe que há outras? – Olho para ele incrédula.
Como ele pode?
Acha que sou o que, idiota?
Então percebo que está com cara de deboche. E resolvo dar a resposta que
ele menos espera que eu dê.
– Eu vi.
– O que? Como assim, você viu? – Ai Jesus, ajoelhou tem que rezar, não é o
que dizem?
– Na quinta passada, à noite, fui caminhar na praia em direção ao trapiche,
você estava na festa de Lian. Quando eu estava voltando percebi um casal
dentro da hidro fazendo movimentos característicos. Ao passar pela frente da
casa deu para reconhecê-lo.
Ele parece desconcertado. Passa as mãos pelos cabelos e rosto, certamente
pensando no que dizer sobre isso.
– Sinto muito que você tenha presenciado isso.
– Eu também. – Olho para o meu prato e brinco com o garfo e a comida que
sobrou ali. Suspiro. – Mas então, sua namorada não se importa?
– Ela não é minha namorada. Nunca foi e nunca será. Nunca tive uma, aliás.
Ela é minha parceira sexual e respondendo à sua pergunta, não, ela não se
importa. Nenhum dos lados tem exclusividade nessa história.
– E você se importa?
– Com o que?
– Com o fato de não ter exclusividade. – Ele parece começar a se irritar
com a conversa.
Será que isso indica que ele gostaria sim que ela fosse exclusiva?
– Não, Beatriz. Não me importo nem um pouco. Agora, será que dá para a
gente parar de falar de Riley? – Não, ainda tenho mais uma, penso.
– Naquela noite, depois que nós... ela disse que vocês se encontraram...
você transou com ela? – Ele larga os talheres e suspira.
Deus, eu perguntei isso mesmo? Cara-de-pau me define neste momento.
– Eu não acho que lhe deva satisfações da minha vida a este nível. – Engulo
em seco, porque ele tem razão, por que deveria? – Mas não vejo problemas em
matar a sua curiosidade. Então não, não transei. Ela quis, mas eu não.
Satisfeita? – Assinto exageradamente aliviada e dou o último gole no meu
vinho.
– Ótimo! Vamos à nossa caminhada então? – Ele se levanta. Está com uma
bermuda branca e camiseta preta, os cabelos amarrados daquele jeito, cheiroso
como sempre e lindo de morrer.
– Vamos sim, vou apenas escovar os meus dentes e já volto.
Vou ao quarto, faço a higiene e logo estou de volta. Oliver me espera no
deck, de pés descalços. Tiro a sandália e deixo ali também. Andamos, os pés
dentro da água, apreciando a noite clara e estrelada daquela terça-feira.
– Pensou sobre o que conversamos, você retomar seus estudos?
– Pensei, pensei bastante, e acho que tenho uma contraproposta a lhe fazer.
– É mesmo? Fiquei curioso, qual é a proposta?
– Eu vou falar se você prometer que vai me ouvir até o final primeiro, tudo
bem?
– Tudo bem, prometo.
– Fazer uma faculdade agora, com tudo bancado por você, eu não me
sentiria bem, eu me conheço. Outra questão é que em função da doença que
sempre esteve presente em nossa casa, eu pulei muitas etapas da vida, não as
vivi como deveria ter sido. Eu não tive uma infância normal, eu praticamente
não tive adolescência, pelo menos não no sentido de passar pelas experiências
que todo adolescente passa. E se um dia eu for para universidade, eu gostaria
de vivenciá-la como deve ser, indo para um campus, tendo uma colega de
quarto, participando das festas e fraternidades. – Percebo que ele solta um
longo suspiro, incomodado com aquilo. – Ficando por minha própria conta. E
não posso fazer isso agora. – Faço uma pausa e continuo.
– Eu tinha bolsa no colégio particular onde estudei em função da minha voz.
Eu era a soprano solista do coral. – Vejo que ele dá uma paradinha e me olha
surpreso, mas não fala nada, me deixa seguir.
– Só que além de cantar, eu sempre gostei de brincar com as músicas, na
verdade acho que isso é o que mais gosto mesmo. Eu pegava as músicas do
repertório e mexia nos arranjos, modernizava, enfim, criava novas versões e
apresentava ao nosso regente. E normalmente eram as minhas versões que nós
ensaiávamos e apresentávamos. Então a minha proposta é que ao invés de me
pagar um curso universitário agora, você me deixe aprender as técnicas de
produção musical. Imagino que deva ter ótimos profissionais na Three Minds
onde talvez eu possa estagiar, ou eles possam me dar aulas fora do expediente,
não sei. Pois essa é realmente uma profissão que me vejo exercendo com o
maior prazer no futuro. E depois, se conseguir um emprego na área, posso fazer
uma especialização.
– Quando você vai parar de me surpreender? Não fazia ideia dessa sua
ligação com a música. Parece que há mais um fator de conexão entre nós, não?
– Sim – concordo. – E eu ser descoberta como “cantora” foi culpa sua,
sabia?
– Minha?
– Sua. Você se lembra do conselho que me deu aquele dia no hospital?
– Conselho? Nossa, acho que não.
– Você disse que quando você era pequeno e sentia medo você c...
– Cantava. E fiz você prometer que iria tentar.
– Isso. E eu fiz. Quando estava no terceiro ano do fundamental, eu estava
sentada no pátio de olhos fechados e cantava para esquecer a preocupação,
pois mamãe teve uma crise e precisou ser internada. E enquanto eu estava lá,
concentrada, a professora de canto passou por mim e me ouviu. E a partir dali
a música começou a fazer parte da minha vida escolar ativamente.
– Fico com medo do que mais eu posso descobrir sobre você, anjo.
– Que não sou um anjo, talvez?
– Ah isso você é, um anjo de boca suja, mas um anjo mesmo assim. – Eu rio
e ele passa os braços pelos meus ombros me abraçando, e terminamos o
finalzinho da caminhada assim.
– Vamos subir e nos sentar no trapiche, venha. – Ele sobe e estende a mão
para que eu me apoie e suba também.
Andamos pelo trapiche, que tem luzinhas iluminando todo o caminho, mais
as luzes externas da marina, deixam o local com uma luminosidade muito boa.
Próximo ao final, ele se senta encostando as costas num dos pilares de
sustentação que ultrapassam a base e novamente pede que pegue sua mão.
Seguro-a e ele me puxa para sentar também, tento desviar para o seu lado, mas
ele não deixa e me faz sentar entre suas pernas.
– Sente aqui, assim você pode se encostar em mim. – Eu vou, meio
desconcertada com a proposta. Mas vou. Jamais conseguiria recusar um
convite daqueles.
Me encostar nele? Só se for agora.
Encosto minhas costas em seu tórax e deito a cabeça em seu ombro. Todas
as minhas terminações nervosas imediatamente ficam em alerta. O calor irradia
em cada ponto onde nossos corpos se tocam. O coração ganha outro ritmo.
Ele passa uma das mãos pela minha cintura deixando-a apoiada na minha
barriga. Com a outra mão ele afasta o cabelo da lateral do meu rosto e
pescoço, e encosta o maxilar na minha fronte. Sério, não sei se eu aguento todo
esse contato sem ir além. É quente e torturante demais estar ali, envolta a ele,
sentindo o seu cheiro e não poder tocá-lo como eu gostaria.
– Então você quer ser produtora musical?
– Sim. O que você acha? – Me espanto com o tom rouco em minha voz.
– Eu acho maravilhoso. Claro que posso cuidar da sua formação nessa área
e futuramente, quem sabe, você se torne uma de nossas produtoras.
– Seria um sonho. Mas quem sou eu para dizer que sonhos não se realizam,
não é?
– É? Qual sonho seu se realizou, Beatriz? – Ignoro as borboletas no
estômago demasiadamente agitadas e a minha respiração descompassada pelo
toque leve que os dedos dele trilham em meu braço e falo de uma vez.
– Estar assim, perto de você novamente. Olhar nos seus olhos. Sonho com
isso desde os oito anos. – Sinto que ele engole em seco e puxa o ar
pesadamente entre os meus cabelos. Aperta um pouco a mão que está na minha
barriga.
O calor da sua mão se irradia para o meu sexo e para os meus seios,
deixando-me ainda mais excitada.
Fecho os olhos.
Aquilo não está nem um pouco fácil de aguentar.
– Agora me conte, anjo. – Sua voz está ainda mais grave e baixa, como que
se esforçasse para dizer aquelas palavras.
– Contar o que?
– O que a fez chorar no carro esta tarde.
– Quando Max chamou Hazel de princesa, automaticamente lembrei do meu
pai. Era um dos termos que ele usava para se dirigir a mim. A saudade me
pegou e não consegui segurar, desculpe. – Ele flexiona os dedos num leve
carinho em meu ventre e beija minha fronte.
Ah meu pai! Não me tente assim homem!
Queria tanto virar o meu rosto e beijar o seu pescoço como fiz da outra vez.
Me seguro. Preciso ser forte.
– Não se desculpe, não por isso. Me fale sobre ele Bia, sobre o seu pai.
– Ele era o meu mundo, Oliver. Sempre foi eu e ele. Até mesmo quando
mamãe ainda era viva, mas já não conseguia mais participar ativamente das
atividades diárias, eu e papai que compartilhávamos as tarefas e
responsabilidades. E ele era divertido, espirituoso, meu melhor amigo. Sempre
pude falar sobre qualquer assunto com ele, nunca me julgava ou desencorajava,
ele argumentava comigo de igual para igual. Se eu me tornar uma mulher com
metade das qualidades dele, ficarei satisfeita comigo mesma.
– Ah meu anjo, você é tão incrível! Não é possível que não perceba o
quanto é linda. Por dentro e por fora. – Meu coração vai a mil.
Ele disse mesmo que eu sou linda?
– Você disse que “princesa” era um dos termos que ele usava. Quais eram
os outros?
– O que você me apelidou. Guardiã. Depois que contei a ele sobre nossa
conversa, ele me chamava de “minha guardiã”. – Oliver abaixa a cabeça e
encosta a testa em meu ombro, processando aquilo por um tempo.
– Parece que vou ter que fazer uma junção aqui. Anjo e guardiã, pelo visto
você é o meu anjo da guarda. – E desliza levemente os lábios pelo meu
pescoço, deixando um beijo ali.
Quente!
Estremeço e me arrepio inteira.
Eu disse que precisava ser forte, mas não consigo ser tão forte.
É demais para mim, tenho que fazer algo.
– Oliver... – Tento me virar de frente para ele, mas me impede e me mantém
ali, encostada a ele.
– Não Bia, eu não devia ter feito o que fiz, mas não resisti, me desculpe. O
seu cheiro, ter você assim nos meus braços, isso mexe comigo. Você nem
imagina o quanto. Eu... eu sei o que está acontecendo aqui Beatriz, eu também
sinto. Assim como senti no domingo à noite. Como senti aquele dia no meu
escritório. É forte. E nossa, eu queria demais poder te virar para mim agora e
te beijar como uma mulher merece ser beijada. Quis isto a noite toda. Mas eu
não posso fazer, me perdoe.
Céus, eu ouvi tudo aquilo mesmo?
Eu ouvi Oliver dizer que me deseja e que também sente a atração entre nós?
Que eu mexo com ele e ele quer me beijar?
Eu ouvi tudo que eu mais quis ouvir dele na vida e ele espera que eu não
faça nada? Como?
– Por quê?
– Porque não seria justo e nem correto com você, anjo.
– E por que não seria?
– Porque eu não posso te transformar em mais uma na minha cama, querida.
Por todas essas incríveis coincidências que nos ligam um ao outro. Pela
obrigação que sinto para com o seu pai, que sem querer me deixou o seu maior
tesouro para cuidar e proteger. Pela admiração que já sinto por você. Pela
nossa diferença de idade. São tantos motivos. E eu não teria mais nada a te
oferecer além disso, Bia. Não posso fazer isso com você.
– Eu não me importo.
– Não diga uma coisa dessas, jamais. O homem que tiver a sorte de ter
você... – ele não consegue terminar a frase – você acha que pensa assim agora,
mas claro que se importaria. Eu vi o seu semblante quando me contou sobre a
hidro, quando perguntou sobre Riley. A decepção que enxerguei no seu rosto
só iria se potencializar caso role algo entre nós e depois se depare com uma
situação parecida novamente. Como ficaria a nossa convivência depois? E
mesmo que você não se importe, eu me importo, e muito. Você sempre terá o
meu amor fraterno, a minha amizade e a minha proteção, anjo, mas o meu
corpo... isso eu não posso lhe dar. – Algumas lágrimas silenciosas rolam ao
ouvir aquilo. Não consigo evitar.
– Não pequena, não chore, por favor. Não por mim. Não valho a pena.
– Acho que eu quero voltar para casa. – Ele me aperta novamente e respira
fundo.
– Não era desta forma que eu gostaria que terminássemos a noite, não com
você triste assim.
– Também não era assim que eu gostaria que terminasse, mas parece que
minha opinião não conta, não é mesmo? – Seco os olhos.
– Bia...
– Não, Oliver. Neste momento eu estou me sentindo excitada, frustrada e
rejeitada. Você me disse coisas que eu sonho em ouvir há muito tempo, mas
não me deixa... Evidentemente você não se deixou afetar como eu, então, por
favor... – Antes que eu termine de falar ele envolve a minha cintura com os
dois braços e me puxa em direção à sua virilha, me fazendo sentir a sua ereção
e pressionando o pênis duro na base das minhas costas.
– Esse é o tanto que você me afeta Beatriz. Consegue sentir? – O sussurro
soa baixo em meu ouvido.
Impossível não sentir aquilo tudo.
Solto um sim fraco, porque seu gesto me pegou totalmente de surpresa e eu
nunca tive um contato assim com um homem antes.
– Eu tenho ficado constantemente neste estado por você nos últimos dias.
Tem acontecido com muito mais frequência do que eu gostaria. E tem me
deixado louco, fora de mim em muitos momentos. Hoje mesmo, lá na
sorveteria, enquanto a olhava pôr a colher na sua boca pecaminosa e lamber,
fiquei duro assim, só imaginando você fazendo o mesmo com o meu pau. Teria
passado a maior vergonha se precisasse levantar da cadeira. – Fico ofegante.
É erótico demais.
Ele me dizendo aquelas coisas tão honestamente, sem medir as palavras
bem pertinho do meu ouvido. Palavras que eu não estava preparada para ouvir.
Me permitindo sentir a sua respiração, sentir o seu tesão, através do corpo, do
tom de voz e das palavras.
Estou sem ar.
A minha calcinha, super molhada. O meu sexo formigando, precisando de
algo que ele ainda não sabe muito bem o que é.
– Então – ele continua – não venha me dizer que não me afeta pequena, você
sabe que não é verdade. Eu estou lutando contra, Bia, para o seu bem. Seria
muito mais fácil e cômodo eu ceder aos meus desejos, acredite.
O fogo já tomou conta de tudo em mim. Estou a ponto de explodir, preciso
fazer algo. Preciso sair dali.
Faço força para me desvencilhar dos seus braços e corro pelo caminho de
volta para casa.
Ele não me segue, apenas deixa-me ir.
Capítulo 10
Oliver
Eu me jogo no sofá.
Não me reconheço mais.
Não fico feliz em saber que estão sozinhas e soltas em Long Beach, mas não
posso fazer muita coisa.
– Lian, você aqui essa hora? Bom dia, querido. – Ouço vovó falando lá da
cozinha.
– Bom dia minha avó preferida. Pois é, tive que vir para ver se coloco juízo
na cabeça do seu neto.
– Por que, o que houve?
– Nada vó, quando é que se pode dar crédito ao que Lian fala?
– Kellan não quis vir? – Pergunta vovó.
– Não, ele está meio indigesto. A noite de ontem foi difícil para ele – diz
Lian me olhando de lado.
– Tem que ficar de olho nele. Ele é jovem demais para acompanhar as
noitadas e bebedeira de vocês.
– Sim, eu sei. Mas não se preocupe, estou de olhos bem abertos. –
Novamente a indireta.
– Ótimo. Se me dão licença, vou aproveitar um pouco o sol da manhã e me
juntar a Helen para uma caminhada. Bom café para vocês.
– Tchau vó.
– Oliver, vai ficar aí enrolando com a xícara de café ou vai comer? – fala
Lian
– Estou sem fome. – Ele faz sinal de negativo com a cabeça.
– Sei bem o motivo da sua falta de apetite. Mas ok, vamos para o seu
escritório então.
Assinto e seguimos para o escritório, onde fechamos a porta e nos
acomodamos no sofá que tenho ali.
– E aí pensou no que vai fazer? – questiona.
– Pensei. Na verdade, só tenho uma opção, eu acho.
– Sim, eu também só vejo uma. Manda lá.
– Vou me mudar ainda hoje para o apartamento em Long Beach. Ficar lá até
colocar a cabeça em ordem. Me livrar desse sentimento de angústia e saudade
que tem me dominado todos esses dias. Me obrigar a entender que ter essa
menina aqui não tem nada a ver com aquela outra ausência. Nesse meio tempo.
Kellan e ela podem se conhecer e se entender sem a minha interferência. –
Faço uma pausa para respirar porque dizer isso me rasga por dentro.
– Quando tudo isto estiver assentado, eu volto e seguimos com nossas vidas
como sempre foram. – Lian me observa atentamente, fica em silêncio por uns
minutos processando aquilo.
– Não vai funcionar. - Se manifesta finalmente.
– Como assim não vai funcionar? O que você quer que eu faça? Mandá-la
embora não é uma opção.
– Não, mandá-la embora também não vai funcionar.
– O que você sugere que eu faça então?
– A única coisa que você pode fazer na sua situação, Oliver. Assuma.
– O que? Enlouqueceu?
– Não, nem um pouco. Na verdade, eu passei boa parte da noite de ontem,
tempo em que eu deveria estar usando para comer a Tina, pensando sobre tudo
que você me disse e sobre o showzinho que você protagonizou lá em casa. E
cheguei à conclusão de que não há outra saída para você.
– Você já parou para pensar em toda a merda que pode dar isso que está me
incentivando a fazer? Como eu posso vir a magoá-la e como ela pode vir a...
me destruir?
– Pensei, claro. Não fiz outra coisa senão analisar cada por menor.
– E mesmo assim você acha que é uma boa ideia?
– Sim acho. Sinceramente, eu acho que isso já está até resolvido dentro de
você. Você só não teve coragem de admitir ainda. Então é pagar para ver e
correr o risco. E sabe qual o fato que me fez ter certeza disso?
– Não. – Engulo em seco. – Qual?
– Você ter ameaçado terminar a nossa amizade de quase vinte anos.
Amizade essa que nem dá para classificar como apenas isso, visto tudo que já
passamos e as merdas que sabemos uns dos outros. Você ameaçou acabar com
a nossa família Oliver e você estava falando muito sério. Tinha sangue nos
olhos. E eu só te vi com essa mesma determinação em outras duas situações
antes e nas duas você conseguiu o que queria e jamais voltou atrás. Nem
preciso te dizer quais são, tenho certeza. – As palavras dele caem como uma
pedra sobre mim.
Não, não posso admitir que essa merda seja tão séria assim. Ele deve estar
enganado. Tenho que acreditar nisso. Apostar na minha ideia de me afastar.
– Não diga besteira.
– Ah, quem me dera fosse... O tamanho do seu ciúme ontem foi monstruoso.
Foi bem difícil convencer Kellan de que aquilo foi a reação de alguém que só
quer proteger. Ele tá com uma pulga gigantesca atrás da orelha. E o que eu vi
nos olhos de Beatriz quando você abriu a porta daquele quarto deixou muito
claro que ela já escolheu quem ela quer nessa história há muito tempo, não há
dúvida alguma por parte dela em relação a isso. E você ainda quer empurrar
Kellan para o meio de vocês? Para ele ser o que? O prêmio de consolação
dela? O menino está realmente apaixonado Oliver. Se esforçando para fazer as
coisas certas com ela. Ele não merece isso. – Nisso Lian tem razão.
– Lian, você lembra quando você foi internado a última vez?
– Claro, mas o que isso tem a ver com a nossa conversa?
– Era Beatriz.
– Não entendi. Era Beatriz onde?
– A menina, que chorava na recepção. Te pedi para olhar o corredor,
lembra?
– Não... não acredito! Como?
– Pois é. Incrível não? Ontem ela me confidenciou que sonhava em me ver
de novo desde aquele dia... que a lembrança dos meus olhos sempre a
acalmou.
– É, acho que ela sabe o que quer há muito mais tempo do que eu
imaginava. O pai dela não sabia mesmo que a estava mandando para nós?
– Não, vovó garantiu que não. Disse que ele nunca soube da minha
existência e que perguntou pela... por Vivienne quando ligou.
– Porra. Então é uma baita coincidência mesmo.
– Se é. Mas não posso fazer isso que você me sugere.
– Você vai fazer, Oliver. Já decidiu. Pode se afastar, pode fugir, negar, mas
mais cedo ou mais tarde é o que vai fazer. Só estou te abrindo os olhos e
poupando o sofrimento de quem não merece.
– Não, você está engan... – Meu celular vibra.
Chega uma mensagem de Hazel.
Ela me mandou uma imagem. Clico, espero carregar...
E quase tenho um treco!
É uma foto de Beatriz, num vestido verde escuro metalizado. Ela está de
frente a um espelho e Hazel tirou a foto de trás dela. O vestido tem uma saia
soltinha que não chega ao meio das coxas. As costas ficam todas nuas e à
frente o decote vai quase até o umbigo, com apenas umas tiras traspassadas de
lá até a altura dos seios.
E na legenda diz “esse é o que ela vai usar na minha festa”.
– Nem pensar – vocifero olhando para tela do telefone. Lian cata o aparelho
da minha mão.
– Devolve essa merda Lian, você não vai olhar. – Tarde demais.
– Porra, caramba, Biazinha está gos...
– Não se atreva! – berro e arranco o telefone da mão dele, que gargalha da
minha cara de cão raivoso.
– Oliver você está muito, muito fodido! – Lian cai na gargalhada.
Bia
Oliver, oi
Espero uns minutos e ele não responde. Decido então tomar meu banho.
Estou muito cansada, Hazel realmente acabou comigo. Isso aliado a todo o
estresse emocional de ontem estão cobrando o seu preço. Fico um tempo
ali, deixando os jatos d’água caírem e fazerem a sua mágica.
Já com os cabelos secos e o pijama no corpo, checo o telefone para ver
se Oliver me respondeu. Nada. Resolvo mandar outra mensagem.
Oi Hazel
Oi amiga, como está?
Não muito bem, estou tentando
falar desde ontem a noite com
Oliver sobre todas aquelas
compras, já mandei três
mensagens e ele me ignora. E seu
irmão acabou de sair daqui. Ele se
declarou para mim com todas as
letras e me pediu uma resposta
definitiva na sua festa. To ferrada,
Hazel!
Então eu vou te fazer uma pergunta e
você vai ser muito sincera comigo. O
que te angústia mais, a falta de
resposta do Oliver ou a declaração do
meu irmão?
O silêncio de Oliver.
Acho que você já sabe o que fazer.
Como assim?
Você já sabe a resposta que dará a
Kellan na festa. Foque em Oliver.
Faça-o agir. Repito o que te disse
ontem. Provoque-o. Mande uma
mensagem com um ultimato, sei lá...
Se você o afeta tanto quanto ele
mesmo já admitiu, ele vai falar
Vá pro tudo ou nada, Bia
Será?
Quisera eu afetar o ruivo só um
pouquinho nestes termos para poder
usar desta tática
Analiso tudo que ela me disse. Penso na minha situação ali, no quanto minha
presença alterou a dinâmica entre eles. No que isto tudo pode causar na
amizade entre Oliver e Kellan e percebo que Hazel está certa.
Tem que ser tudo ou nada. A situação não pode se arrastar. Ou Oliver nos
dá uma chance ou eu vou mesmo embora, esqueço que um dia estive dentro do
meu conto de fadas de menina, e recolho os meus cacos bem longe deles.
Decido que é hora de dar a minha primeira cartada.
E eu não vou blefar.
Pronto.
Agora é esperar para ver se Hazel tem razão e o coelho começa a pôr as
orelhinhas para fora.
Tomo um chá com Laura no final da tarde, e ela continua muito preocupada
com o neto. Depois damos uma caminhada juntas pela praia, onde Helen
também nos acompanha. A essa altura já estou certa de que este será meu
último dia no habitat dele. E a dor que sinto é alucinante, mas tento disfarçar.
Jantamos, conversamos mais um pouco e quando estou entrando no quarto
para deitar, o som de uma nova mensagem me anima. Será que é ele? Cruzo os
dedos.
Não consigo ver o tamanho do sorriso que eu abro, mas tenho certeza de
que assustaria até o It, a coisa.
Sei que não é verdade, mas resolvo que não vou discutir com ele neste
momento, estou feliz que esteja falando comigo.
Aí coração!! Tumtumtumtumtum
Talvez o Deus em
questão esteja
perdendo a
prática
O Deus em questão está no auge da glória e da forma.
Coisa que ele demonstrou ontem mesmo a uma certa
menina atrevida. Será que ela já esqueceu?
Sim
Vai me
responder
agora?
Eu nunca fui beijada. O que você fez comigo lá no trapiche, foi
o contato mais íntimo que eu tive com um homem. A coisa mais
erótica que aconteceu comigo diretamente
Se eu já não estivesse me
sentindo um canalha...
Não, por favor, não pense assim. Eu quis
mais...
Bia...
Tudo bem. Então... me diz o que você foi
fazer no Lian. Encontrar sua amiga?
Durma bem
Apesar de ele cortar a conversa, fico feliz com a nossa interação. Talvez
Hazel tenha mesmo razão e eu possa ter esperanças.
Queria tanto que ele estivesse aqui, perto de mim.
Que saudade!
Tenho que dar logo a cartada final, o tudo ou nada.
E me preparar para as consequências, sejam elas quais forem.
Porque desta vez, em parte, estarei blefando.
Capítulo 11
“É tão certo
Quanto o calor do fogo
Que eu já não tenho escolha
E participo do seu jogo”
(Fogo – Capital Inicial)
Oliver
uma garota.
E stou na cama, feito um tolo, relendo a nossa conversa,
olhando para o telefone e sorrindo. Tentando me lembrar
quando foi a última vez que troquei mensagens assim com
E a resposta é nunca.
Nunca fiz isso.
Nunca senti vontade de fazer isso.
E agora aqui estou eu, querendo mais. Muito mais.
Não queria encerrar nosso papo já, mas sabia que iríamos adentrar em
questões complicadas.
Relutei muito em respondê-la. Quis o tempo todo, mas eu saí de casa para
me distanciar, então tentei ao máximo não sucumbir. Várias vezes comecei a
escrever e apaguei.
Até que ela me colocou contra a parede e não consegui pagar para ver.
E foi tão bom.
Quando ela me perguntou se eu havia me alimentado, tocou algo dentro de
mim. Uma sensação de cuidado, de lar, de carinho que me encheu o peito. Fora
minha vó, nenhuma outra mulher tem esse tipo de preocupação comigo. Não há
muitos e muitos anos, pelo menos.
Já imaginava que pudesse ser virgem, mas não que fosse tão inocente.
Nem um beijo? Porra!
O que acontece com os garotos de hoje em dia?
Essa revelação me assusta e me encanta na mesma medida. Cogitar ter algo
com ela é... tanta insanidade!
Sou um homem que é assediado de todas as maneiras possíveis por onde
passa. Que sempre foi, bem antes da fama. Já aos doze anos, era grande demais
para a minha idade. E minha aparência nunca me deixou passar despercebido,
por mais que eu quisesse e me esforçasse muito para isto.
Mesmo com todos os meus problemas em relação ao convívio social, a
procura e as provocações eram tantas, que tive a minha primeira experiência
sexual muito cedo. Cedo demais, se eu for bem sincero comigo mesmo.
Não tinha maturidade suficiente, hormônios em ebulição, meus traumas
dificultando encontrar uma saída para lidar com o tesão crescente e o risco de
me envolver. E ao mesmo tempo, impedindo de me impor em determinadas
situações.
Eu era um amontoado de confusão naquela idade.
Meu caos interior contribuiu para que eu virasse um fantoche nas mãos das
garotas mais velhas do colégio e até de algumas mulheres do corpo docente.
Elas me usavam ao seu bel-prazer e eu me deixava usar para me sentir um
pouco normal.
Meu acordo com Riley me salvou de afundar naquela merda, de acabar com
alguma doença ou um filho indesejado.
Resumindo, desde que me conheço por gente, a inocência sempre passou
muito, muito longe de mim.
E Beatriz... Deus, ela é só uma menina começando a descobrir a vida.
O que ela tem que me atrai tanto?
Estar comigo é dor de cabeça certa!
Será que ela teria maturidade suficiente para aguentar?
Rumores, fofocas, insinuações, distância, as turnês...
São tantos os fatores que apontam para o nosso fracasso, para a certeza de
que sairemos disso machucados.
Por outro lado, parece algo tão delicioso, tão certo, tão... nosso!
Não acredito que estou realmente cogitando isso.
Que estou analisando seriamente a possibilidade de uma relação exclusiva
e duradoura com uma mulher.
Mas sim. É exatamente isto que estou fazendo.
Abro a foto do perfil dela no programa de mensagens. É uma foto sua com
os pais, parece ter no máximo uns doze anos... tão linda já naquela idade.
Então lembro-me da foto que tirei dela naquela manhã em que se lambuzou
com o bolo. Acho a imagem e fico ali, namorando. Ela está com carinha
assustada, não esperava que eu tirasse a foto. Uma graça, toda suja de bolo, os
olhos negros arregalados.
A saudade me aperta o peito.
Queria tanto estar perto, nem que fosse apenas para olhá-la e sentir o seu
perfume.
Lembro então que tenho mais uma foto dela, a que Hazel me mandou. Abro-
a e assim como da primeira vez que vi, fico sem ar.
É linda demais, e está tão sexy naquele vestido! Tão mulher!
Como terei coragem de deixar que outro se aproxime?
Que outro a abrace?
Que outro tenha tudo que... é meu.
“Você pode ter tudo de mim”.
Aquela angústia cresce dentro do peito e uma lembrança infeliz invade
minha mente.
A imagem de uma outra garota, de quem eu também deveria ter tido tudo,
tão linda quanto, mas que me jogou no inferno. Se tem uma coisa certa dentre
as que Lian falou hoje, é essa: eu estou muito fodido!
Já é bem tarde, mas o sono não vem.
Estou ansioso, excitado.
Me remexo, viro de um lado para outro e não consigo relaxar.
O telefone vibra. Sorrio.
É ela.
Deus, eu não posso fazer isso...
Ah, como eu queria lhe dar esperanças, dizer que sim, que vou deixar
acontecer entre nós tudo que temos vontade. Mas seria irresponsabilidade
demais.
Nem sei como reagiria tendo que lidar com uma vida em que cada passo
meu deve ser compartilhado com outra pessoa. Até quando eu iria suportar?
Como isto me afetaria com os problemas que carrego?
E principalmente, como a afetaria caso...
Não, sem chance... E depois?
Ela não merece mais sofrer...
Dou a única resposta possível.
Provavelmente não .
Ela não diz mais nada e eu vou dormir com um gosto amargo na boca. E não
tem nada a ver com o whisky.
Puta-merda!
Lian estica o pescoção e assovia.
– Biazinha está jogando pesado.
– Se está!
– Se ela não usar para você...
– Não comece!
– É inevitável cabeção, para alguém ela vai usar...
– Some daqui! – Ele gargalha da minha reação.
– Eu vou, já está na nossa hora. Mas não adianta descontar a frustração em
nós, brother. Pegue o que é seu e seja feliz. – Os três vão embora. Ficamos a
foto da lingerie e eu.
Pegar o que é meu... É uma ideia mais do que tentadora.
Passo o dedo por ela, só imaginando... até que faço uma nova e enorme
burrada.
Vista
Oi?
A lingerie. Me deixe ver como fica em
você
Eu também, meu bem. Sinto sua
falta
Bia
E, nem cinco minutos depois, pancadas nada discretas nos fazem pular da
cama. Corro para abrir e Lian, Max e Kellan invadem a suíte com uma caixa de
bombons e garrafas de champagne nas mãos.
– Assim que o relógio der as doze badaladas, estouraremos essas
belezinhas para comemorar os dezessete anos da nossa princesa! Huhuu –
berra Lian.
Max está rindo e abraçado a ela.
Mas falta um ali.
Sentamos na sala, colocamos os bombons na mesinha, Lian e eu pegamos as
taças e ficamos conversando aguardando o momento certo. Kellan está ao meu
lado e tenho medo que ele não espere até amanhã para a tal aproximação que
prometeu. Não estou preparada para falar com ele hoje.
Faltando dois minutos para a meia noite, os três pegam cada um uma garrafa
e começam a agitá-las para o estouro. E quando acontece, jogam o líquido que
sai em cima dos cabelos de Hazel. Ela ri feito criança. Está muito feliz com a
surpresa deles.
– Porra! Estou fedendo a espumante seus idiotas – fala sem disfarçar a
alegria.
– Mas vou te abraçar mesmo assim – diz Lian, a puxando para um abraço. –
Hazel, bem vinda aos dezessete. Que seu dia hoje seja incrível e especial
como sonhou. Amo você!
– Também tio. – Rimos.
– Minha vez maninha. Apesar de você ser um pé no saco as vezes, eu te amo
muito. Parabéns! – diz Kellan lhe dando um abraço.
– Eu também irmão.
Aproveito o embalo, já que estou ali ao lado dele e a abraço na sequência.
– Hazel, eu sempre sonhei em ter uma amiga, mas jamais imaginei que ela
seria tão perfeita e me faria amá-la tanto em tão poucos dias. Saiba que
aconteça o que acontecer, este lugar será seu em meu coração para sempre.
Feliz aniversário amiga! Que os seus sonhos mais impossíveis se realizem. –
Pisco para ela.
– Ah Bia, você não sabe o bem que fez em minha vida.
– Agora sou eu – fala Max, já puxando-a, ele a tira do chão, rodopia com
ela pela sala, dá muitos beijos em suas bochechas. Por fim a abraça muito
apertado. – Parabéns princesa! Você é a melhor coisa da minha vida. Te amo
demais! – declara.
E ali ela não aguenta.
Desmorona e chora alto no ombro dele.
Ele deixa por um tempo, depois afasta-a e seca suas lágrimas.
– O que foi Hazel? Achei que estivesse feliz.
– Eu estou. Muito. Vocês me fizeram chorar de emoção, babacas – disfarça.
– Quero beber aquele champanhe. Me aguardem que só vou tomar um banho
rápido.
Enquanto ela vai para o seu quarto tomar banho, ficamos ali na sala,
degustando os doces. Logo ela está de volta e se junta a nós. Lian serve as
taças e brindamos à sua felicidade. De repente o telefone de Lian toca. Ele
olha quem é e ergue os olhos para mim.
– E aí cabeção, falta você aqui.
– Oi irmão. Liga o vídeo e passa para a nossa princesa – pede Oliver, sua
voz parece... cansada. Hazel pega o telefone que Lian lhe estende e chega bem
perto de mim.
– Oi Estrela. – Levo um baque quando vejo a imagem. Ele está muito
abatido, com olheiras profundas e nitidamente perdeu peso. Está sofrendo com
a situação. Meu coração aperta. Ele foca em mim alguns instantes, mas logo
volta sua atenção para ela.
– Oi Hazel. Querida, parabéns pelos seus dezessete anos! Espero que esteja
feliz e se divirta muito nesta noite. Aproveite sua festa! Quando voltarmos para
casa, lhe dou um abraço pessoalmente. Amo você princesa!
– Obrigada Oliver, gostaria que estivesse aqui! – diz e nisso Kellan encosta
atrás de mim.
– Por que não vem? – Ele pergunta.
Oliver toma ciência dele ali, bem encostado em minhas costas, com a
cabeça quase sobre o meu ombro, para aparecer na câmera. Percebo quando
ele fecha os olhos numa tentativa de não perder o autocontrole.
– Não gosto de exposição desnecessária Kellan, você sabe. – Então ele
foca o olhar em mim fixamente. – Divirtam-se todos hoje à noite. Até mais. – E
desliga. Hazel me lança um olhar complacente.
Se eu já não me sentia bem, agora então está até difícil de disfarçar a minha
angústia. Fico sentada no braço do sofá enrolando com aquela taça de bebida
na mão e o pensamento distante, enquanto os outros riem, conversam, bebem e
comem.
Lá pelas tantas, quando estão distraídos olhando alguma coisa no celular de
Max, Lian se aproxima de mim e coloca os braços em volta dos meus ombros.
– Bela-Bia, você já viu a vista daqui? – Me pergunta, mesmo não esperando
que eu responda. – Venha, deixe eu lhe apresentar Los Angeles. – E me arrasta
para a sacada da suíte.
– Não se preocupe assim, querida. Ele virá – diz logo que saímos e
fechamos a porta.
Arregalo os olhos para ele, pois não esperava por aquele comentário.
– Lian, eu...
– Eu sei de tudo, fique tranquila. Oliver me contou. Eu nunca o vi assim. Ele
está numa luta interna gigantesca por sua causa. Já decidiu o que fará, mas
ainda não teve coragem para admitir a si mesmo.
– Não tenho tanta certeza assim. Eu... o provoquei contando sobre o
ultimato que Kellan me deu e acho que isso o irritou e o afastou mais.
– Sim, ele ficou furioso. Mas foi mais por você cogitar dar uma chance a
Kellan, o que tenho a impressão de que você não pretende fazer de uma forma
ou de outra, estou certo?
– Sim, eu só disse aquilo para ver se ele tomava logo uma atitude. – Lian ri.
– É, Oliver nem imagina o quanto está ferrado.
– Lian, eu o vi no vídeo, ele está sofrendo, abatido, eu não queria... – Não
seguro as lágrimas.
– Ah meu bem... – Ele me abraça. – Entenda. É um processo, Bia e ele está
passando por ele. Você faz ideia de tudo que mudará na vida dele quando der
este passo? Oliver viveu a vida fugindo das pessoas. O medo que ele tem de
não ser capaz de segurar a onda e te magoar é enorme. Além disso, tem
assombrações psicológicas complicadas. Mas ele não vai deixar essa para
Kellan, eu o conheço. Ele virá. Agora vamos provocá-lo um pouquinho mais,
seque os olhos e coloque um sorriso neste rostinho lindo. Venha. – Me abraça,
posiciona a câmera, tira uma self nossa e encaminha para Oliver com a legenda
“olhe o que você está perdendo”.
– Pronto, logo, logo ele me manda um xingamento – diz me fazendo sorrir. –
Quer dizer então que certa vez eu vigiei um corredor de hospital para você,
mocinha?
– Sim. – Rio e entramos neste assunto.
Oliver
“Olhe o que você está perdendo” a frase que Lian me mandou esta
madrugada junto a uma foto dele e de Beatriz não me sai da cabeça.
Estou perdendo?
Já perdi?
Não sei.
Tenho medo de descobrir.
Quero perder?
Não, definitivamente, não.
Não quero perdê-la. Não quero que outro a tenha.
Quero-a para mim. Só para mim.
Ela estava linda como sempre naquela foto, mas apesar do sorriso em seu
rosto, seus olhos exalavam tristeza.
Assim como os meus.
Inferno!
Já estou aqui pronto para ir, o disfarce em mãos.
Só não tive coragem de entrar no carro.
Dar esse passo é caminho sem volta. Pode ferrar tudo.
Mas deixá-la para ele também não é uma opção.
Não vou suportar vê-los juntos.
Conviver com eles sendo um casal, quando na verdade o casal deveria ser
outro.
O casal deve ser outro.
O som de uma mensagem toca. É de Hazel.
Ela me manda uma foto de Beatriz, e nossa!
Uau! Socorro!
Foco na legenda “Hoje, com você ou sem você, ela vai beijar na boca.
Muito!”.
Porra!
Beatriz está pronta para a noite, naquele vestido indecente, com uma
maquiagem leve, um brilho realçando a sua boca perfeita, duas trancinhas
feitas com a parte da frente dos cabelos e que circulam sua cabeça como uma
coroa e o restante dos lindos cabelos cacheados soltos. Deixando-a ainda mais
angelical.
O rosto meigo contrastando com a safadeza do vestido pecaminoso e aquela
boca dela, boca de foder até pensamentos.
Ninguém mais deveria poder vê-la assim, só eu.
Linda! Gostosa! Sexy! Um pecado!
E Minha!
É isso.
A decisão está tomada.
O caminho será trilhado e não terá volta.
Seja o que Deus quiser!
O casal será outro.
Que merda!
Os tubarões vão cair em cima se ela ficar solta naquela pista. Certeza! São
vinte e duas horas e devo levar pelo menos mais quarenta minutos para chegar
em Los Angeles. Já pedi duas vezes para o motorista acelerar, mas sei que ele
não passará do permitido.
Os quarenta minutos mais demorados da minha vida.
Assim que salto do carro, devidamente disfarçado, e com três seguranças à
paisana a minha volta, como se fôssemos um grupo de amigos chegando na
balada, mando outra mensagem a Lian.
Bia
Bia
É a história de um homem
Que trabalha duro o quanto pode
Apenas para permanecer de pé
Mas o livro sempre queima
A medida que a história avança
E deixa um homem quebrado
Assim que ele canta o último verso, sou eu quem procura pela sua boca.
Nos beijamos por longos minutos, até que ele nos força a separar nossos lábios
outra vez.
– Anjo, já chegamos.
– Ah? Mesmo?
– Sim. Faz um bom tempo. – Ele sorri, sem-vergonha, enquanto recoloca o
disfarce. – Vamos, venha. – Me ajuda a sair do carro.
Alguém da segurança lhe entrega uma chave e seguimos direto para o
elevador privativo. Ele aperta o número do andar. O meu andar.
– Seu quarto é no mesmo andar do meu?
– É, parece. Mas eu pretendo mesmo é ficar no seu quarto – responde com
seriedade. E o efeito lança chamas toma o meu rosto. Oliver gargalha.
– O que foi? Nervosa?
– Muito. – E é verdade.
– É mesmo? Você não parecia nada nervosa se esfregando em mim na boate.
– Oliver!
– O que foi? – Me puxa pela cintura e diz no meu ouvido: – Eu adorei sentir
o calor da sua bocetinha rebolando no meu pau. – Leva a mão à minha coxa e
vai subindo por baixo do meu vestido até chegar ao meio das minhas pernas,
onde massageia por cima da calcinha, de leve, devagarinho, lá... aiiii...
– Agora eu vou dar o que ela tanto me pediu a noite toda. Chegamos! – Ele
simplesmente para. Como se não estivesse fazendo nada, e eu quase choro por
me ver livre da tortura provocante cedo demais.
As portas do elevador se abrem.
E agora?
Seja o que Deus quiser!
– Vou buscar minha mala no outro quarto. – Me deixa em frente à porta do
meu, encosta nossos lábios brevemente e segue até o quarto ao lado.
Sério?
Eu entro, tirando os saltos, com um sorriso que não quer abandonar o meu
rosto. Céus, estou nas nuvens. Isso está mesmo acontecendo? Será que se eu
dormir corro o risco de acordar e descobrir que foi tudo imaginação?
Ah pai, como eu queria que o senhor estivesse aqui para ver a minha cara
de felicidade!
Então eu caio na real.
Vai ser hoje? O que eu faço? Como ajo?
Ainda bem que eu me depilei...
Será que tomo um banho?
O que eu visto? Ou não visto?
E se eu não agradar?
Só que já não há tempo para pensar, que dirá agir.
Oliver está de volta e, como deixei a porta aberta, entra no quarto com a sua
mala.
Me sento na cama e fico admirando a paisagem.
Que paisagem! Ele é tão... tão...
Deus, não tem outra palavra para usar aqui além de TÃO... em tudo!
Será que dou conta?
Ele larga a mala ali, tira o Blazer, joga-o sobre uma cadeira e depois senta-
se ao meu lado na cama.
– O que foi, anjo? – questiona, colocando uma mexa do meu cabelo atrás da
orelha. – Você está tensa, Bia. Prefere que eu não fique aqui? Não vai
acontecer nada que você não queira, não precisa ficar assim.
– Eu quero que fique. Muito. Não quero ficar longe de você, por favor. Eu
só... sabe, nunca fiz isso e não sei bem como agir. – Ele me beija.
– Eu também nunca fiz isso. Nunca dividi um quarto com uma mulher. Nunca
fui um namorado. – Oliver pronuncia o seu novo título bem devagar,
saboreando a palavra e sorri levemente. Está gostando mesmo daquilo.
– Posso contar nos dedos as vezes que acordei junto de uma garota na
mesma cama, e ainda assim, a maioria foi por estar bêbado demais para sair
antes de cair no sono. – Dá um novo pequeno sorriso, agora culpado.
– Também vou descobrir muitas coisas nesta relação, assim como você.
Não precisa ficar com medo, pequena. Nós só iremos até onde você se sentir
confortável para ir. Pela primeira vez na vida, eu não tenho pressa. Quero
saborear cada momento, cada descoberta sua, junto com você.
– Ah Oliver... – Enlaço o pescoço dele e me aconchego ali. – Eu não estou
com medo. Longe disso. Estou ansiosa, receosa de não conseguir atender suas
expectativas. Um pouco insegura quanto à forma certa de me comportar, mas
jamais com medo. – Ergue o meu rosto para que eu o olhe.
– Aja naturalmente. Somos você e eu aqui, ok? Faça só o que tiver vontade,
fale tudo que quiser e precisar. Não há regras, Bia. Se preferir, deixe que eu
conduzo as coisas entre nós. E quanto as minhas expectativas, por Deus
Beatriz, eu fico duro só de te olhar. Enlouqueço de ciúmes se outro cara se
aproxima de você. Fiquei fora de mim por uma semana, por estar longe,
imaginando coisas... lutando contra o que quer que seja isso que existe entre
nós. Você me deu dois ultimatos no mesmo dia! Coisa que eu jamais admiti
receber de quem quer que fosse. Porra! – Ele passa a mão pelos cabelos.
– E você tem receio de não atender as minhas expectativas? Você destruiu
as convicções de uma vida em míseras semanas. Olha o poder que você tem
sobre mim! E esteja certa de que admitir isso para mim mesmo não foi nada
fácil. Muito mais difícil do que você possa imaginar. Ainda é. – Engulo em
seco. Mas mesmo ele colocando desta forma, eu preciso explorar melhor o
assunto...
– É isso que eu não entendo... acho que é aí que está a minha insegurança...
pode parecer ridículo e infantil, mas Oliver... eu nunca me relacionei com
ninguém, nem nunca sequer conversei sobre isso...
– O que te deixa insegura, anjo? Pode se abrir... – Respiro fundo e conto.
– Não ria de mim, por favor, sei que o que faz uma pessoa se interessar por
outra vai muito além da aparência, mas eu olho para as mulheres, como Riley
por exemplo, alta, linda e perfeita, o tipo de mulher que as pessoas imaginam
ver ao seu lado sabe... e então eu... eu olho para mim e... sou tão normal. Como
eu vou conseguir segurar um homem como você? Você é tudo que eu sempre
quis Oliver, e também era a única coisa que eu tinha certeza que jamais teria. –
Ele sorri e balança a cabeça de um lado para outro em sinal de descrédito.
– Bom, fico feliz em saber que não foram só as minhas convicções que
desceram ralo abaixo. – Rimos, mas ele logo volta a me fitar com muita
seriedade. Procurando transmitir verdade com o seu olhar.
– Eu sei que eu chamo a atenção Bia, não vou ficar aqui me fazendo de
rogado. Esse é inclusive um dos pontos da conversa que precisamos ter. Sei
que sou objeto de desejo por onde passo. Eu percebo como as mulheres me
olham, como você me olha fascinada. Só que... – ele pega minha mão e leva ao
seu peito – aqui dentro, eu sou só um homem, como qualquer outro. E você
nunca me tratou diferente por eu ser quem sou. Você sempre enxergou o
homem, acima de tudo. Estou errado?
– Não, não está.
– Ah, pequena... é algo tão difícil de acontecer na minha realidade, você
não tem ideia... E esta é só uma das coisas que me atraem em você, porque há
tantas, tantas... se você soubesse como é linda...
– Nossa, agora você me deixou curiosa.
– Pois eu vou dizer várias delas, não todas porque ficaríamos aqui por
horas e horas e eu pretendo fazer coisas bem interessantes com você, já, já...
– Bom... fica muito feio para a minha cara se eu disser que já nem estou
mais tããão curiosa assim? – Ele gargalha e me rouba um beijo rápido.
– Ah, sua ordinária! Não senhora, agora vai segurar a ansiedade e me
ouvir...
– Tá bom. – Faço cara de desânimo, provocando-o. – Mas me diga,
namorado, o que tanto o atrai em mim?
– Você tem o rosto mais angelical e perfeito que eu já vi. – Conforme vai
falando, vai acariciando partes do meu rosto. – E uma luz, uma energia que
encanta todos a sua volta. Você é uma feiticeira, Beatriz. Linda e sedutora, que
nos prende em sua teia de delicadeza e força. Acredite, é alarmante! – Deus,
aquelas palavras saindo da boca dele quase me arrancam lágrimas.
– A sua força, tudo que já passou e a forma como encara a vida, é para
poucos. Saber que eu tenho o privilégio de estar aqui com você agora, nossa...
Mas vamos nos ater aos aspectos físicos, se é isso que você precisa para
entender o poder de atração que tem sobre mim... – Ele desliza os dedos
delicadamente pelo contorno dos meus olhos.
– Estes seus olhos profundos e misteriosos, me dão a impressão de que por
mais que eu me afunde neles, nunca conseguirei chegar ao fim da viagem, eles
sempre me revelarão mais... Seus cabelos que mudam de cor conforme a luz,
me intrigam tanto, você não faz ideia. Não sei se eu consigo explicar, pode
parecer bobagem, mas a sensação que eu tenho é de que são um sinal, uma
marca registrada e exclusiva para os meus olhos, um jeito de eu te reconhecer
e te achar em meio a milhares... – Não, ele não vai me fazer chorar agora...
– E caralho, a sua boca perfeita, feita para o pecado, sua bunda arrebitada e
redondinha, essas coxas..., – ele aperta uma das minhas coxas sob o vestido –
suas coxas são coisa do capeta, sério... – sorrio – e os seus peitos enchem
minha boca de água sempre que eu olho e fico imaginando tudo que eu ainda
não consegui ver... Adoro o seu cheiro, sua pele... Seu corpo, suas curvas, me
roubam o fôlego, Bia! De um jeito que me assusta, que ninguém nunca
conseguiu despertar em mim. Já bati algumas pensando nas suas qualidades
normais, namorada. Ainda farei belas músicas sobre elas... – Ergue as
sobrancelhas e eu rio.
– Caramba, não deve ter um único lugar onde você não me deixou vermelha
agora.
– Uhmm, vou ter que conferir alguns mais de perto então – diz, se jogando
sobre mim na cama, me prendendo sob o seu corpo e me beijando calmamente.
Desliza os lábios sobre os meus, me permitindo sentir o calor do seu hálito,
o roçar da sua barba, carinhosamente. Uma calma que não fez parte do nosso
encontro naquela pista de dança.
Não.
Lá aplacamos a nossa sede mais urgente. O desejo de unir nossas bocas que
vinha se arrastando desde aquele momento em seu escritório. Em que ele
cantou para mim pela primeira vez.
Mesmo com toda a delicadeza do beijo, sinto o sangue ferver, me
aquecendo por dentro.
– Ah Bia, essa boca... – Prende meu lábio inferior entre os seus. – Como eu
quis sentir sua boca na minha... sentir o seu gosto, pequena... – Faz o mesmo
com o lábio superior, estou ofegante em seus lábios e solto um gemidinho de
puro prazer. Ele sorri.
– Eu também...
– Fiquei louco, uma fera, só imaginando outro cara fazendo isso. – Então
sua língua invade a minha boca, encontrando, acariciando a minha, misturando
nossos gostos.
E que gosto!
Nossa...
Assim como aconteceu naquela pista de dança, mal consigo conter meus
hormônios. Eu quero este homem com tudo de melhor que há em mim...
Preciso dele.
– Oliver...
– Shhh, querida... Só sinta. Sinta a minha boca fazendo amor com a sua...
Ah. Meu. Deus.
Derreto.
Ele sabe usar as palavras bem demais, é infernalmente sedutor e eu ainda
não sei como lidar com isso.
Oliver força uma perna entre as minhas e as afasta para poder se acomodar
ali. Desce o peso sobre mim e arremete o quadril devagar para frente para que
eu sinta a sua dureza. Então toma minha boca com vontade.
Tudo nele é delicioso, o toque, o cheiro, a saliva, o peso sobre mim.
Nosso beijo vai tomando cada vez mais de nós. Nossas línguas fazem amor,
como ele bem disse, enquanto continua com aquele movimento de quadril
provocante, forçando e roçando bem no lugar certo.
No lugar que eu preciso dele, cada vez mais urgentemente.
A umidade já tomou conta da minha calcinha outra vez. O calor, o fogo,
estão no último estágio da combustão. E aquele vai e vem controlado já parece
estar fora de ritmo.
Ele para, tira os sapatos, e senta-se encostado na cabeceira da cama, pede
que eu segure a sua mão e me traz para o seu colo. Ficamos na mesma posição
em que estávamos no sofá, na festa. Passa os dedos delicadamente pelos meus
cabelos, afastando-os do meu rosto.
– Nós temos ainda muitas coisas para conversar anjo, mas faremos isso
quando acordarmos. Agora, eu só vou apagar o fogo da minha linda namorada,
para que ela consiga relaxar e dormir tranquila em meus braços depois. – Seus
dedos alcançam a minha nuca e descem pelo meu pescoço em direção ao colo,
numa carícia lenta, causando arrepios onde tocam.
Dormir em seus braços.
As palavras fazem festa na minha mente.
Sim, por favor.
– Só preciso deixar uma coisa muito clara antes. – Seus olhos estão presos
nos meus.
Minha respiração pesa, tamanha a força que estou fazendo para me manter
parada em seu colo, presa em seu olhar, quando já não caibo em mim de tanto
desejo. Ele desliza os dedos lentamente pelo meu colo no início do decote,
devagar, de um lado para o outro.
– Essa porra desse vestido dos infernos, – desce uma das alças do meu
vestido, sem desfazer o contato visual, deixando-a caída sobre o meu braço –
será confiscado por mim, – desce a outra alça – e daqui em diante só eu
poderei a ver nele. – Puxa as alças dos dois lados mais para baixo, liberando
os meus seios.
Meu coração está a mil.
O peito sobe e desce em busca de ar.
Oliver desce o olhar para conferir o seu prêmio.
– Meu Deus, você é linda demais! Eu queria poder eternizar a imagem que
estou vendo agora numa pintura, Beatriz. – Roça as pontas dos dedos pelos
meus seios, num toque rarefeito, quase imperceptível. Em cima, nas laterais, na
base, entre eles, sem nunca tocar os mamilos.
Minha respiração pesa ainda mais
Seu toque lança pequenos choques por onde passa.
– São ainda mais perfeitos do que eu imaginava. Lindíssimos! – Segura-os
com cuidado, envolvendo-os por completo. Sentindo o seu peso.
Ahhh... o seu toque ali... Como desejei...
– Preenchem as minhas mãos, exatamente como eu imaginei que fariam. –
Acaricia-os assim por instantes, e então massageia os mamilos com os
polegares.
Eu já não suporto mais.
Estou ofegante.
– Oliver...
– Eu sei pequena, eu sei. Continue com o que estava fazendo lá na boate,
anjo – pede, me arrastando para mais perto da sua virilha, me encaixando
sobre o seu membro oculto sob a roupa.
Eu no mesmo instante começo a me mexer, tentando encontrar algo que
ainda não sei direito o que é.
Ele continua massageando meus seios e mamilos, ora prendendo-os entre os
seus dedos, ora circundando-os com os polegares, enquanto desliza os lábios
quentes por meu queixo, pescoço e aquele lugarzinho maravilhoso atrás da
orelha.
Eu, na dança frenética, enfio as mãos em seus cabelos e me delicio sentindo
a maciez dos fios escapando por entre os meus dedos.
Ouço seus baixos e curtos gemidos roucos.
A força daquela realidade bate em mim com tudo.
Aqui estou eu.
Amando o homem com o qual me conectei aos oito anos e que nunca mais
saiu do meu coração.
Estou acarinhando seus cabelos e ouvindo seus gemidos de prazer.
Vendo-o e sentindo-o super excitado.
Por mim.
Me emociono, mas não deixo que perceba.
Desço meus lábios e nariz pela lateral do seu rosto até que nossas bocas se
encontram no meio e sucumbem a necessidade do saborear um ao outro
novamente. Ele passa a lançar os quadris para cima, intensificando a potência
e o ritmo, me ajudando a achar o que tanto procuro e não encontro. Larga
minha boca e gemidos involuntários e inevitáveis passam a sair dela também.
– Isso, meu bem, isso. – Me incentiva a continuar, enquanto vai descendo os
lábios pelo meu colo, até chegar em meu seio esquerdo. Passa lentamente a
língua pelo mamilo.
É demais!
– Oliver, eu... – Estou realmente com medo do que estou sentindo e minha
cara deve estar refletindo isto.
– Shhh, só sinta pequena, se entregue sem receios, continue comigo, assim –
comanda, arremetendo mais forte e rápido contra mim e então abocanha meu
mamilo inteiro e chupa-o deliciosamente.
Com força.
Ahh, por favor...
Agarro-me com vontade em seus cabelos.
É demais! Que delícia!
Meus gemidos passam a ficar mais altos e frequentes, o ar é pouco. Ele
passa para o outro seio, chupa, lambe e mordisca. Uma das mãos continua a
estimular o outro mamilo e a outra começa a descer pelas minhas costas e
apertam a minha bunda.
Ele prende o mamilo entre os dentes e puxa devagarinho.
– Ahhh – gemo, mexendo-me mais rápido e mais rápido.
Até que então algo explode em mim.
Oliver... – Seu nome escapa da minha boca como um gemido alto, forte e eu
morro.
Só pode ter sido isso.
Morri!
Largo a testa sobre seu ombro e vou parando os movimentos.
Recuperado a respiração que ficou perdida em algum ponto do processo.
Não sei direito onde estou.
Ele sobe e desce uma mão pelas minhas costas e a outra pousa em meu
queixo, erguendo o meu rosto para tomar minha boca num beijo calmo e
demorado.
Meus sentidos vão retornando aos poucos, primeiro o seu gosto, depois o
seu cheiro e por fim o seu toque volta a ser sentido.
Sinto seu sorriso maroto se formando entre meus lábios.
Então ele para o beijo e me olha, abrindo ainda mais aquele sorriso. Aquele
pelo qual eu morreria.
– Tão linda gozando. Que deslumbre, pequena. Mais calma?
– Não sei se consigo falar. – Ele ri.
– Você nunca tinha gozado, Bia? O olhar de pânico que você me deu quando
estava quase lá... – Rio baixinho, me aninhando na curva do o seu pescoço.
Estou muito mole até para sentir vergonha.
– Não. Nem fazia ideia que pudesse ser tão... acho que eu morri e voltei. –
Ele se diverte com a minha declaração ingênua.
– Nunca se tocou?
– Já, várias vezes, chegava perto, mas nunca consegui ir até o fim... e nunca
foi assim... intenso... Acho que eu precisava de um certo estímulo. – Dou uma
remexida em seu colo outra vez e ele não segura o riso, me puxa contra o seu
peito, me envolve com seus braços e me aninho ainda mais nele.
Meu lugar preferido no mundo, com certeza!
– Acho que já tivemos emoção demais para uma noite não? Vamos dormir?
Ah? Dormir?
– Mas... mas e você? – Dou outra mexidinha conferindo a dureza da rocha
sob mim.
– Ah, eu estou subindo pelas paredes, as bolas doendo, doido para fazer mil
e uma coisas com você. Mas hoje é só para você. Então eu vou me levantar,
vou tomar um banho e resolver o meu problema lá no banheiro pensando
nesses seus peitos simetricamente perfeitinhos e apetitosos. Lembrando da
delícia que é tê-los na minha boca.
– Mas por que, se eu estou bem aqui? – sugiro, tentando levar a minha mão
à sua calça, mas ele me impede.
– Não anjo, hoje não. Como eu disse, temos muitas coisas para conversar
primeiro e não precisamos ter pressa. Eu vou tomar um banho, ok? E logo
volto para cá com você. – Me dá um beijo, beija cada um dos meus seios
novamente e se levanta.
O volume em sua calça é monstruoso.
Me preocupo, porque se for como aparenta...
Mas deve ser ilusão por estar de roupas. Só pode!
Não é possível que...
Ele vai até sua mala, tira algumas coisas de lá e entra no banheiro.
Bufo em frustração.
Poxa! Estou louca de vontade de tocá-lo lá... De ver como é...
Por que não me deixou ajudar?
Mas fazendo o balanço geral, só me resta flutuar com tudo que aconteceu.
Estive nos braços do homem que povoa os meus sonhos desde sempre.
Dei meu primeiro beijo, meu primeiro amasso e tive o meu primeiro
orgasmo.
Ganhei um namorado.
Um não. O Namorado.
Nada mal para uma noite! Não acham?
Me forço a levantar, mesmo ainda estando meio letárgica. Tiro meu vestido,
jogo-o sobre o paletó dele na cadeira. Coloco um dos baby dolls que Hazel me
fez comprar sem saber e volto para a cama.
Eu também preciso de um banho na verdade, estou muito molhada lá
embaixo. Mas vou deixar para amanhã de manhã. Ou corrigindo, daqui a
pouco, porque olho o telefone e já são cinco da manhã. Não quero tirar o
cheiro dele de mim.
Alguns minutos depois, a porta do banheiro se abre e Oliver aparece, de
calça de moletom, sem camisa e passando uma toalha pelos cabelos.
Magnífico! Gostoso!
A visão do paraíso.
Ele pretende deitar sem camisa?
Como resistir?
Sério que isso tudo é meu para brincar?
– Quer que eu seque o seu cabelo? – ofereço. Ele me olha, espantado.
– Você faria isso? – Levanto-me e vou até o banheiro pegar o secador.
– Sente-se aqui. – Aponto para uma cadeira próxima a cama e ele obedece.
Começo a passar as mãos por entre os fios dos seus cabelos, apenas para
deixá-los bem soltos. Ligo o secador e continuo com aquele carinho, enquanto
o aparelho faz o seu trabalho.
– Nossa, isso é muito bom – fala ele de olhos fechados, apreciando o
contato.
Lá pelas tantas não resisto e abaixo a cabeça, beijando e mordendo o seu
ombro. Ele estremece e contrai. Hummmm que delícia! Está tããooo cheiroso.
Sigo pelo seu pescoço e orelha e volto para o ombro...
– Bia, estou adorando os carinhos e longe de mim acabar com a sua festa,
mas acho que o ar quente não está bem onde deveria. – Ele está sorrindo e
mordendo o lábio, olho para a minha mão, o secador está quase grudado em
seu braço. Rio.
– Desculpe, me empolguei.
– Percebi – diz, rindo também.
– Pronto! – anuncio assim que me dou por satisfeita.
Ele vira-se como um raio, me agarra pela cintura, gruda meu corpo no seu,
me erguendo alguns centímetros do chão. Solto um gritinho de surpresa, mas no
segundo seguinte ele já está em minha boca.
Largo o secador em algum lugar que nem vi direito, enquanto ele vai me
beijando e me levando rumo a cama. Me deita e deita-se sobre mim, traçando
uma trilha com seus lábios pela minha pele, que passa pelo pescoço, colo,
início dos seios e volta para a minha boca.
– Obrigado – diz quando para e ergue os olhos para me olhar.
– Hum, se o agradecimento for sempre assim, posso fazer isso várias vezes
por dia. – Sinto seu sorriso em minha pele, porque ele já voltou a beijar os
meus seios.
– O agradecimento vai ficar cada vez melhor – promete. – Mas agora eu
preciso parar, porque senão terei que voltar para aquele banheiro e tomar outro
banho frio.
– Ninguém está te obrigando a manter a boca nos meus seios, namorado.
– Uhmm. Tentação demais! – Estremeço, já me animando outra vez, porque
ele beija e lambe o meu mamilo.
– Isso não é justo sabia? Você aí todo cheiroso e eu neste estado...
– Você está cheirando a mim, a Bia, suor e sexo. Não há aroma melhor no
mundo. – Seu nariz está colado no meu pescoço.
– Ok senhor rockstar conquistador. Posso pelo menos escovar os dentes?
– Só se for muito rápido. Tão rápido que eu não consiga sentir a sua falta
aqui.
– Prometo. – Ele afrouxa o contato, lhe dou outro selinho, sigo ao banheiro
e logo volto para me juntar a ele na cama. Oliver já retirou a colcha e está
erguendo o lençol para que eu deite.
Deito-me ao seu lado e ele me puxa para seu peito.
Realizo outro sonho, que é deslizar a minha mão por aquele tórax que
parece ter sido esculpido por um habilidoso artista, de tão incrível. Sinto a
dureza dos músculos e a textura dos poucos pelos que tem ali, acaricio os seus
mamilos.
Nossa, já estou ficando super excitada de novo.
Levo minha boca até lá e distribuo beijinhos onde alcanço, chupo o seu
mamilo e no instinto vou descendo a minha mão para o seu abdômen.
É nesse momento que ele me para pela segunda vez, segurando meu pulso.
– Se você não parar, nós não vamos dormir e não sei se consigo me segurar
outra vez, anjo. – Suspiro conformada. É importante para ele que não
avancemos mais hoje.
– Tudo bem. – Levanto o rosto, nos beijamos rapidamente e volto a me
aconchegar no seu peito.
– Oliver...
– Sim?
– Quando demos nosso primeiro beijo, eu senti... ah, deixa pra lá, deve ter
sido bob...
– Bom, não sei você, mas posso tentar descrever o que eu senti e que me
impactou pra caramba... penso que foi tudo, menos bobagem.
– O que você sentiu?
– Senti como se eu tivesse enfim retornado para casa depois de longos e
sofridos anos de separação. – Um arrepio de assombro passa pelo meu corpo
ao ouvi-lo descrever exatamente o mesmo que eu senti.
– Achei que tinha sido só eu... – Não consigo evitar que uma lágrima
solitária e silenciosa escorra pela minha bochecha.
– Não, não foi. – Ele beija a minha cabeça.
Não demora muito e o sono me leva.
Tudo é paz, plenitude e felicidade.
Oliver
Eu nem sei como descrever o que se passa dentro de mim agora. Acho que
pela primeira vez na vida eu senti todas aquelas coisas que as pessoas tanto
falam.
O medo de perder, a incerteza em ser aceito, o frio na barriga, a expectativa
e finalmente a explosão.
Para mim sempre foi tão fácil a conquista, a sedução.
Bastava um olhar e pronto.
Era um ritual, mecânico, um meio para um fim.
Nunca beijar alguém teve este sabor. Esta importância.
Nunca senti o que eu senti hoje ao beijar uma mulher.
Nunca.
Nem de perto.
Beijar sempre foi isso: o start do processo, e só.
Até hoje.
Hoje, beijar me transcendeu, me conectou, fez eu me sentir dela, fez eu
desejar que aquilo nunca terminasse, fez eu querer ter para onde ir e para quem
voltar.
Seu sabor, seu calor, sua entrega, eu queria tudo, eu queria mais e ao mesmo
tempo não tinha pressa.
A nítida inocência, a descoberta do beijo, da excitação, o brilho no olhar
em expectativa pelo novo, me arrebataram. Coisas que já estavam tão longe do
meu mundo há tanto tempo, mundo este no qual cada contato era premeditado,
calculado e descartado.
Mas o mais impactante em mim foi a sensação de certo!
A confirmação de que era ali, com ela, nos braços dela, que eu deveria
estar, que eu sempre quis estar. A certeza de que eu finalmente encontrei o meu
lugar.
E isso, no meu caso, apavora em muitos níveis.
Estou acordado há mais de meia hora.
Despertei com Beatriz enrolada em mim, eu envolto em seu calor.
Não sabia que algo tão singelo pudesse ser tão bom.
Assim como foi delicioso quando ela secou os meus cabelos.
Me senti cuidado. Cuidado por ela.
E, neste curto espaço de tempo em que estamos na vida um do outro, já é a
terceira vez que me senti assim em relação a ela.
A primeira, quando me disse que eu não deveria beber.
A segunda, quando me fez comer e gravar o vídeo.
Me desvencilhei um pouco, com cuidado para não a acordar e estou aqui,
olhando-a dormir desde então.
Está de bruços, os cachos esparramados por suas costas e travesseiro. O
rosto virado para o meu lado. Afasto os cabelos de cima do seu rosto
delicadamente. E fico admirando-a.
A pele de porcelana, o narizinho arrebitado, as pequenas sardas, os cílios
longos e aquela boca que é a minha perdição.
Parece ainda mais menina assim, dormindo.
Me sinto um calhorda quando penso nisso.
Mas mesmo me sentindo indigno, não há mais volta para nós.
Não poderia mais abrir mão dela.
Ela é minha.
Só minha.
Quando libertei os seus seios... tão incríveis quanto imaginei. Firmes,
durinhos, simetricamente redondos e empinados. Com grandes bicos rosa
clarinho no meio. Deliciosos. Não dava vontade de parar de chupá-los.
Fiquei louco.
Foi tão difícil me controlar ontem e não a tomar de vez.
Não estou acostumado a me conter assim. Nunca precisei. Me senti
novamente lá no início da adolescência quando dava “uns pegas” em uma ou
outra menina que não liberava o avanço. Mas mesmo lá, se aconteceu duas ou
três vezes, foi muito.
Normalmente não me param. Me puxam.
Ela também não teria parado.
Mas eu precisava.
Bia se remexe na cama. Decido que é hora de acordá-la, já passa das treze
horas e estou faminto, pela primeira vez em dias. Inclusive já liguei pedindo o
nosso almoço. Logo deve chegar. Abaixo o rosto e deslizo meus lábios e nariz
devagarinho pela sua bochecha, descendo para o pescoço, roçando minha
barba e retornado.
Seu cheiro é magnífico.
Me deixa excitado no ato.
Ela larga um sorriso presunçoso, mas não abre os olhos.
– Não me diga que estou sonhando – ronrona contra o travesseiro. Ah,
minha menina, linda e delicada...
– Espero que não anjo, porque senão eu estarei também. – Continuo me
esfregando em seu rosto, queixo e pescoço até que chego em sua boca, e ela...
vira o rosto?!
O que?
Ah, não...
Não mesmo!
– Nem pensar Oliver Rain, não vai me beijar enquanto eu estiver com bafo.
Você já escovou os dentes que eu percebi. – Me jogo por cima dela e forço-a a
virar aquela boca de novo para mim.
– Eu vou beijar essa boca onde e quando eu quiser, Beatriz. Ela é minha. A-
cos-tu-me-se. – Tomo-a num beijo intenso.
Aquilo vai esquentando e já percebo-a lançando os quadris em minha
direção, procurando pelo calor do meu pau, que está em sentido de alerta
máximo.
Não resisto e baixo um pouco o decote do seu baby doll, para chupar
aqueles mamilos rosas deliciosos. Mas preciso parar, temos que comer e
conversar primeiro. Volto mais uns instantes para sua boca e me levanto.
A barraca está altamente armada, já que não estou de cueca, só a calça do
moletom. O elástico da calça nem encosta mais na minha barriga. Ela fixa os
olhos ali e vejo a preocupação estampar o seu rosto de forma alarmante.
Gargalho.
– Oliver, isso... É normal? – Eu explodo.
Me atiro na cama e não consigo parar de rir. A sua cara de assustada é
impagável. Ela não está brincando.
– Não ria de mim – diz, se fazendo de magoada.
– Ah meu bem... a sua cara Bia... desculpa, não resisti.
– Isso que você tem aí me parece algo bem assustador. – Rio um pouco
mais.
– Bom, assustador ou não, você vai se tornar bem íntima dele logo, logo. –
Ela arregala os olhos. – Mas é assunto pra outro momento, nosso almoço já
deve estar chegando.
– Tudo bem. Vou tomar um banho – fala e me dá um beijo rápido antes de ir.
Desconfio que queria sair logo de perto do monstro... Rio outra vez,
balançando a cabeça.
Me deito uns instantes na cama, absorvendo aquele sentimento. Creio que
possa dizer que me sinto feliz.
Logo a companhia toca, felizmente a fera já amansou, coloco uma camiseta
e vou atender a porta. Nosso almoço começa a ser servido na mesa da sala.
Lembro que ontem ela me pediu para beber espumante lá na boate, então
vou até o bar e abro uma agora. Bia logo aparece, linda, num vestido chumbo,
soltinho que ficou perfeito nela. Mas antes de chegar aonde estou, ela para e
encara algo atrás de mim.
Sigo a direção do seu olhar e flagro a menina que estava servindo a mesa
me secando. Ela se desconcerta quando eu olho, deixa cair alguns talheres, mas
volta a concentrar-se em seu trabalho. Beatriz continua estagnada no mesmo
lugar.
– Vem aqui, anjo. – Tiro-a do transe. – Ela se aproxima meio emburrada,
puxo-a pela cintura, a beijo na frente da garota e ela relaxa.
– Você está tão linda. Tão cheirosa! Pegue. Ontem eu prometi realizar
desejos. – Estendo-lhe a taça.
– A todos os desejos que ainda iremos realizar então. – Sorri atrevida, dá
uma batidinha de leve na minha taça, depois bebe.
– Venha, vamos almoçar.
Assim que a garota deixa o nosso quarto. Sentamos e aproveitamos a
refeição. Nós dois estávamos famintos e a comida estava deliciosa.
Quando estamos quase terminando, ela puxa o assunto que, desconfio, deva
estar segurando desde que entrou naquela sala.
– Sabe, essa sua calça é um tanto... indecente para ficar desfilando na frente
de estranhos. – Cruzo o braço e tento manter a seriedade para ver até onde ela
vai. Será um bom termômetro para a conversa de logo mais.
– Indecente como? Explique-se.
– Ela... ela marca as suas partes Oliver! – diz, irritada. Quase não consegui
segurar o riso... quase...
– Bom, até onde eu sei, só andei com ela pelo quarto da minha namorada.
– Quando a campainha tocou, você poderia ter colocado outra antes de abrir
a porta – repreende, erguendo a sobrancelha e entortando o canto da boca.
Linda!
Estou mesmo aqui sentado, levando uma chamada de uma garota por causa
da minha calça e achando graça?
Como fui parar nisso?
Ah, mas já que ela quer falar sobre, não vou perder a oportunidade.
– Mesmo? Assim como você colocou o meu blazer sobre o seu vestido
ontem à noite?
– Ah, não tem comparação...
– Concordo. Aquilo lá sim é que é indecência...
– A garota estava te comendo com os olhos... – Começo a me desanimar em
relação a nossa conversa.
Garotas, e garotos, me comendo com os olhos é o que você mais vai
encontrar por aí, baby...
– Quer que eu diga quantos eu contei ontem lá na boate fazendo o mesmo
com você? Enquanto eu te observava dançar, de costas, tive vontade de matar
pelo menos uma dúzia... – Antes que ela possa se defender, meu celular vibra
várias vezes seguidas, me obrigando a dar atenção a quem tanto me chama
insistentemente.
Levanto-me e o pego na bancada do bar. É Lian.
– Merda! – Pelo visto não teremos a conversa que tanto precisamos tão
cedo...
– O que foi?
– Max está vindo bater no quarto de Hazel e ela está acompanhada.
– Está? Uau!
– Pelo que Lian falou, sim. Você sabe qual o quarto dela?
– Esse aqui em frente.
– Vou tentar falar com ele no corredor. – Abro a porta e vejo que o ruivo já
está ali, vindo no corredor em direção ao quarto.
– Max? – chamo.
– Oliver? O que estava fazendo no quarto de Bia? – Porra, ele não perde o
lance.
– Nós almoçamos juntos – disfarço. Não é o melhor momento para falar
com ele.
– E Hazel está com vocês?
– Não Max, não está. – Ele me olha desconfiado.
– Venha aqui conosco, estávamos terminando de almoçar. Você já comeu?
– Não, não comi. Mas agora preciso conferir se Hazel está bem, pois não
consegui falar com ela ainda. Não atende o telefone e não responde as
mensagens.
– Cara, deixa a menina, ela voltou tarde, deve estar dormindo.
– Já passa das dezessete horas, Oliver.
– E daí?
– Preciso ver se está bem, só isso. – Ele se aproxima mais da porta.
– Não bata.
– Por quê? Está me escondendo alguma coisa?
– Vou te contar, mas entre. Não vamos falar no corredor.
– Aconteceu algo com ela?
– Não. Venha e vamos conversar. – Quando ele finalmente cede e entra no
quarto, eu relaxo.
– Senta aí. – Beatriz está sentada à mesa e Max se acomoda no sofá. – Não
quer aproveitar e almoçar? Tem muita comida aqui ainda.
– Não Oliver, fala logo. – Me sento ao lado dele e respiro fundo.
– Ela não está sozinha no quarto. – Beatriz se engasga com alguma coisa e
Max fica vermelho como um tomate.
– Porra! – Ele passa as mãos na nuca, joga a cabeça pra trás no encosto do
sofá e fecha os olhos. Pelo menos não saiu correndo para arrancar o cara de lá
na porrada. Respiro aliviado.
– Irmão, – tento – ela cresceu. Não há mal nenhum nisso. –Ele dá uma
risadinha em deboche.
– Não é essa a questão Oliver. É claro que é ótimo ela crescer, se
descobrir. Deus, tudo que eu mais quero é a felicidade dela. O problema, que
ninguém entende, é que há algo errado. Hazel não é assim. Eu não posso
acreditar que a menina que eu vi crescer, por quem eu também me sinto
responsável, a menina que sempre conversou tudo comigo, seus sonhos, seus
desejos, suas curiosidades... Essa menina Oliver, a que eu convivo, não
gostaria de ter a sua primeira experiência sexual com um cara que conheceu
por trinta segundos numa balada. Eu conheço Hazel. Tem algo que não estamos
percebendo e eu já alertei Johnathan a respeito. – Olho para Beatriz e ela
parece espantada.
Como se Max estivesse prestes a desvendar um grande segredo.
O que ela sabe?
Max também percebe.
– Você sabe de algo Bia? Hazel está com algum problema? – pergunta ele.
– Não Max, não sei. Hazel só quer se divertir como uma garota normal. Ela
estava feliz, conheceu alguém legal, nada demais. – Beatriz diz tudo aquilo sem
nos encarar nos olhos. Ele suspira mais um pouco.
– Você iria lá? Bateria no quarto dela para sabermos se está tudo bem
mesmo?
– Max, eu...
– Acho que nem você, nem Beatriz devem se meter. Ela está acompanhada,
velho.
– Por um sujeito que mal conhece, Oliver. E se...
– Olha, eu vou pegar o meu telefone e tentar falar com ela, tá bem? Talvez
ela me atenda. Vamos tentar assim primeiro, ok? – intervém Bia.
– Tudo bem – concorda Max. Ele está claramente decepcionado e
preocupado. Bia vai em direção ao quarto pegar o telefone.
– Enquanto Beatriz tenta, coma alguma coisa. Você bebeu bastante ontem.
– Deus Oliver, nunca me senti tão mal num lugar. Ver Hazel se expondo
daquele jeito, acabou comigo. Ela não precisa disso, pode ter tudo que quiser,
que sonhar. Nós três trabalhamos duro para isso. Daí chega lá, com aquele
cara, que parecia ter o que, uns vinte e seis anos? E traz o cara para o quarto?
Estou tão triste por dentro, tão decepcionado. Eu gostaria tanto que ela vivesse
as coisas do jeito que sempre me disse que queria... Ela poderia ter Oliver.
Por que foi entrar nesse rompante de rebeldia? O que está por trás disso? E o
que mais me dói é a certeza de que ela irá se arrepender.
– Calma. Ela é jovem, está passando por uma fase complicada, você sabe.
Não tem tantas oportunidades assim de conhecer gente nova. Ela quer
experimentar. Se fizer besteira, a gente vai estar lá para ajudar, apoiar. Não é
como se a vida dela fosse acabar por causa de uma transa. Que jovem não
erra? Não faz burradas? Com ela não será diferente. Por mais que a gente tente
protegê-la, a escolha é dela.
– Não Hazel, você não a conhece como eu. Ela sempre se abriu comigo. Ela
jamais gostaria de se entregar assim, a qualquer um. Ela queria que fosse por
amor, especial. Ela me falou várias vezes. Por isso as coisas não casam para
mim.
– Hazel, oi. – Ouvimos Bia falando lá do quarto e Max já se levanta indo
até lá. – Eu só queria saber se você está bem. Saímos separadas ontem e não
nos falamos mais... Está tudo bem?... Sim... Depois te conto... Não sei, você
ainda está a fim?... E Eric? Ah... tudo bem... Passe aqui no quarto. Tem
bastante comida se você quiser vir comer aqui. Oliver pediu comida para
alimentar Los Angeles inteira, e estão nos rechauds, então está quente... Ok.
Beijos.
– E aí?
– Ela está bem, acordou há pouco, foi dormir já passava das dez da manhã.
Está terminando de se arrumar e virá comer aqui. Vocês podem almoçar juntos,
Max.
– Sim – diz ele. – E o cara?
– Já foi embora. – Max engole em seco.
– Obrigado. – Que vontade tenho de ir lá e abraçá-la, mas tenho medo que
Max dê pití. Porém, logo descubro que não tenho para onde fugir.
– Que merda a sua mala está fazendo no quarto de Bia, Oliver? – Fodeu. Se
me perguntou já alterado, é porque sabe a resposta.
– Mantenha a calma e a cabeça fria. Eu vou te explicar tudo que você quiser
saber. Só não faça cena na frente de Beatriz e de Hazel, por favor.
– Não fazer cena? Não fazer cena? Se essa merda for o que eu estou
imaginando... hã... é claro que é. Você não tem vergonha na cara?
– Max, me deixa...
– Não Beatriz, você fica fora disso – digo, categórico. – Eu vou me
entender com ele. – A campainha toca e ela sai para abrir, felizmente. – Max,
Hazel chegou. Vá, almoce com ela, depois deixamos as meninas aqui e vamos
lá para o outro quarto, onde você poderá me dizer tudo que tiver vontade, eu
vou te ouvir e colocar o meu ponto, ok? Só não na frente delas, por favor.
– Só farei isso e não quebrarei a sua cara agora porque não quero deixar as
duas constrangidas e assustadas, mas essa merda não terminou. – Vai saindo
para a sala. Só me resta ir atrás.
– Hazel – cumprimenta Max, ao ver a menina sentada ao lado de Bia no
sofá. Ele mal consegue olhá-la, não disfarça a sua decepção para com ela.
– Oi. – Nos olhos dela o que se vê é pura mágoa.
– Amiga, você me disse que estava faminta. Vá se servir – fala Bia,
tentando quebrar o clima estranho. Hazel faz o que Beatriz pede. Max já está se
servindo também.
Sento-me ao lado de Bia no sofá e a puxo para que fique aconchegada em
mim. Muito tempo sem tocá-la. Max que lide com seus dilemas. Beijo seus
cabelos. Hazel, quando nos vê, abre um sorriso enorme. Já Max quase deixa o
prato cair e fecha ainda mais a carranca.
Os dois sentam-se um em cada canto da mesa. Ninguém tem coragem de
falar nada. A campainha toca quebrando um pouco da estranheza. Me levanto e
vou abrir a porta para Lian.
– Conseguiu... – Faço sinal para ele com a cabeça indicando que Max está
ali. Ele arregala o olho para mim.
– Entra Lian – digo. – Como está o fedelho?
– Dormiu.
– Se estiver com fome e quiser acompanhá-los... – Indico Hazel e Max à
mesa e volto para perto de Beatriz no sofá, enlaçando-a novamente.
Lian solta o riso, balança a cabeça de um lado para o outro e se senta na
poltrona, em frente a nós.
– Oliver eu tenho vontade de te dar uma porrada. Sério!
– Você tem vontade? Pode apostar que eu vou dar – ameaça Max.
– Nossos motivos são diferentes. Se ele tivesse me ouvido há uma semana
teria nos poupado muito drama e dor de cabeça. – Aperto ainda mais Beatriz
em meus braços.
– Como assim, motivos diferentes? Não vai me dizer que você apoia isso...
– Ele aponta para nós no sofá.
– Max... – Chamo sua atenção. Ele que não fale merda na frente da menina.
– Apoio. Inclusive tentei abrir os olhos desse idiota semana passada.
– Você só pode estar de sacanagem...
– Por quê? Qual o problema em estarem juntos? – Se mete Hazel.
– Hã? Vários Hazel. Mas vou dizer apenas um. Ele tem quase idade para
ser pai dela.
– Mas não é!
– Sério? Há dias não estou te reconhecendo. O que está acontecendo com
você?
– Max, eu já disse que vamos resolver as coisas entre nós dois a sós –
reforço mais uma vez.
– Não, a questão dele agora é comigo – diz Hazel levantando-se.
– Ontem você me constrangeu na frente da minha família e dos meus amigos.
Eu não falei nada em respeito a você, porque sabe muito bem o que significa
para mim. Só que aqui, nesta sala, diante destas pessoas, eu não preciso me
conter. Então eu vou deixar uma coisa bem clara, assim como Oliver não é o
pai de Beatriz, você também não é o meu. Há coisas que você não quer
enxergar Max e eu respeito. Se você quiser conversar comigo em particular,
me aconselhar, me orientar, eu sempre irei te ouvir e levar a sua opinião em
consideração. Agora o que você fez ontem, eu não vou mais aceitar. O que eu
faço da minha vida, o que eu visto, onde eu vou e quem eu escolho para estar
ao meu lado ou na minha cama, tendo ele dezessete ou setenta anos, é problema
meu. Só meu. – Max está branco. Hazel não segura as lágrimas.
– Ok, obrigado por me fazer ver que fui um tolo até hoje por achar que eu
deveria te ajudar a lutar pelos seus sonhos. Pelo visto tudo que aquela menina
me contou, me confidenciou, não era verdade.
– Eu nunca menti para você. Nunca.
– Então eu realmente não entendo.
– Eu sei que não. Se os meus sonhos um dia se realizarem, não haverá
ninguém mais feliz do que eu neste mundo. Mas eu decidi que não vou deixar a
minha vida estagnada à espera deles. É isso. – Ela se vira e faz menção de ir
embora. Levanto rapidamente e a abraço.
– Hazel, não vá. Fique aqui com Bia e Lian. Preciso sair e falar com Max.
– Tudo bem.
– Max, me acompanhe até o outro quarto. Vamos nos resolver de uma vez –
ele assente. – Eu já volto. Fique tranquila – digo a Bia que está apreensiva.
– Pronto Max, agora estamos aqui, só você e eu, pode me dizer tudo que tem
vont... – Eu só sinto.
O soco.
A direita poderosa de Max que conheço bem dos nossos eventuais treinos
de MMA.
– Porra! – Limpo o sangue no canto da minha boca. – Enlouqueceu?
– Eu não, mas você parece que sim.
– Eu vim aqui para a gente conversar. Se você quiser me usar de saco de
pancada por causa da sua frustração em relação à Hazel, tô fora.
– Isso não tem nada a ver com Hazel.
– Tem tudo a ver com ela. E é só por esse motivo que eu vou deixar passar
a merda que você fez agora. – Ele faz vários gestos de negativo com a cabeça e
se senta na poltrona. Vou até o frigobar e pego algo gelado para pôr sobre o
local onde ele bateu.
– Deus, parece que eu não conheço mais as pessoas a minha volta. O que
deu na sua cabeça Oliver, para se envolver com uma menina, uma criança?
– Alto lá! Ela é jovem sim, mas ela não é mais uma criança. Assim como
Hazel também não é.
– Só pode ser piada. É isso, não é? Vocês se juntaram para “zoar o Max”.
Juro que nem vou ficar bravo se confessarem, porque antes isso do que essa
realidade bizarra que estão me apresentando.
– Eu realmente estou envolvido, Max.
– Ah Oliver, não me faça rir. Treze anos cara. Você tinha mais de treze anos
quando aquela menina chorou pela primeira vez em alguma maternidade de
Chicago. O que vai fazer com ela quando cansar da brincadeira?
– Eu não estou de brincadeira.
– Deus, você tem o que? Quinze anos outra vez? Está querendo me
convencer do que? Que, pela primeira vez na vida, vai engatar um
relacionamento? Um namoro? E com uma menina que ainda não saiu
completamente da adolescência?
– Sim. – Ele ri.
– Pare de viadagem e veja as coisas como elas são.
– Max, eu passei uma semana dos infernos tentando não ver as coisas como
elas são. Se você me viu com a Beatriz hoje é justamente porque eu parei de
lutar contra isso e decidi abrir os olhos.
– Você não está em seu juízo perfeito, só pode ser isso. Não estou
acreditando nas asneiras que estão saindo da sua boca.
– Eu fiquei mexido, sai de mim desde o primeiro momento em que a vi. E
você sabe que não sou assim. Quando você me viu admitindo ou cogitando
algo do tipo, Max? – Não espero que responda. – Eu não sei exatamente que
merda é essa, mas não consigo mais ignorar que ela existe. Eu juro a você que
eu me esforcei, muito. Primeiro tentei menosprezar, depois tentei transar e me
embebedar. Não adiantou. Então procurei me afastar para dar espaço a Kellan,
mas só a ideia dos dois... Eu surto de ciúmes, Max, e não é um sentimento que
estou acostumado a lidar. Nunca tive que lidar, na verdade. – Minhas mãos
estão remexendo meus cabelos. – E por último, fugi. Nada funcionou, nada.
– Tá, vamos dizer que eu entre nesse seu papinho. Como isso vai funcionar
na prática? Ela vai ser a sua namorada enquanto estiver em casa. E nas festas,
hotéis, turnês você continuará levando a sua vida cheia de prazeres. É nisso
que você quer transformá-la?
– Não, porra! Por favor, você não entendeu. Será só ela de agora em diante.
– Ele cai na gargalhada.
– Você quer mesmo que eu acredite nisso? Sério? Que você, um dos caras
mais cobiçados e assediados pelas mulheres mais lindas do mundo, vai abrir
mão de todas elas para ficar com uma menina?
– Sim, é exatamente isso que você ouviu. – Max abre a boca, pasmo.
– Puta-merda! O que mais me espanta é que você está mesmo acreditando
nas coisas infantis que está dizendo. Quando estivermos em turnê, você vai
ficar meses sem sexo? Quanto tempo você acha que aguenta brincar disso,
Oliver? Resistir a todas aquelas celebridades se atirando em cima de você? –
Resolvo escancarar o meu íntimo para ele. Max só me dará algum crédito
assim, se vir que o que eu disser saiu do fundo da minha alma.
– Eu não sei, eu nunca fiz isso antes, eu nunca me senti assim. O que eu
posso te dizer agora, de certeza, é que hoje, pensar na nossa vida, na nossa
promiscuidade, nas relações da forma como sempre as levamos, me enoja.
Revira meu estômago. O pouco que eu compartilhei com ela nesses dias,
mesmo antes de sequer beijá-la, nossa... não se compara à foda mais fantástica
que tive até hoje. Não chega nem perto. E você sabe por tudo que passei, sabe
dos meus medos em relação ao apego, dos meus surtos. – Respiro fundo e me
animo um pouco, pois seu olhar duro suavizou alguns milímetros.
– Eu não tenho medo de ficar sem sexo ou de não resistir a uma gostosa se
atirando em mim, Max. Não, já tive demais dessa merda na minha vida. Não é
comer qualquer uma por aí que vai me fazer falta. Fico pensando em como vou
fazer para aguentar ficar meses longe dela, isso sim. Uma semana já foi
difícil... Até a questão da diferença de idade, quando estamos só nós dois, não
parece errado, muito pelo contrário. Ela é a coisa mais certa que já tive nas
mãos. – Finalmente vejo em seu semblante que consegui abrir uma brecha para
que me leve a sério, não posso perder a chance, me obrigo a continuar, mesmo
que seja difícil para mim mesmo dizer certas coisas em voz alta.
– O que me faz pirar de medo é que a intensidade do que sinto em algum
momento se torne demais para mim e eu deixe os meus traumas ferrarem com
tudo. Ou então que a história se repita. – Engulo em seco. – Isso me apavora.
Por isso relutei tanto em aceitar. Pela primeira vez na vida Max, eu senti algo
tão forte a ponto de me obrigar a arriscar a minha estabilidade. Quando eu fiz
algo semelhante? Ela me tem nas mãos e você pode imaginar muito bem o que
admitir isto causa em mim.
– Porra!
– Pois é.
– Como foi acontecer? Por que ela? Eu nunca senti nada nem parecido a
tudo que você descreve, na verdade, na minha cabeça, todo esse discurso
sentimental sempre foi exagero das pessoas. Tenho bons motivos para pensar
assim, você sabe... E se o que você diz é para valer, não entendo...
– Não sei dizer, acho que estávamos predestinados...
– Como assim? Que papo de merda é esse?
– Você se lembra de um episódio, que aconteceu há nove anos, uma menina
chorando na recepção do hospital onde Lian estava internado?
– Sim, sim, lembro.
– A menina era Beatriz. Era a mãe dela lá dentro. Só que neste nosso
improvável segundo encontro, mesmo antes de eu ser apresentado oficialmente
a ela, ela já tinha me arrebatado. O que isso significa? Se tiver outra
explicação compartilhe, porque eu não consigo...
– Como assim ela já tinha te arrebatado?
– Eu a vi, na praia, na beira do mar, antes de voltar para casa e me revelar.
Quando eu olhei para ela lá, eu já sabia que não havia mais volta para mim.
Foi um sentimento poderoso, angustiante. Eu a quis naquele instante. Eu a quis
com a mesma força que eu quis criar a The Order, se é que você me entende. –
Ele fica em silêncio por algum tempo.
– Oliver, se o envolvimento de vocês por algum motivo não der certo, você
tem ciência de que estará tirando dela a sua segunda chance de ter uma
família?
– Sim. Mas se acontecer, quem sai sou eu. Foi uma das condições que me
impus para arriscar entrar nessa. Jamais tirarei o chão dela outra vez.
– Você tem noção de tudo que implica o que você acabou de me dizer?
Seria o fim da The Order.
– Se vocês não quiserem arrumar outro vocalista sim, é isso mesmo.
– Caralho, você não está de brincadeira mesmo, não é?
– Não. Nem um pouco. – Ele puxa o ar e passa as mãos pelo rosto.
– Olha, não vou dizer que consigo aceitar numa boa. Pensar em Bia com... é
o mesmo que pensar em alguém como nós com Hazel e isso é demais para
mim. Mas se as coisas entre vocês estão no nível que me descreveu, espero
que dê tudo certo, de verdade. Prometo me esforçar para... vamos dizer, me
adaptar. E vou ficar de olho em você. Não vou deixar você brincar com ela,
pode ter certeza disso.
– Obrigado. E quanto a Hazel, parece que tudo que diz respeito a ela anda
sendo demais para você. Isso não está certo. Já pensou que talvez precise
conversar com alguém? Acho que você incorporou tanto o papel de segundo
pai nestes anos todos, que agora que ela está virando uma mulher e você
percebeu que em breve não será mais o centro do seu mundo, anda passando
por algum tipo de “luto”, Max.
– Não sei. Para mim tem alguma peça faltando nesse quebra-cabeças. Algo
que, por mais que eu insista, ela não quer me contar. E ela sempre me contou
tudo. Isso me preocupa, e muito. Mas vou pensar no que você me falou, talvez
tenha razão e eu queira mesmo é manter a “menininha” ao meu lado.
– Você precisa conversar com ela. Direito, com calma, ouvi-la sem
julgamentos. Estava nítido o quanto ela está magoada com você e o quanto te
dizer aquelas coisas a machucou.
– Eu vou. Mas primeiro tenho que deixar o sangue esfriar, porque só de
pensar que ela passou a noite com aquele cara...
– É, melhor esperar mesmo. Senão vocês dois vão acabar falando coisas um
ao outro das quais vão se arrepender depois. – Abro um sorriso para ele.
– Bom, acho que agora você já pode me fazer aquele pedido de desculpas
pelo soco, certo?
– Nem fodendo Oliver, nem fodendo...
Bia
– Chega princesa, Max só está com ciúmes. Ele está percebendo que logo,
logo você terá outra pessoa em sua vida e tem medo de perder o posto que
sempre foi dele em seu coração – diz Lian, abraçando-a, pois assim que os
dois saíram, Hazel ficou aos prantos.
– Rá, parece piada – diz ela, secando os olhos.
– Por que diz isso?
– Nada Lian, nada, esquece.
– Lian, Kellan está bem? – pergunto com medo da resposta.
– Não Bia, ele não está nada bem. Oliver não precisava ter marcado
território da forma como fez na frente do garoto. Eu pedi a ele para se
controlar.
– Eu não sei nem o que dizer, se eu puder fazer algo para amenizar...
– Não há o que possa ser feito. Agora é ele, com ele mesmo. Precisa
entender, superar. Mas você e Oliver devem ter paciência, porque não é algo
que vai ocorrer de um dia para o outro.
– Claro. Não esperava aquela atitude de Oliver ontem.
– Dei uma rápida olhada no grupo das meninas quando peguei o telefone, só
falavam da suposta namorada de Oliver Rain. Querem que eu confirme se o
gostosão está mesmo amarrado. Carol estava inconformada – fala Hazel.
– Ela que não apareça na minha frente – murmuro para mim mesma.
– Lembre-as dos termos de confidencialidade, Hazel – pede Lian.
– Sim, já fiz isso. E também não confirmei e nem neguei nada – responde
ela.
– Ótimo. Como você já está mais calma, vou deixá-las sozinhas. Sei que
devem ter muitas coisas a compartilhar – comenta Lian, lançando um olhar
malicioso para nós duas. Beija a cabeça de Hazel, depois a minha bochecha e
vai. Hazel corre para o meu lado no sofá.
– E então Bia, me conta tudo.
– Ahhh Hazel, foi tããoo maravilhoso! Desde o momento que ele me
encontrou na pista de dança, a forma como me envolveu, o nosso beijo, foi...
uau! Nem nos meus momentos de imaginação mais fértil eu cheguei perto do
que realmente vivi. O instante em que nossas bocas se encontraram, eu senti
algo muito forte. Não consigo descrever em palavras, mas tinha que ser ele,
sabe? É ele, sempre foi.
– Entendo bem o sentimento – diz, um pouco cabisbaixa, brincando com as
missangas da almofada que colocou em seu colo.
– Não estou contando isso para te deixar mais triste ainda...
– Não, por favor. Não sou esse tipo de pessoa. Eu estou feliz demais por
você, de verdade. Isso ter acontecido com vocês, prova para mim, e para
muitas outras garotas, que nem sempre o impossível é tão impossível assim.
Não concorda? – Ela finalmente sorri para mim.
– Nossa, totalmente! – Rimos, pois faço cara de que nem eu mesma acredito
ainda.
– Eu vi uns lances bem quentes lá na área vip... E aí? Vocês foram até o
fim?
– Deus, eu acho que estava fora de mim lá, me esfregando em Oliver
daquele jeito, na frente de vocês, de Lian... Pensando agora, não sei como
consegui olhar para o seu primo ainda há pouco...
– Não acho que você estava fora, acho que você queria é que Oliver caísse
dentro, isso sim... e você não respondeu à minha pergunta, primeira-dama do
rock.
– Você não presta! – Deixo o riso sair solto.
– Ué, falei alguma mentira? As meninas me descreveram bem a cena de um
certo rockstar anunciando que precisava levar a garota dele embora. – Sorrio
de satisfação me lembrando. Não posso negar que gostei de ver a cara de
espanto delas.
– Não transamos ainda, mas eu beijei muito e gozei pela primeira vez ontem
e... quero logo fazer isso de novo. – Fico vermelha e ela gargalha.
– Sério que você nunca tinha gozado, Beatriz?
– Não, tentei várias vezes me masturbar, mas ia até um ponto e depois
desandava, tinha a impressão de que faltava alguma coisa, sabe?... E ontem,
bem, consegui sentir bem o que me faltava... – Arranco mais algumas risadas
dela e eu quero saber: – Você consegue? Sozinha?
– Sim, mas só quando penso... em você sabe quem. – Ela mexe a boca de
lado desgostosa.
– E Eric? Passou mesmo a noite aqui com você?
– Não bem à noite, pois chegamos no hotel já era quase sete da manhã. Mas
sim, ficamos juntos até quase onze horas quando ele foi embora e eu finalmente
caí no sono.
– Então vocês...
– Não, não consegui, inferno... Ele é um cara ótimo, sabia? Gostei mesmo
dele. O beijo foi bom, nada como isso que você me descreveu, mas foi...
gostoso beijá-lo. Ele tem uma pegada boa. Também conversamos bastante, nos
divertimos, rimos, dançamos. Viemos para cá e é claro, as coisas começaram a
esquentar, e eu até estava entrando no clima, mas daí a imagem de um ruivo
invadiu meus pensamentos. Aquilo começou a me parecer errado, eu me senti
traindo Max. Veja se tem cabimento?! Então não consegui mais relaxar,
continuar... E Eric foi super compreensivo, em nenhum momento tentou forçar
ou se mostrou arrependido por investir a sua noite numa “canoa furada”.
– Não fale assim sobre si mesma...
– É verdade. Enfim, ele me perguntou se eu aceitaria que ele me procurasse
em outro momento, para nos conhecermos melhor. Eu não fechei as portas, sei
lá, quem sabe se eu me envolver mais, criar mais intimidade, não consiga me
livrar do karma que é Max Connor em minha vida. – O telefone dela vibra. Ela
olha e abre um sorriso. – É Eric.
– Já? – Ela ri e vira a tela do telefone para que eu veja a mensagem: “Gata,
passei o dia pensando em você. Já estou com saudades. Beijos, Eric.”
– Que fofo!
– Sim, ele foi muito carinhoso comigo, desde o momento que nos
conhecemos lá na pista. Não mudou depois de saber do meu parentesco com
Lian e Kellan, como tenho medo que aconteça com qualquer um que se
aproxime de mim.
– Então dê uma chance.
– Sim, estou seriamente pensando nisso. Mas vamos voltar à sua noite dona
Bia, não me enrole... Não transaram, mas até onde foram? Você lambeu aquele
corpão todinho? – Sorrio e mordo o lábio inferior só de pensar naquela
deliciosa possibilidade.
– Não, ainda não tive o privilégio, Oliver não deixou avançarmos muito.
Disse que precisamos conversar primeiro...
– Mas nem uma pegadinha no...
– HAZEL! – Arregalo os olhos, divertida. – Não, só senti e vi a coisa em
alerta total na sua calça. E nossa, fiquei com medo. De verdade.
– Sério? – Ela gargalha muito.
– Você ri? Não viu o tamanho daquilo... Mas deve ter sido ilusão de ótica.
Não pode ser normal, Hazel, não tem como... – Afasto minhas mãos tentando
lhe dar uma noção do comprimento do mastro. Quando levanto os olhos para
ela, está branca, se segurando para não cair no riso outra vez e os olhos fixos
em algo atrás de mim.
– Hãhã. – Ouço Oliver pigarrear de propósito, o que indica que ele já
estava ali a algum tempo, se divertindo as minhas custas, e desejo que se abra
uma cratera bem abaixo dos meus pés para que eu caia nela. Hazel não aguenta
se segurar mais.
– Não está certo, Beatriz.
– Eu sei Oliver, me desc...
– Não, anjo, o tamanho... não é esse. Uns dez centímetros a mais e então
você se aproximará do...
– Oliver! – Me viro no sofá para olhá-lo. E jogo uma das almofadas nele.
Ele dá um impulso, pula por cima do encosto, escorrega ao meu lado, me puxa
para si e tasca um beijo de cinema em minha boca.
– O que? Você fica aí falando dos meus atributos para Hazel e eu não posso
nem corrigir as dimensões? – Mas já não consigo focar na brincadeira, outra
coisa me chama a atenção.
– O que foi isso na sua boca? – Passo os dedos de leve sobre o corte no
canto do lábio o no roxo próximo a ele.
– Isso foi o resultado da direita de Max.
– Ele bateu em você? – pergunta Hazel, indignada. Oliver suspira.
– Ele estava nervoso, mas nos entendemos. Se acalmou e foi para o quarto.
– Ela balança a cabeça em descrédito.
– Bom, vou deixar o casal voltar a discutir as dimensões dos atributos em
paz. – Hazel se levanta e eu faço o mesmo.
– Bia, vou cancelar o passeio de hoje à noite. Imagino que prefira ficar por
aqui, não é?
– Sim, se você não se importar.
– Não, estou cansada também. Ainda não me recuperei. De manhã
decidimos se vamos ao que está programado para amanhã, ok?
– Ok.
– Boa noite, casal.
– Boa noite, princesa – diz Oliver. A acompanho até a porta e me despeço
dela.
Fecho a porta e me viro.
O mal caminho inteiro está ali, atrás de mim.
Esperando por mim.
Não quero mais perder tempo. Quero é me perder nele.
Me lanço em direção ao seu corpo, ele me sustenta e me ergue do chão,
enlaço seu pescoço e logo nossos lábios procuram um ao outro, em desespero,
como se fizesse séculos que não se encontram. Enquanto me beija e vai
andando em direção ao quarto.
Enlaço minhas pernas ao redor do seu corpo, ele desce as mãos e me segura
pelas nádegas. Apalpando-as sob o vestido e apertando-me contra sua virilha.
Sinto seu membro endurecendo. Afasto meus lábios da sua boca e vou
descendo pelo seu queixo e pescoço. Ouço um uivo rouco escapar da sua
garganta e me sinto poderosa.
Ele é tão gostoso, tão cheiroso, tão sexy, só com um olhar me deixa louca de
tesão.
– Ah Bia... que delícia anjo... estava doido para colocar as minhas mãos
nessa sua bunda gostosa. Se eu escorregar os meus dedos um pouco mais para
baixo e para o lado, o que eu vou encontrar, hein, pequena? Será que você já
está toda molhadinha para mim? Será que a bocetinha está quente e pingando
pelo meu pau? Ele não vê a hora de estar dentro dela – sussurra no meu
ouvido.
Meu ventre contrai em expectativa.
Puta-que-pariu!
Não estou acostumada a tamanha... honestidade...
– Vai ser um inferno me segurar, sabia?
– Não se segure – peço, me esfregando nele quase tão ensandecida quanto
ontem. Ele já está duro como pedra.
– Precisamos conversar, sobre isso e outras coisas, já era para termos feito,
não fosse a interrupção de Max. Mas primeiro vou dar uns amassos na minha
namorada tarada e linguaruda. Me joga na cama e se joga sobre mim.
Eu grito.
Mas o final do meu grito sai abafado, pois Oliver se perde em minha boca,
enquanto as suas mãos vão subindo pela minha coxa. O vestido vira um
inconveniente amontoado de pano enrolado em minha cintura. Ele força sua
perna entre as minhas para que eu as afaste, e então aperta o interior da coxa,
muito, muito perto de lá... Me contorço e aperto meus músculos vaginais para
ver se a necessidade alivia.
Só aumenta.
Seus lábios cálidos descem pelo meu pescoço, deixando um rastro quente e
úmido em direção ao colo... Sua mão passa pelos meus quadris e chega à
minha barriga por baixo do pano enrolado.
Brinca um pouco naquela região, percorrendo-a de um lado ao outro com as
pontas dos dedos. Sua boca faz o mesmo em meu colo, beijando, roçando a
barba no limite do decote.
Arrepiada é pouco para descrever o meu estado.
Os dedos lá embaixo começam a invadir o elástico da minha calcinha,
aumentando ainda mais a expectativa e o fogo que, neste momento, já me
queima inteirinha. Mas se mantém só no comecinho, brincam, da esquerda para
a direita e voltam para a barriga, provocando micro choques, depois descem
novamente, me levando à beira do desespero.
Já percebi que o jogo preferido dele é me provocar, me deixar no limite.
O pênis muito duro pressionando a minha outra coxa, marcando seu calor
ali...
Ai, senhor... eu preciso...
– Oliver, por favor... – peço para que ele acabe com a minha agonia.
– Bia... – responde ao meu apelo com o mesmo martírio na voz.
Ele também está perdendo a razão? Torço por um sim.
Desço minhas mãos por seus ombros e costas até onde alcanço, preciso
sentir seu calor, quero o contato de sua pele na minha, puxo sua camiseta até
onde dá e espalmo minhas mãos por baixo dela em suas costas.
Ele ergue um pouco o tronco, puxa a camiseta para fora do corpo e volta a
tomar a minha boca, agora abrindo totalmente as minhas pernas com seu peso,
se acomodando entre elas e passando a arremeter de leve, para que eu sinta a
sua dureza onde preciso dela.
Deslizo minhas mãos por suas costas de cima abaixo, chegando ao elástico
da sua calça de moletom. Ele migra o ataque dos lábios ao meu pescoço e faço
o mesmo com o dele, passando meu nariz por sua bochecha e barba. Depois
lambendo desde o seu ombro até a base da sua orelha, sentindo o salgado de
sua pele já um pouco suada em minha língua.
Uhm. Delicioso!
Decido ser audaciosa e enfio uma das mãos pelo elástico da calça,
chegando a sua bunda e passando a mão por ela.
Nua?
Que sorte a minha!
Ele está sem cueca e a bunda durinha em minhas mãos...
Oh, não resisto.
Aperto.
Ele arremete contra mim em reflexo.
Forte!
Isso. Mais. Outra vez, eu desejo.
Estou em chamas, sou fogo líquido.
Desço minha outra mão e dou a ela o mesmo destino da primeira. Apertando
suas nádegas agora com as duas ao mesmo tempo e instigando-o a trazer sua
virilha ainda mais contra mim.
Então ele para, ergue-se, me puxa para que eu sente, e arranca o meu
vestido do meu corpo, me deixando só de calcinha, depois me empurra para
trás e deita-se novamente sobre mim.
Ahh... Meus seios em seu peito...
Nossas barrigas nuas coladas...
Sua bunda contraindo e relaxando sob minhas mãos.
Seu quadril investindo contra mim.
Os pelos do seu peito roçando os meus mamilos.
Seus gemidos roucos em meu ouvido.
O impacto daquele conjunto de estímulos simultâneos me desperta
sensações únicas.
Me dou conta de que este momento, o momento de sentir pela primeira vez a
sua pele na minha pele, enquanto o seu peso me esmaga contra o colchão, é
especial demais. Uma doce e aguardada submissão, pela qual a maioria das
mulheres sonha, ou já sonhou, ser submetida.
Minhas mãos retornam para as suas costas O toque faz a eletricidade correr
entre nós. Sinto sua pele se arrepiar nas pontas dos meus dedos e as batidas
aceleradas do seu coração no mesmo ritmo do meu.
Com um murmúrio quase dolorido, ele se obriga a desacelerar o ritmo das
investidas. Provavelmente estava prestes a gozar.
– Deus, Bia, que é isso que você faz comigo? – pergunta, mais para si
mesmo.
Oliver levanta a cabeça e fica alguns instantes passando o nariz
carinhosamente pelo contorno do meu rosto, enquanto tenta se acalmar e
recuperar o controle.
Primeiro pela testa, depois desce para a maçã do rosto, então contorna a
linha do maxilar e por fim os meus lábios e nariz. Aproxima os lábios e beija
as sardas abaixo dos meus olhos, primeiro de um lado, depois do outro.
– Amo essas sardas – comenta e encosta nossas bocas.
Ouvir aquela palavra saindo de sua boca me faz estremecer.
Aperto-o mais contra mim, ergo minhas pernas e enlaço seus quadris. Ele
encosta os lábios no meu ouvido.
– Minha! – proclama, possessivo.
Parece querer garantir que eu não me esqueça daquilo.
Como se fosse possível.
Uma mão sua sobe entre nossos corpos e envolve o meu seio enquanto sua
boca retoma os nossos beijos, agora de forma ardente. Volta aos movimentos
deliciosos de encostar e afastar nossos sexos, massageando o meu mamilo ao
mesmo tempo.
Minhas mãos voltam para a sua bunda, sob a calça, sentindo-a ir e vir a
cada arremetida.
Quem dera houvesse um espelho sobre nós para eu ter aquela visão por
completo. Certamente, seria uma visão e tanto.
Seus lábios começam então um percurso rumo ao sul, e chegam aos meus
seios, onde se demoram e capricham na atenção que dão a eles.
Socorro!
Meus mamilos estão tão duros. Tão sensíveis. E saber que é ele ali,
lambendo-os, chupando, os deixam ainda mais em alerta, pedindo mais.
E ele dá! Primeiro para um, depois para o outro.
– Lindos! – diz, marcando minha pele com o calor dos seus lábios - Quando
me lembro da visão dos seus peitos naquele biquini preto minúsculo Beatriz...
ah, eu quis te comer bem ali, naquela hidro, naquele dia...
– Oliver, que delícia... só... não para...
– Ah pequena... – murmura, deleitando-se com os meus seios conforme
pedi.
Entendo bem porque aquela ruiva mantinha a cabeça dele presa em seus
peitos...
A boca dele é mágica!
E agora, ao que parece, ela tem outros planos...
Os lábios escorregam para a base dos meus seios e deixa um beijo em cada
um dos lados, depois segue com a língua pelo meio das minhas costelas até
chegar ao meu umbigo, onde a enfia e se demora.
Eu contraio a barriga e tremo de tesão ao imaginar a próxima parada
daquela boca.
Passo os dedos por seus cabelos. Ele morde minha barriga e percorre com a
língua o limite do elástico da minha calcinha. Passa as mãos por trás das
minhas pernas e as escancara, ficando com o rosto bem lá, no meio delas.
Desliza o nariz, de cima a baixo, puxando o ar e absorvendo o meu cheiro.
Senhor!
Levo uma mão ao rosto tapando meus olhos com o antebraço.
Estou roxa de vergonha agora, porque estou muito, muito molhada e ele se
esfregando nela...
– Seu cheiro me deixa louco, louco. Você não imagina o quanto já tive que
me controlar perto de você, Beatriz. – Beija e morde uma coxa, arranha a
barba nela me fazendo tremer de ansiedade.
Ansiedade esta ele não tarda a aplacar.
Primeiro beija delicadamente e depois suga o meu clitóris sobre o tecido da
calcinha. Leva as mãos as minhas coxas e as segura imóveis e bem abertas,
enquanto se dedica ao trabalho, sugando e sugando e sugando o meu pontinho
de prazer, ao mesmo tempo que o circunda com a língua, sem trégua e sem
permitir que eu mexa um músculo sequer da cintura para baixo.
– Oliver... eu... ahhh...
A dor no meu ventre aperta. Preciso me mexer, contrair, contorcer. Mas ele
não relaxa na pegada.
Minha vagina pisca, clamando por ele.
Minhas pernas sofrem micro espasmos pela intensidade que ele impõe
aquela missão.
Minha respiração está super ofegante e gemidos escapam da minha boca
sem que eu tenha controle sobre eles.
Como é possível?
Simplesmente não consigo não gemer...
Na real, tenho vontade de gritar!
– Eu não aguento... eu vou...
– Isso anjo, goza na minha boca. Agora! – Suga forte, e eu já não aguento me
manter só na vontade, grito de verdade!
Ele me faz morrer e voltar pela segunda vez.
Estou entregue e mole, muito mole.
Assim que percebe que me acalmo, monta em mim novamente, chegando a
minha boca, onde consigo sentir o meu cheiro em seu rosto. Ele passa a
arremeter forte e mais forte contra o meu corpo. Sua respiração acelera muito e
seus gemidos ininterruptos em meu ouvido são uma nova fonte de deleite.
Então sinto o calor e a umidade de seu gozo, ultrapassando o tecido da sua
calça e melando a minha barriga. Ele apoia a cabeça na curva do meu pescoço
e baixa todo o peso do corpo sobre mim.
Estamos suados, melados, ofegantes, exaustos e saciados.
Ficamos assim, grudados um no outro, por vários minutos, só sentindo
aquela energia, aquela conexão e a calmaria depois da tempestade. Afago seus
cabelos úmidos pela transpiração assim que me sinto apta a movimentar os
braços outra vez.
– Caralho, pequena... porra... você me fez gozar nas calças. Acho que isso
não acontece comigo desde os quinze, mais ou menos... – Oliver ainda está um
muito ofegante.
Beijo seus cabelos, passo as mãos por sua nuca e costas, que estão lavadas
de suor. Ele está tão entregue que soltou seu peso de vez sobre mim,
dificultando a passagem de ar.
– Oliver, adoro te ter assim, grudado em mim, mas não estou conseguindo
respirar. – Ele ri, beija minha bochecha e deita-se de costas ao meu lado na
cama.
E eu me arrependo de não ter aguentado o seu peso mais um pouco, pois de
repente ficou tão frio...
Como se ouvisse meus pensamentos, me aninha contra o seu peito.
Passo a mão pela minha barriga, por aquela gosma esbranquiçada que ele
deixou ali. Pego um pouco entre os meus dedos, sentindo a textura.
Ele só me observa.
Levo os dedos próximo ao meu rosto, analiso, cheiro e então, chupo um
dedo, sentindo o seu sabor.
Oliver arregala os olhos.
Sim, rockstar, sou uma pessoa curiosa.
– Porra! Você fez isso mesmo?
Opa. Acho que a minha ingênua curiosidade marcou pontos.
Sendo assim, mantenho os olhos grudados nele e chupo mais um dedo, e
depois mais outro.
– Uhmmm, bomm... tem gosto de Oliver, sal e jiló. – Ele gargalha e me beija
na boca ao mesmo tempo.
– Jiló, Beatriz, sério?
– É, um amarguinho no final ué...
– Você vai ser a minha ruína, sabia? Essa sua boca pecaminosa, chupando a
minha porra dos seus dedos foi uma das coisas mais eróticas que já vi. Mas
daí você solta um jiló no meio e desmoraliza completamente o momento e o
meu material. – Rimos juntos.
– E o que eu deveria ter dito ao invés do jiló, então?
– Que tem gosto de macho, só isso... – Rio da sua indignação.
– Tá bom, vou me lembrar da próxima vez, longe de mim desmerecer todo
esse material.
– É, eu percebi o quanto você conferiu o material mocinha. Minha bunda
deve estar roxa de tanto que a senhorita apertou.
– Ah, eu queria mesmo é mordê-la, posso? – Ele ri.
– Vai poder, em breve... está com fome?
– Estou, mas preciso de um banho antes.
– Então vá, vou pedir e quando você sair eu tomo um banho também.
– Não quer vir comigo?
– Se eu quero? Caramba, claro que quero! E logo, logo faremos isso o
tempo todo, mas temos muito o que conversar antes. Eu preciso. – Acaricia
meu rosto e percebo a sinceridade em seu olhar. Mas brinco com ele mesmo
assim.
– Você está só nas promessas... – Reviro os olhos.
– Ah é, sua safada! – Me puxa, já me pressionando no colchão outra vez. –
Quem foi que gozou bem gostoso na minha boca ainda a pouco? – Suspiro.
– Vamos ter logo essa conversa então. – Beijo-o e me levanto, na intenção
de ir para o banho. Ele acaba momentaneamente com os meus planos.
– Pare um pouco, anjo. – Paro onde estou e me viro para ele que ainda está
deitado na cama, com as mãos abaixo da cabeça, me olhando de cima abaixo. –
Você é linda demais! Dê uma voltinha pra mim.
– Oliver...
– Vamos Bia, me deixa ver a sua bunda gostosa nessa calcinha. Tem umas
fotos de lingerie que me atormentam a alguns dias sabe... – Resolvo provocar,
coloco um dedo na boca, fazendo um charminho e depois faço o que ele pede,
me viro de costas.
– Aiiii, puta-merda! Que bunda! Tão arrebitada e perfeita... Um dia ainda
me enfio nela... – Vou ignorar e fazer de conta que eu não entendi essa parte. –
E as suas coxas... Por Deus, Beatriz, jamais vou deixar que use um biquini na
frente de outros homens. – Reviro os olhos outra vez, agora para a sua
declaração descabida.
– E esses caracóis caindo pelas suas costas... Você é uma deusa! A hora que
eu puder te comer de quatro segurando esses cabelos em minhas mãos e
olhando a sua bunda deslizando no meu pau... Porra! Já estou duro outra vez
aqui... Entra logo nesse banheiro porque se eu te pegar de novo agora, desisto
de qualquer conversa. – Faz menção de levantar e eu corro para o banheiro aos
risos.
Filho, está tudo bem? Não consegui falar com você, liguei
algumas vezes no seu quarto. Está por aqui ainda ou já
voltou? Espero que retorne para casa Oliver. Mandei
mensagem para Beatriz também, mas não me respondeu
Estamos bem
Esperamos alguns minutos e ela não manda mais nada.
– É Oliver, acho que você chocou realmente a sua avó. Melhor ir lá ver
como ela está.
Capítulo 13
Oliver
Bia
Uma de Laura.
Oliver seleciona uma das fotos onde estamos os quatro tentando segurar o
letreiro de Hollywood e manda para eles.
Não estamos no quarto
Após o nosso passeio deixamos Eric em frente ao seu prédio, visto que
foram os seguranças da The Order que o buscaram pela manhã e seguimos de
volta ao hotel.
São quase dezoito horas e nosso carro sai às dezenove para o retorno a
Oceanside. É o tempo de chegar no quarto, tomar um banho e arrumar as coisas
para a volta.
O silencio predomina dentro do carro. Oliver até tentou engatar uma
conversa assim que deu a partida, mas logo desistiu ao perceber que estamos
as duas cansadas demais da farra do dia, largadas em nossos assentos com as
cabeças jogadas no encosto e os olhos fechados. Então ele apenas mantém
nossas mãos unidas sobre a minha coxa e dirige calado.
Inesperadamente, nem bem entramos no estacionamento do hotel, um soluço
alto e sentido, vindo da parte de trás do carro, rompe a quietude. Olho
alarmada para Hazel que está aos prantos. Mal Oliver encosta, ela dispara
carro afora em direção ao elevador.
– Oliver, vou atrás dela. – digo, já me livrando do cinto de segurança.
– Vá, claro, nos vemos no quarto – diz ele, claramente preocupado com a
reação inesperada dela.
Corro e consigo entrar junto com ela no elevador. Assim que as portas se
fecham, eu a abraço.
– Ah Hazel, querida, não fique assim, por favor. Foi um dia tão gostoso.
Você parecia tão bem, contente. Rimos tanto.
– Justamente por isso. Foi tudo ótimo, o dia, o passeio, a companhia, Eric é
maravilhoso, não é? – Assinto. – Então por que, Bia? Por que meu coração
dói? Por que parece que fiz algo errado? Por que não consigo mudar? Tirar
isso de dentro de mim? – O elevador chega e abre as portas antes que eu possa
dizer qualquer coisa.
– Vamos conversar no seu quarto. – Entramos no quarto dela e a faço sentar
ao meu lado no sofá.
– Hazel, lembra que você me disse que eu deveria partir para o tudo ou
nada com Oliver?
– Sim.
– Pois então, eu segui o seu conselho e disse a ele que se não nos
acertássemos até a sua festa, eu iria dar uma chance a Kellan. Só que a verdade
é que vim preparada para ficar em Los Angeles. Caso Oliver não nos desse
uma chance, eu iria começar minha nova vida aqui. Não voltaria com vocês
mais para lá. Porque percebi que enquanto estivéssemos no mesmo ambiente,
convivendo, eu jamais conseguiria seguir em frente. Longe já não sei até que
ponto funcionaria, mas perto era certeza de fracasso. – Faço uma pausa, ela me
ouve atentamente, tentando imaginar aonde quero chegar.
– Então amiga, me dói muito te dizer isso, mas eu preciso ser honesta com
você. Você tem duas alternativas Hazel: a primeira é abrir o jogo com ele,
arcando com as consequências disso. Tentar viver esse amor ou o fim de suas
esperanças por definitivo; a segunda é você se afastar, e precisa começar
retirando aquele quadro dele que você tem na parede do seu quarto. Depois,
não sei o que você pretende fazer da sua vida em termos de profissão,
faculdade, se é que pensa nisso, mas talvez seja o caso de ir estudar bem longe
daqui. Sei que é cruel, não quero que vá, você é a única amiga que fiz na vida,
mas também não quero te ver sofrer dessa forma. Não há outro jeito a não ser
arrancar o curativo Hazel, para o bem ou para o mal. É o que eu fiz, é o que eu
faria.
– Eu já pensei nisso, mas machuca tanto saber que terei que ir para longe de
todos que eu amo, de quem eu mais amo. Só que você tem razão, é uma tortura
diária para mim, viver ali. Vou pensar nisso tudo, prometo. – A abraço
novamente.
– Fique bem, pense em todas as coisas boas que aconteceram nestes três
dias. Você se divertiu, conheceu alguém ótimo. Bonito, inteligente, carinhoso,
que parece estar encantado por você. Afaste os outros pensamentos. Você não
está fazendo, nada, nada de errado. – Lhe dou um beijo no rosto e sigo para o
meu quarto.
Entro e vejo Oliver terminando de colocar suas coisas dentro da mala. A
minha já está fechada em cima da cama.
– Você fez a minha mala? – pergunto surpresa.
– Sim, só as coisas que estão na pia do banheiro deixei lá, imaginei que
você ainda iria precisar delas, mas as roupas estão todas dobradas aí dentro. –
Aponta para a mala sobre a cama.
Olho para ele embasbacada.
Oliver Rain fazendo a minha mala... realmente devo ter feito algo muito
certo nessa vida, se devo!
Faço menção de me virar em direção ao banheiro e ele me breca, passando
os braços ao redor da minha cintura.
– Ah, você não vai escapar tão fácil. – Ele afunda o nariz em meus cabelos.
– Não pense que foi de graça a gentileza. – Rio.
– Não? E eu aqui pensando no tamanho da minha sorte. Quanta ingenuidade!
– A sua sorte continua sendo grande – diz e esfrega o pen... não, o pau, na
minha bunda. – Mas isso não tem nada a ver com a minha necessidade de
pagamento.
– E como devo quitar minha dívida, oh meu amo?
– Acho que me deixando sentir o seu gosto, já faz tempo demais. – Me pega
no colo de supetão. Eu solto um gritinho.
Ele nos leva em direção ao banheiro, onde vai tirando minha roupa,
enquanto me beija por todos os lugares alcançáveis e alguns nem tão
alcançáveis assim.
Puxo sua camiseta para cima; ele termina de retirá-la.
Abro o botão da sua calça; ele chupa os meus seios.
Empurro a calça dele para baixo, levando a cueca junto no processo; ele
checa a minha umidade.
Acaricio aquela arma letal que ele tem; ele geme e enfia um dedo em mim.
Deus como é lindo!
Minha boca enche d’água só de olhá-lo.
Ele para de me estimular e me analisa também.
Seus olhos selvagens transbordam desejo, luxúria.
Me arrepia só de pensar em tudo que prometem.
– Você é gostosa pra caralho, Beatriz! E minha. Só minha!
– Sim, só sua – confirmo. Ele gosta, sempre gosta.
Volta a me pegar nos braços e vai nos empurrando para o box. Entramos,
liga o chuveiro e recebemos aquele primeiro jato de água. Fria!
Eu grito e começo a tremer pelo choque.
Oliver ri e me abraça por trás, me mantendo toda grudada nele, o pau
pressionando a base da minha coluna. Afasta meus cabelos e começa a chupar
meu pescoço, enquanto vai me empurrando em direção a parede. Pega minhas
mãos e as espalma no azulejo, fazendo-me inclinar um pouco o corpo para
frente e empinar a bunda na sua direção.
Distribui beijos ao longo da minha coluna, o choque da água ainda não
totalmente quente com os seus lábios ferventes me faz trepidar. Ele segura os
meus seios com as mãos em concha e vai descendo aqueles lábios
incandescentes até chegar nas minhas nádegas.
Fica de joelhos ali, cara a cara com o meu traseiro. Os dedos cravados em
minhas ancas.
– Mantenha as mãos na parede, anjo – puxa meus quadris ainda mais em sua
direção, me fazendo ficar agora totalmente arqueada. Em seguida força os
braços entre as minhas pernas para que eu as abra.
É uma pose muito indecente.
Meu traseiro empinado e escancarando para ele.
Leva a boca até lá e começa a fazer a sua mágica. Me chupa, lambe e
mordisca em todos os ângulos daquele lugar que nunca viu a luz do dia, todas
as dobras e todos os buracos.
TODOS!
Me deixando louca, fazendo com que eu, involuntariamente, me esfregue
mais e mais em sua cara. Impossível me manter inerte. Impossível!
Até que se concentra em meu clitóris.
Suga com força e insistentemente.
Acrescenta a mão à brincadeira e assim como ontem à noite, só faz uma
leve pressão na entrada da vagina. Só que, desta vez, ele tem também um outro
dedo em ação.
O mindinho.
Lá atrás.
Da mesma forma que pressiona o buraco da frente, pressiona o de trás.
E eu sinceramente não sei o que pensar disso.
Não sei se gosto ou se não gosto, mas deixo-o brincar ali.
E quando estou subindo a montanha e prestes a me jogar no precipício ele
enfia a ponta daquele mindinho em mim.
Eu grito, vejo estrelas e gozo. Na hora!
Minhas pernas falham, mas ele me sustenta, levanta-se e volta a grudar o
tronco nas minhas costas, mas me mantém naquela posição despudorada, com
as mãos espalmadas na parede, enquanto leva a sua própria mão entre nossos
corpos, pega o pau e se masturba até jorrar, quente, na minha bunda.
– Tão gostoso te ouvir gozar, bebê. – Me vira de frente para ele, me beija e
deixa que eu me escore em seu peito. – Ainda bem que as paredes do meu
quarto são a prova de som, porque senão você iria, sim, escandalizar a dona
Laura ao ponto de ela sofrer um ataque. Ou ela iria mandar me prender por
agressão – discorre sobre as possibilidades, enquanto começa a me ensaboar.
– Oliver... não consigo... – Minhas pernas ainda tremem, e eu, que já estava
esgotada pela agitação do dia, agora, depois da descarga energética, mal
consigo manter os olhos abertos.
– Se apoie em mim e deixe que eu cuide de você. – Então ele me lava
inteirinha e quando termina já estou um tanto recuperada.
Capítulo 14
Bia
B ia, qual foi o problema com Hazel? Por que ela saiu
chorando do carro? Aquele cara, ele...
– Não, não tem nada a ver com Eric – esclareço logo.
Estamos no carro a caminho de casa.
– Então o que é?
– São coisas dela, sentimentos dela, eu não posso compartilhar com você.
– Se tem algo acontecendo com ela, se ela está com problemas, em perigo
ou encrenca, por favor me fale para que eu possa ajudar. Até hoje eu achava
que Max exagera quando diz que tem algo errado com o comportamento dela,
mas depois de presenciar aquele desespero todo, não sei mais... acho que ele
pode estar certo.
– Eu não posso contar, mas posso te garantir que ela não corre nenhum risco
e nem está metida em encrenca.
– O jeito que ela saiu do carro não foi normal. Ela está triste, depressiva? É
isso? – suspiro.
– Você não vai desistir, não é?
– Enquanto você não disser algo que me tranquilize, não.
– Tudo bem. Eu vou falar algo se você me prometer duas coisas. Primeiro,
que não vai contar a Max. Segundo, que não vai me perguntar nomes.
– Não posso prometer isso.
– Então não vou falar mais nada, sinto muito, você vai ter que perguntar a
ela. – Ele bufa.
– Não é nada perigoso, ou ilícito, nada a ver com chantagem, ou problemas
de saúde?
– Não, nada disso. Se fosse algo que precisasse de intervenção para a
segurança dela, eu seria a primeira a compartilhar, fique tranquilo.
– Ok, então concordo com as suas condições. Me diga. – E eu que achei que
tinha me livrado dessa...
– Ela é apaixonada por uma pessoa há muito tempo. Só que não é
correspondida. E a festa, o envolvimento com Eric, são na verdade tentativas
de matar o sentimento para seguir em frente. Só que por mais que ela goste
muito de Eric, não está funcionando, e isso está fazendo com que ela sofra
ainda mais. Porque quer gostar dele ao ponto de se entregar à relação, mas o
coração dela pede pelo outro.
– Caraca, quem é o idiota qu...
– Oliver... você prometeu!
– Ok, ok. – Ele pensa alguns instantes e então parece ter uma luz. Se matar a
charada não sei se consigo ser convincente o suficiente ao negar.
– Peraí – ai senhor – agora umas coisas que o Max me falou passam a fazer
sentido. Ele disse que Hazel sonhava em ter sua primeira vez com alguém que
ama e Max não entende o que mudou para ela, de repente, passar a noite com
um cara que conheceu numa balada. Então o que Max não sabe é que na
verdade “esse sonho” não é com alguém que ela virá a amar um dia e sim com
alguém que já tem nome e sobrenome. O sonho é uma pessoa bem específica. E
como não foi, e não será, com ele, então tanto faz... É isso?
– Sim. É isso.
– E por que ela não explica para Max, para tranquilizá-lo?
– Ela não quer. Diz que Max vai surtar, vai querer saber quem é, se souber
não vai aceitar. Enfim, ela tem os motivos dela, e você prometeu que não vai
falar nada a ele. Estou confiando em você.
– Eu prometo, eu cumpro. Nunca duvide disso.
– Não duvido, meu bem, desculpe.
– Gosto disso. – Um sorriso brota em seu rosto.
– Do que?
– De você me chamando de meu bem – eu sorrio de volta.
– Então me abraça, meu bem, porque ainda estou meio mole pelo que você
fez comigo no banheiro.
– Vem cá, anjo. – Ele se reclina um pouco no banco e me puxa para deitar
em seu peito.
Não há nada melhor nesse mundo.
Se existe, não experimentei.
Quero ficar ali para sempre.
– Oliver, – digo bocejando – precisamos falar sobre Kellan. – Ele se reseta,
ficando tenso atrás de mim.
– O que temos para falar sobre Kellan?
– Vocês são uma família, e ele também é seu colega de trabalho. Vão passar
meses e meses em estúdio e shows. Não pode ficar um clima estranho, pesado,
entre vocês por minha causa. Não quero ser motivo de desentendimento entre
os dois. Se ele te provoca, você não pode devolver na mesma moeda. Um dos
dois precisa ser maduro o suficiente para parar de apertar a corda.
– Eu vou ter uma conversa bem franca com ele, fique tranquila, mas não
posso fazer isso ainda, porque meu sangue ferve pensando nele te cercando e
dando em cima. Preciso esperar, esfriar um pouco mais. Agora o que você tem
que entender, anjo, é que Kellan precisa sim, em algumas situações, ser
colocado no lugar dele. E o que eu fiz hoje de manhã foi isso. Lian, Max e eu
passamos por muita merda na vida, perdemos e tivemos que abrir mão de
muitas coisas antes de desfrutar de tudo que temos agora. Sabemos valorizar o
que importa e sabemos recuar quando é o caso. Kellan, por sua vez, sempre
teve tudo que quis. Quando nossa situação financeira ficou confortável, ele
tinha apenas seis, sete anos. Nunca precisou abrir mão de nada e sempre foi
muito mimado, por todos nós. Talvez você tenha sido a primeira coisa que ele
perdeu. E, como não sabe lidar com o sentimento, está se comportando como
uma criança, batendo o pé para tentar reverter. Se o contrário fosse verdade, se
o seu escolhido fosse ele, por mais que isso me matasse, eu iria tirar o meu
time de campo e torcer pela sua felicidade e a dele também.
– Ia? Assim, fácil? – provoco.
– Não antes de esgotar todas as possibilidades, claro. – Abre um sorriso
safado, de lado.
– Bom saber... adoro pensar em possibilidades com você.
– Ah, Beatriz, você não está entendendo... depois daquele beijo na pista de
dança, eu sou a sua única possibilidade. – Me beija rapidamente e eu sorrio
contra os seus lábios. – Não se preocupe, vou me acertar com Kellan.
– Tudo bem. Só não quero ser motivo de brigas entre vocês.
– Não será, pelo menos não por falta de tentativas minhas em me entender
com ele, fique sossegada quanto a isso. Agora eu quero perguntar uma coisa.
– Sim?
– Você iria mesmo se envolver com ele se eu não tivesse aparecido? – Viro-
me para olhar em seus olhos e me abraço ao pescoço dele.
– Não, eu não poderia. – Beijo-o.
– Então foi um blefe, espertinha?
– Não totalmente. Eu ficaria em Los Angeles. Não retornaria para cá.
Seguiria a minha vida longe de vocês.
– E você acha que eu iria deixar? Jamais!
– Por isso que eu joguei com a possibilidade de Kellan, sabia que você
tentaria impedir caso soubesse dos meus verdadeiros planos. Mas uma vez que
eu estivesse estabelecida lá, não teria como me obrigar a voltar.
– Nunca fuja de mim.
– Você fugiu primeiro, meu bem.
– Ok, xeque-mate. – Ele admite e eu bocejo de novo.
– Você anda roubando todas as minhas energias, preciso tirar um cochilo. –
Ele deixa escapar uma risadinha.
– Bons sonhos, meu bem. – Me dá um beijo rápido, antes que eu caia nos
braços de Morfeu.
Oliver
Bia
Acordo com lambidas, mordidas, dor no meio das pernas e uma coisa muito
dura me cutucando na bunda.
– Bom dia, anjo.
– Pelo visto é mesmo um bom dia, você parece bem animadinho. – Me
esfrego um pouquinho no tora.
– Não provoca. Você deve estar bem dolorida aí embaixo.
– Foi o tora que começou com a provocação. Eu só reagi a ele – digo,
inocente.
– O tora não tem forças para resistir a você. Sendo assim, você, a madura
da relação, precisa colocá-lo no lugar dele.
– Tudo que eu mais queria era colocá-lo no lugar dele, mas o parquinho está
fechado para manutenção, sinto muito. – Ele ri.
– Muita dor?
– Nada que me impossibilitou de dormir, mas sim, está bem incômodo.
Acho que eu até tomaria aquele seu remédio agora.
– Teimosa! Por que não tomou ontem?
– Porque você não me deixaria beber depois. E aquilo me ajudou a relaxar
bastante também.
– Então vamos para o café e você toma o remédio.
– Ok – digo impulsionando o corpo para levantar, mas ele me puxa de volta.
– Não tão rápido, mocinha. – Me beija gostoso e então me libera.
Levantamos e me dou conta de que todas as minhas coisas estão no meu
quarto, roupas, escova de dentes, tudo. Procuro a minha calcinha, acho-a
jogada ao lado da cama e pego a camiseta de Oliver para pôr por cima. Fica
quase um vestido, então está ótimo para ir até o outro quarto. Oliver levanta e
caminha nu em direção ao banheiro, exibindo toda a sua enorme benção no
mais divino estado de glória e eu me arrependo de não ter me aproveitado um
pouquinho mais.
O parque principal pode estar fechado, mas a gente poderia ter brincado na
pracinha perto de casa, não poderia?
Me viro para sair do quarto antes que comece a ter ideias.
– Onde você vai? – pergunta antes de entrar no banheiro.
– Para o meu quarto, minhas coisas estão lá. – Ele só mexe a cabeça em
concordância e eu prossigo.
Faço minha higiene, coloco um vestidinho branco com estampa floral,
penteio os cabelos e vou em direção à bancada onde costumamos tomar o café
da manhã. Oliver já está lá, sentado preparando seu café ao lado de Laura. Que
vergonha! Ela certamente imagina tudo que fizemos durante à noite.
– Bom dia, Laura. – Engulo a vergonha e cumprimento. Oliver não perde
tempo, me puxa e me beija, me fazendo corar ainda mais na frente dela.
– Você está linda – elogia e me solta para que me sente.
Faço isso e o desconforto lá embaixo ao encostar na cadeira provoca uma
careta em reflexo, o que não passa despercebido a um certo rockstar, que me
lança um sorrisinho de satisfação.
– Bom dia, querida. – Laura devolve o cumprimento e se levanta. – Agora
que têm a companhia um do outro, vou deixá-los. Tenho algumas coisas para
fazer na ONG e o motorista me espera. – Laura se levanta, beija a cabeça dele,
depois a minha e sai.
Não muito tempo depois, o telefone dele toca. Oliver deixa o aparelho na
bancada e atende no viva voz.
– Oi Max, você acordado a essa hora? Maneira o linguajar, está no viva
voz.
– Quem está aí ao seu lado para que eu tenha que ser tão cuidadoso?
– Bia.
– Bia, bom dia!
– Oi Max.
– Oliver, o passeio de vocês ontem deu merda, vamos nos reunir aqui em
casa em meia hora. Riley convocou a reunião. – Fico tensa ao ouvir aquele
nome.
– Que tipo de merda?
– Parece que vazaram fotos de vocês, mas não foi pouca coisa. – Oliver
respira fundo.
– Ok, daqui a pouco chego aí – responde e desliga.
Baixo a cabeça me concentrando no meu prato, tentando organizar os
sentimentos dentro de mim.
Não posso causar problemas no primeiro instante que preciso demonstrar
que confio nele. Que acredito no que ele me prometeu.
Mas não é fácil.
Ele avisou que não seria...
Puxo o ar para ver se, por um milagre, ele varre o ciúme de dentro de mim.
Mas não varre.
Caramba, eles se relacionam desde a adolescência. Ela é linda, gostosa e
pelo visto nunca teve problemas em acomodar o tora.
Será que ele também foi o primeiro dela?
Na certa o parquinho dela nunca ficou inutilizável...
Arrrggg!
Quieta, mente traiçoeira!
– Algum problema com a panqueca, Beatriz?
– Hã?
– A panqueca? Você está estraçalhando-a. Algum problema? – pergunta
Oliver.
– Não, nada não.
– Se não gostou deixe aí e pegue um prato limpo.
– Não, está ótima! – digo e Oliver larga os talheres.
– Fale. O que foi? É por causa das fotos? Vamos resolver...
– Está tudo bem. – Coloco um pedaço de panqueca na boca, para dar
credibilidade a minha afirmação. – Ele se levanta, vai à cozinha, pega alguma
coisa e volta.
– Tome. – A água e o comprimido. Tomo logo o remédio. Então me lembro
de outra coisa importantíssima.
– Oliver, a pílula...
– Já pedi para comprarem, daqui a pouco devem voltar. Por isso que você
ficou desse jeito? Ou está com muita dor? – suspiro. Melhor falar de uma vez.
– Não. Eu fiquei incomodada por saber que você vai se encontrar com
Riley daqui a pouco. – Ele me olha sério por uns instantes e depois fecha os
olhos.
– Bia, ela é minha adv...
– Eu sei – digo, tapando os lábios dele. – Eu sei, me desculpe, eu só... é
bobagem. Posso só te fazer uma pergunta? – Fala o meu lado masoquista.
– Você pode me perguntar tudo que você quiser.
– Você foi o primeiro dela também? – Ele fecha os olhos pela segunda vez.
– Anjo...
– Acho que já tenho a minha resposta.
– Ah pequena, foram situações completamente diferentes... eu tinha quinze
anos.
– Ela foi sua primeira?
– Não. – Arregalo os olhos.
– Com quantos anos?
– Treze. – Caraca!
– Ela deve gostar muito de você, para permanecer na sua vida esse tempo
todo. E você dela.
– Eu já conversei com você sobre isso. Tenho muito carinho por ela como a
grande amiga que sempre foi. Respeito-a pela profissional que ela é. Quanto
ao nosso envolvimento sexual, sempre foi só isso, sexo e amizade. E sempre
deixei muito claro para ela.
– Por quê?
– Por quê, o que?
– Por que você nunca deu uma chance a ela, a vocês?
– Não sei. Eu nunca quis. Nunca senti nada além de tesão momentâneo.
Porque eu havia prometido a... – Ele para.
– Continue.
– A mim mesmo que jamais me envolveria dessa forma com ninguém.
– Por quê?
– É coisa minha, não importa. E como eu já disse, você destruiu todas as
minhas convicções, então por favor, deixe para lá.
– Tudo bem – concordo, pouco convencida de que seja apenas isto.
– Vamos?
– Onde? Você não vai no Max?
– Vou. E você vai comigo. – Olho para ele e entendo o que está querendo
fazer.
– Não precisa, Oliver, de verdade. Eu confio em você.
– Precisa. Vamos lá e acabamos com isso de uma vez.
– É reunião de trabalho. O que eu vou fazer lá?
– Você também está naquelas fotos, Beatriz. Nada mais justo que participe.
Venha.
– Sr. Rain, com licença. – Olho para quem se aproxima e reconheço o
motorista que me trouxe até ali da primeira vez.
– Ah, oi Barry, conseguiu?
– Sim, aqui está. – Entrega uma sacola a Oliver.
– Obrigado.
– Não por isso. Até mais, Sr. Rain, Srta. Thompson.
– Até mais, Barry. – Oliver serve mais um pouco de água no copo. Abre o
embrulho que Barry lhe entregou, tira algo de dentro e me entrega.
– Se Barry foi comprar isso... sabe que... aff, nunca mais ando de carro com
ele. – Oliver ri.
– Eu não falei que era para você, mas se tem tantas fotos nossas circulando
por aí, bom, então talvez ele até imagine que seja. – Olho torto para ele
enquanto tomo o contraceptivo.
Assim que largo o copo na bancada, Oliver me envolve pela cintura, me
levanta, colocando-me sentada na banqueta e me beija com carinho. Enquanto
vai aprofundando o beijo cada vez mais, força minhas pernas a se abrirem para
ocupar o espaço entre elas. Uma mão sua continua em minhas costas, me
prendendo contra ele e a outra está na minha nuca. Puxa meus cabelos para
trás, deixando o meu pescoço a sua mercê. E se delícia ali, me arrancando
arrepios.
O tora já está me saudando com sua presença imponente, deixando-me
sentir sua potência e o seu calor através da roupa. Levo uma de minhas mãos,
que estava estrategicamente apalpando sua bunda, até o seu membro e acaricio
de leve por cima da bermuda.
– Bia... – Ele ofega. – Não faz anjo, precisamos ir e se você continuar, eu
vou mandar o Max, a Riley e as fotos se foderem.
– Já parei, mas você não pode me provocar desse jeito e esperar que eu não
me anime.
– Longe de mim, gostosa, longe de mim... – fala baixinho no meu ouvido.
– Certo. Então vamos logo, bonitão. Descobrir de uma vez o nível da
merda. – Dou dois tapinhas na sua bochecha e me levanto.
Andamos pela praia em direção à casa de Max, os pés na água, ora
abraçados, ora de mãos dadas, rindo e trocando carinhos.
Uma normalidade feliz e despreocupada, apesar do iminente incidente com
as fotos. Para uma garota como eu, que sempre teve o tempero amargo da
preocupação presente em sua vida, é tão bom que dá medo.
Ao entrarmos na casa, os olhares se voltam imediatamente para nós e
nossas mãos unidas. Já estão todos reunidos ali. Lian sorri, Max se mantém
neutro, assim como Riley. Kellan fecha a cara e desvia o olhar.
– Chegou o casal do momento. – Lian é o primeiro a quebrar o silêncio.
– Bom dia a todos – diz Oliver em tom formal e aponta para que eu me
acomode no sofá, sentando-se ao meu lado. Ficamos ele, eu no meio e Riley na
outra ponta. Max e Lian ocupam poltronas à nossa frente e Kellan uma cadeira
na lateral, perto de Riley.
– Estamos esperando mais alguém? Caso contrário, pode começar – sugere
Max.
– Ótimo – diz Riley. E começa a jogar algumas fotos na mesa de centro à
nossa frente.
– Um beijo quente na praça abaixo do letreiro de Hollywood. Outro beijo,
só que não bem na boca, no mesmo ponto geográfico. – Enrubesço na hora. Na
foto Oliver tem numa mão na base do meu seio e chupa o bico através da blusa.
– Uma foto em grupo. Outra foto de um belo amasso, agora no meio de uma
cidade cenográfica, e nessa o foco no rosto do vocalista da The Order é tão
perfeito que não deixa margem de dúvidas. – Naquela eu estou beijando o
pescoço de Oliver.
– Mais uma em grupo, no cenário do Central Perk. Uma das duas meninas.
Uma do outro casal. E por fim, uma bem de frente, tendo o casal principal
abraçado com sorrisos no rosto. – A mulher fala em deboche. – Onde você
estava com a cabeça Oliver, para remover a barba em todas estas situações? –
Não gosto nada do tom que ela usa para falar com ele.
– Achei que estávamos seguros no estúdio, o passeio foi fechado para nós.
– Ela dá um risinho de incredulidade.
– E no letreiro, também achou seguro?
– Não, ali foi só por um instante e jamais imaginei que daria tempo para
qualquer um me notar, quanto mais tirar fotos.
– Oliver, você está se fazendo de ingênuo ou o quê? Estava andando por
Los Angeles, caramba. A cidade que ferve a celebridades, pessoas querendo
topar com celebridades, pessoas querendo pescar qualquer lance de uma
celebridade para fazer dinheiro. Sem mencionar o mar de paparazzis à
espreita. Céus! E conseguir isso justo com um astro enigmático como você é
grana certa! Não vão sossegar até achar a tal garota e com isso tentar chegar de
alguma forma até você. Pensei que você fosse mais esperto do que isso,
francamente! – Eu aperto a mão de Oliver, se ela continuar nessa pegada, não
sei se me seguro sem abrir a boca.
– Riley, controle-se – avisa Lian. Ela respira fundo.
– Essa merda foi pega pela minha equipe de monitoramento logo cedo. E
sabe em quantas plataformas conceituadas diferentes já estavam só nos Estados
Unidos? Cento e quarenta e sete. Se contarmos as estrangeiras e as
sensacionalistas então... E vêm acompanhadas das mais diversas manchetes. –
Ela começa a colocar prints de manchetes de sites na mesa agora.
"Oliver Rain em romance por Los Angeles". "Quem será a diva de
caracóis que fisgou o Deus do Rock?”. "Garota desconhecida é vista em Los
Angeles com o inacessível Oliver Rain, vocalista da The Order". "Oliver
Rain em passeio com amigos e...? Namorada?”. "Tarde quente para Oliver
Rain e garota misteriosa”. "Amasso em público com Deus do Rock causa
inveja às fãs". "Oliver Rain em cenas censuradas”.
– São só uma amostragem. Já está pelo mundo todo. Mas as piores são as
deste tipo: "Oliver Rain é visto com garotas e herdeiro da rede de
restaurantes Edelweiss". "Quem serão as garotas vistas com o vocalista da
The Order e o dono de uma franquia de restaurantes da culinária alemã?".
– Estas lhes dão um contato e expõe Hazel. Uma hora e meia depois de
descobrirmos as manchetes, Johnathan me liga dizendo que o tal rapaz, Eric
Ehrenberg, teve que expulsar pessoas, tanto da imprensa formal, como da
informal, na porta de várias das suas lojas, fora os muitos telefonemas. – Ela
respira fundo.
– E já tem alguém orientando o mané a não se manifestar em hipótese
alguma? – Max pergunta.
– Tem sim, não se preocupe quanto a isso, ele inclusive está ajudando
bastante. Mas o fato aqui é o seguinte, não há como limpar isso. Já está
pulverizado demais. Cada um que a gente tira, entram três novos. Vamos focar
nos que inventarem mentiras em cima das imagens, porque logo, logo vão
começar a aparecer várias mulheres de cabelos cacheados se dizendo a tal da
foto. E também cuidar dos que se aproximarem de alguma forma da identidade
real de Hazel ou Beatriz.
– Você acha que corremos o risco de chegarem a este lugar? A nossa
família? – pergunta Max.
– Sinceramente? Sim.
– Por quê? – pergunta Oliver.
– Porque isso que está acontecendo agora é o que sempre cuidamos para
que não ocorresse. Quando a coisa toma esse tipo de proporção, as pessoas
que porventura tenham alguma mágoa ou inveja em relação a vocês e que
conhecem isso aqui, – ela faz gestos apontando o entorno – começam a falar e
aquele termo de confidencialidade não nos garante mais nada, porque não há
como provar a origem do boato. Não há como acusar este ou aquele como
responsável. São muitas fontes.
– Precisamos garantir que nada chegue até aqui, Riley – pede Lian,
aparentemente preocupado.
– Vamos tentar, claro, mas não sei se consigo. Precisava avisar sobre a
situação.
– Não há nada que possamos fazer para mitigar e talvez evitar que cheguem
perto de descobrir o nosso refúgio? – pergunta Oliver. Ela baixa a cabeça e
passa a mão pelas têmporas, como se estivesse com dor.
– Há Oliver, mas pela forma como você vem se comportando ultimamente,
tenho certeza de que não vai concordar.
– O que seria?
– Assim como nas outras vezes que seus casos foram expostos, Max pode
dar uma declaração oficial negando e a mulher em questão também. Então o
assunto morre.
– Oliver, tudo bem, eu faço is... – começo a dizer, mas ele não me deixa
terminar.
– Não.
– Não disse. – Riley dá um novo risinho debochado.
– Por que não? Se é a forma de acabar com as especulações. De manter o
lar de vocês seguro – tento de novo.
– Não Beatriz, está fora de cogitação. Não vou jogar você aos lobos. Não
pense que se contentarão com uma simples negativa sua. Ficariam à espreita,
monitorando seu dia a dia a distância, e você teria que ficar longe daqui por
um tempo, para dar veracidade, pois vão tentar te investigar. Teríamos que nos
esconder. Nem pensar.
– Então é isso, faremos o possível e esperemos pelo melhor. Não há como
desviar a atenção de um burburinho desses, sem que os envolvidos venham a
público ou sem dar um outro para pôr no lugar.
– E se Max der uma declaração confirmando o envolvimento dele com
Beatriz? Isso não tiraria o foco de Eric e Hazel e de outras possíveis
especulações? – pergunta Lian.
– Hã? Oliver jamais vai ac... – começa Riley, mas Oliver a interrompe.
– Funcionaria, Riley? Teríamos como evitar especulações e garantir a
segurança de Beatriz e Hazel se confirmássemos o nosso namoro para o mundo
todo? – Ela arregala os olhos.
– Você está brincando, não é? Namoro?
– Sim, namoro. – Ela ri e eu tenho vontade de levantar e chamá-la para um
papo de mulher para mulher. Posso ser menor e mais jovem, mas não tenho
medo de cara feia. – Responda, Riley. Eu estou com Beatriz e você está aqui,
única e exclusivamente, como profissional. Não se esqueça disso. – Oliver lhe
dá uma chamada. Ela abandona o modo ex e retorna ao modo advogada.
– Funcionaria, mas teríamos que lhes dar alguma coisa. Beatriz teria que
dar uma pequena entrevista, contar algo sobre si mesma e a relação de vocês.
Só Max dizer que você namora uma menina, – ela se demora na palavra – não
bastaria, as especulações continuariam ou até piorariam. Mas se matarmos a
curiosidade, em parte, sim, acredito que adormecemos o assunto sem maiores
danos.
– Vamos confirmar, mas não quero expô-la.
– Oliver – seguro o rosto dele entre minhas mãos – eu posso fazer isso. Não
tem muita coisa em minha vida para investigarem de qualquer forma. Se eu
falar o meu nome e contar que nos conhecemos através, sei lá, de meu falecido
pai que era seu amigo ou seu contador, a coisa para. Meu pai era efetivamente
um contador e não está mais aí para irem atrás dele.
– Ela está certa, Oliver. É a melhor opção – concorda Lian.
– Não sei... – reluta. Kellan que me desculpe, mas eu preciso fazer isso na
frente de uma certa advogada dona de si. Puxo o rosto de Oliver para mim e o
beijo.
– Por favor, deixe-me ajudar a resolver a bagunça – digo quando paro de
beijá-lo e lhe lanço o meu melhor olhar "gato de botas". É infalível! Papai
nunca resistiu.
– Porra! – reage Lian. – Você tá muito fodido Oliver, muito fodido... –
Oliver me abre o seu sorriso lindo de derreter corações.
– E eu não sei? – responde a Lian, mas olhando para mim. – Já nem tento
mais fugir do meu destino.
– Foi um sim? – pergunto.
– Sim Beatriz, foi mais um sim. Parece que é só isso que eu consigo lhe
dizer, afinal. Espero que este não me traga arrependimentos. – Ergue as
sobrancelhas e no mesmo instante um barulho forte de cadeira sendo arrastada
é ouvido.
Olho na direção do som e vejo Kellan saindo da sala. Nitidamente
incomodado. Me sinto péssima com aquilo. Até me arrependo da minha
marcação de território na frente da advogada.
– Só uma condição – continua Oliver, ignorando o rompante de Kellan e
olhando para uma Riley desconcertada. – A declaração de Beatriz será junto
com Max. Assim, se algo sair do planejado, Max consegue encerrar o assunto e
ajudá-la.
– Concordo. Melhor que seja assim. – Apoia Max.
– Tudo bem – fala a advogada. – Vou soltar a notícia de que uma declaração
oficial será dada e providenciar tudo. Deve acontecer hoje à tarde, o quanto
antes melhor, menos danos. Aviso o local e horário para vocês daqui a pouco.
E passarei o script do que deverá ser falado com você, Beatriz – diz me
olhando nos olhos.
– Certo. – Sustento seu olhar.
– Vou indo, tenho muito a preparar. Desculpem retirá-los do descanso. Até
mais.
– Obrigado, Riley. – Max agradece antes que ela atinja a porta.
– Oliver, eu vou conversar um instante com Kellan – falo, mas ele não
permite que eu me levante.
– Não, quem vai sou eu.
– Oliver...
– Não sei se é uma boa – ajuda Lian.
– É sim, tenho que acabar com isso.
– Ele está sofrendo cara, não vai se resolver assim.
– Uma coisa é sofrer e isso eu entendo, outra coisa é fazer pirraça ou medir
forças. Então me deixe logo resolver as coisas com ele, para ver se isso para.
– Lembre–se de que ele é só um garoto. – Max adverte.
– Não se preocupem, meu objetivo é acertar as coisas e não as piorar.
Fiquem tranquilos, será um papo de homem para homem.
Deixo Oliver ir atrás de Kellan e fico ali na sala com Max e Lian. Meu fone
vibra com uma mensagem de Hazel.
Ok
Oliver
Oliver
Aquilo me desestabiliza.
O que ela escreveu me pega totalmente de surpresa.
Exatamente a mesma disposição de palavras que ouvi há muitos anos, num
portão.
Não estava preparado para aquilo.
Não pelo sentimento envolvido, por mais que eu não queira nomear ainda,
sei que sinto. Mas pela descarga emocional nociva que aquela combinação
exata de sílabas causa dentro de mim, ativando minhas piores e mais dolorosas
lembranças.
Este era o meu maior medo desde o início. E para o meu desespero, parece
que a nossa derrocada chegará rápido demais.
Vejo a proximidade da crise querendo se instalar.
Se eu não fizer algo rápido vou cair, sei que vou.
– Oliver, você está bem? – Lian percebe que algo está errado, consigo
soltar um fraco murmúrio, mas já não consigo focar em nada.
– Não... – Rapidamente Lian me ajuda a levantar e me leva para o meu
banheiro. Abre o chuveiro e me enfia debaixo do banho frio de roupa e tudo.
Os tremores começam, mas não é em função da temperatura da água. Me
sinto indo, afundando num lugar obscuro dentro de mim, onde não há dor, nem
medo, nem fome, nem sede, não há calor, nem frio.
Lá, nada mais importa.
Lian sai e retorna minutos depois com um comprimido, coloca em minha
boca, não protesto, engulo em reflexo.
Ele então entra debaixo do chuveiro comigo, segura o meu rosto e começa a
falar o mantra que meu terapeuta repetiu durante anos. Sua voz está longe...
– Aquilo acabou. Você não está mais lá, sozinho. Está com sua avó.
Ninguém vai embora. Se você ouviu algo igual, se uma lembrança voltou, não é
a mesma coisa. É outra situação. Você é um homem agora, não um menino.
Aquilo acabou. Não é a mesma coisa. – Ele fica repetindo coisas daquele tipo
e aos poucos sua voz vai ficando mais próxima, eu sinto meus pensamentos
voltarem ao eixo, meu corpo voltando a ser sentido, a água fria me dando o
choque de realidade.
Tomo ciência de mim.
De mim hoje, e não do que já fui, de onde já estive.
E então vem o choro.
A catarse momentânea.
Lian respira aliviado, pois ele sabe que aquele é o sinal de que eu não
afundei de vez, estou de volta. Me sento no chão do box e fico ali, deixando o
choro levar tudo de ruim embora. Lian sai, se seca e depois vai para o meu
quarto, provavelmente para pegar alguma roupa emprestada.
Quando me vejo em condições de sair, faço o mesmo. Ele está me
esperando sentado na beirada da cama, com uma xícara de café nas mãos.
– Sinto muito ter feito você passar por isso, de novo. Fazia tantos anos... –
digo enquanto me sento próximo e ele me entrega o café.
– Pare com isso. Você já fez e faria muito mais por mim, por Max ou
qualquer outro aqui. Fico feliz por estar perto para agir rápido. Mas o que
desencadeou? Algo da entrevista?
– Não. Uma mensagem que Bia me mandou depois. Ela escreveu a mesma
coisa que...
– Tudo bem, não precisa explicar.
– Esse era o meu maior medo ao me arriscar, Lian. Será que nunca poderei
tentar viver algo bom sem ter esse fantasma para me atormentar?
– Calma. Não se desespere e nem meta os pés pelas mãos. A gente reverteu,
está tudo bem.
– Mas aconteceu...
– Oliver, você está vivendo algo novo, pode acontecer mais vezes. Henry
sempre foi categórico em dizer que novas situações podem trazer os gatilhos,
mas também sempre disse que você precisa se arriscar e passar por isso. Se
esconder só adia a cura. Não desista. Não de algo que há poucos minutos você
me descreveu como sendo o paraíso. Lute!
– Não vou desistir, mas me preocupa se isso acontecer e...
– Você precisa voltar a fazer terapia. E o mais importante, tem que contar
para ela. Ela tem que saber como te ajudar, como lidar com isso caso aconteça
e estejam só vocês dois.
– Não.
– Oliver...
– Vou voltar à terapia. Mas não vou contar por enquanto. E por favor, não
preocupe vovó, não diga nada a ela sobre isso.
– Tudo bem, mas me prometa que vai voltar o quanto antes.
– Prometo. – Puxo Lian para um abraço. – Obrigado.
– Você sempre poderá contar comigo, sempre. Agora durma um pouco. O
calmante que te dei deve ajudar. Daqui a uma hora e meia, no máximo, Bia
deve estar de volta. – Assinto e Lian me deixa sozinho no quarto.
Me jogo na cama e em poucos minutos caio no sono, esgotado.
Bia
– O que aconteceu para você estar dormindo àquela hora? Achei que
estivesse no Lian – pergunto enquanto caminhamos pela praia. Jantamos no
deck, a noite está linda e resolvemos andar até a marina.
– Uma certa garota aí anda acabando comigo. Precisei repor as energias.
– Vai manchar a sua reputação, rockstar.
– Ah não se preocupe, bebê, posso defender minha honra, de novo, agora
mesmo se você quiser...
– Não há necessidade, baby, acredito em você. – Faço uma careta e ele ri. –
Ainda sinto bem os efeitos da sua última defesa aqui embaixo.
– Fico feliz em ouvir isso. Em saber que ela lembra de mim o tempo todo. –
Vou dar uma resposta a sua provocação, mas o telefone dele toca e Oliver
atende, colocando no viva voz.
– Oi Alicia. Você está no viva voz, Bia está comigo.
– Boa noite, Oliver, Bia.
– Boa noite, Alicia.
– Aconteceu alguma coisa? – pergunta Oliver.
– Sim, mas já acionei a equipe de rastreamento de Riley e logo deve se
resolver. O que houve Oliver, é que algumas horas após a entrevista de Max e
Bia, divulgaram fotos, supostamente suas, com uma loira, num quarto de hotel.
– Aquilo me arrepia. Oliver me abraça apertado. Estamos quase chegando ao
trapiche.
– Ainda não sabemos se é um sósia ou se trata-se de uma imagem antiga,
mas como eu disse, logo Riley deve resolver a questão. Só que isso, aliado à
revelação do seu relacionamento com Beatriz, fez o número de acessos às
páginas da The Order nas redes sociais e canais explodirem. Minha equipe
está maluca tentando conter os ânimos. São milhões de pedidos por uma
confirmação sua, ou para que você desminta, fãs desesperadas dizendo que não
acreditam que você está comprometido, outros felizes com a suposta traição.
Enfim, uma verdadeira confusão. Então eu vou soltar uma nota desmentindo as
fotos falsas e reafirmando o que Max e Bia falaram hoje. Só queria te avisar,
caso isso chegasse aos olhos e ouvidos de Bia, para estarem preparados. –
Oliver não diz nada, parece pensar por alguns minutos.
– Tudo bem se for assim, Oliver? Posso soltar a nota em seu nome?
– Não. Eu tenho uma ideia melhor, Alicia. Deixe comigo.
– O que você vai aprontar?
– Não querem uma confirmação minha? Vou dar o que querem, só isso.
– Mas você... céus, já vou preparar a equipe para a bomba então.
– Faça isso. E obrigada por avisar. Até mais.
– Até. – Desliga.
– Suba. – Me estende a mão como apoio. Ele está claramente chateado com
a notícia que Alicia trouxe.
– Não fique assim, eu sei que é falso, que é uma mentira.
– Você sabe porque está aqui comigo e eu não saí de casa o dia inteiro. Mas
quando eu estiver em turnê e uma merda dessas aparecer? Como você vai se
sentir?
– Já falamos sobre isso e já fizemos promessas um ao outro. Prometi
confiar e acreditar em você e você me prometeu que me conta antes caso
pensar em fazer algo assim. Para mim o assunto está encerrado.
– Eu vi como você ficou em relação a Riley.
– Ali é diferente. Vocês têm uma história, Oliver. Uma longa história. Ela
faz parte da sua vida há anos. Não é alguém de quem mal lembraria o nome no
dia seguinte. Você tem inúmeras lembranças com ela e ela é importante para
você. Claro que mexe comigo bem mais do que um simples boato.
– Ela não é importante para mim desse jeito. Já te garanti mais de uma vez.
– Mas você é para ela.
– Não sou, não.
– É, é sim. Eu vi nos olhos dela.
– Olha só, acho que está enganada, mas de qualquer forma, vamos esquecer
essa merda, pode ser? Eu estou aqui, com você. O que ela quer, o que ela
pensa, não importa. Foda-se.
– Tudo bem, me desculpe. – Ele assente.
– Agora vem aqui. – Me puxa para sentarmos no mesmo local e da mesma
forma que fizemos da outra vez em que estivemos naquele trapiche. Ele
encostado na madeira do pilar e eu com as costas grudadas em seu tronco.
Afasta o meu cabelo do ombro e beija ali, como fez naquela noite. Fecho meus
olhos.
– Abra os olhos, anjo – pede. Ele está com a câmera do celular apontada
para nós. Abaixa a cabeça, encosta seu rosto no meu, e clica. A foto fica linda,
ao fundo só o mar e as luzes do trapiche e do luar refletidas na água.
– Tire outra – peço, ele posiciona o braço novamente e antes que clique,
viro o rosto e faço de conta que estou mordendo o seu queixo, mas mantenho os
olhos vidrados na câmera. Ele abre um baita sorriso. Lindo. Seu sorrio ilumina
ainda mais a fotografia. – Mais uma – peço, agora eu me coloco dando-lhe um
beijo na bochecha, os olhos fechados virados para o seu rosto.
– Outra – diz ele e vira meu rosto para si, fotografando-nos um olhando nos
olhos do outro, olhos felinos imersos em olhos profundos. – Agora a última. –
Essa é de nós nos beijando.
O beijo continua e vai ganhando ares menos inocentes, ele já largou o
telefone no chão do trapiche, eu já me virei em seu colo, de frente para ele, e
em minutos estou alucinada, me esfregando no tora, da mesma forma que fiz lá
na boate.
Não é possível que eu já queira isso de novo, é?
Está quente pra caramba.
Cadê a brisa refrescante do litoral?
Suas mãos estão na minha bunda ajudando na fricção. Sorte eu ter trocado
aquele short por um vestido depois do meu segundo banho da noite. Passo a
mão pelo seu peito e abdômen por dentro da camisa.
Nossa, ele é uma rocha, duro em todos os lugares.
Vou descendo minha mão e chego no elástico da sua calça de moletom.
Aquelas que ele adora usar sem cueca e que o deixa gostoso além da conta.
Meto as mãos por dentro, passo meus dedos nos pelos, depois no objeto do
meu desejo e sinto-o molhado, a baba saindo pela ponta.
– Melhor parar... – declara, embora não haja convicção alguma, pois seus
dedos estão invadindo a minha calcinha e instantes depois um deles entra na
minha vagina.
– Ahhh – gemo pela delícia daquela invasão.
– Nossa, tão molhadinha, baby, tão pronta para mim outra vez. – Tira e bota
aquele dedo em mim e esfrega o nariz atrás da minha orelha.
A necessidade de tê-lo dentro aumenta.
– Oliver, vai ser sempre assim?
– Assim como, anjo?
– Eu já quero você... de novo... – Ele ri.
– Sinal de que estou cumprindo bem o meu papel.
– Você está me viciando em você.
– Eu também te quero o tempo todo, meu bem. Fico louco com o seu cheiro,
com o seu contato, os seus beijos...
– Então, dentro de mim, rockstar, por favor.
– Minha menina insaciável quer que eu a foda gostoso aqui no trapiche, ao
ar livre? – sussurra aquelas últimas palavras no meu ouvido, o ar que escapada
da sua boca me arrepia ainda mais.
– Sim, eu quero... quero isso desde aquele dia...
– Ah eu também bebê, eu também... mas não tenho camisinha aqui e você
está dolorida...
– Mas hoje continua sendo o dia da pílula, então... e de que dor você está
falando mesmo? – Ele gargalha enquanto me ergue um pouco do seu colo, tira o
pau completamente para fora da calça, puxa minha calcinha para o lado e me
posiciona sobre aquela coisa grossa e enorme.
Ainda não sei como entra, juro que não!
– Vai descendo devagar para não machucar – instrui.
Começo a baixar em direção a ele, sinto a cabeça do pau pressionar a
minha entrada, depois me esticar ao máximo quando passa e todo o seu volume
me abrindo, me alargando por dentro, me preenchendo completamente, até que
vem aquela dor lá em cima, como se tocasse o útero e encosto minha virilha na
sua, ele está inteiro em mim.
Essa posição vai muito fundo.
– Humm anjo, que delícia. Tão apertada, me espremendo... – Toma minha
boca na sua.
Passo meus braços ao redor do seu pescoço e o instinto me obriga a
começar a me mexer, subir e descer, devagar, ao redor dele. É bom demais,
delicioso demais.
Será que algum dia vou me saciar disso?
Impossível. Beijo seu pescoço, inspiro seu cheiro e continuo...
Ahhhh! Oliver, menta, maresia e sexo... extasiante!
Ele segura na minha bunda e vai acelerando aos poucos os movimentos, ao
mesmo tempo que dá um impulso com a virilha roçando meu clitóris toda vez
que eu desço.
Aquela sensação poderosa que já se tornou tão íntima minha começa a ser
intensificada. Continuamos assim, no sobe e desce por vários e vários minutos,
cada vez acelerando um pouquinho mais, enquanto nos devoramos também com
nossas bocas.
Seu olhar está muito... apaixonado...
Quando percebe que o meu sobe e desce se torna mais agitado, me ergue,
me coloca de joelhos no deck do trapiche, se coloca na mesma posição e me
vira de costas para ele. Me puxa de novo em direção a sua virilha, colando
nossos dorsos e reinicio a minha cavalgada agora com as costas roçando seu
tórax e uma mão sua me estimulando pela frente enquanto a outra me mantém
grudada em si.
Ali, com o contato do seu corpo junto ao meu, envolvida por seus braços e
seu calor, sentindo sua respiração e seus gemidos no meu ouvido, e sendo
preenchida por ele, me percebo envolta em uma enorme onda de amor.
Eu sinto e sei que ele também.
Acelero e estou perto, muito, muito perto... o suor me lava por baixo do
vestido. Os tremores começam, ele leva uma mão a minha garganta, me
segurando por ali, enquanto a outra continua no meu sexo. E passa a meter para
valer, forte, fundo e rápido. De novo e de novo, até não suportarmos mais e
uivarmos alto como lobos na noite.
Ele mete umas últimas vezes e para, se apoiando novamente no pilar e me
puxando junto.
– Porra! Gostosa pra caralho! – Morde minha orelha. – Deliciosa. – Outra
mordida. – Minha.
– Incontestavelmente sua – confirmo quase sem forças.
Ele tira o pau de dentro de mim e me sinto vazia na hora. Arruma minha
calcinha no lugar e guarda o meu passaporte para o paraíso dentro da calça. Se
senta novamente e voltamos a nossa posição inicial. Eu deitada em seu peito.
– Satisfeita?
– Por hora...
– Preciso começar a incluir energéticos na minha dieta.
– Faça isso. Tenho muito o que explorar.
– Explore o quanto quiser, tesão! – Beija meu rosto. – Acho que você vai
precisar de mais um banho esta noite, bebê – provoca, depois pega seu
telefone.
– Por motivos como este vale a pena, tomo quantos forem necessários. –
Ele balança a cabeça, divertido.
– Realmente estou criando um monstro... – resmunga.
Como seus braços estão em torno de mim, visualizo tudo que está fazendo
no aparelho. Entra na página da The Order, numa das principais redes sociais,
inicia uma nova postagem, seleciona a primeira foto que tiramos, nós de rostos
colados, com o mar ao fundo e as luzes refletidas. Coloca a frase, “onde tudo
começou”, e envia. Em seguida seleciona a que estamos nos olhando, escreve
“minha garota” e publica também.
E está lá, registrado.
Postado por Oliver Rain.
– Você já postou alguma vez nas páginas oficiais da The Order? Eu não
lembro de ter visto. Já vi um ou outro post de Max e Lian, e alguns de Kellan,
que é o mais ativo nas redes, mas seu, nunca.
– Não, nunca postei nada. Eles sempre configuram os acessos quando troco
de aparelho, mas só entro para olhar quando a assessoria posta algum vídeo de
show, para analisar a qualidade e se a performance de palco e a música
realmente casaram como o planejado. Ou em caso de algum pronunciamento do
Max.
– Alguma vez já pensou em parar? Levar uma vida mais tranquila?
– Já, várias e várias vezes. Eu adoro compor, cantar, estar no palco,
realmente gosto, mas nunca gostei de todo o resto que acompanha o sucesso.
Essa parte sempre foi... difícil... Só que nós ainda estarmos nessa, vai muito
além agora, anjo. Não precisamos mais de dinheiro, há muito tempo. Temos
muito mais do que nossas famílias seriam capazes de gastar em gerações, caso
decidíssemos viver uma vida boa, confortável, mas sem gastos exorbitantes.
Só que não se trata mais de nós. Olhe a sua volta. Quantas famílias você acha
que sustentamos mantendo a The Order no topo? Centenas. Nossos projetos
sociais ajudam ainda mais pessoas. Crianças, mulheres em situação de
vulnerabilidade. Temos várias frentes de ações sociais Bia, vovó cuida de
algumas e Helen de outras.
– Além do prazer de tocar, há alguns anos nós trabalhamos para manter tudo
isso de pé, e não mais por lucro pessoal. Se pararmos, tudo isso vai começar a
morrer também. Então enquanto eu puder, vou continuar. Mas temos projetos
de, no futuro, abrir a Three Minds para agenciar e produzir novas bandas, e se
isso der certo, pode ser nosso passaporte para a aposentadoria sem colocar em
risco a renda de quem depende de nós. – O telefone dele toca outra vez. – Esta
merda não está dando folga hoje... – reclama.
– Fala Lian.
– Você tem noção do que fez?
– Como assim?
– Velho, o servidor já caiu duas vezes por causa do número de acessos e
comentários. A tia tá feito louca tentando manter tudo funcionando sem perder
a segurança. Seus posts já foram replicados em vários sites de notícia. #OliBia
está bombando nas redes. Biazinha é amada e odiada na mesma proporção.
Riley está puta por não ter sido avisada. Max tá com os ouvidos doendo por
ela ter despejado nele toda sua fúria.
– Caraca, faz o que, quinze minutos que eu postei e já causou tanto estrago?
– Oliver, o mundo está há treze anos esperando uma comunicação direta
sua, o que você achou que iria acontecer?
– Bom, está feito. Alicia e Riley terão que se virar.
– Está em casa?
– Bia e eu estamos no trapiche. Estávamos caminhando quando Alicia ligou.
– Nem vou perguntar o que andaram fazendo aí... venham até aqui.
– Pirou? Não vou deixar Beatriz ver as coisas que rolam aí.
– Está sossegado, só Tina e duas novatas e todos muito bem comportados.
Mantenho assim, fica tranquilo. Venham beber algo conosco e depois voltam
para o ninho de amor.
– Não sei se é uma boa Li...
– Nós vamos Lian, daqui a pouco chegamos aí – falo me atravessando e
Lian gargalha no outro lado.
– Muito bem Bela-Bia, mostre logo para o bonitão quem decide nesta
porra...
– Vai se foder. – Oliver o xinga e me olha atravessado. Eu uso a tática dos
olhos negros pidões e ele só balança a cabeça desistindo do confronto.
Sucesso!
Chegamos na casa de Lian e já estou achando que não foi uma boa ideia.
Durante nossa caminhada, os fluidos corporais que Oliver liberou foram parar
na calcinha, deixando-me desconfortável e preocupada que todos possam
sentir o cheiro de sexo ao se aproximarem de mim.
Mas agora é tarde, contornamos o deck e chegamos de mãos dadas numa
área de lazer lindamente decorada, com bar e piscina coberta. Só a casa de
Lian tem este espaço na parte de trás. Enquanto vamos nos aproximando, os
olhares se voltam para nós. Max e Lian estão recostados no bar, ao lado deles
duas mulheres, uma ruiva e uma loira. Puxo o braço de Oliver para que ele
pare.
– Oliver, aquela ruiva é a mesma... – pergunto em seu ouvido.
– Não é, fique tranquila. – Só assinto e continuamos a aproximação. Num
sofá em outra extremidade está Kellan conversando com outra loira. Ele me vê
chegando com Oliver, mas logo desvia o olhar.
– Olá casal – fala Lian.
– Oi Lian, Max, meninas... – Oliver cumprimenta. A ruiva não se abala com
a presença dele, mas a loira, só falta saltar os olhinhos...
– Bia, – Max me chama – deixa eu apresentar a você, esta é Tina – aponta
para a ruiva – e esta é Patrícia. – Indica a loira. Meninas está é Beatriz,
namorada de Oliver.
– Olá – digo e elas respondem o cumprimento.
– Eu vi a sua entrevista – conta Patrícia. Apenas concordo, não tenho muito
o que dizer. A ruiva se aproxima de Lian e se pendura no pescoço dele, que
não a afasta.
– Bia, o que você quer beber? – pergunta ele, enquanto serve uma dose de
whisky a Oliver. – Sei fazer vários coquetéis, pode pedir o que quiser. –
Oliver me puxa para mais perto, deixando-me recostada nele.
– Não conheço nenhum – digo. As duas abrem a boca abismadas.
– Você nunca bebeu uma Marguerita, um Cosmopolitan, um Blode Mary? –
pergunta Tina como se aquele fato fosse um crime contra a humanidade, ainda
pendurada em Lian.
– Não. Nem faço ideia de como são feitos. – Tina lança um olhar incrédulo
para Oliver, que não está nem aí para ela.
– Faça um Moonwalk Lian, acho que ela vai gostar. Leva espumante. –
Oliver sugere, dizendo a última frase no meu ouvido.
– Então você resolveu derrubar os servidores da empresa, cabeção? Porra,
custava ter deixado Riley a par antes? Eu que tive que ouvir as merdas.
– Nem lembrei de Riley, Max. Alicia me ligou dizendo que ia soltar uma
nota em meu nome e eu resolvi fazer a nota eu mesmo.
– Você resolveu fazer isso pela primeira vez em treze anos no mesmo dia
que anunciamos a bomba do seu namoro? Seu timing é incrível! – reclama Max
no mesmo instante em que Lian me entrega o drink e experimento. Uhmmm,
aquilo é bom!
– Gostou? – pergunta Tina.
– Sim, muito bom. – Lian abre um sorriso.
Oliver me beija no rosto e percebo a loira com os olhos fixos nele,
encantada. Suspiro.
Conheço bem o efeito, querida.
Mas tem dona!
Meu telefone vibra, tirando meus pensamentos da visão da loira babando no
meu homem. É uma mensagem de Hazel.
Bia, estão em casa? Acordados?
Estou dando uma volta com Eric pela praia,
estão afim de beber algo no deck?
Aff, e agora? O que eu faço? Será que peço para ela vir até ali com Max e
outras mulheres em torno dele?
– Tudo bem? – pergunta Oliver.
– Sim, é Hazel – digo e mostro a mensagem para ele. Ele ergue as
sobrancelhas.
– Algum problema com Hazel? – pergunta Max ao ouvir o nome dela. Olho
para ele sem saber se falo ou não que ela está na praia e acompanhada.
– Ela está na praia com Eric. – Oliver conta sem pestanejar. Max fica
vermelho e engole a saliva de forma forçada. – Quer se encontrar conosco,
acho que já vamos indo...
– Não, não precisam sair. Diga a ela para vir para cá, com o... com o cara.
– Max faz um tremendo esforço para falar aquela última parte.
– Max... – Oliver adverte.
– Não, está tudo bem. Eu preciso tentar seguir o conselho de Bia de dar
espaço, parar de vê-la como uma criança. Não é isso? Acho que esse é um
bom jeito de começar. – Eu e minha boca!
Como vou dizer a ele que não acho uma boa porque Hazel não aguentaria
vê-lo com outra? Ferrou. Não tem como.
O jeito é esperar que ela aguente firme e ele se comporte pelo tempo que
estivermos ali, pelo menos.
– Tudo bem, vou ligar para ela – digo e aperto para fazer a chamada.
– Oi Bia!
– Hazel, oi. Olha só, estamos na casa de Lian, venha para cá com Eric. Max
também está aqui. E duas garotas... – digo para prepará-la e dar opção de
declinar. – Estamos na área dos fundos.
– Ok. Logo chegamos aí. – Não declinou. O jeito é pôr nas mãos do
universo.
No que desligo e levanto os olhos, flagro a tal loira, Patrícia, fazendo caras
e bocas e olhando fixamente para Oliver. Tentando chamar a atenção dele para
ela.
Encaro-a e, quando ela percebe, me lança um sorrisinho amarelo, mas no
instante seguinte volta a tentar flertar com ele, sem nem disfarçar.
Ela definitivamente não me leva a sério.
Oliver larga uma risadinha em meu ouvido, achando graça do nosso
confronto silencioso. Resolvo que é hora de deixá-lo um pouco mais
barulhento.
– Desculpa, mas posso te ajudar? Perdeu alguma coisa? – pergunto e ouço
um leve tossir atrás de mim.
– Não, pelo contrário, achei algo bem interessante... – a descarada tem a
coragem de dizer na minha cara.
Sério?
Tudo bem que eu sei que passaria por situações assim, mas já?
E tão às claras?
Parece que terei que aprender, no susto, a defender o que é meu.
– Ok, Patrícia, vamos lá... – Oliver tenta vir ao meu socorro, mas impeço.
– Não baby, a parada é minha. Pode deixar.
– Sabe que neste ponto, Patrícia, preciso concordar com você. Nem faz
ideia do quanto é interessante... e posso te dizer o que é o mais fantástico de
tudo? – Ela cruza os braços e ergue as sobrancelhas.
Tina e os meninos acompanham interessadíssimos o nosso embate.
– Os orgasmos... – Max se engasga com a bebida. – Ah... se eu te contasse...
nem nos seus melhores sonhos você conseguiria que a sua imaginação chegasse
perto da realidade... – Oliver e Lian estão agora com as cabeças baixas sobre
o balcão tentando conter as gargalhadas. Tina acompanha nossa queda de
braços animada. Max está de olhos arregalados e da cor de um morango
maduro. – São simplesmente fenomenais... Homéricos! – ela me olha entre
desconfiada e confusa. – Opa! Não entendeu o que significa? Uma dica,
procure no dicionário. Porque é o mais próximo de entender que você vai
chegar. – Lian e Oliver explodem em gargalhadas.
Sem dar tempo para que ela se pronuncie, me viro para Oliver e puxo sua
boca para a minha, doando-lhe um baita beijo, com sabor de posse, champanhe
e whisky. Ele enlaça minha cintura e me puxa para mais perto, colaborando
com a minha marcação de território. Quando paro, estamos sem fôlego.
– Uau. Me lembre de nunca me meter com você, Bela-Bia, caramba... – Lian
brinca.
Me viro de frente para eles novamente e então sou eu que lanço um sorriso
enorme na direção da loira aguada que, agora está lá, com cara de poucos
amigos.
– Garota, te respeito... – fala Tina.
– Homéricos é? – Oliver sussurra em meu ouvido. – Bom saber... – Me dá
um beijinho atrás da orelha que me arrepia cada pelinho do corpo. – Deus
proteja quem cruzar o seu caminho...
– Se divertindo às custas do meu desespero, rockstar?
– Você sempre melhora a minha noite, pequena. E olha que ela já estava
acima do nível uns mil por cento.
– Bia, bela performance. – Ouço uma voz feminina mais ao longe.
Hazel está parada a uns metros de distância, de mãos dadas com Eric. Os
dois se aproximam devagar, cautelosos. Ela olha para Max, que por sua vez
olha em qualquer outra direção, menos na do casal recém chegado.
– Hazel! Eu estava com saudades. – Abraço-a. – Oi Eric.
– Eu também senti saudades – retribui. – É uma merda agora que preciso
disputar sua atenção com Oliver.
– Eu sempre terei preferência, Hazel – retruca o próprio, me apertando
ainda mais contra seu corpo.
– Eu não disse que era uma disputa justa, estrela. E aliás, mamãe tá P da
vida com você. – Ele apenas dá um sorriso de lado para ela.
– Deixa de choro Hazel, eu sempre terei tempo para você. – A abraço
novamente, me desvencilhando um pouco dele.
– Eric, bom te ver de novo, cara – fala Oliver estendendo a mão para ele. –
E desculpe os transtornos causados pela mídia. Espero que Riley tenha lhe
dado suporte e mitigado qualquer dano que teve em função do incidente.
– Sim, ela foi muito prestativa. Mas eu consegui manter tudo sob controle,
não se preocupe. Bom vê-los de novo também. É maravilhoso o local que
vocês têm aqui.
– Obrigado.
– Então Eric, nos encontramos novamente – cumprimenta-o Lian. – Mas me
diga, esse seu lance com a minha sobrinha é sério? – Hazel olha para Lian
claramente desgostosa do seu comentário.
– Da minha parte é seríssimo, mas você precisa perguntar qual é o lance
dela comigo. Tenho perguntado há dias e ainda não obtive uma resposta. –
Leva Hazel para perto de si e beija seu rosto. Lian e Oliver erguem as
sobrancelhas. Max continua na sua e a Patiranha cada vez mais próxima dele.
Hazel tenta disfarçar, mas seu olhar, vira e mexe, vai naquela direção.
– Para que rotular as coisas? Está ótimo do jeito que está – defende-se ela.
– Pois eu acho que o rapaz está certo – manifesta-se Max pela primeira vez.
– Eric, certo? – lhe estende a mão, que Eric aceita de imediato. – Acho que
começamos com o pé esquerdo aquele dia na boate, peço desculpas, me
excedi. Fico feliz em saber que você quer agir da forma correta com a nossa
menina. Somos todos muito protetores em relação a ela. – Max assumiu sua
postura cavalheiresca, mas quem o conhece um pouco melhor vê que está
fazendo um esforço enorme para levar a situação numa boa.
Ele ainda não conseguiu olhar nos olhos de Hazel.
– O que querem beber? – pergunta Lian.
– Acompanho no whisky – fala Eric.
– Eu também – diz Hazel.
– É forte demais para você. – Max não se segura e aposto que Hazel fez de
propósito.
– Olha, consegui fazer você me notar... Oi para você também, ruivo. E não
se preocupe, eu sei o gosto que tem o whisky.
– Você não vai beber whisky Hazel, só tem dezessete anos, caramba! –
Hazel fecha os olhos e respira fundo. Aperto a mão de Oliver sobre minha
barriga, pedindo que intervenha.
– Max, espaço, – lembra Oliver – e Hazel, uma dose. – Ela assente.
– Querido, pede uma marguerita para mim? – fala a Patiranha em voz
melosa e alisando o braço de Max.
O foco dela voltou para o ruivo. Os olhos de Hazel estão grudados lá. Ela
não vai suportar por muito tempo se Max der abertura para a loira.
– Lian está à sua frente Patrícia, tenho certeza de que ele a ouviu. – Ela
sorri em direção a Lian, mas não retira a mão do braço de Max.
E ele também não a afasta. Tina está sentada na banqueta no lado interno do
bar com cara de tédio. Kellan e a outra loira já sumiram dali há tempos.
– Bia, preciso ir ao banheiro, vem comigo? – Me pede Hazel, depois de dar
um belo gole no copo de whisky. Acho que ela bebeu quase metade da dose de
uma única vez, enquanto fuzilava a Patiranha.
– Claro, vamos lá. – Oliver me solta, mas não sem antes inspirar fundo
entre os meus cabelos.
– Por que vocês sempre vão em duplas? – Ouvimos Lian perguntar,
provavelmente a Tina, enquanto nos afastamos e eu e Hazel rimos.
Assim que entramos, ela me carrega para a sala.
– É aquela loira sem sal que ele vai comer esta noite, não é? – Me pergunta
irritada.
– Hazel, não pense nisso...
– Como não? Sabe o que é pior? Eu deveria estar preocupada com quem
Eric vai comer esta noite. Mas não ligo a mínima se ele me deixar aqui e sair
para pegar alguém em outro lugar.
– Isso é cruel. Eric não merece que você o trate assim.
– Eu sei, eu sei. O que eu faço? Não quero desistir de Eric, tenho esperança
de que em algum momento algo floresça em mim em relação a ele. Mas ao
mesmo tempo me sinto uma verdadeira vilã da Disney brincando com os
sentimentos dele.
– Seja honesta com ele.
– O quê? Você está sugerindo...
– Sim, ou faz isso ou termina. Se exponha para Eric, você deve isso a ele.
Explique o que sente e porque não consegue se entregar de vez à relação de
vocês. Dê condições a ele de decidir se quer mesmo embarcar e acabar com o
coração partido ou se quer pular fora enquanto é cedo.
– Você diz como se já tivesse certeza de que não daremos certo.
– Eu tenho.
– Bia...
– Eu tenho amiga, e vou te explicar os meus motivos. Percebi algumas
coisas diferentes hoje. Mas não vou falar disso nem aqui e nem agora.
– Puta merda, vai me deixar ir embora assim? Curiosa?
– Na verdade, eu ia sugerir que você ficasse na casa de Oliver e amanhã
podemos conversar. Tenho muitas coisas para te contar. – Abro um sorriso
enorme para ela.
– Não?
– Sim.
– Huhuuu!!!! – comemora. – Pelo menos uma de nós já descobriu o lado
bom da vida. É bom mesmo, não é?
– É fantástico!
– Quero os detalhes.
– Você terá, mas como eu disse, não agora.
– Mas Eric ficará lá em casa.
– Dorme na casa de Oliver também. Ou algum problema em dormirem
juntos?
– Não, ele iria dormir no meu quarto mesmo. Confio nele, não vai avançar
além do que eu permitir.
– Dormiriam você, ele e o quadro de Max, você quer dizer?
– Ahhh Bia, eu tentei... não consigo me livrar daquilo. Ele está tão lindo lá.
– Eu sei querida, temos que conversar. Eric já viu? Já esteve em seu quarto?
– Já.
– Não achou estranho? Não falou nada? – pergunto e faço sinal com a
cabeça para voltarmos para junto dos rapazes. Ela se levanta e me acompanha.
– Perguntou o porquê da preferência por Max e não por Lian, já que meu
parentesco sanguíneo é com o guitarrista e eu contei a historinha do “segundo
pai”.
– E ele caiu? – Ela dá de ombros.
– Acho que sim. Não comentou mais nada. – Chegamos à saída que da visão
da área onde estão todos e paro.
– Vamos voltar lá para dentro, Hazel. Você não vai querer ver. – Ela fica
pálida.
– Eu vou, eu preciso. – Me empurra da sua frente sem que eu consiga
impedi-la e, assim, tem a visão de Max e da Patiranha aos beijos, próximos ao
bar, enquanto Lian, Tina, Oliver e Eric seguem entretidos numa conversa.
– Hazel. – A puxo um pouco mais para dentro da casa novamente. Seus
olhos estão cheios d’água. – Não! Pode parar. Você vai secar as lágrimas e
colocar um sorriso no rosto, vai chegar lá e dar um belo amasso em Eric na
frente dele, terminar a sua bebida e então nós vamos embora. – A chacoalho
para que saia do seu transe. – Se você quer que as coisas mudem entre vocês,
que ele te veja com outros olhos, precisa mostrar a ele atitudes diferentes.
– Mas não é só o que eu tenho feito?
– Sim e está dando certo.
– Como assim?
– Amanhã Hazel, amanhã a gente fala sobre isso.
– Tudo bem. – Ela se recompõe, seca os olhos e respira fundo. Max e
Patiranha não se beijam mais, felizmente. Mas ela continua agarrada nele.
– Finalmente! Oliver já estava impaciente aqui. Ele só não foi atrás por
medo de descobrir o que fazem em dupla no banheiro – zoa Lian.
– Verdade? – pergunto, enlaçando-o pelo pescoço. Ele me prende pela
cintura e me ergue do chão, afundando o nariz em meu pescoço.
– Sim, você não pode me largar sozinho assim.
– Não?
– Não. Quem vai me defender das loiras descaradas e assanhadas?
– É verdade. Que cabeça a minha! Largar o meu homem, gostoso pra
caralho, – digo e chupo seu pescoço – no meio do ninho das víboras. Ele seria
um banquete para elas. – Mordo seu queixo.
– Gostoso pra caralho? Olha a boca, Beatriz!
– Tenho convivido com um bando de roqueiros, baby. E muito intimamente
com um em específico. Acho que isso não tem mais volta. – Ele ri e me beija
de volta, me colocando sentada na banqueta e tomando o espaço entre as
minhas pernas enquanto aprofunda o nosso beijo.
Quando paramos, antes que a coisa esquente demais, e voltamos nossa
atenção para o entorno, percebo que a ruiva e Lian também estão aos beijos,
ela sentada em seu colo, inclusive. Hazel está prensada contra um pilar
enquanto Eric devora sua boca. Max continua escorado no bar, com a loira
tentando prender sua atenção, mas seu interesse está na pilastra onde Eric
prende Hazel, por mais que ele tente disfarçar.
– Max? Tudo bem, irmão? – chama Oliver, percebendo.
– Tudo – diz sem firmeza, retornando à realidade e virando a dose de
whisky de uma só vez. Termino meu drinque também e pouco depois Hazel e
Eric retornam para perto de nós.
– Vamos? – pergunto baixinho a Oliver. – Convidei os dois para ficarem na
sua casa esta noite. Você se importa? Eles ficam no meu quarto... – Ele sorri.
– Lógico que não me importo. A casa é sua também. – Não, não é, mas é
fofo que ele tenha sugerido.
– Obrigada – agradeço e lhe dou um beijo rápido antes de sairmos dalí.
Capítulo 16
Bia
Oliver
Estou puto.
Nenhum homem em sã consciência deixaria de babar naquela bunda, ainda
mais com o biquíni enfiado no...
Puta Merda!
Sem contar que Kellan deve ter se deliciado com a visão de todo o resto
enquanto eu estava no mar. Mas assumi o meu melhor papel e disfarcei bem
meu estado de espírito durante o nosso almoço e também depois, no passeio de
jet com as meninas.
Deixamos o jet na marina, Eric e Hazel estão tomando banho de mar e eu
estou aqui na areia tentando convencer Bia a entrar comigo.
– Vamos lá Bia, eu estarei com você, não vou deixar nada te acontecer.
– O mar me assusta.
– Eu sei baby, mas confie em mim, você vai gostar e eu não vou te soltar.
Pelo menos, tente.
– Ok. – Respira fundo, resignada.
– Vamos subir no trapiche e entramos de lá, assim você não precisa passar
pelas ondas estourando.
Pulo na água primeiro, ela retira a saída, fazendo-me lembrar do motivo da
minha ira, e então vem, se agarrando a mim no mesmo instante. Os braços em
torno do meu pescoço e as pernas ao redor da minha cintura.
O mar está calmo, maré baixa, apesar da água bater nos meus ombros, ainda
consigo dar pé mesmo após a área de rebentação das ondas. Me afasto um
pouco do trapiche com ela nos braços. A água está uma delícia.
– É bom, não é? – pergunto, me abaixando um pouco para que a água nos
cubra até o pescoço.
– É sim, maravilhoso. Principalmente porque posso ficar assim, agarrada a
você – diz e eu suspiro. – Você ainda está bravo comigo, não está?
– Muito.
– Oliver... é só um biquíni. Toda mulher usa biquíni.
– Não, Beatriz. Não é só um biquini. É a porra de um biquíni que mostra
bem mais do que precisaria mostrar. E eu estou me fodendo para o que as
outras mulheres usam. Estou é atormentado com a imagem de Kellan batendo
uma pensando na bunda da minha mulher, isso sim. Além disso, tem o fato de
que você me enganou, não gostei nada da sua atitude.
– Desculpe – pede me olhando com aquele olhar que te derrete por dentro.
Mas não desta vez. Não digo nada.
– Oliver...
– Você foi muito sacana. E desobediente. – Vejo que abre a boca espantada
com a minha esperança de que seja uma menina obediente. A baby, em certos
assuntos eu espero, espero sim, e você vai.
– Se o seu ideal de namorada é uma submissa, sinto muito meu bem, mirou
no alvo errado. De anjinho, só o apelido que você me deu. – Me esforço para
não embarcar nas gracinhas dela e mantenho o tom sério e até certo ponto,
ameaçador.
– Pois eu vou transformá-la num modelo de obediência. Quero a sua
safadeza só para mim. Na cama. – Provoco-a falando as últimas frases de
forma bem sensual próximo ao seu ouvido e roçando minha barba de leve. Ela
estremece. – Então me diz Beatriz, qual deve ser o castigo para meninas
sacanas e desobedientes?
– Achei que gostasse de meninas sacanas. – Me lança um sorrisinho
malicioso, me testando. Mantenho a linha e não me deixo levar. Não agora.
Ainda não.
– Não é uma piada. Diga. O que seria o melhor a se fazer na minha
situação?
– Conversar, superar e esquecer? – Se faz de inocente.
– Rá Rá. Bela tentativa. – Ela suspira pesado, finalmente se convencendo
de que falo sério.
– Oliver, por favor, me desculpe, não agirei assim novamente. Achei
exagerada a sua implicância com o biquíni, por isso fiz a travessura. Não
imaginava que fosse o magoar tanto. Numa próxima vez defenderei o meu
ponto até chegarmos num acordo, prometo.
Ela está linda demais ali, o sol batendo em seus cabelos, provocando
aquele efeito multicor, os olhos negros suplicantes, e a boca perfeita e rosada
num biquinho delicioso.
Expressões que se comunicam diretamente com a minha virilha.
Quando terei defesa contra isso?
Mas não posso deixá-la saber que é assim fácil.
Puxo sua boca para a minha e a beijo com vontade por longos e longos
minutos, fazendo meu pau acordar e ela começar a se animar, esfregando-se
nele.
Então paro.
– Ainda estou puto. Mas vamos deixar isso para lá, por hora. Confio que
você não fará de novo, mas como eu falei, terá volta.
– Mas... – Antes que ela consiga falar qualquer outra coisa, volto a beijá-la.
A coisa esquenta rápido e logo estamos alucinados e loucos de vontade de
trepar. Mas há dois detalhes muito importantes, estamos no mar, areia sovando
as partes íntimas não é nada agradável, e tem Hazel e Eric, que não estão muito
longe dali.
– Baby, será que a gente não pode... hum... só um pouquinho? – Seguro a
vontade de rir.
– Só a cabecinha? – instigo.
– Isso. – Então não aguento mais. Tão inocente...
– O que foi tão engraçado?
– Anjo, quando um homem diz para uma mulher que vai pôr só a cabecinha,
ele está passando a conversa nela. Me diz, que diferença faz?
– Ah, entendi... – Ela ri. – Bom, namorado, no seu caso posso dizer com
propriedade que faz uma grande diferença, e no meu caso, eu que pedi por ela,
então... – diz a assanhada se esfregando em mim.
– Não dá pra transar no mar, meu amor. A areia...
– Diz de novo.
– O que?
– Amor. – Dou um sorrisinho torto.
– Meu amor, mesmo você tendo sido uma trapaceira do caralho comigo
hoje, e mostrado o que é meu para quem não devia, eu amo você.
– Aff, que romântico! Você não vai esquecer, não é?
– Não. Nem superar. – Ela revira os olhos. Linda!
– Hazel está acenando para nós, acho que querem ir embora.
– Mas já? – Bia dá de ombros. – Bom, vamos sair e nos despedir deles,
então.
Achei Eric um pouco calado demais no nosso passeio de jet hoje, bem
diferente do tour por LA, quis perguntar se estava com algum problema, mas
fiquei com medo de ser invasivo. Criar intimidade com pessoas que acabei de
conhecer é inusitado para mim, não sei ao certo como agir e o que manda a boa
etiqueta em situações assim.
– Eric precisa voltar, tem um compromisso de família em Los Angeles esta
noite. – Hazel vai falando enquanto nos aproximamos deles na areia.
– É uma pena, tínhamos muito para aproveitar, o sol ainda vai demorar a
baixar. – Lamento, a tarde realmente está linda, o mar calmo, a água uma
delícia. – Programe-se para vir e passar um final de semana. – Fui eu mesmo
que falei esta última frase?
– Seria maravilhoso, quem sabe... – Seu olhar está perdido.
– Vamos voltar para que tome um banho e faça um lanche antes de ir. –
Sugiro.
– Vou aceitar o banho, obrigado. Depois preciso mesmo tomar o meu rumo,
tenho compromisso as dezenove em LA. – Assinto.
Abraço Bia e seguimos na direção de casa, Hazel e Eric vão de mãos
dadas.
Quando me imaginei andando de casalzinho por esta praia?
Nem em um delírio febril.
E há poucos minutos, acabei de sugerir programa de casais por um final de
semana inteiro...
E o pior? Não poderia estar mais em paz.
Estamos bem próximos da casa de Max. Lá do trapiche era possível avistar
que havia alguém no lado de fora. Não sei o que ele faz ali este tempo, mas
está assim há mais de duas horas. Sentado no deck, sozinho, sem camisa, de
sunga, boné e óculos escuro. Ou melhor, acho que sei, vigiando um certo
casal...
– Entediado, irmão? – provoco.
– Pode-se dizer que sim. – Responde com cara de poucos amigos, mas se
levanta e vem até nós. Eric solta mão de Hazel e se afasta um pouco. Acho
estranho. Será que Max o assusta tanto assim?
Hazel e Bia se olham, cúmplices. Tem algo rolando e eu não sei? Hazel
morde o lábio inferior e lança um sorriso para ela, aquele tipo de sorriso cheio
de significados ocultos. Minha menina então mira em Max e foca lá.
Tiro meus braços dela na hora.
Puta-merda! É sério?
Vai ficar secando Max na minha frente?
Um gosto amargo invade minha boca.
Já não bastou o episódio do biquini?
Será... será que me enganei a seu respeito?
De repente toda a paz que sentia há minutos se transforma num baita buraco
no meu peito. Não consigo nem pensar se ela for como... Bia estranha minha
atitude e tenta refazer o contato corporal, mas é tarde.
Não consigo mais.
Meu antigo eu, aquele que quer se proteger a todo custo, vem à tona.
Me esquivo do seu toque.
– Estão a fim de jogar vôlei de praia? – Max pergunta. – Kellan está com os
amigos, mas Lian toparia. Eric pode entrar no lugar de Kellan. – Sei que o
convite é mais para afastar Hazel e Eric do que qualquer outra coisa... eu até
que estava animado meu amigo, mas agora... agora só quero ir embora.
– Desculpe Max, mas estamos voltando, Eric tem que ir e – percebo que
relaxa na hora com a declaração – eu tenho coisas a fazer no escritório. –
Invento. Até tenho mesmo, mas a afirmação foi mais no sentido de ter um
pretexto para ficar longe dela assim que chegar em casa.
Nos despedimos rapidamente e retomamos a caminhada. Vou na frente,
passo firme, Bia tenta pegar minha mão, mas não deixo. Me pergunta o que
houve, não respondo. Apenas caminho.
Ouço um fungar. Está chorando?
Quero olhar, mas não olho.
Ouço Hazel dizendo alguma coisa a ela, mas não presto atenção, só apresso
o meu passo. Entro em casa, não me importo com o rastro de areia que deixo,
não me dou ao trabalho de dizer adeus a Eric, vou para o meu quarto e bato a
porta.
Me enfio no chuveiro.
Foda-se, penso, mas a dor que sinto é dilacerante.
Só senti outra tão forte quanto esta uma única vez...
Bia
Oliver
Oliver
Para minha ideia funcionar, uma música nova não será o suficiente. Preciso
de pelo menos mais duas. Já tenho algumas ideias invadindo minha mente há
alguns dias, então acho que uma semana será o bastante para eu dar vida a elas.
Preciso que Johnathan reserve uma tarde para mim na semana que vem em
sua agenda, decido ligar.
– Fala Oliver.
– Johnathan, bom dia. Como está sua agenda para a próxima quinta? – Ele
demora alguns instantes e então responde.
– Fora uma reunião com a equipe pela manhã e um almoço com um gerente
de banco, nada mais.
– Preciso fazer uma reunião com você e os caras, pode ser à tarde?
– Pode. Mas aconteceu alguma coisa?
– Nada para se preocupar. No dia eu explico.
– Tudo bem. Que horas e onde quer fazer? Na sua casa? No Max?
– Vou ver com os outros e te aviso o horário. Feche sua agenda à tarde. E
será na produtora mesmo, mais especificamente no estúdio.
– Ok.
– Ah, mais uma coisa, hoje à tarde vou levar Bia para conhecer a empresa,
tenho um encontro com Edgar às quinze.
– É a história do estágio que ela falou na entrevista? Não se fala sobre outro
assunto pelos bastidores.
– Sim, é sobre isso.
– Quer que preparemos a contratação dela? Quando ela vai começar?
– Estes detalhes dependem da agenda que Edgar vai me apresentar, mas se o
que eu estou planejando der certo, vai demorar um pouco ainda.
Me despeço, desligo com Johnathan e mando mensagem para caras.
Que porra?
Por quê?
Isso, 16
hauhauahau. Os solteiros
curtem a noite, sabia? Já esqueceu
como é?
O pai também?
Sim
Até
Mother focker
Principlamente essa,
combina com você
Meu amor
Há somente você em minha vida
A única coisa que é certa
Eu disse que estava perdido? Ah, eu nem fazia ideia do quanto... Não é só o
que ela canta, mas o jeito que me olha e o som da sua voz...
Enfeitiça!
E seus olhos,
Eles me dizem o quanto você se importa
Oh sim, você sempre será
Meu amor sem fim
Dois corações,
Dois corações que batem como um só
Nossas vidas apenas começaram
Para sempre
Eu te segurarei apertado em meus braços
Eu não consigo resistir ao seu charme
E amor
Eu serei boba
Por você, tenho certeza
Você sabe que não ligo
Oh, você sabe que não ligo
Porque você,
Você significa o mundo para mim
Eu sei, eu encontrei em você
Meu amor sem fim
Bia
Oliver
Sorrio com a última mensagem. Quando levanto o rosto vejo que os quatro
estão com os olhos em cima de mim.
– Ahhh o amor... – Lian não perde a oportunidade.
– Não sou eu que tenho uma coleção de emoji de coração e beijinho,
babaca. – Ele me mostra o dedo do meio.
– Bom então... – começa Johnathan, mas eu peço que espere.
– Só um minuto Johnathan, preciso mandar uma mensagem para Peter.
Bia
Hazel para o olhar fixamente nos olhos de Max ao final da estrofe. Deus,
essa música diz tudo que ela tem vontade de dizer a ele. Se ele levar a sério,
estamos ferradas.
Mas agora já era, o negócio é torcer para ele levar na brincadeira, mas ficar
em dúvida se apenas imitamos o clipe, uma saudável pulguinha atrás da orelha.
Quando entra o refrão vou junto com ela, dançando e fixando o olhar em
Oliver.
Quando acabamos, Oliver assovia. Max nem se mexe. Corro até o meu
namorado, sento em seu colo e beijo sua boca, ele me aperta contra si.
– Foi muito sexy – confessa quando nos largamos.
– Sexy demais para o meu gosto – resmunga Max, bebendo seu whisky.
Vejo Hazel também virando o seu copo de uma só vez. Pelo visto o impacto
foi causado dos dois lados. Ela vasculha as músicas à procura da próxima e
mal olha para o ruivo.
– Já escolhi a próxima primeira-dama, venha e traga a garrafa de
champanhe. – Colo a testa na de Oliver e nós dois suspiramos. Ela não vai nos
dar folga.
– Hazel, você está tentando manter a minha mulher longe de mim?
– Não estrela, estou só tentando me divertir com a minha amiga. Agora
largue-a.
– Vou lá baby – digo resignada. Ele torce o nariz, mas me solta.
Ela já acionou a música para tocar e reflito sobre a sua próxima escolha.
Com certeza não é comigo que ela quer cantar essa música. Tenho que dar um
jeito nisso. Pego o microfone.
– Eu começo – anuncio e entro na primeira estrofe de Photograph, de Ed
Sheeran enquanto caminho até Oliver e estendo minha mão para ele, pedindo
que se levante.
Faço sinal para que Hazel siga dali. Vou até Max e entrego o microfone para
ele.
Fecho os olhos e deito minha cabeça em seu peito. Ele apoia o queixo nela
e sobe uma mão pelas minhas costas, mantendo a outra me envolvendo. Max,
que agora está ao lado de Hazel no tablado, canta com ela o refrão. E eu o
canto baixinho para Oliver.
A voz de Hazel volta a ficar solo e Oliver está com a mão em minha nuca,
entre meus cabelos e beijando meu pescoço, enquanto continuamos naquela
dança lenta e romântica. Já não consigo mais cantar também. Levanto meu
rosto à procura da sua boca e levo minhas duas mãos aos seus cabelos. Solto o
coque, deixando os fios soltos para poder deslizar os meus dedos entre eles.
Adoro.
E se você me machucar
Bem, está tudo bem, querida
Só palavras sangram
Dentro destas páginas, você apenas me abraça
E eu nunca vou te deixar ir
Você me dá febre
Quando me beija
Febre quando me abraça forte
Febre! De manhã
Febre por toda a noite
Céus, se eu já estava quente antes, ver ele cantando aquilo assim... vibro
pelo corpo todo ...
Luz do sol clareia o dia
Lua ilumina a noite
Eu acendo quando você chama meu nome
E você sabe que eu vou te tratar bem
Ele troca o Julie da letra por Bia e não posso deixar de sorrir. A
temperatura só aumenta pela energia sexual que ele está colocando na música e
uma ideia me vem à cabeça...
Humm... vai ter troco...
Damos-lhe febre
Quando a beijamos
Febre para viver e aprender
Febre até você crepitar
Que jeito adorável de queimar
Que jeito adorável de queimar
Paro na sua frente, seguro em seus joelhos, afasto suas pernas, desço entre
elas no ritmo do blues e volto quase colando meu tronco no seu.
– Bia... – Adverte, a respiração alterada.
– Caraca! – Escuto Hazel falar e assoviar.
Sento com as pernas abertas em seu colo e passo uma mão pelos seus
cabelos.
Levanto novamente e paro atrás dele, vou descendo uma mão pelo seu peito
enquanto canto o próximo verso.
Puxo novamente seus cabelos para que ele seja obrigado a pender a cabeça
para trás, e lhe roubo um beijo quando o último acorde termina.
Max e Hazel ovacionam e batem palmas,
Oliver me dirige um olhar mortal.
Ele puxa a mão com força, se soltando da gravata que eu cato rapidamente
do chão rindo e corro dali antes que possa me alcançar. Ele vem atrás de mim,
mas chego à porta antes, abro e fecho rapidinho.
Estendo a gravata para o seu dono, esbaforida.
Oliver chega em seguida e me prende pela cintura.
– Você me amarrou com a gravata do meu segurança, Beatriz?
– É, bom... sim...
– John, você está proibido de entregar qualquer peça de vestimenta que ela
lhe peça no futuro, me ouviu? – O homem apenas assente, segurando o riso.
Ele me vira para ele e me prensa contra a parede contrária.
– Oliver! – Arregalo os olhos, o lembrando da presença dos homens.
– Quietinha! – fala em meu ouvido e consigo perceber diversão e tesão
misturados em sua voz – Com você, mocinha, acertarei as contas mais tarde. –
Morde minha orelha e depois deixa um beijo atrás dela.
Arrepio. Delícia!
– Você gostou? – pergunto.
– Se eu gostei? – Arremete contra mim para que eu perceba o estado em que
está. – Sinta a minha situação. Você estava linda, sexy e cantou
maravilhosamente bem. Fiquei pasmo com a sua escolha de repertório, Etta
James? Eu pensaria em qualquer coisa menos isso.
– Minha mãe adorava.
– Hoje eu percebi que devo agradecer aos céus por você querer ser
produtora.
– Por quê?
– Porque você cantando e fazendo performances como as que fez hoje por
aí... Eu não posso... Não gosto nem de pensar.
– Aquilo foi para você. Entrei no clima porque era você lá. Eu não
conseguiria fazer essas coisas comercialmente.
– Graças a Deus por isso! Vamos voltar antes que Max e Hazel venham
atrás de nós.
Quando entramos avistamos Max com um canapé na mão tentando enfiá-lo
não boca de Hazel que tenta afastar a mão dele da sua frente.
– Acho que ele finalmente percebeu o quanto ela bebeu – constata Oliver.
– Conto com você para salvar a noite.
– Farei o possível, mas em se tratando de Hazel, Max fica irracional. Ajuda
muito quando ela não provoca.
– Tentarei fazê-la colaborar.
– E aeeee casaaau. Biaaaa quando eu clescerrr quero ser comu voxe – diz
toda alterada. A outra garrafa já era também.
– Hazel, abre logo a boca e come – pede Max, ela empurra a mão dele de
novo. Sento-me perto dela.
– Amiga, come só um pouquinho, vai. Está tudo indo tão bem. Colabora
com Max, por favor, ele não implicou com nada até agora e não pense que não
percebeu o quanto você bebeu. Ele tentou respeitar, Hazel – digo baixinho em
seu ouvido.
Ela me olha séria e eu devolvo a ela a minha melhor cara de súplica. Então
arranca o negócio da mão de Max e enfia na boca.
– Aqui, mais três. E esse copo de água – diz ele. Ela revira os olhos, mas
faz. Amém.
– Ela não pode ter ficado assim só com duas garrafas de espumante, pode?
– pergunto.
– Não, ela também deu várias “bicadas” nos nossos copos de whisky ao
longo da noite quando achava que ninguém estava vendo. – Max conta e respira
fundo. – Agora me diz como vou ficar tranquilo com essa menina solta em
Londres? – pergunta a nós dois.
– Cara, você não vai. Essa é a questão. Não vai ficar tranquilo, ela vai
experimentar, ultrapassar limites e se aventurar. E resta a você confiar nos
valores que ajudou a formar nela e esperar que faça tudo isso da forma mais
segura possível, freando a si mesma quando perceber que foi demais. É assim
com todo mundo, Max. Foi assim com cada um de nós.
– E se ela não conseguir frear, Oliver? E se quando percebermos for tarde
demais? Olha o que passamos com Lian...
– Max, para. Ela não vai trilhar os caminhos de Lian. Lian tinha muita
merda para superar, irmão. Eu diria que a rebeldia de Hazel só aparece quando
você está por perto, para te provocar.
– Voxês doz aeee... querem parar de falar como xe eu nãu estivesse aquiii.
– Nem mais um gole, Hazel, entendeu? – Usa aquele tom ameaçador. – Vou
pedir um suco bem doce e você não vai deixar uma gota no copo.
– Tá, tá... – Ele chama Kiara.
– Acho que deveríamos ir embora – sugere Oliver. Deito a cabeça em seu
ombro. Ele pega minha mão e leva aos lábios.
– Nãããoooo. Nem danxeeii com voxe ruivoooo...
– Está tarde, Hazel. Até voltarmos para Oceanside... – argumenta Max.
Kiara traz o suco de laranja e Max empurra o copo para a frente de Hazel.
– Vocês podem dormir no meu apartamento. Hazel dorme no quarto de
hóspedes e você se arranja no sofá – sugere Oliver a ele.
– Vocês não vão voltar?
– Não. Ficaremos por aqui. Amanhã temos algumas coisas para fazer em
Los Angeles.
– Vamos ficar Max, por favor – pede Hazel. Ele a olha avaliativo.
– Tudo bem, mas se você beber mais uma gota de álcool que seja, voltamos
no mesmo instante. – Ela pula no pescoço dele comemorando e beija a sua
bochecha. Seus olhos brilham.
– Então Bia, que tal cantar mais uma música? Você sabia disso, Oliver?
– Disso o que? – pergunta ele.
– Da voz que ela tem. – Ele me olha e sorri.
– Sim, sabia.
– Porra, cara, como não nos conta uma coisa dessas? – Oliver simplesmente
dá de ombros. – Ela teria futuro, você sabe...
– Não, Max. Eu não quero ficar em frente às câmeras. Meu negócio são os
bastidores.
– É uma pena, mas se é assim que você quer, quem sou eu para convencê-la
do contrário? Mas seu namorado poderia tentar...
– Sim, ele poderia, mas não vai. Na verdade, ele dá graças a Deus por ela
não querer – responde o próprio.
– Então cante para os amigos, garota.
– Sério que você quer que eu cante?
– Claro – afirma. – Hoje é a noite das mulheres importantes para a música,
Peggy Lee, Etta James, Madonna, Bia Tompson. – Sorrio em agradecimento ao
elogio. Oliver levanta e pega o violão.
– Pode ser The Order? – provoco.
– Não – diz categórico.
– Manda lá, anjo, vamos de quê? – Cochicho a música e o tom em seu
ouvido.
– Canta comigo? – peço e ele concorda.
Oliver só pincela o acorde e eu já entro com o primeiro verso de Walking
the Wire, do Imagine Dragons.
O que será que enfrentaremos no caminho? Não há como saber. Só nos resta
enfrentar o que vir.
Faço sinal para que Oliver cante o próximo verso.
Sinta o vento no seu cabelo
Sinta a adrenalina no caminho até aqui
Bia
– Max, seu viado! Essa vai ficar bem guardada, fica esperto – ameaça e
clica para ver o vídeo.
A cena abre comigo amarrando as mãos de Oliver atrás da cadeira.
Não é que eu tive coragem de fizer isso mesmo?
Depois eu puxando sua cabeça para trás... aí a música começa e caramba, –
arregalo os olhos – eu sensualizei para valer... de onde veio tanto erotismo?
Não posso nem pôr a culpa na bebida... Ainda bem que papai não está mais
aqui para ver.
Conforme a música avança, aumenta a minha vergonha e o calor nas minhas
bochechas. E se isso está no grupo da The Order, significa que além de Lian,
Kellan provavelmente viu também. Oliver, aperta o meu joelho por baixo da
mesa na parte mais quente. Quando termina ele rola a tela para ver os
comentários.
Sem palavras
– Tá aí uma coisa que eu concordo com você, pirralho. – Oliver olha para
Max de cara feia.
– Meu irmãozinho não vira a página mesmo, não é? Poderiam finalmente
mudar esse avatar, que tal? Para deixá-lo um pouco mais feliz? – pede Hazel.
– Não – respondem Oliver e Max ao mesmo tempo.
E eu não sei?
Bia
Plin, plin... estou andando numa praia, ouço o barulho do mar... plin...
mas ao invés de areia, tudo que eu piso e vejo é névoa... plin... Oliver está
parado alguns metros à frente, lindo e rodeado pela neblina, seus olhos
dourados brilham... plin... está olhando em minha direção e com a mão
estendida para mim. Eu estou caminhando para lá, impaciente para segurá-
la... plin... então um som me faz parar. É um choro, um choro de bebê. Não
quero olhar, quero continuar seguindo em direção a Oliver, mas não consigo,
eu tento, mas aquele choro... plin... eu tenho que olhar, tenho que olhar...
olho para trás... lá está... um bebê de olhos tão dourados e brilhantes
quanto... está sentado em meio a névoa, chorando, a mãozinha também
estendida em minha direção, tão pequeno, tão indefeso, tenho que pegá-lo...
plin... “não baby, venha para cá” ouço a voz de Oliver, me viro para ele
novamente, o bebê chora mais forte... “para cá, anjo”, o choro não cessa,
não posso deixá-lo... plin... começo a me virar em direção a criança de
novo... “você vai ter que escolher, Beatriz”... Não. Penso que não preciso
escolher... plin... ando em direção ao bebê, chego até ele e o pego no colo...
“adeus, baby”... olho para trás e Oliver sumiu... NÃO...
Acordo assustada, sento na cama imediatamente e tento me situar. Oliver
não está. Meu coração está acelerado, estou suada. Los Angeles, apartamento...
foi só um sonho, sonho não, um pesadelo... Barbie, gravidez... será um sinal?
Um sinal de que aquele exame vai dar positivo?
Não, não pode ser, não pode!
Plin. Procuro a direção daquele som. Plin... plin...
É o telefone de Oliver, pego-o e o aviso de várias notificações aparecem na
tela. Lian, Max, Johnathan, Laura, Alicia, Riley... várias de Riley... engulo em
seco... plin... opa, esse não veio do fone de Oliver e sim do meu. Pego-o
também, e há notificações de Laura e Hazel. Abro a de Laura.
Bia.. porra...
Se rolasse uma enquete hoje para saber quem é a
mulher mais invejada do mundo, você ganharia de
lavada...
Fiquei tão feliz... minha mãe está enlouquecida,
bagunça lá nos servidores de novo
Será que Oliver postou alguma foto nossa outra vez? Tento acessar a página
da The Order, mas não consigo. Resolvo perguntar a Hazel o motivo de tanto
alvoroço...
Oliver
Está chegando?
Saudades?
Demais
Ainda aqui, baby.
Saio em quinze minutos
Ok. Vou dar uma volta com
Kellan
Bia
Bia
Desde que voltamos de Los Angeles perguntei várias vezes a Oliver sobre o
tal projeto novo e ele não me deu nenhuma informação clara a respeito. Hazel
também não conseguiu arrancar nada relevante de Max ou Lian. Fiquei feliz em
iniciar antes o estágio e as aulas com Edgar, mas óbvio que minha curiosidade
está a mil.
Estou com um vestido azul petróleo, tomara que caia, tecido leve e
esvoaçante, perfeito para o clima de hoje. Me sinto linda nele. Está uma noite
maravilhosa, nem quente e nem gelada, brisa fresca, céu estrelado.
O deck foi aumentado uns bons metros e três grandes mesas redondas, de
uns dez lugares cada, foram colocadas no espaço. Um telão foi montado numa
ponta junto com alto-falantes e microfone. Um barman prepara drinks no bar e
alguns garçons estão a postos. A família já está toda ali. Alicia, Johnathan,
Helen e Laura numa mesa. Hazel, Max, Lian e Kellan em outra.
Passo pela mesa dos veteranos, cumprimento-os e me junto aos demais.
Hazel se levanta para me abraçar e, uau, ela está lindíssima, num vestido
vermelho, poderoso, que contrasta com os cabelos escuros, a pele clara e os
olhos azuis intensos.
– Ai, ai... temos tanta sorte não? Aqui, neste cenário pitoresco, à beira-
mar, numa noite linda e especial, tomando uma boa bebida e privilegiados pela
companhia de duas jovens beldades. O que podemos querer mais da vida? –
galanteia Lian.
– Vocês estão lindas meninas – elogia Max.
– Verdade – reforça Kellan.
Seu olhar de repente fica triste.
Conversamos muito durante o nosso passeio pela praia, ele finalmente está
bem com a minha escolha, mas sei que seus sentimentos ainda não morreram e
torço por isso, para o bem dele.
– Cadê o nosso vocalista? – Lian pergunta.
– Terminando de se arrumar.
– A boneca demora mais do que a mulher para ficar pronto?
– Eu não precisei fazer a barba – defendo-o.
– Ah não Bela-Bia, não tem defesa. É viadagem.
– Da última vez que chequei, e usei, as evidências apontavam o contrário.
– Lian faz cara de nojo. Max cospe a cerveja e gargalha. Hazel o acompanha.
– Por favor, Biazinha, não, não... não quero saber das evidências de
Oliver. Já tenho motivos demais para ter pesadelos à noite.
– Como se os quatro não conhecessem muito bem as evidências uns dos
outros, não é titio? Inclusive em plena ação. – Max e eu ficamos vermelhos na
hora com o comentário de Hazel.
– Sobrinha! Quando as crianças ficaram assim, tão abusadas, Max?
– O que você contou para a sua irmã, Kellan? – Max fuzila-o com os
olhos.
– Claro, como sempre, tinha que sobrar para mim. Não falei nada demais.
– Ah nem vem, você me contou coisas bem nojentas, irmãozinho. Sei
inclusive as medidas.
– Hazel! – interfiro.
Mas bem que fiquei curiosa...
– Você tem as medidas porque ficou me atazanando para saber quem tinha
o pau maior.
– Só atazanei depois que você revelou que faziam sexo em grupo.
– Pois tenha a certeza que nunca mais cometerei o erro de revelar nada,
irmãzinha. Já me provou que não dá para confiar.
Estou de costas para a porta, mas sinto a presença dele muito antes que se
aproxime da mesa.
Em seguida seu cheiro confirma minhas suspeitas.
Então um drink aparece a minha frente e uma mão pousa em meu ombro.
– Você me decepciona Kellan. Como pôde compartilhar estas coisas com
Hazel? – Max está puto.
– Compartilhar o que? – pergunta o recém-chegado.
– Nem queira saber. – O próprio adverte.
– Me atualize, baby. – Me beija e se senta ao meu lado.
– Desculpe amor, mas não tenho coragem de repetir. – Hazel revira os
olhos.
– Eu falei que sei que vocês quatro já viram o tamanho do estrelato uns
dos outros, foi só isso. Max faz drama demais.
– Não se esqueça das medidas dos dotes... – provoca Kellan, claramente
furioso com ela.
– Porra, e como o assunto foi parar nisso?
– Lian te chamou de viado e Bia te defendeu – explica o loiro.
– É um bom motivo. Obrigado, anjo – diz, mostrando o dedo do meio para
Lian.
– Resta saber se Kellan passou as informações corretas ou se valorizou
demais os próprios atributos. Hazel...
– Ah Lian, por favor! Dá para mudarmos de assunto? – Max perde a
paciência.
– Os primeiros convidados chegaram, Laura foi recebê-los. Não conheço,
quem são? – Hazel ajuda desviando o foco.
– São da equipe de Edgar. Patrick e Cynthia. Pelo visto, há mais um novo
casal na Three Minds – diz Lian.
– Estão juntos? – pergunta Oliver.
– Se entrar de mãos dadas significa que estão juntos, então sim.
– Rose, o marido, Willian e a esposa, e Edgar também chegaram – avisa.
– Ótimo. Logo todos estarão aí.
– Você não vai recebê-los? – pergunto.
– Vovó faz as honras. Depois cumprimento todos de uma só vez ao
microfone.
– Você é o chefe deles e o dono da casa.
– A casa é sua também. Quer ir receber seus convidados?
– Bela-Bia, responde que quer, por favor. Quero admirar a nova versão, o
Oliver sociável... – provoca Lian.
– Quem disse que vou junto? Bia e vovó são altamente capazes de
completar a missão com sucesso.
– Como assim, Oliver? Eu mal conheço as pessoas. Se eu for, você vai
comigo.
– Como é bom viver para assistir isso... – zoa o guitarrista.
– E reclama quando eu a chamo de esposa... – Me abraça. – Se é assim,
meu bem, ficaremos os dois exatamente aqui.
– Outra garota chegou. Também não conheço – diz Hazel.
– O nome dela é Iris, é da equipe da sua mãe. Nova na empresa – explica
Max.
– Está no lugar da louca dos avatares – completa Oliver.
– Pois se não fosse a louca, eu não teria aquele belo quadro no meu quarto
– defende Hazel.
– E eu não precisaria encontrar comigo mesmo todos os dias no meu
closet. – Hazel gargalha.
– Vejo que Oliver descobriu o seu segredo, amiga? – Só confirmo com um
balançar de cabeça.
– Que história é essa? – pergunta Kellan.
– Longa história, Kellan, longa história. Qualquer dia eu conto a vocês –
fala Oliver.
– A garota, Iris não é? Acho que está se sentindo um pouco perdida. –
Olho para trás e vejo a garota de pé num ponto do deck, olhando em volta sem
saber muito bem para onde ir e se deve se aproximar de alguém.
– Vou lá falar com ela, vem comigo, Hazel?
– Claro, vamos resgatá-la.
– Adorei o vestido dela Bia, a garota tem estilo. – Comenta enquanto
caminhamos até a menina.
– Sim, só me parece um pouco assustada. Pouco à vontade. – Me aproximo
e a abordo. Direta. – Oi, Iris, não é? Tudo bem? Sou Bia.
– Ah, oi... Bia, prazer. – A menina me olha como se eu fosse um ser
mitológico.
– Iris, sou Hazel, filha de Alicia e Johnathan.
– Prazer em conhecê-la, Hazel.
– Vimos que chegou sozinha, por favor, junte-se a nós na mesa com os
meninos – peço.
– Não, imagina, não quero atrapalhar.
– Claro que não atrapalha. Venha, há homens demais naquela mesa,
precisamos reforçar o time feminino – determina Hazel, já engatando o braço
da garota e a puxando em direção à mesa. Só me resta segui-las.
– Imagino que todos vocês já conheçam a Iris, não?
– Boa noite, Iris. Que bom que veio. Sente-se, fique à vontade. – Recebe-a
Max.
– Obrigada. – Abrimos espaço para que se sente entre mim e Hazel.
– Ela é fundamental na noite de hoje, Max. Não poderia deixar de estar
aqui. – Oliver comenta e deixa a menina encabulada com o elogio.
– Aceita um drink? – pergunta Lian.
– Aceito sim, obrigada.
– O que quer beber?
– Eu não gosto de nada muito doce, pode ser uma gin tônica.
– Tudo bem – diz Lian, que manda o pedido ao barman pelo aplicativo.
– Você vai implicar comigo se eu pedir um drink com álcool? – Hazel
aproveita e pergunta a Max.
– Depois da última demonstração de maturidade sua em relação à bebida?
Com certeza.
– Ah Max, vai, por favor, só um...
– Rá. Você não cumpre suas promessas, Hazel. Não vai ficar só em um.
– Tudo bem. Fechamos em três e eu prometo que cumpro.
– Quer saber, faça o que quiser. Infelizmente tenho que me conformar com
o fato de que não poderei estar o tempo todo te protegendo, então, que seja. –
Ela beija a bochecha dele.
– Não fique bravo, ruivo. Não vou extrapolar.
– O que você quer, Hazel?
– Acompanho Iris no gin tônica, Lian, obrigada.
– Seus últimos convidados chegaram Oliver – diz Kellan.
Olho para trás e a estonteante morena, de parar o trânsito, está se
aproximando na nossa mesa de mãos dadas com Peter, num lindo vestido preto.
Ainda mais bonita por ter a felicidade estampada no rosto. Oliver levanta-se
para cumprimentá-los e eu o acompanho.
– Riley, Peter, como estão? – Os homens apertam as mãos.
– Bem e muito felizes – responde o futuro pai.
– Fico feliz em saber.
– Oi Bia. – Riley me cumprimenta, trocamos um olhar cúmplice e ela abre
um sorriso que eu não consigo deixar de retribuir. – Oliver olha de mim para
ela, desconfiado.
– Sentam-se conosco? – pergunto.
– Obrigada, mas vamos fazer companhia a Willian e a esposa. Tenho
algumas figurinhas para trocar com ela. – Riley me dá uma piscadela. Pelo
visto o casal tem filhos.
– Fiquem à vontade.
– Obrigado Oliver. – Eles se retiram.
– O que foi que eu perdi, pequena?
– Também percebi, Bia. Desembucha – diz Hazel.
– Não sei do que estão falando.
– Ahã, sei. Você e Riley estavam que eram só sorrisos. – Lanço a ela o
meu melhor olhar de “não pressiona”.
– É coisa dela. Não é meu para contar. A hora que ela quiser compartilhar,
vocês vão saber.
– E você anda trocando segredinhos com ela agora? Eu já te disse que sou
uma amiga muito ciumenta?
– Você é muito mais que uma amiga para mim.
– Ah Bia, como resistir a você? Nem o intragável Deus do Rock
conseguiu, não é? Depois dessa, está perdoada.
– Intragável o cacete... Mas também estou curioso, baby. Você e Riley
compartilhando segredos? É inusitado. – Seguro seu rosto e o beijo.
– Você logo saberá, Mr. Rain. – Oliver me abraça, e aproveito para me
escorar em seu peito.
Quando, há poucos meses, eu imaginaria que a minha vida me propiciaria
um momento perfeito de normalidade como este?
Eu, aconchegada nos braços e no calor do homem que eu amo, à beira-mar,
numa roda de amigos, jogando conversa fora e aproveitando a noite.
Era um sonho muito distante da realidade que se apresentava a minha frente.
Estou tão feliz! Tão em paz!
Assim que saio dos meus felizes devaneios, me dou conta da garota que
sentou ali e até agora não abriu a boca... bom, talvez não tenhamos lhe dado
chances...
Olho para ela, que observa atentamente o ambiente.
– Iris, nos conte como chegou até a Three Minds. – Como se ouvisse meus
pensamentos, Lian quebra o silêncio e inclui a menina.
– Houve um projeto na faculdade. Nos disseram que os três melhores
trabalhos concorreriam a uma vaga de estágio numa gravadora renomada. O
meu foi um dos três, então passei para a fase das entrevistas, primeiro com
Rose, depois com Alicia. Claro que eu não fazia ideia que era a Three Minds.
Jamais imaginei, na verdade. Seria muita coincidência.
– Você disse estágio? Mas você é coordenadora do audiovisuais, não é? –
pergunta Max.
– Sim. Alicia gostou muito da minha entrevista. Então me deu mais alguns
trabalhos para desenvolver, como teste. Quando ela viu o que eu entreguei, me
ofereceu a vaga.
– Impressionante. – Max a elogia.
– Iris, você disse que seria muita coincidência se fosse a Three Minds, por
quê? – pergunto.
– Lian não deve se lembrar de mim, – diz olhando para ele – mas sou a
filha de Ruben, o amigo de bebedeira do pai dele. – Lian de repente fica com o
pálido.
O pai dele era alcoólatra?
A garota percebe que falou demais.
– Meu Deu, que falta de tato a minha, desculpe Lian, não foi por mal, só
saiu...
– Não se preocupe com isso. Não faço segredo de que meu pai tinha
problemas com bebida. Me espantou é te rever... Iris Garcia, certo? – pergunta
abismado.
– Sim, sou eu.
– Nossa... não é uma fase da minha vida que goste de lembrar, fui
esquecido muitas vezes na sua casa, não?
– Esquecido é gentileza sua. Minha mãe era enfermeira e trabalhava à
noite. Te obrigavam a ficar lá e cuidar de mim para irem para a farra, isso sim.
E ficávamos os dois, tensos, pensando em como eles voltariam e ao que nos
submeteriam. – O olhar dela não está menos dolorido do que o dele.
– Melhor mudarmos de assunto se não quisermos estragar a nossa noite.
– Verdade – admite ela, suspirando.
– Jamais a reconheceria.
– É, faz muito tempo, eu era pequena demais e além disso costumava ser
bem magrinha, não é mesmo? O que não é mais o caso... – Ri de si mesma, mas
fica claro que é mais nervosismo do que outra coisa. Ela suspira. – Descontei
na comida por muitos anos os meus infortúnios da infância, e sempre lutei
contra a balança.
Iris é uma garota gordinha, o que não diminui em nada a sua beleza, bem
pelo contrário, tem os olhos verdes e os cabelos ruivos lisos e compridos,
naquele tom laranja claro, lindíssimo.
– Só para deixar claro, meu comentário não foi neste sentido, jamais. Você
é linda do jeito que é, não tem com o que se preocupar.
– Obrigada.
– Ora, ora, as surpresas da vida... – Lian abre um sorriso, nunca óbvia
tentativa de retomar o seu bom humor costumeiro. Mas é forçado, bem forçado!
– Alicia me disse que você tem apenas vinte anos. – Oliver muda de
assunto.
– Sim, mas logo faço vinte e um. Eu terminei os estudos dois anos antes do
normal. Entrei adiantada na faculdade.
– Sério? Puxa, parabéns! – elogio.
– Sim. Quando tinha oito anos, fizeram testes de QI na escola e me sai
bem. Ganhei uma bolsa para um colégio especial, isso me salvou... – confessa
olhando novamente para Lian, que demonstra entendê-la. Mesmo assim, Iris de
repente tem o olhar esquivo e perdido...
– Preciso... onde fica o banheiro? – pede abalada.
– Te mostro, vou com você. – Hazel se oferece, entendendo que não é um
bom momento para deixá-la sozinha.
– Vou também. – Decido e me levanto.
Oliver
Bia
B
poderia acompanhá-la.
ia, o que você está fazendo de pé tão cedo?
– Laura, bom dia! Ouvi você comentando com Helen
ontem que passaria a manhã em Long Beach e pensei se
– Me acompanhar?
– Sim. Eu sei que hoje não é um dia fácil para você. Então que tal me
mostrar a sua rotina nos trabalhos assistenciais? Depois podemos almoçar
juntas, conversar.
– Eu... eu não vou para a ONG hoje.
– Se preferir ficar sozinha, tudo bem, eu entendo. Mas será que um pouco
de companhia não ajuda? Sabe, você não precisaria se conter, pode falar dela
o quanto quiser. Eu vou adorar ouvir e passar o dia com você.
– Bia... eu gostaria, claro, mas...
– Por favor, me deixa ser o seu apoio. Estar lá por você, pelo menos parte
do dia. – Ela me analisa por longos minutos, ponderando.
– Você estava aqui só me esperando sair? Não são nem seis da manhã e já
tomou até café, pelo visto.
– Sim, peguei umas coisas na cozinha. Eu não sabia exatamente quais os
seus planos, então acordei bem cedo e fiquei pronta.
– Ah querida... – Respira fundo e pensa mais um pouco. – E Oliver?
– Ainda na cama. Ele vai para Los Angeles hoje, encontrar com Edgar.
– Sei. Você comentou algo com ele sobre a data?
– Não. Você me disse que é melhor quando ele não se lembra, então...
– Sim, é melhor. Ele não fez objeções?
– Por eu querer passar a manhã com você? Por que faria?
– Olha, eu não sei se farei a coisa certa permitindo que me acompanhe,
mas talvez esteja na hora de você saber um pouco mais sobre a mãe de Oliver.
Entretanto, tem que me prometer que não contará a ele sobre o que verá caso se
dê conta de que dia é e questione. Promete?
– Mentir para ele?
– Temo que dizer a verdade causaria mais mal do que bem, neste caso. Ele
nem conseguiu te contar ainda que... Enfim, neste momento ele não entenderia e
não me perdoaria. Mas acho que é importante você saber. Sinto te colocar
neste impasse, mas será a única forma de eu deixá-la me acompanhar hoje, meu
bem. A escolha é sua. E não se preocupe, entenderei perfeitamente caso opte
em ficar.
– Eu quero ir, mas eu não sou uma boa mentirosa, se ele me pressionar
demais, tenho medo de não conseguir manter...
– Se for o caso, lidaremos as duas com as consequências.
– Ok então. Eu prometo que, enquanto puder, não direi nada. Você acha que
teríamos um tempo para passar no shopping? Comentei com ele que preciso de
umas roupas para trabalhar. Hazel comprou muitas coisas para mim, mas em
sua maioria são ou informais demais, ou para festas. Se pudéssemos fazer isso
juntas, eu teria um bom álibi.
– Podemos sim.
– Neste caso, fechado.
– Então vamos. O carro está a nossa espera.
– Não vai comer?
– Não, hoje é um dia que dificilmente eu sinto fome.
– Certo.
Iniciamos nossa viagem a Long Beach e Laura está bem calada. Não fico
forçando-a a falar, pois imagino o quão difícil é para ela passar por esta data.
Nem faço ideia de onde vai me levar, penso que vamos ao cemitério, mas da
forma que falou, acho que tem algo mais. Em dado momento ela abre a bolsa e
coloca um pequeno álbum, antigo e bem manuseado, em minhas mãos.
– Você disse que queria conhecê-la. Aqui há fotos dela desde bebê, até os
vinte anos.
Abro o álbum e a primeira foto já me enche os olhos. Tenho que me
controlar, pois estou aqui para mantê-la de pé e não para ajudá-la a
desmoronar. Na imagem há uma garota linda, mas ainda com jeitinho e carinha
de criança, segurando um bebê muito pequeno, creio que tenha no máximo dois
meses. A menina está sorrindo, mas seus olhos transmitem medo e cansaço.
– Vivienne tinha um mês e meio aqui. Todas as fotos dela bebê foi seu pai
quem tirou.
– Sério?
– Sim. Ele tinha uma máquina, tirava as fotos, revelava e depois me dava.
Eu não tinha condições de fazer nada disso. Graças a seu pai e Selena, tivemos
um teto e não passamos fome.
– Se para mim, com quase dezoito anos já foi difícil me ver sozinha,
imagino como deve ter sido desesperador para você.
– Foi demais. Não desmerecendo a sua situação, mas você teve tempo
para processar e entender que a sua vida iria mudar. Isso te fez amadurecer
mais rápido e seus pais tentaram te preparar para a nova realidade no tempo
que tiveram. Eu num dia era a garotinha do papai, mimada e cuidada ao
extremo, que mal sabia acender o fogão, para no seguinte me ver por minha
conta, grávida e desamparada. Sem conhecer quase nada da vida.
Vou passando as fotos da mãe de Oliver bebê. Um bebê lindo, conforme vai
ficando maiorzinha já é possível perceber semelhanças. Então numa delas eu
paro. A garotinha deve ter em torno de um ano e meio. A primeira foto
colorida. Ela está sentada debaixo de uma árvore de natal e é impossível não
reconhecer; são os mesmos olhos dourados e impactantes.
– Então os olhos incomuns vieram de Vivienne.
– Sim. Impressionante não? Exatamente os mesmos olhos. E não sei a
quem Vivienne puxou, pois meus olhos são castanhos e os de Norton eram
verdes.
– Uma mistura perfeita, talvez.
– É, talvez.
– Você era uma jovem muito bonita Laura. Não é à toa que continua linda.
– Você ainda não viu Vivienne maior, verá que garota deslumbrante se
tornou.
Vou virando aquelas páginas e a cada fase a garotinha realmente parece
ficar mais e mais linda. Fartos cabelos lisos e loiros, num tom de mel, pele
clara, lábios e nariz bem delicados e aqueles olhos dourados dão a ela uma
beleza exótica. Chego a uma em que deve ter cerca de uns doze anos. E uau, já
é lindíssima.
– Explicado o motivo de Oliver ser lindo do jeito que é.
– Sim, tirando a cor dos cabelos, os dois são extremamente parecidos. Isso
sempre me deu medo. Mas depois vi que as semelhanças se restringiam a
aparência, felizmente.
– Por que diz isso?
– Porque em personalidade os dois são muito diferentes. Vivienne sempre
foi difícil. Nunca se conformou com a nossa situação social, mesmo de criança
já a incomodava e ela tinha expectativas irreais, fazia exigências que por mais
que eu me esforçasse, não conseguia atender. Descobriu bem cedo o quanto era
linda e encantadora, e aprendeu a usar isso a seu favor, manipulando as
pessoas. Inclusive a mim.
– Ela conseguia penetrar nas rodinhas das classes mais altas por causa da
sua aparência e seu jeito meigo, apenas para usufruir de regalias junto às
famílias das suas “amiguinhas”. As meninas a mantinham por perto pois
queriam ser como ela e os meninos se encantavam no primeiro olhar.
– Claro que essa análise fria e feia dos fatos só me permiti enxergar
quando ela já era adulta e não havia mais muito o que eu pudesse fazer.
Enquanto criança, sempre achei se tratar de uma fase, ou algo inocente, às
vezes até fofo. Hoje penso que se eu fosse uma mãe mais velha, com mais
experiência, ou com mais estrutura familiar, perceberia antes a real gravidade
do seu comportamento, interviria enquanto havia tempo, e quem sabe, evitaria
tanta dor e tantos erros futuros.
– Laura, não se culpe. Tenho certeza que apesar de todos os problemas,
você foi uma ótima mãe.
– Já Oliver, – ela sorri – ele é o completo oposto. Claro, sempre chamou
muita atenção por seu físico também, mas isso nunca o seduziu. Acho que se
pudesse escolher, optaria por uma aparência mais comum, para passar o mais
despercebido possível. Nunca me deu um motivo sequer de desgosto, Bia.
Apesar dos graves problemas que enfrentou e que não posso lhe contar, ele
fazia de tudo para não dar trabalho, ou me aborrecer de alguma maneira,
mesmo quando pequeno. Muitas vezes eu chorei por isso, porque ele não se
permitia ser criança, sabe?
– Imagino, isso é triste...
– Sempre teve dificuldade de se abrir e dizer o que sentia, ao contrário de
Vivienne, que dizia o tempo todo que me amava. Mas as suas ações, essas
sempre eram para fora e nunca para dentro. Às vezes acho que ele cuidou mais
de mim do que eu dele. Além disso, tem a inteligência acima da média. A
escola para ele sempre foi um tédio. Ele já te contou como se aproximou de
Max e Lian? – Nego.
Ela me conta sobre como os garotos se aproximaram e do autodidatismo de
Oliver para aprender e depois ensinar música aos outros dois. É possível ver o
brilho nos olhos dela ao falar do neto.
– Tenho certeza que ele montou a banda e a levou até o auge mais para
realizar o sonho dos dois do que o seu próprio. Ele teria optado por algo com
muito menos exposição e teria se dado bem em qualquer coisa que resolvesse
fazer. Porque quando Oliver decide algo, nada o tira do trilho até que ele
consiga. E isso ele também puxou dela, só que no caso dele, felizmente, usa a
determinação de forma positiva.
– Ele é maravilhoso. Já me provou isso tantas vezes neste pouco tempo
que passamos juntos.
– Só que mesmo com todas as suas qualidades, ele não se acha bom o
suficiente. Merecedor o suficiente. O que é culpa da minha linda filha. Então
você pode imaginar o quanto vê-lo feliz ao seu lado, se permitindo ser o jovem
que ele é, se permitindo ter algo que ele realmente quer, me faz feliz também.
Ele declarou aberta e naturalmente ontem, na frente de todas aquelas pessoas,
os sentimentos dele por você. É uma vitória enorme para ele Bia, você não faz
ideia.
– Esse medo dele, de não ser bom o suficiente, você acha que é por isso
que ele não consegue me contar como perdeu os pais?
– Sim querida, é por isso. Tenha paciência com ele nesta questão. Há
coisas bem sérias aí e ele tem medo. Mas o que você fez por Oliver em poucos
meses, é bem mais do que a terapia fez em anos e anos.
Continuo a olhar as poucas páginas restantes daquele álbum e a última delas
traz Vivienne já adulta. A semelhança na fisionomia dos dois é ainda mais
impressionante. Olhos, boca, testa, nariz, o furinho no queixo que fica visível
quando ele usa a barba mais rala, certamente vieram da herança genética de
Vivienne.
– Como ela e o pai de Oliver se conheceram? Ela era modelo, viajava o
mundo?
– Apesar de poder ter sido, Vivienne tinha por objetivo investir em outros
caminhos. Ela trabalhou na filial americana da empresa dele, como
recepcionista. Foi assim que se conheceram.
– Laura, por que você insistiu em me receber na casa de vocês, sabendo
que Oliver não se sentiria confortável? Sabe, ele me contou que sugeriu que me
ajudassem de outra forma.
– Eu não sei Bia, mas eu sentia que precisava tê-la ali. Nas conversas que
tive com seu pai, quando ele me procurou, falamos muito sobre você, óbvio, e
conforme ele me relatava aspectos da sua personalidade, eu enxergava coisas
em comum com Oliver, via que vocês dois poderiam se dar bem, e na minha
ingenuidade, achei que resolveria dois problemas de uma só vez, te daríamos
uma nova família e daria a ele alguém com quem pudesse contar além de mim
no futuro, uma irmã mais nova. – Ela me acompanha na risada.
– Acho que as coisas não saíram como planejadas.
– Não mesmo. Saíram melhores. No dia que eu apresentei os dois e
enxerguei o fascínio nos olhos dele também, pois nos seus eu já tinha visto
através dos seus surpreendentes relatos, eu soube que tinha tomado a decisão
certa.
– Fascínio? Por Deus, eu fui um desastre aquele dia.
– Um desastre adorável. Querida, estamos chegando.
O carro para em frente a grossos portões de ferro, o motorista
aparentemente se identifica e os portões se abrem, seguimos por um caminho
lindamente arborizado, até que ao fundo avista-se uma mansão, dessas antigas,
estilo casa branca.
– Quem mora aqui? – pergunto assim que o carro estaciona em frente a
enorme escadaria principal.
– É uma clínica particular. Quero que conheça um interno.
Laura instrui o motorista a voltar dali há duas horas, deixo o veículo e sigo
os passos de Laura, que parece conhecer muito bem o lugar. Assim que
passamos pelas suntuosas portas, saímos num enorme salão, transformado em
recepção.
– Senhora Evans, já a aguardávamos hoje, bom vê-la novamente.
– Olá, Mary. Então, estável?
– Sim, nenhuma mudança.
– Trouxe minha nora comigo, ela vai me acompanhar na visita, tudo bem?
– Sem problemas. – Ela passa a Laura uma chave eletrônica. – A senhora
já sabe o caminho, fiquem à vontade e qualquer coisa, só acionar o painel que
um enfermeiro lhes dará o suporte necessário.
– Obrigada Mary.
Apesar do lugar ter sido cuidadosamente pensado para não parecer um
hospital, o cheiro inconfundível dos produtos de limpeza característicos, não
deixa dúvidas. Aquilo ativa memórias indesejáveis, me causando arrepios.
Espero que eu tenha estrutura para lidar com o que quer que Laura vá me
mostrar ali
Entramos no elevador, Laura pressiona o número dois no painel, e a viagem
até o segundo piso parece não ter fim.
Meu coração acelera e meus medos estão à flor da pele. Começo a
questionar se foi mesmo uma boa ideia acompanhá-la.
Bom, agora não há mais volta, logo vou descobrir.
As portas do elevador se abrem para um enorme corredor. Imagens de
outros corredores surgem, aquele ao qual segui aos treze anos, até o quarto em
que mamãe morreu segurando a minha mão. E aquele que cruzei às pressas, em
desespero, quando me avisaram da piora no quadro de papai. Paramos em
frente ao quarto duzentos e três. Laura encosta a chave na tranca e a porta
destrava.
É agora.
Preciso segurar a onda, preciso!
O quarto é decorado como uma confortável sala de estar, não fosse pela
cama em frente aos painéis hospitalares, onde um corpo magro, ligado a vários
aparelhos bipando, parece dormir. Laura aproxima-se da cama e eu
acompanho, receosa.
É uma mulher, meia idade, franzina, apenas pele e osso. Laura arrasta uma
poltrona até a beirada da cama, senta-se e começa a afagar os cabelos dela.
– Oi filha. É o seu aniversário, meu amor. A mamãe está aqui. – O soluço
escapa antes mesmo que eu possa me dar conta de que ele está chegando.
Aquela cena é triste, triste demais.
Laura me olha sorrindo, mas lágrimas escorrem dos olhos.
Eu não consigo mais conter a emoção e me entrego ao choro abundante. Ela
segue apenas afagando os cabelos de Vivienne até que eu me acalmo.
Jamais esperaria por aquilo, jamais.
– Temos que arrumar o seu cabelo, não é minha princesa? Como a mamãe
fazia quando você era pequena e você adorava? – Laura retira uma escova de
cabelos e vários prendedores da bolsa.
Penteia cuidadosamente os cabelos da filha em estado vegetativo, depois
faz um penteado na frente com vários pequenos prendedores pontos de luz.
Lembro de ter visto o mesmo penteado em algumas das fotos que vi no
carro.
– Pronto. Agora sim, você já pode receber visitas. Lembra o que eu contei
a você nas últimas vezes, filha? Sobre o anjo que apareceu na vida de Oliver?
Da menina especial que o seu filho encontrou e do quanto ele está feliz? Pois é.
Ela está aqui. Veio ver você. Aproxime-se querida, deixe-a sentir que você
está aqui. – Faço o que Laura pede e me aproximo, tomando a outra lateral da
cama.
Levo minha mão até a mão de Vivienne e a acaricio levemente.
– Oi Vivienne. Sou Beatriz, Bia. Prazer em conhecê-la. O seu filho é um
homem especial. Impossível não se apaixonar por ele. Na verdade, ele é que é
o anjo que apareceu na minha vida. Se parece muito com você, lindo como a
mãe. Eu o amo demais e prometo que a felicidade dele será sempre a minha
prioridade.
– Viu meu amor, ele está bem. Cercado de amor. Eles formam um casal tão
lindo Viv. E apesar dele não vir até aqui, você sabe que ele te ama muito,
certo? Ele nunca deixou de amar você filha, por isso não vem, porque é difícil
demais para ele, e não porque não te perdoou. Nosso menino não é assim. O
coração dele é enorme. Se você quiser, você pode ir em paz, sabe? Não
precisa ficar agarrada a esse sofrimento. Não precisa se punir mais. Além de
mim, ele tem a Bia agora. Ele será feliz. – As lágrimas voltam a pedir espaço e
não sou forte o suficiente para evitá-las.
O que houve nesta família? O que a deixou neste estado?
Passamos pouco mais de duas horas ali. Laura sempre conversando com a
filha, como se ela pudesse ouvi-la. Relembrou vários episódios da infância e
adolescência da mulher que gerou o homem que eu amo. Conseguimos rir em
alguns momentos, mas o nó na garganta me acompanhou o tempo todo.
Antes de irmos, ela reforçou novamente a Vivienne que a amava, que Oliver
a amava e que ela poderia ir. Que deveria se libertar e que tudo ficaria bem.
Saímos em silêncio e assim seguimos até o carro.
– Bia, sei que você deve ter inúmeras perguntas a fazer e eu vou responder
as que eu puder. Mas por favor, eu preciso de uns minutos para mim antes
disso. É duro demais ver um filho nesse estado, duro demais dizer a ele que
deve partir. E eu faço isto há anos.
– Laura, estou aqui por você. O que você quiser, o que precisar. – Ela
assente. Dá instruções ao motorista e partimos dali. Uns quinze minutos depois
ela quebra o silêncio.
– Querida, você falou em ir ao shopping, mas vou levá-la a um lugar que
não cause tanto desgaste na busca das peças certas. É uma butique, há
consultoras que vão ouvir o que você precisa e vão trazer exatamente o que se
encaixa no seu gosto e no seu manequim para provar. Shopping é cansativo e
seria perigoso caso alguém a reconheça, não viemos preparadas. Este lugar
preza pela discrição.
– Laura, eu agradeço, mas preciso de um lugar com preços acessíveis. Não
precisamos fazer isto hoje.
– Santo Deus, Beatriz, ainda esta bobagem? Você é a mulher dele, por
favor... e mesmo que não fosse, Oliver é muito rico. Pode comprar todo o
estoque da loja que não fará nem cócegas em sua conta bancária.
– Não é questão de ser rico ou pobre. É de fazer o que é certo.
– O certo é você se manter segura e aceitar de uma vez a sua nova
realidade. Você é a mulher do maior astro da música atual. Faça suas compras
nesta loja e a conta será enviada a ele. Não é como se você estivesse por aí
esbanjando dinheiro e se aproveitando da situação, Bia. Eu sei, ele sabe! – O
que me resta?
– Tudo bem, vou aceitar.
– Ótimo. Agora entre lá e compre tudo que precisa. Não deixe de levar
pensando que está sendo abusada. Não sei você, mas eu pago para não fazer
compras, então quando eu compro, compro para o ano.
– Neste ponto tenho que concordar com você. Aquele dia de shopping com
Hazel ainda me causa pesadelos. – Ela ri.
– Hazel adora agito e adora bater perna.
– É. Descobri a duras penas. Ou deveria dizer “duras pernas”? Porque eu
quase não consegui levá-las até o carro no fim da noite.
– Imagino, imagino... Eu vou esperá-la na pracinha ao lado. Fique o tempo
que precisar na loja, depois almoçamos e retornamos à Oceanside. Peça por
Elsa. Eu enviei uma mensagem a ela avisando que você viria.
Entro na loja, peço pela tal Elsa que realmente já está a par da situação.
A garota me faz algumas perguntas, tira as medidas e me encaminha a um
provador, que está mais para uma suíte. Tem até frutas e champanhe a
disposição. Acho que nunca estive num lugar tão chique. Só os lustres da
butique devem custar o que valia o nosso apartamento em Chicago.
Nem imagino quanto custará uma simples calça jeans aqui. E decido que
nem vou olhar, pois vai me doer saber que pagarei uma fortuna por algo em
que poderia gastar bem menos.
Mesmo que dinheiro não seja o problema, é desconfortável. Soa imoral,
soberbo. Mas entendo que não se paga apenas pelo item, e sim pela
comodidade e segurança.
Consola, um pouco...
Compro algumas calças jeans, outras calças mais refinadas, duas mais
ousadas, algumas saias até quase o joelho, blusas, camisas e camisetas. Além
de jaquetas, casacos, sapatos e bolsas. Somando isso a todos os vestidos, mini
saias, regatinhas, shorts, biquínis, lingeries, sandálias, sapatilhas, rasteirinhas,
cremes, perfumes e maquiagem que Hazel comprou para mim, posso dizer que
terei um guarda-roupas super completo por um bom tempo.
Como nunca tive um em toda a minha vida.
A primeira coisa que farei ao voltar, é me desfazer de peças que trouxe
comigo e que já estão para lá de surradas.
O que mais me impressiona, é que não levei mais de uma hora e quinze
minutos para resolver tudo.
Hazel que me perdoe, mas prefiro mil vezes o jeito Laura de ir às compras.
Estou quase saindo quando lembro que o aniversário de Oliver é dali há
oito dias.
O que poderia dar a ele?
Comento com Elsa e ela me mostra algumas opções. A princípio nada me
agrada, até que vejo, num dos manequins masculinos com roupas mais
descoladas, uma pulseira, formada por cinco tirinhas de couro preto muito
finas, e com uma medalhinha de ouro branco pendurada. Aquilo combina com
ele, mas não sei se consigo pagar, pois não quero comprar o seu presente com
o seu próprio dinheiro.
Como tudo ali, a peça é bem cara, iria mais da metade do que tenho em
conta para comprá-la, o que me desanima. Elsa nota, me pede um instante,
entra num outro cômodo e minutos depois retorna.
Então comenta comigo que aquelas joias são feitas por um artista local
renomado, ele cria para cada cliente em exclusivo. E que aquela está no
mostruário há bastante tempo apenas para divulgar o seu trabalho, não para ser
vendida. Ela ligou para o artista, que concordou em vender pela metade do
preço, caso eu concorde em levar a peça da exposição. A loja também retiraria
o seu percentual, para que eu me torne cliente, sendo assim, eu pagaria pouco
mais de um terço do preço original.
Para os meus padrões ainda é muito salgado, mas como Laura disse, tenho
que me habituar a minha nova realidade e acho que Oliver realmente vai gostar
daquilo.
Resolvo levar.
Passo a ela o que eu gostaria que fosse gravado na medalhinha e ela fica de
me avisar quando estará pronta para que um dos motoristas a busque.
Com tudo resolvido, saio em busca de Laura, enquanto funcionários da loja
levam minhas compras para o carro.
– Laura – chamo, quando a vejo, está sentada num dos bancos sob as
árvores.
– Oi querida, e então, conseguiu tudo o que queria? Lhe atenderam bem?
– Sim, tudo perfeito.
– Que bom. Poderíamos ficar aqui e conversar, mas penso que seria bom
eu levá-la até a ONG, apresentá-la a Selena. Assim poderá dizer a Oliver que
fizemos isto e depois você ficou na loja enquanto eu fui fazer alguma outra
coisa. Nada disso seria exatamente uma mentira. E deixamos a conversa para o
almoço e a volta. O que me diz?
– Claro, vamos lá.
A ONG funciona numa sala comercial num edifício próximo de onde Oliver
tem o seu apartamento em Long Beach. Conheço Selena, a doce senhorinha que
ajudou Laura em seu começo forçado na vida adulta.
Ela lembrou com carinho do meu pai.
Além de Selena, está lá também a sua assistente. Elas me contam um pouco
sobre os trabalhos que desenvolvem, em sua maioria beneficiam crianças em
situações críticas ou de abandono e mulheres vítimas de abusos.
No espaço há quatro mesas, de Selena, de sua assistente, de um outro
colaborador que não está ali naquele dia e a que Laura e Helen dividem
quando vêm até o escritório, apesar de fazerem a maior parte de seu trabalho
de suas casas mesmo.
Cerca de quarenta minutos depois, estamos as duas sentadas à mesa de um
pequeno restaurante vegano que Laura diz ter uma comida deliciosa. O que é
absolutamente verdade.
Sempre imaginei que lugares assim servirem comida sem graça e sem gosto.
Não poderia estar mais enganada. Os temperos são muito saborosos.
Laura pede uma salada apenas, que permanece quase toda intacta ao final da
refeição. Sinto sua dor, mas não sei o que fazer para amenizá-la, então deixo
que tome o tempo que quiser sem tocar no assunto que permanece em aberto
entre nós.
Meu telefone toca, é Oliver.
– Oi amor.
– Bia, ainda estão em Long Beach?
– Sim, estamos terminando de almoçar neste exato momento. E vocês?
– Ainda em Los Angeles, voltaremos daqui a pouco. O que tanto fizeram
por aí? – Engulo em seco, preciso ser convincente.
– Conheci a ONG, sua avó me levou a uma butique onde comprei as
roupas que comentei com você. Ela foi resolver outro assunto enquanto fiquei
por lá. – Laura olha e me lança um sorriso cúmplice. – Nos reencontramos e
viemos almoçar. Foi isso.
– Ah... certo. Então você voltará a tempo para a primeira aula com Edgar?
– Sim, creio que chego por volta das quatorze horas. – Laura me faz um
positivo.
– Até daqui a pouco, baby.
– Até. Amo você. – Desligamos.
– Laura, você acha que...
– Sim, ele se lembrou de que dia é hoje. Sabe que eu não deixaria de ir vê-
la.
– Detesto não ser sincera com ele.
– Sei disso querida, mas vamos conversar no carro durante a volta e te
explicarei os meus motivos o tanto quanto eu conseguir.
– Tudo bem.
Bia
Haha. Obrigado
querida
Oliver
Desperto renovado.
Acho que há muito tempo não tinha um sono tão reparador, tão em paz.
Coração leve e energia a mil.
Estico o braço para o lado antes mesmo de abrir os olhos, à procura de Bia.
Mas a cama está vazia.
O que a danada está fazendo sozinha, fora da cama?
E o sexo matinal, onde fica?
Deveria ter incluído essa cláusula no nosso acordo quando concordei em
participar das campanhas com ela.
Jamais sair da cama antes do sexo matinal.
Me lembrarei disso da próxima vez que ela tentar barganhar comigo. Sem
dúvida enfrentarei muitas negociações com aquele brinquedo assassino com
cara de anjo ao longo da vida.
E falando em assassinato, ontem quase cometi um.
Por pouco não apertei minhas mãos em torno do pescoço roliço do Dr. Iori
até ele sufocar.
O japonês me fez passar um dia do cão, numa agonia sem fim e um medo
paralisante ao se negar a liberar o resultado dos exames sem ser pessoalmente.
Tinha certeza que meu mundo, mais uma vez, sairia do eixo e desabaria. Até
deixei Henry, Max e Lian de sobre alerta. Eu retomei, e Bia começou, a terapia
com Henry na semana passada.
O conterrâneo do Pokémon só escapou porque minha felicidade e meu
alívio superaram a minha ira.
Ele, por fim se desculpou, disse que independente do resultado, não os
passa sem ser pessoalmente, precisa explicar detalhadamente ao paciente as
conclusões e que mesmo quando os resultados são os melhores possíveis,
como no caso de Bia, que definitivamente não tem nenhuma pré-disposição
genética, ainda assim será feito um acompanhamento de saúde semestral e ele
aproveita esta consulta de retorno para agendar a programação com o paciente.
Mas admitiu que sua secretária, ao passar a informação da necessidade de
comparecimento presencial, poderia ter adiantado que não havia nenhum
motivo para pânico.
Decido levantar de uma vez à procura da minha pequena fugitiva, estendo o
braço para pegar o telefone no criado mudo e ver as horas, e ouço um tilintar
de algo contra a madeira do móvel.
Mecho a mão de novo e o “tim” ressoa mais uma vez.
Olho na direção do som e me surpreendo ao ver algo pendurado no meu
pulso.
Que diabo...
Me sento na cama para analisar o que é aquilo.
Uma pulseira com tiras finas de couro e uma medalha branca, pequena,
pendurada. Puxo o pulso para perto dos meus olhos.
De um lado da joia há asas de anjo desenhadas nos cantos e, no centro
delas, um B e um O entrelaçados. Do outro lado a seguinte inscrição “U+I 4
ever”, uma abreviação criativa do “você comigo sempre” que ela me disse e
depois postei nas redes.
Fico admirando meu presente com um sorriso bobo na cara, ao mesmo
tempo que tento entender porque ela me deu aquilo.
Até que a ficha cai.
Pego o celular para confirmar e lá está, dia onze de novembro, dez e quinze
da manhã. O dia em que nasci. A data que não deixo divulgar e que todos na
família sabem que não comemoro e não gosto de ser lembrado.
Lembrar do meu aniversário é lembrar do dela e também, do dia mais triste
da minha vida, o dia em que a perdi pela primeira vez. Em muitos anos o dia
passa e nem eu mesmo me recordo, percebo tempos depois que já fiquei
oficialmente um ano mais velho.
Respiro fundo.
Ela vai querer comemorar, penso enquanto brinco com a medalhinha da
pulseira entre meus dedos.
Reflito sobre aquilo e percebo que talvez seja mesmo hora de dar um novo
significado a este dia. Henry ficará orgulho com minha decisão, e é verdade.
Chega.
Temos mesmo que comemorar as ótimas notícias que recebemos ontem.
Tenho que comemorar o fato de que, neste ano, uma menina linda entrou feito
um furacão na minha vida, atribuindo sentido ao meu caos.
Meu caos particular, rio da ironia.
Me mexo para sair da cama e outra coisa me chama a atenção. Uma folha de
papel sobre o colchão, dobrada ao meio com os dizeres Mr. Rain escrito na
frente, numa caligrafia cursiva linda, que conheço bem de outros bilhetinhos.
O sorriso besta aparece mais uma vez. Pego o papel e o abro.
O sorriso só aumentou.
Já ansioso pelo tipo de comemoração que ela planejou lá fora, resolvo
surpreendê-la e encontrá-la usando apenas uma peça.
O presente que ela me deu e nada mais.
Infeliz decisão.
Se pudesse prever o que se sucederia, voltaria atrás num piscar de olhos.
Saio do quarto, me sentindo o próprio Adão.
Pelado no paraíso.
Caminho pelo corredor. Tudo está muito silencioso e mal iluminado, o que
acho estranho, visto que já passa das dez da manhã.
– Bia – chamo e nada.
Entro na sala ampla e paro no vão que divide os espaços entre as salas de
jantar e de estar e descubro o motivo da falta de claridade.
Uma espécie de toldo preto está estrategicamente erguido mais adiante,
bloqueando a passagem da luz que vem da enorme parede de vidro frontal.
– Qual motivo do paredão preto Beatriz e o que você faz atrás dele? –
Nada, nenhum movimento, nenhuma resposta.
– Bom, acho que a minha comemoração vai começar aí, não é? – Dou
alguns passos em direção ao troço, até que sinto meu pé direito pisar em algo
macio.
No instante seguinte ouço um cleck e então...
– SURPRESA! – gritam enquanto o paredão despenca feito dominó de
cartas de baralho e uma chuva de papéis brilhantes e coloridos caem do teto
em cima de mim.
– Puta-merda! – berro levando minhas mãos o mais rápido possível à
frente do meu corpo para que a minha família inteira não me veja como vim ao
mundo.
– Ai Jesus! – reage Bia segurando um bolo coberto com velinhas
faiscantes, enquanto os filhos da puta dos meus colegas de banda se afinam de
tanto gargalhar e sacam seus celulares para registrar o meu momento mico
astronômico.
Vovó, Alicia e Helen viram de costas o mais rápido que conseguem, mas é
possível ver pela forma como balançam o tronco que estão rindo pra caramba.
Hazel ri tanto que não aguenta e se senta no chão, apoiando a cabeça nos
joelhos. Edgar e Johnathan se seguram um no outro enquanto chacoalham o
esqueleto às minhas custas.
Bia está lá, com aquele bolo na mão, os lábios formando uma linha reta,
grudados um no outro para tentar deter a gargalhada, mas ela não resiste por
muito tempo e explode também, quase deixando a torta cair no chão.
E isso era o que faltava para eu não aguentar mais e acabar chorando de
tanto rir junto com eles, ali, parado no meio da sala.
Feito a estátua de Michelangelo em noite de carnaval.
Sem poder me mexer, pois ou tapo o pau ou mostro a bunda.
– Isso é que é surpresa – declara Max.
– A ideia era surpreendermos você, Oliver, e não você à gente – diz
Johnathan.
– Nossa vó querida, a senhora não ensinou a este menino que não se anda
pelado pela casa? – pergunta Lian.
– Que é perigoso pegar friagem? – emenda Max.
– Que pode congelar e cair o pau? – completa Kellan.
– Imbecis! Vocês me pagam – digo sem muita propriedade. – E você
também Chucky, o que é seu está guardado.
– Bem, nesse momento acho que está é bem exposto – diz a atrevida,
provocando mais uma onda geral de risadas.
– Amor, eu não lembro de escrever naquela carta que era para você me
encontrar pelado. – Faz cara de inocente.
– Que tipo de comemoração você acha que eu imaginei, Beatriz? Garanto
que as roupas não tinham serventia alguma nas cenas que povoaram a minha
mente criativa. – As bochechas dela acendem.
Ela é tão incrivelmente linda...
– E se essas velas aí são para eu apagar, venha aqui de uma vez, antes que
não reste mais nada delas sobre o bolo. – Preciso que ela se aproxime, para
que eu possa usar o seu corpo como escudo e voltar para o quarto, sem que a
minha avó tenha que presenciar mais nada constrangedor.
Ela vem até mim com o bolo na mão e o coro atrás canta um parabéns para
você desconexo pelos acessos de risos ora de um, ora de outro.
Duvido um apagar de velinhas mais estranho do que o meu, me inclinando
para soprar com a mão posicionada estrategicamente sobre a artilharia pesada.
Lógico que Lian e Max não deixariam de registrar o momento para a
posteridade. Mas cumpro a tarefa com louvor, depois beijo a bochecha corada
de Bia, a posiciono estrategicamente na minha frente e consigo finalmente
liberar as mãos, enlaçando sua cintura.
– Hazel, pegue o bolo, por favor. Bia precisa ir comigo até o quarto.
– Prontinho, estrela.
– Pessoal, nos deem licença por uns minutos. Fiquem à vontade, já
voltamos. – Vou me retirando de ré mantendo Bia cuidando do front end.
– Oliver, sabemos quanto tempo demora para vestir uma cueca. Sem ideias
lá dentro com Biazinha...
– Melhor você dizer para ela não ter ideias comigo, Lian. Essa mulher não
me dá folga... aí, baby, – levo um pisão no pé – eu só disse a verdade,
caramba...
Assim que entramos na porta do quarto um novo ataque de riso se apossa de
nós. A puxo para mim e a abraço enquanto tentamos controlar a crise.
Inspiro seu cheiro, distribuo beijos por seu pescoço e por fim beijo sua
boca. Conseguindo assim nos afastar um pouco da cena hilária, dando espaço
para outras imagens em nossas mentes.
Ela está tão linda em um vestidinho branco, tão feliz, tão menina. Baixo uma
das alças do vestido, que usa sem sutiã, pois tem um bojo embutido, expondo o
seio perfeito, desço os lábios até lá e sugo com carinho, arrancando gemidos.
– Baby, temos visitas, e já os chocamos o suficiente por um dia.
– Eu sei amor, só preciso dizer bom dia a eles. – Repito o processo com o
outro seio, suas unhas cravam em minha pele, indicando que está ficando
excitada.
– Oliver... – arqueja – amor, você está ficando duro e eu... – Ela tem razão,
melhor não nos instigarmos mais, porque senão não vamos sair daqui sem
resolver o problema e nossa família merece mais consideração.
Beijo-a mais uma vez enquanto devolvo as alças do vestido para o devido
lugar.
– Obrigado pelo meu presente, eu adorei. Não sairá mais do meu pulso. –
Balanço a pulseira, ela abre um sorriso que ilumina o quarto todo. – Pelas suas
palavras, acho que finalmente posso dar um novo significado a este dia, sim.
Também tenho muito a agradecer. – Seus olhos brilham.
– Por trazer todos que são importantes para mim, aqui. E, embora não
planejadas, pelas risadas. Não é nem meio-dia e este é sem dúvida o
aniversário mais divertido que eu tive. É bom demais ver toda minha família
exalando alegria. – Beijo as pequenas sardas e a ponta do nariz. – Amo você. –
Então me afasto dela para colocar uma roupa.
– Fiquei com medo de você não estar pronto para isso e ter que despachar
todo mundo.
– Estou bem. E feliz, de verdade.
– Da próxima vez vou me lembrar de adicionar ao bilhete os detalhes do
tipo de traje que a ocasião pede – brinca.
– Por favor, faça isso – reforço e rimos novamente. – Pelo visto você já
incluiu Edgar na família, não é? Ele pretende pedir sua guarda e terei que
chamá-lo de sogro II?
– É... você... – ela fica meio sem jeito – você se importa que eu o tenha
convidado? Ele é tão sozinho...
– Não, de jeito algum. Gosto de Edgar. Fico feliz que tenha vindo. Ele é
sozinho sim, mas em grande parte por opção dele. Edgar é um pouco como eu,
não gosta de socializar muito. Ao longo destes anos o convidamos várias vezes
para reuniões em nossas casas, afinal, está conosco desde o começo, mas
foram raras as vezes em que ele aceitou. – Bia suspira, como se lamentasse
algo que eu não compreendo. – Mas, assim como eu, parece que ele não resiste
aos seus encantos.
– Mais uma semelhança entre os dois, então.
– É, mais uma. Vamos? – Estendo a mão a ela para voltarmos para junto
dos outros.
Um baita café da manhã está sendo servido ao voltarmos. Algumas pessoas,
provavelmente de algum buffet contratado, circulam por ali, terminando de
arrumá-la.
A engenhoca que usaram na surpresa, e que nem quero saber onde
encontraram e como funciona, já foi retirada dali, sobrando apenas os papéis
laminados espalhados pelo chão.
Assim que me vê, vovó voa na minha direção e me abraça. Ela tem lágrimas
nos olhos. Devolvo seu abraço, a apertando contra meu peito.
– Deus, como eu quis, por estes anos todos, poder te dar um abraço nesse
dia sem te fazer sofrer.
– Ah, vó... – digo segurando seu rosto e secando suas lágrimas. – O
importante para mim nunca foi este dia, mas sim todos os outros. E a senhora
esteve comigo em cada um deles. Pela primeira vez em muitos anos me sinto
leve e feliz na data de hoje, então não vamos pensar em coisas dolorosas, ok?
– Ela assente e beijo sua cabeça.
Após receber os cumprimentos e aturar mais piadinhas a respeito da minha
entrada triunfal, nos sentamos e começamos a degustar o café da manhã.
– Bia, me diz que esse cheiro que eu estou sentindo é daquela omelete
estupenda que você fez outro dia. Diz que sim, por favor... – pede Max, que
nem criança olhando uma vitrine de doces. Bia ri.
– É sim, Max, a omelete, as panquecas e o bolo fui eu quem fiz. O restante
veio do buffet. – Meu queixo cai.
– Que horas você levantou?
– Cedo. Muito cedo. – Trago-a para mim pelo pescoço e a beijo.
– Você fez um bolo para mim? – Agora sou eu que pareço uma criança.
– Ahhã.
– De chocolate? – Meus olhos brilham, tenho certeza.
– Siiiim. Com recheio de Brigadeiro, que é um doce brasileiro que a
minha mãe fazia para mim e... baunilha e amêndoas. – Ela me dá uma
piscadinha sacana.
– Não vejo a hora de provar... tudo... – Pisco para ela também.
– Eu sonho toda noite com essa omelete, desde aquele dia – diz Max se
servindo de uma porção bem generosa.
– Deveria ter falado, posso fazer para você quando quiser.
– Rá. Só o que faltava. Max que crie vergonha na cara barbuda dele e
arrume uma mulher para ele.
Imediatamente me arrependo do comentário ao fitar Hazel. Ela percebe meu
olhar de sinto muito. Bia já contou a ela que eu sei.
– Ela está falando comigo, babaca, ninguém te chamou na conversa –
provoca Max. – Vou pedir, Bia.
– Posso ensinar Hazel a fazer também – sugere minha inocente namorada.
Hazel cospe o que estava comendo, Alicia, Johnathan e Max reagem como se
Bia tivesse sugerido o maior absurdo da história.
– Você está vendo a fé que eles têm em mim, amiga?
– Desculpa filha, mas você na cozinha... só eu e sua mãe sabemos o que
esperar quando resolve se aventurar. Afinal, somos nós que temos que provar
depois – reclama Johnathan e Hazel faz careta.
– Para o bem de todos, vamos manter Hazel longe da cozinha, Bia. Mas se
você quiser me ensinar, eu aceito – sugere Helen, dando uma piscadinha
cúmplice.
– Bom, vamos ver se a sua omelete é boa mesmo, discípula.
– Conta ponto extra se agradar, mestre? – Edgar revira os olhos.
– Por que de repente me sinto num filme do Star Wars? – pergunta Lian.
– Deve ser porque Oliver mostrou o sabre. E eu tenho outro bem aqui,
quer ver? – zoa Kellan.
– Mais respeito com os mais velhos, fedelho. – Lian xinga.
– Hummm. Muito boa a omelete está. Mas por isso, melhor nota não vai
ganhar. – A mesa é tomada por nova onda de risadas e mais gracinhas.
O dia transcorre assim, nesse clima divertido.
Olho para eles, todos eles, penso em tudo que construídos ao longo dos
anos e me sinto grato, realmente grato. Quase consigo dizer que valeu a pena
passar por tudo que passei na infância para estar hoje ali, curtindo aquele
momento.
Não fosse os meus infortúnios, não haveria Max, nem Lian, nem The Order
e possivelmente, nem vovó na minha vida hoje.
E nem Bia.
Meu coração aperta.
Um pensamento indesejado tenta me levar para um certo quarto de hospital,
mas eu o afasto imediatamente.
Em determinado momento no meio da tarde, enquanto preparo uma
caipirinha, drinque brasileiro que Bia me ensinou a fazer e quero que os outros
experimentem, percebo vovó apreensiva, incomodada com alguma coisa.
Os homens estão jogando poker. As mulheres conversam no sofá, mas dona
Laura não está engajada na conversa, está distante, preocupada.
Levo a bebida para os caras na mesa de jogos e depois me sento na poltrona
em frente às mulheres.
Chamo vovó para sentar ao meu lado. Ela vem e a abraço.
– Por que essa carinha vó? O que está incomodando?
– Nada não. Foi um dia incrível. Estou muito feliz.
– Mas tem algo te preocupando. O que é?
– Impressão sua, filho.
– Vó, eu a conheço, esqueceu? Pode falar, mesmo que tenha a ver com
ela...
– Não tem nada, querido, eu juro. Ela... ela continua na mesma... – Seguro
seu rosto e a faço me encarar.
Estudo seu olhar.
Tem algo aí, sei que tem.
– Tem alguma coisa e por algum motivo a senhora não quer me contar. Não
vou pressionar, mas vou fazer perguntas e a senhora vai me responder
honestamente. Por sermos visados eu preciso saber e quero a verdade, estamos
entendidos? – Ela engole a saliva com mais força que o normal.
– Sim.
– Ótimo. O que quer que esteja lhe chateando, representa perigo para a
senhora ou alguém desta sala? Problema de saúde? Suborno? É grave?
– Não meu filho, por Deus, não exagere, não é nada sério. Fica tranquilo,
não há mesmo com o que se preocupar – frisa quando me vê ainda um pouco
cético.
Vovó é uma pessoa muito calma e ponderada, então quando fica nítido que
algo lhe causa desconforto, acendo todos os meus alertas, pois sempre há um
motivo forte.
– Ok. Quando quiser me contar o que é, estou aqui. – Beijo sua bochecha,
a deixo com as outras e volto para a mesa de carteado.
Perto das dezenove horas todos já seguiram para casa. Achei estranho vovó
recusar ir no carro com Helen e pedir um separado para ir a Long Beach ainda
hoje. Normalmente ela vai apenas aos domingos. Sua atitude só fez crescer
ainda mais a minha certeza de que ela está mesmo com algum problema.
Aquela dúvida me angustia e não consigo aproveitar a nossa noite como
deveria.
Mando mensagens a dona Laura, que me garante que está tudo bem. Bia
tentou me convencer a sair para dançar, mas eu declinei, compartilhando com
ela a minha preocupação.
A danada não perde tempo em mudar de assunto, dizendo apenas que
deveria ser algo na ONG, o que me leva a crer que, com ela, vovó
compartilhou o segredo. Deduzo então que o problema tem algo a ver comigo e
só posso imaginar que com Vivienne também, por mais que vovó tenha negado.
Ligo para a clínica em Long Beach e me confirmam o que dona Laura disse,
tudo na mesma. Acabamos passando a noite em casa e vendo uma dessas
comédias românticas melosas, a qual eu resisti bravamente.
Não durmo direito à noite e logo pela manhã convenço Bia a voltarmos
mais cedo que o programado. Apesar de saber que vovó ainda deve estar em
Long Beach, prefiro passar o domingo em casa.
Correr na praia e tomar um banho de mar sempre me ajudam com a
ansiedade. E não poderia ter tomado decisão melhor, pois bastou pôr os pés
porta adentro para dar de cara com o problema
Que para o meu total espanto, tem nome e sobrenome.
– Ah! – Bia exclama sua incredulidade levando as duas mãos a boca.
Eu a princípio fico sem reação, tentando entender o que se passa ali e ao
mesmo tempo não querendo acreditar nas sugestões lógicas que meu cérebro
insiste em me enviar.
Vovó está de pé, com os olhos arregalados e as duas mãos apoiadas no
tampo da mesa redonda.
Sua postura é de quem estava prestes a correr dali, mas percebeu que não
daria mais tempo.
Na mesa, um café da manhã servido.
Para dois.
O problema está de costas para nós.
Próximo à entrada do corredor, obviamente fugia da cena do crime, mas
parou ao ser pego em flagrante.
Um detalhe muito, muito importante, me leva a uma única conclusão,
terrível de imaginar tendo a sua avó envolvida, e que custo a admitir, fechando
e abrindo os olhos várias vezes para ver se o quadro muda, só que não...
Ambos estão de roupão.
Roupão!
O desgraçado, ainda por cima, está com o meu roupão.
Filho da mãe!
– Que porra é essa?! – Sem um escape plausível para fugir da suposição
fatídica, finalmente explodo.
O meu sangue ferve e provavelmente devo estar muito, muito vermelho de
raiva.
– Calma, Oliver. – Bia me pede, segurando o meu braço.
– Eu te mato, Edgar. Seja homem e me encare de frente, desgraçado. –
Minhas narinas estão dilatadas e a respiração pesada.
– Oliver, deixa eu... – Vovó tenta, mas não posso falar com ela no estado
em que me encontro.
– Agora não vó. Minha conversa é com ele. – Edgar finalmente se vira
para nós.
– Não tenho porque fugir Oliver, nem porque inventar desculpas. – Ai,
essa porra tá mesmo acontecendo, inferno. – Eu ia conversar com você em
breve, só não achei que hoje, dessa forma, fosse a melhor opção.
– No meu escritório. Agora!
– Ok, me dê alguns minutos para trocar de roupa. – Ele segue para o quarto
dela e eu saio a passos largos em direção ao escritório.
– Bia, eles vão... – Escuto os lamentos de minha avó enquanto me afasto.
– Não, Oliver não é maluco de agredir um homem de sessenta e oito anos.
– Ameniza minha garota, falando mais alto do que o normal, como um alerta
para mim.
Entro no escritório, deixo a porta escancarada, pego uma dose de whisky,
que viro de uma só vez. Não sei se é uma boa ideia, mas preciso de algo para
me acalmar. Um instante depois, ouço os passos de Edgar se aproximando.
– Entre e feche a porta. – Ele faz. Para a uns dois metros de mim.
Nos encaramos feito leões tentando provar quais dos dois é o rei do bando.
– Há quanto tempo, Edgar? Há quanto tempo você anda trepando com a
minha avó pelas minhas costas?
– Mais respeito com Laura, moleque – ralha, obviamente puto com a minha
escolha de palavras.
– O que? Vai negar que é isso que está acontecendo? Que eu entendi
errado? Porra! – Passo as mãos pelos cabelos e ando de um lado para outro. –
E o pior é que Bia, que conhece vocês dois há tão menos tempo, percebeu que
tinha algo rolando. Ela me perguntou no jantar de lançamento da turnê e eu,
idiota, disse a ela que estava fantasiando. – Rio da minha imbecilidade.
– Oliver, se você quiser falar civilizadamente, se estiver disposto a
conversar comigo como dois homens adultos fariam, eu vou me sentar aqui e
contar tudo que você quiser saber. Agora, se for para você me insultar ou pior,
desrespeitar Laura, então me desculpe, mas vou me retirar e voltamos a falar
quando você se acalmar. Não cometemos nenhum crime. Somos maiores de
idade e livres. – Apoio minhas mãos na mesa do escritório, baixo a cabeça e
respiro fundo algumas vezes para recuperar um pouco de bom senso e não
meter um soco na cara de Edgar, que é a minha vontade.
– Sente-se. – Aponto para a cadeira à frente da mesa, me sento também,
cruzo os braços na altura do peito e o encaro. – Comece.
– Você não está errado. Nos envolvemos intimamente sim, mas foi a
primeira e única vez que aconteceu.
– Rá. Você está me dizendo que nunca tiveram contato nenhum, que
simplesmente resolveu aparecer aqui e dona Laura o convidou para a cama
dela, é isso? Eu conheço a sua fama, Edgar. Sua vida social pode não existir,
mas a sexual sempre foi bem ativa. Quis tornar a minha avó, minha avó, mais
uma da lista? Você não precisava disso. Francamente...
– Está querendo insinuar o que, Oliver? Que estou aqui fazendo caridade
para a sua avó? Se for isso, você é um babaca que não consegue enxergar a
mulher maravilhosa que é Laura. E quanto a outra questão, fui casado por vinte
e três anos e eu amava minha mulher. Nunca a traí. Quando ela morreu, há mais
de dezesseis anos, eu sofri muito e não pretendia mais encontrar alguém que
pudesse ocupar o lugar nela na minha vida. Então sim, meus casos nesse tempo
todo foram apenas isso, casos passageiros. E só senti vontade de mudar isso
por um curto espaço de tempo, há dez anos, quando conheci sua avó. Lógico
que não fomos parar na cama no primeiro contato, nós tivemos uma história...
– Tiveram uma história? Quando? Onde? Como?
– É o que estou tentando lhe contar, se você me deixar falar... Nos
aproximamos, nos tornamos amigos logo após a doença de Vivienne, quando
você teve a sua última crise longa. – Porra, engulo em seco, não fazia ideia que
ele sabia sobre todas essas questões a nosso respeito.
– Eu apoiei sua avó naquela fase difícil, ela tinha a única filha e o único
neto acamados, ela estava tão fragilizada, triste e perdida... tentei ajudar por
todos aqueles meses, consolar, cuidar das coisas burocráticas, acompanhá-la
ao hospital, aliviar a carga, afinal Max e Lian tinham que cumprir o contrato e
ainda manter as aparências a seu respeito perante a gravadora. Estavam todos
sobrecarregados. – Merda, tudo por minha culpa, porque não consigo controlar
esse maldito transtorno...
– Mais tarde, quando você conseguiu voltar a realidade e melhorou,
retomou sua rotina, seus compromissos, continuei indo com ela às visitas à
filha por algum tempo e ali... ali eu já estava apaixonado. Contava as horas
para poder vê-la de novo, poder passar mais algum tempo em sua companhia,
queria construir algo com Laura, cuidar dela...
– Mas quando tomei coragem e me declarei, ela disse que não queria um
envolvimento romântico e ainda por cima resolveu encerrar nossa amizade.
Foi na época em que eu pedi um afastamento de três meses da antiga
gravadora, você deve estar lembrado – confirmo. – Eu... eu precisava de um
tempo.
– Como não fiquei sabendo?
– Ninguém soube porque Laura não quis, ela tinha medo que qualquer
mudança na dinâmica de vocês te levasse a uma nova crise... – Sinto uma dor
profunda em meu peito, de quantas coisas ela abriu mão por minha causa,
afinal? – Esse foi um dos motivos de ela me rejeitar sem nem nos dar uma
chance. Me confessou ontem que queria, mas além do medo, havia outros
traumas em relação aos homens...
– E como você veio parar aqui em casa noite passada? Era para vovó
estar em Long Beach, caramba...
– Long Beach foi só uma desculpa para não voltar junto com os outros. O
motorista a deixou num ponto de Los Angeles onde eu a estava esperando para
trazê-la para casa e conversarmos. Tivemos ajuda nesta reaproximação. Como
você bem disse, Bia foi perceptiva o suficiente para entender que havia algo
mal resolvido entre a gente e armou o plano...
– Ah claro, só podia ter tido o dedo da minha mulher nessa história...
agora faz sentido todo o nervosismo que vi em vovó... Ela só ficou sabendo do
plano ontem na festa, não é?
– Sim. – Debocho da armadilha.
– E o que mudou, Edgar? O que a fez te aceitar agora? Se você forçou a
situação, eu juro que te mato...
– Você me ofende dizendo uma coisa dessas, Oliver. Achei que me
conhecesse o suficiente para saber do meu caráter.
– Desculpe. – Ele afirma com a cabeça.
– O que mudou? Tudo mudou, Oliver. Olhe para você! Você é um outro
homem desde a chegada de Bia. Laura não sente mais que é a única
responsável por sua estabilidade. Ela sabe que você está feliz, se abrindo e vai
construir uma vida com essa menina. Logo vocês terão sua própria família e...
– Aquelas palavras me ferem.
– Eu posso vir a ter doze filhos com Beatriz, mas eu jamais vou relegar a
minha avó à segundo plano, Edgar. Nunca! Aquela mulher... ela salvou a minha
vida. Eu devo tudo, tudo a ela. As duas mulheres lá fora são o meu mundo. Não
poderia viver sem nenhuma das duas. Você sabe por que eu sempre evitei ao
máximo deixar as pessoas entrarem? Se tornarem importantes para mim,
sentimentalmente? Porque uma vez que eu deixo, elas farão parte de mim para
sempre. Eu não abandono ninguém. E se você conhece a minha história deve
entender bem os meus motivos. Eu daria minha vida por elas sem nem
pestanejar. Aliás, eu daria a minha vida por qualquer uma das pessoas que eu
chamo de família.
– Inclusive por Kellan? – pergunta ele tentando segurar uma risada.
Eu me esforço para manter o ar duro de macho indignado, mas a cara de
Edgar tentando fazer uma piadinha me desarma e acabo soltando um riso curto.
– Sim, inclusive por Kellan. Não pense que essa sua artimanha para
descontrair diminuiu o quanto estou puto com você.
– Não sugeri, com a minha argumentação anterior, que você colocaria sua
avó para escanteio. O que eu quis dizer é que te ver bem e feliz, dá a ela a
chance de, pela primeira vez sem culpas, pensar um pouco nela mesma e
explorar partes da vida que deixou de lado por tempo demais.
– E essas partes da vida inexploradas seriam... você? O que é isso afinal,
Edgar? Vocês estão namorando?
– Na nossa idade não há tempo para experimentação Oliver, e a palavra
que você usou, na minha visão, significa isso. Laura e eu já perdemos tempo
demais. Eu gosto dela, ela confessou que também guarda sentimentos. Diria
que iniciamos um relacionamento para valer, somos um casal a partir de agora
em todos os sentidos. Marido e mulher, apesar de não estar no papel, ainda. –
Abro a boca para largar um xingamento, mas o espanto é tanto que nada sai.
– Marido e mulher? Devo te chamar de vovô?
– Se você quiser. – O infeliz dá de ombros e ainda ri.
– Ah, vá a merda, Edgar! Você não pode passar uma noite com a minha avó
e dizer que ela é sua mulher. Vai se mudar para cá então?
– Eu posso sim chamá-la de minha mulher e vou, acostume-se. Como eu
disse, na nossa idade, é tudo ou nada. E quanto a morar aqui, Laura e eu...
– Você está louco se acha que o deixarei tirá-la de perto de nós.
– O que eu ia dizer e você interrompeu é que combinamos de esperar a
turnê acabar e então decidiremos. Até lá, continuaremos cada um em suas
casas. Eu vou morar onde ela quiser, Oliver. E você deveria parar de pensar
tanto no que você quer e ouvi-la. Se for da vontade de Laura se mudar para a
minha casa perto da Three Minds, ou a minha casa em Los Angeles, não vejo
motivos para você não a apoiar.
– Vovó adora este lugar tanto quanto eu.
– Se ela quiser continuar aqui, tudo bem por mim. Como eu disse, ela
quem decide. Fique feliz por ela, filho. Você me conhece há tantos anos, não
sou um estranho qualquer que apareceu aqui fazendo juras de amor. Laura terá
um homem ao seu lado que, enquanto viver, vai amá-la, protegê-la, apoiá-la.
Cuidar dela de todas as formas que um homem deve cuidar de uma mulher. Ela
merece saber o que é isso, você não acha?
– Acho. Tanto acho que sei que o que ela menos precisa é sofrer outra
desilusão. Ela também não suportaria mais um abandono. Já foi abandonada
pelos pais, pelo garoto a quem se entregou e depois pela filha, por quem abriu
mão da juventude. Então, pense bem no que está fazendo, porque aquela mulher
lá fora já sofreu muito além do suportável por uma vida. Pela sua integridade
física, espero que tudo que me disse seja mesmo verdade. Dona Laura tem
cicatrizes profundas e abertas, e se você contribuir para aumentar o tamanho
dessas feridas um milímetro se quer, eu não vou mais me importar com a sua
idade como fiz hoje, Edgar, eu juro.
– Você tem a minha palavra. Jamais a farei sofrer. Não de forma
intencional, pelo menos. Eu prometo.
– Muito bem então. Não posso dizer que estou tranquilo com isso, porque
não seria verdade. É estranho pra cacete! Vou precisar de um tempo para me
acostumar com o fato de minha avó não ser mais apenas a minha avó e a ver
andar por aí com um macho a tiracolo. Ou pior, ver um macho saindo do quarto
dela pela manhã usando o meu roupão. – Edgar ri.
– Desculpe por isso. Achávamos que vocês só retornariam à noite.
Podemos conviver em paz?
– Se é o que a fará feliz, que seja – suspiro resignado. – Bia vai pular de
alegria, conseguiu algo que, tenho certeza, queria muito.
– O quê?
– Te tornar oficialmente um membro da família. – É rápido, mas tenho a
impressão que os olhos de Edgar ficaram um tanto brilhantes demais e com
certo acúmulo de água.
– Farei por merecer.
– Assim espero.
Bia
– Laura, por favor, se acalme. Oliver não vai fazer nenhuma bobagem. Foi
só o choque. Ele não esperava, nós não esperávamos... – Tento fazê-la parar de
andar de um lado para o outro na sala enquanto os homens estão trancados no
escritório.
– Eu... eu não deveria ter concordado com isso, não deveria ter...
– Pare já! É claro que deveria. Não deixe o pity de ciúmes que Oliver
protagonizou aqui atrapalhar a sua relação com Edgar. Oliver não é mais
criança!
– Não Bia, você não entende, não é simples assim, tenho medo que
Oliver... – Caminho até ela e a abraço.
– Oliver ficará bem, eu lhe prometo. Relaxe Laura, eles vão se entender.
– Bia – ela se afasta para me olhar nos olhos – você tem que conversar
com ele. Ele precisa lhe contar a sua história, por favor, promete para mim que
vai fazê-lo se abrir com você? – Não sei porque de repente aquilo me assusta.
– Sim, eu falo, claro... nós estamos fazendo terapia, você sabe...
– Não deixe que ele prolongue por muito mais tempo o seu silêncio a este
respeito.
– Ok, prometo que coloco um prazo para a tal conversa, se você prometer
se acalmar, sentar comigo naquele sofá e me contar TU-DO. – Dou uma
piscadinha e Laura fica encabulada, mas não dou tempo para ela pensar. –
Venha – seguro seu braço e a levo até o sofá.
– E aí? – Dou um toquinho com o meu ombro no ombro dela. –
Desembucha. – Ela ri e depois suspira.
– Eu estava muito nervosa ontem.
– Percebemos. Oliver percebeu, mal dormiu de preocupação, por isso
viemos cedo.
– Nos encontramos no lugar marcado, entrei no carro dele e a princípio
pareceu que éramos dois estranhos, mas Edgar soube ir levando a conversa e
quando percebi tínhamos aproveitado a viagem inteira para falar sobre nossos
sentimentos. Os do passado, os do tempo que passamos afastados e os atuais.
O que foi ótimo, porque quando chegamos aqui, nossa conexão já havia sido
restabelecida. Foi como se a nossa amizade retomasse de onde parou.
– Isso é maravilhoso. Mas não acho que o clima continuou na amizade por
muito tempo, não?
– Você não perdoa, não é?
– Se não fosse a minha mãozinha, vocês não teriam se reaproximando e
você não estaria agora com esse brilho nos olhos e a satisfação estampada na
cara. Eu mereço, vai... – Ela balança a cabeça com o sorriso aberto no rosto.
– Chegamos, estendemos a conversa para os nossos passados. Ele já sabia
bastante do meu, mas eu sabia pouco do dele. Me contou sobre a sua falecida
esposa, que não tiveram filhos por uma incapacidade física dela. Que não teve
mais ninguém sério depois dela. Então jantamos, e aí...
– Aí...?
– Decidimos andar um pouco pela praia, ele pegou minha mão, e em algum
ponto do caminho, ele me beijou.
– Hummm beijo a luz do luar, que romântico... foi bom? Edgar beija bem?
– Bia!
– São coisas que uma amiga conta para a outra ué! Normal. Fala, anda...
– Foi sim, muito bom.
– Muito bom é ótimo! E depois?
– Depois nós nos beijamos de novo no deck, e de novo aqui na sala. Então
a conversa ficou séria, tomamos um vinho enquanto falamos das nossas
expectativas quanto a nós dois juntos dali em diante. Decidimos que era
melhor ir devagar...
– Decidiram? Sério? – Tento não rir.
– É decidimos, mas...
– Mas?
– Mas daí ele me beijou de novo e de novo e a coisa começou a ficar... a
ficar... como posso dizer...
– Dura?
– Bia?!!! – Caio na gargalhada.
– Desculpe Laura, mas eu não resisti.
– Você é igualzinha ao seu pai! Não perde a chance... – Beijo sua
bochecha.
– Não precisa ter vergonha de falar sobre isso comigo, somos mulheres...
precisamos ter alguém com quem falar sobre qualquer assunto... a palavra para
usar na sua frase é quente, as coisas começaram a ficar quentes...
– Deus, não acredito que aos sessenta e sete anos estou dividindo este tipo
de experiência com uma menina de dezessete.
– Ei! Mais respeito, mocinha! – Finjo indignação. – Falo com
propriedade. Seu neto me fez adquirir certa experiência no assunto...
– Ah, eu não duvido. E não quis questionar a sua propriedade, mas sim a
minha falta de vergonha na cara. Na minha idade eu deveria estar tricotando
sapatinhos para os meus bisnetos, e só.
– Quanta bobagem... Pare de enrolar e termine a história antes que aqueles
dois voltem e eu não ouça a parte mais interessante.
– Senhor...
– As coisas ficaram quentes e...?
– E... mais quentes, e... Edgar questionou se eu queria mesmo ir devagar, e
eu...
– Você?
– Eu sabia o que eu tinha que dizer: sim, é claro, já está tarde, melhor
você ir. Mas o que saiu da minha boca foi...
– Foi?
– Me leva para a cama, Edgar.
– Ah!!! – Levo as mãos à boca e arregalo os olhos para ela.
– O fim, não é? Não sei de onde veio, quando vi já tinha dito...
– O fim nada, foi perfeito! Foi, uau!!! E veio do seu âmago Laura, foi sua
verdadeira vontade falando.
– Então foi isso...
– Uma ova! Não comi o bolo todo para no final deixar a cobertura no
prato. Pode contar. O mestre mandou bem? Te tratou com cuidado? Você
gostou? Seja sincera.
– Sim, ele foi tão carinhoso... Não se preocupou consigo mesmo e sim
comigo. Nunca tive isso... não sei se consegui chegar ao tal orgasmo, estava
nervosa e com muita vergonha do meu corpo. Não sou mais uma garota, você
sabe... Mas eu senti prazer, foi gostoso, muito, muito gostoso... bem diferente
da minha experiência anterior. O que você acha? Como é a sensação? – Fico
feliz que ela tenha tido coragem de perguntar.
– Provavelmente você não atingiu o ápice cem por cento, porque quando
acontece, não deixa dúvidas. Você parece que reseta e religa, é intenso. O
corpo amolece, às vezes os pés formigam. Você se sente totalmente saciada.
Mas não vai demorar para conseguir, não encane nem com isso e nem com o
seu corpo, Laura. Você é muito bonita e os homens não conseguem esconder
quando algo não lhes agrada. – Faço um gesto com o meu dedo imitando um
pênis duro amolecendo. – E pelo que você me contou, você agradou e muito o
seu homem. – Ela ri feito criança.
– Olhando desta forma, acho que agradei, sim.
– E ele, te agradou?
– Demais.
– Uhh! O mestre é bonitão... – Outra gargalhada
– É sim.
– Dormiram de conchinha?
– Olha as coisas que você me faz dizer garota... depois de conversarmos
mais um tanto e chegarmos à conclusão de que na nossa idade não tem como ir
devagar, sim, dormimos abraçados.
– Rolou repeteco pela manhã?
– Deus! Não, fiquei com vergonha de ele me ver nua tão as claras, então
levantei antes dele...
– Que pena...
– Que sorte! Se não fosse isso Oliver poderia ter chego enquanto nós ainda
estivéssemos naquela situação...
– Transando Laura, enquanto vocês ainda estivessem transando.
– Nunca vou ter coragem de dizer isso...
– Vai sim. E esse é um dos termos mais leves, acredite. Agora repete.
– Nem pensar.
– Repete Laura, vai... é bom para se soltar... Vamos, você consegue. –
Seguro sua mão, ela respira fundo.
– Enquanto nós estávamos transando.
– Iss...
– Hã. – Puta-merda! Oliver sempre escolhe bem os seus momentos de
aparição. Não tinha hora melhor para esses dois se materializarem ao nosso
lado? – Laura leva as mãos aos olhos e baixa a cabeça, morta de vergonha.
Oliver me fuzila com os olhos e Edgar sustenta um sorriso torto no rosto.
– Viu Laura, ambos vivos e inteiros. – Tento dissipar a nuvem de
estranheza que, de repente, se instalou ali. Laura não levanta o rosto, Oliver
não consegue olhá-la e Edgar não sabe se deve se aproximar ou não.
– Nós atrapalhamos o café da manhã de vocês, não é? – Tento outra
abordagem, me levanto e ando até Oliver. – Oliver e eu também não comemos
ainda. Vamos tomar um café todos juntos?
– Coma você com eles, Bia. Eu vou me trocar e correr na praia. – Ele me
beija e segue para o quarto.
– Vou pedir a Gia para pôr mais uma louça. – Me afasto e Edgar senta-se
ao lado dela e a abraça. Falo rapidamente com Gia e vou até o quarto. Oliver
está no closet.
– Você está agindo feito criança mimada, sabia?
– Agora não, Beatriz.
– Agora sim. Você magoou a sua avó, Oliver. Nem a cumprimentou. Mal a
olhou. – Ele fecha os olhos e respira fundo.
– Não foi por mal. Eu queria, mas não consegui... é estranho pensar que a
sua avó estava...
– Laura dormiu com o namorado. – Ele faz careta. – Um homem bom, que
você conhece há séculos. Não há nada de estranho nisso. Você deveria estar
feliz pelos dois. Por na idade deles, encontrarem a felicidade um no outro.
– É a minha avó...
– Ah, por favor... cresça, Oliver Rain! – Saio do quarto e bato a porta, sem
paciência para aquela infantilidade toda.
Volto para a sala e vejo o final de um beijo entre o novo casal. São tão
bonitinhos juntos. Dou um tempo antes de me aproximar para não os
constranger e depois me junto aos dois para o café.
– Como ele está? – pergunta Laura.
– Ele está ótimo, Laura. É só o filho com ciúmes da mãe, nada demais.
Ignore o mal humor.
– Oliver foi por muito tempo o único homem da sua vida, querida. É
normal que leve um tempo para se habituar comigo.
– Ele foi muito duro com você, Edgar? Se sim, ignore também.
– Ele fez o seu papel, estava protegendo Laura e o respeito por isso.
Quando tentou se exaltar além da conta, eu me impus e soube colocá-lo no
lugar dele. No fim, nos entendemos bem.
– Ótimo. – Sorrio para eles e aperto a mão de Laura.
– Estou muito feliz por vocês.
– Obrigado pela ajuda, pupila.
– Então, quais são os planos?
– Tenho o compromisso com a ONG e as meninas hoje. Além de ser o dia
de visitar Vivienne – fala Laura.
– Me deixe acompanhá-las – pede Edgar.
– Você tem certeza? Temos atividades nas instituições o dia todo.
Voltaremos tarde.
– Claro que tenho. E na volta você poderia ficar na minha casa. O que
acha?
– Não sei...
– Por favor, Laura. Amanhã de manhã, quando eu for para a Three Minds,
você retorna. – Ela me olha e eu dou uma piscadinha de incentivo.
– Tudo bem, então. Vou lá dentro me trocar e preparar uma mala. – Ela se
levanta e tenta sair da mesa, mas Edgar a impede, beijando-a antes de liberá-
la. E de repente, as bochechas de Laura adquirem aquele tom rosado que
conheço bem.
– Feliz, mestre? – pergunto assim que ela se afasta.
– Como há muito tempo não me sentia.
Quando Laura está caminhando pela sala, prestes a sair de casa e Edgar já a
espera no carro, Oliver aparece de banho tomado.
– Onde a senhora vai? – pergunta, seco. Laura se vira para ele.
– Vou cumprir com os meus compromissos de domingo como sempre,
filho. Edgar vai comigo.
– Ah... – Ela o fita esperando algum sinal de apoio, mas ele não fala mais
nada. Laura segue para a saída e, antes de abrir a porta, vira-se novamente.
– A propósito, não dormirei em casa esta noite. – Sem esperar resposta do
neto ciumento, gira a maçaneta e sai.
– Estou muito decepcionada com você – digo e também não espero que se
manifeste, vou para o quarto e fecho a porta.
Pego o tablet que Oliver me deu e navego na minha biblioteca à procura de
um novo livro. Além do tablet, ele também apareceu com um notebook e trocou
meu telefone. Agora estou cercada da mais alta, e cara, tecnologia.
Um dos e-books me chama a atenção e começo a ler, porém a leitura não se
estende por muito tempo, acabo adormecendo. É o fato de ter madrugado ontem
para os preparativos da festa cobrando o seu preço.
Ao acordar, levo um susto. O sol já está baixando lá fora. Caramba, dormi
pra cacete!
Caminho pela casa à procura de Oliver, mas não o encontro em lugar
nenhum. Ligo para o seu telefone e no mesmo instante ouço o toque do seu
celular, olho em volta e o encontro numa das mesas do deck ao lado de uma
garrafinha de cerveja pela metade.
Que estranho!
Tento avistar se há alguém tomando banho de mar ou caminhando pela
praia. Nada. Ninguém. Onde ele se meteu?
Volto o foco para a mesa abandonada no deck, depois para aquele mar
aterrorizantemente infinito.
Um frio sobe pela minha espinha.
Uma sensação ruim do cacete, que acelera os batimentos e me deixa de
boca seca.
Com o coração aos pulos e as mãos tremendo, entro em busca do meu
celular e ligo para Lian.
Capítulo 25
Oliver
E u apaguei, porra!
– Por poucos minutos, Oliver.
– Por quase uma hora, Max. E isso não faz diferença, a
merda é que eu apaguei. Apaguei! Significa que...
– Acalme-se – diz Henry.
– Me acalmar? Como? A sua teoria de que estou conseguindo controlar o
transtorno se foi Henry...
– Não foi, não.
– Rá, me poupe. Não vou sair desse inferno nunca.
– A cada nova situação que enfrenta está mais perto de se livrar delas de
vez, Oliver. E para se livra de vez, você sabe muito bem o que tem que
enfrentar.
– Pare de colocar panos quentes. Não é para isso que eu te pago, cacete!
– Não é panos quentes. Olha o que aconteceu hoje. Você foi exposto ao
abandono. Percebe a gravidade? Sua avó te deu as costas e saiu. Bia te deu as
costas e saiu e ainda por cima disse que você era uma decepção. A criança
ferida dentro de você sentiu como se estivesse sendo deixada para trás, outra
vez, pelas mulheres que ama e que formam a sua base atual, porque não é boa o
suficiente. Nada poderia ser pior para te levar de volta ao cerne do seu
problema. Pense no que essa situação provocaria há uns anos.
– Você certamente não teria conseguido chegar até aqui antes de apagar –
diz Lian.
– Sim, você conseguiu controlar por um tempo, sentou-se no deck, abriu
uma cerveja. Você lutou, tentou mudar o foco. Quando viu que poderia perder a
batalha, andou até a casa de Lian. Infelizmente a crise chegou a se instalar, mas
durou pouco. Em outros tempos não seria assim. Sabe o que tudo isso
significa? – Nego com a cabeça.
– Significa que o seu cérebro está entendendo que, por mais que ele tenha
sido lançado de volta aos sentimentos desesperadores, é uma sensação
distorcida da realidade atual. É exagerado e ele está tentando encaixar isso
num novo padrão. Um em que a reação do seu corpo condiga com a real
gravidade do problema, que neste caso, é nula. Você passou por um
desentendimento, não um abandono. Nenhuma das duas vai sumir da sua vida e
te largar, indefeso, em algum lugar. É um processo, Oliver. De lutar, vencer,
cair, entender e blindar. Você não pode é desistir dele e se fechar de novo.
Mesmo que outras crises, quem sabe até mais longas do que esta, ocorram.
– Não posso submeter Beatriz a uma vida de incertezas, de doença, Henry.
Ela já teve demais disso. Se voltar a acontecer terei que...
– Não seja idiota, Oliver. – Lian berra. – O que você tem que fazer é
contar para aquela menina de uma vez, porra!
– Verdade Oliver, já passou da hora. Ela merece saber – reforça Max.
– Não. Não quero olhar para ela e ver medo e preocupação. Ela não
merece.
– Deixe de ser teimoso, inferno – ralha Lian.
– Bom, eu acho que você não tem mais opção. Vou te dar até depois da
turnê para contar a ela. Se uma semana depois de voltarmos você não tiver
aberto o jogo, eu conto.
– Você não tem esse direito, Max.
– Ah, tenho sim. Somos sua família e somos a família dela. Estamos aqui
não só para apoiar, mas também para proteger e cuidar uns dos outros.
– Eu estou com você, Max – diz Lian.
– Tudo bem. Depois da turnê eu conto. Mas me prometam duas coisas.
– O quê?
– Que não vão contar sobre essa crise de hoje para vovó, ela vai se culpar
e talvez sacrifique a relação com Edgar outra vez. Dona Laura está feliz e
quero que continue assim.
– Apesar da sua cena de ciúme? – Max provoca.
– Sim, fui um idiota, reconheço. Vou conversar com ela amanhã e pedir
desculpas.
– Nossa avó e o velhinho, quem diria... – Lian ri.
– Ok, e o que mais? – pergunta Max.
– Que se eu entrar em uma crise longa, independente de Bia já saber ou
não do meu problema, vocês não vão contar a verdade a ela. Enrolem por um
tempo com alguma desculpa, e se eu não voltar em uma semana, me internem
em algum lugar e digam que eu fui embora, que queria outra vida e que ela
deve seguir com a dela. Mandem uma mensagem do meu celular para dar mais
veracidade. Mas a mantenham aqui junto da família, cuidem dela. Se e quando
eu me recuperar, recomeço em outro lugar.
– Você só pode estar maluco, bonitão.
– De jeito nenhum – berra Max.
– Prometam! – Berro mais alto.
– Não vamos prometer uma sandice dessas, Oliver. É insano. E sua avó? E
Bia? Acha que ela vai se sentir melhor pensando que você a abandonou sem
nem se explicar pessoalmente, do que saber que você está doente? Me espanta
você... – defende Max.
– Para vovó contém a verdade, ela tem Edgar agora, ele vai cuidar dela. –
Respiro fundo.
– Mas para Bia não, ela precisa seguir em frente, viver sua vida, e não
ficar atrelada a uma esperança de eu voltar, e caso volte, a um homem que não
sabe por quanto tempo ficará são até a próxima crise. Se ela souber que estou
doente, não conseguirá, então melhor a desilusão. Não estarei a abandonando
deliberadamente, mas sim porque esse maldito transtorno me obriga, para o
seu bem. Peçam para Kellan se reaproximar, sei que ainda gosta dela. Ele é um
bom garoto, podem ser felizes juntos. – Aquelas palavras me rasgam, mas eu
preciso que me prometam.
– Não faremos isso. É cruel, com ela e com você.
– É o que eu quero, Lian.
– Sinto muito, Oliver. Mas Lian está certo. – Max vai na dele.
– Eu estou tentando protegê-la, inferno. Garantindo que, passado o
sofrimento, ela possa ter uma vida normal. Eu vejo o medo de me perder para
a escuridão nos olhos da minha avó, todos os dias. Ontem, ela estava
apavorada. Com medo de que a sua decisão de ser feliz causasse a minha
queda. Não quero isso para Beatriz.
– O que você diz desta baboseira toda, Henry? – pergunta Lian.
– Que é isto, baboseira. Oliver está impactado pela crise recente e vocês
estão certos em não prometer o absurdo que ele pede. Quando a dor é
inevitável, a verdade é sempre melhor do que uma mentira elaborada recheada
de boas intenções. E neste caso, a dor é inevitável, Bia sofrerá de um jeito ou
de outro. Sem contar que, assim que recobre a razão, Oliver se arrependerá de
imediato. Dito tudo isto, acrescento o que realmente importa. – Ele segura meu
rosto e me faz olhá-lo nos olhos.
– Você não terá outra crise tão longa assim que valha o sacrifício de
entregar a mulher que você ama, e que te ama, para outro homem, camarada. Se
você tiver algumas crises ainda, elas farão parte do processo de cura e você
merece ser feliz. Aceite. Não dê ao que ocorreu hoje, a importância que o
evento não merece. Volte para a sua paz e para o seu ninho de amor de corpo e
alma. – Ele me solta.
– Então, Max, Lian, o que vocês podem prometer a este cabeça dura, é que
não contarão até ele se recuperar e contar ele mesmo.
– Isso podemos prometer – diz Max.
– Sim, podemos – reforça Lian. Bufo. O telefone de Lian toca.
– Oliver, é Bia. Deve estar a sua procura.
– Atenda, diga que estou aqui e logo volto.
– Bela-Bia, como está? Calma... Bia, querida, calma... – me levanto num
pulo. – Ele está aqui. Ele está aqui e está bem... Não aconteceu nada com
Oliver... sim... está... entendo, mas se acalme, está tudo bem... tomamos uma
cerveja e ficamos papeando, ele, Max e eu, o tempo passou e nem nos demos
conta. Ele já estava de saída, logo chegará em casa... sim... até. – Lian suspira,
desligando o telefone. – Se você se sente bem o suficiente, vá para casa. Ela
está desesperada, Oliver...
– Desesperada? Por quê?
– Viu seu celular e uma cerveja pela metade largados na mesa do deck,
achou que você foi dar um mergulho e se afogou.
– Deus... eu vou, obrigado outra vez, aos três. Henry, nem sei como posso
retribuir...
– É o meu trabalho e você é meu amigo. Fique bem.
– Obrigado. Até mais.
Volto para casa o mais rápido que o cansaço pós-crise permite. Apesar de
ter dormido por várias horas, ainda estou um pouco fraco. Posso avistá-la a
minha espera, de pé no deck. A última coisa que eu quero na vida é ser um
novo motivo de dor e preocupação para ela.
Conforme me aproximo os seus soluços vão ficando mais audíveis. Ela está
uma pilha de nervos, trêmula e chorando descontroladamente. Mal chego perto,
agarra minha camiseta, me puxa para si e continua a chorar no meu peito.
– Oliv... – a abraço e afago seus cabelos. – Oliver...
– Shh... calma... estou aqui, meu amor.
– Eu... você... não vi... dormi... – Ela fala um monte de coisas desconexas,
sendo que só consigo entender algumas palavras aleatórias em meio ao choro e
aos soluços.
– Calma, anjo, você está tremendo...
– ... medo... celular... mar...
– Respira Bia, estou aqui, está tudo bem.
– ... e eu... eu tinha brigado com você! – O choro aumenta. Não seguro um
risinho e a aperto mais contra mim, aquilo eu pude entender bem.
– Ah, minha pequena, então esse desespero todo é remorso? – Ela soluça e
dá um tapinha no meu peito.
– Achei que estivesse morto, babaca.
Queria pegá-la no colo e levá-la para dentro, mas estou sem forças. Então
apenas nos empurro até a cadeira mais próxima, onde me sento e a trago para
meu colo. Seguro seu rosto, seco suas lágrimas, beijo suas sardas, suas
pálpebras, seu nariz arrebitado e tomo sua boca num beijo forte. Para não
deixar dúvidas que estou ali, que sou eu, muito vivo.
– Chega de choro. Estou aqui, não aconteceu nada comigo.
– Por que não levou seu telefone? – Boa pergunta. No desespero, deixei
para trás. Penso rápido.
– Porque a minha intenção era nadar, só que gosto de fazer isso perto do
trapiche, onde não quebra tantas ondas. Então simplesmente fui, acho que nem
vi que o celular não estava no bolso da bermuda. No caminho, Max me chamou
para uma cerveja no Lian e foi isso.
– Por que não me acordou? Almoçou sozinho? – Ah meu bem, nem fazia
ideia que você pegou no sono...
– Quis deixá-la descansar. Belisquei algumas coisas, não estava com
fome.
– Como não? Você nem tomou café da manhã e correu na praia mais cedo...
– Dou de ombros.
– Venha, vamos entrar e pedir para Gia esquentar algo. Também não
comeu nada ainda.
– Como posso dar as caras lá fora neste estado, Oliver? – pergunta séria,
preocupada, mas eu não consigo parar de rir desde que acordamos e nos
olhamos, computando os estragos deixados pela pegação animalesca de ontem.
– Porra, você me deixou toda roxa. Os dois lados do pescoço, os seios, a
barriga... estou toda marcada... Não tem como esconder o estrago sem usar um
pulôver gola alta. E está vinte e sete graus lá fora. Não vou.
– Vai sim.
– Nem morta.
– Vai e não se fala mais nisso.
– Não dá para disfarçar, Oliver. E pare de rir, caramba! – Minha crise
aumenta ainda mais. Tento me recuperar. Ela está puta.
– Que se foda, Bia. Deixe que vejam as marcas, pronto. Não vamos
estragar o nosso sábado por isso. Você será vista fazendo sexo num videoclipe
que o mundo inteiro irá assistir. O que tem demais aparecer na frente da
família com alguns chupões?
– Este é o seu ego de macho-alfa falando, querendo exibir para os outros o
seu poder.
– Claro, como se eu também não estivesse cheio de hematomas e
arranhões... – Baixo a bermuda e a sunga para que veja os vergões de tirar
sangue que deixou na minha bunda ao cravar as unhas e os roxos de apertar
com força.
– Aí não vale, eu fiz num lugar escondível.
– Escondível o cacete, sua pilantra. – Tiro a camisa e mostro a trilha de
arranhões nas costas. – E o que me diz disso? Parece que fui chicoteado,
Beatriz. Lian vai adorar ver. – Ela ri.
– Escondível também.
– Ah sim, a ideia é churrasco e caipirinha na piscina, esqueceu? Não vou
entrar na água de camiseta. E também tenho um chupão bem aqui. – Aponto
para a lateral do meu pescoço. – Anda, deixa de drama e põe logo um biquíni
com algo por cima. Eu já tomei banho, me vesti e você continua contando as
marcas enquanto se olha no espelho.
– Tudo bem. Eu vou, mas você vai de cabelo preso para deixar bem a
mostra esse chupão aí. Não vou passar vergonha sozinha. – Reviro os olhos.
– Não seja por isso. – Pego um elástico e prendo o cabelo. – Satisfeita?
– Sim.
– Ótimo. Ah, antes que eu me esqueça, nada de biquíni pequeno demais,
muito menos enfiado lá... – Revira os olhos
– Sim, chefe – diz sarcástica. – Não se preocupe, vou colocar o maior que
tenho. Hoje, quanto mais eu tapar, melhor.
– Boa menina. – Lhe dou um beijo rápido. – Te espero lá fora.
A praia já está limpa. Iris foi rápida em desmontar tudo. O único resquício
são os cristais sobre a areia. As câmeras estão no meu escritório e daqui não
sairão. Não quero as imagens circulando na rede da Three Minds. Montei no
antigo quarto de foda, que agora está vazio, um escritório improvisado para
Iris trabalhar na edição com equipamentos que adquiri especificamente para
este trabalho. Neles, foram instalados os mais modernos softwares de
monitoramento para evitar vazamentos de qualquer espécie. Só a versão final,
aprovada, será levada para fora desta casa.
Depois da crise no sábado anterior, Henry sugeriu que eu fizesse terapia
todos os dias por um tempo. Bia achou estranho vê-lo aqui de segunda a sexta,
mas falei que costumo fazer isso antes de iniciar uma turnê e ela acreditou.
Também me cobrou que eu conte sobre meus pais, então prometi a ela o mesmo
que prometi a Lian e Max, que após voltarmos de viagem, teremos enfim a tal
conversa.
Num vestidinho estampado e com as alças de um biquíni azul escuro
aparecendo ao redor do pescoço arroxeado, Bia aparece ao meu lado.
Não posso confessar a ela, mas o bicho dentro de mim sente sim um certo
orgulho em mostrar que marcou a sua fêmea.
Se não estivesse num lugar tão impróprio, gostaria que ela exibisse,
inclusive, o Mr. Rain tatuado para quem quisesse ver.
Chegamos à casa de Max e todos estão se divertindo. Os mais jovens na
piscina grande e os mais velhos na hidromassagem. Para o meu tormento,
Edgar e vovó abraçadinhos... No bar, dois barmen preparam caipirinhas de
todos os sabores e numa extremidade do deck um churrasqueiro trabalha nos
petiscos.
– Bia, Oliver, até que enfim...
– Pelo visto aprovou a caipirinha, não é Johnathan?
– Siimmm, divina... – diz já meio animado demais.
Depois que os apresentei a bebida na minha festa, ele e Max entortaram, e
naquela típica conversa de bêbados, marcam o churrasco em homenagem a
caipirinha para o sábado seguinte. Aqui estamos.
– Segura a onda do cidadão aí, Alicia... tem muito dia pela frente ainda...
– Pode deixar Oliver, já cortei as asinhas dele... só bebe de novo após o
almoço. – O cidadão em questão reclama.
– Bia, entra aqui amiga, faz tempo que não conversamos, estou com
saudades... – chama Hazel.
– Acho que não vou entrar Hazel, está um pouco frio... – Seguro o riso.
– Frio? Mas a piscina é aquecida. Está uma delícia aqui dentro...
– Sai dessa agora, baby – sussurro em seu ouvido.
– Posso dizer que estou menstruada... – Ela sussurra de volta.
– Já inventaram o absorvente interno, sabia? – rebato.
– Nem toda mulher se sente confortável com eles, bebê.
– Deixa de bobagem Beatriz e tira logo o vestido.
– O casal quer terminar a DR lá dentro? – pergunta Lian.
– Qual o problema? – pergunta Max.
– Nenhum. Beatriz está com vergonha, só isso.
– Oliver!
– Vergonha do que? – pergunta Hazel. Resolvo terminar com a questão de
uma vez. Me aproximo bem da borda.
– Disso. – Aponto para o chupão no meu pescoço. – E disso. – Tiro a
camiseta e mostro as costas para eles. Palavras, piadinhas e risadas explodem
pela piscina. Quando a zoação é inevitável, melhor passar por ela de uma vez.
Jogo a camiseta e a bermuda em cima da primeira cadeira e pulo na água.
– Porra! Caramba! – exclama Max, conferindo as minhas costas.
– Eu sabia que ela tinha um chicote... – diz Lian.
– Porra, amiga... – Se espanta Hazel.
– Baby, venha aqui... – digo indo até a borda e estendendo a mão para ela.
– Já vi muito chupão nos pescoços desses veados... Se algum deles falar
qualquer coisa sobre você, eu afogo... – Ela revira os olhos, mas retira o
vestido e entra na piscina com a minha ajuda.
O movimento faz os seus cabelos, que ela tinha estrategicamente arrumado
sobre as marcas, sair do lugar. Todos arregalam os olhos ao verem as enormes
marcas roxas do pescoço e no início dos seios. Bia se aperta contra o meu
corpo tentando se esconder.
– Foi tudo culpa do sexo selvagem ou praticaram algum tipo de luta
corporal? – pergunta Lian.
– Não é da sua conta, cuzão – respondo.
– Primeira opção, certeza – diz Hazel.
– Hazel! Achei que você jogasse no meu time... – ralha Bia.
– Eu jogo. Quisera eu ter alguém que me pegasse assim... – Max se
engasga com a caipirinha. Até eu acho que fiquei sem graça com essa...
– Eu mato. – Se manifesta Johnathan lá da hidro.
– Eu ajudo. – Kellan se oferece.
– Eu dou fim no cadáver. – Termina Max.
– Com vocês por perto, vou morrer solteirona. Aliás, Bia, estava
pensando, poderíamos combinar uma noite das garotas em Los Angeles, que
tal? Estou louca para dançar... – Agora sou eu que me engasgo.
– Acho que Oliver não aprovou sua ideia, sobrinha...
– Podemos convidar Iris também, o que me diz? – insiste Hazel.
– Bom, eu estou com vontade de sair para dançar, não é má ideia...
– Nem pensar. – Já corto. Ela se vira e me encara.
– É uma péssima ideia – diz Max quase ao mesmo tempo.
– Por que não? – Bia pergunta.
– Por que não? Sério, Beatriz?
– Não sou tão conhecida assim. Vou disfarçada. Levamos seguranças.
– Não é esse o ponto.
– Qual o ponto então? – Ela cruza os braços e espera. Inacreditável.
– Tá legal! Faremos o seguinte. Você vai com elas e nós quatro vamos para
outra boate. – Ela engole em seco.
– Isso não é justo.
– Pois eu acho justíssimo.
– Você não é do tipo que passa despercebido, Oliver. Mesmo disfarçado. –
Sorrio e dou de ombros.
– E você acha que passará?
– Eu mal tenho um metro e sessenta, se eu ficar no meio da pista, no
máximo as pessoas que estão em torno vão me enxergar. Agora olha para você,
para vocês? É passarem pelas portas e pelo menos metade das mulheres vão
levantar as antenas em direção. A outra metade fará a mesma coisa assim que
vocês derem mais alguns passos.
– Se eu terei que passar pelo inferno de lidar com o ciúme por uma noite
inteira, você também pode.
– Eu terei que lidar com o ciúme a cada noite que você subir no palco,
rockstar.
– Você estará lá comigo. E também subirá ao palco, esqueceu? Enquanto
atrás de nós passarão cenas que nos renderam muitos hematomas...
– Porra, isso foi resultado da gravação de ontem? – Se espanta Max, eu
ignoro.
– Uau, Iris terá belas imagens... – emenda Lian.
– Você não confia em mim? – Bia insiste no assunto.
– Totalmente. E você? Não confia em mim? – devolvo.
Ela descruza os braços e volta a se virar para os outros, se dando por
vencida.
– Hazel, e se eles forem junto?
– Bia, noite das garotas... garotas... larga o osso por uma noite, amiga...
logo ficaremos longe por tanto tempo... – As duas trocam olhares cúmplices.
Bia pergunta a ela com os olhos se tem certeza que quer largar Max na noite
de Los Angeles. Hazel só dá de ombros, como se dissesse “no meu caso, não
faz diferença, ele vai estar com alguém de qualquer forma. E não serei eu.”
– Ok rockstar, você ganhou seu vale-night – diz sem me olhar. Hazel
comemora.
Fecho os olhos em desespero. Lian, Max e Kellan riem da minha cara, pois
sabem que não era esse o desfecho que eu esperava.
Tô me fodendo para a noite de Los Angeles.
Não quero é a minha menina solta nela.
– Oliver se ferrou... – Escuto Johnathan zoar.
– Então a The Order vai invadir as pistas de LA... quanto tempo faz desde
a última vez que fizemos isso? Uns nove anos? – O filha da puta sabe bem
quando foi a última vez. Terminou com ele internado por overdose em Chicago
para despistar a imprensa, e eu consolando uma garotinha.
– Finalmente vamos fazer algo empolgante fora das turnês – diz Kellan.
– O que você anda aprontando durante as turnês, Kellan? – pergunta
Alicia.
– Nada não, mãe... – responde revirando os olhos.
– Sabe que a gente só concordou com isso porque você nos garantiu que
poderíamos confiar, não é?
– Sei mãe... – mais um revirar.
– Ah se ela soubesse... – murmura Hazel.
– Cala a boca, irmãzinha – fala ele com os dentes cerrados.
– Então Laura, já decidiu se vai acompanhar Edgar na turnê? – Ouço Helen
perguntar.
– Sim, ele me convenceu. – Puta-merda, mais essa.
– Mestre, você vai na turnê? – Bia se dá conta.
– Vou, pupila. Como não teremos muito tempo de preparo e ensaio quero
estar lá para ajustar possíveis falhas – responde conforme combinamos.
– Falando em ensaios...
– Isso de novo não, Beatriz.
– Mas é uma boa ideia, Oliver. Seus funcionários merecem. Já perguntou o
que os outros acham?
– Não preciso...
– Poxa, você disse que ia perguntar...
– Aproveite e fale você mesma, estão todos à sua frente.
– Qual a ideia, Bia? – pede Max.
– Eu pensei que poderíamos transformar o último ensaio geral num show
de verdade, aqui na praia, para os funcionários, como festa de encerramento e
em agradecimento ao esforço extra, ao invés do tradicional jantar de natal que
fazem todos os anos. – Eu e os outros dois dinossauros gememos em desagrado
e pendemos as cabeças para trás ao mesmo tempo.
– Mas não combinamos de dar um belo bônus? – pergunta Lian.
– Sim, o que minha mulher está querendo é que este seja o bônus do
bônus... – Novos gemidos em uníssono.
– Eu adorei – diz Hazel.
– Por mim, tudo bem também. – O fedelho vai na onda.
– Seus funcionários dão duro pela Three Minds, pela The Order, e nunca
tiveram vocês tocando para eles ao vivo... Alguns mal devem tê-los visto
pessoalmente – defende a minha sindicalista.
– Eu iria gostar, faz tempo que não vejo os meninos ao vivo sobre o palco.
E aqui, sem o inconveniente de ter que viajar, seria perfeito... – aprova Helen.
– Acho que não temos escapatória... – constato. Bia puxa minha cabeça e
me beija.
– É, acho que não... – resmunga Max, ele não deixaria passar a
oportunidade de fazer a mãe feliz.
– Lian, o que tanto você faz nesse celular, caramba? – pergunta Max.
– Deve estar trocando emojis de beijinhos com Tina... – zoo.
– Vai a merda, Oliver.
– Assume logo a garota, titio – diz Hazel.
– Não tem nada para assumir, sobrinha. E eu estou ao celular dando um
jeito de satisfazer o desejo das duas princesas desta piscina. Não estão com
vontade de mexer o esqueleto? Pois teremos um esquenta para LA. Hoje à
noite vai rolar rave lá em casa...
– Sério? – Se animam as duas ao mesmo tempo.
– Se me deixarem terminar de contratar o que precisa, sim.
– Huhuuu... – Elas se abraçam. E depois pulam em Lian, beijando suas
bochechas.
– Ei... – reclamo.
– Aprende com o titio, Kellan... é assim que se conquista uma garota...
– Você não é meu tio, imbecil.
– Mas já não tínhamos outra festa programada? – pergunta Max.
– Bom, a nossa festinha acabou de se transformar num festão – responde
nosso guitarrista.
– Envolva Peter e Riley – lembro.
– Já estão a par. E convidados. Vocês aí da hidro também podem aparecer,
se quiserem. Kellan, convide seus amigos e amigas. Max, você também, chame
quem quiser. Oliver não tem quem convidar mesmo... e vocês meninas, quem
querem chamar?
– Iris. – Bia fala animada, mas então parece pensar em algo. – Não
poderei ir.
– Por que não poderia, Bela-Bia? – Ela aponta para os roxos no pescoço.
– Besteira. Isso aí a gente disfarça com maquiagem – diz Hazel.
– Você acha que dá?
– Certeza. Voltando a festa, vou convidar as meninas e seus ficantes, com
exceção da Carol, claro. E Eric.
– Eric? – Max pergunta.
– É, ué? Qual o problema?
– Não tinham terminado?
– Terminamos, mas continuamos amigos, nos falamos sempre. – Ele não
diz mais nada, apenas dá um belo gole na caipirinha.
– Poderíamos convidar Henry e a namorada, o que acha? – Bia me
pergunta.
– O terapeuta gostosão? Convidem sim. Mesmo que venha acompanhado, é
bom de olhar...
– Ok Hazel, vou mandar mensagem para ele. – Rio da careta que Max fez
diante do seu comentário e saio da piscina para executar a missão.
– Hazel, acho que já bebeu demais.
– Não enche, Max.
– Chega de álcool, mocinha. Senão nada de rave para você hoje à noite –
determina Johnathan.
– Tá vendo o que você fez, ruivo?
– Faria de novo.
– Princesa, esta pode ser a sua noite... – digo.
– Por que diz isso?
– Henry estava on-line e já respondeu. Quando eu disse que alguém o
chamou de terapeuta gostosão, aceitou na hora. E você poderá tentar a sorte, eu
estava desatualizado, o namoro dele já era há meses, vem sozinho.
– Avise àquele molde de Ken para ficar bem longe dela, Oliver. Ele é dois
anos mais velho que eu. Totalmente inapropriado. – Ah Max, não fode irmão.
Estou tentando livrar a sua barra, cacete. Tentando libertá-la da fixação por
você, velho...
– Inapropriado é você se meter na minha vida amorosa, Max – rebate a
garota.
– Chega crianças, vamos manter a paz, por favor. O dia só começou... –
pede vovó.
Bia
Estou trêmula.
Trêmula e excitada ao mesmo tempo.
Trancada no reservado, com a calcinha na mão, criando coragem para sair e
seguir até ele.
Uma coisa é transar ao ar livre, sabendo, ou pelo menos confiando, que não
há ninguém por perto. Outra bem diferente é fazer isto no meio de uma boate
rodeada por amigos e familiares.
Oliver não seria louco, seria?
Deve ser só para me provocar... só para brincar...
– Deixa de ser hipócrita, Beatriz. Você está doida para que ele seja louco,
bem louco... – digo a mim mesma em voz alta.
Olho para aquele pedaço de renda vermelha em minhas mãos.
– O que eu faço com você? Não tenho bolsa e nem bolsos para te enfiar...
Poderia jogá-la fora, mas além de ser um desperdício, gostaria de recolocá-
la após a brincadeira acabar.
Apesar dos seguranças garantirem que não deixariam ninguém mais entrar
enquanto eu estivesse ali, espio porta a fora, averiguando. Como a barra está
limpa, saio.
Há um armário inteiriço abaixo dos quatro lavatórios. Abro e vejo que
dentro dele tem um estoque de rolos de papel higiênico, dentre outras coisas.
Escolho o rolo mais ao fundo possível e enfio a calcinha no buraco. Isso deve
servir.
– Fique quietinha aí. Depois resgato você. – Me despeço da lingerie.
Saio do banheiro, os dois seguranças me aguardavam ao lado da porta. Um
segue na minha frente e outro às minhas costas. Um grupinho de garotas me
olha torto.
Provavelmente foram proibidas de usar o banheiro e agora descobriram o
motivo. Muito diferente do que fizeram na minha entrada com Oliver, as
pessoas agora vão abrindo caminho quando percebem que é um de nós
passando.
Os olhares me seguem, curiosos, mas ninguém se atreve a chegar perto,
muito menos tocar. A lembrança da garota beijando a boca dele me ferve o
sangue.
Estranho é andar no meio das pessoas sem calcinha.
Ao mesmo tempo que você sabe que ninguém sabe, parece que todo mundo
sabe. Entendem né?
Avisto a nossa roda, que está maior. Mike voltou e juntaram-se ao grupo
três amigas de Hazel e dois amigos de Kellan. O baixista também está
próximo, beijando uma morena. Mas nada de Oliver. Olho para o reservado
próximo ao bar, não há ninguém lá além dos seguranças que mantém a área
livre.
– Amiga, está tudo bem? – Hazel diz próxima ao meu ouvido, para ser
possível entender em função da música alta.
– Está sim, só fui ao banheiro. Você viu Oliver?
– A última vez que o vi, estava no bar. Achei que estivesse com ele...
– Recaída? – pergunto me referindo discretamente a Eric.
– Ah Bia, não teria coragem de ficar com outro cara na frente dele. Ele
ainda é tão apaixonado... Além disso, é gostoso e beija bem, entre ficarmos ou
terminar a noite sozinha... Mas tem alguém aqui que vai ter muita história para
contar. – Hazel arrasta Iris para perto de nós, arrancando-a dos braços de
Henry.
– Se deu bem, sortuda. Conta aí, Iris. Tem a pegada tão boa quanto
aparenta? – Ela ri.
– Demais. Estou quase arrancando os cabelos... O homem é quente.
– Uau. Aproveita garota. E amanhã manda mensagem dizendo se a
realidade superou a expectativa. – Pisco para ela.
– Iris que não se atreva a não compartilhar tudo conosco!
– Fiquem tranquilas. Faço um resumo e os detalhes conto na nossa noite
das garotas.
– Meninas, vou ter que pedir licença a vocês, preciso encontrar Oliver.
Mais tarde a gente se fala. – Dou um beijo na bochecha de cada uma. – Beijem
muito! – grito enquanto me afasto.
Começo a olhar em torno à procura do meu roqueiro quente. Vou me
infiltrando cada vez mais entre as pessoas, os seguranças se viram para me
acompanhar. Procuro, e procuro, até que avisto. Perco o fôlego.
Oliver está num canto, num vão entre as estruturas dos dois elevados.
Tem as costas e um dos pés apoiados na parede, a outra perna esticada.
Uma mão está no bolso da calça. A outra segura o copo de whisky, que ele
lentamente leva aos lábios.
A camiseta tem um lado dentro da calça e o outro fora. O olhar sobre mim,
sério, frio, sombrio e sexy como o diabo.
Dezenas de mulheres e homens observam-no em meio a escuridão e luzes
piscantes. Mas não estão próximos, há um raio de pelo menos três metros ao
redor dele. Provavelmente isolamento arranjado pelos seguranças, identifico
quatro por perto.
Ele continua bebendo e sustentando o olhar perturbador, me chamando,
desafiando-me a invadir o seu espaço.
Saio do meu transe e caminho lenta, mas decididamente em sua direção.
Passo pelos primeiros seguranças, porém, quando estou a mais ou menos um
metro dele, outro se coloca a minha frente. Paro, assustada. Lanço um olhar de
“por que?” a Oliver. Ele apenas balança a cabeça em negativa. Não, eu não
tenho permissão para me aproximar mais.
Permanece me fitando daquela forma.
Raivoso até. Eu gelo por um instante.
Será que o deixei puto por algum motivo?
As lágrimas quase ultrapassam a barreira dos meus olhos quando o
segurança coloca um pequeno papel dobrado em minha mão. Abro.
Dance.
Apenas isso.
É tudo que o bilhete diz.
A música muda. Reconheço.
É a mesma que tocava na boate durante o nosso primeiro beijo.
Puta-Merda!
Oliver quer um showzinho meu, sem calcinha, para ele, enquanto o público
nos observa. Não sei se consigo.
Meu coração galopa no peito.
Foco em seu olhar outra vez. Continua frio, desafiador. Fecho os meus olhos
e deixo a música me invadir.
Lembro da nossa primeira noite, do seu cheiro, seu calor, suas mãos em
mim. A sensação e a expectativa em sentir o gosto dos seus lábios pela
primeira vez. A emoção do sonho virando realidade, então danço.
Danço com tudo que há em mim, sem me importar se pareço sexy ou
ridícula.
Percorro meu corpo com as mãos e balanço os quadris no ritmo provocante,
enquanto revivo na mente o dia mais feliz da minha vida. Uma coisa é certa,
apaixonada eu sei que pareço. Muito apaixonada.
Por volta da metade da música me atrevo a erguer as pálpebras e encará-lo
outra vez. A expressão continua sombria e amedrontadora, mas não há mais um
pingo de frieza e sim um fogo que chega até mim e me queima junto. A
camiseta não tem um lado dentro da calça, os dois estão para fora. A mão não
está mais no bolso e sim sobre a braguilha, tenta disfarçar a ereção.
Dou meu melhor sorriso safado e viro de costas para ele, deixando-o agora
com a visão da minha bunda. Faço o mesmo movimento que fiz na roda
enquanto percorria o seu corpo. Dançando, vou até o chão, só que desta vez
passando as mãos pela lateral do meu. Ao voltar, trago as mãos pela parte
interna das coxas, adentro pela saia do vestido e volto, depois escorrego-as até
as nádegas.
– Arrrrrrr inferno! – Ouço seu rosnar. Abro um sorriso vitorioso.
Desestabilizei-o afinal.
Um segundo e o ar fica rarefeito. É o calor do seu corpo se aproximando do
meu. Ainda não coloca as mãos em mim, permite apenas um leve roçar na sua
virilha conforme danço, mas é o suficiente para eu comprovar a dureza e me
fazer incendiar ainda mais.
Tê-lo tão próximo, e ao mesmo tempo não, é angustiante. Se eu já estava
morrendo de tesão e expectativa antes, ali, sem calcinha e com todo o clima
que ele criou, a necessidade triplicou. Estou molhada pra caramba. Roço cada
vez mais uma coxa na outra e isto não tem nada a ver com a coreografia
improvisada.
Quase choro de satisfação quando sinto-o encostar completamente o tronco
em mim, pressionando o quadril contra a base da minha coluna. Mesmo eu
usando salto, ele é muito mais alto. Sinto seus dedos afastando os meus
cabelos todos para um lado, deixando meu pescoço exposto ao seu bel-prazer.
– Provocadora do caralho – diz ao pé do ouvido antes de deslizar os
lábios por toda aquela região. – Está pingando por mim, meu amor? – pergunta.
– O rio já transbordou, baby... – Ele geme e finalmente me puxa contra si,
envolvendo minha cintura com as mãos grandes e quentes. – Ahhhhhh! – Me
deleito em êxtase.
– Ansiosa pelo meu toque?
– Me contorcendo por ele.
– Estou louco para enfiar minhas mãos por baixo desse vestido e descobrir
quantas estrelinhas você merece por fazer o dever de casa, anjo.
– Por favor... – choramingo, ele ri contra o meu pescoço, então vira-me
para ele e me beija forte, intenso e apaixonado, enquanto caminha comigo em
direção à parede.
Assim que suas costas tocam o concreto, ele inverte nossas posições e sinto
o frio do cimento contra a parte nua das minhas. Ele interrompe nosso beijo,
desce as mãos até minhas coxas, me dando apoio para impulsionar e terminar
com as pernas em torno dos seus quadris. Volta a tomar a minha boca, me
prensa contra a parede e pressiona o pau duro bem no cerne da minha dor.
– Isso... isso... – digo.
– Você está me fazendo viver o inferno hoje, pequena. Estou duro a noite
toda.
– Ahhhh... – É tudo que consigo dizer a respeito da sua declaração, tendo o
seu pau investindo contra mim.
– Preciso relaxar. E cumprir uma promessa. Vai ser corajosa o suficiente
para embarcar nessa comigo, Chucky? – Seus lábios descem para o meu
decote.
– Oliver...
– Eu prometi a você que batizaríamos a área de festas de Lian. Estou
muito disposto – esfrega o pau em mim com mais afinco – a fazer isso agora
mesmo. Mas terá que fazer o que eu disser, para que, caso desconfiem, não
tenham certeza dos nossos atos. Topa? A decisão é sua.
– Sim – respondo, como se eu ainda possuísse algum controle sobre as
minhas vontades.
– Esta é a minha menina. Valente e audaciosa! – Me beija novamente e
sinto uma de suas mãos subir pela parte de trás da minha coxa.
Os dedos alcançam minha boceta e ele sorri ao comprovar que fiz o que
mandou. Brinca ali, espalhando o líquido que escapa dela por toda a carne.
– A com três estrelinhas, com certeza. – Me desce e leva os dedos a boca.
– Doce feito mel. Venha.
Seguimos para perto de uma das bases que sustentam um dos elevados. São
quatro pés e entre eles há chapas de metal que os conectam, para dar mais
firmeza. Ele me passa por cima de uma delas e depois pula para dentro
também, nos colocando debaixo do elevado, cercados e protegidos pelas
placas. No chão, próximo à grade de frente para a pista, há um caixote virado
de cabeça para baixo. Ele preparou tudo.
– Suba. – Eu faço e percebo que me deixa na altura exata para que minha
bunda encaixe no seu sexo e as chapas de metal nos cobrem mais ou menos do
umbigo até a o meio das coxas, por todos os lados. Ele consegue agora me
abraçar por trás e colocar a cabeça no meu ombro sem ter que se abaixar. E é o
que faz.
– Segure na grade, baby. – Fecho minhas duas mãos sobre ela. – E vamos
dançar.
Oliver passa os braços em volta de mim e começamos a remexer no ritmo
da música. Por um tempo ficamos apenas assim, dançando, nos roçando,
provocando. Seus lábios em minha pele, sua boca contra a minha. Quando nota
que os olhares já não estão tão concentrados em nós, que viramos uma dança
entre casal dentre tantas outras, na medida do possível, claro, Oliver desce as
mãos pelo meu quadril e as sobe por baixo do vestido, elevando-o na parte de
trás e deixando que a papada da minha bunda encoste na sua calça.
Uma mão volta para a minha cintura, me apertando mais contra si, e a outra
afaga minha bunda, encostando de leve a ponta do dedo no meu sexo, já tão
judiado pela espera. Aquilo me dá choque. Céus...
– Baby...
– Eu sei, meu bem, calma...
– Não aguento mais, rockstar... eu preciso gozar...
– Shh... dance, amor, não pare de dançar.
A mesma mão que me alisava, agora abre o botão e desce o zíper da calça.
Sinto quando a enfia dentro da cueca e puxa o membro poderoso, que salta
para o meio das minhas pernas por baixo do vestido. A mão retorna para a
frente do meu corpo, juntando-se a outra.
Ele se ajeita atrás de mim e a ponta melada do pau pressiona a minha
entrada. Empurra o quadril para frente, devagar, enquanto dançamos. Sinto o
pau grosso me alargar aos poucos. Não seguro um gemido quando a cabeça
passa.
– Quietinha, meu amor. Estamos só dançando, lembra?
Continua empurrando mais e mais, até suas bolas encostarem na junção das
minhas coxas. Ele está inteiro em mim e ali é o lugar dele. Como é deliciosa a
sensação de preenchimento.
Então o vai e vem, ritmado pela vontade do DJ começa. Não pode ser forte,
nem rápido, é um entra e sai lento e coreografado. Que ao mesmo tempo que é
delicioso, deixa-nos angustiados, esperando mais. Loucos para foder de
verdade.
– Porra, que vontade de meter pra valer em você, pequena.
– Não sei se vou conseguir gozar assim, Oliver. – Ele leva a mão ao meu
clitóris, por cima do vestido. A placa de metal cobre, então pode me masturbar
sem problemas.
– Bia... – geme baixinho – que tortura.
– Sim, amor, também estou enlouquecendo...
Preciso de mais... uma vontade insana começa a crescer dentro de mim e sei
que só vou gozar se a atender. Deito minha cabeça em seu ombro para ficar o
mais próxima possível do seu ouvido.
– Baby, quero vinho... põe o tora um pouquinho lá atrás, vai... – Ele
estremece.
– Puta que pariu, Beatriz. Se eu tiver que colocar uma ponte de safena
antes dos quarenta, saiba que a culpa é sua. Gostosa do caralho. – Me beija. –
Não temos lubrificante, só o que virá da sua boceta. Terei que por tudo, não
posso ficar com meio pau para fora, apesar do nosso cercadinho e da pouca
iluminação, poderiam ver... Vai aguentar?
– Todinho... e sem fazer careta...
– Arrrrr! Você nunca para de me surpreender, anjo... agora dance baby...
Oliver sai pela entrada principal e bate na porta dos fundos. Sinto a pressão
e me arrepio. Espero mesmo aguentar. Já o não fazer careta, quase impossível
não escapar uma ou outra. Tranco a respiração e tento relaxar lá atrás. Jesus,
Maria, José... só durante o ato é que a gente lembra porque não deveria pedir
por isto. Quando passa, eu respiro. Dói, mas que delícia... era o que eu
precisava...
– Que cu gostoso.
– Olha a boca, Oliver Rain. Aii..
– Xiu, quietinha... quase no fim... respira...
– Haja fôlego. Ai.
– Pronto. Todo enterrando na sua bunda gulosa, que me atormentou o juízo
a noite inteira.
– Mexe, baby. Mexe – imploro e ele faz. Aperta os braços contra meu
ventre e rebola aquele pauzão dentro da minha bunda de todas as formas
possíveis, no ritmo certo, nos levando a loucura. Quem olhar, pode jurar que
estamos apenas dançando.
– Pequena, vou gozar.
– Mais um pouquinho, baby. – Passa a mão por baixo do vestido e leva um
dedo dentro da vagina, enquanto o outro estimula o meu clitóris. A dupla
penetração é de enlouquecer! O orgasmo está vindo.
– Bia... – ele goza, sinto o esperma quente escorrer.
– Tô quase amor, não para agora... Acelera um pouquinho, nos dois
lugares – peço.
– Em silêncio, anjo... – E ele faz. E eu vejo estrelas.
– Oliver... aiiiiii... – Gozo abafando um grito.
– Porra, amor... que doideira... – Cola a testa no meu ombro, ofegante
enquanto guarda os documentos e baixa meu vestido.
– Excitante loucura. Duvidou que eu teria coragem? – Me viro para ele.
– Achei que você ficaria receosa, mas não amarelaria. Eu sei bem o efeito
que tenho sobre você, Beatriz.
– Convencido.
– A minha confiança é um dos motivos que te faz molhar a calcinha quando
estou perto, bebê. Agora fique quieta e me beije.
– Sempre. – Cubro sua boca com delicadeza. Passo só a pontinha da língua
entre os lábios, puxo a parte inferior e sugo, então busco por sua língua com a
minha e aprofundo o beijo.
– Humm, boca deliciosa... por pouco não desisti de brincar com você.
Quase chorou quando o segurança não te deixou passar, não foi?
– Sim... achei que você estava com raiva de mim.
– Perdão, meu bem. Entrei demais no personagem.
– Eu adorei o jogo, baby. – O beijo novamente. – Seus fluídos estão
melando as minhas coxas. Preciso ir ao banheiro.
– Eu te acompanho até a suíte do quarto de hóspedes. Tome um banho
rápido se preferir.
– Não, tenho que resgatar a minha calcinha no armário do banheiro aqui de
fora. Tem toalhas e lenços umedecidos lá, eu me viro.
– Te levo lá então. – Oliver me ergue e me põe para fora do cercadinho
improvisado, saindo de lá na sequência.
Quando estamos a meio caminho do banheiro um furacão quase nos
atropela.
Oliver
Uma garota bem conhecida passa por nós a toda velocidade, correndo em
direção à saída para o deck. Hazel está aos prantos e os seguranças à paisana
mal conseguem acompanhá-la.
– Eu vou atrás dela – digo.
– Faça isso, encontro vocês lá fora em alguns minutos.
Há menos pessoas do que eu imaginava na área da praia. Ninguém na hidro
ou na piscina e dois seguranças estão de pé em frente a elas. Provavelmente
Lian pediu que guardassem a área para evitar casais trepando ao ar livre. Em
respeito a Hazel, Bia e quem mais da família pudesse aparecer esta noite.
Dou alguns passos pela praia e, mais adiante, vejo a jovem de longos e
lisos cabelos escuros sentada na areia, em posição fetal, convulsionando de
tanto chorar.
– Princesa... – Me sento ao seu lado e a abraço. – Hazel, o que houve meu
bem? – Ela encosta a cabeça no meu peito e soluça. Sinto as lágrimas
molharem minha camiseta.
– Eric fez alguma coisa? – Nega sem emitir som.
– Algum outro babaca te machucou? – Ela não responde.
– Quem foi, Hazel? Me diz que quebro o infeliz agora mesmo.
– Alguém que você conhece muito bem, estrela. O senhor da minha
felicidade e do meu desespero.
– Ah querida... o que Max fez que te deixou neste estado? Não é porque é
meu irmão que não darei umas porradas nele...
– O que ele fez? Rá. – Solta um risinho – O que eu sempre soube que ele
faz com muitas, mas que eu gostaria que fizesse só comigo... só que dói muito
mais quando se vê a ação com os próprios olhos... – Volta a chorar.
– Você viu Max...
– Transando com três garotas. TRÊS.
– No meio da festa? – Max sempre prefere ter mais de uma mulher ao
mesmo tempo, mas daí a promover uma orgia pública? Não acho que se
deixaria levar a este ponto.
– Eu vi um garçom entrar com uma bandeja com drinks por uma porta ao
lado da sauna – fecho os olhos, é um dos quartos de foda de Lian – fiquei
curiosa, então abri a porta para ver o que estava rolando lá dentro. Péssima
decisão. Fico me enganando dizendo que era só curiosidade, mas acho que no
fundo eu sabia o que iria encontrar. Só não sabia que haveria mais de uma e
que doeria tanto...
– Ele deve estar demitindo o segurança que não te impediu de entrar...
– Ele não me viu. Metia numa por trás, enquanto outra estava deitada
embaixo dos dois, provavelmente com suas bolas na boca, e a terceira numa
pose olímpica com a boceta aberta na cara dele. Só a ginasta e o garçom me
viram. Eu logo saí.
– Sinto muito que você tenha presenciado isso.
– Eu só queria que esta dor parasse...
– Hazel, sei que fez planos com Bia, mas eu não acho que você deva...
– Ter esperanças? Sei que não, estrela. Apesar de Bia me garantir que eu
posso, eu sei que não. O que eu vou fazer, esta última tentativa, eu devo a mim.
Devo ao meu coração que ama esse homem desde que se entende por gente.
Ele sempre será o meu grande amor, Oliver. O grande amor que nunca viverei.
Mas não significa que eu não queira viver amores menores. Eu quero e eu vou.
Só não conseguirei fazer isso perto dele. Ninguém nunca terá chance comigo de
verdade, você entende?
– Perfeitamente. Eric que o diga.
– Sim. Eric é tudo que uma garota da minha idade poderia sonhar para um
primeiro amor. É um homem e não um moleque, é bonito, bem resolvido,
carinhoso, tem pegada, um ótimo papo, está apaixonado e temos química. Um
sonho, não?
– Se você disser que além de tudo ele ainda tem pau grande, até eu me
apaixono pelo cara... – Ela ri. Que bom.
– Não vi muitos, mas não é pequeno.
– Bia acaba de dançar.
– Palhaço! Mas então me diz, estrela. Você é homem, talvez possa me dizer
algo diferente... Por que eu não consigo me entregar a ele? Por que, merda?!
– Você está me dizendo que vocês nunca...
– Nunca. Não consigo. Eu travo. Entro em pânico, literalmente. – Puta-
merda. Acho melhor Max continuar pensando que ela não é mais virgem, senão
vai fechar ainda mais o cerco.
– Você sonha em viver esse momento com Max.
– Era para você me dizer algo diferente... eu não apenas sonho. Eu
visualizo. Eu vivo e revivo na minha mente todos os dias. Daí quando estou lá,
e o homem prestes a tomar o meu corpo não é ruivo, por mais quentes que as
coisas estejam, parece que aquilo é tão errado... tão sem sentido... tão sem
amor... – As lágrimas escorrem. A abraço mais forte.
– Eu realmente gostaria de lhe dizer que talvez um dia ele a veja como
mulher, princesa, mas eu estaria mentindo. A não ser que seja um pervertido do
caralho, nenhum homem olha assim para a menina que considera uma filha.
– Ele não é meu pai, Oliver. Eu já tenho um.
– Princesa...
– Ele não é! Eu nunca o vi desta forma.
– Mas ele sempre a viu assim.
– Eis aí a grande merda da minha vida...
– Hazel, você já pensou em conversar com alguém? Poderíamos marcar
com Henry...
– Farei isso depois de Londres. Se não fizer uma bobagem antes... –
Aquelas palavras me arrepiam.
– Como assim? Que tipo de bobagem?
– Ir para cima, Oliver. Sem me importar com as consequências. – Respiro
aliviado.
– Mudaria tudo entre vocês.
– Sim. Eu o magoaria e o perderia de todas as formas. É o que ainda me
impede. Mas estou prestes a ligar o foda-se e ultrapassar este limite, eu sinto.
– Não faça nada por impulso. Espere pelo menos o tempo em Londres.
Quem sabe você conheça alguém...
– Oliver? Me olhe. – Eu faço.
– Nunca vai mudar. Mudaria para você?
– Não. – Sou sincero.
– O que Londres fará por mim é me dar tempo. Tempo para pensar longe
dele e estudar suas reações aos falsos amores ingleses que farei chegar ao seu
conhecimento. Para então fazer a escolha inevitável. Ou me dou um segundo de
esperança e jogo a merda no ventilador de uma vez ou afogo meus sentimentos
pelo resto da vida e me transformo naquele tipo de gente que por fora está bem
e sorridente, mas por dentro é um poço de tristeza indecifrável. E sabe o que
mais me fode nisso tudo?
– O quê?
– Para mim restará a mesma opção em qualquer um dos dois desfechos.
Partiu terapia e #amoresmenores.
– Você sempre poderá contar comigo e com Bia, sabe disso, não é? Não
guarde tudo aí dentro.
– Sei sim. Não sabe o quando me fez bem esta nossa conversa. E não
impeça Bia de sair comigo. – Eu rio.
– Aproveitadora... Isso é jogo sujo, garota. – Beijo sua bochecha.
– Obrigada, estrela. – Ela põe os braços em torno do meu pescoço e me
abraça.
– Sempre que precisar, meu bem.
– Mas agora é melhor você cuidar da sua horta, rockstar. Alguém está
doido para chover nela. – Olho na mesma direção que ela e não gosto nada do
que vejo.
Bia
– Bia, é você? – Ouço uma voz me chamar. Olho em torno, mas não vejo
ninguém. Até que um vulto sai das sombras das folhagens em volta do deck e
se aproxima. Ele tem um copo de bebida na mão, seu rosto não me é estranho,
mas não lembro quem é ou onde já o vi.
– Oi, sim sou eu. – Ele me analisa minuciosamente.
– Não está lembrada de mim, não é?
– Para ser sincera, não. Desculpe. – Ele leva a mão ao coração, como se
doesse.
– E pensar que eu não consegui esquecê-la um dia sequer... – dramatiza,
irônico. Não gosto daquilo.
– Sinto muito por isso, mas se me der licença, eu vou...
– Calma, calma. Desculpe o tom, não quis ofender, estou só tentando ser
descontraído. Sou Tales, amigo de Kellan, nos conhecemos na festa de Hazel.
– Ah claro, Tales, o que tentou se aproximar de mim naquela noite e o único
dos amigos de Kellan que Hazel classificou como confiável.
– Tales, verdade. Como vai?
– Bem obrigado. Será que posso chegar mais perto? Os leões de chácara
não vão me barrar?
– Pode, claro.
– E você, como está? Pelo que ando acompanhando pelas mídias, imagino
que bem.
– Sim, estou bem. E você? O que faz aqui fora? Não está gostando da
festa?
– Estou claro, mas...
– Mas?
– Kellan arrastou nosso grupo, mais meia dúzia de garotas para um dos
quartos e bem... o tipo de pegação que rola lá dentro não é muito a minha... –
Ele levanta o copo de bebida. – Não é algo que eu curta.
– Não?
– Não. Além de não gostar de plateia, para mim precisa ter o mínimo de
envolvimento sabe? Pelo menos trocar uma dúzia de frases coerentes antes de
“cair de boca”, se me perdoa o eufemismo.
– Entendo. E imagino que conversa é o que menos rola lá dentro, certo?
– Certíssima.
– Então você resolveu sair para beber e olhar o mar.
– Isso, e quem sabe ter a sorte de encontrar uma amiga. Se me permite
perguntar, o que faz aqui sozinha?
– Vim procurar Oliver e Hazel – digo simplesmente e ele me fita como
quem não acredita, mas vai deixar passar.
– Nossa, você é ainda mais linda do que eu me lembrava. – Minhas
bochechas incendeiam na mesma hora.
– Obrigada – respondo totalmente sem graça.
– Não era mentira – diz sério, com os olhos fixos nos meus.
– O que não era mentira? – pergunto confusa.
– A parte em que eu penso em você todos os dias desde aquela maldita
festa.
– Tales, eu não...
– Tudo bem, Bia. Não estou dizendo isso para que você se atire em meus
braços, nem nada do tipo. Só estou sendo sincero. Você lançou algum feitiço
sobre mim. O mesmo ao qual meu amigo Kellan sucumbe, imagino.
– Não foi minha intenção.
– Sei que não. E é por isso que é tão difícil se livrar dele. Nem Oliver
Rain escapou. Ainda é a garota dele, suponho? – Sorrio.
– Bom, pelo que eu sinto, você está prestes a confirmar se ainda sou ou
não. – Ele me fita confuso, então olha por sobre meus ombros e pela sua
expressão, meu sentido aranha não me traiu.
– Como você...?
– Simplesmente sinto a presença dele.
– Espero não perder as bolas. Minha mãe sonha em ter netos algum dia.
– Quão perto ele está?
– Há uns duzentos metros.
– Dá tempo de você fugir – afirmo, me divertindo com a preocupação
dele. Tales faz uma careta.
– Ainda me considero um homem, garota. Jamais fugiria. Eliminaria
qualquer chance de você me respeitar no futuro. – Me dá uma piscadinha.
– Fico na torcida por suas bolas e os possíveis netos de sua mãe, então.
– Obrigado. É muita gentileza sua. – Não demora muito para a maresia
ganhar um aroma levemente mentolado e um braço forte me envolver na
cintura.
– Procurava você e Hazel, onde estavam? – Ele não responde, tão
concentrado que está encarando o garoto.
– Quem é você? – exige.
– Oliver, por favor, seja educado.
– Tudo bem, Bia. Não preciso que me defenda. Boa noite, Sr. Rain. Sou
Tales, amigo de Kellan. Já nos encontramos algumas vezes. Não lembra de
mim? A última vez foi na festa de Hazel. – Oliver estreita o olhar na direção
dele.
– Lembro. Perfeitamente. Você é o cara que insistiu em levar a minha
mulher para a pista de dança. Veio convidá-la para dançar novamente?
– Não. Vim aqui fora justamente porque não me agrada o rumo que a festa
tomou para os meus amigos. E coincidentemente nos encontramos.
– Se tédio é o problema, peço para um dos motoristas te levar em casa
agora mesmo – diz já retirando o celular do bolso da bermuda.
– Conversar com Bia é tudo menos tedioso. Mas é claro que o senhor sabe
disso muito bem. – Sinto Oliver cerrar os punhos. Se Tales continuar
provocando-o assim, acho bom já se inscrever na fila de adoção.
– Sim, eu sei. Ela é maravilhosa em todos os aspectos. Então ouça com
atenção, moleque, pois vou dizer uma vez só. Desista. Cai fora. Vaza. Vá
primeiro aprender a limpar a bunda, antes de pensar em ciscar no meu terreiro.
– Oliver...
– Desta eu vou deixar passar, mas a próxima vez que você ousar flertar
com ela, um olho roxo e um dente quebrado é o mínimo que te aguarda. E é
Srta. Thompson para você.
– Ele não estava flertando comigo.
– Conta outra, Beatriz. De longe eu vi o jeito que ele te olhava.
– Ele tem razão – diz Tales, encarando Oliver. – E como confidenciei há
poucos minutos, não paro de pensar nela desde a festa.
– Cretino... Filho-da-puta... – Oliver ameaça avançar em Tales, mas eu o
detenho me colocando entre os dois. Dois seguranças também se aproximam,
prontos para intervir.
– Saia da frente, Beatriz – diz furioso.
– Não mesmo. Quer o quê? Um processo por agressão? Esfria a cabeça,
vamos sair daqui, Oliver. – Me agarro em seu tronco e o empurro para trás.
– Não se preocupe, Sr. Rain. Não sou inconveniente. Sei reconhecer
quando não há espaço vago no coração de uma garota. Mas sei também que o
mundo dá voltas e que do dia para a noite tudo pode mudar. Se isso acontecer,
eu vou tentar a sorte.
– Chega, Tales! Pare de provocá-lo. – Me irrito também. Oliver debocha e
digita algo no celular.
– Como quiser, Bia, vou indo. Bom te rever. Boa noite! – diz o amigo de
Kellan, se dirigindo apenas a mim.
– Boa noite. – Não dou chance a Oliver de dizer qualquer outra coisa,
puxo-o pela camiseta na direção da praia.
– O que você tanto digita no celular?
– Determinando que retirem o babaca da festa e proibindo sua entrada aqui
a partir de hoje.
– Deixa de ser infantil. Você não pode fazer isso, ele é amigo de Kellan e
não fez nada demais.
– Só confessou na minha cara e na minha casa que quer o que é meu. –
Ponho minha mão sobre a sua, para que pare de digitar, o outro braço passo
por seu pescoço e o beijo.
– Acalme-se. O que ele quer ou deixa de querer é problema dele.
– Não quando envolve você.
– Eu só quero você. Fim da história. Onde está Hazel?
– Voltou lá para dentro.
– O que houve?
– Viu Max transando.
– Merda.
– Bia, não vou ficar bem com você solta numa boate em Los Angeles...
– Oliver...
– Olha o que acabou de acontecer! E dentro do meu quintal...
– Ele só te provocou porque você chegou todo grosseiro, rockstar. Até
então foi bem educado.
– Eu sei identificar o interesse no olhar de um homem. E aquele cara te
quer pra caralho. Não vê a hora de enterrar na sua cesta.
– Esse jogo já está ganho, meu amor. Já é seu. Esquece o Tales e me leve
para perto da minha amiga, ela precisa de mim, vamos.
Capítulo 26
Bia
– Puta merda, aquele berro ainda está zunindo no meu ouvido, cacete. São
oito da manhã. Quem dormiu cedo ontem? – Ouço Max reclamar, sonolento,
enquanto organizamos os últimos detalhes.
– Fala logo, Oliver. Que merda é essa? O que elas querem com a gente a
essa hora da manhã?
– Eu já falei que não sei, Lian. Acordei do mesmo jeito carinhoso que
vocês, com o berro no alto-falante que instalaram na praia e não vi de onde
saiu. Achei o mesmo bilhete sobre a cama. Abrir o pacote, colocar a sunga
vermelha e vir para o deck. E eu já perguntei, mas só ouço que tenho que
esperar. Estão assim... cochicham, andam de um lado para o outro, enfileiraram
as espreguiçadeiras lá na areia... não sei o que vai rolar, de verdade...
– O tio ou Edgar devem saber...
– Vá lá e veja se consegue arrancar algo deles então, porque já perguntei e
Johnathan só me olhou e sorriu, Edgar apenas soltou um “tenha paciência”.
– Eu também tentei e não me falaram. – Kellan conta. Bom, já criamos
clima demais, melhor acabar com a agonia deles. Ou começar com ela,
depende do ponto de vista...
– Prontas, meninas? – pergunto, elas fazem sinal de positivo – Aos nossos
lugares por favor. – Hazel, Laura, Alicia, Helen e eu andamos até as cinco
espreguiçadeiras. Elas foram colocadas mais ou menos no meio do caminho,
entre o costão e a casa de Oliver, mais atrás na areia, de frente para o mar,
para nos dar a melhor visão possível do que está por vir. Em uma delas há um
microfone e uma câmera fotográfica com zoom super potente. Pego o
microfone.
– Rapazes, venham até aqui, por favor. – Minha voz sai alta no alto falante.
Eles se olham, desconfiados, mas obedecem.
– Oin, isso só pode ser a visão do Olimpo – resmunga Hazel ao meu lado.
– É, não tem como ser melhor do que isso – concordo. Ver os quatro
caminhando lado a lado de sunguinha vermelha está no top cem do ano.
– Estamos aqui madames, qual o motivo dessa comoção toda? – pergunta
Max.
– Em primeiro lugar, Feliz Natal! – Edgar e Johnathan sentam-se na ponta
do deck para acompanhar a nossa brincadeira e a reação dos garotos.
– Bia, se não tiver uma boa explicação para me tirar da cama cedo assim
no dia vinte e cinco de dezembro, terá que fazer omeletes para mim por um
ano. – Max resmunga de novo.
– Vamos receber um treinamento para salva-vidas ou o que? Por que
tínhamos que colocar sungas vermelhas, caramba? – Lian pergunta.
– Porque é natal. E para combinar com nossos vestidinhos. – Ele abre a
boca, incrédulo. Estamos todas com saídas de praia vermelhas idênticas.
– É sério? – Kellan também não acredita na nossa tamanha cara de pau. –
E aqueles dois manés lá no deck, por que não estão de sunguinha vermelha
para “combinar”?
– Porque eles não teriam chance – diz Hazel.
– Ei, eu ouvi isso mocinha. Ainda tenho muito fôlego, pergunte a sua mãe –
defende-se Johnathan berrando.
– Me poupe pai...
– Chance para que? – Agora foi a vez de Oliver perguntar.
– Para ganhar a caça ao tesouro.
– Vamos caçar um tesouro? – Lian se anima.
– Aiii... – Max e Oliver xingam juntos.
– Bia, você tem noção que nosso jantar em família ontem terminou as três
da manhã? O combinado era nos encontramos só para o almoço hoje. Você nos
tirou da cama às oito... – Kellan protesta.
– Bom, a questão é a seguinte. Sei que vocês não costumam trocar
presentes no natal. Só se reúnem para jantar e almoçar. Mas, há um tesouro. O
tesouro é o meu presente de natal para um de vocês. Obviamente para aquele
que conseguir achá-lo primeiro. Mas quem não estiver interessado e quiser
voltar para a cama...
– Nem fodendo – diz Max. – Já é meu. Vai que é um vale omelete...
– Max, Max, você nunca foi bom perdedor... – provoca Lian.
– Quero ver alguém ser mais rápido do que eu... – fala Kellan
– Está me dizendo que vou ter que competir pelo seu presente de natal com
esses malas, Beatriz?
– Justamente, baby.
– Ahh, você tem coragem...
– Então a brincadeira é a seguinte: há bandeirinhas escondidas por vários
lugares, cada bandeirinha tem uma cor diferente e dá direito a uma pista.
Sempre que encontrarem uma bandeirinha, têm que erguê-la para que a
vejamos daqui e então ouvirão a dica pelo alto-falante.
– Mas assim todos vão ouvir a pista...
– Sim, todos vão ouvir todas as pistas... a questão é quem será o mais
rápido na última pista para chegar ao tesouro... só que para chegar à última...
– Tem que passar por todas as outras... – completa Kellan.
– Exato. A primeira pista não precisa de bandeirinha, ela será de graça.
Estão prontos? – Passo o microfone para Laura, que está na primeira
espreguiçadeira.
– Sim – respondem os quatro marmanjos.
– O tesouro está em uma das cadeiras do deck. – Eles não correm, voam
para lá. Quase atropelam os dois homens sentados no tablado. E começam a
revirar as cadeiras sem dó, nem piedade.
– Alicia, registre. Tenho que mostrar essas fotos para os meus filhos um
dia. – Se eu tiver coragem de ter um algum dia, claro.
– Fique tranquila querida, fotografia é a minha paixão.
– Acharam – conta Helen. Kellan chacoalha uma bandeira verde. Alicia
pega o microfone.
– O tesouro está no local pelo qual Kellan e Hazel brigavam. – Kellan sai
em disparada na frente de todos.
Os outros correm o seu máximo para alcançá-lo. O local é uma pequena
“gruta” que há no costão. Na verdade, é um vão entre duas pedras, que cabe só
uma criança dentro dele. Os dois brigavam para brincar ali, pois forma uma
piscininha no chão.
Há xingamentos, risos, empurrões, se estapeiam para ver quem entra no
buraco apertado. E nós, ali das cadeiras, gargalhamos. Parecem quatro
crianças disputando uma pelada. Justamente a minha intenção quando tive a
ideia. Além do fato de poder admirá-los andando de sunga de um lado para o
outro pela praia, claro. Nesta parte, Hazel foi bem parceira...
Oliver trepida a bandeira preta. Como ele conseguiu entrar lá para pegar?
Mistério... colocar já foi um parto. O microfone vai para Helen.
– O tesouro está onde o coração de Max está. – Max nem pensa, vem em
disparada na direção de Hazel e Helen, os outros três no seu encalço.
– Princesa, mãe, está com uma de vocês...
– Não está em nós, mas onde estamos – lembra Hazel. – Eles começam a
olhar embaixo das espreguiçadeiras delas e Max acha sob a de Hazel a
bandeira amarela.
– O tesouro está onde Lian vai à caça. – Hazel anuncia.
Eles param, Lian pensa, quando corre, seguido pelos outros, vai para um
ponto na beira do mar onde há uma pedra. Hazel contou que uma vez escutou
Lian dizendo a Max que sentia falta de ir à caça. Obviamente Lian reclamava
do tédio em não precisar se esforçar para ter uma mulher, mas Hazel na sua
inocência perguntou ao primo se poderia ir caçar com ele. Lian respondeu,
claro, vamos agora mesmo. Pegou uma cestinha e levou-a até a pedra na beira
do mar, escavou ao redor e caçaram sete tatuíras. Depois disso, a caça virou
uma atividade rotineira entre eles.
Os quatro estão neste momento agachados, com traseiros para cima,
escavando em torno da pedra para achar a tal bandeira. É uma cena hilária.
– Pegou isso, Alicia?
– Vários ângulos – diz ela aos risos. Lian balança a bandeira vermelha
coberta de areia molhada. Minha vez de dar a pista.
– O tesouro está onde Bia quase beijou Oliver pela primeira vez.
Oliver tentou sair tão rápido de dentro da água que tropeça e cai estatelado
na areia os outros riem e o ultrapassam correndo, mas então se dão conta de
que não sabem qual é o lugar do nosso quase primeiro beijo, é a vez de Oliver
rir. Quando se levanta está com areia grudada no corpo todo.
Ele vai calmamente até a água limpar a lambança e começa a andar no
sentido contrário. Aquilo me dá uma aflição. Será que ele esqueceu onde foi?
Eles já estão quase na casa de Lian, quando ele vem correndo na direção
oposta, deixando os amigos perdidos para trás e ganhando vantagem. Quando
os outros percebem a traquinagem, correm atrás do prejuízo.
– Peguei você – diz no meu ouvido e me dá um beijinho ao passar por
mim. Safado!
Ele chega ao velho tronco de madeira deitado na areia e olha por todo ele,
não encontra. Os outros chegam e começam a procurar também. Levantam o
troco, cavam em torno. Até que Max acha a bandeira azul enfiada numa
rachadura da madeira.
– O tesouro está no único lugar onde poderia estar. Debaixo do X. Basta
cavar – diz Laura.
– O quê? – reclama um.
– Como assim? – questiona outro.
– Estão de sacanagem, não é? – Um fala.
– Quer dizer que esse tempo todo bastava ter achado o X? – Outro
pergunta.
– Sim! – respondemos as cinco juntas.
– Vocês nos pagam... – diz Lian.
– Porra, a praia é enorme, temos que procurar por toda a área? – Fico com
pena deles, já devem estar super cansados do tanto que correram praia afora.
– Vou dar uma dica. Está na areia seca e para lá do tronco.
– Eles saem aos pinotes, atropelando uns aos outros. Procuram, reviram,
vasculham aquela área, encontram o grande X vermelho bem no início da areia
próximo ao costão. E se transformam em quatro cachorros esfomeados
tentando desenterrar o osso.
– Eles estão se divertindo para valer – diz Helen.
– Ou isso ou me xingando até a última geração.
– Xingar, vão xingar, mas não vão esquecer esta manhã nunca.
– Queria que meu pai estivesse aqui. Ele adorava isso... – digo, os olhos
cheios de água.
– Ah querida... – Ela me abraça.
– Pegaram a caixa – anuncia Hazel.
– E estão brigando por ela. – Laura constata aos risos.
Um puxa para cá, outro para lá, se atracam em cima da caixa. Lian consegue
pegá-la e segura firme junto ao corpo. Max o empurra de costas para a areia e
os outros três caem em cima tentando arrancá-la do meio dos seus braços. Um
show de bagunça, diversão e areia, muita areia.
– Lian vai levar um ano para tirar tanta areia daquele cabelo – diz Hazel.
Eles não desistem, Lian não larga, Kellan consegue puxar uma parte do
papelão, Oliver outra. Então o fundo se rompe e caem os cinco pacotes que
havia dentro. Um com o nome de cada um deles e um quinto sem nada em cima.
Sentam-se em roda para abrir seus presentes.
– Parecem crianças – fala Alicia.
As gargalhadas ecoam quando veem o que havia dentro dos pacotes. Rolam
no chão de tanto rir.
Uma antiga vizinha nossa de Chicago confecciona os mais ridículos ugly
christmas sweater que eu já vi. Fiz contato com dona Josephine há um mês e
ela concordou em fazê-los e enviar para mim. Eu escolhi os modelos e ela
personalizou cada um deles.
O de Lian é azul com gola, punhos e barra vermelhos. Tem um Papai Noel
pelado da virilha para cima, de modo que o brinquedinho dele fica no mesmo
local do brinquedinho de quem o veste. Pendurado ali, foi costurado um pacote
de presente 3D, que fica balançando conforme a pessoa anda, O bom velhinho
está usando apenas o gorro e no pescoço traz um colar com pingente de
guitarra. Em sua barriga está escrito “I have a big package for you”[5].
O de Oliver é quase igual, muda a cor para verde e os detalhes também em
vermelho. O colar traz um microfone pendurado. O pacote de presente está
envolto em uma corrente com cadeado. E a frase na barriga do velhinho é “this
big package has owner[6]”
O suéter de Kellan tem as mangas verdes e o corpo é todo enfeitado em
temas natalinos e baixos pequenos. Ao invés do Papai Noel desenhado, há um
boneco 3D de verdade costurado roupa. Um duende que fica com as perninhas
balançando bem naquele lugar estratégico quando a pessoa anda. No corpo do
suéter está escrito “kiss my giant Elf [7]”.
O de Max foi mais complicado de bolar algo engraçado. Não poderia fazer
nada no sentido de oferecê-lo e nem dizer que ele já está amarrado. Mas no fim
acho que ficou legal, tem as mangas vermelhas e o corpo cinza. Há um boneco
de neve desenhado com uma cenoura 3D como umbigo, que fica
estrategicamente posicionada no lugar do dito-cujo. As mãos de graveto do
boneco ficam para baixo segurando duas bolas de neve também 3D, juntinhas,
bem debaixo da cenoura, que ficam balançando como pompons. O boneco tem
um colar no pescoço com duas baquetas e a frase em sua barriga é “Balls War
[8]
”.
Depois de se recuperam do ataque de risos, os quatro se levantam, sacodem
tudo que conseguem da areia que acumularam em seus corpos e vestes seus
presentes. Então posicionam-se lado a lado, colocam as mãos uns nos ombros
dos outros e vem andando em nossa direção daquela forma ridícula, como um
pelotão. Em passos lentos e fazendo caras e bocas.
Helen, Laura, Hazel, Alicia e eu choramos de tanto rir. Ver aqueles quatro
homens enormes, musculosos e sarados andando abraçados, com aqueles
agasalhos absurdos e penduricalhos balançando entre as pernas é algo para se
guardar para toda a vida.
– Alicia, não perde isso, por favor.
– Não vou, já tirei várias e uma delas vai para a página da The Order. Ah
se vai...
– Eles te matam.
– Já podem preparar o meu funeral então.
– Como estamos? – pergunta Lian.
– Maravilhosamente ridículos – respondo. Oliver vem e me abraça por
trás, beijando meu pescoço.
– Quer dizer que o meu pacote está lacrado, Chucky?
– Ahã, e só eu tenho a chave.
– Tinha um sem nome lá...
– Sim, me dê aqui Kellan, por favor – pego o embrulho extra de suas
mãos.
– Amiga, irmã, feliz natal. – Abraço Hazel.
– Ah Bia... sério?
– Abra. – Ela faz e põe a mão na boca quando vê. – Gostou?
– Amei. – O de Hazel é mais discreto, todo preto, com o biscoito do Shrek
desenhado. Em cima de um seio está escrito Eat e no outro Me. “Eat Me[9]”.
– Use em Londres. – Dou uma piscadinha para ela. Ela veste e deixa que
os outros vejam.
– Você não vai levar isso para Londres. – Max diz.
– Me impeça! – retruca Hazel sem dar mais chance a ele. A relação dos
dois está estremecida desde a festa de Lian.
– Lian, Max, Kellan, Hazel, o presente é simbólico, claro. Uma
brincadeira. Eu quis fazer algo que pudessem guardar na lembrança em
agradecimento a forma como me receberam aqui, que me incluíram em suas
vidas, sua família. E também trazer um pouquinho do que eu vivia com o meu
pai na manhã de natal. Ganhar um presente lá em casa nunca foi apenas uma
questão de retirar debaixo da árvore e abrir. Sempre tinha uma pegadinha, uma
prenda a pagar, uma sacanagem envolvida, que nos rendiam muitas risadas.
Este é o primeiro natal que passo sem ele e ao invés de chorar, porque podem
ter certeza que as lágrimas já me vieram aos olhos inúmeras vezes desde
ontem, tentei recriar sua alegria com toda essa bagunça que armei.
– Ah então a senhora admite que foi uma baita sacanagem acordar com
aquele alto-falante ali?
– Admito sim, baby, Natal para mim sem sacanagem não é natal...
– Bom saber, se preparem para os próximos anos... – diz Lian, esfregando
as mãos.
– Meus ouvidos ainda doem...
– Deixa de ser chorão, Max. – Hazel diz, zangada.
– Bia, acho que posso falar por todos nós. Tirando o despertar traumático,
fazia muito tempo que não riamos tanto assim juntos. Brincar de disputar
bandeirinhas com esses bundões foi demais... voltei a me sentir um moleque e
sei que eles também... Vamos guardar as lembranças sem dúvida e em todo
natal daqui por diante vou usar isto – puxa o suéter – mesmo o clima da
California não fazendo jus a tamanha arte. – Todos rimos do seu deboche. –
Obrigado pela surpresa, querida. Mas eu ainda preferia o vale omelete –
confessa Max e me dá um beijo na bochecha.
– Obrigado Bela-Bia – recebo o beijo de Lian também – e a tradição da
sacanagem natalina está instaurada a partir de hoje.
– Me diverti muito Bia, e espero encontrar muitas adeptas a beijar o meu
elfo gigante por aí...
– Deixa de ser modesto e admita que não faltam candidatas. E pode vir
aqui me dar um beijo e um abraço, Oliver não vai te morder... – Puxo-o para
perto de mim.
– Morder não, mas matar... – resmunga meu namorado, provocando.
– Bom, acho que chegou a hora, não, meus velhos? – Lian pergunta e os
quatro concordam.
– Então no três... um, dois, três...
– Ai! – berro e ouço os berros das outras também.
Oliver me pega no colo, Lian pega Hazel, Max Helen, e Kellan Alicia. Nos
carregam mar adentro e nos jogam na água.
Só Laura escapou ilesa desta.
Ela ri com a câmera na mão.
Meus dias estão bem cheios com o estudo e o trabalho, então dezembro
passou voando. Há poucos dias fiz as primeiras provas na universidade e
passei com louvor na minha primeira matéria. Meu mestre está orgulhoso.
A festa de encerramento da Three Minds foi uma semana antes do natal,
para os funcionários e suas famílias. O palco foi montado na praia, que
recebeu também tablados com mesas. Antes da apresentação foi servido um
jantar. Depois Johnathan discursou, falando um pouco dos resultados e dos
planos futuros que têm para a empresa. Planos estes que, caso se concretizem,
farão a Three Minds crescer muito.
Então cada um dos meninos fez um agradecimento emocionado. Inclusive
Oliver. Ele abriu o seu coração, pedindo desculpas por terem demorado tanto
para fazer algo do tipo e que a partir dali, tomariam o cuidado de se manterem
mais próximos aos colaboradores, muitos dos quais os acompanham há vários
anos.
Quando o show começou, a maioria das pessoas foi para a frente do palco e
dançou, cantou, se soltou. Foi legal ver a dinâmica, porque a The Order nunca
teve tantas crianças e adolescentes em seus shows, e havia muitos naquela
noite. Sei que ficaram emocionado ao ver várias gerações reunidas curtindo e
cantando suas músicas num clima familiar.
Em função da presença de menores não passamos o clipe da música Eden,
mas cantei ao lado de Oliver e foi maravilhoso dividir o palco com ele pela
primeira vez com público a nossa frente.
O clipe por sinal está bombando. Foi um auê no lançamento e a arrecadação
com as visualizações já ultrapassaram todas as melhores expectativas. Todos
os ingressos para os shows estão esgotados. Nem acredito que em oito dias
sairemos em turnê e retornarei a Chicago, minha terra natal.
Outra coisa que causou o maior bafafá nas redes foi a foto que Alicia
postou no dia vinte e cinco dos meninos abraçados usando seus ugly sweater.
Ela se arrependeu pouco tempo depois, porque teve que ligar para funcionários
no dia de natal em função do bum no número de acessos. Os quatro a xingaram
até o último, mas os olhos sorriam, divertidos.
É quase meia-noite do dia trinta e um de dezembro. Estamos na praia
festejando com a família e os amigos num pequeno luau que Hazel organizou.
Há puffs e tapetes, espalhando pela areia formando um enorme círculo.
Lanternas de papel fazem a iluminação em torno do círculo e uma fogueira foi
acessa no centro. O cenário está lindíssimo. Muito bucólico e romântico.
Num ponto do círculo existem microfones e violões para quem quiser se
aventurar a tocar e cantar. Vira e mexe alguém se arrisca a arranhar uma
música. Mas para os momentos em que os corajosos se escondem, um casal de
músicos contratado faz as honras. Garçons circulam com drinques e canapés.
Dentre os convidados estão Riley e Peter, Iris e Henry, Tina, os amigos de
Kellan, pasmem, incluindo Tales, Eric, Mike, Rose e o marido, as colegas de
Hazel, fora Carol, Selena e os outros dois funcionários da ONG. Todos vestem
branco. Oliver está lindíssimo de bermuda e camisa brancas. Os olhos
dourados naquele cenário de meia luz, parecem se destacar ainda mais. Sinto-o
um pouco apreensivo nesta noite, mas pergunto e diz que não há nada.
Os garçons passam entregando garrafas de espumante aos homens. Somos
orientados por Hazel a sairmos do círculo, migrando para uma área na areia
onde há algumas lanternas também. A contagem regressiva vai começar e
estourar as garrafas ali em cima dos tapetes não seria uma boa ideia. Oliver
passa um braço em volta de mim e com a outra mão segura a garrafa.
– Você está tão linda neste vestidinho branco. Tão cheirosa, meu amor. –
Desliza o nariz pelo meu pescoço.
– Hummm – ronrono. – Me beija, rockstar.
– Sempre. – Beijamo-nos com delicadeza, saboreando os lábios e a língua
um do outro, sem pressa.
– Dez... nove... oito... – inicia a contagem, paramos o beijo, ele se prepara
para estourar a champagne – sete... seis... cinco... quatro... três... dois... um!
Ploct!
Rolhas saltam, líquidos espirram sobre nós. Alguns fogos iluminam o céu
do nosso paraíso particular. É um novo ano afinal. Um que promete apenas
felicidades. Oliver dá um gole na bebida no gargalo, depois me oferece a
garrafa e faço o mesmo. Então voltamos a nos beijar e agora o beijo não tem
nada de delicado. É intenso, recheado de promessas, sonhos e desejo.
Quando interrompe o contato estamos ofegantes. Ele encosta a testa na
minha e fecha os olhos. Sinto aquela ponta de preocupação passar por seu
rosto outra vez.
– Dança comigo? – diz de olhos fechados, quase num sussurro.
– Por toda a vida – respondo. Pega minha mão e voltamos para o círculo.
Começamos a dançar coladinhos. Uma nova música começa. Eu reconheço
a melodia.
– Eles vão tocar Private Chaos.
– Bom, não colocamos nenhuma cláusula no contrato dizendo que não
poderiam tocar as nossas músicas. – O cara toca o violão e a garota dá voz a
canção, numa versão bem lenta, romantizada.
– O arranjo ficou bom para um luau, mas bem melhor na sua voz –
defendo. Ele ri.
Outros casais se unem a nós na dança. Max e Hazel, Riley e Peter, Iris e
Henry, Johnathan e Alicia, Laura e Edgar.
– Anjo? – diz com a voz meio trêmula.
– Diga meu bem, o que está te incomodando?
– Promete uma coisa para mim?
– O quê?
– Se em algum momento eu fizer uma bobagem, algo que você não goste,
promete que não vai surtar ou fugir antes de me ouvir até o final?
– O que aconteceu Oliver? Você está me assustando...
– Não aconteceu nada... só... só preciso que você prometa... – Engulo em
seco, não estou gostando dessa história. Ele está angustiado... – Promete Bia?
– Prometo. Sempre te darei a chance de se explicar.
– Obrigado. – Solta o ar, pesado.
Caos particular está chegando ao fim, vejo Lian se aproximar do casal de
cantores. Sentar-se num banquinho, pegar um violão e ajeitar um microfone a
sua frente. Mal tocam a última nota da música da The Order, já é possível
ouvir o violão de Lian emitindo os primeiros acordes e mantendo todos
dançando abraçados. Então sua voz soa, e uau, ele tem uma bela voz.
E com este verso Lian vai finalizando e grudando outra canção na anterior,
numa transição perfeita.
Eu poderia ficar acordado
Só pra te ouvir respirar
Te ver sorrir enquanto dorme
Enquanto estás longe e sonhando
E seus olhos,
Eles me dizem o quanto você se importa
Oh sim, você sempre será
Meu amor sem fim
Fever? O que é isso? Óbvio que não é coincidência. Todas as músicas que
já cantamos um para o outro. Que fizeram parte da nossa história de algum
modo.
Você me dá febre
Quando me beija
Febre quando me abraça forte
Febre de manhã
Febre por toda a noite
A mão que Oliver usou para levar a minha até seu peito não retornou a
minha cintura. Ele me segura firme contra si com apenas um dos braços. Fever
se encerra e outra melodia começa.
Walking the wire. A mão da qual eu sentia falta começa a se infiltrar entre
nossos corpos também, cobrindo a minha que ainda está lá, sentindo as batidas
fortes de seu coração.
Sinto algo frio e metálico começar a deslizar pelo meu dedo anelar. Acho
que meu coração vai saltar para fora do meu peito de tão feroz que está o seu
ritmo.
– Oliver...
– Shh... só me abrace e dance comigo... – Fecho os olhos, as lágrimas
batendo a porta... o anel está no lugar, seus dedos voltam a se entrelaçar aos
meus e nossas mãos são mantidas ali.
Mais uma música termina e outra inicia. Uma que ouvi muito nos últimos
meses. Fool’s Mate, a música que conta partes da nossa história, da nossa
rendição. Ele separa um pouco nossos corpos e cola nossas testas. Traz minha
mão até os seus lábios e beija o anel. Consigo ver então que ele tem um em seu
dedo também. As lágrimas escorrem, um soluço escapa.
– Seus olhos em meus olhos – diz afagando a enorme pedra do meu anel. É
um anel de ouro negro platinado, com um grande e lindo diamante gold em
formato de olho, incrustado no centro do olho dourado, um diamante negro,
também em formato de olho, só que na vertical, formando o olho de um felino.
O mesmo que há no centro do logo da The Order.
– Meus olhos em seus olhos – diz agora afagando a pedra do seu anel. O
anel de Oliver também é em ouro negro platinado, só que bem largo,
masculino. Embutido no metal, um grande diamante negro quadrado, e no meio
dele, incrustado, um diamante gold também quadrado.
– São lindos, mas... – digo em meio as lágrimas. Não acredito que ele me
pôs contra a parede desta forma...
– Você prometeu me ouvir – lembra.
– Por que fez isso?
– Eu preciso deste anel no seu dedo.
– Oliver...
– Eu preciso que o mundo todo saiba que você é minha e eu sou seu.
– Eles já sabem.
– Não. Não enquanto não carregarmos o símbolo deste compromisso.
– Você me disse que esperaria...
– Quero subir todas as noites no palco com a certeza de que sempre que as
câmeras derem um close em minhas mãos sobre a guitarra, o microfone ou o
piano, encontrem ali o seu decreto de posse. Quero subir todas as noites no
palco e saber que sempre que um babaca chegar em você com segundas
intenções quando eu não estiver por perto, veja a minha certidão de
propriedade em suas mãos. Eu te amo, Beatriz. Não temos porquê adiar. Não
tem nada que eu queira mais na vida. Casa comigo?
– Eu ainda tenho medo...
– Por enquanto é só um noivado, meu amor. Ainda não sou seu marido.
– Rá. Seja sincero Oliver. Só este anel não basta para você. Você me quer
carregando o seu sobrenome e se bobear o seu filho logo na sequência. Estou
errada?
– Não, não está.
– É muito cedo para mim.
– Casa comigo, Bia. Diga sim.
– Um ano, Oliver. Não vou me casar antes de um ano de noivado.
– Dois meses. Assim que voltarmos da turnê.
– O que? Você quer casar em dois meses?
– Eu queria mesmo era casar no seu aniversário.
– Mas... meu aniversário é em dez dias...
– Seria perfeito.
– Um ano. Casamos no meu aniversário de dezenove anos.
– É tempo demais.
– Não pressione. Você sabe como me sinto...
– Seis meses e não se fala mais nisso.
– Eu não vou engravidar aos dezoito anos. Nem aos dezenove. Não serei
mãe antes de me formar e principalmente antes de me sentir segura para isso.
– Casamos em seis meses e faremos um filho assim que você se formar, se
estiver pronta. Agora diga sim.
– Promete, Oliver. Promete que não tentará apressar ainda mais as coisas?
– Eu prometo. – Permaneço olhando em seus olhos, pego sua mão e levo o
seu anel aos meus lábios, beijando-o como ele fez com o meu.
– Eu amo você. Cada célula do meu corpo pertence a você, sente a sua
falta. Então sim, rockstar. Me caso com você. – Ele abre um enorme sorriso,
me ergue, obriga-me a abraçar sua cintura com as pernas e então me beija.
Ouço vivas, aplausos, assovios. Ouço novos fogos explodirem no céu e um
banho de espumante cai sobre nós.
Estavam todos esquematizados, afinal.
A música termina.
– Porra Biazinha, o seu Sim demorou. Esta era a última música do script.
Já estava pensando qual incluiria na base do improviso...
– Seu amigo quebrou nosso trato, não poderia me render tão rápido,
alguma resistência eu tinha que impor, já que as lágrimas e os soluços não
consegui conter.
– Oliver estava borrando as calças...
– Estava nada. Sei o poder que tenho sobre ela. Bia jamais me diria não...
– diz meu noivo convencido.
– As gotas de suor que vi em sua testa me disseram outra coisa, rockstar. –
Dou-lhe um beijo rápido e faço Oliver me colocar no chão para agradecer
Lian.
– Foi lindo Lian. Obrigada. Estou toda molhada de espumante, mas vou te
abraçar assim mesmo.
– As ordens, querida. Agora você é noiva... Me deixa ver este anel...
– É, acho que sou... – Mostro a mão a ele.
– Uau. Não é que Oliver tem bom gosto?
– Ele me pediu em casamento Lian, é claro que tem bom gosto.
– Muito bem observado, futura Sra. Rain.
– Posso abraçar minha amiga noiva? – Hazel me puxa dos braços de Lian
e me envolve num super e apertado abraço. Eu choro, ela chora. Vejo pelo
canto do olho que Laura está abraçada a Oliver e que ambos secam os olhos.
– Você foi cúmplice disto tudo, não é?
– Claro. Este luau é a sua festa de noivado, primeira-dama. Oliver me
disse como ele queria e eu tentei transformar em realidade. Gostou?
– Amei. Está lindo demais. Agora entendo o motivo de Oliver estar tão
angustiado a noite toda.
– Sim, ele estava uma pilha de nervos. Tentou desistir antes dos fogos,
tinha medo que você saísse correndo daqui... Henry, Lian e eu tivemos que
encorajá-lo a continuar com o plano.
– Henry o encorajou? – Bom saber que meu terapeuta incentivou o meu,
agora noivo, a fazer aquilo que eu confesso despertar o meu maior medo.
– Sim, muito.
– Pare de monopolizar a noiva, princesa.
– Não enche, ruivo.
– Parabéns querida. E se aquele sortudo um dia precisar de uns cascudos,
pode contar comigo.
– Lembrarei disso.
– Hazel já te contou a novidade?
– Max, eu ainda não concordei, eu disse que iria pensar...
– Quando você diz que vai pensar é porque é sim.
– Arg, você me irrita!
– Qual a novidade?
– Ela vai conosco na turnê.
– Mas... e Londres? E o seu curso?
– Vou transferir para a turma que inicia em março.
– Uhuu que maravilha! Vou adorar ter a sua companhia enquanto observo
Oliver “atender” as socialites. – Torço o nariz.
– Pelo menos Oliver vai “atendê-las” de aliança no dedo... – Ela inclina
discretamente a cabeça na direção de Max.
– Acho que ele carregar ou não uma aliança, não fará diferença para elas...
– A noiva é minha, sabiam? – Um corpo grande e musculoso me abraça
por trás.
– Uhmm rockstar, agora estou entendendo... – Viro meu rosto para olhá-lo.
– O quê?
– O motivo de ter deixado Tales entrar nesta festa – Ele dá um sorriso
sacana e de lado. – Quanta maldade, noivo.
Depois de recebermos os cumprimentos de todos, Oliver e eu resolvemos
nos apossar do violão e microfones e acrescentar uma nova música a nossa
trajetória. Cantamos juntos Good Riddance(time of your life)[10] do Green Day.
É algo imprevisível
Mas, no final, está correto
Espero que você tenha tido o momento de sua vida
Então pegue as fotografias
E as imagens estáticas na sua mente
Ponha-as na prateleira
Da boa saúde e bons momentos
Tatuagens de lembranças
E pele morta em julgamento
Porque vale a pena
Valeu a pena durante todo o tempo
É algo imprevisível
Mas, no final, está correto
Espero que você tenha tido o momento de sua vida
– Então rockstar, que tal agora você me dar mais um dos momentos da
minha vida?
– E qual seria?
– Consumar este noivado. – Joga a cabeça para trás e ri.
– Consumar o noivado?
– É. – Encosto a boca em seu ouvido. – Me leve para a cama e me coma a
madrugada toda, noivo.
Se levanta num pulo, me joga sobre os ombros e sai andando em direção a
casa sem dar satisfações e sem olhar para trás.
Capítulo 27
Bia
– Me larga Oliver.
– Não. Nós vamos resolver esta merda e é agora.
– E como pretende resolver? Vai voltar atrás e me deixar ficar no
camarim? Vai queimar os colchões das suítes do avião?
– Não para a primeira. – Ele me atira sobre a cama. – E sim para a
segunda, isso eu posso fazer. – Se joga sobre mim. – Mas quer saber como
vamos resolver? Na cama.
– Cai fora!
– Ah, mas não mesmo! Vou cair dentro!
– Não vou transar com você.
– Veremos...
– Não vou, não! São cinco da manhã, acabamos de chegar no hotel e estou
com muita raiva.
– Pode me castigar. Desconte a sua raiva em mim. Na cama. – Ele ergue a
barra do meu suéter, tento abaixá-la, mas seus lábios são mais rápidos e logo
estão no meu ventre espalhando um calor pelo meu corpo nada típico nesta
época do ano em Chicago. Uma mão se infiltra mais acima e abraça o meu seio
sob o sutiã. Amoleço. Inferno!
– Você não pode usar o seu sex appeal sobre mim sempre que a gente se
desentender. – Abre o botão da minha calça com a boca.
Resistência, cadê você?
– Posso sim. – Distribui beijos pelo meu púbis, lambe e beija a tatuagem
com seu nome.
– Não pode não – digo, já sem muita propriedade. Aparece resistência. Me
ajuda!
– Posso. Só eu posso! Minha. – Retira as roupas da parte inferior do meu
corpo, abre as minhas pernas e cai de boca em mim. Porra! É, ninguém virá ao
meu socorro.
– Eu amo você. – Continua a chupada. Minhas pernas tremem pelo prazer
intenso, sem forças para ir contra a sua investida.
– Golpe baixo – digo ofegante. Ele para e deita-se sobre mim.
– Sou louco por você. – Leva a mão a braguilha, desce o zíper e libera o
pau de dentro da calça.
– Baixíssimo... – Me penetra, forte, lascivo.
– Só quero você, o tempo todo, e ninguém mais. – Começa a se mover e
ofegamos juntos.
Estou perdida. E rendida.
Infiltro meus dedos pelos seus cabelos puxando sua boca de encontro ao
meu pescoço e passo as minhas pernas pelos seus quadris.
– Eu vou surtar de ciúmes, Oliver. – Descarrego algumas lágrimas, de
mágoa e de raiva que guardei durante o voo e o caminho até ali.
– Ah pequena, não! Você vai surtar ainda mais se ficar lá dentro, acredite.
– Ele cola nossas testas enquanto segue no movimento delicioso que faz sobre
mim.
– Obrigada. Agora estou tranquilíssima... – debocho, meio rindo, meio
chorando.
– É verdade, anjo. Não vai acontecer nada demais, mas ficarão tentando
me tocar, flertando, segurando meu braço, tentando abraçar... se fosse eu vendo
um bando de caras disputando sua atenção assim eu explodiria, não iria
aguentar... você também não vai, baby... – Ele acelera, arfamos.
– Deixe que eu decido isso, Oliver, por favor... Deus, que gostoso...
– Não posso meu bem, não daria certo... Sim, delicioso, baby... Você é
deliciosa!
– Ah baby... preciso gozar, mais rápido...
– Às suas ordens, noiva. – Ele me beija e me come com paixão. Não
demora muito, gozamos forte e juntos.
– Estamos bem? – pergunta quando se deixa cair em meus braços.
– Ah Oliver, ainda não me desce, não gosto nem de pensar como ficarei
durante essa uma hora, só imaginando... Mas sim, estamos bem. – Ouço seu
suspiro, parte por alívio, parte por não saber mais o que fazer.
Viramos de lado e colo minhas costas em seu peito. Oliver puxa um cobertor
sobre nós e muda de assunto. Melhor mesmo.
– Como foi para você aterrissar aqui, rever a cidade, mesmo que pela
janela do carro?
– Estranho. Parece que a vida que vivi aqui foi em um outro tempo. Como
se só agora eu percebesse que na verdade nunca pertenci a este lugar. Minha
casa nunca foi aqui. Acho que a ficha ainda não caiu, sei lá...
– Quer tentar rever o apartamento onde moravam? – Aquilo me pega de
surpresa... penso um pouco a respeito...
– Não. Não quero ficar triste. Não quero mais chorar, me lembrar da perda,
doença, incerteza... – Oliver se reseta atrás de mim – não quero mais nada
disso na minha vida... se eu entrar lá, tudo virá à tona em minha memória. E foi
vendido, então...
– Humm, na verdade, quanto a isso... eu comprei.
– O quê? – Me viro de frente para ele. Ele arruma meu cabelo atrás da
orelha.
– Eu comprei. É seu, está em seu nome. É meu presente de aniversário para
você. Mas se não quiser ficar com ele, podemos vender. Ou você pode deixar
lá se um dia mudar de ideia... reformar e alugar... enfim, é seu. – Eu o abraço.
– Isso foi lindo. Obrigada.
– A pessoa que comprou do seu pai nem chegou a se mudar. Iria reformá-lo
primeiro, só que eu recomprei antes. Então está tudo como você deixou ao sair.
– Eu não sei se consigo voltar lá agora...
– Não precisa. Deixe lá... não há pressa nenhuma em dar um destino a ele...
agora dorme meu bem, vamos dormir algumas horas, pois nosso dia será cheio.
Ainda não acredito que estou participando disto. É tão excitante. Luzes, fios,
som, muitos, muitos técnicos passando para cá e para lá, checando, ajustando,
fazendo marcações. Apesar dos quase zero graus lá fora, a arena é climatizada,
Oliver está em cima do palco, de cabelo preso, calça jeans e regata branca
colada. Os braços musculosos em ação, testando os instrumentos, o som, a voz,
o suor deixando a sua pele brilhante. Ai, ai... tudo aquilo é meu mesmo?
– Olha para cá um instante primeira-dama?
– O que foi?
– Nada não, só...– Hazel passa o dedo abaixo do meu lábio inferior –
escapou um pouco aqui no cantinho...
– Cretina! Agora me deixa fazer o mesmo com você... sua situação não está
diferente!
– Ai... olha para ele... olha aquela bunda e aquelas costas e aqueles
braços... o cabelo colando na testa... ele está tão gostoso... o triste é que só
posso olhar, amiga... que tortura... pensa no nível de tesão enrustido em que me
encontro... não é fácil... a pilha do meu vibrador não durará até o terceiro show,
não mesmo... – Max está de jeans e sem camisa, agachado, checando as
conexões da bateria com os amplificadores.
– E pensar que há um ano, eu estava ali. – Aponto para o local em que o
público fica na pista. – Com o meu pai. Olhando para aquele homem lá em cima
do palco como se ele fosse um ser mitológico, inalcançável.
– Bia, você ainda olha para ele como se ele fosse um ser mitológico. –
Rimos.
– É... acho que isso nunca vai mudar. – Abraço-a e beijo sua bochecha. –
Eu amo você, Hazel Wells, e isso também nunca vai mudar. Te conhecer foi o
segundo melhor acontecimento da minha vida. Você chegou, não me deu opção,
me colocou de cara na posição de sua melhor amiga. E eu precisava tanto
disso... Fico muito feliz por estarmos aqui, juntas.
– Ah Bia, – ela devolve o beijo – eu também amo você. Eu estava a ponto
de enlouquecer antes de você aparecer na minha vida... eu também precisava
muito de uma amizade verdadeira... precisava ter com quem me abrir, sem o
medo de ser julgada ou repreendida. Você me salvou... e ainda por cima
acredita de verdade que meu conto de fadas vai se realizar...
– Acredito mesmo. Max é tão seu, garota... se você pudesse ter visto a
cena de vocês dois naquele avião, olhando um para o outro com os olhos
cheios de lágrimas depois que ele te deu o aval para transar com quem quiser,
você acreditaria que não estou errada quando lhe digo que vale a pena tentar.
– Se ele sonha com quem quero gastar aquela caixa de caminhas...
– Se ele sonha que deu uma caixa de camisinhas para uma virgem... –
Caímos na risada.
– Sabe... eu não quero ficar criando ilusões ou começar a ver sinais onde
não existe, mas...
– Mas? – Me empolgo.
– Teve um momento, na sua festa de noivado. Quando estávamos dançando
colados e eu fazia um carinho em sua nuca, mexia nos cabelos dele ali. Foi
totalmente inocente, eu juro, estava tão nervosa que tudo desse certo e Oliver
estava prestes a pôr o anel no seu dedo... nem pensava em nada romântico...
mas em dado momento eu senti a respiração dele pesar. Pode ter sido
impressão, mas me pareceu que ele estava incomodado... ele afastou o rosto,
me olhou e... – Ela para e me olha.
– E...? Fala Hazel, caramba...
– Ah, deixa para lá, falando parece ridículo. Não pode ser. A minha
obsessão deve ter chego a um nível catastrófico para eu ter cogitado...
– Puta merda, nem pensar. Continua. E...
– E focou na minha boca, Bia. Na mi-nha bo-ca. Eu tive a impressão de
que ele sentiu vontade de me beijar... meu coração disparou só com aquele
pensamento.
– Porra, Hazel, e você só me conta agora?
– É que só pode ser fantasia... devo estar entrando na fase de ver coisas...
– Ele olhou sua boca e o quê?
– Ele olhou da minha boca para os meus olhos e de novo para a boca e foi
quando ele me pediu para vir junto nesta turnê... na verdade ele me implorou...
me pediu desculpas pelo que quer que tenha feito e disse que seria muito
importante para ele que eu aceitasse. Como não consigo lhe dizer não, aqui
estou... – Solto um gritinho de empolgação e a abraço.
– Isso é ótimo! Não percebe?
– É bobagem! Depois, no avião, atirou uma caixa de camisinhas em cima
de mim e disse dê para quem quiser, princesa... – Ela faz uma careta.
– Não é bobagem. Ele te olhou Hazel. Ele te olhou e não enxergou a menina
que ele quer proteger dos homens, e sim uma mulher... beijável! Ter te atirado
camisinhas só prova que foi isso mesmo. Garanto que o seu carinho inocente
daquela noite arrepiou todos os pelos ruivos do corpo dele.
– Ai, não junte corpo, arrepios e pelos ruivos na mesma frase...
– Olha lá... – Aponto para o palco. – Essa cena me fez lembrar que você
está me devendo uma foto... – O guitarrista da The Order está fazendo um solo,
testando o som, assim como Max está sem camisa e de calça jeans. Os bíceps
super musculosos performando enquanto ele contrai o tanquinho... Lian tem os
braços mais grossos que já vi e um deles todo tatuado, assim como um lado do
peito. Os cabelos longos e negros, batendo abaixo do meio das costas. A
bandana na cabeça evitando que caiam por sobre seus olhos. As coxas
igualmente grossas e a bunda durinha... Os três juntos são um trio de tirar o
fôlego. Kellan também é muito bonito, só que seu corpo, seu rosto, ainda estão
naquele limbo entre menino e homem. Mais alguns anos e ele estará no mesmo
patamar, certeza.
– Verdade, te devo a foto do avatar de Lian. Já tem plateia se formando,
olha lá... – Há poucas mulheres trabalhando na equipe que finaliza os ajustes no
palco, mas as que estavam por ali pararam para assisti-lo tocar.
– Voltei – diz Laura, se juntando a nós no degrau da arquibancada. – Trouxe
café.
– Obrigada. – Pegamos os copos de café quentinho que Laura trouxe.
Humm, o aroma está divino.
– Não sei como Lian consegue ensaiar com o cabelo solto, dá para ver
daqui como o suor escorre.
– Ah ele passa calor, mas dificilmente amarra aquele cabelo irritante de
tão lindo – comenta Hazel.
– E Edgar? – pergunto.
– Está lá atrás, conversando com a equipe de som. Iris acabou de chegar.
Mal Laura termina de falar vemos a ruiva surgir, olhando para o telão que
fica acima, ao fundo do palco. Há mais dois telões, um em cada lateral. O clipe
de Eden começa a rodar e Iris analisa atentamente. Ela olha para trás e acena
para nós. Desce e começa a se afastar, provavelmente irá observar a qualidade
da imagem visto de longe.
Lian já terminou sua passagem e Oliver senta-se ao piano. Reconheço os
acordes de Boehmian Rhapsody, do Queen. Algo não está do agrado do meu
noivo em relação ao piano. Ele conversa com o técnico, que assente e verifica
a afinação. Kellan começa um solo de baixo que não reconheço, provavelmente
improviso, mas, uau, é muito bom.
Hoje são só as verificações, para pegar os problemas mais grotescos e
repassar o check list. A passagem de som oficial mesmo é amanhã de manhã,
dia do show e do meu aniversário de dezoito anos.
Lian volta e ele e Kellan fazem o solo de guitarra e gaita de Eden. Max entra
junto e desce o braço na bateria. Parece que a arena inteira vibra. Oliver pega
o microfone e entra com a voz. Eles parecem satisfeitos com o conjunto. Oliver
volta a testar o piano, agora toca Bettersweet Symphony, do The Verve.
Já está escurecendo lá fora. Nosso dia foi curto e cheio. Dormimos,
acordamos era quase meio dia, almoçamos e viemos para a arena. O palco já
estava de pé, mas sem os instrumentos em cima. Houve uma reunião com toda a
equipe. Foram relatados alguns problemas com equipamentos que precisaram
ser substituídos de última hora e iniciada a instalação dos instrumentos e as
mesas de áudio e vídeo.
Megan, a responsável pela organização nos mostrou os camarins. Duas salas
enormes, uma será o camarim dos meninos e outra será montada a recepção
para os fãs vip. E há um terceiro espaço, menor que reservaram para nós,
mulheres, ficarmos e que também será onde vou me trocar para a minha
participação.
Por fim, os meninos subiram para testar e validar o trabalho da equipe. E
pensar que este é um processo que se repetirá em cada cidade que chegarmos...
Meu telefone e o de Hazel vibram juntos encerrando o meu momento flashback.
OK
Sim
Você quer ver o circo pegar fogo, não é? – Mostro as mensagens a Laura.
– É bom provocar Oliver quando o assunto é você. Ele nunca consegue
fingir indiferença.
– Se ele proibir minha subida ao palco a culpa é sua.
– São uns desesperados... – comenta Hazel.
– Eles amam vocês – justifica Laura.
– Porra Hazel, pare de provocá-lo. Juro que vou lembrar disso quando
chegar a sua vez...
– Ah Bia, é tão bonitinho...
– Bonitinho? Quando ele melar nossa próxima noite de garotas ou minha
visita a Londres, não reclame...
porradas
Tô dentro
Faço uma firula, correndo as unhas por seu abdômen nessa última frase, ele
me captura no seu olhar predador, me obrigo a sair do seu feitiço, dou meio
giro e volto para a minha marcação, saindo de perto dele. Mais um verso, mais
uma vez Oliver solta a voz e o poder de sua presença nas expressões e no
olhar. Mais uma vez calcinhas vão molhar.
Chega a hora do último refrão, cantamos olhando para o público, a parte
instrumental final, em que a música acalma, andamos um em direção ao outro
no centro do palco, ele toca a última nota na sua guitarra, então me puxa pela
cintura e me beija.
– Linda! – fala no meu ouvido e volta ao seu microfone. Eu digo um
obrigada no meu e saio do palco. Iris bate palmas.
– Perfeito! – Ela avalia.
– Sim, ótimo. Muito bom. – Edgar reforça.
Das três canções novas, Eden foi a música que mais deu trabalho a Edgar.
Ele foi incrível nela, trabalhou o arranjo original de Oliver de tal forma que
tirou completamente o apelo extremamente pop inicial, porém sem tirar a
sensualidade. Ainda é um rock, um sexy rock blues. Os fãs mais exigentes
podem até não a incluírem em suas favoritas, mas não poderão de forma alguma
acusar a The Order de se vender ao pop comercial.
– Finalizamos? – Oliver pergunta a Edgar.
– Sim, liberados. Descansem. – Meu noivo coloca a guitarra no apoio,
pega minha mão e me leva para os bastidores.
– Tem alguém no seu camarim?
– Acho que não, vi Hazel e Laura lá na arquibancada.
– Ótimo, vamos para lá, porque o outro os caras vão invadir em poucos
minutos.
Entramos na sala que foi preparada para as meninas, está toda arrumada, tem
uma mesa com frutas, sanduíches, biscoitos, chocolates, baldes com gelo e
bebidas alcoólicas, um frigobar com água e energéticos. Oliver pega uma
garrafinha de água e a vira quase num gole só, sua regata está toda suada. Ele
joga a garrafinha fora e se encosta na mesa apoiando as duas mãos atrás, no
tampo. Me olha ofegante.
– O que foi Oliver, qual o problema?
– O problema é o que virá Beatriz...
– O que virá?
– É. O que virá. – Ele anda pelo espaço passando as mãos pelos cabelos.
– Porra, você está... uau, não tenho nem palavras pra descrever o nível do
tesão que estou sentindo te vendo assim... – Cruzo os braços.
– Isso deveria ser uma coisa boa, não?
– Deveria... Inferno, eu com certeza estava fora quando concordei com essa
merda toda... – Fecho os olhos.
– Fale de uma vez. O que exatamente você está classificando como merda
toda? – ele dá um risinho debochado.
– Você vai entrar naquele palco, assim... – faz um gesto com a mão,
indicando meu corpo – vai subir lá, linda e sexy desse jeito, cantar ao meu lado
com a sua voz doce, espalhar a sua luz e o seu carisma a cada sorriso de
menina que der, enquanto os telões vão exibi-la ainda mais linda, sexy e NUA
em meus braços. Nada disso aconteceu ainda e já tem um cara usando uma
camiseta com um coração enorme escrito Bia... cada um dos caras héteros que
estiverem nesta arena hoje voltarão para suas casas apaixonados. Pensarão em
você, sonharão com você. – Deus, ele está surtando.
– O que virá depois, Bia? Quanto tempo até um desses filha-da-puta
conseguir levá-la para longe de mim? Quanto tempo até você perceber que
pode ter o mundo? – Surtando geral.
Os olhos brilham de ciúmes.
Olho para ele pensando na melhor forma de reagir àquilo. Lembro da
técnica da minha mãe. A da reação contrária. Vou ao seu encontro na intenção
de abraçá-lo.
– Não, estou todo suado... – Tenta me afastar, mas me lanço contra o seu
peito do mesmo modo, recostando a cabeça ali, e envolvo sua cintura com meus
braços.
– Eu não me importo. Cancele.
– O show?
– Não. Minha participação, a exibição do clipe. Eu não me importo,
Oliver. Cancele. – Pego sua mão e beijo o seu anel de noivado. – A única coisa
importante para mim aqui é você. Você é tudo que eu não posso perder. O
resto... – Dou de ombros. – Se é disso que você precisa para entender que o
que eu sinto por você é exatamente o mesmo que você sente em relação a mim,
tudo bem. Você deixa as mulheres apaixonadas em todos os shows, Oliver. Nem
todos os caras que assistiram o nosso clipe se apaixonaram por mim, mas com
certeza todas as mulheres se apaixonaram por você. Como eu sei? Todas,
desde meninas, sonham em ser amadas da forma como você me amou naquela
cama. Todas sonham com um homem intenso e seguro de si, que as olhe com o
fogo e a confiança com que você me olha. – Respiro.
– Apesar da tortura, eu fiquei muito feliz com a produção que Hazel bolou
para o meu visual. Estou mesmo me sentindo poderosa. Mas sabe por que isso
me faz bem? Porque assim que eu subir naquele palco, tanto os homens quanto
as mulheres estarão me julgando, me avaliando, decidindo se estou ou não a
altura do deus sexy e roqueiro todo poderoso, Oliver Rain. Ninguém vai
avaliar o contrário. E eu quero que me achem merecedora. Que mesmo as que
me odeiem só por eu estar ali, consigam entender o que você viu em mim.
Quero que as trinta socialites que esfregarão as patas em você mais tarde vejam
que, apesar de jovem, a concorrência não é fácil de vencer. – Ele finalmente me
abraça forte.
– Deus! – exclama – Pequena... perdão, me desculpe... você não precisa
provar nada para ninguém. – Beija minha cabeça. – É que... estou apavorado...
– Eu sei. – Beijo seu peito.
– O show business virá para cima de você feito abutres depois de hoje...
– Eu não quero essa vida Oliver, já lhe falei. E para provar que entrar
naquele palco não é essencial para mim, estou te dando carta branca para
cancelar. De coração. Sem culpa, sem mágoas, nem ressentimentos. Eu juro.
Você até me faria o favor de acabar com o meu nervosismo que está pior a cada
minuto que passa.
– Não vamos cancelar nada, anjo. Quero você lá comigo. Mas sinto medo.
Medo de que tudo mude, medo de perder você. Você é tão jovem, pode querer...
– Seguro seu rosto.
– Dormir e acordar nos seus braços é a única certeza que eu tenho sobre o
que eu quero para o resto da vida. Eu não disse sim por dizer, Oliver.
– Sei que não... de novo, perdão...
– Tudo bem, todos temos direito aos nossos momentos, não é? Eu no
avião... você agora... eu mais tarde... – Ele ri.
– É, acho que temos. Tenho que me preparar para mais tarde?
– Ah, se tem...
– Obrigado por avisar...
– Não há de que... – Ele brinca com o cacho azul que cai sobre meu rosto.
– Azul é?
– Não que eu tive o direito de opinar sobre a cor, mas gostei.
– Você está linda, sexy, gostosa. Estou louco para tirar a sua roupa, te
deixar nua para mim, usando apenas essas botas, as pulseiras e o anel de
noivado. Quero esses saltos ao lado do meu rosto enquanto seguro suas pernas
para cima e fodo você. Mas se tivesse pintado todo o seu cabelo de azul eu
teria tido um colapso. Gosto dos meus cachinhos ao natural. Gosto de você ao
natural.
– Não teria forma de Hazel me convencer a pintar os cabelos, não se
preocupe. Mas eu acho que você já falou demais, rockstar.
– Tenho a impressão que sim, noiva. Só estou me segurando para não
estragar sua roupa, sua maquiagem, seu penteado...
– Beijos não muito selvagens estão liberados, o batom é fixo, vai
demorar uns dois dias para sair completamente.
– Aos beijos então. – Cola nossos corpos e me beija forte, profundo,
demorado, eu retribuo na mesma medida.
– Venha, vamos para o outro camarim. Preciso de um banho, de comida e
de descanso.
– Mas os rapazes...
– Eu espio antes de você entrar para garantir que não há ninguém pelado.
– Ok. Também não iria me importar de...
– Não se atreva a terminar a frase.
– Só curiosidade baby... – Rio.
– Rá rá, muito engraçado...
Capítulo 28
Bia
vocês.
H azel, não vou subir no palco assim – reclama Kellan.
– Vai sim, todos vão. Estão mais gostosos do que
nunca. As garotas vão pirar o cabeção quando virem
Laura, Iris e eu estamos nos segurando umas nas outras de tanto rir. Já não
temos mais fôlego. Hazel vestiu os rapazes e agora está terminando de arrumar
os seus cabelos. Eles estão muito gatos, realmente, mas até ela convencer e
chegar ao nível de enfiá-los dentro das roupas, nos rendeu muitos risos.
Lian está com uma calça preta colada e uma regata, também preta, mais
comprida, com decote grande e as laterais todas abertas até a cintura, expondo
bem seus bíceps trabalhados e suas tatuagens. Se ele levantar os braços, é
possível ver as laterais do seu peitoral. Cabelos soltos e óculos de sol. Hazel
chamou o look de Lian de “O Poderoso Gostosão”. Sim, ela deu um nome para
cada um deles.
O look intitulado “Gatíssimo Rebelde” foi para Kellan que está com
camiseta e calça preta com rasgos enormes nos dois joelhos. Pulseiras e
bandanas nos pulsos e uma touca rapper preta na cabeça, com os fios louros e
rebeldes escapando pelos lados.
Max está com uma calça jeans com vários rasgos, uma regata branca tão
colada que agarra cada músculo e deixa pouco para a imaginação e por cima
da regata ela lhe enfiou um colete preto aberto. Hazel está trabalhando seu
cabelo ruivo com gel de modo que ele fique com aquele visual sexy
bagunçado. A barba por fazer completa o look. Ele é o “Príncipe Badboy”.
O look de Oliver, intitulado, “Deus Sheik” traz uma calça jogger preta com
bolsos largos nas laterais e elásticos cinza escrito rock transpassados em
forma de x nos tornozelos, uma camiseta azul clara coladíssima como a de
Max, que permite ver todos os gominhos e relevos da parte superior de seu
corpo. Hazel quer que ele inicie o show com um blazer chumbo por cima e um
cachecol da mesma cor jogado em torno do pescoço, as duas pontas caindo
abertas em cima da camiseta. Nos cabelos o tradicional coque samurai e a
barba cerrada completam o visual. Ele ficou maravilhoso, mas muito diferente
do que costuma vestir. Achei que fosse reclamar do blazer e do cachecol, mas
curiosamente ele não o fez.
– Boys, meu trabalho aqui está pronto e vocês estão fantásticos.
– Nunca nos fantasiamos para entrar no palco, Hazel – reclama Lian.
– Não estão fantasiados, titio, estão estilosos.
– Frescos você quer dizer – corrige Max.
– Estão exalando testosterona, garanto – defende ela.
Vou até Hazel e a abraço, dando meu apoio.
– Você fez um trabalho incrível. Com eles, comigo, com Laura, consigo
mesma. Tem certeza que ainda não sabe qual a sua vocação? – Ela sorri.
– Será?
– Para mim não há dúvidas.
– Vou pensar a respeito.
– E ainda fala que sou eu que tenho estilo – diz Iris.
– Sem essa, ruiva, olha bem para você. Está elegantérrima nesse macacão
preto com decote poderoso.
– Henry não estaria aqui para o show de hoje? – pergunta Oliver.
– Sim, o voo dele atrasou. Aterrissou há alguns minutos, logo chegará.
– Como ele virá? Alguém foi buscá-lo?
– Sim, mandamos um motorista.
– Ótimo.
– Cadê Edgar? – pergunto. Vou até Oliver, me recosto contra seu peito e
ele me abraça por trás.
– Terminando de se vestir no outro camarim. Vou lá ver se ele precisa de
ajuda. – Antes que Laura consiga sair, Edgar abre a porta.
– Nossa, mestre... – Edgar está todo de preto, calça, camisa, colete,
gravata e um chapéu aba curta preto na cabeça.
– Uau, e nem fui eu que montei o look... – diz Hazel.
– Tenho algumas cartas na manga, menina. – Ele traz Laura para seus
braços, ela também está muito bonita, num vestido branco escolhido por Hazel.
Alguém dá três batidas na porta.
– Quinze minutos – anuncia um membro da equipe.
– Henry chegou. Pedi para o levarem direto para as nossas mesas. – diz
Iris. – Chefes, têm certeza de que não preferem que eu fique no background?
– Não Iris, você deixou tudo organizado e com responsáveis competentes.
Esta noite, aproveite. Você merece. – Max a libera.
– Obrigada. Meninas, me acompanham?
– Não vamos assistir dos bastidores? – questiono meio sem entender o
convite dela.
– Hoje não. Hoje vamos assistir ao show das duas melhores mesas
montadas na área vip.
– Mas...
– Vá baby. – Oliver beija meu pescoço. – Prometo piscar para você lá do
palco.
– Piscar? Não aceito menos do que um beijo.
– Tenho uma reputação a zelar.
– Tarde demais! Esta aliança enorme na sua mão já acabou com a sua
fachada rockstar.
– Bem lembrado. Agora vá com Iris. Pouco antes de você entrar no palco,
um assistente irá buscá-la.
– Ok. – Me despeço de Oliver com um beijo e um “boa sorte”. – Mestre,
não vai conosco?
– Vou ficar até os garotos entrarem. Depois encontro vocês. – Ele beija
Laura.
Saímos do camarim e seguimos pelos corredores. Quanto mais nos
aproximarmos da saída, mais é possível ouvir a galera na arena. Gritos e mais
gritos chamando pela The Order ecoam.
Sinto o clima de euforia, a energia eletrizante que emana do mundarel de
gente proclamando o mesmo grito de guerra. Tão vigoroso que parece criar
uma corrente elétrica, que adentra a nossa carne e balança as estruturas.
Alcançamos a saída que dá para o palco e para a escada que permite descer
até a pista. Três seguranças se juntam a nós.
De onde estamos agora, é possível ver o mar de gente.
Me sinto energizada!
O corpo vibra.
É impactante! É poderoso!
Milhares de pessoas juntas clamando por um mesmo objetivo. Unidos pelo
poder da música. Se as pessoas tivessem a noção de que este é o verdadeiro
poder... Se entendessem que ao unirem forças desta forma, com esta mesma
energia, poderiam pleitear o que quisessem e na paz, nosso mundo seria um
lugar muito melhor.
Chegamos à pista e as dez mesas VIP de quatro lugares estão dispostas
numa fila horizontal.
Cadeiras confortáveis as circundam. No centro de cada uma delas há baldes
com gelo e garrafas de espumante caríssimas dentro deles. Com exceção das
duas mesas centrais as outras oito estão ocupadas. Oitenta por cento por
mulheres.
Passamos pela frente das quatro primeiras ainda acompanhadas pelos
seguranças. Os olhares recaem sobre nós, mais especificamente sobre mim.
A cada mesa que deixamos para trás, cochichos acontecem logo em seguida.
Ouço agitação e alguns chamados vindo da galera atrás da grade que separa
a área VIP da pista, o mesmo local que eu e papai estávamos há exato um ano.
Posso distinguir alguns deles: “Biaaaaa”, “Bia, é você?”, “Gostosa!”,
“Sortuda!”, “Bia, eu te amo”, “Linda!”; mas também muitos: “Bia, sua vaca”,
“Piranha!”, “Bia, eu te odeio”, “Oliver é meu”, “Cai fora vadia”.
Henry está a nossa espera na primeira das mesas centrais, e levanta-se
assim que percebe nossa aproximação. Ele nos cumprimenta, me dá os
parabéns pelo meu aniversário, depois beija Iris que se senta ao seu lado.
Hazel ocupa a poltrona ao lado dela, seguida por mim e Laura na outra mesa.
Nos telões, sobre e nas laterais do palco, a foto da turnê, dos rapazes na
praia e o “Another Life” escrito no céu sobre o mar.
O céu e o mar da nossa casa.
Minha casa.
As luzes se apagam, a galera se agita mais, grita mais, os chamados a The
Order se tornam mais altos. O nome de cada um deles gritado junto de
declarações como “eu te amo” aqui e acolá.
Ali, deixo de ser a Beatriz noiva do astro, parte da família, e volto a ser a
fã, emocionada e ansiosa para ver seus ídolos em ação. Tenho certeza que
assim que vir Oliver naquele palco vou pirar. Nem de longe lembrarei a
mulher que dorme com o homem todas as noites.
O telão também apaga.
Tudo fica escuro.
Instantes depois, luzes azuis e brancas são acesas em direção ao público,
como se fossem bolas de energia viajando sobre suas cabeças.
A agitação do público explode ainda mais.
O telão central mostra estas imagens, da luz viajando sobre as pessoas. É
lindo, mas acho aquilo estranho, em todos os ensaios que fizemos na Three
Minds, o show começava de outra forma.
A imagem cessa, telões e palco pretos novamente.
Asas de anjo azuis carregando um pedaço de giz branco aparecem riscando
a lousa preta do telão.
A arena está em silêncio.
O giz movimenta-se criando algo, não é possível identificar o que é. As
asinhas voam para cá e para lá, contornado, pintando, acrescentado detalhes
irreconhecíveis com o giz.
Quando concluem a obra, voam novamente para fora da tela e o desenho
criado é então afastado em perspectiva para que seja possível reconhecer a
gravura.
Um soluço me escapa na hora, as lágrimas aparecem e minhas mãos
trêmulas vão a boca. Laura me abraça.
Somos papai e eu desenhados em giz branco na lousa preta, sentados lado a
lado, ele tem um braço sobre os meus ombros e eu sou uma garotinha de oito
anos. Eu lembro dessa foto, ela está num dos álbuns que guardo.
Neste exato momento uma melodia começa a soar no piano.
O desenho no telão começa a ganhar movimento e os riscos brancos se
transformam em pequenas borboletas que voam para a fora da tela deixando-a
preta novamente.
As asas giz retornam. Enquanto o novo desenho é criado, uma luz azul
acende-se sobre o piano.
Oliver está lá, concentrado, tocando o início de uma música que não
conheço, e deixando uma emoção belíssima transparecer em suas feições.
Amor.
Amor incondicional.
A galera grita. As asas-giz concluem seu novo trabalho, agora são mamãe e
papai comigo bebê em seus braços.
As lágrimas rolam descontroladas, as borboletas levam a nova imagem
embora, a voz de Oliver invade a arena. Ele está tão lindo sentado naquele
piano sob a luz azul, de blazer e cachecol. Entendo agora porque não reclamou,
queria algo mais “formal” para esta abertura.
A música é um rock-balada, por enquanto só voz e piano, fala sobre amor,
um amor que é puro, verdadeiro, que cuida, doa, que guarda.
Fala de um anjo da guarda.
O novo desenho aparece e eu rio em meio às lágrimas, são mamãe e papai
segurando o meu irmão-cogumelo.
Assim que mais um desenho voa, a banda passa a acompanhar Oliver. Nova
onda de gritos emerge. A guitarra de Lian chega com força na melodia lenta,
criando um contraste incrível com o piano, o mesmo tipo de contrate que está
presente em músicas como Love of my Life do Queen ou November Rain do
Guns.
A tela central passa a mostrar cenas do palco, dos meninos, de Oliver ao
piano, enquanto as laterais continuam a mostrar o clipe das asas de anjo
desenhistas. A figura agora é de papai e uma menina de cinco anos construindo
um castelo na beira do mar.
A melodia volta a ficar calma, sem os metais, a banda volta a ser engolida
pelo breu, restando só o piano sob a luz azul. Um som diferente surge junto a
ele, uma nova luz acende, branca agora, sobre Edgar e o violino.
Aquilo é tão lindo.
Ah mestre, obrigada, agradeço em meu coração. Papai era apaixonado pelo
som do violino.
Nas laterais do palco vejo mamãe e papai no dia de seu casamento.
A letra é linda.
O amor cantado nela pode significar tantos tipos de amor... De um pai para
um filho, de um irmão para o outro, entre amigos, entre um casal de amantes.
Na tela papai segura no colo uma menininha de uns três anos e os dois
trocam um selinho.
A banda junta-se aos dois instrumentos acústicos outra vez, a música volta
para o rock mais pesado, apesar de lento, Oliver canta um novo verso e na
tela, eu, por volta dos treze anos, papai, e mamãe careca. Esta fofo foi tirada
nos seus últimos meses de vida. Nós dois beijamos o rosto dela, um em cada
bochecha.
Ela sorri. Um sorriso lindo.
Não consigo evitar o soluço forte que me escapa, Laura volta a apertar seus
braços a minha volta. Hazel estende sua mão e segura a minha.
O foco de luz azul muda do piano para Kellan, um solo de baixo começa.
Identifico como sendo o que ele tocou na passagem de ontem, que achei
lindíssimo. Ficou demais. Ele me olha. Eu sorrio e murmuro um obrigada. Ele
sorri de volta.
O toque erudito contrastando com os metais deixou a música tão especial. É
uma verdadeira obra de arte. Na tela papai e eu, por volta dos quinze anos,
deitados olhando para o céu numa noite estrelada.
O foco de luz azul volta ao piano.
A música se encaminha para o fim, Oliver canta o refrão num ritmo
diferente, ainda mais lento, acrescentando novas palavras.
Na lousa, a foto de mim e papai abraçados no hospital, em seus últimos
dias. A banda voltou ao breu, só o piano ainda soa o final da melodia, uma
imagem real aparece nos telões, não mais um desenho em giz.
É uma imagem sem som, mas com movimento.
Um close de mim e papai no meio da multidão, nesta mesma arena, há um
ano, num outro show da The Order. Não acredito que ele conseguiu resgatar
imagens daquele show e achou eu e papai perdidos na plateia.
O choro transborda, me causando espasmos.
A imagem nos mostra sorridentes e felizes, pulando e vibrando.
Oliver me olha. A última nota soa no piano.
A imagem do telão congela com pai e filha alegres, as asinhas de anjo
voltam e escrevem “em memória de Robert e Eva Thompson” no canto
inferior da tela.
Tudo escurece. E fica assim por um minuto.
Então num baque o palco vibra com a bateria eletrizante de Max e acende
em branco, vermelho e laranja.
Era assim que ensaiamos o início deste show.
A guitarra pesada vem na sequência, depois o baixo e por fim Oliver, agora
já de pé, atrás do pedestal do microfone, com a guitarra, sem blazer e sem
cachecol, dando voz a I still know how to get by [11], um dos primeiros
sucessos da banda e música de Lian.
A arena trepida com os pulos e voz do público cantando junto com Oliver.
Seco minhas lágrimas, levanto e faço o mesmo.
Canto e pulo.
A bota dificulta um pouco, mas show de rock para mim é isso, adrenalina,
paixão nas veias, hora de pôr os “bichos” para fora. Não é ambiente para ficar
sentado tomando espumante.
Aquela energia pulsante me deixa elétrica e eu amo me sentir assim.
Viva, quente e apaixonada.
Logo Hazel, Iris, Laura e Henry me acompanham e estamos os cinco
vibrando com eles. Oliver nos olha e dá um sorrisinho de lado.
– Lindo, gostoso e meu! – Tenho vontade de gritar e faço, bem alto, os que
estão por perto riem, ele também.
O cameraman deve ter ouvido, pois dá um baita close na sua mão direita
sobre as cordas da guitarra. A maioria dos abonados das mesas ao lado
também se rendem a nossa empolgação e se levantam para curtir o show do
jeito que ele deve ser curtido.
A música termina. O palco se ilumina.
– Boa noite, Chicago! – Oliver cumprimenta. A arena trepida. “Oliver, eu
te amo”, “Oliver, casa comigo”, “Lindo!” “Gostoso!”, pipocam de todas as
direções. – Sei que “boa comunicação com o público” não faz parte da
descrição de qualidades do meu perfil. Que o Lian aqui, – Oliver aponta para
Lian, que faz uma mesura e o público ovaciona – sempre faz as honras neste
sentido, mas hoje eu preciso falar. Porém não se preocupem, logo nosso
guitarrista falará com vocês também. – Imagens de pessoas entrando em postos
de saúde, tirando sangue, comemorando ao receber seu ingresso, passam no
telão enquanto Oliver segue com o seu discurso.
– Esta turnê não é como as outras. Ela é especial para mim, para nós.
Estamos reunidos aqui pelo rock, mas também por algo muito maior. Pela vida,
pela cura. Cada um de vocês pode sentir orgulho de si mesmo, – ele aponta
para o telão – pois se dispôs a doar um pedacinho do seu corpo para salvar a
vida de alguém. E sei que muitos outros, que nem gostam de rock ou não
curtem a nossa música se sensibilizaram com a causa e foram lá, no banco de
medula, e fizeram seu cadastro. Esta noite é para todos vocês, dedicada a
vocês. Vocês são as pessoas que devem ser verdadeiramente reverenciadas
aqui. Então, obrigado! – Os quatro se curvam ao público ao mesmo tempo. –
Obrigado por toparem e embarcarem nessa conosco.
No telão continuam a mostrar imagens de pessoas tirando sangue, só que
estas eu conheço bem. Laura, Edgar, Hazel, Helen, Alicia, Johnathan, Henry,
Riley, Peter, Iris, Gia e vários outros funcionários do condomínio e da Three
Minds, para o público, apenas outros voluntários normais, para mim, muito
especiais. Por último, Oliver, Lian, Max e Kellan aparecem tirando sangue
lado a lado. O público grita. Quando eles fizeram isso? Será que a noite será
dedicada a me fazer chorar?
– Se um dia receberem a ligação comunicando que são compatíveis com
alguém e precisam ajudar, sintam-se honrados. Tudo bem sentir medo, mas não
amarelem. Amanhã pode ser você, ou a pessoa que você ama, a depender da
coragem de um desconhecido.
– Para encerrar e voltarmos ao bom e velho rock’n’roll, quero que saibam
que Guardian Angel, a música que abriu o show, terá todos os lucros
revertidos para prevenção e tratamento do câncer de pulmão. Então, sempre
que clicarem para ouvi-la, estarão também ajudando alguém. Obrigado outra
vez e espero que curtam o que preparamos para a noite. Lian.
– Chicago, boa noite! – Mais gritos, “Lindo”, “Gostoso”, “Tatua meu
nome, Lian” – Tudo bem, tudo bem, sei que a maioria de vocês está em choque.
Não imaginavam que Oliver Rain pudesse ser capaz de dizer tantas palavras
em sequência lógica uma da outra, não é mesmo? – O público ri.
– Mas, sabem como é, né? O amor faz coisas... – A galera berra, uns
aclamam, outros protestam, Oliver mostra o dedo do meio para Lian. – Ah, ele
tenta se fazer de difícil, mas só levantou esse dedo para que vejam a baita
aliança que carrega naquela mão... – Os gritos agora ultrapassam o limite do
insuportável, nosso noivado acabou de se tornar público, afinal. – Oliver faz
cara feia na direção de Lian, que ri, solta um acorde poderoso na guitarra e
pergunta: – Quem quer quebrar tudo? – Sem dar tempo de o público
responder, Max detona e as batidas de Eletric Sex ecoam. Edgar chega a nossa
mesa, eu o abraço e agradeço antes que ele se sente.
Dali o show segue emendando um sucesso após o outro, Under my Eyes,
Obstinate, Sweet Salt, Crazy Blue Dog, My Last Wish. Kellan joga o gorro
para a galera. “Lindo”, “Tira a camisa também Kellan”.
– Chicago, boa noite, vocês estão demais! – diz Max, cumprimentando as
pessoas. Os outros bebem água. – É uma honra tocar aqui esta noite. – “Minha
mãe quer netos ruivos”, “Max, eu te amo”, “Casa comigo?” – A próxima
música é nova. Esperamos que gostem.
Vem a vez de Paradox, e na sequência outros sucessos, Pepper is my Only
Spice, Head in Hell, She is my true Inspiration. Tive que parar de cantar e
pular em Sweet Salt, porque preciso ter voz e não pingar de suor quando for a
hora de subir ao palco. O frio na barriga está no nível iceberg.
– Cansados? – Lian pergunta. Gritos de “Não”, “Nunca”, “Lian, me põe de
quatro” aparecem. Todos aproveitam para se hidratar outra vez. – Porque,
sabem... se estão cansados podemos encerrar agora... – Um alto e bom “Não” é
dito em uníssono. “Queremos Eden”, alguém grita. “Private Chaos” outro.
“Oliver, me pega de jeito”. – Ninguém cansado? Então metam fogo nesta
arena! . – Papa’s Devil Spirit inicia e a terra treme.
A iluminação do palco muda, fica romântica, rosa, roxo, branco... e sei o
que vem agora, é Fool’s Mate. Oliver está lavado de suor, ele tira a camiseta...
Ah? Como assim? Que porra é essa?
Nunca o vi fazendo isso num show.
Cacete!
Não gosto daquilo. Nada. Nadinha. Nem um pouco.
A arena vai ao delírio. A calça é baixa nos quadris, revelando demais
daquele v e da trilha que leva à felicidade, para o meu gosto. Ele seca o rosto
e joga a peça para o público. Em outros tempos eu gostaria de ser a sortuda a
agarrar aquele pano.
– A próxima também é nova. Chama-se Fool’s Mate. – “Oliver, olha para
mim” gritam. – Baby, para você. – Apesar do apelo, é para mim que ele olha.
E assim ele amolece o meu descontentamento.
Começam a tocar. Oliver fixa o olhar, eu sorrio. Ele não devolve a
gentileza, não há graça, ele quer que eu sinta a paixão em seus olhos, em seu
rosto, enquanto canta aquela música para mim.
E eu sinto.
Impossível escapar.
O telão me focaliza, o público reage, uns vaiam, muitos aclamam. Ele não
se abala, nunca se abala, segue firme no seu objetivo de me fazer apaixonar de
novo, e de novo.
Sempre consegue.
Ele tem a mim e aquelas pessoas todas em suas mãos e pode levá-las para
onde bem entender.
O solo de guitarra é dele nesta música. Ele vem até a beirada do palco, bem
em frente à minha mesa e se ajoelha ali enquanto faz a guitarra chorar. Várias
mulheres das outras mesas correm para aquela posição, se apoiando na grade
que fica logo em frente ao palco, tentando alcançá-lo com as mãos.
Parece que há coisas no mundo tão irresistíveis que fazem até as donas do
poder esquecer de manter a classe.
Seus olhos não abandonam os meus em momento algum. Sustento seu olhar e
movimento os lábios exageradamente num “Eu Te Amo” mudo.
Ele entende, ganho meu sorriso.
Fool’s Mate termina.
– Também te amo, baby – diz ao microfone e nem espera a reação
ensandecida das pessoas acalmar, já larga os primeiros acordes de Winters of
Secrets. Depois engatam Destructive Love.
Quando No Use My Name está prestes a começar, uma assistente de palco e
dois seguranças se aproximam da mesa. Sei que chegou a hora de eu subir. A
próxima será Eden. O que vem depois do iceberg mesmo? O polo norte
inteiro?
– Srta. Thompson, podemos subir?
– Sim – concordo. – Hazel, minha maquiagem, como está? Borrou muito
com as lágrimas?
– Não, está tudo no lugar, primeira-dama. Vá tranquila, está linda. – Os
quatro me desejam sorte.
– Me acompanhe por favor.
Sigo a garota, passamos pelas mesas, subimos a escada e chegamos a
lateral do palco. Ela coloca o meu retorno. Faço um rápido aquecimento de
voz e espero, nervosa, muito nervosa... Gostaria de não estar com estas botas e
sentir os pés mais firmes no chão. No Use My Name termina, o palco escurece.
Respiro fundo.
Os telões acendem com a primeira cena do clipe de Eden. A reação do
público é de deixar qualquer um surdo. Os instrumentos começam, a voz de
Oliver soa sexy, potente. E o público acompanha. A arena inteira canta junto os
versos da música que foi lançada há menos de dois meses. É de arrepiar. De
repente gritos muito, muito histéricos tomam conta e sei que a bunda de Oliver
acabou de encher as telas. O coro retorna, mas vira e mexe o histerismo
ressurge em reação às cenas de amor tórrido.
É agora, um microfone é posto em minhas mãos, Oliver começa o refrão, eu
entro cantando a minha parte e pela primeira vez, urros masculinos são mais
audíveis do que os gritos femininos. Muitos “Gostosa” surgem, Oliver
concentra todo o fogo do seu olhar em mim, aquilo me ajuda a acalmar e de
repente estou tranquila, como se fôssemos só nós dois cantando um para o
outro.
Repetimos mais ou menos a mesma performance do ensaio. Com direito a
beijinho dele no meu pescoço, passada de mão minha no seu tanquinho e outras
firulas de tontear a rapaziada. Quando a música termina, ele me beija e que
beijo! Me esmaga contra seu peito nu e suado, me deixando sem fôlego.
– Arrumem um quarto! – Lian brinca e o povo ri. – Tudo bem Oliver,
continue beijando, podemos esperar, tá de boa, né galera? – Uns gritam sim,
outros não, outras pedem “Me beija também”. Ele me larga e dá um sorriso
muito, muito safado, então volta ao microfone.
– Esta mulher linda que cantou para vocês é Bia Thompson, minha noiva. –
As pessoas dão vivas, aplaudem, felicitam, praguejam, lamentam não ter a
minha sorte. Eu agradeço, aceno para os meninos e deixo o palco. Já posso
respirar.
Resolvo terminar de assistir ao show dali mesmo, Little Naughty Princess
é a bola da vez, música de Max e imagino que seja inspirada em Hazel. Depois
Unforgivable Mistakes, seguida por A Relief ’s Place.
Assim como no show do ano passado, a última música é Private Chaos.
Mais um coro ensurdecedor acompanha Oliver. Lindo demais olhar o mar de
gente aqui de cima cantando todos juntos as mesmas palavras. Luzes de
celulares começam a ser ligadas. Uma forma silenciosa de reverenciarem os
ídolos e agradecerem aos artistas pelas duas horas e meia de rock e magia que
viveram naquela noite.
A música termina. Oliver diz um “muito obrigado”, aguarda os outros três
se juntarem a ele no meio do palco, se inclinam em agradecimento e saem. A
The Order nunca faz bis e todos sabem. Oliver engata minha cintura ao passar
por mim e me leva junto para o camarim.
Entramos seguidos pelos meninos, ele vai me empurrando em direção ao
banheiro.
– Oliver, calma...
– Não diga nada.
– Mas...
– Quero você. Agora. – Tranca a porta do banheiro assim que passamos
por ela. É um banheiro enorme com quatro cabines com chuveiros e um
vestiário, onde as roupas de todos eles estão penduradas em cabides.
– Oliver os outros...
– Que esperem. – Exige minha boca, aperta minha cintura, sua mão desliza
para dentro da minha blusa em direção aos meus seios.
Ele está fora de si. Energizado. Empolgado. Me enrolo em seu pescoço e
deixo-o fazer o que quiser de mim. Passo os dedos pelos seus cabelos
molhados, capturo o suor salgado de seu pescoço com a minha língua.
– Fiquei a noite toda louco para arrancar as suas roupas. Senti um tesão do
caralho vendo você dançar e cantar. Não via a hora de fazer isto. – Abre o
short e a calça, e desce os dois ao mesmo tempo, junto com a calcinha até os
tornozelos. Puxa tudo aquilo para fora do meu corpo sem tirar as botas. Apesar
de um pouco de trabalho, ele consegue porque a calça é bem elástica.
Ainda agachado passa as mãos pelas minhas coxas, me admirando. Beija
meu ventre e eu estremeço. Lambe a tatuagem com seu nome, estremeço outra
vez. Põe uma das minhas pernas em cima do seu ombro e alisa minha boceta.
– Que cena mais linda, pequena. Você, minha deusa dark do rock,
encostada na parede, de saltos altíssimos, com uma perna sobre meus ombros e
a boceta aberta ao alcance da minha boca. Estou salivando aqui.
– Baby... – Ele não perde mais tempo, abocanha meu sexo e me chupa sem
dó nem piedade.
Quando estou à beira do colapso, prestes a cair do precipício, ele para,
levanta-se, retira as calças e posso ver aquele homem lindo por inteiro. O pau
grande e duro com a cabeça melada, brilhando. Ele é mesmo um espécime sem
igual. Quase gozo só de olhá-lo. Levanta-me pelas pernas, me prende contra a
parede e me penetra numa estocada só. Estou tão molhada que ele desliza
facilmente.
– Ahh, isso... assim... aqui é o meu lugar... – diz, o prazer estampado em
sua cara.
– Sim, seu lugar é aqui... só aqui... – concordo.
– Preciso te foder com força.
– Preciso que me foda com força.
– Engate esses saltos atrás da minha bunda e segure firme o meu pescoço.
– Obedeço.
Ele agarra as minhas nádegas e passa a meter com toda a potência que seus
músculos permitem. Eu grito, grito muito, não tem como controlar... se estou
dando um show à parte para Max, Lian e Kellan lá fora, que me desculpem,
não posso evitar, não quando ele me pega assim.
Ele deita a cabeça em meu ombro, ouço sua respiração pesada, com uma
mão corro as unhas pelo seu ombro e início das costas e a outra continua em
seu pescoço. Ele acelera ainda mais, eu grito ainda mais, ele está perto, muito
perto. Finco minhas unhas nele e começo a me esfregar de cima para baixo em
sua virilha enquanto continua metendo. Ouvimos batidas na porta, seguidas
pela voz de Max, mas não paramos.
– Casal, apressem-se na brincadeira. Temos uma recepção e precisamos
de banho.
Mais algumas estocadas firmes e certeiras e rolamos morro abaixo, juntos e
felizes. Oliver me segura firme contra a parede enquanto se recupera. Eu tento
resgatar a minha alma, que saiu do corpo no momento daquele orgasmo. Estou
mole, saciada.
– Pequena...
– Rockstar... – Ele me beija.
– Vamos para o chuveiro. – Me põe sentada sobre a pia e retira minhas
botas, depois minha blusa e o sutiã. Então suas botas. Me pega no colo outra
vez e entramos na cabine. O chuveiro é ligado e a água cai sobre nós, quente e
relaxante.
– Mais calmo?
– Muito. Até aguento atender trinta pessoas por uma hora.
– Arg... Não me lembre... E você! – Dou um tapa em seu ombro. – Que
merda foi aquela de tirar a camisa? Nunca te vi fazendo isso num show. – Ele
ri, travesso.
– Digamos que foi a cobrança de uma dívida.
– Que dívida? Lembro que paguei as minhas com o meu cu. – Ele se afina
com a minha falta de refinamento.
Mas é o que é, não?
– Olha a boca, Beatriz!
– Ahã, foi bem sofrido aliás...
– Diz a garota que me pediu por isso no meio de uma rave...
– Eu gostar não quer dizer que não doeu.
– Você pagou com a sua bundinha gostosa o dia em que mandou eu me
foder. A cobrança de hoje é referente ao dia que você me enganou e saiu da
hidro com o biquíni enfiado nela, deixando aqueles três panacas lá fora
babando. Eu disse que ia ter troco.
– Oliver Rain! Como você é vingativo! Não conhecia este seu lado. E o
pior é que eu já disse sim.
– Não sou vingativo, apenas cumpro as minhas promessas. Se eu disser
que vai ter troco, pode apostar que vai.
– Vingativo!
– Organizado! – Eu gargalho.
– Vingativo e possessivo!
– Um homem de palavra.
– Tá bom... – Reviro os olhos. – Vamos nos secar, os meninos...
– Sim, vamos.
Desligamos o chuveiro, nos secamos rapidamente, coloco uma boxer dele, a
calça que estava usando antes e uma camiseta da The Order, já que minhas
coisas estão no outro camarim. Ele veste uma calça de moletom e uma
camiseta. Eu olho aquilo sem acreditar. Ando até ele, puxo o elástico do
moletom e dou uma conferida lá embaixo.
Como imaginava.
– Nem pensar! Você não vai atender as lambisgóias assim.
– O que tem demais? – Ele ri.
– Nem morta eu te deixo entrar lá nestes trajes. Trate de pôr uma cueca e
um jeans. Já! – Acho que nunca falei tão alto e tão firme com ele. Oliver se
assusta.
– Certo! Mas não precisa ficar brava. Claro que não vou assim. Fiz de
propósito, só para te provocar.
– Conseguiu.
– Ei, desfaz esse bico. – Me abraça e me beija. – Foi só uma
brincadeira, eu juro. – Faço uma careta de poucos amigos, mantendo o ar
indignado por um tempo, mas ele percebe que já não falo sério, então me solta,
tira a calça de moletom e coloca a cueca e o jeans.
– Pronta? Vou abrir a porta.
– Sim. Mas antes...
– O que? – Chego perto dele e afago o seu rosto.
– Obrigada. O que você fez hoje... nossa... aquela música é linda demais
Oliver. Linda demais! E o clipe, as fotos... Como você conseguiu? Sorte que a
minha maquiagem é a prova d’água, senão...
– Aquela música é linda porque foi inspirada no que eu vejo quando olho
para você. Quando te vi pela primeira vez lá na praia. Na garotinha de oito
anos assustada que eu conheci. No que sinto quando você me olha, me toca. O
clipe é mais um trabalho espetacular de Iris. E as fotos, eu me apropriei do seu
álbum por alguns dias e você quase me pegou quando eu estava devolvendo-o
ao lugar lá no closet.
– E as imagens minha e de papai no show...
– Foi sorte. Vasculhamos as filmagens do dia e achamos aquela tomada...
inclusive quando voltarmos tenho que te mostrar algo que você vai adorar
ver... uma das câmeras ficou ligada por um tempo depois que tudo terminou e
pegou o seu pai pulando a grade para roubar o pôster...
– Sério?
– Sim, a ida e a volta, você também aparece um pouco. Vovó já viu. –
Sorrio, imaginando.
– Nossa, quero muito ver isso. E obrigada também por terem se inscrito no
banco de medula. Foi lindo!
– Ah pequena, que hipocrisia a nossa se pedíssemos para o mundo se
voluntariar e nós não déssemos o exemplo, não?
– Isso não tira o mérito do gesto. Obrigada. Quando voltarmos quero dar
um jeito de agradecer a todos na Three Minds também.
– Tenho certeza que você vai pensar em algo bem criativo como
agradecimento... – diz revirando os olhos, ainda se referindo ao show para os
funcionários. Novas batidas à porta.
– Casal, tempo esgotado! – Oliver abre a porta e dá de cara com Max ali.
– Porra, não quero empatar a foda de ninguém, mas sejam mais rápidos da
próxima vez.
– Desculpe, Max – peço. Ele me olha e fica vermelho.
É, se eu tinha dúvidas que meus gritos foram ouvidos...
Colocamos os pés para fora do banheiro e a realidade das turnês dá um
soco bem dado na minha cara. Kellan está sentado num sofá mais afastado, sem
camisa, tem uma garota sentada em uma de suas coxas e outra ajoelhada a sua
frente passando a mão pela sua outra perna. Ele fuma um baseado e não há
como ignorar um fato muito explícito ali, ele está de pau duro.
Lian encontra-se encostado numa parede, cercado por outras quatro, tem um
copo de bebida em uma mão, um cigarro na outra, uma das garotas está com a
mão dentro da sua regata e ele beija o cangote de outra delas.
Outras três garotas estão numa roda perto da mesa, provavelmente as que
estavam em torno de Max antes de ele entrar no banheiro. Se eu não estivesse
ali, quantas estariam ao redor de Oliver? Elas percebem a nossa presença e
começam a cochichar. Provavelmente tentando decidir se devem ou não se
aproximarem do vocalista.
– Vou te levar para o outro camarim.
– Não Oliver, não me prive, por favor. Me deixe entender as coisas como
elas realmente são.
– Não é ambiente para você, foi uma má ideia te trazer aqui. – Seguro o
seu rosto e faço-o me ouvir.
– Eu sou a sua mulher. Esta realidade faz parte da sua vida. Me deixe ver,
me explique como isso... – Aponto em torno. – Funciona. – Ele suspira. – Por
favor.
– Tudo bem, vamos só pegar algo para comer e beber primeiro. – Nos
aproximamos da mesa, Oliver bebe outra garrafinha de água e vai petiscando
uma coisa aqui outra ali. Faço o mesmo. Depois ele se serve de whisky e eu
abro uma coca. Uma das garotas da rodinha tenta se aproximar de nós, ela
segura um caderninho e uma caneta.
– Não dou autógrafos. – Oliver diz antes mesmo que ela chegue.
– Mas... – Ela tenta dar mais um passo à frente. Ele apenas levanta a
cabeça e olha para um dos seguranças a postos dentro do camarim. O cara se
aproxima na hora.
– Senhoritas, o tempo de vocês aqui acabou. Queiram me acompanhar, por
gentileza. Há outras aguardando para entrar – diz o homem para as três moças.
– Mas, e elas...? – Uma das garotas aponta para a roda de Lian.
– Como eu disse, o tempo de vocês acabou. – É tudo que ele explica antes
de pôr as três para fora dali.
– Pombinhos, não vi que tinham liberado o chuveiro... – Lian sai do meio
das garotas que o cercavam. Ele se aproxima de nós e elas vêm atrás. Ele
apaga o cigarro no resto de bebida que sobrou em seu copo e o larga sobre a
mesa. Depois come um biscoito. Elas continuam atrás dele. Que patético.
– Oliver... – Uma tenta. Ele faz que não escuta e me põe em frente ao seu
corpo, me abraçando por trás.
– Bem, vou tomar um banho – anuncia Lian. – Fedelho, o banheiro está
liberado – avisa. Kellan só faz um positivo para ele e continua a fumar seu
baseado enquanto as duas fãs passam as mãos nele.
Lian caminha até um dos seguranças e cochicha algo no ouvido do homem.
O segurança assente e olha em direção às quatro garotas que estão largadas no
meio do salão, sem saber muito bem o que fazer com as mãos. Lian entra no
banheiro e o cara anda na direção das meninas. Ele leva três delas para fora
dali, deixando apenas a morena que Lian tinha o nariz enfiado no pescoço. A
morena solitária agora vaga pelo espaço.
– Vamos nos sentar naquele sofá – pede Oliver.
– Que horas têm que entrar na recepção com as dondocas? – Ele olha o
celular.
– Temos uns vinte minutos. – Cinco novas garotas entram no camarim.
Oliver chama um dos seguranças.
– Reforce que não devem se aproximar de mim. – O cara assente e vai dar
o recado.
Kellan cochicha algo no ouvido da garota que estava sentada em sua perna e
ela aparentemente concorda com o que ele diz. Ele então levanta e a leva para
dentro do banheiro.
– Vai me explicar?
– Ainda não entendeu?
– Talvez. Não sei. Entendi que Kellan vai transar com a garota no banheiro
sem se importar que Lian e Max estejam lá também.
– Muito bem, Chucky – debocha e beija minha bochecha. – O esquema é
simples. Sempre fica uma fila de garotas insistentes lá fora tentando acesso a
este espaço. Os seguranças que as mantém em linha, deixam algumas entrarem
por vez desde que tenhamos lhes dado permissão para isso. Antes de entrar,
elas têm que passar por uma revista, mostrar os documentos e assinar os
papéis, claro. Elas vêm, dão uma circulada, comem, bebem, se aproximam,
pedem autógrafos, flertam, os caras dão liberdades para as que lhes
interessam, dispensam outras. Quando achamos que já deu para algumas,
pedimos aos seguranças que as retirem. Conforme umas vão saindo, outras vão
entrando...
– E é neste desfile oportuno que escolhem as presas da noite.
– Exatamente. A morena que Lian pediu para manter, por exemplo. Ele não
a levou para o banheiro, nem para qualquer outro canto para dar uma
rapidinha, então provavelmente a levará para o seu quarto mais tarde. Se ela
tiver interesse o suficiente para esperar, terminará a noite na cama dele.
– E a que Kellan está comendo lá dentro será dispensada...
– A não ser que a foda seja tão boa a ponto de ele querer repetir, sim.
– Então se eu não estivesse aqui, você estaria dando liberdades a umas e
descartando outras...
– Não. O meu esquema é um pouco diferente... au... – Dou-lhe um
beliscão.
– Era, Oliver Rain. O seu esquema era...
Max saiu do banho e bebe sentado num outro sofá. Ele tem seis a sua volta.
Uma inclusive desliza a mão “despretensiosamente” para cima e para baixo na
sua braguilha.
– Certo. O meu esquema era diferente. Nunca dei autógrafos ou deixei que
se aproximassem para papo furado. Eu ficava aqui, observando, analisando
por pouco tempo. Se alguma, ou algumas, delas me chamassem a atenção, eu
pedia aos seguranças para checarem se a garota estava a fim de conhecer o
meu quarto mais tarde. Se a resposta fosse positiva ela ficava por aqui até a
hora que eu autorizasse os seguranças a levarem, a ou as escolhidas, para o
hotel. Eu logo saia, não ficava muito no camarim. – Olho-o bem séria.
– Eu vi o jeito que deixou aquele palco hoje Oliver. Você estava elétrico,
era pura adrenalina, excitadíssimo. Acha mesmo que eu vou acreditar que
você, na pilha, tinha todo esse autocontrole para transar só no fim da noite? –
Ele ri.
– Tudo bem. Grande parte da minha excitação de hoje tem a ver com você.
Mas é verdade que o placo nos deixa pilhados, então nos dias de grande
urgência eu resolvia no banheiro também. Ou levava alguém para um outro
espaço dentro do estádio. E depois caçava a que ia comer com mais calma,
digamos assim... Ou a fulana já ia comigo para o hotel logo de cara.
Recebemos muitos convites de esquemas com celebridades, e quando eu
aceitava, mal entrava aqui, partia direto para o hotel começar a noite.
– Como esses convites chegam até você? – Ele pega o telefone, procura
algo e entrega na minha mão.
– Assim. – Olho e não acredito no que leio.
– Puta-merda.
– Ficou interessada?
– De jeito nenhum ela vai pôr as garras vermelhas em você.
O convite é de um casal famoso, muito famoso. Os dois são do meio
cinematográfico. Mandaram uma foto onde estão nus e abraçados, um de frente
para o outro. Convidam a mim e a Oliver para um swing.
– Caramba, eles têm filhos... isso é nojento... – Ele não segura a
gargalhada.
– O que é nojento? Ter filhos ou transar com quem tem filhos? – Dou uma
tapinha nele.
– Não seu bobo, é nojento que se prestem a isso tendo uma família.
– Fetiches, baby. Estilo de vida. Se sentem-se bem e são felizes...
– Sim, que sejam.
Lian também voltou à ativa e está com a língua dentro da garganta da
morena. Nem sinal da que foi descartada por Kellan antes dele levar a outra
para o banheiro, certamente o segurança deu um jeito nela.
– Por que Riley te encaminhou essa mensagem?
– Riley como advogada e Max como agente e porta voz da The Order são
as portas de entrada para o contato conosco. E se você ler a mensagem dela
mais acima verá que só me mostrou porque eles vêm insistindo desde o
lançamento do clipe, e achou o cúmulo do desespero e da coragem mandarem
uma foto tão comprometedora como cartada final, visto o tamanho da fama que
têm. Ela sabe que não quero mais que me encaminhe esse tipo de convite. Que
pode descartar de cara.
– E eles viriam até Chicago só para brincar de troca de casais conosco?
– Na verdade, eles estavam em uma das mesas vip. Disfarçados, é claro.
– Então quer dizer que...
– Daqui a pouco vou encontrá-los e provavelmente vão tentar me
convencer pessoalmente.
– E você...
– E eu? Eu vou mandar esse cara se foder. Ninguém encosta na minha
mulher. Com ou sem filhos. – Não seguro o riso.
Max se levanta, o volume na frente da sua calça assusta e demonstra que ele
chegou no seu limite com aquele “carinho”. Pega a mão da “dona alisadeira” e
a leva para o abate. O mesmo local onde eu fui abatida e a loira de Kellan
ainda está sendo.
– Se ela engravidar, cem por cento de chance dos bebês serem ruivos, não
é? – brinco.
– Sinto muito pelo que está presenciando, anjo.
– A penetra aqui sou eu, Oliver.
– Senhor Rain, a organizadora está pedindo que sigam para a recepção –
diz o segurança.
– Tudo bem. Peça dez minutos. Vamos aguardar Kellan e Max. – O homem
sai e agora é a vez de Oliver dar batidas na porta do banheiro avisando aos
dois que eles têm dez minutos.
Acho que a “alisadeira” não conseguirá o seu final feliz.
– Olá primeira-dama, que cara é essa? Nem parece que fez uma estreia
triunfal no mundo do rock.
– Eles acabaram de entrar na jaula das lobas.
– Hummm, sente-se aqui ao meu lado que te consolo. Entendo o
sentimento. – Sento-me e encosto a cabeça no ombro de Hazel.
– Parabéns Bia, você foi incrível.
– Obrigada Henry. Eles são demais em cima de um palco. Impossível não
brilhar cercada por tanto talento.
– Verdade. Nasceram para aquilo. O show foi contagiante.
– Cadê Laura e Edgar?
– Voltaram para o hotel faz uma meia hora – responde Iris.
– Sua namorada também merece muitos parabéns, Henry. Parte do sucesso
do hoje é mérito dela. Assim como metade das minhas lágrimas.
– Sim, uma parte dos parabéns eu já entreguei. A outra será entregue mais
tarde, no quarto. – Henry abraça e morde a orelha de Iris, que fica com as
bochechas rosadas.
– Só eu não terei quem invada minha arena esta noite – choraminga Hazel.
– Neste caso, aposto que o problema está no controle e seleção, porque
não acredito que falte matéria-prima disponível e interessada.
– Disponível não, Henry, mas qualificada...
– Viu? O que eu disse? Controle e seleção.
– Não tem graça conversar com um psicólogo, sabia? – Ele ri.
– Por falar nisso, Sr. psicólogo, eu lhe conto os meus medos mais
profundos e o Sr. encoraja o meu, na época, namorado a colocá-los em check?
Devo repensar minha escolha de terapeuta? – Ele ri mais.
– É tão complexo Bia, se você soubesse... quando concordei em tratá-los
eu fui bem aberto com vocês. Seria o mais imparcial e reservado possível,
porém quando caíssemos num assunto que envolvesse ambos, não teria como
fingir que não conheço os dois lados da moeda. E esse era um assunto que
envolvia os dois. Dois medos e duas necessidades diferentes. A questão foi
que colocando na balança os motivos de Oliver querer colocar um anel no seu
dedo e os seus motivos para fugir dele, eu cheguei à conclusão de que o melhor
era ele arriscar. Ele precisava muito daquilo e no meu entendimento você
estava pronta para dizer sim a um noivado.
– Sim, mas a intenção dele era casar em dez dias, no máximo dois meses...
– Henry gargalha.
– Essa parte ele não me contou.
– Que alívio saber...
– Mas, mesmo que tivesse contado, não teria mudado meu apoio. Como
acabou acontecendo, você o colocou no lugar dele, não?
– Mais ou menos. Queria um ano de noivado, fechamos em seis meses.
– A boa e velha negociação. Perfeito.
– Sabe o que isso significa, não é? Você terá apenas quatro meses depois
da turnê para me fazer parar de tremer de medo de perdê-lo cada vez que eu
penso em assinar Beatriz Rain.
– Estamos trabalhando nisso. E, de qualquer forma, todo contrato pode ser
renegociado. Se depois desses meses você ainda não estiver convencida de
que tornar-se oficialmente a família de Oliver não vai fazê-lo adoecer ou que
caso ele adoeça não terá nada a ver com o seu novo sobrenome, peça-lhe mais
tempo.
– É o jeito.
– A imprensa é rápida mesmo. – Iris diz ao olhar seu telefone.
– O que foi? – pergunto.
– Olhe o seu celular. Encaminhando no nosso grupo... – Compartilho a tela
do aparelho para que Hazel possa ver comigo.
Turnê em favor da luta contra o câncer faz Oliver Rain interagir com o
público
– Tem certeza, Oliver? Posso levá-la para o quarto e cuidar dela lá.
– Vá aproveitar a sua noite, Max. Hazel dorme aqui com Bia, eu cuido das
duas. – Hazel e eu estamos deitadas na cama do nosso quarto.
– Não ruivoo, não vai... eu quero voxê...
– Acho melhor...
– Vá Max! Anda, some daqui. Tem duas gostosas te esperando no seu
quarto.
– Duas Biaaa, duas goxtosas... por quê?
– Oliverrrr, voxê acha elas goxtosas?
– Viu? Tudo que dissermos será usado contra nós. Elas estão fora. Vou
enfiá-las debaixo do chuveiro, dar um café e vão apagar. Vá trepar. Pelo menos
um de nós dois vai... – Oliver começa a empurrar Max em direção a porta da
nossa suíte.
– Tchau Max, Hazel ficará bem. – A porta fecha. – Oliver entra no
banheiro e abre o chuveiro. Depois retira os nossos calçados.
– Muito bem madames, quem será a primeira?
– Ela – dizemos ao mesmo tempo.
– Vem Bia.
– Ei... – Oliver me pega e me enfia debaixo da água.
– Encosta na parede para não cair, vou buscar Hazel.
– Por que voxê mandou ele para elas, extrela?
– Hora do banho, princesa. – Volta com Hazel e faz o mesmo.
– Encosta na parede Hazel, ou sente-se no chão. Fiquem aí enquanto vou
pedir um café.
Ficamos ali, sentindo a água bater no nosso rosto e devolver um pouco do
equilíbrio. Hazel senta-se no chão e começa a chorar. Sento-me também e a
abraço. Não dizemos nada, não é preciso. Oliver volta minutos depois com
mudas de roupa nas mãos. Olha a cena e suspira.
– Vem amor, vou ajudá-la a tirar essas roupas e se secar.
Ele pega uma toalha e depois me puxa de dentro do box. Hazel deixa a
cabeça pender para trás, apoiando-a na parede. Oliver tira minha camiseta
molhada, depois a calça, depois o sutiã. Enrola a toalha no meu corpo, então
passa as mãos por baixo dela e retira minha calcinha. Pega outra toalha e seca
os meus cabelos.
– Sente-se aqui. – Me põe sentada na borda da banheira. – Vou buscar o
café, fique aí. Volta pouco depois e coloca uma xícara de café preto nas minhas
mãos.
– Beba. – Dou um gole, mas nossa... muito forte e muito doce... faço uma
careta.
– Não quero.
– Beba um pouco, vamos.
– Vou vomitar.
– Ótimo se vomitar, o porre passa mais rápido. Você precisa ajudar Hazel
a se secar e se trocar, então faça um esforço e tome o café. – A cada gole, meu
estômago embrulha um pouco mais, até que não aguento e vomito dentro da
banheira. Oliver segura meus cabelos.
– Tudo bem?
– Sim. – Levanto-me e vou até a pia me lavar, ele continua a segurar os
meus cabelos. Lavo o rosto, escovo os dentes.
– Aqui. – Me entrega uma garrafinha de água mineral. Bebo uns bons
goles.
– Consegue terminar de se secar e colocar sua roupa enquanto jogo água
na banheira?
– Consigo sim. – Desenrolo a toalha, passo-a pelo meu corpo, pego uma
das calcinhas e camisetas da The Order que ele trouxe e visto.
– Beba mais uns goles de café, anjo. Vai ajudar na ressaca de amanhã. –
Faço o que ele pede, mas não consigo beber muito.
– Vou sair do banheiro, está bem o suficiente para ajudá-la a se vestir? –
Aponta para Hazel largada no chão do box.
– Sim, pode deixar.
– Ok. – Ele me dá um beijo, depois fecha o chuveiro, ajuda Hazel a
levantar e a põe sentada na ponta da banheira. – Vou ficar do outro lado da
porta, qualquer coisa me chama.
Oliver sai e eu começo a ajudar Hazel a livrar-se das roupas molhadas.
Então a seco, depois ajudo-a a entrar nas roupas secas. Ela está muito
sonolenta.
– Tudo bem aí? – Oliver pergunta através da porta.
– Sim, pode entrar, ela já está vestida.
– Aqui. Faça-a beber o café. – Não foi tarefa fácil, mas ela dá alguns goles
e diferente de mim, não vomita.
Depois do café, Oliver a faz beber um pouco de água. Então a pega no colo
e a coloca na nossa cama, sob as cobertas. Ela vira para o lado e parece pegar
no sono na hora.
– Vem baby, deite-se. – Ele ergue a outra ponta da coberta para que eu
entre.
– E você?
– Vou dormir no sofá.
– Quero deitar lá com você.
– Não. Você dorme aqui. Além de ser muito estreito para dois, sei o que
vai querer fazer e não vou transar com você neste estado.
– Eu estou bem, não precisamos transar, só quero ficar com você.
– Hoje não. Deite-se e durma, vamos. – Contrariada, deito-me na cama.
Ele arruma as cobertas sobre mim, abaixa e me dá um selinho. Seguro seu
pescoço e aprofundo o beijo. Ele geme.
– Você me quer – afirmo.
– Eu sempre te quero. Agora durma. Amo você. – Se livra dos meus
braços e se afasta.
– Oliver...
– Durma, baby. Você não está bem e logo vai amanhecer, descanse um
pouco, eu preciso fazer o mesmo. – Sai do quarto.
Me bate uma puta angústia de ficar sem ele na cama.
Durmo com aquela sensação de vazio no peito.
Mal sabia eu que a tal sensação, em escala astronômica, se tornaria minha
única companhia.
Muito em breve.
Capítulo 29
Oliver
alemães.
A njo, levante-se daí, Riley vai ligar em poucos minutos,
sente-se aqui comigo.
– Ainda não me recuperei dos meus primeiros orgasmos
Peter sabe?
Que dúvida!
Se ninguém fosse
você iria sozinho? Só
para entender...
Que merda!
Se quiser que eu vá
ficar com ela em algum
momento avise
Boa ideia
De acordo!?
– Passe este bilhete para um dos fãs pelo vidro. – Entrego o papel a Larry.
– Ele lê, abre o vidro e passa o recado.
Os mais próximos ao carro vão lendo e instigando os outros a abrirem
passagem. Não demora dez minutos temos o caminho livre para entrar na
garagem do edifício.
– Devo pedir a John para organizar a coletiva senhor Rain?
– Sim, mas não quero imprensa. Quer dizer, a imprensa pode estar lá para
registrar o momento, mas não vou responder perguntas deles, apenas de fãs.
Preparem caixas de som e microfone no balcão do hotel. Uma hora antes
mande um representante conversar com o público e jogar dez camisetas
autografadas da The Order à multidão. Àqueles que pegarem as peças, deem
um jeito de trazer para o lobby do hotel. Eles terão direito a fazer uma pergunta
cada a respeito da banda ou da turnê. Não responderei perguntas pessoais.
– Autografada... por todos?
– Sim, também vou autografar.
– Certo – diz Larry, incrédulo.
Bia comeu muto pouco no jantar daquela noite, mas felizmente não teve
mais febre. Comeu um pouco melhor no café da manhã do dia seguinte, porém
vomitou tudo apenas meia hora após tomar a dose do antibiótico.
Informei ao Dr. Klein o ocorrido e ele orientou a repetir a dose, porém isso
a deixou com tanta dor de estômago que não conseguiu comer mais nada o dia
inteiro. Como estava sem febre pudemos manter nossa vinda a Munique na
quarta à noite.
O processo de náuseas e vômitos se repetiu ainda na quinta e na sexta,
sempre após a dose do remédio, o que provavelmente está comprometendo o
tratamento. O Dr. Klein então acionou um colega seu de Munique para ir ao
hotel e lhe aplicar uma injeção de antibiótico. Fiquei puto da vida, pois se a
injeção era uma opção, ele não precisava tê-la feito sofrer com as dores
estomacais por tantos dias. E ainda tive que aguentar a piadinha de que se
tivesse concordado com a “injeção” já estaria melhor faz tempo.
Falando nisso, porra, dez dias sem sexo! Fora os períodos em que passei
“apagado” acho que esse foi o meu recorde. Até me deixei levar uma noite em
que ela me jurou que estava bem, mas daí a crise de tosse apareceu no meio da
brincadeira e abortei a missão.
Bia ainda apresenta resquícios da tosse, que a castigou intensamente por
uma semana. Não teve condições de cantar nos shows de Munique. Proibi-a
inclusive de ir para a arena, ficou no hotel em repouso e seguindo os horários
do tratamento. Vovó e Hazel cuidaram dela nestes dias.
Esta experiência me provou que segurar o rojão da abstinência sexual em
meio a uma turnê não é fácil. As apresentações nos deixam alucinados,
recarregados e precisamos extravasar aquela euforia, adrenalina toda que rola
em torno da troca de energia que se estabelece entre nós e o público. O que eu
mais queria depois de cada show era voltar ao hotel e me perder nela. E com a
merda da recepção aos vips, nem a parte de voltar ao hotel pude atender. Se no
futuro me arriscar em uma turnê onde ela não possa me acompanhar, terei que
deixar agenda entre os shows que permitam voltas para casa ou desenvolverei
tendinite crônica. O que para um músico, é um sério problema.
É noite do dia dez de fevereiro, estamos a exatos um mês e dois dias na
estrada. Voamos rumo ao Brasil para as duas últimas semanas de turnê fora de
casa. Depois, só os dois shows de Los Angeles e está feito. Saímos de uma
temperatura média de menos três graus em Munique para cair em uma de trinta
graus positivos em São Paulo. Confesso que já não aguentava todo aquele frio.
Desde Chicago, que frio, neve e chuva são a nossa realidade. Para caras
criados na Califórnia, é torturante.
Bia está animada com a visita ao Brasil, ela não sabe ainda, mas consegui o
contato da sua tia-avó brasileira. Vou contar assim que chegarmos e se ela
quiser conhecer o que resta da sua família por parte de mãe, faremos um
desvio ao sul do Brasil antes de ir para o Rio de Janeiro.
Eu estava exausto com toda a carga de trabalho aliada a preocupação e
estresse dos últimos dias, dormi por mais de seis horas na cabine do avião e
estou prestes a me juntar aos demais. Acho que desde que ela adoeceu, esta foi
a primeira vez que relaxei totalmente, pois o médico retornou ao hotel pela
manhã e confirmou que o seu pulmão estava perfeitamente sadio outra vez.
São quatorze horas de voo de Munique a São Paulo. Deixamos o aeroporto
alemão ao meio-dia. Um caos total. Muita gente em frente ao hotel, muita gente
no aeroporto. Muitos querendo saber se Bia se recuperou. Pedi a Alicia para
publicar uma nota e ver se acalmam os ânimos. Espero que o fato de
chegarmos ao Brasil às quatro da manhã seja suficiente para desencorajar as
pessoas a se aglutinarem por lá.
– Não, é bo-a noi-te.
– Boa node.
– Não Lian, tipo noise, mas troca o s pelo t, tenta lá...
– Boa noite.
– Isso.
– Boa noite boa noite boa noite boa noite – repetem Lian e Max.
– Isso aí.
– Hummm aulas de português? O que é boa noite? – pergunto.
– Oi meu amor, você acordou, estava com saudades... – Ela levanta e se
pendura no meu pescoço. – Conseguiu descansar?
– Novo em folha. E na carga máxima – sussurro em seu ouvido.
– Não me provoque homem, na seca em que estou, te arrasto de volta para
aquela cabine sem me importar com Laura e Edgar ao lado.
– Nossa seca tem hora marcada para acabar, baby. Assim que colocarmos
os pés no quarto em São Paulo você não me escapa.
– Aleluia!
– Ei, devolve a nossa professora! – reclama Lian. Sento-me na poltrona
em que Bia estava e a trago para o meu colo. Hazel e Kellan dormem em suas
poltronas. Max e Lian aparentemente participavam da aula improvisada.
– Então, o que é Boa Noite?
– É fuck you – diz Max.
– Sério? – Bia ri.
– Não, é Good Evening ou Good Night, no português é igual.
– Boa noite São Paulo. – Max testa.
– Boa noite. – Tento também.
– Ótimo, – Bia diz – agora o agradecimento, Obrigado.
– Ah essa já sabemos dos outros shows que fizemos no Brasil. Obrigado –
diz Max
– Obrigado – repete Lian.
– Vocês fizeram shows no Brasil e a única coisa que falaram no idioma
deles foi thank you?
– É – fala Max.
– Não só no Brasil, nos de Portugal também. Assim como nos da França,
da Grécia, do Japão, da China, da Polônia, da Ucrânia... sabemos thank you
em muitas línguas... – conta Lian.
– Os únicos países em que falamos umas poucas palavras a mais no
idioma nativo são os de língua espanhola. Isso porque fomos obrigados a fazer
aulas de espanhol na escola – emenda Max.
– E agora na Alemanha, porque você nos obrigou... – completo. Bia revira
os olhos.
– Ah meninos... vocês precisam se esforçar mais...
– Por quê? – pergunto – Nossas músicas são em inglês.
– Música é uma linguagem universal. Ela une, emociona e cativa
independentemente do idioma. Nem sempre é preciso saber o que está sendo
dito para sentir o que a música quer transmitir. Não existe nada no mundo que
una um maior número de pessoas em prol de algo subjetivo do que a música ou
a crença. Fé também não tem idioma. Mas o público gosta de saber que o
artista que tanto veneram teve algum cuidado e pensou em formas de se
conectar com ele além da música. E nada melhor para isso do que falar em seu
próprio idioma. O pouco que vocês falem, será muito para eles.
– Tá, o que mais podemos aprender rápido para falar, Biazinha?
– Vocês podem perguntar como se sentem. Como estão?
– Camo Estian? – repete Lian.
– Quase. Co-mo Es-ta-o?
– Como Estao?
– Como Estao?
– Boa... tente você amor...
– Boa noite e obrigado estão de bom tamanho para mim, baby. É mais do
que costumo falar em inglês... – Os outros riem, ela me faz uma careta.
– Chato!
– O que você disse?
– Eu disse que você é um baita de um Chato!
– Chato – repete Max. – Não sei o que é, mas não parece bom e combina
com Oliver.
– Chato. – Lian não fica para trás.
– O que você disse Beatriz? Fale! – Começo a fazer cócegas nela, que se
contorce em meu colo.
– Eu disse que você é chato! – Mais cócegas, ela gargalha e pede
clemência.
– Tá bom, tá bom... chato significa bore, boring, o perfeito party pooper,
ou killjoy. Eu e minha mãe chamávamos papai assim quando ele estava de
“tpm” e nunca lhe dissemos o que significava. Isso o deixava ainda mais chato.
– Eu sabia que isso era bem Oliver... Chato! – Max provoca.
– Você viu o que fez, noiva? Deu munição para estes vermes atirarem
contra mim.
– Sinto muito, noivo.
– Sinto muito não, quero munição contra eles. Vamos lá, palavras em
português que definam Lian e Max em seus piores momentos. Já que todos
estão de acordo que chato me define.
– Hummm, deixe-me pensar...
– Olha lá Biazinha, eu te considero tanto! Até aprendo uma música de Tom
Jobim para cantar no Brasil se você quiser...
– E eu elogio a sua omelete... sempre...
– Rá, Rá, eu trepo com ela! Sou o dono dos seus orgasmos. E ela me
chamou de chato! Preparem-se...
– Problema seu se não faz um bom trabalho, bonitão...
– Opa... aí não! Agora preciso defender o que é meu... o trabalho de
Oliver nesse quesito não tem nada de chato, está mais para knockout.
– Sem detalhes Bia, sem detalhes... – Max torce o nariz.
– Eles só estão tentando tirar o seu foco, anjo... sou muito seguro quanto ao
meu desempenho, não se preocupe... agora vamos lá, minha munição... – Bia
olha atentamente para Max, depois para Lian.
– Bom, acho que Max é um perfeito cavalheiro.
– Porra, isso só pode ser ruim, bem ruim... com o som que tem... não pode
ser coisa boa... não mesmo... – provoco Max.
– Já Lian não há outra coisa que eu possa usar para descrevê-lo melhor do
que fofo.
– Hum, deve ser algo bem nojento... – Lian levanta o dedo para mim.
– Fofo – repito. – E como é o outro mesmo?
– Cavalheiro.
– Cava... le... ile... Porra, essa trava a língua! Não tinha uma mais fácil?
– Ca-va-lhei-ro. – Ela repete. Lian olha algo em seu telefone e começa a
rir.
– Cavaleiro – tento. É isso, não? Bia ri e beija minha bochecha.
– Tá ótimo assim, amor.
– Fofo – digo olhando para um – cavaleiro – olhando para o outro. – O
que significa? – Lian se afina de tanto rir. Ele se levanta, vem até nós e dá um
beijo na bochecha de Bia.
– Você é a melhor!
– Escreve aqui a palavra que você me chamou Bia – pede Max. Ela pega o
celular dele e digita o tal cavaleiro. Ele olha e começa a gargalhar também.
Lian vai olhar o telefone de Max e mostra o seu para ele. Os dois riem e me
olham.
– Chato! – dizem ao mesmo tempo. Epa...
– Você me trolou Beatriz?
– Eu?
– Do que você me fez chamá-los, noiva?
– É... bem...
– É boneca, você acabou de admitir que me acha muito cute. Eu sempre
desconfiei... – fala Lian. – Estreito os meus olhos para Bia.
– E eu sou o gentleman dos seus sonhos... – Aperto-a em meu colo.
– Traidora! Sacana! Peste! – Retorno as cócegas. – Sabe aquela promessa
que te fiz há pouco, brinquedo assassino? Aquela que ia rolar no quarto do
hotel? Pois ela acaba de ser retirada!
– Oliver! – ofega. – Você não pode... – Tenta achar fôlego para protestar
em meio aos risos.
– Ah, eu posso! E sabe como sou em relação às minhas promessas, não é?
Sem knockout para você hoje... Perdeu, Chucky!
– Chato! – Ela cruza os braços e fecha a cara, os caras se dobram de dar
risadas.
Bia
Oliver
Bia
Também te amo.
Aquilo não parece certo. Falta algo. Como se estas mensagens não fossem
escritas por ele... nenhum anjo, nem pequena, nem baby, nem saudades... o
“também te amo” enviado separado, um tempo depois, mais parece uma
“obrigação” a ser cumprida do que um sentimento real.
Me consola o fato de Hazel afirmar que Max está esquivo da mesma forma
com ela e que as mensagens que Laura enviou Oliver nem ao menos respondeu.
Mesmo assim não consigo me livrar da intuição de que faltam peças neste
quebra-cabeças. Espero estar errada, mas algo não vai bem.
Oliver
– Acorda parceiro. Bia está com saudades. Você ouviu todas as mensagens
dela que eu li para você? Ouviu as mensagens de voz que ela mandou? Ela
quer você de volta, bonitão. Eu não sou bom nessas coisas de amorzinho, viu?
Até tentei me passar pelo Mr. Rain gostosão aí, mas Laura diz que não estou
convencendo. Volte para a sua menina, Oliver... Bia precisa de você... – Bia...
Bia... eu reconheço... eu lembro... minha Bia.
– Bia – murmuro, ainda sem abrir os olhos.
– Ah, graças a Deus, graças a Deus... – Lian me abraça e chora sobre meu
peito. – Que susto velho.
– Lian? – Ele se ergue e seca os olhos.
– Oi, bem vindo de volta. – Estou muito, muito fraco. Até falar é difícil.
– Quanto tempo?
– Depois falamos nisso. Está com sede?
– Não... Bia?
– Ela não sabe, fizemos o que te prometemos. Está em casa, com Laura e
Edgar. – Abro os olhos, a luz incomoda.
– Onde?
– No seu apartamento, em Los Angeles. Eu e Max cuidamos de você.
– Obrigado.
– Não gaste energia com isto, por favor. Max está no escritório da Three
Minds numa reunião com Riley e Peter, logo deve retornar.
– Tempo Lian?
– Oliver...
– Me diz.
– Cinco dias. – Fecho os olhos e as lágrimas escorrem.
– Olha, Henry disse que poderia ser de até uma semana, mas que não seria
muito mais que isso... não fique assim.
Já não escuto mais o que Lian diz.
Mesmo com a dor muscular, me viro para o lado e choro. Choro muito.
Não por ter apagado outra vez, nem porque foi por cinco dias, mas porque
isso significa que terei que fazer a coisa mais difícil da minha vida. Terei que
abrir mão dela.
Abrir mão do meu amor, da minha vida e da minha felicidade. Abrir mão de
mim mesmo.
Mas é preciso, é necessário, é o certo, é para o bem dela.
“Não quero ficar triste, Oliver. Não quero mais chorar, me preocupar com
perda, doença, incerteza...” As palavras que ela me disse no hotel em Chicago
invadem minha mente como um mantra. E depois outra que me disse há um
tempo quando falávamos sobre filhos “Não quero a preocupação constante
com alguém quando eu tenho a chance de evitar o sofrimento”.
E ela não merece.
Não merece mesmo viver sem saber o que será do seu amanhã. Já teve
demais disso em sua vida e ainda é tão jovem. Vai encontrar a felicidade e a
paz de espírito que toda garota como ela tem direito.
– Eu vou avisar Laura. – Lian sai e me deixa com a minha tristeza. Este é
só o início dela.
A minha dor nunca mais terá fim.
Mas se esse for o preço a pagar pela tranquilidade dela, eu pago. Faço o
que for preciso.
A felicidade que ela me deu nestes sete meses de convívio é bem mais do
que eu esperava ter em minha existência.
Viverei dela daqui em diante.
Das lembranças dos seus sorrisos de menina que manterei sempre gravados
em minha memória. Dos nossos momentos de paixão intensa, que foram tantos
e tão inesquecíveis.
Tantas pessoas terminam suas vidas sem conseguir um único instante assim.
Das tiradas engraçadas que ela lançou nos momentos mais inusitados.
Dos dias de luz que ela acendeu em meu coração.
Do amor que partilhamos, que foi a coisa mais pura e verdadeira que tive
na vida.
Espero que depois que eu fizer o que tenho que fazer, ela consiga guardar
ainda alguma lembrança boa a meu respeito, do tempo que estivemos juntos e
de tudo que vivemos.
Porque será o que me manterá respirando.
– Oi camarada. – É Henry. Não quero falar, ainda não consigo deixar de
chorar. Ele se senta ao meu lado na cama.
– Acalme-se Oliver, tudo ficará bem. Você está bem. – Não Henry, não
vai, penso. Nunca mais.
– O que você pensa de trazermos Bia aqui e conversarmos todos juntos?
Esclarecermos os fatos?
– Não. Deixe Beatriz onde ela está.
– Porra irmão, fiquei tão feliz quando Lian me... por que está chorando
deste jeito? – Não respondo Max.
– Está assim desde que contei que foram cinco dias.
– E por que foi contar hoje Lian, quando ele mal ficou consciente?
– Ele insistiu.
– Mentisse cacete. Amanhã contávamos com calma.
– Pois eu acho que já estamos cobertos até o teto com mentiras. Isso ainda
vai dar merda.
– Está tudo sob controle. Agora ele acordou, os fatos serão esclarecidos.
– Não falem nada – digo.
– Mas... você disse que falaria com Bia quando voltasse.
– Eu vou conversar com Beatriz quando puder ficar de pé e fazer isto com
alguma dignidade.
– Oliver, quer conversar? Contar o que sente? Não estou gostando da sua
reação.
– Eu só quero ficar sozinho Henry. Por favor, me deixem. Amanhã falamos.
– Oliver, Bia está angustiada por ouvir sua voz. Grave um áudio curto para
ela...
– Não. Amanhã.
Oliver
Bia
É insuportável.
A dor que sinto neste momento é insuportável.
Quero sair de mim, me arrancar de dentro do meu corpo, de perto do meu
coração, para ver se alivia. Mas eu sei que não vai. Oliver saiu sem olhar para
trás. Me disse um monte de asneiras e justificativas mentirosas, e se foi. Como
se tudo que vivemos não possuísse valor algum.
Mesmo tentado, não consigo deixar de entrar num estado de desespero. Me
escoro na mesa para ter algum apoio, mas uma sensação de fraqueza se abate
sobre mim e me deixo cair no chão do escritório. Deito-me, me colocando em
posição fetal e choro, choro muito.
Como vou viver sem ele?
Como?
Ninguém que já perdeu pai e mãe na adolescência, e sobreviveu, deveria
pensar desta maneira, mas esta dor é diferente. É amarga, ela junta as suas
melhores perspectivas e reduz a nada.
Reduz o seu futuro a nada.
Porque não há como se sentir completo na terra, quando já se andou no céu.
É como se toda a sua energia vital fosse retirada de dentro de você e como
castigo você precisa continuar vivendo.
Vivendo sem vontade, sem o que te aquece, sem o que te faz feliz, sem o que
te impulsiona a crescer, sem o que te motiva a realizar seus sonhos.
É cruel.
Não consigo nem entender o que eu sou sem ele e não há como resetar e
muito menos consertar.
Por que, baby? Você me ama, sei que ama! Tem tanta necessidade de mim
quanto eu tenho de você. O que está me escondendo? Tenho que descobrir e
trazê-lo de volta, meu amor. Preciso.
Laura entra, senta-se perto a mim a afaga meus cabelos. Eu choro mais, um
choro alto e sentido. Na esperança de que os grunhidos possam levar parte da
dor com eles. Não levam.
– Acalme-se meu bem. Oliver vai cair em si. Não é o fim, ele só está
confuso, passou por um momento difícil. – Me sento na mesma hora.
– Você sabe o que está por trás disto Laura? – Seguro seu rosto. – Por
favor, se você sabe, me conte... eu não vou suportar...
– Ah Bia...
– Laura, é sério! É a nossa vida. Ele me afastou e só me disse bobagens,
entregou-me sua vida numa bandeja de prata, mas me nega a única que eu
quero no meio disso tudo. Ele. É só nele que eu posso ser feliz. É só com ele
que esta vida que ele me deixou faz sentido. – Ela me analisa por alguns
momentos e vejo o exato instante em que decidiu. Ela vai me contar.
– Eu vou te contar Bia, mas não acho que você saber a verdade o fará
mudar de ideia agora.
– Mas vai me dar meios reais para trazê-lo de volta.
– Tudo bem. Mas vamos fazer isto lá na sala, vou ter com você a conversa
que ele deveria ter tido há muito tempo. Você toma um chá para se acalmar e
conversamos, ok?
– Ok, vou no quarto lavar meu rosto e já te encontro lá. – Ela beija minha
testa e sai. Por um segundo me sinto “menos pior”.
Dura pouco.
Ao entrar no quarto um aviso de mensagem aparece no meu telefone. É de
Oliver.
Tranco a porta. Trêmula e com o coração aos pulos, clico no play. Sei que
não vem coisa boa. Um grito agudo de dor escapa da minha garganta quando
vejo Oliver sentado num sofá, de pau duro e uma garota loira andando até ele.
– Não, por favor, isso não... não... não... – Mas sim.
Assisto em meio aos soluços e olhos embaçados a garota sentar-se sobre
ele e começar a cavalgá-lo. Calma. Pode ser mais uma mentira. Só pode ser
coisa antiga, não?
Não.
Olho a mão apoiada no sofá e lá está a prova.
Ele nem se deu ao trabalho de esconder.
A pulseira que eu dei no seu aniversário e a nossa aliança de noivado estão
lá, escrachados para quem quiser ver. Como se não fosse suficiente para me
convencer, pequenos números no canto do vídeo são. Foi na noite que ele
sumiu.
Esta é a verdade que ele não queria me contar.
Ele me traiu.
Ele me trai e seus amigos tentam encobrir.
Devem ter sido seis dias de orgia.
Não sou suficiente para ele. Nunca fui. Não sou seu amor verdadeiro, seu
amor de alma. Ele não está sentindo a mesma dor que a minha.
Não foram só bobagens o que me disse.
Ele é um filho-da-puta e um ótimo ator, ótimo não, excepcional ator. Porque
até este momento não deixei de acreditar por um segundo que realmente me
amava.
Mas foi mentira. Tudo mentira. Uma farsa.
Motivos? Uma jogada de marketing? Uma tentativa de virar o bom moço
antes de abandonar o barco? Uma experiência? Uma forma de agitar a vida?
Não importa.
Não importa mais.
O que quer que Laura tenha a me dizer, já não me interessa. Nada vai
justificar, ou apagar, o que ele fez comigo, o que ele, por livre e espontânea
vontade, fez questão de esfregar na minha cara. Com o único propósito de me
ferir.
Ele quebrou algo dentro de mim com o seu ato.
Algo que era bom, inocente e puro.
Não sou mais a mesma Beatriz de um minuto atrás.
Nunca mais serei.
Se achava que a dor de antes era insuportável, a de agora não consigo
nominar. Mas apesar da dor não dar trégua, de me sentir humilhada, quebrada e
vazia, sou grata por finalmente me mostrar quem é de verdade.
Oliver é doente.
O fato de abrir mão de tudo para que eu fique aqui? Não sei, peso na
consciência, talvez? Necessidade de me controlar mesmo não me querendo
mais? Não faz diferença.
Não ficarei.
Não quero nada, nada. Já vou carregar um peso enorme pela vida inteira do
qual não poderei me livrar, porque o meu amor é real. Fui verdadeira em cada
palavra e cada gesto. Me entreguei de corpo e alma.
Mas não há tempo para desabar agora.
Tenho que agir rápido.
Mando uma mensagem para Laura dizendo que preciso de alguns minutos e
penso nas minhas alternativas. Preciso de um plano. Para o caso de ele ser
doente ao ponto de depois de tudo isto, tentar ir atrás de mim. Monto um em
minha cabeça, espero que seja o suficiente pelo menos por um tempo.
Oliver
Bia
Oliver
– Seis dias, Riley. Seis malditos dias! Como não conseguimos nada?
– Se vai gritar com a minha mulher, teremos problemas, Oliver. – Peter me
alerta, passo as mãos pelos cabelos.
Há seis dias não durmo, não como, não faço mais nada a não ser pensar em
como trazê-la de volta, pensar nos perigos e dificuldades que ela pode estar
enfrentando, pensar no seu sumiço, meu coração sangra de remorso e
preocupação.
– Desculpe-me, Riley.
– Preciso falar com Rose, se eu ouvir que levantou a voz para ela mais
uma vez, eu vou dar o soco que tenho vontade de dar desde o dia que soube o
que fez com Beatriz. E estou pouco me lixando se vou perder o emprego.
– É justo. – Peter sai e me deixa a sós com Riley em sua sala na Three
Minds.
– Oliver, eu sinto muito. As pistas se perdem dentro da rodoviária. Como
lhe expliquei, várias das câmeras lá dentro estavam inoperantes. Não foi
possível determinar nem o guichê em que ela comprou a passagem, nem o
ônibus em que entrou.
– Ela está sozinha no mundo Riley... sofrendo e sozinha... e os registros
dos passageiros daquele dia?
– Nenhuma Beatriz, nem Bia, ninguém de sobrenome Thompson.
– Como pode?
– Ela deve ter conseguido comprar com outro nome, ou pediu a alguém
para comprar o bilhete para ela. Não sei Oliver, mas ela foi esperta em não
deixar rastros. E teve a ajuda da sorte com as câmeras não ativas.
– O telefone... temos que ligar para o seu novo número e rastreá-lo.
– Tentamos ligar de vários números desconhecidos, ela bloqueou o
telefone para não aceitar chamadas de números que não estejam em seus
contatos. E obviamente bloqueou os contatos que não quer que liguem, pois
tentei do meu número pessoal e estou bloqueada.
– O que mais podemos tentar?
– Sinceramente? Nada além de esperar.
– Não diga isso... – A dor aperta, uma lágrima escorre.
– Você fez merda, muita merda.
– E estou pagando bem caro, tenha certeza.
Se eu tivesse noção naquele momento o real tamanho do preço que
pagaria...
– E em Chicago? – Riley pergunta.
– Depois que estive lá procurando-a e nada, ligo para o porteiro duas
vezes por dia, mas ninguém apareceu...
– Os parentes do Brasil?
– Falo com a tia ou prima dela todos os dias por mensagem. Nenhum
contato.
– Passe o novo número e peça a tia dela para mandar mensagem.
– Você vai me entregar o número? Finalmente?
– Sim, já esgotamos as possibilidades, então... – Riley me encaminha o
novo número de Bia e eu no mesmo instante envio mensagem traduzida para o
português com o auxílio de aplicativo, pedindo a tia dela que tente contato.
Aproveito e mando um áudio para ela também.
“Pequena, precisamos conversar. Me dê uma chance para eu me explicar,
por favor... me diga onde está, anjo.... estou louco de preocupação.”
– Meu áudio foi enviado, mas não entregue...
– Bloqueado. Se a tia e a prima não obtiverem sucesso, não consigo
pensar em mais nada Oliver... só se Hazel...
– Hazel, depois de me dar um belo tapa na cara quando soube de tudo que
aconteceu, deixou bem claro que vai respeitar o tempo de Bia e que eu deveria
ir me foder.
– Ela tem razão.
– Eu estou cem por cento fodido, Riley. Nem uma célula do meu corpo
escapou.
– Me desculpe.
– Se divulgarmos uma foto na mídia dizendo que está desaparecida?
– Ficou maluco? Isso é crime. Ela não sumiu sem deixar rastros, ela é
maior de idade e saiu da casa do ex noivo depois que ele terminou o
relacionamento. Mandou duas mensagens para pessoas próximas avisando o
que estava fazendo, de livre e espontânea vontade.
– Temos que tentar algo...
– Caçá-la publicamente está fora de questão.
– Inferno! Eu vou enlouquecer se cruzar os braços. E contratar uma
agência de investigação?
– Podemos fazer, eles não farão muito mais do que nós fizemos de início,
depois seguiriam cada linha de ônibus que saiu naquele dia da rodoviária e
vasculhariam cada cidade. Como foram muitas vai levar tempo...
– Contrate.
– Tudo bem. Sobre Carol, decidiu?
– Não vou denunciá-la pelo estupro, mas quero que a polícia continue a
investigar e que a exponha para toda a sua família, pais, irmãos. Pode fazer
isto?
– Claro, com prazer. – Riley dá um sorriso sarcástico. Depois põe a mão
na barriga e faz uma careta.
– Está tudo bem?
– Está sim, é que hoje ele tirou para chutar minhas costelas. – Sorrio, com
uma ponta de tristeza porque aquilo já não vai mais acontecer comigo.
– Ele já tem nome?
– Anthony.
– Anthony Lewis. Um belo nome.
– Sim, também acho.
– Vou para casa Riley, me informe quando a equipe de investigação for
contatada.
– Pode deixar.
– Ah... Quando será divulgada a decisão que tomamos em relação à
banda?
– Semana que vem. E sobre o seu noivado...?
– Nada mudou. Ela continua sendo minha noiva. Não há nada a divulgar a
este respeito. – Saio e vou embora.
Bia
Oliver
Bia
Noventa e sete. Noventa e sete mensagens de voz enviadas por Oliver nos
últimos quinze dias acusaram no app assim que coloquei o chip antigo no
telefone para enviar uma mensagem a minha tia. Mais tantas outras enviadas
por Hazel, Laura, Edgar, Lian, Max, Kellan, titia, Eva e até Riley...
Cheguei a tocar o dedo sobre o contato dele, mas não tive coragem. O que
ele poderia me dizer? Que está preocupado, que devo voltar e me apossar da
sua vida e sua família? Que quer me dar mais dinheiro? Ouvir qualquer uma
destas coisas só doeria ainda mais. A única coisa que eu gostaria de ouvir sei
que ele não vai dizer. O vídeo é a prova disto. Então melhor deixar como está.
Mas mesmo sabendo que não tem nada lá que me fará sentir melhor, causou
impacto. Eu que estava prestes a sair de casa e chegar mais cedo no trabalho
para compensar minhas faltas e ocupar a mente, me deixei cair no sofá, erguer
os joelhos na frente do corpo, apoiar a cabeça neles e chorar. Chorar tudo que
segurei nos últimos três dias no hospital, para o bem do bebê.
– Qual o motivo do desespero? – Ergo os olhos embaçados e encontro
Denis com um prato de comida nas mãos parado na porta de casa. Seco os
olhos.
– Nada não. – Ele põe o prato sobre a pequena mesa de dois lugares.
– Sente-se aqui. Venha comer enquanto está quente.
– Obrigada Denis, mas não...
– Venha comer. Não voltará a desmaiar no trabalho nem que eu tenha que
colocar a comida na sua boca todos os dias. Senão por você mesma, faça pela
Denise.
– Julie já não vai com a minha cara, se te ouve falar assim, o próximo
prato de comida que você me trouxer estará temperado com Fubarin[15].
– Esqueça Julie. Você estava chorando pelo tal Oliver, não estava? Não
minta para mim.
– Que eu saiba não tem nada escrito no meu contrato de trabalho que me
obrigue a falar da minha vida particular.
– Você não tem um contrato de trabalho, lembra? Negou-se a me entregar
os documentos. Sendo assim, eu faço as regras conforme as circunstâncias.
– Touché!
– Chorava por causa dele?
– Sim. Eu sinto muitas saudades... sinto a falta dele de uma forma
insuportável.
– Por que não estão mais juntos?
– Ele decidiu que não me queria mais.
– Ele é um idiota.
– Também acho. Mas infelizmente este fato não diminui nem o amor e nem
a dor.
– Não me enrole, Angel, destampe o prato e coma. Não sairei daqui até me
dar por satisfeito. – Mesmo sem vontade, faço o que ele pede.
– Você está me acostumando mal. Já me trouxe comida ontem e antes de
ontem, não tem que fazer isto.
– Tenho um restaurante, não me custa nada.
– Antes de ontem era domingo e ontem segunda, Denis. Você não abre
nestes dias.
– Gosto de cozinhar. O que você pretende fazer? Vai contar a ele sobre a
Denise? – Suspiro.
– Não. Ele não saberá sobre o feijão. Deixarei que siga com sua vida da
maneira que escolheu. Não seremos nós a atrapalharmos os seus planos.
– Não consigo decidir se você está sendo altruísta ou vingativa. É filha
dele. Ele tem o direito de saber. Eu iria querer.
– Nem altruísta, nem vingativa. A questão é que ao terminar comigo ele fez
questão de me magoar profundamente me dando provas concretas de que o que
vivemos não teve tanta importância para ele quanto teve para mim. Não vou
impor minha presença em sua vida. Ele não me quer por perto, e neste
momento eu e o feijão somos uma unidade, não há como conviver com um sem
conviver com o outro. Só vou respeitar os seus desejos e preservar o que
restou da minha sanidade.
– Então quando a Denise puder visitar o pai sozinha, você conta?
– Eu não acho que possa negar ao feijão o direito de saber quem é o seu
pai. Mas terei muito tempo para isto. Denis, se eu der mais uma garfada, vou
vomitar.
– Você comeu quase metade. Acho que para alguém que ficou três semanas
sem se alimentar decentemente, está de bom tamanho.
– Obrigada, vou guardar o resto para a janta.
– Você vai jantar no restaurante, sob a minha vigilância. – Reviro os olhos.
– Quer dizer, se estiver se sentindo bem o suficiente para ir trabalhar...
– Se eu ficar mais um dia inteiro aqui dentro com meus pensamentos e
sentimentos, enlouqueço. No domingo Maggie me distraiu com a sua visita,
mas ontem foi difícil suportar.
– Eu poderia ter lhe feito companhia. Minha casa é ali em frente, caso
você não saiba. As portas estão sempre abertas para qualquer amigo que
precise conversar.
– Você pode encontrar coisas bem melhores para fazer do que servir de
cozinheiro e babá para uma mulher grávida, chefe.
– Posso? Como o que por exemplo?
– Como usar o poder do seu “certo charme” por aí.
– Estou concentrando o poder num ponto muito específico, na missão
encaixar exceções em regras. – Olho muito séria para ele.
– Vou ignorar e levar na brincadeira, pois você me disse que deixaria suas
intenções às claras e eu, por mais que os últimos acontecimentos da minha vida
me lembrem a todo instante que não é uma boa prática, ainda teimo em
acreditar nas pessoas.
– Ótimo. Nos vemos mais tarde no trabalho.
– Não, eu vou agora.
– De jeito nenhum. Você está grávida, não vai trabalhar mais de oito horas
e eu preciso de você lá à noite, quando o movimento é maior.
– Você estaria me fazendo um favor permitindo que me ocupe por mais
horas. – Ele me olha e pensa por alguns instantes.
– Tudo bem, tem alguns trabalhos burocráticos que eu detesto fazer e por
isto estão atrasados. Que é dar baixa nos estoques e computar os itens que
precisam de reposição urgente. Se quiser me ajudar nisto, sentada, quietinha,
até as dezessete horas quando começa o seu turno, pode vir agora.
– Perfeito.
Cato o meu celular, encosto a porta da casa e sigo com ele para o bar.
Ignorando o aperto no peito que sinto desde que soube das noventa e sete
mensagens.
– Você senta ali. – Ele aponta para uma mesa mais ao fundo do espaço. –
Vou pegar um dos notebooks no escritório e já venho lhe explicar o que deve
fazer.
– Ok. – Como previa, assim que ele se afasta e me sento, Julie se
aproxima.
– Vejo que o seu showzinho de quarta passada deu certo. Mas me conte.
Ele já conseguiu o que quer? Já deu para ele? Porque no momento em que isto
acontecer, não demora muito e ele perde o interesse, prepare-se!
– Julie, eu não deveria, você não merece, mas por pena vou te ajudar. Se
ama mesmo aquele homem e quer ter alguma chance real com ele, preciso lhe
dizer que está fazendo tudo errado. Não é cercando-o, fazendo todas as suas
vontades, espantando as outras mulheres e vendendo a alma por este trabalho
que você vai ganhar o respeito e a admiração dele. Você passa uma única
mensagem a ele fazendo o que faz, a mensagem de que o valor que atribui a si
mesma é o mesmo atribuído a um verme rastejante. Para ser notada com
respeito e interesse, precisamos primeiro nos respeitar, ajuda muito também
abrir mão, dar espaço, e permitir que o outro sinta a nossa falta.
– Seus conselhos não me interessam.
– Se quiser aproveitar aproveite, se não quiser o problema é seu. Minha
vida não será afetada nem de um jeito, nem do outro. Já a sua...
– Você dormiu com ele, não dormiu? Me conte. – Olho-a incrédula. Sério
que ela controla a vida dele neste nível? Mas seus olhos estão marejados e isto
me impede de ser estúpida com ela.
– Sente-se aqui comigo. Tenho algumas coisas para lhe contar. Espero que
te deixem mais tranquilas a meu respeito. – Ela faz.
– Eu acabei de sair de um relacionamento e o término foi traumático. Estou
sofrendo muito, passei semanas sem conseguir comer adequadamente e por isto
desmaiei na quarta passada. Denis me levou ao hospital e lá descobri que
estou grávida de dois meses. Eu não sabia. Fiquei internada pois estava
desidratada e desnutrida. Só tive alta sábado à noite. Não pretendo colocar
nenhum outro homem na minha vida agora, muito menos no meu coração. Não
há espaço, meu ex ainda ocupa todos eles.
– Ele está encantado por você. Faz tempo que não o vejo tão interessado
em alguém.
– Não acho que seja verdade, mas se for, te juro que não fiz e nem
pretendo fazer nada para alimentar esperanças. Estou grávida de outro homem,
Julie. Do homem que eu amo. Sou chave-de-cadeia, um bote furado, tango para
manco, uma bucha sem tamanho.
– Julie, volte ao trabalho e pare de importuná-la. – Denis diz e coloca um
notebook na minha frente.
– Ela não está me importunando, Denis. Estava contando o que aconteceu
comigo. Julie tem o direito de saber.
– Ótimo, iria pedir mesmo a você que expusesse a gravidez a toda a
equipe. Assim fica claro que devem pegar leve. – Ele olha fixamente para
Julie, que nitidamente segura as lágrimas em função da grosseria.
– Não precisam pegar leve porque estou grávida. Não estou doente. E
você está sendo desrespeitoso com ela. Julie é sua funcionária, não a filha
rebelde e desobediente que você trouxe para o trabalho porque não tinha com
quem deixar. – Ele me olha boquiaberto e respira fundo.
– Desculpe, Julie. Angel tem razão. Fui grosseiro com você a troco de
nada. – Julie não diz nada, apenas se levanta, liga a TV e volta ao trabalho.
Denis me mostra as planilhas no computador, as notas das vendas das
últimas semanas escaneadas e como devo preencher as informações.
– Acha que dá conta?
– Deixa comigo.
– Obrigado. Preciso ligar para alguns fornecedores, vou para o escritório.
– Antes que se afaste, o paro.
– Denis, ela ama você. Poderia ter mais consideração. – Ele volta para
perto de mim.
– Já perdi as contas de quantas vezes conversamos e deixei claro que não
haverá envolvimento romântico entre nós.
– Ela sofre. E você sabe que a motivação dela para continuar aqui é
apenas o fato de estar perto de você. Se realmente não tem interesse e quer
ajudá-la, deveria demiti-la.
– Já tentei Angel, não é tão simples... ela entrou em depressão profunda e
os pais vieram me pedir pelo amor de Deus para readmiti-la.
– Então ela precisa se tratar.
– Pago sua terapia há dois anos. Foi a condição para readmiti-la. Tento me
conter, juro que tento, mas sinto-me constantemente vigiado, controlado e isto
me tira do sério. Toda vez que me envolvo com alguém, é este drama.
– Não estamos envolvidos, Denis.
– Ainda não. – Olho bem para ele, tentando ver se há sinais de humor, mas
não. Ele está falando sério. – Só deixando as minhas intenções às claras –
completa. Me dá um beijo na cabeça e vai.
Puta-merda, feijão. Sua mãe não tem sorte mesmo. É bom eu já começar a
procurar outro trabalho e outra casa para nós.
Ah, Hazel, como queria você por perto agora. Queria tanto ter o seu colo
para chorar. Tenho tantas coisas para te contar. Eu vou ser mãe, minha amiga.
Mãe! Mãe aos dezoito anos... Aos dezoito e sozinha. Mãe do filho do Deus do
rock. Aquele que me riscou da sua vida... ah não, espera, não posso ser
injusta... a intenção dele era se riscar da minha vida... eu só reajustei os
planos... será que você já está em Londres? Espero que sim e espero que esta
viagem lhe faça mesmo bem. Queria tanto lhe enviar a foto do meu feijão... o
seu afilhado...
– ... nova notícia envolvendo o vocalista da The Order. – Ouço ao longe.
Meus olhos são automaticamente atraídos para a televisão. Meu coração
dispara. – Depois de agitar o mundo e os tabloides com a turnê Another Life, e
divulgar na semana passada que a banda tirará um ano sabático após o final da
turnê, Oliver Rain e a noiva Bia Thompson estampam a nova campanha da
Tiffany & Co. – Julie e Carlos, da cozinha, param para olhar a notícia.
Pelo visto, ele ainda não divulgou o fim do noivado. Uma foto lindíssima do
nosso ensaio para a famosa marca de joias aparece na tela.
É a minha foto preferida do ensaio. Em preto e branco. Eu com o colo nu,
ele também sem camisa. Só um belíssimo, jovem e moderno colar de ouro
branco de várias camadas em meu pescoço, cada uma com um tipo de pedra
diferente, pérolas negras e brancas, diamantes translúcidos. Oliver de perfil,
lindo como sempre, com os dedos enrolados numa das voltas da joia, me
puxando para mais perto de si através dela. A testa quase colada na minha
têmpora. Meu rosto, apesar de estar de frente, tem uma leve inclinação em sua
direção, meus olhos negros o olham de lado e meus lábios estão levemente
afastados, como se estivessem arfando de tesão. Seus olhos focam a minha
boca. A cor da imagem está no brilho da joia e da luz em nosso olhar. Em seus
olhos felinos eu vejo desejo e amor, muito amor.
Como pode? Minha mão pousa instintivamente em minha barriga e uma
lágrima escapa, mas eu trato de secá-la rapidamente.
Porra, que saudade!
– Eu sabia que te achava parecida com alguém – diz Carlos. Merda! Nem
me liguei disso. – Você tem os mesmos traços dela. O cabelo e a cor dos olhos
são diferentes, mas a boca, o nariz e o formato dos olhos são muito parecidos.
– Quem me dera... – desdenho de mim mesma.
– Ele tem razão. – É a voz de Denis. – Também tinha a impressão de que te
conhecia de algum lugar. Acho que matamos a charada. Quem nunca viu o clipe
dos dois com todo o auê que gerou? Você se parece muito com ela.
– Não viajem vocês dois. – É Julie. Boa garota! Use o seu ciúme a meu
favor, me ajude. – As duas não tem nada a ver uma com a outra. Pense se
Oliver Rain se interessaria pela Angel... – Ela ri. Tomara que ele não ligue os
Olivers da história.
– Sou obrigada a concordar com você, Julie. – E, forçadamente, rio junto.
– Pois eu acho que ele é que seria um homem de sorte, caso Angel se
interessasse por ele. – Julie bufa. Ah Denis... desista! Não valho o seu esforço.
Não sobrou nada aqui para ninguém.
– Perdoe pelo menos as grávidas, Denis – adverte Julie. A matéria
termina, o comercial entra na TV e Carlos volta para a cozinha.
– Não tenho nada contra grávidas, Julie. Se Angel deixar, cuido dela e da
Denise. – Porra Denis, não força!
– Ah? Denise?
– É, o nome da bebê dela. – Julie me lança um olhar furioso. Pronto, toda a
conversa que tivemos antes foi para o ralo.
– É uma menina?
– Não.
– Sim – dizemos os dois ao mesmo tempo.
– E vai chamá-la de Denise? – Ri debochadamente.
– Se minha intuição estiver correta, será um menino. Mas independente do
sexo, eu o chamo provisoriamente de feijão. Denis é que veio com o papo de
que será uma menina, passou a se referir ao meu bebê como Denise e se ele
continuar insistindo em algo que eu já deixei claro que não vai rolar, –
enfatizo muito a última parte – terei que procurar outro chefe. – Ao invés de
abalá-lo, minhas palavras o fazem rir.
– Denise é muito melhor do que feijão – opina e volta para o escritório.
Oh, homem irritante!
– Me chamou?
– Sim, Angel, por favor, sente-se.
– Aconteceu alguma coisa? – Meu sangue gela. Será que Denis ligou os
pontos sobre a minha identidade?
– Aconteceu e eu já perdi as contas de quantas pessoas ligaram ou vieram
até o bar perguntando a mesma coisa. – Acho que a pouca cor que adquiri nos
últimos dias, mesmo com os episódios de febre ainda ocorrendo regularmente,
acabou de sumir do meu rosto.
– Perguntando o que?
– Qual é a noite em que a cantora da voz de anjo se apresenta.
– Ah? – Respiro aliviada.
– Sua pequena apresentação no noivado do Preston semana passada
ganhou fama. Querem ouvi-la mais vezes aqui. Você toparia? Normalmente
tenho algumas bandas de cidades vizinhas que tocam aqui na alta temporada.
Na baixa sempre foi complicado, Sea Bright é uma cidade muito pequena e
temos poucos talentos que residem aqui. Mas se você topar, pode ser bom para
o lugar ter música ao vivo às sextas e sábados toda semana. Te pagaria cinco
por cento do faturamento da noite, por uma hora e meia de show, das nove às
dez e meia, o que me diz? – Cantar na noite? Nunca foi meu objetivo, mas
dentre as minhas possibilidades atuais, pode me render uma boa grana.
– O que você quer que eu cante?
– Isto fica por sua conta, prepare o seu repertório, músicas conhecidas,
claro. Eu pensei que poderíamos abrir para pedidos dos clientes, mas você só
atenderia os que conseguir. Nas noites em que cantar, seu expediente encerra
após a apresentação.
– Alguém vai me acompanhar com teclado ou violão? Ou será playback?
– Pensei em tornar Paul fixo nestas noites para acompanhá-la. Ele toca
tanto teclado quanto violão, poderiam variar.
– Tudo bem. Eu topo.
– Ótimo. Acha que já conseguem iniciar amanhã?
– Vai depender mais de Paul do que de mim. Músicas para cantar não me
faltam, resta saber quais ele consegue trocar. Veja se ele pode vir amanhã à
tarde para definirmos juntos o repertório.
– Ok. Vou ligar para ele.
– Só isto chefe?
– Como você está?
– Fora os enjoos pela manhã, e alguns episódios de febre, estou bem.
– A febre...
– Segundo a doutora, emocional.
– Quer consultar outro médico?
– Obrigada, mas confio na Dra. Deva. Ela fez vários exames.
– Se precisar de alguma coisa, avise. Prometi cuidar da Denise.
– O feijão agradece. – Me viro para sair.
– Angel?
– Sim?
– Quando vamos confirmar?
– Confirmar?
– Que é mesmo a Denise que está aí. – Entro na provocação dele.
– A próxima consulta é daqui a três semanas. Quem sabe tenho sorte e o
feijão mostra o pênis. – Se puxar ao pai dele, não conseguirá esconder, penso.
– Bom, garanto que a Denise é uma menina comportada. Não vai mostrar
nada para ninguém.
– Veremos, veremos...
As noites de música ao vivo transformaram o Secret Hidden no novo point
das sextas e sábados na baixa temporada. Outros estabelecimentos precisaram
reinventar suas programações para atrair público, pois a preferência é o bar do
Denis, pela música. O local simplesmente lota, todas as mesas, todas as
banquetas do bar, pessoas com seus drinks de pé apenas curtindo o som.
Denis só abre espaço para pista de dança no verão, durante a baixa o
ambiente se tornava mais familiar e romântico. Mas está revendo a sua decisão
para que possa acomodar mais pessoas de pé e agitar a noite.
Nosso repertório é voltado para o rock, mas sem a potência da batida de
uma banda, visto que não temos bateria, nem guitarra. Ficamos na voz e
teclado predominantemente, pois é o instrumento de mais domínio de Paul, e as
vezes um violão elétrico. Mas sempre que possível atendemos a pedidos e aí,
pode rolar um pouco de tudo, inclusive músicas da The Order, que eu evito a
todo custo cantar, pois não sei se seguro sem chorar.
A dor dentro de mim não ameniza. Consigo abstrair melhor, já não choro a
cada minuto, mas não porque dói menos, e sim porque me habituei a ela. O
feijão é o meu ouvinte, converso muito com ele, de noite quando me deito e de
manhã quando acordo. Não escondo nada do que vai em meu coração.
Inclusive o quanto tenho medo da sua chegada e de não conseguir ser uma boa
mãe para ele.
Amanhã de manhã é o dia da consulta com a Dra. Deva, em que tentaremos
confirmar o seu sexo outra vez. No mês passado não tivemos sucesso. Ele
estava virado e com as pernas fechadas numa posição difícil de acessar. A
médica disse que até arriscaria um palpite, mas as chances de errar eram altas.
Preferi não saber. Independente de feijão ou Denise, eu já amo tanto este
serzinho! Claro que para Denis, o fato de não mostrar, confirmou que se trata
da Denise.
O Bar está quase fechando, termino de limpar as mesas enquanto Denis
fecha o caixa. Ele proibiu Julie de continuar com os dois turnos, então nos
finais de noite sem música ao vivo, normalmente somos os últimos a deixar o
salão.
De repente as luzes diminuem e Perfect do Ed Sheeran começa a tocar no
som ambiente. Tenho até medo de imaginar o que ele está planejando.
Denis não tentou nada explicitamente ainda, mas suas indiretas continuam
constantes e o cuidado exagerado comigo e o feijão, também.
Talvez se eu tivesse o conhecido antes, existiria alguma chance de ele
penetrar no meu coração em algum nível. Ele é um homem bom, muito bonito,
sexy, inteligente e de bem com a vida. Não haveria motivos para eu não lhe dar
uma chance e conhecê-lo melhor.
– Dança comigo? – pede, se aproximando de mim por trás.
– Não acho uma boa ideia, Denis. – Me viro de frente para olhar em seus
olhos.
– Só uma dança, Angel.
– Você sabe que não é.
– Por favor. Não vou forçar nada, mas me permita uma mínima chance de
aproximação, vamos. Só esta dança. – Estende a mão para mim e eu resolvo
ceder.
Ele me leva até um espaço improvisado entre as mesas, pousa meus braços
em seu pescoço e enlaça minha cintura. Me dou conta que é a primeira vez que
faço isto com outro homem. Só dancei assim com Oliver. Nem com meu pai
tive a chance de um momento destes.
Denis me estreita o quando pode em seus braços e cola o queixo na minha
têmpora enquanto declama pequenos trechos da música super romântica. Fecho
os olhos e torço de verdade para que ele não tente avançar o sinal. Não quero,
não estou preparada, não sei como reagiria. Ele sobe uma mão pelas minhas
costas, enquanto a outra continua em minha cintura.
– Você sabe o quanto eu te desejo?
– Sim. Você faz questão que eu saiba.
– A cada dia que passa a vontade de tê-la assim, em meus braços, me
consome.
– Denis...
– Gosto de você, Angel. Me ouça, por favor.
– Estou ouvindo.
– Quero te conhecer de verdade. Quero cuidar de você, de vocês. Quero
construir algo com você. Não me pergunte porque, nem de onde vem essa
vontade, pois eu não saberia lhe dizer. Mas desde o dia em que Maggie
apareceu aqui com você, eu fiquei balançado.
– Você mal me conhece.
– Conheço o que você deixa que eu veja, mas sei que tem mais.
– Tinha. Nem eu entendo ainda o que sobrou de quem eu era.
– O que sobrou já me fascina pra caramba.
– Sabe o que eu acho? Que eu te fascino apenas porque fui a única que não
derreteu por você no primeiro olhar. – Ele sorri.
– Não, por isto você me desafia e estimula, mas meu fascínio vem de outra
coisa. Do seu jeitinho doce e ao mesmo tempo decidido, da energia boa que eu
sinto perto de você, da sua personalidade, da sua força e claro, da sua beleza.
Mesmo machucada do jeito que você chegou aqui há dois meses, não conseguiu
esconder nada disto. Fico pensando como é a Angel inteira.
– Nunca mais serei inteira novamente.
– Não diga isto.
– Você não faz ideia.
– O que falta? Me dê um norte. O que falta para você me abrir uma
pequena fresta e se dar a oportunidade de experimentar?
– Eu ainda sou dele, Denis. – Ele desliza o nariz pelo meu rosto. É tão...
estranho.
O que eu quis provar para mim mesma aceitando dançar com ele? Que estar
assim com outro homem não seria tão diferente? Que em algum momento eu
conseguiria seguir em frente? Se foi, o tiro saiu pela culatra. Só reforçou o que
eu já sabia muito bem.
– Me deixe ajudá-la a criar novas memórias. – Roça os lábios no meu
queixo.
– Eu o amo desde os oito anos de idade. Meu coração ainda é dele. Meu
corpo ainda é dele. Eu sofro e queimo de saudades todos os dias. Eu carrego o
filho dele na barriga. Por favor...
– Angel... eu quero você para mim. Deixe-me beijá-la – fala ofegante,
visivelmente excitado e antes que eu proteste, ele une sua boca a minha e eu
sinto minha alma se esvair no mesmo instante.
Uma dor me rasga, me sinto mais vazia do que nunca e violada. Não, não
permito que apague as impressões que Oliver deixou pelo meu corpo. Que tire
o gosto dele da minha boca. Não vou deixar. Ele não tem esse direito. Isto é
meu! É o meu troféu! É tudo que eu tenho, tudo que me sobrou. É o que me
aquece! As marcas e o meu bebê. – Empurro Denis com todas as minhas forças
e me deixo cair no chão, aos prantos.
– Angel... – Ele tenta se aproximar.
– Não toque em mim.
– Não vou. – Ele senta-se ao meu lado no chão. – Me perdoe.
– Você não podia! Não podia! Eu te pedi...
– Desculpe... eu... estou apaixonado por você.
– Mesmo assim, não lhe dá o direito! Nunca te enganei ou dei esperanças.
– Eu sei, querida.
– Não me chame assim – grito. – Quer saber? Eu me demito.
– Não, por favor. – Tento me levantar, mas ele me impede e me abraça.
– Você traiu a minha confiança. Forçou uma situação que eu não queria. –
Soluço em seu peito.
– Me desculpe, me deixei levar pelos meus sentimentos. Senti ciúmes do
seu ex. Quis provar para você o meu valor, que eu poderia te fazer se sentir
feliz outra vez. Fui precipitado, claro que você não está pronta. Só não se
afaste, não me afaste.
– Eu preciso. Senão serei para você, o que você é para Julie.
– Não, não será.
– Serei sim, você vai se convencer de que me ter por perto basta.
– Não. Estabeleceremos limites. Eu não tento mais nada até Denise nascer,
até ela ter uns três meses... Ficaremos só na amizade. Depois deste tempo,
você considera me dar uma chance, que tal? Se eu não conseguir te conquistar
nesta chance, juro que desisto e parto para outra.
– Não vou prometer isto.
– Não precisa prometer nada. Só não descarte a ideia.
– Nem descarto, nem considero. Denis, se eu ficar será o último voto de
confiança que lhe dou. Se fizer um mínimo movimento para descumprir o que
me prometeu agora, estou fora! Se vire para arranjar outra cantora.
– Justo. Se me permite um comentário, ele não merece.
– Permissão negada. Você não o conhece, não conhece a nossa história.
– Ele te chutou. E se entendi direito, te traiu.
– Sim, ele me traiu e fez questão de me mostrar de forma bem cruel, e isto
eu não perdoo. Não perdoo, mas também não entendo...
– Como assim não estende? Ele foi um filho-da-puta, ponto.
– Sim, mas antes disto... Ele fez tanto por mim. Me deu tantas provas de
amor... mesmo na hora de terminar, a forma como tentou arranjar as coisas...
ele estava prestes a deixar a sua vida para mim, Denis. Sua família, sua casa,
sua empresa, o lugar que ele amava, tudo...
– Peso na consciência.
– Pode ser, mesmo assim, havia algo que ele não queria me contar... só que
o vídeo da traição anulou qualquer outro fator relevante.
– Ele te encaminhou um vídeo dele trepando com outra mulher? – pergunta,
incrédulo. Não respondo.
– Ele foi o seu único homem, não foi?
– Qual a relevância desta pergunta na nossa conversa?
– É que o jeito que você reagiu à minha tentativa... ele foi e você quer que
continue sendo... só ele... Ele é mesmo um baita de um filho-da-puta que não
sabe a sorte que tem.
– Vou terminar o trabalho e vou para casa. – Ele suspira quando percebe
que corto a conversa o deixando no vácuo outra vez.
– Deixe, amanhã terminamos. Vá descansar, sairemos às nove.
– Sairemos?
– É, para te convencer de que a Denise é a Denise e você parar de chamar
a pobrezinha de feijão.
– Eu vou sozinha.
– Não, vou levá-la.
– Vou sozinha, Denis. Ainda mais depois do que rolou aqui...
– Olha, se não quiser que eu participe do exame, tudo bem. Deixo que
curta o momento imaginando que o fantasma do seu ex traidor está lá,
compartilhando-o com você. Não precisa dividi-lo com um amigo real. Mas eu
vou levá-las até o hospital. E fim de papo.
Oliver
Bia
– Você não vai dar folga para a mamãe hoje, não é, bebê? Está impaciente?
Não vê a hora de estar aqui, do lado de fora? Tenha paciência, filho. Ainda
faltam dois meses. Você precisa ficar aí, quentinho e protegido por dois meses,
ok? – digo enquanto caminho de volta do banheiro para a mesa onde Maggie,
Paul e Denis me aguardam. É sábado, o bar fechou, estamos comendo uns
petiscos e bebendo, eu no caso um suco.
– Falando com o feijão? – Denis pergunta.
– Sim, ele está elétrico. Não parou de se mexer por um segundo enquanto
eu cantava.
– Ele não está elétrico, está revoltado.
– É mesmo? E por qual motivo meu filho estaria revoltado?
– Qual motivo? Ele está prestes a nascer e você ainda se refere a ele como
feijão.
– Aff, de novo?
– Sem pressão, Denis – diz Maggie.
– Não, Maggie. Não é como se ela estive indecisa entre três ou quatro
opções de nomes e resolveu esperar o bebê nascer para ver qual combina mais
com a sua carinha. Ela não quer escolher um nome, esta é a questão. – Engulo
em seco.
– E por que Angel não iria querer escolher um nome para o filho? – Paul
pergunta.
– Você responde Angel, ou eu respondo?
– Não tenho nada a declarar.
– Então eu falo. Ela não quer escolher o nome sozinha. Este é o ponto. Ela
quer a opinião do pai.
– É verdade amiga? – respiro fundo.
– Não sei... eu... sim, acho que é isto mesmo. – Maggie me entrega o meu
próprio telefone.
– Ligue. Conte de uma vez ao homem que ele será pai, Angie. Deixe-o se
aproximar se esta for a vontade dele. Você o ama. Quem sabe não se acertam...
Ah, se eu pudesse ter feito isto por Mary Ann...
– É o que eu tenho dito a ela... mesmo me doendo o coração. – Denis
completa.
– Não!
– Por que não? – Paul pergunta.
– Eu não vou aguentar se ele nos rejeitar. Preciso guardar o mínimo de
estabilidade emocional para a chegada do feijão.
– E vai esperar para registrar o menino quando? Quando tiver uns sete
anos e puder decidir o próprio nome? Até lá o chamaremos de feijão?
– Que tal o nome do seu pai?
– Robert? Eu pensei, mas não... acredito que cada pessoa importante para
nós deve ser única em nossas vidas.
– Então não adianta eu sugerir Oliver Júnior? – Denis solta
debochadamente. Abro a boca para responder, mas antes meus olhos focam o
rosto de Maggie e pela sua expressão eu sei que fui descoberta.
– Oliver? O nome do pai do seu filho é Oliver? – Olho-a em desespero,
suplicando silenciosamente que não revele nada.
– Por que o espanto? – pergunta Paul. Por favor, Maggie, por favor.
Depois eu lhe conto tudo, mas não me exponha...
– Na-nada..., – gagueja – é que eu acho um nome lindo. Se Mary Ann fosse
menino... E eu sou fã do arqueiro verde, então no meu caso já estaria decidido.
– Ela dá de ombros. Obrigada, querida, muito obrigada. Respiro aliviada.
– O nome do pai dele também não é uma opção – digo.
– Não há nenhum nome que seja especial para você? Da sua infância? –
questiona Paul. Penso por um instante e um nome me vem à mente. Eu gosto,
muito. Será? Será que Oliver iria gostar?
– Há um. Já contei a vocês que minha mãe era brasileira, não contei?
– Sim – diz Paul.
– Quando mamãe estava grávida, ela e papai decidiram que o bebê teria o
nome ou da avó materna ou do avô materno. Meu pai dizia que meus avós
maternos foram as melhores pessoas que ele conheceu. Então eu nasci e ganhei
o nome dela. Pensei que talvez pudesse dar a ele o nome do meu avô, eu não
cheguei a conhecê-lo, então ele não foi especial em minha vida efetivamente.
Mas foi especial para papai e seria uma forma de homenageá-lo indiretamente.
Além disso, este bebê foi concebido no Brasil, então um nome que também é
brasileiro... – Putz! No momento em que as últimas frases escapam da minha
boca, percebo a merda que fiz. Acabei de dar mais uma pista.
– Concebido no Brasil? – Denis me olha intrigado.
– Sim. Tenho parentes lá, estávamos visitando. – Maggie sorri para mim.
– Então sua avó era Angel. E seu avô? – Maggie muda o rumo para me
ajudar.
– O nome dele era Benjamin.
– Benjamin – ela testa. – Nosso pequeno Ben. Eu amei! – Nosso pequeno
Ben. Repito em minha mente. Sim, eu também amei. Ainda mais sabendo o que
a palavra bem representa em português. Ben é o meu maior bem. Ele me fez
bem. Descobrir a sua existência, apesar do medo, me trouxe esperança e um
motivo válido para seguir e não me entregar a dor. O que você acha Oliver?
Do seu filho se chamar Ben? Você gosta? Benjamin Rain... soa bem não?
Sorrio.
– Nosso pequeno Ben – repete Denis.
– Filho, acho que você tem um nome – digo olhando para baixo e pondo a
mão em meu ventre já bastante avantajado. Ben se mexe em concordância.
Sorrio outra vez. Parece que ele aprovou. Paul ergue o copo.
– Um brinde à saúde de Benjamin Mendes – fala. Thompson, penso, por
enquanto será Benjamin Thompson.
– À Benjamin, nosso pequeno Ben – diz Maggie e todos erguemos os
copos, brindamos e repetimos, à Benjamin.
– Queridos, a nossa conversa está ótima, mas eu e o fei... o Ben
precisamos dormir. – Denis sorri. – Maggie, está tarde, Mary Ann certamente
está tranquila em sua caminha, sonhando há horas. Fique lá em casa esta noite.
– Fixo o olhar em seu rosto deixando clara a minha intenção de conversarmos.
– Tudo bem. Aceito.
– Ótimo. Vamos?
– Vamos.
Seguimos para o meu pequeno cafofo, não falamos nada durante o curto
percurso. Entramos, entro direto no quarto e ela vem atrás de mim. Antes que
comece, eu falo.
– Maggie, temos muito a conversar, você deve estar curiosa e cheia de
perguntas, mas vamos fazer isto quando estivermos tranquilas e confortáveis.
Vou te emprestar um pijama, troque-se e relaxe, depois farei o mesmo. Só
tenho esta cama de casal, meu sofá é pequeno e muito desconfortável. Não se
importa em dividir a cama com uma mulher grávida, não é?
– Se você prometer que vai controlar os seus hormônios e não me atacar...
– Rio.
– Meus hormônios estão mesmo incontroláveis, as minhas noites nos
últimos meses têm sido insuportáveis... É difícil não ter... – Engulo em seco. –
Não ter Oliver por perto... tenho que me virar com as lembranças e a minha
mão. – Balanço a mão para ela, que ri. – Só que isso nem chega perto da
sensação de tê-lo em...
– Ah, posso muito bem imaginar... – Ela me interrompe e se abana ao
mesmo tempo. – Rimos.
– É... bem por aí... mas como eu ia dizendo, fique tranquila. Você é linda e
sexy, contudo, lhe falta algo bem expressivo no meio das pernas para que eu
sinta vontade de atacá-la.
– Ótimo, porque eu também sou chegada nessa tal coisa expressiva aí que
você falou. Já que alinhamos muito bem as nossas expectativas, – ela ri
novamente – claro que não me importo em dividir a cama com você.
Maggie se troca e depois que desocupa o banheiro é a minha vez. Bom, já
que a hora da verdade chegou, me desfaço das lentes verdes, da peruca escura
de franjinha, deixando meus olhos negros e meus cabelos castanhos e
encaracolados livres do seu confinamento habitual. Sou eu mesma novamente.
– Esta é a sua mãe, Benjamin – digo me olhando no espelho e acarinhando
minha barriga. – E ela ama você, demais.
Tomo um banho rápido, me visto, escovo os dentes e volto para o quarto.
– Então é você mesma! Bia Thompson – diz Maggie ao me ver, pela
primeira vez, como realmente sou.
– Sim, Maggie, sou eu. – Sento-me na cama ao seu lado. – Prazer, Beatriz
Thompson. – Estendo a mão para ela pela segunda vez.
– Prazer. – Ela aceita mão estendida. – Eu sabia! Já tinha te falado que sua
fisionomia e sua voz eram muito parecidas com a dela e você desconversou...
– Desculpe, mas naquele momento não poderia me revelar a você. Eu
estava aqui há um mês e mal nos conhecíamos.
– Eu sei, não estou lhe cobrando. Relaxe. Quer dizer que sua avó era
Beatriz?
– Sim, Ana Beatriz, na verdade.
– E de onde surgiu Angel Mendes?
– Foi dito sem pensar... eu não estava preparada, você me achou familiar e
na hora tive que improvisar. Acho que o Angel veio pelo fato de Oliver sempre
se referir a mim assim. Mendes era o sobrenome do meu avô, Benjamin.
– Então você era o anjo de Oliver Rain. E ele registrou isto numa música.
Guardian Angel.
– Sim, eu era o seu anjo, já fui sua pequena guardiã, dentre outras coisas
que ele dizia que eu era... mas que, bem... hoje estou aqui, não é?
– Está. E estamos ajudando a esconder a mulher e o filho do Deus do rock.
Prevejo grandes chances disto nos trazer encrencas no futuro...
– O filho dele sim, já a mulher, não mais...
– Pelo que saiu na mídia, vocês pareciam tão perfeitos juntos. Tão
apaixonados. Os vídeos que vi de vocês dois cantando lado a lado, o jeito que
ele te olhava, os beijos que te dava... os shows de Chicago e do Brasil foram
tão emocionantes. O clipe de Eden, senhor! Toda vez que assisto eu fico louca
de tesão. Não entendo como podem ter terminado assim... O que houve? Se é
que eu posso perguntar...
– Pode sim. É uma longa história, Maggie, começou quando eu tinha oito
anos. Estou disposta a te contar e farei, porque você foi amiga e gentil comigo
desde o primeiro dia, eu confio demais em você. Mas entende o quanto me
arrisco abrindo minha história, não entende? Não quero que os outros saibam.
– Entendo, claro. Por mim ninguém saberá, e caso não se sinta confortável
em se abrir comigo, tudo bem. Saiba que isto não mudará nada entre nós.
– Obrigada, querida. Mas quero que me conheça, já planejava me revelar.
Gosto demais de você, Maggie. Amo Mary Ann. Nossos filhos crescerão
juntos, serão amigos, espero. Quero que conte comigo como eu sempre pude
contar com você. – Ela funga e seca uma lágrima.
– Acho que foi a coisa mais bonita que alguém já me disse. –Abraço-a e
beijo sua bochecha.
– Está pronta? Não será uma conversa breve. Se estiver com muito sono...
– Ah não, estou curiosíssima. – Rimos.
– Muito bem. A primeira vez que eu vi Oliver frente a frente... – começo.
Conto tudo a ela. Repasso nossa história ponto a ponto, todos os momentos
importantes, bonitos e impactantes. É como se eu revivesse tudo outra vez
enquanto exponho-me da forma mais verdadeira e emocionada possível, a ela e
ao meu filho. Aquilo também foi para Ben. Narrei todo o amor que permeou a
sua concepção com a mão apoiada em meu ventre. Até o fatídico relato da
separação. Termino com a informação das noventa e sete mensagens que eu
não tive coragem de ouvir. Ela ouve tudo atentamente, não me interrompe uma
única vez.
– Angel, desculpe, Bia... – Ela me segura pelos ombros e me encara
seriamente.
– Pode continuar me chamando de Angel, vai ser mais fácil para você
manter quando estivermos em grupo.
– Ok. Angel, o que você está esperando, para recolocar aquele chip no seu
telefone e ouvir o que ele tem a lhe dizer? É óbvio que tem algo mal contado
nesta história. Estranho demais. Quando uma pessoa não está satisfeita com a
sua vida cotidiana ela dá sinais, não acontece assim, do nada, de uma hora
para outra. Ele foi seu único relacionamento, mas ouça quem já embarcou em
alguns e nunca teve sorte. Você perceberia. Ele começaria a se afastar, a ficar
mais frio, menos receptivo. Se envolveria cada vez mais com o trabalho, sairia
e voltaria tarde, coisas do tipo. Mas pelo que me contou, Oliver não
desgrudava de você. E ele quis protegê-la, lhe deixando tudo.
– Ele me mandou um vídeo, Maggie. Em plena ação. Usava a nossa
aliança de noivado e a pulseira que eu lhe dei. Nem este respeito ele teve.
Nem a consideração de retirar a porra da aliança!
– Ainda acho que você precisa ouvir. Senão por você, por Ben.
– Eu sei. E eu vou fazer, mas não agora. Eu pareço forte, recuperada, mas
não estou. Eu ainda choro todos os dias, a febre emocional ainda me abate toda
semana. Eu recolhi os cacos e achei alguma ordem dentro de mim pelo meu
filho. Preciso deste mínimo de paz e controle para recebê-lo bem, para passar
pelos seus primeiros meses de vida com alguma alegria nos olhos e não
abalada e destruída outra vez, que é o que vai acontecer caso o que eu ouça
seja o golpe final ao invés do sopro de esperança que meu coração teimoso
almeja. – Respiro fundo para então continuar.
– E mesmo que Oliver se diga arrependido naquelas mensagens, não posso
ignorar o vídeo... ele estava lá de livre e espontânea vontade, Maggie. Como
simplesmente perdoar e esquecer? Como confiar outra vez? Como acreditar
quando ele disser que me ama? Como olhar para ele e não lembrar daquelas
imagens? Além do fato de que fez com a intenção de me afastar e deixar o seu
ponto muito claro. Ele não é homem de uma mulher só. Não vejo como
superaríamos isto, amiga...
– Quando você pretende contar a ele sobre o bebê?
– Depois que passar o desmame, quando Ben já não dependa tanto da
minha presença constante. Quando for possível deixar que Oliver passe
algumas horas a sós com o filho.
– Eu entendo todos os seus pontos, sei que é uma situação complicada,
mas ainda acho que tem algo sinistro nisso tudo. Não fecha! Eu ouviria as
mensagens ou ligaria para ele. Porém, estou aqui para te apoiar, Angel. No que
decidir, pode contar comigo.
– Obrigada, Maggie. Sei que posso.
– E Denis, continua se insinuando?
– Sempre que pode. Mas nunca mais fez nada além de soltar indiretas
verbais inocentes.
– Ele está contanto os dias para Ben nascer e ter três meses, encerrando
assim o prazo que te deu.
– Eu não prometi nada a ele.
– Não precisa. Ele vai vir para cima com tudo, esteja preparada. – Ela
leva as mãos ao rosto. – Se ele soubesse quem é o pai dessa criança...
– Antes de procurar Oliver, contarei a verdade a ele. Vamos dormir agora?
– Ah sim, por favor. – Nos acomodamos e eu apago a luz.
Capítulo 33
Bia
– Caramba doutora, está doendo demais, faz isso parar – grito assim que a
última contração termina. – E dói insuportavelmente mesmo, é uma dor que te
impede de raciocinar, de ser humana, te deixa parecendo um bicho
incontrolável, com vontade de berrar, bater, terminar com aquilo.
E ela vem agora de dois em dois minutos. Horrível. Já xinguei Oliver até a
quinta geração por fazer isto comigo. Pela primeira vez desde o término, fico
feliz que não esteja por perto, porque minha única vontade seria esganá-lo.
– Vou examiná-la de novo. Ver quanto progresso fez. – E assim meus dois
minutos de alívio são encurtados pelo também nada agradável exame de toque.
– Sete dedos. Muito rápido mesmo, a dor realmente é insuportável nestas
circunstâncias. E lhe digo que piora muito mais daqui para frente. Tem certeza
de que não quer reconsiderar a questão da anestesia?
– Ah quero! Quero sim. Aplique em dobro! – Ela ri. A contração aperta.
Essa ideia naturalista de aguentar tudo na unha, muito bonita na teoria, na
prática... – Pode mandar fazer a porra da anestesia doutora, senão vai sobrar
para a senhora e até para o Ben, já que o responsável não está aqui para que eu
descarregue nele. – Ela ri mais.
– Para o bebê também não é um processo fácil.
– É o que ameniza as coisas para o lado dele. – Me dobro na cama e solto
um urro de dor que se alonga e alonga por infindáveis minutos.
– O anestesista já está vindo. Só mais uns instantes e tudo vai passar. – Ela
massageia as minhas costas. Logo depois vem o pequeno bálsamo. O
anestesista chega ao mesmo tempo. Prepara o sedativo e antes que consiga
aplicar, nova contração surge e temos que esperar passar. Então recebo a
anestesia, e o alívio é instantâneo. Respiro. Virei gente outra vez.
– Querida, vou diminuir a luz e tente descansar o máximo que conseguir.
Guarde as forças para a hora de ajudar esse bebê a sair aí de dentro.
– Obrigada, e desculpe...
– Não se preocupe, tenho três filhos e já atendi muitas mães, você até que
foi bem educada. Eu mesma não fui tanto.
– Doutora, o armazenamento do cordão?
– A equipe já está aqui. Assim que nascer eles entram para coletar.
– Meu bebê ficará bem mesmo, não é? O pediatra...
– Está aqui também, um pediatra e uma pneumologista pediátrica, fique
tranquila quando a isto, Benjamin será muito bem assistido.
– Obrigada.
– Não por isto. Agora relaxe, feche os olhos e descanse. – Ela diminui a
luminosidade da sala de parto e sai.
Tento fazer o que ela pede, mas ao invés de me relaxar, aquele período de
reflexão me faz sentir pequena, perdida e sozinha.
Muito sozinha.
Sinto, pela primeira vez depois que descobri a gravidez, a solidão esmagar
meu coração.
Queria tanto alguém aqui comigo.
Mas não qualquer pessoa, não Denis, nem Maggie, gosto deles com todo
meu coração, mas não... eu queria Laura, ou Hazel, ou mamãe.
Mas acima de tudo, eu queria Oliver.
Queria ele dizendo que me ama e que tudo vai ficar bem. Que vamos ficar
bem e nosso filho nascerá saudável. Estou com tanto medo.
Há muitos anos não me sinto assim, como uma menina de oito anos outra
vez. Perdida e abandonada no meio do caos, esperando que alguém que ama
volte para si, com medo de fazer algo errado e de saber a verdade que lhe
espera atrás da porta.
As lágrimas caem e eu preciso, preciso falar com alguém.
Pego o telefone que está no balcão perto da maca, desligo, tiro a capa e
resgato o chip antigo que guardo ali. Abro o compartimento e troco os
números. Religo o equipamento e aguardo ficar pronto para uso. Demora um
pouco para abrir o aplicativo de mensagens e logo descubro o motivo, só de
Oliver há mais trezentas e sessenta mensagens, além das noventa e sete já
baixadas. Soluço, impactada.
Queria tanto ter coragem... abrir o seu contato e clicar em uma delas, apenas
uma, aleatoriamente... paro o meu dedo em cima, decidindo se me arrisco a
ouvi-lo hoje, depois de mais de seis meses de distância, e no dia mais
importante da minha vida até ali. O dia em que me tornarei mãe. Que trarei ao
mundo o filho dele. Queria tanto ouvir sua voz... Hesito. Não posso. Não posso
me desestabilizar mais ainda... abandono a ideia e clico no contato de Hazel,
há centenas de mensagens dela também. De todos eles, há muitas, Max, Lian,
Kellan, Iris, Helen, Henry, até Johnathan. Começo a gravar um áudio a ela.
Oi querida, – fungo – eu estou fisicamente bem, não se preocupe com o
meu choro. Hoje Hazel, hoje é um dia tão importante para mim... Você não
faz ideia... e eu estou me sentindo tão sozinha e com medo, assustada,
sentindo tanto a sua falta, queria você aqui comigo irmãzinha. Sinto a falta
de todos. Sinto a falta de Oliver. Tanto, tanto! Tudo dentro de mim dói de
saudades dele, todos os dias e a cada segundo. Mas hoje esta dor é
infinitamente maior. Ele deveria estar aqui. Ele tinha que estar aqui comigo,
Hazel... Não sei se sou forte o bastante para isso sozinha... Reze por mim se
puder, querida, eu preciso que tudo dê certo hoje, dependo disso para
continuar vivendo. Fique bem, eu amo você. Até mais.
Envio. Espero dar o sinal de entregue e desfaço a troca dos chips outra vez.
Depois procuro uma foto específica, aquela que Oliver tirou de mim dormindo
em seus braços e postou. Fico quietinha olhando para ela e passando os dedos
pelo seu belo rosto. Relaxo um pouco, chego até a cochilar alguns minutos com
o telefone na mão.
Cerca de quarenta minutos depois a enfermeira entra, ouve os batimentos de
Ben, que estão normais e faz um novo exame de toque, nove centímetros e
meio. Quase lá. Sinto minha barriga contrair de tempos em tempos, mas não
sinto mais aquela dor, só o forte aperto.
Mais quinze minutos e a doutora já está a postos, sentada entre as minhas
pernas escancaradas e me pedindo para fazer força sempre que vem a
contração. Na sala, além dela, apenas a enfermeira, o anestesista e os dois
pediatras.
Eu empurro, empurro cada vez mais, sinto algo me abrindo. O suor
escorrendo pela minha testa e pescoço. A doutora diz que estou indo bem, eu
acredito e continuo o meu trabalho, dói, mas nem perto do que sentia antes da
anestesia.
Doutora Deva diz que a cabeça já coroou e que na próxima tenho que dar
tudo de mim. E eu dou. Reúno todas as minhas forças, fecho meus olhos, penso
em Oliver e empurro. Quero nosso filho em meus braços. Estendo a força
enquanto posso e então eu ouço. Ouço, sorrio e choro ao mesmo tempo. É um
choro forte, lindo, o melhor som que já ouvi. É o meu menino, Benjamin, meu
filho, meu outro amor.
– Benjamin nasceu querida. Exatamente as onze e onze da manhã – diz a
minha obstetra. Sorrio. Parece que meu pequeno Ben tinha tudo muito bem
planejado, nascer no dia um do dez, o inverso da minha data de nascimento e
as onze e onze, a data de nascimento do pai.
A doutora sorri e o põe sobre minha barriga, eu coloco uma mão sobre o
seu corpinho ainda recoberto pelo vérnix[16] e com a outra acaricio sua cabeça,
na posição em que está ainda não consigo ver seu rostinho. Ele chora, se mexe,
e quero tanto acalmá-lo. Mas a doutora vem até mim com uma tesoura.
– Quer cortar o cordão, ou eu corto? A equipe do banco de células tronco
precisa fazer a coleta.
– Eu corto. – Pego a tesoura e com duas pinças a médica prende o cordão
e mostra onde devo cortar. Faço o que precisa ser feito enquanto um rio de
lágrimas desce pela minha face.
Era Oliver.
Oliver quem deveria ter feito aquilo, não eu.
– Agora eu vou levá-lo para os pediatras examinarem, ok?
– Ok – digo emocionada.
A doutora enrola o meu precioso pacotinho numa manta branca e o entrega
nas mãos da pneumologista. Ben chora ainda mais alto e meu coração aperta. A
obstetra volta a se posicionar entre as minhas pernas e termina de fazer o que
quer que precise ser feito ali.
– Ele nasceu muito bem, querida. Bem ativo. Seu choro é alto e forte para
um bebê de trinta e cinco semanas. Talvez nem precise ficar no oxigênio.
Eu só choro e monitoro, de longe, com o olhar, o que os médicos fazem com
o meu filho.
Meu filho.
Meu.
Não estava nos meus planos tê-lo, eu não queria, não já pelo menos. Mas
agora que ele está aqui, não vivo mais sem ele. Quero cuidar dele e protegê-lo
de tudo e todos. Eu farei o máximo que puder por ele.
– Pai, mãe, eu tenho um filho. Seu neto, Benjamin. Tenho uma família outra
vez. – Deixo as palavras saírem de minha garganta e ganharem vida.
Meu maior medo, mas naquele momento parece que elas me curam.
Inacreditavelmente, a ideia não me faz estremecer, ela me acalma, acalenta.
Henry ficaria orgulhoso.
A pediatra se aproxima com o meu bebê no colo, limpinho, mais calmo,
com um conjuntinho azul claro que eu comprei para ele, enrolado na mantinha e
com uma touquinha azul do hospital. Ela o deita em meu ombro e consigo olhar
seu rostinho mais de perto pela primeira vez.
Ele é tão lindo, tão pequenininho.
Mesmo assim, com o rostinho inchado pelo pós-nascimento, consigo
identificar traços de Oliver. Acaricio sua face enquanto ela fala comigo.
– Mamãe, este mocinho está muito bem. Muito bem mesmo. O pulmão está
forte, ele pesou dois quilos e duzentas gramas e quarenta e três centímetros.
Bem grande para a idade gestacional. A sua nota Apgar foi nove, excelente
para um bebê de quarenta semanas, imagine um de trinta e cinco. Não haveria
necessidade de deixá-lo no oxigênio, mas vamos colocá-lo por uma ou duas
horas só por precaução e monitoramento, ok? E não se preocupe, ele está
identificado com o seu nome. – Ela me mostra a pulseira no pequeno pulso de
Ben. Beijo sua testinha enrugada.
– Eu o reconheceria em meio a centenas – digo, e reconheceria mesmo. –
Ele não pode mamar primeiro?
– Não, depois destas duas horas, no máximo, ele será entregue a você e
poderá amamentá-lo.
– Tudo bem. – Não tenho escolha, mesmo já doendo em meu coração ter
que me separar dele.
Um novo beijo na bochecha e ela o leva para o berçário.
Agradeço silenciosamente por tudo ter dado certo.
Por ele ser um bebê ativo e saudável, apesar de prematuro.
Da sala de parto sou levada para o quarto. A doutora me libera para um
banho, que eu tomo com o maior gosto. O parto normal pode ser sofrido, mas
no instante seguinte você já se sente bem. Principalmente no meu caso, que não
houve a necessidade da episiotomia[17].
Refeita o máximo possível após o banho, me deito e aguardo que tragam
Ben para junto de mim. Logo depois a doutora Deva entra e se aproxima da
minha cama.
– Benjamin está...
– Ele está ótimo. Comendo as mãozinhas de fome lá na incubadora. –
Sorrio e levo uma mão ao meu seio, que, mesmo ainda não tendo muito leite,
doem instintivamente pela maternidade. Doutora Deva Manzur senta-se ao meu
lado e pega a mão que continua apoiada na cama.
– Seu parto foi ótimo Beatriz. Você está bem, Benjamin está bem. Você só
não terá alta amanhã porque ele nasceu de trinta e cinco semanas, e precisamos
monitorá-lo por pelo menos três dias, garantir que saia daqui mamando
adequadamente e sem nenhum desconforto respiratório. Então relaxe meu bem,
descanse, seu filhinho é lindo, saudável e você o levará para casa em poucos
dias.
– Farei isto doutora, mas só depois que ele estiver aqui, comigo. – Nem
bem termino de falar, uma enfermeira entra com ele nos braços.
Abro um sorriso de orelha a orelha, como não fazia há muito tempo. Me
sento na cama e ela o deposita em meu colo. Ele está acordado, olhando para
todos os lados e como disse a médica, querendo comer as próprias mãozinhas.
– Ele está com fome mamãe. – Me ajeito com ele nos braços, ergo a
camiseta e coloco meu filho no seio pela primeira vez.
Demora um pouco até que consiga encaixar a boquinha no bico do meu seio,
mas insistimos, a enfermeira ajuda, e finalmente ele consegue sugar. Sinto as
puxadas e o pouco líquido passar pela minha mama até chegar a ele.
– Agora ele pegou bem – relata a enfermeira.
– Sim – concorda a médica. – Vamos deixar mãe e filho curtir um ao outro,
a sós – completa.
– Doutora, antes de ir, poderia tirar uma foto deste momento para mim?
– Claro que sim. – Ela pega o meu telefone e bate a foto.
– Outra coisa, Denis...
– Eu já o avisei e à outra moça que aguardava junto dele na recepção.
Permiti que vissem o bebê na incubadora através do vidro. Denis se
emocionou. – Sorrio.
– Obrigada. Sei que a senhora faz torcida por Denis, mas...
– Não precisa dizer mais nada. Depois de saber quem é o pai de Benjamin
e de ver alguns vídeos de vocês dois juntos, entendo perfeitamente. Mas
preciso dizer que os sentimentos que nutro pelo pai do seu filho neste momento
não são nada bons. O estado em que você chegou aqui... não quero nem
imaginar o que ele fez, sendo assim, ainda torço por Denis. Agora curta o seu
filho. Avisei aos dois que visitas só a partir de amanhã. – Ela beija minha testa
e sai.
A enfermeira me explica como fazê-lo arrotar após a mamada, posiciona o
bercinho ao lado da minha cama e se vai também.
Foco no rostinho de Ben, mamando lindamente, olhinho aberto, olhando
para mim. Passo um dedo pelas suas sobrancelhas clarinhas, tiro a touca e vejo
que meu filho é carequinha, apenas uma leve penugem clara cobre sua cabeça
redondinha. Os olhos, a boca e o queixo como os do pai. Pelo menos por
enquanto, parece. Ele é lindo demais. Contorno todos esses detalhes com o
meu toque, num leve carinho por onde percorro.
– Seja bem-vindo, meu amor. A mamãe ama você.
Benjamin vai fechando os olhinhos e instantes depois dorme grudado em
meu seio. Mas não o retiro dali e nem paro de tocá-lo. O embalo um pouquinho
e ouço o pequeno arroto.
– Ele está aqui, Oliver. Nosso menininho. Nosso pequeno Ben. É tão lindo,
já se parece tanto com você. Tenho certeza que ficará a cada dia mais
parecido. Você vai amá-lo, não vai? Claro que vai. Impossível não o fazer.
Logo saberá da existência dele e poderá conhecê-lo, eu prometo. Meus dois
amores juntos... Só me jure que não tentará tirá-lo de mim. Você não faria isso,
não é? Não, não faria. Sei que não. Tiro Benjamin do seio, beijo sua
cabecinha, inspiro seu cheirinho de bebê.
– Amo você filho. – Acomodo-o no bercinho. – Amo você Oliver.
Com Ben aqui, seguro ao meu lado, permito-me dormir e descansar.
Oliver
Bia
Bia
Bia
Minha ficha ainda não caiu. Estou me sentindo flutuar, atordoada. Olhar
para ele, tão lindo... sentir o seu cheiro, seu toque, seu beijo depois de tanto
tempo me trouxeram dois tipos de sensações.
A primeira, a luta interna entre o meu desejo e o meu orgulho.
A outra... nossa... a sensação de que nunca estivemos de fato separados.
Que continuamos sendo aquele casal feliz e apaixonado, que nada mudou. Esse
sentimento está me corroendo. Quero me atirar em seus braços e dizer, “vamos
esquecer toda essa merda, riscar estes dez meses das nossas vidas”.
Mas não posso, a ferida ainda dói.
Devo isto a mim mesma, devo ao meu filho.
– Vou voltar para o bar. – Denis se despede, finalmente conseguiu pegar
Ben no colo por alguns minutos. – Mandarei refeição para vocês.
– Não precisa.
– Não me custa nada.
– Também vou – diz Maggie. – Minha filha está me esperando. Gostei de
te conhecer, Hazel.
– Igualmente, Maggie. – Pego Ben, me despeço dos dois e volto meu olhar
para aqueles de quem senti tantas saudades. Todos amontoados como podem na
minúscula sala da minha casa.
– Desculpem pela falta de conforto... – Indico o ambiente.
– Nunca estivemos mais felizes num lugar em dez meses – declara Lian.
– Não me faça chorar de novo. – Peço. – Como estão os outros? – Oliver
mexe no telefone.
– Ninguém esteve totalmente feliz, Bia. A preocupação com você era
constante – conta Hazel. – Mas Laura e Edgar agora têm a casa deles. Papai e
mamãe estão conseguindo passar mais tempo juntos e desacelerar em função
do ano sabático. Estão programando uma segunda lua de mel, agora que sabem
que te achamos. Helen está bem, não teve recaídas. Anthony nasceu, é um
amor, Peter e Riley são pais babões. – Sorrio. – Henry se mudou para
Oceanside, ele e Iris foram morar juntos, pretendem se casar logo. Ela também
morre de saudades suas. E meu irmão, bem, ele foi o responsável por estarmos
aqui hoje.
– Como assim?
– Ele contratou um serviço de monitoramento de imagens, sem que
ninguém soubesse. Cada imagem que cai na rede, esse software compara e
analisa. Te achamos pelo vídeo de você cantando Guardian Angel.
– É, foi um alívio, – diz Max – porque já não sabíamos mais o que fazer.
Escaneamos cada cidade, cada parada de ônibus que sai de Oceanside, cada
hospital deste país. Oliver passou dez meses analisando câmeras de segurança,
e nenhuma pista sua.
– Deus, e eu fiz tudo tão no impulso...
– Pois é, acho que o destino colaborou para me dar uma lição. E que lição!
– Oliver fala com voz cansada e olhos abatidos.
– Só não entendo como não chegamos até você antes. A equipe de
investigação esteve aqui. Esteve no hospital. Se você foi hospitalizada, se Ben
nasceu lá...
– Em nenhuma das vezes dei entrada como Beatriz Thompson. Por aqui,
sou Angel Mendes.
– Mas não exigiram um documento?
– Exigiram. Eu disse que não tinha. Cidade pequena...
Eles me contam mais algumas coisas, Ben dormiu no colo de Oliver e o
coloco na cama, o jantar que Denis prometeu chega, comemos amontoados, do
jeito que dá. É tão bom tê-los ali. Toda a solidão que me abateu nestes meses
desapareceu.
– Está na hora de irmos para o hotel. Bia está visivelmente cansada. – Max
fala.
– Sim, está tarde – concorda Hazel, sonolenta. Lian também se levanta.
Meu peito aperta.
Eles me abraçam e se despedem, prometendo voltar amanhã. Oliver,
entretanto, não se mexe do lugar.
– Você não vai? – pergunto. Ele me olha em súplica.
– Me deixe ficar, por favor. – Abro a boca tentando entender o que ele
pretende.
– Não tenho espaço, Oliver.
– Eu fico aqui, no sofá... só... por favor, não me faça ir para longe de
vocês. – Assim como aconteceu no quarto mais cedo, quando pedi que fosse,
seus olhos me dizem que aquilo seria demais para ele.
Como? Como conseguir ficar sozinha com ele?
Como conseguir ficar sem ele outra vez?
– Tudo bem.
– Sério? – Seu sorriso ilumina. Deus, quanta saudade!
– Não pergunte de novo, já estou me arrependendo... e se comporte! – Ele
sorri ainda mais.
– Obrigado.
– Bom, já que estão de acordo, vamos indo. Até amanhã, casal. – Fecho a
porta e de repente o ar ali dentro fica quente, pesado. Nos olhamos com fúria e
desejo. Loucos para pular um no outro. Respirações pesadas. Mudo o foco.
– Ben está dormindo, vou aproveitar e tomar um banho. Fique à vontade.
– Vá. Vou dar um jeito nas coisas aqui. – Aponta para a bagunça na
cozinha.
– Não precisa se incomodar.
– É claro que preciso. Vá tomar seu banho.
– Ok. – Tenho mesmo que sair de perto dele.
Sigo para o quarto, confiro Benjamin, pego minhas coisas e entro no
banheiro. Demoro naquele banho o máximo que posso. Eu não consegui resistir
a um beijo. Um beijo! Se ele resolver vir para cima, não sei se sou forte o
suficiente. Preciso manter a distância. Preciso!
Me seco, coloco o pijama mais comportado que tenho, mangas e pernas
longas, e volto para o quarto. Olho na direção de Ben e vejo que ele não está
no cesto. Ouço uns murmúrios vindo da sala. Caminho o mais silenciosamente
possível, para que não me percebam espiando. Quando vejo a cena, meu
coração se enche ainda mais de amor. Se é que isso é possível.
Oliver, enorme, está deitado do jeito que consegue no sofá minúsculo, sem
camisa, com Ben deitado de bruços em seu peito. Meu bebê tenta de todas as
formas manter a cabeça erguida e olhar para o pai, fascinado, porque o pai
conversa com ele como se já fosse um menino grande.
–... o papai sabe que você cuidou a mamãe. É tão linda a sua mãe, não é?
Somos dois apaixonados por ela. – Ele suspira e analisa as mãozinhas de Ben.
– Sabe filho, quando a gente for para casa, faremos tantas coisas iradas
juntos. Eu acho que você vai adorar o lugar onde a gente mora. Tem mar e
areia. Já te vejo brincando tanto por lá, correndo, pulando ondas,
aprontando... enlouquecendo sua mãe e sua avó... Você tem uma avó, sabia?
O nome dela é Laura. Nossa, ela vai ficar tão feliz quando souber sobre
você. Vai te amar tanto...
Resolvo não estragar o momento pai e filho, e vou me deitar. Se Ben chorar,
ele virá até mim. Estou tão cansada das emoções do dia que não tardo a pegar
no sono.
– Baby, não queria acordar você, mas ele está com fome. – Acordo com
Oliver tocando meu rosto e logo ouço o choro de Ben, que está com as duas
mãos dentro da boca. – Eu já troquei a fralda, mas o que ele precisa agora eu
não consigo atender. – Me sento na cama.
– Você trocou a fralda sozinho?
– Sim. – Ele dá de ombros. Pego Ben e dou o que tanto ele quer. Os olhos
de Oliver estão grudados no meu seio. Levanto os olhos e o encaro.
– Desculpe. – Desvia o olhar. – Sinto muitas saudades. – Ah, eu também...
suspiro.
Acaricio e beijo a testa de Ben, que estava tão faminto que nem abre os
olhos, se concentrando no sugar.
– Você deu uma baita canseira nele, não? – Oliver sorri.
– Nós batemos altos papos.
– Sei... Quanto tempo eu dormi?
– Quatro horas.
– Você o enrolou por quatro horas? Claro que está faminto...
– Conversamos, brincamos, ele só começou a reclamar há uma meia hora
atrás.
– Por que não me acordou antes?
– Você estava dormindo tão tranquila... É uma mãe linda, sabia?
– Mãe aos dezoito. Tinha que ser eu, não?
– Devo pedir desculpas? – Ergo meu rosto e olho em seus olhos.
– Jamais! Eu amo demais este menino, não vivo sem ele. Ele é fruto de um
grande amor. Você me deixou um belo presente, Oliver. Ben me manteve sã. –
Ele esfrega os olhos.
– Algum motivo especial para Benjamin?
– Era o nome do meu avô.
– Eu lembro.
– Pois é. Se eu fosse um menino, teria sido o meu nome. Papai o admirava
muito. Achei que seria uma forma de homenagear Robert Thompson
indiretamente. E eu gosto muito do nome, principalmente porque Ben em
português significa well. Você não gosta?
– Gosto, demais. É perfeito! Benjamin Rain, combina. Tenho mais três
letras para tatuar em meu peito. – E depois do que ele diz, não consigo deixar
de baixar os olhos e analisar o seu peitoral, ali, exposto na minha frente.
Que tentação!
Por que fui olhar?
Estou há tanto tempo com vontade dele, tanto tempo sem sexo que é ainda
mais sufocante ficar assim, perto e longe ao mesmo tempo.
Queria tanto estender a minha mão e tocá-lo. Quando dou por mim estou
mordendo os lábios e Oliver percebe o meu olhar de desejo. Desvio
rapidamente para Ben e ele cai na risada.
– Pode olhar, pode tocar. É tudo seu.
– Não, não posso. E por favor, ponha uma camiseta. – Ele ri outra vez.
– Eu lavei. Está secando. Xixi, lembra? – Suspiro.
– Na terceira gaveta da cômoda, há uma camiseta da The Order, sua. Vista-
a.
– Eu já vou me deitar lá no sofá, meu bem. Prefiro ficar assim. Só estou
esperando o meu companheiro de noitada. – Como assim?
– Você pretende levá-lo para dormir no sofá?
– Sim, ele adorou ficar em meu peito e eu não quero ficar longe dele.
– Oliver, não sei... se você pega no sono e ele...
– Não vou. Levo o cesto e assim que eu sentir sono o coloco na caminha,
fique tranquila.
Não fico.
– Vá lá fora e traga a mesinha de centro para cá, por favor.
– Por quê?
– Só faça.
– Ok. – Ele vai e logo volta com o móvel na mão.
– Ponha aí ao pé da cama.
– Não vai dar mais para abrir as gavetas da cômoda.
– Não tem problema. – Ele coloca a mesa onde pedi. – Pronto. – Ben já
parou de mamar e dorme tranquilo em meu colo.
– Agora ponha o cesto ali em cima e pode se deitar com ele aqui, ao meu
lado. – Seus olhos se iluminam. Parece criança em dia de festa. Espero não
estar fazendo algo que nem eu vou conseguir segurar. – Não vai se deitar?
– Claro que vou. – Rapidamente se ajeita naquele canto da cama.
– Quer mesmo segurá-lo? Posso colocá-lo na caminha.
– Não vou deixá-lo lá longe, sozinho.
– Oliver! – Rio. – Lá longe?
– Sim, aquela mesa está muito longe de nós. – Balanço a cabeça.
– Você vai mimá-lo tanto que não daremos mais conta, isso sim.
– Ah, eu vou. Mimar muito, vocês dois.
– Tem que me prometer que vai colocá-lo na cama assim que o sono vir. É
mais seguro para ele. – Faz cara de contrariado, mas concorda.
– Prometo.
– Pegue, então. – Ajeito nosso filho, de bruços em seu peito.
Dorme tão gostoso! Daí faço a besteira de aproximar o meu rosto para
beijar a bochecha de Ben. E neste momento um braço forte me prende ali, ergo
a cabeça e o ar some outra vez.
Nossas bocas muito, muito próximas, nossas respirações falhas se
misturando. Olhos queimando de desejo. Sem me dar chance de defesa como
fez das outras vezes, ele toma a minha boca e eu não tenho forças para não
retribuir aquele beijo.
Quero-o tanto!
Nos beijamos por longos, longos minutos. Deus! Pensei que nunca mais
fosse sentir aquilo. Sentir seus lábios, sua barba rente roçando meu queixo,
meu rosto, a textura da sua língua, seu gosto delicioso, sua saliva, seu cheiro
de homem... era isso que eu queria, disso que senti falta, dele, inteiro, ele é o
meu número, foi feito para mim.
A tensão só vai crescendo entre nós. Todo o desejo e saudade reprimidos
despontando. Se eu não fizer alguma coisa rápido, sei bem onde vamos parar...
Preciso parar, preciso parar já! Está perigoso. Forço uma mão em seu braço e
me afasto.
– Pequena... – diz com a voz cheia de tesão. Não estou diferente.
– Não faça mais isso, de me pegar desprevenida e me beijar, ou você volta
para o sofá. Sem Benjamin. – Me obrigo a dizer e me deito rapidamente de
costas para ele. Travo uma luta interna para acalmar o meu corpo. O que é uma
missão impossível quando se tem ele ali, a um palmo de distância,
transbordando calor. Um calor que eu preciso tanto!
Má ideia deixá-lo ficar, Bia. Má ideia!
Depois de muito autocontrole, me acalmo e durmo. Quando acordo dali há
algumas horas, olho para o lado e os dois continuam na mesma posição, Ben
dormindo no peito nu de Oliver, que o ampara com uma mão e também dorme.
Claro que ele não iria conseguir se separar do filho que acabou de
conhecer.
Respiro fundo.
Agora me diz, como confiar?
Mas é tão lindo vê-los assim que não consigo me irritar. Pego o telefone e
registro aquele momento. Mando a foto para Hazel. Então decido acabar com o
chamego dos dois e coloco Ben em sua caminha. Ele resmunga um pouco, mas
não acorda.
– Melhor assim, filho. Você é muito pequenininho. Aqui estará protegido e
seguro. – Beijo-o e volto para o meu lugar.
Me deito de frente para Oliver e meu corpo ingrato acende outra vez, no
mesmo instante.
Que grande merda!
Admiro o Adônis em minha cama, o peito largo, o abdômen à minha
mercê... quero tanto chegar perto e beijá-lo ali.
Deus, Bia, controle-se!
Mas desta vez o controle não vem. A excitação começa a ficar insuportável
e sou obrigada a levar a mão para dentro da minha calcinha e me ajudar.
Começo a me masturbar, mas não consigo chegar lá.
Nunca consigo.
Coloco um dedo dentro da minha vagina, depois dois, ajuda por um tempo,
mas logo a coisa fica pior.
Céus!
Que agonia!
Preciso gozar.
Mas nada avança como deveria.
Em meio àquela loucura, chego mais perto.
Mais perto do seu calor, do seu aroma, do seu corpo e num gesto
automático, que com certeza nem passou pela minha razão, levo a mão ao seu
peito e começo a acariciá-lo ali, deslizo-a por todos os músculos e contornos,
chegando sempre perto do cós da calça jeans e voltando.
Oliver abre os olhos. Não faz mais nada, nenhum movimento, não diz nada.
Apenas me observa explorando seu corpo.
A calça começa a ganhar volume e eu estou desesperada. Esfregando as
pernas uma na outra sem conseguir um milímetro de alívio se quer.
Chego mais perto ainda, ergo o tronco, baixo a cabeça e beijo seu umbigo.
Ele geme.
Sentir seu cheiro ali, tão próximo ao paraíso, é perder o controle de vez.
Por que fiz isso?
Corro os lábios naquela região, no limite entre a pele e a calça.
Seu corpo treme.
Vou levando minha boca mais acima e beijo cada centímetro de pele que
encontro. Me demoro nos mamilos e depois em seu pescoço.
Monto dele e ataco a sua boca. Ele me prende e me beija de volta,
rapidamente inverte as posições e estou presa sob seu corpo. Afasta minhas
pernas e se encaixa onde deve. Isso! Isso que eu preciso. Começo a me
movimentar alucinada, buscando, testando, querendo.
Mais, mais, quero mais.
– Ah, meu amor! Como desejei estar assim com você outra vez.
– Oliver, faça sexo comigo. – Ele para diante do meu pedido, tão direto e
sem... sentimento... ergue o rosto e me olha. Passa os dedos pelos contornos da
minha boca, depois dos meus olhos, retira os cabelos da minha testa e uma
lágrima solitária escorre pela sua face.
– Não vou fazer isso, anjo.
– Por que não?
– Porque nunca fomos só uma transa um para o outro, Bia. Não vou me
transformar nisso para você agora. Eu te amo. Não posso me ferir assim.
– Mas... – Ele põe os dedos em meus lábios.
– Nós vamos fazer amor de novo, quando você aceitar esta aliança de
volta em seu dedo, – ele me mostra o anel preso na corrente – e quando você
conseguir olhar nos meus olhos outra vez e dizer que me ama. – Agora é o meu
rosto que fica molhado.
O sentimento está ali. Nunca deixou de estar. Mas não consigo aceitar, não
consigo dizer.
– Não é justo. Estou queimando...
– Eu sei. Eu também. Tudo que eu mais quero é entrar em você agora e te
amar com todo amor que eu sempre amei. Por Deus! Dez meses! Dez meses
sonhando com isso, desejando. Mas não farei desta forma... nos machucaria
demais. – Ele me beija outra vez e então se afasta. – Vou para o sofá.
– Não, por favor, não vá. – Aquelas palavras pulam da minha garganta sem
que eu consiga dominá-las.
– É melhor, baby. Nosso calor e nossos cheiros se misturando aqui, é
torturante.
– Fique. Por favor. – Ele sorri.
– Deite-se em meu peito então. – Oliver se ajeita e me puxa para perto.
Me acomodo em seu peito, a sensação de que ali é o meu lugar preenche o
meu ser e deixo as lágrimas correrem soltas.
Ele afaga meus cabelos e canta Fool’s Mate, baixinho.
Para no meio da música se lembrando de algo.
– Eu não o coloquei na cama, não é? – Rio.
– Não. Você foi um pai muito irresponsável e dormiu com ele em seu
peito. – Ele suspira.
– Desculpe. Não consegui me separar.
– É perigoso. Ele é muito pequeno ainda. Podemos machucá-lo sem
querer.
– Não vai acontecer de novo. – Beija meus cabelos e volta a cantar a
música.
Eu adormeço assim.
Inteira e completa pela primeira vez em dez longos meses.
Capítulo 35
Oliver
No bar
Sentem-se e nos esperem, por
favor. Trouxeram Anthony?
Sim. Como só voltaremos amanhã,
não podemos ficar os dois, dois dias
longe do nosso filho
Ótimo! Hoje ele fará um amigo
Como assim?
Oliver
– Dormiu?
– Como um anjinho. Ele adora dormir no meu peito. – Me vanglorio.
– Felizmente desta vez você não dormiu junto.
– Não. Ele está seguro em sua caminha, fique tranquila.
– Ótimo.
– Acho que chegou a hora de termos a nossa conversa, não? – Ela suspira.
– Sim. Sou toda ouvidos, pode começar.
– Vamos nos sentar no sofá. – Levo-a até lá e nos sentamos meio virados,
um de frente ao outro.
– São Max e Lian lá fora?
– Sim. Pedi para ficarem por perto. O que vou te contar agora... há muitos
anos eu afasto qualquer pensamento relacionado. Pode mexer demais comigo e
prefeito que eles estejam aqui, você vai entender quando eu terminar.
– Ok.
– Minha vó acabou confessando que te levou para conhecer minha... a
mulher que me pôs no mundo.
– Sim. Fui com Laura numa visita. Sinto muito.
Pensar em Vivienne, lembrar realmente dela, sempre faz as emoções
bagunçarem e se agitarem dentro de mim, não consigo evitar. Fico alguns
minutos calado, tentando dominar os meus sentimentos contraditórios. Bia
respeita. Até que crio coragem e ergo os olhos para iniciar o meu relato.
– Ela era tudo para mim.
– Oliver...
– Você não faz ideia, Bia. Mas me deixe começar pelo começo. Poderá ser
um longo relato...
– Temos tempo, minha atenção é toda sua. E quero saber tudo. Cada
detalhe que você quiser compartilhar é do meu interesse. – Assinto,
agradecido.
– Este começo, da época em que conheceu o meu pai, eu só sei pelo que
vovó me contou. Ela te mostrou fotos, certo? Viu como era linda?
– Sim. Você é muito parecido com ela.
– Mas tanto quanto era linda, era ambiciosa, deturpada. Ela tinha uma
ideia fixa. A menina que brincava de princesa incorporou a fantasia, queria
fazer parte da nobreza. Vivia para este fim. Não bastava apenas ter dinheiro,
Vivienne almejava um título. – Respiro, é difícil.
– Isto é tão surreal nos dias de hoje...
– Pois é. Mas sabe, eu acho que consigo entender de onde brotou toda a
sua motivação. Eu senti na pele a vida inteira a sensação de vazio que a
facilidade e o excesso de oferta, causam. Ela sempre chamou muita atenção
pela sua beleza e a possibilidade de um casamento vantajoso era algo que se
apresentava à sua frente às pencas. Não haveria desafio em conseguir um
marido rico. Agora um nobre... era outra história.
– Mesmo assim, é um pensamento doentio.
– Sim, é. Doente, imaturo e principalmente egoísta. Quando ela tinha vinte
anos, conheceu um cara, um jovem executivo inglês, numa das casas da alta
sociedade que frequentava. Segundo o que vovó me contou, havia sido
transferido há pouco tempo de Londres para os Estados Unidos, ocupava um
alto cargo numa multinacional, pertencente a uma das famílias mais
tradicionais da Inglaterra. Óbvio que aquilo despontou o seu interesse, porque
o primeiro passo para se ter um título é viver onde se pode conseguir um, ou se
relacionar com quem possa te levar a quem tem um.
– Os ingleses e a Inglaterra...
– Exato. O cara, Chris se não me engano, ficou encantado por ela, como
todos. E ela, sabendo que poderia tirar proveito, deu corda. Engataram um
namoro que durou alguns meses. Vovó chegou a conhecê-lo e gostou bastante
dele, dizia que era um rapaz muito bom e que realmente tinha sentimentos por
ela, e que, pelo que ela percebia, Vivienne também gostava dele, mas não
desistia do seu objetivo egoísta e ilusório, o título. E seus olhinhos finalmente
brilharam quando ele contou a ela que a tal empresa pertencia e era comandada
pelo vigésimo Conde de Dehrby.
– Sua avó chegou a comentar comigo que seu pai era um conde...
– Sim... Vivienne investiu no namoro com Chris por mais um tempo até se
aproximar e conhecer o tal conde. O que conseguiu quando o namorado lhe
arranjou uma vaga como recepcionista na empresa, que ela agarrou com unhas
e dentes. O conde nem sempre estava na América, mas na primeira vez que
veio e pôs os olhos nela... a beleza incomum não lhe passou despercebida.
– Não sei ao certo como se aproximaram, enfim, o conde era casado há
uns cinco anos, mas ficou tão fascinado e apaixonado por ela que se separou.
Sua ex-mulher era uma herdeira, de família tão tradicional quanto. O fato do
nobre se divorciar de uma lady e anunciar o noivado com uma plebeia
americana foi motivo de muitas discórdias na família dele. Vivienne nunca foi
aceita. E a proeza para que conseguisse o tão almejado casamento foi a
gravidez. O conde e a esposa estavam há anos tentando sem sucesso. Ele
queria um herdeiro. Ela era linda, fascinante e iria dar isto a ele. Fez tudo
direitinho e conseguiu realizar o seu sonho. Em apenas três meses se tornou a
condessa de Derhby. – Bia ouve tudo atenta, analisando as minhas reações,
mas não me interrompe.
– Ela mudou-se para a Inglaterra, casaram-se, eu nasci, era o filho homem,
iria carregar o seu título, continuar sua linhagem, seu nome, que é o que mais
interessava para ele. Ela tinha um título. Todos estavam felizes. – Respiro. –
Aqui termina a parte que sei por vovó ou por dedução e começa o relato da
minha experiência.
– Certo.
– Alec Willian George Stenteley, o atual conde de Derhby, e um dos
empresários mais ricos da Inglaterra, nunca foi um pai muito próximo,
presente. Gostava muito de me exibir quando estávamos no meio de outras
pessoas, mas no dia a dia, pouco interagíamos. Vez ou outra se aproximava,
fazia um afago, perguntava alguma coisa. Me lembro apenas de duas situações
onde brincou comigo realmente. Fora isto, queria mais saber do meu QI, meu
progresso nos estudos, se estava sendo suficientemente bem preparado para
representá-lo à altura quando adulto.
– Mas ela... ah Bia, Vivienne era o meu mundo. Ela era divertida, alegre,
vibrante. Eu era apaixonado por ela. Me sentia amado. Ela me incluía em tudo.
Me mimava, era carinhosa, inventava brincadeiras, me tirava dos estudos
quando achava que era demais; afinal eu era bem pequeno, mas já tinha uma
rotina bastante pesada. Lembro que fazíamos piqueniques divertidíssimos
pelos jardins da casa... – Um sorriso acaba tomando meu rosto ao lembrar de
um deles.
– São momentos tão vívidos ainda em minha memória. Sempre me
colocava para dormir, contava histórias, tenho tantas, tantas lembranças boas.
Passávamos muitas horas por dia juntos, coisa que até o conde se espantava,
pois não é um hábito comum em famílias inglesas ricas. Se houve um
menininho que idolatrou e amou a sua mãe, esse menino fui eu... – Seco
algumas lágrimas que escorreram sem nem me dar conta, olho para o rosto de
Bia e não está diferente.
– Ah Oliver, eu posso imaginar... – Aquele breve comentário faz uma
fagulha de esperança brotar em meu peito. Esperança de que ela esteja
voltando a crer que o meu amor por ela sempre foi real, sincero.
Ela estende e segura a minha mão em sinal de conforto.
– Até que houve o acidente. Fiquei muito mal, foram dois meses de
hospital. E quando voltei para casa, tudo estava diferente. Ela sempre tensa,
preocupada, nervosa, mal me olhava nos olhos. Ele mais frio e distante do que
nunca. Claro que naquela época eu não entendi o que acontecia. Isso só foi
esclarecido para mim depois, quando já morava com vovó, e acho que essa
ignorância sobre os fatos fez tudo ser mais doloroso ainda, pois eu não
entendia o que eu tinha feito de errado. E claro que eu achava que era minha
culpa meus pais estarem estranhos.
– Eles estavam em crise?
– Põe crise nisso. A questão toda foi que precisei de sangue. Muito
sangue. E o conde não pode doar, pois éramos incompatíveis. Incompatíveis de
um jeito que não deixava dúvidas de que ele não poderia ser, jamais, o meu pai
biológico.
– A sua mãe...
– É. Agora pensa isso na cabeça de um homem que vive para as tradições,
aparências... É o fim! Seu herdeiro não era seu herdeiro. Não carregava o seu
nobre sangue. Ele tinha que decidir entre duas opções para salvar a sua
reputação, ou mantinha a farsa, ou acabava com Vivienne em todos os sentidos,
de forma humilhante e degradante e nos riscava de vez de sua vida.
– Optou pela segunda, claro. Ele não iria passar sua fortuna e seu título a
um bastardo. Humilhou e expôs Vivienne para toda a alta sociedade londrina.
Cancelou tudo que lhe era de direito pelos contratos matrimoniais, alegando a
traição. Retirou seu nome dos meus registros, eu passei de Oliver Willian
George Stenteley, vigésimo primeiro visconde de Stenteley, para Oliver Evans,
o sobrenome de solteira de Vivienne e de Laura. Comprou passagens, nos pôs
num avião e nos mandou de volta para a California. A mim, ele não dirigiu uma
única palavra de despedida, um único olhar sequer. E ele era o meu pai.
Apesar da pouca proximidade, eu o amava. – Ela deixa uma lágrima cair e eu a
seco.
– Viajamos, eu mal saído do hospital. Lembro que sentia dores e o esforço
só as piorava. Vivienne esteve estranha a viagem toda. Ela tinha sangue nos
olhos. Não se conformava em perder o que “lutou” tanto para conquistar. Me
carregava de lá para cá, mas mal falava comigo. Era como se eu fosse mais
uma das suas incomodas bagagens. Eu percebia que tinha coisa errada, mas se
ela estava perto de mim, estava tudo bem. Na minha cabecinha iria ficar tudo
bem e ela voltaria a ser a minha mãe. A mãe amorosa que eu conhecia. – Rio. –
Nunca mais. O fato é que ela usou todo o tempo da viagem para arquitetar uma
forma de se livrar de mim e voltar para Londres. – Faço uma longa pausa,
porque agora vem a parte mais difícil.
– Ela te deixou com sua avó. – Bia deduz.
– Ah querida, quem me dera ela tivesse sido tão generosa. Não, era
orgulhosa demais para isto. Saiu daqui brigada com a mãe, que não concordou
com seus planos de se envolver com um homem casado e enfim... vovó nunca
pode se aproximar, ela cortou relações, nem sabia se tinha, de fato, um neto e
por um bom tempo ainda continuou assim. Ela me levou para um orfanato da
periferia Los Angeles.
– Chegou lá fazendo exigências de que me aceitassem sem que ela
precisasse se identificar ou me deixaria sozinho em uma esquina qualquer e
iria embora. Não queria vínculos associando o nome dela à criança que ficaria
ali. Eu ouvi tudo aquilo, Bia. Tudo. Toda a discussão dela com a diretora do
lugar, que tentava convencê-la do contrário, e ela se referindo a mim como se
fosse um objeto qualquer, um que ela comprou, não gostou e tenta devolver à
loja.
– Nunca esqueci. Me lembro de cada palavra, cada gesto, pois estive o
tempo todo ao seu lado. Só que eu a amava tanto, que não queria acreditar que
estava ouvindo certo. Não, não podia ser. Eu deveria estar entendendo errado.
Não a minha mãe. A mãe que sempre me mimou. Ela não iria me abandonar
num lugar estranho. Lembro como se fosse hoje que quanto mais ela falava,
mais eu apertava a sua mão, a mão que eu segurava, para ter certeza de que ela
continuava ali, comigo. Se eu fechar os meus olhos, ainda consigo sentir a
minha mão apertando a sua. – Nesta hora as lágrimas vêm como se eu fosse
outra vez aquele menino. Bia me abraça.
– Preciso continuar. – Seco os olhos. – Depois que a diretora do orfanato
aceitou suas exigências, com medo de que ela cumprisse as ameaças de me
abandonar na rua, ela simplesmente se abaixou na minha frente, me deu um
beijo no rosto e disse sem se abalar: “Você fica aqui, esta é sua nova casa. Eu
vou embora”.
– Aquilo me levou ao desespero, me agarrei nela, comecei a chorar, a
implorar que não me deixasse ali, ela tentava se desvencilhar de mim, eu a
segurava ainda mais forte. Pedi desesperadamente para que me levasse junto.
Até que me empurrou com força e eu caí, gritei de dor pela pancada com o
chão que reverberou na minha cirurgia abdominal. Ela aproveitou o momento e
correu para a saída. Me recuperei e corri atrás dela. Mesmos morrendo de dor
a alcancei, grudei em suas pernas antes que conseguisse alcançar o portão. Eu
lembro que repetia em meio ao choro e desespero que não me deixasse ali
sozinho, que eu queria ficar com ela. Ela então se abaixou uma última vez, me
segurou pelos ombros e disse as palavras mais cruéis que uma mãe pode dizer
a um filho. Palavras que por mais que eu tente, nunca conseguirei apagar da
minha memória, estão incrustadas em mim de uma forma tão profunda que até
hoje é difícil acreditar que eu tenho algum valor. – As lágrimas escorrem pelas
bochechas dela e tudo que eu queria agora é que me deixasse secá-las com os
meus beijos.
– Ela me disse... – Bia percebe o esforço que faço para entrar nesta parte.
– Não precisa se machucar ainda mais repetindo-as para mim.
– Não, eu quero dividir com você... nunca falei em voz alta para ninguém,
nem para Hery... talvez me faça bem...
– Então me conte, por favor... – Fecho os olhos e começo a recitar para ela
o mantra que se repete dentro da minha cabeça constante e insistentemente há
anos.
– “Preste atenção, Oliver. Você sem o seu pai não é nada para mim.
Nada. Você só fazia sentido enquanto éramos uma família. Agora não me tem
mais serventia, é um peso que eu não posso me dar ao luxo de carregar.
Então pare de chorar, me largue e entre na sua nova casa.” Eu tentei me
agarrar mais uma vez, disse que a amava e ela então deu o seu golpe de
misericórdia: “Entenda de uma vez menino irritante, eu não quero mais você.
Não quero mais ser a sua mãe. Você não é o suficiente para mim, Oliver,
nunca foi e nunca será”. – Ela deixa escapar um soluço sentido e eu reabro os
meus olhos.
– Depois daquilo, eu já não tinha forças para mais nada, estava atônito,
paralisado. Entendi que ela nunca me amou. Ela só me cativava por interesse.
Olhei-a se afastar, abrir o portão... Antes de ir ainda olhou para trás uma
última vez, para o menino quebrado que deixava ali e disse, debochada, do
jeito doce que usava para falar comigo quando eu acreditava que era um filho
querido: “Adeus, meu amor, fique bem”. – Ela chora tanto que resolvo ignorar
nossa situação, a puxo para mim e a abraço enquanto continuo.
– E lá Bia, na calçada do orfanato, depois que ela sumiu da minha vista, eu
entrei na minha primeira crise de ausência. Num momento em que eu ainda
estava em sofrimento profundo por traumas graves, que foram o acidente, ouvir
um homem agonizar até a morte dentro do carro, os dias de hospital... tudo que
eu mais amei foi tirado de mim de um instante para o outro. E não estou
falando da casa, dos brinquedos, nem mesmo do conde, não, eu viveria sem
isso tranquilamente. Estou falando dela. Da minha mãe. Naquele hospital
enquanto lutava para sobreviver, tudo que eu queria era voltar para ela.
– Não consegui suportar a dor de me imaginar vivendo sem ela. De saber
que ela escolheu viver sem mim, me jogar fora. Eu não queria viver sem ela.
Então eu entrei num mundo só meu. Onde nada mais me atingia, nada mais
importava. Eu só respirava. Não falava, não me mexia voluntariamente, do
jeito que me colocassem, eu ficava. Se me alimentassem eu comia, senão não
sentia fome. Virei só pele e osso. – Seu choro fica desesperado. – Acalme-se
amor, é passado.
– É duro demais pensar numa criança abandonada assim...
– Eu sei, ainda mais agora que somos pais, mas está terminando, posso
continuar? – Ela tenta secar os olhos e assente.
– Eu fiquei preso nesta primeira crise por um ano e dois meses no orfanato
e mais cinco meses fora dele. Ela tomou um ano e sete meses da minha vida.
Ainda no orfanato me colocaram no soro, passei a usar fraldas... Me viravam
na cama para não criar feridas e duas vezes por dia me levavam num passeio
no quintal. Era o máximo de atenção que um lugar pobre e sem muitos recursos
poderia dar a uma criança nas minhas condições.
– Essa rotina que descrevi, foi o que me contam, pois eu não lembro o que
acontece quando estou em crise. É como se a minha memória parasse ao entrar
e quando saio aqueles dias não existiram. Dos meus seis anos e três meses até
os sete anos e dez meses, minha vida é uma tela em branco para mim.
– Os cinco meses fora, você estava num hospital?
– Não... ninguém mais tinha esperanças de que eu voltasse a ser uma
criança normal. No orfanato estavam só esperando eu piorar e morrer, creio.
Até que um dia, uma senhora foi fazer um trabalho voluntário lá dentro e me
viu. Ela achou os meus olhos incomuns demais, os mesmos olhos que viu na
filha de uma amiga. Filha esta com quem eu também era muito parecido. Dona
Selena foi quem me achou. Ela avisou vovó sobre aquela criança, dona Laura
veio me ver e reconheceu o rosto da filha no meu no mesmo instante. Falou
com a diretora, mostrou fotos de Vivienne e a identificaram como a mulher que
me largou lá. Então vovó entrou com o pedido de guarda e me levou para casa
com ela.
– Meu Deus... foi por um acaso? Achei que Vivienne em algum momento
tivesse...
– Não, ela nunca mais moveu um dedo por mim depois que me largou lá.
Depois de cinco meses sob os cuidados de vovó, seu carinho, exercícios,
conversas que ela diz que tinha comigo diariamente, eu saí da crise. Estava
assustado, não sabia onde estava. E foi um longo processo até eu começar a
confiar em dona Laura. Eu não queria me apegar a mais ninguém. Tinha medo.
Então por um bom tempo me mantive indiferente. Mas com todo carinho que
recebia dela, conforme o tempo passava, fui me envolvendo, mas sempre com
medo, primeiro medo de amá-la e passar por tudo de novo. Depois, medo de
decepcioná-la e ela não me querer mais. Eu fazia todo o possível para agradá-
la, para que ela não me jogasse fora também. – Ela segura o meu rosto com as
mãos e fixa os olhos nos meus.
– Você é muito valioso, está me entendendo? Muito. – Assinto e ela volta a
se recostar em meu peito. Deixo algumas lágrimas contidas descerem
livremente.
– As crises sempre foram uma constante na infância e início da
adolescência. Vira e mexe, alguém dizia alguma coisa, eu via alguma coisa,
que me remetia de volta aquela calçada de orfanato, as mesmas sensações e a
mesma dor e ela se instalava. Às vezes duravam meses, às vezes semanas, às
vezes dias. Sem padrão. Sabíamos os gatilhos que me fazem entrar em crise,
mas nunca soubemos os motivos que me fazem sair delas. Simplesmente saio.
– E os médicos? Nunca...
– Nunca tive um diagnóstico preciso. Dizem que é algo parecido com o
transtorno de múltiplas personalidades, em que a mente vaga de uma
identidade a outra e depois volta. Porém a minha não assume outra
personalidade, minha mente para no limbo. Para evitar as crises, comecei a me
isolar e a só transitar por “locais seguros”. Mesmo na escola, eu tinha que ter
uma mesa longe dos demais, não conversava, não me enturmava. Os únicos que
deixei se aproximarem foram Riley, Max e Lian. Fiz muitas, muitas terapias, de
todo tipo que você possa imaginar, tentei muitos remédios, mas nada ajudou de
fato. O único que teve algum sucesso comigo foi Henry. Cheguei a ficar quatro
anos sem crises antes...
– Antes?
– Antes de você aparecer em minha vida. A primeira recaída que eu tive
foi no dia da sua coletiva. Você me mandou uma mensagem usando as mesmas
palavras que ela me disse no portão. Eu não cheguei a apagar, mas estive
perto. Por isto estava dormindo quando você chegou. A crise provoca uma
descarga de energia que me deixa fraco e sonolento.
– Oliver, eu...
– Não pequena, não é culpa sua, Henry sempre me disse que os meus
quatro anos sem crises eram uma farsa, que elas só não aconteciam pois eu
estava me isolando e deixando de viver cada vez mais. E ele tem razão.
Preciso te contar para que você entenda, apenas isto. – Ela assente.
– A segunda quase crise foi no dia que você ficou mal pela possível
gravidez, quando chegamos no apartamento em Los Angeles. Eu tive medo que
você fosse me deixar.
– Por isto Henry estava lá?
– Sim, eu liguei e ele foi me ajudar.
– Por que não me contou?
– Medo, Bia. Tudo se baseia no medo e naquelas malditas palavras que
ela me disse. Eu tenho medo de não ser o suficiente para quem eu amo e de ser,
de novo, abandonado. Se eu pudesse arrancar isto de dentro de mim. – Ela
segura o meu rosto outra vez.
– Você nunca foi apenas o suficiente para mim, Oliver. Você sempre foi
tudo, tudo para mim.
– E eu te machuquei... – constato. Ela não diz nada.
– A terceira vez foi logo depois de vovó e Edgar assumirem o caso deles.
Teve uma situação em que vocês duas estavam putas comigo e me deram as
costas, me deixaram sozinho e você me disse que eu era uma decepção.
Imediatamente voltei a ser aquela criança rejeitada e neste dia eu apaguei por
uma hora.
– O dia em que eu achei que você tinha se afogado...
– Sim.
– Veja bem, anjo, meu maior medo ao começar o nosso romance, nunca foi
a diferença de idade, eu tinha medo disso. Foi medo de amar e perder. De
voltar a ter crises e por isso, ter que abrir mão de você ou te fazer sofrer. E
você já teve muito disto, não merecia mais.
– Falamos disto despois. Termine sua história Oliver. Tem mais, não tem?
Você teve uma nova crise no último show da turnê?
– Sim. Eu tive. A crise que me fez decidir que era melhor te deixar. Foi na
última sessão VIP. Eu estava para lá de entediado naquela recepção. Ouvindo
merda atrás de merda e não via a hora de voltar para você. Reclamei com
Lian, confirmei com ele o tempo que ainda teríamos que aguentar e no que
ergui minha cabeça para voltar ao meu lugar, eu o vi. O conde.
– Ele simplesmente estava lá. Numa das mesas. Fiquei um tempo olhando,
incrédulo e sem reação. Ele me encarou da mesma forma e vi que a intenção
dele era se aproximar e falar comigo. Foi demais para mim, Bia. Meu corpo
simplesmente reagiu, se pôs em estado de alerta e tentou se proteger do golpe.
Eu lutei para não cair. Lutei muito, eu só pensava em você. Mas perdi. Muitos
sentimentos voltaram, por mais que nunca tivemos uma ligação próxima, ele
era o meu pai, e bem ou mal, representa a parte da minha infância em que me
achava feliz.
– Enfim, antes de eu apagar de vez, Lian me levou até o camarim e foi
chamar Henry. Só que lá dentro, escondida, estava Carol. Ela achou que eu
estava chapado, de drogas. Me levou com ela antes que Lian ou Henry
aparecessem e bem, o que ela fez, você, infelizmente viu.
– Cadela!
– Eu apaguei por cinco dias, Bia! Cinco! Só conseguia pensar que tudo iria
voltar, as crises se agravariam, a próxima seria de meses e eu faria você
passar por muito sofrimento. Eu não podia... – Ela segura o meu rosto pela
terceira vez.
– Escute muito bem o que eu vou dizer. Você nunca, nunca mais vai decidir
por mim o que é melhor para a minha vida, fui clara? – Olho-a sem reação. –
No futuro, você me conta a verdade e eu decido. Estamos entendidos, Oliver?
– Sorrio.
– Sim. Isso... isso quer dizer que você vai voltar? – Ela se faz de
desentendida.
– Não quer dizer nada. Apenas o que eu falei.
– Ok. – Melhor concordar, mas meu sorriso não sumiu.
– Se você ficou cinco dias apagado, quem respondeu as minhas
mensagens?
– Lian.
– Bem que eu achei que não parecia você...
– Aí eu te deixei...
– A pior dor que eu senti.
– Nem me fale... Se você tivesse esperado um dia baby, um dia, eu acho
que não aguentaria mais do que isso sem voltar para você. Eu fiquei perdido,
vazio, um poço de dor sem fim, não ia suportar aquilo por muito tempo.
– Eu teria esperado, se você não tivesse me mandando a porra de um
vídeo insinuando que me traía. Tem noção de como me senti? No que você
transformou a nossa história para mim com aquele ato?
– Infelizmente eu tenho. Me perdoe, por favor. Eu agi no desespero. Queria
que você entendesse a todo custo que não poderia mais ficar comigo. Sei que o
que fiz foi grave, nos rendeu dez meses de angústia e uma gravidez que você
enfrentou sozinha, mas eu não estava bem, Bia. Nada do que eu fiz foi
pensando no seu mal. Muito pelo contrário. – Ela não responde.
– Você nunca mais viu Vivienne depois que o deixou no orfanato?
– Não. Ela voltou para Londres em busca do título perdido e se
transformou numa prostituta de luxo das altas rodas. Quando a The Order
despontou, entrou em contato com Laura. Queria rever o “filho”. Na verdade,
penso que queria dinheiro. Eu não aceitei revê-la, nem a ouvir, mas fiz questão
de juntar o meu primeiro milhão e mandar para ela em Londres. Uma forma
silenciosa de me vingar das suas palavras cruéis, eu acho. De provar a ela que
eu tinha valor, dando a ela a única coisa que valorizava de verdade. – Suspiro
e brinco com os fios de seus cabelos.
– Quando eu fiquei maior e entendi as motivações por trás das ações de
Vivienne, que tudo estava ligado a dinheiro, status e poder, eu fiz um juramento
a mim mesmo de que não descansaria até ter tudo aquilo. Só para dar um
recado a ela: eu poderia, sim, ter sido o suficiente.
– Então transformar a The Order num sucesso foi um grito de liberdade.
– É, pode-se dizer que sim. Duas situações que eram uma questão de honra
para mim. Conseguir e mostrar a ela. Não muito tempo depois ela sofreu o
AVC e nós que a socorremos. Max e Lian que a trouxeram para Los Angeles e
a internaram. Dói tanto ver a decepção que causa em vovó tudo que ela fez. É o
amor de mãe brigando com a razão. Querendo ou não, vovó a carregou no colo.
Ela foi o bebê dela.
– Deus, não posso nem imaginar, agora que tenho Ben... Hoje, o que você
contou sobra a tatuagem, Zeus em suspenso, e o acidente ter sido um divisor de
águas em sua vida fazem sentido para mim. E, se juntei os pontos direito,
Private Chaos...
– Sim. É sobre isso. Sobre ela, sobre o abandono e o meu caos particular,
que é o transitar entre o mundo real e o mundo onde a dor não me atinge. O
meu mundo em crise. Ironicamente se tornou o nosso maior sucesso. A música
que tenho que repetir em todas as apresentações, sem exceção.
– Eu gosto dela.
– É o meu alento.
– E seu pai biológico?
– Não sei quem é. Vovó garante que é o tal Chris. Que tenho traços dele.
Mas nunca fui atrás, não me interessa.
– Por que não? E se ele ficar feliz em saber sobre você?
– Prefiro não arriscar.
– E Henry, ele acha que você sempre...
– Não. Muitos dos gatilhos que me faziam entrar em crise frequentemente
na infância e adolescência nós tratamos e não me afetam mais. Meu
amadurecimento como adulto também ajudou na questão do controle das
emoções. Ele acha que eu posso me livrar das crises de vez se eu...
– Se você?
– Ele acha que eu tenho que enfrentar, desabafar e quem sabe perdoar, o
conde e Vivienne. Não esquecer, pois é impossível, mas relegar a um nível que
não me cause pânico. Ele diz que só quando eu encarar a minha dor de frente, é
que sairei disto.
– Sabe, acho que ele pode ter razão.
– Pode. Mas também posso entrar numa longa crise. E só de pensar nisso...
ainda mais agora... Se apenas por rever o conde apaguei por cinco dias!
– E seu nome? É Oliver Evans?
– Não, é Oliver Rain. Apesar de Evans ser o sobrenome de vovó, também
é o dela. Não quis carregar. Entrei na justiça e mudei.
– Por que Rain?
– Chuva, água, que lava e renova, transforma. Vovó quem sugeriu, eu
gostei. Achei que eu precisava disso, faria sentido. – Dou de ombros.
– Sim, ficou perfeito. – Ela se ergue e apoia a testa na minha, meu coração
dispara. – Eu sinto muito. Sinto tanto, que você, tão pequeno, tenha passado
por algo assim, tão cruel. Meu coração está esmagado só de pensar... Você não
merecia. Nenhuma criança merece.
– Volte para mim. – Não resisto, aproveito a sua proximidade e peço. Ela
fecha os olhos.
– Ainda dói.
– Eu te amo.
– Eu tam... – Não consegue terminar, Ben chora e ela sai, mas aquele
deslize aquece minha alma.
Aproveito o momento para entrar na página da The Order e divulgar a nota
sobre o meu filho que prometi a Riley.
Publico uma foto dele e os dizeres “Benjamin, nosso filho, nosso amor”,
está feito.
Bia
– O que é isso? – pergunto a Denis, minutos depois de chegar ao bar,
apontando para o palco.
Falta pouco para o horário que habitualmente iniciamos a apresentação.
Oliver foi para o hotel resgatar sua bagagem. Deixei Ben com Hazel, Maggie,
Riley e Peter, que estão acomodados numa mesa para assistir ao show. Mary
Ann e Anthony completam a trupe. Fora do bar, que está com as portas
fechadas, uma fila enorme de gente para entrar.
– Os capangas do seu marido montaram durante a tarde.
– Ele não é meu marido. – Corrijo rápido demais e Denis zomba. – Puta-
merda! O que os malucos pretendem fazer? Isso vai... – Olho atônita para o
palco montado, a bateria, a guitarra, o baixo e dois microfones... Paul está
sentado ao teclado, e mal respira.
– Vai explodir o bar! – completa Denis. – Não sei como daremos conta.
Tirei a maioria das mesas para liberar espaço, chamei reforços para a equipe,
tripliquei os estoques. Não serviremos refeições, só bebidas e petiscos
simples, mas mesmo assim, não será suficiente. Pediram para manter fechado
até que cheguem. – Ele dá de ombros e eu olho aflita para a mesa onde estão as
crianças.
– Denis, estou preocupada com a segurança deles.
– O tal Peter disse que virão muitos homens para cá garantir a paz, e que
parte deles farão um cordão de isolamento em torno da mesa em que estão. Por
isso ficaram naquela, estrategicamente posicionada.
– Paul, você está bem? – Volto-me para meu parceiro de palco, parece
trêmulo.
– Não. Não sei se posso fazer isso... tocar com eles? Meu talento, se é que
posso dizer que tenho algum, é limitado. – Me aproximo bem dele.
– Olhe para mim – peço. – Você tem talento. Não teve um pedido que
recebemos aqui que deixou de atender. Confie. Eles são músicos incríveis e
este momento, além de lhe abrir portas, você guardará pelo resto da vida em
sua memória. Não deixe de vivê-lo por medo.
– Vou tentar.
Mal terminamos de falar, ouvimos um burburinho, muito ao longe. Olho pela
janela, mas ainda não é possível avistar nada, só o som de aparente euforia e
gritos. Alguns minutos mais e muitos seguranças tomam a frente do bar.
Conversam com os que estão na fila e tentam organizar as coisas. Os
burburinhos estão cada vez mais próximos e audíveis.
Não demora muito para a cena se apresentar. Sou obrigada a rir. Hazel e
Riley também correm para a janela e olham divertidas. No meio de um
exército de seguranças que marcham ao lado deles, estão Oliver, Lian e Max.
Gostosos!
Poderosos!
De óculos escuros e vestindo preto da cabeça aos pés.
Lian e Oliver com os cabelos soltos. Caminham com determinação e certa
arrogância, o que lhes confere ainda mais charme.
Um verdadeiro insulto à sanidade feminina e comunidade apreciadora.
Atrás deles, a multidão os acompanha. Incrédulos da sua sorte. Os sem
noção vieram caminhando do hotel até a praia, arrastando a horda de fãs
consigo. A quantidade de gente me arrepia. Ali não tem estrutura, não sei como
dará certo...
A agitação e gritaria agora é ensurdecedora. Olho para os bebês certa de
que vão se assustar, então vejo que tanto Ben como Anthony estão com um arco
na cabeça. Fones abafadores. Peter e Riley vieram preparados.
Conforme os meninos se aproximam os clientes que estavam na fila também
se agitam. Os seguranças isolam a passagem e eles conseguem entrar. A massa
de gente se empurra e se amontoa da frente do bar até boa parte da areia da
praia. E cada vez chega mais. Denis está pálido. Paul mal respira.
– Hora do show! – anuncia Lian, ao entrar. Oliver vai direto na direção de
Ben para matar a saudade dos poucos minutos que passou longe. Nosso menino
sorri quando o pai esfrega a barba em seu pescoço.
É tanta fofura!
Meu coração desmancha e é certo que fiquei sorrindo para o nada.
– Vocês são malucos! – Riley fala.
– Denis, – Max chama – acho interessante você dar uma palavra com os
seus clientes, pode avisar que haverá show com Angel, Paul e a The Order,
mas peça para manterem a calma e aguardarem até que os seguranças liberem o
acesso. Use o microfone e caixas de som que foram instalados do lado de fora.
Colocamos para que possam ouvir da praia.
– Vou lá, mas não consigo acomodar toda essa gente aqui dentro.
– Quando as portas abrirem, os seguranças darão preferência aos que
estavam na fila, foi distribuído senhas. Os demais entrarão aos poucos até lotar
e então o acesso volta a ser bloqueado. Quem sobrar terá que se virar pela
área externa. Instalamos telões na praia e em frente ao bar. Não se preocupe,
nossa equipe é treinada e manterá a ordem.
– Ok. – Ben já está no colo de Lian. Um cheiro delicioso de homem e
menta invade minhas narinas, sei que Oliver está ao meu lado.
– Por que tudo isso? – Olho para ele e questiono. Pai, dai-me forças! É
tanta saudade e ele está tão lindo, tão viril, tão rockstar... Sexy demais!
– Deu vontade. – Ele dá de ombros.
– Simples assim? Deu vontade? – Uma leva de homens entram e instalam
grades de segurança ao redor da mesa ocupada.
– Sim, simples assim. Se me lembro bem, uma certa garota uma vez me
convenceu a fazer um show da sacada do Copacabana Palace. Apenas pelo
prazer de fazer música. Aprendi com ela. E, além de tudo, vamos promover
ainda mais o bar do seu amigo.
– Ou colocá-lo abaixo. – Ele ri.
– É um risco – admite. Olho para fora e vejo carros da TV local
estacionando. E gente e mais gente que chega por todos os lados.
Senhor! Começo a achar que o risco é grande.
– Quero tanto te beijar – fala bem próximo ao meu ouvido, as mãos em
meus quadris, me pegando de surpresa e me fazendo estremecer, ali, no meio
do bar, na frente de todos. Fecho os olhos. Ah baby, eu também!
Julie passa por nós e solta um invejoso risinho de deboche, me fazendo
reagir.
– Não faça. – O afasto.
Por quê? Por que não me rendo de uma vez?
O que me segura?
– Não vou, fique tranquila. Apesar de estar louco de vontade. A próxima
vez, Beatriz, só quando você pedir. – Pronto! Gostou, Beatriz?
Você está ferrada! Muito! Ele cumpre suas promessas.
– Vamos começar? – Max chama a nossa atenção.
– Deixe-me apresentá-los ao meu colega. – Eles se aproximam e Paul me
olha lívido. – Max, Lian, Oliver, este é Paul, um excelente musicista e meu
parceiro de palco aqui no Secret Hidden.
– Olá Paul. – Max estende a mão para ele. Paul faz o mesmo, mas não
consegue esconder o nervosismo e treme um pouco. Eles percebem e tentam
tranquilizá-lo. – Olha só, não precisa ficar apreensivo. A ideia hoje não é
mudar a dinâmica entre vocês. Nós é que vamos acompanhá-los no que
tocarem e não o contrário. – Sinto um certo suspiro de alívio deixar os
pulmões de Paul.
– Mas penso que o público vai querer ouvir as músicas de vocês –
constata ele.
– Se for o caso, tocaremos e você acompanha como conseguir. Temos
muitos instrumentos aqui hoje, um dá suporte ao outro, nenhum ficará em
evidência total. Relaxe, a ideia é nos divertirmos e não criarmos estresse. –
Oliver ameniza. – Só a primeira música, nesta você ficará em total evidência.
– Como assim?
– Vamos começar com Guardian Angel, que é o motivo de estarmos aqui
hoje. E o solo de piano será seu.
– Mas... Por que você não toca?
– De jeito nenhum. O tecladista da dupla é você. Como Max falou, estamos
aqui para acrescentar e não para ofuscá-los. E você já tocou, muito bem por
sinal. Eu vi o vídeo. – Paul finalmente abre um sorriso.
– Tudo bem então.
– Ótimo – diz Lian. – Vamos nos posicionar e tocar uma para aquecer e
testar os instrumentos.
– Oliver, como vamos fazer com o vocal? – pergunto.
– Improviso, baby. Como der vontade. – E me dá uma piscadinha. Sorrio
em concordância. Todos se posicionam, Oliver pega o baixo.
– Qual vai ser o esquenta? – Lian pergunta.
– This I Love, do Gun’s – responde sem pestanejar, me olhando.
A música é lindíssima. Adoro. O arranjo de piano e violino, nossa... Axl
Rose pôs tanta energia nela que não há como não se envolver. E tem um dos
solos de guitarra mais lindos feitos pelo Slash, na minha opinião. Paul suspira,
porque tem bastante piano na música, inclusive começa só com ele e voz.
Oliver não facilitou para o meu colega. Mas será bom para ele adquirir
confiança e sei que Oliver pensou o mesmo.
– Manda brasa, Paul – pede Oliver. Ele obedece, e quando Oliver põe a
voz na canção e crava os olhos em mim, estou perdida, presa em seu olhar e
seus encantos outra vez, hipnotizada.
Sou a fã apaixonada.
Deslumbrada com o homem à minha frente, como quando era a adolescente
que, como tantas outras, sonham com uma chance de estar com ele.
Ele canta sobre um amor que ainda pulsa, arde e que vale todo o esforço
para não deixar ir. E a melodia é quase um lamento, uma súplica, o piano é tão
lindo e a voz dele tão carregada de emoção que meus olhos enchem enquanto
Oliver a declama olhando para mim.
Eu ainda tenho que tentar
Com todo o amor que tenho dentro de mim
E não posso negar
Eu não posso deixar morrer
Pois seu coração é exatamente como o meu
E ela guarda sua dor dentro de si
Sim, baby, ainda brilha. Jamais vai se apagar, eu não posso negar. Oliver
deixa que uma lágrima solitária caia e aí é demais para mim, me esforço para
não deixar vir com tudo, mas não evito que uma ou outra escape também.
– Canta comigo, anjo – pede, quando o solo de guitarra entra. Faço o
backvocal, com a voz rouca e embargada.
E agora que eu
Desisti dos fantasmas e do orgulho
Eu nunca mais vou dizer adeus
Se ela estiver em algum lugar perto de mim
Eu peço a Deus que me escute
Não há mais ninguém
Que poderia me fazer sentir tão vivo
– Por Deus, Oliver! Você está mais molhado do que ele, que estava dentro
da banheira.
– Dei o meu melhor, baby. Não é nada fácil! – Tenho que rir. – O que eu
faço agora? – Me pergunta segurando Ben enrolado na tolha junto a camiseta
encharcada.
– Deite-o no trocador e seque-o. A fralda e as roupas estão em cima da
cama.
– Ok, chefe!
– Ei, essa fala era minha.
– Não mais! Agora é minha. – Se eu soubesse neste momento a extensão do
que ele insinuou...
Ele coloca Ben no lugar da troca e tira a camiseta molhada antes de voltar a
atividade. Prendo o fôlego! Ver aquele homem enorme e sarado, cuidando de
um bebezinho é de derreter qualquer coração.
Além de ser a visão do Olimpo.
O desejo inflama, a saudade rasga.
Tenho que sair de perto.
– Hei... Onde pensa que vai? – Me intercepta antes que eu possa sair do
cômodo.
– Arrumar a cozinha – invento.
– Não senhora! Acha mesmo que vou conseguir colocar as roupas nele sem
a sua ajuda? Fique aqui. – Suspiro resignada e me sento perto deles, na cama.
Benjamin é só festa e sorrisos, e Oliver reflete em seu rosto as expressões
do filho.
– Você está se saindo um ótimo pai, rockstar.
– Não sei direito o que fazer, mas imagino que tudo que se faz com amor
sincero é válido. E eu amo muito, muito, vocês dois. – Ah Deus, não posso
mais.
Não posso mais me fazer de indiferente.
Não posso mais fingir que não o amo.
Não depois daquela música, não depois dele se abrir comigo, não depois de
vê-lo assim, tão apaixonado pelo nosso menino.
– Eu também. Amo demais! Os dois – confesso finalmente. Ele me olha
sério, respiração alterada.
– Bia... – Tenta avançar em minha direção. Ergo a mão.
– Não! Primeiro você termina de cuidar dele. Mais tarde conversamos.
– Certo. – Volta sua atenção ao filho com os olhos brilhando a segundas
intenções. E começa a fechar a fralda. Daquele seu jeito, único.
– Aperta mais a fralda.
– Anjo, já disse que homens não gostam...
– Vai vazar tudo se deixar assim, Oliver. – Ele refaz, mas não muda muita
coisa. – Mais!
– Eu tentei filho, juro que tentei. Mas a chefe está fiscalizando, então...
– A chefe tentou sair do quarto e foi impedida.
– Papai não tem argumentos contra isso. – Ben começa a emitir uns
sonzinhos como se quisesse conversar com ele – Isso filhão, tente você
convencer a sua mãe, porque o seu velho aqui não está tendo muito sucesso. –
De repente para e me mostra a peça que separei. – Olha esse buraco! Jamais
vai passar pela cabeça dele.
– É por isso que tem esses dois botõezinhos atrás, papai. Se você os
abrir...
– Porra, não é que é verdade...
– Oliver! A boca!
– Ah baby, melhor ele se acostumar desde já...
– Melhor você se acostumar a controlar a língua perto dele desde já. – Ele
revira os olhos.
– Não vou discutir. Você será vencida pelo cansaço. – Dá um sorrisinho
torto.
– Sabe, eu ainda posso desistir daquela conversa.
– O papai agora só dirá as coisas mais lindas e fofas na sua frente, tá
bebê? Como um maricas!
– Maricas não é lindo e nem fofo.
– Foi a última, eu juro!
– Sei... – Ele veste a calça em Ben.
– Pronto, limpinho, cheirosinho, agasalhado e de barriga cheia.
– Faltou as meias.
– Opa, as meias. – Pega o pedaço de pano minúsculo com aquelas
mãozonas e mal consegue manusear. Demora um século para conseguir colocar
no pezinho do bebê. Rio da sua falta de coordenação.
– Perfeito, a mamãe riu e conseguimos. Todas as metas atingidas! Agora
vamos brincar?
– Agora ele vai dormir!
– Sua mãe não está facilitando, não é? – Oliver beija o pescoço dele, que
gargalha.
Não há som melhor no mundo.
Não há como não me derreter e não lhe abrir as portas do meu coração
outra vez.
Mas não antes de esclarecermos algumas coisas.
– Me dê ele aqui, vou ver se quer mamar mais um pouquinho antes de
dormir. – Encosto-me na cabeceira da cama e coloco-o no peito. – Apague a
luz, por favor, assim ele já vai entrando no clima. – Oliver faz e para feito uma
estátua, de pé, ao lado da cama.
Ele está pisando em ovos comigo.
Cada movimento, cada palavra, cada gesto é calculado.
Tirando os beijos roubados, para tudo espera uma permissão, um sinal.
– Pode tomar o espaço ao meu lado na cama. Não vou te morder.
– Ah baby, não me importaria nem um pouco...
– Shh, ele está quase dormindo – peço, baixinho.
Oliver se recosta contra a parede e apenas observa. Nem dez minutos
depois, meu pequeno larga o peito e embarca num soninho profundo. O dia foi
agitado para ele. Ergo-me com muito cuidado e coloco-o em seu Moisés.
Volto para a cama e sento-me com as pernas dobrada, em frente ao corpo,
com a coluna ereta, cara-a-cara com ele. Está na hora.
– Agora somos nós dois, rockstar. – Puxo o ar. – Você me machucou,
demais. – Vou logo ao ponto.
– Eu...
– Não, eu quero falar. Você me arrancou da sua vida de uma hora para
outra, sendo que um segundo atrás estávamos no auge da felicidade.
Simplesmente chegou e disse que tudo que vivemos foi uma grande farsa,
armada para que você tivesse um pouco mais de emoção em seus dias, para
melhorar a sua imagem. Que eu fui um experimento. E terminou o discurso com
chave de ouro, me deixando acreditar que eu sempre fui traída, enganada o
tempo todo, ao me mandar aquele vídeo. Algo em mim morreu naquele dia,
Oliver. Algo que era bom. Se você visse o estado em que cheguei aqui. Eu
estava dilacerada. Não tinha fome, não tinha forças. Queimava de febre todos
os dias de saudades suas. Foi a descoberta da gravidez que me fez reagir. Eu
precisava lutar, por ele. – Aponto para o bercinho e seco as lágrimas, seu rosto
está banhado também.
Será cruel, mas tomo coragem, preciso dizer.
– Guardadas as devidas motivações por trás do ato, e o agravante da
idade, você fez comigo o mesmo que Vivienne fez com você. – Ele arregala os
olhos, assustado.
– Não Bia, não.
– Sim, Oliver, você me descartou.
– Anjo... eu... eu te deixei com a minha família, com a minha vida. Com
todo o meu mundo.
– Assim como você me disse que a única coisa que te importava na sua
vida até os seis anos era a sua mãe, a única coisa que me importava na minha
era você. Não percebe? Eu também não queria viver sem você. Não com o
tamanho do sentimento que corria em meu peito.
– Eu tentei te proteger, você me disse tantas vezes que não queria mais
incertezas e sofrimento em sua vida...
– Ah Oliver! Daí você foi lá e me atirou no centro do maior deles.
– Porra... – Ele passa as mãos pelos cabelos, frustrado. – Eu nunca quis o
seu mal.
– Eu quis tanto te ligar e contar sobre a gravidez. Mas como ter certeza da
sua reação? O que era verdade das coisas que você me dizia? Depois quis te
ligar para escolhermos o nome, juntos. Eu desejei demais que você estivesse
comigo no dia do parto, estava tão assustada. Quanto mais e mais Ben se
apegava a Denis, mais meu coração se apertava e mais eu tinha vontade de te
contar, porque não era com Denis que ele deveria criar aquele laço. Mas eu
nunca tive coragem.
– Por quê?
– Porque se eu ligasse e você confirmasse tudo o que me disse antes de eu
ir embora, eu morreria Oliver. Enquanto ficava na ignorância, mantinha a
ilusão de que você se arrependeu e estava à minha espera.
– Eu nunca fiquei à sua espera. Eu passei cada segundo à sua procura. –
Passo a mão por seus cabelos e rosto. Ele fecha os olhos absorvendo o meu
carinho.
– Estou sendo dura, eu sei. Mas é para que você entenda que nada, nenhum
outro tipo de sofrimento que eu possa vir a passar ao seu lado, será pior do
que o de ser afastada de você naqueles termos.
– Ah baby, me desculpe, eu não sei mais... o que eu posso fazer, Bia? Por
favor, me diz o que eu posso fazer para consertar o nosso amor? Não posso
viver sem você, sem vocês.
– Tem duas coisas...
– Diga! Qualquer coisa, o que você quiser...
– A primeira, jurar que nunca mais, em hipótese alguma, você vai mentir
para mim com a intenção de me proteger de qualquer sofrimento que seja.
Sobre nada, Oliver. – Ele não gosta, respira fundo.
– Eu sempre vou querer te proteger, Beatriz. É mais forte que eu. Mas sim,
juro a você. Nunca mais. E a segunda? – Encosto nossas testas.
– Você poderia me beijar ago...
Não consigo terminar.
Suas mãos estão em mim, sua boca está na minha.
Forte, determinado.
Sugando meus lábios, minha língua, com fome.
Quanta saudade eu tenho disso, de sentir o seu vigor e o seu poder sobre
mim. Beijo-o na mesma pegada, querendo aplacar os dez meses de distância
num único momento.
Desço minhas mãos, que estão emaranhadas em seus cabelos, me lembrando
da delícia que é sentir aqueles fios correndo entre meus dedos, em direção ao
seu pescoço. Procuro ali o fecho da corrente que segura o meu anel de
noivado. Abro-o e retiro a joia, depositando-a em sua mão. Desvio minha boca
dos seus lábios e deslizo-a por seu rosto até alcançar o seu ouvido.
– Devolva-a ao meu dedo, noivo. – Oliver me puxa e me abraça apertado,
chorando em meu ombro como um menino assustado.
Um choro de alívio, pelo fim de um pesadelo.
Tentando se conter, se afasta o tanto necessário para pegar minha mão
direita e recolocar, trêmulo, a aliança nela. Leva-a a boca e beija o anel.
– Eu nem acredito que isto está mesmo acontecendo. Que você é minha
outra vez.
– Olhe para mim. – Prendo meus olhos nos dele. – Mesmo com toda a dor,
com toda a mágoa e sofrimento, eu não deixei de amar você um segundo
sequer. Nunca conseguirei arrancá-lo de dentro de mim, Oliver. Nunca
consegui quando era só uma menina que te viu uma única vez. Como
conseguiria depois de tudo? Depois de tê-lo?
– Ah, minha menina, meu amor... – Volta a me beijar e se põe de joelhos na
cama, me obrigando a fazer o mesmo e aproximando nossos corpos ao máximo.
É real? Estou mesmo em seus braços outra vez?
Embriagada pelo seu cheiro? Envolta em sua energia?
Levo minha mão ao seu abdômen, perto do cós da calça, aonde passo os
dedos, de leve. Sua pele arrepia inteira. Não é frio. Meu peito enche de júbilo
por provocar aquela reação no meu homem.
– Faz tanto tempo. – Sua mão se infiltra pela barra da minha regata,
subindo pelas minhas costas.
– Tempo demais. – Beijo seu peito, bem acima do coração, onde ele traz o
meu nome tatuado.
Subo a mão outra vez e contorno as letras com a ponta do dedo uma a uma,
ele observa.
Volto a explorar seu tórax e abdômen, agora incluindo os lábios na
deliciosa tarefa. Beijo cada centímetro da sua pele exposta. Me certificando de
que ele está mesmo ali. Que é real.
– Meu – digo beijando seu mamilo e puxando os pelos do seu peito de
leve.
– Sim, seu. – Desço a mão espalmada pelo seu abdômen, que ele contrai
em antecipação. A infiltro dentro da sua calça e brinco com os pelos pubianos.
– Bia... Preciso me enterrar em você.
Ele puxa a barra da minha blusa, acabando assim com a minha exploração
dentro da sua calça.
Analisa meus seios, ainda sustentados pelo sutiã.
– Lindos demais! Parecem maiores. – Passa os dedos de leve pelo meu
colo, contornando a lingerie.
– E estão. Vivo com um bezerrinho grudado neles, esqueceu?
– Não, não esqueci. Uma das cenas mais lindas que eu já vi. Minha mulher
amamentando o meu filho enquanto ele a olha com adoração. Acho que entendo
bem o que ele sente. Sofro do mesmo mal. – Desce as alças liberando os meus
peitos e arfa.
– Juro que não quero competir com Benjamin, mas não posso negar que me
deu inveja e uma vontade louca de fazer o que ele faz. – Beija delicadamente
um mamilo, depois o outro.
Volta a colar nossos corpos, deixando meus seios espremidos em seu
peitoral. Gemo de satisfação entre os seus lábios enquanto nossas bocas
dançam uma na outra com ardor mais uma vez.
Aos pouquinhos e sem desfazer o contato, baixa nossos troncos em direção
a cama.
Quase choro de felicidade quando sinto o seu peso sobre mim.
Me esmagando contra o colchão e nos preparando para o tipo de contato
que tanto precisamos para aliviar os nossos corações machucados.
O tipo de contato em que todos os sentidos te chamam e aguçam juntos, para
que se sinta o outro em si mesmo, sinta o outro em forma, peso, toque, gosto,
cheiro, movimento e calor.
Tudo ao mesmo tempo.
Ficamos algum tempo assim, nos beijando e nos sentindo, relembrando. Até
que Oliver se aventura a descer os lábios e tomar um dos meus seios em sua
boca.
Estremeço.
Desejei tanto!
Os lábios quentes dele ali, me sugando, tinha esquecido como é delicioso.
Suga tão forte que sinto o leite descer.
– Ahhh pequena, que delícia! Eu queria provar isso desde que vi Ben
mamando em você...
– Oliver! Por favor...
– É bom, baby.
– Céus!
– Vou querer todo dia um pouquinho também. – Não aguento e rio.
– Só o que me faltava, bebezão!
– Acostume-se, estou carente. Dez meses sem você foi pesado demais. E
falando em demais, tem roupa sobrando aqui.
– Aí sou obrigada a concordar.
– Vamos dar um jeito nisso, já! – Ergue-se e retira completamente o sutiã,
depois a minha calça, e por último a sua própria.
Olhamo-nos por um instante, comparando se nossas memórias fazem jus a
realidade.
Tão lindo e gostoso quanto eu me lembrava.
– Você está mais magro.
– Mais magro, mais olheiras. E você também. Suas coxas continuam
deliciosas, mas já foram mais cheias.
– Sim, comer passou a ser uma coisa automática, apenas por
sobrevivência.
– Sei bem como é. Mas não vamos pensar em dor agora. Acabou.
– Me deixa te sentir em mim, rockstar. Dez meses queimando por você...
– Ah, minha delícia, eu estava aqui pensando se você iria querer
preliminares, porque eu estou louco para ir direto ao ponto.
– Direto ao ponto, por favor. – Afasto minhas pernas, convidando e
confirmando minhas palavras, ele sorri.
Primeiro baixa o rosto me beija depois vai soltando o peso sobre mim
novamente, se encaixando no lugar de onde ele nunca deveria ter se ausentado.
A cabeça do pau pressiona, entra um pouquinho e trememos juntos pela delícia
do contato há tanto tempo desejado. Ele para o beijo e me olha.
– Me perdoe se eu não segurar por muito tempo, vários meses sem...
– Também não vou demorar, meu bem, subi paredes esse tempo todo, mas
não consigo gozar sozinha, esqueceu? Durante a gravidez foi o período mais
foda, meu tesão estava ultrapassando a barreira do som e nada... tive que tomar
muito banho frio.
– Ah anjo... – Ele empurra e me penetra por completo, fazendo uma
mistura poderosa de sentimentos explodirem dentro de mim.
Um choro inconveniente chega forte.
Eu não estava esperando, não sei de onde veio.
– Pequena... não chore... – Pouso os dedos em seus lábios.
– Eu achei que nunca mais... que não teria você assim nunca mais. Que
jamais iria te sentir em mim outra vez. E esta ideia era simplesmente
desesperadora, Oliver. – Ele me beija e minhas lágrimas alcançam nossos
lábios e se misturam à nossa saliva, tornando o nosso beijo salgado.
Enlaço-o com braços e pernas. Preciso senti-lo com todas as partes do meu
corpo. Oliver está na mesma necessidade, nossas bocas não se afastam ou dos
lábios ou de outra parte de pele qualquer, suas mãos me acariciam e exploram
como podem, enquanto ele segue entrando e saindo de mim devagar e
carinhosamente.
– Bia... – Sopra meu nome como se eu fosse um relicário sagrado. O ar
saindo de sua boca e narinas próximo ao meu ouvido.
A paixão um pelo outro corre em nossas veias por toda a distância que
seguimos percorrendo em busca do prazer máximo. Extravasa pelos nossos
poros, criando aquela bolha de amor quase material, palpável, ao redor de
nossos corpos.
Ele.
Dentro e fora.
Meu Éden.
É difícil respirar.
– Estar dentro de você é o paraíso – fala como se lesse os meus
pensamentos.
– Já dizia aquela música... – Ele ri.
– Saudades disso também. Das suas tiradinhas de pôr fim ao romantismo.
Da minha Bia sendo Bia. – Ele dá uma arremetida forte e fecho os olhos,
saboreando a invasão.
– Ahh que delícia. Você é definitivamente o meu número rockstar.
– Eu sempre soube, baby, sempre soube... o tora foi feito para você.
Depois que te conheceu, viciou na sua boceta. Só quer ela, só pensa nela, só
deseja ela. – Seguro sua bunda instigando-o a ir mais forte, mais fundo.
– Isso baby, bem aí... ahhh... cacete, que gostoso!
– Está gostoso o meu cacete?
– Demais! Cacetão delicioso da porra! – Oliver afunda a cabeça no meu
ombro e ri.
– Pode rir, mas não perde o ritmo. – Ele ri mais.
– Não me atrevo pequena, não me atrevo... você está tão sem-vergonha...
depois sou eu que devo controlar a língua perto do menino.
– Ele está dormindo. Daí pode!
– Sei. Vamos ver daqui há alguns dias...
– Oliver...
– Oi amor, tá quase? Quer mais rápido? Tô me segurando muito aqui...
– Sim, mais rápido. – Ele até tenta, mas a cama velha começa a ranger em
todas as junções e bater na parede fazendo um barulho danado.
– Vai ter que ser devagar, sinto muito.
– Continua como estava, só continua...
– Sim, senhora. – E ele dá o seu melhor.
Metendo no ritmo certo e guinando os quadris para me tocar no ponto exato,
onde sabe que vejo estrelas.
Fazendo amor comigo como só ele faz.
– Vou cair, baby.
– Eu te seguro amor, vá com tudo. – E eu vou.
Meu gozo é forte, revigorante e curativo, pois mentalizei para que levasse
embora todas as dores da fase negra que passamos. Ainda dói, mas preciso
voltar a me sentir feliz, esquecer.
Não adianta ficar culpando-o, castigando-o.
Ele também já sofreu demais.
– Bia... porraaaaa... que gostoso, que delícia. Deus, como eu te amo! – Ele
me beija ao mesmo tempo que dá as últimas estocadas.
Saboreamos o momento, enquanto nossas respirações se normalizam.
Apesar de momentaneamente saciados e felizes, não foi o bastante para aplacar
a saudade.
– Não quero sair de você.
– Não quero que saia. – Ele se ergue um pouco apoiando os antebraços na
cama.
Acaricio seu rosto.
– Também amo você.
– Eu precisava tanto ouvir isso outra vez.
– Nós dois precisávamos. – Então um pensamento me alarma e a bolha
estoura – Puta-merda!
– O que foi?
– Você gozou dentro, Oliver. Eu já te dei um bebê!
– Calma. Amanhã compramos a pílula.
– Não posso tomar, estou amamentando, esqueceu? Merda!
– Bia, calma, vamos ao médico ver o que podemos fazer, não se aflija
assim, perdão, eu nem lembrei...
– Pois é. Nessa hora nós dois sempre perdemos a memória. Não quero
outro filho agora Oliver. Céus, preciso voltar a estudar. Eu adoro aquilo,
adorei participar da turnê, estar nos shows. Aquele é definitivamente o meu
lugar. – Ele sorri.
– É o seu lugar e está esperando por você. Edgar não vê a hora. Ele se
apegou muito a você, pequena. Me xingou tanto. Ficou tão triste, sentiu tanto a
sua falta.
– Deus, eu também. Senti falta de todos, demais.
– Não vejo a hora de levar os dois para casa. – Meus olhos enchem.
– Somos uma família.
– Somos. Tudo bem quanto a isto?
– Sim. Sabe, eu encontrei aqui mais uma pessoa que me ajudou muito. A
médica que fez o parto do nosso filho. Deva é o nome dela. Ela conversou
tanto comigo. Claro que eu já estava um pouco mais tranquila, por causa das
sessões com Henry, mas quando cheguei e comecei a ter as febres emocionais
e outros sintomas da gravidez, óbvio que associei ao pior. Foi ela quem me
acalmou e me fez entender que não havia motivo de desespero. Me tranquilizou
em relação à maternidade e a ter uma família. Devo muito a ela. Depois bastou
olhar o rostinho de Benjamin para não sobrar um único sentimento negativo
dentro de mim em relação a isso. Claro que tenho medo, mas ele não me
consome mais como antes.
– Fico tão feliz em ouvir isto, baby. Quero conhecer esta mulher.
– Nossa bobeira vai me obrigar a procurá-la amanhã. E nós não vamos
mais ficar dando mole, entendeu?
– Entendi. Mas falta uma coisa para eu fazer oficialmente parte da sua
família. Transferir a aliança do dedo direto para o esquerdo. Quero fazer isto o
mais rápido possível. E mudar o registro de Ben. Preciso dos dois com o meu
nome. Quando podemos nos casar Bia? Como você sonha com o seu
casamento?
– Ah Oliver...
– Por favor, não me peça para esperar mais.
– Não, esse “ah” não foi em relação a esperar. Também não quero. Quero
gritar ao mundo que você é meu, meu marido. – Ele abre um sorriso enorme.
– Eu mesmo vou fazer o post.
– Está se tornando sociável demais rockstar, o que aconteceu com a
pegada inacessível?
– Minha inacessibilidade tinha dois nomes, meu amor. Medo e Tristeza.
Felizmente uma menina linda afastou totalmente a tristeza, e o medo, esse eu
vou trabalhar duro para empurrar cada vez mais para longe. – Me emociono
com a sua declaração sincera.
Ben resmunga e Oliver é obrigado a sair de cima de mim para checá-lo no
pé da cama.
– Tudo bem aí? – pergunto.
– Sim, aparentemente só um gemido. Dorme tranquilo. – Volta e deita-se
ao meu lado, me aconchego em seu peito.
– Mas você não me disse, qual o motivo do “ah”?
– Você vai rir de mim.
– Adoro rir com você.
– Eu disse de mim!
– Fala logo. Quero rir de uma vez!
– Não se atreva!
– Pare de enrolar.
– Só tem um tipo de casamento no qual eu me visualizei quando menina...
– O noivo era eu, espero.
– Sempre. A questão é quem era o cerimonialista.
– Que diferença faz o cerimonialista, Beatriz?
– Para mim, bastante. Eu disse que você iria rir... mas como falei, foi a
única forma de casar que eu já imaginei e até certo ponto, desejei. Nunca fui
muito ligada em vestidos brancos, flores, e dias de princesa, nada disse me
comove ou seduz.
– E o que te comove e seduz?
– Além de você? Melodia e poesia. Som e ritmo. Humor e malícia. Amor
e paixão. Tem também um lado meio dark-trash que me instiga, mas vamos
deixar quieto...
– Pelo visto, o tal cerimonialista remete a algum destes fatores. E vou
querer saber mais sobre o dark-trash no futuro.
– Se você for um bom menino...
– Sempre sou. – Dá uma guinada de quadril para que eu me recorde o
quanto é bom. Como se fosse possível esquecer... – Mas conta logo, vamos,
quem é a personalidade que eu devo contratar para nos declarar marido e
mulher?
– O Elvis.
– O Elvis? Como assim? – Me encara e tenta entender a minha maluquice.
Mas é tão óbvio e batido que a sua ficha logo cai.
E o que ele faz?
Ri.
– Não... paraí... não Beatriz, por favor, não me diga que você sonha em se
casar em...
– Vegas!
– Puta-merda, não! – Cai na gargalhada.
– Para! – Bato em seu braço.
– Baby... porra... nós temos uma praia linda só nossa, podemos fazer a
cerimônia mais exótica e romântica, repleta de melodia e poesia, do jeito que
imaginarmos. Posso contratar quem você quiser para tocar na festa. Só não o
Elvis, porque enfim, razões transcendentais. Mas posso trazer os Stones, que
tal? Quase tão velhos quanto. – Meus olhos brilham com a possibilidade.
– Casamos em Vegas e no dia seguinte fazemos a festa com os Stones na
praia. – Faz uma cara de quem não acredita que estou mesmo falando sério.
– É sério? Você quer isso mesmo? É tão... brega. Aí! Caralho, doeu. –
Belisco sua bunda.
– Brega ou não, seria um Deus do rock casando outro.
– Um Deus do rock fake, Bia. Brega. Elvis nem gostava que o
considerassem assim. A paixão dele era o soul e música gospel.
– Eu sei. Mas gostando ou não, ele fez fama e deitou na cama. E ele era
talentosíssimo. É simbólico. É divertido. Não quero um casamento lindo
Oliver, quero um casamento cool. Que ao relembrarmos ou olharmos as fotos,
a gente se emocione e se divirta ao mesmo tempo. Chore e ria.
– E se a gente pedir pro Lian se vestir de Elvis e nos casar na praia?
Daríamos boas risadas. – Suspiro.
– Não, tudo bem, casamos na praia, o Lian não precisa... – Ele ergue meu
rosto para analisar minha expressão.
– É importante que seja em Vegas, não é? Você quer se sentir Priscila
Presley por um dia... – Dou de ombros.
– Vegas, então! – Suspira. – O que eu não faço por você? Mas... – E, do
nada, ele abre um enorme sorriso, que dá até medo da ideia que está por trás.
– Na verdade, Vegas é ótimo! Vegas é o que há! Estou gostando muito,
muito da ideia, com Elvis e tudo, não vejo mais nada de brega.
– Você está me assustando... no que está pensando?
– Estou pensando que para casar em Vegas, basta chegar. E amanhã à noite
é ano novo, o dia perfeito para um casamento. Noivamos no ano novo, casamos
no ano novo.
– Amanhã? – Arregalo os olhos.
– Amanhã. Quer mais cool que isso?
– Isso não é cool. É crazy. Tá maluco, Oliver?
– Temos um avião, Vegas é logo ali.
– Não.
– Eu concordo com Vegas, você concorda com amanhã. Diga sim. O que
temos a perder?
– É muito em cima, como vamos organizar as coisas? Tenho o show de ano
novo no bar, não vou deixar Denis na mão. E você acha que vamos conseguir
vaga nas capelas assim, de hoje para amanhã? Em uma época de festas?
– Vamos, Riley dará um jeito. Também acharemos alguém para ficar no seu
lugar no bar, seria necessário de qualquer jeito. Temos funcionários para nos
ajudar a resolver as coisas, Bia. Não é tão tarde ainda, vou mandar algumas
mensagens para já adiantar as coisas. – Se levanta e pega o telefone. Fico tão
sem reação com a ideia do amanhã que nem consigo contrariá-lo.
– Também avisarei a família que viajarão para Vegas. Estou tão
empolgado...
Como terei coragem de acabar com sua animação? Parece uma criança em
manhã de natal, com os olhos brilhando ao olhar o tanto de pacotes embaixo da
árvore. E, de qualquer forma, não acho que ele consiga. Então, vou deixar
rolar e brincar.
– Tenho uma condição para que o casamento seja amanhã.
Uma brincadeira com benefícios.
– Qual?
– No mínimo mais dois orgasmos esta noite. – Ele larga o telefone na hora
e se joga sobre mim.
– Tá no papo! – Põe minha mão em seu pau. – Veja. Quase no ponto outra
vez. Um leve carinho seu e... uow... a mágica acontece... – Eu ia rir da
gracinha, mas daí ele roça lábios e barba pelo meu pescoço e um tipo de som
bem diferente escapa pela minha boca.
– Baby...
– Ah, delicia! – Leva a mão ao meu sexo e penetra um dedo em mim. –
Hum, tão quentinha. E molhada. De você e da minha porra. Preciso sentir seu
gosto, baby.
– Sim, por favor, saudades da sua boca em mim.
Oliver desliza pelo meu corpo, parando estrategicamente para uma nova
sugada em meus peitos. Depois vai deixando uma trilha de beijo molhados
pelas minhas costelas e ventre. Deliro com o contato dos pelos do seu rosto e o
calor dos seus lábios na minha pele depois de tanto tempo.
Deus, já estou completamente acessa.
– Minha futura esposa. Sou um filho-da-puta sortudo do caralho. – Dá um
único e quente beijo lá. Minhas pernas trepidam.
– É mesmo – concordo. Ele sorri e passa o queixo de cima a baixo nela. A
aspereza deixa minha pele arrepiada.
– Uhm... Trêmula e arrepiada. Deste jeito eu vou tirar a nota máxima, anjo.
– Está me provocando Mr. Rain? – Ele assopra.
– Ahh... – Provocando, definitivamente.
– Jamais. Apenas admirando, e degustando, a sua doce singularidade.
– Minha doce singularidade? Está poético?
– Você é bem singular, poética e melodiosa aqui embaixo.
– É mesmo? E como você.... Esquece! Não quero saber. – Ele ri.
– Tão linda! – Passa as costas da mão pelo interior das minhas coxas e
depois pelo meu sexo, de leve.
– Oliver... – A respiração pesa.
– Preciso provar que sou cool e garantir o meu sim amanhã, baby. Seduzir
e comover minha mulher. Sempre! Este será o meu lema daqui para frente.
– Neste momento preferiria você a me comer.
– Tão romântica... Mas tão cheirosa! – Enfia a cara lá e inspira. Contraio.
– Trêmula, arrepiada, arfando e se contorcendo. A com estrelinhas.
– Senhor nota máxima, – minha voz sai rouca – preciso de mais...
– Mais?
– Mais. Por favor...
– Mais beijos? – Seus lábios e língua deslizam entre os meus lábios
vaginais e se demoram um instante mais em cima do meu clitóris.
Caraca, vou morrer se ele não parar! Quer dizer, continuar...
– Não – digo com a voz fraca.
– Não? Nada de beijos?
– Não. Mais movimento. Mais pegada!
– Ah, tão afoita a minha pequena!
Ele desce a cabeça com determinação e minha libido se agita empolgada,
pensando, finalmente...Vai abocanhar!
Mas desvia de última hora e lambe a tatuagem que traz o seu nome.
Arrrg.
– Oliver! Não é hora de ser provocador. Sem orgasmos, sem casamento.
– Opa! Não se brinca com o futuro da família. – Finalmente seus lábios
envolvem meu clitóris, sugando-o com força.
– Ahhhh... isso, baby, isso...
Agarro seus cabelos e faço uma leve pressão em sua cabeça para garantir
que ele não tente outra gracinha.
Dois dedos seus me fodem enquanto sua boca e língua operam aquela
mágica que ele domina tão bem.
Uhm... Ele quer mesmo este casamento.
E eu já estou na reta final outra vez.
– Oliver, carambaaaaa! – grito ao gozar, me esquecendo que tem um bebê
dormindo ali.
– Pequena, pequena, essa foi rápida.
Nem me dá tempo de processar, me gira de bruços na cama e empina minha
bunda para ele, arremetendo, certeiro, para dentro de mim.
Estou sem forças, mas grito.
Agradeço pelo meu filho ter um sono pesado.
– Eu preciso de um tempo. – Tento pará-lo.
Não me ouve.
Mete. Com força.
– Oliver... não aguento gozar de novo tão em seguida.
Outra arremetida.
Potente.
– Meu Deus, homem, preciso me recuperar. – Mais uma. A cama estala.
– Só estou comendo a minha mulher. Como ela disse que preferiria. Já lhe
dei paixão, poesias e melodias. Hora do ritmo e do movimento.
– Esqueceu do som.
– Tenho ouvido uns gemidos, no mínimo, estimulantes. – Me empala com
força. Aquela sensação já está crescendo outra vez...
Neste momento, tenho medo dela.
Não vou aguentar.
Ele vai me reduzir a pó.
– Baby...
– Deus, Bia. Como você é gostosa! – Sorrio com a cara encostada no
travesseiro. – Toda vez que eu cogitava que outro filho-da-puta qualquer
pudesse estar tendo você assim... Tendo o que é só meu... – Os pensamentos
raivosos o deixam ainda mais eficaz na tarefa que desempenha. E ensandecido.
– Oliver calma, a cama, o barulho...
– Será breve. Você não vai aguentar muito mais tempo, nem eu. E você
queria pegada. Minha missão é fazê-la feliz. Inclusive vou prometer isto
amanhã. Diante do... Elvis. – Sinto um certo tom de desdém na sua voz.
– Não torça o nariz! Oliver...
– Baby aproveite, porque a próxima vez que eu comer essa boceta, você
será minha mulher. De papel passado. Assim que a gente disser sim para o
Elvis fake, eu vou te arrastar para o primeiro canto escuro que encontrar e te
foder como se não houvesse amanhã.
Como assim?
– E o sexo matinal? Não é você que é adepto?
– Sem sexo matinal para você amanhã, Chucky. Depois deste, – torna a
pegada ainda mais frenética – seu próximo orgasmo será como Miss Rain.
Então ele dá uma sequência mortal daquelas suas guinadas de quadril
enlouquecedoras, eu não resisto e me entrego.
Gozo. Muito.
Ele tira o tora e jorra, quente, na minha bunda.
Entrou sem camisinha. De novo...
Prevenção definitivamente não é o nosso forte.
Mas estou esgotada demais. Até para xingar.
Deixo meu corpo desabar na cama de qualquer jeito.
Ele desaba ao meu lado.
Só quero dormir, mas logo descubro que não posso.
Ben chora, chamando por mim. Quero chorar também.
– Foi o barulho, culpa sua! – digo tão mole quanto um joão-bobo furado.
Ele se levanta para pegar o filho.
– Não reclame, ele foi um cavalheiro e – beija seu rostinho – esperou a
mãe gozar três vezes.
– Verdade. – Faço um esforço sobre-humano para sentar na cama e atender
ao meu filho. – Resta saber se o pai dele deixou algum leite na despensa.
– Olhando daqui a despensa parece muito bem abastecida. – Coloca o
bebê em meu colo, que logo procura o seio.
Pela sua carinha de satisfação, nada de escassez.
– Oliver deita a cabeça em minha coxa, afago os cabelos de um, enquanto
beijo a careca com um único cachinho no topete do outro.
Meus dois meninos. Meus dois amores.
Estou novamente em paz.
Capítulo 36
Oliver
Bia
Bia
Bia
– Bia... Não...
– Oliver...
– Você sabe como me sinto.
– Por favor, Mr. Rain, já me casei com você... eu só vou sair com as
meninas.
– Só sair com as meninas? Sozinhas? Em Las Vegas? Acha pouco? – O
telefone apita de novo. Ele espia.
– Deus, são quatro agora? O seu avatar me deu medo... E por que Maggie é
uma rosquinha?
– Ela é um doce! E fofa.
– Uma rosquinha... – Reviro os olhos.
Onde vamos?
– Hazel enlouqueceu? Vocês não são garotas comuns. Tem que ter
preparação, segurança para uma coisa assim.
E a segurança?
Oliver
– Deus, nunca ri tanto na minha vida. – Iris ainda segura a barriga e tenta
se conter dentro da limusine que nos leva de volta ao hotel. Foram inúmeras
crises de risos desenfreado durante a noite. – Temos que fazer isto com muito
mais frequência.
– O problema é a luta até conseguir o vale-night – lembro-a.
– Verdade. Henry estará emburrado quando eu chegar, tenho certeza. Mas
foi tão divertido...
– Sim, e nunca vi tanto pau duro chacoalhando a minha volta. Senhor!
Difícil agora é voltar para o hotel e dormir sozinha. – Maggie lamenta, ri e se
abana ao mesmo tempo.
– Nem me fale... – Suspira Hazel.
– Quando se está na seca há mais de um ano, como é o meu caso, é tortura
ver tanto poder junto. – Maggie segue se abanando.
– Poder é o que estas duas sortudas têm na cama delas. – Hazel indica Iris
e eu, ela está bem altinha. Tive que dar uma de Max e segurar a sua onda em
vários momentos. – E pensar que tem mais dois poderosos no grupo. Bem que
eles poderiam esquentar a nossa, né loiraaaa? O ruivo é meu! – fala
rapidamente.
– Ah, não posso com isso, não, furacão. Se eu tiver um homem como Lian
na minha cama, nunca mais me contento com outro. É problema! – Iris e eu
rimos.
– Porra, maneirem... não aguento mais rir. – Iris pede.
– Iriiizzz – Hazel berra como se a gênio do grupo não estive sentada a sua
frente. – Me passa as medidas?
– Que medidas, maluca?
– Do pau de Henry.
– Ah? Sai pra lá... do pau do meu homem cuido eu.
– Fala gênia, vai... só falta o dele.
– Você sabe o calibre da The Order toda? – Maggie arregala os olhos.
– Sei! E, se a informação estiver correta, são todos pauzudos. Chantageei
meu irmão ano passado quando descobri uns podres dele. – Senhor!
– Hazel, só para eu me preparar psicologicamente, você pretende falar do
pau do meu marido?
– Siiimm, primeira-dama. Oliver é o mais grosso! O calibre mais largo! –
Valha-me Deus, tem um mais comprido? Tenho pena da “felizarda”.
– Fala de uma vez. Quem é o mais comprido? – instiga Maggie. –
Ajoelhou tem que rezar.
– O ruivo.
– Amiga, congela uns óvulos, sério. Tô com dó do seu útero. – A conselho
e me arrepio.
– Meu útero já perdeu as esperanças de ser invadido por ele, brinquedo
assassino.
– A furacão é uns quatro centímetros mais alta do que você Bia, deve
compensar... – Iris diz e gargalha, se estraga de tanto rir e eu a acompanho.
– Ai... minha barriga dói, sério... estão proibidas de falar qualquer outra
besteira por hoje.
– Então Lian teria o pau perfeito pra mim... – Maggie nem dá bola à minha
súplica e suspira, perdida em devaneios.
– É um pouco menos que os outros dois, mas não muito, doçurinha, não
festeje... Vai sofrer igual.
– Mesmo se for perfeito, não vou nem chegar perto, fique tranquila. Como
eu disse, é problema! E de lembranças de uma noite que não consigo esquecer,
me basta o pai de Mary Ann, não quero acumular mais uma... – Maggie viaja
nas lembranças. Ela também se passou na bebida, não tanto quanto Hazel, mas
passou.
– Agora que você me deixou super feliz por aceitar a minha proposta e
virá morar pertinho de nós, – abraço Maggie – talvez o cabeludo tatuado possa
virar mais do que uma mera futura lembrança, tudo é possível...
– Não... eu brinco assim, mas sei que não é para mim.
No fundo acho que ela sonha em reencontrar a tal transa de uma noite que
lhe rendeu uma filha. Sonha em se tornarem uma família. Entendo suas
esperanças e não posso culpá-la.
– E seu irmão? – pergunta Iris, voltando ao assunto, só pra ver Hazel fazer
cara de nojo.
– Sério que vocês têm interesse? É pau de pirralho...
– Eu sou chegada num pirralho... – Maggie incentiva e Hazel torce o nariz.
– Segundo ele, quase como o de Lian. Justificou dizendo que o dele ainda
estava em crescimento... tão iludido...
– Vai ver está mesmo ué... que eu saiba os homens crescem até os vinte e
um. – Ajudo Kellan, que não está ali para se defender das garras da irmã.
– Sendo verdade ou não, meu irmão não interessa. Iris é quem tem que nos
dar algo. Só responde uma pergunta então, gêniaaaaaa, – Fala tão alto e
arrastado aquele gênia que Iris até se assusta. – É de boa ou é sofrido?
– Sofrido Hazel, bem sofrido..., mas tão gostoso....
– Sei bem como é amiga. – Suspiro.
– Loiraaa, por que não tem um pau de sofrer pra gente também? Queria
taanntooo um...
– Você não quer um pau de sofrer qualquer, quer um bem específico. Então
pare de se lamuriar – lembro-a.
– Morrer virgem. É a minha sina! – sentencia-se.
Entro com cuidado na suíte para não fazer barulho e acordá-los. Passa um
pouco das três da manhã. Foi uma noite divertidíssima, mas no final, já estava
agoniada, inquieta, louca para voltar para os meus meninos.
Na real, não queria me afastar de Oliver na noite de ontem, passamos tanto
tempo longe um do outro... Claro que queria o momento com as garotas,
conhecer o clube, mas não naquele dia. Um dia depois de sermos marido e
mulher. Entretanto, eu precisava dar isto a Hazel. Ela acha que não percebo
que os rompantes exagerados e a bebedeira são a sua forma de camuflar a
grande tristeza em que se encontra. Minha amiga não está nada, nada bem. Não
vejo a hora de voltarmos para casa e aprofundar a questão com tranquilidade.
– Finalmente. – Puta-merda!
Levo a mão ao coração, paro e respiro, tentando conter o susto. Corro os
olhos ao entorno, situando de onde veio a voz, percebo uma silhueta no escuro
cantinho de leitura da suíte colossal, entre o grande paredão de vidro e o piano
de cauda. Oliver acende um abajur, está sentado na poltrona, com Ben
aconchegado, dormindo sobre seu peito, uma manta cobre o bebê.
– Amor, o que faz aí, sentado no escuro? Por que não está na cama,
dormindo? – Me aproximo.
– Achou mesmo que eu conseguiria dormir antes de você pôr os pés para
dentro deste quarto? Porra Beatriz, quase quatro da manhã! Não sabe quantas
vezes eu decidi ir atrás de vocês e me controlei.
– Oliver...
– Foi a merda de uma noite terrível, angustiante. Por favor, não me peça
mais nada do tipo por um bom tempo... minha cota tolerável de distância e de
imaginar o que você anda fazendo por aí está mais do que esgotada... por uma
vida inteira.
– Não seja dramático! – ironizo e beijo os meus dois meninos. Se fosse o
contrário, eu também não dormiria, admito. Faço-o afastar as pernas, me sento
em um de seus joelhos e deito a cabeça em seu peito, do lado contrário ao que
nosso filho está acomodado. Ele afaga meus cabelos. – Senti sua falta,
rockstar.
– Bem aqui! Onde você está agora. Esse é o seu lugar, baby. O lugar de
onde você não deve sair. O lugar de vocês dois.
– Sim, inclusive você escreveu a ferro e fogo, para nunca nos
esquecermos. Para não restar dúvidas. – Ele sorri.
– Temos que programar o número de filhos conforme o espaço que sobrou
em meu peito.
– Não me venha falar em mais filhos, Mr. Rain. O próximo só daqui a uns
dez anos, se houver próximo...
– Claro que haverá próximo, Ben precisa de um irmão. E dez anos é muito
tempo.
– Oliver, nem vem! Nem brinque!
– É você quem toma a pílula, meu bem. Não poderia antecipar a sua
decisão nem que eu quisesse. – Brinco com o único cachinho do meu bebê.
– Ao que tudo indica, você terá o seu bebê de cabelos encaracolados. Ao
menos isto ele puxou de mim.
– Ele tem muitos traços seus. A boca, a cor dos olhos pode ser como a
minha, mas o formato, são como os seus.
– E as semelhanças param por aí. Só não consigo entender de onde vieram
as covinhas nas bochechas.
– É, também não sei. Mas são uma fofura, não são? Nós caprichamos.
– Verdade, fizemos um belo trabalho. – Sorrio. – Quando ele ri e formam
aquelas covinhas, tenho vontade de morder todinho.
– Tá vendo porquê não podemos parar no número um? Temos que espalhar
mais fofuras pelo mundo.
– Melhor irmos para a cama antes que eu acabe concordando com você. –
Tento erguer meu tronco para sair do seu colo e meus olhos são atraídos para o
sofá creme, que está com algumas toalhas estendida pelo encosto e assento.
– Por que tantas toalhas pelo sofá?
– Está arruinado. Teremos que ressarcir o hotel.
– O que você fez?
– Eu? Nada. Seu filho foi o responsável.
– Meu filho? Meu bebê de três meses? Como seria possível?
– Estou me perguntando o mesmo até agora. Como é possível sair tanto
cocô de algo tão pequeno.
– Como assim? – pergunto segurando o riso e imaginando o estrago. Olho
para Ben e só estão me dou conta de que ele não está com a mesma roupa que
separei e Oliver colocou antes de eu sair.
– Ah Bia, sei lá... ele teve uma baita dor de barriga. O infeliz do Lian
confessou que colocou mouse de chocolate na boca do nosso filho durante o
jantar... Pode? – Levo minhas mãos ao rosto em sinal de incredulidade. – É um
cabeça-de-bagre. Quase arranquei as bolas dele depois que falou... Justificou
dizendo que ficou com pena, porque Benjamin olhava para ele com água na
boca pelo doce que estava comendo e não resistiu a deixar o afilhado
experimentar.
– Senhor... ele só tem três meses...
– Pois é. Mal vocês tinham saído, estávamos os quatro aqui, quando ele
teve a primeira diarreia e acordou assustado, berrando no meu colo. Ficou uns
bons minutos chorando desesperado, eu já estava ficando apavorado, não sabia
mais o que fazer para acalmá-lo. Até que lembramos que poderia ser a fralda
suja. Deixei-o com Max para ir ao quarto buscar as coisas para trocá-lo, e
veio a segunda onda. Mais forte que a primeira. Vazou pelas laterais, sujando a
roupinha dele, as mãos e a camisa de Max. – Estreito os meus olhos para ele.
– Oliver Rain, foi você quem colocou a fralda depois do banho. Por acaso
a deixou frouxa para não apertar as partes do seu filho? – Pela cara que ele faz,
bingo!
– Posso ter, um pouquinho... – Balanço a cabeça de um lado a outro, não
tem jeito mesmo. – Mas ali, foi tanta merda, anjo, que não haveria fralda que
segurasse, – não aguento e caio na gargalhada – mas continuando, Max, quando
sentiu o quentinho na mão e na barriga, segurou nosso filho afastado do corpo,
– ele estica os dois braços para frente, ilustrando – e a merda então ficou
pingando pelo assento e encosto do sofá.
– Que show de horror – digo, ainda aos risos.
– Calma, piora. Ben, que tinha parado de chorar depois da segunda
barroada, volta a abrir o berreiro, e Max, com medo de deixá-lo cair e não
podendo mais encostá-lo contra o corpo, o deitou no sofá. Lian foi para perto
para garantir que o bebê não rolasse para o chão.
– Meu Deus, tô ficando com medo de onde isso vai parar, quase me
arrependendo de tê-los deixado esta noite...
– Logo depois, veio a terceira onda, e sem brincadeira, a merda subiu e
chegou no pescoço dele na parte de trás. E o que vazou foi direto no assento do
sofá. Na parte da frente, na barriga, a roupa estava toda marrom. Quando voltei
e vi o seu estado, constatei que não haveria como apenas limpá-lo com
lencinhos umedecidos. O tirei das roupas sujas, a fralda era um pântano só, o
enrolei numa toalha e o coloquei no colo de Lian. Voltei e pus a banheira
encher.
– Então veio a quarta e derradeira onda. O bom foi que deixou Lian mais
cagado do que Max, ele merecia levar uma bem dada. Nosso filho não
decepcionou, porque foi grande... – Ele ri junto comigo.
– Mas juro que se ele fizesse mais uma vez, eu o levaria ao hospital. – Me
arrepio ao ouvir aquela palavra. – Fiquei muito preocupado, sabe lá o que
chocolate pode provocar num bebê tão pequeno... Lian estava apavorado. Se
culpando e com razão. E você não estava aqui..., mas felizmente parece que
passou. – Ele solta um suspiro de alívio.
– Depois do banho, de estar limpinho, voltou a dormir em meu colo.
Acordou apenas há uma hora e meia atrás, dei a mamadeira e logo apagou
outra vez. Sem dores, pelo visto. – Olho para o meu pequeno, acaricio o seu
rostinho, beijo sua bochecha, depois levo minha boca a do meu marido.
– Você se saiu muito bem, papai. Nosso filho tem tanta sorte... Ficou com
ele a noite toda no colo, não foi? Não o colocou na cama um minuto se quer,
estou errada?
– Não, não está.
– É lindo que queira ficar o tempo todo com o seu filho grudado em você.
Mas se ele se acostumar a isto, a só dormir assim, estamos ferrados. E vai se
habituar rapidinho, meu bem. Dormir sentindo o seu calor e ouvindo as batidas
do seu coração? Assim como eu, Benjamin não vai querer outra coisa na vida.
– Já estava sem você, baby, não ficaria afastado dele também. Ainda mais
depois do susto. Precisava ter certeza de que ele estava bem. – Não resisto e o
beijo novamente. E este beijo acende todos os meus desejos.
– Venha, vamos colocar nosso menino na cama. Voltei cheia de energia,
marido, quero você.
– Nasci para satisfazê-la, senhora Rain. Só não me conte o que você viu
por lá para acender o seu desejo, não quero saber.
– Vi muita coisa dura e de pé. Mas nada que ascendesse o meu desejo, meu
bem. Isto só aconteceu quando eu passei por aquela porta bem ali. Nada do que
vi lá se compara ao que eu tenho na minha cama, ao meu dispor.
– Porra, Beatriz. Você acabou de ajudar a formar na minha mente a cena de
um musical pornô dos anos cinquenta. Minha linda esposa num vestido de gala
dançando e cantando no meio de um bando de machos pedados e de pau duro.
Inferno! – Reviro os olhos, pego Ben do colo de Oliver, beijo demoradamente
sua testa, depois o ajeito em sua caminha e cubro-o. Então me sento na beirada
da cama, apoio os meus braços no colchão, atrás do corpo e cruzo as pernas.
– Vamos marido, comece.
– Começar o que?
– A dançar e a tirar a roupa para mim. Me mostre o único pau duro que me
interessa ver balançar.
– Ah Beatriz, o casamento fez bem a você. – Tira a camiseta.
– É mesmo? Por que diz isso?
– Tão sem-vergonha. Mas aqui não tem essa bichisse de dancinha erótica e
passadinha de mão pelo próprio corpo não, querida. – Tira a calça e nossa...
tadinhos dos dançarinos daquela boate... Preciso chupar. – Da minha dança
você participará ativamente, do começo ao fim. – Tenta se agigantar para cima
do meu corpo, mas paro-o colocando um pé em seu peito.
– Não tão rápido, rockstar. – Caio de joelhos em sua frente. – Hoje, ele
não me escapa! – Seguro o pau pesado e duro e beijo a cabeça.
– Você é a minha ruína e o meu deleite, esposa.
Corro minha língua por toda a sua pélvis, agora parecendo o bumbum de
Benjamin, lisinha e sem pelos. Beijo demoradamente a sua tatuagem, depois
ergo o pau e levo minha boca à suas bolas. Ele fecha os olhos e suspira
pesadamente, com os lábios entreabertos. Ah meu homem, tão lindo... Sugo
uma bola para dentro da minha boca e brinco com a língua ao redor dela,
repito o processo com a outra. Corro a língua do seu saco por toda a extensão
de seu pau até a cabeça, ele contrai o abdômen e geme.
– Bia...
– Quem quer leite hoje sou eu, rockstar. Quero você enterrado na minha
boca e sua porra quente escorrendo pela minha garganta depois que eu te
mamar bem gostoso.
– Porra!
Enfio-o na minha boca e levo-o até o máximo que consigo.
– Puta-Merda, Beatriz. Essa sua boca deveria ser censurada. Ela é o
próprio pecado. Erótica demais! – Chupo-o gostoso e molhado. Olhando-o
através dos cílios. Me deliciando com o sabor dele. Tanta saudade! Ainda não
havia tido a oportunidade de tê-lo de novo em meus lábios. Noite passada ele
não abriu mão de estar o tempo todo dentro de mim.
– Caramba! Ninguém mama como você, pequena. Não vou aguentar mais
muito... Que delícia!
– Eu que o diga, bebê, eu que o diga. – Chupo e me esbaldo, a saliva
escorre de tanto que ele me dá água na boca.
Meus lábios e maxilar sofrem, mas nada me tira dali até que eu receba o
meu prêmio.
E ele logo chega, quente e abundante.
– Baby... – Treme e segura a minha cabeça, arremetendo como precisa
algumas vezes mais.
Assim que se situa, me traz para seus braços e no mesmo instante está em
minha boca, me atirando contra a cama, erguendo o meu vestido e se
apossando de mim como eu nunca me canso que ele faça.
Capítulo 38
Bia
detê-lo.
A mor, uma rapidinha... – Oliver me joga no sofá e cai por
cima de mim antes que eu consiga alcançar a porta.
– Marquei com Hazel, Oliver, vou me atrasar. – Tento
– Eu disse que queria Peter e Riley aqui! – Nunca vi Oliver tão nervoso e
bravo como agora.
– Pois eu os dispensei.
– Você os dispensou?
– Sim, parece que sou literalmente a dona da porra toda, não? – debocho.
– Quando pretendia me contar, Oliver?
– Ah não... não senhora... você não vai mudar o foco aqui, Beatriz. Vamos
falar DA MERDA QUE VOCÊ FEZ! – Berra a última parte da frase.
– Controle-se. Vai assustar Benjamin.
– Ele não está aqui. Está com vovó e Helen. – Porra, se tirou o menino de
casa é porque quer mesmo me dar uma dura. E não do tipo que eu gosto.
– Preciso amamentá-lo. – Tento me livrar.
– Você já vai. Pelos meus cálculos tem quase uma hora ainda até a próxima
mamada. – Suspiro, melhor encarar.
– Eu precisava fazer o que fiz, Oliver.
– O cacete que precisava! – Mantém o tom exaltado. – Aquela mulher... ela
é uma maluca, obcecada. Uma psicopata! Se você soubesse o que andam
investigando e tudo que já descobriram...
– Eu sei.
– Você sabe? VOCÊ SABE? Que ela planejou sequestros, torturas? Que fez
garotas venderem os corpos por um passe na sua seita? E ainda assim você foi
lá? Se expor na frente dela?
– Escuta...
– Não! Escuta você! – Ele dá de dedos, me sinto uma criancinha levando
bronca do pai. – Uma das minhas funções como seu homem, seu marido, é te
proteger. Mas como vou conseguir se você mesma joga contra? Se vai de livre
e espontânea vontade ter com o inimigo? E PELAS MINHAS COSTAS! Se
soubesse o pavor que eu senti... – Ele passa as mãos pelos cabelos e respira
fundo algumas vezes. – Enquanto ela... – Fecha os olhos, parece sentir dor.
– Enquanto a mira dela estiver apontada em minha direção, eu consigo
lidar com esta merda, mas a partir do momento que virar o canhão para você
ou Benjamin, aí não! Aí não respondo mais por mim! – A força da sua ira me
atinge, deixo as lágrimas caírem, silenciosas. Ele não entende...
– Eu realmente não queria incluir o abuso na lista de acusações contra ela,
porque irá expor a minha doença, por consequência o meu passado, e a coisa
estava sob controle. Ela foi exposta para a família, que está colaborando e está
de olho nela, nossos homens estão de olho e a polícia também, mas agora...
agora acho que terei que deixar tudo vir à tona, porque eu não quero essa
maluca em liberdade arquitetando um plano de vingança contra a minha
mulher! Já é tarde para evitar, mas eu não a queria sequer pensando sobre
você. Ou melhor, “pensenando”, como diz o dr Iori. Pensando e sentindo
coisas ruins a seu respeito, e direcionando a energia podre sobre você.
– Só o fato de eu estar com você já faz ela pensar coisas ruins a meu
respeito, Oliver. Não serão os quatro socos que meti na fuça dela que farão
diferença.
– Você alimentou a raiva dela! Não precisava Beatriz. Se rebaixar, se
vingar, ter isso no seu currículo.
– Me rebaixar? Me vingar? É assim que você vê o que eu fiz? Ela te
estuprou, porra! – Agora eu berro também. – Nada que a minha natureza me
impõe como um limite aceitável do que posso causar a ela, seria o suficiente
para eu me sentir vingada, Oliver. Para ela ter o que realmente merece, terei
que deixar nas mãos das leis que regem o universo. Mas consegue entender a
dor que eu sinto toda vez que penso sobre o fato? Se fosse o contrário? Se um
maluco apaixonado tivesse me estuprado, – ele fica branco – você ainda
pensaria que não precisava? Você não se rebaixaria? Realmente se importaria
em ter algumas porradas em seu currículo?
– Não tem comparação – diz, engolindo em seco.
– O QUÊ? Não tem comparação? Como assim? – Seco as lágrimas. Ele
realmente acha que vale tão pouco? – Ela feriu o que eu mais amo! – Dou com
o indicador em seu peito.
– Causando dor a você, causou dez vezes mais dor em mim. Ela se
aproveitou de você quando estava indefeso! Como se fosse um nada. Como se
não houvesse pessoas que te amam, que se importam e querem o seu bem. E
você tem, Oliver! Tem muitas. O que eu fiz hoje, indo lá e sentando a mão na
cara dela, não foi me rebaixar e muito menos me vingar. Foi deixar impresso
em seu rosto pelas marcas do meu punho, estes recados: Ele tem quem se
importa! Ele tem quem cuide dele! Ninguém machuca quem eu amo e sai
ileso. Ninguém abusa da minha família e fica por isso mesmo. – Ele sorri em
meio a algumas lágrimas que escapam.
– Bateu de punho fechado, Mrs. Rain? – Não seguro um sorriso também.
– Bati. Quatro vezes. Arranquei sangue! – Me exibo, orgulhosa. Ele leva o
olhar para a minha mão direita.
– Dela e da sua mão também, pelo visto.
– É. Está doendo. Um pouco.
– Me deixe ver. – Finalmente me toca, pega minha mão avermelhada e leva
aos lábios. Beija delicadamente sobre os nós dos meus dedos e depois me
estreita contra seu peito.
– Pelo visto sua direita é potente.
– Guarde a informação, Mr. Rain. Ela pode lhe ser útil no futuro. – Ele
sorri.
– Foi uma ameaça, Mrs. Rain?
– Por enquanto, só uma dica.
– Bom. Obrigado então. Eu acho.
– Não tem de que, marido. Tudo porque eu amo você. – Ele ri e respira
fundo. Sim, meu amor. Eu amo você. E bato em quantas mais precisar.
– Ah minha pequena... o que eu faço com você? Não posso nem pensar
nessa nojeira toda resvalar em você ou no nosso pequeno. Se ela fizer algo
contra vocês, eu... – Não o deixo terminar e o beijo.
– Ela não vai. Como você disse, há vários pares de olhos controlando os
seus passos e atos. E o investigador que nos acompanhou hoje tem muitas
provas contra ela, depoimentos tanto de cúmplices, quanto de várias vítimas
das provas de iniciação. Carol irá a julgamento público.
– Anatoly estava lá? Apoiou o seu acerto de contas?
– Ele disse que terá uma crise de amnésia. – Oliver balança a cabeça. – E
acho sim que deveria deixá-lo incluir o crime contra você no processo. Não
tem como correr em sigilo?
– Pode-se tentar, mas não seria garantido que conseguiríamos manter, e
realmente não quero mexer no vespeiro do meu passado. Certamente chegariam
em Vivienne e no conde, e sabe-se lá o que ele faria para manter as aparências
se seu nome circulasse na mídia associado a um escândalo envolvendo o meu.
Ele é muito poderoso. Não teríamos meios de monitorá-lo, como fazemos com
Carol. E eu... a verdade é que não o conheço, Bia. Só posso me basear no que
lembro e no que ele fez comigo e com a mulher que chamava de esposa.
– Você tem medo.
– Sim. Medo dele fazer mal a vocês, a vovó. Medo de que o fato de isto
tudo emergir me coloque em uma crise longa outra vez. – O empurro até o sofá
e me sento em seu colo.
– Você precisa enfrentá-los. Ele e Vivienne.
– Henry andou colocando coisas em sua cabeça, foi?
– Não. Mas assim como ele, eu acredito que passando por isto, você não
terá mais crises. Precisa encerrar o ciclo Oliver. Encerrar aqui dentro. – Ponho
a mão sobre o seu coração. – Descarregar, perdoar e deixar ir.
– Assim como você perdoou Carol?
– Olha só, meu amor. Carol para mim a partir de hoje é ninguém. Fui lá,
dei o meu recado a ela e está encerrado. Apesar de que sempre doerá pensar
no que ela fez, desde que não se meta de novo no meu caminho, e quanto a isto
não vamos descuidar, não vou ficar remoendo e desejando o seu mal. Só faria
mal a mim também. O resto, o que ela tiver que passar para limpar os socos do
seu currículo, a vida vai se encarregar de dar a ela. Espero realmente que seja
condenada, pois cometeu crimes graves e pode ser um perigo para a
sociedade. Mas se mesmo com todas as provas e esforço nosso não for... –
Dou de ombros. – Talvez só o susto, o medo, sirva para ela evoluir como
pessoa e mudar, talvez não. Mas ela vai colher as consequências do que
plantar, não duvido disto. Pode não ser agora, pode não ser aqui, mas ela vai. –
Acaricio seu rosto.
– O que eu sugiro, não é pensando no bem das pessoas que tanto te
machucaram quando criança. É pensando no seu. Não é para aliviar a
consciência deles, é para aliviar a sua. Você precisa ter a sua desforra com
eles, assim como tive a minha com Carol. O seu soco será dizer a eles, frente e
frente, tudo que ficou preso em seu coração estes anos todos. E no final, se
você sentir que deve, conceda o seu perdão e liberte-se, coloque-os no lugar
que realmente merecem em sua vida, que é a dos exemplos a não serem
seguidos e só. Vivienne está há anos colhendo os frutos das suas escolhas. O
conde, não sabemos, talvez também esteja.
– Eu ainda os amo. – Ouvi-lo admitir aquilo assim, fragilizado e com a
voz embargada, faz a minha emoção aflorar de novo.
– Eu sei, mais um motivo para perdoar. Eles são tão sortudos por terem o
seu amor, meu bem. Infelizmente não aprenderam a retribuir, não são capazes.
Só são dignos de pena.
– No tempo em que ficamos separados, eu criei coragem e tentei um
encontro com o conde. Queria entender o motivo dele estar naquele show. Mas
ele não deu chance.
– Meio estranho, não? Visto que ele fez o movimento de te procurar.
– Minha opinião é de que ele foi pego de surpresa. Não sabia que Oliver
Rain era o mesmo Oliver que ele carregou no colo.
– Mas como é possível? Seus olhos...
– Sei lá Bia, realmente não sei... só ele tem a resposta. Mas você não tem
medo?
– Do conde?
– De eu entrar em crise e não voltar para vocês, caso façamos as
acareações.
– Sinceramente? Não. Tenho uma certeza dentro de mim de que você já
venceu essa. A sua vontade de voltar para casa, para a nossa vida, para o seu
filho, te fará passar por isto ileso. Você não entrou em crise quando eu fui
embora e nem quando me contou sua história. Talvez o choque causado pela
nossa separação era o que faltava para você virar a página dentro do seu
inconsciente. Quem sabe não era o que precisávamos para nos ver livres dos
fantasmas, você e eu. O filho que eu tinha medo de ter por causa de uma antiga
tristeza foi o que me salvou de afundar na nova. A nova dor que você sentiu te
obrigou a dar outra perspectiva à antiga.
– Talvez... de qualquer forma, se eu fizer... será o meu teste de fogo.
– E outra, não irá sozinho, vou junto e ficarei lá, segurando a sua mão. Te
dando força e te lembrando de que é comigo que você precisa estar. Ninguém
te machucará de novo. Eu já sei usar a direita, lembra? Acertar um conde dará
um belo up ao meu currículo.
– Chucky, Chucky... e pensar que eu compus uma música te descrevendo
como um anjo... quanta ingenuidade a minha...
– Pois é marido, deveria ter esperado eu mostrar a minha verdadeira face.
Agora vamos resgatar o nosso filho e depois vai me contar direitinho qual foi a
da maluquice de pôr tudo no meu nome.
– Não acredito que vou ter que aturar esse otário na minha casa por três
dias.
– Vai e faça o favor de tratá-lo bem. Ele ama Benjamin.
– Não é só o meu filho que ele ama. Bocó!
– Deixe disso! Ele está namorando, não viu? Sem contar que foi
insistência sua fazermos uma festança no dia do meu aniversário. Por mim, não
precisava.
– Precisa sim. Temos muitas coisas a comemorar e eu quero comemorar.
Seus dezenove anos, nossa reconciliação, nosso casamento, nosso filho e
nosso amor. Será uma festa para celebrarmos tudo de bom e bonito que temos.
– Certo, Mr. Rain. – Me viro de frente para ele. – Mas há outro tipo de
celebração que eu ando sentindo falta.
– É mesmo? E qual seria?
– Uma, digamos assim... com uma pegada mais bruta, mais selvagem... –
Ele morde o meu ombro para abafar o riso.
– Mrs. Rain, não temos nem uma semana de casados e está reclamando que
o sexo é insuficiente? Caiu na rotina? Meu desempenho deixa a desejar?
– Jamais. Mas você anda muito controlado.
– É porque nosso pimpolho está aqui ao lado. E quanto mais eu me
descontrolo, mais você grita, então...
– Eu sei que é por causa dele. Mas estou com saudades de gritar. Sabe,
não precisamos restringir o nosso ninho a este quarto. Somos só nós na ca...
AAAAAIIII. – Ele me pega e me joga em cima do ombro. Cata a babá
eletrônica no caminho e sai do quarto.
– Comece a gritar desde já, esposa. – Dá um belo tapa na minha bunda.
– Ai!
– Quer chocar os empregados, Mrs. Rain?
– Não me importaria em chocar um ou dois... Aii!. – Outro tapasso de mão
aberta.
– Que sem-vergonha! E pensar que quando chegou aqui ficava vermelha
por qualquer coisa...
– Eu ainda não conhecia o que era bom. Ai! Cacete, Oliver! – Porra, doeu!
– Esse é o exemplo que quer dar ao nosso filho?
– Ah sim, espero que ele seja amplamente realizado neste quesito quando
crescer. Tanto quanto nós. Onde está me levando?
– Quer gritar? Fará isto num lugar pelo qual sou alfinetado de vez em
quando e por causa de uma ruiva de quem nem me lembro. – Ele não pode ver,
mas arregalei os olhos. Não pode estar falando sério.
– A hidro de Lian?
– A hidro. Mas não a de Lian. A nossa. – Ufa! Ele aciona o botão que abre
a porta para o deck. Tá frio pra caralho.
– É noite, é janeiro e estamos pelados. Está frio demais aqui fora, Oliver.
– A hidro obviamente é aquecida e temos lareiras, esqueceu? – Outro
botão, e as três lareiras embutidas no chão emergem. – Quanto a estarmos
pelados, o que faremos dispensa vestimentas. Pronto! – Me põe no chão. –
Preparada?
– Não sei. Preciso?
– Ah, precisa! – E sem me dar tempo para respirar, cola nossos lábios e a
intensidade de seu beijo me deixa zonza. Que delícia! Que beijo! Os braços
envolvem minha cintura e me tiram do chão outra vez. As pernas se movem e
me colocam na parte mais funda da hidro, que está quentinha e borbulha. Ele
mantém-se de pé na borda, e só então me dou conta do que fez. Deixou o meu
rosto bem na altura do seu mastro, que mesmo a meia bomba, é admirável.
– Vamos começar com um belo boquete. Quero foder sua boca. – Ele não
está para brincadeira, entra tanto no personagem que fico em dúvida se está só
atuando mesmo. Não espera protestos, puxa minha cabeça e esfrega o pau na
minha cara. – Me chupe! – Ordena, imperativo.
Abocanho-o com gosto, encho a boca e sinto-o cada vez endurecer mais lá
dentro, até que chega ao seu máximo e meus músculos faciais sofrem como
sempre, impossível levá-lo inteiro, na verdade mal chego à metade. Só que
Oliver levou a sério a parte da pegada bruta, segura as laterais da minha
cabeça enquanto mete o pau goela a dentro sem se fazer de rogado ou me dar
trégua. Está descontrolado! Grito muito, internamente. Lágrimas saem dos
meus olhos pelo esforço. A saliva escorre e tento segurar a ânsia, enquanto ele
mete e tira, mete e tira, levando a minha face com força em direção à sua
virilha, onde os pelos voltam a crescer, ao mesmo tempo que arrete o quadril
com convicção. Por sorte, ou compaixão, ele percebe quando chego ao limite,
da ânsia, puxa meus cabelos para trás me dando um respiro.
– Boa menina. – Beija minha boca e se junta a mim na hidro.
– Você qua...
– Não, não... quietinha! – Fecha minha boca com sua mão. – Os únicos
sons que você irá emitir a partir de agora serão os de gritos e gemidos. – Beija
meu pescoço, levanta uma das minhas pernas na altura dos seus quadris e me
empala de uma vez. É forte, é bruto. Ainda mais com a água tirando a
lubrificação natural. Eu berro! Mas sai abafado pela sua mão.
– Vou tirar a mão, mas lembre-se, as únicas coisas que quero ouvir são
gritos e gemidos. Entendeu?
– Enten... aiii... – Puxa meus cabelos com força, me obrigando a erguer o
rosto.
– Só gritos e gemidos! Entendeu? – Movo a cabeça para cima e para
baixo.
– Ótimo. Segure-se nos meus ombros, você vai precisar.
Oliver dobra um pouco os joelhos, inclina o tronco para frente, me faz
enlaçar sua cintura com as penas e com a força dos dois braços e a ajuda da
água, inicia os movimentos de vai e vem com tanta força e selvageria, que o
som da água revolta é altíssimo. Era assim, era bem assim que ele empalava a
ruiva naquele dia. A puxava com foça contra os seus quadris, como faz agora
comigo.
Cravo meus dedos e unhas no seu ombro para não cair. Me sinto numa
daquelas gangorras que encontramos em parques e pracinhas, quando a criança
da outra ponta é muito mais pesada e sempre te deixa bater com a bunda no
chão. E toda vez que bate, você pula e grita. Alto.
– Era assim, baby? Era assim que eu comia a ruiva nas suas lembranças?
Hã? – Não posso responder, então acrescento mais e mais gemidos de deleite
em concordância. – Ah, não. Espera aí. Pelo que me contou tinha isso também,
não tinha? – Inclina-se um pouco mais sobre o meu tronco, desce a boca e suga
forte em meus peitos toda vez que meu tronco vem de encontro a ele, sem
aliviar as investidas. Sim, tinha. E uau, aquela mamada junto com toda a fúria é
simplesmente enlouquecedora! Sorte que não faz muito tempo que Benjamin os
esvaziou senão ele estaria engasgado, pois não está poupando esforço. Meus
gemidos são constantes e altos, não dá para evitar.
– Ah querida! Grite, isso! Grite alto e entenda de uma vez por todas que
esta fúria, este fogo e esta fome, só você provoca em mim. E é só você que tem
o poder de saciar.
– AAAHHHHH – berro porque ele enlouquece ainda mais e agora dá
trancos potentes e espaçados. Dói. É sofrido! Mas, como disse Iris, é tão
gostoso! Mesmo que não transemos pelos próximos três dias, eu ainda sentiria
sua presença ali embaixo. Delicioso!
– Senhora Rain, você é gostosa demais! Apertada demais! Vou gozar tão
forte, baby, tão forte... – E mal termina de pronunciar aquelas palavras, cumpre
sua promessa. – UHRRR! Caralho! QUE TESÃO! – Se senta na parte rasa da
hidro se mantendo dentro de mim.
Não acredito que ele parou.
Sentou e Parou!
Como assim? Eu ainda...
– Não gozou, né amor? – Está totalmente entregue e sem forças. Ergo as
sobrancelhas para ele como quem pergunta, tenho permissão para falar? – Ele
ri e me beija.
– Pode falar, está liberada.
– Obrigada, meu amor. Respondendo. Porra, Oliver! Você usou e abusou
de mim, e me deixou na mão! – Ele tem a audácia de rir. Não é engraçado,
parar antes de gozar é triste, muito triste. E péssimo para a saúde. Mordo seu
queixo e rebolo em seu colo. Tão Lindo! Tentação!
– Coitadinha! Mas te fiz gritar.
– Isso você fez, muito. – Não posso negar.
– Foi brutalidade e descontrole o suficiente para você?
– Foi perfeito! – Começo a me mexer com mais afinco, procurando a
fricção certa, porque, enfim, eu preciso chegar lá... e estava tão perto... – Ele
geme.
– Isso pequena, rebola assim que o tora logo acorda outra vez.
– Acho que nem será necessário o gigante despertar completamente, estou
na pontinha, só mais um empurrãozinho... – E dito e feito, umas reboladas,
umas esfregadinhas do meu clitóris no seu púbis e pronto, caí! Gozo gostoso
em seu pau.
Antes que eu pudesse descer, engataram Eden e eu cantei com ele a parte
que canto com Oliver. Depois convidou Lian para cantar Sympathy for The
Devil.
Depois foi a vez de Max subir ao palco e soltar a voz em Miss You.
O amor é forte
E você é tão doce
Você me põe de pé
Você me faz fraquejar
O amor é forte
E você é tão doce
E algum dia, baby
Nós vamos nos encontrar
Oliver pula para a área em frente ao palco e me jogo em seus braços para
descer também. Aproveito a carona, envolvo seu pescoço e o beijo.
– Feliz? – pergunta.
– Demais! Isso é tão legal! – Eu pareço uma criança indo para a Disney
pela primeira vez. E olha que eu nunca fui à Disney.
– Só não pode virar mais fã deles do que nossa.
– Você não corre o risco, rockstar.
– Divirta-se com as meninas, já volto. – Me dá um selinho.
– Oliver? De novo? Ele está bem. – Abre um sorriso torto.
– Eu sei. Mas já sinto falta do cheirinho dele. Vou e volto rapidinho,
prometo. – Nego com a cabeça enquanto rio.
Deixo que vá lamber a cria e me viro para ver onde Hazel está. Mas o que
encontro é uma outra amiga, branca e paralisada em meio aos demais que
continuam pulando e cantando com o show, com o olhar fixo em algo que não
consigo identificar.
– Maggie, o que foi? Está passando mal? – Ela não responde, nem se
mexe.
– Venha, vamos sair daqui, tomar uma água... – Tento puxá-la pelo braço,
mas seus pés não se movem.
– Maggie, por Deus, fale alguma coisa, está me deixando nervosa.
– Bia... ele... ele está aqui.
– Ele quem?
– O pai de Mary Ann.
– Hã? Como? Quem? – Olho novamente para a direção que ela olha, mas
há muitas pessoas.
– O loiro. Falando com Hazel. – Procuro por Hazel para entender de quem
ela fala. Então vejo.
– Maggie, você tem certeza? Será que não é alguém parecido?
– Absoluta. Jamais me esqueceria. Apesar do nosso caso ter sido uma
rápida transa de uma noite, ele frequentou muito o bar naquele verão. Ia
sempre com um grupo de amigos, e nunca mais vi nenhum deles por Sea Bright
depois daquele ano. Como me chamou muito a atenção, eu o observava
enquanto trabalhava. Seus trejeitos ao sorrir, ao falar... é ele sim.
– Você me disse que a única informação que tem sobre o pai da sua filha é
o primeiro nome. Me diga Maggie, qual era o nome dele?
– Eric. – Inacreditável! Fecho os olhos e a abraço.
– Mary Ann poderá conhecer o pai, querida. – Ela deixa uma lágrima
rolar.
– Como é possível, Bia? Encontrá-lo aqui. Justo aqui. Num círculo tão
restrito. Eu procurei tanto por informações por Sea Brigth e arredores...
– Trapaças do universo? O jeito que a vida tem de debochar da nossa
cara? Não sei amiga. O Importante é que o reencontrou. Quer ir lá falar com
ele?
– Não, não vou jogar a bomba assim, no meio de uma festa.
– Não me referi a isto. Vamos apenas nos aproximar, só cumprimentá-lo. –
Ela pensa por um instante e então concorda.
– Tudo bem. – Seca a lágrima fujona. Engato seu braço e nos guio na
direção de Hazel e Eric.
– Ah primeira-dama, aí está você. Eric chegou há pouco, quer lhe dar os
parabéns.
– Olá Eric. Bom revê-lo.
– Oi Bia, desculpe chegar assim, tão tarde, mas eu estava voltando de
Munique e não poderia deixar de vir, estava louco para rever esta moça, e
vocês, é claro. – Ele abraça Hazel, sinto Maggie apertar meu braço. –
Obrigada pelo convite e meus parabéns! Pelo aniversário, pelo bebê e pelo
casamento. Nossa, parece que faz séculos! A última vez que nos vimos foi no
último show da turnê. – Nem me lembre Eric, nem me lembre.
– Eric, já que Bia foi mal educada e não lhe apresentou, esta é Maggie,
nossa amiga. – Na verdade eu estava esperando para ver se ele a reconhecia.
– Prazer, Maggie.
– Pr... Prazer. – Ela está desconcertada. Torcia para que, assim como ela
não esqueceu, ele também não tivesse, mas pelo visto, nem faz ideia de quem
ela seja.
– Eric, velho! Que bom que veio!
– Oliver! – chamo sua atenção. Não acredito no que ele fez.
– Não brigue comigo!
– Você o tirou do quentinho. Está frio aqui fora, e barulhento. – Tento
achar o meu bebê em meio aos cobertores que Oliver segura contra o peito.
– Ele acordou, brincamos um pouco e quando tentei sair, começou a
chorar. Não consegui deixá-lo. – Reviro os olhos para ele.
– Oi bebê da mamãe, você quer agito é? – Ele resmunga e tenta se lançar
em minha direção.
– Posso conhecê-lo? – Eric pergunta.
– Claro, aproxime-se. – Por um minuto me esqueci do drama de Maggie.
Me afasto, dando espaço para que Eric veja o meu filho pelo vão das cobertas,
e volto para perto dela.
– Ele é lindo, parabéns, mandaram muito bem. – E não é que olhando
agora, consigo ver o jeitinho de Mary Ann em Eric? O modo de sorrir, de
franzir a testa. E fisicamente são parecidos também. Como não percebi?
– É a cara de Oliver, Bia quase não teve participação. – Hazel me
provoca.
– Eu não me importaria que meu futuro filho fosse a cara da mãe,
principalmente se viesse com certos olhos azuis. – A indireta que Eric lança
para Hazel faz Maggie soltar um arquejo de dor. Qual será a sua reação quando
souber que já tem uma linda menininha de olhos azuis?
– Eric, por favor, já conversamos. Só amizade. – Ele suspira.
– Eu sei Hazel, eu sei... desculpe.
– Com licença, preciso ir. – Maggie dispara em direção a casa antes que
eu possa reagir a sua declaração. Hazel me lança um olhar interrogativo. Faço
sinal de que lhe explico depois.
– Oliver, vá curtir o final do show com Hazel e Eric, me deixe levar
Benjamin para dentro. – Antes que ele proteste, pego o bebê.
Preciso consolar Maggie.
Acho que a festa acabou para mim.
Capítulo 39
Bia
– Por Deus, Oliver, você está tremendo. Ele não vai te morder, nem te
bater.
– Meu medo não é do que ele possa fazer, é do que eu venha a fazer
comigo mesmo.
– Não vai acontecer. Confie! Você tem mulher e filho agora. Ben precisa
de você, eu preciso de você. Está proibido de abandonar o barco, capitão. –
Ela envolve meu pescoço e me beija. – Ficarei segurando a sua mão para
lembrá-lo disso.
– Lord Stenteley irá recebê-los. Me acompanhem, por favor – avisa a
secretária.
É agora.
O momento em que minha vida pode mudar de vez.
Para o bem ou para o mal?
Logo saberei.
Quando você passa por uma rejeição tão pesada quanto a que eu passei,
gasta muitas horas da sua existência pensando em qual será a sua reação caso a
vida lhe proporcione um reencontro, um acerto de contas. Não que você queira
gastar todo esse tempo e dar importância ao que não deveria te roubar nem um
segundo a mais do que já roubou. Não.
O pensamento surge sem a sua autorização.
Simplesmente persegue sua mente.
Então você pensa.
Pensa em tudo que quer falar, desabafar. Projeta a cena. Decide como agir,
o que vai fazer. Analisa como se sentirá no instante fatídico. Mas
principalmente, pensa em qual será a expressão facial do outro no exato
momento da sua aparição.
Expressará medo?
Desprezo?
Arrependimento?
Raiva?
Indignação?
Você não sabe.
Então calcula uma contrarreação diferente para cada possibilidade.
Daí o momento chega.
Você atravessa a última barreira que o separa de descobrir. Encara o
propulsor dos seus traumas no olho, e descobre que não fazia a mínima ideia
do que iria encontrar.
De um lado está você com suas marcas.
Do outro está ele com as dele.
Há só um homem.
Cabelos brancos, barba branca, rugas, manchas de idade na pele, pálpebras
cansadas, leves tremores nos membros e um olhar perdido.
Nada da altivez com a qual esperava se deparar. Da imponência ou
autoridade que se recorda.
No meio dos dois, paira o peso das boas lembranças versus o descaso e as
expectativas não correspondidas, atrelado aos sentimentos contraditórios que
vêm com elas. Ou seja, uma complexa mistura de emoções, nenhuma das
simplistas possibilidades para a qual se preparou várias e várias vezes dentro
da sua cabeça.
– Oliver.
– Senhor conde. – Aperto a mão de Beatriz.
– É impressionante como você está ainda mais parecido com ela. – Fecho
os olhos e seguro a dor. – E esta jovem?
– Minha mulher.
– Prazer, Alec. – Ele lhe estende a mão, que ela não aperta. Essa é a minha
garota!
– Olá. Beatriz Rain. – Ela diz, simplesmente. Ele recolhe a mão um tanto
desconcertado.
– Sentem-se, por favor.
– Estamos bem assim, obrigado. Não pretendemos nos demorar.
– Certo. Tenho muitas coisas que quero lhe dizer, mas primeiro gostaria de
saber o que o motivou a me procurar agora?
– Preciso saber por que você foi me procurar ano passado. Foi intencional
ou nem fazia ideia de quem eu era? Por que apareceu na recepção do show em
Los Angeles? Você não estava nas mesas, não assistiu. – Ele respira fundo e se
senta.
– Me perdoem, mas eu preciso sentar. Realmente, não assisti. Desculpe
filho, mas...
– Não ouse me chamar assim. – Me lança um olhar sentido. É sério?
– Tudo bem, desculpe. Como ia dizendo, não assisti. Não é o estilo de
música que me habituei a apreciar. Em casa, só nos permitiam ouvir os
clássicos. Mas comprei uma mesa. Minha atual esposa e minha sobrinha são
admiradoras e estavam lá. Eu só me juntei a elas na hora da recepção porque
queria falar com você. Sim, foi intencional, sabia que você era o meu Oliver.
Seus olhos são inconfundíveis. Tentei fazer contato no hotel dias antes, mas
nenhum dos seus leões de chácara deixou que me aproximasse.
– Por que não marcou uma reunião através da minha advogada? Não seria
difícil para você achar os meios de me contatar.
– Não queria me anunciar. Achei que jamais concordaria em me receber.
– Então resolveu me cercar?
– Eu precisava que me recebesse. Mas assim que fiz menção de me
aproximar, você fugiu.
– Por que precisava? Se dias depois eu mesmo tentei uma conversa e você
se negou?
– Ali eu estava impossibilitado.
– Não entendi, explique-se. O que queria comigo depois de tanto tempo?
– Olhar nos seus olhos e dizer que me arrependo.
– Rá! Só pode ser uma piada. – Engulo em seco e tento me controlar. Bia
chega mais perto.
– Eu passei por sérios problemas de saúde meses antes de te procurar. Me
salvei por pouco. E descobri que quando estamos nesta situação, temos muito
tempo para pensar. Pensar na vida. No que valeu a pena e no que deixamos, de
bom e de ruim. E quando eu fechava os meus olhos no meio destas reflexões,
era sempre a mesma imagem que invadia a minha mente. A imagem de um
garotinho, que eu fui o primeiro a segurar no colo e a quem chamei de filho.
– Ali eu percebi... percebi não, admiti, pois perceber já tinha percebido
há muito tempo... que de tudo que realizei, e olha que realizei um bocado de
coisas, ter você foi o que mais me fez feliz, do que eu mais senti falta e o que
mais partiu meu coração abrir mão. Então, se eu pudesse, – suas mãos estão
tremendo muito – se tivesse a chance de voltar atrás e mudar uma única coisa
em minha vida, seria a decisão de te arrancar dela quando descobri não ser o
seu pai biológico.
– Engraçado. Não me lembro de muitas demonstrações de afeto suas,
mesmo quando acreditava ser o meu pai. E olha que eu me esforçava bastante
para te agradar. – Solto um som de deboche, não programei, só saiu. – Mas o
que você fez depois... arrancou de mim a minha casa, a minha família e o meu
nome, tudo isto enquanto ainda me recuperava de um grave acidente.
– Você não teve nem a decência de esperar que eu me sentisse forte o
suficiente antes de me enfiar com Vivienne num avião de volta para a América.
Mal me olhou, não me disse uma palavra. Nem adeus. Não se importou em
saber o que ela faria comigo. Eu e um cachorro sarnento de rua estávamos no
mesmo patamar para você. Opa, não, espera aí. Acho que o cachorro estaria
alguns níveis acima, pois lembro bem de você brincando com alguns dos seus
cães de caça na nossa casa e de eu sentir inveja deles. Agora vem dizer que
sentiu a minha falta? Conta outra Lord Stenteley. Diga de uma vez, o que quer
de mim, Alec?
– Apenas o que eu falei. Olhar nos seus olhos e dizer que me arrependo.
Veja bem, não estou pedindo perdão, tenho ciência da gravidade dos meus
atos. Não há perdão para o que eu fiz e que você descreveu tão bem. Mas se
engana ao pensar que eu não te amava, Oliver. Eu amava, demais. Aqueles dias
em que esteve entre a vida e a morte no hospital... Nossa, nunca senti uma dor
tão grande quanto aquela. No meu desespero com a possibilidade de perdê-lo,
ameacei médicos de morte. Sempre tive tanto orgulho de você. Tão inteligente,
criativo, amoroso. Era certo que teria um futuro brilhante, como de fato tem. Eu
também tinha inveja. Inveja de ver você com ela. Queria aquele amor que
dedicava a ela para mim também. Mas a minha educação, o jeito como somos
criados... não é que eu não queira demonstrar afeto, eu simplesmente não
consigo, não sei como... quando entendi o que significava nem eu e nem
Vivienne termos o tipo sanguíneo compatível com o seu, meu mundo caiu.
– Eu morri um pouco ali. Se é que havia alguma humanidade dentro de
mim, ali ela se esvaiu. Nada mais me importava. Era tanta dor, vergonha e
raiva... minha vida era uma mentira... ao decidir te mandar embora junto com
ela, se te olhasse, falasse com você, talvez eu fraquejasse em continuar com
aquilo e o meu orgulho, o peso da tradição, do meu nome, me obrigavam a
continuar.
– Eu poderia sim dizer que te perdoo pelo que fez comigo. Pensei que ao
entrar aqui, te olhar, sentiria raiva, mágoa, tristeza. Mas não sinto nada disso.
Eu te perdoaria porque, enfim, você foi enganado, estava ferido e eu, apesar de
tudo, sou feliz. Não tenho porquê poluir meu ser com rancor em relação a
você. Mas eu não posso te perdoar pelo que fez a ela. Tudo bem você a
condenar, a expor, humilhar e mandar embora, mas aceitá-la de volta para
transformá-la na sua puta e de seus comparsas. Isso, isso não!
– Sabe a parte em que eu falei que perdi toda a humanidade? Foi
justamente em relação a isto que eu me referi. Sim, eu puni Vivienne por me
tirar você, por me tirar Charlotte, puni enquanto pude. Culpava-a por tudo que
perdi. Eu me apaixonei por ela, mas eu adorava a mulher com quem era
casado. Se não fosse a gravidez, a possibilidade de ter um filho meu, coisa que
minha esposa em cinco anos de casamento não foi capaz de me dar, eu teria
dado um jeito de me livrar daquela paixão e permanecer com Charlotte.
Magoá-la foi a segunda coisa mais difícil que fiz na vida. – Ele faz uma pausa,
ainda treme muito e sua voz soa cansada.
– Quando mandei Vivienne embora, eu avisei a ela que esquecesse a ideia
de ter uma vida luxuosa, mesmo com outro homem, porque eu ficaria no seu
rastro para sempre e destruiria tudo. Até bons empregos, garantiria que ela não
arranjasse nenhum dali em diante. Ela se desesperou, claro, porque era
desesperador para ela pensar em uma vida comum, de sacrifícios, me implorou
por perdão. Então eu lhe dei uma escolha. Disse a ela que a aceitaria de volta,
não como esposa, mas como meu brinquedo sexual. Ela seria minha escrava e,
com o perdão da senhora aqui presente, abriria as pernas para mim e para
quem mais eu quisesse dali em diante, em troca eu a manteria. Só que para
isso, ela teria que voltar sem você. Mais uma forma de puni-la.
– Punir a ela ou a mim? Garanto que no caso dela, nem precisou pensar.
– A ela, claro. Sinceramente? Não achei que fosse voltar. Acreditava
piamente que te amava. Se tinha alguém capaz de balançar a ambição dela, eu
supunha, era o filho. Vocês eram tão ligados! Foi uma surpresa para mim
quando bateu à minha porta e disse que aceitava os meus termos. Perguntei a
ela onde você estava e me disse que te deixou com sua família na Califórnia.
Sabia que você deveria estar sofrendo longe dela, mas só pelo fato dela ter
optado em voltar, entendi que era melhor mesmo você crescer longe daquela
mulher, de nós. Você era melhor que tudo aquilo.
– Não importa o que ela fez comigo. Se era só isso o que queria, por que
não aceitou me receber quando Riley te procurou a primeira vez?
– Eu sofro de uma doença autoimune. Tenho crises de dor fortíssimas de
tempos em tempos. Quando sua equipe tentou contato, estava no início de uma
dessas crises. Nunca sei quanto tempo vão durar. E nem se da próxima vez saio
delas vivo. – Esse sentimento eu conheço bem, penso.
– Muito bem. Acho que falamos tudo que queríamos um ao outro. Passe
bem. – Puxo Beatriz pela mão e tento me virar para a saída, mas ele me
impede.
– Espere um minuto, por favor. Sei que agora não há muito mais que eu
possa fazer por você. Como você mesmo revelou, é feliz, realizado. Tem uma
carreira de sucesso, amor – ele olha para Beatriz – e um filho, não?
– Sim, temos um filho. – Ela confirma. Por mim ele ficaria no vácuo.
– Fico feliz. Eu reneguei o único que a vida me deu. Então o que posso
ainda fazer por você, filho, é dizer que deveria ter me divorciado da sua mãe
sim, a deixado ir sem perseguições, mas tê-lo mantido como meu. Apesar de
não ter o meu sangue, você era meu. Dizer também que eu amei você, ainda
amo. Mas que hoje fico feliz em saber que o título que herdei morrerá comigo,
porque o peso que vem com ele é duro demais de carregar. Mas as minhas
empresas, estas serão divididas em três partes iguais, entre você e meus dois
sobrinhos.
– Eu não quero nada seu. Divida entre os dois.
– Não. Já está decidido. Se não quiser, doe, dê fim, mas é seu. Além disso,
– ele para, toma fôlego – eu acho que sei quem é o seu pai biológico. Se quiser
conhecê-lo... – Bia se reseta.
– Não quero.
– É um bom homem, creio que gostaria de lhe...
– Não quero. – Sou mais incisivo.
– Tudo bem. Se mudar de ideia, basta me procurar. Para isto ou para
qualquer coisa que precisar. Minha casa está aberta a você e sua família, caso
um dia... – Ele está abalado, é nítido que tenta segurar uma demonstração de
emoção mais explícita. Porém, é tarde demais para nós.
Muito tarde.
– Olha, é o seguinte, aceito suas justificativas, foi bom vir aqui e
ajustarmos as arestas do nosso passado. Assim como você diz que aconteceu
com você, eu também nunca consegui matar totalmente o sentimento que nutria
pelos meus pais até os seis anos. Nunca consegui... – Minha voz embarga, do
rosto dele desce uma lágrima. – Te desejo melhoras, mas não quero contato.
Não faremos churrascos aos domingos, nem levarei minha família para visitá-
lo. Meu filho não lhe chamará de vovô. Sinto muito, é tarde demais para isto.
– Eu entendo. É justo. Mas se precisar de mim...
– Não vou.
– Na verdade, conde, tem algo que pode fazer por nós.
– Bia... – Ela me faz sinal com a mão para que espere.
– O que quiser. Me diga, por favor.
– Gostaria das fotos de bebê e infância de Oliver. Devem estar com o
senhor, não? Laura, a avó de Oliver, que foi quem o criou, disse que não
estavam com Vivienne, não acharam nada no apartamento dela quando a
resgataram depois do AVC. E Laura gostaria muito de ter estas fotos com ela.
Eu gostaria muito de tê-las para mostrar ao meu filho um dia.
– Sim, estão comigo. Me diga onde e mandarei entregar a vocês. – Estende
a ela um papel e uma caneta. Bia escreve ali o endereço.
– Vamos Beatriz – digo antes que ela resolva lhe pedir as minhas chupetas
ou os meus sapatinhos de bebê. – Adeus, conde.
– Até quem sabe um dia, filho. – Não Alec. Não haverá próximo encontro.
Aqui acaba a nossa história.
Está encerrado.
Assim que me vejo do lado de fora do prédio, abraço minha pequena.
– Eu consegui. – Comemoro ter passado pelo confronto e saído,
aparentemente, ileso.
– Ah meu amor, claro que conseguiria.
– Ainda estou aqui.
– Não tem permissão para não estar, lembra? Você foi maravilhoso lá.
Estou tão orgulhosa! Como se sente?
– Leve. Foi bom ouvi-lo dizer...
– Impossível não amar você. – Ela acaricia minha nuca. – Ele seria um
imbecil se não se arrependesse. – Suspiro me lembrando que ainda me resta a
missão mais dura delas.
– Agora falta Vivienne.
– Um passo de cada vez, baby, um passo de cada vez...
Bia
– Deus, Hazel... eu estava tão nervosa... acho... por que a vida não
permitiu que estes dois homens se encontrassem antes, caramba?
– Vai saber, uma pena. Mas terão muito tempo juntos de agora em diante.
Foi emocionante de ver, não foi?
– Demais. Me segurei muito para não chorar junto com vocês. São tão
parecidos e parece que Oliver se identificou com ele de cara.
– Parece mesmo. Deu tudo certo, ele nem desconfia, está relaxado.
– Sim, o teatro de vocês de já se conhecerem de muitas vindas suas aqui
funcionou.
– Chris e eu ensaiamos muito a aparição despretensiosa dele quando vim
conhecê-lo pessoalmente.
– Foi ótimo. E Riley tinha razão. Desvendei um grande mistério...
– Que mistério?
– A origem das adoráveis covinhas de Ben. – Hazel gargalha.
– O mesmo sorriso do nosso pitoco, não é?
– Igualzinho. Ele é um homem muito bonito. Deve chover mulher atrás
dele. Me admira não ter formado uma família.
– Verdade. – Ela concorda. Resolvo mudar de assunto.
– Poderíamos aproveitar a oportunidade e ter aquela conversa da qual
você anda fugindo, não?
– Ainda não, primeira-dama.
– Qual o problema Hazel?
– Falamos quando eu voltar para casa.
– Primeiro era quando minha vida se ajeitasse, agora é quando você voltar
para casa?
– Sua vida ainda não se ajeitou, Bia. Não até Oliver passar por todo o
processo com os pais. E ele ainda vai enfrentar a parte mais difícil.
– Meus problemas com Oliver não anulam a preocupação que eu sinto toda
vez que te olho e vejo a tristeza transbordando, querida.
– Minha tristeza tem nome e sobrenome, e você conhece bem.
– Mas está diferente. Você está apagada, Hazel. Se fechando. Distante.
Distante comigo.
– Tenho coisas para te falar, mas não quero fazer já, aqui, no meio de um
momento tão importante. Não se preocupe, não estou planejando nenhuma
loucura e nem deixei de confiar em você ou de te amar como minha irmã. Só
quero que no momento em que me abrir, você possa concentrar toda a sua
atenção em mim.
– Ah querida. – Mudo de lugar, sento-me ao seu lado e a abraço. – Falhei
com você, não é?
– Por favor, conversaremos mais para frente.
– Tudo bem, não vou mais insistir, respeitarei o seu tempo. – Um som alto
de acordes de guitarra ressoa.
Olhamos para o palco e Chris está sentado atrás da bateria, enquanto Oliver
se posiciona ao microfone já com a guitarra atravessada ao corpo.
Sério que eles vão fazer isso?
A batida começa e a guitarra entra junto em Born To Be Wild do
Steppenwolf.
Um super clássico.
E ver os dois lá, pai e filho, privados da convivência um com o outro por
tanto tempo, compartilhando a mesma paixão, é lindo demais! Emocionante!
– Hazel, vamos para perto do palco. Preciso registrar o momento e mandar
para Laura, que a esta altura deve estar com o coração na mão e a cabeça aqui.
Nos aproximamos deles, Oliver sorri. Posiciono o telefone para filmar e ele
franze a testa para mim. Chris deixa algumas lágrimas silenciosas rolaram
livremente, já que está mais atrás e o filho não consegue vê-lo.
O pub está lotado agora, várias pessoas resolvem fazer o mesmo que nós e
apreciar de perto.
Cochichos começam a rolar.
Na certa tentam decidir se é ou não Oliver Rain cantando ali. Ele tomou o
cuidado de acrescentar as lentes ao disfarce para que seus olhos não lhe
entreguem, mas a voz é inconfundível.
E aí? É, ou não é?
Cada um tira sua própria conclusão, enquanto curte o som e a voz grave e
rouca do cantor. Quando terminam, são amplamente aplaudidos.
Chris trata de secar as lágrimas rapidamente. Oliver retira a guitarra e antes
que possa abandonar o palco o homem o puxa para um abraço apertado.
Ele vai, meio desconcertado.
Não esperava por aquilo.
Chris o mantém preso junto a si por algum tempo, depois murmura algo em
seu ouvido, beija sua bochecha e o solta. Tem os olhos vermelhos, Oliver
percebe e o olha intrigado, mas engata uma conversa sobre a acústica do local.
Deixo os dois ali e volto com Hazel para a mesa. Aproveito e mando o
vídeo para Laura, com uma breve mensagem dizendo que tudo correu bem.
Depois checo com Holly como está Ben. Lá pelas tantas, pai e filho se juntam a
nós, Chris chega com o braço em torno dos ombros do filho, ambos estão
sorridentes.
– O show foi ótimo, mas curto, deveriam tocar mais. – Oliver senta-se a
minha frente.
– Concordo com Hazel. Queremos mais.
– Temos um menininho em casa a nossa espera, esqueceu, Mrs. Rain?
– De forma alguma, Mr. Rain. – Viro a tela do telefone para ele. – Acabei
de falar com Holly, me mandou esta foto. Nosso pequeno roqueiro dorme
tranquilamente. – Ele sorri feito bobo para a tela do telefone.
– É tão fofo, não é?
– A própria fofura. Mas somos suspeitos, marido...
– E a cada dia tem mais cachinhos. – Ele se ergue por cima da mesa e me
beija, depois passa o fone para que os outros dois vejam. O homem passa
longos minutos admirando o neto, encantado. – O que acha, Chris? – Oliver o
tira do seu transe com a foto. – A The Order precisa deixar a sua marca no
Rock’n’Rain, não? Estamos em desvantagem...
– Nossa, por nunca terem tocado em Londres eu nem tinha esperanças de
que um dia acontecesse, mas o Rock’n’Rain jamais poderá contar a completa e
verdadeira história do rock se uma banda do calibre da The Order não fizer
parte dela.
– Ficarei aqui por mais quatro dias. O que me diz? Tem agenda para nós
neste palco? – Meu queixo cai.
– É... é sério? – Chris também não acredita.
– Só você me confirmar que é possível e escrevo pros outros três bundões
fazerem as malas.
– Porra! Claro. A noite que quiserem. Se já houver banda escalada, eu
cancelo.
– Na sexta, então?
– Fechado.
– Mas sem divulgação, por favor. Apenas quem vier será surpreendido.
– Jamais divulgamos. Por isso este lugar fez história. Os clientes nunca
sabem o que lhes aguarda ao cruzarem aquelas portas. Os que estão aqui hoje
por exemplo, sairão intrigados.
– Sim, os olhares sobre esta mesa estão me incomodando, insistentes
demais...
– Com o tamanho da sua fama é inevitável filho. – Um garçom se
aproxima.
– Sr. Rain, – os dois homens olham na direção dele ao mesmo tempo,
deixando o rapaz confuso, mas ele tenta falar é com o seu patrão – vários
clientes estão nos perguntando se é Oliver Rain na mesa com o senhor.
– Não é. – Oliver se adianta.
– Melhor, – diz o homem mais velho – diga a verdade, que é meu filho,
minha família. Assim não insistirão e acaba a curiosidade.
– Ok. – O rapaz se afasta.
– Obrigado, mas você não precisava ter feito isso – diz ao pai.
– Está tudo bem.
– Quando ele falou Sr. Rain, achei que fosse comigo, que não havia mais
dúvidas da minha identidade... – Oliver ri, ele está tão... solto ali.
– Pois é, por causa do nome do bar, acabaram abreviando o meu
sobrenome. Todos me conhecem apenas como o Sr. Rain por aqui.
– Mais um motivo para os turistas acharem que temos ligação então...
– Sim, muitos me perguntam se somos parentes.
– Adorei saber das histórias que me contou. Tenho curiosidade sobre as
existentes por trás de vários dos itens expostos ainda. Muito legal o seu
cuidado de não só expor o artefato, mas escrever a relevância dele, para o
artista ou para o lugar. – Oliver realmente se encantou pelo pub.
– Obrigado. Agradeço ao antigo dono por ter sido meticuloso e registrado
tudo da época dele, apesar de manter às escondidas. Quando uma banda ou
músico estoura, é comum ouvir pessoas dizendo, “putz, eu os vi tocar no
Rock’n’Rain quando ainda eram ninguém”. E voltam para rever os itens
expostos sobre aquela fase, olhar as fotos e ler as curiosidades. As vezes a
banda retorna aqui depois de estar no auge e surpreende seu público. Então
itens novos são adicionados ao que já havia exposto sobre ela, de quando nem
era conhecida.
– Seu acervo deve valer milhões.
– Sim. Mas nada aqui está à venda. Todos os itens pertencem a este lugar,
tanto quanto cada tijolo e ferro usado em sua estrutura.
– Desculpe, foi apenas um comentário, não quis ofender. Nem estou
tentando comprar o seu pub, acredite... – Os dois riem.
– Não ofendeu, filho. De forma alguma.
– Chris, o que acha de jantar conosco amanhã, no meu apartamento? Max
estará aqui. Vi que seu hobby é a bateria, poderá conhecê-lo. – Hazel convida.
– E conhecer o terceiro homem que carrega Rain no nome, Benjamin –
acrescento. Seu rosto se ilumina com a perspectiva.
– Eu adoraria. – Percebo Oliver um pouco incomodado com aquele
convite, feito assim, de supetão, mas não contradiz.
– Então está combinado. Amanhã lá em casa. Registre o seu número aí
para eu lhe encaminhar o endereço depois. – Hazel estende o telefone ao
homem como parte do teatro, mesmo já tendo o número dele.
– Bom, já passou da nossa hora, não? Vamos? – Pronto! Oliver chegou ao
seu limite quanto ao convívio social. Como o resultado deste primeiro contato
foi muito acima do esperado, melhor não forçar mais.
– Vamos – confirmo e nos levantamos. Hazel abraça Chris.
– Até amanhã, Sr. Rain.
– Até, querida e obrigado pelo presente que me trouxe.
– Nem imaginava que eu tinha parentes ilustres, não é mesmo? – Ele ri.
– Não mesmo. – Me adianto e o abraço em seguida.
– Obrigada, Chris, foi uma noite muito especial.
– Eu que o diga, filha, eu que o diga... obrigado. – Ele beija meu rosto e
nos afastamos.
Oliver estende a mão para o homem, que aceita e o puxa para um novo
abraço. Assim como aconteceu no palco, mantém-se tenso com o contato.
– Obrigado pela visita, filho. Não imagina o quanto foi importante para
mim.
– Também gostei, Chris. Me diverti mesmo. Como minha mulher falou, foi
uma noite especial. Parabéns outra vez pelo espaço. Sexta acrescentaremos um
capítulo a mais a esta história.
– Empolgado por isto. Mas não esqueça, a tradição manda que ao final do
show, vocês nos deixem algo especial ou inusitado. Para marcar a passagem e
acrescentar algumas cifras a mais aos milhões do meu acervo. – Caem no riso
outra vez.
– Pode deixar. Pensarei em algo à altura.
Oliver
– A mamãe ama tanto, tanto você, filho. – Ela fala em português e o beija
antes de colocá-lo no berço. Está praticamente só falando português com ele
agora. Eu entendi quase todas as palavras daquela frase, tinha mother, love,
son e you, então fica fácil decifrar o contexto. Preciso retomar as aulas com
Eva e continuar a busca por uma babá-enfermeira que fale português.
Ben acabou acordando quando chegamos do pub. E estava energizado.
Ficamos uma hora e meia em torno dele antes do sono o derrubar outra vez,
bagunçando, brincando, beijando, lambendo nossa cria.
Ele está numa fase tão gostosa, dando gargalhadas tão engraçadas agora. E
quando aparecem aquelas covinhas em suas bochechas, o que acontece quase o
tempo todo, dá vontade de apertá-lo e mordê-lo até não poder mais. Os
cabelos crescendo em cachinhos, ainda são clarinhos, mas creio que ficarão no
mesmo tom de castanho dos de Bia. Os grandes olhos dourados sempre atentos
e curiosos. Está quase engatinhando também. Já fica na posição à espreita, só
ainda não entendeu como dar o primeiro “passo”.
Ela o põe na cama adormecido, faz carinho pelo seu rosto e canta uma
canção em português.
Desta vez não entendo muita coisa.
Olhar mãe e filho, meus dois amores juntos, aquece minha alma. É uma
ligação tão forte, tão especial. Ela é tão amorosa com ele, e ele é louco por
ela. Lembro momentaneamente da minha, com quem pensei ter uma ligação
assim na primeira infância e que há muitos anos está presa a uma cama de
hospital. Mas logo afasto o pensamento, como sempre faço.
Andar pelas ruas de Londres me causou um grande impacto. Não pela
paisagem, pois disso pouco me recordava, mas há coisas da infância que ficam
enraizadas em nós, só pode ser, porque me lembro dos cheiros, das sensações,
da energia da cidade.
Tudo me pareceu tão familiar.
Me senti voltando para casa, para o meu lar, matando a saudade do meu
primeiro lar, uma saudade que eu nem fazia ideia que sentia. Só não tive
coragem de passar em frente à casa onde morava, e nem na rua onde ocorreu o
acidente. A primeira posso até tentar em algum momento, mas esta última
evitarei para sempre.
– Pensativo demais Mr. Rain. – Minha menina monta em meu colo. Estou
sentado com as costas apoiadas na cabeceira da cama.
– Admirando mãe e filho. – A abraço.
– Hum, há algumas coisas que estou a noite toda querendo admirar
também. – Ela puxa a barra da minha camiseta e ajudo-a erguendo os braços.
– Sério? Passando vontade, Mrs. Rain? Pobrezinha. – Envolvo sua cintura
e a encaixo bem em cima do meu membro ganhando vida enquanto a beijo.
Como não poderia deixar de ser, dá uma reboladinha. Sorrio.
Ela contorna com os dedos os “Bs” estilizados de Bia e Ben escritos em
meu peito. Depois beija ali. Levo as mãos às suas coxas e vou deslizando-as
para cima ao mesmo tempo em que me embriago com seu cheiro afundando o
nariz em seu pescoço e cabelos. Alargo ainda mais o meu sorriso diante da
surpresa.
– Sem calcinha, esposa? – Corro meus dedos de leve por ali.
– Para facilitar o seu trabalho, marido. – Ela geme baixinho e arrepia
inteira.
Tão linda!
Caralho, não resisto, preciso dela!
– Deus! Sou louco por você! – declaro, já meio fora de controle.
Tomo sua boca de maneira intensa, derramando paixão em cada movimento,
cada entrelaçar de lábios e línguas e cada toque de minhas mãos em seu corpo,
que agora retiram dela a minha camiseta.
Beatriz me acende rápido demais! Certeiro demais!
Sou todo fogo em seus braços. E quanto mais me queimo mais preciso de
calor.
É insano, é instintivo, é amor.
É minha. Só minha.
– Amor, quero você... – Seu pedido é quase um gemido.
– Então seja uma boa menina, leve suas mãozinhas delicadas à minha calça
e liberte a fera. – Desço meus lábios aos seus seios e me farto ali, enquanto ela
cumpre a missão a qual foi encarregada com louvor, pois não só a liberta,
como a afaga.
Carinho que, no caso da fera, só a deixa mais faminta.
– Sente-se nele, anjo. Me envolva em seu calor. – Ela se ergue e se
posiciona, então vai descendo devagar, gemendo mais a cada centímetro de
mim que engole.
Fecho os olhos e absorvo a sensação sem igual de ser tomado por ela.
Bia faz um leve movimento de subida e descida, o suficiente para me fazer
tremer. Seguro sua nuca e colo nossas testas, ainda sem abrir os olhos.
– De novo – ordeno. Ela me atende uma única vez e para o movimento.
Sei que está fazendo um esforço danado com aquela brincadeira de não
continuar, pois sua respiração está ofegante, seu sexo pulsa e me aperta toda
vez que ela para. Suas mãos acariciam minha nuca, brincam com os meus
cabelos ali.
– Mais uma. – Ela sobe e desce em mim, me apertando ao máximo e
parando o movimento outra vez.
Ah pequena, quer me provocar é?
Tudo bem então... não sei qual respiração está mais pesada, a dela pelo
esforço de parar ou a minha pelo esforço de me obrigar a não acabar com a sua
gracinha de uma vez.
– Oliver... você é meu! – declara, do nada, e não poderia estar mais certa.
– Sim senhora, só seu. Outra vez, Beatriz. Suba e desça no meu pau –
exijo.
Ela faz e desliza a língua da base do meu ombro até atrás da minha orelha,
enquanto cumpre a minha ordem mais uma vez.
E apenas isso, uma única vez.
Estou no limite, mas vou prolongar aquilo, ah se vou... Vamos ver como
você se sai provando do próprio veneno, baby.
Levo a minha mão ao seu clitóris e massageio lentamente, de um jeito
angustiante. Ela geme e aperta os lábios numa linha reta, controlando a dor. O
estímulo é demais para ela, não consegue se manter parada, tenta subir e
descer, mas ponho a outra mão em sua cintura e a mantenho no lugar.
– Não. Ainda não te dei permissão para se mexer outra vez.
– Oliver... eu... eu preciso... porra...
– Não. – Continuo a massagem. Tão devagar que chega a doer em mim. Ela
baixa a cabeça e morde o meu ombro.
– Oliver, por favor... – As palavras saem entrecortadas pela respiração
difícil.
– Safada! Não estava me provocando? Isto é o que acontece com garotinhas
atrevidas. – Dificulto ainda mais as coisas para ela, chupando seu mamilo.
Faz força para se erguer, não deixo.
– Eu... não aguento mais... Oliver!!
– Não queria brincar? – Dou um tapa em sua bunda e depois um outro, curto
e rápido em seu clitóris, com tudo. Ela berra e logo morde o lábio ao lembrar
que o filho dorme ali.
Não tinha feito isso com ela ainda. Sei que a sensação é prazerosa e
dolorosa ao mesmo tempo. Potencializa a necessidade de gozar.
Tenta se projetar, mantenho-a parada.
– Oliver, clemência..., não quero mais brincar, nem provocar, falo muito
sério agora... Aiiii. – Pressiono o dedão firme sobre o pontinho duro em sua
boceta. – Ela treme inteira e continua tentando achar seu alívio, que eu sigo
negando a ela.
Ah baby, aguente... a hora que o orgasmo vier você vai agradecer...
– Pare por favor... Não vejo mais graça nenhuma... Pode me dar uma bela
de uma dura, marido, eu deixo... na verdade preciso... muito... Foi só uma
provocaçãozinha... Deus, você não sabe brincar?!?! – Tento segurar a vontade
de rir, ela sempre me quebra a atuação.
Não há personagem que resista as investidas de Beatriz por muito tempo.
Para me manter ali, dou outro tapinha em seu sexo. Ela segura o grito e
tranca o ar. Meu olhar para ela é fumegante.
– Preste bem atenção, vou deixar você se mexer, mas se vier com firula de
novo, só um de nós dois vai gozar com esta foda. E não será você.
– Serei um anjo, prometo... agora me deixa...
– Espero que tenha aprendido a lição. – Ela revira os olhos e eu volto ao
movimento torturante em seu clitóris sem a soltar.
– Oliver! Por Deus... Vou morrer! – Solto o riso e a ela também.
Bia começa a se mexer freneticamente no mesmo instante, com as duas mãos
pressionando meus ombros para ganhar força e intensidade, para chegar lá o
quanto antes.
Aquela agoniante espera doeu em mim também e a expectativa triplicou o
tesão.
– Isso bebê, faz bem rápido e bem gostoso... quero te encher de porra...
– Oliver que loucura... Fiz tanta força para suportar a tortura que você me
impôs que meu ventre dói, preciso gozar, desesperadamente. – Seus
movimentos constantes, em seu próprio ritmo, exigindo do meu corpo o
necessário para satisfazer o seu, me deixam a beira do precipício rapidinho.
– Eu também preciso, estou quase lá, também sofri com o nosso joguinho.
– Envolvo um braço na sua cintura e a ajudo a intensificar a pegada, a trazendo
contra o meu pau com força, quanto mordo seu queixo, lóbulo da orelha e
chupo seu pescoço. Ela me lambe e me morde na mesma medida.
Quando, junto a tudo aquilo, passa a mão pelo meu peito e belisca o meu
mamilo, é o meu fim.
– Bia... porra!
– Baby! – Ela me acompanha e goza forte sufocando os gritos ao morder o
meu ombro para não acordar Benjamin.
Porra, dói. Mas o gozo foi tão forte que nem ligo.
Aquilo foi divino, mas não é o suficiente, quero mais.
A coloco deitada de bruços na cama, afasto suas pernas com as minhas e já
arremeto para dentro dela outra vez, meu pau não chegou a amolecer, e nem
vai.
– Tão gostosa! – sussurro em seu ouvido.
– Que gozada, amor... E, ao que tudo indica, hoje é meu dia de sorte. Duas
seguidas, praticamente sem tirar? O que eu fiz para merecer?
– Abusada! – Mordo sua nuca, ela arrepia e geme baixinho. Meu ritmo
agora não é lento, mas também não é frenético. É apaixonado.
Ela me aperta com as paredes da vagina, provocando ondas de
estremecimento pelo meu corpo. Enfio as mãos entre ela e a cama, as
espalmando em sua barriga e vou subindo até alcançar os seus seios, brinco
com eles enquanto mantenho o ritmo das investidas contra ela.
Já estou duro ao máximo outra vez.
– Me dê sua boca, anjo. – Ela vira o rosto para mim e tomo sua boca com
vontade, sugo seus lábios e vou alternando, ora roçando minha barba em seu
pescoço, ora em sua nuca, depois volto a sua boca.
Bia arfa cada vez mais forte e leva a bundinha para trás ao meu encontro,
pedindo mais. Eu piro e quase me deixo levar para o lado da fúria outra vez.
– Ah baby, a sua bunda está me chamando... – Tiro meu pau da sua boceta e
pressiono no cuzinho. Vou colocando com cuidado, medindo a pressão
conforme seus gemidos e caretas. Quando estou todo lá, mexo devagarinho até
que ela se acostume.
– Amor... Ahhh, que delícia...
– Porra! Ver sua bunda me engolindo assim Bia... A segunda rodada vai
durar menos do que eu previa... – Ela então empina mais ainda a bunda e
rebola, a pilantra. – Pequena... tirou a noite para me provocar? Vou durar
pouco, muito pouco e eu não quero...
– Com força, Oliver. – Dou umas arremetidas fortes e espaçadas, como eu
sei que ela gosta.
Mas não me demoro muito ali, quero gozar na bocetinha outra vez. Mudo
nossas posições novamente, preciso olhar para ela. Me deito de costas, passo
um lenço umedecido no meu pau e a encaixo por cima outra vez. Afasto os
cabelos grudados de suor da sua testa, ela faz o mesmo comigo. Nossos olhos
exalam paixão.
– Eu te amo de um jeito impossível de descrever... você é todo o meu
mundo.
– Eu sei meu amor, eu sinto. Mesmo com toda a sacanagem e a tortura,
você está transbordando amor. E você? Sente o meu? Sente que cada vez que
eu te tomo e te aperto dentro de mim estou dizendo “não vivo sem você”?
– Não, você precisa me dizer mais vezes. Continue repetindo até eu
entender, meu anjo.
– Eu vou. – E ela faz, e geme, e suspira ao mesmo tempo que sussurra “eu
te amo”, “eu te amo”, “eu te amo”... um para cada nova investida contra o meu
pau.
– Nunca mais quero sentir na vida o que eu senti naqueles dez meses longe
de você, rockstar. Eu te amo. – Novo sussurro, olhando bem dentro dos meus
olhos.
– Eu também não, meu amor.
– Eu te amo. – Ouço novamente baixinho em meu ouvido. – Vou amar e
repetir por toda a minha vida e além – acrescenta. – Agora me beija. –
Faminta, exige minha boca e acelera o movimento, que agora passou mais para
um deslizar de frente para atrás sobre mim, junto com um rebolar, que a
permite roçar forte o clitóris em minha virilha.
Não demora muito, ela goza em meio aquele seu vai e vem dançante. Seus
sons de prazer são altos, mas saem abafados pelos nossos lábios, que não
desgrudamos
Envolvo sua cintura e mudo o teor da pegada, agora buscando a minha
própria satisfação, que chega logo. Derramo meu gozo dentro dela, forte,
enquanto sigo reivindicando os seus beijos e mudo nossa posição na cama pela
terceira vez, a deitando de costas e me acomodando em cima dela.
– Minha mulher é quente pra cacete! – Beijo a ponta do seu nariz, depois
as pequenas sardas que tanto adoro. – Você eleva o tesão a outro nível, meu
amor. Saciada?
– Demais, sem forças... gozei tão gostoso! – Abro meu melhor sorriso.
– Meu ego agradece!
– Seu ego é enorme!
– Meu enorme ego agradece então. Ele também inflou e gozou bastante.
– Percebi. – A beijo novamente, depois saio de cima, e de dentro dela, e
me deito ao seu lado.
– O que você estava cantando para Ben em português? A melodia me
pareceu uma brincadeira com a escala musical.
– E é. Se chama Minha Canção. My Song. É de um grande músico e poeta
brasileiro chamado Chico Buarque. As letras das músicas dele são lindas, mas
esta em específico fez para as crianças aprenderem sobre música. É tipo uma
canção de ninar que ao mesmo tempo ensina as notas e a altura de cada uma,
primeiro subindo e depois descendo na escala de dó maior. Cada verso
começa com a sílaba que dá nome a nota, para a criança associar o som ao
nome. E os versinhos curtos, alguns com apenas uma palavra são mágicos,
acho incrível como ele consegue fazer algo tão simples ter tanta profundidade
no contexto.
– Contam a história de alguém compondo uma música na madrugada,
enquanto todos os outros dormem, as emoções que transitam naquele momento
e que tenta transmitir. Então a música ganha poder e vida própria, já não é do
compositor, e alguém um dia, em algum outro lugar se apropriará dela e a
chamará de sua, pois ela lhe traz esperança. – Ela a canta e depois traduz para
mim.
Dorme a cidade
Resta um coração
Misterioso
Faz uma ilusão
Soletra um verso
Lavra a melodia
Singelamente
Dolorosamente
Doce a música
Silenciosa
Larga o meu peito
Solta-se no espaço
Faz-se certeza
Minha canção
Réstia de luz onde
Dorme o meu irmão
Amor, sei que está confuso e até magoado comigo, mas dê uma
chance a ele. O ouça. Ele também foi vítima. Uma vez, quando
eu estava em dúvidas se entrava em contato ou não com a
minha tia, você me disse que achava que eu só tinha a ganhar.
Eu lhe digo o mesmo agora, baby. Acredito do fundo do meu
coração que você só tem a ganhar. Te amo!
– Eu achei que você era um perturbado. Quase bati em Oliver quando saiu
da sala e não tirou o meu afilhado do seu colo.
– Por isso eu cochichei no ouvido dele que era melhor começar a abrir o
jogo, mesmo não sendo a nossa intenção que isto acontecesse já, pois vocês
dois estavam prestes a chamar os seguranças. – Rimos da confissão de Bia.
Estamos os cinco de volta aos sofás da sala, saboreando um café.
Isso mesmo, você entendeu direito.
Noite de quinta, em Londres, e estamos tomando café.
Nada de whisky ou vinho, muito menos chá inglês.
Olhar para o momento intimista e me dar conta de que o meu pai participa
dele ainda é um pouco desconexo para mim. Posso até o chamar de pai, o que
de fato ele é, mas vê-lo como tal, me sentir seu filho, não é algo que acontecerá
do dia para a noite; contudo, acho que temos boas chances de criar um vínculo
positivo, ser bons amigos.
Vi sinceridade em seus olhos, em seu relato.
Quero de verdade que Ben tenha a figura do avô por perto.
Volto a realidade quando Bia olha para o seu telefone e ri de algo.
– O que foi? – Não seguro a curiosidade.
– É Helen. Está me dando uma bronca por estarmos tantos dias fora. Pede
para voltarmos logo, pois está morta de saudades de Ben.
– Sério? Comigo isso só acontece quando estou há pelo menos quinze dias
longe… – Max se vitimiza.
– Oh, tadinho… ciúmes da mamãe com o afilhado? – Hazel debocha. Ele
faz uma careta para ela e a puxa para mais perto dele na sequência.
– Vejo nela expressões contraditoras com aquele contato, deleite e
insuficiência. Ela ainda passará pela prova de fogo de dormir com ele na
mesma cama por alguns dias. Preciso descobrir uma forma de chegar em Max,
logo.
– Minha mãe está mesmo apegada a Ben, não é? Assumiu para valer o
papel de avó.
– Sim, sempre que pode está rondando, enlouquecendo Maggie, deixando
Laura enciumada. É divertido ver as duas competindo pela atenção dele. – Bia
conta.
– Depois que ele chegou, não teve nenhuma das suas crises de tristeza
aguda. Vira e mexe Mary Ann também está lá em casa. E é incrível ver como
ela brinca com a menina de igual para igual. Me traz memórias dela comigo
quando era assim pequeno, era divertidíssimo brincar com ela. – Sua voz sai
carregada de emoção e saudade.
– Hum, então foi daí que veio o seu talento para entreter crianças, ruivo?
– Não princesa, o dela está no sangue, o meu só era ativado por você! –
Beija a cabeça de Hazel. – Mas sério, pela primeira vez em anos, eu olho nos
olhos dela e vejo lampejos daquela mãe alegre e feliz de quem me lembro até
os nove anos.
– Acho que está na hora de você adicionar mais crianças à vida de sua
mãe, Max. – Chris provoca.
– Tenho pensado seriamente nisto, Chris. – Ah?
Minha surpresa foi tanta com aquela afirmação que devo ter até emitido um
som. Hazel empalidece, entristece ainda mais o olhar e enrijece o corpo.
– Como assim tem pensado nisso? – Bia pergunta o que a amiga muito
provavelmente tem medo de perguntar.
– Tenho pensado, oras! Nunca cogitei, casar, ter filhos, mas depois de Ben,
de vê-la tão animada, não sei… talvez eu deva, sabe? Fazer tudo isso, ter um
filho, dar um neto a ela… – Hazel tem os olhos cheios. Para nós, que estamos
sentados de frente para os dois, é impossível não perceber que ela está por um
triz, inclusive Chris percebe.
– Não se casa e se faz um filho só para dar um neto a mãe, Max. Isto é
ridículo. Acho que Henry te disse algo parecido no dia do meu casamento,
não? Estas coisas devem ser feitas por desejo e por amor.
– Cada um tem seus próprios motivos para procriar, Oliver.
– Você cometeria um grande erro, irmão – insisto. Ele só suspira, não diz
mais nada.
Chris coloca a sua xícara na mesinha de centro e se levanta. Fazemos o
mesmo. Ele se aproxima, abraça Bia com um braço e Hazel com o outro.
Depois dá um beijo na bochecha de cada uma.
– Esta noite foi a mais importante da minha vida. E sem dúvida a mais
feliz em muito tempo. Ganhei um filho, uma nora e um neto que já amo do
fundo do meu coração. E dois novos amigos, espero. Obrigado a vocês duas,
minhas queridas, pela ajuda, pelo apoio, por me procurarem e me permitirem
viver esta alegria, uma alegria que eu nem esperava mais viver. A de ter uma
família. Ter um filho. – Ele as solta, estende a mão para Max e, como fez
comigo ontem, o puxa para um abraço e ele vai, tão desnorteado quanto eu fui.
E assim como fez com as meninas, lhe beija a bochecha.
– É bom saber que o meu filho teve a sorte de fazer amigos tão leais.
Obrigado por todas as vezes que esteve lá por ele, quando eu não pude, Max.
– Ele sempre esteve lá por nós também, Chris. Se não fosse Oliver, nem
estaríamos aqui hoje. – Ele assente, então passa o braço pelos meus ombros.
– Me acompanha até a porta?
– Claro. – No que estamos nos aproximando dela, a companhia toca. –
Pelo visto você conhecerá Lian e Kellan hoje ainda. – Abro a porta e os dois
malas estão lá. Olham intrigados para o homem abraçado a mim.
– Porra, eu esperava encontrar qualquer coisa ao abrir desta porta, menos
dois machos abraçados. Não vá me dizer que no fim da história resolveu se
revelar, Oliver! Que seu final feliz é duro a dar com o pau.
– Vai tomar no cu, Lian. Desculpa, pai – digo de propósito, para chocá-lo.
– Pai? Como assim? Esse... esse é o conde? – Ele pergunta e
automaticamente sua expressão muda. Lian está roxo de raiva, e só espera uma
confirmação minha para avançar sobre o homem e meter a porrada.
– Não, Lian, não sou Alec. Por Deus, ele tem dez anos a mais do que eu.
Assim você me ofende, ainda sou bem jovem – brinca o meu pai, sorridente.
Acho que ninguém consegue tirar seu bom humor hoje. Nem a expressão
assassina de Lian.
– As mesmas covinhas de Benjamin – observa Kellan.
– Temos mesmo, não temos? – Chris pede a minha confirmação, o sorriso
de orelha a orelha.
– Têm sim, pai – enfatizo outra vez, na verdade, acho eu estou gostando de
dizer aquela palavra.
– Que brincadeira é essa? – pergunta o guitarrista, olhando de um para o
outro desconfiado.
Chris me solta e abraça Lian, da mesma forma que fez com Max. Lhe dá o
mesmo beijo na bochecha e lhe faz os mesmos agradecimentos. Lian entende
que não estamos brincando, aquele é mesmo o meu pai, e coração mole que é,
não segura umas fungadas de contenção, em parte pelas palavras do homem,
em parte pela importância que aquilo tem para mim. Depois Chris cumprimenta
Kellan, também de forma calorosa.
– Então o tal pub pelo qual esse bundão nos obrigou a vir às pressas para
Londres e cancelar uma noitada de muito sexo, é da família? – Chris ri.
– É sim. E espero que fique nela por muito tempo. Não é porque é meu,
mas ele é especial. – Lian baixa a cabeça e suspira.
– Esta é a mesma frase que você usará para falar de Oliver daqui para
frente, não é? “Não é porque é meu, mas ele é especial”. – Rimos.
– Babaca – xingo.
– Também senti sua falta, coração. – Me joga um beijinho.
– Porra, este lugar é da hora! – Kellan está maravilhado. – Já li e vi tanta
história bacana por estas paredes.
– Então agora sossegue, vá tirar o seu disfarce que está na hora de
subirmos naquele palco e fazermos história. – Os olhos dele brilham.
– É pra já! – Estamos aglomerados num pequeno quartinho atrás do palco
só aguardando o bebê da turma acabar o seu tour para surpreendermos os
clientes que compareceram hoje.
– É um lugar muito especial mesmo, Chris, parabéns! Ainda quero olhar
item a item com calma.
– A casa é de vocês, Max. Soube que está praticamente todo final de
semana na cidade, venha sempre que quiser, inclusive quando estivermos
fechados, basta me avisar.
– Porra, tem uma guitarra de Jimmy Hendrix na sua parede, velho! – Lian
diz deslumbrado. Chris ri.
– Tem sim.
– E uma do Santana, do David Gilmor, Jeff Beck, Van Halen, Slash, até do
Kiko Loureiro do Megadeth. – Lian está alucinado.
– Sim, quase todos os melhores guitarristas do mundo já passaram por este
palco e me deixaram uma de suas guitarras.
– Quase? Todos eles estão aí… Keith Richards, Bryan May, Jimmy Page,
Pete Townshend, Angus Young, Derek Trucks, Kirk Hammett…
– Não, todos não, falta um. Lian Mace.
– Ah cacete… vai me fazer chorar? – Ele funga. – Não falta mais. Assim
que terminarmos, essa belezinha aqui é sua.
– Agora sim. Meu acervo está completo. Mas sabe que só me dar a
guitarra não basta, não é? Você terá que contar alguma história especial ou
inusitada sobre ela, ou sobre você, para eu expor junto com o instrumento.
– Não se preocupe, tem uma bela história. Vou te contar. Ela foi usada para
celebrar um momento emocionante, quando um dos meus irmãos conheceu o
pai de quem foi privado do convívio por trinta e dois anos.
– Lian, isto aqui não é uma competição para ver quem faz quem chorar… –
Chris o abraça.
– Também tenho meus truques.
– Tô pronto – anuncia o fedelho.
– Todos os seguranças estão aí? – Max pergunta.
– Estão sim, as pessoas estão curiosas sobre o porquê de tantos homens de
pé, conversando ao redor do palco, sendo que ainda tem uma ou outra mesa
vazia. Desconfiam que algo especial vai rolar aqui hoje.
– A desconfiança termina agora – digo. Fazemos o nosso habitual grito de
guerra antes de subir ao palco, que consiste em unirmos as nossas mãos acima
das nossas cabeças e gritar “É nosso!” e entramos o mais calmamente possível,
como quem não quer nada.
Cabeças baixas, checamos os equipamentos, instrumentos, Lian abaixa e
pluga sua guitarra, ajusto o microfone, ainda de costas, Max testa a altura da
banqueta, Kellan confere as caixas de som.
Essa é outra tradição do Rock’n’Rain. Seja desconhecido ou consagrado,
tocar ali é igual para todo mundo, é na hora, é na raça. Nada de trazer os seus
amplificadores, sua equipe técnica, nada de testar e ajustar horas antes, nada
de passagem de som. Se quer, faça, se não quer, tchau.
Essa pegada nos traz o gostinho do nosso começo, em que éramos apenas
nós, por nós mesmos. Todo o mérito, do erro ou do acerto era só nosso.
O ônus e o bônus.
Kellan não viveu muito disso, então para ele a experiência está sendo ainda
mais especial. E apesar de termos trazido os seguranças que nos acompanham
em viagens, todo o resto está sendo feito “no pelo”. Riley e Peter não sabem,
não tem contrato, não tem regras, não tem limitações. Ela vai nos encher o saco
depois, estamos cientes, porque a mídia vai noticiar, mas não faria sentido se
não fosse assim.
Por mais que tentemos nos manter de costas e cabeças baixas o máximo
possível até ali, todos cochicham, esticam os pescoços. Alguns já se
aproximam do palco. Quando Lian se ergue e se põe de frente atravessando a
guitarra no corpo, a gritaria começa. Me viro para ajustar a posição do
microfone e a gritaria explode. Um “bum” de gente toma a frente do palco ao
mesmo tempo, se empurrando para ter a melhor visão.
Max larga a primeira batida. Lian e Kellan acompanham.
Eu ergo os olhos e procuro a minha menina.
Hazel e ela estão lá, num cantinho, protegidas por seguranças à paisana.
Sorrio para ela e solto a voz na primeira canção da noite, a pedido do meu pai,
Crazy Blue Dog. Um super e pesado hardrock, em que eu suplico por continuar
tendo algum espaço no coração de uma mulher, mesmo que seja um espaço
irrelevante. Suplico para que ela não me “jogue fora”. Nem imagino porque
meu pai gosta desta música… desconfio que tenha feito a mesma súplica a
esta mesma mulher…
Private Chaos e Crazy Blue Dog foram as minhas primeiras composições,
escritas ainda na adolescência. Ambas baseadas em Vivienne, no que ela fez,
numa peço que me esqueça, na outra, que reconsidere.
Eu canto, ele chora.
Preciso abstrair para não me deixar abalar e chorar junto com ele. Se não
tivesse feito tantas más escolhas, talvez Vivienne estivesse aqui agora, vivendo
o momento conosco. Ou, se ela não as tivesse feito, talvez não existisse banda
e nós não estivéssemos ali, juntos, curtindo.
Vai saber…
A música termina, no vácuo do primeiro som, engatamos outra pancadaria,
Sweet Salt, música de Lian. As pessoas estão enlouquecidas, não acreditam na
“sorte” que tiveram ao decidir vir a um pequeno pub de Londres numa simples
e agradável noite de sexta. Pulam, vibram, fotografam, mandam mensagens,
contando a boa nova. O lugar vai lotando mais e mais a cada minuto. Mas
Chris me confirmou que há um limite, uma lotação máxima que garante
segurança, e assim que chega nisso, as portas são fechadas para qualquer novo
cliente.
A vibração é tanta que decido manter a pegada hard, como não temos um
roteiro, tudo ali é no improviso, faço sinal para eles para que a próxima seja
Little Naughty Princess, música muito curiosa de Max. Como diz o título, fala
de uma “princesinha” travessa, que obviamente é inspirada em Hazel, a sua
princesinha, só que os versos são dúbios, a “travessa” pode ser interpretada
como uma criança levada, ou como uma jovem atrevida. A música explodiu
tanto quando foi lançada, ainda pela antiga gravadora, que tivemos que fazer
um clipe. E nele prevaleceu a imagem das travessuras sexuais, o que não
agradou a Max. Então quando Hazel pergunta se a música foi feita para ela, ele
nega com todas as suas forças.
Passamos para Obstinate e volto o foco para a minha garota. Bia é toda
entusiasmo. Está pulando e cantando desde a primeira música, sem pausa, sem
trégua. Os cabelos grudam em sua testa e em seu rosto por causa do suor, mas
ela nem liga.
Ela se entrega, sente a música.
Ritmo, notas e letra.
Sente a emoção provocada quando estas três coisas se juntam formando
algo único. Está em seu DNA, faz parte dela, e sua empolgação só reflete o seu
íntimo.
E mesmo naquela agitação e euforia toda, mesmo depois de estarmos há um
bom tempo juntos, nos conhecermos bem demais, dividirmos a mesma cama
todas as noites, estarmos casados e termos um filho, o seu olhar quando recai
sobre mim reflete sempre a mesma coisa.
Fascínio.
E aquilo sempre me comove.
Sentir o fascínio em seu olhar de mulher sobre mim como homem, sobre o
meu corpo, já me balança pra caramba. Acrescentar a isto o fascínio pelo
ídolo, me derruba. E é esta combinação letal de fascínios que ela lança sobre
mim neste exato momento.
Paro a música antes de chegar ao fim.
– Venha aqui Beatriz – chamo ao microfone. Os instrumentos que me
acompanhavam vão morrendo aos poucos quando percebem que parei mesmo.
Ela me olha confusa, assustada.
– Oliver, se vai parar de cantar e falar, dê primeiro um boa noite para as
pessoas, não foi essa a educação que eu te dei. – Lian ralha, divertido, para
interagir com o público. Mantendo o meu personagem de turrão, só mostro o
dedo do meio para ele e não cumprimento ninguém. Ele balança a cabeça. As
pessoas reagem animadas.
– Boa noite, galera! – cumprimenta. – Uma honra e um prazer estar aqui
com vocês hoje. Nem imaginam o quanto. Desculpem o nosso vocalista, mas já
conhecem a fama dele, dispensa comentários, não é mesmo? Só não entendi
porque…
– Venha aqui, baby – repito o meu pedido.
– Pelo visto o caso é sério… – entretém Lian.
Ela retira a peruca e finalmente se move, os seguranças a ajudam a chegar
até nós. Mal se aproxima, engato sua cintura e a beijo, possessivo. As
mulheres vão ao delírio, principalmente porque a danada aproveita a
oportunidade e aperta a minha bunda, ali, na frente de todos. Descarada!
– Desculpem, mas eu simplesmente não podia esperar mais para beijar a
minha mulher – dirijo finalmente algumas palavras ao público ao largar a sua
boca, e abro o meu mais sacana e sexy sorriso, mantendo os olhos fixos nela. A
mulherada grita outra vez e ela me olha ainda mais fascinada.
Linda!
Em outros tempos suas bochechas estariam vermelhas.
Sussurro algo em seu ouvido.
Ela arregala os olhos e balança a cabeça de um lado para o outro, negando.
Eu balanço a cabeça de cima para baixo, afirmando. Então a viro de frente
para a plateia, reposiciono o microfone para a sua altura e dou alguns passos
para trás. Falo para os caras a próxima música e em que tom devem trocá-la.
Inicio em minha guitarra o primeiro acorde de Private Chaos, a galera
reconhece e se agita.
Os outros instrumentos acompanham, a sonzeira explode e Bia canta
divinamente. Sua voz doce e aguda dá outra pegada à música, mas ela soube
colocar o fator rock’n’roll perfeitamente para não ser engolida pelos metais e
pela bateria, acrescentando peso, força e intensidade à voz, e chamando a
atenção para os momentos da música que precisam causar impacto. Foi
perfeito e todo mundo pulou e cantou junto com ela.
– Já posso me aposentar e você trabalha pelo leitinho das crianças, amor –
declaro ao microfone de Lian quando a música termina.
– Nem pensar, gostosão! – revida ao seu.
Sua declaração arranca nova onda de euforia feminina, então se aproxima
de mim, me dá outro beijo e um novo apertão na bunda, mais demorado desta
vez, sorrio entre os seus lábios.
Ela sai do palco.
Sei que acabei com o seu disfarce, mas ela volta para o seu cantinho sem
maiores problemas e as pessoas respeitam seu espaço, agradeço por isto.
Assumo os vocais novamente, Chris se junta a meninas e os três curtem
juntos até o final da apresentação. Acho que tudo que tinha de mais pesado e
agitado no nosso catálogo foi tocado naquela noite. Tocamos muitas, muitas
músicas que nem todo mundo conhece e que por isso raramente temos a
oportunidade de tocar tantas delas num mesmo show. E o público ali, a maioria
conhecedor e apreciador ao extremo, cantou junto cada uma. Só por este fator
já foi especial demais. Juntando todo o resto então…
Concluída a brincadeira, voltamos a nos reunir com Chris nos bastidores.
– Como prometido, a guitarra autografada e a história do meu amigo. –
Lian passa o instrumento para Chris, que sorri para ele.
– E aqui as baquetas que usei durante toda a turnê Another Life, por ser a
maior turnê assistencial promovida por uma única banda na história, acho que
é importante eternizá-las e expô-las.
– Sem dúvidas, fico honrado – responde meu pai.
– Esta é a minha gaita de boca, onde aprendia a tocar e a primeira que
toquei num show oficial, que usei ao dividir o palco com Mick Jagger e
também esta noite. – Kellan acabou ganhando a gaita de boca de Mick Jagger,
então está doando a sua para o acervo do pub. Disse que de agora em diante só
usará aquela. Jagger arranjou um fã ferrenho.
Tiro a minha camiseta, autógrafo e a entrego para Chris.
– Esta camiseta foi a primeira com o logo da banda que fizemos e usei em
apresentações nos nossos primórdios. Economizamos os trocados das
apresentações anteriores e conseguimos estampar três camisetas, ainda tivemos
que barganhar sete dólares de desconto, porque nosso dinheiro não dava.
– E aqui, – entrego a ele o boné verde e a cartinha que Bia fez aos oitos
anos. Junto, uma outra carta com o relato da história daqueles itens – duas
coisas muito especiais para mim e para Bia. Fiz um relato bem detalhado do
que é e o que significa para nós. Esta história, nunca mais repetiremos a
alguém que não faça parte do nosso convívio mais íntimo. Só quem vier aqui
poderá conhecê-la.
– Terão um lugar especial e de destaque aqui dentro, filho. Um onde será
proibido filmar ou fotografar. – Sorrio para ele. Isso!
– Me diverti e me emocionei muito esta noite, pai! Amanhã vamos
embora… vou… vou sentir saudades – digo com a voz um pouco alterada. Ele
me abraça.
– Eu também. Muitas.
– Vá nos visitar.
– Eu vou, só me dizer quando…
– Quando o senhor quiser. Sempre que sentir vontade.
– Obrigado! Eu amo você, filho.
Minha garganta arde. Engulo em seco.
Está aí a combinação de quatro palavras que jamais imaginei ouvir de
alguém que não a minha avó.
Capítulo 40
Oliver
Bia
– Baby, você está muito calado. Algum problema? Não está feliz?
– Claro que estou Beatriz, você viu o quanto me emocionei. É só que…
– Só que? – Seguro meu riso porque sei bem o rumo que os pensamentos
dele andam tomando.
– Nada não, vamos entrar, estão todos nos esperando.
– Vamos, estou faminta.
Assim que colocamos os pés dentro da área de festas da casa de Lian, Ben
corre para o aconchego dos braços do pai e eu beijo o meu filho.
– Finalmente, estávamos agoniados aqui. – Hazel declara, ansiosa.
Laura vem e me abraça. Ben já cansou do colo e corre para perto de Kellan
e do videogame. Oliver, ainda calado, anda até o bar e se serve de uma dose
de whisky. Laura ergue a sobrancelha para mim. Dou de ombros.
– E então querida, tudo bem com você e o bebê?
– Sim, ele está ótimo. Nós dois estamos bem.
– E ele mostrou ao que veio? Ganhei um afilhado ou uma afilhada? –
Kellan pergunta o que todos querem saber de verdade.
– É uma menina. – Mato a curiosidade deles de uma vez e muitas
comemorações explodem.
– Agora estou entendendo o silêncio e a cara de preocupação do pai. –
Lian zoa. Ele e Max cercam Oliver perto do bar.
– Ah Oliver… nada como um dia após o outro, não? – Max dá dois
tapinhas nas costas dele. – Me lembro de alguns conselhos muito interessantes
que você me deu há alguns anos… estão todos muito bem guardado para
devolver a você no momento certo.
– Não fode Max.
– Ah meu irmão… sinto muito, mas você vai sofrer. – Oliver passa as
mãos pelos cabelos.
– Já estou, só de imaginar… – confessa. Lian se estraga de rir da cara de
desespero de Oliver.
Ele está realmente sofrendo.
– Velho, mal posso esperar pelos anos de diversão a frente… pense
Oliver, você cuida e protege a sua linda filhinha, a coisa mais doce e amada…
daí um dia, um barbado qualquer entra por estes portões e…
– Pode parar por aí, Lian. Se continuar te transformo num eunuco. Minha
filha não! – Todos gargalham, mas meu marido fala muito sério.
– Como era mesmo aquele papo? Não vou gostar, mas terei que aceitar?
– Max…
– Se ela aparecer aos dezesseis grávida de um homem mais ve…
– Nunca! Nunca, entendeu? Eu mato. Enforco. Faço picadinho. Velho ou
novo. – Eu rio tanto que se não me controlar agora minha filha sai pela boca.
Max se escora no balcão do bar para não cair.
– Vai ser tão lindo de acompanhar… – Lian segue na provocação. – Um
cabeludo, tatuado assim como eu se apr…
– Inferno! Chega!
– Deixe a menina dar para quem ela quiser, Oliver… – Max não alivia.
– Porra! Cacete, Max.
– Não fale assim da minha afilhada.
– Obrigado, Kellan.
– Nada do que eu já não tenha ouvido da boca dele em relação a sua irmã,
fedelho…
– O sonho dela será permanecer virgem e morar com o papai e a mamãe
para sempre. Fim de papo.
– Não senhor, a minha filha vai aproveitar muito o que a vida tem de
melhor – provoco.
– Nem por cima do meu cadáver…
– Quem vai morar com a mamãe para sempre é o Ben, né filho?
– É.
– Viu? O meu está garantido…
– Rá. Se puxar a mim, com treze anos já…
– Calado, Oliver! – Agora é ele quem ri, eu não achei graça nenhuma.
– Só gostaria de lembrar aos dois bundões aí, – aponta de Lian para Max –
que nenhum deles está livre de passar pelo mesmo no futuro, então pensem
bem… – Os dois xingam e finalmente mudam de assunto, aliviando para o pai
enciumado.
– Temos que decidir o nome dela, baby, você está me enrolando. – Ele
reclama, enquanto acaricia a minha barriga de seis meses.
A bebezinha mexe.
Ela sempre mexe quando sente o seu toque.
Está uma noite linda. Céu claro e estrelado, a lua enorme no céu, um clima
delicioso, propício para o romance.
Estamos os dois no trapiche, ele apoiado na parede e eu sentada entre as
suas pernas, assim como no dia do nosso primeiro contato mais íntimo, o dia
em que a nossa paixão explodiu e não pudemos mais ignorá-la.
– Certo. Eu já tenho um nome. Mas primeiro preciso que você diga sim.
– Como assim?
– Diga sim, Oliver.
– Mas eu nem sei qual é…
– DIGA SIM.
– Mas…
– Só diga.
– Bia…
– Diga, amor.
– Você… você não está pensando em dar a ela o nome da…
– Não! Eu jamais daria à nossa filha o nome da mulher que te magoou
tanto, meu bem. Mesmo que você já esteja em paz com isto.
– Então me fale…
– Só quando você disser sim.
– Por quê?
– Porque não existe outro nome para ela. Então diga. – Ele suspira.
– Eu vou dizer, porque mesmo que eu não goste, no final você vai me
convencer de qualquer forma, então… Você tem o seu sim, Beatriz. Agora me
conte, qual é o nome da minha filha? – Sorrio.
– Olivia.
– Mas…
– Está decidido rockstar, você já disse sim.
– Bia…
– Ben e eu compartilhamos a letra B, você e ela a letra O.
– Ela e eu compartilharemos bem mais do que a letra O.
– Você gosta do nome que a mamãe escolheu, não gosta, Olivia? – Ela
mexe bastante. – Viu? É o nome dela.
– E aquela história de que cada pessoa importante na nossa vida tem que
ser única? Aquela que você me contou quando eu sugeri que déssemos a ela o
nome da sua mãe, mesmo você já tendo uma prima…
– Não tenho nenhuma outra Olivia em minha vida, você tem?
– Engraçadinha. Você entendeu. Por isso sempre desconversou quando eu
sugeri alguns nomes? Já tinha decidido desde o início, não é?
– Sim. Não consigo imaginá-la a não ser como sendo a nossa Liv. – Sinto
o sorriso se formar em seu rosto.
– Sim. Nossa Liv. Gostei.
– Olivia Rain. Minha pequena roqueira. – Afago minha filhinha. – Já pode
chamar o tatuador.
– Farei amanhã mesmo. Bia, Ben, Liv.
– Aproveite e peça para ele tatuar mais três letras no final, End, porque
sua lista se encerra aí, rockstar.
– Ah pequena, nunca se sabe… surpresas acontecem, Liv é a prova
disso…
– Surpresas? Sei! Você sabe muito bem porque ela aconteceu. Eu juro,
Oliver, mais uma vez e meu lado assassino não ficará só nas promessas.
– Calma, Chucky. Se for, será só daqui a uns…
– Pode parar! Não caio mais nesse seu papinho. – Ele ri e mordisca o meu
ombro.
– Foi só para te provocar, meu amor. Como lhe disse uma vez, mesmo que
nunca me desse um filho, eu seria completamente feliz desde que tivesse você.
Você, aqui, comigo, sempre. Lembra?
– Lembro. – Me viro e sento-me atravessada em seu colo, de frente para
ele. – Lembro também de algumas coisas bem interessantes que fizemos por
aqui.
– Lembra é?
– Ahã.
– Humm, refresque a minha memória então, meu anjo. Sei que está louca
para isto.
– Ah meu amor… como não estaria? – Retiro sua camiseta. – Você é tão
lindo, baby. – Levo meus lábios ao seu pescoço, beijo, me esfrego e mordo ali.
– Tão cheiroso, tão sexy… Só de olhar para você eu…
– Sei bem, sei bem… se sem gravidez nunca aliviou, agora então… O tora
tem feito muita hora extra. – Sorrio contra seu ombro, o qual mordisco de leve
como ele fez comigo.
Ele desliza as mãos por minhas costas, por dentro da minha blusa e abre o
fecho do sutiã, depois puxa as duas peças para fora do meu corpo de uma só
vez. Afasta um pouco nossos troncos e me olha.
Meus seios novamente mais cheios que o normal.
Meu ventre grávido.
Seus olhos brilham de emoção contida, uma lágrima solitária escorre.
Há um mês e meio tem sido assim. Desde que a barriga começou a
despontar.
A dor e a culpa por não ter me visto grávida da primeira vez, por não ter
dado ao filho o que está dando à Liv.
Seu toque, sua voz.
E não há nada que eu diga que o console neste sentido, então já desisti.
Só deixo e espero.
As pontas de seus dedos me tocam levemente. Enquanto ele tenta controlar
suas lutas internas e voltar ao nosso momento. Passam pelo ventre, e pelo vão
entre os meus seios. Depois retornam até os mamilos, primeiro um, depois o
outro, muito leve, carinhoso, mas o suficiente para me fazer arfar e desejar o
seu toque mais potente.
– Pequena, eu nunca imaginei que seria possível te ver ainda mais linda do
que já vi, mas você assim, sob a luz do luar, o luar que reflete em seus cabelos,
em seus olhos, nua em meu colo, carregando o meu bebê em seu ventre.
Carregando tanto amor. É de uma beleza de arrancar lágrimas, Beatriz, muitas
lágrimas.
Abaixa a cabeça e beija a barriga. Mas seus lábios não abandonam a minha
pele depois disto, eles vão subindo, queimando, acendendo e acarinhando cada
centímetro de mim que conseguem. Enfio as duas mãos em seus cabelos e arfo
cada vez mais alto conforme aqueles lábios e beijos vão avançando pelo
caminho.
Eles passam pelas costelas, e desviam para a lateral do seio, se perdem ali
por longos minutos. Retomam a rota e avançam para a clavícula, e ali brincam
de um lado para o outro, uma ponta a outra, até que descem para a lateral do
outro seio e novamente se esquecem de seguir viagem. Tomam a rota dos andes
e chegam ao cume, onde eu os aguardava ansiosamente.
E quando alcançam a sua tão merecida recompensa, deixam de ser leves,
carinhosos e se apossam do seu prêmio com fome. Seus lábios envolvem o
meu mamilo e o chupam enquanto a língua, atrevida, brinca com ele em
movimentos circulares. As mãos decidem que não podem ficar de fora daquela
festa e uma delas toma o outro seio, enquanto a outra segue me sustentando e
deslizando em minhas costas.
– Tenho tanta fome de você amor… tanta… – Me agarro a ele, aos seus
cabelos com todas as minhas forças, enquanto ele segue me torturando com
dedos e lábios em meus seios.
– Eu também, anjo. Quando mais a tenho, mais preciso ter. É insano. –
Seus lábios abandonam um de seus brinquedos favoritos e se alojam em meu
pescoço, arrancando arrepios e mais gemidos. Não aguento mais esperar e
puxo seu rosto para cima, tomando sua boca na minha.
Já desisti de esperar que beijar Oliver Rain, o meu marido, o pai dos meus
filhos, se torne algo cotidiano, corriqueiro.
Não.
Nunca será.
Sempre me causará frisson.
Sempre haverá essa corrente elétrica circulando pelo meu corpo cada vez
que unirmos as nossas bocas, cada vez que eu entrelaçar a minha língua na dele
e sentir o seu gosto.
Cada vez que ele me tocar.
Se isso não é felicidade, não sei mais o que seria.
Ele se ergue comigo no colo, se vira, para que minhas costas toquem a
parede da marina e depois me põe de pé sobre o trapiche.
Volta a deslizar os lábios pelo meu corpo até que se ajoelha à minha frente,
beijando meu sexo sobre a calça. Suas mãos procuram pelo botão, que abre
sem dificuldade, desce as peças e as retira completamente de meu corpo.
Estou ali, à luz do luar, inteiramente nua e entregue a ele, que me admira e
sorri.
– Ahhh minha mulher… tão linda… tão gostosa...
– Desliza um dedo levemente e depois beija-me novamente lá, sem a
inconveniência do pano agora. Beija o que alcança assim, mantendo as minhas
pernas fechadas, inspira meu cheiro e volta a beijar, lamber, a correr a língua
pelo púbis até o início da rachadura entre as minhas pernas. Seguro sua cabeça
lá, na esperança de que ele avance um pouco mais com aquela língua
abençoada.
Mas ele não faz.
Eu tremo de tanto desejo. Ele percebe.
– Ansiosa, esposa?
– Demais.
– Vou te deixar subindo pelas paredes antes de te comer, amor.
– Eu estou grávida, Mr. Rain. Não brinque comigo.
– Tarde demais. – Ergue uma das minhas pernas e põe sobre seu ombro.
Vira o rosto e beija minha coxa ali, desliza a barba e mordisca, desvia do
ponto chave e repete o processo na outra perna.
É demais.
– Oliver! – Ele ri da minha impaciência.
– Onde você quer a minha boca, anjo, me diga.
– Filho da…
– Não fale palavrões perto da minha filha.
– Então não posso te dizer onde eu quero a sua boca.
– Certo, dona respostinha, me pegou. Mas você pode me mostrar. Que tal?
– Levo a mão à minha boceta, mas antes que eu chegue lá, ele a pega e chupa
um dos dedos. Depois o leva até onde a quer e me faz enfiá-lo dentro da
vagina.
– Ah pequena… – Brinca com a minha mão ali, me fazendo colocar e tirar
o dedo, depois o pega e o chupa com toda a sua força. – Que gostosa!
Estupidamente gostosa. Minha bermuda está explodindo. Vou gozar nas calças
só de te olhar.
– Você é um homem morto! Me dê ele de uma vez Oliver…
– Não. Agora eu preciso beber mais do seu mel, só aquele dedo não foi o
suficiente. Leva a boca até lá e eu, prestes a suspirar de alívio, me frustro
quando o senhor molha calcinhas dá apenas um leve beijinho nela.
– Ah, por favor… – Ele ri, porque está fazendo tudo de caso muito bem
pensado.
Mas compadecido do meu desespero, me abocanha de uma vez, põe um
dedo seu aonde acabei de tirar o meu, me suga e me lambe de todas as formas
mais deliciosamente Oliver que existem. – Baby…
– Tanto mel, amor. Que delícia, tão, tão molhada… meu pau não vê a hora
de se afogar nesse rio. – Leva a mão à sua bermuda e abre o botão para ganhar
algum espaço.
Quero mais, quero vê-lo.
– Tira a bermuda e a cuequinha amor. Deixe-me admirar o meu melhor
amigo em toda a sua glória.
– Safada! Abusada! Gostosa! Cuequinha o cacete! – Ele baixa a bermuda e
o enorme aparador dos meus melhores sonhos pula livre e contente… oh, meu
pai… é lindo demais!
– Estava sem cueca, Mr Rain?
– Uhmmm não posso falar, minha boca está muito ocupada. – E ele põe
tanto empenho na chupada e no jeito que me fode com seus dedos que minhas
pernas vacilam e precisa me segurar.
– Caramba!
– Gostoso?
– Muito.
– Então se segura. – Eu faço e quase não é o bastante para me manter de
pé.
– Oliver, acho… acho melhor você parar… não vou aguen… Aaaaahhhh
puta-meeerdaaa! – Eu gozo, gozo muito forte e ele não para de me chupar e me
foder.
– Baby… Oliver…. aii… Deus…
Ele não para e mais um espasmo começa a se formar em meu ventre e vai
indo, vai indo, até que explode outra vez. Meus joelhos falham completamente,
ele me segura e já me põe deitada de costas no chão do trapiche, se posiciona
sobre mim, com o cuidado de não esmagar a barriga e me penetra, gemendo de
vontade de entrar ali.
Grito alto.
É muito estímulo junto, seguido. Estou muito, muito sensível lá embaixo.
Felizmente ele entra e para. Não se movimenta.
Respiro.
– Puta-que-pariu, Oliver…
– Tô fazendo o maior esforço para não me mexer, baby. Tá tudo bem? –
Tira uma mexa de cabelo do meu rosto e contorna minha face com os dedos.
– Tirando que minha alma deixou o corpo e voltou, sim. – Ele sorri, entre
amoroso e agoniado.
– Pronta para perdê-la outra vez?
– Não.
– Preciso te comer, anjo. Minhas bolas estão doendo.
– Não dá ainda, Oliver. – Resolvo levá-lo ao limite como fez comigo,
devolver um pouco da provocação.
– Só um pouquinho.
– Calma... – Ele baixa a cabeça e suspira, tentando controlar os impulsos
instintivos doidos para se apossar dele.
– Vou começar devagarinho... – pede e libero, sentindo pena, mas só um
pouquinho.
– Muito, muito devagarinho. – Ele começa o vai e vem bem lento,
delicioso. Cada vez que sai e entra solta um gemido, misturando dor e prazer,
está louco de vontade de se soltar de vez, necessitado. Resolvo deixar ainda
mais difícil para ele.
– Mais devagar amor, tô sensível.
– Sério?
– Sim, bem, bem devagar. – Ele diminui e quase chora.
– Ain…
– Que pau gostoso, rockstar.
– Ai, não fala…
– Delicioso, olha isso. – Dou uma reboladinha.
– Bia…
– Tão, tão grosso, me preenche todinha, não sobra um mísero espacinho. –
Rebolo de novo.
– Você tá fazendo de propósito?
– Não, imagina. – Aperto-o com a minha boceta. Ele urra e esconde o
rosto na curva do meu pescoço.
– Ah, se você não estivesse grávida… Se prepare Beatriz, assim que
Olivia sair daí, eu me cobro.
– Se cobre agora, marido, venha, solte a fera que existe em você e me
come gostoso, vai.
– Graças a Deus! – Desce a boca na minha e acelera os movimentos lá
embaixo, já estou tão excitada de novo pela brincadeirinha que fiz com ele,
que levo a virilha ao seu encontro tão esfomeada quanto.
Ele segura nas laterais da minha cabeça, fazendo força nos antebraços para
não largar o peso sobre mim e cola nossas testas enquanto segue me amando.
Eu caio na besteira de mergulhar em seu olhar naquele momento, e por um
segundo, um breve instante, como num flash, tenho a nítida impressão de já ter
vivido aquilo.
Um momento exatamente igual aquele.
Com outras paisagens, outros sons, outros aromas e outras cores.
Mas ainda assim, igual.
Onde amei aquele mesmo homem.
Com a mesma intensidade.
Senti as mesmas emoções e mergulhei no mesmo olhar.
Em outros tempos.
A experiência é breve, porém poderosa.
E não me pergunte como, mas todo o amor que eu sinto por ele duplica,
triplica.
E uma paz, uma paz tão grande toma conta de mim que as lágrimas
escorrem.
Não importam os caminhos.
Não importam as lutas.
Não importam as distâncias.
Não importam os nomes.
O nosso ponto de chegada será sempre o mesmo.
Um no outro.
Epílogo
Oliver
A História de
Max e Hazel
Prólogo
– O que foi princesa, parece triste? Qual das nossas filhas fez malcriação?
– A Lucy foi para o cantinho do pensamento, mas não é por isto que eu
estou triste. – Ele me pega no colo e deito a cabeça em seu peito.
É tão quentinho ali.
– Qual o motivo então? Me conte.
– Mamãe disse que não posso mais ir para a escola porque vocês estão
muito famosos.
– Eu sei. Sinto muito querida, mas é necessário para a sua proteção.
– Não terei mais amigas para brincar.
– Você tem o seu irmão, e tem a mim.
– Kellan não sabe brincar e você quase não tem mais tempo para me
ajudar com as bonecas.
– Mas cada minuto que eu tiver será seu, eu prometo.
– Não é verdade.
– Claro que é.
– Ouvi sua mãe conversando com tia Laura, e elas diziam que toda noite
vocês três saem para transar. O que é transar, uivo? – Ele tosse e fica
vermelho.
– Você deve perguntar para a sua mãe.
– Eu já perguntei, ela disse que uma menina de seis anos não pode saber
destas coisas. Nem Kellan que já tem quase oito pode. Por isso esolvi
perguntar a você, já que falou que sempre será meu amigo e que podemos
conversar qualquer coisa. Ou isso também não é verdade?
– Eu nunca menti para você, princesa, nem vou. Então sim, todas as noites
nós saímos, mas é no horário que você já está dormindo.
– Para transar? – Deve ser algo ruim, porque ele ficou mais vermelho.
– Uma criança não deve usar esta palavra, Hazel. Não é apropriado. Não
posso lhe explicar exatamente o que é, só quando for mais velha, mas é mais
ou menos a mesma coisa que namorar.
– Então vocês saem para namorar? – Olho para ele magoada, as lágrimas
invadem os meus olhos.
– Sim. Por que está chorando?
– Mas eu pensei... pensei que você fosse meu namorado... temos filhas...
– Ah meu amorzinho, nunca vai existir outra menina tão especial na minha
vida quanto você. Você é o que eu mais amo no mundo todo. – Sorrio e seco as
lágrimas, acho que isso quer dizer que ele é meu namorado, né?
– Agora que não vou mais a escola, não terei mais amigas e você não vai
mais me levar em festinhas de aniversário.
– Hum... sabe aquela praia que a gente visitou e você adorou?
– Siimm! – falo empolgada.
– Pois então, se tudo der certo, lá será a nossa casa daqui a um tempo.
Talvez não tenhamos mais muitas festas de aniversário para ir, mas teremos
mar, piscina, e faremos muitos e muitos castelos na areia. O que você acha?
– Demais!
– E além disso, princesa, nós abriremos a nossa própria empresa, e será lá
perto da praia também. Teremos pessoas trabalhando para nós e talvez algumas
destas pessoas tenham filhas da sua idade, então você poderá fazer novas
amigas na nossa nova casa. – Meu sorriso se alarga mais.
– Eu adoro brincar com você, mas eu gostaria de ter uma amiga.
– Sei que sim. Você terá. Poderá ter tudo, qualquer coisa que quiser na
vida Hazel. Farei tudo que estiver ao meu alcance para que tenha.
– Quando vamos morar lá?
– Nós temos mais um ano de contrato com a gravadora para cumprir.
Estamos negociando o terreno e se as coisas saírem conforme esperamos,
usaremos este um ano para construir as nossas casas e a sede da Three Minds e
então nos mudamos.
– Um ano... – digo desanimada – é muito tempo...
– É nada, vai passar voando, você vai ver.
– Uivo!
– Oi meu amorzinho. Que saudade! – Pulo em seu colo.
– Você demorou!
– Mas te liguei todos os dias, como prometi.
– Ligou, mas não é a mesma coisa.
– Já conversamos sobre isso, princesa... É o meu trabalho.
– Eu sei, desculpe. É que sinto a sua falta. Quatro meses é muiiiito tempo.
– Max, eu já disse que a filha é minha! – Papai passa por nós e beija minha
cabeça.
– Deixa de ser ciumento, Johnathan.
– Olha quem fala. Mais ciúme que você tem da minha filha? Estou para
ver...
– Ela é um pouco minha filha também.
– Não sou não. Sou sua namorada! – Os dois riem, mas não falei nada
engraçado.
– Eu trouxe um presente. – Ele me põe no sofá e se senta ao meu lado.
– Você sempre traz.
– Mas este é especial, uma coisa que você me pede há um tempo e eu não
encontrava. Acho que vai gostar...
– Minha filha uiva?
– É bom... – Ele coça o pescoço, sempre faz isso quando está nervoso. –
Abra, vamos ver... – Me agarro ansiosa ao pacote que ele estende e rasgo o
papel, afoita.
Como eu sonhei com uma bebezinha ruiva!
Já posso ver os cabelinhos, bem da cor dos dele... ai que linda... opa....
mas...
– É um menino! – digo um tanto surpresa, um tanto decepcionada.
Coloco o bebê deitado em suas pernas e não toco mais.
– Sim. Um bebezinho ruivo. Não parece um bebê de verdade? – Olho para
o boneco e realmente parece um bebê real, um recém-nascido.
– Mas não é uma filha!
– Humm, verdade! Mas sabe, quando eu fui buscar seu bebê ruivo, eu vi
este menininho e o achei tão triste, tão sozinho. Ele precisava de uma mamãe.
Eu pensei no quanto eu fico triste e sinto a sua falta quando estou longe e não
queria que ele sentisse o mesmo. E além disso, tem aquele outro problema,
você sabe...
– Que problema?
– Ué, já gastamos todos os sete nomes com L. Se tivéssemos mais uma
filha, teria que ser a Leia. – Torço o nariz.
Leia não!
– Era para termos apenas filhas...
– Pois é! Mas o que acha de termos um filho também?Poderíamos chamá-
lo de Leopold ou Leonard.
– Eca! São nomes de velho.
– Eu acho que são nomes de gente importante.
– Eu prefiro só Leo. Leo Connor.
– Leo, então. E aí? O Leo foi aceito na família?
– Ainda não sei se tem muita coisa que se possa fazer com um menino... –
Ele gargalha.
– Realmente princesa, meninos não servem para muita coisa. E espero que
você continue pensando assim na adolescência.
– O que é adolescência?
– É a fase da vida em que a menina começa a virar mulher e o menino,
homem.
– Ah... e já podemos casar na adolescência?
– Não, casar só quando for adulta.
– E com quanto anos se vira adulta?
– As outras meninas com dezoito. Você com trinta. – Arregalo os olhos.
Trinta é muito, muito velho.
– Por quê?
– Porque fora o Leo aqui, não vou deixar nenhum outro menino chegar
perto de você antes desta idade. Que dirá casar.
– Ah uivo, mas não precisa... eu vou casar com você!
– Tá certo. Bom, acho que terei que encontrar outra mãe para o Leo, não
é? – Ele tenta colocar o bebê no chão.
– De jeito nenhum! Ninguém mais cuida do meu uivinho. Ele já tem dona,
não vai ficar triste e sozinho. – Abraço e embalo o meu novo bebê.
– Ah não mesmo, com treze irmãs? Pode ficar maluco, mas sozinho,
impossível!
– Filha, ainda acordada? – Não respondo, não era para mamãe entrar aqui
agora.
– Hazel, está assim porque Max não ligou? Com certeza ele não pôde, não
é que não quis. – Fungo. Ela senta ao meu lado na cama.
– Ah, meu amor, está chorando? – Me agarro ainda mais ao Leo e às
cobertas. Mamãe tenta secar as minhas lágrimas, mas o contato da sua mão fria
com a minha pele quente me causa um estremecimento.
– Por Deus, filha, você está com febre.
– Dois dias mãe, dois dias que ele não liga! E amanhã é meu aniversário.
Será que aconteceu alguma coisa?
– Claro que não. Falamos com Oliver hoje de manhã, então bem.
– Então será que ele me esqueceu? – Ela ri.
– O Max? Esquecer você? Mais fácil passar um camelo pelo buraco de
uma agulha.
– Mãe... você tem cada uma...
– É verdade.
– Então por que...
– Licença! Posso entrar?
– Max! – Me sento tão rápido na cama que Leo cai no chão.
– Pronto, chegou a sua cura. Se você não aparecesse em meia hora, Max,
eu teria que revelar a surpresa. Veja como ela está quente. Da próxima vez, dê
um jeito de ligar, mesmo em voo. – Max ri.
– Eu não podia perder os oito anos da minha princesa.
– Vai ficar aqui? Vamos virar a meia noite acordados?
– Claro, como fazemos desde os seus cinco anos.
– Obaaaa! – Pulo na cama.
– Desculpe por não ligar, Alicia, esse problema com Lian me tirou do
eixo... foi por pouco desta vez, sorte que o socorremos rápido.
– Mas ele está bem mesmo, não é? Ou vocês... – Mamãe tem os olhos
vermelhos.
– Não, não escondemos nada. Ele está bem, mas seguirá internado em
Chicago por um tempo ainda. Oliver está lá com ele e eu volto para lá na
sequência. Laura irá comigo. – Lian está doente?
Paro de pular.
– Nós é que deveríamos ir...
– Vocês tem as crianças, e além disso, precisamos que mantenham a
empresa nos trilhos. Lian sabe e entende, não se torture com isso.
– O que aconteceu com Lian? – Eles de repente se dão conta de que estou
ali.
– Ele ingeriu umas coisas ruins e passou mal. Está no hospital, mas já está
melhor. Logo, logo volta para casa. – Max me explica.
– Dor de barriga? – Mamãe ri.
– Sim, uma baita dor de barriga. Bom, vou deixar vocês e ir ver o meu
filho. Enquanto uma estava cabisbaixa por sua causa, o outro está do mesmo
jeito por causa de Lian. Cada um dos meus filhos tem um segundo pai, afinal.
– Ele sabe?
– Ouviu uma conversa minha com Johnathan. E talvez até seja bom, para
no futuro não se meter em nada parecido já que jura que vai entrar para a
banda.
– Tranquilize-o. O perigo passou. De verdade.
– Farei isto. Dormirá aqui? – Não espero que ele responda.
– Siiim!!! – grito e volto a pular na cama.
– Deixarei o quarto de hósped... – Me meto de novo.
– O ruivo vai dormir no meu quarto!
– Acho que não tenho escolha. – Os dois riem.
– Não mesmo. Você é de casa, fique à vontade e boa noite!
[13]
O transtorno dissociativo de personalidade, popularmente múltiplas personalidades, é
caracterizado pela presença de duas ou mais identidades com personalidades distintas. Cada uma delas
pode ter um nome, histórico pessoal e característica diferentes. Geralmente é uma reação a um trauma
como forma de ajudar uma pessoa a evitar memórias ruins.
[14]
Esconderijo Secreto Praia Bar
[15]
Conhecida marca de veneno de rato.
[16]
Vérnix caseoso é uma substância esbranquiçada e gordurosa, com textura p arecida a do queijo ou da cera, que recobre a
p ele dos recém-nascidos.
[17]
.
Corte no p eríneo p ara facilitar a p assagem do bebê na hora do p arto
[18]
Graceland Wedding Chapel é uma cap ela p ara casamentos localizada em Las Vegas, Nevada, que foi p alco de muitos
casamentos de celebridades. É uma das mais antigas e a p rimeira a oferecer casamentos realizados p or imitadores de Elvis.
[19]
Trenton é a cap ital de Nova Jersey
[20] Graceland é também o nome da mansão em que Elvis vivia, em M enp his, Tenesee.
[21]
Bocha colombiana, com discos, que em muitos países se joga nas praias.
[22]
A única, a pessoa, o que há, no sentido de que não existe ninguém além de e ninguém melhor para.