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Copyright © 2021 Cissa Anders

Todos os direitos reservados

Os personagens e eventos retratados neste livro são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas reais,
vivas ou mortas, é mera coincidência e não é pretendida pelo autor.

ISBN: 978-65-00-31065-8

Autor: Cissa Anders


E-mail: cissa.anders@gmail.com
Instagram: @cissa.anders
Facebook:@cissa.anders
Wattpad: @cissa-anders

Sinopse: Danieli Mützenberg


Revisão: Danieli Mützenberg
Arte Interna (Ilustração Final, Avatar e Logo): Isaac Santana
Capa Frontal: Postei (Todos os direitos reservados)

Nenhuma parte deste livro pode ser reproduzida ou armazenada em um sistema de recuperação ou
transmitida de qualquer forma ou por qualquer meio, eletrônico, mecânico, fotocópia, gravação ou outro,
sem a permissão expressa por escrito do autor.
Sumário
SUMÁRIO
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
EPÍLOGO
PRÓLOGO
AGRADECIMENTOS
Sinopse

Oliver Rain é o vocalista da melhor banda de rock dos últimos tempos, a


The Order, e o membro mais sexy, misterioso, sedutor... Bom, o melhor de
todos, principalmente aos olhos da jovem Beatriz Thompson, uma garota que
não poderia ter menos em comum com ele, pelo menos é o que ela imagina.
Após viver por muito tempo em meio ao caos e ter nas fantasias com o ídolo
o seu único alento, Beatriz, no alto dos seus quase dezoito anos, está pronta
para tentar viver a vida que ainda não conseguiu. Só que ela não estava
preparada para a improvável coincidência que atravessaria o seu caminho.
Nunca, jamais em sua vida, ela esperaria topar com o seu grande ídolo,
pelo menos fora dos shows da banda. Aquele que preenche suas noites de
sono com sonhos, bem, nem um pouco recatados! O enigmático e atraente
Oliver Rain. Mas o destino costuma pregar peças e, depois de tudo pelo qual
passou, só poderia estar abençoando Beatriz, certo? Ou talvez não...
Quem sabe?!.
Ele, um homem maduro, sexy, arrebatador, bem sucedido, famoso, sedutor
ao extremo e um tanto inacessível. Ela, uma jovem forte, porém inocente,
sozinha no mundo, com apenas a sua perseverança.
Juntos, o que poderia haver?
Noites de desejo? Beijos de tirar o fôlego?
Ou então... O verdadeiro amor?
Nota da Autora
Olá! Fico feliz que tenhamos chegado até aqui. Você e eu, nos
encontrando. Quero relatar um pouquinho da experiência de escrever este
livro e também dar algumas “dicas”, mas não se preocupe, serei o mais
breve possível. Sei bem que assim que abrimos um novo livro o que mais
queremos é mergulhar na história. E espero que a história de Oliver e Bia
lhe traga várias e várias horas de uma apaixonada e divertida imersão.

Sempre tive duas paixões na vida. A música e o amor. Aquele tipo de


paixão que não se adquire, você nasce com ela. Nada toca mais a minha
alma do que estas duas coisas. E desde a minha infância, minha melhor
brincadeira era viajar nas letras das músicas e criar histórias em cima delas.
Histórias de amor. Era o meu jeito de entrar naquele espaço de sonho onde a
gente se sente plena e feliz. Isso não mudou na adolescência e início da
juventude, pelo contrário, as histórias ficaram mais quentes, o amor infantil
tomou outras nuances, muito mais interessantes, diga-se de passagem. Pois,
junto com a fantasia, eu começava a sentir as sensações na prática. E na fase
adulta, onde as responsabilidades e a realidade dos fatos as vezes nos
desestabilizam, passou a ser um delicioso respiro e alento imprescindíveis.

A questão é que eu nunca tinha me aventurado a colocar nenhuma delas no


papel, até agora. Comecei como uma brincadeira, não dando muito crédito.
Então a história começou a ganhar corpo, a brincadeira começou a me
cativar e não pude mais parar. Porque quando você escreve, não é de todo
fantasia. Você passa a enxergar nos personagens, nas cenas, partes da sua
própria história, suas vivências, sua personalidade, seus medos e seus
amores. E é delicioso reunir tudo isso. Diria até, terapêutico.

Como não poderia deixar de ser, a história de Bia e Oliver reúne os meus
dois pontos fracos, o amor quente e apaixonado e o rock’n’roll. Espero ter
conseguido retratar bem, tanto um quanto o outro. Vocês vão encontrar partes
de letras do rock nacional em cada início de capítulo. Que eu adoro e foi o
meu jeito de homenagear a nossa música em sua época mais explosiva. Oh
Saudade! Saudade de ter um belo e arrebatador show de rock nacional para
ir e com isso muita história para contar.

Em várias passagens do livro há músicas embalando as cenas. Sugiro,


nestas, colocar um pedacinho para tocar em seu aplicativo, para dar o clima,
enquanto lê a tradução ou a cena. É legal, vai ver como faz diferença. Mas se
não tiver paciência para tal, não tem problema A história continuará a ter a
magia necessária, não se preocupe.

Criei duas playlists no Spotify para quem quiser curtir as músicas


mencionadas, tanto as nacionais, quanto as internacionais:

Caos Particular - Internacional


Caos Particular - Nacional
Outra coisa que preciso alertar é que este é um romance adulto, com
cenas de sexo explícito e vocabulário condizente. Sendo assim, não se
recomenda a leitura para menores de dezoito anos e nem para quem não se
sente confortável com este tipo de realismo e liberdade.

No mais, espero que curtam o primeiro livro da série The Order. Me


mandem seus feedbacks. Beijos.
Cissa Anders
(cissa.anders@gmail.com)
Para o meu filho.
Para que ele sempre dê importância aos sinais.
E para que ele nunca se contente com um amor pela metade.
Deixa eu dizer que te amo
Deixa eu pensar em você
Isso me acalma
Me acolhe a alma
Isso me ajuda a viver

Hoje contei pras paredes


Coisas do meu coração
Passeei no tempo
Caminhei nas horas
Mais do que passo a paixão

É um espelho sem razão


Quer amor? Fique aqui!

(Amor, I Love You – Marisa Monte)


Prólogo

Ӄ preciso amar as pessoas


Como se não houvesse amanhã
Por que se você parar pra pensar
Na verdade não há”
(Pais e Filhos, Legião Urbana)

E stou aqui novamente. Sentada no banco duro da


recepção do Memorian Hospital, enquanto papai e
mamãe estão lá dentro. Faz seis meses que temos essa
rotina semanalmente. As moças da recepção já me conhecem, tendo a missão
de manter os olhos em mim durante o tempo que dura o tratamento. Elas
tentam tornar a minha espera menos tensa com pirulitos e canais de desenho,
mas não consigo me concentrar nas imagens coloridas da televisão e os
pirulitos derretem na boca sem eu nem me dar conta de que estavam lá. Se
pelo menos fossem sinceros comigo!
Eu sei que algo está errado, muito errado. Não sou trouxa. Posso ter
apenas 8 anos, contudo, percebo que o astral da nossa casa não é mais o
mesmo. Eu pergunto, não me falam a verdade. A versão que me contaram é
que mamãe está um pouco fraca e precisa tomar injeções no hospital. O
remédio a deixa enjoada e ao chegar em casa, sempre dorme. Eu finjo que
acredito por dois motivos, o primeiro é que não quero que tenham mais uma
preocupação e o segundo é que tenho medo de ouvir a verdade, que minha
mãe está bastante doente.
– Bia, Bia querida, preciso da sua atenção um minuto, princesa – fala a
recepcionista Thalia, que está abaixada na minha frente para ficar na altura
dos meus olhos. Quando me viro para ela, Thalia continua – temos uma
situação atípica no dia de hoje, meu anjo. Como você pode ver, não há mais
ninguém aguardando nesta recepção além de você. O motivo, é que tínhamos
um artista famoso internado aqui. Ele recebeu alta e fará a saída por esta
recepção na tentativa de despistar os fãs que se aglomeram nas saídas da
internação. Recebemos ordens de bloquear o acesso à recepção e foi aberta
uma exceção para você, pois seus pais não têm quem os acompanhe. Daqui a
pouco você vai perceber a movimentação de algumas pessoas por aqui. São
os seguranças e demais membros da equipe dele que farão a escolta para
fora do prédio. Estou lhe contando isso porque não quero que se assuste e
também porque preciso que você me prometa que não sairá deste lugar, tudo
bem?
– Tudo bem – respondo. Afinal, não sairei daqui mesmo e nem tirarei os
olhos do corredor por onde meus pais entraram e espero que saiam bem, e
em breve.
Não demora muito para que a agitação comece. Primeiro um carro preto
estaciona em frente à porta da recepção. E outros dois aparecem atrás deste.
Do primeiro descem dois homens e do segundo mais três. Todos muito
grandes, vestidos de preto e usando óculos espelhados. Um deles fica
próximo ao carro da frente e os demais posicionam-se dois de cada lado da
porta da recepção pelo lado de dentro.
Ouço vozes e passos vindo do corredor do qual não tiro os olhos. Logo as
pessoas se tornam visíveis, são sete ao todo, quatro homens jovens de bonés
e óculos, uma mulher um pouco mais velha que a minha mãe, uma enfermeira
e um senhor que parece ser o médico. Vêm vindo na minha direção. O
médico fala alguma coisa com a qual o homem de boné verde não concorda.
Então eles param. Param no meio do corredor, exatamente entre mim e o
longo espaço que me separa de meus pais. E é aí que começa a minha
agonia.
Minhas mãos suam de tanto que eu as aperto ao lado do meu corpo. Me
levanto, estico o pescoço e nada. Eles bloquearam totalmente a minha visão.
Isso me perturba, não posso perder meus pais de vista. Preciso ficar de olho
naquele corredor, é a regra para que tudo termine bem. Se eu fizer algo
diferente do que fiz em todas as vezes que estive aqui, o resultado também
pode ser diferente e minha mãe pode não voltar para mim desta vez.
A discussão entre eles só aumenta e minha ansiedade também. Preciso
fazer alguma coisa antes que seja tarde. Preciso continuar com os olhos lá.
Sem pensar muito, caminho, me infiltrando no grupo. De repente, as vozes
param. Ergo a cabeça, estou no meio deles e sete pares de olhos miram em
mim.
– Criança, por que está chorando? – pergunta a mulher mais velha. Nem
percebi que algumas lágrimas corriam pelo meu rosto.
– Eu preciso cuidar deles.
– Cuidar de quem, meu bem? Onde estão seus pais? Você está perdida? –
Ela insiste, sem me dar passagem.
– Só preciso que saiam da minha frente, por favor.
– Você não pode entrar lá sozinha. Nem deveria estar aqui. Cadê os
responsáveis por esta criança? – pergunta o médico num tom alto e ríspido.
– Não preciso entrar, só preciso cuidar, olhar para a saída do corredor
como eu sempre faço. Fazer tudo como sempre faço, para garantir que meus
pais vão voltar pra mim. E vocês estão me impedindo! – digo para o médico
num tom quase desesperado. Nessa hora as lágrimas já descem livremente,
marcando minhas bochechas.
– Bia, volte aqui, princesa. – Ouço a voz de Thalia ao fundo, enquanto
seus passos se apressam em minha direção.
– Não posso – murmuro, aos prantos. O nariz fungando e me atrapalhando
para respirar e manter minha concentração.
– Desculpem, eu pedi para ela se manter na cadeira, mas....
– Não se preocupe menina, eu olhei o tempo todo para lá, por você – diz,
de repente, uma voz grave, quase rouca, interrompendo a fala de Thalia,
agora parada atrás de mim. Limpo um pouco das lágrimas e tento identificar
de onde veio o som. É um dos moços de boné, o único de boné verde. A
mulher olha para ele espantada e o médico parece impaciente.
–Lian, fique olhando para o corredor e não tire os olhos de lá, enquanto
eu falo com a nossa pequena guardiã. – Ele ordena ao outro enquanto se
abaixa em minha frente, tira os óculos e pede. – Olhe nos meus olhos,
pequena.
Eu obedeço, olho e me perco.
Nunca vi olhos assim.
São olhos dourados, vivos e claros.
Parecem familiares, apesar de eu saber que nunca os vi antes.
Por um momento me sinto como se estivesse segura, em casa.
Como se tudo fosse ficar bem.
– Viu que quando paramos e você ainda não estava aqui no nosso meio,
eu fiquei o tempo todo de costas para você? Que eu olhava em direção ao
corredor?
– Sim – confirmo, lembrando vagamente.
– Ótimo. Eu quero que você respire bem fundo, com calma. Pode tentar?
– Balanço a cabeça confirmando e faço o que ele pede.
– Isso, muito bom. Sente-se melhor? – Outro balançar afirmativo.
– Então, pequena guardiã, como eu disse, eu olhei o tempo todo na
direção que você vigiava e ninguém saiu de lá. E enquanto estamos aqui
conversando, meu amigo está vigiando por nós. – Ele olha para trás. –
Todos, com exceção de Lian, poderiam liberar o corredor? – E assim todos
fazem, como se não tivessem me desafiado antes.
– Agora eu vou levá-la para se sentar naquela cadeira que fica bem em
frente a este espaço. O meu amigo Lian vai parar de olhar e a vigilância
retorna para você, tudo bem?
– Sim. – Ele levanta, pega a minha mão, me levando de volta ao meu
local de costume.
– Posso liberar o Lian do seu posto? – Me pergunta com um sorriso no
rosto.
– Pode, já consigo cuidar deles outra vez.
– Lian, você ouviu a chefe, pode sair – fala e eu rio.
– Seus pais têm muita sorte em ter alguém que cuida tão bem deles, sabia?
Devem ser bons pais.
– Eles são, mas mamãe está doente. E tenho que esperar aqui enquanto
estão lá fazendo o tratamento. Não quero que nada dê errado.
– Entendo. Sabe o que eu costumava fazer para me acalmar e passar o
tempo quando tinha a sua idade e ficava com medo?
– O que?
– Eu cantava. Eu escolhia músicas que diziam coisas que eu gostaria de
viver ou sentir naquele momento e cantava dentro da minha cabeça, quando
não era possível fazê-lo em voz alta. Isso é algo que você pode experimentar
enquanto vigia. Promete que vai tentar?
– Prometo.
– Está mais tranquila agora?
– Sim, obrigada por me ajudar.
– Então minha missão aqui está cumprida. Fique bem, estou indo agora –
diz e beija minha bochecha, já se virando em direção à saída.
– Espere!
– Sim?
– Sabia que eu nunca vi olhos como os seus? Eu nunca vou me esquecer
deles!
– Também lembrarei dos seus lindos olhos negros, guardiã.
E assim os dois últimos homens que ainda estavam na porta o
acompanham até o único carro que continua parado do lado de fora.
– Nossa, que espetáculo! – resmunga Thalia ao meu lado. Ela tem os
olhos vidrados na saída, e sua boca está anormalmente aberta.
Inconscientemente, uma doce melodia, de alguma música que não consigo
lembrar o nome, começa a tocar em minha cabeça; me concentro nela e na
imagem daqueles olhos, esperando que meus pais voltem para mim.
Capítulo 1

“Agora está tão longe vê?


A linha do horizonte me distrai
Dos nossos planos é que tenho mais saudades
Quando olhávamos juntos na mesma direção
Aonde está você agora além de aqui, dentro de mim?”
(Vento no Litoral – Legião Urbana)

Bia

É estranho olhar para este apartamento agora. Vários dos itens


que faziam deste lugar a minha casa, não estão mais aqui. Há
um vazio generalizado pelos poucos cômodos. E sinto a falta
da presença aconchegante de meus pais. Contudo, é bom deixar para trás um
lugar recheado de lembranças nem sempre felizes. E, por mais que eu saiba
que deveria estar assustada e surtando, eu não estou.
Acredito que nada do que virá possa ser pior do que já foi. Perdi minha
mãe aos treze anos, depois de cinco anos de luta contra a leucemia. Cinco anos
de idas e vindas a hospitais, que custaram ao meu pai, além da mulher que
amava, também o seu patrimônio. Quando se convive com a doença e a
incerteza por tanto tempo, não há um momento realmente feliz. Por isso, é
difícil para mim olhar para a minha segunda infância e adolescência e pensar
nas coisas boas sem ao mesmo tempo lembrar da ansiedade, da pena que sentia
ao olhar minha mãe sempre debilitada e do medo constante.
Quando mamãe nos deixou, já tínhamos uma vida bem mais modesta do que
a que tínhamos antes da doença bater em nossa porta. Vendemos a casa de
classe média alta e nos mudamos para o pequeno apartamento popular de dois
quartos, no qual estou agora, sentada no meio do cômodo que era o meu quarto,
cercada pelos poucos pertences empacotados que levarei comigo.
O colégio particular só não foi trocado pelo público em função da bolsa,
que consegui por causa das minhas boas notas e por certo talento para a
música, garantindo-me uma vaga cativa no coral da escola. Nos últimos dois
anos papai teve que reduzir muitas horas de trabalho para cuidar da esposa que
já não tinha mais forças e também para fazer o papel de pai e mãe para mim.
Assim tive que aprender a fazer todas as atividades domésticas possíveis à
uma criança, para aliviar sua carga quando não estava na escola.
O colégio era o único ambiente no qual eu interagia com crianças da minha
idade, embora já não me sentisse uma delas. Nossos sonhos e preocupações
eram muito diferentes. Enquanto suas famílias planejavam férias de verão, nós
esperávamos fazer a próxima refeição todos juntos à mesa, rindo de alguma
besteira que meu pai falasse. As amiguinhas que frequentavam a minha casa, e
vice-versa, até meus oito anos, aos nove já tinham encontrado uma amiga que
não tivesse uma vida tão incomum quanto a minha. Afinal, nenhum pai ou mãe
quer levar a tristeza para perto de seus filhos. É uma realidade difícil de lidar.
Então convites pararam de ser feitos, e os feitos por mim, passaram a ser
educadamente recusados.
No ano seguinte a sua partida, além de conviver com a sua falta, papai e eu
tivemos que reaprender o que era uma “vida normal”. E estávamos indo bem.
Ele voltou a trabalhar com afinco e um ano e meio depois já podíamos nos dar
alguns luxos, como passeios em shoppings e idas ao cinema. Timidamente
comecei a me reaproximar das meninas da escola e me envolver nos desejos
normais de uma pré-adolescente. Em que povoavam conversas sobre meninos,
primeiros beijos e corações partidos.
Mas pouco depois, tudo ruiu novamente.
Agora ele era o doente e eu sua única base de apoio.
Perder minha mãe foi difícil. Perder meu pai foi um milhão de vezes pior.
Por todo nosso drama, ele e eu nos tornamos muito próximos. E apesar de tudo,
ele nunca perdeu a espiritualidade, sua marca registrada. Além de pai, Robert
Thompson era o meu melhor amigo e confidente. Não havia nada que não
conversássemos. E ele sempre me arrancava boas risadas.
“– Pai, oi, hum... aconteceu!! – relembro aquela constrangedora ligação
que fiz do banheiro da escola.
– Aconteceu o que Beatriz? Perdeu o BV? Quem é o sortudo filho da puta
que eu devo quebrar os dentes? Não posso largar assim fácil o posto de
homem mais importante da sua vida. Já tenho que me preocupar com aquele
roqueiro meia-boca.
– Argh, pai, não! E ele não é meia-boca! Mas falando sério, minha
calcinha tá com uma mancha vermelha. Acho que fiquei mocinha. E pega
leve nos palavrões Sr. Thompson, lembre-se que eu só tenho treze anos.
– Misericórdia, um pai tem que ser forte! Acabou mesmo o meu sossego.
Isso não deveria acontecer só depois dos trinta? Vá para a entrada da
escola e me espera lá filha, vou te buscar e passamos na farmácia antes de ir
pra casa. Chego logo, só vou ali rapidinho comprar uns cartuchos para
espingarda antes.
– Paieee! Você não tem jeito mesmo. Te espero então. Um beijo. E ah, te
amo!
– Também te amo, guardiã.”
Guardiã. “Também lembrarei dos seus lindos olhos negros, guardiã.”
Depois que contei para o meu pai o que aconteceu naquele dia na recepção da
oncologia e repeti para ele a frase que Oliver Rain, o vocalista da The Order
usou, óbvio que ele se apropriou do termo. Até as recepcionistas e enfermeiras
do hospital passaram a me chamar assim.
E eu gostava. Gostava, pois me remetia a ele. Quantas vezes nos momentos
mais tristes, em que o medo me pegou com força, me vi fechando os olhos e
lembrando daquele dia. Lembrando dos olhos dele, da sensação de segurança
que mergulhar naquele olhar me trouxe. Cantar, como ele recomendou, ajudava,
mas o que me acalmava mesmo era aquela imagem.
Naquele dia eu não tinha noção de quem ele era e do grau de estrelato do
homem que me confortou em meio a minha crise de pânico.
Não era ligada em música e muito menos em bandas de rock. Entretanto, a
partir dali, quando pedi para o meu pai descobrir quem era a tal celebridade
que teve alta e constatou que era Lian, o guitarrista da banda, e que o moço do
boné verde era Oliver, tudo ligado a ele, a banda e ao mundo do rock se tornou
o meu escape da realidade.
Um sopro de felicidade em meio ao meu caos particular, que ironicamente
ou coincidentemente, é o título da minha música preferida da The Order.
Claro que ele virou o meu maior ídolo. E que não acredito quando o
descrevem como intragável, inacessível e arrogante; não o homem que teve
sensibilidade para entender a aflição de uma criança.
Obviamente ele virou a minha paixão platônica e tenho fantasiado muitas
noites quentes ao lado dele. Porque ele é o homem mais lindo que existe.
Deus, se ele é!
No auge dos seus 30 anos ele parece estar mais gostoso do que nunca e
meus hormônios não têm maturidade pra resistir ao apelo. E todas as vezes que
vejo novas manchetes mostrando mulheres ao seu lado, somo às decepções da
minha vida.
Porém, o que sinto é mais do que a paixão de uma fã pelo seu corpo
trabalhado, a masculinidade exacerbada e a beleza estonteante. Não é isso.
Tenho plena consciência que ele jamais teria olhos para mim dessa forma. É só
olhar as fotos das mulheres que passam por sua vida.
Eu não teria chance.
Mas o que eu queria, o que eu sinto saudade, é daquela conexão que senti
quando tinha oito anos.
E eu nem sei explicar direito o que foi.
Foi reconhecimento.
Foi sentido.
Como a necessidade de rever um amigo que não vimos há muito tempo. Um
que foi o nosso companheiro inseparável nos melhores e mais divertidos
momentos. E que precisamos reencontrar de vez em quando para nos
reconectarmos a nós mesmo. À nossa essência.
Contar para meus pais o que ocorreu aquele dia na recepção também
despertou a atenção deles para o que vinha despontando gradualmente em mim
pelo estresse da situação. A mania de dobrar as roupas da mesma forma, de
alinhar as bonecas, de ter cada objeto sempre organizado no mesmo local,
deixou de ser visto como uma algo “bonitinho e engraçado” para compor um
cenário de alerta.
Eu estava desenvolvendo comportamentos obsessivos compulsivos.
Felizmente a situação foi logo levada aos psicólogos da escola que me
acompanharam e com isso o quadro foi controlado e não agravado.

– Bia, o carro chegou. Já coloquei as malas que estavam na sala no porta


malas. Essas caixas que estão no seu quarto são as últimas, vou levá-las para
lá e então você precisa ir, tudo bem? – avisa John, me tirando dos meus
devaneios.
John é o advogado que meu pai contratou quando percebeu que estava
entrando em fase terminal de seu câncer no pulmão, e ele foi o homem que
ficou encarregado de cuidar da entrega do apartamento – que foi hipotecado
para custear o tratamento do meu pai – assim como cuidar da minha
emancipação e garantir que eu chegue à casa da pessoa que vai me acolher até
que eu consiga tomar um rumo por mim mesma.
Nada de faculdade. Consegui terminar o ensino médio este ano só porque
pude fazer as provas antecipadas. Não tenho mais nenhuma família, meus pais
me tiverem já com certa idade. Ambos eram filhos únicos e só conheci meus
avós por fotos. Papai, ao saber que não lhe restava mais muito tempo, fez o que
lhe foi possível para me deixar amparada. Além da emancipação para que eu
não fosse enviada para um abrigo, contatou uma velha amiga de infância, de
Long Beach CA, sua cidade natal, e pediu a ela para me dar abrigo e amparo
até que eu consiga um emprego e os recursos mínimos para me manter.
É desconfortável a sensação de saber que terei que morar de favor na casa
de alguém. Eu não conheço Laura Evans, apenas nos falamos rapidamente por
telefone após o falecimento do meu pai, quando ela me ligou para prestar seu
apoio e dizer que me aguardava em sua casa.
Mas não posso me dar ao luxo de ser orgulhosa e recusar a sua ajuda, visto
que não sobrou muito no nosso fundo de reserva. O pouco dinheiro que restou
em nossa conta não me manteria nem por seis meses caso fosse necessário
pagar aluguel, com todas as despesas. Além de ser tudo que me resta para uma
emergência.
Então hoje, quase dois meses após enterrar meu pai, organizar as coisas,
vender o que foi possível e chorar as lágrimas que me restaram, já que a
maioria delas derramaram-se ao longo do processo, seguirei para o meu novo
e incerto destino.
Olho em volta conferindo se não esqueci de empacotar nada. Os poucos
móveis que não vendi ficarão por aqui mesmo. Abro as portas do armário para
uma última inspeção e então eu vejo. O pôster de Oliver. De corpo inteiro,
desses que ficam de pé. Um metro e noventa e sete de pôster, escondido atrás
da porta. A última loucura do meu pai.
O presente que ele queria me dar e um dos melhores momentos que
compartilhamos. Antes dele minar as minhas esperanças e me apresentar à
realidade dos fatos. Hoje eu entendo, foi o seu jeito único de dizer adeus.
Mal imaginava eu que meu pai, mesmo sem saber, me deixaria um último
presente.
Um que me levaria ao céu e ao inferno na mesma medida.
Oito meses antes

– Pai, você perdeu o juízo? Devolve isso.


– Não vou devolver. Amanhã é o seu aniversário e esse é o seu presente.
Dezessete anos me aguentando merece uma comemoração. Nós vamos a este
show, você vai realizar o seu sonho de rever o seu ídolo e nós vamos nos
divertir muito juntos, apesar de eu achar que eles não são de nada.
– Deixa a comemoração para quando eu fizer dezoito e você já estiver cem
por cento curado. Não podemos gastar esse dinheiro agora, pai! Olha isso,
ainda são da área vip. Devem ter custado uma fortuna.
– Não importa! Hoje à noite nós vamos esquecer nossos problemas e
simplesmente viver. Você vai ver que o seu velho aqui ainda consegue arrancar
alguns suspiros por aí. Vou ganhar mais cantadas do que você se continuar com
essa cara amarrada.
– Não estou preocupada com cantadas pai, estou preocupada com as contas.
Você está indo à quimio de ônibus, porque não podemos nos dar ao luxo de
chamar um Uber e agora você compra ingressos para a porcaria de um show na
área vip?
– Enxuga essas lágrimas e se anima filha. Me deixa te fazer feliz pelo menos
uma vez. Eu economizei para isso, está tudo sob controle, meu amor. Vamos
nos dar esse momento, por favor.
– Tudo bem – murmuro derrotada.
– Agora vá se arrumar. – Ele deixa um pequeno sorriso aparecer. – Temos
que sair em meia hora.
– O que? Meia hora? Tá de sacanagem né, Sr. Thompson?
– É melhor você ir para o banho. Conheço muito bem minha guardiã; se eu
der chance você vende essas belezinhas no mercado negro e eu só vou dar por
mim amanhã de manhã quando o sol nascer. – Ele balança os ingressos na
minha frente, exemplificando o que quer dizer. – Quero uma noite com a minha
filha, ver o sorriso no rosto dela e seus olhinhos brilhando. Quero me sentir
seu pai novamente, princesa.
– Tá bom, tá bom, guarda o discurso. Vou pro banho.

– Princesa, tenho que admitir, os caras mandam bem! – fala meu pai
grudado ao meu ouvido.
– Fala sério pai, você sempre soube. Mais alguma coisa que queira admitir,
papaizinho querido?
– Rá, vai sonhando Bia. Elogiar o talento profissional dele é o máximo que
você vai arrancar de mim. Ninguém nunca vai ser bom suficiente para você aos
meus olhos, meu bem. Ainda mais um cabeludo antipático como ele.
– Quando eu for uma solteirona rabugenta com cinco gatos passeando pelo
apartamento, quero ver se você vai continuar falando assim. – Sorrio, mesmo
que uma parte de mim sinta certa angústia com o pensamento.
– Você nem gosta de gato, Beatriz!
– Verdade. – Rio e volto a prestar atenção no show.
Ele é maravilhoso lá em cima! Todos eles são.
Lian Mace, o guitarrista, tem um ar de malícia estampado no rosto o tempo
todo. Como se vivesse com o foda-se sempre ligado. Nesse seu jeito
displicente de ser, é o que mais se comunica com o público. Cabelos negros
longos caindo no rosto, olhos de um azul intenso e braços musculosos tatuados
completam o conjunto.
Kellan Wells, o baixista, faz parte do grupo há pouco tempo. O antigo
integrante saiu da banda no ano passado. O anúncio de que o loiro de olhos
verdes e cabelos espetados, de apenas dezessete anos, seria o novo baixista da
The Order, causou muita surpresa aos fãs. Foram muitas críticas na mídia,
contudo, um ano depois, o talento do menino de jeito tímido e doce está mais
do que comprovado. Kellan é um prodígio. Muito elogiado pela crítica
especializada e um dos indicados ao Grammy de melhor baixista no ano
passado.
Max Connor é a cola que mantém todos unidos. O baterista é o porta voz da
banda, é ele que se encarrega de pôr panos quentes na mídia quando alguma
bomba envolvendo Oliver ou Lian vem à público. Cabelos ruivos bagunçados,
barba por fazer, olhos castanhos amendoados e um porte altivo, lhe conferem
um ar de glamour e elegância naturais.
E então tem ele. Ele e o seu olhar de felino.
Oliver Rain é uma figura complexa.
Não conversa com o público além do boa noite e obrigado.
Não concede entrevistas. Não dá declarações.
Não recebe fãs e não distribui autógrafos.
Ele sobe ao palco, toca, canta e fim.
Entretanto, quando a batida da música começa e ele se concentra na canção,
toda uma aura de envolvimento e sentimento toma conta dele. É possível ler no
seu rosto, no seu corpo e principalmente nos seus olhos tudo aquilo que ele
canta.
É hipnotizante.
Todos os olhares se concentram nele e viajam junto com o som e as
palavras que saem da sua voz rouca.
Decifrar seus mistérios passa a ser o sonho de cada mulher e muitos homens
ali presentes, pois, por mais que quem esteja ali em cima seja o mito, há tanta
verdade na cena que é impossível não acreditar que aquilo também represente,
de alguma forma, o homem por trás dela.
E como se não bastasse, para completar a obra, ele é o homem mais lindo
que meus olhos já viram. O rosto másculo, maxilar quadrado, barba levemente
aparente, os cabelos castanhos na altura dos ombros, ora soltos, ora
amarrados, os olhos extraordinariamente incomuns, os músculos tonificados e
bem marcados, tudo na medida certa.
Ele é uma afronta aos mortais.
Sua imponente presença é uma imagem quase celestial.
Apesar dos demais integrantes serem um pouco mais acessíveis, recebendo
uns poucos fãs nos bastidores e concedendo entrevistas vez ou outra,
principalmente nos lançamentos de uma nova música ou turnê, uma coisa todos
têm em comum: as suas vidas particulares são uma incógnita.
Não há biografias em sites ou Wikipédia. Tudo que há são rumores e boatos
sobre suas origens, famílias, infância. Ou fofocas pontuais de envolvimentos
amorosos que tão rápido quanto surgem, desaparecem das redes.
De oficial sobre eles nas mídias, só há o que diz respeito às suas vidas
profissionais ou a sua amizade com os colegas de profissão, captadas em
eventos ou uma ou outra foto que surge vez ou outra. Supõe-se que todos
estejam solteiros, para a alegria das fãs Sasaeng[1].
Os álbuns são produzidos pela Three Minds, que pertence aos integrantes
que deram origem a banda, Max, Lian e Oliver. Diz-se que têm uma equipe
focada em evitar que seus familiares sejam conhecidos e expostos. E que todas
as pessoas que passam a fazer parte do seu círculo pessoal mais restrito
precisam assinar termos de confidencialidade.
A The Order não chegou ao topo pela simpatia de seus integrantes, isso é
fato. O que os levou até ali foi o talento incomum dos meninos que começaram
a chamar a atenção do mundo do rock antes de entrarem na casa dos vinte anos.
Suas músicas causam impacto e a maioria vira hit.
Estar aqui hoje, ao lado do meu pai, vendo-o tão bem e animado, é
maravilhoso para mim.
Papai não me deixa acompanhá-lo nas consultas médicas e tratamentos, é
irredutível quanto a isso, já tentei convencê-lo de inúmeras maneiras, mas ele
alega que me fez frequentar hospitais por tempo demais durante a doença de
mamãe e enquanto tiver forças para ir sozinho, é assim que será. Seu câncer já
foi tratado e dado como curado, contudo, há uns meses voltou a dar sinais.
Segundo ele, a doença está em remissão novamente e as sessões de quimio
serão necessárias como prevenção por um tempo ainda e eu acredito nele, pois
vejo que, apesar de alguma falta de ar vez ou outra, ele parece bem. Nem os
cabelos ele perdeu com o tratamento desta vez. Isso, aliado a emoção que
assistir a The Order e rever Oliver pessoalmente me causam, enchem meu
coração de uma imensa felicidade e talvez eu possa novamente arriscar, em
breve, a ter sonhos de um futuro de paz.
– Pai, a próxima música será a última. Será que não é melhor já nos
encaminharmos para a saída? Não quero que você seja espremido no meio de
uma multidão.
– Mas eles ainda não tocaram a sua música preferida.
– É a última, a gente vai ouvindo enquanto sai...
– Nem pensar! Vamos ficar aqui até terminar. Se precisar deixamos todos
saírem e então vamos. Não é como se tivéssemos algum compromisso
inadiável amanhã, não é mesmo?
– Ok, mas não vamos nos meter no meio do tumulto, já é demais para você
estar no meio de tanta gente.
Nessa hora o primeiro acorde começa. As notas da música que tanto amo e
embalaram meus inalcançáveis sonhos de menina. Uma das poucas com uma
pegada mais lenta. Perto do refrão fecho meus olhos e, cantando junto, viajo,
me concentrando na imagem de tantos anos atrás.
Naquele olhar.
“Lá onde habita a sua essência. Onde não há máscaras nem enredos.
Onde tudo está bem. É lá onde quero morar, querida. Para me perder e me
encontrar de vez”.
Quando saio do meu transe e volto à realidade, tomo um baque.
Oliver tem os olhos fixos em mim.
Em mim!
Ele está cantando e olhando diretamente para mim.
Eu congelo, sustentando seu olhar. Um torpor sobe pela minha espinha.
Nem que eu quisesse conseguiria me mexer dali, nem cantar consigo mais.
Ele continua cantando e encarando.
O ar de repente parece pouco, sinto gotas de suor descer pela minha testa e
isso não tem nada a ver com o clima ou com número de pessoas a nossa volta.
Aliás, nem lembro se há alguém a nossa volta.
Há apenas eu e ele dentro de uma bolha em algum universo paralelo. Então
a última nota soa.
Ainda fixado em mim, ele solta um obrigado no microfone, lança um meio
sorriso de lado, dá as costas e sai do palco. ELE NUNCA SORRI. Jamais!
Levo um tempo para me recuperar e voltar a ter os meus sentidos
funcionando novamente. Respiro fundo e começo a me convencer de que muito
provavelmente eu imaginei todo esse clima. Com certeza! Com tantas pessoas
para ele direcionar a atenção e ensaiar um sorriso, coisa que nem é do seu
feitio, por que eu?
Realmente só nos meus sonhos.
– Pai, você por acaso também teve a impressão de que...
– De que o bonitão cantou quase a música inteira te olhando? De que o
único sorriso que ele deu a noite inteira foi na sua direção? Não tive a
impressão não, tenho certeza. – Passo a mão no pescoço tentando dissipar o
calor que me abate.
– Ele deve ter tido um torcicolo, só pode. – Tento brincar, ainda meio
atordoada.
– Torcicolo, sei... ele estava é secando a minha filha, na minha frente e na
maior cara de pau. Mas como eu sei que isso deve ter feito você ganhar o ano,
não vou nem tentar ir lá no camarim tirar satisfação com o molha calcinhas aí.
– É estranho ouvir essas coisas de meu pai, então não me impeço de rir quando
o ouço.
– Ele deve ter melado algumas cuecas também – digo entrando na
brincadeira.
– Eeerg Beatriz, não crie essas imagens na mente de um pobre ancião.
De repente uma ideia me ocorre. Uma que seria bem a cara do meu pai. Já
pensando no sermão que vou dar caso meu pensamento se confirme, pergunto:
– Assim, só por acaso, será que o senhor não entrou de alguma forma em
contato com algum assessor da banda, contou a triste história da garotinha que
um dia encontrou o ídolo no hospital, depois perdeu a mãe, o pai ficou doente
e que seu maior sonho era falar novamente com o tal ídolo frente a frente? –
Meu pai tem os olhos arregalados, o que me dá indícios de que estou no
caminho certo, então continuo. – Daí, muito respeitosamente, é claro, esse
mesmo assessor responde que o ídolo em questão não concede esses favores,
mas que ele poderia, muito encarecidamente, visto o drama da pobre moça, lhe
conceder uma olhadinha e um quase sorriso ao final do show? – Agora além
dos olhos arregalados o meu pai está também com a boca aberta. De repente
ele se dobra pra frente e cai na gargalhada, rindo até sair lágrimas.
– Não venha com essa de rir para desviar o assunto não, Sr. Thompson.
– Ah Bia, filha. Eu sei que você é criativa e que tem muita fé em mim, mas
essa realmente foi demais. – Nova crise de risos. – Posso garantir que
orquestrar a encarada que o rockstar te deu está além de todas as minhas
capacidades de super pai. O moço te olhou, filha. Só suspira e aceita! Se você
soubesse como é linda, não estaria aí toda desconfiada agora.
– Pai, eu sei que eu não sou feia, mas daí para o nível de beleza das
mulheres que eles pegam tem uma enorme diferença. E não adianta fazer cara
de surpreso, você sabe que se a ideia tivesse passado pela sua cabeça, você
teria, sim, tentando um encontro.
Ainda tentando se recuperar da crise de risos, meu pai completa:
– Sabe filha, há muitos anos, quando vi o quanto você ficou fascinada por
esse rapaz que te deu atenção num momento que você precisou tanto, eu
procurei entrar em contato com ele. Até para agradecer o gesto, afinal foi ali
que sua mãe e eu percebemos o que estava acontecendo com você e pudemos
te ajudar. Eu tentei muito, mas nenhuma das minhas tentativas rendeu frutos.
Não te contamos na época para não gerar expectativas. Os caras realmente são
inacessíveis. Então não, princesa, o seu velho aqui não teve nada a ver com
isso, fora o fato de ter comprado ingressos para a área mais próxima possível
ao palco.
Suspiro, acreditando nele, por mais surreal que seja admitir que Oliver
Rain e eu trocamos olhares em meio a um show com mais de duzentas mil
pessoas.
E que eu que ganhei um sorriso seu.
E que este nem foi o primeiro.
Estou me encaminhando para as saídas, quando percebo que meu pai não me
acompanha, continuando próximo ao palco, concentrado em algo além da grade
de segurança.
– Pai a saída é pra cá, vamos logo! Só tem a gente aqui, logo vão desligar
as luzes.
– Calma Bia, só mais um minutinho.
– O que você tá fazendo aí grudado na grade pai? Vamos embora.
– Só falta um sair filha, calma aí.
– Um o que?
– Você já vai entender.
De repente meu pai dá um impulso com os braços e pula a grade de
segurança se engalfinhando debaixo das estruturas metálicas que sustentam o
palco.
Suando frio, corro para perto da grade já imaginando o soco que um dos
brutamontes vai acertar nele quando o vir. Ao longe escuto uma voz:
– Hei cara, você não pode entrar aqui não. – E só espero pelo som da
porrada. Mas antes que possa chegar ao meu destino, para meu alívio, ele já
está pulando a grade de novo, segurando um papelão enorme na mão esquerda.
Ele joga o troço pela grade e pula, pega-o novamente, corre na minha direção,
segura a minha mão e diz:
– Corre Bia! – Me puxando em disparada para a saída.
Assim que chegamos no lado de fora paramos, ofegantes, e em meio a risos
pergunto:
– Pai, o que foi isso? Não aprontou na juventude e tá querendo tirar o
atrasado?
– Foi divertido, confessa!
– Divertido? Foi assustador. Já me vi tendo que vender a televisão pra
pagar a sua fiança na delegacia.
– Que nada! – E virando o objeto que motivou o seu crime de frente pra
mim, ele diz: – Feliz aniversário, princesa!
Olho para aquele boneco de papelão com a figura de Oliver impressa nele,
sexy para caralho, numa foto sem camisa e calça jeans clara rasgada, a guitarra
pendendo em uma das mãos, o olhar matador na última potência e não resisto.
– Pai, se eu ficar com esse negócio no meu quarto, me olhando todas as
noites, vou engravidar sem nunca ter feito sexo na vida.
E assim, pela segunda vez na noite, eu faço meu pai rir até não aguentar
mais. Depois que ele se acalma eu insisto:
– Sério pai, o que deu no senhor pra se arriscar desta forma?
– Sei lá, eu vi o troço lá, achei que você iria gostar. Um símbolo entre a
gente, eu sendo o pai fodão que se arriscou para trazer para você algo que te
faz feliz. – Ele sorri, mas há algo de hesitante, como se ele ficasse pensando no
que nenhum de nós ousava dizer, que, em algum momento, ele iria partir e me
deixar sozinha. – Assim se um dia eu não estiver mais presente, você poderá
contar seus segredos e suas angústias olhando para o bonitão, mas conversando
com o velho aqui.
– Ah pai – digo e me atiro em seu pescoço, lhe dando um abraço apertado,
com os olhos cheios de lágrimas. – Você vai estar presente por tanto tempo que
vou ser obrigada a contar meus segredos, minhas angústias e minhas alegrias
olhando nessa sua carinha mesmo, só que bem mais enrugada. – Seco os olhos
e aproveito. – Obrigada por hoje. Eu nunca vou esquecer esse dia. Ele foi
especial demais, o melhor aniversário que eu poderia pensar em ter. Você é o
melhor! Te amo, velhinho.
– Te amo demais filha. Sem você não teria aguentado metade das provações
que passamos. Tenho orgulho de entregar ao mundo uma menina tão madura
quanto você. De onde eu estiver vou tentar garantir que você realize seus
sonhos, ninguém merece ser feliz mais do que você. Minha guardiã, que cuidou
e me amparou em tantos momentos, mesmo quando ainda deveria estar só
brincando de boneca. Sinto por não ter tido a infância e a adolescência que
toda menina deveria ter. Sinto não poder ter feito mais.
– Pai, você está me assustando. Tem algo que não estou sabendo?
– Não princesa, está tudo bem. – Então ele se afasta levemente e pisca para
mim quando diz, taciturno: – Mas se tem duas pessoas que entendem o
significado da frase “nunca se sabe o dia de amanhã”, essas pessoas somos
nós, não é mesmo?
E o amanhã chegou rápido demais.
Capítulo 2

“A vida vêm em ondas, como o mar


Num indo e vindo infinito”
(Como uma onda – Lulu Santos)

Oliver

Um dia antes

V ó, senta aqui, respira e me explica a história direito


porque eu só posso ter entendido errado.
– É isso mesmo que você ouviu, Oliver. – diz ela se
acomodando no sofá ao meu lado. – O pai dessa menina, Robert Thompson,
era meu vizinho na infância. Nossas famílias sempre foram muito amigas e nós
dois muito próximos até... bom, enfim, até eu fazer o que fiz e ter que sair de
lá.
– Você era só uma menina vó, pare de se culpar. Sabe muito bem que o lado
errado da história não foi o seu.
– De qualquer forma, isto é passado. A questão agora é que esse amigo me
ligou há uns meses, depois de mais de trinta anos sem termos contato algum.
Ele foi um dos poucos que me ajudou de alguma forma quando meu pai me
expulsou de casa. Confiávamos muito um no outro, sabe? Por uns dez anos
ainda mantivemos uma amizade estreita e ele me socorreu em muitos
momentos. Mas quando recebeu uma proposta de emprego em Chicago e
mudou-se para lá, acabamos nos afastando.
– Pela forma como conversou comigo, ficou claro também que não fazia
ideia da minha ligação com você. Nem eu revelei isto a ele, fique tranquilo –
diz ela rapidamente, então pausa e respira fundo
– Bom, ele me pediu para abrigar a filha, uma menina de dezessete anos.
Ela perdeu a mãe aos treze e agora, um mês atrás, meu amigo também deixou
essa terra. Ela está sozinha no mundo, filho. Certamente perdida e assustada.
Em nome de toda a amizade e dos momentos bons que vivi ao lado dele, não
pude deixar de me solidarizar. Minha consciência não ficaria em paz se eu
agisse de outra forma.
Passo a mão pelos cabelos, tentando achar uma forma de fazê-la entender
que o que ela pretende fazer não é a melhor solução.
– Vó, eu entendo e é claro que você não poderia negar um pedido destes,
mas creio que trazê-la para cá não é a melhor opção. Você sabe como é a
minha vida. Todo o esforço que eu e os caras fazemos para manter este lugar
protegido. Este é o nosso refúgio, onde podemos viver o máximo de
normalidade que nos é possível, proteger nossas famílias. Já temos a situação
de Kellan que foge completamente do padrão. Ter uma adolescente morando
aqui, se envolvendo em nossas vidas, não me agrada. Se esta menina começar
a causar problemas, pode chamar uma atenção a mais para cima de nós que não
precisamos. Você falou que o pai dela, antes de morrer, a emancipou, não é
mesmo? – Ela assente.
– Poderíamos instalá-la num apartamento em Long Beach? Contratamos uma
pessoa para cuidar da casa e da alimentação dela e, é claro, ficar de olho
também e nos manter informados. Damos todo suporte de longe, sem nos
envolver diretamente. Ajudamos a ajeitar sua vida de forma mais discreta.
Você sabe que dinheiro não é o problema aqui.
– Eu sei, Oliver. Essa é justamente a questão. O que ela menos precisa
nesse momento é de dinheiro. Ela precisa de apoio, de saber que há pessoas
com quem ela pode contar, de se sentir parte de algum lugar novamente. Ela
precisa de uma família, filho. Se coloque no lugar dela, por tudo que já passou,
pense como não deve estar a cabecinha dessa moça agora. Não posso jogá-la
num lugar qualquer, mesmo que cercada de todo o luxo, e lavar as mãos. Seria
o mais fácil a se fazer, mas não é o correto. Já que o problema foi trazido a
mim, não posso fingir que ele não está aí sem fazer o melhor possível.
Respiro fundo e tento mais uma vez:
– Não é possível mantê-la aqui vó, eu sinto muito. Vamos ajudá-la da
melhor forma que pudermos, não faltará nada a ela, mas sem que ela saiba de
onde exatamente a ajuda está vindo. Não posso trazer alguém para dentro de
nossas vidas dessa forma. Não posso lidar com isso e nem quero. Você sabe
muito bem os meus motivos.
– Tudo bem, então terei que deixar esta casa também por um tempo. Não
vou deixá-la sozinha neste início. Se essa missão chegou em minhas mãos, vou
dar a essa garota uma nova chance. Você permite que eu me instale com ela no
seu apartamento em Long Beach? – Engulo em seco.
Não acredito no que eu estou ouvindo, pois com certeza ela sabe o quanto
as suas palavras me machucam.
– É sério que a senhora me abandonaria para ir morar com uma pessoa que
nunca viu na vida? Mesmo sabendo o que isso representaria para mim? Sabe
que não haveria possibilidade de nos visitarmos, não é?
– Sei sim, meu amor, pensei muito, na verdade não fiz outra coisa a não ser
pensar desde que Robert entrou em contato e me fez o pedido. Tinha quase
certeza que você não concordaria em abrigá-la aqui, então resolvi que se assim
fosse, eu tomaria essa atitude. Preciso fazer isso, filho – diz ela me olhando
nos olhos.
E ali eu entendo o que realmente está por trás da sua motivação. Apoio os
cotovelos em minhas pernas, baixo a cabeça entre minhas mãos e fico assim
alguns instantes tentando assimilar toda aquela novidade.
– Vó, você sabe que não deve nada, absolutamente nada, a ela, não é? Sabe
que não foi sua culpa, que a escolha foi exclusivamente dela, não sabe? Você
não precisa cuidar dessa menina para provar que é uma boa mãe. Você foi a
melhor mãe que poderia ter sido. Para ela e para mim também.
Levanto meu rosto e percebo dona Laura com o olhar perdido e os olhos
marejados. Ela não vai desistir. Se eu não concordar com a insanidade de
trazer uma adolescente desconhecida para dentro da nossa casa, ela vai mesmo
sair daqui. Não consigo lidar com a ideia de alguém invadindo minha
privacidade desta forma, mas consigo lidar menos ainda com a possibilidade
de ficar longe dela.
– Não é só o que aconteceu com ela que me fez tomar esta decisão Oliver,
mas também o fato de que já estive em uma situação semelhante à que essa
moça está agora. É como se fazendo isso eu pudesse cuidar também daquela
outra menina perdida no mundo. Cuidar da menina que eu já fui um dia.
E com estas últimas palavras, ela me quebra. Saber do seu sofrimento e da
forma como foi tratada quando era jovem sempre mexe comigo. Dona Laura é a
pessoa mais importante da minha vida, não me resta mais nada a não ser
embarcar nessa doideira com ela.
– Tudo bem vó, traga a menina para cá. Vamos deixá-la chegar, se instalar.
Ficarei uns dias na casa de Lian. Tire os porta-retratos das áreas comuns.
Nesse tempo que eu estiver fora, aproveite para conhecê-la, ficarem mais à
vontade uma com a outra. Sonde a personalidade dela, veja se é uma pessoa
confiável, se vai lidar bem com tudo que verá a sua volta ou se será uma garota
deslumbrada. Precisamos saber com quem estamos lidando e que tipo de
precauções precisamos tomar. Quando eu voltar para casa, me apresento e
colocamos as cartas na mesa. – Ela tenta falar, mas levanto a mão pedido que
espere. – Isso, desde que você me prometa que será algo temporário, no
máximo um ano, e tenha ciência de que será sua responsabilidade garantir que
ela se comporte.
Ela me abraça, encosta a cabeça no meu peito e fala:
– Obrigada filho. Sei que não é fácil para você aceitar isso, mas prometo
que um ano é mais do que suficiente para que possamos ajudá-la e criar um
vínculo de confiança. Vou ficar atenta, não se preocupe, e se perceber que não
haverá condições para uma boa convivência, mudamos os planos, prometo.
– Tudo bem, agora vou tomar um banho porque, nossa, cheguei do estúdio e
você já jogou essa bomba em cima de mim. Aliás, quando nossa hóspede
chega?
– Amanhã.
– Hã? – falo, olhando para ela de boca aberta. – Amanhã? E você deixou
para falar comigo só hoje?
– Eu estava realmente com medo da sua reação, e com razão. Desculpa
filho.
Respiro fundo, que é o que me resta.
– Ok. Está decidido mesmo. Como ela chegará até aqui?
– Um dos motoristas e um segurança a buscarão no aeroporto em Long
Beach. Já combinei com o Peter, fique tranquilo. Avisei a Beatriz também, a
garota em questão, que não estarei no local, mas que terá alguém com um
cartaz com seu nome no saguão de desembarque. Ela deve chegar por volta das
dezenove horas de amanhã.
– Certo. Bom, se Peter está ciente, tudo bem.
– Vai tomar seu banho querido, vou pedir para Gia preparar algo para você
comer.
– Ótimo! – Beijo sua testa e sigo em direção a minha suíte.
Tiro a roupa rapidamente e me encaminho para o chuveiro, ainda pensando
em como fazer essa loucura funcionar. Deixo a água cair sobre meu corpo
imaginando como será a dinâmica entre nós quando a menina chegar. Espero
realmente não ter tomado uma péssima decisão. Lidar com “garotas afetadas”
por aí é o que mais acontece nas nossas turnês e eu não preciso disso dentro da
minha própria casa. Não que sejamos santos, longe disso. Algumas dessas
mulheres conseguem acesso às nossas camas, mas, como bem ressaltei,
mulheres. Não meninas. Nem quero imaginar o tipo de problema que poderia
me causar se algo assim vazasse para a mídia, as especulações e mentiras que
começariam a pipocar. É o tipo de porcaria que me dá nojo só de pensar em ter
que lidar. Bom, manterei distância o máximo possível e espero que ela saiba o
seu lugar.
Visto rapidamente uma calça de moletom cinza e uma regata branca,
seguindo em direção a bancada da cozinha em que vovó e eu preferimos fazer
as refeições quando somos só nós dois. Meu plano era ficar em casa hoje, no
máximo uma corrida pela praia à noite e um banho de mar, contudo, depois da
notícia, acho que vou aceitar o convite de Lian e me juntar a ele na festinha
particular que vai rolar em sua casa mais tarde. Nada que algumas doses de
whisky e uma boa trepada não ajudem a amenizar. Também já aproveito e
informo a ele que a partir de amanhã, serei seu hóspede por um tempo.

Depois de jantarmos e vovó se recolher, pego o telefone e mando mensagem


para Lian.

Qual o esquema da festa de


hoje?
Por quê? Cinderela resolveu dar o
ar da sua graça?
Vai se foder Lian. E pensar que
vou ter que aturar essa tua cara
de bunda dia e noite por um
tempo
Como assim dia e noite? Eu sei que
você me ama Oliver, mas já avisei
que não adianta me pedir em
casamento, meu negócio é BO-CE-
TA
Vai falar logo como vai ser ou
não? Tá com medo que se eu
for ninguém vai querer dar para
você?
O caralho, idiota. Elas não rejeitam
esse corpinho. Agora o Kellan
revirou os olhinhos quando eu disse
que você mudou de ideia
O fedelho do Kellan nem
deveria participar, isso sim. Não
tem idade. Precisa treinar muito
com a mão ainda até aprender a
comer uma mulher
Kkkk ele disse que pode treinar no
teu cú.
Mas chega aí, vai ser o de sempre.
Riley e Tina virão e trarão uma
amiga cada uma. Ao chegar as
novatas terão aquela típica
conversinha com a equipe de
segurança. Fora elas, o Max e o
fedelho. Bem light, do jeitinho que o
bebê ai gosta
Tina está em todas ultimamente,
não? É namoro?

Ah cara, tá engraçadinho hoje né?


Fica tranquilo deixo você pegar. Vai
ser difícil convencê-la, mas com
jeitinho você consegue

Bem que você gostaria que


fosse verdade. Até daqui a
pouco, irmão

Troco de roupa rapidamente, enfiando uma calça jeans e uma camiseta


preta. Dobro a barra da calça e sigo descalço pela praia até a casa do Lian,
que fica a uns trezentos metros da minha. Após ela, está a casa onde Max mora
com a mãe, e bem mais afastado da praia, o prédio que abriga a Three Minds.
Nossa produtora e estúdio de gravação.
Moramos numa espécie de praia particular em Oceanside, CA, a cento e
vinte quilômetros de Long Beach. A California não tem praias particulares,
mas como compramos todos os terrenos em torno de uns bons metros
quadrados do nosso refúgio, construímos um condomínio particular em todo o
trajeto que dá acesso a ela, e no espaço da orla somos protegidos por um
costão natural numa ponta e uma muralha de pedras na outra, é muito raro
alguém se aventurar pelo nosso canto da praia. Nas três ou quatro vezes em
que aconteceu nesses nove anos, nos mantivemos dentro de casa e deixamos
que as pessoas se divertissem até se retirarem.
Max, Lian e eu começamos a banda como uma brincadeira de moleques.
Frequentávamos a mesma escola e por nossas situações de vida nada fáceis,
nos aproximamos após identificar um interesse em comum na inativa sala de
música da escola pública do bairro pobre de Long Beach, onde morávamos.
Eu via constantemente aqueles dois moleques rondando a sala e mexendo
nos instrumentos sempre que podiam. Seus olhos, normalmente tão tristes
quanto os meus, brilhavam quando miravam o violão, a guitarra, a bateria e o
teclado. O interesse deles em aprender era explícito. Mas a escola era pobre e
professor de música, raro. Assim, comecei a estudar por conta própria, pegava
livros na biblioteca e me enfiava na poeirenta sala sempre que podia depois da
aula, na intenção de dominar a velha guitarra e um dia ensiná-los pelo menos
aquilo. Quando achei que já tinha algo a compartilhar, tomei coragem e fui até
eles, pois aproximar-me de alguém sempre foi algo complicado demais para
mim. E a partir dali seguimos na jornada autodidata juntos.
Desta forma, e com muita perseverança, nasceu a The Order em seus
estágios embrionários e, junto com ela, nossa forte amizade e pequena família.
Os instrumentos usados em nossos “ensaios”, que normalmente aconteciam na
casa de Max, foram empresados pela escola, já que estavam lá parados
mesmo. Em troca, tínhamos que tocar em pequenos eventos sempre que a
escola requisitasse. Cantar sempre foi natural para mim, e todos nós nos
mostramos bons compositores. Só mais tarde, já na fase profissional e com
uma situação financeira relativamente confortável, pudemos fazer aulas de
verdade e aperfeiçoar a parte técnica.
De apresentações na escola evoluímos para pequenos bares e casas
noturnas na nossa adolescência. Na época eu cantava e tocava baixo. Quando
Max e eu estávamos com dezessete anos e Lian com dezesseis, fomos notados
por uma grande gravadora e veio o convite para transformar aquela
brincadeira em algo profissional de verdade.
Conversamos muito quando recebemos a proposta e decidimos que só a
aceitaríamos caso o contrato nos garantisse sigilo absoluto em relação a nossa
vida particular e nossos familiares, pois todos ali tinham passados
complicados. E uma exigência específica para o meu caso, que não queria de
maneira alguma trazer à tona velhos fantasmas. Eu não concederia entrevistas,
não receberia pessoas e nem faria sessões de autógrafos. E de forma alguma,
caso alcançássemos o estrelato, tocaríamos em Londres. Claro que imaginamos
que não aceitariam estas últimas sem negociar de alguma maneira, entretanto,
para nossa surpresa, a gravadora achou que a excentricidade renderia uma bela
estratégia de marketing. O vocalista misterioso e inacessível.
Outra cláusula foi que caso estourássemos, ficaríamos vinculados a
gravadora por apenas quatro anos. Depois seriamos livres para decidir nossos
destinos. Eles por sua vez exigiram que acrescentássemos um baixista ao
grupo, e assim Alan Seal entrou para a The Order, não como integrante oficial,
mas contratado.
O primeiro ano de contrato foi de muito trabalho, compondo e preparando o
álbum. A pressão em cima de nós era fodida, o que levou ao inevitável
consumo de algumas substâncias ilícitas. Max e eu sempre fomos mais
moderados com as drogas, mas Lian teve sérios problemas e até hoje luta
contra o vício. Apesar de estar há vários anos sem uma recaída.
O sucesso veio como um raio. Muito mais rápido do que todos poderíamos
imaginar. Tivemos que mudar com nossas famílias para apartamentos da
gravadora para que pudessem cumprir a cláusula de segurança e
confidencialidade do contrato. Nosso primeiro álbum teve as doze músicas nas
paradas. Sabíamos que estava bom, que usamos o máximo de profissionalismo
que nos era possível na época, mas nem nos nossos melhores sonhos
estávamos preparados para loucura que virou nossas vidas. Eram shows e
mais shows, convites para eventos, apresentações e entrevistas para Max e
Lian que a gravadora enfiava em nossas agendas às pencas, querendo nos sugar
ao máximo enquanto estávamos amarrados a eles.
O assédio também extrapolou todos os níveis possíveis. Sempre tivemos
facilidade em encontrar parceiras para o sexo, mas depois da fama não
tínhamos mais paz. No começo embarcamos naquilo achando o máximo. Orgias
rolavam soltas, junto com as drogas, as bebidas e a grana. Felizmente essa fase
durou pouco e logo procuramos colocar a cabeça no lugar, afinal nossos
históricos passados nos mostravam bem aonde comportamentos daquele tipo
terminavam. Tínhamos pessoas que amávamos em nossas vidas e não
poderíamos abandonar e nem decepcionar. Outra coisa que agradeço é que, por
mais chapados que estivéssemos, nunca deixamos de nos proteger na hora do
sexo.
Um ano antes de terminar o prazo previsto no contrato, nós compramos essa
área em Oceanside e iniciamos as construções das três casas e do prédio da
produtora. Nessa época, nossas contas bancárias já possuíam muito mais do
que poderíamos gastar em vida. Então contratamos ótimos profissionais para
compor nossa equipe técnica, bem como montamos um alto esquema jurídico e
de segurança para manter a paz e o sossego no nosso refúgio e em nossas
vidas.
Assim que rompemos com a gravadora, rompemos também o contrato com
Alan, pois não tínhamos um relacionamento muito amigável com ele. Como eu
passei a fazer a segunda voz na guitarra e em algumas músicas toco violão ou
piano, precisávamos de um baixista. Por isto entrou para o time Jack Taylor
que nos acompanhou até início do ano passado, quando entendemos que Kellan
já estava pronto para assumir o posto.
Kellan é primo de Lian e vem estudando e se preparando para isso desde
que era um pirralho. Os tios de Lian foram os únicos que o acolheram quando
tudo ruiu em sua vida e ele os tem como pais. O casal tem também uma filha
dois anos mais nova que Kellan, por isso optou por morar na área próxima à
produtora até que os filhos completassem os estudos. Ambos trabalham
conosco na parte administrativa da Three Minds.
Max quis assumir também o papel de agente da banda. Ele é o mais
ponderado e centrado de nós e o cara que muitas vezes nos puxa para a
realidade. Assim como eu, sua única família é a mulher que o criou. Por opção,
não mantemos contato com o público em geral ou com fã clubes, apesar da The
Order ter centenas deles espalhados pelo mundo. Nosso objetivo é que as
pessoas gostem da nossa música e só. Todo o resto não temos interesse em
incentivar ou alimentar.
Apresentações restringiram-se apenas as premiações e as turnês que nos
tomam de cinco a seis meses a cada dezoito, com algumas semanas de folga
entre eles para voltarmos para casa por alguns dias. É um ano e meio
compondo, produzindo e gravando e meses de “estrada”, divulgando. Depois,
alguns meses de férias para recarregar as energias antes de começar tudo outra
vez. Acabamos de encerrar a turnê do nosso sexto álbum Don’t Toutch
Otherwise, há quatro dias e, após acertamos os últimos detalhes burocráticos
na Three Minds até o final da semana, deixaremos tudo a cargo dos
funcionários e iniciaremos nosso merecido descanso. Pelo menos eu achei que
seria descanso até a minha avó aparecer com a feliz novidade.
Alcanço enfim o meu destino, entro no deck externo da casa de Lian e
contorno-o até a área da piscina interna onde já rola música e conversa. Uma
das regras das nossas festinhas é que pode tocar de tudo, menos músicas
nossas. Paro na entrada estudando o ambiente. Já estão todos ali pelo visto.
Max conversa com Riley e uma outra garota loira que está de costas para mim.
Lian e Tina num outro canto e Kellan no sofá junto de outra loira que está
sentada em seu colo. O fedelho não quer perder tempo, pois a mão dele já
entra por baixo do vestido dela.
Riley e Tina são umas das poucas garotas da época de escola que
mantivemos contato. Tina e Lian tiveram um namorico adolescente e ficaram
amigos. Amigos que se pegam, claro. Max e eu pegamos também, mas é no
guitarrista que ela concentra a maior parte de sua atenção. Imaginamos que ela
tem esperanças de que um dia se torne algo mais e já alertamos Lian que, se
não tem intenção de tornar os sonhos dela realidade, deveria se afastar. Mas o
cabeçudo diz que deixou bem claro que é só sexo, que a garota lhe faz bem e
enquanto ela estiver disposta não vai rejeitar. Ela é uma boa garota, se tornou
arquiteta e cuidou das obras no condomínio.
Já Riley sempre foi mais desapegada, assim como nós ela vem só pelo sexo
mesmo e gosta de ter dois ou até os três ao mesmo tempo lhe prestando
favores. A linda menina morena de sinceros olhos verdes foi uma das
primeiras pessoas em que eu consegui confiar na minha infância, depois que
tudo aconteceu, e criamos um forte vínculo. Iniciamos uma amizade com
benefícios na adolescência e nos apoiamos mutuamente desde então. Ela
acompanhou toda a nossa trajetória de perto. Contamos com sua ajuda para
fazer a triagem das novatas que terão acesso ao nosso paraíso particular. Riley
consegue avaliar um caráter como poucos. Ela é formada em direito e é chefe
do nosso jurídico. Junto com Peter, um ex-agente da CIA, que comanda a nossa
equipe de segurança, formam uma dupla e tanto.
Estanco assim que a loira que estava conversando com Max se vira. Não
acredito! Foi-se a minha esperança de uma noite tranquila. Olho para ela, que
me encara já com os olhinhos brilhando e respiro fundo.
– Riley, será que podemos conversar um minuto a sós, por favor? – digo,
anunciando a minha presença aos demais.
– Ah, a beldade chegou, finalmente. Kate estava ansiosíssima em revê-lo –
fala Lian, com sua costumeira cara de deboche. Kate, ainda me encarrando,
deixa um pequeno sorriso aparecer.
Assim que Riley se aproxima, a puxo pelo braço para dentro da cozinha.
– Caramba Riley, que vacilo foi esse? Você sabe o quanto custou me livrar
da perseguição da Kate. O que a garota está fazendo aqui?
– Desculpe Oliver, eu realmente não tenho como me defender disso. Ela
veio com Tina, você sabe como as duas sempre foram amigas, não sabe?
Passou na entrevista com a segurança e quando cheguei as duas já tinham
entrado. – Frente ao meu olhar de desagrado, ela se explicou rapidamente.
–Tivemos um probleminha no recebimento de um material na produtora, por
isso não pude estar presente na entrevista dela. Peter está em sua noite de
folga. Mas como nossa equipe é muito bem treinada e Tina é de confiança não
vi maiores problemas em que tocassem sozinhos. Bom, eu estava errada, não
vai se repetir, eu prometo.
– O que deu na cabeça da Tina para trazer a Kate pra cá?
– Assim que cheguei e vi a Kate aqui, pedi a Tina que se explicasse. Ela
disse que há tempos a garota vem pedindo uma chance de rever você, para
conversar e pedir desculpas pela forma como agiu no passado. Disse que fez
tratamento para curar a depressão, e implorou que precisava desse
encerramento para poder seguir com a sua vida. – Eu vi como Riley tentava se
desculpar para mim. – Tina pelo visto cedeu aos apelos dela.
– Balela Riley. Vi a esperança estampada na cara dela de novo assim que
me olhou. Porra, a garota tentou se matar na frente da minha avó para chamar a
atenção. Acha mesmo que dá para confiar?
– Não acho. Enfim, ela já está aqui, o que posso fazer se você quiser é
voltar lá e expulsá-la.
Passo a mão pelos cabelos, frustrado. Encaro Riley, só então percebendo
como ela está gostosa. Os seios grandes quase pulando para fora do decote do
vestido prata muito curto e muito colado. Riley é uma morena de tirar o fôlego.
Poderia perfeitamente ter seguido a carreira de modelo se quisesse. Olho para
ela já com segundas intenções.
– Acabo de pensar em outras coisas que você poderia fazer para melhorar o
meu humor – digo.
Analiso sua reação e vejo o tesão tomar o seu rosto, o interesse aparecendo.
Sem pensar, puxo-a em minha direção, atacando sua boca e encostando-a na
porta da geladeira. Subo minha mão pela sua coxa enquanto ela ataca o botão
da minha calça.
Antes que eu possa alcançar sua calcinha, meu pau já está para fora e sua
boca mamando gostoso nele. Deixo que se delicie um pouco ali, mas logo a
puxo pra cima e empurro contra a bancada de granito, fazendo sua bunda
empinar em minha direção. Visto rapidamente a camisinha, subo seu vestido e
arranco aquele pedaço de pano que ela tem enfiado na bunda.
– Vai ter que passar o resto da noite sem calcinha – falo quando já estou
metendo com força em sua boceta. Ela geme e murmura algo meio sem fôlego.
– Só vai facilitar as coisas para mim, chefe. – Continuo metendo forte, do
jeito que eu sei que ela gosta.
Passo uma mão pela sua frente e estímulo seu clitóris. Quando percebo que
ela está quase lá, acelero as estocadas. Ela grita e goza no meu pau e eu a
acompanho em seguida. Então viro-a para mim e a beijo por longos minutos.
Riley e eu sempre nos entendemos desta forma, direta e crua. Não há meias
palavras nem meias verdades entre nós.
– Porra Oliver, adoro uma rapidinha com você, mas é quase um crime não
poder me aproveitar de todo o material antes. – Reclama com safadeza.

Após nossa rápida foda na cozinha, voltamos para onde estão os outros. O
fedelho não está mais no sofá, já deve estar comendo a loira em algum canto da
casa. Tina está rebolando no colo de Lian e Kate está sentada numa
espreguiçadeira com cara de poucos amigos. Max se aproxima nos lançando
um sorriso de lado e oferecendo um copo de whisky para cada um.
– Foram rápidos! Kate não ficou muito feliz com a sumida de vocês – diz
lançando um olhar na direção da intrusa.
– Riley, é a última vez que quero ver a Kate aqui dentro. A entrada dela no
nosso condomínio continua expressamente proibida. Fui claro?
– Vou reforçar com toda a equipe e qualquer nova tentativa dela de se
aproximar será barrada, fique tranquilo.
– Ótimo, agora vou lá ouvir o que ela tem a me dizer – digo, dando um
último gole na minha bebida, tomando coragem para uma tarefa que não estou
ansioso para fazer.
Me aproximo da mulher, torcendo para que eu tenha paciência com ela.
– Oi Kate. Fui informado que você tem algo a me dizer, certo? Vamos logo
acabar com isso para que você possa ir embora? – Ela me encara com os olhos
arregalados e magoados.
– Não precisa ser grosso Oliver. Não vim aqui para te atacar. Vim aqui para
pedir desculpas pelo que fiz. E dizer que gostaria que voltássemos a ser
amigos.
– Não há a menor chance de uma reaproximação entre nós. O que você fez
foi muito sério. Fico feliz que esteja bem e se tratando, mas não quero ser
responsável por qualquer recaída sua.
– Eu me apaixonei por você. Foi difícil quando quis se afastar de mim. Eu
me abri com você naquele dia.
– Sim, você se abriu e eu repeti o que sempre te falei, para mim nunca foi
nada além de sexo e amizade. E daquele dia em diante, em respeito aos seus
sentimentos, que eu não poderia retribuir, eu me afastei de você. Eu não te
afastei das nossas casas, do nosso grupo. Eu continuei permitindo que você
convivesse no nosso meio como sempre fez. Quem se privou de participar das
reuniões quando você estava fui eu. Mas você insistiu em me perseguir e
terminou protagonizando aquela cena na minha frente e na frente da minha avó.
– Eu sei Oliver. Eu estava desesperada, deprimida. Você me evitava a todo
custo e eu sentia sua falta. Como eu poderia te esquecer? Impossível que você
não lembre com carinho dos nossos momentos, impossível que você se
arrependa do que vivemos.
– O que eu me arrependo é de não ter percebido antes que você estava
fantasiando algo que nunca existiu da minha parte. Claro que tivemos bons
momentos, claro que me lembro deles, mas nunca foi diferente para mim dos
momentos que eu divido com Riley ou com Tina. – E assim as lágrimas que ela
tanto estava segurando despencam.
– Você transou com a Riley lá dentro, não transou?
– Kate... isso não é da sua conta – digo irritado.
– Tudo bem, tudo bem, desculpa.
– Principalmente para a sua saúde, peço que não tente se aproximar
novamente. Esse ambiente não lhe faz bem. O que você espera de mim jamais
poderei lhe dar. Já tivemos esta conversa antes. Nada mudou. Não pretendo ter
nenhuma outra mulher em minha vida exercendo qualquer poder sobre ela,
além de minha avó. Essa é uma decisão tomada há muito tempo. Se você
precisar de ajuda para qualquer coisa, como custear seu tratamento, que você
não deve parar, fale para a Tina. Te ajudarei no que puder para que volte a se
sentir bem e feliz. Não desejo sua infelicidade Kate, muito pelo contrário.
– Posso te dar um abraço?
– Pode, mas será um abraço de despedida. Depois, a Riley vai te levar até
um dos seguranças que estão do lado de fora, ele vai te acompanhar para a
saída do condomínio e um dos nossos motoristas te levará para casa. Tudo
bem?
– Tudo bem. – E assim ela me abraça e chora no meu ombro. Me dói saber
que sou a causa do seu desespero, mas nunca a iludi ou enganei.
– Vamos lá Kate – digo, enquanto a afasto e a ajudo a se levantar. Peço a
Riley para a acompanhar conforme o combinado e sigo para perto de Max,
Lian e Tina, que agora estão na bancada do bar, aproveitando do grande
estoque de bebidas caras.
– Tenso? – pergunta Max.
– Sempre. – Suspiro em derrota. Me viro para Tina, a encarando com raiva.
– E você, – digo, exalando irritação – violou muito a nossa confiança hoje.
Atender aos apelos da Kate em voltar aqui, burlando a segurança, quando
acompanhou tudo que aconteceu com ela e sabe que deixei bem claro que não
queria mais contato, foi uma atitude muito irresponsável. Você, como amiga
dela, como diz, deveria ter sido a primeira a desencorajar essa ideia e não a
trazer para cá. Ainda mais quando sua amiga se diz apaixonada e a não muito
tempo atrás você estava ali, naquele sofá, com o meu pau enfiado no seu rabo.
Estou muito puto com você, Tina! Cuide se não quiser ser a próxima pessoa
proibida a passar por aqueles portões. – Me volto dela para Lian.
– Lian, amanhã à tarde venho pra cá, ficarei uns dias hospedado aqui. – Sem
esperar que ele diga qualquer coisa, dou as costas e vou embora.
Capítulo 3

“Quem um dia irá dizer


Que existe razão nas coisas feitas pelo coração?
E quem irá dizer
Que não existe razão?”
(Eduardo e Mônica – Legião Urbana)

Bia

J ohn me largou no aeroporto pouco antes do meio dia, junto com


minhas duas malas e mais três caixas pequenas com poucos
livros, fotos e outras lembranças de meus pais e nossa casa,
como uma coleção de pequenos bibelôs de natal, que minha avó colecionava e
minha mãe adorava. Pelo menos ele me ajudou a pôr tudo no carrinho antes de
ir.
Assim que fiquei sozinha naquele saguão e olhei para tudo o que sobrou da
minha história, finalmente caiu a ficha de que um ciclo se encerrava em minha
vida. Fora as poucas recordações, nada mais me remeteria aos meus primeiros
quase dezoito anos de vida. Nem o lugar, nem os cheiros, nem as pessoas.
Tudo seria novo dali em diante. Novo e desconhecido. Pelo menos é o que eu
pensava.
Meu embarque será as treze horas. Serão quase quatro horas de voo até
Long Beach, então a previsão de chegada é por volta das dezessete. Faço meu
check-in e sigo para a sala de embarque, me acomodo em uma das poltronas e
me ponho a revisitar as lembranças destes últimos meses em que fiquei sozinha
naquele apartamento, sentindo meu luto, vendendo e empacotando coisas. A
verdade é que duas semanas teriam sido mais do que suficientes para organizar
tudo e partir, só que eu ainda não estava pronta para sair de lá. Na real, ainda
não sei se estou, mas não podia adiar mais, o apartamento precisava ser
entregue aos novos donos.
Nos últimos dias, quando já estava tudo praticamente pronto para a partida,
aproveitei para traçar alguns planos em minha mente. Pretendo ficar com a Sra.
Evans no máximo seis meses. Creio que seja tempo suficiente para encontrar
algum emprego, em algum estabelecimento comercial de Long Beach, visto que
é uma região altamente turística. Assim que receber meu primeiro salário, vou
procurar um local pequeno e que seja possível pagar com o que eu ganhar, pois
tentarei ao máximo não mexer no dinheiro que restou em nossa conta. A partir
dali, irei procurar cursos que me possibilitem empregos melhores no futuro.
Fora isso, desejo muito fazer amizades verdadeiras com garotas da minha
idade e também pensar em aproveitar minha juventude, já que a infância e a
adolescência não pude vivenciar da mesma forma que as outras meninas.
Nunca tive qualquer contato mais íntimo com um garoto. Entre os treze e os
quinze anos, que foi o tempo que vivemos sem o fantasma da doença rondando
nossa casa, comecei a me reaproximar dos grupinhos. Havia tentado me
enturmar, até despertei o interesse de alguns meninos, mas ninguém despertou o
meu a ponto de me sentir inclinada a aventurar-me na experiência do primeiro
beijo. Depois, já não tinha clima para me preocupar com o assunto outra vez.
– Voo CA2339, com destino a Long Beach, CA, daremos início ao
embarque pelo portão F6. – Ouço a chamada no alto-falante e sigo para o
portão de embarque.
Alguns minutos mais e somos liberados para entrar na aeronave. Me
acomodo em meu assento, fecho o sinto e relaxo. Vejo o avião taxiar, depois
decolar.
Fico aqui pensando por que estou tão calma. Outra pessoa na minha
situação e na minha idade, que perdeu todas as suas referências, que não
conheceu do mundo quase nada além do seu pequeno núcleo familiar, que de
certa forma se viu responsável por ele em vários momentos, quando o natural
seria o contrário, deveria estar no mínimo assustada e apreensiva. Mas alguma
força, que está além da minha compreensão, me mantém em paz. Sinto falta de
meu pai todos os minutos, mas, de agora em diante é cuidar para que o vínculo
parental comigo não seja mais a possível causa da desgraça de alguém. Por
isso, algumas decisões já foram claramente tomadas por mim, em minha mente.
Evitarei ao máximo ter uma família de sangue outra vez. Serei eu por mim
mesma daqui por diante, e só. Conforme os minutos passam, vou me
entregando ao relaxamento, até perder de vez a consciência.
Abro os olhos, meio atordoada, e tento me situar, até lembrar que estou no
avião, rumo a uma nova vida. Pego meu celular e confirmo que dormi quase a
viagem toda. Só agora percebo o quanto estava cansada. A aeronave já está em
procedimento de aterrisagem.
Assim que chego ao saguão de desembarque, já em posse de minhas
bagagens, avisto a placa com meu nome na mão de um homem alto, vestindo
um terno preto. Caminho em sua direção.
– Boa Tarde! Prazer, sou Beatriz Thompson.
– Boa tarde Srta. Thompson, seja bem-vinda à Califórnia. Sou Barry
Davies. Estou aqui a mando da Sra. Evans, para levá-la até sua nova
residência. Queira me acompanhar, por favor.
Sigo-o até o carro, no estacionamento do aeroporto. É um carro preto,
chique. Me surpreendo com um luxo que nunca tivemos.
– A Srta. pode se acomodar, eu cuido das bagagens – diz, abrindo a porta
de trás para que eu entre. Barry guarda os volumes no porta-malas e se senta
no banco do motorista. Ele aperta alguns botões no painel do carro e um som
de chamada começa a ecoar.
– Oi Barry, Peter falando.
– Peter, avisando que já estou com a Srta. Thompson no carro, conforme
pediu.
– Um minuto Barry, vou passar a ligação à Sra. Evans. – Um novo toque de
chamada e logo uma voz feminina ecoa.
– Alô, Beatriz?
– Olá Sra. Evans – respondo, na esperança de que ela me ouça. Uma vez
que eu não faço ideia de onde é a entrada de som daquele veículo.
– Oi querida, teve um bom voo?
– Sim, dormi praticamente todo o tempo.
– Ah, que ótimo! Escute, a minha casa fica numa região um pouco afastada
de Long Beach. Vocês farão uma viagem de carro agora de aproximadamente
duas horas. Se você estiver com muita fome, posso pedir ao motorista para te
levar para jantar antes de prosseguirem. Senão jantamos quando você chegar.
O que prefere?
–Prefiro seguir direto Sra. Evans, se estiver tudo bem para a senhora.
– Claro, façam uma boa viagem então. Estou aguardando você.
– Obrigada e até logo.
Eu não estou acreditando no que meus olhos veem. A mulher deve ser muito
rica. Ao chegarmos, passamos por uma guarita, onde Barry teve que se
identificar. As janelas do carro precisaram ser baixadas e um segurança
conferiu o interior, passou alguma informação pelo rádio e o portão foi aberto.
Além dele, foi possível avistar várias casas bonitas e um prédio de três
andares. Barry dirigiu ainda por cerca de quinze minutos em direção à praia.
Quando estávamos já bem próximos, uma nova autorização foi solicitada e um
novo portão se abriu. Três construções luxuosas, quadradas e modernas,
mesclando muito vidro e pedras, erguiam-se à beira mar. Seguimos por mais
uns minutos até o motorista parar o carro em frente ao acesso da mais distante
delas.
Uma senhora muito sorridente, com o cabelo parcialmente grisalho, estilo
Chanel, e um rapaz vêm se aproximando do carro.
– Srta. Thompson, aqui é o mais próximo da casa que conseguimos acesso
de carro. A Sra. Evans está vindo em nossa direção, a Srta. pode acompanhá-
la, Jofrey e eu nos encarregaremos de levar os seus pertences para os seus
aposentos – avisa Barry.
Não estou acostumada a ter as pessoas fazendo as coisas para mim, muito
menos a ter o termo senhorita dirigido a mim a cada frase. Bem, parece que
esta será a minha realidade por um tempo.
– Tudo bem, Sr. Davies. Obrigada por me buscar e me trazer até aqui.
– Não há de que, Srta. – Abro a porta e saio.
– Beatriz! – A Sra. Evans sorri abertamente para mim, enquanto me puxa
para um abraço acolhedor. – Gostaria que os motivos que nos levaram a
conhecer uma à outra fossem outros, mas fico muito feliz em poder recebê-la e
ajudá-la de alguma forma. Mesmo que tenhamos nos afastado em função do
fluxo natural da vida, saiba que o seu pai foi alguém muito importante para
mim. Ele era um homem único. Sinto muito pela sua perda, querida. – Ouvir
alguém falar do meu pai com carinho, gera uma emoção em mim, enchendo
meus olhos de lágrimas.
–Ele era sim, Sra. Evans, morro de saudades todos os dias – digo fungando,
enquanto tento manter o controle em frente a uma pessoa que acabei de
conhecer.
– Eu imagino querida – diz ela, me abraçando novamente. – Me chame de
Laura, por favor.
– Certo Laura, pode me chamar de Bia.
–Então, Bia, vamos entrar, haverá muito tempo para nos conhecermos. Você
com certeza está cansada, temos um jantar a nossa espera e quero te mostrar a
casa e o seu quarto.
Sigo Laura pelo caminho ornamentado com pedras, disposto em meio à
vegetação litorânea típica, que nos leva para a entrada da casa. Ao abrir a
porta, passamos por um pequeno hall de entrada e caímos em uma sala enorme,
com vários ambientes separados em uma mesma área aberta. A frente é toda de
vidro, dando uma ampla visão do mar e do deck externo que segue até a areia
da praia.
Tudo dentro da casa é claro, tanto os móveis, quanto as paredes e o piso. Os
detalhes em cores ficam por conta dos tecidos, como as quatro cadeiras
forradas de azul celeste em volta de uma mesa redonda, que fica em um espaço
que me parece perfeito para chá ou café da tarde; ou a chaise amarela e as
almofadas coloridas que ficam sobre o sofá branco no canto oposto da casa.
Há também as obras de arte e quadros que completam o ambiente. Tudo
bem clean, harmonizando perfeitamente com a natureza a nossa frente. Em um
canto, há um piano de cauda branco, lindíssimo. E um pouco mais afastado, a
elegante mesa de jantar, em frente a uma cozinha moderna; separando os
ambientes, há uma bela ilha revestida de mármore branco com algumas linhas
azuis.
Meus olhos são atraídos pelo deck, que além de trazer uma sensação de paz
e perfeição, conta com uma enorme piscina e uma hidromassagem gigantesca.
– Bia, a área comum da casa é basicamente isto que você vê, seguindo
aquele corredor, há quatro suítes, a minha, a do meu neto, que mora aqui
também, e duas para hóspedes, uma delas agora será sua. Temos ainda dois
escritórios e uma sala de cinema. Na área externa, além do deck, há uma
segunda construção, onde temos um vestiário, uma sauna, uma academia e uma
área com bar e sala de jogos. Mas lhe mostro tudo isto em detalhes amanhã,
agora venha que vou lhe apresentar o seu quarto.
Entramos em um longo corredor, com duas portas de cada lado, paramos em
frente a segunda à direita. Então ela a abre para mim.
– Pode entrar querida, este é seu quarto, espero que goste. O quarto tem um
closet e um banheiro. – Ela aponta para duas portas no fundo do aposento. Por
favor, fique à vontade para se ambientar e, quando estiver pronta, é só me
encontrar na sala para jantarmos.
– Obrigada Laura. – Ela assente e sai, fechando a porta.
Olho para aquele quarto, onde predomina o branco absoluto, quebrado
apenas por detalhes em rosa muito claros, como na colcha da enorme cama de
casal, nas fronhas, almofadas e em objetos de decoração. É romântico e
lindíssimo! Entro no closet e vejo que minha bagagem já está toda ali no chão,
por onde trouxeram não sei, pois ninguém passou por nós lá na sala. Olho o
banheiro que, assim como o quarto, segue a mesma linha de decoração. Há um
chuveiro moderno e uma banheira estilo vitoriano.
Não estava preparada para o que encontrei ali. Para todo o luxo. Pelo que
papai falou, Laura era uma pessoa da mesma classe social que nós, que passou
por bastante problemas também em seu início de vida, e que ele tentou ajudar
como pode. Parece que ela conquistou muitas coisas na vida desde então.
Resolvo tomar um banho antes de voltar à sala. Pego uma das malas e abro
no chão do closet mesmo. Separo um vestido leve azul claro, uma calcinha e
um sutiã e as levo para o banheiro. Minhas roupas, compradas em brechós e já
bem usadas, certamente não estão à altura do padrão desta família, contudo, é o
que sou e o que tenho, e não sinto vergonha alguma disso.
Passo trabalho para ligar o chuveiro, que solta jatos por todos os lados, mas
logo pego o jeito e tomo um delicioso e relaxante banho. Fico longos minutos
ali, curtindo a força da água massageando o meu corpo. Quando termino, me
seco com a toalha mais macia que minhas mãos já tocaram, uso o secador em
meus cabelos, me visto, tomo coragem e vou ao encontro de Laura. Vejo-a
sentada à mesa de jantar, me esperando.
– Ah Bia, que bom que voltou, conseguiu se acomodar? Está tudo bem?
– Está sim, obrigada.
– Deve estar com fome, não? Sente-se aqui, vamos jantar.
– Com licença – digo, sentando ao seu lado na mesa de jantar.
– Esqueça as formalidades querida, esta é sua casa agora, quero que fique à
vontade aqui. Aja naturalmente, ninguém vai julgá-la. Podemos viver bem e
estar cercados de coisas bonitas, mas somos pessoas simples. Não crescemos
na riqueza, ela veio depois. Então relaxe e sirva-se, por favor.
– Obrigada. Laura, sua casa é lindíssima, deve ser maravilhoso acordar
todos os dias com esta vista e dormir ouvindo o barulho do mar – digo,
enquanto coloco comida em meu prato.
– É maravilhoso mesmo. É como um paraíso. Moramos aqui há quase nove
anos e não me imagino mais em qualquer outro lugar. Você vai gostar bastante
também, tenho certeza.
– Certamente. A última vez que estive na praia tinha sete anos, durante as
férias. Isso foi antes da mamãe adoecer. Depois disso, não saí mais de
Chicago. Já nem me lembro qual é a sensação de pisar na areia e entrar no mar.
– Amanhã poderá relembrar tudo isso. Você é uma menina muito bonita Bia,
tem os olhos do seu pai.
– Obrigada. Sim, os olhos são parecidos com os dele, mas meu tom de pele
e cabelos são como os de mamãe.
– Uma mistura perfeita então – diz sorrindo. – Não cheguei a conhecer sua
mãe. Na verdade, depois que seu pai se mudou para Chicago, perdemos
contato. Nem entendi direito como ele conseguiu meu telefone, visto que não
moro mais em Long Beach há muito tempo. Quando conversamos por telefone,
não fiz muitas perguntas, ele estava nitidamente debilitado.
Laura me encarava, curiosa e foi estranho como senti uma conexão com ela,
entendendo que ela gostaria de saber sobre o que não tinha tido tempo de
perguntar ao meu pai.
– Mamãe era brasileira, mas morava em Chicago com os pais desde os
quinze anos, eles se conheceram na empresa em que trabalhavam. Casaram-se
quando ela tinha trinta e dois anos e ele quarenta e um, e eu nasci quando
mamãe já estava com quarenta anos, ela precisou fazer tratamento para
engravidar. Pelo que papai me contou, ele ligou para o número de telefone que
está registrado no seu antigo endereço em Long Beach. A pessoa que atendeu
passou o contato de uma outra, que talvez pudesse dar informações. Papai
então ligou para ela, Selena, se não me engano. A mulher se lembrou dele,
parece que se conheciam daquela época também, e forneceu o seu número.
– Selena, claro, como não pensei nisso... ela não comentou nada comigo
sobre a ligação dele... Mas enfim, que bom que ele conseguiu me encontrar,
fico triste que não pude me despedir dele pessoalmente. Quando me ligou eu
quis ir até vocês, sabe? Mas seu pai preferiu que não. Disse que era melhor
que eu me lembrasse dele como era nos bons tempos e que se eu quisesse fazer
algo por ele, que fosse isso, ajudar você a recomeçar e contar as histórias que
vivemos na nossa infância e juventude. Eu sei que deve ser difícil para você
falar sobre o assunto, mas se e quando quiser me contar, eu gostaria de saber
como foi que aconteceu isso com o seu pai.
– É difícil sim, mas posso lhe contar, sem problemas. Papai descobriu o
câncer há mais de dois anos, quando eu tinha quinze. Tratou e curou. Há pouco
mais de dez meses, num exame de rotina, constataram que voltou e ali os
médicos o desenganaram, disseram que teria no máximo um ano de vida. Ele
viveu nove meses. Saia de casa dizendo que ia a quimio, mas na verdade não
fez tratamento algum, só tomava os remédios para dor. Dois meses antes de
morrer é que começou a ficar mais debilitado e foi quando ele entrou em
contato com a senhora e me contou a sua real situação. – Sinto que há um laço
entre nós, ela que o conheceu quando novo e eu que presenciei o seu fim. – Até
então ele me dizia que estava em remissão. – Ela suspira, me olha com
seriedade e segura minha mão.
– Eu sei que a sua vida não foi fácil, que com certeza você daria tudo para
ter seus pais de volta, mas pelo pouco que te conheci, posso perceber como
isso te deixou forte e como, certamente, seu pai teve e tem, de onde ele estiver,
muito orgulho de você. Dá para ver a força em seus olhos, Beatriz.
– Obrigada Laura, sinto que precisei me tornar uma adulta muito cedo. Sou
muito madura para algumas coisas, mas em outras, creio que qualquer criança
de dez anos saiba reagir melhor do que eu.
– Você terá tempo e apoio para recuperar o tempo perdido, prometo a você.
Mas vamos deixar os planos para outro dia. Está uma noite tão bonita, quer
tomar uma bebida comigo no deck, enquanto olhamos o mar e as estrelas?
– Seria perfeito.
– Ótimo, pode ir para lá, vou só pedir a Gia que prepare um coquetel de
frutas sem álcool para nós. – E, dizendo isso, ela aperta um controle que faz
com que uma parte do vidro da sala se abra para o deck.
Levanto-me e vou até o deck, me sento em uma das espreguiçadeiras,
respiro o ar puro com cheiro de mar e fico olhando para o céu lindo e
estrelado da Califórnia. Ao fundo, ouço a melodia suave das ondas, do mar
calmo. Laura retorna e acomoda-se na cadeira ao meu lado.
– Você disse que já mora aqui há nove anos, e só vejo três casas
construídas, achei que fosse um condomínio novo.
– É um condomínio particular, pertence às três famílias que moram aqui.
Somos amigos.
– Seu neto mora com você? Ele não está em casa?
–Na verdade, o correto seria dizer que eu moro com ele. Apesar de ele não
gostar que eu me refira assim, esta casa é dele. Ele ficará fora por alguns dias,
mas logo vai conhecê-lo. – Me pergunto como deve ser o neto de Laura.
Não deve ter mais do que vinte e poucos anos, visto que ela tem a idade de
meu pai. Por outro lado, um rapaz tão jovem já teria um patrimônio como
aquele? Deve ser desses milionários de mídias sociais, que tem uma ideia
boba e aquilo explode, levando-os ao topo em poucos meses.
– E os pais dele, moram aqui também?
– Não, nossa família de sangue se resume a nós dois – diz, com o olhar
distante, perdida em pensamentos.
– Sinto muito Laura, não quis ser indelicada.
– Não foi. Mas é um assunto difícil, que preferimos não tocar, desculpe.
Meu neto prefere assim e eu respeito. Você contou sua vida para mim e eu
mantendo segredos! – Nesse momento, uma mulher loira, na faixa dos quarenta
anos, chega trazendo dois drinks.
– Ah, ótimo, Gia – elogia Laura.
– Desejam mais alguma coisa, senhora?
– Não Gia, está tudo certo, obrigada.
E assim terminamos a noite naquele cenário paradisíaco, degustando a
bebida deliciosa e conversando amenidades. Nos conhecendo.
Ela me conta algumas aventuras que aprontou com papai, o que nos faz rir
muito. Laura se esforça para me deixar a vontade e me fazer sentir menos
estranha ali. E eu agradeço silenciosamente o seu esforço, porque aos poucos
vou me soltando.
Laura é uma senhora muito bonita ainda, elegantíssima e simpática. Apesar
dos cabelos grisalhos, não aparenta seus quase setenta anos. Tem belos e
expressivos olhos castanhos que transbordam simpatia e bondade. Em alguns
momentos eu a olho e tenho a nítida sensação de que já a vi antes, mas sei que
é uma ideia absurda.
Perto de meia noite, enfim vamos dormir, me troco, deito-me naquela
maravilhosa cama enorme e apago instantaneamente.

Oliver

No final da tarde coloquei algumas roupas na mochila me mudei para a casa


de Lian. A minha casa e a de Max têm praticamente a mesma configuração, já a
de Lian é um pouco diferente. No meu caso e do baterista, as mulheres de
nossas vidas opinaram ativamente na decoração dos nossos lares. Já a casa de
Lian tem uma pegada bem mais masculina.
Outra diferença é que, apesar de também ter o deck na frente com hidro e
tal, ele optou em ter a piscina, e outra hidro também, nos fundos. Num ambiente
menos exposto, pois diz que assim as nossas reuniões picantes não
escandalizam ninguém. Como ele é o único que mora sozinho, a maioria dos
esquemas são feitos em sua casa. Ou pelo menos iniciam lá.
É um tanto arbitrário e frio pensar nas “confraternizações” armadas com o
principal propósito da busca pela satisfação sexual momentânea. Contudo, foi
a forma que encontramos para que as coisas funcionem sem que ninguém saia
machucado ou se sinta enganado no processo, visto que até o momento nenhum
de nós desenvolveu interesse em embarcar num relacionamento mais profundo.
Somos homens adultos, no auge da forma, viris e extremamente assediados,
tanto por nossa aparência física, quanto pela fama e riqueza, mas que não
podem se dar ao luxo de marcar um encontro com uma mulher pelos trâmites
normais. Nunca temos a certeza sobre a real intenção de alguém que se
aproxima de nós.
Também não somos dados a envolvimentos armados com outras
celebridades, com o intuito da autopromoção. Então, para as mulheres que
conseguem acesso e querem passar um tempo conosco, independentemente de
serem conhecidas ou não, deixamos sempre muito claro o que podem esperar
de nós. Que é ser bem recebida, ter suas vontades respeitadas, e se a conversa
evoluir e surgir o mútuo interesse, sexo.
Elas embarcam se quiserem.
Inacreditavelmente, a maioria sempre quer.
Agora, depois de jantarmos, estamos os três na sala, tomando um whisky e
conversando.
– Não houve mesmo jeito de evitar que a sua avó trouxesse a menina para
cá? – questiona Max.
– Não, já contei para vocês, ela disse que se mudaria daqui
temporariamente caso eu não concordasse. E ela estava falando sério. Você
sabe que eu seria o primeiro a aceitar qualquer outra solução se houvesse.
– Este amigo deve ter sido alguém muito especial, para Laura cogitar sair
daqui – completa ele.
– Sim, não sei muitos detalhes, mas parece que eram bem próximos na
infância e juventude. Ela se compadeceu da situação da garota também, se viu
quando mais jovem.
– Então, quando a gatinha chega? – graceja Lian, displicentemente.
– Gatinha o cacete! Lian, não vá arrumar confusão, ela é uma menina. Uma
me-ni-na! Por favor. Juízo. Fique longe. – Já deixo logo bem claro o meu
ponto.
– Porra, nem conheceu a irmãzinha e já está aí, todo protetor. – Ele ri, me
provocando. Lanço um olhar torto para ele, mas a provocação continua. –
Cara, as mulheres derretem nesse seu olhar, eu sei, mas já te avisei que não me
seduz. Por que você insiste? Desapega, Oliver.
– O que Oliver está dizendo é sério. Não vá arrumar problemas onde não
precisamos. Ela tem a idade de Hazel, por favor! – reforça Max e fico feliz
que esteja do meu lado.
– Deus, vocês acham que eu sou o que? Claro que não vou me meter com
uma garota de dezessete anos, sem família no mundo, que está aqui dependendo
de nós. Não sou esse aproveitador que vocês pintam. Só gosto mesmo é de
provocar o zangado aqui – diz apertando a minha bochecha.
– Inferno, se já está difícil te aguentar por algumas horas, imagina por três
dias. Pelo menos saio daqui com todos os pecados pagos.
–Ah, até você pagar todos os seus pecados meu pau já nem levanta mais. –
Me diz, mostrando o dedo do meio.
– Cristo, parece que estou no meio do jardim de infância – reclama Max.
– Falando em jardim de infância, quando o fedelho vem morar aqui de vez?
O combinado não era que encerrando a turnê ele mudaria pra sua casa? –
indago.
– Sim, eu sei. Cobro, mas fica inventando desculpas para não sair da casa
dos pais.
– Os motivos dele não têm nada a ver com os pais e você sabe muito bem.
Ele não quer sair de lá por causa das facilidades de entrar e sair para Los
Angeles com os amigos, de levar os casinhos que arrumam para o seu quarto e
pelas amigas de Hazel que têm acesso ao condomínio. E são justamente por
esses motivos que ele precisa sair – lembra Max.
– Agora todo mundo conhece a cara dele, Lian. Para aparecer encrenca é
rápido. Você sabe que Kellan sempre teve uma vida privilegiada, não foi como
as nossas, que conhecemos o inferno antes de entrar no paraíso. Ele não vai ter
a mesma maturidade que tivemos para lidar com as merdas. Aqui podemos
ficar de olho – completo.
– Eu estou completamente de acordo com vocês. Inclusive pedi para Peter
redobrar a vigilância para cima dele e de Hazel. Vou dar o ultimato, podem
ficar tranquilos. Mas bonitão – diz, se virando para mim – você não respondeu,
quando a irmãzinha chega?
– Ela já chegou, satisfeito? Troquei umas mensagens com vovó há pouco e a
garota já está instalada, foi devidamente alimentada e deve inclusive estar
tendo lindos sonhos na cama do quarto de hóspedes nesse momento. Está de
bom tamanho o relatório para você?
– Quase. Nossa avó preferida não mandou uma foto da gatinha?
– Max, eu desisto, vou deitar. Essa criatura está insuportável. E os dois –
digo, apontando de um para o outro –nada de ficar dando mole pela praia por
esses dias. A garota não pode saber onde veio parar ainda. Não antes de
passar por Peter e Riley. Já avisei Kellan que se vier para cá, é direto para
casa. Talvez fosse bom sua mãe passar o dia lá em casa amanhã Max, assim é
mais uma opinião em relação a ela, pois dona Laura, pelas mensagens, já caiu
de amores.
– Claro, vou pedir a ela, pode deixar. Estou indo também irmãos, até
amanhã.
Vou para o quarto de hóspedes de Lian, tomo um banho e me largo na cama.
Pego o telefone e decido ligar para Peter.
– Peter, já conversou com Riley sobre a questão de Beatriz Thompson?
Prepararam os documentos? Quando vão falar com a menina?
– Boa noite Oliver. Segundo sua avó, era para esperarmos o parecer de
vocês sobre a situação. Não nos deu certeza se realmente a permanência dela e
a revelação de identidade iriam se concretizar.
– Você pode agilizar com Riley a parte da documentação e só deixar a
entrevista para depois do nosso parecer final. Quase certo que a garota fica.
Dona Laura gostou muito dela.
– Ok chefe, providenciaremos.
– Obrigado Peter.

O dia amanhece nublado. Faço a higiene matinal e sigo para a cozinha, onde
já escuto vozes.
– Kellan, aconteceu alguma tragédia que não estou sabendo? Você acordado
antes do meio-dia e já aqui é realmente um acontecimento.
– Bom dia para você também – diz, me lembrando da minha pouca
educação.
– Bom dia. E aí, trouxe a mudança? – pergunto enquanto me acomodo e
preparo uma xícara de café.
– Porra, vocês não dão folga mesm... Aí!
– Olha a boca pirralho – adverte Lian, dando um tapa na cabeça do
moleque. – Sou seu tio, tenho que te educar.
– Tio o cacete! PRIMO, só primo.
– É como se fosse, troquei suas fraldas, então acostume-se.
– Está vendo por que estou adiando a merda da mudança, Oliver? Você
aguenta? Eu não.
– Neste ponto sou obrigado a concordar com você.
– Aos dois engraçadinhos, que não vivem sem mim, vou barrar a entrada
nas minhas festas, aí quero ver se vão continuar me tratando assim. Tenho
coração sabiam? Eu magoo – exagera o infeliz, fazendo cara de cachorro
pidão.
– Vá a merda, toma logo o seu café e vamos lá para a academia queimar
toda essa mágoa.
– Está vendo sobrinho, ele reclama, mas nem correr na esteira corre sem
mim. Só não me peça para estar presente quando for mijar Oliver, porque olhar
para o seu pau torto me rende uma semana de pesadelos.
– Anda sonhando com o meu pau Lian?
– Os dois preferem que eu saia para discutirem a relação mais à vontade? –
fala Kellan olhando de um para o outro. – Aí! – Agora sou eu que lhe dou uma
bordoada antes de seguir para academia.
A caminho de lá, meu telefone vibra, indicando uma mensagem

Oi filho, já acordado?
Oi vó, bom dia! Sim, não
consegui dormir muito hoje.
Como estão as coisas aí?
Tudo ótimo meu bem. Helen está
aqui, almoçará conosco. Ela gostou
muito de Bia também. Sabe, eu
estava pensando. Não há
necessidade de você ficar tanto
tempo com Lian. Volte hoje ainda
Vocês não estão sendo muito
precipitadas? Trocaram o que?
Meia dúzia de palavras e são
melhores amigas? De qualquer
forma não sei se Peter e Riley
conseguem preparar os
documentos hoje e falar com
ela. É uma situação
completamente diferente de
qualquer outra que passamos.
Eles têm que analisar bem o
caso
Ok querido, faça como achar
melhor, mas se eles conseguirem,
tente resolver tudo. Não há motivos
para você ficar fora da sua casa.
Beatriz é tranquila e super madura
para a idade dela. O sofrimento faz
as pessoas olharem de forma
diferente para as coisas. Você sabe
Vou pensar. Aviso a senhora
sobre qualquer mudança nos
planos

Pego meu fone e ligo para Max.


– Oi Oliver, cedo cara!
– Vai dizer que acordei a bela adormecida?
– Claro, porra, não são nem onze horas. Você conhece o sentido da palavra
férias?
– Desculpa aí, como foi para casa cedo ontem, pensei que já estivesse
acordado.
– Ah, bom, acabei chamando uma garota para cá e você sabe...
– Sei, não preciso de detalhes. Pode ligar para a sua mãe e sentir o que ela
está achando da situação lá em casa? Minha vó está insistindo para eu voltar
hoje ainda, mas quero ter a sua leitura disso tudo antes de pedir para Peter
entrar em ação.
– Posso sim. Vou ligar para ela e te retorno.
– Obrigado irmão.
Começo a bateria de exercícios. Lá pelas tantas Lian se junta a mim e
Kellan se joga na piscina.
– Estou organizando algo maior para hoje à noite – diz Lian da esteira ao
meu lado.
– Maior quanto, cabeção?
– Umas vinte pessoas, talvez. A galera de sempre lá da produtora, algumas
garotas que já estiveram aqui outras vezes. Três gatas aqui de CA que conheci
nesta turnê serão as únicas novatas. Quer convidar alguém?
– Não, obrigado.
– Claro, nem sei porque pergunto. Quando você se concede a oportunidade
de conhecer alguém novo, Oliver? Seu telefone tem quantos contatos
cadastrados mesmo, uns cinco? Seis?
– E acho que já tem gente demais. Estou pensando seriamente em deletar o
seu.
– Rárá, sério cara, já está mais do que na hora de você se abrir um pouco.
Nem todo mundo é escroto ou vai querer se aproveitar. Lembro muito bem dos
conselhos de Henry, se isolar para evitar as emoções não significa que estão
dominadas.
– Há quatro anos tenho atingido o meu objetivo e Henry me deu alta,
lembra?
– Ele te deu alta porque você é teimoso e a terapia não teria como avançar
enquanto você não se permitir enfrentar os seus fantasmas.
– Estou muito bem assim, obrigado.
– Está mesmo? Pois eu acho que não. Você está a cada dia mais fechado,
ranzinza e implicante. Olhe a sua volta, você tem tudo, provou para o mundo
todo que aquelas palavras que te disseram não eram verdadeiras. Calou a boca
dela. Pode ter o que quiser em termos materiais. As mulheres se jogam em
você. Mas não te vejo feliz. Nem no estúdio, nem nas turnês e nem aqui.
Engulo em seco quando ele mexe nas minhas feridas, mas antes que eu
possa falar qualquer coisa o meu telefone toca, atendo e coloco no viva voz.
– Fala Max.
– Então, falei com minha mãe e o parecer dela é basicamente o mesmo da
sua avó. Acho que não há mais o que protelar em relação a isso. Fale de uma
vez para Riley e Peter cuidarem da parte deles e é isso, hoje mesmo você se
livra do Lian.
– Vá se foder Max – reclama o próprio e Max ri.
– Não posso Lian, meu pau tá assado, uso excessivo noite passada.
– Tchau, muita informação. – Desligo e ligo para Peter.
– Oi, Oliver.
– Peter, pode tomar as providências em relação a menina. Consegue
finalizar hoje ainda?
– Creio que sim, Riley já está preparando a parte jurídica conforme você
pediu. Acho que por volta das dezesseis horas conseguimos falar com ela e
assinar os termos.
– Ok. Obrigado. Me avise quando tudo estiver resolvido.
– Aviso sim.
Vó, hoje a tarde Peter e Riley
conversarão com Beatriz e assinarão
os termos
Ótimo. Até mais tarde então
Até

Termino minha bateria de exercícios e vou tomar uma ducha no vestiário.


Enrolo uma toalha na cintura, pego uma cerveja no bar e caminho em direção
ao deck. Escaneio o ambiente com o olhar para ver se é seguro ficar ali na
frente por alguns minutos; como não vejo ninguém na praia, ligo a hidro, tiro a
toalha e entro. Fico assim, apreciando a natureza, tentando não pensar em nada,
enquanto bebo e relaxo.
Mesmo tentando evitar a todo custo, as palavras de Lian retornam à minha
mente. E sim, eu não me sinto feliz. Acho que nunca me senti. Talvez antes dos
seis anos tenha tido algum momento de felicidade plena, mas depois, não mais.
Só que dentro de toda a minha história pregressa, manter-me tranquilo e sereno
é vital. Fato que Henry nunca entendeu. Se entendeu, nunca concordou.
Corro meus olhos pela praia. Este lugar sempre me acalmou. Posso não
sentir a tão falada felicidade, mas me sinto em paz aqui, equilibrado. Isto, e
estar cercado pelas pessoas que são importantes para mim, é o que me basta.
Quando viro os olhos em direção à minha casa, percebo algo que não estava
lá antes. Por um instante não consigo identificar bem o que é, pois uma
luminosidade incrivelmente anormal, dos poucos raios de sol que escapam das
nuvens, barram a minha visão daquele ponto. Mexo a cabeça, tentando
melhorar o ângulo e entender o que está refletindo toda aquela luz. E quando
entendo, eu perco o fôlego.
Há alguém lá.
À beira-mar.
Em um vestido azul claro.
Com os pés na água e o olhar perdido no horizonte.
Seu perfil, mesmo ao longe, transmite suavidade e delicadeza.
Os cabelos castanhos claros, lindos e cacheados descem até a cintura.
Cabelos que refletem os raios de sol em feixes multicoloridos, provocando um
efeito único, raro.
Algo que lembro de ter visto uma única vez, num show.
Uma energia estranha e excêntrica percorre meu corpo. Esta força
desconhecida tenta impulsionar-me a pular dali e correr até ela.
Não perdê-la de vista, não deixá-la escapar.
Tem um quê de entusiasmo e um leve sabor de... saudade.
Olho para a imagem deslumbrado, tentando processar o que tanto me
fascina. Nunca me senti assim e nunca vi nada tão bonito, puro e inocente. Algo
que eu quisesse tanto proteger e guardar só para mim.
Ela parece... um anjo.
Meu anjo.
Capítulo 4

“O vento sopra a noite sobre mim


E eu sinto tanto frio, mas eu sei
Melhor ficar assim, melhor não ter
alguém pra ir embora, pra esquecer”
(O que eu sempre quis – Heróis da Resistência)

Bia

M eu segundo dia na companhia da Sra. Evans começou


bem. Depois de uma ótima noite de sono, que eu
definitivamente estava precisando, um café da manhã
dos sonhos regado a uma boa conversa, nos sentamos novamente no deck e
ficamos apreciando o mar. O dia estava parcialmente nublado e o clima ameno.
Perto das dez da manhã, uma mulher loira, de meia idade, gentil e extrovertida,
se junta a nós. Ela veio caminhando pela praia e foi apresentada a mim como
sendo Helen Connor, moradora da primeira casa do complexo.
Assim como Laura, Helen foi muito simpática comigo. Procurou me deixar
confortável e tentou me conhecer verdadeiramente. Contou um pouco sobre ela,
sobre sua amizade com Laura, falou de como se conhecem há anos, mas que
não chegou a conhecer o meu pai, e que mora ali com o filho.
Pelo que entendi, o filho de Helen, o morador da casa do meio, e o neto de
Laura são sócios numa empresa e donos do condomínio. Ficamos ali algumas
horas, até que Gia nos avisou que o almoço foi servido e nos dirigimos à mesa.
Após o almoço e mais conversa, Helen decide voltar para sua casa. Laura se
recolhe para um cochilo e eu resolvo ir até a praia.
Desço o deck, tiro a rasteirinha que estava usando e sinto a textura da areia.
Continuo andando até que meus pés encontrarem a água do mar. Fico ali,
brincando com as pequenas ondas que chegam e olhando para aquela
imensidão azul.
Nossa, faz tanto tempo!
A última vez que estive numa praia ainda éramos uma família feliz. Lembro-
me de fazer castelos na areia com papai, de pular ondas com mamãe segurando
a minha mão e sorrindo para mim.
Ela tinha um sorriso tão lindo!
Sinto as lágrimas banharem meu rosto e não as impeço de correr livremente.
Pela primeira vez desde que soube que teria que deixar meu passado para trás,
sinto a insegurança me dominar.
O que estou fazendo aqui?
Quem são estas pessoas?
Só recebi carinho, cuidado e atenção desde que cheguei, mas tenho medo de
fazer algo errado, medo de não conseguir fazer parte dos laços de amizade que
eles claramente construíram aqui.
A saudade de casa, de papai, me pega com força e deixo meus pensamentos
vagarem, tentando imaginar o motivo de termos passado pelas provações que
passamos. Mamãe dizia que tudo na vida tem uma razão de ser. Que podemos
passar a vida inteira sem saber os porquês, mas que em algum momento, seja
nessa ou em outra existência, entenderemos.
Meus pais acreditavam que o que morre é apenas o nosso corpo, e que
nossa alma continua numa jornada de evolução e aprendizado, habitando então
outros planos e outros corpos, em novas vidas.
Se é assim ou não, não sei, mas esta ideia me conforta, pois caso contrário,
a vida seria apenas um véu de grandes injustiças. Sem os devidos porquês,
eles certamente não mereceriam o destino que tiveram, e nem eu.
Depois de um tempo ali relembrando de todas as sensações que o contato
com o mar nos traz e que eu não sentia há muito tempo, volto para casa. Entro
no meu quarto, tomo um banho e troco de roupa, já que as ondas acabaram
respingando bastante em meu vestido e a areia me encheu de grãos irritantes.
Coloco um short mais folgado e uma camiseta. Dou uma olhada em meu
telefone para ver se tem alguma mensagem de John a respeito da entrega do
imóvel. Nada ainda.
– Bia querida, você pode vir até aqui um instante? – Ouço Laura me chamar
lá de fora. Guardo o aparelho e vou ao encontro dela.
– Desculpe, acabei me molhando com a água do mar e fui tomar um banho,
precisa de mim? – No que olho para ela, percebo que está lívida, fitando
fixamente a minha camiseta. Baixo meu rosto em direção ao seu olhar
procurando o que há de errado, mas não encontro nada.
– Por que colocou esta camiseta, Beatriz? – Não entendo a pergunta, e nem
o tom desconfiado, por isso questiono.
– Me perdoe Laura, mas não sei se entendi.
– A camiseta. Por que especificamente esta? – Olho novamente para a
minha roupa para ver se tenho algum insight sobre o que pode tê-la assustado
nela.
– Talvez você não conheça, mas esta camiseta é de uma banda de rock. Esse
logo aqui é o símbolo da banda. Sei que o logo junto com a frase “The Order”
escrito abaixo pode dar a entender que se trata de alguma seita maluca, mas
não é o caso. É apenas uma banda mesmo. Se te assustou de alguma forma,
sinto muito, mas posso te mostrar no celular vídeos de shows para ver que
estou falando a verdade. A não ser que você ache bandas ofensivas, nesse caso
troco de roupa agora mesmo. – Ela parece sair do seu transe e ameniza o olhar.
– Não querida, não tenho nada contra o rock. Quem tem que pedir desculpas
sou eu, não sei o que me deu. Esqueça isso por enquanto, por favor, vamos nos
sentar no sofá e conversar mais alguns minutos, quero que me diga, você gosta
de música? – Nos acomodamos e respondo sua pergunta.
– Gosto muito. Papai também gostava e era um hobbie que
compartilhávamos. E esta é minha banda preferida, você conhece?
– Conheço sim, como você, gosto muito deles. Também são os meus
preferidos. – Fico um pouco espantada, pois Laura não tem jeito de quem curte
rock, ainda mais uma banda atual e com uma pegada mais hard como a The
Order.
– No meu aniversário de dezessete anos, papai me deu de presente
ingressos para o show deles. Foi uma das melhores noites da minha vida. – E
assim conto a ela a história da loucura com o gasto desnecessário com o show
que terminou no furto do pôster do cantor. Ela gargalha tanto que sai lágrimas
dos olhos.
– Nossa, juro que posso visualizar o seu pai protagonizando a travessura.
Era bem o estilo dele. Tenho tantas histórias boas para contar do nosso tempo
de colégio. Mas agora quero que você me fale mais sobre isso, quer dizer que
você tem uma paixonite pelo cantor, o tal do pôster? – Ela está
verdadeiramente interessada naquilo, interessada e um tanto preocupada, eu
diria.
– Se tenho! E quem não tem? Você já deu uma boa olhada nele? – Quando
ela sorri, seus olhos estão brilhando. – O homem é uma obra de arte. No show,
teve um lance que me faz suspirar até hoje quando eu lembro. A última música
ele cantou olhando para mim e no final, tive a impressão de que lançou um
sorriso na minha direção. Quase morri! – Digo soltando o ar, me jogando
contra o encosto do sofá, e me sentindo como uma menina da minha idade pela
primeira vez depois de muito tempo.
– É mesmo? – Analisa ela, com o sorriso dobrando de tamanho e com os
olhos ainda mais brilhantes
– Sim, difícil de acreditar, não é? Nem eu acredito.
– Você nem imagina o quanto... – Concorda, divertida. Parece rir de alguma
piada que não entendo muito bem.
– Pois é, também acho... E papai garantiu que não foi coisa da minha
imaginação. Só que – de repente, não sei porque, tenho vontade de me abrir
com ela. – A minha paixonite por ele vai além da aparência e do personagem
que ele representa em cima de um palco, sabe? Ele me ajudou numa crise
quando eu era criança e isso me marcou muito. Então, desde os oito anos eu
acompanho a carreira dele.
– Ele te ajudou? – Ela parece espantada demais com aquela informação, e
eu estranho sua reação. – Como assim?
– Numa das vezes que eu estava esperando na recepção meus pais voltarem
da sessão de quimio, encontrei com ele. O guitarrista estava internado lá, teve
alta e eles acabaram saindo pela oncologia. Eu meio que tive uma crise de
ansiedade na recepção, ele me ajudou e me acalmou.
Conforme vou contando, percebo que Laura vai arregalando os olhos e
abrindo a boca, como se não acreditasse naquilo que ouve.
– Enfim, depois que soubemos de quem se tratava, papai tentou de alguma
forma entrar em contato para agradecer, mas os caras são um verdadeiro
mistério, nunca conseguiu nada.
Laura fica quieta por um tempo, apenas me olhando fixamente e
processando aquela informação. Fico apreensiva, sem saber ao certo se a sua
reação é por achar que estou mentindo ou se é porque, sem querer, disse ou fiz
algo inapropriado.
– Você poderia me dizer o que seu pai contou exatamente a meu respeito? –
É uma pergunta estranha, considerando o que estamos falando agora, mas
respondo mesmo assim.
– Bom, ele disse que suas famílias foram vizinhas, que costumavam brincar
juntos, frequentavam a mesma escola, que... – Olho-a indecisa, não sei se devo
ou não continuar dali.
– Pode falar, meu bem.
– Que você precisou sair da casa dos seus pais com quatorze anos, passou
por várias provações, e que ele a ajudou como pode. Ah... e que você tinha
uma filha. Ele me falou o nome dela, mas não lembro... Disse que era uma
menina lindíssima e que quando ele se mudou para Chicago, ela tinha em torno
de dez anos de idade. – Seus olhos agora ganham um tom de dor.
– Mais alguma coisa?
– Não que eu me lembre. – Ela balança a cabeça, em descrença.
– Deus, seria muita coincidência... – murmura para o nada.
– Não existem coincidências... – Penso, em resposta.
– O que você disse? – Quando ela se volta para mim novamente, parece
desconfiada.
– Desculpe, acho que pensei em voz alta... Disse que não existem
coincidências... Era o que mamãe sempre dizia. Ela achava que tudo na vida
tem uma razão de ser. Que as coincidências nada mais são do que o universo
rearranjando as peças no tabuleiro para que o jogo siga o seu curso conforme o
planejado. – Laura pisca os olhos, como se quisesse clarear os seus
pensamentos depois das minhas palavras.
– Bom, se as coisas aconteceram mesmo da forma como você me conta,
acho que está mais do que na hora de você confiar nos instintos dela. – Fico
pasma, querendo saber o que ela quis dizer com aquilo, mas nisso o interfone
toca e ela se levanta para atender.
– Sim? Ah, oi Peter. Claro, ela está aqui sim. Podem usar o meu escritório
aqui mesmo. Obrigada, vou avisá-la. – Desliga e volta para perto de mim.
– Bia, aqui no condomínio temos uma regra que as pessoas que passam a
conviver conosco diretamente, precisam passar por uma conversa com a
equipe de segurança e assinar um termo, eles vão te explicar melhor. Peter e
Riley, que são os nossos chefes de segurança e jurídico respectivamente, estão
vindo para cá falar com você. Não quero que se preocupe, ou fique nervosa, é
apenas formalidade. Você não vai entender o meu pedido, nem posso te
explicar agora, mas sugiro que antes de falar com eles você troque a camiseta
que está usando. Prometo que em outro momento eu esclareço os meus
motivos.
– Tudo bem Laura, vou me trocar então.
Sigo para o quarto para trocar a camiseta me sentindo mal. Desde que
cheguei, esta foi a primeira vez que senti como se estivesse incomodando.
Não foi uma sensação boa.
Tenho que conversar logo com Laura sobre os meus planos e ver como farei
com a questão do emprego, já que não esperava estar numa área tão isolada.
Depois de fazer o que me pediu e voltar para o corredor, encontro-a a
minha espera, em frente à porta aberta de um escritório e indicando que eu
entre.
Passo pela porta e vejo duas pessoas, um homem de semblante sério, porte
militar, cabelos acinzentados, e uma mulher lindíssima, dessas que a gente vê
estampando a capa das revistas e namorando milionários, sentados lado-a-
lado.
– Bia, este é Peter Lewis, nosso gerente de segurança e esta é Riley
Hudson, nossa advogada chefe. Peter, Riley, esta é Beatriz Thompson, uma
amiga que passará um tempo morando conosco. – Aperto a mão de ambos e
Laura continua. – Eles vão conversar uns minutos com você. Por favor, fiquem
à vontade. – Ela sai e nos deixa a sós no escritório.
– Muito bem, acho que Laura já lhe colocou a par do tema da nossa
conversa, certo? – diz a advogada.
– Sim – respondo. Riley é uma mulher muito bonita e tem um olhar forte,
intimidador.
– Gostaríamos que nos contasse um pouco sobre você, Beatriz, pode fazer
isto?
– Claro. – Faço um resumo a eles sobre a minha vida e os motivos que me
trouxeram até ali e eles me ouvem e analisam atentamente.
– E você não tem mais ninguém no mundo? Nenhum tio, ou primo de
segundo grau...
– Nos Estados Unidos não. Talvez tenham algum parente de mamãe perdido
no Brasil, mas que nunca tivemos contato. Meu pai até tentou localizar uma tia
dela que talvez ainda viva por lá, mas não teve sucesso.
– Ok, creio que seja o suficiente. Peter agora vai lhe pôr a par das regras do
condomínio.
– Srta. Thompson, todas as pessoas que entram aqui são obrigadas a passar
por uma entrevista semelhante a esta, bem como a assinar um termo de
confidencialidade. E se o nosso parecer for negativo, o acesso será barrado.
Caso a Srta. queira convidar alguém para vir visitá-la precisa avisar com
antecedência a mim ou a Riley. Nossa equipe busca a pessoa em sua residência
ou aeroporto e a leva embora quando a visita terminar. Não é permitido o
acesso com veículos particulares. Da mesma forma, se a Srta. precisar sair,
também precisamos ser avisados. Quando possível, avisar um dia antes. Fora
isto, não é permito andar no caminho de acesso da portaria externa até a
portaria da praia. Esse caminho deve ser feito única e exclusivamente através
dos veículos do condomínio. Como moradora, foi permitido que entrasse com
o telefone celular. Isto foi um voto de confiança da Sra. Evans. Mas qualquer
outro visitante precisa deixar os equipamentos eletrônicos e smartphones na
portaria externa. Alguma dúvida até aqui?
Para que tudo isto?
É uma lista interminável de regras e proibições. Não fazem sentido algum
para mim, mas o que posso dizer?
– Não, está claro.
– Então vamos ao termo de confidencialidade. – Riley retoma a palavra. –
Nada do que você tomar conhecimento aqui dentro deve ser divulgado ou
exposto em mídias ou redes sociais. Esse termo tem total respaldo jurídico e a
multa é altíssima, podendo inclusive gerar detenção dependendo da gravidade
da exposição. Então saiba que qualquer nota que apareça sobre esse local é
profundamente investigada e fatalmente acharemos a fonte que deu origem à
notícia para tomarmos as devidas providências. Por isso, a não ser que confie
muito na pessoa, aconselhamos que evite contar inclusive ao seu círculo de
amizades. Tudo bem até aqui?
– Sim.
Eu afirmo, mas por dentro estou nervosa. Com medo de ter me metido em
algum local onde acontecem sacrifícios e rituais satânicos. Todo esse discurso,
aliado à forma como Laura reagiu a minha camiseta, ativaram todos os meus
sensores de alerta.
– Ótimo. Este é o termo que você precisa assinar – fala colocando um
documento à minha frente. – Por favor, leia e assine. Tome o tempo que
precisar.
Olho para aqueles papéis com medo do que vou encontrar ali. Penso na
minha situação e imagino quais seriam as minhas opções caso não concorde em
assinar o termo. Percebo que na verdade não tenho muita escolha, então apenas
pego a caneta e assino sem ler.
Melhor assim.
– Não vai ler? – pergunta Riley, incrédula.
– Não. Não entendi ainda o motivo de eu ter que assinar este termo e nem o
motivo de não poder contar o que vir aqui dentro, visto que até então não vi
nada fora do normal. Imagino também que este documento não responderá estas
perguntas, certo? – Olho-a com seriedade.
– Não, não vai.
– Sendo assim, da mesma forma como a Sra. Evans me deu um voto de
confiança permitindo que eu entrasse aqui burlando uma das regras, darei um
voto de confiança a ela assinando sem ler. Afinal, vocês garantiram que se eu
quiser sair basta avisar, não?
– Sim, isto aqui não é uma prisão. Todos são livres para ir e vir – completa
Peter.
– Então está feito. – Termino de assinar e estendo o termo em direção a
Riley.
– Certo – diz a mulher, olhando-me de forma diferente da que olhava antes.
Eu diria que ela parece intrigada, então pega o papel que lhe estendi e
continua. – Seja bem-vinda, Beatriz, precisando de nós basta chamar. Esses
são os nossos contatos. – Me entrega um cartão. – Coloque-os em seu telefone
para qualquer necessidade.
– Obrigada.
– Nós que agradecemos. Até mais – diz o Sr. Lewis, enquanto se levanta.
Então ambos deixam o escritório.
Saio logo depois e vou para o meu quarto. Deito na cama e fico pensando
na tarde estranha que eu tive. Espero que realmente sejam só medidas de
segurança, pois certamente os donos desse lugar têm muito dinheiro. E que a
origem dele não provenha de algo ilícito que se faça atrás desses portões.
Minutos depois ouço uma batida na porta.
– Sim?
– Bia, posso entrar? – pergunta Laura
– Claro, entre. – Ela se aproxima e senta-se na beirada da cama.
– Desculpe se assustamos você, sei que deve estar confusa, com uma série
de questionamentos e com razão. Mas te garanto que é tudo muito simples e
que daqui a pouco você entenderá. Tem um chá da tarde com guloseimas
servido ali na sala, meu neto está chegando e se juntará a nós, me acompanha?
– Acompanho sim. – Ela me guia até a mesa redonda, aonde alguns quitutes
e bolos estão a nossa espera. Sentamos e nos servimos. Começamos a
conversar sobre outros assuntos. Resolvo esquecer e relevar momentaneamente
todas as perguntas e receios que rondam a minha mente depois do tal termo de
confidencialidade e logo já estou me sentindo mais descontraída novamente.
– Nossa, este bolo de cenoura está divido. Quentinho e macio. E a cobertura
deliciosa. Hummm... – comento. Laura sorri.
– Fico feliz que tenha gostado. Pedi que fizessem muitas coisas gostosas
pensando em você. Quero que se sinta em casa aqui, de verdade.
– Confesso que tenho vivido altos e baixos desde que cheguei. Há
momentos em que me sinto totalmente a vontade, como agora, em outros um
tanto deslocada e inoportuna. Mas imagino que isto seja normal, afinal faz só
um dia e meio...
Nem bem termino a frase e pressinto uma presença estranha no ambiente.
Laura também tem a face voltada para algo além da nossa mesa. Imagino ser
algum dos empregados e levanto os olhos à procura do quem quer que seja.
Jamais estaria preparada para o que encontrei.
E a partir daí, tudo se transforma num borrão e numa sucessão de
catástrofes.
O sangue abandona meu corpo, tamanho é o meu susto.
Meu coração acelera.
Não. Dispara!
Ou talvez ele tenha parado. De vez!
O chá que eu bebia não está mais na minha xícara e sim esparramado por
toda a minha roupa, que gruda no meu corpo e queima a minha pele.
A xícara pula da minha mão e cai, jogada no chão, ao lado do pé da mesa.
Numa rápida tentativa de levantar e sumir dali, derrubo a cadeira em que
estava sentada e ela se choca contra o chão de madeira, causando estrondo.
Ao mesmo tempo, dou uma forte pancada com a minha perna esquerda no
tampo da mesa e a força do impacto faz as louças trepidarem, derrubam o bule
de leite sobre o móvel e os doces. O líquido escorre pelas bordas, caindo
sobre o tapete. Caríssimo.
Sinto que meu corpo começa a tremer.
Olho de Laura para a assombração, que continua parada ali.
Ela ganha vida e dá um passo em minha direção, o que me deixa mais
apavorada ainda, diz alguma coisa parecida com “acalme-se”, mas não tem
noção do que me pede.
Faço o movimento contrário e dou um passo para trás, em reflexo.
O fantasma tenta nova aproximação e, novamente, eu recuo, mas desta vez
tropeço na ponta do tapete e me estatelo de costas contra a parede de vidro ao
fundo. A pancada é forte, o som alto ressoa por todo o ambiente e faz o vidro
ondular.
Desnorteada pelos acontecimentos, eu grito e corro.
Corro em meio aos apelos da Sra. Evans para que eu espere e a deixe
explicar.
Sinto muito.
Tarde demais!
Atravesso a sala e o corredor como um raio e me escondo dentro do meu
quarto, num esforço para recuperar a sanidade.
Deus, estou alucinando.
Só pode ser!
Não há outra explicação.
Eu acabei de visualizar Oliver Rain parado no meio da sala de Laura.
Meu caso deve ser gravíssimo!
Sento-me na cama e respiro fundo algumas vezes, recuperando o fôlego,
tento parar de tremer, me acalmar e processar o que ocorreu. De onde? Como?
“Meu neto está chegando e vai se juntar a nós” Lembro das suas
palavras...
Não pode ser. Oliver... a Sra. Evans... Não! Não é possível que Oliver Rain
seja o neto de Laura. Céus! Seria muita... coincidência... mas não existem
coincidências...
“Está mais do que na hora de você confiar nos instintos deles” “Por que
você colocou essa camiseta Beatriz?” – A camiseta da The Order. Puta-
merda! Puta-merda!
“...precisa assinar um termo de confidencialidade”
“...não é permitido entrar com equipamentos eletrônicos e smartphones”
“...o condomínio é privado, pertence às três famílias que moram aqui,
somos amigos” – Deus, as três famílias: Oliver, Lian e Max... Helen Connor...
a outra moradora, só pode ser a mãe de Max!
Eu estou no condomínio particular da The Order! Morando na casa de
Oliver Rain!
– Peraí! – digo em voz alta. – Não! Não! Não! – Baixo a cabeça entre os
joelhos.
Não! Eu não fiz isso!
Por favor... Eu não admiti para a avó dele que eu tenho uma paixão
platônica pelo neto dela, não é?
“Quem não tem Laura? Você já deu uma boa olhada nele?”
Sim, eu fiz!
Eu fiz exatamente isso e com estas palavras!!!
Que VER-GO-NHA!
Não vou sair deste quarto.
Nunca mais saio daqui! Na verdade, vou dar um jeito de abrir um portal
interdimensional, entrar nele, e sumir.
E se não bastasse a confissão, ainda DESTRUÍ a sala deles.
Eu gritei! GRITEI!
Como uma fã histérica e descontrolada!
Sou patética!
– Pai, onde o senhor me meteu? Como vou lidar com isso? – pergunto na
esperança de que ele me responda.
Mas ele não pode me ajudar nessa, de onde quer que ele esteja agora.
Uma batida soa na porta. Não tenho coragem de falar, não tenho coragem de
me mexer, nem respiro. Fico quieta, esperando... quem sabe desista. Mas não
tenho tanta sorte.
Outra batida.
Então uma voz surge.
Aquela voz!
– Beatriz, podemos conversar? Posso entrar?
Ahhh, se ele soubesse dos lugares nos quais eu o fantasiei entrando...
PARA BIA!
Foco!
Não é hora de baixar a adolescente afetada.
O que eu respondo, senhor?
Sério mesmo que Oliver Rain está perguntando se pode entrar no meu
quarto?
Não, só posso estar dormindo.
É isso, claro, um sonho, não acordei ainda.
Me belisco!
Aiiii, merda!

Oliver

Depois de receber a mensagem de Riley avisando que estava tudo pronto


em relação à garota, resolvi aceitar a sugestão de vovó: aparecer para o chá da
tarde e me apresentar. Antes de atingir a área aberta, onde elas poderiam me
ver, paro no hall de entrada e as observo por alguns minutos.
Estão sentadas à mesa redonda que fica próxima a parede de vidro. Beatriz
fala, gesticula, se serve, totalmente à vontade, e vovó tem os olhos vidrados
nela, encantada. Elas sorriem uma para a outra, entretidas no que quer que
estejam compartilhando. Gosto de ver dona Laura feliz. De ver seus olhos
brilhando, esperançosos. Ela merece tanto.
E a menina... nossa, a menina parece mesmo irradiar luz.
Impossível desviar o olhar.
Não duvido que minha expressão neste momento reflita o mesmo fascínio
que vejo em minha avó.
Ela é meiga e linda!
Linda demais!
Uma beleza pura e angelical.
Os traços finos e delicados. A pele muito clara, contrastando com os lábios
naturalmente rosados, cheios e bem delineados, e com grandes e amendoados
olhos escuros que dali, da distância em que estou, parecem uma pintura pelo
contorno que os cílios conferem a eles.
Os definidos e aparentemente sedosos caracóis castanhos, meio cobres,
meio dourados, refletindo a claridade que entra pelo vidro, me remete de novo
a visão que tive dela lá na praia mais cedo.
Meu peito aperta.
A incômoda sensação de saudade dá as caras outra vez e eu fico novamente
sem entender o que aquilo significa.
Mas é fato, está lá.
Me aproximo devagar, até que entendo que a minha presença é percebida.
Sinto antes que ela levante os olhos. Então paro. E o que vem depois disso é
uma sucessão inigualável de pequenos desastres.
A garota perde o prumo. A cor lhe some. Seus olhos apavorados vagueiam
de um ponto a outro sem acreditar na realidade dos fatos.
Ela treme, derruba, quebra, tropeça nos próprios pés, só não cai porque é
amparada pelo vidro, grita e foge, antes que eu ou vovó possamos fazer
qualquer coisa efetiva para lhe acalmar.
Encaro minha avó, confuso.
– Essa é a garota “madura para a idade” que você me descreveu? – digo,
depois de perceber que a menina se fechou no quarto.
Dona Laura está lá, ainda parada ao lado da mesa. Em meio ao caos
provocado pela reação de Beatriz.
Ela está se esforçando... se esforçando muito para segurar o riso. Só que
falha e cai numa gargalhada fenomenal. Ela ri, e ri, e ri até não aguentar mais.
E eu acabo me rendendo ao riso também porque, nossa... foi engraçado...
Já vi gente reagir de todos os jeitos a minha presença, cometerem um
deslize aqui outro ali, tropeçar, gaguejar, perder a fala, mas esse pânico todo e
o show de horror que se seguiu, foi a primeira vez.
Esperamos cessar o nosso ataque e quando já não há mais o que rir, ela se
aproxima de mim, me abraça e deita a cabeça no meu ombro.
–Ahh Oliver! Se você soubesse... – diz, misteriosa, depois se afasta uns
centímetros, dá três tapinhas leves no meu peito e completa. – Vá lá falar com
ela, filho.
– Que? Tá maluca? Se eu aparecer naquele quarto ela vai ter um infarto
fulminante. Não quero isso na minha conta.
– Que nada. Vá lá, converse com a menina, se apresente, explique os
motivos para não contarmos antes. Acalme-a. Tenho certeza que você consegue
e de que não é a primeira vez que faz algo do tipo. – Dito isso, ela dá um beijo
na minha bochecha e sai.
Eu fico ali, com cara de pastel e sem entender bulhufas.
Quando eu acalmei alguém?
EU?
Não lembro.
Respiro fundo pensando no que fazer. Bom, acho que não há outro jeito
senão tentar conversar com ela. Vamos dividir o mesmo teto, nos esbarrar pela
casa, pela praia, melhor mesmo acabar logo com isso.
Ando até a porta do quarto de hóspedes que ela ocupa e bato uma vez.
Nenhuma resposta.
Tento novamente.
Zero.
– Beatriz, podemos conversar? Posso entrar?
Espero, espero, espero e quando estou quase dando as costas e saindo dali,
ouço um murmúrio fraquíssimo.
– Sim, pode. – Tão fraco que fico em dúvida se ouvi ou se fantasiei.
Giro a maçaneta e abro a porta.
Ela está sentada ao pé da cama. Continua vestindo a camiseta molhada. Os
olhos mirando os próprios pés.
Parece ainda mais menina e indefesa.
Entro e me sento na poltrona que fica em sua diagonal, perto da parede
contrária à porta. Ela continua não me olhando, mesmo assim, começo.
– Então, Beatriz Thompson, certo?
– Sim.
– Você está bem?
– Sim. – Nova resposta monossilábica.
– O chá quente caiu sobre você... não se queimou? Deveria trocar a...
– Está tudo bem.
Opa. Três palavras. Progresso!
– Ótimo. Como você já deve ter descoberto, eu sou Oliver Rain, neto de
Laura e vocalista da The Order. Você pode olhar para mim, por favor?
Ela hesita, mas lentamente levanta os olhos e me encara, suas bochechas
estão coradas e os grandes olhos negros, tão negros que quase não se vê onde
termina a íris e começa a pupila, estão parecendo... receosos e envergonhados.
– Desculpa se te assustei lá na sala, não era a minha intenção. Nós
prezamos muito por nossa privacidade, pelo menos o pouco que nos é
permitido, por isso não revelei minha identidade até te conhecermos melhor, e
por isso também que você passou pela entrevista com os nossos chefes de
segurança. Você já entendeu que as outras casas daqui são de Lian e Max,
certo?
– Sim, imaginei depois de... A dona Helen, eu conheci... Ela... ela é a mãe
de Max? – pergunta insegura.
– É sim. E você sabe também que só não desconfiou de onde estava porque
o nome e o rosto destas pessoas, Laura, Helen, nossa família, não são
conhecidos e nem associados a nós, certo? – Ela assente. – E é para que as
coisas continuem exatamente assim que optamos por viver nesse local afastado
e que temos todo esse esquema de segurança.
– E é por isso também que, sem saber, meu pai me enfiou nessa
enrascada. – Ela solta sem querer e só depois parece perceber que aquilo saiu
em voz alta, deixando suas bochechas ainda mais vermelhas.
Deus! Ela é adorável!
Afasto o pensamento e estreito meus olhos para ela.
– Pois é, mas enrascada ou não, você está aqui. E se você pretende ficar,
precisamos que entenda e coopere. Minha avó contou um pouco sobre seu pai e
a sua história para mim. – Ela arregala os olhos desesperada e não entendo
direito porque, mas prossigo. – Eu sinto muito que você, uma menina ainda,
tenha passado por tanta coisa e que tenha perdido sua família. – Ela parece
relaxar um pouco.
– Nós a ajudaremos no que pudermos, até mesmo porque seu pai foi alguém
importante na vida de minha avó. Mas não queremos arranjar problemas dos
quais não precisamos. Isso que estamos fazendo por você é a primeira vez que
ocorre. Nunca tivemos pessoas hospedadas aqui que não fossem as do nosso
círculo mais íntimo. Então espero que você saiba se colocar, saiba se
comportar e saiba, principalmente, respeitar as regras que Peter e Riley devem
ter lhe explicado muito bem.
Ela engole em seco e me lança um olhar sentido.
– Pode ficar tranquilo, Sr. Rain, não pretendo causar problemas e muito
menos me meter no que não me diz respeito. Também não pretendo ficar muito
tempo, sairei daqui o mais rápido possível. Não quero ser um peso e nem
invadir o espaço de vocês. Se eu soubesse, jamais teria aceitado a ajuda de
Laura. Amanhã mesmo vou conversar com a Sra. Evans sobre os planos que
tracei para retomar a minha vida e começar a colocá-los em prática. – Termina
e desvia os olhos dos meus.
Agora sou eu que sinto um nó estranho descer pela garganta.
Será que peguei pesado demais com ela?
– Não estou te expulsando, Beatriz. E pode me chamar de Oliver. Minha
avó gostou muito de você e fico contente que estejam se dando bem.
– Sei que não está me expulsando, mas o quanto antes eu tomar as rédeas do
meu futuro melhor. Não há porque protelar de qualquer forma. E mesmo não
morando aqui, pretendo cultivar a amizade com Laura, também gostei muito
dela – diz ainda sem me encarar.
– E quais os seus planos? Você pode me contar? – Só então ela volta a
cruzar o olhar com o meu.
– Bom, meu plano inicial, quando achava que a Sra. Evans morava em Long
Beach, era arranjar um emprego em algum bar, ou restaurante, ou loja. O que
achei que não seria difícil, visto que é uma cidade bem movimentada e com
alto fluxo turístico, pelo que pesquisei. Mas como estamos isolados, terei que
rever um pouco as coisas. Talvez eu tenha mesmo que usar a minha reserva
emergencial para alugar algo na cidade e só então procurar um trabalho.
– Você não pretende terminar os estudos? Imagino que ainda esteja
terminando o ensino médio, não?
– Não, eu consegui adiantar as provas deste ano. Estudei os conteúdos por
conta própria, prestei os exames e fui aprovada.
– Que ótimo! – Me impressiona que, por tudo que passou, tenha tido força
de vontade suficiente para isso. – E a faculdade?
– Não tenho tanta pretensão, não posso me dar ao luxo, pelo menos não
agora. Meu objetivo é garantir o meu sustento primeiro.
– Você pode sim, pode tentar entrar em qualquer uma das grandes
universidades da Califórnia e fazer a maioria das aulas on-line daqui mesmo e
para as que tiverem que ser presenciais posso providenciar o translado e
hospedagem para você. – Só depois de falar me dou conta do que acabei de
fazer, estou mesmo sugerindo que ela fique aqui por sei lá? Três, quatro anos?
Ela me olha abismada.
– Não posso não. Obrigada por oferecer, mas jamais aceitaria uma coisa
dessas. Meu prazo pessoal para viver com a Sra. Evans é de no máximo seis
meses. Mas como falei, vou embora o quanto antes. – Novamente suas palavras
me trazem aquela sensação estranha, que eu tento ignorar.
– Não tem que sair correndo daqui. Quanto ao emprego, verei se há algo na
produtora que podemos encaixá-la, caso resolva mesmo não se dedicar apenas
aos estudos.
– Na... na Three Minds?
– Sim, na Three Minds. O prédio pelo qual você passou quando entrou no
condomínio é onde fica a nossa produtora e estúdio de gravação.
– Nossa, isso... isso seria ótimo. Dessa forma posso achar um local para
morar fora do condomínio, mas aqui mesmo na região. – E de novo ela faz
menção de ir embora e de novo eu não gosto do sentimento que isso me traz.
– Isso veremos. Bom, acho que já esclarecemos todos os pontos. Dentro do
que é possível, sinta-se à vontade.
Finalizando o que havia para ser feito ali, me levanto e dou alguns passos
em direção a saída. No mesmo instante Beatriz também se levanta, o que faz
com que quase nos esbarremos.
Para evitar a colisão, ela escora uma mão no meu peito.
E é o que basta para que todos os meus sentidos tomem ciência dela.
Sinto o calor da sua mão atravessar o tecido da minha camiseta, fazendo
minha pele queimar onde encosta.
Um aroma delicioso de baunilha e amêndoas me envolve e inspiro fundo,
tentando absorver o máximo possível daquele perfume.
Olho para baixo, para a pequena menina cujo topo da cabeça mal chega ao
meu queixo, analisando todos os detalhes do seu belo rosto.
Os lindos e profundos olhos negros emoldurados por cílios longos e
espessos, que me encaram de volta. Olhos que me imploram cuidado, proteção
e algo mais que não me permito nomear.
As minúsculas sardas abaixo dos olhos e acima do nariz pequeno e
delicado, que só são visíveis assim, olhando muito de perto.
A pele clara que parece feita da mais pura seda.
As bochechas coradas.
A boca rosada e perfeita, um delicioso convite ao pecado.
O queixo bem desenhado.
Sua respiração acelerada.
E a saudade estranha que queima o meu peito.
– Desculpe-me – diz encabulada, afastando-se e me tirando do meu transe.
– Sem problemas. Até mais.
– Até mais, Oliver.
Saio do quarto dela e sigo direto para o meu, ainda sentindo o seu perfume
e o ardor no local em que sua mão tocou. Me esforço para afastar os
pensamentos e aquele sentimento estranho.
Resolvo colocar uma bermuda e sair para correr. Desço até a praia pelo
deck da minha suíte e inicio meu percurso. São por volta de dezenove horas e
o sol começa a baixar. Apesar do dia meio nublado, o pôr-do-sol ainda exibe
alguns tons de rosa e laranja, colorindo o horizonte.
Adoro esse lugar, adoro a sensação de calma que estar próximo ao mar me
traz, e adoro a vida que criamos para nós aqui.
Corro por cerca de uma hora e antes de voltar à casa, decido dar um
mergulho. O mar está convidativo e a água uma delícia. Fico ali uns minutos
apenas relaxando.
Saio da praia, jogo uma água no corpo ali no vestiário externo e retorno
para a minha suíte por seu deck privativo. Tomo uma ducha caprichada.
Coloco um moletom e uma regata e vou à procura de dona Laura pela casa.
Encontro vovó na chaise lendo um livro.
– Oi vó, onde foi quando saiu daqui à tarde? – pergunto, pegando uma maçã
da fruteira da cozinha.
– Fui até a casa de Helen. E então, conversou com a Bia? – Caminho até ela
e me sento no sofá a sua frente.
– Conversei sim e por incrível que pareça ela não quebrou mais nada e
continua viva. Pelo menos estava quando a deixei. Por falar nisso, cadê a
garota?
– Achei que estava com você. Quando voltei de Helen, não havia ninguém
em casa.
– Não, sai do quarto dela, troquei de roupa e fui correr.
– Nossa, será que ela ficou trancada no quarto esse tempo todo?
– Melhor a senhora ir lá descobrir – digo, erguendo as sobrancelhas.
– Sim, melhor mesmo. Gia logo servirá o jantar, querido. – Se afasta pelo
corredor.
No tempo que fico ali largado no sofá terminando de devorar a fruta, meu
celular acusa uma mensagem. Pego-o do bolso do moletom e vejo que é
Kellan.
Você vem pra festa?
Já trouxe as malas?
Inferno. Ainda não, Oliver
Então nada de festinha pra você hoje,
fedelho
Vá se ferrar
Tô falando sério. Quer continuar com a
vida de antes? Pois continue com ela em
todos os sentidos. E esteja ciente que, se
não cumprir o combinado logo, essa foi a
sua primeira e única turnê como membro
da The Order. Paciência tem limite
Não precisa exagerar,
amanhã trago minhas
tralhas pra casa de Lian,
prometo
Mais tarde chego aí

– Oliver, Bia e eu vamos jantar. Está servido, se quiser nos acompanhar.


– Quero sim, estou morto de fome – digo, já me levantando para ir até a
mesa de jantar.
Beatriz já está sentada, vovó senta-se à sua frente e eu me sento ao seu lado.
Começamos a nos servir e, como esperado, a menina mantém os olhos na mesa
e no prato.
Nada da espontaneidade que vi mais cedo no chá da tarde, antes de me
revelar para ela.
– Hummm Gia caprichou hoje, hein? Adoro o risoto de camarão que ela faz.
– Pois é, depois que ela descobriu isso, temos comido mais risoto de
camarão do que qualquer outra coisa nesta casa – diz vovó, torcendo o nariz e
me provocando.
– Deixa de ser ciumenta. Aliás, qualquer dia você bem que poderia fazer
aquele seu strogonoff, não é mesmo? Nossa, faz tanto tempo que não como. –
Beijo sua testa e ela ri.
– Faço sim querido, claro. Mas pode continuar elogiando a Gia, não me
importo.
– Posso servir o vinho? – pergunto, já me posicionando para pegar o vinho
branco do recipiente que o mantém gelado.
– Por favor. Bia, você quer vinho? – Vovó pergunta e eu a olho sem
entender.
– Acho que Beatriz não tem idade para beber. – Me atrevo antes que a
garota possa se manifestar.
– Tecnicamente ela tem sim, foi emancipada. Não digo que deva se
embebedar, mas não vejo problemas em tomar uma taça de vinho branco.
– Tudo bem Laura, não preciso beber vinho. Vou beber a limonada,
obrigada. – Ela olha apenas para vovó enquanto fala. Como seu eu não
estivesse ali.
– Você quem sabe, querida.
Pego a jarra com a limonada e sirvo-a.
– Oliver, Beatriz e eu combinamos de assistir um filme após o jantar. Quer
participar da sessão de cinema? Afinal, a última vez que fizemos isso foi antes
da turnê, há mais de oito meses.
– Hoje não posso, vou para a casa do Lian daqui a pouco.
– Vão se reunir lá?
– Sim, ele vai dar uma festa, convidou bastante gente pelo que parece.
– Por que você não leva Bia e a apresenta aos meninos? – Beatriz olha para
minha avó com os olhos arregalados e eu quero esganar dona Laura.
Ela sabe muito bem que nossas festas não são inocentes.
De onde tirou isso?
– As festas no Lian não são ambiente apropriado para uma menina de
dezessete anos, vó.
– Ué, mas Kellan não estará lá? E Hazel? Eles são praticamente da idade de
Beatriz. – Sério vó? Encaro-a com desagrado. Está se fazendo de desentendida
ou o quê?
– Kellan estará lá porque não temos mais como nos livrar do pirralho.
Hazel não passará nem perto, pode ter certeza. Max enfartaria se isso
acontecesse.
– Kellan também mora aqui? – pergunta Beatriz, finalmente se manifestando
por vontade própria e levantando o rosto em minha direção.
Algo me incomoda naquela pergunta.
Não gosto do brilho que vejo no olhar dela.
Não gosto de ouvir o som do nome dele saindo da boca dela.
Será que o fedelho é o seu crush?
Será que ela sonha com ele?
Que merda de pensamentos foram estes?
Deus, não viaja, Oliver! E daí se sonhar?
O que você tem a ver com isso, caramba? Digo a mim mesmo, voltando a
realidade. A garota não deve nem gostar do tipo de música que você faz.
– Sim, ele mora com Lian. – Respondo mais rispidamente do que gostaria.
– Kellan é primo de Lian, Bia. Ele tem uma irmã alguns meses mais nova do
que você. Hazel é uma menina adorável, você vai gostar de conhecê-la. –
Complementa vovó.
– Sério que Kellan e Lian são primos? Nossa, eles são tão diferentes. – E
ali está, de novo, o interesse no fedelho e o meu descabido incômodo.
– Kellan é muito parecido com Alicia, sua mãe. Já Lian é mais parecido
com o tio, Johnathan, que era irmão de seu falecido pai. – Vovó esclarece.
– Eu o acho tão talentoso. Os arranjos, apesar de serem os mesmos,
ganharam uma outra pegada depois que ele entrou para a banda.
Porra!
Largo o garfo no prato de um jeito brusco, fazendo um barulho alto. Beatriz
pula na cadeira e vovó me olha assustada.
Então ela não só conhece nosso som, como pelo visto gosta a ponto de
perceber as nuances após o estilo mais arrojado do baixo de Kellan ser
incorporado às músicas.
Realmente ela presta muita atenção nele.
O primeiro elogio que ela teceu sobre o nosso trabalho foi direcionado a
ele.
Passo a mão pelos cabelos e digo olhando para ela.
– Você tem uma percepção auditiva muito boa, Beatriz. Não é todo mundo
que capta a diferença.
– Nossa, para mim a diferença foi gritante.
E para mim já chega!
Me levanto.
– Sim, ele tem um estilo muito peculiar que casou muito bem com as
músicas. Fico feliz que tenha gostado. Vó, vou me trocar e estou indo.
– Mas não vai terminar seu jantar?
– Não, já estou satisfeito.
– Antes de você ir Oliver, escute. Estou pensando em reunir todos aqui no
jantar de amanhã para apresentar a Bia. Já falei com Hellen e vou mandar
mensagem para Alicia depois. Você pode avisar os garotos, por favor?
– Claro, aviso sim. Bom filme para vocês.
Pelo visto amanhã a menina vai realizar um de seus sonhos, penso.
E, quando passo por trás da cadeira dela, em direção ao corredor, sou
atingido novamente pela fragrância doce e inconfundível de amêndoas e
baunilha.
Capítulo 5

“Eu tenho febre, eu sei


É um fogo leve que eu peguei
Do mar ou de amar? Não sei
Mas deve ser da idade”
(Charme do Mundo – Leo Jaime)

Bia

Q ue dia! Foram tantos altos e baixos. Depois que Oliver saiu


do meu quarto, no final da tarde, entrei em um estado de
completa letargia, não sabia ao certo o que pensar, o que
sentir, eu estava... como poderia dizer?
Em choque!
Sim, acho que esta é a palavra. Me deixei cair na cama e busquei encontrar
alguma ordem em meus pensamentos, mas ela não veio.
É surreal demais!
Deve ter alguma pegadinha nisto tudo, algo que eu não vi ou não entendi.
Porém, por mais que me esforçasse para achar o ponto de ignição, não
encontrei nenhum. Parece que não foi um sonho, nem uma alucinação, nem uma
projeção dos meus desejos mais profundos, muito menos o meu ingresso no
multiverso.
Não.
O lindo, misterioso e cobiçado Oliver Rain, meu ídolo e o homem dos meus
sonhos, entrou no meu quarto, sentou-se na poltrona à minha frente e
conversou comigo.
E ele não gostou.
Oliver definitivamente não está confortável em me ter em sua casa. Depois
tentou amenizar, mostrando algum interesse nos meus planos, procurou ser
educado, mas o recado, aquela fala que veio antes, foi muito clara.
E por fim, pelo fato de eu praticamente não ter cometido gafes hoje, veio a
tragédia final.
O quase esbarrão.
Aquele toque me deixou sem chão.
Assim que, por reflexo, me escorei em seu peito e senti a dureza e o calor
do seu corpo na palma da minha mão, pequenos choques me atingiram por todo
o corpo. Me deixando com as pernas bambas e me obrigando a fazer um
esforço danado para não desmontar ali, na frente dele.
Como se não bastasse, fiz a besteira de olhar para o seu rosto e focar em
seus incomuns olhos âmbar, os olhos que tanto amo.
Encontrei-os fixos em mim, avaliando cada traço meu. E, assim como
aconteceu anos atrás, quando eu tinha oito anos, a sensação de segurança, de
proteção e reconhecimento me acalmou.
O efeito daquele olhar, misturado com a sua presença imponente e o seu
cheiro amadeirado, refrescante, com um toque de menta, tipicamente
masculino, me instigavam a ser ousada e abraçá-lo, ficar na ponta dos pés,
levantar o rosto e afundá-lo na curva do seu pescoço.
Para, quem sabe, morar nele para sempre.
Então ele baixou os olhos para a minha boca, e Deus, juro que meu coração
descompassou.
A respiração acelerou e eu me obriguei a tirar a mão e desfazer o contato
visual, já era demais para mim.
Imaginar que Oliver pudesse ter qualquer interesse em mim, que não apenas
o de saber o tempo de minha permanência em seu habitat, era fantasiar além do
aceitável.
É óbvio que, por tudo que ele representa em minha vida, seria muito fácil
me deixar levar por coisas do tipo, em que um olhar despretensioso dele no
meu rosto, me fizesse enxergar coisas que não existem.
Em meio a tudo que se sucedeu, à surpresa e a vergonha, perdi a noção de
como agir dali em diante. Resolvi manter a ideia de nunca mais sair daquele
quarto, me acomodando entre os travesseiros e almofadas. Acabei dormindo
por cerca de duas horas, até que Laura bateu à porta e me chamou para jantar.
E o jantar?
Bom, o jantar foi mais uma prova do seu desagrado com a minha invasão.
Ele nitidamente estava irritado, irritado comigo.
Laura me garantiu que foi impressão minha, entretanto, não foi o suficiente
para amenizar a sensação de inconveniência que se instalou em mim.
Depois que ele se foi, tentei puxar o assunto da minha saída dali com Laura,
mas ela não deu abertura, disse que o dia já tinha sido muito estressante, que
iríamos apenas aproveitar a noite de quinta, o resto da semana. Na semana que
vem poderíamos voltar a essa questão. Também não deixou me desculpar pela
cena vergonhosa do chá da tarde e sobre as coisas que falei sobre seu neto. Me
garantiu que não havia nada a pedir desculpas, que adorou saber das minhas
histórias e que o susto que levei foi culpa dela, que deveria ter me preparado
antes.
Como dormi um bocado, ainda não estava com sono depois da nossa sessão
de cinema. Então Laura foi deitar e eu fiquei no deck, perdida em pensamentos
e curtindo o clima da noite.
Olhando à minha direita a praia se estende por cerca de um quilômetro,
terminando num paredão natural.
À esquerda, após as duas outras casas, a praia segue por mais ou menos a
mesma distância, até uma formação de pedras que atravessa a areia e adentra
ao mar e onde há, ou pelo menos imagino ser, uma espécie de marina e um
trapiche.
Decido caminhar à beira-mar. A brisa está refrescante e o céu estrelado.
Como para o lado do costão a iluminação é pouca, sigo em direção à marina.
Conforme me aproximo da casa de Lian, que está toda iluminada, é possível
ouvir música e vozes.
Passo por ela, depois pela casa de Max, onde apenas as luzes externas, que
são ativadas por sensores de luminosidade quando me aproximo, estão
acessas. E o sensor é potente, pois há uma boa extensão de areia nos
separando.
Caminho ainda mais um tanto, contudo, não me arrisco a ir até o paredão de
pedras, pois mesmo tendo iluminação na marina, há um bom trecho em que o
breu só vai se intensificando quanto mais me distancio das casas.
Inicio então o meu retorno, apreciando a linda paisagem daquele paraíso
particular, respirando o ar puro de uma vida próxima da natureza e fora dos
grandes centros, e fazendo um apelo mental para que meus pais, de onde
estiverem, me auxiliem a encontrar o meu espaço no mundo o quanto antes.
No meio do caminho, já mais próximo à casa de Lian, consigo ver alguém
na hidro do deck. Alguém que não estava lá quando passei.
É uma mulher, cabelos longos, e está de costas para mim.
Não quero que alguém me veja ali na praia e chegue a errônea conclusão de
que eu tentava participar da festa para a qual não fui convidada. Então aperto o
passo e tento passar o mais rápido possível, sem ser notada.
Só que quanto mais me aproximo, mais visível se torna a cena.
A luminosidade que há sobre o ambiente permite ver que a mulher tem os
cabelos ruivos e faz movimentos de descida e subida na água.
Movimentos ritmados.
Em dado momento, joga a cabeça para trás como se estivesse em êxtase,
revelando que há mais alguém a sua frente.
É um homem. E ele está... está sugando um de seus seios? Estou vendo
direito?
Eu paro. E arregado os olhos. Puta-merda.
Não pode ser, pode?
Eles estão mesmo fazendo sexo... ali? Dentro da hidro? De frente para a
praia?
Não consigo desgrudar os olhos. E quanto mais olho, mais quero ver. Meu
corpo todo está ficando meio... quente.
Sei que eu deveria sair dali o mais rápido possível e não ficar espiando,
mas minha curiosidade adolescente me impede e me permito assistir mais um
pouco. Nunca presenciei nada do tipo, ainda mais algo tão explícito e erótico.
O homem passa a sugar o outro seio e leva a mão ao que antes estava com a
boca. A mulher agarra os cabelos dele e empurra sua cabeça para baixo, como
que para garantir que ele não pare de fazer o que está fazendo, enquanto o
cavalga.
O calor aumenta, passo a mão pelo pescoço. Encabulada de levá-la até
aonde realmente preciso dela.
Hora de ir embora Bia.
Vamos lá! Mexa-se!
Meus pés não obedecem. Uma dor desponta em mim, lá embaixo, uma dor
agoniante, e a umidade invade a minha calcinha.
A mulher se arqueia ainda mais para trás, enquanto ele a sustenta com o
braço em torno da sua cintura, com a boca ainda em seus seios. Ele puxa o
tronco dela com força contra sua virilha, várias vezes.
A dor desconhecida, ou melhor, conhecida, mas não muito explorada,
aumenta. Aperto as pernas e contraio meu sexo, tentando achar algum alívio.
Não basta.
Ela volta a ficar ereta, ele leva as mãos as nádegas dela, agarra e começa a
ajudá-la nos movimentos de sobe e desce, que ficam ainda mais rápidos. A
água, agora, parece saltar ao redor deles.
A agonia aumenta, eu crio coragem e levo uma mão, discretamente, ao meio
das pernas e pressiono por cima do short.
Mesmo sabendo que ninguém me vê, é estranho demais para mim sentir todo
esse... esse calor ali, no meio da praia, enquanto sorrateiramente espio o casal
de amantes. Só me permiti momentos assim na proteção do meu quarto,
enquanto fantasiava com ele.
Mas minha calcinha está encharcada e ainda não consigo desgrudar da cena
e seguir o meu trajeto. Ela agora enlaça o pescoço dele e ele apoia a testa no
ombro dela. Os movimentos se tornam frenéticos, descontrolados.
Aumento ainda mais a pressão em minha vagina, mas nada parece suficiente
para me livrar do incômodo. Eles chegam num ápice e então desaceleram até
quase parar.
Ela abaixa a cabeça para morder o ombro dele.
E é aí que o meu mundo desaba.
Lá está.
Aquele rosto que olhei tão de perto há algumas horas.
Inconfundível.
Acabei de presenciar Oliver Rain fazendo sexo com uma ruiva ao ar livre.
Aumento o passo e corro dali antes que ele me note. Um gosto amargo
invade minha boca e todo o tesão que ainda sentia de repente se transforma em
raiva.
Quero arrancar aquela cena da minha cabeça, ir lá e puxar os cabelos
daquela ruiva para que saia do colo dele. Esquecer a expressão de puro prazer
que vi no rosto dela, quando jogou a cabeça para trás, enquanto ele lambia e
apertava seus seios.
Apagar a imagem dos braços dele a puxando contra o seu corpo e das mãos
dele nos quadris dela.
Quero voltar no tempo para nunca ter visto aquilo.
Mas não posso.
Entro em casa feito um raio e vou direto para o chuveiro. Preciso de um
banho para lavar a sensação estranha. Enfio a cabeça debaixo d’água e tento
pensar em outras coisas:
O mar, a brisa, as estrelas no céu, meu pai, Oliver... não, Oliver não!
Desgraça!
Me seco, seco os cabelos, ponho uma calcinha, a camiseta do pijama e me
jogo na cama.
Não vou pensar em nada.
Eu consigo!
Vou só ficar aqui, quietinha e esperar o sono vir.
Ele vai vir, quer ver?
Um, dois, três, quatro... cento e um, cento e dois... Oliver, Oliver lambendo
seios, Oliver agarrando bundas, Oliver comendo ruivas...
Arrgggg!
O que você esperava, Beatriz? Que ele não namorasse?
Que não houvesse mulheres em sua vida?
Que ele não fizesse sexo? Ele? Um dos caras mais cobiçados do mundo?
Que as festinhas deles fossem inocentes?
Não, por mais incrível que pareça, a sua cabecinha deturpada esperava
mesmo é que ele fizesse aquilo com você.
Só com você.
Se enxerga garota!
Ele quer você longe daqui. Bem Longe!
Te vê como uma criança. Criança. “Acho que Beatriz não tem idade para
beber vinho, vovó”, “As festinhas de Lian não são ambiente para uma
menina de dezessete anos”.
Ele é um homem experiente que já viveu de tudo.
E você, o que viveu? O que conhece?
Nem beijar na boca você beijou!
Como acha que conseguiria ser o suficiente? Dar conta de um cara como
ele?
Nem nos seus sonhos.
Respiro fundo.
Estou aqui há apenas dois dias, mas já senti tantas emoções conflitantes que
tenho a sensação de que foram semanas.
E se eu achei que esse dia não poderia piorar quando resolvi andar pela
praia, ledo engano.
Tudo sempre pode piorar.
Ainda mais no meu caso.
Sempre piora!
Oliver

Acordo com o sol já alto lá fora e mesmo assim ainda estou com sono.
Levanto minha cabeça e escaneio o ambiente. À minha direita, cabelos ruivos
descem até um traseiro nu e empinado. Do outro lado, boceta depilada, grandes
seios siliconados, lábios de Botox e cabelos loiros que se espalham pelo
travesseiro.
Estou num dos quartos da casa de Lian. Não lembro direito como parei ali
com as duas mulheres. Saí de casa irritado, cheguei na festa, onde já havia
muitas pessoas e grudei na garrafa de whisky. Bebi muito.
A mulherada não deu folga, então fodi muito também.
As últimas coisas de que me lembro foram de comer a ruiva na hidro e
depois pegar uma mulata deliciosa contra uma das paredes externas. E pelo
visto continuei com o banquete no quarto, fazendo um repeteco com a ruiva e
acrescentando a loira ao cardápio.
Olho para baixo e vejo que estou nu, com a camisinha ainda pendurada no
pau. Me arrasto até o pé da cama e desço à procura da minha roupa e do meu
telefone. Mais duas camisinhas estão largadas no chão.
Bom, pelo menos parece que não vacilei.
Olho o telefone e vejo que já são três e quinze da tarde. Passo uma
mensagem para Peter providenciar a retirada das garotas dali.
Nossa, nem sei quando foi a última vez que fiquei tão bêbado. Normalmente
não me arrisco assim.
Cato tudo, camisinhas, roupas e vou para o banheiro. Jogo as camisinhas no
vaso, tomo banho, me visto e saio do quarto.
Encontro Lian e Kellan sentados no deck, com uma cerveja na mão. Me jogo
no sofá ao lado deles e fecho os olhos, pois o sol potencializa a dor de cabeça
ocasionada pela ressaca.
– E aí bonitão, noite agitada, hein? O que aconteceu para chutar o balde
desse jeito, Oliver? Dormir com as garotas foi... uau! Pelo menos depois das
loucuras que fizemos lá no início da fama, não lembro de você ter passado a
noite inteira com uma mulher.
– Sei lá, cara. Exagerei na bebida e foi isso.
– Não fez besteira, não é?
– Pela quantidade de camisinhas que encontrei pelo quarto, acho que não.
– E bebeu tanto por quê?
– E precisa de motivo Lian? Comecei a beber, passei da conta, simples
assim.
– Olha, acho ótimo quando você relaxa um pouco, sai desse seu mundo em
que cada passo deve ser medido e controlado. Acontece que você estava
estranho. Mais estranho que o normal.
– Vai se foder. Tô com uma baita dor de cabeça. Me esquece.
– Chegou quem faltava – diz Kellan, se referindo a Max, que se aproxima
pela praia.
– E aí? Que cara é essa? – pergunta dando um tapa no meu ombro e se
sentando ao meu lado.
– Ressaca – diz Kellan, me poupando o trabalho.
– Você entortou ontem velho, nem te reconheci. O que houve?
– Aff, nem minha vó pega tanto no pé, sabiam?
– É bom que você veja como é, Oliver. Eu tenho que aguentar isso de vocês
três!
– Você nem saiu das fraldas fedelho, sua opinião aqui não conta – rebate
Lian.
– Mas falando na sua avó, mamãe falou que haverá um jantar com todos lá
hoje, certo? – Max questiona.
Puxo o ar num suspiro longo.
– É o que parece.
– Sério? Estamos comemorando alguma coisa que esqueci? – pergunta Lian.
– Apresentação da menina – explica Max.
– Opa, finalmente vamos conhecer sua irmãzinha? Não vejo a hora...
– Irmãzinha o cacete. Mas sim, vocês vão conhecê-la hoje, pelos planos de
dona Laura.
A verdade é que eu não estava muito a fim de analisar os motivos que me
fizeram sair tanto dos trilhos ontem. Por que me afetou tanto aquela conversa
no jantar?
Claro que não quero ter nenhum envolvimento com a garota.
Céus, não, ela tem praticamente a idade de Hazel.
O correto é que ela se interesse por garotos da idade de Kellan.
Será que estou tomando mesmo as dores de irmão mais velho?
Não.
O que eu acho mesmo é que toda essa história de ter alguém diferente dentro
de casa mexeu demais comigo devido a certas lembranças. A outro rosto tão
lindo quanto, que me causava o mesmo impacto.
É isso!
Isso explicaria também a estranha sensação de saudade que sinto ao olhar
para ela. Não processei ainda essa novidade direito e acabei me irritando com
a garota. Só pode ser.
– Vou para casa. Preciso de um remédio e de um quarto escuro para sair
desse inferno – digo massageando as têmporas. – Até mais tarde, bundões.
Sigo pela praia até em casa e entro direto pelo meu quarto. Interfono para
Gia e peço que mande o remédio. Me jogo na cama e fico esperando alguém
aparecer. Minutos depois, duas batidas soam na porta.
– Oliver, posso entrar? Trouxe seu remédio. – Tudo que eu não queria agora
era conversar com dona Laura, mas pelo visto não vou escapar.
– Pode vó, claro.
– O que você tem, filho? – pergunta, me estendendo o remédio e um copo de
água.
– Ressaca, só isso. Preciso apenas tomar isso aqui. – Pego o comprimido
de sua mão e o engulo. – E ficar um tempo deitado até aliviar.
– Tudo bem. Me assustou a sua reação ontem no jantar. Beatriz ficou
incomodada. Tentei amenizar dizendo que não foi por ela estar ali que você
agiu daquela forma, mas ela não se convenceu. Sei que não é o momento de
falar disso agora, mas gostaria de entender aquilo.
– Ah, nem eu sei direito. Acho que o fato de ter alguém estranho aqui que
me deixou irritado. Mas não se preocupe, logo me acostumo, e até lá vou
controlar os meus rompantes. Prometo.
– Certo. Descanse então.
– Tchau vó.

Durmo praticamente o restante do dia e quando acordo já estou bem melhor.


São quase dezenove horas e daqui a pouco as pessoas já devem começar a
chegar para o jantar. Isso se já não estiverem aí. Tomo banho e me troco
rapidamente. Meu estômago ronca, afinal não comi nada o dia inteiro.
– Gia, pode preparar um lanche para mim? Não vou aguentar esperar até o
jantar sem comer algo antes – falo com ela pelo interfone.
– Claro Oliver. Vou preparar tudo e servir na bancada da cozinha.
– Ótimo, obrigado.
Saio do quarto, atravesso o corredor e ao chegar na sala, vejo que Helen e
Max já chegaram. Helen está conversando com vovó na sala e Max e Beatriz
estão na área externa numa conversa bem animada pelo visto, pois ela sorri
para ele.
Passo pela cozinha e peço à Gia para servir o lanche na mesa do deck.
Cumprimento Helen e vovó na sala e sigo ao encontro dos dois do lado de
fora.
– Vejo que já se conheceram – digo para que notem a minha presença.
Beatriz, como sempre, não me olha nos olhos.
– Sim – responde Max – estava aqui contando para Bia algumas histórias
sobre o início da banda, quando tocávamos nas espeluncas do nosso bairro em
Long Beach.
Bia, ele a chamou de Bia. Será que ela lhe deu permissão para chamá-la
assim? Sento-me na cadeira da mesa mais próxima às poltronas onde eles
estão. Logo Gia chega com o lanche e coloca na minha frente.
– E você, está melhor? – pergunta Max.
– Sim, acordei bem, só com muita fome. Querem me acompanhar? –
pergunto, apontando o sanduíche e olhando para os dois.
– Estou de boa Oliver, obrigado – diz Max.
– Também não estou com fome. Obrigada. – Beatriz responde com os olhos
voltados para o chão. Max me lança um sorriso torto em reação a timidez da
menina.
– Então Oliver, Beatriz já lhe contou que esteve no nosso show desta turnê
em Chicago, onde morava? – Ela levanta os olhos e suas bochechas ficam
coradas. Pelo jeito ela contou muitas coisas a ele.
Eu nem sabia que ela morava em Chicago.
– Não, verdade?
– Sim – confirma ela – meu pai me deu os ingressos de presente. Fomos eu
e ele. O show foi um dia antes do meu aniversário. Nos divertimos muito.
Tenho ótimas lembranças.
– Seu pai gostou? Ele curtia a nossa música? – pergunto.
– Nós dois sempre gostamos de rock. Ele curtia mais as bandas antigas,
anos setenta e oitenta. Mas gostava muito de vocês também. Apesar de não
gostar de admitir isso para implicar comigo.
– E por que gostar da The Order seria implicar com você? – Antecipa-se
Max, à pergunta que eu também iria fazer.
Ela fica ainda mais vermelha.
Nossa, como é encantadora.
Uma boneca!
Dá vontade de guardar num vidrinho e colocar em algum lugar onde seja
possível passar o dia apreciando.
Só depois daquele devaneio, me dou conta de que estou com a boca aberta,
o sanduíche a centímetros dela, esperando ser mordido e meus olhos fixos na
menina.
Mordo de uma vez. O sanduíche, no caso.
– Bom... é... é que eu sempre fui muito fã de vocês, desde criança, e... –
Engole em seco e continua encabulada. – Sempre achei vocês muito bonitos e o
Sr. Robert gostava de me provocar com isso. – Ela fala aquela última parte
muito rápido e quando termina parece um pimentão vermelho.
Max deixa escapar uma gargalhada.
– Obrigado pelo elogio querida, mas não precisa ficar envergonhada. Desde
criança, é? Com quantos anos você descobriu a The Order?
Querida? Querida? Sério Max?
– Eu comecei a acompanhar vocês aos oito anos.
– Uau. Bem novinha. Fico honrado em saber – agradece ele.
– Pois é – me meto – o que levou uma menina de oito anos a começar a
ouvir um rock’n’roll tão característico como o nosso? Normalmente são mais
adeptas a sons estilo Ed Sheeran ou Maroon 5.
Ela me encara.
Fixa tão fundo o olhar no meu, que um estremecimento me percorre.
Da forma como me olha, parece querer me contar tantas coisas, tantos
segredos. Mas percebo exatamente o momento em que desiste da ideia, pois
seus olhos voltam a ficar sem um foco específico.
– Eu me apaixonei por uma música, Private Chaos. Acho que ela encaixava
muito bem com o momento que eu estava passando, pois foi logo que minha
mãe ficou doente. Então virei fã – explica, sem muita convicção.
– Fico contente em saber que uma música nossa trouxe algum conforto para
você e sinto muito pelos seus pais, de verdade – completa Max.
– Obrigada.
Em seguida ouço vozes novas em burburinho e vejo que Alicia, Johnathan e
Hazel acabaram de chegar. Vovó se encaminha em nossa direção, guiando os
convidados e Helen vem com eles também.
– Bia, querida, deixe eu lhe apresentar. Esta é Hazel e estes são Johnathan e
Alicia Wells. Eles são os pais de Kellan – diz dona Laura, fazendo Beatriz
levantar da cadeira para cumprimentá-los.
E sem querer, sou instigado a observá-la além do seu rosto angelical e da
sua beleza inocente.
Eu não deveria ter me permitido aqueles pensamentos, muito menos aquela
reação, mas foi natural, instantâneo, esteve fora da minha capacidade de
contenção.
Ela usa um vestidinho simples, verde escuro, que casa muito bem com sua
cor de pele e cabelos. Os seios médios, redondos e firmes estão bem marcados
no vestido. O decote quadrado é bem comportado, mas permite visualizar o
início do vão entre os seios, e me dão água na boca.
A cintura bem delineada, os quadris redondos e aparentes, mas nada
exagerado e as coxas... ah as coxas grossas... que delícia! Até agora não tinha
reparado no corpo dela assim.
Meu pau dá sinal de vida dentro da cueca, concordando ativamente com a
descrição que fiz das coxas de Beatriz.
E o golpe final vem quando ela se vira de costas para cumprimentar
Johnathan, que está posicionado mais atrás em relação à sua poltrona. O
vestido é aberto até o meio das costas, com uma tira transpassada, e a bunda é
tão redonda e arrebitada que fez o meu parceiro lá embaixo bater continência
em respeito àquele traseiro.
Me ajeito na cadeira tentando, literalmente, baixar as expectativas daquele
que não foi convidado para a festa, mas tenta aparecer de penetra.
Deus, Oliver. Controle-se!
É sério que você vai ter uma ereção olhando para uma adolescente em meio
a uma reunião de família?
Um homem de trinta anos?
É o fim!
Até parece que você não passou a noite toda trepando.
Sou arrancado dos meus pensamentos por alguém que me fala ao pé do
ouvido.
– Pare de encarar a bunda da garota, está ficando feio, cara. – Olho para o
lado e vejo que Max está sério, expressão desgostosa, me avaliando.
– Vá se ferrar Max, eu nem olhei para ela, estava aqui pensando em outras
coisas.
– Sei... É bom mesmo! – É tudo que ele diz, voltando a se sentar.
– Olá família! – Ouvimos Lian falando ainda da areia, seguido por Kellan.
– Oi meninos – responde Alicia.
Eles se aproximam de nós e vovó trata novamente de cuidar das
apresentações.
– Bia, estes são Lian e Kellan, como você já deve saber. Meninos, essa é
Beatriz Thompson, filha de um grande amigo.
– Olá – diz ela.
– Então essa é a irmãzinha do Oliver! – Lian consegue arrancar algumas
risadas. Não seria Lian se perdesse a oportunidade de me provocar. – Posso te
chamar de Bia? – pergunta o descarado.
– Pode, claro. – E ela já exibe as bochechas vermelhas de novo.
– Estou muito feliz em conhecê-la, Bela-Bia. – Aff é um pé no saco mesmo.
– Se em algum momento o ranzinza ali estiver difícil de aguentar – diz
apontando o dedo para mim. – Pode ir lá para casa. Ninguém merece aturar
Oliver por muito tempo. Digo isso por experiência própria. – E, obviamente,
todos riem do engraçadinho.
Pego uma das almofadas que tem por ali e jogo nele.
– Aii bonitão. Não precisa ficar com ciúmes só porque, certamente, eu serei
o preferido da Biazinha.
Bia olha para ele encantada. Ela tem um sorriso lindo no rosto. Parece que
todos conseguem arrancar sorrisos dela.
Todos menos eu.
Eu só consigo deixá-la... tensa.
– Obrigada Lian. Levarei o convite em consideração – diz ainda sorrindo
para ele.
– Isso! Eu sabia! Eu sabia que o zangado já fez algo para te chatear. Mas
não se preocupe não, o tio Lian aqui vai cuidar de você, fique tranquila. – E
nisso ele puxa a menina para um abraço e ela ri alto.
Não gosto de ver os braços dele ao redor dela.
Minha vontade é ir lá e arrancar Lian de perto.
Mas claro que não faço. Só lanço minha cara de piores amigos na direção
dele, que nem me dá bola, e continua com o braço sobre os ombros de Beatriz.
– Querida, esse moleque aqui é Kellan, meu sobrinho. – Porra, ele também?
Por que se acham no direito de chamá-la de querida?
– É primo, Lian – reclama o fedelho.
– Quieto, sobrinho. Como eu estava dizendo, o moleque é irmão daquela
linda menina ali. – E aponta para Hazel. – Para o azar dele, eu e ela ficamos
com toda a beleza da família, então para ele sobrou só essa cara de bunda
mesmo.
Beatriz ri mais um pouco e então encara Kellan.
– Oi Kellan, prazer Beatriz, mas pode me chamar de Bia. E não ligue para o
seu primo, não acho que você tenha sido desfavorecido em relação a isso.
Puta Merda! PUTA MERDA!
Ela acabou de elogiar a aparência do fedelho na frente dele?
Kellan tem os olhos grudados nela, extasiados, e as bochechas vermelhas
como tomate. E isso não é algo que aconteça com ele frequentemente. Estende
a mão para ela meio aéreo e não diz uma só palavra.
Conheço Kellan.
Ela tirou o chão dele.
Só o que me faltava, o pirralho ficar de quatro por ela.
Isso não vai dar certo!
– Ah Biazinha, você é tão gentil. Não dizer a verdade para não ferir os
sentimentos do fedelho é muito nobre da sua parte. – Lian fala e aperta um
pouco mais o braço em volta dela.
– Lian, você não acha que está exagerando? Larga a menina! – digo, brusco,
e só então me dou conta do que acabei de fazer. Todos os olhos estão voltados
na minha direção. Beatriz, que até então estava alegre e relaxada, agora está
novamente com aquela expressão tensa.
– Pois eu acho que ela está adorando o meu abraço, não é?
– Estou, está tudo bem – confirma, voltando a ficar um pouco mais
confortável. Hazel se aproxima deles e ajuda.
– Bia, o Lian é bem “espaçoso”, não dê confiança demais.
Lian abraça Hazel com o outro braço.
– Princesinha do tio, não precisa ficar com ciúmes de Bia, meu coração tem
espaço para as duas.
– Eu sei tio – diz Hazel, ao contrário de Kellan, ela se conformou e o chama
de tio. – Seu coração é o melhor de todos. – E o beija na bochecha.
–Bela-Bia, tenho que fazer uma correção. Além da beleza, essa menina
aqui. – E beija a testa de Hazel. – Herdou também toda a inteligência dos
Wells. – Elas riem.
Kellan continua mudo e vidrado em Beatriz. Alicia fala algo lá de dentro,
chamando a atenção de Lian, que começa a caminhar, ainda abraçado as duas
meninas, para o interior da casa. Em algum momento que não percebi, Helen,
Johnathan e vovó entraram. Kellan segue atrás de Lian, como um cachorrinho
hipnotizado.
E eu fico ali, com um gosto amargo na boca e um nó no meu peito. Olho
para o lado e Max tem uma cerveja na mão e os olhos desconfiados. Bebe e me
encara por um tempo.
– Espero que o que eu percebi aqui hoje seja realmente você assumindo o
papel de irmão. Porque não gosto nem de pensar na outra possibilidade que
está passando pela minha cabeça agora – fala, quebrando o silêncio.
– Que outra possibilidade? Tá maluco? Só não estou sabendo lidar com
essa história de alguém diferente aqui Max, você sabe o quanto isso me
perturba.
– Torço para que seja isso mesmo irmão, porque pensar em você
interessado nessa menina, é o mesmo que pensar em alguém da nossa idade
com Hazel. E com isso eu não posso lidar.
– Não viaja Max. Jamais me envolveria com uma adolescente. Ainda tenho
alguma vergonha na minha cara – digo, tentando eu mesmo me convencer das
minhas palavras.

Bia

Eu olhava em volta daquela sala e ainda não acredita que no que estava
vivendo. Era fantástico demais. Quando, por mais fértil que fosse a minha
imaginação, eu poderia acreditar que estaria ali, cercada por todos os
integrantes da The Order e me sentindo em casa.
Sim, eu estava me sentindo em casa.
Por incrível que pareça, todos, com exceção de Oliver, estavam me tratando
muito bem. Como se eu já fosse da família.
Max, um cavalheiro, como eu já imaginava que fosse. Lian, divertido
demais, impossível ficar imune a ele. Kellan, apesar de mais tímido, me
cercou de gentilezas. Helen, Alicia e Johnathan me trataram como filha, assim
como Laura fez desde minha chegada.
E Hazel, nossa, a garota parece que ficou mais empolgada comigo do que eu
poderia esperar. Conversamos bastante na sala antes do jantar.
Pelo pouco que pude perceber, Hazel, assim como eu, é carente de
amizades. Pela vida mais reservada que precisam manter, ela diz que é difícil
encontrar amigas verdadeiras, visto que não pode fazer tudo que outras garotas
fazem e nem revelar muito sobre sua vida. Então quando descobriu que uma
menina da sua idade passaria a morar ali com Laura, ficou animada demais.
Não contei que não pretendo ficar muito tempo para não estragar o humor
dela, que já está planejando tarde de garotas na praia e uma série de outros
programas.
Seria ótimo ter uma amiga como Hazel, ela é um doce.
E eu certamente estou precisando ter alguém assim em minha vida. Alguém
com quem eu possa compartilhar os meus sonhos e angústias e que consiga me
entender como igual. Mas não posso me iludir. Nossa amizade provavelmente
será muito breve.
Oliver manteve-se praticamente a noite toda distante. Não me tratou mal,
nem nada do tipo, mas também não se envolveu muito nas conversas à mesa.
Ficou mais como expectador. Eu achei ótimo, porque depois do que vi na noite
de ontem, não sei nem como olhar direito para ele.
O que piorou um pouco mais depois da conversa no deck com ele e Max, na
qual admiti que eu os achava bonitos.
Só eu mesma para falar aquilo!
Senti meu rosto pegar fogo logo que as palavras deixaram minha boca. Foi
difícil ficar naquele deck com eles, aquele aroma de menta invadindo o meu
olfato o tempo todo trazido pela brisa.
E ele estava tão lindo!
A bermuda caqui deixando à mostra parte de suas pernas bem torneadas. A
camiseta azul petróleo, que agarrava todos os seus músculos do braço, peitoral
e abdômen. Os cabelos molhados jogados e meio bagunçados. A barba por
fazer. Uma verdadeira tentação dos deuses.
Quando foco nele ali na sala, a sensação de animosidade que todos os
outros me passam se dissipa e me sinto péssima.
Não posso deixar de pensar que ele não interagiu devidamente com sua
família, porque minha presença não o deixa à vontade. Ninguém deve se sentir
mal dentro da sua própria casa.
Estamos todos ali, na sala, numa enorme “roda de amigos”, degustando uma
deliciosa sobremesa, enquanto respondo as perguntas que me fazem com a
intenção de me conhecer.
– ...E foi isso, depois do funeral do meu pai, fiquei no apartamento o
máximo de tempo que consegui, até que não tive mais como evitar a entrega
aos novos proprietários. – De repente escuto alguém fungar, e mais alguém.
Olho para o lado e Hazel está contendo o choro, olho à frente e Lian tem
lágrimas escorrendo pelo rosto sem se importar muito em expor seus
sentimentos. Eu não pretendia entrar em assuntos tristes, mas eles tinham
curiosidade em saber sobre meus pais, minha infância, minha vida e foi
inevitável. Tento confortá-los.
– Lian, Hazel, por favor, não fiquem assim. Não contei minha história para
trazer tristeza. Já passou. Sabem, tivemos menos anos do que o esperado
juntos, convivemos com a doença por bastante tempo, mas nossa casa nunca foi
triste. Eu fui muito amada pelos meus pais. Papai e mamãe procuravam manter
o bom humor e a esperança. E eles acreditavam que a morte não é o fim. Que o
que morre é o nosso corpo e que vivemos muitas e muitas vezes. A cada uma
dessas vezes nos tornamos pessoas melhores do que já fomos. – Olho em volta
após o meu pequeno discurso e vejo que todos tem a atenção totalmente
voltada para mim, inclusive Oliver. Então prossigo.
– Papai estava angustiado e triste em me deixar, claro, mas ele estava feliz
que iria reencontrar mamãe. Eles se amavam. Ele sempre me disse que depois
que a conheceu é que entendeu o que era felicidade e que não houve tempo
melhor para ele, nesta vida, do que o tempo em que estavam juntos. Ele
brincava que só foi conhecer o amor aos quarenta e um anos porque estava
procurando por ela. E ela dizia o mesmo. – Percebo que Lian já se acalmou,
assim como Hazel. E suspiro.
– Isso é muito bonito Bia, – fala Helen – eu entendo. – Sua expressão a
deixa meio aérea.
– Papai também era muito engraçado, ele vivia inventando histórias e
aprontando.
– Era mesmo – confirma Laura. – Onde Robert estava não havia mal humor.
– Poxa Bela-Bia, que pena Oliver não ter conhecido o seu pai, quem sabe
ele tivesse aprendido a ser uma pessoa mais agradável – provoca Lian.
– Lian, me esquece – rebate Oliver.
– Quando eu tinha entre cinco e seis anos – começo a contar para ver se
levanto o astral de todos. – Entrei numa fase em que não gostava de tomar
banho. Eu inventava mil e uma histórias para fugir daquele momento. Meus
pais não sabiam mais o que fazer para que eu entrasse na banheira ou no
chuveiro sem chorar ou espernear. Então um dia, ele teve a brilhante ideia de
me contar uma história. Ele pegou um álbum de fotos, o segurou fechado em
seu colo e de um jeito muito sério e preocupado, me disse:
–“Sabe filha, antes de você nascer, você teve um irmão. Esse irmão era
lindo e inteligente, assim como você, só que assim como você, ele não
gostava de tomar banho. Não tinha jeito, ele chorava, brigava, reclamava,
mas não entrava na água. Sua mãe e eu paramos de levá-lo para o banho
porque era muito sofrimento. E sabe o que aconteceu com ele por conta
disso?”
– Lembro que eu estava tão curiosa sobre o meu suposto irmão, que nem
piscava enquanto ele contava, depois que eu neguei, ele continuou:
–“Ele foi murchando e murchando, enrugando e ficando cada vez menor,
até que, antes de desaparecer de vez, ficou assim.”
– E nesse momento ele abre o álbum de fotos da família e lá está, uma foto
dele e de mamãe com um minúsculo cogumelo enrugado na palma da mão. –
Mal termino de falar, uma risada solitária preenche a sala.
Todos os olhos se voltam para uma única direção. Olho também. Oliver tem
os olhos fechados e ri como se visualizasse a cena. Nada mais se escuta,
ninguém respira, todos abismados, olhando para ele. Quando se dá conta de
que virou o centro das atenções, ele olha para todos e se faz de indignado.
– Que foi? Nunca viram?
– Você, rindo assim? – diz Lian. – Acho que não, ou pelo menos, faz muito
tempo. Garota, você é minha ídola. Arrancar uma risada tão espontânea do
zangado, não é para os fracos. – Oliver responde resmungando e mostrando o
dedo do meio pra ele.
– Verdade Bia – diz Laura. – É raro este som assim, tão claro e alto por
aqui.
– Vó, não exagera – defende-se ele.
– Ah Oliver, sou obrigado a concordar com Laura – reforça Johnathan.
– Mas então Beatriz, a história do seu pai funcionou? – pergunta Oliver, se
dirigindo a mim pela primeira vez desde o deck. Acho que é mais para tirar a
atenção de cima dele, do que por vontade de saber o desfecho da minha
história.
– Se funcionou? Nossa, eu saí em disparada para o banho. Quase nem tirei a
roupa de tão apavorada. Sonhei com aquele cogumelo e rezei pelo meu irmão
murcho por meses. Às vezes pedia para tomar banho mais de uma vez por dia,
com medo de ter o mesmo destino que o dele. – Agora a sala toda é só risadas.
A onda de bom humor se estende, entrando na discussão de qual deveria ser
o nome do meu pobre e infeliz irmão, cada um tem uma ideia mais inusitada
que a anterior.
Menos Oliver, claro.
Lá pelas tantas, Alicia e Johnathan se levantam e vêm até mim. Eles são
bonitos de se observar juntos, parecem combinar e estar em sintonia.
– Bia, adoramos te conhecer. – Ela me abraça e continua – quando quiser
aparecer lá em casa para conversar com Hazel, é só avisar.
– Isso mesmo. – Agora é Johnathan que me puxa contra si. – Hazel também
é muito sozinha, ficaremos bem felizes se vocês se tornarem amigas.
– Já somos – diz a garota sorridente, me cercando de carinho. Sinto meus
olhos ficarem cheios, mas me controlo. Não estou acostumada a tantas
demonstrações de afeto.
– Obrigada. Também gostei muito de conhecê-los. Hazel e eu já trocamos
os nossos números de telefone, então demos o primeiro passo. – Pisco para a
garota. Logo vão embora.
Kellan os acompanha até a porta, mas volta instantes depois. Helen se
despede na sequência e vai.
– Crianças, sei que para vocês a noite está apenas começando, mas vou me
deitar. – Se despede Laura.
Então um desespero me toma, eu que não vou ficar ali, sozinha com a The
Order inteira.
– Também vou me deitar, Laura – digo, mais rápido que um foguete. Dou um
rápido boa noite aos meninos e disparo para o quarto.
Capítulo 6

“Eu conheço esse outro mundo


Onde o tempo não dissolve
Eu te conquisto sempre
E você sempre me comove”
(Esse Outro Mundo – Heróis da Resistência)

Bia

O sábado amanhece muito chuvoso, com uma temperatura


um pouco mais baixa do que nos três dias anteriores, me
obrigando a colocar uma calça e blusa de manga longa.
Acordei perto das nove e não encontrei ninguém em casa. Então, depois de me
servir do café que estava posto na bancada, fiquei sem muita opção do que
fazer.
A única tarefa que executei desde que cheguei ali, foi arrumar a minha
cama. Me sinto estranha, deslocada. Eu tinha tantos afazeres em casa e ali só
me resta tempo livre. Preciso logo arrumar um trabalho, uma ocupação.
Trabalhar na Three Minds, como Oliver sugeriu, seria um sonho, uma ideia
que me agrada muito. Mas se ele não retomar o assunto, jamais terei coragem
de abordá-lo. Portanto não vou me apegar a isto. Traçarei os meus próprios
planos, sem esperar nada dele. Ainda sinto raiva quando lembro das imagens
que presenciei na praia, então agradeço por não o ter encontrado esta manhã.
Olho em volta, pensando se volto para o quarto ou se fico pelo deck, mas
está frio e ventando um pouco. Meus olhos focam no piano branco. Não sou
boa pianista.
Na verdade, nunca tive talento ou facilidade para instrumentos músicas.
Mas pelo meu envolvimento com a música no colégio, acabei aprendendo um
pouco e arrisco arranhar uma coisa ou outra.
E aquele instrumento é tão bonito!
Fico com vontade de testá-lo. Me aproximo, corro a mão pela parte que
protege as teclas, abro-o e me sento na banqueta. Consigo tocar,
simploriamente, focando mais na melodia principal, e, depois de muita
insistência e repetição, três músicas clássicas. Escolho me aventurar na quinta
sinfonia de Bethoveen. Posiciono os dedos e deixo as primeiras notas fluírem.
Fecho os olhos, me concentrando na linda melodia.
Não demora muito para que eu perceba um calor irradiando atrás de mim.
Há alguém ali, posicionado próximo às minhas costas, sinto sua presença, sua
respiração e seu cheiro, tento não perder o andamento e nem errar as notas. Ele
se move, dá um passo para o lado e senta-se ao meu lado, na banqueta.
– Continue a fazer o que está fazendo – diz, simplesmente, como se fosse
uma tarefa fácil.
Leva, então, as mãos ao lado das minhas e passa a me acompanhar na
música, fazendo todos os nuances da clave de fá, as notas mais graves, que a
minha pouca habilidade não me permite fazer adequadamente, enquanto me
concentro na clave de sol.
É lindo!
Me toca.
Eu fazendo dueto com Oliver Rain ao piano.
Quando poderia acreditar?
Controlo a adrenalina e me mantenho firme, conseguindo chegar à última
nota no tempo certo.
Só quando as nossas mãos tocam o último acorde, é que me dou conta da
minha situação, da sua presença imponente ao meu lado, do seu corpo muito
próximo ao meu e o pânico me atinge.
O que eu faço agora? O que eu falo? Ou não falo?
Felizmente, ele toma as rédeas.
– Não sabia que você tocava. – Você não sabe muito a meu respeito, penso.
– Como pôde ver, não toco. Apenas brinco um pouco.
– Pode aperfeiçoar – diz, voltando a face em direção a minha. Não me
atrevo a fazer o mesmo, então continuo olhando para a frente, para as teclas.
– Não. Tocar não é natural para mim. Tenho bastante dificuldade, apesar de
ter um ouvido altamente musical, minha coordenação não me acompanha,
preciso treinar muito para executar o básico. Já me conformei com isto.
– Você pode olhar para mim, sabia? Apesar do que dizem, eu não mordo –
diz a última parte da frase com os lábios bem próximos ao meu ouvido, num
tom mais baixo, rouco, sensual, me deixando sentir o ar quente que escapa
deles na minha pele.
Meus pelos arrepiam. Meu coração acelera.
Preciso me controlar, não dá para reagir assim a cada palavra que ele me
dirigir.
Senhor, me ajude a não dar nenhuma bandeira.
Respiro fundo, tomo coragem e olho para ele.
O impacto é imediato.
Acho que posso morar aqui a vida toda e nunca estarei preparada.
Deus, como é lindo!
Seus olhos me encaram, meus olhos descem para a sua boca.
Como eu queria sentir aqueles lábios nos meus!
Não posso continuar ali, não posso permanecer tão perto.
Me levanto.
Deixo alguns passos de distância entre nós, para só depois voltar a olhá-lo.
Melhor assim.
– Achei que não havia ninguém em casa, desculpe se o acordei e desculpe
por me apossar do piano. – Mudo a temática.
– Eu estava acordado, ouvi a melodia e fiquei curioso. Foi uma agradável
surpresa. Pode se apossar do piano e brincar o quanto quiser. Ele é bem menos
tocado do que deveria.
– É um piano maravilhoso.
– É sim. – Ele se levanta e se espreguiça.
E eu sou obrigada a segurar o fôlego outra vez.
Oliver veste uma calça de moletom displicentemente caída nos quadris.
Aquela calça é tão... indecente!
Permite que eu veja os seus contornos e perceba todo o volume que ele
guarda dentro delas.
Desvio os olhos rapidamente.
Só o que me falta é Oliver Rain me flagrar analisando as suas partes baixas!
Subo o olhar e caio na pequena faixa de pele entre a blusa e a calça, que
ficou visível pelo alongamento que ele faz.
Vejo a trilha de pelos que se perdem dentro da calça, queria tanto correr os
meus dedos ali... balanço a cabeça para expulsar os pensamentos e forço meus
olhos a seguir ainda mais para o norte.
Foco na camiseta branca, o que não reduz em nada a quantidade de saliva
que se forma em minha boca. É outra afronta, aquele pedaço de pano
evidenciando cada traço de seus músculos.
Subindo os olhos mais ainda, caio nos bíceps.
Será que não haverá um centímetro do corpo dele em que eu possa focar
sem ficar perdida?
Preciso mesmo acelerar minha saída daquela casa.
Uma questão de profilaxia sanitária. Altamente urgente se eu pretendo
manter a minha saúde mental intacta.
Não é uma possibilidade, é uma necessidade!
– Não vi Laura – comento, na intenção de limpar meus pensamentos e evitar
que outras partes minhas se acendam como naquele dia na praia.
Por que fui lembrar disso?
– Vovó ficará o final de semana em Long Beach. Todos os domingos ela
passa lá. Normalmente Alicia e Helen a acompanham. E uma vez por mês ela
fica o final de semana todo. Laura e Helen tocam a ONG que a The Order e a
Three Minds mantêm. E em algumas atividades ela prefere se envolver
ativamente – diz, com o olhar meio perdido, como se houvesse mais motivos
ali do que aqueles que me conta.
– Não sabia que mantinham uma ONG. – Este é um assunto seguro.
Aproveito.
– Não é de conhecimento público.
– Entendo. E qual a linha de assistência?
– Temos várias frentes. As mais relevantes são crianças em situação de
abandono ou abuso, e violência doméstica.
– É um trabalho muito bonito e importante. Se eu puder ajudar, seria uma
honra.
– Não acho uma boa ideia. – Olho-o, claramente decepcionada.
Por que não seria?
Será que ele quer tanto cortar qualquer tipo de contato comigo, que não me
quer nem ajudando como voluntária na sua ONG?
Posso esquecer o emprego então, certo?
– Por quê? – pergunto, o olhando nos olhos pela primeira vez desde que a
nossa interação, até então amigável, começou.
– Porque você deve se concentrar em você. Prestou assistência a sua vida
toda, Beatriz. Viva sua juventude, aceite a minha oferta e estude. Muitas
situações que encontrará nos abrigos, são pesadas. Não é o momento de trazer
mais problemas para a sua vida. Você merece apenas alegrias daqui em diante.
Suas palavras carinhosas me pegam de surpresa e me comovem. Não estava
preparada para a gentileza. Me esforço para não chorar, felizmente consigo.
– Obrigada.
– Não por isso. Pense sobre o estudo – pede, então se aproxima, deixa um
beijo em minha cabeça e se retira.
Eu quase infarto só com aquele contato inocente.
Este é o mesmo homem que passou os dois últimos dias incomodado com a
minha presença?

Não o vejo mais pelo resto da manhã e nem à tarde. Ele não almoçou em
casa, ou então se manteve no quarto para não me encontrar. Sozinha naquela
casa, sem poder sair ao ar livre em razão do clima, não me restou muitas
opções a não ser me manter no quarto também.
Mesmo eu não pedindo, Gia trouxe uma refeição para mim ali mesmo. Com
o intuito de me distrair, baixei um livro no meu celular, o que me entreteve por
algumas horas. Até que uma mensagem de Hazel trouxe esperança de tornar as
coisas mais animadas.

O que está fazendo?


Nada. Lendo para passar o tempo
Quer companhia? Conversar?
Lógico que quero
Chego em quinze minutos

E foi exatamente este o tempo que ela levou para chegar.


Hazel é uma menina linda.
Mais parecida com Lian e Johnathan do que com Alicia e Kellan. Os
cabelos escuros, quase negros como os do primo, os mesmos vivos e acesos
olhos azuis.
Nos acomodamos no sofá da sala, Gia, novamente sem eu pedir, traz sucos e
guloseimas e deixa servido na mesa de centro à nossa frente.
– Fico me perguntando se ela nunca descansa – comento depois que a
mulher sai. – Vejo-a no jantar, no café da manhã, no almoço e hoje é sábado...
– Hazel ri.
– Ela mora aqui. É tipo uma governanta, há um anexo na área de serviço,
que é onde vive. A função dela é estar presente principalmente nos momentos
das refeições, organizar as coisas, comandar os outros funcionários,
cozinheira, arrumadeira, não necessariamente precisaria servir. Às vezes
cozinha também, mesmo não sendo sua obrigação. Ela deveria atender o
interfone quando se solicita algo e delegar a tarefa a algum dos outros. É o
jeito dela, Laura já tentou fazê-la mudar, mas diz que prefere assim, então...
– Isto é outra coisa que acho estranho, dificilmente vejo os outros
funcionários circulando pela casa. Até hoje não sei como as minhas malas
foram parar no meu quarto.
– Na saída da área de serviço, perto da que fica após a cozinha, há um
corredor que contorna a casa. Nos fundos há uma entrada secundária que dá
acesso aos corredores internos. Eles circulam por lá. Como a área comum é
toda aberta, foi pensado desta forma para não haver um fluxo constante de
funcionários passando pelo ambiente e atrapalhando a privacidade dos
moradores.
– Desvendado o mistério. Obrigada.
– Por nada. Oliver não está?
– Não sei. Só o vi pela manhã.
– Ele poderia ser mais cavalheiro e ter feito companhia, já que Laura está
fora.
– Prefiro assim Hazel, já me sinto mal em invadir a privacidade deles, não
quero que minem as suas vontades também, em função da minha presença.
– Besteira.
– Mas me conte – falo, mudando de assunto – onde estuda? O que gosta de
fazer?
– Kellan e eu sempre estudamos em casa. Pelo sucesso dos rapazes, meus
pais acharam mais seguro desta forma. Por isso também nunca consegui
desenvolver muitas amizades, minha infância se resumiu a meu irmão e eu
brincando nessa praia. Na pré-adolescência, conheci duas garotas de Long
Beach, filhas de empresários, num resort que fui com meus pais e elas
acabaram me incluindo em seu grupinho de amigas. Mas nunca chegamos a
criar um laço estreito, são mais como colegas que vejo eventualmente. Que me
convidam para suas festas de aniversário ou para uma ida ao cinema. Não são
alguém que me sinto à vontade para trocar confidências, por exemplo.
– Entendo. Também nunca tive uma amizade assim, as meninas da escola
sempre foram apenas colegas. Talvez tenha uma parcela de culpa minha nisso,
poderia ter me esforçado para criar vínculo com alguma delas, mas eu tinha
preocupações maiores e simplesmente deixei para lá.
– E namorados? Você é tão linda, imagino que muitos rapazes da escola
tentaram. – Rio.
– Obrigada pelo elogio, você também é muito bonita. Sim, alguns tentaram,
mas eu não dei abertura a nenhum deles nesse sentido. Nunca nem beijei na
boca. – Ela arregala os olhos, espantada.
– E achei que eu é que era devagar. Pelo menos isso eu fiz. Meu irmão tem
uns amigos bem gatinhos.
– Não duvido. Se forem parecidos com o seu irmão... – Faço de conta que
me abano e rimos.
– Hãhã! – Ouço alguém se anunciar.
Oliver decidiu sair do seu esconderijo, afinal.
Olho para ele, sua cara não é das melhores, acho que o bom humor da
manhã já se dissipou.
Será que ele sofre de algum distúrbio bipolar?
– Oi Estrela – cumprimenta Hazel.
– Oi Princesa. Fico feliz que tenha vindo e estejam se dando bem. Pelo
visto o fedelho era o assunto da conversa, não? Por que não o chamam para se
reunir a vocês? Tenho certeza de que ele iria adorar. – Ele diz tudo aquilo com
os olhos fixos em mim e num descabido tom de desdém.
Não entendo.
– Nem pensar. – Se adianta Hazel. – Isso aqui é conversa de garotas. Kellan
que tente jogar o seu charme para cima de Bia em outro momento.
O que?
– Não viaja Hazel. Imagine se o seu irmão vai se interessar por mim – digo,
meio envergonhada. O calor tomando conta das bochechas.
– Espere e verá – diz ela, com uma piscadela.
– Pois é Beatriz, anime-se, seus sonhos podem virar realidade – continua
Oliver, daquela mesma forma desdenhosa.
Como assim os meus sonhos se tornarão realidade? Fico confusa.
– Vou deixar as garotas com o seu papo de garotas. Até. – Então ele sai para
o corredor e só escutamos dali a pouco a pancada da porta do seu quarto se
fechando.
– Pelo visto ele não está num bom dia – constata Hazel.
– É. Parece que não.
São dez horas quando saio do quarto.
Dormi demais!
Hazel e eu ficamos papeando até de madrugada, foi uma delícia, a primeira
vez que tive uma experiência do tipo. Nos entendemos muito bem e a conversa
fluiu leve e animada. Demos boas risadas e fui dormir com a alma renovada.
Sigo para a cozinha, para ver se ainda há algo na bancada para matar minha
fome.
Mas a fome só aumenta.
Sentado lá, concentrado em algo no seu celular, está Oliver Rain, o
banquete em pessoa.
E pensando em comida, as cenas dele e da ruiva invadem meu cérebro outra
vez.
Arrg! Será que não vou me livrar disso nunca?
Já deu Bia! Você não tem nada com a vida dele.
Tento desfazer as imagens.
E agora? Como será que está o seu humor hoje?
Desisto do café ou encaro ficar ali, sozinha com ele?
Morando aqui, não conseguirei fugir todos os dias, então opto pela segunda
opção.
– Bom dia, Oliver – digo firme, tentando impor alguma atitude.
– Oi Beatriz, bom dia – responde, mas não me olha.
– Pelo visto ainda está chovendo... – Quando não se sabe sobre o que falar,
o tempo é sempre um assunto seguro.
– Bem menos do que ontem, mas sim, ainda chove. Hoje a ideia é
passarmos o dia na casa de Max. Lian, Johnathan, Hazel e Kellan, estarão lá. –
Ele propositalmente enfatiza o nome do baixista. – Você topa? – Como dizer
não a um convite dele? Mas se não fosse a presença de Hazel, possivelmente
eu teria dito.
– Topo, claro, se eu não for atrapalhar os planos de vocês, evidentemente.
– De forma alguma. Não vai comer?
–Ah, vou sim. – Começo a me servir, fiquei tão absorta nele que nem
lembrei o objetivo principal de estar naquela bancada.
Se há uns dias alguém me dissesse que eu estaria ali, tomando café da
manhã com o homem que até ontem só era próximo nos meus sonhos, eu teria
rido muito da piada.
Corto uma fatia do bolo de cenoura coberto de chocolate.
Hum, adoro!
Acho que depois que elogiei o bolo à Laura, ela pediu para incluir no
cardápio diário, porque pude me fartar dele todos os dias. Me sirvo do café e
coloco uma pedrinha de açúcar. Oliver come uma omelete e continua olhando o
celular enquanto isso.
Ficamos naquele silêncio educado e decido manter assim, me concentrando
no bolo em meu prato.
Me assusto com o som de um clique seguido de uma luminosidade. Levanto
o rosto e Oliver parece segurar uma risada, o que ele não consegue por muito
tempo, por sinal.
– Se você precisar de disfarces, tenho algumas opções lá no meu quarto,
não precisa se camuflar com a cobertura do bolo – fala e então me mostra a
foto.
Lá estou eu.
Com cara de espanto pela surpresa da foto e com o queixo, o nariz e um
lado da bochecha até o canto da boca sujos de chocolate. Sem contar um
tantinho que grudou nos meus cabelos.
Minha "elegância" à mesa é realmente um espanto!
Sou obrigada a rir da minha situação e ele me acompanha.
Só que não demora muito para tudo perder a graça.
Ele muda o olhar, o deixa feroz, o mesmo olhar que aparece naquele avatar
que papai roubou.
Sem me dar chance de fuga, estende a mão e tira a cobertura da ponta do
meu nariz, levando o dedo a boca e lambendo o doce.
Engulo em seco.
Eu vou ter um treco. Juro que vou!
– Uhumm – diz, com o mesmo jeito sexy que usa enquanto canta.
Aquilo me pega totalmente desprevenida.
Repete o toque no meu queixo.
Nem respiro.
Por último, passa lentamente o dedo da minha bochecha até o canto dos
meus lábios, se demorando ali, bem mais que o normal.
Os olhos grudados nos meus, ardentes, vorazes.
A combinação de toque e olhar é tão quente que faz minhas partes baixas
formigarem e meus pelos eriçarem.
– Está mesmo. Deliciosa! – pronuncia bem devagar, as palavras deslizando
da sua boca como um poema sacana, um convite indecente... Um que, se fosse
mesmo verdade, eu estaria louca para aceitar.
Fico completamente sem reação.
Hipnotizada por ele.
Felizmente o meu fone vibra e me ajuda a fugir do momento constrangedor.
Abro um sorriso enquanto leio.

Bia, estamos todos no Max. Hazel também.


Venha almoçar conosco

– Notícia boa? – pergunta.


– É Kellan convidando para almoçar no Max. – Imediatamente ele fecha a
cara e todo o momento anterior parece ter sido um devaneio.
Só pode ser bipolar!
– Saímos em meia hora – completa, seguindo para seu quarto.
Respondo Kellan.

Claro, chego aí com Oliver em alguns


minutos

Meia hora depois, seguimos pela praia até a casa de Max. A chuva parou,
mas o dia está bem fechado. Hazel já corre ao meu encontro e me abraça antes
mesmo de passarmos pela porta.
– Oi Bia – diz, me abraçando e me dando um beijo na bochecha.
– Oi – devolvo o carinho beijando sua bochecha também.
– Não ganho um abraço também? – provoca-a Oliver.
– Oi Estrela – cumprimenta, lhe mostra a língua, mas não me solta para
abraçá-lo.
– Olá Bia. – Max aproxima-se e me cumprimenta passando os braços pelos
ombros de Hazel. – Fico feliz que veio. E que você e essa mocinha aqui
estejam se tornando amigas. Fique à vontade. A casa é sua.
– Obrigada.
Hazel me arrasta para a sala de jogos, onde estão os outros. Johnathan e
Lian jogando bilhar e Kellan no videogame. Oliver já está ali também,
assistindo à partida de bilhar.
– Bela-Bia, quero te dar um beijo, mas agora preciso em concentrar aqui. –
Explica-se Lian ao me ver.
– Tudo bem Lian, desta vez passa. – Brinco com ele, já sentindo intimidade
com aquele rapaz.
– Está vendo como as mulheres são, Kellan? Basta você pisar na bola uma
vez para a sua classificação despencar no conceito delas.
– Há mulheres com quem não se deve pisar na bola. Nunca! – O rapaz
responde, vindo me dar um beijo na bochecha e fazendo as mesmas ficarem da
cor do fogo quente do inferno.
– Fiuuu.
– Uau.
– Oinn. – Zoam Max, Johnathan e Lian, cada um à sua maneira. Oliver só
continua lá, de cara amarrada.
– Oh Don Juan, a Biazinha não vai cair nesse papinho meloso. Elas gostam
é de pegada e não de babação, moleque – fala o guitarrista.
– E o que você entende sobre mulheres, Lian? – Johnathan ajuda o filho.
– Obrigado pai.
– Me devendo, garoto – responde o Wells mais velho.
Acabamos Hazel, Kellan e eu jogando boliche até que o almoço foi servido,
enquanto os outros quatro seguiram no bilhar. Boliche é uma coisa que eu e
papai fazíamos de vez em quando. E por isso, até que eu mando bem.
No meio da tarde, Johnathan resolve voltar para casa e ficamos apenas os
seis, sentados na parte coberta do deck, bebendo e conversando. Os garotos na
cerveja e Hazel e eu no suco.
Estou sentada praticamente de frente para Oliver. Um Oliver descontraído e
relaxado. Interagindo com os amigos.
Acho que é a primeira vez que o vejo assim e que tenho chance de observá-
lo.
Realmente observá-lo.
E o que posso dizer?
Hoje é um dia feliz. Muito feliz.
Teve aquele lance de manhã e agora... isso...
A paisagem nunca esteve tão maravilhosa quanto neste sábado chuvoso.
Admiro.
Ai Ai.
Ele é gato.
E é gostoso! Muito gostoso.
Calma. Eu sei! Só... me deem uns minutos, ok?
Vai passar.
Mal saí da adolescência e não tive muitas oportunidades, lembram?
Eu posso. E mereço.
É o meu sonho. Bem aqui, na minha frente.
E ele é... respiro fundo. Preciso admitir.
Eu sonho alto.
Nossa!
Uau!
Que espetáculo!
Ok, ok... Pronto.
Baixo meus olhos e bebo meu suco. É rápido. Logo os ergo novamente.
Animada em, quem sabe, continuar com a análise minuciosa do material. Mas,
oh oh... Sou surpreendida pelo motivo dos meus suspiros me olhando de
esguelha e com um sorrisinho indeciso querendo se formar no canto de boca.
Fui pega?
Pega com a mão no ar, prestes a invadir o pote do biscoito proibido?
Creio que sim. Desvio o olhar.
De repente parece que o sol resolveu começar a brilhar. Só que bem no
meio das minhas bochechas.
– Cara, ainda não acredito que perdi para vocês. Aquela última tacada era
impossível de acertar. Vou descobrir a marmelada que os dois aprontaram,
podem apostar. – A fala de Lian captura sua atenção. Ainda bem.
– Pare de choramingar Lian. Você só ganha porque corre fazer dupla com
Johnathan e dificilmente ele perde. Só que eu e Max temos treinado cabeção.
Seus dias de glória com o titio terminaram.
– Rá. Rá. Também jogo bem, bonitão. O mérito da nossa parceria bem
sucedida não é só do meu tio.
– Bia, você sabe jogar bilhar? – pergunta Kellan lá pelas tantas, me fazendo
aterrizar de supetão ao voltar forçadamente de Nárnia. Hã? Bilhar? Era disso
que estavam falando?
– Não, nunca joguei.
– Quer aprender? – Hazel tosse e se engasga com o seu suco. Lian e Max
caem na gargalhada.
– Sério, Kellan? – questiona Oliver.
– Irmão, você foi sutil como um jumento – Hazel lhe joga a real.
Se eu pudesse, me enfiava debaixo da mesa agora, sério.
– Ué? Qual o problema? – defende-se. Oliver dá um olhar enviesado para
ele.
– Essa é mais velha do que andar para a frente, fedelho. Seja mais criativo
– opina Max.
– Nada a ver... – Justifica-se o rapaz, ficando nitidamente envergonhado por
ser sido tão óbvio.
– Nada a ver? Sei... somos todos macacos velhos aqui, pirralho. Conta
outra. – Oliver acrescenta.
– Nada a ver mesmo – insiste o garoto.
– Ah é? Tudo bem então. Vamos lá Beatriz, será você e eu contra Kellan e
Hazel. – Oliver determina e todos gargalham da cara que Kellan faz.
– Se deu mal, moleque. – Lian goza.
Bom, acho que não tenho escapatória, certo? Caso contrário, o que eu
diria?
Desculpe Oliver, mas não posso porque não conseguiria ficar tão próxima
de você sem querer te atacar?
Não é uma opção.
Suspiro. Vamos lá encarar essa então.
Na sala de jogos, Oliver começa me explicando as regras do jogo e a dar
orientações básicas sobre como segurar o taco, posicionar, mirar e bater. Eu
presto atenção. Mais no professor do que na lição. Quem ousaria me
recriminar? Mas é quando ele me pede para demonstrar que a minha tortura
começa. Ele posiciona algumas bolas na mesa e pede para eu acertar a bola
branca e fazer esta rolar até bater em alguma das outras.
Me inclino tentando imitar o que ele demonstrou antes. Miro e não acerto.
Nem na branca!
Aff! Ele ri. Um sorriso lindo.
Derreto.
Nem ligo em ser o motivo da piada.
Pede para eu tentar de novo. Tudo que você quiser, baby.
Repito o movimento, e de novo o taco acerta apenas o espaço vazio. Tento
mais uma vez e consigo acertar a branca, mas ela não chega nem perto de
nenhuma das outras.
Isso vai ser bem mais difícil do que eu supunha...
– Acho melhor vocês desistirem. Sou péssima! – admito o que todos já
constataram.
– Que nada, logo você pega o jeito – incentiva Hazel.
– O problema é o seu professor. Se tivessem deixado eu ensiná-la... –
Aproveita Kellan para jogar a sua indireta.
– O cacete! Vem Beatriz, vamos tentar de novo.
Pego o taco e me posiciono, já prevendo o novo vexame, mas antes que eu
possa impulsioná-lo, Oliver segura a minha mão e se inclina sobre mim,
deixando seu tronco tocar as minhas costas.
Meu corpo reage instantaneamente. Seu calor me envolve, uma eletricidade
me transpassa. Tenho certeza de que ele sentiu a reação. O tremor que me
percorreu de cima a baixo. Seu cheiro delicioso, mentolado, grudado em mim é
uma baita tortura. Ouço sua respiração, parece pesada, ofegante, o ar quente
sai das suas narinas tocando o meu ouvido, enquanto tenta posicionar minha
mão e meu corpo da forma correta. Sinto gotas de suor se formando em minha
testa. Preciso de ar.
Assim que se dá por satisfeito, se afasta. Meu alívio é imediato. Consigo
respirar outra vez.
– Agora, de leve – orienta.
Não me mexo nem um milímetro da posição em que ele me deixou. Não
poderia, estou em transe. Só movimento o braço, de leve, como mandou.
Acerto a bola branca, que bate na bola azul, que por sua vez, rola e cai na
caçapa.
Acertei? Pisco para ter certeza que estou vendo direito. Caraca, estou.
Huhu! Pulo comemorando e no impulso me lanço contra ele, Oliver se
assusta, mas me segura e me aperta contra si.
– Você conseguiu – diz baixinho, próximo à minha têmpora, seus lábios
roçando de leve a minha pele, me fazendo arrepiar e trepidar outra vez. Ele
sorri. Só então me dou conta de como nossos rostos estão próximos. Tão
próximos!
– Obrigada. – Me ergo na ponta dos pés e beijo sua bochecha. Ah vai, não
me julgue... Não resisti! Foi mais forte que eu.
Ele fica desconcertado e rapidamente se afasta outra vez.
Tentamos jogar uma partida e ele continua me ajudando, mas em nenhum
momento de forma tão próxima outra vez.
Estamos perdendo de lavada, é claro, afinal tanto Kellan quanto Hazel
jogam bem.
Kellan tenta vez ou outra me orientar com algum lance, mas Oliver não
permite que se aproxime demais, sempre se antecipa. E terminamos o jogo
como os bons perdedores que somos.
Mas eu me sinto como uma verdadeira vencedora. Com direito a quebra do
recorde mundial e medalha de ouro no peito.
– Treine Bia, que a próxima será meninas contra meninos – avisa Hazel.
– Você tem coragem! – alerto, reviro os olhos e rimos.
Oliver

Que porra é essa angústia em meu peito? O que a menina tem que mexe tanto
comigo? Por que o senso de posse me domina quando estou perto dela? Tento
analisar meus sentimentos, sentado na cadeira do escritório, depois de
voltarmos de Max e eu tomar um banho. Não passei o dia bem. O tempo todo
uma sensação esquisita aparecia do nada e me esmagava por dentro.
Ver Beatriz interagindo com minha família, tão à vontade, tanto hoje quanto
no jantar feito em sua homenagem, me deixou extasiado. Ela não percebeu, mas
teve todos a sua volta o tempo todo, maravilhados, como mariposas em torno
da luz.
Eu fiquei só observando a interação das pessoas que amo com a nova
moradora da minha casa. Em uma única noite, ela fez todos se apaixonarem por
ela.
E um de nós, pelo jeito, se apaixonou em todos os sentidos.
Nunca vi Kellan agir da forma que agiu naquela noite. O garoto sempre foi
expansivo, comunicativo, alegre e conquistador. E naquele dia passou a noite
acanhado, enfeitiçado, eu diria até amedrontado. Parecia não acreditar que
existe, sob a face da terra, uma criatura mítica como aquela.
Hoje ele tentou se aproximar. Inúmeras vezes criou situações para estar
perto, tocar, até a mais ousada, sua tentativa frustrada de levar a garota para a
sala de jogos e ficar sozinho com ela lá, na desculpa de ensiná-la a jogar
bilhar.
E eu minei os planos dele.
Por que, caramba?
O momento em que deitei sobre o seu corpo para ajudá-la a achar o ângulo
e a posição correta da tacada, não foi na malícia, mas assim que o seu calor me
envolveu e o seu perfume me atingiu feito um raio, me dei conta da merda que
estava fazendo.
Sua bunda tocando levemente a minha virilha...
Ela se excitou. Nitidamente. E eu também.
Minha respiração pesou e consegui conter o pau no lugar a custo de muito
esforço.
Depois se atirou em mim quando acertou o lance. Eu não resisti e me
aproveitei para envolvê-la e me inebriar um pouco mais com o seu cheiro doce
de baunilha. Aí ela beijou minha bochecha e o aperto no peito me esmagou
outra vez.
E mais cedo teve a palhaçada que eu fiz ao limpar a cobertura do bolo do
seu rosto. Ali não foi inocente. Eu flertei descaradamente com ela.
Eu, um homem de quase trinta e um anos, que conhece muito bem o poder de
sedução que tem, lançar sua artilharia para cima de uma menina de dezessete?
Uma menina que não tem ninguém olhando por ela? Patético!
Ela nem respirava! Parecia ainda mais menina, encabulada, confusa e com a
carinha de anjo coberta de chocolate.
Tão linda!
Balanço a cabeça em negativa. Eu só posso ter enlouquecido. Preciso tomar
vergonha na cara, urgentemente.
No meio daquela análise de consciência, percebo um vulto à na porta.
Levanto os olhos naquela direção e Beatriz está lá, parada, olhando para a
estante do escritório onde guardo meus prêmios com a The Order e algumas
fotos oficiais de turnês e álbuns.
– Entre, pode olhar de perto – convido, a assustando.
– Ah, desculpe, não percebi que você estava aí. Achei que tinham
esquecido a porta aberta.
– Não tem problema, pode olhar, entre.
Ela se aproxima da estante e vai olhando cada item exposto com muita
atenção. Para próxima a uma foto do lançamento do nosso segundo álbum e se
demora mais nela.
– Essa foto foi pouco antes do lançamento do nosso segundo álbum – digo.
– Sim. Just a Fucked Dream. Há nove anos.
– Sim, isto mesmo. Você conhece bastante de nossa carreira mesmo, não é?
– Tudo que é possível saber, eu sei.
– Por causa de Private Chaos? – Ela se demora por alguns instantes, mas
confirma.
– Sim, por causa da música.
Me aproximo ainda mais. Não sei o porquê, mas preciso. Coloco-me atrás
dela, a poucos centímetros de seu ouvido, e canto.
“ A sua escolha me deixou nesse breu
Marcou minha pele
Cravou meu destino
Matou o melhor em mim
Me lançou do topo
Para o fundo do meu caos particular
E então é lá que eu quero estar agora
Lá onde habita a sua essência.
Onde não há máscaras nem enredos.
Onde tudo está bem.
É lá que eu quero morar, querida.
Para me perder e me encontrar de vez”

Canto um trecho da música de um jeito diferente, num andamento bem mais


lento que o original. Escuto um fungar, me preocupo e viro-a para mim. Está
chorando.
– Por favor, não quis te deixar triste... – Ela limpa os olhos e me encara.
– Não é tristeza, longe disso. É tão lindo Oliver! Você tem noção? Tem
noção do que transmite quando canta? O que provoca nas pessoas?
– Não, mas quero saber o que provoco em você. Me fale, por favor – peço,
olhando-a dentro dos olhos.
Eu quero mesmo saber.
Ela sustenta o meu olhar, o que é raro.
– Quando você solta sua voz grave e rouca numa canção, se entrega tanto
que cria um campo gravitacional em torno de si mesmo e tudo que está a sua
volta é sugado para lá. Hipnotiza. É impossível não se envolver. A energia
poderosa que se forma ali retorna para nós através da emoção que você
transfere à melodia e às palavras. E atinge bem aqui. – Ela pega a minha mão e
posiciona sobre o seu coração acelerado.
O meu não está diferente.
Sua declaração causa um nó em minha garganta. Acho que foi a coisa mais
bonita que alguém me disse. Me impacta.
Não por achar que todas as pessoas se sentem assim quando me ouvem
cantar, mas por saber que ela se sente.
Tomo ciência de que nossos corpos estão muito próximos, nossos olhares
presos um no outro. Antes que me dê conta do meu ato, meu dedo está sob sua
face, secando suas lágrimas numa carícia suave.
E é nesse momento que eu sinto pela primeira vez.
De forma irreversível.
De um jeito que não deixa espaço para variáveis ou características.
Não há um homem de trinta e uma garota de dezessete. Não. Há apenas um
homem e uma mulher e a química poderosa e incomum que flutua entre eles.
É forte, é palpável.
Nunca foi assim para mim.
Ah... como eu quero beijá-la agora! Envolvê-la em meus braços e beijá-la
profunda e lentamente. Mas não posso. Nunca poderei. Ela não é para mim.
Ela merece mais.
Obrigo-me a desfazer o encanto e tomar o controle da situação.
– Obrigado – digo apenas e dou um passo atrás, ocultando tudo que eu sinto.
Ela percebe minha mudança de atitude repentina e fica constrangida. Assente e
sai dali rapidamente.
Assim que se retira, eu fico parado mais um tempo, tentando, novamente,
processar as minhas emoções. Aquela angústia persiste, mas o tesão enrustido
também.
Me excitei muitas vezes ao longo do dia por causa dela. A cobertura do
bolo, sua secada escrachada e ao mesmo tempo inocente no deck... Vê-la me
olhar com tanta... Adoração! Deus, aquilo me deixou de pau duro. Depois teve
a mesa de bilhar e agora este momento no escritório.
Estou inquieto, não conseguirei dormir se for para a cama agora. Preciso
trepar. É isso! Mando mensagem para Max perguntando se tem algum esquema
orquestrado para a noite e quando ele confirma parto para a sua casa sem
pensar duas vezes. Por enquanto, quanto menos eu pensar, melhor.

No dia seguinte, finalmente a chuva se foi e o sol está a pino. Olho o celular
e já são três horas. Nossa, dormi muito. Devo ter voltado da casa de Max já
passando das cinco da manhã.
Apesar de todo o sexo e desgaste físico de ontem, a sensação estranha ainda
me acompanha. E o prazer dos orgasmos que tive não amenizaram a
inquietação da forma que gostaria. Posso sentir os resquícios dela sempre me
rondando.
Afasto aquilo por hora, levanto, me arrumo e saio do quarto. Não sinto
fome, por mais que tenha gasto muita energia na noite anterior.
– Boa tarde, vó. – Me anúncio.
– Oi, boa tarde, filho. Vou pedir a Gia para colocar o seu almoço.
– Agora não vó, estou sem fome, mais tarde.
– Como não está com fome? Sua última refeição foi quando, no jantar de
ontem? Já passa das três da tarde. Não estou gostando disso, Oliver. Te
conheço, qual o problema?
– Nenhum, daqui a pouco eu como. Não estou bem, me sentindo um pouco...
enjoado. Deve ser efeito da bebida de ontem, apesar de eu ter bebido pouco.
Cadê Beatriz?
– Está ali fora no deck, conversando com Kellan.
– Kellan, aqui?
– Sim, ele almoçou conosco. – O moleque está determinado. Engulo em
seco e tento disfarçar a minha cara de descontentamento para que vovó não
perceba meu desconforto.
– Ele está marcando em cima. Ontem na casa de Max, não saiu de perto dela
– digo como quem não quer nada.
– É, ele parece realmente encantado por ela. Até Alicia comentou ontem
que nunca o viu assim por uma menina antes. – A angústia no meu peito
aumenta. Fecho os olhos. Que merda é essa?
– Vou um pouco lá fora também, ver se o ar fresco me ajuda com esse enjoo
– digo, para disfarçar os motivos de me juntar a eles.
– Talvez comer ajude. – Vovó comenta elevando a voz, enquanto eu caminho
para a saída.
O que ajudaria comer, eu não posso! Penso comigo mesmo.
– Daqui a pouco – resmungo de volta.
Assim que piso no deck, estanco. Ela está linda, radiante. Uma regatinha
amarela, os cabelos num rabo de cavalo alto, os cachos pendendo dele, um
sorriso lindo de iluminar Paris. O que a faz sorrir tanto para ele?
– Boa tarde, crianças! – digo. – Quais os planos para hoje? – Sento-me um
pouco afastado deles.
– Boa tarde – responde Beatriz, sem me olhar.
– Pretendo passar o dia com Bia – admite o fedelho.
– E você já perguntou se ela quer você enchendo o saco o dia todo?
– Kellan é muito divertido, claro que topo passar o dia com ele – rebate,
olhando para o moleque. Ela está flertando com ele?
– A festinha com as meninas no Max ontem, foi boa, hein? Pelo horário que
acordou... – O pentelho me expõe na frente dela. A raiva me sobe.
– Não se faça de santo, fedelho, sabe muito bem que costuma participar bem
ativamente das festinhas. – Ele fecha a cara para mim.
– Não participo de nada há um bom tempo – defende-se.
– Bom tempo? Há o que? Três dias? – Ele bufa. Beatriz tem os olhos baixos
e o semblante triste. Nem um resquício do sorriso largo que vi antes de me
juntar a eles. Vejo Lian se aproximando. Ele beija Beatriz e senta-se ao meu
lado.
– E aí?
– Oi – respondo, irritado.
– Que foi? Que cara é essa?
– Nada – digo, áspero. Lian me olha intrigado. – Karen não faz mais almoço
na sua casa, que o fedelho vem comer na minha?
– O tipo de refeição que ele busca só tem na sua, gostosão.
– Não fode. – Ele me encara ainda mais.
– O que está pegando Oliver? Te achei estranho aquele dia na festa, que
você arregaçou. Sábado no jantar, estava distante, ontem no Max, muito mais
calado do que o normal. Agora está implicando por Kellan querer se
aproximar da menina? Qual o problema?
– Não sei. – Sei que não convenci. Lian pode ter esse jeito de quem não
está nem aí, mas ele é muito perspicaz e observador. E o cara com o maior
coração que eu conheço. Ele daria a vida por qualquer um de nós ali. Sempre
foi com ele que consegui me abrir mais. E eu preciso fazer isso com alguém. –
Não ando me sentindo bem.
– Como assim? Está doente? São as...
– Não, não assim. – Ele me analisa enquanto tento me comunicar com ele
sem o uso de palavras. Desvia então o olhar para Beatriz e Kellan e volta a me
olhar. Fecha os olhos e sei que matou a charada.
– Não... não vai me dizer que... – Eu não digo nada, só o encaro. – Puta
Merda! Não é possível... – Minha vez de fechar os olhos. Ele ri. – Se tá aí uma
coisa que eu tinha certeza que jamais fosse estar vivo para ver é isso. Oliver
Rain mexido por causa de uma mulher. Pior ainda, uma menina.
– Eu sei, mas deve ser por ela estar aqui, dentro da minha casa. Acho que
isso está me remetendo a velhas lembranças e sentimentos, você sabe. – Ele
assente. – Só pode ser, ou então estou enlouquecendo...
Ele me estuda e não concorda, nem discorda da minha conclusão.
– Sabe que não pode brincar com ela, não é? Cara, ela já é da família, todos
aqui sentem carinho por esta menina. Não é como se pudesse pedir ao Peter
para se livrar dela no dia seguinte. Além disso, é de menor e depende de você.
Não dá!
– Claro que eu sei, não sou irresponsável. Jamais me envolverei com ela.
Só que me incomoda! Eu sinto como se ela me pertencesse e não sei de onde
isso vem.
– Não sei o que dizer, velho. Nunca senti nada parecido para poder opinar.
Talvez fosse o caso de você conversar de novo com a sua avó para arranjarem
outro lugar para ela ficar. Tenho certeza que meus tios ficariam felizes em tê-la
lá. E Hazel iria adorar, fariam companhia uma à outra. É uma ótima solução,
não a afastamos daqui, mas a afastamos de você.
– Não – respondo brusco, rápido e categórico. Lian arregala os olhos.
– Porra! É pior do que eu pensava. Oliver, isso vai dar merda, ouça bem o
que eu estou te dizendo. Faça algo enquanto pode. Porque cara, eu te amo, mas
se você ferrar ainda mais com a vida daquela menina, eu serei o primeiro a
ficar do lado dela. Só para você saber. – Nunca vi Lian falar algo com tanta
energia, como a chamada que me deu agora.
Eu apenas assinto. Ele está certo.

Bia

Não sei nem o que pensar de tudo o que vivi ontem. Sobre a foto e o bilhar
eu até posso ter deixado meus hormônios fantasiarem além da realidade. Mas e
aquele momento no escritório? O que foi aquilo? Alguma coisa aconteceu ali.
Não fui só eu que ficou envolvida. Ele também. Vi ternura em seu olhar, mas
vi outra coisa também... desejo. Como é possível? Não sei. Então vou parar de
pensar a respeito, porque quanto mais tento entender, mais confusa fico.
E para alimentar ainda mais a minha confusão, meu sétimo dia no paraíso da
The Order não está indo bem. Assim que Kellan insinuou que Oliver não
dormiu em casa e sim na casa de Max, onde rolou mais uma das suas
“festinhas”, meu humor azedou. Ridículo, eu sei. Mas difícil evitar.
Kellan foi uma distração bem-vinda para o meu dia. Impediu que imagens
como a de uma bela ruiva subindo e descendo no colo de um certo Deus do
Rock dominassem meus pensamentos. Quem será que sentou naquele colo
ontem? Ruiva? Loira? Morena? Uma de cada? Inferno!
Oliver ficou horas conversando em tom baixo com Lian lá no deck. Lian em
algum momento pareceu se alterar um pouco com ele, mas não deu para
entender do que falavam. Assim que o guitarrista foi embora, se enfiou dentro
de casa e não deu mais as caras.
O bebê da banda foi todo prestativo comigo. Conversamos principalmente
sobre a minha vida, meus pais e infância. Ele me convidou algumas vezes para
um banho de mar ou piscina, mas além de eu não querer fazer isso com Oliver
e Lian observando, há também o fato de que não possuo nenhuma roupa de
banho. Então jogamos cartas, depois lanchamos juntos ali no deck mesmo e
quando o sol já não estava tão forte, tentamos o frescobol na areia, onde eu
mais o fiz correr atrás da bolinha do que efetivamente jogamos. Esportes nunca
foram o meu forte.
Ao pôr-do-sol, Kellan foi embora e eu fui para o quarto tomar banho e
trocar de roupa.
– Oi Laura. – Encontro-a na sala ao sair do quarto.
– Oi Bia, teve um dia divertido?
– Sim, muito.
– Está com fome? Acabei jantando...
– Na verdade não muita, exagerei no lanche que Gia levou para nós lá fora.
– Laura não está normal, ela fala comigo, mas seu pensamento está longe.
– Estou te achando um pouco triste. Aconteceu alguma coisa?
– Nada de mais. Estou preocupada com Oliver na verdade. Ele não comeu o
dia inteiro. Oliver se isolar e não comer é um grande fator de alerta para mim.
– Não compreendo o comentário e não quero ser invasiva. Mas um ponto me
toca. – E ele praticamente não saiu daquele quarto hoje, Bia.
– Será que ele está se sentindo incomodado com a minha presença? Porque
se for isso, por favor, seja sincera comigo e eu dou um jeito. Não quero causar
mal-estar a nenhum de vocês.
– Não é nada disso. – Esclarece uma voz rouca, firme e imponente. – Você
não incomoda e vovó está exagerando. Só quis recuperar o sono.
– Que bom que veio se juntar a nós, filho. Passou o enjoo?
– Está melhor. – Procura o meu olhar enquanto fala. Desvio. Ele se joga no
sofá a nossa frente, a vontade, relaxado, balança as pernas e passa a mexer no
telefone.
– Então Bia, você e Kellan tem se dado bem, não é? – Pergunta Laura.
Oliver desvia a atenção do aparelho e assim como a avó, me observa em
expectativa.
– É, estamos criando uma amizade bacana – respondo.
– Só amizade? – pergunta ela. E se alguém quiser fritar um ovo na minha
bochecha agora, pode ficar à vontade.
– Sim, apenas isso – digo.
– Nem uma chance de virar algo mais? – Ela insiste. Ele continua me
observando atentamente.
– Laura, Kellan é ótimo. Qualquer garota ficaria feliz em tê-lo como
namorado. Não posso dizer o que vai ser do futuro, mas por enquanto não há
nada além de amizade entre nós. – Ele volta a se concentrar no celular, a cara
fechada, já não o sinto tão relaxado.
– Torço para que vocês se acertem, formariam um casal muito bonito.
Alicia também está animada com a possibilidade – fala ela. Ai senhor, como
dizer a ela que tenho uma outra visão do casal bonito? Uma onde a sogra não é
Alicia.
– Desculpem, mas piorou o meu enjoo. Vou voltar para o quarto. Boa noite
às duas. – De repente ele se levanta e sai.
Laura nitidamente volta a ter o ar preocupado de antes. Faço companhia a
ela e procuro falar de outros assuntos para tentar distrai-la.
Perto da meia noite, escuto alguém chamando meu nome do lado de fora.
Laura abre um sorriso enorme.
– Acho que Kellan não aguentou esperar até amanhã –diz. Olho pelo vidro e
realmente é ele quem está lá. Vou ao seu encontro, entender o que ele quer.
– Bia, eu... eu pensei se talvez... Você gostaria de se juntar a nós na casa de
Lian, estamos bebendo e conversando no deck. Por favor. – Convida,
encabulado e esperançoso.
Ah, meu Deus!
Bem... vamos lá.
No que me volto para avisar Laura que sairei com ele, Oliver está de volta
à sala. Ele tem o semblante fechado, o maxilar travado e os olhos fixos em
mim. Será que ele não aprova minha amizade com o Kellan?
Ahh, quer saber? Que Oliver se exploda! Não vou estragar a minha noite e
não vou ser mal educada com Kellan, que me tratou muito bem o dia todo.
Aceito e saio com o garoto.
Se no dia do jantar de apresentação consegui escapar e não ficar sozinha
com a The Order inteira, hoje não tive a mesma sorte.
E hoje é muito, muito pior.
Estou irritadíssima com Oliver. Idiotice, eu sei.
Que direito eu tenho sobre a vida dele? Sobre o que fez na noite anterior e
sobre onde e em quem ele enfiou o ... Argh!! Só de lembrar... só de pensar...
A princípio o Sr. Bipolar não deveria fazer parte da reunião, contudo, nem
cinco minuto após chegarmos ele veio se juntar ao grupo.
Oliver vira e mexe fixa os olhos em minha pessoa, aparentemente
incomodado com a minha proximidade com o baixista. E eu, evito os dele a
todo custo.
Kellan levanta-se. Provavelmente para buscar nossas bebidas e ele parece
relaxar um pouco.
– Conta aí Oliver, o que rolou para mudar de ideia e vir se juntar a nós
nesta linda e fresca noite estrelada para uma cerveja? Cansamos de te convidar
e você negou categoricamente. E de repente aparece? – Lian tem um sorriso
debochado e um ar provocativo. Oliver o encara com irritação e uma velada
advertência estampada na cara.
– Também estou curioso. Passou o enjoo?
– Não. Só piora. – Lian ri quando ele responde bruscamente à pergunta de
Max e sinto que me encara outra vez.
Que saco!
Qual o problema dele? Será que não me quer ali? Participando do momento
com eles? Ou... putz... só posso estar sendo uma bela de uma empata foda. Se
eu não estivesse ali eles provavelmente já estariam cercados de amigas, não?
Meu mal humor acaba de piorar.
Kellan retorna para a mesa trazendo dois copos e duas cervejas. Ele pousa
um dos copos na minha frente e me serve.
– Você não deveria beber. – Ah Oliver, não é um bom momento para
implicar comigo, não mesmo... Respiro fundo. Preciso achar a calma dentro de
mim.
– Larga do pé da garota, Oliver.
– A conversa não é com você, fedelho.
– Quem não deveria beber é você – retruco, irritada. Pelo visto, a calma
não será minha parceira hoje.
– É mesmo? – Ele cruza os braços. – E por que eu não deveria beber
Beatriz? Fiquei curioso. – Lian parece relaxado e só observa, divertido. Max
tem os olhos em expectativa, confuso e também bem interessado em entender
porque eu desafiei o vocalista.
– Porque você não comeu nada o dia todo, Oliver. Por isto! Sua avó está
bem preocupada com você. – Ele suaviza a expressão, descruza os braços e
passa as mãos pelos cabelos. Lian pega o telefone e digita alguma coisa.
– Ela reclamou disso também com você?
– Brilhante dedução, Sherlock. – Os outros três riem e Oliver estreita os
olhos para mim.
Deus! Controle a raiva, Bia... ou então pelo menos mantenha a boca calada
perto dele.
– Você está no modo petulante, pelo visto.
– É. Acontece sempre que estou na presença de alguém no modo implicante.
– Max deixa escapar um “porra” e Lian uma gargalhada. Kellan está com cara
de quem não está entendendo muita coisa.
Também não me reconheço, Kellan.
Eu não tinha prometido manter a boca fechada?
Ele estreita ainda mais os olhos, só que agora de um jeito diferente.
Parecem repletos de... promessas... Elencando coisas que gostaria de fazer co-
mi-go por causa do meu atrevimento. Um calafrio sobe pela minha espinha e
me faz estremecer ante aquela deliciosa possibilidade. Lian sai da mesa.
– Já passou da hora de crianças estarem na cama, Beatriz, sabia?
– Por que Oliver? Estou atrapalhando alguma coisa? Se estiver é só falar,
vou para a cama num instante.
– Não atrapalha nada não, Bia. – Max intercede. – Baixa a bola, Oliver.
– Não vejo porque deveria. Eu sou o implicante, vou fazer jus ao título.
Sabe-se lá quantos outros títulos eu tenho negligenciando. Tem mais algum a
qual eu deva dar a devida atenção, Beatriz?
– O de babaca talvez. – Responde Kellan antes de mim.
– É. Esse até que combinaria bem com você. – Descarrego a frustração sem
nem medir as palavras e meu rosto incendeia na sequência.
Até que demorou.
Cacete! Eu e minha coragem fora de hora! Mas por Deus, a cara de surpresa
de Oliver agora é impagável. Max tenta muito segurar a gargalhada, mas não
consegue, Kellan acompanha e eu acabo entrando na onda e rindo junto. Até
Oliver, no fim das contas, deixa escapar uma risadinha, aliviando o clima. Lian
se aproxima com um prato na mão e o coloca na frente dele.
– Coma. Seu mal é fome. – Ele olha para o sanduíche e torce o nariz. Mas
no fim o pega e dá uma mordida.
Senhor... até isso ele consegue fazer de um jeito sexy... Minha boca enche de
água de repente. E não é pelo sanduíche.
Uma gelada brisa do mar sopra um pouco mais forte que o normal, me
causando arrepios. Esfrego uma das mãos pelo meu braço em reflexo ao frio
repentino. Kellan percebe, aproxima mais sua cadeira e passa um dos braços
pelo meu ombro me puxando de encontro a si.
Oh oh! Não esperava por isso.
Fico sem jeito de afastá-lo. Lian e Max erguem as sobrancelhas para o
garoto. Oliver, que se preparava para mais uma mordida em seu lanche, para
com a comida a centímetros da boca, aparentemente indigesto. Kellan dá um
beijo em minha cabeça e o Sr. Bipolar larga a comida no prato e se levanta.
– Desculpe Lian, mas o enjoo tá foda de aguentar. Não consigo comer. Boa
noite!
– Mas... Já vai? – Max o olha preocupado. Lian também, só que de uma
forma diferente, mais alarmante.
– Vou Max, isso. – Ele faz movimentos circulares em frente ao estômago. –
Está me deixando extremamente irritado. Se eu não sair daqui posso fazer
coisas de que me arrependa. Inclusive cometer um ato de violência.
Dá as costas e vai embora. Ele realmente não me tolera no meio deles.

Depois que os outros entraram, Kellan sugere uma caminhada pela praia.
Aceito.
No início fiquei com receio de que ele avançasse o sinal, mas apenas tentou
me conhecer melhor. E caminhar foi ótimo para desestressar e dissipar a minha
raiva.
Fomos um pouco além da distância que cheguei na fatídica noite. Ele me
explicou que o paredão de pedras foi construído ali para inibir a entrada de
moradores das áreas vizinhas do condomínio. E que a construção que
avistamos é mesmo uma marina. No mais, ele me contou sobre seus estudos,
como se preparou desde novinho para assumir o baixo na banda, o que sempre
foi o seu sonho. Ele cresceu admirando o primo e os amigos e sempre teve a
certeza de que era aquilo que queria também para o seu futuro.
Elogiei seu trabalho, descrevi todas as diferenças que percebi nas músicas
depois que ele entrou e ele ficou maravilhado com isso. Se espantou por eu
conhecer tanto. Então contei para ele um pouco da minha vida no colégio, da
bolsa pelo meu envolvimento com o coral e das minhas tentativas frustradas de
arranhar alguma coisa no piano.
Ao retornarmos, ele me acompanha até a frente da casa de Oliver, nos
despedimos ali na areia mesmo.
– Obrigada pela companhia, Bia. Adorei a nossa noite. – Me puxa para um
abraço um pouco demorado demais, me dá um beijo na bochecha, me deseja
boa noite e diz que sentirá saudades no meu ouvido. Não consigo dizer nada.
Assim que ele se vai, rumo para dentro de casa.
– Foi bom o passeio? – Ouço, ao me aproximar da entrada da sala. Fecho
meus olhos e respiro fundo antes de olhar na direção dele. Volto-me devagar e
procuro-o. Ele está numa mesa mais afastada do deck, depois da piscina,
protegido por sombras que dificultam perceber sua presença. Permaneço onde
estou, embora agora esteja olhando para ele.
– Foi ótimo! A noite está fresca e bonita, e Kellan é um amor – respondo
com certa raiva. Sabe aquela questão que a caminhada amenizou? Não mais.
Por que cargas d’agua tudo nele hoje me irritada? Deve ser a TMP.
– Ele é sim. Um bom menino – diz.
Espero uns instantes e como ele não acrescenta mais nada, desisto.
– Vou me deitar. Boa noite, Oliver.
– Não vá – pede antes que eu consiga alcançar a porta. Fecho meus olhos
em desespero. – Fique um pouco aqui, comigo.
Meu coração dispara. Acho que até Oliver é capaz de ouvir o som das
batidas lá de onde está. Minha razão diz para eu dar as costas de vez e ir para
o quarto. Ainda mais quando Oliver e as palavras fique e comigo estão todas
juntas no mesmo pacote. Mas minhas pernas têm vida, e vontade, próprias, e
lentamente me levam para perto dele.
Me aproximo da mesa em que está, o aroma de menta me tonteia, o desejo
de tocá-lo ascende e está cada vez mais difícil de disfarçar. Puxo uma cadeira
e me sento. Vejo que ele está bebendo uma cerveja.
– Quer uma cerveja? – oferece, depois de um tempo estudando meu rosto.
Ele só pode estar de sacanagem, né?
– Acho que não tenho idade para beber, lembra? – falo, irônica, o
encarando de volta.
– Verdade. Não tem. – Devolve ele, sem desfazer o contato. – Não tem
idade para beber e nem para ficar dando voltinhas às duas da manhã com
pirralhos pela praia escura.
O que? Ele disse mesmo isso? Me deu um pito como se fosse o que? Meu
pai? Aquilo eleva o nível da minha ira. Minha raiva adquire um tom bem
alaranjado, próprio das ruivas.
Inferno! Quem ele pensa que é?
– Pirralho ou não, ele me tratou muito bem o tempo todo. – O fogo na
bochecha sobe, ainda bem que está escuro.
Pelo visto a coragem de antes não me abandonou.
Mas sustento o seu olhar, que não afrouxa.
Ele dá um sorriso de lado. Debochado.
– Sim, diferente do implicante e babaca aqui... – Engulo em seco. Eu
realmente falei aquilo para o homem que está me dando abrigo em sua casa?
Acho que ele tem um pouco de razão em estar zangado comigo. – Ele é ótimo!
O que mais mesmo? Deixe-me ver se me lembro de tudo...Talentoso, divertido,
bonito. Esqueci de algo? Ah sim, um amor! E qualquer garota gostaria de tê-lo.
Ali, já não estou entendendo o que exatamente ele quer dizer com aquilo.
Acho que na verdade ele está meio bêbado.
– Qual o objetivo de toda essa... panaceia?
– Uhm, escolha interessante de palavra. Você o considera isso? A sua
panaceia, Beatriz?
Ah querido, não... não ele...
– Onde você quer chegar com isso? Diga de uma vez. – Sigo firme, sem
parar para pensar de onde vem a ousadia. Mas aproveito, antes que o meu
momento carruagem acabe e eu vire abóbora de novo.
– Onde eu quero chegar? Não sei. E você, Beatriz? Onde você quer chegar?
Meu chão some com suas palavras. Devo ter ficado até branca.
Será que... será que eu entendi direito e ele está mesmo insinuando que
estou me aproximando deles, ou de Kellan, com interesses escusos?
Repasso a fita das nossas interações e então eu entendo tudo. O motivo do
seu enjoo e do seu distanciamento. Aquela cena no escritório, a conexão que eu
senti. Todas as outras interações que ele provocou... Tudo armado! Armado
para me testar. Ver se me insinuaria de alguma forma para ele também, como
ele imagina que estou fazendo com Kellan.
Sinto meus olhos encherem de água. Pensar que qualquer outro cara tenha
uma ideia assim a meu respeito me magoaria. Saber que ele tem, me fere!
Profundamente.
Me levanto e respiro fundo, tentando conter o choro.
– Não se preocupe, Oliver. Sei que não está feliz com a minha presença
aqui. Até o final da semana prometo que resolvo minha situação.
Viro as costas para ele, mas antes que eu consiga dar o primeiro passo ele
segura o meu pulso, me impedindo. A eletricidade estonteante, efervescente,
que só a sua proximidade me provoca, percorre meu corpo outra vez e eu já
não tenho mais noção nem do espaço e nem do tempo. Mas ela não cabe ali.
Ele me machucou demais com a sua insinuação.
– Me olhe, por favor. – Faço um esforço sobre-humano para não ser mal-
educada e atender ao seu pedido.
O encaro outra vez.
Oliver desliza os dedos do meu pulso até a palma da minha mão, causando
choques por onde passa, entrelaça os dedos nos meus, puxa minha mão em
direção ao seu rosto, leva-a até a boca e dá um beijo demorado no dorso,
fazendo-me sentir o calor dos seus lábios. Tudo sem tirar os olhos dos meus.
– Me perdoe se te magoei – diz ao afastar minha mão dos seus lábios, mas
sem soltá-la.
Eu não tenho mais forças para dizer qualquer coisa, apenas assinto, puxo
minha mão e vou embora. Chego ao quarto, me troco e me deito.
Sentimentos conflitantes me acompanham. Ao mesmo tempo que deixo
algumas lágrimas caírem, levo minha mão ao rosto, tentado sentir se sobrou
algum aroma do perfume dele. A pele formiga onde ele beijou e tocou. Fico
ali, esvaziando a decepção e desfrutando ao máximo daquela sensação que o
nosso contato deixou.
Até que o sono me pega.
Eu sonho com olhos felinos, lábios quentes, mãos entrelaçadas e sorvete de
menta.
Capítulo 7

“Ela é só uma menina


E eu deixando que ela faça
O que bem quiser de mim
Se eu queria enlouquecer
Essa é a minha chance, é tudo que eu quis
Se eu queria enlouquecer
Esse é o romance ideal”
(Romance Ideal – Paralamas do Sucesso)

Oliver

P õe essa merda de cabeça no lugar, caralho! Aqui, sentado


no deck, com a cerveja esquentando na mão, me nego a
acreditar no descontrole que me possuiu esta noite e no
que eu acabei de fazer.
Quando Kellan a chamou para se juntar a eles, meu mundo parou. Quis me
intrometer, proibir, mandar o fedelho embora, enfim, fazer qualquer coisa para
evitar o tipo de interação, mais do que clara, que ele esperava ter com ela.
Fixei o olhar nela, na esperança de que visse o meu desagrado e declinasse.
Mas ela aceitou.
Tentei voltar para o quarto e deixar para lá, ignorando a estranheza de vovó
pelas minhas reações, me joguei na cama e encarei o teto, mas a angústia e a
necessidade de garantir que ele não avançasse o sinal foram crescendo e
crescendo dentro de mim até que sucumbi e me juntei a eles.
Só que ao chegar lá não consegui entender o que era pior, a angústia de
antes ou o gosto amargo de olhar para os dois tão próximos. E a gota d’agua
foi o momento em que ele a abraçou e beijou os seus cabelos.
Foi por pouco, muito pouco que eu não a arranquei daquela cadeira e a
levei para casa.
Era primordial que eu me distanciasse.
Sentei no meu deck e fiquei monitorando os atos dele de longe. E quando vi
que os outros se foram e os dois começaram a caminhar em direção a marina
eu tive certeza de que quando voltassem, certamente se conheceriam num nível
bem mais pessoal.
Não consegui, por um minuto sequer, afastar da minha mente as imagens das
coisas que normalmente fazem dois jovens encantados um pelo outro,
passeando sozinhos pela praia pouco iluminada.
Aquela possibilidade foi me atordoando, uma raiva misturada com
impotência e o sentimento de posse foi tomando conta. Bebi uma cerveja atrás
da outra sentado num local que permitia a visão do caminho até a marina, mas
não deixava tão perceptível a minha presença.
Felizmente, os dois só caminharam e conversaram. Não gosto nem de
pensar o que eu teria feito, visto o turbilhão de sentimentos que rondam o meu
íntimo, se o cenário fosse outro.
Metido os pês pelas mãos? No meu atual estado? Com certeza!
Para minha sorte, Kellan não tentou nenhuma aproximação mais íntima, o
que me acalmou.
Calma essa que desmoronou outra vez ao presenciar a despedida deles.
O pirralho envolveu a menina num abraço apertado, passando os braços em
torno da cintura dela, e a manteve ali, presa naquele abraço por tempo demais.
Ela fechou os olhos e o abraçou de volta. Depois ele falou algo no ouvido dela
e ela sorriu. Ele beijou sua bochecha de forma muito demorada e por fim ele se
foi e ela entrou.
Ou teria entrado se eu não a tivesse interceptado.
Aí veio a merda de conversa que tivemos, na qual claramente eu feri seus
sentimentos.
Vi quando seus olhos ficaram rasos d’água e me senti um bosta por ter
magoado um anjo como ela, com aquela sugestão prepotente de que agiu com
segundas intenções ao se aproximar de Kellan. Quando a verdade é que meu
rompante tem um nome bem definido, chama-se ciúmes.
Ciúmes dela.
Não sei lidar com eles.
Nunca precisei.
Percebi sua raiva enquanto conversamos. Evidente que de todas as pessoas
que ela conheceu aqui, eu seria a non grata. Não me esforcei muito para fazê-
la se sentir acolhida, como vovó, Lian e todos os outros fizeram de alguma
forma.
Durante a nossa conversa, ela não se abalou ou mostrou-se afetada em
momento algum por eu ser quem sou. Pelo contrário, defendeu seu ponto
sustentando o meu olhar o tempo todo. O que me deixou ainda mais encantado
por ela.
Qual foi a última vez que pude conversar com uma mulher, fora as da
família ou Riley, sendo apenas Oliver e não o cobiçado astro do rock? Qual a
última vez que uma mulher me desafiou e me chamou de babaca?
Sorrio. Acho que nunca.
Quantas vezes, ao engatar um diálogo com uma garota, eu não senti o cheiro
da dissimulação e do interesse explícito?
Raras vezes.
Por isso que dizer o que disse e magoá-la daquela forma fizeram com que
me sentisse o pior homem do mundo. Ouvi-la afirmar que resolveria o seu
problema até o final da semana me cavou um vazio enorme no peito. Vazio este
que está aqui até agora, horas depois de ela ter arrancado sua mão da minha e
se afastado.
Preciso mudar isso. Não posso deixá-la ir.
Não vou!
Mesmo sabendo que uma hora ou outra, elas sempre vão.

Acordo com o meu celular vibrando. Estico minha mão até o criado-mudo e
pego-o. É de Lian.

Princesa, acorda! O tio pediu


uma reunião com todos
Ué, nas férias? Aconteceu alguma
coisa?
É o que vamos descobrir. Na
reunião
Onde?
Ele está vindo pra cá em uma
hora
Ok, daqui a pouco bato ai

São dez e trinta. Levanto, tomo um banho rápido, coloco uma bermuda e
uma camiseta e saio em busca do café da manhã. Ao me aproximar da cozinha,
vejo que vovó e Beatriz ainda estão ali tomando seu café. Me aproximo e beijo
o topo da cabeça de dona Laura.
– Bom dia vó. Beatriz – digo me dirigindo as duas.
– Bom dia, querido.
– Bom dia – responde a garota, ríspida. Nem posso reclamar, mereço.
Percebo então que dona Laura está muito arrumada para alguém que vai
passar o dia em sua casa à beira-mar.
– Onde vai assim? – Ergo a sobrancelha para ela.
– Combinei com Alicia e Helen de irmos ao shopping em Long Beach. Ela
quer comprar algo para o aniversário de Hazel. Aliás, Hazel virá almoçar aqui
e passar a tarde com a Bia.
– Certo.
– Queridos, se me dão licença eu vou indo. Caso contrário, chegaremos
muito tarde em Long Beach.
– Claro, Laura.
– Até mais tarde, vó.
Como um repeteco da noite anterior, ficamos apenas Beatriz e eu à mesa.
Depois do que fiz ontem tenho que começar a pensar em alguma coisa para me
redimir com ela.
– Você e Hazel se deram muito bem, não? – começo.
– Sim, ela é um amor.
– Não sei como eram as suas amizades lá em Chicago, mas se quiser
convidar alguma amiga para vir aqui, pode convidar. Basta organizar as coisas
com Peter e Riley antes.
– Obrigada Oliver, mas não tenho amigas. E mesmo que tivesse, não ficarei
aqui tempo suficiente para isso.
E ali está novamente, o olhar sentido e a menção de se mudar daqui.
Respiro fundo, tentando ganhar tempo para achar as palavras corretas.
– Beatriz, eu sinto muito. Sinto muito mesmo pelas coisas que eu disse
ontem à noite. Nem por um segundo eu pensei, ou penso, que você esteja aqui,
ou que tenha se aproximado de qualquer um de nós, para levar algum tipo de
vantagem. Eu fui um idiota dizendo aquilo para você, que certamente não
merece. Me senti péssimo quando vi o quanto você ficou magoada, ainda estou.
Ela se vira para mim e não gosto da raiva e ressentimentos que vejo.
– Na verdade eu acho que você pensa sim. Por que outro motivo insinuaria
aquilo? E você está no seu direito de pensar o que quiser, afinal fui eu que
invadi o seu espaço. Só por favor, não tente colocar panos quentes e assuma de
uma vez o que acha da situação. É nítido o seu descontentamento sempre que
estou por perto. Ou perto de Kellan. Prefiro encarar a realidade de frente logo.
A vida me ensinou que essa é sempre a nossa única opção. Não precisa se
preocupar comigo, eu sou bem mais forte do que pareço.
Deus, as palavras dela são um soco no meu estômago. Se ela soubesse o
real motivo de não gostar de vê-la perto do fedelho... Decido ser o mais
sincero possível.
– Realmente, eu não gostei quando vovó falou que teríamos alguém
invadindo nossa vida. Eu fui contra trazê-la para cá, não fui contra a ajudá-la,
veja bem, mas sugeri a dona Laura que fizéssemos isso sem nos envolver
diretamente. Ela não aceitou, foi irredutível, disse que caso você não pudesse
vir, ela iria morar com você em outro lugar.
– Entendo. E para que ela não fosse embora, você foi obrigado a concordar.
– Sim.
– Bom Oliver, eu só posso pedir desculpas por causar problemas. Eu não
fazia ideia para onde eu estava vindo, e com certeza papai também não, ele
teria me dito se soubesse. A única coisa que posso fazer para consertar isso é
prometer que sairei daqui o quanto antes.
– A questão não é essa Beatriz, isto que eu lhe contei é verdade, mas não
tem nada a ver com me sentir desconfortável quando você está por perto, ou
com ter dito o que disse ontem.
– Não?
– Não.
– Então, por quê?
– Aconteceram coisas na minha vida que me marcaram muito. De uma forma
ruim. Não vem ao caso aqui o que aconteceu, mas o efeito que isso teve sobre
mim. Eu não quero ter em minha vida alguém a quem eu possa me apegar, além
de dona Laura e das pessoas que você conheceu ontem, é claro. E é quase
impossível não se apegar a você, anjo.
Ela me olha, surpreendida. Continuo.
– Eu não estou sabendo lidar com isso. Ao mesmo tempo que quero manter
distância pelos motivos que acabei de revelar, também não quero pensar em
você indo embora daqui e ficando sozinha em qualquer lugar que seja. Quero
que fique. Acho que estou prestes a assumir o lugar daquele cogumelo murcho,
para a alegria do pentelho do Lian – digo, brincando com ela. Bia tem os olhos
cheios e um sorriso fraco no rosto. Mas pelo menos, o sorriso foi para mim.
– Eu...
– Por favor, me deixe terminar – peço. – Por não conseguir administrar isso,
eu senti raiva, raiva de mim mesmo. E acabei descontando em você ontem lá
no deck e em outros momentos também. Então sim, eu fui um escroto, idiota e
prepotente. Mas eu não penso aquilo, em nenhum momento, desde que te
conheci pensei algo assim sobre você. Muito pelo contrário. Mesmo você
tendo feito aquela bagunça toda lá na mesa do chá quando me viu. – Agora ela
solta um risinho gostoso e as bochechas coram.
– Nem me lembre daquilo. Nossa, que vergonha!
Deus, como é linda!
– Não se desculpe, deveríamos tê-la preparado. E também, foi bem
engraçado. – Ela me dá um empurrãozinho no ombro, como quem diz “pare
com isso” e quando percebe o que fez arregalada os olhos. Eu não estava
esperando o contato, mas gostei do toque e que se sentiu à vontade a ponto de
fazer aquilo.
– Desculpe...
– Não. – Seguro a mão dela e olho bem dentro dos seus olhos, para que
pare. – Fico feliz que se sentiu relaxada o suficiente em minha presença para
brincar comigo assim. Quero que sejamos amigos. – Ela leva os olhos às
nossas mãos unidas em cima da bancada. Olho para lá também. Sinto o seu
calor na minha pele e uma vontade enorme de puxá-la contra mim e abraçá-la,
assim como Kellan fez. Mas resisto e desfaço o toque. – Será que podemos
começar de novo?
– Tudo bem. – Suspiro aliviado. Finalmente me sentindo um pouco melhor.
– Agora sobre o seu futuro. Realmente gostaria que você pensasse com
carinho em cursar uma universidade. Não há necessidade de você trabalhar
agora. – Ela tenta falar algo, mas levanto minha mão para que espere.
– Anjo, te ajudar com isso, para mim, não é nada. O gasto com toda a sua
faculdade e tudo que ela possa envolver, é menos do que ganhamos em um mês.
Então por favor, me deixe fazer isso por você. Senão por você, então pelo seu
pai e o que ele representou para dona Laura. Não responda já. Pense.
– Ok, vou pensar – concorda e sorrio para ela. Meu celular vibra. Retiro do
bolso para olhar a mensagem.

Vai demorar muito, bundão?


Não, já estou chegando, boneca
Também te amo, bebê.
Johnathan já está aqui

Vejo a sombra de alguém se aproximar da bancada, ergo os olhos.


– Oi Hazel – cumprimento, fazendo Beatriz notá-la também. Ela levanta e
abraça a garota.
– Bom dia Oliver – diz a recém-chegada, ainda grudada à outra.
– Bem meninas, fiquem à vontade, estou indo para uma reunião no Lian.
– Reunião? – pergunta Beatriz me surpreendendo e corando logo em
seguida. Olho para ela meio sem reação, tentando processar seu
questionamento. Estranho eu ter que me explicar para ela, mas faço mesmo
assim.
– Sim, uma reunião que Johnathan marcou na casa de Lian. Divirtam-se –
completo e saio antes que aquilo fique mais esquisito ainda.

Chego na casa de Lian e encontro todos já reunidos na sala. Hoje está um


dia bem quente. Típico do calor da California, estamos no final de agosto.
Então ou se está na água ou se está em um ambiente com ar condicionado.
– Cheguei – anuncio, me largando na poltrona próxima deles.
– Pelo visto a donzela acordou de bom humor.
– Não enche, cacete – xingo Lian.
– Ah agora sim, é o Oliver que eu conheço.
– Garotos, deixem as provocações para mais tarde – pede Johnathan.
– Então Johnathan, qual o motivo dessa reunião em plena terça de
madrugada, durante as férias? – questiona Max. Se tem uma coisa que ele não
gosta é de ter horário para acordar nas folgas ou nas férias.
– O motivo é o aniversário da Hazel.
– Ah pai, sério? Estou liberado então, né? Vou dar uma volta – desdenha
Kellan. Eu olho para ele, seus olhinhos brilhando... e tenho certeza que a volta
que ele quer dar é em direção à minha casa.
– Tudo b... – Começa Johnathan, mas antes que ele termine, eu disparo.
– Não está liberado coisa nenhuma! – Todos me olham. Mas Lian é o único
que solta uma gargalhada. Ele captou.
– Por quê? No que vou poder ajudar sobre esse assunto? – Insiste.
– Você não quis fazer parte da banda? Pois bem, a banda está aqui reunida e
você fica também. É como casamento, na alegria e na tristeza – discorro sobre
o assunto, para não revelar o real motivo de não deixar o moleque ir. – E além
do mais, Hazel é sua irmã, você ajudará no que for preciso.
– Puff – bufa ele, jogando-se de volta no sofá.
– Bom, então vamos ao que interessa – segue Johnathan. – Hazel vinha
afirmando que não queria comemorar seu aniversário este ano. Eu e Alicia
estranhamos, pois normalmente ela sempre gostou. Questionamos sobre seus
motivos há mais de um mês, mas ela só dizia que não estava a fim. Então ontem
tentamos de novo e ela acabou confessando que se for para comemorar, teria
que ser de outra forma e não como é todos os anos. Que ano passado se sentiu
mal, pois no tipo de festa que gostamos de dar a ela, ela se sente uma criança,
coisa que não é mais. Palavras dela. – Suspira o pai, como se sentisse dor em
admitir que a filha cresceu.
– Bom tio, e como a nossa princesa quer comemorar seus dezessete anos? –
Ele toma fôlego, demonstrando que não gosta nada das palavras que vai falar
em seguida.
– Ela quer comemorar numa boate em LA.
– O que? – dispara Max, como se aquilo fosse o cúmulo.
– Isso mesmo, ela quer ir para uma badaladíssima casa noturna de Los
Angeles. Diz que sonha em dançar a noite toda, até amanhecer, como qualquer
garota da idade dela faria. Mas que só aceitaria isso se todos nós fôssemos
também.
– Nem pensar. – Max rebate.
– Concordo com Max, Johnathan – falo.
– Pois eu acho que é totalmente possível atender à vontade dela. – Claro
que tinha que ser o Lian para concordar com uma coisa dessas.
– Estou com o primo. – Kellan opina.
– Óbvio que você está com o Lian. Doido pra cair na farra – resmunga Max.
– Velhos, a menina nunca nos pediu nada assim. Ela sempre aceitou as
nossas regras de merda sem reclamar. Regras estas que a impedem de fazer o
que as outras da sua idade fazem. Como namorar – constata Lian.
– Ai – geme Johnathan.
– Tio, desculpa ser bem sincero aqui, mas ela não quer ir para essa boate só
para dançar. Ela quer é beijar na boca. No mínimo.
– Porra, – xinga Max – nos poupe da visão Lian, por favor.
– Eu sei Lian, eu sei. Por isso que dói tanto – fala Johnathan, derrotado. –
Mas concordo com você filho, acho injusto não atendermos ao pedido dela.
Não podemos privá-la dessa forma das experiências normais de uma
adolescente. Acho que ela até aguentou demais. E nem teria pedido nada se
Alicia e eu não insistíssemos.
– Johnathan, poderíamos fechar essa tal boate? –pergunto.
– Aí é que está Oliver, ela não quer uma boate fechada, ela quer que esteja
bem lotada, inclusive. – Lian gargalha da cara de nojo que Johnathan faz. Max
tem a mesma expressão.
– Mas como poderíamos ir todos se a boate não for fechada? – questiono. –
Não sobraria nada de nós quatro ao final da festa.
– Ah, ela já tinha tudo orquestrado na cabecinha. Deve estar sonhando com
isso há tempos. Segundo minha adorável filha, a tal casa noturna possui uma
área vip, na parte superior que é toda de vidro, inclusive o chão, e que dá uma
ampla visão da pista lá embaixo. Porém, o contrário não é verdadeiro. Disse
que poderíamos fechar essa área e vocês ficariam lá com toda a segurança
necessária e ela e seus poucos convidados “não famosos”, como ela disse,
poderiam transitar como bem entendessem entre os dois ambientes.
– Eu teria que ficar só nessa área VIP também?
– Com certeza! – falamos os três juntos, respondendo à pergunta de Kellan.
– Merda!
– Não gosto da ideia. Será um esquema fodido para isso funcionar sem que
fãs descubram que estaremos lá e cerquem o local. Mas sou a favor de
tentarmos, pela felicidade dela. – Me resolvo. – Caso algo saia dos trilhos,
não iremos, mas você, Alicia, vovó e Helen poderão estar lá com ela.
– E Bia também – constata Max, me olhando bem dentro dos olhos. Engulo
em seco.
– Claro, e Beatriz também – digo, mesmo que isso me incomode.
– Bom, já que estamos de acordo, vou fechar a reserva do espaço vip. Max,
fiz a reunião a esta hora pois o gerente da casa noturna me disse que a data só
está disponível porque houve desistência semana passada, mas que já tem pelo
menos dois interessados. É muito difícil conseguir agenda sem pelo menos três
meses de antecedência. Tivemos sorte, então não quis arriscar esperar mais.
– Tudo bem Johnathan, fez bem – responde ele.
Meu celular acusa uma nova mensagem.
Oi, Oliver, é Bia. Desculpa te mandar mensagem,
mas é que Gia perguntou se você virá para o
almoço e não soube o que responder. Então Hazel
me passou o seu número
Olho para aquela mensagem feito um bobo. Só percebo que estou sorrindo
como um idiota para o telefone quando Lian não perde o lance.
– Hummm sorrindo para o telefone agora é? Nossa, qual será a causa de
tanto bom humor? – E enfia a cabeça na minha frente, tentando ver o que me fez
sorrir. Rapidamente escondo o visor dele.
– Teu cú, imbecil – respondo.
– Sério Oliver, estou ficando preocupado. Você chega aqui na maior
tranquilidade e leveza, não surta sobre a ida para uma boate em Los Angeles. E
agora está aí, sorrindo para o telefone e de segredinhos? Ou está doente ou está
apaixonado – diz, pronunciando a última palavra bem lentamente e me dando
um sorriso cúmplice.
– Ah com certeza é doença, – falo, já me levantando – convivência
prolongada com um certo vizinho pé no saco faz isso. – Vou para a área
externa, responder à mensagem de Beatriz em paz.
Penso no que dizer. Melhor almoçar por aqui e deixar as meninas à vontade
lá. Começo a digitar, quando ouço...
– Não pai, vou almoçar com Hazel. – É Kellan, que enquanto fala vai
saindo pelo deck. Termino a minha resposta e clico em enviar.

Vou sim. Logo chego aí

Bia

Apesar das palavras de Oliver mais cedo terem mexido muito comigo, e de
vez em quando invadirem meus pensamentos sem pedir licença, principalmente
a frase “impossível não se apegar a você, anjo”. E de eu ainda conseguir
sentir a sensação da sua mão na minha, a manhã com Hazel está sendo muito
divertida. Nossa afinidade é surpreendente. Nos sentimos tão à vontade uma
com a outra que não parece que nos conhecemos há pouco mais de uma
semana. Já conversamos sobre tantas coisas... Estamos no deck, na sombra,
tomando uma limonada. Está um dia muito quente, mesmo assim preferimos
ficar ali.
– Srta. Thompson, desculpe incomodar, mas sabe se o Sr. Rain virá para o
almoço? – Gia me pergunta antes de entrar.
– Não sei Gia, ele não falou. Me chame de Bia, por favor.
– Mandaremos uma mensagem para ele, Gia – fala Hazel.
– Ok Hazel, obrigada.
– Ah Gia, já adianto que o mala do meu irmão deve almoçar conosco.
– Tudo bem – diz e se retira.
– Aff, nem imagino qual a motivação de Kellan querer almoçar comigo... –
diz Hazel, me lançando um olhar meio de lado.
– Para Hazel... Imagina... – digo, já sem graça.
– O que? Imagina? É certo como dois e dois são quatro. O Kellan não é
daquele jeito que você viu no jantar ou no Max. Ele é bem extrovertido e
safado, isso sim. Deu mole, ele cai em cima. E esses dias está todo, todo...
doce... – Ela faz uma careta. – Não tira os olhos de você. Você abalou as
estruturas do meu irmãozinho. Vou adorar te ter como cunhada. – Para um
instante e mexe no celular. – Te mandei aí o número de Oliver.
– Por quê? Mande você a mensagem para ele...
– Mande você. Aproveita e fique com o contato para quando precisar.
– Tudo bem. – Salvo o número nos meus contatos e envio rapidamente a
mensagem para ele. Sério mesmo que tenho o nome Oliver Rain salvo nos
meus contatos? E não é fake? Olha isso, pai!
– Você acha mesmo que o seu irmão está dando em cima de mim? Porque a
gente passou um tempo juntos e tal, mas ele foi bem educado, não tentou nada.
– Ele está encantado! Não tentou ainda....
– Ai, céus! O que eu faço?
– Ué, se ficou interessada, dê corda. Senão coloque o pentelho no lugar
dele. – Eu não aguento e gargalho.
– Hazel, essa sua última frase ficou no mínimo... estranha... – Ela pensa um
pouco, lembrando o que disse e cai na gargalhada também. Meu telefone apita.
É Oliver avisando que virá almoçar. Peço licença a Hazel, vou rapidamente
dar o recado a Gia e retorno. Resolvo perguntar de uma vez o que estou louca
para saber.
– Posso te fazer uma pergunta bem íntima? Se você achar que estou sendo
enxerida demais não precisa responder.
– Ah Bia, até já sei o que você vai me perguntar. E quanto a ser enxerida,
por favor, seja. É desse tipo de amizade que nós duas precisamos, não é
mesmo? Do tipo que é possível contar tudo uma para a outra.
– Sim, bem desse tipo. – Sorrio para ela. – E então? Vai responder sua
amiga enxerida?
Ela suspira.
– Você promete não me julgar?
– E por que eu julgaria?
– Porque eu acho que você ficará horrorizada. – Arregalo os olhos. Será
que ela é chegada em coisas bizarras? Hazel não espera que eu questione.
– Nunca fiz. Sou tão virgem quanto era no dia em que vim ao mundo.
– E por que isso me deixaria horrorizada? Você sabe a minha situação...
– É que eu não sei se algum dia isso vai mudar. Daí você vai me perguntar
por que, e quando eu te contar, você vai se horrorizar. – Eu me afogo um pouco
com a limonada e tusso, ela está me assustando.
– Ué? Por quê? – Resolvo perguntar mesmo assim.
– Porque eu só me imagino fazendo isso com uma única pessoa. Que é
quatorze anos mais velho do que eu. Faz parte da minha “família”. – Ela faz
aspas com os dedos – Ou seja, alguém que jamais vai olhar para mim dessa
forma.
Puta-merda! Meu coração dispara. Será que ela também é secretamente
apaixonada por Oliver? Deus, era só o que faltava... Acho que não poderei
contar tudo para ela final. Melhor saber de uma vez.
– Oliver? – indago, com medo da sua resposta. Ela arregala os olhos para
mim, mas antes que possa confirmar ou negar, vemos Kellan se aproximando e
Oliver logo atrás dele. Isso vai ser estranho, penso.
– Oi, Bia – cumprimenta Kellan.
– Também estou aqui maninho – cobra Hazel.
– Oi pentelha – diz ele, revirando os olhos.
– Oi meninas. – Chega Oliver logo em seguida.
– Também estou aqui, Oliver. – Kellan imita a fala de Hazel, para irritá-la.
– Pois então, o que eu falei? Me-ni-nas! – provoca Oliver, com um meio
sorriso nos lábios.
– Vá se foder!
– Vamos almoçar. O quanto antes fizermos isso, mais cedo me livro de
você.
Nos dirigimos ao interior da casa, rumo a mesa posta.
Pretendo me sentar no lugar de sempre, onde ficaria à frente de Laura e na
diagonal de Oliver. Hazel se aproxima de onde Laura normalmente senta e
Oliver vai se encaminhando para o seu local costumeiro, porém muda de ideia
e puxa a cadeira ao meu lado. Como não me aproximei totalmente ainda e nem
Hazel se sentou também, discretamente empurro-a para se sentar ao lado dele e
tomo o assento ao lado de Kellan, que agora já está acomodado ali. Hazel me
olha assustada, mas não discute. Depois do que ela quase me confidenciou lá
fora, não pretendo criar nenhum mal estar entre nós. Então melhor que ela se
sente logo ao lado dele.
Começamos a nos servir. Percebo que Kellan tem um leve sorrisinho no
rosto e Oliver parece meio emburrado. Segundo Lian, esse é o “natural” dele,
então melhor me acostumar e não dar muita importância.
– Hazel, sua festa foi aprovada. – Oliver quebra o silêncio.
– O que? – Ela se vira para ele com os olhos brilhando. Me dando mais um
indício de que as minhas suspeitas estão corretas.
– Isso que você ouviu. A reunião no Lian era sobre a sua festa. Seu pai já
conseguiu a reserva da casa noturna. Está tudo certo.
– Huhuuuuuu! – Ela grita. – Não acredito! – completa e se lança no pescoço
dele, dando-lhe um beijo estalado na bochecha. Ele repuxa um pouco mais os
cantos da boca e lhe devolve o beijo. Fico incomodada.
– Que bom que está feliz – diz ele.
– Claro que estou. Terei uma festa de gente grande. Finalmente!
– Você sempre será o nosso bebê. – Oliver fala.
– Ela não é mais um bebê. – Me atravesso e instantaneamente o que
acontece? As bochechas flamejantes dão o ar de sua graça. Hazel arregala os
olhos para mim e Oliver continua comendo sem me olhar.
– Eu sei que não é. Mas sempre seremos os seus irmãos mais velhos.
– Ela já tem um irmão, não precisa de outro. – O que tinha naquela
limonada? Não sei se falei isso por causa de Hazel ou se foi pelo fato dele ter
sugerido mais cedo que tomaria o lugar do meu irmão-cogumelo, o que não me
deixou um gosto bom na boca.
Oliver larga os talheres e me olha fixamente, devolvo a encarada. Hazel
treme a boca como que tentando conter uma risada. Até Kellan me olha em
expectativa.
– O irmão dela é um fedelho que não sabe tomar conta nem das próprias
bolas – larga ele, raivoso. – Quem dirá cuidar de uma mulher. – Mulher.
Ele falou mulher.
E não menina.
Então ele enxerga sim ela como uma mulher.
– Cara, o que eu fiz para você? Por que deu para implicar comigo? –
reclama Kellan, obrigando Oliver e eu a quebrarmos o contato visual.
– Nada, desculpa.
Hazel levanta e se aproxima de mim para dizer algo em meu ouvido, bem
baixinho.
– Não é Oliver, sua louca. Mas depois você vai me explicar algumas coisas
bem direitinho. – Uma onda de alívio me invade instantaneamente. Nem eu
tinha ideia de que estava tão tensa.
– O que as duas estão cochichando aí? – pergunta Kellan.
– Não é da sua conta. – Ela corta o irmão.
– O que vocês vão fazer hoje à tarde? – Tenta Kellan mais uma vez.
– De novo, não é da sua conta! – reforça Hazel.
– Vamos tomar um banho de piscina? – convida, ignorando Hazel e se
virando em minha direção.
– Dá o fora, Kellan! – Oliver se intromete e explode, alto e ríspido, antes
que eu possa responder.
– Porra, de novo? – Kellan se altera também.
– O problema, se você não percebeu, é que elas querem ter uma tarde de
garotas. Garotas! Então, a não ser que tenha passado pelo processo de
mudança de sexo recentemente, dê o fora!
– Verdade maninho – ajuda Hazel. – Hoje seremos só Bia e eu, temos muito
o que conversar. Vá ciscar em outro terreiro. – Eu já imagino a conversa que
ela quer ter comigo.

Após o estranho almoço que compartilhamos, Kellan vai embora e Oliver


se fecha no quarto.
Assim que ficamos sozinhas, Hazel e eu caímos na risada.
– Bia, doida, o que foi aquilo de você me “empurrar” pra cima de Oliver?
Apesar de você não ter mirado no alvo certo, amiga, agradeço por ter me
defendido daquele jeito. Já vi que formaremos uma dupla e tanto. Agora, quero
muito saber se captei direito as coisas que percebi nas entrelinhas, mas acho
que poderíamos ter essa conversa lá na hidro. Topa?
– Desculpa, não tenho roupa de banho...
– Como não tem?
– Não tenho. Nós nunca saíamos. A última vez que estive no mar eu tinha
sete anos e numa piscina menos de dez.
– Não seja por isso – diz ela, enquanto pega o celular e digita alguma coisa.
– Pronto, logo seu problema estará resolvido.
– Como assim? – questiono, sem entender.
– Pedi para Peter mandar alguém lá em casa pegar um biquíni meu.
– Não precisava incomodar o homem com isso.
– Temos vários empregados aqui. Motoristas e seguranças que as vezes
passam o dia inteiro ociosos, mas precisam ficar e cumprir o seu horário. É um
alívio para eles quando aparece algo para fazer.
– Se você diz. – Dou de ombros.
Não demora muito e a encomenda de Hazel chega. Ela já está com o biquíni
por baixo do vestidinho que usa. Eu vou até meu quarto, me troco rapidamente
e retorno ao encontro dela, que já me espera dentro da hidro.
Nossa, que delícia!
– Então, desembucha! – larga ela assim que me acomodo.
– Primeiro você.
– Como assim primeiro eu?
– Não é Oliver. Quem é?
– Como não tenho outra família, além das pessoas que você conheceu e dos
dois que sobraram um é meu primo, acho que nem preciso responder, não é?
– Verdade – constato. Só poderia ser Max.
– Como começou?
– Ah, nem eu sei... Quando eu era pequenininha, Lian cuidava de mim e de
Kellan enquanto nossos pais trabalhavam. Então quando se reunia com Oliver
e Max para ensaiar, nós normalmente íamos junto e ficávamos por lá assistindo
o ensaio, brincando ou vendo TV. Os ensaios eram em sua maioria na casa de
Max. Tanto Lian, quanto Oliver sempre cuidaram de nós e nos deram atenção,
mas Max era diferente comigo. Ele se doava. Lembro que eu levava as minhas
bonecas e as colocava no sofá. Ele vinha se sentava no chão ao meu lado e
brincava horas comigo de mamãe e papai. E realmente entrava no personagem.
Ele dava banho, alimentava, trocava, ninava as minhas bonecas. Eu ficava
maravilhada por ter a atenção de um garoto como ele. Muito pequenininha
ainda, eu já dizia que quando crescesse iria me casar com ele, o que era
motivo de diversão da família... – Ela faz uma pausa, como que perdida em
memórias, respira fundo e continua.
– Mesmo depois, quando já começaram a fazer sucesso e o tempo que
tinham era bem escasso, ele sempre dava um jeito de aparecer lá em casa e
passar um tempo comigo. Procurava saber do meu dia, saber se eu estava bem.
Essas coisas. E ele faz isso até hoje. Somos muito ligados. Na adolescência
comecei a notar que o que eu sentia por ele não era igual ao que eu sentia por
Kellan, Oliver ou Lian. Passei a ter ciúmes exagerados, a desejar beijos e a
fantasiar coisas...
– Enfim, eu cresci assim, com ele sendo a pessoa que eu sempre esperava
que chegasse, que ligasse. Com ele sendo o homem que eu sonho em ter dentro
da minha “casinha”, literalmente.
– Já tentou expor os seus sentimentos para ele? Já que tem uma relação tão
próxima...
– Ah não. Não tem condições. Se eu não te horrorizei com a minha história,
não seria assim com todos os outros. A forma como ele me vê, não é nem como
uma irmã mais nova, é mais como uma filha. Max se acha o meu segundo pai.
Me viu crescer, me pegou no colo. Acho que eu até o ofenderia. E ele
certamente se sentiria culpado, achando que toda aquela atenção confundiu
minha cabeça. Quando na verdade a coisa é muito mais profunda. – Ela parece
triste quando termina sua história. – Não tenho vontade de me envolver
intimamente com mais ninguém.
– Nossa, não sei nem o que te dizer.
– Eu sei, é complicado. E o pior é que eu já tentei tirar isso de dentro de
mim, sabe? Já dei uns beijos em alguns amigos de Kellan que frequentavam
nossa casa, quando ele ainda era um garoto normal. – Rio. – Tentei me
envolver. Não senti nada. Mas não vou me render, vou tentar de novo, nessa
minha festa de aniversário, quero beijar muito! Se eu sentir algo a mais, vou
me jogar de cabeça. Se não der certo, o jeito será morrer virgem, amiga.
– Não seja dramática! – digo rindo. – Vai dar certo, você vai encontrar
alguém que te roube o fôlego.
– Falando em roubar o fôlego... O que foi aquilo lá na mesa? Acho que tinha
alguém roubando o seu e não era o meu irmãozinho...
– Ah Hazel... – Jogo a cabeça para trás e conto a ela toda a minha história
com Oliver Rain, desde os meus oito anos, até o almoço de horas atrás.
– Parece coisa de destino... E você o viu transando... Minha sorte que nunca
presenciei nada de Max. Se um dia ele engatar um namoro terei que ir embora
daqui, e eu falo sério!
– Eu entendo. Mas no meu caso, como posso ter me achado no direito de
sentir ciúmes dele? Nos conhecemos oficialmente há o que? Oito dias?
– E o amor lá é racional? – Ela me diz e sorri. Apenas respiro fundo.
– Não posso alimentar fantasias com ele. Até parece que um homem como
ele olharia para mim... E outra, nem um beijo eu dei ainda. Você não gostou,
mas pelo menos provou...
– Não seja por isso, conheço alguém que está mais do que disposto a te dar
uns beijos.
– Deus Hazel, não sei se tenho coragem... E se eu acabar magoando Kellan?
– Ah, se você soubesse quantos corações partidos já tive que consolar por
causa dele... Seria até bom ele provar do próprio veneno.
– Não sou assim.
– Sei que não, mas procure não pensar muito. Se pintar um clima e der
vontade, experimente. Por que não? Os dois são livres. E um beijo não é
sinônimo de compromisso.
– Vamos ver – respondo resignada.
Um vulto passa por nós e para em frente a hidro. Juro que fiquei
literalmente dormente. Sabe aquela sensação que dá quando você dorme em
cima do braço e quando acorda não o sente mais?
Eu estou assim. Não sinto nada...
Toda a minha energia corporal se concentrou nos meus olhos e bem mais ao
sul.
Oliver está ali, com os cabelos amarrados num coque samurai, deixando seu
rosto lindo bem a mostra. A barba por fazer, o peito nu, o abdômen exibindo as
ondulações perfeitas. Aquela trilha de pelos que vai do umbigo em direção ao
paraíso, que ele me deixou ver no dia do nosso dueto. E o V lindamente
definido que desce e desaparece dentro da sua sunga...
BRANCA!
Porra!
Não estava preparada para vê-lo assim... tãããão gostoso! E as coxas? Já
falei das coxas? Parecem tão duras! E ao pensar em duro, eu foco lá.
Senhor, que calor!
Não conheço nada sobre o assunto, mas o pacote parece... enorme!
Algo me chama atenção, perto da borda da sunga do lado direito. Um
desenho. Ele tem uma tatuagem que inicia da base do abdômen e desce virilha
adentro.
Ahh, que vontade de puxar um pouquinho aquela sunga para baixo e lamber
ali...
Opa! De onde veio isso?
Antes que eu faça alguma bobagem, me obrigo a desviar para os seus olhos.
Ele está com aquele olhar. Matador ao cubo, e fixo em mim.
– Agora que o sol baixou vou correr e dar um mergulho. Tem um lanche
esperando por vocês lá dentro. Pelo tempo que estão aí na água, imagino que
devam estar tão murchas quanto o tal cogumelo, e famintas. – Hazel ri.
– Obrigada estrela, já vamos lá. – Deixo que fale por mim, porque eu não
tenho condições de falar nada.
Ele vira e segue em direção ao mar, me deixando ver a cereja do bolo. A
bunda dele é... divina! Ninguém deveria ser tão perfeito assim, deveria?
Como competir?
– Fecha a boca! – Hazel fala, assim que Oliver se afasta.
– Como? – Ela ri.
– Oliver apelou mesmo com aquela sunga branca. Imagina a cena Bia, os
quatro aqui, nessa praia, de sunga, jogando vôlei, rolando pela areia. Não tem
como não babar. E eu já presenciei isto tantas vezes. O mais difícil é saber que
isto é tudo que poderei fazer, olhar... Mas voltando a Oliver, ele também
gostou, sabia?
– Gostou do que? De eu comendo-o com os olhos?
– Não, acho que não deu tempo de ele perceber isso, porque estava fodendo
os seus peitos com os dele.
– Hazel!
– Verdade, você não percebeu porque estava aí toda afetada pelo gostosão,
mas eu prestei atenção. E digo mais, ele gostou do que viu.
– Não viaja.
– Tudo bem, pode ser cedo para dizer. Vamos dar tempo ao tempo – diz e
reviro os olhos para ela.
– Como vou conseguir dormir essa noite? – Suspiro.
– Nada que uma mãozinha não dê jeito, amiga – E ela faz o gesto
característico por cima da calcinha do seu biquíni. Caímos na gargalhada.
Capítulo 8

As vezes te odeio por quase um segundo


Depois te amo mais
Teus pelos, teu gosto, teu rosto, tudo
Que não me deixa em paz”
(Quase um segundo – Paralamas do Sucesso)

Bia

D epois do nosso lanche, Hazel foi embora. Eu nem


acredito que tive um dia assim. Um dia em que pude
brincar, rir e falar sobre o que as garotas da minha
idade falam. Foi tão bom! Me senti tão jovem. Apesar de não ter dezoito anos
ainda, eu não me vejo com essa idade. Todas as obrigações e preocupações
com que já me deparei me tornaram alguém mais velha por dentro.
Tomo um banho, deixo os cabelos molhados mesmo, coloco um short e uma
regata e retorno para a sala, onde me sento numa das poltronas confortáveis
que tem ali. Laura ainda não voltou do seu passeio, então pego o meu telefone,
abro o Kindle e começo a ler um dos livros grátis que baixei.
Me perco na leitura por um tempo. Até que sinto o aroma de menta
característico tomar os meus sentidos e percebo que Oliver está na cozinha, já
de banho tomado e usando um moletom e uma camiseta.
– Vou tomar uma taça de vinho. Aceita?
– Você me oferecendo bebida alcoólica pela segunda vez? Nossa, fico até
emocionada. Tem certeza que está se sentindo bem? – provoco-o.
– Engraçadinha. Quer ou não quer Beatriz? Vou deixá-la beber, mas só uma
– adverte, brincalhão.
Reviro os olhos e ele ri.
Melhor eu não provocar mais, aceitar logo e não estragar o seu bom humor.
É raro.
– Tudo bem então. – Ele me entrega minha taça e senta-se ao meu lado no
sofá, meio de lado, com uma perna dobrada em cima do assento. Também me
viro um pouco de lado para poder olhar para ele.
Olhar para ele nunca é demais.
Poderia passar a vida fazendo isto.
– Eu nunca bebi, sabia? Nem imagino o gosto do vinho.
– Então beba um gole pequeno, você vai achar bem forte. O vinho é uma
bebida que vamos apreciando conforme refinamos o nosso paladar em relação
a ele.
– Realmente, é forte e amargo. – O líquido desce ardendo pela garganta,
faço uma careta.
– Ah, daqui a um tempo você vai achar delicioso, confie em mim.
– Se você diz. – Dou de ombros.
– E então, se divertiram? Pelas risadas que escurei lá do quarto, pareceu-
me que sim. – Aff, eu fico pensando o que mais ele pode ter ouvido.
– Sim, muito. Hazel é especial.
– Ela é. Assim como você. – Ele diz me olhando nos olhos, exalando
charme e sedução.
É lindo demais!
Gostoso demais!
Cheiroso demais!
Homem demais!
Impossível não se perder nele, naquele olhar, na sua proximidade!
Imediatamente eu coro, em parte pelo seu elogio, mas muito mais pelo rumo
dos meus pensamentos. Tento mudar o tema.
– Sabe, eu nunca tive isso.
– Isso o que?
– Alguém com quem eu pudesse me abrir e que eu sentisse cumplicidade.
– Fico feliz que estejam construídos uma amizade.
– Vocês três são muito amigos, não?
– Somos sim. Passamos por muitas coisas juntos e compartilhamos muitas
dores. Os considero meus irmãos. Fora Kellan, é claro. – Dá um sorrisinho
safado.
– Você implica bastante com ele, não?
– Você defende bastante ele, não? – retruca em cima do lance, me pegando
de surpresa.
– Por que diz isso? – Quem sabe ele me explique também o seu discurso de
ontem.
– Nada não. Esquece, anjo. – E lá está de novo, anjo.
Dou mais um gole no meu vinho, mas ainda não acho nada bom. Não quero
deixar para lá, então insisto.
– Me diga, qual o motivo da sua implicância com ele? – Ele me olha
cuidadoso, ponderando até que ponto pode ser honesto comigo, imagino.
– Me incomoda vê-lo perto de você. Me incomoda que ele receba a sua
atenção.
Não devo ter ouvido direito, certo?
Não. Claro que não.
Mesmo assim meu coração quer sair pela boca.
Dou um grande e longo gole no meu vinho. Não porque já refinei meu
paladar, mas por precisar de um escape mesmo.
E de coragem.
Hoje ela não está tão latente quanto ontem.
– Por quê? – pergunto em expectativa, a respiração pesando, os olhos
grudados aos dele. Ele percebe minha ansiedade e respira fundo.
– Acho que entrei de vez no papel do cogumelo, sem nem perceber.
A decepção diante daquela resposta deve ter sido gritante no meu rosto,
porque Oliver abre a boca para dizer alguma outra coisa na sequência, mas
desiste e apenas bebe seu vinho. Faço o mesmo.
Uma, duas, três vezes seguidas.
Ficamos um tempo em silêncio, apreciando a bebida e respirando o ar cada
vez mais rarefeito entre nós. Até que ele quebra o silêncio.
– Você gosta dele, Bia? De Kellan.
– Como assim?
– Se sente atraída por ele? – Oliver... ele me perguntou isso mesmo?
Assim? Na lata?
Deus! Não tem como meu rosto ficar mais quente. Dou outro belo gole.
Olho bem para ele, pensando no que responder. Mas antes que eu o faça ele
continua.
– Não tem problema se sentir, sabe? Vocês são quase da mesma idade,
seria... normal.
Me olha em expectativa. Como se estivesse com medo de eu dar a resposta
errada. Fixo-me no fundo dos seus olhos dourados e, errada ou não, digo a
verdade.
– Não, não sinto.
Pareço ter ouvido um suspiro? Um suspiro de alívio?
– Ele certamente se sente por você. – Respiro fundo e deito minha cabeça
para trás, no encosto do sofá.
Minhas pernas estão moles.
– Hazel disse o mesmo. Ela disse que eu deveria experimentar, deixar rolar.
– Ele fica incomodado e se aproxima um pouco mais de mim no sofá.
Ah Oliver... Tão perto... Perigoso... Eu quero tanto você!
– E você pensa em ouvi-la?
O ar a nossa volta pesa de tão denso, dificultando a respiração. Uma parte
do cabelo dele cai sobre seus olhos e no reflexo levo minha mão até a sua testa
e deslizo meus dedos ali, ajeitando aqueles fios.
Quando me dou conta do que estou fazendo, congelo a minha mão lá,
emaranhada no meio dos seus cabelos na altura da fronte.
Ele fecha os olhos.
Apreciando.
Convidando.
Eu não resisto e deslizo um pouco a mão, passando por sua bochecha e
sentindo a textura dos fios da sua barba. Meu coração quase explode no peito.
Ele abre os olhos. O dourado mais escuro, as pupilas dilatadas.
– Você não respondeu – insiste, muito sério.
– O que? – Já nem me lembro mais sobre o que estávamos falando.
– Se você pensa em seguir os conselhos de Hazel.
Seu olhar naquele momento é predatório. Minha mão continua em seu rosto,
sua bochecha.
Só quero me atirar em você Oliver.
É tudo que quero, tudo que sempre quis.
Retiro a mão.
– Não sei. Eu devo? – Permanece em silencio por minutos, encarando. De
novo tenho a sensação de que luta entre o que deseja dizer e o que deveria
dizer.
– Não, não deve! – sentencia enérgico e muito rápido, vira o resto da sua
bebida num gole só, levanta-se de supetão e sai da casa. Me deixando ali
sozinha e completamente perdida.
Deus, o que acabou de acontecer aqui?
Fico algum tempo ainda ali, no sofá, meio atordoada e depois no impulso,
levanto-me e vou atrás dele.
Oliver caminha em direção ao costão. Tiro a sandália, deixo-a ali no deck e
sigo descalça na mesma direção. Nem sei direito o que estou fazendo. Só vou
andando devagar e acompanhando seus movimentos.
Em determinado momento ele para e senta-se num enorme tronco velho que
tem na areia.
A iluminação é pouca, praticamente só a luz do luar. O silencio impactante.
Quebrado apenas pelo estourar das ondas e o chacoalhar da vegetação do
costão em razão do vento médio.
Ele apoia os cotovelos nos joelhos e baixa a cabeça entre as mãos. Me
aproximo, cautelosa.
– Oliver...
– Vá para casa, Beatriz.
– Não! – Ele suspira, ainda com a cabeça abaixada.
– Vá, por favor. Não é um bom momento.
– Não vou. – Confirmo minha desobediência e me abaixo, ajoelhando na
areia em frente a ele.
O que acontece comigo quando estou perto deste homem?
De onde vem toda a segurança em desafiá-lo?
– O que aconteceu lá dentro Oliver?
– Nada anjo, por favor, esqueça.
– Impossível. O que você quis dizer com... Por que não devo considerar me
aproximar de Kellan?
Ele não responde, nem me olha.
Ficamos ali, na areia, eu tentando desesperadamente apartar a vontade de
tocar nele outra vez.
Só depois de um tempo, é que abaixa os braços e levanta o olhar para o
meu. Sua expressão muda, algo em mim parece ter lhe causado espanto.
– Seus olhos, aqui só com a iluminação da lua, parecem ainda mais únicos.
Eu só vi olhos assim, como os seus, uma vez. – Ele comenta, me fazendo
acelerar ainda mais os batimentos.
Será que ele...? Não, não seria possível...
– Quando? – pergunto, já sentindo as lágrimas querendo aparecer.
– Foi há muito tempo, eu estava deixando a recepção de um hospital e falei
com uma garotinha que estava ali. Os olhos dela também eram assim, quase
não davam para diferenciar íris e pupila.
– Também lembrarei dos seus lindos olhos negros, guardiã – repito a frase
que ele usou e deixo as lágrimas caírem livremente. Ele fica lá, me olhando
com a boca aberta, desconcertado.
– Anjo... Era... Era você?
– Sim. E você lembra! – Então, muito rápido, ele me puxa para um abraço.
Eu fico entre as suas pernas, os braços em torno do seu pescoço e a cabeça
encostada na curva do seu ombro. Enquanto deixo as lágrimas e os soluços
expurgarem a dor da minha infância, a saudade que sinto dos meus pais e a
saudade que senti dele.
Ele aperta ainda mais os braços ao meu redor.
– Não chore. – Beija o topo da minha cabeça.
Eu devolvo o gesto, só que beijando-o na base do pescoço.
Ele estremece e puxa o ar entre os meus cabelos, esfregando o nariz neles.
Ouço as batidas do seu coração soando alto.
Deslizo uma mão até o seu peito e faço leves movimento de carinho. Sinto a
dureza dos músculos e o calor da sua pele. Ele sobe uma mão pelas minhas
costas e adentra-a pelos meus cabelos, para no meu pescoço e acaricia ali.
O seu cheiro vai ficando cada vez mais presente para mim, conforme vou
me acalmando da descarga emocional e atiçando com outro tipo de sensação.
Seu toque em minha nuca eleva o desejo a um novo grau.
Deus, estou em seus braços!
No único abraço que já desejei estar.
Não sou forte o bastante para negar o quanto me afeta. O quanto quero. Ergo
um pouco meu rosto, deslizo meu nariz pelo seu pescoço captando ainda mais
o aroma e o beijo atrás da orelha.
– Bia... – murmura em súplica.
Sei que esse Bia foi para que eu pare, mas ele também teve um leve toque
de desejo, pois sua respiração está pesada e seus dedos instintivamente
acariciam a minha nuca com mais energia, contradizendo o seu pedido velado.
Não consigo evitar de fazer o movimento contrário, voltando a deslizar pelo
seu pescoço, contornando seu maxilar, rumo a sua boca.
– Por favor, não faça – diz com a voz fraca, como se sentisse dor e me
afasta.
– Desculpe. – Recupero um pouco do bom senso que deixei em algum lugar
daquela sala, dentro de uma taça de vinho.
– Vamos voltar. – Não deixa margem para protestos. Se levanta, segura
minha mão, me puxa contra seu tórax e passa um braço pelos meus ombros. E
assim vamos seguindo pela praia, em silêncio, em direção à sua casa.
Entramos e o clima entre nós está estranho. Nenhum dos dois tem coragem
de tocar no assunto do que aconteceu há minutos ao redor do velho tronco. A
vergonha vai tomando o lugar da sensação de envolvimento que me dominava
há poucos instantes.
Senhor, eu corri o meu nariz pelo pescoço dele...
Eu acariciei o seu peito!
Eu beijei atrás da sua orelha!
Eu quase tomei a sua boca!
De onde veio tanto atrevimento?
Nunca mais eu bebo vinho. Essa foi a primeira e última vez.
Eu juro!
Mas foi tão bom! Estar lá, presa naquele abraço, cercada por seu cheiro,
seu calor e seu carinho... eu me senti em casa. A emoção que eu experimentei
ao descobrir que ele cumpriu sua promessa e não esqueceu dos “meus olhos”
foi catártica.
Nem eu sabia o quanto aquilo era importante para mim, até aquele momento.
– Oliver, eu...
– Não Bia, não vamos falar sobre isso. Gostei muito de saber que você é
aquela garotinha que eu conheci naquele dia. Em vários momentos me
perguntei como ela estaria, se sua mãe se recuperou. Pedi aos céus, várias
vezes, para que ela estivesse bem e feliz. Mas fora isso, tudo o mais que
ocorreu nesta noite... Olha, eu entendo que você se deixou levar pela emoção e
confundiu as coisas. Então vamos simplesmente... esquecer.
– Certo. Eu ia pedir o mesmo a você. – Falo um tanto desconcertada, mas
tentado manter minha dignidade. – Vou me deitar. Boa noite!
– Boa noite, Beatriz. – Voltei a ser Beatriz, afinal.
Vou para meu quarto, lavo pernas e pés para retirar o resto de areia que
ainda permanece ali, escovo os dentes, me troco e me deito.
Ele me pediu para esquecer.
Pela segunda vez na noite. Como?
Jamais vou esquecer como foi estar em seus braços. Mesmo quando eu for
bem velhinha, tenho certeza de que essa vai ser uma das minhas melhores
lembranças. Viverei com ela, já que pelo visto isto será tudo que terei dele.
Afinal, ele quer esquecer.
Nosso contato não teve para ele o mesmo peso que teve para mim.
Claro que não. Por que teria?
Você é a menina, a irmãzinha, o anjo.
Não se dá amassos em anjos.
Não se beija a boca das irmãzinhas.
Em meio ao desejo frustrado, a decepção e a raiva, adormeço.
Oliver

Não consigo dormir. Não vou conseguir. Preciso fazer alguma coisa,
esvaziar da mente todas as emoções de hoje.
Primeiro a vontade de esganar Kellan, que teve a cara de pau de convidar
Beatriz para um banho de piscina, deixando claro que ele vai partir para cima,
com tudo. Depois a visão dela naquela hidro, com aquele biquíni preto,
minúsculo, deixando o formato dos seus seios bem visíveis. E pareciam tão
redondos e macios. Lindos! Tive um trabalhão para manter o meu pau
adormecido e não passar vergonha ali na frente delas de sunga branca.
Por fim, o que fodeu comigo de vez. Nossos momentos à noite.
Quando ela tentou arrumar o meu cabelo por impulso, gelei.
Sentir sua mão deslizando por meus cabelos, tocando o meu rosto, foi tão
gostoso. Não resisti e fechei os olhos, apreciando o contato. Ao reabri-los, vi
o meu desejo refletido nos seus olhos e me perdi. Eu precisava saber. Saber se
ela pretendia se envolver com o fedelho. E quando ela me perguntou se devia,
eu deveria ter respondido que sim. Claro que sim. Se for para ela se envolver
com alguém aqui, que seja com ele. Quem mais? Ele é o cara certo para ela. O
único.
Forcei as palavras racionais a atravessarem a minha garganta e chegarem a
minha boca, para assim poder liberá-las. Mas na hora em que verbalizei,
acabei dizendo o que eu realmente quero.
Que ela se mantenha bem longe dele.
Admitir aquilo em voz alta foi demais para mim.
Eu precisava deixar aquela sala, pensar em tudo aquilo, me acalmar.
Só sai e fui andando em direção ao costão.
Percebi que ela estava vindo atrás de mim e me desesperei. Eu não iria
conseguir me manter imune se tivesse que falar com ela naquele momento.
Como vi que não desistiria de me seguir, sentei-me no tronco na areia e
esperei.
Eu pedi para ela ir embora, eu precisava que ela fosse.
Mas ela não foi.
Ela não se intimidou.
Ficou ali, ajoelhada à minha frente e eu resistindo a vontade de puxá-la para
os meus braços e me perder no seu sabor de baunilha e amêndoas.
Assim que me acalmei um pouco, tive coragem de levantar o rosto e encará-
la. E quando olhei, não sei porque lembrei da menina que consolei num
hospital quando eu tinha vinte e um anos.
Os olhos delas eram iguais.
Então veio a grande revelação. Como pode? Como aquela criança acabou,
nove anos depois, na minha casa? Eu nem soube o seu nome na época. Como
essa menina chegou novamente para mim no momento em que não tinha mais
ninguém no mundo?
Que tipo de coincidência é essa?
O que isso significa?
Significa que eu tenho que cuidar dela.
E com esse pensamento em mente, puxo-a para mim. Ela se agarra e libera
toda sua emoção, apoiada na curva do meu pescoço. Seu cheiro me inebria e
eu afundo meu nariz em seus cabelos, beijando sua cabeça.
E o que ela começa a fazer dali em diante, roubou todas as minhas forças no
sentido de manter o autocontrole. Seu toque, seus beijos, seus carinhos
delicados. Nossa, ela estava tão entregue a mim ali.
Ela era totalmente minha.
Suas carícias me imploravam para que eu a tomasse para mim. E eu quis.
Deus, como eu quis.
Meu corpo estava em chamas, e eu, no esforço sobre-humano para não
deixar uma ereção monstro se formar. Seria impossível esconder usando uma
calça de moletom sem cueca como eu estava.
Por um segundo pensei em ceder e deixar aquilo acontecer, me entregar,
assim como ela, àquela ideia deliciosa de nos perdermos no calor um do outro.
Subi a mão pelas suas costas, alcançando seu pescoço, me preparando para
beijá-la.
Mas então eu lembrei que ela é só uma menina, que está ali, totalmente
dependente e que eu preciso protegê-la e não a arrastar para as minhas merdas.
E o sinal de alerta final foi o iminente beijo que ela estava prestes a roubar de
mim. Precisei pará-la, afastá-la, pois mais um toque e não haveria prudência
alguma que me faria recuar novamente.
Mando mensagem para Peter pedindo que envie alguém para me pegar e me
levar até o estúdio. Preciso tocar, preciso compor, preciso tirar essa frustração
de dentro de mim de alguma forma.
Chego no estúdio e apanho a minha guitarra. Pego uma tonalidade e começo
a dedilhar uma melodia, tentando expressar essa confusão que se alojou em
mim, que tomou posse do meu discernimento, dos meus sentimentos. Conforme
vou gostando, transcrevo para a partitura. Quando me dou por satisfeito, passo
para a etapa de encaixar os acordes da harmonia.
Em determinado momento, ouço som de passos se aproximando e me
transporto novamente para a realidade. Olho o telefone e percebo que já são
quatro da manhã, estou ali há quase cinco horas e nem me dei conta.
– O que houve para vir para cá em plenas férias e de madrugada, Oliver? –
diz Riley, entrando no estúdio.
– Falta de sono.
– E o que anda tirando o seu sono, gostosão? Em outros tempos você estaria
resolvendo isso de um jeito muito mais excitante.
– Nada em específico. Tive algumas ideias, fiquei ligado e precisa colocá-
las no papel – minto.
– Sei. – A mulher me avalia, sem acreditar nem um pouco em minhas
palavras. Ela me conhece muito bem. – Quer ajuda para relaxar?
Olho para ela, que está gostosa como sempre e claramente me oferendo
sexo, mas não sinto vontade.
– Obrigada Riley, mas o que eu preciso é continuar mais um pouco aqui.
Ela aproxima-se, com expressão safada, exalando tesão, certamente não
confiando na minha recusa.
– Vamos só fazer uma pausa, garanto que depois você estará mais inspirado
ainda. – Desliza a mão pela minha coxa.
Fico ali, olhando para a mão dela subindo, chegando no meu pau, alisando-
o por sobre a minha calça. Mas não quero esse contato, não sinto nada. Na
verdade, me sinto sujo. Parece tão errado. Não quero tirar de mim o aroma de
baunilha e as sensações do toque inocente de Beatriz que ainda formigam pelo
meu corpo. Então, quando ela ameaça levar a mão para dentro do meu
moletom, seguro o seu pulso.
– Eu disse que não-estou-a-fim.
– Porra, o que deu em você?
– Não sei. Vergonha na cara, talvez? – provoco-a.
– Como assim, vergonha na cara? – Me olha abismada. – A gente transa
desde que eu tinha quatorze anos. Todos esses anos foram poucas as vezes em
que estivemos sozinhos no mesmo ambiente e não trepamos. Por que agora
seria errado?
– Não é questão de certo ou errado, é questão de você aceitar a minha
recusa. Mas já que entramos nesse assunto, talvez esteja mesmo na hora de
você repensar a sua vida. Caramba Riley, você é linda, inteligentíssima, tem
uma vida estável e confortável, possui um faro para encrenca como poucos e
ainda se presta ao papel de ser o nosso brinquedinho casual? Por quê? – Ela
vai falar, mas ergo o braço impedindo.
– Não estou aqui sendo moralista, não acho de maneira alguma que uma
mulher deva se privar de sexo, ou que só deva fazer sexo quando está em um
relacionamento, de jeito nenhum penso assim. Mas, como você mesma disse,
estamos nisso desde que você tinha quatorze anos e eu quinze. É tempo demais.
E nunca vi você se envolver com mais ninguém além de mim, Lian ou Max. Por
que nunca procurou por alguém diferente? A gente se encontrar de vez em
quando e se pintar um clima, deixar rolar, é uma coisa, mas você ir às festinhas
de Lian e se rebaixar ao nível do bando de garotas que não tem a menor
importância para nós e estão indo lá apenas para dar e tentar levar alguma
vantagem, francamente, você não precisa disso. – As lágrimas rolam pela sua
face e me comovo. Abraço-a.
– Eu sinto falta, Oliver. Sinto falta do sexo. Tenho medo de perder o que
temos.
– E o que temos?
– Amizade, entrosamento, conhecemos o corpo um do outro como ninguém.
E eu tenho esperança que em algum momento no futuro você perceba que eu
sempre estive ao seu lado e a gente se acerte. – Eu gelo.
– Você está me dizendo que esse tempo todo ficou porque tem esperanças de
um relacionamento?
– Não dessa forma, calma. A questão é que eu gosto de você. Você sabe que
de todos os meninos, a minha ligação com você sempre foi maior. O sexo com
você é o melhor que já tive, nos damos bem, somos amigos. Então no futuro,
quando nós dois estivermos mais sossegados, eu fico pensando, por que não? –
Olho para ela incrédulo.
– Não vai rolar. Primeiro porque não pretendo ter alguém assim em minha
vida e você sabe o motivo. Segundo por que...
– Por quê?
– Não seria você, Riley. – Sou sincero. Ela me olha abismada.
– Como você pode ter certeza? Então... então você já sabe quem seria.
– Claro que não – repondo rápido. – Só sei que nós, não aconteceria.
– Tudo bem. Só me prometa que você não vai surtar com essa nossa
conversa a ponto de cortar relações comigo como fez com Kate. Não estou
dizendo que estou apaixonada, que não vivo sem você e nem que vou começar
a te perseguir ou exigir exclusividade. Gostaria apenas que, se pintar o clima,
como você disse, pudéssemos transar de novo.
– Fique tranquila. A nossa amizade vai muito além do que eu tinha com a
Kate. Jamais vou te cortar da minha vida. Como pode pensar algo assim depois
de tudo que já passamos? Quanto ao sexo, vamos esperar para ver. Se nós dois
estivermos a fim, não vou colocar barreiras.
– Ok. Desculpa pela minha insistência hoje e vou pensar sobre o que você
falou.
– Fique bem, quero o melhor para você, sabe disso, não é?
– Sei sim, tchau.
– Tchau Riley.
Fico mais umas duas horas por ali, deixando a música praticamente pronta.
Quando já passa um pouco das seis da manhã, peço para Peter arranjar a minha
volta para casa. Chegando, vou direto para o quarto, tomo banho, me jogo na
cama, e consigo finalmente dormir um pouco.
Quando acordo já passa de uma da tarde. Ouço vozes na área externa. Me
troco e vou atrás de uma refeição. Vovó está na sala com Helen.
– Bom dia meninas. Que horas chegaram ontem?
– Chegamos já era quase uma da manhã. Saímos de Long Beach perto das
onze horas – fala Helen.
– Tiveram um dia agitado então.
– Fizemos compras, fomos ao cinema, jantamos. Foi ótimo – fala vovó.
– Que bom. Já almoçaram?
– Ainda não filho, estamos só esperando Kellan e Bia sair da piscina e já
peço para Gia servir.
– Kellan está aqui? De novo? – pergunto incrédulo.
– Sim, ele veio, tomou café conosco, depois ele e Bia foram para a piscina.
Está tão calor!
– Porra! Desde o café da manhã? O fedelho não vai mais largar o osso?
– O que é isso Oliver? Qual o problema? – questiona vovó.
– O problema? Ele está cercando Beatriz o tempo todo. Ontem tive que
dizer para dar o fora, senão a tarde de garotas que Hazel pretendia ter viraria
tarde de uma única garota. Ela, sozinha!
– Eu ficaria feliz se Beatriz namorasse Kellan. – Ouvir vovó repetir aquilo
dói em mim.
– Eu também acho que eles fariam um casal muito fofo – reforça Helen.
– Só o que me faltava – resmungo e vou atrás dos dois.
Vejo os dois no centro da piscina, conversando, tão entretidos que nem me
notam. Estão muito próximos para o meu gosto. Tiro minha camiseta e
mergulho. Os dois se assustam. Quando emerjo, os olhos de Beatriz estão em
mim e os de Kellan nos peitos dela. Inferno.
– Bom dia, pombinhos – digo em tom debochado, encarando apenas
Beatriz.
– Vá se ferrar, Oliver. – Ele rebate.
– Oi. – Beatriz me observa com cautela.
– Então fedelho, vou ter que aturar a sua cara aqui todos os dias?
– Não se preocupe, depois do almoço Bia vai passar o dia comigo lá em
casa. – Puta-merda, então ela vai mesmo dar uma chance ao moleque. Engulo
em seco.
– Certo – digo. – Beatriz, não se esqueça que temos uma conversa para
terminar.
– Temos? – pergunta ela, espantada.
– Temos sim, seus estudos.
– Ah, isso. – Fico satisfeito quando ela parece decepcionada.
– Isso – afirmo. – Espero que tenha pensado sobre o assunto e não apenas
perdido tempo rodando por aí com Kellan. – Assim que solto a frase me
arrependo. De novo minha raiva me fez descontar a frustração nela.
– Não se preocupe, eu pensei sim. Mas se você preferir posso ficar apenas
dentro de casa. Afinal, o lugar é seu – diz ofendida apontando o entorno, o
sarcasmo claro em sua voz.
– Não liga Bia, ele é um idiota. – Kellan me encara, claramente insatisfeito
com a forma que a tratei.
Eu também estou.
De novo.
– Kellan, vou sair da água. Depois nos falamos – avisa ela, fazendo
aumentar o gosto amargo em minha boca.
– Tudo bem Bia, já vou sair daqui a pouco também – fala ele.
Então ela sai pela escada e eu quase infarto. O corpo lindo, cheio de carne
e curvas nos lugares certos. E molhado. A calcinha do biquíni preto, o mesmo
de ontem, é minúscula. Aquela bunda empinada, perfeita e deliciosa fica
praticamente à mostra. Vejo Kellan com os olhos fixos lá, rapidamente dou o
impulso para sair da água, agarro um pano que reveste a espreguiçadeira e
estendo para ela.
– Cubra-se! – Ordeno. – Esse biquíni é pequeno demais.
– Para mim ele está ótimo – diz, desvia do pano que lhe estendo e se vai.
Kellan já está fora da água, com os braços cruzados e me encarando. Só o
que me falta é ter que dar explicações para o moleque.
– Desembucha, Oliver.
– Desembucha o que, fedelho?
– Sem essa. Você está estranho. Me tratando mal o tempo todo. Reclamando
da minha aproximação com Bia. Agora falou do biquíni dela. Hazel usa
biquínis menores e você nunca falou nada. – É que não reparo nos biquínis de
Hazel, penso. – Tratou a menina mal lá dentro da piscina porque ela estava
comigo. O que está pegando?
– Não tem nada pegando aqui. Tem é alguém querendo pegar alguém que
está dentro da minha casa neste momento.
– E qual seria o problema? Ela é livre, eu também. Ela tem dezessete anos e
eu dezoito. Não vejo onde está o enrosco.
Está na ânsia que eu sinto ao imaginar vocês dois enroscados.
Não é o que eu respondo.
– O enrosco é que ela está sob minha responsabilidade. Ela não tem mais
ninguém para olhar por ela.
– E você acha que eu quero brincar com ela? É isso? Porque se for, pode
ficar tranquilo, não é o caso. Eu estou interessado nela de verdade. Se ela
quiser, será namoro. E não vou me envolver com mais ninguém a partir de
então. – Deus, ele está mesmo apaixonado.
Ele pretende pedi-la em namoro.
Namoro.
E acabou de garantir que será fiel a ela.
O que eu posso dizer para impedir isso?
Nada, absolutamente nada.
Como o fedelho mesmo disse, eles são livres. E como eu mesmo cheguei à
conclusão ontem, ele é o cara ideal para ela.
Então por que pensar nessa possibilidade dói tanto?
– Tudo bem, Kellan. – As palavras rasgam minha garanta quando saem. –
Mas se você vacilar, é comigo que você vai se entender. Fui claro?
– Não vou vacilar, Oliver. – Assinto e vou para dentro do meu quarto de
novo.
Perdi completamente a fome e o bom-humor.
Bia

Até o momento em que saí com Kellan para irmos à casa de Lian, Oliver
ainda não havia saído do quarto. Estamos na sala de jogos, Lian e Max jogam
bilhar e Kellan tenta me ensinar um jogo no videogame, como é a primeira vez
que jogo, não está sendo muito fácil. Não sei como ele ainda não perdeu a
paciência comigo.
Kellan foi uma companhia divertida até agora. Estou inquieta e ansiosa
porque sei que o momento dele partir para o ataque está cada vez mais
próximo, e não sei qual será a minha reação, muito menos se quero aquilo.
– Bia, que tal assistirmos um filme? – pergunta.
– Acho melhor, porque esse jogo está de mal comigo. – Ele ri.
– É, você e o videogame tem sérios problemas de relacionamento. – Rio.
– Concordo, por isso estou mais do que pronta para terminar o nosso
namoro relâmpago.
– Bom, pelo menos já tenho um programa na lista do que não fazer, certo? –
Rimos. – Então vamos? – Ele me estende a mão.
Eu a pego e ele me guia pela sala, passando por Max e Lian, que lhe lançam
um sorrisinho debochado. Uma pequena parte minha pergunta se eu concordo
com o que os rapazes estão pensando e se me sinto bem por isso.
Entramos na casa, seguimos até o final do corredor e então ele abre uma
porta, revelando a sala de cinema, muito parecida com a da casa de Oliver.
– O que você quer assistir?
– Será que podemos ver o terceiro filme do Harry Potter? Assisti apenas os
dois primeiros.
– Podemos sim. – Ele seleciona o filme e enquanto roda a abertura se dirige
a pipoqueira e faz uma deliciosa pipoca doce para nós, pega dois refrigerantes
e senta-se ao meu lado.
O filme vai passando, a pipoca termina, ele retira o balde do nosso meio e
ao se ajeitar novamente em seu assento, pega a minha mão e segura-a sobre sua
perna, entrelaçando nossos dedos. Eu deixo, mais porque estou sem reação do
que por qualquer outro motivo.
O toque não é ruim, mas não me faz ofegar, nem formigar como um outro
toque faz. Ele faz carinho com os dedos na minha mão.
E agora? Será que eu quero isso?
E se ele quiser me beijar?
Deixo?
Por que não?
Porque não é a boca dele que você quer na sua, intromete-se a minha
consciência sem ser convidada. Por outro lado, a boca de quem você quer não
está disposta a te beijar, argumenta o outro lado da mesma consciência
intrometida.
E aí? Encaro o mesmo destino de Hazel, só que pior?
Morrer de boca virgem?!
Por sorte, ele não avança mais que isso. Terminamos o filme assim, apenas
de mãos dadas. Depois que a cena do Harry voando feliz na sua ultra-mega-
power veloz vassoura nova acaba, ele se vira de lado na poltrona em minha
direção.
Será que é agora? O que eu faço?
Mas ele apenas fala.
Ufa!
– Bia, eu queria te levar para um passeio agora. Será que você toparia dar
uma volta de lancha comigo?
Aiiii, vai ser lá!
Lá na lancha em alto mar, onde eu não terei para onde correr. É lá que ele
vai tentar me beijar.
Tenho que admitir, ele está sendo muito fofo e romântico. Creio que são
poucas as garotas que têm um “primeiro encontro” assim.
Por que eu não poderia estar encantada por ele?
Seria tão mais fácil!
Por que eu tenho que querer o mega star, intocável, ranzinza e bipolar
Oliver Rain?
Quer saber? Vou tentar.
Vai que é isso o que eu preciso para virar essa página de vez.
– Topo sim. – Ele então abre um sorriso lindo de viver.
Meu celular acusa uma mensagem. É Hazel. Enquanto Kellan organiza as
coisas por ali, eu aproveito para respondê-la.

Oi Bia. Como está sendo o dia


com o mala do meu irmão?

Está sendo ótimo Hazel, ele é um fofo

Certeza que estamos falando da


mesma pessoa?
Kkk estamos sim. Já jogamos
videogame, já assistimos Harry Potter
e agora vamos andar de lancha. Ah
teve também um banho de piscina, mas
esse não vou contabilizar porque
terminou de forma desagradável

Deus! Ele gamou mesmo. Kellan


nunca se deu ao trabalho de
perguntar o nome antes de beijar
a boca. Mas como assim
desagradável? Ele aprontou
alguma coisa

Ele não. Oliver

Oliver?

É. Mas outra hora te conto. Tenho


algumas coisas para te contar na
verdade

Tá bom. Então está combinado,


amanhã você passa o dia aqui em
casa

Kkkkk ok

Preparada ?

Não

Kkkk Boa Sorte! Me conta!

– Vamos Bia? – pergunta Kellan puxando-me de volta a realidade.


– Vamos. – E seja o que Deus quiser.
Caminhamos até a marina e entramos na lancha. Ela é enorme. Nunca tinha
visto uma de perto. Kellan me mostra rapidamente o interior. Tem sala,
cozinha, dois quartos com banheiros na parte inferior. Uma casa completa ali
dentro. Certamente é maior do que o apartamento onde papai e eu morávamos.
Estamos agora na cabine da parte superior e ele inicia o nosso passeio.
Vamos em direção à praia de Long Beach. Passamos por mais algumas praias
antes e na sequência já é possível ver a agitação de um dos litorais mais
badalados da Califórnia.
Então ele desliga o motor e a lancha fica ali, à deriva. Pega minha mão e
nos leva para a proa, onde me guia até a grade de proteção para que eu possa
olhar a praia lá ao longe. Se coloca atrás de mim, apoia as mãos na grade, uma
mão de cada lado do meu corpo. Quase colando seu tronco em minhas costas.
Meu coração acelera, pois vejo que o momento está próximo e ainda não sei se
quero.
– É uma praia muito movimentada – digo, tentando adiar o clima.
– É sim. Antes de eu entrar para a The Order, Hazel e eu vínhamos bastante
para cá. Há muita coisa para se fazer em Long Beach, diferentemente da região
de Oceanside em que moramos. Mas agora, isso já não é mais possível.
– Você se arrepende? – pergunto.
– Da fama? – Assinto. – Não. Sempre foi o que eu quis fazer e não me vejo
fazendo outra coisa. Claro que seria melhor ainda se eu pudesse ter isso e
manter a liberdade de antes, mas eu sempre soube que seria assim e vale o
preço.
– Que bom que você sempre soube o que quis. – Ele então sai de trás de
mim, se apoiando na grade ao meu lado. Pega as minhas mãos, fazendo com
que eu tenha que ficar virada de frente para ele. É agora. Não tem escapatória.
– Sim, eu sempre soube. – Ele passa a mão no meu cabelo, colocando um
fio revolto atrás da minha orelha. – E tem mais uma coisa que eu tenho certeza
que quero. – Afff, a vermelhidão explode.
Ele vai se aproximando lentamente, leva as duas mãos à lateral do meu
rosto e quando está prestes a baixar a boca na minha, meu celular acusa uma
mensagem e eu automaticamente baixo o olhar para o local onde o telefone
está, quebrando o clima. Salva pelo gongo.
– Deve ser a Hazel. – Retiro o aparelho do meu bolso rapidamente.

Pelo visto a tarde com o fedelho foi ótima,


não? Vão emendar a noite também ou você
pretende dormir em casa?

É Oliver. Apago rapidamente a tela para que Kellan não consiga ler. Ignoro
Oliver e guardo o fone novamente no meu bolso.
Mas bastou essa mensagem para eu ficar com as minhas pernas moles feito
gelatina e reviver em minha mente nosso momento perto do costão.
E assim, a parca confiança que eu tinha de dar uma chance a Kellan se esvai
de vez.
– Bia, está tudo bem? – pergunta ele, com certeza notando o meu
atordoamento.
– Está sim. – Ele tenta tocar o meu rosto de novo, mas dessa vez eu não
consigo e recuo. Ele baixa as mãos em desalento.
– Kellan, o nosso dia foi maravilhoso, de verdade. Adorei cada pedacinho
dele. Eu não poderia ter tido companhia melhor. Mas eu preciso ser sincera
com você. Eu não me sinto pronta para dar esse passo agora. E não posso te
garantir que um dia estarei, mas estou disposta a tentar novamente. Só que... eu
preciso que continuemos na amizade por um tempo, se você quiser, é claro. Eu
sinto muito.
– Tudo bem, eu entendo – diz em meio a um sorriso franco. Mas a decepção
em seus olhos me diz que ele não parece entender, está angustiado. – E sim,
nossa amizade continua, claro.
– Obrigada. – Lhe dou um abraço. Ele me aperta contra o seu corpo.
– Bom, já está escurecendo, seria melhor voltarmos, mas se você quiser ver
as luzes de Long Beach à noite, a gente arrisca e volta mais tarde. Você quem
sabe.
– Vamos voltar.
– Ok. – Voltamos a cabine para ele ligar os motores e iniciamos o retorno
ao condomínio.
Durante o trajeto, meu telefone soa mais uma vez. Fico na dúvida se leio ou
não. Com certeza é Oliver exigindo uma resposta para sua pergunta, e eu não
estou a fim de falar com ele agora. Mas a curiosidade vence e eu olho. É
Hazel, respiro aliviada.

Como foi ?

Não consegui

Estamos ferradas!

É, estamos
Oliver

Depois que Bia saiu para a casa de Lian com Kellan, não consegui mais
ficar em casa. Fui novamente para o estúdio e entrei no mesmo processo da
noite passada. Que merda está acontecendo comigo? Por que não consigo
afastar essa sensação esquisita? Como posso deixar uma menina bagunçar a
minha cabeça desse jeito? Isso é coisa de adolescente e não de um homem que
já viveu mais coisas do que gostaria. Nem na minha adolescência me lembro
de ter vivido uma confusão de sentimentos tão grande.
E não é nem só a questão da idade que me impede de deixar acontecer o que
meu corpo está pedindo, na verdade isso é o de menos.
O problema mesmo é o fato de que eu não tenho nada a oferecer a ela. No
que eu iria transformá-la no final das contas? Em mais uma das muitas que
passaram pela minha cama? Porque não iria durar. Quando os desejos se
saciassem ou os medos ficassem insuportáveis eu me afastaria e nossa relação
estaria fadada a desgraça, pois não me afastar não é uma opção. Não posso
passar por aquilo de novo e certamente iria acontecer.
Não, não quero isso para ela.
Tenho que me esforçar ao máximo para vê-la como vejo Hazel, apenas uma
irmãzinha.
Sim, a única opção é esta, me afastar do que me machuca. Afastá-la do
sofrimento certo.
Pelo menos até essa sensação de perda se assentar e eu conseguir voltar a
ser quem eu era até ela cair de paraquedas no meio do meu mundo.
Lian e Max ficaram mandando várias mensagens no grupo da The Order
para que eu fosse me juntar a eles na casa de Lian, mas eu não poderia ficar lá
e presenciar Kellan e Bia aos beijos e abraços.
Então vim para o estúdio. Quanto mais longe, melhor. Até que algumas
mensagens que eu não tinha visto me chamam a atenção. Já são dezoito e
cinquenta e logo começará a escurecer lá fora.
16:31: E aí cabeção. Não vai
Tento ligar
aparecer não? Jogar poker em dois
não tem graça. pra ele.
Caixa postal.
Merda!
16:33: É velho, chega aí. Merda! Merda!
Como ele faz
uma porra
17:21: Cri cri cri cri dessas?
Mando uma
18:52: Chamem o fedelho mensagem para
18:54: Porra, finalmente. Que
Beatriz também,
houve Oliver para não sair da toca se ela me
hoje? responder pelo
menos sei que
18:54: O fedelho a essa altura
está bem. Se não
está trepando em alto mar
responder...
18:55: Como assim? Bom, daí ou deu
merda ou estão
18:56: Como, como assim fazendo merda.
Oliver? Esqueceu como se faz? Nenhuma das
duas opções me
18:57: Ele levou a Bia para
um passeio de lancha as 17h e ainda
agrada.
não voltaram

18:58: Kellan, olhe esta merda Decido não


e responda. Está esperar mais.
escurecendo, traga já a menina para
casa. Você não tem experiência pra Vou voltar, pegar
dirigir a porra da lancha. Ainda mais o jet e ir atrás
à noite. Para quem não ia vacilar, deles. Chamo o
começou muito mal
motorista e
19:01: Acalme-se, Oliver. seguimos em
Não é para tanto. Devem estar direção à
voltando. Kellan não é irresponsável. marina. Porém,
quando estamos
19:02: Calma o caralho. Vou é chegando na
cortar as bolas dele se der merda portaria da
19:05: Responde a porra da
praia, uma
mensagem Kellan mensagem soa.

19:27: Credo, pra que tanto


drama?
Estamos voltando. Em uns 30 mim no
máximo chegamos.

Entro em casa e vejo vovó no deck. Assim que ela percebe minha chegada,
vem ao meu encontro na sala. Vou até o bar interno e me sirvo de um whisky.
– Oliver, estou preocupada com você. O que houve?
– Nada vó, está tudo bem. – Ela me conhece como ninguém, não é fácil
enganá-la.
– Não tem nada bem aqui. Você comeu alguma coisa o dia inteiro por
acaso? – Merda, realmente não comi nada hoje.
– Não.
– E agora está aí, bebendo? – Ela pega o interfone.
– Gia, prepare um lanche para Oliver antes do jantar.
– Vó, não quero comer nada. – Tento.
– Obrigada Gia – diz e desliga. – E você vai comer sim, nem que eu tenha
que enfiar goela abaixo.
– Deus, faz tempo que não me diz uma coisa dessas.
– Faz tempo que você não se comporta como uma criança. – Ai, essa doeu!
– Fez aquela cena com o Kellan hoje de manhã, depois se trancou no quarto e
então foi para o estúdio até essa hora. Sendo que já virou a madrugada ontem
lá.
– Como a senhora sabe?
– Tem poucas coisas que eu não sei a seu respeito, filho. – Respiro fundo.
– Sra. Evans, o lanche está na bancada da cozinha.
– Obrigada Gia. Vamos! Terminamos esta conversa enquanto você se
alimenta.
– Você fez o de salpicão, Gia? – pergunto antes que se afaste. Assim evito
os questionamentos de dona Laura por mais tempo.
– Fiz sim. E não pense que não vejo que não está comendo. Se sua avó não
enfiar aquele sanduiche pela sua garganta, eu mesma faço. – Se vira e vai.
Porra, até Gia?
Seguimos até a bancada, nos sentamos e como sei que não tenho escolha,
começo a comer o sanduíche. Antes que vovó possa continuar questionando os
motivos do meu comportamento anormal, decido introduzir outro assunto.
– Vó, por acaso você se lembra de quando o Lian teve que ser internado por
causa das drogas e na saída do hospital, encontramos uma menina desesperada
porque não conseguia mais olhar o corredor por onde os pais entraram? – Os
olhos de vovó ficam marejados na hora. E uma sensação de angústia me aperta
quando percebo que ela já sabia que era ela.
– Eu lembro. Ela te contou ou você percebeu a semelhança?
– Um pouco de cada. Eu comentei que só havia visto olhos como os dela
uma vez, e então ela repetiu a frase que eu disse a ela antes de deixar o
hospital. E no seu caso? – Vovó pensa no que dizer.
– Ela me contou. Mas contou antes de saber que estava na sua casa. Um
pouco antes da entrevista com Riley ela apareceu com uma camiseta da The
Order, ao ver eu fiquei em alerta e questionei porque ela estava usando aquilo,
me parecia coincidência demais. Mas parece que tudo que liga você a Beatriz
é um emaranhado de coincidências, não? – Estranho aquele comentário, mas
deixo passar. Ela continua – ela ficou assustada pela minha reação, começou a
explicar que não se tratava de uma seita e sim de uma banda.
– Sério? – Eu não aguento e caio na gargalhada.
– Sério! E você imagina o esforço que precisei fazer para não ter a mesma
reação que a sua.
– Imagino. – Rio mais um pouco.
– Bom, enfim, quando percebi que ela realmente colocou aquela camiseta
na inocência, comecei a questionar se gostava de rock, se era fã daquela banda
e ela me contou que a partir daquele dia no hospital começou a acompanhar a
sua carreira. E disse mais, confidenciou que toda vez que se sentia
desesperada, era a visão dos seus olhos que a acalmava. – Engulo em seco.
Não esperava por isso.
– Aí me diz Oliver, como isso é possível? Como aquela criança, que se
apegou a uma imagem sua por tanto tempo, vem bater de encontro a sua vida
novamente num momento de desalento? Deus, era o meu amigo que estava lá
dentro com a esposa doente e eu nunca fiquei sabendo. Era a filha dele ali...
– Eu fiquei me fazendo a mesma pergunta. Será que o pai dela realmente
não sabia?
– Não sabia. Ele falou com a Laura amiga de infância e não com a Laura
avó de um rockstar. Você nem era nascido quando perdemos o contato.
Vivienne era uma criança de uns onze anos no máximo. Ele me perguntou como
estava a minha filha. Robert não me machucaria desta forma se soubesse.
– Então realmente é incrível como tudo se deu.
– Sim, é. Mas me diga filho, é isso que está te incomodando a ponto de
querer fugir de casa? – Realmente nada escapa a Dona Laura, então não
adianta ficar arrumando desculpas.
– Ela mexe comigo. – Aos poucos, ela abre um sorriso de orelha a orelha e
eu me ponho incrédulo.
– Ah Oliver, mesmo que eu não desconfiasse, a sua cena de ciúmes quando
viu que os dois estavam na piscina teria te entregado.
– Eu não fiz cena de ciúmes. – Torço o nariz para ela e agora é a vez de ela
gargalhar.
– Tá bom, não vou discutir. – O sorriso dela continua ali.
– Vó, é impressão minha ou ficou feliz com a minha confissão? Você não
pode estar sugerindo que seria bom um envolvimento desse tipo entre Beatriz e
eu, não é?
– Não vou opinar sobre isso, eu só vou dizer uma coisa. Você precisava
disso e eu achei que não estaria mais viva para ver. – Sorri ainda mais. –
Agora vou tomar um banho. – Ela beija minha testa e vai.
Por que diabos eu preciso disso?
Outros passos e um aroma de baunilha, amêndoas e mar ganha o ambiente.
Ela passa reto em direção ao corredor.
– Boa noite, Beatriz. – Ela para, mas não se vira para me olhar.
– Boa noite, Oliver.
– Se divertiu?
– Muito.
– É falta de educação não olhar para as pessoas enquanto fala com elas,
sabia? – Ela se volta para a minha direção.
– Satisfeito?
– Não. – Deve estar estampado na minha cara o meu descontentamento.
– E o que mais eu posso fazer para que fique? – Porra, como eu queria
poder responder a esta pergunta.
– Por que não respondeu minha mensagem?
– Porque eu estava ocupada. – Aquele gosto amargo ganha minha boca ao
imaginar o que poderia estar mantendo-a assim tão ocupada.
Vou direto ao ponto. Preciso saber.
Não quero, mas preciso.
– Vocês estão juntos?
– Não é da sua conta.
– Responda!
– Não te interessa! – diz, alterada.
Ela está linda demais, as bochechas rosadas pelo contato do sol e do vento.
As coxas deliciosas expostas pelo short curto, o quadril redondinho como um
violão e a regata bem colada que evidencia os seus seios. Tudo isso aliado
àquela carinha de anjo irritado.
Nossa. Ela é uma visão e tanto!
Que vontade de beijá-la e arrancar aquele bico da sua boca na marra.
Me aproximo encarando-a e deixando nossos rostos a menos de um palmo
de distância.
– Enquanto você estiver morando na minha casa, tudo que disser respeito a
você é da minha conta e do meu interesse. – Sei que fui clichê e arrogante na
declaração.
– Vá se foder Oliver! – xinga, vira as costas e se vai.
Simples assim.
Me deixa ali, plantado no lugar.
Com o queixo caído e a boca aberta.
Ela não foi nada clichê.
E por essa ela me paga. Ah se paga!
Capítulo 9

“Se espalham pelos pêlos, boca e cabelos


Peitos e poses e apelos
Me agarram pelas pernas, certas mulheres
Como você me levam sempre onde querem”
(Garotos II – Leoni)

Bia

O que eu fiz? Eu acabei mesmo de dizer aquilo a Oliver


Rain?
Me jogo na cama e encaro o teto.
Eu devo estar realmente com algum problema mental.
Algum caso grave de descontrole crônico, só pode!
Bia, já combinei com a segurança
para te pegar amanhã às 10 e trazer
para cá, ok?
Ah Hazel, acho que não será
possível
Como assim? Por quê?
Não estarei mais viva amanhã
Que merda é essa Bia?
Eu acabei de mandar Oliver se
foder.
Se foder, Hazel!
Peraí, você está querendo dizer que
mandou ele se foder, tipo assim, na
sua cabeça, certo? “Que se foda o
Oliver” foi isso né?
Não Hazel, eu disse com todas as
letras, em alto e bom tom e olhando
naquela cara linda dele
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk.
....Peraí... ai.... não....
Kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Não aguento mais rir amiga kkkkk
Você está rindo porque não é você
que será esquartejada a qualquer
momento
Ahhh Bia, se eu já não te amasse,
teria me apaixonado agora. Você é a
minha musa! Queria ter sido uma
mosquinha para ver a cara do todo
poderoso, dono de si e endeusado
Oliver Rain nessa hora
Eu nem esperei para ver. Saí e
entrei no quarto rapidinho. E acho
que não vou poder ver nunca mais.
Por Deus Hazel, estou de favor na
casa dele!

Mas o que o gostosão fez para te


arrancar essa reação?
Ele me perguntou se...... ah
Hazel, merda! Estão batendo na
porta do quarto. É agora, chegou a
minha hora. Se nós não nos virmos
mais, saiba que você foi a melhor
amiga relâmpago que eu poderia ter
tido.
Também te amo! Tchau. Seja
Feliz!
KkkkkkKkkk tchau, louca, boa
sorte!

– Bia, posso entrar? – Ufa, é Laura. Me sento na cama.


– Pode, claro.
– Que carinha triste é essa? Está tudo bem?
– Está sim, só um pouco cansada. Esses dias foram bem intensos. – Ela abre
um sorriso.
– Ótimo que esteja se divertindo bastante. Vim te convidar para jantar,
vamos lá?
– Obrigada Laura, mas vou recusar.
– Ué, por quê? Já comeu?
– Não, mas estou sem fome, obrigada!
– Ah não, você também? Vamos lá Beatriz, coma alguma coisa comigo e
depois pode descansar.
– Não posso Laura.
– Como assim não pode? – Respiro fundo.
– Eu... eu disse uma coisa muito feia para Oliver lá fora quando cheguei,
não posso mais encontrar com ele, pelo menos não hoje.
– Uma coisa muito feia? Que coisa?
– Ah não Laura, me perdoe, mas eu não vou repetir aquilo para você.
– Me diga Beatriz, que coisa tão horrível foi essa que está te deixando
assim, com medo dele? – Respiro fundo para tomar coragem.
– Eu disse que era para ele ir se foder – digo essa última parte quase num
murmúrio.
– Você o quê? – Ai, acho que hoje mesmo terei que fazer as malas.
Será que Hazel me daria abrigo até amanhã pelo menos?
– Ele me questionou sobre Kellan e eu já estava irritada pelo jeito que ele
me tratou de manhã na piscina, então na raiva mandei ele se foder. Desculpe,
Laura.
Então eu ouço o som da gargalhada ressoar pelo ambiente. Olho para ela.
Ri tanto, que chega a sair lágrimas. Isso dura alguns minutos e eu ali esperando
que ela recobre o juízo e me mande tomar o meu rumo. Logo.
– Céus, – diz quando consegue se acalmar um pouco – de repente os meus
dias ficaram tão divertidos! – Olho para ela, espantada.
– Laura, sério... não sei o que acontece comigo quando estou perto dele. Eu
fico... corajosa. Falo tudo que me vem à mente e quando vejo, já foi. Nunca fui
assim, pelo menos não com pessoas que eu acabei de conhecer e que não me
dão essa intimidade. O que está acontecendo comigo? – Ela se acalma da
risada e me encara seriamente.
– Não sei, mas tem uma coisa que eu sei. É bom que Oliver tenha uma
mulher em sua vida que não tenha medo de falar as coisas para ele e nem o
trate como uma divindade.
– Acho que não posso mais ficar aqui depois disso.
– Bobagem. – Ela abana as mãos sugerindo que eu deixe para lá, me abraça
e beija o topo da minha cabeça. – Sabe o que eu acho de verdade? – Faço um
movimento negativo com a cabeça. – Eu acho que você deve continuar fazendo
o que está fazendo. Você está no caminho certo! – Enfatiza aquelas palavras
contribuindo ainda mais para a minha confusão interna. – Você não vai mesmo
sair deste quarto hoje à noite, não é?
– Não.
– Então vou mandar Gia preparar um prato e trazer aqui. – Assinto.
Ela dá um beijo na minha bochecha, se levanta e caminha até a saída, gira
a maçaneta e começa a abrir a porta, mas antes de ir dá uma última olhada para
mim e diz alguma coisa baixinho, algo que me pareceu como “Não vejo a hora
de segurar meus bisnetos”. Então sai.
Afff. Me jogo de novo na cama.
Ela não pode ter dito o que eu acho que eu ouvi, pode?
Não, claro que não.
A única pirada aqui é você Beatriz.
“Você está no caminho certo”.
Só se for no caminho de encontro ao pé na bunda que ele vai me dar.
Um pé na bunda tão forte que me arremessará de volta para o frio gélido de
Chicago.
Me levanto cedo no dia seguinte, primeiro porque não quero encontrar com
Oliver, que dificilmente sai do quarto antes das onze e segundo porque preciso
urgentemente ver com Laura como faço para lavar minhas roupas. Estou
ficando sem opções sobre o que usar.
– Bom dia Bia, dormiu bem? Mais calma? – pergunta Laura.
– Estou sim Laura, obrigada.
– Então sente-se, vamos tomar café. – Me sento à frente dela na bancada da
cozinha e começamos a nos servir.
– Laura, eu quero conversar com você algumas coisas. Preciso comprar
alguns artigos de higiene na farmácia e não sei como proceder nesse caso e a
outra coisa é que preciso lavar as minhas roupas, como faço?
– Quanto aos artigos de higiene, você pode colocar tudo numa relação que
temos pessoas que vão ao mercado ou farmácia para nós todos os dias. Agora,
se você mesma quiser ir até o estabelecimento, daí avisamos o Peter e ele
providência para te levarem. Já a questão das roupas, não há necessidade de
você lavá-las. Basta deixá-las no seu banheiro no local indicado e todos os
dias os funcionários recolhem e lavam.
– Não me sinto bem com isso, estou aqui usufruindo de todo esse conforto e
não fiz nada para merecê-lo. Você não me deixou ajudar com nada até agora,
então pelo menos lavar as minhas roupas eu gostaria de poder.
– Você não vai lavar as suas roupas – fala aquela voz grave se aproximando
da cozinha.
Nossa, mal acordou e já está mal-humorado e lindo desse jeito?
E quem disse que ele não se levanta cedo?
Me resta enfrentar a fera!
– Os empregados são treinados para usar corretamente os equipamentos que
possuímos na lavanderia. Eles têm sua rotina, sua organização para que tudo
funcione bem e são pagos para exercerem essa atividade para todas as pessoas
que moram na casa. Você ir até lá, se meter no trabalho deles, iria mais
atrapalhar do que ajudar. Então quanto a isto não há mais o que questionar.
Deixe suas roupas no cesto do seu banheiro e no final do dia elas estarão
novamente em seu closet. – Se acomoda ao meu lado na bancada, não deixando
margem para revidá-lo.
– Tudo bem – respondo submissa.
Depois de ontem, o que mais eu poderia dizer?
Melhor mesmo eu dar uma de Anastasia Steell e nem levantar os olhos para
ele.
Nunca mais.
– Bom dia, querido! – Laura beija o rosto do neto.
– Bom dia vó, Bia.
– Bom dia – sussurro e continuo a olhar para o meu prato.
– E quanto à farmácia, vai fazer uma lista ou quer ir até lá você mesma? –
pergunta Laura.
– Eu prefiro ir, pois preciso passar no banco e retirar dinheiro antes.
– Você também não pagará pelas suas compras na farmácia. Mesmo que vá
com o motorista, o pagamento será feito pelo cartão do condomínio –
intromete-se Oliver novamente.
– Nem pensar. São meus gastos pessoais...
Minha submissão não durou muito tempo.
Devo ser péssima nisso.
– Desista Beatriz, não há a menor possibilidade de você ganhar essa
discussão – diz e morde seu sanduíche.
– Oliver, – me cerco de todo cuidado, e toda calma, possível e me viro um
pouco na banqueta para poder olhá-lo – você e sua avó estão fazendo um bem
enorme para mim me acolhendo aqui. Eu jamais poderei agradecer o
suficiente. Eu não tive um gasto sequer até agora, as pessoas fazem tudo para
mim, coisa que nunca fui acostumada, muito pelo contrário. Eu não pago nem a
minha comida. Então sim, eu mesma vou cuidar da conta da farmácia quando
for até ela com o seu motorista.
– Não vai. E se o motorista aceitar por conta da sua insistência, tenha
certeza de que você será a responsável pela demissão dele.
– Oliver, você não vai pagar pelo meu absorvente! – Tento de novo, agora
bem mais irritada. O calorão já tomou conta do meu rosto e certamente devo
estar da cor de um tomate maduro.
– Eu vou. Pelo seu absorvente e por tudo mais que você precisar. Minha
casa, minhas regras. E você pode me chamar de implicante, de babaca ou dar a
mesma resposta malcriada que me deu ontem à noite, não me importo. Mas
tenha certeza que essa sim é uma conta que, em algum momento, eu vou cobrar.
– E me dá uma piscadinha.
Uma piscadinha!
Sério?
O que ele pretende fazer? Como vai cobrar?
Melhor eu aproveitar a ida com o motorista à farmácia e dar um jeito de me
perder por lá para ele nunca mais me achar.
– Hã hã – resmunga Laura, chamando a nossa atenção.
Só então me dou conta que ela estava ali o tempo todo, presenciando aquilo.
– Perdão por eu me meter no embate de vocês, mas é que caso você queira
me dar a lista, o horário de saída do funcionário para as compras da manhã é
em dez minutos.
– Tudo bem Laura, e me desculpe por isso, de novo. – Faço um gesto
indicando a situação. – Mas combinei de passar o dia com Hazel, na casa dela,
verei se ela me acompanha à farmácia mais tarde.
– Ótimo.
– E Oliver – me viro novamente para ele – eu fui muito mal educada com
você ontem. Não deveria ter dito aquilo. Estava nervosa e me descontrolei.
Por favor, me desculpe.
– Eu desculpo. – Ele bate as mãos uma contra a outra, como que tentando se
livrar de possíveis migalhas, mas desconfio que foi mais para me demonstrar o
seu desdém. – Mas isso não vai te livrar da prestação de contas.
– E como você pretende cobrar? – Melhor me preparar.
– Ah, isso você saberá no momento certo. – Suspiro frustrada. – Mas me
diga, seu namoradinho vai passar o dia com vocês?
Este é o motivo do seu desdém então?
Meu possível envolvimento com Kellan?
A pergunta que ele me fez e eu não respondi ontem?
– Ele não é meu namorado – falo num tom de voz irritado que nem eu
mesma reconheço, finalmente liberando a informação que ele tanto quer.
– Não? – pede confirmação com uma súbita animação desmedida na voz.
– Não.
E é aí que eu desmancho.
Se já não fosse apaixonada por ele, teria me apaixonado ali.
Naquele instante.
Ele abre o sorriso mais lindo que eu já vi.
Eu morreria por aquele sorriso.
Oliver de qualquer jeito é um pecado, sorrindo é os sete capitais juntos.
O interfone toca me tirando do meu momento encantamento e Laura atende.
– Oi. Ah claro Riley, entre. – E alguns minutos depois, Riley, a belíssima
advogada da The Order vem ao nosso encontro.
O dia acaba de perder um pouco a graça.
– Bom dia Laura, Beatriz, Oliver! Desculpem aparecer assim, mas Oliver. –
Ela chega próxima dele e põe a mão em seu ombro. Não gosto. – Peter deixou
comigo, era para ter lhe entregue na noite de terça, quando nos encontramos,
mas acabei esquecendo. – Ele pega um envelope pequeno da mão dela, abre e
olha rapidamente.
Então, depois do que aconteceu entre nós naquela noite ele saiu com ela?
Agora o dia ficou péssimo.
Uma angústia toma conta do meu peito. Aquele momento, que foi tão lindo
para mim, de repente me parece... uma fraude.
O jeito que ela olha para ele, que toca nele, deixa bem claro que ali há
muito mais do que uma relação de trabalho.
Também, o que eu queria?
É só olhar para ela!
A mulher é alta, as curvas nos lugares certos. Os cabelos negros brilhantes
e maravilhosos. Os peitos exuberantes.
Ela é linda, ele é lindo, claro que se envolveriam.
– Obrigado, Riley. Quer tomar café conosco? – Oliver convida.
– Eu aceito sim, saí de casa cedo. Tinha uma reunião marcada na produtora
e não tive tempo.
– Fique à vontade – oferece Laura. – Gia já trará a louça para você, vá se
acomodando. – Ela senta-se ao lado de Laura, de frente para Oliver.
– E você Beatriz, está adaptada?
– Estou sim. Não é muito difícil se adaptar ao paraíso.
– Nisso você tem razão. – Ela sorri para mim, mas não tenho a menor
vontade de retribuir o gesto, então me mantenho “neutra”.
– Passou o dia no estúdio ontem de novo? Uma semana de férias já foi o
suficiente? – Ela pergunta a Oliver.
– Tive algumas ideias, precisava trabalhar nelas.
– Nossa, e o que tem sido a fonte de tanta inspiração? Não lembro de você
ter se dedicado assim antes durante o período de descanso.
– Não há uma fonte, há apenas, inspiração – diz ele fazendo gestos no ar
com as mãos e me lançando um olhar meio de lado.
– Se você diz. Lian vai fazer algo essa noite, acho que só com Tina e duas
meninas que Max convidou. Você irá? – pergunta, me fazendo murchar um
pouco mais diante de cenas impróprias que voltam aos meus pensamentos.
– Provavelmente sim – responde ele.
Aquilo me incomoda além da conta.
Óbvio que é esquema.
Os quatro rapazes, as quatro mulheres.
Me levanto rispidamente, fazendo a banqueta ranger ao arrastar no chão.
– Se me dão licença, vou me arrumar para encontrar Hazel.
– Fique à vontade – diz Laura.
E assim volto para o quarto, deixando que eles possam orquestrar os seus
planos para a noite em paz. O buraco no meu peito aumenta e sinto uma enorme
vontade de chorar.
Mas não vou.
Não por isso.
Não somos nada um do outro.
Já tive muitos motivos reais para chorar na vida, esse não é um deles.
Então engulo o choro, escovo os dentes, penteio os cabelos, passo um
batom clarinho, pego uma bolsinha, o celular e sigo para o deck. Sento-me ali,
sozinha, e aguardo a chegada do motorista. O celular vibra. Sorrio.

Bom dia amiga! Já estou com saudades. Seu


amigo, Kellan

– Uau! Hazel, como você consegue?


Acabamos de entrar no quarto de Hazel, na linda casa onde ela mora com os
pais e que fica numa área reservada próxima a produtora, no meio de um
terreno enorme, onde há jardins incríveis e estufas de flores que são a paixão
de Alicia.
Mas ao entrar no quarto, o que impressiona é a parede contrária a cama.
É um tributo à The Order.
Há fotos emolduradas dos meninos em várias fases da banda, com
iluminação própria que reflete dos quadros dando um visual parecido com os
refletores usados nos shows.
E bem no meio de todas as imagens, com uma luz dourada e mais forte
sobre ele, há um quadro de Max, de tamanho real e corpo inteiro, estilo o de
Oliver que está escondido no closet do meu quarto.
Max está de tirar o fôlego naquela foto.
Olhando diretamente para frente, o ar de gentleman bad boy típico dele, os
cabelos revoltos, está numa calça jeans preta, sem camisa, só com um colete
de couro preto aberto, deixando o seu peito e os poucos fios ruivos que
existem ali a mostra.
No pescoço, uma gravata borboleta quadriculada em preto e branco é a
cereja do bolo. Um braço seu está estendido ao longo do corpo e o outro com o
cotovelo flexionado deixando o antebraço elevado, evidenciando os músculos.
E saindo por entre os dedos da mão as baquetas da bateria imitam as garras do
Wolverine.
– Eu sei, eu sei. Deveria ter tirado isso daí há muito tempo. Não me ajuda
em nada ficar olhando e sonhando. Mas não tenho coragem. Quando olho para
ele ali parece que está mais próximo a mim.
– Hazel, isso não acaba te entregando?
– Não, todos sabem que Max sempre foi o meu preferido, então é normal
que ele tenha o destaque.
– Ninguém nunca desconfiou, tem certeza?
– Olha, eu acho que mamãe sabe, mas nunca perguntou nada para confirmar.
Helen também penso que desconfia, pois, as vezes quando acho que ninguém
vai perceber, eu fico olhando para ele com aquela cara de cachorro sem dono,
sabe? E já flagrei ela me encarando nesses momentos. Laura, eu não sei. Mas
os meninos e meu pai, eles não, são muito tapados para essas coisas. Se você
não chegar na cara deles e disser estou a fim, nada acontece. – Rimos. – Estou
te achando meio deprê, o que houve? Ainda o lance do “vai se foder”? Você
sobreviveu afinal. – Rimos novamente.
– Não, mas antes de te dizer o porquê, eu preciso te atualizar de algumas
coisas antes. – Conto a ela os últimos episódios ocorridos entre mim e Oliver.
– ...Então hoje de manhã, aquela advogada, Riley, chegou na casa e acabou
deixando escapar que se encontraram naquela noite, na mesma que rolou o
lance entre nós. Quer dizer, acho que só da minha parte existiu algum lance,
para ele foi um arroubo de fã adolescente que se deve relevar e ignorar. Mas
enfim, além disso ela comentou que vai rolar uma das festinhas de novo hoje,
com menos pessoas, mas o balanço deu 4x4 amiga, ou seja, pegação. – Ela
suspira e se joga de costas na cama. Sento-me sobre o colchão, perto dela.
– Ahh Bia, nessas festas é só o que rola. É ali que ocorre o banquete sexual
deles, sabe? Eles nunca se envolveram seriamente com ninguém e não se
arriscam a ir em eventos ou festas badaladas, no máximo isso ocorre nas
premiações e comemorações após elas. E nos bastidores dos shows durante a
turnê, é claro, afinal eles não vão ficar seis, oito meses sem sexo, né? Fora
isso, eles preferem organizar seus esquemas aqui, onde estão sob a proteção da
segurança e podem se livrar dos inconvenientes no momento que quiserem.
– Isso é tão frio e cruel.
– É sim. Mas dá para culpá-los totalmente? Ali, a oferta é sempre muito,
muito superior à demanda, amiga. Então é normal que o preço da carne
ofertada não valha muita coisa.
– Nossa Hazel, quero morrer sua amiga. – Uma risadinha diabólica escapa
da minha boca.
– É a verdade Bia, não adianta nos enganarmos. A Riley, ela sempre está
nos esquemas. Eles eram amigos de colégio, e desde lá ela está de um jeito ou
de outro na vida deles. E ela dá para todos, não sei nem se o Kellan não pegou.
Pelo que ele deixou escapar, rola com mais de um ao mesmo tempo.
– Por favor, não preciso ter essa imagem na minha cabeça, já basta a ruiva.
Podemos mudar de assunto? Não quero me sentir pior do que já estou me
sentindo.
– Tudo bem. Então você precisa ir à farmácia?
– Sim, preciso, você me acompanha? Combinei com Peter de alguém me
buscar aqui às quinze e trinta.
– Acompanho sim, claro. Depois podemos tomar um sorvete. Tem um lugar
delicioso no centro de Oceanside.
– Perfeito!

Oliver

Ela não aceitou ou ele não propôs?


Não aceitou, certeza.
Ele não iria levá-la a um romântico passeio de lancha se não fosse para dar
o bote.
Conheço Kellan, o moleque não dá ponto sem nó.
Fico pensando aqui no quarto, deitado na minha cama, tentando tirar um
cochilo após o almoço. Só que os pensamentos não me deixam relaxar o
suficiente para isso, então, já que não corro o risco de encontrá-los um nos
braços do outro, resolvo ir até a casa de Lian.
Antes mando uma mensagem para Peter e alinho algumas coisas para dali a
algumas horas.
– Olha se não é a princesa que resolveu descer da torre. – Me recepciona o
guitarrista pé-no-saco.
Ele e Max estão na hidro do deck e Kellan sentado numa poltrona um pouco
mais afastado, com o olhar meio perdido. Pego uma cerveja, tiro a camiseta e
me junto aos dois na hidro.
– Oi bundões – cumprimento.
– Mais calmo Oliver? – pergunta Max.
– Por que não estaria? Não entendi a pergunta – disfarço.
– Ué, o seu rompante no grupo ontem por causa do passeio de lancha dos
meninos não é motivo suficiente? – explica.
– O meu rompante foi por esse fedelho ali. – Aponto o dedo para Kellan. –
Que mal aprendeu a pilotar aquele monstro, ter a irresponsabilidade de sair
sem levar um profissional junto, e ainda por cima voltar à noite.
– Não exagera Oliver, o que de mal poderia ter acontecido? – Se defende
Kellan.
– O que poderia ter acontecido? Posso listar aqui uma infinidade de
desastres, desde você ter batido em uma pedra ou outra embarcação, até a
possibilidade de você ter machucado alguém.
– Não viaja – resmunga o pivete.
– Não viaja o car...
– Deixe Oliver, Kellan não está bem. Parece que sua irmãzinha não cedeu
ao charme dele e ele passou o dia todo assim. Com cara de quem não comeu e
não gostou – conta Lian.
– A garota tem bom senso – digo.
– Vão a merda vocês dois – reclama Kellan.
– Hoje à noite na sua festinha Lian, ele já se anima novamente – completo.
– Não vou ficar na festa – resmunga o pirralho.
– Não? Por quê? Virou celibatário? – pergunto. Ele só me olha e não
responde. Olho de Lian para Max tentando entender.
– Parece que ela não acabou com as esperanças dele de vez. Disse que quer
que sejam apenas amigos por enquanto, mas que está disposta a tentar
novamente no futuro. Então acho que o fedelho não pretende perder pontos
ficando e caindo na farra. Ele quer mostrar a ela que é um menino de família –
debocha Max.
Só que eu não acho engraçado.
De repente toda a leveza que eu estava sentindo se vai.
Ela não disse um não, no fim das contas.
– Vamos ver até quando esse autocontrole dura. Aposto que um mês é o
máximo que ele aguenta só na punheta – digo e me arrependo logo em seguida,
porque a imagem dele batendo uma pensado nela me dá vontade de ir lá e
cortar as duas mãos do moleque fora.
– Ahhh ele me confidenciou que não pretende que a friend zone dure muito.
Disse que a festa da Hazel sexta que vem será o limite e que lá ele vai com
tudo para cima – abre Lian, analisando a minha reação diante da sua
informação.
Porra!
– Vocês sabem que eu estou bem aqui não é, seus idiotas? – Manifesta-se o
sujeito da conversa.
– Bom, vamos esperar então que ele aprimore as suas técnicas, pois parece
que não anda obtendo bons resultados – provoco um pouco mais.
– Quer me dar umas aulas, Oliver? – pergunta o descarado. Engulo em seco.
Aulas para ele aplicar com ela?
Nem pensar!
– Oliver anda correndo da raia, então acho que não é uma boa opção,
Kellan – solta Max.
– Que merda é essa? – pergunto para ele.
– Tive que apagar o fogo de Riley, pois segundo ela, te procurou e você
dispensou.
– E você e Riley ficam discutindo a minha vida enquanto trepam?
– Não, ela deixou escapar na verdade, aliás, que caralho você foi fazer no
estúdio domingo de madrugada?
– Tive uma ideia para uma música e precisava escrever, só isso. – Espero
que cole. Lian ri.
– Sei. E essa ideia era tão mirabolante que você não poderia esperar o dia
amanhecer, ou sentar-se ao seu lindo piano, pegar uma partitura que certamente
você tem em casa, e escrevê-la ali mesmo? Tô bem curioso para ouvir a tal
música. – Max estuda meu rosto.
– Mesmo que eu não precise me justificar com você Max, vou fazer. Eu já
escrevi a melodia e a harmonia, queria testar nos instrumentos corretos, por
isso fui para lá. E não esperei o dia amanhecer pois estava sem sono, então
aproveitei. – Ele faz uma cara de quem não se convenceu muito, mas deixa
passar. – Bom, tenho que ir.
– Ué, o que você tem para fazer as duas e quarenta da tarde? – pergunta
Lian, conferindo a hora no celular.
– Vou levar Beatriz e Hazel à farmácia.
– O que? Por quê? Como assim? – Cada um dos três faz uma pergunta ao
mesmo tempo.
– Pedi para Peter trazer a Land Rover e eu vou levar as meninas até a
farmácia em Oceanside, por que o espanto?
– Por que o espanto? Quando foi a última vez que você correu o risco de se
expor para ir numa farmácia Oliver? Caiu e bateu a cabeça? Tá com febre
alta? Vem aqui, deixa eu ver. – Lian faz menção de encostar a mão na minha
testa.
– Sério Oliver, isso tá me assustando – diz Max. Respiro fundo.
Tenho que dizer algo a eles, porque realmente eu não me exponho se não for
estritamente necessário.
– Eu vou porque a menina precisa e não quer aceitar que os seus gastos
sejam pagos por mim. E ela não tem muito recurso próprio, pedi para Peter
fazer um levantamento da situação dela e caso tivesse que se virar com o que
tem, não conseguiria por muito tempo. Até que ela tenha condições reais de se
sustentar, eu vou arcar com todas as suas despesas. Se eu a mandar apenas com
um motorista hoje, tenho certeza de que ela dará um jeito de pagar a conta da
farmácia. Então vou prender o cabelo, pôr o boné, os óculos escuros, a barba
lenhador e vou com elas até lá. Vai um outro carro com seguranças atrás.
– Vou com vocês – escala-se Max.
– Eu também – larga o fedelho.
– Max, você falou primeiro, então tudo bem. Kellan, você fica. Dois de nós
já é bandeira o suficiente. Max, disfarce-se. Paro na sua casa assim que Peter
mandar o carro. Não avise Hazel, Beatriz não sabe que sou eu que vou buscá-
las. – Parto para casa colocar o meu disfarce.
Tomo um banho rápido, coloco um jeans e uma camiseta branca, ajeito a
barba falsa, prendo os cabelos no topo da cabeça de forma que fiquem
escondidos pelo boné, pego os óculos e fim.
Logo o carro já está ali e faço a primeira parada na casa de Max. Assim
como eu, ele coloca uma barba, só que mais curta e escura, tem as
sobrancelhas e cílios pintados de preto e um boné preto. Ele se senta no banco
do carona ao meu lado e seguimos para a nossa segunda parada.
Bia

– Hazel, Peter mandou mensagem que o carro chegou.


– Peter? Ué, normalmente o motorista mesmo avisa.
– Bom, vamos?
– Vamos sim, só pegar minha bolsa. – Ela pega o que precisa e saímos da
casa. Assim que dá o primeiro passo para fora, comigo seguindo-a, estanca.
– A Land branca? Não estou entendendo – fala, voltando a caminhar.
No que estamos nos aproximando, a porta do carona é aberta e um homem
de barba e boné salta e abre a porta de trás para nós. Hazel começa a rir. O
homem abre um sorriso para ela. Olho para Hazel tentando entender o motivo
da graça. Nisso a porta do motorista também é aberta e outro homem sai.
Também de boné e barba mais longa, estilo lenhador. E quando olho para ele
eu entendo, aqueles olhos, inconfundíveis. É Oliver. Olho para o outro homem
novamente, analiso seus traços e descubro que é Max. Foi difícil porque ele
escondeu o ruivo das sobrancelhas e cílios.
– Vocês vão nos levar à farmácia? – pergunta Hazel.
– Nós mesmos. Farmácia e sorveteria conforme o roteiro que Peter passou
– responde Oliver.
– Nossa, era o meu dia de sorte e ninguém me avisou? – brinca Hazel,
animada.
– Então entrem sortudas, para podermos ir de uma vez – Max pede. Hazel e
eu nos acomodamos no banco traseiro da SUV.
– Beatriz, eu moro aqui, com esses trastes há nove anos. Sabe quantas vezes
eles me levaram para a farmácia? – Faço um negativo com a cabeça.
– Nunca. Nunquinha.
– Deixa de ser ciumenta Hazel – fala Oliver.
– E não seja injusta, posso nunca ter te levado à farmácia, mas eu já cansei
de te acompanhar ao shopping, ao cinema, a Long Beach – defende-se Max.
– Mas nunca me levou a farmácia – insiste ela. – E outra, você é um caso à
parte ruivo, você sabe. Agora ter dois de vocês me levando a algum lugar, não
me lembro de ter acontecido.
– Hazel, você prefere que ele te leve nos lugares. No singular. Então não
venha se fazer de vítima. Lembro inclusive de você ter barrado a nossa entrada
em uma comemoração de aniversário porque queria apenas Max.
– Deus, eu tinha onze anos. Superem isso!
– Superar não sei, mas Lian e eu já desistimos de competir há muitos anos.
– Vocês desistem fácil demais e é por isso que ela gosta mais de mim –
vangloria-se Max.
– A questão aqui não é essa. A questão é o poder que a Bia tem de mover
montanhas. E a montanha em questão é você Oliver, porque não lembro a
última vez que você saiu daqui para ir ao centro de Oceanside. Você nem deve
se lembrar de como é lá – fala Hazel.
– Não lembro mesmo – diz Oliver sorrindo.
– E por que está fazendo isso? Nós poderíamos muito bem ter ido com um
motorista – pergunto.
– Porque eu quero ter certeza de que um certo alguém não vai inventar de
passar em um banco para retirar dinheiro que não precisa, para pagar a conta
da farmácia – responde ele, me olhando pelo espelho retrovisor do carro.
– Eu não acredito que você está indo para me impedir de pagar pelos meus
pertences de uso pessoal. Oliver, isso é demais!
– Estou e vou garantir. Prefiro isso a ter que demitir um motorista inocente
que não soube driblar o seu poder de persuasão.
– Nossa, agora você colocou fé demais em mim.
– Ah, eu já ouvi algumas coisas bem interessantes dessa sua boquinha, não
duvido de mais nada. – Puf, o calorão explode.
Ele não vai perder a oportunidade de lembrar, né? Hazel me dá um cutucão
com o cotovelo e um sorriso maroto.
– Amiga, aproveita, relaxa e goza, porque eu vou – sussurra ela em meu
ouvido. E nós duas rimos lá atrás sem que os meninos entendam o porquê.
Chegamos na farmácia e, antes que possamos sair, dois caras, que estavam
em outro carro nos seguindo, saem. Um entra na loja como se fosse um cliente
e o outro fica rondando a porta. Quando o que está na porta da um sinal, então
Oliver e Max saem do carro, agora com óculos de sol completando o disfarce,
e eu e Hazel os seguimos.
Entramos no estabelecimento como se fôssemos quatro amigos com vidas
normais que precisaram parar na farmácia por algum motivo.
Daí vem a vergonha de comprar absorvente e lâmina na frente deles, mas
fazer o que? Tive que ir lá para isso, então que seja. Pego uma cestinha e
começo a colocar nela tudo o que preciso. Hazel vai olhar as maquiagens
enquanto isso, com Max indo atrás dela. Oliver fica ali, meio ao meu entorno.
Quando ele percebe que já peguei tudo que precisava, retira a cesta da minha
mão e vai para o caixa.
Paga as compras e pega a sacola, segura a minha mão e me puxa para onde
estão Hazel e Max. Eu aproveito cada minuto daquela mão na minha que me faz
suar só com aquele simples contato. Mas dura muito pouco, assim que
chegamos próximos a eles, me larga, avisa que estamos prontos e seguimos os
quatro em direção ao estacionamento com o segurança que ficou dentro da loja
vindo um pouco mais atrás.
Ao chegarmos perto do carro, Hazel segura Max e o empurra para o banco
de trás, fazendo com que eu tenha que me sentar ao lado de Oliver na frente.
– Ué, achei que as meninas quisessem ir fofocando juntas aqui atrás – fala
Max para Hazel.
– Não, eu queria é um peito forte para me encostar mesmo. Estava com
saudades, ruivo.
– Eu também princesa – Ele a abraça e beija a cabeça dela.
Ouvir aquela frase me faz lembrar do meu pai de uma forma muito intensa e
eu não consigo conter algumas lágrimas que acabam descendo pelo meu rosto.
Oliver percebe e me olha assustado, viro o rosto na direção dele e faço um
sinal de negativo com a cabeça, pedindo silenciosamente a ele que não
comente nada, pois se eu tiver que falar qualquer coisa naquele momento, não
conseguirei segurar o rio de lágrimas que estou tentando conter, já que a
saudade se apossou de mim sem eu esperar.
Ele então estende a mão e segura a minha, apoiando nossas mãos juntas
sobre a minha perna. E fica ali, daquela forma, fazendo carinho em minha mão,
todo o trajeto até a sorveteria. Não se importando se Max ou Hazel estão
vendo aquilo. E é tão bom sentir o conforto dele, que eu não me importo
também.
A sorveteria é uma graça. Mesinhas redondas brancas, estilo francês, tanto
na parte externa quanto na interna. Há mais de cinquenta sabores de sorvete à
disposição para escolher, fora sobremesas mais elaboradas que vão sorvete
também, claro. Eu adoro chocolate amargo com morango fresco, mas em
homenagem a Oliver, acrescento uma bola de menta também. Quando todos já
se serviram, nos sentamos numa mesa na parte externa. A cidade não é muito
grande e tem bem aquele ar de cidade praiana.
– Que delícia – digo após a primeira colherada do sorvete. E realmente é, o
sorvete é leve, de sabor intenso e a mistura do morando, chocolate amargo e
menta gera uma explosão de sensações no meu paladar. Acho que achei meu
novo sabor preferido, afinal.
Levanto a face e me surpreendo ao ver Oliver com os olhos fixos em minha
boca, me olhando colocar a colher e tomar o sorvete. Encaro seus olhos, estão
escurecidos, e continuo comendo, levando a colher lentamente a boca e
sugando bem devagar o doce sobre ela. Um arrepio percorre meu corpo sob a
intensidade daquele olhar.
– É mesmo muito gostoso o sorvete daqui. Hazel e eu já viemos algumas
vezes – comenta Max.
– Realmente, é único – diz Oliver, ainda apreciando a minha degustação.
Acho que ele nem percebe o que está fazendo, mas se ele continuar jogando
esse olhar para cima da minha boca do jeito que está fazendo, não respondo
por mim. Já provei mais de uma vez que perto dele eu faço loucuras, então nem
quero pensar em qual reação posso ter ali.
– Oliver como você diz isso se nem deu uma colherada no seu sorvete
ainda? – pergunta Hazel, colocando-o numa saia justa. Isso faz com que ele
saia do seu transe.
– Ah... é que eu já estive uma vez aqui também. Por isso conheço – explica
rapidamente.
– Aham, sei. – Ela me olha arqueando a sobrancelha.
– Então Hazel, me conta a história de querer ir para uma boate em Los
Angeles para comemorar seu aniversário. Não gostei nada da ideia quando seu
pai nos contou. Ainda não gosto muito, pra falar a verdade – diz Max.
– Ué, qual o problema? Só vocês podem se divertir?
– Não, claro que não. Mas por que não pode ser uma casa menor por aqui
mesmo? E por que não podemos fechar a boate para que você tenha lá só os
seus convidados? – Hazel parece se irritar, fecha a cara e vira na direção dele.
– Porque eu quero a casa mais badalada da Califórnia e porque se
estiverem lá só as pessoas que eu conheço, ruivo, não conseguirei ter o tipo de
diversão que eu estou precisando, e muito. – Nessa hora eu tento me segurar
para não rir, mas falho miseravelmente, pois Oliver explode numa gargalhada
ao meu lado. E o motivo é que Max ficou vermelho como um pimentão. Pelo
visto não sou só eu que tenho esse problema.
– Ah Max, você deveria ter visto a sua cara agora – diz Oliver ainda em
meio à crise de risos. – Encare os fatos irmão, sua garotinha cresceu.
– Vai pro inferno, Oliver. Nunca vou conseguir lidar com isso. E você, dona
Hazel, olhe lá o tipo de besteira que está pensando em fazer. Não pense que
estará sem vigilância durante a festa. Vou estar de olho em você.
– Então podem cancelar a merda da festa, porque fui bem clara com o meu
pai. A noite é minha e eu vou me divertir como achar melhor. Pode ter
segurança, eu não me importo, mas desde que não interfiram nas minhas
vontades enquanto isso não significar risco de morte.
– Acalme-se Hazel, Max só está dando uma de pai ciumento. Você terá a sua
festa do jeito que sonhou, fique tranquila, nem que tenhamos que amarrá-lo ao
assento da área VIP – intervém Oliver.
– Ele não é meu pai Oliver, só que ele não percebeu isso ainda – diz a
Oliver, porém encarando Max. – Se me dão licença, eu vou ao banheiro.
– Vou com você. – Me levanto e caminhamos rapidamente até o toilet. Ao
entrar, Hazel desaba. Eu ando até ela e a abraço. E fico um tempo ali, só
agarrada a ela e esperando que se acalme.
– Hazel, sinto muito. Se acalme, por favor.
– Eu o amo tanto Bia, é tão difícil. Mas juro a você que vou dar um jeito na
minha vida nessa festa. Eu preciso. Não aguento mais isso. – Não digo nada,
não é o momento. Apenas deixo-a desabafar e continuo abraçando-a.

Voltamos para casa e o clima já não era mais tão leve quanto na ida. Um
Max emburrado que voltou a se sentar no banco da frente e uma Hazel
magoada no banco de trás ao meu lado. Depois da primeira portaria, Hazel
fica em sua casa e nós três partimos para a praia. Paramos para Max descer e
então, só Oliver e eu seguimos até à frente da casa dele, onde deixamos o carro
que alguém logo recolherá dali. Pego minha sacola e desço do carro. São
dezenove horas e o sol já está se pondo.
– Oliver, muito obrigada por isso – digo levantando a sacola. – Pelo
sorvete e pela companhia, foi uma tarde maravilhosa.
– Não há de que. Também gostei muito da nossa tarde. Fazia muito tempo
que eu não saia como alguém normal, apenas para tomar um sorvete e
conversar com amigos. Foi especial – a declaração dele me aquece.
Entramos em casa, passamos pela sala e não achamos Laura. Gia está ali,
organizando alguma coisa na bancada.
– Gia, vovó saiu?
– Sim, ela foi jantar na casa de Helen. Querem jantar agora?
– Daqui a uns trinta minutos, preciso de um banho. Tudo bem para você,
Bia?
– Claro, também quero tomar um banho antes.
Tomo um banho gostoso e demorado, lavo e seco meus cabelos, coloco o
vestidinho azul que usei no meu primeiro dia ali. Céus, parece que já faz tanto
tempo e não duas semanas. Saio do quarto em direção a sala de jantar, mas
avisto Oliver, agora sem disfarce, na mesa do chá, perto da parede de vidro.
– Pedi para Gia servir aqui se você não se importar. Aquela mesa de jantar
enorme é imponente demais para mim. – Sorrio para ele.
– Para mim está ótimo.
Com você, eu encaro até jantar de cabeça para baixo.
– Então sente-se, vamos comer.
– Com licença – me acomodo.
– Posso te servir? O peixe com molho branco que a Gia faz é delicioso.
– Pode, obrigada.
– Purê? Salada?
– Os dois, por favor. – Ele me serve, depois se serve.
Ele está tão cheiroso!
Evito, mas evito muito mesmo não me deixar levar pela minha tendência
natural de lançar para cima dele aquele olhar embasbacado.
– Vinho? Este é branco, não é tão forte quanto o outro que você provou.
– Posso? – Ele dá um sorrisinho maroto e vai me servindo.
– Se você prometer que não vai me agarrar depois, pode. – Eu
imediatamente fico como Max na mesa da sorveteria. Ele ri mais alto agora. –
Calma, estou brincando com você, não precisa ficar assim.
– Parece que eu e Max temos o mesmo problema, não? – Tento a todo custo
desviar o foco da questão agarrar.
– É, Max também não consegue esconder quando fica constrangido.
– Humm esse peixe realmente está maravilhoso – continuo minha técnica
com o objetivo de não voltar ao tema Bia se atirando em Oliver. E bebo um
gole do vinho que realmente está geladinho e bem mais agradável do que o
tinto, para o meu paladar.
– Me conte alguma coisa sobre você, Bia.
– O que você quer saber?
– Qualquer coisa. O que gosta de comer, por exemplo?
– Eu adoro comida mexicana.
– É mesmo? Burritos e Chilli Beans?’
– Exato. E modéstia à parte, acho que cozinho bem.
– Ora, ora, Beatriz... Qualquer dia vou querer uma prova de que não é
apenas este rostinho bonito.
– Ah Oliver, se formos levar para este lado, você é muito mais decorativo
do que eu. – Ele franze a testa e leva a mão ao coração, teatralmente.
E eu? Devo estar da cor da bandeira da China.
– Srta. Thompson! Recebi um elogio? Acho que foi a primeira vez.
– Há coisas que saltam aos olhos. Não as admitir é sinal de tolice, teimosia
e altamente incongruente com o óbvio. – Ele abre um sorriso de abalar
estruturas.
É lindo demais!
Que vontade de beijá-lo.
– Está flertando comigo? – Seu sorriso agora não cabe em seu rosto.
E eu estou mesmo, não estou? Flertando com ele?
– Impressão sua.
– Bem, de qualquer forma, penso que foi um belo salto no meu ranking. De
babaca implicante a enfeite de ambiente. Acho que estou indo bem.
– Arrisco dizer que sim. – Rimos e ele me olha com ternura.
– Topa dar uma caminhada pela praia comigo depois do jantar?
Ai senhor, a última vez que eu bebi vinho e nós caminhamos na praia, teve
aquele efeito. Meu coração acelera só de pensar.
– Claro, está uma noite linda. Mas você não tem uma festa para ir? –
Lembrar de que ele se encontrará com a advogada mais tarde me angustia.
– Não vou.
– Não? – Acho que não consegui disfarçar a animação exagerada na minha
voz – Por quê?
– Não estou no clima.
– Pensei que você tinha marcado com sua amiga. – Ele suspira.
– Riley supera. – Rodo um pouco os dedos em torno da borda da taça de
vinho, pensando se pergunto ou não.
Foda-se! Decido pelo sim.
– Ela não é apenas uma amiga, certo? – Ele me olha como alguém que não
esperava por aquela pergunta.
– Não, ela também é minha funcionária.
– Você entendeu o que eu quis dizer.
– Entendi, mas preferi dar essa resposta ao invés da que você me deu
quando perguntei se você e o fedelho estavam juntos.
– Ok, eu mereci. – Aceito resignada. – Minha dívida está paga?
– Nem de longe, anjo, nem de longe.
– Porra, o que você quer?
– Olha a boca, Beatriz.
– Ah, vá se... desculpe. – Paro quando percebo que na brincadeira iria
xingá-lo da mesma forma que me rendeu a tal dívida. Ele explode numa
gargalhada.
– Essa foi por pouco, não é mesmo? Quase que a dívida duplica. – Rio
também.
– É, foi por muito pouco. Não vai me contar mesmo? Sobre a sua amiga?
– O que exatamente você quer saber?
– Se vocês... se vocês, você sabe.
– Se a gente transa? Sim, a gente transa. – Acho que acabei de cometer um
crime civil queimando a bandeira da China.
Ouvir aquela palavra saindo de sua boca me deixou com tesão e raiva ao
mesmo tempo.
Por que fui insistir nessa merda? O que eu achei que ele diria?
– E você gosta dela? – Dizem que a declaração de burrice não é errar. É
insistir no erro.
Ele estanca com o garfo perto de sua boca, para poder me encarar.
– Eu gosto. Conheço Riley desde os meus dez anos de idade. Começamos a
nos envolver quando eu tinha quinze anos e ela quatorze. Desde lá ela sempre
esteve por perto e me ajudou em diversas situações. Fez direito e assumiu a
parte jurídica da banda, do condomínio e da produtora por um pedido meu,
pois confio muito nela. Tenho muito carinho e muito respeito por ela. – Droga,
a coisa só piora.
Eu e minha boca!
Ela é muito mais importante para ele do que eu imaginava, são namorados
desde a adolescência, caramba.
Meu peito dói.
– E ela não se importa, hum, com as outras?
– Outras? Que outras?
– As outras com quem você transa, Oliver! – digo meio irritada por ele se
fazer de desentendido.
– E como você sabe que há outras? – Olho para ele incrédula.
Como ele pode?
Acha que sou o que, idiota?
Então percebo que está com cara de deboche. E resolvo dar a resposta que
ele menos espera que eu dê.
– Eu vi.
– O que? Como assim, você viu? – Ai Jesus, ajoelhou tem que rezar, não é o
que dizem?
– Na quinta passada, à noite, fui caminhar na praia em direção ao trapiche,
você estava na festa de Lian. Quando eu estava voltando percebi um casal
dentro da hidro fazendo movimentos característicos. Ao passar pela frente da
casa deu para reconhecê-lo.
Ele parece desconcertado. Passa as mãos pelos cabelos e rosto, certamente
pensando no que dizer sobre isso.
– Sinto muito que você tenha presenciado isso.
– Eu também. – Olho para o meu prato e brinco com o garfo e a comida que
sobrou ali. Suspiro. – Mas então, sua namorada não se importa?
– Ela não é minha namorada. Nunca foi e nunca será. Nunca tive uma, aliás.
Ela é minha parceira sexual e respondendo à sua pergunta, não, ela não se
importa. Nenhum dos lados tem exclusividade nessa história.
– E você se importa?
– Com o que?
– Com o fato de não ter exclusividade. – Ele parece começar a se irritar
com a conversa.
Será que isso indica que ele gostaria sim que ela fosse exclusiva?
– Não, Beatriz. Não me importo nem um pouco. Agora, será que dá para a
gente parar de falar de Riley? – Não, ainda tenho mais uma, penso.
– Naquela noite, depois que nós... ela disse que vocês se encontraram...
você transou com ela? – Ele larga os talheres e suspira.
Deus, eu perguntei isso mesmo? Cara-de-pau me define neste momento.
– Eu não acho que lhe deva satisfações da minha vida a este nível. – Engulo
em seco, porque ele tem razão, por que deveria? – Mas não vejo problemas em
matar a sua curiosidade. Então não, não transei. Ela quis, mas eu não.
Satisfeita? – Assinto exageradamente aliviada e dou o último gole no meu
vinho.
– Ótimo! Vamos à nossa caminhada então? – Ele se levanta. Está com uma
bermuda branca e camiseta preta, os cabelos amarrados daquele jeito, cheiroso
como sempre e lindo de morrer.
– Vamos sim, vou apenas escovar os meus dentes e já volto.
Vou ao quarto, faço a higiene e logo estou de volta. Oliver me espera no
deck, de pés descalços. Tiro a sandália e deixo ali também. Andamos, os pés
dentro da água, apreciando a noite clara e estrelada daquela terça-feira.
– Pensou sobre o que conversamos, você retomar seus estudos?
– Pensei, pensei bastante, e acho que tenho uma contraproposta a lhe fazer.
– É mesmo? Fiquei curioso, qual é a proposta?
– Eu vou falar se você prometer que vai me ouvir até o final primeiro, tudo
bem?
– Tudo bem, prometo.
– Fazer uma faculdade agora, com tudo bancado por você, eu não me
sentiria bem, eu me conheço. Outra questão é que em função da doença que
sempre esteve presente em nossa casa, eu pulei muitas etapas da vida, não as
vivi como deveria ter sido. Eu não tive uma infância normal, eu praticamente
não tive adolescência, pelo menos não no sentido de passar pelas experiências
que todo adolescente passa. E se um dia eu for para universidade, eu gostaria
de vivenciá-la como deve ser, indo para um campus, tendo uma colega de
quarto, participando das festas e fraternidades. – Percebo que ele solta um
longo suspiro, incomodado com aquilo. – Ficando por minha própria conta. E
não posso fazer isso agora. – Faço uma pausa e continuo.
– Eu tinha bolsa no colégio particular onde estudei em função da minha voz.
Eu era a soprano solista do coral. – Vejo que ele dá uma paradinha e me olha
surpreso, mas não fala nada, me deixa seguir.
– Só que além de cantar, eu sempre gostei de brincar com as músicas, na
verdade acho que isso é o que mais gosto mesmo. Eu pegava as músicas do
repertório e mexia nos arranjos, modernizava, enfim, criava novas versões e
apresentava ao nosso regente. E normalmente eram as minhas versões que nós
ensaiávamos e apresentávamos. Então a minha proposta é que ao invés de me
pagar um curso universitário agora, você me deixe aprender as técnicas de
produção musical. Imagino que deva ter ótimos profissionais na Three Minds
onde talvez eu possa estagiar, ou eles possam me dar aulas fora do expediente,
não sei. Pois essa é realmente uma profissão que me vejo exercendo com o
maior prazer no futuro. E depois, se conseguir um emprego na área, posso fazer
uma especialização.
– Quando você vai parar de me surpreender? Não fazia ideia dessa sua
ligação com a música. Parece que há mais um fator de conexão entre nós, não?
– Sim – concordo. – E eu ser descoberta como “cantora” foi culpa sua,
sabia?
– Minha?
– Sua. Você se lembra do conselho que me deu aquele dia no hospital?
– Conselho? Nossa, acho que não.
– Você disse que quando você era pequeno e sentia medo você c...
– Cantava. E fiz você prometer que iria tentar.
– Isso. E eu fiz. Quando estava no terceiro ano do fundamental, eu estava
sentada no pátio de olhos fechados e cantava para esquecer a preocupação,
pois mamãe teve uma crise e precisou ser internada. E enquanto eu estava lá,
concentrada, a professora de canto passou por mim e me ouviu. E a partir dali
a música começou a fazer parte da minha vida escolar ativamente.
– Fico com medo do que mais eu posso descobrir sobre você, anjo.
– Que não sou um anjo, talvez?
– Ah isso você é, um anjo de boca suja, mas um anjo mesmo assim. – Eu rio
e ele passa os braços pelos meus ombros me abraçando, e terminamos o
finalzinho da caminhada assim.
– Vamos subir e nos sentar no trapiche, venha. – Ele sobe e estende a mão
para que eu me apoie e suba também.
Andamos pelo trapiche, que tem luzinhas iluminando todo o caminho, mais
as luzes externas da marina, deixam o local com uma luminosidade muito boa.
Próximo ao final, ele se senta encostando as costas num dos pilares de
sustentação que ultrapassam a base e novamente pede que pegue sua mão.
Seguro-a e ele me puxa para sentar também, tento desviar para o seu lado, mas
ele não deixa e me faz sentar entre suas pernas.
– Sente aqui, assim você pode se encostar em mim. – Eu vou, meio
desconcertada com a proposta. Mas vou. Jamais conseguiria recusar um
convite daqueles.
Me encostar nele? Só se for agora.
Encosto minhas costas em seu tórax e deito a cabeça em seu ombro. Todas
as minhas terminações nervosas imediatamente ficam em alerta. O calor irradia
em cada ponto onde nossos corpos se tocam. O coração ganha outro ritmo.
Ele passa uma das mãos pela minha cintura deixando-a apoiada na minha
barriga. Com a outra mão ele afasta o cabelo da lateral do meu rosto e
pescoço, e encosta o maxilar na minha fronte. Sério, não sei se eu aguento todo
esse contato sem ir além. É quente e torturante demais estar ali, envolta a ele,
sentindo o seu cheiro e não poder tocá-lo como eu gostaria.
– Então você quer ser produtora musical?
– Sim. O que você acha? – Me espanto com o tom rouco em minha voz.
– Eu acho maravilhoso. Claro que posso cuidar da sua formação nessa área
e futuramente, quem sabe, você se torne uma de nossas produtoras.
– Seria um sonho. Mas quem sou eu para dizer que sonhos não se realizam,
não é?
– É? Qual sonho seu se realizou, Beatriz? – Ignoro as borboletas no
estômago demasiadamente agitadas e a minha respiração descompassada pelo
toque leve que os dedos dele trilham em meu braço e falo de uma vez.
– Estar assim, perto de você novamente. Olhar nos seus olhos. Sonho com
isso desde os oito anos. – Sinto que ele engole em seco e puxa o ar
pesadamente entre os meus cabelos. Aperta um pouco a mão que está na minha
barriga.
O calor da sua mão se irradia para o meu sexo e para os meus seios,
deixando-me ainda mais excitada.
Fecho os olhos.
Aquilo não está nem um pouco fácil de aguentar.
– Agora me conte, anjo. – Sua voz está ainda mais grave e baixa, como que
se esforçasse para dizer aquelas palavras.
– Contar o que?
– O que a fez chorar no carro esta tarde.
– Quando Max chamou Hazel de princesa, automaticamente lembrei do meu
pai. Era um dos termos que ele usava para se dirigir a mim. A saudade me
pegou e não consegui segurar, desculpe. – Ele flexiona os dedos num leve
carinho em meu ventre e beija minha fronte.
Ah meu pai! Não me tente assim homem!
Queria tanto virar o meu rosto e beijar o seu pescoço como fiz da outra vez.
Me seguro. Preciso ser forte.
– Não se desculpe, não por isso. Me fale sobre ele Bia, sobre o seu pai.
– Ele era o meu mundo, Oliver. Sempre foi eu e ele. Até mesmo quando
mamãe ainda era viva, mas já não conseguia mais participar ativamente das
atividades diárias, eu e papai que compartilhávamos as tarefas e
responsabilidades. E ele era divertido, espirituoso, meu melhor amigo. Sempre
pude falar sobre qualquer assunto com ele, nunca me julgava ou desencorajava,
ele argumentava comigo de igual para igual. Se eu me tornar uma mulher com
metade das qualidades dele, ficarei satisfeita comigo mesma.
– Ah meu anjo, você é tão incrível! Não é possível que não perceba o
quanto é linda. Por dentro e por fora. – Meu coração vai a mil.
Ele disse mesmo que eu sou linda?
– Você disse que “princesa” era um dos termos que ele usava. Quais eram
os outros?
– O que você me apelidou. Guardiã. Depois que contei a ele sobre nossa
conversa, ele me chamava de “minha guardiã”. – Oliver abaixa a cabeça e
encosta a testa em meu ombro, processando aquilo por um tempo.
– Parece que vou ter que fazer uma junção aqui. Anjo e guardiã, pelo visto
você é o meu anjo da guarda. – E desliza levemente os lábios pelo meu
pescoço, deixando um beijo ali.
Quente!
Estremeço e me arrepio inteira.
Eu disse que precisava ser forte, mas não consigo ser tão forte.
É demais para mim, tenho que fazer algo.
– Oliver... – Tento me virar de frente para ele, mas me impede e me mantém
ali, encostada a ele.
– Não Bia, eu não devia ter feito o que fiz, mas não resisti, me desculpe. O
seu cheiro, ter você assim nos meus braços, isso mexe comigo. Você nem
imagina o quanto. Eu... eu sei o que está acontecendo aqui Beatriz, eu também
sinto. Assim como senti no domingo à noite. Como senti aquele dia no meu
escritório. É forte. E nossa, eu queria demais poder te virar para mim agora e
te beijar como uma mulher merece ser beijada. Quis isto a noite toda. Mas eu
não posso fazer, me perdoe.
Céus, eu ouvi tudo aquilo mesmo?
Eu ouvi Oliver dizer que me deseja e que também sente a atração entre nós?
Que eu mexo com ele e ele quer me beijar?
Eu ouvi tudo que eu mais quis ouvir dele na vida e ele espera que eu não
faça nada? Como?
– Por quê?
– Porque não seria justo e nem correto com você, anjo.
– E por que não seria?
– Porque eu não posso te transformar em mais uma na minha cama, querida.
Por todas essas incríveis coincidências que nos ligam um ao outro. Pela
obrigação que sinto para com o seu pai, que sem querer me deixou o seu maior
tesouro para cuidar e proteger. Pela admiração que já sinto por você. Pela
nossa diferença de idade. São tantos motivos. E eu não teria mais nada a te
oferecer além disso, Bia. Não posso fazer isso com você.
– Eu não me importo.
– Não diga uma coisa dessas, jamais. O homem que tiver a sorte de ter
você... – ele não consegue terminar a frase – você acha que pensa assim agora,
mas claro que se importaria. Eu vi o seu semblante quando me contou sobre a
hidro, quando perguntou sobre Riley. A decepção que enxerguei no seu rosto
só iria se potencializar caso role algo entre nós e depois se depare com uma
situação parecida novamente. Como ficaria a nossa convivência depois? E
mesmo que você não se importe, eu me importo, e muito. Você sempre terá o
meu amor fraterno, a minha amizade e a minha proteção, anjo, mas o meu
corpo... isso eu não posso lhe dar. – Algumas lágrimas silenciosas rolam ao
ouvir aquilo. Não consigo evitar.
– Não pequena, não chore, por favor. Não por mim. Não valho a pena.
– Acho que eu quero voltar para casa. – Ele me aperta novamente e respira
fundo.
– Não era desta forma que eu gostaria que terminássemos a noite, não com
você triste assim.
– Também não era assim que eu gostaria que terminasse, mas parece que
minha opinião não conta, não é mesmo? – Seco os olhos.
– Bia...
– Não, Oliver. Neste momento eu estou me sentindo excitada, frustrada e
rejeitada. Você me disse coisas que eu sonho em ouvir há muito tempo, mas
não me deixa... Evidentemente você não se deixou afetar como eu, então, por
favor... – Antes que eu termine de falar ele envolve a minha cintura com os
dois braços e me puxa em direção à sua virilha, me fazendo sentir a sua ereção
e pressionando o pênis duro na base das minhas costas.
– Esse é o tanto que você me afeta Beatriz. Consegue sentir? – O sussurro
soa baixo em meu ouvido.
Impossível não sentir aquilo tudo.
Solto um sim fraco, porque seu gesto me pegou totalmente de surpresa e eu
nunca tive um contato assim com um homem antes.
– Eu tenho ficado constantemente neste estado por você nos últimos dias.
Tem acontecido com muito mais frequência do que eu gostaria. E tem me
deixado louco, fora de mim em muitos momentos. Hoje mesmo, lá na
sorveteria, enquanto a olhava pôr a colher na sua boca pecaminosa e lamber,
fiquei duro assim, só imaginando você fazendo o mesmo com o meu pau. Teria
passado a maior vergonha se precisasse levantar da cadeira. – Fico ofegante.
É erótico demais.
Ele me dizendo aquelas coisas tão honestamente, sem medir as palavras
bem pertinho do meu ouvido. Palavras que eu não estava preparada para ouvir.
Me permitindo sentir a sua respiração, sentir o seu tesão, através do corpo, do
tom de voz e das palavras.
Estou sem ar.
A minha calcinha, super molhada. O meu sexo formigando, precisando de
algo que ele ainda não sabe muito bem o que é.
– Então – ele continua – não venha me dizer que não me afeta pequena, você
sabe que não é verdade. Eu estou lutando contra, Bia, para o seu bem. Seria
muito mais fácil e cômodo eu ceder aos meus desejos, acredite.
O fogo já tomou conta de tudo em mim. Estou a ponto de explodir, preciso
fazer algo. Preciso sair dali.
Faço força para me desvencilhar dos seus braços e corro pelo caminho de
volta para casa.
Ele não me segue, apenas deixa-me ir.
Capítulo 10

“E tantas vezes me peguei


Caminhando pros seus braços
Me perdi e tropecei
Confuso dos próprios passos”
(Dias Vermelhos – Uns e Outros)

Oliver

O liver, o que você fez? Porra, está bagunçando a cabeça


da menina. Já não basta a sua estar essa confusão do
caralho? O que você tinha que fazê-la se sentar ali, de
forma que ficassem tão próximos um do outro? Você sabe que a química é
forte. Claro que ia dar merda.
A verdade, sobre todos esses questionamentos que me faço, é que eu fui um
egoísta filha-da-puta e precisei tomar um pouquinho a mais dela para mim.
Quis estar ali de novo, envolvido por aquele cheiro, aquela inocência, aquele
calor. Mesmo que tudo aquilo seja o que há de mais proibido para mim.
Ela estava tão linda ali.
Aquele vestidinho azul colado no busto e cintura, com a sainha mais
soltinha. O mesmo que usava na praia no primeiro dia que a vi.
Assim que ela sentou entre minhas pernas, tomei o cuidado para que só
houvesse contato das suas costas com o meu peito, pois sei que só o seu cheiro
já me excita.
Mas não adiantou muita coisa.
Quando vi que a saia do vestido subiu um pouco, deixando suas coxas bem
a mostra, quis deslizar minha mão ali e ajeitar, porque era tentação demais. O
ângulo que eu estava me dava também uma visão privilegiada do seu decote,
me fazendo salivar um pouco mais. Percebi como estremeceu quando apertei a
mão em seu abdômen. Seria tão fácil descê-la um pouquinho e dar a ela o
alívio que tanto precisava...
Meu pau está quase estourando o botão da bermuda, só de lembrar dessas
imagens e das sensações de tê-la ali, e minhas bolas estão doendo pra cacete.
Abro a bermuda tentando achar algum conforto momentâneo, mas a verdade
é que só vai aliviar quando eu gozar. Estou excitado demais.
Me deixo levar pelo meu desejo, tiro a camiseta, deixo-a sobre o deque do
trapiche e coloco o pau para fora da cueca.
Começo a me acariciar devagar pensando nela.
Naquela boca atrevida que me tira do sério.
Nela lambendo e chupando aquela colher na sorveteria.
Nos seus seios redondos e durinhos naquele biquíni preto.
Acelero um pouco os movimentos da minha mão.
Fico imaginando a cor da auréola daqueles peitos, se os bicos ficarão
empinadinhos quando eu passar a minha língua neles. Fecho os olhos e
aumento a pressão em torno do pau.
Aquela bunda arrebitada e deliciosa saindo da piscina. Que delícia deve
ser comê-la de quatro olhando aquele traseiro e segurando aqueles cabelos
cacheados na minha mão.
Ela sentada no meu pau, subindo e descendo.
Acelero o toque, para cima e para baixo, mais rápido, mais rápido.
O gosto da sua boceta quando eu a chupar até gozar na minha boca.
Uhmm, que gostoso deve ser lamber aquela bocetinha.
E com este último pensamento os jatos de porra sujam minha barriga me
trazendo o alívio que tanto precisava.
Fico um tempo ainda ali, parado e de olhos fechados, usufruindo da
descarga de energia causada pelo orgasmo. Depois, lavo minha barriga na água
do mar, fecho a bermuda e coloco novamente a camiseta.
O meu telefone vibra e olho rapidamente. É Lian perguntando se não vou
aparecer.
Eu não ia, mas ir para casa não é uma opção para mim. Preciso pensar no
que fazer, agora que o tesão explodiu entre nós e eu já deixei claro o quanto ela
me afeta.
Decido ir apenas para beber alguma coisa e relaxar, talvez conversar com
Lian.
Estão só Lian, Max, Tina e mais duas garotas quando chego. Vou direto para
o bar me servir. Max está no sofá com as duas novatas, uma está com o pau
dele na boca enquanto a outra segura os peitos para ele mamar.
Olho aquela cena tão normal no nosso dia-a-dia e, de repente, me sinto
enojado.
– Agora sim, são três contra três – comemora Lian.
– Não, eu só vou dar um tempo, beber algo e dar o fora.
– Como assim? Não quer trepar?
– Não estou a fim. – Ele me olha incrédulo.
– É por causa dela? – Não respondo. – Vamos Oliver, diga, dispensou Riley
outro dia pelo mesmo motivo não foi?
– Não deveria ter vindo, desculpe, já vou. – Ele segura meu braço.
– Não vai porra nenhuma, vamos lá para dentro conversar. – O cara me
arrasta para o seu escritório, onde nos sentamos em duas poltronas.
– Tina vai ficar puta por você ter a largado lá.
– Sem desviar do assunto. – Suspiro.
– Quase deu merda! – confesso e ele arregala os olhos.
– Que nível de merda?
– Não, não foi para tanto. Mas... – Tomo fôlego. – Fomos até o trapiche,
conversando, eu precisava falar com ela sobre o seu futuro e sobre o motivo de
ela ter chorado no carro hoje durante a saída que demos à farmácia. E
chegando lá, não resisti, a abracei e a química, o tesão, tudo ficou explícito e
por pouco não dei um foda-se e a beijei e sabe-se lá o que rolaria depois
disso.
– Puta merda. Por isso que ela apareceu aqui meio abalada.
– Ela está aqui? – digo já me levantando descontrolado. Ele novamente me
segura e me faz sentar.
– Fique aqui e acalme-se.
– Me acalmar? Cadê a garota? Ela viu as merdas com o Max lá atrás?
– Claro que não, tá maluco?
– Então onde ela está?
– Eu vou falar se você recobrar o juízo.
– Fale Lian – digo sem muita paciência. Ele vai até a porta do escritório e
tranca.
Porra, que merda Beatriz anda fazendo ali?
– Eu estava entrando na cozinha e vi Kellan entrando com ela em casa. Ele
só me disse que a menina precisava conversar e levou-a para o quarto.
– Ela está no quarto dele? – Ele confirma. – Abre a merda da porta.
– Não vou abrir porque você está fora de si e vai fazer besteira. – Parto pra
cima dele e o seguro pela camiseta.
– Me dá a porra da chave, agora! – Ele me empurra e eu bato com as costas
na estante do outro lado do escritório, provocando a caída de alguns objetos.
– Põe a cabeça no lugar, Oliver. O que está acontecendo com você?
– Há dias me faço a mesma pergunta, agora se não quiser que a nossa
amizade termine aqui, ABRA. A. PORRA. DA. PORTA!
Ele finalmente abre e eu disparo pelo corredor em direção ao quarto do
pirralho. Entro de supetão, mas com medo do que irei encontrar.
Felizmente não estava trancada e vejo os dois sentados na cama, lado a
lado, ele com os braços em torno dela. Vestidos, para o meu alívio.
Levam um susto com a minha chegada abrupta. Ela me olha e seu rosto
estampa surpresa e decepção na mesma medida. Certamente acha que vim
aliviar o meu estado participando da pegação que Lian organizou.
E honestamente?
É o que eu deveria fazer se estivesse no meu juízo perfeito, e não ter batido
uma feito um adolescente pensando numa menina de dezessete anos.
– O que está fazendo aqui, Beatriz?
– O que você está fazendo aqui, Oliver? – devolve no mesmo tom
carregado.
– Vamos para casa.
– Vou ficar mais um pouco. - Me desafia.
– Ah, mas não vai não. Não vai mesmo!
– Oliver, ela ficará comigo aqui o tempo todo, não vou deixá-la presenciar
as merdas do Lian e do Max. – A ira me sobe quando ele diz que os dois
ficarão no quarto. Ignoro-o e foco nela.
– Vamos embora, o que rola aqui não é para você.
– E o que é para mim, Oliver? Ficar no quarto, sozinha, sem viver o que
desejo? Já tive muito disso na minha vida. Não mais.
– Discutiremos isto em casa, vamos.
– Eu disse que não vou agora!
– Você vai.
Ando até ela e a retiro de cima da cama num único movimento. Jogo-a sobre
os ombros e seguro o vestido para que o fedelho não veja sua calcinha. Ela
esperneia.
– E você não se meta, sabe bem que ela não deveria estar aqui – digo para
Kellan quando ele tenta intervir.
– Lian, cuide dele. – Sigo com ela para a praia.
– Oliver, me larga, agora! Eu não sou mais criança para você me tratar
desse jeito. – Bia grita e esperneia um pouco mais, tentando se soltar.
– Então não se comporte como uma, porque é isso o que você está fazendo.
– Ela segue dando saquinhos em minhas costas para ver se a largo, mas só faço
isso depois de estarmos dentro de casa.
Quando se vê livre, vem até mim e começa a dar socos no meu peito. Eu
passo os braços ao redor dela, esperando que se acalme.
– Por que você fez isso? Por que me arrancar de lá assim?
– Eu já disse. Lá, em dia de festa, não é ambiente para meninas. Nós só
permitimos a entrada nas festas de mulheres maiores de vinte e cinco anos.
– Eu não estava na festa. Eu estava com Kellan.
– Esse foi o outro motivo para eu ter te tirado de lá, não percebe?
– Não podemos ser amigos? Tenho que me manter longe dele também?
Sim, porra!
– Não é isso. – Passo a mão pelo rosto e cabelos, tentando achar um ponto
de equilíbrio. – Olha, acho que já tivemos emoções demais por hoje. Vamos
deixar para conversar sobre isso em outro momento. Por favor, vá para o seu
quarto. – Ela me encara magoada, mas me dá as costas e se vai, para o meu
alívio.
O celular vibra. É Lian.

Esfrie a cabeça e não faça mais nenhuma


merda hoje. Amanhã conversaremos

Eu me jogo no sofá.
Não me reconheço mais.

– Acorda cabeção. – Sinto um forte tapa no meu rosto e acordo no susto.


– Porra, vai se foder Lian.
– Isso foi pela merda que você me disse ontem. Já é quase meio-dia,
levanta, vai comer alguma coisa e vamos conversar.
– To pelado caramba, dá pra pelo menos deixar eu vestir a cueca?
– Veste logo que não quero passar o dia com a visão do seu pau torto na
minha mente.
– Antes torto e grande do que mole e minúsculo como o seu. Ela já
acordou? Kellan tá aí?
– Ah Oliver... – debocha de mim com vontade – cara você está sendo a
minha maior decepção, sabia? Porra, eu apostava todas as minhas fichas que se
um de nós um dia fosse entrar nessa seria o Max. E se eu tivesse que apostar
entre mim e você, mesmo eu sabendo que jamais quero essa merda pra mim, eu
ainda votaria em mim mesmo, jamais em você. Mas parece que sou um
péssimo avaliador. Você vai fazer metade da população mundial entrar em
depressão, sabe disso, não é?
– Deixa de ser idiota, que asneiras são essas que você está vomitando em
cima de mim numa sexta de madrugada?
– Asneiras é? Huhumm, eu sei bem o que vi e ouvi ontem, amoreco. Mas vá
lá tomar café, e depois conversamos.
– Você não respondeu à minha pergunta. – Ele suspira.
– Fica tranquilo bebê, pedi para Hazel levar a sua garota para passar o dia
em Long Beach. Para irem ao shopping, à praia, sei lá. A menina também deve
estar precisando de alguém para conversar, imagino, depois de você despejar
todo o seu sex appeal para cima dela. – Agora é minha vez de suspirar.
– Ela não é minha garota – digo, apesar de que gostei de ouvir quando ele
falou. Lian ri novamente. – Pelo visto Hazel vai saber de tudo que aconteceu,
não é?
– Certo como dois e dois são quatro. E detalhadamente.
– Fodeu, Max me mata.
– Por quê? Você disse que não houve nada... o que você não me contou?
– Desiste, não vou te dar detalhes. Mas fique tranquilo, nem nos beijamos.
E você acha mesmo que precisa acontecer algo a mais para Max querer o meu
couro nessa história?
– Não, mas isto é assunto para depois do café, te espero lá na bancada, não
demore.
– Ok. – Saio da cama de uma vez, lavo o rosto, coloco uma bermuda e uma
camiseta e antes de ir até o encontro de Lian, mando mensagem para Hazel.

Hazel, se forem ao shopping, veja o


que a Beatriz precisa e gosta e
compre para ela. Veja algo para ela
usar na sua festa também. Mas faça
de forma que ela não perceba, senão
não vai aceitar
Bom dia para você também, estrela.
Ok, dou um jeito, pode deixar. E
você está na minha esquerda. Só
para saber
Obrigado! Cuidem-se, por favor

Não fico feliz em saber que estão sozinhas e soltas em Long Beach, mas não
posso fazer muita coisa.
– Lian, você aqui essa hora? Bom dia, querido. – Ouço vovó falando lá da
cozinha.
– Bom dia minha avó preferida. Pois é, tive que vir para ver se coloco juízo
na cabeça do seu neto.
– Por que, o que houve?
– Nada vó, quando é que se pode dar crédito ao que Lian fala?
– Kellan não quis vir? – Pergunta vovó.
– Não, ele está meio indigesto. A noite de ontem foi difícil para ele – diz
Lian me olhando de lado.
– Tem que ficar de olho nele. Ele é jovem demais para acompanhar as
noitadas e bebedeira de vocês.
– Sim, eu sei. Mas não se preocupe, estou de olhos bem abertos. –
Novamente a indireta.
– Ótimo. Se me dão licença, vou aproveitar um pouco o sol da manhã e me
juntar a Helen para uma caminhada. Bom café para vocês.
– Tchau vó.
– Oliver, vai ficar aí enrolando com a xícara de café ou vai comer? – fala
Lian
– Estou sem fome. – Ele faz sinal de negativo com a cabeça.
– Sei bem o motivo da sua falta de apetite. Mas ok, vamos para o seu
escritório então.
Assinto e seguimos para o escritório, onde fechamos a porta e nos
acomodamos no sofá que tenho ali.
– E aí pensou no que vai fazer? – questiona.
– Pensei. Na verdade, só tenho uma opção, eu acho.
– Sim, eu também só vejo uma. Manda lá.
– Vou me mudar ainda hoje para o apartamento em Long Beach. Ficar lá até
colocar a cabeça em ordem. Me livrar desse sentimento de angústia e saudade
que tem me dominado todos esses dias. Me obrigar a entender que ter essa
menina aqui não tem nada a ver com aquela outra ausência. Nesse meio tempo.
Kellan e ela podem se conhecer e se entender sem a minha interferência. –
Faço uma pausa para respirar porque dizer isso me rasga por dentro.
– Quando tudo isto estiver assentado, eu volto e seguimos com nossas vidas
como sempre foram. – Lian me observa atentamente, fica em silêncio por uns
minutos processando aquilo.
– Não vai funcionar. - Se manifesta finalmente.
– Como assim não vai funcionar? O que você quer que eu faça? Mandá-la
embora não é uma opção.
– Não, mandá-la embora também não vai funcionar.
– O que você sugere que eu faça então?
– A única coisa que você pode fazer na sua situação, Oliver. Assuma.
– O que? Enlouqueceu?
– Não, nem um pouco. Na verdade, eu passei boa parte da noite de ontem,
tempo em que eu deveria estar usando para comer a Tina, pensando sobre tudo
que você me disse e sobre o showzinho que você protagonizou lá em casa. E
cheguei à conclusão de que não há outra saída para você.
– Você já parou para pensar em toda a merda que pode dar isso que está me
incentivando a fazer? Como eu posso vir a magoá-la e como ela pode vir a...
me destruir?
– Pensei, claro. Não fiz outra coisa senão analisar cada por menor.
– E mesmo assim você acha que é uma boa ideia?
– Sim acho. Sinceramente, eu acho que isso já está até resolvido dentro de
você. Você só não teve coragem de admitir ainda. Então é pagar para ver e
correr o risco. E sabe qual o fato que me fez ter certeza disso?
– Não. – Engulo em seco. – Qual?
– Você ter ameaçado terminar a nossa amizade de quase vinte anos.
Amizade essa que nem dá para classificar como apenas isso, visto tudo que já
passamos e as merdas que sabemos uns dos outros. Você ameaçou acabar com
a nossa família Oliver e você estava falando muito sério. Tinha sangue nos
olhos. E eu só te vi com essa mesma determinação em outras duas situações
antes e nas duas você conseguiu o que queria e jamais voltou atrás. Nem
preciso te dizer quais são, tenho certeza. – As palavras dele caem como uma
pedra sobre mim.
Não, não posso admitir que essa merda seja tão séria assim. Ele deve estar
enganado. Tenho que acreditar nisso. Apostar na minha ideia de me afastar.
– Não diga besteira.
– Ah, quem me dera fosse... O tamanho do seu ciúme ontem foi monstruoso.
Foi bem difícil convencer Kellan de que aquilo foi a reação de alguém que só
quer proteger. Ele tá com uma pulga gigantesca atrás da orelha. E o que eu vi
nos olhos de Beatriz quando você abriu a porta daquele quarto deixou muito
claro que ela já escolheu quem ela quer nessa história há muito tempo, não há
dúvida alguma por parte dela em relação a isso. E você ainda quer empurrar
Kellan para o meio de vocês? Para ele ser o que? O prêmio de consolação
dela? O menino está realmente apaixonado Oliver. Se esforçando para fazer as
coisas certas com ela. Ele não merece isso. – Nisso Lian tem razão.
– Lian, você lembra quando você foi internado a última vez?
– Claro, mas o que isso tem a ver com a nossa conversa?
– Era Beatriz.
– Não entendi. Era Beatriz onde?
– A menina, que chorava na recepção. Te pedi para olhar o corredor,
lembra?
– Não... não acredito! Como?
– Pois é. Incrível não? Ontem ela me confidenciou que sonhava em me ver
de novo desde aquele dia... que a lembrança dos meus olhos sempre a
acalmou.
– É, acho que ela sabe o que quer há muito mais tempo do que eu
imaginava. O pai dela não sabia mesmo que a estava mandando para nós?
– Não, vovó garantiu que não. Disse que ele nunca soube da minha
existência e que perguntou pela... por Vivienne quando ligou.
– Porra. Então é uma baita coincidência mesmo.
– Se é. Mas não posso fazer isso que você me sugere.
– Você vai fazer, Oliver. Já decidiu. Pode se afastar, pode fugir, negar, mas
mais cedo ou mais tarde é o que vai fazer. Só estou te abrindo os olhos e
poupando o sofrimento de quem não merece.
– Não, você está engan... – Meu celular vibra.
Chega uma mensagem de Hazel.
Ela me mandou uma imagem. Clico, espero carregar...
E quase tenho um treco!
É uma foto de Beatriz, num vestido verde escuro metalizado. Ela está de
frente a um espelho e Hazel tirou a foto de trás dela. O vestido tem uma saia
soltinha que não chega ao meio das coxas. As costas ficam todas nuas e à
frente o decote vai quase até o umbigo, com apenas umas tiras traspassadas de
lá até a altura dos seios.
E na legenda diz “esse é o que ela vai usar na minha festa”.
– Nem pensar – vocifero olhando para tela do telefone. Lian cata o aparelho
da minha mão.
– Devolve essa merda Lian, você não vai olhar. – Tarde demais.
– Porra, caramba, Biazinha está gos...
– Não se atreva! – berro e arranco o telefone da mão dele, que gargalha da
minha cara de cão raivoso.
– Oliver você está muito, muito fodido! – Lian cai na gargalhada.

Hazel, ela não vai usar essa


indecência numa boate lotada. Pode
desistir da ideia
Ah ela vai. Isso já está decidido.
Conforme-se. Ela ficou maravilhosa
nele

– E aí, convenceu? – pergunta quando vê que parei de escrever.


– Não. – Ele ri mais um pouco da careta de desagrado que eu faço.
– É, Kellan infarta a hora que a vir naquele vestido.
– Eu arranco os olhos dele.
– Falou o homem que quer se afastar para deixar o caminho livre para o
garoto.
– Mas falando sério. Eu preciso fazer isso. Nem que seja para pensar nessa
maluquice que você sugere. Porque se eu arriscar... Deus, preciso estar muito
certo de que não há mesmo como evitar. Então vou embora até a festa de Hazel
passar. E se os dois se acertarem... – A possibilidade me causa dor. – Melhor
para todos no fim das contas.
– Não, não é. E você não vai deixar acontecer. Mas vou deixá-lo se iludir
um pouco. Vá e pense então. Não pretende ir à festa da Hazel?
– Não. – Ele faz uma cara de incrédulo e balança a cabeça em negativa.
– Eu deveria fazer uma aposta com você agora, sabia? E deixe-me pensar o
que eu apostaria... hummm... ah sim, que se eu ganhar, serei o padrinho do seu
primeiro filho. Que tal?
– Vai a merda Lian. Sabe bem que essa possibilidade não existe para mim.
– Voltamos a isso no futuro, compadre. Agora outro ponto, que não será
fácil. Max não vai aceitar, você sabe.
– Ele não vai precisar.
– Pare de se iludir, porra! Ele não vai aceitar e você vai precisar ter muito
tato e paciência com ele. Entendeu? – diz olhando bem dentro dos olhos.
– Sim, entendi.
– E vocês vão quebrar o coração de Kellan, então controlem-se na frente do
garoto.
– Sério Lian, eu não acredito que você está mesmo apostando todas as
fichas como certas.
– Vocês já são um casal. Só falta assumir. – Me dá três tapinhas no ombro e
vai embora.
E eu parto para arrumar a minha mala e sumir antes que Beatriz volte.

Bia

– Hazel, eu não aguento mais – digo, me sentando no banco do corredor do


shopping depois de sairmos da última loja, dentre as setecentas e oitenta que
ela me fez entrar e provar as coisas que quer comprar para ver como fica no
corpo de outra pessoa.
– Não se preocupe, acho que já tenho tudo.
– Aleluia! Os coitados dos seguranças já fizeram tantas viagens para levar
suas sacolas que devem estar mais cansados do que eu.
– Vamos jantar na praça de alimentação e depois vamos embora.
– Esse é um bom plano para mim. – Ela ri.
– Você é a pessoa mais anticompras que eu conheço, Beatriz.
– Não se cria hábito pelo que nunca se pôde fazer, Hazel.
– Desculpe. – Ela diz constrangida.
– Não se preocupe. Não falei para lhe causar desconforto. Só é a minha
realidade.
– Era. Era a sua realidade.
– Como assim era?
– Ué, você vai ser a namorada do rockstar mais cobiçado do mundo. Que
tem mais dinheiro que areia no deserto.
– Não fantasia. Só nos seus sonhos.
– Não amiga, os meus sonhos jamais vão se realizar. Mas os seus, estão a
um passo de.
– De onde você tirou essa conclusão? Você ouviu tudo o que eu te contei
sobre ontem à noite?
– Ouvi, ouvi sim e suspirei de inveja.
– Inveja? Do que? De ele claramente me rejeitar e dizer que jamais vai
acontecer algo entre nós? Ou por ele ter me arrastado para casa como um
homem das cavernas?
– Não. Mas talvez por ele ter dito coisas como “também sinto”, “é forte”,
“quero te beijar como uma mulher merece ser beijada”, “isso é o quanto você
me afeta”. Por Deus Bia, ele esfregou o... o pau em você.
– Hazel!
– Beatriz! – Ela me segura pelos ombros. – Acorde! Ele está a um passo de
jogar tudo para o alto e deixar rolar, não vê? Basta você provocar um
pouquinho mais e “pof” o coelho sai da cartola. E o pobre do meu irmão, sem
querer, foi o agente acelerador da reação química. Tadinho!
– Isso foi muito cruel.
– Isso foi a verdade, ter o Kellan te rondando fez Oliver se sentir
ameaçado.
– Não quero magoar o seu irmão.
– Acho que quanto a isto não há o que você possa fazer. Será inevitável.
Mas ele supera, não se preocupe. – Não me sinto nada bem com essa ideia.
Porém, como Hazel provavelmente está alucinando, creio que não deva me
preocupar. – Quero só ver a reação de Max – completa ela.
Jantamos por lá e vamos embora. Cochilamos boa parte do caminho, afinal
passamos o dia andando de um lado para o outro dentro do shopping.
Sinceramente, acho que não pretendo voltar a um tão cedo. Ao pararmos para
ela descer, vai até o carro dos seguranças e retira de lá umas poucas sacolas.
– Hazel, – chamo-a através do vidro. – E todas as compras que estão neste
carro?
– Depois eles trazem para mim, não se preocupe. Levarei apenas estas
agora.
– Ok.
O motorista segue o percurso para me levar em casa. Entro e encontro Laura
na sala tomando um vinho. Ela não está com uma cara muito boa. Vou até ela.
– Oi Laura, boa noite!
– Boa noite, querida.
– Está tudo bem? – Me sento ao seu lado no sofá.
– Não sei.
– O que houve? – Ela me olha com ar derrotado e respira fundo.
– Oliver foi embora, vai ficar uns dias em seu apartamento em Long Beach.
– Eu gelo.
Ele foi por minha causa. Deito minha cabeça no encosto do sofá. Já sentindo
os olhos marejarem
– Laura, está mais do que na hora de eu ir embora. Isso foi por minha culpa.
– Oliver me falou que você diria isto e me disse para avisá-la que isto está
fora de cogitação.
– Como? É um absurdo ele sair de sua própria casa por causa de uma
pessoa que não tem nada a ver com a vida dele.
– Ele saiu da própria casa porque não está sabendo lidar com os
sentimentos dele por você. Ele fugiu. Há coisas que Oliver não consegue
enfrentar com racionalidade. Ele foi muito machucado por alguém que era
muito importante para ele, machucado profundamente. E ele tem medo de
reacender emoções que lutou muito para sufocar. Mas ao mesmo tempo que eu
tenho medo que ele sucumba à velhas tendências, como parar de se alimentar,
por exemplo, acho ótimo que você tenha mexido com ele a esse ponto. Está
mais do que na hora de ele deixar o passado para trás e voltar a se abrir para a
vida. Eu não vou durar para sempre, Bia. E o que ele terá depois se continuar a
viver a vida da forma como tem vivido? Os três precisam de um chacoalhão,
mas Oliver principalmente. – Uma lágrima silenciosa rola.
– Eu não queria isso, não queria causar problemas para ninguém. E veja só,
Oliver saiu de casa. Kellan ficará magoado comigo, pois não poderei atender
suas expectativas. Você está tendo preocupações que não precisa. Em poucas
semanas eu baguncei a vida de todos por aqui.
– Não. Você iluminou a vida de muitos aqui, é diferente. Iluminou a ponto
de olharem para si mesmos e perceberem o quanto estavam vazios. Encarar a
realidade dói. É o que está acontecendo com Oliver, finalmente. – Ela me
abraça. – E você, como está se sentindo?
– Confusa. Com medo. Triste.
– Explique.
– Triste pela situação. Confusa porque Oliver me dá sinais controversos. E
com medo porque... bem, se não acontecer, tenho medo do que será de mim,
como conseguir apagar tudo que despertou no meu peito com a nossa
proximidade. E se acontecer, medo de eu não dar conta de um homem como
ele, de não ser o suficiente. Ele é muito intenso. E também, de ser inexperiente
demais para saber lidar com tudo que o acompanha, como o assédio, por
exemplo. – Ela segura os dois lados do meu rosto para que não desvie os olhos
dos seus e me diz muito séria:
– Bia, jamais use frases assim com ele, como “não ser suficiente”. Preste
atenção, jamais ok? Isso pode disparar gatilhos, é sério. - Um arrepio ruim
percorre meu corpo.
– Tudo bem. Você pode me explicar por quê?
– Não, infelizmente. Se um dia alguém te contar essa história, será ele. Mas
voltando aos seus medos, acho que você está sabendo lidar muito bem com
Oliver. E o assédio, isso é algo que você vai ter que aprender a administrar e
principalmente confiar. Para dar certo terão que ter muita confiança um no
outro. E jogar limpo, sempre. – Aspiro.
– Laura, posso te fazer uma pergunta pessoal?
– Pode, se eu não puder responder, direi. – Assinto.
– Você é tão jovem para ser avó de um homem de trinta e um anos. Você tem
a idade de papai, não tem?
– Sim, tínhamos a mesma idade. Eu tive a mãe de Oliver, Vivienne, aos
quinze anos. Oliver nasceu quando minha filha tinha vinte e um anos.
– O que houve aos pais de Oliver?
– Essa eu não posso responder querida. Talvez um dia Oliver lhe conte.
– Tudo bem. E o pai de Vivienne?
– Quando eu tinha quatorze anos, ingressou na escola um rapaz novo, ele
estava no último ano, tinha dezessete, Norton era o nome dele. Eu me
apaixonei, me entreguei e obviamente engravidei. Quando eu contei a ele, com
certeza ele contou aos pais e no dia seguinte mudaram-se de cidade e não faço
ideia até hoje por onde ele anda. Eu fiquei sozinha para enfrentar minha
família, que assim como os seus avós, nossos vizinhos, eram religiosos ao
extremo. Meu pai não quis nem saber quem era o garoto que me deixou naquele
estado. Ele simplesmente me mandou colocar algumas roupas numa mala, me
deu trezentos dólares na mão e disse que era para eu sumir e esquecer que
tinha família a partir daquele dia.
– Eu desesperada, bati na janela do quarto do seu pai. Ele me abrigou
escondido dos pais por aquela noite, pois sabia que os seus pais apoiariam os
meus. Para eles, coisas assim sempre eram culpa da mulher, que não soube se
dar ao respeito. No dia seguinte, ele ajudou a me instalar numa pensão, num
outro bairro mais pobre. Nesse lugar conhecemos Selena, a mulher que passou
meu contato ao seu pai. Somos amigas até hoje. Ela me ajuda com alguns
projetos em orfanatos. E os moradores que estão no meu antigo endereço em
Long Beach, são ex-vizinhos dela que compraram a casa de meus pais quando
eu a herdei. Foi com o apoio do seu pai e de Selena que eu consegui arranjar
um emprego, ter minha filha, e com muitas dificuldades, ir levando a nossa
vida.
– Sinto muito, Laura, não fazia ideia.
– Tudo bem querida, é passado.
– Acho que vou me deitar, se você não se importar.
– Pode ir Bia, logo vou também.
– Boa noite então.
– Boa noite.
Chego ao quarto e vou direto em direção ao banheiro. Preciso de um banho
para recobrar as energias. Porém, ao passar pelo closet, vejo sacolas e mais
sacolas ali no chão do cômodo. Que merda é essa?

Hazel, trouxeram suas compras para


o meu quarto por engano
Não foi por engano Bia. São suas
Como assim são minhas? Nem
pensar. Você não vai comprar coisas
para mim
Não fui eu, foi Oliver. Ele me
pediu. Entenda-se com ele. Estou
com sono. Boa noite!
Boa noite! Mas amanhã você vai se
ver comigo.

Mudo o alvo do meu ataque.

Oliver, oi

Espero uns minutos e ele não responde. Decido então tomar meu banho.
Estou muito cansada, Hazel realmente acabou comigo. Isso aliado a todo o
estresse emocional de ontem estão cobrando o seu preço. Fico um tempo
ali, deixando os jatos d’água caírem e fazerem a sua mágica.
Já com os cabelos secos e o pijama no corpo, checo o telefone para ver
se Oliver me respondeu. Nada. Resolvo mandar outra mensagem.

Oliver, sei que está chateado comigo, o que eu não entendo


porque afinal fui eu quem foi arrancada a força de onde
estava. Mas juro que não é sobre isso que quero falar. Disso
falaremos pessoalmente. Pode me responder?
Aguardo, aguardo e nada. Bom, talvez ele esteja dormindo. Resolvo deixar
para amanhã e embarco num sono pesado e sem sonhos.
Ao acordar, a primeira coisa que eu faço é checar as mensagens. Nada.
Começo a me sentir muito mal.
Que pessoa se sentiria bem em saber que o dono da casa onde se hospeda
saiu de casa por sua causa e não quer nem mesmo falar com ela? Olho o
horário. Já são dez e trinta. Dormi muito. Tento mais uma vez.

Oliver, bom dia!

Me levanto e sigo com o meu dia. Kellan aparece no meio da tarde.


– Oi Bia, vim ver como você está. Nem sei o que te dizer sobre a reação do
Oliver. Fiquei envergonhado. Peço desculpas por ter passado por aquilo.
Me dói não poder me abrir com Kellan de uma vez e deixar claro os
motivos de Oliver ter reagido daquela forma. Eu vejo tanta esperança nos
olhos dele. E sinceramente, queria muito poder correspondê-lo. Mas não
consigo. Outro já ocupou todos os espaços dentro de mim. E o seu silêncio está
me matando.
– Ah Kellan, eu que peço desculpas por toda a confusão. Não deveria ter
aceito seu convite para ficar um pouco lá.
– Não, Oliver é que não deveria ter agido feito um ogro. Você não estava
fazendo nada demais.
– Vamos deixar isso para lá, ok? Não quero mais falar neste assunto. Estou
bem. Passou.
– Tudo bem. – Ele respira fundo. – Eu preciso te falar algumas coisas. Me
desculpa se ainda não é o momento, mas eu preciso. Isso está acabando
comigo.
Não posso dizer que estou surpresa. Sabia que esse momento chegaria. Me
resta ouvi-lo.
– Pode falar.
– Eu estou apaixonado por você. Nunca me senti assim em relação a uma
garota e desde que eu te vi, não consigo pensar em outra coisa. Você povoa
meus dias, minhas noites. Sinto vontade de estar perto a todo instante, de te
abraçar, de cuidar de você. Fiquei louco com a forma como Oliver te tratou. Se
não fosse Lian ter me segurado em casa eu não deixaria por isso mesmo. Sei
que você me pediu para sermos apenas amigos, mas eu quero te fazer um
pedido também. Gostaria que você pensasse na possibilidade de nos tornarmos
um casal até sexta, na festa de Hazel. Lá eu vou tentar me aproximar novamente
e se você corresponder eu serei o homem mais feliz do mundo. Mas se você
me rejeitar outra vez, entenderei que é definitivo e precisarei me afastar para
tirar esse sentimento de dentro de mim, porque não posso mais fazer isso Bia,
me desculpe.
Deixo uma lágrima rolar, porque ele me disse coisas lindas demais e eu
estou nitidamente fazendo-o sofrer. Queria tanto esquecer todo o resto e
conseguir me atirar em seus braços. Abro a boca para dizer alguma coisa, mas
ele coloca os dedos sobre os meus lábios me impedindo. Depois ele seca a
minha lágrima solitária.
– Não diga nada agora. Pense. – Me dá um beijo na bochecha e vai embora.
Me deito na chaise e fico ali processando aquilo tudo.
Será que devo me esforçar, passar por cima dos meus sentimentos, e deixar
rolar algo com Kellan na festa?
Será que estarei sendo egoísta em dar esse passo com ele mesmo sabendo
que meu coração bate mais forte por outro homem?
Por outro lado, esse outro homem já deixou claro que não quer que nada
aconteça entre nós. Ele saiu de sua própria casa para me evitar. Não responde
nem minhas mensagens.
Até quando devo me prender a um sentimento que dificilmente poderá ser
vivido?
Deixarei minha vida estagnada por quanto tempo na ilusão de que ele mude
de ideia?
Realmente preciso pensar.
Mas neste momento preciso conversar com Hazel.

Oi Hazel
Oi amiga, como está?
Não muito bem, estou tentando
falar desde ontem a noite com
Oliver sobre todas aquelas
compras, já mandei três
mensagens e ele me ignora. E seu
irmão acabou de sair daqui. Ele se
declarou para mim com todas as
letras e me pediu uma resposta
definitiva na sua festa. To ferrada,
Hazel!
Então eu vou te fazer uma pergunta e
você vai ser muito sincera comigo. O
que te angústia mais, a falta de
resposta do Oliver ou a declaração do
meu irmão?
O silêncio de Oliver.
Acho que você já sabe o que fazer.
Como assim?
Você já sabe a resposta que dará a
Kellan na festa. Foque em Oliver.
Faça-o agir. Repito o que te disse
ontem. Provoque-o. Mande uma
mensagem com um ultimato, sei lá...
Se você o afeta tanto quanto ele
mesmo já admitiu, ele vai falar
Vá pro tudo ou nada, Bia
Será?
Quisera eu afetar o ruivo só um
pouquinho nestes termos para poder
usar desta tática

Vou pensar em algo. Obrigada! E


não pense que esqueci a forma
como me enganou ontem para
comprar todas aquelas coisas,
dona Hazel. Você deveria ter me
contado!
Também te amo Bia. Boa sorte!

Analiso tudo que ela me disse. Penso na minha situação ali, no quanto minha
presença alterou a dinâmica entre eles. No que isto tudo pode causar na
amizade entre Oliver e Kellan e percebo que Hazel está certa.
Tem que ser tudo ou nada. A situação não pode se arrastar. Ou Oliver nos
dá uma chance ou eu vou mesmo embora, esqueço que um dia estive dentro do
meu conto de fadas de menina, e recolho os meus cacos bem longe deles.
Decido que é hora de dar a minha primeira cartada.
E eu não vou blefar.

Estou me sentindo péssima com esta situação. Não vou me


conformar com o fato de causar tanto mal a alguém, a ponto de
obrigar essa pessoa a fugir de sua própria casa e passar a ignorar
qualquer contato. Eu não quero causar sofrimento a ninguém, e
nem a mim mesma. Meus dias de chorar acabaram, Oliver. Ou
você me responde hoje ainda ou amanhã estarei de malas prontas
para ir embora. E não haverá avó ou segurança que me impeça.

Pronto.
Agora é esperar para ver se Hazel tem razão e o coelho começa a pôr as
orelhinhas para fora.
Tomo um chá com Laura no final da tarde, e ela continua muito preocupada
com o neto. Depois damos uma caminhada juntas pela praia, onde Helen
também nos acompanha. A essa altura já estou certa de que este será meu
último dia no habitat dele. E a dor que sinto é alucinante, mas tento disfarçar.
Jantamos, conversamos mais um pouco e quando estou entrando no quarto
para deitar, o som de uma nova mensagem me anima. Será que é ele? Cruzo os
dedos.

Beatriz, você não vai a lugar algum amanhã

Não consigo ver o tamanho do sorriso que eu abro, mas tenho certeza de
que assustaria até o It, a coisa.

Oi. E por que eu ficaria?


Você é quem deveria
estar aqui agora, e não eu

Você está exatamente onde deve estar. E eu


vou ficar por aqui apenas alguns dias. Tenho
coisas para resolver em Long Beach

Sei que não é verdade, mas resolvo que não vou discutir com ele neste
momento, estou feliz que esteja falando comigo.

Oliver, então, mudando de assunto, não


preciso de todas essas coisas que você pediu
a Hazel para comprar, não me sinto bem, por
favor, devolva
São suas
Posso pedir para devolver, então?
Não, não haverá devolução.
Se você não quiser,
queimaremos. O que seria
um desperdício
Oliver!
Use e aproveite. Isso para
mim não é nada, anjo.
Aceite
Você é impossível! Obrigada, então. À
propósito, comeu alguma coisa hoje?
Por que isso, Beatriz?
Só Responda, por favor

Kkkk você me mandou um emoji? Sério?


Mandei ué. Qual o
espanto?
Achei que Deuses do Rock fossem imunes a
este tipo de coisa
Pelo visto os Deuses do
Rock são imunes a bem
menos coisas do que
gostariam

Aí coração!! Tumtumtumtumtum

Talvez o Deus em
questão esteja
perdendo a
prática
O Deus em questão está no auge da glória e da forma.
Coisa que ele demonstrou ontem mesmo a uma certa
menina atrevida. Será que ela já esqueceu?

Afff, calor, calor!! Só de lembrar daquela glória!

Ela lembra! A glória era bem gloriosa! Impossível


esquecer
Kkkkkk bem gloriosa
é?

Então Oliver quer brincar de escrever sacanagem?


Me deito na cama para curtir melhor o meu segundo momento de flerte
descontraído com um homem.

Bem, a menina em questão não possui um


parâmetro de comparação, então para ela
abenção foi enorme!
Kkkk, você não existe!
Isso quer dizer que
nunca... nenhum
namoradinho?
Humm.. Eu vou responder a isto depois que
você comer. Vá, filme-se comendo e mande o
vídeo para mim. Depois respondo
Isso é sério?
Seríssimo!
Aff! Tá bom...

Espero uns minutos ali deitada na cama.


Estou fazendo isso mesmo?
Flertando com Oliver por mensagem?
É tão excitante!
Bom, pela parca experiência que eu tenho, qualquer coisa será excitante
para mim.
De repente o som de uma nova mensagem toca.
É o vídeo.

Clico em visualizar, espero carregar e então a imagem de um Oliver,


sentado à frente de uma bancada, comendo um sanduíche numa baguete
aparece.
E eu preciso buscar forças de onde não tenho, porque ele está com os
cabelos soltos, meio molhados, sem camisa e é possível ver algumas gotinhas
de água pairando no seu peito.
Ele acabou de sair do banho!
Ah, que sede!
Foco em seus olhos. Ele parece abatido. Tem olheiras bem aparentes.
Satisfeita?

Não, nem um pouco, muito pelo contrário!

Sim
Vai me
responder
agora?
Eu nunca fui beijada. O que você fez comigo lá no trapiche, foi
o contato mais íntimo que eu tive com um homem. A coisa mais
erótica que aconteceu comigo diretamente

Ele demora um pouco para mandar alguma coisa.

Se eu já não estivesse me
sentindo um canalha...
Não, por favor, não pense assim. Eu quis
mais...
Bia...
Tudo bem. Então... me diz o que você foi
fazer no Lian. Encontrar sua amiga?

Olha aí o lado masoquista dando as caras.

Não foi você quem disse que não se importava?


É, parece
que me
importo.
Você foi
lá para
transar,
não foi?
Não, não fui. Eu fui lá porque eu estava angustiado e
atordoado, me senti péssimo com o que fiz com você no
trapiche. É claro que aquela proximidade nos deixaria em
brasas. Mas eu quis tanto o pouco que eu posso ter de você,
que fui egoísta e deixei acontecer. Precisava de uma bebida e
um momento longe antes de voltar para casa.
Como é difícil estar assim tão longe e ele me dizendo todas essas coisas...

Você pode ter tudo de


mim
Ah meu anjo, como eu gostaria que fosse verdade.
Eu não posso e nem mereço
Isso sou eu quem
decide, não você
Está tarde. Melhor dormirmos

Durma bem

Boa noite anjo

Apesar de ele cortar a conversa, fico feliz com a nossa interação. Talvez
Hazel tenha mesmo razão e eu possa ter esperanças.
Queria tanto que ele estivesse aqui, perto de mim.
Que saudade!
Tenho que dar logo a cartada final, o tudo ou nada.
E me preparar para as consequências, sejam elas quais forem.
Porque desta vez, em parte, estarei blefando.
Capítulo 11

“É tão certo
Quanto o calor do fogo
Que eu já não tenho escolha
E participo do seu jogo”
(Fogo – Capital Inicial)

Oliver

uma garota.
E stou na cama, feito um tolo, relendo a nossa conversa,
olhando para o telefone e sorrindo. Tentando me lembrar
quando foi a última vez que troquei mensagens assim com

E a resposta é nunca.
Nunca fiz isso.
Nunca senti vontade de fazer isso.
E agora aqui estou eu, querendo mais. Muito mais.
Não queria encerrar nosso papo já, mas sabia que iríamos adentrar em
questões complicadas.
Relutei muito em respondê-la. Quis o tempo todo, mas eu saí de casa para
me distanciar, então tentei ao máximo não sucumbir. Várias vezes comecei a
escrever e apaguei.
Até que ela me colocou contra a parede e não consegui pagar para ver.
E foi tão bom.
Quando ela me perguntou se eu havia me alimentado, tocou algo dentro de
mim. Uma sensação de cuidado, de lar, de carinho que me encheu o peito. Fora
minha vó, nenhuma outra mulher tem esse tipo de preocupação comigo. Não há
muitos e muitos anos, pelo menos.
Já imaginava que pudesse ser virgem, mas não que fosse tão inocente.
Nem um beijo? Porra!
O que acontece com os garotos de hoje em dia?
Essa revelação me assusta e me encanta na mesma medida. Cogitar ter algo
com ela é... tanta insanidade!
Sou um homem que é assediado de todas as maneiras possíveis por onde
passa. Que sempre foi, bem antes da fama. Já aos doze anos, era grande demais
para a minha idade. E minha aparência nunca me deixou passar despercebido,
por mais que eu quisesse e me esforçasse muito para isto.
Mesmo com todos os meus problemas em relação ao convívio social, a
procura e as provocações eram tantas, que tive a minha primeira experiência
sexual muito cedo. Cedo demais, se eu for bem sincero comigo mesmo.
Não tinha maturidade suficiente, hormônios em ebulição, meus traumas
dificultando encontrar uma saída para lidar com o tesão crescente e o risco de
me envolver. E ao mesmo tempo, impedindo de me impor em determinadas
situações.
Eu era um amontoado de confusão naquela idade.
Meu caos interior contribuiu para que eu virasse um fantoche nas mãos das
garotas mais velhas do colégio e até de algumas mulheres do corpo docente.
Elas me usavam ao seu bel-prazer e eu me deixava usar para me sentir um
pouco normal.
Meu acordo com Riley me salvou de afundar naquela merda, de acabar com
alguma doença ou um filho indesejado.
Resumindo, desde que me conheço por gente, a inocência sempre passou
muito, muito longe de mim.
E Beatriz... Deus, ela é só uma menina começando a descobrir a vida.
O que ela tem que me atrai tanto?
Estar comigo é dor de cabeça certa!
Será que ela teria maturidade suficiente para aguentar?
Rumores, fofocas, insinuações, distância, as turnês...
São tantos os fatores que apontam para o nosso fracasso, para a certeza de
que sairemos disso machucados.
Por outro lado, parece algo tão delicioso, tão certo, tão... nosso!
Não acredito que estou realmente cogitando isso.
Que estou analisando seriamente a possibilidade de uma relação exclusiva
e duradoura com uma mulher.
Mas sim. É exatamente isto que estou fazendo.
Abro a foto do perfil dela no programa de mensagens. É uma foto sua com
os pais, parece ter no máximo uns doze anos... tão linda já naquela idade.
Então lembro-me da foto que tirei dela naquela manhã em que se lambuzou
com o bolo. Acho a imagem e fico ali, namorando. Ela está com carinha
assustada, não esperava que eu tirasse a foto. Uma graça, toda suja de bolo, os
olhos negros arregalados.
A saudade me aperta o peito.
Queria tanto estar perto, nem que fosse apenas para olhá-la e sentir o seu
perfume.
Lembro então que tenho mais uma foto dela, a que Hazel me mandou. Abro-
a e assim como da primeira vez que vi, fico sem ar.
É linda demais, e está tão sexy naquele vestido! Tão mulher!
Como terei coragem de deixar que outro se aproxime?
Que outro a abrace?
Que outro tenha tudo que... é meu.
“Você pode ter tudo de mim”.
Aquela angústia cresce dentro do peito e uma lembrança infeliz invade
minha mente.
A imagem de uma outra garota, de quem eu também deveria ter tido tudo,
tão linda quanto, mas que me jogou no inferno. Se tem uma coisa certa dentre
as que Lian falou hoje, é essa: eu estou muito fodido!
Já é bem tarde, mas o sono não vem.
Estou ansioso, excitado.
Me remexo, viro de um lado para outro e não consigo relaxar.
O telefone vibra. Sorrio.
É ela.
Deus, eu não posso fazer isso...

Não consigo dormir.


Eu também não, anjo. Por que você não
consegue dormir, Beatriz?
Estou pensando em
você. E você?
Eu também, meu bem. Sinto sua falta
Volte para casa Oliver
Não posso, querida
Me deixe ouvir sua voz
então

Você não deve Oliver, não faça!


– Oi – diz ela ao atender.
– Oi. Fala comigo, o que te incomoda, anjo?
– Sinto saudades.
– Eu também.
– Então, por quê?
– Já falamos sobre isso.
– E você ainda pensa assim? – Suspiro. Deveria dizer que sim.
– Eu não sei, estou aqui, longe, justamente para tentar ver as coisas com
clareza, com racionalidade.
– Não foi a racionalidade que nos fez chegar um ao outro. Talvez ela não
seja a opção certa neste caso.
– Não posso arriscar algo precioso como você baseado nisso, anjo. Há
outros motivos, coisas dolorosas do meu passado. Eu sei que em algum
momento eu posso me sentir ameaçado e se isso ocorrer eu vou me afastar. E
daí como seria? Não posso falhar com você, te fazer sofrer. Eu tenho medo.
– Sabe qual o meu maior medo?
– Não pequena, qual é?
– É de nunca mais sentir o que eu sinto quando estou com você por outra
pessoa. É de passar a vida inteira tentando resgatar essas sensações ao lado de
alguém e nunca conseguir me sentir assim novamente. Isto me assusta Oliver.
Pra caramba! A possibilidade de viver uma vida imaginando como teria sido
se eu tivesse te beijado e me entregado a você. Eu tenho certeza de que
morreria muito mais feliz lembrando que tive pelo menos uma noite ao seu
lado do que uma vida inteira ao lado de alguém sem sentir metade disto. – Ela
me quebra. Simples assim.
Por que eu fui ligar?
Eu sei bem porque.
– Você não pode me dizer coisas assim, eu não mere...
– Não diga! Não diga que não merece, porque sempre foi você.
– Ah querida, o que eu faço com você?
– Nos dê uma chance. Volte.
– Ainda acho que o melhor para nós é não nos envolvermos desta forma.
Não teria retorno, Bia. – Ela respira fundo.
– Oliver, hoje eu tomei uma decisão. Me dói muito te dizer, mas eu não
posso deixar as coisas se estenderem. Kellan veio falar comigo e me pediu
uma chance. – O moleque não desiste mesmo.
– Disse para eu pensar até o dia do aniversário de Hazel. Então, este é o
prazo que darei a você para mudar de ideia. Caso não me diga nada até lá, vou
dar sim uma chance a ele. E se eu chegar a este ponto, por mais que me doa,
será definitivo. Não vou magoá-lo, jamais. – Porra, e pela segunda vez em
menos de vinte e quatro horas ela me coloca contra a parede outra vez.
Eu fico puto, muito puto ao ouvir aquilo.
Que se foda!
– Você está certa Beatriz, deve mesmo dar uma chance a ele – esbravejo e
desligo sem deixar que ela retruque.
Não quero ouvir mais nada!
Estou furioso!
Me levanto e vou pegar um whisky.
Não consigo mais ficar na merda da cama.
Pego o copo e viro a garrafa, enchendo mais da metade.
Que porra ela pensa que está fazendo?
Quer dar uma chance a ele? Que dê então!
Que vivam felizes para sempre.
Inferno!
Lanço o copo contra a parede e vejo o vidro se espatifar e o líquido
escorrer. Passo a mão pelos cabelos.
Não preciso dela.
Não preciso de ninguém.
Aprendi isso da pior forma possível, mas aprendi.
Que se explodam os dois. Soco a parede. Minha respiração e batimentos
estão muito alterados.
Quando eu permiti que uma mulher me encurralasse?
Nunca!
Bastava uma simples insinuação para eu deixar o meu ponto muito claro.
Agora isso? Meto o pé no encosto de uma cadeira, fazendo-a parar do outro
lado da sala.
Já sei do que preciso.
Ligo para Riley.
Estou na minha terceira dose, a calma ainda não retornou a mim, quando a
campainha toca.
– Oi.
– Oi. – Me dá um selinho.
O contato não me agrada. Na verdade, me incomoda além da conta.
– Espero que tenha me chamado aqui para termos bons momentos juntos,
como nos velhos tempos.
– É o que parece. – Puxo-a até o sofá, onde me sento e faço-a ajoelhar na
minha frente, entre as minhas pernas.
Deixo-a livre para fazer o que quiser de mim e continuo bebendo o meu
whisky. Ela começa enfiando as mãos por baixo da minha camiseta,
acariciando meu peito. Então ergue a peça e lambe meus mamilos, descendo
com a língua até próximo ao botão da minha calça.
Fecho os meus olhos, tentando afastar o incômodo que parece se apossar de
mim um pouco mais a cada segundo e entrar no clima. Ela abre o botão, desce
o zíper e me afaga sobre a cueca.
Imagens invadem a minha mente sem serem convidadas.
Imagens de Kellan beijando uma certa garota atrevida.
De Kellan descendo a alça daquele vestido indecente que ela pretende usar
na tal festa.
Sinto uma pressão no meu pau, uma pressão desconfortável. Riley está com
ele na mão.
Kellan agora está apalpando os seios de Beatriz.
Beijando seu pescoço e sentindo o seu perfume.
O perfume que só eu deveria sentir tão de perto.
Uma umidade toma meu pau, uma boca sobe e desce sobre ele.
Kellan continua beijando os seios dela, o umbigo, colocando as mãos nas
laterais da sua calcinha e descendo.
Lanço a porra do outro copo na parede e urro alto.
Riley se assusta e se levanta no pulo.
– Que merda é essa? O que deu em você?
– Desculpe, isto não vai dar certo.
– Realmente. Onde você está? Porque obviamente não é aqui comigo. Nem
duro você ficou, mesmo eu te alisando e te chupando. Nunca te pedi ou cobrei
nada Oliver, mas no momento em que estiver comigo, esteja comigo, entendeu?
– Ela me olha bem dentro dos olhos e está nitidamente magoada com o meu
descaso.
E com razão. Ela não merece. Nenhuma mulher deve ser tratada assim,
muito menos ela.
Pela importância que tem na minha vida, pela amiga e mulher incrível que é,
por tudo que já passamos juntos.
Respiro, tentando achar um pouco de calma dentro de mim.
– Me perdoa, não deveria ter te chamado aqui. Não estou no clima, sinto
muito. Vá, tire a noite e o dia de amanhã de folga. Eu aviso Peter e ele se vira
com a equipe. – Mas ela não vai.
Ao contrário, se senta.
– Fale. – Instiga.
– Não há o que falar.
– Há sim. Ficou claro que você me chamou aqui para tentar esquecer de
alguma coisa, ou alguém, e não funcionou. É a garota, não é? – Não digo nada.
– Olha, eu já saquei no dia em que me rejeitou no estúdio, e confirmei no
café da manhã em sua casa, quando percebi que você não conseguia tirar os
olhos dela. E a sua fuga para cá junto com o seu nítido desinteresse não me
deixa mais dúvidas. Eu só vou te dizer uma coisa. Não vai dar certo. E na hora
em que ruir e você cair na real, pode voltar a me procurar, estarei disposta a
retomar nosso acordo dentro de certos termos. Mas enquanto for para eu ser o
seu consolo, esqueça. Levei muito a sério o que você me falou naquele dia.
Não serei mais brinquedo de ninguém, Oliver.
– Fico feliz em ouvir isso. Você está certíssima. Me desculpe novamente,
não vai mais acontecer.
– Adeus então.
– Tchau Riley. – Ela sai batendo a porta atrás dela.
Pego um terceiro copo, encho-o e continuo ali na sala, bebendo. Vira e
mexe as cenas malquistas se infiltram outra vez em minha cabeça e uma nova
onda de cólera toma conta de mim, mas me controlo e não quebro mais nada.
Até que em algum momento o sono me pega e adormeço.
Acordo suando, com dor de cabeça e dor de estômago. Tento me levantar,
mas a tontura é forte demais e me lanço no sofá de novo. Está escuro. Não
consigo nem ver que horas são, pois meu telefone não está próximo. Me sento e
fico assim até a tontura amenizar e eu conseguir levantar. Certamente é falta de
comida, mas só de pensar em comer, sinto ânsia.
Quando acho que adquiri algum equilíbrio, levanto, chego ao telefone e
vejo que já são vinte e uma horas do dia seguinte. Ou seja, dormi o domingo
inteiro. Há muitas mensagens de Lian, de Max e de vovó.
Mas nenhuma dela.
Não estou a fim de falar com os garotos. Mando apenas um “estou bem”
para vovó e vou tomar um banho.
Após o banho me obrigo a comer uma banana, mesmo que aquilo seja um
processo penoso. Ela pesa no meu estômago, e me esforço para não vomitar.
Minha vontade era me atirar no sofá outra vez, mas o desconforto estomacal
não deixa, então pego a guitarra que tenho ali e passo um tempo tentando
dedilhar algumas ideias de novas melodias.
Não funciona, estou angustiado demais. Aquela possibilidade irritante que
ela jogou na minha cara se infiltra em meus pensamentos a todo instante sem
ser convidada me roubando a paz.
Desisto da música.
Bebo água e me deito novamente. Logo apago outra vez.
A minha segunda começa com pancadas na porta.
Levanto-me com aquele cuidado para a tontura não dominar e vou abri-la.
Max está do outro lado com pacotes nas mãos.
– Primeiro eu vou entrar e nós vamos comer, pois sua avó me mandou aqui
com essa clara missão. Depois você vai me explicar direitinho o motivo da
vinda pra Long Beach e dessa sua aparência terrível.
Deixo-o passar, me acomodo na bancada enquanto ele vai desempacotando
o almoço. Não posso me abrir com Max, infelizmente. Não até eu resolver o
que farei. Só geraria estresse à toa. Então terei que convencê-lo de que só sai
por não conseguir lidar com outra pessoa habitando a minha casa.
Max passa o dia comigo e garante que eu faça pelo menos duas refeições
com vovó pediu. Acho que me sai bem na argumentação quanto aos meus
motivos de estar ali. Ele vai embora ao fim do dia e eu volto ao whisky.
Confiro o telefone e nenhuma mensagem de Beatriz.
Penso em mandar alguma coisa, mas logo desisto.
Largo-o em cima da mesinha. Me afundo no sofá e penso.
É só o que tenho feito nos últimos dias, fora beber, é claro.
Uma luminosidade em cima da mesa chama a minha atenção.
Meu coração dispara.
Porra, pareço um adolescente que não sai de perto do telefone esperando
que a garota que convidou para ir ao cinema diga sim. Meio tarde para viver
esse tipo de coisa, Oliver... você já está velho demais para isso, cacete! Mas
mesmo admitindo, corro pegar o aparelho e a expectativa de ser ela me
consome tanto que tenho medo de olhar e me decepcionar.
Não me decepciono. É ela.
Eu ainda deveria estar puto pelo ultimato e não sorrindo para o aparelho
antes mesmo de ver o que é.
Me mandou uma foto. É fim de tarde, ela está sentada naquele tronco na
areia. Os cabelos cacheados bagunçados pelo vento. Só consigo ver parte de
seu perfil, mas as bochechas parecem coradas e os olhos tristes.
Sinto sua dor em mim.
Ah, querida...

Tinha prometido a mim mesma que não ia


entrar em contato, afinal, agora é com
você..., mas como me sentar aqui neste lugar
e não lembrar? Impossível. Sinto tanto a sua
falta! Por que me sinto assim, Oliver? Nos
conhecemos há tão pouco tempo... Não
tivemos nada concreto... Deveria ser mais
fácil, não?
Esta foto é tão linda! Tenho
vontade de jogar tudo às
favas e correr até você,
pequena. Deus, sim, deveria
ser mais fácil. Muito mais
fácil. Também não sei
porquê não é, está foda
para mim também
Então pare de lutar
Não é simples. Você não
sabe o que me pede
É isso então? Você não vai voltar atrás, não
é?

Ah, como eu queria lhe dar esperanças, dizer que sim, que vou deixar
acontecer entre nós tudo que temos vontade. Mas seria irresponsabilidade
demais.
Nem sei como reagiria tendo que lidar com uma vida em que cada passo
meu deve ser compartilhado com outra pessoa. Até quando eu iria suportar?
Como isto me afetaria com os problemas que carrego?
E principalmente, como a afetaria caso...
Não, sem chance... E depois?
Ela não merece mais sofrer...
Dou a única resposta possível.

Provavelmente não .

Ela não diz mais nada e eu vou dormir com um gosto amargo na boca. E não
tem nada a ver com o whisky.

Na terça é o dia de Lian aparecer, enviado por vovó.


Da mesma forma que Max, chega com comida e fica até o final do dia.
Conto a ele sobre o ultimato que Beatriz me deu e ele reclama por realmente
não ter feito a tal aposta. Assim como na conversa que tivemos no escritório,
tenta me convencer que é perda de tempo eu estar ali, quando sabe que não
deixarei Kellan levar a melhor.
O dia termina com cheiro de álcool e sem nenhum contato da dona dos
olhos mais lindos que já vi.
A quarta não começa diferente.
Mal levanto, tomo banho, já me sentindo um pouco melhor que nos outros
dias, e a companhia toca. Devia ter dito ao porteiro que eles estavam
proibidos de entrar, penso. Só que ao abrir a porta, não é apenas um que
encontro, e sim três, Max, Lian e Johnathan.
– Nossa, tudo isso é saudades? – pergunto.
– Não, é a missão “vamos alimentar Oliver”, imposta pela nossa avó
preferida – diz Lian.
– Bom, pelo que eu me lembre, não ofereci resistência nos outros dias,
então não entendo o motivo da comitiva.
– A comitiva resolveu vir, pois temos os últimos detalhes da festa da Hazel
daqui a dois dias para providenciar, como repassar os esquemas de segurança,
o plano de saída dos carros para não dar bandeira, conferir se está tudo ok
com as hospedagens a partir de amanhã à noite no hotel em Los Angeles.
E resolvemos que já que temos que dar uma de “babá de barbudo”, vamos
organizar tudo daqui – explica Max.
– Mas primeiro ao café da manhã, bebê – lembra Lian.
Johnathan parece meio aéreo, só me cumprimentou e não falou mais nada.
Mas deixo passar por enquanto.
– Max, nada vazou na imprensa? Vocês estarão seguros lá?
– Não, nada vazou. Mas como assim vocês? Por que não está se incluindo
no pacote, estrela?
– Eu não vou.
– Não estou entendendo. Por quê? Hazel ficará magoada com você.
– Eu me entendo com ela depois. Não estou a fim de correr o risco e nem de
aguentar uma casa noturna lotada.
– É só uma noite e é por ela, Oliver – reforça ele.
– Eu sei, mas não me sinto bem. Converso com Hazel no sábado. Ela me
entenderá, tenho certeza. – Ele me olha decepcionado, mas não diz mais nada.
Tomamos nosso café e logo os três começam a repassar e confirmar os
detalhes para o evento. É quase um gerenciamento de projeto sempre que nos
permitimos participar da chamada “vida normal”, pois é necessário forte
esquema de segurança nas estradas, aeroportos, hotéis, locais de eventos. Caso
os disfarces sejam descobertos ou vaze informação em cima da hora, não
estamos mais seguros nestes ambientes. Não dá para simplesmente arriscar.
Johnathan continua estranho. Lá pelas tantas não aguento.
– Johnathan, desembucha. O que está te incomodando? – Ele joga o corpo
para trás e deita a cabeça no encosto do sofá.
– Ontem à noite tivemos aquela famosa conversa sobre sexo seguro com
Hazel. – Max que estava bebendo um café, se afoga e cospe o líquido, sujando
sua camiseta.
– Merda – xinga.
– Não é fácil pegar uma caixa de camisinhas e colocar na mão da sua jovem
filha. Estou me sentindo enjoado até agora. Se um dia tiverem filhos, rezem
para que sejam só meninos – completa Johnathan.
– Mas que porra... por que diabos você foi dar camisinhas a ela? – pergunta
Max, Lian e eu lançamos um olhar de incredulidade para ele.
– Por que será, né Max? Para ela treinar com as bananas é que não foi –
digo.
– Não vejo necessidade nenhuma – emenda ele. Agora é Johnathan que está
pasmo.
– Eu disse a mesma coisa a Alicia, e ela me perguntou em que mundo eu
vivo. Mas eu sou o pai e não levo a vida de vocês. Mas você Max, me espanta
achar que Hazel se manterá muito mais tempo sem se envolver sexualmente
com alguém. Você já olhou para ela ultimamente? Alicia inclusive acha que ela
pretende fazer isso na noite da festa e que não temos o direito de impedir se for
o que ela deseja. Por isso a conversa de ontem.
– Vocês estão malucos? Permitir uma merda dessas? – Se altera Max. –
Querem o que? Que ela perca a virgindade num banheiro de boate? Não a
minha garotinha, não a menina que me fazia trocar a fralda de todas as suas
bonecas. Se vocês não impedirem a idiotice, eu vou.
– Me sinto tão mal quanto você e é claro que esperamos que ela tenha bom
senso e não faça isso num banheiro. Mas ela terá uma bela suíte num dos hotéis
mais caros de Los Angeles para passar a noite. O que minha mulher lutou para
enfiar na minha cabeça é que o corpo é dela e o máximo que podemos fazer é
aconselhar. E acredite, aconselhei bastante.
– Pois eu vou ficar de olho e não permitirei. Pode ter certeza – enfatiza
Max.
– Você não tem esse direito. Deixe a menina crescer. Deixe-a viver a vida
dela. – Se mete Lian.
– Não creio que estou aqui ouvindo vocês acharem algo absolutamente
aceitável que ela conheça um cara qualquer numa casa noturna e o leve para a
cama.
– Ué, mas não é dessa forma que a maioria das pessoas se conhecem e se
relacionam? – pergunta Lian, lembrando-o em qual século vivemos.
– Não a nossa menina. Ela vai encontrar algum garoto da idade dela, vai
namorar bastante, conhecê-lo, e só meses depois irá para a cama com o
namorado. – Lian cai na gargalhada e eu também não aguento.
– E você já traçou toda a vida dela? – pergunto.
– Acredite, estou sendo bem liberal. O que eu espero mesmo é que ela só
faça sexo com o marido. – Johnathan tosse, até para ele aquilo foi um exagero
desmedido. – Com o namorado, de meses, é o mínimo aceitável para uma
garota da idade dela, Oliver.
– Claro, pois foi exatamente assim que aconteceu com você e as meninas do
colégio das quais você tirou a virgindade, e que, se não me engano, eram bem
mais novas do que Hazel, não é? – lembra-o Lian.
– Eu era tão moleque quanto. O moleque que se aproximar dela será muito
bem alertado em relação ao que se espera dele, pode ter certeza. E não queira
compará-la.
– Não quero, Max. O que eu quero é que você entenda que isso é ela quem
decide. Se Hazel quiser perder a virgindade na sexta ou daqui a trinta anos, se
for com um desconhecido ou com o marido, é uma escolha que cabe única e
exclusivamente a ela. Ela é bem jovem, é verdade, mas não é mais criança. O
pai dela já aconselhou, deu carta branca e camisinhas. Quem você pensa que é
para se meter na noite da menina? Acorda Max, você não tem esse direito
sobre ela. – Max chuta o pé da mesa de centro e vai para a sacada do
apartamento.
Resolvemos que é melhor deixá-lo sozinho por uns instantes até que recobre
a lucidez. Quase meia hora depois Johnathan sai e vai conversar com ele lá
fora. Ficamos só Lian e eu na sala.
– Oliver, amanhã à tarde os carros nos levarão para Los Angeles. Será
necessário usarmos todos os recursos. Mas chegando lá eu vou pedir para dois
voltarem e ficarão aqui em Long Beach a sua disposição. Então quando você
cair na real, não vá se arriscar alugando um carro comercial. Peter está por
dentro e sua segurança estará te aguardando. Seu quarto também está reservado
no hotel. Mesmo eu sabendo que ficará no de Beatriz. – Engulo em seco.
– Não viaja. Não tem necessidade de nada disso. Deixe os carros lá.
– Já está decidido. E você vai me agradecer. Tenho certeza de que não
deixará que seja Kellan a dividir a suíte com ela. – A simples ideia dos dois
deitados na mesma cama me atormenta.
– Não fode, Lian. – Ele ri.
– Por que não fiz aquela aposta, hã, bonitão? – Debocha e reclama ao
mesmo tempo.
E para meu total desespero, bem nessa hora, o contato que eu mais aguardo
desde segunda, resolve dar o ar de sua graça.
E que graça!
Meus olhos quase saltam das órbitas, imaginando-a naquela coisa tão
delicada e feminina, como ela...

Esse foi um dos que você me deu. Lindo não?


Queria usá-lo para você

Puta-merda!
Lian estica o pescoção e assovia.
– Biazinha está jogando pesado.
– Se está!
– Se ela não usar para você...
– Não comece!
– É inevitável cabeção, para alguém ela vai usar...
– Some daqui! – Ele gargalha da minha reação.
– Eu vou, já está na nossa hora. Mas não adianta descontar a frustração em
nós, brother. Pegue o que é seu e seja feliz. – Os três vão embora. Ficamos a
foto da lingerie e eu.
Pegar o que é meu... É uma ideia mais do que tentadora.
Passo o dedo por ela, só imaginando... até que faço uma nova e enorme
burrada.

Vista
Oi?
A lingerie. Me deixe ver como fica em
você
Eu também, meu bem. Sinto sua
falta

Ela demora um pouco a responder.


Quando vem, perco o ar.
Não vou aguentar.
Ela me mandou uma foto sua deitada na cama, usando aquele pedaço de
pano azul claro rendado que ficou perfeito nela.
Tem os lábios um pouco separados e uma mão apoiada na barriga.
É linda demais, inocente demais!
Até um pecado macular aquele corpo com os meus olhos.
Mas não posso desviar. A quero tanto!
De onde vem tanta necessidade?
Esse desejo nomeado, que só Bia conseguirá aplacar?
Nunca senti nada parecido.

Porra! Você me deixou de pernas bambas.


Linda!
Queria sentir o seu
toque.

Isso não vai dar certo! Recue, Oliver. Agora!

Ah, é tudo que eu mais quero. Tocar


você. Onde eu estaria tocando, anjo?
Em meus seios
Deus! Meu pau vai explodir.

Uhm, que delícia! Eles estão


pesados, pequena? Durinhos de
tesão?
Sim. Doem. Estou inteirinha
queimando de tesão por você
É demais!
Não posso fazer sexo por mensagem com ela, e é o que vou acabar fazendo
se continuar com isso.
E pior, lhe dar esperanças.
Eu deveria fazer justamente o contrário, inferno!
O jeito é acrescentar mais uma decepção a lista.

Preciso sair agora. Durma bem, anjo!

Bia

Acho que ferrei com tudo.


Depois da minha descarada tentativa de provocá-lo, que ainda não acredito
que tive coragem de fazer e que claramente me dispensou no auge da excitação,
não disse mais uma palavra sequer. Ainda escreveu que precisava sair!
Sair para onde? Um encontro?
Certamente. Merda!
Preparo a minha mala para ir a Los Angeles já na certeza que será uma
viagem sem volta. Pois diferentemente do que eu falei, caso ele não mude de
ideia, ficarei por lá e recomeçarei a minha vida. Não retorno mais a
Oceanside. Não darei uma chance a Kellan, porque meu amor pertence a outro
e não seria justo com nenhum de nós.
Já pesquisei algumas opções de hotel baratos para ficar até que consiga
alugar alguma coisa. Não posso ficar muitos dias em hotéis, senão minha
pequena reserva se esvairá antes que consiga me estabelecer e arrumar um
emprego.
Também não conseguirei levar todas as minhas coisas agora, visto que
vamos só com uma mala cada, o necessário para três dias fora, mas acredito
que Laura não se importará de me mandar o restante mais tarde.
As lágrimas rolam.
Essa semana elas apareceram com frequência, principalmente nas noites
quando relembro tudo que vivi aqui, quando a saudade fica mais intensa.
Rolam também quando penso na raiva dele ao desligar o telefone na minha
cara no domingo de madrugada.
Eu o magoei, mas foi necessário.
Precisamos de um encerramento e não haveria um de outra forma.
O dia passa voando. Mal Laura e eu terminamos de arrumar nossas coisas,
almoçamos e já é hora de entrar no carro que nos levará a Los Angeles. Serão
uma hora e meia de viagem. Cada carro seguirá com dois passageiros, o
motorista e um segurança. E atrás de cada carro com passageiros, seguirá um
outro apenas com seguranças.
As saídas terão intervalo de meia hora cada, para que não saiam todos
juntos e chamem muita atenção. Então o primeiro carro, apenas com Johnathan,
saiu as quinze horas. Depois seguiram Max e Helen, Lian e Hazel, Laura e eu e
por último Kellan e Alicia. Algumas amigas de Hazel e amigos de Kellan
serão levados nos carros do condomínio, mas apenas amanhã. E ficarão
hospedados em outro hotel.
O lobby do hotel está fechado para a The Order. Assim como os três
andares onde ficam as nossas suítes e um dos elevadores também será
exclusivo. Nossos check-ins já estavam prontos então só pegamos as chaves
de nossos quartos e seguimos até eles.
Por pedido dela, Hazel e eu ficaremos no mesmo andar. Nossas suítes são
uma em frente à outra. São três hóspedes por andar e mais dois quartos para os
seguranças. Não sei quem será o terceiro a dividir o andar conosco. Todas as
nossas refeições serão feitas no quarto para evitar exposição desnecessária.
O quarto é um luxo só. Tem uma sala com móveis chiques e clássicos, um
quarto com uma cama enorme, e o banheiro com uma hidro para cinco pessoas.
Eu moraria tranquilamente aqui.
A festa é amanhã, e ficaremos até domingo em Los Angeles. Hazel
programou alguns passeios para o sábado, final da tarde, e domingo de manhã.
Passeios estes que provavelmente os integrantes da The Order não
participarão.
Aproveitarei esse tempo para me despedir dela.
Será difícil, já nos tornamos tão íntimas, já sinto tanto carinho por ela. Não
que não poderemos mais no ver ou conversar esporadicamente, mas para
conseguir seguir em frente, preciso me distanciar o máximo possível de tudo
que me ligaria a Oliver.
E por falar em Oliver.
Nada.
Nem um mísero “oi, como você está?”
Será que escrevo? Será que pergunto?
Não.
Eu fui bem clara com ele ao telefone e tomei a iniciativa de contato em dois
momentos posteriores.
Se ele não se manifestou é porque espera que Kellan e eu nos entendamos
mesmo e isto não o incomoda tanto quanto eu imaginava. A dispensa de ontem
é outra prova. Ele não gostou tanto do que viu. Só foi educado. Deve inclusive
estar se divertindo com outras garotas em Long Beach.
As lágrimas nada bem vindas aparecem novamente.
São dezenove horas e alguém bate a minha porta. É Hazel. Abro, ela entra
saltitante e se joga de costas na cama. Está tão feliz! O sorriso de orelha a
orelha.
Fico contente em compartilhar esse dia e a sua alegria com ela. Gostaria
apenas de estar me sentindo melhor para ser a amiga que ela merece amanhã.
Me jogo ao lado dela na cama.
– Bia, eu nem acredito que isso está realmente acontecendo. Que amanhã,
pela primeira vez na minha vida, farei um programa de uma garota da minha
idade e não de uma criança de treze anos.
– Estou tão feliz por você Hazel. Será uma noite incrível! Você vai mesmo
“chutar o balde”? Já decidiu? – Ela suspira.
– Vou tentar. Vou tentar mesmo. Não garanto que vou conseguir, porque só
de pensar... – Ela faz uma pausa e fecha os olhos. – Mas prometi a mim mesma
arrancar essa ilusão de dentro de mim a força e vou me esforçar ao máximo
para acontecer. Esse sentimento não me levará a nada, só vai me machucar
cada dia mais a partir de agora. Então preciso agir. E você? Oliver, nada
ainda?
– Não, nada. Já perdi as esperanças também. Parece que ao invés de tirar o
coelho da cartola eu o fiz voltar para a toca de vez.
– Que merda! – constata ela.
– É sim. Mas pelo menos será definitivo e posso seguir para a etapa de
arrancar o sentimento, assim como você.
– Promete para mim Bia? Promete que amanhã à noite nós vamos esquecer
desses bundões e nos divertir para valer?
– Prometo! – Rimos.
Mas não é um riso leve.
É como quando você come um doce delicioso, mas percebe que no final, ele
deixa um gostinho amargo na boca.
Passamos a noite assim. Ela ali no meu quarto conversando, jantamos
juntas, depois assistimos ao filme “Como eu era antes de você” e choramos
horrores.
Acho que estávamos precisando de um motivo para “deixar vazar”. Foi
bom. Perto da meia noite o meu telefone vibra.
Fico eufórica.
O coração acelera tanto que parece sair pela boca. Hazel arregala os olhos
e abre um enorme sorriso para mim. Tenho medo de olhar. Espero alguns
minutos e tomo coragem.

Bia, você sabe onde está Hazel? Não


conte a ela, queremos fazer surpresa!

A decepção estampa meu rosto no mesmo instante. É Lian.


– E aí? – pergunta Hazel.
– É Laura, – invento – querendo saber se estou bem.
– Que pena!
– Pois é, vou respondê-la rapidinho.

Ela está aqui no meu quarto.


Estávamos vendo um filme
Ótimo! Logo bateremos aí

E, nem cinco minutos depois, pancadas nada discretas nos fazem pular da
cama. Corro para abrir e Lian, Max e Kellan invadem a suíte com uma caixa de
bombons e garrafas de champagne nas mãos.
– Assim que o relógio der as doze badaladas, estouraremos essas
belezinhas para comemorar os dezessete anos da nossa princesa! Huhuu –
berra Lian.
Max está rindo e abraçado a ela.
Mas falta um ali.
Sentamos na sala, colocamos os bombons na mesinha, Lian e eu pegamos as
taças e ficamos conversando aguardando o momento certo. Kellan está ao meu
lado e tenho medo que ele não espere até amanhã para a tal aproximação que
prometeu. Não estou preparada para falar com ele hoje.
Faltando dois minutos para a meia noite, os três pegam cada um uma garrafa
e começam a agitá-las para o estouro. E quando acontece, jogam o líquido que
sai em cima dos cabelos de Hazel. Ela ri feito criança. Está muito feliz com a
surpresa deles.
– Porra! Estou fedendo a espumante seus idiotas – fala sem disfarçar a
alegria.
– Mas vou te abraçar mesmo assim – diz Lian, a puxando para um abraço. –
Hazel, bem vinda aos dezessete. Que seu dia hoje seja incrível e especial
como sonhou. Amo você!
– Também tio. – Rimos.
– Minha vez maninha. Apesar de você ser um pé no saco as vezes, eu te amo
muito. Parabéns! – diz Kellan lhe dando um abraço.
– Eu também irmão.
Aproveito o embalo, já que estou ali ao lado dele e a abraço na sequência.
– Hazel, eu sempre sonhei em ter uma amiga, mas jamais imaginei que ela
seria tão perfeita e me faria amá-la tanto em tão poucos dias. Saiba que
aconteça o que acontecer, este lugar será seu em meu coração para sempre.
Feliz aniversário amiga! Que os seus sonhos mais impossíveis se realizem. –
Pisco para ela.
– Ah Bia, você não sabe o bem que fez em minha vida.
– Agora sou eu – fala Max, já puxando-a, ele a tira do chão, rodopia com
ela pela sala, dá muitos beijos em suas bochechas. Por fim a abraça muito
apertado. – Parabéns princesa! Você é a melhor coisa da minha vida. Te amo
demais! – declara.
E ali ela não aguenta.
Desmorona e chora alto no ombro dele.
Ele deixa por um tempo, depois afasta-a e seca suas lágrimas.
– O que foi Hazel? Achei que estivesse feliz.
– Eu estou. Muito. Vocês me fizeram chorar de emoção, babacas – disfarça.
– Quero beber aquele champanhe. Me aguardem que só vou tomar um banho
rápido.
Enquanto ela vai para o seu quarto tomar banho, ficamos ali na sala,
degustando os doces. Logo ela está de volta e se junta a nós. Lian serve as
taças e brindamos à sua felicidade. De repente o telefone de Lian toca. Ele
olha quem é e ergue os olhos para mim.
– E aí cabeção, falta você aqui.
– Oi irmão. Liga o vídeo e passa para a nossa princesa – pede Oliver, sua
voz parece... cansada. Hazel pega o telefone que Lian lhe estende e chega bem
perto de mim.
– Oi Estrela. – Levo um baque quando vejo a imagem. Ele está muito
abatido, com olheiras profundas e nitidamente perdeu peso. Está sofrendo com
a situação. Meu coração aperta. Ele foca em mim alguns instantes, mas logo
volta sua atenção para ela.
– Oi Hazel. Querida, parabéns pelos seus dezessete anos! Espero que esteja
feliz e se divirta muito nesta noite. Aproveite sua festa! Quando voltarmos para
casa, lhe dou um abraço pessoalmente. Amo você princesa!
– Obrigada Oliver, gostaria que estivesse aqui! – diz e nisso Kellan encosta
atrás de mim.
– Por que não vem? – Ele pergunta.
Oliver toma ciência dele ali, bem encostado em minhas costas, com a
cabeça quase sobre o meu ombro, para aparecer na câmera. Percebo quando
ele fecha os olhos numa tentativa de não perder o autocontrole.
– Não gosto de exposição desnecessária Kellan, você sabe. – Então ele
foca o olhar em mim fixamente. – Divirtam-se todos hoje à noite. Até mais. – E
desliga. Hazel me lança um olhar complacente.
Se eu já não me sentia bem, agora então está até difícil de disfarçar a minha
angústia. Fico sentada no braço do sofá enrolando com aquela taça de bebida
na mão e o pensamento distante, enquanto os outros riem, conversam, bebem e
comem.
Lá pelas tantas, quando estão distraídos olhando alguma coisa no celular de
Max, Lian se aproxima de mim e coloca os braços em volta dos meus ombros.
– Bela-Bia, você já viu a vista daqui? – Me pergunta, mesmo não esperando
que eu responda. – Venha, deixe eu lhe apresentar Los Angeles. – E me arrasta
para a sacada da suíte.
– Não se preocupe assim, querida. Ele virá – diz logo que saímos e
fechamos a porta.
Arregalo os olhos para ele, pois não esperava por aquele comentário.
– Lian, eu...
– Eu sei de tudo, fique tranquila. Oliver me contou. Eu nunca o vi assim. Ele
está numa luta interna gigantesca por sua causa. Já decidiu o que fará, mas
ainda não teve coragem para admitir a si mesmo.
– Não tenho tanta certeza assim. Eu... o provoquei contando sobre o
ultimato que Kellan me deu e acho que isso o irritou e o afastou mais.
– Sim, ele ficou furioso. Mas foi mais por você cogitar dar uma chance a
Kellan, o que tenho a impressão de que você não pretende fazer de uma forma
ou de outra, estou certo?
– Sim, eu só disse aquilo para ver se ele tomava logo uma atitude. – Lian ri.
– É, Oliver nem imagina o quanto está ferrado.
– Lian, eu o vi no vídeo, ele está sofrendo, abatido, eu não queria... – Não
seguro as lágrimas.
– Ah meu bem... – Ele me abraça. – Entenda. É um processo, Bia e ele está
passando por ele. Você faz ideia de tudo que mudará na vida dele quando der
este passo? Oliver viveu a vida fugindo das pessoas. O medo que ele tem de
não ser capaz de segurar a onda e te magoar é enorme. Além disso, tem
assombrações psicológicas complicadas. Mas ele não vai deixar essa para
Kellan, eu o conheço. Ele virá. Agora vamos provocá-lo um pouquinho mais,
seque os olhos e coloque um sorriso neste rostinho lindo. Venha. – Me abraça,
posiciona a câmera, tira uma self nossa e encaminha para Oliver com a legenda
“olhe o que você está perdendo”.
– Pronto, logo, logo ele me manda um xingamento – diz me fazendo sorrir. –
Quer dizer então que certa vez eu vigiei um corredor de hospital para você,
mocinha?
– Sim. – Rio e entramos neste assunto.

Oliver

“Olhe o que você está perdendo” a frase que Lian me mandou esta
madrugada junto a uma foto dele e de Beatriz não me sai da cabeça.
Estou perdendo?
Já perdi?
Não sei.
Tenho medo de descobrir.
Quero perder?
Não, definitivamente, não.
Não quero perdê-la. Não quero que outro a tenha.
Quero-a para mim. Só para mim.
Ela estava linda como sempre naquela foto, mas apesar do sorriso em seu
rosto, seus olhos exalavam tristeza.
Assim como os meus.

Lian, já saíram para a boate?


Vá se ferrar Oliver. É a terceira vez
em menos de duas horas que você
me pergunta isso. Já está no carro?

Não porra. Eles não estão juntos


mesmo, tem certeza?
Deus, vontade de te dar uma surra.
Juro! Não, ainda não, mas o garoto dará
o bote na boate. Já falei. Apresse-se

Inferno!
Já estou aqui pronto para ir, o disfarce em mãos.
Só não tive coragem de entrar no carro.
Dar esse passo é caminho sem volta. Pode ferrar tudo.
Mas deixá-la para ele também não é uma opção.
Não vou suportar vê-los juntos.
Conviver com eles sendo um casal, quando na verdade o casal deveria ser
outro.
O casal deve ser outro.
O som de uma mensagem toca. É de Hazel.
Ela me manda uma foto de Beatriz, e nossa!
Uau! Socorro!
Foco na legenda “Hoje, com você ou sem você, ela vai beijar na boca.
Muito!”.
Porra!
Beatriz está pronta para a noite, naquele vestido indecente, com uma
maquiagem leve, um brilho realçando a sua boca perfeita, duas trancinhas
feitas com a parte da frente dos cabelos e que circulam sua cabeça como uma
coroa e o restante dos lindos cabelos cacheados soltos. Deixando-a ainda mais
angelical.
O rosto meigo contrastando com a safadeza do vestido pecaminoso e aquela
boca dela, boca de foder até pensamentos.
Ninguém mais deveria poder vê-la assim, só eu.
Linda! Gostosa! Sexy! Um pecado!
E Minha!
É isso.
A decisão está tomada.
O caminho será trilhado e não terá volta.
Seja o que Deus quiser!
O casal será outro.

Lian segura o pirralho. Estou


chegando
Kkkkkk cara, nunca vi ninguém mais lento!
Já era para estar aqui há muito tempo,
babaca. Deveria é deixar você se foder,
isso sim. Por que não fiz aquela aposta...

E velho... só para constar... Bela-Bia está


de arrasar. Puta Merda! Difícil segurar os
meus olhos, viu? Kellan quase não respira e
os seguranças estão fazendo um esforço
danado para não olhar. Que espetáculo!

Lian, viado, TIRE OS


OLHOS da minha mulher
Uau... Uma das frases que nunca cogitei
sair da boca do nosso vocalista gostosão.
Minha Mulher! Prevejo tanta
decepção...As mulheres e os gays chorarão
porque ele saiu da pista. Os homens e as
lésbicas porque ele era o símbolo de tudo
que gostariam de ter: quantas e quais
mulheres quiser. É, toda a população
mundial entrará em depressão com a boa
nova.
Foca no fedelho e não me
enche o saco. E o segurança
que olhar, demita!
Impossível, não sobraria um. E Hazel é
outra que apelou. Se você visse...
Lindíssima! Max queria mandá-la trocar de
roupa quando viu, foi difícil segurar. As
duas juntas naquela pista, velho... vai pegar
fogo ��
Não as deixe sairem da área
VIP até eu chegar
Ah não irmão, nessa você vai precisar
contar com a sorte, sinto muito. Porque ou
eu a mantenho longe da pista ou longe de
Kellan. Não tem como conseguir os dois.
Se tivesse me ouvido e vindo antes, não
passaria por isso. Agora aguente
Porra, dê o seu melhor!

Que merda!
Os tubarões vão cair em cima se ela ficar solta naquela pista. Certeza! São
vinte e duas horas e devo levar pelo menos mais quarenta minutos para chegar
em Los Angeles. Já pedi duas vezes para o motorista acelerar, mas sei que ele
não passará do permitido.
Os quarenta minutos mais demorados da minha vida.
Assim que salto do carro, devidamente disfarçado, e com três seguranças à
paisana a minha volta, como se fôssemos um grupo de amigos chegando na
balada, mando outra mensagem a Lian.

Cheguei. Onde ela está?


Na pista com Hazel. Venha para cá.
Daqui a pouco sobem aqui
novamente
Não. Vou a caça! Obrigado

Bia

– Kellan, será que podemos conversar? – pergunto.


Estamos no lobby hotel, já prontos para sair, mas conversei com Lian e ele
me aconselhou a abrir logo o jogo com Kellan. Não o deixar na esperança de
que algo aconteça a noite inteira para então se decepcionar. Assim ele pode
aproveitar a noite do jeito que quiser depois.
– Oi Bia, claro. – Vejo que ele dá uma balançada quando me vê no vestido
que Hazel me obrigou a usar. É ousado demais, mas segundo ela, nada
diferente do que as outras garotas da nossa idade usariam. E devo admitir que
fica muito bem em mim. Nunca me senti tão linda.
– Se importa de subir comigo até o quarto? – Ele engole em seco e fica
corado.
– Tudo bem.
Subimos para o meu quarto e nos sentamos no sofá da antessala.
– Você está linda demais. Difícil até respirar perto de você – diz assim que
nos acomodamos.
Ah meu pai... por favor, não deixe que ele torne isso mais difícil do que já
é.
Decido que a melhor opção para nós é que eu seja direta e prolongue aquela
interação pelo mínimo de tempo necessário.
– Obrigada. Kellan, hoje é o prazo que você me deu. E eu preciso te dar
minha resposta agora – digo e lágrimas idiotas já tomam meus olhos, pois
gosto muito dele, não queria magoá-lo, mas sei que vou.
– Eu sei. Não precisa ficar assim. Sei que a sua resposta é não.
– Sabe? – Ele deixa uma lágrima rolar também. O que termina de acabar
comigo.
– Eu sei. É por causa de Oliver, não é? – Ai, e agora? Digo a verdade? Será
que isso fazia parte do abrir o jogo que Lian sugeriu?
Opto pelo caminho do meio.
– Por que diz isso?
– Ah, sei lá. A forma como ele agiu lá em casa. O jeito que já flagrei você
olhando para ele ou ele para você. Essa sumida repentina que ele deu. O jeito
que você ficou depois daquela videochamada. Tentei várias vezes me
convencer de que é coisa da minha cabeça, para manter minhas esperanças,
mas acho que está na hora de enxergar os fatos como eles são, não é mesmo?
Me fala a verdade, por favor. – Respiro fundo.
– É sim.
– Você sabe que Oliver nunca levou ninguém a sério, não é? Sei que toda
mulher fica louca por ele, mas com ele será isso, uma trepada e nada mais. –
Dói ouvir dessa forma.
– Kellan, pode parecer que o meu interesse por Oliver é, como você diz, um
encantamento de fã. Mas não, é algo bem mais profundo que eu nem saberia te
explicar. E começou há muito tempo. Eu conheci Oliver quanto tinha oito anos.
Nem sabia quem ele era, muito menos o tamanho da sua fama. Eu me apaixonei
primeiro por aquele Oliver e não pelo astro. E é estar na vida daquele homem
que mexe comigo, que me diz que eu preciso ao menos, tentar... Me dar a
chance de entender a fundo esse sentimento e ver até onde ele vai... E não o
fato de estar perto de um ídolo.
– Como assim desde os oitos anos? Que novidade é essa? – Passo os
próximos minutos contando a ele os detalhes da nossa história.
– Eu não acho que algo vá acontecer entre Oliver e eu, ele já deixou claro
que não quer. Mas de qualquer forma eu não posso colocar você no meio
disso, entende? Porque o que eu sinto não vai morrer de uma hora para outra,
mesmo não estando junto. E seria cruel com você e comigo se eu aceitasse
iniciar um relacionamento assim.
– Eu... eu estou realmente apaixonado. Se você soubesse como é difícil para
mim estar assim, perto de você, vendo-a linda desse jeito e não poder puxá-la
para os meus braços. Mas eu tenho que respeitar a sua decisão. Vou sofrer, não
sei como reagirei se vir Oliver e você juntos, mas terei que passar por isso e
vou. Sabe por quê? – Nego com a cabeça.
– Porque uma hora o que há entre vocês vai acabar. E então será a minha
vez. Estarei esperando... – dizendo isso, se levanta e me beija na bochecha. Eu
o prendo em um abraço.
– Não pense que estou em paz por te afastar outra vez, porque não estou.
Não quero ver ninguém sofrer por minha causa, Kellan. Eu gosto demais de
você, ficaria muito feliz se pudéssemos manter a amizade. Mas se não for
possível eu entendo. Você sempre terá um lugar especial em meu coração.
– Não posso responder a isso agora, como eu disse, não sei... vamos dar
tempo ao tempo, ok?
– Ok.

Somos as últimas a chegar na área vip. Todos os convidados de Hazel já


estão lá a sua espera. Laura, Helen, Alicia, Johnathan, os meninos da The
Order, com exceção do vocalista, claro. Há outros quatro meninos, mais ou
menos da idade de Kellan e cinco garotas da nossa faixa etária.
Assim que entramos no reservado, Lian começa a dedilhar parabéns na
guitarra e o coro acompanha. Papéis picados e balões prateados caem do teto
em cima da aniversariante e um tanto em cima de mim também, já que não
consegui me afastar o suficiente antes da chuva começar.
Um bolo lindo é trazido em um carrinho coberto com velas que faíscam
para todos os lados. Ela sopra as velas, agradece a todos e me carrega para a
rodinha das meninas. Kellan já está junto dos outros garotos. E os da família
sentados, em outra grande roda.
– Bia, quero lhe apresentar as meninas, essas são: Carol, Grace, Sophia,
Jane e Cloe. Garotas essa é Bia. Nos deem licença um minuto, vou apresentar
Bia aos garotos, já voltamos. – Engata o meu braço e me leva para a outra
roda.
– Olá meninos. – Eles a felicitam. Pelo menos três ali lançam os olhinhos
brilhando na direção dela. Certamente nutrem uma paixonite.
– Bia, este é Derick, ele não vale nada. – Eles riem. – Aquele engomadinho
ali é o Sam, ele tem cara de bonzinho, mas é ligeiro como um foguete. Esse
Don Juan aqui. – Aponta para o menino que está no meio da roda, um moreno
muito bonito. – É o Tales, por incrível que pareça é o único em quem você
pode confiar, um pouco... e por último, mas não menos importante, Adrian, se
Derick não vale nada, Adrian está no negativo. – Todos riem mais um pouco. –
Meu irmãozinho você já conhece e já tem as próprias conclusões. Agora que já
foi devidamente avisada sobre os tubarões que tentarão dar o bote, vamos
voltar para a roda das meninas. – E me puxa para o outro lado novamente, me
deixando meio tonta com todo aquele leva e traz.
Ela está elétrica e, se captei certo, parte dessa energia toda que a move tem
como objetivo afastar de sua mente a cena de cólera que Max protagonizou ao
vê-la no vestido da festa.
– Amiga, com qual deles você já deu uns pegas? – pergunto antes de
chegarmos ao destino.
– Com todos.
– Ah?
– Sim, todos ali eu já beijei, e nada. E eles não são de se jogar fora, não é?
– Não mesmo.
– Para você ver. Devo ter nascido com alguma peça quebrada ou faltando.
Ou meu radar veio configurado apenas no modo ruivo.
– Então, para tirar a prova, o jeito é você pegar um ruivo nessa boate.
– É, parece um bom plano. – Voltamos aos risos para perto da panelinha
feminina.
Interagimos por alguns minutos e a maioria das garotas tenta criar algum
tipo de aproximação comigo e me inclui em suas conversas. Com exceção de
uma delas, que apesar de não me tratar mal nem nada do tipo, sinto que não
desgruda os olhos da minha pessoa, me analisando de cima a baixo e me
causando certo desconforto. Como não lembro quem é quem, não sei dizer o
nome, mas que ela não está gostando de me ter no grupo, não está.
– Meninas, o que acham de descermos para a pista? – As garotas
comemoram na hora e começamos a andar em direção a saída, Lian nos
intercepta.
– Já vão descer?
– Sim, por quê? – pergunta Hazel.
– Não querem ficar mais um pouco por aqui? – Dou uma sondada na roda
da família, e Max está num canto, emburrado, com uma bebida na mão.
– O que tá pegando Lian? Se é Max enchendo o saco por causa do meu
vestido, manda ele se catar. Viemos aqui para dançar e o que mais der vontade,
então é o que vamos fazer. Ele que lide com os seus chiliques de “pai” sem
sentido.
– Ok, não está mais aqui quem falou. Divirtam-se!
Hazel está linda!
Num vestido prata, que contrasta perfeitamente com os seus cabelos escuros
e olhos azuis. O vestido é super colado, costas abertas, a frente tem bordados
também prata em volta do busto meia taça, com uma fenda em forma de
losango, da altura dos seios até o umbigo, coberta por uma renda transparente.
A saia termina um pouco acima do meio das coxas. Bem curto.
Chegamos à pista e está lotada, pegando fogo.
Corpos suados que dançam, se tocam e sensualizam ao extremo.
Nunca estive num lugar destes, não imaginava que era tudo tão... explícito.
Não tem como não se afetar. Como não se excitar.
Se não fosse o aperto em meu peito pela iminente separação de Oliver e de
todas as novas pessoas da minha vida, este seria um dia feliz para mim.
Eu não faço ideia do modo certo de dançar em uma balada assim, então
apenas tento me mexer ao ritmo da música e de forma mais discreta. As
músicas são todas muito sensuais, incentivando o contato físico entre a horda
de hormônios enlouquecidos que se agitam por ali.
Mesmo não sendo possível enxergar nitidamente o entorno, sinto vários
olhares sobre mim. Sobre nós. Logo um grupo de rapazes se aproxima da nossa
roda. Parecem bonitos, apesar da pouca iluminação e dos flashes prateados
que piscam alucinantes não permitirem identificar muita coisa com nitidez.
As meninas se animam.
Hazel começa a se aproximar de um loiro alto, pelo menos quando a luz
bate, parece ser loiro, e a dançar colada a ele. Não tenho vontade de me
aproximar de nenhum deles, por isso não devolvo a encarada que alguns
dirigem especificamente a mim.
Apesar de estar ali, dançando, minha cabeça e meu coração estão em outro
lugar, ainda torcendo que um certo rockstar reconsidere.
E com este pensamento em mente, de repente, eu paro.
A música The Hills, da The Weeknd toca numa batida hiper sensual, mas
não tenho coragem de mexer um músculo sequer.
Devo estar alucinando, porque aquele cheiro de homem e menta
afrodisíaco, aquele que conheço tão bem, está ali, em torno de mim. Invadindo
os meus sentidos, ativando meus radares.
Um calor provocante aquece minhas costas.
Sugerindo que há alguém, muito, muito próximo, observando, avaliando.
Meus batimentos aceleram.
O calor se torna mais intenso, mais presente, aproxima-se mais e mais, se
apossando do meu espaço. Até grudar totalmente em mim.
Sinto outra respiração por entre os fios dos meus cabelos e, lentamente, uma
mão desliza pelo meu abdômen, queimando, arrepiando cada pelo do meu
corpo.
Dedos sobem acariciando meu braço, passado suavemente pelo meu ombro,
me fazendo tremer em ansiedade, chegando ao meu pescoço, onde afastam os
meus cabelos, deixando-o exposto.
Um nariz percorre por ali, inalando meu cheiro, chegando atrás da minha
orelha, então retorna.
Fecho os olhos e peço mentalmente para que não seja uma ilusão.
Aquela mão no abdômen me aperta contra o corpo que está atrás, me
deixando ciente de cada músculo, duro, definido, que há lá. Então eu ouço, a
voz que mais amo no mundo, bem coladinha ao meu ouvido.
– Tão Linda! Tão Sexy! – Eu nem respiro, será um sonho?
Se eu me mexer pode sumir? Desaparecer?
Ele começa a nos embalar ao ritmo da música, me levando junto, grudando
sua virilha na minha bunda e me deixando sentir todo aquele volume que só
senti uma vez.
O desejo esmagador, aquele que sentimos eclodir entre nós naquele dia no
trapiche está ali, tomando conta de tudo à nossa volta.
Seus lábios, seu hálito, sua respiração, ateiam fogo no que já está fervendo,
distribui beijos, e mordidinhas pelo meu pescoço e ombros, quente, erótico,
tentador.
As duas mãos estão no meu ventre, uma continua me pressionando contra o
seu corpo e me embalando, a outra invade parcialmente a abertura frontal do
meu vestido, e dedos sobem, devagar, até a base dos meus seios, depois
retornam na mesma lentidão, até o elástico da minha calcinha.
O ritmo da música esquenta, ficando mais sensual ainda. E a cadência da
paixão entre nós acompanha.
Sinto o calor dos seus lábios agora em minha bochecha, fazendo com que eu
incline a minha cabeça um pouco para trás, dando mais acesso a ele.
Sua mão segue na provocação dentro do meu vestido, no sobe e desce
angustiante, sem, em nenhuma das extremidades, avançar para onde eu quero e
preciso.
Seu sexo me pressiona por trás, irradiando através das roupas o seu calor
para o meu, que arde, pulsa por ele. Estou ensopada.
Só sei que em algum momento eu vou explodir ou derreter, não tem como
escapar de uma coisa ou outra.
– Está preparada para mim, Beatriz? – pergunta sexy e rouco em meu
ouvido, me apertando ainda mais contra si. – Porque quando eu a beijar, não
haverá mais volta.
Preparada para ele? Estou?
Tem como estar?
Ah... mesmo que eu não faça ideia do que isso signifique exatamente...
dessa raia eu não corro nem morta.
– Responda anjo. – Tento achar minha voz no meio daquilo tudo e ter o seu
nariz deslizando pelo meu pescoço dificulta bastante as coisas.
– É tudo que eu mais quero, que não tenha mais volta, que você aqui, assim,
comigo, não seja um sonho. – Minha voz sai embargada de tesão.
Sem perder o ritmo, ele me vira de frente para si.
Nossos olhares se encontram pela primeira vez depois de dias e, mesmo
sob a parca luminosidade, o impacto daquele encontro não poderia ser mais
arrebatador. Somos um amontoado de desejo reprimido e necessitado. E
saudade, muita saudade.
– Você veio – sussurro olhando em seus olhos.
Uma mão sua sobe pelas minhas costas nuas, a outra se emaranha pelos
meus cabelos, fixando-se atrás do meu pescoço. Encosta a testa na minha e não
diz nada, apenas sustenta o meu olhar.
Crio coragem e subo os meus braços enlaçando o seu pescoço. Acariciando
sua nuca, ele fecha os olhos por uns instantes, sentindo o carinho e quando os
abre estão naquele modo, felino, predador, selvagem.
Num rompante, toma minha boca na sua.
Não é delicado, não é calmo, é um beijo profundo, voraz e esfomeado. Que
não pede, exige!
Eu sempre achei que nesse momento veria fogos de artifício, mas nada me
preparou para o tipo de ligação que aquele contato me fez sentir.
Tudo ao redor some, música, pessoas, só aquela troca permanece.
Uma onda de choque me toma inteira, transpassando o meu corpo de cima
abaixo.
Um sentimento poderoso, indescritível, palpita em meu peito, comprimindo-
o. Não compreendo o que significa e nem de onde veio, mas se eu precisasse
escolher uma única palavra para classificá-lo, seria esta: reencontro.
Eu o beijo na mesma intensidade que ele me beija, como se já estivesse
acostumada a fazer aquilo, com ele, há muito tempo.
Seu gosto, sua língua procurando pela minha, me invadindo mais e mais
forte, junto com a sensação de que não é o bastante, ainda não é suficiente.
Precisamos de mais.
E ficamos ali, no meio da pista, alucinados e aprisionados em alguma fenda
no tempo e no espaço, procurando tomar tudo um do outro, tentando fundir
nossas almas, nossos corpos através daquele beijo.
Querendo que aquela dança envolvente de toque, calor, lábios, línguas,
gosto e saliva, dure para sempre.
Nunca pensei que um beijo pudesse dizer tantas coisas.
Mas ele diz.
Diz que se eu tinha alguma dúvida de que isso é certo, agora eu não tenho
mais. Diz que eu estou exatamente onde preciso estar. Diz que não existe mais
ninguém para mim além dele.
Nada poderá superar a energia e a intensidade dessa química louca que nos
prende.
Sua boca vai acalmando o ritmo, simulando com a minha uma dança de
acasalamento, lenta e deliciosa. Seus lábios hora puxam o meu lábio superior
entre os seus, ora o inferior e depois voltam para o calor do encontro de
nossas línguas.
Que delícia!
Quero morrer beijando.
Morrer beijando Oliver Rain.
Ele desacelera cada vez mais e voltamos a tomar ciência de nossos corpos.
As respirações ofegantes, os batimentos frenéticos, minhas mãos engalfinhadas
entre os fios de seus cabelos, ele pressionando o corpo no meu, seu membro
duro feito pedra contra a minha barriga.
Seus lábios descem pelo meu maxilar, beijando, chupando, mordiscando
meu queixo, depois baixam para o meu pescoço, deixando um rastro de calor,
umidade e erotismo por onde passam. Jogo minha cabeça para trás, lhe dando
acesso, lhe convidado a me dar mais de sua boca deslizando pela minha pele.
Ele trilha o caminho inverso e sobe pelo meu pescoço até a minha orelha,
mordisca o lóbulo e beija ali atrás, me fazendo estremecer. Marcha com os
lábios quentes pela minha bochecha e toma minha boca de novo, agora num
beijo calmo, lento, apaixonado. Então para e apoia a testa na minha, analisando
a minha reação.
– Alguém me disse que hoje você iria beijar na boca. E eu estou aqui para
deixar uma coisa muito clara, Beatriz. A única boca que você irá beijar é a
minha.
Passo a minha mão pelo seu rosto, depois pelos seus lábios inchados pelos
nossos beijos. Querendo garantir que aquilo é mesmo real, que ele está ali.
Roço minha boca na sua suavemente.
– A sua boca é a única que eu já quis beijar. Nem acredito que você veio,
que está mesmo aqui... Estava com tantas saudades. Com tanto medo. – Tenho
que praticamente colar minha boca em seu ouvido para que ele me ouça acima
do som alto.
– Ah, anjo... – Seus braços me comprimem num abraço apertado. – Essa
semana foi o inferno para mim. Eu lutei demais, lutei muito para não estar aqui
agora. Mas pensar em você com...
– Shhh, – coloco meus dedos sobre os seus lábios impedindo que fale – não
Oliver, não. Jamais iria acontecer. Sabe por quê?
– Não sei anjo, me fale.
– Porque não é a boca dele que eu quero na minha. Não é o cheiro dele que
faz os meus pelos arrepiarem. Não é o calor dele que eu desejo sentir na palma
da minha mão. Não são os olhos dele que povoam os meus sonhos
E então a boca dele exige a minha novamente e nos perdemos no sabor e no
calor um do outro por vários minutos. Não sei onde estão Hazel e as meninas,
não vi como nos afastamos delas, mas nada mais importa de qualquer forma, só
ele, eu e o nosso beijo.
– Bia... – tenta recobrar o fôlego, assim como eu – queria poder ficar aqui,
no meio dessa boate te beijando a noite toda, mas estou me arriscando demais.
Tirei o disfarce porque não queria te beijar com aquela barba falsa e estou me
fiando na pouca iluminação e nos três seguranças que estão ao nosso entorno,
mas se alguém me reconhecer, eles não conseguirão segurar toda essa multidão
e poderemos nos machucar feio. Precisamos ir para a área vip. Sinto muito.
– Mas como... – digo confusa em como aquilo vai funcionar.
– Olhe para mim, querida. – Eu olho. Ele projeta a voz para se fazer ouvir
sem ter que encostar a boca na minha orelha.
– Temos muitas coisas para conversar, esclarecer, mas eu já adianto que
não pretendo esconder que estamos juntos. Nossa relação não será um segredo,
não há motivo algum para isso. Contudo, eu preciso conversar com Max
sozinho e tem Kellan... então talvez hoje, aqui, não seja o melhor momento
para revelar a todos.
– Sim, eu também tenho muitas coisas para falar e... bem, não posso fazer
isso na frente de Kellan, Oliver. Não hoje, ao menos.
– Então a gente vai para lá e tentaremos não dar muita bandeira, tudo bem?
Podemos ficar próximos, conversar, mas sem contato. Depois no hotel, daqui a
pouco – ele me beija – você não me escapa. – Ai senhor, o hotel...
Ainda bem que não há iluminação suficiente para que ele veja a
vermelhidão em meu rosto agora.
– Agora eu preciso dizer outra coisa antes de irmos, – me dá uma bela
olhada de cima a baixo – esse vestido Beatriz, isto aqui... Porra! Fiquei louco
só de te olhar enquanto dançava. – Encosta a boca no meu ouvido. – Você está
tão, tão gostosa, pequena. Estou aqui lutando para baixar um pouco a minha
ereção e não escandalizar Helen e minha avó lá em cima. Mas caralho, com
você vestida assim... Impossível! E tem Kellan, e aqueles outros moleques que
ficarão babando em você, e não respondo por mim se algum deles falar ou
fizer qualquer coisa na minha frente e eu...
– Calma, já entendi... – digo rindo e deslizando minha mão pelo seu
pescoço. – O que você quer que eu faça?
– Coloca o meu blazer?
– Oliver! Você quer que eu fique lá em cima, com o calor que está aqui
dentro, andando com o seu blazer enorme, que certamente vai passar do meu
joelho e cobrir até as minhas mãos?
– Sim – responde me erguendo as sobrancelhas como se aquele fosse o
pedido mais natural do mundo. Olho para ele sem acreditar.
– E que desculpa eu vou dar quando me perguntarem o motivo disso?
Porque frio não é, não vai colar.
– Ninguém tem nada a ver com isso.
– Justamente. Deixe que olhem, eu só vou me importar com um olhar, o seu.
É só esse que me interessa.
– Sem chance. Você pode não usar o meu blazer, mas então esteja ciente de
que se algum engraçadinho olhar além do aceitável ou falar qualquer gracinha
na minha frente, infelizmente o seu queridinho vai saber hoje a quem você
pertence. E Max que se exploda. – Reviro os olhos, mas no fundo acho graça e
me delicio com os seus ciúmes.
É bom saber que não serei a única a sofrer deste mal.
Porque, Deus, eu vou sofrer!
– Tudo bem, vamos arriscar então. – Ele enfia o nariz nos meus cabelos e
inspira fundo. Eu aproveito e afundo o nariz no seu pescoço também. E vou
dando beijinhos ali. Nem acredito que agora eu posso! Ele beija minha boca
rapidamente outra vez.
– Vamos. – Pega a minha mão e faz sinal aos seguranças. Se ele não tivesse
mencionado eu nem perceberia a presença deles.
Um deles segue a nossa frente e dois atrás. E assim vamos atravessando, de
cabeça baixa, o mar de gente até a entrada da área vip. Subimos a escada ainda
de mãos dadas, mas ao entrar ele solta minha mão e andamos mais afastados
um pouco. Lian é o primeiro a nos notar e abre um sorriso enorme. Devolvo o
sorriso, mas Oliver se mantém impassível.
– Vejam se aquele ditado, quem é vivo sempre aparece, não é verdade
afinal – diz, vindo ao nosso encontro. Dá uma batida de mãos com Oliver e
depois passa os braços em volta dos meus ombros. – Eu não disse que ele
vinha – sussurra no meu ouvido.
– Lian, controle-se – diz Oliver, olhando torto para ele.
– Ah Oliver, eu já te disse que deveria ter feito aquela aposta?
– Oliver! Que bom que veio. – Laura anuncia, fazendo todos prestarem
atenção nele, inclusive Kellan, que está na rodinha com os outros garotos. Ele
automaticamente lança o olhar sobre mim e novamente agradeço a falta de
iluminação por não me entregar.
– Oi vó. – A beija no rosto e rapidamente cumprimenta todos ali. Max
continua na ponta, amuado.
– Bia, você subiu sozinha? Cadê Hazel? – pergunta Max.
– Pois é, acabei me perdendo delas quando fui ao banheiro, então decidi
voltar para cá, assim que ela subir nos reencontramos. Encontrei com Oliver
na subida da escada – minto alto para que Kellan ouça também, e Oliver me
lança um sorrisinho maroto.
Deus, ele está tão lindo! Agora aqui, com um tantinho a mais de luz, não
tanta gente em volta e sem nossos corpos grudados, consigo ver. Está com uma
calça jeans escura, uma camisa verde escura e o blazer preto. Será que a
camisa foi para combinar com o meu vestido? Que vontade de ir lá atacar
aquela boca deliciosa de novo!
– O que fez a beldade mudar de ideia? – pergunta Max de um jeito estranho.
Acho que bebeu demais.
– A segurança me garantiu que se não vazou nada até agora, a noite vai
seguir tranquila, então resolvi vir para abraçar Hazel.
Sem eu esperar, um dos garotos, amigos de Kellan, se aproxima de mim.
Tales, acho, o moreno bonito. Ele coloca a mão nas minhas costas e
imediatamente Oliver o encara. Tento me afastar do toque.
– Bia, né? – pergunta ele.
– Sim – respondo, pedindo silenciosamente que Oliver não dê na vista.
– Nós vamos descer até a pista. Quer nos acompanhar? Posso ajudá-la a
encontrar Hazel. – Vejo pelo canto do olho Oliver se aproximando. Ouço Lian
rindo ao fundo e murmurando um "tá tão fodido...", encostado no bar.
– Garoto, qual é o seu nome mesmo?
– Tales.
– Tales, pode descer com os seus amiguinhos. Eu já prometi a Beatriz que
caso Hazel demore a aparecer, um dos nossos seguranças vai ajudá-la a achar
a amiga – diz ele, fuzilando o garoto com os olhos.
– Eu sei, mas...
– Tales, – me atravesso antes que Oliver nos entregue de vez – eu estou um
pouco cansada. Vou aproveitar e descansar. Se Hazel demorar, como Oliver
falou, o segurança me acompanha até vocês. Obrigada.
– Ok. – Ele parece desanimado, e por fim, retira-se.
– Eu vou descer também. – Kellan anuncia.
– Você não pode. – Oliver mina seus planos.
– Me impeça! – desafia Kellan, irritado.
– Kellan, você pode, mas disfarce-se e muito bem. E leve três seguranças
com você. Vá – intervém Lian, percebendo que a coisa poderia feder.
– Deixe-o ir, caralho! Ele pode não ter certeza, mas já sacou. Faz mal a ele
ter que ficar próximo – sussurra Lian para que só nós escutemos.
– Tudo bem. E o que deu em Max?
– Ah velho... tá assim emburrado e bebendo porque ninguém o apoiou
quando disse a Hazel que ela deveria trocar de roupa. E porque ninguém o
apoiou também quando sugeriu que o segurança intervisse caso alguém se
aproximasse dela na pista.
– Eu o entendo. – Oliver suspira e me olha.
– É, o amor é lindo! – caçoa o guitarrista.
Estar ali em cima é uma coisa esquisita. É vidro por todos os lados. Você
literalmente pisa na cabeça das pessoas lá embaixo. Para qualquer lado que
olhe há multidão, é como se flutuássemos sobre a galera. Mas é tanta gente que
não é possível reconhecer ninguém.
– Bia, finalmente, você tá aí! Nossa, estava te proc... – É Hazel que adentra
o ambiente falando e de mãos dadas com o loiro que dançou com dela lá
embaixo. Ela para quando vê Oliver. Todos os olhares estão sobre ela e o tal
rapaz.
Hazel abre um sorriso enorme para mim. Estou tão feliz que não consigo
não retribuir. Larga a mão do cara por uns instantes e vem me abraçar. O
homem está em choque. Olha para Oliver, depois para Lian, depois para Max e
então retorna ao primeiro.
– E aí? Beijou na boca? – pergunta ela, em meu ouvido.
– Nossa! Muito. Mas pelo visto você também não estava só dançando lá
embaixo, não é?
– Não mesmo – diz rindo. Oliver a puxa para si.
– Parabéns princesa! – diz dando-lhe um beijo na bochecha. – Ela dá um
soquinho no peito dele.
– Vontade de te esganar, Estrela. Precisava deixar a garota nesse estresse
todo? – Ele ri.
– Estresse é o que você está fazendo com o nosso amigo ali. Sério Hazel,
vocês não poderiam ter escolhido algo menos provocante? Nunca mais deixo
Beatriz ir às compras com você.
– Isso veremos – retruca ela e Max encara fixo o loiro atrás de Hazel.
– Hazel, quem é esse cara? – pergunta desdenhando do pobre homem, como
se ele não estivesse ali.
– Ah, desculpe. – Ela diz se virando para o loiro e pegando novamente a
sua mão. – Eric, deixe-me apresentá-los a você, este é Oliver Rain, – o cara
estende a mão, em êxtase – esta é Beatriz, namo... Aí! – Dou um pisão em seu
pé e arregalo os olhos para ela, antes que fale bobagem e mais do que deve.
– Este aqui é Lian Mace – diz, agora se aproximando de Lian. Oliver
aproveita a movimentação para se aproximar de mim, pega discretamente a
minha mão e me leva até o canto onde Max está sentando numa banqueta de
bar. Em frente a ele, rente à parede de vidro, há um sofá comprido, com mesas
à frente, estilo lanchonete, e do outro lado da mesa, há banquetas.
– Sente-se no sofá. – Faço o que Oliver sugere e ele vai até a parte do bar
onde Lian está encostado falando com o amigo de Hazel. Fala algo no ouvido
de Lian e depois pede alguma coisa a atendente. Lian vem e se senta na
banqueta à minha frente enquanto Hazel se aproxima de Max carregando o
loiro pela mão.
– Max, este é Eric. Eric, Max Connor. – O rapaz estende a mão para Max,
que não retribui e o analisa por um bom tempo com ar intimidador, deixando o
loiro com a mão estendida ao léu. Até que finalmente o cumprimenta. Oliver
volta com duas bebidas e senta-se ao meu lado no sofá.
– É um coquetel sem álcool.
– Eu queria espumante – respondo lhe dando um sorriso.
– Por hora, preciso de você bem sóbria. Mas quem sabe mais tarde eu não
realize os seus desejos – sussurra no meu ouvido, roçando discretamente atrás
da orelha e me fazendo arrepiar.
Estende a mão por baixo da mesa, pousando-a em minha coxa, fazendo
círculos e carinho com a ponta dos dedos por ali. O calor instantâneo vem em
duas direções, sobe pelas minhas pernas e desce pela minha espinha. Se
concentrando num único ponto, bem no meio das minhas pernas.
– Você sabe que não pode trazer pessoas estranhas para cá, não é? E se o
seu amigo resolve contar que estamos aqui? Todo o esquema que armamos vai
pelo ralo – ralha Max em tom claramente alterado, atraindo a atenção de todos
para si. Mesmo na baixa iluminação, percebo o quanto Hazel fica
desconcertada.
– Max, ele falou com Peter lá embaixo e assinou tudo que tinha que assinar.
Não se preocupe. Não sou irresponsável.
– Pois não é o que parece. Começando por essa pouca vergonha que você
está usando.
– Max! – berra Johnathan, lá do outro lado do salão. – Chega! Ela é minha
filha e eu autorizei. Fim de papo. – O clima fica tenso.
Max larga o copo de qualquer jeito na bancada do bar, se levanta e vai
embora.
– Hazel, Eric, sentem-se aqui conosco – convida Lian, tentando amenizar o
mal estar. Eles se sentam ao lado dele nas banquetas.
Oliver continua brincando com os dedos na minha coxa, agora avançando
para dentro do limite do vestido, me deixando cada vez mais em agonia.
Precisando de alívio, fecho bem as minhas pernas, contraio os músculos, mas
nada refresca aquela tortura. Não sei quanto tempo ainda aguento.
– Hazel, não fique assim princesa – Lian a abraça. – Max bebeu demais,
está alterado.
– Ele não tinha o direito, Lian. – Ela nitidamente tenta conter o choro. Eric,
percebendo, vira o rosto dela para si, seca as suas lágrimas e lhe puxa para um
baita beijo ali, na frente de todo mundo. Uau. Ele é corajoso.
– É, ainda bem que Max saiu – resmunga Oliver.
– Daqui eu consigo ver o rosto do meu tio, sem cor. Acho que está quase
arrependido de ter dito para Max parar – completa Lian e nós três rimos, mas
eu logo paro, porque Oliver agora levou a mão até quase o limite da minha
calcinha, me obrigando a abrir um pouco as pernas ali embaixo da mesa para
lhe dar passagem.
Minha respiração fica difícil. Fecho os olhos momentaneamente pedindo
forças para resistir sem me entregar.
Ele, por sua vez, parece relaxado e bem à vontade na interação com Lian
enquanto me tortura com aquele ritual agoniante, afastando a mão até quase o
meu joelho e voltando até o limite da calcinha por entre as minhas pernas.
Por que ele não segue um pouquinho mais para cima?
Está ficando insuportável.
Sinto gotas de suor na minha testa, me remexo na cadeira para ver se alivia,
mas nem apertar uma perna na outra consigo mais, pois a mão dele está bem
ali. Impedindo.
– Vamos voltar para o hotel – anuncia Alicia lá do sofá onde os mais velhos
estavam sentados.
Eu cheguei no meu limite em relação a provocação de Oliver. Levo a minha
mão até a dele em minha coxa e obrigo-o a mantê-la parada. Ele me olha e
lança um sorriso de lado, safado, que eu retribuo mordendo o lábio inferior.
– Porra, não faça. – diz e puxa meu lábio com o dedo, o soltando de meus
dentes. – Meu pau vai estourar o zíper da minha calça, Beatriz. – Céus! Passo
uma mão pelo meu pescoço para ver se alivio o calor, seu olhar crepita de
desejo sobre mim. Estou em chamas.
– Tudo bem, tia – responde Lian a Alicia, nos trazendo a realidade. Hazel e
Eric continuam aos beijos. Creio que Alicia queira tirar o marido dali rápido.
Assim que Oliver confirma que todos saíram, ficando só Lian e o novo
casal, ele me puxa para o seu colo, me fazendo sentar com as pernas abertas
sobre as suas. E ataca a minha boca ao mesmo tempo, num beijo exigente e
arrebatador. Me pega pela cintura e me aperta contra o seu membro, duro. Bem
naquele ponto onde eu tanto preciso de alívio. No instinto, começo a me mexer
em seu colo, me esfregando nele timidamente, enquanto devoro a sua boca com
a mesma fome.
– É, parece que sobrei. Porra... – Ouço Lian reclamar e se afastar.
– Lian, se o fedelho subir, avise – pede Oliver, afastando nossas bocas
apenas pelo tempo de proferir aquelas palavras e voltando a me beijar.
Nossa fome está chegando a um nível preocupante. O seu pênis duro pulsa
sob mim e o meu roçar nele já não está tão tímido assim.
– Meu Deus, pequena, que loucura... eu quero tanto você...
Eu aproveito aquele breve instante de desabafo para descer minha boca
pelo seu maxilar, roçando meu rosto em sua barba rente e seguindo por seu
pescoço, lambendo, sentindo seu gosto na ponta da minha língua.
Uma mistura de Oliver, suor e menta.
Delicioso!
Tudo isso enquanto meus quadris seguem naquela busca, que eu não
conseguiria mais parar nem que quisesse.
Não sabia que o tesão, a necessidade de alguém, poderia chegar a esse
nível. Por isso o sexo fascina tanto!
Oliver afasta o meu cabelo para o lado, para ter acesso ao meu pescoço
também e distribui beijos por ali, até chegar ao meu ouvido.
– Linda! Gostosa! Minha!
– Sim, sua – confirmo num murmúrio. Ele geme e gruda nossos lábios
novamente no mesmo instante.
Quando percebe que meu vai e vem em seu colo está ficando frenético
demais, coloca as mãos dos dois lados dos meus quadris me fazendo parar.
Eu respiro fundo várias vezes, atordoada, e quase choro.
Não dá para parar agora. Não dá!
– Oliver... não... – suplico e apoio a testa em seu ombro, ofegante.
– Calma, meu bem, respira. – Ele diz com dificuldade. Ergue meu rosto,
encostando nossas testas. – Vou dar o que tanto precisa mais tarde anjo, eu
prometo, mas não deixarei Lian ver minha menina gozar aqui, nem fodendo.
Acalme-se, por favor. E estou tão duro, tão perto, que se você continuar com
isso, vou esporrar nas calças e fazer uma lambança que será difícil de
disfarçar depois. – Aff, ele não pode dizer essas coisas comigo naquele
estado.
– Então me leva embora – peço ainda arfante e ele ri.
– Eu vou, mas primeiro você precisa me dar alguns minutos para melhorar a
minha situação. Sente-se aqui ao meu lado, venha. – Com muito custo e
frustração, saio do seu colo, sento-me ao seu lado e ele me abraça. Encosto a
cabeça em seu ombro.
– Cadê Hazel?
– Desceram – responde um Lian, claramente entediado em estar ali. – Para
mim já deu pombinhos, vou voltar para o hotel e ver o que consigo salvar da
minha noite. Vão ficar?
– Dez minutos Lian. Dez minutos – fala Oliver e Lian cai na gargalhada.
– Cara, tem uma galera subindo. Acho que não vai ser agora que
conseguirei sair – avisa.
– Vou ao banheiro – digo dando um último selinho e me afastando de Oliver.
Entro no reservado e ouço várias vozes e movimentação do lado de fora.
Pelo visto tanto as meninas quanto os garotos voltaram. Faço o que tenho que
fazer, lavo as mãos, passo um pouco da mão molhada pelo meu pescoço, numa
vã tentativa de baixar o fogo e volto para o salão. Mas não consigo chegar ao
tão esperado destino, Kellan me breca.
– A diversão aqui em cima parece ótima, não? Não voltou mais para a
pista, por quê? – Ele está bêbado.
Muito bêbado.
O cheiro da bebida saindo de sua boca quase me tonteia. Corro meus olhos
pelo local enquanto penso como lidar com ele e não gosto do que vejo.
Oliver e Lian estão encostados no bar e cercados pelo bando de meninas.
Os garotos também estão por ali. Oliver, porém, tem os olhos grudados em
mim, claramente incomodado com a interceptação de Kellan. Sustento o seu
olhar, deixando claro que me incomoda vê-lo lá com todas aquelas garotas
babando em cima.
Uma delas inclusive está com a mão em seu braço...
Sophia? Grace? Cloe?
Não sei e não me interessa. Mas ela que tire as mãos dele!
– Bia... – Kellan me lembra de sua presença.
– Ah, Hazel estava aqui até pouco tempo atrás, por isso fiquei.
– E quando ela desceu, por que não foi junto? – A garota agora está subindo
a mão pelo seu braço. Ele continua me olhando, o maxilar cerrado.
Faça ela parar, Oliver!
– Porque ela estava acompanhada, Kellan. Não quero segurar vela para
ninguém. – Kellan percebe a irritação em minha voz e em quem está a minha
atenção. Ele se aproxima de mim, me enlaça pela cintura, me mantendo presa
bem junto a si. Oliver estreita ainda mais o olhar.
– Parece que Oliver e Carol vão se acertar esta noite – fala perto do meu
ouvido.
Ah, não vão. Não vão mesmo!
No que termino de pensar já vejo Oliver vindo em nossa direção como um
foguete. Ele para ao meu lado, segura o meu braço e me puxa contra o seu
corpo, me arrancando do abraço do garoto.
– Pessoal, peço licença, mas preciso levar a minha garota embora – anuncia
e pronto! Se Kellan tinha dúvidas, não tem mais.
Oliver retira o blazer e coloca-o sobre os meus ombros enquanto me arrasta
para a saída.
Antes de sair, dou uma boa olhada no bando de harpias que continuam perto
do bar. Os queixos estão caídos.
Chupa Carol!
Quando me tornei tão vingativa?
Capítulo 12

“Teus lábios são labirintos


Que atraem os meus instintos mais sacanas
O teu olhar sempre em mim, sempre me engana
Eu entro sempre na tua dança de cigana”
(Refrão de Bolero – Engenheiros do Hawaii)

Bia

A ntes de pisarmos na escada da área vip, Oliver coloca a


barba falsa, óculos de grau, e o boné. Descemos
cercados por quatro seguranças que nos acompanham até
a saída, onde o carro já nos aguarda. Entramos e ele solta a minha mão, tira o
disfarce, joga a cabeça para trás no banco e fecha os olhos. Algo não está bem.
E até imagino o que seja, porque sinto o mesmo...
– O que foi, qual o problema? – Ele abre os olhos e me encara. Aperta um
botão e um vidro preto sobe nos isolando do motorista e do segurança.
– Por que não se afastou dele, Beatriz? – Sim, eu estava certa na minha
análise. Olho bem para ele e devolvo:
– Por que permitiu que Carol te tocasse, Oliver?
– O que? Quem? Que Carol?
– A amiga de Hazel que estava lá, se esfregando em você.
– Tá maluca? Ninguém se esfregou em mim.
– Se esfregou sim! Ela estava com a mão no seu braço. E a mão dela não
estava parada.
– Bom Beatriz, se ela fez isso eu nem percebi, porque estava concentrado
em uma outra cena rolando bem na minha frente.
– Kellan falou comigo, eu não poderia simplesmente ignorá-lo. E quanto ao
resto, posso te dar a mesma resposta. Minha atenção estava na mão de uma
outra garota alisando o braço do meu... – Paro.
Puta-merda!
Quase cometo uma baita gafe.
Quando percebo o que estava na ponta da minha língua, engulo em seco.
Oliver abre um sorriso de orelha a orelha.
– Diga!
– O que?
– O que você estava prestes a dizer. – O calorão sobe.
– Esquece.
– Vamos, eu quero ouvir. Diga!
– Oliver...
– Diga, anjo. – Crio coragem, respiro fundo e solto de uma vez.
– Do meu namorado. – O sorriso dele se amplia e no instante seguinte sua
boca está na minha, num beijo terno, carinhoso, cuidadoso.
O beijo vai se aprofundando cada vez mais e logo estamos naquele estado
de fome e sede novamente, sôfregos e sem ar quando paramos.
– Eu achei que nunca fosse querer ouvir isso, sabia? – Ele desliza o nariz
pelo meu. – Na verdade, eu tinha certeza de que jamais aceitaria este título na
vida. – Sorrio contra seus lábios.
– Hum... Sua reação já me diz muito, mas não vou perder a chance de
escutá-lo admitir. – Agora foi a vez dele de sorrir com a boca quase colada à
minha. – Vamos, me conte. Como foi ouvir? Qual a sensação? – Ele alisa meu
rosto, passa os dedos pelos meus lábios, encosta a testa na minha. Seu olhar
sobre mim agora me alerta de que essa confissão é algo muito sério para ele.
Um divisor de águas. Meu coração galopa no peito.
– Eu gostei. Muito. Namorada. – Fecho os meus olhos, absorvendo aquilo.
Acredite, é bastante para absorver.
E então, sem eu esperar, vem a cereja do bolo.
Não, só a cereja não, a cobertura inteira, com ganache de chocolate, calda
de caramelo e tudo que se tem direito.
Ele começa a cantar So Fine do Guns’n’Roses, em um tom lento, bem lento.
E a sua voz sexy e rouca naquela música...hum... remete a sonhos e
promessas... muitas promessas...

Como ela poderia parecer tão bem?


Como ela poderia ser minha?
Como ela poderia ser tão legal?
Eu fui um tolo, tantas vezes

É a história de um homem
Que trabalha duro o quanto pode
Apenas para permanecer de pé
Mas o livro sempre queima
A medida que a história avança
E deixa um homem quebrado

Se você pudesse viver minha vida


Veria a diferença que você faz para mim
Para mim!

Eu olhava para cima à noite


E tudo que eu via era escuridão
Agora eu vejo bem as estrelas
Eu só quero alcançá-las e pegar uma para você

Assim que ele canta o último verso, sou eu quem procura pela sua boca.
Nos beijamos por longos minutos, até que ele nos força a separar nossos lábios
outra vez.
– Anjo, já chegamos.
– Ah? Mesmo?
– Sim. Faz um bom tempo. – Ele sorri, sem-vergonha, enquanto recoloca o
disfarce. – Vamos, venha. – Me ajuda a sair do carro.
Alguém da segurança lhe entrega uma chave e seguimos direto para o
elevador privativo. Ele aperta o número do andar. O meu andar.
– Seu quarto é no mesmo andar do meu?
– É, parece. Mas eu pretendo mesmo é ficar no seu quarto – responde com
seriedade. E o efeito lança chamas toma o meu rosto. Oliver gargalha.
– O que foi? Nervosa?
– Muito. – E é verdade.
– É mesmo? Você não parecia nada nervosa se esfregando em mim na boate.
– Oliver!
– O que foi? – Me puxa pela cintura e diz no meu ouvido: – Eu adorei sentir
o calor da sua bocetinha rebolando no meu pau. – Leva a mão à minha coxa e
vai subindo por baixo do meu vestido até chegar ao meio das minhas pernas,
onde massageia por cima da calcinha, de leve, devagarinho, lá... aiiii...
– Agora eu vou dar o que ela tanto me pediu a noite toda. Chegamos! – Ele
simplesmente para. Como se não estivesse fazendo nada, e eu quase choro por
me ver livre da tortura provocante cedo demais.
As portas do elevador se abrem.
E agora?
Seja o que Deus quiser!
– Vou buscar minha mala no outro quarto. – Me deixa em frente à porta do
meu, encosta nossos lábios brevemente e segue até o quarto ao lado.
Sério?
Eu entro, tirando os saltos, com um sorriso que não quer abandonar o meu
rosto. Céus, estou nas nuvens. Isso está mesmo acontecendo? Será que se eu
dormir corro o risco de acordar e descobrir que foi tudo imaginação?
Ah pai, como eu queria que o senhor estivesse aqui para ver a minha cara
de felicidade!
Então eu caio na real.
Vai ser hoje? O que eu faço? Como ajo?
Ainda bem que eu me depilei...
Será que tomo um banho?
O que eu visto? Ou não visto?
E se eu não agradar?
Só que já não há tempo para pensar, que dirá agir.
Oliver está de volta e, como deixei a porta aberta, entra no quarto com a sua
mala.
Me sento na cama e fico admirando a paisagem.
Que paisagem! Ele é tão... tão...
Deus, não tem outra palavra para usar aqui além de TÃO... em tudo!
Será que dou conta?
Ele larga a mala ali, tira o Blazer, joga-o sobre uma cadeira e depois senta-
se ao meu lado na cama.
– O que foi, anjo? – questiona, colocando uma mexa do meu cabelo atrás da
orelha. – Você está tensa, Bia. Prefere que eu não fique aqui? Não vai
acontecer nada que você não queira, não precisa ficar assim.
– Eu quero que fique. Muito. Não quero ficar longe de você, por favor. Eu
só... sabe, nunca fiz isso e não sei bem como agir. – Ele me beija.
– Eu também nunca fiz isso. Nunca dividi um quarto com uma mulher. Nunca
fui um namorado. – Oliver pronuncia o seu novo título bem devagar,
saboreando a palavra e sorri levemente. Está gostando mesmo daquilo.
– Posso contar nos dedos as vezes que acordei junto de uma garota na
mesma cama, e ainda assim, a maioria foi por estar bêbado demais para sair
antes de cair no sono. – Dá um novo pequeno sorriso, agora culpado.
– Também vou descobrir muitas coisas nesta relação, assim como você.
Não precisa ficar com medo, pequena. Nós só iremos até onde você se sentir
confortável para ir. Pela primeira vez na vida, eu não tenho pressa. Quero
saborear cada momento, cada descoberta sua, junto com você.
– Ah Oliver... – Enlaço o pescoço dele e me aconchego ali. – Eu não estou
com medo. Longe disso. Estou ansiosa, receosa de não conseguir atender suas
expectativas. Um pouco insegura quanto à forma certa de me comportar, mas
jamais com medo. – Ergue o meu rosto para que eu o olhe.
– Aja naturalmente. Somos você e eu aqui, ok? Faça só o que tiver vontade,
fale tudo que quiser e precisar. Não há regras, Bia. Se preferir, deixe que eu
conduzo as coisas entre nós. E quanto as minhas expectativas, por Deus
Beatriz, eu fico duro só de te olhar. Enlouqueço de ciúmes se outro cara se
aproxima de você. Fiquei fora de mim por uma semana, por estar longe,
imaginando coisas... lutando contra o que quer que seja isso que existe entre
nós. Você me deu dois ultimatos no mesmo dia! Coisa que eu jamais admiti
receber de quem quer que fosse. Porra! – Ele passa a mão pelos cabelos.
– E você tem receio de não atender as minhas expectativas? Você destruiu
as convicções de uma vida em míseras semanas. Olha o poder que você tem
sobre mim! E esteja certa de que admitir isso para mim mesmo não foi nada
fácil. Muito mais difícil do que você possa imaginar. Ainda é. – Engulo em
seco. Mas mesmo ele colocando desta forma, eu preciso explorar melhor o
assunto...
– É isso que eu não entendo... acho que é aí que está a minha insegurança...
pode parecer ridículo e infantil, mas Oliver... eu nunca me relacionei com
ninguém, nem nunca sequer conversei sobre isso...
– O que te deixa insegura, anjo? Pode se abrir... – Respiro fundo e conto.
– Não ria de mim, por favor, sei que o que faz uma pessoa se interessar por
outra vai muito além da aparência, mas eu olho para as mulheres, como Riley
por exemplo, alta, linda e perfeita, o tipo de mulher que as pessoas imaginam
ver ao seu lado sabe... e então eu... eu olho para mim e... sou tão normal. Como
eu vou conseguir segurar um homem como você? Você é tudo que eu sempre
quis Oliver, e também era a única coisa que eu tinha certeza que jamais teria. –
Ele sorri e balança a cabeça de um lado para outro em sinal de descrédito.
– Bom, fico feliz em saber que não foram só as minhas convicções que
desceram ralo abaixo. – Rimos, mas ele logo volta a me fitar com muita
seriedade. Procurando transmitir verdade com o seu olhar.
– Eu sei que eu chamo a atenção Bia, não vou ficar aqui me fazendo de
rogado. Esse é inclusive um dos pontos da conversa que precisamos ter. Sei
que sou objeto de desejo por onde passo. Eu percebo como as mulheres me
olham, como você me olha fascinada. Só que... – ele pega minha mão e leva ao
seu peito – aqui dentro, eu sou só um homem, como qualquer outro. E você
nunca me tratou diferente por eu ser quem sou. Você sempre enxergou o
homem, acima de tudo. Estou errado?
– Não, não está.
– Ah, pequena... é algo tão difícil de acontecer na minha realidade, você
não tem ideia... E esta é só uma das coisas que me atraem em você, porque há
tantas, tantas... se você soubesse como é linda...
– Nossa, agora você me deixou curiosa.
– Pois eu vou dizer várias delas, não todas porque ficaríamos aqui por
horas e horas e eu pretendo fazer coisas bem interessantes com você, já, já...
– Bom... fica muito feio para a minha cara se eu disser que já nem estou
mais tããão curiosa assim? – Ele gargalha e me rouba um beijo rápido.
– Ah, sua ordinária! Não senhora, agora vai segurar a ansiedade e me
ouvir...
– Tá bom. – Faço cara de desânimo, provocando-o. – Mas me diga,
namorado, o que tanto o atrai em mim?
– Você tem o rosto mais angelical e perfeito que eu já vi. – Conforme vai
falando, vai acariciando partes do meu rosto. – E uma luz, uma energia que
encanta todos a sua volta. Você é uma feiticeira, Beatriz. Linda e sedutora, que
nos prende em sua teia de delicadeza e força. Acredite, é alarmante! – Deus,
aquelas palavras saindo da boca dele quase me arrancam lágrimas.
– A sua força, tudo que já passou e a forma como encara a vida, é para
poucos. Saber que eu tenho o privilégio de estar aqui com você agora, nossa...
Mas vamos nos ater aos aspectos físicos, se é isso que você precisa para
entender o poder de atração que tem sobre mim... – Ele desliza os dedos
delicadamente pelo contorno dos meus olhos.
– Estes seus olhos profundos e misteriosos, me dão a impressão de que por
mais que eu me afunde neles, nunca conseguirei chegar ao fim da viagem, eles
sempre me revelarão mais... Seus cabelos que mudam de cor conforme a luz,
me intrigam tanto, você não faz ideia. Não sei se eu consigo explicar, pode
parecer bobagem, mas a sensação que eu tenho é de que são um sinal, uma
marca registrada e exclusiva para os meus olhos, um jeito de eu te reconhecer
e te achar em meio a milhares... – Não, ele não vai me fazer chorar agora...
– E caralho, a sua boca perfeita, feita para o pecado, sua bunda arrebitada e
redondinha, essas coxas..., – ele aperta uma das minhas coxas sob o vestido –
suas coxas são coisa do capeta, sério... – sorrio – e os seus peitos enchem
minha boca de água sempre que eu olho e fico imaginando tudo que eu ainda
não consegui ver... Adoro o seu cheiro, sua pele... Seu corpo, suas curvas, me
roubam o fôlego, Bia! De um jeito que me assusta, que ninguém nunca
conseguiu despertar em mim. Já bati algumas pensando nas suas qualidades
normais, namorada. Ainda farei belas músicas sobre elas... – Ergue as
sobrancelhas e eu rio.
– Caramba, não deve ter um único lugar onde você não me deixou vermelha
agora.
– Uhmm, vou ter que conferir alguns mais de perto então – diz, se jogando
sobre mim na cama, me prendendo sob o seu corpo e me beijando calmamente.
Desliza os lábios sobre os meus, me permitindo sentir o calor do seu hálito,
o roçar da sua barba, carinhosamente. Uma calma que não fez parte do nosso
encontro naquela pista de dança.
Não.
Lá aplacamos a nossa sede mais urgente. O desejo de unir nossas bocas que
vinha se arrastando desde aquele momento em seu escritório. Em que ele
cantou para mim pela primeira vez.
Mesmo com toda a delicadeza do beijo, sinto o sangue ferver, me
aquecendo por dentro.
– Ah Bia, essa boca... – Prende meu lábio inferior entre os seus. – Como eu
quis sentir sua boca na minha... sentir o seu gosto, pequena... – Faz o mesmo
com o lábio superior, estou ofegante em seus lábios e solto um gemidinho de
puro prazer. Ele sorri.
– Eu também...
– Fiquei louco, uma fera, só imaginando outro cara fazendo isso. – Então
sua língua invade a minha boca, encontrando, acariciando a minha, misturando
nossos gostos.
E que gosto!
Nossa...
Assim como aconteceu naquela pista de dança, mal consigo conter meus
hormônios. Eu quero este homem com tudo de melhor que há em mim...
Preciso dele.
– Oliver...
– Shhh, querida... Só sinta. Sinta a minha boca fazendo amor com a sua...
Ah. Meu. Deus.
Derreto.
Ele sabe usar as palavras bem demais, é infernalmente sedutor e eu ainda
não sei como lidar com isso.
Oliver força uma perna entre as minhas e as afasta para poder se acomodar
ali. Desce o peso sobre mim e arremete o quadril devagar para frente para que
eu sinta a sua dureza. Então toma minha boca com vontade.
Tudo nele é delicioso, o toque, o cheiro, a saliva, o peso sobre mim.
Nosso beijo vai tomando cada vez mais de nós. Nossas línguas fazem amor,
como ele bem disse, enquanto continua com aquele movimento de quadril
provocante, forçando e roçando bem no lugar certo.
No lugar que eu preciso dele, cada vez mais urgentemente.
A umidade já tomou conta da minha calcinha outra vez. O calor, o fogo,
estão no último estágio da combustão. E aquele vai e vem controlado já parece
estar fora de ritmo.
Ele para, tira os sapatos, e senta-se encostado na cabeceira da cama, pede
que eu segure a sua mão e me traz para o seu colo. Ficamos na mesma posição
em que estávamos no sofá, na festa. Passa os dedos delicadamente pelos meus
cabelos, afastando-os do meu rosto.
– Nós temos ainda muitas coisas para conversar anjo, mas faremos isso
quando acordarmos. Agora, eu só vou apagar o fogo da minha linda namorada,
para que ela consiga relaxar e dormir tranquila em meus braços depois. – Seus
dedos alcançam a minha nuca e descem pelo meu pescoço em direção ao colo,
numa carícia lenta, causando arrepios onde tocam.
Dormir em seus braços.
As palavras fazem festa na minha mente.
Sim, por favor.
– Só preciso deixar uma coisa muito clara antes. – Seus olhos estão presos
nos meus.
Minha respiração pesa, tamanha a força que estou fazendo para me manter
parada em seu colo, presa em seu olhar, quando já não caibo em mim de tanto
desejo. Ele desliza os dedos lentamente pelo meu colo no início do decote,
devagar, de um lado para o outro.
– Essa porra desse vestido dos infernos, – desce uma das alças do meu
vestido, sem desfazer o contato visual, deixando-a caída sobre o meu braço –
será confiscado por mim, – desce a outra alça – e daqui em diante só eu
poderei a ver nele. – Puxa as alças dos dois lados mais para baixo, liberando
os meus seios.
Meu coração está a mil.
O peito sobe e desce em busca de ar.
Oliver desce o olhar para conferir o seu prêmio.
– Meu Deus, você é linda demais! Eu queria poder eternizar a imagem que
estou vendo agora numa pintura, Beatriz. – Roça as pontas dos dedos pelos
meus seios, num toque rarefeito, quase imperceptível. Em cima, nas laterais, na
base, entre eles, sem nunca tocar os mamilos.
Minha respiração pesa ainda mais
Seu toque lança pequenos choques por onde passa.
– São ainda mais perfeitos do que eu imaginava. Lindíssimos! – Segura-os
com cuidado, envolvendo-os por completo. Sentindo o seu peso.
Ahhh... o seu toque ali... Como desejei...
– Preenchem as minhas mãos, exatamente como eu imaginei que fariam. –
Acaricia-os assim por instantes, e então massageia os mamilos com os
polegares.
Eu já não suporto mais.
Estou ofegante.
– Oliver...
– Eu sei pequena, eu sei. Continue com o que estava fazendo lá na boate,
anjo – pede, me arrastando para mais perto da sua virilha, me encaixando
sobre o seu membro oculto sob a roupa.
Eu no mesmo instante começo a me mexer, tentando encontrar algo que
ainda não sei direito o que é.
Ele continua massageando meus seios e mamilos, ora prendendo-os entre os
seus dedos, ora circundando-os com os polegares, enquanto desliza os lábios
quentes por meu queixo, pescoço e aquele lugarzinho maravilhoso atrás da
orelha.
Eu, na dança frenética, enfio as mãos em seus cabelos e me delicio sentindo
a maciez dos fios escapando por entre os meus dedos.
Ouço seus baixos e curtos gemidos roucos.
A força daquela realidade bate em mim com tudo.
Aqui estou eu.
Amando o homem com o qual me conectei aos oito anos e que nunca mais
saiu do meu coração.
Estou acarinhando seus cabelos e ouvindo seus gemidos de prazer.
Vendo-o e sentindo-o super excitado.
Por mim.
Me emociono, mas não deixo que perceba.
Desço meus lábios e nariz pela lateral do seu rosto até que nossas bocas se
encontram no meio e sucumbem a necessidade do saborear um ao outro
novamente. Ele passa a lançar os quadris para cima, intensificando a potência
e o ritmo, me ajudando a achar o que tanto procuro e não encontro. Larga
minha boca e gemidos involuntários e inevitáveis passam a sair dela também.
– Isso, meu bem, isso. – Me incentiva a continuar, enquanto vai descendo os
lábios pelo meu colo, até chegar em meu seio esquerdo. Passa lentamente a
língua pelo mamilo.
É demais!
– Oliver, eu... – Estou realmente com medo do que estou sentindo e minha
cara deve estar refletindo isto.
– Shhh, só sinta pequena, se entregue sem receios, continue comigo, assim –
comanda, arremetendo mais forte e rápido contra mim e então abocanha meu
mamilo inteiro e chupa-o deliciosamente.
Com força.
Ahh, por favor...
Agarro-me com vontade em seus cabelos.
É demais! Que delícia!
Meus gemidos passam a ficar mais altos e frequentes, o ar é pouco. Ele
passa para o outro seio, chupa, lambe e mordisca. Uma das mãos continua a
estimular o outro mamilo e a outra começa a descer pelas minhas costas e
apertam a minha bunda.
Ele prende o mamilo entre os dentes e puxa devagarinho.
– Ahhh – gemo, mexendo-me mais rápido e mais rápido.
Até que então algo explode em mim.
Oliver... – Seu nome escapa da minha boca como um gemido alto, forte e eu
morro.
Só pode ter sido isso.
Morri!
Largo a testa sobre seu ombro e vou parando os movimentos.
Recuperado a respiração que ficou perdida em algum ponto do processo.
Não sei direito onde estou.
Ele sobe e desce uma mão pelas minhas costas e a outra pousa em meu
queixo, erguendo o meu rosto para tomar minha boca num beijo calmo e
demorado.
Meus sentidos vão retornando aos poucos, primeiro o seu gosto, depois o
seu cheiro e por fim o seu toque volta a ser sentido.
Sinto seu sorriso maroto se formando entre meus lábios.
Então ele para o beijo e me olha, abrindo ainda mais aquele sorriso. Aquele
pelo qual eu morreria.
– Tão linda gozando. Que deslumbre, pequena. Mais calma?
– Não sei se consigo falar. – Ele ri.
– Você nunca tinha gozado, Bia? O olhar de pânico que você me deu quando
estava quase lá... – Rio baixinho, me aninhando na curva do o seu pescoço.
Estou muito mole até para sentir vergonha.
– Não. Nem fazia ideia que pudesse ser tão... acho que eu morri e voltei. –
Ele se diverte com a minha declaração ingênua.
– Nunca se tocou?
– Já, várias vezes, chegava perto, mas nunca consegui ir até o fim... e nunca
foi assim... intenso... Acho que eu precisava de um certo estímulo. – Dou uma
remexida em seu colo outra vez e ele não segura o riso, me puxa contra o seu
peito, me envolve com seus braços e me aninho ainda mais nele.
Meu lugar preferido no mundo, com certeza!
– Acho que já tivemos emoção demais para uma noite não? Vamos dormir?
Ah? Dormir?
– Mas... mas e você? – Dou outra mexidinha conferindo a dureza da rocha
sob mim.
– Ah, eu estou subindo pelas paredes, as bolas doendo, doido para fazer mil
e uma coisas com você. Mas hoje é só para você. Então eu vou me levantar,
vou tomar um banho e resolver o meu problema lá no banheiro pensando
nesses seus peitos simetricamente perfeitinhos e apetitosos. Lembrando da
delícia que é tê-los na minha boca.
– Mas por que, se eu estou bem aqui? – sugiro, tentando levar a minha mão
à sua calça, mas ele me impede.
– Não anjo, hoje não. Como eu disse, temos muitas coisas para conversar
primeiro e não precisamos ter pressa. Eu vou tomar um banho, ok? E logo
volto para cá com você. – Me dá um beijo, beija cada um dos meus seios
novamente e se levanta.
O volume em sua calça é monstruoso.
Me preocupo, porque se for como aparenta...
Mas deve ser ilusão por estar de roupas. Só pode!
Não é possível que...
Ele vai até sua mala, tira algumas coisas de lá e entra no banheiro.
Bufo em frustração.
Poxa! Estou louca de vontade de tocá-lo lá... De ver como é...
Por que não me deixou ajudar?
Mas fazendo o balanço geral, só me resta flutuar com tudo que aconteceu.
Estive nos braços do homem que povoa os meus sonhos desde sempre.
Dei meu primeiro beijo, meu primeiro amasso e tive o meu primeiro
orgasmo.
Ganhei um namorado.
Um não. O Namorado.
Nada mal para uma noite! Não acham?
Me forço a levantar, mesmo ainda estando meio letárgica. Tiro meu vestido,
jogo-o sobre o paletó dele na cadeira. Coloco um dos baby dolls que Hazel me
fez comprar sem saber e volto para a cama.
Eu também preciso de um banho na verdade, estou muito molhada lá
embaixo. Mas vou deixar para amanhã de manhã. Ou corrigindo, daqui a
pouco, porque olho o telefone e já são cinco da manhã. Não quero tirar o
cheiro dele de mim.
Alguns minutos depois, a porta do banheiro se abre e Oliver aparece, de
calça de moletom, sem camisa e passando uma toalha pelos cabelos.
Magnífico! Gostoso!
A visão do paraíso.
Ele pretende deitar sem camisa?
Como resistir?
Sério que isso tudo é meu para brincar?
– Quer que eu seque o seu cabelo? – ofereço. Ele me olha, espantado.
– Você faria isso? – Levanto-me e vou até o banheiro pegar o secador.
– Sente-se aqui. – Aponto para uma cadeira próxima a cama e ele obedece.
Começo a passar as mãos por entre os fios dos seus cabelos, apenas para
deixá-los bem soltos. Ligo o secador e continuo com aquele carinho, enquanto
o aparelho faz o seu trabalho.
– Nossa, isso é muito bom – fala ele de olhos fechados, apreciando o
contato.
Lá pelas tantas não resisto e abaixo a cabeça, beijando e mordendo o seu
ombro. Ele estremece e contrai. Hummmm que delícia! Está tããooo cheiroso.
Sigo pelo seu pescoço e orelha e volto para o ombro...
– Bia, estou adorando os carinhos e longe de mim acabar com a sua festa,
mas acho que o ar quente não está bem onde deveria. – Ele está sorrindo e
mordendo o lábio, olho para a minha mão, o secador está quase grudado em
seu braço. Rio.
– Desculpe, me empolguei.
– Percebi – diz, rindo também.
– Pronto! – anuncio assim que me dou por satisfeita.
Ele vira-se como um raio, me agarra pela cintura, gruda meu corpo no seu,
me erguendo alguns centímetros do chão. Solto um gritinho de surpresa, mas no
segundo seguinte ele já está em minha boca.
Largo o secador em algum lugar que nem vi direito, enquanto ele vai me
beijando e me levando rumo a cama. Me deita e deita-se sobre mim, traçando
uma trilha com seus lábios pela minha pele, que passa pelo pescoço, colo,
início dos seios e volta para a minha boca.
– Obrigado – diz quando para e ergue os olhos para me olhar.
– Hum, se o agradecimento for sempre assim, posso fazer isso várias vezes
por dia. – Sinto seu sorriso em minha pele, porque ele já voltou a beijar os
meus seios.
– O agradecimento vai ficar cada vez melhor – promete. – Mas agora eu
preciso parar, porque senão terei que voltar para aquele banheiro e tomar outro
banho frio.
– Ninguém está te obrigando a manter a boca nos meus seios, namorado.
– Uhmm. Tentação demais! – Estremeço, já me animando outra vez, porque
ele beija e lambe o meu mamilo.
– Isso não é justo sabia? Você aí todo cheiroso e eu neste estado...
– Você está cheirando a mim, a Bia, suor e sexo. Não há aroma melhor no
mundo. – Seu nariz está colado no meu pescoço.
– Ok senhor rockstar conquistador. Posso pelo menos escovar os dentes?
– Só se for muito rápido. Tão rápido que eu não consiga sentir a sua falta
aqui.
– Prometo. – Ele afrouxa o contato, lhe dou outro selinho, sigo ao banheiro
e logo volto para me juntar a ele na cama. Oliver já retirou a colcha e está
erguendo o lençol para que eu deite.
Deito-me ao seu lado e ele me puxa para seu peito.
Realizo outro sonho, que é deslizar a minha mão por aquele tórax que
parece ter sido esculpido por um habilidoso artista, de tão incrível. Sinto a
dureza dos músculos e a textura dos poucos pelos que tem ali, acaricio os seus
mamilos.
Nossa, já estou ficando super excitada de novo.
Levo minha boca até lá e distribuo beijinhos onde alcanço, chupo o seu
mamilo e no instinto vou descendo a minha mão para o seu abdômen.
É nesse momento que ele me para pela segunda vez, segurando meu pulso.
– Se você não parar, nós não vamos dormir e não sei se consigo me segurar
outra vez, anjo. – Suspiro conformada. É importante para ele que não
avancemos mais hoje.
– Tudo bem. – Levanto o rosto, nos beijamos rapidamente e volto a me
aconchegar no seu peito.
– Oliver...
– Sim?
– Quando demos nosso primeiro beijo, eu senti... ah, deixa pra lá, deve ter
sido bob...
– Bom, não sei você, mas posso tentar descrever o que eu senti e que me
impactou pra caramba... penso que foi tudo, menos bobagem.
– O que você sentiu?
– Senti como se eu tivesse enfim retornado para casa depois de longos e
sofridos anos de separação. – Um arrepio de assombro passa pelo meu corpo
ao ouvi-lo descrever exatamente o mesmo que eu senti.
– Achei que tinha sido só eu... – Não consigo evitar que uma lágrima
solitária e silenciosa escorra pela minha bochecha.
– Não, não foi. – Ele beija a minha cabeça.
Não demora muito e o sono me leva.
Tudo é paz, plenitude e felicidade.

Oliver

Eu nem sei como descrever o que se passa dentro de mim agora. Acho que
pela primeira vez na vida eu senti todas aquelas coisas que as pessoas tanto
falam.
O medo de perder, a incerteza em ser aceito, o frio na barriga, a expectativa
e finalmente a explosão.
Para mim sempre foi tão fácil a conquista, a sedução.
Bastava um olhar e pronto.
Era um ritual, mecânico, um meio para um fim.
Nunca beijar alguém teve este sabor. Esta importância.
Nunca senti o que eu senti hoje ao beijar uma mulher.
Nunca.
Nem de perto.
Beijar sempre foi isso: o start do processo, e só.
Até hoje.
Hoje, beijar me transcendeu, me conectou, fez eu me sentir dela, fez eu
desejar que aquilo nunca terminasse, fez eu querer ter para onde ir e para quem
voltar.
Seu sabor, seu calor, sua entrega, eu queria tudo, eu queria mais e ao mesmo
tempo não tinha pressa.
A nítida inocência, a descoberta do beijo, da excitação, o brilho no olhar
em expectativa pelo novo, me arrebataram. Coisas que já estavam tão longe do
meu mundo há tanto tempo, mundo este no qual cada contato era premeditado,
calculado e descartado.
Mas o mais impactante em mim foi a sensação de certo!
A confirmação de que era ali, com ela, nos braços dela, que eu deveria
estar, que eu sempre quis estar. A certeza de que eu finalmente encontrei o meu
lugar.
E isso, no meu caso, apavora em muitos níveis.
Estou acordado há mais de meia hora.
Despertei com Beatriz enrolada em mim, eu envolto em seu calor.
Não sabia que algo tão singelo pudesse ser tão bom.
Assim como foi delicioso quando ela secou os meus cabelos.
Me senti cuidado. Cuidado por ela.
E, neste curto espaço de tempo em que estamos na vida um do outro, já é a
terceira vez que me senti assim em relação a ela.
A primeira, quando me disse que eu não deveria beber.
A segunda, quando me fez comer e gravar o vídeo.
Me desvencilhei um pouco, com cuidado para não a acordar e estou aqui,
olhando-a dormir desde então.
Está de bruços, os cachos esparramados por suas costas e travesseiro. O
rosto virado para o meu lado. Afasto os cabelos de cima do seu rosto
delicadamente. E fico admirando-a.
A pele de porcelana, o narizinho arrebitado, as pequenas sardas, os cílios
longos e aquela boca que é a minha perdição.
Parece ainda mais menina assim, dormindo.
Me sinto um calhorda quando penso nisso.
Mas mesmo me sentindo indigno, não há mais volta para nós.
Não poderia mais abrir mão dela.
Ela é minha.
Só minha.
Quando libertei os seus seios... tão incríveis quanto imaginei. Firmes,
durinhos, simetricamente redondos e empinados. Com grandes bicos rosa
clarinho no meio. Deliciosos. Não dava vontade de parar de chupá-los.
Fiquei louco.
Foi tão difícil me controlar ontem e não a tomar de vez.
Não estou acostumado a me conter assim. Nunca precisei. Me senti
novamente lá no início da adolescência quando dava “uns pegas” em uma ou
outra menina que não liberava o avanço. Mas mesmo lá, se aconteceu duas ou
três vezes, foi muito.
Normalmente não me param. Me puxam.
Ela também não teria parado.
Mas eu precisava.
Bia se remexe na cama. Decido que é hora de acordá-la, já passa das treze
horas e estou faminto, pela primeira vez em dias. Inclusive já liguei pedindo o
nosso almoço. Logo deve chegar. Abaixo o rosto e deslizo meus lábios e nariz
devagarinho pela sua bochecha, descendo para o pescoço, roçando minha
barba e retornado.
Seu cheiro é magnífico.
Me deixa excitado no ato.
Ela larga um sorriso presunçoso, mas não abre os olhos.
– Não me diga que estou sonhando – ronrona contra o travesseiro. Ah,
minha menina, linda e delicada...
– Espero que não anjo, porque senão eu estarei também. – Continuo me
esfregando em seu rosto, queixo e pescoço até que chego em sua boca, e ela...
vira o rosto?!
O que?
Ah, não...
Não mesmo!
– Nem pensar Oliver Rain, não vai me beijar enquanto eu estiver com bafo.
Você já escovou os dentes que eu percebi. – Me jogo por cima dela e forço-a a
virar aquela boca de novo para mim.
– Eu vou beijar essa boca onde e quando eu quiser, Beatriz. Ela é minha. A-
cos-tu-me-se. – Tomo-a num beijo intenso.
Aquilo vai esquentando e já percebo-a lançando os quadris em minha
direção, procurando pelo calor do meu pau, que está em sentido de alerta
máximo.
Não resisto e baixo um pouco o decote do seu baby doll, para chupar
aqueles mamilos rosas deliciosos. Mas preciso parar, temos que comer e
conversar primeiro. Volto mais uns instantes para sua boca e me levanto.
A barraca está altamente armada, já que não estou de cueca, só a calça do
moletom. O elástico da calça nem encosta mais na minha barriga. Ela fixa os
olhos ali e vejo a preocupação estampar o seu rosto de forma alarmante.
Gargalho.
– Oliver, isso... É normal? – Eu explodo.
Me atiro na cama e não consigo parar de rir. A sua cara de assustada é
impagável. Ela não está brincando.
– Não ria de mim – diz, se fazendo de magoada.
– Ah meu bem... a sua cara Bia... desculpa, não resisti.
– Isso que você tem aí me parece algo bem assustador. – Rio um pouco
mais.
– Bom, assustador ou não, você vai se tornar bem íntima dele logo, logo. –
Ela arregala os olhos. – Mas é assunto pra outro momento, nosso almoço já
deve estar chegando.
– Tudo bem. Vou tomar um banho – fala e me dá um beijo rápido antes de ir.
Desconfio que queria sair logo de perto do monstro... Rio outra vez,
balançando a cabeça.
Me deito uns instantes na cama, absorvendo aquele sentimento. Creio que
possa dizer que me sinto feliz.
Logo a companhia toca, felizmente a fera já amansou, coloco uma camiseta
e vou atender a porta. Nosso almoço começa a ser servido na mesa da sala.
Lembro que ontem ela me pediu para beber espumante lá na boate, então
vou até o bar e abro uma agora. Bia logo aparece, linda, num vestido chumbo,
soltinho que ficou perfeito nela. Mas antes de chegar aonde estou, ela para e
encara algo atrás de mim.
Sigo a direção do seu olhar e flagro a menina que estava servindo a mesa
me secando. Ela se desconcerta quando eu olho, deixa cair alguns talheres, mas
volta a concentrar-se em seu trabalho. Beatriz continua estagnada no mesmo
lugar.
– Vem aqui, anjo. – Tiro-a do transe. – Ela se aproxima meio emburrada,
puxo-a pela cintura, a beijo na frente da garota e ela relaxa.
– Você está tão linda. Tão cheirosa! Pegue. Ontem eu prometi realizar
desejos. – Estendo-lhe a taça.
– A todos os desejos que ainda iremos realizar então. – Sorri atrevida, dá
uma batidinha de leve na minha taça, depois bebe.
– Venha, vamos almoçar.
Assim que a garota deixa o nosso quarto. Sentamos e aproveitamos a
refeição. Nós dois estávamos famintos e a comida estava deliciosa.
Quando estamos quase terminando, ela puxa o assunto que, desconfio, deva
estar segurando desde que entrou naquela sala.
– Sabe, essa sua calça é um tanto... indecente para ficar desfilando na frente
de estranhos. – Cruzo o braço e tento manter a seriedade para ver até onde ela
vai. Será um bom termômetro para a conversa de logo mais.
– Indecente como? Explique-se.
– Ela... ela marca as suas partes Oliver! – diz, irritada. Quase não consegui
segurar o riso... quase...
– Bom, até onde eu sei, só andei com ela pelo quarto da minha namorada.
– Quando a campainha tocou, você poderia ter colocado outra antes de abrir
a porta – repreende, erguendo a sobrancelha e entortando o canto da boca.
Linda!
Estou mesmo aqui sentado, levando uma chamada de uma garota por causa
da minha calça e achando graça?
Como fui parar nisso?
Ah, mas já que ela quer falar sobre, não vou perder a oportunidade.
– Mesmo? Assim como você colocou o meu blazer sobre o seu vestido
ontem à noite?
– Ah, não tem comparação...
– Concordo. Aquilo lá sim é que é indecência...
– A garota estava te comendo com os olhos... – Começo a me desanimar em
relação a nossa conversa.
Garotas, e garotos, me comendo com os olhos é o que você mais vai
encontrar por aí, baby...
– Quer que eu diga quantos eu contei ontem lá na boate fazendo o mesmo
com você? Enquanto eu te observava dançar, de costas, tive vontade de matar
pelo menos uma dúzia... – Antes que ela possa se defender, meu celular vibra
várias vezes seguidas, me obrigando a dar atenção a quem tanto me chama
insistentemente.
Levanto-me e o pego na bancada do bar. É Lian.

Oliver, sei que está em lua de mel, velho,


mas preciso da sua ajuda
Kellan está mal, bebeu todas e fez merda
ontem lá na boate
E a porra do Max está subindo para bater na
porta do quarto de Hazel, porque ficou
preocupado que a menina não responde
Só que a princesa não voltou sozinha para o
hotel ontem e tenho medo dele fazer merda
quando vir o cara lá no quarto dela
Dê um jeito de interceptá-lo antes que ele
bata lá. Não posso deixar o moleque sozinho. Tá
pondo os bofes pra fora
Tudo bem, vou tentar

– Merda! – Pelo visto não teremos a conversa que tanto precisamos tão
cedo...
– O que foi?
– Max está vindo bater no quarto de Hazel e ela está acompanhada.
– Está? Uau!
– Pelo que Lian falou, sim. Você sabe qual o quarto dela?
– Esse aqui em frente.
– Vou tentar falar com ele no corredor. – Abro a porta e vejo que o ruivo já
está ali, vindo no corredor em direção ao quarto.
– Max? – chamo.
– Oliver? O que estava fazendo no quarto de Bia? – Porra, ele não perde o
lance.
– Nós almoçamos juntos – disfarço. Não é o melhor momento para falar
com ele.
– E Hazel está com vocês?
– Não Max, não está. – Ele me olha desconfiado.
– Venha aqui conosco, estávamos terminando de almoçar. Você já comeu?
– Não, não comi. Mas agora preciso conferir se Hazel está bem, pois não
consegui falar com ela ainda. Não atende o telefone e não responde as
mensagens.
– Cara, deixa a menina, ela voltou tarde, deve estar dormindo.
– Já passa das dezessete horas, Oliver.
– E daí?
– Preciso ver se está bem, só isso. – Ele se aproxima mais da porta.
– Não bata.
– Por quê? Está me escondendo alguma coisa?
– Vou te contar, mas entre. Não vamos falar no corredor.
– Aconteceu algo com ela?
– Não. Venha e vamos conversar. – Quando ele finalmente cede e entra no
quarto, eu relaxo.
– Senta aí. – Beatriz está sentada à mesa e Max se acomoda no sofá. – Não
quer aproveitar e almoçar? Tem muita comida aqui ainda.
– Não Oliver, fala logo. – Me sento ao lado dele e respiro fundo.
– Ela não está sozinha no quarto. – Beatriz se engasga com alguma coisa e
Max fica vermelho como um tomate.
– Porra! – Ele passa as mãos na nuca, joga a cabeça pra trás no encosto do
sofá e fecha os olhos. Pelo menos não saiu correndo para arrancar o cara de lá
na porrada. Respiro aliviado.
– Irmão, – tento – ela cresceu. Não há mal nenhum nisso. –Ele dá uma
risadinha em deboche.
– Não é essa a questão Oliver. É claro que é ótimo ela crescer, se
descobrir. Deus, tudo que eu mais quero é a felicidade dela. O problema, que
ninguém entende, é que há algo errado. Hazel não é assim. Eu não posso
acreditar que a menina que eu vi crescer, por quem eu também me sinto
responsável, a menina que sempre conversou tudo comigo, seus sonhos, seus
desejos, suas curiosidades... Essa menina Oliver, a que eu convivo, não
gostaria de ter a sua primeira experiência sexual com um cara que conheceu
por trinta segundos numa balada. Eu conheço Hazel. Tem algo que não estamos
percebendo e eu já alertei Johnathan a respeito. – Olho para Beatriz e ela
parece espantada.
Como se Max estivesse prestes a desvendar um grande segredo.
O que ela sabe?
Max também percebe.
– Você sabe de algo Bia? Hazel está com algum problema? – pergunta ele.
– Não Max, não sei. Hazel só quer se divertir como uma garota normal. Ela
estava feliz, conheceu alguém legal, nada demais. – Beatriz diz tudo aquilo sem
nos encarar nos olhos. Ele suspira mais um pouco.
– Você iria lá? Bateria no quarto dela para sabermos se está tudo bem
mesmo?
– Max, eu...
– Acho que nem você, nem Beatriz devem se meter. Ela está acompanhada,
velho.
– Por um sujeito que mal conhece, Oliver. E se...
– Olha, eu vou pegar o meu telefone e tentar falar com ela, tá bem? Talvez
ela me atenda. Vamos tentar assim primeiro, ok? – intervém Bia.
– Tudo bem – concorda Max. Ele está claramente decepcionado e
preocupado. Bia vai em direção ao quarto pegar o telefone.
– Enquanto Beatriz tenta, coma alguma coisa. Você bebeu bastante ontem.
– Deus Oliver, nunca me senti tão mal num lugar. Ver Hazel se expondo
daquele jeito, acabou comigo. Ela não precisa disso, pode ter tudo que quiser,
que sonhar. Nós três trabalhamos duro para isso. Daí chega lá, com aquele
cara, que parecia ter o que, uns vinte e seis anos? E traz o cara para o quarto?
Estou tão triste por dentro, tão decepcionado. Eu gostaria tanto que ela vivesse
as coisas do jeito que sempre me disse que queria... Ela poderia ter Oliver.
Por que foi entrar nesse rompante de rebeldia? O que está por trás disso? E o
que mais me dói é a certeza de que ela irá se arrepender.
– Calma. Ela é jovem, está passando por uma fase complicada, você sabe.
Não tem tantas oportunidades assim de conhecer gente nova. Ela quer
experimentar. Se fizer besteira, a gente vai estar lá para ajudar, apoiar. Não é
como se a vida dela fosse acabar por causa de uma transa. Que jovem não
erra? Não faz burradas? Com ela não será diferente. Por mais que a gente tente
protegê-la, a escolha é dela.
– Não Hazel, você não a conhece como eu. Ela sempre se abriu comigo. Ela
jamais gostaria de se entregar assim, a qualquer um. Ela queria que fosse por
amor, especial. Ela me falou várias vezes. Por isso as coisas não casam para
mim.
– Hazel, oi. – Ouvimos Bia falando lá do quarto e Max já se levanta indo
até lá. – Eu só queria saber se você está bem. Saímos separadas ontem e não
nos falamos mais... Está tudo bem?... Sim... Depois te conto... Não sei, você
ainda está a fim?... E Eric? Ah... tudo bem... Passe aqui no quarto. Tem
bastante comida se você quiser vir comer aqui. Oliver pediu comida para
alimentar Los Angeles inteira, e estão nos rechauds, então está quente... Ok.
Beijos.
– E aí?
– Ela está bem, acordou há pouco, foi dormir já passava das dez da manhã.
Está terminando de se arrumar e virá comer aqui. Vocês podem almoçar juntos,
Max.
– Sim – diz ele. – E o cara?
– Já foi embora. – Max engole em seco.
– Obrigado. – Que vontade tenho de ir lá e abraçá-la, mas tenho medo que
Max dê pití. Porém, logo descubro que não tenho para onde fugir.
– Que merda a sua mala está fazendo no quarto de Bia, Oliver? – Fodeu. Se
me perguntou já alterado, é porque sabe a resposta.
– Mantenha a calma e a cabeça fria. Eu vou te explicar tudo que você quiser
saber. Só não faça cena na frente de Beatriz e de Hazel, por favor.
– Não fazer cena? Não fazer cena? Se essa merda for o que eu estou
imaginando... hã... é claro que é. Você não tem vergonha na cara?
– Max, me deixa...
– Não Beatriz, você fica fora disso – digo, categórico. – Eu vou me
entender com ele. – A campainha toca e ela sai para abrir, felizmente. – Max,
Hazel chegou. Vá, almoce com ela, depois deixamos as meninas aqui e vamos
lá para o outro quarto, onde você poderá me dizer tudo que tiver vontade, eu
vou te ouvir e colocar o meu ponto, ok? Só não na frente delas, por favor.
– Só farei isso e não quebrarei a sua cara agora porque não quero deixar as
duas constrangidas e assustadas, mas essa merda não terminou. – Vai saindo
para a sala. Só me resta ir atrás.
– Hazel – cumprimenta Max, ao ver a menina sentada ao lado de Bia no
sofá. Ele mal consegue olhá-la, não disfarça a sua decepção para com ela.
– Oi. – Nos olhos dela o que se vê é pura mágoa.
– Amiga, você me disse que estava faminta. Vá se servir – fala Bia,
tentando quebrar o clima estranho. Hazel faz o que Beatriz pede. Max já está se
servindo também.
Sento-me ao lado de Bia no sofá e a puxo para que fique aconchegada em
mim. Muito tempo sem tocá-la. Max que lide com seus dilemas. Beijo seus
cabelos. Hazel, quando nos vê, abre um sorriso enorme. Já Max quase deixa o
prato cair e fecha ainda mais a carranca.
Os dois sentam-se um em cada canto da mesa. Ninguém tem coragem de
falar nada. A campainha toca quebrando um pouco da estranheza. Me levanto e
vou abrir a porta para Lian.
– Conseguiu... – Faço sinal para ele com a cabeça indicando que Max está
ali. Ele arregala o olho para mim.
– Entra Lian – digo. – Como está o fedelho?
– Dormiu.
– Se estiver com fome e quiser acompanhá-los... – Indico Hazel e Max à
mesa e volto para perto de Beatriz no sofá, enlaçando-a novamente.
Lian solta o riso, balança a cabeça de um lado para o outro e se senta na
poltrona, em frente a nós.
– Oliver eu tenho vontade de te dar uma porrada. Sério!
– Você tem vontade? Pode apostar que eu vou dar – ameaça Max.
– Nossos motivos são diferentes. Se ele tivesse me ouvido há uma semana
teria nos poupado muito drama e dor de cabeça. – Aperto ainda mais Beatriz
em meus braços.
– Como assim, motivos diferentes? Não vai me dizer que você apoia isso...
– Ele aponta para nós no sofá.
– Max... – Chamo sua atenção. Ele que não fale merda na frente da menina.
– Apoio. Inclusive tentei abrir os olhos desse idiota semana passada.
– Você só pode estar de sacanagem...
– Por quê? Qual o problema em estarem juntos? – Se mete Hazel.
– Hã? Vários Hazel. Mas vou dizer apenas um. Ele tem quase idade para
ser pai dela.
– Mas não é!
– Sério? Há dias não estou te reconhecendo. O que está acontecendo com
você?
– Max, eu já disse que vamos resolver as coisas entre nós dois a sós –
reforço mais uma vez.
– Não, a questão dele agora é comigo – diz Hazel levantando-se.
– Ontem você me constrangeu na frente da minha família e dos meus amigos.
Eu não falei nada em respeito a você, porque sabe muito bem o que significa
para mim. Só que aqui, nesta sala, diante destas pessoas, eu não preciso me
conter. Então eu vou deixar uma coisa bem clara, assim como Oliver não é o
pai de Beatriz, você também não é o meu. Há coisas que você não quer
enxergar Max e eu respeito. Se você quiser conversar comigo em particular,
me aconselhar, me orientar, eu sempre irei te ouvir e levar a sua opinião em
consideração. Agora o que você fez ontem, eu não vou mais aceitar. O que eu
faço da minha vida, o que eu visto, onde eu vou e quem eu escolho para estar
ao meu lado ou na minha cama, tendo ele dezessete ou setenta anos, é problema
meu. Só meu. – Max está branco. Hazel não segura as lágrimas.
– Ok, obrigado por me fazer ver que fui um tolo até hoje por achar que eu
deveria te ajudar a lutar pelos seus sonhos. Pelo visto tudo que aquela menina
me contou, me confidenciou, não era verdade.
– Eu nunca menti para você. Nunca.
– Então eu realmente não entendo.
– Eu sei que não. Se os meus sonhos um dia se realizarem, não haverá
ninguém mais feliz do que eu neste mundo. Mas eu decidi que não vou deixar a
minha vida estagnada à espera deles. É isso. – Ela se vira e faz menção de ir
embora. Levanto rapidamente e a abraço.
– Hazel, não vá. Fique aqui com Bia e Lian. Preciso sair e falar com Max.
– Tudo bem.
– Max, me acompanhe até o outro quarto. Vamos nos resolver de uma vez –
ele assente. – Eu já volto. Fique tranquila – digo a Bia que está apreensiva.

– Pronto Max, agora estamos aqui, só você e eu, pode me dizer tudo que tem
vont... – Eu só sinto.
O soco.
A direita poderosa de Max que conheço bem dos nossos eventuais treinos
de MMA.
– Porra! – Limpo o sangue no canto da minha boca. – Enlouqueceu?
– Eu não, mas você parece que sim.
– Eu vim aqui para a gente conversar. Se você quiser me usar de saco de
pancada por causa da sua frustração em relação à Hazel, tô fora.
– Isso não tem nada a ver com Hazel.
– Tem tudo a ver com ela. E é só por esse motivo que eu vou deixar passar
a merda que você fez agora. – Ele faz vários gestos de negativo com a cabeça e
se senta na poltrona. Vou até o frigobar e pego algo gelado para pôr sobre o
local onde ele bateu.
– Deus, parece que eu não conheço mais as pessoas a minha volta. O que
deu na sua cabeça Oliver, para se envolver com uma menina, uma criança?
– Alto lá! Ela é jovem sim, mas ela não é mais uma criança. Assim como
Hazel também não é.
– Só pode ser piada. É isso, não é? Vocês se juntaram para “zoar o Max”.
Juro que nem vou ficar bravo se confessarem, porque antes isso do que essa
realidade bizarra que estão me apresentando.
– Eu realmente estou envolvido, Max.
– Ah Oliver, não me faça rir. Treze anos cara. Você tinha mais de treze anos
quando aquela menina chorou pela primeira vez em alguma maternidade de
Chicago. O que vai fazer com ela quando cansar da brincadeira?
– Eu não estou de brincadeira.
– Deus, você tem o que? Quinze anos outra vez? Está querendo me
convencer do que? Que, pela primeira vez na vida, vai engatar um
relacionamento? Um namoro? E com uma menina que ainda não saiu
completamente da adolescência?
– Sim. – Ele ri.
– Pare de viadagem e veja as coisas como elas são.
– Max, eu passei uma semana dos infernos tentando não ver as coisas como
elas são. Se você me viu com a Beatriz hoje é justamente porque eu parei de
lutar contra isso e decidi abrir os olhos.
– Você não está em seu juízo perfeito, só pode ser isso. Não estou
acreditando nas asneiras que estão saindo da sua boca.
– Eu fiquei mexido, sai de mim desde o primeiro momento em que a vi. E
você sabe que não sou assim. Quando você me viu admitindo ou cogitando
algo do tipo, Max? – Não espero que responda. – Eu não sei exatamente que
merda é essa, mas não consigo mais ignorar que ela existe. Eu juro a você que
eu me esforcei, muito. Primeiro tentei menosprezar, depois tentei transar e me
embebedar. Não adiantou. Então procurei me afastar para dar espaço a Kellan,
mas só a ideia dos dois... Eu surto de ciúmes, Max, e não é um sentimento que
estou acostumado a lidar. Nunca tive que lidar, na verdade. – Minhas mãos
estão remexendo meus cabelos. – E por último, fugi. Nada funcionou, nada.
– Tá, vamos dizer que eu entre nesse seu papinho. Como isso vai funcionar
na prática? Ela vai ser a sua namorada enquanto estiver em casa. E nas festas,
hotéis, turnês você continuará levando a sua vida cheia de prazeres. É nisso
que você quer transformá-la?
– Não, porra! Por favor, você não entendeu. Será só ela de agora em diante.
– Ele cai na gargalhada.
– Você quer mesmo que eu acredite nisso? Sério? Que você, um dos caras
mais cobiçados e assediados pelas mulheres mais lindas do mundo, vai abrir
mão de todas elas para ficar com uma menina?
– Sim, é exatamente isso que você ouviu. – Max abre a boca, pasmo.
– Puta-merda! O que mais me espanta é que você está mesmo acreditando
nas coisas infantis que está dizendo. Quando estivermos em turnê, você vai
ficar meses sem sexo? Quanto tempo você acha que aguenta brincar disso,
Oliver? Resistir a todas aquelas celebridades se atirando em cima de você? –
Resolvo escancarar o meu íntimo para ele. Max só me dará algum crédito
assim, se vir que o que eu disser saiu do fundo da minha alma.
– Eu não sei, eu nunca fiz isso antes, eu nunca me senti assim. O que eu
posso te dizer agora, de certeza, é que hoje, pensar na nossa vida, na nossa
promiscuidade, nas relações da forma como sempre as levamos, me enoja.
Revira meu estômago. O pouco que eu compartilhei com ela nesses dias,
mesmo antes de sequer beijá-la, nossa... não se compara à foda mais fantástica
que tive até hoje. Não chega nem perto. E você sabe por tudo que passei, sabe
dos meus medos em relação ao apego, dos meus surtos. – Respiro fundo e me
animo um pouco, pois seu olhar duro suavizou alguns milímetros.
– Eu não tenho medo de ficar sem sexo ou de não resistir a uma gostosa se
atirando em mim, Max. Não, já tive demais dessa merda na minha vida. Não é
comer qualquer uma por aí que vai me fazer falta. Fico pensando em como vou
fazer para aguentar ficar meses longe dela, isso sim. Uma semana já foi
difícil... Até a questão da diferença de idade, quando estamos só nós dois, não
parece errado, muito pelo contrário. Ela é a coisa mais certa que já tive nas
mãos. – Finalmente vejo em seu semblante que consegui abrir uma brecha para
que me leve a sério, não posso perder a chance, me obrigo a continuar, mesmo
que seja difícil para mim mesmo dizer certas coisas em voz alta.
– O que me faz pirar de medo é que a intensidade do que sinto em algum
momento se torne demais para mim e eu deixe os meus traumas ferrarem com
tudo. Ou então que a história se repita. – Engulo em seco. – Isso me apavora.
Por isso relutei tanto em aceitar. Pela primeira vez na vida Max, eu senti algo
tão forte a ponto de me obrigar a arriscar a minha estabilidade. Quando eu fiz
algo semelhante? Ela me tem nas mãos e você pode imaginar muito bem o que
admitir isto causa em mim.
– Porra!
– Pois é.
– Como foi acontecer? Por que ela? Eu nunca senti nada nem parecido a
tudo que você descreve, na verdade, na minha cabeça, todo esse discurso
sentimental sempre foi exagero das pessoas. Tenho bons motivos para pensar
assim, você sabe... E se o que você diz é para valer, não entendo...
– Não sei dizer, acho que estávamos predestinados...
– Como assim? Que papo de merda é esse?
– Você se lembra de um episódio, que aconteceu há nove anos, uma menina
chorando na recepção do hospital onde Lian estava internado?
– Sim, sim, lembro.
– A menina era Beatriz. Era a mãe dela lá dentro. Só que neste nosso
improvável segundo encontro, mesmo antes de eu ser apresentado oficialmente
a ela, ela já tinha me arrebatado. O que isso significa? Se tiver outra
explicação compartilhe, porque eu não consigo...
– Como assim ela já tinha te arrebatado?
– Eu a vi, na praia, na beira do mar, antes de voltar para casa e me revelar.
Quando eu olhei para ela lá, eu já sabia que não havia mais volta para mim.
Foi um sentimento poderoso, angustiante. Eu a quis naquele instante. Eu a quis
com a mesma força que eu quis criar a The Order, se é que você me entende. –
Ele fica em silêncio por algum tempo.
– Oliver, se o envolvimento de vocês por algum motivo não der certo, você
tem ciência de que estará tirando dela a sua segunda chance de ter uma
família?
– Sim. Mas se acontecer, quem sai sou eu. Foi uma das condições que me
impus para arriscar entrar nessa. Jamais tirarei o chão dela outra vez.
– Você tem noção de tudo que implica o que você acabou de me dizer?
Seria o fim da The Order.
– Se vocês não quiserem arrumar outro vocalista sim, é isso mesmo.
– Caralho, você não está de brincadeira mesmo, não é?
– Não. Nem um pouco. – Ele puxa o ar e passa as mãos pelo rosto.
– Olha, não vou dizer que consigo aceitar numa boa. Pensar em Bia com... é
o mesmo que pensar em alguém como nós com Hazel e isso é demais para
mim. Mas se as coisas entre vocês estão no nível que me descreveu, espero
que dê tudo certo, de verdade. Prometo me esforçar para... vamos dizer, me
adaptar. E vou ficar de olho em você. Não vou deixar você brincar com ela,
pode ter certeza disso.
– Obrigado. E quanto a Hazel, parece que tudo que diz respeito a ela anda
sendo demais para você. Isso não está certo. Já pensou que talvez precise
conversar com alguém? Acho que você incorporou tanto o papel de segundo
pai nestes anos todos, que agora que ela está virando uma mulher e você
percebeu que em breve não será mais o centro do seu mundo, anda passando
por algum tipo de “luto”, Max.
– Não sei. Para mim tem alguma peça faltando nesse quebra-cabeças. Algo
que, por mais que eu insista, ela não quer me contar. E ela sempre me contou
tudo. Isso me preocupa, e muito. Mas vou pensar no que você me falou, talvez
tenha razão e eu queira mesmo é manter a “menininha” ao meu lado.
– Você precisa conversar com ela. Direito, com calma, ouvi-la sem
julgamentos. Estava nítido o quanto ela está magoada com você e o quanto te
dizer aquelas coisas a machucou.
– Eu vou. Mas primeiro tenho que deixar o sangue esfriar, porque só de
pensar que ela passou a noite com aquele cara...
– É, melhor esperar mesmo. Senão vocês dois vão acabar falando coisas um
ao outro das quais vão se arrepender depois. – Abro um sorriso para ele.
– Bom, acho que agora você já pode me fazer aquele pedido de desculpas
pelo soco, certo?
– Nem fodendo Oliver, nem fodendo...

Bia

– Chega princesa, Max só está com ciúmes. Ele está percebendo que logo,
logo você terá outra pessoa em sua vida e tem medo de perder o posto que
sempre foi dele em seu coração – diz Lian, abraçando-a, pois assim que os
dois saíram, Hazel ficou aos prantos.
– Rá, parece piada – diz ela, secando os olhos.
– Por que diz isso?
– Nada Lian, nada, esquece.
– Lian, Kellan está bem? – pergunto com medo da resposta.
– Não Bia, ele não está nada bem. Oliver não precisava ter marcado
território da forma como fez na frente do garoto. Eu pedi a ele para se
controlar.
– Eu não sei nem o que dizer, se eu puder fazer algo para amenizar...
– Não há o que possa ser feito. Agora é ele, com ele mesmo. Precisa
entender, superar. Mas você e Oliver devem ter paciência, porque não é algo
que vai ocorrer de um dia para o outro.
– Claro. Não esperava aquela atitude de Oliver ontem.
– Dei uma rápida olhada no grupo das meninas quando peguei o telefone, só
falavam da suposta namorada de Oliver Rain. Querem que eu confirme se o
gostosão está mesmo amarrado. Carol estava inconformada – fala Hazel.
– Ela que não apareça na minha frente – murmuro para mim mesma.
– Lembre-as dos termos de confidencialidade, Hazel – pede Lian.
– Sim, já fiz isso. E também não confirmei e nem neguei nada – responde
ela.
– Ótimo. Como você já está mais calma, vou deixá-las sozinhas. Sei que
devem ter muitas coisas a compartilhar – comenta Lian, lançando um olhar
malicioso para nós duas. Beija a cabeça de Hazel, depois a minha bochecha e
vai. Hazel corre para o meu lado no sofá.
– E então Bia, me conta tudo.
– Ahhh Hazel, foi tããoo maravilhoso! Desde o momento que ele me
encontrou na pista de dança, a forma como me envolveu, o nosso beijo, foi...
uau! Nem nos meus momentos de imaginação mais fértil eu cheguei perto do
que realmente vivi. O instante em que nossas bocas se encontraram, eu senti
algo muito forte. Não consigo descrever em palavras, mas tinha que ser ele,
sabe? É ele, sempre foi.
– Entendo bem o sentimento – diz, um pouco cabisbaixa, brincando com as
missangas da almofada que colocou em seu colo.
– Não estou contando isso para te deixar mais triste ainda...
– Não, por favor. Não sou esse tipo de pessoa. Eu estou feliz demais por
você, de verdade. Isso ter acontecido com vocês, prova para mim, e para
muitas outras garotas, que nem sempre o impossível é tão impossível assim.
Não concorda? – Ela finalmente sorri para mim.
– Nossa, totalmente! – Rimos, pois faço cara de que nem eu mesma acredito
ainda.
– Eu vi uns lances bem quentes lá na área vip... E aí? Vocês foram até o
fim?
– Deus, eu acho que estava fora de mim lá, me esfregando em Oliver
daquele jeito, na frente de vocês, de Lian... Pensando agora, não sei como
consegui olhar para o seu primo ainda há pouco...
– Não acho que você estava fora, acho que você queria é que Oliver caísse
dentro, isso sim... e você não respondeu à minha pergunta, primeira-dama do
rock.
– Você não presta! – Deixo o riso sair solto.
– Ué, falei alguma mentira? As meninas me descreveram bem a cena de um
certo rockstar anunciando que precisava levar a garota dele embora. – Sorrio
de satisfação me lembrando. Não posso negar que gostei de ver a cara de
espanto delas.
– Não transamos ainda, mas eu beijei muito e gozei pela primeira vez ontem
e... quero logo fazer isso de novo. – Fico vermelha e ela gargalha.
– Sério que você nunca tinha gozado, Beatriz?
– Não, tentei várias vezes me masturbar, mas ia até um ponto e depois
desandava, tinha a impressão de que faltava alguma coisa, sabe?... E ontem,
bem, consegui sentir bem o que me faltava... – Arranco mais algumas risadas
dela e eu quero saber: – Você consegue? Sozinha?
– Sim, mas só quando penso... em você sabe quem. – Ela mexe a boca de
lado desgostosa.
– E Eric? Passou mesmo a noite aqui com você?
– Não bem à noite, pois chegamos no hotel já era quase sete da manhã. Mas
sim, ficamos juntos até quase onze horas quando ele foi embora e eu finalmente
caí no sono.
– Então vocês...
– Não, não consegui, inferno... Ele é um cara ótimo, sabia? Gostei mesmo
dele. O beijo foi bom, nada como isso que você me descreveu, mas foi...
gostoso beijá-lo. Ele tem uma pegada boa. Também conversamos bastante, nos
divertimos, rimos, dançamos. Viemos para cá e é claro, as coisas começaram a
esquentar, e eu até estava entrando no clima, mas daí a imagem de um ruivo
invadiu meus pensamentos. Aquilo começou a me parecer errado, eu me senti
traindo Max. Veja se tem cabimento?! Então não consegui mais relaxar,
continuar... E Eric foi super compreensivo, em nenhum momento tentou forçar
ou se mostrou arrependido por investir a sua noite numa “canoa furada”.
– Não fale assim sobre si mesma...
– É verdade. Enfim, ele me perguntou se eu aceitaria que ele me procurasse
em outro momento, para nos conhecermos melhor. Eu não fechei as portas, sei
lá, quem sabe se eu me envolver mais, criar mais intimidade, não consiga me
livrar do karma que é Max Connor em minha vida. – O telefone dela vibra. Ela
olha e abre um sorriso. – É Eric.
– Já? – Ela ri e vira a tela do telefone para que eu veja a mensagem: “Gata,
passei o dia pensando em você. Já estou com saudades. Beijos, Eric.”
– Que fofo!
– Sim, ele foi muito carinhoso comigo, desde o momento que nos
conhecemos lá na pista. Não mudou depois de saber do meu parentesco com
Lian e Kellan, como tenho medo que aconteça com qualquer um que se
aproxime de mim.
– Então dê uma chance.
– Sim, estou seriamente pensando nisso. Mas vamos voltar à sua noite dona
Bia, não me enrole... Não transaram, mas até onde foram? Você lambeu aquele
corpão todinho? – Sorrio e mordo o lábio inferior só de pensar naquela
deliciosa possibilidade.
– Não, ainda não tive o privilégio, Oliver não deixou avançarmos muito.
Disse que precisamos conversar primeiro...
– Mas nem uma pegadinha no...
– HAZEL! – Arregalo os olhos, divertida. – Não, só senti e vi a coisa em
alerta total na sua calça. E nossa, fiquei com medo. De verdade.
– Sério? – Ela gargalha muito.
– Você ri? Não viu o tamanho daquilo... Mas deve ter sido ilusão de ótica.
Não pode ser normal, Hazel, não tem como... – Afasto minhas mãos tentando
lhe dar uma noção do comprimento do mastro. Quando levanto os olhos para
ela, está branca, se segurando para não cair no riso outra vez e os olhos fixos
em algo atrás de mim.
– Hãhã. – Ouço Oliver pigarrear de propósito, o que indica que ele já
estava ali a algum tempo, se divertindo as minhas custas, e desejo que se abra
uma cratera bem abaixo dos meus pés para que eu caia nela. Hazel não aguenta
se segurar mais.
– Não está certo, Beatriz.
– Eu sei Oliver, me desc...
– Não, anjo, o tamanho... não é esse. Uns dez centímetros a mais e então
você se aproximará do...
– Oliver! – Me viro no sofá para olhá-lo. E jogo uma das almofadas nele.
Ele dá um impulso, pula por cima do encosto, escorrega ao meu lado, me puxa
para si e tasca um beijo de cinema em minha boca.
– O que? Você fica aí falando dos meus atributos para Hazel e eu não posso
nem corrigir as dimensões? – Mas já não consigo focar na brincadeira, outra
coisa me chama a atenção.
– O que foi isso na sua boca? – Passo os dedos de leve sobre o corte no
canto do lábio o no roxo próximo a ele.
– Isso foi o resultado da direita de Max.
– Ele bateu em você? – pergunta Hazel, indignada. Oliver suspira.
– Ele estava nervoso, mas nos entendemos. Se acalmou e foi para o quarto.
– Ela balança a cabeça em descrédito.
– Bom, vou deixar o casal voltar a discutir as dimensões dos atributos em
paz. – Hazel se levanta e eu faço o mesmo.
– Bia, vou cancelar o passeio de hoje à noite. Imagino que prefira ficar por
aqui, não é?
– Sim, se você não se importar.
– Não, estou cansada também. Ainda não me recuperei. De manhã
decidimos se vamos ao que está programado para amanhã, ok?
– Ok.
– Boa noite, casal.
– Boa noite, princesa – diz Oliver. A acompanho até a porta e me despeço
dela.
Fecho a porta e me viro.
O mal caminho inteiro está ali, atrás de mim.
Esperando por mim.
Não quero mais perder tempo. Quero é me perder nele.
Me lanço em direção ao seu corpo, ele me sustenta e me ergue do chão,
enlaço seu pescoço e logo nossos lábios procuram um ao outro, em desespero,
como se fizesse séculos que não se encontram. Enquanto me beija e vai
andando em direção ao quarto.
Enlaço minhas pernas ao redor do seu corpo, ele desce as mãos e me segura
pelas nádegas. Apalpando-as sob o vestido e apertando-me contra sua virilha.
Sinto seu membro endurecendo. Afasto meus lábios da sua boca e vou
descendo pelo seu queixo e pescoço. Ouço um uivo rouco escapar da sua
garganta e me sinto poderosa.
Ele é tão gostoso, tão cheiroso, tão sexy, só com um olhar me deixa louca de
tesão.
– Ah Bia... que delícia anjo... estava doido para colocar as minhas mãos
nessa sua bunda gostosa. Se eu escorregar os meus dedos um pouco mais para
baixo e para o lado, o que eu vou encontrar, hein, pequena? Será que você já
está toda molhadinha para mim? Será que a bocetinha está quente e pingando
pelo meu pau? Ele não vê a hora de estar dentro dela – sussurra no meu
ouvido.
Meu ventre contrai em expectativa.
Puta-que-pariu!
Não estou acostumada a tamanha... honestidade...
– Vai ser um inferno me segurar, sabia?
– Não se segure – peço, me esfregando nele quase tão ensandecida quanto
ontem. Ele já está duro como pedra.
– Precisamos conversar, sobre isso e outras coisas, já era para termos feito,
não fosse a interrupção de Max. Mas primeiro vou dar uns amassos na minha
namorada tarada e linguaruda. Me joga na cama e se joga sobre mim.
Eu grito.
Mas o final do meu grito sai abafado, pois Oliver se perde em minha boca,
enquanto as suas mãos vão subindo pela minha coxa. O vestido vira um
inconveniente amontoado de pano enrolado em minha cintura. Ele força sua
perna entre as minhas para que eu as afaste, e então aperta o interior da coxa,
muito, muito perto de lá... Me contorço e aperto meus músculos vaginais para
ver se a necessidade alivia.
Só aumenta.
Seus lábios cálidos descem pelo meu pescoço, deixando um rastro quente e
úmido em direção ao colo... Sua mão passa pelos meus quadris e chega à
minha barriga por baixo do pano enrolado.
Brinca um pouco naquela região, percorrendo-a de um lado ao outro com as
pontas dos dedos. Sua boca faz o mesmo em meu colo, beijando, roçando a
barba no limite do decote.
Arrepiada é pouco para descrever o meu estado.
Os dedos lá embaixo começam a invadir o elástico da minha calcinha,
aumentando ainda mais a expectativa e o fogo que, neste momento, já me
queima inteirinha. Mas se mantém só no comecinho, brincam, da esquerda para
a direita e voltam para a barriga, provocando micro choques, depois descem
novamente, me levando à beira do desespero.
Já percebi que o jogo preferido dele é me provocar, me deixar no limite.
O pênis muito duro pressionando a minha outra coxa, marcando seu calor
ali...
Ai, senhor... eu preciso...
– Oliver, por favor... – peço para que ele acabe com a minha agonia.
– Bia... – responde ao meu apelo com o mesmo martírio na voz.
Ele também está perdendo a razão? Torço por um sim.
Desço minhas mãos por seus ombros e costas até onde alcanço, preciso
sentir seu calor, quero o contato de sua pele na minha, puxo sua camiseta até
onde dá e espalmo minhas mãos por baixo dela em suas costas.
Ele ergue um pouco o tronco, puxa a camiseta para fora do corpo e volta a
tomar a minha boca, agora abrindo totalmente as minhas pernas com seu peso,
se acomodando entre elas e passando a arremeter de leve, para que eu sinta a
sua dureza onde preciso dela.
Deslizo minhas mãos por suas costas de cima abaixo, chegando ao elástico
da sua calça de moletom. Ele migra o ataque dos lábios ao meu pescoço e faço
o mesmo com o dele, passando meu nariz por sua bochecha e barba. Depois
lambendo desde o seu ombro até a base da sua orelha, sentindo o salgado de
sua pele já um pouco suada em minha língua.
Uhm. Delicioso!
Decido ser audaciosa e enfio uma das mãos pelo elástico da calça,
chegando a sua bunda e passando a mão por ela.
Nua?
Que sorte a minha!
Ele está sem cueca e a bunda durinha em minhas mãos...
Oh, não resisto.
Aperto.
Ele arremete contra mim em reflexo.
Forte!
Isso. Mais. Outra vez, eu desejo.
Estou em chamas, sou fogo líquido.
Desço minha outra mão e dou a ela o mesmo destino da primeira. Apertando
suas nádegas agora com as duas ao mesmo tempo e instigando-o a trazer sua
virilha ainda mais contra mim.
Então ele para, ergue-se, me puxa para que eu sente, e arranca o meu
vestido do meu corpo, me deixando só de calcinha, depois me empurra para
trás e deita-se novamente sobre mim.
Ahh... Meus seios em seu peito...
Nossas barrigas nuas coladas...
Sua bunda contraindo e relaxando sob minhas mãos.
Seu quadril investindo contra mim.
Os pelos do seu peito roçando os meus mamilos.
Seus gemidos roucos em meu ouvido.
O impacto daquele conjunto de estímulos simultâneos me desperta
sensações únicas.
Me dou conta de que este momento, o momento de sentir pela primeira vez a
sua pele na minha pele, enquanto o seu peso me esmaga contra o colchão, é
especial demais. Uma doce e aguardada submissão, pela qual a maioria das
mulheres sonha, ou já sonhou, ser submetida.
Minhas mãos retornam para as suas costas O toque faz a eletricidade correr
entre nós. Sinto sua pele se arrepiar nas pontas dos meus dedos e as batidas
aceleradas do seu coração no mesmo ritmo do meu.
Com um murmúrio quase dolorido, ele se obriga a desacelerar o ritmo das
investidas. Provavelmente estava prestes a gozar.
– Deus, Bia, que é isso que você faz comigo? – pergunta, mais para si
mesmo.
Oliver levanta a cabeça e fica alguns instantes passando o nariz
carinhosamente pelo contorno do meu rosto, enquanto tenta se acalmar e
recuperar o controle.
Primeiro pela testa, depois desce para a maçã do rosto, então contorna a
linha do maxilar e por fim os meus lábios e nariz. Aproxima os lábios e beija
as sardas abaixo dos meus olhos, primeiro de um lado, depois do outro.
– Amo essas sardas – comenta e encosta nossas bocas.
Ouvir aquela palavra saindo de sua boca me faz estremecer.
Aperto-o mais contra mim, ergo minhas pernas e enlaço seus quadris. Ele
encosta os lábios no meu ouvido.
– Minha! – proclama, possessivo.
Parece querer garantir que eu não me esqueça daquilo.
Como se fosse possível.
Uma mão sua sobe entre nossos corpos e envolve o meu seio enquanto sua
boca retoma os nossos beijos, agora de forma ardente. Volta aos movimentos
deliciosos de encostar e afastar nossos sexos, massageando o meu mamilo ao
mesmo tempo.
Minhas mãos voltam para a sua bunda, sob a calça, sentindo-a ir e vir a
cada arremetida.
Quem dera houvesse um espelho sobre nós para eu ter aquela visão por
completo. Certamente, seria uma visão e tanto.
Seus lábios começam então um percurso rumo ao sul, e chegam aos meus
seios, onde se demoram e capricham na atenção que dão a eles.
Socorro!
Meus mamilos estão tão duros. Tão sensíveis. E saber que é ele ali,
lambendo-os, chupando, os deixam ainda mais em alerta, pedindo mais.
E ele dá! Primeiro para um, depois para o outro.
– Lindos! – diz, marcando minha pele com o calor dos seus lábios - Quando
me lembro da visão dos seus peitos naquele biquini preto minúsculo Beatriz...
ah, eu quis te comer bem ali, naquela hidro, naquele dia...
– Oliver, que delícia... só... não para...
– Ah pequena... – murmura, deleitando-se com os meus seios conforme
pedi.
Entendo bem porque aquela ruiva mantinha a cabeça dele presa em seus
peitos...
A boca dele é mágica!
E agora, ao que parece, ela tem outros planos...
Os lábios escorregam para a base dos meus seios e deixa um beijo em cada
um dos lados, depois segue com a língua pelo meio das minhas costelas até
chegar ao meu umbigo, onde a enfia e se demora.
Eu contraio a barriga e tremo de tesão ao imaginar a próxima parada
daquela boca.
Passo os dedos por seus cabelos. Ele morde minha barriga e percorre com a
língua o limite do elástico da minha calcinha. Passa as mãos por trás das
minhas pernas e as escancara, ficando com o rosto bem lá, no meio delas.
Desliza o nariz, de cima a baixo, puxando o ar e absorvendo o meu cheiro.
Senhor!
Levo uma mão ao rosto tapando meus olhos com o antebraço.
Estou roxa de vergonha agora, porque estou muito, muito molhada e ele se
esfregando nela...
– Seu cheiro me deixa louco, louco. Você não imagina o quanto já tive que
me controlar perto de você, Beatriz. – Beija e morde uma coxa, arranha a
barba nela me fazendo tremer de ansiedade.
Ansiedade esta ele não tarda a aplacar.
Primeiro beija delicadamente e depois suga o meu clitóris sobre o tecido da
calcinha. Leva as mãos as minhas coxas e as segura imóveis e bem abertas,
enquanto se dedica ao trabalho, sugando e sugando e sugando o meu pontinho
de prazer, ao mesmo tempo que o circunda com a língua, sem trégua e sem
permitir que eu mexa um músculo sequer da cintura para baixo.
– Oliver... eu... ahhh...
A dor no meu ventre aperta. Preciso me mexer, contrair, contorcer. Mas ele
não relaxa na pegada.
Minha vagina pisca, clamando por ele.
Minhas pernas sofrem micro espasmos pela intensidade que ele impõe
aquela missão.
Minha respiração está super ofegante e gemidos escapam da minha boca
sem que eu tenha controle sobre eles.
Como é possível?
Simplesmente não consigo não gemer...
Na real, tenho vontade de gritar!
– Eu não aguento... eu vou...
– Isso anjo, goza na minha boca. Agora! – Suga forte, e eu já não aguento me
manter só na vontade, grito de verdade!
Ele me faz morrer e voltar pela segunda vez.
Estou entregue e mole, muito mole.
Assim que percebe que me acalmo, monta em mim novamente, chegando a
minha boca, onde consigo sentir o meu cheiro em seu rosto. Ele passa a
arremeter forte e mais forte contra o meu corpo. Sua respiração acelera muito e
seus gemidos ininterruptos em meu ouvido são uma nova fonte de deleite.
Então sinto o calor e a umidade de seu gozo, ultrapassando o tecido da sua
calça e melando a minha barriga. Ele apoia a cabeça na curva do meu pescoço
e baixa todo o peso do corpo sobre mim.
Estamos suados, melados, ofegantes, exaustos e saciados.
Ficamos assim, grudados um no outro, por vários minutos, só sentindo
aquela energia, aquela conexão e a calmaria depois da tempestade. Afago seus
cabelos úmidos pela transpiração assim que me sinto apta a movimentar os
braços outra vez.
– Caralho, pequena... porra... você me fez gozar nas calças. Acho que isso
não acontece comigo desde os quinze, mais ou menos... – Oliver ainda está um
muito ofegante.
Beijo seus cabelos, passo as mãos por sua nuca e costas, que estão lavadas
de suor. Ele está tão entregue que soltou seu peso de vez sobre mim,
dificultando a passagem de ar.
– Oliver, adoro te ter assim, grudado em mim, mas não estou conseguindo
respirar. – Ele ri, beija minha bochecha e deita-se de costas ao meu lado na
cama.
E eu me arrependo de não ter aguentado o seu peso mais um pouco, pois de
repente ficou tão frio...
Como se ouvisse meus pensamentos, me aninha contra o seu peito.
Passo a mão pela minha barriga, por aquela gosma esbranquiçada que ele
deixou ali. Pego um pouco entre os meus dedos, sentindo a textura.
Ele só me observa.
Levo os dedos próximo ao meu rosto, analiso, cheiro e então, chupo um
dedo, sentindo o seu sabor.
Oliver arregala os olhos.
Sim, rockstar, sou uma pessoa curiosa.
– Porra! Você fez isso mesmo?
Opa. Acho que a minha ingênua curiosidade marcou pontos.
Sendo assim, mantenho os olhos grudados nele e chupo mais um dedo, e
depois mais outro.
– Uhmmm, bomm... tem gosto de Oliver, sal e jiló. – Ele gargalha e me beija
na boca ao mesmo tempo.
– Jiló, Beatriz, sério?
– É, um amarguinho no final ué...
– Você vai ser a minha ruína, sabia? Essa sua boca pecaminosa, chupando a
minha porra dos seus dedos foi uma das coisas mais eróticas que já vi. Mas
daí você solta um jiló no meio e desmoraliza completamente o momento e o
meu material. – Rimos juntos.
– E o que eu deveria ter dito ao invés do jiló, então?
– Que tem gosto de macho, só isso... – Rio da sua indignação.
– Tá bom, vou me lembrar da próxima vez, longe de mim desmerecer todo
esse material.
– É, eu percebi o quanto você conferiu o material mocinha. Minha bunda
deve estar roxa de tanto que a senhorita apertou.
– Ah, eu queria mesmo é mordê-la, posso? – Ele ri.
– Vai poder, em breve... está com fome?
– Estou, mas preciso de um banho antes.
– Então vá, vou pedir e quando você sair eu tomo um banho também.
– Não quer vir comigo?
– Se eu quero? Caramba, claro que quero! E logo, logo faremos isso o
tempo todo, mas temos muito o que conversar antes. Eu preciso. – Acaricia
meu rosto e percebo a sinceridade em seu olhar. Mas brinco com ele mesmo
assim.
– Você está só nas promessas... – Reviro os olhos.
– Ah é, sua safada! – Me puxa, já me pressionando no colchão outra vez. –
Quem foi que gozou bem gostoso na minha boca ainda a pouco? – Suspiro.
– Vamos ter logo essa conversa então. – Beijo-o e me levanto, na intenção
de ir para o banho. Ele acaba momentaneamente com os meus planos.
– Pare um pouco, anjo. – Paro onde estou e me viro para ele que ainda está
deitado na cama, com as mãos abaixo da cabeça, me olhando de cima abaixo. –
Você é linda demais! Dê uma voltinha pra mim.
– Oliver...
– Vamos Bia, me deixa ver a sua bunda gostosa nessa calcinha. Tem umas
fotos de lingerie que me atormentam a alguns dias sabe... – Resolvo provocar,
coloco um dedo na boca, fazendo um charminho e depois faço o que ele pede,
me viro de costas.
– Aiiii, puta-merda! Que bunda! Tão arrebitada e perfeita... Um dia ainda
me enfio nela... – Vou ignorar e fazer de conta que eu não entendi essa parte. –
E as suas coxas... Por Deus, Beatriz, jamais vou deixar que use um biquini na
frente de outros homens. – Reviro os olhos outra vez, agora para a sua
declaração descabida.
– E esses caracóis caindo pelas suas costas... Você é uma deusa! A hora que
eu puder te comer de quatro segurando esses cabelos em minhas mãos e
olhando a sua bunda deslizando no meu pau... Porra! Já estou duro outra vez
aqui... Entra logo nesse banheiro porque se eu te pegar de novo agora, desisto
de qualquer conversa. – Faz menção de levantar e eu corro para o banheiro aos
risos.

São vinte e uma horas e já jantamos.


Acho que chegou a hora da nossa conversa.
Oliver aproxima-se, senta-se ao meu lado, com um joelho dobrado em cima
do sofá. Me ajeito da mesma forma e ficamos um de frente para o outro. Ele
põe uma mexa de cabelo meu atrás da orelha.
– Como você se sente, anjo? Como está sendo isso tudo para você até
agora?
– Nas nuvens? – Faço uma cara de safada. Ele sorri, mas logo volta a
seriedade.
– É sério, Bia. Preciso saber.
– Eu estou feliz. Muito feliz. Acho que é perceptível no meu rosto, não? –
Olho-o nos olhos para que perceba que estou abrindo meu coração
verdadeiramente. – Ainda é surreal para mim aceitar que isto está mesmo
acontecendo, então a todo momento eu espero acordar de um sonho. Porque a
minha felicidade é tanta, me sinto tão completa, que morro de medo desse
sentimento.
– Por que medo? – Respiro fundo.
– Porque, durante os últimos nove anos da minha vida, foram poucos os
momentos de felicidade plena. E sempre que eu me permitia pensar que dali
para frente eu seria feliz, algo acontecia e me arrastava na marra para a dura
realidade. Eu morro de medo de que isso aconteça novamente. – Confesso e
não consigo evitar que meus olhos se encham.
– Ah meu bem, nada vai acontecer com você. Eu não vou deixar.
– Não é comigo que me preocupo e sim com você. Que algo aconteça com
você... eu não...
– Shhh, não Bia, não. Pare de pensar em coisas tristes. Vem cá. – Me abraça
e deito a cabeça em seu peito.
Ele fica brincando com os meus cabelos. Depois de um tempo ergue meu
rosto para que olhe em seus olhos.
– Nada assim vai acontecer em sua vida outra vez. Promete para mim que
vai parar de pensar dessa forma? – pede sério. Sei que ele não pode me
garantir aquilo. Ninguém pode. Mas como ele disse, não é hora para pensar em
coisas tristes.
– Vou me esforçar. – Ele assente.
– E a gente Beatriz, o que você espera dessa relação?
– Sei que você não quer que eu fale nisso, mas quando você me faz esse
tipo de pergunta, não há como não relacionar. Como eu te disse, estou muito
feliz. Eu espero poder viver este sentimento que começou há nove anos,
permaneceu em mim, foi se transformando, e agora que estamos próximos,
cresce a cada dia, bem aqui. – Pego sua mão e levo ao meu coração.
– Você foi o primeiro olhar que me impactou, o único a habitar os meus
sonhos, o meu primeiro beijo, o meu primeiro orgasmo. – Ele sorri. – Então
espero simplesmente descobrir mais coisas com você e curtir essa felicidade.
Não faço planos para um futuro distante, Oliver, pelos mesmos motivos da
resposta anterior. Aprendi na pele o quanto tudo é efêmero. O amanhã nem
sempre existe. Muito menos da forma como o imaginamos. O importante é o
aqui e o agora.
– Você sabe como é a minha vida, não sabe? Agora estamos só em casa, no
nosso período de férias, mas logo estaremos a toda no estúdio, nas
composições, gravações. Há produção de videoclipes, sessões de fotos
promocionais, eventos de lançamento, de premiações, sem contar os meses de
turnê...
– Sim, imagino que a agenda seja pesada...
– É, mas o que eu quero evidenciar é que em todos os lugares por onde eu
passo, encontro pessoas, encontro mulheres, muitas...
– Oliver, – digo já um pouco irritada e me afastando dele. As visões da
ruiva e da advogada resolvem aparecer bem agora. – Se o que você está
querendo me dizer com este discurso é que se envolverá com outras mulheres
enquanto está comigo, me desculpa, mas não conseguiria acei... – Ele põe o
dedo nos meus lábios.
– Não, não é isso, calma. Não estou propondo uma relação aberta. Jamais!
Morro de ciúmes só de alguém te olhar. Sentimento esse bem novo para mim,
aliás. Será só você e eu, pequena. Mas o que eu estava querendo dizer é que eu
sou um homem visado Bia, pelo fato de eu sempre ter evitado exposição
desnecessária, qualquer coisa que se consiga atrelado ao meu nome ou ao meu
rosto, vende. E por mais que eu não queira e não vá ceder a nenhuma das
investidas, elas vão tentar, rumores podem surgir, fotos tiradas de algum ângulo
sugerindo algo comprometedor, provocações, enfim, toda a merda que
acompanha a mídia e que temos uma equipe inteira focada em rastrear, punir,
limpar, abafar. – Ele segura meu rosto entre suas mãos.
– E o ponto em que eu quero chegar com tudo isso, é que por mais que eu
cuide e minha equipe tente ser proativa, um ou outro sempre escapa, vai
acontecer, você ficará sabendo, alguém pode te mostrar algo para me atingir,
isso vai te magoar e pode nos prejudicar. Então a questão aqui é a seguinte:
você conseguirá confiar em mim a ponto de ignorar toda essa porcaria e
acreditar na minha palavra? Isso é sério, anjo, não pense que é fácil. Se fosse o
contrário, não sei se eu aguentaria. Acredite, garotas com a mão em meu braço
e o olhar de funcionárias de hotel sobre mim serão o de menos. – Porra, ele
precisa ser tão... sincero? Suspiro.
Mas, sei que ele tem razão e não adianta eu me iludir...
O jeito é mostrar alguma maturidade e torcer para que na hora do “vamos-
ver” ela também apareça.
– Sim, eu posso fazer isso, desde que você me prometa uma coisa.
– O quê?
– Que se um dia, por qualquer motivo que seja, nem precisa me explicar os
seus motivos se não quiser, você sentir vontade de ficar com outra mulher,
você vai me contar antes de acontecer. Seja por mensagem, telefone, enfim,
não importa. Você vai me dizer e me dar a oportunidade de sair dessa relação
sabendo que eu não fui enganada. Que pelo menos até aquele momento foi real.
Se você puder me prometer isso, então também posso prometer que vou confiar
e acreditar em você.
– Eu prometo, não vou te trair, fique tranquila. Ter qualquer mulher por aí é
mais do mesmo, é tudo que já tive até hoje na minha vida. O que estou
experimentando com você é o novo para mim. E se algo mudar, meus desejos
mudarem, você saberá antes de tudo e todos. E isso vale para você também.
– Como assim?
– Enquanto minha vida for do jeito que é, além de tudo que já falei, você
ficará sozinha por meses. Você também pode mudar, pode perceber que quer
ter alguém “normal” ao seu lado, que não venha com toda a carga que me
acompanha. Alguém que possa te levar para um passeio no shopping, ou a uma
viagem, sem ter que se cercar de seguranças, disfarces... ou você pode vir a
querer alguém mais jovem. Caso a nossa relação perdure, quando você estiver
com vinte e sete anos, Beatriz, eu já terei quarenta. E só piora. – Ele faz uma
careta e eu rio.
– Ah Oliver, não vai acontecer... se eu tenho uma certeza na minha vida é
essa: você. – Ele abre um sorriso luminoso e seus olhos ficam brilhantes, como
se aquilo, ser colocado em primeiro lugar, fosse algo muito espantoso para ele.
Quem não faria dele o centro do seu mundo?
Mas vejo que fica momentaneamente desconcertado. As palavras lhe faltam.
– Ok, hã... eu... – o beijo. Ele não precisa falar nada.
Antes que o beijo esquente demais, ele nos para.
– Já vamos voltar aos beijos, anjo, mas agora que estas questões ficaram
claras, há uma outra, em função da nossa diferença de idade. – Ele respira. –
Eu ficaria muito mais confortável, se pudéssemos esperar você completar os
seus dezoito anos para termos relações sexuais completas. – Minha vez de
fazer cara de espanto.
– O quê? Você só pode estar brincando.
– Não, me ouça, por favor. Eu sou um cara que já viveu de tudo que você
possa imaginar no que diz respeito a sexo. Tenho trinta e um anos, mas se eu
olhar para todas as merdas que já fiz, me sinto muito mais velho do que isso.
Ter você nos meus braços, tão madura em tantas coisas e tão inocente nisso, ao
mesmo tempo que me sinto extasiado, privilegiado, me sinto também sujo, não
merecedor de...
– Isso de novo não – peço.
– Por favor, me ouça até o fim, tudo bem? – Assinto. – Então, pode parecer
hipocrisia, mas é como eu me sinto, anjo. Ver você descobrindo as coisas, a
forma como reage a mim, a cada olhar, cada toque meu, nossa... você não faz
ideia de como me encanta e me excita. Eu estou adorando passar por isso com
você. Você tem tanto para experimentar ainda, pequena, tanto. Não temos
porque apressar as coisas. Nada na minha vida foi puro, inocente, Bia. Quero
tomar um pouquinho disso para mim também.
– Deus, são quatro meses Oliver, quatro meses... olha como estávamos
naquela cama há cinco minutos...
– São só quatro meses. E nesse tempo a gente vai se conhecer ainda mais,
não vamos deixar de ter momentos quentes, mas vamos curtir cada etapa por
vez. E você vai ter tempo para ter certeza se é isso mesmo que você quer.
– Eu não sei... eu não sei se consigo lidar com isso, eu me conheço... vou
ficar insegura em relação a nós, pensar que na verdade você quer esse tempo
porque você não tem certeza, e eu... eu estou tão pronta para você. Eu não
tenho dúvidas. Por favor, não me faça esperar todo esse tempo para ter você
por completo, por favor... Muita coisa pode acontecer em quatro meses,
Oliver, minha vida...
– Ah, anjo, não... – Me estreita mais em seus braços.
– Você tem dúvidas Oliver, é isso? Você acha que eu não... – Ele tapa meus
lábios com os seus desta vez. Me beija forte e profundamente. Quando se
afasta, estamos ofegantes.
– Se eu fui atrás de você naquela boate Beatriz, – diz, recobrando o fôlego
– é porque não há mais um pingo de dúvidas dentro de mim. Foi uma decisão
muito difícil e muito séria para mim. – Agora eu que seguro o seu rosto entre
as mãos.
– Então não há necessidade desta espera toda. Por favor, vamos viver,
deixar rolar, sem prazos ou regras. Eu quero tanto você... – Ele suspira.
– Tudo bem, sem prazos ou regras, mas também sem pressa, Beatriz. E
definitivamente não aqui, nesse hotel. Quando acontecer, quero você na minha
cama. – Abro um sorriso enorme para ele.
– Com isso eu posso lidar.
– Ótimo. – Me puxa para o seu colo e voltamos a nos perder na boca um do
outro. Até que o telefone dele vibra. Ele olha e vira o visor para que eu leia.

Filho, está tudo bem? Não consegui falar com você, liguei
algumas vezes no seu quarto. Está por aqui ainda ou já
voltou? Espero que retorne para casa Oliver. Mandei
mensagem para Beatriz também, mas não me respondeu

– Vamos chocar dona Laura?


– O que você quer fazer?
– Vem cá. –Me posiciona no seu colo, cola o rosto no meu, tira uma self
nossa e envia para ela.

Estamos bem
Esperamos alguns minutos e ela não manda mais nada.
– É Oliver, acho que você chocou realmente a sua avó. Melhor ir lá ver
como ela está.
Capítulo 13

“É um lago negro, o seu olhar


É água turva de beber, se envenenar
Nas suas curvas, derrapar, sair da estrada
Morrer no mar”
(Olhar 43 – RPM)

Oliver

S aio do banheiro e Bia está deitada na cama, vendo alguma


coisa no seu telefone. Usa um pijama rosa, com rendas
brancas, tão delicado quanto ela. Os cabelos espalhados
por todos os lados fazem a moldura perfeita em seu rosto. Me junto a ela.
– O que você tem de tão interessante aí nesse telefone?
– Uhm, estava olhando algumas fotos. Do meu pai.
– Deixa eu ver. – Ela me passa o telefone, e a tela ascende com a foto de um
senhor sorridente, porém já bem abatido pela doença, com Beatriz lhe dando
um beijo no rosto.
– Pode ir passando, são todas dele. Fora algumas que tirei da praia em sua
casa e com sua avó, todas as outras somos ele e eu. – Meu dedo avança as
fotos, em direção ao passado, e a aparência do senhor vai melhorando. Até que
chego em uma e eu paro.
– Esta foto, é impressão minha ou é o nosso palco lá ao fundo?
– É sim, foi no final do show de vocês em Chicago. O presente de
aniversário que meu pai me deu.
– Verdade, você comentou aquele dia no jantar. Seu pai tinha os mesmos
olhos que os seus. Você está tão linda nessa foto, anjo.
– Eu estava muito feliz Oliver, acho que refletiu na imagem.
– Pena eu não ter te visto ali, naquele dia, não teria deixado você escapar –
digo, lhe dando um beijo rápido.
– Você viu.
– Como assim, eu vi?
– A última música. Private Chaos. Você cantou ela inteirinha olhando para
mim. Ou pelo menos foi o que deu a entender.
– Não, foi impress... – E então eu me lembro de uma situação.
Foi realmente no show de Chicago. O segundo da turnê.
As palavras que eu disse a ela ontem, sobre os seus cabelos serem uma
marcar para me guiar até ela retornam à minha mente com força e um arrepio
de espanto passa pelo meu corpo. Como que corroborando aquele pensamento.
Puta-merda! Não pode ser.
Era a última música do show e em determinado momento eu olhei para a
plateia e notei uns raios de luz que refletiam a iluminação do palco em várias
direções e feixes de cores diferentes. Aquilo me chamou muito a atenção,
porque era um efeito incrível.
Eu sabia que tinha alguém ali, mas não conseguia focar em seu rosto, porque
a luz forte não deixava. Mas eu conseguia sim ver os lindos cabelos
cacheados. Fiquei fascinado por aquela imagem. Tentei durante a música
inteira ver o rosto da dona dos caracóis refletores.
– Por Deus Beatriz, tem mais alguma situação do passado que envolva você
e eu e para qual eu estive cego até agora? Me fale todas de uma vez, por
favor... – Ela ri.
– Não, essa é a única que você ainda não sabia. Você se lembra? – Ela
arregala os olhos em expectativa.
– Sim, lembro. Isso é tão incrível que me dá medo, sério. Parece que a vida
esteve tentando nos preparar um para o outro. Aquele dia, eu vi uma luz forte
vinda da plateia, eu via seus cabelos e a impressão que dava é que eles
refletiam as luzes do palco, em várias cores e várias direções, era lindo. Como
se alguém tivesse ligado holofotes sobre você para atrair o meu olhar. E fiquei
a música inteira tentando ver o seu rosto. Mas eu só via luz e cor.
Seus olhos estão emocionados. Ela aproxima o rosto do meu e me beija de
forma calma e apaixonada.
Deixo que conduza nosso beijo da forma que quer, mas a puxo pela cintura
para que nossos corpos fiquem grudados. Enquanto dita nosso beijo, Bia
espalma a mão em meu peito e me acaricia ali, passa pelos mamilos, brinca
com os pelos, desce um pouco em direção ao meu abdômen, mas logo retorna
ao peito.
Passo minhas mãos por baixo da blusinha de seu pijama e a retiro dela.
Apalpo seus seios, massageando-os, provocando-os, deixando os bicos
durinhos entre meus dedos. Ela beija meu pescoço e rosto.
Puxo-a para que fique por cima de mim. Seguro seus cabelos, mordisco seu
pescoço e vou descendo com a boca até os seios deliciosos, que não canso de
mamar. Enquanto passo a língua pelos mamilos entumecidos, vou puxando a
calça de seu pijama para fora de seu corpo também, deixando-a só de calcinha.
– Agora é minha vez – diz ela, acabando com a minha festa e descendo os
lábios pelo meu pescoço em direção ao meu peito.
Beatriz distribui beijos por todo o meu peito, beija também meus mamilos,
depois brinca com a língua e suga-os de leve, me fazendo arrepiar sob o seu
toque carinhoso e inexperiente. Passa várias vezes o nariz entre os pelos do
meu peito e inspira fundo, absorvendo o meu cheiro.
Tão linda, tão menina.
Cria coragem e desce a mão pelo meu abdômen, chegando perto do limite
da minha calça. Fica dançando ali, com os dedos de um lado para outro, me
provocando espasmos na barriga pela delicadeza do seu toque. Seus beijos
vão rumando ao desconhecido, chegando acima do meu umbigo, onde ela enfia
o nariz e inspira novamente.
Já estou duro no último e louco de tesão.
A vontade de me enterrar nela está a cada minuto mais esmagadora.
Pensando agora, agradeço mentalmente por ela ter me feito declinar da
ideia dos quatro meses. Não teria forças para adiar por tanto tempo o desejo
que clama em nós dois a cada instante mais insuportavelmente.
Ela beija agora abaixo do meu umbigo, onde também brinca com a língua na
trilha de pelos que desce para dentro da minha calça. Sons involuntários
escapam da minha garganta pelo esforço que faço para resistir.
Então, do nada, se ergue e senta-se sobre as minhas coxas, fica ali, me
devorando com os olhos e acariciando com os dedos a minha barriga, de um
lado para o outro. Analisando o belo volume em minha calça, indecisa.
Uma verdadeira deusa de longos cabelos cacheados e olhar profundo.
Resolvo ajudá-la.
– O que você quer fazer? Diga, anjo.
– Posso tocá-lo? – Tiro uma de suas mãos de minha barriga e coloco-a
sobre o meu pau duro, por cima da calça.
– Sou seu Beatriz, faça o que tem vontade. – Ela suspira muito, muito
pesadamente e geme.
– Diz de novo? Acho que eu não ouvi direito. – Abro um largo sorriso para
ela.
– O que? Que eu sou seu? – Falo a última parte bem devagar.
– Deus, você falou mesmo... – Rio, mas logo tenho que parar porque ela
passa a mão sobre o meu comprimento, de cima abaixo, de leve. Testa apertá-
lo e volta às acaricias, deixando clara a sua inexperiência e me levando à
loucura ao mesmo tempo.
Surpreendendo-me, coisa que ela parece ser especialista em fazer, leva as
mãos ao elástico da calça e puxa-a para baixo, libertando o meu pau do seu
confinamento.
Então para e olha.
E olha, só olha, para o membro duro que agora pesa sobre a minha barriga,
chegando um tanto acima do meu umbigo.
– Oliver, isto é enorme e grosso demais! – fala depois de um tempo. Rio da
clara preocupação estampada em sua cara.
– É sim e é seu, pode trocá-lo, não vai te morder. Não hoje pelo menos. –
Ela leva timidamente a mão ao meu pau e recomeça aquele torturante toque
delicado que estava fazendo sobre a calça.
Deixo por um tempo até que fica demais para mim, então pego sua mão e
faço-a envolvê-lo, mostrando o movimento de subir e descer a mão.
– Assim, pressione e movimente a mão.
– Deus, nem consigo fechar a minha mão ao redor... isso, isso parece uma
lata grande de Pringles. – Gargalho do enorme exagero da comparação. Ela
vai soltando o verbo enquanto me masturba.
– Como... como vai entrar em mim? Não cabe! É uma lei da física. Não tem
como enfiar o maior no menor. E é tão duro... nossa... parece que tem uma
barra de ferro aí dentro revestida por veludo, porque também é bem macio...
Detesto pensar naquela ruiva, mas tô quase fazendo dela a minha heroína por
conseguir...
– Que ruiva Beatriz? – pergunto em meio aos risos.
Senhor, como ela me diverte!
– A que eu vi com você lá na banheira do Lian.
– Cacete, só você para falar nisso agora.
– Desculpe, mas Oliver, eu estou mesmo preocupada. E se não der? E se eu
não for o número do seu pênis? – Aí é demais para mim. Estou rindo de
chorar... – Você ri porque não é no seu buraco. – Puta-merda!
Ai... preciso me acalmar... caramba!
– Vamos esclarecer bem esses pontos da sua última fala e vamos fazer um
ponto de cada vez – digo quando consigo me recuperar um pouco. Ela continua
me encarrando, a testa franzida de preocupação.
– Primeiro, você tem que usar a palavra certa para se referir a ele, nada de
pênis. Vamos lá, você consegue, qual é a palavra? – Ela me lança um olhar tão
atrevido, que eu sei na hora que vem merda...
– Pinto?
– Bia...
– Pipi? Bilau? Minhoca? Banana? Linguiça? – fala debochada, me
provocando.
– Tá se divertindo sendo engraçadinha, é?
– Bengala? Salsicha? Pirulito?
– Olha bem para ele, Beatriz! Pirulito? Você tem coragem?
– Tromba? Salame? – diz, encarando meu pau e erguendo as sobrancelhas.
– Vai zoando... Quero ver a graça na hora que a gente for tirar a prova do
número. – Ela engole em seco e fica pálida.
Linda demais! Como resistir?
Eu não resisto.
Me sento, puxando-a para mais perto, deixando o meu pau espremido entre
nossas barrigas.
– Pau, Beatriz, pau! Essa é a palavra que você vai usar para se referir a ele,
entendeu?
– Oliver, – ela desce a mão e me segura de novo – isso aqui não é um
simples pau, isso está mais para... uma tora! – Sacudo os ombros de tanto rir.
– Tudo bem, pode chamar assim também. Mas me explica uma coisa, como
a senhorita sabe que os outros paus não são tão tora quanto?
– Eu posso ser virgem e nunca nem ter chego perto de um antes, mas eu vi
fotos, ok? Sites... E também não fugi das aulas de educação sexual.
– Bom, então vamos ao nosso segundo ponto. Se não fugiu das aulas,
deveria saber que a mulher quando está excitada, assim como o homem, ela
dilata. Expande o clitóris e dilata e lubrifica a vagina para facilitar a
penetração. E é por isso que cabe, anjo. Não precisa ficar nervosa. Você será o
meu número. Pode ser difícil nas primeiras vezes, mas depois você vai
agradecer por ter o tora em sua vida. Saem bebês das vaginas, Beatriz.
– É, parece que eu prestei mais atenção em algumas coisas do que em outras
naquelas aulas...
– Ah é, sua safada! – Dou um impulso e me jogo por cima dela, prendendo-
a embaixo do meu corpo. – Ficava lá, só prestando atenção nas ilustrações dos
homens de pau duro, hã? – Mordo seu pescoço e ela ri.
Acomodo o meu pau bem no meio das suas pernas e consigo sentir o seu
calor e umidade através do pano fino da calcinha. Me esfrego um pouco ali,
gemendo em função do meu desespero, da vontade de meter nela de uma vez,
com força.
Ataco sua boca enquanto me livro por completo da minha calça. Quando
paro ela me empurra, fazendo força para se libertar da minha pegada.
– Oliver, eu não terminei a minha exploração desse seu corpão gostoso.
Sonho com isso a muiiiiitooo tempo... Deite-se de costas e me deixe olhar para
você.
– Sim, senhora – faço o que ela quer.
Coloco as mãos abaixo da cabeça, me exibindo em toda a glória para o seu
olhar. Ela me olha como se eu fosse o doce mais saboroso e complexo do
mundo e não soubesse por onde começar a degustação.
Eu tenho uma ideia bem clara de por onde ela deveria iniciar..., mas só de
pensar naquela boca me chupando... não sei se aguento muito tempo. – Ela
suspira.
– Como pode? Como pode alguém ser tão lindo e perfeito assim? – Aponta
para o meu corpo. – É um crime, sabia? Até o tora é lindo demais! Tão
imponente e majestoso. – Tenho que segurar o riso outra vez, o que é uma
missão bem difícil, vendo-a falar essas coisas de forma séria.
– Eu nem posso ficar com raiva das outras mulheres tentando tirar uma
casquinha. Só posso sentir pena... – Outro suspiro. – Como vou conseguir
resistir a você algum dia? É humanamente impossível! Eu me sinto como uma
criança cercada por brinquedos maravilhosos por todos os lados e sem saber
qual deles pegar primeiro. – Suas mãos deslizam pelas minhas coxas.
– Você tem todo o tempo do mundo, meu bem. Brinque à vontade.
– Você é o playground dos sonhos... – Aproxima as mãos do meu quadril e
passa os dedos por cima da tatuagem que tenho perto da virilha.
Contorna todo o desenho, e vejo que nota o relevo estranho que tem ali, mas
não diz nada. Abaixa a cabeça, lambe e beija a tatuagem, depois pega o meu
pau novamente. Testa o seu peso, aperta, larga-o sobre minha barriga e desliza
os dedos pelo comprimento, até chegar no meu saco. Envolve minhas bolas
com a mão e as acaricia, analisando a forma e a textura do brinquedo
escolhido.
– Dói?
– Não. Mas se você bater ou apertar demais vai doer.
Então ela faz o que será a minha perdição.
Empurra minhas pernas com as mãos para que eu as abra, estica o corpo de
bruços no vão entre elas e fica com o rosto e aquela bendita boca a alguns
centímetros do meu pau. Passa o nariz pelos meus pelos aparados do meu
púbis e pelo interior da minha coxa, inspirando.
– Até aqui você cheira a menta, que delícia! – Porra, nunca ri tanto na cama
com uma mulher.
Continua levando os lábios ao interior das coxas, onde beija e dá
mordidinhas, e então lambe minhas bolas, coloca-as na boca e chupa.
Puta-merda, tá difícil me segurar.
Passa a língua pelo meu saco, beija e lambe de novo. Quando decide que já
me torturou o suficiente com a brincadeira ali, sobe com a língua, lambendo o
meu comprimento de cima abaixo. Estremeço em antecipação a visão daquela
boca me envolvendo.
Para me enlouquecer mais um pouco, primeiro ela lambe também minha
barriga ao redor do pau, fazendo o desenho do contorno dele com a língua.
Então segura-o em frente ao rosto e beija, da base até a cabeça. Deixa um beijo
na ponta também e um tremor passa pelo meu corpo.
Inferno! Vou explodir logo.
Ela contorna a cabeça com a língua, e minha respiração já está super
pesada.
Até que finalmente me dá o que eu tanto ansiava, Bia desce os lábios,
aqueles lábios cheios e bem desenhados da sua boca pecaminosa, pelo meu
pau, lentamente, testando o seu limite.
Ela chega até perto da metade e volta. Lambe novamente a ponta e baixa a
cabeça de novo. Com sua inexperiência, vai testando a melhor maneira de
trabalhar com aquela boca em mim.
Me ergo um pouco e seguro os seus cabelos para poder ter a visão completa
daquele contraste magnífico.
Entre o angelical e o profano.
É uma visão erótica pra caralho.
Por mais que eu a tenha imaginado e muito, não estava preparado.
Ela repete o movimento mais algumas vezes, me deixando louco para
acelerar e meter na sua boca mais rápido.
– Oliver, caramba, não consigo chegar nem na metade e minha boca está
esticada no último – diz e volta a me abocanhar.
– Você precisa relaxar bem as bochechas e a garganta, anjo, daí conseguirei
chegar mais fundo. E cuide com os dentes – digo com dificuldade. Ela tenta
fazer o que eu disse e consegue descer um pouco mais. Eu estou chegando no
limite, preciso gozar.
– Segura a base com a mão Bia e movimente como eu te mostrei enquanto
me chupa. – Ela faz, e cubro sua mão com a minha, lhe mostrando exatamente
como eu quero. – Assim – peço, depois solto e deixo que ela continue.
Quando pega o ritmo, entre a punheta e as chupadas, começa a acelerar os
dois. Inicio o movimento dos quadris levemente também, parte por reflexo,
parte para chegar um pouco mais fundo em sua boca. Para quem faz isso pela
primeira vez, nossa, ela está me aguentando bem.
Não vou demorar muito se ela continuar naquele ritmo.
E ela continua.
Continua e continua.
Começo a ter espasmos no abdômen e, não sei se foi por perceber, mas ela
acelera ainda mais as mamadas, anunciando o meu fim.
– Bia, pare agora. – Tento afastá-la, mas ela se nega. – Beatriz, eu vou
encher a sua boca de porra se você não parar ago... – E é tarde demais.
Urro alto, gozando alucinantemente naquela boca que me atormentou desde
o primeiro dia que vi.
Que imaginei tantas vezes fazendo exatamente isso.
Dou ainda algumas arremetidas em seus lábios, tiro meu pau da sua boca, e
a puxo para cima de mim.
Viro-nos no colchão, invertendo nossas posições, prendendo-a sob mim e a
beijo com força, sentindo o meu próprio gosto em sua língua.
– Anjo, o que eu faço com você? Você ainda vai acabar comigo Beatriz, eu
juro. – Ela me olha com aqueles olhos negros, que faz qualquer desavisado se
perder e tem um baita de um sorriso sacana no rosto. – Você tem noção de
quantas vezes eu imaginei você fazendo o que acabou de fazer com a sua boca?
Várias e várias vezes. Mas nenhuma delas chegou perto disso. Que delícia
pequena, que delícia. A beijo novamente. Paro o beijo e aquele sorrisinho
ainda está lá.
– Feliz com a sua performance? – pergunto.
– Sim. Pela sua reação, parece que fui bem. Só estaria melhor se não
estivesse com as bochechas doendo e os lábios dormentes... tinha que ser tão
grande? – Rio e a beijo ao mesmo tempo.
– Vamos esperar algum tempo e eu quero ver se você vai continuar
reclamando disso. E só para constar, você foi maravilhosa! Mas não precisa
deixar eu gozar em sua boca anjo, não precisa engolir...
– Ah, eu quis a experiência completa. Nada de entrar na montanha russa e
pular fora antes do loop. Não é a coisa mais deliciosa do mundo, mas não é tão
ruim assim. E só de ouvir o jeito que você gozou, valeu cada gota. Pena que
não consegui ver o seu rosto.
– Eu estou tão ferrado com você, pequena, tão ferrado! Nunca sei o que
esperar dessa sua boca. Em todos os sentidos. – Ela ri.
– Então me beija, rockstar.
– Sempre. – A beijo suavemente por alguns minutos. – Mas eu acho que
estou em desvantagem aqui – digo e fico de joelhos ao seu lado na cama. Ela
está lá, esparramada, os cabelos espalhados, as bochechas rosadas pelo
esforço, os seios durinhos e empinadinhos, a barriguinha lisinha, só de
calcinha para o meu deleite e encarado o meu membro, agora a meio mastro.
Belíssima!
– Por quê? – pergunta.
Eu baixo a cabeça e chupo seus seios. Um, depois o outro. Deliciando-me
no processo e arrancando os gemidinhos mais gostosos que já ouvi.
– Porque você está vestida demais. – Passo então para a sua barriga e
umbigo, sentindo seu corpo todo arrepiar em expectativa. Levo as duas mãos
as laterais da sua calcinha e a deslizo pelas suas pernas. Vendo-a pela primeira
vez totalmente nua. Ela leva uma mão ao seu sexo por instinto, tentando o
esconder da minha visão.
– Ah não... nem pensar! Tire já a mão daí. – Ela reluta um pouco, mas tira.
Fico ajoelhado aos seus pés, por um tempo, só olhando.
Perfeita!
Está toda depilada, só as dobras da bocetinha visíveis com suas pernas
fechadas. Meu pau já está a toda para continuar a brincadeira.
– Abre as pernas para mim, anjo – digo com os olhos fixo em seu sexo.
– Oliver... – diz com a respiração pesada.
– Abre Bia, me mostra o que é meu.
– Eu... não sei porque, mas estou com vergonha. – Ela está com os olhos
fechados.
– Olhe para mim, por favor. – Por fim, ela faz o que eu peço.
Está vermelha como um pimentão.
Nem parece a garota determinada que me deixou gozar em sua boca minutos
atrás.
– Não há vergonha nenhuma nisso. – Aponto de mim para ela. – Tudo que
acontecer entre a gente, entre quatro paredes e de forma consensual, será
bonito, maravilhoso. Você é tão linda Beatriz, que me rouba o ar. Não vejo a
hora de conhecer cada parte sua. Não vejo a hora de estar dentro de você. Não
se esconda de mim, anjo. Abra as pernas e me deixe vê-la. – Finalmente
obedece e afasta um pouco as pernas.
Seguro um de seus pés e levo-o até a boca. Distribuo beijos, mordidas e
chupadas pelos dedos, sola, calcanhar e barriga da perna, e então afasto bem a
perna e coloco-a novamente sobre o colchão. Faço o mesmo processo com a
outra. E enfim tenho o cenário completo.
Beatriz linda e angelical, toda abertinha e exposta para mim.
Meu coração erra uma batida, tamanha a beleza do conjunto.
– Ah anjo, se você pudesse ver o que eu vejo agora. Tão linda! Tão
perfeita! Ainda bem que não existiu ninguém antes de mim Beatriz, porque eu
ficaria maluco só de pensar que mais alguém a viu assim. – Pego sua perna
esquerda, dobro-a, faço o mesmo com a direta e levo-as em direção a sua
virilha, deixando aquela bocetinha, rosada, pequena e delicada totalmente
escancarada e à mercê do meu bel-prazer.
– Por Deus Oliver, se você me esgaçar mais vai ver até a minha alma.
– Esse é o objetivo, pequena. Como disse, quero conhecer cada parte. Se
me lembro bem, fui bem explorado nesse sentido também.
– Ah, não consegui brincar nem na metade dos brinquedos do parquinho.
– Então aproveita que agora o parquinho inteiro vai brincar com você.
Escorrego os meus lábios por aquelas coxas grossas de enlouquecer e vou
seguindo até sua boceta. Beijo aquele espacinho entre a boceta e a perna,
deslizo a língua ali, depois do outro lado também. Mordo as coxas, sugo e
volto a atenção ao seu sexo. Passo um dedo levemente entre os grandes lábios.
Beatriz estremece, dando um pulinho na cama.
– Calma meu bem, relaxa.
Continuo passando o dedo por ali, fazendo uma leve pressão ao passar pela
entrada da vagina. Bia começa a ficar ofegante. Pressiono o dedo em
movimentos circulares, não a penetrando ainda. Ela remexe os quadris
tentando acompanhar e pressionar mais meu dedo contra a sua vagina. Levo
meus dedos as laterais e puxo as suas dobras, abrindo os grandes lábios e
liberando os pequenos e aquele ponto durinho que a levará à loucura assim que
eu sugar forte.
Levo minha língua até ela e vou contornando todo o seu sexo exposto. Passo
pelos grandes lábios, depois o vão entre eles, depois nos pequenos, me
demoro um pouco em seu clitóris, passando a língua lentamente de um lado
para o outro. Seu ventre contrai e suas pernas tremem.
– Que delícia de boceta, anjo, linda. Toda rosadinha, delicada. E está tão
molhada, tão melada. Prontinha para o meu pau. Seu gosto doce é delicioso,
Beatriz. Vou viciar em ter essa boceta na minha boca.
Desço a língua pelo meio, chegando à vagina e faço os mesmos movimentos
circulares que fazia com o dedo agora com a língua, e penetro a pontinha nela.
Fico ali, naquela provocação uns minutos, então coloco as mãos por baixo de
suas coxas, expondo seu traseiro. Beijo e mordo uma nádega, depois a outra e
então meto a língua no seu ânus, iniciando um sacana beijo grego.
– Oliver! Caramba, eu não vou mais ter coragem de olhar na sua cara
depois disso.
– Ah, eu não ia deixar de lamber seu cuzinho delicioso.
– Puta-merda, eu não ouvi isso, eu não ouvi...
– Ele também vai ser todinho meu, bebê.
– O que? O tora aí? Nem pensar! – Rio.
Ah, querida... sei direitinho como convencê-la...
– Ele vai... e você vai pedir por isso, meu bem.
– Só nos seus sonhos, Oliver Rain.
– Não teve um que eu não realizei até hoje, anjo.
– Puta-que-pariu, pior que deve ser verdade... – Rio mais.
– Olha a boca, Beatriz.
– Vá se foder, Oliver. – Gargalho e abocanho seu sexo por completo, agora
com vontade.
Enfio a ponta da língua na sua vagina. Bia grita e leva as mãos aos meus
cabelos. Prendo um lado dos lábios entre os meus e puxo. Faço o mesmo com
o outro lado e finalmente sugo o seu clitóris com força. Levo a ponta do dedo a
entrada da vagina e volto aos movimentos circulares com leve pressão ali.
Beatriz geme alto, enquanto empurra a sua boceta cada vez mais forte em
direção a minha boca. Passo um braço por cima da sua cintura para mantê-la
no lugar e continuo com a sucção incessante em seu clitóris e a pressão na
vagina com a outra mão.
– Oliver, para... eu não vou aguentar... – pede em desespero.
Chupo-a ainda mais, não lhe dando um único segundo de descanso. Quando
percebo que ela está bem perto, suas pernas muito trêmulas, as contrações no
ventre, a respiração super ofegante e os gemidos ainda mais altos e constantes,
abocanho seu clitóris, sugando aquela parte toda para dentro da minha boca e
brinco com a língua sobre ela, ao mesmo tempo que enfio um pouquinho a
ponta do dedo na entrada de sua vagina, tirando e colocando algumas vezes até
que Beatriz berra o meu nome e se entrega.
Goza pela segunda vez na minha boca, só que dessa vez cai num gozo forte
e revigorante, que transpassa todo o seu corpo, provocando vários espasmos.
Continuo a sucção, até seus temores cessarem de vez, então lambo devagar
todo o seu sexo, querendo absorver todos os seus fluidos para mim.
Estou muito duro e excitado novamente.
Vou rumando ao norte, beijando sua virilha, barriga, me demoro um pouco
nos seios, seu pescoço, mordo seu queixo e chego à sua boca. Bia mal
consegue me beijar, de tão letárgica.
Acaricio seu rosto, olhando-a naquele estado de total entrega e relaxamento.
Seus olhos pesam.
Linda! A observo encantado.
Me deito ao seu lado e puxo-a para mim, beijando seus cabelos. Inspirando
seu cheiro doce de baunilha, amêndoas e sexo.
– Acabei com você, não é, pequena?
– Anhan.
– Não consegue falar?
– Hum.
– Orgasmo. A melhor forma de deixar uma mulher sem palavras... Aii. –
Ganho uma cotovelada nas costelas e um beijinho no peito na sequência.
Sorrio.
Fico pensando em que realidade eu me imaginaria vivendo este momento.
Certamente só em um universo paralelo.
Se alguém me contasse há três semanas, eu diria que a droga ingerida foi
pesada.
Mas aqui estou eu, com uma garota única aninhada em meu peito. Me
sentindo leve, descontraído, saciado, mas ao mesmo tempo querendo mais.
Abraçando-a para que durma em meus braços e sem querer estar em qualquer
outro lugar que não exatamente ali.
Levanto seu queixo e baixo minha boca, procurando a sua. Beijo-a devagar.
– Dorme anjo – sussurro, antes de começar a cantar I Don't Want To Miss a
Thing do Aerosmith para que adormeça embalada pelas palavras que outro
homem escreveu, mas que transmitem exatamente o que estou sentindo.

Eu poderia ficar acordado


Só pra te ouvir respirar
Te ver sorrir enquanto dorme
Enquanto estás longe e sonhando
Eu poderia passar a minha vida
Nesta doce rendição
Eu poderia ficar perdido neste momento para sempre
Cada instante que passo com você
É um momento que eu valorizo

Eu não quero fechar meus olhos


Eu não quero adormecer
Porque eu sentiria sua falta, querida
E eu não quero perder nada

Bia

Acordo com o som do telefone vibrando no criado-mudo.


Caramba!
Estou de bruços, completamente nua sob o lençol.
Olho para o lado e a cama está vazia. Ouço o som do chuveiro ligado,
Oliver está no banho. Começo a lembrar da nossa noite, de todas as
descobertas e sensações novas. Vê-lo nu, tão lindo, viril e poderoso.
Porque aquilo que ele tem entre as pernas é poder.
Sem sombra de dúvidas!
Como isso foi acontecer comigo?
Acho que por mais que eu pense, jamais vou conseguir acreditar plenamente
que estou mesmo aqui, com ele.
Fico esperando a pegadinha ser revelada.
Senti-lo na minha boca, seu gosto, sua textura, sua grossura... caramba...
minha menina lá embaixo vai ter que dilatar é muuiiitooo e meu útero
provavelmente será arremessado uns bons centímetros para cima durante o
processo.
Quase não consegui levar aquele boquete até o final.
Achei que iria deslocar o meu maxilar.
Mas ouvi-lo gozar daquela forma, fez eu me sentir poderosa.
E depois o meu orgasmo. O que foi aquilo?
Pensei que eu não fosse suportar, que dessa vez eu iria morrer e seria sem
volta. Ele me prendendo, não permitindo os meus movimentos, potencializou
demais a coisa toda. Foi agonizante, angustiante, até que virou explosivo,
libertador.
Meu corpo todo vibrou e roubou todas as minhas forças. Fiquei mole,
relaxada ao extremo e muito sonolenta, mas também energizada, saciada.
E ainda pude dormir com ele cantando para mim?
Ai, ai... devo ter feito algo de muito bom nessa vida para merecer toda essa
felicidade de agora.
Pego o telefone e decido descobrir quem tanto me chama.
São nove horas da manhã.
A primeira é de Hazel

Bia, vai querer manter o passeio por


Hollywood hoje?

Uma de Laura.

Beatriz, bom dia! Oliver me mandou uma foto muito


interessante ontem. Não quero incomodar, mas gostaria de
vê-los. Avise se eu puder passar aí no seu quarto em
algum momento. Ou se não tomaram café ainda, vou
descer para tomar café com Helen em quarenta minutos,
num salão privativo. Querem se juntar a nós?

E, por último, Kellan. Deus!

Bia, oi. Tudo bem? Será que a gente pode


conversar? Almoça comigo hoje?

Coincidentemente todos resolveram escrever ao mesmo tempo, o intervalo


entre a primeira e a última não dá cinco minutos. Bom, antes de responder
qualquer um deles, decido falar com Oliver.
Levanto e procuro meu pijama, mas não encontro em lugar nenhum. Sabe-se
lá onde Oliver jogou ontem à noite.
Vejo então a camiseta dele no chão e decido colocar esta mesmo. Tem o
cheiro dele, não poderia ser melhor.
Entro no banheiro com cuidado e assim que o focalizo, salivo.
Que visão!
Oliver está de costas, com as mãos apoiadas na parede a sua frente, a
cabeça um pouco abaixada, deixando a água escorrer pelas suas costas e
nádegas.
Ahhh, aquela bunda toda durinha, que eu ainda não mordi, ali, viradinha
para mim, me chamando, me convidando... não sou de ferro.
Na verdade, se tratando dele, sou bem facinha...
Tiro a camiseta e sigo rumo ao chuveiro. Ele ainda não notou a minha
presença. Abro o box, despertando sua atenção.
– Não se vire, por favor – peço e ele permanece como estava.
Entro e me aproximo dele debaixo d’água, abraçando-o por trás, espalmo as
minhas mãos em seu peito e grudo nossos corpos.
Ele é muito mais alto que eu, o topo da minha cabeça mal chega ao início do
seu pescoço. Distribuo beijos por suas costas. E vou descendo as minhas mãos
pelo seu peito e abdômen.
Que paraíso!
– Bom dia! – digo.
– Bom dia, anjo. Veio se aproveitar de mim?
– Não tenha dúvidas! – Ele ri.
– Nada como ter uma namorada sincera.
– Quem manda ser tããooo gostoso. Essa sua bunda magnífica não me deixou
escolha. – Dou uma apertadinha no objeto do meu desejo.
– Ela ainda está dolorida de ontem, sabia?
– Nossa, pobrezinho... sou obrigada a dar uns beijinhos para sarar mais
rápido... – anúncio e já vou descendo os lábios pelas costas e ajoelhando atrás
dele no chuveiro, ficando cara a cara com aquela obra de arte.
– Deus, eu estou criando um monstro. Você está ficando muito tarada,
Beatriz. – Distribuo beijos por todos os lados de sua bunda.
– Só por você, meu bem, só por você. – Mordo forte um dos lados daquela
tentação dos deuses.
– Porra! A sua sorte é que você dá as respostas certas. – Mordo o outro
lado, ainda mais forte.
– Ai cacete! – E rápido como um raio ele me tira da minha diversão, sem eu
entender exatamente como aconteceu, estou erguida do chão, com as costas
grudadas na parede de azulejos e as pernas enroladas em sua cintura, enquanto
ele esfrega o tora em sua máxima potência contra o meu sexo e beija
vorazmente a minha boca.
Quente! Quente!
Essa água deveria estar gelada para apagar o meu fogo.
Me agarro em seu pescoço e aproveito.
É a primeira vez que o sinto assim, sem barreiras entre nós. Apenas o seu
calor, no meu calor lá embaixo.
Ele está ensandecido, beijando enlouquecidamente minha boca, pescoço,
colo, chupa os seios, volta ao pescoço, a boca, enquanto mantém o vai e vem
ritmado do seu sexo no meu sexo.
Uma vontade enorme, quase necessária, de senti-lo dentro de mim me
atormenta a libido.
Uma erradinha no deslizar e pimba!
Ele bem que poderia se aninhar lá, onde a dor incômoda me azucrina.
– Segure-se bem com as pernas ao meu redor e com um dos braços enlace o
meu pescoço, Bia – diz, me pressionando ainda mais contra a parede. Retira
uma de suas mãos da minha bunda, onde estava me dando sustentação, e tira um
dos meus braços do seu pescoço, levando minha mão ao seu pau.
– Me masturbe com força, pequena. Assim... – Aperta bem minha mão
contra aquela potência da natureza. Então solta-a e leva a sua ao meu clitóris.
Seguimos um dando prazer ao outro, ofegantes até que o orgasmo me toma e
eu já não tenho forças para continuar estimulando-o. Ele toma o seu membro
com a mão que antes estava em mim e termina o trabalho, gozando forte no meu
sexo e minha barriga.
Eu assisto, maravilhada.
Cada expressão, cada contração, cada gemido.
Saber que ele fica assim por minha causa... nossa... me emociona.
Por fim, dá um último beijo nos meus seios e deixa a cabeça pender no meu
ombro enquanto recobra o fôlego. Aproveito para brincar com os fios
molhados de seus cabelos.
Quando está mais calmo, leva novamente a boca até a minha e me beija
devagar, me colocando no chão. Abaixa a cabeça e apoia a testa na minha.
– Ótima forma de começar o dia. – A sua declaração me lembra dos
motivos pelos quais entrei naquele banheiro.
– Oliver, preciso sair – digo, já lavando seu gozo de mim, e também todas
as minhas outras partes rapidamente, me desvencilhando dele e abrindo o box.
Pego uma toalha e começo a me secar.
– Por que a pressa? – pergunta ele, também encerrando o seu banho e
desligando o chuveiro.
– Sua avó me mandou mensagem, ela quer que desçamos para tomar café
com ela e Helen num salão privativo lá embaixo em... – Confiro a hora no
celular. – Dez minutos. E Hazel quer saber se vamos fazer o passeio por
Hollywood. Entrei aqui para falar dessas coisas com você, mas fui distraída
pelos seus belos atributos, namorado. – Faço-o rir e omito o convite de Kellan,
melhor falar depois.
– Diga a vovó que vamos descer, estou faminto mesmo e se pedirmos agora,
até chegar... E veja se Hazel não quer nos acompanhar, daí conversamos sobre
o passeio durante o café.
– Ótima ideia. – Lhe dou um beijo e saio do banheiro para me vestir.
Mando mensagem para Hazel enquanto vou me vestindo, ela responde
rapidamente que já está descendo e nos encontrará no café. Coloco uma
lingerie azul clara. Aquela que usei para provocá-lo, uma calça jeans escura,
bem colada e meia canela e uma blusinha azul clarinha, de seda, com alça
fininha, linda. Todas peças do guarda-roupas que Oliver e Hazel armaram para
me dar. Volto ao banheiro para escovar os dentes, ao mesmo tempo que ele sai
para se vestir.
Isso tudo deve ser tão normal para a maioria das pessoas, penso. Mas o que
é normalidade para os outros é o diferente para mim.
Terei que ir com os cabelos úmidos mesmo, pois não dará tempo de secá-
los. Quando retorno ao quarto, Oliver já está me esperando, os cabelos
também úmidos e soltos, de calça jeans clara, meio desbotada e rasgada e
camiseta preta.
Um pecado de tão gostoso!
– Você está linda! – elogia. Solto o ar e só então percebo que minha
respiração estava em suspenso pelo impacto que a figura magnífica dele
sempre me causa.
– Você também não está nada mal, namorado. Vamos?
– Vamos. – Ele pega minha mão e seguimos para o elevador.
Assim que no encontramos no interior do confinamento metálico, ele me
abraça por trás e dá beijinhos no meu pescoço. Me dou conta que vai ser a
primeira vez que apareceremos assim, como um casal, na frente de quem quer
que seja e meu coração começa a acelerar descompassado.
– Deus, Bia, estou ouvindo seus batimentos daqui. O que foi?
– Sei lá... nervosa por aparecer assim, na frente de todos. Nunca fiz isso.
– Eu também não, relaxa. Vamos descobrir a sensação juntos. – O elevador
para no andar do salão e dois seguranças já estão ali a nossa espera.
Como eles surgem?
Nos acompanham até a entrada do salão, onde então entramos sozinhos e de
mãos dadas.
Numa enorme mesa redonda, que deve ter uns dez lugares, estão Laura,
Helen, Alicia, Johnathan e Hazel. Todos lançam enormes sorrisos em nossa
direção. Acabo não contendo o meu também. Oliver, contudo, se mantém
neutro. Não sei como ele consegue.
– E pensar que eu tive que aguardar quase trinta e um anos para ver o meu
neto aparecer na minha frente de mãos dadas com uma garota. Esperei tanto
por isso...
– Bom dia para você também, vó – diz ele, não se afetando com o
comentário.
– Eu já havia perdido as esperanças de que isso um dia aconteça com o meu
filho. Mas quem sabe agora, com Oliver abrindo o caminho, outros caminhos
não se arranjem também, não é? – fala Helen, nitidamente feliz por estarmos
ali juntos e se vi direito, dando uma olhadinha de canto do olho em direção a
Hazel, mas ela não percebe. – Oliver puxa a cadeira para mim e eu sento ao
lado de Hazel, ele senta-se ao meu lado e logo leva a mão até minha perna.
– Estou feliz por vocês. Apesar de saber que meu filho está sofrendo, –
Oliver aperta minha coxa quando Alicia faz menção a Kellan – era nítido que
havia alguma energia poderosa entre vocês dois. Nunca vi Oliver tão
desconcertado perto de alguém, ele não foi nada discreto nas olhadelas em sua
direção Bia e nem em disfarçar o seu ciúme. – Todos se divertem em provocá-
lo.
– Não foi mesmo – reforça Johnathan. – E o jeito que encontramos um certo
cantor, num certo apartamento em Long Beach, olha, de dar dó! Nada perto
dessa cara de felicidade que ele tenta disfarçar agora. – Todos riem mais e
agora nem Oliver fica imune.
– Porra! Pelo visto Beatriz e eu fomos o assunto dos encontros de vocês nas
últimas semanas, não?
– Com certeza, filho – concorda Johnathan. – E dê graças por ter escolhido
a carreira musical, porque se tivesse tentado a sorte em Hollywood, só essa
sua carinha bonita não seria o suficiente para amenizar a falta de talento como
ator. Só o meu filho mesmo, para ser tão inocente e não perceber o que
acontecia bem abaixo do nariz dele.
– O seu e o meu – reforça Helen.
– Helen, o seu filho não enxerga nada que ele não queira ver. – Hazel se
manifesta.
– Eu sei querida, eu sei. – Acena Helen, como quem não quer nada.
– Inclusive ele deixou bem clara a sua opinião no rosto de Oliver.
– Hazel... – adverte Oliver, não querendo que ela entre nesse assunto. Mas é
tarde.
– Como assim? – Quer saber Helen.
– Ele me deu um soco quando soube, mas quase não aparece mais nada e já
nos entendemos. – Oliver conta e ela suspira.
– Peço desculpas por ele, Oliver. Fico até envergonhada. Ele tem uns tabus
que não consegue superar. Às vezes eu penso que Max nasceu no século
errado.
– Está tudo bem, de verdade. E eu entendo os motivos dele. Não foi nada
fácil para mim também chegar até aqui – diz e ergue as nossas mãos unidas. –
Vamos esquecer isso, por favor. – Ela assente.
– Bia, vai querer fazer o passeio? – pergunta Hazel.
Eu queria, mas também não quero ficar longe de Oliver. Não sei o que
responder a ela.
– Que horas está combinado? – Ele toma a frente mediante o meu silêncio.
– Sairíamos as onze.
– Nós vamos – responde.
– O que? Você também vai? Se arriscar num dos passeios mais cheios de
turistas do país? – Hazel está incrédula.
– Vou – confirma.
– Oliver, não precisa... – tento dissuadi-lo, pois não sei se aquilo terminaria
bem.
– Eu quero. Vamos passear, nunca fiz o tour também.
– Aff – bufa Hazel. – Não quero tempestade caindo durante nosso passeio,
Oliver. Tô até com medo de sair agora – fala ela debochando. – E também não
vou segurar vela, verei se Eric vai conosco então. – Helen suspira.
– Eric, é? – pergunta Alicia. Johnathan parou de comer.
– É, estamos nos conhecendo – responde, simplesmente.
Oliver manda algumas mensagens pelo celular, na certa organizando as
coisas com a segurança para a nossa saída. Continuamos nossa refeição
conversando sobre amenidades. Até que o som de uma nova mensagem soa no
meu celular que está sobre a mesa. A mensagem aparece na tela e é de Kellan,
perguntando se já tenho uma resposta para o seu convite. Oliver vê.
– Que convite? – Tinha me esquecido completamente.
Pego o telefone, abro a mensagem anterior e mostro a ele. Oliver balança a
cabeça de um lado para o outro e lança um sorrisinho de deboche. Pega meu
telefone, digita alguma coisa, e depois me devolve.
Kellan, é Oliver. Se você quiser almoçar
com a minha namorada em algum
momento, não vou me opor. Mas espero
que se comporte como um bom amigo .
Hoje não vai dar. Temos outros planos

– Oliver! Não precisava ter feito isso.


– Precisava, Beatriz. Esse convite foi claramente para me provocar. Assim
como a forma que ele se aproximou de você lá na boate. Ele sabe que estamos
juntos e está tentando medir forças comigo. Melhor deixar as coisas bem claras
de uma vez por todas.
Não falo nada, porque não quero que Alicia ou Johnathan percebam sobre
quem estamos falando, mas mais tarde preciso conversar com Oliver a esse
respeito.
– Preciso subir para colocar o disfarce. Bia vem comigo ou prefere ficar
aqui? – pergunta Oliver já se levantando. Hazel me lança um olhar pidão para
que eu fique. Melhor mesmo, se entrarmos juntos naquele quarto, corremos o
risco de perder a hora.
– Fico aqui, se você não se importar.
– Claro que não. – Se abaixa e me dá um belo beijo molhado.
A mesa explode em vivas e gracinhas, me deixando da cor do sol que bilha
no meio da bandeira do Japão.
Oliver finge não se afetar com aquilo e se vai.

Estamos Hazel, Eric e eu ainda no salão reservado, quando Oliver retorna


de barba lenhador, cabelo escondido no boné, óculos de sol apoiado na gola
da camiseta e lentes de contato escuras.
Que dó esconder aqueles olhos exóticos...
Levanto-me quando ele se aproxima, me enlaça pela cintura e beija meus
cabelos.
– Olá. – Estende a mão para cumprimentar Eric.
– Ah oi – responde o loiro, também de pé e meio desconcertado por estar
na presença dele.
– Todos prontos? Podemos ir? – pergunta.
– Sim – responde minha amiga.
Seguimos para o corredor e quatro seguranças já grudam na gente.
– Carl, o lobby está vazio? – pergunta Oliver a um deles enquanto
caminhamos em direção à recepção do hotel.
– Está sim, chefe. Peter está lá com mais homens.
– E os passeios, tudo verificado?
– Sim. Nos públicos, como a calçada da fama e letreiro, haverá oito
seguranças à paisana em torno de vocês e vamos confiar no disfarce. Na visita
ao estúdio, entrarão num grupo reservado, com distância de uma hora e meia
entre o grupo anterior e o próximo a entrar.
São tantos guardas e tantos sistemas, que fico zonza em pensar. É algo
estranho de imaginar acontecendo em minha vida.
– Ótimo.
Chegamos ao lobby e o grisalho grande e alto, de porte militar que me
entrevistou no meu segundo dia na casa de Oliver está lá.
– Oliver, está tudo esquematizado. Mas você sabe que está se arriscando,
certo? Os lugares são muito movimentados, fervendo a turistas. E encontrar
uma das celebridades com assinatura na calçada da fama em carne e osso
andando por lá, seria uma festa para eles. Tem certeza disso? – confirma Peter.
– Tenho sim. – Peter faz cara de quem não está feliz com aquilo.
– E quer mesmo ir dirigindo?
– Sim, quero.
– Tudo bem. Se por acaso a coisa desandar, teremos mais homens à espera
em pontos estratégicos. E mantenha o disfarce. – Oliver assente.
Saímos pelas portas giratórias e três carros estão posicionamos à nossa
espera. O do meio com as portas abertas para entrarmos. Os seguranças se
encaminham para os outros dois. Oliver pede que eu me acomode no banco ao
lado do motorista, Hazel e Eric sentam-se atrás.
Partimos assim que o veículo da frente sai. Está um dia lindo. Sol a pino,
céu claro.
Ideal para ser feliz!
Ele apoia uma mão na minha perna, enquanto dirige.
– Bia, liga o rádio aí, vamos descobrir o que anda tocando nas paradas de
Los Angeles – pede Hazel.
Faço o que ela pede, e assim que a estação sintoniza rimos as duas.
A música é Obstinate, um dos hits do último álbum da The Order. Oliver
faz uma careta e gesticula para que eu mude, mas ao invés disso começo a
cantar, alguns tons acima, fazendo um contraponto entre a sua voz grave e a
minha de soprano. E inventando umas firulas vocais improvisadas durante o
solo de guitarra de Lian. Ele me olha e abre um enorme sorriso, balançando a
cabeça em descrédito.
– Caramba Bia, que arraso! – Alegra-se Hazel lá de trás. Continuo
cantando. Perto do fim da música, Oliver liga a seta para encostar e vai
parando por ali em qualquer lugar.
– Vocês me desculpem, mas eu preciso fazer isso – explica-se, olhando para
trás, para Hazel e Eric.
Então arrasta a barba para baixo, me puxa contra si e me beija de forma
arrebatadora. Quando ele larga a minha boca estou sem ar, excitadíssima,
lábios inchados, zonza e lamentando por não estarmos sozinhos num canto
qualquer.
– Anjo, desse jeito eu até consigo suportar me ouvir cantando durante as
férias. Sua voz é linda. Quando você vai parar de me surpreender, hein? –
pergunta com a testa colada na minha e tão desorientado quanto.
O telefone dele toca antes que eu possa responder qualquer coisa,
quebrando o nosso momento. Ele atende pelo painel do carro.
– Sim?
– Oliver, aconteceu alguma coisa que pararam em local proibido?
– Não Peter, já estamos seguindo.
– Precisa avisar antes de fazer qualquer parada não programada, Oliver. O
carro da frente não conseguiu encostar perto.
– Certo. Me desculpe.
– Dirija devagar por uns duzentos metros e verá um dos nossos veículos no
acostamento. Deixe-o entrar na sua frente e sigam.
– Ok. Entendido.
Seguimos nosso passeio, a primeira parada é a calçada da fama.
Obviamente tanto Hazel como Eric já conhecem tudo aquilo. Oliver, apesar de
nunca ter feito como turista, já esteve ali pelo menos no dia em que a The
Order ganhou a sua estrela, ao lado de tantas outras bandas e músicos hiper
consagrados, como Elvis, Beatles, The Doors, Queen, Guns etc. Quase certo de
que sou a única do grupo para quem tudo aquilo é novidade e tenho ciência de
que Hazel e Oliver estão fazendo aquilo mais por minha causa do que por
desejo. Tiro algumas fotos nas estrelas preferidas do meu pai. E quando
chegamos na da The Order, tiro uma de mim, Oliver e a estrela. Ele disfarçado,
claro.
Eric é um cara muito bacana. Passado o constrangimento inicial de estar
vivendo um dia normal perto do seu ídolo, pois ele acabou confessando que é
muito fã da banda, começou a se soltar e interagir bastante. Toda sua família
vive em Los Angeles há algumas gerações. São donos de uma rede de
restaurantes famosa na Califórnia, especializada em comida alemã. Contou que
seus bisavôs vieram de lá e se estabeleceram na região durante a segunda
guerra mundial. Como vivem ali há muito tempo, acabou recheando o nosso
passeio com curiosidades e episódios engraçados que contavam de seus
bisavós e avós. Por insistência dele, nosso almoço foi num de seus
restaurantes, num lugar reservado que foi fechado para nós.
Dali seguimos para o famoso letreiro. O mais próximo que se permite
chegar hoje em dia é numa praça chamada Lake Hollywood Park. O local tem
gramado e árvores e fica abaixo do letreiro. Sentamos por ali algum tempo,
curtindo o dia, conversando e como o cenário convida, namorando. Eric deu
beijos apaixonados em Hazel. Oliver e eu também aproveitamos para matar a
vontade, apesar da barba falsa dele atrapalhar bastante. Tiramos várias fotos,
os dois juntos com o letreiro ao fundo e também de nós quatro.
Estamos sentados à sobra de uma das árvores, ele com as costas apoiada
nela e eu entre suas pernas, quando seu telefone começa a acusar mensagens.
Ele pega o aparelho e abre para ler com os braços ao meu redor.

Oliver, será que a patroa


libera para uma cerveja com os
amigos?

– É um pé-no-saco – xinga Oliver.

Pois é, não saiu do quarto


desde sábado. Dê uma folga para
a garota e venha até a suite de
Lian

Oliver seleciona uma das fotos onde estamos os quatro tentando segurar o
letreiro de Hollywood e manda para eles.
Não estamos no quarto

– Pronto, agora é só esperar o chilique de Max.


– Oliver, você é fogo! Para que o provocar?
– Querem fazer gracinha? Que aguentem as consequências. – Reviro os
olhos para a competição tipicamente masculina, de quem provoca mais.

Que merda é essa? O que


esse cara tá fazendo na foto?

Porra! Eu vou ter que ter


uma conversa muito séria com a
Bela–Bia, porque não
conseguimos te arrastar nem até
a
esquina de Oceanside. E ela te
levou para ver pontos turísticos
em Los Angeles? Você está me
assustando, velho

Sério que você está


comparando a sua
companhia e a de Max com a de
Beatriz, Lian? Se enxerga
Respondendo a sua pergunta,
Max,
acho que é namoro. Melhor se
preparar
psicologicamente. Você vai ver
muito
Eric por nosso território, penso eu

Que merda é essa? O que


esse cara tá fazendo na foto?
Você é um filho-da-puta,
Oliver. Solta essas merdas só
porque não está aqui para
segurar o rojão, não é? Eu que
me vire para aguentar o
humor azedo do ruivo depois

Não, estou falando sério.


Apesar de aproveitar para
provocá-lo, Max, não é piada. O
cara é gente boa e parece que
gosta mesmo na nossa menina

Desculpa aí Oliver, mas ele


é muito velho para ela

Oliver só lê aquilo, balança a cabeça e guarda o telefone no bolso.


– Vamos seguir para o passeio do estúdio? – pergunto.
– Vamos sim, mas antes quero fazer uma coisa.
Ele tira a barba e me puxa para seu colo, colando nossas bocas na
sequência. Beija, chupa meus lábios entre os seus, prende minha língua com
seus dentes. Larga minha boca e desliza os lábios pelo meu pescoço, me
deixando em estado de excitação crescente ali, no gramado daquele parque,
com muitas pessoas em volta.
Outra coisa começa a crescer também, o volume em sua calça sob mim,
colocando mais lenha naquela fogueira. E acendo meu alerta máximo quando
ele baixa a cabeça e suga meu seio por cima da blusa.
Pelo amor....
Não dá... tenho que pará-lo.
Quando a vontade de me mexer em seu colo fica insuportável por conta do
tamanho do meu tesão, que já não cabe em mim, me forço a agir.
– Oliver, se você continuar...
– Eu sei, eu sei... é que você é tão gostosa, Bia! Impossível me controlar
perto de você... sente de novo entre as minhas pernas por um instante até eu me
acalmar – pede.
Ficamos mais uns minutos ali e seguimos para a segunda etapa do nosso
tour.
O passeio pelo Warner Bros. Studios foi uma delícia. Visitamos vários
ambientes de filmes e seriados famosos, como o Central Perk de Friends,
conferimos o interior de sets de filmagem, museu de roupas usadas em grandes
produções e uma coleção incrível de Batmóveis. Tiramos muitas fotos fofas
fazendo caras e bocas nos mais variados cenários.
Bom, as em que Oliver aparece não podem ser classificadas como fofas, é
verdade. Porque por menos que ele se esforce, sempre saem sexys.
As que ele se esforça então... o que dizer?
Há uma dele com olhar predatório, sentado num banco contra uma parede
obscura que é uma das minhas preferias...
A apelidei de arruinadora de calcinhas.
Feliz, me dou conta de que tive um dia típico que qualquer casalzinho de
namorados teria. Andando de mãos dadas, trocando beijos e caricias aqui e
acolá. Com um detalhe que deixa tudo ainda mais especial.
O meu, não é um namorado qualquer.

Após o nosso passeio deixamos Eric em frente ao seu prédio, visto que
foram os seguranças da The Order que o buscaram pela manhã e seguimos de
volta ao hotel.
São quase dezoito horas e nosso carro sai às dezenove para o retorno a
Oceanside. É o tempo de chegar no quarto, tomar um banho e arrumar as coisas
para a volta.
O silencio predomina dentro do carro. Oliver até tentou engatar uma
conversa assim que deu a partida, mas logo desistiu ao perceber que estamos
as duas cansadas demais da farra do dia, largadas em nossos assentos com as
cabeças jogadas no encosto e os olhos fechados. Então ele apenas mantém
nossas mãos unidas sobre a minha coxa e dirige calado.
Inesperadamente, nem bem entramos no estacionamento do hotel, um soluço
alto e sentido, vindo da parte de trás do carro, rompe a quietude. Olho
alarmada para Hazel que está aos prantos. Mal Oliver encosta, ela dispara
carro afora em direção ao elevador.
– Oliver, vou atrás dela. – digo, já me livrando do cinto de segurança.
– Vá, claro, nos vemos no quarto – diz ele, claramente preocupado com a
reação inesperada dela.
Corro e consigo entrar junto com ela no elevador. Assim que as portas se
fecham, eu a abraço.
– Ah Hazel, querida, não fique assim, por favor. Foi um dia tão gostoso.
Você parecia tão bem, contente. Rimos tanto.
– Justamente por isso. Foi tudo ótimo, o dia, o passeio, a companhia, Eric é
maravilhoso, não é? – Assinto. – Então por que, Bia? Por que meu coração
dói? Por que parece que fiz algo errado? Por que não consigo mudar? Tirar
isso de dentro de mim? – O elevador chega e abre as portas antes que eu possa
dizer qualquer coisa.
– Vamos conversar no seu quarto. – Entramos no quarto dela e a faço sentar
ao meu lado no sofá.
– Hazel, lembra que você me disse que eu deveria partir para o tudo ou
nada com Oliver?
– Sim.
– Pois então, eu segui o seu conselho e disse a ele que se não nos
acertássemos até a sua festa, eu iria dar uma chance a Kellan. Só que a verdade
é que vim preparada para ficar em Los Angeles. Caso Oliver não nos desse
uma chance, eu iria começar minha nova vida aqui. Não voltaria com vocês
mais para lá. Porque percebi que enquanto estivéssemos no mesmo ambiente,
convivendo, eu jamais conseguiria seguir em frente. Longe já não sei até que
ponto funcionaria, mas perto era certeza de fracasso. – Faço uma pausa, ela me
ouve atentamente, tentando imaginar aonde quero chegar.
– Então amiga, me dói muito te dizer isso, mas eu preciso ser honesta com
você. Você tem duas alternativas Hazel: a primeira é abrir o jogo com ele,
arcando com as consequências disso. Tentar viver esse amor ou o fim de suas
esperanças por definitivo; a segunda é você se afastar, e precisa começar
retirando aquele quadro dele que você tem na parede do seu quarto. Depois,
não sei o que você pretende fazer da sua vida em termos de profissão,
faculdade, se é que pensa nisso, mas talvez seja o caso de ir estudar bem longe
daqui. Sei que é cruel, não quero que vá, você é a única amiga que fiz na vida,
mas também não quero te ver sofrer dessa forma. Não há outro jeito a não ser
arrancar o curativo Hazel, para o bem ou para o mal. É o que eu fiz, é o que eu
faria.
– Eu já pensei nisso, mas machuca tanto saber que terei que ir para longe de
todos que eu amo, de quem eu mais amo. Só que você tem razão, é uma tortura
diária para mim, viver ali. Vou pensar nisso tudo, prometo. – A abraço
novamente.
– Fique bem, pense em todas as coisas boas que aconteceram nestes três
dias. Você se divertiu, conheceu alguém ótimo. Bonito, inteligente, carinhoso,
que parece estar encantado por você. Afaste os outros pensamentos. Você não
está fazendo, nada, nada de errado. – Lhe dou um beijo no rosto e sigo para o
meu quarto.
Entro e vejo Oliver terminando de colocar suas coisas dentro da mala. A
minha já está fechada em cima da cama.
– Você fez a minha mala? – pergunto surpresa.
– Sim, só as coisas que estão na pia do banheiro deixei lá, imaginei que
você ainda iria precisar delas, mas as roupas estão todas dobradas aí dentro. –
Aponta para a mala sobre a cama.
Olho para ele embasbacada.
Oliver Rain fazendo a minha mala... realmente devo ter feito algo muito
certo nessa vida, se devo!
Faço menção de me virar em direção ao banheiro e ele me breca, passando
os braços ao redor da minha cintura.
– Ah, você não vai escapar tão fácil. – Ele afunda o nariz em meus cabelos.
– Não pense que foi de graça a gentileza. – Rio.
– Não? E eu aqui pensando no tamanho da minha sorte. Quanta ingenuidade!
– A sua sorte continua sendo grande – diz e esfrega o pen... não, o pau, na
minha bunda. – Mas isso não tem nada a ver com a minha necessidade de
pagamento.
– E como devo quitar minha dívida, oh meu amo?
– Acho que me deixando sentir o seu gosto, já faz tempo demais. – Me pega
no colo de supetão. Eu solto um gritinho.
Ele nos leva em direção ao banheiro, onde vai tirando minha roupa,
enquanto me beija por todos os lugares alcançáveis e alguns nem tão
alcançáveis assim.
Puxo sua camiseta para cima; ele termina de retirá-la.
Abro o botão da sua calça; ele chupa os meus seios.
Empurro a calça dele para baixo, levando a cueca junto no processo; ele
checa a minha umidade.
Acaricio aquela arma letal que ele tem; ele geme e enfia um dedo em mim.
Deus como é lindo!
Minha boca enche d’água só de olhá-lo.
Ele para de me estimular e me analisa também.
Seus olhos selvagens transbordam desejo, luxúria.
Me arrepia só de pensar em tudo que prometem.
– Você é gostosa pra caralho, Beatriz! E minha. Só minha!
– Sim, só sua – confirmo. Ele gosta, sempre gosta.
Volta a me pegar nos braços e vai nos empurrando para o box. Entramos,
liga o chuveiro e recebemos aquele primeiro jato de água. Fria!
Eu grito e começo a tremer pelo choque.
Oliver ri e me abraça por trás, me mantendo toda grudada nele, o pau
pressionando a base da minha coluna. Afasta meus cabelos e começa a chupar
meu pescoço, enquanto vai me empurrando em direção a parede. Pega minhas
mãos e as espalma no azulejo, fazendo-me inclinar um pouco o corpo para
frente e empinar a bunda na sua direção.
Distribui beijos ao longo da minha coluna, o choque da água ainda não
totalmente quente com os seus lábios ferventes me faz trepidar. Ele segura os
meus seios com as mãos em concha e vai descendo aqueles lábios
incandescentes até chegar nas minhas nádegas.
Fica de joelhos ali, cara a cara com o meu traseiro. Os dedos cravados em
minhas ancas.
– Mantenha as mãos na parede, anjo – puxa meus quadris ainda mais em sua
direção, me fazendo ficar agora totalmente arqueada. Em seguida força os
braços entre as minhas pernas para que eu as abra.
É uma pose muito indecente.
Meu traseiro empinado e escancarando para ele.
Leva a boca até lá e começa a fazer a sua mágica. Me chupa, lambe e
mordisca em todos os ângulos daquele lugar que nunca viu a luz do dia, todas
as dobras e todos os buracos.
TODOS!
Me deixando louca, fazendo com que eu, involuntariamente, me esfregue
mais e mais em sua cara. Impossível me manter inerte. Impossível!
Até que se concentra em meu clitóris.
Suga com força e insistentemente.
Acrescenta a mão à brincadeira e assim como ontem à noite, só faz uma
leve pressão na entrada da vagina. Só que, desta vez, ele tem também um outro
dedo em ação.
O mindinho.
Lá atrás.
Da mesma forma que pressiona o buraco da frente, pressiona o de trás.
E eu sinceramente não sei o que pensar disso.
Não sei se gosto ou se não gosto, mas deixo-o brincar ali.
E quando estou subindo a montanha e prestes a me jogar no precipício ele
enfia a ponta daquele mindinho em mim.
Eu grito, vejo estrelas e gozo. Na hora!
Minhas pernas falham, mas ele me sustenta, levanta-se e volta a grudar o
tronco nas minhas costas, mas me mantém naquela posição despudorada, com
as mãos espalmadas na parede, enquanto leva a sua própria mão entre nossos
corpos, pega o pau e se masturba até jorrar, quente, na minha bunda.
– Tão gostoso te ouvir gozar, bebê. – Me vira de frente para ele, me beija e
deixa que eu me escore em seu peito. – Ainda bem que as paredes do meu
quarto são a prova de som, porque senão você iria, sim, escandalizar a dona
Laura ao ponto de ela sofrer um ataque. Ou ela iria mandar me prender por
agressão – discorre sobre as possibilidades, enquanto começa a me ensaboar.
– Oliver... não consigo... – Minhas pernas ainda tremem, e eu, que já estava
esgotada pela agitação do dia, agora, depois da descarga energética, mal
consigo manter os olhos abertos.
– Se apoie em mim e deixe que eu cuide de você. – Então ele me lava
inteirinha e quando termina já estou um tanto recuperada.
Capítulo 14

“Eu não tenho mais orgulho


Quando eu vago no teu sopro
Pra esse outro mundo que eu conheço
Pela porta do seu corpo
Eu conheço esse outro mundo
Essa outra porção do espaço
Onde eu me sinto livre
Aprisionado nos seus braços”
(Esse Outro Mundo – Heróis da Resistência)

Bia

B ia, qual foi o problema com Hazel? Por que ela saiu
chorando do carro? Aquele cara, ele...
– Não, não tem nada a ver com Eric – esclareço logo.
Estamos no carro a caminho de casa.
– Então o que é?
– São coisas dela, sentimentos dela, eu não posso compartilhar com você.
– Se tem algo acontecendo com ela, se ela está com problemas, em perigo
ou encrenca, por favor me fale para que eu possa ajudar. Até hoje eu achava
que Max exagera quando diz que tem algo errado com o comportamento dela,
mas depois de presenciar aquele desespero todo, não sei mais... acho que ele
pode estar certo.
– Eu não posso contar, mas posso te garantir que ela não corre nenhum risco
e nem está metida em encrenca.
– O jeito que ela saiu do carro não foi normal. Ela está triste, depressiva? É
isso? – suspiro.
– Você não vai desistir, não é?
– Enquanto você não disser algo que me tranquilize, não.
– Tudo bem. Eu vou falar algo se você me prometer duas coisas. Primeiro,
que não vai contar a Max. Segundo, que não vai me perguntar nomes.
– Não posso prometer isso.
– Então não vou falar mais nada, sinto muito, você vai ter que perguntar a
ela. – Ele bufa.
– Não é nada perigoso, ou ilícito, nada a ver com chantagem, ou problemas
de saúde?
– Não, nada disso. Se fosse algo que precisasse de intervenção para a
segurança dela, eu seria a primeira a compartilhar, fique tranquilo.
– Ok, então concordo com as suas condições. Me diga. – E eu que achei que
tinha me livrado dessa...
– Ela é apaixonada por uma pessoa há muito tempo. Só que não é
correspondida. E a festa, o envolvimento com Eric, são na verdade tentativas
de matar o sentimento para seguir em frente. Só que por mais que ela goste
muito de Eric, não está funcionando, e isso está fazendo com que ela sofra
ainda mais. Porque quer gostar dele ao ponto de se entregar à relação, mas o
coração dela pede pelo outro.
– Caraca, quem é o idiota qu...
– Oliver... você prometeu!
– Ok, ok. – Ele pensa alguns instantes e então parece ter uma luz. Se matar a
charada não sei se consigo ser convincente o suficiente ao negar.
– Peraí – ai senhor – agora umas coisas que o Max me falou passam a fazer
sentido. Ele disse que Hazel sonhava em ter sua primeira vez com alguém que
ama e Max não entende o que mudou para ela, de repente, passar a noite com
um cara que conheceu numa balada. Então o que Max não sabe é que na
verdade “esse sonho” não é com alguém que ela virá a amar um dia e sim com
alguém que já tem nome e sobrenome. O sonho é uma pessoa bem específica. E
como não foi, e não será, com ele, então tanto faz... É isso?
– Sim. É isso.
– E por que ela não explica para Max, para tranquilizá-lo?
– Ela não quer. Diz que Max vai surtar, vai querer saber quem é, se souber
não vai aceitar. Enfim, ela tem os motivos dela, e você prometeu que não vai
falar nada a ele. Estou confiando em você.
– Eu prometo, eu cumpro. Nunca duvide disso.
– Não duvido, meu bem, desculpe.
– Gosto disso. – Um sorriso brota em seu rosto.
– Do que?
– De você me chamando de meu bem – eu sorrio de volta.
– Então me abraça, meu bem, porque ainda estou meio mole pelo que você
fez comigo no banheiro.
– Vem cá, anjo. – Ele se reclina um pouco no banco e me puxa para deitar
em seu peito.
Não há nada melhor nesse mundo.
Se existe, não experimentei.
Quero ficar ali para sempre.
– Oliver, – digo bocejando – precisamos falar sobre Kellan. – Ele se reseta,
ficando tenso atrás de mim.
– O que temos para falar sobre Kellan?
– Vocês são uma família, e ele também é seu colega de trabalho. Vão passar
meses e meses em estúdio e shows. Não pode ficar um clima estranho, pesado,
entre vocês por minha causa. Não quero ser motivo de desentendimento entre
os dois. Se ele te provoca, você não pode devolver na mesma moeda. Um dos
dois precisa ser maduro o suficiente para parar de apertar a corda.
– Eu vou ter uma conversa bem franca com ele, fique tranquila, mas não
posso fazer isso ainda, porque meu sangue ferve pensando nele te cercando e
dando em cima. Preciso esperar, esfriar um pouco mais. Agora o que você tem
que entender, anjo, é que Kellan precisa sim, em algumas situações, ser
colocado no lugar dele. E o que eu fiz hoje de manhã foi isso. Lian, Max e eu
passamos por muita merda na vida, perdemos e tivemos que abrir mão de
muitas coisas antes de desfrutar de tudo que temos agora. Sabemos valorizar o
que importa e sabemos recuar quando é o caso. Kellan, por sua vez, sempre
teve tudo que quis. Quando nossa situação financeira ficou confortável, ele
tinha apenas seis, sete anos. Nunca precisou abrir mão de nada e sempre foi
muito mimado, por todos nós. Talvez você tenha sido a primeira coisa que ele
perdeu. E, como não sabe lidar com o sentimento, está se comportando como
uma criança, batendo o pé para tentar reverter. Se o contrário fosse verdade, se
o seu escolhido fosse ele, por mais que isso me matasse, eu iria tirar o meu
time de campo e torcer pela sua felicidade e a dele também.
– Ia? Assim, fácil? – provoco.
– Não antes de esgotar todas as possibilidades, claro. – Abre um sorriso
safado, de lado.
– Bom saber... adoro pensar em possibilidades com você.
– Ah, Beatriz, você não está entendendo... depois daquele beijo na pista de
dança, eu sou a sua única possibilidade. – Me beija rapidamente e eu sorrio
contra os seus lábios. – Não se preocupe, vou me acertar com Kellan.
– Tudo bem. Só não quero ser motivo de brigas entre vocês.
– Não será, pelo menos não por falta de tentativas minhas em me entender
com ele, fique sossegada quanto a isso. Agora eu quero perguntar uma coisa.
– Sim?
– Você iria mesmo se envolver com ele se eu não tivesse aparecido? – Viro-
me para olhar em seus olhos e me abraço ao pescoço dele.
– Não, eu não poderia. – Beijo-o.
– Então foi um blefe, espertinha?
– Não totalmente. Eu ficaria em Los Angeles. Não retornaria para cá.
Seguiria a minha vida longe de vocês.
– E você acha que eu iria deixar? Jamais!
– Por isso que eu joguei com a possibilidade de Kellan, sabia que você
tentaria impedir caso soubesse dos meus verdadeiros planos. Mas uma vez que
eu estivesse estabelecida lá, não teria como me obrigar a voltar.
– Nunca fuja de mim.
– Você fugiu primeiro, meu bem.
– Ok, xeque-mate. – Ele admite e eu bocejo de novo.
– Você anda roubando todas as minhas energias, preciso tirar um cochilo. –
Ele deixa escapar uma risadinha.
– Bons sonhos, meu bem. – Me dá um beijo rápido, antes que eu caia nos
braços de Morfeu.

Oliver

Chegamos e Bia continua ferrada no sono. Acabei cochilando em algum


momento também, mas acordei antes de entrarmos pelos portões do
condomínio.
– Bia, chegamos. Segure em meu pescoço, pequena, vou levá-la para
dentro. – Ela obedece meio no instinto, pois não está totalmente desperta. Não
são nem vinte e uma horas ainda, deve estar realmente esgotada.
Entro em casa com Beatriz nos braços. Vovó está na sala, com uma taça de
vinho na mão. Seu sorriso quando vê a cena poderia iluminar toda a nossa orla
particular.
– Oi vó, vou colocá-la na cama e já volto para tomar um vinho com você. –
Aviso e ela balança a cabeça em concordância.
Sigo para o meu quarto carregando a coisa mais inesperada da minha vida e
um sentimento estranho e poderoso invade o meu peito. Algo como uma
sensação de plenitude misturada a dor e medo, muito medo.
Abro a porta, aproximo-me da cama, puxo a colcha e o lençol, e deito-a
sobre o travesseiro.
Ela resmunga, se mexe e se aninha de lado, dando as costas para mim.
Afasto o cabelo do seu rosto para poder olhá-la e afago-a em leves carícias.
Tão linda!
Tão menina!
O que eu estou fazendo?
Como tive coragem de me envolver com ela?
Sabendo que a qualquer momento... – Tento afastar aquela linha de
pensamento e seguir por outra...
Por que eu? Será que serei o suf...
Engulo em seco.
O sentimento aperta.
Afasto os questionamentos impróprios. Dou um beijo em seu rosto, cubro-a
e volto para a sala, para ficar um pouco com a minha avó. Ela já segura uma
segunda taça em sua mão. Sento-me ao seu lado e a puxo para um abraço.
– Fiquei com saudades, dona Laura.
– Ah filho, eu também. Não suma mais assim. – Rio.
– Eu não sumi, você soube o tempo todo onde eu estava. Inclusive armou um
revezamento de soldados para me vigiar. – Beijo sua cabeça.
– Tive que achar um jeito de cuidar de você. Não pense que não percebi o
quanto emagreceu. Te conheço Oliver, sei que parar de comer é o primeiro
sintoma a te abater quando não está bem. – Ela se ergue para me olhar. – E
agora? Está feliz? – Respiro fundo.
– Estou sim, muito. É diferente. Não entendo exatamente de onde vem isso,
porém não consigo mais ignorar. Mas também estou com medo. – Vovó está
séria.
– Não tenha medo. – Ela segura o meu rosto. – Não é a mesma coisa,
entendeu? Beatriz não tem nada a ver com ela. Nada. Nenhum fio de cabelo de
Bia lembra a sua mãe.
– Minha mãe é a senhora. Nunca tive outra. – Ela assente.
– Não deixe os fantasmas atrapalharem sua felicidade, filho. Se existe
alguém nesse mundo que merece ser feliz, é você. Está na hora, Oliver. E você
não poderia ter recebido presente melhor da vida do que aquela menina lá
dentro. Ela precisa de você e você precisa dela. – Respiro fundo. Suas
palavras me lembram de que eu preciso falar com ela sobre alguns assuntos.
– Nos nossos projetos assistenciais, eu gostaria que estudasse, junto com a
sua equipe, a possibilidade de incluirmos alguma ação em prol da luta contra o
câncer, principalmente a leucemia e o câncer de pulmão, que foi o que levou os
pais de Bia.
– Claro, vou pedir para Selena providenciar alguns estudos e te
apresentamos as possibilidades.
– E queria também que levantassem o que há de mais moderno em termos de
exames e prevenção e o melhor especialista da região. Ela precisa começar a
fazer um acompanhamento regular.
– Faremos isso.
– E mais uma coisa – faço uma pausa, um pouco constrangido de falar disso
com a minha avó – ela precisa ir a uma ginecologista vó. Pode ser a sua. – Ela
se diverte.
– Não, meu ginecologista é especializado em pós-menopausa. É
ginecologista de terceira idade. Veremos o melhor para o caso dela e marcarei
uma consulta, fique tranquilo.
– A melhor, vó. A melhor! Mulher! – Vovó cai na gargalhada.
– Ah, é tão bom assistir de camarote...
– Está rindo de mim, dona Laura?
– Estou me deliciando nestas últimas semanas. Difícil foi me manter neutra.
Ver você, um homem feito, em queda de braço declarada com um menino... Ah,
Oliver... Esta casa nunca esteve tão divertida.
– Estou começando a desconfiar que a senhora não se manteve tão neutra
assim, não foi?
– Posso ter falado uma coisinha ou outra para provocar...
– Já não bastava uma assim em minha vida, agora terei duas. Que Deus me
proteja de vocês!
– E você tinha que ver Beatriz me contando, antes de saber onde estava,
sobre a sua paixão por um certo vocalista de uma certa banda. Do show que
ela foi e onde o tal “pedaço de mal caminho”, palavras de Bia, não tirou os
olhos dela. – Gargalho. – Ah filho, só aquilo já foi um prenúncio de que dias
agitados viriam.
– Você precisou ser forte, não é?
– Se precisei... É verdade? Você a viu nesse tal show?
– Pior que sim. – Conto a ela minha versão dos fatos.
– Uau. Impressionante!
– Sim.
– Filho, você deveria contar a ela.
– Não!
– É importante ela saber...
– Não, vó. Não quero. Talvez um dia, mas não já.
– Por quê? Por que manter segredos entre vocês sobre algo que aconteceu
há tanto tempo...
– Porque... porque se ela ficar, quero que seja por mim, porque quer. Não
quero que a pena e a preocupação interfiram nas suas decisões se um dia ela...
não quero ver dor nos olhos dela. Bia já teve demais disso.
– Não vá por esse caminho.
– Está tudo bem. Estou bem, de verdade. Quando eu achar que devo, que me
sinto confortável com isso, eu conto. Por enquanto, não.
– Tudo bem.
– Agora, se me dá licença, vou voltar para a minha garota – dou-lhe um
beijo e me levanto. Ela sorri.
– Vá querido, boa noite!
– Boa noite vó!
Volto para o quarto e Bia continua do mesmo jeitinho que a deixei. Ainda
deitada de lado.
Uma necessidade de estar perto dela se apossa de mim. Tiro a camiseta e a
bermuda, ficando só de cueca e me deito ao seu lado, o rosto virado de frente
para ela, debaixo dos lençóis. Acaricio os seus cabelos. Passo o braço por sua
cintura e puxo-a para que encoste em meu peito. Ela se mexe. Afasto o cabelo
de seu pescoço e beijo ali, várias vezes, devagar. Ela leva a mão às minhas
costas.
– Uhmmm – resmunga.
Beijo seu queixo e vou subindo até chegar à sua boca. O beijo começa leve,
carinhoso, molhado. Ela aperta minha cintura, me puxando para mais perto.
Inevitavelmente, a dança de nossas bocas vai ficando mais faminta e mais
urgente.
– Tire a minha blusa, quero encostar em você, sentir o calor da sua pele na
minha. – pede, meio sonolenta, meio arfante.
– É pra já, anjo. – Puxo a blusa para cima até estar completamente fora de
seu corpo.
Ela está com um sutiã preto, lindo, mas que acaba ganhando o mesmo
destino da blusa, sem dó. Aproveito e abro o seu short, empurro-o para baixo,
fazendo sair de suas pernas e ficar perdido em algum lugar ao pé da cama.
Abaixo a cabeça para cumprimentar os meus gêmeos preferidos, deixando-
os bem durinhos e alertas sob o toque da minha língua. Então volto a puxá-la
para perto, colando os seus seios em meu peito. Só que ainda não é suficiente,
preciso de mais. Tomo sua boca com necessidade.
Bia desliza as mãos por meus bíceps e costas e faz força, puxando-me para
que eu monte em seu corpo.
Dou o que ela quer, prendendo-a sob mim, afasto suas pernas com os meus
joelhos e me acomodo ali, no calor do seu sexo. Continuo a foder a sua boca
com a minha, hora dedicando alguns instantes para os seios, pescoço e aquele
lugarzinho atrás da orelha que faz com que se arrepie inteira.
Ela começa a movimentar os quadris querendo mais fricção lá embaixo e
sem eu esperar, leva os pés à minha bunda e empurra a minha cueca para
baixo, deixando-a um pouco acima dos joelhos.
Só o tecido fino da sua calcinha nos separa agora.
Suas mãos exploram minhas costas e bunda de cima abaixo. Esfrego-me o
quanto posso nela, enlouquecido, ensandecido. Estou chegando ao meu limite,
preciso trepar, preciso tê-la.
E eu que achei que aguentaria esperar quatro longos meses.
Ela leva as mãos as laterais da calcinha, tentando tirá-la.
– Melhor não, meu bem. Não sei se consigo me conter hoje. Estou louco
para ter você.
– Por favor, preciso sentir o seu calor em mim. – Como negar um pedido
assim?
Me ergo rapidamente, retiro minha cueca por completo, ajudo-a a retirar a
calcinha e logo estou por cima dela novamente. Meu pau aninhado no calor e
na umidade que escorre de sua boceta.
Que delícia! Que tortura!
Retomamos os toques, os beijos, os movimentos e agora todas as sensações
são potencializadas pela ausência de barreiras. Todos os nossos sentidos estão
ligados um no outro, todas as terminações nervosas em alerta, todos os
músculos em movimento, buscando a conexão máxima.
Sinto ela em mim como um todo.
Não há local onde o seu calor não esteja presente. Não há uma só célula
minha que não esteja ciente dela, sentindo-a, querendo-a.
Nunca soube o que era isso, essa fome por mais do que a simples atividade
mecânica em busca do gozo.
Essa gana de me fundir a outra pessoa para me sentir completo.
– Oliver, eu quero você.
– Eu estou aqui, meu bem.
– Faça amor comigo, por favor. Não aguento mais esperar. Eu quero, eu
preciso, dói...
– Ah Bia... não anjo, vamos esperar m...
– Não! – ela põe as mãos no meu rosto, firmando nossos olhares um no
outro.
E eu reconheço.
Levo um baque e me reconheço nela.
Não sei explicar, não me pergunte como.
É parecido com a sensação que compartilhamos no nosso primeiro beijo, só
que muito mais potencializada.
Está tudo ali.
A mesma urgência, o mesmo desejo, a mesma necessidade.
Se apresentando a mim como velhos conhecidos meus, de longa data.
Será a nossa primeira vez em algo que não é a primeira vez que acontece
entre nós.
Confuso em palavras? Sim.
Só que o sentimento é bem real e assustador.
Felizmente, ainda com as duas mãos segurando o meu rosto, ela me arranca
do meu assombro.
– Não há porque esperar. Estamos aqui, na sua cama, ardendo, em chamas
um pelo outro. Eu estou pronta, sou sua, sempre fui. Quero senti-lo dentro de
mim, Oliver. Me faça sua também do único jeito que ainda falta – diz aquela
última parte com muita energia e segurança.
– Tem certeza de que quer que aconteça hoje, agora? Não haverá como
voltar atrás.
Peço confirmação, mas torço para que ela não decline, porque depois do
turbilhão de emoções que estão esmagando o meu peito, não sei se poderia
terminar a noite de outra forma que não enterrado dentro dela. Mas ela só tem
dezessete anos, é sua primeira vez e eu preciso que reflita.
– Absoluta, talvez a única certeza que eu tenha na vida. – Não perco mais
tempo e volto a beijá-la enquanto passo a cabeça do meu pau de leve pela sua
entrada.
Ela está molhada demais.
Prontíssima para mim.
Começo a me erguer e ela me detém.
– Só vou pegar a camisinha.
– Sem camisinha.
– Como assim sem camisinha, Beatriz?
– Não quero que a minha primeira vez seja com um objeto entre nós, quero
sentir você, só você. Quero sentir tudo.
– Querida, é perigoso.
– Por quê? Acha que pode ter alguma doença?
– Não, isso não, sempre usei proteção e faço exames regularmente, mas uma
gravidez...
– Eu tomo o remédio, a pílula do dia seguinte. Por favor, só desta vez... –
suspiro, aquilo é arriscado.
Mas ao mesmo tempo, a ideia de senti-la sem a inconveniência do látex me
deixa eufórico.
Quando foi a última vez que fiz sem camisinha? Não lembro...
– É uma insanidade, mas tenho a leve impressão de que eu nunca
conseguirei dizer não a você.
Olho para ela, ajoelhado na cama entre as suas pernas, os cabelos
espalhados pelos meus travesseiros por todos os lados, os lindos seios com
seus bicos rosa entumecidos, a pele alva, que parece seda ao toque, manchada
de vermelho por onde beijei e toquei, as pernas abertas ao meu redor, a
pequena e linda bocetinha que aguarda ansiosa a minha invasão.
Que será minha. Só minha. Hoje. Ali.
Baixo a cabeça e chupo um pouquinho a sua boceta, passo a língua de leve,
provocando, sugo o pontinho inchado e duro do seu prazer, de leve, vendo-a
tremer. O seu desejo escorre deixando a entrada da vagina brilhante. Vou
subindo, mordisco a barriguinha, está toda arrepiada... tão linda... dou uma
breve atenção aos seios, ao pescoço e me acomodo sobre ela novamente.
Olho em seus olhos, passo os dedos pelo seu rosto. Ela imita os meus
gestos passando a mão pelo meu, num carinho delicado e muito impactante
para mim.
Algo que nunca me permiti ter com ninguém.
– Vou tentar ser o mais cuidadoso possível, mas pode doer.
– Eu sei. Não tem problema.
– Se ficar demais, se você quiser parar, a qualquer momento, promete que
me fala?
– Prometo. – Beijo-a com toda a paixão que há em mim outra vez, seus
suspiros são tão altos mediante aquele beijo que são quase um gemido.
Passo o pau, de leve, por todo o seu sexo espalhando sua própria umidade e
o meu pré-gozo por ele. Demoro-me friccionando-o em seu clitóris,
enlouquecendo-a. Preciso dela relaxada o máximo possível.
Suas mãos estão por mim em todos os lugares, seu quadril arremete tanto
em minha direção que tenho que cuidar para não acontecer um acidente que
pode machucá-la além do inevitável.
– Bia, acalme-se. Deixe que eu conduzo agora. – Forço minha mão em seu
quadril, para pará-la.
Diminuo também o ritmo dos meus movimentos, deixando-os mais suaves.
Beijo e chupo o seu queixo, levo minhas mãos para próximo do seu rosto, tiro
os cabelos grudados ali pelo suor, fixo meu olhar no seu, tentando transmitir,
com aquele gesto, tudo o que sinto, o quanto a sua entrega significa para mim, o
quanto eu a quero, como nunca quis ninguém na vida.
Posiciono a cabeça do meu pau em sua entrada e pressiono um pouquinho.
Ela fecha os olhos.
– Abra os olhos, quero ver você, quero que você me veja. – Ela obedece e
consigo ler a confusão de sentimentos em sua expressão.
A emoção por estarmos prestes a dividir um momento tão importante e
bonito para ela.
A ansiedade pelo desconhecido.
Uma leve apreensão.
Fascínio e desejo, muito desejo.
Por mim.
É emocionante ser desejado assim.
Recuo e repito o movimento, pressionando um pouco mais, mas ainda sem
chegar a penetrar. Paro nessa posição e beijo de leve a sua boca, mantendo
nossos olhos presos um no outro. Enquanto meus lábios estão nos seus,
pressiono mais e consigo entrar um pouquinho.
Bia geme e faz uma careta.
Retiro e volto a colocar aquele tanto, que nem chega a passar toda a cabeça,
mas fico naquele limite até que sinto que ela relaxou novamente. Então
empurro e entro poucos centímetros, sentindo a barreira.
A parede de membrana que assim que eu der um forte impulso será
rompida.
Ela geme alto e fecha os olhos.
Retiro e volto a colocar até ali.
– Tudo bem?
– Tudo... só é estranho... – responde, com a voz fraca.
– Estranho não é animador. Devo parar?
– De jeito nenhum. Você será um homem morto. – Sorrio mordiscando seu
queixo.
– Então me olhe, anjo. – Beijo seu rosto esperando que ela abra novamente
os olhos e assim que faz, recuo e volto a entrar.
E desta vez eu não paro.
Coloco o tanto necessário para romper o seu hímen.
– AIIIII! – Ela grita, se contorce e treme.
Os olhos enchem d’agua. Fico estático, mantendo o pau totalmente parado
dentro dela. Distribuo beijos por todo o seu rosto, algumas lágrimas escapam e
escorrem, passo meus lábios por elas. Secando-as com meus beijos.
– Desculpe, meu bem. Dói muito?
– Sim, – diz, tentando achar forças – dói pra cacete, porra... – Quero rir da
ironia da colocação, mas não me atrevo. Beijo sua boca.
– Quer que eu pare?
– Não! Nem pense! – E na atual situação, não me arrisco a nada, mesmo!
– Você colocou tudo? – pergunta e eu suspiro. Baixo a cabeça e apoio-a no
seu ombro.
– Não, nem a metade, anjo. – Ela estremece. – Mas não precisamos ir até o
fundo hoje, vamos assim...
– De jeito nenhum! Você não vai fazer isso a prestação, está me ouvindo?
Como eu disse. eu quero sentir tudo, até o final. Se é para doer, que doa de
uma vez. Nada de sofrer em partes. – Já não estou mais aguentando a vontade
de me mexer.
A sua boceta quente, úmida e apertada demais, me estrangulando... Preciso
fazer um esforço sobre-humano para me manter quieto.
– O mundo não vai acabar amanhã, Bia, não há porque fazer você sofrer
além do necessário.
– Olhe para mim – pede e eu faço.
– Você está vendo essas lágrimas, não está? Elas são de dor, mas elas
também são de emoção, alegria. Tudo que eu mais desejei está acontecendo
aqui e agora. Você. Dividir esse momento com você. Então me dê uma primeira
vez completa, me tome totalmente, não importa que doa o triplo do que doeu
até agora. – Segura o meu rosto. – Por favor.
– Você vai ser minha ruína, Beatriz, eu já disse isso? Agora eu vou começar
a me mexer, anjo, se prepare porque você vai ter tudo que pediu. – Grudo
minha boca na dela. Ela espalma as mãos nas minhas costas.
Retiro o pau e meto novamente, indo um pouquinho mais e sentindo-a
tremer, e não foi de prazer. Repito mais uma vez o movimento, forçando um
pouco mais forte para dentro dela e chegando praticamente na metade do
caminho. Ela é apertada demais e está contraída, bloqueando a minha
passagem. Certamente está doendo muito. O esforço que eu estou fazendo para
conseguir entrar é enorme, me encontro lavado de suor.
– Você precisa tentar relaxar um pouco, querida, senão dificulta e doe ainda
mais. – Começo a tirar e colocar seguidamente até o meio, sem avançar, na
esperança de que ela se solte um pouquinho.
Continuo assim, metendo e tirando devagarinho e beijando-a por todos os
lugares alcançáveis. Depois de um tempo naquele vai e vem lento e ritmado,
começo a ouvir uns gemidinhos e timidamente os seus quadris passam a querer
me acompanhar na brincadeira.
– Isso, assim... – Chupo eu pescoço. – Está ficando gostoso, pequena? –
Meu pau começa a deslizar com um pouco mais de facilidade.
– Sim, aquela dor cedeu um pouco e outra dor está começando a crescer. –
Sorrio. Tão linda a minha menina.
– Que bom, vamos cuidar das duas. – Continuo naquela estratégia de ir só
até a metade, tirando e colocando nela, acelero um pouco o ritmo, mas sem
avançar na profundidade, preciso fazê-la gozar primeiro.
Começo a meter de forma que minha virilha sempre roce bem forte em seu
clitóris. Ela geme mais alto e também força um pouco mais os quadris na
minha direção. Permaneço assim, invadindo e roçando e cada vez acelerando
mais.
Suas pernas tremem, agora por outro motivo, e seu ventre inicia as
contrações que eu já reconheço bem. Beijo-a apaixonadamente e entro mais e
mais rápido forçando a virilha em seu clitóris inchado. Sua respiração está
super ofegante e seus quadris brincam sem pudor.
Os espasmos no ventre ficam mais fortes, os gemidos mais altos e suas
unhas cravam em minhas costas. Meto mais algumas vezes e então ela começa
a se entregar, ergo o rosto para observá-la enquanto goza, ainda enfiando nela,
porém com menos velocidade.
– Oliver... – Ela treme inteira sob mim, geme meu nome ao atingir o ápice e
é nesse momento que eu empurro tudo, até o final, e ela berra.
Literalmente berra!
Não sei se de dor ou prazer, ou os dois, mas agradeço fervorosamente ao
santo dos revestimentos acústicos.
Eu já não consigo mais me conter, todo ali, dentro dela, super espremido em
seu calor, é demais para mim.
Passo a arremeter com vontade, viril, inteiro, enquanto grudo minha testa na
dela e prendo seu rosto entre as mãos para que ela me veja gozar, para ela, por
ela, dentro dela.
Da forma mais crua e completa que um homem pode se entregar a uma
mulher.
Bia leva as mãos a minha bunda e aperta, sustentando o meu olhar. Eu a
como com vontade, como se nunca estivesse suficientemente dentro dela,
buscando mais e mais me enterrar ali.
Forte!
Até que chega a minha vez de berrar o seu nome e desmoronar num prazer
tão intenso que não me lembro de já ter sentido alguma vez na vida.
– Biiiaaa... pooorrraaaa! – Dou mais algumas investidas, despejando até a
última gota do meu gozo dentro dela, solto meu peso, afundando a cabeça em
seu pescoço e mantendo o pau inteiro enterrado em sua boceta.
Tremores percorrem meu corpo, como se a eletricidade corresse solta pelo
interior das minhas veias.
O orgasmo é potente, diferente, bem diferente de tudo que conheci até ali.
Estou morto! Estou no céu! Foi divino! Foi perfeito!
Minha!

Bia

Não consigo conter o soluço.


As emoções foram fortes demais.
A adrenalina, a tensão pelo desconhecido, a dor, a consciência de que era
ele ali, a química perfeita, o meu gozo, em meio a dor e prazer e, por fim, a
explosão alucinada dele, tomando meu corpo com fúria, descarregando uma
energia pesada sobre mim, dentro de mim.
Que alcançou minha alma.
Me atravessou por inteira, se alojando no meu peito, preenchendo-o com um
sentimento que já sei bem que nome tem.
Cravando nele a certeza de que só foi intenso daquela forma porque somos
nós dois ali. Uma composição rara. Por mais que eu tente repetir a fórmula
com outro, o produto final nunca será tão sublime.
Ele mantém-se grudado em mim, dentro de mim, situando-se no mundo
novamente, quando percebe o meu choro e tenta sair
– Ah meu bem, a machuquei demais, não foi?
– Não, não são de dor. Não se mexa, por favor, continue aí. Me deixe senti-
lo por mais tempo.
Oliver me olha e passa os dedos por minhas lágrimas, mantendo nossos
corpos muito bem conectados lá embaixo. Tudo é novo para mim, então me
concentro naquela sensação de preenchimento deliciosa que experimento pela
primeira vez enquanto ele me beija devagar, carinhoso, por muitos minutos.
Afundo meus dedos em seus cabelos e aproveito tudo que ele me dá.
– Bia... – Separa nossos lábios com certo esforço. – Eu tentei mostrar com
meus gestos, meu olhar e meu corpo, mas agora eu vou dizer em palavras,
mesmo eu não sabendo se encontrarei uma forma exata de descrever. Foi
especial demais para mim, pequena. O que eu senti com você aqui, foi forte,
foi poderoso, foi profundo, nossa... nunca foi assim para mim, nunca senti isso.
Posso afirmar que foi uma primeira vez para mim também. E mesmo eu
sabendo que não merecia que algo tão bonito assim acontecesse em minha
vida, me sinto honrado por vivê-lo com você. Por você ter me escolhido. Por
você ser minha de todas as formas possíveis. – Não posso mais ouvi-lo
dizendo aquilo. Seguro seu rosto entre as mãos.
– Você merece! Você merece, entendeu? Se eu estou aqui hoje, se as coisas
aconteceram para nós da forma que aconteceram, é porque você merece. Nós
merecemos. Não quero ouvir você dizer o contrário nunca mais. E agora pare
de me dizer essas coisas, senão eu não vou parar de chorar. Estou começando a
perceber as vantagens de ter um namorado compositor – digo secando os
olhos, ele ri da minha gracinha.
– Ah, eu já mostrei várias das suas vantagens, não? – Dá um remexida no
tora ainda dentro de mim, me fazendo sentir uma pontada de dor. Franzo a testa
e faço uma careta em reflexo.
– Sim, mostrou. E algumas delas são enormes. – Ele ri. – Você me arrombou
Oliver, sério! Estou esticada ao máximo. Tenho até com medo de olhar. Nem
sei se voltarei a sentir as coisas aí embaixo de novo algum dia, acho que está
tudo estragado. E no final, quando enfiou tudo, puta-merda, acho que perdi meu
útero! Pude sentir ele sendo invadido por dentro. – Ele gargalha e cola a testa
no meu ombro.
Pimenta nos olhos dos outros é refresco.
Entendo bem o ditado agora, pai.
– Vamos conferir a sua lastimável situação então, namorada. Vou sair, ok? –
Assinto e ele vai tirando devagar, me causando dor, arrepios e uma baita
sensação de perda. Assim que se ajoelha na cama entre as minhas pernas e
miro no seu membro grosso, agora um tanto flácido e coberto de sangue, acho
que perco a cor.
É sangue em seu pênis, suas bolas e seus pelos.
Ele segura minhas coxas, afastando ainda mais as minhas pernas e analisa o
estrago.
– Deus, estou me sentindo um cavalo. Tem bastante sangue aqui, anjo. Não é
à toa que você sentiu tanta dor. Fique quietinha aí que eu já volto. Ele segue
para o banheiro e volta instantes depois com uma toalha molhada e outra seca.
O sangue que havia no seu sexo já não está mais lá. Agacha entre as minhas
pernas e segura uma das toalhas.
– Vou fazer com cuidado, não se preocupe.
– Tarde demais para esta fala, rockstar, tarde demais...
– A minha sorte é que você não perde o bom humor. – Começa a passar a
toalha morna e molhada.
– É herança do meu pai.
– Ai, péssima hora para você mencioná-lo. Acabei de comer a filha dele.
Acho que não estaria muito feliz comigo no momento.
– Ele virá puxar o seu pé à noite, se prepare.
– Bia! – Gargalho da sua cara de pavor. Passa a toalha seca e dá uns
beijinhos ali. Quando se dá por satisfeito com o seu trabalho, beija meus seios
e, por fim, minha boca.
– Agora vou te levantar e colocá-la na cadeira, preciso trocar o lençol. –
Me pega no colo e me leva até a poltrona.
Vejo a enorme mancha de sangue em seu lençol. Oliver olha aquilo e
suspira. Ele vai até o closet, retorna com um lençol limpo e faz a troca. Leva o
sujo para o banheiro e então volta. Tudo isso peladinho, como veio ao mundo.
Eu fico ali, só apreciando o desfile.
– Coloquei a banheira encher para tomarmos um banho, ok? – Só concordo.
Vai para o closet novamente, pega uma calça de moletom e veste.
– Hei...Eu estava gostando da vista como ela estava – reclamo, ele me lança
um sorriso fraco.
– Eu deveria é ficar uns três meses longe de você depois do que eu fiz, isso
sim.
– Não se atreva!
– Estou me sentindo mal por ter te machucado assim. Só me dá uns
minutos... espere aí, eu já volto – sai do quarto.
Respiro fundo.
Não gosto que se sinta mal por isso.
É normal sangrar, não é?
Foi tudo tão incrível... não quero que nossa noite termine desta forma.
Num instante ele já está de volta com um copo d’água e um remédio na mão.
– Tome, deve aliviar a dor. – Oliver me estende um comprimido. Olho para
aquilo e não é bem o que eu queria agora, e se eu tomar, certamente ele não me
dará o que eu quero.
– Não quero.
– Bia, por favor, não seja teimosa, tome...
– Não, isso aí não vai me fazer ficar melhor. Está doendo? Está. Arde,
lateja. Mas não é nada insuportável. Nada que um banho e uma noite de sono
não resolvam. Agora o que vai me deixar mal mesmo é te ver assim. É saber
que essa noite incrível, certamente o melhor momento da minha vida até hoje,
vai terminar neste clima. Isso vai me machucar, bem mais do que o que
aconteceu naquela cama. E esse seu comprimido aí não vai dar jeito nessa dor.
Então devolve para o local de onde você pegou e traga uma garrafa de
espumante e duas taças no lugar. Vamos tomá-la naquela banheira. – Abro o
meu melhor sorriso para ele. Oliver suspira e balança a cabeça em negativa.
– Sabe por que isso aconteceu? Por que você sangrou assim? Porque eu fui
um tolo e cedi aos seus desejos. Se eu tivesse negado o seu pedido e ido com
calma, não teria machucado tanto. Mas não... não consegui dizer não. E o mais
incrível é que estou prestes a fazer isso de novo. – Me levanto e caminho até
ele. Abraço-o pela cintura, beijo seu peito e depois apoio a minha cabeça ali.
Ele me enlaça também, devolvendo o abraço.
– Está tudo bem, meu bem. Não sei se dá para explicar isso a um homem
Oliver, talvez só faça sentido na cabeça das mulheres. Mas a dor que eu senti e
a que ainda sinto agora, é uma dor boa, feliz. Ela me diz que eu fui sua, que
você esteve aqui. Me faz lembrar que eu tive você dentro de mim. É como se
eu ainda pudesse senti-lo lá. O sangramento é normal na primeira vez...
– Não desse jeito. Eu vi a cara de pavor que você fez quando viu.
– E daí se foi um pouco maior? Você cuidou de mim. E não está mais
sangrando. Se houvesse algo errado ainda estaria, não é verdade? Pega o
espumante e vamos para o banho. Há fluídos seus escorrendo pelas minhas
pernas, namorado... – Ele brilha os olhos e abre um sorriso sacana.
Finalmente!
– Ah pequena... o que eu faço com você? – Beija minha cabeça. – Afasta as
pernas, deixa eu ver.
– Oliver!
– Vai Bia, quero ver a minha porra escorrendo da sua bocetinha.
– Aff – resmungo, revirando os olhos, mas fazendo o que ele quer. Ajoelha-
se e analisa o seu material escoar, fascinado. Homens e sua necessidade de
marcar território!
– Linda! E só minha. – faz um carinho leve na boceta e então abocanha
aquele meu ponto sensível, me chupando com força. Seguro-me em seus
ombros e me entrego ao inevitável. Ele me chupa sem trégua até que eu
fraquejo as pernas, grito e gozo, pela segunda vez na noite. Então me pega no
colo e põe na banheira, beijando a minha boca pelo caminho.
– Já me junto a você. – O quentinho da água é reconfortante. Assim que me
sento arde um pouco pelo contato do calor com o machucado, mas passado o
primeiro impacto ajuda a aliviar bastante o incômodo.
Oliver retorna com a garrafa de espumante, duas taças e deixa os itens
apoiados na beirada da banheira.
– Sente-se um pouco mais para frente, deixe eu me encaixar atrás de você –
faço o que ele pede. Assim que se senta, pega a garrafa que já está aberta e as
taças, serve e me entrega uma delas. Com sua mão livre, enlaça minha cintura e
me puxa, colocando seu corpo em minhas costas.
– Minha menina. – Sinto seu o nariz passar pelos meus cabelos, inspirando
o meu cheiro. – Minha mulher. – Me arrepio inteira ouvindo-o me chamar
assim. Não anjo, não pequena, mas sim mulher. – Aquela que me enlouquece e
me fascina na mesma medida. – Beija meu ombro. – Que tirou o meu mundo
do eixo. – Afasta meu cabelo e me beija no pescoço. – Que me faz
experimentar o desconhecido a todo instante. – Me chupa atrás da orelha. –
Que me diverte pra caralho. – Morde meu maxilar. – Que me provoca e me
põe contra a parede. – Desliza o nariz pela maçã do meu rosto. – Que me faz
ferver de ciúmes. – Morde o lóbulo da minha orelha. – Que hoje me deu o
presente mais lindo que um homem poderia ganhar. – Vira minha boca para si
e me beija. Então pega sua taça e bate levemente na minha.
– A você, meu bem – brinda.
– A nós, meu bem – corrijo.
Trocamos carinhos e bebemos por algum tempo. Depois ele me dá banho e
eu faço o mesmo com ele, me aproveitando da situação para tocar todos os
cantinhos do seu corpo magnífico. Nos secamos e ele me arrasta para a cama,
sem me dar chance de colocar uma peça de roupa sequer. E caímos no sono
assim, emaranhamos no calor um do outro, pele contra pele.
Meus sonhos incluem precipícios e olhos dourados repletos de desejo.

Acordo com lambidas, mordidas, dor no meio das pernas e uma coisa muito
dura me cutucando na bunda.
– Bom dia, anjo.
– Pelo visto é mesmo um bom dia, você parece bem animadinho. – Me
esfrego um pouquinho no tora.
– Não provoca. Você deve estar bem dolorida aí embaixo.
– Foi o tora que começou com a provocação. Eu só reagi a ele – digo,
inocente.
– O tora não tem forças para resistir a você. Sendo assim, você, a madura
da relação, precisa colocá-lo no lugar dele.
– Tudo que eu mais queria era colocá-lo no lugar dele, mas o parquinho está
fechado para manutenção, sinto muito. – Ele ri.
– Muita dor?
– Nada que me impossibilitou de dormir, mas sim, está bem incômodo.
Acho que eu até tomaria aquele seu remédio agora.
– Teimosa! Por que não tomou ontem?
– Porque você não me deixaria beber depois. E aquilo me ajudou a relaxar
bastante também.
– Então vamos para o café e você toma o remédio.
– Ok – digo impulsionando o corpo para levantar, mas ele me puxa de volta.
– Não tão rápido, mocinha. – Me beija gostoso e então me libera.
Levantamos e me dou conta de que todas as minhas coisas estão no meu
quarto, roupas, escova de dentes, tudo. Procuro a minha calcinha, acho-a
jogada ao lado da cama e pego a camiseta de Oliver para pôr por cima. Fica
quase um vestido, então está ótimo para ir até o outro quarto. Oliver levanta e
caminha nu em direção ao banheiro, exibindo toda a sua enorme benção no
mais divino estado de glória e eu me arrependo de não ter me aproveitado um
pouquinho mais.
O parque principal pode estar fechado, mas a gente poderia ter brincado na
pracinha perto de casa, não poderia?
Me viro para sair do quarto antes que comece a ter ideias.
– Onde você vai? – pergunta antes de entrar no banheiro.
– Para o meu quarto, minhas coisas estão lá. – Ele só mexe a cabeça em
concordância e eu prossigo.
Faço minha higiene, coloco um vestidinho branco com estampa floral,
penteio os cabelos e vou em direção à bancada onde costumamos tomar o café
da manhã. Oliver já está lá, sentado preparando seu café ao lado de Laura. Que
vergonha! Ela certamente imagina tudo que fizemos durante à noite.
– Bom dia, Laura. – Engulo a vergonha e cumprimento. Oliver não perde
tempo, me puxa e me beija, me fazendo corar ainda mais na frente dela.
– Você está linda – elogia e me solta para que me sente.
Faço isso e o desconforto lá embaixo ao encostar na cadeira provoca uma
careta em reflexo, o que não passa despercebido a um certo rockstar, que me
lança um sorrisinho de satisfação.
– Bom dia, querida. – Laura devolve o cumprimento e se levanta. – Agora
que têm a companhia um do outro, vou deixá-los. Tenho algumas coisas para
fazer na ONG e o motorista me espera. – Laura se levanta, beija a cabeça dele,
depois a minha e sai.
Não muito tempo depois, o telefone dele toca. Oliver deixa o aparelho na
bancada e atende no viva voz.
– Oi Max, você acordado a essa hora? Maneira o linguajar, está no viva
voz.
– Quem está aí ao seu lado para que eu tenha que ser tão cuidadoso?
– Bia.
– Bia, bom dia!
– Oi Max.
– Oliver, o passeio de vocês ontem deu merda, vamos nos reunir aqui em
casa em meia hora. Riley convocou a reunião. – Fico tensa ao ouvir aquele
nome.
– Que tipo de merda?
– Parece que vazaram fotos de vocês, mas não foi pouca coisa. – Oliver
respira fundo.
– Ok, daqui a pouco chego aí – responde e desliga.
Baixo a cabeça me concentrando no meu prato, tentando organizar os
sentimentos dentro de mim.
Não posso causar problemas no primeiro instante que preciso demonstrar
que confio nele. Que acredito no que ele me prometeu.
Mas não é fácil.
Ele avisou que não seria...
Puxo o ar para ver se, por um milagre, ele varre o ciúme de dentro de mim.
Mas não varre.
Caramba, eles se relacionam desde a adolescência. Ela é linda, gostosa e
pelo visto nunca teve problemas em acomodar o tora.
Será que ele também foi o primeiro dela?
Na certa o parquinho dela nunca ficou inutilizável...
Arrrggg!
Quieta, mente traiçoeira!
– Algum problema com a panqueca, Beatriz?
– Hã?
– A panqueca? Você está estraçalhando-a. Algum problema? – pergunta
Oliver.
– Não, nada não.
– Se não gostou deixe aí e pegue um prato limpo.
– Não, está ótima! – digo e Oliver larga os talheres.
– Fale. O que foi? É por causa das fotos? Vamos resolver...
– Está tudo bem. – Coloco um pedaço de panqueca na boca, para dar
credibilidade a minha afirmação. – Ele se levanta, vai à cozinha, pega alguma
coisa e volta.
– Tome. – A água e o comprimido. Tomo logo o remédio. Então me lembro
de outra coisa importantíssima.
– Oliver, a pílula...
– Já pedi para comprarem, daqui a pouco devem voltar. Por isso que você
ficou desse jeito? Ou está com muita dor? – suspiro. Melhor falar de uma vez.
– Não. Eu fiquei incomodada por saber que você vai se encontrar com
Riley daqui a pouco. – Ele me olha sério por uns instantes e depois fecha os
olhos.
– Bia, ela é minha adv...
– Eu sei – digo, tapando os lábios dele. – Eu sei, me desculpe, eu só... é
bobagem. Posso só te fazer uma pergunta? – Fala o meu lado masoquista.
– Você pode me perguntar tudo que você quiser.
– Você foi o primeiro dela também? – Ele fecha os olhos pela segunda vez.
– Anjo...
– Acho que já tenho a minha resposta.
– Ah pequena, foram situações completamente diferentes... eu tinha quinze
anos.
– Ela foi sua primeira?
– Não. – Arregalo os olhos.
– Com quantos anos?
– Treze. – Caraca!
– Ela deve gostar muito de você, para permanecer na sua vida esse tempo
todo. E você dela.
– Eu já conversei com você sobre isso. Tenho muito carinho por ela como a
grande amiga que sempre foi. Respeito-a pela profissional que ela é. Quanto
ao nosso envolvimento sexual, sempre foi só isso, sexo e amizade. E sempre
deixei muito claro para ela.
– Por quê?
– Por quê, o que?
– Por que você nunca deu uma chance a ela, a vocês?
– Não sei. Eu nunca quis. Nunca senti nada além de tesão momentâneo.
Porque eu havia prometido a... – Ele para.
– Continue.
– A mim mesmo que jamais me envolveria dessa forma com ninguém.
– Por quê?
– É coisa minha, não importa. E como eu já disse, você destruiu todas as
minhas convicções, então por favor, deixe para lá.
– Tudo bem – concordo, pouco convencida de que seja apenas isto.
– Vamos?
– Onde? Você não vai no Max?
– Vou. E você vai comigo. – Olho para ele e entendo o que está querendo
fazer.
– Não precisa, Oliver, de verdade. Eu confio em você.
– Precisa. Vamos lá e acabamos com isso de uma vez.
– É reunião de trabalho. O que eu vou fazer lá?
– Você também está naquelas fotos, Beatriz. Nada mais justo que participe.
Venha.
– Sr. Rain, com licença. – Olho para quem se aproxima e reconheço o
motorista que me trouxe até ali da primeira vez.
– Ah, oi Barry, conseguiu?
– Sim, aqui está. – Entrega uma sacola a Oliver.
– Obrigado.
– Não por isso. Até mais, Sr. Rain, Srta. Thompson.
– Até mais, Barry. – Oliver serve mais um pouco de água no copo. Abre o
embrulho que Barry lhe entregou, tira algo de dentro e me entrega.
– Se Barry foi comprar isso... sabe que... aff, nunca mais ando de carro com
ele. – Oliver ri.
– Eu não falei que era para você, mas se tem tantas fotos nossas circulando
por aí, bom, então talvez ele até imagine que seja. – Olho torto para ele
enquanto tomo o contraceptivo.
Assim que largo o copo na bancada, Oliver me envolve pela cintura, me
levanta, colocando-me sentada na banqueta e me beija com carinho. Enquanto
vai aprofundando o beijo cada vez mais, força minhas pernas a se abrirem para
ocupar o espaço entre elas. Uma mão sua continua em minhas costas, me
prendendo contra ele e a outra está na minha nuca. Puxa meus cabelos para
trás, deixando o meu pescoço a sua mercê. E se delícia ali, me arrancando
arrepios.
O tora já está me saudando com sua presença imponente, deixando-me
sentir sua potência e o seu calor através da roupa. Levo uma de minhas mãos,
que estava estrategicamente apalpando sua bunda, até o seu membro e acaricio
de leve por cima da bermuda.
– Bia... – Ele ofega. – Não faz anjo, precisamos ir e se você continuar, eu
vou mandar o Max, a Riley e as fotos se foderem.
– Já parei, mas você não pode me provocar desse jeito e esperar que eu não
me anime.
– Longe de mim, gostosa, longe de mim... – fala baixinho no meu ouvido.
– Certo. Então vamos logo, bonitão. Descobrir de uma vez o nível da
merda. – Dou dois tapinhas na sua bochecha e me levanto.
Andamos pela praia em direção à casa de Max, os pés na água, ora
abraçados, ora de mãos dadas, rindo e trocando carinhos.
Uma normalidade feliz e despreocupada, apesar do iminente incidente com
as fotos. Para uma garota como eu, que sempre teve o tempero amargo da
preocupação presente em sua vida, é tão bom que dá medo.
Ao entrarmos na casa, os olhares se voltam imediatamente para nós e
nossas mãos unidas. Já estão todos reunidos ali. Lian sorri, Max se mantém
neutro, assim como Riley. Kellan fecha a cara e desvia o olhar.
– Chegou o casal do momento. – Lian é o primeiro a quebrar o silêncio.
– Bom dia a todos – diz Oliver em tom formal e aponta para que eu me
acomode no sofá, sentando-se ao meu lado. Ficamos ele, eu no meio e Riley na
outra ponta. Max e Lian ocupam poltronas à nossa frente e Kellan uma cadeira
na lateral, perto de Riley.
– Estamos esperando mais alguém? Caso contrário, pode começar – sugere
Max.
– Ótimo – diz Riley. E começa a jogar algumas fotos na mesa de centro à
nossa frente.
– Um beijo quente na praça abaixo do letreiro de Hollywood. Outro beijo,
só que não bem na boca, no mesmo ponto geográfico. – Enrubesço na hora. Na
foto Oliver tem numa mão na base do meu seio e chupa o bico através da blusa.
– Uma foto em grupo. Outra foto de um belo amasso, agora no meio de uma
cidade cenográfica, e nessa o foco no rosto do vocalista da The Order é tão
perfeito que não deixa margem de dúvidas. – Naquela eu estou beijando o
pescoço de Oliver.
– Mais uma em grupo, no cenário do Central Perk. Uma das duas meninas.
Uma do outro casal. E por fim, uma bem de frente, tendo o casal principal
abraçado com sorrisos no rosto. – A mulher fala em deboche. – Onde você
estava com a cabeça Oliver, para remover a barba em todas estas situações? –
Não gosto nada do tom que ela usa para falar com ele.
– Achei que estávamos seguros no estúdio, o passeio foi fechado para nós.
– Ela dá um risinho de incredulidade.
– E no letreiro, também achou seguro?
– Não, ali foi só por um instante e jamais imaginei que daria tempo para
qualquer um me notar, quanto mais tirar fotos.
– Oliver, você está se fazendo de ingênuo ou o quê? Estava andando por
Los Angeles, caramba. A cidade que ferve a celebridades, pessoas querendo
topar com celebridades, pessoas querendo pescar qualquer lance de uma
celebridade para fazer dinheiro. Sem mencionar o mar de paparazzis à
espreita. Céus! E conseguir isso justo com um astro enigmático como você é
grana certa! Não vão sossegar até achar a tal garota e com isso tentar chegar de
alguma forma até você. Pensei que você fosse mais esperto do que isso,
francamente! – Eu aperto a mão de Oliver, se ela continuar nessa pegada, não
sei se me seguro sem abrir a boca.
– Riley, controle-se – avisa Lian. Ela respira fundo.
– Essa merda foi pega pela minha equipe de monitoramento logo cedo. E
sabe em quantas plataformas conceituadas diferentes já estavam só nos Estados
Unidos? Cento e quarenta e sete. Se contarmos as estrangeiras e as
sensacionalistas então... E vêm acompanhadas das mais diversas manchetes. –
Ela começa a colocar prints de manchetes de sites na mesa agora.
"Oliver Rain em romance por Los Angeles". "Quem será a diva de
caracóis que fisgou o Deus do Rock?”. "Garota desconhecida é vista em Los
Angeles com o inacessível Oliver Rain, vocalista da The Order". "Oliver
Rain em passeio com amigos e...? Namorada?”. "Tarde quente para Oliver
Rain e garota misteriosa”. "Amasso em público com Deus do Rock causa
inveja às fãs". "Oliver Rain em cenas censuradas”.
– São só uma amostragem. Já está pelo mundo todo. Mas as piores são as
deste tipo: "Oliver Rain é visto com garotas e herdeiro da rede de
restaurantes Edelweiss". "Quem serão as garotas vistas com o vocalista da
The Order e o dono de uma franquia de restaurantes da culinária alemã?".
– Estas lhes dão um contato e expõe Hazel. Uma hora e meia depois de
descobrirmos as manchetes, Johnathan me liga dizendo que o tal rapaz, Eric
Ehrenberg, teve que expulsar pessoas, tanto da imprensa formal, como da
informal, na porta de várias das suas lojas, fora os muitos telefonemas. – Ela
respira fundo.
– E já tem alguém orientando o mané a não se manifestar em hipótese
alguma? – Max pergunta.
– Tem sim, não se preocupe quanto a isso, ele inclusive está ajudando
bastante. Mas o fato aqui é o seguinte, não há como limpar isso. Já está
pulverizado demais. Cada um que a gente tira, entram três novos. Vamos focar
nos que inventarem mentiras em cima das imagens, porque logo, logo vão
começar a aparecer várias mulheres de cabelos cacheados se dizendo a tal da
foto. E também cuidar dos que se aproximarem de alguma forma da identidade
real de Hazel ou Beatriz.
– Você acha que corremos o risco de chegarem a este lugar? A nossa
família? – pergunta Max.
– Sinceramente? Sim.
– Por quê? – pergunta Oliver.
– Porque isso que está acontecendo agora é o que sempre cuidamos para
que não ocorresse. Quando a coisa toma esse tipo de proporção, as pessoas
que porventura tenham alguma mágoa ou inveja em relação a vocês e que
conhecem isso aqui, – ela faz gestos apontando o entorno – começam a falar e
aquele termo de confidencialidade não nos garante mais nada, porque não há
como provar a origem do boato. Não há como acusar este ou aquele como
responsável. São muitas fontes.
– Precisamos garantir que nada chegue até aqui, Riley – pede Lian,
aparentemente preocupado.
– Vamos tentar, claro, mas não sei se consigo. Precisava avisar sobre a
situação.
– Não há nada que possamos fazer para mitigar e talvez evitar que cheguem
perto de descobrir o nosso refúgio? – pergunta Oliver. Ela baixa a cabeça e
passa a mão pelas têmporas, como se estivesse com dor.
– Há Oliver, mas pela forma como você vem se comportando ultimamente,
tenho certeza de que não vai concordar.
– O que seria?
– Assim como nas outras vezes que seus casos foram expostos, Max pode
dar uma declaração oficial negando e a mulher em questão também. Então o
assunto morre.
– Oliver, tudo bem, eu faço is... – começo a dizer, mas ele não me deixa
terminar.
– Não.
– Não disse. – Riley dá um novo risinho debochado.
– Por que não? Se é a forma de acabar com as especulações. De manter o
lar de vocês seguro – tento de novo.
– Não Beatriz, está fora de cogitação. Não vou jogar você aos lobos. Não
pense que se contentarão com uma simples negativa sua. Ficariam à espreita,
monitorando seu dia a dia a distância, e você teria que ficar longe daqui por
um tempo, para dar veracidade, pois vão tentar te investigar. Teríamos que nos
esconder. Nem pensar.
– Então é isso, faremos o possível e esperemos pelo melhor. Não há como
desviar a atenção de um burburinho desses, sem que os envolvidos venham a
público ou sem dar um outro para pôr no lugar.
– E se Max der uma declaração confirmando o envolvimento dele com
Beatriz? Isso não tiraria o foco de Eric e Hazel e de outras possíveis
especulações? – pergunta Lian.
– Hã? Oliver jamais vai ac... – começa Riley, mas Oliver a interrompe.
– Funcionaria, Riley? Teríamos como evitar especulações e garantir a
segurança de Beatriz e Hazel se confirmássemos o nosso namoro para o mundo
todo? – Ela arregala os olhos.
– Você está brincando, não é? Namoro?
– Sim, namoro. – Ela ri e eu tenho vontade de levantar e chamá-la para um
papo de mulher para mulher. Posso ser menor e mais jovem, mas não tenho
medo de cara feia. – Responda, Riley. Eu estou com Beatriz e você está aqui,
única e exclusivamente, como profissional. Não se esqueça disso. – Oliver lhe
dá uma chamada. Ela abandona o modo ex e retorna ao modo advogada.
– Funcionaria, mas teríamos que lhes dar alguma coisa. Beatriz teria que
dar uma pequena entrevista, contar algo sobre si mesma e a relação de vocês.
Só Max dizer que você namora uma menina, – ela se demora na palavra – não
bastaria, as especulações continuariam ou até piorariam. Mas se matarmos a
curiosidade, em parte, sim, acredito que adormecemos o assunto sem maiores
danos.
– Vamos confirmar, mas não quero expô-la.
– Oliver – seguro o rosto dele entre minhas mãos – eu posso fazer isso. Não
tem muita coisa em minha vida para investigarem de qualquer forma. Se eu
falar o meu nome e contar que nos conhecemos através, sei lá, de meu falecido
pai que era seu amigo ou seu contador, a coisa para. Meu pai era efetivamente
um contador e não está mais aí para irem atrás dele.
– Ela está certa, Oliver. É a melhor opção – concorda Lian.
– Não sei... – reluta. Kellan que me desculpe, mas eu preciso fazer isso na
frente de uma certa advogada dona de si. Puxo o rosto de Oliver para mim e o
beijo.
– Por favor, deixe-me ajudar a resolver a bagunça – digo quando paro de
beijá-lo e lhe lanço o meu melhor olhar "gato de botas". É infalível! Papai
nunca resistiu.
– Porra! – reage Lian. – Você tá muito fodido Oliver, muito fodido... –
Oliver me abre o seu sorriso lindo de derreter corações.
– E eu não sei? – responde a Lian, mas olhando para mim. – Já nem tento
mais fugir do meu destino.
– Foi um sim? – pergunto.
– Sim Beatriz, foi mais um sim. Parece que é só isso que eu consigo lhe
dizer, afinal. Espero que este não me traga arrependimentos. – Ergue as
sobrancelhas e no mesmo instante um barulho forte de cadeira sendo arrastada
é ouvido.
Olho na direção do som e vejo Kellan saindo da sala. Nitidamente
incomodado. Me sinto péssima com aquilo. Até me arrependo da minha
marcação de território na frente da advogada.
– Só uma condição – continua Oliver, ignorando o rompante de Kellan e
olhando para uma Riley desconcertada. – A declaração de Beatriz será junto
com Max. Assim, se algo sair do planejado, Max consegue encerrar o assunto e
ajudá-la.
– Concordo. Melhor que seja assim. – Apoia Max.
– Tudo bem – fala a advogada. – Vou soltar a notícia de que uma declaração
oficial será dada e providenciar tudo. Deve acontecer hoje à tarde, o quanto
antes melhor, menos danos. Aviso o local e horário para vocês daqui a pouco.
E passarei o script do que deverá ser falado com você, Beatriz – diz me
olhando nos olhos.
– Certo. – Sustento seu olhar.
– Vou indo, tenho muito a preparar. Desculpem retirá-los do descanso. Até
mais.
– Obrigado, Riley. – Max agradece antes que ela atinja a porta.
– Oliver, eu vou conversar um instante com Kellan – falo, mas ele não
permite que eu me levante.
– Não, quem vai sou eu.
– Oliver...
– Não sei se é uma boa – ajuda Lian.
– É sim, tenho que acabar com isso.
– Ele está sofrendo cara, não vai se resolver assim.
– Uma coisa é sofrer e isso eu entendo, outra coisa é fazer pirraça ou medir
forças. Então me deixe logo resolver as coisas com ele, para ver se isso para.
– Lembre–se de que ele é só um garoto. – Max adverte.
– Não se preocupem, meu objetivo é acertar as coisas e não as piorar.
Fiquem tranquilos, será um papo de homem para homem.
Deixo Oliver ir atrás de Kellan e fico ali na sala com Max e Lian. Meu fone
vibra com uma mensagem de Hazel.

Bia, você já está sabendo? Viu as


fotos?
Sim. Riley fez uma reunião aqui
há poucos minutos
O que vão fazer? Max vai falar?
Vai. E eu também
Tá brincando que Oliver vai fazer
você ir a público negar?
Não vamos negar, vamos
confirmar

Não acredito! É sério?


Uau! Bia, você é poderosa!
Oficialmente a primeira dama do
rock então?
Kkkkk só você!
Quando vai ser?
Hoje à tarde. Ainda não sei o
horário

Me avisa quando souber. Vejo se


consigo ir junto

Ok
Oliver

Como o esperado, encontro Kellan na área de festas, mas especificamente


em frente ao videogame.
– Cai fora – diz ao notar a minha aproximação.
– Não, precisamos conversar.
– Não temos nada para conversar, dá o fora!
– Temos sim, cara, temos muito para conversar.
– O que você quer? Já não basta eu ter que assistir você brincar com ela
desse jeito?
– Não tem ninguém brincando com ninguém aqui. Assim como tenho certeza
de que os seus sentimentos em relação a ela também não são brincadeira. – E
com aquela constatação consigo chamar sua atenção, ele larga o controle do
aparelho e me olha.
– Vai me dizer o que? Que o cara que eu conheço bem, desde que me
entendo por gente, e nunca namorou ninguém; que sempre deixou claro que não
queria envolvimento em sua vida; de quem eu acompanho a rotina diária há
pelo menos um ano e meio, que inclusive já me incluiu em algumas de suas
transas em grupo; para quem as mulheres baixam a calcinha antes de dizer oi;
que esse cara vai levar a sério e a longo prazo essa historinha de namoro? Por
que com ela, Oliver? Uma menina. Por que você não pega uma mulher da sua
idade para experimentar a sensação de chamar de namorada? Para encher de
galho quando voltar à rotina normal. Para descartar quando a brincadeira
perder a graça. – Deixo-o desabafar tudo que tem vontade.
– Analisando tudo isso que você falou, e que é verdade, nunca namorei,
nunca quis namorar, sempre fugi de envolvimento, sempre tive a mulher que eu
quis na cama. Quantas eu quis. Me diz então, por que você acha que eu escolhi
essa menina para experimentar tudo que sempre neguei?
– Porque eu me interessei por ela e você não quis deixar barato. Desde o
começo te incomodou. – Eu rio.
– Bingo! Exatamente o que eu imaginava que essa sua cabecinha estava
fantasiando. Ahh Kellan, quem me dera as coisas tivessem sido tão simples
quanto uma queda de braços. Mas eu vou te contar o que aconteceu de verdade
conosco. – Gesticulo de mim para ele e respiro fundo antes de continuar.
Porque admitir aquilo pela primeira vez em voz alta também é novo para mim.
– Nós nos apaixonamos pela mesma mulher, no primeiro momento em que a
vimos. Foi isso que aconteceu. Foi a primeira vez que experimentei o
sentimento. E sim, talvez o seu interesse nela tenha acelerado o meu processo
de aceitação, mas apenas isso. Quando eu me dei conta, entendi que não
adianta a gente criar teorias em nossas vidas, dizendo que jamais fará isso ou
aquilo, por mais que a nossa razão e nossa experiência de vida tente nos
convencer de que é o melhor caminho. Ninguém está preparado para a força de
um sentimento assim. E sabe o que é mais irônico nisso tudo? Eu tenho total e
completa noção de que, entre nós dois, você é o melhor para ela. Por tudo isso
que você sabe sobre mim, pela sua idade e por outras coisas que você nem faz
ideia. E eu tentei, Kellan. Tentei deixar o caminho livre para você. Lutei até
onde minhas forças permitiram. Mesmo morrendo de ciúmes. Mas daí teve um
fator que me fez perder a guerra e que, na verdade, sempre esteve com todo o
poder nas mãos. Ela. Não eu, não você. Ela decidiu. Ela me escolheu e não
pude mais dizer não.
Faço uma pausa esperando que ele diga alguma coisa, mas apenas me olha
de um jeito que não me permite ler seus pensamentos.
– Acha mesmo que eu faria você sofrer se fosse apenas um capricho? Uma
competição para ver quem mija mais longe? Por que eu faria isso? Justo com
você, um menino que eu vi crescer, que eu amo, que faz parte da minha família.
Que carreguei no colo e com quem construí inúmeros castelos e fortes na beira
dessa praia. Por qual motivo você acha que eu iria, deliberadamente, te
machucar assim? Querer o seu mal? Quando eu agi assim com você?
– Não sei Oliver, só sei que para mim é muito estranho que tudo isso
desperte em você justamente quando desperta em mim também. E pela mesma
garota.
– Pois é, é estranho, é inacreditável, é lamentável, mas é o que é. E assim
como você veio a mim uma vez me garantindo que não estava de brincadeira,
que seus sentimentos eram genuínos, eu estou aqui hoje, com você, garantindo a
mesma coisa. Não estou brincando com ela. Não haverá traições. Se vou
chegar ao ponto de assumir para o mundo todo que tenho uma namorada, pode
ter certeza de que é bem sério, de que eu não tenho dúvidas. – O encaro por
alguns minutos, instigando-o a se manifestar.
– Ok, já entendi. O que você espera que eu diga? Que estou feliz por vocês?
Desculpa, talvez eu devesse, mas não consigo.
– Eu sei que você está sofrendo, está frustrado. Mas eu preciso que você,
como o homem que é, se comporte como tal e entenda uma coisa, a partir do
momento em que ela me escolheu e eu disse sim, acabou. Ela é minha. Não há
mais volta. Você precisa recuar e tirar o seu time de campo. Da mesma forma
que eu faria por você. Pois esteja certo de que eu faria, por mais que doesse.
– Agora, se optar por se comportar como um menino mimado, que não
ganhou o brinquedo que queria do Papai Noel, e ficar de provocação ou birra,
você vai tornar a nossa convivência insuportável. Vai afetar a nossa vida
familiar e profissional. E dependendo do tamanho e da gravidade da
provocação Kellan, talvez de forma irreparável. Porque não pense que vai dar
em cima da minha mulher, na minha frente, e eu deixarei barato. Não mesmo.
Tenho certeza de que você também não deixaria se fosse o contrário.
– Não, não deixaria.
– Então espero que estejamos entendidos. Sinto muito que as coisas sejam
desta forma. Não foi premeditado. Torço para que logo a gente volte a uma
convivência normal. Que você consiga se sentir melhor. Bia gosta muito de
você, ela quer cultivar sua amizade, não quer te ver sofrer, assim como eu
também não.
– Não sei se consigo, não já, mas vou me esforçar. Estou me esforçando. Se
eu soubesse que você traria Beatriz aqui hoje, não teria participado da reunião.
Eu preciso de um tempo.
– Tudo bem. – Começo a me retirar.
– Só mais uma coisa, – paro – se você ferrar com ela, a nossa conversa não
será nem um pouco parecida com essa. Não haverá amizade, família ou
trabalho que me impeçam de te dar umas porradas. Eu vou ficar de olho em
você. – Abro um sorriso para ele, o garoto tem colhões.
– Eu não esperaria nada diferente e você não é o primeiro a me fazer essa
ameaça.
Volto para sala e ouço as risadas de Bia, Max e Lian. Pelo visto o assunto
está animado.
– Podem compartilhar a piada? – me sento perto dela no sofá e puxo-a para
dentro dos meus braços. Ah, esse aroma de baunilha... já estou doido para
entrar nela de novo.
– Estávamos aqui contando para Bia o estado deplorável em que o
encontramos no apartamento em Long Beach. Que vergonha Oliver, um
barbado... – diz Max. Afundo meu nariz nos cabelos de Beatriz e inspiro.
– Ah Max, seu dia vai chegar, então conversaremos – revido.
– Ao veneno desse mosquito eu nasci imune. Nem coça! – Gargalho da sua
analogia.
– Há poucas semanas eu pensava o mesmo.
– É Max, se coçou em Oliver, te garanto que nenhum de nós está livre da
alergia – fala Lian. – Melhor a gente procurar uma vacina antes que seja tarde.
– Bia se diverte em meio às nossas bobagens.
– Ah, eu vou tomar as minhas hoje à noite. Feche os ouvidos de Beatriz. –
Max me alerta. – Chamam-se bocetas, no plural. – Bia fica vermelha na hora.
Muito vermelha. Gargalho, não resisto e lhe roubo um beijo.
– Vai ter festa lá em casa Oliver, mas isso não te pertence mais – provoca
Lian.
– Não mesmo. Estou prestes a ser um homem comprometido aos olhos de
todo o mundo. – Aperto-a mais contra mim.
– Arrependido? – ela pergunta.
– De jeito nenhum. Não troco por nada. – A beijo outra vez e ela abre um
sorriso enorme contra os meus lábios.
– Porra, parem com isso vocês dois... muita doçura... Errgg! Estamos
passando mal aqui pelo excesso de açúcar no sangue... – Lian faz careta e Bia
larga outra risada gostosa.
Quero vê-la sempre assim. Sorrindo. Feliz!
Max olha para a cena de nós dois em seu sofá como se não acreditasse que
aquilo é possível. Acho que nem eu acredito ainda...
– Como foi com o moleque? – pergunta o ruivo, mudando o assunto.
– Bom, vocês não ouviram nem gritos e nem tiros, não é? Saímos os dois
vivos. Acho que foi bem, na medida do possível. Não tem cerveja nessa casa,
bundão?
– Você sabe onde fica, caralho, vá pegar.
– Não posso deixar a minha garota sozinha, pega lá bebê, pega... – Ele me
mostra o dedo do meio, mas se levanta para buscar.
– Bia, quer beber alguma coisa? Tem refrigerantes, suco de laranja,
limonada e cerveja, é claro – pergunta Max.
– Pode ser um suco de laranja.
Ele logo retorna com nossas bebidas.
– E eu? – Lian questiona.
– Vá se foder. Não vejo você tendo que deixar nenhuma garota sozinha por
enquanto. Até que isso aconteça, pegue sua própria cerveja.
– Max, você já foi mais gentil. O que está acontecendo? A ranzinzice deixou
o corpo de Oliver e se apossou do seu? – implica Lian, se levantando para
buscar a bebida.
– A ranzinzice dele tem nome e sobrenome, chama-se Eric Ehrenberg. –
Provoco-o um pouco mais e Bia se retesa ao meu lado.
– Porra, precisa me lembrar disso, cacete? – xinga. Bia olha-o como se
estivesse analisando as suas reações.
– Eric é um cara muito bacana, Max. Hazel está em boas mãos com ele. –
solta ela. Ele se desconcerta.
– Concordo. Pude conhecê-lo melhor ontem. Gostei do garoto – reforço.
– Garoto? Garoto? Ele deve ter quase a nossa idade. – Esbraveja.
– Ele tem vinte e cinco anos, Max. E você não vai querer discutir essa
questão conosco, não é? – Lembro-o de que Bia está ali. Ele passa as mãos
pelos cabelos, frustrado.
– Max, desculpe se eu estiver sendo invasiva e, se for o caso, não precisa
responder. Você sabe que Hazel gosta muito de você, não é? Que tudo que você
faz ou fala impacta demais nela. Você já se questionou o quanto a sua atitude
contra ela se envolver a põe insegura? – Max fica branco diante do
questionamento inesperado. Porra, ela pegou pesado. Lian, por sua vez, abre
um enorme sorriso para Beatriz.
– Mas... mas tudo que eu mais quero é que ela seja feliz.
– Me perdoe novamente se eu falar demais, faço isso porque vejo os dois
sofrendo, um de cada lado e só estou tentando ajudar. Mas eu não acho que
você queira que ela seja feliz. Você quer que ela seja feliz a sua maneira, o que
é uma coisa muito diferente. – Deus, é impressão minha ou Bia está acabando
com as convicções de mais alguém por aqui?
Ele engole em seco. Lian e eu não temos coragem nem de respirar.
– Minhas atitudes são condizentes com o amor e preocupação que tenho
para com ela e baseadas nas coisas que sempre me disse. Como ela pode ter
mudado seus sonhos e vontades do dia para à noite?
– Eu acho que sonhos e desejos podem sim mudar. Assim como sentimentos.
Um amor fraternal, pode virar um amor romântico em algum momento da vida,
por exemplo. Ou os sonhos e desejos podem ser adiados para se viver outras
coisas no meio. Ou, às vezes, a pessoa pode perceber que buscar tanto uma
coisa e não alcançar, está lhe fazendo mais mal do que bem e resolve tentar
algo novo. Eu só acho que você deveria pensar se não é o caso de mudar sua
atitude em relação a ela.
– Como assim?
– Você precisa se afastar, dar espaço. Abrir mão da certidão de posse que
tem sobre ela. E se ela lhe procurar, orientar sim, mas principalmente apoiar as
escolhas dela, por mais erradas que lhe pareçam. É o processo dela. Ela
precisa acertar e errar por conta própria. E não ter o seu apoio a deixa em
dúvidas, muito mais do que você imagina. Ela sofre. – Então os olhos de Max
se enchem de água. Caralho.
– E se essas escolhas a machucarem, se ela se magoar, se arrepender?
– Então você vai estar lá para consolar, para dizer que não é o fim do
mundo e para ajudá-la a se reerguer. – Bia se levanta e anda até onde ele está.
Segura o rosto dele entre as mãos e continua. – Você precisa começar a
enxergá-la como a mulher que ela é agora. Uma mulher que tem direito de
escolha e que, como todo mundo, fará algumas boas e outras ruins. Enquanto
ficar apegado ao passado, querendo que ela seja sempre a menininha com
quem brincava e que corria para a proteção do seu colo de pai, você não vai
conseguir. É necessário, Max. Por ela. Acho que você nem faz ideia do
tamanho do poder que exerce sobre os sentimentos dela. – Ele assente, seca as
lágrimas, levanta e a abraça.
– Obrigado, eu sei... vou refletir sobre tudo o que você me falou – agradece
e logo sai dali.
– Caramba Bela–Bia, você mandou bem – fala Lian. – Já tentei tanto abrir
os olhos dele, mas nunca consegui tanto impacto.
– Lian, eu só fico preocupado... Beatriz acabou de dizer que, em certo nível,
ele deve abrir mão da coisa mais importante da vida dele – digo, esperando
que Lian me entenda.
– Eu tenho noção disso. – Mas quem se manifesta é a própria autora do
estrago.
– Tem? – pergunto.
– Sim. Ele vai sofrer para virar a chave em relação a ela, mas é necessário,
para um bem maior.
– Concordo com Biazinha. – Lian abraça-a e lhe dá uma piscadela. Parecem
até cúmplices em algo que não me incluíram.
– Não entendo direito o caminho do raciocínio de vocês, mas se estão
dizendo... Agora larga a minha garota, cabeção. – Ele a abraça mais ainda.
– Ah Oliver, cada vez eu entendo mais o fascínio. – Dá um beijo na cabeça
de Bia e a solta.
Não perco tempo e a trago para os meus braços.
O lugar ao qual ela pertence.
Capítulo 15

“Você tem exatamente


Três mil horas pra parar de me beijar
Meu bem, você tem tudo
Tudo pra me conquistar
Você tem apenas um segundo
Um segundo pra aprender a me amar
Você tem a vida inteira, baby
Pra me devorar”
(Por Que a Gente é Assim – Barão Vermelho)

Oliver

O liver, se acalme, sua avó pode aparecer aqui. – Mal


entramos em casa, eu a puxo para o meu colo no sofá,
tomo sua boca e abaixo a alça do vestido liberando um
dos seios. Impaciente para tocá-la sem pudores.
– Vovó está em Long Beach. Estamos só você e eu.
– Você, eu, a Gia e os outros empregados.
– Ninguém vai entrar aqui, avisei que não queremos ser incomodados.
– Ah é? E por que não queremos ser incomodados, meu bem?
– Porque eu preciso checar a situação do parquinho, anjo.
– Precisa, é?
– Hahã, preciso. –Baixo a outra alça. As duas delícias olham para mim em
alerta. Não resisto e levo minha boca até eles.
Chupo aqueles peitos como se minha vida dependesse disso e Bia geme
gostoso em meu colo. Levo uma mão a sua coxa e vou subindo, e subindo, até
chegar à calcinha. Começo a esfregar o botãozinho de leve e ela geme ainda
mais, põe a mão por dentro da minha camiseta e corre as unhas por meu peito e
abdômen. Contraio os músculos e arrepio. Sei que está doida para descer mais
aquela mão, mas ainda não se sente totalmente à vontade. Deixo que faça o que
quiser.
Lembrar da sensação de estar dentro dela me deixa alucinado. Afasto sua
calcinha para o lado e intensifico a masturbação ali.
– Deus, que calor! Como resistir a isso? – Ela chega até o botão da minha
bermuda e recua.
– Estou doido para te comer de novo, anjo.
– Então me come. – Porra, ouvi-la dizer isso é um tesão do caralho.
– Ah... não fala isso. Sabe que eu não posso.
– Pode sim... não está mais doendo – deixa escapar em meio aos gemidos.
Acelero mais a fricção.
– Porque você ainda está sob o efeito do remédio. – Mordo seu ombro.
– Eu quero... – ofega – você... dentro!
– Agora não baby, as imagens de ontem ainda estão muito vívidas em minha
memória. Nem em sonho vou te machucar de novo. Você vai gozar assim, na
minha mão, nos meus dedos. – Passo a masturbá-la para valer, coloco um dedo
dentro, devagar, testando se volta a sangrar e analisando suas reações.
Ela reage. Mas não identifico dor. Fecha os olhos e joga a cabeça para trás,
absorvendo o prazer. Intensifico o entra e sai do meu dedo e os movimentos
circulares que faço com o outro em seu clitóris. Geme, se contorce, treme,
tenta fechar as pernas, não permito. Volto a chupar os seus seios junto com os
outros estímulos.
– Você... você não vai mais fazer sexo comigo por causa de ontem? – A
decepção em sua voz ofegante me diverte. Sorrio da sua inocência.
– Estou pensando seriamente nisso... – provoco.
– Oliver! Você não pode!
– Não? – Acrescento mais um dedo, mais gemidos, nenhuma dor, nenhum
sangramento. Pode ser que nossa abstinência não se estenda muito, afinal.
– Não! Quero você, por favor... aahhhhh...
– Isso... goza para mim, pequena, goza...
– Eu vou... – Não consegue terminar a frase, segundos depois está trêmula e
saciada em meus braços. Apoiada com a cabeça no meu peito para se acalmar.
– Nunca mais vou conseguir viver sem sexo... – Acho graça da sua
declaração espontânea.
– Fico muito feliz em saber. Prometo me empenhar bastante para saciar suas
necessidades, namorada. Minha missão é satisfazer.
– Você sempre tira o meu foco e eu não posso aproveitar o playground.
– Reclamando?
– De jeito nenhum. – Subitamente, recupera os sentidos e passa a distribuir
beijos pelo meu corpo.
– Você é tão gostoso! – Caralho, quero tanto meter nela... controle Oliver,
controle...
Bia ergue a minha camiseta e desce a boca pelo meu abdômen, beijando e
passando a língua de leve, me arrancando arrepios e intensificando o tesão à
potência máxima. Aproxima-se da minha braguilha, corre a língua nos pelos
visíveis. Então a enfia entre a minha pele e o cos da calça e a arrasta de um
lado ao outro, lambendo o que consegue.
Porra! Que tesão!
Então para e me olha, indecisa.
– Algum problema? Eu estava adorando o banho de gato. Acho que só vou
querer os deste tipo daqui para frente – Ela revira os olhos, aqueles olhos
únicos que faíscam a desejo.
– Eu quero... quero ele na minha boca. – Porra!
Como negar um pedido destes? Acho que eu já disse esta frase não faz
muitas horas...
– E o que está te impedindo de tomar o que deseja?
– Sei lá... você não vai me achar muito atrevida se eu for assim, abrindo as
suas calças? – Tenho vontade de gargalhar da ingenuidade, mas isto pode tirá-
la do clima, então me seguro.
– Vou, claro! Te achar a rainha das atrevidas! Mas considerando que de
agora em diante deixaremos claro para o mundo que só você poderá fazer isso,
eu diria que trate de ser atrevida logo e me deixe ver a sua boca infernal me
engolindo de novo. Sou seu, meu bem. Não precisa se conter, pode me tocar
onde e quando quiser. Queimo pelo seu toque assim como você queima pelo
meu.
Ela solta um suspirinho de êxtase pela minha declaração. Desconfio que tem
a ver com a parte do sou seu.
Levanto-me e paro de pé, à sua frente. Levo a mão à minha braguilha, abro
o botão da bermuda e desço o zíper lentamente. Ela fixa os olhos lá e
acompanha os meus movimentos sem perder um lance, com cara de gulosa.
Deixo o meu olhar mais sensual e predador possível. Ela ofega e morde o
lábio. Baixo a roupa e libero o pau duro para a sua apreciação.
Ela me olha deslumbrada.
Ah, querida!
O magnetismo pulsa entre nós.
– Beije-o – ordeno.
Ela baixa a cabeça e encosta os lábios roçando-os de leve, na ponta. Meu
pau baba e responde com um espasmo involuntário. Apreciando o carinho. Ela
passa a língua então por toda a extensão, o deixando lubrificado. E como a
menina gulosa e impaciente que é, enfia-o na boca de uma vez e suga forte.
Vejo estrelas. Nunca sei o que esperar daquela boca...
– Bia. – Estou sem ar.
Ela é boa nisso, muito boa.
Ergue aqueles olhos impactante de cílios compridos para mim, enquanto
mantém meu pau na boca e juro que nunca ví nada mais erótico e perturbador.
É puro e ao mesmo tempo herege demais.
Repete aquilo, descendo molhado e sugando ao mesmo tempo que masturba
onde não consegue alcançar com a boca.
Porra, que delícia!
Estou em subida reta pela montanha quando algum infeliz resolve me ligar.
Não dou bola e deixo o telefone tocar até cair, mas o meliante não desiste e
novamente toca até entrar na caixa de mensagens.
Bia continua a chupar, acelerando o ritmo e eu já vejo os espasmos se
aproximando.
O telefone volta a insistir, resolvo ver quem é.
– Anjo, deixa eu ver quem tanto insiste. – Ela se afasta um minuto e eu
quase choro em frustração. Olho o telefone, é Max.
– Fala... Max – atendo ofegante, ele começa a falar, mas eu não consigo
captar nada, porque Beatriz resolver voltar a sua atividade nesse exato
momento.
Porra!
– Max... você – céus, estou quase – você pode repetir? – Bia não dá trégua.
– Às treze, Oliver, é o horário que vamos sair para o escritório da Three
Minds em Los Angeles.
– Ahh, uhmmm... sei... e a que... ah... horas? – Cacete!
– Como que horas? Acabei de dizer, às treze!
– Ahh ok... eee... onde vai huum... ser?
– O que está acontec... Ah não! Não, não... não vá me dizer que estão
trepando... Puta Merda! – Desliga esbravejando. Aleluia!
Jogo o aparelho longe e seguro os cabelos de Beatriz, acelerando as
investidas em sua boca, estou a milímetros de jorrar.
– Bia, se não quer que eu... – Mas é óbvio que ela não para. Segura em
minhas coxas, não permitindo que eu me afaste e mais uma vez despejo tudo
em sua garganta, gozando vertiginosamente.
– Annjooo, que delííciiaa foder a sua booocaaa. – Dou mais três estocadas
e caio, feliz, de costas no sofá, levando-a comigo e beijo-a na sequência. –
Maravilhosa! – beijo-a outra vez. – Já falei que não precisa...
– Xiu! Eu adoro te sentir. Fique tranquilo que não fiz nada que não me desse
prazer também.
– Bom, sendo assim, não está mais aqui quem falou... você tem
compromisso daqui a pouco. Que tal matar a outra fome também?
– Ótima ideia!

Às treze horas, Beatriz e Max embarcam no carro que os levarão a Los


Angeles, no escritório da Three Minds, local onde farão a declaração. A
coletiva está marcada para as dezesseis. Hazel quis ir junto, mas Riley achou
melhor não correr o risco de chamar mais atenção para cima dela.
Depois que partem, começo a me sentir ansioso com a ideia de que deveria
ter ido junto e não deixando-a apenas com Max e Riley. A angústia cresce
conforme o tempo avança e resolvo sentar ao piano e testar algumas ideias de
melodias que tive nestes dias para distrair minha mente. Aquilo funciona e me
perco no trabalho por algumas horas.
– Sai desse piano cabeção e vamos tomar uma. – Lian invade minha casa.
– Tudo bem, já vou. Pega a cerveja no bar.
– Ok – concorda. Recolho as partituras, fecho o piano e me junto a ele no
deck.
– Qual o problema?
– Nenhum. Só acho que eu deveria ter ido junto. – Ele ri.
– Para que? Causar mais alvoroço se alguém te vir lá? – suspiro. – Não vá
me dizer que está com ciúmes de Max...
– Não, não é isso. Só estou me sentindo angustiado. – Ele me analisa.
– Ela vai voltar Oliver, não se preocupe. – Faço um gesto afirmativo.
– Nem vi que horas são, já está próximo do horário? – Pergunto.
– Falta uns quarenta e cinco minutos. Preparado para o seu novo status
oficial? – Sorrio.
– Sim, acho que sim.
– É difícil entender, sabia? – Olho-o esperando que ele se explique melhor.
– Sei que ela é uma garota linda, especial. Entendo o fascínio, mas ao mesmo
tempo não me vejo abrindo mão de todo o resto, da liberdade. Não com toda a
certeza que vejo em você. Ainda mais te conhecendo como eu conheço. O que
mudou? – Nem sei se eu sei a verdadeira resposta para essa pergunta, mas
penso por alguns instantes na melhor maneira de dizer algo que possa fazer
sentido para ele.
– Sei lá, Lian... ela me faz salivar, é inteligente, espirituosa, me faz rir,
quero ficar perto o tempo todo. Quero dormir grudado nela, me perder no seu
cheiro. Meu peito aperta só de pensar em perdê-la. Morro de ciúmes se alguém
se aproxima. A semana passada, longe dela, foi o inferno. Essas são as merdas
que pipocam dentro de mim agora. Veio sem aviso e me pegou totalmente de
surpresa. Não estava preparado, nem sabia que era possível se sentir assim em
relação a outra pessoa. – Dou de ombros e ele me olha como se eu estivesse
falando grego.
Tento outra abordagem.
– Quando nós estamos lá, depois dos shows ou nas festas, com várias
garotas gostosas em volta, o que você mais deseja naquele momento?
– Meter, é claro.
– Então você faz, em duas, três, várias vezes na noite, e o que você mais
deseja depois de estar totalmente saciado?
– Dormir.
– Com elas?
– Não, sozinho.
– Exato. E antes de você deitar na sua cama, sozinho, e cair no sono, qual é
o sentimento que fica? Ou quando você acorda no outro dia, o que sente? – Ele
engole em seco.
– Como assim?
– Ah, você sabe, não se faça de desentendido. É o mesmo com todos nós.
Diga, qual o sentimento? O que fica da noite anterior?
– Às vezes nada. Indiferença. Saciedade. Ou Ressaca. Às vezes a sensação
de que foi errado. Outras, um vazio. Nas piores situações, a sensação de que
foi... sujo.
– Esse é o ponto. Isso é o que muda. Não é mais vazio, nem errado, nem
sujo. É certo. E confie em mim, depois que experimentar, você não quer mais
voltar ao que tinha. E além disso, tem tantas outras coisas, você já se
incomodou em compartilhar alguma das mulheres com quem dormiu?
– Não, nunca.
– Pois é, no meu caso atual, isso me mataria. Jamais aceitaria – prossigo. –
Depois que iniciou a sua vida sexual ativa, já se contentou apenas em beijar
uma mulher?
– Porra, claro que não, um beijo é só o esquenta e às vezes é algo que nem
tenho vontade. Mas espera aí... Está me dizendo que vocês ainda não...?
Dormindo na mesma cama? Como?
– Vai a merda, cabeção. Não é da sua conta.
– Ah, qual é? Eu fui o cupido, você não pode negar, tenho direito a saber
sobre os progressos... – Ergue as sobrancelhas debochado, a curiosidade
saltando aos olhos. – Conta aí vai...
– Por insistência dela, eu cedi, mas queria ter esperado até Bia completar
dezoito anos.
– Não fode! Esperar? Meses? – Rio da cara de incredulidade dele. Resolvo
provocar e entrar numa de romantismo para ver até onde ele aguenta.
– Para sentir o que senti nos braços dela? Nossa, esperaria por toda a
eternidade. Nunca experimentei nada igual. – Ele arregala os olhos e faz cara
de quem está passando mal.
– Como assim nunca experimentou nada igual, Oliver? Gozar é gozar.
– Não é não. Foi muito maior. Eu gozei com o meu corpo inteiro e não
apenas com o meu pau. Isso é o melhor que consigo fazer para descrever. – A
cara de enjoo aumenta. Ah Lian...
– Caramba! Não sei se quero experimentar isso um dia ou se fujo ainda com
mais vigor. Porque, se for verdade, imagino que depois que se tenha isso...
– É, essa é a coisa que fode com a sua cabeça. No meu caso então...
– Você pode dizer que está, finalmente, feliz?
– Se eu não puder, posso pelo menos afirmar que é o mais perto disso que
já cheguei. – Ele assente e em seguida retira o telefone do bolso.
– Hora do show! – Lian entra no canal da The Order e já é possível ver
Max iniciando sua fala e Beatriz ao seu lado.
Tão linda!
Max comenta que as fotos foram tiradas num passeio meu e de minha
namorada.
É bom ouvir aquilo.
Então apresenta Beatriz. Esclarece que o outro casal conhecemos durante o
passeio e que não há nenhum vínculo mais forte entre eles e nós a não ser uma
tarde agradável compartilhada.
Depois é a vez de Beatriz responder algumas perguntas feitas pelos
repórteres, embora pré-selecionadas por Riley.
– Vocês namoram há muito tempo?
– Nosso namoro é recente.
– Como se conheceram?
– Meu falecido pai era contador e prestou serviços a Three Minds por
alguns anos. Nos conhecemos num evento da empresa. – A história que
combinamos para não envolver o nome de vovó.
– Quantos anos você tem? Parece ser muito jovem, é menor de idade?
– Sou legalmente maior de idade, podem ficar tranquilos.
– Você tem alguma outra ligação com o meio artístico?
– Não, como disse, meu pai era contador. Minha mãe, também já falecida,
era secretária executiva. Nunca tive qualquer outro contato com o meio a
não ser através do meu pai, e a The Order era seu único cliente do ramo
artístico. Porém, quando terminei meus estudos não quis cursar
universidade na sequência, optei por fazer um estágio em produção musical
na Three Minds. Foi assim que Oliver e eu nos aproximamos mais. – Lian me
olha, não entendendo aquilo. Faço sinal para ele dizendo que depois explico.
– Como é namorar um cara visado como ele? Como você lida com o
ciúme? – Babacas. Que pergunta de merda é essa que Riley deixou passar?
– Não existem segredos entre nós e confiamos um no outro. Temos
conversa, confiança e transparência, sem isso não funcionaria.
– Você deve estar vivendo coisas que nunca imaginou. O mundo de luxo
dele te atrai? – Eu vou matar Riley.
Vejo que Bia fica meio desconectada com aquela pergunta. Será que ela
não foi preparada?
– A única coisa que me interessa em Oliver é o homem que ele é. É
desfrutar da sua companhia, nada mais.
– Por que Oliver Rain não está aqui com você ao invés de Max Connor?
Por que ele nunca fala com a mídia?
– Oliver tem os motivos dele e Max é o porta voz oficial da The Order. –
Nisso Max puxa o microfone para si novamente.
– Bom, era isto que tínhamos a compartilhar com vocês. Obrigado a
todos. – E antes de qualquer protesto mais intenso, sai do local conduzindo
Beatriz com ele.
Graças a Deus!
– Bia foi ótima – fala Lian. Eu abro um sorriso enorme, orgulhoso por ela
não se deixar intimidar.
– Sim, ela foi.
– Mas e essa história de estágio? – Conto a ele o meu acerto com Beatriz
sobre seu futuro. Lian fica surpreso por ela realmente ter histórico com a
música.
Meu telefone vibra.

Oliver, o pessoal aqui da ONG está me


perguntando sobre o seu namoro e não sei se
posso confirmar. Foi dada mesmo uma declaração
oficial?

Putz, esqueci de avisar vovó da entrevista.

Pode sim, vó. Mas antes de dizer qualquer


coisa, entre no canal da banda e assista,
para manter o mesmo discurso. Acabou de
acontecer. Desculpe não ter avisado.

Instante depois, outra mensagem, agora de Bia

E aí, o que você achou?

Você foi perfeita, meu bem. Agora


volte logo para mim, já estou
morrendo de saudades
Eu também �� Adeus,
meu amor, fique bem ��

Aquilo me desestabiliza.
O que ela escreveu me pega totalmente de surpresa.
Exatamente a mesma disposição de palavras que ouvi há muitos anos, num
portão.
Não estava preparado para aquilo.
Não pelo sentimento envolvido, por mais que eu não queira nomear ainda,
sei que sinto. Mas pela descarga emocional nociva que aquela combinação
exata de sílabas causa dentro de mim, ativando minhas piores e mais dolorosas
lembranças.
Este era o meu maior medo desde o início. E para o meu desespero, parece
que a nossa derrocada chegará rápido demais.
Vejo a proximidade da crise querendo se instalar.
Se eu não fizer algo rápido vou cair, sei que vou.
– Oliver, você está bem? – Lian percebe que algo está errado, consigo
soltar um fraco murmúrio, mas já não consigo focar em nada.
– Não... – Rapidamente Lian me ajuda a levantar e me leva para o meu
banheiro. Abre o chuveiro e me enfia debaixo do banho frio de roupa e tudo.
Os tremores começam, mas não é em função da temperatura da água. Me
sinto indo, afundando num lugar obscuro dentro de mim, onde não há dor, nem
medo, nem fome, nem sede, não há calor, nem frio.
Lá, nada mais importa.
Lian sai e retorna minutos depois com um comprimido, coloca em minha
boca, não protesto, engulo em reflexo.
Ele então entra debaixo do chuveiro comigo, segura o meu rosto e começa a
falar o mantra que meu terapeuta repetiu durante anos. Sua voz está longe...
– Aquilo acabou. Você não está mais lá, sozinho. Está com sua avó.
Ninguém vai embora. Se você ouviu algo igual, se uma lembrança voltou, não é
a mesma coisa. É outra situação. Você é um homem agora, não um menino.
Aquilo acabou. Não é a mesma coisa. – Ele fica repetindo coisas daquele tipo
e aos poucos sua voz vai ficando mais próxima, eu sinto meus pensamentos
voltarem ao eixo, meu corpo voltando a ser sentido, a água fria me dando o
choque de realidade.
Tomo ciência de mim.
De mim hoje, e não do que já fui, de onde já estive.
E então vem o choro.
A catarse momentânea.
Lian respira aliviado, pois ele sabe que aquele é o sinal de que eu não
afundei de vez, estou de volta. Me sento no chão do box e fico ali, deixando o
choro levar tudo de ruim embora. Lian sai, se seca e depois vai para o meu
quarto, provavelmente para pegar alguma roupa emprestada.
Quando me vejo em condições de sair, faço o mesmo. Ele está me
esperando sentado na beirada da cama, com uma xícara de café nas mãos.
– Sinto muito ter feito você passar por isso, de novo. Fazia tantos anos... –
digo enquanto me sento próximo e ele me entrega o café.
– Pare com isso. Você já fez e faria muito mais por mim, por Max ou
qualquer outro aqui. Fico feliz por estar perto para agir rápido. Mas o que
desencadeou? Algo da entrevista?
– Não. Uma mensagem que Bia me mandou depois. Ela escreveu a mesma
coisa que...
– Tudo bem, não precisa explicar.
– Esse era o meu maior medo ao me arriscar, Lian. Será que nunca poderei
tentar viver algo bom sem ter esse fantasma para me atormentar?
– Calma. Não se desespere e nem meta os pés pelas mãos. A gente reverteu,
está tudo bem.
– Mas aconteceu...
– Oliver, você está vivendo algo novo, pode acontecer mais vezes. Henry
sempre foi categórico em dizer que novas situações podem trazer os gatilhos,
mas também sempre disse que você precisa se arriscar e passar por isso. Se
esconder só adia a cura. Não desista. Não de algo que há poucos minutos você
me descreveu como sendo o paraíso. Lute!
– Não vou desistir, mas me preocupa se isso acontecer e...
– Você precisa voltar a fazer terapia. E o mais importante, tem que contar
para ela. Ela tem que saber como te ajudar, como lidar com isso caso aconteça
e estejam só vocês dois.
– Não.
– Oliver...
– Vou voltar à terapia. Mas não vou contar por enquanto. E por favor, não
preocupe vovó, não diga nada a ela sobre isso.
– Tudo bem, mas me prometa que vai voltar o quanto antes.
– Prometo. – Puxo Lian para um abraço. – Obrigado.
– Você sempre poderá contar comigo, sempre. Agora durma um pouco. O
calmante que te dei deve ajudar. Daqui a uma hora e meia, no máximo, Bia
deve estar de volta. – Assinto e Lian me deixa sozinho no quarto.
Me jogo na cama e em poucos minutos caio no sono, esgotado.

Bia

Chegamos a Oceanside já são quase vinte horas.


Foi difícil a saída do escritório da Three Minds. Muitos fãs se aglomeraram
em frente na esperança de ver seus ídolos. Atravesso a casa e encontro Laura
no deck. Me aproximo dela.
– Laura, boa noite!
– Boa noite querida, você está bem?
– Estou sim. Um pouco cansada. É tenso e desgastante lidar com todas
aquelas pessoas te olhando e avaliando.
– Você se saiu maravilhosamente bem.
– Você viu?
– Vi sim. Não ao vivo, mas depois.
– Cadê Oliver?
– Não sei. Talvez esteja no Lian. Cheguei de Long Beach e não havia
ninguém em casa.
– Bom, vou tomar um banho e mandar uma mensagem para ele avisando que
cheguei.
– Faça isso. Depois peça para Gia preparar algo para você jantar. Acabei
jantando, pois não sabia os planos de vocês.
– Pode deixar, eu me viro. – Lhe dou um beijo na cabeça e ela sorri com o
gesto.
Vou para o meu quarto, envio uma mensagem a Oliver. Tomo um banho,
coloco um short e uma regata, seco os cabelos e checo o telefone. Oliver nem
visualizou ainda. Resolvo ligar para ele, chama, chama e cai na caixa de
mensagens. Então me lembro que Lian comentou que teria festa esta noite...
será que ele? Não! Ele não faria isso comigo. Sem neura, Bia...
Saio do quarto e olho em direção ao seu quarto. Algo me instiga a checar lá
e assim que entro vejo-o dormindo de barriga para cima, estirado no meio da
cama, por cima da colcha, de calça de moletom e sem camisa.
Lindo demais!
Nem acredito que é meu, que posso tocar e beijar à vontade. O peitoral todo
ali, exposto para eu fazer o que quiser. Me aproximo devagar, deito ao seu
lado, de bruços e inspiro seu cheiro, de homem e menta. Ele está tão tranquilo,
o semblante relaxado. Parece um menino que eu tenho vontade de mimar e
cuidar para sempre.
Beijo seu peito e ele se remexe um pouco na cama. Tão pouco tempo longe
e a saudade já me apertava o peito. Não resisti e o chamei de meu amor na
mensagem.
Para que me enganar, adiar a exposição do sentimento que é tão claro em
mim?
Eu o amo. Sempre amei.
De um jeito que tenho certeza, ficando juntos ou não, havendo outro ou não
no futuro, nunca será como é com ele.
Ele sempre será parte faltante em minha vida, caso nos separemos no
caminho.
Beijo novamente seu peito, agora distribuindo vários beijinhos, depois sua
barriga. Ele geme e me puxa para cima de si, sorrindo. Afasta meus cabelos do
rosto e me beija devagar e demoradamente.
– Oi namorada. Você está cheirosa. Senti sua falta, muito.
– Oi namorado. Agora todo mundo sabe que o seu corpão maravilhoso é só
meu. Todinho meu! – Mordo seu bíceps.
– Eu sabia. Sempre foi só pelo meu corpo, não é?
– Claro que sim, pelo que mais seria?
– Cachorra – inverte nossas posições, me prendendo sob ele. – Feliz com a
sua declaração de propriedade? – Meu sorriso se alarga.
– Muito. – Acaricio sua nuca e passo os dedos pelos seus cabelos, ele fecha
os olhos e quando os abre estão no seu modo mais selvagem e predatório.
Olhos de fera avaliando por onde começar a destroçar sua presa, famintos,
cruéis, determinados.
Um arrepio me toma ao mesmo tempo que sua língua invade minha boca
num beijo quente. Devolvo o beijo na mesma medida, forte, desejoso,
instigando-o a me mostrar toda a potência que seus olhos e sua pegada
prometem.
E ele não tarda a iniciar o show.
– Eu vou te comer agora, Beatriz. – Uma onda de calor passa pelo meu
corpo. – Como está a situação aí embaixo? – pergunta sem cerimônias.
– Úmida, louca por você – sussurro em seu ouvido e é como seu eu tacasse
fogo em querosene líquido.
Ele puxa minha regata para cima e os bojos do sutiã para baixo, deixando
meus peitos levantados e empinados. Ergue-se rapidamente e num puxão só,
retira meu short junto com a calcinha. Enfia as mãos por baixo das minhas
nádegas e ergue meu quadril e tronco, me deixando só com o pescoço e ombros
em contato com a cama.
Caraca! Tenho que apoiar minhas mãos no colchão para me equilibrar.
Passa então cada perna minha por cima de seus ombros, descendo a cabeça
para o meio delas.
E me chupa, deliciosa e freneticamente.
A sua língua experiente faz voltas, ora na portinha da minha boceta, ora em
torno do meu clitóris, repetindo aquele processo até perceber que estou
chegando lá e então...
Para. Abruptamente.
Hã?
Meu corpo se contrai em dor pelo orgasmo negado.
– Oliver... – peço, num sussurro agonizante.
Ele não diz nada, só espera a minha ânsia pelo quase êxtase baixar,
enquanto brinca no meu ânus. E assim que percebe que meu corpo ser
recuperou, volta ao processo de me levar próxima ao orgasmo outra vez e, de
novo, para.
Inferno!
– Oliver!
– Hummm tão bom te chupar pequena. Minha boca está tão doce!
– Ahhhhh... – Por Deus, estou lá de novo... bem na beirinha... e ele?
Para!
É muita angústia para apartar repetidamente.
– Oliver, não aguento mais, me deixe gozar... – imploro.
– Vou deixar, mas você vai gozar no meu pau. – Refaz o processo me
levando à beira do precipício outra vez e, de novo, me nega o alívio.
Porra!
O que ele quer com aquilo?
Logo descubro.
Decidindo que já está de bom tamanho me torturar, desce meu tronco para
cama rapidamente, puxa a calça para baixo, cobre meu corpo com o seu e me
invade de supetão, mal me dando tempo de entender de onde veio o tiro.
– Aaaaaaaaahhhhhhhhh. – Aquilo é demais!
DEMAIS!!!
Estive quase lá tantas vezes que a invasão súbita depois de tanto estímulo
me leva ao clímax e eu gozo forte no mesmo instante em que ele entra.
Com um único golpe e ele todo enterrado em mim.
É sublime!
Os espasmos vêm em ondas, ele se enterra em minha boca da mesma forma
que faz lá embaixo e então começa a me foder com força, poderoso, em
estocadas profundas, onde tira quase tudo e retorna a toda, fazendo nossos
corpos produzirem um barulho alto quando se chocam.
Sem trégua.
Uma, duas, três, dez, vinte vezes.
Não estava preparada para tanta energia.
Nem sabia que era possível ser assim.
Não foi assim ontem à noite.
A descarga elétrica do orgasmo passa e me dou conta da ardência na
vagina, mas não me concentro nisso. Me concentro nele, nos seus sons, seus
gemidos, sua respiração na minha, sua entrega.
As batidas frenéticas do seu coração, nossos corpos de chocando
deliciosamente.
Uma de minhas mãos desce de suas costas para sua bunda. Apertando,
trazendo-a ainda mais em direção a mim. A outra se infiltra em seus cabelos.
Sua boca desce para os meus peitos e chupam os montes que ele deixou
naquela posição indecente.
Ele morde, prende o mamilo entre os dentes e puxa ao mesmo tempo que
suas estocadas começam a ficar mais calmas, mais lentas e suaves, porém
ainda indo fundo em mim.
Que delícia.
Sexo é eletricidade pura.
Uma troca alucinante entre duas pessoas.
Nem nos meus melhores sonhos imaginei sentir todas estas sensações juntas.
Não sei se é assim com todo mundo, mas caramba, gosto demais disso...
Ele está lento, muito lento agora... numa valsa romântica. Entra, mexe os
quadris em círculos até chegar ao fundo e tira, então repete o processo. Seu
pau começa a tocar algum ponto inexplorado dentro de mim e uma nova
necessidade de gozo começa a ser construída. Sobe os lábios dos meus seios
para meu pescoço, lambe, chupa e vai subindo, até apoiar a testa na minha e
fixar nossos olhares.
– Ah pequena, isso é tão gostoso. Você é tão apertadinha, anjo. Está tão
quente, tão molhada. Perco a razão dentro de você. Fico louco. Prepare-se!
Vou querer o tempo todo...
– Oliver, Deus, você está... eu logo vou... não para... – falo a última palavra
com muita ênfase deixando claro que não quero gracinhas desta vez...
– Não vou parar, meu bem. Eu sei, estou tocando bem aqui, não é? – E dá
aquela guinada com o quadril que o faz tocar bem em cima de onde a dor
aperta.
– Siimm... aaahh...
– Uhmmm que gostosa é a minha mulher.
Continua com dança, entrando, mexendo, enfiando, tirando e metendo em
círculos de novo, devagar, bem devagar.
Passo minhas pernas por cima de seus quadris, querendo intensificar ainda
mais a profundidade, como se aquilo fosse possível.
Ele continua com os movimentos circulares, porém agora acelerando um
pouco o ritmo e eu já não tenho mais forças para resistir. A construção do
orgasmo vai crescendo, crescendo e crescendo, deixando-me com medo, em
dúvidas se terei forças para suportar a explosão quando ela vier.
Ele passa uma das mãos por baixo da minha bunda e se afunda ainda mais
em mim, no mesmo jogo, só que mais forte, mais rápido, vai fundo, arremete e
mexe e então não há mais volta, estou me atirando junto com ele.
– Agora Bia, goza comigo... UUURRRR... TO-MA TU-DO AN-JO. – Ele
goza ensandecido, enquanto eu o acompanho naquele desfiladeiro, gemendo
alto, sem ter certeza se sobrevivo quando chegar ao chão.
É sem dúvida o orgasmo mais forte que senti.
Eu vibro inteira, não há uma única parte minha que não esteja entregue
àquilo. Ele treme da mesma forma sobre mim enquanto arremete pelas últimas
vezes e para, largando seu peso sobre o meu corpo, exausto.
Depois de desfrutar do orgasmo e recobrar o fôlego, vira-se de costas na
cama, mas me leva com ele. Sem desunir nossos corpos. Estou por cima dele
agora, a cabeça em seu peito, tentando juntar o que restou de mim. Oliver pega
meu rosto e levanta-o para que eu possa olhá-lo, abrindo um sorriso enorme.
Feliz com o resultado da sua performance.
Reúno as sobras das forças e sorrio para ele também.
– Está tudo bem? – pergunta.
– Quando eu voltar a sentir o meu corpo, respondo. – Sorri, malicioso.
– Isso foi incrível, pequena. Espetacular. Você vai acabar comigo...
– Eu achei que não iria suportar, sério... a intensidade foi... pensei que fosse
desmaiar assim que o clímax chegasse. – Ele puxa meu rosto para um beijo.
– Está doendo?
– Agora que estou voltando a este plano, sinto um ardor, uma queimação,
mas durante o sexo foi tudo maravilhoso, e definitivamente nada comparado à
noite passada.
– Que bom. Parece que o tora é seu número, então?
– Ah, eu o farei ser, de um jeito ou de outro. Mesmo ele invadindo meu
útero sem ser convidado de vez em quando. – Falando em útero me lembro de
algo muito importante: – Puta merda, Oliver, não usamos proteção.
– Não. Mas você tomou a pílula hoje, imagino que não teremos problemas.
Aliás, pedi para vovó marcar ginecologista para você.
– O que? Você foi pedir para a sua avó?
– Sim, para quem mais eu pediria?
– Você poderia ter falado com a pessoa mais interessada no assunto. Eu!
– Mas você não conhece os médicos da região. É só o agendamento de uma
consulta.
– Sim, uma consulta necessária porque nós estamos transando. Sua vó não é
trouxa. Que vergonha!
– Não é só por isso. Você já foi alguma vez?
– Uma só, depois que fiquei menstruada pela primeira vez.
– Você precisa se cuidar. Vovó vai marcar também oncologistas para
fazermos exames periódicos e prevenção. –Suspiro.
– Oliver, precisamos tomar cuidado daqui em diante. Por causa da minha
genética, eu não quero engravidar, não quero ter filhos. Eu não suportaria ver
uma criança passar por aquilo...
– Hei, hei, se acalme. Nada vai acontecer. E quanto a tomar cuidado, sim,
tomaremos. Vamos usar camisinha a partir de agora, até que você opte por
algum método depois da consulta. Isso se você quiser, é claro. Mas olha,
preciso admitir, depois de te ter assim, sem barreiras, vai ser o inferno voltar a
usar aquele troço. E, aliás, também não quero filhos, fique tranquila.
– Por quê? Quais os seus motivos?
– Não quero falar nisso agora, me desculpe. Talvez algum dia eu lhe conte.
– Por causa dos seus pais? – Percebo que ele fica tenso.
– Minha avó é minha única família de sangue, Bia. Ela é avó, mãe e pai.
Não me pergunte mais nada a esse respeito, por favor. – Pelo visto tem algo
muito sério por trás desse assunto. Laura também não quis me contar nada.
– Posso fazer outra pergunta, então? Uma curiosidade?
– Vou sempre responder tudo que eu conseguir.
– Aquele dia em que você veio com a ideia de esperarmos quatro meses
para transar... – Começo, mas ele me interrompe.
– É, eu queria esperar quatro meses e você não me deixou esperar nem
quatro dias, safada.
– Seria tortura, Oliver. Pense, eu, cheia de hormônios e curiosa para
descobrir as delícias do sexo, dormindo ao lado do homem que sempre
desejei, sem poder tirar proveito? É esperar demais do meu autocontrole.
– Delícias do sexo, é? Então me conte, qual o veredito?
– Ahh, não me importaria em viver fazendo isso... – Suspiro. – Você acabou
comigo há poucos minutos. Adorei ser pega assim, sem ter como escapar do
seu controle. – Ele ri, fico feliz em ver como ele se diverte quando está
comigo, mesmo que em razão da minha ingenuidade na cama.
– Você não viu nada ainda. – Ergue as sobrancelhas para mim.
– Mesmo? Você é muito melhor nisso do que ensinando bilhar, sabia?
– Ei! Ensinei muito bem, dadas as circunstâncias...
– Sei... eu precisava de mais lições como a primeira...
– Você queria era se aproveitar de mim, isso sim, tarada! – Me beija – E eu
tentando ser o bom moço...
– Está reclamando? Posso dar uma de difícil, bloquear o acesso a partir de
agora.
– Opa, de maneira alguma, só constatando, só constatando... e uma vez
liberado, anjo, o meu acesso torna-se compulsório e exclusivo. Só eu.
– Ah é? Me mostra a carteirinha VIP, então?
– Eu achei que tinha mostrado várias e várias vezes há poucos minutos.
Inclusive passei centenas de vezes pela portaria apresentando o documento. E
caralho! Chamando de carteirinha você ofende... Aí. – Lhe dou uma
mordidinha no braço. – Você não ia me fazer uma pergunta? – questiona,
lembrando de como essa nossa conversa começou.
– Sim... então, aquele dia, você disse que já experimentou de tudo em
relação à sexo. Bem... você já... com homens também? – Oliver primeiro
arregala os olhos e depois cai na gargalhada.
– Tá rindo da minha cara, Oliver Rain?
– Estou. Não acredito que você ficou com isso martelando na sua cabecinha
esse tempo todo, Beatriz Thompson.
– Bem... sei lá... fiquei ué!
– Ah anjo, o que não falta nas minhas andanças por aí, é homem me
oferecendo o rabo para comer. Mas cu peludo e saco balançando não é a minha
praia, nada contra quem gosta, mas o tora não colabora nestas circunstâncias.
Então não, dessa forma que você imagina, não, nunca. Mas...
– Mas? – Agora sou eu quem arregala os olhos. Ele tem nova crise de riso.
– Mas dividi muita mulher com outros homens. Você não imagina quantas e
quais celebridades já comi na frente de maridos, namorados, noivos...
– Tá, tá, chega... já ouvi o suficiente... – Aquilo me irrita.
Ele nos vira na cama, deixando-nos um de frente para o outro. Tira o meu
cabelo da frente do rosto e me beija.
– Ei, não fica assim, você quem quis saber.
– É, mas... sei que é idiota, mas dói pensar em você com outras mulheres,
mesmo sendo passado.
– Não é idiota. Minha sorte é que não preciso me preocupar com isso, pois
só de lembrar que você ficou uma tarde sozinha com Kellan dentro de uma
lancha, meu sangue já ferve. – Minha vez de beijá-lo.
– Eu tinha acabado de tomar banho quando entrei neste quarto, mas agora
estou precisando de outro. Depois quero jantar, você acabou com os meus
planos rockstar.
– Engraçado, me lembro de estar dormindo tranquilamente quando eu fui
atacado.
– Foi um sonhou, certeza...
– Sonho, é espertinha? Não me pareceu sonho os gemidos que ouvi
enquanto alguém gozou duas vezes no meu pau... – diz enquanto se levanta e me
carrega com ele para o banheiro.

– O que aconteceu para você estar dormindo àquela hora? Achei que
estivesse no Lian – pergunto enquanto caminhamos pela praia. Jantamos no
deck, a noite está linda e resolvemos andar até a marina.
– Uma certa garota aí anda acabando comigo. Precisei repor as energias.
– Vai manchar a sua reputação, rockstar.
– Ah não se preocupe, bebê, posso defender minha honra, de novo, agora
mesmo se você quiser...
– Não há necessidade, baby, acredito em você. – Faço uma careta e ele ri. –
Ainda sinto bem os efeitos da sua última defesa aqui embaixo.
– Fico feliz em ouvir isso. Em saber que ela lembra de mim o tempo todo. –
Vou dar uma resposta a sua provocação, mas o telefone dele toca e Oliver
atende, colocando no viva voz.
– Oi Alicia. Você está no viva voz, Bia está comigo.
– Boa noite, Oliver, Bia.
– Boa noite, Alicia.
– Aconteceu alguma coisa? – pergunta Oliver.
– Sim, mas já acionei a equipe de rastreamento de Riley e logo deve se
resolver. O que houve Oliver, é que algumas horas após a entrevista de Max e
Bia, divulgaram fotos, supostamente suas, com uma loira, num quarto de hotel.
– Aquilo me arrepia. Oliver me abraça apertado. Estamos quase chegando ao
trapiche.
– Ainda não sabemos se é um sósia ou se trata-se de uma imagem antiga,
mas como eu disse, logo Riley deve resolver a questão. Só que isso, aliado à
revelação do seu relacionamento com Beatriz, fez o número de acessos às
páginas da The Order nas redes sociais e canais explodirem. Minha equipe
está maluca tentando conter os ânimos. São milhões de pedidos por uma
confirmação sua, ou para que você desminta, fãs desesperadas dizendo que não
acreditam que você está comprometido, outros felizes com a suposta traição.
Enfim, uma verdadeira confusão. Então eu vou soltar uma nota desmentindo as
fotos falsas e reafirmando o que Max e Bia falaram hoje. Só queria te avisar,
caso isso chegasse aos olhos e ouvidos de Bia, para estarem preparados. –
Oliver não diz nada, parece pensar por alguns minutos.
– Tudo bem se for assim, Oliver? Posso soltar a nota em seu nome?
– Não. Eu tenho uma ideia melhor, Alicia. Deixe comigo.
– O que você vai aprontar?
– Não querem uma confirmação minha? Vou dar o que querem, só isso.
– Mas você... céus, já vou preparar a equipe para a bomba então.
– Faça isso. E obrigada por avisar. Até mais.
– Até. – Desliga.
– Suba. – Me estende a mão como apoio. Ele está claramente chateado com
a notícia que Alicia trouxe.
– Não fique assim, eu sei que é falso, que é uma mentira.
– Você sabe porque está aqui comigo e eu não saí de casa o dia inteiro. Mas
quando eu estiver em turnê e uma merda dessas aparecer? Como você vai se
sentir?
– Já falamos sobre isso e já fizemos promessas um ao outro. Prometi
confiar e acreditar em você e você me prometeu que me conta antes caso
pensar em fazer algo assim. Para mim o assunto está encerrado.
– Eu vi como você ficou em relação a Riley.
– Ali é diferente. Vocês têm uma história, Oliver. Uma longa história. Ela
faz parte da sua vida há anos. Não é alguém de quem mal lembraria o nome no
dia seguinte. Você tem inúmeras lembranças com ela e ela é importante para
você. Claro que mexe comigo bem mais do que um simples boato.
– Ela não é importante para mim desse jeito. Já te garanti mais de uma vez.
– Mas você é para ela.
– Não sou, não.
– É, é sim. Eu vi nos olhos dela.
– Olha só, acho que está enganada, mas de qualquer forma, vamos esquecer
essa merda, pode ser? Eu estou aqui, com você. O que ela quer, o que ela
pensa, não importa. Foda-se.
– Tudo bem, me desculpe. – Ele assente.
– Agora vem aqui. – Me puxa para sentarmos no mesmo local e da mesma
forma que fizemos da outra vez em que estivemos naquele trapiche. Ele
encostado na madeira do pilar e eu com as costas grudadas em seu tronco.
Afasta o meu cabelo do ombro e beija ali, como fez naquela noite. Fecho meus
olhos.
– Abra os olhos, anjo – pede. Ele está com a câmera do celular apontada
para nós. Abaixa a cabeça, encosta seu rosto no meu, e clica. A foto fica linda,
ao fundo só o mar e as luzes do trapiche e do luar refletidas na água.
– Tire outra – peço, ele posiciona o braço novamente e antes que clique,
viro o rosto e faço de conta que estou mordendo o seu queixo, mas mantenho os
olhos vidrados na câmera. Ele abre um baita sorriso. Lindo. Seu sorrio ilumina
ainda mais a fotografia. – Mais uma – peço, agora eu me coloco dando-lhe um
beijo na bochecha, os olhos fechados virados para o seu rosto.
– Outra – diz ele e vira meu rosto para si, fotografando-nos um olhando nos
olhos do outro, olhos felinos imersos em olhos profundos. – Agora a última. –
Essa é de nós nos beijando.
O beijo continua e vai ganhando ares menos inocentes, ele já largou o
telefone no chão do trapiche, eu já me virei em seu colo, de frente para ele, e
em minutos estou alucinada, me esfregando no tora, da mesma forma que fiz lá
na boate.
Não é possível que eu já queira isso de novo, é?
Está quente pra caramba.
Cadê a brisa refrescante do litoral?
Suas mãos estão na minha bunda ajudando na fricção. Sorte eu ter trocado
aquele short por um vestido depois do meu segundo banho da noite. Passo a
mão pelo seu peito e abdômen por dentro da camisa.
Nossa, ele é uma rocha, duro em todos os lugares.
Vou descendo minha mão e chego no elástico da sua calça de moletom.
Aquelas que ele adora usar sem cueca e que o deixa gostoso além da conta.
Meto as mãos por dentro, passo meus dedos nos pelos, depois no objeto do
meu desejo e sinto-o molhado, a baba saindo pela ponta.
– Melhor parar... – declara, embora não haja convicção alguma, pois seus
dedos estão invadindo a minha calcinha e instantes depois um deles entra na
minha vagina.
– Ahhh – gemo pela delícia daquela invasão.
– Nossa, tão molhadinha, baby, tão pronta para mim outra vez. – Tira e bota
aquele dedo em mim e esfrega o nariz atrás da minha orelha.
A necessidade de tê-lo dentro aumenta.
– Oliver, vai ser sempre assim?
– Assim como, anjo?
– Eu já quero você... de novo... – Ele ri.
– Sinal de que estou cumprindo bem o meu papel.
– Você está me viciando em você.
– Eu também te quero o tempo todo, meu bem. Fico louco com o seu cheiro,
com o seu contato, os seus beijos...
– Então, dentro de mim, rockstar, por favor.
– Minha menina insaciável quer que eu a foda gostoso aqui no trapiche, ao
ar livre? – sussurra aquelas últimas palavras no meu ouvido, o ar que escapada
da sua boca me arrepia ainda mais.
– Sim, eu quero... quero isso desde aquele dia...
– Ah eu também bebê, eu também... mas não tenho camisinha aqui e você
está dolorida...
– Mas hoje continua sendo o dia da pílula, então... e de que dor você está
falando mesmo? – Ele gargalha enquanto me ergue um pouco do seu colo, tira o
pau completamente para fora da calça, puxa minha calcinha para o lado e me
posiciona sobre aquela coisa grossa e enorme.
Ainda não sei como entra, juro que não!
– Vai descendo devagar para não machucar – instrui.
Começo a baixar em direção a ele, sinto a cabeça do pau pressionar a
minha entrada, depois me esticar ao máximo quando passa e todo o seu volume
me abrindo, me alargando por dentro, me preenchendo completamente, até que
vem aquela dor lá em cima, como se tocasse o útero e encosto minha virilha na
sua, ele está inteiro em mim.
Essa posição vai muito fundo.
– Humm anjo, que delícia. Tão apertada, me espremendo... – Toma minha
boca na sua.
Passo meus braços ao redor do seu pescoço e o instinto me obriga a
começar a me mexer, subir e descer, devagar, ao redor dele. É bom demais,
delicioso demais.
Será que algum dia vou me saciar disso?
Impossível. Beijo seu pescoço, inspiro seu cheiro e continuo...
Ahhhh! Oliver, menta, maresia e sexo... extasiante!
Ele segura na minha bunda e vai acelerando aos poucos os movimentos, ao
mesmo tempo que dá um impulso com a virilha roçando meu clitóris toda vez
que eu desço.
Aquela sensação poderosa que já se tornou tão íntima minha começa a ser
intensificada. Continuamos assim, no sobe e desce por vários e vários minutos,
cada vez acelerando um pouquinho mais, enquanto nos devoramos também com
nossas bocas.
Seu olhar está muito... apaixonado...
Quando percebe que o meu sobe e desce se torna mais agitado, me ergue,
me coloca de joelhos no deck do trapiche, se coloca na mesma posição e me
vira de costas para ele. Me puxa de novo em direção a sua virilha, colando
nossos dorsos e reinicio a minha cavalgada agora com as costas roçando seu
tórax e uma mão sua me estimulando pela frente enquanto a outra me mantém
grudada em si.
Ali, com o contato do seu corpo junto ao meu, envolvida por seus braços e
seu calor, sentindo sua respiração e seus gemidos no meu ouvido, e sendo
preenchida por ele, me percebo envolta em uma enorme onda de amor.
Eu sinto e sei que ele também.
Acelero e estou perto, muito, muito perto... o suor me lava por baixo do
vestido. Os tremores começam, ele leva uma mão a minha garganta, me
segurando por ali, enquanto a outra continua no meu sexo. E passa a meter para
valer, forte, fundo e rápido. De novo e de novo, até não suportarmos mais e
uivarmos alto como lobos na noite.
Ele mete umas últimas vezes e para, se apoiando novamente no pilar e me
puxando junto.
– Porra! Gostosa pra caralho! – Morde minha orelha. – Deliciosa. – Outra
mordida. – Minha.
– Incontestavelmente sua – confirmo quase sem forças.
Ele tira o pau de dentro de mim e me sinto vazia na hora. Arruma minha
calcinha no lugar e guarda o meu passaporte para o paraíso dentro da calça. Se
senta novamente e voltamos a nossa posição inicial. Eu deitada em seu peito.
– Satisfeita?
– Por hora...
– Preciso começar a incluir energéticos na minha dieta.
– Faça isso. Tenho muito o que explorar.
– Explore o quanto quiser, tesão! – Beija meu rosto. – Acho que você vai
precisar de mais um banho esta noite, bebê – provoca, depois pega seu
telefone.
– Por motivos como este vale a pena, tomo quantos forem necessários. –
Ele balança a cabeça, divertido.
– Realmente estou criando um monstro... – resmunga.
Como seus braços estão em torno de mim, visualizo tudo que está fazendo
no aparelho. Entra na página da The Order, numa das principais redes sociais,
inicia uma nova postagem, seleciona a primeira foto que tiramos, nós de rostos
colados, com o mar ao fundo e as luzes refletidas. Coloca a frase, “onde tudo
começou”, e envia. Em seguida seleciona a que estamos nos olhando, escreve
“minha garota” e publica também.
E está lá, registrado.
Postado por Oliver Rain.
– Você já postou alguma vez nas páginas oficiais da The Order? Eu não
lembro de ter visto. Já vi um ou outro post de Max e Lian, e alguns de Kellan,
que é o mais ativo nas redes, mas seu, nunca.
– Não, nunca postei nada. Eles sempre configuram os acessos quando troco
de aparelho, mas só entro para olhar quando a assessoria posta algum vídeo de
show, para analisar a qualidade e se a performance de palco e a música
realmente casaram como o planejado. Ou em caso de algum pronunciamento do
Max.
– Alguma vez já pensou em parar? Levar uma vida mais tranquila?
– Já, várias e várias vezes. Eu adoro compor, cantar, estar no palco,
realmente gosto, mas nunca gostei de todo o resto que acompanha o sucesso.
Essa parte sempre foi... difícil... Só que nós ainda estarmos nessa, vai muito
além agora, anjo. Não precisamos mais de dinheiro, há muito tempo. Temos
muito mais do que nossas famílias seriam capazes de gastar em gerações, caso
decidíssemos viver uma vida boa, confortável, mas sem gastos exorbitantes.
Só que não se trata mais de nós. Olhe a sua volta. Quantas famílias você acha
que sustentamos mantendo a The Order no topo? Centenas. Nossos projetos
sociais ajudam ainda mais pessoas. Crianças, mulheres em situação de
vulnerabilidade. Temos várias frentes de ações sociais Bia, vovó cuida de
algumas e Helen de outras.
– Além do prazer de tocar, há alguns anos nós trabalhamos para manter tudo
isso de pé, e não mais por lucro pessoal. Se pararmos, tudo isso vai começar a
morrer também. Então enquanto eu puder, vou continuar. Mas temos projetos
de, no futuro, abrir a Three Minds para agenciar e produzir novas bandas, e se
isso der certo, pode ser nosso passaporte para a aposentadoria sem colocar em
risco a renda de quem depende de nós. – O telefone dele toca outra vez. – Esta
merda não está dando folga hoje... – reclama.
– Fala Lian.
– Você tem noção do que fez?
– Como assim?
– Velho, o servidor já caiu duas vezes por causa do número de acessos e
comentários. A tia tá feito louca tentando manter tudo funcionando sem perder
a segurança. Seus posts já foram replicados em vários sites de notícia. #OliBia
está bombando nas redes. Biazinha é amada e odiada na mesma proporção.
Riley está puta por não ter sido avisada. Max tá com os ouvidos doendo por
ela ter despejado nele toda sua fúria.
– Caraca, faz o que, quinze minutos que eu postei e já causou tanto estrago?
– Oliver, o mundo está há treze anos esperando uma comunicação direta
sua, o que você achou que iria acontecer?
– Bom, está feito. Alicia e Riley terão que se virar.
– Está em casa?
– Bia e eu estamos no trapiche. Estávamos caminhando quando Alicia ligou.
– Nem vou perguntar o que andaram fazendo aí... venham até aqui.
– Pirou? Não vou deixar Beatriz ver as coisas que rolam aí.
– Está sossegado, só Tina e duas novatas e todos muito bem comportados.
Mantenho assim, fica tranquilo. Venham beber algo conosco e depois voltam
para o ninho de amor.
– Não sei se é uma boa Li...
– Nós vamos Lian, daqui a pouco chegamos aí – falo me atravessando e
Lian gargalha no outro lado.
– Muito bem Bela-Bia, mostre logo para o bonitão quem decide nesta
porra...
– Vai se foder. – Oliver o xinga e me olha atravessado. Eu uso a tática dos
olhos negros pidões e ele só balança a cabeça desistindo do confronto.
Sucesso!
Chegamos na casa de Lian e já estou achando que não foi uma boa ideia.
Durante nossa caminhada, os fluidos corporais que Oliver liberou foram parar
na calcinha, deixando-me desconfortável e preocupada que todos possam
sentir o cheiro de sexo ao se aproximarem de mim.
Mas agora é tarde, contornamos o deck e chegamos de mãos dadas numa
área de lazer lindamente decorada, com bar e piscina coberta. Só a casa de
Lian tem este espaço na parte de trás. Enquanto vamos nos aproximando, os
olhares se voltam para nós. Max e Lian estão recostados no bar, ao lado deles
duas mulheres, uma ruiva e uma loira. Puxo o braço de Oliver para que ele
pare.
– Oliver, aquela ruiva é a mesma... – pergunto em seu ouvido.
– Não é, fique tranquila. – Só assinto e continuamos a aproximação. Num
sofá em outra extremidade está Kellan conversando com outra loira. Ele me vê
chegando com Oliver, mas logo desvia o olhar.
– Olá casal – fala Lian.
– Oi Lian, Max, meninas... – Oliver cumprimenta. A ruiva não se abala com
a presença dele, mas a loira, só falta saltar os olhinhos...
– Bia, – Max me chama – deixa eu apresentar a você, esta é Tina – aponta
para a ruiva – e esta é Patrícia. – Indica a loira. Meninas está é Beatriz,
namorada de Oliver.
– Olá – digo e elas respondem o cumprimento.
– Eu vi a sua entrevista – conta Patrícia. Apenas concordo, não tenho muito
o que dizer. A ruiva se aproxima de Lian e se pendura no pescoço dele, que
não a afasta.
– Bia, o que você quer beber? – pergunta ele, enquanto serve uma dose de
whisky a Oliver. – Sei fazer vários coquetéis, pode pedir o que quiser. –
Oliver me puxa para mais perto, deixando-me recostada nele.
– Não conheço nenhum – digo. As duas abrem a boca abismadas.
– Você nunca bebeu uma Marguerita, um Cosmopolitan, um Blode Mary? –
pergunta Tina como se aquele fato fosse um crime contra a humanidade, ainda
pendurada em Lian.
– Não. Nem faço ideia de como são feitos. – Tina lança um olhar incrédulo
para Oliver, que não está nem aí para ela.
– Faça um Moonwalk Lian, acho que ela vai gostar. Leva espumante. –
Oliver sugere, dizendo a última frase no meu ouvido.
– Então você resolveu derrubar os servidores da empresa, cabeção? Porra,
custava ter deixado Riley a par antes? Eu que tive que ouvir as merdas.
– Nem lembrei de Riley, Max. Alicia me ligou dizendo que ia soltar uma
nota em meu nome e eu resolvi fazer a nota eu mesmo.
– Você resolveu fazer isso pela primeira vez em treze anos no mesmo dia
que anunciamos a bomba do seu namoro? Seu timing é incrível! – reclama Max
no mesmo instante em que Lian me entrega o drink e experimento. Uhmmm,
aquilo é bom!
– Gostou? – pergunta Tina.
– Sim, muito bom. – Lian abre um sorriso.
Oliver me beija no rosto e percebo a loira com os olhos fixos nele,
encantada. Suspiro.
Conheço bem o efeito, querida.
Mas tem dona!
Meu telefone vibra, tirando meus pensamentos da visão da loira babando no
meu homem. É uma mensagem de Hazel.
Bia, estão em casa? Acordados?
Estou dando uma volta com Eric pela praia,
estão afim de beber algo no deck?

Aff, e agora? O que eu faço? Será que peço para ela vir até ali com Max e
outras mulheres em torno dele?
– Tudo bem? – pergunta Oliver.
– Sim, é Hazel – digo e mostro a mensagem para ele. Ele ergue as
sobrancelhas.
– Algum problema com Hazel? – pergunta Max ao ouvir o nome dela. Olho
para ele sem saber se falo ou não que ela está na praia e acompanhada.
– Ela está na praia com Eric. – Oliver conta sem pestanejar. Max fica
vermelho e engole a saliva de forma forçada. – Quer se encontrar conosco,
acho que já vamos indo...
– Não, não precisam sair. Diga a ela para vir para cá, com o... com o cara.
– Max faz um tremendo esforço para falar aquela última parte.
– Max... – Oliver adverte.
– Não, está tudo bem. Eu preciso tentar seguir o conselho de Bia de dar
espaço, parar de vê-la como uma criança. Não é isso? Acho que esse é um
bom jeito de começar. – Eu e minha boca!
Como vou dizer a ele que não acho uma boa porque Hazel não aguentaria
vê-lo com outra? Ferrou. Não tem como.
O jeito é esperar que ela aguente firme e ele se comporte pelo tempo que
estivermos ali, pelo menos.
– Tudo bem, vou ligar para ela – digo e aperto para fazer a chamada.
– Oi Bia!
– Hazel, oi. Olha só, estamos na casa de Lian, venha para cá com Eric. Max
também está aqui. E duas garotas... – digo para prepará-la e dar opção de
declinar. – Estamos na área dos fundos.
– Ok. Logo chegamos aí. – Não declinou. O jeito é pôr nas mãos do
universo.
No que desligo e levanto os olhos, flagro a tal loira, Patrícia, fazendo caras
e bocas e olhando fixamente para Oliver. Tentando chamar a atenção dele para
ela.
Encaro-a e, quando ela percebe, me lança um sorrisinho amarelo, mas no
instante seguinte volta a tentar flertar com ele, sem nem disfarçar.
Ela definitivamente não me leva a sério.
Oliver larga uma risadinha em meu ouvido, achando graça do nosso
confronto silencioso. Resolvo que é hora de deixá-lo um pouco mais
barulhento.
– Desculpa, mas posso te ajudar? Perdeu alguma coisa? – pergunto e ouço
um leve tossir atrás de mim.
– Não, pelo contrário, achei algo bem interessante... – a descarada tem a
coragem de dizer na minha cara.
Sério?
Tudo bem que eu sei que passaria por situações assim, mas já?
E tão às claras?
Parece que terei que aprender, no susto, a defender o que é meu.
– Ok, Patrícia, vamos lá... – Oliver tenta vir ao meu socorro, mas impeço.
– Não baby, a parada é minha. Pode deixar.
– Sabe que neste ponto, Patrícia, preciso concordar com você. Nem faz
ideia do quanto é interessante... e posso te dizer o que é o mais fantástico de
tudo? – Ela cruza os braços e ergue as sobrancelhas.
Tina e os meninos acompanham interessadíssimos o nosso embate.
– Os orgasmos... – Max se engasga com a bebida. – Ah... se eu te contasse...
nem nos seus melhores sonhos você conseguiria que a sua imaginação chegasse
perto da realidade... – Oliver e Lian estão agora com as cabeças baixas sobre
o balcão tentando conter as gargalhadas. Tina acompanha nossa queda de
braços animada. Max está de olhos arregalados e da cor de um morango
maduro. – São simplesmente fenomenais... Homéricos! – ela me olha entre
desconfiada e confusa. – Opa! Não entendeu o que significa? Uma dica,
procure no dicionário. Porque é o mais próximo de entender que você vai
chegar. – Lian e Oliver explodem em gargalhadas.
Sem dar tempo para que ela se pronuncie, me viro para Oliver e puxo sua
boca para a minha, doando-lhe um baita beijo, com sabor de posse, champanhe
e whisky. Ele enlaça minha cintura e me puxa para mais perto, colaborando
com a minha marcação de território. Quando paro, estamos sem fôlego.
– Uau. Me lembre de nunca me meter com você, Bela-Bia, caramba... – Lian
brinca.
Me viro de frente para eles novamente e então sou eu que lanço um sorriso
enorme na direção da loira aguada que, agora está lá, com cara de poucos
amigos.
– Garota, te respeito... – fala Tina.
– Homéricos é? – Oliver sussurra em meu ouvido. – Bom saber... – Me dá
um beijinho atrás da orelha que me arrepia cada pelinho do corpo. – Deus
proteja quem cruzar o seu caminho...
– Se divertindo às custas do meu desespero, rockstar?
– Você sempre melhora a minha noite, pequena. E olha que ela já estava
acima do nível uns mil por cento.
– Bia, bela performance. – Ouço uma voz feminina mais ao longe.
Hazel está parada a uns metros de distância, de mãos dadas com Eric. Os
dois se aproximam devagar, cautelosos. Ela olha para Max, que por sua vez
olha em qualquer outra direção, menos na do casal recém chegado.
– Hazel! Eu estava com saudades. – Abraço-a. – Oi Eric.
– Eu também senti saudades – retribui. – É uma merda agora que preciso
disputar sua atenção com Oliver.
– Eu sempre terei preferência, Hazel – retruca o próprio, me apertando
ainda mais contra seu corpo.
– Eu não disse que era uma disputa justa, estrela. E aliás, mamãe tá P da
vida com você. – Ele apenas dá um sorriso de lado para ela.
– Deixa de choro Hazel, eu sempre terei tempo para você. – A abraço
novamente, me desvencilhando um pouco dele.
– Eric, bom te ver de novo, cara – fala Oliver estendendo a mão para ele. –
E desculpe os transtornos causados pela mídia. Espero que Riley tenha lhe
dado suporte e mitigado qualquer dano que teve em função do incidente.
– Sim, ela foi muito prestativa. Mas eu consegui manter tudo sob controle,
não se preocupe. Bom vê-los de novo também. É maravilhoso o local que
vocês têm aqui.
– Obrigado.
– Então Eric, nos encontramos novamente – cumprimenta-o Lian. – Mas me
diga, esse seu lance com a minha sobrinha é sério? – Hazel olha para Lian
claramente desgostosa do seu comentário.
– Da minha parte é seríssimo, mas você precisa perguntar qual é o lance
dela comigo. Tenho perguntado há dias e ainda não obtive uma resposta. –
Leva Hazel para perto de si e beija seu rosto. Lian e Oliver erguem as
sobrancelhas. Max continua na sua e a Patiranha cada vez mais próxima dele.
Hazel tenta disfarçar, mas seu olhar, vira e mexe, vai naquela direção.
– Para que rotular as coisas? Está ótimo do jeito que está – defende-se ela.
– Pois eu acho que o rapaz está certo – manifesta-se Max pela primeira vez.
– Eric, certo? – lhe estende a mão, que Eric aceita de imediato. – Acho que
começamos com o pé esquerdo aquele dia na boate, peço desculpas, me
excedi. Fico feliz em saber que você quer agir da forma correta com a nossa
menina. Somos todos muito protetores em relação a ela. – Max assumiu sua
postura cavalheiresca, mas quem o conhece um pouco melhor vê que está
fazendo um esforço enorme para levar a situação numa boa.
Ele ainda não conseguiu olhar nos olhos de Hazel.
– O que querem beber? – pergunta Lian.
– Acompanho no whisky – fala Eric.
– Eu também – diz Hazel.
– É forte demais para você. – Max não se segura e aposto que Hazel fez de
propósito.
– Olha, consegui fazer você me notar... Oi para você também, ruivo. E não
se preocupe, eu sei o gosto que tem o whisky.
– Você não vai beber whisky Hazel, só tem dezessete anos, caramba! –
Hazel fecha os olhos e respira fundo. Aperto a mão de Oliver sobre minha
barriga, pedindo que intervenha.
– Max, espaço, – lembra Oliver – e Hazel, uma dose. – Ela assente.
– Querido, pede uma marguerita para mim? – fala a Patiranha em voz
melosa e alisando o braço de Max.
O foco dela voltou para o ruivo. Os olhos de Hazel estão grudados lá. Ela
não vai suportar por muito tempo se Max der abertura para a loira.
– Lian está à sua frente Patrícia, tenho certeza de que ele a ouviu. – Ela
sorri em direção a Lian, mas não retira a mão do braço de Max.
E ele também não a afasta. Tina está sentada na banqueta no lado interno do
bar com cara de tédio. Kellan e a outra loira já sumiram dali há tempos.
– Bia, preciso ir ao banheiro, vem comigo? – Me pede Hazel, depois de dar
um belo gole no copo de whisky. Acho que ela bebeu quase metade da dose de
uma única vez, enquanto fuzilava a Patiranha.
– Claro, vamos lá. – Oliver me solta, mas não sem antes inspirar fundo
entre os meus cabelos.
– Por que vocês sempre vão em duplas? – Ouvimos Lian perguntar,
provavelmente a Tina, enquanto nos afastamos e eu e Hazel rimos.
Assim que entramos, ela me carrega para a sala.
– É aquela loira sem sal que ele vai comer esta noite, não é? – Me pergunta
irritada.
– Hazel, não pense nisso...
– Como não? Sabe o que é pior? Eu deveria estar preocupada com quem
Eric vai comer esta noite. Mas não ligo a mínima se ele me deixar aqui e sair
para pegar alguém em outro lugar.
– Isso é cruel. Eric não merece que você o trate assim.
– Eu sei, eu sei. O que eu faço? Não quero desistir de Eric, tenho esperança
de que em algum momento algo floresça em mim em relação a ele. Mas ao
mesmo tempo me sinto uma verdadeira vilã da Disney brincando com os
sentimentos dele.
– Seja honesta com ele.
– O quê? Você está sugerindo...
– Sim, ou faz isso ou termina. Se exponha para Eric, você deve isso a ele.
Explique o que sente e porque não consegue se entregar de vez à relação de
vocês. Dê condições a ele de decidir se quer mesmo embarcar e acabar com o
coração partido ou se quer pular fora enquanto é cedo.
– Você diz como se já tivesse certeza de que não daremos certo.
– Eu tenho.
– Bia...
– Eu tenho amiga, e vou te explicar os meus motivos. Percebi algumas
coisas diferentes hoje. Mas não vou falar disso nem aqui e nem agora.
– Puta merda, vai me deixar ir embora assim? Curiosa?
– Na verdade, eu ia sugerir que você ficasse na casa de Oliver e amanhã
podemos conversar. Tenho muitas coisas para te contar. – Abro um sorriso
enorme para ela.
– Não?
– Sim.
– Huhuuu!!!! – comemora. – Pelo menos uma de nós já descobriu o lado
bom da vida. É bom mesmo, não é?
– É fantástico!
– Quero os detalhes.
– Você terá, mas como eu disse, não agora.
– Mas Eric ficará lá em casa.
– Dorme na casa de Oliver também. Ou algum problema em dormirem
juntos?
– Não, ele iria dormir no meu quarto mesmo. Confio nele, não vai avançar
além do que eu permitir.
– Dormiriam você, ele e o quadro de Max, você quer dizer?
– Ahhh Bia, eu tentei... não consigo me livrar daquilo. Ele está tão lindo lá.
– Eu sei querida, temos que conversar. Eric já viu? Já esteve em seu quarto?
– Já.
– Não achou estranho? Não falou nada? – pergunto e faço sinal com a
cabeça para voltarmos para junto dos rapazes. Ela se levanta e me acompanha.
– Perguntou o porquê da preferência por Max e não por Lian, já que meu
parentesco sanguíneo é com o guitarrista e eu contei a historinha do “segundo
pai”.
– E ele caiu? – Ela dá de ombros.
– Acho que sim. Não comentou mais nada. – Chegamos à saída que da visão
da área onde estão todos e paro.
– Vamos voltar lá para dentro, Hazel. Você não vai querer ver. – Ela fica
pálida.
– Eu vou, eu preciso. – Me empurra da sua frente sem que eu consiga
impedi-la e, assim, tem a visão de Max e da Patiranha aos beijos, próximos ao
bar, enquanto Lian, Tina, Oliver e Eric seguem entretidos numa conversa.
– Hazel. – A puxo um pouco mais para dentro da casa novamente. Seus
olhos estão cheios d’água. – Não! Pode parar. Você vai secar as lágrimas e
colocar um sorriso no rosto, vai chegar lá e dar um belo amasso em Eric na
frente dele, terminar a sua bebida e então nós vamos embora. – A chacoalho
para que saia do seu transe. – Se você quer que as coisas mudem entre vocês,
que ele te veja com outros olhos, precisa mostrar a ele atitudes diferentes.
– Mas não é só o que eu tenho feito?
– Sim e está dando certo.
– Como assim?
– Amanhã Hazel, amanhã a gente fala sobre isso.
– Tudo bem. – Ela se recompõe, seca os olhos e respira fundo. Max e
Patiranha não se beijam mais, felizmente. Mas ela continua agarrada nele.
– Finalmente! Oliver já estava impaciente aqui. Ele só não foi atrás por
medo de descobrir o que fazem em dupla no banheiro – zoa Lian.
– Verdade? – pergunto, enlaçando-o pelo pescoço. Ele me prende pela
cintura e me ergue do chão, afundando o nariz em meu pescoço.
– Sim, você não pode me largar sozinho assim.
– Não?
– Não. Quem vai me defender das loiras descaradas e assanhadas?
– É verdade. Que cabeça a minha! Largar o meu homem, gostoso pra
caralho, – digo e chupo seu pescoço – no meio do ninho das víboras. Ele seria
um banquete para elas. – Mordo seu queixo.
– Gostoso pra caralho? Olha a boca, Beatriz!
– Tenho convivido com um bando de roqueiros, baby. E muito intimamente
com um em específico. Acho que isso não tem mais volta. – Ele ri e me beija
de volta, me colocando sentada na banqueta e tomando o espaço entre as
minhas pernas enquanto aprofunda o nosso beijo.
Quando paramos, antes que a coisa esquente demais, e voltamos nossa
atenção para o entorno, percebo que a ruiva e Lian também estão aos beijos,
ela sentada em seu colo, inclusive. Hazel está prensada contra um pilar
enquanto Eric devora sua boca. Max continua escorado no bar, com a loira
tentando prender sua atenção, mas seu interesse está na pilastra onde Eric
prende Hazel, por mais que ele tente disfarçar.
– Max? Tudo bem, irmão? – chama Oliver, percebendo.
– Tudo – diz sem firmeza, retornando à realidade e virando a dose de
whisky de uma só vez. Termino meu drinque também e pouco depois Hazel e
Eric retornam para perto de nós.
– Vamos? – pergunto baixinho a Oliver. – Convidei os dois para ficarem na
sua casa esta noite. Você se importa? Eles ficam no meu quarto... – Ele sorri.
– Lógico que não me importo. A casa é sua também. – Não, não é, mas é
fofo que ele tenha sugerido.
– Obrigada – agradeço e lhe dou um beijo rápido antes de sairmos dalí.
Capítulo 16

“Eu quero levar uma vida moderninha


Deixo a minha menininha sair sozinha
Não ser machista e não bancar o possessivo
Ser mais seguro e não ser tão impulsivo
Mas eu me mordo de ciúmes”
(Ciúmes – Ultrage a Rigor)

Bia

A bro os olhos e a primeira sensação que me invade é


essa: segurança.
Me sinto segura, pela primeira vez desde os meus treze
anos, desde que perdi minha mãe e acreditei que dias melhores viriam e seria
assim por muito tempo.
Minha cabeça está apoiada num peito largo e duro, um braço forte me
envolve, pernas musculosas se entrelaçam às minhas e meu coração está cheio
de amor.
Sou dele.
Estou onde deveria estar.
Estou segura, em todos os sentidos da palavra.
Ontem, quando chegamos, transamos embaixo do chuveiro. Sem camisinha,
outra vez. Isso precisa parar. Porque uma gravidez levaria embora, de novo,
toda a tranquilidade, toda a segurança.
Retornaria para minha vida o medo constante.
Oliver não comentou nada sobre a minha mensagem, a que o chamei de meu
amor. Não que eu espere que ele diga a mesma coisa, não, cada um tem o seu
tempo. Pois mesmo que ele não diga, eu sinto em seu olhar, nos seus gestos, no
seu cuidado, na sua necessidade. Mas talvez ele ainda não esteja pronto nem
mesmo para ouvir, por este motivo, não toquei no assunto.
Deslizo minha mão por seu abdômen, brinco com a trilha de pelos que se
perdem para dentro da sua cueca, sua única peça de roupa. Estou só de
calcinha também, isso porque insisti para ele me deixar colocar. Ontem fui
dormir muito dolorida, não poderia deixar fácil o seu acesso caso resolvesse
investir numa quarta rodada no dia. Não por medo dele não parar se eu
pedisse, mas por medo de eu não conseguir pedir.
O volume na sua cueca não deixa dúvidas quanto ao seu estado. Se eu não
tivesse estudado o corpo humano e não soubesse nada sobre a famosa ereção
matinal, diria que ele está no meio de um sonho erótico.
Passo minha mão por cima, acariciando seu pau sobre o tecido. Ele geme
baixinho. Beijo seu tórax, chupo seu mamilo enquanto sigo naquele carinho
despreocupado. Migro com os beijos em direção ao sul e passo meu nariz pela
borda da sua cueca, distribuindo beijinhos também por ali. Seus gemidos
aumentam e seus músculos contraem.
Abaixo o tecido, liberando o membro, que cai sobre sua barriga. Apoio
mãos e joelhos no colchão de ambos os lados de seus quadris e pernas, ficando
de gatinho, levantando o corpo e me impulsionado a frete para conseguir
passar a língua por toda a extensão do seu pau. Mais e mais gemidos. Continuo
no vai e vem com a língua, até que engulo a cabeça e chupo forte. No mesmo
instante ele reage, segura meus cabelos e puxa, obrigando-me a erguer o
tronco, ficando apoiada apenas nos joelhos.
Ele se ajoelhada da mesma forma à minha frente, encalça minha cintura e
me gira, colocando-me de bruços e me prendendo abaixo dele com o seu
corpo. Sentindo o pau duro entre as bandas da minha bunda e costas.
Eu grito, porque tudo isso acontece muito rápido, não me dando condições
de processar cada ação. Então afasta os cabelos do meu pescoço e lambe da
sua base até atrás da orelha, onde morde o lóbulo e me faz tremer.
– Vou te comer bem duro. Por trás. Prepare-se, porque não serei gentil. –
Puta merda!
Aquelas palavras, ditas ali, ao pé do ouvido, antes mesmo de um “bom
dia”, com toda a energia viril, me causam tanto calafrios quanto expectativa.
E pavor quanto a um dos termos.
– Por trás? – pergunto sem muita coragem.
– Sim. Por trás – diz pausadamente, ainda encostado no meu ouvido.
Tremo, e agora, não tem nada a ver com a excitação. – Mas não se preocupe,
não será aqui, não hoje. – Circula o dedo ao redor do meu ânus, por baixo da
calcinha, enfiando a pontinha nele.
Gemo, parte por alívio.
– E sim, aqui. – Enfia outro na minha vagina e segue colocando e tirando os
dois dedos ao mesmo tempo enquanto beija meus ombros, pescoço e costas.
A sensação é nova, em certo ponto angustiante, pois não consigo focar nem
num ponto e nem no outro. Ainda não sei se gosto do dedo lá.
– Tão molhada, baby. Espero que você não tenha apego por esta calcinha. –
No mesmo instante interrompe a penetração dupla e rasga a renda, liberando o
meu traseiro.
Vai descendo, beijando minhas costas, passando a língua por toda a
extensão da minha coluna e quando chega a minha bunda, abre as bandas e
chupa tudo que sua língua e boca são capazes de alcançar enquanto escancara
minhas pernas, forçando as suas entre elas.
Caralho, já estou quase gozando só com ele ali e em função de toda a
expectativa que criou. Então se ajoelha e puxa meu traseiro para cima, me
colocando também de joelhos, mas com um braço, forçando meu tronco a
manter-se totalmente colado à cama.
Se tem uma situação onde a expressão “de cu para a lua” se aplica, é essa.
– Pequena! Que visão esplêndida para uma manhã. Pelo espetáculo que se
apresenta a minha frente, tenho certeza de que hoje será um ótimo dia. – E vai
passando suas mãos pela minha bunda e sexo, até que de repente, me dá uma
bela palmada.
– Aiie. Você acordou muito sacana e perverso. – Rebolo o traseiro lhe
provocando. Ele dá outra palmada.
– Só devolvendo a provocação na mesma medida, namorada. Alguém
atacou o meu pau enquanto eu dormia. E o calibre da minha perversão você já
vai sentir. E sentirá ainda mais no dia em que eu resolver comer essa sua
bunda gostosa. Ela é tão malcriada! Sempre arrebitada, me chamando e
chamando... – Acaricia meu traseiro e eu reviro os olhos com a cara grudada
na fronha.
– Porra! Nunca pensei que desejaria tanto uma bunda caída. – Ele ri, mas
não me dá tempo nem de processar tudo que fez e disse até ali, porque puxa
meus quadris para trás, me empalando de uma vez só no seu pau enorme.
– Aaaarrr, puta merda, caramba, caralho, vai se foderrrrr Oliiiiverrrrrrrr! –
Já sai estocando com força total, puxando meus quadris a toda, erguendo meus
joelhos da cama no processo, fazendo minhas palavras saírem tremidas pela
força do impacto e minhas mãos tentarem se agarrar a alguma coisa naquela
cama, sem sucesso.
Me sinto uma verdadeira boneca de pano em suas mãos.
– Ah anjo, vou dar tanta surra de pau nessa boceta gulosa, que você vai
gritar, pedir clemência, mas vai gozar tão gostoso no final. – Cada estocada
dele é um berro desvairado meu.
Santo Deus, será que esse revestimento acústico é potente mesmo? Porque
não saio dessa cama nunca mais se não for.
É pervertido demais, tão forte que dói, mas é um tesão do cacete ser comida
desse jeito.
Saber que eu provoquei essa explosão de testosterona no meu homem.
Nunca me senti tão fêmea quanto agora.
Ele segue enfiando como se não houvesse amanhã e a iminência do clímax
vai se apoderando de mim. Vai ser forte. Já quase não há mais intervalo entre
os meus berros agora, é um apelo quase que contínuo pela trégua, que não vem.
Meu corpo contrai, ele percebe e então muda o ângulo das estocadas,
fazendo o pau bater naquele ponto, na parede da vagina, com toda a força e
depois de pouco tempo assim, é o meu fim.
– Isso baby, vem comigo. – E me puxa ainda mais forte, eu tremo da cabeça
aos pés, a descarga energética é tão avassaladora que eu nem consigo mais
gritar, só tremo.
Um jato de água esguicha da minha vagina.
Ele urra, poderoso, arranca o pau de dentro de mim e goza na minha bunda.
Sinto o jorro quente lambuzar tudo ali.
Eu estou mole feito gelatina, só não desmontei totalmente na cama porque
um braço seu ainda me segura.
Quando termina de ejacular, volta a me segurar com os dois braços e
encosta todo seu tronco nas minhas costas, respiração frenética, tentando
reaver o fôlego. Eu sinto dificuldade até de manter os olhos abertos. Vai
empurrando meu quadril de volta em direção à cama e deita completamente
sobre mim.
Quando seu coração e sua respiração já estão mais calmos, ele distribui
beijos pelo meu rosto e ombros, depois deita-se de lado, ao meu lado, e segue
me olhando enquanto afaga meus cabelos, e o lado do meu rosto que não
encosta no travesseiro, porque eu ainda não consegui me mexer para sair da
posição de bruços.
Passa os dedos pelos meus lábios, enquanto seus olhos me observam, mas
vejo algo diferente das outras vezes.
Eles quase me reverenciam, me dizem que ele me admira, que ele precisa
de mim e que ele me...
Não!
Eu não vou aguentar o baque se ele resolver escolher esse momento.
Meu coração acelera, mesmo eu estando ali, entregue, esgotada, quase
sonolenta.
Ele aproxima seu rosto e beija minha boca, da forma que consegue, me
dizendo com os lábios o mesmo que seus olhos me dizem e volta a me olhar
daquele jeito.
Os batimentos aceleram mais.
Passa os dedos retirando os cabelos que estão grudados no meu rosto e
pescoço. Eu pisco demorado pois seus olhos estão mais determinados e meu
coração quase sai pela minha boca agora.
Quando volto a abri-los, não há mais escapatória para mim.
– Eu não sei porque preciso te dizer isso agora, mas eu preciso. Ontem suas
palavras me assustaram, mas aqui, agora, te olhando assim, tão entregue a mim
e tão linda, nossa... o sentimento está pulando para fora do meu peito... Eu amo
você, Beatriz.
E como o previsto, não aguento.
As lágrimas rolam e o choro sai forte, de soluçar.
É demais.
Ele escolheu o momento mais improvável para me dizer aquilo que eu já
sabia que ele sentia, que ele sabe que eu sinto também.
Não foi em um jantar romântico.
Nem numa noite estrelada enquanto caminhamos pela praia.
Não no meu aniversário, ou no dele.
Não na cama, depois de fazermos amor.
Não. Nada disso.
Ele escolheu me dizer isso depois da nossa foda mais sacana, da nossa
trepada mais pornográfica, em que ele me fodeu como quis e me destruiu.
Intencional ou não, ele criou a contradição perfeita e eu jamais esperaria
por isso.
– Baby, Bia, não... não chora assim... desculpa eu... eu te machuquei, foi
isso? Foi demais para você, meu bem? – Eu só choro, ele me puxa para si e
abraça. – Inferno, sou um idiota. Ignorei o fato de que você começou a ter
relações agora. Por favor, me diz alguma coisa, você tá me matando aqui... –
Encontro forças e ponho os dedos sobre os seus lábios, para que ele se cale.
– Por favor, Oliver, só me deixa absorver isso tudo, me dá alguns minutos,
eu não consigo... – O choro verte novamente.
– Tudo bem. – E beija minha testa.
Deixo os minutos passarem e as lágrimas rolarem, acomodada em seu peito.
Aos poucos vou me acalmando e também recuperando o controle sobre o meu
corpo. Quando acho que estou inteira o suficiente para falar com ele, me sento
na cama, olhando-o de cima e faço carinho pelo seu rosto da mesma forma
como ele fez comigo.
– O que você fez comigo hoje foi perfeito. Eu me senti mulher. Sua mulher.
Eu quero isso, quero que você me pegue de jeito e me vire do avesso. Que me
domine. Como eu também quero que me permita explorar o seu corpo e que
faça amor comigo como fez outras vezes. Eu quero tudo com você. E não quero
de forma alguma que se iniba ou se policie na cama porque sou eu aqui. Quero
que me mostre tudo que conhece, tudo o que gosta e se em algum momento algo
for demais para mim, eu vou dizer. – Abro um sorriso para ele, preciso fazer
um adendo.
– Só depois me explique se é possível sentir um orgasmo mais forte do que
esse, porque se for, você tem que me preparar antes, não sei se aguento. O que
foi aquela água que saiu de mim? Sempre que eu acho que cheguei no limite do
que o meu corpo suporta, você me mostra algo ainda mais potente. – Ele vai
falar, mas peço que espere.
– E depois de acabar comigo, de me surpreender com aquela intensidade
toda e de provar o seu poder sobre mim da forma mais bruta e crua até agora,
você me diz a coisa mais linda e importante que uma pessoa pode dizer a
outra.
– Depois que alguém se vê sozinho no mundo, como é o meu caso, Oliver,
não sabe se algum dia ouvirá estas três palavras outra vez. Então quando ouve,
o valor é mil vezes maior. – Seu olhar para mim naquele momento é o de
alguém que entende exatamente o que eu estou dizendo. – Foram emoções
demais concentradas num único momento e não consegui segurar.
– E não foram só palavras, eu senti. Senti todo o seu amor. Eu sinto desde o
primeiro beijo. E sei que você sente o meu também. E assim como aconteceu
com você agora, em que o sentimento transbordou e não foi mais possível
conter as palavras, aconteceu comigo ontem, quando te mandei aquela
mensagem.
– Meu peito estava tão apertado por estar longe de você, que eu não poderia
ter usado outro termo além de amor. – Me abaixo e colo meu nariz ao dele. –
Eu amo você, Oliver Rain. – Ele me segura pela nuca e me beija
apaixonadamente por longos minutos.
– Minha!
– Toda e só sua! – Ele sorri satisfeito. Sei que adora quando eu confirmo
sua possessividade. – Você tem certeza que ninguém nos ouviu?
– Não se preocupe, se ouviram, a única coisa que estão pensando é que fiz o
meu trabalho direito e que você foi bem comida.
– Oliver... – Ele ri mais e me tira da cama com ele.
– Vamos nos arrumar, temos visitas, esqueceu?
– Claro que não. Terei muitas coisas a explicar a Hazel sobre o seu
desempenho caso ela tenha ouvido os meus gritos.
– Está aí uma coisa que jamais imaginei, que minha vida sexual seria
exposta justo para Hazel... Mas se até o tamanho do meu pau ela já sabe...
– Ela é minha única amiga. – Dou de ombros.
E ali já estamos entrando no chuveiro. Após um banho rápido, nos juntamos
a Laura, Hazel e Eric na bancada do café.
– Eric, acredito que as meninas queiram colocar a conversa em dia, quer me
acompanhar num passeio de jet? Você pilota? – pergunta Oliver.
– Piloto sim, nossa, seria ótimo. – Os olhinhos de Eric brilham. Como fã,
deve estar se perguntando como é possível aquela realidade.
Conheço bem a sensação, Eric, conheço bem... pelo menos você não virou
líquidos e nem derrubou cadeiras.
– Que sacanagem, vocês ficam com toda a diversão? – reclama Hazel.
– Se as meninas quiserem nos acompanhar estão convidadas, mas achei que
queriam conversar – justifica-se Oliver.
– Eu acho que os meninos podem ir para o passeio deles enquanto a gente
aproveita aquela hidro lá fora e mais tarde eles nos levam para dar uma volta
também, o que você me diz, Bia?
– É, bem... Eu acho que eu fico por aqui e vocês vão.
– Nada disso. – Oliver recusa minha tentativa de escapar de encarar o alto
mar num jet sky.
– Oliver, eu não sei nadar. Tenho medo.
– Tem colete salva vidas, é seguro, confie em mim. E prometo não fazer
nenhuma manobra radical ou bruta. – Ele abre um sorriso safado, deixando
bem claro a quais manobras radicais se refere. Fico vermelha na hora.
– Queridos, me deem licença, vou me encontrar com Helen – diz Laura,
despedindo-se. – E Oliver, mais tarde, quando você puder, tenho algumas
ideias para lhe mostrar sobre os projetos assistenciais que me pediu e também
os agendamentos.
– Ok vó, obrigado.
– Hazel você já está de biquíni aí por baixo do vestido que estou vendo.
Vou me trocar. – Dou um beijo em Oliver e sigo para o quarto.
Escolho um biquíni azul com dourado, lindo. Mais um dos itens que Hazel
escolheu para mim na nossa ida ao shopping. Prendo meu cabelo, coloco uma
saída por cima e volto para perto dos outros. Encontro-os no deck, Hazel já
dentro da hidro.
– Até mais tarde, anjo – despede-se Oliver, me beijando.
– Até, baby. – Tiro minha saída para me juntar a Hazel e Oliver não se mexe
do lugar, fica me olhando fixamente no biquíni novo.
– Essa escassez de pano indecente, te deixa gostosa demais Beatriz, demais
– diz no meu ouvido e vai descendo a mão pelas minhas costas até chegar no
pano do biquíni, que é fio dental, modelo brasileiro, e está enfiado lá. – Você
só pode estar de sacanagem comigo, porra! Dê um jeito de entrar na hidro sem
virar em nossa direção, porque nunca que vou deixar Eric te ver de bunda de
fora.
– Não seja exagerado.
– Exagerado? Definitivamente, foi a primeira e última vez que você fez
compras com Hazel.
– Ei, eu ouvi isso. – Ela reclama.
– É bom que ouça mesmo. – Entro na banheira, e para a felicidade dele, não
houve necessidade de ficar de costas para eles. Os dois saem conversando,
caminhando pela praia em direção ao trapiche.
– O biquíni ficou lindo em você, Bia.
– Eu também gostei. Achei Eric meio pra baixo hoje no café. Aconteceu
alguma coisa?
– Segui seu conselho e me abri com ele. Só não disse por quem é a minha
paixão não correspondida, e sabe o que ele me perguntou? – Faço sinal de
negativo. – Se eu era apaixonada por Max. Ele percebeu, e não tive como
negar. Me disse que desconfiava, porque eu mudo sempre que estou na
presença do ruivo, que quando eu falo com ele sobre os meninos, meus olhos
brilham ao falar do ruivo, e que aquele quadro no meu quarto não é o tipo de
retrato que “uma filha teria de um quase pai”.
– Não deve ter sido fácil para ele ouvir você.
– Não e nem para mim. Jamais quis magoá-lo. Eu gosto dele, de verdade. O
problema todo é que eu sei a diferença entre gostar e amar. Depois que se
conhece o segundo, é complicado se contentar com o primeiro.
– Você tem razão. E nem deve se contentar.
– Então voltamos ao plano A, morrer virgem.
– E se eu te dissesse que, na minha opinião, seus sonhos podem se tornar
realidade?
– Eu diria que Oliver fodeu também os seus miolos e não só a sua boceta.
– Hazel! Que coisa horrível...
– Verdade. De onde você tirou isso?
– A reunião com Riley sobre as fotos foi na casa de Max. Como o nome de
Eric foi mencionado, já que ele aparece nas fotos, obviamente Max ficou
incomodado e entramos no assunto da super proteção dele em relação a você.
E enquanto ele falava, eu observava seu comportamento, e comecei a falar
algumas coisas também para ver sua reação. E em um determinado momento,
sabe o que eu vi? – Ela nega.
– Medo. Ele tem medo de ficar sem você. Medo de não a ter mais na vida
dele. Mas não o medo de um pai ou de uma mãe, pela rebeldia do filho que
resolve morar em outra cidade. O medo dele é em relação ao vínculo que
vocês têm. Ele quer você para ele, Hazel, só que ele ainda não tem ideia de
que a quer dessa forma. Ele precisa desconstruir a imagem que tem de você
primeiro, para então conseguir ver o que sempre esteve bem debaixo dos seus
olhos.
– Bia, você não pode me dizer essas coisas. Olhe só. – Ela pega minha mão
e coloca sobre o seu coração super acelerado.
– Amiga, se eu não tivesse certeza do que eu vi nos olhos dele eu não diria
nada a você. Não quero gerar falsas esperanças. Só que tem sim uma chance,
Hazel, pode ser que seja um esforço em vão, que ele jamais consiga superar o
amor pela criança e deixar emergir o amor pela mulher. Mas se ele é tudo o
que você quer, deveria tentar.
– E o que eu faço?
– Basicamente o que você já está fazendo. Ele precisa ver você agindo
como uma mulher, cada dia mais. Situações como a de ontem, onde Eric te
prensou contra o pilar. Ele não tirou os olhos. Você precisa começar a
provocá-lo, sutilmente. Nada que faça-o perceber as suas intenções, porque a
primeira coisa que ele faria é negar e se afastar. Tem que ser tudo muito
“inocente”.
– Você acha que ajudaria nesse processo se eu me afastasse daqui? Sabe,
aquela sua ideia, eu tenho pensado nisso...
– Sinceramente? Acho. Você ficando fora por um tempo, postando fotos
experimentando coisas novas, em lugares badalados, fotos com outros caras,
não precisa nem haver um envolvimento, ele não vai saber se há ou não. Não
tem que ser um tempo longo, mas o suficiente para tirar dele a possibilidade de
controlar os seus passos, de saber do seu dia, dos seus segredos, como ele
sempre fez até hoje. O fato é que tudo que colabore para que ele te veja de um
jeito diferente, vai contribuir para a sua causa. Podemos bolar um plano.
– Você não está dizendo isso só para levantar o meu astral, não é?
– Eu jamais faria algo assim. Nem com você, nem com ninguém.
– Então essa será a primeira noite, depois de muito tempo, em que eu
dormirei feliz, esperançosa. Teremos um plano. – Sorrio para ela.
– É uma tentativa. Como eu disse, ele pode nunca conseguir entender os
seus sentimentos por você, mas o que você tem a perder, além de um pouco
mais de tempo, não é?
– Sim e se um pouco mais de tempo é tudo que eu preciso dar para quem
sabe tê-lo, espero de bom grado.
– E Eric?
– Fui muito franca com ele, até demais. Ele disse que precisa pensar se
arrisca continuarmos ou não, pois está bem envolvido. Então basicamente
combinamos de aproveitar o dia de hoje como se nada tivesse mudado e então
ele vai tirar uns dias para pensar. Mas agora, depois do que conversamos, não
acho que faça mais sentido.
– Eu também acho, Hazel. Você estaria usando-o, seria muita sacanagem
com ele.
– Sim, mas de qualquer forma, vou dar o tempo dele primeiro e ouvir sua
resposta. Dar a ele a chance de sair dessa como a pessoa que terminou. Caso
ele queira continuar, então eu coloco um ponto final.
– É justo.
– Mas agora vamos ao outro assunto. Então você já desvendou os mistérios
do paraíso?
– O paraíso entrou em mim, todinho.
Hazel dá uma gargalhada, as mãos batendo na água quente da hidro.
– E aquela história de que não iria caber?
– Bem, coube. Mas doeu, muito.
– Mesmo?
– Sim, demais. Achei que não iria suportar, mas me fiz de forte e aguentei.
Talvez devesse ter ido com calma, cada dia um pouco, não sei. Sangrou
bastante, Oliver até se assustou.
– Caraca.
– Mas o pior foi só a primeira noite mesmo. Agora está cada vez melhor.
Não digo que não estou ardida nesse exato momento, porque seria mentira. E
em função disso, cada vez que ele coloca, dói ao entrar, mas conforme o ato
avança o desconforto passa e é só prazer. E se as metidas são muito fortes, me
dói um pouco aqui em cima também. – Coloco a mão acima do umbigo.
– Porra, Bia. Você dizendo coloca, entrar, metidas, tá me deixando
excitada. Por outro lado, todo esse cenário doloroso tá me assustando. Estou
começando a achar que o plano A não é tão ruim assim... – Rio e me dou conta
de que me empolguei demais nos detalhes... carência de amizade é foda!
– Desculpe. A questão é, mesmo que haja um pouco de dor no começo,
aquilo se perde quando a excitação e o prazer crescem. Eu não vivo mais sem
sexo e só de olhar para Oliver já quero de novo, é insano.
– Estou tão feliz por vocês. Você transborda felicidade, Bia, e Oliver
também. Ele nem parece mais a mesma pessoa, nunca o vi assim. Convidar um
quase desconhecido para andar de jet? O Oliver de antes não arriscaria. Postar
fotos nas redes sociais? Passear por Los Angeles? São coisas que ele nunca se
permitiu. Aliás, lindas as fotos que ele postou.
– Ele disse que me ama. – Ela abre um grande sorriso.
– Mas isso está mais claro do que o Sol.
– Eu sei, mas é importante ouvir com todas as letras.
– Sei que é.
– Estou enganado ou são a princesa e primeira-dama da The Order? – grita
Lian lá do meio da praia. Kellan está com ele.
– Miragem é ver vocês acordados a esta hora depois de um dia de festa,
titio – berra Hazel daqui, para que ele ouça. Eles se aproximam.
– Vi umas cenas suas nada agradáveis nessa mesma festa, sobrinha. Um tio
não deveria ver uma coisa daquelas, nunca.
– Também não me agradou a imagem da ruiva se esfregando em você, tive
pesadelos.
– Melhor mudarmos de assunto – responde ele com uma careta.
– Concordo – fala Hazel, o imitando.
– Tudo bem, Kellan? – pergunto.
– Pois é irmão, nem te vi ontem. Mas também não precisa me dizer o que
fazia, não quero mais pesadelos na vida.
– Tudo bem, Bia. Oi para você também, irmãzinha.
– Entrem aqui conosco – convida Hazel.
– Cadê a nossa estrela? Me admira ter largado o osso... – Lian me olha e dá
uma piscadinha.
– Ele foi andar de jet com Eric – falo.
– Porra! Agora vai ser assim? Casados para um lado, solteiros para outro?
– Deixa de ser ciumento – zoa Hazel.
– Eles não devem demorar a voltar, fiquem aqui, almocem conosco mais
tarde, aviso Gia – digo.
– Aceitamos o almoço, mas o que acha de irmos encontrá-los de jet,
Kellan?
– Pode ir, vou ficar um pouco aqui com elas e depois vou almoçar em casa.
– Lian o olha sério.
– Não vá arrumar problemas – avisa.
– Por quê? Seria um problema conversar com Bia, agora?
– Claro que não. Fique – intervenho.
– Juízo – avisa Lian, mais uma vez olhando para Kellan, antes de sair.
– Entre – convido e ele não perde tempo.
– Estava com saudade irmão. Faz tempo que você não aparece lá em casa e
depois da minha festa mal nos falamos – diz Hazel, abraçando-se a Kellan. Ele
beija a cabeça dela.
– Você tem coisas mais interessantes com o que se preocupar agora, não? –
Pergunta ele.
– É, tenho – responde ela meio sem graça.
Engatamos uma conversa divertida. Eles contaram histórias de suas
peripécias por aquela praia quando crianças e eu de minhas travessuras com
papai. Tinha medo de que ficasse um clima pesado entre mim e Kellan, mas
tudo fluiu leve e animado. Pouco mais de uma hora depois vimos os três
voltando do passeio e estamos chorando de tanto rir de uma história que
Kellan contou sobre a dor de barriga que teve no dia do seu primeiro show
como integrante da The Order. A coisa foi tão feia que tiveram que fazer
intervalos na apresentação para ele resolver o problema.
– Quanta animação – fala Lian. Oliver chega analisando o cenário, se
agacha perto de mim e me beija.
– Entre aqui – peço.
– Estamos cheios de areia e água salgada. Vou tomar uma ducha. – Ele vai,
Éric e Lian o seguem. Kellan já não está mais com aquele ar descontraído.
– Acho que vou indo.
– Fique. Almoce conosco – tento.
– É, irmão. Deixe disso, quanto mais você fugir de se encontrar Oliver, pior
fica a situação. Os dois são pessoas de quem você gosta, eles estão felizes,
passe por cima dos seus anseios e fique feliz por eles. – Ele me olha e lhe
lanço uma súplica silenciosa. Não quero que ele se exclua do grupo por minha
causa.
– Tudo bem – decide, me deixando aliviada.
É um começo.
E então Oliver e os outros voltam.
E o que ele está usando?
A bendita sunga branca.
Lian também volta só de sunga, os lindos cabelos negros, longos e soltos, as
tatuagens que emolduram um de seus braços e parte do tórax, e benza Deus,
parece que o pacote não deixa nada a desejar. Bem que Hazel disse que ver os
quatro só de sunga é um teste cardíaco dos mais potentes. Eles entram na hidro
conosco, Eric beija Hazel e Oliver me leva para o seu colo.
Senhor dai-me forças...
– Kellan, o jeito é eu te agarrar. – Lian segura a cabeça de Kellan e encosta
os lábios fechados nos dele.
– Sai pra lá, bichona... Bem que eu desconfiava – diz Kellan limpando a
boca e nós rimos.
O papo segue descontraído e sem animosidades. Meia hora depois
decidimos almoçar, faço menção de levantar, mas Oliver me impede.
– Eu não vou deixar você mostrar a bunda para Kellan, Eric e Lian. Fique
sentadinha, que eu vou levantar, pegar uma toalha e você se enrola primeiro
antes de sair daqui – diz baixinho no meu ouvido.
– Oliver, não seja ridículo. Eu não vou fazer isso.
– Então ficaremos os dois aqui até que todos entrem.
– Ninguém vai entrar antes do dono da casa.
– Sendo assim, temos um problema. – Respiro fundo.
– Tudo bem, busque a toalha – digo.
Ele se ergue por trás de mim e pula para fora da hidro, eu aproveito que ele
saiu e faço o mesmo. Quando percebe o meu golpe, para e fecha a cara, me
olhando com fúria. Eu rapidamente alcanço a saída que ficou na cadeira e
visto, lhe pedindo desculpas com o olhar, para amenizar a sua ira.
Mas, oh, oh... não surte muito efeito...
– Essa vai ter troco, Beatriz. E não reclame quando acontecer. Três machos
ficaram olhando para a sua bunda enquanto você andava até aqui. Sendo que
um deles, inclusive, daria tudo para entrar aonde eu entro – diz baixinho ao se
aproximar e depois segue para dentro de casa, emburrado.
Me arrepio com a sua ameaça.
Como assim vai ter troco?

Oliver

Estou puto.
Nenhum homem em sã consciência deixaria de babar naquela bunda, ainda
mais com o biquíni enfiado no...
Puta Merda!
Sem contar que Kellan deve ter se deliciado com a visão de todo o resto
enquanto eu estava no mar. Mas assumi o meu melhor papel e disfarcei bem
meu estado de espírito durante o nosso almoço e também depois, no passeio de
jet com as meninas.
Deixamos o jet na marina, Eric e Hazel estão tomando banho de mar e eu
estou aqui na areia tentando convencer Bia a entrar comigo.
– Vamos lá Bia, eu estarei com você, não vou deixar nada te acontecer.
– O mar me assusta.
– Eu sei baby, mas confie em mim, você vai gostar e eu não vou te soltar.
Pelo menos, tente.
– Ok. – Respira fundo, resignada.
– Vamos subir no trapiche e entramos de lá, assim você não precisa passar
pelas ondas estourando.
Pulo na água primeiro, ela retira a saída, fazendo-me lembrar do motivo da
minha ira, e então vem, se agarrando a mim no mesmo instante. Os braços em
torno do meu pescoço e as pernas ao redor da minha cintura.
O mar está calmo, maré baixa, apesar da água bater nos meus ombros, ainda
consigo dar pé mesmo após a área de rebentação das ondas. Me afasto um
pouco do trapiche com ela nos braços. A água está uma delícia.
– É bom, não é? – pergunto, me abaixando um pouco para que a água nos
cubra até o pescoço.
– É sim, maravilhoso. Principalmente porque posso ficar assim, agarrada a
você – diz e eu suspiro. – Você ainda está bravo comigo, não está?
– Muito.
– Oliver... é só um biquíni. Toda mulher usa biquíni.
– Não, Beatriz. Não é só um biquini. É a porra de um biquíni que mostra
bem mais do que precisaria mostrar. E eu estou me fodendo para o que as
outras mulheres usam. Estou é atormentado com a imagem de Kellan batendo
uma pensando na bunda da minha mulher, isso sim. Além disso, tem o fato de
que você me enganou, não gostei nada da sua atitude.
– Desculpe – pede me olhando com aquele olhar que te derrete por dentro.
Mas não desta vez. Não digo nada.
– Oliver...
– Você foi muito sacana. E desobediente. – Vejo que abre a boca espantada
com a minha esperança de que seja uma menina obediente. A baby, em certos
assuntos eu espero, espero sim, e você vai.
– Se o seu ideal de namorada é uma submissa, sinto muito meu bem, mirou
no alvo errado. De anjinho, só o apelido que você me deu. – Me esforço para
não embarcar nas gracinhas dela e mantenho o tom sério e até certo ponto,
ameaçador.
– Pois eu vou transformá-la num modelo de obediência. Quero a sua
safadeza só para mim. Na cama. – Provoco-a falando as últimas frases de
forma bem sensual próximo ao seu ouvido e roçando minha barba de leve. Ela
estremece. – Então me diz Beatriz, qual deve ser o castigo para meninas
sacanas e desobedientes?
– Achei que gostasse de meninas sacanas. – Me lança um sorrisinho
malicioso, me testando. Mantenho a linha e não me deixo levar. Não agora.
Ainda não.
– Não é uma piada. Diga. O que seria o melhor a se fazer na minha
situação?
– Conversar, superar e esquecer? – Se faz de inocente.
– Rá Rá. Bela tentativa. – Ela suspira pesado, finalmente se convencendo
de que falo sério.
– Oliver, por favor, me desculpe, não agirei assim novamente. Achei
exagerada a sua implicância com o biquíni, por isso fiz a travessura. Não
imaginava que fosse o magoar tanto. Numa próxima vez defenderei o meu
ponto até chegarmos num acordo, prometo.
Ela está linda demais ali, o sol batendo em seus cabelos, provocando
aquele efeito multicor, os olhos negros suplicantes, e a boca perfeita e rosada
num biquinho delicioso.
Expressões que se comunicam diretamente com a minha virilha.
Quando terei defesa contra isso?
Mas não posso deixá-la saber que é assim fácil.
Puxo sua boca para a minha e a beijo com vontade por longos e longos
minutos, fazendo meu pau acordar e ela começar a se animar, esfregando-se
nele.
Então paro.
– Ainda estou puto. Mas vamos deixar isso para lá, por hora. Confio que
você não fará de novo, mas como eu falei, terá volta.
– Mas... – Antes que ela consiga falar qualquer outra coisa, volto a beijá-la.
A coisa esquenta rápido e logo estamos alucinados e loucos de vontade de
trepar. Mas há dois detalhes muito importantes, estamos no mar, areia sovando
as partes íntimas não é nada agradável, e tem Hazel e Eric, que não estão muito
longe dali.
– Baby, será que a gente não pode... hum... só um pouquinho? – Seguro a
vontade de rir.
– Só a cabecinha? – instigo.
– Isso. – Então não aguento mais. Tão inocente...
– O que foi tão engraçado?
– Anjo, quando um homem diz para uma mulher que vai pôr só a cabecinha,
ele está passando a conversa nela. Me diz, que diferença faz?
– Ah, entendi... – Ela ri. – Bom, namorado, no seu caso posso dizer com
propriedade que faz uma grande diferença, e no meu caso, eu que pedi por ela,
então... – diz a assanhada se esfregando em mim.
– Não dá pra transar no mar, meu amor. A areia...
– Diz de novo.
– O que?
– Amor. – Dou um sorrisinho torto.
– Meu amor, mesmo você tendo sido uma trapaceira do caralho comigo
hoje, e mostrado o que é meu para quem não devia, eu amo você.
– Aff, que romântico! Você não vai esquecer, não é?
– Não. Nem superar. – Ela revira os olhos. Linda!
– Hazel está acenando para nós, acho que querem ir embora.
– Mas já? – Bia dá de ombros. – Bom, vamos sair e nos despedir deles,
então.
Achei Eric um pouco calado demais no nosso passeio de jet hoje, bem
diferente do tour por LA, quis perguntar se estava com algum problema, mas
fiquei com medo de ser invasivo. Criar intimidade com pessoas que acabei de
conhecer é inusitado para mim, não sei ao certo como agir e o que manda a boa
etiqueta em situações assim.
– Eric precisa voltar, tem um compromisso de família em Los Angeles esta
noite. – Hazel vai falando enquanto nos aproximamos deles na areia.
– É uma pena, tínhamos muito para aproveitar, o sol ainda vai demorar a
baixar. – Lamento, a tarde realmente está linda, o mar calmo, a água uma
delícia. – Programe-se para vir e passar um final de semana. – Fui eu mesmo
que falei esta última frase?
– Seria maravilhoso, quem sabe... – Seu olhar está perdido.
– Vamos voltar para que tome um banho e faça um lanche antes de ir. –
Sugiro.
– Vou aceitar o banho, obrigado. Depois preciso mesmo tomar o meu rumo,
tenho compromisso as dezenove em LA. – Assinto.
Abraço Bia e seguimos na direção de casa, Hazel e Eric vão de mãos
dadas.
Quando me imaginei andando de casalzinho por esta praia?
Nem em um delírio febril.
E há poucos minutos, acabei de sugerir programa de casais por um final de
semana inteiro...
E o pior? Não poderia estar mais em paz.
Estamos bem próximos da casa de Max. Lá do trapiche era possível avistar
que havia alguém no lado de fora. Não sei o que ele faz ali este tempo, mas
está assim há mais de duas horas. Sentado no deck, sozinho, sem camisa, de
sunga, boné e óculos escuro. Ou melhor, acho que sei, vigiando um certo
casal...
– Entediado, irmão? – provoco.
– Pode-se dizer que sim. – Responde com cara de poucos amigos, mas se
levanta e vem até nós. Eric solta mão de Hazel e se afasta um pouco. Acho
estranho. Será que Max o assusta tanto assim?
Hazel e Bia se olham, cúmplices. Tem algo rolando e eu não sei? Hazel
morde o lábio inferior e lança um sorriso para ela, aquele tipo de sorriso cheio
de significados ocultos. Minha menina então mira em Max e foca lá.
Tiro meus braços dela na hora.
Puta-merda! É sério?
Vai ficar secando Max na minha frente?
Um gosto amargo invade minha boca.
Já não bastou o episódio do biquini?
Será... será que me enganei a seu respeito?
De repente toda a paz que sentia há minutos se transforma num baita buraco
no meu peito. Não consigo nem pensar se ela for como... Bia estranha minha
atitude e tenta refazer o contato corporal, mas é tarde.
Não consigo mais.
Meu antigo eu, aquele que quer se proteger a todo custo, vem à tona.
Me esquivo do seu toque.
– Estão a fim de jogar vôlei de praia? – Max pergunta. – Kellan está com os
amigos, mas Lian toparia. Eric pode entrar no lugar de Kellan. – Sei que o
convite é mais para afastar Hazel e Eric do que qualquer outra coisa... eu até
que estava animado meu amigo, mas agora... agora só quero ir embora.
– Desculpe Max, mas estamos voltando, Eric tem que ir e – percebo que
relaxa na hora com a declaração – eu tenho coisas a fazer no escritório. –
Invento. Até tenho mesmo, mas a afirmação foi mais no sentido de ter um
pretexto para ficar longe dela assim que chegar em casa.
Nos despedimos rapidamente e retomamos a caminhada. Vou na frente,
passo firme, Bia tenta pegar minha mão, mas não deixo. Me pergunta o que
houve, não respondo. Apenas caminho.
Ouço um fungar. Está chorando?
Quero olhar, mas não olho.
Ouço Hazel dizendo alguma coisa a ela, mas não presto atenção, só apresso
o meu passo. Entro em casa, não me importo com o rastro de areia que deixo,
não me dou ao trabalho de dizer adeus a Eric, vou para o meu quarto e bato a
porta.
Me enfio no chuveiro.
Foda-se, penso, mas a dor que sinto é dilacerante.
Só senti outra tão forte quanto esta uma única vez...

Bia

Estou totalmente sem chão.


Não entendi nada.
Oliver simplesmente mudou comigo de um minuto para o outro.
De repente foi como se eu lhe causasse... repulsa... Será que já cansou de
mim?
Eric partiu, Hazel ainda está aqui, tentando me consolar, mas não consigo
segurar o rio de lágrimas que descem pelo meu rosto. Me sinto vazia,
perdida... dói tanto!
– Vá atrás dele Bia, vocês precisam conversar.
– Ele deixou claro que quer distância, Hazel. Nem me olhar, olhou mais...
– O que ele quer é problema dele. Não pode te tratar assim sem explicar
muito bem os seus motivos. Oliver fez um papelão. Não deixe barato!
– Ah, mas isso não vou mesmo... só não sei se consigo agora.
– Consegue sim! Vou te dizer basicamente o que me disse ontem. Seque suas
lágrimas, vá atrás do seu homem e mostre a ele que não aceita este tipo de
comportamento. Vamos! Agora!
– Nem sei se ele é mais o meu homem, – seco meu rosto com as mãos – mas
você está certa. Melhor resolver tudo de uma vez, quanto antes melhor.
– Exato. E é claro que ele é. Vá lá, e logo estarão rolando na cama. Sexo de
reconciliação, dizem que é um dos melhores... – Tenta brincar, mas não
consigo rir.
– Obrigada querida, – beijo sua bochecha – vai ficar aqui?
– Vou esperar uns quinze minutos, caso precise de mim, se não voltar neste
tempo, vou para casa. Boa sorte! – assinto e me obrigo a ir ao encontro de
Oliver.
Felizmente a porta do quarto está destravada. Entro e ouço o barulho do
chuveiro. Giro a maçaneta do banheiro e tenho a mesma sorte. Ele está no box,
de costas para mim.
– Oliver, o que aconteceu? Por que está me tratando assim? – Espero em
torno de dois minutos, não obtenho resposta.
– É este o seu jeito de resolver os problemas? Fazendo voto de silêncio?
Achei que fosse mais maduro do que isto. – Nada.
– Olha, eu realmente não sei o que aconteceu para provocar em você o tipo
de reação que teve. Só posso pensar que foi algo muito grave. E se não
conversar comigo, não explicar os seus pensamentos e sentimentos, não posso
nem me defender e nem me desculpar, pois não tenho bola de cristal. Então eu
vou esperar aqui mais dois minutos, se você não se comunicar comigo de
alguma forma neste tempo, vou entender que a sua opção daqui em diante é me
ignorar e me afastar, que você... – tento segurar o choro – não me quer mais. E
sendo este o caso, vou me mudar para a casa de Hazel até achar outro lugar
para morar. – Como é difícil dizer estas palavras quando o que mais quero é
entrar naquele box e me atirar em seus braços.
Mas preciso me impor, ser firme.
Morrerei por dentro se tiver que cumprir o que prometi, mas cumprirei.
Espero os mencionados dois minutos e ele não se mexe do lugar. Bom, aí
está a minha resposta. Me volto em direção a saída.
– Espere! Não... não vá... – Paro no ato. As lágrimas já marcam minha face
outra vez.
Torno a virar em sua direção.
– Então ao menos se digne a me olhar, por favor. – Ele faz, desliga o
chuveiro, seus olhos estão vermelhos. Não quero mais esconder minhas
emoções, deixo as lágrimas correrem. – O que aconteceu? – Tento de novo.
– Você tem interesse em Max?
– O quê?
– Por favor, Beatriz, sem joguinhos, sem meias verdades. Eu vi!
– Viu o que?
– A conferida que você deu nele. – Abro minha boca, pasma, tentando
entender... – Você ficou uns bons segundos encarando o pau de Max, Beatriz.
Vai negar? – Fecho meus olhos.
Sério que todo o drama foi por Hazel me lembrar, com o seu olhar e sorriso
sacana, da conversa que tivemos sobre os quatro rolando de sunga na areia e
eu não resistir a dar uma averiguada no volume?
– Não, não vou negar. Eu olhei mesmo. – Ele dá uma risada debochada. –
Se estiver disposto a ouvir, posso te explicar o porquê.
– Ah, por favor, comece. Quero mesmo saber os seus nobres motivos. – Sai
do box e se encosta no balcão a minha frente.
Cruza os braços.
– Não são nobres, mas são genuínos, eu te garanto. Você lembra do dia em
que eu e Hazel ficamos na hidro e você apareceu na nossa frente de sunga
branca? A mesma que usou hoje de manhã, por sinal? – Ele confirma com um
leve balançar de cabeça.
– Claro que mexeu comigo te ver daquele jeito, eu fiquei hipnotizada. E ali
sim, naquele dia, você poderia ter me acusado de secar alguém, porque eu
babei por cada centímetro do seu corpo. E salivei de verdade com o...
volume... – Engulo a saliva e respiro porque ele nu, corpo molhado na minha
frente não ajuda, e se eu olhar para baixo, dou de cara com o volume em
questão, em pele e nervos.
– Depois que você saiu de perto de nós, ela começou a me zoar, e comentou
que eu deveria imaginar a cena, que ela já cansou de ver por sinal, de vocês
quatro, de sunga, rolando pela areia numa partida de vôlei de praia. Disse que
fica brincando de comparar os volumes, mas nunca chegou a uma conclusão. –
Agora é Oliver que abre a boca.
– Foi só uma conversa normal entre duas garotas, que não conheciam nada
sobre a intimidade homem-mulher na prática, cheias de hormônios em
ebulição, falando sobre homens. Tudo na inocência, ela incluiu o irmão e o
primo dela no balaio, por favor... – Faço nova pausa para organizar meus
pensamentos, não posso deixar escapar nada que dê pistas sobre os
sentimentos de Hazel pelo baterista.
– E hoje, quando encontramos Max de sunga, ela me deu um olhar travesso
e entendi que se referia à tal conversa, porque eu já vi você obviamente, hoje
pela manhã vi Lian e faltava Max... foi automático eu dirigir meu olhar para lá.
Não foi por interesse... por desejo... eu... eu tive um momento de curiosidade,
um momento adolescente... e se estiver se perguntando se fiz o mesmo com
Lian, sim, eu fiz! – as lágrimas caem.
Oliver só me observa, na mesma posição, mesma expressão. Estou muito
magoada. Resolvo que se ele quer entender onde sempre morou o meu
interesse, o meu amor, vou mostrar a ele, já que dizer, pelo visto, não foi o
suficiente.
Saio do banheiro, e do quarto, antes que ele possa falar ou agir.

Oliver

Me sinto um completo e total babaca.


Porra!
Por que tudo que diz respeito a ela toma uma proporção desmedida dentro
de mim?
Esse ciúme, esse medo que não consigo controlar?
Primeiro o biquini, depois Max...
É tão... instintivo, animalesco... e quando vejo, já foi, já reagi, já fiz a
burrada.
Ouvi-la se justificando para mim há pouco foi um choque de realidade.
Esqueço que é só uma menina. Uma menina que está se descobrindo agora, é
natural que tenha curiosidades.
Uma menina que até então viveu a vida de um adulto cheio de
responsabilidades. Que estava alegre e animada, feliz nos braços do
namorado, agindo com espontaneidade e trocando confidências com a amiga,
até que o idiota aqui deu uma de ogro inseguro e a fez chorar.
Chorar!
Vi em seus olhos o quanto a minha reação a feriu.
E a incoerência toda é que sei que este não será o meu último rompante do
tipo.
Não, meu sangue ferve!
Se acontecer algo parecido no futuro, vai me afetar do mesmo jeito. Posso
racionalizar, entender que é uma atitude normal entre garotas, mas me
incomoda pra caralho.
Me irrita demais o fato de que conferiu os pacotes de Lian e Max. Mesmo
que por uma brincadeira. – Respiro fundo. – Preciso me acalmar e conversar
com ela, me desculpar.
Me seco, saio do banheiro. Estou me dirigindo ao closet quando noto uma
caixa em cima da minha cama.
É de papelão, tipo uma caixa de camisa pela metade, quadrada. Pego
apenas uma cueca, mudo meus planos e me sento na cama.
A tampa está encapada com um papel de presente comum, branco com
desenhos de coração. Dá para notar que é antiga e já foi muito manuseada, o
papel está meio amarelado e gasto nos cantos. Abro com cuidado.
Há muitos papéis dentro, folhas, recortes... Pego o que está mais acima, é
uma folha de caderno, dobrada ao meio. Abro e meus olhos enchem no mesmo
instante.
Dá para perceber que o desenho é de uma criança pequena.
Tem nuvens, um sol, um chão que é apenas um risco marrom, uma árvore,
algumas flores nos cantos e bem no centro, em bonecos estilo palito, uma
criança e um homem desenhados de mãos dadas.
A menina tem os cabelos cacheados e o homem usa um boné verde. Mas o
que mais se destaca no desenho são os olhos dos personagens. Enormes olhos
negros para ela e estranhos olhos amarelos para ele.
“Hoje eu fiz um amigo, mas não sei o seu nome” está escrito abaixo em
letras infantis.
Hoje.
Então fez este desenho no dia do nosso encontro na recepção... não impeço
as lágrimas de caírem. Muito é pela emoção de ver aquilo, claro, mas parte é
para colocar para fora a dor que senti em apenas imaginar perdê-la...
Eu disse quando a beijei pela primeira vez que não teria volta, e os
acontecimentos de hoje me fizeram confirmar a real profundidade da
declaração.
Pego o próximo papel, outro desenho, mais ou menos no mesmo estilo.
Ainda uso o boné verde. Nem lembrava que estava de boné naquele dia...
“Sinto saudades, amigo sem nome. Será que algum dia vou te encontrar
outra vez?”
Ah, meu anjo... Mais uma folha dobrada, mais um desenho e neste apenas o
cara de boné verde e olhos incomuns. “Hoje eu tive medo. Daí lembrei de
você, dos seus olhos e me acalmei. Ah, eu também cantei.”
“Todos estão me chamando de guardiã por sua causa, até papai” diz o
seguinte. O próximo não tem mais um desenho e sim uma imagem minha,
recortada de uma foto da banda que deve ter saído em alguma revista. “Agora
você tem nome, Oliver, um nome lindo. Papai que descobriu. Disse que você
é muito famoso.” Sorrio.
Continuo olhando as suas cartinhas uma por uma.
Conforme vou lendo consigo também perceber a pequena Bia crescendo.
Não só pela melhora dos traços e das letras, mas principalmente pela forma de
usar as palavras e de expressar os seus sentimentos.
Deus, ela conversou comigo através delas por anos. Não foi com o cantor, o
astro, o integrante da banda que ela é fã, não, ela conversou com o homem,
com o cara que só viu por um breve momento de um dia qualquer.
Choro nas que ela, tão pequena, me conta da dor, da doença, do medo.
Sorrio nos que ela deixa mais leve ou demonstra traços de sua espirituosidade.
Como num em que novamente só tem a minha foto recortada e diz “Deus, como
você é lindo! Vai ser perfeito assim lá na PQP. Papai que não me ouça...”.
Ou no que faz um desenho mais elaborado, ela dormindo e eu numa nuvem
de pensamento. “Você anda aparecendo nos meus sonhos. Por que não
consigo te esquecer?”. Noto que de um certo ponto em diante parou de usar o
termo amigo para se referir a mim.
Depois de alguns bilhetes muito emocionantes, em que me conta dos últimos
dias e morte da mãe, vem a declaração “Acho que estou apaixonada. Acho que
sempre estive.” Traz a minha foto dentro de um coração desenhado.
“Por que sinto tanta falta de alguém que só vi uma vez? Por que dói?” se
questiona em outra. “Será que um dia você olharia para mim do jeito que o
Cesar me olha? Claro que não..., mas você é o único que eu queria que
olhasse.”
Quem é a porra do Cesar?
“Minhas colegas dizem que o Cesar e o Adam do último ano estão loucos
para me beijar na festa da escola, que eu devo aproveitar para perder o BV...
eles até que são bonitos, mas eu só consigo pensar que queria que fosse
você... acho que nem vou nesta festa...”
Dois agora? Babacas. Boa decisão, meu amor.
O seguinte abala as minhas estruturas.
Fico segurando aquele papel um bom tempo sem conseguir parar de olhar
para ele ou ir adiante.
É um pedaço de uma folha de caderno meio amarelada, não há desenhos
nem fotos, só um pequeno coração feito em caneta vermelha e ao lado dele está
escrito “Eu amo você.” mas o detalhe que me prende está ao pé da folha, onde
assina, Beatriz Rain.
Ela é minha. Sempre foi.
Sinto muito baby, mas este não vou devolver para a sua caixinha, ficará
comigo.
Algumas declarações a mais e é nítido o momento em que a dor volta a sua
vida, quando descobrem a doença do pai pela primeira vez.
A certa altura as cartas começam a ficar mais quentes, “Ontem fiquei na
cama imaginando que você me tocava. Senti... coisas... mas não consegui
chegar lá... pelo que falam tem um lá para chegar... acho que faltou ser você
de verdade.” Ah, minha linda...
“O que você fez comigo Oliver? Por que não consigo me interessar por
nenhum outro garoto?” Sorte a minha, anjo, agradecerei por isto até o fim dos
meus dias...
“Sonho em fazer amor com você. Só com você.”
Sim, só comigo.
“Papai voltou a ficar doente. Não posso perdê-lo também Oliver, não
posso... queria tanto te ver outra vez.” Logo depois desta, ela decide dar um
basta.
“Hoje é a última vez que te escrevo. Nunca vou esquecer você, nem acho
que seja possível deixar de te amar em meus pensamentos, mas é irreal e eu
tenho que desapegar, crescer e viver de verdade. Ter alguém que me abrace e
transmita calor. Preciso tanto. A solidão me assusta. Até um dia, quem sabe.”
Dali em diante só há recortes de fotos minhas, ou da banda, reportagens
sobre shows, prêmios, entrevista que ocorreram ao longo da nossa carreira.
Fica claro que ela teve o cuidado de organizar as “cartas” em ordem
cronológica e deixá-las por cima. Mas percebo que embaixo de tudo aquilo, há
uma última folha de papel. Pego-a.
“Quando nos envolvemos e comecei a pensar sobre qual a forma perfeita
de dizer eu te amo, imediatamente lembrei desta caixa. Nada expõe mais a
extensão dos meus sentimentos do que ela. Imaginei entregá-la a você num
momento especial, quando finalmente proferiria as três palavrinhas em voz
alta. Só que daí você falou primeiro e eu não pude deixar de repetir que
sinto o mesmo, já tinha inclusive te chamado de meu amor naquela
mensagem. Decidi então que a guardaria por mais um tempinho e a daria em
alguma outra ocasião importante.
Contudo hoje, quando questionou os meus sentimentos, eu soube que era
a hora. Você precisava ver. Nunca houve mais ninguém rondando os meus
pensamentos, Oliver. Não é agora que haveria de ter. Acredite ou não, eu
amo você. Bia.”
Preciso vê-la, preciso tê-la, preciso dela.
Visto um roupão, abro a porta do quarto, ninguém à vista, procuro pela sala
e pelo deck, nem sinal dela, nem de vovó. Volto ao corredor e entro em seu
quarto. Não está na cama, mas a porta do banheiro está entreaberta.
Acho-a na banheira, cabeça para trás, apoiada no encosto, olhos fechados.
Os cabelos cacheados caem em cascata para o lado de fora, a água com
espuma batendo na metade dos seios.
Tão Linda... Me desfaço do roupão e da cueca e me junto a ela, sentando na
outra extremidade. Bia abre os olhos.
– Me sinto tão envergonhado.
– Você me magoou. – Fecho os olhos.
– Eu sei. Só de pensar em você prestando atenção em outro, em outro
tentando a sorte com você, fico louco...
– Eu me senti um nada quando me largou para trás daquele jeito na praia.
– Bia...
– Você me ignorou, Oliver. Me tratou como um lixo qualquer e se fechou no
quarto. E fez na frente de uma visita!
Ouvi-la falando assim me machuca, algumas lágrimas escapam, ativa
lembranças de quando eu mesmo fui tratado da forma como descreve e não
posso aceitar que a fiz sentir-se desprezada, não, jamais... eu a amo!
Sou um escroto filho-da-puta.
– Por favor, me desculpe... eu... – Ela não deixa que eu termine.
– Acho que não quero mais falar com você hoje. – Não! Me desespero.
Não posso passar uma noite inteira sem ela... conosco neste clima... Avanço
sobre ela e a puxo para o meu colo, a água na banheira fica revolta e cai um
pouco pelas bordas.
– Me larga! – Diz aos prantos, tenta voltar ao seu lugar, mas não permito.
Seguro seu rosto e falo olhando em seus olhos.
– Eu fui um babaca. Um escroto, idiota. Não me rejeite, não aguento ficar
sem você. Me perdoa, por favor, eu sinto muito! Coisas que vivi me impelem a
me afastar e ficar na defensiva, sempre que me sinto ameaçado. É uma tentativa
de me proteger para não passar pelo mesmo de novo. E se não bastasse, tem o
ciúme sem tamanho que eu sinto em relação a você. Só em relação a você!
Porque eu te amo! Eu senti medo, um medo insuportável de te perder. – Com
ela em meu colo, sentindo o calor do seu sexo no meu, os seus seios roçando
meu peito, não consigo evitar que uma ereção inicie, ela percebe e se mexe
incômoda, e quanto mais se mexe, mais minha situação piora.
– Fiquei com muita raiva do tal Cesar e do Adam do último ano. Espero
nunca os encontrar na minha frente...
– Você leu!
– Um por um. Foi o presente mais lindo que ganhei na vida. Sofri muito por
não ter estado lá por você, em muitos momentos... Saber que fui tão amado, de
forma tão pura e por tantos anos, sem que eu nem fizesse ideia, me comoveu
demais, meu anjo. Então preste atenção no que eu vou dizer agora. – Encaixo-a
sobre minha ereção que já está a ponto de bala, mas não a penetro, deixo-a
decidir se me aceita ou não.
– Eu serei o único abraço que vai aplacar a sua solidão. – Ela começa a
descer sobre mim, respiro fundo, preciso continuar. – Serei o único a lhe
aquecer, a aquecer sua cama, a transmitir o calor que você precisa. – Ela chega
na base e começa o sobe e desce, minha voz sai mais rouca que o normal. – O
único a fazer amor com você. – Seco suas lágrimas, ela geme e continua a
cavalgada. – Eu amo você, Beatriz, e a última coisa que quero na vida é te
fazer sofrer. – Mais gemidos, meus também desta vez, porque ela intensifica os
movimentos, se apoiando nos meus ombros para ter mais sustentação.
Decido que já falei demais. Envolvo meus braços em suas costas, colo
nossos corpos e beijo sua boca, mas não interfiro nos movimentos, deixo que
ela siga no seu ritmo e faça o que quiser comigo.
O que desde que apareceu na minha vida ela tem feito, de qualquer forma.
– Oliver, que delícia te montar assim. – Ela rebola, céus...
– Ah pequena, passei a vida esperando por você...
– Ahhhh, preciso de mais, mais forte, mais fundo...
– Pegue tudo! – Ela começa a descer e subir com mais velocidade, o
barulho da água batendo é alto e a inundação pelo banheiro também.
Quanto mais acelera, mais seus gemidos me atiçam a tomar o controle, mas
me seguro. Ela então envolve o meu pescoço com seus braços e me fode para
valer. Se concentra tanto na busca do seu próprio prazer que nem percebe o
quanto aperta a minha cabeça contra o seu ombro, eu tenho que fazer um
malabarismo danado para não ficar sem ar e ao mesmo tempo não a tirar do
seu frenesi.
– Oliver, vou gozar... vou gooozaaarr... aaaahhhh – grita alto, espero que
vovó ainda esteja fora...
– Porra pequena, eu também... não para, por favor... continua me fodendo
gostoso. – Geme mais com o meu comentário sacana e continua, logo depois a
acompanho num gozo que lava e leva embora toda a angústia que senti na tarde
de hoje.
Não espero que nos recuperemos, a beijo na sequência, a pego no colo e a
retiro da banheira. Me atiro com ela sobre a cama sem me importar em
encharcar tudo por ali e continuo com o beijo, por longos e longos minutos.
– Você acredita agora? – pergunta, quando enfim largo sua boca e recupera
o fôlego.
– Acredito no que, meu amor?
– Que eu te amo.
– Sim, anjo, eu acredito. Me desculpe.
– Você não pode mais agir comigo como agiu hoje, Oliver.
– Ah Bia, não posso prometer que nunca mais ficarei puto se perceber que
você olhou para outro homem, mesmo que por instinto, ou se algum babaca
olhar para você, pro seu biquini... Como eu disse, Cesar e Adam que se
cuidem, porque eu não respondo por mim. Você é meu ponto fraco, pequena...
– Não estou pedindo que me prometa isso. Eu também sinto ciúmes,
rockstar. E sei que terei bem mais motivos para exercitar o meu autocontrole
durante o nosso namoro do que você. O que eu não posso aceitar, não vou
aceitar, é que finja que eu não existo. Me chame num canto, grite, me xingue,
mas fale comigo, a sós! E me ouça depois. É assim que se resolvem os
problemas, meu bem, comunicando-se. Eu nem imaginava o que tinha te
irritado, por Deus... Então da próxima vez que algo te incomodar em relação a
mim, você conversa comigo e expõe os seus sentimentos antes de me condenar,
promete?
– Eu prometo. E vou tentar controlar meus impulsos na frente dos outros.
Ligarei para Eric para me desculpar pelo vexame, não se preocupe. Estou
perdoado?
– Isso depende?
– Do que?
– Se você vai me obedecer. – Abre um sorriso lindo de menina travessa.
Embarco na dela e deixo que se delicie.
– Não era bem eu que deveria ser o obediente da relação.
– Eu já levei a fama de desobediente, então – dá de ombros – deitei na
cama!
– Porra! Estou muito ferrado em suas mãos. Qual a ordem, namorada? – Ela
segura meu rosto entre as mãos.
– Me chupe, Oliver. Agora! – Gargalho e faço o que ela ordena.
Com todo o prazer.
Capítulo 17

“Não consigo dizer, se é bom ou mal,


assim como o ar me parece vital,
onde quer que eu vá, o que quer que eu faça,
sem você, não tem graça”
(Fogo – Capital Inicial)

Oliver

D epois do alívio de nos acertarmos, passamos um final


de tarde maravilhoso, conversamos muito sobre nossas
infâncias, o tempo de escola e para não quebrar o clima,
pedi que o jantar fosse servido no quarto, já que vovó avisou que iria jantar
com Helen.
Mas dona Laura chegou em casa e me obriguei a deixar o “ninho de amor”
para conversar com ela. E, lembrando dos temas que tenho a tratar, me dou
conta de que transamos de novo sem nada entre nós. Ela precisa ir logo a uma
ginecologista. Espero que vovó tenha conseguido marcar a tal consulta.
– Onde está Bia?
– Lendo no quarto.
– Filho, – começa ela, sentando-se a minha frente e me estendendo um papel
com dois nomes, dois telefones e duas datas e horário – essa é uma das
melhores ginecologistas de Los Angeles, Dra. Nora Topffel, – aponta para o
primeiro nome – consegui um horário para próxima sexta-feira, porque disse
que era para a sua namorada. A agenda da mulher não tem mais horário vago
por seis meses.
– Ótimo.
– Esse médico, Iori Nakoto, é especialista de uma das mais conceituadas
clínicas de mapeamento genético para prevenção ao câncer do país. Pesquisei
todas e realmente não há necessidade de ir para outro estado, esta clínica
também fica me Los Angeles e trabalha com as técnicas mais modernas do
mundo e tem ótimos profissionais. Também conseguiriam encaixar Beatriz na
próxima sexta, pensei que poderiam aproveitar a viagem.
– Perfeito vó, muito obrigado.
– Agora sobre o outro assunto que você me pediu para estudarmos
possibilidades. Em relação ao câncer de pulmão, não incorre muito o fator
genético, normalmente as causas são a própria saúde pulmonar precária da
pessoa, metástase ou o hábito de inalar componentes tóxicos, dentre eles, o
fumo. No caso de Robert, sei que ele fumava. Não sei se ainda o fazia, mas
durante a adolescência fumava escondido e por todo o tempo que convivemos
depois, ele manteve o hábito. Então, nesse caso, poderíamos atuar
patrocinando pesquisas sérias, campanhas antifumo ou subsidiar alguns
tratamentos em hospitais carentes para quem já está doente.
– Ok.
– Já no caso da leucemia, pode sim haver um fator genético. E em contato
com especialista e instituições voltadas para o tratamento e prevenção da
doença as coisas das quais mais se queixaram é do alto custo dos exames
genéticos para a detecção dos genes nas pessoas consideradas do grupo de
risco e do congelamento do cordão umbilical quando nasce um bebê também
do grupo de risco. Mas principalmente, da adesão ao cadastramento no banco
de doadores voluntários de medula no mundo, que poderia ser muito maior na
visão deles. Disseram que se conseguissem aumentar em vinte por cento o
número de possíveis doadores, nos três maiores bancos internacionais,
milhares de vida seriam salvas todos os anos. Esses três bancos seriam o
americano, o alemão e o brasileiro. Não temos como financiar o exame
genético para cada descendente de alguém de baixa renda que desenvolve a
doença ou o congelamento do cordão para cada bebê, então pensei que
poderíamos atuar em campanhas para o aumento de doadores nestes três
países.
– Ótimo trabalho. Vou pensar em tudo que me disse e assim que tomar uma
decisão, conversamos sobre o assunto de novo. Obrigado.
– Não por isso, meu amor. Sabe que faço com o maior prazer e, além disso,
é o meu trabalho. Você me paga... – Me provoca porque sabe que não gosto que
fale assim.
– Sem essa, dona encrenqueira. Já tenho uma provocadora lá no quarto, não
preciso de outra... Eu não lhe pago. O que é meu é seu e você sabe... Me
obrigo a transferir dinheiro para a sua conta particular porque você não
movimenta a conta conjunta. – Ela sorri e beija minha bochecha.
– Prefiro assim filho.
– Certo. Vó, amanhã pode pedir para transferirem as coisas de Bia para o
meu quarto? – O sorriso dela aumenta.
– Claro. Podem organizar as coisas no seu closet como acharem melhor?
– Sim, mas gostaria que fizessem sem que ela percebesse. Quero que seja
surpresa.
– Então melhor você tirá-la de casa em algum momento e me avisar o
horário com antecedência.
– Ok, temos um trato. – Ela assente.
– Vou deitar, querido, vai ficar aqui?
– Sim, tenho duas ligações para fazer ainda.
– Boa noite, então. – Levanto-me e a abraço.
De repente sinto necessidade de agradecer formalmente por tudo que ela fez
por mim. É como se eu sentisse que dali em diante um novo ciclo se inicia e
preciso deixar claro a ela que jamais teria chego até aquele ponto sem a sua
ajuda e o seu amor.
– Boa noite, vó. Muito obrigado por isso e por tudo que fez por mim até
hoje. Sei que passou por maus bocados comigo e que só por sua causa estou
aqui para que pudéssemos construir o que construímos. Amo você.
– Ah filho, também te amo. E só há uma coisa que me faz agradecer todos os
dias por as coisas terem acontecido na minha vida do jeito que aconteceram,
Oliver. É que delas resultaram você. Você foi o propósito de tudo, eu tenho
certeza.
– Dona Laura, sempre colocando fé demais em mim.
– Nunca me enganei até hoje a esse respeito, meu amor.
– Tá certo. – Dou um beijo em seu rosto e a solto.
Assim que vovó sai, pego o celular e faço a primeira ligação.
– Oliver, boa noite.
– Boa noite, Peter. Na sexta-feira preciso que organize a minha ida com
Beatriz para Los Angeles, iremos a dois consultórios médicos. Um é certeza,
então pode fazer os contados e checagens do local. O outro confirmo amanhã.
Na sequência passo os dados por mensagem.
– Ok, sem problemas. Providenciarei disfarces para Beatriz também, pois
se ela for reconhecida não adiantaria em nada você estar disfarçado. – Cacete,
nem tinha me dado conta disso.
– Bem lembrado. Obrigado, Peter.
– Oliver, antes de desligar, gostaria de falar com você sobre um assunto, se
me permite.
– Claro, pode falar.
– É sobre Riley, tenho andado preocupado. Ela não está bem, e ouso dizer
que tem a ver com o fato de você ter assumido publicamente o seu
relacionamento.
– Por que diz isso?
– De um tempo para cá ela tem andado estranha. Pra baixo, pensativa, as
vezes até desligada, eu diria. E depois da entrevista de Beatriz e da sua
postagem de fotos, ela ficou abatida de uma forma que nunca vi, a peguei
chorando algumas vezes entre ontem e hoje. E... eu me preocupo com ela. Ela
se faz de durona bem mais do que realmente é. – Respiro fundo.
Porra, será que me enganei tanto assim em relação a Riley nesses anos
todos?
– Vou falar com ela Peter, obrigado por me alertar.
– Não... calma... não é só para que você converse com ela que eu toquei no
assunto. Eu queria saber se ainda acontece algo entre vocês. – Acho invasiva
aquela pergunta, mas em respeito aos vários anos de parceria, respondo:
– Eu tenho uma namorada e é só com ela que me relaciono. Mas por que
você quer saber?
– Então você não se importaria se eu tentasse me aproximar de Riley, não
só como amigo e colega de trabalho? – Abro um sorriso finalmente entendendo
aonde ele quer chegar. Resolvo provocar um pouco.
– Daí depende. – Ouço um suspiro do outro lado da linha. – Eu me importo
com ela, ela sempre foi especial para mim. Quais as suas intenções? – Ele ri.
– Sou apaixonado por ela há anos, Oliver. – Porra! Sou um cego do caralho
mesmo.
– Cacete. Por que nunca falou antes?
– Porque eu sempre soube o que rolava entre vocês. Porque você é meu
chefe. Porque ela sempre gostou de você. Porque eu achava que não haveria
chances e que vocês um dia se acertariam de vez.
– Nunca houve sentimentos desse nível entre nós, Peter. Sempre fomos
muito abertos um com o outro em relação ao nosso caso. Ela sempre foi livre
para se relacionar com que quisesse.
– Até Beatriz, ela foi o mais próximo de um relacionamento que você
chegou. E ela tinha esperanças. Eu respeitei.
– Velho, se você tivesse me dito isso há um mês, apesar de que teria dado o
meu aval da mesma forma, eu não conseguiria imaginar o quanto deve ter sido
sofrido para você o nosso convívio. Mas hoje eu sei exatamente e, porra, como
você aguentou?
– Não foi fácil. Me matava um pouco cada vez que eu tomava conhecimento
de que ela participaria das festas ou que estava com você. E por mais que eu
tenha tentado deixar para lá, ela sempre foi a minha primeira imagem da manhã
e a última da noite.
– Peter, eu sempre quis apenas o bem e a felicidade de Riley. E hoje, depois
de também ter me apaixonado, eu tenho ciência de que deveria ter terminado o
nosso caso há muito tempo. Não era saudável. Óbvio que em situações assim
alguém pode sair machucado. Mas eu realmente não tinha essa noção. Não
poderia pensar em ninguém melhor para fazer Riley feliz, você não precisa da
minha permissão, e peço desculpas por não ter percebido. Eu teria me afastado
dela no mesmo instante.
– Obrigado.
– Te desejo sorte. E se achar que eu não devo falar com ela a respeito do
que me contou sobre o seu estado emocional, eu não me aproximo.
– Fale sim, eu acho importante. Vocês precisam de um encerramento oficial,
Oliver, me desculpe a franqueza.
– Você tem razão, farei isso. Agradeço por ter me alertado, Peter, boa noite.
– Boa noite.
Caraca... por essa eu não esperava. Como pude ser tão cego? Tiro aquilo da
cabeça e foco na outra ligação.
– Oliver?
– Oi Edgar, tudo bem? Muito tarde para te ligar?
– Não, de forma alguma. Só surpreso, acho que é a primeira vez que
falamos por fone. Normalmente é Max quem me liga. Mas muitas coisas andam
mudando em sua vida, não? – E solta uma risadinha. Eu o acompanho.
– Sim, andam mesmo. E ela é o assunto pelo qual estou te ligando.
– Confesso que depois do que ela falou na entrevista, estava esperando que
me apresentassem minha nova estagiária.
– Eu gostaria que fosse mais do que isso, Edgar. Você é um dos mais
renomados produtores do país, mas também é um musicista formado com
honras em Juilliard[2]. E sei que o seu sucesso como produtor tem ligação
direta com o seu talento e conhecimento profundo das teorias e técnicas
musicais. Então, queria que além de recebê-la como estagiária em sua equipe
na Three Minds, você pudesse ser o seu professor particular, ensinando a ela
tudo que é necessário para trilhar um caminho de sucesso na área.
– Se eu fizer isso, você vai deixar eu me aposentar depois? – Gargalho.
– Esse papo de novo?
– Tenho quase setenta, porra, e, ao invés de desacelerar, você quer
aumentar a minha carga. Preciso barganhar algo em troca.
– Se você conseguir prepará-la suficientemente bem para assumir o seu
posto, quem sabe...
– Deus, você está apaixonado mesmo, caralho...
– E aí, topa?
– Eu preciso pensar. Provavelmente farei isso, mas tenho que reorganizar
meus horários e reduzir horas em que estaria fisicamente na Three Minds para
passar a estar numa sala de aula. Mas tenho ótimas pessoas na equipe, então
não vejo isso como algo que prejudicaria a qualidade do nosso trabalho, eu
continuaria na supervisão. Vou preparar um plano e depois te apresento. Eu só
não posso assumir carga extra a esta altura da minha vida, Oliver.
– Assim está ótimo. Veja o que acha viável dentro das suas possibilidades e
voltamos a conversar.
– Farei isso. Algo mais?
– Não, boa noite e obrigado.
– Até mais.
– Você vai demorar muito? – Ergo meus olhos e Bia está parada na entrada
do escritório, vestindo apenas uma camiseta minha da The Order, uma das
primeiras que fizemos no início da carreira. Levanto-me e vou até ela. Puxo-a
pela cintura, ergo-a, fazendo com que tenha que passar as pernas em torno de
mim e prenso-a contra a porta do escritório.
– Adorei o figurino. – Desço minhas mãos apertando suas coxas por baixo
da camiseta. Ela sorri.
– Você estava bem mais jovem aqui. – Aponta para a foto na camiseta,
mordo sua orelha e ela arrepia.
– Estava é? – Esfrego o pau nela, ahhh... tão quentinha lá embaixo...
– Estava, mas está muito mais gostoso aqui – diz, passando a mão pelo meu
abdômen, por dentro da roupa e eu não perco mais tempo, devoro sua boca.
Sigo beijando-a com fome e passo um dedo por dentro da sua calcinha.
Estimulo-a lá embaixo e quando sei que está lubrificada o suficiente enfio-o
dentro dela.
– Aaahrr. – Meto e tiro bem devagarinho. – Uhmmm... – delicia-se.
– Está gostoso?
– Muito... aaaaaahh... – Passo outro dedo por dentro do pano e brinco no
seu clitóris enquanto continuo enfiando em pressa. Me dedico ao seu pescoço
enquanto isso e me esbaldo com seu cheiro e o sabor da sua pele. Doce!
– Oliver... aaahhh... que delícia... mas a porta está aberta baby... uuuhmm...
se sua vó aparecer... – diz ofegante.
– Tem razão, pequena. Vamos continuar a brincadeira na nossa cama. – Tiro
os dedos do meu lugar preferido no mundo com muita relutância, sustento-a
com ambas as mãos e, aos beijos, caminho com ela em direção ao quarto.
Coloco-a de pé defronte a cama e ajoelho-me à sua frente, subo as mãos
lentamente por suas pernas, sentindo a textura macia de sua pele.
Alcanço ambos os lados da calcinha e deslizo-a para baixo, retirando-a
completamente de seu corpo.
– Minha – digo o que não canso de repetir, simplesmente porque me dá um
prazer do caralho reafirmar aquele fato e deixo um beijo infame de tão
molhado no início da bocetinha, ainda escondida no meio das pernas.
Ela leva as mãos aos meus cabelos e puxa-os. Subo novamente as mãos por
suas pernas, passando pelos seus quadris e chegando ao seu ventre, ergo a
camiseta e beijo seu umbigo.
– Baby... – arfa.
– Tão linda, Beatriz.. Você é um relicário que ofusca as vistas e atiça os
desejos mais secretos... – Suas pernas bambeiam um pouco após a minha
declaração apaixonada, mas não lhe dou tempo. Ergo uma de suas pernas e
apoio-a em meu ombro, então baixo a cabeça e sinto seu gosto mais primitivo
na ponta da minha língua.
Chupo-a com calma, primeiro me concentro no seu botãozinho, que está
duro pra caralho, depois nos lábios, separo-os com minha língua e enfio-a em
sua vagina. Ela treme as pernas outra vez, prende minha cabeça no lugar para
que eu não escape dali e rebola na minha boca.
– Aaahh Deus, que gostoso, amor, uhmmmm...
Chega, preciso meter nela.
Subo beijando sua virilha, levo a camiseta mais acima e me demoro
chupando seus peitos redondinhos e alertas. Prendo um mamilo entre os dentes
e puxo, ela solta um gemidinho que mistura dor e prazer. Faço o mesmo do
outro lado, só para que repita aquele som.
– Vou te foder, mas quero você usando a minha camiseta – revelado os meus
termos, seguro-a e deito-a no meio do colchão, me encaixando sobre ela.
Bia segura na barra da camiseta que eu visto pedindo para que eu a retire e
ajudo-a no processo. Acho meu espaço no meio das suas pernas, abaixo a
calça de moletom apenas o suficiente para liberar o meu pau impaciente e
forço a cabeça na sua entrada, ela enlaça meus quadris com suas pernas.
– Alguém hoje me pediu só a cabecinha. – Coloco a cabeça do pau dentro
dela e fico provocando-a assim, tirando e colocando só a cabeça. – Você está
molhada demais aqui embaixo, anjo.
– Oliver... amor, mais...
– Uuhmmmm delícia, bebê. – Meto um pouquinho mais. Ela começa a entrar
na dança comigo, lançando os quadris em minha direção, procurando por mais.
Ergo a camiseta até acima dos seus peitos para ficarmos pele contra pele ali
também e nessa hora lembro da porra do preservativo que não coloquei...
Foda-se! Não paro agora nem sob ameaça de bomba nuclear.
Passo meus braços por baixo dos seus ombros, seguro as laterais de sua
cabeça e colo minha testa na dela. Então enfio tudo.
– Aaaaahhhh, assim, que gostoso, que gostoso... – choraminga.
– Sim, toma tudo, baby, tudo... o tora todinho em você... Gostosa!
Continuo metendo e tirando num vai e vem lento, mas batendo naquele ponto
da parede da vagina toda vez que eu entro.
Ela crava as unhas nas minhas costas e aperta mais as pernas em torno da
minha cintura. Fecha os olhos e seus gemidos amplificam. Aquilo só aumenta a
gana que sinto dela. Fico assim, naquele ritmo por longos minutos, entrando e
saindo dela, sentindo seu cheiro, ouvindo seus sons e olhando as expressões de
prazer em seu rosto de menina.
Tão linda, tão entregue.
Minha linda feiticeira.
– Abra os olhos, anjo. – Ela obedece.
– Eu amo você. – Um sorriso ilumina seu rosto.
– Eu também amo você. – A beijo.
Seguimos fazendo amor, lento, faminto, gostoso, nos beijando, nos curtindo,
até que a necessidade vai ficando urgente e nossos movimentos vão acelerando
naturalmente, mais e mais.
– Baby, eu estou... quase... mais forte...
– Prontinha para gozar para mim? Vou te comer ainda mais gostoso, bebê...
– Começo a meter com um pouco mais de fúria, dando o que ela quer.
Eu estou por um fio também, ergo um pouco o meu tronco para controlar
melhor o ângulo das investidas, acelero. Seu ventre contrai, sua vagina me
aperta e sei que ela está vindo.
– Vem baby, vem...
– Eu vou... eu... Oliver... aaahhh
– Bia... – Chegamos juntos e gozo deliciosamente, despejando tudo dentro
dela.
Me deito totalmente sobre ela novamente e beijo sua boca, bebendo o final
dos seus gemidos. Ela leva as mãos aos meus cabelos e passa os dedos entre
os fios.
Quando levanto o rosto para olhá-la, vejo satisfação e felicidade
estampados num sorrisinho lânguido.
– Bem comida?
– Demais! Podemos repetir? – Alargo o meu sorriso.
– Preciso voltar logo a rotina de treinos, minha mulher é insaciável. – Lhe
dou um beijo rápido. – Preciso de uns minutos, baby. Resista.
– Eu nunca vou conseguir resistir, Oliver. É só você me olhar e pronto, pode
fazer o que quiser comigo.
– Fácil assim, é?
– Facinha, facinha. – Desço uma mão por baixo dela e chego as suas
nádegas, passo meu dedo entre elas, para cima e para baixo devagar.
– O que eu quiser? – Ela arregala os olhos.
– Bem, uhm, nem tuuuudo... – Gargalho.
– Vai ser meu, amor. Logo, logo. E com logo, eu quero dizer, logo. – digo a
última palavra no seu ouvido com a voz bem rouca e beijo sua bochecha. Ela
treme.
– Não tem como, Oliver. E nem adianta vir com o papinho de que dilata.
– Esse não dilata, mas estica. Muito. – Ergo as sobrancelhas.
– Aff... homens e sua fixação pela porta dos fundos. – Então ela parece se
lembrar de algo e seus olhos estampam medo.
– O que foi?
– Foi sem camisinha de novo, não é? – Puta-merda.
– Sim. – Ela me empurra e quando saio de cima dela, senta-se na cama.
Pela sua reação, não teremos mais clima para a segunda rodada, e com
razão.
Me sento também, com as pernas cruzadas na sua frente. Se fosse em
qualquer outra situação no passado e eu me desse conta de ter feito sexo sem
proteção, já estaria surtando. Por tudo que passei não quero filhos, nunca quis.
Mas por alguma razão, mesmo que tenhamos sido tão descuidados, não estou
apavorado em relação a isso.
– Oliver, – diz-me olhando bem dentro dos meus olhos – eu estou com
medo. Não quero um bebê. Eu... eu nunca tive a oportunidade de viver algo
bom em minha vida, sem que por trás, nos bastidores, tivesse o medo e a
preocupação à espreita. Foi assim na infância, foi assim na adolescência.
Nunca pude me sentir feliz por completo.
– E se isso acontecer, toda a incerteza, a preocupação, o medo de perder
irão voltar, eu sei que irão. Ver uma criança ser submetida aqueles tratamentos,
ou pensar que eu posso fazê-la passar pelo que eu passei... não dá... Não quero
a preocupação constante com alguém quando eu tenho a chance de evitar o
sofrimento. E além disso, mesmo que eu quisesse um filho algum dia, não já, eu
quero viver o que estamos vivendo por inteiro.
– Quero ser a sua namorada, quero trabalhar, aprender, fazer cada coisa ao
seu tempo como uma pessoa normal. Isso é outra coisa que nunca tive. As
etapas da minha vida não puderam ser vividas como deveriam. Não posso
pular essa também. – Engulo em seco.
Ela tem razão e eu estou sendo negligente demais.
– Perdão amor, estou sendo descuidado. Você tomou a pílula há poucos
dias, eu não acho que teremos problemas, por isso estou tão despreocupado.
Mas de qualquer forma, a sua consulta está marcada para sexta.
– Espero que você esteja certo, porque... não posso nem pensar... – Seguro
seu rosto entre as mãos.
– Vai ficar tudo bem, não se preocupe, relaxe. – A beijo e depois faço-a se
deitar em meu peito, embaixo dos lençóis. – Vamos dormir, baby.
– Boa noite – diz bocejando.
– Dorme bem, anjo.
Ela logo pega no sono e eu ainda estou ligado.
Fico pensando em tudo que ela me disse, no seu medo, seu sofrimento.
Então lembro das informações que vovó me trouxe, nas opções que ela deu e
depois de um bom tempo matutando sobre tudo aquilo, uma ideia maluca
começa a tomar minha mente.
Aquele tipo de ideia que eu sei que não vou deixar para lá até fazer
acontecer, me conheço.
Tenho muitas coisas para estruturar nos próximos dias.
Com esse pensamento em mente, deixo o sono vir.
– Uhmmm, baby – digo em seu ouvido, enquanto passo as mãos pelo seu
ventre e seios. Ela está de costas para mim, estamos de lado, meu tronco
colado nela, meu pau roçando sua bunda.
– Bom dia, amor... ahhhh – geme porque desci uma mão para o meio de suas
pernas, para brincar ali. Não demora muito e já está molhadinha e pedindo por
mim.
– Vou comer minha menina devidamente protegido. – Me estico para pegar a
camisinha na gaveta do criado mudo, rasgo o envelope e visto. Entro nela
devagar. Nessa posição, de ladinho, posso estimulá-la no clitóris e seios
enquanto penetro sua boceta.
Grudo o máximo que consigo nela e meto para valer. Não demora muito
para estarmos os dois em êxtase, saciados e prontos para começar o dia. Viro
seu pescoço para beijar sua boca, depois chupo seus peitos delicadamente,
então saio dela e confiro se a camisinha continua no lugar.
Tudo lá, tudo certo.
Ela se vira de frente para mim e olha a camisinha pendurada no meu pau.
– Não é ruim, mas melhor sem – diz.
– É muito melhor sem. Mas enquanto não for seguro, usaremos. – Ela
concorda. – Agora vem aqui que quero beijar a minha garota direito.
– Sua garota com bafo matinal, você quer dizer.
– Na alegria e na tristeza, não é o que dizem? – Ela ri e então me beija.
– Bia, hoje eu preciso fazer algumas coisas. De amanhã, vou ficar algumas
horas no escritório, se você não se importar. À tarde, tenho que ir até a Three
Minds, você quer ir comigo, conhecer a empresa? – Os olhos dela brilham.
– Nossa, claro que quero.
– Tem mais uma coisa que eu tenho que fazer, mas não quero que você fique
chateada. Eu preciso conversar com Riley, a sós. – Ela se senta e me olha.
Uma sereia de cabelos cacheados, lindos, descendo por sobre os seus seios
e nada mais sobre seu corpo.
Meus batimentos falham, meu pau contrai.
– Posso perguntar por quê?
– Sempre. – Pego um cacho dos seus cabelos entre os dedos e fico
brincando com eles. – Peter me falou que ela não está bem e ele acha que isso
tem a ver comigo e eu...
– E você quer ficar sozinho com ela?
– Calma. Será só uma conversa. Se ela enxergava as coisas de outra forma,
se ela tinha expectativas e eu fui um idiota em não perceber, preciso me
desculpar, sentir o seu estado emocional e ver se ela precisa de ajuda. E, além
disso, por um ponto final definitivo, com todas as letras, em tudo que tivemos.
Entendendo as coisas como entendo hoje, eu acho... Eu devo isso a ela, Bia.
– Ahh Oliver, e quem me garante que ela não vai tentar...
– Ela pode tentar, mas eu não vou ceder. Eu não quero a Riley. Tudo que eu
quero está bem aqui, na minha frente.
– Eu não gosto da ideia. Como se sentiria se eu dissesse a você que vou dar
outro passeio de lancha com Kellan, mas só vamos conversar?
– Nem por cima do meu cadáver.
– Está vendo? E eu nunca tive nada com ele.
– Mas se você me disser que precisa conversar com ele a sós, por perto e
em terra firme, mesmo louco de ciúmes, eu vou entender e aceitar. – Ela
suspira.
– Onde será essa conversa?
– Provavelmente na casa dela.
– O que? Nem pensar...
– Bia, ela mora perto da Three Minds e...
– Não, Oliver. – Porra, já deixei alguém me dar ordens, além da minha avó?
Never.
– Chame-a para conversar aqui, na Three Minds, na praia, no Lian, no Max,
mas na casa dela, não. Você me deixaria conversar com Kellan no quarto dele?
– Porra, não!
– Pois é...
– Pequena, eu preciso que você entenda que não terá o mesmo efeito se eu
fizer ela vir até mim. Eu tenho que ir até ela. – Seus olhos se enchem d’água e
ela sai da cama em direção ao banheiro. Suspiro resignado.
Não sabia que seria tão difícil. Levanto e vou atrás.
– Anjo... não fique assim. – A enlaço por trás, abraçando sua cintura. Beijo
seu rosto. – Eu amo você, pequena. Só você – digo olhando em seus olhos,
através do nosso reflexo no espelho. Ela seca as lágrimas. – É para que fique
claro que ela deve seguir em frente, sem se prender a qualquer coisa do
passado.
– Não acho que precise ser na casa dela, mas faça como preferir. Só me dê
um tempo. – E se solta dos meus braços, entrando no chuveiro.
Caramba, como lido com isso?
– Bia, ponha-se no meu lugar. Nos relacionamos por mais de quinze anos.
Temos um laço forte de amizade. Ela me ajudou em muitos momentos difíceis.
Não posso me desculpar e acertar os ponteiros entre nós, como se estivesse
convocando uma reunião de trabalho. Eu tenho que fazer isso direito. – Entro
no chuveiro com ela.
– Ok, Oliver, eu já entendi. Mas não me peça para ficar bem, não agora, não
hoje. Pense em como você ficou só por fantasiar coisas depois de um olhar que
dei na direção de Max. – Abraço-a e me enfio debaixo da água com ela.
– Olhe para mim. – Ela reluta. – Bia, por favor... – Finalmente. – Nada mais
vai ocorrer entre mim e Riley. Nunca mais.
– Você consegue imaginar as cenas que ficam passando na minha cabeça?
Ela se aproximando de você, tentando te tocar, te beijar...
– Não vai acontecer.
– Você não consegue prever, Oliver.
– Prever não, mas olha o meu tamanho Beatriz. Você acha que uma mulher
consegue me beijar ou tocar sem que eu permita? Só se eu estiver inconsciente,
incapacitado de me movimentar ou for algo que eu não espere de jeito nenhum.
E nenhuma das três situações é o caso aqui, estarei em completo domínio das
minhas capacidades e muito alerta. O máximo que pode acontecer, é um abraço
fraterno e um beijo no rosto, de despedida. Eu prometo a você. Agora pare
com isso e venha aqui. – Invado sua boca sem que ela tenha tempo para reagir,
em dois segundos está entregue ao nosso beijo.
– Não fique brava, não estrague o nosso dia por isso – peço. Ela respira
fundo.
– Vou tentar.
– Obrigado. – A beijo novamente.
Bia sai para caminhar com vovó e Helen depois do café e eu aproveito para
elaborar melhor os detalhes da ideia que dominou minha mente por boa parte
da noite, e também para terminar a letra da música, aquela que compus a
melodia a e harmonia na Three Minds no dia do passeio de lancha e que terá
papel importante no meu plano.
Não foi difícil, o que eu queria dizer nela já vem me rondando há um tempo,
foi só estruturar. Feito isto, lembro de mandar uma mensagem para Edgar, que
me responde prontamente
.
Edgar, bom dia! Sei que ainda não
deu sua resposta definitiva, mas
será que consegue passar na
produtora hoje à tarde? Queria te
apresentar Beatriz
Oi Oliver. Você está querendo é
derrubar as minhas defesas, isso
sim. Que horas?
Às 15. E amanhã vou te mandar
uma música nova para
trabalharmos
Música nova? Nas férias?

Sim. Essa é importante. Vou


precisar dela pronta logo, então vá
pensando...
To vendo que a sua versão
apaixonado vai me render muito
trabalho. Que tal voltar a versão
em que mal falava comigo?
Acredito que não é mais uma
questão de escolha
Que Deus me ajude então. Até
mais tarde

Mando uma mensagem para vovó na sequência.

Vó, sairei com Bia de casa perto


das 15h. É a sua deixa

Para minha ideia funcionar, uma música nova não será o suficiente. Preciso
de pelo menos mais duas. Já tenho algumas ideias invadindo minha mente há
alguns dias, então acho que uma semana será o bastante para eu dar vida a elas.
Preciso que Johnathan reserve uma tarde para mim na semana que vem em
sua agenda, decido ligar.
– Fala Oliver.
– Johnathan, bom dia. Como está sua agenda para a próxima quinta? – Ele
demora alguns instantes e então responde.
– Fora uma reunião com a equipe pela manhã e um almoço com um gerente
de banco, nada mais.
– Preciso fazer uma reunião com você e os caras, pode ser à tarde?
– Pode. Mas aconteceu alguma coisa?
– Nada para se preocupar. No dia eu explico.
– Tudo bem. Que horas e onde quer fazer? Na sua casa? No Max?
– Vou ver com os outros e te aviso o horário. Feche sua agenda à tarde. E
será na produtora mesmo, mais especificamente no estúdio.
– Ok.
– Ah, mais uma coisa, hoje à tarde vou levar Bia para conhecer a empresa,
tenho um encontro com Edgar às quinze.
– É a história do estágio que ela falou na entrevista? Não se fala sobre outro
assunto pelos bastidores.
– Sim, é sobre isso.
– Quer que preparemos a contratação dela? Quando ela vai começar?
– Estes detalhes dependem da agenda que Edgar vai me apresentar, mas se o
que eu estou planejando der certo, vai demorar um pouco ainda.
Me despeço, desligo com Johnathan e mando mensagem para caras.

Reunião na semana que vem,


quinta à tarde na
Three Minds. Deixo escolherem o
horário

Não demora muito e os comentários começam.

Que porra?

Aconteceu alguma coisa?

Por quê?

Vão saber na quinta. Só


escolham o horário

Se fizermos festa na quarta,


então...

Depois das 15h

Isso, 16

Acho que já escolheram


Porra, bando de vadios. Vão
dormir até as três da tarde?

Até onde eu sei estamos de


FÉRIAS

hauhauahau. Os solteiros
curtem a noite, sabia? Já esqueceu
como é?

Por que na produtora? Por


que não nos reunimos aqui?

No dia você vai entender


Kellan. 16 hrs então. Vou avisar
Johnathan

O pai também?

Sim

Cacete, o que você tá


aprontando?

Até

Vai se foder, viado.

Mother focker

Eu sabia que a Biazinha era


só fachada, amor
Porra, você tem uma
coleção dessa merda? Anda
trocando com quem? Tina?

pode salvar pra mandar pra

Bia, eu não ligo

Principlamente essa,
combina com você

Cara, só você não percebeu


ainda que está namorando. Só
come a garota... abre o olho
Lian Vai dar merda

Cuida do teu pau que eu cuido


do meu, porra

– Preparada para conhecer seu futuro local de trabalho?


– Para isso sim, não estou preparada é para os próximos acontecimentos do
dia de hoje.
– Bia...
– Tá, tá... que se foda, desculpa. – A puxo para mim.
– Esse foi o pedido de desculpas mais falso que ganhei na vida.
– É, tô incomodada mesmo, dá um nó na boca do meu estômago só de
pensar.
– Esquece isso por enquanto, ok? – A beijo. – Vamos lá, tenho uma surpresa
para você. – Saio do carro, trazendo-a comigo.
Abro a porta da recepção da Three Minds e entro abraçado a Bia.
Normalmente não uso a entrada principal, entramos pelo estacionamento num
elevador privativo que nos leva direto ao terceiro andar, onde fica o estúdio,
mas como o objetivo é apresentar a gravadora a ela, decidi usar o acesso
comum. Não sei nem o nome da garota que trabalha ali, mas ela fica branca
assim que percebe quem acabou de entrar.
– Sr... Sr. Rain... o que... eu... – Me olha desconcertada e sem saber como
agir.
– Está tudo bem – tranquilizo-a. – Eu conheço o caminho, tenha um bom dia.
– Abro a porta dupla que dá acesso ao andar térreo, onde fica o setor de TI e
mídias, bem como o jurídico. Sei que Riley não está ali. Normalmente ela fica
só na parte da manhã, à tarde só quando tem algum evento ou imprevisto. Fora
isso, é ela que cobre as folgas de Peter em função dos acessos ao condomínio.
– Venha baby.
– Aqui é o jurídico. – Aponto para a sala a direita. – Mas não se preocupe,
Riley não está aqui, apenas os três integrantes da sua equipe. – Os olhares das
pessoas estão em nós, uma vez que todas as paredes são de vidro. Apenas as
salas de reunião são fechadas. – Do outro lado é a área responsável pelas
tecnologias, mídias e marketing, comandado por Alicia. Vamos dar um oi a ela.
– Dou duas batidas na porta de sua sala e abro.
– Oliver, Bia? O que fazem aqui?
– Oi Alicia – diz Bia. – O astro aqui está causando um alvoroço, pelo visto.
– Olho em volta tentando entender o que ela diz e vejo algumas pessoas no
corredor nos olhando, além dos que estão sentados em suas mesas também
terem os olhos sobre nós.
– Sempre que um deles resolve aparecer no meio dos mortais é isso. Mas
hoje os funcionários tiraram a sorte grande, porque dificilmente um deles é
Oliver. Daqui a pouco todos estarão aqui embaixo, espiando. Mas posso
ajudá-los com algo? Vão soltar mais alguma foto? Porque se forem já deixo a
equipe de plantão, nossos acessos ainda não normalizaram, se querem saber...
– Só vim mostrar a gravadora para Bia, e por enquanto nenhuma foto em
vista, mas sabe, se der vontade... – admito e ela ri balançando a cabeça de um
lado para outro.
– Bom te ver feliz e você é um dos chefes, então...
– Vamos deixar que volte ao trabalho Alicia, passamos só para te
cumprimentar. Vou seguir com o nosso tour.
– Bom passeio, até mais. – E assim que nos viramos para sair da sala de
Alicia, várias cabeças se movimentam fingindo voltar as suas atividades ou
começam a circular pelo corredor.
– Oliver, você conhece os seus funcionários?
– A maioria não.
– Quer dizer que eles trabalham para vocês, no mesmo prédio, e
dificilmente os veem?
– Fora os técnicos e produtores que ficam no terceiro andar, e os
profissionais que nos acompanham nas turnês, sim.
– Nem, tipo, na festa de fim de ano?
– Não, fizemos só para os funcionários, não participamos.
– Nunca tocaram para os seus funcionários? – Eu rio, de repente me sinto na
santa inquisição.
– Não anjo, nunca. – Ela fica pensativa. – Por quê? O que foi?
– Você já pensou que para eles é como ser a criança que está o tempo todo
próxima à tigela de doces, mas que nunca pode provar nenhum? – pergunta
enquanto subimos a escada para o segundo andar.
– Não, nunca pensamos nisso. Não nos colocamos no pedestal como
estrelas que querem ser paparicadas e aclamadas, anjo. Procuramos pagar
salários justos, dar benefícios, cuidar para que estejam bem e tenham um
ambiente bom para trabalhar. É isso.
– Nem sempre é questão de serem bajulados, e sim de realizar sonhos.
– Acho que esse não é nosso estilo. E aposto que o que menos querem na
sua festa de fim de ano é ouvir a The Order. Já trabalham nisso o ano todo.
– Vocês já perguntaram? Fizeram uma enquete?
– Claro que não, Bia. – Entramos no corredor que nos leva aos setores
financeiro e comercial.
– Então você não sabe. Eu acho que adorariam, eles foram te espiar, Oliver.
– Curiosidade amor, apenas isso. E deve ser mais por você do que por mim.
– Ah claro, com certeza – diz, debochando da minha conclusão.
– Bia, a sua esquerda é o nosso setor comercial, aqui temos só três pessoas
e no escritório em Los Angeles outras quatro, além do responsável, Willian
Cox, também ficar a maior parte do tempo lá. Fora a venda dos shows e dos
direitos de vincular nossas músicas em aplicativos, são responsáveis pela
comercialização do serviço de produção. A Three Minds não agencia bandas,
não temos contrato de exclusividade com ninguém, esse é um plano para o
futuro, como já disse a você. Porém, produzimos várias músicas de sucesso de
artistas renomados. Com Edgar Blanc assinando nossas produções, o que não
nos falta é procura pelo serviço.
– Nossa, Edgar Blanc, li tantas coisas sobre ele. É um gênio. O melhor. Ele
fica em Los Angeles também? – Sorrio internamente, ah baby, você não perde
por esperar... por hora conto uma mentirinha.
– Sim, comanda tudo à distância. Ao lado do comercial está o Recursos
Humanos, Rose Samuel é a chefe, venha conhecê-la. – digo e entro no setor.
– Oi Rose. Quero apresentá-la a Beatriz. – A mulher abre um sorriso
enorme.
Rose é a típica mãezona. Uma mulher negra e grande que dá a impressão de
que todos têm um lugar embaixo de suas “asas”. Está conosco desde o início, e
tenho muito carinho por ela.
– Oi querida. Nossa, você é ainda mais linda do que nas fotos. – Puxa Bia
para um abraço. – Mas Oliver, você precisa nos preparar para esse tipo de
surpresa. A empresa parou, ninguém consegue se concentrar com vocês dois
desfilando por aí. – A abraço também.
– Não exagere, Rose.
– Exagerar? Exagerado foi quem te fez essa tentação ambulante, garoto.
– Concordo – diz Bia suspirando e as duas riem.
– Mas me diga mocinha, a história do estágio que ouvimos na entrevista, é
verdade? Você fará parte da nossa equipe?
– Espero que sim. Não vejo a hora de começar.
– Ela fará sim, mas vai levar um tempinho ainda para assumir seu posto.
Enquanto eu estiver de férias preciso dela só para mim. – Encaro Bia e a puxo
para um beijo no final. Se não houvesse mais ninguém por perto esse beijo iria
render, mas como há meia empresa ao nosso encalço, me obrigo a soltá-la.
– Uau! Beatriz, todas as mulheres à sua volta desejaram ser você agora –
fala Rose, se abanando e dando uma piscadinha para Bia. É uma figura, sempre
alto astral.
– Adorei a conhecer, Rose. Assim que eu estiver aqui oficialmente como
funcionária, tenho umas ideias para conversar com você. – Pelo interrogatório
de antes, posso até imaginar as ideias...
Já visualizo a The Order tendo que tocar Jingle Bells Rock na recepção,
usando gorrinhos vermelhos.
Ridículo... fim de carreira...
– Claro, minha porta está sempre aberta.
– Vamos continuar baby, temos uma reunião em dez minutos. Tchau Rose.
– Temos? – Ela pergunta enquanto saímos do RH.
– Temos. E aqui, – abro a porta do outro lado do corredor sem lhe dar
chance de perguntar mais nada – a sala de Johnathan Wells, nosso diretor
financeiro.
– Olhem se não é o casal do momento... – diz ele, já vindo em nossa direção
e abraçando Bia.
– Olá Sr. Wells, bom revê-lo.
– Nada de Sr., Bia, não me faça sentir mais velho do que sou. Johnathan está
ótimo. – Bia assente.
– Johnathan, só uma passada rápida para lhe cumprimentar. Temos que ir.
– Não querem tomar um café comigo na copa? – diz ele ainda agarrado a
Beatriz.
– Infelizmente não temos tempo, tem uma pessoa nos esperando... então,
será que você poderia largar a minha mulher agora? – Ele gargalha.
– Fiz para lhe provocar, garoto. E já temos um horário para a reunião?
– Sim, será às dezesseis.
– Tudo bem – concorda. Pego a mão de Bia, nos despedimos dele e sigo
com ela para o meu habitat, o terceiro andar. Onde fica o estúdio de gravação
e a sala de produção.
Mal saímos da escada e entramos no corredor, já avisto a cabeça branca de
Edgar, sentado, nos guardando. Ali, em função da necessidade de isolamento
acústico, só a metade superior das paredes são de vidro.
– Aqui, meu bem, será o seu futuro local de trabalho. – Abro a porta da sala
de produção. Edgar se levanta e Bia para no lugar.
Ela olha para ele, depois para mim, depois para o ambiente, a aparelhagem,
as mesas de mixagem, o estúdio ao lado, e seus olhos se enchem d’água. Por
fim, volta seu olhar para Edgar novamente.
– O Sr. é Edgar Blanc, não é?
– Sou sim e vim até aqui conhecer minha estagiária e aluna. – Bia olha para
mim, com olhos arregalados, queixo caído, segurando as lágrimas. – Isso...
isso é sério? – Edgar não me dá chance para responder.
– Filha, olhe para os meus cabelos brancos. Acha que com essa idade tenho
tempo a perder com pegadinhas? É claro que é sério. – Agora as lágrimas
rolam.
Até eu me sinto tocado vendo a sua emoção. Bia de repente se atira contra
Edgar, lhe abraçando. O homem, pego de surpresa, fica desconcertado com a
demonstração de afeto, mas por fim, a abraça de volta.
– Obrigada, muito obrigada – diz se afastando dele. – Quando Oliver e eu
conversamos sobre estagiar e aprender, jamais pensei que seria diretamente
com o senhor. Era sonhar alto demais... – Respira fundo e então continua. –
Mas bem, parece que o universo anda conspirando para realizar os meus
sonhos mais malucos. – Me olha sorrindo.
A trago para os meus braços e beijo sua testa. Edgar a olha encantado, ou as
defesas dele nunca foram muito resistentes ou a habilidade dela é letal.
– Vamos nos sentar – peço. Nos acomodamos nas cadeiras por ali e então
noto uma coisa estranha. – Onde estão os técnicos?
– Pedi para tomarem um café bem demorado. Imaginei que gostaria da sala
livre.
– Ótimo. Edgar, apresentando-a formalmente, essa é Beatriz Thompson,
minha namorada.
– Prazer em conhecê-la, Beatriz. Para fazer esse cara se abrir assim em tão
pouco tempo, tinha que ser uma garota muito especial. Só de olhá-la é possível
entender. Se você demonstrar um quarto do talento que possui em cativar, na
criatividade para a produção musical, digo sem medo que o futuro da Three
Minds está em ótimas mãos.
– Como assim o futuro da Three Minds? – pergunta confusa.
– Eu vou prepará-la para assumir o meu lugar aqui dentro. – Ela demonstra
intenção de falar algo, mas ele ergue a mão, pedindo para aguardar.
– Vou ensinar a você tudo que eu sei, passar o meu legado adiante. Tanto na
parte teórica, quanto na parte prática. É claro que para dar certo, não
dependerá só de mim, depende do seu esforço e principalmente do seu talento
ou aptidão para o ofício. Infelizmente nas artes em geral, só a força de vontade
não faz a diferença, há que se ter o dom. E isso eu vou avaliar no decorrer do
processo, serei muito sincero no meu parecer.
– Se eu vir que por mais que se esforce e estude não alcançará o nível
profissional que a empresa precisa, serei direto com os dois. – Ela concorda,
afirmando com a cabeça. – Mas eu acredito que não será o caso, pois
conversei com algumas pessoas da escola particular onde você se formou em
Chicago e ouvi coisas bem interessantes. – Retira alguns papéis de uma pasta,
colocando-os sobre a mesa.
– Então, à medida que o nosso estudo avance você vai prestar as avaliações
da USC University of Southern California e ao final, terá o diploma
universitário. – Agora é meu queixo que cai. Como ele conseguiu isso? Beatriz
está pálida.
– Como? – pergunto.
– Meu caro, minha fama e nome tem que servir para alguma coisa. Tenho
amigos, contatos dentro de universidades. Levei minha ideia a alguns deles
esta manhã, serei o professor particular em todas as disciplinas e pelo meu
now-how a USC concordou na hora em dar o diploma caso ela seja aprovada
nas mesmas avaliações que seus alunos curriculares prestam. As avaliações
serão presenciais, então ela terá que ir à Los Angeles nestas ocasiões. – Só
concordo.
Isso é muito mais do que eu poderia imaginar.
– E você precisa preencher estes formulários Beatriz, pois terá uma
matrícula dentro da instituição, será considerada uma aluna normal. Oliver,
haverá um custo, eles ainda vão avaliar o valor, pois é uma situação atípica,
afinal você paga diretamente o professor. Provavelmente só taxa de matrícula e
o custo de prestar os exames.
– Claro, isso não é problema. – Bia mal respira ao meu lado.
– Beatriz, quando eu falo em passar o meu legado, eu estou falando bem
sério. Na verdade, essa é uma ideia que toma os meus pensamentos há um bom
tempo. Não tive filhos, não deixarei descendentes neste mundo quando eu me
for e gostaria de saber que, pelo menos, compartilhei integralmente o que a
vida me deu de melhor com outra pessoa. Então quando Oliver me procurou
para que eu a ensinasse e treinasse, na verdade ele também me deu o que eu
buscava, um discípulo.
– Só que neste mundo injusto em que vivemos, nem sempre ser bom no que
faz é o suficiente para ter sucesso. É preciso currículo e nome. Quero fazer
isso direito com você. Com isso aqui teremos o currículo – segura os papéis
da USC – e o nome, eu e Oliver a ajudaremos a formar quando chegar a hora.
Depois disso, entrego tudo nas suas mãos e posso finalmente me aposentar. –
Ele ri. As lágrimas voltam a rolar pela face de Bia. – E aí, topa o desafio?
– Nossa... eu... eu nem sei o que dizer. – Ela seca os olhos. – Além de
aprender com o maior nome na área, ainda sairei formada pela mesma
universidade que formou Neil Armstrong e George Lucas? – Edgar e eu rimos.
– Pela sua escolha de nomes, baby, estou com medo de que queira colocar
efeitos “espaciais” nas nossas próximas músicas. – Ela ri também.
– É claro que aceito. Será uma honra e prometo dar o melhor de mim para
tentar merecer o que o senhor está fazendo. O que os dois estão fazendo por
mim. – Se vira em minha direção, a trago para mais perto, fazendo-a sentar-se
sobre minha perna. – Quando começamos?
– Estou estruturando minha agenda para isso, vou discutir os pontos com
Oliver e os outros e quando tudo estiver acertado eu lhe apresento o plano.
Mas agora é o seu primeiro teste. – Ela fica tensa. – Vamos ali no estúdio, você
vai se sentar naquele piano e tocar e cantar alguma coisa para mim. – Ela
pigarreia.
– É... bem... eu sou péssima no piano.
– Não quero saber, dê o seu jeito e me mostre algo.
– Ok. – Nos levantamos e passamos pela porta que dá acesso ao estúdio.
Bia se encaminha até o piano ressabiada. Abre a tampa que protege as
teclas. Olha, testa, depois para e parece pensar no que tocar. Quando
aparentemente se decide, ela olha para trás, para nós e abre um sorriso.
– Oliver, fique aqui. – Me pede para ficar à sua frente no piano. E quando
seus dedos tocam as teclas, no primeiro acorde e seus olhos se fixam nos meus,
sei que estarei perdido.
Ela começa a cantar, com sua voz aveludada e doce, Endless Love, a
música que embalou uma das mais clássicas histórias de amor produzidas por
Hollywood.

Meu amor
Há somente você em minha vida
A única coisa que é certa

Meu primeiro amor,


Você é tudo que eu respiro
Você é cada passo que dou

Eu disse que estava perdido? Ah, eu nem fazia ideia do quanto... Não é só o
que ela canta, mas o jeito que me olha e o som da sua voz...
Enfeitiça!

E eu, eu quero dividir


Todo o meu amor com você
E ninguém mais

E seus olhos,
Eles me dizem o quanto você se importa
Oh sim, você sempre será
Meu amor sem fim

Deus, estou hipnotizado. Se o mundo descobre isso, já era! Ninguém


poderia segurá-la. E eu não quero ter que dividi-la com a indústria da fama...
acabaria comigo.

Dois corações,
Dois corações que batem como um só
Nossas vidas apenas começaram

Para sempre
Eu te segurarei apertado em meus braços
Eu não consigo resistir ao seu charme

Ah baby, eu que o diga... eu que o diga...

E amor
Eu serei boba
Por você, tenho certeza
Você sabe que não ligo
Oh, você sabe que não ligo

Porque você,
Você significa o mundo para mim
Eu sei, eu encontrei em você
Meu amor sem fim

Quando ela toca o último acorde, o silêncio é total.


Eu estou paralisado por tudo que ela transmitiu a mim enquanto cantava,
através das palavras e do seu olhar. Só quero beijá-la e fazer amor com ela.
Edgar parece pasmo e ponderando algo. Ela está sentada ao piano, na
expectativa de que ele fale alguma coisa.
– Menina, você tem certeza de que quer ser produtora musical? Porque, por
Deus, com essa voz, esse encanto e um namorado que pode lhe abrir todas as
portas, você seria um estouro. Não acredito que eu vou falar isso, Diana Ross
que me perdoe, mas a canção ficou ainda melhor na sua voz. – Bia sorri de
orelha a orelha.
– Eu tenho certeza sim. Eu adoro cantar, como hobbie, mas
profissionalmente não quero ficar sob os holofotes.
– Agora eu entendo o sentimento do meu professor de violino quando eu
disse a ele que iria abrir mão de ser instrumentista na maior orquestra do
mundo para me dedicar à carreira de produtor. – Bia ri, eu ainda não saí do
transe.
– Bom, se isso for um indício positivo, espero ter o mesmo sucesso.
– Muito bem então, não vamos mencionar o piano porque realmente você
foi no básico do básico, espertinha... Mas todo o resto, a sua voz compensou,
não pense que me passou despercebido as nuances novas que você deu à
música em alguns versos, ficou ótimo. E a sinceridade no seu olhar... nossa...
não há como não se apaixonar. Você deixou aquele cara ali desconcertado, ele
ainda não se recuperou. – Aponta para mim e eu só confirmo com a cabeça. Me
sinto tonto. Edgar ri alto.
– Você está ferrado, Oliver. E eu também. Mas já que esclarecemos e
discutimos o que é importante, vou deixá-los. Não se preocupem, passarei na
copa e direi para minha equipe estender o café por mais meia hora, no mínimo.
Até mais. – E dito isto, ele dá uma piscadinha e sai, nos deixando a sós. Bia
tenta se levantar do piano, mas eu a impeço.
– Fique onde você está, Beatriz. – Primeiro pego o controle e desço as
persianas que isolam o estúdio dos olhares externos. Depois caminho até a
porta de saída e tranco-a. Faço o mesmo com a porta interna que leva à sala de
produção e retorno até ela.
– Levante-se, baby. – Mal ela faz o que eu peço, a trago para junto do meu
corpo num puxão só e exijo sua boca.
Beijo-a forte, possessivo, como se minha vida dependesse dela.
Na verdade, nem sei mais se não depende.
Entrelaço nossas línguas numa dança erótica e sensual, minhas mãos vão
para a sua bunda e aperto. Subo-as pelas suas costas, por dentro da regata fina
que ela usa, até alcançar o fecho do sutiã, que eu abro num instante.
Ela tem as mãos emaranhadas em meus cabelos, agarra-se a eles na
tentativa de conseguir mais. Mais beijo, mais língua, mais saliva, mais contato,
mais calor.
E eu dou, dou tudo que ela quiser.
Puxo a barra da regata para retirá-la dela e isso nos obriga a separarmos
nossas bocas, estamos ofegantes, quentes, entregues a paixão.
– Oliver... aqui? – pergunta ofegante. Jogo a regata em cima do piano e logo
o sutiã se junta a ela.
Ah, estes seios. Nunca me canso de adorá-los.
– Sim. Aqui. Agora. Não pode me olhar do jeito que olhou, me dizer as
coisas lindas que disse com sua voz de anjo e esperar que eu não me enterre
em você. – Puxo-a novamente para mim pelo cós da sua calça e num segundo
minha boca já está na dela outra vez.
Abro sua calça e desço o zíper devagar.
Ela puxa minha camiseta por cima, pelos ombros e ajudo-a a retirá-la.
Levanto seus cabelos com uma das mãos e roço os lábios em seu pescoço
levemente. Ela espalma meu peito, fecha os olhos e joga a cabeça para trás.
Cubro um dos seios com a mão em concha e passo a minha língua naquele
lugarzinho na base da garganta. Ela sobe as mãos, corre as unhas pelos meus
ombros, me arrepiando, e arqueias as costas.
Divina.
Porra, o que ela faz comigo? Como eu quero meter nela.
Libero seus cabelos e empurro a calça e a calcinha juntas para baixo.
Aperto sua bunda. Levo minha boca até o seu seio e chupo o bico deixando-o
molhado e depois assopro gentilmente. Ela arrepia, geme e chama o meu nome.
Isso, baby. Sou eu. Só eu. Sempre.
Bia desce as mãos em minhas costas, arranhando minha pele pelo caminho,
as enfia pelas laterais da calça, leva-as por dentro da cueca até a minha bunda
e aperta. Força para descer as peças, mas o botão fechado dificulta o seu
trabalho. Levo uma mão até lá e a ajudo, abrindo o botão e descendo o zíper.
Deus, nunca me senti tão ávido por estar dentro de alguém. É um sentimento
tão novo para mim. E quanto mais a tenho, mais a quero. É simplesmente
insano.
Ela já liberou meu pau empurrando as peças para o meio das minhas coxas.
E está descendo com aqueles lábios pecaminosos pelo meu abdômen,
demorando-se no meu umbigo, na minha tatuagem, cheirando os meus pelos.
– Bia... – Um murmúrio rouco escapa da minha boca quando ela ergue o
meu pau e suga minhas bolas.
Estou louco para tomá-la, para entrar nela, quero sua boca de volta na
minha.
Termino de tirar minhas calças e a trago para cima novamente,
reivindicando seu beijo. Com meus pés, ajudo-a a sair das suas, deixando-as
no chão do estúdio junto das minhas.
Fecho a proteção das teclas do piano e vou empurrando-a para trás até que
encoste ali, então a levanto pela cintura e sento-a lá, entrelaço meus dedos nos
dela, ergo nossas mãos e levo-as acima da sua cabeça, fazendo-a se reclinar
até que esteja com os quadris erguidos e as costas e cabeça apoiadas sobre a
tampa acústica do piano de cauda.
Paro para olhá-la por um momento.
A pele alva e os caracóis esparramados pelo negro reluzente do piado.
Tão negro e brilhante quanto os seus olhos de ônix.
O corpo arqueado, os seios em alerta.
É um retrato e tanto. Excitantemente poético!
Sou mesmo um sortudo filho-da-puta.
Seguro suas duas mãos sobre a cabeça com apenas uma das minhas e com a
outra a sustento pela cintura até que esteja com as pernas enlaçadas em torno
da minha.
Desço minha boca sobre a sua outra vez e entro nela, devagar, saboreando
cada centímetro que avanço. Ela geme, ofega, com os lábios grudados nos
meus.
Afasto nossos lábios e começo um vai e vem preguiçoso enquanto repito
frases soltas, frases que remetem a música que ela cantou para mim.
– Meu amor, você é a única coisa certa. – Entro e saio dela vagarosamente.
– Ah baby, sim, eu me importo. Me importo muito. – Estoco fundo e
cuidadoso, apreciando. Bia solta gemidinhos que mais parecem lamúrias
suplicantes em objeção à lentidão dos meus quadris.
– É apenas o começo. Temos a vida toda, anjo. – Entro nela e beijo seu
colo, em cima do seu coração. Ela ergue os quadris buscando mais ritmo.
– Adoro ouvir seu coração. Batendo assim, junto ao meu. – Saio devagar,
depois volto saboreando cada milímetro que avanço e chupo seu mamilo. Ela
geme e sussurra um por favor com a voz meio embargada.
– Eu não resisto, pequena. – Deslizo para dentro dela outra vez. – Nunca
consegui resistir a você, – me retiro – a sua luz, ao seu corpo. – A tomo
mordiscando seu pescoço. Seus quadris se movimentam com certo desespero,
em contraponto à minha falta de pressa. Suas pernas, ao meu redor, me apertam
mais contra si, deixando claro que eu não tenho opção, não tenho escapatória.
– Eu te quero para sempre. Para sempre assim, nos meus braços. – A
invado, corro o nariz atrás da sua orelha, me movimento de novo. Ela arrepia e
geme.
– Sou um bobo. – Meto nela com um pouco mais de vigor, me responde com
um gemido mais forte. Encosto nossas testas. – Bobo por você, louco, louco de
amor por você. – Me mexo dentro dela e, ao mesmo tempo que pequenas
lágrimas escapam, seus olhos ardem de desejo.
– Todo amor que houver dentro de mim é seu. – Então a beijo e começo a
me movimentar para valer.
Nosso beijo vai se misturando às suas lágrimas que invadem nossas bocas,
trazendo um tempero a mais para o momento.
Meu ritmo fica voraz.
Bia larga minha boca.
Ela está arfante e muito, muito necessitada.
A lentidão anterior provocou uma ânsia descomunal pelo gozo, que ela
deixa transparecer puxando meus cabelos, mordendo meu ombro, apertando
minha bunda com suas pernas.
Estamos quase lá, posso sentir, nossos corpos se buscam com mais e mais
energia, a eletricidade tão conhecida e comum entre nós se intensifica,
provocando choques, espasmos, contrações.
– Goza comigo, amor. Agora!
– Oliver... eu amo... amo vocêêêêêê.
– Ah Bia...
Tiro o pau de dentro dela e esporro em sua barriga, afundando o rosto na
curva do seu pescoço.
Caramba! Esse foi milimetricamente sincronizado.
Deixo nossas respirações se acamarem e quando isso acontece ergo o rosto
para olhá-la, abro um sorriso e passo os dedos por suas lágrimas, secando seu
rosto.
– Chega de choro.
– Este pode! É de amor, de felicidade. Achou mesmo que faria isto comigo
e eu não desabaria?
– Eu tinha que te dizer, com a mesma energia que você me disse enquanto
cantava. Aquela imagem vai me acompanhar a vida toda, pequena. Nunca vou
esquecer aquele momento. Nem este. – Sorrio sacana.
– Eu também não. – Somos lembrados exatamente de onde estamos quando
começamos a ouvir movimentação na sala ao lado.
– Puta merda – diz ela com os olhos arregalados. Eu acho graça. Não estou
nem aí para o que pensam. – Oliver, os seus funcionários vão saber que nós...
mexa-se.
– Calma.
– Como calma? Não vai me dizer que é comum você... – Seguro os dois
lados do seu rosto.
– Não. Nunca. Fora Riley, que o caso veio de antes, não nos envolvemos
com funcionárias. E aqui, na empresa, neste estúdio, só com você. – Ela
suspira, meio de alívio, meio por se lembrar.
– Você tinha que tocar no nome dela? – Rio e a ajudo a ficar de pé.
Ela se afasta de mim emburrada.
Sério isso?
Começo a acreditar na máxima que dizem por aí: por mais que um homem
faça, nunca conseguirá satisfazer uma mulher.
– Deixa de bobagem, acabei de fazer amor com você e de me declarar
várias e várias vezes.
– E agora vai se encontrar com ela... – fala, me dando as costas e andando
em direção ao banheiro com um bico de todo tamanho estampando aquela
carinha linda que ela tem.
– Beatriz Thompson! Pare já com isto. – A danada para. Mas só para se
virar para mim e me mostrar a língua...
A língua!
Como uma criancinha malcriada.
– Você acabou de mostrar a língua para mim, Beatriz? – Cruzo os braços e
falo muito sério, com tom de voz enérgico e olhar inquisidor.
Ela muda de emburrada para desconfiada assim que me olha.
Opa! Era só para fazer graça, mas vamos aproveitar!
Dar algo a mais para ela entreter seus pensamentos que não seja o meu
encontro com Riley, pode ser uma ótima ideia no fim das contas.
Me concentro para não sair do personagem.
– Responda!
– Sim. – Endureço ainda mais o olhar, a trago para perto e falo bem colado
ao seu ouvido.
– Pois hoje à noite você vai pagar por essa língua, ah se vai! E talvez eu
cobre também por aquela vez em que você mandou eu me foder, está
lembrada? – Ela só confirma com a cabeça.
– Ótimo. Então se prepare! Agora vista-se – ordeno, brusco, me viro e não
dou mais bola para ela.
Ela fica muito, muito ressabiada pela minha mudança de atitude repentina.
Termino de me vestir, aguardo que ela se arrume no banheiro, depois abro
as persianas, destravo a porta externa, a abraço pelos ombros sem muito
acolhimento e abro a porta para a sala de produção. Os cinco membros da
equipe de Edgar estão ali, o coordenador, os três técnicos e a sua assistente.
Entro para cumprimentá-los.
– Boa tarde. Espero que estejam todos bem e desculpem atrapalhar seus
afazeres. Essa é Beatriz Thompson, ela será colega de trabalho de vocês em
breve.
Apresento rapidamente as pessoas que compõem a equipe de Edgar, espero
Bia cumprimentá-los e depois seguimos nosso caminho.
Não pude deixar de notar os olhares fascinados de dois deles para cima
dela.
– Não demore – pede abraçada a mim. Afago seus cabelos. Estamos no
carro, parados em frente à casa de Alicia e Johnathan, Bia combinou de ficar
com Hazel enquanto vou até Riley.
– Serei o mais breve possível. E você, não fique pensando bobagens.
Esqueça onde estou e divirta-se com Hazel.
– Rá, como se houvesse a possibilidade...
– Sou seu, meu bem. Estou com o seu cheiro em mim e quando eu voltar,
você vai poder senti-lo da mesma forma que sente agora. Confie.
– Eu confio, mas é difícil. Me sinto entregando todo o meu ouro ao bandido.
– Ela não desgruda.
– Bia, se você não me soltar, não poderei ir...
– Essa é a ideia. – Rio.
– Até daqui a pouco. – Afasto-a de mim. – Desça, baby. – Me olha com
aqueles olhos infinitos, implorando. Minha vontade é atender aos seus apelos,
mas preciso fazer isso, devo a Riley, prometi a Peter. – Desça. – Ela
finalmente vai.
Chego rapidamente até a casa que Riley tem no condomínio. Ela não sabe
da minha visita, mas confirmei com Peter se estaria em casa. Muitas vezes ela
fica em seu apartamento em Long Beach. Assim que o motorista estaciona em
frente à casa, ligo para ela.
– Oliver?
– Oi Riley, pode abrir a porta para mim? Estou aqui em frente.
– O que você está fazendo aqui?
– Quero conversar, pode ser? – Ela pensa por uns instantes.
– Entre. – E destrava a porta principal. Saio do carro e entro rapidamente
na casa,
Riley me espera junto a porta.
Ela está de pijama, visivelmente abatida e com olheiras profundas abaixo
dos olhos.
Nunca a vi assim.
– Fique à vontade. – Indica para que eu me dirija a sala. Ando até o sofá e
me sento, ela faz o mesmo, sentando-se ao meu lado. – Então, o que aconteceu
desta vez que te fez lembrar que eu existo? – pergunta ressentida.
– É desta forma que você se sentiu esses anos todos? Usada por mim? – Vou
direto ao ponto. Ela dá uma risadinha, debochando.
– E não foi assim que foi? – Passo as mãos pelos cabelos, entendendo a
profundidade da sua mágoa.
– Eu nunca vi desta forma, Riley. Eu conheci uma garota linda quando eu
tinha dez anos. Ela se aproximou de mim, insistiu muito para conseguir isso,
porque nunca fui um cara fácil no quesito social. Mas agindo pouco a pouco,
com sua habilidade em ler pessoas, ela conseguiu o seu espaço.
– Nos tornamos amigos, ela era pra frente, descolada, livre. Eu o oposto,
fechado, preso em mim mesmo, atormentado, com uma ideia fixa na cabeça,
onde nada e nem ninguém conseguia me desviar dos meus objetivos. Ela foi a
primeira pessoa em quem eu confiei sinceramente, além da minha avó. Até nos
caras eu demorei mais para confiar plenamente. – Faço uma pausa, procurando
as próximas palavras.
– Então um dia, a minha amiga, essa menina incrível, chegou e disse que
queria mais de mim. Que queria que eu fosse o seu primeiro, tirasse sua
virgindade. Eu tentei dissuadi-la dessa ideia porque não queria complicar as
coisas e nem perder a sua amizade. Expliquei que eu não era um cara que me
envolveria, não iria namorar. Que eu tinha coisas a resolver na minha vida,
pontos a fechar da minha história e aquilo era minha única prioridade. Ela me
disse que sabia disso, mas que queria iniciar sua vida sexual com alguém em
quem confiasse.
– E me disse mais, me disse que se temos que fazer sexo com as pessoas
erradas até encontrarmos a certa, porque não com quem pelo menos temos um
laço de amizade? Garantiu que seria só para nos satisfazermos e que ela não
queria, da mesma forma, ficar presa a mim, precisava ser livre para explorar
tudo que lhe desse vontade.
– Aquilo me convenceu. É claro que eu queria trepar com ela, por Deus, ela
era linda. É linda. Eu era um adolescente com os hormônios em ebulição e
assediado de todas as formas erradas. – Riley deixa as lágrimas rolarem e eu
nunca me senti tão cafajeste quanto agora.
Me obrigo a continuar.
– E assim iniciamos a nossa amizade colorida. E aquilo pareceu, a meu ver
pelo menos, ter dado certo, pareceu estar funcionando para os dois. Nos
exploramos mutuamente e descobrimos muito do sexo um com o outro. O
tempo foi passando, as coisas mudando, evoluindo, mas ela, ela era uma
constante em minha vida. Ela me provou muitas e muitas vezes que sim, eu
podia confiar integralmente nela e dava sempre a entender que a nossa amizade
com benefícios a fazia bem também. Era o suficiente. – Respiro.
– Então quando o sucesso explodiu e as coisas ficaram uma loucura, nos
perdemos por um tempo no meio daquilo tudo, no meio de tanta oferta,
facilidades, desvios, drogas, ela foi a nossa âncora, nos chacoalhando, nos
fazendo ver as coisas do jeito que realmente eram. E se eu já a admirava antes,
ali então...
– Eu tinha que trazê-la junto de alguma forma, ela fazia parte de tudo isso,
tanto quanto Max e Lian. Então a instiguei a estudar para assumir todo o
controle legal de nossas vidas e nosso patrimônio. E como não poderia deixar
de ser, ela se saiu maravilhosamente bem em tudo. Sempre íntegra, correta,
comprometida.
– O sexo casual continuou, ela inclusive estendeu os horizontes querendo
participar de nossas orgias, fazendo sexo com vários de nós ao mesmo tempo e
também com outras garotas que passavam pela nossa cama. E ali foi o meu
maior erro, Riley. Eu não poderia ter permitido, jamais. Não poderia ter
deixado você, alguém tão importante para mim, se rebaixar ao nível daquelas
garotas que só queriam alguma história boa para contar para as amigas ou
tentar alguma vantagem, cinco minutos de fama, talvez. Você nunca foi ou será
só isso para mim. – Suas lágrimas vertem em abundância agora.
– Então por que, Oliver? Por que nunca conseguimos aprofundar nossa
relação?
– Eu não tenho a resposta para essa pergunta. Eu não sei dizer o motivo
pelo qual a gente se apaixona por uma pessoa e não pela outra. Mas o que eu
posso afirmar é que, quando está destinado a acontecer de verdade, basta um
instante. Um segundo e você está perdido. – Riley treme, como se minhas
palavras a fizessem lembrar de coisas que lhe causam temor.
– Isso não pode ser verdade.
– É, garanto a você. – Ela me olha fixamente. – Não quero te ver mal Riley,
muito menos por minha causa. Mas aconteceu comigo e não há mais volta.
Mesmo que Beatriz saia da minha vida amanhã, jamais serei novamente o cara
que eu era antes de tê-la.
– Sabe o que mais me doeu? O que está me fazendo repensar toda a minha
vida, todos as minhas escolhas? – Faço que não com a cabeça. – Foi ver a
forma como você olhava para ela naquele dia que discutimos sobre as fotos na
casa de Max. Céus, você a olhava hipnotizado, como se ela fossa a coisa mais
preciosa da Terra e você o seu servo guardião. Ela te tem nas mãos Oliver,
completamente, simples assim.
– Novamente a sua habilidade em ler as pessoas e situações não deixou a
desejar.
– Você admite? – pergunta espantada.
– Totalmente. E você não tem noção do quanto isso me assusta. Pra cacete.
– Ela me analisa, incrédula.
– Naquele dia eu percebi que você nunca me olhou assim, nem perto disso.
Nunca me olhou com o olhar de quem quer cuidar do outro, proteger. Eu
sempre fui a mulher forte para você, a que segura qualquer barra, resolve
qualquer parada e não precisa de nada, nem de ninguém. O que não poderia
estar mais longe da verdade de quem eu realmente sou aqui dentro. – Ela leva
as mãos ao peito. – E eu fui mais longe, olhando para trás, vi que não foi só
você. Ninguém nunca me olhou desse jeito Oliver e essa constatação me
acertou em cheio.
– Acho que você é muito melhor em ler o cenário quando não está
envolvida nele.
– Por que diz isso?
– Porque isso não é verdade, Riley. Sim, eu posso sempre ter te visto da
forma como descreveu, mas ao longo desses anos, vi muitos caras se
apaixonarem por você e tentarem se aproximar romanticamente. Alguns bem
famosos inclusive. Foi você quem nunca deu abertura a nenhum deles, além de
uma noite ou duas. E sabe por que você não deixou evoluir?
– Não.
– Porque não foi recíproco, não te tocou. Não foi o seu instante. Você
saberá no ato quando acontecer. – Ela tem novamente aquela reação de temor,
acho estranho... – Ou se já aconteceu e está negando para você mesma. –
Completo e ela arregala os olhos. – E sinceramente, não acho que esse cara
seja eu, porque pela experiência que eu estou vivendo, quando é real, é para
ambos. Não há via de mão única num sentimento desse nível. Se só um dos
lados se diz apaixonado, é porque não é a pessoa certa ainda, para nenhum dos
dois. – Ela ri.
– Sabe outra coisa que eu percebi aquele dia? Que da mesma forma que
você nunca me olhou daquele jeito, eu também nunca olhei para ninguém da
maneira como Beatriz te olhava. De um jeito como se você e ela não fossem
duas pessoas separadas, mas uma coisa só. Uma certeza universal. E eu me
senti tão vazia Oliver...
– Ah querida, será que você não se escondeu esse tempo todo dentro desse
nosso acordo adolescente com medo de realmente viver algo maior? Com
medo de olhar para o lado e se entregar? De mostrar o que você realmente é aí
dentro, como você mesma disse? Fora hoje Riley, você nunca me deixou te ver
assim, fragilizada.
– A questão é que até aquele dia, eu não me permitia admitir que isso era
uma falta em minha vida. Acho que nunca havia presenciado o sentimento tão
de perto em outra pessoa para entender a profundidade e o impacto. Tenho
medo de deixar acontecer, admito. Talvez você tenha razão e me acomodei no
que era seguro, conhecido. Tenha fugido, sido cega, ou me faça dê. Mas como
viver em paz sabendo que outra pessoa tem tanto poder assim sobre a sua
vida? Como não correr disso? Com nossas histórias de vida... Me espanta
você... – Abro um sorriso me sentindo aliviado pela primeira vez desde que
cheguei ali.
Vi nela a mim mesmo nos dias em que estive naquele apartamento, em
negação... ou estou muito enganado ou Riley está mesmo apaixonada, e não é
por mim, felizmente...
– O que você não está levando em consideração Riley, é que você pode
correr disso o quanto quiser, porém isso não vai correr de você. Então se me
permite, vou te dar o mesmo conselho que um amigo, muito sábio, me deu.
Assuma. É o que lhe resta na sua situação. E seja o que Deus quiser.
– Que amigo sábio foi esse?
– Lian. – Ela gargalha e eu acompanho.
– Achei que estávamos mal, mas não tinha ideia do quanto... depender dos
conselhos de Lian...
– Para você ver o nível da nossa cegueira.
– Ah Oliver, fazia tempo que não tínhamos uma conversa assim, não é?
– Muito. Você me perdoa?
– Pelo que?
– Por não ter percebido o momento de parar, por ter feito você se sentir
usada, por não corresponder aos seus anseios como você merecia, enfim, por
qualquer coisa que eu tenha feito ou dito e que tenha te machucado. – As
lágrimas voltam a inundar seus olhos.
– Não há nada para perdoar.
– Há sim e eu preciso saber. Mas só diga sim se realmente estiver pronta
para perdoar. Você me perdoa, Riley? – Ela me olha por um tempo.
– Dói admitir, mas essa menina tem feito bem a você. Por mais que eu saiba
que nunca te amei como ela ama, eu te amei de alguma forma. Eu teria sido
apenas sua se você quisesse, pelo menos até a pessoa certa aparecer, como
você afirma. E eu desenvolvi sim um sentimento de posse em relação a você. E
é dele que está sendo difícil me desapegar. Querendo ou não, depois da sua
avó, eu era a mulher mais importante da sua vida, e agora não sou mais. Isso
fez eu me sentir usada de certa forma esses anos todos. Porque, na minha
ilusão, eu achei que esse lugar seria meu a vida toda e, do dia para noite,
percebi que nem isso eu tinha, nem isso era real. E foi uma garota muito jovem
que apareceu e arrancou o véu dos meus olhos. – Ela respira fundo.
– Mas você nunca me enganou, tenho que ser honesta. E eu sei que você se
preocupa, que você me considera uma amiga querida e que sou importante para
você assim como você sempre será para mim. Olha de onde eu vim, Oliver,
minha origem, minha família. Eu jamais estaria onde estou hoje sem a sua
ajuda. Além de sempre estar presente, de ser meu amigo quando eu precisei,
posso dar aos meus pais o conforto que lhes dou hoje por sua causa, porque
você custeou todos os meus estudos numa das melhores universidades do país.
E mesmo depois de eu poder, jamais me deixou te devolver o investimento.
– Não quero discutir o assunto de novo...
– Tudo bem, não vou. A questão é que, além de todas as qualidades
amplamente visíveis, você tem um coração enorme e é difícil fazer parte da
sua vida intimamente e ter isso arrancado de uma hora para outra. Só as poucas
pessoas que têm o privilégio de te conhecer assim, como eu conheço,
entenderiam. Então, sim, de todo o meu coração, eu te perdoo por qualquer
coisa que esteja sendo difícil para mim superar, ou por qualquer sentimento
deturpado que ronda os meus pensamentos nesse momento confuso da minha
vida. Mesmo eu sabendo que eles são mais culpa das minhas fantasias do que
sua, de fato. – E assim ela me faz deixar escapar algumas lágrimas.
Porra! Acho que a minha história com Bia está me deixando sentimental.
– Obrigado – digo secando os olhos.
– Eu quero que você seja feliz, Oliver, de verdade.
– E eu quero o mesmo para você. – A abraço. – Obrigado por tudo. Amigos
outra vez?
– Amigos. Aceita uma bebida? Um café?
– Obrigado, mas deixei uma garota surtando na casa de Hazel porque viria
aqui. – Ela ri e faz negativo com a cabeça.
– Quem sabe um dia a gente não possa conviver bem, não é?
– Isso seria ótimo. Ela é maravilhosa, Riley.
– Para ter feito você se entregar assim, eu não duvido.
– Posso fazer uma pergunta?
– Claro.
– Aquele dia, da entrevista, as duas últimas perguntas, ela não estava
preparada para responder, não é? – Ela me olha ressabiada e suspira.
– Não. Eu quis testá-la. Mas não foi por mal. Foi só como uma prova de
caráter mesmo. E como você mesmo viu, ela se saiu incrivelmente bem.
– Mas poderia ter dado muito errado. Foi arriscado.
– Max sabia, eu falei a ele e qualquer coisa ele estava preparado para
intervir.
– Max concordou com isso?
– Não exatamente, ele não teve muita escolha, o avisei segundos antes. –
Agora eu que a olho incrédulo. – Ok, foi arriscado, me desculpe. Agi no calor
do momento, embalada pelo ciúme. Foi errado.
– Tudo bem. – Decido não prolongar aquilo. – Esclarecido, vamos
esquecer. Você vai ficar bem?
– Vou sim, não se preocupe.
– Ok, vou indo então. Até mais.
– Até, Oliver.
Quando estou longe de lá, voltando para Bia, é que percebo o quanto não só
Riley precisava deste ponto final. Eu também.
O sentimento é de alívio.
Capítulo 18

“Vem amor, que a hora é essa


Vê se entende, a minha pressa
Não me diz que eu tô errado
Eu tô seco, eu tô molhado”
(Pintura Íntima – Kid Abelha)

Bia

D emorei nada, Beatriz.


– Demorou sim.
– Deixa disso. Tá parecendo uma criancinha birrenta.
Eu não esqueci daquela língua.
– Não mude de assunto, mocinho.
– Mocinho? Mocinho? Vou te mostrar o mocinho lá no quarto. – Num
rompante ele me pega pelas pernas, joga por cima do ombro, como fez naquele
dia na casa de Lian. Eu rio e grito ao mesmo tempo.
– Oliver, me põe no chão. Agora! – Dá um tapa na minha bunda e vai
entrando em casa comigo nos ombros.
– Oliver... – Mais um tapa.
– Que gritaria é essa? – Laura aparece na porta e começa a rir.
– Isso é o seu neto dando uma de homem das cavernas. – Outro tapa. Aff...
– O neto dela não precisaria dar uma de homem das cavernas, se uma certa
garota deixasse de pirraça.
– A garota não faria pirraça se o neto dela não tivesse passado horas e
horas na casa da ex. – Tapa. – Pare já com isso! – Tapa. Laura não se aguenta
de tanto rir.
– O neto dela avisou muito bem a garota sobre onde ele estaria.
– Ele disse que seria breve.
– E ele foi.
– Uma ova! – Tapa. – Oliver, minha bunda tá doendo. – Tapa. – Arrggg,
inferno... – Ele finalmente me desce no meio da sala. Laura já sentou e ri tanto
da nossa cara que tem a mão na barriga. Tendo me afastar dele, mas não
permite e me beija sob meus protestos. Ele insiste no beijo, não larga a minha
boca até ver que quebrou minhas defesas e que me tem molinha em seus
braços...
Por que eu não podia ser só um pouquinho mais resistente?
Um tantinho só...
– Assim, bem melhor... – Fala pertinho do meu ouvido.
– Não pense que me dobrou, ainda não engoli...
– Ah já engoliu sim, duas vezes, eu lembro...
– Oliver... – Arregalo os olhos para ele, não acredito que ele falou isso ali,
na frente da avó. Ele só ri. Sorte que Laura ainda está se recuperando e não
ouviu direito, pelo menos assim espero...
– Ah crianças, vocês são tão lindos juntos. Estão com fome? Querem jantar?
– Não Laura, obrigada, já jantamos na casa de Hazel.
– Um jantar super agradável, com alguém comendo emburrada ao meu
lado... – diz ele.
– Quer voltar ao assunto? – pergunto.
– Não, de jeito nenhum, não está mais aqui quem falou.
– Ótimo. Vou pro meu quarto, tomar banho e trocar de roupa. – Me solto
dele, ainda P da vida.
– Ok. – Os dois de repente trocam olhares cúmplices, não entendo. Mas
quando entro no meu quarto, vejo ele entrando no seu.
Vou direto para o closet. Sei que estou sendo rabugenta. Não é desconfiança
é só... ciúme... e o ciúme é irracional, não é mesmo? A gente só sente. Tem que
esperar, deixar passar. Talvez seja melhor eu dormir aqui no m...
– Cadê minhas coisas? – pergunto a mim mesma.
Não tem mais nada aqui... Olho no banheiro. Nada. Volto para o quarto e até
o porta-retratos dos meus pais que ficava sobre o criado mudo não está mais
lá. Saio a procura de Laura. Ela não está na sala e nem em qualquer lugar
próximo. Decido então questionar Oliver, abro a porta do seu quarto e congelo,
fascinada.
Ele está deitado, no meio da cama, só de cueca, uma mão atrás da cabeça e
a outra afagando o tora por baixo do pano.
Salivo.
Que espetáculo!
Ele é tanta areia para a minha caçambinha...
Como manter a pose de brava com um Deus do Olimpo assim, oferecendo-
se em sacrifício para a uma mera mortal? Nem lembro o que fui fazer ali, fico
só admirando, com água na boca.
– Algum problema, baby? Perdeu alguma coisa? – pergunta despreocupado,
sem perder o ritmo da brincadeira.
– Nã-não...
– Você não ia tomar banho?
– Hã?
– Você já foi mais eloquente. Está passando bem?
– Ahhh... ummm... sim... minhas coisas... sumiram... – Oh céus, estou sem
fôlego e louca para dar para ele de novo... como pode?
– Sumiram? Como assim?
– O closet... está vazio... – Então eu vejo, no criado mudo que fica do lado
da cama que eu normalmente durmo, a foto dos meus pais.
– Oliver... você?
– O que foi anjo? – Entro no closet para confirmar e está tudo ali, todas as
minhas coisas, inclusive o...
– Que porra é essa? – pergunta ele atrás de mim, olhando para o seu pôster
de tamanho real a nossa frente, ao lado do espelho de corpo inteiro que tem ali.
– Eu gargalho.
– A porra é você, meu bem... sexy ao extremo.
– Que merda... aonde conseguiu?
– É uma longa história...
– Como assim? Eu tinha mandando destruírem todos.
– Por quê?
– Por quê? Tiraram essas fotos de nós durante a gravação do vídeo clipe de
Eletric Sex e...
– Verdade, você estava com esse figurino naquele clipe, gostoso demais, eu
quase tive um treco quando vi. Vocês quatro estavam de babar.
– Nós quatro, Beatriz?
– Sim, Kellan ainda não estava, mas Jack Tyler era um belo exemplar da
espécie também, então sim, vocês quatro. Não sou cega, Oliver.
– Caralho, era só o que me faltava...
– Mas o que isso tem a ver com mandar destruírem todos?
– Você acha mesmo que nós somos o tipo de banda que se exibe em coisas
deste tipo? – Aponta para a sua foto. – Uma maluca que Alicia contratou para o
departamento de mídias, há dois anos mais ou menos, achou as fotos e mandou
fazer essa palhaçada junto com o material promocional da última turnê e nós só
descobrimos no primeiro show, quando a louca espalhou os avatares pela
arena.
– Pois eu achei esplendoroso... – Ele me enlaça por trás e sinto o pau a
meio mastro contra minha coluna.
– Mas você não explicou como conseguiu ele, mocinha... – sussurra a
última palavra no meu ouvido e eu rio.
– Isso eu te conto outra hora.
– Certo... Mas uma coisa eu quero saber agora. Você tinha a minha foto no
seu quarto, Beatriz?
– Sim, ela esquentava as minhas noites.
– Esquentava, é?
– Muito.
– E como fazia isso, meu amor, me conta... – Se aperta mais contra mim,
beija atrás da minha orelha, e fixa os olhos nos meus através do espelho. Eu
amoleço e inflamo ao mesmo tempo.
– Eu... eu... ficava imaginando você fazendo coisas comigo...
– Uhmmm... coisas? Que coisas, baby? – Beija e lambe o meu pescoço.
– Muitas, muitas coisas... aahh... quentes... – Ele sorri, travesso.
– Quentes? – Ele põe uma mão por dentro da minha blusa e alisa minha
barriga, enquanto a outra afasta o meu cabelo para que consiga beijar minha
nuca, me fazendo contrair os ombros e arrepiar inteirinha.
– Muito – digo sem forças. Ele é uma criatura divina. E olhar para a
imagem de nós dois juntos refletida no espelho, me transporta para dentro dos
meus sonhos mais eróticos.
– E sacanas? – Encosta o pau na minha bunda e se esfrega ali.
– Ahã...
– E depravadas? – sobe uma mão para os meus seios.
– Ahhhh...
– Será que você me imaginava fazendo isso, pequena? – Enrola um dos
mamilos entre os seus dedos e gira, enquanto mordisca o lóbulo da minha
orelha.
Deus!
– Sim...
– E assim baby, eu também fazia? – Desce a mão por dentro da minha calça
e calcinha e brinca com o meu sexo displicentemente, passando os dedos por
aquele ponto durinho e entre os lábios vaginais.
– Aaahh ãhã.
– É, minha delícia, você ficava lá, na sua cama, olhando para a minha foto e
me imaginando afundando a cabeça no meio das suas pernas e chupando a sua
bocetinha? – Arfo já sem folego. – E você se tocava enquanto pensava em
mim, bebê?
– Siimm...
– Aaahhh, queria tanto ter visto... – Ele leva a segunda mão ao botão da
minha calça e abre, então abaixa tudo e me ajuda a sair de dentro da roupa. –
Eu tirava sua roupa? Te deixava peladinha?
– Deixava... – Minha voz está tão rouca. É tão erótico... Minha blusa e sutiã
receberam o mesmo destino da calça. Pega minha mão e leva até a minha
boceta.
– Brinca com ela, baby, quero ver você.
– Prefiro quanto você brinca.
– Sei que prefere. Mas me deixa guardar o retrato da minha garota se dando
prazer. – Começo a me estimular como ele quer, mas o prazer não chega nem
perto de quando é ele passeando ali.
– Anjo, que fantástica essa imagem. Você, linda demais, vestindo apenas as
minhas mãos, que deslizam pelo seu corpo perfeito, encantadas com a maciez
da sua pele, e vagueiam indecisas, sem saber se aventuram-se a escalar os
picos mais altos, os mais belos que já vi, ou se alcançam o local quentinho que
seus dedos exploram agora. Quentinho, molhado, lisinho, apertado e doce, tão
doce... salivo só de lembrar. – Uma mão sua está agora em meu seio, e a outra
passeia pela minha virilha depilada.
Olho para o nosso reflexo.
Realmente o quadro é de tirar o ar.
Ele grande, sedutor, um exagero de tão gostoso atrás de mim, me
acariciando. E eu, pequena e delicada à sua frente.
Nunca me senti tão linda como agora, nunca me vi de forma tão... Sexy!
– Olhe só para você... é estonteantemente, estupidamente gostosa, e minha,
somente minha. – Retira minha mão do meu sexo e leva meus dedos a sua boca,
chupando um a um. – Agora diga! – Distribui beijos e roça a barba pelos meus
ombros, nuca e pescoço enquanto aguarda eu repetir o que ele tanto gosta de
ouvir.
– Sim, todinha sua.
– Só eu estive aqui, baby. – Passa os dedos pelos meus lábios.
– Sim.
– E só eu estive aqui. – Passa um dedo pela minha vulva e depois enfia-o
em mim.
– Só você. Até nos meus sonhos, só você. Oliver... aaahhh. – Eu gemo por
ele estar me invadindo e ele geme com a minha resposta e expressão no
espelho, seu pau explodindo a cueca e cutucando minhas costas.
– E hoje, amor, eu também estarei aqui, só eu. – Circula meu ânus com um
dedo.
Travo na hora.
Acabou o romantismo.
– O que? Tá maluco? Cai fora! – Tento me desvencilhar dele, mas passa
uma mão pela minha cintura impedindo que eu escape e então tudo acontece
muito rápido.
Enquanto me segura, retira a cueca, o pau já estava com a camisinha
vestida... safado, tinha tudo planejado... me vira de frente para ele, passa as
mãos por baixo das minhas pernas, me erguendo, me pondo com as costas
grudadas no espelho, obrigando-me a enrolar as pernas em torno da sua cintura
e, de uma só vez, mete na minha boceta.
Eu vejo estrelas, pôneis, arco-íris e uma enorme gama de seres mitológicos.
– Aaaiiiii, porra... você é grande, cacete... – As estocadas já começam em
ritmo nada lento.
– Lá no seu quarto, eu fazia isso também, baby? Te comia assim? Forte,
contra a parede?
– Sim, comia, muito... – Ele ri.
– Reclama, mas era assim que você imaginava nas suas fantasias, não é? Eu
te surpreendendo e te pegando com força, de jeito?
– Sim... Exatamente assim.
– Sabia! E eu falava putarias no seu ouvido, anjo?
– Muitas.
– Gostosa do caralho! Toma todo o meu pau, Beatriz. Todinho enterrado na
sua boceta apertada e gulosa. Vou encher o seu cuzinho de porra hoje, bebê. –
Não me espera protestar, me beija com gana, enquanto mete em mim,
alucinado.
Mal consigo respirar, não sei mais quem sou, nem onde estou, só quero me
agarrar ao que é meu e me fundir a ele, mais e mais...
Ele me sustenta pela bunda apenas com um braço agora, sobe a outra mão
aos meus peitos, aperta, continua a escalada, até parar na minha garganta e
levar dois dedos a minha boca.
– Chupe! – Ordena.
Eu faço, claro, não tem como negar nada a ele quando está assim, no modo
macho fodedor das galáxias.
– Isso bebê, chupe bastante, bem gostoso, assim... – Vai enfiando e tirando
aqueles dois dedos da minha boca, como faz com o tora lá embaixo, num ritmo
um pouco mais lento agora...
– A sua boca foi feita para o pecado, pequena, feita para foder... – Céus,
está inspirado e eu estou começando a entrar naquele estado pré-gozo, a coisa
está se construindo e vai ser dos bons... Ele retira os dedos da minha boca e os
leva para baixo, e devagarinho, devagarinho, vai se aproximando de lá, do
buraco proibido...
– Oliver... o que você vai...
– Shhhhh, quietinha. Eu tenho umas dívidas para cobrar, lembra? E hoje é o
dia do pagamento. – Antes que eu consiga dizer não, enfia um dos dedos que eu
lubrifiquei para ele, na minha bunda, e dessa vez não é só a pontinha...
– Aaaahhhhh, caralho... isso é... esquisito demais – digo. Realmente não sei
o que dizer daquilo...
– Relaxe, baby, só relaxe e curta...
– Curtir? Porque não é no seu... Mal cabe na minha boceta Oliver, nunca
que vou deixar enfiar o tora aí... – Ele apoia a cabeça no meu pescoço e
chacoalha os ombros enquanto ri.
– Veremos. E bom, não estou dando opção, então tire o melhor proveito da
situação.
– Aff... – Eu ia dizer alguma coisa, mas de repente aquilo começa a ficar...
interessante...
– Brincadeira anjo, se quiser eu paro. Quer que eu pare agora, Beatriz? –
Filho-da-mãe.
O senhor experiente esperou para me dar a opção justo quando percebeu
que o prazer voltou ao meu corpo, claro.
– Não sei... – Ri debochado.
– Então descubra baby. – Segue enfiando e tirando o dedo de lá.
– Aaaaaa... Oliver... – Ele mete e tira, mete e tira, dos dois buracos ao
mesmo tempo e nossa, isso está criando uma sensação alucinante... e quando
está realmente começando a ficar gostoso, ele mete o segundo dedo e desanda.
– Aaii... dói... – Me aperto em seus ombros.
– Calma... calma... relaxa a bundinha... já vai ficar gostoso de novo...
respira... assim... não tem como eu colocar meu pau aqui sem abrir antes amor,
iria te machucar.
– Puta-que-pariu...
– Olha a boca, Beatriz.
– Tomar no teu cú, Oliver. – Ele cai na risada de novo.
– Hum que gostoso, pequena... preparando o seu rabinho pro meu pau, não
vejo a hora... e isso enquanto fodo a bocetinha da minha menina.
– Aaaahhhh Deus... você está caprichando hoje...
– Realizando os seus sonhos, baby, tudo para você... me diz anjo, lá no seu
quarto, eu fazia aqui atrás também?
– Não, nunca! Não lembro desse sonho... Estaria mais para pesadelo. – Ele
ri e eu digo aquilo meio sem forças, porque, puta merda, aquilo está bom
mesmo.
To quase, eu disse quase... bem curiosa para saber como é ter o tora ali...
– Ahhh, mais eu quero comer o seu cuzinho, amor. E eu vou.
– Oliver... amor...
– Eu sei pequena, está quase lá, não é?
– Siiimm...
– Goza, meu bem, goza bem gostoso para mim. – Começa a meter e a tirar
mais rápido, dos dois buracos.
Cacete, caraca, carambola...
Quando o meu ventre contrai, as pernas tremem em sua cintura e ele percebe
que cheguei lá, enterra os dois dedos no meu rabo de uma vez e gira, enquanto
mete e tira o pau da boceta.
Porra!
Eu berro e gozo esguichando água da vagina outra vez.
Estou destruída.
– Delícia de gozada, bebê – diz e me beija. – Agora é a minha vez. – Ele me
desce.
Sério que quer que eu firme minhas pernas no chão neste momento?
– Espalme as mãos no espelho. – Leva as minhas mãos até lá ele mesmo,
porque não consigo. – Assim pequena, a bundinha bem empinadinha para mim.
– Força o meu tronco um pouco para baixo, formando uma curvatura nas
minhas costas.
– Ah essa bunda... tão gostosa, tão cheia e arrebitada... – diz alisando o meu
traseiro. Jesus, é agora! – Sonho tanto com ela e hoje ela vai ser minha. Mas
ela também é tão atrevida... – Dá um tapa de um lado. – Fica se mostrando em
biquínis indecentes. – Um tapa do outro lado...
– Ai.
– Vamos ver se ela aprende de uma vez por todas a quem pertence... –
Circula o ânus. Tremo.
Não sei se quero, mas também estou curiosa pra caralho... Ele retira a
camisinha, depois despeja algum óleo sobre o meu ânus e também sobre o seu
pau.
– Você quer, Bia? Quer que eu te foda aqui, amor? – pergunta massageando
o local dos seus desejos e do meu desespero. – Quer saber como é me ter aqui
dentro e não só os meus dedos?
E agora?
Encaro ou amarelo?
– Quero. – E àquela altura, depois de toda a expectativa que ele criou, eu
quero mesmo.
– Boa menina. Nunca me decepciona. – Ele se posiciona e encosta a cabeça
quentinha e aveludada do pau lá. Só esse contato já é bem melhor do que o
dedo. Então vai pressionando para entrar, esticando ao máximo... ele é grosso
demais... começa a doer pra cacete.
– Oliver... está doendo... muito...
– Calma amor, é só no começo... segure firme... respira... assim... você
consegue... você consegue me levar, baby.
– Aiiii... cacete... – Ele beija minhas costas, deita sobre elas, me abraça e
para. É nítido que se esforça demais para dar aquela paradinha.
– Quer desistir? Se quiser tudo bem. Mas é só questão de relaxar e permitir,
Bia.
– Não quero desistir. Vamos tentar mais um pouco. – Se ergue e eu me
concentro em relaxar ao máximo lá atrás, ele empurra um pouquinho mais e
sinto quando passa.
– Pronto... a cabeça passou... você está indo bem, pequena, só não deixa de
relaxar a bundinha... se travar, segurar, vai machucar... relaxa mais... assim...
estou dentro, amor... uhmmm... que delícia... – Ele dá uma reboladinha
alargando mais.
– Porra, ai... estou só pensando na cratera que vai ficar aí atrás...
– Volta tudo pro lugar depois, não se preocupe. – Enfia mais um pouquinho.
– Aiaiai.. dói pra diabo... – Ele abaixa outra vez e cola o tronco no meu.
– Você aguenta, amor. – Beija minhas costas. – Você aguenta levar o seu
homem aqui. – Abre as bandas da minha bunda com as duas mãos. – Todo ele,
e depois vai me pedir por isso, bebê. O tora é seu, meu bem, só seu.
Sabe aquele papo de vendedor?
Que te enrola até você comprar algo que, na real, não precisava?
Pois é, estou me sentindo no meio de uma demonstração.
Mas como não ter vontade de dizer mete tudo, depois de ouvir um incentivo
desses no seu ouvido?
Só que a dor lá atrás não permite.
Ele distribui mais beijos pelas minhas costas e massageia minhas nádegas
para que eu relaxe e quando acontece, põe um pouquinho mais... céus...
– Não vou forçar mais hoje, baby, vamos só até aqui. Agora eu vou me
mexer.
Começa o vai e vem lá atrás, devagar e no começo dói, reclamo, xingo, mas
depois de um tempo, relaxei e não incomoda mais. Começo até a levar a bunda
na direção dele.
O negócio fica bom, muito bom, muito melhor que os dedos... o tesão volta
com tudo e junto à ideia do proibido, do errado, do imoral, me excita pra
cacete. Num instante estou mexendo mais e mais rápido ao encontro dele.
– Ah amor, que delícia, gostoso demais... só vai com calma, porque se eu
entrar todo aqui de uma só vez, vou te machucar... mexe devagar baby...
– Oliver... como pode? Está tão bom...
– Eu disse que você ia pedir por isso, não disse? Vou gozar logo, não
consigo mais segurar muito...
– Aaaahhhh... que gostoso...
– Vem comigo, vem... – Ele leva a mão a minha vagina, começa a me
estimular por ali também e não demoro muito, gozo pela segunda vez na noite,
agora junto com ele.
– Oliveerrr... to gozandoooo...
– Bia... to-ma to-da a mi-nha por-ra. – Cada sílaba, uma estocada forte e
lenta.
Desabamos os dois no chão do closet. Ele me puxa para cima do seu corpo,
me beija, não tenho energia nem para retribuir o beijo.
– Tudo bem?
– Sim... – digo entre suspiros e ainda sem acreditar que fiz aquilo mesmo. –
Mas eu juro que nunca mais quero te dever nada na vida. – Ele se afina de
tanto rir.
Lindo!
Parece um menino.
Um menino exalando felicidade.
Como eu amo!
Levo a mão até a minha bunda, para analisar o estrago.
– Esse buraco não está normal, não – constato.
– Ai Bia, eu não aguento mais rir... ai... vai voltar, amor.
– Se não voltar vou precisar de uma plástica. É isso ou ficar vazando por
aí... ainda bem que você tem dinheiro... – Ele afunda o rosto no meu cabelo e ri
sem parar.
– Temos que abrir um espumante hoje também. Cem por cento inaugurada!
– provoca.
– Aff Oliver, não acredito que você disse isso! Aliás, você caprichou na
putaria hein? Se eu ainda tivesse alguma vergonha nessa minha cara, teria
ficado vermelha algumas vezes. Mas depois de hoje, acho que não restou nem
uma sombra de vergonha em mim.
– Você é uma safada, Beatriz. Pensa que eu não vejo o quanto gosta que eu
solte o verbo? – Sorrio.
– É, eu gosto. Gosto de tudo com você.
– E então, atendi as expectativas dos seus sonhos adolescentes? – diz
apontando para o pôster.
– Nunca cheguei a sonhar tão alto, baby. Mas falando nele, – inclino a
cabeça em direção ao boneco – eu vi o seu, o de Max no quarto de Hazel,
queria ver como ficou o de Lian.
– Nunca. Nem pensar.
– Por quê?
– Não deveria nem ter visto o de Max... ainda mais depois do que você me
disse antes... como foi mesmo? Ah, sim... “Vocês quatro estavam de babar” –
fala imitando voz de mulherzinha. – Vocês quatro o cacete! – Rio. – Vou
mandar eliminar o clipe de Eletric Sex de todas as mídias.
– Deixa de ser ciumento. É só uma foto.
– Você tem coragem de me falar de ciúmes? Hoje?
– Ah, não queira comparar... e nem deveria ter me lembrado dessa merda...
Hazel deve ter a de Lian, vou pedir para ela me mostrar.
– Não se atreva, – diz invertendo nossas posições e se colocando sobre
mim – ainda mais a de Lian...
– Por quê? O que tem a de Lian?
– Ele está pelado. Só o cabo da guitarra tapando o pau.
– Não? – pergunto e abro um sorriso para ele. É claro que agora fiquei mais
curiosa ainda...
– Sim, quando disseram que tinha que ser sexy, Lian entendeu pornográfico,
e a fotógrafa adorou, claro. Inclusive tentou persuadir Max e eu a fazermos o
mesmo. – Ele percebe meus olhinhos brilhando de curiosidade. – Tire já essas
cenas da sua imaginação, Beatriz. Por que fui abrir minha boca...
– Você vai me perdoar, amor, mas eu tenho que ver isso.
– O caralho!
– Eu amo você!
– Nem tente, Bia.
– Amo demais! – O beijo demoradamente para que se esqueça daquilo e
então me lembro do motivo que me fez entrar no quarto dele. – Por que minhas
coisas estão aqui?
– Porque aqui é o seu quarto também. – Sorrimos um para o outro.
– Obrigada. Por tudo. Por aquele dia no hospital, por ter me acolhido em
sua casa, pela surpresa hoje na produtora, pela chance de estudar e ter uma
carreira, e principalmente, por todo amor.
– Faltou uma coisa importantíssima, baby, senão vou ficar ofendido.
– É mesmo? O que?
– O sexo. Você não me agradeceu pelo sexo.
– E por todo o sexo alucinante, oh Deus do Rock!
– Bem melhor! Agora me conta como conseguiu aquilo ali, sua tarada...
– Bom, então... – Faço o relato completo da travessura do meu pai ao
roubar o avatar e ele se diverte com a história.
– Eu queria tê-lo conhecido, anjo.
– Eu gostaria muito que você tivesse, baby.

Oliver

– E então bundão, qual o motivo da reunião nas férias? – pergunta Lian.


Estamos todos no estúdio, junto com Johnathan.
– Eu gostaria de fazer uma coisa, mas para isso dar certo vou precisar da
colaboração de todos vocês. Então quero saber se topam entrar comigo nessa.
– Sem suspense, manda de uma vez, Oliver – fala Max.
– Como vocês sabem, os pais de Bia morreram de câncer. E eu pedi a vovó
para estudar como a ONG poderia promover alguma ação em prol da
prevenção e tratamentos da Leucemia, que levou Eva Thompson, e do câncer
de pulmão, que acometeu Robert Thompson.
Após essa introdução, relato a eles todos os dados que minha avó trouxe a
mim naquela noite.
– Então você está pensando em gravarmos alguma campanha para veicular
em favor do banco de medula e contra o tabagismo?
– Não, eu estou pensando um pouco além disso. Eu quero iniciar o nosso
próximo ciclo de trabalho com uma outra turnê. Uma turnê mais curta, mas que
passe pelas principais cidades americanas, alemãs e brasileiras. E o ingresso
ao show será free, mas só poderá ser adquirido através dos órgãos que fazem o
cadastramento para o banco de medula. Se a pessoa já é possível doador, ela
pode conseguir o ingresso levando um amigo para fazer o cadastramento. Se
não é, basta se tornar um, para retirar seu ingresso. Assim, pelo menos metade
do público de cada show, será de novos doadores. Será uma turnê beneficente.
– Todos me olham embasbacados e não dizem nada. Johnathan é o primeiro a
se manifestar.
– Oliver, a sua intenção é louvável, mas o custo de uma turnê dessas é
exorbitante, nosso caixa seria seriamente afetado. Não acho que sairíamos
disso sem um rombo grande no orçamento caso não cobríssemos pelo menos os
custos com os ingressos.
– Pensei sobre isso também e vou propor outras maneiras de cobrirmos os
custos sem ter que comercializar ingressos. Tenho três músicas novas e
podemos gravá-las antes de iniciar a turnê, fazer os vídeo-clips e divulgar,
isso subiria a receita vinda dos aplicativos, o que já ajudaria nos custos com
duas delas. Outra parte viria da venda de acessos ao meu camarim e venda de
entrevistas.
– O que? – Max se manifesta.
– Isso mesmo, pela primeira vez estou disposto a receber, dar autógrafos e
conceder entrevistas suficientes para cobrir os custos desta turnê.
– É o fim dos tempos... – resmunga Lian.
– E se vendêssemos ingressos VIPs, no gramado, montamos um ambiente
chique para atrair as celebridades e os magnatas, cobrando caro. Isso já
bastaria – sugere Johnathan.
– Não. Quem deve receber as honras no evento, são as pessoas que vão se
dispor a doar parte do seu corpo para salvar a vida de outra e não socialites e
playboys endinheirados. Não quero distinção deste nível nos shows. Vamos
cobrar caro o acesso aos bastidores, a celebridade que quiser comprar só isso
porque não quer ser doador e assistir ao show, que seja.
– Oliver, se vamos cobrar caro o acesso aos bastidores, precisamos atrair
pessoas com dinheiro ao evento. E infelizmente vivemos num mundo hipócrita,
onde muitos dos que chegaram ao topo, principalmente os que conseguiram isto
por meios escusos, querem ter vantagem sobre os demais. Vamos montar uma
área VIP perto do palco e imputar a parte filantrópica junto, por exemplo,
quem adquirir o ingresso, terá acesso à área VIP e custeará parte do tratamento
de uma criança de baixa renda, por exemplo. Imputamos os dois custos no
valor. – Tenta Johnathan de novo.
– Não sei... mas de qualquer forma, não adianta discutirmos os detalhes se
aqueles três ali não toparem – digo e olho para o restante da The Order.
– Eu estou dentro – diz Kellan. Meneio a cabeça para ele em
agradecimento. Sei que topou por ela.
– Eu topo, mas com uma condição – diz Lian. – O tio vai estudar o que é
necessário para cobrir os custos, tentando ao máximo manter o evento o mais
filantrópico possível, mas se ele achar que temos que ter uma área VIP paga,
assim será e você vai aceitar.
– Estou com Lian – fala Max.
– Tudo bem – aceito por fim.
– E se nós não aceitássemos? – pergunta Lian e eu dou de ombros.
– Eu sairia em turnê solo. – Ele ri.
– Eu sabia. Você já entrou aqui com aquele olhar.
– É muito bonito o que você está planejando Oliver, não há como não nos
envolvermos. Só fiquei com uma dúvida, você disse que tem três músicas
novas e que duas delas poderiam pagar parte dos custos. Por que não as três? –
pergunta Max. Sorrio.
– Porque uma delas faz parte da segunda parte do plano. Eu quero que todo
o dinheiro conseguido com essa música seja integralmente destinado ao
tratamento do câncer de pulmão para pessoas que não tem como custear. E
também para campanhas antifumo. Ad Aeternun. E nós vamos lançá-la e
anunciar na turnê.
– Caraca – diz Lian.
– Alguma objeção? – pergunto.
– Não – respondem os três juntos.
– É por isso que a reunião foi feita no estúdio? Você vai nos apresentar a
música hoje? – pergunta Kellan.
– Na mosca, fedelho. – Pego as partituras que trouxe comigo e entrego a
eles. – Já escrevi a voz de cada instrumento, mas claro, fiquem à vontade para
sugerir qualquer melhoria. Ela não terá um solo de guitarra, Lian, mas terá um
solo de baixo, Kellan. E isso deixei para que você crie como achar melhor. Ele
sorri.
– Guardian Angel? – pergunta Max sorrindo e negando com a cabeça.
– Sim, esse é o título da música. E sim, é sobre ela. Me acompanham? –
digo indicando os instrumentos.
Todos tomam os seus lugares. Eu faço sinal para um dos técnicos acionarem
a gravação, pois quero que a mandem para Edgar depois. Então me sento ao
piano e ajusto o microfone. Sorrio lembrando do que fizemos sobre esse
mesmo piano na semana passada. Começo com a introdução e a partir do
segundo compasso os outros me acompanham. No momento certo entro com a
voz. Quando chega a vez do solo de baixo, Kellan improvisa alguma coisa,
provavelmente apenas um esboço do que ele pretende compor, mas já gostei da
ideia. Logo que a última nota soa, aguardo em expectativa.
– Porra, isso foi lindo. Vai ser um hit de cara. Certeza –emociona-se
Johnathan.
– Será sem dúvida a nossa música mais rock balada até agora – completa
Lian.
– E também a mais complexa. A melodia não tem semelhança, mas a riqueza
do piano e as várias modulações dos outros instrumentos, me lembraram de
Love of my Life do Queen na versão do álbum A Night at the Opera.
Lindíssimo, parabéns! – completa Max.
– Você estava inspirado – elogia Johnathan.
– Inspirado e apaixonado – lembra Lian.
– É linda, Oliver. E obrigado por me dar o solo instrumental – fala Kellan.
Respiro aliviado com a boa recepção da música. Estava um pouco
apreensivo com a reação, por ser realmente a melodia mais lenta que compus
até hoje. As outras músicas mais calmas, fora Private Chaos, que nem é tão
calma assim, foram composições de Max.
– Fico feliz que tenham gostado. Só queria pedir que não contem nada para
Bia sobre a ideia da turnê e principalmente sobre a música ainda. Eu quero que
ela veja a canção pela primeira vez no show. Penso em fazer um clipe em
homenagem ao seu pai para passar ao fundo. – Eles assentem.
– Para quando está pensando em lançar esta turnê? Metade do ano? – Lian
faz a pergunta de um milhão de dólares e tenho receio das reações.
– Em janeiro – falo de uma vez.
– Daqui um ano? Tá tranquilo então. – Ah Max, não, você não entendeu...
– Daqui a três meses – esclareço.
– O que? Este janeiro? Como? Impossível terminar tudo... e estamos de
férias... – lembra ele.
– Pois é, quero gravar três músicas, pelo menos um clipe e organizar uma
turnê em menos de três meses. Férias canceladas.
– Tava bom demais... – Lian brinca.
– Porra! Mas por que a urgência? – reclama o ruivo.
– O primeiro show será no aniversário dela. Dez de janeiro. E ela nos
acompanhará na viagem.
– Você pretende levar Beatriz na turnê? Toda a turnê? – Max está incrédulo.
– Sim, não vou ficar dois, três meses longe dela. – Lian e Johnathan caem na
gargalhada.
– Era só o que faltava! – xinga o ruivo. Meu telefone vibra. Pego-o e vejo
que há algumas mensagens de Bia. Uma de duas horas atrás, uma de uma hora e
meia atrás e uma de agora.

Oliver, Hazel quer ir ao shopping em


Long Beach. Vou com ela, tudo bem?

Amor, sei que deve estar ocupado, mas


como não respondeu, decidi ir

Estamos no shopping. Amo você!

Sorrio com a última mensagem. Quando levanto o rosto vejo que os quatro
estão com os olhos em cima de mim.
– Ahhh o amor... – Lian não perde a oportunidade.
– Não sou eu que tenho uma coleção de emoji de coração e beijinho,
babaca. – Ele me mostra o dedo do meio.
– Bom então... – começa Johnathan, mas eu peço que espere.
– Só um minuto Johnathan, preciso mandar uma mensagem para Peter.

Peter, quero ir ao shopping em Long


Beach em alguns minutos. Tem como
organizar?

Aproveito e mando uma mensagem para a Bia.

Você está usando algum


disfarce? Alguém pode te
reconhecer...

Sim, para o meu desespero me

deram uma peruca RUIVA


Ah é? Adoro ruivas. Me manda
uma foto, quero ver
Você tem amor ao seu pau, Oliver?
Vou lembrar disso a próxima vez
que quiser entrar pela porta dos
fundos. Doeu por um bom tempo.

Sua declaração me põe um certo peso na consciência.


Será que peguei pesado demais com ela?
Cedo demais? Claro que foi, Oliver.
Seu idiota.
Nem percebo que estou ali parado encarando a tela do telefone por tempo
demais e permitindo que um certo colega de trabalho curioso e enxerido veja a
nossa troca de mensagens.
– Puta merda! – Escuto Lian dizer atrás de mim. Inferno. – Eu não acredito
que você fez isso com aquele doce de menina – fala debochado.
– Cala a boca, Lian. – Olho torto para ele.
– O que ele fez com ela? – Óbvio que Kellan iria se doer.
– Nada. É coisa nossa – corto e Lian gargalha.
– Você aprontou com ela, Oliver? – O moleque insiste.
– Ah, ele aprontou. Das grandes! – provoca o palhaço.
– Lian, para de colocar lenha na fogueira, porra. Você não tinha nada que
espiar as minhas mensagens com Beatriz. E não, Kellan, eu não aprontei com
ela, fique tranquilo. – Kellan me olha ressabiado.
– Eu fui espiar o que tanto você falava com Peter. Estávamos todos aqui
esperando a princesa terminar a troca de mensagens para podermos seguir
com o nosso dia, de FÉRIAS. Um dos últimos, pelo visto. Só que não
imaginava acabar lendo o que eu li... caramba... Biazinha... – É um pé-no-saco
mesmo!
– O que? Estavam trocando putarias? – Max se junta na provocação.
– É, por aí... – responde o guitarrista.
– Bom, então... – Tento mudar de assunto e meu telefone toca, ajudando com
o plano. – Fala Peter.
– Você perdeu o juízo, Oliver? Shopping quinta à noite em Long Beach?
– Vou disfarçado.
– Se alguém notar, será um caos.
– Não vão. Bia também está disfarçada e ficarei pouco tempo no shopping.
Só o suficiente para jantar com ela e Hazel.
– Eu também vou. – Max se anima.
– Ouviu Peter?
– Ouvi. Acabou de piorar a situação que já era péssima. Caprichem nesses
disfarces, fiquem numa mesa o mais reservada possível, não circulem demais e
não reclamem do número de homens à paisana que mandarei junto. Se eles
falarem alguma coisa, ouça-os. Pegam vocês em vinte minutos.
– Estamos na Three Minds e temos disfarces aqui – conto.
– Em dez minutos então. – Desliga.
– Bem garotos, acho que é isso, não? Vou montar o plano financeiro dessa
turnê relâmpago e voltamos a conversar.
– Obrigado Johnathan. Obrigado a todos por toparem.
– E quando não embarcamos nas loucuras uns dos outros, Oliver? – Lembra
Lian.

Bia

Bia, o Islands está tranquilo. Max e


eu as esperaremos lá. Peçam pela
reserva em nome de Peter Lewis
ao chegarem
Ok, baby, estamos indo

– Hazel, estão nos esperando no Islands.


– Eu vi, Max também me mandou.
Chegamos rapidamente ao restaurante e a recepcionista nos leva até a mesa
mais reservada do lugar. Ele me vê chegando de peruca ruiva e abre um
sorriso maroto. Está tão feliz, parece um menino.
– Onde estão os meus cachinhos? – pergunta me abraçando e beijando meu
pescoço. Enlaço seu pescoço, afago seu rosto ou o que é possível dele por
causa da barba lenhador.
– Seus cachinhos estão escondidos debaixo dessa aberração, que, aliás,
esquenta pra diabo. – Aponto para a peruca. – Mas agora me beija porque
estou com saudades, rockstar. E ele faz. Me beija demoradamente.
– Também fiquei com saudades, baby. – Me abraça apertado, afundando o
rosto na curva do meu pescoço e inspirando meu cheiro. Faço o mesmo com
ele. Parece que a cada dia que passa nossa ligação fica mais forte, mais
dependente. Isso assusta.
– Hã, hã. – Ouvimos Max e sorrimos um para o outro.
– Acho que estão nos censurando.
– Vamos provocá-lo um pouco mais então. – Me beija de novo.
– Hazel e eu estamos com fome, vocês pretendem ficar muito tempo nessa?
– Interrompo o beijo.
– Desculpe.
– Não tem nada para se desculpar, amor. Deixa de ser bebê chorão, Max.
– Ai que lindo! – diz Hazel.
Max e Hazel estão sentados lado a lado. Ele está com os braços em torno de
seus ombros e ela com a cabeça apoiada no dele.
– Lindo o que? Max ser um bebê chorão? – pergunta Oliver.
– Não, você chamando Bia de amor. – Oliver sorri e Max nos analisa.
Parece que ele ainda não acredita que o vocalista da The Order possa
mesmo estar nessa relação para valer. As vezes tenho a impressão que ele está
só esperando o momento em que seu amigo se dará conta da burrada que fez.
Oliver me abraça assim como Max faz com Hazel e beija minha cabeça.
– Mas e você? Cadê Eric? – Hazel me olha surpresa.
Putz, esqueci de atualizá-lo. Max fica desconcertado e a solta. Acho que ele
se esqueceu momentaneamente que existia um Eric na vida de Hazel.
– Não estamos mais juntos.
– Não? – pergunta Max, esperando a confirmação.
– Não.
– O que houve? Pareciam tão bem. – Oliver tenta entender.
– Sim, nós estávamos. Eric é maravilhoso, mas... – Ela suspira. – Eu estou
com outros planos, então conversamos e achamos melhor assim.
– Que planos? – Quer saber Max.
– Eu conto, mas não acham melhor pedirmos primeiro? – Tenta ganhar
tempo.
Enquanto esperamos pela comida, entramos em outros assuntos e vejo Hazel
relaxar momentaneamente. Conversamos sobre o nosso encontro com Edgar
ontem, Max conta um pouco sobre a sua vontade de começar a explorar novos
talentos na produtora em um futuro próximo e o jantar flui descontraído.
– Chega de enrolar princesa, fale sobre os tais planos – pede Max.
– Há um bom tempo eu venho pensando no que pretendo me dedicar agora
que terminei o ensino médio – começa ela. – E cheguei a triste conclusão de
que eu não sei. Não tenho um desejo de ser isso ou aquilo, nenhum sonho no
âmbito profissional. Então ao invés de optar por um curso universitário agora,
e talvez embarcar em algo que me faça desistir no meio do caminho, decidi me
inscrever em um programa de seis meses que apresenta aos alunos a
abrangência de várias áreas, os cursos disponíveis em cada uma delas, suas
particularidades e especialidades. Cada semana é voltada para uma
determinada área do conhecimento. Desde as artes até as engenharias. Tenho
esperança de que isso abra os meus horizontes e eu me interesse de verdade
por uma delas.
– Isso é ótimo Hazel, acho que você está certa na sua avaliação e decisão.
Só não entendi o porquê de o curso impossibilitar o seu relacionamento com
Eric – questiona Oliver.
– Ficarei seis meses fora, Oliver, achamos melhor terminar e então, quem
sabe, quando eu voltar... – Ela dá de ombros.
– Como assim ficará seis meses fora?
– Eu farei o curso em Londres, Max – responde olhando para ele. – E
sinceramente, – volta-se a todos novamente – quero ter a experiência de estar
por minha conta em um lugar diferente, livre para poder viver coisas novas.
Não quero ir amarrada a um namoro à distância.
– É loucura! Seis meses? Sozinha em Londres? Por quê?
– Acabei de explicar, ruivo.
– Tenho certeza que você encontra programas desse tipo nos Estados
Unidos também, aqui mesmo na Califórnia. Não há necessidade de se arriscar
e se distanciar tanto de nós.
– Encontro, claro. E não, não há necessidade. A questão é que eu quero.
Quero unir as duas oportunidades em uma. Sempre vivi aqui dentro, cercada,
mimada e cuidada por todos. Até meus estudos foram em casa. Preciso sair,
respirar, viver.
– O que Johnathan e Alicia pensam disso?
– Mamãe me deu todo seu apoio. Papai ficou um pouco apreensivo, mas
disse que se for isso mesmo o que eu quero fazer, ele concorda. Assim como
liberou Kellan para fazer parte do mundo de vocês, com tudo que isso envolve,
– ela diz olhando bem dentro dos olhos dele, ela ainda está magoada pela cena
que presenciou com a loira – disse que seria hipocrisia da sua parte tentar me
prender.
– Johnathan enlouqueceu? Comparar Kellan com você?
– Qual o problema?
– Ele é homem Hazel. Há uma grande diferença na liberdade que se pode
dar a um filho homem e a uma menina. – Hazel olha para ele incrédula.
Oliver tosse, meio que tentando conter o riso, porque sabe que Max se
passou no comentário e Hazel não vai deixar barato.
– Eu sabia que você era antiquado Max, só não sabia que seu machismo
chegava a este nível. Nós saímos há séculos da época que se trancava mulheres
no lar. Não sou uma boneca para ficar restrita à casa dos meus pais, um bibelô
na vida que vocês têm.
– Não estou dizendo que você é menos capaz do que ele, estou apenas
alertando que é muito mais perigoso para uma menina ficar solta por aí do que
para um rapaz. Você não precisa se arriscar, pode ter tudo que quiser e ficar
perto das pessoas que te amam.
– Aí está o ponto que você não entende, ruivo. Eu preciso sim.
– Max, todos os anos milhares de garotas vão viver em campos
universitários longe de suas casas. Hazel ficará apenas seis meses fora, o
tempo de uma turnê – pondero. Ele suspira.
– Pare de criar caso, cabeção. Hazel já tem idade para tomar suas próprias
decisões e se cuidar – reforça Oliver e Max o encara.
– Sério, Oliver? E o que você diria se Bia resolvesse ir junto?
– Bom, se Beatriz resolvesse ficar seis meses longe, eu diria que ela está
tentando fugir de mim – fala em tom de brincadeira, mas Hazel fica branca
como papel.
Acertou na lata, rockstar!
– Neste caso, seria uma sábia decisão por parte dela. Só reforçaria o quanto
é inteligente. – Max solta um risinho para Oliver, entrando na brincadeira.
Hazel respira aliviada.
– Ele não corre esse risco, Max – afirmo, beijando a bochecha de Oliver.
Max faz uma careta.
– Querem pedir sobremesa ou podemos pedir a conta? – pergunta Oliver.
– Nós podíamos caminhar um pouco na orla e tomar um sorvete, que tal? –
sugere Hazel.
– Seria ótimo – digo olhando para Oliver com olhos esperançosos.
– Não dá, anjo. Peter nos mata. Ele mandou oito homens, se fizermos isso,
vamos andar na orla com os oito ao nosso encalço. Não será muito agradável e
chamaríamos muita atenção. Vamos para o meu apartamento e pedimos o que
vocês quiserem de lá. – Hazel e eu torcemos o nariz para a ideia.
– Está uma noite tão linda, por que não podemos simplesmente aproveitar?
– rebate Hazel.
– Você sabe porque. Não somos caras comuns, que podem se dar ao prazer
de sair por aí despreocupados. – Max usa uma voz atônita, creio que ainda está
com os pensamentos nos planos de Hazel.
– Não tem nada que possamos fazer, além de ir para casa? – insiste ela.
– Oliver, não poderíamos ir a um karaokê? Hazel comentou que tem alguns
ótimos aqui. – Ele apenas me encara como seu eu tivesse dito a maior bobagem
do mundo.
– Baby, assim que eu abrir a minha boca para cantar, não haverá disfarce
que me proteja. – Merda, verdade.
Foi a maior bobagem do mundo!
– A ideia de Bia é ótima! Podemos ir ao Eko, lá as salas são todas
privativas. Peter poderia arranjar, não poderia? E os cães de guarda podem
ficar na porta – sugere Hazel. Oliver e Max trocam olhares e suspiros.
– Vocês duas estão mesmo tentando nos arrastar para um karaokê? Nós, que
respiramos música diariamente? – resmunga Max.
– Siiimm – respondemos as duas em uníssono. Max xinga e Oliver ri.
– Não podemos, sei lá, jogar boliche? Assistir um filme?
– Ah Max, vamos lá, vai ser divertido, as salas do Eko são miniboates,
podemos dançar... Assistir filme? Fala sério! E os boliches que conheço não
tem sala privativa... – joga Hazel.
– Oliver larga o telefone e ajuda aqui – pede o outro. Oliver termina o que
estava fazendo e levanta os olhos para ele.
– Ajudar? Você acha que temos chance contra isso? – Aponta para nós. – Já
assumi a derrota. Estava pedindo para Peter organizar... – Max revira os olhos.
– Huhuuuu! Aeeeee! – Nós duas comemoramos e assoviamos.
– Quietas! Vocês vão chamar muita atenção para nós. E se isso acontecer,
deem adeus a qualquer possibilidade de diversão anônima. – Meu namorado
acaba com a festa.
– Só uma condição – pede Max. – Nada de música da The Order.
Não sei dizer se me sinto satisfeita com o pedido, mas acabo concordando,
afinal, eu consigo imaginar o motivo.
Quando entramos nos carros e partimos para o Eko karaokê Lounge, eu
estou com um enorme sorriso no rosto.
Apesar de nos encaminharem rapidamente para a nossa sala, deu para
reparar que a entrada do Eko é refinada, mesmo contendo uma moderna cascata
de lustres por todo o teto, o lugar é iluminado e escuro ao mesmo tempo, me
traz uma sensação de aconchego e privacidade. Logo depois da recepção há
um bar com alguns sofás e mesinhas. Então adentra-se no longo corredor que
dá acesso às salas.
A sala me lembra uma mini disco dos anos setenta. Uma graça! Se fechar os
meus olhos posso visualizar o Bee Gees performando e cantando Stain’ Alive
ali dentro, como nos clipes que assisti tantas vezes com meu pai. A música
alta, as luzes coloridas que se movem pelo ambiente e o globo giratório são um
convite irrecusável a se animar e mexer o esqueleto.
No espaço para sentar, um grande sofá em U, que deve acomodar umas nove
pessoas, com uma mesa também em U, ao centro. Um mini bar exclusivo, um
espaço para dançar, um pequeno elevado com microfones, e algumas TVs
espalhadas pelas paredes, completam o ambiente.
Max e Hazel sentam-se e antes que eu possa fazer o mesmo, Oliver me
abraça por trás, levanta os meus cabelos e beija minha nuca. Me arrepio, um
pouco pelo calor dos seus lábios, outro tanto pela barba falsa que pinica.
– Agora posso ter meus cachinhos de volta. – Retira a peruca ruiva que eu
usava. É um alívio imediato. Nossos amigos estão concentrados no cardápio
que a atendente lhes entregou. Atendente esta que agora está com cara de
espanto e parada esperando que nos acomodemos.
Não é possível que ela tenha me reconhecido, ou é?
Oliver segue destruindo beijos em minha nuca e pescoço, mas a garota
estreita os olhos e os fixa em mim, o que me deixa desconfortável. Me viro nos
braços dele.
– Baby, – faço um sinal com os olhos indicando a moça – acho que ela me
reconheceu – sussurro em seu ouvido, ele sorri e dá uma olhada na direção da
garota.
– Uhmm, parece que ela pensa que você está me traindo – debocha e cheira
meu pescoço.
– Não! – Reajo incrédula.
– Aposto que sim. – Morde meu queixo. – Venha, vamos nos sentar e acabar
com as dúvidas dela.
Me sento ao lado de Hazel, que parece discutir algo com Max. Oliver
acomoda-se ao meu lado e retira a peruca e a barba lenhador, então pega uma
caixinha no bolso e remove as lentes escuras, guardando-as lá.
Assim que ele está mais que reconhecível, volto os meus olhos para a
garota e tenho a impressão de que ela respira aliviada.
É sério?
Oliver também percebe e ri da minha cara, estou pasma.
– Bom saber que tenho olhos e ouvidos por aí cuidando dos meus interesses
– fala se vangloriando.
– Queria é saber se, caso eu não estivesse aqui, ela também cuidaria dos
meus interesses ou estaria se insinuando para você neste exato momento.
– Queria mesmo? – Ergue a sobrancelha.
– Não – admito rápido e enlaço-o pelo pescoço, tascando outro beijo, nada
inocente desta vez.
– Moça, Kiara, certo? – pergunta Hazel à fiscal de Oliver, nos puxando de
volta a realidade. A garota confirma e finalmente desvia o seu olhar para o
lado onde está o outro casal. – Será que você poderia nos dar licença por dez
minutos?
– Ok – diz Kiara meio atordoada e então nos deixa a sós.
– Oliver, você vai deixar Bia beber? – Hazel pergunta e me olha.
– Beatriz é emancipada Hazel, legalmente ela pode beber. Claro que vou
ficar de olho para que ela não exagere...
– Você não pensava assim na primeira vez que a sua vó me ofereceu vinho
durante o jantar – provoco.
– É que naquela ocasião, meu bem, – diz deslizando a mão pela minha
perna, por baixo do vestido – eu tentava de todas as formas me convencer de
que você era uma criança, para desviar a minha mente das muitas coisas que eu
tinha vontade de fazer com você. – Mordo o lábio e sorrio para ele.
– Aff, deixem a babação, pegação, para depois e me ajudem com esta mula
aqui ao meu lado – reclama a minha amiga olhando torto para a mula em
questão. – Emancipada ou não, ela só tem dezessete anos, assim como eu.
Portanto ruivo, como eu disse para acabar com o nosso impasse, se Bia bebe,
eu bebo.
– E como a senhorita pretende convencer a garçonete a lhe vender bebidas?
Anda com identidade falsa por aí também?
– Eu não vou pedir, querido. Vocês pedem. – Ela sorri inocentemente e
pisca o olho, deixando o resto no ar. Oliver e eu rimos da cara de Max.
– Olha Hazel, não vou criar caso nem com a bebida e nem com o seu
comportamento fora do normal porque estou tentando manter a minha mente
aberta em relação a você. Alguém me disse que você precisa de espaço. – Me
encara, sorrio em incentivo. – Mas se eu perceber que extrapola e disser
chega, chega! Caso contrário, te arranco daqui a força. Fui claro? – determina
num tom muito enérgico e sério.
Caraca, Max sabe meter medo quando quer.
– Tudo bem – fala ela, pianinho. Se esses dois derem certo algum dia, ele
certamente saberá como mantê-la na linha.
Kiara reaparece instantes depois e fazemos nossos pedidos. Peço um
espumante e Hazel um suco de laranja que batiza com a minha bebida assim
que a garota vira as costas. Max e Oliver vão de whisky.
– Fomos arrastados para um karaokê porque as garotas queriam cantar.
Quando vai começar o show?
– Você foi arrastado para o karaokê porque as garotas queriam se divertir,
ruivo. É bem diferente.
– Vão lá então, queremos diversão – desafia ele.
– Não pense que você ficará só na plateia querido – responde ela lhe dando
um beijo na bochecha. – Vem, Bia.
– Eu? Vai você.
– Ah querida, você não vai querer me ouvir cantando sozinha, preciso de
uma base de sustentação, senão desafino geral. – Se encaminha para escolher a
música com o copo de bebida na mão.
– Tá brincando né, Hazel? – digo quase chorando por ter que sair dos
braços de Oliver. – Terei que ser sua “babá de voz” a noite toda?
– Deixa de frescura e vem, vamos... já escolhi.
– Olha a roubada em que você vai me colocar hein... – digo caminhando
para me juntar a ela no “palco”.
Oliver e Max nos observam e cochicham alguma coisa. Ela me mostra o que
escolheu e eu a olho desconfiada.
– Isso não foi uma escolha não intencional, não é? – pergunto baixinho.
– Não mesmo. – Ela dá de ombros. – Mas de qualquer forma ele não vai se
tocar, poderia até cantar no colo dele olhando em seus olhos... – Isso me dá
uma ideia. Se é assim, por que não?
– Hoje ele vai te notar amiga, pode não perceber que a performance foi
para ele, mas que vai notar, vai – falo baixinho, desço e trago duas cadeiras ali
para cima.
– O que você quer com essas cadeiras?
– Você já viu o clipe da música que escolheu?
– Não. – Sorrio para ela.
– Está vendo aquele telão lá atrás? Olha e tenta fazer parecido.
– Que... – Ela vai questionar, mas chego perto do seu ouvido e sugiro:
– Senta aí, grude os seus olhos nele sempre que possível, se solte e cause
impacto, Hazel. – Ela arregala os olhos e engole em seco. Transmito
silenciosamente com o meu olhar que é hora de ser corajosa.
– Vamos cantar. – Aceita e se senta. Eu dou início à música, e depois faço o
mesmo. Assim que a batida de Open your Heart começa, Oliver e Max riem.
– Madonna?
– Xiu... quietinho rockstar, aproveita a performance. – Pisco para ele.
Começo a primeira estrofe junto com ela e quando vejo que ela pegou o
tom, paro e a deixo continuar sozinha na voz e na dança. No clipe, madona faz
uma coreografia numa cadeira, estilo Flash Dance. Eu fico sentada de cabeça
baixa como se segurasse um boné enquanto ela segue.

Eu te vejo na rua e você passa por mim


Me faz querer abaixar a cabeça e chorar
Se você me desse meia chance veria
Meus desejos queimando dentro de mim
Mas você escolhe olhar para o outro lado
Eu tive que trabalhar mais duro que isso
Por algo que eu quero.
Não tente resistir a mim

Hazel para o olhar fixamente nos olhos de Max ao final da estrofe. Deus,
essa música diz tudo que ela tem vontade de dizer a ele. Se ele levar a sério,
estamos ferradas.
Mas agora já era, o negócio é torcer para ele levar na brincadeira, mas ficar
em dúvida se apenas imitamos o clipe, uma saudável pulguinha atrás da orelha.
Quando entra o refrão vou junto com ela, dançando e fixando o olhar em
Oliver.

Abra o seu coração para mim, baby


Eu tenho o cadeado e você tem a chave
Abra o seu coração pra mim, querido
Eu te darei amor se você virar a chave
Sinto o olhar de Oliver me queimar. Max está sério e mal respira. Paro
sentada de lado desta vez, enquanto Hazel segue para a segunda parte.

Eu te sigo por aí, mas você não pode ver


Está envolvido demais consigo mesmo para perceber
Então você prefere olhar para o outro lado

Bem, eu tenho algo para te dizer


Não tente correr, eu posso te alcançar
Nada me fará parar de tentar, você tem que...

Mais claro impossível! Acho que Hazel ouve a música de Madonna há


muito tempo sonhando em despejar todas essas coisas em cima dele. Pelo
menos hoje, ela desabafou! Daqui sigo junto com ela até o final da música.

Abra o seu coração pra mim, baby


Eu tenho o cadeado e você tem a chave
Abra o seu coração pra mim, querido
Eu te darei amor se você virar a chave

Abra o seu coração com a chave


Um é um número tão solitário
Abra seu coração
Eu te farei me amar
Não é tão difícil
Basta girar a chave

Quando acabamos, Oliver assovia. Max nem se mexe. Corro até o meu
namorado, sento em seu colo e beijo sua boca, ele me aperta contra si.
– Foi muito sexy – confessa quando nos largamos.
– Sexy demais para o meu gosto – resmunga Max, bebendo seu whisky.
Vejo Hazel também virando o seu copo de uma só vez. Pelo visto o impacto
foi causado dos dois lados. Ela vasculha as músicas à procura da próxima e
mal olha para o ruivo.
– Já escolhi a próxima primeira-dama, venha e traga a garrafa de
champanhe. – Colo a testa na de Oliver e nós dois suspiramos. Ela não vai nos
dar folga.
– Hazel, você está tentando manter a minha mulher longe de mim?
– Não estrela, estou só tentando me divertir com a minha amiga. Agora
largue-a.
– Vou lá baby – digo resignada. Ele torce o nariz, mas me solta.
Ela já acionou a música para tocar e reflito sobre a sua próxima escolha.
Com certeza não é comigo que ela quer cantar essa música. Tenho que dar um
jeito nisso. Pego o microfone.
– Eu começo – anuncio e entro na primeira estrofe de Photograph, de Ed
Sheeran enquanto caminho até Oliver e estendo minha mão para ele, pedindo
que se levante.

Amar pode machucar


Amar pode machucar às vezes
Mas isso é a única coisa que eu conheço

Faço sinal para que Hazel siga dali. Vou até Max e entrego o microfone para
ele.

Quando fica difícil


Você sabe, isso pode ficar difícil às vezes
Mas isso é a única coisa que nos faz sentir vivos

Ele tenta resistir, mas insisto.


– Esta música pede um ruivo e eu preciso dançar com uma certa
celebridade que conheci por aí – falo baixinho.
Não dou chance para que decline, me viro para Oliver e enlaço seu
pescoço.
– Dança comigo, rockstar. – Oliver responde me puxando para si, colando
nossos corpos e nos embalando lentamente no ritmo da canção.

Nós guardamos esse amor em uma fotografia


Fizemos essas memórias para nós mesmos
Onde nossos olhos nunca se fecharão
Nossos corações nunca serão quebrados
E o tempo está congelado para sempre

Fecho os olhos e deito minha cabeça em seu peito. Ele apoia o queixo nela
e sobe uma mão pelas minhas costas, mantendo a outra me envolvendo. Max,
que agora está ao lado de Hazel no tablado, canta com ela o refrão. E eu o
canto baixinho para Oliver.

Então, você pode me guardar


Dentro do bolso do seu jeans rasgado
Me segurando perto até nossos olhos se encontrarem
E você jamais estará sozinho
Espere eu voltar para casa

A voz de Hazel volta a ficar solo e Oliver está com a mão em minha nuca,
entre meus cabelos e beijando meu pescoço, enquanto continuamos naquela
dança lenta e romântica. Já não consigo mais cantar também. Levanto meu
rosto à procura da sua boca e levo minhas duas mãos aos seus cabelos. Solto o
coque, deixando os fios soltos para poder deslizar os meus dedos entre eles.
Adoro.

Amar pode curar


Amar pode consertar a sua alma
E é a única coisa que eu conheço, conheço
Eu juro que vai ficar mais fácil
Lembre-se disso com cada nervo seu
E é a única coisa que levamos conosco quando morremos

Max canta sozinho a próxima estrofe, e no meio da pista, entre as luzes,


nossas bocas dançam num beijo quente e apaixonado. Um beijo que transborda
amor.

Nós guardamos esse amor em uma fotografia


Fizemos essas memórias para nós mesmos
Onde nossos olhos nunca se fecharão
Nossos corações nunca foram quebrados
O tempo está congelado para sempre

Nosso beijo cresce conforme a música também cresce e num segundo


estamos entregues, sem fôlego e sem nos importar com quem, ou o que, está ao
entorno. Max e Hazel voltam a unir suas vozes.

Então, você pode me guardar


Dentro do bolso do seu jeans rasgado
Me segurando perto até nossos olhos se encontrarem
E você jamais estará sozinho
E se você me machucar
Tudo bem, baby
Somente palavras sangram
Dentro destas páginas, você apenas me abraça
E eu nunca vou te deixar ir
Espere-me voltar para casa

Hazel estrategicamente para e deixa Max seguir sozinho o resto da música.


A voz dele é bonita, bem parecido com o timbre de Ed.

E você poderia me encaixar


Dentro do colar que você tem
Desde os dezesseis anos
Perto da batida do seu coração,
onde eu deveria estar
Mantenha-me no fundo de sua alma

E se você me machucar
Bem, está tudo bem, querida
Só palavras sangram
Dentro destas páginas, você apenas me abraça
E eu nunca vou te deixar ir

Oliver canta com Max a parte final da música, em meu ouvido.

Quando eu estiver longe


Eu vou lembrar de como você me beijou
Sob o poste de luz, atrás da rua 6
Ouvindo você sussurrar através do telefone
Espere por mim para voltar para casa

Baby, só quero te levar para casa


Rasgar seu vestido e entrar em você

Emenda ao final, no mesmo ritmo da música, me fazendo rir.


– Mais tarde, amor, mais tarde. Preciso terminar aquele espumante.
– Qual espumante? O que Hazel está tomando no gargalo sempre que Max
não está olhando? – Ele me vira e me abraça por trás, para que eu possa ver a
cena de Hazel perto da mesa, entornando a bebida enquanto Max está
aparentemente escolhendo a próxima música.
– Sim, o próprio. – Gargalho, pois a cena de Hazel com a boca no gargalo e
os olhos virados, meio de lado, conferindo se Max continua de costas é hilária.
– Então será rápido.
– Humm, mas eu ainda não cantei para você.
– Para isso você primeiro precisa conseguir se libertar dos meus braços e
eu não estou a fim de facilitar.
– Eu posso ser bem criativa.
Max começa a cantar How You Remind Me do Nickelback.
– Ah não duvido, já tive algumas amostras da sua criatividade. Aquela
dança sensual foi uma delas. Mas eu sou bem incisivo, você sabe, arremete a
virilha em minha direção... quando eu pego, eu pego para valer...
– Ahh... – Não consigo evitar que um gemido escape, lembrando da nossa
transa hard desta manhã. Ele dá uma risadinha enquanto beija minha nuca.
– Sim... sinto a pegada até agora... – Ele não alivia nas carícias, e seu
cheiro, seu beijo, seu calor começam a ficar demais para mim.
– Oliver, estou fervendo aqui... você me deixou pegando fogo com aqueles
beijos. Preciso de uma bebida ou terá que inverter a ordem, primeiro rasga o
meu vestido e entra em mim, e depois me leva para casa. – Ele geme e xinga no
meu ouvido.
– Beatriz... você está proibida de dizer coisas assim quando eu estou
impossibilitado de agir. E vá de leve na bebida, temos as consultas amanhã. –
Me lembra.
Procuro Hazel e a encontro sentada, com um novo copo de suco na mão,
olhando Max cantar hipnotizada e rindo sozinha.
– Baby, acho que Hazel está um tanto alegre... por favor, faça Max pegar
leve com ela. Ela está feliz e se divertindo entre amigos, não deixe que ele
estrague a noite.
– Vou tentar. Quando estivermos a sós quero conversar com você sobre
isso, inclusive. – Ai... se ele percebeu algo, tenho que escapar dessa...
– Certo – digo, mesmo que a esperança é de que ele esqueça o assunto. –
Agora vamos voltar para a mesa e pedir outro espumante, pois aquele, já era.
– Vá lá com Hazel, vou pedir as bebidas e terminar a música com Max.
– Ok, quero mesmo ouvir você cantar. – Ele me beija e vai em direção ao
bar, enquanto digita algo no celular.
– Feliz? – pergunto ao me aproximar de Hazel. Sento ao seu lado e a
abraço.
– Sim, eu sei que é só ilusão, mas decidi que vou me deixar ficar nela só
por esta noite, e acreditar que ele é meu. Foi tão bom cantar aquela música
com ele...
– Para quem não queria vir ele parece estar se divertindo.
– Está mesmo, não está? – assinto. Oliver entra junto com Max na parte
final da música. Lindo, com aquela voz grave e meio rouca. À la Jim Morrison.
Kiara que se aproximava da mesa com a nossa espumante, se esquece
completamente do que estava fazendo, volta seus olhos para o palco e morde o
lábio.
– Hãã, Kiara? – chamo sua atenção, mas ela nem se mexe. Hazel baixa a
cabeça na mesa e ri. – Kiara? – Nada. Então toco seu braço e ela finalmente
retorna ao planeta terra. – Kiara, acho que o espumante é para mim, certo?
– Ah sim, perdão, me desculpe... eu... olha eu... com todo o respeito, mas eu
não esperava... – aponta para o palco – ver os dois lá, nossa... – Hazel não
consegue parar de rir e eu me sensibilizo com a garota.
– Tudo bem. Eu entendo que é... uhmm... difícil não olhar... Mas acho que se
você não colocar a garrafa no balde vai acabar esquentando, não?
– Ah sim, claro. Me desculpe. – Ela finalmente me serve, coloca a garrafa
no lugar e então volta ao trabalho. Eu suspiro.
– Os dois são um desacato ao pudor, não são? Não dá para culpá-la –
comento.
– Não, não dá. Eles deveriam andar com uma plaquinha de altamente
perigoso para a saúde pendurada no pescoço. – Agora é a vez de Hazel
suspirar.
A música termina. Alguém abre a porta da nossa cabine privativa e Max vai
até lá. Oliver traz duas cadeiras e as coloca em frente à mesa, no centro do U.
Hazel e eu estamos sentadas numa das pontas. Max retorna com um violão,
entrega a Oliver, e se senta numa das cadeiras, o vocalista cochicha algo no
ouvido dele, que assente com a cabeça. Oliver então senta-se e começa a
afinar o instrumento.
Enquanto Max faz a marcação com estalar de dedos e batidas de pé no chão,
Oliver toca as primeiras notas e se eu não me engano essa batida é... Sim!... é a
música de Peggy Lee, depois gravada por Elvis e tantos outros...
Fever!
Ele pretende aumentar ainda mais a temperatura?
Sim, ele pretende!
Prende o olhar no meu e começa a cantar sexy pra caralho.

Nunca entenderá o quanto eu te amo


Nunca entenderá o quanto me importo
Quando você me abraça
Eu sinto uma febre que é difícil de suportar

Você me dá febre
Quando me beija
Febre quando me abraça forte
Febre! De manhã
Febre por toda a noite

Céus, se eu já estava quente antes, ver ele cantando aquilo assim... vibro
pelo corpo todo ...
Luz do sol clareia o dia
Lua ilumina a noite
Eu acendo quando você chama meu nome
E você sabe que eu vou te tratar bem

Dá uma piscadinha bem sacana. Ah baby... não vejo a hora de você me


“tratar bem” de novo...

Você me dá febre quando me beija


Febre quando me abraça forte
Febre! De manhã
Febre por toda a noite

Se projeta para a frente, aproxima o rosto do meu ouvido, deslizando o


nariz por ali enquanto canta a próxima estrofe. Minhas bochechas incendeiam
sabendo que Max está com os olhos fixos na cena... febre... e a calcinha molha
um pouco mais.

Todo mundo teve a febre


É algo que todos conhecem
A febre não é uma coisa nova
Febre começou há muito tempo

Encosta os lábios nos meus rapidinho e retorna para o seu lugar.

Romeu amou Julieta


Julieta sentia o mesmo
Quando ele a abraçava
dizia: Bia, baby, você é meu fogo
me sinto em febre quando nos beijamos
Febre com a chama da juventude
Febre, estou em chamas
Febre, sim, eu queimo para acalmar

Ele troca o Julie da letra por Bia e não posso deixar de sorrir. A
temperatura só aumenta pela energia sexual que ele está colocando na música e
uma ideia me vem à cabeça...
Humm... vai ter troco...

Agora que você ouviu a minha história


Esse é o ponto que eu queria chegar
Gatos nasceram para lhes dar febre
Seja em Fahrenheit ou centígrados

Damos-lhe febre
Quando a beijamos
Febre para viver e aprender
Febre até você crepitar
Que jeito adorável de queimar
Que jeito adorável de queimar

E se não bastasse, ele finaliza com o refrão de Love me tender, à capela.

Love me tender, love me true


All my dreams fulfilled
For my darlin', I love you
And I always will

Hazel assovia e eu me jogo contra ele, beijando-o, só que não de maneira


tão febril quando eu gostaria... deslizo meus lábios por seu queixo e bochecha,
chegando ao seu ouvido.
– Minha vez, rockstar. Você jogou pesado. Prepare-se! – Levanto antes que
ele possa me impedir e ando até o palco, procuro a música que quero e deixo-a
engatilhada. Sorte que o software permite mudar o tom, pois eu não
conseguiria alcançar os graves do original. Depois volto e coloco uma cadeira
bem no meio da pista.
– Amor, sente-se aqui, por favor. – Ele ergue as sobrancelhas em
questionamento, mas vira o whisky e vem.
– Não quer dizer qual é a música e eu toco para você?
– Não, quero você paradinho aí. Espere um pouco, eu já volto.
– Onde você vai? – Não respondo, só caminho até a porta com os três me
acompanhando com o olhar e saio. Me dirijo ao chefe da segurança. O único
deles que está vestido de maneira formal.
– Será que o senhor se importaria de me emprestar a sua gravata?
– A minha gravata? – Me olha confuso.
– Sim. Eu devolvo em alguns minutos.
– Tudo bem. – Me entrega o acessório.
Volto até Oliver e ouço Max o zoando por estar lá sentado naquela cadeira
no meio da pista como um cãozinho obediente. Hazel ri cada vez mais alegre,
tudo está extremamente divertido para ela. E o líquido do segundo espumante
segue diminuindo rapidamente. Paro atrás da cadeira e chego pertinho do
ouvido dele, afasto seus cabelos e deixo um beijo ali antes de pedir.
– Baby, me dê a sua mão. – Ele ergue o braço para que eu possa pegá-la.
– O que você está aprontando, Beatriz?
– Nada, só vou cantar para você. A outra mão, também. – Ele faz o mesmo e
eu posiciono seus braços atrás da cadeira e os amarro com a gravata.
– Que porra...
– Cara, eu tenho que filmar isso. Lian vai adorar ver – zoa Max e prepara o
seu celular.
– Beatriz, olha lá o que você vai fazer... – Como não sou nenhuma expert em
nós, é claro que ele poderia se soltar facilmente se quisesse. Puxo seus cabelos
fazendo com que ele seja obrigado a deitar a cabeça para trás, olho-o de cima
e lhe dou um selinho.
– Relaxe, baby, só relaxe e curta – digo a ele a mesma frase que me disse na
foda fatídica no closet.
Ele estreita os olhos para mim, entendendo a referência.
Pego o microfone e aciono o controle para tocar o som. O blues de Etta
James em I Just Want to Make Love to You, com uma batida bem provocante
começa fluir e eu me movimento no seu ritmo em torno da cadeira em que ele
está, deslizando os dedos pelos seus braços, pescoço e ombros.

Eu não quero que você


Seja meu escravo
Eu não quero que você
Trabalhe o dia todo
Quero que você seja verdadeiro
E eu só quero mesmo é
fazer amor com você
Amor com você

Paro na sua frente, seguro em seus joelhos, afasto suas pernas, desço entre
elas no ritmo do blues e volto quase colando meu tronco no seu.
– Bia... – Adverte, a respiração alterada.
– Caraca! – Escuto Hazel falar e assoviar.

Eu posso até lavar suas roupas


Eu quero mantê-lo entre paredes
Você não precisa fazer mais nada
Só me mantenha fazendo amor com você
Amor com você
Amor com você

Sento com as pernas abertas em seu colo e passo uma mão pelos seus
cabelos.

Eu posso dizer pelo seu jeito de andar


Eu posso ouvir pelo seu jeito que de falar
E eu posso saber pelo modo como você trata sua garota
Que eu poderia lhe dar todo o amor do mundo

Levanto novamente e paro atrás dele, vou descendo uma mão pelo seu peito
enquanto canto o próximo verso.

Ooooh tudo que eu quero é fazer o seu pão


Só para ter certeza
De que você está bem alimentado
Eu não quero você
Triste e pra baixo
Eu só quero fazer amor com você
Amor com você
Amor com você

Puxo novamente seus cabelos para que ele seja obrigado a pender a cabeça
para trás, e lhe roubo um beijo quando o último acorde termina.
Max e Hazel ovacionam e batem palmas,
Oliver me dirige um olhar mortal.
Ele puxa a mão com força, se soltando da gravata que eu cato rapidamente
do chão rindo e corro dali antes que possa me alcançar. Ele vem atrás de mim,
mas chego à porta antes, abro e fecho rapidinho.
Estendo a gravata para o seu dono, esbaforida.
Oliver chega em seguida e me prende pela cintura.
– Você me amarrou com a gravata do meu segurança, Beatriz?
– É, bom... sim...
– John, você está proibido de entregar qualquer peça de vestimenta que ela
lhe peça no futuro, me ouviu? – O homem apenas assente, segurando o riso.
Ele me vira para ele e me prensa contra a parede contrária.
– Oliver! – Arregalo os olhos, o lembrando da presença dos homens.
– Quietinha! – fala em meu ouvido e consigo perceber diversão e tesão
misturados em sua voz – Com você, mocinha, acertarei as contas mais tarde. –
Morde minha orelha e depois deixa um beijo atrás dela.
Arrepio. Delícia!
– Você gostou? – pergunto.
– Se eu gostei? – Arremete contra mim para que eu perceba o estado em que
está. – Sinta a minha situação. Você estava linda, sexy e cantou
maravilhosamente bem. Fiquei pasmo com a sua escolha de repertório, Etta
James? Eu pensaria em qualquer coisa menos isso.
– Minha mãe adorava.
– Hoje eu percebi que devo agradecer aos céus por você querer ser
produtora.
– Por quê?
– Porque você cantando e fazendo performances como as que fez hoje por
aí... Eu não posso... Não gosto nem de pensar.
– Aquilo foi para você. Entrei no clima porque era você lá. Eu não
conseguiria fazer essas coisas comercialmente.
– Graças a Deus por isso! Vamos voltar antes que Max e Hazel venham
atrás de nós.
Quando entramos avistamos Max com um canapé na mão tentando enfiá-lo
não boca de Hazel que tenta afastar a mão dele da sua frente.
– Acho que ele finalmente percebeu o quanto ela bebeu – constata Oliver.
– Conto com você para salvar a noite.
– Farei o possível, mas em se tratando de Hazel, Max fica irracional. Ajuda
muito quando ela não provoca.
– Tentarei fazê-la colaborar.
– E aeeee casaaau. Biaaaa quando eu clescerrr quero ser comu voxe – diz
toda alterada. A outra garrafa já era também.
– Hazel, abre logo a boca e come – pede Max, ela empurra a mão dele de
novo. Sento-me perto dela.
– Amiga, come só um pouquinho, vai. Está tudo indo tão bem. Colabora
com Max, por favor, ele não implicou com nada até agora e não pense que não
percebeu o quanto você bebeu. Ele tentou respeitar, Hazel – digo baixinho em
seu ouvido.
Ela me olha séria e eu devolvo a ela a minha melhor cara de súplica. Então
arranca o negócio da mão de Max e enfia na boca.
– Aqui, mais três. E esse copo de água – diz ele. Ela revira os olhos, mas
faz. Amém.
– Ela não pode ter ficado assim só com duas garrafas de espumante, pode?
– pergunto.
– Não, ela também deu várias “bicadas” nos nossos copos de whisky ao
longo da noite quando achava que ninguém estava vendo. – Max conta e respira
fundo. – Agora me diz como vou ficar tranquilo com essa menina solta em
Londres? – pergunta a nós dois.
– Cara, você não vai. Essa é a questão. Não vai ficar tranquilo, ela vai
experimentar, ultrapassar limites e se aventurar. E resta a você confiar nos
valores que ajudou a formar nela e esperar que faça tudo isso da forma mais
segura possível, freando a si mesma quando perceber que foi demais. É assim
com todo mundo, Max. Foi assim com cada um de nós.
– E se ela não conseguir frear, Oliver? E se quando percebermos for tarde
demais? Olha o que passamos com Lian...
– Max, para. Ela não vai trilhar os caminhos de Lian. Lian tinha muita
merda para superar, irmão. Eu diria que a rebeldia de Hazel só aparece quando
você está por perto, para te provocar.
– Voxês doz aeee... querem parar de falar como xe eu nãu estivesse aquiii.
– Nem mais um gole, Hazel, entendeu? – Usa aquele tom ameaçador. – Vou
pedir um suco bem doce e você não vai deixar uma gota no copo.
– Tá, tá... – Ele chama Kiara.
– Acho que deveríamos ir embora – sugere Oliver. Deito a cabeça em seu
ombro. Ele pega minha mão e leva aos lábios.
– Nãããoooo. Nem danxeeii com voxe ruivoooo...
– Está tarde, Hazel. Até voltarmos para Oceanside... – argumenta Max.
Kiara traz o suco de laranja e Max empurra o copo para a frente de Hazel.
– Vocês podem dormir no meu apartamento. Hazel dorme no quarto de
hóspedes e você se arranja no sofá – sugere Oliver a ele.
– Vocês não vão voltar?
– Não. Ficaremos por aqui. Amanhã temos algumas coisas para fazer em
Los Angeles.
– Vamos ficar Max, por favor – pede Hazel. Ele a olha avaliativo.
– Tudo bem, mas se você beber mais uma gota de álcool que seja, voltamos
no mesmo instante. – Ela pula no pescoço dele comemorando e beija a sua
bochecha. Seus olhos brilham.
– Então Bia, que tal cantar mais uma música? Você sabia disso, Oliver?
– Disso o que? – pergunta ele.
– Da voz que ela tem. – Ele me olha e sorri.
– Sim, sabia.
– Porra, cara, como não nos conta uma coisa dessas? – Oliver simplesmente
dá de ombros. – Ela teria futuro, você sabe...
– Não, Max. Eu não quero ficar em frente às câmeras. Meu negócio são os
bastidores.
– É uma pena, mas se é assim que você quer, quem sou eu para convencê-la
do contrário? Mas seu namorado poderia tentar...
– Sim, ele poderia, mas não vai. Na verdade, ele dá graças a Deus por ela
não querer – responde o próprio.
– Então cante para os amigos, garota.
– Sério que você quer que eu cante?
– Claro – afirma. – Hoje é a noite das mulheres importantes para a música,
Peggy Lee, Etta James, Madonna, Bia Tompson. – Sorrio em agradecimento ao
elogio. Oliver levanta e pega o violão.
– Pode ser The Order? – provoco.
– Não – diz categórico.
– Manda lá, anjo, vamos de quê? – Cochicho a música e o tom em seu
ouvido.
– Canta comigo? – peço e ele concorda.
Oliver só pincela o acorde e eu já entro com o primeiro verso de Walking
the Wire, do Imagine Dragons.

Você sente o mesmo quando estou longe de você?


Você sabe a linha que eu andaria por você?
Poderíamos dar meia volta, ou poderíamos desistir
Mas vamos enfrentar o que vier, enfrentar o que vier
Oh, a tempestade está furiosa contra nós agora
Se você tem medo de cair, então não olhe para baixo
Mas nós demos o passo, e nós demos o salto
E vamos enfrentar o que vier, enfrentar o que vier

O que será que enfrentaremos no caminho? Não há como saber. Só nos resta
enfrentar o que vir.
Faço sinal para que Oliver cante o próximo verso.
Sinta o vento no seu cabelo
Sinta a adrenalina no caminho até aqui

Entramos juntos no refrão.


Estamos caminhando na corda bamba, amor
Estamos caminhando na corda bamba, amor
Seremos elevados
Estamos caminhando na corda bamba

Então, olhe para baixo


Olhe para baixo
Olhe para baixo
Caminhando na corda bamba, corda bamba
Então, olhe para baixo

A vida é mesmo uma corda bamba. O negócio é saber se equilibrar e seguir


em frente. Deixo com ele o próximo.

Oh, vou segurar sua mão quando o trovão rugir


E vou mantê-la perto, vou seguir o percurso
Prometo a você aqui de cima
Que vamos enfrentar o que vier, enfrentar o que vier, amor
Sim, me sinto totalmente segura com você, baby. Voltamos em coro ao
refrão.

Estamos caminhando na corda bamba, amor


Estamos caminhando na corda bamba, amor
Seremos elevados
Estamos caminhando na corda bamba
Então, olhe para baixo
Olhe para baixo

Ao final, para provocar o amigo, Oliver começa a tocar Under my Eyes, um


dos maiores sucessos da The Order, composição de Max, e eu canto o refrão.
Ele pragueja.
– Brincadeiras à parte, casou muito bem as vozes juntas. Podemos pensar
em usar isso em alguma coisa no futuro, Oliver.
– Veremos Max, veremos.
Capítulo 19

“Eu não reconheço mais,


Olhando as fotos do passado
O habitante do meu corpo,
Deste estranho dublê de retratos
Talvez até eu já vivesse
Em algum corpo emprestado
Esperando só por você
Pra reunir meus pedaços”
(Dublê de Corpo – Heróis da Resistência)

Bia

R uivo, não vai. Dorme aqui... olha o tamanho dessa


cama...
– Hazel, você dorme aqui e eu durmo no sofá. – Oliver
e eu estamos parados na porta do quarto de hóspedes, esperando que Hazel
largue Max para que eu possa ajudá-la a se trocar para dormir.
– Não ruivo, você fica aqui comigo. Como quando eu era pequena e deitava
ao meu lado até eu dormir.
– Princesa, você não é mais criança e Bia quer te ajudar a se trocar, você
mal se aguenta em pé.
– Agora não sou mais criança? Decida-se! Não vou me trocar, vou dormir
assim mesmo e você fica. – Ela se gruda ainda mais a ele, que suspira
derrotado. Max olha para nós dois parados ali e faz sinal nos liberando, dando
a entender que se vira com ela.
Olho a cena, pensando se devo intervir para evitar maiores problemas. Se o
seu estado alterado em função do álcool levá-la a fazer besteira, Max
definitivamente não dará mais espaço. Tudo que ela não pode é insinuar-se
explicitamente para ele naquela cama.
– Vem baby, deixe que os dois se ajeitem, vamos deitar. – Decido deixar a
sorte agir e abraço-o pela cintura enquanto seguimos para o quarto.
– Então foi aqui que você se escondeu de mim por uma semana? – Movo
meu olhar pelo entorno.
– Foi. Mais precisamente no sofá da sala – responde tirando a camiseta.
Deus, como é perfeito! Nunca estou preparada.
– Por que no sofá?
– Porque eu ficava tão bêbado que não tinha forças para sair de lá. – Se
livra da calça.
Será que algum dia será normal para mim vê-lo sem roupas? Aquele normal
que a gente passa, olha, nem repara direito e continua fazendo o que estava
fazendo?
Duvido.
– Fecha a boca, Beatriz. – Brinca, percebendo minha fixação e me tirando
do meu transe.
– Eu posso! – Dou de ombros.
– Sim, você pode. Mas vamos deixar as coisas mais igualitárias então. –
Pega a barra do meu vestido e o retira. Aproveito e deslizo meus dedos pelo
seu tanquinho.
Ai ai...
– Sempre se aproveitando de mim.
– Tenho que aproveitar enquanto dá.
– Como assim, enquanto dá? – Meu sutiã já era também.
– Ah, você sabe, a sua idade... é quase um ancião, logo, logo o tanquinho
despenca e eu não me aproveitei o suficiente. – Continuo o deslizar dos dedos
por aquela parede de músculos duros como rocha.
– Uma coisa eu tenho que admitir, Beatriz Thompson. Você tem coragem. –
E dito isto me pega por baixo da bunda e me impulsiona para cima, fazendo
com que eu grite e seja obrigada a segurar em torno do seu pescoço e enlaçá-lo
com as pernas.
– Eu tenho coragem e um namorado gostoso demais, de quem eu não
consigo tirar nem os olhos e nem as mãos. – Ele anda comigo no colo e assim
que suas penas batem na cama, me joga sobre ela e cai por cima de mim.
– Meu amor, o que eu vou lhe ensinar agora você deverá prestar muita
atenção. – Põe um dos meus mamilos na boca, depois repete o processo com o
outro.
– Devo é?
– Sim, muita, porque não vou repetir. – Levo as mãos a sua bunda, por
dentro da cueca e aperto. Forte.
– Ai, caralho – resmunga. – Está atenta? – Passa os dedos por dentro da
renda da minha calcinha e a rasga.
– Oliver! Qual o problema com retirar as calcinhas?
– Quieta, estamos no meio de uma lição. – Distribui beijos quentes por meu
pescoço. Seus cabelos caindo sobre mim, seu cheiro delicioso de macho, suor
e menta. Como resistir?
– Uhummmm...
– Você sabe qual a semelhança entre as obras de arte, os bons vinhos e os
clássicos? – Ele abaixa a cueca e se esfrega em mim.
– Ahhh que delícia!
– Foco na matéria. Responde, Beatriz.
– Não amor, não sei. – Vai descendo pelo meu corpo, distribuindo beijos e
chupões por onde passa.
– Nos três casos, meu bem, quanto mais o tempo passa, mais o preço sobe.
– Eu rio, mas então ele leva a boca a minha vagina e a graça some.
– Oliver... aahhh... se você sair daí é um homem morto... – Ele pragueja,
divertido. – Mas explica o que isso tem a ver com o meu tanquinho? – Me faço
de desentendida.
– Ele é um clássico!
– Ah é? Uhumm que gostoso amor, não para... pensando desta forma, não há
como negar que você é uma perfeita obra de arte. Mas onde entra o vinho na
história?
– O vinho é a melhor parte. Quanto mais velho mais saboroso, quanto mais
você prova, mais quer. – Ele volta subindo pelo meu corpo e eu gemo em
frustração.
– É... isso também se aplica perfeitamente a você.
– Mas o que eu quero que você aprenda com esta aula, pequena, é que aqui
– entra em mim, eu deliro, estávamos na expectativa a noite toda – a única
coisa que vai despencar é você, na cama, exausta, sempre. O resto meu anjo,
só sobe. – Tira e coloca com força. – Sobe o meu desejo, sobe a temperatura,
sobe a dependência e sobe a minha admiração. – E então ele me beija e faz
amor comigo.
Amor quente e apaixonado.
Eu me emociono com as suas palavras e com a sua entrega.
A noite teria sido mais que perfeita não fosse por um detalhe, que me fez
demorar a pegar no sono.
Apesar de ter gozado fora, fizemos sem proteção.
De novo.
Meu sono é agitado, durmo e acordo várias vezes na noite. Não sei se a
preocupação com uma possível gravidez, possibilidade bem real se eu for
honesta comigo mesma, ou se a expectativa sobre as consultas de mais tarde.
São cinco da madrugada e estou acordada, virando de um lado a outro. Oliver
dorme profundamente, de bruços, ao meu lado.
Passo uns bons minutos só olhando-o e pensando em toda a loucura da
minha vida, que acabou me trazendo até ele, até o seu mundo. Não fosse pelo
medo de passar minha genética adiante, eu iria adorar, num futuro distante, ter
uma miniatura dele nos braços.
Um miniOliver, para amar, cuidar e proteger
Mas essa não é uma possibilidade para mim, não jogaria de forma alguma
com a sorte de uma criança. Eu me faço de forte e não deixo transparecer, mas
se ele soubesse o medo que tenho de perdê-lo também! Ou de fazê-lo sofrer,
caso eu venha a ficar doente.
Um barulho alto vindo da sala me arranca dos meus pensamentos mórbidos.
Levanto, cato as duas peças de roupa que estão mais visíveis pelo chão, no
caso a cueca e a camiseta de Oliver, visto-as rapidamente e vou checar o que
aconteceu. Encontro Hazel sentada no sofá, os pés em cima do assento, os
braços envolvendo os joelhos e a cabeça baixa apoiada neles.
– Hazel, o que houve? – chamo, me sentando ao seu lado.
– Ah... Oi Bia... nada, eu só precisei sair daquela cama. Desculpe, acabei
esbarrando na mesinha e fiz um barulhão... te acordei né?
– Na verdade eu perdi o sono, estava acordada há um tempo...
– É impressão minha ou o que você tem por baixo da camiseta é uma cueca?
– Ela nota pelas pernas da boxer, eu rio e dou de ombros. Ela faz um negativo
com a cabeça.
– Eu não quis acordar Oliver abrindo a mala, então...
– Então a cueca dele estava mais a vista do que a sua calcinha?
– Hum, na verdade ele rasgou a minha calcinha.
– Ai... não me conte, ontem vendo vocês dois tão apaixonados foi tão
difícil, imagina se você começar a me relatar os detalhes quentes... Fico
pensando que eu poderia estar vivendo o mesmo também – fala e me abraça ao
mesmo tempo.
– Você está bem? Parecia tão feliz.
– Sim, eu estava. A bebida ajudou a manter a ilusão de que éramos dois
casais num encontro a quatro. Depois consegui convencê-lo a dormir comigo,
me aninhei em seu peito até pegar no sono, foi tão bom. Estava crente de que
assim que eu adormecesse ele sairia da cama, mas veja a minha surpresa ao
acordar de madrugada com um calor danado e perceber que dormia
tranquilamente ao meu lado, com um braço largado sobre o meu corpo e ainda
por cima, sem camisa.
– Sem camisa?
– Deve ter tirado depois que eu dormi, Max não consegue dormir de
camisa. Diz que se sente incomodado. Eu fiquei lá, olhando para ele, tão
lindo... bastava eu levantar um pouquinho a mão, amiga, e correr os dedos nos
pelos ruivos do seu peito... bastava eu erguer um pouco a cabeça para alcançar
os seus lábios... e eu quase fiz, Bia, foi por muito pouco.
– Hazel... – A aperto conta mim.
– Eu sei, por este motivo saí de lá antes que a merda estivesse feita. – Ela
suspira. – Nós ouvimos vocês, sabia?
– Ouviram o que?
– Ouvimos, os gemidos... – Ela ri. – Max achou que eu já estava dormindo,
mas escutei ele praguejar quando ficou bem nítido o que acontecia no outro
quarto. – Aff, que vergonha.
– Bom, acabei de descobrir que este apartamento não tem revestimento
acústico – digo, nos fazendo rir.
– É, não tem mesmo. Mas me conte, o que tirou o seu sono, primeira-dama?
Pelo que eu vi e ouvi na noite passada, você deveria estar dormindo feliz,
saciada e pesadamente. – Respiro fundo, será bom me abrir com ela.
– Medo.
– Medo?
– Sim. Medo de perdê-lo, medo de descobrir que posso ficar doente como
minha mãe, medo do que vou descobrir nas consultas de hoje, – respiro fundo
– medo de estar grávida.
– Grávida? – Ela arregala os olhos.
– Sim, as chances são grandes, Hazel. Nós bobeamos muitas e muitas vezes.
– Que merda!
– Pois é!
– Estranho, por algumas conversas que ouvi me parecia que os três eram
extremamente neuróticos quanto a isso, principalmente Oliver.
– Ele diz que não quer filhos, mas, às vezes, eu tenho a impressão de que
inconscientemente ele quer que isso aconteça conosco. Porque todas as vezes
que tocamos no assunto da proteção, fui eu quem trouxe o tema à tona. E além
do fato de dizer que não quer, nunca o vi realmente preocupado, mesmo eu já
tendo deixado muito claro para ele o meu ponto sobre isso, você sabe...
– Sim, você me falou e eu respeito. Só quem passou pelo que você passou
pode avaliar a dor. Mas se você me permite expressar a minha opinião, veja
bem, como alguém de fora, eu vejo maior inconveniente numa possível
gravidez agora em função da sua idade e dos seus planos de estudar, do que
pelos motivos que te preocupam, Bia. Ninguém está livre de ficar doente,
querida, independentemente de sua ancestralidade genética. E se você estiver
mesmo esperando um bebê, ele será lindo, muito amado e crescerá saudável,
tenho certeza. E eu serei a madrinha, claro. – Sorrio, mas por dentro estou
apavorada de descobrir que é real.
– Ah Hazel, queria conseguir olhar por esse prisma, mas a realidade da
doença é muito forte em minha memória para romantizar sobre o assunto.
– Mas e se ele já estiver aí? – Dou de ombros.
– Além de, outra vez, atropelar as fases na minha vida, será uma volta
forçada ao constante estado de medo, incerteza e preocupação, tudo isso num
peso muito mais elevado, pois dessa vez saberei que eu poderia ter evitado e
fui relapsa, irresponsável com algo muito sério. Não gosto nem de pensar.
– Não pense. Vai dar tudo certo – diz e beija minha têmpora. Espero que
pelo menos, desta vez, a frase seja real e ela tenha razão.
– Acho que nenhuma de nós conseguirá voltar para a cama, não é? Me ajuda
a preparar um café da manhã para surpreendermos os rapazes?
– Se você me ensinar o que devo fazer, sim. Porque nunca cozinhei um ovo
na vida sem provocar um desastre.
– Você se encarrega de pôr a mesa e ligar a cafeteira, que tal? – Ela ri.
– Acho que isso eu consigo.
– Então vamos lá, vamos descobrir se há alguma comida nesta casa.
Abro os armários da cozinha, analisando as minhas opções e não encontro
nada além de café, biscoitos e cereais. Nada que possibilite fazer um café da
manhã descente. Nada na geladeira também.
– Hazel, vou descer e ver se há alguma conveniência por perto para
comprar algumas coisas.
– Tá maluca? Ainda nem clareou direito lá fora.
– Não é problema para mim.
– É claro que é. Desiste, Bia, não vou deixar você sair a uma hora dessas,
sozinha. E se alguém te reconhecer, como aconteceu com a garçonete ontem?
Nem pensar, Oliver me mata.
– O que faremos então? Não há nada nos armários – digo desanimada.
– Um minuto. – Ela pega o celular e digita algo. – Pronto, escreve aí o que
você precisa. – Me entrega o seu aparelho.
– Riley? Você pediu para Riley?
– Pelas manhãs ela cobre Peter, afinal o homem precisa dormir, não é? E os
dois preferem assim, não confiam em mais ninguém para chefiar a segurança.
Escreve aí que ela vai mandar para o segurança de plantão aqui em Long
Beach buscar para nós. – Olho para ela de cara feia.
– Deixa de implicância. Riley é carta fora do baralho e ela não é má
pessoa. Supera!
– Diz isso porque eu não estou fazendo você trocar mensagens com a
Patiranha. – Ela faz mímica de quem quer vomitar, depois revira os olhos para
mim. Me dou por vencida e começo a escrever o que preciso para a lindíssima
ex de Oliver... arrg...
Não demora muito, o porteiro avisa que o segurança está lá com as nossas
compras. Recebo as coisas e começo a preparar o que planejei, omelete com
bacon, panquecas e suco de laranja. Ele também trouxe leite, frutas, queijos e
geleias. Hazel apanha um pouco com a cafeteira, mas coloca-a para funcionar.
Nos divertimos muito no processo, estamos no meio de um ataque de risos
quando Max, sonolento e sem camisa, invade a cozinha.
– Caraca, que barulheira é essa? – diz esfregando os olhos. Quando vê
Hazel, cai na gargalhada.
– Não se atreva ruivo! – ameaça ela, sem conter o próprio riso.
– Princesa, o loiro lhe cai bem, mas ainda prefiro você morena. Bia, não me
arrisco a comer nada do que ela tenha feito.
– Não se preocupe, esse desastre foi apenas a sua tentativa de guardar o
saco de farinha – esclareço.
– Ninguém me disse que farinha levanta tanta “poeira” – defende-se. Ele se
aproxima dela, passa a mão por seus olhos, rosto e cabelos, ajudando-a a se
livrar da sujeira. Ela congela sob o seu toque.
– Pronto, assim está bem melhor. – A abraça. – Bom dia, princesa. – Beija
o topo da sua cabeça. Hazel deve estar numa situação dificil ali, com o rosto
encostado no peito nu dele.
– Bom dia, ruivo. Eu... eu acho que vou lá pro quarto, tomar um banho.
– Vá, Max termina de pôr a mesa, não é? – Tento ajudá-la.
– É para já – concorda ele.
– Por que acordadas tão cedo? São sete horas agora.
– Perdi o sono. Estou um pouco ansiosa com a consulta com o oncólogo.
Resolvi preparar o café da manhã, acabei fazendo barulho e Hazel acordou –
despisto, enquanto vou terminando as panquecas. – E agora acordamos você.
– Bia. – Ele me chama, apaga o fogo e segura a minha mão.
– Sim?
– Eu sei que não fui a favor do seu envolvimento com Oliver, a diferença de
idade entre vocês é algo difícil para mim conceber, mas vê-lo nestes últimos
dias, ver vocês dois ontem... eu nunca o vi tão feliz. Um tipo de felicidade que
na minha concepção era utópica. Você faz muito bem a ele.
– Ele também me faz bem, Max. Também estou feliz.
– Sim, foi tão perceptível quanto. Não tive oportunidade para lhe dizer isto,
mas eu queria que você soubesse que minha objeção nunca foi contra você. Eu
só queria proteger a ambos. Nenhum dos dois merece sofrer além do que já
sofreu.
– Eu sei. Não guardo ressentimentos, se é o que lhe aflige. Eu entendo
perfeitamente o seu ponto e confesso que entrei nessa morrendo de medo de
que um dia ele perceba que não sou o suficiente para ele. A questão é que não
havia mais saída para mim. – Ele sorri e assente, entendendo o que eu quis
dizer.
– Nunca insinue a ele o que me disse agora, sobre não ser suficiente, por
favor. – Fico intrigada.
– Você é a segunda pessoa que me diz isso. Laura falou o mesmo. Por quê?
– Um dia ele vai te contar. Questões do seu passado que só cabem a ele
revelar a você. Mas eu queria te dizer que não tenho dúvidas de que você só
terá boas notícias na sua consulta, e mesmo que apareça algo que necessite de
atenção, saiba que jamais estará sozinha de novo. Independente da sua relação
com Oliver, sempre poderá contar conosco, para qualquer coisa. Inclusive
para puxar a orelha dele, se necessário. E o que tiver que enfrentar,
enfrentaremos juntos, como uma família. Lian não está aqui, mas pode ficar
certa de que ele seria o primeiro a ratificar as minhas palavras.
– Ah Max, obrigada. – Me emociono e começo a chorar, ele me puxa para
um abraço.
– Ei, não falei para te fazer chorar, garota. Seque as lágrimas antes que o
seu namorado acorde, senão serei um homem morto e você terá que tomar o
meu lugar na bateria da The Order. – Rio.
– Não tenho coordenação para tanto, então trate de viver por muito tempo
ainda. – Seco as lágrimas, ele beija minha cabeça e me larga.
– Então chef, devo colocar a louça aqui na bancada ou na mesa de jantar? –
pergunta.
– Coloque na mesa, por favor.
Termino as panquecas, Hazel logo se junta a nós novamente. Ela finaliza a
arrumação da mesa, aonde Max já se encontra sentado mexendo no celular.
Estamos terminando de levar a comida quando ouço Oliver se aproximando.
– Que cheiro bom – diz e para assim que vê o que há na mesa. Sem camisa
também? Oh meu pai... Resolveram nos torturar? E ainda por cima com aquela
calça de moletom indecente? Só podem estar de sacanagem. – Uau, vocês
fizeram um banquete? Como?
– Corrigindo, estrela, Bia fez um banquete. E bom dia para você também. –
Hazel esclarece. Oliver me fita sério, testa franzida.
– Você fugiu. – Me dá uma boa secada, de cima abaixo.
– Não amor, estou bem aqui. – Se aproxima rapidamente.
– Você fugiu da nossa cama. – Me pega pela cintura e cola nossos corpos. –
E está desfilando na frente de Max só com a minha camiseta – fala no meu
ouvido.
– Errado rockstar. Sua camiseta e sua cueca. – Ergo a barra da camiseta
para que ele veja. Ele geme.
– Ninguém deveria te ver assim, só eu...
– Deixa de bobagem, sua camiseta é quase um vestido longo para mim,
Oliver. – Enlaço seu pescoço.
– Não senhora, tem pernas demais aparecendo aí. – Morde meu queixo.
– Tá de sacanagem, né? Bate no meu joelho.
– Como eu disse, pernas demais... – Beija meu pescoço. – Você me deixou,
sozinho.
– Sentiu minha falta? – Ele me aperta.
– Demais. Eu e o tora sentimos, você terá que nos compensar mais tarde –
sussurra a última frase, para que só eu ouça.
– Pobrezinhos. Acho que esse belo café da manhã me redime dos meus
pecados, não?
– Eu posso até absolvê-la depois desta agradável surpresa, mas ele é mais
difícil em abaixar a cabeça, você sabe...
– Sei sim, ele é nariz empinado e metido. – Oliver ri. – Mas acho que se eu
tiver um tete-à-tete com ele depois, tudo ficará bem.
– Com certeza. Não há nada que o seu tete-à-tete não resolva, anjo. – Ele
me beija.
– Você é um baita descarado, Oliver Rain.
– Você é que é tentação demais para um pobre ancião, pequena. – Eu sorrio
lembrando da nossa noite. – Bom dia, meu amor! – diz e me puxa para mais
perto da mesa. – Como você conseguiu fazer tudo isso? Não lembro de ter
pedido para abastecerem a despensa.
– Bom dia, cuzão – atravessa Max, antes que eu possa responder. – Já que
finalmente os pombinhos resolveram parar com as confidências e a pegação,
será que podemos tomar o nosso café? Está difícil ficar aqui sentindo o aroma
e não poder atacar.
– Claro, vamos comer antes que esfrie – concordo.
– Pedimos os ingredientes a Riley, Oliver. – Hazel conta para me provocar,
faço uma careta para ela, que não passa despercebida a Max e o faz rir. Oliver
me olha.
– Riley, é? Estão íntimas? – Ele entra na onda. Estreito os olhos para ele.
– Sabe aquele tete-à-tete, Oliver? Acabou de ser cancelado. O tora que
resolva os seus problemas sozinho. – No instante em que percebo o que eu
falei em alto e bom tom, levo minha mão a boca. Oliver e Hazel se estragam de
tanto rir. Claro que ela já sabe do apelido carinhoso que dei ao pau de Oliver.
– Tora? – Max pergunta e os outros dois riem ainda mais. Então ele se dá
conta do que “tora” significa, xinga, fica vermelho como um pimentão e
começa a comer. Tão bonitinho...
– Deixa de ser vingativa, anjo – diz Oliver e beija minha bochecha. – Eu
acho que vocês duas ainda serão grandes amigas.
– Oliver é melhor você seguir o exemplo de Max e comer antes que saiam
mais asneira da sua boca.
– Deus, Beatriz, foi só uma brincadeira...
– Parceiro, se você não casar com essa garota, eu caso. – Max fala com a
boca cheia. – Isso aqui, – ele aponta para a comida em seu prato – está divino!
– Verdade Bia, está delicioso – confirma Hazel.
– Vamos ver se vale mesmo um anel de noivado. – Oliver me deixa sem
jeito com o comentário e Hazel abre um enorme sorriso para mim. Caramba,
Oliver está mesmo para as asneiras hoje... ele se serve e começa a comer. Eu
faço o mesmo.
– Porra, como você não me conta que cozinha assim? Essa é a omelete mais
saborosa que comi na vida, baby, e estou falando sério. Minha vó que não me
ouça.
– Digo o mesmo – fala Max.
– Pode marcar a data, anjo. Mas sabe, não abro mão nem do tete-à-tete e
nem da comida... – Me lança o seu sorriso mais lindo e sacana – E não
necessariamente nessa mesma ordem. – Está uma delícia, amor, obrigado.
– Obrigado nada, ela quer o anel... – Cutuca Hazel.
– Hazel! Não quero nada – reprovo sua indireta. Ele põe uma mexa do meu
cabelo atrás da orelha.
– Ela terá – diz simplesmente, como se aquilo fosse a coisa mais banal do
mundo e volta a comer, me fazendo engolir em seco.
Céus, quando essa conversa ficou tão séria?
Max para de comer e olha para Oliver perplexo.
– Bia, você precisa me ensinar a cozinhar. Vai ver é isso que está me
faltando... – insinua Hazel.
– Melhor não. A contar pelo desastre com a farinha, ela ou você correriam
sério risco de morte caso Hazel chegue perto de uma faca. – Max adverte.
– O único a correr risco de morte aqui é você, ruivo. – Ela mostra a faca
para ele e nós rimos. O celular de Max começa a acusar o recebimento de
várias mensagens.
– Quem tanto te procura a essa hora? – pergunta Hazel, esticando o pescoço
para espiar a tela do aparelho.
– É do grupo da The Order.
– Do grupo? Aconteceu alguma coisa? – questiona Oliver.
– Compartilhei um vídeo interessante de ontem à noite – fala rindo de sua
travessura.
– Seu filho da puta! Porra! Lian não vai mais me dar sossego... Pode matar
que eu ajudo a esconder o corpo, Hazel. – Oliver xinga e sai em direção ao
quarto.
Volta instantes depois com o seu próprio celular na mão. Apoia na mesa e
desbloqueia. Agora que percebi que em ambas as telas há fotos minhas. Fotos
que eu não tinha visto.
Quando ele tirou essas fotos?

O que vocês diriam, se um vídeo


desses, com o nosso astro mor, caísse nas
redes?

– Max, seu viado! Essa vai ficar bem guardada, fica esperto – ameaça e
clica para ver o vídeo.
A cena abre comigo amarrando as mãos de Oliver atrás da cadeira.
Não é que eu tive coragem de fizer isso mesmo?
Depois eu puxando sua cabeça para trás... aí a música começa e caramba, –
arregalo os olhos – eu sensualizei para valer... de onde veio tanto erotismo?
Não posso nem pôr a culpa na bebida... Ainda bem que papai não está mais
aqui para ver.
Conforme a música avança, aumenta a minha vergonha e o calor nas minhas
bochechas. E se isso está no grupo da The Order, significa que além de Lian,
Kellan provavelmente viu também. Oliver, aperta o meu joelho por baixo da
mesa na parte mais quente. Quando termina ele rola a tela para ver os
comentários.

Não sei o que dizer

Sem palavras

Nosso vocalista. Em quem eu


depositava tanta fé, tem tendências maso. E
Biazinha, aquele doce de candura... só
aparências... uma bela de uma sado?

Mas conta aí Oliver, ela já te mostrou o


chicote? Claro que já...

Ela só usa para bater, ou também...


bom, você sabe... já está íntimo do cabo?

Ela tem de várias espessuras?

Ninguém na mesa segura o riso.


– Estão achando engraçado, é? Esse vai ser o meu inferno de agora em
diante...

Max, não tem nada que mandar essas


merdas no grupo

– Tá aí uma coisa que eu concordo com você, pirralho. – Oliver olha para
Max de cara feia.
– Meu irmãozinho não vira a página mesmo, não é? Poderiam finalmente
mudar esse avatar, que tal? Para deixá-lo um pouco mais feliz? – pede Hazel.
– Não – respondem Oliver e Max ao mesmo tempo.

Discordo de você, bebê. Max fez a


minha alegria. Quase me mijei de tanto rir da
situação do nosso astro, amarrado e
subjugado

Vai se foder Lian. O único “cabo” que


Beatriz manipula é aquele que eu tenho entre
as pernas. Quer sentir a espessura?

– Oliver! – Se eu pudesse me enfiava embaixo da mesa agora.

Ah Oliver, você está tão fodido. Sabe que


este vídeo aqui é como um seguro, né? Mas
fetiches à parte, que porra de voz é essa? E que
presença... caramba...

Cuide muito bem com as


palavras quando for se referir a
minha mulher.

Ele anda escondendo o ouro.


Vejam este

É o vídeo de nós dois cantando Imagine Dragons.

Bela-Bia, quem diria... se o


mundo descobre, Oliver, Kellan não
será o único apaixonado com quem
você terá que se preocupar
Vê se me esquece, porra!

E eu não sei?

Seguro seu rosto e o beijo.


– Sou sua – digo em seu ouvido. Ele sorri, me puxa para sentar em seu colo
e me abraça.
– Beatriz, acha que me enrola? A senhorita está aí fazendo gracinhas,
passando a conversa em todo mundo e até agora não a vi comer um pedaço
sequer dessa panqueca que está em seu prato. Ontem à noite comeu muito
pouco também. Qual o problema?
– Estou ansiosa com o que posso descobrir hoje, Oliver, é só isso. Não
consigo comer quando estou assim e tenho que manter minha mente ocupada.
– Por este motivo fugiu da cama e veio cozinhar de madrugada?
– Sim. – Ele espeta um pouco de omelete e traz o garfo até a minha boca.
– Abra.
– Não, amor, não quero...
– Abra Beatriz, você vai comer pelo menos um pouco. A chefe caprichou,
está uma delícia, vamos...
– Baby, a consulta com a ginecologista é as dez, já passa das oito e trinta,
acho que vou tomar um banho. – Ele não me deixa levantar.
– Primeiro coma. – Me rendo e como o que ele tem no garfo.
– Isso, mais um pouco. – E repete a dose.
– Você vai com Beatriz ao ginecologista? – pergunta Max. Eu e minha boca,
contribuindo para o rubor no meu rosto, de novo.
– Vou.
– Mas... como isso vai funcionar?
– Foi tudo esquematizado por Peter. Ela atende numa clínica particular, a
sala de espera estará vazia.
– Se vazar as especulações vão bombar, você sabe... – Se ele soubesse que
esse é o meu maior medo de hoje... muito mais do que as notícias do
oncologista.
– Deixe que falem. – No tempo desse diálogo já engoli quatro garfadas de
omelete, realmente deu para mim.
– Oliver, chega. Não consigo mais.
– A última, vai. – Faço o que ele quer e empurro mais aquela.
– Você avisou Riley? Não quero ela buzinando no meu ouvido como na vez
das fotos – continua Max.
– Pedi a Peter para avisar.
– Bom, Hazel e eu partiremos em seguida. Já pedi a Riley para mandar o
carro, deve estar aqui em meia hora.
– Não há pressa, Max. Sabe que podem ficar aqui. Não é porque Bia e eu
não estaremos que vocês precisam ir.
– Preciso voltar, não quero deixar mamãe sozinha o final de semana. Ela
voltou a ter recaídas e – ele respira fundo – está de novo a base de
antidepressivos. – Me espanto, não fazia ideia. Nunca notei Helen deprimida.
– Que merda, cara. Ela estava tão bem. Se precisar de ajuda, fale. – Ele
assente. – E avise vovó – pede Oliver.
– Já avisei, inclusive ela passou a noite lá em casa, a meu pedido.
– Max, eu não sabia. Desculpe por insistir em ficar. – Preocupa-se Hazel.
– Não princesa, foi bom termos brincado ontem no karaokê e ficado aqui. O
golpe de vê-la mal de novo foi duro, eu precisava disso, precisava de um
tempo com você. – Ah Max, baixa logo essa guarda, vocês são tão lindos
juntos...

– Podem entrar. – A recepcionista da clínica ultra-chique da Dra. Nora


Topffel nos guia até o consultório. Não quero nem imaginar o quanto custa uma
consulta com a mulher. Respiro fundo e caminho em direção ao meu possível
desespero.
Assim como o restante da clínica, o consultório é belíssimo. Mármore
branco para todos os lados, plantas, obras de arte nas paredes, o cúmulo da
ostentação. E atrás de uma mesa não menos glamurosa, há uma mulher loira e
perfeita que nem se dá ao trabalho de levantar os olhos para nós enquanto nos
aproximamos. Paramos em frente à mesa e esperamos sua boa vontade.
– Sentem-se e me digam em que posso ajudá-los. – Após o discurso padrão,
resolve enfim verificar a cara dos seus clientes e é nítida a mudança de postura
e expressão no instante em que se dá conta de que é Oliver ali.
Levanta-se rapidamente, o olhar fixo nele. É belíssima, loira, alta, a pele
impecável, corpo escultural, uma verdadeira Barbie.
– Não esperava que o astro viesse acompanhando a amante. – Hã? Ela disse
amante? – Normalmente apenas marcam as consultas – diz em tom jocoso,
derretendo-se em sorrisos para ele e estendendo a mão. Se eu não estivesse tão
preocupada, sairia correndo dali. – Muito prazer, Nora Topffel.
– Oliver Rain – responde “o astro”, sem apertar a mão que ela oferece, seu
semblante está fechado. – Esta é minha namorada, Beatriz Thompson, sua
paciente, a quem você deve dar a verdadeira atenção. – A miss perfeição
desmancha o sorriso falso na hora.
– Ah, claro. Prazer em conhecê-la, Beatriz.
– Doutora.
– Sentem-se, por favor. – Ela indica as cadeiras.
– Pela sua ficha, vejo que tem dezessete anos apenas. – Dá uma encarada
em Oliver. – Me diga, o que a traz aqui?
– Eu gostaria de algum método contraceptivo. – Oliver revira os olhos.
– Não é somente este o motivo de estarmos aqui, fora a vez em que ficou
menstruada pela primeira vez, Beatriz nunca foi a um ginecologista. Ela
também começou a ter relações sexuais regulares há pouco tempo, queremos
que a senhora nos oriente se há necessidade de exames e que programe um
acompanhamento devido de agora em diante. Há também histórico de câncer na
família, então precisamos fazer tudo que houver disponível no sentindo da
prevenção e diagnóstico precoce. – Assim ele passa o relato da minha vida em
poucas palavras e eu estou totalmente exposta para a Barbie falsificada.
– Entendo. Me diga Beatriz, com quantos anos você menstruou pela
primeira vez?
– Aos treze.
– E sua menstruação sempre foi regular? Por regular eu quero dizer se ela
desce todos os meses, a cada vinte e cinco ou vinte e oito dias? Ou chega a
falhar algum mês, estendendo esse intervalo para mais de trinta e cinco,
quarenta dias?
– Sempre regular.
– Qual foi a data da sua última menstruação?
– Terceira semana de setembro.
– Quem teve câncer em sua família?
– Meu pai e minha mãe morreram devido a doença.
– Sinto muito. Que tipo de câncer eles tiveram?
– Meu pai, câncer de pulmão e minha mãe leucemia.
– E seus avós, ou outros parentes, também sofreram com a mesma doença?
– Meus avós paternos faleceram já bem idosos de causas naturais. Meus
avós maternos morreram num acidente de carro em Chicago antes de eu nascer.
Meus pais eram filhos únicos, ambos.
– Então você não tem mais nenhum parente vivo? – Outra vez o olhar
ambíguo para Oliver, meio reprobatório e meio insinuante.
– Não que eu conheça ou conviva. Minha mãe era brasileira. Seu pai foi
transferido a trabalho para os Estados Unidos quando ela tinha quinze anos.
Dizia que tinha uma tia, que era quase da sua idade, mas eu nunca cheguei a
conhecer a mulher. Papai tentou localizá-la quando foi diagnosticado, mas não
obteve sucesso.
– Só por curiosidade, a origem de sua mãe explica o seu nome terminar com
“z” e não com “ce”, como é o mais comum por aqui?
– Sim. Minha avó materna era Ana Beatriz, meu nome foi em sua
homenagem.
– Com quanto anos você iniciou a atividade sexual?
– Há dezessete dias. – Ela ergue as sobrancelhas e novamente encara
Oliver. Estou muito irritada. Não vou aguentar o desrespeito por muito tempo.
Ele pega minha mão, beija-a bem no instante em que a emproada fixa os olhos
nele, depois as mantém unidas sobre a sua perna.
– E qual método preventivo tem usado?
– Não usamos.
– Então há uma grande possibilidade de você estar grávida?
– Sim – eu digo.
– Não – diz Oliver ao mesmo tempo.
– Sim ou não?
– Na primeira vez que descuidamos ela tomou a pílula do dia seguinte.
Depois disto aconteceu duas ou três vezes nos dias seguintes, mas tínhamos a
proteção do anticoncepcional. E desde lá ou usamos camisinha ou fizemos
coito interrompido – explica.
– Usamos camisinha duas vezes, Oliver.
– Neste caso, Sr. Rain, sou obrigada a concordar com a Srta. Thompson, há
boas chances de haver um bebê a caminho. – Eu gelo. É tudo o que eu não
queria ouvir. Olho para o lado e Oliver está pálido, engole em seco. Sério
mesmo que ele estava se iludindo a esse ponto em relação aos nossos
“descuidos”?
– Mas a pílula... – murmura, em choque.
– Bom, a pílula do dia seguinte não oferece proteção para relações futuras,
apenas para a que já ocorreu naquele prazo de até quarenta e oito horas. E
mesmo assim o percentual máximo de proteção que ela oferece é de noventa e
nove por cento quanto ingerida nas primeiras horas após a relação. Depois
disso o percentual baixa para oitenta e cinco por cento nas primeiras trinta e
seis horas e cinquenta e cinco depois disso. O coito interrompido tem eficácia
ainda mais baixa, de setenta por cento em média.
– Somando-se isso ao fato de que vocês mantiveram relações regulares nos
dias em que Beatriz estava em seu período fértil e que algumas delas foram
com ejaculação intravaginal completa, sim, as chances são grandes. – Um
arrepio gelado percorre a minha espinha e eu estremeço.
Os olhos enchem de lágrimas que eu seguro para não derramar.
Não pode ser, senhor. Isso não!
Oliver aperta minha mão em sua perna.
– Se o senhor não quer filhos Sr. Rain, deveria ser mais cuidadoso. Me
admira muito um homem altamente conhecido, que tem um grande patrimônio a
proteger de golpistas, e que certamente é muito assediado, ser assim tão
desinformado sobre o assunto. – Espera aí, ela acabou de dizer que eu
pretendo dar o golpe nele?
Tento me levantar para sair dali, mas Oliver me impede. Sinto a sua
respiração pesar.
Ele está possesso.
– Dra. Topffel, não que eu lhe deva explicações, mas sempre fui muito
cuidadoso neste aspecto. E o fato de ter relaxado nos cuidados, é porque a
minha relação com Beatriz vai muito além de uma aventura causal. E sim, não
planejei um filho, mas se ele vier dela, não me apavora, passada a surpresa,
ficaria feliz com a notícia. – Puta merda, essa droga só piora...
Oliver quer um bebê?
Não, não..
– Se eu estou preocupado em relação a uma gravidez agora, é por dois
outros motivos, um, ela é muito nova ainda e dois, ela não quer ter filhos em
razão da doença dos seus pais. E eu a amo demais para não apoiar as suas
escolhas e não me sentir culpado caso já seja um fato consumado. Agora
espero sinceramente, que como a profissional conceituada que é, a senhora
peça desculpas a minha mulher, porque o que insinuou foi para lá de ofensivo.
– A fingida dá um sorrisinho sem graça.
Mesmo meio atônita, aperto sua perna em agradecimento por ele, mais uma
vez, com toda elegância e energia, a ter colocado em seu devido lugar.
Como amo este homem!
– Me desculpe se a ofendi de alguma forma, senhorita Thompson, não foi
minha intenção, falei de forma genérica. – Ela que enfie as suas desculpas
naquela caverna onde o sol não bate.
– Como podemos ter certeza se já estou grávida? – Volto ao que interessa.
– Não podemos, ainda não. Seria muito recente para ser detectável por
qualquer exame. Pelo que você me relatou, sua menstruação deve descer em,
no máximo, seis dias. Se daqui a seis dias não menstruar, faça este teste
rápido. – Ela pega uma caixa na gaveta e me entrega, ouço tudo aquilo, mas
não consigo me concentrar muito, só quero saber logo se meus pesadelos vão
se realizar, me sinto anestesiada para todo o resto.
– Não adianta usar antes do prazo, poderia dar falso negativo. Caso no
sexto dia o teste dê negativo e mesmo assim sua menstruação não descer em até
três dias, deverá fazer o exame de sangue. – Aciona um botão de controle
remoto. – Ao final da consulta lhe darei a requisição deste e dos demais
exames que solicitarei. Antes de falarmos sobre os métodos contraceptivos,
vou examiná-la. – Uma moça, toda de branco entra no consultório. – Por favor,
Srta. Thompson, acompanhe Andrea até a outra sala que ela vai prepará-la.
Levanto para acompanhar a moça e Oliver faz o mesmo.
– Apenas a paciente, Sr. Rain – diz a Barbie.
Então ela terá o seu momento a sós com Oliver...
Mesmo com a cabeça em outras questões, não posso deixar barato para ela,
não depois dela tentar me humilhar mais de uma vez. Aproximo-me dele e o
beijo com carinho por longos minutos. Ele retribui da mesma forma.
– Já volto, baby.
– Estarei bem aqui, pequena. Vai dar tudo certo – me diz, acariciando o meu
rosto. Apenas assinto, sem emoção.
Tudo para mim passa no automático; entro na sala, a garota me orienta a
tirar a roupa e colocar um avental, depois deitar numa cadeira e esperar a
Barbie. A doutora vem, faz o que tem que fazer, eu levanto, coloco minhas
roupas novamente e volto para perto de Oliver. Nos sentamos nas mesmas
posições, ela começa a falar sobre os possíveis métodos contraceptivos,
implantes, DIUs, pílulas, injeções... tudo aquilo, nesse momento, não passa de
uma baita ironia. Ouço tudo, mas a mente está distante.
– ... mas veja bem, não é possível iniciar nenhum deles antes de termos
certeza sobre a gravidez. Vou dar a receita da pílula, caso não esteja grávida,
você deve começar a tomar no primeiro dia da menstruação e então numa
próxima consulta, que marcaremos para daqui quinze dias, quando teremos os
resultados de todos os exames, podemos avaliar a possibilidade de trocar para
outro método. Caso o teste dê positivo, entre em contato com o consultório e
encaixaremos uma consulta antes deste prazo. Está claro, Srta. Thompson?
Srta. Thompson, a senhorita entendeu o que eu expliquei?
– Baby, você ouviu a doutora? – Oliver toca meu ombro me fazendo reagir.
– Ah?
– Você entendeu Bia, sobre os métodos, a pílula...
– Sim.
– Muito bem. Aqui estão todas as receitas e requisições para os exames. O
preventivo do colo de útero não coletei em função da possível gravidez, há
ultrasson de mama, exames de sangue e urina. Fora esses, os demais você fará
apenas se não estiver grávida. – Ela entrega os papéis a Oliver. – E este é o
meu cartão Sr. Rain, com o meu número particular, caso tenha qualquer
dúvida, pode me ligar. – Dou um risinho em deboche ao descaramento dela,
para sua sorte o meu estado letárgico está impedindo que eu me importe
demais com o seu desrespeito a minha pessoa.
– Não terei, mas talvez a sua paciente tenha. Beatriz guardará o seu
número, fique tranquila. Passar bem, doutora. – Amo muito!
Ele nem espera ela dizer mais nada, pega minha mão e me guia para fora
dali.
Saímos da recepção e os seguranças nos acompanham até o carro
rapidamente, assim que nos acomodamos ele aperta o botão para fechar o
vidro que nos separa do motorista e pega meu rosto entre as mãos.
– Desculpe fazê-la passar por isso, eu não imaginava que a ginecologista
mais renomada de Los Angeles pudesse ser tão inconveniente e arrogante. –
Deus, é com isso que ele está preocupado?
– Ah Oliver, ela é o menor dos meus problemas...
– Anjo, não fique assim. Vai dar... – Ponho os dedos em seus lábios antes
que ele termine aquela frase clichê, que todos nos dizem quando sabemos que
no fundo não é verdade. Me disseram sobre mamãe, depois sobre papai e
agora...
– Não diga. Por favor, não diga – peço. Ele me olha assustado. – Oliver, eu
preciso de um tempo... me deixa quieta comigo mesma uns minutos, por favor.
– Ele engole em seco.
– Vou deixar, só... – Respira fundo. – Eu havia feito reserva no restaurante
de Eric para o almoço. Mantemos ou...
– Se você não se importar prefiro que cancele. A consulta com o
oncologista é às três horas, certo? – Ele confirma.
– Podemos estacionar em algum lugar e ficar dentro do carro? Ou melhor,
você pode ir almoçar e eu fico.
– Você acha mesmo que vou conseguir comer sabendo que você está assim?
Vamos para o meu apartamento.
– Você tem apartamento em Los Angeles?
– Tenho.
– Ok então – digo e depois fecho os meus olhos, deixando minha cabeça
pender para trás, apoiando-a no encosto do banco.
Seis dias. Terei que ficar seis longos dias nesta aflição.
Por que eu não o parei, por que não insisti no preservativo?
Agora podemos ter condenado uma criança inocente a um futuro de
sofrimento. Meus pais não sabiam o que lhes aguardava.
Eu sei.
Como pude ser tão irresponsável?
E tem outra variável inesperada que está me causando um nó no coração.
Oliver quer.
Passo longos minutos remoendo aquilo, até que sinto o carro parar e abro os
olhos para ver se chegamos, mas é só um semáforo. Olho pare ele, que está
com a cabeça também apoiada no encosto, contudo tem um leve sorriso no
rosto e sua atenção está em algo lá fora.
Sigo a direção de seus olhos e meus pelos arrepiam.
É a cena de um pai, erguendo seu bebê e fazendo cócegas em sua
barriguinha com a boca. O bebezinho aparentemente dá gargalhadas. As
lágrimas que eu tanto segurei despencam silenciosas.
Ah meu amor... não serei eu quem poderá lhe dar isto.
O carro volta a se mover, seco meu rosto e fecho os olhos novamente, antes
que ele se vire e perceba que eu estava chorando. Alguns minutos depois
entramos na garagem do prédio, descemos, pegamos o elevador e por fim
chegamos a um apartamento claro e amplo. Ele segura a minha mão por todo o
percurso, sei que quer que eu me aproxime, converse, mas ainda não dá.
– Oliver, vou deitar um pouco, tudo bem? – Ele me traz para si e me abraça.
Leva o rosto até os meus cabelos e inspira fundo, depois beija minha testa.
É impressão minha ou ele está um pouco trêmulo?
– Claro, venha, vou te levar até o quarto. – Me leva até lá, puxa a colcha, eu
retiro os sapatos e me deito. Ele me dá um beijo casto e sai. Volto a entrar no
turbilhão de pensamentos até que inexplicavelmente o sono me pega, trazendo
algum alívio.
Oliver

Estou lutando para não cair.


Essa sensação... tão bem conhecida minha... não posso com ela.
Está aí.
A lembrança clara e nua do porque eu deveria ter continuado evitando me
envolver. Permanecendo o máximo possível longe das pessoas...
O motivo de eu não poder ter isso em minha vida, nunca. Apego. Ela está se
afastando de mim... ela também... será questão de tempo... abro as enormes
portas de vidro da sala e saio para a sacada.
Preciso de ar... está ficando cada vez mais difícil respirar... não posso
apagar aqui, não posso. Ela não saberia como lidar comigo e eu a assustaria.
Tento conter os tremores, mas sinto que o túnel negro da indiferença está
cada vez mais próximo.
O meu abismo, meu caos particular... se ela fizesse ideia do que essa
música realmente representa para mim... preciso de mais ar, mais... tento me
agarrar a realidade com todas as forças.
Preciso de ajuda.
Pego o celular e disco um número que há muito tempo não discava. Por
favor, me atenda, rezo silenciosamente.
– Oliver?
– Henry, preciso de ajuda.
– Se acalme, respire, você não está lá, Oliver. Não é a mesma coisa. Seja lá
o que for que tenha te trazido a mesma sensação, não é real. Você está
deturpando a realidade. Respire fundo e se mantenha aqui, no presente. Onde
você está?
– No meu apartamento, em Los Angeles.
– Vou até aí, fique comigo ao telefone. Respire fundo e não pense em nada.
Apenas olhe a sua volta, olhe para o que é real. Sinta os cheiros, toque em
alguma coisa Oliver, algo frio ou quente. Respire... – E assim ele vai me
trazendo de volta a sanidade.
Em alguns minutos o interfone toca e autorizo sua entrada. Mal entra, Henry
ma envolve num abraço apertado. Me dá vários tapas nas costas. Tudo parte de
sua estratégia de manter meus pensamentos afastados dos gatilhos durante a
crise.
– Tudo bem Henry, está passando – digo.
– Ótimo. – Ele me analisa e então me abraça de novo. – Quanto tempo,
camarada.
– Pois é, pensei que realmente havia me livrado de você para sempre –
brinco, ele ri.
– Se ainda não se livrou, está quase – repete o que me dizia em todas as
consultas e que nos últimos anos acreditei que fosse verdade. – Como você
está?
– Melhor, mas... Venha, vamos sentar. – O guio até o sofá da sala.
– O que desencadeou essa crise, Oliver? Já consegue falar sobre isso?
– Acho que sim, mas para isso vou ter que te contar uma longa história.
– Tenho bastante tempo.
Sendo assim, começo a narrar para ele tudo que aconteceu na minha vida
nos últimos dois meses. Não deixo nada de fora, falo das coincidências, das
teias que a vida parece ter armado para nos guiar um ao outro, de como bastou
vê-la para as coisas bagunçarem dentro de mim. Conto que tudo já começou
forte, intenso, como se já nos conhecêssemos de longa data... falo dos
sentimentos até então desconhecidos, o ciúme, a posse, a dependência, o amor.
E como quinze dias nos braços dela me parecem uma vida inteira. A melhor
que já tive. Por fim, relato os últimos acontecimentos, a possível gravidez, sua
reação, seu afastamento, que culminaram naquela crise. Assim que termino o
relato, Henry, que me ouviu muito atentamente, abre um sorriso de orelha a
orelha.
– Eu preciso conhecer a preciosidade – diz.
– Cai fora, Henry. – Ele cai na risada.
– Na verdade eu vi as fotos de vocês, as que você postou. Você não sabe o
quanto eu fiquei feliz e surpreso. Só não te liguei porque estava em viagem ao
exterior. Voltei ontem. Mas não tinha ideia de que as coisas estavam neste
nível. Ela é linda.
– É sim.
– Tem ideia do bem que ela está te fazendo? A menina conseguiu despertar
em você o que eu tentei mostrar por anos, sem sucesso.
– Eu estava mais de quatro anos sem uma crise Henry e agora, em menos de
um mês, já foram duas...
– Sim, estava. Assim como você estava há anos vivendo num casulo. Como
um viciado, você afastou qualquer resquício do vício da sua vista, para criar a
falsa ilusão de cura. Só que a cura só acontece quando o viciado olha a droga e
não tem mais vontade de consumir, porque a sua realidade atual é melhor do
que a que aquela que experimentava com o vício.
– Está insinuando que eu gosto de entrar em crise?
– Não, de jeito nenhum. Você sente medo delas, mas o medo, assim como
desejar o que nos faz mal, causam nas pessoas a mesma reação, a de afastar a
fonte, ao invés de enfrentar a causa. O que se permitiu viver nestes meses, é
enfrentar a causa. Você entende que se abriu para o ponto central de todo o seu
trauma, não entende?
– Entendo, claro.
– Então você precisa se preparar, porque durante o seu processo de
abertura, outras crises poderão vir. Mas o que você tem que entender, é que
elas serão diferentes.
– Diferentes como?
– Você chegou a cair em alguma delas? A desligar completamente no ato,
como normalmente acontecia?
– Não. Na outra Lian me ajudou e nessa você... – Ele sorri.
– E sabe porque não apagou rapidamente? – Dou de ombros.
– Porque você quer a sua realidade atual Oliver. Não deseja fugir dela. Está
se sentindo verdadeiramente feliz pela primeira vez na vida, desde os seus seis
anos de idade. Estou errado?
– Não, não está. Não gosto nem de imaginar ter que voltar a vida que eu
tinha antes dela aparecer.
– Aí está o ponto das suas crises atuais, meu caro. Você está se
autossabotando. O sentimento que te levou a cair aos seis anos é o mesmo que
você experimenta agora: amor. É óbvio que isso te traz os mesmos medos,
como foi lá no início, com a sua avó. O trauma que você enfrentou foi muito
grave e numa idade chave, é difícil se recuperar. Seu inconsciente está
constantemente tentando te proteger de passar por aquilo de novo. Tudo que
remeter ao sentimento do trauma, o seu corpo vai tentar bloquear, como sempre
fez, isso é a crise. Só que você não quer mais a proteção, essa garota não é a
mesma pessoa que te machucou e você não é mais uma criança. As crises
virão, e em algumas você pode até apagar outra vez, mas você vai lutar e
desenvolver mecanismos para não deixar o seu inconsciente vencer, e com isso
vai reprogramá-lo, ensinar que a realidade é outra. Este meu amigo, é o
caminho da cura.
– E se... se a realidade não for outra Henry? Se ela também...
– Oliver, não tente encaixar a situação atual no passado. Não percebe que o
que aconteceu com ela hoje, foi o mesmo que acabou de acontecer com você?
– Como assim?
– Ela está em crise. É o trauma dela desencadeando o seu próprio
mecanismo de defesa. Tem ideia da insegurança que essa menina enfrentou
durante toda a sua infância? Já se perguntou o quando ela se sente,
inconscientemente, culpada pelo infortúnio dos pais? Ela não quer ser culpada
pelo infortúnio de um filho. E nem pelo seu sofrimento. O medo dela é o
mesmo que o seu, o de amar e perder.
– E serei o culpado por fazê-la passar por isso, o meu descuido. É a mim
que ela vai culpar, afastar...
– Ok então, vamos supor que sim. Que ela vá te afastar de vez e você vá
reviver o seu pesadelo mais terrível. Ainda assim, levando em consideração a
vida que você vinha vivendo, preferiria não a ter conhecido? Se arrependeria
de ter vivido estes dias ao lado dela?
– Não. – Ele sorri novamente.
– Aí está. Então pare de ser pessimista e fantasiar que ela irá embora da sua
vida. Dê o tempo que ela precisa para processar sua crise. A vida a dois, meu
caro, é cheia de altos e baixos. E a grande maioria não diz adeus no primeiro
obstáculo. Se ela quiser ir, você a traz de volta. – Me dá uma piscada marota.
– Obrigado, Henry. – Ele assente.
– Mas eu quero saber como você se sente em relação a novidade. Ao
possível filho. – Eu sorrio.
– São sentimentos conflitantes. Eu nunca quis, você sabe... mas agora que
pode ser real, ter um bebê, um bebê dela, eu não vejo como algo terrível, nem
penso que o nosso bebê estará destinado a coisas ruins. Eu acho que até gosto
da ideia. Mas a faria sofrer, então eu também não gosto...
– Sabe o que eu penso?
– O que?
– No fundo, você está torcendo para que ela esteja grávida.
– Não Henry, ela não quer. Por que você diz isso?
– Por vários motivos. O primeiro deles foi o brilho que vi em seus olhos
enquanto falava. Segundo, seria uma forma de garantir que ela não vá embora
da sua vida, uma parte dela sempre estaria ligada a você. – Eu engulo em seco.
– Terceiro, você quer mais alguém para amar. É tudo o que sempre quis. Por
isso, tanto medo. E convenhamos, nenhum homem adulto descuida assim no
sexo quando realmente não quer um filho. Você, mais do que ninguém, sabe
disso.
– Se o que diz for verdade, eu traí, deliberadamente, a confiança dela. Mais
um motivo para ela...
– Não na maldade, Oliver. Eu diria mais que você relaxou e deixou a sua
felicidade falar mais alto, jogando com o acaso. Deixando que ele decida se te
dará o que você quer ou não. E também que você quis dar a ela uma prova de
amor.
– Prova de amor? Engravidando-a quando ela não quer?
– Amando-a com tudo de si. Sem restrições. – Não sei o que pensar de tudo
que foi dito. Minha cabeça dói.
– Preciso voltar à terapia Henry. Você estaria disposto a retomar a rotina de
ir uma vez por semana à Oceanside?
– Sim, posso me organizar novamente. Verei meus horários e te encaminho
as possibilidades. E na minha avaliação, seria bom se Beatriz também
iniciasse, principalmente se ela estiver grávida. Ela passou por muitas coisas.
Não precisa ser comigo, se vocês não se sentirem confortáveis.
– Conversarei com ela. Mas ela não sabe sobre o meu passado.
– Imaginei. Você precisa contar.
– Ela não merece mais sofrer Henry, não merece mais lidar com incertezas.
Ou vai ficar por pena ou não vai querer ficar se... – Ele ri.
– Você não acredita que ela te ame? Pelo que você me contou, ela te ama
desde os oito anos de idade.
– Acredito, mas... – Dou de ombros.
– Mas você pode não ser o suficiente. – Um calafrio passa por mim de cima
a baixo. As palavras mais cruéis que uma mãe pode dizer a um filho, as
mesmas que mudaram a minha vida para sempre.
– Sim – digo. Ele dá de dedos.
– Autossabotagem, de novo.
– Boa tarde. – Olho em direção a sala de jantar e minha pequena está lá,
linda e indecisa, ponderando se deve ou não se aproximar.
– Venha aqui, meu bem, deixe-me lhe apresentar um velho amigo.
– Mais amigo, do que velho, diga-se de passagem – brinca Henry, fazendo
Bia sorrir.
– Bia, este é Henry Alson, meu amigo e terapeuta. Henry, esta é Beatriz
Thompson.
– Apenas isso? Esta é Beatriz Thompson? Vamos lá, Oliver, pode fazer
melhor que isso, quero ouvir você dizer, esperei tantos anos... – provoca e eu
me divirto. A abraço por trás e dou o que ele quer.
– Esta é Beatriz Thompson, minha namorada, – beijo seu pescoço – meu
amor, – beijo sua bochecha – a mulher que me tirou da pista. – Henry ri e Bia
está vermelha feito tomate.
– Bem melhor. Prazer em conhecê-la, Beatriz.
– Muito prazer, Sr. Alson.
– Henry, por favor. Oliver tem sorte. Vocês formam um lindo casal.
– Obrigada.
– Gostaria de ficar e conhecê-la melhor, mas tenho compromisso às duas
horas. Só passei para rever esse cara, fazia um bom tempo que não nos
falávamos. Adeus, camarada, até breve. Te mandarei os horários, e
precisando, ligue. – Sinalizo em concordância.
Acompanho-o até a porta e assim que me viro em direção a sala novamente,
vejo Bia na sacada, mais perdida em seus pensamentos do que apreciando a
vista de Los Angeles. Aproximo-me com cautela, mas assim que ela sente a
minha presença, se atira em meus braços e me beija com desespero.
– Me desculpe. – Cai no choro.
– Pelo quê, meu amor?
– Por não conseguir falar com você no carro, por ter ido deitar e te deixado
sozinho, e por ainda não querer falar sobre o assunto. – Ela desabafa enquanto
continua chorando.
A abraço apertado e a levo até a sala. Me sento no sofá, faço com que se
sente em meu colo e deite a cabeça em meu peito, acaricio seus cabelos.
– Não se preocupe com isso, pequena, está tudo bem.
– Não, não está tudo bem. – Chora mais.
– Ah meu bem... – Seguro seu rosto e faço-a olhar para mim. – Sei que não
quer falar agora, mas você não está sozinha nisso, sabia? Caso já seja uma
realidade, eu farei da minha missão de vida proteger vocês. Nada vai
acontecer ao nosso bebê, querida.
– Não faça isso, por favor. Não prometa o que você não tem o poder de
controlar. Tantas pessoas me falaram coisas assim ao longo da minha vida,
sabe? “Não se preocupe, menina, tudo ficará bem”, “Ela vai se recuperar”,
“Ele vai melhorar”, “No final tudo dará certo”. Mas nada deu certo, ela não se
recuperou, ele não melhorou. É tão difícil, Oliver, ver as pessoas que você
mais ama na vida definharem dia após dia na sua frente. Vê-las se
transformarem em algo tão diferente do que elas eram. E você não poder fazer
absolutamente nada para mudar isso. Nada. Eu sinto tantas saudades. – Seu
choro é tão sentido que eu não consigo evitar que algumas lágrimas saiam dos
meus olhos também.
– Eu queria poder tirar essa dor de dentro de você.
– Mas você não pode. Ninguém pode. Eu estou sendo egoísta em ficar com
você, sabe? Sou uma bomba-relógio, posso explodir a qualquer minuto e te
fazer passar por aquela angústia. Eu não deveria... mas eu não consegui me
manter longe, me impedir de viver esse sentimento. Eu sonhei tanto em
reencontrar você. Só que o que eu não preciso, é colocar outra bomba na sua
vida. Meus pais partiram cedo demais, mas eles não eram jovens. Viveram
bons anos, viveram um amor, estão juntos em algum lugar. Isso me traz um
certo consolo. O que não há em ver isso acontecer a um filho, uma criança.
– Tenho muitas coisas para te falar a respeito do que você disse e outras
tantas mais. Mas temos uma consulta daqui a pouco, meu amor, precisamos ir.
– Sim, eu sei. – Ela seca os olhos e se levanta. – Vamos lá.

O Dr. Iori Nakoto, geneticista e oncologista, é o oposto total da intragável


Dra Ava. Um homem de origem oriental, na meia idade, que nos sorri com os
olhos. Só de olhá-lo você se sente acolhido. Simpaticíssimo, procurou manter
o tempo todo o tom leve e descontraído na consulta, por mais difícil que seja o
tema que ele aborda.
– Então veja, menina, eu não quero aqui trazer falsas esperanças e nem
minimizar um assunto tão sério. Vocês estão certíssimos em procurar a
prevenção e como tal, faremos todos os exames disponíveis. E
acompanhamento regular de hoje em diante. O que eu vou falar agora é
baseado na minha experiência de quase trinta anos de atuação na área. Na
maioria dos casos, veja bem, na maioria, não em todos, quando a leucemia se
manifesta numa idade já mais avançada, como no caso da sua mãe,
normalmente ela não tem o fundo genético, esses genes que procuraremos
detectar com os exames. A maioria dos pacientes pré-dispostos geneticamente,
tendem a desenvolver a doença até os trinta anos. – Aquelas palavras têm o
efeito de arrancar um enorme peso dos meus ombros, um que eu nem sabia que
carregava. – Mas claro que só conseguiremos confirmar isso com os exames.
– Mas os exames detectarão que eu não tenho os genes ativos, mas não vão
garantir que a minha mãe não os tinha, certo?
– Sim, sua mãe poderia ser pré-disposta, mas você não. Como ela não está
mais aqui, nunca teremos como saber ao certo. Mas conforme eu disse, se
formos encaixá-la nas estatísticas, a probabilidade maior é a de que não era,
pela idade em que a doença surgiu e pelo fato de você também não ser,
supostamente.
– E no caso de a minha mãe ter sido um ponto fora da curva, carregar os
genes quando eu não os carrego, se eu tiver um filho, ele corre o risco de ser
pré-disposto, mesmo eu não sendo? – Dr. Iori a analisa calmamente.
– Sim, existe uma possibilidade de você transmitir a carga genética mesmo
ela não sendo ativa em você. – Um balde de água fria.
– Eu só queria ponderar uma coisa, como eu disse, se os seus exames derem
negativo, as estatísticas apontam para que sua mãe tenha desenvolvido a
doença por outros motivos. Num assunto tão sério quanto esse, não podemos
ser negligentes, mas, outra coisa que não podemos ser em relação à vida, é
pessimistas ao extremo, senão não vivemos. Então menina, se seus exames
estiverem bons, sua saúde estiver em perfeito estado e você quiser saber a
minha orientação clínica sobre você poder ser mãe no futuro ou não, eu direi
que sim, você não terá contraindicação médica nenhuma neste sentido. A
chance dos seus filhos adoecerem em algum momento de suas vidas serão as
mesmas dos meus, ou dos de qualquer outra pessoa tão saudável quanto. –
Porra, ele foi no ponto. Se eu já não tivesse gostado dele, agora ele teria a
minha eterna gratidão.
– Difícil confiar nisso quando os seus dois pais morreram da mesma
doença. – Novamente ele a estuda com muito cuidado e, eu diria até, com
carinho.
– Sabe, Beatriz, há algumas coisas em que, novamente baseadas na minha
experiência e observação durante todos esses anos, eu passei a acreditar. Eu
não costumo falar disso com os meus pacientes recentes, porque não conheço
suas crenças e não quero ser ofensivo sem saber, mas acho que no seu caso,
por todo o relato que você me fez da sua vida, dos seus pais e da forma como
você acabou, sem saber, acolhida na casa do homem que te apoiou quando
ainda era uma criança, cabe falar. – Ele faz uma pausa.
– Eu já acompanhei muitas, muitas histórias tristes em função da minha
profissão. E em várias delas, acompanhando a vida daquela família pós-
trauma, coisa que eu como profissional acho importantíssimo fazer, você
consegue ver aquela dor se transformar em algo positivo.
– Casos em que a perda de uma criança fez os pais olharem com atenção
para o irmão adolescente que se sentiu a vida toda negligenciado, preterido e
aquilo mudar aquela relação para sempre. Casos em que a perda fez quem
ficou rever toda a sua vida, deixar de dar valor as coisas fúteis e, às vezes, até
abraçar causas assistenciais. Histórias onde a dor da perda, retira quem fica
do vício ou de uma situação abusiva, pois a pessoa quer honrar a memória de
quem partiu e mostrar que pode ser alguém melhor. Poderia ficar relatando
histórias por horas. São inúmeros exemplos de coisas positivas, que se não
fosse aquela perda, muito provavelmente não teriam acontecido, nunca
saberemos.
– Outra coisa que pude observar, é que no caso de casais muito unidos e
que se amavam verdadeiramente, como parece que era o caso dos seus pais,
quando um adoece e vem a óbito o outro não demora muito a acompanhar. Só
há exceções quando o que fica tem alguma missão maior a cumprir, como por
exemplo, terminar de criar os filhos. Mas assim que a pessoa sente que
cumpriu o seu dever, tende a se juntar a outra. Neste caso, a doença nada mais
é do que um meio inconsciente para atingir o seu desejo mais profundo.
– Este, querida, me parece ter sido o caso do seu pai e não há nada de
genética nele. E olha que incrível a engrenagem que rege a vida é, pois o guiou
sem saber, a no momento certo, entregar a filha ao lugar ao qual sempre
pertenceu, ao lugar que estava destinado a ela desde os seus oito anos, ou até
muito antes disso, quem sabe? A meu ver, ele partiu desta com a missão que a
sua mãe deixou para ele mais do que cumprida. – Bia não segura as lágrimas,
aperto sua mão.
– O que eu quero lhe mostrar com todo esse discurso, e reforço novamente
que isso é a minha opinião como homem, como ser humano, fruto do que vi e
ouvi em minha vivência até aqui, não tem base científica: quase sempre nasce
algo bom das situações adversas, e talvez, no fundo, sempre haja um porquê
das coisas seguirem por um determinado rumo. Se você não tivesse perdido os
seus pais, será que estariam juntos hoje? Será que as coisas não aconteceram
como deveriam?
– Para mim, parece que sim. Eu acredito de coração que isso aqui – ele nos
demonstra e o ambiente à sua volta – é como uma agulha num palheiro, estamos
no centro de algo maior. Então minha querida, não se deixe dominar pela
ilusão de que isolar o fator genético, ou se privar de alguma felicidade, será o
suficiente para impedir que a vida cumpra os seus nobres objetivos. –
Caramba, o Dr. Iori parece que foi guiado a dizer exatamente coisas que Bia
precisava ouvir.
Ele disse muito do que eu pensei em dizer para rebater aquela bobagem de
bomba-relógio que ela largou e, se eu for honesto comigo mesmo, muito do que
eu mesmo precisava ouvir. Este é um homem que certamente faz a diferença
com a sua profissão, e não apenas no sentido técnico.
– Vocês estão bem? Me desculpem se eu fui honesto demais e ultrapassei
algum limite – pergunta.
– Não doutor, o senhor foi ótimo. Certamente nos deu muito sobre o que
refletir, de uma forma positiva – digo.
– Sim, doutor, obrigada pelas suas palavras. Algumas das coisas que o
senhor falou eu também acredito, meus pais acreditavam – diz Bia e ele
assente.
– Fico feliz em saber. Provavelmente foi a percepção desta sinergia
pensênica que me deixou confortável em expor o meu olhar para vocês.
– Desculpe, mas não compreendi o que o senhor quis dizer com sinergia
pensênica. – Bia pergunta e tenho que admitir que eu também não.
– Ah sim, me desculpem, pensene[3] é um termo formado a partir das
palavras pen samento, sen timento e e nergia. Sugere, e eu acredito muito
nisso, que não existe pensamento sem sentimento, sentimento sem energia e
nem energia sem pensamento. Melhorando pensamentos, melhoramos
sentimentos e consequentemente melhoramos nossa energia vital. Assim como
nossas energias revelam muito a respeito do que sentimos e pensamos. Então o
que eu quis dizer é que me senti confortável em me expor para vocês porque
percebi pelas suas energias, o que muitas pessoas chamariam de intuição, que
os meus pensamentos seriam bem aceitos, encontrariam eco favorável e
poderiam ajudar de alguma forma.
– Faz sentido. – digo.
– Então queridos, os exames serão realizados aqui mesmo, uma das
enfermeiras irá acompanhar Beatriz às salas de coleta.
– Doutor, há uma possibilidade... hum... dela estar grávida. Esses exames
trariam algum risco ao bebê? – O doutor Iori abre um enorme sorriso.
– Não, nenhum. Apenas serão coletadas amostras de sangue, saliva e pele
para mapeamento genético.
– Tudo bem, então.
– Assim que eu tiver os resultados, minha assistente entra em contato para
marcamos o retorno.
– Obrigada, mais uma vez doutor, muito obrigada – fala Bia e o Dr. Iori
levanta-se e a abraça.
– Não há de que menina. Este é o meu verdadeiro trabalho.
– Quer ir jantar em algum lugar ou jantamos no apartamento? Mas não
comer outra vez, não é uma opção para você, Beatriz. Então, o que vai ser? –
pergunto assim que estamos acomodados no carro.
– Você almoçou por acaso?
– Não.
– Sendo assim, nós dois precisamos de comida, Sr. Rain. – diz imitando a
Dra. insuportável.
– Bom, já está fazendo até gracinhas sobre a conceituadíssima Dra. Topffel,
creio que esteja se sentindo melhor. – Ela respira fundo e fecha os olhos.
– Um pouco.
– Que bom. – A beijo. – E aí baby, decida-se...
– Eu prefiro ir para casa, quero dizer, o apartamento. Foi um dia longo, tudo
que eu quero é tomar um banho e relaxar.
– Também prefiro. Vamos pedir comida. O que você gostaria de comer?
– Burritos. – Rio.
– Que seja. Burritos com um bom e velho vinho. – Ela morde o lábio
inferior, certamente lembrando-se da nossa noite.
– Você e os seus vinhos...
– Logo, logo você também estará pedindo por eles, bebê. – Mando
mensagem ao segurança de plantão para fazer o pedido da comida.
– Duvido muito.
– Faremos uma aposta então, que tal?
– Aposta... humm... interessante. O que você ganha se eu perder?
– Se você perder, faremos uma segunda rodada pela porta dos fundos.
– Oliver! – Dou de ombros.
– É o meu prêmio...
– Então tá. Se eu ganhar, você me leva junto na próxima turnê da The Order.
– Eu abro um sorriso de orelha a orelha. Mal sabe ela que isso já estava
programado e que será muito antes do que ela imagina.
– E por que a senhorita quer ir junto na turnê? Posso saber?
– Você quer o motivo esdrúxulo ou os motivos nobres? – Estreito os olhos
para ela.
– Quero todos.
– Primeiro os nobres: o mais importante de todos, porque acho que vou
morrer de saudades se tiver que ficar seis meses longe de você, e também
porque, além de sua namorada, eu sou sua fã, lembra? Eu iria adorar
acompanhar os bastidores e ver vários e vários shows ao vivo. Estar no meio
daquela energia toda que eu amo, mas que só pude presenciar uma vez. Agora
o esdrúxulo: lembra aquele papo, lá na nossa primeira D.R. em que eu disse
que confiava em você e ficaria tranquila quando estivéssemos longe, desde que
você cumprisse o nosso acordo?
– Lembro, claro.
– A porra que eu vou ficar tranquila! – Caio na gargalhada e a puxo para
mim.
– Olha a boca, Beatriz.
– Caramba Oliver, eu não posso nem ir à ginecologista sem me preocupar
se vão avançar no que é meu. Imagina ficar em paz sabendo que você estará lá,
todo gostoso em cima do palco, mexendo com os desejos e delírios da
mulherada, e que boa parte delas estará arquitetando formas de chegar até você
e dar o bote.
– Então eu, sobre o palco, mexo com os desejos e delírios da mulherada?
– Porra... você em qualquer ângulo, meu bem.
– Ah pequena... você não existe.
– Feito? – Ela me estende a mão. Resolvo provocar um pouco e também
testar o terreno para a conversa da qual ela está fugindo. Sei que é arriscado,
posso acabar com o bom humor, mas preciso que ela se abra de uma vez. Pego
a sua mão estendida e levo até os lábios, beijando o pulso.
– Bom, eu poderia aceitar tranquilamente, considerando que a próxima turnê
é só daqui a um ano e três meses, mais ou menos. – Minto. – E até lá você vai
pedir por vinho meu amor, há se vai... então eu diria que a minha vitória está
no papo. Mas... – A olho bem dentro dos olhos, mudando o tom do meu olhar
para um de seriedade.
– Mas?
– Se você estiver grávida, nosso bebê estará com o que? Cinco meses? O
que faríamos com ele? Deixaríamos por seis meses com a vovó e babás?
Levaríamos junto? – Ela engole em seco, desvia os olhos dos meus e toda a
empolgação some do seu rosto.
– Não quero falar...
– Precisamos falar, Beatriz.
– Ainda não. Nem sabemos se eu estou mesmo... – Seguro seu rosto e a faço
me olhar novamente.
– Precisamos falar, meu amor. – Os olhos enchem d’água novamente, ela
deita a cabeça no meu peito e chora.
– Eu tenho medo, Oliver. Mesmo o Dr. Iori tendo dito tudo aquilo, o medo
ainda está aqui, forte.
– Eu sei. E é sobre ele que eu quero conversar.
– Depois do jantar, pode ser?
– Tudo bem. – Afago seus cabelos e ficamos uns minutos assim, eu em
silêncio e ela chorando baixinho no meu peito.
– Mas é claro que não ficaríamos com a primeira opção – diz de repente e
então chora alto, me deixando perdido com aquela declaração.
– Não entendi, anjo.
– A primeira opção. Óbvio que eu não vou deixar o meu bebê por seis
meses – resmunga entre soluços e eu sorrio.
– Claro que não. Não imaginei que fosse. – Beijo sua cabeça e a deixo
continuar colocando para fora toda a sua angústia.
Logo após chegarmos, nossa comida é entregue. Bia vai tomar o seu banho e
eu arrumo a mesa para o nosso jantar. Estou de costas, colocando os talheres,
não ouvi os seus passos, mas o aroma característico de baunilha e amêndoas a
denuncia.
– Isso é injusto – digo ainda sem me virar.
– O que é injusto? – fala agora bem próxima a mim.
– Você aí, – me viro e enlaço sua cintura – toda cheirosa e gostosa e eu
assim...
– Adoro o seu cheiro. – Me abraça, sento-a sobre a mesa, numa parte que
está livre. Afasto seus joelhos e me encaixo ali.
– Linda! – Mergulho o nariz em seu pescoço e inspiro. – E só minha.
– Uhummm, continua...
– Tão gostosa! Essas coxas grossas do capeta que eu amo morder e
apertar... – Aperto suas coxas por baixo do vestido, enquanto mordisco seu
queixo. Ela leva as mãos a minha bunda e me traz para mais perto, grudando
nossas virilhas.
– Oliver... – geme – que tal... que tal a gente deixar o jantar para depois e
você me levar para a cama...
– Nem pensar. Você só terá isto aqui, – esfrego o pau duro nela – quando eu
achar que se alimentou bem o suficiente e conversarmos.
– Você não pode estar falando sério.
– Muito sério.
– Não sou criança.
– Mas está querendo desviar do assunto de novo, acha que eu não sei? – Ela
suspira.
– Tá, vamos jantar logo. – Me afasta e desce da mesa.
– Sente-se. – Ela o faz, eu a sirvo e depois pego a garrafa de vinho para
encher as nossas taças e quando vou encher a sua, a ficha cai e paro com a
garrafa na mão.
– O que foi?
– Talvez não seja uma boa ideia, sabe... você beber... – Ela revira os olhos.
– Desculpe, na hora eu não me dei conta.
– Tudo bem, não faço questão – diz irritada. Vou até o bar para ver as outras
opções.
– Há suco de laranja, suco de maçã e refrigerante.
– Pode ser o suco de maçã.
Jantamos sem trocar muitas palavras. Há algo a mais por trás de toda a sua
resistência em falar, e estou ficando impaciente para descobrir o que é, mas
evito o assunto enquanto comemos. Termino e fico esperando.
Nunca a vi comer tão devagar.
Lá pelas tantas pega o telefone e começa a mexer entre uma garfada e outra.
Preciso trocar o aparelho que ela usa, deve ser um modelo de uns dez anos
atrás, no mínimo. Não há mais comida no prato, só um tanto de suco no copo
que vez ou outra toma um minúsculo gole.
Aguento mais um pouco, para ver se toma a iniciativa, mas nada.
Chega!
– Venha, baby. – Levanto e estendo a mão para ela.
– Só um minuto.
– Não, Beatriz. Vamos nos sentar naquele sofá e falar sobre tudo que
ouvimos hoje e também sobre as coisas que andam se passando aí dentro. –
Aponto para a sua cabeça. – Agora! – Ela se assusta com o meu tom enérgico,
mas levanta e me acompanha.
Bia se senta num canto do sofá, pernas encolhidas em cima do assento,
ressabiada, braços cruzados em sinal de proteção. Me sento na outra parte, que
por sinal é uma chaise, me encosto confortavelmente e a trago para perto,
fazendo com que seja obrigada a descruzar aqueles braços e se encostar em
mim.
– Me conte querida, me explique todos os seus sentimentos em relação a
tudo que aconteceu hoje. Claro que eu quero os nobres, mas principalmente, os
esdrúxulos. Comece pelos nobres, se preferir.
– Eu tenho medo.
– Sim, isso você já me contou. Você tem medo de passar pela doença com
um filho, mas você também ouviu tudo que o Dr. Nakoto falou hoje, e se as
suspeitas dele se confirmarem, nem você, nem seus filhos estão condenados,
como você imaginava. Mas têm mais aí, não têm? O que você não me contou,
meu amor? – Ela se ergue e se posiciona de frente para mim, para poder me
olhar nos olhos.
– Este era o único nobre, agora terei que passar para os esdrúxulos.
– Vá em frente.
– Eu não estou pronta para ser mãe. Sabe eu... tenho até vergonha de falar,
mas... desde os meus oito anos, eu nunca tive a chance de ser egoísta, de poder
me colocar em primeiro lugar. Ou eu estava tentando ajudar, seja fazendo algo
que a pessoa não conseguia mais fazer por conta própria, seja para aliviar a
carga, ou eu estava tentando não atrapalhar, para não piorar a situação. Meus
desejos, meus sonhos, minhas necessidades, isso era secundário, não era o
mais importante. Eu aceitei isso e, juro a você, fiz tudo que estava ao meu
alcance e fiz de coração. E ter um bebê... que mãe não abre mão de si mesma
em benefício de um filho, Oliver? – Fecho os olhos. Eu, infelizmente, conheço
uma.
– Eu queria ter algum tempo para me concentrar só em mim. No que eu
quero, no que eu gosto. Sem ter que colocar as necessidades de um dependente
em primeiro lugar, de novo.
– Bom, não com estas palavras, mas de certa forma, isso você também já
me disse. Que quer namorar, estudar, trabalhar. Não vejo nada de esdrúxulo
nisso. Tenho coisas a pontuar sobre esse, mas quero ouvir os outros. Vamos
Bia, o que você não me contou e que te fez chorar e fugir dessa conversa o dia
todo?
– Tem o motivo antigo e o novo, qual você quer primeiro?
– O antigo. – Ela respira fundo tentando encontrar forças.
– Ou você vai rir de mim ou vai me achar maluca.
– Não vou, prometo. Tenho minhas próprias maluquices para curar antes de
julgar as de alguém, anjo.
– Eu não posso ter uma família, Oliver. Uma família real. – Os olhos
enchem de lágrimas na hora.
– Por que, meu bem?
– Porque... e se for eu?
– Como assim?
– Eu. Se for eu o mal agouro? Se for eu que atraio a doença para as pessoas
da minha família? Eu não vou arriscar. Sabe... eu sei que foi uma brincadeira,
mas quando você falou do anel, de marcar a data hoje de manhã, eu não vou me
casar, Oliver. Se a gente casar... – Entendo tudo.
– Você estaria me condenando.
– Sim.
– E enquanto eu não for sua família de verdade, estou seguro.
– Isso.
– E o nosso bebê não teria a mesma sorte, porque, enfim, ele já nasceria
sendo sua família.
– Exato – confirma aos soluços. Encosto minha testa na dela e deixo as
minhas próprias lágrimas caírem livremente.
– Quando eu tinha vinte e um anos, um dia, eu estava junto com outras
pessoas, tirando um amigo da internação de um hospital, e na saída encontrei
uma garotinha. Ela se aproximou de nós, desesperada, porque ela precisava
fazer as coisas de um determinado jeito para garantir que a sua família voltasse
para ela e nós estávamos impedindo o seu trabalho. As outras pessoas ali não
conseguiam entender aquele tipo de medo que ela estava sentindo. Mas eu sim,
eu podia. – Bia soluça.
– Eu podia e eu entendi, então tentei ajudar para que a sua missão fosse bem
sucedida. Eu sabia que ali era a recepção da oncologia e que provavelmente
ela estava enfrentando um problema sério. E sabia também, por experiência
própria, que naquele momento não haveria argumentos que pudessem fazê-la
entender que não era ela ou o que ela fazia ou deixava de fazer que iriam
mudar os fatos, então eu apenas me abaixei para poder olhar bem dentro dos
seus olhos e com o meu olhar, tentei transmitir a ela essas palavras: Força
pequena, e aconteça o que acontecer, não é sua culpa.
– Então agora eu vou secar as suas lágrimas, – passo minhas mãos por seus
olhos e ela faz o mesmo com os meus – e vou olhar bem nos seus olhos de
novo e dizer com o meu olhar, mas desta vez, também com as palavras. –
Respiro fundo antes de continuar.
– Um dia eu vou colocar um anel no seu dedo, Beatriz, nós vamos nos casar,
você será oficialmente a minha mulher. Se já não estiver a caminho, teremos ou
não filhos no futuro. E aconteça o que acontecer depois disso, passaremos pelo
que tiver que passarmos, e não será sua culpa, nem minha e nem dos nossos
possíveis filhos. Você pode não concordar com isso agora, mas vai. Você vai
se tratar e esse medo, essa culpa deixarão de existir dentro de você. Porque
não foi você, meu amor. – Aperto-a em meus braços e a beijo com todo o amor
que há em mim.
– Eu te amo.
– Eu também te amo, pequena. Mas tem mais um, não é, um motivo novo?
Me fale. – Ela desvia o olhar.
– Ah Oliver, vamos deixar assim...
– Não, eu preciso saber. Diga.
– No carro, depois que saímos da Barbie...
– Barbie?
– É, a Dra. Nariz Empinado. – Rio, realmente, pensando bem, a mulher
parecia uma Barbie.
– Ok, continue.
– Eu vi quando você ficou olhando, extasiado, aquele pai brincando com o
seu bebê. E ali eu tive a certeza de que você quer isso. Você quer um filho. –
Novas lágrimas. – E se o fato já não estiver consumado, quem sabe eu nunca
me sinta segura o suficiente para te dar isso, então talvez eu não seja a mulher
que... – Puxo sua boca para a minha, impedindo-a de continuar.
– Sabe porque eu fiquei fascinado olhando aquela cena, além do fato de
reagir as risadas da criança? – Ela faz sinal negativo com a cabeça. – Se você
não percebeu, o bebê tinha cabelinhos cacheados. E eu fiquei imaginando um
bebezinho, com esses seus olhos, sua boca e os seus cachinhos. Essa criança
me teria nas mãos, assim como a mãe dela me tem. Então sim, eu quero esse
bebê, o seu bebê. Só quero porque é com você. E se você chegar à conclusão
de que nunca poderá me dar isso, eu posso ser feliz sem um filho, Bia, mas eu
não consigo mais ser feliz sem você. – Ela se atira em meu pescoço.
– Ah Oliver, como posso merecer você? Vai me fazer desidratar esta noite...
– diz secando os olhos novamente. – Também seria impensável para mim, meu
amor, ter que me afastar de você. Mas eu me obrigaria e faria, pela sua
felicidade.
– Pela minha felicidade, anjo, você precisa chegar um pouco mais perto. –
A coloco sentada com as pernas abertas no meu colo. – Antes de nós matarmos
a nossa outra fome, eu só queria dizer algumas coisas para o caso de já haver
alguém aqui. – Apoio a mão em seu ventre e ela estremece.
– Primeiro perdão por não ter sido mais cuidadoso, sei que não muda nada,
mas não foi premeditado.
– Eu sei, eu também estive lá, lembra?
– Sim, mas a responsabilidade maior era minha, como homem e como o
mais experiente. Segundo, sei que é utópico dizer que a sua vida não vai mudar
e nem que você eventualmente não terá que abrir mão de uma coisa ou outra,
mas não será isso que vai te impedir de realizar os seus sonhos, baby. Nós
temos recursos. Os planos com Edgar continuam, o estágio continua, você quer
ir na turnê? Você irá. Levaremos o bebê, contrataremos enfermeiras, babás, o
que for preciso. Eu te prometo que você não precisará abrir mão de mais nada
que for essencial ou importante para você.
Ela me olha encantada e pesarosa ao mesmo tempo, passa as mãos pelos
meus cabelos, depois percorre o meu rosto carinhosamente. Por fim, retira a
minha mão que ainda estava apoiada em seu ventre e beija-a.
– Sabe, me dói demais o fato de que daqui a seis dias, eu vou fazer xixi
naquele palito que a Barbie nos deu e depois de esperar alguns minutos, um de
nós dois comemorará o resultado, mas o outro não. – Ela me olha
profundamente, aguardando a minha reação. Deixando claro com o seu olhar
que espera a minha total honestidade.
– Não ficarei triste se der positivo. – Admito, ela ri.
– Por que tudo na minha vida têm que ser acelerado?
– Não sei, mas deve ser o efeito que você causa. Seu feitiço! Magia
certeira, que não deixa escapatória. Olhe para mim? Nunca tive uma namorada
antes e em poucas semanas eu já seria capaz de pôr um anel no seu dedo. A
ideia de um filho me deixava em pânico e agora...
– Agora você está dando como certo, não é?
– Claro que não...
– Está sim, você já está dando como fato consumado. Convicto que dará
positivo. Ficará decepcionado se o resultado for outro e eu, desesperada se
não for.
– Bom, então teremos que lidar ou com a minha decepção ou com o seu
desespero. Agora vamos deixar o que não temos como saber para daqui a seis
dias. – Ela suspira e eu decido que já falamos demais, aperto-a em meu colo e
início um beijo para lá de quente. Não demora nada para eu estar totalmente
duro e ela se esfregando em mim, impaciente.
– Oliver, amor, por favor...
– Vá em frente pequena, aproveite-se de mim. – Chupo o seu mamilo
intumescido por cima da regata do baby doll que ela usa. Bia geme.
– Você quer saber o que eu faria com você amarrado àquela cadeira caso
não tivéssemos plateia?
– Uhm... eu tenho uma boa ideia do que você faria...
– É mesmo? Vamos descobrir se você está pensando certo. – Ela encosta os
lábios no meu ouvido. – A partir de agora, baby, você está proibido de tocar
em mim até que eu permita. – Seguro o riso para não a tirar do clima.
– Sim, senhora. E o que acontece comigo se eu desobedecer?
– Se você desobedecer, eu terei que amarrar suas mãos outra vez. E talvez
eu não deixe você gozar.
– Porra... – Ela segura o meu queixo e empurra meu rosto para cima.
Segurando-o assim, se levanta e fica de pé na chaise, uma perna de cada lado
do meu quadril, então baixa o rosto e beija minha boca, depois me solta.
Leva as mãos a barra da regata e a retira de forma provocante, exibindo os
lindos seios, que têm os bicos grandes e rosados apontando para mim. Já estou
louco para pôr as mãos. Mas não posso. Vira-se de costas, deixando meu rosto
na altura da sua bunda deliciosa e arrebitada, enfia os dedos nas laterais do
shortinho e vai descendo-o, junto com a calcinha, e conforme desce, se inclina
para frente, me dando ampla visão do cuzinho e da boceta molhadinha.
Minhas mãos coçam, e minha boca saliva.
– Você está tão ferrada, Beatriz. A hora que eu puder colocar as minhas
mãos em você...
– Quieto! – Virando-se de frente para mim, me dando outro ângulo da
bocetinha... ai... está até brilhando de tão molhada... – Seja um bom menino e
tire a sua camiseta. – Estreito os olhos enquanto a obedeço. Vamos ver até
onde ela vai com isso.
Abaixando devagar, ajoelha-se com as pernas abertas, mantendo minhas
pernas esticadas entre as suas e então senta-se sobre os seus calcanhares e
meus joelhos, permitindo que aquela delícia que tem entre as pernas fique ali,
toda arreganhada, me olhando em súplica.
– O meu homem é uma afronta à saúde alheia... – Espalma a mão no meu
peito e vai deslizando-a por todo o meu tórax e abdômen. – Sabe, eu ainda não
sei o que eu fiz para merecer ser a mulher que você quer ao seu lado, mas
caramba, como eu tenho sorte... olha isso... – Desce a boca até o meu peito,
passa a língua de um lado ao outro, provando o sabor da minha pele e me
fazendo arrepiar inteiro. – Que delícia, rockstar! – Lambe meu mamilo,
prende-o entre os dentes e puxa com força.
– Cacete! – repete o mesmo no outro mamilo.
– Puta-merda, Beatriz. – Mais uma dessas e não há brincadeira que me
mantenha com as mãos paradas.
– Além de amarrar suas mãozinhas vou ter que achar alguma coisa para
ocupar a sua boca, Oliver?
– Eu sei como eu gostaria de ocupar a sua boca. – Ergo as sobrancelhas
para ela, que luta para não sair do personagem. – E mãozinha o caralho...
– Xiu! Estou provando a minha sobremesa. – Desce a língua pelo meu
abdômen, me provocando espasmos.
Minhas bolas estão doendo e meu pau está tão duro que um pouco mais
estoura o zíper da calça. Corre o nariz bem próximo ao cós da calça enquanto
abre o botão. Segura o zíper com os dentes e vai descendo-o. Beija o meu pau
por cima da cueca enquanto leva as mãos as laterais da minha calça.
– Levanta a bundinha, bebê.
– Beatriz, aproveite porque o que é seu tá guardado...
– Está sim, mas eu vou desembrulhar agora mesmo. – Puxa minha calça,
junto com a cueca, para baixo, se levanta para retirá-la de vez e para próxima
ao sofá, só me olhando. – Você é a visão dos deuses, Oliver... se toque, meu
amor, quero ver.
– Quer me ver batendo uma para você?
– Quero. Você já me fez fazer isso para você, se me lembro bem... – Levo
minha mão ao meu pau e começo a manuseá-lo lentamente, para cima e para
baixo, ela geme. – Isso, bom garoto, continue... – Aproxima-se dos meus pés e
vem subindo de gatinho, por sobre as minhas pernas, os olhos fixos na punheta
que bato para ela.
Chega perto e desce a cabeça para beijar, morder e lamber a minha coxa,
depois a outra, volta para a primeira, seguindo com a língua mais para cima,
passando pelo quadril, virilha e voltando pela lateral até chegar nas minhas
bolas. Não consigo evitar alguns gemidos.
– Pare de se masturbar. Já vi o suficiente.
– Sim, senhora. – Largo o pau duro na frente do seu rosto.
Ela segue beijando, lambendo e chupando tudo ao seu entorno, bolas,
virilha, a tatuagem, barriga, umbigo, coxas, então volta e refaz todo o percurso
de novo, deliciando-se, mas sem nunca tocar nele. Ela prestou bastante atenção
às minhas provocações e entendeu que a expectativa é um tempero poderoso.
Aquilo vai me causando uma crescente agonia do inferno, se ela não parar
em alguns instantes com a tortura, minhas mãos vão entrar em ação, e não será
para me masturbar.
Como se ouvisse os meus pensamentos, volta a ficar de pé na chaise. Vem
andando em minha direção e estaciona com a boceta colada na minha cara.
– Deite a cabeça no encosto, baby. – Eu faço e ela segura os meus ombros,
se posicionando sobre a minha boca.
– Me chupe.
– Ah minha gostosa, com todo prazer. Senta na minha boca, anjo. – Ela faz e
eu a chupo, e quanto mais chupo, mais ela se esfrega em mim e mais
impaciente eu fico.
– Que delícia de boceta, pequena. Tô doido, doido para me enfiar nela.
– Oliver...
– Ah meu bem, estou explodindo de tesão, não aguento mais.
– Vou cavalgar você, fiquei só pensando nisso quando te amarrei naquela
cadeira ontem – gemo alto, em expectativa.
– Isso pequena, senta no tora... ele está lá, alerta, mas abandonado... e
babando por você. – Desce para fazer o que prometeu.
– Pega a camisinha no bolso da minha calça – lembro. Ela pega e me
entrega o envelope. – Coloca você, eu não posso usar as mãos, lembra? –
Solto um sorriso sínico. Quem quer brincar com fogo tem que estar preparado
para as consequências.
– Você não pode me tocar... – Revira os olhos e abre a embalagem,
retirando o preservativo. – Como faço isso?
– Segure na pontinha e depois vá desenrolando. – Antes de começar, leva os
lábios até meu pau e chupa. Ahhh, que visão é aquela boca me envolvendo...
nunca deixará de me impactar. – Finalmente, quase me matou de desejo por
isso.
– Eu sei – diz a sacana quando se dá por satisfeita. Então segue minhas
instruções e, apesar de se atrapalhar um pouco no começo, consegue concluir a
missão de colocar a camisinha.
– Posso te tocar agora?
– Ainda não. – Choro em frustração. Ela se posiciona e vai descendo, me
engolindo com seu calor e umidade. Gememos juntos quando chega ao final.
Cola os seios em meu peito, envolve meu pescoço e começa a se movimentar,
devagar, para cima e para baixo.
– Quero te abraçar, amor. Me deixa deslizar as mãos pelo seu corpo. – Ela
faz um negativo com a cabeça.
– Não, hoje eu vou foder você.
– Ah Bia. – Um gemido escapa, sua audácia me inflama ainda mais, tão
atrevida...
Ela revira meus cabelos e beija meu pescoço, subindo e descendo no meu
pau.
– Olha a boca, Beatriz – brinco. – Quem são as pessoas com quem você
anda se relacionando? Porque esse seu linguajar... – Ela aumenta um pouco o
ritmo.
– Ah, é culpa de um cara arrebatadoramente sexy, que gosta de falar umas
boas sacanagens no meu ouvido. – Então ela faz alguma coisa com a vagina,
me esmagando dentro dela e eu alucino de dor e prazer
Ah! Que porra de tesão.
E ela não alivia.
– Cacete, Beatriz – digo sem ar. – O que foi isso?
– Andei lendo umas coisinhas, mas é a primeira vez que tentei, você sente?
– Me aperta de novo.
– Porra... caramba, se sinto... – Ela me libera, sobe e vem descendo me
apertando daquele jeito... é delicioso e angustiante ao mesmo tempo.
– Ah baby... quero tocar você...
– Você é meu, todinho meu. – Arranha minhas costas, beija minha boca e
começa a acelerar o ritmo. – Só meu.
– Sim sou todo seu e é só aqui que eu quero estar. Agora me deixar te
tocar...
– Eu amo tanto, tanto você. – Outro beijo. – E adoro te ter aqui, dentro de
mim.
– Bia, não aguento mais, preciso te comer com força.
– Ahhh... – Ela geme e eu estou chegando no meu limite. – Você me disse
coisas tão lindas hoje.
– Deixa eu te pegar, baby... – Outro gemido.
– Acho que eu iria enlouquecer se não pudesse mais te ter assim. – Se apoia
no meu ombro e tenta colocar mais força nas descidas. Está tão decidida!
– Bia...
– A sua beleza, meu bem, vai tão além da sua aparência. – Desce o rosto,
me beija na altura do coração.
– Chega! – Levo minhas mãos até as suas costas, aperto-a contra mim, a
beijo profundamente e inverto nossas posições, colocando-a de joelho, de
frente ao encosto do sofá, de costas para mim.
Colo meu corpo no dela e entro com energia.
Uma vez atrás da outra, rápido, intenso, febril.
Não deixo que desgrude o corpo um milímetro do meu, minhas mãos
pressionam o seu ventre.
Preciso dela assim, toda em mim, me inebriando com seu cheiro, seus
gemidos enquanto meto nela com força.
– Baby... assim não resisto muito...
– Venha pequena, não resista, não segure, também estou por um fio.
– Mais rápido. – Acelero ainda mais as estocadas, estamos suados,
ofegantes, corações acelerados e em perfeita sintonia.
Uma conexão sincera e única.
E nossa, só nossa.
– Ah Oliver...
– Bia... – Gozamos juntos e caímos, em êxtase, no sofá.
Capítulo 20

Tomo um café e um guaraná


Pra me animar
Mas ficou tão tarde
Que é melhor deixar pra lá
Quando penso em nós dois
Deixo tudo pra depois
Quando penso em nós três
Fica pra outra vez
(Pato Fu – Depois)

Bia

O liver, mais rápido...


– Quieta! Estou saboreando você.
– Uhmmm, fala mais...
– Sinta baby, sinta o quando eu quero você... Caralho, estou doendo de tão
duro...
E então ele geme. Alto.
Ele chegou lá.
Aquele som é empoderador e sensual.
Ah! Me delicio...
Deve ser mais ou menos assim que Afrodite se sente ao seduzir deuses.
Ele me beija com paixão e acelera para que eu o acompanhe.
– Goza para mim Beatriz.
– Baby... – Ele continua um pouco mais e é o fim da linha para mim também.
Dá uma última estocada e para com um sorriso de menino no rosto.
– É tão lindo ver você gozar, faz umas caretas tão fofas, Bia. – Me dá um
beijinho.
– Eu não faço caretas – digo indignada.
– Faz, faz sim.
– Faço nada, sou uma lady. – Ele cai na gargalhada.
– Uma lady? Sei... qualquer dia eu filmo e te mostro a lady tarada que você
é. A mesma que esfregou a boceta na minha cara lá no sofá e caiu de boca no
meu pau no chuveiro.
– Ladies também gostam de sexo, ué.
– E nós, os Trampies [4], damos graças a Deus por isso.
Ele me beija e eu o abraço apertado, nossos corpos ainda unidos,
aproveitando o êxtase pós-orgasmo da terceira rodada da noite, até que ele
desfaz a conexão para descartar o preservativo e volta a deitar-se ao meu lado.
– Oliver, quando você vai me contar?
– Contar o quê, anjo?
– A sua história, o que aconteceu com os seus pais. Não toquei mais no
assunto para não pressionar, mas acho que não deve haver segredos entre nós.
– Percebo a tristeza se instalar em seus olhos.
– Eu vou contar... algum dia... – Engole em seco. – Mas é complicado para
mim falar disso. Me dá mais um tempo, combinei com Henry de voltar para a
terapia... Não é bonito e pode haver consequências.
– A minha história também não é.
– A sua é linda, meu bem. Você teve pais que a amaram, e que apesar de
todos os problemas graves que enfrentaram, fizeram tudo que puderam por
você. O que eu tenho para contar é o oposto.
– Que tal eu fazer algumas perguntas e você ir me contando as coisas aos
poucos? Se tiver alguma que você não puder falar ainda, pulamos, e eu
prometo começar por coisas leves. Podemos tentar? – Ele pensa por uns
instantes.
– Podemos. O que você quer saber?
– Porque deram o nome da banda de The Order? Algum motivo em
especial?
– Essa está fácil – diz aliviado. – Nós três temos passados complicados,
pesados. Essa afinidade nos aproximou. Quando resolvemos nos dedicar a
ideia de construir algo com seriedade, percebemos que aquilo, mais do que
paixão pela música, era uma forma de trazer ordem, direção às nossas mentes
confusas. Então não houve dúvidas na hora de batizar a banda como The Order.
Ordem, propósito, compromisso, era o que todos nós mais precisávamos
naquela época.
– Gostei de saber... Posso fazer mais uma? Também será fácil, prometo.
– Manda lá...
– Me fale sobre a sua tatuagem. Ela é linda, mas tem algum significado
especial a mão saindo da terra, segurando o raio e a onda passando em torno?
– Oliver fica tenso. Parece que me enganei sobre a importância da pergunta.
Ele fecha os olhos e se prepara para responder.
– Tem a ver com o mito do nascimento de Zeus. Zeus é filho de Cronos, que
representa o tempo e de sua irmã Reia, que representa a fertilidade. Eles
tiveram vários filhos, que ao nascerem eram devorados por Cronos, pois tinha
medo que algum deles lhe tomasse o trono. O único que ele não conseguiu
comer foi Zeus, porque Reia o enganou e salvou o bebê. Porém, logo após
salvá-lo, ela o abandonou. Há várias vertentes sobre como Zeus sobreviveu
após o abandono, uma delas é a de que ele foi alimentado por uma ninfa que o
mantinha amarrado a uma corda, pendurado entre o céu, o mar e a terra. O raio,
a terra e a onda representam esse período em que Zeus passou em suspenso. E
a mão, o seu ressurgimento como o mais poderoso dos deuses. Rompendo a
terra, cortando a onda e parando o raio.
– Uhm, e pelo visto você viu nesta lenda uma relação simbólica com a sua
história.
– Sim.
– Por que ali? Perto da virilha? – Ele pega a minha mão e faz com que eu
deslize os dedos sobre a tatuagem.
– Você sente um relevo aqui?
– Sinto.
– Ê uma cicatriz. Quando eu tinha seis anos sofri um grave acidente de
carro. Estávamos só eu e o motorista, ele me levava para a escola quando
fomos atingidos por um ônibus. Uma ferragem me perfurou o abdômen. Eu
quase morri, ele morreu na hora. Este fato foi um divisor de águas em minha
vida e eu quis apagar o estigma do meu corpo. – Não consigo evitar que meus
olhos marejem, pensando nele tão pequeno, entre a vida e a morte num
hospital.
– Você disse, “eu e o motorista”. Então sua família tinha posses?
– Sim, o homem que um dia eu chamei de pai era riquíssimo.
– Qual era o nome dele?
– Alec.
– Alec Rain...
– Não, Rain não é o sobrenome no qual eu fui registrado.
– Não é seu nome verdadeiro?
– Agora é, foi mudado judicialmente. Mas não foi sob esse nome que eu
nasci. Sinto muito anjo, mas não vou lhe revelar a identidade dele.
– Tudo bem. O acidente, foi em Long Beach?
– Não. Morávamos em Londres. – Olho para ele abismada.
– Você é inglês?
– Sim.
– Puta-merda. Até nisso você tem que ser perfeito? – Ele ri.
– Olha a boca... Você sonha com os ingleses, baby?
– Que garota não sonha em ter o seu próprio Mr. Darci, meu bem? Isso
explica tanta coisa... o porte, a elegância...
– Explica é? Dizem que os ingleses tem pau grande – brinco.
– Bom, então explica isso também. – Ele se diverte.
– Dizem também que as brasileiras são quentes.
– É? E o que o senhor pensa sobre isso?
– Penso que esse gene, meu bem, sua mãe certamente passou para você.
Nem precisamos da confirmação do Dr. Iori.
– Você que acende o meu fogo, bebê – digo em português.
– O que disse? Você fala português?
– Sim, minha mãe, dentro de casa, só falava comigo em português. Cresci
intercalando as duas línguas, então é como se as duas fossem línguas mães para
mim. Pena que depois que ela morreu, falei muito pouco. Às vezes eu e papai
tentávamos engatar uma conversa, mas ele nunca conseguiu ser totalmente
fluente e acabava misturando o inglês. E o que eu disse foi You light my fire,
baby.
– Foi uma surpresa para mim quando você disse que sua mãe era do Brasil
na consulta.
– É, acho que nunca surgiu a oportunidade e acabei não comentando com
você. Mas falei para sua vó e pra Riley na entrevista.
– Quer que eu tente localizar a tia de sua mãe? Podemos fazer isso.
– Não sei se eu quero. Vou pensar. – Realmente não sei se quero resgatar o
passado. Ele assente. Meu telefone acusa uma mensagem. Me viro e pego o
aparelho no criado mudo. É de Laura.
– Oliver, você não avisou sua avó que ficaríamos aqui? Ela está dizendo
que mandou várias mensagens para saber se estávamos voltando.
– Cacete, esqueci. Desliguei o telefone durante a consulta do Dr. Iori e não
me lembrei de ligar.
– Tudo bem, vou tranquilizá-la.
– O que você acha de ficarmos o resto da semana aqui? Você tem os exames
que a Barbie pediu para fazer e poderíamos passar uns dias só nós dois.
– Está me propondo uma lua de mel, Mr. Rain? – Meus olhinhos brilham.
– Eu diria, um treino para a lua de mel, porque a de verdade só quando
você for legalmente a Mrs. Rain. – Sorrio e acaricio os seus cabelos.
– Você sabe, eu não preciso disso.
– Mas eu preciso. Eu quero. Muito. Agora diga.
– O que?
– Sim.
– Oliver!
– Não vamos nos casar amanhã. Apenas diga. Diga que você também quer.
– Sim, meu amor. Eu quero ser a mulher que um dia carregará o seu anel, o
seu sobrenome e quem sabe, o seu filho. Mas eu preciso me sentir segura em
relação a tudo isso primeiro. Porque o que mais importa para mim de verdade,
é ter você aqui, comigo. – Ele me beija e minutos depois adormeço em seus
braços.
Exausta.

Plin, plin... estou andando numa praia, ouço o barulho do mar... plin...
mas ao invés de areia, tudo que eu piso e vejo é névoa... plin... Oliver está
parado alguns metros à frente, lindo e rodeado pela neblina, seus olhos
dourados brilham... plin... está olhando em minha direção e com a mão
estendida para mim. Eu estou caminhando para lá, impaciente para segurá-
la... plin... então um som me faz parar. É um choro, um choro de bebê. Não
quero olhar, quero continuar seguindo em direção a Oliver, mas não consigo,
eu tento, mas aquele choro... plin... eu tenho que olhar, tenho que olhar...
olho para trás... lá está... um bebê de olhos tão dourados e brilhantes
quanto... está sentado em meio a névoa, chorando, a mãozinha também
estendida em minha direção, tão pequeno, tão indefeso, tenho que pegá-lo...
plin... “não baby, venha para cá” ouço a voz de Oliver, me viro para ele
novamente, o bebê chora mais forte... “para cá, anjo”, o choro não cessa,
não posso deixá-lo... plin... começo a me virar em direção a criança de
novo... “você vai ter que escolher, Beatriz”... Não. Penso que não preciso
escolher... plin... ando em direção ao bebê, chego até ele e o pego no colo...
“adeus, baby”... olho para trás e Oliver sumiu... NÃO...
Acordo assustada, sento na cama imediatamente e tento me situar. Oliver
não está. Meu coração está acelerado, estou suada. Los Angeles, apartamento...
foi só um sonho, sonho não, um pesadelo... Barbie, gravidez... será um sinal?
Um sinal de que aquele exame vai dar positivo?
Não, não pode ser, não pode!
Plin. Procuro a direção daquele som. Plin... plin...
É o telefone de Oliver, pego-o e o aviso de várias notificações aparecem na
tela. Lian, Max, Johnathan, Laura, Alicia, Riley... várias de Riley... engulo em
seco... plin... opa, esse não veio do fone de Oliver e sim do meu. Pego-o
também, e há notificações de Laura e Hazel. Abro a de Laura.

Que lindo... que foto linda!


Fiquei emocionada. Vocês estão tão
lindos. Obrigada Beatriz, obrigada por
fazê-lo feliz
Quando puder me liga, quero saber das
consultas e quando vocês voltam

Não entendo o porquê daquilo e resolvo olhar as de Hazel.

Bia.. porra...
Se rolasse uma enquete hoje para saber quem é a
mulher mais invejada do mundo, você ganharia de
lavada...
Fiquei tão feliz... minha mãe está enlouquecida,
bagunça lá nos servidores de novo

Será que Oliver postou alguma foto nossa outra vez? Tento acessar a página
da The Order, mas não consigo. Resolvo perguntar a Hazel o motivo de tanto
alvoroço...

Hazel, ele postou algo?


Você ainda não viu?
Não. Acordei agora com o telefone bipando e
Oliver não está mais na cama. Não consigo
acessar a página...

Então ela me manda o post.


Há uma foto em preto e branco, eu de perfil, dormindo com o rosto apoiado
em seu peito nu, os cabelos cacheados caindo pelas costas também nuas, uma
mão espalmada do outro lado do seu peito. Ele beijando em minha testa. Há
tanto amor naquela imagem...

“Um dia eu te chamei de pequena guardiã, sem ter a noção


do quão precioso era o que você guardava: a minha felicidade.
O que mais importa para mim de verdade, é ter você
aqui, comigo. Sempre.”

Deus! Isso é tão... tão lindo, tão perfeito.


Ele quis me dizer tantas coisas com essas palavras, além da clara intenção
de afirmar o seu amor perante o mundo, me disse que ao invés de carregar a
maldição, eu trago a felicidade, que mesmo que aquele exame dê negativo, o
que importa mesmo é nós dois, juntos. E para isso repetiu as mesmas palavras
que eu disse a ele, acrescentando o sempre, o seu desejo de união.

E aí? Já está chorando?

Diante do fato, tenho saída?


Não ❤
Obrigada, amiga. Mais tarde te ligo,
prometo ��

Fico olhando aquela foto, lendo e relendo suas palavras, enquanto as


lágrimas caem.
A campainha toca e me faz reagir.
Quem será?
Procuro minha mochila, pego uma calcinha, um shorts e uma das camisetas
da The Order que roubei da pilha de Oliver. Abro a porta do quarto e então
começo a ouvir o que parece ser uma discussão.
– Como você conseguiu subir aqui Kate? Vamos, diga! – Oliver está
alterado.
– Você ainda me paga, Oliver! Você é um escroto filho da puta. Disse que
nunca ia ser de uma mulher, você garantiu... por que não me deu uma chance? –
diz uma voz de mulher, aos berros e aos prantos.
Me aproximo mais da sala e vejo uma garota em desespero, usando um
vestido minúsculo e Oliver só com a calça de moletom, sem camisa e furioso
como nunca vi, discando para alguém no celular.
– Tina tem alguma coisa a ver com a sua invasão, Kate? – A garota mostra o
dedo do meio para ele. – Responda!
– Não, ela nem sabe que eu estou aqui... Oliver, por favor... – E chora mais.
Quem é essa mulher?
– Peter, mande seguranças para o meu apartamento agora. Kate entrou no
prédio sem que eu autorizasse. Quero que a levem para a delegacia e prestem
queixa.
– Não! – Berra a garota e se atira conta o peito dele, aquilo me arrepia. E
se ela for uma maluca e tentar algo contra ele? – Não Oliver, não, eu só quero
conversar, me dê alguns minutos, por favor. – Chora se agarrando mais e mais
a ele, que tenta se soltar... ah, mas não mesmo!
Primeiro retorno ao quarto e pego o que tenho que pegar. Então volto para a
sala e me aproximo.
– Garota! – chamo.
Quando ela tira o foco dele para olhar para mim, aproveito, seguro seu
braço e puxo-a, enquanto empurro Oliver para trás com a outra mão. Depois a
largo e me posiciono em frente a ele.
– Vejam só se não é a piranha adolescente... – desdenha. Oliver tenta me
afastar da sua frente, ele está uma fera, mas eu impeço.
– Não. – Ergo o braço onde tenho uma camiseta pendurada e a empurro
contra ele.
– Vista-se! – Ele pega a peça e, mesmo irado, abre um sorriso maroto.
Volto minha atenção para a nossa intrusa.
Olho bem para ela e apesar de estar sendo ofensiva comigo, o que eu vejo
em seu rosto é desespero e uma profunda tristeza. Por algum motivo aquilo me
toca.
– Você quer conversar com ele? – pergunto.
– Não é da sua conta, vadia. – Está claramente perturbada com a minha
presença.
– Bom, eu sou a sua melhor chance. Se quiser conversar com ele, posso
convencê-lo a te deixar sentar aí por uns minutos e te ouvir. Senão, em pouco
tempo os seguranças vão chegar e te levar daqui. E você sabe para onde.
– Vá se foder...
– Eu tentei... – Dou de ombros e no mesmo instante tocam a campainha.
– Tudo bem, tudo bem... – Ela entra em desespero. – Eu quero conversar,
peça para ele me ouvir, por favor. – Oliver está abrindo a porta.
– Senta aí – digo apontando o sofá atrás dela. – Eu vou te avisar uma vez
só. Você vai falar tudo que tiver que falar, sentada, civilizadamente, neste
lugar. Se tiver mais um ataque ou tentar se aproximar dele como fez antes, eu
mesma vou pedir para os seguranças a levarem, entendeu? – Vejo seus lábios
tremerem de raiva e dor, e ela tenta segurar a vontade de me mandar para
aquele lugar.
– Quem você pensa que é para falar assim comigo? – pergunta.
– Eu sou a mulher que o ama e que por algum motivo ele também ama, que
divide a cama com ele todas as noites e que faria qualquer coisa para evitar
que alguém, claramente alterada como você, o machuque de qualquer forma.
Agora me responda, você entendeu?
– Baby, os seguranças estão aqui, deixe que a levem.
– Eu também o amo – confessa aos prantos.
– Se você o ama, então deveria estar feliz por ele. Pois se ele me dissesse
que a felicidade dele está com você, eu sofreria, mas torceria por vocês. –
Viro-me para Oliver. – Sente e escute-a, por favor.
– Não tenho mais nada para ouvir dela, Beatriz. Kate já aprontou poucas e
boas...
– Por favor... – peço novamente. Ele solta o ar pesadamente, faz sinal para
os homens aguardarem no corredor e então se senta na poltrona perto de onde
eu estou. Me sento ao seu lado.
– Bem, Kate, não é? Oliver está aqui e você terá toda a sua atenção por
alguns minutos e talvez saia daqui sem precisar ir à uma delegacia, mas antes
de falar qualquer outra coisa, você vai nos contar como conseguiu entrar no
prédio sem uma autorização.
– Eu não entrei sem autorização.
– Então quem deixou você subir? – pergunta Oliver irritado.
– Carol.
– Carol? Que Carol?
– Carol, a amiga de Hazel? – pergunto, me lembrando bem da figura.
– Sim. Os tios dela tem um apartamento neste prédio também. Ela está
passando uns dias com eles, ontem ouviu burburinhos de que você estava aqui
e me avisou. Eu sabia qual era o seu apartamento por causa daquela vez que
você me trouxe aqui com Riley e Tina, então... – diz olhando para Oliver, como
que relembrando seus momentos juntos. Fecho os olhos, dói ouvir...
– Mas como você conhece essa garota? – questiona ele.
– Nos conhecemos por causa de um interesse em comum, você. Ela também
é apaixonada por você. – Oliver bufa. – Eu fiz comentários numa rede social
sobre as primeiras fotos que você postou com essa menina e ela também fez
comentários no mesmo sentido, a partir daí, começamos a nos falar. – Puta-
merda, as duas vem arquitetando formas de chegar nele todo esse tempo?
Um calafrio percorre meu corpo.
Kate está desequilibrada, mas no fundo não vejo maldade, vejo alguém
doente, sinto pena. Mas a tal Carol, essa tem a manipulação estampada nos
olhos. Notei no dia da festa de Hazel.
Quantas mais ela aliciou pelas redes sociais?
Isso pode ser perigoso para ele, não pode?
– Qual o número do apartamento dos tios dela? – pede ele.
– Não vou dizer. Não vou entregá-la.
– Eu vou descobrir de qualquer jeito, mas a única forma de você não ir para
a delegacia acompanhada dos meus seguranças hoje, Kate, é me contando tudo.
– Ela suspira.
– Quatrocentos e dez.
– Ótimo. Então me diga, o que mais você tem para me falar? – Ela me olha,
me pedindo silenciosamente por um momento a sós com ele. Eu respiro fundo e
pondero.
– Não adianta olhar para Beatriz dessa forma. Ela não vai a lugar nenhum.
– Mas... – tenta Kate, eu interrompo.
– Na verdade, Oliver, eu vou buscar um chá para nós. Acho que todos aqui
estão precisando acalmar os ânimos. – Dou um beijinho nele, que me olha
confuso. – Eu já volto. – Lhe digo e depois me viro para ela. – E você, lembre-
se, continue sentada aí. – Vou para a cozinha pegar o chá e lhes dar algum
espaço.
Na cozinha me deparo com um cenário que mais parece um campo de
guerra.
Muita bagunça, panelas sujas pra todo o lado, uma pilha de panquecas
queimadas, e sobre o fogão, numa frigideira contendo uma tentativa de omelete
que mais parece uma gororoba.
Experimento um pouquinho e arg... horrível. Mas sorrio.
É fofo que ele tenha tentado fazer o café, só acho que teremos que aprimorar
suas habilidades culinárias primeiro.
Tiro uma foto e mando para Laura e Hazel, com um coração e a frase “ele
tentou” na legenda.
Preparo o chá com toda a calma possível. Aproveito para organizar um
pouco aquela confusão, e quando chego no meu limite de bondade para com os
pobres corações partidos que Oliver deixou pelo caminho, pego a bandeja
contendo as xícaras de chá e volto para a sala. Ouço os soluços dela.
– ...veja Kate, sinto muito por te fazer sofrer. Hoje, olhando para trás, me
envergonho de certos comportamentos, de verdade. Mesmo você não
admitindo quando eu perguntava, eu sentia que você esperava mais do que
sexo, – ai, sabe aquele ditado o que os olhos não veem o coração não sente?
Podemos adicionar a isso o que os ouvidos não ouvem? – e, sendo assim, eu
não deveria ter alimentado suas esperanças com os encontros íntimos. Por isso
peço perdão, espero que você possa me perdoar um dia. – Ela só chora.
Entro na sala, coloco a bandeja na mesinha, pego uma das xícaras e levo
para ela.
– Tome, é de camomila, vai te ajudar a se acalmar. – Ela me olha abismada,
mas aceita o que ofereço. Pego as xícaras restantes e entrego uma a Oliver.
– E reforço o que eu disse no nosso último encontro, você precisa voltar ao
tratamento contra a depressão. Seu comportamento hoje deixa claro que não
está nada bem e ainda precisa de ajuda, não quero vê-la chegando ao ponto que
chegou daquela vez...
– Eu... eu não consigo mais custear, Oliver. Fiquei tão mal que perdi o
emprego, não consigo me concentrar em nada, só sinto essa dor... – Seu
sofrimento é genuíno.
Será que é assim que eu terminaria se ele não me quisesse mais?
Afasto o pensamento.
– Kate, eu falei mais de uma vez que te ajudaria. Por que não deixou?
– Eu tenho algum orgulho, sabe? Não quero que você pense que é pelo
dinheiro ou pelas vantagens, nunca foi.
– Eu sei que não. Não sou tão ingênuo ao ponto de não perceber as
verdadeiras intenções por trás das motivações das pessoas. Com a fama, a
gente aprende a diferenciar bem rápido. Me deixe ajudar. Vou pedir a Riley
para agendar tudo e ela entrará em contato com você. E veremos também uma
forma de te recolocar profissionalmente quando você se sentir bem o suficiente
para isso. – Ela assente, parece mais calma, centrada, termina o chá e devolve
a xícara para a mesinha.
– Eu vou... – diz levantando-se – e... desculpem por isso.
– O meu motorista vai te levar em casa. Você está precisando de alguma
coisa? Comida, remédios, aluguel?
– Não, as coisas ainda não ficaram tão ferradas assim, mas obrigada por
perguntar. – A acompanhamos até a porta. Oliver dá instruções a um dos
seguranças e ele faz sinal a ela para que o acompanhe. Ela começa a se afastar,
mas para e olha para trás, para mim.
– Obrigada.
– Fique bem – respondo. Então se vai.
Oliver me abraça e me puxa para ele, fechando a porta em seguida. Depois
me suspende, me prensa contra ela e me beija.
– Obrigado por defender minha honra – diz brincalhão.
– Eu sempre vou defender o que eu amo.
– Você foi incrível.
– Dona Eva sempre me disse que quando as pessoas estão desesperadas,
com raiva, temos que ir no caminho inverso. Mostrar firmeza, mas também
calma e compreensão, para não alimentar ainda mais o descontrole. Foi isso
que eu tentei fazer.
– Levando em conta que ela começou te chamando de vadia e terminou te
dizendo obrigada, acho que sua mãe tinha razão. Me desculpe por isso, meu
amor.
– Ah Oliver, não é fácil imaginar vocês...
– Não imagine.
– Enfim, acho que devo me preparar, não é? Algo me diz que ela não será a
última a tentar mostrar os seus a você encantos sem se importar com a minha
pessoa... Já tivemos a Patricia, a Barbie e agora Kate... Qual será o próximo
nome? – Respiro fundo e acaricio seu rosto. – E também precisávamos saber
como ela conseguiu entrar.
– Sim. Que maluquice. Eu nem me lembro da cara dessa tal Carol.
– Fico feliz em saber. Aliás, hoje, meu bem, nada é capaz de ofuscar a
minha felicidade. Nem mesmo aquele desastre de omelete que você tentou
fazer. – Abro meu melhor sorriso e ele ri.
– Você viu? – Me faço de desentendida.
– O tornado que destruiu a cozinha? Vi, claro.
– Só isso?
– Não, eu também vi uma declaração de amor linda, que o roqueiro mais
gostoso do mundo fez para a garota mais sortuda do mundo. O senhor espera eu
dormir para aprontar, Mr. Rain?
– Ah baby, você estava tão linda ali, dormindo no meu peito. Eu fiquei
horas te olhando e pensando em tudo que falamos e vivemos, e em como a
minha vida privada era vazia. E também em como eu jamais conseguirei voltar
a ser aquele homem. Então resolvi tirar uma foto, para guardar o momento para
sempre. E a foto ficou tão bonita, tinha tanto...
– Amor.
– Sim, amor. Que eu não resisti e resolvi compartilhar com o mundo.
– E com isso me fez chorar de novo, está ficando especialista, rockstar.
Adorei a surpresa. Mas imagino que além das apaixonadas de plantão, mais
algumas pessoas estejam possessas com você por este gesto. Seu telefone não
parou de bipar por um bom tempo.
– Que se fodam, depois eu resolvo. Agora vamos ver o que podemos fazer
para salvar o café da manhã.
– Será uma missão e tanto...

– A Carol fez isso?


– Pelo menos foi o que a tal Kate falou, Hazel.
– Ela sempre suspirou pelo Oliver, mas isso praticamente toda população
feminina faz, então nunca dei muita importância. Mas chegar ao ponto de
tramar contra vocês... que víbora.
– Sim. Eu senti algo muito ruim quando a Kate contou como as duas
iniciaram os contatos. Sabe lá quantas mais a Carol convocou para a sua causa.
– Bom, desligando com você, a primeira coisa que farei é sair daquele
grupo das meninas e deixar bem claro os meus motivos. Depois boquearei a
Carol em tudo que for possível. Não quero mais contato.
– Você já tem uma data para a sua viajem?
– Só após as festas de final de ano. A nova turma na escola que estou vendo
começa final de janeiro.
– Que bom, temos quase três meses ainda antes de eu morrer de saudades
suas.
– Sim, também sentirei sua falta. Sabe, você pode ir me visitar algumas
vezes, passar o final de semana... que tal? – Suspiro me lembrando daquela
possibilidade.
– Eu adoraria, e farei, se... se eu não estiver grávida.
– Grávidas também podem viajar, amiga. Não há nenhuma lei que as proíba.
– Haha, que lindo, você acompanhada de uma barriguda pelas ruas de
Londres.
– Qual o problema?
– Não sei... eu só... ah Hazel, isso me apavora de tantas formas.
– Oliver não vai te amar menos por você estar barriguda, Bia. Caso essa
seja uma das formas que a apavoram.
– É, talvez isso também me incomode... sabe lá como ficará o meu corpo
depois disso, e se ele não...
– Pode parar. Primeiro, não estamos mais na era colonial, em que os bebês
nasciam em casa, de parto normal a qualquer custo, em que os múltiplos partos
detonavam com a mulher e seu corpo nunca mais voltava ao normal. Eu disse
múltiplos, ouviu? Segundo, espero que Oliver esteja bem longe de você para
não ouvir essas baboseiras, porque pelo que eu conheço dele, ficaria possesso.
– Sim, ele está falando com os meninos pelo telefone lá na sala.
– Quando vocês voltam?
– Ele quer ficar uns dias aqui, tenho os outros exames que a ginecologista
pediu para fazer, sangue, urina, e tem também a ultrassonografia. Mas eu quero
voltar antes do dia D.
– É, por quê?
– Porque por mais que ele tente se controlar em respeito a mim, ele está
feliz com a possibilidade, Hazel. Na verdade, ele está dando como certo, eu
vejo nos olhos dele. Se eu desse corda, creio que já estaria até escolhendo
nomes, comprando roupas...
Eu acho bom ele estar perto de Lian e Max caso o resultado seja negativo, sei
lá, pode precisar de alguém neutro para conversar já que eu estarei
comemorando, aliviada. E no caso de ele ser a pessoa que vai comemorar, eu
vou precisar de você, amiga, muito.
– Você sempre poderá contar comigo. Estarei sempre a postos para te
consolar, te alegrar ou te chacoalhar quando necessário.
– Idem, querida.
– Bom, vou deixar você voltar para o seu homem. Fiquei muito feliz com o
parecer do geneticista. Daqui para frente seu caminho será só de coisas boas,
você merece. Um beijo e avise quando souber o dia em que estará de volta.
– Aviso sim, beijos.
Fora a manhã tensa, o resto do nosso dia foi delicioso. Praticamente não
saímos da cama. Muita conversa e muito sexo.
Com um lanchinho ou outro no meio do processo.
Precisávamos disso, desse tempo totalmente a sós.
Já era noite quando decidimos levantar, tomar banho, sair do quarto e fazer
uma refeição decente à mesa. Depois Oliver resolveu, finalmente, dar atenção
as mensagens que ignorou durante o dia todo e eu cumpri a promessa que fiz a
Hazel mais cedo.
Estou voltando para perto dele quando o som da campainha soa novamente.
Espero que não seja a tal Carol.
– Riley? – Ouço Oliver dizer.
Aff, pior do que eu pensava.
Será que hoje é o dia “vamos visitar Oliver” no calendário das ex e
ninguém me contou?
– Já que você decidiu ignorar todas as minhas mensagens, eu resolvi vir
pessoalmente te falar umas coisinhas antes que faça novas burrices como esta
que fez hoje.
– Riley, eu não acho uma boa ideia você...
– Boa noite! – Resolvo deixá-la bem ciente da minha presença.
– Olá, Beatriz, boa noite. É bom mesmo que você participe da conversa,
quem sabe assim, no futuro, você possa impedir que o seu namorado cometa
esse tipo de erro novamente. – Opa, o que eu perdi?
– Não tenho intenção alguma de estar em qualquer outro lugar – digo,
demonstrando os meus dois pés atrás com ela. Depois do que ela aprontou
comigo naquela entrevista, não confio.
– Podemos nos sentar? – pede ela.
– Claro Riley, sente-se por favor – diz Oliver.
– Oliver, você tem noção do que você fez nesta madrugada, divulgando
aquele post?
– Tenho. Deixei claro para todo mundo que amo a minha mulher.
– Isso. Justamente isso. Puta merda, Oliver, você sempre foi tão cuidadoso
em relação a exposição das pessoas da sua família. Como faz uma merda
dessas?
– O público já sabia sobre Beatriz, Riley.
– O público sabia que você iniciou um namoro recente com uma garota fora
do meio artístico, que você conheceu através de uma relação de trabalho com o
pai dela, isso porque vazaram fotos de um passeio dos dois. A confirmação
causou um grande burburinho, mas menos de uma semana depois as coisas
estavam calmas, a curiosidade foi sanada. Agora o mundo todo sabe que ela é
a coisa mais importante da sua vida. Percebe a diferença? – Oliver fica branco
de repente.
– Os holofotes vão se voltar para ela Oliver, você praticamente disse que
vai se casar com Beatriz naquela mensagem. As notícias sobre os integrantes
da The Order vendem, principalmente sobre você. O rosto dela vai começar a
circular cada vez mais na web e ela não terá mais paz quando sair, assim como
você. Cada passo que Bia der sem um bom disfarce, será documentado.
– A curiosidade sobre ela vai aumentar, podem começar a investigar a vida
dela mais a fundo e a sua idade virá a público, trazendo incômodo para vocês.
Por mais que não estejam fazendo nada ilegal, muitos hipócritas vão achar
imoral um homem de trinta e um anos num relacionamento com uma garota de
dezessete. Vão querer saber onde ela mora, a sua rotina. Isso sem contar as
sandices como as de Kate hoje. – Ela faz uma breve pausa e fixa o seu olhar
nele.
– Quem quiser te afetar, ou usar a sua imagem para se promover, colocará o
alvo nela de agora em diante. Ou seja, todo o esforço que fizemos a fim de
evitar especulações com aquela coletiva, foi por água abaixo. – Oliver fecha
os olhos e deixa a cabeça pender para trás, no encosto do sofá.
– Olha, eu não gosto de ser a pessoa que vem aqui jogar areia. Eu entendo
que você está feliz e quis extravasar o sentimento. E apesar da minha crise
inicial, como eu te disse aquele dia lá em casa, você merece ser feliz. – Ela
fala o restante olhando para mim. – Eu torço por vocês, de verdade. Mas
caramba, eu sou sua conselheira jurídica, sou paga para te orientar, e além
disso, sou sua amiga. Custa trocar uma ideia comigo antes de fazer coisas
assim?
– Desculpe – fala ele abalado.
Mas que merda!
Ele estava tão bem, relaxado... tenho que reverter esse cenário apocalíptico
que ela descreveu.
– Riley, obrigada por vir aqui nos alertar. Mas deixa eu te perguntar uma
coisa. Caso a gente se case, manteríamos isso em absoluto segredo? Quero
dizer, eu não abriria mão de usar aliança e gostaria que Oliver também usasse.
Eu o acompanharia nas turnês, ou pelo menos em alguns shows. E uma vez as
pessoas percebendo, não culminaria nesse mesmo cenário que você nos
apresentou? Caso em algum momento no futuro tivermos um filho,
esconderíamos a existência da criança?
– Bom, foi bem mais de uma pergunta. – Ela ri bem humorada e não reagiu
com um ataque, como fez da outra vez.
Sinceramente, esse comportamento está me surpreendendo, talvez ela tenha
sido sincera sobre estar torcendo pela felicidade dele, afinal.
– Mas respondendo, sim, caso vocês usem aliança, apareçam como um
casal nos eventos, não há como evitar esse mesmo comportamento por parte da
mídia. E também não vejo como esconderíamos uma gravidez e uma criança
nesse processo.
– Então pronto, só antecipamos um pouco o inevitável.
– Você está grávida? – Agora sou eu que devo ter ficado branca. Penso
rápido.
– Não! Nada disso. – Ela me analisa ressabiada, ela é muito esperta, não há
como negar. – Mas eu fui pedida em casamento pelo menos três vezes nos
últimos dois dias, então...
– E ela disse sim. – Oliver conta com um sorriso lindo no rosto. Acho que
consegui trazer o bom clima de novo.
– E por acaso vocês pretendiam primeiro casar, deixar vir a tona e depois
avisar a sua advogada? Vejam, tudo que eu falei foi neste sentido, eu preciso
saber antes, para nos deixar um passo à frente e não sair apagando o fogo
depois do incêndio. Para fazer o necessário para amenizar as reações e para,
junto com Peter, garantir a máxima segurança de vocês. De vocês e dos demais
que moram naquele condomínio. Uma coisa dessas pode afetar a vida de todos.
– Não acontecerá outra vez, Riley, qualquer decisão importante ou
demonstração pública que eu pretender fazer, te avisarei e discutiremos a
melhor forma, melhor momento. Quando casarmos será inevitável, mas entendo
que não precisaríamos dessa exposição já, e a minha declaração antecipou
isso. Bia tentou aliviar, mas eu compreendo o seu ponto e você está certa.
– E quando pretendem casar?
– Vai demorar – digo. Ela assente.
– Bia, preciso dizer que a sua atitude para com Kate no incidente de hoje de
manhã, foi corretíssima. Quanto menos conflito num caso destes, melhor.
Obrigada por me receberem e ouvirem, vou descer e esperar Peter lá embaixo.
– Peter também está aqui?
– Sim, ele está no quatrocentos e dez, tendo uma conversa com Carol e seus
tios.
– Então avise-o que vai esperá-lo aqui.
– Não tem necessidade – fala ela.
– Faço questão, Riley. E já aproveito para saber como foi a conversa.
– Sabe, eu preciso te contar uma coisa... – Faz uma pausa.
Ela está encabulada?
– Eu e Peter estamos juntos – fala bem rápido, meio que para se livrar da
informação o quanto antes.
Ah? Caraca... Oliver ri, muito.
– Por que você está rindo assim? – Ele se acalma um pouco.
– Primeiro, eu já sabia. Peter me falou de manhã, quando liguei para falar
sobre Kate. Segundo, você precisava ver a sua cara tentando me contar isso,
foi hilário, Riley. Como se você estivesse cometendo um crime. – Ela começa
a rir também e ali eu vejo, a amizade, a conexão deles de anos se fazendo
presente.
– Porra, eu nunca disse na minha vida estou namorando, e agora, aos trinta,
me vejo fazendo isso? Me sinto tão ridícula... – Oliver me abraça e beija
minha bochecha.
– Bem vinda ao time. Está feliz?
– Estou. Na verdade, eu sempre soube do interesse dele, mas sempre fugi.
Quanto mais me sentia atraída, mais eu fugia. Eu sabia que se deixasse
acontecer, seria complicado... e eu tinha outros conflitos. Espero que não seja
um problema para você. Em função do trabalho, quero dizer.
– Jamais. Vocês dois são muito queridos para mim. Torço pela felicidade
dos dois e caso precisemos rediscutir agendas e horários para que o casal
tenha mais tempo junto, é só marcar a reunião.
– Olhe bem para a minha cara, Oliver. Veja se eu sou mulher de correr do
trabalho para ficar de lovesinho com homem. Não viaja. – Oliver ri um pouco
mais.
– Falei para pegar no seu pé. Imaginei que teria essa reação. Mas não vejo
problema algum em você querer ficar de lovesinho. Você ainda vai vir até nós
para rediscutir a agenda. Garanto. Acabou de admitir que está apaixonada,
Riley, deixe de ser orgulhosa. – Ela faz uma careta.
Logo Peter chega, fica evidente que os dois estão mesmo muito envolvidos
pela forma como se olham e interagem.
Ele conta como os tios de Carol ficaram perplexos com a armação da
garota, que a lembrou dos termos de confidencialidade que assinou
anteriormente e também que deixou clara a posição de Oliver e da Three
Minds sobre qualquer novo incidente que aconteça envolvendo-a, sendo que
não haverá nova conversa, uma ação na justiça será acionada imediatamente.
– Que dia! – digo me atirando ao seu lado na cama.
– Pois é, e eu quis ficar aqui para termos paz e tranquilidade.
– Quem manda você agitar as tietes com declarações apaixonadas.
– Só tem uma tiete que eu quis agitar.
– Essa você conseguiu saciar e esgotar, com todas as sessões de sexo
durante o dia. Ela está entregue.
– Já que fomos dispensados, amigão, fala olhando para o pau, só nos resta
dormir. Boa noite, meu anjo. – Ele me beija e apaga a luz.

Oliver

É quarta-feira, o quinto dia após a consulta com a ginecologista e voltamos


pela manhã. Nos três dias seguintes a invasão de Kate, só saímos de casa, ou
posso dizer, da cama, para fazer os exames. Não fosse pela tensão crescente
que eu sentia em Bia com a proximidade da data para o teste de gravidez,
assunto esse que ela continua evitando ao máximo, diria que foram perfeitos.
Pudemos nos curtir sem restrições e compartilhei mais alguns fatos da
minha vida, a partir de perguntas que ela fazia. Não toquei no assunto dos meus
pais, mas respondi sobre a minha adolescência, como iniciou a amizade com
Riley, e os primeiros passos da The Order. E por esses relatos deixei
subentendido que nessa fase de minha vida, as figuras materna e paterna já não
existiam.
Ela tentou saber um pouco mais sobre a recuperação pós acidente e quantos
anos eu tinha quando nos mudamos de Londres para os Estados Unidos, mas
me esquivei de responder e entendeu o recado. Ainda não tenho segurança a
respeito das minhas reações ao tocar nesses assuntos com ela. Não quero
entrar em crise na sua frente sem que ela compreenda a extensão disso.
– Boa tarde!
– Olá Edgar, sente-se, por favor. Agora que estão todos aqui, podemos
começar a reunião – fala Johnathan. Estamos na Three Minds, onde Johnathan
apresentará o plano para a turnê beneficente e acertaremos os detalhes.
– Os demais aqui já estão a par das intenções dos chefes, pois precisei do
apoio deles na montagem no plano financeiro, então vou rapidamente atualizá-
lo, Edgar. Há uma semana eles me procuraram pedindo para montar um
orçamento para uma turnê curta, que abriria os trabalhos para o próximo
álbum, algo que nunca fizemos e que pode ser interessante a nível de
marketing. A ideia é que seja uma turnê totalmente beneficente, em pró da
ampliação de possíveis doadores nos países detentores dos bancos de medula
internacionais: Estados Unidos, Alemanha e Brasil.
– Vamos então entrar nos itens do plano, tema a tema e caso alguém tenha
alguma colocação, por favor, me interrompa. Começamos pelas questões de
datas, localidades e capacidade. Serão dezessete apresentações, todas com um
público estimado entre cem e cento e cinquenta mil pessoas, começando pelos
Estados Unidos: duas apresentações em Los Angeles, duas em Nova York,
duas em Chicago, chegando a três semanas de turnê. Depois Alemanha, duas
em Berlin, duas em Hamburgo, e duas em Munique, mais três semanas.
Finalizando no Brasil, três em São Paulo, duas no Rio de Janeiro, duas
semanas. Totalizando dois meses de estrada e um público estimado de no
mínimo dois milhões de pessoas. Primeiro show, cinco de janeiro.
– Sério? Isso nos dá menos de três meses para estar com tudo pronto. –
Surpreende-se Edgar.
– Sim, teremos que correr – comenta Johnathan.
– Temos que iniciar por Chicago – digo.
– Ficaria contramão, pensando que teríamos que voltar com os
equipamentos para Califórnia. Um custo desnecessário – diz Patric, o
coordenador de produção artístico musical, subordinado a Edgar.
– Quero lançar Guardian Angel em Chicago – reforço.
– E se colocarmos Los Angeles como o show de encerramento, ao invés de
abertura? Resolve o problema dos custos? – pergunta Kellan.
– Resolve – diz Johnathan. – Fechado então, seguiremos assim: Chicago,
Nova York, Alemanha, Brasil, Los Angeles. Rose, precisamos que a sua
equipe comece a agendar os hotéis e passagens aéreas para os que não usarão
o jato da The Order.
– Sim, só precisamos que todas as áreas nos forneçam a relação de nomes –
diz nossa diretora de RH.
– Próximo tema: Ingressos. Não haverá ingressos à venda. Os tickets para
pista ou arquibancada serão retirados apenas nos centros de transplante de
medula, mediante adesão como possível doador. Nosso objetivo é ampliar os
bancos em pelo menos um milhão de doadores. Neste ponto, Riley está
responsável pela comunicação e coordenação junto aos órgãos federais
responsáveis pelos centros de transplante e hemocentros, a fim de garantir a
legalidade e evitar possíveis fraudes. Riley, algo a acrescentar?
– Sim Johnathan, obrigada. Para aderir ao programa, é necessária a coleta
da amostra de sangue, que vai para avaliação e apenas se a amostra “passar”
nessa avaliação o voluntário é aceito como possível doador. Temos aí um
delay de um dia, entre a coleta e o resultado. Então estudando a situação e até
pensando no quesito fraude, sugiro que os ingressos sejam enviados
eletronicamente por nós para aqueles que tiverem seus cadastros aceitos e não
retirados fisicamente nos órgãos de coleta. O órgão nos fornece a relação dos
que “passaram” e a Three Minds emite o convite e envia por e-mail. O jurídico
fará o check e enviará para mídias emitir somente os válidos.
– Alicia, a sua equipe teria que coordenar esse processo de emissão e
envio, temos como assumir? – pergunta Johnathan.
– Sim, conseguimos.
– Ótimo então. Próximo item: Custos. Levantando os custos da turnê como
um todo, envolvendo logística da equipe e dos equipamentos, produção
artística do show, horas dos funcionários envolvidos, locação dos espaços,
hospedagens, alimentação, translado e segurança, estimamos que custará para
os cofres da Three Minds em torno de três milhões de dólares por show,
totalizando cinquenta e um milhões de dólares.
– Oliver expressou a sua preferência por não termos uma área VIP paga, o
que poderia cobrir esses custos facilmente. Montamos então duas propostas,
uma mantendo uma área VIP viável para cobrir todos os custos e outra com
uma área VIP mínima, ambas levando em conta a sua pré-disposição em
receber as pessoas nos bastidores. – Quando ele diz isso um grande burburinho
toma conta da sala. – Passo então a palavra a nossa diretora de tecnologias,
mídias e marketing para apresentá-las.
– Boa tarde a todos – diz Alicia. – Uma área VIP de mil lugares por show,
seria o ideal para garantir os custos do evento. O valor do ingresso giraria em
torno de cinco mil dólares, sendo que o excedente aos três milhões e trezentos
mil dólares que totalizam os custos por show, seriam destinados à doação para
tratamentos de leucemia, mantendo assim o fator assistencial também nestes
casos. O chamariz para que a elite pague o alto preço seráa possibilidade de
ser um dos sorteados a passar uma hora com os integrantes da The Order, numa
recepção exclusiva, com direito a canapés e bebidas. A desvantagem desta
opção é que mil lugares confortáveis na pista acabarão tomando muito espaço
e diminuindo a capacidade desta área para os que virão a partir da adesão ao
banco de medula.
– Fora de questão – determino.
– A outra opção é termos uma área VIP de apenas cem pessoas por show,
num ingresso de trinta mil dólares. E os cem ingressos dariam acesso a
recepção com os artistas, sem sorteios.
– Nesta opção, se formos destinar metade para doação, ainda teríamos um
déficit de um milhão e duzentos mil dólares por show e aí que entra a outra
ideia de cobertura. Vou deixar Iris, a minha coordenadora de audiovisuais
explaná-la, já que a ideia foi dela. – Uma garota que nunca tinha visto por ali,
e aparentando muito nervosismo, se levanta e começa a falar.
– O mistério que gira em torno da The Order é enorme em função dos
segredos quanto as suas vidas pessoais. Em torno do seu vocalista então, nem
se fala. Sua praticamente nula comunicação nos shows, inexistência de
entrevista ou declarações, tudo isso sempre foi uma enorme incógnita para o
mundo. É por isso que qualquer notícia vinculada a ele atrai. Os dados que
apresentarei agora, levantei parte com a nossa equipe comercial e parte com
mídias.
– Quando Oliver resolveu pela primeira vez se manifestar diretamente,
postando uma foto na página oficial da banda, o acesso às músicas nas
plataformas de streaming, que sempre foi alto, aumentou quinze por cento.
Depois daquele post no sábado passado, aumentou trinta e cinco por cento. Os
sites ainda não pararam de dar ênfase ao post, que já foi, entre acessado,
encaminhado ou replicado, visto mais de dois bilhões de vezes em apenas
quatro dias.
– Isso nos mostra que se criarmos a manchete, o clima e a notícia certa,
apenas o excedente em acessos nos streaming serão suficientes para cobrir a
diferença, senão o custo total desta turnê.
– Mas são vinte milhões de dólares faltantes, teríamos que ter um excedente
de mais de cinco bilhões de acessos – falo.
– Sim. Mas teríamos oito semanas para atingir o objetivo, o nosso
marketing estaria constantemente jogando iscas e o chamariz... o chamariz tem
que ser forte. Como eu disse, o seu post, sem nenhuma ação premeditada nossa,
em quatro dias já bateu metade disso.
– Uma coisa é replicar notícia na web, outra é acesso aos streamings –
pondera Max.
– Não quando a notícia necessitar do acesso.
– Explique-se – peço.
– Alicia comentou conosco que haverá três músicas novas sendo lançadas
nesta turnê, correto?
– Exato. Apenas duas comerciais – digo.
– Certo. A minha ideia envolve dois vídeos clips para duas das músicas
novas. O da canção assistencial, que será lançada apenas no show e que
recebemos a instrução de que você já tem ideia de como o quer e que deve
homenagear o pai de Beatriz. – Assinto confirmando. – E um outro que
lançaremos um pouco antes e que vai gerar toda a comoção. Daremos
exclusividade de veiculação pelo tempo da turnê apenas à plataforma que mais
paga por acesso com a condição de que qualquer post referenciando os clips,
terão como única forma de visualização o link para o streaming. Os acessos à
música assistencial, obviamente terão os valores repassados e os acessos ao
outro, cobrem a turnê.
– E esse vídeo clipe, que geraria a comoção, qual seria o apelo, ou como
você disse, mesmo? Chamariz forte? –pergunta Lian. A garota fica nitidamente
envergonhada.
– Seria... seria um vídeo clipe de Oliver contracenando com Beatriz em
cenas... ah... digamos... quentes.
– Você pirou? – esbravejo. A garota pula. Alicia se levanta em defesa dela.
– Oliver, acalme-se. Não será nada explícito. A ideia dela é ótima. Pense
bem, tantos casais gravaram vídeos clips sensuais... e estão todos ansiosos por
mais de vocês dois. Vai estourar em acessos. Levantamos as estatísticas do que
mais comentaram sobre o seu post: em primeiro ficou a nítida química entre
vocês, seguido por elogios ao seu sex appeal e físico, e depois elogios a
beleza, doçura e carisma de Beatriz.
– Pufff – bufo. Com um clipe desses não será só a doçura e beleza que
elogiarão depois.
– Isso é ridículo, mãe – fala Kellan.
– Não é não. – Se mete Lian. – Acho que a garota... como é mesmo o seu
nome?
– Iris.
– Iris. A Iris deve inclusive receber um aumento. A ideia dela é genial.
Creio que nem precisaremos aturar cem socialites nos bastidores da turnê –
completa ele.
– Você só pode estar brincando... Não vou expor Beatriz de jeito nenhum –
digo.
– Faremos algo bonito, Oliver. Não vulgar – insiste Alicia. – E a comoção a
este disparará também o acesso ao outro, e as músicas nas várias plataformas.
Caso o excedente em acessos ultrapasse os custos, poderemos doar uma
quantia ainda mais expressiva à causa.
– Você não vai dizer nada? – questiono Riley.
– Eu? Não. Diante do que vocês dois me contaram ontem, acho até a ideia
boa. Comoção controlada e lucrativa. Depois do clipe, o número de
apoiadores do casal vai disparar, daí quando divulgarem a boa nova, serão só
votos de felicidades.
– Que merda é essa? – pergunta Kellan, lanço um olhar de reprovação pare
Riley, que ri debochada.
– Esse comentário de Riley tem a ver com a história da omelete? – pergunta
Max. Ele percebeu que eu não estava brincando quando disse que ela teria o
anel.
– Sim – admito.
– Mas já? – insiste ele.
– Por mim, ontem mesmo. Mas Bia quer esperar.
– Porra... – Espanta-se Max.
– Alguém pode me explicar que papo é esse de omelete? –Kellan tenta
sanar sua curiosidade.
Você não vai gostar de saber, pirralho.
– Que merda. Por que eu não fiz aquela aposta, Oliver? – provoca Lian,
captando o que falamos. Mal sabe ele que a possibilidade do seu afilhado já é
bem real também. – Já comprou o anel?
– Ainda não. – Kellan está pálido, parece que finalmente entendeu.
Ah garoto, desista.
– Mas ela já disse sim – larga Riley, bem humorada.
– Sim, ela disse – confirmo com um sorriso de orelha a orelha. Edgar e
Rose riem.
– Então logo teremos comemorações, mas agora podemos voltar a questão
do vídeo clip? – pede Johnathan, também rindo.
– E se eu fizer esse vídeo com uma atriz? – pergunto.
Lian, que estava bebendo água, cospe tudo, por não conter o riso que meu
comentário lhe provocou.
– Quem você vai convencer a assumir a missão de contar a ela e para onde
vai viajar em seguida? Porque tenho certeza, principalmente depois de um
certo vídeo que eu vi, que dar a notícia de que fará um clipe quente com outra
e continuar com as bolas ao alcance daquelas mãozinhas, não será muito
inteligente.
– Merda... – digo passando as mãos pelos cabelos. Bia surtaria,
principalmente sabendo que fui eu que vetei a sua participação e sugeri outra.
Mas pensar em um bando de marmanjos assistindo o vídeo e babando por ela...
– Oliver, é isso ou mil cadeiras vip, você decide – pressiona Johnathan.
– Oliver, – chama Riley – o que você está tentando fazer é muito bonito.
Trará muito trabalho extra para todos nesta sala e todos lá fora também, mas
quando Johnathan nos contou, não teve um aqui que não se emocionou e que
não abraçou o projeto de coração. E além de todo o bem que a ação vai causar
na vida de muitas pessoas, é também por ela, por causa da história dela. Você
não acha que Bia ficaria feliz em poder dizer que contribuiu para tornar
possível? Eram os pais dela.
– Riley está certa, Oliver. Pelo que eu conheci daquela menina, ela iria
querer fazer parte disso ativamente. – Endossa Edgar. – Deixe o ciúme de lado,
homem. – Diverte-se ele.
Respiro fundo, exceto por Kellan, todos estão na campanha pela ideia do
clipe, se eu disser não, sairei daqui como o intransigente. Fui voto vencido.
– Tudo bem, faremos o clipe. Mas é o seguinte, o clipe e trinta cadeiras VIP
a cem mil dólares o ingresso. Não vou aturar cem ricaços por show nos
camarins.
– Aí moleque! – comemora Lian.
– A esse preço, podemos não vender... – diz Willian, nosso diretor
comercial.
– Vai vender. – Deixa escapar a tal Iris, segura de si.
– Concordo com Iris – diz Riley. – Tá cheio de mulher desocupada que não
sabe o que fazer com a grana que tem e que daria tudo pela chance de tirar uma
casquinha dos meninos, ainda mais com Oliver incluso no pacote. Vai vender.
– Se não vender e o excedente dos streamings não for suficiente para cobrir
os custos, eu cubro pessoalmente o que faltar – digo para por fim na discussão.
– Resolvido então. Próximo item: a produção das músicas e dos clipes.
– É... quanto a isso e ainda sobre o item anterior, eu tenho uma pergunta...
As outras duas músicas prontas, se encaixam num clipe sensual? – A tal Iris de
novo.
– Não – respondo. – Mas tenho uma quarta música, não está totalmente
pronta como as outras, mas consigo terminá-la logo. E essa se encaixa.
– Vá se ferrar, Oliver. Quatro músicas? Vamos te deixar em lua de mel com
Bia mais uns dois meses e o próximo álbum estará pronto. – Todos riem do
rompante de Lian.
– Trabalharemos nela então – diz Edgar. – As prioridades, a música do
clipe e a da assistência. Deixo as duas prontas e partimos para a produção das
outras duas e antes da turnê começar estarão as quatro disponíveis nos
aplicativos. E quero Beatriz aqui, amanhã, às nove horas. O estágio dela
começou. – Amanhã? O dia que ela fará o teste? Não sei se é uma boa ideia.
– Amanhã ainda não, sexta. Amanhã seremos só você, Iris e eu – digo a
Edgar, a garota me olha espantada. – Guardian Angel, a música que terá os
lucros destinados ao tratamento do câncer de pulmão e combate ao tabagismo,
quero que só vocês dois trabalhem nela. Nada sobre isso pode vazar. Bia só
saberá da sua existência no show em Chicago, no momento em que
começarmos a tocar e o clipe passar no telão. Conto com a discrição de todos
nesta sala para não estragar a surpresa.
– Tudo bem, nós três, aqui nesta sala, amanhã às nove. – Edgar diz olhando
a menina e ela assente. – E quanto a vocês – agora se dirige a Max, Lian e
Kellan – nem preciso dizer que as férias acabaram, não é? – Os três xingam.
– Sexta à tarde no estúdio para Oliver nos apresentar as outras três músicas
e segunda-feira no estúdio em Los Angeles para gravar Guardian Angel sem
levantar suspeitas. E espero que o solo de baixo esteja pronto. – Kellan
assente. – Assim que tivermos a primeira prévia da música do clipe sensual
gravada, Alicia e Iris, entrego a vocês para bolarem o roteiro e marcarem a
filmagem. – Elas assentem.
– Fechado este também? Podemos ir para o penúltimo? – pergunta
Johnathan e Edgar confirma. – Muito bem então, direção artística do show.
– Não temos tempo para trabalhar iluminação e efeitos totalmente novos –
diz Edgar. – Minha sugestão é aproveitarmos o roteiro da última turnê nas
músicas antigas, talvez uma pequena alteração aqui ou ali, pegar uma delas e
tocar numa versão mais acústica, mas nada que demande muito trabalho, mexer
um pouco no cenário e concentrar os esforços apenas nas novas.
– Ok, fechado. Nem cabe discussão, visto a janela apertada que temos. O
último então, marketing e divulgação. Com esse temos que correr.
– Sim – diz Alicia. – Já temos tudo pronto e a ideia é soltar no final do dia
de hoje a notícia sobre um clipe estrelando o casal mais falado do momento,
assim, como algo não oficial. Amanhã reforçaremos essa ideia, com possíveis
especulações de como será o tal clipe. – Ouço aquilo abismado, eles já davam
como certo?
– Na segunda, soltamos como notícia oficial, confirmada pela assessoria da
The Order, damos a data do lançamento e comunicamos também que em poucos
meses, uma nova turnê da The Order, beneficente, será iniciada. Então durante
a semana pulverizaremos a mídia tanto com especulações do clipe, quanto com
pequenos detalhes da turnê.
– E estamos preparados para o impacto que isso trará e eventual excesso de
trabalho? – pergunta Johnathan.
– Estamos, venho me preparando desde o ocorrido com as primeiras fotos,
e o post de sábado foi um bom teste, aparamos mais alguns problemas e
contratamos três estagiários que iniciam segunda. Certo Rose?
– Sim, segunda estarão aqui – confirma ela.
– Ótimo. Willian, muito importante a sua equipe conseguir medir o
excedente nas vendas dos streamings já a partir de amanhã – lembra Johnathan.
– Já estamos organizados para isso. Não se preocupe.
– Perfeito.
– Agora, chefes, preciso de um nome de trabalho para essa turnê – diz
Alicia voltando-se para nós quatro.
– Oliver in love – zoa Lian e arranca mais gargalhadas. Mostro o dedo do
meio para ele.
– Um bom título seria o da própria música Guardian Angel, pelo apelo
assistencial, mas se não pode vazar... – fala Alicia.
– Não, sem chance – digo.
– Another Life – sugere Max. – Outra vida que você pode impactar fazendo
o bem. Outra vida para os que serão beneficiados pelo gesto de caridade, outra
vida no sentido da mudança na relação de Oliver com o público, visto que ele
fez posts e fará a concessão de receber as pessoas, outra vida também
representando a sua mudança de solteiro para em um relacionamento sério e
logo, casado – provoca.
– Ótimo! – Iris toma a frente outra vez. De onde surgiu essa garota? – Esse
nome é ótimo. Além de tudo isso aí, podemos fazer uma exploração mística
dele, sugerindo uma ligação de Oliver e Bia de outra vida... e se encaixa com
a música estrela da turnê, anjo da guarda. The Order in Another Life Tour,
tantas possibilidades, é perfeito. – A garota não consegue disfarçar a sua
empolgação.
– É isso então? Temos um nome? – questiona Alicia.
– Por mim ok – diz Lian.
– Sim – diz Kellan.
– Tudo bem – confirmo.
– Bom, acho que encerramos – fala Johnathan.
– Só mais uma coisa. Alicia, conseguimos segurar a notícia do post para
amanhã final do dia, ao invés de hoje? – pergunto.
– Sim, mas por quê?
– Dona Laura e eu gostaríamos de fazer uma reunião para marcar o
lançamento desta turnê. Um jantar, amanhã à noite lá em casa, em que
contaremos a Bia, e todos vocês estão convidados. Então se pudermos soltar
essa notícia só após ela ter sido informada...
– Todos, todos? Ou só os diretores? – pergunta Patrick.
– Todos que estão aqui hoje e que vem colocando esforços para que o
evento se realize, estão convidados e não só isso, faço questão da presença. E
aos comprometidos, podem levar os parceiros. Peter não pôde estar aqui hoje,
mas o convite é para ele também, Riley.
– Darei o recado, chefe. E ele vai acompanhado. – Ela sorri.
– Ótimo. – Sorrio de volta. – E peça a ele para marcar um horário para
discutirmos o plano de segurança.
– Ok.
As pessoas começam a levantar e sair para seguirem com o seu dia e eu
preciso saber mais sobre a tal Iris.
– Alicia, tem um minuto?
– Claro.
– Não lembro dessa garota, a Iris.
– Ah, ela é ótima, não é? Nossa, desde que Ethan foi embora, nunca mais
acertamos alguém bom no audiovisuais. Primeiro teve o cara que a coisa mais
criativa que sugeriu foi copiar a capa do álbum anterior e trocar as cores.
Depois aquele que passava mais tempo no banheiro do que sentado na bancada
de trabalho e, por fim, a louca que mandou fazer os avatares sexys e espalhar
pela arena do show. Essa menina é recém formada, está conosco há apenas
dois meses e tem tanta energia! Se envolve nas coisas, vibra, como você pôde
ver com a escolha do nome. E é esperta, enxerga longe, levanta estatísticas
para embasar suas ideias, ela tem muito potencial.
– Então você acha que posso confiar em dar a música na mão dela para
criar o clipe?
– Tranquilamente. Ela cria coisas ótimas. Precisa ver o seu trabalho de
defesa de tese, é incrível.
– Quantos anos ela tem? Parece tão nova.
– Sim, ela tem só vinte aninhos. Entrou adiantada na universidade. A equipe
ficou ressabiada quando ela chegou, mas está provando que foi a escolha certa.
– Que bom. Obrigado Alicia, era só isso.
Resolvo aproveitar que estou ali e vou para o estúdio trabalhar na música
que será o tema do clipe. Mando mensagem para Bia avisando que me
demorarei um pouco mais para voltar. Me perco naquilo por algumas horas,
mas o trabalho rende e finalizo Eden. Estou passando a música completa uma
última vez quando o visor do telefone acende, acusando uma mensagem de Bia.

Está chegando?
Saudades?
Demais
Ainda aqui, baby.
Saio em quinze minutos
Ok. Vou dar uma volta com
Kellan

Ah? Como assim vai dar uma volta com Kellan?

Que merda é essa Beatriz?


Merda nenhuma, controle-se! Olha a
boca. Ele é meu amigo, me chamou para
um passeio e como você vai demorar,
aceitei. Estou te avisando para não ficar
preocupado caso chegue e não me
encontre em casa

Que porra de passeio é


esse? Onde vocês vão?
Acalme-se. Vamos apenas caminhar
pela praia, no máximo até o trapiche, só
isso

Só isso? SÓ ISSO? Fico puto.

Nem pense em entrar numa


lancha com ele, Bia. Olha, não
gosto disso. Por que não
conversam aí no deck?

Oliver, ele quer caminhar, qual o


problema? Você não confia em
mim?
Não tem nada a ver com
confiança. Ele tem sentimentos
por você e eu tenho ciúmes.
Acho que você entende, não?
Entendo, se entendo... E temos que
lidar com isso, não é? Eu já tive,
inúmeras vezes. Amo você!
Prometo que não demoro. Beijos
��
Porra! O que ele quer arrastando Beatriz para o trapiche? Eu vi como ficou
todo cabisbaixo quando entendeu o que significava a omelete. O moleque que
não caia na besteira de fazer merda.
Tento, mas não consigo ficar tranquilo com aquilo.
Mando mensagem para o motorista que estou pronto e partimos para a praia.
Entro em casa rapidamente e troco a calça jeans por uma bermuda.
–Filho! – Encontro vovó quando estou saindo.
– Oi vó. – Abraço-a. – Saudades dona Laura.
– Também querido. Como foi lá? Tudo acertado?
– Sim. Amanhã a casa estará cheia de gente. Do jeito que a senhora gosta. –
Ela sorri.
– Eu não vejo a hora é desta casa estar cheia de crianças – diz apertando as
minhas bochechas.
– Vó... – Ah vó, quem sabe amanhã a senhora não receba também essa boa
notícia, penso.
– Verdade ué. Uma avó pode sonhar, não pode? – Beijo sua testa.
– Pode, claro que pode. Vou deixá-la com os seus sonhos e sairei ao resgate
da minha mulher.
– Resgate? Como assim? Achei que ela tinha ido caminhar com Kellan.
– Justamente. Ela foi raptada pelo inconformadamente apaixonado baixista
da minha banda e levada para o trapiche.
– Oliver, deixe os dois conversarem, não vá atrás.
– Mas é claro que eu vou.
– É feio ficar espionando, são amigos, ela não vai gostar.
– Problema é dela. – Dou de ombros e dona Laura demonstra sua
reprovação balançando a cabeça. – Tchau.
– Depois não diga que eu não avisei – fala alto lá da sala para que eu escute
aqui fora.
O entardecer está lindo, o céu limpo e o crepúsculo despontando.
Respiro o ar puro, o cheiro de mar, de luz, de vida. Me sinto energizado,
com gana de viver, de saber o que vem pela frente. De repente a vida ficou tão
colorida e ao mesmo tempo tão em paz, tão certa.
Um bebê.
Amanhã, nesse horário, posso ter recebido a notícia de que serei pai.
Pai!
Tá aí uma palavra que para mim nunca significou nada.
E talvez, a partir de amanhã, signifique o mundo.
Imaginar uma criança, a nossa criança, correndo por essas areias... Era uma
festa quando Kellan e Hazel eram pequenos e brincavam pela praia.
– Chega aí, noivinho. – Lian e Max estão no deck da casa de Max tomando
uma cerveja.
– Depois, agora estou na missão resgate.
– Não disse que ele estava indo atrás dos dois? – Se gaba Max.
– Larga o osso, Oliver. Deixa os dois em paz – Lian me repreende.
– Sei bem o que o pirralho quer com ela, Lian.
– Deixa de bobagem. Senta aí. Acha o que? Que ele vai agarrá-la? – Dou de
ombros, porque no fundo acho isso mesmo.
– Está sendo patético – diz Max. – Vocês ficaram cinco dias enfiados num
apartamento sozinhos. Devem ter fodido como coelhos. Dá um tempo para a
garota respirar. – Passo a mão pelos cabelos.
Estou mesmo sendo patético?
Porra, acho que estou sim.
Quando me tornei isso? É, sei bem quando...
– Vamos, você já conseguiu acabar com as nossas férias. O mínimo que
pode fazer é nos atualizar. Pega uma cerveja no balde e senta aí – insiste Lian.
Engulo a vontade de saber o que está rolando naquele trapiche, pego a
bebida e me sento. Com o olhar voltado para o local do meu interesse, claro.
– Como foi a consulta? – pergunta ele.
– Foi bem positiva. O médico acredita que ela não tenha o gene; pela idade
que a mãe dela adoeceu, ele acha pouco provável. Ela fez os exames, semana
que vem deve sair o resultado.
– Isso é ótimo.
– É sim.
– E a outra consulta? – pergunta Max.
– Tinha outra?
– Tinha Lian, nosso astro, além de dominado por mulheres com fetiche por
gravatas e amarras, também frequenta a ginecologista. – Lian gargalha.
– Você ainda vai me pagar por ter enviado aquele vídeo, Max, aguarde.
– Oliver, Oliver... quem te viu, quem te vê... E aí, como foi? O cabo do
chicote fez estrago e a Dra. deu um remedinho?
– Vá se foder, Lian.
– E tudo bem com Biazinha também neste quesito ou foi proibido sexo por
tempo indeterminado? – Suspiro.
– Sim, tudo bem, só...
– Só?
– Ela pode estar grávida. – Espero as reações exacerbadas, mas nenhum
dos dois consegue dizer nada.
– E... e como você está com essa possibilidade? – pergunta Max, receoso.
Sorrio e Lian sorri de volta em reflexo.
– Seu filho-da-puta... eu tinha que ter feito aquela aposta!
– Você está bem com isso? – Se espanta Max, arregalando os olhos.
– Eu estou dividido. Ela fará o teste amanhã, e eu quero que dê positivo. –
Max tosse e pragueja. – Sim, estou feliz com a ideia – confirmo. – Mas Bia não
quer nem pensar que seja real, não toca no assunto, se eu tento, desconversa...
então também estou apreensivo quanto ao estado emocional em que ela ficará.
– Ela ainda não completou dezoito anos, Oliver. Cedo demais – diz ele.
– Eu sei, não foi premeditado Max, mas não consigo não me alegrar com a
possibilidade de já estar aí. Voltar atrás não dá, então o que eu posso fazer,
fingir que não quero? Me seguro perto dela, mas acredito que não preciso agir
assim com vocês, certo?
– Não, claro que não. – Ele finalmente sorri. – Caramba Oliver, namorado,
casado, pai... não estou nem conseguindo acompanhar... Parece que quer fazer
em um segundo o que não fez a vida toda.
– Talvez tenha um pouco disso, vai saber...
– Não dá medo?
– Dá. E vocês sabem bem dos meus medos. Medo dela ir e eu cair. Medo de
eu cair e ela ir.
– Você não vai – tranquiliza Lian.
– Mais de quatro anos Oliver, desencana. – Max corrobora.
– Tive dois episódios recentes Max.
– Como? Quando?
– Dois? – Surpreende-se Lian.
– Sim, um aqui, no dia da coletiva, Lian me ajudou e o outro em Los
Angeles, no dia que descobrimos a possibilidade da gravidez; Bia ficou muito
abalada, eu entrei em pânico com aquilo, liguei para Henry e ele me socorreu.
Não cheguei a apagar em nenhum deles, mas não deixam se ser um alerta.
– Porra, mamãe ter recaída até entendo, agora você... que merda.
– Como está Helen, a propósito? Henry voltará a me atender aqui, caso
você queira encaixá-la também...
– Ela está tomando os remédios e voltou ao normal. O normal dela, porque
você sabe... quando você viu minha mãe realmente feliz, Oliver? Eu não
lembro, não depois que... Não entendo, juro a você que eu vou morrer sem
entender. Como uma pessoa pode passar por aquilo e ainda desejar estar lá?
– Não é lá que ela deseja estar Max, é com ele – diz Lian.
– E qual a diferença?
– Eu consigo entendê-la.
– Ah não, não Oliver. Me desculpa, mas amor não justifica aquela vida.
– Não, não justifica, tanto que ela abriu mão, abriu mão por você. Mas ela
ainda sente a falta dele, Max.
– Porra, então me perdoa pelo o que eu vou falar, mas nunca quero me ver
no meio de nada parecido na minha vida. Se aquela situação e vinte e dois
anos não foram o suficiente para ela virar a página... – Lian fala alguma coisa,
mas não estou ouvindo mais nada.
Meus olhos estão grudados na cena de um casal andando em nossa direção
pela areia da praia.
Ainda estão longe, mas é possível perceber que há alegria, estão brincando
um com o outro. Eles riem enquanto caminham.
Ela é linda.
Parecem tão... jovens...
Lá pelas tantas ele a abraça pelos ombros, beija sua cabeça e a solta...
porra...
Plaft!.
– Ai, caralho! Que merda foi essa, Lian?
Ele acabou mesmo de me dar um tapa na cara?
– Isso é para você parar de pensar bobagem e ver maldade onde não tem. –
Engulo em seco.
– Não é a sua garota que está andando, linda, pela praia, aos risos e abraços
com outro. – Porra, como dói.
E não estou me referindo ao tapa.
– Eles estão rindo? Que bom. Sinal que seja lá o que Kellan ainda
precisava dizer, foi dito, e as coisas se ajeitaram de uma vez por todas. Na
amizade. E aquele breve abraço, de amigo? Max e eu já demos abraços assim
em Bia e não havia nenhuma segunda intenção por trás.
– Rá. Ele sempre deixou muito claras as intenções dele.
– Ele não vai desrespeitar vocês, Oliver. Pode estar estraçalhado por
dentro, mas não faria isso – defende Max.
– Então porque teve que arrastá-la até o trapiche para essa conversa?
– Para que você não ficasse rondando, talvez? Por que você teve que ir até
a casa de Riley, Oliver? – Não tenho tempo de responder, pois outra voz me
chama.
– Oliver! Voltou? – Ela corre até mim, se senta no meu colo e me beija.
Está feliz, relaxada.
Só que estou P da vida e o nó na minha garganta não me deixa devolver a
sua empolgação na mesma medida.
Ela percebe que meu humor não é dos melhores.
– Olá – cumprimenta Kellan se aproximando da mesa. Apenas o encaro.
– Senta aí fedelho, toma uma com a gente – chama Max. – Bia, aceita? –
Estende uma cerveja para ela.
– Sim, parece tão gelada e está tão quente.
– Larga essa merda Beatriz! Você sabe que você não pode! – digo com
muito, muito mais energia que o necessário.
No mesmo instante percebo a idiotice que eu fiz, quando vejo que seus
olhos enchem de lágrimas. Ela se levanta brava e a merda está feita.
– Verdade, Oliver. Talvez eu não possa. Boa noite para vocês, eu vou indo.
– Bia... – Tento remediar segurando o seu pulso.
– Não! Me solta! – diz, categórica. E não se atreva a vir atrás de mim. Me
dá um tempo! – Aquilo é como uma faca no meu peito.
Kellan ameaça levantar...
Ah, mas não mesmo que vou deixar que ele a console.
– Kellan, me desculpa, mas eu preciso ficar um pouco sozinha. – Ela corta
os planos dele também e segue em direção a nossa casa pela areia. Fecho os
olhos.
– Que porra! – diz Lian.
– Seu babaca! – Me peita o moleque. – Por que falar assim com ela?
– Não se meta – digo.
– Acalmem-se os dois! – grita Max.
– Mas é claro que eu me meto, não vou ficar vendo você tratá-la assim e
não fazer nada. Parece até piada... justo hoje que eu... – diz ele como se
conversando com os seus pensamentos.
– Justo hoje que você resolveu tentar uma nova aproximação? – pergunto
exaltado.
Ele ri e balança a cabeça.
– Ignore, Kellan. Ele está com ciúmes e fora de si – intercede Max.
– Sabe, ele não merece, mas eu vou contar porquê eu a convidei para uma
caminhada comigo. Apesar de que eu me considero um amigo e, pelo que eu
sei, é comum amigos se encontrarem para uma conversa ou uma caminhada.
Mas eu queria sim dizer algumas palavras a ela. – Ele faz cara de quem vai
dizer coisas que lhe doem profundamente.
– Dizer que eu vi um cara se transformar em outra pessoa, em pouco tempo,
por sua causa. Porra, aquela música que ele escreveu, a turnê que ele está
preparando... eu tentei negar, tentei não ver, mas quando Max mandou aqueles
vídeos lá no grupo foi impossível continuar me enganando. Me iludindo de que
um dia ele vai pisar na bola, eles vão terminar e eu terei a minha chance,
porque no dia em que ela me chamou para conversar, lá no hotel, antes da festa
de Hazel e me contou o motivo de não me aceitar, foi isso que eu disse a ela, e
eu estava errado. Então eu quis concertar isso e também dizer que ela será feliz
e fez a escolha certa, porque é nítido o quanto ele a ama. E com isso,
finalmente impor um encerramento a mim mesmo e seguir em frente. – Ele
respira fundo. – Mas aí, olha a porra que ele faz...
– Me desculpe – digo amplamente envergonhado da minha atitude. O
moleque foi um milhão de vezes mais maduro do que eu.
– Não é a mim que você deve desculpas, Oliver.
– É sim, eu devo desculpas aos dois. Fiquei cego de ciúmes quando vi
vocês vindo alegres e brincando pela praia, por isso fui um escroto com Bia.
– Mas não se preocupe Kellan, ela vai fazê-lo penar esta noite – debocha
Lian.
– E por que ela não pòde beber uma cerveja?
– Por que há uma possibilidade dela estar grávida, Kellan, ainda não
sabemos se está, temos que esperar para fazer o exame.
– Caramba, você foi rápido. – Me levanto.
– Me deem licença, mas preciso acertar as coisas com a minha mulher.
– Boa sorte com isso. Você vai precisar.
– Eu sei Max, eu sei...
Capítulo 21

“Ainda que eu falasse a língua dos homens


E falasse a língua dos anjos
Sem amor, eu nada seria”
(Monte Castelo – Legião Urbana)

Bia

E stou agoniada. Me movo de um lado para o outro, uma


dor pequena e incômoda vem e vai, mas não consigo
acordar... estou vagando naquele estado pré-vigília, onde
as duas dimensões se misturam e não se sabe o que é real e o que é sonho.
Me mexo, me viro e então bato em algo quente e duro.
Aquilo me ajuda a finalmente despertar. Abro os olhos e vejo Oliver
deitado ao meu lado, encolhido, com a mesma roupa que usava ontem.
Quando cheguei decidi apenas tomar um banho e deitar, estava me sentindo
extremamente cansada. Mas também muito magoada, por isto fiquei no meu
antigo quarto e acabei adormecendo. Não esperava que ele viesse se deitar
aqui. Deslizo meus dedos levemente pelos seus cabelos.
Ah, meu lindo e ciumento futuro marido, como eu amo você.
Sinto de novo.
A dorzinha chata.
Esta parte não era sonho, afinal.
Então a ficha cai e me alegro por aquela dor.
Corro para o banheiro para confirmar minhas suspeitas e bingo!
Está lá.
A mancha vermelha anunciando a descida da minha menstruação. Sorrio.
O alívio me invade no ato. Todo aquele medo, aquela apreensão se
dissipam.
Obrigada, senhor!
Nunca fiquei tão contente por ver a tal mancha na minha calcinha. Nem será
preciso usar o palito da Barbie.
Vou ao outro quarto em busca de roupa limpa, um absorvente e o meu
remédio para cólicas, depois volto para junto dele, na cama do quarto de
hóspedes. Oliver dorme profundamente. Arrumo um pouco as cobertas e
cubro-o.
Em poucas horas acabarei com as suas esperanças de ter uma criança em
sua vida. Foi melhor assim, não estou pronta. Me ajeito, aninhando-me como
consigo nele, sentindo seu cheiro, e tão logo o remédio faz efeito, me entrego
ao sono novamente.
Acordo com gemidos, fungadas, lábios e barba roçando pelo meu colo e
pescoço.
Os lábios vão subindo para o meu queixo ao mesmo tempo que o corpo vai
se posicionando sobre o meu, afastando minhas pernas e tomando o espaço
entre elas. Respondo com mais gemidos e envolvo suas costas com os braços.
Os lábios chegam aos meus ouvidos, com sussurros.
– Perdão, amor. Perdão pela forma como falei com você. Senti tantos
ciúmes.
– Você me magoou. Muito.
– Eu sei... Ver vocês juntos, tão jovens e alegres... não consegui não pensar
no fato de que deveria ser com alguém da idade dele que você merecia estar, e
não com um cara treze anos mais velho e cheio de bagagens. Quando entrei no
quarto e não te achei... ah Bia, nem pense que você vai dormir longe de mim. –
Leva a mão ao short do meu pijama, na intensão de retirá-lo. Coloco minha
mão na sua, parando-o.
– Baby, me deixe tê-la, eu preciso saber que estamos bem.
– Agora não.
– Agora sim, quero você, sentir você...
– Oliver, pare! – Ele ergue o corpo e me fita. Passo a mão pelo seu rosto.
– Por favor... não me castigue... – Me pede aquilo de um jeito tão sentido
que meu coração dói. O que aconteceu com ele e sua família?
– Não é isso... Não dá. Estou com cólicas e menstruada. – Me olha como se
aquilo não fosse possível. – Não há bebê, meu amor. Não estou grávida. – Ele
engole em seco e tenta disfarçar com um sorriso fraco, mas vejo a tristeza no
fundo dos seus olhos. – Seria cedo demais, meu bem. Tenho coisas a resolver
dentro de mim primeiro, por favor, não fique assim... – digo. Ele sai de cima
de mim e deita-se ao meu lado.
– Está tudo bem, pequena. Eu sei... – Me puxa para seu peito.
– Você está triste.
– É que eu já podia imaginá-lo, sabe?
– Ah Oliver...
– Ontem, lá na praia, você já sabia?
– Não. Acordei com cólicas essa madrugada.
– Por que não me chamou?
– Porque não havia necessidade. Tomei um remédio e voltei a dormir.
Ontem foi o primeiro dia, sabia? – Mudo de assunto para que ele não fique
pensando muito no bebê não consumado.
– Primeiro dia de que?
– Que nós não fizemos sexo, desde que... – Ele sorri.
– Desde que eu tirei o seu lacre?
– Besta!
– É verdade, eu tirei.
– Tirou. – Entro na dele.
– Só minha – diz bem devagar.
– Só sua. Todinha sua. – Ele me beija.
– E a minha, todinha minha, menina, está sentindo falta de sexo?
– Com você? Sempre.
– Bem, eu tentei resolver o problema dela, mas ela me brecou, então como
posso ajudar?
– Uhmm, sabe... ali está dolorido, mas o senhor ficou batendo na portinha
de trás, me provocando o tempo todo lá no apartamento sem dizer exatamente
ao que veio. – Ele gargalha.
– Beatriz Thompson! Sua depravada. Não tem vergonha? – Sinto as
bochechas corando.
– Pelo jeito não...
Ele ri da minha vergonha sem propósito, depois cola o corpo no meu, leva a
mão a minha bunda por cima da roupa e com o indicador faz movimentos
circulares ao redor do meu... bem, vocês sabem...
– Você me quer aqui de novo, quer, bebê?
– Uhum. – Quando me imaginei pedindo por isso?
– Só que tem um porém, eu tenho uma aposta para ganhar, então...
– Como assim?
– Para eu entrar aqui outra vez, você vai ter que dizer a senha. – Me afasto
dele, de boca aberta.
– Não acredito! Oliver! É sério? Você ficou me provocando, lambendo,
rodeando ali esse tempo todo só para me deixar com vontade e ganhar aquela
aposta? Tudo de caso pensado?
– Cada um luta com as armas que tem, anjo. – Dá de ombros.
– Seu...
– Olha a boca...
– Isso é trapaça! Você inverteu a ordem dos fatores. A porta dos fundos era
para ser o seu prêmio se eu pedisse por vinho.
– É a vida, pequena, é a vida. Então já sabe, basta dizer e seus desejos se
realizam.
– Eu quero muito mais ir naquela turnê.
– Tem certeza? – Paro para pensar. Foi bom pra cacete quando ele... É, não
tenho. – Ele gargalha diante da minha indecisão.
– Ok. – Ele se levanta. – Vamos ver até quando você vai resistir. Quantos
dias menstruada mesmo?
– De quatro a cinco. – Ele suspira. – Onde você vai?
– Tenho reunião na Three Minds com Edgar às nove. E já são – ele olha o
telefone – oito e quinze.
– De novo? Vocês não estão de férias?
– Não mais, surgiu um projeto novo e cancelamos as férias. Ah, inclusive,
amanhã começa seu estágio.
– Sério? – Pulo da cama animada.
– Seríssimo. Vou tomar um banho.
– Oliver?
– Sim?
– Você está bem? – Ele se aproxima e me abraça. Afunda o nariz nos meus
cabelos e inspira fundo.
– Não se preocupe, vai passar. Como você disse, era a minha decepção ou
o seu desespero e entre um e outro, prefiro que seja eu. Se você estiver bem e
estiver aqui, eu também ficarei. – Seguro seu rosto entre as mãos e faço ele me
olhar.
– Você não tinha dúvidas, não é?
– Não, eu realmente achei que já era fato consumado. – Encosto meus lábios
nos dele, pedindo passagem, que ele concede rapidamente.
Passo a pontinha da minha língua pelo seu lábio inferior, depois o superior,
suas mãos sobem pelas minhas costas e me trazem para mais perto. Enlaço seu
pescoço, me penduro nele e avanço para dentro da sua boca, beijando-o com
desejo e mais todo o sentimento poderoso que ele desperta em mim. Oliver
geme e devolve na mesma entonação, acendendo outra vez o fogo que queima
entre nós sempre que nos tocamos. Desço os lábios pelo seu pescoço e volto a
subi-los até o seu ouvido. Sinto sua dureza me pressionando lá embaixo, estou
louca de vontade dele.
– Um dia estarei pronta para dar o que você quer, meu amor, prometo me
esforçar para isto, mas não já – digo.
– Tudo que eu quero está bem aqui, nos meus braços.
– Eu amo você.
– Deus Bia, eu amo você, eu quero você. Estou queimando de desejo,
pequena.
– Eu também. Me pegue. Senti tanto a sua falta ontem.
– Ah anjo, desculpe de novo por aquilo, fui um verdadeiro babaca. E quanto
ao outro assunto, você não pode e mesmo que peça por vinho agora, sexo anal
tem que ser feito com calma e cuidado. Não tenho tempo, preciso ir para a
reunião. Se tem uma coisa que irrita Edgar é atraso e eu o respeito demais para
deixá-lo esperando. – Suspiro frustrada.
– Você não vai abrir mão da senha, não é? – Ele ri.
– Não.
– Aff... Tudo bem então, vamos para o quarto, vá tomar o seu banho, vou me
trocar e me juntar a sua avó.
Seguimos abraçados até o quarto, ele entra no chuveiro e enquanto escovo
os dentes não resisto a ficar admirando a vista.
Senhor, isso tudo será meu de papel passado...
Ele quer casar comigo... comigo!
Eu vou poder dizer: estão vendo aquele deus ali?
Pois é, ele é o meu marido. Meu!
– Estou debaixo do chuveiro, mas o seu olhar está me fazendo desidratar,
pequena. – Desliza a mão pelo pau semiereto. Filho da...
– Oliver Rain, se você não quer que eu entre aí agora e te faça chegar
atrasado, pare de me provocar esfregando essa coisa.
– Coisa, Beatriz? Pau, tora, cacete, caralho, mastro, soberano, Picasso, o
grande. Qualquer um desses ele aceita, mas coisa, coisa não...
– Pois enquanto eu não puder brincar, é assim que eu vou chamar. Tchau.
– Cinco dias... cinco longos dias... – Ouço ele resmungar enquanto saio do
banheiro.
Me troco, coloco um vestidinho vermelho de malha, um dos que trouxe
comigo da minha antiga vida. Parece que faz tanto tempo que a deixei para trás,
e não pouco menos de três meses. Estou prestes a sair do quarto, quando
lembro do que a Barbie falou. Tomar a pílula no primeiro dia da menstruação.
Abro o criado mudo, retiro o comprimido referente ao dia do mês da cartela e
levo-o comigo para a cozinha.
Laura está concentrada em algo no celular e aproveito para tomar a pílula.
Adeus camisinhas, comemoro internamente. Me aproximo dela, passo meu
braço pelos seus ombros e beijo sua bochecha.
– Bom dia! – Leva a mão aos olhos, como se estivesse... secando lágrimas?
– Laura, o que foi? Por que você está chorando? – Ela me olha e me abraça,
enquanto seca os últimos resquícios do seu choro. Estica o pescoço e olha na
direção do corredor. – Ele vai demorar um pouco, ainda estava no banho
quando saí do quarto. – Tranquilizo-a.
– Desculpe querida, não era para você ter me visto assim... É que amanhã
seria o aniversário de minha filha, Vivienne. Não comente nada com Oliver. É
melhor quando ele nem se lembra disso... – diz.
– Não vou. Três de novembro... Quantos anos ela faria? – Laura engole em
seco.
– Cinquenta e dois. Oliver ainda não contou nada a você, não é?
– Poucas coisas, ele me contou que nasceu em Londres, que seu pai era
inglês, falou que sofreu um acidente aos seis anos, em que quase morreu,
basicamente isso. Mas nada sobre a mãe.
– Fico feliz que ele tenha falado algo.
– Sabe, eu gostaria de ver fotos dela, ver como ela era, você me mostra?
Não precisa me falar nada relacionado a Oliver, mas se você quiser me contar
histórias de quando ela era criança, adolescente, vou adorar ouvir.
– Ah Bia, obrigada. Vou tentar. Tenho algumas fotos muito bem guardadas
no meu quarto, qualquer hora eu te mostro. Agora sente-se, tome seu café. –
Assinto e começo a me servir.
– A propósito Laura, que dia Oliver faz aniversário? Eu sempre procurei
muito essa informação nas redes, mas nunca achei nada.
– Ele não deixa divulgar. Não gosta de comemorar. Mas Oliver completará
seus trinta e um anos dia onze de novembro.
– Nossa, isso já é final de semana que vem. – Ela assente. – Trinta e um?
Achei que fosse trinta e dois.
– Não, passou da metade do ano ele já considera que tem um ano a mais,
mas ele fará trinta e um.
– Então Max é o mais velho?
– Sim, Max fez trinta e um em julho, dia vinte e um. E Lian fez trinta em
agosto, dia cinco. Kellan é de abril, fará dezenove dia oito. Hazel você já
sabe, trinta de setembro.
– E você?
– Eu sou de vinte de junho. Agora me conte a sua.
– Dez de janeiro.
– Hum, interessante...
– O que?
– Você e Oliver, os dois só tem o número um em suas datas de aniversário e
elas são espelhadas, 11 do 11 e 10 do 01. Escorpião e Capricórnio.
– Dando uma de astróloga de novo, dona Laura?
– Oi filho, bom dia! – Ele a cumprimenta com um beijo. – Bia é de janeiro,
você sabia?
– Sabia. Dia dez. – Ele me abraça, ajeita uma mochila nas costas e depois
pega uma fruta da bancada.
– Não vai sentar? – pergunto.
– Não dá, o carro já está aí, tenho que ir. Tomo café na Three Minds mais
tarde.
– Você vai ficar o dia todo lá? Só vou te ver final do dia? – digo
desanimada.
– Sim pequena, preciso ficar por lá.
– Não posso ir junto? Por favor? – Lanço a ele aquele olhar.
– Agora não. Peço para te buscarem à tarde, tudo bem? Eu vou apresentar
três músicas novas a Edgar e você pode acompanhar se quiser. – Sorrio
animada.
– Até depois, então – digo.
– Até baby. – Me beija. – Tchau vó.
– Tchau, querido. – Ele sai. – Bia, é possível que você veja uma
movimentação maior de funcionários pela casa hoje. Teremos um jantar para a
família e mais algumas pessoas da Three Minds aqui esta noite.
– É? Oliver não me disse nada... bom, também ontem...
– O que aconteceu ontem?
– Ele ficou com ciúmes de Kellan e nos desentendemos.
– E olha que eu avisei a ele... Mas enfim, é o lançamento de um novo
trabalho dos meninos, saberemos os detalhes esta noite, e o jantar no deck será
para celebrar e marcar o início.
– Ok.
– Preciso ir até a casa de Helen ver como ela está, me acompanha?
– Claro. Max contou que ela sofre de depressão. Não imaginava.
– Helen nunca se recuperou da separação do pai de Max. Vira e mexe a
saudade e a tristeza a dominam. Felizmente os períodos bons têm sido maiores
que os ruins nos últimos anos. – Me arrepio. Não sei se eu me recuperaria
também, caso... – Vou me trocar enquanto você termina seu café, tudo bem? –
Eu concordo.
Iniciamos nossa caminhada até a casa de Helen. O dia está lindo,
ensolarado, mas com a constante brisa refrescante.
Com a proximidade do inverno, não temos mais atravessado aquele calor
infernal, mas ainda é possível usar roupas leves. Se eu estivesse em Chicago,
só sairia de casa coberta dos pés à cabeça nesta época do ano. Não sei se é a
minha parte brasileira falando, mas assim como mamãe, nunca gostei do frio,
adoro o sol e o verão. Já papai dava graças por não viver mais na Califórnia e
não precisar enfrentar o calor.
– Laura, você disse que nunca mais soube sobre o pai de sua filha. Você
chegou a se casar depois? Vivienne teve um padrasto?
– Não querida, eu... só tive um único homem em toda a minha vida.
– Você está querendo dizer que você só fez... Desculpe eu não deveria ter
perguntado isso.
– Está tudo bem, não tenho problemas em falar, e sim, só três vezes e só
com Norton.
– Caraca, Laura... como? Como você conseguiu? Não sente falta? – Ela fica
um pouco encabulada, percebo.
– Não... se eu for honesta comigo mesma, nas três vezes em que estive com
ele, não cheguei a sentir prazer de verdade. Não esse que as mulheres tanto
falam hoje em dia. Não sei se por eu ser tão nova, mas foi mais incômodo do
que qualquer outra coisa. Ele atingiu o ápice dele e foi isso. O meu prazer
estava em ver que ele me desejava e em poder lhe proporcionar aquilo, pois
estava apaixonada. Acho que a gente só sente falta mesmo daquilo que
conheceu. Houve momentos em que eu desejei estar com um homem de novo,
claro. Queria ser amada, cuidada, me sentia muito sozinha. Mas o sexo em si,
para mim ficou associado a desilusão e provação. Por causa dele eu perdi
minha família, minha casa, a possibilidade de estudar, fui abandonada pela
outra parte que participou do ato, tive uma criança ainda sendo uma e passei
por todo tipo de dificuldade para criá-la. Alguns homens tentaram se
aproximar de mim, sim, quiseram iniciar um relacionamento, mas nunca mais
alguém despertou meus sentimentos a ponto de me fazer querer arriscar a parca
estabilidade que alcancei a duras penas.
– Nós precisamos mudar isso! Você precisa se dar uma chance. Uma mulher
tão bonita e elegante como você ainda pode e deve experimentar muitas coisas
na vida. – Ela ri.
– Ah querida, meu tempo já passou... e estou em paz com isso.
– Não diga bobagem. Você ainda pode ser feliz. – Ela me abraça.
– A minha felicidade está em ver Oliver bem e feliz. Faz vinte e três anos
que rezo por isso e graças a você, estou vendo acontecer. Tudo além disso é
bônus, como poder, quem sabe daqui a alguns anos, curtir um ou dois netinhos
antes de partir. – Me lança um sorriso... se ela soubesse... – Digo netos, porque
me considero mais mãe dele do que avó. O criei sozinha desde os seus sete
anos e meio. A felicidade suprema seria ver Vivienne participando de tudo
conosco, mas é algo impossível de atingir.
– Pois eu acho que ver a felicidade de Oliver não exclui você buscar a sua,
como mulher.
– Isso é para as jovens, como você, Hazel e até Helen. Eu já estou quase
nos setenta Bia, nem saberia mais o que fazer com um homem na minha vida.
– Laura, você se importa se eu continuar caminhando mais um tempo? O sol
está tão gostoso. Logo me junto a vocês.
– Claro que não, aproveite o sol. Até daqui a pouco.
Sigo caminhando, pensando em tudo aquilo, em como Laura é forte. Uma
mulher que perdeu tantas coisas ao longo do caminho, tanto da vida lhe foi
negado, e ela continua ali, de pé, firme, positiva, prestando apoio a outros sem
nunca reclamar de nada. Mesmo sendo nítido o sofrimento causado pela
ausência da filha. Um exemplo. Já Helen, aparentemente perdeu menos, tem o
filho ao seu lado e se entrega à dor porque não consegue esquecer um amor...
“A gente só sente falta daquilo que conheceu”. É, talvez Laura tenha razão.
Vários pensamentos invadem minha mente depois disso, momentos vividos
com meus pais, momentos de alegria em família, a saudade de mamãe que eu
via nos olhos de papai toda vez que o flagrava pensativo. Ele também nunca
reclamou, mas estava lá. O sofrimento de Helen, o sofrimento de Hazel. As
palavras do Dr. Iori. Perdi meus pais, tenho saudades deles todos os dias, mas
me sinto feliz, inteira com Oliver. Agora se eu o perdesse, voltaria a me sentir
inteira algum dia? Não quero descobrir. Pelo visto, o amor de almas, como
chamou o Dr., quando interrompido, suspenso, negado, consome. A pessoa
vive, prospera, cria sua família, mas aquilo continua ali, batendo, pulsando,
implorando. É triste pensar em uma vida assim. Uma vida pela metade. Espero
que papai e mamãe estejam felizes, aonde quer que seja.
Um barulho me chama a atenção. Nem percebi que já estava perto da
marina. Caminho um pouco mais e então consigo enxergar, sentada no trapiche,
com a cabeça apoiada na parede da marina, uma mulher, chorando. O que tem
no dia de hoje? É a segunda mulher que flagro nessa condição. Me aproximo
com cautela.
– Posso ajudar? – pergunto. Ela se vira e me olha. – Riley? O que
aconteceu? Por que está aqui, chorando e sozinha?
– Oi Bia – diz secando os olhos. Chego perto e me sento à sua frente. –
Desculpe, sempre que eu preciso ficar sozinha e pensar, costumo vir aqui.
– Não quero me intrometer, se quiser vou embora e te deixo sozinha, mas
você está bem?
– Não sei se estou bem. Na verdade, não sei como me sinto sobre isso. –
Estende um papel. Olho aquilo tentando entender o que significa e quando a
ficha cai, arregalo os olhos.
– Caramba, isso?
– Sim. Pelo positivo enorme que marca aí, estou bem grávida.
– E você não quer – constato.
– Não é isso. Eu não... não acho que consiga ser uma boa mãe. Olhe para
mim! Olhe a minha vida! Mal soube cuidar de mim mesma até hoje, fiz tantas
escolhas erradas, como vou cuidar de uma criança? O que vou ensinar? O
mundo é tão ingrato, injusto, cruel, doente, por que trazer mais alguém para
participar desse... circo? Sempre fui tão cautelosa... foi apenas um descuido,
apenas um... e quando nem estávamos oficialmente juntos ainda.
– Dizem que basta um. – Tento brincar. Ela sorri.
– Pois é.
– Peter já sabe?
– Não, acabei de pegar o exame.
– Como você imagina que será a reação dele?
– Apesar da nossa relação ser muito recente, convivemos a muito tempo. Eu
acho que ele dará pulos de felicidade. Ele já deixou escapar, como quem não
quer nada, que deseja ser pai e que não gostaria de esperar muito, já tem
quarenta anos...
– Você o ama, não ama?
– Estou cada dia mais ligada a ele e me sentindo dependente da sua
presença. Estar longe dele é difícil. Eu sempre soube que no dia em que eu
cedesse às suas investidas, estaria encrencada. Dito e feito. Se isso for amor,
então sim, eu amo.
– Supondo que o mundo fosse um lugar perfeito e você tivesse a certeza de
que seria a mãe exemplar, você teria vontade de ter um bebezinho com ele?
Uma mistura sua e de Peter nos braços? – Ela fecha os olhos, contemplando a
cena, imagino.
– Sim, acho que eu gostaria.
– Você amaria essa criança, não amaria?
– Demais.
– Se você repetisse o exame agora e ele desse negativo. Ficaria feliz? – Ela
me olha espantada, processando aquilo.
– Eu estou entendendo o que você fez garota, você é danada. Porra! Não, eu
não quero que dê negativo. O que já é meu, é meu. – Sorrio.
– Seu bebê já está aí, Riley, tudo e o melhor que você pode fazer por ele, é
amá-lo. E você acabou de admitir que ele será, tanto por você, quanto por
Peter. Ele não poderia ter ganho pais melhores. – Ela suspira.
– Parece que terei que dar o braço a torcer e ter aquela conversa com
Oliver sobre a agenda, muito em breve – admite e nós rimos.
– Não se assuste se vir decepção nos olhos dele quando você contar sobre a
sua gravidez.
– Eu sei que ele não quer filhos...
– Não, é bem o contrário. Passamos por um susto e ele torcia por esse
positivo enorme que você tem aí. Só que no nosso caso, foi a minha torcida
pelo negativo que levou a melhor.
– Você está brincando? Ele pirava só em falar...
– Pois ele está louco para ter um bebê nos braços também.
– Então tudo que você me disse não se aplicaria a você?
– Claro que se aplicaria. Se já estivesse aqui, iria amá-lo. Mas seria um
amor amedrontado, preocupado e não por não me achar capaz, por outras
neuroses... Neste momento, sou bem grata pelo tempo a mais que me foi
concedido. Além de que, nem pude estudar, trabalhar, e quero muito fazer estas
coisas...
– Você está certa. Oliver que espere até os quarenta. – Rimos.
– É uma boa marca.
– É sim. – Ficamos uns minutos em silêncio, o som do mar embalando a
calmaria. – Bia, obrigada – diz por fim.
– Não por isso. Só ajudei você a descobrir como se sente sobre o assunto. –
Ela sorri.
– E me desculpe pela forma como agi com você naquela entrevista. Eu
estava...
– Com ciúmes e tentando protegê-lo – completo.
– Sim – confirma.
– Entendo bem a parte do ciúme, admito. Está desculpada. E não se
preocupe, eu realmente o amo. Perdi por duas vezes a coisa mais importante da
minha vida para pôr o dinheiro em primeiro lugar, Riley.
– Eu comprovei naquele dia mesmo. A idiota ali fui eu. E quanto ao ciúme,
no que se refere a minha pessoa, não precisa se preocupar. Qualquer mudança
em nossa vida é difícil de encarar, por mais que seja para melhor. A gente
passa por um pequeno luto, foi o que aconteceu comigo. Mas hoje percebo e
entendo que estava mais do que na hora de encerrar o ciclo. Não quero voltar
aquilo de jeito nenhum. Outra vez, sinto muito pelo meu comportamento.
– Vamos esquecer. Você já pediu desculpas, eu já desculpei. Não guardo
ressentimentos.
– Esquecido então. Agora eu vou. Tenho uma bomba para jogar no colo de
um futuro pai.
– Boa sorte e meus parabéns!
– Obrigada.
Volto para a casa de Helen, pensando na ironia da vida. Nos descuidamos
tantas vezes e mesmo assim não engravidei. Riley, num único descuido, bingo.
Só posso chegar a uma conclusão, era para ser.
– Finalmente primeira-dama, já estava prestes a ir ao seu resgate.
– Hazel? O que faz aqui? – Ela me abraça e me analisa.
– Max me ligou hoje de manhã pedindo para eu passar o dia aqui, ele
precisou sair e não queria que Helen ficasse sozinha, achou que ela não estava
bem e sabia que Laura tinha o jantar para organizar. Mas e você? Como está?
Fez o teste?
– Não foi necessário. Minha menstruação desceu esta madrugada.
– Ufa. Aliviada, imagino?
– Sim, muito.
– E o estrela?
– Ficou triste, decepcionado, mas acho que no geral ele está bem.
– Claro que está. Venha, vamos entrar e nos juntar a Helen e Laura.
Passamos a manhã ali, em torno de Helen. A mulher hora interage
normalmente, hora tem o olhar perdido em algum ponto dentro de sua própria
mente. E um semblante triste que não a abandonou em nenhum momento, nem
nos que ela riu de alguma coisa espirituosa que Hazel e eu tenhamos dito. Ela
acaba propondo que almocemos todas juntas, e nenhuma de nós tem coragem
de lhe negar algo que possa a alegrar de alguma forma.
Estamos à mesa, finalizando nossa refeição, Hazel começa a contar a Laura
sobre os seus planos de viagem e estudo, e percebo Helen entrando no modo
distante. De repente ela segura a mão de Hazel e a encara.
– Você não vai desistir dele, vai?
– Eu... eu... como assim? – retruca Hazel, espantada.
– Não desista. Não queira passar a vida se alimentando de lembranças,
como eu.
– Helen...
– Está tudo bem, querida. Somos todas da família aqui e te amamos. Não
precisa negar, vejo seus sentimentos.
– Ele nem me nota – diz por fim, desistindo do disfarce.
– Ah Hazel, aí que você se engana criança, ele só nota você.
– Sim, você disse bem, me nota como uma criança. A sua princesinha.
– O amor dele sempre foi seu. Só falta você ajudá-lo a aceitar todas as
vertentes nesse amor. Ele está fixado em apenas uma. Max tem receio de
afastar o véu e enxergar a verdade. Acha que vai profanar o que viveram.
– Ela vai fazê-lo ver – digo. – Esse afastamento de Hazel tem outro objetivo
além do estudo. – Helen abre seu primeiro sorriso genuíno.
– Verdade? – pergunta Laura.
– Não tenho tanta certeza quanto Bia de que mudará as coisas, porém
preciso tentar. Mas será a minha última tentativa de chamar sua atenção de
outra forma.
– Você vai fazê-lo penar, não vai? – pede Helen, divertida.
– Espero que sim – responde Hazel.
– Ótimo – aprova Helen e nós rimos.
Recebo uma mensagem de Oliver avisando que em quinze minutos o carro
chegará para me buscar. Penso em levar Hazel comigo, mas olho para Helen,
finalmente mais animada e uma ideia me ocorre.

Baby, algum problema se vocês


tiverem plateia?
Pode vir, anjo, você também
trabalha aqui, lembra?
Mais plateia
Como assim? Quem?
Pensei em levar Helen.
Almoçamos com ela e está bem
mais animada

Pode trazer, faça uma surpresa


para Max. Será bom para
tranquilizá-lo

– Vou até a Three Minds assistir a primeira passagem de três músicas


novas, o carro deve estar chegando. Que tal irmos todas?
– Adoraria, mas preciso ir para casa verificar as coisas para o jantar.
– Laura, creio que antes das cinco estaremos de volta, por favor, vamos,
Oliver ficará feliz em vê-la lá. – Faço um discreto gesto com a cabeça em
direção a Helen e Laura entende.
– Tudo bem
– Não sei... – diz Helen.
– Sem essa Helen, você vai! Senão, minha futura sogra, eu juro que nunca
lhe darei netos.
– Bom, com essa ameaça não tenho como arriscar.
– Isso! – comemora Hazel e a abraça.

Por instruções de Oliver, entramos na gravadora pelo elevador privativo da


garagem, que só tem os botões do térreo e do terceiro andar, onde fica o
estúdio de gravação. Conforme avançamos pelo corredor, é possível ver os
quatro num canto do estúdio discutindo algum detalhe. Bato na porta e abro-a
em seguida. Quatro pares de olhos viram em nossa direção.
– Mãe?
– Vó? – dizem Max e Oliver ao mesmo tempo.
– Trouxe plateia, espero que não se importem – digo me dirigindo a Lian,
Kellan e Max.
– Claro que não, Bela-Bia, lindas mulheres são sempre bem vindas –
galanteia Lian, vindo nos receber.
– Concordo – diz Edgar, entrando na sala e direcionando o olhar sobre
Laura.
Oh, oh, impressão minha ou Laura desviou os olhos e ficou sem graça?
Perco meu momento “observação”, pois braços fortes me puxam, o cheiro dele
me envolve e sua boca está na minha. Oliver realmente não se importa com
plateia, pois aquele beijo vai esquentando e, oh delícia, ficando... uhmm...
perigoso. Não demora, os meninos começam a zoar, acompanhados por Hazel
e voltamos a realidade. Ele apoia a testa na minha.
– Que saudade, pequena.
– Percebi Mr. Rain, percebi. Também senti sua falta, baby.
– Esse não é o comportamento esperado no local de trabalho, estagiária –
diz Edgar, me abraçando e afastando-me de Oliver, que bufa.
– Eu só estava atendendo as demandas urgentes do outro chefe – respondo,
fazendo-o rir.
– Pois aqui, o único chefe que você precisa prestar contas sou eu, então
todos ao trabalho. Inclusive você – olha na direção de Max, que estava perto
das mulheres, agarrado a Hazel. – As nossas convidadas, por favor, podem se
sentar naquelas cadeiras ali atrás – pede. Oliver abraça Laura.
– Que boa surpresa vó, Helen, acho que faz muitos anos que as duas não
entram neste estúdio, não?
– Sim, muito tempo, praticamente estivemos aqui algumas vezes lá no
começo da Three Minds – diz Helen.
– Verdade. Bom, fiquem à vontade. Oi Hazel – cumprimenta lhe dando um
beijo na bochecha.
– Bia, quero que você faça uma breve descrição e anote os pontos fortes
que perceber em cada uma das músicas que Oliver vai nos apresentar, inclua aí
aquilo que vai fazer as pessoas se conectarem ou se identificarem com a
música. E também os pontos que achou fracos e que devemos trabalhar – pede
Edgar, me entregando um tablet. Não esperava por aquilo, mas vamos lá. –
Muito bem Oliver, nos fale da primeira música. – Oliver caminha até o piano,
pega algumas partituras e entrega aos meninos.
– A primeira, que chamei de Paradox, tem uma pegada bem hard.
– Contextualize.
– Basicamente fala de um duelo. Da luta travada na escolha entre duas
forças opostas, porém igualmente poderosas, uma expõe seus medos e te
impulsiona ao impensável, a outra te mantém no caminho e garante a sua
constância. Olhando assim, a escolha é óbvia, mas só o fato de você pensar
sobre, transformando o impossível numa opção, mostra que o seu desejo e
decisão estão na outra. Por isso o paradoxo.
– Muito bem, vamos ouvi-la.
A música tem uma introdução tensa, mas lenta, com um lindo e constante
dedilhado de guitarra, como se fosse a preparação para algo, aquele momento
em que oponentes se conhecem, se analisam e o coração acelera em
antecipação à batalha. Eu diria que é até, um pouco, sinistra. Porém, logo
depois tudo explode. O baixo, a guitarra, a bateria e a voz, juntos, num ápice
único. Indicando que a luta já iniciou no auge da guerra e ali será o viva ou
morra. Sem segunda chance. A letra é complexa, e o sentimento de som e letras
juntos é angustiante. Há dor, medo, indignação, anseios. O refrão quebra o
frenesi, fica só voz e bateria leve, o ritmo diminui, um desfecho é inevitável,
alguém tem que ceder. A briga recomeça trazendo mais conflito e profundidade
para o dilema, para o paradoxo. O refrão volta e a última estrofe entra e
termina de supetão, deixando o futuro em aberto.
– A música é ótima Oliver, hard rock puro, mas bem construído, elaborado,
a letra é muito inteligente, sujeita a várias interpretações, o que é ótimo, pois
possibilita que se encaixe em várias realidades. Antes de dar as minhas
considerações de melhorias técnicas, quero ver o que Bia diria primeiro. Por
favor, Beatriz, vá falando e me deixe ler suas anotações. – Engulo em seco,
Edgar vai me testar, hora da verdade.
– Em toda música pude sentir a luta interna e a angústia, se foi isso que você
quis passar, meu bem, ficou muito claro. O refrão é perfeito, vai pegar, aquela
quebra com a marcação suave da bateria, já vejo o estádio inteiro marcando
junto e cantando, é lindo. Adorei o dedilhado sinistro da guitarra do começo.
– Sinistro? – pergunta Oliver rindo.
– Sim, sinistro, poderia estar num filme do Hitchcock. É muito bom, eu
exploraria mais, colocaria após os refrões, para trazer a tensão para o próximo
verso. E a última estrofe, é ótima a ideia do final abrupto, porém parece que
faltou algo ali, não sei dizer o que, mas faltou... talvez a melodia deva iniciar
diferente, num crescendo, já que o final é inusitado. – Ele pensa um instante,
então pega a guitarra.
– Algo assim? – Canta o refrão, emenda o dedilhado sinistro e depois faz
um crescendo de guitarra com uma letra improvisada até engatar na última
estrofe.
– Isso! Agora sim – digo. Edgar me olha com o sorriso aberto. Acho que
marquei um ponto.
– Por incrível que pareça, você já fez duas das minhas três considerações.
Parabéns, realmente o dedilhado e o crescendo trouxeram mais riqueza ao
arranjo. Eu quero acrescentar ainda um pequeno solo de guitarra entre o
primeiro e o segundo verso. Lian, pode criar algo até segunda?
– Posso sim, vamos na linha do sinistro?
– Sim, pode manter o tema. Vamos passar de novo, acrescentando as
alterações. Lian, improvise o solo por agora.
Eles tocam Paradox novamente e, uau, vai ser sucesso certo.
– Ok, está ótimo. Lian ajustando o solo e Oliver a letra da nova parte da
melodia, terminamos com ela. Oliver, se quiser, já pode falar sobre a segunda
música.
– Essa tem um estilo mais progressivo, misturado com um rock de garagem.
Chama-se Fool’s Mate, o mate do louco. É o mate mais rápido do xadrez, em
que, apenas com dois lances, a dama – ele olha para mim – dos olhos negros,
põe fim ao jogo. O rei não teve tempo nem de ver o que o fez cair e fica sem
opção de fuga. A dama é letal e a ele, o tolo, louco de amor, só resta entregar o
corpo e a alma em suas mãos. – Começa a tocar e os outros o acompanham.
A música prende, domina, assim como um jogo, marca cada lance, cresce,
acalma, tensiona, alivia. E a letra enche meus olhos de lágrimas. Fica claro
que é a história do nosso começo ali, a surpresa, o fascínio, a tensão, que
representa o próprio jogo, o ataque, os momentos que nos deixamos levar pela
atração, a defesa, os momentos que tentarmos resistir a ela e o ciúme tomou
conta, e por fim o mate, a constatação que não tinha mais volta, tínhamos que
nos abrir para aquilo, era inevitável. Tudo permeado por referências a
situações e emoções que só nós dois entendemos exatamente o que significam.
A luz que ele enxerga em mim, baunilha e menta, o fogo que nos consumia a
cada vez que nos encontrávamos, mas não podíamos nos tocar, nosso momento
no trapiche, a entrega, o fim da partida, as suas mãos me explorando no ritmo
da música, antes do primeiro beijo naquela pista de dança, as emoções que nos
dominaram na primeira vez em que unimos nossos corpos. O amor tomando
conta. Minhas lágrimas escorrem e Oliver não está diferente, rosto banhado, a
voz falha um pouco, mas consegue manter o tom até o fim.
– Não sei se minha estagiária conseguirá falar algo coerente sobre esta, já
que nem mesmo as anotações ela fez. – Puta merda, fiquei tão presa na música
que esqueci do trabalho. – Vou dar um desconto pelas lágrimas do casal. – Não
me seguro, ando até ele e o beijo.
– É perfeita, amor. – Passo a mão por seu rosto, secando suas lágrimas.
– Para você, anjo. – Nos beijamos outra vez.
Volto para o meu lugar, mas não deixo de notar Laura, Helen e Hazel
também emocionadas. Fungando e secando os olhos.
– Oliver, está mais do que explícito o tanto de emoção e amor que você
depositou nessa música. A batida está ótima, nem lenta demais e nem agitada
demais, condiz com a letra, o solo de guitarra também casou bem, creio que
por ser um relato da história de vocês, ele deva ficar com você mesmo ao
invés de Lian. Fora isso, penso em acrescentar alguns efeitos na edição, mas
de resto para mim está pronta. Vamos à última.
– A última música é um rock com um pé no blues, para trazer sensualidade.
É algo novo para a The Order, não sei se vão gostar – diz olhando para os
companheiros de banda.
– Já fizemos música com influência de blues antes – diz Max.
– Sim, mas nesta deixei bem mais característico e o metal está bem suave, o
que a traz para o pop rock, talvez. Se não gostarem, podemos repensar. O tema
aqui é o desejo, o quanto o desejo toma proporções diferentes quando há outro
tipo de sentimento envolvido. E só depois de sentir e se entregar a esse nível
de desejo que é possível entender o verdadeiro significado da palavra paraíso.
Apresento, Eden.
Oliver está de sacanagem.
Porra!
A música é tesão puro, não tenho como usar outra descrição. Impossível não
se pensar numa cena quente, e pior, com ele.
É o que todas vão desejar e imaginar quando o meu gostoso namorado
estiver no palco, com o seu já tão natural apelo sexual, cantando aquela
música.
Puta que pariu!
Não sei se gosto... estou tentando manter o meu olhar puramente
profissional, mas, senhor, é difícil, muito difícil, mesmo sabendo que ele fala
do desejo entre nós, do tipo de conexão que só é possível com a pessoa certa.
Estou molhada só de vê-lo assim na passagem da música, pensa quando houver
todo o clima de palco, com cenário, figurino e luzes condizentes, ele
colocando o máximo da emoção nas expressões e na voz. Será tentação ao
extremo.
– Caramba... Bia tá ferrada. – Escuto Hazel murmurar atrás de mim quando
a música termina.
– Beatriz, pode nos dar o seu parecer? – pede Edgar. Fecho os olhos,
respiro fundo e fuzilo Oliver.
– É provocante... muito... demais! – Max e Lian caem na gargalhada, e
Oliver se segura para não os acompanhar. – Você tem noção do que você vai
fazer com a plateia ao cantá-la, não tem?
– É sobre nós, baby – tenta ao mesmo tempo me engabelar e conter o riso.
– Eu sei, mas... porra, Oliver! – Ele perde a batalha e explode, as mulheres,
Kellan e Edgar acabam acompanhando também.
– Será que a minha funcionária poderia se ater à análise técnica ao invés do
ciúme futuro? – Edgar tenta voltar o foco ao trabalho.
– Desculpe. Óbvio que ela deixa muito claro ao que veio. Está mesmo
remetendo ao pop rock, mas o tom de blues traz a elegância e o refinamento.
Eu acho que esta música atrairá o olhar de público novo para a The Order, o
que é bom. Vai estourar, com certeza. Mas penso também que temos que ter
cuidado para não desagradar o público cativo, então eu acrescentaria um
pouco mais de metal aos versos, talvez o baixo um pouco mais presente. Não
tiraria o clima sensual e elevaria um pouco o padrão. E o solo de guitarra, não
sei, está muito suave, parece que não fecha com o estilo da banda.
– Perfeito. Acho que muito em breve eu não serei mais necessário por aqui
– elogia Edgar, me fazendo corar. – Concordo com Beatriz, mas o solo de
guitarra não pode ser pesado demais para não destoar da música, talvez
precise de algum outro elemento junto que o eleve. Vou pensar no que
poderíamos acrescentar.
– Será que um solo de guitarra e gaita de boca não ficaria interessante? Like
a Rolling Stones? – pergunta Kellan.
– Sim, ficaria, num estilo Love is Strong, é sensual, encaixaria bem. Mas
alguém toca gaita de boca aqui?
– Tenho praticado bastante. Posso tentar bolar algo com Lian.
– Ok Kellan, preparem algo sobre isso e o arranjo, deixando o baixo mais
evidente e vamos ver na segunda como fica. Mas tem mais um ponto que, na
minha opinião, podemos melhorar. O refrão, sei que a The Order nunca fez
isso, mas a música já incorpora novas possibilidades, então porque não tentar?
Eu acho que neste refrão ficaria bom um back vocal mais agudo. – Ele olha
para mim. – Bia, se importa de passar junto com Oliver para testarmos?
– Tudo bem, um tom acima ou mais?
– Vamos testar um tom. Podem ir direto do refrão.
Oliver me entrega um microfone assim que me aproximo. Começam a tocar
o refrão e quando entra a voz, vou junto com ele um tom acima. Fica bom, mas
conforme vamos cantando, uma alteração nesta ideia me ocorre, já que é para
ser sensual, por que não? Assim que acabamos, faço sinal para Edgar esperar
um pouco e sussurro minha ideia no ouvido de Oliver. Ele concorda e pede aos
outros para esperarem e não tocarem junto desta vez. Testa uma vez primeiro
sozinho a harmonia incluindo as alterações que sugeri, que é duplicar os
compassos do refrão, para que eu possa fazer um contraponto iniciando
atrasado, acrescentando pausas entre uma voz e outra, mas as duas mantendo o
ritmo original.
– Pronta, vamos tentar?
– Sim, pode tocar. – Ele toca a harmonia e entra com a voz, eu entro no
contraponto dois tempos depois, ele termina dois tempos antes de mim, e assim
seguimos, cantando sobre o nosso desejo, um olhando nos olhos do outro, onde
ele fala ela, eu falo ele, com a mesma paixão. Terminamos os dois com um
sorriso no rosto e cheios de segundas intenções no olhar.
– Perfeito, é assim que tem que ficar. – Max se empolga. – Vamos uma vez
mais com todos os instrumentos. – E assim o fazemos. Realmente atiçou ainda
mais o calor do refrão.
– Tem que manter assim, e a voz tem que ser você, Bia – afirma Max.
– Não. – Oliver e eu falamos ao mesmo tempo.
– Sim – diz Lian. – Concordo com Max, tem que ser você e não se fala mais
nisso. Será a participação especial da próxima turnê. Ou vai querer Oliver
cantando esta música com alguma celebridade afetada por aí? Ainda mais que
ele fará o clipe...
– Lian, cala a boca! – Corta Oliver.
– Que clipe?
– Esta música terá um clipe de trabalho. Será o carro chefe da turnê. E
Oliver vai contracenar com uma mulher – conta Kellan, aparentemente se
divertindo com o comentário. – A animação me abandona. Só imaginar ele
fazendo cenas desta música com outra... não serão cenas inocentes.
– Bom, faz parte do trabalho, não? – digo, tentando manter a maturidade. –
Que seja! – Volto para o meu lugar.
Impressão minha ou Oliver está rindo?
Tudo bem. Vamos ver como reage...
– E sim, aceito cantar na turnê. – O sorriso dele some na hora.
– Muito bem, Bela-Bia, não vamos deixar que apenas as garotas tenham os
desejos aguçados por Eden. – Comemora Lian.
– Ainda vamos decidir sobre isto. Em casa – diz Oliver.
– Por mim, está decidido – reforço. Ele bufa.
– Por mim também – diz Edgar. – Ficou muito bom, as vozes juntas são o
oposto perfeito. A conexão evidente dá veracidade e vai sim levar o público à
loucura. Você é muito criativa, Bia. Estou ainda mais impressionado.
– Obrigada. – Não caibo em mim por receber elogios dele. O que quase me
faz esquecer a história do clipe... quase...
– Muito bem, encerramos por hoje. Amanhã mantemos as agendas conforme
combinado e Beatriz, você aqui, à tarde, faremos a primeira aula teórica.
– Ok.
– Vemos você mais tarde, no jantar, não é Edgar? – pergunta Helen.
– Sim, estarei lá. Até mais. – Se despede. Percebo Laura novamente sem
encará-lo diretamente. Que estranho.
– Parabéns, baby, – Oliver me abraça – estou muito orgulhoso de você.
Mandou muito bem. – Beija meu pescoço.
– As músicas são incríveis.
– Minha fonte de inspiração é incrível.
– Certa vez, você garantiu que não havia uma fonte. Havia apenas,
inspiração. – Dou um sorrisinho de lado e faço um gesto no ar com a mão, da
mesma forma que ele fez naquele café da manhã.
– Verdade. Foi em outra vida. Quando eu ainda guardava convicções e
ingenuamente acreditava que havia alguma chance de resistir a você. – Qurto o
atacar depois. Mas devido às circunstâncias, me contento com um beijo.
– Com quem você fará o clipe? Já está definido? – pergunto sem saber se
quero ouvir a resposta.
– Já. Podemos falar sobre isto amanhã? O trabalho hoje foi pesado, estou
com fome, vários tipos de fome, aliás. Temos o jantar mais tarde, conversamos
com calma em outro momento sobre o clipe e sobre a história de você cantar
nos shows, tudo bem?
– Tudo bem. – O abraço. – Também estou com fome, uma bem específica. E
a sua música sensual só contribuiu para piorá-la.
– Meu Deus, criei mesmo um monstro voraz. Vamos para casa ver como
resolveremos o seu problema, Chucky. – Rio.
– Aff, você precisa renovar sua lista, viu? Chucky, sério? Não assusta mais
nem criancinha hoje em dia e só serve para denunciar a sua idade – digo
enquanto andamos abraçados, seguidos por Laura, em direção ao elevador.
– Os clássicos nunca envelhecem, lembra?
– Lembro, claro, assim como as obras de arte e os vinhos.
– Ah sim, os vinhos... bem lembrado, bem lembrado...
Capítulo 22

“Movido apenas por amor vou em frente


E é sempre, apenas, por amor que eu reduzo
Às vezes certo, às vezes meio confuso
Mas sempre forte, sempre, sempre mais quente”
(Por Amor – Ira)

Bia

P or que tanto mistério sobre o projeto que encurtou as


férias de vocês? – pergunto assim que entramos no quarto
depois de um rápido lanche na cozinha.
– Não é mistério, só não quis contar antes de ter certeza que daria certo. E
de qualquer forma, em poucas horas você saberá o que é e os porquês. Deixe
de me importunar com isso e segure a sua curiosidade, senhorita Thompson.
– Qual a vantagem em ser a namorada do astro se não se tem acesso às
informações privilegiadas?
– Terei de lembrá-la das várias vantagens dos seus acessos privilegiados,
dona engraçadinha? – ele me abraça por trás e no mesmo instante seu cheiro e
seu toque reacendem todos os meus sentidos.
Oliver Rain e seu efeito instantâneo.
– Hummm. É a melhor ideia que você teve hoje, rockstar.
– É mesmo? – Afasta os meus cabelos para ter acesso a minha nuca. –
Pensando bem, eu concordo. – Desliza os lábios por ali e arrepios correm pelo
meu corpo de cima a baixo.
– Tão macia, tão cheirosa. Uma deusa!. Gostosa! – Sobe os dedos pelos
meus braços lentamente – Num olhar eu me perdi. Pulsação sem veia de
retorno. Meu tesão sem limites. – Desce os dedos por onde veio, mas levando
as alças do vestido com ele. A peça cai aos nossos pés. – O desejo proibido. A
febre que me consome. Meu lugar preferido no mundo. Ela é o Eden. – Retira
a sua camiseta enquanto declama os trechos da canção.
Seu peito em minhas costas, seu calor no meu calor.
– Assim, na pele contra pele, poderíamos inflamar o inferno, baby. Você
sabe. Feito sódio puro em água clara.
– Baby... – Suas mãos tomam o meu ventre, estremeço. Sua voz grave, que
tanto amo no meu ouvido, é tesão além do suportável.
E pensar que ele estará assim, com outra, num clipe...
– O paraíso que a seta aponta. – Sinto a direção da seta, firme, dura,
magnânima, contra a minha bunda.
Suas mãos sobem devagar, migram para os meus seios, brincam com os
mamilos enquanto beija meu pescoço, meu sexo pede, pulsa, arde por ele.
– Só para ela, só por ela, só com ela. – Arde não, queima. Estou por um fio
só com seu toque, suas palavras e sua provocação.
Deus, como ele é bom nisso!
Não posso mais esperar.
– Amor, me come.
– E eu aqui tentando ser romântico... – Uma mão desce pela minha barriga
até alcançar o meu sexo, a outra continua nos meus seios.
– Com força.
– Porra...
O pau duro e quente tentando atravessar o tecido fino da minha lingerie.
– Agora Oliver!
– Não está dolorida por conta da menstruação? – Inferno, esqueci
completamente.
Preciso tanto dele!
– Merda! – praguejo, frustrada. Ele põe a mão por dentro da calcinha.
– Eu não me importo com a menstruação anjo, só não quero te machucar. –
Senhor... que delícia... preciso, muito...
– Não vai – murmuro, excitada demais, e no instante seguinte sinto-o em
todos os lugares ao mesmo tempo.
Mãos, boca, barba, cheiro, ardente, urgente, me empurrando contra a parede
do quarto, onde apoio as mãos
Uma mão desce a minha calcinha até o meio das coxas, a outra abre a sua
calça e num arremate certeiro, está dentro de mim, me preenchendo inteira,
tomando o que é seu.
– Aaaaaaaah, Oliver. – Eu gozo na terceira investida, de tão excitada.
Isso, era isso, era assim, era dele que eu precisava, que eu preciso.
– Como pode, Bia? – diz enquanto entra e sai de mim, vigoroso e ofegante.
– O que é isso entre a gente? – Me inclina um pouco para frente e apoia a testa
nas minhas costas, enquanto intensifica o ritmo. – Que força é essa que nos faz
queimar desse jeito? – Roça os lábios quentes por toda a minha coluna. – Que
saudade de te sentir assim, pequena, entrar em você sem a merda da camisinha.
– Eu te amo. – Suas mãos passam por baixo da minha axila e se seguram
em meu ombro, me prendendo a ele. Começa a meter muito, muito forte, sem
aliviar.
– É forte o bastante para você, baby? – Tanto que dói. – Diga.
– Você está acabando comigo.
– Está gostoso?
– Demais.
– Era o que você queria, amor? Meu pau fundo, rasgando a bocetinha?
– Exatamente assim. – Sinto o orgasmo chegando de novo.
– O fim está próximo. Líquido e certo.
– Toma então Beatriz e goza para mim outra vez, vamos... estou me
segurando aqui, baby, quero jorrar dentro de você.
– Baby...
– Ah pequena, minha delícia! Por falta de definição, esse desejo sem
precedentes, eu chamo de...
– Oliver!
– Meu Eden... Bia... – Sinto sua respiração ofegante no meu pescoço, o
jato quente me inundar e depois escorrer pelas minhas pernas, enquanto ele me
segura para que eu não caia.
Estou entregue.
Entregue a ele de corpo e alma.
Aprisionada em seu majestoso domínio.
Para sempre.
– Isso foi...
– Foi. Incrível. Perfeito.
– Sim. Cada vez melhor. Se eu perguntar uma coisa você me responde com
sinceridade?
– Claro.
– Você não sente falta?
– Do que?
– Das festas, da sua vida sexual de antes...
– Está de sacanagem, né? Porra... eu não fazia ideia de que o sexo podia
alcançar voos tão altos, meu bem. Hoje só posso sentir pena de quem eu era
antes de você desembocar na minha praia.
Ah, rockstar.
Como vou conseguir vê-lo em cenas sensuais com outra?
Vai acabar comigo...
– Oliver, não me conte.
– O que, meu amor? – Me viro de frente para ele e afasto os cabelos
molhados de suor do seu rosto.
– Não me conte quem é a mulher. Não me conte o dia que irão gravar. Não
quero ver o clipe, promete? – Ele me ergue e começa a caminhar comigo para
o banheiro.
– Não posso prometer isso, Beatriz.
– Por quê?
– Não há como você não ver o clipe, anjo. Vai passar nos shows. A não
ser que não queira mais acompanhar o seu namorado na próxima turnê, em
algum momento você verá. – Ele nos coloca sob o chuveiro e o liga, o jato de
água fria causa um choque contra nossos corpos quentes e suados.
– Precisa ser você mesmo na cena? Não poderia ser Lian ou Kellan?
– Precisa ser eu baby, estratégia de marketing, logo mais você vai
entender. Mas só para eu saber, por que excluiu Max das possibilidades?
– Ah... nada não... só não falei... – Ele me olha desconfiado.
Putz, vamos mudar o foco.
Pego o sabonete e começo a lavá-lo.
– Sabe dona sabichona, desde aquele dia no karaokê eu fiquei com uma
pulga gigante atrás da orelha e estou com umas perguntas para fazer. Perguntas
que só não fiz ainda porque tenho medo da resposta...
– Então não pergunte.
– Puta que pariu!
– O quê?
– É verdade.
– O que é verdade, Oliver? – Eu que não vou entregar o ouro sem ter
certeza de que ele está de posse do mapa certo.
– A paixão de Hazel. É Max, não é?
Fodeu.
Não sei mentir.
– Não me faça responder, baby.
– Nem precisa mais. A sua esquiva já foi o suficiente para confirmar. Que
grande merda!
– Por favor, não conte nada.
– Contar? Nem pensar. Max ficaria arrasado. Ele idolatra aquela menina.
Tem um amor e um cuidado por ela sem igual. Se apenas suspeitar que ela
sente desejo por ele, é capaz de se afastar daqui. Ele se culpará até a próxima
encarnação.
– Hazel diz a mesma coisa.
– Que bom que ela tem noção, porque é verdade. Ela jamais poderá
externar.
– Ela o ama como mulher. Muito.
– Eu sinto muito por ela, mas se quiser continuar tendo-o por perto,
precisa sufocar o sentimento. Deixar bem escondido. E acho que a minha
bunda está bem limpa Beatriz, você já pode largá-la – diz, tirando o sabonete
da minha mão e acabando com a minha diversão. – Minha vez.
– Eu não tenho tanta certeza assim.
– Que a minha bunda está limpa ou que é a minha vez?
– Sobre Max...
– Isso acabaria com ele. É certo.
– Ele também a ama, Oliver.
– Como filha.
– Será mesmo? Ou é o que ele diz a si mesmo para se convencer de que
não há algo a mais?
– Desculpa, pequena, mas você está errada. Ele nunca olhará para Hazel
com segundas intenções. Ela dormia no colo dele quando era pequena. Ele a
alimentava, dava banho. Foi Max quem a ensinou a andar de bicicleta, ajudava
nas tarefas, quem levava e buscava nas festinhas de aniversário. Alicia e
Johnathan trabalhavam muito, Lian cuidava dos pequenos a maior parte do dia.
E como Max se afeiçoou demais a Hazel, era um alívio para ele ter com quem
dividir a carga. Se para mim que não participei tão ativamente é algo
inconcebível, imagina para ele. Acho que Max muda de sexo antes de deixar
que a ideia de a desejar como mulher passe por sua mente.
– Então perderemos a convivência com um ou outro. Hazel está no seu
limite.
– O término com Eric, foi por isso, não foi? Não teve nada a ver com a
história de estudar em Londres.
– Foi. Ela não conseguiu ir adiante na relação. E a ida para longe também
é pelo mesmo motivo. Talvez se afastando por um tempo... – Oliver ri.
– Espero que o tempo seja para que ela se cure da paixão e não na
intenção de que Max desperte para ela.
– Era a segunda, no caso...
– Esqueçam. Não vai funcionar.
– Ela precisa tentar ou vai embora daqui de vez.
– Ela disse isso?
– Sim. Se não funcionar, vai cursar a universidade bem longe daqui.
– Radical assim?
– Você conseguiria ficar por perto caso terminássemos?
– Perto de você sem poder te tocar? Jamais.
– Pois é. Hazel está nesta situação há tempos.
– Tempos?
– Sim, ela sonha em ser dele desde que começou a se descobrir. Éric foi
uma tentativa desesperada de mudar o foco.
– Como nunca percebemos?
– Helen e Laura perceberam. Alicia acredito que também saiba. Vocês é
que são desligados demais.
– Caramba.
– Também já estou bem limpinha aí embaixo, amor. Pare de provocar a
retaguarda quando não pretende entrar por ela. – Provoca mais, o sacana. – E
não pense que não percebi que você engatou o assunto sobre Hazel para mudar
a direção da conversa.
– Esqueça o clipe, baby. Vamos nos preocupar com ele quando for preciso,
ok?
– É o jeito. – Abraço-o e beijo seu peito. Ele ergue meu rosto e toma
minha boca, ficamos longos minutos ali, nos beijando enquanto a água cai
sobre nós.
– Agora que eu já cuidei das suas necessidades mais urgentes, Chucky,
vamos nos arrumar? Logo as pessoas começam a chegar e se continuarmos
aqui por mais tempo, o tora vai querer mais uma rodada de pique-esconde.
– Adoro brincar com ele.
– Você só brinca com ele, entendeu Beatriz?
– Sim, chefe.
– Boa menina.
– Você está bem? Sobre a história da gravidez...
– Estou sim, relaxe. No fundo eu sei que foi melhor assim. Aliás, gozei
dentro, imagino que por causa da menstruação não tenhamos problemas.
– Não teremos. Além da menstruação, comecei a pílula, não precisará usar
a armadura para atravessar o portal nunca mais. Pode inclusive se livrar do
baita estoque que mantém na gaveta do criado mudo. – Ele entorta o sorriso.
– Andou checando, é?
– Foi sem querer... mas caramba... nem me conte qual era a frequência da
reposição, não quero saber...
– Melhor deixar lá por enquanto, ninguém sabe... – Como assim?
– Você vai dar fim no seu arsenal de preservativos, ouviu? Jogue fora, dê
para os meninos, não me importa. Não precisamos mais.
– Calma anjo, eu só ia dizer que é muito cedo, talvez você não se adapte a
pílula e precisaremos delas novamente. Nada além disso, pare de pensar
bobagens...
– Bom, vamos dar um tempinho de sobrevida a elas então.
– Sabia decisão, esposa.
– Namorada!
– Só questão de tempo, pequena, só tempo...

Desde que voltamos de Los Angeles perguntei várias vezes a Oliver sobre o
tal projeto novo e ele não me deu nenhuma informação clara a respeito. Hazel
também não conseguiu arrancar nada relevante de Max ou Lian. Fiquei feliz em
iniciar antes o estágio e as aulas com Edgar, mas óbvio que minha curiosidade
está a mil.
Estou com um vestido azul petróleo, tomara que caia, tecido leve e
esvoaçante, perfeito para o clima de hoje. Me sinto linda nele. Está uma noite
maravilhosa, nem quente e nem gelada, brisa fresca, céu estrelado.
O deck foi aumentado uns bons metros e três grandes mesas redondas, de
uns dez lugares cada, foram colocadas no espaço. Um telão foi montado numa
ponta junto com alto-falantes e microfone. Um barman prepara drinks no bar e
alguns garçons estão a postos. A família já está toda ali. Alicia, Johnathan,
Helen e Laura numa mesa. Hazel, Max, Lian e Kellan em outra.
Passo pela mesa dos veteranos, cumprimento-os e me junto aos demais.
Hazel se levanta para me abraçar e, uau, ela está lindíssima, num vestido
vermelho, poderoso, que contrasta com os cabelos escuros, a pele clara e os
olhos azuis intensos.
– Ai, ai... temos tanta sorte não? Aqui, neste cenário pitoresco, à beira-
mar, numa noite linda e especial, tomando uma boa bebida e privilegiados pela
companhia de duas jovens beldades. O que podemos querer mais da vida? –
galanteia Lian.
– Vocês estão lindas meninas – elogia Max.
– Verdade – reforça Kellan.
Seu olhar de repente fica triste.
Conversamos muito durante o nosso passeio pela praia, ele finalmente está
bem com a minha escolha, mas sei que seus sentimentos ainda não morreram e
torço por isso, para o bem dele.
– Cadê o nosso vocalista? – Lian pergunta.
– Terminando de se arrumar.
– A boneca demora mais do que a mulher para ficar pronto?
– Eu não precisei fazer a barba – defendo-o.
– Ah não Bela-Bia, não tem defesa. É viadagem.
– Da última vez que chequei, e usei, as evidências apontavam o contrário.
– Lian faz cara de nojo. Max cospe a cerveja e gargalha. Hazel o acompanha.
– Por favor, Biazinha, não, não... não quero saber das evidências de
Oliver. Já tenho motivos demais para ter pesadelos à noite.
– Como se os quatro não conhecessem muito bem as evidências uns dos
outros, não é titio? Inclusive em plena ação. – Max e eu ficamos vermelhos na
hora com o comentário de Hazel.
– Sobrinha! Quando as crianças ficaram assim, tão abusadas, Max?
– O que você contou para a sua irmã, Kellan? – Max fuzila-o com os
olhos.
– Claro, como sempre, tinha que sobrar para mim. Não falei nada demais.
– Ah nem vem, você me contou coisas bem nojentas, irmãozinho. Sei
inclusive as medidas.
– Hazel! – interfiro.
Mas bem que fiquei curiosa...
– Você tem as medidas porque ficou me atazanando para saber quem tinha
o pau maior.
– Só atazanei depois que você revelou que faziam sexo em grupo.
– Pois tenha a certeza que nunca mais cometerei o erro de revelar nada,
irmãzinha. Já me provou que não dá para confiar.
Estou de costas para a porta, mas sinto a presença dele muito antes que se
aproxime da mesa.
Em seguida seu cheiro confirma minhas suspeitas.
Então um drink aparece a minha frente e uma mão pousa em meu ombro.
– Você me decepciona Kellan. Como pôde compartilhar estas coisas com
Hazel? – Max está puto.
– Compartilhar o que? – pergunta o recém-chegado.
– Nem queira saber. – O próprio adverte.
– Me atualize, baby. – Me beija e se senta ao meu lado.
– Desculpe amor, mas não tenho coragem de repetir. – Hazel revira os
olhos.
– Eu falei que sei que vocês quatro já viram o tamanho do estrelato uns
dos outros, foi só isso. Max faz drama demais.
– Não se esqueça das medidas dos dotes... – provoca Kellan, claramente
furioso com ela.
– Porra, e como o assunto foi parar nisso?
– Lian te chamou de viado e Bia te defendeu – explica o loiro.
– É um bom motivo. Obrigado, anjo – diz, mostrando o dedo do meio para
Lian.
– Resta saber se Kellan passou as informações corretas ou se valorizou
demais os próprios atributos. Hazel...
– Ah Lian, por favor! Dá para mudarmos de assunto? – Max perde a
paciência.
– Os primeiros convidados chegaram, Laura foi recebê-los. Não conheço,
quem são? – Hazel ajuda desviando o foco.
– São da equipe de Edgar. Patrick e Cynthia. Pelo visto, há mais um novo
casal na Three Minds – diz Lian.
– Estão juntos? – pergunta Oliver.
– Se entrar de mãos dadas significa que estão juntos, então sim.
– Rose, o marido, Willian e a esposa, e Edgar também chegaram – avisa.
– Ótimo. Logo todos estarão aí.
– Você não vai recebê-los? – pergunto.
– Vovó faz as honras. Depois cumprimento todos de uma só vez ao
microfone.
– Você é o chefe deles e o dono da casa.
– A casa é sua também. Quer ir receber seus convidados?
– Bela-Bia, responde que quer, por favor. Quero admirar a nova versão, o
Oliver sociável... – provoca Lian.
– Quem disse que vou junto? Bia e vovó são altamente capazes de
completar a missão com sucesso.
– Como assim, Oliver? Eu mal conheço as pessoas. Se eu for, você vai
comigo.
– Como é bom viver para assistir isso... – zoa o guitarrista.
– E reclama quando eu a chamo de esposa... – Me abraça. – Se é assim,
meu bem, ficaremos os dois exatamente aqui.
– Outra garota chegou. Também não conheço – diz Hazel.
– O nome dela é Iris, é da equipe da sua mãe. Nova na empresa – explica
Max.
– Está no lugar da louca dos avatares – completa Oliver.
– Pois se não fosse a louca, eu não teria aquele belo quadro no meu quarto
– defende Hazel.
– E eu não precisaria encontrar comigo mesmo todos os dias no meu
closet. – Hazel gargalha.
– Vejo que Oliver descobriu o seu segredo, amiga? – Só confirmo com um
balançar de cabeça.
– Que história é essa? – pergunta Kellan.
– Longa história, Kellan, longa história. Qualquer dia eu conto a vocês –
fala Oliver.
– A garota, Iris não é? Acho que está se sentindo um pouco perdida. –
Olho para trás e vejo a garota de pé num ponto do deck, olhando em volta sem
saber muito bem para onde ir e se deve se aproximar de alguém.
– Vou lá falar com ela, vem comigo, Hazel?
– Claro, vamos resgatá-la.
– Adorei o vestido dela Bia, a garota tem estilo. – Comenta enquanto
caminhamos até a menina.
– Sim, só me parece um pouco assustada. Pouco à vontade. – Me aproximo
e a abordo. Direta. – Oi, Iris, não é? Tudo bem? Sou Bia.
– Ah, oi... Bia, prazer. – A menina me olha como se eu fosse um ser
mitológico.
– Iris, sou Hazel, filha de Alicia e Johnathan.
– Prazer em conhecê-la, Hazel.
– Vimos que chegou sozinha, por favor, junte-se a nós na mesa com os
meninos – peço.
– Não, imagina, não quero atrapalhar.
– Claro que não atrapalha. Venha, há homens demais naquela mesa,
precisamos reforçar o time feminino – determina Hazel, já engatando o braço
da garota e a puxando em direção à mesa. Só me resta segui-las.
– Imagino que todos vocês já conheçam a Iris, não?
– Boa noite, Iris. Que bom que veio. Sente-se, fique à vontade. – Recebe-a
Max.
– Obrigada. – Abrimos espaço para que se sente entre mim e Hazel.
– Ela é fundamental na noite de hoje, Max. Não poderia deixar de estar
aqui. – Oliver comenta e deixa a menina encabulada com o elogio.
– Aceita um drink? – pergunta Lian.
– Aceito sim, obrigada.
– O que quer beber?
– Eu não gosto de nada muito doce, pode ser uma gin tônica.
– Tudo bem – diz Lian, que manda o pedido ao barman pelo aplicativo.
– Você vai implicar comigo se eu pedir um drink com álcool? – Hazel
aproveita e pergunta a Max.
– Depois da última demonstração de maturidade sua em relação à bebida?
Com certeza.
– Ah Max, vai, por favor, só um...
– Rá. Você não cumpre suas promessas, Hazel. Não vai ficar só em um.
– Tudo bem. Fechamos em três e eu prometo que cumpro.
– Quer saber, faça o que quiser. Infelizmente tenho que me conformar com
o fato de que não poderei estar o tempo todo te protegendo, então, que seja. –
Ela beija a bochecha dele.
– Não fique bravo, ruivo. Não vou extrapolar.
– O que você quer, Hazel?
– Acompanho Iris no gin tônica, Lian, obrigada.
– Seus últimos convidados chegaram Oliver – diz Kellan.
Olho para trás e a estonteante morena, de parar o trânsito, está se
aproximando na nossa mesa de mãos dadas com Peter, num lindo vestido preto.
Ainda mais bonita por ter a felicidade estampada no rosto. Oliver levanta-se
para cumprimentá-los e eu o acompanho.
– Riley, Peter, como estão? – Os homens apertam as mãos.
– Bem e muito felizes – responde o futuro pai.
– Fico feliz em saber.
– Oi Bia. – Riley me cumprimenta, trocamos um olhar cúmplice e ela abre
um sorriso que eu não consigo deixar de retribuir. – Oliver olha de mim para
ela, desconfiado.
– Sentam-se conosco? – pergunto.
– Obrigada, mas vamos fazer companhia a Willian e a esposa. Tenho
algumas figurinhas para trocar com ela. – Riley me dá uma piscadela. Pelo
visto o casal tem filhos.
– Fiquem à vontade.
– Obrigado Oliver. – Eles se retiram.
– O que foi que eu perdi, pequena?
– Também percebi, Bia. Desembucha – diz Hazel.
– Não sei do que estão falando.
– Ahã, sei. Você e Riley estavam que eram só sorrisos. – Lanço a ela o
meu melhor olhar de “não pressiona”.
– É coisa dela. Não é meu para contar. A hora que ela quiser compartilhar,
vocês vão saber.
– E você anda trocando segredinhos com ela agora? Eu já te disse que sou
uma amiga muito ciumenta?
– Você é muito mais que uma amiga para mim.
– Ah Bia, como resistir a você? Nem o intragável Deus do Rock
conseguiu, não é? Depois dessa, está perdoada.
– Intragável o cacete... Mas também estou curioso, baby. Você e Riley
compartilhando segredos? É inusitado. – Seguro seu rosto e o beijo.
– Você logo saberá, Mr. Rain. – Oliver me abraça, e aproveito para me
escorar em seu peito.
Quando, há poucos meses, eu imaginaria que a minha vida me propiciaria
um momento perfeito de normalidade como este?
Eu, aconchegada nos braços e no calor do homem que eu amo, à beira-mar,
numa roda de amigos, jogando conversa fora e aproveitando a noite.
Era um sonho muito distante da realidade que se apresentava a minha frente.
Estou tão feliz! Tão em paz!
Assim que saio dos meus felizes devaneios, me dou conta da garota que
sentou ali e até agora não abriu a boca... bom, talvez não tenhamos lhe dado
chances...
Olho para ela, que observa atentamente o ambiente.
– Iris, nos conte como chegou até a Three Minds. – Como se ouvisse meus
pensamentos, Lian quebra o silêncio e inclui a menina.
– Houve um projeto na faculdade. Nos disseram que os três melhores
trabalhos concorreriam a uma vaga de estágio numa gravadora renomada. O
meu foi um dos três, então passei para a fase das entrevistas, primeiro com
Rose, depois com Alicia. Claro que eu não fazia ideia que era a Three Minds.
Jamais imaginei, na verdade. Seria muita coincidência.
– Você disse estágio? Mas você é coordenadora do audiovisuais, não é? –
pergunta Max.
– Sim. Alicia gostou muito da minha entrevista. Então me deu mais alguns
trabalhos para desenvolver, como teste. Quando ela viu o que eu entreguei, me
ofereceu a vaga.
– Impressionante. – Max a elogia.
– Iris, você disse que seria muita coincidência se fosse a Three Minds, por
quê? – pergunto.
– Lian não deve se lembrar de mim, – diz olhando para ele – mas sou a
filha de Ruben, o amigo de bebedeira do pai dele. – Lian de repente fica com o
pálido.
O pai dele era alcoólatra?
A garota percebe que falou demais.
– Meu Deu, que falta de tato a minha, desculpe Lian, não foi por mal, só
saiu...
– Não se preocupe com isso. Não faço segredo de que meu pai tinha
problemas com bebida. Me espantou é te rever... Iris Garcia, certo? – pergunta
abismado.
– Sim, sou eu.
– Nossa... não é uma fase da minha vida que goste de lembrar, fui
esquecido muitas vezes na sua casa, não?
– Esquecido é gentileza sua. Minha mãe era enfermeira e trabalhava à
noite. Te obrigavam a ficar lá e cuidar de mim para irem para a farra, isso sim.
E ficávamos os dois, tensos, pensando em como eles voltariam e ao que nos
submeteriam. – O olhar dela não está menos dolorido do que o dele.
– Melhor mudarmos de assunto se não quisermos estragar a nossa noite.
– Verdade – admite ela, suspirando.
– Jamais a reconheceria.
– É, faz muito tempo, eu era pequena demais e além disso costumava ser
bem magrinha, não é mesmo? O que não é mais o caso... – Ri de si mesma, mas
fica claro que é mais nervosismo do que outra coisa. Ela suspira. – Descontei
na comida por muitos anos os meus infortúnios da infância, e sempre lutei
contra a balança.
Iris é uma garota gordinha, o que não diminui em nada a sua beleza, bem
pelo contrário, tem os olhos verdes e os cabelos ruivos lisos e compridos,
naquele tom laranja claro, lindíssimo.
– Só para deixar claro, meu comentário não foi neste sentido, jamais. Você
é linda do jeito que é, não tem com o que se preocupar.
– Obrigada.
– Ora, ora, as surpresas da vida... – Lian abre um sorriso, nunca óbvia
tentativa de retomar o seu bom humor costumeiro. Mas é forçado, bem forçado!
– Alicia me disse que você tem apenas vinte anos. – Oliver muda de
assunto.
– Sim, mas logo faço vinte e um. Eu terminei os estudos dois anos antes do
normal. Entrei adiantada na faculdade.
– Sério? Puxa, parabéns! – elogio.
– Sim. Quando tinha oito anos, fizeram testes de QI na escola e me sai
bem. Ganhei uma bolsa para um colégio especial, isso me salvou... – confessa
olhando novamente para Lian, que demonstra entendê-la. Mesmo assim, Iris de
repente tem o olhar esquivo e perdido...
– Preciso... onde fica o banheiro? – pede abalada.
– Te mostro, vou com você. – Hazel se oferece, entendendo que não é um
bom momento para deixá-la sozinha.
– Vou também. – Decido e me levanto.

Oliver

– Um dia eu vou descobrir o porquê de irem sempre em bando ao


banheiro... – Digo para aliviar o clima assim que as meninas se vão.
Olho para Lian, que não ri, nem debocha da minha observação. Ele não está
bem.
– Irmão, tudo bem?
– Não... muita merda voltou para a minha cabeça depois de saber a
identidade dela.
– Sei que jamais se esquece coisas como as que você passou, mas não
pense, não relembre. – Ele assente.
– Se eu sofri, essa menina, nossa... não gosto nem de pensar. Era só um
bebê, três, quatro anos... Desgraçados, filhos da puta! – Dá um murro na mesa
e uma lágrima escorre pelo seu rosto. Max o abraça. Olho para Kellan, que tem
os olhos cheios também. Ele acompanhou parte do drama quando criança.
– Licença, eu vou dar uma volta. – O fedelho sai dali para não chorar na
frente do primo.
Lian é seu ponto-fraco.
– Você e ela venceram. Passaram e sobreviveram. Estão aqui, bem
sucedidos e inteiros. É o que importa. – Max lembra a Lian.
– Inteiros eu não diria, mas estamos aqui.
– Que bom que ela veio para perto de nós. Podemos ficar de olho e cuidar
para que fique sempre bem. Que os traumas da infância ainda mexem muito
com ela, ficou claro. Quem sabe Henry possa ajudá-la – falo.
– Sim, falar sempre ajuda. – Lian concorda.
Vejo as três garotas voltando do banheiro e indo em direção à mesa de
Alicia, quando são interceptadas por vovó. Dona Laura diz algo que as faz
parar no meio do deck e iniciar uma clara tentativa de convencimento.
Provavelmente tentam convencer Iris a voltar à nossa mesa.
Aparentemente ela não quer ceder.
Bia se posiciona bem à sua frente e a faz encará-la, enquanto argumenta
fervorosamente.
Olho fascinado para a minha menina em ação.
Tão decidida!
Tão linda!
Ela é deslumbrante!
Os cabelos refletindo a luz.
Os olhos transmitindo segurança.
Pobre Iris.
Mal sabe ela que não há escapatória. Dois minutos e pronto!
Dito e feito.
Iris as acompanha, de boa vontade, retornando à nossa companhia.
– Espera aí, deixa eu limpar aqui, Oliver. – Lian passa a mão no meu
queixo.
Passo também, por reflexo, não encontro nada.
– Limpar o que?
– A baba. Pare de comer Biazinha com os olhos.
– Não estou comendo-a com os olhos, seu babaca. Estou admirando-a, é
diferente. É linda, não é?
– Uma preciosidade.
– Sorte que é minha. – Suspiro.
– São três meninas lindas. – Max constata, olhando na mesma direção que
eu.
– Sim, e sinto que o duo está prestes a virar trio. Oliver, vi que Bia está
bebendo drink com álcool, isso significa... – Lian, sempre observador.
– Não seremos pais, alarme falso.
– Você está bem? Estava tão animado...
– Sim, estou. Planos adiados, mas não abandonados. Assim que ela
resolver suas questões, casamos e eu faço um filho nela.
– Tantas palavras nessa fala que eu juraria jamais ouvir da sua boca,
brother. – Max balança a cabeça.
– Logo vocês as dirão também – afirmo, os dois gargalham.
– Qual a piada? – pergunta Hazel assim que se aproximam. Puxo Bia para
o meu colo e inspiro seu perfume.
– Oliver acha que só porque ele foi fisgado pelo cupido e está enfeitiçado,
Max e eu logo entraremos nessa também. – Hazel fica desconcertada com o
comentário, não sabe o que dizer. E olha que isso é uma coisa muito difícil de
acontecer com ela.
– Eu aposto que o próximo será Max. – Bia diz em seu socorro.
– Eu? Por quê? – Se espanta o alvo. Se ele sonha o que as duas andam
tramando pelas suas costas...
– Não sei. É a minha aposta ué.
– É para apostarmos? Então meu lance vai para Kellan, já que ele não está
aqui para se defender. – Brinca Lian. – Qual será o prêmio do ganhador ou
ganhadores?
– Que tal fazermos assim, quando acontecer, os ganhadores escolhem um
programa para fazer e os perdedores terão que acatar e acompanhar? – sugere
minha pequena.
– É sério isso? – Max bufa.
– Por que não? Pode apostar em você mesmo, caso esteja com medo de
perder. – Bia o provoca e todos riem, inclusive Iris.
– Como ninguém apostará em mim, farei os registros. E meu voto vai para
o Lian, ele já está quase amarrado com Tina mesmo.
– Não fode, Oliver... – reclama.
– E já vou registar o voto de Kellan em você também. – Ele revira os
olhos. – Max, seu lance? – peço.
– Kellan. – Dá de ombros.
– Iris?
– Não, eu...
– Sim, todos aqui nesta roda darão um lance. Você faz parte da trupe agora.
– A menina sorri.
– Bom, então... – Ela olha de um para outro. Foca em Hazel, depois em
Max e...
– Eu voto no Max. – Caramba, será que só para mim não é evidente?
– Sábia decisão – diz Bia.
– Vão se...
– Max! – interrompo antes que ele largue uma de duas pérolas.
– Desculpem, meninas. Mas não entendo de onde vem toda a certeza.
– Bom, princesa, só falta você – digo.
– Eu é que não vou ficar de fora da decisão do programa caso as duas
ganhem, sendo assim, meu voto é no Max.
– Porra, Hazel... – xinga o nosso baterista sem saber que ela se vê no
papel da noiva.
– Max em disparada, com três votos, todos da ala feminina. E sabe o que
dizem de praga de mulher, né? – atiço.
– Vá se foder...
– Querida família e queridos amigos, aviso que em dez minutos o jantar
será servido. Espero que apreciem, foi feito com muito carinho para
celebrarmos a noite especial. Bom apetite a todos – diz vovó ao microfone,
nos pegando de surpresa.
– Oba! Falta pouco para o mistério ser revelado – comemora Bia. Beijo
sua boca em reflexo a sua empolgação.
Ah baby, tudo por você, para você.
Em poucos minutos, como vovó falou, os garçons aparecem e depositam o
cloche à nossa frente. O jantar segue agradável, porém à proximidade do
momento da revelação a Bia me põe ansioso quanto a sua reação.
Assim que todos terminam a sobremesa, vejo Johnathan se levantar e se
encaminhar ao palco improvisado.
Meu coração dispara logo que ele toma o microfone.
– Boa noite a quem eu ainda não tive o prazer de cumprimentar
pessoalmente esta noite. Peço a atenção de vocês por alguns instantes. Quem
estiver sentado de costas para o telão, por favor, reposicione a cadeira de
modo que possa ver, pois divulgaremos o material de trabalho. Mas antes
disso, gostaria de fazer uma breve introdução.
– Como a maioria de vocês que estão aqui hoje sabem, é tradição na Three
Minds, que no lançamento de uma nova turnê da The Order, façamos um jantar
comemorativo, em agradecimento ao esforço de todos durante o trabalho de
preparação e produção. Esse jantar normalmente acontece no espaço anexo a
gravadora e é oferecido a todos os funcionários. Desta vez, porém, em virtude
do caráter da próxima turnê e a pedido de Oliver, resolvemos fazer algo mais
intimista e pessoal, por isso o lançamento está ocorrendo aqui, à beira-mar,
nesse cenário inspirador e restrito aqueles que até agora se envolveram de
maneira direta na ideia e não mediram esforços adicionais para viabilizá-la.
– É do conhecimento de quase todos aqui também os vários trabalhos
assistenciais que tanto a Three Minds quanto os três fundadores da empresa,
em particular, financiam. Trabalhos estes que são competentemente conduzidos
por Laura Evans e Helen Connor. Porém nunca tivemos uma campanha
assistencial vinculada diretamente ao nome da banda. Então meus amigos, para
quem ainda não está por dentro do motivo deste próximo trabalho, a primeira
coisa que vou lhes dizer, é que será uma nova turnê e que ela será cem por
cento assistencial. – Bia aperta minha mão.
– Você não tinha me dito isso, ruivo. – Ouço Hazel sussurrar a Max.
– Normalmente, nosso sistema de criação envolve a composição de no
mínimo dez novas músicas, sua produção, bem como a produção dos clipes das
selecionadas como o carro chefe de trabalho, divulgação acirrada, elaboração
de um novo show e os ensaios, processo esse que leva de quatorze a dezoito
meses de trabalho antes dos nossos músicos tomarem a estrada outra vez.
Desta vez, por motivos que serão esclarecidos mais adiante, a temporada de
trabalho iniciará com a turnê, o show da última turnê será repaginado e
acrescentaremos ao repertório dois clipes e três músicas novas. A ideia é que
tudo isto, e tudo que isto envolve, seja finalizado em pouco mais de dois meses
e a The Order tome a estrada em janeiro.
– Antes de divulgarmos o motivador por trás da turnê, peço que Iris venha
até aqui para apresentar o plano e material de divulgação.
– Com licença – pede ao se levantar e ir até Johnathan.
– Boa noite a todos, para quem eu não tive o prazer de me apresentar, sou
Iris Garcia, responsável pelos projetos audiovisuais. Estou na Three Minds há
apenas dois meses e confesso que é um privilégio para mim, como profissional
e como pessoa, ter a oportunidade de participar deste trabalho. Principalmente
pelo bem que ele almeja, é claro, mas também pela natureza da força que o
impulsionou a surgir. A força do amor. E garanto que assim como eu, muitos
outros aqui se sentiram tocados e motivados também por esse aspecto do
projeto.
– Reforçando as palavras de Johnathan, serão lançadas três novas músicas,
Paradox, Fool’s Mate e Eden, composições de Oliver Rain, e a divulgação da
turnê se baseará toda no folder de propaganda, que já vou mostrar a vocês, mas
principalmente no clipe que será produzido para Eden. Clipe este que,
esperamos, chame a atenção do público para a nossa causa pelo apelo sensual
que pretendemos dar a ele. – Bia fica tensa ao meu lado. A abraço.
– Sem mais delongas, senhoras e senhores, apresento a vocês o folder de
divulgação da turnê, The Order in Another Life. – Ela aciona o botão que
acende o projetor e o cartaz com a foto que tiramos hoje mais cedo, ali mesmo
naquela praia, com sol a pino no céu, aparece.
São impressionantes os efeitos que a menina deu a ela.
Na foto estamos nós quatro, de costas para a câmera, de calça jeans
dobradas nos tornozelos, sem camisa, andando na beira do mar, com os pés na
água.
Lian é o que vai mais à frente, com Kellan quase ao seu lado, pouca coisa
atrás. Max vem na sequência e eu um pouco mais afastado de Max. Todos os
outros olham para a frente e eu tenho os olhos voltados para o céu.
O céu está encoberto, o dia acinzentado, mas há um clarão, como se
houvesse uma rachadura entre as nuvens, e dele sai uma luminosidade que
lança discretos raios multicoloridos, imitando o efeito que vejo na luz refletida
nos cabelos de Bia.
Ficou incrível, exatamente como tentei descrever a ela mais cedo, na
reunião que tivemos ela, Edgar e eu.
Todos aplaudem, merecidamente, o seu trabalho.
– Oliver, ficou lindo. – Bia me beija.
– Sim, também gostei, baby. Iris é muito talentosa.
– Antes de falar mais a respeito do clipe de Eden, vamos divulgar o teor
da causa à qual a turnê Another Life, da principal banda de rock’n’roll da
atualidade, pretende beneficiar. Para tanto, passo a palavra ao seu idealizador,
Oliver Rain.
– Vou lá, anjo. – Beijo sua cabeça, me encaminho para o palco,
reposiciono o microfone, olho para cada um dos rostos ali, respiro fundo e
começo.
– Boa noite. Para todos aqueles que me conhecem de longa data, que
acompanham a minha rotina profissional e até mesmo a pessoal, sabem que
estar aqui, falando num evento, é algo inédito. Mas creio também que, das
várias coisas inéditas que fiz nos últimos meses, esta deve ser a que menos
espanto lhes causou.
– Certamente filho. – Grita Johnathan de sua mesa, fazendo as pessoas
rirem.
– Bom, para contextualizar a minha motivação, eu preciso voltar um pouco
no tempo, a uma tarde no fim de agosto, quando recém tínhamos encerrado a
última turnê e ao chegar em casa, louco para relaxar e iniciar as aguardadas e
merecidas férias no nosso refúgio, dona Laura, minha querida mãe e avó, joga
no meu colo a bomba de que receberíamos uma hóspede. E não só isso, uma
hóspede desconhecida, recém saída da adolescência e por tempo
indeterminado. Os que me conhecem bem, podem imaginar como recebi essa
novidade, não? – Risos e gracinhas tomam o ambiente.
– Sim, vocês sabem. Não demonstrei em respeito a ela, mas por dentro
fiquei muito, muito possesso com dona Laura. Com todos os cuidados que
tomamos para evitar exposição desnecessária, para manter nosso endereço
anônimo, com todo esforço que eu particularmente faço no sentido de abolir o
contato social com pessoas de fora do nosso círculo íntimo, ela aceita receber
dentro da nossa casa uma estranha. E ela calculou tudo tão bem, que deixou
para me contar a boa nova apenas um dia antes da garota chegar. Um dia! Para
que eu não tivesse tempo de arquitetar qualquer outra solução viável. – Olho
para vovó que sorri largamente.
– A melhor coisa que eu fiz – declara em alto e bom tom, e eu balanço a
cabeça.
– Já me via tendo que aturar uma menina dançando e cantando Justin
Bieber pela casa, e possivelmente perdendo o sossego no meu próprio lar,
desviando de investidas e questionamentos inapropriados.
– Poxa, você tinha muita fé em mim, não? – manifesta-se Bia.
– Não baby, eu tinha era fé demais em mim mesmo – digo para a alegria da
galera.
– A única diferença é que a investida foi certeira – grita Lian.
– Só isso não! Eu também não ouço Justin Bieber – rebate ela com um
sorriso safado no rosto.
– Amém. Damos graças por isso! – conclui Lian.
– Se os dois me derem licença, eu gostaria de continuar. A questão aqui,
amigos, é que nada me preparou para o dia seguinte. Nada. Não houve
necessidade de investidas. Fui nocauteado ao primeiro vislumbre. – Olho para
ela. – Nada me preparou para o que eu senti ao vê-la, naquela manhã pela
praia, antes de sermos oficialmente apresentados. Nada me preparou para o
convívio com a sua força, com a sua doçura e com a sua luz, pequena. – Seus
olhos estão marejados
– E por tudo que sabemos, dos meandres da nossa história, que começou
nove anos atrás, eu tinha que fazer alguma coisa para honrar a memória destas
duas pessoas. – A imagem do telão muda para uma foto de Robert e Eva
Thompson, abraçados e sorrindo. Agora as lágrimas já escorrem pelo rosto de
Bia livremente. – Pessoas que eu não tive a oportunidade de conhecer, mas que
ao confiarem o seu maior tesouro a mim sem saber, me resgataram de um poço
escuro e frio, que eu nem me dava conta que habitava há muitos anos. – Ouço
seus soluços.
– Venha aqui, meu amor. – Ela vem em disparada. Se agarra as laterais da
minha camiseta e afunda o rosto no meu peito, enquanto chora. Passo um braço
ao seu entorno e deixo-a ali.
– Esta turnê, anjo, será uma campanha para aumentar o número de
doadores de medula nos três principais bancos do mundo. O americano, o
alemão e, coincidentemente, o brasileiro. Para quem não sabe, Eva Thompson
era brasileira. Passaremos pelos três países e o ingresso do show é se tornar
possível doador. Uma das novas músicas também terá o fundo revertido a
campanhas de prevenção ao câncer de pulmão. – Ergo o seu rosto para que ela
me olhe.
– Eu não pude estar ao seu lado quando passou por toda a dor de perder os
seus pais, sei que se sentiu impotente por inúmeras vezes e que inclusive se
culpa por isso. Então espero que este feito, além de honrá-los, também sirva de
algum alento para você. Para dar o encerramento devido à passagem deles por
este plano. Que você sinta que todo o seu sofrimento se converteu em algo
bom, talvez evitando o mesmo sofrimento a outras crianças pelo mundo. Chega
de chorar. – Passo minhas mãos por seu rosto, secando as lágrimas.
– Oliver, isso... meu Deus! Vocês vêm fazendo tudo isso por mim, por
eles? – Sorrio, ela se vira de frente para nossos convidados.
– Não há nada que eu possa fazer, ou dizer a vocês, que esteja à altura
deste gesto. Não há preço, nem palavras, nem ações para retribuí-lo no mesmo
nível. Então eu só posso prometer que terão a minha eterna gratidão e dizer que
estou à disposição para ajudá-los no que precisarem, agora ou no futuro. Tive
pouco tempo com meus pais, principalmente com minha mãe, e boa parte do
tempo que tivemos juntas foi marcado pela doença, mas enquanto teve forças,
ela fez de tudo para evitar a tristeza, ambos fizeram. Nossa casa teve alegria e
muito amor. – Ela toma fôlego antes de continuar o seu relato.
– Mesmo assim, é claro que eu sofria, principalmente por vê-los sofrer e
não ter condições de tirá-los daquela situação, eu era apenas uma criança. E
este gesto, o que vocês estão me dando com esta turnê é a chance daquela
garotinha dizer pai, mãe, eu posso fazer algo. Algo que fará a diferença. É
curativo. Obrigada. – Volta a olhar para mim.
– Meu amor, eu poderia dizer que te amo ainda mais depois disso, mas eu
não consigo amá-lo mais do que eu já amo. É impossível. Eu nem sei mais
onde eu termino e onde você começa. – As lágrimas voltam a banhar seus
olhos, ela respira fundo.
– Sei que pensa que quem recebeu o presente da vida foi você, mas está
tão enganado, Oliver. Tão enganado. Eu tive sorte por você ter se isolado por
tanto tempo, sabia? Acho que eu mesma embalei o meu presente há nove anos
naquela recepção de hospital, cresci e voltei tempos depois para reivindicá-lo.
Obrigada por ter me esperado, obrigada por ter guardado o seu amor, obrigada
por isso, por tudo mais que já fez por mim, mas principalmente, obrigada por
me deixar amá-lo, é uma honra e um privilégio. Além de ser uma delícia,
claro. – As risadas ecoam. – Eu te amo.
– Eu também amo você, minha pequena, agora vem cá. – Com um braço
envolvo sua cintura, e a outra mão seguro sua nuca, minha boca toma a dela,
num beijo digno de cinema, que arranca aplausos e assovios da plateia.
Paramos sorrindo um para o outro.
– Mais um pouco ficará indecente, Mr. Rain. – Abro meu melhor sorriso
sacana.
– Longe de mim chocar meus funcionários, baby, longe de mim... – A solto.
– Podemos falar sobre o clipe, Oliver?
– Só mais uma coisa antes, Iris, por favor. Esclarecendo o ponto da minha
pressa em pôr esta turnê na estrada para a minha equipe e minha família; Bia
me contou que o último programa que ela fez com o pai antes dele cair
gravemente doente, foi ir ao show da The Order, em Chicago, no dia do seu
aniversário. Então iniciaremos esta turnê por Chicago, na mesma arena, em dez
de janeiro do próximo ano, no seu aniversário de dezoito anos. Esse é o
motivo de eu querer acelerar e antecipar o processo. Agora sim, Iris, a palavra
é toda sua novamente.
– Bem, Bia, sendo a campanha toda beneficente, tivemos que pensar em
algumas alternativas para cobrir os custos e a mais viável e rentável na
opinião de todos, seria promover algo que cause burburinho e atice a
curiosidade das pessoas para acessar as plataformas de streaming.
– A notícia de Oliver estrelando um clipe bem sensual, estou sabendo. –
Bia faz careta.
– Isso. E só há uma coisa que nos fará atingir melhor ainda o objetivo. É
Oliver estrelando esse clipe com alguém que desperte tanta curiosidade
quanto.
– Tudo bem Iris, pode soltar de uma vez o golpe de misericórdia. Não
precisa pisar em ovos. Tenho o consolo de que será por uma boa causa, eu
aguento. Quem é a super modelo, celebridade hollywoodiana ou estrela pop
que atuará com ele?
– Você.
– Ah?
– Você.
– Eu? Como?
– Tanto os homens quanto as mulheres estão loucos de curiosidade para
saber o que o cara mais disputado e mais difícil do show business viu em
você. Vamos mostrar a eles.
– Epa, olha lá como você vai montar o roteiro, Iris. Não pretendo mostrar
tanto assim da minha mulher. – Alerto.
– As pessoas querem analisar vocês dois juntos Oliver. E com a química
evidente, não precisaremos de um roteiro muito elaborado, vou ligar uma
câmera numa sala com apenas uma cama e deixar vocês serem vocês em cima
dela, simples assim. O resto é trabalho de edição. – Bia tosse.
– Vestidos, espero – falo na brincadeira, pois para mim era óbvio que sim,
mas para o meu espanto, ela nega.
– Nus, com tapa-sexos, em lençóis brancos. – A comoção é geral.
– Enlouqueceu? Não é um filme pornô, Iris.
– Se fosse um filme pornô, retiraríamos os tapa-sexos – os convidados
gargalham. Iris de repente está segura e soltinha... – O nome da música é Eden.
Eden. Paraíso. Pecado. Luxúria. Sexo. Queremos bilhões de acessos, bilhões
de interessados. O que pode atiçar mais os dedos a clicarem nos links várias e
várias vezes do que sexo entre o casal mais cobiçado e apaixonado do
momento? – As bochechas de Beatriz não estão nem mais vermelhas, estão
roxas. – Confiem em mim, não será vulgar, não mostrará nada que não deva,
mas dará a ilusão de que mostra muito. Como deve ser.
– Você tem se mostrado extremamente competente e por este motivo, se
Bia concordar, te darei permissão para ir adiante com essa ideia maluca, mas
vou deixar uma coisa bem clara, o clipe final só será liberado com a minha
aprovação. Se eu disser que está demais, você refaz até que fique aceitável
para os meus parâmetros, sem discussão, estamos de acordo?
– Cem por cento. Você aceita, Bia?
– E que alternativa eu tenho, Iris? Acha mesmo que deixarei Oliver dividir
os lençóis com outra, do jeitinho que veio ao mundo? Nem aqui, nem no Eden.
– As gargalhadas pipocam outra vez.
– Foi o que eu pensei – diz Iris rindo. – Já que estão todos de acordo,
Mike, por favor.
– Mike? – Bia pergunta baixinho.
– Ele é o coordenador de TI. Também da equipe de Alicia. Chegou mais
tarde.
Mike vai até o computador que mostra no telão as seguintes chamadas:
“Another Life, próxima turnê da The Order será beneficente” e “Clipe com
cenas extremamente picantes entre Oliver Rain e a namorada, Beatriz
Thompson, será lançado ainda este mês”.
– Precisava do “extremamente” nessa chamada? “Picantes” não basta? –
pergunto a Iris.
– A expectativa é a arte do sucesso, Oliver. Quanto mais, melhor. – diz a
garota segura de si. – Mike clica no botão “Enviar”, na tela.
– Pronto, amanhã de manhã estará em todos os principais sites de notícias,
fofocas e todas as redes sociais – diz o nerd.
– Está feito – concluo. – Novamente agradeço o empenho e a presença de
todos vocês. Por favor, fiquem à vontade e curtam o restante da noite. Um DJ
animará a festa a partir de agora.
Pego a mão de Bia e a conduzo em direção a nossa mesa.
– Amor, vamos cumprimentar Edgar, percebi que ele está sozinho no bar
há um bom tempo.
– Puxando o saco do chefe, baby?
– Só sendo gentil, meu bem. Essas partes só me interessam em outro chefe.
– Minha sorte é que ele já passou dos sessenta.
– Ao que tudo indica, eu gosto de homens mais velhos. Dos que têm uma
beleza clássica.
– Ai. Como é que dizem? Tudo que você diz um dia se volta contra você?
– Você pediu.
– Edgar, o antissocial aqui sou eu. Não venha querer tomar o meu posto. –
Mexo com ele assim que alcançamos o bar.
– Oliver, esse posto já não te pertence mais há um bom tempo. Não
percebeu ainda? Você vem se tornando um perfeito cavalheiro. Nada como uma
bela mulher na vida de um homem.
– Bom, precisamos achar uma bela mulher para a sua vida então, chefe –
brinca Bia.
– Meu tempo já passou, querida.
– É a segunda pessoa que me diz a mesma coisa hoje.
– É? Quem foi a primeira?
– Laura. – Ele estreita os olhos para ela, que o encara sem desviar.
O que está rolando aqui?
– Você ainda é muito jovem para entender, Beatriz, mas há coisas na vida
que é melhor manter do jeito que estão.
– Eu sou bem jovem, mas tive que aprender rápido e dolorosamente que o
amanhã nem sempre chega para fazermos depois o que queremos fazer hoje.
– Não há mais nada a ser feito, acredite.
– Tudo bem. Sente-se conosco então.
– Obrigado, mas tenho mesmo que ir. Temos compromisso no estúdio de
Los Angeles amanhã cedo. Certo, Oliver?
– Sim, estarei lá.
– Bia, nos vemos à tarde.
– Ok, boa noite.
– O que foi isso, Beatriz? Primeiro Riley, agora Edgar. O que não estou
sabendo?
– Riley vai lhe contar, logo. Quanto a Edgar, o que houve entre ele e sua
avó?
– Edgar e vovó? Nada. De onde tirou essa ideia?
– Ela foge dele e ele a olha com... dor.
– Você está vendo coisas, anjo. Se eles trocaram meia dúzia de palavras
nestes anos todos, foi muito.
– Acho que tem mais coisa aí, rockstar. Pelo visto é mais um caso que
vocês homens deixaram passar despercebido.
– Por Deus, Bia, você está insinuando que... Nunca! Minha avó? Nem
pensar. Eu capo Edgar antes.
– Ela é uma mulher e ele um homem, baby.
– Ela é minha avó. Ponto. – Bia só ri e nega com a cabeça.
– Oliver, o que há naquela porta? – Puta merda, por que ela foi notá-la
agora?
– Nada.
– Como nada? Sei que ali são a academia e a sauna, mas naquela não sei o
tem. É um depósito?
– Não. Mas você não vai gostar de saber, confie em mim.
– Fale.
– É o meu antigo quarto de foda. – As bochechas coram na hora.
– Quarto de foda? – Ergue as sobrancelhas.
– Sim. Em respeito a vovó, eu não levava as mulheres para o meu quarto
na casa. Era ali que as noitadas aconteciam.
– E você tem humm... aparelhos lá?
– Aparelhos?
– É, tipo... Cristian Grey? – Caio na risada. Me ponho de costas para
todos, pego sua mão e levo ao meu pau.
– Este aparelho é o único que eu preciso para enlouquecer as mulheres,
meu bem. Ai Bia, porra! – Ela aperta meu pau e minhas bolas com gana.
– Oliver Rain! Não existe mais as mulheres no seu vocabulário. Isto aqui
é meu! Só enlouquece a mim.
– Entendido. Agora larga porque senão nem a você ele terá utilidade.
– Deus me livre estragar a atração principal do parquinho. Me mostra!
– Acho que neste momento não será conveniente.
– Não a atração, o seu abatedouro.
– Agora?
– Sim, agora.
– Para que?
– Quero ver. Me mostra.
– Bia...
– Está tudo bem, só quero ver.
– Sabe aquelas coisas que você faz e tem certeza de que vai se arrepender
depois? Tô com uma baita sensação de que será este o caso. Venha. – Pego sua
mão, vou até uma gaveta no balcão do bar, pego a chave e levo-a até a porta do
quarto.
Antes de abrir a porta, tento dissuadi-la uma última vez.
– Baby, qual a necessidade de entrar aí? Na verdade, posso mandar
desfazerem o cômodo amanhã mesmo se você quiser.
– Abra Oliver. – Respiro fundo e faço o que ela pede.
Bia entra com os braços cruzados e para no meio do cômodo.
Simplesmente fecho a porta e me encosto nela enquanto minha linda garota
analisa o espaço que por anos foi o palco principal da minha satisfação sexual
sempre que não estávamos na estrada.
– Então era para cá que você atraía as suas vítimas.
– Não sou nem um vampiro, nem um serial killer, baby. Era aqui que eu
trazia as mulheres interessadas em praticar sexo comigo.
– Certo. – Ela começa a se movimentar ao redor dos móveis. – Iluminação
indireta e estratégica, muito sexy, cama redonda e, uau, enorme. Qual o maior
número de mulheres de uma só vez aqui, Oliver?
– Sem chance, meu bem.
– Por quê? Vai me chocar demais? Dez? Vinte? Cinquenta?
– Sou só um homem Beatriz, não uma máquina de foder incansável. Cinco
foi o máximo numa noite aqui dentro, só comigo.
– Verdade. Quando tinham outros machos é que o número aumentava...
– Não disse que eu iria me arrepender?
– Lençóis pretos, são de cetim?
– É seda.
– Claro, que estupidez a minha.
– Bia, chega, você já viu. Vamos sair daqui.
– Não, não vi tudo. Me diz Oliver, você preferia foder na cama ou no
sofá? Este sofá preto com almofadas douradas me parece bem confortável. Ou
será que preferia ali, na enorme banheira com vista para o mar?
– Sério, Beatriz? – Ela está furiosa.
– Tudo bem, não precisa responder. Provavelmente na mesma noite você
usava todas as opções, não é? Cama, sofá, banheira, paredes... aquela mesa
redonda também? É estranho uma mesa de refeição no quarto de trepar, não?
Espera, quanta ingenuidade a minha, vocês precisavam repor as energias para
o próximo rou... – Disparo contra ela e calo a sua boca com a minha. Ergo-a
do chão e levo-a até a mesa, chuto uma das cadeiras para ter acesso e coloco-a
sentada sobre o tampo.
– Você quer saber das refeições que eu fazia nesta mesa? – digo enquanto
chupo o lóbulo da sua orelha e abro o fecho do seu vestido. – Eu vou te
mostrar. Na verdade, ela é o meu objeto preferido aqui dentro. – Puxo o bojo
do vestido para baixo, expondo os seus seios – Aqui, baby, eu conseguia fazer
isto. – Aperto um pedal que há embaixo da mesa e ela sobe. Paro na altura que
deixa os seios de Bia exatamente em frente aos meus lábios
– Olhe para esses seios pequena, eles são tão lindos, – levo as duas mãos
a eles – ah esses mamilos me enlouquecem... Mais macios que aquela seda. –
Chupo delicadamente um mamilo enquanto continuo a estimular o outro com a
mão. Ela leva as mãos aos meus cabelos e segura minha cabeça lá. Me delicio,
chupando, apalpando e mordiscado um, depois o outro. Roço minha barba
pelas laterais redondilhas e macias, depois volto a sugá-los, agora como um
bebê esfomeado.
– Oliver, ah, que delícia...
– Está gostoso? Eu aqui chupando seus peitos, meu amor? Mas tem mais
coisas que eu gostava de fazer nesta mesa, aperto o pedal para descer agora.
– Aaaiieee caramba. – Bia grita, surpresa, pois assim que a mesa chega na
altura necessária, a ergo de supetão e a coloco de quatro em cima dela, com a
cabeça virada para a parede e a bunda para mim. Subo novamente o tampo até
que a bunda fique ao alcance da minha boca.
– Se essa não é a visão do paraíso, meu bem, não sei o que mais é. – Aliso
suas nádegas por cima do tecido do vestido. Sua bunda carnuda é uma tentação
sem tamanho.
– Beatriz, porra, estou salivando aqui. – Levo minhas mãos por baixo do
pano e as deslizo por suas coxas grossas.
Para cima e para baixo.
– Você já me deixou louca de tesão, Oliver, acho melhor pararmos agora...
– Ah não, não mesmo... você queria se torturar? Saber o e que eu fazia
aqui dentro? Agora você só sai daqui quando eu te mostrar umas coisinhas... –
Ergo a saia do vestido e deixo aquela bunda espetacular a mostra.
Porra, como é gostosa!
Beijo um lado, em seguida o outro, acaricio ali, depois as coxas entre as
pernas, subo para a bunda de novo.
Bia geme e geme, e se contorce pois não chego onde ela mais precisa.
– Temos convidados lá fora... – diz com a voz rouca.
– Que se explodam os convidados. – Deslizo a mão pelo seu sexo.
– Oliver...
– Sem absorvente?
– Estou... usando um interno.
– Ótimo. – Abaixo a calcinha até o meio das coxas e afasto mais os seus
joelhos, deixando a boceta e o cuzinho arreganhados, bem na minha cara. –
Pequena, pequena, e pensar que tudo aqui é meu... só meu... – Passo as mãos
lentamente por tudo nela, costas, pernas, sexo, bunda.
– Por favor... – Uma mão segue para os seus seios e a outra estimula o seu
ânus.
– Sabe meu bem, eu tive um passado, é verdade. – Beijo uma nádega. –
Não posso mudar, por mais que eu queira. Também não consigo nem contar
quantas mulheres eu trouxe, aqui, a este quarto. – Beijo a outra. – Quantas fodi
nesta mesa. – Ela se retrai.
Aperto um botão que abre a trava e giro o tampo, deixando agora o seu
rosto de frente ao meu. Puxo seus cabelos para trás e a beijo com paixão
enquanto uma mão continua a acariciar o seu corpo.
– Mas de duas coisas eu tenho certeza, meu amor. – Desço os lábios por
seu queixo e pescoço.
– Você será a última. – Volto para sua boca
– E eu nunca me esquecerei da imagem da minha menina, linda e gostosa,
toda abertinha e entregue a mim em cima desta mesa. Esta memória eu vou
guardar para sempre, anjo. A única que me interessa guardar, de tudo que já
rolou aqui. – Giro o tampo de novo e finalmente dou o que ela está esperando
desde que puxei sua calcinha para baixo.
Minha boca na sua boceta.
Seguro o cordãozinho do absorvente interno para não o retirar do lugar e
sugo o seu clitóris com força, enquanto a outra mão volta a circundar o seu
ânus.
– Eu... Deus, Oliver, isso é tão bom... baby, eu quero...
– O que você quer pequena? – Penetro a pontinha do dedo...
– Aaahhhh, você não presta Oliver Rain!
– Nunca prestei, anjo. – Deslizo os lábios até seu ânus e passo a chupar
ali.
Ela treme.
– Estou louca para pedir uma coisa que é tão indecente e imoral e...
– Gostosa? – Continuo com o beijo grego.
– Proibida. Mas estou aqui, doida para que você faça de novo... – Penetro
a pontinha da língua.
– Uhm... – Não vou facilitar para ela, se quer mesmo terá que pedir.
– Oliver... que se foda, eu quero a porra do vinho, por favor... – Rio com
vontade.
– Ah bebê, finalmente, já não era sem tempo... me segurei muito para não
comer seu rabinho outra vez.
– Por que se segurou?
– Primeiro, sou muito competitivo, segundo eu precisava saber que a
próxima vez seria porque você quis mesmo. Depois do que Lian disse, me
senti culpado...
– O que Lian disse?
– Outra hora, Bia. Outra hora. – Baixo a mesa novamente, a pego no colo e
beijo sua boca.
– Não tem do que se sentir culpado. Se me lembro bem, eu aproveitei
bastante na primeira vez. – Coloco-a deitada de bruços sobre a cama e retiro
totalmente e sua calcinha.
– Bia eu poderia ficar admirando você nesta posição a noite toda.
– Hum, prefiro você mais... ativo...
– Tão afoita, Chucky.
Tiro a calça e a cueca, abro a gaveta do criado mudo, pego o lubrificante e
o deixo sobre o colchão. Vou ao frigobar e pegou uma forminha de gelo. Da
posição em que está não consegue ver minhas ações.
Me sento sobre seus joelhos, levo o gelo a minha boca e deslizo os lábios
pelo vão da sua coluna. Bia treme sob mim.
– Oliver...
Distribuo beijos molhados e gelados por seu pescoço, ombros e costas.
Cada toque um tremor e um gemido. Isso!
– Baby isso é...
– É o quê, pequena?
– É quente e frio... É perturbador... – Não consegue se manter parada.
Desço novamente pelo meio das suas costas até chegar em seu ânus e
circulo ali com a pedrinha de gelo. Então pego rapidamente o gel que tem
um efeito quente e espalho nela.
– Ah... puta-merda! – xinga alto.
Espalho o gel em mim também, posiciono meu pau no seu anel e empurro
um pouquinho.
Ela arfa, reclama, e contrai.
– O segredo na relação anal, amor, é relaxar. Quanto menos contraído
estiver, menos vai doer e mais vai deslizar.
– Estou tentando, mas você não é pequeno Oliver. Dói. Ai. – Deslizo para
fora e volto a empurrar, entrando um pouco mais.
– Você já sabe que a dor é só no começo, vamos bem devagarinho, mas
hoje quero pôr tudo.
– Céus!
– Você consegue amor, relaxe. – Vou devagar, tirando e colocando
inúmeras vezes, até que começo a sentir os seus gemidos mudarem de
doloridos para prazerosos
– Ah Bia, que gostoso, ver meu pau sendo engolido pela sua bundinha é a
minha perdição.
– Está ficando bom agora.
– É baby? Então vou te dar mais.
– Este era o meu medo... – Me deito sobre ela e conforme vou largando
meu peso sobre seu corpo devagar, vou enfiando mais e não paro até entrar por
inteiro.
– Ai, ai, aaai...
– Calma. Aahh, porra que gostoso, Beatriz. Estou todo enterrado em você,
amor. Já pode se considerar a coelhinha da Playboy. – Dou uma rebolada.
– Ai, caralho... não entendi a referência... – Entro e saio devagar. – Aieeee
– O pompom está no lugar certo, baby.
– Pompom? – Ela pensa. – Oliver seu descarado, sem-vergonha! – diz
quando entende que me referi às minhas bolas. Me mexo algumas vezes com
cuidado
– Aiiiii dóiiii, é muito groooosssoooo... – Largo meu peso outra vez sobre
ela, dou uma rebolada e paro.
– Sente isso, baby.
– Impossível não sentir, dói pra caralho. Onde eu estava com a cabeça...
– Quer parar?
– De jeito nenhum. Ai Ai Ai. – Não seguro o riso.
Começo a me mexer sem desgrudar muito nossas virilhas, mas num ritmo
constante. Permaneço naquela pegada e logo os sons que ela emite ficam mais
interessantes...
– Vê meu bem, eu disse que você conseguiria me levar inteiro, não disse?
– Oliver... ah, senhor...
– Relaxe, assim, vai ficar cada vez mais gostoso. – Afasto seus cabelos,
beijo seu pescoço, enquanto continuo a entrar e sair dela, devagar.
– Te amo tanto, tanto, pequena. Não se torture com os meus casos antigos.
Ninguém me teve de verdade antes de você.
– Senti tanta raiva ao entrar aqui.
– Eu sei. Mas lembre-se de que você foi a única que eu amei aqui dentro.
Amanhã vou mandar limparem o espaço. Pode transformar o cômodo no que
você quiser depois. – Tiro tudo e meto com vontade.
– Oliver... – Tiro de novo.
– Seu cu está tão aberto, bebê.
– Aff, tenho mesmo que ouvir isto? A questão é se vai fechar de novo. –
Meto com força, ela geme e xinga ao mesmo tempo.
– Posso me esforçar para mantê-lo sempre aberto.
– Não tenho dúvidas de que pode.
– E nem será esforço algum. – Pego suas mãos, entrelaço nossos dedos e
levo-as até acima da sua cabeça. Afasto suas pernas, firmo os dedos do pé no
colchão e acelero os movimentos num ritmo forte, causando impacto ao bater
com a virilha em sua bunda.
Ela geme de um jeito que leva o meu tesão à estratosfera.
– Puta merda, que bunda deliciosa. Vou querer afundar nela todo dia.
– Aaaahhh, continua assim baby.
– Só prazer agora, anjo? – pergunto o que eu já sei.
– Muito. Demais... Estou adorando fazer isso...
– Vai gozar com meu cacete enterrado no seu cuzinho?
– Babaca! Aaahhh! – Rio.
– Vai, amor? Responde.
– Você é gostoso demais, eu não tenho escolha.
– O que mais eu sou, baby?
– Grosso e grande demais... – Meto ainda mais forte.
– Sou? O que mais.
– Testosterona pura. Acho que eu seria capaz de gozar só de te olhar
cortando a unha encravada do dedão do pé. – Gargalho. Até que demorou.
– Hei. Eu não tenho unha encravada!
– Claro que não, senhor perfeição...
– Acho que você já falou demais Beatriz. Goza pro seu macho, baby.
Quero ouvir. – Levo minha mão ao seu clitóris.
– Sim, estou quase, continua... – Afundo o rosto em seu pescoço, acelero e
rebolo para valer.
– Oliver... por f... aaaahhhhhhh que delíciaaaaa.
– Puta-merda Bia, que tesão. Toma nesse rabo! VOU. ENCHER. ELE. DE.
PORRA.
– Gostoso do caralho! Enche baby, enche até a borda, quero sentir ela
escorrer depois. – Porra!
A declaração safada e inesperada dela me deixa tão alucinado que gozo na
hora.
Ah minha mulher... tão desbocada...
Largo todo o peso sobre ela.
– Céus...
– Caramba...
Estou exausto.
Respiro fundo algumas vezes tentando achar o Norte outra vez e
aproveitando a energia pós orgasmo que corre entre nós. Beijo sua nuca, seu
pescoço, sua bochecha.
Ela procura minha boca, e nos beijamos demoradamente.
Tento me erguer. Ela não deixa.
– Não sai, ainda não. – Pede, manhosa.
– Preciso ver se cumpri o que me foi pedido. Fique paradinha. – Procuro
meu telefone.
Abro as bandas da sua bunda e tiro uma foto.
– O que você fez?
– Calma, é só para te mostrar... – Entrego o fone a ela. – Viu? Até a
borda... Seu cuzinho está branquinho e melado. – Ergo as sobrancelhas em
deboche, ela tenta manter a seriedade, mas falha e caímos os dois na
gargalhada.
Me deito ao seu lado, ficamos um de frente para o outro e afago seus
cabelos.
– Mais calma? – pergunto.
– Sim... Acho que extravasei minha raiva me passando na boca suja. – Ela
suspira. – Me desculpe pelo rompante, não imaginava que mexeria tanto
comigo entrar aqui.
– Se seus rompantes terminarem sempre conosco assim, ficarei feliz em
provocá-los. Você não precisará olhar para esse cenário de novo. Apesar de
que espero que você guarde as lembranças de hoje, assim como eu vou
guardar.
– Cada momento com você está guardado aqui dentro. – Ela leva minha
mão ao seu peito. – Não saberia dizer qual deles foi o mais perfeito.
– Eu também não, meu amor. Agora vamos nos ajeitar e voltar lá para
fora? Certamente nosso sumiço foi notado.
– Que vergonha! – Não seguro a risada.
– Você é muito cínica, Beatriz. Desde que entrou aqui me implorou para eu
fazer exatamente o que fiz com você, te comer aqui dentro. – Levanto e a ajudo
a fazer o mesmo.
– Implorei nada.
– Implorou sim. Sei ler além da superfície, baby. Anos de bagagem. Sua
raiva e seu olhar deixaram uma mensagem cristalina. – Seguimos para o
banheiro.
– Tudo bem. Não que eu tenha forças para resistir a você, mas eu
realmente precisava te ter aqui. Admito.
– Sei disso, anjo. Precisava deixar a sua marca, não é? Já estou mais do
que marcado, Bia, mas vou programar um tour com você em cada hotel que eu
estive. O que me diz? Será a turnê mais revigorante da minha vida.
– Quando a raiva está parando de borbulhar, você vem e aumenta o fogo?
Não ajuda, Oliver Rain. Podemos começar pela área de festinhas no Lian, o
que me diz?
– Prometo que dou um jeito qualquer dia desses.
– Ótimo. E não esqueça da hidro do deck, faço questão. Pesadelos ruivos
me atormentam toda vez que olho para lá.
– Só você se lembra disso. Vou ter oitenta anos e você ainda estará
remoendo a história...
– Claro, serei uma jovem de sessenta e seis, com a memória intacta. Já
você...
– Nem me lembre..., – suspiro – mas sabe, eu tenho uma lancha para
marcar enquanto a memória ainda funciona.
– Não seja ridículo! Não aconteceu nada entre mim e Kellan.
– Você esteve com ele lá, já basta para mim.
– Pensando bem, sem objeções rockstar. Será interessante saber como é
com o balanço do mar... – Reviro os olhos, divertido.
– Pronta?
– Sim. Vamos.
O deck se transformou numa verdadeira pista de dança. Pelo visto o DJ
conseguiu animar os convidados. Até Johnathan e Alicia estão dançando. Os
únicos que permanecem sentados e reunidos na mesma mesa são vovó, Helen,
Kellan e Max. Lian e Iris estão numa conversa animada num canto da pista,
assim como Hazel e Mike.
– Olha, os sumidos finalmente retornaram – diz Kellan.
– Bia, querida, o que houve com o seu vestido? Está tão amassado –
pergunta vovó na inocência e faz Max se contorcer para segurar o riso, coisa
que ele falha miseravelmente.
Helen acaba rindo junto e vovó fica totalmente sem graça quando percebe a
gafe. Bia provavelmente estaria escondida debaixo da mesa se eu não
estivesse segurando a sua mão.
– Não seja indiscreta Laura. Bia, não ligue querida, fazem muito bem em
aproveitar a noite – diz Helen. – Talvez isso anime estes dois a tirar a bunda
da cadeira, porque não os vi saírem daqui nem para ir ao banheiro. Ah, eu na
idade de Kellan...
– Nada me interessa lá, Helen. – Fala o fedelho, com cara de “saco
cheio”.
– Só conversar e dançar também pode ser divertido, Kellan. Nem toda
noite precisa terminar em sexo para ser agradável.
– Mãe! – Max olha para ela de olhos arregalados.
– O que foi Max? Te espanta que eu saiba dizer a palavra? Não deveria,
afinal, você não surgiu de um repolho. – As bochechas de Max inflamam. – O
que me espanta, meu filho, é ver você aí, irritado por Hazel estar paquerando
ao invés de se mexer do lugar. – Puta-merda. Será que até Helen está na
cruzada louca delas?
– Não sou de dançar mãe, você sabe.
– Mas vai meu filho, cedo ou tarde, você vai. – Agora sou eu que não
seguro o riso.
O comentário sana minhas dúvidas.
Ah Max, tenho até pena de você, irmão.
– O que? – pergunta ele sem entender a metáfora.
– Nada não, esquece – desconversa Helen.
– Sabe Helen, hoje fizemos uma aposta, sobre qual o próximo The Order a
sair da pista. Max foi o mais votado – digo para infernizá-lo.
– Ah, seria um sonho... – declara ela, sonhadora.
– Será mais que um sonho Helen, vai acontecer – reforça Bia.
– Querem parar de dar falsas esperanças a ela? – vocifera o ruivo,
irritado.
– Tudo bem, tudo bem, vamos mudar de assunto. – Tento acalmá-lo.
Max é um caso a ser estudado.
É o mais pervertido nas “reuniõezinhas”, o mais adepto a certa brutalidade,
a compartilhar, contudo, no dia a dia, é o mais “certinho” e conservador de
nós. Às vezes parece que, em matéria de envolvimento afetivo-sexual, se
esforça a negar sua real natureza. Fico me perguntando o porquê.
Uma música mais calma começa a tocar. Olho para a pista e os casais
dançam colados. Acho que nunca fiz aquilo.
– Dança comigo, anjo?
– Achei que você não fosse pedir, rockstar. – Tiro os sapatos, pego-a no
colo e retiro os dela também. Desço do deck e então a ponho de pé na areia.
– É o cenário perfeito para uma dança, não acha? Música, areia, mar, céu
estrelado...
– E amor – completa a minha fala.
A envolvo, ela enlaça meu pescoço, se aconchega em meu peito e
começamos a dançar.
– É, e amor.
Capítulo 23

“O tempo vai passando nos relógios


Encontro os seus beijos toda hora
Segundo por segundo na memória”
(Toda Cor – Titãs)

Bia

B
poderia acompanhá-la.
ia, o que você está fazendo de pé tão cedo?
– Laura, bom dia! Ouvi você comentando com Helen
ontem que passaria a manhã em Long Beach e pensei se

– Me acompanhar?
– Sim. Eu sei que hoje não é um dia fácil para você. Então que tal me
mostrar a sua rotina nos trabalhos assistenciais? Depois podemos almoçar
juntas, conversar.
– Eu... eu não vou para a ONG hoje.
– Se preferir ficar sozinha, tudo bem, eu entendo. Mas será que um pouco
de companhia não ajuda? Sabe, você não precisaria se conter, pode falar dela
o quanto quiser. Eu vou adorar ouvir e passar o dia com você.
– Bia... eu gostaria, claro, mas...
– Por favor, me deixa ser o seu apoio. Estar lá por você, pelo menos parte
do dia. – Ela me analisa por longos minutos, ponderando.
– Você estava aqui só me esperando sair? Não são nem seis da manhã e já
tomou até café, pelo visto.
– Sim, peguei umas coisas na cozinha. Eu não sabia exatamente quais os
seus planos, então acordei bem cedo e fiquei pronta.
– Ah querida... – Respira fundo e pensa mais um pouco. – E Oliver?
– Ainda na cama. Ele vai para Los Angeles hoje, encontrar com Edgar.
– Sei. Você comentou algo com ele sobre a data?
– Não. Você me disse que é melhor quando ele não se lembra, então...
– Sim, é melhor. Ele não fez objeções?
– Por eu querer passar a manhã com você? Por que faria?
– Olha, eu não sei se farei a coisa certa permitindo que me acompanhe,
mas talvez esteja na hora de você saber um pouco mais sobre a mãe de Oliver.
Entretanto, tem que me prometer que não contará a ele sobre o que verá caso se
dê conta de que dia é e questione. Promete?
– Mentir para ele?
– Temo que dizer a verdade causaria mais mal do que bem, neste caso. Ele
nem conseguiu te contar ainda que... Enfim, neste momento ele não entenderia e
não me perdoaria. Mas acho que é importante você saber. Sinto te colocar
neste impasse, mas será a única forma de eu deixá-la me acompanhar hoje, meu
bem. A escolha é sua. E não se preocupe, entenderei perfeitamente caso opte
em ficar.
– Eu quero ir, mas eu não sou uma boa mentirosa, se ele me pressionar
demais, tenho medo de não conseguir manter...
– Se for o caso, lidaremos as duas com as consequências.
– Ok então. Eu prometo que, enquanto puder, não direi nada. Você acha que
teríamos um tempo para passar no shopping? Comentei com ele que preciso de
umas roupas para trabalhar. Hazel comprou muitas coisas para mim, mas em
sua maioria são ou informais demais, ou para festas. Se pudéssemos fazer isso
juntas, eu teria um bom álibi.
– Podemos sim.
– Neste caso, fechado.
– Então vamos. O carro está a nossa espera.
– Não vai comer?
– Não, hoje é um dia que dificilmente eu sinto fome.
– Certo.
Iniciamos nossa viagem a Long Beach e Laura está bem calada. Não fico
forçando-a a falar, pois imagino o quão difícil é para ela passar por esta data.
Nem faço ideia de onde vai me levar, penso que vamos ao cemitério, mas da
forma que falou, acho que tem algo mais. Em dado momento ela abre a bolsa e
coloca um pequeno álbum, antigo e bem manuseado, em minhas mãos.
– Você disse que queria conhecê-la. Aqui há fotos dela desde bebê, até os
vinte anos.
Abro o álbum e a primeira foto já me enche os olhos. Tenho que me
controlar, pois estou aqui para mantê-la de pé e não para ajudá-la a
desmoronar. Na imagem há uma garota linda, mas ainda com jeitinho e carinha
de criança, segurando um bebê muito pequeno, creio que tenha no máximo dois
meses. A menina está sorrindo, mas seus olhos transmitem medo e cansaço.
– Vivienne tinha um mês e meio aqui. Todas as fotos dela bebê foi seu pai
quem tirou.
– Sério?
– Sim. Ele tinha uma máquina, tirava as fotos, revelava e depois me dava.
Eu não tinha condições de fazer nada disso. Graças a seu pai e Selena, tivemos
um teto e não passamos fome.
– Se para mim, com quase dezoito anos já foi difícil me ver sozinha,
imagino como deve ter sido desesperador para você.
– Foi demais. Não desmerecendo a sua situação, mas você teve tempo
para processar e entender que a sua vida iria mudar. Isso te fez amadurecer
mais rápido e seus pais tentaram te preparar para a nova realidade no tempo
que tiveram. Eu num dia era a garotinha do papai, mimada e cuidada ao
extremo, que mal sabia acender o fogão, para no seguinte me ver por minha
conta, grávida e desamparada. Sem conhecer quase nada da vida.
Vou passando as fotos da mãe de Oliver bebê. Um bebê lindo, conforme vai
ficando maiorzinha já é possível perceber semelhanças. Então numa delas eu
paro. A garotinha deve ter em torno de um ano e meio. A primeira foto
colorida. Ela está sentada debaixo de uma árvore de natal e é impossível não
reconhecer; são os mesmos olhos dourados e impactantes.
– Então os olhos incomuns vieram de Vivienne.
– Sim. Impressionante não? Exatamente os mesmos olhos. E não sei a
quem Vivienne puxou, pois meus olhos são castanhos e os de Norton eram
verdes.
– Uma mistura perfeita, talvez.
– É, talvez.
– Você era uma jovem muito bonita Laura. Não é à toa que continua linda.
– Você ainda não viu Vivienne maior, verá que garota deslumbrante se
tornou.
Vou virando aquelas páginas e a cada fase a garotinha realmente parece
ficar mais e mais linda. Fartos cabelos lisos e loiros, num tom de mel, pele
clara, lábios e nariz bem delicados e aqueles olhos dourados dão a ela uma
beleza exótica. Chego a uma em que deve ter cerca de uns doze anos. E uau, já
é lindíssima.
– Explicado o motivo de Oliver ser lindo do jeito que é.
– Sim, tirando a cor dos cabelos, os dois são extremamente parecidos. Isso
sempre me deu medo. Mas depois vi que as semelhanças se restringiam a
aparência, felizmente.
– Por que diz isso?
– Porque em personalidade os dois são muito diferentes. Vivienne sempre
foi difícil. Nunca se conformou com a nossa situação social, mesmo de criança
já a incomodava e ela tinha expectativas irreais, fazia exigências que por mais
que eu me esforçasse, não conseguia atender. Descobriu bem cedo o quanto era
linda e encantadora, e aprendeu a usar isso a seu favor, manipulando as
pessoas. Inclusive a mim.
– Ela conseguia penetrar nas rodinhas das classes mais altas por causa da
sua aparência e seu jeito meigo, apenas para usufruir de regalias junto às
famílias das suas “amiguinhas”. As meninas a mantinham por perto pois
queriam ser como ela e os meninos se encantavam no primeiro olhar.
– Claro que essa análise fria e feia dos fatos só me permiti enxergar
quando ela já era adulta e não havia mais muito o que eu pudesse fazer.
Enquanto criança, sempre achei se tratar de uma fase, ou algo inocente, às
vezes até fofo. Hoje penso que se eu fosse uma mãe mais velha, com mais
experiência, ou com mais estrutura familiar, perceberia antes a real gravidade
do seu comportamento, interviria enquanto havia tempo, e quem sabe, evitaria
tanta dor e tantos erros futuros.
– Laura, não se culpe. Tenho certeza que apesar de todos os problemas,
você foi uma ótima mãe.
– Já Oliver, – ela sorri – ele é o completo oposto. Claro, sempre chamou
muita atenção por seu físico também, mas isso nunca o seduziu. Acho que se
pudesse escolher, optaria por uma aparência mais comum, para passar o mais
despercebido possível. Nunca me deu um motivo sequer de desgosto, Bia.
Apesar dos graves problemas que enfrentou e que não posso lhe contar, ele
fazia de tudo para não dar trabalho, ou me aborrecer de alguma maneira,
mesmo quando pequeno. Muitas vezes eu chorei por isso, porque ele não se
permitia ser criança, sabe?
– Imagino, isso é triste...
– Sempre teve dificuldade de se abrir e dizer o que sentia, ao contrário de
Vivienne, que dizia o tempo todo que me amava. Mas as suas ações, essas
sempre eram para fora e nunca para dentro. Às vezes acho que ele cuidou mais
de mim do que eu dele. Além disso, tem a inteligência acima da média. A
escola para ele sempre foi um tédio. Ele já te contou como se aproximou de
Max e Lian? – Nego.
Ela me conta sobre como os garotos se aproximaram e do autodidatismo de
Oliver para aprender e depois ensinar música aos outros dois. É possível ver o
brilho nos olhos dela ao falar do neto.
– Tenho certeza que ele montou a banda e a levou até o auge mais para
realizar o sonho dos dois do que o seu próprio. Ele teria optado por algo com
muito menos exposição e teria se dado bem em qualquer coisa que resolvesse
fazer. Porque quando Oliver decide algo, nada o tira do trilho até que ele
consiga. E isso ele também puxou dela, só que no caso dele, felizmente, usa a
determinação de forma positiva.
– Ele é maravilhoso. Já me provou isso tantas vezes neste pouco tempo
que passamos juntos.
– Só que mesmo com todas as suas qualidades, ele não se acha bom o
suficiente. Merecedor o suficiente. O que é culpa da minha linda filha. Então
você pode imaginar o quanto vê-lo feliz ao seu lado, se permitindo ser o jovem
que ele é, se permitindo ter algo que ele realmente quer, me faz feliz também.
Ele declarou aberta e naturalmente ontem, na frente de todas aquelas pessoas,
os sentimentos dele por você. É uma vitória enorme para ele Bia, você não faz
ideia.
– Esse medo dele, de não ser bom o suficiente, você acha que é por isso
que ele não consegue me contar como perdeu os pais?
– Sim querida, é por isso. Tenha paciência com ele nesta questão. Há
coisas bem sérias aí e ele tem medo. Mas o que você fez por Oliver em poucos
meses, é bem mais do que a terapia fez em anos e anos.
Continuo a olhar as poucas páginas restantes daquele álbum e a última delas
traz Vivienne já adulta. A semelhança na fisionomia dos dois é ainda mais
impressionante. Olhos, boca, testa, nariz, o furinho no queixo que fica visível
quando ele usa a barba mais rala, certamente vieram da herança genética de
Vivienne.
– Como ela e o pai de Oliver se conheceram? Ela era modelo, viajava o
mundo?
– Apesar de poder ter sido, Vivienne tinha por objetivo investir em outros
caminhos. Ela trabalhou na filial americana da empresa dele, como
recepcionista. Foi assim que se conheceram.
– Laura, por que você insistiu em me receber na casa de vocês, sabendo
que Oliver não se sentiria confortável? Sabe, ele me contou que sugeriu que me
ajudassem de outra forma.
– Eu não sei Bia, mas eu sentia que precisava tê-la ali. Nas conversas que
tive com seu pai, quando ele me procurou, falamos muito sobre você, óbvio, e
conforme ele me relatava aspectos da sua personalidade, eu enxergava coisas
em comum com Oliver, via que vocês dois poderiam se dar bem, e na minha
ingenuidade, achei que resolveria dois problemas de uma só vez, te daríamos
uma nova família e daria a ele alguém com quem pudesse contar além de mim
no futuro, uma irmã mais nova. – Ela me acompanha na risada.
– Acho que as coisas não saíram como planejadas.
– Não mesmo. Saíram melhores. No dia que eu apresentei os dois e
enxerguei o fascínio nos olhos dele também, pois nos seus eu já tinha visto
através dos seus surpreendentes relatos, eu soube que tinha tomado a decisão
certa.
– Fascínio? Por Deus, eu fui um desastre aquele dia.
– Um desastre adorável. Querida, estamos chegando.
O carro para em frente a grossos portões de ferro, o motorista
aparentemente se identifica e os portões se abrem, seguimos por um caminho
lindamente arborizado, até que ao fundo avista-se uma mansão, dessas antigas,
estilo casa branca.
– Quem mora aqui? – pergunto assim que o carro estaciona em frente a
enorme escadaria principal.
– É uma clínica particular. Quero que conheça um interno.
Laura instrui o motorista a voltar dali há duas horas, deixo o veículo e sigo
os passos de Laura, que parece conhecer muito bem o lugar. Assim que
passamos pelas suntuosas portas, saímos num enorme salão, transformado em
recepção.
– Senhora Evans, já a aguardávamos hoje, bom vê-la novamente.
– Olá, Mary. Então, estável?
– Sim, nenhuma mudança.
– Trouxe minha nora comigo, ela vai me acompanhar na visita, tudo bem?
– Sem problemas. – Ela passa a Laura uma chave eletrônica. – A senhora
já sabe o caminho, fiquem à vontade e qualquer coisa, só acionar o painel que
um enfermeiro lhes dará o suporte necessário.
– Obrigada Mary.
Apesar do lugar ter sido cuidadosamente pensado para não parecer um
hospital, o cheiro inconfundível dos produtos de limpeza característicos, não
deixa dúvidas. Aquilo ativa memórias indesejáveis, me causando arrepios.
Espero que eu tenha estrutura para lidar com o que quer que Laura vá me
mostrar ali
Entramos no elevador, Laura pressiona o número dois no painel, e a viagem
até o segundo piso parece não ter fim.
Meu coração acelera e meus medos estão à flor da pele. Começo a
questionar se foi mesmo uma boa ideia acompanhá-la.
Bom, agora não há mais volta, logo vou descobrir.
As portas do elevador se abrem para um enorme corredor. Imagens de
outros corredores surgem, aquele ao qual segui aos treze anos, até o quarto em
que mamãe morreu segurando a minha mão. E aquele que cruzei às pressas, em
desespero, quando me avisaram da piora no quadro de papai. Paramos em
frente ao quarto duzentos e três. Laura encosta a chave na tranca e a porta
destrava.
É agora.
Preciso segurar a onda, preciso!
O quarto é decorado como uma confortável sala de estar, não fosse pela
cama em frente aos painéis hospitalares, onde um corpo magro, ligado a vários
aparelhos bipando, parece dormir. Laura aproxima-se da cama e eu
acompanho, receosa.
É uma mulher, meia idade, franzina, apenas pele e osso. Laura arrasta uma
poltrona até a beirada da cama, senta-se e começa a afagar os cabelos dela.
– Oi filha. É o seu aniversário, meu amor. A mamãe está aqui. – O soluço
escapa antes mesmo que eu possa me dar conta de que ele está chegando.
Aquela cena é triste, triste demais.
Laura me olha sorrindo, mas lágrimas escorrem dos olhos.
Eu não consigo mais conter a emoção e me entrego ao choro abundante. Ela
segue apenas afagando os cabelos de Vivienne até que eu me acalmo.
Jamais esperaria por aquilo, jamais.
– Temos que arrumar o seu cabelo, não é minha princesa? Como a mamãe
fazia quando você era pequena e você adorava? – Laura retira uma escova de
cabelos e vários prendedores da bolsa.
Penteia cuidadosamente os cabelos da filha em estado vegetativo, depois
faz um penteado na frente com vários pequenos prendedores pontos de luz.
Lembro de ter visto o mesmo penteado em algumas das fotos que vi no
carro.
– Pronto. Agora sim, você já pode receber visitas. Lembra o que eu contei
a você nas últimas vezes, filha? Sobre o anjo que apareceu na vida de Oliver?
Da menina especial que o seu filho encontrou e do quanto ele está feliz? Pois é.
Ela está aqui. Veio ver você. Aproxime-se querida, deixe-a sentir que você
está aqui. – Faço o que Laura pede e me aproximo, tomando a outra lateral da
cama.
Levo minha mão até a mão de Vivienne e a acaricio levemente.
– Oi Vivienne. Sou Beatriz, Bia. Prazer em conhecê-la. O seu filho é um
homem especial. Impossível não se apaixonar por ele. Na verdade, ele é que é
o anjo que apareceu na minha vida. Se parece muito com você, lindo como a
mãe. Eu o amo demais e prometo que a felicidade dele será sempre a minha
prioridade.
– Viu meu amor, ele está bem. Cercado de amor. Eles formam um casal tão
lindo Viv. E apesar dele não vir até aqui, você sabe que ele te ama muito,
certo? Ele nunca deixou de amar você filha, por isso não vem, porque é difícil
demais para ele, e não porque não te perdoou. Nosso menino não é assim. O
coração dele é enorme. Se você quiser, você pode ir em paz, sabe? Não
precisa ficar agarrada a esse sofrimento. Não precisa se punir mais. Além de
mim, ele tem a Bia agora. Ele será feliz. – As lágrimas voltam a pedir espaço e
não sou forte o suficiente para evitá-las.
O que houve nesta família? O que a deixou neste estado?
Passamos pouco mais de duas horas ali. Laura sempre conversando com a
filha, como se ela pudesse ouvi-la. Relembrou vários episódios da infância e
adolescência da mulher que gerou o homem que eu amo. Conseguimos rir em
alguns momentos, mas o nó na garganta me acompanhou o tempo todo.
Antes de irmos, ela reforçou novamente a Vivienne que a amava, que Oliver
a amava e que ela poderia ir. Que deveria se libertar e que tudo ficaria bem.
Saímos em silêncio e assim seguimos até o carro.
– Bia, sei que você deve ter inúmeras perguntas a fazer e eu vou responder
as que eu puder. Mas por favor, eu preciso de uns minutos para mim antes
disso. É duro demais ver um filho nesse estado, duro demais dizer a ele que
deve partir. E eu faço isto há anos.
– Laura, estou aqui por você. O que você quiser, o que precisar. – Ela
assente. Dá instruções ao motorista e partimos dali. Uns quinze minutos depois
ela quebra o silêncio.
– Querida, você falou em ir ao shopping, mas vou levá-la a um lugar que
não cause tanto desgaste na busca das peças certas. É uma butique, há
consultoras que vão ouvir o que você precisa e vão trazer exatamente o que se
encaixa no seu gosto e no seu manequim para provar. Shopping é cansativo e
seria perigoso caso alguém a reconheça, não viemos preparadas. Este lugar
preza pela discrição.
– Laura, eu agradeço, mas preciso de um lugar com preços acessíveis. Não
precisamos fazer isto hoje.
– Santo Deus, Beatriz, ainda esta bobagem? Você é a mulher dele, por
favor... e mesmo que não fosse, Oliver é muito rico. Pode comprar todo o
estoque da loja que não fará nem cócegas em sua conta bancária.
– Não é questão de ser rico ou pobre. É de fazer o que é certo.
– O certo é você se manter segura e aceitar de uma vez a sua nova
realidade. Você é a mulher do maior astro da música atual. Faça suas compras
nesta loja e a conta será enviada a ele. Não é como se você estivesse por aí
esbanjando dinheiro e se aproveitando da situação, Bia. Eu sei, ele sabe! – O
que me resta?
– Tudo bem, vou aceitar.
– Ótimo. Agora entre lá e compre tudo que precisa. Não deixe de levar
pensando que está sendo abusada. Não sei você, mas eu pago para não fazer
compras, então quando eu compro, compro para o ano.
– Neste ponto tenho que concordar com você. Aquele dia de shopping com
Hazel ainda me causa pesadelos. – Ela ri.
– Hazel adora agito e adora bater perna.
– É. Descobri a duras penas. Ou deveria dizer “duras pernas”? Porque eu
quase não consegui levá-las até o carro no fim da noite.
– Imagino, imagino... Eu vou esperá-la na pracinha ao lado. Fique o tempo
que precisar na loja, depois almoçamos e retornamos à Oceanside. Peça por
Elsa. Eu enviei uma mensagem a ela avisando que você viria.
Entro na loja, peço pela tal Elsa que realmente já está a par da situação.
A garota me faz algumas perguntas, tira as medidas e me encaminha a um
provador, que está mais para uma suíte. Tem até frutas e champanhe a
disposição. Acho que nunca estive num lugar tão chique. Só os lustres da
butique devem custar o que valia o nosso apartamento em Chicago.
Nem imagino quanto custará uma simples calça jeans aqui. E decido que
nem vou olhar, pois vai me doer saber que pagarei uma fortuna por algo em
que poderia gastar bem menos.
Mesmo que dinheiro não seja o problema, é desconfortável. Soa imoral,
soberbo. Mas entendo que não se paga apenas pelo item, e sim pela
comodidade e segurança.
Consola, um pouco...
Compro algumas calças jeans, outras calças mais refinadas, duas mais
ousadas, algumas saias até quase o joelho, blusas, camisas e camisetas. Além
de jaquetas, casacos, sapatos e bolsas. Somando isso a todos os vestidos, mini
saias, regatinhas, shorts, biquínis, lingeries, sandálias, sapatilhas, rasteirinhas,
cremes, perfumes e maquiagem que Hazel comprou para mim, posso dizer que
terei um guarda-roupas super completo por um bom tempo.
Como nunca tive um em toda a minha vida.
A primeira coisa que farei ao voltar, é me desfazer de peças que trouxe
comigo e que já estão para lá de surradas.
O que mais me impressiona, é que não levei mais de uma hora e quinze
minutos para resolver tudo.
Hazel que me perdoe, mas prefiro mil vezes o jeito Laura de ir às compras.
Estou quase saindo quando lembro que o aniversário de Oliver é dali há
oito dias.
O que poderia dar a ele?
Comento com Elsa e ela me mostra algumas opções. A princípio nada me
agrada, até que vejo, num dos manequins masculinos com roupas mais
descoladas, uma pulseira, formada por cinco tirinhas de couro preto muito
finas, e com uma medalhinha de ouro branco pendurada. Aquilo combina com
ele, mas não sei se consigo pagar, pois não quero comprar o seu presente com
o seu próprio dinheiro.
Como tudo ali, a peça é bem cara, iria mais da metade do que tenho em
conta para comprá-la, o que me desanima. Elsa nota, me pede um instante,
entra num outro cômodo e minutos depois retorna.
Então comenta comigo que aquelas joias são feitas por um artista local
renomado, ele cria para cada cliente em exclusivo. E que aquela está no
mostruário há bastante tempo apenas para divulgar o seu trabalho, não para ser
vendida. Ela ligou para o artista, que concordou em vender pela metade do
preço, caso eu concorde em levar a peça da exposição. A loja também retiraria
o seu percentual, para que eu me torne cliente, sendo assim, eu pagaria pouco
mais de um terço do preço original.
Para os meus padrões ainda é muito salgado, mas como Laura disse, tenho
que me habituar a minha nova realidade e acho que Oliver realmente vai gostar
daquilo.
Resolvo levar.
Passo a ela o que eu gostaria que fosse gravado na medalhinha e ela fica de
me avisar quando estará pronta para que um dos motoristas a busque.
Com tudo resolvido, saio em busca de Laura, enquanto funcionários da loja
levam minhas compras para o carro.
– Laura – chamo, quando a vejo, está sentada num dos bancos sob as
árvores.
– Oi querida, e então, conseguiu tudo o que queria? Lhe atenderam bem?
– Sim, tudo perfeito.
– Que bom. Poderíamos ficar aqui e conversar, mas penso que seria bom
eu levá-la até a ONG, apresentá-la a Selena. Assim poderá dizer a Oliver que
fizemos isto e depois você ficou na loja enquanto eu fui fazer alguma outra
coisa. Nada disso seria exatamente uma mentira. E deixamos a conversa para o
almoço e a volta. O que me diz?
– Claro, vamos lá.
A ONG funciona numa sala comercial num edifício próximo de onde Oliver
tem o seu apartamento em Long Beach. Conheço Selena, a doce senhorinha que
ajudou Laura em seu começo forçado na vida adulta.
Ela lembrou com carinho do meu pai.
Além de Selena, está lá também a sua assistente. Elas me contam um pouco
sobre os trabalhos que desenvolvem, em sua maioria beneficiam crianças em
situações críticas ou de abandono e mulheres vítimas de abusos.
No espaço há quatro mesas, de Selena, de sua assistente, de um outro
colaborador que não está ali naquele dia e a que Laura e Helen dividem
quando vêm até o escritório, apesar de fazerem a maior parte de seu trabalho
de suas casas mesmo.
Cerca de quarenta minutos depois, estamos as duas sentadas à mesa de um
pequeno restaurante vegano que Laura diz ter uma comida deliciosa. O que é
absolutamente verdade.
Sempre imaginei que lugares assim servirem comida sem graça e sem gosto.
Não poderia estar mais enganada. Os temperos são muito saborosos.
Laura pede uma salada apenas, que permanece quase toda intacta ao final da
refeição. Sinto sua dor, mas não sei o que fazer para amenizá-la, então deixo
que tome o tempo que quiser sem tocar no assunto que permanece em aberto
entre nós.
Meu telefone toca, é Oliver.
– Oi amor.
– Bia, ainda estão em Long Beach?
– Sim, estamos terminando de almoçar neste exato momento. E vocês?
– Ainda em Los Angeles, voltaremos daqui a pouco. O que tanto fizeram
por aí? – Engulo em seco, preciso ser convincente.
– Conheci a ONG, sua avó me levou a uma butique onde comprei as
roupas que comentei com você. Ela foi resolver outro assunto enquanto fiquei
por lá. – Laura olha e me lança um sorriso cúmplice. – Nos reencontramos e
viemos almoçar. Foi isso.
– Ah... certo. Então você voltará a tempo para a primeira aula com Edgar?
– Sim, creio que chego por volta das quatorze horas. – Laura me faz um
positivo.
– Até daqui a pouco, baby.
– Até. Amo você. – Desligamos.
– Laura, você acha que...
– Sim, ele se lembrou de que dia é hoje. Sabe que eu não deixaria de ir vê-
la.
– Detesto não ser sincera com ele.
– Sei disso querida, mas vamos conversar no carro durante a volta e te
explicarei os meus motivos o tanto quanto eu conseguir.
– Tudo bem.

– Pronto, Bia. Agora já me sinto refeita e aqui temos toda a tranquilidade


para falar. Pode me perguntar o que deseja.
– Há quanto tempo ela está...
– Há dez anos.
– O que aconteceu para ela ficar assim?
– Um AVC.
– Mas você disse outro dia que criou Oliver sozinha desde os seus sete
anos e meio, não entendo...
– Infelizmente não posso esclarecer completamente, preciso que Oliver lhe
conte. Não é algo que você vá conseguir fingir que não sabe quando estiver
perto dele, o que posso te contar, é a parte da história que pertence apenas a
mim. A última vez em que eu falei e vi a minha filha bem e saudável ela tinha
vinte anos. Só fui revê-la vinte e dois anos depois, numa cama de hospital,
ligada a vários tipos de aparelhos. Já falar, nunca mais tive a oportunidade.
– Fica difícil ligar os pontos.
– Sei que sim. Não tente ir por este caminho, você não vai conseguir
deduzir.
– Ok. Por que não a via há tanto tempo?
– Eu não concordei com os planos dela quando começou a se envolver
com o conde inglês, o dono da empresa onde trabalhava. Tentei impedi-la. Ela
então resolveu que não queria mais contato comigo.
– Oliver é filho de um conde? – Laura apenas dá um sorriso tímido,
confirmando.
– E o tal conde, está vivo?
– Até onde eu sei, sim.
– Ele não procura o filho?
– Essa é outra questão que fica fora da minha alçada esclarecer, querida.
O que posso dizer sobre este homem, é que é de uma antiga família nobre da
Inglaterra, dono de várias empresas espalhadas pelo mundo, nunca quis saber
de Oliver desde que tudo aconteceu e eu nunca o vi pessoalmente.
– Mas eles foram casados, Vivienne e ele? Pelo pouco que Oliver me
contou, deu a entender que vivia com os pais quando sofreu o acidente.
– Sim, Vivienne o encantou, como era seu costume, e conseguiu o que tanto
queria. Ela foi embora com ele, casaram-se e viviam na Inglaterra.
– Você disse que só a viu outra vez quando já estava doente. Mas Oliver
estava com você desde os sete. Os dois abandonaram o filho?
– De um modo simplista, pode-se dizer que sim. Mas o que fizeram, Bia,
principalmente Vivienne... foi cruel.
– Por que duas pessoas assim seriam cruéis com o filho, um menininho...
– Difícil aceitar, não é? Até hoje eu ainda não acredito que ela fez o que
fez a uma criança. Seu próprio filho.
– Quando você disse a ela que Oliver a perdoou, não é verdade, é?
– É tão complexo! Ele não quer falar dela, não quer saber de nada
relacionado a ela, mas quando ligaram dizendo que ela estava em coma num
hospital ele ficou muito mal. – Ela engole em seco.
– Levou meses para se recuperar, nunca a visitou, mas não mediu esforços
para que ela tivesse o melhor tratamento, vários e vários especialistas foram
chamados numa tentativa de reverter o quadro, sem sucesso. Todos os
diagnósticos eram desanimadores.
– Após dois anos do seu coma, eu decidi que bastava. Por mais que ela
tenha errado, aquele tempo de sofrimento, presa a uma cama, inerte, mantida
viva por máquinas, tinha sido castigo suficiente. Peguei os documentos no
hospital e levei para Oliver assinar, disse-lhe que ele precisava autorizar os
médicos a desligarem os equipamentos. Ele assinou aqueles papéis chorando
feito criança pequena. Foi de partir o coração. Antes do dia D, decidiu que iria
vê-la, só que não conseguiu. Teve um colapso nervoso... – Ela desvia o olhar
do meu.
– Então não desligaram?
– Sim, desligamos.
– Mas como?
– Aí é que está a ironia. As máquinas foram desligadas e os médicos
avisaram que levaria alguns dias até que os órgãos parassem de funcionar e ela
morresse. Nesse período iriam apenas hidratá-la, alimentá-la e ministrar
remédios para dor. Isso já soma oito anos. Parar de alimentá-la e hidratá-la
seria considerado eutanásia, Oliver não me deixa nem tocar no assunto. Mas
toda vez que eu a vejo naquele estado... ah Bia, minha filha não quer morrer
sem...
– Sem ouvir de Oliver que ele a perdoa.
– Sim, é o que eu penso.
– E ele não quer vir.
– Nunca pedi. Se eu pedisse ele viria. A questão é que não posso fazer
isso com ele. Eu não me perdoaria se ele ficasse... mal de novo.
– Sim, ele ficaria mal por um tempo, mas se despediria da mãe. É bom
para os dois. Você deveria falar, Laura.
– Não, querida, é bem mais sério do que isto e você vai entender quando
ele contar o que houve com ele. E é pelo mesmo motivo que eu não peço, que
você também não pode fazê-lo, não pode contar sobre o que você viu e
descobriu hoje, me promete?
– Sim, já lhe dei minha palavra. Por que você quis que eu soubesse dela,
Laura?
– Porque você foi a primeira pessoa que o fez se abrir na vida. Que o fez
se arriscar, encarar os seus medos. Você sabe o jeito certo de lidar com ele.
Depois que ele tiver coragem suficiente para compartilhar o que falta da sua
história, então você pode ser honesta com ele e contar que a viu. E assim,
talvez, com o seu apoio, com você ao seu lado, ele consiga dizer adeus a ela
sem maiores danos. Mas ele precisa dar o primeiro passo, sinalizar que está
pronto.
– Entendi. Bom, eu prometo a você que depois que ele der esse voto de
confiança e me contar, eu ajudo no que estiver ao meu alcance. – Ela me
abraça.
– Obrigada. E obrigada também por estar ao meu lado hoje.
– Você sempre a visita sozinha? Os outros não sabem sobre ela?
– Sabem, sabem sim. E me deram e dão muito apoio. Além da família,
Riley, como advogada, também foi colocada a par. Só Hazel e Kellan que não
tem conhecimento da história porque ainda eram muito crianças quando ela
adoeceu e não vimos motivos válidos para envolvê-los no drama. Melhor que
não saibam enquanto não houver necessidade. Assim como você, deduzem que
ela morreu.
– Todos os domingos, antes do trabalho assistencial que fazemos, eu vou
vê-la. Helen e Alicia sempre se oferecem para entrar comigo. Às vezes eu
aceito, outras prefiro ir sozinha. Mas este dia, o do seu aniversário, só você
e... – Ela parece se arrepender do que iria dizer.
Uma intuição maluca me ocorre.
– Eu e Edgar? – Laura me olha abismada.
– O que? Como?
– Ele sabe, não sabe?
– Sim, sabe. Ele lhe contou? Você já sabia?
– Não, por Deus, eu te disse que não sou boa mentirosa. Não conseguiria
disfarçar neste nível se soubesse. Mas eu percebi lá no estúdio e no jantar que
há algo mal resolvido entre vocês. O que houve, Laura?
– Nada. Tudo muito bem resolvido.
– Ele gosta de você.
– Bia!
– É verdade! Se você visse como ele te olha. Parece dor e saudade. – Ela
fecha os olhos. – Vocês já se envolveram, não envolveram?
– Edgar me deu apoio em um momento muito difícil. Nos aproximamos,
iniciamos uma amizade, ele soube da minha história, ficou tocado. E acho que
isso... isso fez ele confundir as coisas. Em certa altura quis que a amizade
avançasse para outro patamar, então eu tive que tomar uma decisão. Decidi
cortar relações.
– Mas, por quê? Ele ainda é um homem tão bonito. Vocês formariam um
belo casal.
– Já passei da idade e tenho que pensar primeiro em Oliver.
– Oliver é adulto. Você já fez mais do que a sua parte em relação a ele.
– Você diz isso porque não sabe...
– Por mais que a sua filha tenha sido cruel com o filho dela, o pecado não
é seu. Você foi a mãe e o pai dele. Você deu teto, comida, amor, um lar. Ele
cresceu, venceu na vida. Olhe para ele, para o homem que você ajudou a
formar. Pense em si mesma agora. Por que não se permite pelo menos
experimentar?
– Melhor deixar as coisas como estão.
– Você não o acha atraente? Edgar?
– Você não desiste?
– Como pensa que conquistei seu neto? – Ela ri e balança a cabeça. – E aí,
acha ou não acha?
– Acho, acho sim.
– Uhmm, eu posso tentar dar um empurrãozinho numa reaproximação, se
você quiser.
– Não, por favor. É passado, ele nem deve ter mais interesse.
– Eu garanto que ele tem.
– Bia, por favor. Sei que você está vivendo um romance lindo, e que isso
faz você querer que todos a sua volta vivam o mesmo, mas não é o caso,
acredite.
– Posso dizer o que eu penso, sinceramente?
– Pode, claro.
– Que no fundo você quer, mas tem medo. Seus olhos brilharam ao falar
dele. Você evitou novos relacionamentos a vida toda Laura. Tenho certeza de
que vários homens, tão bacanas quanto Edgar, tentaram ficar ao seu lado. E
ontem você me confessou que nunca deu chance a nenhum deles. Será que não
está mais do que na hora de se arriscar? O que você tem a perder?
– Oliver pode reagir mal.
– Ah sim, claro, Oliver talvez tenha uma baita crise de ciúmes. E só. Mas
ele é grandinho o bastante para conseguir passar por ela. E eu estarei lá para
colocá-lo na linha. – Pisco para ela.
– Só de imaginar um homem querendo me beijar, eu nessa idade... não te
parece algo fora do eixo? Tipo uma mulher adulta se vestir feito uma
adolescente?
– Não parece, não. De onde você tirou tanta bobagem? Não há idade para
amar alguém.
– Tudo bem, vamos fazer o seguinte. Eu te dou permissão para sondar
Edgar, discretamente. Se você descobrir que ele ainda quer uma aproximação,
prometo pensar no assunto. Pensar, ouviu bem?
– Uhuuu! Acordo fechado. – Vibro, a abraço e beijo sua bochecha.
Ela merece tanto alguém, ser feliz, viver para si mesma, para variar. Claro
que meu ritmo de promover esse reencontro não será tããão lento assim.
Não mesmo.
Depois de passarmos pelos portões do condomínio, eu fico na Three Minds
e Laura segue para casa.
Como não combinei nada específico com Oliver, entro pelo acesso comum.
Cumprimento rapidamente a menina da recepção e outro grupinho de pessoas
que conversa por ali.
Alcanço o elevador debaixo de olhares avaliativos.
Bato na porta do estúdio e a abro.
Quatro roqueiros lindos de tirar o fôlego sorriem para mim, mas minha
atenção foca em apenas um.
Não estava preparada para a cena do Deus do rock em sua versão sexy
show man.
Sem camisa, guitarra atravessada no peitoral largo, cabelos soltos e óculos
de sol, soltando a voz ao microfone.
Que tesão!
Assisto fascinada.
Estão tocando Paradox, provavelmente testando o solo, a nova estrofe da
letra e os ajustes sugeridos por Edgar.
Me aproximo um pouco mais, olho para o lado, para o vidro que separa o
estúdio da sala de produção, e as meninas do lado de lá parecem tão
fascinadas quanto eu. Só faltam colar os narizes no vidro. Quando percebem
que minha atenção está nelas, tentam disfarçar, mas é tarde demais.
Cruzo os braços.
Um minuto depois a música termina.
– Finalmente de volta, anjo. Não me agradou nem um pouco a experiência
de acordar hoje de manhã sem você naquela cama enorme. – Retira a guitarra
dos ombros e os óculos escuros.
– Algum problema com seus olhos e suas roupas, baby?
– Não meu bem, por quê? – Finge ingenuidade, os outros três caçoam.
– Você costuma ensaiar assim? Onde está sua camiseta, Oliver? – Ele vem
e me pega pela cintura.
Tento afastá-lo, mas quem disse que consigo resistir muito tempo a braços
fortes, menta e Oliver seminu e suado?
Então o beijo é o tiro de minerva que faltava para eu me derreter feito
gelatina.
– Calma, Chucky. As luzes do estúdio irritam meus olhos, quando passo
muito tempo nele, por isto uso óculos escuros.
– E o tecido da camiseta também irrita seu corpinho? – Corro os dedos
entre os pelos do seu peito, com a minha melhor cara predatória.
Ele acha graça.
– Não, mas houve um acidente. O imprestável do Lian derrubou o copo de
café em cima dela. Tive que tirar.
– Epa, o imprestável do Lian não teria derrubado nada se o avoado aí não
vagasse pelo corredor no mundo da lua e olhasse por onde anda. – defende-se
o guitarrista.
– Certo. Sendo assim, a partir de segunda você não sai mais de casa sem
levar uma camiseta extra, querido. Eu mesma vou me encarregar de separá-la.
– Como quiser, querida. – Me beija de novo.
Alguém bate à porta do estúdio, e antes que eu possa impedir, Oliver a abre.
Uma garota tão baixinha quanto eu, de óculos, que aparentemente iria girar a
maçaneta no mesmo instante, tropeça e dá um encontrão em seu peito nu.
Fica tão incrédula com a sua sorte que não consegue se mexer dali. Reviro
os olhos para os meninos que riem da minha cara.
E pior é que nem posso culpá-la.
Oliver precisa segurá-la pelos ombros e afastá-la de si para que ela recobre
a consciência.
– É, hum... desculpe, Sr. Rain... eu... – Ela arruma os óculos e dá uma boa
conferida no material à sua frente, e mesmo com a sua pele achocolatada, é
possível ver as bochechas adquirirem um leve tom rosado.
Paciência, Bia, paciência...
– Eu vim trazer isto. – Estende a ele uma embalagem transparente que
parece conter uma camiseta dentro.
– Obrigado. – Ele pega o pacote e segura a porta aberta esperando que a
garota se retire, mas ela parece não conseguir mexer as pernas do lugar,
hipnotizada por ele. Só se dá conta do seu estado catatônico quando Oliver
ergue as sobrancelhas para ela.
– Ah claro, desculpe de novo, eu... vou indo... – Finalmente sai.
– Parece que alguém ganhou o dia. O dia não, o ano – constato.
– Bela-Bia, você fica ainda mais linda emburrada. – Lian provoca. Oliver
ri e veste a camiseta da The Order que a moça entregou a ele.
– Pronto meu amor, agora você pode ir para a aula com Edgar tranquila.
Ninguém mais verá o meu tanquinho hoje. Prometo ficar longe de Lian quando
ele estiver segurando qualquer coisa nas mãos.
– Eu posso ir para a aula menos irritada, você quer dizer. Porque
tranquilidade é uma coisa que eu nunca mais terei na vida rockstar, até o fim
dos meus dias.
– O que eu posso fazer, meu bem? Quando você me cobiçou, sabia o que
vinha no pacote. – Dá seu sorriso mais sexy e safado e me abraça.
– É verdade..., – suspiro – achei que Edgar já estaria aqui.
– Ele está te esperando na sala de reuniões no final do corredor.
– E só agora que você me avisa? – O afasto e sigo apressada para a saída.
– Por que eu sinto que contra Edgar nunca terei vez? – Ouço-o resmungar
para os outros enquanto corro para a minha tão aguardada primeira aula.
As próximas duas horas passam voando.
Presto atenção fascinada, em cada conceito, cada exemplo, cada palavra
que Edgar diz. Nem acredito que estou tendo aulas particulares com o
profissional mais renomado na nossa área.
É como caminhar pelos meus melhores sonhos, mais uma vez.
Em certa altura alguém nos interrompe.
É a sortuda. De novo.
– Com licença, Sr. Blanc, Srta. Thompson. A Sra. Samuel pediu para
avisá-la que assim puder, a Srta. deve passar no RH para assinar a sua
contratação de estágio.
– Ok. Obrigada...?
– Linda.
– Linda. Diga a ela que antes do fim do expediente, eu passo lá, por favor.
– Na verdade, está na hora de fazermos uma pausa. Se quiser acompanhar
Linda e resolver isto, fique à vontade. Retomamos em meia hora. – Edgar me
libera.
– Ok, mestre. – Beijo sua bochecha e ele ri.
Sigo a “sortuda do dia” até o RH, Rose abre seu enorme sorriso quando me
vê.
– Vejam só se não é a futura Sra. Rain e nossa mais nova estagiária. Como
vai querida?
– Muito bem Rose e você?
– Ótima. Sente-se Bia, precisamos só resolver as formalidades com
algumas assinaturas suas.
Ela me fala das políticas da empresa, dos horários, que no meu caso, por se
tratar de estágio, a jornada de trabalho é de seis horas e não oito, como um
funcionário normal. Me explica sobre os benefícios, plano de saúde, ticket
refeição e transporte, que ela mesma admite que muito provavelmente não
precisarei, mas que tenho direito.
Por fim, me estende um crachá com o meu nome e o meu contrato de
trabalho para assinar.
– Este é o montante que você receberá por semana. Por favor, assine aqui.
– Eu olho para o valor que ela me apontou, depois olho para ela, então volto a
focar nos números naquele papel, só para ter certeza de que eu vi corretamente.
E sim, não foi uma miragem.
Largo a caneta.
– Rose, quantos estagiários há na Three Minds atualmente?
– Com você, doze. Temos pelo menos um em cada área da empresa e
alguns a mais na área de Alicia. Linda é a nossa estagiária do RH. Começou há
duas semanas.
– Sério? – Olho a sortuda que parece perdida em pensamentos sentada à
sua mesa de trabalho, nem imagino com o que ela está fantasiando... – Linda,
por favor. – Chamo.
– Ah sim?
– Sei que mal nos conhecemos, – mas o fato de você ter apalpado meu
homem me dá alguns direitos, penso, mais não digo – mas seremos colegas de
trabalho e se não se importar, poderia me responder uma pergunta bem
pessoal? – A garota arregala os olhos e Rose ri, já imaginando o que vou
perguntar.
– Olha, Srta. Thompson, se é sobre o que aconteceu lá no estúdio... – Ela
começa a se justificar e arruma os óculos.
– Não, não é sobre isso, fique tranquila, sei que você não teve a intenção.
E pode me chamar de Bia. O que eu quero saber é o quanto você ganha por
semana como estagiária aqui. Mas se não se sentir confortável em responder,
tudo bem.
– Ah isso? Sem problemas. Eu ganho como todos os outros. USD 875,00
por semana. – Estreito meus olhos para Rose.
– Sinto muito Rose, não posso assinar. Por favor, refaça o contrato
considerando o mesmo valor que os demais estagiários recebem descontando
duas horas, afinal ficarei aqui as oito horas de um funcionário normal, porém
metade do expediente de alguns dias será destinado às aulas com Edgar e não
seria justo eu receber por seis horas de trabalho como os demais. A bem da
verdade, eu nem precisaria ter um salário, visto que Oliver pagará pelos meus
estudos. Certamente, uma hora de Edgar vale a semana de um estagiário, se não
mais.
– Então teremos um problema, Bia. Oliver me disse que esse era um ponto
sem discussão. Ele é um dos meus chefes, terei que chamá-lo aqui.
– Faça isso, por favor.
– Linda...
– Não! – Me atravesso rapidamente. – Linda não precisa se dar ao
trabalho de ir até lá, eu ligo para ele vir até nós.
– Quando estão no estúdio, normalmente não atendem.
– Se ele não atender, eu mesma vou chamá-lo.
– Como quiser. – Pego o celular e chamo. Ele me atende no terceiro toque.
– Oi anjo.
– Baby, pode vir até o RH, eu e Rose temos uma questão a esclarecer com
você.
– Se é sobre o salário, não há nada a esclarecer, é o valor definido e está
acabado.
– Eu não concordo, não assino.
– Ok, será depositado na sua conta da mesma forma.
– Oliver!
– Estou chegando aí... – Ele abre a porta e, se não me engano, pude ouvir
alguns suspiros nas mesas em torno.
– Devolva o contrato a ela Rose. Assine, Beatriz. – Extremamente direto
ao ponto.
– É ridículo, Oliver! Dois mil e quinhentos dólares por semana? Que
estagiário ganha isso?
– Estagiários na Apple, na Google, no Twitter ganham oito mil dólares por
mês.
– Você está me oferecendo dez mil dólares mês. É mais do que muitos pais
e mães de família ganham. E não me interessa a Apple, o Google e a porra do
Twitter. Quero ganhar como os outros estagiários da Three Minds.
– Você não é como os outros estagiários da Three Minds, Beatriz, você é a
minha mulher. Você não vai ficar aqui só as seis horas, você está ajudando a
produzir as músicas, vai trabalhar na turnê e talvez até, o que ainda vamos
discutir, cantar numa das atrações. E lá, durante a turnê, meu bem, não tem dia
e nem horário, é trabalho ou translado direto. Além disso, você não vai
usufruir de todos os benefícios que os demais estagiários usufruem.
– Não vou usufruir porque você paga todas as minhas despesas. Você está
pagando pelos meus estudos. Trabalhar na turnê? Aquela que só existe por
minha causa? Que você fará em honra aos meus pais? Que será por um bem
maior? Acha mesmo que eu aceitaria receber um centavo para fazer parte? E
justamente por ser a sua mulher, meu amor, é que não devo ter ainda mais
regalias aqui dentro. Não adianta, não vou aceitar ganhar mais que os outros.
– Muito bem. Rose, por favor, reveja os papéis e corrija o salário de todos
os estagiários da Three Minds para dez mil dólares mês. Não ficaremos atrás
da porra do Twitter. – E dito isto ele sai e bate a porta.
Eu respiro fundo e me deixo cair sobre a cadeira.
Santa teimosia, Batman!
Homens e seus rompantes.
O silêncio é absoluto dentro do RH, acho que as pessoas nem respiram.
Estão todos estáticos, fingindo que sua atenção não estava concentrada na
nossa queda de braços.
– Bia, você quer conversar melhor com ele em casa e depois revemos? Ou
eu posso fazer o que ele acabou de dizer e você sai daqui como a heroína dos
estagiários. – Rose brinca para quebrar o clima e eu acabo rindo.
– Não, Rose. Me dê aqui o contrato que eu vou assinar.
– Ótimo.
– Por que eu me sinto tão mal com isso? – Ela se levanta e fecha a porta da
sua sala.
– Você acha mesmo que a sua contribuição para esta empresa estará no
mesmo nível da contribuição de Linda, cujo principal papel até o final do seu
estágio será escanear documentos e passar recados? Você está sendo preparada
para assumir a produção musical e artística da Three Minds, menina. A
direção dos shows levará a sua assinatura. O contrato de estágio é um mero
detalhe no seu caso. O correto era já tê-la registrado como funcionária, porém,
isso sim poderia gerar burburinhos desnecessário entre os demais
colaboradores, porque, querendo ou não, você terá regalias. Vai estudar parte
do tempo, é a namorada do todo poderoso. Se Oliver decidir que não virá
trabalhar amanhã porque quer levá-la num passeio, você faltará. Dizer que é
apenas uma estagiária, deixa as coisas mais maleáveis e menos burocráticas.
– Ele já faz demais por mim.
– Meu marido também paga a maioria das despesas lá em casa, querida,
nem por isso eu abro mão do meu salário. – Ela me dá uma piscadinha e eu sou
obrigada a rir novamente.
Se isso é tão importante para ele, que seja.
Volto para a sala de reuniões, onde Edgar e eu seguimos com mais uma hora
estudo. Ele quer que eu preste as provas da primeira disciplina ainda neste
ano.
– Cansada?
– Não, estou bem.
– Você estava mais animada antes do intervalo.
– Oliver e eu tivemos uma discussão.
– Posso ajudar?
– Não... não se preocupe, nada sério. Mas tem um outro assunto onde eu
acho que poderia sim.
– Então me diga. Qual é o assunto?
– Laura.
– O que houve com Laura? Aconteceu alguma coisa?
– Oliver não sabe, mas ela me levou para ver a filha hoje.
– Eu lembrei que dia é hoje. Vivienne...
– Na mesma.
– E o que você quer que eu faça por ela?
– Você gosta dela, não gosta?
– Ah isso... Se eu contar você promete que me deixa em paz e esquece
essa história?
– Acho que você não vai querer esquecer desta história depois da nossa
conversa, Edgar.
– Por quê?
– Ah não... não senhor... primeiro você. Pode começar a contar.
– Veja onde fui amarrar o meu bode! Eu poderia estar tranquilo e relaxado
em casa, mas não, acato as ideias malucas de Oliver e agora estou aqui, numa
sexta-feira final de dia, sendo interrogado por uma garota mal saída das
fraudas. – Ergo o ombro e cutuco seu braço com ele.
– Garota que você adora, vamos, admita. – Ele ri.
– Eu me apaixonei por Laura há dez anos.
– Uau. E aí?
– Aí que ela me deu o fora. Pronto, acabou.
– Você terá que fazer melhor que isso, mestre. Me dê os detalhes
picantes... – Ele solta a gargalhada.
– Quem me dera tivesse algum. Foi logo depois que Vivienne sofreu o
AVC e Oliver apagou.
– Oliver apagou? Como assim?
– Você sabe, pelo choque, o problema de...
– Ele teve uma crise nervosa, você quer dizer? – Edgar me analisa com
cuidado.
– Isso – diz simplesmente, engole em seco e continua – ele ficou mal e ela
teve que lidar com as coisas. Os garotos ainda eram contratados da gravadora
que os lançou e tinham agendas pesadas a cumprir. Alicia e Johnathan tinham
duas crianças para cuidar, além de assessorarem a The Order. Helen não
estava na sua melhor fase.
– Eu já produzia a banda pela antiga gravadora. Um dia Max me pediu o
favor de ir buscar a avó de Oliver numa clínica, levá-la para casa e aguardar
no apartamento dela até que eles chegassem, pois ela não estava bem, ele não
queria deixá-la sozinha. Oliver estava fora e ele e Lian ficariam presos numa
coletiva de turnê muito mais tempo do que o esperado.
– Eu fui, e o sofrimento e a bondade que vi nos olhos daquela mulher me
tocaram profundamente. A partir dali tentei me aproximar sempre que podia,
eu queria saber mais dela, cuidar dela. Ela relutou muito até se sentir
confortável a se abrir um pouco comigo. Devagar ganhei sua confiança e fomos
nos tornando amigos. Ela me contou da filha, me deixou acompanhá-la nas
visitas. Quanto mais eu a conhecia, mais a admirava. Em tudo. E mais eu me
apaixonava. – Ele solta o ar pesadamente.
– Só que, sempre que eu tentava sondar o terreno nesse sentido, ela se
esquivava, fugia. Sei que deve ter algo bem sério aí, mas esse foi um ponto que
ela nunca abriu para mim. Até que eu não pude mais esconder os meus
sentimentos. Numa tarde, depois de deixá-la em casa, eu a beijei e me
declarei. Disse que não queria mais levar as coisas apenas na amizade. Ela
decidiu então que não deveríamos mais nos ver. Falou que precisava pensar
em Oliver em primeiro lugar. E foi tudo! Tentei me reaproximar algumas vezes
depois, mas ela nunca mais deu abertura.
– Eu sinto muito, Edgar. Você ainda a ama.
– Sou tão óbvio assim?
– Vi no modo como olhava para ela ontem e as suas palavras agora só
confirmaram. Como Oliver nunca soube dessa proximidade?
– Laura não quis. – Desvia o olhar.
– Você precisa tentar outra vez.
– Não, Bia. Ela parece entrar em pânico só em dividir o mesmo espaço
comigo. Não vou mais forçar a situação. Definitivamente, o interesse é
unilateral. Ela só queria a minha amizade. E agora nem isso aceita mais... Já
me conformei com o fato.
– Você está errado.
– O que te leva a crer nisso?
– Você sabe que ela teve a filha aos quinze anos e que tanto o pai do bebê
quanto os pais dela a abandonaram, né?
– Sei sim.
– E você sabe que aquele homem foi o único que ela teve na vida?
– O que? Impossível...
– Ela nunca mais deu chance a ninguém, Edgar. Laura me disse que tinha
medo de arriscar a sua estabilidade, depois de sofrer para se reerguer. Então
pense comigo, se mesmo refeita não se permitiu, imagine quando a tentativa de
um envolvimento acontece quando ela está em profundo sofrimento outra vez.
– Eu não consigo acreditar que ela passou a vida toda sozinha. Não uma
mulher como ela.
– Ela vinculou o sexo a causa de todos os seus infortúnios. Na verdade,
aquela menina de catorze anos que foi jogada fora por ter cometido o pecado
capital, acredita até hoje que foi isso mesmo que cometeu. Um pecado. Que
deve pagar pelo resto da vida. Assim como os seus pais acreditavam que ela
não tinha mais valor depois de se tornar impura, lá no fundo, ela também
acredita. Ela quer, mas o medo e a culpa são maiores do que ela. Acredite.
– Medo de que? Ela não é mais uma menina indefesa. Eu não sou um
moleque.
– E medo lá é uma coisa que se explica, Edgar? Talvez de perder tudo de
novo, de perder o respeito de Oliver, de se entregar e ser abandonada. Não sei,
você terá que descobrir, mestre.
– Eu não quero ser rejeitado outra vez, Bia. – Seguro o seu rosto e o faço
olhar para mim.
– Você não vai. Tem uma variável diferente na equação desta vez que você
não está levando em conta, Edgar.
– É? Qual?
– Eu. – Ele ri.
– Você?
– Sim, eu. Laura não é mais a única pessoa que Oliver tem. Ela sabe que
ele tem a mim agora, e esse pequeno detalhe faz toda a diferença para ela ter
que encarar as suas desculpas como o que realmente são, desculpas. – Ele
estreita os olhos para mim.
– Sabe que você pode ter razão?
– Não é?
– Ok, vamos fazer um trato. Você sonda Laura, descubra se ela tem algum
interesse em mim como homem. Então prometo que a farei se ver novamente
como uma mulher. – Eu tento, juro que tento, muito, manter a seriedade, mas
não consigo.
Eu beijo a bochecha de Edgar, o abraço e deixo a risada correr solta.
– Não estou entendendo – diz ele.
– Ah mestre, mestre... eu quero ser a madrinha do casamento... Laura me
pediu a mesma coisa.
– Laura te pediu para você me...
– Sondar e descobrir se ele ainda quer uma aproximação, palavras dela.
Ela pode ter usado um discretamente em algum ponto da frase, mas eu resolvi
ignorar. A vida é tão curta... – Edgar abre um sorriso que não cabe naquela
sala de reunião.
– Ela disse isso mesmo?
– Cada palavra.
– Preciso agir.
– Para ontem.
– O que eu faço?
– Ame-a. Ela precisa, ela merece. Laura não sabe o que é sentir prazer nos
braços de um homem, Edgar. Mostre a ela. – Dou uma piscadinha.
– Você não existe! Esta parte deixe comigo, pupila. Eu preciso saber qual
a melhor forma de me reaproximar, sem assustá-la. – Alguém bate à porta e
gira a maçaneta na sequência.
– A aula não vai terminar hoje? – indaga meu mal-humorado namorado.
– Já terminados – diz Edgar. – Bia, segunda você acompanhará a parte
prática, vamos trabalhar na edição de Paradox que foi gravada hoje. Terça à
tarde, será nossa próxima aula teórica.
– Anotado. Sobre aquele caso que discutimos, vou pensar em algo durante
o final de semana como tarefa de casa.
– Ótimo.
– Até segunda, mestre – Oliver bufa – e obrigada.
– Até, pupila. Foi um prazer. E boa sorte. – Edgar move a cabeça
discretamente na direção do rockstar, carrancudo, parado à porta. Reviro os
olhos e saio.
Oliver pega minha mão e me arrasta para dentro do elevador. Não a larga,
mas não me olha nos olhos e não profere uma única palavra em todo o trajeto
até o carro. O que se repete no caminho até em casa.
Já tomamos banho, já jantamos, já papeamos com Laura e fora poucas
respostas educadas e monossilábicas que ele me dirigiu, seu humor continua
azedo.
Agora chega. Resolvo a determinada altura da noite.
Caminho decidida até a porta do escritório, onde ele se enfiou na última
hora.
– Oliver, podemos conversar?
– Entre, sente-se – diz sem tirar os olhos do que quer que esteja fazendo no
notebook.
Faço o que ele diz, porém não me sento na cadeira à sua frente, e sim na
ponta da mesa, ficando entre ela e ele, e provavelmente tapando parcialmente a
sua visão da tela do computador.
– Algum problema com as cadeiras?
– Quero entender o porquê da reação exagerada, Oliver. Você mal me
olhou nos olhos desde que saímos da produtora. – Ele finalmente ergue a
cabeça na minha direção. – Me fala logo o que te incomodou tanto na minha
recusa em assinar aquele contrato. – Desliza a cadeira mais para trás, cruza os
braços e me encara.
– Me diz você, Bia. Por que é tão difícil assim aceitar?
– Eu te expliquei, não me sinto bem ganhando mais...
– Deixe-me reformular a pergunta então. Por que é tão difícil assim me
aceitar?
– O que? Como assim?
– Nós vamos nos casar, porra! – Dá um soco no tampo da mesa que me faz
pular de susto, então respira fundo, passa as mãos pelo rosto e cabelos.
– Nós vamos nos casar – diz agora num tom mais calmo. – O sucesso e o
dinheiro que vem comigo, fazem parte do que eu sou. Tudo isso, – demonstra o
ambiente à nossa volta – vai ser seu também. Aquela empresa vai ser sua. Você
e vovó são o que há de mais importante na minha vida. E você insiste que eu a
trate como trato todos os outros? Por quê? Sabe o que isso me parece, Beatriz?
– Não Oliver, me explique.
– A atitude de alguém que você não quer se comprometer. Que não quer
ficar devendo favores, porque a qualquer momento... – Fecho meus olhos
entendendo finalmente a complexidade do que a minha recusa representou para
ele.
As palavras de Laura hoje mais cedo me vêm à mente, “mesmo assim ele
não se acha suficiente, e isso é culpa da minha linda filha”.
– A qualquer momento o quê? – insisto, preciso que ele diga, ponha para
fora.
– A qualquer momento pode mudar de ideia. E ir embora. – Essa última
parte sai quase como um murmúrio.
Será que foi isso que Vivienne fez?
Acordou um dia e foi embora, largando-o com a avó?
Ando até ele, me sento sobre seus joelhos e deito a cabeça na curva do seu
pescoço, onde deposito um beijo e fico ouvindo as batidas do seu coração.
– É assim que você se sente? Com medo de que eu saia da sua vida de uma
hora para outra?
– Sim, esse é um medo constante que eu carrego comigo. Sinto ele em
relação a vovó e agora em relação a você. – Levanto o rosto para olhá-lo nos
olhos, passo meus braços em torno do seu pescoço.
– É por isso que você quer me pagar tão bem, Oliver? Para no caso de eu
resolver ir embora, ter dinheiro? – Ele não responde, só vejo o pomo-de-adão
subir e descer.
– Você sabe que eu me casaria com você hoje mesmo, não é? Que eu só
não faço isso agora porque traria à tona o meu medo de que você seja
arrancado da minha vida. Não posso perdê-lo também, meu amor. E não será o
poder da minha conta bancária, nem o fato de eu colocar uma assinatura em
qualquer contrato que seja, que indicará que eu estou comprometida com o
nosso futuro. – Lhe dou um rápido beijo.
– Claro que eu quero uma vida confortável, que me dê segurança e me
permita uma extravagância ou outra de vez em quando. Quem não quer? Mas
nunca almejei nada como isso. O que me faz estar comprometida é o que eu
sinto por você. É o que eu sinto quando estou com você. É você. Você é a
minha vida, Oliver. Eu não consigo nem imaginar o que será de mim se um dia
não puder mais estar assim, nos seus braços. Deixá-lo seria destruir a mim
mesma. – Enfatizo de todas as formas que consigo, primeiro porque é verdade
e segundo porque ele precisa ouvir, precisa dessa confirmação.
Deito novamente a cabeça em seu peito, ele me aperta contra si e leva uma
mão aos meus cabelos.
– Me perdoa. O contrato...
– Eu assinei. Agora faço questão de cada centavo do meu novo e
exorbitante salário, prometo me esforçar para justificá-lo, chefe. – Oliver
ergue meu rosto e me beija, depois abre um lindo sorriso.
A carranca finalmente sumiu. Está leve outra vez.
E com um brilho cafajeste no olhar.
Percebo bem o rumo que ele pretende dar a nossa conversa.
E não vejo a hora...
– Eu sei uma bela maneira de você demonstrar o quanto pretende se
esforçar.
– É? Não diga! – Levo minha mão até o seu pau e o massageio por sobre a
indecentemente calça de moletom, que expõe demais todos os seus avantajados
relevos, me fazendo salivar sempre que olho.
Ele geme.
– Começou bem, estagiária.
– Ah não querido, nesta matéria, – enfio a mão por dentro da calça e
seguro o meu pedaço do paraíso, arrancando mais gemidos – sou no mínimo,
pós-graduada.
– Pós-graduada o cacete. – Outro gemido. – Você é a dona da porra toda,
Beatriz. Esbalde-se!
– Eu vou baby, ah se vou... – digo enquanto meus lábios ansiosos rumam
lentamente para o Eden.
Capítulo 24

“Jogando duro com o coração, benzinho


Todo mundo tem um ponto fraco
Você é o meu, por que não?
É, você é o meu, por que não?”
(Ponto Fraco, Barão RVermelho)

Bia

J á é quinta-feira, a semana passou voando, e não consegui pensar


em nada bom o suficiente em relação a reaproximação de Laura
e Edgar. Sugeri que tentasse uma primeira conversa casual na
festa surpresa que estou planejando para Oliver em seu aniversário, dali a dois
dias, no sábado. Mas ele não ficou muito esperançoso em ter uma reação
positiva ao se chegar nela em público.
E eu devo admitir que concordo com ele.
Laura é retraída demais.
Estamos envolvidos até o pescoço com tudo que precisa estar pronto para
sairmos em turnê em dois meses, os dias têm sido curtos e extremamente
cheios.
Paradox e Fool’s Mate estão finalizadas e ficaram incríveis. Eden será
gravada semana que vem e Oliver tem adiado a conversa sobre a minha
participação no vocal, mas deste final de semana não passa.
Seguimos pelo corredor do segundo piso da Three Minds, em direção a sala
de reunião do financeiro, onde será feito um balanço do progresso até o
momento e traçados os próximos passos. Oliver, de repente, para a uns dois
metros da porta, com o celular na mão e uma expressão assustada.
– O que foi, meu bem? Que cara é essa?
– Nada não anjo, só...
– Se fosse nada, você não estaria branco do jeito que está olhando para a
tela do telefone. O que houve?
– Os resultados dos seus exames com o Dr. Nakoto ficaram prontos e ele
quer nos ver.
– É má notícia? Porque só um aviso de que os exames ficaram prontos não
te deixaria assustado assim. – Ele me olha receoso.
– Eu insisti para passarem os resultados por e-mail, como a Barbie fez,
pois estamos na correria por causa da turnê, mas ele se negou. – Engulo em
seco entendendo finalmente a sua reação.
Se o médico quer nos ver pessoalmente não é bom sinal, não é? Outra vez,
agradeci mentalmente por não estar grávida.
– Ele consegue um encaixe amanhã à tarde, Bia. Prefiro ir logo e ficamos
por lá o final de semana. – Merda, isso pode mudar todos os meus planos para
o aniversário de dele, mas sei que não vai conseguir curtir nada se não
resolvermos a questão.
– Sim, será uma tortura esperar mais tempo com isso martelando na
cabeça.
– Concordo.
– Resolvido então. Agora, por favor, esqueça o assunto até amanhã e foque
na reunião que vai começar, sim? – Ele suspira, como se aquilo fosse uma
tarefa impossível.
– Vou tentar. – Me penduro em seu pescoço e o beijo carinhosamente,
depois não resisto e dou uma lambidinha em seu pescoço, lhe fazendo rir e
relaxar.
– Tarada!
– Gostoso!
– Será que o casal pode fazer o favor de deixar a putaria para depois e
entrar logo na porra da sala de reunião? Só faltam vocês. – Lian está com a
cabeça enfiada para fora da sala.
– Só porque você pediu com tanta educação, cunhado – digo e puxo
Oliver para dentro do recinto. Lian abre um sorrido de orelha a orelha.
– Deus me livre ter um irmão assim – blasfema Oliver ao passar por ele.
– Você me ama, bonitão. Pode negar o quanto quiser, mas não vive sem
este corpinho – diz o maluco, fazendo uns gestos bem sexys, deslizando as
mãos pelo corpo e arrancando risos da sala toda.
– Eu sempre te aconselhei Lian, nunca é tarde para sair do armário e ser
feliz – rebate meu futuro marido, dando dois tapinhas no rosto do guitarrista e
recebendo o famoso dedo do meio como resposta.
A reunião é longa, embora produtiva.
Só a expectativa pelo clipe de Eden, instigada pelas chamadas na mídia,
disparou um considerável aumento de acesso às músicas da The Order. O
lançamento oficial da turnê, liberando a busca pelos ingressos mediante o
cadastro, feito na última terça, provocou mais um up.
A notícia da turnê beneficente gerou muito burburinho e propaganda
positiva para a banda. O mundo todo comenta o ato louvável e espera que isso
instigue mais celebridades a contribuírem por causas humanitárias. Riley
pontuou que está sendo difícil controlar o alto número de procura pelo
cadastro e pelos convites, mas que estão monitorando e dando o suporte
necessário para que tudo corra bem e dentro da legalidade.
Hoje pela manhã foi anunciada a notícia de que haveria algumas poucas
cadeiras pagas, a cem mil dólares cada, destinados parte para cobrir os custos
e parte doação a fim de pagar tratamentos em hospitais de baixa renda. Essas
cadeiras dariam direito a uma recepção pós-show com a participação dos
artistas, frisando a parte do “inclusive Oliver Rain” no texto. O que não me
deixou nada feliz. Mas segundo Willian, o diretor comercial, vários contatos
de interesse nestes ingressos foram feitos ao escritório da Three Minds em Los
Angeles.
Iris estava radiante falando sobre o clipe que será gravado na próxima
sexta, editado e lançado até o fim de novembro.
Quase todos já haviam saído quando Riley se aproximou pedindo para falar
conosco em sua sala. Há três dias ela fez uma reunião com Oliver, Lian e Max,
contando da gravidez e expondo a necessidade de largar os plantões que
divide com Peter, liberando sua agenda. Disse que Peter e ela já haviam
selecionado uma pessoa, dentre o corpo de seguranças, que era de total
confiança e seria treinado para ser o segundo no comando nas folgas do pai do
seu filho.
– Estamos aqui Riley. Qual é o problema? – Oliver inicia.
– Problema nenhum. – Ela retira algumas pastas de dentro da gaveta e
lança-as sobre a sua mesa.
– O que é isso?
– Isso, – responde – são as várias propostas que andam surgindo para Bia
participar de campanhas publicitárias. E digo que já filtrei só as que realmente
valem a pena considerar.
– O que? – pergunto abismada. Há pelo menos umas dez propostas ali.
– Pois é. Começaram a surgir logo após o seu post apaixonado nas redes,
Oliver. Depois do anúncio do clipe então, triplicaram.
– Recuse todas. Só isso? – diz meu namorado, ignorando.
– Como assim recuse todas? São para mim, não são? Quero pelo menos
saber do que se trata – interfiro.
– Você não precisa participar destas merdas.
– Quero analisar, Oliver. – Ele revira os olhos.
– Bia, todas estas são boas propostas, mas tem três que são altamente
interessantes. Se me permite a opinião, concentraria a atenção apenas nelas. –
Sugere Riley, pegando as três primeiras pastas de cima da mesa, me
estendendo. – Leve para casa e olhe com calma. Caso resolva aceitar alguma,
cuidarei de todo o processo legal envolvendo assinatura de contrato.
– Farei isso, obrigada.
Saímos dali direto para casa e, enquanto Oliver toma banho, me sento na
cama, com as pernas cruzadas a minha frente, abro a primeira proposta e leio
atentamente.
É o convite para participar de um comercial de perfume masculino, da
marca inglesa Clive Christian. Diz ali que o convite se estende a Oliver, que
gostariam de ter o casal como protagonista, entretanto, como sabem que ele
não considera propostas deste tipo, a segunda opção seria eu contracenar com
Jason Momoa.
Solto um gritinho histérico, caraca, o Aquaman!
Mas a verdadeira histeria vem quando eu bato os olhos no cachê.
Puta que pariu.
Só podem estar de sacanagem.
Não pode ser.
Querem me pagar um milhão de dólares. UM MILHÃO!
Para mim? Euzinha?
Por um comercial de no máximo um minuto?
O mundo é mesmo tããão injusto! Não fiz nada para merecer, só estou tendo
a oportunidade estendida a minha frente pelo simples fato de estar namorando
uma celebridade. Por que algo assim não caiu no meu colo quando eu
precisava do dinheiro para o tratamento dos meus pais? Realmente é fácil
enriquecer sendo rico.
Passo para a segunda pasta
Neste, me chamam para participar do New York Fashion Week do próximo
ano, desfilando pela Savage e Fenty, marca de lingerie da Rihanna.
Será que eles sabem que tenho só um metro e sessenta, sendo otimista?
Que não sou gorda, mas estou longe de ser a perfeição proporcional das
modelos de passarela?
Que minha barriga não é chapada, chapada?
Que uma coxa minha daria duas de uma modelo padrão?
Não, certamente não devem saber de nada disso...
Mas se eu me dispuser a aparecer quatro vezes na passarela e posar para
algumas fotos, embolso a bagatela de seiscentos mil dólares.
Assim, facinho, facinho.
A terceira e última é para estampar a próxima coleção da Tiffany & Co.
Seriam fotos para sites, revistas e outdoors.
Eu?
A cara da Tiffany?
Senhor, em que mundo estamos?
O trabalho me renderia míseros oitocentos mil dólares. Se Oliver concordar
em aparecer junto em uma das fotos, o cachê da dupla passaria para CINCO!
CINCO milhões de dólares.
Atiro a pasta de qualquer jeito sobre o colchão e me jogo para trás, caindo
sobre o travesseiro.
É muita grana.
Grana fácil que viria para as minhas mãos apenas por ter Oliver em minha
vida.
Olhando para estas pastas me sinto tão inocente por ter recusado os dez mil
dólares que vou ganhar na Three Minds, e que ainda acho muito. Mas pelo
menos esse dinheiro virá por esforço, pelo meu trabalho.
O destes contratos, não.
Não sou atriz, não sou modelo.
Não sei as técnicas para se portar bem em frente às câmeras, ou a forma
correta de andar sobre uma passarela. Nunca estudei ou investi em nada disso,
e ganharia muito mais do que muitos profissionais qualificados destas áreas
ganharão a vida toda.
É tão hipócrita!
Passo os próximos minutos ali, pensando no que fazer sobre aqueles
convites.
Quando tomo a minha decisão, Oliver entra no quarto peladinho como veio
ao mundo. Cruzo meus braços atrás da cabeça e nada mais importa, a não ser
admirar a perfeição do meu Adônis desfilando nu pelo nosso quarto.
Suspiro e olho-o fascinada.
Oh meu pai!
Trinta socialites desocupadas tentarão jantar você após cada show,
tentação.
Vou te enrolar numa cerca elétrica.
Tocou, morreu!
– Passei no exame? – pergunta com o sorriso mais canalha do mundo.
– Inconclusivo. Preciso coletar uma nova amostragem – devolvo, fazendo
um gesto circular com o dedo para que ele dê mais umas voltinhas pelo quarto.
– Só o que me faltava...
– Ah bebê, não seja mal. Desfila para a sua anjinha, vai... – Ele ri da
minha falsa santidade.
– Minha anjinha, é, sua safada? Me mostra as asas que eu penso no seu
caso. – No mesmo instante tiro a calcinha e ele me olha com interesse
redobrado.
Puxo a barra da camiseta da The Order para cima, abro bem as pernas para
ele e seguro as laterais da minha boceta para que os pequenos lábios vaginais
fiquem bem à mostra.
– As asas. – Digo, mordendo o lábio inferior e fingindo inocência. Ele
pragueja e tenta avançar na minha direção, mas eu levanto uma mão, barrando.
– Não, não. Meu desfile...
– Chucky, Chucky, de anjo só essa sua carinha linda. – Acaricia o pau e
anda despretensiosamente pelo quarto com o olhar fervendo, me dando o que
pedi. Levo a mão ao meu clitóris e estimulo-o, apreciando o espetáculo.
– Isso baby, deixa ela bem meladinha para mim – incentiva. Gemo, já
louca de desejo e querendo que ele me foda de uma vez.
– Pronto, agora vem aqui pertinho, vem – peço.
– Abusada. – Ele tenta subir pelos pés da cama, mas paro-o colocando
meu pé no seu peito.
– Aí não, de pé, aqui. – Dou dois tapinhas na lateral da cama, próximo ao
meu rosto. – Preciso sentir o seu gosto, amor.
– Ah pequena, que tesão! Então chupa gostoso, vai... – Eu desço os lábios
devagar pela sua extensão. Saboreando seu gosto, sentindo seu cheiro. Oliver
prende meu cabelo para ter a visão completa da minha boca trabalhando nele.
– Essa imagem permeia meus sonhos, anjo, desde o primeiro dia que vi a
boca indecente que você tem.
– Não mais indecente do que você de sunga branca rockstar. Ou naquela
calça de moletom. – Salpico de leves beijos o seu abdômen, fazendo-o
arrepiar e ter leves espasmos.
Ele passa a fazer um carinho gostoso, passando os dedos entre os fios dos
meus cabelos cacheados, enquanto minha boca, e meus beijos, vão subindo
pelo seu corpo.
De repente, sem avisar, sem pedir licença ou permissão, um tsunami de
sentimentos invade meu peito.
Apertando, esmagando.
Como se o amor contido ali, entre nós, tivesse enfim se transformado em
algo palpável, físico, em que basta eu enfiar os dedos dentro do meu peito para
pegá-lo e trazê-lo para fora, oferecendo a ele na palma da minha mão.
Chego aos seus lábios, que beijo com delicadeza.
Suas mãos descem pelas minhas costas.
Afasto minha boca da sua e olho-o nos olhos.
A sensação se intensifica e não é mais apenas em meu peito que posso
sentir a tal matéria densa.
Não.
Ela está agora por todo o nosso entorno.
Nos envolvendo e comprimindo, como se quisesse garantir que
permanecêssemos assim para sempre, um atado ao outro.
Oliver leva a mão a barra da camiseta, retirando-a do meu corpo, sem
interromper a nossa conexão visual. Uma mão permanece acariciando minhas
costas, a outra sobe pela lateral do meu corpo, passando levemente o dorso
dos dedos pelos quadris, ventre, lateral do seio, clavícula, chegando enfim aos
meus ombros e pescoço, que percorre com leves toques de arrancar arrepios.
Então fecha os olhos e encosta a testa na minha.
– Você também sente – afirmo. Não foi uma pergunta.
– Sim, eu sinto. Sinto por todo o meu corpo. – Ele confirma mesmo assim.
– É poderoso.
– E mágico.
– E assustador.
– E real.
– Eu te amo demais.
– Não mais do que eu amo você.
– Me mostra.
– Sempre!
Sem esperar mais, vai descendo o corpo sobre mim, me obrigando a deitar
de costas na cama. Afasta minhas pernas com as suas, enquanto os lábios e a
língua brincam com o meu mamilo.
Afago suas costas e seus cabelos, seus lábios sobem, seu peso me prensa
contra o colchão e sua língua invade a minha boca ao mesmo tempo em que seu
sexo penetra o meu lentamente.
Gememos juntos quando ele chega ao final, me permitindo senti-lo inteiro
em mim.
Volta a me beijar forte, a barba serrada marcando minha pele branca, nossas
bocas imitando a mesma dança milenar que nossos corpos reproduzem mais
abaixo.
Puxo o elástico que prende o coque, soltando os seus cabelos sobre meu
rosto. Envolvo-o com pernas e braços, apertando-o o quanto posso, querendo
mais contato, mais calor, mais fogo, mais amor, mais dele.
Se há uma fome que nunca será saciada é essa.
A fome que tenho de Oliver Rain.
Somos pele, saliva, suor e paixão.
O entra e sai constante e apaixonado do seu corpo no meu faz o orgasmo ir
galgando espaço, sem que eu tenha qualquer possibilidade de controle.
Os movimentos são intensos, vigorosos.
A eletricidade corre entre os corpos.
A respiração falha.
O coração dispara e a paixão explode em nós ao mesmo tempo.
Num ápice intenso e avassalador.
Que me dá a nítida sensação de, por alguns segundos, ter perdido os
sentidos por completo.
Oliver grita alto e desaba.
Meus braços caem ao lado do meu corpo, pesados, sem força, enquanto
minha alma absorve a sensação de plenitude mais tangível que senti.
Quando sou capaz de mover meus braços outra vez, afago seus cabelos. Ele
permanece ofegante e inerte.
O rosto escondido no vão do meu pescoço e o membro em repouso ainda
dentro de mim. Nenhum dos dois fala nada.
Falta coragem para quebrar a bolha de energia que nos permeia.
Passamos minutos assim, absorvendo a intensa experiência que vivemos,
até que sou surpreendida por algo líquido e quente em meu ombro.
Depois por um soluço contido.
E mais outro.
– Oliver... – Viro meu rosto e afasto um pouco o seu para olhá-lo. As
lágrimas escorrem por sua face.
– Desculpe. Não consegui segurar a emoção, pequena. Foi tudo muito
forte.
– Ah meu amor, não se desculpe por deixar transbordar seus sentimentos.
Muito menos por permitir que eu os veja. – Seco suas lágrimas. – Você é meu.
– Sou.
– Eu sou sua.
– Só minha. – Outra lágrima rola.
– Você está pensando sobre a consulta de amanhã, não é? – Ele não
responde.
– Oliver?
– Estou morrendo de medo, Bia. – Eu, mais do que no ninguém sei o quão
apavorante a espera é.
– Não fique. Não estou doente. Os exames feitos por solicitação da Barbie
foram excelentes. E mesmo que amanhã a gente ouça que eu tenho o gene, vou
me cuidar e fazer o necessário para evitar que a doença apareça. Ainda ficarei
na sua folha de pagamento por muito tempo, rockstar. – Consigo arrancar um
sorrisinho fraco.
Preciso mudar o foco para que ele não fique pensando no Dr. Nakto, então
resolvo tocar no assunto que ele tem evitado, mesmo que isso nos arranque do
torpor delicioso em que nos encontramos.
– Baby, podemos falar sobre Eden? – Ele suspira pesado. – Não dá mais
para postergar, Oliver. – Sai de cima de mim e se deita ao meu lado, viramos
um de frente para o outro.
Ele mexe em meus cabelos.
– Você quer mesmo subir ao palco, Bia? Ou seu desejo de pôr a voz em
Eden veio por um momento de ciúmes?
– Não quero ninguém mais dividindo o palco com você nesta música.
– Aí é que está, meu bem. Não é um motivo forte o bastante para que
depois você arque com as consequências da exposição.
– Como assim?
– Se o problema todo for a pessoa que vai dividir o palco comigo, eu
contrato uma cantora desconhecida, que faça a participação como back vocal,
ela nem precisa ficar em destaque no show, pode ficar mais atrás.
– Eu quero gravar com você. A música fala sobre nós. Eu estarei na turnê,
por que não cantarmos juntos? E quanto a exposição, caramba, vamos gravar
um clipe com cenas eróticas. Mais exposição do que isso? – Ele faz uma
careta.
– Essa ideia ainda não desceu bem... Mas de qualquer forma, é diferente,
amor. O clipe vai te deixar mais conhecida, vai ser muito pior para você sair
na rua sem ser reconhecida. O disfarce terá que ser seu aliado constante, mas
isso já aconteceria de qualquer forma pelo nosso envolvimento.
– Só que cantar, anjo... cantar vai escancarar o seu talento para quem
quiser ver e ouvir. Isso, aliado ao fato de você ser minha mulher, atrairá todos
os abutres do ramo. Vão vir atrás de você às pencas com propostas e não vão
sossegar até te convencerem, porque olhar para você será como olhar para uma
mina de ouro.
– Você tem tudo que precisa para ser um estouro, Bia. Talento,
conhecimento, carisma e popularidade. É um prato cheio. E eu tenho medo de
que algum deles te seduza ao ponto de você aceitar e isso acabe nos afastando.
– Não vai acontecer.
– Não? O clipe nem saiu ainda e olha quantas propostas de marketing você
já recebeu. Verificou todas? – Ele aponta para as pastas largadas num canto ao
pé da cama. – E aí, o que decidiu?
– Vou aceitar as três. – Ele fecha os olhos e dá uma risada sarcástica.
– Tá vendo? E você só leu o papel. Pense com alguém xavecando no seu
ouvido.
– Calma, ouça os meus motivos.
– Claro, diga.
– Eu li as três propostas e sabe o que eu senti? – Ele nega. – Raiva Oliver,
muita raiva.
– Não sou profissional da área, não sou qualificada e essas pessoas
querem rechear a minha conta bancária só porque estamos juntos. Passei tantos
anos contando centavos com meus pais, preocupada que não teríamos o
suficiente para o tratamento da minha mãe, que não teríamos o suficiente para
comer, para morar. Meu pai teve que vender nossa casa. O único bem que ele
conseguiu adquirir antes que tudo começasse. Depois teve que se desfazer do
apartamento minúsculo que comprou com a venda da casa. A maior dor dele
era morrer e me deixar dívidas, porque um teto ele já sabia que não teria mais
como me deixar. E não porque ele não fosse qualificado ou não pudesse
trabalhar, porque lhe foi tirado o tempo para isso. – Respiro para conter as
lágrimas e continuo.
– Ali, naquela época, eu precisava que uma porta assim se abrisse para
nós, mas nunca aconteceu. Agora eu não preciso mais, e várias se abriram. Eu
vou aceitar Oliver, vou ganhar a grana, porque se não derem a mim, vão dar
para alguma outra namorada de celebridade qualquer. Então vou pegar todo
esse dinheiro e depois, com a ajuda de Laura, identificar famílias que estejam
enfrentando a doença como a minha enfrentou, e ajudá-las. Todos os trabalhos
neste estilo que aparecerem e valerem a pena eu vou fazer e se cada um deles
custear a possibilidade de cura de uma pessoa que seja, ele será bem-vindo.
– É muito nobre, baby. Pense quantos tratamentos você custearia virando a
própria celebridade. – Eu nego com a cabeça.
– Nesse caso seria a minha profissão, baby. O dinheiro seria ganho por
esforço, estudo, dedicação, ensaios. Ele será para o meu sustento, meu
conforto e de minha família. Eu não quero ser cantora, já deixei claro para
você. Quero ser produtora e a cada aula com Edgar, cada minuto naquele
estúdio eu tenho mais certeza sobre isto. Eu amo estar lá, amo trabalhar as
músicas. E se eu fosse assinar com alguém, pelo amor de Deus Oliver, claro
que seria com a própria Three Minds.
– Óbvio que seria com a Three Minds. Mas na Three Minds não haverá
ninguém tentando te convencer a entrar nessa vida. Não se quiser permanecer
vivo, pelo menos. A questão é você mudar de ideia.
– Não vou amor, não se puder seguir com os planos que traçamos. Eu
quero gravar a música com você porque ela é nossa. Estaremos no clipe.
Quero cantá-la porque é a turnê em honra aos meus pais. É especial, então
farei esta e todas as outras especiais que surgirem pela nossa estrada, se você
concordar. Mas apenas estas.
– Ok Chucky. Vamos deixar o mundo conhecer sua voz e seu encanto.
Agora me deixe ver as campanhas que você está prestes a aceitar. – Me estico
por cima dele, que aproveita para apalpar a minha bunda, e puxo as três pastas.
Entrego primeiro a do desfile. Oliver lê e atira a pasta longe.
– Você não vai ficar desfilando por aí de calcinha e sutiã, Beatriz.
– Não é por aí Oliver, é num dos eventos de moda mais prestigiados do
mundo.
– Que se foda se é prestigiado ou não. Não quero que faça, Bia. Eu... só
não faça esse, tudo bem?
– O dinheiro é bom Oliver, alguém precisa dele.
– Eu te dou os seiscentos mil dólares, pronto.
– Oliver! Não é assim que funciona...
– Prefiro mil vezes. Minha paz de espírito me fará falta, seiscentos mil
dólares não.
– Olha, falamos sobre esse em outro momento então. – Tiro a pasta da
Rihanna da mão dele. – Veja esse. – Passo a do comercial de perfume.
– Puta que pariu! Merda! Merda! Merda! – esbraveja, senta-se na cama e
me fuzila com os olhos. – Você vai me fazer filmar esta porra, não é? O tipo de
merda que eu me neguei a fazer a vida inteira. Agora vou ter que ceder, porque
nem em sonho eu te deixo contracenar com esse mané. – Não seguro a
gargalhada.
– Os filhos da puta finalmente conseguiram achar o meu ponto fraco.
Inferno!
– Amor, eu só tenho olhos para você. Ele poderia aparecer aqui na minha
frente peladinho e com o tridente em pé que eu nem tchbum para ele. E garanto
que o tridente dele não tem a metade do poder do seu. – Me sento e beijo sua
bochecha.
– Vai me zoando, vai, espertinha. Esquece! Te dou um milhão e seiscentos
mil e não se fala mais nisso. – Me dobro na cama de tanto rir.
– Nesse ritmo você vai ficar pobre, Oliver.
– Que seja. Me passa a última pasta para eu saber de uma vez o tamanho
do meu prejuízo. – Passo para ele ainda me contorcendo de dar risada. Ele
analisa e suspira.
– Ok. Esse é aceitável. Até faço a bendita foto, sem reclamar, para você
faturar cinco milhões para a causa, com a condição de esquecer as outras duas.
– Não cedo a chantagens, baby. A causa é nobre e merece seis milhões e
seiscentos mil dólares, no mínimo.
– Só que se eu não fizer a foto, você fatura só dois milhões e quatrocentos
mil. – Ergue as sobrancelhas para mim em desafio.
– Mas eu conto com ajuda do coração enorme e generoso que você tem
para convencê-lo a fazer a coisa certa e participar da campanha da Tiffany
comigo. Pela causa. E, sem pressão, quem sabe também a da Clive Christian.
Pela causa. Sabe lá para quanto vai subir o cachê com a sua participação, não
é?
– Eu sabia que você seria a minha ruína, Beatriz. Achei que pelo menos a
reputação de inacessível eu conseguiria manter, já que a de pegador foi pelos
ares há tempos. Mas pelo visto nem a primeira vai sobreviver a você.
– É por um bem maior querido. – Ele respira fundo.
– Tudo bem, faço a porra das duas campanhas e você esquece o desfile de
calcinha. É minha última oferta. Pegar ou largar.
– Seiscentos mil, Oliv...
– Pegar ou largar, Bia. Isso ou se contente com os quase três milhões que
ganhará so-zi-nha. – Reviro os olhos para ele.
– Sozinha? Não seria eu e o Momoa?
– Conheço o cara. Pago o cachê dele para declinar da oferta, simples
assim.
– Daí arrumam outro. O Henry Cavill, quem sabe?
– Pago o dele também! E o de toda a porra da liga da justiça. Depois dos
vingadores, X-Men, até que a única opção disponível para dividir a cena com
você seja o Mr. Bean. – Rio muito, minha barriga dói.
– O Mr. Bean pode?
– Ele não representa perigo.
– Não? Vai que eu descubro que ele detesta fazer campanhas, mas é um
cara tão legal, mas tão legal, que fará esse sacrifício apenas para doar todo o
cachê dele para uma causa justa. Posso me apaixonar.
– Pago a merda do Bean também, pronto. Agora pare de me provocar,
Chucky. – E se joga em cima de mim outra vez.
– Não se preocupe, amor. Vou declinar do desfile – digo perto do seu
ouvido, enquanto me delicio provando sua pele por ali.
– Obrigado. – Ele fala chupando os meus peitos e depois disso não
conseguimos dizer mais nada coerente.
Após a segunda rodada de sexo, Oliver pega no sono e eu resisto
bravamente a cair nos braços de Morfeu, porque preciso pensar no que fazer
em relação a sua festa surpresa no sábado, já que ele está com a intenção de
ficar em Los Angeles o final de semana.
Primeiro cogito a ideia de fazê-lo declinar de ficar por lá, porém se a
notícia que o Dr. Iori nos der for muito ruim, talvez nem tenha clima para
comemoração no dia seguinte e o melhor mesmo seja nos afastarmos de todos
um pouco. Me lembro também do caso Edgar e Laura, e, quem sabe, a nossa
permanência longe seja o que eles precisem para se acertarem.
Por fim decido avisar a todos sobre a consulta e perguntar o que acham de
surpreender Oliver no ap em Los Angeles, no sábado de manhã, caso corra
tudo bem com os exames.
Próximo passo, mandar uma mensagem para Edgar.

Mestre, boa noite. Você terá sua


chance de ouro no sábado. Não desperdice
Qual o plano,
pupila?
Você vai participar da festa surpresa de
Oliver, sábado de manhã, que foi
transferida para o ap de Los Angeles. No
retorno darei um jeito de convencer Laura
a voltar com você. Vá de carro e traga-a
para casa. Nós ficaremos fora até domingo,
então aproveite o resto do dia e da noite de
sábado para conquistá-la de vez
Perfeito

Bons sonhos, sogrinho

Haha. Obrigado
querida

Com tudo esquematizado, consigo enfim, relaxar. Me aconchego em Oliver,


que resmunga, mas não acorda e deixo o sono finalmente se apossar de mim.

Oliver

Desperto renovado.
Acho que há muito tempo não tinha um sono tão reparador, tão em paz.
Coração leve e energia a mil.
Estico o braço para o lado antes mesmo de abrir os olhos, à procura de Bia.
Mas a cama está vazia.
O que a danada está fazendo sozinha, fora da cama?
E o sexo matinal, onde fica?
Deveria ter incluído essa cláusula no nosso acordo quando concordei em
participar das campanhas com ela.
Jamais sair da cama antes do sexo matinal.
Me lembrarei disso da próxima vez que ela tentar barganhar comigo. Sem
dúvida enfrentarei muitas negociações com aquele brinquedo assassino com
cara de anjo ao longo da vida.
E falando em assassinato, ontem quase cometi um.
Por pouco não apertei minhas mãos em torno do pescoço roliço do Dr. Iori
até ele sufocar.
O japonês me fez passar um dia do cão, numa agonia sem fim e um medo
paralisante ao se negar a liberar o resultado dos exames sem ser pessoalmente.
Tinha certeza que meu mundo, mais uma vez, sairia do eixo e desabaria. Até
deixei Henry, Max e Lian de sobre alerta. Eu retomei, e Bia começou, a terapia
com Henry na semana passada.
O conterrâneo do Pokémon só escapou porque minha felicidade e meu
alívio superaram a minha ira.
Ele, por fim se desculpou, disse que independente do resultado, não os
passa sem ser pessoalmente, precisa explicar detalhadamente ao paciente as
conclusões e que mesmo quando os resultados são os melhores possíveis,
como no caso de Bia, que definitivamente não tem nenhuma pré-disposição
genética, ainda assim será feito um acompanhamento de saúde semestral e ele
aproveita esta consulta de retorno para agendar a programação com o paciente.
Mas admitiu que sua secretária, ao passar a informação da necessidade de
comparecimento presencial, poderia ter adiantado que não havia nenhum
motivo para pânico.
Decido levantar de uma vez à procura da minha pequena fugitiva, estendo o
braço para pegar o telefone no criado mudo e ver as horas, e ouço um tilintar
de algo contra a madeira do móvel.
Mecho a mão de novo e o “tim” ressoa mais uma vez.
Olho na direção do som e me surpreendo ao ver algo pendurado no meu
pulso.
Que diabo...
Me sento na cama para analisar o que é aquilo.
Uma pulseira com tiras finas de couro e uma medalha branca, pequena,
pendurada. Puxo o pulso para perto dos meus olhos.
De um lado da joia há asas de anjo desenhadas nos cantos e, no centro
delas, um B e um O entrelaçados. Do outro lado a seguinte inscrição “U+I 4
ever”, uma abreviação criativa do “você comigo sempre” que ela me disse e
depois postei nas redes.
Fico admirando meu presente com um sorriso bobo na cara, ao mesmo
tempo que tento entender porque ela me deu aquilo.
Até que a ficha cai.
Pego o celular para confirmar e lá está, dia onze de novembro, dez e quinze
da manhã. O dia em que nasci. A data que não deixo divulgar e que todos na
família sabem que não comemoro e não gosto de ser lembrado.
Lembrar do meu aniversário é lembrar do dela e também, do dia mais triste
da minha vida, o dia em que a perdi pela primeira vez. Em muitos anos o dia
passa e nem eu mesmo me recordo, percebo tempos depois que já fiquei
oficialmente um ano mais velho.
Respiro fundo.
Ela vai querer comemorar, penso enquanto brinco com a medalhinha da
pulseira entre meus dedos.
Reflito sobre aquilo e percebo que talvez seja mesmo hora de dar um novo
significado a este dia. Henry ficará orgulho com minha decisão, e é verdade.
Chega.
Temos mesmo que comemorar as ótimas notícias que recebemos ontem.
Tenho que comemorar o fato de que, neste ano, uma menina linda entrou feito
um furacão na minha vida, atribuindo sentido ao meu caos.
Meu caos particular, rio da ironia.
Me mexo para sair da cama e outra coisa me chama a atenção. Uma folha de
papel sobre o colchão, dobrada ao meio com os dizeres Mr. Rain escrito na
frente, numa caligrafia cursiva linda, que conheço bem de outros bilhetinhos.
O sorriso besta aparece mais uma vez. Pego o papel e o abro.

Meu amor, bom dia,

Hoje é o seu aniversário, o dia em que você completa trinta e um anos de


vida. E sim, antes que você revire os olhos, ou bufe, eu fui informada de que
você não gosta de lembrar dele. Mas nem em sonho eu não poderia ignorá-
lo, porque se não fosse essa mesma data há trinta e um anos, não teria vivido
os melhores dias da minha vida nos últimos dois meses e meio.
Sendo assim, EU tenho muitas coisas a comemorar e agradecer no dia de
hoje.
Graças a um certo onze de novembro, eu não entrei em pânico aos oito
anos.
Graças a um certo onze de novembro, eu cresci fascinada por um cara
que vi uma única vez e desde lá não saiu mais do meu coração.
Graças ao onze de novembro de anos atrás, eu tive um porto seguro para
ancorar quando a última balsa da minha embarcação naufragou e, de
quebra, ganhei uma nova e incrível família.
Graças àquele onze de novembro, eu me apaixonei e fui apresentada à
força do amor entre um homem e uma mulher pela primeira vez.
Graças a àquele belo dia, eu amo e sou amada da forma mais plena e
intensa que existe.
E eu poderia continuar por horas, a lista seria imensa, desde a chance de
estudar o que eu sempre quis, até os magníficos orgasmos que me roubam as
forças e os sentidos.
Mas resumindo, graças a um certo onze de novembro, hoje, eu tenho tudo
que importa e preciso para ser feliz.
Obrigada, muito obrigada onze de novembro.
Você é o meu dia preferido no mundo todo!
Agora, eu gostaria muito que você saísse do quarto e viesse para a sala,
onde estenderemos a comemoração da forma que eu planejei, mas se você
realmente não se sentir confortável e preferir que eu finja que não sei que
dia é hoje, então tudo bem, só permaneça aí no quarto e me mande uma
mensagem pelo celular me desejando um bom dia, vou entender e vou te
encontrar na cama em poucos minutos, como se nada tivesse acontecido e
seguiremos com o nosso dia do jeito que você preferir.
Só peço que independente de qualquer coisa, aceite o meu presente, o que
está aí em seu braço.
Não pense que foi um presente de aniversário e sim um presente por você
existir, além de um lembrete para que nunca se esqueça do quanto eu te amo.
Aqui ou em qualquer lugar, eu sempre vou te amar, muito além do que é
possível mensurar.
Sua, Bia.

O sorriso só aumentou.
Já ansioso pelo tipo de comemoração que ela planejou lá fora, resolvo
surpreendê-la e encontrá-la usando apenas uma peça.
O presente que ela me deu e nada mais.
Infeliz decisão.
Se pudesse prever o que se sucederia, voltaria atrás num piscar de olhos.
Saio do quarto, me sentindo o próprio Adão.
Pelado no paraíso.
Caminho pelo corredor. Tudo está muito silencioso e mal iluminado, o que
acho estranho, visto que já passa das dez da manhã.
– Bia – chamo e nada.
Entro na sala ampla e paro no vão que divide os espaços entre as salas de
jantar e de estar e descubro o motivo da falta de claridade.
Uma espécie de toldo preto está estrategicamente erguido mais adiante,
bloqueando a passagem da luz que vem da enorme parede de vidro frontal.
– Qual motivo do paredão preto Beatriz e o que você faz atrás dele? –
Nada, nenhum movimento, nenhuma resposta.
– Bom, acho que a minha comemoração vai começar aí, não é? – Dou
alguns passos em direção ao troço, até que sinto meu pé direito pisar em algo
macio.
No instante seguinte ouço um cleck e então...
– SURPRESA! – gritam enquanto o paredão despenca feito dominó de
cartas de baralho e uma chuva de papéis brilhantes e coloridos caem do teto
em cima de mim.
– Puta-merda! – berro levando minhas mãos o mais rápido possível à
frente do meu corpo para que a minha família inteira não me veja como vim ao
mundo.
– Ai Jesus! – reage Bia segurando um bolo coberto com velinhas
faiscantes, enquanto os filhos da puta dos meus colegas de banda se afinam de
tanto gargalhar e sacam seus celulares para registrar o meu momento mico
astronômico.
Vovó, Alicia e Helen viram de costas o mais rápido que conseguem, mas é
possível ver pela forma como balançam o tronco que estão rindo pra caramba.
Hazel ri tanto que não aguenta e se senta no chão, apoiando a cabeça nos
joelhos. Edgar e Johnathan se seguram um no outro enquanto chacoalham o
esqueleto às minhas custas.
Bia está lá, com aquele bolo na mão, os lábios formando uma linha reta,
grudados um no outro para tentar deter a gargalhada, mas ela não resiste por
muito tempo e explode também, quase deixando a torta cair no chão.
E isso era o que faltava para eu não aguentar mais e acabar chorando de
tanto rir junto com eles, ali, parado no meio da sala.
Feito a estátua de Michelangelo em noite de carnaval.
Sem poder me mexer, pois ou tapo o pau ou mostro a bunda.
– Isso é que é surpresa – declara Max.
– A ideia era surpreendermos você, Oliver, e não você à gente – diz
Johnathan.
– Nossa vó querida, a senhora não ensinou a este menino que não se anda
pelado pela casa? – pergunta Lian.
– Que é perigoso pegar friagem? – emenda Max.
– Que pode congelar e cair o pau? – completa Kellan.
– Imbecis! Vocês me pagam – digo sem muita propriedade. – E você
também Chucky, o que é seu está guardado.
– Bem, nesse momento acho que está é bem exposto – diz a atrevida,
provocando mais uma onda geral de risadas.
– Amor, eu não lembro de escrever naquela carta que era para você me
encontrar pelado. – Faz cara de inocente.
– Que tipo de comemoração você acha que eu imaginei, Beatriz? Garanto
que as roupas não tinham serventia alguma nas cenas que povoaram a minha
mente criativa. – As bochechas dela acendem.
Ela é tão incrivelmente linda...
– E se essas velas aí são para eu apagar, venha aqui de uma vez, antes que
não reste mais nada delas sobre o bolo. – Preciso que ela se aproxime, para
que eu possa usar o seu corpo como escudo e voltar para o quarto, sem que a
minha avó tenha que presenciar mais nada constrangedor.
Ela vem até mim com o bolo na mão e o coro atrás canta um parabéns para
você desconexo pelos acessos de risos ora de um, ora de outro.
Duvido um apagar de velinhas mais estranho do que o meu, me inclinando
para soprar com a mão posicionada estrategicamente sobre a artilharia pesada.
Lógico que Lian e Max não deixariam de registrar o momento para a
posteridade. Mas cumpro a tarefa com louvor, depois beijo a bochecha corada
de Bia, a posiciono estrategicamente na minha frente e consigo finalmente
liberar as mãos, enlaçando sua cintura.
– Hazel, pegue o bolo, por favor. Bia precisa ir comigo até o quarto.
– Prontinho, estrela.
– Pessoal, nos deem licença por uns minutos. Fiquem à vontade, já
voltamos. – Vou me retirando de ré mantendo Bia cuidando do front end.
– Oliver, sabemos quanto tempo demora para vestir uma cueca. Sem ideias
lá dentro com Biazinha...
– Melhor você dizer para ela não ter ideias comigo, Lian. Essa mulher não
me dá folga... aí, baby, – levo um pisão no pé – eu só disse a verdade,
caramba...
Assim que entramos na porta do quarto um novo ataque de riso se apossa de
nós. A puxo para mim e a abraço enquanto tentamos controlar a crise.
Inspiro seu cheiro, distribuo beijos por seu pescoço e por fim beijo sua
boca. Conseguindo assim nos afastar um pouco da cena hilária, dando espaço
para outras imagens em nossas mentes.
Ela está tão linda em um vestidinho branco, tão feliz, tão menina. Baixo uma
das alças do vestido, que usa sem sutiã, pois tem um bojo embutido, expondo o
seio perfeito, desço os lábios até lá e sugo com carinho, arrancando gemidos.
– Baby, temos visitas, e já os chocamos o suficiente por um dia.
– Eu sei amor, só preciso dizer bom dia a eles. – Repito o processo com o
outro seio, suas unhas cravam em minha pele, indicando que está ficando
excitada.
– Oliver... – arqueja – amor, você está ficando duro e eu... – Ela tem razão,
melhor não nos instigarmos mais, porque senão não vamos sair daqui sem
resolver o problema e nossa família merece mais consideração.
Beijo-a mais uma vez enquanto devolvo as alças do vestido para o devido
lugar.
– Obrigado pelo meu presente, eu adorei. Não sairá mais do meu pulso. –
Balanço a pulseira, ela abre um sorriso que ilumina o quarto todo. – Pelas suas
palavras, acho que finalmente posso dar um novo significado a este dia, sim.
Também tenho muito a agradecer. – Seus olhos brilham.
– Por trazer todos que são importantes para mim, aqui. E, embora não
planejadas, pelas risadas. Não é nem meio-dia e este é sem dúvida o
aniversário mais divertido que eu tive. É bom demais ver toda minha família
exalando alegria. – Beijo as pequenas sardas e a ponta do nariz. – Amo você. –
Então me afasto dela para colocar uma roupa.
– Fiquei com medo de você não estar pronto para isso e ter que despachar
todo mundo.
– Estou bem. E feliz, de verdade.
– Da próxima vez vou me lembrar de adicionar ao bilhete os detalhes do
tipo de traje que a ocasião pede – brinca.
– Por favor, faça isso – reforço e rimos novamente. – Pelo visto você já
incluiu Edgar na família, não é? Ele pretende pedir sua guarda e terei que
chamá-lo de sogro II?
– É... você... – ela fica meio sem jeito – você se importa que eu o tenha
convidado? Ele é tão sozinho...
– Não, de jeito algum. Gosto de Edgar. Fico feliz que tenha vindo. Ele é
sozinho sim, mas em grande parte por opção dele. Edgar é um pouco como eu,
não gosta de socializar muito. Ao longo destes anos o convidamos várias vezes
para reuniões em nossas casas, afinal, está conosco desde o começo, mas
foram raras as vezes em que ele aceitou. – Bia suspira, como se lamentasse
algo que eu não compreendo. – Mas, assim como eu, parece que ele não resiste
aos seus encantos.
– Mais uma semelhança entre os dois, então.
– É, mais uma. Vamos? – Estendo a mão a ela para voltarmos para junto
dos outros.
Um baita café da manhã está sendo servido ao voltarmos. Algumas pessoas,
provavelmente de algum buffet contratado, circulam por ali, terminando de
arrumá-la.
A engenhoca que usaram na surpresa, e que nem quero saber onde
encontraram e como funciona, já foi retirada dali, sobrando apenas os papéis
laminados espalhados pelo chão.
Assim que me vê, vovó voa na minha direção e me abraça. Ela tem lágrimas
nos olhos. Devolvo seu abraço, a apertando contra meu peito.
– Deus, como eu quis, por estes anos todos, poder te dar um abraço nesse
dia sem te fazer sofrer.
– Ah, vó... – digo segurando seu rosto e secando suas lágrimas. – O
importante para mim nunca foi este dia, mas sim todos os outros. E a senhora
esteve comigo em cada um deles. Pela primeira vez em muitos anos me sinto
leve e feliz na data de hoje, então não vamos pensar em coisas dolorosas, ok?
– Ela assente e beijo sua cabeça.
Após receber os cumprimentos e aturar mais piadinhas a respeito da minha
entrada triunfal, nos sentamos e começamos a degustar o café da manhã.
– Bia, me diz que esse cheiro que eu estou sentindo é daquela omelete
estupenda que você fez outro dia. Diz que sim, por favor... – pede Max, que
nem criança olhando uma vitrine de doces. Bia ri.
– É sim, Max, a omelete, as panquecas e o bolo fui eu quem fiz. O restante
veio do buffet. – Meu queixo cai.
– Que horas você levantou?
– Cedo. Muito cedo. – Trago-a para mim pelo pescoço e a beijo.
– Você fez um bolo para mim? – Agora sou eu que pareço uma criança.
– Ahhã.
– De chocolate? – Meus olhos brilham, tenho certeza.
– Siiiim. Com recheio de Brigadeiro, que é um doce brasileiro que a
minha mãe fazia para mim e... baunilha e amêndoas. – Ela me dá uma
piscadinha sacana.
– Não vejo a hora de provar... tudo... – Pisco para ela também.
– Eu sonho toda noite com essa omelete, desde aquele dia – diz Max se
servindo de uma porção bem generosa.
– Deveria ter falado, posso fazer para você quando quiser.
– Rá. Só o que faltava. Max que crie vergonha na cara barbuda dele e
arrume uma mulher para ele.
Imediatamente me arrependo do comentário ao fitar Hazel. Ela percebe meu
olhar de sinto muito. Bia já contou a ela que eu sei.
– Ela está falando comigo, babaca, ninguém te chamou na conversa –
provoca Max. – Vou pedir, Bia.
– Posso ensinar Hazel a fazer também – sugere minha inocente namorada.
Hazel cospe o que estava comendo, Alicia, Johnathan e Max reagem como se
Bia tivesse sugerido o maior absurdo da história.
– Você está vendo a fé que eles têm em mim, amiga?
– Desculpa filha, mas você na cozinha... só eu e sua mãe sabemos o que
esperar quando resolve se aventurar. Afinal, somos nós que temos que provar
depois – reclama Johnathan e Hazel faz careta.
– Para o bem de todos, vamos manter Hazel longe da cozinha, Bia. Mas se
você quiser me ensinar, eu aceito – sugere Helen, dando uma piscadinha
cúmplice.
– Bom, vamos ver se a sua omelete é boa mesmo, discípula.
– Conta ponto extra se agradar, mestre? – Edgar revira os olhos.
– Por que de repente me sinto num filme do Star Wars? – pergunta Lian.
– Deve ser porque Oliver mostrou o sabre. E eu tenho outro bem aqui,
quer ver? – zoa Kellan.
– Mais respeito com os mais velhos, fedelho. – Lian xinga.
– Hummm. Muito boa a omelete está. Mas por isso, melhor nota não vai
ganhar. – A mesa é tomada por nova onda de risadas e mais gracinhas.
O dia transcorre assim, nesse clima divertido.
Olho para eles, todos eles, penso em tudo que construídos ao longo dos
anos e me sinto grato, realmente grato. Quase consigo dizer que valeu a pena
passar por tudo que passei na infância para estar hoje ali, curtindo aquele
momento.
Não fosse os meus infortúnios, não haveria Max, nem Lian, nem The Order
e possivelmente, nem vovó na minha vida hoje.
E nem Bia.
Meu coração aperta.
Um pensamento indesejado tenta me levar para um certo quarto de hospital,
mas eu o afasto imediatamente.
Em determinado momento no meio da tarde, enquanto preparo uma
caipirinha, drinque brasileiro que Bia me ensinou a fazer e quero que os outros
experimentem, percebo vovó apreensiva, incomodada com alguma coisa.
Os homens estão jogando poker. As mulheres conversam no sofá, mas dona
Laura não está engajada na conversa, está distante, preocupada.
Levo a bebida para os caras na mesa de jogos e depois me sento na poltrona
em frente às mulheres.
Chamo vovó para sentar ao meu lado. Ela vem e a abraço.
– Por que essa carinha vó? O que está incomodando?
– Nada não. Foi um dia incrível. Estou muito feliz.
– Mas tem algo te preocupando. O que é?
– Impressão sua, filho.
– Vó, eu a conheço, esqueceu? Pode falar, mesmo que tenha a ver com
ela...
– Não tem nada, querido, eu juro. Ela... ela continua na mesma... – Seguro
seu rosto e a faço me encarar.
Estudo seu olhar.
Tem algo aí, sei que tem.
– Tem alguma coisa e por algum motivo a senhora não quer me contar. Não
vou pressionar, mas vou fazer perguntas e a senhora vai me responder
honestamente. Por sermos visados eu preciso saber e quero a verdade, estamos
entendidos? – Ela engole a saliva com mais força que o normal.
– Sim.
– Ótimo. O que quer que esteja lhe chateando, representa perigo para a
senhora ou alguém desta sala? Problema de saúde? Suborno? É grave?
– Não meu filho, por Deus, não exagere, não é nada sério. Fica tranquilo,
não há mesmo com o que se preocupar – frisa quando me vê ainda um pouco
cético.
Vovó é uma pessoa muito calma e ponderada, então quando fica nítido que
algo lhe causa desconforto, acendo todos os meus alertas, pois sempre há um
motivo forte.
– Ok. Quando quiser me contar o que é, estou aqui. – Beijo sua bochecha,
a deixo com as outras e volto para a mesa de carteado.
Perto das dezenove horas todos já seguiram para casa. Achei estranho vovó
recusar ir no carro com Helen e pedir um separado para ir a Long Beach ainda
hoje. Normalmente ela vai apenas aos domingos. Sua atitude só fez crescer
ainda mais a minha certeza de que ela está mesmo com algum problema.
Aquela dúvida me angustia e não consigo aproveitar a nossa noite como
deveria.
Mando mensagens a dona Laura, que me garante que está tudo bem. Bia
tentou me convencer a sair para dançar, mas eu declinei, compartilhando com
ela a minha preocupação.
A danada não perde tempo em mudar de assunto, dizendo apenas que
deveria ser algo na ONG, o que me leva a crer que, com ela, vovó
compartilhou o segredo. Deduzo então que o problema tem algo a ver comigo e
só posso imaginar que com Vivienne também, por mais que vovó tenha negado.
Ligo para a clínica em Long Beach e me confirmam o que dona Laura disse,
tudo na mesma. Acabamos passando a noite em casa e vendo uma dessas
comédias românticas melosas, a qual eu resisti bravamente.
Não durmo direito à noite e logo pela manhã convenço Bia a voltarmos
mais cedo que o programado. Apesar de saber que vovó ainda deve estar em
Long Beach, prefiro passar o domingo em casa.
Correr na praia e tomar um banho de mar sempre me ajudam com a
ansiedade. E não poderia ter tomado decisão melhor, pois bastou pôr os pés
porta adentro para dar de cara com o problema
Que para o meu total espanto, tem nome e sobrenome.
– Ah! – Bia exclama sua incredulidade levando as duas mãos a boca.
Eu a princípio fico sem reação, tentando entender o que se passa ali e ao
mesmo tempo não querendo acreditar nas sugestões lógicas que meu cérebro
insiste em me enviar.
Vovó está de pé, com os olhos arregalados e as duas mãos apoiadas no
tampo da mesa redonda.
Sua postura é de quem estava prestes a correr dali, mas percebeu que não
daria mais tempo.
Na mesa, um café da manhã servido.
Para dois.
O problema está de costas para nós.
Próximo à entrada do corredor, obviamente fugia da cena do crime, mas
parou ao ser pego em flagrante.
Um detalhe muito, muito importante, me leva a uma única conclusão,
terrível de imaginar tendo a sua avó envolvida, e que custo a admitir, fechando
e abrindo os olhos várias vezes para ver se o quadro muda, só que não...
Ambos estão de roupão.
Roupão!
O desgraçado, ainda por cima, está com o meu roupão.
Filho da mãe!
– Que porra é essa?! – Sem um escape plausível para fugir da suposição
fatídica, finalmente explodo.
O meu sangue ferve e provavelmente devo estar muito, muito vermelho de
raiva.
– Calma, Oliver. – Bia me pede, segurando o meu braço.
– Eu te mato, Edgar. Seja homem e me encare de frente, desgraçado. –
Minhas narinas estão dilatadas e a respiração pesada.
– Oliver, deixa eu... – Vovó tenta, mas não posso falar com ela no estado
em que me encontro.
– Agora não vó. Minha conversa é com ele. – Edgar finalmente se vira
para nós.
– Não tenho porque fugir Oliver, nem porque inventar desculpas. – Ai,
essa porra tá mesmo acontecendo, inferno. – Eu ia conversar com você em
breve, só não achei que hoje, dessa forma, fosse a melhor opção.
– No meu escritório. Agora!
– Ok, me dê alguns minutos para trocar de roupa. – Ele segue para o quarto
dela e eu saio a passos largos em direção ao escritório.
– Bia, eles vão... – Escuto os lamentos de minha avó enquanto me afasto.
– Não, Oliver não é maluco de agredir um homem de sessenta e oito anos.
– Ameniza minha garota, falando mais alto do que o normal, como um alerta
para mim.
Entro no escritório, deixo a porta escancarada, pego uma dose de whisky,
que viro de uma só vez. Não sei se é uma boa ideia, mas preciso de algo para
me acalmar. Um instante depois, ouço os passos de Edgar se aproximando.
– Entre e feche a porta. – Ele faz. Para a uns dois metros de mim.
Nos encaramos feito leões tentando provar quais dos dois é o rei do bando.
– Há quanto tempo, Edgar? Há quanto tempo você anda trepando com a
minha avó pelas minhas costas?
– Mais respeito com Laura, moleque – ralha, obviamente puto com a minha
escolha de palavras.
– O que? Vai negar que é isso que está acontecendo? Que eu entendi
errado? Porra! – Passo as mãos pelos cabelos e ando de um lado para outro. –
E o pior é que Bia, que conhece vocês dois há tão menos tempo, percebeu que
tinha algo rolando. Ela me perguntou no jantar de lançamento da turnê e eu,
idiota, disse a ela que estava fantasiando. – Rio da minha imbecilidade.
– Oliver, se você quiser falar civilizadamente, se estiver disposto a
conversar comigo como dois homens adultos fariam, eu vou me sentar aqui e
contar tudo que você quiser saber. Agora, se for para você me insultar ou pior,
desrespeitar Laura, então me desculpe, mas vou me retirar e voltamos a falar
quando você se acalmar. Não cometemos nenhum crime. Somos maiores de
idade e livres. – Apoio minhas mãos na mesa do escritório, baixo a cabeça e
respiro fundo algumas vezes para recuperar um pouco de bom senso e não
meter um soco na cara de Edgar, que é a minha vontade.
– Sente-se. – Aponto para a cadeira à frente da mesa, me sento também,
cruzo os braços na altura do peito e o encaro. – Comece.
– Você não está errado. Nos envolvemos intimamente sim, mas foi a
primeira e única vez que aconteceu.
– Rá. Você está me dizendo que nunca tiveram contato nenhum, que
simplesmente resolveu aparecer aqui e dona Laura o convidou para a cama
dela, é isso? Eu conheço a sua fama, Edgar. Sua vida social pode não existir,
mas a sexual sempre foi bem ativa. Quis tornar a minha avó, minha avó, mais
uma da lista? Você não precisava disso. Francamente...
– Está querendo insinuar o que, Oliver? Que estou aqui fazendo caridade
para a sua avó? Se for isso, você é um babaca que não consegue enxergar a
mulher maravilhosa que é Laura. E quanto a outra questão, fui casado por vinte
e três anos e eu amava minha mulher. Nunca a traí. Quando ela morreu, há mais
de dezesseis anos, eu sofri muito e não pretendia mais encontrar alguém que
pudesse ocupar o lugar nela na minha vida. Então sim, meus casos nesse tempo
todo foram apenas isso, casos passageiros. E só senti vontade de mudar isso
por um curto espaço de tempo, há dez anos, quando conheci sua avó. Lógico
que não fomos parar na cama no primeiro contato, nós tivemos uma história...
– Tiveram uma história? Quando? Onde? Como?
– É o que estou tentando lhe contar, se você me deixar falar... Nos
aproximamos, nos tornamos amigos logo após a doença de Vivienne, quando
você teve a sua última crise longa. – Porra, engulo em seco, não fazia ideia que
ele sabia sobre todas essas questões a nosso respeito.
– Eu apoiei sua avó naquela fase difícil, ela tinha a única filha e o único
neto acamados, ela estava tão fragilizada, triste e perdida... tentei ajudar por
todos aqueles meses, consolar, cuidar das coisas burocráticas, acompanhá-la
ao hospital, aliviar a carga, afinal Max e Lian tinham que cumprir o contrato e
ainda manter as aparências a seu respeito perante a gravadora. Estavam todos
sobrecarregados. – Merda, tudo por minha culpa, porque não consigo controlar
esse maldito transtorno...
– Mais tarde, quando você conseguiu voltar a realidade e melhorou,
retomou sua rotina, seus compromissos, continuei indo com ela às visitas à
filha por algum tempo e ali... ali eu já estava apaixonado. Contava as horas
para poder vê-la de novo, poder passar mais algum tempo em sua companhia,
queria construir algo com Laura, cuidar dela...
– Mas quando tomei coragem e me declarei, ela disse que não queria um
envolvimento romântico e ainda por cima resolveu encerrar nossa amizade.
Foi na época em que eu pedi um afastamento de três meses da antiga
gravadora, você deve estar lembrado – confirmo. – Eu... eu precisava de um
tempo.
– Como não fiquei sabendo?
– Ninguém soube porque Laura não quis, ela tinha medo que qualquer
mudança na dinâmica de vocês te levasse a uma nova crise... – Sinto uma dor
profunda em meu peito, de quantas coisas ela abriu mão por minha causa,
afinal? – Esse foi um dos motivos de ela me rejeitar sem nem nos dar uma
chance. Me confessou ontem que queria, mas além do medo, havia outros
traumas em relação aos homens...
– E como você veio parar aqui em casa noite passada? Era para vovó
estar em Long Beach, caramba...
– Long Beach foi só uma desculpa para não voltar junto com os outros. O
motorista a deixou num ponto de Los Angeles onde eu a estava esperando para
trazê-la para casa e conversarmos. Tivemos ajuda nesta reaproximação. Como
você bem disse, Bia foi perceptiva o suficiente para entender que havia algo
mal resolvido entre a gente e armou o plano...
– Ah claro, só podia ter tido o dedo da minha mulher nessa história...
agora faz sentido todo o nervosismo que vi em vovó... Ela só ficou sabendo do
plano ontem na festa, não é?
– Sim. – Debocho da armadilha.
– E o que mudou, Edgar? O que a fez te aceitar agora? Se você forçou a
situação, eu juro que te mato...
– Você me ofende dizendo uma coisa dessas, Oliver. Achei que me
conhecesse o suficiente para saber do meu caráter.
– Desculpe. – Ele afirma com a cabeça.
– O que mudou? Tudo mudou, Oliver. Olhe para você! Você é um outro
homem desde a chegada de Bia. Laura não sente mais que é a única
responsável por sua estabilidade. Ela sabe que você está feliz, se abrindo e vai
construir uma vida com essa menina. Logo vocês terão sua própria família e...
– Aquelas palavras me ferem.
– Eu posso vir a ter doze filhos com Beatriz, mas eu jamais vou relegar a
minha avó à segundo plano, Edgar. Nunca! Aquela mulher... ela salvou a minha
vida. Eu devo tudo, tudo a ela. As duas mulheres lá fora são o meu mundo. Não
poderia viver sem nenhuma das duas. Você sabe por que eu sempre evitei ao
máximo deixar as pessoas entrarem? Se tornarem importantes para mim,
sentimentalmente? Porque uma vez que eu deixo, elas farão parte de mim para
sempre. Eu não abandono ninguém. E se você conhece a minha história deve
entender bem os meus motivos. Eu daria minha vida por elas sem nem
pestanejar. Aliás, eu daria a minha vida por qualquer uma das pessoas que eu
chamo de família.
– Inclusive por Kellan? – pergunta ele tentando segurar uma risada.
Eu me esforço para manter o ar duro de macho indignado, mas a cara de
Edgar tentando fazer uma piadinha me desarma e acabo soltando um riso curto.
– Sim, inclusive por Kellan. Não pense que essa sua artimanha para
descontrair diminuiu o quanto estou puto com você.
– Não sugeri, com a minha argumentação anterior, que você colocaria sua
avó para escanteio. O que eu quis dizer é que te ver bem e feliz, dá a ela a
chance de, pela primeira vez sem culpas, pensar um pouco nela mesma e
explorar partes da vida que deixou de lado por tempo demais.
– E essas partes da vida inexploradas seriam... você? O que é isso afinal,
Edgar? Vocês estão namorando?
– Na nossa idade não há tempo para experimentação Oliver, e a palavra
que você usou, na minha visão, significa isso. Laura e eu já perdemos tempo
demais. Eu gosto dela, ela confessou que também guarda sentimentos. Diria
que iniciamos um relacionamento para valer, somos um casal a partir de agora
em todos os sentidos. Marido e mulher, apesar de não estar no papel, ainda. –
Abro a boca para largar um xingamento, mas o espanto é tanto que nada sai.
– Marido e mulher? Devo te chamar de vovô?
– Se você quiser. – O infeliz dá de ombros e ainda ri.
– Ah, vá a merda, Edgar! Você não pode passar uma noite com a minha avó
e dizer que ela é sua mulher. Vai se mudar para cá então?
– Eu posso sim chamá-la de minha mulher e vou, acostume-se. Como eu
disse, na nossa idade, é tudo ou nada. E quanto a morar aqui, Laura e eu...
– Você está louco se acha que o deixarei tirá-la de perto de nós.
– O que eu ia dizer e você interrompeu é que combinamos de esperar a
turnê acabar e então decidiremos. Até lá, continuaremos cada um em suas
casas. Eu vou morar onde ela quiser, Oliver. E você deveria parar de pensar
tanto no que você quer e ouvi-la. Se for da vontade de Laura se mudar para a
minha casa perto da Three Minds, ou a minha casa em Los Angeles, não vejo
motivos para você não a apoiar.
– Vovó adora este lugar tanto quanto eu.
– Se ela quiser continuar aqui, tudo bem por mim. Como eu disse, ela
quem decide. Fique feliz por ela, filho. Você me conhece há tantos anos, não
sou um estranho qualquer que apareceu aqui fazendo juras de amor. Laura terá
um homem ao seu lado que, enquanto viver, vai amá-la, protegê-la, apoiá-la.
Cuidar dela de todas as formas que um homem deve cuidar de uma mulher. Ela
merece saber o que é isso, você não acha?
– Acho. Tanto acho que sei que o que ela menos precisa é sofrer outra
desilusão. Ela também não suportaria mais um abandono. Já foi abandonada
pelos pais, pelo garoto a quem se entregou e depois pela filha, por quem abriu
mão da juventude. Então, pense bem no que está fazendo, porque aquela mulher
lá fora já sofreu muito além do suportável por uma vida. Pela sua integridade
física, espero que tudo que me disse seja mesmo verdade. Dona Laura tem
cicatrizes profundas e abertas, e se você contribuir para aumentar o tamanho
dessas feridas um milímetro se quer, eu não vou mais me importar com a sua
idade como fiz hoje, Edgar, eu juro.
– Você tem a minha palavra. Jamais a farei sofrer. Não de forma
intencional, pelo menos. Eu prometo.
– Muito bem então. Não posso dizer que estou tranquilo com isso, porque
não seria verdade. É estranho pra cacete! Vou precisar de um tempo para me
acostumar com o fato de minha avó não ser mais apenas a minha avó e a ver
andar por aí com um macho a tiracolo. Ou pior, ver um macho saindo do quarto
dela pela manhã usando o meu roupão. – Edgar ri.
– Desculpe por isso. Achávamos que vocês só retornariam à noite.
Podemos conviver em paz?
– Se é o que a fará feliz, que seja – suspiro resignado. – Bia vai pular de
alegria, conseguiu algo que, tenho certeza, queria muito.
– O quê?
– Te tornar oficialmente um membro da família. – É rápido, mas tenho a
impressão que os olhos de Edgar ficaram um tanto brilhantes demais e com
certo acúmulo de água.
– Farei por merecer.
– Assim espero.

Bia

– Laura, por favor, se acalme. Oliver não vai fazer nenhuma bobagem. Foi
só o choque. Ele não esperava, nós não esperávamos... – Tento fazê-la parar de
andar de um lado para o outro na sala enquanto os homens estão trancados no
escritório.
– Eu... eu não deveria ter concordado com isso, não deveria ter...
– Pare já! É claro que deveria. Não deixe o pity de ciúmes que Oliver
protagonizou aqui atrapalhar a sua relação com Edgar. Oliver não é mais
criança!
– Não Bia, você não entende, não é simples assim, tenho medo que
Oliver... – Caminho até ela e a abraço.
– Oliver ficará bem, eu lhe prometo. Relaxe Laura, eles vão se entender.
– Bia – ela se afasta para me olhar nos olhos – você tem que conversar
com ele. Ele precisa lhe contar a sua história, por favor, promete para mim que
vai fazê-lo se abrir com você? – Não sei porque de repente aquilo me assusta.
– Sim, eu falo, claro... nós estamos fazendo terapia, você sabe...
– Não deixe que ele prolongue por muito mais tempo o seu silêncio a este
respeito.
– Ok, prometo que coloco um prazo para a tal conversa, se você prometer
se acalmar, sentar comigo naquele sofá e me contar TU-DO. – Dou uma
piscadinha e Laura fica encabulada, mas não dou tempo para ela pensar. –
Venha – seguro seu braço e a levo até o sofá.
– E aí? – Dou um toquinho com o meu ombro no ombro dela. –
Desembucha. – Ela ri e depois suspira.
– Eu estava muito nervosa ontem.
– Percebemos. Oliver percebeu, mal dormiu de preocupação, por isso
viemos cedo.
– Nos encontramos no lugar marcado, entrei no carro dele e a princípio
pareceu que éramos dois estranhos, mas Edgar soube ir levando a conversa e
quando percebi tínhamos aproveitado a viagem inteira para falar sobre nossos
sentimentos. Os do passado, os do tempo que passamos afastados e os atuais.
O que foi ótimo, porque quando chegamos aqui, nossa conexão já havia sido
restabelecida. Foi como se a nossa amizade retomasse de onde parou.
– Isso é maravilhoso. Mas não acho que o clima continuou na amizade por
muito tempo, não?
– Você não perdoa, não é?
– Se não fosse a minha mãozinha, vocês não teriam se reaproximando e
você não estaria agora com esse brilho nos olhos e a satisfação estampada na
cara. Eu mereço, vai... – Ela balança a cabeça com o sorriso aberto no rosto.
– Chegamos, estendemos a conversa para os nossos passados. Ele já sabia
bastante do meu, mas eu sabia pouco do dele. Me contou sobre a sua falecida
esposa, que não tiveram filhos por uma incapacidade física dela. Que não teve
mais ninguém sério depois dela. Então jantamos, e aí...
– Aí...?
– Decidimos andar um pouco pela praia, ele pegou minha mão, e em algum
ponto do caminho, ele me beijou.
– Hummm beijo a luz do luar, que romântico... foi bom? Edgar beija bem?
– Bia!
– São coisas que uma amiga conta para a outra ué! Normal. Fala, anda...
– Foi sim, muito bom.
– Muito bom é ótimo! E depois?
– Depois nós nos beijamos de novo no deck, e de novo aqui na sala. Então
a conversa ficou séria, tomamos um vinho enquanto falamos das nossas
expectativas quanto a nós dois juntos dali em diante. Decidimos que era
melhor ir devagar...
– Decidiram? Sério? – Tento não rir.
– É decidimos, mas...
– Mas?
– Mas daí ele me beijou de novo e de novo e a coisa começou a ficar... a
ficar... como posso dizer...
– Dura?
– Bia?!!! – Caio na gargalhada.
– Desculpe Laura, mas eu não resisti.
– Você é igualzinha ao seu pai! Não perde a chance... – Beijo sua
bochecha.
– Não precisa ter vergonha de falar sobre isso comigo, somos mulheres...
precisamos ter alguém com quem falar sobre qualquer assunto... a palavra para
usar na sua frase é quente, as coisas começaram a ficar quentes...
– Deus, não acredito que aos sessenta e sete anos estou dividindo este tipo
de experiência com uma menina de dezessete.
– Ei! Mais respeito, mocinha! – Finjo indignação. – Falo com
propriedade. Seu neto me fez adquirir certa experiência no assunto...
– Ah, eu não duvido. E não quis questionar a sua propriedade, mas sim a
minha falta de vergonha na cara. Na minha idade eu deveria estar tricotando
sapatinhos para os meus bisnetos, e só.
– Quanta bobagem... Pare de enrolar e termine a história antes que aqueles
dois voltem e eu não ouça a parte mais interessante.
– Senhor...
– As coisas ficaram quentes e...?
– E... mais quentes, e... Edgar questionou se eu queria mesmo ir devagar, e
eu...
– Você?
– Eu sabia o que eu tinha que dizer: sim, é claro, já está tarde, melhor
você ir. Mas o que saiu da minha boca foi...
– Foi?
– Me leva para a cama, Edgar.
– Ah!!! – Levo as mãos à boca e arregalo os olhos para ela.
– O fim, não é? Não sei de onde veio, quando vi já tinha dito...
– O fim nada, foi perfeito! Foi, uau!!! E veio do seu âmago Laura, foi sua
verdadeira vontade falando.
– Então foi isso...
– Uma ova! Não comi o bolo todo para no final deixar a cobertura no
prato. Pode contar. O mestre mandou bem? Te tratou com cuidado? Você
gostou? Seja sincera.
– Sim, ele foi tão carinhoso... Não se preocupou consigo mesmo e sim
comigo. Nunca tive isso... não sei se consegui chegar ao tal orgasmo, estava
nervosa e com muita vergonha do meu corpo. Não sou mais uma garota, você
sabe... Mas eu senti prazer, foi gostoso, muito, muito gostoso... bem diferente
da minha experiência anterior. O que você acha? Como é a sensação? – Fico
feliz que ela tenha tido coragem de perguntar.
– Provavelmente você não atingiu o ápice cem por cento, porque quando
acontece, não deixa dúvidas. Você parece que reseta e religa, é intenso. O
corpo amolece, às vezes os pés formigam. Você se sente totalmente saciada.
Mas não vai demorar para conseguir, não encane nem com isso e nem com o
seu corpo, Laura. Você é muito bonita e os homens não conseguem esconder
quando algo não lhes agrada. – Faço um gesto com o meu dedo imitando um
pênis duro amolecendo. – E pelo que você me contou, você agradou e muito o
seu homem. – Ela ri feito criança.
– Olhando desta forma, acho que agradei, sim.
– E ele, te agradou?
– Demais.
– Uhh! O mestre é bonitão... – Outra gargalhada
– É sim.
– Dormiram de conchinha?
– Olha as coisas que você me faz dizer garota... depois de conversarmos
mais um tanto e chegarmos à conclusão de que na nossa idade não tem como ir
devagar, sim, dormimos abraçados.
– Rolou repeteco pela manhã?
– Deus! Não, fiquei com vergonha de ele me ver nua tão as claras, então
levantei antes dele...
– Que pena...
– Que sorte! Se não fosse isso Oliver poderia ter chego enquanto nós ainda
estivéssemos naquela situação...
– Transando Laura, enquanto vocês ainda estivessem transando.
– Nunca vou ter coragem de dizer isso...
– Vai sim. E esse é um dos termos mais leves, acredite. Agora repete.
– Nem pensar.
– Repete Laura, vai... é bom para se soltar... Vamos, você consegue. –
Seguro sua mão, ela respira fundo.
– Enquanto nós estávamos transando.
– Iss...
– Hã. – Puta-merda! Oliver sempre escolhe bem os seus momentos de
aparição. Não tinha hora melhor para esses dois se materializarem ao nosso
lado? – Laura leva as mãos aos olhos e baixa a cabeça, morta de vergonha.
Oliver me fuzila com os olhos e Edgar sustenta um sorriso torto no rosto.
– Viu Laura, ambos vivos e inteiros. – Tento dissipar a nuvem de
estranheza que, de repente, se instalou ali. Laura não levanta o rosto, Oliver
não consegue olhá-la e Edgar não sabe se deve se aproximar ou não.
– Nós atrapalhamos o café da manhã de vocês, não é? – Tento outra
abordagem, me levanto e ando até Oliver. – Oliver e eu também não comemos
ainda. Vamos tomar um café todos juntos?
– Coma você com eles, Bia. Eu vou me trocar e correr na praia. – Ele me
beija e segue para o quarto.
– Vou pedir a Gia para pôr mais uma louça. – Me afasto e Edgar senta-se
ao lado dela e a abraça. Falo rapidamente com Gia e vou até o quarto. Oliver
está no closet.
– Você está agindo feito criança mimada, sabia?
– Agora não, Beatriz.
– Agora sim. Você magoou a sua avó, Oliver. Nem a cumprimentou. Mal a
olhou. – Ele fecha os olhos e respira fundo.
– Não foi por mal. Eu queria, mas não consegui... é estranho pensar que a
sua avó estava...
– Laura dormiu com o namorado. – Ele faz careta. – Um homem bom, que
você conhece há séculos. Não há nada de estranho nisso. Você deveria estar
feliz pelos dois. Por na idade deles, encontrarem a felicidade um no outro.
– É a minha avó...
– Ah, por favor... cresça, Oliver Rain! – Saio do quarto e bato a porta, sem
paciência para aquela infantilidade toda.
Volto para a sala e vejo o final de um beijo entre o novo casal. São tão
bonitinhos juntos. Dou um tempo antes de me aproximar para não os
constranger e depois me junto aos dois para o café.
– Como ele está? – pergunta Laura.
– Ele está ótimo, Laura. É só o filho com ciúmes da mãe, nada demais.
Ignore o mal humor.
– Oliver foi por muito tempo o único homem da sua vida, querida. É
normal que leve um tempo para se habituar comigo.
– Ele foi muito duro com você, Edgar? Se sim, ignore também.
– Ele fez o seu papel, estava protegendo Laura e o respeito por isso.
Quando tentou se exaltar além da conta, eu me impus e soube colocá-lo no
lugar dele. No fim, nos entendemos bem.
– Ótimo. – Sorrio para eles e aperto a mão de Laura.
– Estou muito feliz por vocês.
– Obrigado pela ajuda, pupila.
– Então, quais são os planos?
– Tenho o compromisso com a ONG e as meninas hoje. Além de ser o dia
de visitar Vivienne – fala Laura.
– Me deixe acompanhá-las – pede Edgar.
– Você tem certeza? Temos atividades nas instituições o dia todo.
Voltaremos tarde.
– Claro que tenho. E na volta você poderia ficar na minha casa. O que
acha?
– Não sei...
– Por favor, Laura. Amanhã de manhã, quando eu for para a Three Minds,
você retorna. – Ela me olha e eu dou uma piscadinha de incentivo.
– Tudo bem, então. Vou lá dentro me trocar e preparar uma mala. – Ela se
levanta e tenta sair da mesa, mas Edgar a impede, beijando-a antes de liberá-
la. E de repente, as bochechas de Laura adquirem aquele tom rosado que
conheço bem.
– Feliz, mestre? – pergunto assim que ela se afasta.
– Como há muito tempo não me sentia.
Quando Laura está caminhando pela sala, prestes a sair de casa e Edgar já a
espera no carro, Oliver aparece de banho tomado.
– Onde a senhora vai? – pergunta, seco. Laura se vira para ele.
– Vou cumprir com os meus compromissos de domingo como sempre,
filho. Edgar vai comigo.
– Ah... – Ela o fita esperando algum sinal de apoio, mas ele não fala mais
nada. Laura segue para a saída e, antes de abrir a porta, vira-se novamente.
– A propósito, não dormirei em casa esta noite. – Sem esperar resposta do
neto ciumento, gira a maçaneta e sai.
– Estou muito decepcionada com você – digo e também não espero que se
manifeste, vou para o quarto e fecho a porta.
Pego o tablet que Oliver me deu e navego na minha biblioteca à procura de
um novo livro. Além do tablet, ele também apareceu com um notebook e trocou
meu telefone. Agora estou cercada da mais alta, e cara, tecnologia.
Um dos e-books me chama a atenção e começo a ler, porém a leitura não se
estende por muito tempo, acabo adormecendo. É o fato de ter madrugado ontem
para os preparativos da festa cobrando o seu preço.
Ao acordar, levo um susto. O sol já está baixando lá fora. Caramba, dormi
pra cacete!
Caminho pela casa à procura de Oliver, mas não o encontro em lugar
nenhum. Ligo para o seu telefone e no mesmo instante ouço o toque do seu
celular, olho em volta e o encontro numa das mesas do deck ao lado de uma
garrafinha de cerveja pela metade.
Que estranho!
Tento avistar se há alguém tomando banho de mar ou caminhando pela
praia. Nada. Ninguém. Onde ele se meteu?
Volto o foco para a mesa abandonada no deck, depois para aquele mar
aterrorizantemente infinito.
Um frio sobe pela minha espinha.
Uma sensação ruim do cacete, que acelera os batimentos e me deixa de
boca seca.
Com o coração aos pulos e as mãos tremendo, entro em busca do meu
celular e ligo para Lian.
Capítulo 25

“Já sei que um é pouco


Dois é bom e três é demais
E eu fico louco de ciúmes
De um outro rapaz”
(Loiras Geladas – RPM)

Oliver

E u apaguei, porra!
– Por poucos minutos, Oliver.
– Por quase uma hora, Max. E isso não faz diferença, a
merda é que eu apaguei. Apaguei! Significa que...
– Acalme-se – diz Henry.
– Me acalmar? Como? A sua teoria de que estou conseguindo controlar o
transtorno se foi Henry...
– Não foi, não.
– Rá, me poupe. Não vou sair desse inferno nunca.
– A cada nova situação que enfrenta está mais perto de se livrar delas de
vez, Oliver. E para se livra de vez, você sabe muito bem o que tem que
enfrentar.
– Pare de colocar panos quentes. Não é para isso que eu te pago, cacete!
– Não é panos quentes. Olha o que aconteceu hoje. Você foi exposto ao
abandono. Percebe a gravidade? Sua avó te deu as costas e saiu. Bia te deu as
costas e saiu e ainda por cima disse que você era uma decepção. A criança
ferida dentro de você sentiu como se estivesse sendo deixada para trás, outra
vez, pelas mulheres que ama e que formam a sua base atual, porque não é boa o
suficiente. Nada poderia ser pior para te levar de volta ao cerne do seu
problema. Pense no que essa situação provocaria há uns anos.
– Você certamente não teria conseguido chegar até aqui antes de apagar –
diz Lian.
– Sim, você conseguiu controlar por um tempo, sentou-se no deck, abriu
uma cerveja. Você lutou, tentou mudar o foco. Quando viu que poderia perder a
batalha, andou até a casa de Lian. Infelizmente a crise chegou a se instalar, mas
durou pouco. Em outros tempos não seria assim. Sabe o que tudo isso
significa? – Nego com a cabeça.
– Significa que o seu cérebro está entendendo que, por mais que ele tenha
sido lançado de volta aos sentimentos desesperadores, é uma sensação
distorcida da realidade atual. É exagerado e ele está tentando encaixar isso
num novo padrão. Um em que a reação do seu corpo condiga com a real
gravidade do problema, que neste caso, é nula. Você passou por um
desentendimento, não um abandono. Nenhuma das duas vai sumir da sua vida e
te largar, indefeso, em algum lugar. É um processo, Oliver. De lutar, vencer,
cair, entender e blindar. Você não pode é desistir dele e se fechar de novo.
Mesmo que outras crises, quem sabe até mais longas do que esta, ocorram.
– Não posso submeter Beatriz a uma vida de incertezas, de doença, Henry.
Ela já teve demais disso. Se voltar a acontecer terei que...
– Não seja idiota, Oliver. – Lian berra. – O que você tem que fazer é
contar para aquela menina de uma vez, porra!
– Verdade Oliver, já passou da hora. Ela merece saber – reforça Max.
– Não. Não quero olhar para ela e ver medo e preocupação. Ela não
merece.
– Deixe de ser teimoso, inferno – ralha Lian.
– Bom, eu acho que você não tem mais opção. Vou te dar até depois da
turnê para contar a ela. Se uma semana depois de voltarmos você não tiver
aberto o jogo, eu conto.
– Você não tem esse direito, Max.
– Ah, tenho sim. Somos sua família e somos a família dela. Estamos aqui
não só para apoiar, mas também para proteger e cuidar uns dos outros.
– Eu estou com você, Max – diz Lian.
– Tudo bem. Depois da turnê eu conto. Mas me prometam duas coisas.
– O quê?
– Que não vão contar sobre essa crise de hoje para vovó, ela vai se culpar
e talvez sacrifique a relação com Edgar outra vez. Dona Laura está feliz e
quero que continue assim.
– Apesar da sua cena de ciúme? – Max provoca.
– Sim, fui um idiota, reconheço. Vou conversar com ela amanhã e pedir
desculpas.
– Nossa avó e o velhinho, quem diria... – Lian ri.
– Ok, e o que mais? – pergunta Max.
– Que se eu entrar em uma crise longa, independente de Bia já saber ou
não do meu problema, vocês não vão contar a verdade a ela. Enrolem por um
tempo com alguma desculpa, e se eu não voltar em uma semana, me internem
em algum lugar e digam que eu fui embora, que queria outra vida e que ela
deve seguir com a dela. Mandem uma mensagem do meu celular para dar mais
veracidade. Mas a mantenham aqui junto da família, cuidem dela. Se e quando
eu me recuperar, recomeço em outro lugar.
– Você só pode estar maluco, bonitão.
– De jeito nenhum – berra Max.
– Prometam! – Berro mais alto.
– Não vamos prometer uma sandice dessas, Oliver. É insano. E sua avó? E
Bia? Acha que ela vai se sentir melhor pensando que você a abandonou sem
nem se explicar pessoalmente, do que saber que você está doente? Me espanta
você... – defende Max.
– Para vovó contém a verdade, ela tem Edgar agora, ele vai cuidar dela. –
Respiro fundo.
– Mas para Bia não, ela precisa seguir em frente, viver sua vida, e não
ficar atrelada a uma esperança de eu voltar, e caso volte, a um homem que não
sabe por quanto tempo ficará são até a próxima crise. Se ela souber que estou
doente, não conseguirá, então melhor a desilusão. Não estarei a abandonando
deliberadamente, mas sim porque esse maldito transtorno me obriga, para o
seu bem. Peçam para Kellan se reaproximar, sei que ainda gosta dela. Ele é um
bom garoto, podem ser felizes juntos. – Aquelas palavras me rasgam, mas eu
preciso que me prometam.
– Não faremos isso. É cruel, com ela e com você.
– É o que eu quero, Lian.
– Sinto muito, Oliver. Mas Lian está certo. – Max vai na dele.
– Eu estou tentando protegê-la, inferno. Garantindo que, passado o
sofrimento, ela possa ter uma vida normal. Eu vejo o medo de me perder para
a escuridão nos olhos da minha avó, todos os dias. Ontem, ela estava
apavorada. Com medo de que a sua decisão de ser feliz causasse a minha
queda. Não quero isso para Beatriz.
– O que você diz desta baboseira toda, Henry? – pergunta Lian.
– Que é isto, baboseira. Oliver está impactado pela crise recente e vocês
estão certos em não prometer o absurdo que ele pede. Quando a dor é
inevitável, a verdade é sempre melhor do que uma mentira elaborada recheada
de boas intenções. E neste caso, a dor é inevitável, Bia sofrerá de um jeito ou
de outro. Sem contar que, assim que recobre a razão, Oliver se arrependerá de
imediato. Dito tudo isto, acrescento o que realmente importa. – Ele segura meu
rosto e me faz olhá-lo nos olhos.
– Você não terá outra crise tão longa assim que valha o sacrifício de
entregar a mulher que você ama, e que te ama, para outro homem, camarada. Se
você tiver algumas crises ainda, elas farão parte do processo de cura e você
merece ser feliz. Aceite. Não dê ao que ocorreu hoje, a importância que o
evento não merece. Volte para a sua paz e para o seu ninho de amor de corpo e
alma. – Ele me solta.
– Então, Max, Lian, o que vocês podem prometer a este cabeça dura, é que
não contarão até ele se recuperar e contar ele mesmo.
– Isso podemos prometer – diz Max.
– Sim, podemos – reforça Lian. Bufo. O telefone de Lian toca.
– Oliver, é Bia. Deve estar a sua procura.
– Atenda, diga que estou aqui e logo volto.
– Bela-Bia, como está? Calma... Bia, querida, calma... – me levanto num
pulo. – Ele está aqui. Ele está aqui e está bem... Não aconteceu nada com
Oliver... sim... está... entendo, mas se acalme, está tudo bem... tomamos uma
cerveja e ficamos papeando, ele, Max e eu, o tempo passou e nem nos demos
conta. Ele já estava de saída, logo chegará em casa... sim... até. – Lian suspira,
desligando o telefone. – Se você se sente bem o suficiente, vá para casa. Ela
está desesperada, Oliver...
– Desesperada? Por quê?
– Viu seu celular e uma cerveja pela metade largados na mesa do deck,
achou que você foi dar um mergulho e se afogou.
– Deus... eu vou, obrigado outra vez, aos três. Henry, nem sei como posso
retribuir...
– É o meu trabalho e você é meu amigo. Fique bem.
– Obrigado. Até mais.
Volto para casa o mais rápido que o cansaço pós-crise permite. Apesar de
ter dormido por várias horas, ainda estou um pouco fraco. Posso avistá-la a
minha espera, de pé no deck. A última coisa que eu quero na vida é ser um
novo motivo de dor e preocupação para ela.
Conforme me aproximo os seus soluços vão ficando mais audíveis. Ela está
uma pilha de nervos, trêmula e chorando descontroladamente. Mal chego perto,
agarra minha camiseta, me puxa para si e continua a chorar no meu peito.
– Oliv... – a abraço e afago seus cabelos. – Oliver...
– Shh... calma... estou aqui, meu amor.
– Eu... você... não vi... dormi... – Ela fala um monte de coisas desconexas,
sendo que só consigo entender algumas palavras aleatórias em meio ao choro e
aos soluços.
– Calma, anjo, você está tremendo...
– ... medo... celular... mar...
– Respira Bia, estou aqui, está tudo bem.
– ... e eu... eu tinha brigado com você! – O choro aumenta. Não seguro um
risinho e a aperto mais contra mim, aquilo eu pude entender bem.
– Ah, minha pequena, então esse desespero todo é remorso? – Ela soluça e
dá um tapinha no meu peito.
– Achei que estivesse morto, babaca.
Queria pegá-la no colo e levá-la para dentro, mas estou sem forças. Então
apenas nos empurro até a cadeira mais próxima, onde me sento e a trago para
meu colo. Seguro seu rosto, seco suas lágrimas, beijo suas sardas, suas
pálpebras, seu nariz arrebitado e tomo sua boca num beijo forte. Para não
deixar dúvidas que estou ali, que sou eu, muito vivo.
– Chega de choro. Estou aqui, não aconteceu nada comigo.
– Por que não levou seu telefone? – Boa pergunta. No desespero, deixei
para trás. Penso rápido.
– Porque a minha intenção era nadar, só que gosto de fazer isso perto do
trapiche, onde não quebra tantas ondas. Então simplesmente fui, acho que nem
vi que o celular não estava no bolso da bermuda. No caminho, Max me chamou
para uma cerveja no Lian e foi isso.
– Por que não me acordou? Almoçou sozinho? – Ah meu bem, nem fazia
ideia que você pegou no sono...
– Quis deixá-la descansar. Belisquei algumas coisas, não estava com
fome.
– Como não? Você nem tomou café da manhã e correu na praia mais cedo...
– Dou de ombros.
– Venha, vamos entrar e pedir para Gia esquentar algo. Também não
comeu nada ainda.

Mesmo depois de uma semana do flagra, vovó e eu ainda ficamos


constrangidos na presença um do outro quando Edgar está junto. No dia
seguinte, eu a chamei para conversar e me desculpei. Consegui abraçá-la, disse
que a amo e que quero que seja feliz. E, o que ela mais queria ouvir, que
aprovo Edgar.
Só que ainda é estranho ver alguém alisando, abraçando e beijando a sua
avó na sua frente. E eu vi duas vezes em uma semana. Agradeço por ele não ter
dormido mais lá em casa, mas creio que não vá demorar a se repetir. Bia me
enche a paciência todo os dias para eu dar explicitamente o meu aval a dona
Laura. Dizer que deve convidá-lo, que não me incomodo, porém estou me
esquivando o quanto posso. Porque me incomodo, e muito.
A turnê será nossa prova de fogo, Edgar está tentando convencer vovó a nos
acompanhar, já que ele vai, em função de uma participação especial que fará
na música Guardian Angel, com um solo de violino. Outra surpresa para Bia,
que ele mesmo sugeriu. E só sugeriu porque é para a sua querida pupila, pois
já tentamos várias vezes fazê-lo tocar violino em outras músicas e sempre se
negou veementemente.
Os preparativos para a turnê seguem dentro do planejado. Claro que não
sem algumas tantas horas extras de boa parte dos funcionários, que serão
devidamente recompensados pelo esforço, sem dúvida. De minha parte, me
contentaria em rechear suas contas bancárias com um belo bônus. Mas minha
garota, defensora dos fracos e oprimidos, tem planos e todo dia insiste sobre
eles no meu ouvido... E sabem o que vai acontecer no final, não é? É, isso
mesmo. Lá estarei eu, abrindo as pernas para ela. E ainda gozo no final, se
bobear.
Voltando a turnê, as quatro canções novas estão finalizadas. As músicas da
The Order bombando mais a cada dia nas mídias. A procura pelos cadastros
nos bancos de medula estão a milhão. Os convites só não esgotaram ainda
porque o processo de validar o cadastro não é tão rápido, depende da coleta
de sangue e análise.
Agora uma notícia que todos comemoram, mas ao mesmo tempo nos
deprime pra caramba. Os quinhentos e dez ingressos a cem mil dólares
esgotaram. Iris estava certa, tanto na questão do streaming, quanto na do preço
do ingresso vip. Hoje me arrependo de não ter diminuído para dez cadeiras
por show a trezentos mil dólares cada. Seriam duzentas e oitenta dondocas a
menos tentando enfiar nossos paus dentro das suas calcinhas.
Estou na área que Iris montou no final da praia, depois da nossa casa,
aguardando autorização para entrar em cena, para a gravação da sequência de
sexo do clipe, que iniciará em poucos minutos. As cenas andando pela praia a
procura do Eden proibido, bem como as da banda tocando também ao ar livre,
foram gravadas ontem.
Para as filmagens de hoje, foram montadas três tendas. Uma aberta, para uso
de Iris e sua equipe técnica. E duas fechadas, para a minha preparação e de
Bia. Exigi que a equipe dela seja composta apenas por mulheres, visto que
temos que ficar nus para a colocação dos tapa sexos. E óbvio que ela exigiu
que eu exigisse que na minha houvesse apenas homens. Então tive que aguentar
um bando de machos me maquiando e pegando em mim.
Fora as tendas, há um paredão de madeira, pintado de verde, que avança
uns vinte metros na areia a partir do costão em direção às tendas e ao final
desse paredão um segundo, que segue dali até a beira do mar. Formando um
isolamento. Um U, onde uma das laterais é o próprio costão. No meio do U,
uma cama enorme, com lençóis brancos, dossel branco e lenços brancos
esvoaçantes pendurados nele.
O dia está lindo, placas de espelhos foram colocados no mar e em outros
pontos estratégicos para tornar a água mais azul e cristalina e dar aquele efeito
luminoso em todo o cenário. Pequenos cristais espalhados sobre a areia
ajudam a refletir muita cor e luz. Iris criou o seu pedaço de Eden dentro do
meu. Sem edição já ficou incrível, imagine depois.
Pelas extremidades externas do U, várias câmeras foram posicionadas para
captar as imagens de todos os ângulos possíveis. Inclusive terá um drone
sobrevoando nossas cabeças.
Durante a nossa performance sobre a cama, não haverá ninguém na praia.
Toda a equipe ficará numa sala climatizada na marina, por uma hora e meia,
que foi o tempo máximo estipulado para que improvisássemos ali.
Tivemos que pedir autorização da marinha para colocar cordões de
isolamento em alto mar, impedindo que embarcações, que porventura resolvam
cruzar a região, se aproximem demais e consigam identificar o que acontece na
praia.
Ninguém terá acesso às imagens gravadas em tempo real. As câmeras serão
recolhidas por mim e Iris será a única a trabalhar na edição. A parte de Iris
assistir na íntegra não agradou a Beatriz, mas consegui convencê-la, com o
argumento de que meu pau não aparecerá de jeito nenhum, mas os seios dela
provavelmente sim. Então terá que ser, sim, uma mulher a cuidar da edição.
– Oliver? – Iris me chama pelo comunicador.
– Sim – respondo pelo meu ponto.
– Estamos todos na marina e Bia te espera na marcação. Tire o
comunicador, se dirija até ela e siga com o script.
– Não temos um script, Iris.
– Eu sei. Mas é mais elegante do que eu te dizer para ir lá e mandar ver –
diz rindo.
– Bom ponto – concordo também em bom humor. Cada dia admiro mais a
garota.
Sigo as orientações, deixo meu comunicador na bancada e saio da tenda
usando apenas uma calça de jeans lavado com rasgos nas pernas, o botão
aberto, as barras dobradas até meia canela, e uma corrente metálica grossa
engatada nos passadores numa das laterais. A barba bem rente e o cabelo no
coque samurai. Mesmo figurino usado nas cenas de ontem.
Tomo o caminho até a cama de dossel, onde a minha linda ninfa paradisíaca
me aguarda. Caminho descalço, pela beira da água. Uma mão no bolso e a
outra com o dedão engatado na corrente.
Bia estava nervosíssima a semana toda.
Hoje de manhã parecia em pânico.
Ela nunca teve que se expor em frente às câmeras e não é algo fácil. Eu
estou acostumado, depois de tantos vídeos gravados. Também fizemos algumas
aulas de técnicas interpretativas no passado, o que ajuda bastantes. Mas com a
correria da turnê, não deu tempo de agendar aulas para ela. Terei que fazê-la
se sentir bem o suficiente para se entregar ao momento e esquecer que está
sendo filmada.
Tem que ser real, e tem que começar pelo primeiro olhar.
Chego ao limite do paredão, um passo a mais e avistarei meu Eden. Respiro
fundo, me concentro e cruzo.
E PORRA!
Iris não me preparou para aquilo.
Meu coração falha uma batida.
Fico extasiado.
Bia está no meio da cama, sentada sobre os calcanhares, numa postura
lindíssima e sexy pra diabo, que forma uma curva perfeita em sua coluna. Os
lençóis brancos a cobrem até a cintura, que circundam, mas deixam muito à
mostra.
Permitem ver a curva sinuosa de seu quadril, o umbigo delicioso, o início
do púbis.
Há algo tatuado bem ali que, da distância que estou, não consigo decifrar.
Os seios têm os mamilos cobertos por mexas do cabelo cacheado que caem
até abaixo deles.
As mãos descansando sobre as coxas cobertas pelo lençol.
A pele linda, quase tão alva quanto os lençóis.
Os lenços do dossel brilham e balançam como num ballet.
Tudo à sua volta cintila em pontos de luz.
O jogo com espelhos e luzes estrategicamente posicionados provocam
aquele efeito de refletir seus cabelos conforme movemos o olhar.
A cena é de tirar o fôlego.
A comunicação dela com o meu pau é instantânea.
Ela parece uma deusa virgem oferecida em sacrifício.
Será difícil, muito difícil, controlar o meu corpo.
Os grandes e profundos olhos negros grudam nos meus, assustados.
Os meus estão no seu modo mais felino e voraz.
E nem precisei fazer de propósito, foi a reação natural ao que encontrei ali.
Mantendo o olhar sobre o dela, caminho lentamente em sua direção,
enquanto executo as primeiras das poucas ações que foram combinadas. Retiro
a corrente do passador enrolando-a em meu pulso, o mesmo que tem a pulseira
que ela me deu. Abro o zíper da calça e a dispo, largando-a em qualquer ponto
da areia.
Puxo uma ponta do lençol e me junto a ela sobre a cama, sentando-me
também sobre os calcanhares, à sua frente e deixando que o pano cubra agora a
minha parte inferior também.
Bia acompanha em expectativa, sustentando o olhar, a respiração
entrecortada.
É tão perfeita que tenho até medo de tocar.
Ficamos apenas nos encarando por um ou dois minutos.
Deixando nossos olhos falarem por nós.
Até que não resisto mais. Levanto minha mão e passo delicadamente a ponta
dos dedos pela linha que separa sua pele dos seus cabelos castanhos claros,
iniciando na testa, contornando seu rosto, passando pelo pescoço, descendo até
os fios que cobrem um dos seus seios e continuando até seu abdômen.
Estupidamente linda a minha menina.
– Amor... – Ela deixa escapar um murmúrio, quase sem emitir som.
Passo meus dedos pelas suas costelas e depois os subo pelo vão entre os
seios, sempre mantendo o toque suave e o olhar faminto. Contorno seus lábios
à medida que fico sobre os joelhos e aproximo mais o meu tronco do seu.
Mantenho os dedos passeando por sua boca enquanto deslizo o meu nariz pelo
contorno do seu rosto, até chegar ao seu queixo, que mordo.
Bia treme.
Ah, baby...
Continuo o toque do meu rosto por seu pescoço, alcançando o lugarzinho
atrás da orelha, onde distribuo beijos que fazem sua pele arrepiar inteira.
A esta altura o tesão já explodiu o mercúrio do termômetro, estou duro feito
pedra e o tapa sexo estourou. Preciso tomar muito cuidado com os meus
movimentos. Volto mordiscando sua pele da orelha até a linha do maxilar, e
descendo para o seu pescoço, onde chupo para valer, provocando-lhe um outro
estremecimento. Encosto a boca em seu ouvido e provoco-a.
– Você parece uma deusa sobre esta cama, Beatriz. Uma ninfa imaculada e
proibida. Tão linda que poderia cegar quem se atrever a apenas olhar, que
dirá, tocar. Prepare-se meu amor, porque eu prefiro perder a visão a me
afastar. Nada aqui será fictício, meu bem, nada. – Bia arqueja.
Com movimentos muito precisos puxo-a, fazendo com que se erga sobre os
joelhos também, tomando o cuidado de trazer junto os lençóis e mantendo-os
sobre nossas cinturas. Colo meu corpo no dela, levo uma mão às suas costas e
puxo seus cabelos com a outra, deixando os seios esmagados contra o meu
peito, pele contra pele.
Ela geme ao sentir o quão duro estou pressionado à sua barriga. Sua cabeça
pende para trás, reagindo a força das minhas mãos em seus cabelos e aproveito
para afundar os lábios em seu pescoço, exposto outra vez.
Céus, que gostosa!
Estou enlouquecido, ensandecido em meio a visão dela ali e à força de tudo
que sinto por esta mulher. E as investidas da minha boca contra a sua pele alva
transmitem exatamente isto. Sei que a deixarei marcada. Bem marcada.
Bia reage sob o mesmo fogo. Crava as unhas em minhas costas e geme alto,
doida de desejo. Depois desliza as mãos por todo o meu dorso até chegar a
minha bunda, que aperta e arranha de forma selvagem. Ela nem percebeu que
baixou o lençol. Iris terá belas imagens do meu traseiro sendo explorado por
ela.
Aperto-a ainda mais firme contra mim. Subo a mão que traz a corrente
enrolada no pulso pela lateral do seu corpo. O contato com o metal frio a faz
trepidar inteira. Gemo ao sentir. Chego ao seu seio, que agarro com a mão em
concha, protegendo-o dos olhares e liberando meus lábios para descerem até o
outro, que beijo e sugo sem pudor. O braço livre em volta de sua cintura, firme,
possessivo. Mantendo o meu verdadeiro Eden escondido.
Lá, só os meus olhos.
Preciso mudar logo a nossa posição antes que meu pau duro resolva fazer
uma participação especial.
Escondo o seio direito, onde minha boca brincava, contra meu peito outra
vez para subir meus lábios até sua boca novamente, que invado sem cuidado,
enquanto a mão da corrente contínua a apalpar o seu seio esquerdo.
Bia sobe as mãos espalmadas pelas minhas costas, passa pela minha nuca,
que arranha de leve e agora é a minha vez de arrepiar inteiro. Infiltrando os
dedos pelo meu couro cabeludo, arranca o elástico que mantinha o coque,
soltando meus cabelos e se emaranhando neles, faminta, felina.
Sorrio contra a sua boca e aprofundo o nosso beijo, fodendo-a com a minha
língua da mesma forma que gostaria de fazer com o meu pau, mais embaixo.
Sem desgrudar nossos lábios, largo seu seio e vou descendo a mão, até
chegar ao lençol, que puxo sobre nós enquanto baixo o tronco sobre ela,
obrigando-a a deitar-se sob o meu corpo.
Afasto suas pernas sob os panos com o meu joelho e finalmente consigo me
encaixar nela, pressionando meu sexo contra o seu.
Gememos juntos contra a boca um do outro ao sentir o contato.
Porra. Ela. É. Gostosa. Pra. Caralho.
O meu pau afoito se mexe concordando.
Como pude ter tanta sorte?
Minha.
Desço a boca para seu ombro e pescoço e ela aproveita a oportunidade
para lamber meu maxilar e minha nuca.
– Você está gostoso como o inferno, Oliver. Quase tive um orgasmo só de
te ver naquela calça rasgada com o botão aberto e me comendo com os olhos.
Ah, aquele botão aberto... me mostrando o princípio do roteiro dos meus
melhores tours... Quis levantar daqui e eu mesma tirar a sua calça enquanto te
lambia todinho... depois enfiar o seu pau na minha boca até você ver aliens
verdes correndo soltos pela praia... – Porra, ela não pode me dizer coisas
assim ali... tento descer a boca para o seu colo, mas ela agarra meus cabelos e
prende minha cabeça no lugar.
– Você precisa me comer de verdade aqui, porque eu juro que eu vou ter
um treco e morrer se tiver que ficar uma hora e meia no esfrega-esfrega,
garanhão... tô subindo pelas paredes... – Afundo o rosto no seu pescoço e rio.
Bia sendo Bia. Então devolvo a provocação.
– Ah gostosa, nem morto eu perco a oportunidade de te comer neste oásis,
à beira-mar, sem o inconveniente da areia invadindo nossos orifícios. Vou te
foder até você berrar a porra do meu nome, até que não reste um pingo de
dúvidas para o mundo inteiro quanto a quem você pertence, Beatriz. – Retomo
o plano de descer os lábios até o seu colo e desta vez ela não me impede.
Protejo os seus dois seios com as minhas mãos, enquanto deslizo a minha
língua no vale entre eles e vou descendo, e descendo até chegar ao umbigo.
Chupo, lambo ali, sua pele está tão doce... mordo a barriguinha com força, ela
contrai, geme e arrepia ao mesmo tempo.
Arfo em aprovação.
Senhor, estou tão malditamente duro que tenho medo de meter nela e gozar
no mesmo instante.
Avanço um pouco mais até o início do púbis e então eu vejo. Era o que
faltava para eu pirar, para foder com a minha cabeça de vez. Solto um urro alto
de fera ao entender o que ela tatuou ali. .
Sim meu amor, pode marcar meu nome na sua carne, porque serei eu, só eu,
a beijá-la ali.
Para sempre.
Passo minha língua sobre as letras refinadas e elegantes que ela escolheu,
que remetem a um antigo romance de época.
Quero chupá-la, mas tenho que cuidar para não retirar as minhas mãos dos
seus seios, então desço um pouco mais, enfiando a cabeça embaixo dos lençóis
e arranco seu tapa sexo com meus dentes. Bia ajuda, puxando o tecido que nos
cobre um pouco mais e eu afundo a minha cabeça entre as suas pernas.
Sua boceta está tão melada que escorre.
Bebo todo aquele mel, afoito, mergulho a língua dentro dela, sugo seu
clitóris com força algumas vezes. Ela se contorce sob mim. Me comove
perceber o quanto me quer, o quão grande é o seu desejo por mim.
Está muito excitada, muito afoita, muito perto. Estamos no limite.
Acho que os dois são capazes de gozar assim que eu a penetrar. Preciso me
munir de todo o mínimo autocontrole que ainda me resta.
Sem poder mais esperar, como um animal enjaulado recém liberto, tomo sua
boca ao mesmo tempo que cubro seu corpo com o meu e a invado numa
investida brusca e certeira. Urramos juntos e alto assim que ela me recebe
inteiro nela e eu a tenho quente e apertada a minha volta.
Meu Eden.
Nos fodemos como dois dementes, alucinados de paixão. Forte, duro. Bia
me arranha, puxa meus cabelos, me chupa, me morde como uma louca no cio.
Engata suas pernas nas minhas e projeta a virilha com furor contra a minha
enquanto meto nela de novo e de novo.
Tenho dificuldade em manter o pano no lugar, mas preciso. Ele é o que
garantirá que não se identifique que o que rolou ali foi de verdade.
Me concentro em não gozar rápido demais e movimentar apenas o quadril,
mantendo o seu peito e barrigas sempre grudados em mim, para não escapar
nada indevido. O lençol nos cobre até a cintura. Sigo entrando nela com todo
amor, necessidade, fúria e virilidade que possuo.
Ela goza, arqueando as costas e gritando meu nome.
Um tesão do caralho.
Só então percebo que o lençol escapou, puxo-o no mesmo instante, mas não
sei quanto tempo fiquei de bunda descoberta para as câmeras. Paciência.
Preciso diminuir o ritmo, pois estou explodindo de vontade de esporrar dentro
dela.
Lembro que Iris me pediu cenas de mim por cima e também dela. Inverto
nossas posições num giro calculado, segurando o pano que nos cobre, não
deixando que ela erga o tronco.
Terá que me montar grudadinha em mim, bebê.
– Me fode, Bia. Agora é com você, pequena. Me faça gozar – digo ao seu
ouvido e ela geme. Puxo o lóbulo da sua orelha com os dentes. Ela tenta se
erguer, mas impeço. – Não. Não desgruda daqui para não aparecerem os seus
peitos, amor. Eles são só para mim.
Ela me beija e começa a se movimentar sobre mim, me tomando,
cavalgando, mexendo o quadril e me apertando com a boceta de um jeito que
sei que não conseguirei mais evitar o inevitável por muito tempo. As cenas
dela encima serão curtas, bem curtas.
Quando não suporto mais prolongar a brincadeira, espalmo uma mão sobre
a sua cabeça, a outra sobre a sua bunda, afundo o rosto no vão do seu pescoço
e passo a investir contra ela também, mas sem acelerar demais. Não posso
deixar tão explícito assim que meu gozo foi de verdade.
Mas gozo.
Gozo muito e forte, uivando em êxtase contra seu ombro.
Estamos acabados. Sem ar, suados e esgotados pelo esforço de uma trepada
fenomenal. A mantenho sobre mim pelo tempo necessário para voltar a
realidade. Inspiro seu cheiro doce de amêndoas, misturado com sexo e mar.
Afago seus cabelos. Ela vira o rosto em direção ao meu e eu faço o mesmo em
direção ao dela.
Nos olhamos longamente.
– Te amo – diz, só com o movimento dos lábios.
– Te amo – devolvo da mesma forma.
Puxo os lençóis até a altura dos seus seios, cobrindo-nos e viramos de lado
na cama, um de frente para o outro. Acaricio seu rosto com carinho e ela faz o
mesmo no meu. Realizo a última ação programada, retiro a corrente do meu
pulso e coloco em seu pescoço, como um colar.
Ela sorri, se ergue sobre mim, passando os dedos pela corrente.
Me dá um beijo casto.
Tomo o cuidado de garantir que tenha um segundo lençol me cobrindo,
porque sei o que virá agora.
Bia se levanta, levando um dos lençóis com ela, se enrola nele e começa a
caminhar em direção ao mar. Depois de alguns passos ela para, vira o rosto
para trás, me olha uma última vez, sorri, e retoma seu destino. Acompanho-a
com o olhar até que chega à água, então volto meus olhos para o céu e fecho-
os, como se houvesse pego no sono.
Fico ali, fingindo dormir, enquanto ela brinca na beira do mar por alguns
minutos.
Pronto, está feito.
Assim se encerra o sonho de um rockstar que procurou, procurou, até que
encontrou o seu Éden e esteve nele por alguns minutos.
Me levanto também enrolado ao lençol. Vou até ela na beira do mar, nos
abraçamos e nos beijamos. Missão cumprida com prazer, muito prazer.
– Conseguimos – comemora.
– Sim, conseguimos.
– Ninguém vai poder dizer não atuamos bem, que não foi realista – brinca.
– Não mesmo – confirmo.
– Não quero pensar na loucura que fizemos.
– Nem eu.
– Você sempre soube, não é? Que não conseguiríamos simplesmente fingir.
– Sim, eu sabia que acabaria dentro de você de verdade – admito, ela
suspira.
– Foi tudo tão mágico, impossível não se deixar levar.
– Você estava deslumbrante naquela cama. Não havia meios de eu resistir
a você, meu amor. – Passa os dedos por minha barba.
– Gostou da surpresa? – Entendendo o que ela quis dizer e abro um sorriso
de orelha a orelha.
– Quase perdi a razão quando vi.
– Sou sua Mr. Rain. Está marcado em mim a ferro e fogo, não há volta.
– Só falta um anel neste dedo. – Levo o dedo anelar da mão esquerda dela
a minha boca e chupo. Ela engole em seco e me olha assustada. Acho que é
medo que eu me ajoelhe ali e faça o pedido. Mas sei que ela ainda não está
pronta.
– Acho que se começa colocando o anel neste dedo. – Levanta o anelar na
mão direita, do mesmo jeito que se levanta o dedo do meio. Gargalho.
– Tudo bem Chucky, eu entendi que ainda não posso fazer o pedido de
forma oficial. Não precisa ficar assustada e nem agressiva. – Me acompanha
nas risadas.
– Eu teria dito não.
– Teria nada – instigo.
– É, acho que não teria mesmo... – Suspira. – Não depois da foda
maravilhosa que você me deu...
– Só me quer pelo meu pau...
– Óbvio... – provoca – e pelo seu dinheiro, não se esqueça...
– Não vou...
– Mas sério, eu ainda não...
– Eu sei. Relaxa, baby, foi só uma brincadeira. Venha, vamos voltar e
avisar Iris que está feito. – Coloco a calça, damos as mãos e caminhamos em
direção as tendas.
– Quero assistir Iris enquanto ela trabalhar na edição.
– Por quê?
– Porque... porque não quero ela tocando siririca enquanto te olha. Pronto,
falei!
– Meio tarde para isto, meu bem.
– Como assim? – Inspiro e solto o ar com força.
– Primeiro, é um trabalho de dias, o que você fará? Vai largar as aulas
com Edgar só para espionar a garota enquanto trabalha? Sei que já tem as
primeiras provas marcadas para dezembro, não?
– Sim.
– Pois é. Segundo, depois que Iris editar, por menos que a versão final
mostre, vai mostrar bastante. A gente se pegou pra valer. Não será só ela se
masturbando ao me olhar, haverá muitas outras. Assim como um bando de
caras vão assistir ao clipe e se imaginar no meu lugar sobre aquela cama
enquanto batem uma. Essa é a cruel realidade que nos espera desde que
aceitamos fazer as cenas. O único modo de evitar é cancelar e voltar atrás.
– Não quero voltar atrás. Tem isso, mas também teremos nosso amor
eternizado.
– Tão eternizado que nossos filhos assistirão algum dia. Depois nossos
netos, e bisnetos...
– Puta-merda. E toda a nossa família...
– Sim.
– Vou morrer de vergonha.
– Quer desistir? – Ela pensa.
– Não. De jeito nenhum. Você quer?
Na verdade, eu queria sim, mas é tarde demais para isso. Já foi anunciado
em toda a mídia. Teremos que lhes dar alguma coisa. O jeito é seguir em
frente. Então nego.
– Não, não quero.

– Como posso dar as caras lá fora neste estado, Oliver? – pergunta séria,
preocupada, mas eu não consigo parar de rir desde que acordamos e nos
olhamos, computando os estragos deixados pela pegação animalesca de ontem.
– Porra, você me deixou toda roxa. Os dois lados do pescoço, os seios, a
barriga... estou toda marcada... Não tem como esconder o estrago sem usar um
pulôver gola alta. E está vinte e sete graus lá fora. Não vou.
– Vai sim.
– Nem morta.
– Vai e não se fala mais nisso.
– Não dá para disfarçar, Oliver. E pare de rir, caramba! – Minha crise
aumenta ainda mais. Tento me recuperar. Ela está puta.
– Que se foda, Bia. Deixe que vejam as marcas, pronto. Não vamos
estragar o nosso sábado por isso. Você será vista fazendo sexo num videoclipe
que o mundo inteiro irá assistir. O que tem demais aparecer na frente da
família com alguns chupões?
– Este é o seu ego de macho-alfa falando, querendo exibir para os outros o
seu poder.
– Claro, como se eu também não estivesse cheio de hematomas e
arranhões... – Baixo a bermuda e a sunga para que veja os vergões de tirar
sangue que deixou na minha bunda ao cravar as unhas e os roxos de apertar
com força.
– Aí não vale, eu fiz num lugar escondível.
– Escondível o cacete, sua pilantra. – Tiro a camisa e mostro a trilha de
arranhões nas costas. – E o que me diz disso? Parece que fui chicoteado,
Beatriz. Lian vai adorar ver. – Ela ri.
– Escondível também.
– Ah sim, a ideia é churrasco e caipirinha na piscina, esqueceu? Não vou
entrar na água de camiseta. E também tenho um chupão bem aqui. – Aponto
para a lateral do meu pescoço. – Anda, deixa de drama e põe logo um biquíni
com algo por cima. Eu já tomei banho, me vesti e você continua contando as
marcas enquanto se olha no espelho.
– Tudo bem. Eu vou, mas você vai de cabelo preso para deixar bem a
mostra esse chupão aí. Não vou passar vergonha sozinha. – Reviro os olhos.
– Não seja por isso. – Pego um elástico e prendo o cabelo. – Satisfeita?
– Sim.
– Ótimo. Ah, antes que eu me esqueça, nada de biquíni pequeno demais,
muito menos enfiado lá... – Revira os olhos
– Sim, chefe – diz sarcástica. – Não se preocupe, vou colocar o maior que
tenho. Hoje, quanto mais eu tapar, melhor.
– Boa menina. – Lhe dou um beijo rápido. – Te espero lá fora.
A praia já está limpa. Iris foi rápida em desmontar tudo. O único resquício
são os cristais sobre a areia. As câmeras estão no meu escritório e daqui não
sairão. Não quero as imagens circulando na rede da Three Minds. Montei no
antigo quarto de foda, que agora está vazio, um escritório improvisado para
Iris trabalhar na edição com equipamentos que adquiri especificamente para
este trabalho. Neles, foram instalados os mais modernos softwares de
monitoramento para evitar vazamentos de qualquer espécie. Só a versão final,
aprovada, será levada para fora desta casa.
Depois da crise no sábado anterior, Henry sugeriu que eu fizesse terapia
todos os dias por um tempo. Bia achou estranho vê-lo aqui de segunda a sexta,
mas falei que costumo fazer isso antes de iniciar uma turnê e ela acreditou.
Também me cobrou que eu conte sobre meus pais, então prometi a ela o mesmo
que prometi a Lian e Max, que após voltarmos de viagem, teremos enfim a tal
conversa.
Num vestidinho estampado e com as alças de um biquíni azul escuro
aparecendo ao redor do pescoço arroxeado, Bia aparece ao meu lado.
Não posso confessar a ela, mas o bicho dentro de mim sente sim um certo
orgulho em mostrar que marcou a sua fêmea.
Se não estivesse num lugar tão impróprio, gostaria que ela exibisse,
inclusive, o Mr. Rain tatuado para quem quisesse ver.
Chegamos à casa de Max e todos estão se divertindo. Os mais jovens na
piscina grande e os mais velhos na hidromassagem. Para o meu tormento,
Edgar e vovó abraçadinhos... No bar, dois barmen preparam caipirinhas de
todos os sabores e numa extremidade do deck um churrasqueiro trabalha nos
petiscos.
– Bia, Oliver, até que enfim...
– Pelo visto aprovou a caipirinha, não é Johnathan?
– Siimmm, divina... – diz já meio animado demais.
Depois que os apresentei a bebida na minha festa, ele e Max entortaram, e
naquela típica conversa de bêbados, marcam o churrasco em homenagem a
caipirinha para o sábado seguinte. Aqui estamos.
– Segura a onda do cidadão aí, Alicia... tem muito dia pela frente ainda...
– Pode deixar Oliver, já cortei as asinhas dele... só bebe de novo após o
almoço. – O cidadão em questão reclama.
– Bia, entra aqui amiga, faz tempo que não conversamos, estou com
saudades... – chama Hazel.
– Acho que não vou entrar Hazel, está um pouco frio... – Seguro o riso.
– Frio? Mas a piscina é aquecida. Está uma delícia aqui dentro...
– Sai dessa agora, baby – sussurro em seu ouvido.
– Posso dizer que estou menstruada... – Ela sussurra de volta.
– Já inventaram o absorvente interno, sabia? – rebato.
– Nem toda mulher se sente confortável com eles, bebê.
– Deixa de bobagem Beatriz e tira logo o vestido.
– O casal quer terminar a DR lá dentro? – pergunta Lian.
– Qual o problema? – pergunta Max.
– Nenhum. Beatriz está com vergonha, só isso.
– Oliver!
– Vergonha do que? – pergunta Hazel. Resolvo terminar com a questão de
uma vez. Me aproximo bem da borda.
– Disso. – Aponto para o chupão no meu pescoço. – E disso. – Tiro a
camiseta e mostro as costas para eles. Palavras, piadinhas e risadas explodem
pela piscina. Quando a zoação é inevitável, melhor passar por ela de uma vez.
Jogo a camiseta e a bermuda em cima da primeira cadeira e pulo na água.
– Porra! Caramba! – exclama Max, conferindo as minhas costas.
– Eu sabia que ela tinha um chicote... – diz Lian.
– Porra, amiga... – Se espanta Hazel.
– Baby, venha aqui... – digo indo até a borda e estendendo a mão para ela.
– Já vi muito chupão nos pescoços desses veados... Se algum deles falar
qualquer coisa sobre você, eu afogo... – Ela revira os olhos, mas retira o
vestido e entra na piscina com a minha ajuda.
O movimento faz os seus cabelos, que ela tinha estrategicamente arrumado
sobre as marcas, sair do lugar. Todos arregalam os olhos ao verem as enormes
marcas roxas do pescoço e no início dos seios. Bia se aperta contra o meu
corpo tentando se esconder.
– Foi tudo culpa do sexo selvagem ou praticaram algum tipo de luta
corporal? – pergunta Lian.
– Não é da sua conta, cuzão – respondo.
– Primeira opção, certeza – diz Hazel.
– Hazel! Achei que você jogasse no meu time... – ralha Bia.
– Eu jogo. Quisera eu ter alguém que me pegasse assim... – Max se
engasga com a caipirinha. Até eu acho que fiquei sem graça com essa...
– Eu mato. – Se manifesta Johnathan lá da hidro.
– Eu ajudo. – Kellan se oferece.
– Eu dou fim no cadáver. – Termina Max.
– Com vocês por perto, vou morrer solteirona. Aliás, Bia, estava
pensando, poderíamos combinar uma noite das garotas em Los Angeles, que
tal? Estou louca para dançar... – Agora sou eu que me engasgo.
– Acho que Oliver não aprovou sua ideia, sobrinha...
– Podemos convidar Iris também, o que me diz? – insiste Hazel.
– Bom, eu estou com vontade de sair para dançar, não é má ideia...
– Nem pensar. – Já corto. Ela se vira e me encara.
– É uma péssima ideia – diz Max quase ao mesmo tempo.
– Por que não? – Bia pergunta.
– Por que não? Sério, Beatriz?
– Não sou tão conhecida assim. Vou disfarçada. Levamos seguranças.
– Não é esse o ponto.
– Qual o ponto então? – Ela cruza os braços e espera. Inacreditável.
– Tá legal! Faremos o seguinte. Você vai com elas e nós quatro vamos para
outra boate. – Ela engole em seco.
– Isso não é justo.
– Pois eu acho justíssimo.
– Você não é do tipo que passa despercebido, Oliver. Mesmo disfarçado. –
Sorrio e dou de ombros.
– E você acha que passará?
– Eu mal tenho um metro e sessenta, se eu ficar no meio da pista, no
máximo as pessoas que estão em torno vão me enxergar. Agora olha para você,
para vocês? É passarem pelas portas e pelo menos metade das mulheres vão
levantar as antenas em direção. A outra metade fará a mesma coisa assim que
vocês derem mais alguns passos.
– Se eu terei que passar pelo inferno de lidar com o ciúme por uma noite
inteira, você também pode.
– Eu terei que lidar com o ciúme a cada noite que você subir no palco,
rockstar.
– Você estará lá comigo. E também subirá ao palco, esqueceu? Enquanto
atrás de nós passarão cenas que nos renderam muitos hematomas...
– Porra, isso foi resultado da gravação de ontem? – Se espanta Max, eu
ignoro.
– Uau, Iris terá belas imagens... – emenda Lian.
– Você não confia em mim? – Bia insiste no assunto.
– Totalmente. E você? Não confia em mim? – devolvo.
Ela descruza os braços e volta a se virar para os outros, se dando por
vencida.
– Hazel, e se eles forem junto?
– Bia, noite das garotas... garotas... larga o osso por uma noite, amiga...
logo ficaremos longe por tanto tempo... – As duas trocam olhares cúmplices.
Bia pergunta a ela com os olhos se tem certeza que quer largar Max na noite
de Los Angeles. Hazel só dá de ombros, como se dissesse “no meu caso, não
faz diferença, ele vai estar com alguém de qualquer forma. E não serei eu.”
– Ok rockstar, você ganhou seu vale-night – diz sem me olhar. Hazel
comemora.
Fecho os olhos em desespero. Lian, Max e Kellan riem da minha cara, pois
sabem que não era esse o desfecho que eu esperava.
Tô me fodendo para a noite de Los Angeles.
Não quero é a minha menina solta nela.
– Oliver se ferrou... – Escuto Johnathan zoar.
– Então a The Order vai invadir as pistas de LA... quanto tempo faz desde
a última vez que fizemos isso? Uns nove anos? – O filha da puta sabe bem
quando foi a última vez. Terminou com ele internado por overdose em Chicago
para despistar a imprensa, e eu consolando uma garotinha.
– Finalmente vamos fazer algo empolgante fora das turnês – diz Kellan.
– O que você anda aprontando durante as turnês, Kellan? – pergunta
Alicia.
– Nada não, mãe... – responde revirando os olhos.
– Sabe que a gente só concordou com isso porque você nos garantiu que
poderíamos confiar, não é?
– Sei mãe... – mais um revirar.
– Ah se ela soubesse... – murmura Hazel.
– Cala a boca, irmãzinha – fala ele com os dentes cerrados.
– Então Laura, já decidiu se vai acompanhar Edgar na turnê? – Ouço Helen
perguntar.
– Sim, ele me convenceu. – Puta-merda, mais essa.
– Mestre, você vai na turnê? – Bia se dá conta.
– Vou, pupila. Como não teremos muito tempo de preparo e ensaio quero
estar lá para ajustar possíveis falhas – responde conforme combinamos.
– Falando em ensaios...
– Isso de novo não, Beatriz.
– Mas é uma boa ideia, Oliver. Seus funcionários merecem. Já perguntou o
que os outros acham?
– Não preciso...
– Poxa, você disse que ia perguntar...
– Aproveite e fale você mesma, estão todos à sua frente.
– Qual a ideia, Bia? – pede Max.
– Eu pensei que poderíamos transformar o último ensaio geral num show
de verdade, aqui na praia, para os funcionários, como festa de encerramento e
em agradecimento ao esforço extra, ao invés do tradicional jantar de natal que
fazem todos os anos. – Eu e os outros dois dinossauros gememos em desagrado
e pendemos as cabeças para trás ao mesmo tempo.
– Mas não combinamos de dar um belo bônus? – pergunta Lian.
– Sim, o que minha mulher está querendo é que este seja o bônus do
bônus... – Novos gemidos em uníssono.
– Eu adorei – diz Hazel.
– Por mim, tudo bem também. – O fedelho vai na onda.
– Seus funcionários dão duro pela Three Minds, pela The Order, e nunca
tiveram vocês tocando para eles ao vivo... Alguns mal devem tê-los visto
pessoalmente – defende a minha sindicalista.
– Eu iria gostar, faz tempo que não vejo os meninos ao vivo sobre o palco.
E aqui, sem o inconveniente de ter que viajar, seria perfeito... – aprova Helen.
– Acho que não temos escapatória... – constato. Bia puxa minha cabeça e
me beija.
– É, acho que não... – resmunga Max, ele não deixaria passar a
oportunidade de fazer a mãe feliz.
– Lian, o que tanto você faz nesse celular, caramba? – pergunta Max.
– Deve estar trocando emojis de beijinhos com Tina... – zoo.
– Vai a merda, Oliver.
– Assume logo a garota, titio – diz Hazel.
– Não tem nada para assumir, sobrinha. E eu estou ao celular dando um
jeito de satisfazer o desejo das duas princesas desta piscina. Não estão com
vontade de mexer o esqueleto? Pois teremos um esquenta para LA. Hoje à
noite vai rolar rave lá em casa...
– Sério? – Se animam as duas ao mesmo tempo.
– Se me deixarem terminar de contratar o que precisa, sim.
– Huhuuu... – Elas se abraçam. E depois pulam em Lian, beijando suas
bochechas.
– Ei... – reclamo.
– Aprende com o titio, Kellan... é assim que se conquista uma garota...
– Você não é meu tio, imbecil.
– Mas já não tínhamos outra festa programada? – pergunta Max.
– Bom, a nossa festinha acabou de se transformar num festão – responde
nosso guitarrista.
– Envolva Peter e Riley – lembro.
– Já estão a par. E convidados. Vocês aí da hidro também podem aparecer,
se quiserem. Kellan, convide seus amigos e amigas. Max, você também, chame
quem quiser. Oliver não tem quem convidar mesmo... e vocês meninas, quem
querem chamar?
– Iris. – Bia fala animada, mas então parece pensar em algo. – Não
poderei ir.
– Por que não poderia, Bela-Bia? – Ela aponta para os roxos no pescoço.
– Besteira. Isso aí a gente disfarça com maquiagem – diz Hazel.
– Você acha que dá?
– Certeza. Voltando a festa, vou convidar as meninas e seus ficantes, com
exceção da Carol, claro. E Eric.
– Eric? – Max pergunta.
– É, ué? Qual o problema?
– Não tinham terminado?
– Terminamos, mas continuamos amigos, nos falamos sempre. – Ele não
diz mais nada, apenas dá um belo gole na caipirinha.
– Poderíamos convidar Henry e a namorada, o que acha? – Bia me
pergunta.
– O terapeuta gostosão? Convidem sim. Mesmo que venha acompanhado, é
bom de olhar...
– Ok Hazel, vou mandar mensagem para ele. – Rio da careta que Max fez
diante do seu comentário e saio da piscina para executar a missão.
– Hazel, acho que já bebeu demais.
– Não enche, Max.
– Chega de álcool, mocinha. Senão nada de rave para você hoje à noite –
determina Johnathan.
– Tá vendo o que você fez, ruivo?
– Faria de novo.
– Princesa, esta pode ser a sua noite... – digo.
– Por que diz isso?
– Henry estava on-line e já respondeu. Quando eu disse que alguém o
chamou de terapeuta gostosão, aceitou na hora. E você poderá tentar a sorte, eu
estava desatualizado, o namoro dele já era há meses, vem sozinho.
– Avise àquele molde de Ken para ficar bem longe dela, Oliver. Ele é dois
anos mais velho que eu. Totalmente inapropriado. – Ah Max, não fode irmão.
Estou tentando livrar a sua barra, cacete. Tentando libertá-la da fixação por
você, velho...
– Inapropriado é você se meter na minha vida amorosa, Max – rebate a
garota.
– Chega crianças, vamos manter a paz, por favor. O dia só começou... –
pede vovó.

– Você acha mesmo que a maquiagem de Hazel escondeu tudo?


– Tá quase imperceptível Bia, só olhando muito fixamente para notar. E é
uma rave, estará escuro, luzes piscantes e essa coisa toda, relaxa, ninguém vai
ver.
– Vou manter o cabelo para frente, por garantia.
– Faça isso, ajuda a esconder o decote... – Ela revira os olhos.
– Ah! Sua avó não vai dormir em casa, me mandou mensagem...
– Porra, de novo?
– Enquanto você não disser que o namorado dela pode dormir na casa
dela... sério, isso está ridículo, Oliver! – Respiro fundo e passo as mãos pelos
cabelos.
– Eu sei... vou resolver...
– Bem, eles foram todos para Los Angeles, Alicia, Johnathan, Helen, num
restaurante com dança de salão, e passarão a noite na casa de Edgar.
– Certo. Convide Hazel para ficar lá em casa.
– Ela vai ficar no Max.
– Bia, pare de incentivar Hazel nessa merda. Dar esperanças a ela só a
fará sofrer mais...
– Não penso que ela não possa ter esperanças, meu amor.
– Teimosa... quando a granada estourar, não diga que não avisei... – Ela
para de andar, fica na ponta dos pés, aperta minhas bochechas entre os dedos e
puxa meu rosto em direção ao seu.
– Você fica ainda mais lindo zangado, bebê. – Seguro sua bunda,
apertando-a contra mim e levo minha boca a dela.
– Gostosa do caralho! Vou ficar maluco olhando para o seu decote e sua
bunda sem poder enfiar as minhas mãos em nenhum deles. Já vi que passarei a
noite toda com meia bomba na cueca. Ainda não acredito que te deixei vir
usando essa porra de vestido sensual, Beatriz. Ele vai ter o mesmo destino do
que usou na festa de Hazel, depois desta noite. – Ela colocou um vestido
vermelho escuro, totalmente colado que vai até o meio das coxas, com decote
profundo.
O pedaço de pano se agarra a cada curva.
– Não senhor! E quero aquele de volta. Tenho ótimas memórias. Mas
sério, minha bunda está grande demais nesse vestido? – Porra, ela vira a
bundinha para mim e empina.
Meu pau pulsa.
– Sua bunda é a oitava maravilha do mundo, baby. Para meu desespero,
verei muito marmanjo babando ao olhar toda essa carne e esse quadril redondo
se remexendo na pista. Você está infernalmente sexy. Tem certeza que quer
entrar aí? Poderíamos voltar para cama... – Ergo as sobrancelhas para ela e
dou uma mexidinha no cacete por cima da calça.
Ela morde os lábios e sorri. Arrgg!
– Tentador, rockstar... Mas hoje eu quero dançar...
– Foi dispensado amigão – digo olhando pra minha braguilha.
– Dispensado não, adiado. – A beijo.
– Entremos então, anjo.
Dois seguranças fazem uma barreira entre a entrada e a área da festa, para
evitar que grupinhos de pessoas vaguem pelo restante da casa ou pela rua.
Paramos um minuto ali e escaneamos o ambiente. Lian caprichou.
Não perde em nada para uma ótima boate. Há elevados com dançarinas e
dançarinos, outro com DJ, iluminação top, um tablado sobre a piscina interna
que estende a pista de dança. E muita, muita gente.
Não sei de onde ele tem todos esses contatos e espero que Riley tenha tido
tempo hábil para aparar as arestas, senão a brincadeira pode dar dor de
cabeça. Não viemos pela praia pois Bia está de salto, mas imagino que a frente
da casa deva estar tão badalada quanto.
– Senhoras e senhores, Oliver Rain chegou! – anuncia a porra do DJ. Tenho
vontade de matar o filho-da-puta.
Como era de se esperar, passamos a ser o centro das atenções. Gritos
histéricos e assovios ressoam pelo ambiente. No curto espaço que tento
percorrer abraçado a Bia, da entrada até o bar onde, imagino, estão Max e
Lian, não consigo contar o número de piscadinhas, caras e bocas, cantadas e
passadas de mão “acidentais” que recebo. Um assédio do inferno. Não fazia
ideia que estaria tão cheio...
– Puta-merda, eu do seu lado e nada é a mesma coisa – reclama minha
menina no meu ouvido.
– Não baby, acredite, se você não estivesse aqui seria bem pior...
provavelmente já estaria sem roupas...
– E é com esta declaração que você quer me tranquilizar em relação a Los
Angeles...
– Foi opção sua Beatriz.
– Era isso ou não ir, Oliver.
– Justamente – digo e ela bufa.
Uma louca que não vi de onde surgiu pula no meu pescoço e cola a boca na
minha.
Outras mãos apalpam minha bunda.
Meio segundo depois sinto um tranco e a cabeça da garota que me beijou
pende para trás.
Bia a arrasta pelos cabelos.
Saco rapidamente o celular e mando um “preciso de segurança” para Peter.
Então enlaço a cintura de Beatriz e a trago para mim, obrigando-a a largar a
descarada.
– Vaca! Me deixa bater nela, Oliver...
– Nada disso, vamos sair logo daqui do meio ou podemos acabar
machucados. – Felizmente uns garotos, que identifico como os amigos de
Kellan, percebem o nosso sufoco e tentam ajudar, liberando a passagem.
Chegamos ao bar e nada de Lian, Max ou Kellan.
– Venham para cá – diz um dos garotos. E corre até uma porta atrás do bar,
que sei que é da despensa. Levo Bia até lá e ali achamos os outros três
integrantes da The Order.
– Lian, onde você estava com a cabeça? – grito, puto.
– Saiu do controle Oliver, não imaginei que ficariam tão enlouquecidos ao
nos ver. Todas essas pessoas já estiveram aqui em algum momento. Mandei
mensagem para você não entrar, esperar meu ok, não viu?
– Não.
– Avisei Peter, ele está vindo acalmar os ânimos e reforçar a segurança
aqui dentro. Tivemos que entrar aqui na despensa senão estariam, nesse
momento, fazendo boquetes em nós em frente ao bar. Ouvimos quando o DJ
anunciou sua entrada, então Kellan pediu aos rapazes para escoltá-los.
– Obrigado – agradeço a Kellan.
– E Hazel? – pergunta Bia.
– Está lá fora com Eric, Henry e Iris. Ela não corre perigo. Não sabem
quem ela é – responde Lian.
– Você deu o recado a Henry, Oliver?
– Ah Max, por favor, larga do pé de Hazel. Henry é um cara legal. Ela é
livre, ele também. Deixe-a dar para quem quiser, caramba. – Ele vem para
cima de mim na hora.
– Fale dela dessa forma de novo e eu quebro a sua cara.
– Você precisa liberá-la, Max. Não vê que todo esse cuidado a deixa
confusa?
– Como assim, confusa?
– Oliver, não... – Bia me alerta.
– Confusa. Insegura – amenizo. – Ela vai passar seis meses em outro país
para respirar, não percebe?
– Oliver, baixa a sua bola! – Lian me reprova com o olhar. Alguém abre a
porta.
– Senhores, Peter vai falar com os convidados e pediu que aguardem um
pouco mais aqui.
– Ok. Obrigada John – agradece Lian. A música para.
– Senhoras e senhores, boa noite. – Ouvimos a voz de Peter no alto-
falante. – Esta festa foi organizada para que todos se divirtam, inclusive os
anfitriões. Afinal eles estão em casa, o lugar onde deveriam ter máxima
liberdade. Vocês foram convidados porque em algum momento se mostraram
pessoas razoáveis e confiáveis aos olhos deles. Mas, infelizmente, não estão se
comportando assim na noite de hoje. Então este é um aviso. O primeiro e
único.
– Ninguém, ouçam bem, ninguém pode se aproximar de Max, Lian, Kellan,
Oliver ou Beatriz sem que tenha permissão do próprio para isto. A segurança
aqui dentro será quadruplicada, coisa que não queríamos, mas não vimos outra
alternativa. A pessoa que se arriscar, será imediatamente convidada a se
retirar. Se muitos se arriscarem e a coisa voltar a sair do controle, a festa
acaba no mesmo instante.
– O Bill aqui ficará no elevado, ao lado do DJ, se ele enxergar algum foco
de confusão ou desordem, irá ordenar que a música pare e aí já era. A palavra
dele será lei. Espero que não cheguemos a isto. Obrigado.
– Podem sair, uma área próxima ao bar foi isolada para ficarem. Quando
quiserem circular, dois de nós acompanharão cada um de vocês. Há outros
quatro em torno do grupo onde a senhorita Wells está. Ela está segura – diz
John.
– Max, espere, por favor – peço. – Bia, vá com eles, preciso conversar
com Max um instante. – Ela me fita com os olhos em súplica. – Vá, baby, não
vou dizer nada impróprio.
– Cara, me desculpa – começo assim que ficamos a sós. – Fiquei irritado
com toda a confusão e descontei em você. Não deveria ter falado da forma que
falei.
– Você não pode me dizer que eu a deixo confusa e jogar na minha cara
que Hazel está indo embora para se ver livre de mim e querer que eu
simplesmente esqueça, Oliver. Confusa como? – Puta-merda, o que eu fiz?
Como convencê-lo de que entendeu mal, se foi tudo isso mesmo que eu quis
dizer?
– Coisas que já te falamos em outros momentos, ela quer crescer, mas
também quer te agradar, porque te ama, então se sente pressionada no meio
disso. – Acho que me saio bem. Não minto, mas também não entrego a real.
– Só não quero que se meta com os caras errados...
– Você ainda acha que sou o cara errado para Bia?
– Não, claro que não. Não vejo mais um sem o outro.
– Então desencana. Se ela e Henry se apaixonarem como Bia e eu, não
haverá diferença de idade que os faça ficarem separados. Você não pode
controlar Max, nem os próprios envolvidos podem... olhe para mim!
– Mas se ele só quiser se aproveitar dela? Se ela se ferir? – Ah meu
irmão, não é ele quem fere o coração dela...
– Henry não é mal caráter. Ele jamais enganará uma mulher só para levá-la
para cama, muito menos uma tão jovem. Na verdade, tenho certeza de que ele
só dará abertura a Hazel caso ela balance suas estruturas para valer. Apesar de
ser uma tremenda hipocrisia, pois sabemos que dificilmente é respeitado, a
idade do consenso na Califórnia é de dezoito anos, esqueceu? Ele não se
arriscará por pouco. Mas caso se arrisque, deixará bem claro que é só sexo.
Daí caberá a ela decidir se vai ou não. Da mesma forma que nós sempre
fizemos com as nossas transas.
– Nunca pegamos garotas tão jovens, Oliver. Para entrar aqui ou nos
nossos quartos de hotel, só com vinte e cinco.
– Há alguns anos sim, mas e lá no começo? Dos nossos dezoito aos vinte e
três mais ou menos? Pegamos sim, Max. Muitas virgens menores de idade
passaram por nossas mãos. Apesar de apresentarem os documentos dizendo o
contrário, sabíamos muito bem que eram falsos. A virgindade, infelizmente, só
percebíamos quando era tarde demais.
– Não quero que ela seja a transa de ninguém, cacete.
– Por que não? – instigo para ver se ele me dá uma resposta que possa
validar as suspeitas de Bia.
– Que pai quer isso para a sua filha, Oliver? Você iria querer? – É, como
eu imaginava. Nem titubeou.
– Nenhum pai quer, mas nenhum pode evitar. E se um dia eu tiver uma
filha, talvez eu reaja pior do que você, mas a cruel verdade é que eu também
não poderei evitar. Se ela tiver dezesseis anos, aparecer grávida de um cara
mais velho, e me jurar que foi consensual, pela lei até posso colocar o cara na
cadeia, mas de que me adiantaria, afinal? Darei uns socos no infeliz, para
descontar a raiva e só. Hazel vai para Londres logo, Max, você não terá como
vigiá-la por seis longos meses. Libere-a. Johnathan já colocou a questão nas
mãos dela, faça o mesmo.
– É difícil.
– Tente. Ela precisa, acredite. – Olho-o seriamente. Ele respira fundo.
– Tudo bem, não direi nada. Mas vou dar umas boas porradas no protótipo
de Ken caso se concretize.
– Ótimo, eu até te ajudo na pancadaria. Agora vamos lá para fora. –
Convido ao abraçá-lo.
Dois seguranças, que permaneceram guardando a porta da despensa, nos
levam até a área isolada.
– Onde está a minha mulher?
– Na pista. – Responde Kellan, apontando para uma roda onde se
encontram Henry, Eric, Hazel, outro garoto que já vi, mas não me recordo
onde, Iris e Bia.
Henry conversa animadamente com Iris. Hazel está tendo a atenção
disputada por Eric e o outro garoto. Bia dança descontraída de costas para
mim e puta merda, preciso parar de olhar aquela bunda remexer.
– E você Kellan, o que está fazendo aqui? Por que não vai aproveitar com
seus amigos?
– Estava só esperando as coisas acalmarem, tô indo nessa. Fui. – Zarpa
dali no mesmo instante.
– Bem, Max, pode relaxar, pelo visto quem caiu nos encantos do Henry foi
Iris. – Me sirvo de uma dose de whisky.
– Porra e a menina é gostosa. Se Henry não tivesse chegado antes, dava até
vontade de ir pra cima. – Max e eu tossimos juntos.
– O que? Pensando em trair Tina? – digo.
– Pois é? Cadê a ruiva? A outra ruiva – pergunta Max, pois Iris também é
ruiva, apesar dos cabelos de Tina puxarem mais para o vermelho e os de Iris
para o laranja.
– Não tenho nada com Tina além de um acordo de pararmos na cama
quando os dois estiverem a fim. E hoje não estou. Ela está na pista com Riley e
outras conhecidas.
– E ela sabe que hoje você não está a fim? – Max insiste.
– Vai saber, assim que me vir pegando alguma outra.
– Iris é sua funcionária, Lian. E bem jovem. Não brinque com a menina –
adverte Max.
– Claro que não me meteria com ela. Mas não menti quanto a achar ela
gostosa. – Abre um sorriso sacana.
– Parece que seu negócio são as ruivas mesmo, não?
– Só coincidência Oliver, só coincidência... sou um cara universal, traço
de todas as cores...
– Aiiii. – Um gemido escapa da minha boca, mais alto do que gostaria.
– O que foi? – Fecho meus olhos e solto o ar com força.
– Vou matar uns cinco, Max, pelo menos. – Eles olham para o que me
atormenta.
Bia dançando e um grupinho de rapazes mais adiante com os olhos fixos no
traseiro dela.
– Porra velho, impossível não olhar... Biazinha está...
– Não termine! Até depois, está na hora de eu me juntar àquela roda. – É o
que faço.
– Gostosa! – sussurro em seu ouvido, afastando seus cabelos e me
perdendo em seu pescoço que cheira a baunilha e suor.
– Demorou, rockstar.
– Tive que vir aqui fuzilar um bando de otários que estavam secando a
bunda da minha garota.
– Não exagera.
– Quem me dera fosse exagero. – Pressiono o pau já quase duro contra a
sua coluna.
– Hummm, as coisas estão ficando interessantes aí embaixo. – Ela dá uma
reboladinha.
– Não provoca, Chucky... – Beijo sua bochecha e ergo os olhos para
cumprimentar os outros.
– Eric, quanto tempo, velho. – Estendo a mão para ele.
– Bom te ver de novo, Oliver.
– Henry, vejo que já conheceu a nossa garota prodígio. Olá Iris.
– Oi Oliver – diz Iris meio encabulada.
– Iris está tornando minha noite ainda mais agradável. – Galanteia Henry e
dá uma piscadinha.
– Imagino que sim. Estou de olho – advirto-o, eles riem.
– Desculpe, mas você é? Au! – pergunto ao outro rapaz e ganho uma
cotovelada na barriga ao mesmo tempo.
– Esse é o Mike, você não lembra? Trabalha com Alicia... estava no jantar
da turnê... – Me explica minha delicada namorada.
– Ah Mike, claro, desculpa aí... – contorno, putz, foi mal, não o reconheci
sem os óculos de nerd.
– Boa noite, senhor Rain – cumprimenta todo sem jeito.
– Pode me chamar de Oliver. Estamos entre amigos. – Ele assente.
– E por fim, mas sempre muito importante, oi princesa. – Beijo sua
cabeça.
– Oi estrela. Os outros dois bundões ficarão a noite toda encostados
naquela parede?
– É possível. – Evito dizer a real a ela.
Eles só sairão de perto da bebida se for para enfiar a língua ou o pau em
algum buraco.
Como eu sei?
Em outros tempos eu seria o terceiro elemento.
O DJ solta uma batida com toque latino e muito sensual. Henry não perde
tempo e cola Iris em seu corpo, dançando com ela. Eric e Mike dançam
próximos de Hazel, mas posso ver nos olhos de Eric que está louco para
acabar com a viadagem e engatar a boca na de Hazel. Bia discretamente
esfrega cada vez mais a bunda no meu pau. A cada rebolada que ela dá, a
pressão aumenta. Deixo solto para ver onde vai dar.
Sempre que dá uma esfregada, endureço um pouco mais. Para torturá-la,
mantenho minhas mãos longe de seu corpo e os olhos fixos no traseiro durinho
me instigando.
PORRA! Deliciosa!
– Ahhhh... – Deixa escapar um gemido quando percebe que já estou em
potência máxima, aquilo apimenta ainda mais o meu tesão.
Ela sabe que estou me segurando para não a tocar, e que aquilo na verdade
se transformou numa batalha para ver quem perde a cabeça primeiro.
– Quem brinca com fogo quer conhecer o diabo – sussurro em seu ouvido.
Num giro rápido, se vira de frente, espalma as mãos no meu peito e desliza-
as pelo meu corpo, enquanto vai se abaixando ao ritmo da música. Segue pelo
meu abdômen, quadris, coxas, até os joelhos, onde para e me olha por entre os
cílios enormes com cara de safada.
Sexy pra caralho!
Vê-la ali, com o decote mostrando demais e a boca bem na altura da minha
braguilha me enlouquece. Quase entrego o jogo e a puxo para mim. Por sorte,
antes que eu perca as estribeiras, ela torna a subir até circundar o meu
pescoço.
– Eu amo arder no fogo do inferno. – Vira-se de costas e esfrega o traseiro
no meu pau outra vez, enquanto dança.
Naquele clima escaldante, tomo uma decisão.
Hoje é noite de cumprir promessas.
Ainda sem encostar as mãos nela, levo meus lábios aos seus ombros e beijo
ali. Ela estremece, não esperava o contato delicado e quente da minha boca.
Coloco a ponta da língua para fora e faço uma trilha molhada do ombro até a
nuca.
Tão doce, minha pequena.
Puxo o lóbulo da sua orelha com os meus dentes.
– Oliver... – Esse murmúrio é um pedido implícito para eu tocá-la com as
mãos.
Um apelo à minha pegada.
Sinto muito, tenho outros planos, baby.
– Vá ao banheiro e retire a calcinha, Beatriz. – Ela para de dançar e
paralisa, sem reação.
– Agora! – determino num tom incisivo, em seu ouvido.
Sem esperar qualquer questionamento, saio dali com dois seguranças me
seguindo e volto para a área do bar.
Bia hesita.
Parada na pista, olha em torno, procura os meus olhos.
Finjo indiferença, me servindo de uma nova dose de destilado. Ela encara o
casal à sua frente, Iris e Henry estão aos beijos. Eric finalmente tomou uma
atitude em relação a Hazel e dançam coladinhos. Mike sobrou e deu o fora.
Percebo o momento em que a coragem toma conta do seu ser e minha linda
garota dá o primeiro passo para obedecer ao meu comando. Segue para o
banheiro com dois armários atrás dela.
Sorrio.
Boa menina.
– Seu sorriso está meio diabólico.
– Tenho os meus motivos, Max. Cadê Lian?
– Está atracado com uma loira. – Aponta a direção em que o guitarrista
encontra-se prensando a loira contra a estrutura do elevado.
– Até que enfim ele resolveu mudar de boceta.
– Diz o cara que levou uma chave de uma.
– A questão é que já cometi o erro de ter uma boceta amiga, Max. Não
funciona. Um dos dois não está sendo verdadeiramente sincero.
– Então Riley tinha esperanças?
– Infelizmente sim. E você, tá fazendo o que sozinho aqui?
– Monitorando as mãos do filhote de Hitler.
– Puta-merda, é sério? A nossa conversa não serviu para nada?
– Se não fosse ela, eu já estaria lá no meio deles.
– Vá comer alguém, Max. O filhote de Hitler com certeza vai, com ou sem
a sua aprovação.
– Você acha mesmo que eles...
– Tá de sacanagem, né? Eles namoraram. Ele passou a noite com ela no
hotel, depois da festa do seu aniversário...
– Eu não consigo... – vocifera, vira a bebida de um gole, joga o copo em
cima do balcão de qualquer jeito, pega uma garrafa fechada de whisky e sai,
furioso.
Cacete! Será que Bia pode...
Não, com certeza, não.
Minha pequena já deve estar voltando, sirvo mais uma dose e parto para a
segunda parte do meu plano.

Bia
Estou trêmula.
Trêmula e excitada ao mesmo tempo.
Trancada no reservado, com a calcinha na mão, criando coragem para sair e
seguir até ele.
Uma coisa é transar ao ar livre, sabendo, ou pelo menos confiando, que não
há ninguém por perto. Outra bem diferente é fazer isto no meio de uma boate
rodeada por amigos e familiares.
Oliver não seria louco, seria?
Deve ser só para me provocar... só para brincar...
– Deixa de ser hipócrita, Beatriz. Você está doida para que ele seja louco,
bem louco... – digo a mim mesma em voz alta.
Olho para aquele pedaço de renda vermelha em minhas mãos.
– O que eu faço com você? Não tenho bolsa e nem bolsos para te enfiar...
Poderia jogá-la fora, mas além de ser um desperdício, gostaria de recolocá-
la após a brincadeira acabar.
Apesar dos seguranças garantirem que não deixariam ninguém mais entrar
enquanto eu estivesse ali, espio porta a fora, averiguando. Como a barra está
limpa, saio.
Há um armário inteiriço abaixo dos quatro lavatórios. Abro e vejo que
dentro dele tem um estoque de rolos de papel higiênico, dentre outras coisas.
Escolho o rolo mais ao fundo possível e enfio a calcinha no buraco. Isso deve
servir.
– Fique quietinha aí. Depois resgato você. – Me despeço da lingerie.
Saio do banheiro, os dois seguranças me aguardavam ao lado da porta. Um
segue na minha frente e outro às minhas costas. Um grupinho de garotas me
olha torto.
Provavelmente foram proibidas de usar o banheiro e agora descobriram o
motivo. Muito diferente do que fizeram na minha entrada com Oliver, as
pessoas agora vão abrindo caminho quando percebem que é um de nós
passando.
Os olhares me seguem, curiosos, mas ninguém se atreve a chegar perto,
muito menos tocar. A lembrança da garota beijando a boca dele me ferve o
sangue.
Estranho é andar no meio das pessoas sem calcinha.
Ao mesmo tempo que você sabe que ninguém sabe, parece que todo mundo
sabe. Entendem né?
Avisto a nossa roda, que está maior. Mike voltou e juntaram-se ao grupo
três amigas de Hazel e dois amigos de Kellan. O baixista também está
próximo, beijando uma morena. Mas nada de Oliver. Olho para o reservado
próximo ao bar, não há ninguém lá além dos seguranças que mantém a área
livre.
– Amiga, está tudo bem? – Hazel diz próxima ao meu ouvido, para ser
possível entender em função da música alta.
– Está sim, só fui ao banheiro. Você viu Oliver?
– A última vez que o vi, estava no bar. Achei que estivesse com ele...
– Recaída? – pergunto me referindo discretamente a Eric.
– Ah Bia, não teria coragem de ficar com outro cara na frente dele. Ele
ainda é tão apaixonado... Além disso, é gostoso e beija bem, entre ficarmos ou
terminar a noite sozinha... Mas tem alguém aqui que vai ter muita história para
contar. – Hazel arrasta Iris para perto de nós, arrancando-a dos braços de
Henry.
– Se deu bem, sortuda. Conta aí, Iris. Tem a pegada tão boa quanto
aparenta? – Ela ri.
– Demais. Estou quase arrancando os cabelos... O homem é quente.
– Uau. Aproveita garota. E amanhã manda mensagem dizendo se a
realidade superou a expectativa. – Pisco para ela.
– Iris que não se atreva a não compartilhar tudo conosco!
– Fiquem tranquilas. Faço um resumo e os detalhes conto na nossa noite
das garotas.
– Meninas, vou ter que pedir licença a vocês, preciso encontrar Oliver.
Mais tarde a gente se fala. – Dou um beijo na bochecha de cada uma. – Beijem
muito! – grito enquanto me afasto.
Começo a olhar em torno à procura do meu roqueiro quente. Vou me
infiltrando cada vez mais entre as pessoas, os seguranças se viram para me
acompanhar. Procuro, e procuro, até que avisto. Perco o fôlego.
Oliver está num canto, num vão entre as estruturas dos dois elevados.
Tem as costas e um dos pés apoiados na parede, a outra perna esticada.
Uma mão está no bolso da calça. A outra segura o copo de whisky, que ele
lentamente leva aos lábios.
A camiseta tem um lado dentro da calça e o outro fora. O olhar sobre mim,
sério, frio, sombrio e sexy como o diabo.
Dezenas de mulheres e homens observam-no em meio a escuridão e luzes
piscantes. Mas não estão próximos, há um raio de pelo menos três metros ao
redor dele. Provavelmente isolamento arranjado pelos seguranças, identifico
quatro por perto.
Ele continua bebendo e sustentando o olhar perturbador, me chamando,
desafiando-me a invadir o seu espaço.
Saio do meu transe e caminho lenta, mas decididamente em sua direção.
Passo pelos primeiros seguranças, porém, quando estou a mais ou menos um
metro dele, outro se coloca a minha frente. Paro, assustada. Lanço um olhar de
“por que?” a Oliver. Ele apenas balança a cabeça em negativa. Não, eu não
tenho permissão para me aproximar mais.
Permanece me fitando daquela forma.
Raivoso até. Eu gelo por um instante.
Será que o deixei puto por algum motivo?
As lágrimas quase ultrapassam a barreira dos meus olhos quando o
segurança coloca um pequeno papel dobrado em minha mão. Abro.
Dance.
Apenas isso.
É tudo que o bilhete diz.
A música muda. Reconheço.
É a mesma que tocava na boate durante o nosso primeiro beijo.
Puta-Merda!
Oliver quer um showzinho meu, sem calcinha, para ele, enquanto o público
nos observa. Não sei se consigo.
Meu coração galopa no peito.
Foco em seu olhar outra vez. Continua frio, desafiador. Fecho os meus olhos
e deixo a música me invadir.
Lembro da nossa primeira noite, do seu cheiro, seu calor, suas mãos em
mim. A sensação e a expectativa em sentir o gosto dos seus lábios pela
primeira vez. A emoção do sonho virando realidade, então danço.
Danço com tudo que há em mim, sem me importar se pareço sexy ou
ridícula.
Percorro meu corpo com as mãos e balanço os quadris no ritmo provocante,
enquanto revivo na mente o dia mais feliz da minha vida. Uma coisa é certa,
apaixonada eu sei que pareço. Muito apaixonada.
Por volta da metade da música me atrevo a erguer as pálpebras e encará-lo
outra vez. A expressão continua sombria e amedrontadora, mas não há mais um
pingo de frieza e sim um fogo que chega até mim e me queima junto. A
camiseta não tem um lado dentro da calça, os dois estão para fora. A mão não
está mais no bolso e sim sobre a braguilha, tenta disfarçar a ereção.
Dou meu melhor sorriso safado e viro de costas para ele, deixando-o agora
com a visão da minha bunda. Faço o mesmo movimento que fiz na roda
enquanto percorria o seu corpo. Dançando, vou até o chão, só que desta vez
passando as mãos pela lateral do meu. Ao voltar, trago as mãos pela parte
interna das coxas, adentro pela saia do vestido e volto, depois escorrego-as até
as nádegas.
– Arrrrrrr inferno! – Ouço seu rosnar. Abro um sorriso vitorioso.
Desestabilizei-o afinal.
Um segundo e o ar fica rarefeito. É o calor do seu corpo se aproximando do
meu. Ainda não coloca as mãos em mim, permite apenas um leve roçar na sua
virilha conforme danço, mas é o suficiente para eu comprovar a dureza e me
fazer incendiar ainda mais.
Tê-lo tão próximo, e ao mesmo tempo não, é angustiante. Se eu já estava
morrendo de tesão e expectativa antes, ali, sem calcinha e com todo o clima
que ele criou, a necessidade triplicou. Estou molhada pra caramba. Roço cada
vez mais uma coxa na outra e isto não tem nada a ver com a coreografia
improvisada.
Quase choro de satisfação quando sinto-o encostar completamente o tronco
em mim, pressionando o quadril contra a base da minha coluna. Mesmo eu
usando salto, ele é muito mais alto. Sinto seus dedos afastando os meus
cabelos todos para um lado, deixando meu pescoço exposto ao seu bel-prazer.
– Provocadora do caralho – diz ao pé do ouvido antes de deslizar os
lábios por toda aquela região. – Está pingando por mim, meu amor? – pergunta.
– O rio já transbordou, baby... – Ele geme e finalmente me puxa contra si,
envolvendo minha cintura com as mãos grandes e quentes. – Ahhhhhh! – Me
deleito em êxtase.
– Ansiosa pelo meu toque?
– Me contorcendo por ele.
– Estou louco para enfiar minhas mãos por baixo desse vestido e descobrir
quantas estrelinhas você merece por fazer o dever de casa, anjo.
– Por favor... – choramingo, ele ri contra o meu pescoço, então vira-me
para ele e me beija forte, intenso e apaixonado, enquanto caminha comigo em
direção à parede.
Assim que suas costas tocam o concreto, ele inverte nossas posições e sinto
o frio do cimento contra a parte nua das minhas. Ele interrompe nosso beijo,
desce as mãos até minhas coxas, me dando apoio para impulsionar e terminar
com as pernas em torno dos seus quadris. Volta a tomar a minha boca, me
prensa contra a parede e pressiona o pau duro bem no cerne da minha dor.
– Isso... isso... – digo.
– Você está me fazendo viver o inferno hoje, pequena. Estou duro a noite
toda.
– Ahhhh... – É tudo que consigo dizer a respeito da sua declaração, tendo o
seu pau investindo contra mim.
– Preciso relaxar. E cumprir uma promessa. Vai ser corajosa o suficiente
para embarcar nessa comigo, Chucky? – Seus lábios descem para o meu
decote.
– Oliver...
– Eu prometi a você que batizaríamos a área de festas de Lian. Estou
muito disposto – esfrega o pau em mim com mais afinco – a fazer isso agora
mesmo. Mas terá que fazer o que eu disser, para que, caso desconfiem, não
tenham certeza dos nossos atos. Topa? A decisão é sua.
– Sim – respondo, como se eu ainda possuísse algum controle sobre as
minhas vontades.
– Esta é a minha menina. Valente e audaciosa! – Me beija novamente e
sinto uma de suas mãos subir pela parte de trás da minha coxa.
Os dedos alcançam minha boceta e ele sorri ao comprovar que fiz o que
mandou. Brinca ali, espalhando o líquido que escapa dela por toda a carne.
– A com três estrelinhas, com certeza. – Me desce e leva os dedos a boca.
– Doce feito mel. Venha.
Seguimos para perto de uma das bases que sustentam um dos elevados. São
quatro pés e entre eles há chapas de metal que os conectam, para dar mais
firmeza. Ele me passa por cima de uma delas e depois pula para dentro
também, nos colocando debaixo do elevado, cercados e protegidos pelas
placas. No chão, próximo à grade de frente para a pista, há um caixote virado
de cabeça para baixo. Ele preparou tudo.
– Suba. – Eu faço e percebo que me deixa na altura exata para que minha
bunda encaixe no seu sexo e as chapas de metal nos cobrem mais ou menos do
umbigo até a o meio das coxas, por todos os lados. Ele consegue agora me
abraçar por trás e colocar a cabeça no meu ombro sem ter que se abaixar. E é o
que faz.
– Segure na grade, baby. – Fecho minhas duas mãos sobre ela. – E vamos
dançar.
Oliver passa os braços em volta de mim e começamos a remexer no ritmo
da música. Por um tempo ficamos apenas assim, dançando, nos roçando,
provocando. Seus lábios em minha pele, sua boca contra a minha. Quando nota
que os olhares já não estão tão concentrados em nós, que viramos uma dança
entre casal dentre tantas outras, na medida do possível, claro, Oliver desce as
mãos pelo meu quadril e as sobe por baixo do vestido, elevando-o na parte de
trás e deixando que a papada da minha bunda encoste na sua calça.
Uma mão volta para a minha cintura, me apertando mais contra si, e a outra
afaga minha bunda, encostando de leve a ponta do dedo no meu sexo, já tão
judiado pela espera. Aquilo me dá choque. Céus...
– Baby...
– Eu sei, meu bem, calma...
– Não aguento mais, rockstar... eu preciso gozar...
– Shh... dance, amor, não pare de dançar.
A mesma mão que me alisava, agora abre o botão e desce o zíper da calça.
Sinto quando a enfia dentro da cueca e puxa o membro poderoso, que salta
para o meio das minhas pernas por baixo do vestido. A mão retorna para a
frente do meu corpo, juntando-se a outra.
Ele se ajeita atrás de mim e a ponta melada do pau pressiona a minha
entrada. Empurra o quadril para frente, devagar, enquanto dançamos. Sinto o
pau grosso me alargar aos poucos. Não seguro um gemido quando a cabeça
passa.
– Quietinha, meu amor. Estamos só dançando, lembra?
Continua empurrando mais e mais, até suas bolas encostarem na junção das
minhas coxas. Ele está inteiro em mim e ali é o lugar dele. Como é deliciosa a
sensação de preenchimento.
Então o vai e vem, ritmado pela vontade do DJ começa. Não pode ser forte,
nem rápido, é um entra e sai lento e coreografado. Que ao mesmo tempo que é
delicioso, deixa-nos angustiados, esperando mais. Loucos para foder de
verdade.
– Porra, que vontade de meter pra valer em você, pequena.
– Não sei se vou conseguir gozar assim, Oliver. – Ele leva a mão ao meu
clitóris, por cima do vestido. A placa de metal cobre, então pode me masturbar
sem problemas.
– Bia... – geme baixinho – que tortura.
– Sim, amor, também estou enlouquecendo...
Preciso de mais... uma vontade insana começa a crescer dentro de mim e sei
que só vou gozar se a atender. Deito minha cabeça em seu ombro para ficar o
mais próxima possível do seu ouvido.
– Baby, quero vinho... põe o tora um pouquinho lá atrás, vai... – Ele
estremece.
– Puta que pariu, Beatriz. Se eu tiver que colocar uma ponte de safena
antes dos quarenta, saiba que a culpa é sua. Gostosa do caralho. – Me beija. –
Não temos lubrificante, só o que virá da sua boceta. Terei que por tudo, não
posso ficar com meio pau para fora, apesar do nosso cercadinho e da pouca
iluminação, poderiam ver... Vai aguentar?
– Todinho... e sem fazer careta...
– Arrrrr! Você nunca para de me surpreender, anjo... agora dance baby...
Oliver sai pela entrada principal e bate na porta dos fundos. Sinto a pressão
e me arrepio. Espero mesmo aguentar. Já o não fazer careta, quase impossível
não escapar uma ou outra. Tranco a respiração e tento relaxar lá atrás. Jesus,
Maria, José... só durante o ato é que a gente lembra porque não deveria pedir
por isto. Quando passa, eu respiro. Dói, mas que delícia... era o que eu
precisava...
– Que cu gostoso.
– Olha a boca, Oliver Rain. Aii..
– Xiu, quietinha... quase no fim... respira...
– Haja fôlego. Ai.
– Pronto. Todo enterrando na sua bunda gulosa, que me atormentou o juízo
a noite inteira.
– Mexe, baby. Mexe – imploro e ele faz. Aperta os braços contra meu
ventre e rebola aquele pauzão dentro da minha bunda de todas as formas
possíveis, no ritmo certo, nos levando a loucura. Quem olhar, pode jurar que
estamos apenas dançando.
– Pequena, vou gozar.
– Mais um pouquinho, baby. – Passa a mão por baixo do vestido e leva um
dedo dentro da vagina, enquanto o outro estimula o meu clitóris. A dupla
penetração é de enlouquecer! O orgasmo está vindo.
– Bia... – ele goza, sinto o esperma quente escorrer.
– Tô quase amor, não para agora... Acelera um pouquinho, nos dois
lugares – peço.
– Em silêncio, anjo... – E ele faz. E eu vejo estrelas.
– Oliver... aiiiiii... – Gozo abafando um grito.
– Porra, amor... que doideira... – Cola a testa no meu ombro, ofegante
enquanto guarda os documentos e baixa meu vestido.
– Excitante loucura. Duvidou que eu teria coragem? – Me viro para ele.
– Achei que você ficaria receosa, mas não amarelaria. Eu sei bem o efeito
que tenho sobre você, Beatriz.
– Convencido.
– A minha confiança é um dos motivos que te faz molhar a calcinha quando
estou perto, bebê. Agora fique quieta e me beije.
– Sempre. – Cubro sua boca com delicadeza. Passo só a pontinha da língua
entre os lábios, puxo a parte inferior e sugo, então busco por sua língua com a
minha e aprofundo o beijo.
– Humm, boca deliciosa... por pouco não desisti de brincar com você.
Quase chorou quando o segurança não te deixou passar, não foi?
– Sim... achei que você estava com raiva de mim.
– Perdão, meu bem. Entrei demais no personagem.
– Eu adorei o jogo, baby. – O beijo novamente. – Seus fluídos estão
melando as minhas coxas. Preciso ir ao banheiro.
– Eu te acompanho até a suíte do quarto de hóspedes. Tome um banho
rápido se preferir.
– Não, tenho que resgatar a minha calcinha no armário do banheiro aqui de
fora. Tem toalhas e lenços umedecidos lá, eu me viro.
– Te levo lá então. – Oliver me ergue e me põe para fora do cercadinho
improvisado, saindo de lá na sequência.
Quando estamos a meio caminho do banheiro um furacão quase nos
atropela.

Oliver

Uma garota bem conhecida passa por nós a toda velocidade, correndo em
direção à saída para o deck. Hazel está aos prantos e os seguranças à paisana
mal conseguem acompanhá-la.
– Eu vou atrás dela – digo.
– Faça isso, encontro vocês lá fora em alguns minutos.
Há menos pessoas do que eu imaginava na área da praia. Ninguém na hidro
ou na piscina e dois seguranças estão de pé em frente a elas. Provavelmente
Lian pediu que guardassem a área para evitar casais trepando ao ar livre. Em
respeito a Hazel, Bia e quem mais da família pudesse aparecer esta noite.
Dou alguns passos pela praia e, mais adiante, vejo a jovem de longos e
lisos cabelos escuros sentada na areia, em posição fetal, convulsionando de
tanto chorar.
– Princesa... – Me sento ao seu lado e a abraço. – Hazel, o que houve meu
bem? – Ela encosta a cabeça no meu peito e soluça. Sinto as lágrimas
molharem minha camiseta.
– Eric fez alguma coisa? – Nega sem emitir som.
– Algum outro babaca te machucou? – Ela não responde.
– Quem foi, Hazel? Me diz que quebro o infeliz agora mesmo.
– Alguém que você conhece muito bem, estrela. O senhor da minha
felicidade e do meu desespero.
– Ah querida... o que Max fez que te deixou neste estado? Não é porque é
meu irmão que não darei umas porradas nele...
– O que ele fez? Rá. – Solta um risinho – O que eu sempre soube que ele
faz com muitas, mas que eu gostaria que fizesse só comigo... só que dói muito
mais quando se vê a ação com os próprios olhos... – Volta a chorar.
– Você viu Max...
– Transando com três garotas. TRÊS.
– No meio da festa? – Max sempre prefere ter mais de uma mulher ao
mesmo tempo, mas daí a promover uma orgia pública? Não acho que se
deixaria levar a este ponto.
– Eu vi um garçom entrar com uma bandeja com drinks por uma porta ao
lado da sauna – fecho os olhos, é um dos quartos de foda de Lian – fiquei
curiosa, então abri a porta para ver o que estava rolando lá dentro. Péssima
decisão. Fico me enganando dizendo que era só curiosidade, mas acho que no
fundo eu sabia o que iria encontrar. Só não sabia que haveria mais de uma e
que doeria tanto...
– Ele deve estar demitindo o segurança que não te impediu de entrar...
– Ele não me viu. Metia numa por trás, enquanto outra estava deitada
embaixo dos dois, provavelmente com suas bolas na boca, e a terceira numa
pose olímpica com a boceta aberta na cara dele. Só a ginasta e o garçom me
viram. Eu logo saí.
– Sinto muito que você tenha presenciado isso.
– Eu só queria que esta dor parasse...
– Hazel, sei que fez planos com Bia, mas eu não acho que você deva...
– Ter esperanças? Sei que não, estrela. Apesar de Bia me garantir que eu
posso, eu sei que não. O que eu vou fazer, esta última tentativa, eu devo a mim.
Devo ao meu coração que ama esse homem desde que se entende por gente.
Ele sempre será o meu grande amor, Oliver. O grande amor que nunca viverei.
Mas não significa que eu não queira viver amores menores. Eu quero e eu vou.
Só não conseguirei fazer isso perto dele. Ninguém nunca terá chance comigo de
verdade, você entende?
– Perfeitamente. Eric que o diga.
– Sim. Eric é tudo que uma garota da minha idade poderia sonhar para um
primeiro amor. É um homem e não um moleque, é bonito, bem resolvido,
carinhoso, tem pegada, um ótimo papo, está apaixonado e temos química. Um
sonho, não?
– Se você disser que além de tudo ele ainda tem pau grande, até eu me
apaixono pelo cara... – Ela ri. Que bom.
– Não vi muitos, mas não é pequeno.
– Bia acaba de dançar.
– Palhaço! Mas então me diz, estrela. Você é homem, talvez possa me dizer
algo diferente... Por que eu não consigo me entregar a ele? Por que, merda?!
– Você está me dizendo que vocês nunca...
– Nunca. Não consigo. Eu travo. Entro em pânico, literalmente. – Puta-
merda. Acho melhor Max continuar pensando que ela não é mais virgem, senão
vai fechar ainda mais o cerco.
– Você sonha em viver esse momento com Max.
– Era para você me dizer algo diferente... eu não apenas sonho. Eu
visualizo. Eu vivo e revivo na minha mente todos os dias. Daí quando estou lá,
e o homem prestes a tomar o meu corpo não é ruivo, por mais quentes que as
coisas estejam, parece que aquilo é tão errado... tão sem sentido... tão sem
amor... – As lágrimas escorrem. A abraço mais forte.
– Eu realmente gostaria de lhe dizer que talvez um dia ele a veja como
mulher, princesa, mas eu estaria mentindo. A não ser que seja um pervertido do
caralho, nenhum homem olha assim para a menina que considera uma filha.
– Ele não é meu pai, Oliver. Eu já tenho um.
– Princesa...
– Ele não é! Eu nunca o vi desta forma.
– Mas ele sempre a viu assim.
– Eis aí a grande merda da minha vida...
– Hazel, você já pensou em conversar com alguém? Poderíamos marcar
com Henry...
– Farei isso depois de Londres. Se não fizer uma bobagem antes... –
Aquelas palavras me arrepiam.
– Como assim? Que tipo de bobagem?
– Ir para cima, Oliver. Sem me importar com as consequências. – Respiro
aliviado.
– Mudaria tudo entre vocês.
– Sim. Eu o magoaria e o perderia de todas as formas. É o que ainda me
impede. Mas estou prestes a ligar o foda-se e ultrapassar este limite, eu sinto.
– Não faça nada por impulso. Espere pelo menos o tempo em Londres.
Quem sabe você conheça alguém...
– Oliver? Me olhe. – Eu faço.
– Nunca vai mudar. Mudaria para você?
– Não. – Sou sincero.
– O que Londres fará por mim é me dar tempo. Tempo para pensar longe
dele e estudar suas reações aos falsos amores ingleses que farei chegar ao seu
conhecimento. Para então fazer a escolha inevitável. Ou me dou um segundo de
esperança e jogo a merda no ventilador de uma vez ou afogo meus sentimentos
pelo resto da vida e me transformo naquele tipo de gente que por fora está bem
e sorridente, mas por dentro é um poço de tristeza indecifrável. E sabe o que
mais me fode nisso tudo?
– O quê?
– Para mim restará a mesma opção em qualquer um dos dois desfechos.
Partiu terapia e #amoresmenores.
– Você sempre poderá contar comigo e com Bia, sabe disso, não é? Não
guarde tudo aí dentro.
– Sei sim. Não sabe o quando me fez bem esta nossa conversa. E não
impeça Bia de sair comigo. – Eu rio.
– Aproveitadora... Isso é jogo sujo, garota. – Beijo sua bochecha.
– Obrigada, estrela. – Ela põe os braços em torno do meu pescoço e me
abraça.
– Sempre que precisar, meu bem.
– Mas agora é melhor você cuidar da sua horta, rockstar. Alguém está
doido para chover nela. – Olho na mesma direção que ela e não gosto nada do
que vejo.
Bia

– Bia, é você? – Ouço uma voz me chamar. Olho em torno, mas não vejo
ninguém. Até que um vulto sai das sombras das folhagens em volta do deck e
se aproxima. Ele tem um copo de bebida na mão, seu rosto não me é estranho,
mas não lembro quem é ou onde já o vi.
– Oi, sim sou eu. – Ele me analisa minuciosamente.
– Não está lembrada de mim, não é?
– Para ser sincera, não. Desculpe. – Ele leva a mão ao coração, como se
doesse.
– E pensar que eu não consegui esquecê-la um dia sequer... – dramatiza,
irônico. Não gosto daquilo.
– Sinto muito por isso, mas se me der licença, eu vou...
– Calma, calma. Desculpe o tom, não quis ofender, estou só tentando ser
descontraído. Sou Tales, amigo de Kellan, nos conhecemos na festa de Hazel.
– Ah claro, Tales, o que tentou se aproximar de mim naquela noite e o único
dos amigos de Kellan que Hazel classificou como confiável.
– Tales, verdade. Como vai?
– Bem obrigado. Será que posso chegar mais perto? Os leões de chácara
não vão me barrar?
– Pode, claro.
– E você, como está? Pelo que ando acompanhando pelas mídias, imagino
que bem.
– Sim, estou bem. E você? O que faz aqui fora? Não está gostando da
festa?
– Estou claro, mas...
– Mas?
– Kellan arrastou nosso grupo, mais meia dúzia de garotas para um dos
quartos e bem... o tipo de pegação que rola lá dentro não é muito a minha... –
Ele levanta o copo de bebida. – Não é algo que eu curta.
– Não?
– Não. Além de não gostar de plateia, para mim precisa ter o mínimo de
envolvimento sabe? Pelo menos trocar uma dúzia de frases coerentes antes de
“cair de boca”, se me perdoa o eufemismo.
– Entendo. E imagino que conversa é o que menos rola lá dentro, certo?
– Certíssima.
– Então você resolveu sair para beber e olhar o mar.
– Isso, e quem sabe ter a sorte de encontrar uma amiga. Se me permite
perguntar, o que faz aqui sozinha?
– Vim procurar Oliver e Hazel – digo simplesmente e ele me fita como
quem não acredita, mas vai deixar passar.
– Nossa, você é ainda mais linda do que eu me lembrava. – Minhas
bochechas incendeiam na mesma hora.
– Obrigada – respondo totalmente sem graça.
– Não era mentira – diz sério, com os olhos fixos nos meus.
– O que não era mentira? – pergunto confusa.
– A parte em que eu penso em você todos os dias desde aquela maldita
festa.
– Tales, eu não...
– Tudo bem, Bia. Não estou dizendo isso para que você se atire em meus
braços, nem nada do tipo. Só estou sendo sincero. Você lançou algum feitiço
sobre mim. O mesmo ao qual meu amigo Kellan sucumbe, imagino.
– Não foi minha intenção.
– Sei que não. E é por isso que é tão difícil se livrar dele. Nem Oliver
Rain escapou. Ainda é a garota dele, suponho? – Sorrio.
– Bom, pelo que eu sinto, você está prestes a confirmar se ainda sou ou
não. – Ele me fita confuso, então olha por sobre meus ombros e pela sua
expressão, meu sentido aranha não me traiu.
– Como você...?
– Simplesmente sinto a presença dele.
– Espero não perder as bolas. Minha mãe sonha em ter netos algum dia.
– Quão perto ele está?
– Há uns duzentos metros.
– Dá tempo de você fugir – afirmo, me divertindo com a preocupação
dele. Tales faz uma careta.
– Ainda me considero um homem, garota. Jamais fugiria. Eliminaria
qualquer chance de você me respeitar no futuro. – Me dá uma piscadinha.
– Fico na torcida por suas bolas e os possíveis netos de sua mãe, então.
– Obrigado. É muita gentileza sua. – Não demora muito para a maresia
ganhar um aroma levemente mentolado e um braço forte me envolver na
cintura.
– Procurava você e Hazel, onde estavam? – Ele não responde, tão
concentrado que está encarando o garoto.
– Quem é você? – exige.
– Oliver, por favor, seja educado.
– Tudo bem, Bia. Não preciso que me defenda. Boa noite, Sr. Rain. Sou
Tales, amigo de Kellan. Já nos encontramos algumas vezes. Não lembra de
mim? A última vez foi na festa de Hazel. – Oliver estreita o olhar na direção
dele.
– Lembro. Perfeitamente. Você é o cara que insistiu em levar a minha
mulher para a pista de dança. Veio convidá-la para dançar novamente?
– Não. Vim aqui fora justamente porque não me agrada o rumo que a festa
tomou para os meus amigos. E coincidentemente nos encontramos.
– Se tédio é o problema, peço para um dos motoristas te levar em casa
agora mesmo – diz já retirando o celular do bolso da bermuda.
– Conversar com Bia é tudo menos tedioso. Mas é claro que o senhor sabe
disso muito bem. – Sinto Oliver cerrar os punhos. Se Tales continuar
provocando-o assim, acho bom já se inscrever na fila de adoção.
– Sim, eu sei. Ela é maravilhosa em todos os aspectos. Então ouça com
atenção, moleque, pois vou dizer uma vez só. Desista. Cai fora. Vaza. Vá
primeiro aprender a limpar a bunda, antes de pensar em ciscar no meu terreiro.
– Oliver...
– Desta eu vou deixar passar, mas a próxima vez que você ousar flertar
com ela, um olho roxo e um dente quebrado é o mínimo que te aguarda. E é
Srta. Thompson para você.
– Ele não estava flertando comigo.
– Conta outra, Beatriz. De longe eu vi o jeito que ele te olhava.
– Ele tem razão – diz Tales, encarando Oliver. – E como confidenciei há
poucos minutos, não paro de pensar nela desde a festa.
– Cretino... Filho-da-puta... – Oliver ameaça avançar em Tales, mas eu o
detenho me colocando entre os dois. Dois seguranças também se aproximam,
prontos para intervir.
– Saia da frente, Beatriz – diz furioso.
– Não mesmo. Quer o quê? Um processo por agressão? Esfria a cabeça,
vamos sair daqui, Oliver. – Me agarro em seu tronco e o empurro para trás.
– Não se preocupe, Sr. Rain. Não sou inconveniente. Sei reconhecer
quando não há espaço vago no coração de uma garota. Mas sei também que o
mundo dá voltas e que do dia para a noite tudo pode mudar. Se isso acontecer,
eu vou tentar a sorte.
– Chega, Tales! Pare de provocá-lo. – Me irrito também. Oliver debocha e
digita algo no celular.
– Como quiser, Bia, vou indo. Bom te rever. Boa noite! – diz o amigo de
Kellan, se dirigindo apenas a mim.
– Boa noite. – Não dou chance a Oliver de dizer qualquer outra coisa,
puxo-o pela camiseta na direção da praia.
– O que você tanto digita no celular?
– Determinando que retirem o babaca da festa e proibindo sua entrada aqui
a partir de hoje.
– Deixa de ser infantil. Você não pode fazer isso, ele é amigo de Kellan e
não fez nada demais.
– Só confessou na minha cara e na minha casa que quer o que é meu. –
Ponho minha mão sobre a sua, para que pare de digitar, o outro braço passo
por seu pescoço e o beijo.
– Acalme-se. O que ele quer ou deixa de querer é problema dele.
– Não quando envolve você.
– Eu só quero você. Fim da história. Onde está Hazel?
– Voltou lá para dentro.
– O que houve?
– Viu Max transando.
– Merda.
– Bia, não vou ficar bem com você solta numa boate em Los Angeles...
– Oliver...
– Olha o que acabou de acontecer! E dentro do meu quintal...
– Ele só te provocou porque você chegou todo grosseiro, rockstar. Até
então foi bem educado.
– Eu sei identificar o interesse no olhar de um homem. E aquele cara te
quer pra caralho. Não vê a hora de enterrar na sua cesta.
– Esse jogo já está ganho, meu amor. Já é seu. Esquece o Tales e me leve
para perto da minha amiga, ela precisa de mim, vamos.
Capítulo 26

Eu quero ver você


Ser o seu maior brinquedo
Te satisfazer
Olhos negros, olhos negros
(Pedra, flor e espinho, Barão Vermelho)

Bia

E u achei que a nossa noite das garotas não sairia, sério...


– Nem me fale Iris, Oliver já não estava feliz com a ideia
desde o início, imagine depois que o amigo de Kellan
resolveu me cercar na festa de Lian há duas semanas! Ele só concordou nestes
termos.
– Onde ele está?
– Estão todos na área vip, lá em cima. Foi fechada só para eles. De lá
conseguem ver a pista aqui embaixo.
– Essa boate é incrível, nunca entrei num lugar tão chique.
– É sim. A festa de Hazel foi aqui.
– Humm, aqui que o seu conto de fadas começou então. – Sorrio.
– Sim, bem nesta pista.
– Voltei. – Hazel retorna com três garrafinhas de cerveja na mão.
– Você não foi ao banheiro? Como conseguiu comprar bebida alcoólica?
– Tenho meus truques, primeira-dama.
– Às vezes você me assusta Hazel, sério... olha lá o que anda aprontando,
não esqueça que Max pode nos ver.
– Depois do que vi naquela festa, com todo respeito a Helen, quero que
Max vá para a puta que o pariu. – Ela sorveu um gole da sua bebida. – Estou
achando este lugar meio vazio para uma quinta à meia-noite.
– Conforme-se, não vai encher muito mais – conto.
– Por que diz isso?
– Porque o meu digníssimo namorado, além de comprar a área vip,
comprou cinquenta por cento da capacidade da noite também.
– Não brinca? – Iris arregala os olhos, espantada.
– A mais pura verdade.
– Além de todo o exército de seguranças que ele trouxe, de estar aqui
espionando, ainda a casa tem que ficar vazia? – Hazel está indignada.
– Justamente.
– E por que não me contou?
– Ah Hazel, eu já estava tão cansada de discutir com ele que resolvi
deixar para lá. Sério, foi tanta briga por causa desta noite que eu até perdi o
tesão...
– Na nossa saída, não em Oliver, imagino... – brinca Iris.
– Sim, na saída. O nível de tesão em relação a Oliver é o seguinte: ele me
olha, eu tiro a calcinha. Nem sei mais o que é dignidade... – Elas gargalham.
– Completamente entendível. Aquele vídeo que o diga. – Iris se abana com
as mãos.
– Pelo menos aqui, nesta parca iluminação, você não consegue ver a minha
cara de vergonha.
– Ficou incrível Bia. Lindo demais. Não vejo a hora de mostrar a versão
final amanhã.
– Ainda não sei como você me convenceu a deixar aparecer a bunda de
Oliver, sério, não acho que vou reagir bem amanhã...
– A bunda de Oliver vai nos render muitos cliques, muita grana para o
tratamento de quem precisa. E você vai amar o clipe.
– É, foi esse o papinho que me convenceu...
– Então Iris fará a alegria da humanidade na semana que vem... O Deus do
rock em pele, pelo e traseiro... Quando será liberado ao público mesmo?
– Na terça, Hazel... É o dia em que eu serei indicada ao Nobel pelo bem
maior prestado.
– Rá, rá, rá. Muito engraçadinhas. – Faço careta para elas.
– Agora para de papo furado dona gênia e conta logo sobre o Dr.
gostosão. Ainda não acredito que você não foi para a casa dele depois da
festa. – Ela fica sem jeito com a chamada de Hazel.
– Sou uma anta, não é? Mas não consegui ir para a cama com ele na
primeira noite. Essas merdas que a gente cresce ouvindo e que por mais que
digamos que não nos afeta, na hora do vamos ver, a vozinha imprópria sempre
vem atazanar a nossa mente. – Hum, seu olhar esquivo durante este discurso
não me convenceu, acho que tem mais coisa aí.
– Não tem que se cobrar Iris, não tinha obrigação nenhuma em ir para a
cama com ele. Que garota não gosta de um pouco de romance? – Tento
tranquilizá-la.
– Têm se falado? – Hazel pergunta.
– Sim, todos os dias. Almoçamos juntos.
– Almoçaram juntos todos os dias?
– Ele tem ido a Oceanside todos os dias da semana e me convida, então...
– Ela dá de ombros. – Com o prazo apertado para terminar o clipe, não pude
marcar nada além disso, mas amanhã vamos jantar.
– Uau. Está sério.
– Ele é muito bacana, está interessado e quero entrar nessa com tudo de
mim, mas...
– Mas? – Ela olha de mim para Hazel ponderando se deve ou não abrir seu
coração conosco.
– Somos amigas, não? Nunca tive amigas para valer, mas... sei lá, vocês
começaram a se aproximar de mim e a me envolver nas coisas... as conversas
super divertidas por mensagem... já as considero, mas preciso saber se me
veem com a mesma intimidade, não quero impor nada a vocês...
– Iris, você babou na bunda do meu homem na minha frente e eu nem
arranquei os seus olhos. Isso responde a sua pergunta? – Ela ri.
– Responde sim.
– Gostei de você na hora em que te vi. Você já me viu bêbada e me ouviu
chorar as pitangas sobre o meu amor secreto não correspondido. Isso me põe
na categoria de sua amiga?
– Super.
– Então nos conte, o que tem por trás desse mas...?
– Questões que eu carrego comigo desde a infância. Olha, é bem difícil
contar e é pesado, nem sei por que tive vontade de falar, talvez a bebida... –
Ela tem lágrimas nos olhos.
– Se te deu vontade de compartilhar é porque precisa pôr para fora,
vamos, que questões são estas? – incentivo.
– Aquele dia, no jantar de encerramento da turnê, lembram que comentei
que o meu pai bebia, né? – Nós duas confirmamos.
– Então, sempre que fazia isto, ele descontava, ou na minha mãe, em forma
de violência, ou em mim, em forma de abuso. – Hazel e eu arregalamos os
olhos com medo de perguntar até onde ia o abuso.
– Vivi este inferno até ir para o colégio interno aos oito. Só de lembrar do
cheiro do seu bafo ou das mãos, e outras partes nojentas dele sobre mim... – As
lágrimas escapam. A abraço.
– Nossa Iris, sinto muito... – Hazel faz uma careta de dor.
– Nem consigo imaginar a sua dor, querida.
– Não quero falar dos detalhes, mas felizmente ele nunca chegou a
consumar o ato até o fim, apesar de que, se eu não tivesse saído logo de casa,
não demoraria muito... – Acho que a expiração de alívio de Hazel e minha foi
ouvida por toda a boate.
– Eu só contei porque, enfim... por causa desta vivência, nunca tive
coragem de deixar um homem avançar demais. Sendo honesta com vocês, foi
este o principal motivo que me fez recusar ir para a casa de Henry naquele dia.
E que me faz evitar encontrar-me com ele à noite. Não fiquei com nojo da
intimidade homem mulher, não é isso, eu tenho desejo, sinto vontade, mas o
meu medo é de que no momento em que acontecer, aquelas lembranças, a
imagem suja dele, volte a minha mente com tal foça que eu trave, não consiga.
Estrague algo bom por causa do meu trauma.
– Acho que você não poderia estar com alguém mais perfeito e preparado
para te ajudar. Se abra para ele. Henry vai saber conduzir as coisas entre
vocês – sugiro.
– Tenho tanta vergonha... E ainda tem o meu peso.
– Você é linda Iris. Suas curvas e seus peitos são um verdadeiro atentado
ao pudor... – elogio, e é verdade. Iris é muito bonita. – E não há do que se
envergonhar, a culpa não foi sua. Você era uma criança, foi abusada por alguém
doente, que deveria te proteger, e com o triplo do seu tamanho, não tinha como
se defender.
– Verdade Iris, não se culpe e concordo com Bia, você deveria se abrir
com Henry. E quanto ao seu corpo, por Deus garota, já se olhou no espelho?
Sem falar no jeito como se veste, nossa, queria ter a metade do seu estilo –
completa Hazel e Iris sorri.
– Hoje até estou mais de boa com o meu corpo. Me sinto sexy, sim, às
vezes. – Reviramos os olhos para ela. – Mas cheguei bem próxima da linha da
obesidade, felizmente consegui reverter e faz anos que mantenho este peso.
Nunca serei magra e acho que nem combinaria comigo. Mas engordar tanto
como antes, penso que foi um mecanismo de defesa, sabem? Ser gorda para
não chamar a atenção para o meu corpo e não passar por aquilo de novo, nunca
mais. – Ela seca as lágrimas. – Eu gostaria tanto de entrar nessa com Henry
sem estes fantasmas rondando a minha cabeça, entendem?
– Entendemos, claro, mas vá com calma, viva um dia de cada vez ao lado
dele. Henry com certeza vai entender e ele pode te ajudar, muito. E quem não
tem fantasmas rondando a mente que atire a primeira pedra – concluo.
– Vou pensar, ver se crio coragem e conto para ele. Mas não sei se ele
achará que valho tanto a pena assim para embarcar em algo tão problemático.
– Boa noite! – Uma voz grave invade nosso espaço. Henry surge do nada
ao nosso lado na pista. Até onde ele ouviu?
– Henry? O que faz aqui? – Iris pergunta assustada.
– Não se preocupe, não vou atrapalhar. Oliver me avisou que os homens
estão proibidos de se aproximar. Que foram limitados ao aquário lá em cima.
Me convidou para vir e ficar com eles. Só quis te dar um oi.
– Ah... oi então...
– Bem, talvez um pouco mais que um oi... – Ele envolve Iris pelo pescoço
e beija-a com vontade. – Você está linda! E vale muito a pena. Nos falamos
mais tarde, não fuja de mim. Hazel, Bia... – Não diz mais nada e vai em
direção a área vip.
– Uau! Que beijo... – Hazel suspira.
– Isso foi o que podemos chamar de mijadinha para marcar território, ou
foi impressão minha? – pergunta Iris.
– Ahhh certeza... e você preocupada se ele vai querer investir? Que
desperdício de rede neural... Henry está totalmente na sua, garota! – Hazel
constata.
– Bem Hazel, não seremos só nós duas as stalkeadas esta noite. Iris
acabou de entrar para o clube.
– Total. Acho que já falamos demais para um início de noite, não? Let’s
move!
– Iris, quando quiser começar, fique à vontade – fala Max.
– Caramba, estou nervosa – confidencia ela.
– Não fique, o máximo que pode acontecer é a gente te dizer que ficou um
lixo e que precisa refazer – brinca Oliver.
– Animador.
– Confiamos no seu trabalho, Iris. Tenho certeza que está ótimo. E você
está entre amigos, não se esqueça. – A tranquiliza Lian.
– Muito bem então.
É tarde de sexta, estamos reunidos na sala de cinema para Iris apresentar o
clipe. O telão é gigantesco. Além dos integrantes da The Order, Iris e eu, estão
presentes também Edgar e Laura. Semana passada Oliver finalmente conversou
com Laura e lhe disse que deveria abrir a casa para Edgar ao invés de dormir
fora frequentemente. Este final de semana será a prova da convivência entre os
dois, pois Edgar veio esta tarde de mala e cuia. A música começa. Ergo meus
olhos para a tela, Oliver aperta minha mão. Também estou nervosa pra cacete.
O clipe começa em preto e branco. O mocinho, no caso Oliver Rain, com o
mesmo figurino que entrou na cena que gravamos, calça jeans lavado e
rasgado, com barras dobradas, botão aberto, corrente no passador e sem
camisa, caminha por uma praia deserta procurando por alguém. Flashs do
objeto de sua busca aparecem vez ou outra, os cabelos, depois os olhos,
depois a boca, como se fossem as memórias do mocinho lhe lembrando do
porquê a busca vale a pena. Ele corre, para, põe as mãos na cabeça, os dedos
no passador. Desespera, volta a andar.
A cena muda para a banda performando Eden na praia também, ainda em
preto e branco. Oliver ao microfone, de jeans escuro e camiseta preta. Kellan e
Lian nas suas laterais e a bateria mais atrás.
O mocinho retorna a tela. Ainda procurando. Ele chega a um costão de
pedras, e começa a escalá-lo. Voltamos a banda, um pequeno solo de guitarra e
gaita de boca. Lian e Kellan. Ficou Lindo! O foco retorna à história, ele já está
descendo o costão, chegando ao outro lado da tal praia. Para um momento em
cima das pedras e analisa. Em certa direção vê-se pequenas ondulações, que
no conjunto formam uma espécie de campo de energia. Tipo, “uma falha na
matrix”. Ele se anima, e corre naquela direção.
A banda tem outro tape. Um destaque em Max na bateria e depois Oliver
cantando de forma muito, muito sensual.
O mocinho chegou em frente a tal ondulação. Sua respiração acelera, ele
está nervoso, ansioso com o que vai encontrar se atrever-se a passar por ela.
Ele hesita, mas passa. E quando ele passa, tudo se transforma. A cor explode.
A areia muito brilhante, a água muito límpida, pontos muito azuis e outros
muito verdes. A cama toda branca no meio daquela paisagem e a mocinha,
uau... sou eu mesma? Caramba... sou a própria luz. Iris colocou uns efeitos ao
meu redor que me deixaram resplandecente.
– Porra! – foi Lian. Kellan se remexe na cadeira, desconfortável.
Nua até a cintura, ajoelhada e sentada sobre os calcanhares no meio da
cama, com os cabelos a cobrirem meus seios. Como Oliver disse? Uma deusa
virgem oferecida em sacrifício... sim, é a descrição perfeita. Ele ofega, ela
ofega. Os dois se olham intensamente e o impacto daquele encontro fica
escrachado na cena. Foi tudo verdade. Ele se move na direção dela, a câmera
passa a filmar ele de costas. Enrola a corrente no pulso e retira a calça. Para
um momento em frente à cama, nu. A bunda gostosa exposta para quem quiser
ver. Senhor...
– Puta merda! É sério velho? – Max não acredita que ele vai deixar isso
passar.
– Já imagino a gritaria no show quando sua bundinha parecer no telão,
bonitão. – Lian zoa.
Laura acho que nem respirou nessa hora, coitada...
Para alívio momentâneo dos presentes, a banda, nas cenas em preto e
branco voltam. Novo duo guitarra e gaita, agora completo, mais longo. Ainda
no meio do solo, o casal volta a colorir a tela.
Os dois agora estão de joelhos na cama, se olhando, sondando, ele a toca
primeiro com delicadeza. Os olhos sempre muito intensos, conectados. O solo
termina quando ele cola o tronco no dela e a paixão explode. Ali também
inicia o refrão e entra a minha voz junto a de Oliver. Tudo fica quente, muito
quente. Beijos vorazes, mãos exploratórias, o contorno dos meus seios em seu
peito. Ele se deitando sobre mim. Os corpos se esfregando, ele descendo os
lábios pelo meu colo, chupando um dos seios enquanto cobre o outro com as
mãos.
Ninguém se atreve a dizer nada, mas são tantas mexidas nas cadeiras, hã-
hãs e tossidas que escuto, que deixam claro que o mesmo efeito que as cenas
causam em mim, causam neles. Todos ali precisam de um ar. Como se
soubesse, Iris propicia o respiro, voltando a mostrar a banda. Agora eu
também estou ali. Num outro pedestal com microfone ao lado de Oliver. De
saia jeans desfiada e regata branca. Cantamos o refrão um de frente para o
outro.
O alívio dura pouco e agora Oliver tem as duas mãos em meus seios e a
boca está em meu umbigo. Ele brinca com os lábios ali e como o pano desce
um pouco ele vê a tatuagem no início do meu púbis. Iris capta bem a expressão
dele ao ver, surpreso, fascinado, os olhos em fogo líquido. Ele a contorna com
a língua e a câmera dá um close, deixando bem nítido do que se trata. Mr.
Rain.
– Isso foi feito no dia, Oliver não sabia, não é? Da para ver a cara de
espanto... – Max pergunta.
– Sim – respondo.
– Acho que eu teria infartado – declara Lian.
A cabeça dele some em meio aos lençóis e fica óbvio que está com a boca
no meio das minhas pernas. Felizmente Iris não se demora ali e a banda me
salva. O refrão terminou, então não estou mais na cena. Apenas os quatro. Max
soltando a mão na bateria para emendar o novo verso. E Oliver entra com a
voz. A cena da banda é um pouco mais extensa, até o final do verso, com
closes em cada um deles.
Voltamos ao telão bem no momento exato em que Oliver volta para cima de
mim com tudo e me penetra. A expressão de êxtase em nossos rostos é
impagável. Logo a sua boca passa a fazer com a minha o mesmo que seu sexo
faz com o meu. E ali está um casal apaixonado e enlouquecido, fazendo amor
alucinadamente. Minhas mãos o arranham, seus lábios me chupam o pescoço, o
seio, voltam a boca enquanto ele segue nos movimentos característicos. O
lençol desce e meia nádega dele fica visível, bem como meu quadril e o início
da sua virilha encaixada na minha. A expressão no meu rosto me diz que foi o
momento em que eu gozei ou muito próximo. Mas outra vez esse último quadro
é muito rápido. Um pouco mais que um flash e a banda enche o telão outra vez.
Novamente o refrão, novamente Oliver e eu nos microfones.
– É, isso explica muito sobre arranhões e hematomas – diz Max. Kellan
passa as mãos pelo pescoço, acho que está suando. Oliver não emitiu um único
som até agora, ele só mexe e remexe sua mão na minha.
Agora estou por cima de Oliver na cama, o contorno dos meus seios mais
visíveis enquanto roço o seu peito no vai e vem sobre ele. Enquanto deslizo
meus lábios por seu queixo, seu pescoço, sugo seu mamilo e volto para a sua
boca. Suas mãos na minha bunda sobre o lençol.
– Aí baby, você vai esmagar minha mão assim... – digo baixinho. Seu
maxilar está travado.
Uma nova tomada rápida da banda e já estamos de volta à ativa, estamos de
testas coladas e são os meus dois últimos movimentos antes de Oliver gozar, eu
cair com a cabeça em seu ombro e ele afagar os meus cabelos.
A música se torna mais calma, assim como o casal no Eden. Eles se tocam
carinhosamente, deitados de lado um de frente para o outro. Ela se ergue um
pouco para beijá-lo exibindo as costas nuas. Ele retira a corrente do pulso e
coloca no pescoço dela. Ela lhe faz mais um carinho e sai da cama, enrolada
no lençol.
Ele apenas a acompanha com o olhar. Deitado no meio da cama, com a
ponta do lençol branco cobrindo só a virilha, expondo as coxas musculosas,
parte da tatuagem, o tanquinho perfeito, o peito nu, as mãos atrás da cabeça, os
bíceps avantajados.
Deus, como é lindo!
O sacrifício da virgem esteve longe de ser um martírio.
Ela segue andando em direção ao mar. No meio do caminho para e vira o
tronco para trás, olhando uma última vez para ele, mordendo o lábio inferior.
Ele sustenta seu olhar. Ela volta a seguir o seu trajeto sob os olhos vigilantes
do mocinho, até a beira do mar. Ele deixa-se levar pelo relaxamento do êxtase,
olha para o céu e fecha os olhos.
A banda preenche a tela outra vez. É o início do último refrão. Na história
agora tudo voltou a ficar preto e branco também. O mocinho acorda, assustado,
deitado na areia da praia. Tenta entender o que aconteceu. Está com as mesmas
calças de antes, botão aberto. Porém não há corrente no passador, mas ele não
percebe. Procura em volta pelas ondulações, não há nada. Só uma praia
normal. Foi tudo um sonho afinal. Ele vai embora.
É outro dia. Ele anda por outra praia, de calça escura e camiseta branca,
pés na beira d’água. Vai caminhando e flashs, memórias do sonho louco
inundam sua mente. Ao sentir algo que o mar trouxe batendo em seus pés, ele
para. Se abaixa e procura ali, movimentando a mão pela água até que encontra.
Traz o objeto para onde seus olhos possam identificá-lo. É a corrente que
colocou no pescoço da garota. Preso no meio das argolas há fios de cabelos
longos e encaracolados. A música acaba. Ele sorri, olhando o mar infinito. O
telão escurece. Iris acende as luzes.
– Bem, é isso. O que acharam? – pergunta e não se ouve um pio naquela
sala. Meu coração acelera. Por incrível que pareça, é Laura a pessoa a quebrar
o silêncio.
– Eu achei lindíssimo. Vi tanto amor ali. Me emocionei.
E ela tem razão. Ficou espetacular.
É desconfortável assistir em primeira mão, num telão enorme, ao lado das
pessoas do seu convívio. Não deixa de ser a nossa intimidade exposta. Mas se
eu pensar que é qualquer outro casal naquela cama, numa cena de um filme
assistido entre amigos, seria normal.
Fora o nu costal de Oliver, nenhuma outra parte imprópria dos nossos
corpos foram mostradas, as cenas ficaram incríveis, os ângulos perfeitos, nada
vulgar, tudo bem sincronizado com a música.
O impacto mesmo está na intensidade da nossa entrega. Fizemos aquilo sem
reservas, de corpo e alma. Escancaramos nossos sentimentos, nosso amor, em
frente às câmeras. Somos nós, sendo nós.
Foi o que Iris prometeu ao público. É o que eles verão.
– Só um minuto, eu preciso fazer uma coisa antes de falar. – Oliver vira o
corpo em minha direção, me abraça e me beija demoradamente. – Você estava
incrível. Sou um idiota do caramba em compartilhar tanta beleza como mundo.
– Iris, – fala agora olhando para ela – eu estou louco de raiva comigo
mesmo por ter concordado com essa sua ideia estúpida. – Iris empalidece. –
Ainda me pergunto o que deu na minha cabeça. Como deixei você me
convencer a isto? Porra, é a minha mulher! É a minha bunda! – Todos riem, ela
respira.
– Mas garota, assim como vovó, me emocionei. Ficou incrível. Ver o
nosso ato de amor eternizado desta forma, com a música que compus falando
sobre ele, tudo casando em perfeita harmonia, seu trabalho não poderia ter
sido mais perfeito e de melhor bom gosto. Parabéns!
– Ainda penso que poderíamos cortar a parte da bunda – digo e novos
risos surgem. – Mas alguém me disse que ela será a responsável pelo custeio
de muitos tratamentos, então...
– Ela será, com certeza. A bunda de Oliver salvará muitas vidas. – Iris
reforça. Todos gargalham e eu suspiro resignada.
– Eu amei Iris. Parabéns – concordo por fim.
– Parabéns ao casal e a editora. Ficou estupendo! Fico me perguntando por
que concordamos com as tais cadeiras vip. Merda! Esse clipe vai trazer todo o
retorno que precisamos e muito mais. Será que não podemos devolver o
dinheiro e cancelar aqueles ingressos? – propõe Lian, divertido.
– Também achei ótimo. Terminamos aqui, não? Será que posso sair?
– Pode sim Kellan – libera Max. Ele sai em disparada. Lian baixa o rosto,
balança a cabeça e chacoalha o corpo num riso contido.
– O que eu posso dizer? – continua o baterista. – Estou impressionado,
impactado. Talvez não mais do que Kellan, que não via a hora de fugir daqui,
mas estou. Achei muito intenso, real, verdadeiro. Vai ser um estrondo, não há
dúvidas. Parabéns Iris. Bia e Oliver, porra! Parabéns pela performance e pela
coragem.
– Faço minhas as palavras de Max. Você captou perfeitamente a essência
da música e traduziu em imagens Iris, esplêndido – aprova Edgar.
– Ufa! Nem dormi a noite de tanta ansiedade... – confessa. – Posso
considerar aprovado? Temos a versão oficial?
– Sim, Iris. Aprovado. – Oliver endossa. – E tire dois dias de folga
semana que vem. Você trabalhou até tarde todos os dias nessas últimas semanas
que eu sei.
– Obrigada. Depois da divulgação e quando não tivermos mais nenhuma
pendência em relação a turnê, eu penso nisso...

– Puta merda, aquele berro ainda está zunindo no meu ouvido, cacete. São
oito da manhã. Quem dormiu cedo ontem? – Ouço Max reclamar, sonolento,
enquanto organizamos os últimos detalhes.
– Fala logo, Oliver. Que merda é essa? O que elas querem com a gente a
essa hora da manhã?
– Eu já falei que não sei, Lian. Acordei do mesmo jeito carinhoso que
vocês, com o berro no alto-falante que instalaram na praia e não vi de onde
saiu. Achei o mesmo bilhete sobre a cama. Abrir o pacote, colocar a sunga
vermelha e vir para o deck. E eu já perguntei, mas só ouço que tenho que
esperar. Estão assim... cochicham, andam de um lado para o outro, enfileiraram
as espreguiçadeiras lá na areia... não sei o que vai rolar, de verdade...
– O tio ou Edgar devem saber...
– Vá lá e veja se consegue arrancar algo deles então, porque já perguntei e
Johnathan só me olhou e sorriu, Edgar apenas soltou um “tenha paciência”.
– Eu também tentei e não me falaram. – Kellan conta. Bom, já criamos
clima demais, melhor acabar com a agonia deles. Ou começar com ela,
depende do ponto de vista...
– Prontas, meninas? – pergunto, elas fazem sinal de positivo – Aos nossos
lugares por favor. – Hazel, Laura, Alicia, Helen e eu andamos até as cinco
espreguiçadeiras. Elas foram colocadas mais ou menos no meio do caminho,
entre o costão e a casa de Oliver, mais atrás na areia, de frente para o mar,
para nos dar a melhor visão possível do que está por vir. Em uma delas há um
microfone e uma câmera fotográfica com zoom super potente. Pego o
microfone.
– Rapazes, venham até aqui, por favor. – Minha voz sai alta no alto falante.
Eles se olham, desconfiados, mas obedecem.
– Oin, isso só pode ser a visão do Olimpo – resmunga Hazel ao meu lado.
– É, não tem como ser melhor do que isso – concordo. Ver os quatro
caminhando lado a lado de sunguinha vermelha está no top cem do ano.
– Estamos aqui madames, qual o motivo dessa comoção toda? – pergunta
Max.
– Em primeiro lugar, Feliz Natal! – Edgar e Johnathan sentam-se na ponta
do deck para acompanhar a nossa brincadeira e a reação dos garotos.
– Bia, se não tiver uma boa explicação para me tirar da cama cedo assim
no dia vinte e cinco de dezembro, terá que fazer omeletes para mim por um
ano. – Max resmunga de novo.
– Vamos receber um treinamento para salva-vidas ou o que? Por que
tínhamos que colocar sungas vermelhas, caramba? – Lian pergunta.
– Porque é natal. E para combinar com nossos vestidinhos. – Ele abre a
boca, incrédulo. Estamos todas com saídas de praia vermelhas idênticas.
– É sério? – Kellan também não acredita na nossa tamanha cara de pau. –
E aqueles dois manés lá no deck, por que não estão de sunguinha vermelha
para “combinar”?
– Porque eles não teriam chance – diz Hazel.
– Ei, eu ouvi isso mocinha. Ainda tenho muito fôlego, pergunte a sua mãe –
defende-se Johnathan berrando.
– Me poupe pai...
– Chance para que? – Agora foi a vez de Oliver perguntar.
– Para ganhar a caça ao tesouro.
– Vamos caçar um tesouro? – Lian se anima.
– Aiii... – Max e Oliver xingam juntos.
– Bia, você tem noção que nosso jantar em família ontem terminou as três
da manhã? O combinado era nos encontramos só para o almoço hoje. Você nos
tirou da cama às oito... – Kellan protesta.
– Bom, a questão é a seguinte. Sei que vocês não costumam trocar
presentes no natal. Só se reúnem para jantar e almoçar. Mas, há um tesouro. O
tesouro é o meu presente de natal para um de vocês. Obviamente para aquele
que conseguir achá-lo primeiro. Mas quem não estiver interessado e quiser
voltar para a cama...
– Nem fodendo – diz Max. – Já é meu. Vai que é um vale omelete...
– Max, Max, você nunca foi bom perdedor... – provoca Lian.
– Quero ver alguém ser mais rápido do que eu... – fala Kellan
– Está me dizendo que vou ter que competir pelo seu presente de natal com
esses malas, Beatriz?
– Justamente, baby.
– Ahh, você tem coragem...
– Então a brincadeira é a seguinte: há bandeirinhas escondidas por vários
lugares, cada bandeirinha tem uma cor diferente e dá direito a uma pista.
Sempre que encontrarem uma bandeirinha, têm que erguê-la para que a
vejamos daqui e então ouvirão a dica pelo alto-falante.
– Mas assim todos vão ouvir a pista...
– Sim, todos vão ouvir todas as pistas... a questão é quem será o mais
rápido na última pista para chegar ao tesouro... só que para chegar à última...
– Tem que passar por todas as outras... – completa Kellan.
– Exato. A primeira pista não precisa de bandeirinha, ela será de graça.
Estão prontos? – Passo o microfone para Laura, que está na primeira
espreguiçadeira.
– Sim – respondem os quatro marmanjos.
– O tesouro está em uma das cadeiras do deck. – Eles não correm, voam
para lá. Quase atropelam os dois homens sentados no tablado. E começam a
revirar as cadeiras sem dó, nem piedade.
– Alicia, registre. Tenho que mostrar essas fotos para os meus filhos um
dia. – Se eu tiver coragem de ter um algum dia, claro.
– Fique tranquila querida, fotografia é a minha paixão.
– Acharam – conta Helen. Kellan chacoalha uma bandeira verde. Alicia
pega o microfone.
– O tesouro está no local pelo qual Kellan e Hazel brigavam. – Kellan sai
em disparada na frente de todos.
Os outros correm o seu máximo para alcançá-lo. O local é uma pequena
“gruta” que há no costão. Na verdade, é um vão entre duas pedras, que cabe só
uma criança dentro dele. Os dois brigavam para brincar ali, pois forma uma
piscininha no chão.
Há xingamentos, risos, empurrões, se estapeiam para ver quem entra no
buraco apertado. E nós, ali das cadeiras, gargalhamos. Parecem quatro
crianças disputando uma pelada. Justamente a minha intenção quando tive a
ideia. Além do fato de poder admirá-los andando de sunga de um lado para o
outro pela praia, claro. Nesta parte, Hazel foi bem parceira...
Oliver trepida a bandeira preta. Como ele conseguiu entrar lá para pegar?
Mistério... colocar já foi um parto. O microfone vai para Helen.
– O tesouro está onde o coração de Max está. – Max nem pensa, vem em
disparada na direção de Hazel e Helen, os outros três no seu encalço.
– Princesa, mãe, está com uma de vocês...
– Não está em nós, mas onde estamos – lembra Hazel. – Eles começam a
olhar embaixo das espreguiçadeiras delas e Max acha sob a de Hazel a
bandeira amarela.
– O tesouro está onde Lian vai à caça. – Hazel anuncia.
Eles param, Lian pensa, quando corre, seguido pelos outros, vai para um
ponto na beira do mar onde há uma pedra. Hazel contou que uma vez escutou
Lian dizendo a Max que sentia falta de ir à caça. Obviamente Lian reclamava
do tédio em não precisar se esforçar para ter uma mulher, mas Hazel na sua
inocência perguntou ao primo se poderia ir caçar com ele. Lian respondeu,
claro, vamos agora mesmo. Pegou uma cestinha e levou-a até a pedra na beira
do mar, escavou ao redor e caçaram sete tatuíras. Depois disso, a caça virou
uma atividade rotineira entre eles.
Os quatro estão neste momento agachados, com traseiros para cima,
escavando em torno da pedra para achar a tal bandeira. É uma cena hilária.
– Pegou isso, Alicia?
– Vários ângulos – diz ela aos risos. Lian balança a bandeira vermelha
coberta de areia molhada. Minha vez de dar a pista.
– O tesouro está onde Bia quase beijou Oliver pela primeira vez.
Oliver tentou sair tão rápido de dentro da água que tropeça e cai estatelado
na areia os outros riem e o ultrapassam correndo, mas então se dão conta de
que não sabem qual é o lugar do nosso quase primeiro beijo, é a vez de Oliver
rir. Quando se levanta está com areia grudada no corpo todo.
Ele vai calmamente até a água limpar a lambança e começa a andar no
sentido contrário. Aquilo me dá uma aflição. Será que ele esqueceu onde foi?
Eles já estão quase na casa de Lian, quando ele vem correndo na direção
oposta, deixando os amigos perdidos para trás e ganhando vantagem. Quando
os outros percebem a traquinagem, correm atrás do prejuízo.
– Peguei você – diz no meu ouvido e me dá um beijinho ao passar por
mim. Safado!
Ele chega ao velho tronco de madeira deitado na areia e olha por todo ele,
não encontra. Os outros chegam e começam a procurar também. Levantam o
troco, cavam em torno. Até que Max acha a bandeira azul enfiada numa
rachadura da madeira.
– O tesouro está no único lugar onde poderia estar. Debaixo do X. Basta
cavar – diz Laura.
– O quê? – reclama um.
– Como assim? – questiona outro.
– Estão de sacanagem, não é? – Um fala.
– Quer dizer que esse tempo todo bastava ter achado o X? – Outro
pergunta.
– Sim! – respondemos as cinco juntas.
– Vocês nos pagam... – diz Lian.
– Porra, a praia é enorme, temos que procurar por toda a área? – Fico com
pena deles, já devem estar super cansados do tanto que correram praia afora.
– Vou dar uma dica. Está na areia seca e para lá do tronco.
– Eles saem aos pinotes, atropelando uns aos outros. Procuram, reviram,
vasculham aquela área, encontram o grande X vermelho bem no início da areia
próximo ao costão. E se transformam em quatro cachorros esfomeados
tentando desenterrar o osso.
– Eles estão se divertindo para valer – diz Helen.
– Ou isso ou me xingando até a última geração.
– Xingar, vão xingar, mas não vão esquecer esta manhã nunca.
– Queria que meu pai estivesse aqui. Ele adorava isso... – digo, os olhos
cheios de água.
– Ah querida... – Ela me abraça.
– Pegaram a caixa – anuncia Hazel.
– E estão brigando por ela. – Laura constata aos risos.
Um puxa para cá, outro para lá, se atracam em cima da caixa. Lian consegue
pegá-la e segura firme junto ao corpo. Max o empurra de costas para a areia e
os outros três caem em cima tentando arrancá-la do meio dos seus braços. Um
show de bagunça, diversão e areia, muita areia.
– Lian vai levar um ano para tirar tanta areia daquele cabelo – diz Hazel.
Eles não desistem, Lian não larga, Kellan consegue puxar uma parte do
papelão, Oliver outra. Então o fundo se rompe e caem os cinco pacotes que
havia dentro. Um com o nome de cada um deles e um quinto sem nada em cima.
Sentam-se em roda para abrir seus presentes.
– Parecem crianças – fala Alicia.
As gargalhadas ecoam quando veem o que havia dentro dos pacotes. Rolam
no chão de tanto rir.
Uma antiga vizinha nossa de Chicago confecciona os mais ridículos ugly
christmas sweater que eu já vi. Fiz contato com dona Josephine há um mês e
ela concordou em fazê-los e enviar para mim. Eu escolhi os modelos e ela
personalizou cada um deles.
O de Lian é azul com gola, punhos e barra vermelhos. Tem um Papai Noel
pelado da virilha para cima, de modo que o brinquedinho dele fica no mesmo
local do brinquedinho de quem o veste. Pendurado ali, foi costurado um pacote
de presente 3D, que fica balançando conforme a pessoa anda, O bom velhinho
está usando apenas o gorro e no pescoço traz um colar com pingente de
guitarra. Em sua barriga está escrito “I have a big package for you”[5].
O de Oliver é quase igual, muda a cor para verde e os detalhes também em
vermelho. O colar traz um microfone pendurado. O pacote de presente está
envolto em uma corrente com cadeado. E a frase na barriga do velhinho é “this
big package has owner[6]”
O suéter de Kellan tem as mangas verdes e o corpo é todo enfeitado em
temas natalinos e baixos pequenos. Ao invés do Papai Noel desenhado, há um
boneco 3D de verdade costurado roupa. Um duende que fica com as perninhas
balançando bem naquele lugar estratégico quando a pessoa anda. No corpo do
suéter está escrito “kiss my giant Elf [7]”.
O de Max foi mais complicado de bolar algo engraçado. Não poderia fazer
nada no sentido de oferecê-lo e nem dizer que ele já está amarrado. Mas no fim
acho que ficou legal, tem as mangas vermelhas e o corpo cinza. Há um boneco
de neve desenhado com uma cenoura 3D como umbigo, que fica
estrategicamente posicionada no lugar do dito-cujo. As mãos de graveto do
boneco ficam para baixo segurando duas bolas de neve também 3D, juntinhas,
bem debaixo da cenoura, que ficam balançando como pompons. O boneco tem
um colar no pescoço com duas baquetas e a frase em sua barriga é “Balls War
[8]
”.
Depois de se recuperam do ataque de risos, os quatro se levantam, sacodem
tudo que conseguem da areia que acumularam em seus corpos e vestes seus
presentes. Então posicionam-se lado a lado, colocam as mãos uns nos ombros
dos outros e vem andando em nossa direção daquela forma ridícula, como um
pelotão. Em passos lentos e fazendo caras e bocas.
Helen, Laura, Hazel, Alicia e eu choramos de tanto rir. Ver aqueles quatro
homens enormes, musculosos e sarados andando abraçados, com aqueles
agasalhos absurdos e penduricalhos balançando entre as pernas é algo para se
guardar para toda a vida.
– Alicia, não perde isso, por favor.
– Não vou, já tirei várias e uma delas vai para a página da The Order. Ah
se vai...
– Eles te matam.
– Já podem preparar o meu funeral então.
– Como estamos? – pergunta Lian.
– Maravilhosamente ridículos – respondo. Oliver vem e me abraça por
trás, beijando meu pescoço.
– Quer dizer que o meu pacote está lacrado, Chucky?
– Ahã, e só eu tenho a chave.
– Tinha um sem nome lá...
– Sim, me dê aqui Kellan, por favor – pego o embrulho extra de suas
mãos.
– Amiga, irmã, feliz natal. – Abraço Hazel.
– Ah Bia... sério?
– Abra. – Ela faz e põe a mão na boca quando vê. – Gostou?
– Amei. – O de Hazel é mais discreto, todo preto, com o biscoito do Shrek
desenhado. Em cima de um seio está escrito Eat e no outro Me. “Eat Me[9]”.
– Use em Londres. – Dou uma piscadinha para ela. Ela veste e deixa que
os outros vejam.
– Você não vai levar isso para Londres. – Max diz.
– Me impeça! – retruca Hazel sem dar mais chance a ele. A relação dos
dois está estremecida desde a festa de Lian.
– Lian, Max, Kellan, Hazel, o presente é simbólico, claro. Uma
brincadeira. Eu quis fazer algo que pudessem guardar na lembrança em
agradecimento a forma como me receberam aqui, que me incluíram em suas
vidas, sua família. E também trazer um pouquinho do que eu vivia com o meu
pai na manhã de natal. Ganhar um presente lá em casa nunca foi apenas uma
questão de retirar debaixo da árvore e abrir. Sempre tinha uma pegadinha, uma
prenda a pagar, uma sacanagem envolvida, que nos rendiam muitas risadas.
Este é o primeiro natal que passo sem ele e ao invés de chorar, porque podem
ter certeza que as lágrimas já me vieram aos olhos inúmeras vezes desde
ontem, tentei recriar sua alegria com toda essa bagunça que armei.
– Ah então a senhora admite que foi uma baita sacanagem acordar com
aquele alto-falante ali?
– Admito sim, baby, Natal para mim sem sacanagem não é natal...
– Bom saber, se preparem para os próximos anos... – diz Lian, esfregando
as mãos.
– Meus ouvidos ainda doem...
– Deixa de ser chorão, Max. – Hazel diz, zangada.
– Bia, acho que posso falar por todos nós. Tirando o despertar traumático,
fazia muito tempo que não riamos tanto assim juntos. Brincar de disputar
bandeirinhas com esses bundões foi demais... voltei a me sentir um moleque e
sei que eles também... Vamos guardar as lembranças sem dúvida e em todo
natal daqui por diante vou usar isto – puxa o suéter – mesmo o clima da
California não fazendo jus a tamanha arte. – Todos rimos do seu deboche. –
Obrigado pela surpresa, querida. Mas eu ainda preferia o vale omelete –
confessa Max e me dá um beijo na bochecha.
– Obrigado Bela-Bia – recebo o beijo de Lian também – e a tradição da
sacanagem natalina está instaurada a partir de hoje.
– Me diverti muito Bia, e espero encontrar muitas adeptas a beijar o meu
elfo gigante por aí...
– Deixa de ser modesto e admita que não faltam candidatas. E pode vir
aqui me dar um beijo e um abraço, Oliver não vai te morder... – Puxo-o para
perto de mim.
– Morder não, mas matar... – resmunga meu namorado, provocando.
– Bom, acho que chegou a hora, não, meus velhos? – Lian pergunta e os
quatro concordam.
– Então no três... um, dois, três...
– Ai! – berro e ouço os berros das outras também.
Oliver me pega no colo, Lian pega Hazel, Max Helen, e Kellan Alicia. Nos
carregam mar adentro e nos jogam na água.
Só Laura escapou ilesa desta.
Ela ri com a câmera na mão.

Meus dias estão bem cheios com o estudo e o trabalho, então dezembro
passou voando. Há poucos dias fiz as primeiras provas na universidade e
passei com louvor na minha primeira matéria. Meu mestre está orgulhoso.
A festa de encerramento da Three Minds foi uma semana antes do natal,
para os funcionários e suas famílias. O palco foi montado na praia, que
recebeu também tablados com mesas. Antes da apresentação foi servido um
jantar. Depois Johnathan discursou, falando um pouco dos resultados e dos
planos futuros que têm para a empresa. Planos estes que, caso se concretizem,
farão a Three Minds crescer muito.
Então cada um dos meninos fez um agradecimento emocionado. Inclusive
Oliver. Ele abriu o seu coração, pedindo desculpas por terem demorado tanto
para fazer algo do tipo e que a partir dali, tomariam o cuidado de se manterem
mais próximos aos colaboradores, muitos dos quais os acompanham há vários
anos.
Quando o show começou, a maioria das pessoas foi para a frente do palco e
dançou, cantou, se soltou. Foi legal ver a dinâmica, porque a The Order nunca
teve tantas crianças e adolescentes em seus shows, e havia muitos naquela
noite. Sei que ficaram emocionado ao ver várias gerações reunidas curtindo e
cantando suas músicas num clima familiar.
Em função da presença de menores não passamos o clipe da música Eden,
mas cantei ao lado de Oliver e foi maravilhoso dividir o palco com ele pela
primeira vez com público a nossa frente.
O clipe por sinal está bombando. Foi um auê no lançamento e a arrecadação
com as visualizações já ultrapassaram todas as melhores expectativas. Todos
os ingressos para os shows estão esgotados. Nem acredito que em oito dias
sairemos em turnê e retornarei a Chicago, minha terra natal.
Outra coisa que causou o maior bafafá nas redes foi a foto que Alicia
postou no dia vinte e cinco dos meninos abraçados usando seus ugly sweater.
Ela se arrependeu pouco tempo depois, porque teve que ligar para funcionários
no dia de natal em função do bum no número de acessos. Os quatro a xingaram
até o último, mas os olhos sorriam, divertidos.
É quase meia-noite do dia trinta e um de dezembro. Estamos na praia
festejando com a família e os amigos num pequeno luau que Hazel organizou.
Há puffs e tapetes, espalhando pela areia formando um enorme círculo.
Lanternas de papel fazem a iluminação em torno do círculo e uma fogueira foi
acessa no centro. O cenário está lindíssimo. Muito bucólico e romântico.
Num ponto do círculo existem microfones e violões para quem quiser se
aventurar a tocar e cantar. Vira e mexe alguém se arrisca a arranhar uma
música. Mas para os momentos em que os corajosos se escondem, um casal de
músicos contratado faz as honras. Garçons circulam com drinques e canapés.
Dentre os convidados estão Riley e Peter, Iris e Henry, Tina, os amigos de
Kellan, pasmem, incluindo Tales, Eric, Mike, Rose e o marido, as colegas de
Hazel, fora Carol, Selena e os outros dois funcionários da ONG. Todos vestem
branco. Oliver está lindíssimo de bermuda e camisa brancas. Os olhos
dourados naquele cenário de meia luz, parecem se destacar ainda mais. Sinto-o
um pouco apreensivo nesta noite, mas pergunto e diz que não há nada.
Os garçons passam entregando garrafas de espumante aos homens. Somos
orientados por Hazel a sairmos do círculo, migrando para uma área na areia
onde há algumas lanternas também. A contagem regressiva vai começar e
estourar as garrafas ali em cima dos tapetes não seria uma boa ideia. Oliver
passa um braço em volta de mim e com a outra mão segura a garrafa.
– Você está tão linda neste vestidinho branco. Tão cheirosa, meu amor. –
Desliza o nariz pelo meu pescoço.
– Hummm – ronrono. – Me beija, rockstar.
– Sempre. – Beijamo-nos com delicadeza, saboreando os lábios e a língua
um do outro, sem pressa.
– Dez... nove... oito... – inicia a contagem, paramos o beijo, ele se prepara
para estourar a champagne – sete... seis... cinco... quatro... três... dois... um!
Ploct!
Rolhas saltam, líquidos espirram sobre nós. Alguns fogos iluminam o céu
do nosso paraíso particular. É um novo ano afinal. Um que promete apenas
felicidades. Oliver dá um gole na bebida no gargalo, depois me oferece a
garrafa e faço o mesmo. Então voltamos a nos beijar e agora o beijo não tem
nada de delicado. É intenso, recheado de promessas, sonhos e desejo.
Quando interrompe o contato estamos ofegantes. Ele encosta a testa na
minha e fecha os olhos. Sinto aquela ponta de preocupação passar por seu
rosto outra vez.
– Dança comigo? – diz de olhos fechados, quase num sussurro.
– Por toda a vida – respondo. Pega minha mão e voltamos para o círculo.
Começamos a dançar coladinhos. Uma nova música começa. Eu reconheço
a melodia.
– Eles vão tocar Private Chaos.
– Bom, não colocamos nenhuma cláusula no contrato dizendo que não
poderiam tocar as nossas músicas. – O cara toca o violão e a garota dá voz a
canção, numa versão bem lenta, romantizada.
– O arranjo ficou bom para um luau, mas bem melhor na sua voz –
defendo. Ele ri.
Outros casais se unem a nós na dança. Max e Hazel, Riley e Peter, Iris e
Henry, Johnathan e Alicia, Laura e Edgar.
– Anjo? – diz com a voz meio trêmula.
– Diga meu bem, o que está te incomodando?
– Promete uma coisa para mim?
– O quê?
– Se em algum momento eu fizer uma bobagem, algo que você não goste,
promete que não vai surtar ou fugir antes de me ouvir até o final?
– O que aconteceu Oliver? Você está me assustando...
– Não aconteceu nada... só... só preciso que você prometa... – Engulo em
seco, não estou gostando dessa história. Ele está angustiado... – Promete Bia?
– Prometo. Sempre te darei a chance de se explicar.
– Obrigado. – Solta o ar, pesado.
Caos particular está chegando ao fim, vejo Lian se aproximar do casal de
cantores. Sentar-se num banquinho, pegar um violão e ajeitar um microfone a
sua frente. Mal tocam a última nota da música da The Order, já é possível
ouvir o violão de Lian emitindo os primeiros acordes e mantendo todos
dançando abraçados. Então sua voz soa, e uau, ele tem uma bela voz.

Como ela poderia ser minha?


Como ela poderia ser tão legal?
Eu fui um tolo, tantas vezes
Se você pudesse viver minha vida
Você veria a diferença que você faz para mim
Para mim

É So Fine, do Gun’s, numa versão “trabalhada”. Partes da música.

Eu olhava para cima à noite


E tudo que eu via era escuridão
Agora eu vejo bem as estrelas
Eu quero alcançá-las e pegar uma para você

E com este verso Lian vai finalizando e grudando outra canção na anterior,
numa transição perfeita.
Eu poderia ficar acordado
Só pra te ouvir respirar
Te ver sorrir enquanto dorme
Enquanto estás longe e sonhando

Eu poderia passar a minha vida


Nesta doce rendição
Eu poderia ficar perdido neste momento para sempre
Cada instante que passo com você
É um momento que eu valorizo

Ele canta I Just Wan’t to Miss a Think do Aerosmith.

Eu não quero fechar meus olhos


Eu não quero adormecer
Porque eu sentiria sua falta, querida
E eu não quero perder nada

Meu coração acelera, Private Chaos, So Fine, I Just Wan’t to Miss a


Think, todas estas músicas têm algo em comum...
A harmonia tem nova transição, a música muda novamente.

E eu, eu quero dividir


Todo o meu amor com você
E ninguém mais

E seus olhos,
Eles me dizem o quanto você se importa
Oh sim, você sempre será
Meu amor sem fim

Endless Love. Definitivamente não posso mais ignorar as “coincidências”.


– Oliver?
– Sim, meu bem?
– O que está acontecendo aqui?
– Nada meu amor, não tem nada acontecendo...
Nova música começa a ser acrescentada ao arranjo de Lian. Oliver retira
uma mão minha do seu pescoço e entrelaça nossos dedos. Vai levando esta
mesma mão até o seu peito e a põe espalmada sobre seu coração, retirando a
sua. Deixa-a ali, entre nossos corpos.

Quando você me abraça


Eu sinto uma febre que é difícil de suportar

Fever? O que é isso? Óbvio que não é coincidência. Todas as músicas que
já cantamos um para o outro. Que fizeram parte da nossa história de algum
modo.

Você me dá febre
Quando me beija
Febre quando me abraça forte
Febre de manhã
Febre por toda a noite

A mão que Oliver usou para levar a minha até seu peito não retornou a
minha cintura. Ele me segura firme contra si com apenas um dos braços. Fever
se encerra e outra melodia começa.

Você sente o mesmo quando estou longe de você?


Você sabe a linha que eu andaria por você?
Poderíamos dar meia volta, ou poderíamos desistir
Mas vamos enfrentar o que vier, enfrentar o que vier

Walking the wire. A mão da qual eu sentia falta começa a se infiltrar entre
nossos corpos também, cobrindo a minha que ainda está lá, sentindo as batidas
fortes de seu coração.

Oh, a tempestade está furiosa contra nós agora


Se você tem medo de cair, então não olhe para baixo
Mas nós demos o passo, e nós demos o salto
E vamos enfrentar o que vier, enfrentar o que vier

Sinto algo frio e metálico começar a deslizar pelo meu dedo anelar. Acho
que meu coração vai saltar para fora do meu peito de tão feroz que está o seu
ritmo.
– Oliver...
– Shh... só me abrace e dance comigo... – Fecho os olhos, as lágrimas
batendo a porta... o anel está no lugar, seus dedos voltam a se entrelaçar aos
meus e nossas mãos são mantidas ali.

Sinta o vento no seu cabelo


Sinta a adrenalina no caminho até aqui
Estamos caminhando na corda bamba, amor
Estamos caminhando na corda bamba, amor
Temos que nos manter no alto
Estamos caminhando na corda bamba

Mais uma música termina e outra inicia. Uma que ouvi muito nos últimos
meses. Fool’s Mate, a música que conta partes da nossa história, da nossa
rendição. Ele separa um pouco nossos corpos e cola nossas testas. Traz minha
mão até os seus lábios e beija o anel. Consigo ver então que ele tem um em seu
dedo também. As lágrimas escorrem, um soluço escapa.
– Seus olhos em meus olhos – diz afagando a enorme pedra do meu anel. É
um anel de ouro negro platinado, com um grande e lindo diamante gold em
formato de olho, incrustado no centro do olho dourado, um diamante negro,
também em formato de olho, só que na vertical, formando o olho de um felino.
O mesmo que há no centro do logo da The Order.
– Meus olhos em seus olhos – diz agora afagando a pedra do seu anel. O
anel de Oliver também é em ouro negro platinado, só que bem largo,
masculino. Embutido no metal, um grande diamante negro quadrado, e no meio
dele, incrustado, um diamante gold também quadrado.
– São lindos, mas... – digo em meio as lágrimas. Não acredito que ele me
pôs contra a parede desta forma...
– Você prometeu me ouvir – lembra.
– Por que fez isso?
– Eu preciso deste anel no seu dedo.
– Oliver...
– Eu preciso que o mundo todo saiba que você é minha e eu sou seu.
– Eles já sabem.
– Não. Não enquanto não carregarmos o símbolo deste compromisso.
– Você me disse que esperaria...
– Quero subir todas as noites no palco com a certeza de que sempre que as
câmeras derem um close em minhas mãos sobre a guitarra, o microfone ou o
piano, encontrem ali o seu decreto de posse. Quero subir todas as noites no
palco e saber que sempre que um babaca chegar em você com segundas
intenções quando eu não estiver por perto, veja a minha certidão de
propriedade em suas mãos. Eu te amo, Beatriz. Não temos porquê adiar. Não
tem nada que eu queira mais na vida. Casa comigo?
– Eu ainda tenho medo...
– Por enquanto é só um noivado, meu amor. Ainda não sou seu marido.
– Rá. Seja sincero Oliver. Só este anel não basta para você. Você me quer
carregando o seu sobrenome e se bobear o seu filho logo na sequência. Estou
errada?
– Não, não está.
– É muito cedo para mim.
– Casa comigo, Bia. Diga sim.
– Um ano, Oliver. Não vou me casar antes de um ano de noivado.
– Dois meses. Assim que voltarmos da turnê.
– O que? Você quer casar em dois meses?
– Eu queria mesmo era casar no seu aniversário.
– Mas... meu aniversário é em dez dias...
– Seria perfeito.
– Um ano. Casamos no meu aniversário de dezenove anos.
– É tempo demais.
– Não pressione. Você sabe como me sinto...
– Seis meses e não se fala mais nisso.
– Eu não vou engravidar aos dezoito anos. Nem aos dezenove. Não serei
mãe antes de me formar e principalmente antes de me sentir segura para isso.
– Casamos em seis meses e faremos um filho assim que você se formar, se
estiver pronta. Agora diga sim.
– Promete, Oliver. Promete que não tentará apressar ainda mais as coisas?
– Eu prometo. – Permaneço olhando em seus olhos, pego sua mão e levo o
seu anel aos meus lábios, beijando-o como ele fez com o meu.
– Eu amo você. Cada célula do meu corpo pertence a você, sente a sua
falta. Então sim, rockstar. Me caso com você. – Ele abre um enorme sorriso,
me ergue, obriga-me a abraçar sua cintura com as pernas e então me beija.
Ouço vivas, aplausos, assovios. Ouço novos fogos explodirem no céu e um
banho de espumante cai sobre nós.
Estavam todos esquematizados, afinal.
A música termina.
– Porra Biazinha, o seu Sim demorou. Esta era a última música do script.
Já estava pensando qual incluiria na base do improviso...
– Seu amigo quebrou nosso trato, não poderia me render tão rápido,
alguma resistência eu tinha que impor, já que as lágrimas e os soluços não
consegui conter.
– Oliver estava borrando as calças...
– Estava nada. Sei o poder que tenho sobre ela. Bia jamais me diria não...
– diz meu noivo convencido.
– As gotas de suor que vi em sua testa me disseram outra coisa, rockstar. –
Dou-lhe um beijo rápido e faço Oliver me colocar no chão para agradecer
Lian.
– Foi lindo Lian. Obrigada. Estou toda molhada de espumante, mas vou te
abraçar assim mesmo.
– As ordens, querida. Agora você é noiva... Me deixa ver este anel...
– É, acho que sou... – Mostro a mão a ele.
– Uau. Não é que Oliver tem bom gosto?
– Ele me pediu em casamento Lian, é claro que tem bom gosto.
– Muito bem observado, futura Sra. Rain.
– Posso abraçar minha amiga noiva? – Hazel me puxa dos braços de Lian
e me envolve num super e apertado abraço. Eu choro, ela chora. Vejo pelo
canto do olho que Laura está abraçada a Oliver e que ambos secam os olhos.
– Você foi cúmplice disto tudo, não é?
– Claro. Este luau é a sua festa de noivado, primeira-dama. Oliver me
disse como ele queria e eu tentei transformar em realidade. Gostou?
– Amei. Está lindo demais. Agora entendo o motivo de Oliver estar tão
angustiado a noite toda.
– Sim, ele estava uma pilha de nervos. Tentou desistir antes dos fogos,
tinha medo que você saísse correndo daqui... Henry, Lian e eu tivemos que
encorajá-lo a continuar com o plano.
– Henry o encorajou? – Bom saber que meu terapeuta incentivou o meu,
agora noivo, a fazer aquilo que eu confesso despertar o meu maior medo.
– Sim, muito.
– Pare de monopolizar a noiva, princesa.
– Não enche, ruivo.
– Parabéns querida. E se aquele sortudo um dia precisar de uns cascudos,
pode contar comigo.
– Lembrarei disso.
– Hazel já te contou a novidade?
– Max, eu ainda não concordei, eu disse que iria pensar...
– Quando você diz que vai pensar é porque é sim.
– Arg, você me irrita!
– Qual a novidade?
– Ela vai conosco na turnê.
– Mas... e Londres? E o seu curso?
– Vou transferir para a turma que inicia em março.
– Uhuu que maravilha! Vou adorar ter a sua companhia enquanto observo
Oliver “atender” as socialites. – Torço o nariz.
– Pelo menos Oliver vai “atendê-las” de aliança no dedo... – Ela inclina
discretamente a cabeça na direção de Max.
– Acho que ele carregar ou não uma aliança, não fará diferença para elas...
– A noiva é minha, sabiam? – Um corpo grande e musculoso me abraça
por trás.
– Uhmm rockstar, agora estou entendendo... – Viro meu rosto para olhá-lo.
– O quê?
– O motivo de ter deixado Tales entrar nesta festa – Ele dá um sorriso
sacana e de lado. – Quanta maldade, noivo.
Depois de recebermos os cumprimentos de todos, Oliver e eu resolvemos
nos apossar do violão e microfones e acrescentar uma nova música a nossa
trajetória. Cantamos juntos Good Riddance(time of your life)[10] do Green Day.

Outro momento decisivo


Uma bifurcação cravada na estrada
O tempo agarra você pelos pulsos
Direciona você para o lugar certo

Então, tire o máximo proveito deste teste


E não pergunte por quê
Não é uma pergunta
Mas uma lição aprendida com o tempo

É algo imprevisível
Mas, no final, está correto
Espero que você tenha tido o momento de sua vida
Então pegue as fotografias
E as imagens estáticas na sua mente
Ponha-as na prateleira
Da boa saúde e bons momentos

Tatuagens de lembranças
E pele morta em julgamento
Porque vale a pena
Valeu a pena durante todo o tempo

É algo imprevisível
Mas, no final, está correto
Espero que você tenha tido o momento de sua vida

– Então rockstar, que tal agora você me dar mais um dos momentos da
minha vida?
– E qual seria?
– Consumar este noivado. – Joga a cabeça para trás e ri.
– Consumar o noivado?
– É. – Encosto a boca em seu ouvido. – Me leve para a cama e me coma a
madrugada toda, noivo.
Se levanta num pulo, me joga sobre os ombros e sai andando em direção a
casa sem dar satisfações e sem olhar para trás.
Capítulo 27

“Reconheço que ela me deixa inseguro


Sou louco por ela e não sei o que falar
O que eu quero é que ela quebre a minha rotina
Que fique comigo e deseje me amar”
(Radio Blá – Lobão)

Bia

A té que enfim... – Max ergue as duas mãos em sinal de


aleluia assim que entramos na aeronave da The Order
para o nosso voo até Chicago.
Não é uma viagem longa comparada as que eles enfrentam. São apenas
quatro horas no ar. Oliver, gostoso para diabo numa bermuda branca, camiseta
preta e óculos de sol, mostra o famoso dedo do meio para ele.
Uau, o interior do avião é lindíssimo. Todo em couro branco, com detalhes
em preto.
– Este será um voo muito diferente do que eu peguei para chegar até aqui,
rockstar.
– Gostou?
– É lindo. E as poltronas parecem ser muito confortáveis para voos mais
longos.
– Sim, quando encomendamos o avião, pedimos que projetassem o interior
com o máximo de conforto possível. Colocamos essas poltronas largas que
viram praticamente uma cama de casal e deixamos muito espaço entre elas.
– Todos em seus lugares, por favor. Precisamos iniciar o taxiamento da
aeronave – avisa a comissária de bordo.
– É casal, sentem-se. Já chegaram atrasados, nem vou perguntar o motivo,
não atrasem ainda mais nossa partida. As decolagens têm horários
programados, sabiam?
– Não enche, Lian. Sente, amor, deixe eu ajustar o seu cinto. – Reviro os
olhos.
– Tenha dó, eu consigo fechar o cinto de segurança sozinha, Oliver.
– Mas daí eu perderia a oportunidade de sentir seu cheiro, passar a mão em
você... – Ele ergue as sobrancelhas. Sorrio e beijo sua boca.
– Vá para o seu lugar, noivo, antes que ganhemos outra bronca.
– Pela primeira vez eu só vejo desvantagem nesse espaço todo entre as
poltronas... – resmunga enquanto se acomoda.
Apertamos os cintos, ouvimos as instruções, o avião manobra, decola e o
famoso sinal de que podemos levantar dos assentos ressoa.
– Pule para cá, baby. – Opa! Só se for agora.
– Retiro meu cinto e me acomodo ao seu lado, aconchegando minha cabeça
em seu peito. As poltronas são tão largas que cabem duas pessoas
tranquilamente.
– Família, hora da roda. – Max anuncia, não sei o que é, mas aquilo me
lembra um desenho que eu assistia quando criança, chamado Sid, o Cientista.
– Oliver aperta um botão e a cadeira gira. Todos, com exceção dos
seguranças, giram suas poltronas de modo a ficarem de frente para o corredor e
assim formar uma grande “roda”. Há oito seguranças a bordo, mais os meninos,
Hazel, Laura, Edgar e eu, totalizando dezesseis passageiros.
– Estamos ouvindo, chefe – ironiza Kellan.
– Ótimo, porque você, mais do que qualquer outro aqui, precisa ouvir
algumas das coisas que tenho a dizer.
– Ah Max, fala sério... não vá começar com o mesmo discursinho pré-
turnê... Não aguento mais...
– Vou, vou sim. Só preciso dizer algumas coisas antes para Laura, Edgar e
Hazel. Vocês três não tem os holofotes sobre as cabeças. Então serão os
primeiros a desembarcarem com dois dos seguranças. Eles os levarão até a
equipe de segurança em terra. Entrarão no carro e seguirão direto para o hotel.
Entendido?
– Sim Max, fique tranquilo – fala Laura.
– Edgar e Laura, preferimos voar de madrugada em função da chegada nos
aeroportos. É mais tranquilo em relação ao desembarque, nem todos os fãs
aguentam virar a noite esperando. Estimo que chegaremos lá por volta das três
da manhã. Até chegarmos no hotel, será cansativo. Temos duas suítes na parte
traseira do avião. Se quiserem deitar e tentar dormir algumas horas até
aterrizarmos, fiquem à vontade. Hazel e Bia, a outra suíte é de vocês, caso
queiram se deitar. Porém, ainda não estão liberadas para sair da roda.
– Bom, se nos dão licença então, vamos aceitar a oferta e descansar –
aceita Edgar. A comissária vem e os leva até a cabine.
– Hazel, algumas das coisas que vou falar podem ser um tanto duras.
– Não sou criança, Max.
– Eu não disse isso princesa, mas pode ser que você não goste de ouvir, só
isso.
– Eu aguento, fique tranquilo. Aguentei coisas bem piores recentemente. –
Max franze o cenho para ela, mas deixa passar.
– Ótimo, só tem uma regra na nossa roda.
– Qual?
– O que se fala aqui, fica aqui. Resolvemos entre nós, entendeu? Você não
vai envolver qualquer outra pessoa fora desta roda nestes assuntos. Nem seus
pais.
– Ok.
– Kellan. Presta atenção...
– Lá vem...
– Cara, não adianta revirar os olhinhos. Podemos ter te incluído no nosso
mundo sem reservas, mas o fato é que você ainda não tem vinte e um anos,
porra! Somos responsáveis por você. E outra, é o nosso couro que Alicia e
Johnathan vão querer arrancar se algo acontecer com você. Então baixa a bola
e aguenta.
– Certo.
– Não vou te dizer coisas hipócritas como nada de sexo e nada de drogas.
Mas você já sabe, se vacilar, se meter com merda pesada ou encrenca, aguente
as consequências dos seus atos depois. Vale lembrar que a sua posição dentro
da The Order ainda não é fixa. Agora me diz, quais as coisas que se você fizer
nós te diremos, na hora e sem segunda chance, que está fora?
– Agressão, escândalo sexual ou engravidar alguém por descuido.
– E?
– Ingestão de drogas pesadas.
– E?
– Não estar sóbrio e descansado na hora dos shows.
– Exato. É o nosso trabalho. As pessoas que vêm nos ouvir merecem que
no mínimo estejamos lá em plenas condições físicas e da forma mais
profissional possível. Então, festas só depois das apresentações, nunca na noite
que antecede o show. Se sair do hotel, saia disfarçado e leve seguranças. Agora
mostre.
– Ah porra Max, não...
– Mostre Kellan.
– Max, pega leve, as meninas... você o constrange... – intercede Lian e
começo a ficar preocupada com o que Max quer que ele mostre... claro que
tudo que ouvi Max falar hoje imaginava que rolasse nos bastidores das turnês,
mas que causa um impacto ouvir com todas as letras, causa...
– Nada disso Lian, ele já vacilou antes e você sabe. Por sorte não arrumou
um filho ou pegou uma doença. E justamente por causa de Hazel é que quero
que ele mostre. Vamos, Kellan.
– Tá, merda. – Kellan mexe um pouco em sua bagagem e joga duas caixas
no colo de Max. Só quando Max as pega é que consigo ver que são caixas de
preservativo.
– Ótimo. E o que você tem que fazer depois de qualquer relação, antes de
descartar?
– Conferir se não estourou.
– E se estourou?
– Envolver Riley e Peter imediatamente.
– Ok Kellan, estamos conversados, guarde isto. – Max abaixa e pega algo
debaixo do seu banco.
– Hazel, pegue. – Meu queixo quase vai no pé agora. Oliver arregala os
olhos e Lian tosse.
– Ele acabou mesmo de colocar uma caixa de camisinha no colo dela?
Hazel nem se mexe, olhando aquilo.
– Não pense que é fácil eu fazer o que acabei de fazer, porque não é nada
fácil. Mas como você mesma gosta de lembrar, não é mais criança. Lian
conversou muito comigo nesses dias em que você estava brava por algo que
não quer me contar, e Oliver já havia conversado comigo antes. Então, um dos
motivos para eu insistir que você estivesse nesta turnê é porque quero provar
para você que posso me esforçar e mudar minha postura. Por mais que doa.
Você não precisa ir para longe de mim para me fazer enxergar.
– Max, eu não...
– Me ouça, por favor. Mesmo que tentemos cuidar de você o tempo todo,
não conseguiremos. Você é jovem, linda, estará em ambientes novos, cercada
por pessoas novas, envolta em um clima e energia que pré-dispõe a
necessidade de se aventurar e oferece muitas oportunidades de envolvimento
sexual. A adrenalina corre solta nos eventos, o impacto da euforia, a força e a
potência que vem da empolgação de tantas pessoas reunidas, clamando,
vibrando com você, te deixa ligado, a mil. O corpo pede que extravase de
alguma forma aquela excitação toda. Sendo assim, – ele fecha os olhos e engole
a saliva – se algumas dessas oportunidades lhe interessar ao ponto de convidá-
lo ao seu quarto, por favor, proteja-se. Cheque você mesma se não estourou a
camisinha e se aconteceu, avise-nos logo, para cuidarmos de você a tempo de
evitar consequências. Promete?
– Max...
– Promete, princesa? – Ela o olha e vejo que segura as lágrimas. Os dois
estão com os olhos marejados fixos um no outro. Oliver aperta a minha mão.
– Prometo sim.
– Outra coisa, e isto é muito sério, sempre no seu quarto, nunca do dele, e
mantenha um segurança na sua porta, ok?
– Ok.
– Agora sobre bebidas, Hazel. Já presenciei você se passar algumas vezes
e isso me preocupa tanto... por favor, não aceite nada de ninguém...
– Max, tudo bem, não vou me embebedar e prometo não aceitar nada
duvidoso, não se preocupe.
– Você e Bia, cuidem uma da outra, principalmente quando estivermos
sobre o palco. Sempre que precisarem se distanciar, avisem a outra onde foram
e com quem. E nunca, por tudo que vocês amam, nunca andem sem seguranças,
nem para ir ao banheiro. Se lhes ocorrer a infeliz ideia de sair do hotel ou do
local do show, o que espero que não façam sem nos avisar, levem seguranças.
Principalmente você Bia. Depois do clipe, é certo que seria reconhecida. É
perigoso.
– Claro, Max. Não darei bobeira – concordo.
– Outra coisa que torço muito para que vocês duas não façam, mas que, se
fizerem, vale o mesmo que falei ao Kellan. Nada de drogas pesadas. Se
sentirem tanta vontade de experimentar o que é ficar alucinado ao ponto de não
conseguir resistir, experimentem um baseado. Mas façam sob nossa supervisão.
– Não tenho o mínimo interesse ou curiosidade nestas merdas, Max –
resmungo.
– Eu também não, tô fora. – Hazel o tranquiliza.
– Fico feliz em saber, porque é isso mesmo que são. Merdas.
– Lian, sem recaídas, velho. Você está há tantos anos bem, não entre nessa
de novo. Se se sentir tentado demais, converse conosco. – Lian só faz um sinal
de sentido a ele, o que pelo visto, basta para Max.
– Meninas, vamos incluí-las no nosso grupo de mensagens durante a turnê.
Temos o costume de nos comunicar muito pelo grupo quando estamos em
viagem, assim todos sempre sabem os passos de todos. Oliver, Lian, algo a
acrescentar?
– A recepção aos fãs da área vip... – lembra Oliver.
– Certo, nós conversamos e achamos melhor que vocês duas não fiquem
junto no recinto quando estivermos recebendo as fãs.
– O quê?! – exclamo indignada.
– Bia... – tenta Oliver.
– Não! Sem essa de Bia... Você não me fará ficar uma hora imaginando o
que rola dentro do camarim enquanto atende trinta mulheres loucas para enfiar
o seu pau na boca. – Ele arregala os olhos para mim, me fazendo lembrar que
não estamos sozinhos ali. Que se foda!
– Se acalme.
– Nem fodendo. Eu vou ficar lá com você.
– Não vai, meu bem. É melhor assim, acredite.
– Melhor para quem?
– Para nós dois. Elas virão para cima e você não vai conseguir assistir sem
se afetar. Claro que não vou corresponder e a que se passar teremos os
seguranças lá para resolver, mas elas compraram o direito a uma hora em
nossas companhias, enquanto essa uma hora durar, a nossa atenção tem que
estar lá e não em vocês.
– Oliver, você não permitiu que eu tivesse uma noite das garotas sem os
seus olhos sobre mim...
– É diferente.
– Claro que é. – Rio. – Eu fico junto.
– Não meu amor, você não vai. É trabalho. Uma parte insuportável do meu
trabalho, mas que terei que cumprir. E com você lá dentro, se magoando, se
irritando, vou querer te consolar, te tirar de lá e me conhecendo como conheço,
vou mandar aquelas donas para a puta que as pariu e cuidar de você. Portanto,
não tem negociação, Beatriz. – Aquilo me magoa e me deixa furiosa na mesma
medida. Levanto e saio da sua poltrona, voltando a minha.
– Sério? Essa merda mal começou... – Vem atrás de mim.
– Não quero papo com você agora. Me deixa quieta. – Ele respira fundo e
fecha os olhos.
– Bia e Hazel, alguma pergunta? – Max tenta tirar o nosso foco da
discussão. Respiro fundo e me forço a voltar a razão em respeito aos outros.
– Eu tenho Max, uma curiosidade na verdade, por que a idade das garotas
tem que ser vinte e cinco anos se a maioridade é vinte e um? – Este fato sempre
me intrigou.
– Documento falso. Quando uma menor falsifica a identidade normalmente
coloca vinte e um, vinte e dois anos. Dificilmente uma garota com identidade
apontando vinte e cinco anos será falsificada.
– Entendi.
– Eu também tenho uma curiosidade, ruivo. Vocês têm duas suítes neste
avião e são em quatro. Dividem a cama de casal?
– Engraçadinha.
– Não? Então como fazem, tiram no cara e coroa?
– Quem vêm para o avião acompanhado, leva... Se mais de dois vierem, aí
depende... – responde Kellan.
– Ah... vocês levam as “peguetes” de um show a outro? – Hazel continua.
– Às vezes... algumas viagens são bem longas, sabe, maninha... – Hazel faz
careta para ele. – Às vezes elas já vinham junto da Califórnia, também. –
Kellan esclarece.
– Kellan... – Oliver o repreende. Por que será? Penso ironicamente. A
raiva fervilhando um pouco mais.
– Sério Kellan, me conte mais... – instigo.
– Não quero confusão, Bia. Esquece, falei demais.
– Quem Oliver levava junto nas turnês, Kellan?
– Riley, Bia. – É Lian quem responde. – Riley nos acompanhou em algumas
e quando ela estava junto, uma das suítes ficava para ela.
– Para ela e Oliver, você quer dizer... – Ele não responde.
– Rolava menage aéreo aqui dentro? – Hazel pergunta.
– Eu acho que esse papo já foi longe demais – corta Max.
– Ah, qual é ruivo, agora que estava ficando bom... quantas você costuma
trazer por vez, Max? Três, quatro? A cama da suíte deve ser enorme...
– Chega, Hazel.
– Por quê? Não sou mais criança, somos amigos, você jogou uma caixa de
camisinhas no meu colo, qual o problema em responder?
– É disso que você precisa para se sentir adulta e respeitada por mim?
Discutir a minha vida sexual? Pois bem então, já trouxe uma, já trouxe duas, já
trouxe três. Já compartilhamos mulheres entre nós nestas suítes sim. O que mais
quer saber? Com quantos anos perdi a virgindade? Ah não, espera... isso você
já me perguntou e eu já te contei, foi com quinze, lembra? Algo mais?
– Já se apaixonou por alguma delas? – Agora a coisa ficou séria.
– Se alguém tocou meu coração de forma romântica? Impossível. Ele foi
moldado acompanhando a história dos meus pais e quero distância de qualquer
coisa parecida. O único espaço que sobrou nele foi ocupado por uma garotinha
de um ano de idade que chegou lá em casa no colo do primo. Ela e dona Helen
são as únicas que ainda podem causar algum estrago dentro dele. – Hazel está
com o arrependimento estampado no rosto.
– Me perdoe Max, eu não devia...
– Tudo bem Hazel, eu nunca me neguei a responder nenhuma das suas
perguntas e nunca houve assunto proibido entre nós, posso te contar todas estas
coisas sem problemas, mas não precisava ser assim, nem aqui. Poderíamos ter
deixado esta conversa apenas entre nós dois. E se quiser me contar o que te
deixou tão puta comigo no último mês, eu vou gostar de ouvir e entender.
– Outra vez, me desculpe. – Ele assente.
– Bem, para finalizar e liberar vocês, o desembarque. Oliver e Bia, vocês
serão os mais visados. Vão desembarcar depois de Edgar, Laura e Hazel. Três
dos seguranças que estão aqui vão acompanhá-los e outros esperarão no
desembarque. Nós três desembarcamos por último para tentar tirar um pouco
do foco de vocês. Hazel e Bia, caso queiram deit...
– Não – respondemos as duas rápido e ao mesmo tempo, antes dele
terminar a frase. Eu é que não vou dormir numa cama em que Oliver e outras
tantas deitaram e rolaram. E desconfio que Hazel teve o mesmo tipo de
pensamento.
– Não está mais aqui quem falou... – diz o baterista, reclinando sua cadeira
o máximo possível. Faço o mesmo com a minha. Oliver se levanta da sua e
tenta vir até mim.
– Pode voltar, gostosão. Quero dormir. Sozinha.

– Bia, acorda amor. Chegamos. Temos que nos preparar para o


desembarque.
Abro meus olhos tentando me situar no tempo e no espaço. Demora um
pouco até caírem as fichas, mas quando caem é pior do que acertar numa
máquina caça níqueis. Vem em bloco. Lembro de quem sou, onde estou e
principalmente, que estou puta. Com ele.
Ignoro o carinho no meu rosto.
– Oi. – Ele tenta me beijar. Viro a cara e me levanto.
– Porra, Beatriz, é sério? – Pego minha escova de dentes e creme dental e
vou para o banheiro. Ele vem atrás.
– Licença. – O empurro e fecho a porta.
– Vai ficar de pirraça por muito tempo? – fala alto por trás da porta.
– Vou. – Me sento para fazer xixi.
– Pare com isso, Bia. Senti sua falta, não foi nada bom dormir sozinho.
– Sinto muito – respondo meio debochada.
– Mesmo?
– Não.
– Imaginei. – Me seco, puxo a calcinha e dou a descarga.
– Anjo, você é inteligente. Entenda o meu lado. Não vai dar certo te manter
lá dentro.
– Ok. – Pego a escova de dentes e coloco o creme dental.
– Cacete mulher, dá pra abrir mão das respostas monossilábicas e
conversar? – Escovo os dentes.
– Fale comigo Beatriz. – Abro a porta.
– Você quer que eu fale com você Oliver? Assim como você conversou
comigo antes de tomar sua decisão? – Ignoro os outros tentando disfarçar que
não estão cientes da nossa briga.
– Então eu vou falar. EU. NÃO. QUERO. FICAR. DE. FORA. – Em cada
palavra que grito, empurro o cabo da escova de dentes contra o seu peito com
mais força. – EU. QUERO. FICAR. LÁ. DENTRO. DE. OLHO. NELAS. – Ele
tenta me abraçar, mas me abaixo, desvio dele e vou guardar as minhas coisas na
mochila.
– Oliver, resolvam as diferenças de vocês no hotel. Hora de descerem. –
Escuto Max dizer.
– Muita gente?
– Segundo John, bastante. – Ele vem até mim, retira a mochila das minhas
mãos e a coloca nos ombros.
– Se quer insistir nesta infantilidade, ok. Mas agora você vai deixar eu te
abraçar e ficar quietinha nos meus braços enquanto os seguranças nos escoltam
até o carro.
Deixo que me abrace e saímos da aeronave, andamos pelo corredor
sanfonado e estreito que liga a porta do avião ao saguão de desembarque.
Antes mesmo de colocarmos os pés no saguão amplo e luxuoso do
aeroporto internacional de Chicago é possível ver parte do cordão de
isolamento, um ou outro segurança posicionado em frente a ele e parte do
público que está ali aguardando este momento. Oliver aperta a pegada em torno
do meu ombro e deixamos o corredor.
Automaticamente, flashes e mais flashes luminosos disparam contra nossos
rostos. É muita gente. Pisco os olhos em reflexo e deito um pouco mais a
cabeça contra o seu peito largo. Não admiti, mas foi um inferno para mim
também, dormir longe dele. Demorei séculos para pegar no sono e acordei
cansada, porque não foi um sono relaxante.
Andamos a passos firmes, com os três homens nos cercando, outros
sustentando o isolamento para que a galera não avance sobre nós e
reverenciados por aplausos, saudações e gritinhos histéricos.
– Oliver, aqui!
– Lindo!
– Oliver, fala comigo.
– Bia!
– Gostoso!
– Oliver!
– Bia!
– Oliver!
Sem me desvencilhar dele, ergo um dos braços e aceno. As pessoas reagem
gritando um pouco mais alto. Sinto o sorriso de Oliver se abrir contra a minha
cabeça.
– Sempre tão solícita, noiva.
– Um de nós precisa ser, noivo.
– Opa! Você me dirigiu uma frase inteira sem gritar e sem uma arma de
plástico na mão? Estamos fazendo progressos.
– Não se iluda. Continuo puta com você. Mas eles não têm culpa disso. –
Ele suspira pesadamente.
Com pouco mais da metade do caminho percorrido, começamos a ouvir
outros nomes sendo gritados além dos nossos. Os garotos desembarcaram.
Próximo à saída, sinto um tranco, um inferno sendo gritado por Oliver e um
bando de seguranças se concentrando num ponto específico do cordão. Cinco
garotas estão grudadas nele, o puxando e nos separando no processo. Ele
levanta o rosto para os seguranças que tentam afastar as meninas, pedindo
silenciosamente que não descuidem de mim enquanto tenta se soltar dos puxões
que elas lhe dão nos braços e roupas. Dois homens põe os braços em torno da
minha cintura e me carregam para fora do saguão.
Eu mantenho a cabeça virada para trás e os olhos grudados na cena de
ataque ao meu noivo. Rapidamente outros homens vêm ao seu socorro e sei que
não se demorarão a retirar as tietes de cima dele.
Respiro aliviada.

– Me larga Oliver.
– Não. Nós vamos resolver esta merda e é agora.
– E como pretende resolver? Vai voltar atrás e me deixar ficar no
camarim? Vai queimar os colchões das suítes do avião?
– Não para a primeira. – Ele me atira sobre a cama. – E sim para a
segunda, isso eu posso fazer. – Se joga sobre mim. – Mas quer saber como
vamos resolver? Na cama.
– Cai fora!
– Ah, mas não mesmo! Vou cair dentro!
– Não vou transar com você.
– Veremos...
– Não vou, não! São cinco da manhã, acabamos de chegar no hotel e estou
com muita raiva.
– Pode me castigar. Desconte a sua raiva em mim. Na cama. – Ele ergue a
barra do meu suéter, tento abaixá-la, mas seus lábios são mais rápidos e logo
estão no meu ventre espalhando um calor pelo meu corpo nada típico nesta
época do ano em Chicago. Uma mão se infiltra mais acima e abraça o meu seio
sob o sutiã. Amoleço. Inferno!
– Você não pode usar o seu sex appeal sobre mim sempre que a gente se
desentender. – Abre o botão da minha calça com a boca.
Resistência, cadê você?
– Posso sim. – Distribui beijos pelo meu púbis, lambe e beija a tatuagem
com seu nome.
– Não pode não – digo, já sem muita propriedade. Aparece resistência. Me
ajuda!
– Posso. Só eu posso! Minha. – Retira as roupas da parte inferior do meu
corpo, abre as minhas pernas e cai de boca em mim. Porra! É, ninguém virá ao
meu socorro.
– Eu amo você. – Continua a chupada. Minhas pernas tremem pelo prazer
intenso, sem forças para ir contra a sua investida.
– Golpe baixo – digo ofegante. Ele para e deita-se sobre mim.
– Sou louco por você. – Leva a mão a braguilha, desce o zíper e libera o
pau de dentro da calça.
– Baixíssimo... – Me penetra, forte, lascivo.
– Só quero você, o tempo todo, e ninguém mais. – Começa a se mover e
ofegamos juntos.
Estou perdida. E rendida.
Infiltro meus dedos pelos seus cabelos puxando sua boca de encontro ao
meu pescoço e passo as minhas pernas pelos seus quadris.
– Eu vou surtar de ciúmes, Oliver. – Descarrego algumas lágrimas, de
mágoa e de raiva que guardei durante o voo e o caminho até ali.
– Ah pequena, não! Você vai surtar ainda mais se ficar lá dentro, acredite.
– Ele cola nossas testas enquanto segue no movimento delicioso que faz sobre
mim.
– Obrigada. Agora estou tranquilíssima... – debocho, meio rindo, meio
chorando.
– É verdade, anjo. Não vai acontecer nada demais, mas ficarão tentando
me tocar, flertando, segurando meu braço, tentando abraçar... se fosse eu vendo
um bando de caras disputando sua atenção assim eu explodiria, não iria
aguentar... você também não vai, baby... – Ele acelera, arfamos.
– Deixe que eu decido isso, Oliver, por favor... Deus, que gostoso...
– Não posso meu bem, não daria certo... Sim, delicioso, baby... Você é
deliciosa!
– Ah baby... preciso gozar, mais rápido...
– Às suas ordens, noiva. – Ele me beija e me come com paixão. Não
demora muito, gozamos forte e juntos.
– Estamos bem? – pergunta quando se deixa cair em meus braços.
– Ah Oliver, ainda não me desce, não gosto nem de pensar como ficarei
durante essa uma hora, só imaginando... Mas sim, estamos bem. – Ouço seu
suspiro, parte por alívio, parte por não saber mais o que fazer.
Viramos de lado e colo minhas costas em seu peito. Oliver puxa um cobertor
sobre nós e muda de assunto. Melhor mesmo.
– Como foi para você aterrissar aqui, rever a cidade, mesmo que pela
janela do carro?
– Estranho. Parece que a vida que vivi aqui foi em um outro tempo. Como
se só agora eu percebesse que na verdade nunca pertenci a este lugar. Minha
casa nunca foi aqui. Acho que a ficha ainda não caiu, sei lá...
– Quer tentar rever o apartamento onde moravam? – Aquilo me pega de
surpresa... penso um pouco a respeito...
– Não. Não quero ficar triste. Não quero mais chorar, me lembrar da perda,
doença, incerteza... – Oliver se reseta atrás de mim – não quero mais nada
disso na minha vida... se eu entrar lá, tudo virá à tona em minha memória. E foi
vendido, então...
– Humm, na verdade, quanto a isso... eu comprei.
– O quê? – Me viro de frente para ele. Ele arruma meu cabelo atrás da
orelha.
– Eu comprei. É seu, está em seu nome. É meu presente de aniversário para
você. Mas se não quiser ficar com ele, podemos vender. Ou você pode deixar
lá se um dia mudar de ideia... reformar e alugar... enfim, é seu. – Eu o abraço.
– Isso foi lindo. Obrigada.
– A pessoa que comprou do seu pai nem chegou a se mudar. Iria reformá-lo
primeiro, só que eu recomprei antes. Então está tudo como você deixou ao sair.
– Eu não sei se consigo voltar lá agora...
– Não precisa. Deixe lá... não há pressa nenhuma em dar um destino a ele...
agora dorme meu bem, vamos dormir algumas horas, pois nosso dia será cheio.

Ainda não acredito que estou participando disto. É tão excitante. Luzes, fios,
som, muitos, muitos técnicos passando para cá e para lá, checando, ajustando,
fazendo marcações. Apesar dos quase zero graus lá fora, a arena é climatizada,
Oliver está em cima do palco, de cabelo preso, calça jeans e regata branca
colada. Os braços musculosos em ação, testando os instrumentos, o som, a voz,
o suor deixando a sua pele brilhante. Ai, ai... tudo aquilo é meu mesmo?
– Olha para cá um instante primeira-dama?
– O que foi?
– Nada não, só...– Hazel passa o dedo abaixo do meu lábio inferior –
escapou um pouco aqui no cantinho...
– Cretina! Agora me deixa fazer o mesmo com você... sua situação não está
diferente!
– Ai... olha para ele... olha aquela bunda e aquelas costas e aqueles
braços... o cabelo colando na testa... ele está tão gostoso... o triste é que só
posso olhar, amiga... que tortura... pensa no nível de tesão enrustido em que me
encontro... não é fácil... a pilha do meu vibrador não durará até o terceiro show,
não mesmo... – Max está de jeans e sem camisa, agachado, checando as
conexões da bateria com os amplificadores.
– E pensar que há um ano, eu estava ali. – Aponto para o local em que o
público fica na pista. – Com o meu pai. Olhando para aquele homem lá em cima
do palco como se ele fosse um ser mitológico, inalcançável.
– Bia, você ainda olha para ele como se ele fosse um ser mitológico. –
Rimos.
– É... acho que isso nunca vai mudar. – Abraço-a e beijo sua bochecha. –
Eu amo você, Hazel Wells, e isso também nunca vai mudar. Te conhecer foi o
segundo melhor acontecimento da minha vida. Você chegou, não me deu opção,
me colocou de cara na posição de sua melhor amiga. E eu precisava tanto
disso... Fico muito feliz por estarmos aqui, juntas.
– Ah Bia, – ela devolve o beijo – eu também amo você. Eu estava a ponto
de enlouquecer antes de você aparecer na minha vida... eu também precisava
muito de uma amizade verdadeira... precisava ter com quem me abrir, sem o
medo de ser julgada ou repreendida. Você me salvou... e ainda por cima
acredita de verdade que meu conto de fadas vai se realizar...
– Acredito mesmo. Max é tão seu, garota... se você pudesse ter visto a
cena de vocês dois naquele avião, olhando um para o outro com os olhos
cheios de lágrimas depois que ele te deu o aval para transar com quem quiser,
você acreditaria que não estou errada quando lhe digo que vale a pena tentar.
– Se ele sonha com quem quero gastar aquela caixa de caminhas...
– Se ele sonha que deu uma caixa de camisinhas para uma virgem... –
Caímos na risada.
– Sabe... eu não quero ficar criando ilusões ou começar a ver sinais onde
não existe, mas...
– Mas? – Me empolgo.
– Teve um momento, na sua festa de noivado. Quando estávamos dançando
colados e eu fazia um carinho em sua nuca, mexia nos cabelos dele ali. Foi
totalmente inocente, eu juro, estava tão nervosa que tudo desse certo e Oliver
estava prestes a pôr o anel no seu dedo... nem pensava em nada romântico...
mas em dado momento eu senti a respiração dele pesar. Pode ter sido
impressão, mas me pareceu que ele estava incomodado... ele afastou o rosto,
me olhou e... – Ela para e me olha.
– E...? Fala Hazel, caramba...
– Ah, deixa para lá, falando parece ridículo. Não pode ser. A minha
obsessão deve ter chego a um nível catastrófico para eu ter cogitado...
– Puta merda, nem pensar. Continua. E...
– E focou na minha boca, Bia. Na mi-nha bo-ca. Eu tive a impressão de
que ele sentiu vontade de me beijar... meu coração disparou só com aquele
pensamento.
– Porra, Hazel, e você só me conta agora?
– É que só pode ser fantasia... devo estar entrando na fase de ver coisas...
– Ele olhou sua boca e o quê?
– Ele olhou da minha boca para os meus olhos e de novo para a boca e foi
quando ele me pediu para vir junto nesta turnê... na verdade ele me implorou...
me pediu desculpas pelo que quer que tenha feito e disse que seria muito
importante para ele que eu aceitasse. Como não consigo lhe dizer não, aqui
estou... – Solto um gritinho de empolgação e a abraço.
– Isso é ótimo! Não percebe?
– É bobagem! Depois, no avião, atirou uma caixa de camisinhas em cima
de mim e disse dê para quem quiser, princesa... – Ela faz uma careta.
– Não é bobagem. Ele te olhou Hazel. Ele te olhou e não enxergou a menina
que ele quer proteger dos homens, e sim uma mulher... beijável! Ter te atirado
camisinhas só prova que foi isso mesmo. Garanto que o seu carinho inocente
daquela noite arrepiou todos os pelos ruivos do corpo dele.
– Ai, não junte corpo, arrepios e pelos ruivos na mesma frase...
– Olha lá... – Aponto para o palco. – Essa cena me fez lembrar que você
está me devendo uma foto... – O guitarrista da The Order está fazendo um solo,
testando o som, assim como Max está sem camisa e de calça jeans. Os bíceps
super musculosos performando enquanto ele contrai o tanquinho... Lian tem os
braços mais grossos que já vi e um deles todo tatuado, assim como um lado do
peito. Os cabelos longos e negros, batendo abaixo do meio das costas. A
bandana na cabeça evitando que caiam por sobre seus olhos. As coxas
igualmente grossas e a bunda durinha... Os três juntos são um trio de tirar o
fôlego. Kellan também é muito bonito, só que seu corpo, seu rosto, ainda estão
naquele limbo entre menino e homem. Mais alguns anos e ele estará no mesmo
patamar, certeza.
– Verdade, te devo a foto do avatar de Lian. Já tem plateia se formando,
olha lá... – Há poucas mulheres trabalhando na equipe que finaliza os ajustes no
palco, mas as que estavam por ali pararam para assisti-lo tocar.
– Voltei – diz Laura, se juntando a nós no degrau da arquibancada. – Trouxe
café.
– Obrigada. – Pegamos os copos de café quentinho que Laura trouxe.
Humm, o aroma está divino.
– Não sei como Lian consegue ensaiar com o cabelo solto, dá para ver
daqui como o suor escorre.
– Ah ele passa calor, mas dificilmente amarra aquele cabelo irritante de
tão lindo – comenta Hazel.
– E Edgar? – pergunto.
– Está lá atrás, conversando com a equipe de som. Iris acabou de chegar.
Mal Laura termina de falar vemos a ruiva surgir, olhando para o telão que
fica acima, ao fundo do palco. Há mais dois telões, um em cada lateral. O clipe
de Eden começa a rodar e Iris analisa atentamente. Ela olha para trás e acena
para nós. Desce e começa a se afastar, provavelmente irá observar a qualidade
da imagem visto de longe.
Lian já terminou sua passagem e Oliver senta-se ao piano. Reconheço os
acordes de Boehmian Rhapsody, do Queen. Algo não está do agrado do meu
noivo em relação ao piano. Ele conversa com o técnico, que assente e verifica
a afinação. Kellan começa um solo de baixo que não reconheço, provavelmente
improviso, mas, uau, é muito bom.
Hoje são só as verificações, para pegar os problemas mais grotescos e
repassar o check list. A passagem de som oficial mesmo é amanhã de manhã,
dia do show e do meu aniversário de dezoito anos.
Lian volta e ele e Kellan fazem o solo de guitarra e gaita de Eden. Max entra
junto e desce o braço na bateria. Parece que a arena inteira vibra. Oliver pega
o microfone e entra com a voz. Eles parecem satisfeitos com o conjunto. Oliver
volta a testar o piano, agora toca Bettersweet Symphony, do The Verve.
Já está escurecendo lá fora. Nosso dia foi curto e cheio. Dormimos,
acordamos era quase meio dia, almoçamos e viemos para a arena. O palco já
estava de pé, mas sem os instrumentos em cima. Houve uma reunião com toda a
equipe. Foram relatados alguns problemas com equipamentos que precisaram
ser substituídos de última hora e iniciada a instalação dos instrumentos e as
mesas de áudio e vídeo.
Megan, a responsável pela organização nos mostrou os camarins. Duas salas
enormes, uma será o camarim dos meninos e outra será montada a recepção
para os fãs vip. E há um terceiro espaço, menor que reservaram para nós,
mulheres, ficarmos e que também será onde vou me trocar para a minha
participação.
Por fim, os meninos subiram para testar e validar o trabalho da equipe. E
pensar que este é um processo que se repetirá em cada cidade que chegarmos...
Meu telefone e o de Hazel vibram juntos encerrando o meu momento flashback.

Anjo, venha para cá. Vamos passar nosso duo

OK

Só passar o duo e terminamos, não?

Sim

E qual vai ser a da noite?

Banho, comida e cama... para dormir


Kellan

Uhmmmmmm... o que é isso? É leve, e quente, me arrepia... um toque... tão


delicado... “Bia”... parece um murmúrio, um chamado... “Bia” ... quem
chama?... “Amor”... amor... amor só pode ser... Oliver... Oliver... tenho tanto
sono...
– Bia?
– Uhm?
– Abra os olhos, meu amor...
– Uhm? – Lábios quentes encostam no meu ombro.
– Acorda, baby.
– Sono... – O beijinho agora foi nos meus lábios.
– Acorda, vai...
– Que... que horas?
– Meia noite e três.
– E você quer... transar? – Ele ri e beija meu nariz.
– Eu sempre quero transar com você...
– Ah... mas...
– Mas?
– Agora? – Outra risadinha.
– Agora seria ótimo, mas não é por isso que quero que abra os olhos.
– Não?
– Não.
– Ah...
– Decepcionada?
– Um pouco... – Dou um risinho de lado e levo meu braço ainda pesado do
sono ao seu tanquinho.
– Safada... abra os olhos... – Faço um esforço e abro as pálpebras. Seus
magníficos olhos e seu lindo rosto colados aos meus.
– Abri. Se não é sexo, qual a urgência, noivo?
– Já passa da meia-noite, noiva.
– E?
– E eu queria ser a primeira visão dos seus dezoito anos. – Sorrio e
acaricio o seu rosto.
– É uma bela visão. Uma clássica obra-de-arte.
– Feliz aniversário, meu amor. Eu amo você. Quero dividir cada segundo
da minha vida com você. Espero te fazer feliz porque, nossa... você é a razão
da minha felicidade e não posso mais abrir mão dela. – Olho dentro dos seus
olhos com muita seriedade.
– Você e felicidade são sinônimos para mim, Oliver. Não existe um sem o
outro. E eu não estou exagerando. – O filho da mãe escovou os dentes antes de
me acordar, está com um hálito delicioso. Ele que me desculpe o bafo, mas
preciso beijá-lo.
Levo minha boca a dele e saboreio seus lábios, sua língua, seu gosto. E
quanto mais eu o beijo, mas sinto necessidade de beijá-lo. Minhas mãos já não
carregam nenhum sinal de lerdeza pós-sono interrompido, elas querem brincar.
Vagueiam despretensiosamente por suas coxas musculosas e sobem, dedilhando
os gominhos da barriga como se ali fosse o seu instrumento de cordas
predileto.
Meus dedos ganham vida própria e ficam muito, muito atrevidos, se
infiltrando sob o elástico da cueca e deslizando para lá e para cá. Espasmos
atingem seu abdômen. Monto seus quadris sem desgrudar nossas bocas, suas
mãos sobem por minhas costas. Esfrego a boceta nua em seu membro sob o
pano.
– Uhmm, não estava com sono, baby?
– Agora estou bem acordada.
– Percebo.
– Por que está de cueca?
– Para que não terminássemos nisso...
– Você prometeu me fazer feliz. – Ele sorri.
– E como exatamente devo cumprir a minha promessa?
– Você, – aperto meus dedos em torno do seu pau – na minha boca. – Vou
deslizando meus lábios pelo seu corpo delicioso em direção ao meu destino.
– Meu coração precisa ser forte, Beatriz, muito forte... sou todo seu, me
engula, por favor.
– Eu vou.
Beijo aquele espacinho entre o umbigo e a virilha e Oliver se contorce.
Esfrego meu nariz ali, de leve, inalando seu cheiro. Puxo só uma lateral da
cueca para baixo e passo a língua por sua tatuagem, salpico-a de beijos e
mordidinhas. Infiltro meus dedos por dentro das pernas da cueca boxer e aperto
a parte interna de suas coxas entre as mãos.
– Bia...
– Está gostoso?
– Uhmmmm
– Vai melhorar...
Beijo seu pau sobre o pano, ele arremete o quadril em desespero. Levo uma
das mãos aninhadas em sua cueca até as suas bolas e massageio. Sugo a cabeça
do pau ainda sem despi-lo. A cueca fica molhada em parte por seu próprio
líquido, em parte por minha saliva e aquilo me dá um tesão do caralho. Preciso
sentir seu gosto. Puxo o pano até o meio das coxas, expondo-o para mim,
seguro-o pela base e envolvo-o com os meus lábios. Que delícia! Oliver afasta
meus cabelos para assistir minha boca o engolir, como pediu tão
educadamente.
– Porra, noiva, seu boquete é uau... Sou um homem de tanta sorte! Você
está tão sem-vergonha, pequena, cada dia mais segura de si...
– Meu professor. – Sugo forte só a cabeça. – Ele é o melhor. – Passo a
língua das bolas até a ponta. – E gostoso, muito gostoso. Não consigo parar de
chupar... – Enfio até a garganta.
– Arrr caralho... vem cá, bebê, vem... quero gozar, mas enterrado na sua
boceta... – Chupo mais algumas vezes e então faço o que ele pede.
Distribuo beijinhos por toda a extensão do pau e vou subindo, beijando a
barriga dura e sarada. Oliver apalpa minha bunda e geme. Coloco um mamilo
na boca e sugo, mordo o seu bíceps enquanto me acomodo sobre ele,
recebendo-o dentro de mim.
– Ahhhh... Uhmmm – gememos juntos pelo prazer daquele contato.
O contato mais íntimo que duas pessoas podem trocar e que quando há
sentimentos tão fortes envolvidos quanto os nossos, ultrapassa a linha da
possibilidade descritiva. Não há como explicar, não existem palavras no
dicionário capazes de expressar a intensidade e o significado real daquela
simbiose.
É tão forte que assusta. É tão perfeito que dói.
Um infinito dentro de outro.
Preciso lhe dizer...
– Oliver Rain. Meu homem. – Mexo. – Meu ídolo. – Mexo outra vez –
Meu sonho. – De novo. – Meu amparo. – Contraio e gemo.
– Estou adorando, continue elencando minhas qualidades enquanto fode,
anjo, só não pare...
– Meu abrigo. – Subo e desço. – Meu amigo. – Mais uma. – Meu
aconchego. – E mais outra. – Meu amante. – Para cima e para baixo. – Meu
amor. – Beijo-o.
– Faltou um...
– É?
– Ahã. Meu noivo. E logo, meu marido. – Sorrio.
– Meu namorado, meu noivo, meu marido, meu velho... – Ele gargalha.
– É impressionante a capacidade que você tem para criar um momento
romântico perfeito e o destruir logo na sequência...
– Tudo bem, se meu velho fere o seu ego, posso mudar para meu clássico.
Eu ainda serei jovem, você sabe...
– É. Comparada a mim, você sempre será uma jovenzinha... terei que
praticar muito tiro ao alvo antes de virar o seu velho.
– Não adianta, o parkinson não vai permitir que você tenha mira.
– Chucky, presta atenção, – ele se senta num rompante, sem separar nossos
sexos, uma mão entra por baixo dos meus cabelos, se fechando em torno a
minha nuca, firmando meu olhar no seu e a outra aperta minha bunda – a única
coisa que vai tremer entre a gente é o seu corpo delicioso ao gozar gostoso no
meu pau. Aceite! – sussurra a última palavra no meu ouvido.
E então não consigo dizer mais nada, pois Oliver entra no modo amante
torrencial, metendo fogo em gasolina, me fazendo quicar e rebolar em cima
dele até tremer, literalmente, e aplacar o mal que me consome sempre que
estou com ele.
– Te amo, rockstar.
– Te amo, aniversariante.
– Até daqui a pouco – bocejo.
– Durma bem, anjo.

– Oliver... – Sento-me na cama assustada. Coração a mil. Que merda...


– Puta que pariu. Se não infartei agora... – Estamos os dois sentados na
cama tentando nos recuperar do susto, quando batidas nada delicadas espancam
a porta do nosso quarto.
– Casal, vocês têm exatamente dez minutos para se juntar a nós aqui fora
antes de soarmos as sirenes novamente.
– Que merda de ideia foi essa Lian?
– Só devolvendo a delicadeza com que a Biazinha nos acordou na manhã
de Natal. – Caio para trás na cama e rio.
– Eles não perderam tempo.
– Dez minutos, cronometrando... senão invadimos a suíte dos pombinhos e
nem vamos nos importar se estiverem pelados.
– Precisamos de um banho, Max – digo.
– Tic tac... o tempo passa...
– Não se atrevam... – ameaça Oliver.
– Menos reclamação e mais ação... tic tac, tic tac... – Corro para o
banheiro, Oliver reclama, mas vem trás de mim. Me lavo rapidamente,
retirando o cheiro de sexo e sémen do meu corpo. Oliver faz o mesmo.
Trocamos um beijinho, corro me secar, escovo os dentes e coloco o primeiro
shorts e camiseta que encontro.
– Acabou o tempo. Se não saírem no cinco, entramos aí. Um... – conta Lian.
Oliver está terminando de subir a bermuda. Abro a porta que dá para a saleta
do quarto.
Lian começa a dedilhar parabéns para você na guitarra. Max e Kellan
empurram um carrinho com uma pirâmide de copos de espumante até próximo a
mim. Na mesa, há um café da manhã servido. Hazel vem até mim e coloca um
chapeuzinho de aniversário escrito Happy 18th, igual ao que todos os outros
estão usando e depois faz o mesmo com Oliver. Edgar segura o bolo enquanto
Laura acende as velinhas. Um tripé com máquina fotográfica acoplada está
montado num canto.
Os parabéns terminam e Edgar está com o bolo a minha frente, me inclino
para apagar as velinhas, um flash dispara e todos explodem em vivas e palmas,
me puxando, me abraçando, me beijando enquanto a máquina segue disparando
flashs aleatórios.
– Bia, despeje a espumante na cascata – pede Max. Pego uma das garrafas
debaixo do carrinho e viro sobre o copo do topo, vou repetindo o processo até
que todas as taças estejam cheias. A máquina segue registrando os nossos
momentos. Cada um de nós pega uma taça e posamos em grupo, esperando o
flash, que não demora.
– Bela-Bia, em função do descanso necessário para o cumprimento do
nosso dever no dia de hoje, não pudemos esperar o dia virar e amanhecer junto
com você como fizemos com Hazel. Espero que nos perdoe e que goste do
nosso pequeno café da manhã festivo.
– Eu adorei Lian. Estou muito feliz, de verdade. Obrigada a todos. Eu amo
vocês. Nem vou xingá-los pela sirene. Me vingarei no próximo Natal... – Eles
xingam e zoam.
Hazel distribui línguas-de-sogra e posamos para outra foto em grupo, todos
com as línguas para fora, depois vem a vez das poses fazendo caretas. Depois
uma sessão só minha e de Hazel. Então Laura e eu. Eu e os três marmanjos. O
mestre e eu. Oliver mete o dedo na cobertura do bolo e espalha pelo meu rosto,
depois me segura em frente a câmera para que não possa escapar do registro.
Beija minha bochecha, a máquina dispara, finge que vai lamber a cobertura, a
máquina dispara, me beija, a máquina dispara. Me abraça e cola nossos rostos,
agora ambos sujos de bolo, a máquina dispara. O estômago de Kellan ronca tão
alto que todos escutam e enfim nos sentamos para o café.
– Para que horas está marcado o início do ensaio no palco? Não
deveríamos estar lá a esta hora? – pergunto. Os quatro e Edgar trocam olhares
cúmplices.
– Remarcamos para mais tarde. E hoje, você está liberada – responde
Oliver. O quê? Não quero estar liberada!
– Como assim, liberada? O combinado era eu acompanhar com Edgar...
– Teremos pelo menos mais sete cidades onde passaremos por este mesmo
processo preparatório, pupila. Não faltará oportunidade de aprendizagem.
Hoje, curta o seu dia. – Me decepciono um pouco, pois o jeito que gostaria de
curtir o meu dia era estando lá com eles, em cima do palco, testando, checando,
aprendendo.
Adoro estar no meio do ambiente musical. Vibro com a atmosfera de show.
Eu amo aquela energia. E a cada dia que passa, me apaixono mais e mais pela
profissão que escolhi. Acho que todos notam o meu desapontamento, pois, de
repente, fica um silêncio constrangedor. É Hazel quem o quebra.
– Hoje nós teremos o nosso dia de rainha.
– E o que isso significa exatamente? – pergunto com medo da resposta.
– Que você, Laura e eu iremos para o spa mais chique de Chicago, fazer
todo tido de massagem, tratamento de pele, cabelos, unhas, relaxamento que
eles tiverem disponíveis...
– Aiiii... – Baixo a cabeça e colo a testa na mesa. Eles gargalham do meu
desespero... que pesadelo... eu quero ir para o ensaio!
– Baby, sei que você prefere ir conosco, mas hoje é seu aniversário... –
Levanto os olhos para Oliver em súplica. – E lá será cansativo... vá com elas,
aproveite para relaxar... passaremos Eden mais próximo da abertura dos
portões para você sentir o palco.
– Oliver, para o meu pesadelo ser completo, só falta Hazel me falar que
depois de tudo aquilo, vamos às compras...
– Bem... na verdade, vamos sim... – Hazel começa. – Comprar o look para
hoje à noite...
– Hazel, é um show de rock. Jeans e camiseta é o look – argumento.
– Você é a primeira-dama, pode fazer melhor que isso...
– Ahh não, por favor...
– Esse é o meu departamento e vou te deixar linda. Agora termina de comer
e vamos logo iniciar o nosso beauty day.
– Noivo, você não diz nada? Vai deixá-la fazer isso comigo? No meu
aniversário? E aquele papo de zelar pela minha felicidade? – Ele ri e dá de
ombros. Dá de ombros!
– Às vezes precisamos nos render e admitir que nada podemos contra as
forças da natureza. Espere o furacão passar e torça para sobreviver a ele... –
Inclina a cabeça na direção de Hazel. – E me lembro que te fiz bem feliz esta
madrugada...
– Era para dormir, Oliver, e não passar a noite trepando – lembra Max.
– Posso te garantir que estou cheio de energia.
– O que vale para um, deveria valer para todos... eu não pude levar
ninguém para o quarto... – reclama Kellan.
– Arrume uma noiva e está liberado. – Oliver sugere e ele faz careta.
– Laura ainda está aqui, esqueceram? – lembra Edgar.
– Desculpa vó.
– Edgar, já ouvi coisas bem piores desses garotos, quando eles eram três
adolescente cheios de hormônios, você não faz ideia...
– Nossa vó, a senhora ouvia nossas conversas atrás da porta? – pergunta
Lian.
– Ah, não era necessário... vocês não eram exatamente discretos nos
comentários... – Edgar levanta e reposiciona a câmera.
– Vou aproveitar que estão todos aqui, e temos espumante, e fotos para...
– Edgar, não.
– Sim, querida. – Todos prendem o fôlego, levo minha mão a de Oliver e a
seguro. Edgar retira a cadeira em que estava sentando e se ajoelha ao lado de
Laura. A máquina dispara. – Ela leva a mão a boca e ri. Meio de graça, meio
de nervoso.
– Por favor, levante-se daí, você não tem mais idade homem...
– Pensei já ter provado a você que ainda tenho muito preparo, meu bem.
– Você provou, mas...
– Hã, hã. – Esse foi Oliver incomodado, deixando Laura vermelha.
– Bem, Laura, sei que estamos oficialmente juntos há menos de três meses,
mas esperamos dez anos para que acontecesse, então não há dúvidas e não há
motivos para não darmos este passo. Estes dias ao seu lado foram os melhores
e só me provaram que cada segundo a sua espera valeu a pena. Eu a quero há
tanto tempo... gostaria de passar o tempo que me resta cuidando e amando você.
Aceita ser minha esposa? – Ele retira uma caixinha do bolso e abre. Laura não
ri mais, assim como Hazel e eu, ela tem o rosto molhado pela emoção. Ela
levanta os olhos molhados para Oliver. Aperto a mão dele, ele precisa fazer a
coisa certa.
– Vó, sempre serei o seu filho e sempre estarei com a senhora, em tudo. O
que mais quero acima de qualquer coisa é vê-la feliz, e nos últimos meses eu
vi, muito. Por isso, não consigo pensar em ninguém melhor e mais digno de
estar ao seu lado do que Edgar. Se é da minha benção e do meu aval que
precisa para dizer sim a esse filho da mãe sortudo, então pode dizer porque a
senhora os tem. Agora se tem dúvidas, me dá uma piscadinha e finjo que não
aprovo... – Ufa, que alívio... foi perfeito e ainda arrancou risos de Laura.
– Sim, Edgar, quero que seja meu marido. – Ele coloca o anel no dedo
dela, levanta-se, convida-a a se levantar também e a beija. A câmera registra.
Nós assoviamos e batemos palmas. Oliver chora. Beijo sua bochecha, seco
suas lágrimas e deito a cabeça em seu ombro.
– Oliver...
– Não Edgar, – diz secando os olhos – concordei com o casamento, mas se
vai me dizer que pretende levar minha avó para morar em Los Angeles, a
resposta é não...
– Primeiro de tudo, levanta a bunda daí e me dê um abraço. Serei seu avô
rapaz...
– Meu avô o cacete... – xinga, mas levanta e abraça o homem que esteve
sempre ao lado deles profissionalmente. Edgar sem dúvidas tem alguns créditos
no sucesso estrondoso da The Order.
– Quanto à onde vamos morar... quer falar Laura, ou eu posso?
– Vá em frente querido.
– Laura e eu conversamos e, se estiver tudo bem para vocês três,
gostaríamos de construir uma quarta casa na praia. Queremos algo menor, um
lugar para onde os netos possam fugir dos pais quando aprontarem ou quando
quiserem comer besteira antes das refeições.
– Meus filhos poderão comer o que quiserem antes das refeições. – Oliver
fala.
– Não poderão, não – corrijo.
– É, pelo visto não poderão... vou fugir com eles para a casa dos avós..., –
novas risadas – mas vó, Edgar, há bastante espaço na casa para todos nós. Se
precisar podemos ampliá-la. Não há necessidade de morarem longe.
– Longe, filho? Seriam só alguns metros... – Laura lembra.
– Sempre estivemos juntos. – Oliver rebate.
– E vamos continuar. Mas você vai construir sua família com Bia. Vai ser
melhor...
– A senhora sempre será minha família.
– E você a minha. Então, como em toda família, quando o filho casa, e a
mãe casa, cada um quer ter o seu próprio espaço. Sua privacidade.
– É o que a senhora quer?
– Sim, meu amor, é o que eu quero. Ficar perto o bastante para não
sentirmos saudades, e ao mesmo tempo ter o meu próprio canto.
– Mas por que...
– Oliver, pelo amor de Deus! O que nossa avó está dizendo é que ela
precisa de um lugar onde possa andar pelada dentro de casa se der vontade. Um
lugar onde possa transar com o marido no sofá ou em cima da mesa. E quer que
você e Biazinha tenham a mesma liberdade. Entendeu ou preciso desenhar? –
Lian joga a real. Oliver passa as mãos pelo rosto.
– Tudo bem. Se Lian e Max concordarem, claro.
– Se nós concordarmos? Fala sério, Oliver... o nosso sonho quando
compramos aquelas terras era ver toda a família morando à beira daquela praia
e você sabe... não vou desistir até convencer Johnathan e Alicia... – diz Max.
– Bom Edgar, você tem a permissão para construir, comece quando quiser.
– Obrigado. – Todos nós damos os cumprimentos ao novo casal de noivos.
Os homens seguem para a arena e nós, mulheres, para o dia de tortura.

E foi como o esperado. Torturante.


Os momentos em que estávamos juntas e pudemos rir e conversar foram
ótimos, porém na maioria do tempo estávamos imersas em um procedimento ou
outro e aquilo, definitivamente, não é para mim. Não parei de imaginar por um
segundo como estariam as coisas na arena. O que os rapazes estariam fazendo e
no quanto eu queria estar lá com eles.
Mesmo assim, uma coisa preciso admitir, estou um arraso. O look que Hazel
montou para mim e a maquiagem que ela pediu para colocarem nos meus olhos
fazem com que eu me sinta uma verdadeira estrela do rock contemporâneo.
Meus olhos estão incríveis. Com sombra mesclando tons de prata, azul
metálico e preto, em formato asa de anjo, e contornos pretos, destacando meus
cílios volumosos. O contraste do azul e prata com os meus olhos negros até me
deixou emocionada.
A roupa ficou um show à parte. Uma calça preta muito justa, com muitos
rasgos horizontais pelas pernas, um short jeans por cima dela, uma blusa preta
ombro a ombro soltinha escrito Rock and Roll e nos pés, uma bota preta salto
agulha, altíssima, que apesar de eu protestar muito, não teve jeito de Hazel
abrir mão. Argumentou que Oliver é alto, a nossa imagem juntos no palco
ficaria melhor se eu estivesse mais alta também. Espero conseguir me
equilibrar direito nela e não passar vexame. Pulseira e cinto preto com detalhes
cromados completam meu visual.
Os cabelos estão soltos, mas com as laterais presas para trás e um grande
cacho solto, que ela me fez pintar de azul, cai sobre meu rosto.
Hazel me fez tirar algumas fotos sentada em muretas, encostada em muros
pichados, sentada em escadarias. E pasmem, tudo isso andando de limusine
pela cidade.
Estamos as três, arrumadas e cheirosas, confortavelmente sentadas nos
espaçosos bancos da limusine, indo em direção ao local do show, seguidas por
dois carros com seguranças. Só nós e a rainha da Inglaterra. Hazel está com o
fone na mão, não demora muito o meu apita.

Prepara o coração estrela.


Pois sua noiva vai abalar vários esta
noite

Porra! Já pedi a equipe para


preparar um desfibrilador. Mas esse
lugar onde estão é seguro?

Hazel, se meteram em lugar


barra pesada? Tem seguranças aí?
Baby, onde vocês estão? Que
porra de lugar é esse?

Estamos bem. As três na


limusine, chegando aí em alguns
minutos

Estou louco para pôr meus olhos


(e minhas mãos) em você, não
demore

Você quer ver o circo pegar fogo, não é? – Mostro as mensagens a Laura.
– É bom provocar Oliver quando o assunto é você. Ele nunca consegue
fingir indiferença.
– Se ele proibir minha subida ao palco a culpa é sua.
– São uns desesperados... – comenta Hazel.
– Eles amam vocês – justifica Laura.

Comprei algumas coisas para dar


uma Incrementada no look de vocês
também, me aguardem

Sem merda, Hazel

Ai, que lindo! Um manda emoji, os


outros fazem o mesmo... vocês já foram
mais criativos, sabiam? É por isso que
precisam da minha ajuda. Iris também
concorda que é uma boa ideia
Aguenta o
furacão, baby

Mal terminamos a nossa troca de mensagens, a limusine se aproxima da


quadra da arena. A movimentação de pessoas é intensa. Muitos pedestres, ruas
interditadas, estacionamentos lotados, congestionamento. O motorista para no
acesso a uma das ruas interditadas para veículos e conversa com o policial de
trânsito que mantém a ordem ali. Logo em seguida ele permite a nossa
passagem. Os fãs olham curiosos, tentam enxergar quem está dentro do carro.
Muitas camisetas da The Order de várias fases da banda transitam pelas ruas.
– Olha lá! – Hazel aponta para uma direção. Laura ri. Levo minhas mãos a
boca sem acreditar. A danada ergue o celular e tira uma foto do cara que está
parado, encostado em uma parede branca, usando uma camiseta com um
coração e o meu nome escrito no meio dele.

... é estrela... ela nem subiu


ao palco ainda...

– Porra Hazel, pare de provocá-lo. Juro que vou lembrar disso quando
chegar a sua vez...
– Ah Bia, é tão bonitinho...
– Bonitinho? Quando ele melar nossa próxima noite de garotas ou minha
visita a Londres, não reclame...

Que merda é essa? Onde está o


idiota? Vou mandar um segurança

Vai nada! Bia deve ser
o nome da namorada dele

Ahan, e eu sou Jack Frost

Babaca. Eu ajudo nas

porradas

Tô dentro

Quanto mais o motorista se aproxima da quadra da arena, mais pessoas


circulando. Outdoors com o folder de divulgação da turnê “The Order in
Another Life” podem ser vistos ao redor. As filas para entrar estão enormes e
são apenas dezesseis horas da tarde. Os portões abrem só às dezenove e o
show começa às vinte e duas. Entramos finalmente numa área atrás da arena,
onde muitos seguranças da equipe da banda controlam os acessos por todos os
lados possíveis. Nosso carro é rapidamente identificado e liberado. A limusine
estaciona no local indicado, saltamos e alguém da organização nos leva até o
palco, onde os rapazes estão finalizando a passagem do som.
Conforme adentramos os olhares se voltam para nós. Quem está em terra
firme, olha. Quem está pendurado ajustando a iluminação, olha. Hazel também
está linda, uma calça de couro preta, uma blusa também ombro a ombro branca,
que deixa a mostra o umbigo e na frente traz desenhado o símbolo do “paz e
amor”. No pescoço uma gargantilha coleira preta com detalhes em prata. Os
olhos esfumaçados entre branco, laranja e preto.
– Uau. – Lian é o primeiro a nos notar e seu singelo comentário é o
suficiente para atrair o olhar dos outros três e também de Edgar. Laura segue
direto para os braços dele.
– Caramba! Bia, maninha, que gatas! – elogia Kellan.
– O que estão olhando? Perderam alguma coisa? Todo mundo de volta ao
trabalho. – Oliver grita com a equipe técnica, que rapidamente se dispersa.
Então ele para e nos analisa, me analisa.
– Vocês estão lindas. Lindas demais – fala olhando nos meus olhos de tal
forma que eu sei na hora que tem alguma coisa errada.
– Lindíssimas! – emenda Max. – Um perigo para a sanidade dos homens
– diz aquilo meio desconfortável.
– Bia, venha, vamos passar Eden. Onde está Iris? – Iris surge por uma
lateral
– Aqui chefe. Arrasaram meninas. – Pisca para nós. Me aproximo de
Oliver.
– O que foi meu bem? Você não me deu nem um beijo quando cheguei... –
Ele fecha os olhos, depois me puxa pela cintura e me beija. – Desculpe, não
estou legal...
– O que você tem? Está passando mal?
– Pode-se dizer que sim...
– Fala comigo.
– Depois, vamos passar a música, só falta ela.
– Tudo bem.
– Bia, esse é o ponto e o retorno que você vai usar. Coloque. Assim que
você der o passo para entrar no palco, o assistente vai lhe entregar o
microfone. Aguarde naquela lateral e só entre quando eu der o sinal pelo
ponto, ok? – Iris me instrui.
– Ok.
– Vou descer e ficar lá na pista junto com Edgar, para analisarmos o
conjunto de palco com o clipe. – Assinto para ela. – Equipe, ao apagar de
luzes, larguem o clipe. – Fala para alguém da retaguarda.
– Iluminação, a postos – diz Edgar e os dois descem para a pista.
Vou para o meu lugar, Edgar fala alguma coisa no ponto e as luzes se
apagam, alguns segundos depois a imagem de Oliver na praia ganha as telas.
Mais uns segundos e a bateria, a guitarra e o baixo preenchem o ambiente. E,
por fim, a voz potente de Oliver Rain transforma tudo em eletricidade e calor.
Sexy, sexy pra caralho.
Naquela música então, erotismo puro.
Pega fogo!
A canção segue e ouço Iris me dando permissão para me juntar a eles no
palco. Dou o passo e recebo o microfone das mãos da assistente. As pernas
tremem, e é só o ensaio. Oliver canta o início do refrão eu entro no meu tempo.
Me posiciono ao lado dele no palco e decido fingir que somos só eu e ele ali,
cantando um para o outro. Me entrego. Cantamos ora olhando um para o outro,
ora para a frente, a plateia fictícia.
O refrão termina, ele segue para o verso e eu permaneço me mexendo ao
ritmo da música, uma parte instrumental começa e Oliver caminha até mim com
a guitarra, chega bem perto, enfia o nariz no meu pescoço, e volta ao microfone.
Sorrio. O refrão retorna. Voltamos ao duo, agora eu que chego bem perto dele,
cantamos quase colando nossas testas,
– Assim, na pele contra pele.
- Sua pele na minha pele, na minha.
– Poderíamos inflamar o inferno, baby.
- Inflamar, incendiar o inferno, baby.
– Você sabe. Feito sódio puro em água clara.
- Feito sódio puro em água clara.
– Meu lugar preferido no mundo.
- No mundo todo, em todo lugar, só você
– Ela é o Eden
- Ele é meu Eden

Faço uma firula, correndo as unhas por seu abdômen nessa última frase, ele
me captura no seu olhar predador, me obrigo a sair do seu feitiço, dou meio
giro e volto para a minha marcação, saindo de perto dele. Mais um verso, mais
uma vez Oliver solta a voz e o poder de sua presença nas expressões e no
olhar. Mais uma vez calcinhas vão molhar.
Chega a hora do último refrão, cantamos olhando para o público, a parte
instrumental final, em que a música acalma, andamos um em direção ao outro
no centro do palco, ele toca a última nota na sua guitarra, então me puxa pela
cintura e me beija.
– Linda! – fala no meu ouvido e volta ao seu microfone. Eu digo um
obrigada no meu e saio do palco. Iris bate palmas.
– Perfeito! – Ela avalia.
– Sim, ótimo. Muito bom. – Edgar reforça.
Das três canções novas, Eden foi a música que mais deu trabalho a Edgar.
Ele foi incrível nela, trabalhou o arranjo original de Oliver de tal forma que
tirou completamente o apelo extremamente pop inicial, porém sem tirar a
sensualidade. Ainda é um rock, um sexy rock blues. Os fãs mais exigentes
podem até não a incluírem em suas favoritas, mas não poderão de forma alguma
acusar a The Order de se vender ao pop comercial.
– Finalizamos? – Oliver pergunta a Edgar.
– Sim, liberados. Descansem. – Meu noivo coloca a guitarra no apoio,
pega minha mão e me leva para os bastidores.
– Tem alguém no seu camarim?
– Acho que não, vi Hazel e Laura lá na arquibancada.
– Ótimo, vamos para lá, porque o outro os caras vão invadir em poucos
minutos.
Entramos na sala que foi preparada para as meninas, está toda arrumada, tem
uma mesa com frutas, sanduíches, biscoitos, chocolates, baldes com gelo e
bebidas alcoólicas, um frigobar com água e energéticos. Oliver pega uma
garrafinha de água e a vira quase num gole só, sua regata está toda suada. Ele
joga a garrafinha fora e se encosta na mesa apoiando as duas mãos atrás, no
tampo. Me olha ofegante.
– O que foi Oliver, qual o problema?
– O problema é o que virá Beatriz...
– O que virá?
– É. O que virá. – Ele anda pelo espaço passando as mãos pelos cabelos.
– Porra, você está... uau, não tenho nem palavras pra descrever o nível do
tesão que estou sentindo te vendo assim... – Cruzo os braços.
– Isso deveria ser uma coisa boa, não?
– Deveria... Inferno, eu com certeza estava fora quando concordei com essa
merda toda... – Fecho os olhos.
– Fale de uma vez. O que exatamente você está classificando como merda
toda? – ele dá um risinho debochado.
– Você vai entrar naquele palco, assim... – faz um gesto com a mão,
indicando meu corpo – vai subir lá, linda e sexy desse jeito, cantar ao meu lado
com a sua voz doce, espalhar a sua luz e o seu carisma a cada sorriso de
menina que der, enquanto os telões vão exibi-la ainda mais linda, sexy e NUA
em meus braços. Nada disso aconteceu ainda e já tem um cara usando uma
camiseta com um coração enorme escrito Bia... cada um dos caras héteros que
estiverem nesta arena hoje voltarão para suas casas apaixonados. Pensarão em
você, sonharão com você. – Deus, ele está surtando.
– O que virá depois, Bia? Quanto tempo até um desses filha-da-puta
conseguir levá-la para longe de mim? Quanto tempo até você perceber que
pode ter o mundo? – Surtando geral.
Os olhos brilham de ciúmes.
Olho para ele pensando na melhor forma de reagir àquilo. Lembro da
técnica da minha mãe. A da reação contrária. Vou ao seu encontro na intenção
de abraçá-lo.
– Não, estou todo suado... – Tenta me afastar, mas me lanço contra o seu
peito do mesmo modo, recostando a cabeça ali, e envolvo sua cintura com meus
braços.
– Eu não me importo. Cancele.
– O show?
– Não. Minha participação, a exibição do clipe. Eu não me importo,
Oliver. Cancele. – Pego sua mão e beijo o seu anel de noivado. – A única coisa
importante para mim aqui é você. Você é tudo que eu não posso perder. O
resto... – Dou de ombros. – Se é disso que você precisa para entender que o
que eu sinto por você é exatamente o mesmo que você sente em relação a mim,
tudo bem. Você deixa as mulheres apaixonadas em todos os shows, Oliver. Nem
todos os caras que assistiram o nosso clipe se apaixonaram por mim, mas com
certeza todas as mulheres se apaixonaram por você. Como eu sei? Todas,
desde meninas, sonham em ser amadas da forma como você me amou naquela
cama. Todas sonham com um homem intenso e seguro de si, que as olhe com o
fogo e a confiança com que você me olha. – Respiro.
– Apesar da tortura, eu fiquei muito feliz com a produção que Hazel bolou
para o meu visual. Estou mesmo me sentindo poderosa. Mas sabe por que isso
me faz bem? Porque assim que eu subir naquele palco, tanto os homens quanto
as mulheres estarão me julgando, me avaliando, decidindo se estou ou não a
altura do deus sexy e roqueiro todo poderoso, Oliver Rain. Ninguém vai
avaliar o contrário. E eu quero que me achem merecedora. Que mesmo as que
me odeiem só por eu estar ali, consigam entender o que você viu em mim.
Quero que as trinta socialites que esfregarão as patas em você mais tarde vejam
que, apesar de jovem, a concorrência não é fácil de vencer. – Ele finalmente me
abraça forte.
– Deus! – exclama – Pequena... perdão, me desculpe... você não precisa
provar nada para ninguém. – Beija minha cabeça. – É que... estou apavorado...
– Eu sei. – Beijo seu peito.
– O show business virá para cima de você feito abutres depois de hoje...
– Eu não quero essa vida Oliver, já lhe falei. E para provar que entrar
naquele palco não é essencial para mim, estou te dando carta branca para
cancelar. De coração. Sem culpa, sem mágoas, nem ressentimentos. Eu juro.
Você até me faria o favor de acabar com o meu nervosismo que está pior a cada
minuto que passa.
– Não vamos cancelar nada, anjo. Quero você lá comigo. Mas sinto medo.
Medo de que tudo mude, medo de perder você. Você é tão jovem, pode querer...
– Seguro seu rosto.
– Dormir e acordar nos seus braços é a única certeza que eu tenho sobre o
que eu quero para o resto da vida. Eu não disse sim por dizer, Oliver.
– Sei que não... de novo, perdão...
– Tudo bem, todos temos direito aos nossos momentos, não é? Eu no
avião... você agora... eu mais tarde... – Ele ri.
– É, acho que temos. Tenho que me preparar para mais tarde?
– Ah, se tem...
– Obrigado por avisar...
– Não há de que... – Ele brinca com o cacho azul que cai sobre meu rosto.
– Azul é?
– Não que eu tive o direito de opinar sobre a cor, mas gostei.
– Você está linda, sexy, gostosa. Estou louco para tirar a sua roupa, te
deixar nua para mim, usando apenas essas botas, as pulseiras e o anel de
noivado. Quero esses saltos ao lado do meu rosto enquanto seguro suas pernas
para cima e fodo você. Mas se tivesse pintado todo o seu cabelo de azul eu
teria tido um colapso. Gosto dos meus cachinhos ao natural. Gosto de você ao
natural.
– Não teria forma de Hazel me convencer a pintar os cabelos, não se
preocupe. Mas eu acho que você já falou demais, rockstar.
– Tenho a impressão que sim, noiva. Só estou me segurando para não
estragar sua roupa, sua maquiagem, seu penteado...
– Beijos não muito selvagens estão liberados, o batom é fixo, vai
demorar uns dois dias para sair completamente.
– Aos beijos então. – Cola nossos corpos e me beija forte, profundo,
demorado, eu retribuo na mesma medida.
– Venha, vamos para o outro camarim. Preciso de um banho, de comida e
de descanso.
– Mas os rapazes...
– Eu espio antes de você entrar para garantir que não há ninguém pelado.
– Ok. Também não iria me importar de...
– Não se atreva a terminar a frase.
– Só curiosidade baby... – Rio.
– Rá rá, muito engraçado...
Capítulo 28

“Vem cá, meu bem, que é bom lhe ver


O mundo anda tão complicado
Que hoje eu quero fazer tudo por você.”
(O Mundo Anda Tão Complicado, Legião Urbana)

Bia

vocês.
H azel, não vou subir no palco assim – reclama Kellan.
– Vai sim, todos vão. Estão mais gostosos do que
nunca. As garotas vão pirar o cabeção quando virem

Laura, Iris e eu estamos nos segurando umas nas outras de tanto rir. Já não
temos mais fôlego. Hazel vestiu os rapazes e agora está terminando de arrumar
os seus cabelos. Eles estão muito gatos, realmente, mas até ela convencer e
chegar ao nível de enfiá-los dentro das roupas, nos rendeu muitos risos.
Lian está com uma calça preta colada e uma regata, também preta, mais
comprida, com decote grande e as laterais todas abertas até a cintura, expondo
bem seus bíceps trabalhados e suas tatuagens. Se ele levantar os braços, é
possível ver as laterais do seu peitoral. Cabelos soltos e óculos de sol. Hazel
chamou o look de Lian de “O Poderoso Gostosão”. Sim, ela deu um nome para
cada um deles.
O look intitulado “Gatíssimo Rebelde” foi para Kellan que está com
camiseta e calça preta com rasgos enormes nos dois joelhos. Pulseiras e
bandanas nos pulsos e uma touca rapper preta na cabeça, com os fios louros e
rebeldes escapando pelos lados.
Max está com uma calça jeans com vários rasgos, uma regata branca tão
colada que agarra cada músculo e deixa pouco para a imaginação e por cima
da regata ela lhe enfiou um colete preto aberto. Hazel está trabalhando seu
cabelo ruivo com gel de modo que ele fique com aquele visual sexy
bagunçado. A barba por fazer completa o look. Ele é o “Príncipe Badboy”.
O look de Oliver, intitulado, “Deus Sheik” traz uma calça jogger preta com
bolsos largos nas laterais e elásticos cinza escrito rock transpassados em
forma de x nos tornozelos, uma camiseta azul clara coladíssima como a de
Max, que permite ver todos os gominhos e relevos da parte superior de seu
corpo. Hazel quer que ele inicie o show com um blazer chumbo por cima e um
cachecol da mesma cor jogado em torno do pescoço, as duas pontas caindo
abertas em cima da camiseta. Nos cabelos o tradicional coque samurai e a
barba cerrada completam o visual. Ele ficou maravilhoso, mas muito diferente
do que costuma vestir. Achei que fosse reclamar do blazer e do cachecol, mas
curiosamente ele não o fez.
– Boys, meu trabalho aqui está pronto e vocês estão fantásticos.
– Nunca nos fantasiamos para entrar no palco, Hazel – reclama Lian.
– Não estão fantasiados, titio, estão estilosos.
– Frescos você quer dizer – corrige Max.
– Estão exalando testosterona, garanto – defende ela.
Vou até Hazel e a abraço, dando meu apoio.
– Você fez um trabalho incrível. Com eles, comigo, com Laura, consigo
mesma. Tem certeza que ainda não sabe qual a sua vocação? – Ela sorri.
– Será?
– Para mim não há dúvidas.
– Vou pensar a respeito.
– E ainda fala que sou eu que tenho estilo – diz Iris.
– Sem essa, ruiva, olha bem para você. Está elegantérrima nesse macacão
preto com decote poderoso.
– Henry não estaria aqui para o show de hoje? – pergunta Oliver.
– Sim, o voo dele atrasou. Aterrissou há alguns minutos, logo chegará.
– Como ele virá? Alguém foi buscá-lo?
– Sim, mandamos um motorista.
– Ótimo.
– Cadê Edgar? – pergunto. Vou até Oliver, me recosto contra seu peito e
ele me abraça por trás.
– Terminando de se vestir no outro camarim. Vou lá ver se ele precisa de
ajuda. – Antes que Laura consiga sair, Edgar abre a porta.
– Nossa, mestre... – Edgar está todo de preto, calça, camisa, colete,
gravata e um chapéu aba curta preto na cabeça.
– Uau, e nem fui eu que montei o look... – diz Hazel.
– Tenho algumas cartas na manga, menina. – Ele traz Laura para seus
braços, ela também está muito bonita, num vestido branco escolhido por Hazel.
Alguém dá três batidas na porta.
– Quinze minutos – anuncia um membro da equipe.
– Henry chegou. Pedi para o levarem direto para as nossas mesas. – diz
Iris. – Chefes, têm certeza de que não preferem que eu fique no background?
– Não Iris, você deixou tudo organizado e com responsáveis competentes.
Esta noite, aproveite. Você merece. – Max a libera.
– Obrigada. Meninas, me acompanham?
– Não vamos assistir dos bastidores? – questiono meio sem entender o
convite dela.
– Hoje não. Hoje vamos assistir ao show das duas melhores mesas
montadas na área vip.
– Mas...
– Vá baby. – Oliver beija meu pescoço. – Prometo piscar para você lá do
palco.
– Piscar? Não aceito menos do que um beijo.
– Tenho uma reputação a zelar.
– Tarde demais! Esta aliança enorme na sua mão já acabou com a sua
fachada rockstar.
– Bem lembrado. Agora vá com Iris. Pouco antes de você entrar no palco,
um assistente irá buscá-la.
– Ok. – Me despeço de Oliver com um beijo e um “boa sorte”. – Mestre,
não vai conosco?
– Vou ficar até os garotos entrarem. Depois encontro vocês. – Ele beija
Laura.
Saímos do camarim e seguimos pelos corredores. Quanto mais nos
aproximarmos da saída, mais é possível ouvir a galera na arena. Gritos e mais
gritos chamando pela The Order ecoam.
Sinto o clima de euforia, a energia eletrizante que emana do mundarel de
gente proclamando o mesmo grito de guerra. Tão vigoroso que parece criar
uma corrente elétrica, que adentra a nossa carne e balança as estruturas.
Alcançamos a saída que dá para o palco e para a escada que permite descer
até a pista. Três seguranças se juntam a nós.
De onde estamos agora, é possível ver o mar de gente.
Me sinto energizada!
O corpo vibra.
É impactante! É poderoso!
Milhares de pessoas juntas clamando por um mesmo objetivo. Unidos pelo
poder da música. Se as pessoas tivessem a noção de que este é o verdadeiro
poder... Se entendessem que ao unirem forças desta forma, com esta mesma
energia, poderiam pleitear o que quisessem e na paz, nosso mundo seria um
lugar muito melhor.
Chegamos à pista e as dez mesas VIP de quatro lugares estão dispostas
numa fila horizontal.
Cadeiras confortáveis as circundam. No centro de cada uma delas há baldes
com gelo e garrafas de espumante caríssimas dentro deles. Com exceção das
duas mesas centrais as outras oito estão ocupadas. Oitenta por cento por
mulheres.
Passamos pela frente das quatro primeiras ainda acompanhadas pelos
seguranças. Os olhares recaem sobre nós, mais especificamente sobre mim.
A cada mesa que deixamos para trás, cochichos acontecem logo em seguida.
Ouço agitação e alguns chamados vindo da galera atrás da grade que separa
a área VIP da pista, o mesmo local que eu e papai estávamos há exato um ano.
Posso distinguir alguns deles: “Biaaaaa”, “Bia, é você?”, “Gostosa!”,
“Sortuda!”, “Bia, eu te amo”, “Linda!”; mas também muitos: “Bia, sua vaca”,
“Piranha!”, “Bia, eu te odeio”, “Oliver é meu”, “Cai fora vadia”.
Henry está a nossa espera na primeira das mesas centrais, e levanta-se
assim que percebe nossa aproximação. Ele nos cumprimenta, me dá os
parabéns pelo meu aniversário, depois beija Iris que se senta ao seu lado.
Hazel ocupa a poltrona ao lado dela, seguida por mim e Laura na outra mesa.
Nos telões, sobre e nas laterais do palco, a foto da turnê, dos rapazes na
praia e o “Another Life” escrito no céu sobre o mar.
O céu e o mar da nossa casa.
Minha casa.
As luzes se apagam, a galera se agita mais, grita mais, os chamados a The
Order se tornam mais altos. O nome de cada um deles gritado junto de
declarações como “eu te amo” aqui e acolá.
Ali, deixo de ser a Beatriz noiva do astro, parte da família, e volto a ser a
fã, emocionada e ansiosa para ver seus ídolos em ação. Tenho certeza que
assim que vir Oliver naquele palco vou pirar. Nem de longe lembrarei a
mulher que dorme com o homem todas as noites.
O telão também apaga.
Tudo fica escuro.
Instantes depois, luzes azuis e brancas são acesas em direção ao público,
como se fossem bolas de energia viajando sobre suas cabeças.
A agitação do público explode ainda mais.
O telão central mostra estas imagens, da luz viajando sobre as pessoas. É
lindo, mas acho aquilo estranho, em todos os ensaios que fizemos na Three
Minds, o show começava de outra forma.
A imagem cessa, telões e palco pretos novamente.
Asas de anjo azuis carregando um pedaço de giz branco aparecem riscando
a lousa preta do telão.
A arena está em silêncio.
O giz movimenta-se criando algo, não é possível identificar o que é. As
asinhas voam para cá e para lá, contornado, pintando, acrescentado detalhes
irreconhecíveis com o giz.
Quando concluem a obra, voam novamente para fora da tela e o desenho
criado é então afastado em perspectiva para que seja possível reconhecer a
gravura.
Um soluço me escapa na hora, as lágrimas aparecem e minhas mãos
trêmulas vão a boca. Laura me abraça.
Somos papai e eu desenhados em giz branco na lousa preta, sentados lado a
lado, ele tem um braço sobre os meus ombros e eu sou uma garotinha de oito
anos. Eu lembro dessa foto, ela está num dos álbuns que guardo.
Neste exato momento uma melodia começa a soar no piano.
O desenho no telão começa a ganhar movimento e os riscos brancos se
transformam em pequenas borboletas que voam para a fora da tela deixando-a
preta novamente.
As asas giz retornam. Enquanto o novo desenho é criado, uma luz azul
acende-se sobre o piano.
Oliver está lá, concentrado, tocando o início de uma música que não
conheço, e deixando uma emoção belíssima transparecer em suas feições.
Amor.
Amor incondicional.
A galera grita. As asas-giz concluem seu novo trabalho, agora são mamãe e
papai comigo bebê em seus braços.
As lágrimas rolam descontroladas, as borboletas levam a nova imagem
embora, a voz de Oliver invade a arena. Ele está tão lindo sentado naquele
piano sob a luz azul, de blazer e cachecol. Entendo agora porque não reclamou,
queria algo mais “formal” para esta abertura.
A música é um rock-balada, por enquanto só voz e piano, fala sobre amor,
um amor que é puro, verdadeiro, que cuida, doa, que guarda.
Fala de um anjo da guarda.
O novo desenho aparece e eu rio em meio às lágrimas, são mamãe e papai
segurando o meu irmão-cogumelo.
Assim que mais um desenho voa, a banda passa a acompanhar Oliver. Nova
onda de gritos emerge. A guitarra de Lian chega com força na melodia lenta,
criando um contraste incrível com o piano, o mesmo tipo de contrate que está
presente em músicas como Love of my Life do Queen ou November Rain do
Guns.
A tela central passa a mostrar cenas do palco, dos meninos, de Oliver ao
piano, enquanto as laterais continuam a mostrar o clipe das asas de anjo
desenhistas. A figura agora é de papai e uma menina de cinco anos construindo
um castelo na beira do mar.
A melodia volta a ficar calma, sem os metais, a banda volta a ser engolida
pelo breu, restando só o piano sob a luz azul. Um som diferente surge junto a
ele, uma nova luz acende, branca agora, sobre Edgar e o violino.
Aquilo é tão lindo.
Ah mestre, obrigada, agradeço em meu coração. Papai era apaixonado pelo
som do violino.
Nas laterais do palco vejo mamãe e papai no dia de seu casamento.
A letra é linda.
O amor cantado nela pode significar tantos tipos de amor... De um pai para
um filho, de um irmão para o outro, entre amigos, entre um casal de amantes.
Na tela papai segura no colo uma menininha de uns três anos e os dois
trocam um selinho.
A banda junta-se aos dois instrumentos acústicos outra vez, a música volta
para o rock mais pesado, apesar de lento, Oliver canta um novo verso e na
tela, eu, por volta dos treze anos, papai, e mamãe careca. Esta fofo foi tirada
nos seus últimos meses de vida. Nós dois beijamos o rosto dela, um em cada
bochecha.
Ela sorri. Um sorriso lindo.
Não consigo evitar o soluço forte que me escapa, Laura volta a apertar seus
braços a minha volta. Hazel estende sua mão e segura a minha.
O foco de luz azul muda do piano para Kellan, um solo de baixo começa.
Identifico como sendo o que ele tocou na passagem de ontem, que achei
lindíssimo. Ficou demais. Ele me olha. Eu sorrio e murmuro um obrigada. Ele
sorri de volta.
O toque erudito contrastando com os metais deixou a música tão especial. É
uma verdadeira obra de arte. Na tela papai e eu, por volta dos quinze anos,
deitados olhando para o céu numa noite estrelada.
O foco de luz azul volta ao piano.
A música se encaminha para o fim, Oliver canta o refrão num ritmo
diferente, ainda mais lento, acrescentando novas palavras.
Na lousa, a foto de mim e papai abraçados no hospital, em seus últimos
dias. A banda voltou ao breu, só o piano ainda soa o final da melodia, uma
imagem real aparece nos telões, não mais um desenho em giz.
É uma imagem sem som, mas com movimento.
Um close de mim e papai no meio da multidão, nesta mesma arena, há um
ano, num outro show da The Order. Não acredito que ele conseguiu resgatar
imagens daquele show e achou eu e papai perdidos na plateia.
O choro transborda, me causando espasmos.
A imagem nos mostra sorridentes e felizes, pulando e vibrando.
Oliver me olha. A última nota soa no piano.
A imagem do telão congela com pai e filha alegres, as asinhas de anjo
voltam e escrevem “em memória de Robert e Eva Thompson” no canto
inferior da tela.
Tudo escurece. E fica assim por um minuto.
Então num baque o palco vibra com a bateria eletrizante de Max e acende
em branco, vermelho e laranja.
Era assim que ensaiamos o início deste show.
A guitarra pesada vem na sequência, depois o baixo e por fim Oliver, agora
já de pé, atrás do pedestal do microfone, com a guitarra, sem blazer e sem
cachecol, dando voz a I still know how to get by [11], um dos primeiros
sucessos da banda e música de Lian.
A arena trepida com os pulos e voz do público cantando junto com Oliver.
Seco minhas lágrimas, levanto e faço o mesmo.
Canto e pulo.
A bota dificulta um pouco, mas show de rock para mim é isso, adrenalina,
paixão nas veias, hora de pôr os “bichos” para fora. Não é ambiente para ficar
sentado tomando espumante.
Aquela energia pulsante me deixa elétrica e eu amo me sentir assim.
Viva, quente e apaixonada.
Logo Hazel, Iris, Laura e Henry me acompanham e estamos os cinco
vibrando com eles. Oliver nos olha e dá um sorrisinho de lado.
– Lindo, gostoso e meu! – Tenho vontade de gritar e faço, bem alto, os que
estão por perto riem, ele também.
O cameraman deve ter ouvido, pois dá um baita close na sua mão direita
sobre as cordas da guitarra. A maioria dos abonados das mesas ao lado
também se rendem a nossa empolgação e se levantam para curtir o show do
jeito que ele deve ser curtido.
A música termina. O palco se ilumina.
– Boa noite, Chicago! – Oliver cumprimenta. A arena trepida. “Oliver, eu
te amo”, “Oliver, casa comigo”, “Lindo!” “Gostoso!”, pipocam de todas as
direções. – Sei que “boa comunicação com o público” não faz parte da
descrição de qualidades do meu perfil. Que o Lian aqui, – Oliver aponta para
Lian, que faz uma mesura e o público ovaciona – sempre faz as honras neste
sentido, mas hoje eu preciso falar. Porém não se preocupem, logo nosso
guitarrista falará com vocês também. – Imagens de pessoas entrando em postos
de saúde, tirando sangue, comemorando ao receber seu ingresso, passam no
telão enquanto Oliver segue com o seu discurso.
– Esta turnê não é como as outras. Ela é especial para mim, para nós.
Estamos reunidos aqui pelo rock, mas também por algo muito maior. Pela vida,
pela cura. Cada um de vocês pode sentir orgulho de si mesmo, – ele aponta
para o telão – pois se dispôs a doar um pedacinho do seu corpo para salvar a
vida de alguém. E sei que muitos outros, que nem gostam de rock ou não
curtem a nossa música se sensibilizaram com a causa e foram lá, no banco de
medula, e fizeram seu cadastro. Esta noite é para todos vocês, dedicada a
vocês. Vocês são as pessoas que devem ser verdadeiramente reverenciadas
aqui. Então, obrigado! – Os quatro se curvam ao público ao mesmo tempo. –
Obrigado por toparem e embarcarem nessa conosco.
No telão continuam a mostrar imagens de pessoas tirando sangue, só que
estas eu conheço bem. Laura, Edgar, Hazel, Helen, Alicia, Johnathan, Henry,
Riley, Peter, Iris, Gia e vários outros funcionários do condomínio e da Three
Minds, para o público, apenas outros voluntários normais, para mim, muito
especiais. Por último, Oliver, Lian, Max e Kellan aparecem tirando sangue
lado a lado. O público grita. Quando eles fizeram isso? Será que a noite será
dedicada a me fazer chorar?
– Se um dia receberem a ligação comunicando que são compatíveis com
alguém e precisam ajudar, sintam-se honrados. Tudo bem sentir medo, mas não
amarelem. Amanhã pode ser você, ou a pessoa que você ama, a depender da
coragem de um desconhecido.
– Para encerrar e voltarmos ao bom e velho rock’n’roll, quero que saibam
que Guardian Angel, a música que abriu o show, terá todos os lucros
revertidos para prevenção e tratamento do câncer de pulmão. Então, sempre
que clicarem para ouvi-la, estarão também ajudando alguém. Obrigado outra
vez e espero que curtam o que preparamos para a noite. Lian.
– Chicago, boa noite! – Mais gritos, “Lindo”, “Gostoso”, “Tatua meu
nome, Lian” – Tudo bem, tudo bem, sei que a maioria de vocês está em choque.
Não imaginavam que Oliver Rain pudesse ser capaz de dizer tantas palavras
em sequência lógica uma da outra, não é mesmo? – O público ri.
– Mas, sabem como é, né? O amor faz coisas... – A galera berra, uns
aclamam, outros protestam, Oliver mostra o dedo do meio para Lian. – Ah, ele
tenta se fazer de difícil, mas só levantou esse dedo para que vejam a baita
aliança que carrega naquela mão... – Os gritos agora ultrapassam o limite do
insuportável, nosso noivado acabou de se tornar público, afinal. – Oliver faz
cara feia na direção de Lian, que ri, solta um acorde poderoso na guitarra e
pergunta: – Quem quer quebrar tudo? – Sem dar tempo de o público
responder, Max detona e as batidas de Eletric Sex ecoam. Edgar chega a nossa
mesa, eu o abraço e agradeço antes que ele se sente.
Dali o show segue emendando um sucesso após o outro, Under my Eyes,
Obstinate, Sweet Salt, Crazy Blue Dog, My Last Wish. Kellan joga o gorro
para a galera. “Lindo”, “Tira a camisa também Kellan”.
– Chicago, boa noite, vocês estão demais! – diz Max, cumprimentando as
pessoas. Os outros bebem água. – É uma honra tocar aqui esta noite. – “Minha
mãe quer netos ruivos”, “Max, eu te amo”, “Casa comigo?” – A próxima
música é nova. Esperamos que gostem.
Vem a vez de Paradox, e na sequência outros sucessos, Pepper is my Only
Spice, Head in Hell, She is my true Inspiration. Tive que parar de cantar e
pular em Sweet Salt, porque preciso ter voz e não pingar de suor quando for a
hora de subir ao palco. O frio na barriga está no nível iceberg.
– Cansados? – Lian pergunta. Gritos de “Não”, “Nunca”, “Lian, me põe de
quatro” aparecem. Todos aproveitam para se hidratar outra vez. – Porque,
sabem... se estão cansados podemos encerrar agora... – Um alto e bom “Não” é
dito em uníssono. “Queremos Eden”, alguém grita. “Private Chaos” outro.
“Oliver, me pega de jeito”. – Ninguém cansado? Então metam fogo nesta
arena! . – Papa’s Devil Spirit inicia e a terra treme.
A iluminação do palco muda, fica romântica, rosa, roxo, branco... e sei o
que vem agora, é Fool’s Mate. Oliver está lavado de suor, ele tira a camiseta...
Ah? Como assim? Que porra é essa?
Nunca o vi fazendo isso num show.
Cacete!
Não gosto daquilo. Nada. Nadinha. Nem um pouco.
A arena vai ao delírio. A calça é baixa nos quadris, revelando demais
daquele v e da trilha que leva à felicidade, para o meu gosto. Ele seca o rosto
e joga a peça para o público. Em outros tempos eu gostaria de ser a sortuda a
agarrar aquele pano.
– A próxima também é nova. Chama-se Fool’s Mate. – “Oliver, olha para
mim” gritam. – Baby, para você. – Apesar do apelo, é para mim que ele olha.
E assim ele amolece o meu descontentamento.
Começam a tocar. Oliver fixa o olhar, eu sorrio. Ele não devolve a
gentileza, não há graça, ele quer que eu sinta a paixão em seus olhos, em seu
rosto, enquanto canta aquela música para mim.
E eu sinto.
Impossível escapar.
O telão me focaliza, o público reage, uns vaiam, muitos aclamam. Ele não
se abala, nunca se abala, segue firme no seu objetivo de me fazer apaixonar de
novo, e de novo.
Sempre consegue.
Ele tem a mim e aquelas pessoas todas em suas mãos e pode levá-las para
onde bem entender.
O solo de guitarra é dele nesta música. Ele vem até a beirada do palco, bem
em frente à minha mesa e se ajoelha ali enquanto faz a guitarra chorar. Várias
mulheres das outras mesas correm para aquela posição, se apoiando na grade
que fica logo em frente ao palco, tentando alcançá-lo com as mãos.
Parece que há coisas no mundo tão irresistíveis que fazem até as donas do
poder esquecer de manter a classe.
Seus olhos não abandonam os meus em momento algum. Sustento seu olhar e
movimento os lábios exageradamente num “Eu Te Amo” mudo.
Ele entende, ganho meu sorriso.
Fool’s Mate termina.
– Também te amo, baby – diz ao microfone e nem espera a reação
ensandecida das pessoas acalmar, já larga os primeiros acordes de Winters of
Secrets. Depois engatam Destructive Love.
Quando No Use My Name está prestes a começar, uma assistente de palco e
dois seguranças se aproximam da mesa. Sei que chegou a hora de eu subir. A
próxima será Eden. O que vem depois do iceberg mesmo? O polo norte
inteiro?
– Srta. Thompson, podemos subir?
– Sim – concordo. – Hazel, minha maquiagem, como está? Borrou muito
com as lágrimas?
– Não, está tudo no lugar, primeira-dama. Vá tranquila, está linda. – Os
quatro me desejam sorte.
– Me acompanhe por favor.
Sigo a garota, passamos pelas mesas, subimos a escada e chegamos a
lateral do palco. Ela coloca o meu retorno. Faço um rápido aquecimento de
voz e espero, nervosa, muito nervosa... Gostaria de não estar com estas botas e
sentir os pés mais firmes no chão. No Use My Name termina, o palco escurece.
Respiro fundo.
Os telões acendem com a primeira cena do clipe de Eden. A reação do
público é de deixar qualquer um surdo. Os instrumentos começam, a voz de
Oliver soa sexy, potente. E o público acompanha. A arena inteira canta junto os
versos da música que foi lançada há menos de dois meses. É de arrepiar. De
repente gritos muito, muito histéricos tomam conta e sei que a bunda de Oliver
acabou de encher as telas. O coro retorna, mas vira e mexe o histerismo
ressurge em reação às cenas de amor tórrido.
É agora, um microfone é posto em minhas mãos, Oliver começa o refrão, eu
entro cantando a minha parte e pela primeira vez, urros masculinos são mais
audíveis do que os gritos femininos. Muitos “Gostosa” surgem, Oliver
concentra todo o fogo do seu olhar em mim, aquilo me ajuda a acalmar e de
repente estou tranquila, como se fôssemos só nós dois cantando um para o
outro.
Repetimos mais ou menos a mesma performance do ensaio. Com direito a
beijinho dele no meu pescoço, passada de mão minha no seu tanquinho e outras
firulas de tontear a rapaziada. Quando a música termina, ele me beija e que
beijo! Me esmaga contra seu peito nu e suado, me deixando sem fôlego.
– Arrumem um quarto! – Lian brinca e o povo ri. – Tudo bem Oliver,
continue beijando, podemos esperar, tá de boa, né galera? – Uns gritam sim,
outros não, outras pedem “Me beija também”. Ele me larga e dá um sorriso
muito, muito safado, então volta ao microfone.
– Esta mulher linda que cantou para vocês é Bia Thompson, minha noiva. –
As pessoas dão vivas, aplaudem, felicitam, praguejam, lamentam não ter a
minha sorte. Eu agradeço, aceno para os meninos e deixo o palco. Já posso
respirar.
Resolvo terminar de assistir ao show dali mesmo, Little Naughty Princess
é a bola da vez, música de Max e imagino que seja inspirada em Hazel. Depois
Unforgivable Mistakes, seguida por A Relief ’s Place.
Assim como no show do ano passado, a última música é Private Chaos.
Mais um coro ensurdecedor acompanha Oliver. Lindo demais olhar o mar de
gente aqui de cima cantando todos juntos as mesmas palavras. Luzes de
celulares começam a ser ligadas. Uma forma silenciosa de reverenciarem os
ídolos e agradecerem aos artistas pelas duas horas e meia de rock e magia que
viveram naquela noite.
A música termina. Oliver diz um “muito obrigado”, aguarda os outros três
se juntarem a ele no meio do palco, se inclinam em agradecimento e saem. A
The Order nunca faz bis e todos sabem. Oliver engata minha cintura ao passar
por mim e me leva junto para o camarim.
Entramos seguidos pelos meninos, ele vai me empurrando em direção ao
banheiro.
– Oliver, calma...
– Não diga nada.
– Mas...
– Quero você. Agora. – Tranca a porta do banheiro assim que passamos
por ela. É um banheiro enorme com quatro cabines com chuveiros e um
vestiário, onde as roupas de todos eles estão penduradas em cabides.
– Oliver os outros...
– Que esperem. – Exige minha boca, aperta minha cintura, sua mão desliza
para dentro da minha blusa em direção aos meus seios.
Ele está fora de si. Energizado. Empolgado. Me enrolo em seu pescoço e
deixo-o fazer o que quiser de mim. Passo os dedos pelos seus cabelos
molhados, capturo o suor salgado de seu pescoço com a minha língua.
– Fiquei a noite toda louco para arrancar as suas roupas. Senti um tesão do
caralho vendo você dançar e cantar. Não via a hora de fazer isto. – Abre o
short e a calça, e desce os dois ao mesmo tempo, junto com a calcinha até os
tornozelos. Puxa tudo aquilo para fora do meu corpo sem tirar as botas. Apesar
de um pouco de trabalho, ele consegue porque a calça é bem elástica.
Ainda agachado passa as mãos pelas minhas coxas, me admirando. Beija
meu ventre e eu estremeço. Lambe a tatuagem com seu nome, estremeço outra
vez. Põe uma das minhas pernas em cima do seu ombro e alisa minha boceta.
– Que cena mais linda, pequena. Você, minha deusa dark do rock,
encostada na parede, de saltos altíssimos, com uma perna sobre meus ombros e
a boceta aberta ao alcance da minha boca. Estou salivando aqui.
– Baby... – Ele não perde mais tempo, abocanha meu sexo e me chupa sem
dó nem piedade.
Quando estou à beira do colapso, prestes a cair do precipício, ele para,
levanta-se, retira as calças e posso ver aquele homem lindo por inteiro. O pau
grande e duro com a cabeça melada, brilhando. Ele é mesmo um espécime sem
igual. Quase gozo só de olhá-lo. Levanta-me pelas pernas, me prende contra a
parede e me penetra numa estocada só. Estou tão molhada que ele desliza
facilmente.
– Ahh, isso... assim... aqui é o meu lugar... – diz, o prazer estampado em
sua cara.
– Sim, seu lugar é aqui... só aqui... – concordo.
– Preciso te foder com força.
– Preciso que me foda com força.
– Engate esses saltos atrás da minha bunda e segure firme o meu pescoço.
– Obedeço.
Ele agarra as minhas nádegas e passa a meter com toda a potência que seus
músculos permitem. Eu grito, grito muito, não tem como controlar... se estou
dando um show à parte para Max, Lian e Kellan lá fora, que me desculpem,
não posso evitar, não quando ele me pega assim.
Ele deita a cabeça em meu ombro, ouço sua respiração pesada, com uma
mão corro as unhas pelo seu ombro e início das costas e a outra continua em
seu pescoço. Ele acelera ainda mais, eu grito ainda mais, ele está perto, muito
perto. Finco minhas unhas nele e começo a me esfregar de cima para baixo em
sua virilha enquanto continua metendo. Ouvimos batidas na porta, seguidas
pela voz de Max, mas não paramos.
– Casal, apressem-se na brincadeira. Temos uma recepção e precisamos
de banho.
Mais algumas estocadas firmes e certeiras e rolamos morro abaixo, juntos e
felizes. Oliver me segura firme contra a parede enquanto se recupera. Eu tento
resgatar a minha alma, que saiu do corpo no momento daquele orgasmo. Estou
mole, saciada.
– Pequena...
– Rockstar... – Ele me beija.
– Vamos para o chuveiro. – Me põe sentada sobre a pia e retira minhas
botas, depois minha blusa e o sutiã. Então suas botas. Me pega no colo outra
vez e entramos na cabine. O chuveiro é ligado e a água cai sobre nós, quente e
relaxante.
– Mais calmo?
– Muito. Até aguento atender trinta pessoas por uma hora.
– Arg... Não me lembre... E você! – Dou um tapa em seu ombro. – Que
merda foi aquela de tirar a camisa? Nunca te vi fazendo isso num show. – Ele
ri, travesso.
– Digamos que foi a cobrança de uma dívida.
– Que dívida? Lembro que paguei as minhas com o meu cu. – Ele se afina
com a minha falta de refinamento.
Mas é o que é, não?
– Olha a boca, Beatriz!
– Ahã, foi bem sofrido aliás...
– Diz a garota que me pediu por isso no meio de uma rave...
– Eu gostar não quer dizer que não doeu.
– Você pagou com a sua bundinha gostosa o dia em que mandou eu me
foder. A cobrança de hoje é referente ao dia que você me enganou e saiu da
hidro com o biquíni enfiado nela, deixando aqueles três panacas lá fora
babando. Eu disse que ia ter troco.
– Oliver Rain! Como você é vingativo! Não conhecia este seu lado. E o
pior é que eu já disse sim.
– Não sou vingativo, apenas cumpro as minhas promessas. Se eu disser
que vai ter troco, pode apostar que vai.
– Vingativo!
– Organizado! – Eu gargalho.
– Vingativo e possessivo!
– Um homem de palavra.
– Tá bom... – Reviro os olhos. – Vamos nos secar, os meninos...
– Sim, vamos.
Desligamos o chuveiro, nos secamos rapidamente, coloco uma boxer dele, a
calça que estava usando antes e uma camiseta da The Order, já que minhas
coisas estão no outro camarim. Ele veste uma calça de moletom e uma
camiseta. Eu olho aquilo sem acreditar. Ando até ele, puxo o elástico do
moletom e dou uma conferida lá embaixo.
Como imaginava.
– Nem pensar! Você não vai atender as lambisgóias assim.
– O que tem demais? – Ele ri.
– Nem morta eu te deixo entrar lá nestes trajes. Trate de pôr uma cueca e
um jeans. Já! – Acho que nunca falei tão alto e tão firme com ele. Oliver se
assusta.
– Certo! Mas não precisa ficar brava. Claro que não vou assim. Fiz de
propósito, só para te provocar.
– Conseguiu.
– Ei, desfaz esse bico. – Me abraça e me beija. – Foi só uma
brincadeira, eu juro. – Faço uma careta de poucos amigos, mantendo o ar
indignado por um tempo, mas ele percebe que já não falo sério, então me solta,
tira a calça de moletom e coloca a cueca e o jeans.
– Pronta? Vou abrir a porta.
– Sim. Mas antes...
– O que? – Chego perto dele e afago o seu rosto.
– Obrigada. O que você fez hoje... nossa... aquela música é linda demais
Oliver. Linda demais! E o clipe, as fotos... Como você conseguiu? Sorte que a
minha maquiagem é a prova d’água, senão...
– Aquela música é linda porque foi inspirada no que eu vejo quando olho
para você. Quando te vi pela primeira vez lá na praia. Na garotinha de oito
anos assustada que eu conheci. No que sinto quando você me olha, me toca. O
clipe é mais um trabalho espetacular de Iris. E as fotos, eu me apropriei do seu
álbum por alguns dias e você quase me pegou quando eu estava devolvendo-o
ao lugar lá no closet.
– E as imagens minha e de papai no show...
– Foi sorte. Vasculhamos as filmagens do dia e achamos aquela tomada...
inclusive quando voltarmos tenho que te mostrar algo que você vai adorar
ver... uma das câmeras ficou ligada por um tempo depois que tudo terminou e
pegou o seu pai pulando a grade para roubar o pôster...
– Sério?
– Sim, a ida e a volta, você também aparece um pouco. Vovó já viu. –
Sorrio, imaginando.
– Nossa, quero muito ver isso. E obrigada também por terem se inscrito no
banco de medula. Foi lindo!
– Ah pequena, que hipocrisia a nossa se pedíssemos para o mundo se
voluntariar e nós não déssemos o exemplo, não?
– Isso não tira o mérito do gesto. Obrigada. Quando voltarmos quero dar
um jeito de agradecer a todos na Three Minds também.
– Tenho certeza que você vai pensar em algo bem criativo como
agradecimento... – diz revirando os olhos, ainda se referindo ao show para os
funcionários. Novas batidas à porta.
– Casal, tempo esgotado! – Oliver abre a porta e dá de cara com Max ali.
– Porra, não quero empatar a foda de ninguém, mas sejam mais rápidos da
próxima vez.
– Desculpe, Max – peço. Ele me olha e fica vermelho.
É, se eu tinha dúvidas que meus gritos foram ouvidos...
Colocamos os pés para fora do banheiro e a realidade das turnês dá um
soco bem dado na minha cara. Kellan está sentado num sofá mais afastado, sem
camisa, tem uma garota sentada em uma de suas coxas e outra ajoelhada a sua
frente passando a mão pela sua outra perna. Ele fuma um baseado e não há
como ignorar um fato muito explícito ali, ele está de pau duro.
Lian encontra-se encostado numa parede, cercado por outras quatro, tem um
copo de bebida em uma mão, um cigarro na outra, uma das garotas está com a
mão dentro da sua regata e ele beija o cangote de outra delas.
Outras três garotas estão numa roda perto da mesa, provavelmente as que
estavam em torno de Max antes de ele entrar no banheiro. Se eu não estivesse
ali, quantas estariam ao redor de Oliver? Elas percebem a nossa presença e
começam a cochichar. Provavelmente tentando decidir se devem ou não se
aproximarem do vocalista.
– Vou te levar para o outro camarim.
– Não Oliver, não me prive, por favor. Me deixe entender as coisas como
elas realmente são.
– Não é ambiente para você, foi uma má ideia te trazer aqui. – Seguro o
seu rosto e faço-o me ouvir.
– Eu sou a sua mulher. Esta realidade faz parte da sua vida. Me deixe ver,
me explique como isso... – Aponto em torno. – Funciona. – Ele suspira. – Por
favor.
– Tudo bem, vamos só pegar algo para comer e beber primeiro. – Nos
aproximamos da mesa, Oliver bebe outra garrafinha de água e vai petiscando
uma coisa aqui outra ali. Faço o mesmo. Depois ele se serve de whisky e eu
abro uma coca. Uma das garotas da rodinha tenta se aproximar de nós, ela
segura um caderninho e uma caneta.
– Não dou autógrafos. – Oliver diz antes mesmo que ela chegue.
– Mas... – Ela tenta dar mais um passo à frente. Ele apenas levanta a
cabeça e olha para um dos seguranças a postos dentro do camarim. O cara se
aproxima na hora.
– Senhoritas, o tempo de vocês aqui acabou. Queiram me acompanhar, por
gentileza. Há outras aguardando para entrar – diz o homem para as três moças.
– Mas, e elas...? – Uma das garotas aponta para a roda de Lian.
– Como eu disse, o tempo de vocês acabou. – É tudo que ele explica antes
de pôr as três para fora dali.
– Pombinhos, não vi que tinham liberado o chuveiro... – Lian sai do meio
das garotas que o cercavam. Ele se aproxima de nós e elas vêm atrás. Ele
apaga o cigarro no resto de bebida que sobrou em seu copo e o larga sobre a
mesa. Depois come um biscoito. Elas continuam atrás dele. Que patético.
– Oliver... – Uma tenta. Ele faz que não escuta e me põe em frente ao seu
corpo, me abraçando por trás.
– Bem, vou tomar um banho – anuncia Lian. – Fedelho, o banheiro está
liberado – avisa. Kellan só faz um positivo para ele e continua a fumar seu
baseado enquanto as duas fãs passam as mãos nele.
Lian caminha até um dos seguranças e cochicha algo no ouvido do homem.
O segurança assente e olha em direção às quatro garotas que estão largadas no
meio do salão, sem saber muito bem o que fazer com as mãos. Lian entra no
banheiro e o cara anda na direção das meninas. Ele leva três delas para fora
dali, deixando apenas a morena que Lian tinha o nariz enfiado no pescoço. A
morena solitária agora vaga pelo espaço.
– Vamos nos sentar naquele sofá – pede Oliver.
– Que horas têm que entrar na recepção com as dondocas? – Ele olha o
celular.
– Temos uns vinte minutos. – Cinco novas garotas entram no camarim.
Oliver chama um dos seguranças.
– Reforce que não devem se aproximar de mim. – O cara assente e vai dar
o recado.
Kellan cochicha algo no ouvido da garota que estava sentada em sua perna e
ela aparentemente concorda com o que ele diz. Ele então levanta e a leva para
dentro do banheiro.
– Vai me explicar?
– Ainda não entendeu?
– Talvez. Não sei. Entendi que Kellan vai transar com a garota no banheiro
sem se importar que Lian e Max estejam lá também.
– Muito bem, Chucky – debocha e beija minha bochecha. – O esquema é
simples. Sempre fica uma fila de garotas insistentes lá fora tentando acesso a
este espaço. Os seguranças que as mantém em linha, deixam algumas entrarem
por vez desde que tenhamos lhes dado permissão para isso. Antes de entrar,
elas têm que passar por uma revista, mostrar os documentos e assinar os
papéis, claro. Elas vêm, dão uma circulada, comem, bebem, se aproximam,
pedem autógrafos, flertam, os caras dão liberdades para as que lhes
interessam, dispensam outras. Quando achamos que já deu para algumas,
pedimos aos seguranças que as retirem. Conforme umas vão saindo, outras vão
entrando...
– E é neste desfile oportuno que escolhem as presas da noite.
– Exatamente. A morena que Lian pediu para manter, por exemplo. Ele não
a levou para o banheiro, nem para qualquer outro canto para dar uma
rapidinha, então provavelmente a levará para o seu quarto mais tarde. Se ela
tiver interesse o suficiente para esperar, terminará a noite na cama dele.
– E a que Kellan está comendo lá dentro será dispensada...
– A não ser que a foda seja tão boa a ponto de ele querer repetir, sim.
– Então se eu não estivesse aqui, você estaria dando liberdades a umas e
descartando outras...
– Não. O meu esquema é um pouco diferente... au... – Dou-lhe um
beliscão.
– Era, Oliver Rain. O seu esquema era...
Max saiu do banho e bebe sentado num outro sofá. Ele tem seis a sua volta.
Uma inclusive desliza a mão “despretensiosamente” para cima e para baixo na
sua braguilha.
– Certo. O meu esquema era diferente. Nunca dei autógrafos ou deixei que
se aproximassem para papo furado. Eu ficava aqui, observando, analisando
por pouco tempo. Se alguma, ou algumas, delas me chamassem a atenção, eu
pedia aos seguranças para checarem se a garota estava a fim de conhecer o
meu quarto mais tarde. Se a resposta fosse positiva ela ficava por aqui até a
hora que eu autorizasse os seguranças a levarem, a ou as escolhidas, para o
hotel. Eu logo saia, não ficava muito no camarim. – Olho-o bem séria.
– Eu vi o jeito que deixou aquele palco hoje Oliver. Você estava elétrico,
era pura adrenalina, excitadíssimo. Acha mesmo que eu vou acreditar que
você, na pilha, tinha todo esse autocontrole para transar só no fim da noite? –
Ele ri.
– Tudo bem. Grande parte da minha excitação de hoje tem a ver com você.
Mas é verdade que o placo nos deixa pilhados, então nos dias de grande
urgência eu resolvia no banheiro também. Ou levava alguém para um outro
espaço dentro do estádio. E depois caçava a que ia comer com mais calma,
digamos assim... Ou a fulana já ia comigo para o hotel logo de cara.
Recebemos muitos convites de esquemas com celebridades, e quando eu
aceitava, mal entrava aqui, partia direto para o hotel começar a noite.
– Como esses convites chegam até você? – Ele pega o telefone, procura
algo e entrega na minha mão.
– Assim. – Olho e não acredito no que leio.
– Puta-merda.
– Ficou interessada?
– De jeito nenhum ela vai pôr as garras vermelhas em você.
O convite é de um casal famoso, muito famoso. Os dois são do meio
cinematográfico. Mandaram uma foto onde estão nus e abraçados, um de frente
para o outro. Convidam a mim e a Oliver para um swing.
– Caramba, eles têm filhos... isso é nojento... – Ele não segura a
gargalhada.
– O que é nojento? Ter filhos ou transar com quem tem filhos? – Dou uma
tapinha nele.
– Não seu bobo, é nojento que se prestem a isso tendo uma família.
– Fetiches, baby. Estilo de vida. Se sentem-se bem e são felizes...
– Sim, que sejam.
Lian também voltou à ativa e está com a língua dentro da garganta da
morena. Nem sinal da que foi descartada por Kellan antes dele levar a outra
para o banheiro, certamente o segurança deu um jeito nela.
– Por que Riley te encaminhou essa mensagem?
– Riley como advogada e Max como agente e porta voz da The Order são
as portas de entrada para o contato conosco. E se você ler a mensagem dela
mais acima verá que só me mostrou porque eles vêm insistindo desde o
lançamento do clipe, e achou o cúmulo do desespero e da coragem mandarem
uma foto tão comprometedora como cartada final, visto o tamanho da fama que
têm. Ela sabe que não quero mais que me encaminhe esse tipo de convite. Que
pode descartar de cara.
– E eles viriam até Chicago só para brincar de troca de casais conosco?
– Na verdade, eles estavam em uma das mesas vip. Disfarçados, é claro.
– Então quer dizer que...
– Daqui a pouco vou encontrá-los e provavelmente vão tentar me
convencer pessoalmente.
– E você...
– E eu? Eu vou mandar esse cara se foder. Ninguém encosta na minha
mulher. Com ou sem filhos. – Não seguro o riso.
Max se levanta, o volume na frente da sua calça assusta e demonstra que ele
chegou no seu limite com aquele “carinho”. Pega a mão da “dona alisadeira” e
a leva para o abate. O mesmo local onde eu fui abatida e a loira de Kellan
ainda está sendo.
– Se ela engravidar, cem por cento de chance dos bebês serem ruivos, não
é? – brinco.
– Sinto muito pelo que está presenciando, anjo.
– A penetra aqui sou eu, Oliver.
– Senhor Rain, a organizadora está pedindo que sigam para a recepção –
diz o segurança.
– Tudo bem. Peça dez minutos. Vamos aguardar Kellan e Max. – O homem
sai e agora é a vez de Oliver dar batidas na porta do banheiro avisando aos
dois que eles têm dez minutos.
Acho que a “alisadeira” não conseguirá o seu final feliz.

– Olá primeira-dama, que cara é essa? Nem parece que fez uma estreia
triunfal no mundo do rock.
– Eles acabaram de entrar na jaula das lobas.
– Hummm, sente-se aqui ao meu lado que te consolo. Entendo o
sentimento. – Sento-me e encosto a cabeça no ombro de Hazel.
– Parabéns Bia, você foi incrível.
– Obrigada Henry. Eles são demais em cima de um palco. Impossível não
brilhar cercada por tanto talento.
– Verdade. Nasceram para aquilo. O show foi contagiante.
– Cadê Laura e Edgar?
– Voltaram para o hotel faz uma meia hora – responde Iris.
– Sua namorada também merece muitos parabéns, Henry. Parte do sucesso
do hoje é mérito dela. Assim como metade das minhas lágrimas.
– Sim, uma parte dos parabéns eu já entreguei. A outra será entregue mais
tarde, no quarto. – Henry abraça e morde a orelha de Iris, que fica com as
bochechas rosadas.
– Só eu não terei quem invada minha arena esta noite – choraminga Hazel.
– Neste caso, aposto que o problema está no controle e seleção, porque
não acredito que falte matéria-prima disponível e interessada.
– Disponível não, Henry, mas qualificada...
– Viu? O que eu disse? Controle e seleção.
– Não tem graça conversar com um psicólogo, sabia? – Ele ri.
– Por falar nisso, Sr. psicólogo, eu lhe conto os meus medos mais
profundos e o Sr. encoraja o meu, na época, namorado a colocá-los em check?
Devo repensar minha escolha de terapeuta? – Ele ri mais.
– É tão complexo Bia, se você soubesse... quando concordei em tratá-los
eu fui bem aberto com vocês. Seria o mais imparcial e reservado possível,
porém quando caíssemos num assunto que envolvesse ambos, não teria como
fingir que não conheço os dois lados da moeda. E esse era um assunto que
envolvia os dois. Dois medos e duas necessidades diferentes. A questão foi
que colocando na balança os motivos de Oliver querer colocar um anel no seu
dedo e os seus motivos para fugir dele, eu cheguei à conclusão de que o melhor
era ele arriscar. Ele precisava muito daquilo e no meu entendimento você
estava pronta para dizer sim a um noivado.
– Sim, mas a intenção dele era casar em dez dias, no máximo dois meses...
– Henry gargalha.
– Essa parte ele não me contou.
– Que alívio saber...
– Mas, mesmo que tivesse contado, não teria mudado meu apoio. Como
acabou acontecendo, você o colocou no lugar dele, não?
– Mais ou menos. Queria um ano de noivado, fechamos em seis meses.
– A boa e velha negociação. Perfeito.
– Sabe o que isso significa, não é? Você terá apenas quatro meses depois
da turnê para me fazer parar de tremer de medo de perdê-lo cada vez que eu
penso em assinar Beatriz Rain.
– Estamos trabalhando nisso. E, de qualquer forma, todo contrato pode ser
renegociado. Se depois desses meses você ainda não estiver convencida de
que tornar-se oficialmente a família de Oliver não vai fazê-lo adoecer ou que
caso ele adoeça não terá nada a ver com o seu novo sobrenome, peça-lhe mais
tempo.
– É o jeito.
– A imprensa é rápida mesmo. – Iris diz ao olhar seu telefone.
– O que foi? – pergunto.
– Olhe o seu celular. Encaminhando no nosso grupo... – Compartilho a tela
do aparelho para que Hazel possa ver comigo.

Another Life, nova turnê da The Order, sacode arena em


Chicago

Another Life é uma declaração de amor de Oliver Rain

Oliver Rain anuncia noivado com Bia Thompson em primeiro show da


nova turnê

Turnê beneficente da The Order emociona e agrada aos fãs

Humanidade, amor e muito, muito rock’n’roll é o que os fãs podem


esperar de Another Life

Turnê em favor da luta contra o câncer faz Oliver Rain interagir com o
público

Deus do Rock e um dos homens mais desejados do mundo, Oliver


Rain, é finalmente fisgado

Bia Thompson canta ao vivo com o noivo, Oliver Rain, em turnê da


The Order

Oliver Rain e Bia Thompson protagonizam beijo de tirar o fôlego


sobre o palco da arena em Chicago

Guardian Angel, nova música da The Order, terá lucros revertidos


para tratamentos contra o câncer

Para tristeza das fãs, Oliver Rain sobe ao palco de aliança no


dedo

– Caramba Iris, como isso tudo já chegou até você?


– Um aplicativo que eu baixei. Você cadastra palavras-chave e ele busca
notícias relacionadas. Acionei logo depois do show, agora entrei só por
curiosidade e já trouxe todos estes links. E só faz uma hora e meia que
terminou...
– Vocês foram um sucesso! – diz Hazel.
– Daria tudo para ser uma mosquinha e espiar dentro do salão da recepção
– comento, mudando de assunto.
– A necessidade de espionar é preocupante. Um desvio de caráter –
provoca Henry.
– Falou um dos caras que stalkeou nossa noite na boate – revido.
– Touché!
– Eu já prefiro não ver e não saber – larga Hazel sem se dar conta de que
Iris e Henry estão ali. Iris sabe que Hazel tem um amor não correspondido,
mas não sabe que é Max.
– Por que, Hazel?
– Tenho ciúmes deles, Iris. De todos. Cresci sendo mimada por aqueles
barbados, me ferve o sangue saber que tem um monte de sanguessugas tentando
enfiar as presas neles. – Ela se sai bem. Já deve ter usado a mesma desculpa
antes.
– Sei... pela nossa amizade, vou fingir que acredito – diz a ruiva
descrente... oh, oh...
– E eu vou fingir que não ouvi nada, pode ficar tranquila. – Henry sempre
ligado no lance.
– Acho que eu preciso de uma bebida. – Hazel anuncia e se encaminha
para o bar improvisado do camarim.
– Eu também. – Preciso mesmo.
Uma hora depois, Hazel e eu estamos largadas no sofá rindo de tudo e
qualquer coisa.
– Chega de bebida, meninas. – Iris tenta.
– Não, não... seu homem está aí... lindo, cheiroso... os nossos estão
looongiiii... sendo assediados... podemus beber...
– É Írix, podemos beber. Assediaduz, muito assediaduz... – Rio com Hazel
e viramos mais um copo de espumante cada uma. Espumante, definitivamente,
é a minha bebida.
Nunca tomei um porre, tô levinha... molinha... dizem que para tudo tem uma
primeira vez. Tento encher nossos copos outra vez, mas boa parte do líquido
cai em cima da gente, provocando mais uma sessão de gargalhadas.
– Amiga, voxê está goxtosa! – digo lambendo a champagne que caiu no
decote de Hazel.
– Voxê também. – Ela diz fazendo o mesmo no meu braço. – Rimos.
– Pelo amor... – Escuto Iris. Henry não aguenta e cai na gargalhada.
– Pena que eu goxto muito de pauuu, senão te pegava, princezzaaa.
– E eu que neim xei ainda se eu goxtoooo de pau... quer dizer, eu xei que
goxto, mas não xei, entendeu?
– Não. – Mais gargalhadas. Alguém abre a porta.
– Oliverrrrr, – levanto os dois braços – voxê voltou.
– Extrela, cadê o meu ruivoooo?
– Puta merda, Henry! Você deixou que ficassem bêbadas?
– Rá! Pergunte a Iris se pudemos fazer alguma coisa. Era isso ou as duas
iam invadir a recepção.
– Hazzel, por que não invadimux?
– É, por quê? – Pensa Hazel.
– Amooorrr, alguéim beijou sua boca?
– Max! Preciso de ajuda aqui... – grita Oliver em direção ao corredor.
– Respondiii babyyyy... – Tento levantar para ir até ele, mas bato na
mesinha e derrubo as garrafas vazias no chão. Oliver vem rápido e me ampara.
– Não Beatriz, ninguém me beijou.
– Jura? Jura pelus nossus filhus? – Ele ri.
– Não temos filhos, baby.
– Eu xeeeiiii... É pelux que vamus ter...
– Sim, eu juro pelos filhos que vamos ter que ninguém me beijou ou fez
qualquer outra coisa comigo além de tocar no meu braço ou me abraçar para
tirar uma foto. – Max aparece na porta.
– Ruiiivoooo!
– Merda! Botava mais fé em você Henry.
– Isso aí! Culpem o psicólogo – fala Henry bem humorado.
– E voxê ruivo, te tocaram em lugaris impróprius?
– Que merda de pergunta é essa Hazel? Você não prometeu no avião que
não iria mais se passar na bebida?
– Fala... voxê pegou algumas das ricaças lá dentro?
– Chega, princesa.
– Pegou né? – Oliver me solta e anda até as araras de roupas do camarim.
Pega os casacos de frio, entrega um a Max, que o veste em Hazel, depois
coloca o meu.
– Vem baby, segura o meu pescoço, carrego você. Iris e Henry, podem
pegar as bolsas delas?
– Pegamos sim.
Oliver me segura na garupa, e começa a me carregar para fora do camarim.
– Uhuuu cavalinho... – grito.
– Segura meu pescoço também Hazel. – Max pega-a no colo como um
noivo carregando uma noiva.
– Hei, eu queria montar voxê... – Mesmo bêbada eu quase engasgo com
aquela declaração... se ele soubesse a verdade por trás das palavras... – A
gente podia ir dançaaaarrr... – grita Hazel no corredor. Henry, Iris e cinco
seguranças seguem conosco para a saída.
– Vamos para o hotel e a senhorita vai tomar um café bem forte e cama.
– Ah ruivoooo... Quem xão essas duas?
– O que a “alisadeira” faz aqui? – pergunto apontando para a ruiva que
estava com Max no camarim e que espera junto a uma loira na saída.
– Bia! Comporte-se!
– Ela vai atrax do final feliz, né?
– Bia!
– Quem é “alisadeira”?
– Alguém que goxta de alisarrr, Hazel.
– Deus! Elas estão impossíveis... – diz Max.
– Vocês não viram nada – fala Henry.
– Como voxê sabe que ela goxta de alisar, Biaaa?
– Ah ela goxta... se goxta...
– Carl, leve as duas moças para o hotel em outro carro. Deixe-as esperar
em meu quarto. Eu vou acompanhar a senhorita Wells. – Max pede a um
segurança.
– Ok, senhor Connor.
– Ela vai alisar voxê, ruivoooo? Eu não quero que ela alise voxê...
– Ninguém vai alisar ninguém, Hazel.
– Vai xim... não menti pra mim... o que voxê tem contra o número um,
ruivoo?
– Não entendi, princesa.
– O número um... por que com voxê é sempre duas, trêx? duas bocas, duas
boxetas, quatro peitos...
– Não esse carro não, vamus de limusini, Oliverrr
– Eu também quero, ruivoo.
– Quer que traga a limusine, senhor Rain?
– Pode trazer Barry, vamos os seis nela então.
– Ok.
– Quanto elas beberam, Iris?
– Umas seis garrafas de espumante em uma hora.
– Por que não tiraram as garrafas de perto?
– Tiramos, Oliver, quando abriram a terceira. Escondemos tudo que tinha.
Bia foi no outro camarim e buscou mais quatro.
– Sentaram-se em cima das garrafas para que não conseguíssemos retirar.
– Henry completa.
– Irix e Henry, voxes são dedos-duros. – Por que as palavras saem erradas
da minha boca quando estão certas na minha cabeça?
– Desça e entre no carro, amor. – Meio tonta, eu entro e me sento ao lado
de Hazel. Oliver senta-se ao meu lado e Iris e Henry à nossa frente. O
motorista inicia a viagem. Tudo roda.
– Rexpondi ruivo, por que duas boxetas?
– Uma só não dá conta de mim, Hazel.
– Pooorraaa!
– Você que perguntou. E de forma bem chula, aliás.
– Voxê me deixou com tesão... voxê sempre me deixa com tesão...
– O quê? – Max fica vermelho e pergunta furioso. – O que é isso? –
Merda. Acho que a bebedeira até passou um pouco agora.
– Ah?
– O que você disse, Hazel?
– O que eu dixe? Não xei... o que foi Biaaa?
– Ela está bêbada, Max. Nem sabe o que diz. Antes de você chegar Bia me
fez jurar por filhos que não temos. – Oliver alivia.
– E antes de vocês chegarem elas estavam lambendo champagne uma na
outra – denuncia Iris.
– Eu extou bêbada, Biaaa?
– Tá, muito bêbada, amigaaa... e voxê falou tesão! – Espero que ela se
ajude.
– Eu falei? Tesão! Ahhh Eric... por que o Eric não está aqui Biaaa? – Ufa.
– Por que voxê não convidou, lembra?
– É mesmo... não convidei.
Uns bons minutos passam sem falarmos nada.
– Santo silêncio! – diz Max e os outros, não bêbados, respondem amém.

– Tem certeza, Oliver? Posso levá-la para o quarto e cuidar dela lá.
– Vá aproveitar a sua noite, Max. Hazel dorme aqui com Bia, eu cuido das
duas. – Hazel e eu estamos deitadas na cama do nosso quarto.
– Não ruivoo, não vai... eu quero voxê...
– Acho melhor...
– Vá Max! Anda, some daqui. Tem duas gostosas te esperando no seu
quarto.
– Duas Biaaa, duas goxtosas... por quê?
– Oliverrrr, voxê acha elas goxtosas?
– Viu? Tudo que dissermos será usado contra nós. Elas estão fora. Vou
enfiá-las debaixo do chuveiro, dar um café e vão apagar. Vá trepar. Pelo menos
um de nós dois vai... – Oliver começa a empurrar Max em direção a porta da
nossa suíte.
– Tchau Max, Hazel ficará bem. – A porta fecha. – Oliver entra no
banheiro e abre o chuveiro. Depois retira os nossos calçados.
– Muito bem madames, quem será a primeira?
– Ela – dizemos ao mesmo tempo.
– Vem Bia.
– Ei... – Oliver me pega e me enfia debaixo da água.
– Encosta na parede para não cair, vou buscar Hazel.
– Por que voxê mandou ele para elas, extrela?
– Hora do banho, princesa. – Volta com Hazel e faz o mesmo.
– Encosta na parede Hazel, ou sente-se no chão. Fiquem aí enquanto vou
pedir um café.
Ficamos ali, sentindo a água bater no nosso rosto e devolver um pouco do
equilíbrio. Hazel senta-se no chão e começa a chorar. Sento-me também e a
abraço. Não dizemos nada, não é preciso. Oliver volta minutos depois com
mudas de roupa nas mãos. Olha a cena e suspira.
– Vem amor, vou ajudá-la a tirar essas roupas e se secar.
Ele pega uma toalha e depois me puxa de dentro do box. Hazel deixa a
cabeça pender para trás, apoiando-a na parede. Oliver tira minha camiseta
molhada, depois a calça, depois o sutiã. Enrola a toalha no meu corpo, então
passa as mãos por baixo dela e retira minha calcinha. Pega outra toalha e seca
os meus cabelos.
– Sente-se aqui. – Me põe sentada na borda da banheira. – Vou buscar o
café, fique aí. Volta pouco depois e coloca uma xícara de café preto nas minhas
mãos.
– Beba. – Dou um gole, mas nossa... muito forte e muito doce... faço uma
careta.
– Não quero.
– Beba um pouco, vamos.
– Vou vomitar.
– Ótimo se vomitar, o porre passa mais rápido. Você precisa ajudar Hazel
a se secar e se trocar, então faça um esforço e tome o café. – A cada gole, meu
estômago embrulha um pouco mais, até que não aguento e vomito dentro da
banheira. Oliver segura meus cabelos.
– Tudo bem?
– Sim. – Levanto-me e vou até a pia me lavar, ele continua a segurar os
meus cabelos. Lavo o rosto, escovo os dentes.
– Aqui. – Me entrega uma garrafinha de água mineral. Bebo uns bons
goles.
– Consegue terminar de se secar e colocar sua roupa enquanto jogo água
na banheira?
– Consigo sim. – Desenrolo a toalha, passo-a pelo meu corpo, pego uma
das calcinhas e camisetas da The Order que ele trouxe e visto.
– Beba mais uns goles de café, anjo. Vai ajudar na ressaca de amanhã. –
Faço o que ele pede, mas não consigo beber muito.
– Vou sair do banheiro, está bem o suficiente para ajudá-la a se vestir? –
Aponta para Hazel largada no chão do box.
– Sim, pode deixar.
– Ok. – Ele me dá um beijo, depois fecha o chuveiro, ajuda Hazel a
levantar e a põe sentada na ponta da banheira. – Vou ficar do outro lado da
porta, qualquer coisa me chama.
Oliver sai e eu começo a ajudar Hazel a livrar-se das roupas molhadas.
Então a seco, depois ajudo-a a entrar nas roupas secas. Ela está muito
sonolenta.
– Tudo bem aí? – Oliver pergunta através da porta.
– Sim, pode entrar, ela já está vestida.
– Aqui. Faça-a beber o café. – Não foi tarefa fácil, mas ela dá alguns goles
e diferente de mim, não vomita.
Depois do café, Oliver a faz beber um pouco de água. Então a pega no colo
e a coloca na nossa cama, sob as cobertas. Ela vira para o lado e parece pegar
no sono na hora.
– Vem baby, deite-se. – Ele ergue a outra ponta da coberta para que eu
entre.
– E você?
– Vou dormir no sofá.
– Quero deitar lá com você.
– Não. Você dorme aqui. Além de ser muito estreito para dois, sei o que
vai querer fazer e não vou transar com você neste estado.
– Eu estou bem, não precisamos transar, só quero ficar com você.
– Hoje não. Deite-se e durma, vamos. – Contrariada, deito-me na cama.
Ele arruma as cobertas sobre mim, abaixa e me dá um selinho. Seguro seu
pescoço e aprofundo o beijo. Ele geme.
– Você me quer – afirmo.
– Eu sempre te quero. Agora durma. Amo você. – Se livra dos meus
braços e se afasta.
– Oliver...
– Durma, baby. Você não está bem e logo vai amanhecer, descanse um
pouco, eu preciso fazer o mesmo. – Sai do quarto.
Me bate uma puta angústia de ficar sem ele na cama.
Durmo com aquela sensação de vazio no peito.
Mal sabia eu que a tal sensação, em escala astronômica, se tornaria minha
única companhia.
Muito em breve.
Capítulo 29

“Mas não, não vá agora


Quero honras e promessas
Lembranças e histórias
Somos pássaro novo longe do ninho”
(Eu Sei – Legião Urbana)

Oliver

alemães.
A njo, levante-se daí, Riley vai ligar em poucos minutos,
sente-se aqui comigo.
– Ainda não me recuperei dos meus primeiros orgasmos

– Acabei com você, foi?


– Impressão sua. Gozar três vezes seguidas não me fez nem cócegas.
– Me provoque que te pego de novo num instante. Ainda mais se continuar
pelada...
– Opa... já estou me vestindo... – Sai aos risos em direção ao banheiro.
Quando volta e se aproxima de mim no sofá, linda, dengosa e sonolenta,
puxo-a para o meu colo. Estar nesta turnê com ela tem sido maravilhoso.
Nunca me senti tão bem, tão empolgado e à vontade com os shows. Não tinha
noção do quanto sentir-se intimamente feliz impacta em todos os aspectos da
sua vida.
– Adoro te ver usando as minhas camisetas.
– Humm, não perco a oportunidade de sentir o seu cheiro. – Nos beijamos,
mas o beijo é interrompido pelo som do meu tablet acusando uma chamada de
vídeo. Atendo.
– Oi Riley.
– Oliver, Bia, como estão?
– Estamos bem, Riley e você? E o bebê? – Bia pergunta.
– Estamos ótimos! Entrando no quinto mês de gestação, a barriga
começando a ficar aparente.
– Você já sente mexer?
– Ainda não. Estou ansiosa por isso.
– E o sexo, já sabe?
– Sei sim. – Riley abre um baita sorriso. – É um menino.
– Parabéns, Riley! Com os pais lindos que tem, vai arrasar corações...
– Obrigada. Estamos muito felizes.
– Parabéns Riley, e repasse nossas felicitações ao Peter.
– Passo sim, Oliver, obrigada. Bom, queridos, me deixem ser rápida, pois
sei que aí já são quase vinte e duas horas e vocês chegaram há pouco no hotel
em Berlin, certo?
– Sim, chegamos faz umas duas horas.
– Primeiro, parabéns pela turnê. Ela é um sucesso estrondoso. Só elogios,
tanto da crítica, quanto do público. Os dois shows de Chicago e os dois de
Nova York foram um sucesso. Tenho certeza de que na Alemanha não será
diferente. Conversei com William e disse que a arrecadação ultrapassou todas
as expectativas.
– Sim, a repercussão é enorme, por ser beneficente, pelo clipe de Eden,
por Guardian Angel. Nenhum de nós esperava por tanto.
– Falando em Eden, aí vai a primeira notícia. Apesar de em cima da hora,
Eden foi indicada ao Grammy em duas categorias, como melhor música pop-
rock e como melhor videoclipe. Por ter sido lançada ano passado, entrou.
– Que máximo! Temos que avisar Iris. – Bia comemora.
– Obstinate, entrou como melhor música hard-rock. E Don’t Touch
Otherwise como melhor álbum de rock. – Bia solta um gritinho de felicidade,
me abraça e me parabeniza. – A cerimônia será um dia antes do show em Los
Angeles. A organização do evento pede que a The Order confirme presença até
semana que vem.
– Vou falar com os outros e respondo antes deste prazo, Riley, obrigado.
– Segunda notícia, a Tiffany & Co. terminou de editar o ensaio fotográfico
que vocês dois fizeram final de dezembro e mandou as fotos selecionadas para
a campanha. Eu particularmente achei lindas. Na sequência encaminho por
mensagem para vocês, se derem o ok fazem o pagamento e a campanha passará
a veicular final de março.
– A conta para receber o dinheiro foi aberta? – Bia pergunta.
– Sim, está em seu nome e de Laura, como pediu.
– Ótimo, obrigada.
– A negociação do cachê com Clive Christian, mediante participação de
Oliver, consegui fechar em doze milhões. – Bia arregala os olhos. – Belo
acréscimo à sua causa, não Bia?
– Porra, sim. Você é a melhor!
– Eles querem marcar a filmagem da campanha para início de abril, posso
dar o ok? – Nos olhamos e concordamos.
– Pode sim, Riley.
– Bom, último ponto, estou recebendo uma enxurrada de propostas de
agenciamento para você, Beatriz. Nem consigo mais contar.
– Negue todas. – Ela nem se abala. Boa garota!
– Sim, mas a questão é que não vão parar enquanto você não assinar com
alguém. Queria a permissão de vocês para divulgar que assinou com a Three
Minds.
– Permissão concedida – respondo.
– Ótimo. Fora isso, um ótimo show em Berlin daqui a dois dias.
– Obrigado Riley. Até mais.
– Valeu Riley, boa noite. Quer dizer... aí ainda é dia, então bom dia.
– Obrigada. Até a próxima. – Desligo a videochamada.
– Pronto minha linda noiva. Sou todo seu. O que quer fazer? – Mal termino
a pergunta nossos telefones vibram.

Consegui fechar um espaço numa


boate super badalada de Berlin. Quem está
a fim de ir??

Peter sabe?

Sim, ele e Riley intermediaram. Está


neste momento orientando o chefe de
segurança que nos acompanha por
videochamada
Eu vou, maninho

Que dúvida!

Tô dentro. Noite muito fria para


passar sozinho

Se ninguém fosse
você iria sozinho? Só
para entender...

Alguns amigos da California


vieram para ver o show de Berlin

– Vamos baby, dormimos tanto no avião. Não estou com sono.


– Sim, valeu a pena trocar os colchões das cabines – provoco, ela me
mostra a língua.

Tales é um desses amigos?

– Oliver, por favor... vai deixar de ir por causa de Tales?


– Claro que não. Só quero saber se o pirralho vai estar lá. E se terei que
aturá-lo nos camarins.

É sim. Pare de implicar com o cara, Oliver

Nós vamos Kellan. Vou avisar Iris

Nada como falar com a metade que manda


no relacionamento
Já que o esquema está armado, Vamos nessa,
mas...
O hotel está cercado por fãs. Esperem eu conversar
com o John, precisamos organizar bem nossa saída.
Só desçam depois que eu passar instruções

Sinto um calor. Um calor forte e localizado no meu bíceps esquerdo.


Acordo suado, confuso. Olho para o lado e vejo a fonte do calor com o rosto
apoiado no meu braço. Toco nela e percebo que está toda quente. Muito
quente. Bia está ardendo em febre. Não entre em pânico, digo a mim mesmo.
Ela precisa de ajuda, não é hora de você surtar.
– Bia, amor, acorda. – Ela geme, mas não abre os olhos. Seus lábios
estão secos, pálidos.
Olho as horas. Quatro e trinta da manhã. Noite retrasada foi o segundo show
de Hamburgo e hoje, mais tarde, voaremos para Munique. O dia de ontem foi
de descanso. Chegamos no hotel passava das cinco da madrugada e
praticamente dormimos o dia todo.
Achei que Bia estava mais indisposta e sonolenta que o normal, mas
associei ao desgaste com a turnê. Passo as mãos pelos cabelos, a ideia de que
ela esteja doente me apavora. Vovó que me desculpe a hora, mas preciso dela.
Pego o celular e ligo.
– Oliver, filho, o que houve?
– Vó, desculpe acordá-la assim, mas Bia está queimando em febre. Eu... eu
não sei o que fazer...
– Dê água a ela. Chego aí em alguns minutos.
– Obrigado. – Ligo para a receptação do hotel trazer um termômetro,
depois pego uma garrafinha de água do frigobar.
– Bia, acorde baby, você precisa beber água.
– Humm.
– Vamos amor, acorde...
– Oliver... – Sento-me com as costas apoiadas na cabeceira da cama e a
ergo, encostando sua cabeça em meu peito.
– Abra os olhos, pequena, vamos...
– O que...
– Você está com febre. Precisa beber água.
– Febre?
– Sim, aqui, tome. – Ela bebe um pouco. – Mais, por favor Bia.
– Deus, estou quente mesmo.
– Sim, pedi um termômetro, já devem estar trazendo. O que está sentindo?
– Moleza e um pouco de dor no peito.
– Ontem você já não se sentia bem, não é?
– Na verdade, eu comecei a me sentir cansada além do normal antes do
primeiro show aqui em Hamburgo.
– E por que não disse nada?
– Não quis preocupá-lo, primeiro achei que era só cansaço em função da
turnê, por eu não estar acostumada... e ontem...
– Ontem?
– Ontem, como tive tempo de pensar, visto que não saímos do quarto,
comecei a imaginar...
– Fale.
– Imaginar que poderia ser o que minha mãe teve, Oliver. E daí mesmo que
não quis falar... ela começou assim, cansaço, febre, manchas no corpo.
– Não diga bobagem. – Um arrepio me transpassa, engulo em seco porque
não posso nem cogitar a possibilidade. – Você fez todos os exames, está
saudável. Isto é outra coisa, uma gripe forte provavelmente.
– Pode ser. – A campainha toca. Encosto Bia contra a cabeceira da cama e
vou abrir.
– Oi vó, Edgar, entrem. Desculpem acordá-los assim, no susto...
– Deixe de besteira. Ficaria chateada se não me chamasse. Peguei o
termômetro, o rapaz chegou à sua porta junto conosco. Vou medir a temperatura
dela. – Sigo vovó até o quarto.
– Laura, Oliver foi incomodar vocês...
– Não é incômodo algum. Deixe-me encostar isto na sua testa. – Quase que
instantaneamente o termômetro apita. – Hum, trinta e nove ponto três. É bem
alta. Você precisa tomar um banho morno Bia, vamos tentar baixar a febre.
– Tudo bem. Só... me sinto bem cansada, sem forças...
– Eu carrego você. Edgar, será que você poderia ligar para John e pedir a
ele que providencie um médico para vir examiná-la? – Vovó entra no banheiro
e coloca a banheira para encher.
– Claro. – Edgar pega o celular e se dirige a antessala para fazer a
ligação.
– Não precisa, Oliver. – Vejo o pavor estampado em seu rosto só por eu
mencionar a palavra médico. Mas infelizmente não tenho como livrá-la
dessa.
– Evidente que precisa, Beatriz. Você sente cansaço há três dias pelo
menos e agora está com febre alta.
– Três dias? – pergunta vovó.
– Pois é vó, a mocinha aí se sente mal desde o nosso terceiro dia em
Hamburgo e não disse nada.
– Achei que não fosse nada.
– Pode trazê-la para a banheira.
– Segure meu pescoço, amor. – Levo-a até o banheiro, retiro sua
camiseta e a coloco na banheira. Bia bate os queixos de frio.
– Vó, fique com ela, vou ver se Edgar conseguiu um médico.
– Fico sim. – Beijo a cabeça de Bia e vou até Edgar na sala.
– Ela está com febre acima de trinta e nove e sentindo cansaço. – Ouço-o
dizer a alguém no telefone. – Isso... um momento.... Oliver, a febre começou
hoje?
– Sim, mas o cansaço há três dias.
– Febre só teve hoje, mas vem sentindo-se cansada há três dias... certo,
entendo... mais um instante por favor... Oliver, estou com o médico ao
telefone, ele disse que poderia vir até o hotel, mas o quadro de cansaço
sugere algo pulmonar e neste caso terá que solicitar uma radiografia. Então
acha melhor irmos a uma clínica com pronto atendimento, assim Bia já faz
os exames necessários. Ele nos esperaria lá.
– Tudo bem. Vou organizar nossa saída com John.
– A levaremos à clínica Dr. Klein, pode encaminhar o endereço?.... –
Enquanto Edgar termina como médico, ligo para John.
– John, preciso levar Bia a uma clínica, Edgar vai passar o endereço a
você... eu, Bia, vovó e Edgar... você acha?... mas não são nem cinco da
manhã... – Me encaminho à janela e afasto a cortina. – Caraca, John, esse
povo não dorme?... tudo bem, colocaremos os disfarces e vamos de táxi,
peça três táxis, quero um segurança no carro comigo e Bia, outro com vovó
e Edgar e no terceiro carro dois homens... me avise quando pudermos
descer... obrigado.
– Muita gente em torno do hotel?
– Lotado. Não entendo...
– Vocês são amados, filho.
– Mas todos sabem que não fazemos aparições, não damos autógrafos,
não paramos para conversar com fãs... o que os leva a ficarem dia e noite à
espera de algo que não vai acontecer?
– Esperança de que aconteça, quem sabe? Uma forma de dizerem que
gostam, apoiam e assinam embaixo deste movimento todo que criaram com
esta turnê? Maluquice? Cada um lá fora deve ter a sua própria motivação.
– É, pode ser. Vou ver se Bia já terminou o banho.
– Vou passar o endereço a John. Pedi um café da manhã leve. Acho
importante Beatriz comer algo antes de irmos.
– Bem lembrado. Obrigado. – Dou uns passos e então me viro para ele
novamente.
– Ah Edgar, vocês podem nos acompanhar à clínica, não é? Eu poderia
ir sozinho com Bia, mas tenho medo... – fecho os olhos – você sabe,
dependendo da notícia não sei como meu corpo vai reagir...
– Iríamos mesmo que você proibisse, Oliver. Não se preocupe com isto.
Vou mandar uma mensagem a Max também, avisando sobre o ocorrido. –
Assinto e saio.

– Como deduzi pela ausculta, uma pneumonia bacteriana em estágio


intermediário – fala o Dr. Klein ao analisar os exames de sangue e
radiografias de Bia.
– Mas se já está avançado assim porque não tive febre antes?
– A pneumonia é uma doença traiçoeira. Nem sempre causa febre antes
de se agravar e as vezes a própria falta de ar só é sentida quando já há
comprometimento pulmonar.
– Ela precisa ser hospitalizada? – pergunto.
– Neste estágio ainda é possível tratar em casa, com antibióticos
potentes, nebulização e outros medicamentos complementares. Porém vocês
têm que me garantir que seguirão à risca o tratamento. Um tanto mais grave
do que está e teríamos que interná-la. – Bia tem um calafrio com as palavras
do médico.
– Faremos tudo corretamente.
– Você terá bastante tosse nos próximos dias, o que causará desconforto,
mas é necessário e um bom sinal. Iniciando o antibiótico a febre tem que
cessar completamente em até dois dias. Se após este período ainda tiver
febre, deve voltar ao hospital imediatamente.
– Temos uma viagem para Munique hoje à noite. Estou proibida de
viajar?
– Se puderem esperar as quarenta e oito horas sem viajar, melhor. Se não
houver meios, faço contato com um médico de lá e o coloco a par da
situação.
– Podemos adiar a ida a Munique por dois dias, sem problemas. O
primeiro show está marcado para sexta, hoje é segunda, chegando lá na
quinta de manhã é suficiente – digo.
– Ótimo. Aqui estão as receitas. Fora os medicamentos, ingerir muito
líquido e se alimentar devidamente. E surgindo qualquer novo sintoma ou
piora, me liguem.
– Dr. Klein, poderei cantar na sexta-feira?
– Se você estiver sem febre, se sentindo apta e as crises de tosse não
forem mais um problema, não há contraindicação. Só não pode parar o
tratamento em hipótese nenhuma.
– Ela não vai parar.
– É contagioso? Oliver pode...
– Não, muito difícil, quanto a isto não precisa se preocupar.
– Obrigada doutor.
Saímos da sala do médico e abraço Bia. Ela está doente, é sério, mas nada
perto do que nossas mentes traiçoeiras insistiam em sussurrar.
– Mais tranquila? – Ela me abraça forte pela cintura.
– Sim, muito. Mas como fui desenvolver essa bactéria?
– Você ouviu o doutor, uma gripe que se agravou, bactéria que já estava no
seu organismo e se alojou no pulmão por uma queda na imunidade. Não há
como determinar exatamente. Mas vamos tratar e você ficará novinha em folha.
– Encosto nossos lábios. – Para o hotel?
– Sim, preciso dormir... me sinto tão mole...
– Pode ser a febre voltando a subir. Vamos resgatar vovó e Edgar na
recepção, depois um dos seguranças compra os medicamentos e entrega no
quarto.
Resolvemos arriscar a volta ao hotel nos carros alugados para a turnê. John
mandou um por vez em intervalos espaçados, para não chamar atenção dos fãs
em vigília. Bia cochila com a cabeça em meu ombro. Mensagens começam a
chegar nos nossos fones.

Oliver, acabei de ver a


mensagem de Edgar... Como
estão as coisas aí?

Estamos no carro, voltando ao


hotel. É pneumonia. Agora iniciar o
tratamento que o médico passou

Que merda!

Oliver está com


pneumonia?

Bia. Foram ao hospital

Como ela está?

Cansada, sonolenta, com febre.


Vai tomar os remédios e descansar

Se quiser que eu vá
ficar com ela em algum
momento avise

Porra, velho. Precisam


de alguma coisa?

Obrigado aos dois. No momento


preciso que cuidem do adiamento da
viagem à Munique. Temos que ficar
mais dois dias aqui

Viajamos quarta à noite então?


Sim

Cuido disto. Fique tranquilo

Vou cuidar das reservas dos hotéis, aqui e lá

E eu conversar com a equipe de


segurança, por conta dos aluguéis dos carros

Penso que poderíamos mandar Iris para


Munique com o resto da equipe, em voo comercial. E
deixá-la no comando até chegarmos. O que acham

Boa ideia

De acordo!?

Mal dobramos a esquina da rua que dá acesso à entrada de serviço do hotel


e uma multidão de fãs invade a rua e começam a cercar o carro.
– Que Merda! Não vimos que estava assim? – pergunto ao motorista que é
obrigado a diminuir a velocidade para não atropelar as pessoas.
– Vou ligar para John.
– O que foi Malcon?
– John, entramos pela rua lateral e estamos cercados. Por que não fomos
avisados? – pergunto antes que Malcon consiga abrir a boca.
– Porque acabaram de ir para esta rua, viram o carro com Laura e Edgar
entrar minutos atrás. Agora que tomei conhecimento. – Pessoas batem nas
janelas dos carros, e colam suas testas tentando identificar quem está dentro do
veículo.
– Estamos parados e a multidão se aglutina sobre o carro, senhor.
– Homens chegarão em minutos para organizar e socorrer vocês.
Mantenham os vidros fechados. – Ajeito a cabeça de Bia no meu colo e vejo
que ela está muito quente outra vez.
– Porra, Bia está ardendo em febre... isso não poderia ter acontecido
hoje... – Avalio o cenário e é muita gente. Até os homens chegarem, e fazer
com que todos se afastem de modo que seja seguro, vai demorar... penso nas
minhas opções e resolvo arriscar.
– Larry, – me dirijo ao segurança que vai no banco do carona – tem papel
e caneta aí?
– Tem sim. – Ele me entrega um bloco e uma caneta.

Oliver Rain está no carro e precisa acessar o interior do hotel com


urgência. Caso concordem em abrir passagem antes que a segurança chegue
e os obrigue, ele estará no balcão do hotel às quinze horas e conversará com
vocês. Responderá algumas perguntas, mas de forma organizada.

– Passe este bilhete para um dos fãs pelo vidro. – Entrego o papel a Larry.
– Ele lê, abre o vidro e passa o recado.
Os mais próximos ao carro vão lendo e instigando os outros a abrirem
passagem. Não demora dez minutos temos o caminho livre para entrar na
garagem do edifício.
– Devo pedir a John para organizar a coletiva senhor Rain?
– Sim, mas não quero imprensa. Quer dizer, a imprensa pode estar lá para
registrar o momento, mas não vou responder perguntas deles, apenas de fãs.
Preparem caixas de som e microfone no balcão do hotel. Uma hora antes
mande um representante conversar com o público e jogar dez camisetas
autografadas da The Order à multidão. Àqueles que pegarem as peças, deem
um jeito de trazer para o lobby do hotel. Eles terão direito a fazer uma pergunta
cada a respeito da banda ou da turnê. Não responderei perguntas pessoais.
– Autografada... por todos?
– Sim, também vou autografar.
– Certo – diz Larry, incrédulo.

– Como eu perdi isso?


– Você estava febril e dormindo profundamente.
– Não é justo! A primeira vez que Oliver Rain fala com os fãs e, pasmem,
distribui dez autógrafos, eu estou inconsciente. – Reclama ao ler as notícias da
minha aparição no balcão do hotel, que repercutiram positivamente na
imprensa.
– Esse tal Oliver Rain deve ser importante para causar tanta comoção e
indignação.
– Ah ele é. Ele é o cara!
– O cara, é?
– Sim, diz na notícia que se os dez sortudos que conseguiram o tão
almejado autógrafo optarem por leiloar a camiseta, podem arrecadar um
montante de até seis dígitos.
– Quanto exagero!
– Exagero ou não, se está escrito aqui, deve ter quem pague.
– Hummm na verdade eu acho que esse tal Mr. Rain é só um cara de muita
sorte.
– Acha?
– Acho, dizem que ele tem uma noiva linda, sexy, gostosa, divertida,
inteligente, talentosa e atrevida. Viu? Muita sorte. – A beijo.
– Ainda não acredito que dormi mais de vinte horas seguidas.
– Não foram exatamente seguidas, te acordamos para tomar os remédios,
fazer inalação, beber água, comer, você foi ao banheiro, tomou banho...
– É, mas são praticamente flashs para mim. Mal deitava, já apagava.
– Se sente um pouco melhor?
– Sim. Menos cansada, apesar de estar começando a tal tosse que o doutor
falou. Não sei se até sexta...
– Não quero que você se preocupe com o show. Ontem na aparição fiz
questão de revelar o motivo da urgência em entrar no hotel para que saibam
que se você não cantar em Munique, não há nenhum fator pessoal contra a
cidade. Lian ou Max cantam a sua parte.
– Ok. Acho que se você não tivesse revelado a minha pneumonia, as
manchetes sobre o meu não comparecimento aos shows seriam de uma briga ou
rompimento – conclui pensativa.
– É, provavelmente sim. Quer tomar outro banho antes de jantarmos? Você
suou muito por causa da febre.
– Nossa, quero sim. Mas não sei se consigo comer, esses remédios todos
estão me deixando com muita dor de estômago, nauseada.
– Ah, mas vai fazer um esforço, sim senhora. Senão digo ao Dr. Klein para
vir aqui e colocá-la no soro. – Ela estremece. Passar pelos exames na clínica
foi torturante para ela.
– Certo, noivo. – Me abraça. – Obrigada por cuidar tão bem de mim.
– Não agradeça, sou quase um ancião, lembra? Você vai ter muito trabalho
comigo no futuro. E aposto que serei daqueles velhos bem rabugentos. Vou
querer muitos beijos, e massagens, e carinhos...
– É, posso lhe fazer umas massagens nos pés enrugados, um carinho no
barrigão caído e dar uns beijos em sua careca...
– Acho que eu vou preferir beijos no careca. – Ergo as sobrancelhas pra
ela, que ri e suspira.
– Nem fale... estou com tantas saudades do meu careca... – Tenta passar a
mão no meu pau por cima da calça, mas impeço.
– Nem pensar. Primeiro você se recupera cem por cento, depois o careca é
todo seu para fazer o que quiser com ele.
– Mas a injeção faz parte da cura. – Gargalho, realmente ela já está bem
melhor, voltou a ser a minha pequena brincalhona, pois ontem mal conseguia
falar meia dúzia de palavras sem se sentir exausta.
– Não há nenhuma injeção na receita do Dr. Klein, meu bem, e ele mandou
seguir o tratamento à risca. Conforme-se! – Ela faz beicinho. – Vou encher a
banheira para você. – Se não sair de perto vou ceder e incluir a injeção no
tratamento por conta própria.

Bia comeu muto pouco no jantar daquela noite, mas felizmente não teve
mais febre. Comeu um pouco melhor no café da manhã do dia seguinte, porém
vomitou tudo apenas meia hora após tomar a dose do antibiótico.
Informei ao Dr. Klein o ocorrido e ele orientou a repetir a dose, porém isso
a deixou com tanta dor de estômago que não conseguiu comer mais nada o dia
inteiro. Como estava sem febre pudemos manter nossa vinda a Munique na
quarta à noite.
O processo de náuseas e vômitos se repetiu ainda na quinta e na sexta,
sempre após a dose do remédio, o que provavelmente está comprometendo o
tratamento. O Dr. Klein então acionou um colega seu de Munique para ir ao
hotel e lhe aplicar uma injeção de antibiótico. Fiquei puto da vida, pois se a
injeção era uma opção, ele não precisava tê-la feito sofrer com as dores
estomacais por tantos dias. E ainda tive que aguentar a piadinha de que se
tivesse concordado com a “injeção” já estaria melhor faz tempo.
Falando nisso, porra, dez dias sem sexo! Fora os períodos em que passei
“apagado” acho que esse foi o meu recorde. Até me deixei levar uma noite em
que ela me jurou que estava bem, mas daí a crise de tosse apareceu no meio da
brincadeira e abortei a missão.
Bia ainda apresenta resquícios da tosse, que a castigou intensamente por
uma semana. Não teve condições de cantar nos shows de Munique. Proibi-a
inclusive de ir para a arena, ficou no hotel em repouso e seguindo os horários
do tratamento. Vovó e Hazel cuidaram dela nestes dias.
Esta experiência me provou que segurar o rojão da abstinência sexual em
meio a uma turnê não é fácil. As apresentações nos deixam alucinados,
recarregados e precisamos extravasar aquela euforia, adrenalina toda que rola
em torno da troca de energia que se estabelece entre nós e o público. O que eu
mais queria depois de cada show era voltar ao hotel e me perder nela. E com a
merda da recepção aos vips, nem a parte de voltar ao hotel pude atender. Se no
futuro me arriscar em uma turnê onde ela não possa me acompanhar, terei que
deixar agenda entre os shows que permitam voltas para casa ou desenvolverei
tendinite crônica. O que para um músico, é um sério problema.
É noite do dia dez de fevereiro, estamos a exatos um mês e dois dias na
estrada. Voamos rumo ao Brasil para as duas últimas semanas de turnê fora de
casa. Depois, só os dois shows de Los Angeles e está feito. Saímos de uma
temperatura média de menos três graus em Munique para cair em uma de trinta
graus positivos em São Paulo. Confesso que já não aguentava todo aquele frio.
Desde Chicago, que frio, neve e chuva são a nossa realidade. Para caras
criados na Califórnia, é torturante.
Bia está animada com a visita ao Brasil, ela não sabe ainda, mas consegui o
contato da sua tia-avó brasileira. Vou contar assim que chegarmos e se ela
quiser conhecer o que resta da sua família por parte de mãe, faremos um
desvio ao sul do Brasil antes de ir para o Rio de Janeiro.
Eu estava exausto com toda a carga de trabalho aliada a preocupação e
estresse dos últimos dias, dormi por mais de seis horas na cabine do avião e
estou prestes a me juntar aos demais. Acho que desde que ela adoeceu, esta foi
a primeira vez que relaxei totalmente, pois o médico retornou ao hotel pela
manhã e confirmou que o seu pulmão estava perfeitamente sadio outra vez.
São quatorze horas de voo de Munique a São Paulo. Deixamos o aeroporto
alemão ao meio-dia. Um caos total. Muita gente em frente ao hotel, muita gente
no aeroporto. Muitos querendo saber se Bia se recuperou. Pedi a Alicia para
publicar uma nota e ver se acalmam os ânimos. Espero que o fato de
chegarmos ao Brasil às quatro da manhã seja suficiente para desencorajar as
pessoas a se aglutinarem por lá.
– Não, é bo-a noi-te.
– Boa node.
– Não Lian, tipo noise, mas troca o s pelo t, tenta lá...
– Boa noite.
– Isso.
– Boa noite boa noite boa noite boa noite – repetem Lian e Max.
– Isso aí.
– Hummm aulas de português? O que é boa noite? – pergunto.
– Oi meu amor, você acordou, estava com saudades... – Ela levanta e se
pendura no meu pescoço. – Conseguiu descansar?
– Novo em folha. E na carga máxima – sussurro em seu ouvido.
– Não me provoque homem, na seca em que estou, te arrasto de volta para
aquela cabine sem me importar com Laura e Edgar ao lado.
– Nossa seca tem hora marcada para acabar, baby. Assim que colocarmos
os pés no quarto em São Paulo você não me escapa.
– Aleluia!
– Ei, devolve a nossa professora! – reclama Lian. Sento-me na poltrona
em que Bia estava e a trago para o meu colo. Hazel e Kellan dormem em suas
poltronas. Max e Lian aparentemente participavam da aula improvisada.
– Então, o que é Boa Noite?
– É fuck you – diz Max.
– Sério? – Bia ri.
– Não, é Good Evening ou Good Night, no português é igual.
– Boa noite São Paulo. – Max testa.
– Boa noite. – Tento também.
– Ótimo, – Bia diz – agora o agradecimento, Obrigado.
– Ah essa já sabemos dos outros shows que fizemos no Brasil. Obrigado –
diz Max
– Obrigado – repete Lian.
– Vocês fizeram shows no Brasil e a única coisa que falaram no idioma
deles foi thank you?
– É – fala Max.
– Não só no Brasil, nos de Portugal também. Assim como nos da França,
da Grécia, do Japão, da China, da Polônia, da Ucrânia... sabemos thank you
em muitas línguas... – conta Lian.
– Os únicos países em que falamos umas poucas palavras a mais no
idioma nativo são os de língua espanhola. Isso porque fomos obrigados a fazer
aulas de espanhol na escola – emenda Max.
– E agora na Alemanha, porque você nos obrigou... – completo. Bia revira
os olhos.
– Ah meninos... vocês precisam se esforçar mais...
– Por quê? – pergunto – Nossas músicas são em inglês.
– Música é uma linguagem universal. Ela une, emociona e cativa
independentemente do idioma. Nem sempre é preciso saber o que está sendo
dito para sentir o que a música quer transmitir. Não existe nada no mundo que
una um maior número de pessoas em prol de algo subjetivo do que a música ou
a crença. Fé também não tem idioma. Mas o público gosta de saber que o
artista que tanto veneram teve algum cuidado e pensou em formas de se
conectar com ele além da música. E nada melhor para isso do que falar em seu
próprio idioma. O pouco que vocês falem, será muito para eles.
– Tá, o que mais podemos aprender rápido para falar, Biazinha?
– Vocês podem perguntar como se sentem. Como estão?
– Camo Estian? – repete Lian.
– Quase. Co-mo Es-ta-o?
– Como Estao?
– Como Estao?
– Boa... tente você amor...
– Boa noite e obrigado estão de bom tamanho para mim, baby. É mais do
que costumo falar em inglês... – Os outros riem, ela me faz uma careta.
– Chato!
– O que você disse?
– Eu disse que você é um baita de um Chato!
– Chato – repete Max. – Não sei o que é, mas não parece bom e combina
com Oliver.
– Chato. – Lian não fica para trás.
– O que você disse Beatriz? Fale! – Começo a fazer cócegas nela, que se
contorce em meu colo.
– Eu disse que você é chato! – Mais cócegas, ela gargalha e pede
clemência.
– Tá bom, tá bom... chato significa bore, boring, o perfeito party pooper,
ou killjoy. Eu e minha mãe chamávamos papai assim quando ele estava de
“tpm” e nunca lhe dissemos o que significava. Isso o deixava ainda mais chato.
– Eu sabia que isso era bem Oliver... Chato! – Max provoca.
– Você viu o que fez, noiva? Deu munição para estes vermes atirarem
contra mim.
– Sinto muito, noivo.
– Sinto muito não, quero munição contra eles. Vamos lá, palavras em
português que definam Lian e Max em seus piores momentos. Já que todos
estão de acordo que chato me define.
– Hummm, deixe-me pensar...
– Olha lá Biazinha, eu te considero tanto! Até aprendo uma música de Tom
Jobim para cantar no Brasil se você quiser...
– E eu elogio a sua omelete... sempre...
– Rá, Rá, eu trepo com ela! Sou o dono dos seus orgasmos. E ela me
chamou de chato! Preparem-se...
– Problema seu se não faz um bom trabalho, bonitão...
– Opa... aí não! Agora preciso defender o que é meu... o trabalho de
Oliver nesse quesito não tem nada de chato, está mais para knockout.
– Sem detalhes Bia, sem detalhes... – Max torce o nariz.
– Eles só estão tentando tirar o seu foco, anjo... sou muito seguro quanto ao
meu desempenho, não se preocupe... agora vamos lá, minha munição... – Bia
olha atentamente para Max, depois para Lian.
– Bom, acho que Max é um perfeito cavalheiro.
– Porra, isso só pode ser ruim, bem ruim... com o som que tem... não pode
ser coisa boa... não mesmo... – provoco Max.
– Já Lian não há outra coisa que eu possa usar para descrevê-lo melhor do
que fofo.
– Hum, deve ser algo bem nojento... – Lian levanta o dedo para mim.
– Fofo – repito. – E como é o outro mesmo?
– Cavalheiro.
– Cava... le... ile... Porra, essa trava a língua! Não tinha uma mais fácil?
– Ca-va-lhei-ro. – Ela repete. Lian olha algo em seu telefone e começa a
rir.
– Cavaleiro – tento. É isso, não? Bia ri e beija minha bochecha.
– Tá ótimo assim, amor.
– Fofo – digo olhando para um – cavaleiro – olhando para o outro. – O
que significa? – Lian se afina de tanto rir. Ele se levanta, vem até nós e dá um
beijo na bochecha de Bia.
– Você é a melhor!
– Escreve aqui a palavra que você me chamou Bia – pede Max. Ela pega o
celular dele e digita o tal cavaleiro. Ele olha e começa a gargalhar também.
Lian vai olhar o telefone de Max e mostra o seu para ele. Os dois riem e me
olham.
– Chato! – dizem ao mesmo tempo. Epa...
– Você me trolou Beatriz?
– Eu?
– Do que você me fez chamá-los, noiva?
– É... bem...
– É boneca, você acabou de admitir que me acha muito cute. Eu sempre
desconfiei... – fala Lian. – Estreito os meus olhos para Bia.
– E eu sou o gentleman dos seus sonhos... – Aperto-a em meu colo.
– Traidora! Sacana! Peste! – Retorno as cócegas. – Sabe aquela promessa
que te fiz há pouco, brinquedo assassino? Aquela que ia rolar no quarto do
hotel? Pois ela acaba de ser retirada!
– Oliver! – ofega. – Você não pode... – Tenta achar fôlego para protestar
em meio aos risos.
– Ah, eu posso! E sabe como sou em relação às minhas promessas, não é?
Sem knockout para você hoje... Perdeu, Chucky!
– Chato! – Ela cruza os braços e fecha a cara, os caras se dobram de dar
risadas.

– Você estava brincando quanto a me castigar por causa de uma


brincadeira, não é?
– Não, eu falei muito sério.
– Oliver! Não é possível que você não esteja subindo pelas paredes todos
estes dias sem sexo.
– Eu estou, na verdade nem sei quantas vezes subi, desci e subi de novo,
minhas bolas estão azuis de tanta vontade reprimida, mas eu prometi, então...
– Você também prometeu cuidar das minhas necessidades, e eu estou
muito, muito necessitada.
– Você é a maior sacana que eu conheço, sabia? Ardilosa, ligeira, muito
ligeira... – Puxando-a contra mim, tomando sua boca e jogando-me por cima
dela enquanto empurro-a contra a cama do quarto de hotel, onde acabamos de
entrar.
Claro que não consigo ficar mais um minuto sem tê-la gemendo debaixo de
mim. Só não queria dar o braço a torcer tão rápido...
– Eu sinto sua falta, amor, muita.... – Ela diz, puxo a camiseta para fora do
seu corpo.
– Eu também pequena. – Sugo o bico do seu seio por cima do sutiã. –
Deus, que saudade da sua pele, do seu gosto, do seu calor, do seu cheiro.
– Dormir ao seu lado sem poder tocá-lo é tortura Oliver.
– Você estava doente.
– Já não estou tão doente há um tempo.
– Ontem você ainda teve fortes crises de tosse. – Tiro o sutiã e coloco o
máximo que consigo do seio dela na minha boca, então sugo forte e por um
bom tempo, até senti-la ofegar.
– Ahhh que delícia! Saudade do calor da sua boca passeando pelo meu
corpo. – Faço o mesmo com o outro. Longe de mim causar discórdia entre os
irmãos. – Me deixa te sentir, baby. – Ela puxa minha camiseta.
– Sou todo seu, pequena. – Empurro a calça e a calcinha dela para baixo,
depois engato um pé na peça e tiro tudo de vez. Meto os joelhos entre suas
pernas e as escancaro para mim. Encaixo o quadril ali.
– Eu preciso amor... – Ela leva as mãos ao botão da minha calça, abre e da
mesma forma que eu fiz, dá um jeito de tirar as peças do meu corpo com os
pés. Sem que precisemos desfazer nosso contato necessitado. Sem precisar
parar com os beijos e carícias que trocamos com nossas mãos e lábios.
– Acho que não consigo te dar preliminares agora. – Estou muito duro,
com muito tesão e precisando demais sentir sua boceta me apertar.
Com urgência!
– Não quero preliminares... – Agradeço em silêncio. Ela beija meu
pescoço, acaricia minhas costas. – Sem preliminares... – Morde meu ombro,
aperta minhas nádegas contra si. Me esfrego nela.
– Porra, que calor, que tesão, que delícia... mete logo essa tora dura e
grossa em mim, Oliver! – Cacete, aquele pedido quase me faz gozar e eu meto.
Faço o que estou louco de vontade de fazer há dez dias.
– Ahhhh puta-merda, isso baby... isso... – Ela aperta ainda mais as minhas
nádegas.
– Olha a boca, gostosa! Que quentinha, noiva, que apertada... que tesão...
que saudade... – Entro e saio dela lentamente, deslizando, saboreando.
– Hummm, que bunda boa de apertar, amor... que pau gostoso... cada vez
que ele entra em mim eu encosto no céu... sou viciada nele... sou apaixonada
por ele... você está proibido de me deixar tanto tempo sem ele... ele é meu!
Meu!
– Todo seu! Bom saber que você ama o meu pau. Agora me beija... – peço
e ela não decepciona.
Fazemos amor apaixonado e ardente, muito ardente, com nossas bocas e
nossos sexos. E se fosse possível um estar dentro do outro de mais alguma
forma, juntaríamos ali também, naquele ato, em que nada parece o bastante
para matar o desejo que vínhamos reprimindo há dias e que não víamos a hora
de apartar. Sou dependente desta mulher, louco, maluco por ela. Não há nada
que eu não faria pela felicidade dela, nada.
– Eu amo você – sussurro em seu ouvido no instante em que ela começa a
gozar. Ela me aperta ainda mais contra si, com as pernas agora, e leva as mãos
à minha nuca, meus cabelos. Deito o rosto no vão do seu pescoço e aumento a
pressão e o ritmo.
– Eu te amo tanto que nem sei mais se usar a palavra amor é suficiente. –
No meio daquela declaração, gozo tão forte que um rugido me escapa e
esporro muito, muito dentro dela.
Deságuo em seu corpo, além de todo o sentimento que vai em minha alma, o
tesão reprimido há dias. Caio sobre ela em verdadeiro êxtase.
– Finalmente. – Ela diz, afagando meus cabelos. Sorrio.
– Finalmente – repito.
– Mas esta foi só a primeira de muitas da noite, não é?
– Com certeza, apesar de ter despejado mais ou menos um litro agora,
tenho ainda muita porra armazenada aqui para você. – Deito-me ao seu lado
para ficarmos frente a frente.
– Nossa! Seu romantismo me comove.
– Fui bem romântico! Romântico no nível “mete logo essa tora dura e
grossa em mim, Oliver”. – Bia leva as mãos ao rosto e ri.
– Eu disse mesmo isso, não foi?
– Cada palavra.
– Você me enlouquece!
– E você me fascina e me assusta. – Beijo a ponta do seu nariz, depois as
sardas, depois sua boca, depois o vão entre os seios, ela arrepia. – Acho que
vou começar a fazer um registro, viu? Para quando nossos filhos perguntarem
qual a coisa mais romântica que a mãe deles me disse... esta estará no topo da
lista.
– Ou você pode eternizá-la na letra de uma música.
– Senhor... fico pensando qual seria o próximo verso...
– “Tenho ainda muita porra armazenada aqui para você”, talvez?
– É, talvez. – Não seguro o riso.
– Pensando bem, melhor não. Não quero fazer propaganda, sabe? Se sem
conhecer os detalhes do calibre já fecham o certo, imagina se souberem que a
realidade supera as expectativas.
– Sem música então. – Cheiro seu pescoço. – Meu amor, tenho duas coisas
para falar para você.
– Uma boa e uma ruim? – Sorrio.
– Não, as duas boas, eu acho...
– Manda a primeira boa notícia então, rockstar.
– Os caras e eu conversamos no avião e temos uma proposta.
– Hum?
– Sabe a parte do show em que eu agradeço ao público por se
voluntariarem e que passamos as imagens das pessoas fazendo os exames?
– Sei, claro.
– Pensamos em aqui no Brasil passar esta parte do show para depois da
música Eden e você faz as honras, já que pode fazer isso em português. Topa?
– E você diria apenas Boa noite e Obrigado, a noite toda?
– Posso acrescentar São Paulo. – Ela revira os olhos.
– Não sei Oliver, as pessoas querem que você, Lian, Max e Kellan falem
com elas, principalmente você, não eu...
– Bia, eu falaria, mas em inglês, já você pode fazer isso na língua nativa...
você mesma disse que é um sinal de interesse...
– Será que vou agradar? Se eu ficar muito nervosa...
– Claro que vai agradar, Beatriz. – Ela me olha e pensa.
– Eu topo, mas com uma condição...
– Lá vem... diga...
– Você vai treinar pelo menos duas frases para falar no início. Eu estarei
ao seu lado, se você esquecer, ajudo...
– Bia...
– Vamos Oliver, serão só duas frases para você, mas para quem veio te ver
terá muito significado. Viu o tanto de gente no aeroporto às quatro da manhã?
Amanhã, com certeza, a frente deste hotel estará lotada.
– Tudo bem. Vamos treinar duas frases. Só duas! – Ela abre um lindo
sorriso.
– E a próxima?
– Eu tenho comigo o endereço e o telefone da tia de sua mãe, sua tia-avó.
– Ah... mas?
– Sei que você disse que não sabia se queria contato, mas tomei a
liberdade de pelo menos tentar localizá-la, saber se está viva, e consegui.
Dona Ana Cecília Theis Oliveira tem cinquenta e sete anos e mora numa
cidade do sul do Brasil chamada Blumenau, no estado de Santa Catarina. Ela é
casada e tem três filhos. Dois deles já casados também. Mas sua filha caçula
ainda mora com os pais e é apenas dois anos mais velha do que você. Você tem
três primos, baby, e uma prima com quem poderia desenvolver uma amizade,
falar português. Não tem vontade de conhecê-los?
– Não sei... você acha que eu deveria?
– Eu acho que você só tem a ganhar.
– É que... fico pensando por que ela nunca procurou pela minha vó, sua
irmã, ou por mamãe, sabe?
– Talvez pelo mesmo motivo que sua mãe nunca a procurou?
– Ela tentou Oliver... até quando adoeceu tentou desesperadamente, pois
tinha esperanças de que essa tia pudesse ser uma possível doadora, já que eu
não era compatível. E papai no fim da vida tentou outra vez.
– Talvez ela tenha tentado sem sucesso, da mesma forma. Eu acho que ela
gostaria de lhe conhecer...
– Por que diz isso?
– Porque o nome da sua prima de vinte anos é Eva Theis Oliveira. – Os
olhos de Bia enchem de lágrimas. Beijo sua testa.
– E se eu levar a doença para a casa deles? Eles são minha família de
verdade...
– Ah baby, não... não pense assim, por favor...
– Não consigo evitar, Oliver.
– Olha, não precisa resolver agora, pense. Se você decidir que quer,
vamos primeiro fazer um contato telefônico. Dependendo deste contato, você
avalia se vai ou não a visita. Conseguimos encaixar uma ida a Blumenau antes
do primeiro show no Rio.
– Vou pensar. – Ela me abraça. – Outra vez, obrigada.
– Não há de que, baby – digo ao mesmo tempo que monto seu corpo outra
vez. – Agora chega de papo, pois tenho mais promessas a cumprir... promessas
que envolvem muita porra...
– Oliver!

Bia

– Olá São Paulo, estão curtindo o show? – Em meio a respostas


afirmativas, gritos de “gostosa” e pedidos de casamento, burburinhos correm
pela plateia, provavelmente por eu estar me comunicando com eles em
português.
– Espantados por eu falar a língua de vocês?
– Sim – respondem prontamente.
– Pois então eu vou contar uma coisa que a imprensa ainda não
descobriu a meu respeito. Vocês serão os primeiros a saber. Minha mãe era
brasileira, e falávamos muito o idioma em casa. – Gritos e vivas ganham a
arena.
– O que vou falar agora é em nome de todos os meninos da The Order e
em meu próprio nome, claro. Pode soltar o vídeo, produção.
O tape com as pessoas indo aos bancos de sangue nos três países da turnê
ganha as telas e eu faço basicamente o mesmo agradecimento que Oliver fez
nas demais apresentações.
– ... Eu senti na pele a dor de ver alguém morrendo por não ter um doador
compatível e se esse nosso ato em conjunto evitar que apenas uma criança
ou uma mãe passe pelo que eu passei, perca o que eu perdi, já valeu muito a
pena. Novamente obrigada! Vocês arrasaram!
– Bia, sua mãe era de São Paulo? – Ouço uma pergunta se destacar em
meio a toda a gritaria.
– Não sei quem perguntou se minha mãe nasceu em São Paulo, mas não,
minha mãe era de Brasília e tenho uma tia-avó que, descobri recentemente,
vive em Blumenau, conhecem? – Muitos “sim” pipocam.
– É a cidade da Oktoberfest. – Só posso ter entendido errado, né?
– Alguém falou em Oktoberfest, mas a festa é na... hum Germany... não
lembro a palavra em português...
– Alemanha.
– Isso, Oktoberfest é na Alemanha, não?
– Tem uma versão em Blumenau também.
– Ah, bom saber...
– Bia, como você e Oliver se conheceram?
– Como eu e Oliver nos conhecemos? Ih, longa história, vocês teriam
que me ouvir por horas e vocês querem rock... gritos de “Conta” “Conta”
explodem e de repente mudam para muitas gargalhadas.
– Me contem a piada – peço.
– Atrás de você – dizem. Viro e vejo os quatro sentados no chão, bem
relaxados, pernas cruzadas ou joelhos dobrados, Lian olhando as unhas, os
outros com as sobrancelhas erguidas, para mim, como quem diz, “se
esperarmos de pé vamos cansar, então...”
– Fique à vontade, baby. A gente não tem nada para fazer mesmo... –
Oliver dá de ombros – podemos esperar... – diz debochadamente, me fazendo
gestos com a mão para que eu continue e arrancando mais risos do público.
– Bom, acho que estamos deixando os chefes entediados... – Me
presenteiam com mais risadas.
– Bia, você é uma filha da mãe sortuda. – Uma voz de mulher se
sobrepõe.
– Alguém disse que sou sortuda! – A concordância é unanime.
– Pois é. Concordo com vocês colegas, sou mesmo, muito sortuda. E não
só pelo que vocês veem, que é bastante, eu sei... – Gargalham. – Mas
principalmente pela pessoa que Oliver é. Esta turnê é a prova disto. E sabem
o que é mais legal disso tudo? – pergunto.
– Não – respondem prontamente e aguardam quase silenciosos,
concentrando toda a atenção na minha próxima declaração.
– Eles não entendem nada do que estamos falando. – Mais gargalhadas. –
Esperavam algo profundo, né? Peguei vocês! Não sabem o trabalho que deu
fazer Oliver dizer corretamente aquelas duas frases que falou no início do
show. A palavra “solidariedade” me rendeu boas risadas. Ops... – Sinto uma
mão na minha cintura. A plateia vibra.
– Ouvi meu nome, baby. Duas vezes – diz o meu Deus do rock favorito.
– Oliver está preocupado, pensa que estamos falando mal dele – digo em
direção ao público.
– Não se preocupe, baby, só falei coisas boas sobre você – falo para ele,
seguro seu rosto e lhe dou um selinho. – A galera agita outra vez. Um coro de
“Beija” “Beija” começa.
– Eles estão pedindo para nos beijarmos. – Ergo as sobrancelhas para ele,
que abre um lindo e descarado sorriso. Me puxa pela cintura e me dá um beijo
de pôr inveja em Hollywood.
– Nossa, fiquei tonta. – O povo reage com empolgação. – Obrigada de
novo São Paulo, vocês são dem... – Oliver mete a mão no meu microfone.
– Tchau, Beatriz. It´s enough! Rock, now! – diz o tchau que ensinei e até
eu sou obrigada a rir junto com a plateia.
– Acho que ele vai repensar o meu discurso nos próximos shows... tchau
São Paulo, tchau baby. – Deixo o palco debaixo de muitos aplausos.

– Coragem, amor. Estou aqui com você.


– E se ela não gostar de mim?
– Você já é a queridinha do Brasil, baby. Impossível alguém não gostar de
você.
– Tudo bem... chamando... vou deixar no viva voz...
– Não vou entender nada Beatriz...
– Vai perceber as emoções pela voz...
– Certo.
– Alô.
– É agora... – sussurro para Oliver.
– É... hum... Boa tarde, meu nome é Beatriz Thompson, eu gostaria de
falar com a senhora Oliveira... Ana Cecília Theis Oliveira...
– Olha querida, se você ligou para oferecer algo, me desculpe, mas
não...
– Não, não é sales... perdão, não é vendas... É pessoal...
– Pessoal?
– Sim, da parte da sobrinha dela, Eva...
– Eva? Aí meu Deus... Jorge!... – Ouço ela gritar para fora do telefone. –
Eva, filha da minha irmã Ana Beatriz?
– Isso.
– Meu Deus, meu Deus... Jorge... Jorge vem aqui! Querem falar sobre a
minha sobrinha... – Oliver arregala os olhos para mim pela euforia da mulher
ao telefone – desculpe moça, mas esperei muitos anos por notícias... sou Ana
Cecília, pode falar...
– Bem, como eu disse, sou Beatriz Thompson, sou filha de Eva.
– Filha? Você é filha da Eva? Minha sobrinha-neta? – a mulher começa
a chorar. Oliver aperta minha mão.
– Sim.
– Calma Cecília, olha a sua pressão! – Uma voz de homem alerta ao
fundo.
– Senhora Oliveira, não quero causar desconforto...
– Não querida, não causa... desculpe as lágrimas, mas nossa... eu rezei
tanto para saber notícias da minha família que foi embora para os Estados
Unidos, minha irmã, minha sobrinha... quando você falou que queria falar
sobre Eva achei que era da parte do advogado que contratei para localizá-
las... estranhei o seu sotaque, claro, mas mesmo assim não esperava... tentei
tanto achá-las nos últimos anos... Eva e eu éramos muito amigas... apesar de
eu ser sua tia, temos só um ano de diferença de idade uma da outra... vocês
moram nos Estado Unidos ainda?
– Eu moro sim. Senhora Oliveira, a senhora gostaria que
continuássemos esta conversa via vídeo? Assim poderíamos nos conhecer?
Eu posso mandar um link para o seu telefone... – Não quero lhe dar todas as
notícias trágicas sem ao menos olhá-la. Parece que nem sobre a morte da irmã
ela sabe.
– Claro que gostaria. E me chame de Cecília, por favor, Beatriz... você
tem o nome da minha irmã, sua avó... – Funga, emocionada.
– Tenho sim. Será que eu posso chamá-la de tia? – Mais lágrimas.
– Você deve, sobrinha.
– Então, tia, eu vou desligar e lhe enviar o link. Basta a senhora clicar e
aceitar quando perguntar sobre a abertura da câmera.
– Tudo bem, até daqui a pouco. – Abraço Oliver.
– Ela tentou nos achar...
– Viu só! Que bom que você decidiu ligar, ela ficou bem emotiva.
– Ficou sim. Vou encaminhar o link de vídeo. – Encaminho, conecto na
sala de conferência que o aplicativo disponibiliza e aguardo minha tia entrar.
Um minuto depois um rosto familiar invade a tela do meu tablet.
– Oi tia.
– Nossa senhora aparecida, como você é linda! Os mesmos cabelos de
Eva...
– A senhora é muito parecida com a minha avó.
– Sim, Beatriz e eu somos muito parecidas. Tenho tantas saudades. Mas
apesar dos cabelos de Eva, o seu rosto lembra mesmo é o da sua bisavó,
minha mãe, Anabel Theis, ela era uma mulher lindíssima. Jorge, chegue
mais... – A imagem de um homem em torno de uns sessenta anos, cabelo muito
branco, pele muito pálida e olhos de um azul cristalino se junta a dela.
– Querida, esse é Jorge Oliveira, meu marido, seu tio.
– Prazer em conhecê-la, Beatriz.
– O prazer é meu, tio.
– Mas me conte de vocês querida. Como estão? Onde vocês vivem?
Quanto anos você tem? Tenho outros sobrinhos-netos? Minha irmã e Eva
estão aí com você?
– Tia, não tenho boas notícias...
– O quê? – As lágrimas já correm antes de eu falar, o marido a abraça.
– Meus avós, Ana Beatriz e Benjamim Mendes morreram num acidente
de carro há vinte e dois anos. Eu nem cheguei a conhecê-los, só por fotos.
Foi na cidade de Chicago, estado de Illinois, cidade em que moravam e em
que eu nasci e cresci.
– Vinte e dois anos... tanto tempo...
– Sim, muito tempo. E minha mãe, ela faleceu quando eu tinha treze
anos, teve leucemia, lutou por cinco anos...
– Meu Deus! Tinha tanta vontade de revê-las... – Ela chora muito.
– Sinto muito, tia.
– Não meu bem, eu que deveria consolar você... você é tão novinha
ainda... mora com seu pai?
– Eu tenho dezoito anos. Meu pai... bem, ele também não está mais entre
nós. Me deixou em julho passado, também devido a um câncer. Até então
morei com ele sim. Ele foi um ótimo pai.
– Ah querida... quanta tristeza... meu Deus, e como você viveu esses
meses? Tem irmãos? Tem família por parte de pai?
– Não tia, eu era filha única, assim como meus pais também eram e meus
avós paternos já são falecidos.
– Senhor, está sozinha no mundo... Beatriz, você tem que vir morar
conosco, somos sua família. Nossa casa é a sua casa. Se eu soubesse...
– Não se preocupe com isto, eu estou bem. Uma amiga de papai me
acolheu em sua casa e bem... eu tenho um noivo...
– Noivo? Tão novinha? Você não precisa, sabe...
– Não noivei para ter uma família tia, noivei porque o amo, de verdade.
E ele a mim.
– Ah querida, fico feliz por isso.
– Ele está aqui ao lado. Quer conhecê-lo?
– Mas é claro que quero.
– Ele não fala português, então não estranhe se não interagir muito.
– Não tem problema, filha, só quero vê-lo.
– Baby, aproxime-se, venha dizer oi para a minha tia. – Ele chega pertinho
e me abraça para que caibamos os dois na tela.
– Tia, este é Oliver, meu noivo. Diga “Olá” baby.
– Olá, como estão? – Ahhh ele prestou atenção à minha aula no avião
então... que bonitinho, beijo sua bochecha.
– Olá Oliver, estamos bem, obrigada. Por Deus, sobrinha, que homem
lindo. Parece artista de cinema. Formam um casal e tanto. Fico imaginando
como serão as crianças que sairão de vocês dois... – Rio.
– Minha tia disse que formamos um lindo casal... – Ele sorri.
– Tia, tenho muitas coisas que gostaria de conversar com a senhora,
gostaria tanto de conhecê-la melhor, conhecer sua família, soube que tem
três filhos...
– Sim, temos três filhos. Dois rapazes, já casados. Rafael de trinta e
cinco anos, e Matheus de trinta e dois. E tenho uma moça, de vinte anos,
uma gravidez tardia e inesperada. Você vai gostar de conhecê-la. Ela se
chama Eva como sua mãe, uma homenagem à minha sobrinha e melhor
amiga de infância e adolescência, de quem quase já não tinha mais
esperanças em ter notícias. Você me deu um grande presente hoje, Beatriz.
– Vou adorar conhecer meus primos. Eu fico pensando por que tivemos
tanta dificuldade em conseguir contato, sabe? A senhora tentou, mamãe e
papai tentaram muito localizá-la... e só agora... Foi Oliver quem teve
sucesso, na verdade...
– Eu sei os motivos, filha. Para que entenda eu teria que lhe contar as
razões que levaram o seu avô a mudar com mulher e filha para outro país e
nunca mais voltar. Não é uma história rápida não sei se é o caso de explicar
por telefone...
– Não, penso que não. O que a senhora acharia de uma visita minha à
sua casa na terça-feira?
– Nossa eu iria adorar que você viesse Beatriz. Você pode? Pode vir dos
Estados Unidos já nesta semana?
– Na verdade, Oliver e eu estamos no Brasil a trabalho. Mais
especificamente em São Paulo e temos que estar no Rio na próxima quarta à
noite. Então eu conseguiria visitá-la rapidamente na terça.
– Moramos no sul...
– Eu sei, isto não seria um problema.
– Então está combinado. Não vejo a hora de abraçá-la, querida.
– Eu também tia. Até lá...
– Ah querida, espere um instante, acho que Eva chegou. Quero que a
veja... Jorge, peça a Eva para vir aqui...
– O que foi mãe? – Ouço a voz de alguém um tanto distante.
– Venha aqui, quero que conheça Beatriz.
– Beatriz?
– É, ela é sua prima, aqueles parentes dos Estados Unidos que procuro
há tempos... venha logo Eva... – Um segundo depois uma jovem bonita
aparece.
Ela é muito loira, até as sobrancelhas são bem claras, cabelos lisos e olhos
como os do pai, só o tom da pele não é tão pálido. E no instante em que ela
coloca os olhos em mim, sei que me reconheceu, pois já não tenho tanta certeza
quanto ao seu tom de pele.
– Olá Eva, sou Beatriz, prazer.
– Beatriz... Beatriz... você parece muito... você é igual à...
– O que deu em você Eva? Fale direito com a sua prima.
– É que... não pode ser!
– Eva, sou eu mesma, Bia Thompson.
– Puta-merda!
– Eva! Que modos são estes? Não foi esta a educação que eu lhe dei!
– Mãe, ela... ela é... – E Oliver resolve escolher bem este momento para
se aproximar e entregar um dos remédios que ainda preciso tomar junto com
um copo de água.
– Aaaaaaahhhhhhhh! – Um grito ensurdecedor vem do alto-falante do
tablet. Oliver se assusta e olha para a tela. Minha prima grita ainda mais.
– Eva! Você enlouqueceu? – Eva põe a mão no coração e tenta recuperar o
fôlego
– Sente um pouco aqui comigo, baby – peço a Oliver, que aponta para o
remédio como condição para atender ao meu pedido, reviro os olhos e tomo.
– Beatriz, Oliver, me desculpem, não sei o que deu nela...
– Tudo bem tia, é que ela...
– Mãe, você sabe quem eles são? – Olha para a mãe e aponta o dedo para
a tela do celular.
– Sua prima dos Estados Unidos e o noivo, já falei...
– Mãe, a senhora lembra que eu fui me voluntariar para ser doadora de
medula?
– Sim, lembro.
– Lembra que falei que ganhava ingressos para o show daquela banda
que eu adoro?
– Sim, achei incrível o que fizeram...
– Mãe, – ela vira o rosto da mãe de novo em direção a tela – este é o
vocalista da The Order, Oliver Rain.
– Mas...
– Ela falou meu nome, baby?
– Falou sim amor, contou para minha tia que você é vocalista da The
Order.
– E ela é a noiva dele, mãe, Bia Thompson, eles estão juntos no clipe de
uma música... a banda fez dois shows em São Paulo e tem mais um hoje à
noite.
– Beatriz, o que ela está dizendo é verdade?
– É isto mesmo tia, Oliver é músico, vocalista de uma banda de rock.
– Não é “uma banda de rock”. É a maior e melhor banda de rock da
atualidade mãe, ele é conhecido no mundo todo.
– Querida, isso de ganharem ingressos depois de se tornar doador é por
causa...
– Sim tia, a turnê que a The Order está fazendo é em honra à memória de
mamãe e papai.
– Que coisa linda...
– Eu sou mesmo prima de Bia Thompson? – Não aguento e rio.
– Pois é Eva, desculpe o susto, mas parece que somos parentes. Você tem
o nome da minha mãe.
– Desculpe você pelo meu ataque, mas é que... – Ela aponta para Oliver.
– Eu sei, ele causa impacto, não é?
– Deus, se causa... – Eva se abana.
– Eva! – Ela revira os olhos para a mãe.
– Eu conheço a história, que tenho o nome da minha prima perdida, só
não sabia que ela tinha uma filha... esta conversa está mesmo acontecendo
ou eu caí, bati a cabeça e estou no meio de um sonho? – Gargalho me
lembrando das minhas reações ao chegar na casa de Oliver.
– Está acontecendo sim... ficamos muito tempo sem contato, também não
sabia da sua existência.
– Quando eu contar ninguém vai acreditar...
– Quanto a isto, se você puder não divulgar, não por nada, mais pela
segurança de vocês.
– Ela não vai divulgar, fique tranquila querida. Ficará de bico calado –
garante a mãe.
– Então Eva, você se tornou doadora? Qual dos shows irá assistir?
– Eu me tornei doadora sim, mas quando fui me cadastrar já não havia
mais ingressos disponíveis. Fui pela causa.
– Sinto muito pelo ingresso, mas fico feliz pelo seu ato.
– Tudo bem quanto ao ingresso, não é todo mundo que olha para Oliver
Rain ao vivo pela tela do celular da mãe...
– Não é mesmo. – Rimos as duas.
– Beatriz virá nos visitar na terça, vocês vão se conhecer pessoalmente.
– Ela arregala os olhos.
– Você... você virá na minha casa? Ele...
– Vamos sim, – ela tosse – a não ser que... um minuto...
– Baby, você acha que ao invés de irmos visitá-los poderíamos mandar
passagens para virem assistir a um dos shows no Rio? Conseguimos incluir
mais duas mesas na área VIP para acomodá-los?
– Em função da nossa agenda apertada seria muito conveniente.
Conseguimos as mesas, hotel, passagens, sem problemas, mas você acha que
gostariam?
– Vou perguntar.
– Tia, a senhora gostaria de assistir ao show em honra à sua sobrinha?
– Claro que gostaria, você vai me mandar um vídeo?
– Eu pensei que ao invés de eu ir visitá-la, poderia mandar passagens
para a senhora e sua família virem ao Rio de Janeiro no sábado, passamos o
dia juntos e a noite vocês assistem ao show...
– Ahhhhhh, porra, sim! – Eva se manifesta.
– Eva! Não sei Beatriz, isso é muito gasto para...
– Não tia, se aceitar a senhora estará inclusive nos fazendo um favor,
nossa agenda é bem corrida. Reservaremos hotel e vocês podem voltar para
casa no domingo.
– Vamos mãe, por favor, por favor!
– Tudo bem. Vou dar um jeito de convencer Jorge a entrar num avião...
– Uhuuuu!! Prima, você é demais! – Eva vibra.
– O show está maravilhoso Eva, se você gosta do som da The Order, vai
vibrar do começo ao fim!
– Eu amo!
– Me mande os nomes completos e documentos de todos vocês, por favor,
seus irmãos e cunhadas. Eles têm filhos?
– Não, ainda não tenho sobrinhos. Vou confirmar com meus irmãos se
poderão ir e te passo as informações. Neste número mesmo?
– Sim, este é o meu número pessoal. Por favor, adicione aos seus
contatos. Preciso muito de alguém com quem possa conversar em português,
prima. – Pisco para ela.
– Vou adorar. E obrigada! Você vai realizar um dos meus sonhos.
– Por nada, fico feliz. Tia, Eva, nos vemos no sábado.
– Até sábado, querida.
Oliver me envolve num beijo delicioso assim que encerro a videochamada.
– Feliz?
– Muito. Que bom que você me encorajou. Eles parecem ser pessoas
ótimas.
– Sim. Sua prima é meio maluquinha...
– Eu posso entender a reação. E ela nem quebrou coisas, esparramou
líquidos ou virou cadeiras... – Ele ri.
– Verdade. Sua conversa demorou, já deveríamos estar de volta à arena,
mas antes... – Ele me pega e me põe sentada sobre a mesa.
– Tendo ideias, rockstar?
– Prestes a colocá-las em prática, noiva. – Afasta minhas pernas e se
acomoda entre elas.
– Adoro quando usa vestido. São tão práticos! – Abre a calça e libera o
pau.
– São, é?
– Uhum... veja só a praticidade. – Afasta a calcinha para o lado e me faz
gemer com a sua invasão lenta.
– Ahhh baby... – Entra e sai devagarinho. Ui, delícia... – Insaciável hoje
amor? E nem subiu ao palco ainda...
– Isso – me fode gostoso – com você, nunca é o suficiente. – Desliza
calmo, cuidadoso, me deixando mais e mais molhada. – Sempre quero mais.
– Está tão gostosinho você me comendo de mansinho, mas não estamos
atrasados?
– Estamos. Por isso... – acelera o ritmo – terá que ser uma rapidinha – diz
no meu ouvido e volta a me beijar.

É domingo à tarde, vinte e três de fevereiro, meus tios e primos já


retornaram às suas casas pela manhã. Com exceção de uma das noras, Raquel,
esposa de Matheus, que chegou muito maquiada, com calças muito justas, blusa
extremamente decotada, e ficou constantemente se insinuando para os meninos,
principalmente Oliver, sem se importar com a presença do próprio marido,
todos os demais foram muito gentis e simpáticos. Melissa, esposa de Rafael,
uma mulher linda, de origem oriental, diferentemente da cunhada, se comportou
devidamente e ainda ajudou na comunicação, pois é fluente em inglês.
Sábado de manhã, ao chegarem, fizemos uma recepção num espaço do
Copacabana Palace, onde ficamos todos hospedados. Ali foi o local em que
foram apresentados, minha família de sangue e minha nova família. Ali também
tomamos café da manhã, almoçamos, os homens jogaram bilhar e as mulheres
conversaram. Com exceção de Raquel, claro, que preferiu o bilhar. Nem sei o
porquê.
No começo, a interação foi meio truncada, mas eu já havia conversado com
os meninos que precisaria de ajuda para fazê-los se sentirem integrados, pois a
língua é um empecilho real. Contratamos dois intérpretes também, o que ajudou
bastante.
Eva passou o tempo todo de olhinhos brilhando. Estava no paraíso, segundo
ela própria. As quinze horas os meninos partiram para a arena, para a
passagem do som.
Eva, os irmãos e cunhadas quiseram ver o ensaio e conhecer os bastidores,
então foram também, Hazel os acompanhou para fazer as vezes de guia. Iris,
apesar de precisar trabalhar, deu uma força sempre que pode. Raquel
novamente foi o problema. Oliver reclamou que a garota não perdeu chance de
encarar e fazer caras e bocas. Alertei Hazel para que ficasse de olho e a
mantivesse em seu lugar.
Eu fiquei no hotel, junto com meus tios, Laura e Edgar. Precisava conversar
com titia, entender os motivos da família ter se dividido e perdido contato.
Ela me contou toda a história, detalhadamente. Mas em linhas gerais, meu
bisavô Ernesto Odilon Theis, seu pai, era um magistrado e político poderoso
de Brasília, que mandava e desmandava, vivia acima da lei. Era um homem
autoritário e machista. Embora apaixonadíssimo e obcecado pela mulher,
Anabel Albuquerque, uma das mais cobiçadas jovens da elite carioca de sua
época, de quem conseguiu a mão, mas nunca o amor, e descontava sua
frustração nela e nas filhas, em forma de ciúme e controle excessivo.
Anabel tinha dificuldades em segurar a gravidez, sofreu inúmeros abortos
ao longo da vida, por isso as suas duas únicas filhas tinham uma diferença de
idade bem grande. Quando ela faleceu, aos cinquenta e oito anos, Ernesto
enlouqueceu, passou a beber muito, ficou violento e ainda mais controlador
com a filha que ainda morava em casa. Tia Cecilia, não suportando os abusos e
privações a que estava sendo submetida, fugiu aos dezesseis anos com a ajuda
do namoradinho que mantinha em segredo, apenas dois anos mais velho do que
ela, tio Jorge.
Foram para o interior de Santa Catarina, onde o jovem tinha parentes.
Chegando lá, conseguiram um advogado que entendeu a situação deles e
ajudou, arranjando documentos falsos para Cecília e apagando rastros. Não
havia como denunciar os maus tratos, pois Ernesto era poderoso, daria um
jeito de se safar. E sendo menor de idade, teria que voltar para casa. Por isto
não contou nem a irmã para onde iria. Meses depois seu cunhado, meu avô
Benjamin Mendes, foi transferido para os Estados Unidos e titia só tomou
conhecimento muito tempo depois.
Assim, as duas irmãs perderam contato, Ana Beatriz só soube que a irmã
fugiu, mas não para onde e nem com quem. Ana Cecília soube que a irmã
estava nos Estados Unidos, mas não em qual cidade e nem estado, e só voltou a
usar documentos verdadeiros, e a procurar contato com a irmã, após a morte
do pai, doze anos atrás, quando se casou oficialmente com tio Jorge.
Depois de estar a parte da história da família, mostrei a ela as fotos com
meus pais que tenho comigo no celular. À noite, no show, tia Cecilia se
emocionou muito. Primeiro com o clipe de Guardian Angel, vendo as imagens
que retratam nossos momentos em família embalados pela bela música. Depois
com o meu discurso e as imagens do público se voluntariando. Eva e os irmãos
pularam, vibraram e cantaram o tempo todo.
Este é nosso último dia no Brasil, esta noite ainda o avião da The Order
segue para Los Angeles. Os meninos não admitem muito, mas se emocionaram
com os shows aqui. O público cantou e cantou, em alto e bom som, quase todas
as músicas do repertório. E continuam cantando a capela, neste exato
momento, aglomerados aqui, em frente ao hotel.
– Oliver, não é possível que não te toque... Ouça só! – me aproximo da
porta da sacada, afasto a cortina e espio. É muita gente! – Soltam a voz em
Private Chaos.
– Como eles não cansam? Estão há horas nessa pegada.
– Caramba, isso é tudo que você tem a dizer?
– O que você quer que eu diga?
– Sei lá, eu estou toda arrepiada. É lindo, energia pura, e são as suas
letras... é no mínimo emocionante. Venha ver... – Ele vem, encosta o corpo
atrás do meu e espia sobre a minha cabeça.
– Cacete, duplicou a quantidade de gente desde a última vez que olhei...
como pode? Acho que tem mais gente aqui do que tinha na arena lotada. –
Private Chaos chega ao fim.
– Sim, e boa parte não deve ter assistido aos shows.
– Possivelmente não. – Começam a entoar outra canção, e puta-merda,
meus olhos enchem de lágrimas, estão cantando Guardian Angel. Fungo
tentando conter o choro.
– Baby... – Seco os olhos.
– O Brasil foi o país que mais teve aumento no percentual de cadastros –
constato.
– Foi sim.
– E boa parte deles nem fala a nossa língua...
– Onde você está querendo chegar, Beatriz? Diga logo.
– Precisamos dar algo a eles.
– Dar o que?
– Algo para guardarem na memória, para se sentirem especiais, para
deixar claro que a homenagem nos tocou.
– Que seria? – Penso por um instante.
– Nossos equipamentos não estão aqui, mas o hotel deve ter caixas de som
e microfones. Vamos montar na sacada e cantar três ou quatro músicas para
eles, nós dois, guitarra e voz. Músicas dos grandes ícones do rock. E ao final
eu quero cantar uma música de uma banda de rock brasileira. – Ele me olha
sério e então mexe a cabeça de um lado ou outro.
– Adianta eu dizer que não? – Ergo os ombros.
– Não. Se você não cantar comigo eu canto sozinha. Eles merecem alguma
consideração pela declaração de amor que estão fazendo.
– Porra! De roqueiro inacessível a showman pop, é nisso que você vai me
transformar depois desta turnê, Beatriz. – Rio e enlaço seu pescoço.
– Eu vou continuar te amando independente do título.
– Resta saber se eu vou continuar me amando.
– Neste caso, eu amo por nós dois. – Ele sorri e me beija.
– Como argumentar contra isso?

– Porra, já foi Riley, dá um jeito.... decidimos de última hora, fomos lá e


fizemos.... se algum deles reclamar e tiver que pagar, pague, cacete.... tá,
desculpe, desculpe... tudo bem, tchau.
– Problemas? – Max pergunta.
– Nossa brincadeira está bombando em todos os cantos do mundo. E Riley
ligou perguntando se não nos ocorreu que músicas tem direitos autorais. – Max
dá de ombros.
– Eu me diverti pra cacete – diz.
– Porra, fazia tempo que não tocávamos assim, só por tesão, como na
época de ensaios na garagem de Max. – Lian lembra.
– Ou nos bares e boates pobres do subúrbio – complementa Max.
– Sim. No fim das contas a ideia da minha noiva de dar algo a eles deu
algo a nós.
– Você tem que confiar mais nas minhas ideias, rockstar. – O beijo.
– Se alguém reclamar os diretos, pagamos. Valeu cada centavo. – Oliver
diz.
– Valeu mesmo. – Max confirma.
O showzinho na sacada do Copacabana Palace foi um acontecimento. Assim
que os funcionários do hotel começaram a montar as caixas de som e
microfones a galera já se alvoraçou.
Quando Oliver soltou o primeiro acorde I Was Made For Lovin' You do
Kiss na guitarra de dentro do quarto, ainda sem se fazer visível, a gritaria foi
de atordoar. O mar de gente tinha início na calçada do hotel, atravessava as
quatro pistas da avenida, e terminava à beira-d’água.
Ele entrou na sacada tocando a introdução da música e quase não dava para
ouvir a guitarra. Então entrei cantando o primeiro verso e seguimos
incendiando a praia de Copacabana, a galera sempre acompanhando, cantando
junto cada palavra.
Emendamos Every Little Thing She Does Is Magic do The Police e antes
que esta música acabasse, Lian, Kellan e Max, com um batuque improvisado,
se juntaram a nós. E dali em diante a brincadeira ficou boa, sonzeira de
atordoar, energia de arrepiar e muito bom humor, dos dois lados.
Chacoalhamos o Rio com Start Me Up dos Stones, Dude Looks Like a Lady
do Aerosmith, Welcome To The Jungle do Guns, e Highway To Hell do
AC/DC. Fora algumas músicas da The Order inseridas entre uma e outra. Max
cantou Live and Let Die do Paul McCartney enquanto Oliver assumiu a bateria
improvisada.
Um momento emocionante foi Oliver tocando e cantando sozinho Nothing
Else Matters do Metallica. Por fim, Oliver tocou e eu cantei Eu Sei, do Legião
Urbana. Ouvi muito Legião Urbana, influência de minha mãe, e adoro as letras
das músicas. Copacabana alucinou, não há outra palavra para descrever sua
reação a nós tocando e cantando algo deles.
Resumindo, nosso “sarau” foi lindo, revigorante, divertido e emocionante.
Uma festa, uma farra, tanto para quem tocou, quanto para quem ouviu. E só não
foi mais longo porque tínhamos horário para embarcar de volta aos Estados
Unidos.
Sorte de Riley que nosso tempo era curto, caso contrário, vai saber quantos
artistas mais poderiam entrar na fila para reclamar o seu quinhão.
Capítulo 30

“Trocaram as estações e nada mudou


Mas eu sei que alguma coisa aconteceu
Está tudo assim, tão diferente
Se lembra quando a gente
Chegou um dia a acreditar
Que tudo era pra sempre
Sem saber, que o pra sempre, sempre acaba”
(Por Enquanto – Legião Urbana)

Oliver

O Liver! Oliver... calma, vai amassar todo o meu vestido...


– Ah Bia... quem liga? Quero você amor. Você está tão
linda, tão cheirosa, sente só... – Pego sua mão e levo ao
meu pau, duro feito pedra.
– Baby, transamos antes de sair do hotel, duas vezes... não é possível
que...
– É possível sim, a evidência está aqui e é enorme. Sente nele bebê...
– Aff, você é tão sem-vergonha! E está mais que insaciável nos últimos
dias. – Ela começa a fazer um leve carinho.
– Foram dez dias de seca... Ahh baby...
– E há treze você não me dá folga, trepamos feito bonobos nas últimas
semanas... estou assada, Oliver.
– Bonobos? Que porra é essa? – Bia se ajoelha no chão da limusine, entre
minhas pernas e abre minha calça. O alívio é imediato quando ela liberta o
meu pau das roupas, ele está inchado demais, sedento por liberdade.
– Macacos, baby, macacos que trepam feito gente só que fazem isso o dia
todo.
– Uhm, eles sabem o que é bom... Ahhhh... – Me deleito quando ela leva a
linda boquinha à cabeça grande e rosada do meu pau e suga. – Anjo, chupa
mais fundo, isso, assim... Uhmmm... – Ela me chupa com afinco e quero gozar,
mas quero fazer isso dentro dela enquanto a beijo...
– Baby, sente aqui...
– Não rockstar, neste momento você terá que se contentar com a minha
boca. Já vou chegar ao local da premiação com o vestido amassado, não vou
acrescentar calcinha melada de porra ao conjunto.
– Bia... vem gozar comigo... – Mas minha súplica não tem alcance, porque
ela passa a chupar tão forte que não leva mais dois minutos e gozo
deliciosamente em sua boca.
Estou mesmo insaciável como ela diz, preciso dela o tempo todo, quero-a a
cada minuto.
Não sei se é a adrenalina dos shows, ou o fato de relaxar depois que ela
ficou doente, ou uma combinação dos dois, mas a verdade é que nunca é o
suficiente.
Transamos nos camarins, atrás do palco, em cima do palco, em cada canto e
sobre cada móvel dos quartos de hotéis por quais passamos.
Cheguei ao cúmulo de arrastá-la para uma transa no banheiro do cartório
ontem de manhã, após a cerimônia simples em que vovó e Edgar assinaram os
papéis. Isto mesmo, eles agora são oficialmente marido e mulher.
Tentei convencer Bia a aproveitar o embalo e fazer o mesmo, mas não
consegui. Depois da turnê faremos uma festa na praia para comemorar a união
de Edgar e Laura, agora Laura Blanc.
– Melhor?
– Não, venha aqui. – Puxo seu tronco para cima para unir nossos lábios.
Entrelaçamos nossas línguas e posso sentir meu gosto em sua boca enquanto a
beijo. – Agora sim, bem melhor. Eu deveria devolver o favor. – Ela me beija
outra vez.
– Estou bem. E não era brincadeira a parte da assadura. Preciso de um
respiro.
– Estou exigindo demais de você, pequena? – Abraço-a e inspiro entre
seus cabelos.
– Nunca fomos de perder oportunidades neste ponto baby, mas confesso
que estou um pouco assustada com o tamanho do seu fogo nas duas últimas
semanas.
– Acho que isto tem a ver com o seu cheiro, – fungo em seu pescoço – seu
gosto, – passo meus lábios pelo seu queixo, – seu corpo – corro as pontas dos
dedos pelo decote do seu vestido. Ou seja, você é a culpada por atiçar a minha
libido exacerbada.
– Ok, ok, mas vamos parar antes que o tora se anime outra vez neste curto
percurso até o Grammy. – Ela arruma minha roupa no lugar. – Você está tão
lindo neste smoking. – Uso um smoking com camisa e gravatas pretas, Bia usa
um lindo vestido preto em tecido brilhante, tomara que caia, totalmente justo,
com uma fenda lateral que vem até o meio da coxa, estilo Jessica Rabbit, só
que preto ao invés de vermelho.
Está lindíssima.
– Nervoso?
– Não, por que estaria? – Ela suspira.
– Esqueço que você já ganhou muitos destes.
– Sim, mas em nenhum dos outros eu estive acompanhado. Este é especial.
Não pelos prêmios, mas por você compartilhar a noite comigo.
– Hazel ficou tão triste por Max não a trazer como sua acompanhante.
– Desculpe, mas eu concordo com Max. Além do fato de que isto só
alimentaria as fantasias dela, nós sempre protegemos a nossa família dos
holofotes. Trazer Hazel para o Grammy seria acabar com o seu anonimato. Há
uma semana dela viajar para outro país sozinha, não seria uma ideia
inteligente.
– Tem razão. Vou sentir tanta falta dela.
– Assim que possível, vamos visitá-la – falo aquilo, mas internamente
tremo só de imaginar.
Desconheço completamente que tipo de reação terei ao voltar àquela cidade
e andar por suas ruas, por isso nunca tentei. Mas entre enfrentar este medo e
largá-la sozinha...
– Vamos? Não seria, eu vou?
– Sem chance, Beatriz, sem chance.
– Oliver! De novo não! Já discutimos tanto...
– Tem razão, e em todas as vezes fui muito claro. Não!
– Arg! Homem impossível! Não quero brigar, mas este assunto não está
encerrado, ouviu?
– Para mim está mais do que encerrado. Não vou mudar de opinião, anjo.
– Você não pode decidir onde vou ou não vou sozinha, Oliver.
– Posso. Posso sim.
– Ah, pode? Explique-me o que o faz ter esse direito.
– Sou o seu chefe, – ela arregala os olhos – seu noivo, quase seu marido,
responsável pela sua segurança e o seu bem estar, e o dono de todos os seus
orgasmos e de todos os seus beijos. Você é minha! Viu? Tenho todo o direito.
– Não é assim que as coisas funcionam. Eu tive limitações em relação a
minha liberdade a vida inteira. Não por proibição, mas por barreiras que a
nossa situação impunha. Por mais que esteja quase casada, como você mesmo
disse, quero experimentar o que é ser uma jovem normal. Uma pessoa que tem
o livre arbítrio de decidir o que quer fazer sem se preocupar que a sua
ausência momentânea seja um problema para outros. – Aquelas palavras me
impactam, de repente me sinto... rejeitado.
Com o meu histórico, não é algo bom de se sentir.
– Você... você não me quer por perto, é isso?
– Ah baby, não... claro que não é isso, meu amor. Mas você não pode
querer seguir todos os meus passos só porque tem medo e se sente inseguro.
– Por que não posso? – Ela me olha atentamente.
– Porque não é saudável.
– Por que não é? – Agora ela parece abismada.
– Sério que você não percebe?
– O que eu percebo é que eu quero estar onde você está e quero que você
esteja onde eu estiver. Não é assim que deve ser entre duas pessoas que se
amam verdadeiramente? Para mim, isto é mais do que saudável. – Bia respira
fundo.
– Eu vou por Hazel, baby, quero me concentrar nela. Poder conversar
coisas de meninas quando nos sentarmos na mesa de um pub para beber.
Disfarçada e cercada pelos seguranças, claro, mas ainda assim num encontro
de garotas, sem um marido fiscal nos observando ao longe.
– A última vez que você e Hazel tiveram um encontro de garotas regado a
bebida, sem a fiscalização de um marido, o resultado não foi nada bom.
– Ali estávamos as duas sob pressão, não conta. E a bebida era de fácil
acesso.
– Ah conta, conta muito... a situação de Hazel não mudará.
– Mas não terei motivos para encher a cara, então vou segurar a onda dela.
– Olho-a em súplica e decido abrir meu coração.
– Eu não ficarei emocionalmente bem se não puder, ao menos, estar na
mesma cidade que você. – Ela percebe pelos meus olhos e pelo tom da minha
voz que aquela declaração saiu do fundo da minha alma.
– Tudo bem. – Me beija rapidamente e deita a cabeça em meu peito. –
Oliver?
– Hum?
– Por que a The Order já tocou em todas as capitais da Europa, mas nunca
tocou em Londres? Sei que já tocaram em várias cidades da Inglaterra,
inclusive nas redondezas londrinas, mas nunca em Londres. Tem relação com o
seu acidente na infância? – Engulo em seco, o momento da nossa “inevitável
conversa” se aproxima e ela já fez questão de me lembrar da promessa
algumas vezes.
– Pelos motivos que você tomará conhecimento após o encerramento da
turnê, conforme prometido.
– Ok.

– Um brinde! A mais um Grammy de reconhecimento ao nosso esforço e


trabalho. – Max levanta e ergue o copo.
– Tim Tim! – respondemos Henry e eu.
Mais uma noite de vitórias no Grammy.
Eden não levou em melhor pop-rock, mas levou pelo melhor clipe. Fiz
questão de que Iris e Henry nos acompanhassem na premiação, pois caso Eden
ganhasse nesta categoria, era ela quem deveria subir ao palco e receber o
prêmio. O que fez de forma muito emocionada e totalmente merecida. Para
fechar com chave de ouro, ensacamos os dois outros prêmios aos quais fomos
indicados. Obstinate levou como melhor hard-rock e Don’t Touch Otherwise,
o álbum lançado na turnê anterior que levou o mesmo nome, ganhou como
melhor álbum de rock.
Bia e eu fomos muito fotografados durante todo o evento. E foi
impossível deixar de notar os vários olhares de outros artistas para cima dela,
fato que me deixou irritado pra caramba. Em alguns casos mais descarados,
tive que me segurar muito para não confrontar o cidadão e virar manchete no
dia seguinte como o cara que provocou briga no Grammy.
Havíamos solicitado há vários dias o fechamento do bar do hotel para a
comemoração pós-grammy, assim Hazel pode se juntar a nós. Mais alguns
convidados estão presentes na nossa pequena festinha. Eric, que ficará para o
show de amanhã e dormirá no quarto de Hazel esta noite, para desagrado de
Max. Lian trouxe Tina também para assistir ao show, então certamente passará
a noite com ela. Kellan, seguindo a mesma pegada, trouxe uma das amiguinhas
de Hazel como sua acompanhante, uma garota chamada Cloe.
Não gostei, pois a garota tem só dezoito anos e se Kellan a arrastar para
o camarim amanhã e não lhe der exclusividade, sabe-se lá como irá reagir.
Tina é macaca-velha, conhece o terreno em que pisa e está acostumada a este
tipo de situação, mas esta menina não.
Estranhei o fato de Max não arrumar companhia, visto que todos os
outros estão acompanhados. Mas, devido às circunstâncias, melhor assim.
Convidamos ainda Riley e Peter para vir um dia antes da apresentação
de amanhã, que já estava programada para assistirem de uma mesa VIP extra,
que será montada na arena especialmente para eles. Riley está ainda mais linda
grávida, com a barriguinha despontando. Não vejo a hora de ver outra linda
garota nesta mesma situação, uma de grandes e profundos olhos negros e
cabelos encaracolados.
– Eu acho que eles vão acabar se casando, sabia? – Max comenta, estamos
encostados no balcão do bar enquanto nossas garotas conversam animadas em
uma das mesas. Olho em volta tentando identificar de quem ele fala e avisto
Lian dançando com Tina.
– Lian e Tina? – pergunto espantado.
– Não, porra! Eric e Hazel.
– Formam um lindo casal, Eric é completamente apaixonado por ela, mas
não acho que a relação vá adiante... – larga Henry.
– Por que não?
– Porque ela não está na mesma pegada que a dele, Max. – Olho torto para
Henry, que me tranquiliza com o olhar.
– Pois eu acho que está. Vira e mexe ela chama o filhote de Hitler para
atender suas necessidades. – Santa ilusão, penso. – Não a vi com mais ninguém
além dele. Ela voltando de Londres, aposto que engatam um namoro sério.
– Ele é um ótimo rapaz, deveria ficar feliz se a escolha dela for ele – atiça
Henry, Max vira o copo de whisky de uma só vez.
– Nenhuma escolha que ela faça neste sentido me deixará feliz – confessa,
quase num murmúrio. Henry estreita os olhos para ele.
– Por quê? Por que isto te afeta tanto? – Henry pergunta no seu modo
terapeuta, no tom de voz que só ele tem e que arranca as confissões mais
profundas.
– Porque significa que eu a perdi. Ela cresceu, seguiu sua vida e eu a
perdi. – Henry processa aquelas palavras e o analisa por uns minutos.
– Você não precisa perdê-la porque ela cresceu, seguiu sua vida, Max.
– Como não?
– Ela nunca deixará de ser sua família. Sempre terão o mesmo carinho
especial um pelo outro.
– Não é a mesma coisa. Eu não serei mais necessário. Não é a mim que ela
irá procurar em primeiro lugar. A quem irá pedir ajuda.
– Mas este é um distanciamento inevitável da vida adulta, o curso natural
da vida. Acontece o tempo todo entre pais e filhos, irmãos e irmãs, amigos de
infância...
– Esta é a merda. Não quero que aconteça entre nós. Há coisas que nunca
mais serão iguais. Nunca mais faremos.
– E outras que vocês sempre poderão fazer.
– Como o que?
– Como... dançar! Aproveite que o filhote de Hitler está entretido na
conversa com Kellan e Peter e vá tirá-la para dançar, Max. Olha lá... Ela está
tão linda! Mexa-se, homem! Não perca tempo. Faça-a feliz. – Arregalo os
olhos e abro a boca, encarando Henry. Ele me pede, silenciosamente, calma.
– Porra... sim... Boa ideia! – Max vira o segundo copo de whisky e vai.
– Henry, quer me explicar que merda foi essa?
– Isso, meu amigo, fui eu tentando comprovar uma teoria.
– Que teoria?
– A de que Bia pode ter razão.
– Não fode!
– Não? Eu falei tudo que inconscientemente ele tem vontade de ouvir. Ele
ficou empolgadíssimo com a ideia. Olhe bem para os dois juntos, Oliver... a
necessidade que um tem do outro é quase palpável, não consegue sentir?
– Sim, mas são necessidades com propósitos diferentes, Henry.
– Será? Será mesmo? Eu não teria tanta certeza. – Balanço a cabeça em
descrença e fico me perguntando quem está tratando quem nas sessões de
terapia entre Bia e Henry. Parece que ela anda tendo mais sucesso sugestivo
sobre ele do que o contrário.
Batidas insistentes na porta do bar chamam nossa atenção, olho através
da porta de vidro e alguém parece estar numa discussão ferrenha com os
nossos seguranças parados ali.
Um homem idoso, alto e bem magro, cabelos grisalhos e que, mesmo de
longe, não nega o porte altivo. Acompanhado de uma mulher jovem e dois
outros homens que eu diria serem seus seguranças.
O homem gesticula e gesticula e fala tão alto que consigo ouvir partes
truncadas das palavras por sobre a música que toca no ambiente.
– O que será que está acontecendo lá? – Henry pergunta.
– Ele não vai desistir fácil... – Ouvimos o barman murmurar.
– O que você sabe? – pergunto ao rapaz.
– Aquele senhor lá fora é um empresário estrangeiro, podre de rico.
Sempre se hospeda aqui e é a pessoa mais arrogante e insuportável que
conheço. O tipo de gente que cresceu vendo o mundo girar ao redor do seu
umbigo, acha que todas as suas vontades devem ser atendidas na hora. Ele está
possesso desde que chegou da rua com a esposa jovenzinha e descobriu que
fecharam o bar para vocês, e ele não poderia ter acesso. Já ameaçou nosso
gerente, fez o homem ligar para o dono do hotel e soltou os cachorros. Agora
deve ter partido para ameaçar os homens que bloqueiam a passagem. Para ele
é muito mais uma necessidade de provar que tem mais poder do que vontade
de beber algo no bar. – Enquanto o homem termina seu relato, ligo para John.
– John, mande mais homens para a porta do bar, por favor... tem um senhor
com dois seguranças ameaçando os caras para invadir o espaço... não, mande
mais quatro homens... ele precisa ver que se quiser briga, não será uma luta
fácil... ok, obrigado.
Ao desligar, volto o olhar na direção do tal empresário e bem neste
instante um dos nossos seguranças se mexe e o rosto do homem fica nítido por
alguns segundos através do vidro.
Meu sangue gela e um arrepio sobe pela minha espinha.
Não, não pode ser!
Esfrego o rosto com as duas mãos e quando foco o olhar novamente o
paredão de seis seguranças está armado em frente a porta. O homem, já de
costas para nós, caminha com sua trupe em direção aos elevadores.
Foi impressão, me convenço.
Apenas uma impressão.
– Merda!
– O que foi? – Bia me mostra o seu telefone.

Brasileira Raquel Oliveira declara ser íntima de Oliver


Rain e diz que esteve nos bastidores da turnê a seu
convite

Quando vocês pretendiam informar a sua advogada sobre o


contato com os seus parentes, Bia?
Não assinaram os documentos, não é?

– Eu disse que deveríamos tê-los feito assinar os documentos. – Bia diz


em meio a um suspiro de decepção.
– Não quis constranger os seus tios, baby.
– Pois é, mas... – O telefone dela acusa nova mensagem.

Oi Bia... tenho que te avisar uma coisa... A cobra da


Raquel fez merda. Ficamos sabendo há pouco porque Rafael
viu uma chamada num site. Ela deu entrevista numa TV local
falando
bobagem... insinuando que teve algo com Oliver... Mamãe
só chora e papai está dando uma dura no Matheus

Aliás, papai está fazendo isso desde que voltamos,


porque ninguém deixou de perceber o comportamento dela.
Sei que já pedimos desculpas a vocês por isso, mas nossa...
que vergonha! Já passou da hora do meu irmão enxergar com
que tipo de mulher casou e se livrar do encosto

Eu já tomei conhecimento. A advogada da


Three Minds avisou. Diga para sua mãe
ficar tranquila. Sabemos que não foi culpa
de vocês. Só talvez...
Olha, não me leve a mal, por favor, Oliver e
eu não queríamos fazer isto porque vocês
são nossa família, mas talvez tenhamos que
fazer pelo menos com suas cunhadas. Toda
pessoa que se aproxima dos meninos de
uma forma pessoal tem que assinar um
documento de confidencialidade. Eu mesma
assinei quando me mudei para a casa de
Oliver. Acho que depois do acontecido
teremos que pedir a Raquel e Melissa para
assinarem, Eva

Falei com mamãe


aqui e ela disse para
você mandar os papéis e
todos nós vamos assinar

Não precisa, confiamos em


vocês

Precisa sim. Fique tranquila Bia,


sabemos que isto não tem nada a ver
com confiança.
É necessário, por serem pessoas
públicas.
Mande os papéis e vamos assinar
Obrigada, prima

Não agradeça por isto. Se houver


algo que possamos fazer para mitigar o
que Raquel aprontou, por favor nos
diga e faremos. A levamos novamente
à TV, a força, para que desminta tudo
se isto ajudar. Só nos fale...
Pode deixar querida. Vou
conversar com nossa
advogada, mas creio que não
há necessidade. Só não
alimentar mais os boatos
basta. Se ela der qualquer
outra orientação, eu falo.
Fique bem e tranquilize a tia
por mim.

Farei isto. Até mais


Bia traduz para mim a conversa com a prima e eu a abraço.
– Perdão, meu amor – peço.
– Pelo quê?
– Por não ter destruído ainda os documentos que você assinou. Na
verdade, nem me lembrava deles, só agora que você falou...
– Nem eu lembrava Oliver... só me ocorreu agora que mencionar isto
mostraria a eles que não é nada pessoal...
– Sim, mas vou pedir a Riley para destruí-los amanhã mesmo e também
cuidar dos documentos com seus tios.
– Certo. Está quase na hora de você entrar na recepção dos VIPs, não?
– Está sim anjo, mas anime-se. Este foi o último show e esta será a última
recepção aos VIPs.
– Aleluia! Não pelo show, mas pelos VIPs.
– Amanhã dormiremos em casa.
– Nossa, que saudades!
– Sim. E foi uma turnê curta, só dois meses. Agora pense quando você me
acompanhar em uma de quatro, seis meses...
– Eu vou acompanhar, é?
– Tem dúvidas? Prefere ficar em casa?
– Não mesmo. Eu enlouqueceria. – Estreito-a ainda mais em meus braços e
beijo-a por longos minutos.
Nem falei nada para Bia, mas vi Carol, a amiga de Hazel que armou a
emboscada com Kate no meu apartamento, aqui em Los Angeles, está
hospedada no mesmo hotel.
A garota já me cercou duas vezes, uma na manhã seguinte à festa do
Grammy, quando fui à recepção tentar descobrir o nome do homem que tentou
invadir o bar e outra no elevador, na manhã de hoje. Não sei como conseguiu
entrar já que um deles é exclusivo de uso nosso. Se acontecer mais uma vez,
terei que tomar providências mais severas.
– Uhmmm...
– Uhmmmm?
– Estes beijos estão me deixando quente e molhada... – Sorrio contra sua
boca.
– É mesmo? Gosto de você quente e molhada. Mas não faz nem uma hora
que o show terminou e transamos aqui no camarim. – Depois de Nova York,
pedi a organização para preparar um terceiro camarim só para nós dois em
todos os shows.
– Pois é, mas... – Ela passa os dedos por dentro do cós da minha calça.
– E eu que estava sendo acusado de ter fogo demais... – Abro seu short e o
retiro junto com a calcinha, ela ajuda e chuta as peças para longe.
– Você tem.
– Você não fica atrás.
– Menos papo e mais ação, rockstar.
– Como queira, madame. – Viro-a rapidamente de costas para mim e
coloco-a com o tronco deitado sobre o tampo de uma pequena mesa de quatro
lugares que tem ali.
Depois afasto suas pernas e admiro a paisagem.
– Que bela visão, pequena... – Aliso sua bunda empinada. – Sua bocetinha
está brilhando, anjo. Fique quietinha aí. – Ando até as minhas coisas, pego o
lubrificante e o óleo corporal, e volto.
– Meu amor... – Espalho o óleo pelas suas nádegas e pelo seu sexo,
deixando-os reluzentes. – Tão linda... – Passo os dedos de leve entre os lábios
do seu sexo excitado e ela estremece.
– Baby... – Me pede. Me abaixo, beijo uma nádega, depois a outra. Abasto
bem as bandas da sua bunda e literalmente, meto a cara! Chupo sua boceta e
clitóris com muito gosto. – Ahhh gostoso... – Bia rebola na minha cara,
pedindo mais.
– Eu vou começar aqui, – digo e coloco a ponta da língua dentro da sua
boceta – mas vou gozar aqui. – Chupo seu cuzinho, depois volto a sugar seu
clitóris com força e Bia grita. Levanto-me, baixo as calças e me posiciono
atrás dela.
– Quero com força, muita força.
– Então segure firme nas bordas da mesa. – Quando ela faz, entro em seu
corpo com um tranco. Outro grito.
– Isso! Era disso que eu precisava... continua amor.
– Vou fazer você ver anjos, gostosa. Gozar até perder os sentidos. – Sigo
entrando nela forte e duro, mas não tão rápido. A mesa se move cada vez um
pouco mais à frente, mas não damos importância.
– Faça baby, faça... apague o meu fogo... me rasgue... durante o tempo que
estiver longe, quero sentir o seu pau ainda aí dentro, pulsando.
– Ah baby, você vai! Tão sem-vergonha a minha menina. – Meto com tudo.
– Oliver! – Ela se segura como pode.
– Essa boceta tá tão molhada, bebê, tão escorregadia.
– Baby... ahh...
– Já vai gozar? Vai gozar gostoso no meu pau?
– Siimmm, não para, continua metendo forte, amor. – Seguro junto com ela
no tampo da mesa para me firmar e agora acelero. Nossos corpos fazem um
som alto toda vez que se encontram pela força do impacto.
– Forte o suficiente para você?
– Sim... ahr, baby... que delíciaa... tô gozaaanndoooo...
– Ah minha pequena... esse foi só o primeiro, tenho mais para você... –
Abaixo o rosto e beijo suas costas. Ela afrouxa a pegada na mesa, amolece os
braços e larga seu peso, está muito ofegante e entregue.
– Não sei se aguento gozar outra vez agora... – Suas pernas fraquejam, a
seguro. – Foi intenso. E teve o outro faz pouco tempo...
– Aguenta sim, vou te deixar prontinha. – Deslizo os lábios por sua coluna
em direção à bunda.
Ela arrepia.
Chupo seu ânus novamente e estímulo seu clitóris até que ela começa a
rebolar e sei que está excitada outra vez.
– Oliver... – Espremo uma quantidade generosa de lubrificante ali e
espalho com o dedo.
– Relaxe baby. – Começo a penetrá-la por trás. Devagar.
– Deus... é tão grande...
– E só seu.
– Sim, só meu. Ahhh...
– Tudo que é seu está enterrado dentro da sua bundinha, pequena. Dá uma
reboladinha, dá... – Ela faz... me seguro.
– Se você pudesse ver o que eu vejo... que imagem!... – Rebola de novo,
mordo os lábios e solto gemidos.
Que gostosa! Pora...
– Baby, tá tão bom!
– Vou mexer, segure. – Começo a comê-la com vigor ali também.
– Porra...
– Está a caminho.
– Besta... Aí, cacete...
– Dentro de você.
– Inferno, Oliver!
– Não amor, você vai alcançar o céu...
– Aff... senhor engraçadinho...
– Aprendi com a minha noiva.
– Baby... que delícia...
– Sim, só falta uma coisa... – Me deito sobre ela em cima da mesa, viro
seu rosto para trás e a beijo, enquanto sigo invadindo seu ânus sem trégua.
Levo suas mãos para a frente da mesa e seguro com as minhas por cima das
dela. Deito a cabeça no vão do seu pescoço e acelero em busca do meu prazer,
estou quase.
– Oliver... nem eu acredito, mas estou quase gozando outra vez...
– Então goza comigo, amor... vem... – Meto mais algumas vezes e gozamos
forte quase ao mesmo tempo.
– Ah que gozada! – digo ainda deitado sobre ela.
– Não tenho forças. Preciso ficar umas duas horas aqui até conseguir me
mexer. – Rio.
– Então fique. Gostaria de acompanhá-la, mas... – A porta do camarim se
abre.
– Puta merda! – O invasor declara ao se deparar com o flagra.
– Some daqui Lian! – Ele vira de costas.
– Só vim avisar que está na hora. Você tem dez minutos. E da próxima vez
tranca a porta, caralho! – Sai e bate a porta atrás de si. Bia e eu caímos na
gargalhada.
– Não tínhamos trancado a porta? – Ela pergunta.
– Tínhamos, mas abri depois que transamos.
– Ainda bem que são nossas cabeças que estão viradas para a porta e não
nossos traseiros.
– É, ainda bem. Deixe que eu me recomponha, pois tenho a última missão
da turnê a cumprir. – Retiro o membro de dentro dela e me levanto. Ela
choraminga. Ajudo-a a fazer o mesmo, então a abraço, ela enlaça meu pescoço
e nos beijamos demoradamente, derramando todo o sentimento que temos um
pelo outro naquele contato.
– Eu te amo – digo olhando-a nos olhos e afagando seus cabelos.
– Eu te amo. – Ela repete, segurando o contato do olhar e correndo os
dedos pela minha barba rente.
– Vai para o outro camarim com as garotas?
– Não, acho que vou tomar um banho e dormir naquele sofá por uma hora.
Estou esgotada.
– Faça isso. Vou pedir a um segurança para ficar na porta e impedir que
algum desavisado entre aqui por engano enquanto você dorme.
– Tudo bem. – Lhe dou um último beijo e a solto. Vou rapidamente ao
banheiro e arrumo minhas roupas.
– Até depois baby.
– Até meu amor. – Trocamos um selinho e sigo para junto dos outros.

Toda recepção é igual.


Eles saem das mesas VIPs e são levados a um salão especialmente
preparado. É servido um jantar, enquanto nos recuperamos do show e
relaxamos por alguns momentos. Depois de jantarem, as mesas são retiradas e
substituídas por mesas estreitas e altas, apenas para apoio de copos, mantendo
as pessoas de pé. A partir dali os garçons circulam com bebidas e canapés.
Então entramos, nos servimos de bebidas e seguimos para duas mesas altas
reservadas para nós, ficamos normalmente Kellan e eu em uma, Max e Lian em
outra. Esperamos que se aproximem e interagimos com eles, cumprimentando,
respondendo perguntas, dando autógrafos, essa última parte menos eu, claro,
tirando fotos e bebendo juntos até que se esgote a hora combinada. Aguentando
conversa fiada e muita, muita cantada barata. Tanto das mulheres, quando de
alguns homens. Bia não sabe, mas muitas forçam mesmo a barra, tentando
passadas de mão impróprias quando acham que ninguém está olhando.
Desviando beijos no rosto e acertando na boca ao cumprimentar. Um saco!
Há oito mulheres ao meu redor e mais três de papo com Kellan na nossa
mesa neste momento. Mais umas dez pessoas ao redor de Lian e Max e os
demais seguem nas outras mesas com suas bebidas e canapés.
– Oliver, você tem casa em Aspen? – Reviro os olhos internamente. Esse é
o tipo de papo que temos que aguentar. E pensar que eu poderia estar agora
dormindo agarradinho com Bia lá no sofá...
– Não, não tenho.
– Por que não? – Paciência, Oliver, paciência, é a última.
– Não tenho interesse.
– Nós temos uma casa linda lá, o dia que você quiser esquiar, me liga, será
muito bem-vindo. – Ahã...
– Ok.
– Esse é o meu número. – Retira um cartão da bolsa de grife e me entrega.
Pego o papel e o deixo sobre a mesa. A dona torce o nariz. Problema dela.
– Você está hospedado em qual hotel? – Outra tenta. Como se elas já não
soubessem.
– Não posso divulgar.
– Ah, vai... nem para nós? – Muito menos para vocês.
– Para ninguém.
– Você está mesmo noivo daquela menininha? – Uma terceira pergunta.
Sério? Espalmo minha mão com a aliança sobre a mesa.
– Responde sua pergunta?
– Mas um homem como você, que pode ter a mulher que quiser, vai se
amarrar com uma menina? Ela é tão baixinha para você... – Perdi as contas de
quantas vezes ouvi coisas deste tipo nestas recepções.
– Nenhuma outra mulher que eu conheci chega aos pés da minha mulher.
Em todos os sentidos. – Elas fazem caretas veladas.
– Você parece até um homem apaixonado.
– Eu sou um homem totalmente apaixonado.
– O dia que quiser experimentar coisa nova... – Uma outra deposita seu
cartão sobre o que deixei em cima da mesa. Não digo nada, apenas dou um
gole na minha bebida, porque se abrir a boca, nada de bom vai sair.
– Com licença – peço e me aproximo de Lian, puxando mais para o fundo.
– Porra, falta muito? Não aguento mais...
– Oliver, minha mente ainda não consegue olhar para você sem vincular
certas imagens...
– Vai a merda, Lian.
– Segura as pontas bonitão, faltam uns vinte minutos ainda.
– Tudo isso?
– Infelizmente... E vou te dizer uma coisa, se alguma das suas próximas
ideias envolverem esse tipo de merda, eu estou fora.
– Se alguma das minhas próximas ideias envolverem esse tipo de merda,
por favor, me dê um soco bem dado para eu cair na real.
– Com prazer.
Ao me virar para voltar a minha mesa, meus olhos varrem o salão e se
fixam na figura de um homem. A visão me faz tremer. Paraliso, estático, por
uns minutos, deixando meu cérebro ter tempo para acreditar no que meus olhos
veem. O que vi no hotel não era uma impressão afinal.
O que ele está fazendo aqui? Ele se mexe, tornando seu perfil ainda mais
visível. Apesar de envelhecido é ele mesmo, não há dúvidas. Reconheço o
jeito, os gestos, o porte. Ele se movimenta e me nota. Percebe que tenho o
olhar fixo em sua figura.
Se levanta.
O ar me falta, eu perco a cor, a garganta fecha.
Começa a se mover na minha direção.
Não, não quero, não estou preparado para o confronto.
Tento me mexer do lugar e cambaleio, as pernas falham, quase caio. Agarro
Lian e o puxo para sair dali comigo.
– Que foi, porra? – Ele pergunta.
Continuo puxando e empurrando as pessoas para ganhar espaço.
Coração a mil.
Tenho que parar essa merda antes que seja tarde...
Bia... pensar nela faz meu medo triplicar...
Preciso de um choque, preciso de ar...
– Oliver, o que você está fazendo? Estão olhando...
– Vem comigo... – digo a muito custo, quase sem som.
– Mas, o quê? – Seguro-o pelos ombros e olho-o.
Ele vê o terror em meus olhos.
– Merda... vamos rápido... – Me ajuda e conseguimos sair para o corredor.
Lian me dá tapas no rosto. – Calma, não é real, vai passar, controle...
– É... é real...
– Não, não é, me ouviu, não é. – Outro tapa.
– O Conde... ele... ele está lá...
– O Conde? Como?
– É um dos... – Passo as mãos pelo pescoço, estou suando frio, vou cair...
– Vamos para o nosso camarim.
– Preciso falar enquanto posso. – Faço um esforço desumano, mas arranco
aquelas palavras de dentro de mim. – Não esqueçam o que... me prometeram.
Não contem nada a Bia se eu cair... – Puxo o ar. – Quando voltar eu conto.
Digam que precisei fazer uma viagem... fique com meu celular... cuidem dela...
– Dou o aparelho para ele.
– Estamos perdendo tempo Oliver, venha.
– Prometa.
– Prometo, agora esquece isso e vem pro camarim, está vazio lá, vou te
colocar no chuveiro... – Ele me leva até o camarim deles e abre a porta. Os
seguranças olham a cena intrigados.
– Lian, me deixe e procure Henry... traga ele aqui... estou sentindo que...
– Ok, ok, aguente firme, tente reagir, vou trazer Henry. – Me põe sentado
no chão e vai.
– Vá logo!
O medo e o desespero tomam conta de mim pouco a pouco conforme
respiro. Tento afastar os pensamentos gatilho, a visão dele, o medo de fazer
Bia sofrer, mas mesmo tentando pensar em outras coisas, os pensamentos e
sentimentos ruins daquela época dominam, se infiltram sem serem convidados
e o terror se entranha nas minhas veias, no meu sangue, nos meus órgãos.
Sinto a batalha sendo perdida pouco a pouco e eu querendo deixar o meu
corpo, deixar esta realidade. Me tornar um observador distante de mim mesmo.
Mas tento resistir, tento muito resistir, com todas as minhas forças. Por ela.
Não posso fazer isso com Bia, por Deus, não posso! Só em pensar nela
sofrendo outra vez por uma doença, por minha causa... ela não merece...
Agarro a gola da camiseta, como se alargando-a o ar voltasse aos meus
pulmões. Mas não resolve, nada resolve. Estou caindo, caindo... Cadê Henry?
O torpor começa, inicia nos membros, que adormecem, e vai subindo...
– Oliver? – Ouço uma voz feminina, tinha alguém ali? Tento reagir.
– Eu... – Não termino, não consigo... já não consigo mais.
Perdi.
O torpor é geral.
Deixo-o tomar conta de vez, é meu escudo, minha proteção à dor. Entrei no
limbo, naquela dimensão dentro da minha doença onde nada mais importa,
ninguém importa, tudo é calmo e vazio... e eu... eu só quero ficar ali...
É mais seguro ali, não há dor ali, ninguém pode me ferir outra vez...
– Ah querido, você não está bem? Eu vou te ajudar. – Eu ouço, vejo, mas
não tenho mais reação alguma, apenas existo. Os rostos são apenas isto, rostos.
As vozes são apenas vozes, não há distinção, não há reconhecimento. – Venha
comigo. – Ela se abaixa e passa meus braços por sobre os seus ombros.
Eu não decido, eu não julgo, eu só me deixo levar.
Sou escorado por ela e andamos pelos corredores, ela fala com outros, eles
me olham, analisam, mas não dizem nada, deixam ela seguir... andamos mais,
entramos num carro, saímos, entramos num edifício, andamos, pegamos um
elevador, saímos, andamos, entramos num quarto, ela me põe sentado num sofá.
– Você está drogado, não é? Essa sua pira aí só pode ser muito pó... – Ela
ri. – Passou da medida, não foi? Apesar de imaginar que você estaria mais,
hum, ativo quando o momento pelo qual tanto esperei chegasse, eu aceito assim
mesmo... hoje vamos nos divertir Oliver Rain... Se você não lembrar de nada
amanhã, não se preocupe, gravo tudo e depois te mostro. – Ela se afasta e mexe
no telefone, depois retira as roupas e abaixa entre as minhas pernas, pega
minha mão e leva aos seus seios, se ergue e beija minha boca, então ajoelha e
abre minhas calças.
– Sou apaixonada por você há tanto tempo, sabia? Tento chamar sua
atenção há séculos... até aturei a chata da Hazel por longos anos por sua causa.
Mas daí surge essa menina sonsa e não sei o que você viu nela... eu não sou de
desistir do que eu quero, nunca desisto. Tentei armar aquela com a Kate para
ver se ela dava o fora, mas não deu certo. Agora vai dar, tem que dar. – Ela
passa a mão pelo meu sexo, bolinando.
– Nossa, isso aqui é melhor do que eu imaginava. Que pau enorme, Oliver.
Que belezura de pau. – Me põe na boca, a cabeça dela sobe e desce. Eu
observo, tudo, cada movimento, de fora, não sou eu ali, é só o meu corpo. Não
sinto nada, absolutamente nada. Nem frio, nem calor, nem sede, nem fome, nem
alegria, nem dor, nem medo, nada...
– Você tá ferrado mesmo, não está? Mamou no pó, Oliver Rain? – Ela ri
alto. – Não consegue falar, nem se mexer, mas não tem problema, o pau ficando
duro é tudo que eu preciso para fazer nós dois felizes. E ele já está quase no
ponto querido, só mais algumas punhetadas e chupadas para eu senti-lo
alargando a minha boceta. Ela espera por isso há muito, muito tempo... – Me
leva a boca outra vez.
– Você é o homem mais lindo que eu vi na vida. Não há outro igual. Você
todo é um convite ao sexo. E será meu, meu! Ah você será! Ou não me chamo
Carol Spencer.
– Olha, que monumento... esse pauzão deveria ser eternizado... vamos
filmá-lo bem de perto antes de eu cavalgar gostoso em você.
– Prontinho, já está de bom tamanho. – Ela senta no meu colo. Começa a
fazer movimento de sobe e desce, sobe e desce...
– Porra, você não está colaborando muito, não é querido? Não adianta pau
grande se não mantém ele duro... o pó está atrapalhando? Mas não vou parar de
te foder com a minha boceta até... – Ouço um barulho alto, de algo sendo
rompido.
– Oliver?
– Saiam daqui...
– Que Porra! – Alguém passa os braços pela cintura da garota e a retira de
cima de mim.
– Que merda você estava fazendo piranha? – O cara a segura pelo
pescoço. Outros dois vem até mim e arrumam minhas roupas.
– Você está tão ferrada, tão ferrada. Isso é estupro, sabia?
– Ele não me mandou parar nenhuma vez. Não o obriguei a vir comigo,
veio de boa vontade.
– Ele não está consciente e você sabe, não se faça de ingênua.
– Se ele é um cheirador do caralho o problema é dele.
– Cala a boa e vista-se! – O cara empurra a garota em direção às roupas
no chão. Ela se veste.
– Vamos levá-lo para o meu quarto. – Outro homem fala.
– Tudo bem. Você vem conosco – diz o cara que segurou a garota.
– Você não pode me obrigar, Max.
– Ah, posso sim. E isso aqui agora é meu, cadela. – Ele pega o celular
dela e depois a puxa pelos cabelos.
– Vamos. – Eles saem do quarto e os outros dois me carregam lá para fora
também. Depois me colocam em uma cama, em outro quarto, em outro andar.
Só os três homens estão ali, a garota não está mais.
– Oliver... – Alguém me chama e bate em meu rosto. – Oliver... vamos,
reaja... você pode, você consegue, vamos... isso não faz mais parte de você,
lembra? Você venceu... Bia está te esperando... – Não me mexo, não reajo.
São só palavras...
– O que desencadeou, Lian?
– Parece que um dos VIPs era o conde...
– Puta-merda, como isso passou? Como não vimos?
– Nenhum de nós checou a lista de nomes, Max... essa foi a merda... demos
mole... E também vai saber se usou seu nome real...
– Quem imaginaria? O canalha nunca procurou...
– Pois é, quem imaginaria... tenho até minhas dúvidas se ele sabe que o
Oliver Rain da The Order é o Oliver que ele criou até os seis anos...
– Ele reconheceria pelos olhos... quantas pessoas tem os olhos como os de
Oliver e Vivienne?
– E será que em algum momento ele parou para reparar nisso? Duvido...
Vamos irmão, acorde. Sua vida te espera, sua vida feliz, com Bia, lembra?
– O que faremos, Henry?
– Vamos esperar... da última vez ele acordou em uma hora. Se passar mais
de seis horas assim, vamos levá-lo para o seu apartamento aqui em Los
Angeles. E de mais, o mesmo de sempre... mantê-lo limpo, hidratado e
conversar muito, sempre que possível, para tentar trazê-lo a realidade.
– E quanto a Laura, Bia...
– Ele usou suas últimas forças antes de apagar para me fazer prometer, de
novo, que não diríamos nada a Bia. Que ele conta quando voltar.
– Isso é um bom sinal, ele admitiu que vai voltar. Acho que devem manter
a promessa.
– Mas e se...
– Sem pessimismos, por favor. O que ele precisa de vocês é a certeza de
que isso está terminando. Pelo nível do que o levou a esta crise, acho que não
será tão rápida quanto as últimas, mas vou repetir o que sempre digo a ele,
Oliver não terá mais crises de meses, anos. E esta crise de hoje pode ter sido o
primeiro passo para a sua libertação final. Ele deu de cara com um dos seus
algozes. Depois que passar por isso, o próximo passo será conversar com este
homem de uma vez por todas e encarar Vivienne. Então creio que suas crises
terminam de vez.
– Quanto tempo?
– Diria que no máximo uma semana.
– Se passar de uma semana, abrimos o jogo com Bia.
– Não vai passar.
– E Laura?
– Temos que contar a ela, Max. Não vai acreditar em qualquer história que
inventemos.
– Concordo. Vou pedir a ela para vir ao seu quarto Lian.
– Faça isso. E o que diremos a Bia?
– A turnê acabou, pelo menos isso, não temos compromisso e podemos
ficar com ele no apartamento aqui em Los Angeles. Inventamos que os três
precisaram fazer uma viagem urgente e que esclarecemos os motivos quando
voltarmos, o que acham?
– Uma merda! Mas nossa melhor opção, infelizmente.
– O celular dele?
– Está comigo.
– Perfeito Lian, mande mensagem para Bia do fone dele, eu vou mandar
para Hazel contando a mesma história e pedindo a ela para voltar para casa
com Bia.
– Vou mandar para Kellan do meu também.
– Sim, boa... vou chamar Laura... – Alguém bate à porta. O homem do
cabelo vermelho atende.
– Senhor Connor, as senhas da conta e do acesso ao celular da garota que
o senhor pediu.
– Ótimo. Onde ela está?
– Estamos mantendo-a em uma sala, como o combinado, senhor.
– Obrigado John, Riley deve te procurar em breve passando orientações
sobre como proceder com ela.
– Ok. – O homem de cabelo comprido mexe no celular, o de cabelo
vermelho também. O de cabelo loiro mexe no meu corpo.
– Riley, oi... olha, estamos com um problemão... Oliver entrou em crise...
o pai dele apareceu... o conde... sim, mas não é isso... ele foi estuprado... uma
louca o achou apagado e o trouxe para o quarto dela... é... quando chegamos a
doida estava montada nele... eu sei... é aquela amiga de Hazel que já causou
problemas, a tal Carol... sim, John está com ela, disse que você vai orientá-
lo... peraí, tem mais... ela filmou, estou com o telefone e as senhas da conta...
não, não apaguei... imaginei... mas é uma ação legal bloquear a conta dela?...
ah, ótimo, faça isso, te passo os dados... ok... Riley, é segredo... sim, sei que
sempre foi, mas eu digo para Bia... concordo, mas prometemos a Oliver...
Riley, eu sei, mas prometemos e Henry está aqui, acha que devemos cumprir...
ele quer contar, vamos esperar uma semana... sim, se ele não voltar em uma
semana contamos... vamos dizer que os três precisaram viajar de última hora...
sei que é nutella, mas o que você sugere?... pois é, só que não é uma opção...
então ficamos com a nutella mesmo... a Laura diremos a verdade... ok...
qualquer coisa nos informe... Tchau.
– Escrevi a mensagem para Bia, mas acho melhor enviar só depois de
falarmos com Laura.
– Sim... ligando...
– Max, vamos deixar de fora a parte do abuso.
– De acordo... Laura... desculpe o horário, mas é importante... pode vir até
o quarto de Lian? É o 1163... infelizmente é sim Laura, sinto muito... Ok. – O
homem de cabelo cumprido está chorando.
– Não é justo Max, eles estavam tão felizes, Laura estava tão feliz... – O
homem de cabelo vermelho seca os olhos também.
– Eles ficarão outra vez, Lian... vamos vencer mais esta... – Outra batida à
porta.
– Me deixe vê-lo. – Uma mulher e um homem de cabelos grisalhos entram
apressados e se aproximam. Ela me abraça, me beija, acaricia o meu rosto e
chora.
– O que foi? Cadê Bia?
– Ele viu o conde. Na recepção aos VIPs.
– Quem permitiu que aquele homem entrasse?
– Não vimos Laura, foi uma falha grave... – A mulher seca os olhos.
– Bia?
– Ela não sabe... Oliver pediu para caso acontecesse antes de ele mesmo
contar, que esperássemos ele voltar.
– Mas... o que vamos dizer?
– Escrevi uma mensagem, veja... – O homem de cabelo comprido entrega o
telefone a mulher.
– Vocês acham que vai funcionar?
– Vão ficar intrigados, desconfiados, mas é o melhor que nos ocorreu.
– Henry?
– Acho que é o melhor neste instante Laura. Entendo a preocupação de
Oliver sobre revelar a ela. Vamos tentar manter as coisas dentro do que ele
queria. Ele vai voltar logo.
– Tudo bem.
– Vamos precisar da ajuda de vocês para cuidar de Bia e manter a história.
– Mas preciso cuidar de Oliver...
– Laura, Max e eu ficaremos com ele no apartamento. Henry virá sempre
que possível também. Manteremos você informada. Mas neste momento, você
e Edgar precisam segurar as pontas com Bia.
– Ele vai precisar que o alimentem, o hidratem, o levem regularmente ao
banheiro, cuidem da sua higiene... ele vai precisar de soro caso se recuse a
alimentar-se e hidratar-se e de sondas caso se recuse a fazer as necessidades.
– Nós providenciaremos tudo isto, não se preocupe. – Ela respira fundo e
seca as lágrimas.
– Pode enviar a mensagem Lian. Logo ela deve estranhar a demora dele, se
já não estranhou.
– Acabei de receber uma mensagem de Hazel perguntando onde nós nos
metemos com Henry e se Bia está conosco – fala o homem de cabelo vermelho.
– Bia não deveria estar com elas? – O homem de cabelo branco pergunta.
– Iris está me perguntando o mesmo. O que digo?
– Diga que você nos acompanhou até o hotel, Henry, pedimos ajuda pois
tivemos que viajar com urgência. Estou escrevendo para Hazel dizendo o
mesmo.
– Bia deve estar no camarim deles. Avise-as para procurarem lá – fala o
de cabelo comprido.
– Pensem num motivo para esta viagem. Elas vão querer saber...
– Edgar tem razão, se não derem um motivo, não vão engolir – fala o loiro.
As vozes começam a ficar cada vez mais distantes na minha mente. As imagens
vêm e vão.
– Diremos... diremos que eu tive uma recaída seria com as drogas... isso
explica ter chamado Henry e os outros viajarem comigo... – fala o de cabelo
comprido.
– Lian, não precisa...
– Tudo bem Laura, vai colar e é temporário, quando ele melhorar faremos
uma reunião de família e abriremos o jogo com Hazel e Kellan também. Só
peço que amanhã você tranquilize meus tios. – Ouço bem baixinho agora. Já
não há mais imagens...
– Claro, converso com Alicia e Johnathan.
– Fora isso precisamos cuidar para ninguém o vir quando sairmos do ho...
– Escuridão e silêncio total.

Bia

– Ah? Hazel? Iris? O que...


– Bia, acorda amiga, aconteceu uma coisa...
– Que? Que coisa? Que horas são? – Me sento no sofá... nossa, eu ferrei
no sono legal...
– São quase três e meia da manhã – diz Iris.
– Então eles já saíram... cadê Oliver?
– Sobre isso que queremos falar, parece que houve um problema... com
Lian... – Ela continua.
– Falem de uma vez, o que aconteceu com Lian, ele está bem?
– Não sabemos... por volta das duas e quinze da manhã Henry recebeu uma
mensagem de Lian e saiu correndo, disse que precisava encontrar com os
rapazes. Esperamos um tempo no camarim para que algum deles retornasse,
mas como passou muito do horário habitual e ninguém deu notícias,
questionamos Max e Henry. – A ruiva relata.
– Max me disse que Oliver e ele precisaram viajar às pressas por causa de
uma emergência com Lian, primeira-dama. Parece que ele teve uma recaída e
feia... Kellan está inconsolável e puto por não o levarem junto. – Hazel fala
com os olhos marejados.
– Ah não! Fazia tantos anos...
– Pois é. – Ela deixa cair uma lágrima. Eu a abraço.
– Ele ficará bem.
– Ficará sim. Por que não foi ficar conosco no outro camarim?
– Nossa, eu dormi assim que Oliver saiu. Estava exausta. Com a
adrenalina da turnê ele anda me solicitando demais e acho que isso está me
deixando mais cansada e sonolenta do que o normal.
– Arg... sem detalhes...
– Será que não é um resquício da pneumonia? – Iris questiona.
– Não, fiz todos os exames assim que chegamos à Los Angeles. Meu
pulmão está cem por cento curado. É só desgaste físico mesmo. Vou pegar meu
telefone para ver se Oliver tentou ligar. – Procuro o aparelho pelo camarim e o
acho em cima do frigobar.
– Ele só mandou uma mensagem... basicamente diz o mesmo que Lian lhe
disse... – Oliver deve estar muito preocupado, porque sua mensagem foi um
tanto sucinta e impessoal demais...
– Não diz para onde foram e nem o estado de Lian? Perguntei para Max,
mas não me respondeu mais.
– Não, podem estar em voo, mas vou perguntar.

Baby, assim que puder nos dê notícias. Qual o


estado de Lian? Estamos preocupadas... Para onde
o estão levando? Fique bem. Amo você

– Vamos para o hotel?


– Sim, e amanhã de manhã voltamos para casa.
– Tudo bem, vou recolher minhas coisas.
São duas horas da tarde e chegamos em casa faz mais ou menos uma hora.
Desde que cheguei ao hotel esta madrugada, uma sensação ruim invadiu o meu
peito. Algo como um peso, uma pressão, não sei explicar. Estou na nossa cama
olhando para a mensagem pouco animadora que me mandou esta manhã.

Bia, não posso falar muito. Estamos


em uma clínica em Nova York. Lian
ficará bem, mas deve permanecer
alguns dias aqui. Ficaremos com ele.
Até mais

Também te amo.

Aquilo não parece certo. Falta algo. Como se estas mensagens não fossem
escritas por ele... nenhum anjo, nem pequena, nem baby, nem saudades... o
“também te amo” enviado separado, um tempo depois, mais parece uma
“obrigação” a ser cumprida do que um sentimento real.
Me consola o fato de Hazel afirmar que Max está esquivo da mesma forma
com ela e que as mensagens que Laura enviou Oliver nem ao menos respondeu.
Mesmo assim não consigo me livrar da intuição de que faltam peças neste
quebra-cabeças. Espero estar errada, mas algo não vai bem.

Tudo bem. Não deixe de nos mandar notícias.


E se conseguir, me liga. Estou com saudades.
Nossa cama sem você não tem graça ��

Aguardo uns quinze minutos assim, olhando para a tela do aparelho na


esperança de que me responda logo. Mas nem sequer visualiza.
Sigo meu dia angustiada, mas há algumas coisas a organizar que trouxemos
da turnê e isso acaba me entretendo um pouco. Em algum momento da tarde o
sono me vence e acabo dormindo. Final do dia, caminho pela praia, também
como uma tentativa de não pensar no assunto. Estava com tantas saudades deste
lugar... nada como o local que chamamos de lar...
Achei Laura muito abatida o dia inteiro... Para os que já acompanharam o
drama de Lian no passado deve ser ainda mais dolorido vê-lo se entregar
novamente.
Volto, tomo um banho, jantamos os três juntos e nos recolhemos em seguida.
Até este momento nada de Oliver mandar outra mensagem. Hazel diz que Max
também não se comunica com ela desde esta manhã, em que a única coisa que
escreveu foi que Lian estava bem e se recuperando. Só quando estou deitada e
tentando ler alguma coisa é que meu telefone vibra outra vez.

Por aqui tudo na mesma, anjo. Ele segue


se recuperando e eu e Max nos
revezando para não deixá-lo sozinho.
Estamos hospedados na clínica, achamos
melhor nos manter por perto, e é proibido
entrar com os aparelhos telefônicos lá
dentro. Eles atendem muitas
celebridades, são medidas de segurança
que entendemos e respeitamos. Para nos
comunicarmos com vocês temos que sair
do prédio. Por isso não estranhe se
forem escassas e suscitas as
mensagens. Também sinto saudades e
também amo você. Logo estaremos
juntos.
Entendo amor, escreva ou
ligue quando puder.
Preciso ouvir sua voz. Se
cuidem.
Te amo

Apesar de não desfazer a sensação estranha em meu peito, aquela mensagem


me deixa um pouco mais tranquila, até arrisquei um sorriso ao ler anjo. Só não
entendo por que ao invés de escrever, ele não liga... queria tanto ouvir sua
voz... tento voltar a ideia da leitura, mas o sono logo me alcança outra vez.
A esperança de ouvir a voz de Oliver enquanto seguem cuidando de Lian já
não alimento mais. Sempre peço que ligue, mas ele nunca liga e também não
explica porque não o faz. Há quatro dias, quatro dias, que o máximo de
comunicação que temos são uma mensagem pela manhã e outra pela noite.
Rápida, metódica e quase impessoal. Apesar de conter declarações de amor,
elas não ganham força dentro do meu coração. Isso me preocupa e entristece
demais. Tem mais alguma coisa nesta história que não nos contam.
Será que os três estão internados? Será que Oliver sucumbiu as drogas na
última recepção aos VIPs? Será que foram sequestrados e não nos contam para
não nos preocupar? Teorias das mais absurdas já cruzaram a minha mente,
inclusive a de que, talvez, ele não me queira mais. E apenas por pensar nisso,
me sinto vazia. Não sobrará nada de mim se este for o caso, nada. Só não pirei
de vez ainda, me convencendo de que este é mesmo o caso, porque com Hazel
e Helen a situação está ainda pior. Max escreveu duas vezes nos últimos quatro
dias e também não foi muito amoroso.
Depois penso em tudo que vivemos, tudo que ele fez por mim, do amor
escrachado que vejo em seus olhos sempre que me olha, do medo que tem de
me perder e me acho uma idiota só por cogitar a possibilidade. Mas dali a um
tempo a dúvida ressurge e a tristeza também. Continuo dormindo além do
normal, mas não acho que continue tendo a ver com cansaço, agora se trata
mais é de uma conveniente fuga da realidade.
Além do silêncio de Oliver, outro ponto de preocupação me faz ser grata
pelo excesso de sono, se bem que neste caso, o cansaço pode ser mais um fator
indicativo. Algumas manchas apareceram em minha pele na região do
abdômen. Pequenas manchas escurecidas, bem semelhantes às que chamaram a
atenção de mamãe para consultar um médico e descobrir sua doença. Como
Oliver é minha prioridade, acabo colocando esse pensamento de lado e
esperando que da mesma forma que surgiram, as manchas sumam.
Estou sentada no deck, olhando o mar e deixando as lágrimas escorrer
livres pela minha face. Laura senta-se ao meu lado e nem tento disfarçar, deixo
que veja. Ela pega a minha mão e aperta.
– Querida, sei que está angustiada, mas acredite, logo tudo volta a ficar
bem.
– Ah Laura... não entendo o comportamento dele... por que não fez uma
única ligação em quatro dias? Tem algo errado, eu sinto...
– Se não ligou é porque não pode meu bem, ele te ama demais, não duvide
que Oliver sofre tanto quanto você com esta separação.
– Queria conseguir me convencer que é só uma questão de impossibilidade
mesmo...
– Lógico que é. Ele não me escreveu uma única vez, Bia. Você acha que
ele não me ama?
– Claro que não. Você é tudo para ele.
– Não. Você é tudo para ele. Eu sou a mãe que ele ama muito, é verdade,
mas o futuro e a felicidade dele pertencem a você. Nunca duvide disto. Oliver
não ama pela metade. Ele sempre colocará as necessidades e o bem estar dos
seus acima dele mesmo. E neste momento, Lian precisa dele.
– Estou sendo egoísta, não estou?
– Não, está insegura e isto é humano. – A abraço, acho que preciso de um
colo de mãe.
– Dói tanto ficar longe dele desta forma.
– Eu sei. Mas sabe o que Oliver não vai gostar de descobrir quando
voltar? – Faço um não com a cabeça.
– Que a noiva dele não tem se alimentado direito.
– Eu comi...
– Você enrolou. Mal tocou na comida no almoço e agora no jantar comeu
duas ou três garfadas e só. Outra pessoa doente não vai ajudar ninguém, Bia. –
Engulo em seco.
– Eu não tenho fome...
– Oliver sofre do mesmo mal quando se vê angustiado, mas você precisa
se esforçar, meu bem.
– Tudo bem.
– Ótimo, porque Gia preparou aquele sanduíche que você gosta, está te
esperando lá dentro. Vamos entrar?
– Você não dá ponto sem nó Sra. Blanc. – Beijo sua bochecha.
– Deus, ainda não me acostumei a isto...

Oliver

– Acorda parceiro. Bia está com saudades. Você ouviu todas as mensagens
dela que eu li para você? Ouviu as mensagens de voz que ela mandou? Ela
quer você de volta, bonitão. Eu não sou bom nessas coisas de amorzinho, viu?
Até tentei me passar pelo Mr. Rain gostosão aí, mas Laura diz que não estou
convencendo. Volte para a sua menina, Oliver... Bia precisa de você... – Bia...
Bia... eu reconheço... eu lembro... minha Bia.
– Bia – murmuro, ainda sem abrir os olhos.
– Ah, graças a Deus, graças a Deus... – Lian me abraça e chora sobre meu
peito. – Que susto velho.
– Lian? – Ele se ergue e seca os olhos.
– Oi, bem vindo de volta. – Estou muito, muito fraco. Até falar é difícil.
– Quanto tempo?
– Depois falamos nisso. Está com sede?
– Não... Bia?
– Ela não sabe, fizemos o que te prometemos. Está em casa, com Laura e
Edgar. – Abro os olhos, a luz incomoda.
– Onde?
– No seu apartamento, em Los Angeles. Eu e Max cuidamos de você.
– Obrigado.
– Não gaste energia com isto, por favor. Max está no escritório da Three
Minds numa reunião com Riley e Peter, logo deve retornar.
– Tempo Lian?
– Oliver...
– Me diz.
– Cinco dias. – Fecho os olhos e as lágrimas escorrem.
– Olha, Henry disse que poderia ser de até uma semana, mas que não seria
muito mais que isso... não fique assim.
Já não escuto mais o que Lian diz.
Mesmo com a dor muscular, me viro para o lado e choro. Choro muito.
Não por ter apagado outra vez, nem porque foi por cinco dias, mas porque
isso significa que terei que fazer a coisa mais difícil da minha vida. Terei que
abrir mão dela.
Abrir mão do meu amor, da minha vida e da minha felicidade. Abrir mão de
mim mesmo.
Mas é preciso, é necessário, é o certo, é para o bem dela.
“Não quero ficar triste, Oliver. Não quero mais chorar, me preocupar com
perda, doença, incerteza...” As palavras que ela me disse no hotel em Chicago
invadem minha mente como um mantra. E depois outra que me disse há um
tempo quando falávamos sobre filhos “Não quero a preocupação constante
com alguém quando eu tenho a chance de evitar o sofrimento”.
E ela não merece.
Não merece mesmo viver sem saber o que será do seu amanhã. Já teve
demais disso em sua vida e ainda é tão jovem. Vai encontrar a felicidade e a
paz de espírito que toda garota como ela tem direito.
– Eu vou avisar Laura. – Lian sai e me deixa com a minha tristeza. Este é
só o início dela.
A minha dor nunca mais terá fim.
Mas se esse for o preço a pagar pela tranquilidade dela, eu pago. Faço o
que for preciso.
A felicidade que ela me deu nestes sete meses de convívio é bem mais do
que eu esperava ter em minha existência.
Viverei dela daqui em diante.
Das lembranças dos seus sorrisos de menina que manterei sempre gravados
em minha memória. Dos nossos momentos de paixão intensa, que foram tantos
e tão inesquecíveis.
Tantas pessoas terminam suas vidas sem conseguir um único instante assim.
Das tiradas engraçadas que ela lançou nos momentos mais inusitados.
Dos dias de luz que ela acendeu em meu coração.
Do amor que partilhamos, que foi a coisa mais pura e verdadeira que tive
na vida.
Espero que depois que eu fizer o que tenho que fazer, ela consiga guardar
ainda alguma lembrança boa a meu respeito, do tempo que estivemos juntos e
de tudo que vivemos.
Porque será o que me manterá respirando.
– Oi camarada. – É Henry. Não quero falar, ainda não consigo deixar de
chorar. Ele se senta ao meu lado na cama.
– Acalme-se Oliver, tudo ficará bem. Você está bem. – Não Henry, não
vai, penso. Nunca mais.
– O que você pensa de trazermos Bia aqui e conversarmos todos juntos?
Esclarecermos os fatos?
– Não. Deixe Beatriz onde ela está.
– Porra irmão, fiquei tão feliz quando Lian me... por que está chorando
deste jeito? – Não respondo Max.
– Está assim desde que contei que foram cinco dias.
– E por que foi contar hoje Lian, quando ele mal ficou consciente?
– Ele insistiu.
– Mentisse cacete. Amanhã contávamos com calma.
– Pois eu acho que já estamos cobertos até o teto com mentiras. Isso ainda
vai dar merda.
– Está tudo sob controle. Agora ele acordou, os fatos serão esclarecidos.
– Não falem nada – digo.
– Mas... você disse que falaria com Bia quando voltasse.
– Eu vou conversar com Beatriz quando puder ficar de pé e fazer isto com
alguma dignidade.
– Oliver, quer conversar? Contar o que sente? Não estou gostando da sua
reação.
– Eu só quero ficar sozinho Henry. Por favor, me deixem. Amanhã falamos.
– Oliver, Bia está angustiada por ouvir sua voz. Grave um áudio curto para
ela...
– Não. Amanhã.

– Como se sente? – Se eu responder a verdade não vão gostar, então...


– Menos dolorido.
– Precisamos conversar algumas coisas importantes Oliver, mas se quiser
descansar mais um dia, deixamos para amanhã.
– Não, Max. Vamos falar. Amanhã tenho outro assunto para resolver.
– Você está estranho Oliver, está frio, distante... O que tenta esconder de
nós? Não gosto nem de pensar nas hipóteses que passam pela minha cabeça...
– Falamos do meu estado emocional depois, Lian. Max, o que você tem a
dizer?
– Você lembra do que aconteceu quando Lian te deixou no camarim?
– Bom, acho que foi lá que eu apaguei, não?
– Sim, mas não lembra de nada antes disso? – Tento me concentrar naquele
momento em específico.
– Eu acho... acho que ouvi a voz de uma mulher lá dentro. Tentei falar, mas
não consegui e depois não lembro de mais nada.
– A mulher que estava escondida no nosso camarim era Carol Spencer, a
amiga de Hazel que já lhe causou problemas. Ainda não sabemos exatamente o
que ela planejava lá dentro, porque queríamos que você soubesse do ocorrido
antes de envolvermos a polícia.
– Polícia?
– É. Oliver, aquela vadia te tirou do camarim antes que Lian retornasse
com Henry. Saiu abraçada com você de lá, inventou para os seguranças que
você estava chapado demais e que precisava voltar para o hotel. Ela te levou
para o quarto dela e... bem, não tem um jeito fácil de dizer isso e eu sinto
muito, mas ela abusou sexualmente de você, irmão.
– O quê? Como?
– Bom, ereção reflexiva, involuntária, como quando acordamos de manhã,
e...
– O que ela fez exatamente, Max?
– Quando chegamos ela estava montando você. Mas depois vimos as
filmagens, ela te masturbou e fez oral para te deixar de pau du...
– Filmagens?
– Sim, ela registrou o momento. Achamos que a intenção dela era divulgar
para abalar seu relacionamento com Bia.
– Me deixe ver.
– Não. Não há necessidade alguma de você assistir esta merda.
– Me deixem ver Max. Foi comigo, cacete!
– Oliver, Max está certo, não tem...
– Eu quero ver, Henry. Quero ver exatamente o que a puta fez comigo.
– Temos medo que se você vir...
– Não se preocupe Lian, quanto mais crises eu tiver, mas perto da cura eu
estarei, não é isso, Henry? – Henry fecha os olhos pelo meu sarcasmo.
– Deixe-o ver, Max. Oliver está certo. A época de fugas da vida dele
acabou. Ele vai enfrentar o passado para se ver livre dele de vez. Então que
comece enfrentando o passado recente. – Max me entrega um telefone
diferente.
– Confiscamos o aparelho dela, deletamos da nuvem e bloquemos sua
conta. Riley foi envolvida, fique tranquilo que não há como vazar, mantivemos
no celular como prova futura.
Pego o telefone e clico no play do vídeo que ele já deixou engatado para
mim.
Tem apenas imagem, sem áudio.
Nela estou num sofá, olhos abertos que veem e se movimentam, mas não
processam nada, mãos apoiadas ao lado do corpo. A vadia conhecida anda até
mim após ligar a câmera, me faz tocar os seus seios, me beija, então abre
minhas calças e começa a me masturbar, me põe na boca, depois pega o
aparelho e dá um close no meu pau.
Ver aquelas imagens me provoca sensações ruins sim, mas nenhuma
parecida com um pré-crise. Me causam repulsa, enjoo, nojo do meu próprio
corpo.
– Tem mais um... – Max avisa. Arrasto o dedo na tela e um novo vídeo
aparece. Coloco-o para rodar.
A garota volta até mim depois de reposicionar a câmera e senta no meu pau.
Um espasmo forte vem do meu estômago. Ela não tinha o direito, é invasivo, é
nojento.
Só uma mulher pode me tocar assim, só uma eu quero que me toque assim.
Outro espasmo e sei que não conseguirei evitar.
Corro para o banheiro e só tenho tempo de me debruçar sobre o vaso e
deixar vir para fora todo o café da manhã que eles me obrigaram a comer sem
vontade.
Os três correm atrás de mim.
– Saiam.
– Nos deixe ajudar...
– Me deixem sozinho um tempo, por favor. Logo volto para a sala. – Eles
se retiram.
Me ergo dali, tiro as roupas e entro no chuveiro.
Preciso me lavar.
Arrancar de mim os resquícios daquela garota...
A água cai sobre meu rosto e junto caem as lágrimas.
Pego a esponja, o sabonete e me esfrego freneticamente, com força, não,
isso não vai ficar em mim... ela não vai ficar em mim...
Esfrego e esfrego, mas a sensação não sai, a dor de que maculei, mesmo que
sem querer, o que tive com Bia.
Ela não podia ter tirado isso de mim, não podia, não isso...
Deixo a esponja cair, encosto a testa no azulejo e o choro ganha um tom
desesperado.
– Perdão, meu amor... perdão... eu não pude evitar... não pude... – murmuro
em meio aos soluços. – Eu sinto tanto, tanto... por essa doença maldita, pelo
que essa vadia fez... Não sou mais digno de você, baby... me perdoe por isso...
me perdoe pelo que preciso fazer. Eu amo tanto você.
Fico longos minutos ali, deixando a água e o choro lavar minha dor. Não
alivia em nada o meu estado, mas não posso conter. Quando com muito esforço
consigo me acalmar, me visto e volto para junto dos outros três.
– Beba. – Lian me entrega uma xícara.
– O que é?
– Um chá calmante. – Olho torto para Lian. – É camomila e erva-doce
bonitão, não tem dada pesado aí. – Aceito o chá e dou um gole.
– Onde está a piranha?
– Tivemos que liberá-la, pois resolvemos deixar que você decida se quer
indiciá-la criminalmente ou não. Visto a repercussão que isto geraria. Mas deu
tempo de Riley e Peter terem uma conversa bem interessante com ela, onde
assinou alguns papéis de boa vontade.
– Vou pensar.
– Ok. Fique com as provas. – Max me entrega o telefone.
– Será que eu cheguei a gozar?
– Ela jurou que não. Disse que mal tinham começado quando chegamos e
você nem manteve o pau duro. Acho que falou a verdade, pois não demoramos
a descobrir onde estavam. Mas de qualquer forma a obrigamos a tomar a pílula
do dia seguinte naquela noite mesmo.
– Obrigado Max.
– Oliver, daqui há um mês você precisa fazer exames para garantir que não
pegou nenhuma doença da cadela, e até lá... bem... você e Biazinha precisam se
proteger. Acho que deveria abrir o jogo com ela.
– Não se preocupe quanto a isto. – Lian estreita os olhos para mim.
– Vai ligar para Bia agora? – pergunta.
– Não. – Lian ri e passa as mãos nos cabelos. Henry me encara sério.
– Você já decidiu, não é? Já decidiu que vai foder com tudo. Vejo no seu
olhar... – Não respondo Lian.
– Qual o problema Oliver? O que Lian está dizendo?
– Nada Max.
– Não... você vai falar... o que eu estou dizendo Max, é que o imbecil aí
vai terminar com Bia. É isso.
– Não viaja, Lian.
– Ah, nunca quis tanto na vida estar errado no meu julgamento e
observação... mas sabem o que vocês não sabem sobre mim? Eu dificilmente
me engano.
– Oliver? Isto que ele está falando... – Olho bem sério para Max.
– Eu jurei quebrar a sua cara se fizesse aquela menina sofrer mais do que
já sofreu, e eu vou cumprir, Oliver.
– Prepare o soco, irmão. E só pare quando eu estiver inconsciente ou
morto. Será um favor.
– Você só pode estar de sacanagem...
– Ele não está – diz Lian.
– Por Deus, por quê?
– Por que, Max? Sério? Quer que eu tome esta atitude quando? Quando ela
estiver grávida do nosso primeiro filho e eu entrar numa crise da qual só
voltarei quando o bebê estiver com uns três meses? Ou será que espero para
fazer após a que dará quando a criança estiver com uns dois anos e eu acorde a
tempo do seu aniversário de três?
– Você não vai mais ter crises as...
– Não Henry. Chega deste papo. A verdade é que você não sabe. Eu não
sei. Nenhuma porra de médico que fui consegue ao menos classificar a minha
doença. Não existe estudo, relato de nada igual, é o que sempre me dizem.
Classificam com algo entre transtorno de despersonalização[12] e o transtorno
dissociativo de identidade[13], algumas características de um, outras do outro,
como você bem conhece. Os medicamentos disponíveis me deixam fora e não
evitam as crises, as terapias, bem... você sabe melhor do que eu...
– Você tem ideia do sofrimento que causará a ela? – Max pergunta.
– Se eu tenho? Porra... – As lágrimas escorrem dos meus olhos. – Eu vou
rasgar a minha alma fazendo isso. Vou acabar de vez com qualquer vontade que
eu tenha de continuar vivo. Mas farei para que ela viva. Viva uma vida
tranquila, feliz e normal. Ela vai sofrer muito sim, mas vai ser uma vez só. E
não sofrer de novo e de novo a cada crise que eu entrar. Ela é jovem, cheia de
sonhos, eu vou cuidar, de longe, para que realize todos eles.
– Tenho até medo de perguntar o que você pretende fazer.
– Eu abro meus planos a vocês três se jurarem que não vão tentar intervir
pelas minhas costas. Porque mesmo que corram contar a Bia que tenho um
transtorno, não vou voltar atrás. E isto só serviria para mantê-la presa na ideia
de que pode me ter de volta. E não pode.
– Sabemos o quanto você pode ser teimoso, Oliver. Mesmo quando é claro
como o dia que está fazendo merda e vai se arrepender. Mas fique tranquilo,
seu segredo está a salvo. – Lian diz.
– Muito bem, farei o que eu tenho que fazer. Terminar de um modo muito
convincente, que não deixe dúvidas que não quero mais, que sou um canalha, ir
embora e deixar tudo para ela.
– Eu disse que eu tinha medo... você enlouqueceu... vai partir o coração
dela...
– E matar a nossa avó se desaparecer no mundo, Oliver.
– Não vou perder contato com minha avó. Vamos nos falar por mensagem e
combinar encontros de tempos em tempos. Ela tem Edgar e terá Bia também.
Não ficará sozinha.
– E nós? E a banda? Também somos sua família, sabia? Também te
amamos.
– E eu a vocês, Lian. Só cheguei até aqui por causa de vovó e de vocês e
vocês sabem. Assim como farei com dona Laura, faremos. Mas a banda como
ela é, não poderei salvar. Me perdoem. Lian pode assumir o vocal e a guitarra,
achem um segundo guitarrista e tecladista.
– Não existe The Order sem você, Oliver.
– Bobagem, Max.
– Não, não é. Além de você ser a voz da banda, esse foi o nosso sonho. Do
nosso trio. Um elo que se parte e ele não faz mais sentido. Para mim, acabou.
– Para mim também.
– Sinto muito se pensem assim. Como disse, não posso salvá-la. Bia é
minha prioridade.
– E a Three Minds?
– Vou transferir a minha parte na sociedade para Bia. Ela vai continuar
estudando e será uma grande produtora musical, não tenho dúvidas. Acho que
está na hora de colocarem em prática a ideia de agenciar novas bandas. Vocês
dois, Beatriz e Edgar farão um ótimo trabalho artístico e de orientação, a
empresa não corre riscos. Kellan pode lançar a sua própria banda pela Three
Minds.
– Tenho que reconhecer que meu trabalho com você até hoje foi mesmo
uma merda. – Henry se manifesta depois de ouvir tudo que dissemos.
– Eu nunca disse isso, Henry.
– Não precisa. Você achar que vale tão pouco a ponto de pensar que basta
sair da vida das pessoas para que tudo siga um curso feliz e tranquilo, é prova
suficiente de que eu errei com você. E errei feio.
– Não acho que valho pouco.
– Acha Oliver. Neste momento, Bia é a sua mãe e você voltou a ser o
menino que ela precisa largar para recuperar a felicidade. Só que desta vez,
você está fazendo o trabalho sujo por ela. Porque se por alguma hipótese ela
quiser te manter, você pensa que não vale o esforço.
– Eu amo Beatriz e quero que seja feliz.
– Só ela pode decidir onde está sua felicidade.
– Sinto muito Henry, mas não é verdade.
– Tudo bem Oliver, não vou discutir, nem tentar trazê-lo a razão.
Felizmente, essa burrice que você vai cometer, vai te provar algumas coisas.
Só que obviamente você não confia mais no meu parecer profissional. Se
pretende continuar com a terapia, deve procurar outro psicólogo.
– Eu confio no seu parecer.
– Confia? Então me conta no que eu consegui te ajudar neste tempo todo,
Oliver?
– Quando começamos eu estava tendo várias crises longas com frequência.
Você foi quem mais teve sucesso no meu tratamento. Muitas das coisas que
eram gatilhos para mim naquela época, estão superadas graças a você. Você me
deu quatro anos de estabilidade, sem uma única crise sequer. Essa estabilidade
me deu esperanças e me fez acreditar que eu poderia viver este amor. Eu nunca
teria me envolvido com Bia de outra forma. E apesar do fim iminente, o que
tivemos valeu por uma vida. Eu fui verdadeiramente feliz nestes sete meses.
– E por que alguns gatilhos não te afetam mais?
– Porque eu os enfrentei.
– E o que eu disse quando você deixou claro que não procuraria o conde,
nem visitaria Vivienne e nem se envolveria afetivamente com mais ninguém
além de sua família?
– Que era uma fuga, que eu poderia passar anos sem crises, mas se um dia
resolvesse me abrir elas voltariam, porque alguns gatilhos não foram
enfrentados. E eu te disse que tinha certeza que alguns nunca desapareceriam.
– Muito bem. Está optando pela fuga, mais uma vez. E se é este o caso, só
me resta fazer com você o que fiz da outra vez. Você está de alta, Oliver.
– Ok, Henry, eu entendo... só, por favor, sabe o que pode acontecer comigo
depois que eu... se este for o caso, quero que ajude os dois a me internarem,
pode fazer isto?
– Não se preocupe, apesar de estar torcendo por isso, para de novo, fugir,
você não vai entrar em crise por terminar com Beatriz. – Olho-o interrogativo.
– Como eu sei? Vou te dizer. No primeiro momento você estará tão destruído e
com tanta dor que não vai sobrar energia para desencadear o colapso. Num
segundo momento você estará tão arrependido e tão desesperado para corrigir
o seu erro, que o foco na solução do problema será o suficiente para manter a
sua sanidade. – Ele levanta-se e dá dois tapinhas nas minhas costas.
– Boa sorte, meu amigo. Antes que me peça, se Bia precisar de mim,
estarei lá por ela, fique sossegado. – Caminha até a porta do apartamento e se
volta para nós outra vez. – Por um juramento profissional, eu não posso
quebrar o sigilo terapeuta-paciente. Mas vocês dois, como família, podem. Se
querem mesmo ajudá-lo, deveriam considerar. – Então sai.
Não faça Oliver, por Deus, ela não merece, você não merece. Se você visse
o estado desta menina nestes dias que em que esteve fora...
– Eu preciso vó. Ela só tem dezoito anos, não posso prendê-la a uma vida
de incertezas.
– Por favor filho, se não reconsiderar por vocês, faça-o por mim.
– Ah vó... – A abraço. – Sinto tanto fazê-la chorar outra vez. É mais um
motivo pelo qual eu preciso ir... vocês precisam de paz, sua nova vida precisa
de paz, ninguém nunca terá isto comigo por perto.
– Não diga bobagens. Você acha que terei paz sem saber como você está,
por onde você anda, se terá alguém para lhe amparar caso você...
– A senhora nunca deixará de saber como e onde estou. Vamos nos falar
todos os dias. Eu pretendo me instalar em algum lugar distante, ermo e
tranquilo. Vou contratar enfermeiros para qualquer imprevisto, mas minha vida
será reclusa, não me expondo dificilmente terei novas crises.
– Você desistiu.
– Sem ela não tenho motivos para almejar qualquer outra coisa. Vou
apenas me manter são e vivo. Talvez arrume algum trabalho assistencial para
me ocupar. De resto as lembranças, os livros e as músicas serão minhas
companhias.
– Está cometendo um grande erro, filho.
– Erro seria arriscar vovó. As crises estão aumentando de intensidade.
– Bia deveria poder opinar. Decidir o que é melhor para ela.
– A senhora sabe qual seria a decisão.
– Sei. A correta. Você a abandonaria se descobrisse que ela está doente?
– Deus, claro que não.
– Então por que quer que ela o faça com você?
– Ela pode ser feliz.
– Vocês podem continuar felizes. Juntos. Ela não será feliz sem você.
– Vou garantir que ela deseje me esquecer, fique tranquila. – Ela afaga meu
rosto, seca minhas lágrimas, depois secas as próprias e deita a cabeça no meu
peito.
– Sabe por que não me desespero com esta sua idiotice?
– Vó...
– Porque não vai funcionar, Beatriz não vai acreditar e você mais cedo ou
mais tarde vai se arrepender. – Beijo seus cabelos.
– Não crie esperanças. A senhora sabe que não costumo voltar atrás nas
minhas decisões.
– Neste caso você não poderá evitar.
– Eu amo você, vó. Nunca duvide.
– Eu sei filho e eu também te amo. Mesmo que neste momento só deseje
lhe dar a surra que nunca dei.
– A senhora me faria um favor. Uma dor para desviar de outra...
Capítulo 31

“Agora você vai embora


e eu não sei o que fazer
Ninguém me explicou na escola
Ninguém vai me responder”
(Educação Sentimental II – Kid Abelha)

Oliver

O liver! Meu amor! Nossa, nem acredito que você ligou.


Estou com tantas saudades... – Ouvir a voz dela é um
baque. O pouco equilíbrio que tentei reunir para este
momento se vai e tento controlar a vontade de chorar. Não posso fraquejar, não
posso. – Respiro fundo.
– Oi Bia. Na verdade, estou no escritório. Você pode vir me encontrar
aqui? – O fone fica mudo por longos instantes. Minha resposta seca ativou seu
alerta.
– No escritório? Aqui em casa? Por que não veio até o nosso quarto? O
que... o que está acontecendo?
– Só venha até aqui, por favor.
– Oliver... você está me assustando... – A voz dela embarga. Ela sabe o
que está por vir.
– Vou conversar com você no escritório, Beatriz.
– Por favor... não... não faça...
– Venha aqui, anjo. – Ela começa a chorar. Desligo e não consigo evitar
um soluço.
Viro de costas para a porta, respiro fundo muitas vezes, seco os olhos e
peço forças.
– Estou aqui – diz com a voz fraca, embargada e ainda assim, a voz mais
doce que ouvi na vida. A amo tanto.
Fecho os olhos por um instante, crio coragem e me viro de frente para ela.
Tão linda! Ah, minha pequena... meu amor... Ela está parada um pouco à frente
da porta, os braços cruzados para se proteger e os olhos vermelhos,
visivelmente abatida. Deus que saudade, não sei como vou suportar... Preciso
tanto abraçá-la e beijá-la.
– Obrigado por vir. – Engulo a saliva. – Quero lhe contar o verdadeiro
motivo do meu afastamento.
– Estou ouvindo. – Seca as lágrimas.
– Lian não teve overdose. Pedi que me acompanhassem porque precisava
conversar com eles, decidir algumas coisas.
– Então Lian está bem. Fico feliz. Só eu fui a enganada ou Hazel e Kellan
também?
– Ninguém sabia. Achamos melhor assim.
– Fico bem mais tranquila. – Dá um sorriso forçado.
– Nos afastamos porque tomei uma decisão, que entre outras coisas
envolve deixar a The Order.
– Deixar a banda? – Ela arregala os olhos.
– Sim. A banda, este lugar e...
– A mim. – As lágrimas escorrem por sua face.
– É. – Ela se aproxima. Só a mesa do escritório nos separa.
Sinto seu cheiro, seu amor e sua dor. Meu coração acelera. Meu corpo todo
pede que eu faça exatamente o contrário do que vim fazer ali.
Ela tenta secar os olhos, mas novas lágrimas surgem em seguida.
– E o que houve naquele espaço de uma hora entre o momento em que eu
dormi no sofá e Hazel disse que vocês chamaram Henry, que te fez tomar uma
decisão tão extrema quanto esta? – Houve o que nunca vai deixar de acontecer
comigo, baby e não posso submetê-la a uma vida assim.
– Eu me sentia angustiado há um tempo e naquela noite percebi que não
dava mais para fugir do inevitável. – Ela ri.
– Você não parecia nada angustiado no nosso último momento juntos,
Oliver.
– Eu sei disfarçar bem, Beatriz. Não sou homem de negar sexo e entro nos
personagens com maestria. Você já teve algumas provas, lembra? – Ela fecha
os olhos e respira fundo, as lágrimas transbordam.
Queria tanto poder estreitá-la em meus braços, beijar seu rosto e dizer que
tudo ficará bem. Que ela vai ser feliz. Mas isto só a deixaria confusa e a faria
alimentar esperanças. Ela precisa virar a página, não gastar mais um minuto
sequer achando que pode resgatar o que tivemos ou que vale a pena me
esperar.
– Lembro. E o motivo da sua angústia recente é basicamente a sua vida
inteira. Seu trabalho, sua família e sua noiva.
– Sim.
– E decidiu que vai mudar tudo. De uma vez só.
– Decidi que quero outra vida.
– Outra vida.
– É, outra vida. Não quero mais turnês, nem banda, nem relacionamento.
Tenho dinheiro. Quero sair pelo mundo e viajar. Sem compromisso, sem
alguém que espere de mim seja lá o que for. Quero liberdade. – Minhas pernas
tremem. Como estou conseguindo fazer isso eu não sei, mas não vou aguentar
muito tempo sem desmoronar na frente dela, preciso ser rápido.
– Deixa-me ver se adivinho onde você vai chegar em seguida... Eu devo
ficar aqui, na sua casa, com a sua família, sua vida, talvez até com o seu
trabalho, enquanto você sai de cena.
– Sim, você fica aqui, com vovó e Edgar. Aqui é sua casa, termine seus
estudos, realize seus sonhos. Eu não me importo com mais nada disto, – movo
o dedo demonstrando o entorno – então, não há porquê você abandonar seus
planos.
– Certo. E você espera que eu acredite nessa merda?
– É a verdade.
– A porra que é, Oliver. Tenha o mínimo de consideração pela minha
inteligência. Se vai terminar comigo pelo menos me diga a verdade. O que
aconteceu de tão grave assim que te obriga a abrir mão de tudo que ama para
me poupar? – Bingo. Como eu imaginava, e me avisaram, ela não se
convenceria facilmente. Então tenho que dar o pior de mim, infelizmente.
– O que aconteceu, Beatriz? Vou lhe dizer. Eu cansei de brincar de casinha.
Esse Oliver que eu tentei ser, que eu quis realmente ser. Que se importa, que é
fiel e apaixonado. Esse era o personagem. Ele não existe. Uma farsa. – Ela não
consegue conter os soluços. – Eu tentei, tentei muito, por vovó, por você. Mas
não sou eu.
– Por que você está fazendo isso? Por que destruir tudo de bom que a
gente viveu com essas palavras? Não é verdade, Oliver. Eu vi o amor nos seus
olhos, nos seus gestos. Eu o vejo agora mesmo. Sua boca me diz coisas que os
seus olhos desmentem. Seus lábios e queixo tremem porque você está
segurando o choro. Você se escondeu no escritório, atrás desta mesa, para não
sucumbir a necessidade de me tocar. Você está tão doido de vontade de se
jogar nos meus braços quanto eu estou de me jogar nos seus. Está tão abatido
pela saudade quanto eu. Não faça isso conosco. Me diga a verdade! – Ah meu
amor, minha menina linda e astuta. Se eu pudesse lhe fazer feliz, eu lhe diria a
verdade...
– Estou segurando o choro porque claro que não gosto de fazê-la sofrer. Eu
deveria ter evitado isto jamais me aproximando de você. Mas me deixei levar
pela novidade, pela garotinha virgem... – Ela desmonta, o choro fica alto e
incontrolável.
– Não, por favor, não tente sujar até aquele momento.
– Este sou eu. O verdadeiro eu. Sou um filho-da-puta. Sempre fui. Não
mereço você, nunca mereci. Como não merecia ter vivido aquele momento com
você. O quanto antes aceitar e seguir em frente, melhor. Eu não sou digno de
uma única lágrima dessas que você derrama agora. – É bem assim que me vejo,
não disse nenhuma mentira.
– Um filho-da-puta que montou uma turnê inteira para declarar o seu amor?
Que fica louco de ciúme só de outro homem me olhar? Que não conseguiu sair
em viagem sem colocar um anel no meu dedo? Que não suporta a ideia de eu
estar em Londres sem ele? Que vai abrir mão da sua família, do lugar que ele
ama, só para que eu fique bem amparada? Que até o momento do fim ele
transforma numa prova de amor? – Vai me doer tanto o dia em que eu souber
que há outro homem em sua vida, meu amor.
– Meu ciúme? – debocho. – Não gosto que toquem no que é meu, enquanto
é meu. Quem não presta desconfia de tudo e de todos. Acha que todo mundo é
tão canalha quanto a si próprio.
– Você vai mesmo fazer isto, não é? Não vai me dizer a verdade e vai
continuar se degradando e desdenhando do que temos. Tudo bem, Oliver. Eu
espero. Você vai cair em si e vai voltar. O que nós temos não acaba assim. E
eu posso sentir o amor flutuando entre nós dois neste exato momento. Essa
lágrima que acabou de rolar pelo seu resto, sem a sua permissão, é mais uma
prova. – Ela dá a volta na mesa, aproxima bem o corpo do meu e seca minha
lágrima.
Deus, aquele contato da sua pele na minha, queima, arde... um soluço que
não posso mais conter me escapa e outras lágrimas caem, tenho que ser muito
forte para não a abraçar e beijá-la. Ela sorri, um sorriso triste.
– Você vai precisar fazer muito, muito melhor do que isto para me
convencer de que o que eu vivi nos seus braços foi uma farsa, rockstar.
– Não se iluda, Beatriz. Eu nunca fui tão verdadeiro com você como neste
exato momento.
– Pois eu não acredito em você. Não acredito em uma única palavra que
ouvi de você hoje.
– Mas vai. Não queria, mas vou provar a você. Você vai conhecer o
canalha na sua essência. – Desvio do seu corpo e vou embora.
Seus soluços aumentam atrás de mim, mas não olho, forço-me a seguir
adiante. Vovó está no corredor, já não contenho mais o choro. Ela tenta me
abraçar, mas nego e indico o escritório. Ela precisa amparar Bia.
Já havia pego algumas coisas minhas e deixado o carro me esperando em
frente à casa. Entro o mais rápido que posso, aos prantos e convulsionando
pela dor. Mas antes de me entregar a tristeza de vez, preciso dar a cartada
final.
Aquela que eu nem havia cogitado fazer.
O golpe de misericórdia.
Pego meu celular e envio para o dela o vídeo de Carol me fodendo.
Se é disso que ela precisa para se convencer e desapegar, que seja.

Bia

É insuportável.
A dor que sinto neste momento é insuportável.
Quero sair de mim, me arrancar de dentro do meu corpo, de perto do meu
coração, para ver se alivia. Mas eu sei que não vai. Oliver saiu sem olhar para
trás. Me disse um monte de asneiras e justificativas mentirosas, e se foi. Como
se tudo que vivemos não possuísse valor algum.
Mesmo tentado, não consigo deixar de entrar num estado de desespero. Me
escoro na mesa para ter algum apoio, mas uma sensação de fraqueza se abate
sobre mim e me deixo cair no chão do escritório. Deito-me, me colocando em
posição fetal e choro, choro muito.
Como vou viver sem ele?
Como?
Ninguém que já perdeu pai e mãe na adolescência, e sobreviveu, deveria
pensar desta maneira, mas esta dor é diferente. É amarga, ela junta as suas
melhores perspectivas e reduz a nada.
Reduz o seu futuro a nada.
Porque não há como se sentir completo na terra, quando já se andou no céu.
É como se toda a sua energia vital fosse retirada de dentro de você e como
castigo você precisa continuar vivendo.
Vivendo sem vontade, sem o que te aquece, sem o que te faz feliz, sem o que
te impulsiona a crescer, sem o que te motiva a realizar seus sonhos.
É cruel.
Não consigo nem entender o que eu sou sem ele e não há como resetar e
muito menos consertar.
Por que, baby? Você me ama, sei que ama! Tem tanta necessidade de mim
quanto eu tenho de você. O que está me escondendo? Tenho que descobrir e
trazê-lo de volta, meu amor. Preciso.
Laura entra, senta-se perto a mim a afaga meus cabelos. Eu choro mais, um
choro alto e sentido. Na esperança de que os grunhidos possam levar parte da
dor com eles. Não levam.
– Acalme-se meu bem. Oliver vai cair em si. Não é o fim, ele só está
confuso, passou por um momento difícil. – Me sento na mesma hora.
– Você sabe o que está por trás disto Laura? – Seguro seu rosto. – Por
favor, se você sabe, me conte... eu não vou suportar...
– Ah Bia...
– Laura, é sério! É a nossa vida. Ele me afastou e só me disse bobagens,
entregou-me sua vida numa bandeja de prata, mas me nega a única que eu
quero no meio disso tudo. Ele. É só nele que eu posso ser feliz. É só com ele
que esta vida que ele me deixou faz sentido. – Ela me analisa por alguns
momentos e vejo o exato instante em que decidiu. Ela vai me contar.
– Eu vou te contar Bia, mas não acho que você saber a verdade o fará
mudar de ideia agora.
– Mas vai me dar meios reais para trazê-lo de volta.
– Tudo bem. Mas vamos fazer isto lá na sala, vou ter com você a conversa
que ele deveria ter tido há muito tempo. Você toma um chá para se acalmar e
conversamos, ok?
– Ok, vou no quarto lavar meu rosto e já te encontro lá. – Ela beija minha
testa e sai. Por um segundo me sinto “menos pior”.
Dura pouco.
Ao entrar no quarto um aviso de mensagem aparece no meu telefone. É de
Oliver.

Você queria a verdade? Este sou

Tranco a porta. Trêmula e com o coração aos pulos, clico no play. Sei que
não vem coisa boa. Um grito agudo de dor escapa da minha garganta quando
vejo Oliver sentado num sofá, de pau duro e uma garota loira andando até ele.
– Não, por favor, isso não... não... não... – Mas sim.
Assisto em meio aos soluços e olhos embaçados a garota sentar-se sobre
ele e começar a cavalgá-lo. Calma. Pode ser mais uma mentira. Só pode ser
coisa antiga, não?
Não.
Olho a mão apoiada no sofá e lá está a prova.
Ele nem se deu ao trabalho de esconder.
A pulseira que eu dei no seu aniversário e a nossa aliança de noivado estão
lá, escrachados para quem quiser ver. Como se não fosse suficiente para me
convencer, pequenos números no canto do vídeo são. Foi na noite que ele
sumiu.
Esta é a verdade que ele não queria me contar.
Ele me traiu.
Ele me trai e seus amigos tentam encobrir.
Devem ter sido seis dias de orgia.
Não sou suficiente para ele. Nunca fui. Não sou seu amor verdadeiro, seu
amor de alma. Ele não está sentindo a mesma dor que a minha.
Não foram só bobagens o que me disse.
Ele é um filho-da-puta e um ótimo ator, ótimo não, excepcional ator. Porque
até este momento não deixei de acreditar por um segundo que realmente me
amava.
Mas foi mentira. Tudo mentira. Uma farsa.
Motivos? Uma jogada de marketing? Uma tentativa de virar o bom moço
antes de abandonar o barco? Uma experiência? Uma forma de agitar a vida?
Não importa.
Não importa mais.
O que quer que Laura tenha a me dizer, já não me interessa. Nada vai
justificar, ou apagar, o que ele fez comigo, o que ele, por livre e espontânea
vontade, fez questão de esfregar na minha cara. Com o único propósito de me
ferir.
Ele quebrou algo dentro de mim com o seu ato.
Algo que era bom, inocente e puro.
Não sou mais a mesma Beatriz de um minuto atrás.
Nunca mais serei.
Se achava que a dor de antes era insuportável, a de agora não consigo
nominar. Mas apesar da dor não dar trégua, de me sentir humilhada, quebrada e
vazia, sou grata por finalmente me mostrar quem é de verdade.
Oliver é doente.
O fato de abrir mão de tudo para que eu fique aqui? Não sei, peso na
consciência, talvez? Necessidade de me controlar mesmo não me querendo
mais? Não faz diferença.
Não ficarei.
Não quero nada, nada. Já vou carregar um peso enorme pela vida inteira do
qual não poderei me livrar, porque o meu amor é real. Fui verdadeira em cada
palavra e cada gesto. Me entreguei de corpo e alma.
Mas não há tempo para desabar agora.
Tenho que agir rápido.
Mando uma mensagem para Laura dizendo que preciso de alguns minutos e
penso nas minhas alternativas. Preciso de um plano. Para o caso de ele ser
doente ao ponto de depois de tudo isto, tentar ir atrás de mim. Monto um em
minha cabeça, espero que seja o suficiente pelo menos por um tempo.

Laura, acho que não consigo falar


agora. Preciso chorar, tomar um
remédio para dor de cabeça e dormir
um pouco. Podemos deixar a
conversa para daqui a algumas
horas?
Tudo bem querida. Descanse,
vai acordar se sentindo melhor.
E lembre-se do que eu disse.
Não foi o fim.
Infelizmente foi sim.
Não o fim do meu amor, pois por mais que ele tenha me machucado, não sei
se um dia vou deixar de amá-lo. Mas o fim da nossa história? Da possibilidade
de ficarmos juntos? Com certeza.
Eu só pedi uma coisa a ele quando ficamos juntos, que no dia em que eu não
fosse mais suficiente e ele quisesse outra mulher, que me desse a chance de
sair da relação sabendo que até ali, foi real. Ele não deu.
Mando uma mensagem para a portaria solicitando um carro para me levar à
farmácia. Peço ao motorista que me espere na altura do trapiche. Digo que já
estou próximo dali, para justificar. Pego uma mochila, junto algumas coisas
essenciais, algumas roupas, disfarces, documentos, meu álbum de fotos.
Coloco uma calça jeans, uma camiseta branca, um tênis, a peruca ruiva e
lentes de contato verdes.
Dou uma última olhada em tudo e deixo as lágrimas rolarem, a pilha de
camisetas da The Order dele que a única pessoa a usar era eu... suas roupas...
pego uma peça e inspiro o seu cheiro, vou sentir tantas, tantas saudades... Enfio
uma na mochila. O avatar que meu pai me deu... a cama... ali me tornei mulher,
ali descobri o amor, ali tive os momentos mais prazerosos e apaixonados da
minha vida, pelo menos de minha parte foram.
Seco os olhos, retiro a aliança e a deixo sobre o criado mudo, então saio
pela porta privativa da suíte que dá para o deck. Deixando todo o resto para
trás.
Deixando meu coração para trás.
Evito a praia para não correr o risco de ser vista por Laura ou Helen. Ando
pela frente das casas. O carro com o motorista e o segurança me aguardam no
local combinado. Entro no banco traseiro e seguimos. Faço um esforço sobre-
humano para não cair no choro e estragar tudo.
Vinte e oito minutos depois estacionamos defronte à farmácia de Oceanside.
O segurança salta primeiro, confere o interior do estabelecimento e depois
abre a porta para que eu saia. Tenta me seguir para dentro da loja, mas eu
impeço.
– Eu tenho receita para tomar uma injeção. Deve demorar um pouco. Não
há necessidade de me aguardar lá dentro, espere aqui, por favor. – Ele
concorda e se posiciona próximo a porta.
Entro e sigo direto para o banheiro. Troco a peruca ruiva pela de cabelos
escuros e lisos e a camiseta branca por uma preta. Coloco um casaco preto por
cima e volto para a loja. Saio pela entrada secundária, lado oposto de onde
estão o carro e o segurança. Caminho sem rumo por alguns minutos, então entro
numa lanchonete. Aciono o aplicativo de GPS e vejo que a agência bancária
que preciso acessar está há apenas duas quadras dali.
Sigo para lá, verifico meu saldo, com os cinco salários que recebi, mais o
pouco que sobrou da minha antiga vida, estimo que seja em torno de sessenta e
cinco mil dólares. Rio sarcasticamente quando o valor apresentado no visor é
de duzentos e sessenta e oito mil dólares. Num gesto arriscadíssimo, retiro
todos os sessenta e cinco mil que me são devidos e parto. Aquele outro
dinheiro não é meu. Jamais vou tocar nele. E não posso correr o risco de usar
cartão de crédito com o meu nome. Seria facilmente rastreada.
Meu próximo passo, comprar um novo chip de celular, o que consigo
rapidamente, pois o centro de Oceanside é muito pequeno, e tudo se concentra
mais ou menos naquele miolo. Feito isto, troco os chips e chamo um carro por
aplicativo, que me deixa em frente à rodoviária. Antes de deixar a suíte, fiz
uma rápida busca de um local para ir. Na verdade, não importa para onde,
desde que eu vá e seja longe.
Não sei determinar o motivo, talvez por masoquismo ou porque ainda
precise me sentir conectada a ele de alguma forma, mas resolvo ir para uma
cidadezinha litorânea a leste, de apenas mil e trezentos habitantes, chamada
Sea Bright, no estado de Nova Jersey. Olhando o mapa dos Estados Unidos, de
Oceanside a Sea Bright é quase como traçar uma linha reta do oeste ao leste.
Uma infantil ilusão de que, se que olharmos juntos para o horizonte, poderemos
cruzar nossos olhares.
Infelizmente, sinto que a única a levantar o olhar naquela direção com esta
intenção serei eu.
Compro meu bilhete, tenho que insistir para me venderem sem eu apresentar
documentos, mas conto uma história triste, faço meu olhar de cachorro perdido,
a tristeza que está ali não é fingimento e acabo conseguindo.
Como já havia pesquisado, há ônibus partindo ainda esta manhã, em quinze
minutos, na verdade. Serão três dias e algumas horas de viagem. Muitas
paradas, mas não tenho pressa para chegar.
Não tenho porquê chegar.
Nenhuma vontade de iniciar logo esta próxima vida.
Mesmo sabendo que não devo esbanjar dinheiro, compro as duas poltronas
da última fila do ônibus. Não é um bom momento para alguém sentar-se ao meu
lado e tentar puxar assunto. Eu não seria uma boa companhia para ninguém.
Depois de me acomodar no meu lugar dentro do ônibus e ele iniciar a sua
jornada, recoloco o chip antigo e dou alguma satisfação para as duas pessoas
que, no meu entendimento, merecem.
Laura e Hazel.
Não há mensagens questionando meu paradeiro, então possivelmente ainda
não notaram minha ausência.
Ou não se importam, tanto faz.
Depois de escrever para as duas, clico no enviar, aguardo aparecer o sinal
de que foi entregue e retiro o chip novamente. Recoloco o novo e desabilito as
funções de localização do telefone.
Está feito.
Sinto que agi no automático aquela manhã.
O plano de fuga me deu algo ao qual me agarrar para não desabar, mas
assim que me vejo sem um objetivo concreto, não consigo mais segurar, me
encolho deitada nas duas poltronas e deixo a dor tomar conta de mim outra vez.
Choro ali, naquela posição por horas até que o cansaço fala mais alto e sou
abençoada com o alívio de um sono profundo e sem sonhos.

Oliver

O que eu fiz? Como tive coragem? Como pude?


Como pude magoar neste nível quem eu mais amo no mundo?
Como tive a infeliz ideia de mandar a porra do vídeo para ela?
Não precisava.
Ela não merecia ter todas as boas lembranças dos nossos momentos
arrancados dela assim. Não merecia achar que cada toque meu em seu corpo
foi só mais um toque manchado pela promiscuidade, como os que dei em
muitos outros corpos.
Não foi.
Nem dez minutos depois que cliquei no enviar eu caí em mim e me
arrependi, tentei deletar, mas não foi mais possível. E logo em seguida ela
visualizou. Não há o que fazer, não há o que eu possa dizer sobre o vídeo sem
que exponha todo o resto. Agora é viver com a certeza de que ela nunca mais
vai querer sequer olhar na minha cara. Se era raiva que eu queria que sentisse
por mim predominantemente, consegui.
Além da dor da separação inevitável, há a dor de ter causado,
deliberadamente, mal a alguém.
Alguém que só merece amor e cuidado.
Não sei qual das duas dói mais no momento, mas ambas se misturam e me
reduzem a nada. Me sinto o pior homem do mundo. Eu choro, tremo, espero a
crise. Seria uma benção. Ela não vem.
Henry estava certo, não tenho forças. É tudo tão sem propósito e sem
sentido a partir de agora que não faz mais diferença. Vivienne poderia
aparecer saudável e falante na minha frente que não arrancaria de mim uma
única reação sequer. Perdi tudo que importa. Se o mundo acabar amanhã, não
ligo. Se ele não acabar, não ligo da mesma forma.
O meu não existe mais.
Sei que o motorista e o segurança estão assustados pelo meu desespero, mas
como disse, quem liga? Uma hora e meia depois o carro para em frente ao
prédio. Não sei como desço, nem como chego ao elevador, muito menos como
paro jogado sobre a cama e me encolho para chorar mais e mais.
Max segue atrás de mim e senta-se numa poltrona que há no quarto. Não sei
quanto tempo se passa comigo aos prantos mortificado de dor e ele ali,
esperando pacientemente eu me acalmar. Mas não é pouco.
– Eu fiz merda – digo quando os soluços cessam um pouco, acho que em
função do desgaste e do cansaço.
– Ah, já veio o arrependimento? Rápido, não? Mas não importa. Levante-
se Oliver. Eu preciso fazer o que eu prometi fazer há sete meses num quarto de
hotel aqui em LA. – Sei o que é. Me levanto na hora e antes que mal consiga
me erguer, um soco acerta meu queixo em cheio. Quando estou me recuperando
deste, outro me acerta a face direita. Ele recolhe a mão.
– Não tão rápido – digo. – Você vai querer bater mais, quando ouvir a
merda que eu fiz.
– O que pode ser pior do que quebrar o coração de Bia?
– Pisar em cima dele enviando o vídeo da Carol insinuando que... – Antes
que eu possa terminar a frase ele me pega pelo pescoço, me prensa contra a
parede e me golpeia mais três vezes, duas no estômago e uma no lado esquerdo
do rosto. Ainda não é o suficiente para anestesiar a minha dor.
– Você é um filho-da-puta. Eu deveria cortar o seu pau e mandar entregar a
ela numa bandeja.
– Fique à vontade. – Ele me puxa pra frente pelo pescoço e me lança
contra a parede. Então anda de um lado para o outro pelo quarto, passando as
mãos pela nuca.
– Eu não estava certo de que o que Lian vai fazer era o melhor, sabendo
que você não vai mudar de ideia, mas depois disso, tenho que admitir que ele
foi o mais sensato.
– Onde ele está?
– Voltou para casa para contar tudo a Bia. Como você pôde Oliver? Como
teve coragem? Eu jurava que assim que pusesse os olhos nela você desistiria.
Como conseguiu fazer isso com aquele doce de menina? Com a mulher que
você ama?
– Eu precisei Max. Lian não deveria, será pior...
– Porra, como é possível que só você não perceba o quanto está sendo
burro e imbecil? O que você fez foi crueldade. Crueldade contra alguém cujo
único erro que cometeu foi amar você.
– Eu sei Max, eu sei. – Abraço as pernas contra o corpo e choro. – Eu me
arrependi do vídeo logo depois, tentei consertar, mas era tarde.
– Não é só do vídeo que você precisa se arrepender Oliver. Mas você vai.
Você vai e eu quero ver você pastar muito na mão dela, porque mesmo Lian
esclarecendo as circunstâncias de como aquilo aconteceu, não vai apagar o
fato de que você enviou com o intuito de machucá-la. Isso, meu irmão, não sei
se tem conserto.
Porra, aquelas palavras me fazem reagir e tremer de medo. Imaginar que as
coisas com Bia nunca mais terão conserto é um cenário acima do insuportável.
Mas, espera... Não era esse o meu objetivo? Não era isto o que eu queria? As
palavras quando ditas assim, tornam real, e quando é real, o impacto é gigante,
assustador. O telefone dele toca.
– Fala Peter. – Max ouve por um tempo e então fecha os olhos.
– Como isso aconteceu? – Meu corpo todo gela. Se algo de mal aconteceu
a ela....
No instante seguinte, meu telefone acusa mensagem. É de vovó.

Ela foi embora, filho. Levou algumas roupas e se foi.


Me fez acreditar que precisava dormir, mas deve ter
saido pela porta do quarto que dá no deck. Me
mandou esta mensagem há alguns minutos. O que
você fez?
Laura, sinto muito, mas não posso
permanecer no local onde tudo que eu olhar me
fará lembrar dele. Oliver me magoou demais,
caso não saiba do que eu falo, já que não dei
chance da nossa conversa acontecer, pergunte
a ele. A verdade é que depois do que ele me
enviou, ela não faria mais diferença. Agradeço
por tudo que fez por mim, mas, neste momento,
preciso cortar relações. Quando eu me sentir
refeita e forte o suficiente, prometo procurá-la.
Ficarei bem e segura, não se preocupe. Diga ao
mestre que agradeço de coração por tudo que
me ensinou e sinto muito não poder concluir os
nossos planos. Sejam felizes, vocês merecem.
Com Amor, Bia

– Não baby, não! – grito. Não era assim...


Era para você ficar lá, tranquila e segura, estudar, se formar, trabalhar no
que gosta, encontrar outra pessoa e ser feliz... assim era para ser a sua vida.
Seco os olhos. Já não há mais espaço para sofrimento. Preciso achá-la e trazê-
la de volta. Pego o telefone e ligo para ela, acusa que está desligado. Mando
mensagem. Nem chega a ser entregue.
– Tudo bem, Peter, vou avisá-lo e mandaremos instruções. Só mantenham
em sigilo. – Ele desliga. – Bia sumiu. – Estou tão destruído que mal consigo
perguntar como. – Pediu um carro para ir à farmácia, lá enganou o segurança e
se foi. Ninguém viu para onde. Fizeram uma busca nos arredores, mas nem
sinal dela.
– Vovó acabou de me avisar. Ela mandou esta mensagem. – Mostro a Max.
– Satisfeito?
– Max... você sabe que não... que estou morrendo de medo, dor e
preocupação... tenho que achá-la. – Ligo para Riley e coloco no viva voz.
– Peter acabou de me contar. – É o que ela diz ao atender. – O que você
fez?
– Merda das grandes, mas não podemos perder tempo com isso agora.
Peça para o seu hacker rastreá-la pelo telefone, cartão de crédito... logo... por
favor.
– Ok, volto quando tiver informações.
– Obrigado. – Desligo. – Max, veja se ela não entrou em contato com
Hazel.
– Já fiz isso. – Ele me passa seu telefone.
O que o estrela fez com a minha amiga,
Max? Eu vou matá-lo, juro que vou se ele a
magoou...

Hazel, querida, vou sentir tantas


saudades suas. Aconteceram coisas ruins e eu
precisei ir embora. Max pode lhe explicar tudo.
Não fique magoada comigo, mas não terei
forças para falar com você ou responder
mensagens. Vamos perder contato por um bom
tempo, não sei lhe dizer quanto, mas eu preciso
me distanciar. Quando eu conseguir, prometo
que você será a primeira pessoa a quem
procurarei. Espero que aproveite Londres, que
seus sonhos se realizem e sejam mais
consistentes do que os meus. Eu amo você, Bia

Nova enxurrada de lágrimas rola dos meus olhos.


Porra, o que eu fiz com ela?
O que eu fiz com o meu amor?
– Pequena, onde você está?
– Chore Oliver, chore, porque agora você realmente merece. – Com estas
palavras jogadas em mim, Max se retira do quarto, deixando-me só com a
minha desolação.
Permaneço sentado no chão, olhando para o telefone, tentando várias e
várias vezes ligar para Bia. Mandando várias e várias mensagens que não são
entregues. Uma hora e meia depois, Riley me liga.
– Oliver, sinto muito, mas não conseguimos nada.
– Como não conseguiram nada?
– Ela passou no banco ali no centro de Oceanside mesmo e retirou
sessenta e cinco mil dólares da conta. Depois comprou um outro chip de
celular, visto que há um novo número em seu nome, adquirido hoje pela manhã.
E é tudo que temos. Mais nada.
– Qual o número, Riley?
– Não vou te passar.
– Ah, vai sim.
– Não vou. É o único meio que temos para, talvez, conseguir algum contato
efetivo com ela. Só usaremos em último caso e de forma muito bem planejada.
Se você ligar agora, ela vai reconhecer e depois bloquear qualquer outro.
– O que mais podemos fazer? Deve haver algo.
– Sim, o próximo passo, embora demorado, é checar as câmeras de
segurança dos arredores. Já solicitei as gravações e assim que começarem a
chegar, há uma equipe para analisar as imagens. Segundo o segurança ela saiu
disfarçada de peruca ruiva, usava jeans e camiseta branca. Não será difícil
identificar. Talvez ali tenhamos alguma pista...
– Agilize Riley, por favor.
– Farei o possível.
– Obrigado.
– Oliver?
– Sim?
– O que aconteceu?
– Terminei com ela, por causa das crises, não posso prendê-la a mim
sendo que... enfim, ela não acreditou quando disse que não queria mais, então
para mostrar que era verdade, encaminhei o vídeo de Carol...
– Puta-merda. Além de burro, você é um baita de um escroto.
– Eu sei.
– Bom, sinto dizer, mas você merece cada minuto que ela lhe deixar
desesperado por notícias. Boa noite, Oliver.

Bia

Me sinto fraca, bem fraca.


Não tenho fome, motivo pelo qual não comi muito durante a viagem, apesar
de tentar. As duas vezes que forcei, meu corpo rejeitou e eu vomitei.
A sensação de cansaço continua exagerada e eu oscilei entre períodos de
calafrios e sudorese. Não apareceram novas manchas, mas as que surgiram,
continuam lá. Sei que deveria ter procurado um médico naqueles dias em que
fiquei esperando Oliver, mas eu tinha medo do que iria ouvir, muito medo.
Assim, fui adiando. Agora, já não é mais medo. Me falta energia e vontade de
fazer qualquer coisa que seja.
Ao chegar em Sea Bright, na rodoviária mesmo, me informei sobre os hotéis
limpos e baratos. Selecionei um dentre as opções e como não é alta temporada,
foi fácil conseguir um quarto. Está frio e trouxe apenas um moletom, então o
calor da calefação do quarto foi muito bem-vindo, pois eu estava tremendo
muito. Talvez um pouco em razão da febre, que sinto, está voltando.
Não vim preparada para viver na costa leste e nem me liguei deste fator, só
queria respirar novos ares. Quando sentir necessidade de sair deste quarto,
terei problemas. Mas talvez sentir o frio, no fim das contas, seja uma benção
que me desvie de outros sentimentos.
Deveria organizar minhas poucas coisas, tomar um banho, mas tudo que
faço é tirar os sapatos, me jogar sobre a cama e chorar até dormir, outra vez...
– Moça! Moça!
– Ah?
– Senhorita acorde, estou preocupada com você. – Abro os olhos com
dificuldade. – Você está quente, febril.
– Quem é você?
– Sou Maggie, a responsável pela limpeza do quarto. Ontem de manhã
entrei para limpar e você estava dormindo deste mesmo jeito e com estas
mesmas roupas. Hoje pela manhã te vi exatamente como ontem e me assustei.
Você está bem?
– Não. Não estou.
– Acho que está com febre. Você se alimentou nestes dois dias?
– Não.
– Por Deus, você precisa... – Não sei exatamente quanto tempo passei na
rotina de chorar, dormir, acordar, ir ao banheiro, beber água, deitar, chorar e
dormir. Nada de comida, nada de banho. Mas pelo visto foram mais de dois
dias.
– Está tudo bem, Maggie.
– Tudo bem, não. Você está péssima! E fedendo. Vou preparar um banho.
Vai ajudar com a febre também. – Não gasto energia para negar. Se ela quer
que eu tome um banho, que seja.
– A banheira está enchendo. Acho mais seguro do que tentar ficar de pé,
dois dias sem comer, deve estar muito fraca. Venha, me deixe ajudá-la. –
Assim que levanto a tontura quase me faz cair na cama outra vez. Ela me ajuda
e consigo manter algum equilíbrio. Maggie me leva até o banheiro, me ajuda a
tirar as roupas e depois a entrar na banheira.
– Vou levar estas roupas para lavar, pegar uma sopa para você na cozinha
do hotel e já volto. Aguarde eu retornar, não tente sair sozinha. – Assinto.
Deixo a água relaxar os meus músculos, deixo a cabeça cair para trás no
encosto da banheira e fecho os olhos. As lágrimas nem saem mais, acabou o
estoque.
Nem vinte minutos depois, Maggie retorna. Ajudar-me a sair da banheira e
a vestir roupas limpas. Então me faz sentar à pequena mesa de duas cadeiras e
coloca uma cumbuca com sopa quente na minha frente. A aparência é boa, o
cheiro também e pela primeira vez em dias, não sinto asco de comer.
Aproveito o momento e como tudo.
Minha temperatura corporal parece ter melhorado, mas estou naquilo há
dias. Uma febre baixa que vem e vai.
– Sente-se um pouco melhor? – Se ela soubesse o quanto estou anestesiada
em relação à sentir... Mas ela merece ter o seu esforço reconhecido.
– Sim, Maggie, muito obrigada.
– Você deveria procurar um médico.
– Não é preciso, vou melhorar. Que dia é hoje?
– Quatorze de março, sexta-feira.
– Cheguei na quarta... Maggie, não posso ficar muitos dias mais hospedada
aqui. Preciso de um local barato para alugar. E se possível um trabalho. Você
teria algo a me indicar num caso ou no outro? – Ela me olha atentamente.
– Nós já nos conhecemos? – Não, por favor... tudo que eu menos preciso
agora é que me reconheçam. Por sorte a peruca manteve-se o tempo todo no
lugar.
– Creio que não Maggie.
– Estranho, me parece... bom, devo estar lhe confundindo com alguém...
Mas sobre o que me pediu, acho que é o seu dia de sorte. Se você não for uma
pessoa exigente, é claro.
– Não sou.
– Quantos anos você tem?
– Dezoito, mas sou emancipada.
– Ótimo. Até duas semanas atrás eu era garçonete num bar, na beira da
praia. Um dos mais badalados da cidade. Porém o turno é das dezessete à
meia-noite e para mim estava difícil conciliar, tenho uma filhinha de dois anos.
Quando abriu a vaga aqui, duas semanas atrás, turno diurno e salário similar,
optei por sair. Denis Button, meu antigo chefe, está procurando uma substituta.
Se quiser posso levá-la lá quando encerrar meu expediente e apresentá-los.
– Quero sim. E sobre o aluguel...
– Como disse, seu dia de sorte. Denis mora no bar. Mas atrás dele há uma
pequena casa de madeira que aluga. É velha e simples, mas tudo funciona,
chuveiro, calefação. O primeiro bar naquele terreno foi construído pelos avós
de Denis e aquele anexo foi a primeira casa do casal ao chegarem a Sea
Bright. Sei que está desocupada e se aceitar o emprego ele certamente alugará
para você.
– Você fala como se fosse certo que ele vá me contratar.
– Ele vai. Não temos muitas opções de mão de obra por aqui não, garota. –
Abro um sorriso fraco.
– Você está muito triste, não é?
– Estou, estou sim.
– Posso perguntar...
– Fim de um noivado.
– E você ainda o ama.
– Muito. Apesar de ele não merecer. – Ela respira fundo.
– Típico. A propósito, não sei o seu nome. – E agora? Se ela já me achou
parecida com alguém e eu disser o meu nome pode ligar as pontas... preciso
inventar um outro, rápido...
– Angel. – Puta-merda, de onde saiu isso?
– Angel?
– Sim, Angel Mendes. – Uso o sobrenome de solteira de minha mãe.
– Muito prazer então, Angel. Margareth Hughes, mas me chame de Maggie.
– Maggie é uma loira de expressivos olhos castanhos.
– Prazer, Maggie. Então você tem um bebê?
– Sim. – Ela me mostra a foto de uma garotinha loira de lindos olhos azuis
no telefone. – O nome dela é Mary Ann.
– Ela é linda, parabéns!
– Ela é a minha vida. – Maggie beija a foto.
– Você é casada?
– Não. Mary Ann foi um acidente de verão. Fruto de uma única noite de
paixão. Nunca mais vi o pai dela e não sei onde procurá-lo, não perdemos
muito tempo falando naquela noite, sabe?
– Posso imaginar.
– Ele não faz ideia da existência dela.
– Sinto muito.
– Sim, é uma pena, ele parecia um cara legal. Mas estamos bem, meus pais
me ajudam no que podem e adoram a netinha.
– Que bom que você os tem.
– Bem, Angel, está tudo em ordem por aqui. Vou levar a louça da sopa e
pedir para trazerem um chá e alimentos leves para você comer durante o dia.
Descanse e se a febre voltar, sugiro que passe no hospital depois que falarmos
com Denis mais tarde. Até mais. – Ela começa a se retirar.
– Maggie?
– Sim?
– Obrigada.
– Não há de que.
Ela sai e eu volto a ficar com o meu vazio. Por mais que eu me esforce, não
consigo não pensar nele. Não reviver momento após momento do que vivemos
juntos. Como pode ter sido tudo uma ilusão? Como pude me enganar tanto?
Não é possível. Era real. Foi real. Abro o álbum de fotos no telefone e começo
a passar as imagens.
As lágrimas que achei terem secado, ressurgem com força. Seu sorriso, sua
expressão penetrante, seu jeito sexy, seu olhar apaixonado, tenho registro em
todas as suas nuances... As fotos nossas com a cara suja de bolo na manhã do
meu aniversário... tão felizes! Paro em uma que eu tirei dele dormindo, tão
lindo... faço como Maggie e beijo a foto.
– A minha vida ficou com você. Cuide dela – declaro.
Não acredite naqueles que dizem que é melhor viver um amor assim, mesmo
que dure pouco, do que nunca saber como é. Eu também pensava desta forma,
mas é mentira. Quando nunca teve e apenas imagina, sua vida segue
procurando e você é feliz. Quando vive, conhece a verdadeira força que tem, e
perde, sua vida fica estagnada naquele espaço de tempo. O que vem depois não
importa muito. Você continua existindo, fazendo o melhor que pode, mas
quando pensa em vida, vida plena e feliz, não é o presente que invade sua
mente.
Levanto-me na intenção de ir ao banheiro retirar um pouco as lentes e a
peruca, que agora está molhada pelo banho e lavar os meus cabelos na pia,
mas a tontura me pega outra vez e sou obrigada a sentar. Nisso batem à porta.
Falo um entre, bem alto. Um rapaz muito jovem entra e deposita uma bandeja
com queijo, torradas, biscoitos e chá sobre a mesa.
– Maggie pediu para trazer.
– Obrigada.
Depois que ele sai, pego um biscoito salgado e me forço a comer. Esse já
não desceu tão bem quanto a sopa, mas preciso segurar algo no estômago se
quero ter forças para falar com o tal Denis mais tarde. Consigo. Tomo um gole
do chá e tento me levantar outra vez, desta vez, com sucesso.
Tiro a peruca, depois a touca de silicone que mantém os meus cabelos
presos e rente ao couro cabeludo. Lavo os cabelos, depois os seco, seco a
peruca, guardo as lentes e escovo os dentes. Penso que seria melhor eu
procurar um salão, alisar e mudar a cor dos meus cabelos, do que ficar usando
essa peruca. Mas daí me lembro do quanto ele gostava dos meus cachos, do
quanto o meu cabelo, que muda de tom conforme a luz lhe intrigava, e não
tenho coragem.
Sou uma idiota, eu sei, mas não quero perder isso também.
Só este pequeno esforço com a minha higiene me deixou exausta. Mudo a
sinalização da porta do quarto para não perturbe e passo a tranca. Isto evitará
que Maggie entre e me pegue desprevenida. Programo o telefone para
despertar as dezesseis horas e deito.
Durmo pensando nele.

Oliver

– Seis dias, Riley. Seis malditos dias! Como não conseguimos nada?
– Se vai gritar com a minha mulher, teremos problemas, Oliver. – Peter me
alerta, passo as mãos pelos cabelos.
Há seis dias não durmo, não como, não faço mais nada a não ser pensar em
como trazê-la de volta, pensar nos perigos e dificuldades que ela pode estar
enfrentando, pensar no seu sumiço, meu coração sangra de remorso e
preocupação.
– Desculpe-me, Riley.
– Preciso falar com Rose, se eu ouvir que levantou a voz para ela mais
uma vez, eu vou dar o soco que tenho vontade de dar desde o dia que soube o
que fez com Beatriz. E estou pouco me lixando se vou perder o emprego.
– É justo. – Peter sai e me deixa a sós com Riley em sua sala na Three
Minds.
– Oliver, eu sinto muito. As pistas se perdem dentro da rodoviária. Como
lhe expliquei, várias das câmeras lá dentro estavam inoperantes. Não foi
possível determinar nem o guichê em que ela comprou a passagem, nem o
ônibus em que entrou.
– Ela está sozinha no mundo Riley... sofrendo e sozinha... e os registros
dos passageiros daquele dia?
– Nenhuma Beatriz, nem Bia, ninguém de sobrenome Thompson.
– Como pode?
– Ela deve ter conseguido comprar com outro nome, ou pediu a alguém
para comprar o bilhete para ela. Não sei Oliver, mas ela foi esperta em não
deixar rastros. E teve a ajuda da sorte com as câmeras não ativas.
– O telefone... temos que ligar para o seu novo número e rastreá-lo.
– Tentamos ligar de vários números desconhecidos, ela bloqueou o
telefone para não aceitar chamadas de números que não estejam em seus
contatos. E obviamente bloqueou os contatos que não quer que liguem, pois
tentei do meu número pessoal e estou bloqueada.
– O que mais podemos tentar?
– Sinceramente? Nada além de esperar.
– Não diga isso... – A dor aperta, uma lágrima escorre.
– Você fez merda, muita merda.
– E estou pagando bem caro, tenha certeza.
Se eu tivesse noção naquele momento o real tamanho do preço que
pagaria...
– E em Chicago? – Riley pergunta.
– Depois que estive lá procurando-a e nada, ligo para o porteiro duas
vezes por dia, mas ninguém apareceu...
– Os parentes do Brasil?
– Falo com a tia ou prima dela todos os dias por mensagem. Nenhum
contato.
– Passe o novo número e peça a tia dela para mandar mensagem.
– Você vai me entregar o número? Finalmente?
– Sim, já esgotamos as possibilidades, então... – Riley me encaminha o
novo número de Bia e eu no mesmo instante envio mensagem traduzida para o
português com o auxílio de aplicativo, pedindo a tia dela que tente contato.
Aproveito e mando um áudio para ela também.
“Pequena, precisamos conversar. Me dê uma chance para eu me explicar,
por favor... me diga onde está, anjo.... estou louco de preocupação.”
– Meu áudio foi enviado, mas não entregue...
– Bloqueado. Se a tia e a prima não obtiverem sucesso, não consigo
pensar em mais nada Oliver... só se Hazel...
– Hazel, depois de me dar um belo tapa na cara quando soube de tudo que
aconteceu, deixou bem claro que vai respeitar o tempo de Bia e que eu deveria
ir me foder.
– Ela tem razão.
– Eu estou cem por cento fodido, Riley. Nem uma célula do meu corpo
escapou.
– Me desculpe.
– Se divulgarmos uma foto na mídia dizendo que está desaparecida?
– Ficou maluco? Isso é crime. Ela não sumiu sem deixar rastros, ela é
maior de idade e saiu da casa do ex noivo depois que ele terminou o
relacionamento. Mandou duas mensagens para pessoas próximas avisando o
que estava fazendo, de livre e espontânea vontade.
– Temos que tentar algo...
– Caçá-la publicamente está fora de questão.
– Inferno! Eu vou enlouquecer se cruzar os braços. E contratar uma
agência de investigação?
– Podemos fazer, eles não farão muito mais do que nós fizemos de início,
depois seguiriam cada linha de ônibus que saiu naquele dia da rodoviária e
vasculhariam cada cidade. Como foram muitas vai levar tempo...
– Contrate.
– Tudo bem. Sobre Carol, decidiu?
– Não vou denunciá-la pelo estupro, mas quero que a polícia continue a
investigar e que a exponha para toda a sua família, pais, irmãos. Pode fazer
isto?
– Claro, com prazer. – Riley dá um sorriso sarcástico. Depois põe a mão
na barriga e faz uma careta.
– Está tudo bem?
– Está sim, é que hoje ele tirou para chutar minhas costelas. – Sorrio, com
uma ponta de tristeza porque aquilo já não vai mais acontecer comigo.
– Ele já tem nome?
– Anthony.
– Anthony Lewis. Um belo nome.
– Sim, também acho.
– Vou para casa Riley, me informe quando a equipe de investigação for
contatada.
– Pode deixar.
– Ah... Quando será divulgada a decisão que tomamos em relação à
banda?
– Semana que vem. E sobre o seu noivado...?
– Nada mudou. Ela continua sendo minha noiva. Não há nada a divulgar a
este respeito. – Saio e vou embora.

Bia

– Oi Julie, onde está Denis?


– Lá atrás? Quem é essa aí?
– Esta é Angel. Trouxe-a para ocupar a minha vaga.
– Prazer em conhecê-la, Julie – cumprimento. A garota me olha de cima
abaixo e não responde.
– Não tem necessidade, Maggie. Estamos dando conta.
– Estão dando conta? Como Julie? Ele está sozinho à noite.
– Não está. Dobrei o meu turno.
– Você o quê? Está trabalhado das nove da manhã à meia-noite todos os
dias? Quanto tempo acha que vai aguentar?
– Ele aguenta... e vai até as duas na alta temporada...
– Ele dorme até o meio dia Julie, pega só a uma... e ele é o dono, quantas
vezes durante os momentos em que o movimento é mais tranquilo ele deixa por
sua conta e sai? Ponha o seu ciúme doentio de lado, entenda de uma vez por
todas que ele não quer nada com você e comece a viver a sua vida garota, vai
ficar mendigando migalhas até quando?
– Não enche Maggie.
– Vá chamá-lo. – Ela me olha outra vez e não se meche.
– Vá ou eu mesma vou. – Julie finalmente se vira e some por uma porta ao
fundo do bar.
– Desculpe por isto Angel. Ela é apaixonada pelo Denis. Faz de tudo para
chamar a atenção dele, se mata de trabalhar por este lugar na esperança de que
ele a veja com outros olhos, mas ele só a reconhece como excelente
funcionária. Também morre de ciúmes quando uma mulher linda como você se
aproxima dele.
– Ela não tem com o que se preocupar.
– Ah, ela tem. Você ainda não o conheceu. Ele é bonito, gostoso e sedutor
que só ele. E não deixa passar mulher, muito menos as bonitas. Até eu já
peguei. – Já tive um destes Maggie, uma vez foi o suficiente, penso.
– Eles nunca se envolveram? Ela é bonita.
– Já sim. Na época do colégio. Mas ele nunca quis nada sério e quando
percebeu que ela grudou, nunca mais tiveram envolvimento íntimo. Também
nunca namorou ninguém. – Qualquer semelhança é mera coincidência?
– Maggie, quer falar... – Ele para e me olha. Realmente é um homem
bonito. Lembra um pouco Chris Hemsworth. – Comigo?
– Sim. Quero lhe apresentar Angel. Ela é nova na cidade. Está procurando
emprego.
– Angel? Muito adequado. Prazer, Denis. – Ele me estende a mão.
– Prazer.
– Mas você não é muito nova para trabalhar num bar à noite?
– Tenho dezoito, sou emancipada.
– Certo. Preciso ver os documentos.
– Desculpe, Denis. Neste caso tenho que declinar. – Começo a me virar
para ir embora, mas ele segura o meu braço e estreita os olhos para mim.
– Calma. Você não é de muita conversa, não?
– Não. Não mais. – Ele ri, eu não devolvo.
– Você é muito jovem para tanta amargura.
– Sinto muito tomar o seu tempo, mas foi um erro.
– Espere, Angel. Quais os seus motivos para que eu não veja os seus
documentos?
– Você terá que confiar em mim. Posso garantir que não sou procurada
pela polícia, nunca roubei ou matei. Nem tenho envolvimento com máfias ou
cartéis de drogas.
– É uma ótima defesa. Muito bem, não sou exigente. Está contratada. Na
baixa temporada o horário é das dezessete a meia-noite. Na alta temporada,
das dezenove as duas da manhã. O salário é mil e oitocentos dólares. Quando
pode começar?
– Amanhã mesmo se você quiser. – Quanto mais rápido eu arrumar
ocupação para não pensar nele, melhor.
– Fechado.
– Denis, ela precisa de um lugar para morar. Está no hotel, o anexo...
– Sim Maggie, ela pode se instalar nele.
– Mas qual o valor?
– Uma hora a mais de trabalho diário.
– Tudo bem.
– Faça o seguinte, a casa ficou muito tempo fechada, precisa de uma boa
limpeza. Tire o final de semana para se instalar e organizar as coisas, você
começa na segunda. – Ele se vira e tira algo de uma gaveta. – Aqui está a
chave. Maggie pode mostrar o acesso, se tiver algo que precisa de conserto,
basta me falar.
– Obrigada.
– Até mais, Angel.
Maggi me mostra um caminho estreito de vegetação que cresce em meio a
areia, que segue para trás da cerca do bar, passando por ele é possível ver uma
casinha branca, de madeira, a pintura um pouco gasta pelo tempo. Há uma
varanda na frente, fechada por tela. Atravessando a porta dentro dela, vê-se
uma pequena sala e cozinha conjugadas. Nos fundos da sala há uma passagem
para um pequeno corredor, com uma porta de cada lado. O quarto e o banheiro.
Tudo antigo e simples, mas bem conservado. É o suficiente.
O bar é muito bonito, rústico e praiano. Está começando a escurecer e a
iluminação é linda. A entrada principal é pela praia, conectada por um
caminho marcado por pontos de luz incrustados no chão, como se fossem
pequenas velas espalhadas pela trilha que vai da praia até a escada de madeira
escura, irregular e meio avermelhada.
Já é possível ver uma pequena movimentação de jovens e casais de
namorados chegando para festejar a noite de sexta.
– Angel, você gostaria de jantar lá em casa? – Um calafrio percorre meu
corpo, sei que a febre está voltando e sinto minhas pernas fraquejarem.
– Eu agradeço demais o seu convite, Maggie, mas não me sinto
emocionalmente bem para conhecer sua família hoje. Quero pegar sua bebê no
colo sem desabar no choro. E hoje há grandes chances de isto acontecer. Eu só
desejo voltar para o hotel, deitar e dormir.
– E chorar.
– E chorar.
– Eu entendo, mas me prometa que vai comer algo antes.
– Prometo.
– Acha que consegue voltar para o hotel sozinha?
– Consigo sim.
– Então boa noite Angel, até amanhã, quando eu for limpar o seu quarto. –
A puxo para um abraço.
– Você não sabe o quanto a sua ajuda está sendo importante para mim.
Prometo que serei, no futuro, uma boa amiga para você também.
– Tenho certeza que ainda daremos boas risadas juntas – diz, beijo sua
bochecha.
– Boa noite.
– Boa noite.
Caminho o quanto é possível pela praia, respiro fundo a brisa do mar, isto
me faz pensar em outro mar, outra praia, outro alguém, e quando vejo, estou
chorando outra vez. Depois pego as estradinhas que levam até o hotel, entro,
bebo um copo de água, olho a comida ali, os biscoitos, as torradas, o queijo,
estou com um pouco de febre e sei que se forçar-me a comer qualquer coisa
agora, vou vomitar. Então faço o habitual, tiro os sapatos e me jogo na cama.
Na manhã seguinte, após encontrar Maggie e fechar a conta no hotel, me
mudo oficialmente com a minha mochila para o anexo atrás do Secret Hiding
Beach Bar[14]. Quando ela me falou o nome ontem, quase tive vontade de rir.
Quase.
Segundo ela, tem este nome por ficar na ponta da praia e na época em que
os avós de Denis inauguraram, aquela área era totalmente inabitada. Virou o
local preferido dos casais de amantes ilícitos, então o avô de Denis mudou o
nome de Buttler Beach Bar para o que é hoje.
O sábado e o domingo passam voando. Trabalhei muito e fui às compras
para deixar o meu novo espaço habitável. Não porque fazia questão de uma
casa impecavelmente limpa e equipada, mas porque aquilo me anestesiou por
infinitas horas. Comprei algumas frutas no mercadinho logo adiante e foi tudo
que consegui comer durante os dois dias. Nas noites, assim que caio na cama e
não tenho mais como fugir, deixo que o desespero tome conta de mim outra
vez. A saudade está a cada dia mais esmagadora. Basta eu fechar os meus
olhos e posso sentir o seu calor e o seu toque me cercando. Sinto tanto a sua
falta!
A febre baixa continua indo e vindo em alguns momentos do dia, sei que
mais cedo ou mais tarde precisarei ir ao hospital para que um médico me
examine. Esperarei mais alguns dias e se não passar, até o final da semana
farei isto.
São dezesseis horas de quarta-feira e acabo de chegar para iniciar o meu
turno no meu terceiro dia de trabalho. Julie me recebe de cara feia, como fez
nos outros dois, e mal fala comigo. Se ela soubesse o quanto isso me incomoda
na minha situação atual... Zero! Tô pouco me fodendo para o que ela pensa,
acha ou fala de mim. Só quero cumprir o meu horário e as minhas obrigações,
e voltar para o meu caos particular. Nunca pensei que esta música pudesse
fazer ainda mais sentido na minha vida adulta do que fez na infância e
adolescência.
– Olá Angel. – Denis me cumprimenta.
– Oi Dênis, boa tarde. Vou limpar as mesas. – Me dirijo à área de serviço
e pego os panos e o material de limpeza para deixar as mesas devidamente
limpas para o horário em que as pessoas saem do serviço ou do colégio e vem
fazer o seu happy hour no Secrets Hidding. Além de mim, Julie e Denis, há
mais um barman, Washington, e duas pessoas na cozinha, Mirna e Carlos. Na
época de temporada, Denis contrata mais pessoas como temporários.
– Merda, Paul, não fode! – Ouço Denis dizer ao telefone. – Cara, dá um
jeito, teremos um pedido de casamento aqui hoje e o combinado é que cantem a
música do casal e mais algumas especiais para eles na sequência, para que
dancem... Arrume outra cantora, porra!... Cante você então... problema seu se
desafina... O que eu vou dizer ao noivo, caramba?... está tudo esquematizado
Paul, as famílias dos dois entrarão depois do sim e a festa será aqui... – Me
aproximo dele.
– Eu canto. – Ele tira o fone do ouvido e me olha.
– Você canta?
– Se forem poucas músicas, sim, eu canto. – Não tenho energia para
muitas, penso.
– Importantes para eles são apenas três, depois podemos colocar
playback.
– Tudo bem, faço as três músicas. Só preciso que o tal Paul venha passá-
las comigo.
– Ele virá. Ouviu isto Paul, sua pele está salva. Esteja aqui em quinze
minutos. – Desliga o fone. – Você é uma caixinha de surpresas.
– Guarde os elogios para depois que eu abrir a boca, Denis. Vai que sou
péssima?!
– Duvido.
– Você logo vai descobrir.
E, nem quinze minutos depois, o tal Paul está lá com o seu teclado.
Passamos as três músicas românticas do casal e Denis assiste a tudo admirado.
– Angel, sua voz é linda.
– Obrigada.
– Se eu soubesse o tesouro que estava contratando, você poderia ter
barganhado o seu salário e eu pagaria com gosto.
– Aceito aumento.
– Vou te dar um adicional pelo couvert artístico, claro.
– Ótimo.
– Menina, desculpe perguntar, mas você está bem? Está tão pálida e
parece estar suando.
– Estou sim. Não tenho comido muito bem, é só isso.
– Então sente-se aí e vou pedir para trazerem uma refeição completa.
– Não Denis, obrigada, mas não vou conseguir comer agora. – A sensação
de febre não vai deixar...
– Sente-se. Não quero você desmaiando no palco mais tarde.
Eu me sento. Ele traz saladas, batatas, carne. Tudo muito apetitoso e bem
feito, mas sei que não vai me cair bem comer agora, febril. Por outro lado,
preciso, sei que preciso. Então forço e consigo comer um bom bocado do que
ele pôs na minha frente. Mas meu estômago fica pesado. Nem meia hora
depois, estou no banheiro colocando tudo para fora.
Apesar da fraqueza, consigo cumprir o trabalho relativamente bem. Canto
as três músicas e os noivos se emocionam, precisei ser muito forte para não
desabar na frente de todos vendo a cena do pedido e depois a dança
apaixonada do casal. Os parentes entram, confraternizam juntos e pouco depois
das onze horas o bar já está completamente vazio.
– Você é esperta garota. – Hã? Julie me dirigiu a palavra? Sério?
– Desculpe, não entendi.
– Você come pelas beiradas, se faz de difícil... Mas pode esquecer, ele não
corre atrás de mulher não...
– Não viaja, Julie.
– Conheço seu tipinho. – A antiga Bia até poderia ter paciência com ela e
lhe dar algum espaço, mas a nova...
– Cuide do seu trabalho e eu cuido do meu. – Saio, vou pegar o material
para a limpeza das mesas novamente e começo a minha última missão da noite.
Quando estou mais ou menos no meio do caminho, tudo escurece diante dos
meus olhos e eu caio.

– Hei, Angel... acorde... – Escuto, mas a voz está distante, distante...


– Acorde, vamos... você está me assustando, garota... – Recebo leves
batidas no meu rosto.
– Hã?
– Porra, quer me matar do coração?
– O quê...?
– Você estava limpando a mesa e desmaiou. – Estou no chão com a cabeça
apoiada em seu colo.
– Nossa, só lembro de sentir uma tontura e tudo escurecer.
– Mas é fingida mesmo...
– Cale a boca, Julie.
– E você está entrando no papinho dela, Denis, não percebe?
– Tudo bem, chefe. Estou melhor, só me ajude a levantar – peco.
– Vou te levar ao hospital.
– Era só o que faltava... – debocha a morena ciumenta.
– Julie, pegue o pano e os produtos e termine de fazer o que ela não
conseguiu.
– O quê?
– Você me ouviu. Vá limpar as mesas! – Ele se exalta.
– Já estou bem, Denis, não precisa...
– Você não está nada bem. Neste momento está pálida feito um fantasma,
suando frio, magra demais e o sofrimento está estampado no seu rosto. Nós
vamos ao médico. Agora.
– Agradeço a preocupação, mas...
– O negócio é o seguinte, Angel, se quiser continuar trabalhando e
morando aqui, você vai entrar comigo no meu carro e nós vamos ao hospital.
Caso contrário pegue as suas coisas e arranje outro lugar para desmaiar. Não
quero problemas para o meu lado. – Respiro fundo.
Não terei mais como escapar dessa. Talvez a certeza de que não tenha muito
mais tempo me faça parar de lamentar o que perdi, afinal. Ele não corre mais
riscos pela minha presença e estarei poupando-lhe um possível sofrimento.
– Tudo bem, eu vou com você.
– Ótimo. Venha, veja se consegue se erguer e andar. – Ele me ajuda a
levantar a me dá apoio, me segurando pela cintura até chegarmos ao seu carro
na garagem atrás do bar.
– Há quando tempo você não se alimenta direito? – pergunta enquanto
dirige em direção ao hospital. Se eu contar a semana de angústia pelo sumiço
de Oliver, dá uns bons dias.
– Três semanas.
– O quê? Por quê? – Não respondo.
– Você sofre de algum distúrbio alimentar?
– Não. É só meu estado emocional e uma febre insistente que me impede
de sentir fome mesmo. E se me forço a comer quando tenho febre, não demora
muito, tudo volta.
– O que aconteceu com você, Angel? Eu a olho e vejo uma menina linda e
cheia de vida, mas que no momento está destruída.
– Você foi certeiro em sua análise.
– Quem fez isso com você? – Novamente não respondo.
– Tem alguma coisa que posso fazer para ajudá-la?
– Você já está fazendo. Ter um trabalho e um teto é tudo de que eu preciso
agora.
– Chegamos.
É um hospital pequeno, na recepção do pronto-socorro só a atendente e um
senhor à espera de atendimento. Nos aproximamos do guichê.
– Em que posso ajudá-los?
– Ela desmaiou há uns vinte minutos. Está pálida e não consegue comer há
dias. – Denis diz antes que eu possa me pronunciar.
– Certo. Me passe um documento seu por favor.
– Eu não pude trazer. – A garota me analisa.
– Plano de saúde?
– Não, será particular.
– Tudo bem, só preencha o seu nome, idade, e responda as questões sobre
medicamentos e alergias, por favor. – Pego a prancheta com alguns papéis das
mãos dela e me sento para preencher. Terminado, lhe devolvo e, nem meia
hora depois, uma enfermeira me chama para o atendimento. Denis levanta-se
comigo.
– Denis, se não se importar, prefiro fazer isto sozinha.
– Eu quero conversar com o médico.
– Prometo que não vou lhe esconder nada sobre o meu estado de saúde.
– Ok. Te aguardo aqui.
– Não precisa, pode ir...
– Te aguardo aqui.
– Certo. Obrigada.
A enfermeira me leva para um pequeno consultório. Mede minha
temperatura, minha pressão, meus batimentos, me põe deitada na maca e pede
que aguarde o médico. Uns quinze minutos se passam até que uma médica,
baixinha como eu, de origem indiana e muito sorridente entra.
– Olá, – ela olha os papéis deixados pela enfermeira. – Angel, sou a
doutora Deva Manzir.
– Boa noite, doutora.
– Vejo aqui que está com a pressão bem baixa. O que aconteceu com você?
– Eu tive um pequeno desmaio há mais ou menos uma hora e... não venho
me sentindo bem há um tempo.
– Me conte tudo que tem sentido e a quanto tempo.
– Bom, no início de fevereiro, eu comecei a me sentir muito cansada. Tive
febre, fui ao médico que me diagnosticou com pneumonia. Ele me tratou com
antibióticos e corticoide, e quando refiz os exames início deste mês estava
totalmente curada. Só que uma semana antes eu voltei a sentir o cansaço, me
sinto com bem menos energia do que o habitual e sempre que tenho
oportunidade, eu durmo. Além disso, há pouco mais de duas semanas,
apareceram estas manchas. – Ergo a camiseta.
– E há duas semanas também, voltei a ter febre. Uma febre que vem e vai.
Principalmente pela manhã e no final do dia.
– Certo, antes que eu comece a examiná-la, tem algo mais a acrescentar?
– Eu também sofri um baque emocional muito forte, me sinto muito triste e
não tenho fome. Só como obrigada e ainda assim, as vezes meu corpo rejeita.
– Esse baque emocional ocorreu há quanto tempo?
– Duas semanas.
– Este é o tempo que não se alimenta adequadamente?
– Três semanas. Uma semana antes eu estava muito preocupada e também
não conseguia comer.
– E o vômito é constante?
– Não, esporádico, normalmente quando estou com febre. E... perdi minha
mãe aos treze anos para a leucemia e lembro que os sintomas dela...
– Calma, não vamos nos precipitar, ok? Vou examiná-la. Toma algum
medicamento de uso contínuo?
– Só anticoncepcional.
– Há quanto tempo?
– Seis meses.
– Ok. Vou começar os exames. – Ela analisa meus olhos, minha garganta,
aperta meu abdômen, olha as manchas, ausculta meus pulmões e coração.
– Angel, é o seguinte, vamos coletar sangue para mais alguns exames, mas
uma coisa já está bem clara para mim. Você está com sinais claros de
desidratação e desnutrição, e por este motivo terei que interná-la.
– Mas...
– Não posso liberá-la nestas circunstâncias, vou te colocar no soro e
ficará no mínimo três dias no hospital. A enfermeira virá coletar o seu sangue e
na sequência te instalará no quarto. Descanse, durma, e amanhã pela manhã, de
posse dos resultados dos exames, vou vê-la e conversamos.
– Não tenho opção, não é?
– Infelizmente não.
– O meu chefe... ele veio me trazer e está na recepção.
– Qual o nome dele?
– Denis.
– Vou conversar com ele. Amanhã, no horário de visitas, ele poderá vir
vê-la se quiser.
– Obrigada.
Como ela havia dito, a enfermeira tira o meu sangue, depois me põe num
quarto e no soro. Me forço a contar as gotículas caírem do medidor na
mangueira para evitar pensar na minha tristeza, na minha solidão e no meu
amor perdido, e assim cair no choro outra vez. A minha apatia é tanta que nem
o costumeiro pavor por ter que permanecer em um ambiente hospitalar deu as
caras. Um tempo depois perco a conta e a consciência. Acordo com alguém
alisando o meu braço.
– Bom dia, Angel. Fico feliz em ver que dormiu bem e por um bom tempo.
– Que horas são?
– Dez da manhã. Sinto muito acordá-la, quanto mais você descansar mais
rápido seu corpo se restabelecerá da desnutrição, mas tenho o resultado dos
exames e meu dia está cheio, se não falarmos agora, só conseguirei vê-la a
noite.
– Eu prefiro saber logo... – Sento-me na cama para poder ficar na altura do
seu rosto.
– Certo. Bem, querida, temos várias questões a esclarecer aqui, mas quero
tranquilizá-la quanto a leucemia. Você não tem leucemia, nem qualquer outro
tipo de câncer. Seu pulmão está em perfeito estado também.
– Mas o cansaço, a febre, as manchas...
– Como eu disse, várias questões. Começaremos pela febre. Na minha
opinião, ela é de fundo emocional. Posso perguntar se o motivo do seu abalo é
a perda de alguém que ama? Não me refiro apenas a morte...
– Sim.
– Não apareceu nada nos seus exames que indique qualquer infecção,
então oitenta por cento de chance da sua febre ser causada pela “saudade”. É
mais comum do que você imagina. Os outros vinte por cento pode ser uma
autossugestão, pela sua preocupação com os outros sintomas estarem ligados a
uma doença e no quadro geral só faltar a febre para corroborar o
autodiagnóstico... me entende?
– Sim. Então eu não tenho nada?
– Eu não disse isso. Mas você não tem nada grave.
– As manchas e o cansaço...
– Sim, as manchas e o cansaço estão relacionados ao que você tem.
– E o que eu tenho?
– Você tem uma vida crescendo aqui. – Ela põe a mão em meu ventre.
– O quê? Não... – Rio de nervoso. – Não é possível...
– Tanto é que está aí. Firme e forte, apesar da sua nutrição deficitária das
últimas semanas. Ouvi o coração dele antes de você acordar e os batimentos
estão fortíssimos.
– Não. Deve haver algum enganado... eu não queria filhos tão cedo, por
isto tive muito cuidado com o anticoncepcional, não deixei de tomar um único
comprimido sequer e sempre no horário correto.
– Tem certeza? Apesar de não ser cem por cento garantido, o
anticoncepcional não costuma falhar. Alguns antibióticos até cortam o efeito,
mas a princípio não os que você tomou para a pneumonia... será que não
esqueceu um dia ou outro?
– Não, certeza. Eu não deixei de... – Então me lembro de um detalhe.
Eu vomitei algumas vezes, alguns dias seguidos depois de tomar o forte
antibiótico. E um dos horários do remédio era pela manhã, pouco tempo depois
de tomar o anticoncepcional.
Como pude ser tão burra?
– Enquanto tive pneumonia, eu vomitei algumas vezes por causa do
antibiótico, o remédio estava atacando meu estômago...
– E vomitou o anticoncepcional junto...
– Sim.
– Bem, explicado como esse bebezinho conseguiu se abrigar aí. – Não
consigo mais segurar, libero as lágrimas e os soluços.
– Eu não posso, não quero um bebê... não posso...
– Se acalme, vamos conversar.
– A senhora tem mesmo certeza?
– Sim, querida. Trouxe o aparelho de ultrassonografia, preciso determinar
o tempo gestacional e se está tudo bem com o feto. Minha especialidade é
obstetrícia, não foi à toa que precisei cobrir o clínico geral ontem no plantão.
Era para eu cuidar de vocês. – A doutora puxa o aparelho para perto da cama.
– Preciso que retire as roupas de baixo e deite-se o mais ao pé da cama
possível. O ultrassom no estágio inicial da gestação precisa ser o vaginal.
Faço o que ela pede no automático. Meu estado é de choque... um filho? Um
filho? Meu outro grande pesadelo se tornando realidade também.
A doutora Deva pega uma parte do aparelho que lembra muito um vibrador
e que é ligado ao restante do equipamento por um fio. Coloca um preservativo
nele, passa um gel e o introduz em minha vagina. Um som de eco e uns borrões
preto e branco aparecem na tela à nossa frente e se movimentam conforme ela
mexe.
– Ah... ali está seu bebê. – Olho para a imagem e tudo que vejo é uma
grande mancha escura e no meio dela uma manchinha clara.
– Onde?
– É aquele “feijão” dentro da imagem escura. A parte negra é a bolsa.
– Uhm...
A médica movimenta o aparelho e a imagem do feijãozinho fica mais
próxima. Consigo identificar uma forma que parece ser uma cabeça muito
grande e um corpinho pequeno sem membros. O corpinho se mexe. Meus olhos
se enchem outra vez. Você não podia estar aí bebê... não assim... não agora...
– Pelos meus cálculos, você está de sete para oito semanas.
– Dois meses?
– Sim, próximo de completar dois meses.
– Mas....
– A idade gestacional conta-se a partir do dia da sua última menstruação.
E a data da fecundação pode acontecer de nove a dezessete dias depois. Você
lembra quando menstruou pela última vez?
– Primeira semana de fevereiro.
– É, fecha com o que o ultrassom sugere. A concepção deve ter acontecido
entre os dias oito e quinze de fevereiro.
Penso nestas datas, eu e Oliver só voltamos a transar no dia onze, quando
chegamos em São Paulo. Ironicamente, este bebê foi concebido no Brasil. E
pensando em Brasil, lembro da minha tia, de Eva... puta-merda, se ele ou
alguém da família as questionaram a meu respeito, devem estar preocupadas,
preciso mandar uma mensagem do número antigo. Um som me traz de volta ao
presente, ao bebê. É um som alto, forte e ritmado.
– Veja que coraçãozinho forte. Ele está ótimo! – As lágrimas escapam.
Oliver ficaria tão... bom, nem sei mais como ele ficaria. Até que ponto era
verdade? Não era. Deus, o que eu vou fazer? A Dra. finaliza o exame e desliga
o aparelho.
– Como se sente depois de vê-lo e ouvi-lo?
– Incrédula, assustada, confusa e com medo, muito medo.
– E a confusão seria em relação a manter ou não a gravidez?
– Eu não sei... eu... – digo nervosa e com a voz embargada.
– Hei, acalme-se. – Ela me abraça.
– E o medo? Consegue me falar sobre ele?
– Sim, este eu entendo bem. Meu medo é aceitá-lo, amá-lo e perdê-lo. Eu
perco tudo que eu amo. Tudo! Foi assim com os meus pais, foi assim com o pai
dele. Será assim com ele também – digo totalmente abalada.
– Ah meu bem, sinto muito que tinha passado por tanta coisa, mas não
pode pensar assim.
– A vida não me deu outros exemplos.
– Seu bebê crescerá saudável, você não estará mais sozinha.
– Até quando? Eu não sobrevivo a outro golpe. Nem sei se viva é um
termo que possa me definir no momento.
– Vamos fazer o seguinte. Você não tem para onde ir e nem o que fazer
enquanto está aqui. Pense, descanse e alimente-se. A tarde já poderá ingerir
alimentos sólidos. Hoje à noite passo novamente para lhe ver. Se decidir por
interromper a gravidez, encaminharemos os papéis e faremos o procedimento
antes da alta, é um direto seu. Mas... – Ela abaixa e pega algo da parte de trás
do equipamento de ultrassonografia. – Vou lhe deixar isto. – Entrega um
pequeno papel na minha mão. – Até mais tarde. – Beija minha testa e se
encaminha para a saída.
– Doutora Manzur?
– Sim?
– Poderia avisar na recepção que não quero visitas hoje? Se meu chefe...
– Claro, ninguém virá perturbá-la, prometo.
Depois que ela sai, não tenho mais como fugir dos meus pensamentos. Uma
lembrança me vem à mente. A lembrança de um sonho que tive quando
estávamos na expectativa de que nossos descuidos resultassem neste mesmo
cenário. Nele, um bebê pedia pela minha atenção, mas bastou aconchegá-lo em
meus braços para perder Oliver. Para Oliver ir embora. Premonição?
Ironicamente ou não, fui avisada, afinal...
Olho o pequeno papel em minha mão, a imagem da grande cabeça de
corpinho pequeno. Meu bebê, meu filho. Meu filho e de Oliver. O coração
aperta. Não serão só as lembranças e as fotos que carregarei comigo a respeito
da nossa história. Não. Levarei para sempre um pedaço dele. Um pedaço que
foi misturado a mim e criou um novo ser. Alguém que se parecerá comigo e
com ele na forma física, em alguns trejeitos, talvez até alguns pensamentos,
mas que terá personalidade, vontades, desejos e sonhos próprios. Alguém
único.
Óbvio que não cogito um aborto. Como poderia? Um bebê do homem que eu
amo com todo o meu ser. Uma criança gerada a partir de um amor que eu sei
que nunca mais vou sentir por ninguém. Como arrancar um pedaço de Oliver
de dentro de mim se, mesmo machucada, nunca o arrancarei do meu coração?
Contorno aquela forma humanoide com a ponta dos dedos. Claro que não farei
isso. Não... como Riley me disse no trapiche, no dia em que a encontrei
chorando, se está aqui, já é meu. Só meu.
Mas mesmo não pensando em abortar, também não sei como seguir em
frente. Puxo a camiseta para cima e passo a mão na minha barriga. Tão lisa
como sempre. Até mais eu acho, pois perdi alguns quilos nas últimas semanas.
– Você ficou só esperando uma brecha, não é? – digo em voz alta.
– Aproveitou a pequena oportunidade que surgiu e se instalou aí... Não era
hora, bebê! Sua mãe não está pronta, ela tem tantas neuras na cabeça... ela não
será uma boa mãe. Há tantos medos dentro dela. Tanta tristeza. Como te fará
feliz se ela mesma não consegue ser? Como dará a segurança e o amor que
precisar se toda vez que te olhar o pensamento de quando irá te perder permear
a sua mente? Você não merece. Eu não mereço.
– Mas agora esta discussão já está fora de contexto, não é mesmo? Você já
está aí. Quis vir mesmo assim. Tudo bem que quando fixou morada o cenário
ainda não era tão caótico. Aposto que também acreditou que seu pai me amava.
É... isto até que ameniza um pouco as coisas para o seu lado, feijão.... mas só
um pouco, não muito.
– Sabe, as circunstâncias que te esperam aqui fora, comigo, não são as
mais promissoras. Seu pai não saberá sobre você. Não enquanto eu não me
sentir bem o suficiente para encará-lo outra vez. E vai demorar. Sua mãe é
garçonete, mora numa caixa de madeira de três peças. E não há perspectivas de
mudar esta realidade logo, não. Vai encarar, ainda assim? Pense bem. Se quiser
desistir, faça logo. Não deixe que eu me apaixone por você primeiro, me
prometa ao menos isto. Se deseja crescer e aparecer, então que fique e aguente
firme o que vier. Depois do luto pelo seu pai não me restarão muitas lágrimas,
então não me obrigue a gastar o pouco que sobrar com você. – Suspiro.
– Só eu estou falando aqui, é injusto. Deixe o silêncio de lado e me conte,
feijão, você é ele ou ela? Hã?
– Rá! Está rindo da minha cara, não é? Mas que pergunta mais idiota a
minha... É claro que é ele. Você é homem e será a cópia de Oliver, acertei?
Toda vez que eu olhar para a sua carinha, me mostrará aquele mesmo sorriso, o
mesmo olhar, o mesmo jeito, o mesmo porte, só para me torturar e me fazer
apaixonar de novo e de novo, por você e por ele, estou certa? Óbvio que sim.
Será uma missão tão fácil de cumprir feijão, tão fácil... um sorriso e estarei
rendida em suas mãos. Um olhar na sua direção para a saudade dele me
esmagar com força. Como está me esmagando agora.
– Então você gosta de falar? – Levo um susto. De onde surgiu aquela voz?
– Foi um monólogo e tanto, Angel. – Procuro pelo espaço e vejo Denis
escorado num canto. – Este tal Oliver parece ser um homem de sorte e um filho
da puta ao mesmo tempo.
– Como você conseguiu... eu tinha pedido...
– Para não receber visitas? Fui informado. Mas sabe, eu tenho um certo
charme. As mulheres normalmente reagem a ele de forma positiva, enfermeiras
inclusive. Diferente de você, que parece ser a exceção da minha vida. – Ele se
aproxima da minha cama.
– Espero que você não seja o tipo de pessoa que não se conforma até
encaixar a exceção na regra.
– Se for do meu interesse sincero, pode ter certeza de que me esforçarei
nesta direção. Gosto de desafios.
– Não sei a quanto tempo você está aí, mas acredito que já descobriu o
motivo do meu desmaio. Então não valho o seu esforço, mesmo que haja
interesse sincero.
– Estou aqui desde o momento em que você disse ao seu feijão que não era
a hora certa dele aparecer. E não acho que a existência do feijão seja motivo
suficiente para desconsiderar possibilidades.
– Você só pode estar de sacanagem.
– Nem um pouco.
– Denis, não há a menor chance de...
– Calma, eu disse se eu tiver interesse, e não que tenho...
– Ótimo que não tenha.
– Também não disse isto. – Olho torto para ele. Resolvo mudar o assunto.
– Olha, se você quiser reconsiderar o meu emprego, eu vou entender. Só
peço que me dê um tempo para achar outra coisa antes de me deixar sem um
teto.
– Deixar uma jovem mãe solteira desempregada e desabrigada quando ela
mais precisa? Tentador, mas não é do meu feitio. Não sei que tipo de homem é
este tal Oliver, pai do feijão, mas você está com a humanidade em baixa conta,
não? Sem contar que isto não me favoreceria em nada na questão “transformar
a exceção em regra”.
– Denis...
– Fique tranquila, seu emprego e sua “caixa de madeira de três peças”,
continuam garantidos.
– Obrigada. E desculpe pelo comentário desdenhoso.
– Não foi nenhuma mentira. Este bebê tem sorte, a mãe dele sempre lhe
será sincera. E só para deixar registrado, torço para que seja menina. – Sorrio.
– Claro que torce, e de preferência que o nome dela seja Denise, o que
acha?
– Nossa, eu arranquei mesmo um, apesar de discreto, sorriso seu? Denise
é um belo nome.
– Não se acostume com os meus sorrisos. Não aparecerão com frequência.
– Hoje está muito mais corada, sabia? Dava medo olhar para você ontem à
noite.
– Obrigada por insistir e me trazer. Se não fosse você, provavelmente meu
feijão minguaria por falta de nutrientes... – Aquele simples pensamento
provoca um arrepio de pavor que percorre todo o meu corpo.
– Vou ficar de olho em você e garantir que a Denise tenha todos os
cuidados dos quais precisar, não se preocupe.
– Não somos sua responsabilidade, Denis. Agradeço, mas não quero que
nos considere assim.
– Você trabalha para mim, Angel. Nos veremos todos os dias. Não há
como me impedir de demonstrar interesse e me preocupar.
– Se eu sentir que usará uma possível vulnerabilidade em razão da minha
condição para levar a nossa relação por algum outro caminho além do âmbito
profissional e da amizade, terei que pedir demissão.
– Não faço as coisas esperando algo em troca. Todas as intenções que eu
tiver a seu respeito, deixarei às claras. Desarme-se garota. O inimigo não sou
eu.
– Desculpe.
– Tudo bem, só passei para ver se estava melhor. Pelo que a médica me
falou ontem, sua alta será no sábado. Venho buscá-la. Quer dizer, buscá-las.
– Vou de aplicativo, não se preocupe.
– Não foi uma sugestão. Até sábado. – Ele sai.
Ao que parece, Denis não está habituado a ter suas vontades contrariadas.
Espero mesmo que ele não tente forçar uma situação ou terei que ser muito
mais clara. Cuidados e boas ações não me amolecem mais.
Agora serei eu comigo mesma... quer dizer, eu e o feijão.
Enquanto ele ficar.
E só.
Capítulo 32

“Está tudo cinza sem você


Tá tão vazio
E a noite fica sem porque
Aonde está você?
Me telefona
Me chama, me chama, me chama”
(Me Chama, Lobão)

Oliver

M eu mundo parou no domingo, nove de março. O dia em


que ela sumiu. Quinze dias depois e não temos uma
pista sequer do seu paradeiro. Nada. A equipe de
investigação que contratei reavaliou todas as imagens da rodoviária e não
achou nada diferente do que tínhamos encontrado. Ela não tirou mais dinheiro
da conta depois daquele dia. Não recebe mensagens no seu novo número.
Nossas ligações não chegam a completar. Nem as de Hazel e nem as da tia ou
de Eva. O celular tem as funções de localização desativadas. Bia riscou todos
nós de sua vida de uma só vez. Por minha culpa.
Hoje pela manhã mandou uma mensagem para a tia nos mesmos moldes das
que mandou para Hazel e vovó. Do número antigo e sem dar chance de
resposta. Não nos ajuda a saber onde está, mas pelo menos sei que está viva, e
segundo ela, bem.
Como as mensagens que encaminho para o novo número não chegam a ser
entregues, continuo mandando várias por dia para o seu número antigo.
Naquele não estamos bloqueados, aparentemente. Ela certamente viu quando
recolocou o chip para escrever para a tia, mas não parou para ouvir nenhuma.
Passo os dias no quarto com o telefone nas mãos, esperando por um sinal,
uma pista, uma palavra. Revendo as fotos, assistindo ao clipe de Eden,
acariciando a aliança que ela deixou e que agora carrego no pescoço,
pendurada à uma corrente. Me agarro nas coisas que ela deixou para trás e
ainda mantém o seu perfume.
Se eu fechar os olhos, consigo ouvir as suas risadas pelo cômodo, consigo
ouvi-la fazendo uma gracinha, consigo ver o seu olhar de desejo e admiração
em meu corpo, consigo ouvir seus gemidos de prazer enquanto fazemos amor,
posso sentir o seu toque, os seus beijos e ouço-a dizer que me ama.
Sinto o nosso amor vivo e pulsando aqui dentro, em cada canto deste
quarto. Em cada milímetro do meu corpo. Na minha alma.
A saudade, a preocupação e o remorso me devoram aos poucos, dia-a-dia.
Não me concentro em mais nada. Não me interessa me preocupar com a minha
alimentação, com a minha saúde ou com a minha higiene. Vivo uma angústia e
uma espera sem fim, que nada, nem ninguém, tem o poder de aliviar.
É a mesma dor que senti aos seis anos, agravada pelo fato de que agora eu
fui o causador e uma menina inocente foi a vítima. Será que Vivienne sentiu
algo parecido depois de fazer o que fez? Com certeza não.
– Onde você está, meu amor? Anjo, volte para casa! – Há cada hora que
passa eu repito este mantra em meio às lágrimas, mas a resposta nunca é
diferente. Sempre o silêncio.
A porta do quarto se abre.
– Venha tomar café conosco, filho.
– Obrigado Edgar, mas vou ficar aqui.
– Oliver, não consigo nem imaginar o tamanho da sua dor, porque a minha
preocupação com Bia já dói bastante. Mas você não pode fazer isto com a sua
avó, ela está sofrendo demais lhe vendo assim. Além do fato de que ficar
doente não vai ajudar a achá-la e trazê-la de volta. Faça um esforço. Venha e
coma alguma coisa.
– Eu vou achá-la, Edgar. Pode demorar, mas mais cedo ou mais tarde eu
vou achá-la. Agora trazê-la de volta... Vou morrer tentando, mas será que um
dia vou conseguir? Depois do que eu fiz? Para ela ter reagido do jeito que
reagiu, afastando todos vocês, eu acabei com tudo de bom que vivemos dentro
dela.
– Não, filho. Da mesma forma que aconteceu com você, ela agiu no calor
do momento. Ambos reagiram à dor, por impulso. O sentimento entre vocês
nunca foi unilateral. Ela sente a mesma saudade e a mesma falta que você sente
dela. Mas está ferida neste momento, você tem que deixá-la se reaproximar
quando se sentir pronta.
– Ela não vai, Edgar. Jamais fará este movimento por conta própria.
Conheço Beatriz. Não me procurará nunca mais por livre e espontânea
vontade. Mesmo que ainda me ame. Mesmo que precise muito de mim. Mesmo
que sua mágoa alivie e sobrem as boas lembranças.
– Por que diz isto?
– Porque a decisão de afastá-la foi minha. Na cabeça dela eu não a quero
mais, eu a traia. E ela jamais imporá a sua vontade se isso significar passar
por cima da minha. Enquanto ela achava que eu estava mentindo e fazendo o
que fiz para protegê-la de alguma coisa, poderia ter esperanças de que lutasse
por nós. Depois do vídeo, não mais. Ela apenas está cumprindo o meu desejo
sem que eu tenha que abrir mão da banda e da minha família para isto. No
fundo, no fundo, ela fugiu para que eu ficasse bem, para que eu tivesse opções
e não perdesse nada. E esta certeza me mata um pouco mais.
– Então você precisa achá-la.
– Eu sei. É só para isto que vivo.
– Tem certeza? Não te acho nem um pouco vivo no momento. E mortos não
encontram ninguém, Oliver. Pelo menos não neste plano.
– Não descuido um instante sequer na busca, mas o resto, não me
importa...
– E como você quer se apresentar a ela quando a encontrar? Sendo o
homem que ela conhece e ama, ou este lixo humano no qual você se
transformou nos últimos quinze dias? Saudável ou com alguma outra doença
além da que você pensa que não consegue vencer e que foi o motivo de todo
este drama? Há quantos dias você não toma banho? Há no mínimo quinze você
não faz a barba. Deve ter perdido pelo menos uns cinco quilos. Esse homem
que não come, não dorme e não tem o mínimo de cuidado consigo mesmo vai
ter energia para reconquistar a sua mulher? Não vai. Ele só vai definhar e
levar a avó junto com ele.
– Como consigo ânimo e adquiro força de vontade o suficiente para lutar
por nós dois? Neste momento, tudo que eu consigo pensar que Beatriz sente
por mim, é nojo. Cada toque que eu dei nela com todo o meu amor, está sujo
por imagens mentirosas que eu mesmo a forcei a ver e acreditar.
– Então o seu plano maravilhoso é deixar a busca nas mãos de terceiros,
enquanto passa os dias chorando, mandando mensagens e minguando dentro
deste quarto?
– O que você sugere que eu faça? Se tiver alguma ideia melhor, por favor,
sou todo ouvidos.
– Reaja! Se envolva! Trace um plano e o separe por etapas, crie metas! Se
junte a equipe de investigação e vá vasculhar as câmeras das rodoviárias das
cidades para as quais houve saída de ônibus naquele dia. Você é a pessoa que
mais a conhece, pode ver coisas que eles não viram. Qualquer coisa que te dê
um norte e esperança de chegar mais rápido ao seu objetivo. Você vai pirar se
ficar esperando ao invés de atuar em algo concreto, filho. – Seco os olhos. Ele
está certo. O que eu estou fazendo aqui? Perdendo tempo?
– Tem razão. Que merda estou fazendo aqui parado? Por que não me puxou
a orelha antes, Edgar? Vou liderar eu mesmo a investigação, organizar um
Q.G., contratar mais pessoas, montar várias equipes para que vasculhem as
câmeras de muitas cidades em paralelo. Acompanhar cada busca de forma
ativa.
– Finalmente! Isso sim vai te levar mais perto de trazê-la de volta para a
sua vida, e logo. Ficar aí jogado nessa cama chorando e olhando as fotos dela
o dia inteiro, não.
– Deus, como ainda não fiz isto? Estou aqui perdendo tempo...
– Está mesmo. Podemos te esperar lá fora?
– Sim, diga a vovó que vou acompanhá-los no café, só preciso de alguns
minutos para tomar um banho.
– Ótimo.

Bia

Noventa e sete. Noventa e sete mensagens de voz enviadas por Oliver nos
últimos quinze dias acusaram no app assim que coloquei o chip antigo no
telefone para enviar uma mensagem a minha tia. Mais tantas outras enviadas
por Hazel, Laura, Edgar, Lian, Max, Kellan, titia, Eva e até Riley...
Cheguei a tocar o dedo sobre o contato dele, mas não tive coragem. O que
ele poderia me dizer? Que está preocupado, que devo voltar e me apossar da
sua vida e sua família? Que quer me dar mais dinheiro? Ouvir qualquer uma
destas coisas só doeria ainda mais. A única coisa que eu gostaria de ouvir sei
que ele não vai dizer. O vídeo é a prova disto. Então melhor deixar como está.
Mas mesmo sabendo que não tem nada lá que me fará sentir melhor, causou
impacto. Eu que estava prestes a sair de casa e chegar mais cedo no trabalho
para compensar minhas faltas e ocupar a mente, me deixei cair no sofá, erguer
os joelhos na frente do corpo, apoiar a cabeça neles e chorar. Chorar tudo que
segurei nos últimos três dias no hospital, para o bem do bebê.
– Qual o motivo do desespero? – Ergo os olhos embaçados e encontro
Denis com um prato de comida nas mãos parado na porta de casa. Seco os
olhos.
– Nada não. – Ele põe o prato sobre a pequena mesa de dois lugares.
– Sente-se aqui. Venha comer enquanto está quente.
– Obrigada Denis, mas não...
– Venha comer. Não voltará a desmaiar no trabalho nem que eu tenha que
colocar a comida na sua boca todos os dias. Senão por você mesma, faça pela
Denise.
– Julie já não vai com a minha cara, se te ouve falar assim, o próximo
prato de comida que você me trouxer estará temperado com Fubarin[15].
– Esqueça Julie. Você estava chorando pelo tal Oliver, não estava? Não
minta para mim.
– Que eu saiba não tem nada escrito no meu contrato de trabalho que me
obrigue a falar da minha vida particular.
– Você não tem um contrato de trabalho, lembra? Negou-se a me entregar
os documentos. Sendo assim, eu faço as regras conforme as circunstâncias.
– Touché!
– Chorava por causa dele?
– Sim. Eu sinto muitas saudades... sinto a falta dele de uma forma
insuportável.
– Por que não estão mais juntos?
– Ele decidiu que não me queria mais.
– Ele é um idiota.
– Também acho. Mas infelizmente este fato não diminui nem o amor e nem
a dor.
– Não me enrole, Angel, destampe o prato e coma. Não sairei daqui até me
dar por satisfeito. – Mesmo sem vontade, faço o que ele pede.
– Você está me acostumando mal. Já me trouxe comida ontem e antes de
ontem, não tem que fazer isto.
– Tenho um restaurante, não me custa nada.
– Antes de ontem era domingo e ontem segunda, Denis. Você não abre
nestes dias.
– Gosto de cozinhar. O que você pretende fazer? Vai contar a ele sobre a
Denise? – Suspiro.
– Não. Ele não saberá sobre o feijão. Deixarei que siga com sua vida da
maneira que escolheu. Não seremos nós a atrapalharmos os seus planos.
– Não consigo decidir se você está sendo altruísta ou vingativa. É filha
dele. Ele tem o direito de saber. Eu iria querer.
– Nem altruísta, nem vingativa. A questão é que ao terminar comigo ele fez
questão de me magoar profundamente me dando provas concretas de que o que
vivemos não teve tanta importância para ele quanto teve para mim. Não vou
impor minha presença em sua vida. Ele não me quer por perto, e neste
momento eu e o feijão somos uma unidade, não há como conviver com um sem
conviver com o outro. Só vou respeitar os seus desejos e preservar o que
restou da minha sanidade.
– Então quando a Denise puder visitar o pai sozinha, você conta?
– Eu não acho que possa negar ao feijão o direito de saber quem é o seu
pai. Mas terei muito tempo para isto. Denis, se eu der mais uma garfada, vou
vomitar.
– Você comeu quase metade. Acho que para alguém que ficou três semanas
sem se alimentar decentemente, está de bom tamanho.
– Obrigada, vou guardar o resto para a janta.
– Você vai jantar no restaurante, sob a minha vigilância. – Reviro os olhos.
– Quer dizer, se estiver se sentindo bem o suficiente para ir trabalhar...
– Se eu ficar mais um dia inteiro aqui dentro com meus pensamentos e
sentimentos, enlouqueço. No domingo Maggie me distraiu com a sua visita,
mas ontem foi difícil suportar.
– Eu poderia ter lhe feito companhia. Minha casa é ali em frente, caso
você não saiba. As portas estão sempre abertas para qualquer amigo que
precise conversar.
– Você pode encontrar coisas bem melhores para fazer do que servir de
cozinheiro e babá para uma mulher grávida, chefe.
– Posso? Como o que por exemplo?
– Como usar o poder do seu “certo charme” por aí.
– Estou concentrando o poder num ponto muito específico, na missão
encaixar exceções em regras. – Olho muito séria para ele.
– Vou ignorar e levar na brincadeira, pois você me disse que deixaria suas
intenções às claras e eu, por mais que os últimos acontecimentos da minha vida
me lembrem a todo instante que não é uma boa prática, ainda teimo em
acreditar nas pessoas.
– Ótimo. Nos vemos mais tarde no trabalho.
– Não, eu vou agora.
– De jeito nenhum. Você está grávida, não vai trabalhar mais de oito horas
e eu preciso de você lá à noite, quando o movimento é maior.
– Você estaria me fazendo um favor permitindo que me ocupe por mais
horas. – Ele me olha e pensa por alguns instantes.
– Tudo bem, tem alguns trabalhos burocráticos que eu detesto fazer e por
isto estão atrasados. Que é dar baixa nos estoques e computar os itens que
precisam de reposição urgente. Se quiser me ajudar nisto, sentada, quietinha,
até as dezessete horas quando começa o seu turno, pode vir agora.
– Perfeito.
Cato o meu celular, encosto a porta da casa e sigo com ele para o bar.
Ignorando o aperto no peito que sinto desde que soube das noventa e sete
mensagens.
– Você senta ali. – Ele aponta para uma mesa mais ao fundo do espaço. –
Vou pegar um dos notebooks no escritório e já venho lhe explicar o que deve
fazer.
– Ok. – Como previa, assim que ele se afasta e me sento, Julie se
aproxima.
– Vejo que o seu showzinho de quarta passada deu certo. Mas me conte.
Ele já conseguiu o que quer? Já deu para ele? Porque no momento em que isto
acontecer, não demora muito e ele perde o interesse, prepare-se!
– Julie, eu não deveria, você não merece, mas por pena vou te ajudar. Se
ama mesmo aquele homem e quer ter alguma chance real com ele, preciso lhe
dizer que está fazendo tudo errado. Não é cercando-o, fazendo todas as suas
vontades, espantando as outras mulheres e vendendo a alma por este trabalho
que você vai ganhar o respeito e a admiração dele. Você passa uma única
mensagem a ele fazendo o que faz, a mensagem de que o valor que atribui a si
mesma é o mesmo atribuído a um verme rastejante. Para ser notada com
respeito e interesse, precisamos primeiro nos respeitar, ajuda muito também
abrir mão, dar espaço, e permitir que o outro sinta a nossa falta.
– Seus conselhos não me interessam.
– Se quiser aproveitar aproveite, se não quiser o problema é seu. Minha
vida não será afetada nem de um jeito, nem do outro. Já a sua...
– Você dormiu com ele, não dormiu? Me conte. – Olho-a incrédula. Sério
que ela controla a vida dele neste nível? Mas seus olhos estão marejados e isto
me impede de ser estúpida com ela.
– Sente-se aqui comigo. Tenho algumas coisas para lhe contar. Espero que
te deixem mais tranquilas a meu respeito. – Ela faz.
– Eu acabei de sair de um relacionamento e o término foi traumático. Estou
sofrendo muito, passei semanas sem conseguir comer adequadamente e por isto
desmaiei na quarta passada. Denis me levou ao hospital e lá descobri que
estou grávida de dois meses. Eu não sabia. Fiquei internada pois estava
desidratada e desnutrida. Só tive alta sábado à noite. Não pretendo colocar
nenhum outro homem na minha vida agora, muito menos no meu coração. Não
há espaço, meu ex ainda ocupa todos eles.
– Ele está encantado por você. Faz tempo que não o vejo tão interessado
em alguém.
– Não acho que seja verdade, mas se for, te juro que não fiz e nem
pretendo fazer nada para alimentar esperanças. Estou grávida de outro homem,
Julie. Do homem que eu amo. Sou chave-de-cadeia, um bote furado, tango para
manco, uma bucha sem tamanho.
– Julie, volte ao trabalho e pare de importuná-la. – Denis diz e coloca um
notebook na minha frente.
– Ela não está me importunando, Denis. Estava contando o que aconteceu
comigo. Julie tem o direito de saber.
– Ótimo, iria pedir mesmo a você que expusesse a gravidez a toda a
equipe. Assim fica claro que devem pegar leve. – Ele olha fixamente para
Julie, que nitidamente segura as lágrimas em função da grosseria.
– Não precisam pegar leve porque estou grávida. Não estou doente. E
você está sendo desrespeitoso com ela. Julie é sua funcionária, não a filha
rebelde e desobediente que você trouxe para o trabalho porque não tinha com
quem deixar. – Ele me olha boquiaberto e respira fundo.
– Desculpe, Julie. Angel tem razão. Fui grosseiro com você a troco de
nada. – Julie não diz nada, apenas se levanta, liga a TV e volta ao trabalho.
Denis me mostra as planilhas no computador, as notas das vendas das
últimas semanas escaneadas e como devo preencher as informações.
– Acha que dá conta?
– Deixa comigo.
– Obrigado. Preciso ligar para alguns fornecedores, vou para o escritório.
– Antes que se afaste, o paro.
– Denis, ela ama você. Poderia ter mais consideração. – Ele volta para
perto de mim.
– Já perdi as contas de quantas vezes conversamos e deixei claro que não
haverá envolvimento romântico entre nós.
– Ela sofre. E você sabe que a motivação dela para continuar aqui é
apenas o fato de estar perto de você. Se realmente não tem interesse e quer
ajudá-la, deveria demiti-la.
– Já tentei Angel, não é tão simples... ela entrou em depressão profunda e
os pais vieram me pedir pelo amor de Deus para readmiti-la.
– Então ela precisa se tratar.
– Pago sua terapia há dois anos. Foi a condição para readmiti-la. Tento me
conter, juro que tento, mas sinto-me constantemente vigiado, controlado e isto
me tira do sério. Toda vez que me envolvo com alguém, é este drama.
– Não estamos envolvidos, Denis.
– Ainda não. – Olho bem para ele, tentando ver se há sinais de humor, mas
não. Ele está falando sério. – Só deixando as minhas intenções às claras –
completa. Me dá um beijo na cabeça e vai.
Puta-merda, feijão. Sua mãe não tem sorte mesmo. É bom eu já começar a
procurar outro trabalho e outra casa para nós.
Ah, Hazel, como queria você por perto agora. Queria tanto ter o seu colo
para chorar. Tenho tantas coisas para te contar. Eu vou ser mãe, minha amiga.
Mãe! Mãe aos dezoito anos... Aos dezoito e sozinha. Mãe do filho do Deus do
rock. Aquele que me riscou da sua vida... ah não, espera, não posso ser
injusta... a intenção dele era se riscar da minha vida... eu só reajustei os
planos... será que você já está em Londres? Espero que sim e espero que esta
viagem lhe faça mesmo bem. Queria tanto lhe enviar a foto do meu feijão... o
seu afilhado...
– ... nova notícia envolvendo o vocalista da The Order. – Ouço ao longe.
Meus olhos são automaticamente atraídos para a televisão. Meu coração
dispara. – Depois de agitar o mundo e os tabloides com a turnê Another Life, e
divulgar na semana passada que a banda tirará um ano sabático após o final da
turnê, Oliver Rain e a noiva Bia Thompson estampam a nova campanha da
Tiffany & Co. – Julie e Carlos, da cozinha, param para olhar a notícia.
Pelo visto, ele ainda não divulgou o fim do noivado. Uma foto lindíssima do
nosso ensaio para a famosa marca de joias aparece na tela.
É a minha foto preferida do ensaio. Em preto e branco. Eu com o colo nu,
ele também sem camisa. Só um belíssimo, jovem e moderno colar de ouro
branco de várias camadas em meu pescoço, cada uma com um tipo de pedra
diferente, pérolas negras e brancas, diamantes translúcidos. Oliver de perfil,
lindo como sempre, com os dedos enrolados numa das voltas da joia, me
puxando para mais perto de si através dela. A testa quase colada na minha
têmpora. Meu rosto, apesar de estar de frente, tem uma leve inclinação em sua
direção, meus olhos negros o olham de lado e meus lábios estão levemente
afastados, como se estivessem arfando de tesão. Seus olhos focam a minha
boca. A cor da imagem está no brilho da joia e da luz em nosso olhar. Em seus
olhos felinos eu vejo desejo e amor, muito amor.
Como pode? Minha mão pousa instintivamente em minha barriga e uma
lágrima escapa, mas eu trato de secá-la rapidamente.
Porra, que saudade!
– Eu sabia que te achava parecida com alguém – diz Carlos. Merda! Nem
me liguei disso. – Você tem os mesmos traços dela. O cabelo e a cor dos olhos
são diferentes, mas a boca, o nariz e o formato dos olhos são muito parecidos.
– Quem me dera... – desdenho de mim mesma.
– Ele tem razão. – É a voz de Denis. – Também tinha a impressão de que te
conhecia de algum lugar. Acho que matamos a charada. Quem nunca viu o clipe
dos dois com todo o auê que gerou? Você se parece muito com ela.
– Não viajem vocês dois. – É Julie. Boa garota! Use o seu ciúme a meu
favor, me ajude. – As duas não tem nada a ver uma com a outra. Pense se
Oliver Rain se interessaria pela Angel... – Ela ri. Tomara que ele não ligue os
Olivers da história.
– Sou obrigada a concordar com você, Julie. – E, forçadamente, rio junto.
– Pois eu acho que ele é que seria um homem de sorte, caso Angel se
interessasse por ele. – Julie bufa. Ah Denis... desista! Não valho o seu esforço.
Não sobrou nada aqui para ninguém.
– Perdoe pelo menos as grávidas, Denis – adverte Julie. A matéria
termina, o comercial entra na TV e Carlos volta para a cozinha.
– Não tenho nada contra grávidas, Julie. Se Angel deixar, cuido dela e da
Denise. – Porra Denis, não força!
– Ah? Denise?
– É, o nome da bebê dela. – Julie me lança um olhar furioso. Pronto, toda a
conversa que tivemos antes foi para o ralo.
– É uma menina?
– Não.
– Sim – dizemos os dois ao mesmo tempo.
– E vai chamá-la de Denise? – Ri debochadamente.
– Se minha intuição estiver correta, será um menino. Mas independente do
sexo, eu o chamo provisoriamente de feijão. Denis é que veio com o papo de
que será uma menina, passou a se referir ao meu bebê como Denise e se ele
continuar insistindo em algo que eu já deixei claro que não vai rolar, –
enfatizo muito a última parte – terei que procurar outro chefe. – Ao invés de
abalá-lo, minhas palavras o fazem rir.
– Denise é muito melhor do que feijão – opina e volta para o escritório.
Oh, homem irritante!

– Me chamou?
– Sim, Angel, por favor, sente-se.
– Aconteceu alguma coisa? – Meu sangue gela. Será que Denis ligou os
pontos sobre a minha identidade?
– Aconteceu e eu já perdi as contas de quantas pessoas ligaram ou vieram
até o bar perguntando a mesma coisa. – Acho que a pouca cor que adquiri nos
últimos dias, mesmo com os episódios de febre ainda ocorrendo regularmente,
acabou de sumir do meu rosto.
– Perguntando o que?
– Qual é a noite em que a cantora da voz de anjo se apresenta.
– Ah? – Respiro aliviada.
– Sua pequena apresentação no noivado do Preston semana passada
ganhou fama. Querem ouvi-la mais vezes aqui. Você toparia? Normalmente
tenho algumas bandas de cidades vizinhas que tocam aqui na alta temporada.
Na baixa sempre foi complicado, Sea Bright é uma cidade muito pequena e
temos poucos talentos que residem aqui. Mas se você topar, pode ser bom para
o lugar ter música ao vivo às sextas e sábados toda semana. Te pagaria cinco
por cento do faturamento da noite, por uma hora e meia de show, das nove às
dez e meia, o que me diz? – Cantar na noite? Nunca foi meu objetivo, mas
dentre as minhas possibilidades atuais, pode me render uma boa grana.
– O que você quer que eu cante?
– Isto fica por sua conta, prepare o seu repertório, músicas conhecidas,
claro. Eu pensei que poderíamos abrir para pedidos dos clientes, mas você só
atenderia os que conseguir. Nas noites em que cantar, seu expediente encerra
após a apresentação.
– Alguém vai me acompanhar com teclado ou violão? Ou será playback?
– Pensei em tornar Paul fixo nestas noites para acompanhá-la. Ele toca
tanto teclado quanto violão, poderiam variar.
– Tudo bem. Eu topo.
– Ótimo. Acha que já conseguem iniciar amanhã?
– Vai depender mais de Paul do que de mim. Músicas para cantar não me
faltam, resta saber quais ele consegue trocar. Veja se ele pode vir amanhã à
tarde para definirmos juntos o repertório.
– Ok. Vou ligar para ele.
– Só isto chefe?
– Como você está?
– Fora os enjoos pela manhã, e alguns episódios de febre, estou bem.
– A febre...
– Segundo a doutora, emocional.
– Quer consultar outro médico?
– Obrigada, mas confio na Dra. Deva. Ela fez vários exames.
– Se precisar de alguma coisa, avise. Prometi cuidar da Denise.
– O feijão agradece. – Me viro para sair.
– Angel?
– Sim?
– Quando vamos confirmar?
– Confirmar?
– Que é mesmo a Denise que está aí. – Entro na provocação dele.
– A próxima consulta é daqui a três semanas. Quem sabe tenho sorte e o
feijão mostra o pênis. – Se puxar ao pai dele, não conseguirá esconder, penso.
– Bom, garanto que a Denise é uma menina comportada. Não vai mostrar
nada para ninguém.
– Veremos, veremos...
As noites de música ao vivo transformaram o Secret Hidden no novo point
das sextas e sábados na baixa temporada. Outros estabelecimentos precisaram
reinventar suas programações para atrair público, pois a preferência é o bar do
Denis, pela música. O local simplesmente lota, todas as mesas, todas as
banquetas do bar, pessoas com seus drinks de pé apenas curtindo o som.
Denis só abre espaço para pista de dança no verão, durante a baixa o
ambiente se tornava mais familiar e romântico. Mas está revendo a sua decisão
para que possa acomodar mais pessoas de pé e agitar a noite.
Nosso repertório é voltado para o rock, mas sem a potência da batida de
uma banda, visto que não temos bateria, nem guitarra. Ficamos na voz e
teclado predominantemente, pois é o instrumento de mais domínio de Paul, e as
vezes um violão elétrico. Mas sempre que possível atendemos a pedidos e aí,
pode rolar um pouco de tudo, inclusive músicas da The Order, que eu evito a
todo custo cantar, pois não sei se seguro sem chorar.
A dor dentro de mim não ameniza. Consigo abstrair melhor, já não choro a
cada minuto, mas não porque dói menos, e sim porque me habituei a ela. O
feijão é o meu ouvinte, converso muito com ele, de noite quando me deito e de
manhã quando acordo. Não escondo nada do que vai em meu coração.
Inclusive o quanto tenho medo da sua chegada e de não conseguir ser uma boa
mãe para ele.
Amanhã de manhã é o dia da consulta com a Dra. Deva, em que tentaremos
confirmar o seu sexo outra vez. No mês passado não tivemos sucesso. Ele
estava virado e com as pernas fechadas numa posição difícil de acessar. A
médica disse que até arriscaria um palpite, mas as chances de errar eram altas.
Preferi não saber. Independente de feijão ou Denise, eu já amo tanto este
serzinho! Claro que para Denis, o fato de não mostrar, confirmou que se trata
da Denise.
O Bar está quase fechando, termino de limpar as mesas enquanto Denis
fecha o caixa. Ele proibiu Julie de continuar com os dois turnos, então nos
finais de noite sem música ao vivo, normalmente somos os últimos a deixar o
salão.
De repente as luzes diminuem e Perfect do Ed Sheeran começa a tocar no
som ambiente. Tenho até medo de imaginar o que ele está planejando.
Denis não tentou nada explicitamente ainda, mas suas indiretas continuam
constantes e o cuidado exagerado comigo e o feijão, também.
Talvez se eu tivesse o conhecido antes, existiria alguma chance de ele
penetrar no meu coração em algum nível. Ele é um homem bom, muito bonito,
sexy, inteligente e de bem com a vida. Não haveria motivos para eu não lhe dar
uma chance e conhecê-lo melhor.
– Dança comigo? – pede, se aproximando de mim por trás.
– Não acho uma boa ideia, Denis. – Me viro de frente para olhar em seus
olhos.
– Só uma dança, Angel.
– Você sabe que não é.
– Por favor. Não vou forçar nada, mas me permita uma mínima chance de
aproximação, vamos. Só esta dança. – Estende a mão para mim e eu resolvo
ceder.
Ele me leva até um espaço improvisado entre as mesas, pousa meus braços
em seu pescoço e enlaça minha cintura. Me dou conta que é a primeira vez que
faço isto com outro homem. Só dancei assim com Oliver. Nem com meu pai
tive a chance de um momento destes.
Denis me estreita o quando pode em seus braços e cola o queixo na minha
têmpora enquanto declama pequenos trechos da música super romântica. Fecho
os olhos e torço de verdade para que ele não tente avançar o sinal. Não quero,
não estou preparada, não sei como reagiria. Ele sobe uma mão pelas minhas
costas, enquanto a outra continua em minha cintura.
– Você sabe o quanto eu te desejo?
– Sim. Você faz questão que eu saiba.
– A cada dia que passa a vontade de tê-la assim, em meus braços, me
consome.
– Denis...
– Gosto de você, Angel. Me ouça, por favor.
– Estou ouvindo.
– Quero te conhecer de verdade. Quero cuidar de você, de vocês. Quero
construir algo com você. Não me pergunte porque, nem de onde vem essa
vontade, pois eu não saberia lhe dizer. Mas desde o dia em que Maggie
apareceu aqui com você, eu fiquei balançado.
– Você mal me conhece.
– Conheço o que você deixa que eu veja, mas sei que tem mais.
– Tinha. Nem eu entendo ainda o que sobrou de quem eu era.
– O que sobrou já me fascina pra caramba.
– Sabe o que eu acho? Que eu te fascino apenas porque fui a única que não
derreteu por você no primeiro olhar. – Ele sorri.
– Não, por isto você me desafia e estimula, mas meu fascínio vem de outra
coisa. Do seu jeitinho doce e ao mesmo tempo decidido, da energia boa que eu
sinto perto de você, da sua personalidade, da sua força e claro, da sua beleza.
Mesmo machucada do jeito que você chegou aqui há dois meses, não conseguiu
esconder nada disto. Fico pensando como é a Angel inteira.
– Nunca mais serei inteira novamente.
– Não diga isto.
– Você não faz ideia.
– O que falta? Me dê um norte. O que falta para você me abrir uma
pequena fresta e se dar a oportunidade de experimentar?
– Eu ainda sou dele, Denis. – Ele desliza o nariz pelo meu rosto. É tão...
estranho.
O que eu quis provar para mim mesma aceitando dançar com ele? Que estar
assim com outro homem não seria tão diferente? Que em algum momento eu
conseguiria seguir em frente? Se foi, o tiro saiu pela culatra. Só reforçou o que
eu já sabia muito bem.
– Me deixe ajudá-la a criar novas memórias. – Roça os lábios no meu
queixo.
– Eu o amo desde os oito anos de idade. Meu coração ainda é dele. Meu
corpo ainda é dele. Eu sofro e queimo de saudades todos os dias. Eu carrego o
filho dele na barriga. Por favor...
– Angel... eu quero você para mim. Deixe-me beijá-la – fala ofegante,
visivelmente excitado e antes que eu proteste, ele une sua boca a minha e eu
sinto minha alma se esvair no mesmo instante.
Uma dor me rasga, me sinto mais vazia do que nunca e violada. Não, não
permito que apague as impressões que Oliver deixou pelo meu corpo. Que tire
o gosto dele da minha boca. Não vou deixar. Ele não tem esse direito. Isto é
meu! É o meu troféu! É tudo que eu tenho, tudo que me sobrou. É o que me
aquece! As marcas e o meu bebê. – Empurro Denis com todas as minhas forças
e me deixo cair no chão, aos prantos.
– Angel... – Ele tenta se aproximar.
– Não toque em mim.
– Não vou. – Ele senta-se ao meu lado no chão. – Me perdoe.
– Você não podia! Não podia! Eu te pedi...
– Desculpe... eu... estou apaixonado por você.
– Mesmo assim, não lhe dá o direito! Nunca te enganei ou dei esperanças.
– Eu sei, querida.
– Não me chame assim – grito. – Quer saber? Eu me demito.
– Não, por favor. – Tento me levantar, mas ele me impede e me abraça.
– Você traiu a minha confiança. Forçou uma situação que eu não queria. –
Soluço em seu peito.
– Me desculpe, me deixei levar pelos meus sentimentos. Senti ciúmes do
seu ex. Quis provar para você o meu valor, que eu poderia te fazer se sentir
feliz outra vez. Fui precipitado, claro que você não está pronta. Só não se
afaste, não me afaste.
– Eu preciso. Senão serei para você, o que você é para Julie.
– Não, não será.
– Serei sim, você vai se convencer de que me ter por perto basta.
– Não. Estabeleceremos limites. Eu não tento mais nada até Denise nascer,
até ela ter uns três meses... Ficaremos só na amizade. Depois deste tempo,
você considera me dar uma chance, que tal? Se eu não conseguir te conquistar
nesta chance, juro que desisto e parto para outra.
– Não vou prometer isto.
– Não precisa prometer nada. Só não descarte a ideia.
– Nem descarto, nem considero. Denis, se eu ficar será o último voto de
confiança que lhe dou. Se fizer um mínimo movimento para descumprir o que
me prometeu agora, estou fora! Se vire para arranjar outra cantora.
– Justo. Se me permite um comentário, ele não merece.
– Permissão negada. Você não o conhece, não conhece a nossa história.
– Ele te chutou. E se entendi direito, te traiu.
– Sim, ele me traiu e fez questão de me mostrar de forma bem cruel, e isto
eu não perdoo. Não perdoo, mas também não entendo...
– Como assim não estende? Ele foi um filho-da-puta, ponto.
– Sim, mas antes disto... Ele fez tanto por mim. Me deu tantas provas de
amor... mesmo na hora de terminar, a forma como tentou arranjar as coisas...
ele estava prestes a deixar a sua vida para mim, Denis. Sua família, sua casa,
sua empresa, o lugar que ele amava, tudo...
– Peso na consciência.
– Pode ser, mesmo assim, havia algo que ele não queria me contar... só que
o vídeo da traição anulou qualquer outro fator relevante.
– Ele te encaminhou um vídeo dele trepando com outra mulher? – pergunta,
incrédulo. Não respondo.
– Ele foi o seu único homem, não foi?
– Qual a relevância desta pergunta na nossa conversa?
– É que o jeito que você reagiu à minha tentativa... ele foi e você quer que
continue sendo... só ele... Ele é mesmo um baita de um filho-da-puta que não
sabe a sorte que tem.
– Vou terminar o trabalho e vou para casa. – Ele suspira quando percebe
que corto a conversa o deixando no vácuo outra vez.
– Deixe, amanhã terminamos. Vá descansar, sairemos às nove.
– Sairemos?
– É, para te convencer de que a Denise é a Denise e você parar de chamar
a pobrezinha de feijão.
– Eu vou sozinha.
– Não, vou levá-la.
– Vou sozinha, Denis. Ainda mais depois do que rolou aqui...
– Olha, se não quiser que eu participe do exame, tudo bem. Deixo que
curta o momento imaginando que o fantasma do seu ex traidor está lá,
compartilhando-o com você. Não precisa dividi-lo com um amigo real. Mas eu
vou levá-las até o hospital. E fim de papo.

– Vá lá. Espero vocês aqui na recepção.


– Até depois. – Começo a seguir a enfermeira para a sala da Dra. Deva,
mas meu coração aperta.
É Oliver quem eu quero ao meu lado neste momento, e ninguém mais.
Mas Oliver não está aqui.
Ele quis assim.
E não sei porque cargas d’água Denis ficou tão envolvido comigo, com a
gravidez, mas ele está louco de vontade que eu o deixe participar. No outro
exame ele não pode vir, Maggie veio comigo.
O que eu tenho a perder permitindo que acompanhe o exame?
Que se afeiçoe ao meu bebê? Nada.
Peço um instante a moça e me viro.
– Denis?
– Sim.
– Eu gostaria que você participasse. Você quer? – Denis abre um sorriso
do tamanho do mundo.
– Demais.
– Então venha. – Ele fica tão feliz que parece criança em dia de parque.
Entramos num corredor e depois na terceira porta a esquerda. Dra. Deva está
sentada, concentrada em algo no computador.
– Doutora?
– Ah, olá Angel. Só terminando de encaminhar os papéis para uma alta, um
minuto... prontinho! Agora minha atenção é toda sua. Sente-se.
– Doutora, este é...
– O pai? – Ela estende a mão para Denis.
– Gostaria. Mas por enquanto apenas o chefe e amigo. Prazer em revê-la,
Denis – cumprimenta-a ele. A Dra. ri.
– Claro, o chefe... Ficarei na torcida para que mude logo de status, Denis.
– Não vou me fazer de rogado, preciso mesmo de toda torcida disponível.
– Ela ri outra vez.
– Vocês preferem que eu retorne em outro momento? Assim vocês dois
ficam mais à vontade? – Entro na brincadeira.
– Ah querida... estava mesmo precisando dar umas boas risadas hoje...
vejo que está mais corada, aspecto saudável e até brincando... isto é uma
evolução e tanto para a garota que eu atendi pela primeira vez há dois meses.
Engordou também.
– Cuido da alimentação dela pessoalmente – vangloria-se Denis. Reviro
os olhos.
– Se eu fosse você considerava logo mudar o status dele... bonito,
engraçado, prestativo e ainda cozinha? Garota, isto é ganhar na loteria!
– É o que eu sempre digo a ela, doutora... sempre digo.
– Como se sente, Angel?
– Me sinto melhor, mais forte. – Ela me olha desconfiada.
– Enjoos?
– Um pouco pela manhã apenas. Diminuiu bastante as ânsias de vômito.
– Ainda tem febre?
– Sim, pelo menos uma vez ao dia, quase todos os dias.
– Ainda chora muito? – Não respondo. Ela entende e suspira.
– A saudade não diminuiu?
– Só aumentou.
– Ainda tem medo de que esteja com alguma doença ruim?
– Não. Acredito que seja emocional.
– E quando ao medo de que o bebê adoeça? – Suspiro.
– Tento evitar e controlar estes pensamentos. Nem sempre consigo.
– Continue tentando. Eles não têm razão alguma para habitar a sua mente.
Fizemos todos os exames, duas vezes, você e o bebê estão saudáveis. Agora
vou examiná-la primeiro, depois faremos a ultra. Entre no vestiário, tire a
roupa e coloque o avental que há lá, então deite-se na maca, por favor. – Faço
tudo conforme mandou e me deito. A Dra. Deva vem, fecha a acortina para que
Denis não veja, tira minha pressão, ouve meus batimentos, mede meu abdômen,
faz o desconfortável exame de toque. Já consigo ver um leve, discreto calombo
no meu baixo ventre.
– As manchas não aumentaram – comento.
– Como eu lhe falei da outra vez, melasmas são comuns na gravidez,
principalmente no rosto e na barriga. É um pouco raro aparecerem tão no
início, mas acontece. Pode parar nisso ou surgir mais até o final da gestação.
Se aumentar, não fantasie coisas ruins.
– Certo. – Ela me ajeita e abre a cortina.
– Tudo ótimo com a sua saúde. O tamanho da barriga está normal para a
idade gestacional. Agora vamos ver como está o feijão.
– Ah não! A senhora também doutora? A menina vai nascer traumatizada...
– Denis se manifesta.
– Torcida por uma menina?
– Total – responde ele. Eu só reviro os olhos pela segunda vez na manhã.
– Descobriremos agora se ele ou ela está a fim de colaborar com a nossa
curiosidade. – A médica me cobre até a virilha, depois abre o avental expondo
o meu abdômen. Espalha um gel na minha barriga e começa a desligar um
aparelho por cima dela.
– Pode se aproximar da maca, Denis – convida. Ele vem e para de pé ao
meu lado. Logo a imagem se forma na tela do equipamento, a conhecida bolsa
escura e dentro dela o meu feijão, que já não é mais tão feijão assim.
As formas de um bebê agora são muito mais reconhecíveis. Apesar da
cabeça ainda ser muito maior que o corpinho, os membros estão identificáveis.
E o bebezinho ali dentro parece muito, muito feliz, pois mexe bracinhos e
pernas freneticamente. As mãozinhas ora tocam o rostinho, ora são balançadas
no líquido que o envolve. As perninhas dão chutes e o impulsionam em meias
piruetas. E nem preciso mais que a médica me diga o seu sexo. Está lá,
escancarado para quem quiser ver. Eu já estou chorando há algum tempo, e
quando ele leva o dedinho à boca e chupa, não consigo mais fazê-lo
silenciosamente. Denis pega minha mão e aperta.
– Ele está feliz! Não é a sua Denise – falo olhando para Denis.
– Como você distingui alguma coisa ali além da cabeça? – pergunta ele.
– Não é mesmo uma Denise. – Ri a doutora. – É um baita de um homem!
Um homem muito ativo, pelas estripulias que está aprontando aí dentro. –
Denis leva a mão ao meu rosto, seca minhas lágrimas e sorri.
– Está feliz? – pergunta. – Você estava torcendo por isto, não estava? Para
que a sua profecia se concretizasse... – Sorrio.
– Sim, estou feliz. Muito. – A doutora segue medindo várias partes do
corpinho do meu garotinho. Um menino, Oliver... temos um filho...
– Vou precisar de muito mais torcida agora doutora. Denise seria minha
aliada.
– Duplicarei os meus esforços, Denis – brinca a médica enquanto aciona
algum comando no ultrassom que faz com que as batidas fortes e rápidas do
coração do meu bebê preencham o ambiente.
– Mamãe, seu garotão está ótimo! Peso e medidas dentro do esperado. –
Ela desliga o equipamento e limpa o gel do meu abdômen. – Vista-se e vamos
conversar na minha mesa. Me arrumo rapidamente e volto para junto deles.
– Você continua tomando as vitaminas que prescrevi?
– Sim, direitinho.
– Ótimo. Continue se alimentando bem e descansando. Tem alguma
pergunta?
– Tenho sim. Quero saber se é possível armazenarmos o cordão umbilical,
para o caso de...
– Entendi. Não é barato. Custa em torno de quatro a cinco mil dólares para
coletar o cordão no dia do parto. E mais em torno de mil dólares de taxa de
armazenamento anuais.
– Eu posso pagar. Quero fazer.
– Muito bem. Providenciaremos, fique tranquila. Mas lembre-se, evitar os
pensamentos negativos. – Mesmo não sendo fácil em razão do meu histórico,
assinto. – Nos vemos em um mês, querida.
– Obrigada doutora.
– Obrigado também doutora e apareça no Secret Hidden numa sexta ou
sábado para ouvi-la cantar. O jantar será por conta da casa.
– Ah sim, a fama de Angel e sua bela voz é grande. Só não fui ainda por
falta de tempo, enquanto não contratarem um novo clínico, mal consigo comer
e tomar banho. Mas estou curiosa para ouvi-la.
– Vou adorar tê-la lá, doutora. Até mais. – Deixamos a sua sala.
Fico pensando na diferença entre a renomada e muito bem paga Barbie
emproada com quem me consultei no ano passado e a sorridente Dra. Deva.
Enquanto uma vive no alto da torre de seu castelo, escolhendo a dedo com
quais clientes vale a pena ser humana e quais não valem o seu caríssimo
esforço, nas poucas quatro ou seis horas de trabalho diárias que disponibiliza
em sua agenda, a outra atende horas e horas a fio em um hospital pobre e de
poucos recursos. Cobre a falta de outros médicos, numa cidade pequena, mas a
paz e tranquilidade que transmite só com o seu bom humor, humildade e
simpatia, me confirmam que sem dúvida nenhuma a singela Dra. Deva é muito
mais feliz e realizada do que a pomposa Dra. Ava.
Um toque me tira dos meus devaneios e me traz de volta a realidade. Denis
acaba de unir sua mão a minha e não sei se por espanto ou por gostar de me
sentir protegida por alguém, não retiro a minha.
Caminhamos até o seu carro assim, de mãos dadas.

Oliver

– Chega Oliver! Saia disso um pouco.


– Não posso, tenho muitas imagens para analisar. – Henry desliga o
monitor no botão.
– Eu disse chega! Olhe o seu estado! Você está neurótico. Está pálido e
cheio de olheiras. Você precisa dormir!
– O que eu preciso é achá-la! – grito. – Quatro meses Henry, quatro meses
sem saber por onde ela anda... sem saber como ela está... tanta coisa pode ter
acontecido...
– Saia de dentro deste ambiente um pouco. Clarear as ideias vai ajudar na
sua concentração. Vamos, junte-se a mim, Lian e Max no deck, espaireça.
Depois durma uma noite inteira pelo menos. Amanhã você continua e com
muito mais disposição. – Olho para o QG montado no antigo quarto de foda,
suspiro e me deixo conduzir por Henry para o deck.
Ele tem razão.
Preciso me distrair por um momento e de no mínimo oito horas de sono
contínuas.
Há meses durmo no máximo de quatro a cinco horas por noite. Tenho
guardado tanta coisa dentro de mim, ignorado e abafado meus sentimentos de
tal forma, me concentrando cem por cento na missão de achar alguma pista que
possa me levar a ela, que a hora que eu não suportar mais e tudo isto explodir,
não sobrará nada.
A culpa e a saudade chegam a doer em meus ossos, mas não paro para
senti-las, finjo que não estão ali e sigo em frente, procurando, vendo e revendo
as imagens das câmeras de segurança de todas as cidades que conseguimos
mapear. Sem sucesso.
Como pude, há quatro meses, cogitar a possibilidade de que conseguiria me
manter longe dela? Se eu tivesse dado ouvidos a Max, Lian, Henry e vovó, se
eu tivesse me acalmado naquele momento, esperado uma semana após a crise
para colocar a cabeça no lugar, eu não teria feito o que fiz.
Se ela tivesse ficado aqui, como deveria, em uma semana eu me daria por
vencido e voltaria para ela. Eu me desesperei e a magoei. Ela se precipitou ao
fugir de mim. E esta sucessão de más decisões já nos custaram quatro meses.
O que será que eu perdi nestes meses?
Será que apareceu outra pessoa em sua vida?
Será que alguém a consolou e ela se deixou levar?
Será que me esqueceu?
Pensar em outro homem tocando-a como eu toquei... não consigo. O castigo
seria pouco para o tamanho da minha idiotice, mas não dá... eu morreria. Tenho
que continuar acreditando que onde quer que esteja, ela está sentindo tanto a
minha falta quando eu sinto a dela.
Além de mim, a família toda sofre com a sua ausência. Vovó e Edgar estão
morrendo de preocupação. Hazel e Kellan me culpam, com razão. Kellan me
deu um soco no dia em que soube de tudo e desde então não me dirige mais a
palavra. Apesar de fazer questão de deixar claro que o único culpado sou eu, a
raiva de Hazel passou e de vez em quando ela me liga em busca de possíveis
progressos e ficamos um tempo conversando, relembrando bons momentos,
chorando e nos consolando mutuamente.
Max e Lian também cumpriram com as promessas que me fizeram quando eu
decidi me envolver com Bia e me desceram a porrada, mas descarregadas as
suas frustrações, ficaram ao meu lado, estão tão impacientes para achá-la
quanto eu e participam das buscas com a equipe de investigação. Kellan
também tem ajudado.
Só que o cenário é desolador, são centenas de linhas e em cada linha várias
paradas que poderiam tê-la feito saltar e ficar. Mesmo assim, com várias
frentes trabalhando juntas, checamos cada entrada nos hospitais em todas as
cidades envolvidas e conseguimos as imagens das câmeras de segurança das
estações rodoviárias de quase todas elas.
Analisamos todas as imagens conseguidas.
Nada.
Apenas cinco estações de ônibus dos municípios possíveis tinham câmeras
inoperantes ou não tinham. Só cinco não pudemos rastrear.
Será que tive tanto azar e Bia foi se esconder justamente em uma delas?
Eu não acredito.
Na minha opinião deixamos passar algo e por isto decidi rever eu mesmo
cada uma das gravações. Trabalho para mais meses e meses. Esta é a minha
rotina nas últimas semanas. Isto e mandar religiosamente, de manhã e à noite,
uma mensagem de voz para o número antigo dela. Mensagens estas que não
chegam a ser entregues, mas que serão se algum dia ela sentir saudades o
suficiente para repor o chip em seu aparelho.
Enquanto isso a equipe de investigação se concentra em ir a campo e
procurar por rastros nas cinco cidades restantes.
– Aleluia! Conseguiu tirar o cabeção da frente do telão? – Lian comemora.
– Ele teve um instante de bom senso – responde Henry. Sento-me entre
Lian e Henry. Max à minha frente.
– Nada?
– Nada. – Max suspira.
– Porra, onde a nossa menina se enfiou? – pergunta.
– Ela quer mesmo distância de mim.
– Ela está ferida, Oliver. – Henry ameniza.
– Tome uma cerveja – diz Lian, colocando um copo cheio à minha frente.
Nem lembro quando foi a última vez que bebi álcool. Depois do penúltimo
show da turnê, talvez?
– E se... – fecho os olhos – se ela já tiver outra pessoa?
– É tudo o que você merece – diz uma voz que se aproxima por trás.
– Kellan! – Lian o repreende. – Ele já está sofrendo o bastante. Não
precisa pisar na ferida.
– Deixe-o. Pelo menos ele quebrou o seu voto de silêncio – digo e Kellan
bufa.
– Se ela estiver com outra pessoa, será por carência Oliver, e não porque
deixou de amá-lo.
– Não dói menos, Henry.
– Mas te dá a certeza de que poderá tê-la de volta.
– Eu ainda acho que você deveria ter colocado a puta da Carol na cadeia.
– Max diz.
– Não quero escândalo, Max. Não quero que vaze a informação de que Bia
desapareceu. Uma coisa poderia levar a outra, além do fato de puxar toda a
história da minha família, caso vaze o motivo da minha crise. Se Beatriz
souber pela mídia que usei o vídeo de um abuso como arma para afastá-la,
minha situação pode piorar ainda mais. A humilhação de ser exposta para a sua
família, da forma como Riley conduziu, foi castigo o bastante para Carol.
– Se você diz... – Max não se convence.
– E falando na sua família, Riley conseguiu marcar um horário com o
Conde? – Lian pergunta.
– Não, seus assessores fecharam todas as portas para qualquer
comunicação.
– Filho-da-puta – xinga.
– Mas Riley me disse que tentará outra vez, assim que passar o resguardo
e puder voltar ao trabalho. – Max completa.
– Riley está proibida de voltar ao trabalho no mínimo por quatro meses.
Eu já a avisei. Neste momento, tem que se concentrar em sua família, no filho
que nasceu, pensar apenas em si mesma e em Anthony.
– Oliver, quem consegue mantê-la parada? Nem Peter vai conseguir. Mais
fácil ele ficar em casa cuidando da criança depois que ela estiver recuperada –
constata Lian. Suspiro. Max está concentrado em algo no celular, e sua cara
não é boa.
– O que foi? – pergunto. Ele vira a tela do celular para nós, é uma foto de
Iris e Hazel lado a lado, atrás de Hazel, um cara muito magro de cabelo branco
moicano com o braço todo tatuado em torno de seu pescoço.
– Ai. – Henry geme e eu rio.
– Bom saber que não sou apenas eu que fico desconfortável em deixar a
minha menina viajar sozinha. – Então me lembro que não tenho mais uma
menina.
– Claro que não é. Só que eu não estou lá, estou?
– Parabéns pela maturidade. Mas aposto que gostaria.
– E como... – Rimos.
– Pelo menos não é a sua menina que está grudada num esquelético porco
espinho albino. – Max solta sua pérola, fazendo cara de nojo. Kellan cospe a
cerveja e cai na gargalhada, acabamos todos o acompanhando.
– Não, é a sua menina – diz Henry enfatizando demais o sua. Olho torto
para ele.
– Tenho que confessar que estou espantado com a minha irmã. Seus
padrões andam meio baixos ultimamente.
– Baixos e esquisitos. Semana passada foi um hippie com uma argola
gigante no nariz e um piercing atravessado no queixo. Há uns dias, um nerd
quatro olhos, dentuço, narigudo, que usava um meigo boné do Bob-Esponja.
Bob-Esponja! Pode? E pensar que eu reclamava do filhote de Hitler. Ele era
tão normal... – Max balança a cabeça e suspira.
– Vamos ver qual será o da semana que vem – comenta Lian.
– Nenhum, se eu puder evitar.
– O que? Vai para Londres de novo na semana que vem? – pergunto.
– De novo? Já faz quase um mês! – Henry ri. Ele está mesmo convencido
de que Max não entende a profundidade de seus sentimentos. O telefone de
Kellan vibra sobre a mesa. Ele olha e levanta-se.
– As garotas chegaram – diz olhando para Lian, que vira o resto de sua
cerveja e também se levanta.
– O trabalho nos espera. Max, se quiser se juntar a nós...
– Não, hoje eu passo.
– Você quem sabe. Até. – Os dois saem andando pela praia em direção à
casa de Lian.
E ficamos os três cachorros sem dona ali, remoendo nossos medos,
saudades e desgostos até que se torna impossível não se deixar render ao sono.
Antes de deitar, como de praxe, pego o celular e gravo meu boa noite a ela.
“Anjo, cento e vinte e sete dias sem você. Hoje, pela primeira vez em
todos estes dias, me permiti alguns minutos de descontração com os caras.
Sentamos no deck e bebi uma cerveja. Mas nem por um instante eu deixei de
sentir a sua falta ou de pensar em você. Dói tanto, pequena. Quero você de
volta, meu amor, quero retomar nossa vida, nossos planos de onde paramos.
Quero devolver a sua aliança para o seu dedo, de preferência o esquerdo
desta vez. Não suporto mais deitar nesta cama sozinho. Eu preciso te
explicar como as coisas aconteceram, aquele vídeo, já gravei isto tantas
vezes, mas não foi como você imagina, me dê a chance de te contar... Fora o
buraco no meu peito que está a cada dia maior em razão da sua ausência, o
que mais posso te dizer? Anthony nasceu há dez dias, mas isto eu já falei e
até mandei uma foto. Riley e ele estão ótimos. Peter não cabe em si de tanta
felicidade. Ele é um lindo e saudável bebê. Um dia teremos um destes, não
teremos? Um bebezinho, ou bebezinha, nosso. Imagino alguém muito sapeca,
de profundos olhos negros e cabelos cacheados, que sai engatinhando em
disparada pela praia, parando ao chegar à beira da água e nós dois
desesperados correndo atrás, tentando evitar que leve a mãozinha cheia de
areia a boca, mas é inevitável, faz mesmo assim... e quando olharmos para a
sua carinha e o danado usar a técnica do olhar pidão que a mãe conhece tão
bem, não conseguiremos fazer nada além de apertá-lo em nossos braços e
beijar suas bochechas. Ainda teremos isto, meu bem. Toda esta confusão vai
passar e teremos isto... A casa de vovó e Edgar está quase pronta. Tive que
brigar para seguirem com seus planos, não deixarei que vovó desista de mais
nada por minha causa. Todos os outros estão bem, Helen, Alicia, Johnathan,
todos preocupado com você. Iris chegou hoje em Londres, foi visitar Hazel e
falta você lá para completar o trio. Hazel também se preocupa e sente
demais a sua falta, mande uma mensagem para ela, baby. Só para dizer que
está bem. Por enquanto é isto, amanhã de manhã te mando o meu bom dia.
Boa noite, anjo. Durma bem. Eu amo você com toda a força do meu ser.
Nunca duvide disto, mesmo quando eu for um imbecil e tentar fazê-la
acreditar no contrário.”

Bia

– Você não vai dar folga para a mamãe hoje, não é, bebê? Está impaciente?
Não vê a hora de estar aqui, do lado de fora? Tenha paciência, filho. Ainda
faltam dois meses. Você precisa ficar aí, quentinho e protegido por dois meses,
ok? – digo enquanto caminho de volta do banheiro para a mesa onde Maggie,
Paul e Denis me aguardam. É sábado, o bar fechou, estamos comendo uns
petiscos e bebendo, eu no caso um suco.
– Falando com o feijão? – Denis pergunta.
– Sim, ele está elétrico. Não parou de se mexer por um segundo enquanto
eu cantava.
– Ele não está elétrico, está revoltado.
– É mesmo? E por qual motivo meu filho estaria revoltado?
– Qual motivo? Ele está prestes a nascer e você ainda se refere a ele como
feijão.
– Aff, de novo?
– Sem pressão, Denis – diz Maggie.
– Não, Maggie. Não é como se ela estive indecisa entre três ou quatro
opções de nomes e resolveu esperar o bebê nascer para ver qual combina mais
com a sua carinha. Ela não quer escolher um nome, esta é a questão. – Engulo
em seco.
– E por que Angel não iria querer escolher um nome para o filho? – Paul
pergunta.
– Você responde Angel, ou eu respondo?
– Não tenho nada a declarar.
– Então eu falo. Ela não quer escolher o nome sozinha. Este é o ponto. Ela
quer a opinião do pai.
– É verdade amiga? – respiro fundo.
– Não sei... eu... sim, acho que é isto mesmo. – Maggie me entrega o meu
próprio telefone.
– Ligue. Conte de uma vez ao homem que ele será pai, Angie. Deixe-o se
aproximar se esta for a vontade dele. Você o ama. Quem sabe não se acertam...
Ah, se eu pudesse ter feito isto por Mary Ann...
– É o que eu tenho dito a ela... mesmo me doendo o coração. – Denis
completa.
– Não!
– Por que não? – Paul pergunta.
– Eu não vou aguentar se ele nos rejeitar. Preciso guardar o mínimo de
estabilidade emocional para a chegada do feijão.
– E vai esperar para registrar o menino quando? Quando tiver uns sete
anos e puder decidir o próprio nome? Até lá o chamaremos de feijão?
– Que tal o nome do seu pai?
– Robert? Eu pensei, mas não... acredito que cada pessoa importante para
nós deve ser única em nossas vidas.
– Então não adianta eu sugerir Oliver Júnior? – Denis solta
debochadamente. Abro a boca para responder, mas antes meus olhos focam o
rosto de Maggie e pela sua expressão eu sei que fui descoberta.
– Oliver? O nome do pai do seu filho é Oliver? – Olho-a em desespero,
suplicando silenciosamente que não revele nada.
– Por que o espanto? – pergunta Paul. Por favor, Maggie, por favor.
Depois eu lhe conto tudo, mas não me exponha...
– Na-nada..., – gagueja – é que eu acho um nome lindo. Se Mary Ann fosse
menino... E eu sou fã do arqueiro verde, então no meu caso já estaria decidido.
– Ela dá de ombros. Obrigada, querida, muito obrigada. Respiro aliviada.
– O nome do pai dele também não é uma opção – digo.
– Não há nenhum nome que seja especial para você? Da sua infância? –
questiona Paul. Penso por um instante e um nome me vem à mente. Eu gosto,
muito. Será? Será que Oliver iria gostar?
– Há um. Já contei a vocês que minha mãe era brasileira, não contei?
– Sim – diz Paul.
– Quando mamãe estava grávida, ela e papai decidiram que o bebê teria o
nome ou da avó materna ou do avô materno. Meu pai dizia que meus avós
maternos foram as melhores pessoas que ele conheceu. Então eu nasci e ganhei
o nome dela. Pensei que talvez pudesse dar a ele o nome do meu avô, eu não
cheguei a conhecê-lo, então ele não foi especial em minha vida efetivamente.
Mas foi especial para papai e seria uma forma de homenageá-lo indiretamente.
Além disso, este bebê foi concebido no Brasil, então um nome que também é
brasileiro... – Putz! No momento em que as últimas frases escapam da minha
boca, percebo a merda que fiz. Acabei de dar mais uma pista.
– Concebido no Brasil? – Denis me olha intrigado.
– Sim. Tenho parentes lá, estávamos visitando. – Maggie sorri para mim.
– Então sua avó era Angel. E seu avô? – Maggie muda o rumo para me
ajudar.
– O nome dele era Benjamin.
– Benjamin – ela testa. – Nosso pequeno Ben. Eu amei! – Nosso pequeno
Ben. Repito em minha mente. Sim, eu também amei. Ainda mais sabendo o que
a palavra bem representa em português. Ben é o meu maior bem. Ele me fez
bem. Descobrir a sua existência, apesar do medo, me trouxe esperança e um
motivo válido para seguir e não me entregar a dor. O que você acha Oliver?
Do seu filho se chamar Ben? Você gosta? Benjamin Rain... soa bem não?
Sorrio.
– Nosso pequeno Ben – repete Denis.
– Filho, acho que você tem um nome – digo olhando para baixo e pondo a
mão em meu ventre já bastante avantajado. Ben se mexe em concordância.
Sorrio outra vez. Parece que ele aprovou. Paul ergue o copo.
– Um brinde à saúde de Benjamin Mendes – fala. Thompson, penso, por
enquanto será Benjamin Thompson.
– À Benjamin, nosso pequeno Ben – diz Maggie e todos erguemos os
copos, brindamos e repetimos, à Benjamin.
– Queridos, a nossa conversa está ótima, mas eu e o fei... o Ben
precisamos dormir. – Denis sorri. – Maggie, está tarde, Mary Ann certamente
está tranquila em sua caminha, sonhando há horas. Fique lá em casa esta noite.
– Fixo o olhar em seu rosto deixando clara a minha intenção de conversarmos.
– Tudo bem. Aceito.
– Ótimo. Vamos?
– Vamos.
Seguimos para o meu pequeno cafofo, não falamos nada durante o curto
percurso. Entramos, entro direto no quarto e ela vem atrás de mim. Antes que
comece, eu falo.
– Maggie, temos muito a conversar, você deve estar curiosa e cheia de
perguntas, mas vamos fazer isto quando estivermos tranquilas e confortáveis.
Vou te emprestar um pijama, troque-se e relaxe, depois farei o mesmo. Só
tenho esta cama de casal, meu sofá é pequeno e muito desconfortável. Não se
importa em dividir a cama com uma mulher grávida, não é?
– Se você prometer que vai controlar os seus hormônios e não me atacar...
– Rio.
– Meus hormônios estão mesmo incontroláveis, as minhas noites nos
últimos meses têm sido insuportáveis... É difícil não ter... – Engulo em seco. –
Não ter Oliver por perto... tenho que me virar com as lembranças e a minha
mão. – Balanço a mão para ela, que ri. – Só que isso nem chega perto da
sensação de tê-lo em...
– Ah, posso muito bem imaginar... – Ela me interrompe e se abana ao
mesmo tempo. – Rimos.
– É... bem por aí... mas como eu ia dizendo, fique tranquila. Você é linda e
sexy, contudo, lhe falta algo bem expressivo no meio das pernas para que eu
sinta vontade de atacá-la.
– Ótimo, porque eu também sou chegada nessa tal coisa expressiva aí que
você falou. Já que alinhamos muito bem as nossas expectativas, – ela ri
novamente – claro que não me importo em dividir a cama com você.
Maggie se troca e depois que desocupa o banheiro é a minha vez. Bom, já
que a hora da verdade chegou, me desfaço das lentes verdes, da peruca escura
de franjinha, deixando meus olhos negros e meus cabelos castanhos e
encaracolados livres do seu confinamento habitual. Sou eu mesma novamente.
– Esta é a sua mãe, Benjamin – digo me olhando no espelho e acarinhando
minha barriga. – E ela ama você, demais.
Tomo um banho rápido, me visto, escovo os dentes e volto para o quarto.
– Então é você mesma! Bia Thompson – diz Maggie ao me ver, pela
primeira vez, como realmente sou.
– Sim, Maggie, sou eu. – Sento-me na cama ao seu lado. – Prazer, Beatriz
Thompson. – Estendo a mão para ela pela segunda vez.
– Prazer. – Ela aceita mão estendida. – Eu sabia! Já tinha te falado que sua
fisionomia e sua voz eram muito parecidas com a dela e você desconversou...
– Desculpe, mas naquele momento não poderia me revelar a você. Eu
estava aqui há um mês e mal nos conhecíamos.
– Eu sei, não estou lhe cobrando. Relaxe. Quer dizer que sua avó era
Beatriz?
– Sim, Ana Beatriz, na verdade.
– E de onde surgiu Angel Mendes?
– Foi dito sem pensar... eu não estava preparada, você me achou familiar e
na hora tive que improvisar. Acho que o Angel veio pelo fato de Oliver sempre
se referir a mim assim. Mendes era o sobrenome do meu avô, Benjamin.
– Então você era o anjo de Oliver Rain. E ele registrou isto numa música.
Guardian Angel.
– Sim, eu era o seu anjo, já fui sua pequena guardiã, dentre outras coisas
que ele dizia que eu era... mas que, bem... hoje estou aqui, não é?
– Está. E estamos ajudando a esconder a mulher e o filho do Deus do rock.
Prevejo grandes chances disto nos trazer encrencas no futuro...
– O filho dele sim, já a mulher, não mais...
– Pelo que saiu na mídia, vocês pareciam tão perfeitos juntos. Tão
apaixonados. Os vídeos que vi de vocês dois cantando lado a lado, o jeito que
ele te olhava, os beijos que te dava... os shows de Chicago e do Brasil foram
tão emocionantes. O clipe de Eden, senhor! Toda vez que assisto eu fico louca
de tesão. Não entendo como podem ter terminado assim... O que houve? Se é
que eu posso perguntar...
– Pode sim. É uma longa história, Maggie, começou quando eu tinha oito
anos. Estou disposta a te contar e farei, porque você foi amiga e gentil comigo
desde o primeiro dia, eu confio demais em você. Mas entende o quanto me
arrisco abrindo minha história, não entende? Não quero que os outros saibam.
– Entendo, claro. Por mim ninguém saberá, e caso não se sinta confortável
em se abrir comigo, tudo bem. Saiba que isto não mudará nada entre nós.
– Obrigada, querida. Mas quero que me conheça, já planejava me revelar.
Gosto demais de você, Maggie. Amo Mary Ann. Nossos filhos crescerão
juntos, serão amigos, espero. Quero que conte comigo como eu sempre pude
contar com você. – Ela funga e seca uma lágrima.
– Acho que foi a coisa mais bonita que alguém já me disse. –Abraço-a e
beijo sua bochecha.
– Está pronta? Não será uma conversa breve. Se estiver com muito sono...
– Ah não, estou curiosíssima. – Rimos.
– Muito bem. A primeira vez que eu vi Oliver frente a frente... – começo.
Conto tudo a ela. Repasso nossa história ponto a ponto, todos os momentos
importantes, bonitos e impactantes. É como se eu revivesse tudo outra vez
enquanto exponho-me da forma mais verdadeira e emocionada possível, a ela e
ao meu filho. Aquilo também foi para Ben. Narrei todo o amor que permeou a
sua concepção com a mão apoiada em meu ventre. Até o fatídico relato da
separação. Termino com a informação das noventa e sete mensagens que eu
não tive coragem de ouvir. Ela ouve tudo atentamente, não me interrompe uma
única vez.
– Angel, desculpe, Bia... – Ela me segura pelos ombros e me encara
seriamente.
– Pode continuar me chamando de Angel, vai ser mais fácil para você
manter quando estivermos em grupo.
– Ok. Angel, o que você está esperando, para recolocar aquele chip no seu
telefone e ouvir o que ele tem a lhe dizer? É óbvio que tem algo mal contado
nesta história. Estranho demais. Quando uma pessoa não está satisfeita com a
sua vida cotidiana ela dá sinais, não acontece assim, do nada, de uma hora
para outra. Ele foi seu único relacionamento, mas ouça quem já embarcou em
alguns e nunca teve sorte. Você perceberia. Ele começaria a se afastar, a ficar
mais frio, menos receptivo. Se envolveria cada vez mais com o trabalho, sairia
e voltaria tarde, coisas do tipo. Mas pelo que me contou, Oliver não
desgrudava de você. E ele quis protegê-la, lhe deixando tudo.
– Ele me mandou um vídeo, Maggie. Em plena ação. Usava a nossa
aliança de noivado e a pulseira que eu lhe dei. Nem este respeito ele teve.
Nem a consideração de retirar a porra da aliança!
– Ainda acho que você precisa ouvir. Senão por você, por Ben.
– Eu sei. E eu vou fazer, mas não agora. Eu pareço forte, recuperada, mas
não estou. Eu ainda choro todos os dias, a febre emocional ainda me abate toda
semana. Eu recolhi os cacos e achei alguma ordem dentro de mim pelo meu
filho. Preciso deste mínimo de paz e controle para recebê-lo bem, para passar
pelos seus primeiros meses de vida com alguma alegria nos olhos e não
abalada e destruída outra vez, que é o que vai acontecer caso o que eu ouça
seja o golpe final ao invés do sopro de esperança que meu coração teimoso
almeja. – Respiro fundo para então continuar.
– E mesmo que Oliver se diga arrependido naquelas mensagens, não posso
ignorar o vídeo... ele estava lá de livre e espontânea vontade, Maggie. Como
simplesmente perdoar e esquecer? Como confiar outra vez? Como acreditar
quando ele disser que me ama? Como olhar para ele e não lembrar daquelas
imagens? Além do fato de que fez com a intenção de me afastar e deixar o seu
ponto muito claro. Ele não é homem de uma mulher só. Não vejo como
superaríamos isto, amiga...
– Quando você pretende contar a ele sobre o bebê?
– Depois que passar o desmame, quando Ben já não dependa tanto da
minha presença constante. Quando for possível deixar que Oliver passe
algumas horas a sós com o filho.
– Eu entendo todos os seus pontos, sei que é uma situação complicada,
mas ainda acho que tem algo sinistro nisso tudo. Não fecha! Eu ouviria as
mensagens ou ligaria para ele. Porém, estou aqui para te apoiar, Angel. No que
decidir, pode contar comigo.
– Obrigada, Maggie. Sei que posso.
– E Denis, continua se insinuando?
– Sempre que pode. Mas nunca mais fez nada além de soltar indiretas
verbais inocentes.
– Ele está contanto os dias para Ben nascer e ter três meses, encerrando
assim o prazo que te deu.
– Eu não prometi nada a ele.
– Não precisa. Ele vai vir para cima com tudo, esteja preparada. – Ela
leva as mãos ao rosto. – Se ele soubesse quem é o pai dessa criança...
– Antes de procurar Oliver, contarei a verdade a ele. Vamos dormir agora?
– Ah sim, por favor. – Nos acomodamos e eu apago a luz.
Capítulo 33

“A minha vida continua


Mas é certo que eu seria sempre sua
Quem pode entender?
Depois de você
Os outros são os outros, e só”
(Os Outros – Kid Abelha)

Bia

A lgo não está bem. Acordei indisposta, incomodada e com


uma leve cólica no baixo ventre que vem e vai de
tempos em tempos. Será que são as tais contrações
falsas que a doutora Deva comentou? Não sei. Minha consulta do oitavo mês
foi há uma semana e estava tudo bem.
– Mamãe está louca para ver sua carinha, meu amor, mas temos um mês
pela frente ainda, Benjamin. Aguente firme aí filho, para nascer forte e
saudável.
Sigo para o banheiro, na intenção de fazer a minha higiene matinal, mas
antes que eu consiga alcançar o lavatório, sinto um “clek” e um líquido
abundante escorre entre as minhas pernas. Um rio de água clara e límpida. Sem
odor, ou seja, não é xixi.
Fecho os olhos. Meu coração dispara. Não, por favor, não! Não o meu
bebê. Volto para o quarto e, trêmula, procuro pelo telefone. Ele não está em
lugar algum, nestas horas nunca está. O nervosismo vai tomando cada vez mais
conta do meu corpo, o líquido continua a descer vez ou outra, agora em menor
volume, mas o suficiente para deixar um rastro por onde caminho. Preciso falar
com a doutora Deva.
Cadê a porra do meu telefone!
Raiva e lágrimas se misturam na minha face. O tremor se acentua e sinto
aquela sensação de pânico tomando conta de mim. Aquela mesma que senti
muitas vezes na infância, que senti naquele hospital no dia... o ar me falta,
necessito me acalmar, Ben precisa de mim, tenho que me controlar. Sento-me
na cama e fecho os olhos, respiro fundo e a imagem se forma em minha mente
no mesmo instante, sem eu chamar por ela. A mesma que me acalmou tantas e
tantas vezes. Os olhos dele. Os lindos olhos de Oliver pedindo que eu me
acalme e me passando confiança.
Enquanto me concentro naquela imagem, a melodia de Fool’s Mate começa
a tocar em minha cabeça. Canto baixinho a letra, aquela que fala de uma noite
de encanto num trapiche qualquer. De um amor que não vem aos poucos. Não.
Esse amor já nasce forte e chega carregado de reconhecimento e certeza. Ah
baby, preciso tanto de você aqui, tanto! Estou com muito medo, amor. Nosso
filhinho vai nascer, Oliver e ele é impaciente e apressado. Não deveria ser
hoje. Mas parece que ele escolheu o dia primeiro de outubro como o seu dia.
Aos poucos a razão volta a comandar minhas decisões, e mesmo em meio as
lágrimas que caem, eu penso. Não tenho tempo a perder, tenho que achar o
celular. Reviro tudo que posso até que acho, caído entre a cabeceira da cama e
o colchão.
Pego rapidamente o aparelho, tento achar o número da doutora, mas não
enxergo nada, as lágrimas embaçam meus olhos e lavam minhas bochechas.
Passo a mão pelos olhos tentando conseguir alguma nitidez. Acho o número e
aperto. Toca, toca, toca e cai na caixa postal. Merda! Ligo para Denis. Ele
atende ao segundo toque.
– Denis, – falo aos prantos – minha bolsa estourou.
– Como? Não falta...
– Eu preciso ir para o hospital. Você pode...
– Chego aí em um minuto.
Ele desliga e me obrigo a focar e me apressar em pôr a peruca e as lentes
antes que ele chegue, então penso no que levar. Minha bolsa. A bolsa com as
coisas de Ben que por sorte arrumei há dois dias. Separo os dois itens e troco
de roupa rapidamente, pego um vestido leve e uma calcinha seca, como não
tenho absorvente, ponho uma toalhinha dobrada para tentar não molhar o carro
de Denis, caso ainda vaze líquido. Por fim ponho um casaquinho por cima, não
está muito frio, mas o clima de outubro já não é tão ameno. Uma cólica forte
surge e tenho que me segurar na cômoda para não cair. Respiro e espero a dor
passar.
Denis adentra o cômodo e vem rapidamente ao meu socorro. Segura minha
cintura e me apoio nele. A dor começa a ceder e consigo me reerguer.
– Vamos, por favor – peço, apavorada.
– Claro, se apoie em mim que te ajudo a chegar no carro.
Antes de sair corro os olhos pelo pequeno quarto, a cama que dias antes
encostei uma das laterais na parede, e sob ela, naquele canto protegido,
coloquei o Moisés branco que comprei para Ben. Ele dormirá comigo na cama,
mas ao mesmo tempo guardado pelo lindo e delicado cestinho, já que não há
espaço suficiente para um berço normal.
Vai dar tudo certo, filho, você logo estará em casa. Acaricio meu ventre.
Tem que dar. Desta vez, tem que dar.
Denis me ajuda a chegar ao seu carro, a entrar e sentar no banco do carona.
– Denis, a minha bolsa e a de Ben, em cima da cama...
– Certo, aguente firme aí, já volto.
No que ele sai uma nova dor me tira do eixo. Será que já deveria estar tão
forte assim? Tento fazer os exercícios de respiração que Maggie me mostrou,
mas é difícil ter concentração. Denis volta com as duas bolsas e percebe que
estou no meio de uma contração, então parte rapidamente. Quando volto a
conseguir discernir outra vez, pego o telefone e mando mensagem para a
doutora e para Maggie. Precisarei da ajuda delas se quiser manter minha
identidade anônima.
Mais dez minutos e estamos parando na entrada do pronto atendimento. Bem
no momento em que iria sair do carro, uma nova contração me impede. Denis
corre para a recepção e volta acompanhando de um enfermeiro que empurra
uma cadeira de rodas. Me acomodam ali e seguimos para a internação. Não
posso me internar como Angel desta vez, preciso dos papéis com o meu nome
correto para o registro de Ben. Como despistar Denis? A luz salvadora surge
quando avisto a doutora Deva caminhando em minha direção.
– Esperava você só daqui há um mês – diz sorridente.
– Pois é, parece que Ben tem outros planos. – Seco uma nova lágrima que
cai intrometida.
– Ei, nada de pensamentos negativos, lembra? Você está de trinta e cinco
para trinta e seis semanas. Oito meses completos. Bebês nesta idade nascem
bem. Podem precisar de oxigênio por alguns dias, mas nada além disto.
Acalme-se.
– Doutora, preciso falar a sós com a senhora antes de fazer minha
internação, é possível?
– Claro, vamos para o meu consultório.
– Denis, – digo erguendo os olhos na direção dele. Espero sinceramente
que ele não fique magoado com o que eu direi, mas não o quero comigo agora.
Este momento era para ser meu e de Oliver, e se não posso tê-lo ali, prefiro
passar por tudo sozinha – obrigada por ter me socorrido e por me trazer aqui
em segurança, eu prezo demais a sua amizade e gosto muito de você, só que eu
preciso fazer isto sozinha, você entende? Não se magoe por favor, mas...
– Está tudo bem Angel, eu não entendo e não concordo, mas não ficarei
magoado. Eu respeito e aceito. Você não me quer lá dentro segurando a sua
mão e ouvindo o primeiro choro do seu menininho, mas não pode me impedir
de ficar aqui fora até ter notícias suas e dele. Não ficarei bem em outro lugar.
Vou aguardar nesta cadeira, como um ansioso pai de primeira viagem de
antigamente faria. – Ele beija minha cabeça, assinto para ele e o enfermeiro me
leva até o consultório da doutora.
Depois que a minha quarta contração da manhã alivia, a doutora me põe na
maca e me examina.
– Bolsa rota e quatro dedos de dilatação. As coisas estão aceleradas. Sabe
me dizer de quantos em quantos minutos a dor está vindo?
– Não exatamente, mais ou menos de dez em dez, eu acho.
– Hum... já deve acelerar... precisamos interná-la. O que queria falar
comigo antes?
– Eu preciso da sua ajuda.
– Em que eu posso ajudá-la, querida?
– Meu nome não é Angel Mendes. Me chamo Bia Thompson, mas não
quero que...
– Espera. Bia Thompson? Aquela Bia Thompson? A noiva do roqueiro
famoso?
– Sim.
– Este bebê...
– É filho de Oliver Rain.
– E ele não sabe?
– Não. Doutora, preciso que fique assim por enquanto. Eu vou procurar
Oliver e contar, mas não agora... a senhora viu o meu estado quando cheguei,
por favor, me ajude a manter o disfarce por mais alguns meses. Também não
gostaria que Denis soubesse...
– Entendi. O problema são os papéis do registo, certo?
– Isto. Preciso ser internada como Angel Mendes, mas que os documentos
para o registro saiam em nome de Beatriz Thompson.
– Isto pode me complicar demais se alguém descobre, Angel. Se o pai do
seu filho descobrir, não gostar e resolver me processar, processar o hospital,
não teremos meios de lutar contra ele.
– Eu não posso revê-lo ainda, doutora, não com um bebê recém-nascido
precisando de mim. Por favor... – Ela suspira.
– Vou fazer o seguinte, farei sua internação como Angel Mendes e os
papéis também neste nome. Quando você receber alta, vou te entregar a receita
de alguns medicamentos e no meio delas outros papéis como Beatriz
Thompson, que preencherei a mão e não pelo computador. Mas estou me
arriscando muito fazendo isto. Não deixe que ninguém saiba, ok? – Assinto e
sorrio.
– Muito obrigada.
– Espero não me arrepender.
– Não vai. – E então outra dor vem e não consigo dizer mais nada.

– Caramba doutora, está doendo demais, faz isso parar – grito assim que a
última contração termina. – E dói insuportavelmente mesmo, é uma dor que te
impede de raciocinar, de ser humana, te deixa parecendo um bicho
incontrolável, com vontade de berrar, bater, terminar com aquilo.
E ela vem agora de dois em dois minutos. Horrível. Já xinguei Oliver até a
quinta geração por fazer isto comigo. Pela primeira vez desde o término, fico
feliz que não esteja por perto, porque minha única vontade seria esganá-lo.
– Vou examiná-la de novo. Ver quanto progresso fez. – E assim meus dois
minutos de alívio são encurtados pelo também nada agradável exame de toque.
– Sete dedos. Muito rápido mesmo, a dor realmente é insuportável nestas
circunstâncias. E lhe digo que piora muito mais daqui para frente. Tem certeza
de que não quer reconsiderar a questão da anestesia?
– Ah quero! Quero sim. Aplique em dobro! – Ela ri. A contração aperta.
Essa ideia naturalista de aguentar tudo na unha, muito bonita na teoria, na
prática... – Pode mandar fazer a porra da anestesia doutora, senão vai sobrar
para a senhora e até para o Ben, já que o responsável não está aqui para que eu
descarregue nele. – Ela ri mais.
– Para o bebê também não é um processo fácil.
– É o que ameniza as coisas para o lado dele. – Me dobro na cama e solto
um urro de dor que se alonga e alonga por infindáveis minutos.
– O anestesista já está vindo. Só mais uns instantes e tudo vai passar. – Ela
massageia as minhas costas. Logo depois vem o pequeno bálsamo. O
anestesista chega ao mesmo tempo. Prepara o sedativo e antes que consiga
aplicar, nova contração surge e temos que esperar passar. Então recebo a
anestesia, e o alívio é instantâneo. Respiro. Virei gente outra vez.
– Querida, vou diminuir a luz e tente descansar o máximo que conseguir.
Guarde as forças para a hora de ajudar esse bebê a sair aí de dentro.
– Obrigada, e desculpe...
– Não se preocupe, tenho três filhos e já atendi muitas mães, você até que
foi bem educada. Eu mesma não fui tanto.
– Doutora, o armazenamento do cordão?
– A equipe já está aqui. Assim que nascer eles entram para coletar.
– Meu bebê ficará bem mesmo, não é? O pediatra...
– Está aqui também, um pediatra e uma pneumologista pediátrica, fique
tranquila quando a isto, Benjamin será muito bem assistido.
– Obrigada.
– Não por isto. Agora relaxe, feche os olhos e descanse. – Ela diminui a
luminosidade da sala de parto e sai.
Tento fazer o que ela pede, mas ao invés de me relaxar, aquele período de
reflexão me faz sentir pequena, perdida e sozinha.
Muito sozinha.
Sinto, pela primeira vez depois que descobri a gravidez, a solidão esmagar
meu coração.
Queria tanto alguém aqui comigo.
Mas não qualquer pessoa, não Denis, nem Maggie, gosto deles com todo
meu coração, mas não... eu queria Laura, ou Hazel, ou mamãe.
Mas acima de tudo, eu queria Oliver.
Queria ele dizendo que me ama e que tudo vai ficar bem. Que vamos ficar
bem e nosso filho nascerá saudável. Estou com tanto medo.
Há muitos anos não me sinto assim, como uma menina de oito anos outra
vez. Perdida e abandonada no meio do caos, esperando que alguém que ama
volte para si, com medo de fazer algo errado e de saber a verdade que lhe
espera atrás da porta.
As lágrimas caem e eu preciso, preciso falar com alguém.
Pego o telefone que está no balcão perto da maca, desligo, tiro a capa e
resgato o chip antigo que guardo ali. Abro o compartimento e troco os
números. Religo o equipamento e aguardo ficar pronto para uso. Demora um
pouco para abrir o aplicativo de mensagens e logo descubro o motivo, só de
Oliver há mais trezentas e sessenta mensagens, além das noventa e sete já
baixadas. Soluço, impactada.
Queria tanto ter coragem... abrir o seu contato e clicar em uma delas, apenas
uma, aleatoriamente... paro o meu dedo em cima, decidindo se me arrisco a
ouvi-lo hoje, depois de mais de seis meses de distância, e no dia mais
importante da minha vida até ali. O dia em que me tornarei mãe. Que trarei ao
mundo o filho dele. Queria tanto ouvir sua voz... Hesito. Não posso. Não posso
me desestabilizar mais ainda... abandono a ideia e clico no contato de Hazel,
há centenas de mensagens dela também. De todos eles, há muitas, Max, Lian,
Kellan, Iris, Helen, Henry, até Johnathan. Começo a gravar um áudio a ela.
Oi querida, – fungo – eu estou fisicamente bem, não se preocupe com o
meu choro. Hoje Hazel, hoje é um dia tão importante para mim... Você não
faz ideia... e eu estou me sentindo tão sozinha e com medo, assustada,
sentindo tanto a sua falta, queria você aqui comigo irmãzinha. Sinto a falta
de todos. Sinto a falta de Oliver. Tanto, tanto! Tudo dentro de mim dói de
saudades dele, todos os dias e a cada segundo. Mas hoje esta dor é
infinitamente maior. Ele deveria estar aqui. Ele tinha que estar aqui comigo,
Hazel... Não sei se sou forte o bastante para isso sozinha... Reze por mim se
puder, querida, eu preciso que tudo dê certo hoje, dependo disso para
continuar vivendo. Fique bem, eu amo você. Até mais.
Envio. Espero dar o sinal de entregue e desfaço a troca dos chips outra vez.
Depois procuro uma foto específica, aquela que Oliver tirou de mim dormindo
em seus braços e postou. Fico quietinha olhando para ela e passando os dedos
pelo seu belo rosto. Relaxo um pouco, chego até a cochilar alguns minutos com
o telefone na mão.
Cerca de quarenta minutos depois a enfermeira entra, ouve os batimentos de
Ben, que estão normais e faz um novo exame de toque, nove centímetros e
meio. Quase lá. Sinto minha barriga contrair de tempos em tempos, mas não
sinto mais aquela dor, só o forte aperto.
Mais quinze minutos e a doutora já está a postos, sentada entre as minhas
pernas escancaradas e me pedindo para fazer força sempre que vem a
contração. Na sala, além dela, apenas a enfermeira, o anestesista e os dois
pediatras.
Eu empurro, empurro cada vez mais, sinto algo me abrindo. O suor
escorrendo pela minha testa e pescoço. A doutora diz que estou indo bem, eu
acredito e continuo o meu trabalho, dói, mas nem perto do que sentia antes da
anestesia.
Doutora Deva diz que a cabeça já coroou e que na próxima tenho que dar
tudo de mim. E eu dou. Reúno todas as minhas forças, fecho meus olhos, penso
em Oliver e empurro. Quero nosso filho em meus braços. Estendo a força
enquanto posso e então eu ouço. Ouço, sorrio e choro ao mesmo tempo. É um
choro forte, lindo, o melhor som que já ouvi. É o meu menino, Benjamin, meu
filho, meu outro amor.
– Benjamin nasceu querida. Exatamente as onze e onze da manhã – diz a
minha obstetra. Sorrio. Parece que meu pequeno Ben tinha tudo muito bem
planejado, nascer no dia um do dez, o inverso da minha data de nascimento e
as onze e onze, a data de nascimento do pai.
A doutora sorri e o põe sobre minha barriga, eu coloco uma mão sobre o
seu corpinho ainda recoberto pelo vérnix[16] e com a outra acaricio sua cabeça,
na posição em que está ainda não consigo ver seu rostinho. Ele chora, se mexe,
e quero tanto acalmá-lo. Mas a doutora vem até mim com uma tesoura.
– Quer cortar o cordão, ou eu corto? A equipe do banco de células tronco
precisa fazer a coleta.
– Eu corto. – Pego a tesoura e com duas pinças a médica prende o cordão
e mostra onde devo cortar. Faço o que precisa ser feito enquanto um rio de
lágrimas desce pela minha face.
Era Oliver.
Oliver quem deveria ter feito aquilo, não eu.
– Agora eu vou levá-lo para os pediatras examinarem, ok?
– Ok – digo emocionada.
A doutora enrola o meu precioso pacotinho numa manta branca e o entrega
nas mãos da pneumologista. Ben chora ainda mais alto e meu coração aperta. A
obstetra volta a se posicionar entre as minhas pernas e termina de fazer o que
quer que precise ser feito ali.
– Ele nasceu muito bem, querida. Bem ativo. Seu choro é alto e forte para
um bebê de trinta e cinco semanas. Talvez nem precise ficar no oxigênio.
Eu só choro e monitoro, de longe, com o olhar, o que os médicos fazem com
o meu filho.
Meu filho.
Meu.
Não estava nos meus planos tê-lo, eu não queria, não já pelo menos. Mas
agora que ele está aqui, não vivo mais sem ele. Quero cuidar dele e protegê-lo
de tudo e todos. Eu farei o máximo que puder por ele.
– Pai, mãe, eu tenho um filho. Seu neto, Benjamin. Tenho uma família outra
vez. – Deixo as palavras saírem de minha garganta e ganharem vida.
Meu maior medo, mas naquele momento parece que elas me curam.
Inacreditavelmente, a ideia não me faz estremecer, ela me acalma, acalenta.
Henry ficaria orgulhoso.
A pediatra se aproxima com o meu bebê no colo, limpinho, mais calmo,
com um conjuntinho azul claro que eu comprei para ele, enrolado na mantinha e
com uma touquinha azul do hospital. Ela o deita em meu ombro e consigo olhar
seu rostinho mais de perto pela primeira vez.
Ele é tão lindo, tão pequenininho.
Mesmo assim, com o rostinho inchado pelo pós-nascimento, consigo
identificar traços de Oliver. Acaricio sua face enquanto ela fala comigo.
– Mamãe, este mocinho está muito bem. Muito bem mesmo. O pulmão está
forte, ele pesou dois quilos e duzentas gramas e quarenta e três centímetros.
Bem grande para a idade gestacional. A sua nota Apgar foi nove, excelente
para um bebê de quarenta semanas, imagine um de trinta e cinco. Não haveria
necessidade de deixá-lo no oxigênio, mas vamos colocá-lo por uma ou duas
horas só por precaução e monitoramento, ok? E não se preocupe, ele está
identificado com o seu nome. – Ela me mostra a pulseira no pequeno pulso de
Ben. Beijo sua testinha enrugada.
– Eu o reconheceria em meio a centenas – digo, e reconheceria mesmo. –
Ele não pode mamar primeiro?
– Não, depois destas duas horas, no máximo, ele será entregue a você e
poderá amamentá-lo.
– Tudo bem. – Não tenho escolha, mesmo já doendo em meu coração ter
que me separar dele.
Um novo beijo na bochecha e ela o leva para o berçário.
Agradeço silenciosamente por tudo ter dado certo.
Por ele ser um bebê ativo e saudável, apesar de prematuro.
Da sala de parto sou levada para o quarto. A doutora me libera para um
banho, que eu tomo com o maior gosto. O parto normal pode ser sofrido, mas
no instante seguinte você já se sente bem. Principalmente no meu caso, que não
houve a necessidade da episiotomia[17].
Refeita o máximo possível após o banho, me deito e aguardo que tragam
Ben para junto de mim. Logo depois a doutora Deva entra e se aproxima da
minha cama.
– Benjamin está...
– Ele está ótimo. Comendo as mãozinhas de fome lá na incubadora. –
Sorrio e levo uma mão ao meu seio, que, mesmo ainda não tendo muito leite,
doem instintivamente pela maternidade. Doutora Deva Manzur senta-se ao meu
lado e pega a mão que continua apoiada na cama.
– Seu parto foi ótimo Beatriz. Você está bem, Benjamin está bem. Você só
não terá alta amanhã porque ele nasceu de trinta e cinco semanas, e precisamos
monitorá-lo por pelo menos três dias, garantir que saia daqui mamando
adequadamente e sem nenhum desconforto respiratório. Então relaxe meu bem,
descanse, seu filhinho é lindo, saudável e você o levará para casa em poucos
dias.
– Farei isto doutora, mas só depois que ele estiver aqui, comigo. – Nem
bem termino de falar, uma enfermeira entra com ele nos braços.
Abro um sorriso de orelha a orelha, como não fazia há muito tempo. Me
sento na cama e ela o deposita em meu colo. Ele está acordado, olhando para
todos os lados e como disse a médica, querendo comer as próprias mãozinhas.
– Ele está com fome mamãe. – Me ajeito com ele nos braços, ergo a
camiseta e coloco meu filho no seio pela primeira vez.
Demora um pouco até que consiga encaixar a boquinha no bico do meu seio,
mas insistimos, a enfermeira ajuda, e finalmente ele consegue sugar. Sinto as
puxadas e o pouco líquido passar pela minha mama até chegar a ele.
– Agora ele pegou bem – relata a enfermeira.
– Sim – concorda a médica. – Vamos deixar mãe e filho curtir um ao outro,
a sós – completa.
– Doutora, antes de ir, poderia tirar uma foto deste momento para mim?
– Claro que sim. – Ela pega o meu telefone e bate a foto.
– Outra coisa, Denis...
– Eu já o avisei e à outra moça que aguardava junto dele na recepção.
Permiti que vissem o bebê na incubadora através do vidro. Denis se
emocionou. – Sorrio.
– Obrigada. Sei que a senhora faz torcida por Denis, mas...
– Não precisa dizer mais nada. Depois de saber quem é o pai de Benjamin
e de ver alguns vídeos de vocês dois juntos, entendo perfeitamente. Mas
preciso dizer que os sentimentos que nutro pelo pai do seu filho neste momento
não são nada bons. O estado em que você chegou aqui... não quero nem
imaginar o que ele fez, sendo assim, ainda torço por Denis. Agora curta o seu
filho. Avisei aos dois que visitas só a partir de amanhã. – Ela beija minha testa
e sai.
A enfermeira me explica como fazê-lo arrotar após a mamada, posiciona o
bercinho ao lado da minha cama e se vai também.
Foco no rostinho de Ben, mamando lindamente, olhinho aberto, olhando
para mim. Passo um dedo pelas suas sobrancelhas clarinhas, tiro a touca e vejo
que meu filho é carequinha, apenas uma leve penugem clara cobre sua cabeça
redondinha. Os olhos, a boca e o queixo como os do pai. Pelo menos por
enquanto, parece. Ele é lindo demais. Contorno todos esses detalhes com o
meu toque, num leve carinho por onde percorro.
– Seja bem-vindo, meu amor. A mamãe ama você.
Benjamin vai fechando os olhinhos e instantes depois dorme grudado em
meu seio. Mas não o retiro dali e nem paro de tocá-lo. O embalo um pouquinho
e ouço o pequeno arroto.
– Ele está aqui, Oliver. Nosso menininho. Nosso pequeno Ben. É tão lindo,
já se parece tanto com você. Tenho certeza que ficará a cada dia mais
parecido. Você vai amá-lo, não vai? Claro que vai. Impossível não o fazer.
Logo saberá da existência dele e poderá conhecê-lo, eu prometo. Meus dois
amores juntos... Só me jure que não tentará tirá-lo de mim. Você não faria isso,
não é? Não, não faria. Sei que não. Tiro Benjamin do seio, beijo sua
cabecinha, inspiro seu cheirinho de bebê.
– Amo você filho. – Acomodo-o no bercinho. – Amo você Oliver.
Com Ben aqui, seguro ao meu lado, permito-me dormir e descansar.

Oliver

Acordei com uma sensação esquisita no peito. Uma angústia, uma


preocupação, que só aumenta conforme as horas passam.
Bia não está nada bem.
Eu sei. Posso sentir.
– Você não vai me procurar mais, não é pequena? Eu entendo, mas sei que
precisa de mim. Me dê uma luz, só uma! Uma mínima pista, para que eu possa
ir até você. Não aguento mais ficar debruçado nestas imagens sem achar nada...
não aguento mais ficar sem você. Quase sete meses... sete longos meses... é
demais, meu amor... eu preciso de você!
Tento me concentrar nas gravações, mas aquele aperto no peito me impede.
São onze e dez da manhã, estou aqui há mais ou menos quatro horas e
praticamente não evoluí nas análises. Não consigo parar de pensar no que
possa estar acontecendo a ela. Será que está doente? Um arrepio de pavor
percorre meu corpo.
Meu telefone toca. É Hazel, atendo rapidamente, ela não costuma me ligar
neste horário. Sei que Bia deu algum sinal e meu coração dispara em
antecipação, clamando para que não sejam más notícias.
– Oi princesa.
– Estrela, – ela fala aos prantos, o sangue some do meu rosto, certeza! Me
recosto na cadeira e espero pelo golpe. – Você tem que achá-la. Ela não está
bem, nada bem.
– Ela ligou?
– Não, me mandou uma mensagem um tempinho atrás, eu estava em aula e
só vi agora... Bia está toda abalada, Oliver, e mais uma vez não me deu chance
de resposta. Acho que está doente e precisa de você lá... vou encaminhar o
áudio, ouça e depois me ligue. Até. – Aguardo o arquivo baixar e aperto o
play.
Ouvir a voz dela depois de tanto tempo já é motivo suficiente para me fazer
desabar. Quando percebo a dor e o medo em sua voz então...
Oi querida, eu estou fisicamente bem, não se preocupe com o meu choro.
Hoje Hazel, hoje é um dia tão importante para mim... Você não faz ideia... e
eu estou me sentindo tão sozinha e com medo, assustada, sentindo tanto a
sua falta. Queria você aqui comigo irmãzinha. Sinto a falta de todos. Sinto a
falta de Oliver. Tanto, tanto! Tudo dentro de mim dói de saudades dele, todos
os dias e a cada segundo. Mas hoje esta dor é infinitamente maior. Ele
deveria estar aqui. Ele tinha que estar aqui comigo, Hazel... Não sei se sou
forte o bastante para isso sozinha... Reze por mim se puder, querida, eu
preciso que tudo dê certo hoje, dependo disso para continuar vivendo. Fique
bem, eu amo você. Até mais.
– Porra! Porra! Porra! – Esmurro a mesa à minha frente. – E pensar que é
tudo culpa minha.
Esta merda toda é só minha culpa! O que aconteceu com você, anjo?
Ouço outra vez... eu preciso que tudo dê certo hoje, dependo disso para
continuar vivendo... eu preciso que tudo dê certo hoje, dependo disso para
continuar vivendo... ouço e reouço a frase final, na esperança de que o seu
desespero me lance alguma luz, mas nada. Volto um pouco mais... Sinto a falta
de Oliver, tudo dentro de mim dói de saudades dele, todos os dias e a cada
segundo. Mas hoje esta dor é infinitamente maior. Ele deveria estar aqui.
Ele tinha que estar aqui comigo, Hazel... Não meu amor, você deveria estar
aqui, na nossa casa, segura. Eu nunca vou me perdoar Bia, nunca, mesmo que
você me perdoe, mesmo que voltemos a ficar juntos, nunca vou me perdoar
pelo que causei a você. Ainda mais se algo de ruim lhe acontecer...
Me acalmo, respiro e penso.
Ela está doente.
Hazel tem razão, só pode ser isto.
O que mais poderia ser tão importante e que a deixaria tão frágil e com
tanto medo no dia de hoje, senão o resultado de um exame, um diagnóstico,
uma cirurgia que precisa ser bem sucedida? E se está doente tem que haver
algum registro de entrada em algum hospital ou laboratório dessa porra de
país!
Tem que haver!
E se há, nós vamos achá-la.
– Aguente firme baby, falta pouco, logo chego a você, prometo! – Pego
telefone e ligo para o meu chefe de investigação.
Vamos vasculhar todos os centros clínicos dos Estados Unidos.
Se vamos!

Bia

– Ah meu amor, porque você não quer o colinho da Maggie? O colinho


dela é tão bom! – Maggie ri. Ben deita a cabeça na curva do meu pescoço, me
desafiando a ter coragem de tirá-lo dali.
Coloco a mão em sua testa, sentindo sua temperatura. Aparentemente
normal. Ele não é de rejeitar Maggie assim. Adora ela e fica maluco quando vê
Mary Ann, mas esta noite não quer outra coisa senão ficar grudado a mim.
– O que você tem, filho? – Aconchego-o o mais que posso em meus
braços, acaricio suas costas e dou beijinhos em sua carequinha, que agora
começa a ganhar alguns raros fios claros e encaracolados.
– Tia Angel, eu vim só para brincar com o Bem. – Me diz Mary Ann,
desapontada de um jeitinho fofo.
– Eu sei querida e você sabe o quanto ele gosta de você, não é? Dê mais
uns minutinhos a ele, tudo bem? Logo vai se animar e poderão brincar. – Ela
balança a cabeça concordando e se enfia entre às pernas de Maggie, que está
sentada no sofá da sala de Denis.
Brincar com Ben para ela é fazer dele o seu boneco. E ele adora ter a
atenção da menina toda para si.
– Ele dormiu bem? – pergunta Maggie.
– Sim, dormiu por mais de duas horas e acordou uns dez minutos antes de
vocês chegarem. Troquei, dei de mamar...
– Será que está nascendo o primeiro dentinho?
– Mas já? Ele não tem três meses completos ainda.
– É, não faria muito sentindo, ainda mais ele sendo prematuro. Acho que
ele só está fazendo manha para que a mãe não trabalhe hoje. – Como se
quisesse respaldar as palavras de Maggie, no mesmo instante Benjamin levanta
a cabeça e ergue os olhos em minha direção.
Olhar nos seus olhos sempre me causa impacto.
Parece que nunca estou suficientemente preparada.
São aqueles mesmos olhos.
Iguais aos de Vivienne. Iguais aos do seu pai.
Vejo tanto, tanto, de Oliver nele. E não só na semelhança facial, que é mais
do que evidente. Tirando os poucos cabelos, uma covinha nas bochechas e os
lábios mais cheios como os meus, Ben é a cópia do pai. Mas tantas outras
coisas nele me lembram constantemente do homem que eu amo. O jeito que ele
sorri. O seu jeitinho de olhar, de erguer as sobrancelhas. Alguns gestos. São
pequenos detalhes que só a convivência íntima permite que você reconheça
sobre o outro.
Não sei como Denis não ligou os fatos ainda. Quando os olhos de Ben
começaram a ficar com a coloração incomum, mais definida, tinha certeza de
que ele mataria a charada. Mas pelo visto os homens são muito menos ligados
nestes pormenores do que nós, mulheres.
– É isso Benjamin? Você está fazendo manha? Quer a mamãe só para você
esta noite? – Ele aproxima o rostinho e abocanha meu queixo, babado tudo por
ali. Eu me derreto.
– Seu danado! Tão pequeno e tão manipulador! Como resistir, filho? Só
que a mamãe tem que trabalhar, bebê. Você viu quantas pessoas estão lá fora
esperando para ouvir sua mãe cantar? Muitas. E você não pode decepcionar
Mary Ann, – pisco para a menina – ela veio aqui só para brincar com você.
Veja como você é importante! Um homem precisa ser cavalheiro.
– Exatamente. – Denis fala ao entrar no aposento, Ben segue sua voz na
mesma hora. Ele se aproxima. – Paul quer saber se você demora.
– Ele não quer ficar com Maggie. Chora se ela tenta tirá-lo do meu colo.
– Hei cara! Qual é? Larga sua mãe e vai dar atenção para aquela gatinha
linda ali. – Aponta para Mary Ann. Ben sorri e inclina o corpinho na direção
de Denis, que o pega no colo no mesmo instante.
Meu coração aperta.
Sempre que Ben reage assim a presença do loiro, eu sofro.
Não por ciúmes ou por não ficar feliz pelo carinho verdadeiro que ele sente
pelo meu filho. Pois ele sente, e não tem nada a ver com o seu interesse em
mim. Denis se afeiçoou demais a Benjamin.
Eu sofro pelo fato de que Ben está criando um vínculo poderoso com Denis.
Ele está tomando o meu chefe como a sua figura paterna. Isto me faz lembrar de
que ele deveria estar criando este mesmo vínculo com o seu pai verdadeiro. E
que só não está, espero, porque ainda não tive coragem suficiente para
procurar Oliver.
– Ah, seu vira-casacas, – reclama Maggie, brincalhona, levantando-se –
com o dublê de Thor você vai, não é? Esquece até da sua mãe.
– Bom, acho que Benjamin já decidiu quem tomará conta dele enquanto a
mãe encanta Sea Bright e os turistas, por mais uma noite. Fechado amigão, –
diz Denis olhando para Ben e simulando um cumprimento de punhos na
mãozinha do meu bebê – ficaremos você, eu e a nossa princesa, aqui, nos
divertindo. – Mary Ann pula e bate palmas, ela também adora Denis. O loiro
tem muito jeito com crianças. – Enquanto as mulheres trabalham.
Maggie e eu reviramos os olhos para ele. Mal termina sua fala, já está
sentado ao chão com Ben em seu colo e Mary Ann à sua frente.
– Não trabalho mais aqui, esqueceu? – Maggie lembra.
– Tome conta do caixa Maggie. Até Angel terminar o show, ele é seu. Pois
a nossa noite, – aponta dele para as crianças – será muito mais divertida, não é
Mary Ann?
– Siiiimm! – diz a pequena jogando as mãos para o alto.
– Sobramos amiga! – constata Maggie, indicando as crianças que nem
lembram mais da nossa existência.
– Nos resta trabalhar! – Engato meu braço no dela, levando-a comigo para
o salão do Secret Hidden.
O bar está estupidamente lotado, como em todas as noites em que há música
ao vivo. É inverno, final de dezembro, faltam cinco dias para o ano novo.
Ontem foi Natal, passamos com Maggie e sua família. Eu sorri, brinquei com
Mary Ann, beijei muito meu filho, mas não estava feliz. Por dentro eu não
estava bem. Era tudo fachada! Se eu pudesse me dar ao luxo e fosse sincera
comigo mesma, gostaria de ter passado aquela noite sozinha, na cama,
chorando. Deitar, chorar e só. Lembrei muito de Helen.
Nesta época do ano, mesmo o clima não sendo propício para banhos de
mar, a cidade recebe alguns turistas que tem casas de veraneio e preferem
passar as festas aqui. Depois do nosso sucesso, Denis fez algumas reformas,
criando um novo ambiente com mais mesas, para as pessoas que vêm com o
intuito de jantar e conversar, e transformou uma outra parte do salão num
ambiente mais jovem, com mesas altas e espaço para dançar. O Secret Hidden
definitivamente se transformou no point de Sea Bright e região.
Começo a noite cantando It’s My Life do Bon Jovi e sigo nessa pegada de
pop rock, algumas agitadas, outras, baladas românticas, atendendo alguns
pedidos, até que Maggie se aproxima no intervalo entre as músicas e sussurra
algo em meu ouvido.
– Galera, espero que estejam curtindo a noite. – Eles reagem, aclamando,
assoviando e aplaudindo, aguardo que se acalmem. – Paul e eu com certeza
estamos. É um prazer estar aqui mais uma vez, tocando e cantando para vocês.
Mas acabei de ser informada de que temos um acontecimento especial no dia
de hoje. Uma linda jovem, chamada Ashley Owen, escolheu o Secret Hidden
para comemorar com os amigos e familiares o seu aniversário de dezesseis
anos. – A mesa em que a garota está sentada faz zoeira, olho para lá e peço. –
Levante-se Ashley, deixe-nos conhecê-la. – A menina abaixa a cabeça
envergonhada, mas os amigos a incentivam e ela acaba atendendo aos apelos.
– Parabéns pelos seus dezesseis anos querida, que você seja muito feliz e
seus sonhos se realizem. Convido a todos agora, para junto comigo e Paul,
cantarmos os parabéns para a aniversariante. – Começamos a cantar Happy
Birthday to You e Maggie se aproxima da mesa segurando um bolo com
velinhas, ao final da música ela assopra e recebe as palmas de todo o bar.
– Como a dona da noite, você tem direito a um pedido especial. O que
gostaria de ouvir, Ashley? – A menina pensa por um instante, então sorri e fala
o mais alto que consegue.
– Guardian Angel, da The Order.
Todo o sangue do meu corpo deve ter ido parar lá no pé.
Claro que pedem muitas músicas da The Order, algumas eu até consigo
encarar numa boa, da maioria eu fujo, finjo que não ouvi, engato outro pedido
antes, dou um jeito. Mas ali, agora, naquela situação, não tenho como fugir.
E justo aquela música.
Maggie me olha compadecida. Respiro fundo e peço silenciosamente para
conseguir cantar a canção até o final.
– Muito bem, Guardian Angel.
Resolvo que é melhor cantá-la sentada, pego a banqueta que fica ali para
este propósito, trago-a para perto do microfone, reajusto a altura da haste, e
Paul começa a tocar os primeiros acordes no teclado.
Fecho meus olhos e aguardo a minha deixa. Assim que ela vem e eu começo
a declamar os lindos versos que Oliver escreveu, toda a emoção daquele
primeiro show da turnê, quando eu ouvi a canção pela primeira vez, quando eu
percebi o tanto de amor que ele colocou nela e vi o lindo clipe repleto de
caricaturas de fotos minhas e de meus pais, tudo isto vem à tona e as lágrimas
começam a descer pela minha face. Não consigo contê-las, não quero contê-
las, apenas me esforço ao máximo para manter a voz e o tom.
Heroicamente, consigo levar até a última nota. Porém, assim que Paul
finaliza, agradeço o mais rápido que consigo e corro para o banheiro. Me
apoio no lavatório e deixo o choro vir do fundo da minha alma. Fazia tempo
que eu não chorava assim. Nunca deixou de doer, ainda sinto as tais febres
emocionais vez ou outra, ainda deixo lágrimas rolarem antes de dormir, mas os
cuidados com um recém-nascido foram uma benção para manter minha mente
ocupada, fingindo que a necessidade dele já não pulsava tão fortemente dentro
de mim. Ledo engano.
Enquanto me entrego ao meu desespero, sinto braços gentis me envolverem.
Viro-me e a abraço. Choro em seu ombro. Ela me conforma e acalenta. Deixa
que derrame tudo que guardei nos últimos três meses, sem pressa, pelo tempo
que eu necessito, até que me acalmo.
– Bia, o que está esperando para procurá-lo? – Arregalo os olhos, porque
Maggie nunca me chama assim. – Não me olhe assim! Eu preciso te chacoalhar.
Você não é Angel, você é BIA. Sua vida não é esta. Sua vida e o homem que
você ama, o pai do seu filho, estão lá, te esperando, eu tenho certeza. ELE –
NUNCA – ANUNCIOU – O – FIM – DO – NOIVADO! – diz, com toda ênfase
que consegue e segurando meu rosto para que eu não consiga desviar de seus
olhos. ELE – TE – MANDOU – MAIS – DE – QUATROCENTAS –
MENSAGENS!
– Ele também me traiu e nunca mais me procurou! – rebato aos prantos,
com raiva, despejando, enfim, toda a mágoa que há em meu coração.
– Porra! Tem mais de quatrocentas mensagens de áudio não ouvidas no seu
telefone, e isso há quase três meses atrás, sabe-se lá quantas há hoje. Como
pode dizer que ele não te procurou?
– Ele não veio até aqui! – digo, num tom de voz mais alto do que deveria.
Sua expressão suaviza.
– É isso que você está esperando? Que ele venha até você?
– Ele tem os meios. Se quisesse realmente me ter de volta, ou pelo menos
me ver, teria revirado o país atrás de mim. Mas não fez. Por quê? Eu... –
Respiro fundo. – Eu não quero descobrir, Maggie. Não consigo. Eu
simplesmente... Não consigo imaginar uma vida inteira sem ele. E se já estiver
com outra pessoa? Não vou suportar.
– E se tiver feito o que pode e não te encontrou?
– Impossível! Não acredito nisso. Não sou nenhuma expert em manter uma
identidade secreta. Fiz tudo na pressa e de forma bem amadora. Certamente
deixei pistas. Hoje em dia há câmeras de segurança em todos os lugares
imagináveis. Este disfarce que eu uso, ele conhece muito bem.
– E Benjamin?
– Sim, este é o único motivo pelo qual eu me culpo por não o procurar. Ele
tem o direito de conhecer o filho e Ben merece que eu me esforce para que
possa conviver com o pai. Mas ainda não tenho coragem!
– Sabe que Denis está a cada dia mais apegado ao menino, não é?
– Sei sim. E Ben a ele.
– E você só tem mais cinco dias de prazo. – Ela debochada e eu rio.
– É, tem isso. Sabe, as vezes eu...
– Não! Você não vai me dizer o que eu acho que você vai dizer! – revolta-
se.
– Vou. Talvez eu deva, Maggie. Talvez eu deva me esforçar e dar uma
chance a ele.
Oliver

– Tem certeza mesmo que quer fazer isto?


– Absoluta, Lian. Na verdade, já deveria ter feito há muito tempo.
– Se fuçarem na história, pode expor... – Max tenta.
– Estou desesperado caramba! – grito para que me entendam. – Não posso
virar o ano sem achá-la. NÃO POSSO!
– Olha o bebê, cabeção! – diz Lian, me lembrando da presença de Anthony
no colo de Peter. Felizmente ele parece não ter se assustado com o meu
rompante.
– O conde pode processá-lo. – Riley termina o que não deixei Max
concluir antes.
– Que processe! Não vou contar nenhuma mentira. É a minha história.
– Ele é rico e poderoso, Oliver. – Ela insiste.
– Estou pouco me fodendo se terei que gastar cada centavo do meu
patrimônio para responder a processos que ele enfiar no meu rabo. Eu só
quero Beatriz em casa.
– Ok, ok, acalme-se. Iris já está com a repórter numa das salas de reunião.
Temos só que esperar Henry chegar. Vamos aproveitar e repassar os pontos
enquanto isto.
– Não havia necessidade de chamarem Henry.
– Havia sim, – se mete Lian – a gente não sabe o que a carga emocional de
reviver tudo isto vai causar a você.
– Sem chance de você fazer isto sem Henry aqui, irmão. – Max reforça.
– Que seja! Relembre os pontos, Riley.
– Vamos lá. Você vai contar sobre o acidente, e sobre o abandono, os
motivos deles e como se deu, apenas para embasar o surgimento das crises,
sem expor lugares ou nomes, nem o dele e nem o dela.
– Certo.
– Então você vai contar sobre como foi resgatado e que foi criado por sua
avó, também sem expor o nome de Laura.
– Nem precisa me lembrar disso.
– Daí vai fazer um resumo das suas piores crises, todos os tratamentos,
diagnósticos, até entrar no período em que ficou estável.
– Ok.
– Depois disto, você entra na sua história com Bia, e neste ponto, o quanto
mais você se abrir melhor, já que o objetivo aqui é que toque o coração dela.
Que ela se convença de que nunca a traiu e veja o quanto está sofrendo.
– Basta olhar para o meu rosto, não?
– Sim, mas lembre-se, ela acha que você a traia descaradamente. Se Peter
fizesse o que você fez, Oliver, – ela aponta para Peter no canto da sala,
tentando entreter Anthony enquanto conversamos, o homem arregala os olhos
sem saber o motivo de seu nome surgir sem aviso – te juro, chorar em frente às
câmeras não seria nem de longe o suficiente.
– Por isso eu jamais me arriscaria – defende-se Peter, entendendo o
contexto.
– Não se preocupe Riley, eu vou falar em frente às câmeras, mas estarei
falando apenas para ela. É tudo só para ela, por ela. Serei o mais honesto
possível, derramarei a minha alma em cada palavra.
– Certo. Por fim, o relato fidedigno de todos os eventos daquela noite que
culminaram na última crise e no abuso.
– Sei, mas sem expor o nome de Carol.
– Por mim você pode expô-la, deve expô-la, nunca concordei com a sua
atitude de não a incriminar.
– Tá aí uma coisa que concordo plenamente. – Max aproveita. Ele sempre
aproveita cada oportunidade que tem para me lembrar de que eu deveria tê-la
posto na cadeia.
– Quero esquecer. Só isso.
– Tudo bem. Não quer mesmo relatar o rompimento e sumiço, e assim
fazer um apelo direto para que ela dê notícias? Teria os olhos do país inteiro
trabalhando para você.
– Não. Ela é minha noiva, nunca deixou de ser. Vou dizer o quanto me
arrependo e fazer um pedido de desculpas, ela vai entender, e os demais
acharão que peço desculpas por não ter evitado o abuso.
– Henry já está lá na sala com Iris e a repórter. – Max avisa. Puxo o ar,
tomando coragem.
– Vamos acabar logo com isso. – Levanto-me.
De repente a porta é aberta de supetão. Hazel entra esbaforida, com Kellan
ao seu encalço.
– Estrela, você não precisa mais fazer isto. – diz tentando recuperar o
fôlego ao mesmo tempo. – Achamos ela!
– O que? – pergunto, incrédulo. Já sentindo as lágrimas surgirem no canto
dos olhos e as pernas falharem. – Não brinque comigo, Hazel.
– Não estou brincando. – Ela se aproxima com o celular em punho. – Veja
isto. – Posiciona o aparelho na minha frente e dá play. Max, Lian e Riley se
amontoam ao nosso redor para conseguir ver também.
A filmagem é bem amadora. Dá a entender que se passa num bar ou
restaurante. A câmera passeia sobre uma mesa, uma adolescente encabulada é
focalizada, então segue, desfocada, para o que parece ser um palco com um
homem ao teclado e uma mulher de cabelo liso e escuro sentada numa banqueta
atrás do microfone.
Meu coração dispara.
A pessoa atrás da câmera do celular ajusta o foco, ao mesmo tempo os
primeiros acordes de uma canção que conheço muito bem iniciam. A garota
fecha os olhos e começa a cantar. Minhas lágrimas finalmente caem. É ela, é a
voz dela.
Bia. Minha Bia. Meu anjo.
– Achei você, meu amor. Achei você. – Estou trêmulo. Hazel me abraça.
O cineasta amador aproxima a imagem, concentrando-se no lindo rosto de
Beatriz, que apesar do disfarce eu reconheceria a quilômetros. Ele chega tão
perto que além de deixar evidente as muitas lágrimas que ela chora enquanto
canta, posso ver também as pequenas sardas que amo tanto.
– Ah pequena, até nesse momento você me protegeu, não é? Me deixou te
encontrar hoje, só para que eu não me expusesse. Esta música não poderia ser
mais perfeita para descrevê-la, meu anjo da guarda.
A música termina e Bia, visivelmente abalada, se retira. O vídeo acaba.
Seco um pouco as lágrimas porque preciso agir, chegar neste lugar e buscá-la.
– Como isto chegou até você? – pergunto a Hazel.
– Este vídeo é de antes de ontem e viralizou rapidamente. A chamada é
Angel chora em Guardian Angel.
– Angel?
– Pois é, parece que é o nome que ela está usando. Na matéria que achei
diz que ela canta num bar chamado Secret Hidden, em Nova Jersey.
– Porra! Secret Hidden? Parece sacanagem... – diz Lian.
– Max...
– Já estou mexendo os pauzinhos... solicitando para localizarem o bar e
prepararem o jato. Voaremos para lá hoje ainda.
– Riley...
– Já pedi a Iris para dispensar a repórter. Henry e ela vêm nos encontrar
aqui em seguida. – Volto-me para Hazel.
– Obrigado, princesa. – Abraço-a e beijo sua cabeça.
– Agradeça a Kellan, foi ele quem a achou. – Encaro o loiro que ainda não
consegue me perdoar.
– Como você conseguiu?
– Desde que começamos as buscas, eu contratei os serviços de uma
empresa que monitora imagens. Passei uma imagem de Bia com o disfarce e
outra sem. Eles têm programas e algoritmos específicos, que digitalizam a face
e buscam na rede, tanto na web, quanto na deepweb, qualquer imagem que
contenha alguma semelhança. Sempre que encontram algo que faça sentido, me
enviam. Me mandaram este vídeo há poucos minutos. – Desfaço o abraço com
Hazel, aproximo-me dele e estendo a minha mão.
– Obrigado. – Ele olha a minha mão estendida, decidindo-se se aceita ou
não. Por fim, aperta-a.
Eu não lhe dou chance e trago-o para dentro do meu abraço também. Ele
tenta se soltar, mas não permito. O mantenho junto a mim, um braço em torno
dos seus ombros e uma mão em sua cabeça.
– Eu nunca vou esquecer do que fez por mim – digo próximo ao seu
ouvido. – Hoje, além da mulher que eu amo, você me devolveu a vontade de
viver. Te deverei eternamente, Kellan, obrigado! – Beijo sua cabeça como fiz
com Hazel e solto-o.
– Fiz mais por ela do que por você. – Tenta se fazer de durão.
– Tudo que fizer por ela, você faz por mim também – esclareço. Ele
apenas assente.
– Acho que agora meu irmão merece que troquem aquele avatar dele no
grupo de mensagens, não? – pergunta Hazel.
– Não! – respondem Max e Lian juntos.
Eu não me atrevo a dizer nada.
Com exceção de Beatriz, Kellan terá de mim o que quiser a partir de hoje.
Capítulo 34

“Tudo que vai


Deixa o gosto, deixa as fotos
Quanto tempo faz?
Deixa os dedos, deixa a memória
Eu nem me lembro”
(Tudo que vai – Capital inicial)

Bia

V ocê aqui a essa hora?


– Bom dia, Julie.
– Dormiu com ele, não foi?
– Não é da sua conta.
– Sabia! Demorou, se fez de difícil até deixá-lo totalmente na sua, então
abriu as pernas. Você é esperta, Angel.
– Que bom que reconhece. Observa e vê se aprende algo comigo, então. –
Não estou com paciência para ela.
Julie fecha a cara e entra na área do vestiário.
– Bom dia, querida! – Denis se aproxima e me dá um beijo na cabeça. –
Por que levantou tão cedo?
– Perdi o sono. Vou lá no quarto olhar Ben.
– Acabei de olhar, dorme feito um anjinho.
– Obrigada.
– Por olhar o Ben? Por favor... É tudo que eu mais quero na vida, cuidar
de vocês dois para sempre. Registrar aquele menino no meu nome. – Sem
pensar, eu testo mentalmente o sobrenome dele junto ao nome do meu filho e
não consigo segurar, caio na gargalhada.
– Qual a graça? – pergunta se fazendo de ofendido.
– Desculpe, mas não vai rolar... ele seria muito zoado.
– Por que ele seria zoado por ter o sobrenome Button?
– O Curioso Caso de Benjamin Button... – digo em meio aos risos. Denis
me acompanha.
– Puta-merda, nem tinha pensado nisso...
– Pois é.
– Poderia ser Mendes-Button. – Suspiro.
– Ele tem pai, Denis.
– Não precisa me lembrar.
– Preciso sim. Vai acontecer, mais cedo ou mais tarde terei que falar e não
quero que você sofra além do inevitável.
– Como você disse, inevitável. Eu amo aquele menino.
– Sei que ama. E ele a você. Mas...
– Tudo bem, tudo bem. Não precisa lembrar de novo. E quando o tal
Oliver vai tomar ciência do filho?
– Não sei. Mas vai. Quando eu me sentir mais forte.
– Por favor! Você está aqui há quase um ano.
– Dez meses.
– Grande diferença!
– Para mim é sim, porque... – Não consigo evitar de ter que engolir o
choro.
– Por que conta cada segundo que está longe dele? Por que não o esquece
por um minuto sequer? – Me olha magoado. Sinto muito, nunca o enganei.
– É. Exatamente por isto. – Solto ríspida. Ele ri e esfrega os olhos numa
tentativa de evitar a emoção.
– Conte pro cara de uma vez que ele tem um filho, Angel. Enquanto você
não fizer isto sempre haverá essa pe...
– Sem pressão. Sem pressão! – Levanto a voz e não deixo que termine,
estou muito irritada.
– Ok, ok. Desculpe.
– Tudo bem. – Respiro fundo, me acalmo. Um chorinho delicioso invade o
ambiente e eu sei bem o que ele quer.
– Vou lá, hora dele mamar. – Sigo para o quarto de Denis sem esperar que
diga qualquer coisa a mais. Ben acompanha meus movimentos com olhos
atentos.
– Oi meu amor! – Assim que ouve minha voz retoma o chorinho. –
Malandrinho! Sabe muito bem manipular sua mãe, não é? – Tiro-o do cesto,
trago seu corpinho de encontro ao meu rosto e inspiro seu cheirinho, beijo suas
bochechas, mordo sua barriguinha.
Ele abre um sorriso lindo, exibindo aquelas covinhas irresistíveis nas
bochechas, que não herdou nem de mim e nem de Oliver.
Me sento na poltrona que há no canto do quarto, exponho meu seio e Ben
gruda nele no mesmo instante. Isso é tão gostoso! Só passando pela experiência
para entender o tamanho do vínculo que a amamentação cria entre mãe e filho.
Enquanto suga, mantém os lindos olhos âmbar em mim. Acaricio seu rosto,
passando levemente meus dedos por sua bochecha, testa, narizinho.
– Você vai dar trabalho, não vai? Vai partir muitos corações por aí, assim
como o seu pai. E então a sua mãe aqui terá que consolar as meninas que
baterem na porta de casa aos prantos, enquanto você pede para eu dizer que
não está. Até que um dia, alguém vai tocar o seu coração e você terá que se
esforçar muito para não sucumbir aos seus encantos. Depois, quando perceber
que não tem como escapar, vai correr atrás do prejuízo e fazer de tudo para
conquistá-la, porque ela, apesar de já estar totalmente na sua, não se renderá
fácil assim... e dali por diante, você não terá mais controle sobre si mesmo.
Ela o terá em suas mãos. E é só neste ponto que nossas histórias serão
diferentes, meu amor... no seu caso será para valer, vocês serão felizes. –
Alguns minutos mais e ele se dá por satisfeito, larga meu peito e estende o
bracinho para tocar meu rosto.
Beijo sua mão pequenina.
– E agora mocinho? Vamos trocar a fralda? – Levanto-me, pego o trocador
e estendo em cima da cama. Deito Ben sobre ele, pego o lenço e as fraldas,
abro seu macacão, ele brinca, faz festa, está aceso. Faço a troca rapidamente, e
antes de fechar o macacão encosto minha boca em sua barriguinha e faço
barulhinhos ali, que sei que ele adora. Benjamin solta gritinhos e risadas
deliciosas. Termino de arrumá-lo e voltamos ao salão.
– E aí cara? De barriguinha cheia? – Ben se agita como pode no meu colo
ao ouvir a voz de Denis, e a culpa aperta meu peito outra vez.
– Vou levá-lo comigo para o escritório, pego o notebook e adianto o
trabalho que você tanto detesta.
– Não precisa fazer isto. O acordado, desde que Benjamin nasceu, é que
você seria apenas a cantora.
– Não me custa nada ajudar. Eu gosto de fazer o inventário.
– Você quem sabe. – Vou até o escritório, coloco Ben no tapete de brincar,
aonde há vários penduricalhos que ele fica olhando maravilhado, pego o note
em cima da mesa e me sento ao seu lado, no chão. Divido minha atenção entre
as planilhas e as brincadeiras com meu filho. Lá pelas tantas, começa a
reclamar, e sei que a fome apertou de novo. Amamento-o outra vez, e ele
embarca num soninho delicioso. Ajeito-o ali no tapetinho mesmo, que é
acolchoado e macio. E volto a me concentrar no trabalho.
– Vou até a distribuidora buscar bebida. Se precisar de ajuda, peça a Julie.
– Denis para na porta e me avisa, olho para ele espantada.
– Para ela afogar o meu filho na pia da cozinha? Não, obrigada. – Ele ri e
se vai.
Me entretenho ali por um bom tempo, Ben continua a dormir profundamente.
Até que Carlos bate à porta do escritório.
– Angel, tem umas pessoas perguntando por você aqui fora.
– Pessoas, que pessoas?
– Não sei, nunca os vi. Perguntaram se podem falar com você.
– Ok. Já vou. – Ele assente e sai. Salvo o meu trabalho, fecho o notebook,
dou uma conferida em Ben, deixo a porta do escritório levemente aberta e vou
ver quem me chama no salão.
Assim que dou pouco mais de meia dúzia de passos, minhas pernas falham,
meu coração acelera tanto que acho que vou perdê-lo pela boca. E o choro
desesperado chega junto e no mesmo instante, não me permitindo reação
alguma para tentar contê-lo. Carlos, que ainda está por ali, me olha apavorado.
Parados no meio do salão estão Hazel e, disfarçados, Max, Lian e... ele.
Chorando tanto quanto eu e escorado em uma das mesas para tentar se manter
de pé. Recuo um passo e tento me virar para fugir, mas antes que eu possa,
braços fortes me envolvem e me apertam contra si. É Max, que também tem
algumas lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
– Nunca mais fuja da sua família, entendeu? – fala com a voz embargada.
Eu só consigo chorar, ali grudada em seu peito.
– Você não sabe o inferno que foram estes dez meses. Tudo que tentamos
para localizá-la. Estávamos morrendo um pouco a cada dia, querida. – As
palavras dele potencializam ainda mais o meu desespero.
Eles tentaram? Tentaram me achar?
– Minha vez. – Lian me tira do conforto de Max e me traz para os seus
braços, também não esconde a emoção.
– Ah meu bem, você fez tanta, tanta falta... sentimos tantas saudades.
– Lian... – digo baixinho, ele pega o meu rosto entre as mãos, seca um
pouco as minhas lágrimas e me dá um beijo na testa.
– Nunca mais faça isto. Nós amamos você.
– Eu não podia...
– Eu sei. Tudo vai ficar bem. – Não, não vai. Não há mais como
consertar... – Escute o que aquele cara que está ali, tão desesperado quanto
você, tem a dizer, Biazinha. Ele só não morreu, porque se concentrou no
objetivo de localizá-la. Dê uma chance. Vocês se amam tanto, ouça-o.
– Não.
– Bia... – diz tão baixinho quanto eu.
– Ele me traiu. Eu só pedi uma coisa a ele quanto a gente começou, e ele
não cumpriu.
– Tirando o fatídico dia, eu já menti para você alguma vez?
– Que eu saiba não.
– Então acredite quando eu digo que há coisas sobre aqueles dias que você
não sabe. Deixe-o explicar.
– Eu vi o vídeo.
– Não é o que parece. – Eu debocho.
– Contra fatos não há argumentos, Lian. Ele. Estava. De. Pau. Duro! – Lian
fecha os olhos.
– Nem sempre quan...
– Eu quero bater em você, sabia? – Hazel não o deixa terminar e me puxa
contra ela. – Porra, tem noção de todas as besteiras que passaram pelas nossas
cabeças durante todos estes meses? E aquela sua última mensagem para mim?
Fiquei desesperada. Nunca mais! Nunca mais faça isso comigo outra vez. – Ela
deixa as lágrimas fluírem também. É só ali, naquele momento, cercada por
aquelas pessoas, por todo aquele carinho, preocupação e emoção, que me dou
conta do quanto eu os amo e do quanto senti a falta deles
Receber tanto afeto ajuda a curar um cantinho do meu coração destruído.
– Posso me aproximar de você, anjo? – pergunta a voz que mais tive
vontade de ouvir outra vez. Mas minha mágoa, ou meu orgulho, ou um pouco
dos dois, não me permitem aceitar a sua oferta.
– Não. Não pode.
– Eu amo você!
– Não ama, não!
– Amo pequena. Amo demais! Com cada fibra do meu corpo, com toda a
minha alma. Tudo em mim sente a sua falta. Me deixe contar o que realmente
aconteceu naqueles dias, meu amor.
– Não quero saber. O que me mostrou é mais do que suficiente.
– Não diga isso. – Ouço seu soluço de desespero. O meu sai na sequência.
– Você fez questão de esfregar na minha cara os seus delitos, Oliver.
– Eu não traí você.
– Rá! Vai dizer o que? Que ela atacou de surpresa? Eu vi o tamanho do
seu interesse. Ou melhor, talvez diga que era coisa antiga. A nossa aliança em
seu dedo não te ajuda nessa também...
– Olhe para mim.
– Não. – Ele suspira.
– Não, não era coisa antiga. Mas também não é o que parece. Eu preciso te
contar tudo, anjo, desde o meu acidente de carro aos seis anos até a fatídica
manhã em que eu fiz a maior burrada da minha vida porque não estava
pensando direito. Por tudo que nós vivemos, apenas me ouça. Se depois do que
eu tenho para lhe contar, você ainda não me quiser por perto, eu vou embora. –
Outro soluço escapa quando ele profere as últimas palavras e meu coração
aperta, não quero olhá-lo, ouvi-lo, mas também não quero que ele vá embora.
Dá para entender?
Na verdade, queria mesmo é correr até ele e abraçá-lo, me afogar em seu
calor...
Para meu desespero ficar ainda maior, Ben resolve anunciar que acordou
bem neste momento. Eu tremo. Não sei o que fazer. Me afasto de Hazel, já
pensando em rumar ao escritório, mas ouço ao longe que alguém abre a porta e
instantes depois meu filho não chora mais. Denis deve ter entrado pela porta
dos fundos e ido direto acudi-lo.
– Quem são esses? – Escuto Julie falar lá do balcão. Se junta a Carlos
para acompanhar o desenrolar do nosso drama. O choro de Ben recomeça,
mais alto e urgente agora, e sei que meu tempo acabou. Não tenho
escapatória...
– Tentei acalmar, mas parece que só quer a mamãe... – Denis para de falar
assim que percebe as visitas e toda a troca desesperada ocorrendo entre mim e
Oliver.
O choro de Ben me tira do transe emotivo, vou até o meu filho e pego-o no
colo.
Oliver

Que porra é essa! Quem é esse cara?


Tremo da cabeça aos pés, meio por desespero, meio por raiva.
Eles... eles têm um bebê?
Não! Ela é minha!
Minhas pernas falham, eu vou desmoronar se o que meus olhos veem e
minha mente sugere for verdade.
Não pode ser!
Não posso acreditar que ela está tendo com outro, o que sonhei para nós!
Meu maior pesadelo se concretizando...
A certeza de que a perdi de vez...
É um golpe pesado demais para mim.
É o meu fim.
Ela anda até ele e pega a criança. Meu coração dispara de um jeito que
nunca senti antes. Tento dar alguns passos à frente, mas não tenho forças, estou
nervoso demais. Max percebe e se aproxima. E quando já estou quase certo
quanto a veracidade daquela cruel realidade, o bebê ergue a cabeça de seu
ombro e me deixa ver os seus olhos.
Meu mundo simplesmente para naquele momento.
Primeiro demoro a processar a informação, me pergunto como poderia a
criança deles ter olhos iguais aos meus. Depois eu entendo como poderia e um
grito de dor escapa da minha garganta.
É a nossa criança.
O meu bebê.
Não consigo mais me segurar sobre as pernas, caio de joelhos no chão do
bar e choro desesperadamente.
Choro por todos os momentos lindos e importantes que eu perdi e que nunca
terei como recuperar, nunca vão voltar.
Choro por insistir numa burrice sem tamanho, quando todas as pessoas que
se importam comigo me alertaram.
Choro por fazê-la sofrer, por deixá-la passar por tudo sozinha... Ela tinha
tanto medo... Max se abaixa a minha frente, segura meu rosto e chora comigo.
– Você... você viu? – pergunto, querendo confirmar se não foi apenas uma
alucinação, a projeção dos meus desejos. Ele abre um sorriso em meio ao seu
rosto banhado.
– Sim, eu vi. Você tem um bebê, cara! – Me chacoalha e me puxa para um
abraço mais que caloroso.
Um que ele deveria ter me dado em uma maternidade qualquer, no dia do
nascimento do meu filho, quando eu, sendo o primeiro a segurá-lo nos braços,
o mostraria a eles, e não meses depois num chão de bar.
Consigo segurar um pouco o fluxo de água que verte dos meus olhos e volto
meu foco para a minha menina e o meu bebê. Beatriz está parada, estática, de
costas para nós, grudada a criança e chora tanto quanto eu. O bebê também
chora, na certa assustado com o desespero da mãe.
O cara tenta abraçá-la. Ela não deixa.
– Eu preciso ir – diz, abalada demais.
– Não anjo, por favor, não vá. Me deixe... – Tento me reerguer e retomar
um pouco da minha dignidade.
– Não consigo agora, me desculpe – solta aquelas palavras meio truncadas
pela dor e sai. O cara tenta ir atrás dela, mas novamente ela acaba com os seus
planos. Se ela não o impedisse eu daria um jeito...
– Hazel, irmão... – peço sem anunciar o nome de Lian, eles entendem que
eu quero que não a deixem sozinha. Por sorte, não os proíbe de segui-la.
O cara continua parado, tem os braços cruzados e me encara, possesso. Max
me ajuda a levantar e eu me sento numa das cadeiras ali. Não tenho medo de
cara feia, otário.
– Quem é você? – pergunto ao camarada.
– O namorado – anuncia o infeliz com um sorriso debochado. Meu sangue
ferve.
– A porra que é! – digo furioso.
Não é mesmo!
Não pode ser. Não é!
– Sou. Conforme-se. E comporte-se quando estiver perto da minha
namorada.
– Ela é minha noiva – grito.
– Era! – fala tão alto quanto. – Que eu saiba, você a dispensou. A fila
andou, meu chapa...
– Vá de foder! ELA. É. MINHA – grito ainda mais alto, fazendo menção
de me levantar e partir para cima dele, mas Max me segura.
O idiota ri em meio a sua própria raiva.
Pois ele está com raiva, muita.
– Sabe, eu deveria prolongar a sua agonia, é o que você merece. Mas não
vou. Não vou porque aquela garota, apesar da palhaçada que você fez com ela,
te ama. E eu a amo ao ponto de torcer pela sua felicidade, mesmo que isso
signifique ela fazer a burrada de voltar para você. Mas se quer saber se eu
queria ser, e se tentei ser? Muito? Pode ter certeza que sim.
Tento me levantar outra vez para meter a mão na cara do infeliz, mas Max
impede de novo.
– Ele não vale a pena. Preocupe-se com a sua mulher e com o seu filho. –
Ele tem razão, resolvo não dar mais bola para o mané e tentar encontrar
alguma calma dentro de mim.
– Onde ela foi? – pergunto, mais a mim mesmo.
– Ela mora num anexo, nos fundos – responde o babaca mesmo assim,
ainda me encarando de braços cruzados.
– Eu vou lá.
– Melhor esperar, deixe que conversem um pouco e que nos deem um
sinal. – Max sugere.
– Esperar? O inferno! Eu sou pai, porra! Preciso conhecer o meu bebê.
Nem sei se é menino ou menina.
– Já vai conhecê-lo. Esperou dez meses, Oliver. Espere mais alguns
minutos.
Fico ali por mais de uma hora, impaciente, perna balançando, olhando o
celular e esperando que Lian diga alguma coisa, qualquer coisa que libere a
minha aproximação... nada. Meu limite estourou há séculos! Chega!
– Como chego lá? – pergunto ao leão de chácara. Ele me analisa e pondera
se responde ou não a minha pergunta. Deve ter chego à conclusão que não
adiantaria tentar impedir.
– Siga pelo corredor, saia pela porta dos fundos e logo verá o anexo.
– Obrigado. – Me forço a agradecer.
Faço como o imbecil orientou, seguido por Max. Logo acho a porta,
atravesso e de cara vejo o tal anexo. Nos aproximamos, forço a porta, está
aberta.
– Vá embora, Oliver. – Ela está sem disfarce agora.
Ah, minha menina linda...
Nossa, quanta saudade!
Meu coração vai estourar a minha caixa torácica.
Tiro as lentes, a peruca e a barba. Ela desaba ao olhar para o meu rosto.
– Pequena, por favor... eu... – Quero tanto me aproximar e abraçá-la de
uma vez... mas não posso. – Se não quiser conversar comigo agora tudo bem,
só me deixe conhecer o nosso filho, ou filha...
– Hoje não!
– Bia – implora Lian em minha causa.
Olho para o seu lindo rosto, abatido, estampando tristeza, olhos vermelhos
e lágrimas que descem freneticamente, sem que ela consiga controlar. Me
conformo.
– Tudo bem, eu volto amanhã. – Não vou forçá-la.
Não tenho este direito. Toda a merda é culpa minha, só minha. Tudo que ela
teve que enfrentar sozinha é só culpa minha. Ela tinha tanto medo de ter um
filho, deve ter ficado aterrorizada... E eu... eu não estive ali por ela. E ainda
pensa que a traía deliberadamente. Preciso ser paciente.
– Só me diga se temos um garoto ou uma menininha...
– Você tem um filho. Benjamin. – Sorrio e choro.
– Benjamin... meu filho... – repito, testando aquelas palavras na minha
boca. Gosto do nome que ela escolheu.
– Eu amo você. Até amanhã, meu amor. – Me viro e me movo em direção a
saída.
Só que nisso, o bebê chora e eu não resisto ao ouvi-lo, paro no meio do
caminho e caio no choro outra vez.
Queria tanto vê-lo.
– Espere. Você pode... – Graças a Deus, ela se compadece.
Eu não iria aguentar... não iria suportar ficar tão perto e tão longe deles ao
mesmo tempo. Me volto novamente para ela. Estamos reduzidos a dor,
saudade, e uma vontade gigantesca de nos atirarmos nos braços um do outro.
Abatidos, magros, uma sombra do que éramos. Isto é certo!
– Venha comigo – convida, sem ter muita certeza de que deveria fazer
aquilo.
Eu só agradeço internamente e sigo-a pelo ovo em que as duas pessoas mais
importantes da minha vida vivem. Ela abre a porta do quarto, onde mal cabe a
cama. Bia sobe nela e retira nosso bebê de dentro de um cestinho.
Não controlo outra onda de choro sentido. Eles deveriam estar em casa,
cercados de todo amor e conforto possíveis. E não ali, sozinhos, à mercê...
– Oi Amor. – Beija sua bochecha. No que o encosta em seu corpo, o bebê
procura pelo peito automaticamente. Ela rapidamente ergue a blusa e o
acomoda lá.
– Terei que amamentá-lo primeiro. – É tão linda a cena! Tão cheia de
amor. Minha menina... Meu filho...
– Posso me aproximar? – Me olha e analisa o meu pedido.
– Tudo bem. – Me ajoelho em frente a eles. Benjamin tem os olhos
grudados no rosto da mãe. Com a mão ainda sem muita firmeza, por toda a
emoção e pelo medo de que ela me proíba, acaricio a testa do meu filho. Ele
para de mamar e procura pelo autor do toque com os olhos. Sorrio para ele.
– Oi filho, aqui é o seu pai. – As lágrimas não param de rolar e banhar o
meu rosto nem por um minuto, não me preocupo mais com elas. – Fiquei muito
feliz ao entender que você é meu, que você é nosso. Perdão por demorar tanto
tempo para chegar até vocês. Eu amo você, filho. Assim como amo sua mãe,
demais. – Ela soluça, funga e seca os olhos.
– Ah, minha pequena. – Sento ao lado dela na cama, a envolvo em meu
abraço e a puxo contra mim.
Bia se debate um pouco e tenta impedir, mas não permito, não mesmo...
então se rende, e chora em meu peito. Benjamin volta a mamar. Beijo seus
cabelos. Seu choro se torna cada vez mais alto e sentido. Deixo que
descarregue e espero que se acalme. Resolvo não tocar em coisas doídas.
– Como nosso pequeno milagre aconteceu? Você era até neurótica com o
horário do remédio...
– As vezes que vomitei na Alemanha, o anticoncepcional foi junto. –
Caramba, jamais imaginaria... – Então no Brasil... – Benjamin solta o seio e
me olha. Bia arruma a blusa e o ergue, beija sua bochecha.
Ele sorri.
Deus, nem acredito! Ele é tão perfeito...
– Pegue-o. – Não espera e o põe em meus braços.
– Certo.
Me concentro na tarefa e seguro-o de modo um tanto atrapalhado, mas logo
pego o jeito. Trago-o próximo ao meu rosto, beijo sua testa e inspiro seu
cheirinho de bebê.
– Filho, você é tão lindo! – Beijo sua bochecha e o olho maravilhado.
Encantado. Tão pequeno... Merece tanto amor... Não paro de admirá-lo.
– Ele é a sua cara.
– Vejo traços seus também. – Ela revira os olhos. Que saudades dessa
carinha! – O dia em que você mandou a última mensagem... – Brinco com os
dedinhos dele. Ele aperta o meu.
– Foi o dia em que ele nasceu. – Eu sabia, eu sentia que tinha algo
acontecendo com ela naquele dia. – Primeiro de outubro. Ben nasceu de oito
meses. Eu fiquei apavorada, tive muito medo de perdê-lo, medo que algo desse
errado... – E eu não estava ali para ampará-la. Uma pontada de dor aguda me
rasga.
– Ben... – Afago o rostinho do meu filho.
Meu filho
Vai demorar até eu assimilar que aquilo é real, está mesmo acontecendo, eu
tenho um filho, comecei uma nova família... Ele leva a mão ao meu queixo,
beijo sua mãozinha.
– Por que não me contou? Não me chamou?
– Você sabe o porquê.
– Vamos conversar.
– Hoje não.
– Precisamos anjo, por favor.
– Hoje não! – Paciência Oliver, lembra? Culpado!
– Então eu só vou dizer uma coisa, que repeti em inúmeras das mensagens
que te enviei e você nunca ouviu. Algo para aliviar a minha consciência e
tranquilizar a sua. Eu fui estuprado, não estava consciente, de posse das minhas
vontades durante aquele vídeo. – Ela arregala os olhos. Não esperava por nada
assim, acredito...
– Como assim estuprado? Que papo de merda é esse?
– Foi a Carol. Ela me encontrou em um estado de consciência alterada
naquela noite, me levou para o seu quarto no hotel. Ela estava me rondando
naquela semana. Hospedada no mesmo hotel, eu já a tinha encontrado duas
vezes, não te falei para não te irritar, porque para mim ela era irrelevante. Mas
para que você entenda porque eu estava fora de mim, preciso que me deixe
contar a minha história. – Bia me olha incrédula por alguns minutos. Decidindo
se acredita ou não nas minhas palavras.
– Seu corpo estava desejando-a Oliver... quando um homem não quer uma
mulher...
– Tem um vídeo anterior aquele, de quando ela inicia o seu ataque para
cima de mim, ali dá para perceber que eu não estava bem, ela fala, acha que
estou drogado, abre... tira minhas roupas e começa a me estimular, por isso eu
fiquei naquele estado... eu nem sabia o que estava acontecendo, Bia... se fizer
questão posso te mostrar o vídeo agora mesmo...
– Não. Não quero ver, não agora pelo menos... Isso é tudo muito fantástico,
e muito conveniente...
– É a verdade. Foi uma das piores sensações que senti depois que
descobri. Me senti sujo, como se tivesse profanado o que tivemos. Como se te
arrancassem a força de mim. O que tivemos é sagrado para mim, Bia. Não
quero mais ninguém me tocando. Só você! – As lágrimas escorrem outra vez e
ela parece lembrar de algo doloroso também. Mas logo seus pensamentos
seguem outro caminho, aquele do qual não tenho como me defender.
– Então você usou o vídeo de um abuso para me machucar e me afastar de
você? – Ela ri. – Porra... acho que me sinto pior ainda...
– Eu agi por impulso. Ainda estava sob o efeito da crise.
– Você não confiou em mim.
– Eu tentei te proteger de mim mesmo. – Ben começa a reclamar em meu
colo, volto a atenção para ele.
– O que foi filho? – O acaricio. – O colo do seu pai não está mais
agradando? Eu não quero largar você...
– Deve ser a fralda. Vou trocá-lo.
– Será que... Posso tentar? – Ela ergue as sobrancelhas para mim.
– Ah, essa eu quero ver... – Estende um pedaço de plástico acolchoado
sobre a cama, põe uma fralda, pomada e um pacote de lenços umedecidos ao
lado.
– À vontade! – anuncia. Mas o que quer dizer mesmo é: se vire! Tudo bem
pequena, tudo bem... Você não vai facilitar, já entendi...
– Ajuda o papai, Benjamin? Preciso desesperadamente marcar pontos com
a sua mãe. – Beijo seu rosto e coloco-o sobre o plástico. Ele emite uns
gemidinhos fofos. Puxo sua calça para baixo e vejo que recebi o pacote
premiado. Bia ri.
Tantas saudades desse som! Meus olhos enchem outra vez.
– Coragem, você consegue rockstar. – Ouvi-la me chamar assim, um
pouco mais descontraída, me permite respirar um tanto melhor.
Sorrio para ela e abro a fralda. Ele caprichou.
– Filhão, porra!
– Nada de palavrão na frente dele. – Ela acabou de dizer a mesma palavra
para mim na frente dele, mas tudo bem... Culpado!
– Desculpe.
– Pegue os lenços e comece a limpar.
– Certo. – A descontração já terminou. Não me atrevo a contestar e nem a
fazer gracinhas sobre o seu tom autoritário. Só me viro para pegar os lenços e
quando volto...
– Oliver, cuid... – Tarde demais! Sou recepcionado com um jato de xixi.
Na cara. Bia se afina. Me junto a ela. Impossível não rir...
– Sua mãe te instruiu bem, né garotão? – Ela ri mais.
– Ah filho... – Beija sua careca. – Nem que a gente tivesse combinado
teria sido mais perfeito! Seu pai merecia tanto... – Rio de sua declaração
vingativa.
Passo um lenço pelo meu rosto e volto à missão de limpá-lo. Mediante a
minha nula experiência no assunto, faço o meu melhor, sob o olhar atento de
Beatriz.
– Até que você fez um bom trabalho.
– Obrigado. – Corro meus dedos de leve por sua barriguinha, ele dá
sorrisinhos lindos.
– Ele adora isso.
– Deus, eu nem acredito que sou pai. Estou tão feliz. – Ela se emociona e
algumas lágrimas voltam a cair.
– Eu tinha medo que... – Foco minha atenção nela e seguro o seu rosto.
– Estou muito feliz! Não caibo em mim de tanta alegria, por ele e por estar
perto de você outra vez. Vocês são tudo para mim. Tudo! Eu sempre quis isso,
e você sabe.
Porra, é demais. Tocar sua pele, sentir seu perfume... Seus olhos molhados,
grudados no meu rosto, na minha boca, me olhando com a mesma adoração
como ela sempre fez... É um estopim para mim! Não aguento e ultrapasso os
limites.
Num movimento rápido e ousado, ainda segurando as laterais de seu rosto,
colo minha boca na dela. Como senti falta disso, do seu beijo, seus lábios
cheios presos aos meus, seu gosto, sua língua na minha boca, lançando junto a
minha.
A descarga elétrica que sempre corre entre nós, a química explosiva. Está
tudo ali. Tudo intacto, nos chamando um para o outro outra vez, pedindo que
não percamos mais tempo.
Bia tenta me afastar num primeiro instante, mas logo se entrega a tudo o que
sentimos um pelo outro e me beija de volta, com a mesma saudade, por vários
e vários minutos.
– Meu amor, que saudade! – Colo minha testa na dela.
– Você não devia... não podia...
– Devia, devia sim. Estávamos loucos por isso. – Ela reúne forças e se
desvencilha de mim. Muda de assunto. Paciência...
– Oliver, não basta apenas limpá-lo, você precisa colocar a fralda. – Volto
meu olhar ao meu filho.
Meu filho!
Que loucura!
E lanço um olhar de lado e um sorriso enviesado para Bia.
– O que foi?
– Para um bebê ele é bem dotado, não? – digo para provocá-la.
– Aff... Oliver! Não creio! Homens... – Rio muito. Tão bom vê-la assim,
nunca pensei que sentiria falta de ser xingado.
– Ué... nunca vi muitos bebês, mas... deixe de frescura e admita, anda... –
Ela ri.
– É. Parece que até nisso ele puxou a você... – Ergo as sobrancelhas para
ela.
– Saudades? – Pego a fralda limpa e tento entender como funciona.
– Nem um pouco! – Acho que coloquei na posição certa, pelo menos Bia
não corrige...
– Mentirosa! – Ela revira os olhos. Ajusto o lacre da fralda e está feito. –
Meu Garotão! – Brinco com ele e beijo sua barriguinha. Ele gargalha.
– Tem que apertar bem, Oliver. – Bia reposiciona o lacre, apertando o
ajuste da fralda.
Ai. Dói em mim. Sinto pena dele.
– Coitado! Um homem não gosta de ter as partes espremidas assim,
Beatriz.
– Vamos comprar umas calças de moletom e deixá-lo sem fralda então, que
tal? – Lanço um sorriso sacana para ela.
– Saudades de me ver de moletom, baby? Posso vir com elas amanhã se
você quiser... – Faz uma careta, mas seus olhos me dizem outra coisa.
Desvia do meu rosto, dá uma conferida no material como um todo, e engole
em seco. Depois olha para a frente e foca em suas mãos, nervosa... decidindo
se me pergunta algo ou não. Eu até já imagino o que seja... algo que eu também
fico na dúvida se pergunto, porque tenho muito, muito medo da resposta...
– E você...?
– Eu o que?
– Nada não, esquece...
– Pergunte.
– Voltou... às festas no Lian? – Olho bem sério para ela.
– Tá de sacanagem, não é?
– Rá! Vai dizer o quê? Que ficou dez meses sem sexo?
– Porra!
– Olha a boca!
– Eu tenho uma noiva. – Ergo minha aliança. – E sou completamente louco,
maluco por ela. Lembro de dizer há pouco que só ela tem o direito de me tocar.
Vivi das lembranças e do clipe de Eden, meu amor. – Respiro. Passo as mãos
pelos cabelos. Tomo coragem. É agora! – E você, se envolveu com aquele
paspalho?
– Não te interessa.
– A porra que não interessa! Diga! – Me olha atravessado pelo palavrão.
– Você não merece. Não tem o direito...
– Tenho todo o direito.
– Não, não tem. Minha vida não te diz mais respeito desde o dia em que
você não confiou em mim e decidiu que queria assim.
– Você dormiu com ele, Beatriz? Responda! – pergunto e já sinto a dor de
uma lâmina atravessando meu peito. Porque pela reação, relutância dela, já sei
a resposta. Ela engole a saliva e desvia o olhar.
– E se tiver dormido? – Como dói.
– Vai me matar um pouco mais por dentro. Mas a culpa foi minha, terei que
viver com ela. – Ela suaviza o olhar.
– Não. Não dormi. Ele quis, mas não consegui.
– Filho-da-Puta! – Quero matá-lo só por pensar nela, mas que puta alívio!
– Ele me ajudou muito, Oliver. Muito. – Passo as mãos pelos cabelos outra
vez.
– Não quero falar dele.
– Certo. Olha, eu... preciso deitar um pouco, ficar quietinha, no escuro,
estou com muita dor de cabeça, foi... difícil... você já o conheceu, então acho
que por hoje...
Ah não, não pequena... não me faça ir para longe de vocês...
– Será que você deixaria que eu ficasse aqui até que se sinta melhor? Você
descansa e eu cuido dele? Posso levar Ben lá fora para Max conhecê-lo? Por
favor... – Acho que vê o pavor de que me mande realmente embora no meu
rosto, porque me olha compadecida.
– Tudo bem. Por mais que ele já queira segurar a cabeça sozinho, é muito
novinho ainda, então sempre o sustente aqui. – Me mostra a posição correta de
segurá-lo. – E avise quem mais for pegá-lo. Qualquer coisa me chame. –
Sorrio agradecido.
– Vou cuidar dele com todo cuidado e amor do mundo, fique tranquila.
Quer que eu traga um remédio?
– Não, só fechar os olhos por um tempo vai resolver. Eu amamento, não
gosto de tomar nada...
– Ok, descanse. Vamos amorzinho? Tem um tio maluco para te conhecer lá
fora. – Pego-o no colo como ela orientou e antes que Beatriz possa reagir,
beijo-a rapidamente outra vez.
– Você não pode fazer isso!
– Sim, eu posso. Só eu posso! – Assim que saio do quarto, Max me avista
no corredor minúsculo.
– Cara! Eu achei que era impossível a sua cara ficar ainda mais
abobalhada do que ao natural. Mas a sua cara de pai supera qualquer uma... –
Meu sorriso vai de orelha a orelha.
A casa é tão minúscula que por mais que Max esteja sentado na cadeira da
cozinha, Lian e Hazel no sofá, os centímetros que os separam são bem curtos.
– É lindo, não é? – Não canso de babar nele.
– É a sua cara! – diz Lian.
– Então, lindo! – Ele levanta o dedo para mim.
– Por que você está todo molhado?
– Tentei trocar a fralda e levei um belo banho de xixi. – Eles gargalham.
– Boa, garoto! – Lian beija a cabeça do bebê.
– É. A mãe dele também gostou.
– Falando na mãe dele...? – pergunta Hazel.
– Na cama, quer ficar sozinha. Dor-de-cabeça.
– Vai me deixar conhecer o meu sobrinho ou não? – Max pede.
– Pegue-o, com cuidado. Tem que segurar a cabeça...
– Pegar?
– Claro, homem, você consegue. Coragem... – Ajudo e coloco Ben no colo
dele. Max chega a tremer de nervoso. – Segure firme, cabeção. – Porra, que
medo! Não sei se foi uma boa ideia...
– Deus, é tão pequeno... – Ben leva a mãozinha ao rosto dele, Max sorri. –
Acho que ele gostou de mim. – Ouço um suspiro profundo. É Hazel. Preciso
dar uma atenção a ela, fez tanto por mim...
– Lian, troque de lugar comigo. Sente-se aqui e fique de olho. – Movo a
cabeça na direção de Max. Ele me atende.
– Hei, tudo bem? – Abraço Hazel.
– Tudo. – Novo suspiro. – É lindo demais ver isto. Parabéns, Estrela! Ele
é tão fofinho...
– Obrigado, querida. Você nem imagina como me sinto aqui dentro. – Levo
a mão ao peito. – Obrigado por ter sido a minha companheira de desabafo
durante estes meses. Não faz ideia do quanto me ajudou, o quanto foi
importante o seu carinho.
– Ah, não me faça chorar mais... fazer o que se estes três marmanjos são a
pedra no meu sapato? Eu amo vocês. Mesmo quando são burros e minha
vontade é matá-los! – Rio e beijo sua bochecha.
– Também te amo.
– Max leva jeito... – comenta e suspira.
– Leva sim.
– Pena que os bebês dele nunca serão os meus.
– Não tenho mais tanta certeza, sabia?
– Como assim? – Vira a cabeça para me olhar no mesmo instante, confiro
se Max continua entretido com Ben e falo baixinho.
– Ele alucinou de ciúme durante os meses em que você ficou fora. Vira e
mexe achava uma desculpa para ir até você. Henry acha que ele não entende o
que sente por você.
– Não brinque comigo.
– Não estou.
– O que eu faço?
– Calma. Vamos pensar juntos, em casa.
– Ok. Agora tire aquela coisinha gostosa de perto dos dois babões, e traga
aqui para o colo da madrinha.
– Ah, farei bem melhor. – Pisco para ela. – Max, levante-se com muito,
muito cuidado, como se sua vida dependesse disto, e ela depende... e venha
sentar-se aqui perto de Hazel.
– Obrigada. – Me agradece baixinho antes que eu ceda o lugar para Max.
– Aproveite. – Beijo sua testa e sento-me ao lado de Lian.
– Feliz? – Lian pergunta.
– Demais. Como não estaria?
– Como foi com ela?
– A beijei. – Sorrio.
– Boa! Apanhou?
– Não, resistiu um pouco, mas acabou correspondendo. Eu a terei de volta,
Lian.
– Claro que terá. Vocês são uma família agora. Parabéns! – Dá uma batida
com seu ombro no meu, algumas lágrimas escapam novamente, respiro fundo.
– Obrigado. Nem acredito que o pesadelo acabou. Porra, beijei minha
mulher outra vez... tenho um filho! – Seco os olhos, Lian me abraça. Ben faz
uns barulhinhos, o que nos faz voltar a atenção para eles.
– Olha lá, Lian.
– Estou olhando.
– Percebe?
– Não sei. Muitas coisas...
– O fascínio nos olhos de Max ao olhar para Hazel com o bebê. – Ele
arregala os olhos para mim.
– O que está insinuando?
– Nem desconfia? – Ele suspira.
– Ah velho... é difícil...
– Sempre soube, não é?
– Sei que ela é apaixonada por ele, mas ele, ele me confunde... não sei...
Além disso, porra, estranho demais pensar nos dois... Torcia para estar
enxergando coisas demais nos olhos de Hazel.
– Precisamos ajudá-la. Fazer Max sair da toca de uma vez. – Ele ri.
– Missão impossível, irmão. Se a possibilidade passar pela cabeça dele, é
capaz de fazer uma merda e se casar com a primeira mulher que cruzar o seu
caminho, só para afastar os pensamentos.
– Você acha?
– Certeza. – A porta se abre sem aviso e não conseguimos aprofundar o
assunto.
O cara do bar e uma garota que não tinha visto antes estancam e
empalidecem ao dar de cara conosco, sem disfarces. Me levanto.
– Mas... – Ele não consegue falar. Realmente não imaginava... idiota...
– Oliver... Oliver Rain?
– O próprio.
– Você... esse é o Oliver... de Angel? – diz mais para si mesmo, mas faço
questão de confirmar.
– Beatriz, sou o Oliver de Beatriz.
– A nossa Angel é Bia Thompson, Denis. – Lhe informa a garota. O queixo
dele cai.
– Não... Como? – Não se conforma. Escaneia o ambiente a procura dela,
de certo, na esperança de que ela desminta aquela maluquice.
– Onde ela está?
– Descansando.
– Vou vê-la. – Se atreve a dizer o infeliz.
– Não vai, não. – Barro.
– Olha aqui cara, lá fora você pode ser o bam-bam-bam, o ídolo, o todo
poderoso, mas aqui... aqui você é só um cara em quem tenho vontade de descer
a porrada pelo jeito que tratou uma garota. Eu entendo o seu ciúme, mais do
que gostaria, mas ela é minha amiga e você está no meu território. Eu vou lá
falar com ela! – Inferno. Não quero que ele vá, mas como posso impedir?
– Seja breve. – Me dou por vencido no mesmo instante em que Ben
começa a chorar.
– Hei, meu amigão! – O idiota se aproxima dele.
– Eu cuido do meu filho. – Passo na frente dele e retiro-o do colo de Hazel
antes que o mané consiga pegar o bebê.
– Ele é louco pelo Denis. – A garota informa e defende o encosto. Apoio-o
em meu peito e afago suas costas. Ele se acalma.
– Espere aqui, vou levá-lo...
– Já estou aqui. – Bia se aproxima e pega-o. O choro cessa na hora.
– Venha Denis, conversamos lá dentro enquanto eu o acalmo. Ele não
comeu o suficiente e eu tenho...
– O quê? Nem pensar... – Ela pretende dar de mamar na frente do lambari?
Nunca! Me ponho entre ela e a passagem.
– Oliver, saia.
– Não Beatriz. Nem por cima do meu cadáver.
– Você não tem o direito!
– Tô pouco me fodendo...
– Olha a boca, cacete!
– Só morto para eu deixar você... na frente desse...
– Ok então – bufa. Se senta perto de Hazel e expõe o seio ali, na frente de
todos.
Puta-que-pariu.
Meu sangue ferve.
Feito um raio, retiro a camiseta e ando até ela. Seguro a camisa na altura do
seu peito. Ela olha rapidamente para a garota que não conheço e depois me
fuzila com o olhar.
Ah baby, provando do próprio veneno?
Bom saber que ainda te afeto.
– Põe a porra da camiseta, Oliver – esbraveja.
– Olha a boca! Não pode falar palavrão na frente dele, lembra? – Sou
culpado sim, mas não resisto.
– Hoje eu posso! Anda, põe a merda da camiseta.
– Seu peito precisa mais dela, baby.
– Arg! Homem impossível!
– Seu. Seu homem impossível. – No mesmo instante, seus olhos recaem
sobre o meu peito nu e então ela percebe a sua aliança, pendurada em meu
pescoço.

Depois se dá conta da nova tatuagem que trago sobre o coração. .


Numa letra estilizada, onde a ponta do B forma o símbolo do infinito.
Ela chora.
Me agacho à sua frente e trago-a para o meu peito, mantenho-a ali.
Apertada.
– Eu amo você. Nunca deixei de amar, nem por um segundo – declaro
outra vez, farei isso até que ela se convença.
– Eu sofri demais. – Soluça.
– Eu sei, querida. Também sofri, basta olhar para mim para ver... Me
perdoe, anjo, eu preciso esclarecer tudo.
– Amanhã. – Sorrio. Amanhã é bom. Muito bom.
– Amanhã – concordo.
A sala está um silencio só. Ninguém se atreve a quebrar o nosso momento.
Nem o aspirante a placebo e nem a garota, que continuam parados próximo à
porta, porque são os únicos lugares ainda disponíveis.
Assim que termina de amamentar nosso filho, Bia o entrega para mim, se
levanta e vai até eles. Abraça a garota.
– Lian, Max, Hazel... Oliver... – Quero que conheçam as duas pessoas que
salvaram a minha vida e a vida de Ben. – Que merda é essa? Uma onda de dor
passa por mim. – Dois amigos incríveis que eu fiz aqui.
– Esta é Margareth Hughes, Maggie. Ela tem uma filhinha linda de quase
três anos, Mary Ann, por quem Ben é apaixonado. Esta moça aqui me ajudou
sem nem me conhecer e sem me perguntar nada. Me fez comer e reagir quando
eu não tinha forças nem para me por de pé. – Outra pontada de dor, agora mais
aguda. – Jamais vou esquecer o que fez por mim. – Bia beija a bochecha da
garota, que está visivelmente emocionada. – Maggie, aquela garota lá, é Hazel,
de quem tanto lhe falei. Ela é mais que uma irmã para mim. Ficaria muito feliz
se vocês duas se conhecessem e se tornassem amigas. Amo as duas de todo o
meu coração.
– Venha aqui Maggie, me deixe conhecê-la. – Hazel convida.
A tal Maggie vai e Bia se aproxima do paspalho.
Meu coração acelera.
– Este é Denis Button. Graças a ele, que insistiu em me levar ao hospital...
– Você desmaiou de tristeza no meio do meu bar, Angel, não havia opção
para você. – Ele me encara ao falar aquelas palavras, deixando claro que foi
um recado para mim. E apesar de continuar querendo esganá-lo, ele tem razão.
Eu mereço ouvir.
– Bom, mesmo assim, se você não tivesse insistido e me levado, sabe lá se
Ben estaria aqui hoje... se eu não teria perdido o meu filho... – Ela seca os
olhos, eu já caí no choro outra vez também.
O que eu fiz com a gente, baby?
– Este homem também me deu um teto e um emprego, que foi uma benção
para manter a minha cabeça ocupada. E cuidou de mim e do meu filho sempre
que precisamos. O que você fez por nós, Denis, foi muito além de estender a
mão. Saiba que tem em mim alguém em quem pode confiar e contar pelo resto
da sua vida. Eu amo você. – Dá um beijo na bochecha dele.
Ele seca as lágrimas dela.
Porra!
Ela não disse aquelas palavras para ele, disse?
Eu me seguro. Max e Lian me olham.
Preciso tomar as rédeas dessa porra.
– Denis, Maggie, – começo, juntando todo o meu autocontrole – obrigado.
O que houve entre mim e Beatriz, para que acabássemos sofrendo por dez
longos meses longe um do outro, foi uma sucessão de acontecimentos que me
desestabilizaram e que naquele momento, eu só conseguia ver como opção me
afastar. Para o bem dela. Mas acabei fazendo isso da pior forma possível, e ela
fugiu de nós. Eu nunca vou me perdoar, meu amor, – olho para ela – por ter
usado aquele vídeo, por ter te magoado tanto, te deixando acreditar numa
mentira. Por nos fazer sofrer, por não ter te visto grávida, não ter sentido o meu
bebê mexendo em seu ventre, não o ter visto nascer... Deus, eu quis tanto isso!
– Respiro para conter a emoção e continuar.
– Nunca vou conseguir agradecer o suficiente o que fizeram pela minha
mulher e pelo meu filho...
– Não sou sua mulher, Oliver. – Ah querida... claro que é!
– Você é. Nunca deixou de ser. Mesmo que jamais fiquemos juntos outra
vez, você sempre será a minha mulher. Só você. Não há nada que me faça tirar
esta aliança do meu dedo, Beatriz. – A tal Maggie suspira. – Mas voltando,
quero que saibam que terão minha eterna gratidão e podem contar comigo para
o que precisarem.
– Cara, – diz o loiro aguado – eu te odiei bastante. Ainda odeio. – Fecho
meus olhos, sei que vem merda e vou precisar de toda a minha força para não
avançar nele. – Porque eu me apaixonei por esta menina assim que ela chegou.
E saber que um babaca a fazia sofrer da forma que sofria... Mas você é um
sortudo filho-da-puta, pois o coração e os pensamentos dela nunca estiveram
em outro lugar, senão com você. Sei que o que vai restar para mim daqui há
alguns dias, é lembranças e saudades, porque também me apeguei demais a
este pedacinho de gente aí em seu colo. Será difícil não o ter por perto.
Desejei demais que fosse meu. – Filho-da... o homem tem coragem.
– Mas, – ele olha para Bia – pela primeira vez em dez meses, Angel, eu
vejo seus olhos brilharem e não encontro dor neles. Não resta dúvidas de que o
seu lugar é com ele. Por mais que me doa admitir, pelo pouco que vi, ele te
ama. E quanto ao que fiz por você, você fez por mim na mesma proporção.
Olha no que você transformou o meu bar? Não há dívidas aqui. Tudo que fiz,
fiz por amor e faria outra vez.
– Ah Denis, – ela o abraça. Abraça! – você está falando como se eu fosse
embora... – mas é claro que vai!
– Você irá. – Ele beija a cabeça dela. – Venha me visitar de vez em
quando. Traga Ben.
– Não vou a lugar algum.
– Angel... – Pare de chamá-la assim, caralho, só eu posso. É o meu anjo. –
Tudo que você desejou este tempo todo está aqui, à sua frente. Não se iluda.
Cancelo as apresentações?
– Sim – respondo.
– Não. – Ela revida. – Hoje não tenho condições, mas amanhã estarei lá,
como sempre.
– Tudo bem, a de hoje já cancelei, mas não precisa...
– Eu estarei lá.

Bia

Minha ficha ainda não caiu. Estou me sentindo flutuar, atordoada. Olhar
para ele, tão lindo... sentir o seu cheiro, seu toque, seu beijo depois de tanto
tempo me trouxeram dois tipos de sensações.
A primeira, a luta interna entre o meu desejo e o meu orgulho.
A outra... nossa... a sensação de que nunca estivemos de fato separados.
Que continuamos sendo aquele casal feliz e apaixonado, que nada mudou. Esse
sentimento está me corroendo. Quero me atirar em seus braços e dizer, “vamos
esquecer toda essa merda, riscar estes dez meses das nossas vidas”.
Mas não posso, a ferida ainda dói.
Devo isto a mim mesma, devo ao meu filho.
– Vou voltar para o bar. – Denis se despede, finalmente conseguiu pegar
Ben no colo por alguns minutos. – Mandarei refeição para vocês.
– Não precisa.
– Não me custa nada.
– Também vou – diz Maggie. – Minha filha está me esperando. Gostei de
te conhecer, Hazel.
– Igualmente, Maggie. – Pego Ben, me despeço dos dois e volto meu olhar
para aqueles de quem senti tantas saudades. Todos amontoados como podem na
minúscula sala da minha casa.
– Desculpem pela falta de conforto... – Indico o ambiente.
– Nunca estivemos mais felizes num lugar em dez meses – declara Lian.
– Não me faça chorar de novo. – Peço. – Como estão os outros? – Oliver
mexe no telefone.
– Ninguém esteve totalmente feliz, Bia. A preocupação com você era
constante – conta Hazel. – Mas Laura e Edgar agora têm a casa deles. Papai e
mamãe estão conseguindo passar mais tempo juntos e desacelerar em função
do ano sabático. Estão programando uma segunda lua de mel, agora que sabem
que te achamos. Helen está bem, não teve recaídas. Anthony nasceu, é um
amor, Peter e Riley são pais babões. – Sorrio. – Henry se mudou para
Oceanside, ele e Iris foram morar juntos, pretendem se casar logo. Ela também
morre de saudades suas. E meu irmão, bem, ele foi o responsável por estarmos
aqui hoje.
– Como assim?
– Ele contratou um serviço de monitoramento de imagens, sem que
ninguém soubesse. Cada imagem que cai na rede, esse software compara e
analisa. Te achamos pelo vídeo de você cantando Guardian Angel.
– É, foi um alívio, – diz Max – porque já não sabíamos mais o que fazer.
Escaneamos cada cidade, cada parada de ônibus que sai de Oceanside, cada
hospital deste país. Oliver passou dez meses analisando câmeras de segurança,
e nenhuma pista sua.
– Deus, e eu fiz tudo tão no impulso...
– Pois é, acho que o destino colaborou para me dar uma lição. E que lição!
– Oliver fala com voz cansada e olhos abatidos.
– Só não entendo como não chegamos até você antes. A equipe de
investigação esteve aqui. Esteve no hospital. Se você foi hospitalizada, se Ben
nasceu lá...
– Em nenhuma das vezes dei entrada como Beatriz Thompson. Por aqui,
sou Angel Mendes.
– Mas não exigiram um documento?
– Exigiram. Eu disse que não tinha. Cidade pequena...
Eles me contam mais algumas coisas, Ben dormiu no colo de Oliver e o
coloco na cama, o jantar que Denis prometeu chega, comemos amontoados, do
jeito que dá. É tão bom tê-los ali. Toda a solidão que me abateu nestes meses
desapareceu.
– Está na hora de irmos para o hotel. Bia está visivelmente cansada. – Max
fala.
– Sim, está tarde – concorda Hazel, sonolenta. Lian também se levanta.
Meu peito aperta.
Eles me abraçam e se despedem, prometendo voltar amanhã. Oliver,
entretanto, não se mexe do lugar.
– Você não vai? – pergunto. Ele me olha em súplica.
– Me deixe ficar, por favor. – Abro a boca tentando entender o que ele
pretende.
– Não tenho espaço, Oliver.
– Eu fico aqui, no sofá... só... por favor, não me faça ir para longe de
vocês. – Assim como aconteceu no quarto mais cedo, quando pedi que fosse,
seus olhos me dizem que aquilo seria demais para ele.
Como? Como conseguir ficar sozinha com ele?
Como conseguir ficar sem ele outra vez?
– Tudo bem.
– Sério? – Seu sorriso ilumina. Deus, quanta saudade!
– Não pergunte de novo, já estou me arrependendo... e se comporte! – Ele
sorri ainda mais.
– Obrigado.
– Bom, já que estão de acordo, vamos indo. Até amanhã, casal. – Fecho a
porta e de repente o ar ali dentro fica quente, pesado. Nos olhamos com fúria e
desejo. Loucos para pular um no outro. Respirações pesadas. Mudo o foco.
– Ben está dormindo, vou aproveitar e tomar um banho. Fique à vontade.
– Vá. Vou dar um jeito nas coisas aqui. – Aponta para a bagunça na
cozinha.
– Não precisa se incomodar.
– É claro que preciso. Vá tomar seu banho.
– Ok. – Tenho mesmo que sair de perto dele.
Sigo para o quarto, confiro Benjamin, pego minhas coisas e entro no
banheiro. Demoro naquele banho o máximo que posso. Eu não consegui resistir
a um beijo. Um beijo! Se ele resolver vir para cima, não sei se sou forte o
suficiente. Preciso manter a distância. Preciso!
Me seco, coloco o pijama mais comportado que tenho, mangas e pernas
longas, e volto para o quarto. Olho na direção de Ben e vejo que ele não está
no cesto. Ouço uns murmúrios vindo da sala. Caminho o mais silenciosamente
possível, para que não me percebam espiando. Quando vejo a cena, meu
coração se enche ainda mais de amor. Se é que isso é possível.
Oliver, enorme, está deitado do jeito que consegue no sofá minúsculo, sem
camisa, com Ben deitado de bruços em seu peito. Meu bebê tenta de todas as
formas manter a cabeça erguida e olhar para o pai, fascinado, porque o pai
conversa com ele como se já fosse um menino grande.
–... o papai sabe que você cuidou a mamãe. É tão linda a sua mãe, não é?
Somos dois apaixonados por ela. – Ele suspira e analisa as mãozinhas de Ben.
– Sabe filho, quando a gente for para casa, faremos tantas coisas iradas
juntos. Eu acho que você vai adorar o lugar onde a gente mora. Tem mar e
areia. Já te vejo brincando tanto por lá, correndo, pulando ondas,
aprontando... enlouquecendo sua mãe e sua avó... Você tem uma avó, sabia?
O nome dela é Laura. Nossa, ela vai ficar tão feliz quando souber sobre
você. Vai te amar tanto...
Resolvo não estragar o momento pai e filho, e vou me deitar. Se Ben chorar,
ele virá até mim. Estou tão cansada das emoções do dia que não tardo a pegar
no sono.
– Baby, não queria acordar você, mas ele está com fome. – Acordo com
Oliver tocando meu rosto e logo ouço o choro de Ben, que está com as duas
mãos dentro da boca. – Eu já troquei a fralda, mas o que ele precisa agora eu
não consigo atender. – Me sento na cama.
– Você trocou a fralda sozinho?
– Sim. – Ele dá de ombros. Pego Ben e dou o que tanto ele quer. Os olhos
de Oliver estão grudados no meu seio. Levanto os olhos e o encaro.
– Desculpe. – Desvia o olhar. – Sinto muitas saudades. – Ah, eu também...
suspiro.
Acaricio e beijo a testa de Ben, que estava tão faminto que nem abre os
olhos, se concentrando no sugar.
– Você deu uma baita canseira nele, não? – Oliver sorri.
– Nós batemos altos papos.
– Sei... Quanto tempo eu dormi?
– Quatro horas.
– Você o enrolou por quatro horas? Claro que está faminto...
– Conversamos, brincamos, ele só começou a reclamar há uma meia hora
atrás.
– Por que não me acordou antes?
– Você estava dormindo tão tranquila... É uma mãe linda, sabia?
– Mãe aos dezoito. Tinha que ser eu, não?
– Devo pedir desculpas? – Ergo meu rosto e olho em seus olhos.
– Jamais! Eu amo demais este menino, não vivo sem ele. Ele é fruto de um
grande amor. Você me deixou um belo presente, Oliver. Ben me manteve sã. –
Ele esfrega os olhos.
– Algum motivo especial para Benjamin?
– Era o nome do meu avô.
– Eu lembro.
– Pois é. Se eu fosse um menino, teria sido o meu nome. Papai o admirava
muito. Achei que seria uma forma de homenagear Robert Thompson
indiretamente. E eu gosto muito do nome, principalmente porque Ben em
português significa well. Você não gosta?
– Gosto, demais. É perfeito! Benjamin Rain, combina. Tenho mais três
letras para tatuar em meu peito. – E depois do que ele diz, não consigo deixar
de baixar os olhos e analisar o seu peitoral, ali, exposto na minha frente.
Que tentação!
Por que fui olhar?
Estou há tanto tempo com vontade dele, tanto tempo sem sexo que é ainda
mais sufocante ficar assim, perto e longe ao mesmo tempo.
Queria tanto estender a minha mão e tocá-lo. Quando dou por mim estou
mordendo os lábios e Oliver percebe o meu olhar de desejo. Desvio
rapidamente para Ben e ele cai na risada.
– Pode olhar, pode tocar. É tudo seu.
– Não, não posso. E por favor, ponha uma camiseta. – Ele ri outra vez.
– Eu lavei. Está secando. Xixi, lembra? – Suspiro.
– Na terceira gaveta da cômoda, há uma camiseta da The Order, sua. Vista-
a.
– Eu já vou me deitar lá no sofá, meu bem. Prefiro ficar assim. Só estou
esperando o meu companheiro de noitada. – Como assim?
– Você pretende levá-lo para dormir no sofá?
– Sim, ele adorou ficar em meu peito e eu não quero ficar longe dele.
– Oliver, não sei... se você pega no sono e ele...
– Não vou. Levo o cesto e assim que eu sentir sono o coloco na caminha,
fique tranquila.
Não fico.
– Vá lá fora e traga a mesinha de centro para cá, por favor.
– Por quê?
– Só faça.
– Ok. – Ele vai e logo volta com o móvel na mão.
– Ponha aí ao pé da cama.
– Não vai dar mais para abrir as gavetas da cômoda.
– Não tem problema. – Ele coloca a mesa onde pedi. – Pronto. – Ben já
parou de mamar e dorme tranquilo em meu colo.
– Agora ponha o cesto ali em cima e pode se deitar com ele aqui, ao meu
lado. – Seus olhos se iluminam. Parece criança em dia de festa. Espero não
estar fazendo algo que nem eu vou conseguir segurar. – Não vai se deitar?
– Claro que vou. – Rapidamente se ajeita naquele canto da cama.
– Quer mesmo segurá-lo? Posso colocá-lo na caminha.
– Não vou deixá-lo lá longe, sozinho.
– Oliver! – Rio. – Lá longe?
– Sim, aquela mesa está muito longe de nós. – Balanço a cabeça.
– Você vai mimá-lo tanto que não daremos mais conta, isso sim.
– Ah, eu vou. Mimar muito, vocês dois.
– Tem que me prometer que vai colocá-lo na cama assim que o sono vir. É
mais seguro para ele. – Faz cara de contrariado, mas concorda.
– Prometo.
– Pegue, então. – Ajeito nosso filho, de bruços em seu peito.
Dorme tão gostoso! Daí faço a besteira de aproximar o meu rosto para
beijar a bochecha de Ben. E neste momento um braço forte me prende ali, ergo
a cabeça e o ar some outra vez.
Nossas bocas muito, muito próximas, nossas respirações falhas se
misturando. Olhos queimando de desejo. Sem me dar chance de defesa como
fez das outras vezes, ele toma a minha boca e eu não tenho forças para não
retribuir aquele beijo.
Quero-o tanto!
Nos beijamos por longos, longos minutos. Deus! Pensei que nunca mais
fosse sentir aquilo. Sentir seus lábios, sua barba rente roçando meu queixo,
meu rosto, a textura da sua língua, seu gosto delicioso, sua saliva, seu cheiro
de homem... era isso que eu queria, disso que senti falta, dele, inteiro, ele é o
meu número, foi feito para mim.
A tensão só vai crescendo entre nós. Todo o desejo e saudade reprimidos
despontando. Se eu não fizer alguma coisa rápido, sei bem onde vamos parar...
Preciso parar, preciso parar já! Está perigoso. Forço uma mão em seu braço e
me afasto.
– Pequena... – diz com a voz cheia de tesão. Não estou diferente.
– Não faça mais isso, de me pegar desprevenida e me beijar, ou você volta
para o sofá. Sem Benjamin. – Me obrigo a dizer e me deito rapidamente de
costas para ele. Travo uma luta interna para acalmar o meu corpo. O que é uma
missão impossível quando se tem ele ali, a um palmo de distância,
transbordando calor. Um calor que eu preciso tanto!
Má ideia deixá-lo ficar, Bia. Má ideia!
Depois de muito autocontrole, me acalmo e durmo. Quando acordo dali há
algumas horas, olho para o lado e os dois continuam na mesma posição, Ben
dormindo no peito nu de Oliver, que o ampara com uma mão e também dorme.
Claro que ele não iria conseguir se separar do filho que acabou de
conhecer.
Respiro fundo.
Agora me diz, como confiar?
Mas é tão lindo vê-los assim que não consigo me irritar. Pego o telefone e
registro aquele momento. Mando a foto para Hazel. Então decido acabar com o
chamego dos dois e coloco Ben em sua caminha. Ele resmunga um pouco, mas
não acorda.
– Melhor assim, filho. Você é muito pequenininho. Aqui estará protegido e
seguro. – Beijo-o e volto para o meu lugar.
Me deito de frente para Oliver e meu corpo ingrato acende outra vez, no
mesmo instante.
Que grande merda!
Admiro o Adônis em minha cama, o peito largo, o abdômen à minha
mercê... quero tanto chegar perto e beijá-lo ali.
Deus, Bia, controle-se!
Mas desta vez o controle não vem. A excitação começa a ficar insuportável
e sou obrigada a levar a mão para dentro da minha calcinha e me ajudar.
Começo a me masturbar, mas não consigo chegar lá.
Nunca consigo.
Coloco um dedo dentro da minha vagina, depois dois, ajuda por um tempo,
mas logo a coisa fica pior.
Céus!
Que agonia!
Preciso gozar.
Mas nada avança como deveria.
Em meio àquela loucura, chego mais perto.
Mais perto do seu calor, do seu aroma, do seu corpo e num gesto
automático, que com certeza nem passou pela minha razão, levo a mão ao seu
peito e começo a acariciá-lo ali, deslizo-a por todos os músculos e contornos,
chegando sempre perto do cós da calça jeans e voltando.
Oliver abre os olhos. Não faz mais nada, nenhum movimento, não diz nada.
Apenas me observa explorando seu corpo.
A calça começa a ganhar volume e eu estou desesperada. Esfregando as
pernas uma na outra sem conseguir um milímetro de alívio se quer.
Chego mais perto ainda, ergo o tronco, baixo a cabeça e beijo seu umbigo.
Ele geme.
Sentir seu cheiro ali, tão próximo ao paraíso, é perder o controle de vez.
Por que fiz isso?
Corro os lábios naquela região, no limite entre a pele e a calça.
Seu corpo treme.
Vou levando minha boca mais acima e beijo cada centímetro de pele que
encontro. Me demoro nos mamilos e depois em seu pescoço.
Monto dele e ataco a sua boca. Ele me prende e me beija de volta,
rapidamente inverte as posições e estou presa sob seu corpo. Afasta minhas
pernas e se encaixa onde deve. Isso! Isso que eu preciso. Começo a me
movimentar alucinada, buscando, testando, querendo.
Mais, mais, quero mais.
– Ah, meu amor! Como desejei estar assim com você outra vez.
– Oliver, faça sexo comigo. – Ele para diante do meu pedido, tão direto e
sem... sentimento... ergue o rosto e me olha. Passa os dedos pelos contornos da
minha boca, depois dos meus olhos, retira os cabelos da minha testa e uma
lágrima solitária escorre pela sua face.
– Não vou fazer isso, anjo.
– Por que não?
– Porque nunca fomos só uma transa um para o outro, Bia. Não vou me
transformar nisso para você agora. Eu te amo. Não posso me ferir assim.
– Mas... – Ele põe os dedos em meus lábios.
– Nós vamos fazer amor de novo, quando você aceitar esta aliança de
volta em seu dedo, – ele me mostra o anel preso na corrente – e quando você
conseguir olhar nos meus olhos outra vez e dizer que me ama. – Agora é o meu
rosto que fica molhado.
O sentimento está ali. Nunca deixou de estar. Mas não consigo aceitar, não
consigo dizer.
– Não é justo. Estou queimando...
– Eu sei. Eu também. Tudo que eu mais quero é entrar em você agora e te
amar com todo amor que eu sempre amei. Por Deus! Dez meses! Dez meses
sonhando com isso, desejando. Mas não farei desta forma... nos machucaria
demais. – Ele me beija outra vez e então se afasta. – Vou para o sofá.
– Não, por favor, não vá. – Aquelas palavras pulam da minha garganta sem
que eu consiga dominá-las.
– É melhor, baby. Nosso calor e nossos cheiros se misturando aqui, é
torturante.
– Fique. Por favor. – Ele sorri.
– Deite-se em meu peito então. – Oliver se ajeita e me puxa para perto.
Me acomodo em seu peito, a sensação de que ali é o meu lugar preenche o
meu ser e deixo as lágrimas correrem soltas.
Ele afaga meus cabelos e canta Fool’s Mate, baixinho.
Para no meio da música se lembrando de algo.
– Eu não o coloquei na cama, não é? – Rio.
– Não. Você foi um pai muito irresponsável e dormiu com ele em seu
peito. – Ele suspira.
– Desculpe. Não consegui me separar.
– É perigoso. Ele é muito pequeno ainda. Podemos machucá-lo sem
querer.
– Não vai acontecer de novo. – Beija meus cabelos e volta a cantar a
música.
Eu adormeço assim.
Inteira e completa pela primeira vez em dez longos meses.
Capítulo 35

“Eu me flagrei pensando em você


Em tudo que eu queria te dizer
Numa noite especialmente boa
Não há nada mais que a gente possa fazer
... Senão eu, quem vai fazer você feliz?”
(Proibida pra mim – Charlie Brown Jr.)

Oliver

O uase não preguei os olhos depois que ela dormiu


aconchegada em meu peito.
Não.
Eu só queria ficar ali e aproveitar aquele contato o máximo que eu
conseguisse. Porque ela me queria ali, é fato, mas ainda não voltou a ser
minha.
Eu vi em seus olhos a luta interna que está travando entre o amor e a mágoa.
Dormir ao seu lado noite passada foi uma enorme surpresa. Não achei que
permitiria sequer que eu ficasse em sua casa, que dirá sugerir que
dormíssemos na mesma cama.
Foi difícil não sucumbir ao desejo de tomá-la como nós dois tanto
queríamos.
Quando começou a me tocar... Nossa!
Os sentimentos se potencializaram mil vezes mais, a falta de sexo, a
saudade do seu corpo, do seu gosto, dos seus beijos e gemidos, de ver seu
rosto expressando cobiça pelo meu corpo, suas expressões de prazer, de vê-la
e ouvi-la gozar outra vez.
E eu estava me entregando a toda aquela saudade, me entregando a ela, mas
então me pediu por sexo de um jeito mecânico, como se quisesse acabar logo
com aquilo e não pensar muito a respeito.
Vi o esforço que fazia para transformar o nosso momento, nosso reencontro,
em um mero alívio para o corpo, quando na verdade não era.
Nunca foi e nunca será entre nós dois.
Desde o primeiro toque houve amor.
– Nossa! Você fez o café? – Bia entra na cozinha com Ben no colo e me
tira dos meus devaneios.
Está tão linda, numa calça de ginástica que deixa sua bunda em evidência e
uma camiseta colada ao corpo.
Ah, essa bunda! A bunda magnífica da minha mulher.
A hora que eu puder pôr as minhas mãos nela outra vez...
– Fiz, – beijo sua cabeça e retiro nosso filho de seu colo – sente-se e
coma. Oi filhão! Sua barriguinha já está cheia? Vamos deixar a mamãe encher a
dela? – Me sento com Ben no sofá e a observo.
– Os outros vem para cá? Vocês ficam até quando? – Olho para ela,
incrédulo, mas respiro. Culpado!
Ela acredita mesmo que vou embora, deixando-os aqui?
No way.
– Hazel e os caras devem estar batendo aqui daqui a pouco. Ontem pedi a
Peter e Riley para virem, estão chegando. Gostaria que pudéssemos ter a
conversa que tanto precisamos agora, mas é necessário que os funcionários do
bar assinem os documentos.
– Mas só Denis e Maggie viram vocês...
– Pode se espalhar. Eles vão saber de você. Vão reconhecer Ben quando
for de domínio público que tenho um filho. Precisamos nos precaver.
– Ok.
– Quanto a sua outra pergunta... – Passo uma mão pelos cabelos.– Sério,
Beatriz? Quanto tempo ficaremos? Os outros não sei, mas eu só saio daqui
quando puder levar minha mulher e meu filho para casa. – Ela engole em seco
e não diz mais nada.
Riley manda mensagem.

No bar
Sentem-se e nos esperem, por
favor. Trouxeram Anthony?
Sim. Como só voltaremos amanhã,
não podemos ficar os dois, dois dias
longe do nosso filho
Ótimo! Hoje ele fará um amigo
Como assim?

Não respondo. Deixo Riley no vácuo.


Espero Bia tomar seu café com calma.
– Riley e Peter estão no bar. Você vem comigo?
– Tenho que pôr o disfarce.
– Não precisa. Não vou me disfarçar. A ideia é contar aos funcionários.
– Precisa. O bar já abriu. Mesmo o movimento sendo baixo a esta hora, se
algum cliente frequente aparece... Hoje à noite eu canto como Angel e não
como Bia. Prefiro não arriscar que associem as duas identidades. – Assinto e a
aguardo se arrumar.
Entramos no bar pela porta de trás. Bia segue na frente para checar se já há
clientes no bar e eu com Ben no colo ao seu encalço.
– Ninguém nas mesas, só os dois – abre um sorriso – e um bebezinho, que
diferente do nosso, tem muito cabelo, cabelos escuros. Vou pedir a Denis para
fechar até que terminem com Riley. É mais seguro. Não trouxeram seguranças?
– Trouxemos, estão rondando o bar. E outros no hotel com Max e Lian. –
Adentramos o salão e a primeira pessoa que tenho a infelicidade de avistar é o
cara. Ao lado dele uma garota, que ao me reconhecer fica pálida.
– Deus... é... é Oliver Rain? O que ele está fazendo aqui? Por que está com
o bebê de Angel? – pergunta ao meliante com os olhos fixos em mim. A
declaração dela chama a atenção de Peter e Riley, que me olham de boca
aberta. Meu sorriso para eles se alarga.
– Denis, bom dia! – Bia fala o nome dele e meu sorriso morre.
– Bom dia, querida! – Além de a chamá-la de querida, tem a audácia de
abraçá-la.
Ah, colega, aí não.
Lanço para ele o meu olhar mais reprovador, avisando que a primeira vou
deixar passar, já a segunda...
– Precisamos conversar alguns minutos com você. – Ela explica. –
Podemos fechar por um tempo? Para a segurança... – Bia aponta para mim.
– Podemos, claro. Carlos?
– Sim, ch... – O garoto congela, me olhando como se eu fosse um fantasma.
– Feche o bar, por favor.
– Ah, sim...
– Denis, se importa de sentar conosco naquela mesa onde está aquele
casal? São meus chefes de segurança e jurídico. – Peço do jeito mais amistoso
que consigo ser com ele.
– Ok.
– Oliver, o que é isto aí em seu colo? – Riley fala alto, com sorriso de
orelha a orelha. Me aproximo deles rindo na mesma medida.
– Pois é, uma baita surpresa! Este é o meu filho, Benjamin.
Nunca senti tanto orgulho em dizer algo na vida.
– Que porra! – diz ela segurando a mãozinha de Ben e beijando.
– A mãe dele não quer que ele ouça palavrões – brinco.
– Vivendo no meio de vocês? Causa perdida... eu já me conformei.
– Você já se conformou não, meu bem, você é quem não segura a língua lá
em casa... eu já me conformei – corrige Peter, Riley revira os olhos.
– Bia, bom te ver! – Riley a abraça. – Mas porra garota, que canseira você
deu na gente... caramba! Esse cara aí estava prestes a fazer um pronunciamento
contando toda a história dele para o mundo, na tentativa de trazer você de
volta. – Ela me olha interrogativa.
– Verdade?
– Sim, eu ia dar uma entrevista exclusiva. Kellan apareceu com a sua
localização minutos antes. Coisa de cinema! – Ela respira fundo e volta o olhar
para Anthony.
– Riley, Peter, como ele é lindo. Uma mistura perfeita de vocês dois.
Parabéns!
– Obrigada. E parabéns também, por esta fofura no colo de Oliver. Queria
poder dizer que seu filho é uma mistura de vocês dois, mas, sério, você cuspiu
uma xerox reduzida de Oliver Rain. – Bia ri.
– Sim, eu sei.
– Nem imagino o quanto deve ter sido difícil passar por tudo sozinha... Eu
briguei muito com esse cara quando soube da merda que ele fez e nem
imaginávamos sobre a gravidez. Agora penso que ele sofreu foi pouco.
– Ah também acho. – Se manifesta o mané.
Babaca!
– Deixem-me apresentá-los, este é Denis, dono do estabelecimento, meu
chefe e amigo. – Bia apresenta e os dois cumprimentam o cara.
– Melhor começarmos antes que os meninos fiquem impacientes – pede
Peter.
Peter e Riley explicam a Denis o motivo de estarem ali, a questão do termo
de confidencialidade, sua importância para nos proteger, uma vez que logo o
mundo saberá que Ben é meu filho e todos ali, que conhecem o bebê, se darão
conta da real identidade de Beatriz.
Denis não impõe resistência, apesar de falarmos a ele que não precisaria
assinar, apenas os funcionários, ele faz questão. Começam então a vir os outros
um a um. Primeiro Mirna, a cheff, depois Carlos, seu ajudante. Por último a
garota que estava ali quando chegamos.
– Então você nos enganou este tempo todo? – pergunta para Bia, mas
olhando para mim.
– Não enganei ninguém, Julie. Só não revelei meu nome verdadeiro, mas
nunca fui desleal com nenhum de vocês. Bem pelo contrário, sempre fui muito
sincera, principalmente com você.
– Eu não acredito que um cara como ele, olhe para uma garota como você.
– O quê? Meu sangue ferve.
– Você está sendo abusada, garota. Trate a minha mulher com respeito, o
mesmo com o qual você está sendo tratada.
– A sua mulher que passeia pela cama do meu patrão? – Fico puto, muito
puto. Dou um tapa tão forte na mesa que os dois meninos se assustam e
começam uma verdadeira sinfonia.
– Oliver! – Bia me xinga. Riley pega Anthony e ela pega Ben do meu colo.
Tentam acalmá-los.
– Desculpem. Mas ela não pode falar assim com você! – justifico minha
explosão.
– É inveja e ciúmes de Denis. Julie é um caso perdido. Ignore.
– É verdade! – diz a abusada.
– Você sabe que não é, Julie. Nunca tive nada com Denis além de amizade.
Não sou a culpada por ele não corresponder aos seus sentimentos. Já tivemos
esta conversa mais de uma vez e até dei conselhos que você insiste em ignorar.
Sendo assim, minha paciência com você acabou.
– Você dormiu na cama dele antes de ontem!
Olho para Bia, pálido.
Ela me disse que não...
Bia

O olhar de pavor que Oliver me lança mediante a declaração de Julie é ao


mesmo tempo impagável e digno de pena. Se a raiva que eu sinto dele ainda
estivesse no nível de quando pensava que o vídeo era uma traição, faria
questão de deixar a coisa no ar. Mas o meu coração amolece rápido demais
quando o assunto é ele, então tranquilizo o dele também.
– Eu dormi no quarto dele sim, – falo olhando para Oliver, que engole em
seco – com Ben, e ele dormiu bem longe de lá. Fiz isto porque estava muito
tarde, e havia um temporal com muito vento, não quis arriscar voltar com meu
filho para o anexo. A estrutura lá não é das mais resistentes. Tive medo e
Denis gentilmente nos deixou ficar aqui. Satisfeita? – Dei o que ela tanto
queria saber desde a manhã de ontem, espero que não crie mais problemas.
– Bom, acho que é hora de eu tomar o controle da situação – interfere
Riley, devolvendo o bebê para o pai e entrando no seu modo frio e
profissional.
Não queria estar na pele de Julie agora.
Não mesmo.
Dito e feito. A conversa não é bonita.
Riley é boa, muito boa no que faz. Ela analisa as pessoas e entra nos seus
“medos”, trazendo aquilo sutilmente à tona. Quando termina, Julie está branca,
falando pianinho e concordando em assinar tudo que lhe é colocado à sua
frente. Mais um pouco, ela concordaria até em beijar os meus pés. Não tenho
dúvidas de que Riley conseguiria tal façanha sem muito esforço.
– Foram todos? – pergunta.
– Tem Washington, o barman, e mais quatro garçons que só começam final
da tarde. A noite é o nosso maior movimento – explico.
– Falaremos com eles naquele horário então. – Um burburinho é ouvido do
lado de fora. Max, Lian e Hazel chegam e Carlos explica que o bar está
fechado.
– Deixe-os entrar, Carlos. – Denis orienta.
– Bia, eu juro que tentei impedir, juro! – Hazel entra se explicando, vem na
minha direção e pega Ben do meu colo.
Ele sorri para ela, que se derrete. Os outros dois tiram os disfarces,
deixando Carlos novamente desorientado.
– Impedir o que criatura?
– O ruivo de fazer o que fez. – Max tem um sorriso travesso no rosto.
Lian pega Anthony do colo de Peter, que fica meio apreensivo.
– Hazel, explique de uma vez...
– Entre na página da The Order, se é que já não caiu tudo.
– O que você fez? – Riley pergunta a Max.
– Cansei de ser o bom moço – fala o ruivo ainda mais divertido.
Oliver pelo visto já acessou, pois sorri para a tela do celular. Pego o
telefone e por sorte consigo entrar. A foto que mandei para Hazel, de Ben
dormindo sobre o peito de Oliver, está lá e abaixo dela os dizeres “Meus dois
amores”.
Detalhe, a postagem está em meu nome!
Postado por Bia Thompson!
Como assim?
– Max? – indago.
– Lindo, não? – Ele sorri para mim.
Sim, é linda a foto.
Mas ele acabou de revelar para o mundo que temos um filho. E pior, eu
revelei.
– Olha, toda essa confusão se deu porque escondemos coisas. Decidi que
não vou esconder mais nada. – Explica-se. – Que todos saibam de uma vez que
vocês têm um filho, e no que escrevi, não falei nenhuma mentira, falei? – Me
encara, não tenho como negar. – Ótimo! São seus dois amores. Ponto – diz
displicente.
Max, não te reconheço, penso comigo mesma.
Riley olha para o post sem encontrar palavras.
– Cabeção, eu gostei demais do que você fez. Principalmente porque
descobri que minha garota ficou olhando para mim durante a noite e tirando
fotos. – Me encara sorrindo, reviro os olhos.
– Mas chegou a pensar que nem vovó sabe sobre Ben ainda? Se ela
infartar a culpa é sua. – Oliver tenta falar sério, mas falha. Ele realmente
adorou o que Max aprontou.
– Putz, Oliver. Nem lembrei dos que estão em casa. Foi mal. Ligue de uma
vez para a sua avó, porra! – Oliver ri.
– Estou só pegando no seu pé. Já falei com ela hoje de manhã. Fiz uma
videochamada e mostrei Ben e Bia dormindo. – Ele se volta para mim. – Dona
Laura chorou e não vê a hora de segurar o netinho no colo e de a abraçar de
novo, anjo.
– Também sinto muitas saudades dela – confesso.
– Seus tios são outros que esperam ansiosamente um contato seu.
– Vou falar com eles, hoje ainda.
– Bom, deixa eu atender a minha primeira bronca. Sua mãe. – Max fala
para Hazel.
– Eu avisei.
– Depois será a minha vez, Max. – Riley diz enquanto ele se afasta para
atender a ligação de Alicia. – Justo você! – A morena não se conforma.
– E agora? – pergunto para Riley. Ela dá de ombros.
– Esperar que Alicia contenha os ânimos. E Oliver, você precisa soltar
uma nota oficial, senão as especulações não vão parar.
– Farei isto.
– Acho que por hora resolvemos tudo por aqui, não? – Peter pergunta. –
Vamos para o hotel, nosso menino precisa descansar, não dormiu nada no
avião. Mais tarde retornamos para falar com os que faltam e ouvi-la cantar. –
Sorrio para ele.
– Vão Peter, obrigado por virem e desculpem por tirar Anthony de sua
rotina.
– A vida não é uma rotina, Oliver. É bom que ele se habitue logo a
situações diferentes. Peter é superprotetor demais. – Riley abraça Peter e beija
sua bochecha.
– Tão superprotetor que não vejo a hora de tirá-lo do perigo que é o colo
de Lian. – Peter olha assustado Lian brincar de jogar o bebê para cima.
Anthony gargalha.
– Hei, ele está se divertindo. Muito!
– Mas meu marido está infartando. Então avaliando prós e contras, melhor
você parar. – Riley pede.
No fundo acho que ela estava com medo também.

Oliver
– Dormiu?
– Como um anjinho. Ele adora dormir no meu peito. – Me vanglorio.
– Felizmente desta vez você não dormiu junto.
– Não. Ele está seguro em sua caminha, fique tranquila.
– Ótimo.
– Acho que chegou a hora de termos a nossa conversa, não? – Ela suspira.
– Sim. Sou toda ouvidos, pode começar.
– Vamos nos sentar no sofá. – Levo-a até lá e nos sentamos meio virados,
um de frente ao outro.
– São Max e Lian lá fora?
– Sim. Pedi para ficarem por perto. O que vou te contar agora... há muitos
anos eu afasto qualquer pensamento relacionado. Pode mexer demais comigo e
prefeito que eles estejam aqui, você vai entender quando eu terminar.
– Ok.
– Minha vó acabou confessando que te levou para conhecer minha... a
mulher que me pôs no mundo.
– Sim. Fui com Laura numa visita. Sinto muito.
Pensar em Vivienne, lembrar realmente dela, sempre faz as emoções
bagunçarem e se agitarem dentro de mim, não consigo evitar. Fico alguns
minutos calado, tentando dominar os meus sentimentos contraditórios. Bia
respeita. Até que crio coragem e ergo os olhos para iniciar o meu relato.
– Ela era tudo para mim.
– Oliver...
– Você não faz ideia, Bia. Mas me deixe começar pelo começo. Poderá ser
um longo relato...
– Temos tempo, minha atenção é toda sua. E quero saber tudo. Cada
detalhe que você quiser compartilhar é do meu interesse. – Assinto,
agradecido.
– Este começo, da época em que conheceu o meu pai, eu só sei pelo que
vovó me contou. Ela te mostrou fotos, certo? Viu como era linda?
– Sim. Você é muito parecido com ela.
– Mas tanto quanto era linda, era ambiciosa, deturpada. Ela tinha uma
ideia fixa. A menina que brincava de princesa incorporou a fantasia, queria
fazer parte da nobreza. Vivia para este fim. Não bastava apenas ter dinheiro,
Vivienne almejava um título. – Respiro, é difícil.
– Isto é tão surreal nos dias de hoje...
– Pois é. Mas sabe, eu acho que consigo entender de onde brotou toda a
sua motivação. Eu senti na pele a vida inteira a sensação de vazio que a
facilidade e o excesso de oferta, causam. Ela sempre chamou muita atenção
pela sua beleza e a possibilidade de um casamento vantajoso era algo que se
apresentava à sua frente às pencas. Não haveria desafio em conseguir um
marido rico. Agora um nobre... era outra história.
– Mesmo assim, é um pensamento doentio.
– Sim, é. Doente, imaturo e principalmente egoísta. Quando ela tinha vinte
anos, conheceu um cara, um jovem executivo inglês, numa das casas da alta
sociedade que frequentava. Segundo o que vovó me contou, havia sido
transferido há pouco tempo de Londres para os Estados Unidos, ocupava um
alto cargo numa multinacional, pertencente a uma das famílias mais
tradicionais da Inglaterra. Óbvio que aquilo despontou o seu interesse, porque
o primeiro passo para se ter um título é viver onde se pode conseguir um, ou se
relacionar com quem possa te levar a quem tem um.
– Os ingleses e a Inglaterra...
– Exato. O cara, Chris se não me engano, ficou encantado por ela, como
todos. E ela, sabendo que poderia tirar proveito, deu corda. Engataram um
namoro que durou alguns meses. Vovó chegou a conhecê-lo e gostou bastante
dele, dizia que era um rapaz muito bom e que realmente tinha sentimentos por
ela, e que, pelo que ela percebia, Vivienne também gostava dele, mas não
desistia do seu objetivo egoísta e ilusório, o título. E seus olhinhos finalmente
brilharam quando ele contou a ela que a tal empresa pertencia e era comandada
pelo vigésimo Conde de Dehrby.
– Sua avó chegou a comentar comigo que seu pai era um conde...
– Sim... Vivienne investiu no namoro com Chris por mais um tempo até se
aproximar e conhecer o tal conde. O que conseguiu quando o namorado lhe
arranjou uma vaga como recepcionista na empresa, que ela agarrou com unhas
e dentes. O conde nem sempre estava na América, mas na primeira vez que
veio e pôs os olhos nela... a beleza incomum não lhe passou despercebida.
– Não sei ao certo como se aproximaram, enfim, o conde era casado há
uns cinco anos, mas ficou tão fascinado e apaixonado por ela que se separou.
Sua ex-mulher era uma herdeira, de família tão tradicional quanto. O fato do
nobre se divorciar de uma lady e anunciar o noivado com uma plebeia
americana foi motivo de muitas discórdias na família dele. Vivienne nunca foi
aceita. E a proeza para que conseguisse o tão almejado casamento foi a
gravidez. O conde e a esposa estavam há anos tentando sem sucesso. Ele
queria um herdeiro. Ela era linda, fascinante e iria dar isto a ele. Fez tudo
direitinho e conseguiu realizar o seu sonho. Em apenas três meses se tornou a
condessa de Derhby. – Bia ouve tudo atenta, analisando as minhas reações,
mas não me interrompe.
– Ela mudou-se para a Inglaterra, casaram-se, eu nasci, era o filho homem,
iria carregar o seu título, continuar sua linhagem, seu nome, que é o que mais
interessava para ele. Ela tinha um título. Todos estavam felizes. – Respiro. –
Aqui termina a parte que sei por vovó ou por dedução e começa o relato da
minha experiência.
– Certo.
– Alec Willian George Stenteley, o atual conde de Derhby, e um dos
empresários mais ricos da Inglaterra, nunca foi um pai muito próximo,
presente. Gostava muito de me exibir quando estávamos no meio de outras
pessoas, mas no dia a dia, pouco interagíamos. Vez ou outra se aproximava,
fazia um afago, perguntava alguma coisa. Me lembro apenas de duas situações
onde brincou comigo realmente. Fora isto, queria mais saber do meu QI, meu
progresso nos estudos, se estava sendo suficientemente bem preparado para
representá-lo à altura quando adulto.
– Mas ela... ah Bia, Vivienne era o meu mundo. Ela era divertida, alegre,
vibrante. Eu era apaixonado por ela. Me sentia amado. Ela me incluía em tudo.
Me mimava, era carinhosa, inventava brincadeiras, me tirava dos estudos
quando achava que era demais; afinal eu era bem pequeno, mas já tinha uma
rotina bastante pesada. Lembro que fazíamos piqueniques divertidíssimos
pelos jardins da casa... – Um sorriso acaba tomando meu rosto ao lembrar de
um deles.
– São momentos tão vívidos ainda em minha memória. Sempre me
colocava para dormir, contava histórias, tenho tantas, tantas lembranças boas.
Passávamos muitas horas por dia juntos, coisa que até o conde se espantava,
pois não é um hábito comum em famílias inglesas ricas. Se houve um
menininho que idolatrou e amou a sua mãe, esse menino fui eu... – Seco
algumas lágrimas que escorreram sem nem me dar conta, olho para o rosto de
Bia e não está diferente.
– Ah Oliver, eu posso imaginar... – Aquele breve comentário faz uma
fagulha de esperança brotar em meu peito. Esperança de que ela esteja
voltando a crer que o meu amor por ela sempre foi real, sincero.
Ela estende e segura a minha mão em sinal de conforto.
– Até que houve o acidente. Fiquei muito mal, foram dois meses de
hospital. E quando voltei para casa, tudo estava diferente. Ela sempre tensa,
preocupada, nervosa, mal me olhava nos olhos. Ele mais frio e distante do que
nunca. Claro que naquela época eu não entendi o que acontecia. Isso só foi
esclarecido para mim depois, quando já morava com vovó, e acho que essa
ignorância sobre os fatos fez tudo ser mais doloroso ainda, pois eu não
entendia o que eu tinha feito de errado. E claro que eu achava que era minha
culpa meus pais estarem estranhos.
– Eles estavam em crise?
– Põe crise nisso. A questão toda foi que precisei de sangue. Muito
sangue. E o conde não pode doar, pois éramos incompatíveis. Incompatíveis de
um jeito que não deixava dúvidas de que ele não poderia ser, jamais, o meu pai
biológico.
– A sua mãe...
– É. Agora pensa isso na cabeça de um homem que vive para as tradições,
aparências... É o fim! Seu herdeiro não era seu herdeiro. Não carregava o seu
nobre sangue. Ele tinha que decidir entre duas opções para salvar a sua
reputação, ou mantinha a farsa, ou acabava com Vivienne em todos os sentidos,
de forma humilhante e degradante e nos riscava de vez de sua vida.
– Optou pela segunda, claro. Ele não iria passar sua fortuna e seu título a
um bastardo. Humilhou e expôs Vivienne para toda a alta sociedade londrina.
Cancelou tudo que lhe era de direito pelos contratos matrimoniais, alegando a
traição. Retirou seu nome dos meus registros, eu passei de Oliver Willian
George Stenteley, vigésimo primeiro visconde de Stenteley, para Oliver Evans,
o sobrenome de solteira de Vivienne e de Laura. Comprou passagens, nos pôs
num avião e nos mandou de volta para a California. A mim, ele não dirigiu uma
única palavra de despedida, um único olhar sequer. E ele era o meu pai.
Apesar da pouca proximidade, eu o amava. – Ela deixa uma lágrima cair e eu a
seco.
– Viajamos, eu mal saído do hospital. Lembro que sentia dores e o esforço
só as piorava. Vivienne esteve estranha a viagem toda. Ela tinha sangue nos
olhos. Não se conformava em perder o que “lutou” tanto para conquistar. Me
carregava de lá para cá, mas mal falava comigo. Era como se eu fosse mais
uma das suas incomodas bagagens. Eu percebia que tinha coisa errada, mas se
ela estava perto de mim, estava tudo bem. Na minha cabecinha iria ficar tudo
bem e ela voltaria a ser a minha mãe. A mãe amorosa que eu conhecia. – Rio. –
Nunca mais. O fato é que ela usou todo o tempo da viagem para arquitetar uma
forma de se livrar de mim e voltar para Londres. – Faço uma longa pausa,
porque agora vem a parte mais difícil.
– Ela te deixou com sua avó. – Bia deduz.
– Ah querida, quem me dera ela tivesse sido tão generosa. Não, era
orgulhosa demais para isto. Saiu daqui brigada com a mãe, que não concordou
com seus planos de se envolver com um homem casado e enfim... vovó nunca
pode se aproximar, ela cortou relações, nem sabia se tinha, de fato, um neto e
por um bom tempo ainda continuou assim. Ela me levou para um orfanato da
periferia Los Angeles.
– Chegou lá fazendo exigências de que me aceitassem sem que ela
precisasse se identificar ou me deixaria sozinho em uma esquina qualquer e
iria embora. Não queria vínculos associando o nome dela à criança que ficaria
ali. Eu ouvi tudo aquilo, Bia. Tudo. Toda a discussão dela com a diretora do
lugar, que tentava convencê-la do contrário, e ela se referindo a mim como se
fosse um objeto qualquer, um que ela comprou, não gostou e tenta devolver à
loja.
– Nunca esqueci. Me lembro de cada palavra, cada gesto, pois estive o
tempo todo ao seu lado. Só que eu a amava tanto, que não queria acreditar que
estava ouvindo certo. Não, não podia ser. Eu deveria estar entendendo errado.
Não a minha mãe. A mãe que sempre me mimou. Ela não iria me abandonar
num lugar estranho. Lembro como se fosse hoje que quanto mais ela falava,
mais eu apertava a sua mão, a mão que eu segurava, para ter certeza de que ela
continuava ali, comigo. Se eu fechar os meus olhos, ainda consigo sentir a
minha mão apertando a sua. – Nesta hora as lágrimas vêm como se eu fosse
outra vez aquele menino. Bia me abraça.
– Preciso continuar. – Seco os olhos. – Depois que a diretora do orfanato
aceitou suas exigências, com medo de que ela cumprisse as ameaças de me
abandonar na rua, ela simplesmente se abaixou na minha frente, me deu um
beijo no rosto e disse sem se abalar: “Você fica aqui, esta é sua nova casa. Eu
vou embora”.
– Aquilo me levou ao desespero, me agarrei nela, comecei a chorar, a
implorar que não me deixasse ali, ela tentava se desvencilhar de mim, eu a
segurava ainda mais forte. Pedi desesperadamente para que me levasse junto.
Até que me empurrou com força e eu caí, gritei de dor pela pancada com o
chão que reverberou na minha cirurgia abdominal. Ela aproveitou o momento e
correu para a saída. Me recuperei e corri atrás dela. Mesmos morrendo de dor
a alcancei, grudei em suas pernas antes que conseguisse alcançar o portão. Eu
lembro que repetia em meio ao choro e desespero que não me deixasse ali
sozinho, que eu queria ficar com ela. Ela então se abaixou uma última vez, me
segurou pelos ombros e disse as palavras mais cruéis que uma mãe pode dizer
a um filho. Palavras que por mais que eu tente, nunca conseguirei apagar da
minha memória, estão incrustadas em mim de uma forma tão profunda que até
hoje é difícil acreditar que eu tenho algum valor. – As lágrimas escorrem pelas
bochechas dela e tudo que eu queria agora é que me deixasse secá-las com os
meus beijos.
– Ela me disse... – Bia percebe o esforço que faço para entrar nesta parte.
– Não precisa se machucar ainda mais repetindo-as para mim.
– Não, eu quero dividir com você... nunca falei em voz alta para ninguém,
nem para Hery... talvez me faça bem...
– Então me conte, por favor... – Fecho os olhos e começo a recitar para ela
o mantra que se repete dentro da minha cabeça constante e insistentemente há
anos.
– “Preste atenção, Oliver. Você sem o seu pai não é nada para mim.
Nada. Você só fazia sentido enquanto éramos uma família. Agora não me tem
mais serventia, é um peso que eu não posso me dar ao luxo de carregar.
Então pare de chorar, me largue e entre na sua nova casa.” Eu tentei me
agarrar mais uma vez, disse que a amava e ela então deu o seu golpe de
misericórdia: “Entenda de uma vez menino irritante, eu não quero mais você.
Não quero mais ser a sua mãe. Você não é o suficiente para mim, Oliver,
nunca foi e nunca será”. – Ela deixa escapar um soluço sentido e eu reabro os
meus olhos.
– Depois daquilo, eu já não tinha forças para mais nada, estava atônito,
paralisado. Entendi que ela nunca me amou. Ela só me cativava por interesse.
Olhei-a se afastar, abrir o portão... Antes de ir ainda olhou para trás uma
última vez, para o menino quebrado que deixava ali e disse, debochada, do
jeito doce que usava para falar comigo quando eu acreditava que era um filho
querido: “Adeus, meu amor, fique bem”. – Ela chora tanto que resolvo ignorar
nossa situação, a puxo para mim e a abraço enquanto continuo.
– E lá Bia, na calçada do orfanato, depois que ela sumiu da minha vista, eu
entrei na minha primeira crise de ausência. Num momento em que eu ainda
estava em sofrimento profundo por traumas graves, que foram o acidente, ouvir
um homem agonizar até a morte dentro do carro, os dias de hospital... tudo que
eu mais amei foi tirado de mim de um instante para o outro. E não estou
falando da casa, dos brinquedos, nem mesmo do conde, não, eu viveria sem
isso tranquilamente. Estou falando dela. Da minha mãe. Naquele hospital
enquanto lutava para sobreviver, tudo que eu queria era voltar para ela.
– Não consegui suportar a dor de me imaginar vivendo sem ela. De saber
que ela escolheu viver sem mim, me jogar fora. Eu não queria viver sem ela.
Então eu entrei num mundo só meu. Onde nada mais me atingia, nada mais
importava. Eu só respirava. Não falava, não me mexia voluntariamente, do
jeito que me colocassem, eu ficava. Se me alimentassem eu comia, senão não
sentia fome. Virei só pele e osso. – Seu choro fica desesperado. – Acalme-se
amor, é passado.
– É duro demais pensar numa criança abandonada assim...
– Eu sei, ainda mais agora que somos pais, mas está terminando, posso
continuar? – Ela tenta secar os olhos e assente.
– Eu fiquei preso nesta primeira crise por um ano e dois meses no orfanato
e mais cinco meses fora dele. Ela tomou um ano e sete meses da minha vida.
Ainda no orfanato me colocaram no soro, passei a usar fraldas... Me viravam
na cama para não criar feridas e duas vezes por dia me levavam num passeio
no quintal. Era o máximo de atenção que um lugar pobre e sem muitos recursos
poderia dar a uma criança nas minhas condições.
– Essa rotina que descrevi, foi o que me contam, pois eu não lembro o que
acontece quando estou em crise. É como se a minha memória parasse ao entrar
e quando saio aqueles dias não existiram. Dos meus seis anos e três meses até
os sete anos e dez meses, minha vida é uma tela em branco para mim.
– Os cinco meses fora, você estava num hospital?
– Não... ninguém mais tinha esperanças de que eu voltasse a ser uma
criança normal. No orfanato estavam só esperando eu piorar e morrer, creio.
Até que um dia, uma senhora foi fazer um trabalho voluntário lá dentro e me
viu. Ela achou os meus olhos incomuns demais, os mesmos olhos que viu na
filha de uma amiga. Filha esta com quem eu também era muito parecido. Dona
Selena foi quem me achou. Ela avisou vovó sobre aquela criança, dona Laura
veio me ver e reconheceu o rosto da filha no meu no mesmo instante. Falou
com a diretora, mostrou fotos de Vivienne e a identificaram como a mulher que
me largou lá. Então vovó entrou com o pedido de guarda e me levou para casa
com ela.
– Meu Deus... foi por um acaso? Achei que Vivienne em algum momento
tivesse...
– Não, ela nunca mais moveu um dedo por mim depois que me largou lá.
Depois de cinco meses sob os cuidados de vovó, seu carinho, exercícios,
conversas que ela diz que tinha comigo diariamente, eu saí da crise. Estava
assustado, não sabia onde estava. E foi um longo processo até eu começar a
confiar em dona Laura. Eu não queria me apegar a mais ninguém. Tinha medo.
Então por um bom tempo me mantive indiferente. Mas com todo carinho que
recebia dela, conforme o tempo passava, fui me envolvendo, mas sempre com
medo, primeiro medo de amá-la e passar por tudo de novo. Depois, medo de
decepcioná-la e ela não me querer mais. Eu fazia todo o possível para agradá-
la, para que ela não me jogasse fora também. – Ela segura o meu rosto com as
mãos e fixa os olhos nos meus.
– Você é muito valioso, está me entendendo? Muito. – Assinto e ela volta a
se recostar em meu peito. Deixo algumas lágrimas contidas descerem
livremente.
– As crises sempre foram uma constante na infância e início da
adolescência. Vira e mexe, alguém dizia alguma coisa, eu via alguma coisa,
que me remetia de volta aquela calçada de orfanato, as mesmas sensações e a
mesma dor e ela se instalava. Às vezes duravam meses, às vezes semanas, às
vezes dias. Sem padrão. Sabíamos os gatilhos que me fazem entrar em crise,
mas nunca soubemos os motivos que me fazem sair delas. Simplesmente saio.
– E os médicos? Nunca...
– Nunca tive um diagnóstico preciso. Dizem que é algo parecido com o
transtorno de múltiplas personalidades, em que a mente vaga de uma
identidade a outra e depois volta. Porém a minha não assume outra
personalidade, minha mente para no limbo. Para evitar as crises, comecei a me
isolar e a só transitar por “locais seguros”. Mesmo na escola, eu tinha que ter
uma mesa longe dos demais, não conversava, não me enturmava. Os únicos que
deixei se aproximarem foram Riley, Max e Lian. Fiz muitas, muitas terapias, de
todo tipo que você possa imaginar, tentei muitos remédios, mas nada ajudou de
fato. O único que teve algum sucesso comigo foi Henry. Cheguei a ficar quatro
anos sem crises antes...
– Antes?
– Antes de você aparecer em minha vida. A primeira recaída que eu tive
foi no dia da sua coletiva. Você me mandou uma mensagem usando as mesmas
palavras que ela me disse no portão. Eu não cheguei a apagar, mas estive
perto. Por isto estava dormindo quando você chegou. A crise provoca uma
descarga de energia que me deixa fraco e sonolento.
– Oliver, eu...
– Não pequena, não é culpa sua, Henry sempre me disse que os meus
quatro anos sem crises eram uma farsa, que elas só não aconteciam pois eu
estava me isolando e deixando de viver cada vez mais. E ele tem razão.
Preciso te contar para que você entenda, apenas isto. – Ela assente.
– A segunda quase crise foi no dia que você ficou mal pela possível
gravidez, quando chegamos no apartamento em Los Angeles. Eu tive medo que
você fosse me deixar.
– Por isto Henry estava lá?
– Sim, eu liguei e ele foi me ajudar.
– Por que não me contou?
– Medo, Bia. Tudo se baseia no medo e naquelas malditas palavras que
ela me disse. Eu tenho medo de não ser o suficiente para quem eu amo e de ser,
de novo, abandonado. Se eu pudesse arrancar isto de dentro de mim. – Ela
segura o meu rosto outra vez.
– Você nunca foi apenas o suficiente para mim, Oliver. Você sempre foi
tudo, tudo para mim.
– E eu te machuquei... – constato. Ela não diz nada.
– A terceira vez foi logo depois de vovó e Edgar assumirem o caso deles.
Teve uma situação em que vocês duas estavam putas comigo e me deram as
costas, me deixaram sozinho e você me disse que eu era uma decepção.
Imediatamente voltei a ser aquela criança rejeitada e neste dia eu apaguei por
uma hora.
– O dia em que eu achei que você tinha se afogado...
– Sim.
– Veja bem, anjo, meu maior medo ao começar o nosso romance, nunca foi
a diferença de idade, eu tinha medo disso. Foi medo de amar e perder. De
voltar a ter crises e por isso, ter que abrir mão de você ou te fazer sofrer. E
você já teve muito disto, não merecia mais.
– Falamos disto despois. Termine sua história Oliver. Tem mais, não tem?
Você teve uma nova crise no último show da turnê?
– Sim. Eu tive. A crise que me fez decidir que era melhor te deixar. Foi na
última sessão VIP. Eu estava para lá de entediado naquela recepção. Ouvindo
merda atrás de merda e não via a hora de voltar para você. Reclamei com
Lian, confirmei com ele o tempo que ainda teríamos que aguentar e no que
ergui minha cabeça para voltar ao meu lugar, eu o vi. O conde.
– Ele simplesmente estava lá. Numa das mesas. Fiquei um tempo olhando,
incrédulo e sem reação. Ele me encarou da mesma forma e vi que a intenção
dele era se aproximar e falar comigo. Foi demais para mim, Bia. Meu corpo
simplesmente reagiu, se pôs em estado de alerta e tentou se proteger do golpe.
Eu lutei para não cair. Lutei muito, eu só pensava em você. Mas perdi. Muitos
sentimentos voltaram, por mais que nunca tivemos uma ligação próxima, ele
era o meu pai, e bem ou mal, representa a parte da minha infância em que me
achava feliz.
– Enfim, antes de eu apagar de vez, Lian me levou até o camarim e foi
chamar Henry. Só que lá dentro, escondida, estava Carol. Ela achou que eu
estava chapado, de drogas. Me levou com ela antes que Lian ou Henry
aparecessem e bem, o que ela fez, você, infelizmente viu.
– Cadela!
– Eu apaguei por cinco dias, Bia! Cinco! Só conseguia pensar que tudo iria
voltar, as crises se agravariam, a próxima seria de meses e eu faria você
passar por muito sofrimento. Eu não podia... – Ela segura o meu rosto pela
terceira vez.
– Escute muito bem o que eu vou dizer. Você nunca, nunca mais vai decidir
por mim o que é melhor para a minha vida, fui clara? – Olho-a sem reação. –
No futuro, você me conta a verdade e eu decido. Estamos entendidos, Oliver?
– Sorrio.
– Sim. Isso... isso quer dizer que você vai voltar? – Ela se faz de
desentendida.
– Não quer dizer nada. Apenas o que eu falei.
– Ok. – Melhor concordar, mas meu sorriso não sumiu.
– Se você ficou cinco dias apagado, quem respondeu as minhas
mensagens?
– Lian.
– Bem que eu achei que não parecia você...
– Aí eu te deixei...
– A pior dor que eu senti.
– Nem me fale... Se você tivesse esperado um dia baby, um dia, eu acho
que não aguentaria mais do que isso sem voltar para você. Eu fiquei perdido,
vazio, um poço de dor sem fim, não ia suportar aquilo por muito tempo.
– Eu teria esperado, se você não tivesse me mandando a porra de um
vídeo insinuando que me traía. Tem noção de como me senti? No que você
transformou a nossa história para mim com aquele ato?
– Infelizmente eu tenho. Me perdoe, por favor. Eu agi no desespero. Queria
que você entendesse a todo custo que não poderia mais ficar comigo. Sei que o
que fiz foi grave, nos rendeu dez meses de angústia e uma gravidez que você
enfrentou sozinha, mas eu não estava bem, Bia. Nada do que eu fiz foi
pensando no seu mal. Muito pelo contrário. – Ela não responde.
– Você nunca mais viu Vivienne depois que o deixou no orfanato?
– Não. Ela voltou para Londres em busca do título perdido e se
transformou numa prostituta de luxo das altas rodas. Quando a The Order
despontou, entrou em contato com Laura. Queria rever o “filho”. Na verdade,
penso que queria dinheiro. Eu não aceitei revê-la, nem a ouvir, mas fiz questão
de juntar o meu primeiro milhão e mandar para ela em Londres. Uma forma
silenciosa de me vingar das suas palavras cruéis, eu acho. De provar a ela que
eu tinha valor, dando a ela a única coisa que valorizava de verdade. – Suspiro
e brinco com os fios de seus cabelos.
– Quando eu fiquei maior e entendi as motivações por trás das ações de
Vivienne, que tudo estava ligado a dinheiro, status e poder, eu fiz um juramento
a mim mesmo de que não descansaria até ter tudo aquilo. Só para dar um
recado a ela: eu poderia, sim, ter sido o suficiente.
– Então transformar a The Order num sucesso foi um grito de liberdade.
– É, pode-se dizer que sim. Duas situações que eram uma questão de honra
para mim. Conseguir e mostrar a ela. Não muito tempo depois ela sofreu o
AVC e nós que a socorremos. Max e Lian que a trouxeram para Los Angeles e
a internaram. Dói tanto ver a decepção que causa em vovó tudo que ela fez. É o
amor de mãe brigando com a razão. Querendo ou não, vovó a carregou no colo.
Ela foi o bebê dela.
– Deus, não posso nem imaginar, agora que tenho Ben... Hoje, o que você
contou sobra a tatuagem, Zeus em suspenso, e o acidente ter sido um divisor de
águas em sua vida fazem sentido para mim. E, se juntei os pontos direito,
Private Chaos...
– Sim. É sobre isso. Sobre ela, sobre o abandono e o meu caos particular,
que é o transitar entre o mundo real e o mundo onde a dor não me atinge. O
meu mundo em crise. Ironicamente se tornou o nosso maior sucesso. A música
que tenho que repetir em todas as apresentações, sem exceção.
– Eu gosto dela.
– É o meu alento.
– E seu pai biológico?
– Não sei quem é. Vovó garante que é o tal Chris. Que tenho traços dele.
Mas nunca fui atrás, não me interessa.
– Por que não? E se ele ficar feliz em saber sobre você?
– Prefiro não arriscar.
– E Henry, ele acha que você sempre...
– Não. Muitos dos gatilhos que me faziam entrar em crise frequentemente
na infância e adolescência nós tratamos e não me afetam mais. Meu
amadurecimento como adulto também ajudou na questão do controle das
emoções. Ele acha que eu posso me livrar das crises de vez se eu...
– Se você?
– Ele acha que eu tenho que enfrentar, desabafar e quem sabe perdoar, o
conde e Vivienne. Não esquecer, pois é impossível, mas relegar a um nível que
não me cause pânico. Ele diz que só quando eu encarar a minha dor de frente, é
que sairei disto.
– Sabe, acho que ele pode ter razão.
– Pode. Mas também posso entrar numa longa crise. E só de pensar nisso...
ainda mais agora... Se apenas por rever o conde apaguei por cinco dias!
– E seu nome? É Oliver Evans?
– Não, é Oliver Rain. Apesar de Evans ser o sobrenome de vovó, também
é o dela. Não quis carregar. Entrei na justiça e mudei.
– Por que Rain?
– Chuva, água, que lava e renova, transforma. Vovó quem sugeriu, eu
gostei. Achei que eu precisava disso, faria sentido. – Dou de ombros.
– Sim, ficou perfeito. – Ela se ergue e apoia a testa na minha, meu coração
dispara. – Eu sinto muito. Sinto tanto, que você, tão pequeno, tenha passado
por algo assim, tão cruel. Meu coração está esmagado só de pensar... Você não
merecia. Nenhuma criança merece.
– Volte para mim. – Não resisto, aproveito a sua proximidade e peço. Ela
fecha os olhos.
– Ainda dói.
– Eu te amo.
– Eu tam... – Não consegue terminar, Ben chora e ela sai, mas aquele
deslize aquece minha alma.
Aproveito o momento para entrar na página da The Order e divulgar a nota
sobre o meu filho que prometi a Riley.
Publico uma foto dele e os dizeres “Benjamin, nosso filho, nosso amor”,
está feito.

Bia
– O que é isso? – pergunto a Denis, minutos depois de chegar ao bar,
apontando para o palco.
Falta pouco para o horário que habitualmente iniciamos a apresentação.
Oliver foi para o hotel resgatar sua bagagem. Deixei Ben com Hazel, Maggie,
Riley e Peter, que estão acomodados numa mesa para assistir ao show. Mary
Ann e Anthony completam a trupe. Fora do bar, que está com as portas
fechadas, uma fila enorme de gente para entrar.
– Os capangas do seu marido montaram durante a tarde.
– Ele não é meu marido. – Corrijo rápido demais e Denis zomba. – Puta-
merda! O que os malucos pretendem fazer? Isso vai... – Olho atônita para o
palco montado, a bateria, a guitarra, o baixo e dois microfones... Paul está
sentado ao teclado, e mal respira.
– Vai explodir o bar! – completa Denis. – Não sei como daremos conta.
Tirei a maioria das mesas para liberar espaço, chamei reforços para a equipe,
tripliquei os estoques. Não serviremos refeições, só bebidas e petiscos
simples, mas mesmo assim, não será suficiente. Pediram para manter fechado
até que cheguem. – Ele dá de ombros e eu olho aflita para a mesa onde estão as
crianças.
– Denis, estou preocupada com a segurança deles.
– O tal Peter disse que virão muitos homens para cá garantir a paz, e que
parte deles farão um cordão de isolamento em torno da mesa em que estão. Por
isso ficaram naquela, estrategicamente posicionada.
– Paul, você está bem? – Volto-me para meu parceiro de palco, parece
trêmulo.
– Não. Não sei se posso fazer isso... tocar com eles? Meu talento, se é que
posso dizer que tenho algum, é limitado. – Me aproximo bem dele.
– Olhe para mim – peço. – Você tem talento. Não teve um pedido que
recebemos aqui que deixou de atender. Confie. Eles são músicos incríveis e
este momento, além de lhe abrir portas, você guardará pelo resto da vida em
sua memória. Não deixe de vivê-lo por medo.
– Vou tentar.
Mal terminamos de falar, ouvimos um burburinho, muito ao longe. Olho pela
janela, mas ainda não é possível avistar nada, só o som de aparente euforia e
gritos. Alguns minutos mais e muitos seguranças tomam a frente do bar.
Conversam com os que estão na fila e tentam organizar as coisas. Os
burburinhos estão cada vez mais próximos e audíveis.
Não demora muito para a cena se apresentar. Sou obrigada a rir. Hazel e
Riley também correm para a janela e olham divertidas. No meio de um
exército de seguranças que marcham ao lado deles, estão Oliver, Lian e Max.
Gostosos!
Poderosos!
De óculos escuros e vestindo preto da cabeça aos pés.
Lian e Oliver com os cabelos soltos. Caminham com determinação e certa
arrogância, o que lhes confere ainda mais charme.
Um verdadeiro insulto à sanidade feminina e comunidade apreciadora.
Atrás deles, a multidão os acompanha. Incrédulos da sua sorte. Os sem
noção vieram caminhando do hotel até a praia, arrastando a horda de fãs
consigo. A quantidade de gente me arrepia. Ali não tem estrutura, não sei como
dará certo...
A agitação e gritaria agora é ensurdecedora. Olho para os bebês certa de
que vão se assustar, então vejo que tanto Ben como Anthony estão com um arco
na cabeça. Fones abafadores. Peter e Riley vieram preparados.
Conforme os meninos se aproximam os clientes que estavam na fila também
se agitam. Os seguranças isolam a passagem e eles conseguem entrar. A massa
de gente se empurra e se amontoa da frente do bar até boa parte da areia da
praia. E cada vez chega mais. Denis está pálido. Paul mal respira.
– Hora do show! – anuncia Lian, ao entrar. Oliver vai direto na direção de
Ben para matar a saudade dos poucos minutos que passou longe. Nosso menino
sorri quando o pai esfrega a barba em seu pescoço.
É tanta fofura!
Meu coração desmancha e é certo que fiquei sorrindo para o nada.
– Vocês são malucos! – Riley fala.
– Denis, – Max chama – acho interessante você dar uma palavra com os
seus clientes, pode avisar que haverá show com Angel, Paul e a The Order,
mas peça para manterem a calma e aguardarem até que os seguranças liberem o
acesso. Use o microfone e caixas de som que foram instalados do lado de fora.
Colocamos para que possam ouvir da praia.
– Vou lá, mas não consigo acomodar toda essa gente aqui dentro.
– Quando as portas abrirem, os seguranças darão preferência aos que
estavam na fila, foi distribuído senhas. Os demais entrarão aos poucos até lotar
e então o acesso volta a ser bloqueado. Quem sobrar terá que se virar pela
área externa. Instalamos telões na praia e em frente ao bar. Não se preocupe,
nossa equipe é treinada e manterá a ordem.
– Ok. – Ben já está no colo de Lian. Um cheiro delicioso de homem e
menta invade minhas narinas, sei que Oliver está ao meu lado.
– Por que tudo isso? – Olho para ele e questiono. Pai, dai-me forças! É
tanta saudade e ele está tão lindo, tão viril, tão rockstar... Sexy demais!
– Deu vontade. – Ele dá de ombros.
– Simples assim? Deu vontade? – Uma leva de homens entram e instalam
grades de segurança ao redor da mesa ocupada.
– Sim, simples assim. Se me lembro bem, uma certa garota uma vez me
convenceu a fazer um show da sacada do Copacabana Palace. Apenas pelo
prazer de fazer música. Aprendi com ela. E, além de tudo, vamos promover
ainda mais o bar do seu amigo.
– Ou colocá-lo abaixo. – Ele ri.
– É um risco – admite. Olho para fora e vejo carros da TV local
estacionando. E gente e mais gente que chega por todos os lados.
Senhor! Começo a achar que o risco é grande.
– Quero tanto te beijar – fala bem próximo ao meu ouvido, as mãos em
meus quadris, me pegando de surpresa e me fazendo estremecer, ali, no meio
do bar, na frente de todos. Fecho os olhos. Ah baby, eu também!
Julie passa por nós e solta um invejoso risinho de deboche, me fazendo
reagir.
– Não faça. – O afasto.
Por quê? Por que não me rendo de uma vez?
O que me segura?
– Não vou, fique tranquila. Apesar de estar louco de vontade. A próxima
vez, Beatriz, só quando você pedir. – Pronto! Gostou, Beatriz?
Você está ferrada! Muito! Ele cumpre suas promessas.
– Vamos começar? – Max chama a nossa atenção.
– Deixe-me apresentá-los ao meu colega. – Eles se aproximam e Paul me
olha lívido. – Max, Lian, Oliver, este é Paul, um excelente musicista e meu
parceiro de palco aqui no Secret Hidden.
– Olá Paul. – Max estende a mão para ele. Paul faz o mesmo, mas não
consegue esconder o nervosismo e treme um pouco. Eles percebem e tentam
tranquilizá-lo. – Olha só, não precisa ficar apreensivo. A ideia hoje não é
mudar a dinâmica entre vocês. Nós é que vamos acompanhá-los no que
tocarem e não o contrário. – Sinto um certo suspiro de alívio deixar os
pulmões de Paul.
– Mas penso que o público vai querer ouvir as músicas de vocês –
constata ele.
– Se for o caso, tocaremos e você acompanha como conseguir. Temos
muitos instrumentos aqui hoje, um dá suporte ao outro, nenhum ficará em
evidência total. Relaxe, a ideia é nos divertirmos e não criarmos estresse. –
Oliver ameniza. – Só a primeira música, nesta você ficará em total evidência.
– Como assim?
– Vamos começar com Guardian Angel, que é o motivo de estarmos aqui
hoje. E o solo de piano será seu.
– Mas... Por que você não toca?
– De jeito nenhum. O tecladista da dupla é você. Como Max falou, estamos
aqui para acrescentar e não para ofuscá-los. E você já tocou, muito bem por
sinal. Eu vi o vídeo. – Paul finalmente abre um sorriso.
– Tudo bem então.
– Ótimo – diz Lian. – Vamos nos posicionar e tocar uma para aquecer e
testar os instrumentos.
– Oliver, como vamos fazer com o vocal? – pergunto.
– Improviso, baby. Como der vontade. – E me dá uma piscadinha. Sorrio
em concordância. Todos se posicionam, Oliver pega o baixo.
– Qual vai ser o esquenta? – Lian pergunta.
– This I Love, do Gun’s – responde sem pestanejar, me olhando.
A música é lindíssima. Adoro. O arranjo de piano e violino, nossa... Axl
Rose pôs tanta energia nela que não há como não se envolver. E tem um dos
solos de guitarra mais lindos feitos pelo Slash, na minha opinião. Paul suspira,
porque tem bastante piano na música, inclusive começa só com ele e voz.
Oliver não facilitou para o meu colega. Mas será bom para ele adquirir
confiança e sei que Oliver pensou o mesmo.
– Manda brasa, Paul – pede Oliver. Ele obedece, e quando Oliver põe a
voz na canção e crava os olhos em mim, estou perdida, presa em seu olhar e
seus encantos outra vez, hipnotizada.
Sou a fã apaixonada.
Deslumbrada com o homem à minha frente, como quando era a adolescente
que, como tantas outras, sonham com uma chance de estar com ele.
Ele canta sobre um amor que ainda pulsa, arde e que vale todo o esforço
para não deixar ir. E a melodia é quase um lamento, uma súplica, o piano é tão
lindo e a voz dele tão carregada de emoção que meus olhos enchem enquanto
Oliver a declama olhando para mim.
Eu ainda tenho que tentar
Com todo o amor que tenho dentro de mim
E não posso negar
Eu não posso deixar morrer
Pois seu coração é exatamente como o meu
E ela guarda sua dor dentro de si

Há uma luz especial


Ainda brilhando claramente
Até mesmo sobre a noite mais escura
Ela não pode negar

Sim, baby, ainda brilha. Jamais vai se apagar, eu não posso negar. Oliver
deixa que uma lágrima solitária caia e aí é demais para mim, me esforço para
não deixar vir com tudo, mas não evito que uma ou outra escape também.
– Canta comigo, anjo – pede, quando o solo de guitarra entra. Faço o
backvocal, com a voz rouca e embargada.

E agora que eu
Desisti dos fantasmas e do orgulho
Eu nunca mais vou dizer adeus
Se ela estiver em algum lugar perto de mim
Eu peço a Deus que me escute
Não há mais ninguém
Que poderia me fazer sentir tão vivo

Eu esperava que ela nunca fosse embora


Deus você deve acreditar em mim
Eu procurei pelo universo
E me encontrei
Dentro dos olhos dela

Quando terminamos, tudo que eu mais tenho vontade é de me atirar nos


braços dele. Mas não posso dar bandeira.
Sou a Angel ali.
Cantora e mãe solteira.
Agradeço a mim mesma por sempre ter tido o cuidado de não expor demais
o meu bebê. Poucos dos clientes o conhecem. A multidão lá fora ovaciona e
nossos amigos ali dentro são só aplausos. Hazel assovia.
– Peter, pode pedir para liberarem a entrada? – Max pede.
– Passando mensagem agora.
– Vamos lá para dentro até que todos entrem. Denis, assim que você fizer a
abertura, a gente volta. – Ele assente.
Nos instalamos na sala de Denis enquanto as pessoas se acomodam, ou se
amontoam, depende do ponto de vista, e os seguranças organizam tudo.
– E se Ben chorar? – Oliver pergunta de repente, se lembrando da nova
variável em sua vida e de como aquilo iria funcionar.
– Se ele chorar, há várias pessoas naquela mesa para consolá-lo e acalmá-
lo. O que você não pode é largar o show no meio para ir atendê-lo, Oliver.
– Ah, não sei se consigo... – Acho graça, mas no fundo também vou evitar
olhar demais na direção daquela mesa.
– E outra, você não pode dar na vista que temos um filho e ele está aqui.
Sou Angel, lembra? – Ele suspira.
– Senhoras e senhores, sejam muito bem vindos ao Secret Hidden. Como
viram, hoje será uma noite muito, muito especial. – Ouvimos Denis lá fora. –
Além dos nossos queridos artistas, Angel e Paul, que embalam várias de
nossas noites, junto a eles, hoje no palco, teremos a maior banda de rock da
atualidade. Uma baita surpresa para vocês e para nós também. Pelo caráter
excepcional da situação, infelizmente, não será possível manter garçons
circulando para atender aos pedidos e nossas opções serão limitadas. – A
gritaria é tanta que Denis tem que se esforçar para se fazer ouvir.
– Pedimos a compreensão de todos, principalmente dos clientes assíduos
que talvez esperavam jantar aqui hoje. Mas tenho certeza de que o que se
passará em cima deste palco compensará qualquer inconveniente. Finalizando,
quem quiser pedir, tem que chegar ao balcão. Um outro balcão foi montado do
lado de fora, para quem não conseguiu entrar. Um ótimo show a todos. Com
vocês, Paul, Angel e a The Order. – O auê é pesado. Ah bebês, espero que o
abafador seja potente.
Subimos ao palco e a multidão, tanto fora, como dentro, vai à loucura.
Literalmente. Torço para que a estrutura do bar seja forte, pois o chão treme.
Lian pega o microfone.
– Boa noite, galera! – Nova explosão.
– Estão todos bem? Pessoal lá de fora, vendo bem pelo telão? – Eles
respondem positivamente.
– Maravilha, porque vamos afundar Sea Bright. Mas antes, nosso vocalista
gostosão aqui. – Ele abraça Oliver, que o olha torto. As mulheres deliram –
Que está muito bem amarrado, – ele as lembra e elas vaiam – vai dar uma
palavrinha com vo... – Oliver puxa o microfone da mão dele e arranca risos da
galera.
– Boa noite! Antes de colocarmos esta praia abaixo, como Lian prometeu,
quero esclarecer o motivo de estarmos aqui.
– Eu vi um vídeo na internet. Um vídeo que me tocou profundamente. Nele,
uma moça linda e com voz de anjo, cantava uma das minhas músicas. A mais
especial delas. A primeira música que eu fiz para o amor da minha vida. A
mulher a quem eu também costumo chamar de anjo. E que me deu,
recentemente, o meu melhor presente, nosso filho Benjamin. Minha noiva, Bia.
Te amo, baby. – Ele passa as mãos pelos cabelos.
– Voltando, a tal moça colocou tanta emoção ao cantar, que nós não
poderíamos deixar de vir até aqui e encontrá-la. É uma honra dividir o palco
com você, Angel. Por favor, me acompanhe em Guardian Angel. Paul...
Como ocorreu no tal vídeo, canto emocionada. Apesar de ser uma emoção
diferente desta vez.
Cantamos juntos àquela e muitas outras. A grande maioria repertório da The
Order, pois era o que público queira ouvir. Mas chegaram um ou outro pedido
de músicas de outros artistas que atendemos e foi bem divertido improvisar
com eles. Dividir o palco com Oliver, com eles, outra vez, foi delicioso
demais. Ficamos mais de duas horas ali, fazendo festa e a alegria da galera, até
que pedi a Oliver discretamente para encerrar, pois sabia que Ben estava no
seu limite. Já havia passado dele, na verdade.
Assim que finalizamos, os seguranças nos escoltam até a sala de Denis
outra vez e logo os outros se juntam a nós. Meu filho chora assim que me vê.
– Oi amorzinho, você se comportou tão bem. – Beijo muito suas
bochechas.
– Os abafadores funcionam. – Riley mostra Anthony dormindo
tranquilamente em seu colo.
– Santos abafadores! – brinco. Ben baba o meu rosto e reclama. – A
mamãe sabe, filho. Não são beijos o que você quer agora, não é?
– Não mesmo! Ele estava comendo as mãos Bia, quase fui lá te tirar do
palco. – Hazel tem o olhar derretido por ele.
– Maggie, Hazel, Mary Ann, – me abaixo e dou um beijo na bochecha da
menina – muito obrigada por cuidarem dele.
– Eu cuidei de dois bebês hoje – diz a pequena, orgulhosa.
– Você foi a melhor, Mary Ann – Hazel a elogia. – Eu tenho um irmão mais
velho e você sabia que meu irmão não cuidava de mim quando eu era criança?
– Não? – Ela olha para Hazel, abismada.
– Não. E pior. Quando eu era bebê e acordava, ele se pendurava no meu
berço e ficava segurando os meus olhos fechados para eu voltar a dormir e não
incomodar.
– Hã! – A menina leva as mãos a boca. – Seu irmão é mal!
– Muito mal! – Pobre Kellan. – Um dia eu vou te apresentar a ele.
– Não precisa, não! – diz a nossa mascote muito rápido, já se agarrando às
pernas da mãe, fazendo todos gargalharem.
– Gente, agradeço demais os cuidados com o meu pimpolho, mas preciso
mesmo ir, alimentá-lo, dar banho e colocá-lo na cama. Até amanhã.
– Posso ir também? – A voz grave mais linda do mundo me pede cheio de
tato.
Ah querido...
– Você não trouxe a sua mala para a minha casa?
– Trouxe – diz, cuidadoso.
– Então que escolha eu tenho? – Dou de ombros. – Venha, hoje você vai
dar banho no seu filho.

– Por Deus, Oliver! Você está mais molhado do que ele, que estava dentro
da banheira.
– Dei o meu melhor, baby. Não é nada fácil! – Tenho que rir. – O que eu
faço agora? – Me pergunta segurando Ben enrolado na tolha junto a camiseta
encharcada.
– Deite-o no trocador e seque-o. A fralda e as roupas estão em cima da
cama.
– Ok, chefe!
– Ei, essa fala era minha.
– Não mais! Agora é minha. – Se eu soubesse neste momento a extensão do
que ele insinuou...
Ele coloca Ben no lugar da troca e tira a camiseta molhada antes de voltar a
atividade. Prendo o fôlego! Ver aquele homem enorme e sarado, cuidando de
um bebezinho é de derreter qualquer coração.
Além de ser a visão do Olimpo.
O desejo inflama, a saudade rasga.
Tenho que sair de perto.
– Hei... Onde pensa que vai? – Me intercepta antes que eu possa sair do
cômodo.
– Arrumar a cozinha – invento.
– Não senhora! Acha mesmo que vou conseguir colocar as roupas nele sem
a sua ajuda? Fique aqui. – Suspiro resignada e me sento perto deles, na cama.
Benjamin é só festa e sorrisos, e Oliver reflete em seu rosto as expressões
do filho.
– Você está se saindo um ótimo pai, rockstar.
– Não sei direito o que fazer, mas imagino que tudo que se faz com amor
sincero é válido. E eu amo muito, muito, vocês dois. – Ah Deus, não posso
mais.
Não posso mais me fazer de indiferente.
Não posso mais fingir que não o amo.
Não depois daquela música, não depois dele se abrir comigo, não depois de
vê-lo assim, tão apaixonado pelo nosso menino.
– Eu também. Amo demais! Os dois – confesso finalmente. Ele me olha
sério, respiração alterada.
– Bia... – Tenta avançar em minha direção. Ergo a mão.
– Não! Primeiro você termina de cuidar dele. Mais tarde conversamos.
– Certo. – Volta sua atenção ao filho com os olhos brilhando a segundas
intenções. E começa a fechar a fralda. Daquele seu jeito, único.
– Aperta mais a fralda.
– Anjo, já disse que homens não gostam...
– Vai vazar tudo se deixar assim, Oliver. – Ele refaz, mas não muda muita
coisa. – Mais!
– Eu tentei filho, juro que tentei. Mas a chefe está fiscalizando, então...
– A chefe tentou sair do quarto e foi impedida.
– Papai não tem argumentos contra isso. – Ben começa a emitir uns
sonzinhos como se quisesse conversar com ele – Isso filhão, tente você
convencer a sua mãe, porque o seu velho aqui não está tendo muito sucesso. –
De repente para e me mostra a peça que separei. – Olha esse buraco! Jamais
vai passar pela cabeça dele.
– É por isso que tem esses dois botõezinhos atrás, papai. Se você os
abrir...
– Porra, não é que é verdade...
– Oliver! A boca!
– Ah baby, melhor ele se acostumar desde já...
– Melhor você se acostumar a controlar a língua perto dele desde já. – Ele
revira os olhos.
– Não vou discutir. Você será vencida pelo cansaço. – Dá um sorrisinho
torto.
– Sabe, eu ainda posso desistir daquela conversa.
– O papai agora só dirá as coisas mais lindas e fofas na sua frente, tá
bebê? Como um maricas!
– Maricas não é lindo e nem fofo.
– Foi a última, eu juro!
– Sei... – Ele veste a calça em Ben.
– Pronto, limpinho, cheirosinho, agasalhado e de barriga cheia.
– Faltou as meias.
– Opa, as meias. – Pega o pedaço de pano minúsculo com aquelas
mãozonas e mal consegue manusear. Demora um século para conseguir colocar
no pezinho do bebê. Rio da sua falta de coordenação.
– Perfeito, a mamãe riu e conseguimos. Todas as metas atingidas! Agora
vamos brincar?
– Agora ele vai dormir!
– Sua mãe não está facilitando, não é? – Oliver beija o pescoço dele, que
gargalha.
Não há som melhor no mundo.
Não há como não me derreter e não lhe abrir as portas do meu coração
outra vez.
Mas não antes de esclarecermos algumas coisas.
– Me dê ele aqui, vou ver se quer mamar mais um pouquinho antes de
dormir. – Encosto-me na cabeceira da cama e coloco-o no peito. – Apague a
luz, por favor, assim ele já vai entrando no clima. – Oliver faz e para feito uma
estátua, de pé, ao lado da cama.
Ele está pisando em ovos comigo.
Cada movimento, cada palavra, cada gesto é calculado.
Tirando os beijos roubados, para tudo espera uma permissão, um sinal.
– Pode tomar o espaço ao meu lado na cama. Não vou te morder.
– Ah baby, não me importaria nem um pouco...
– Shh, ele está quase dormindo – peço, baixinho.
Oliver se recosta contra a parede e apenas observa. Nem dez minutos
depois, meu pequeno larga o peito e embarca num soninho profundo. O dia foi
agitado para ele. Ergo-me com muito cuidado e coloco-o em seu Moisés.
Volto para a cama e sento-me com as pernas dobrada, em frente ao corpo,
com a coluna ereta, cara-a-cara com ele. Está na hora.
– Agora somos nós dois, rockstar. – Puxo o ar. – Você me machucou,
demais. – Vou logo ao ponto.
– Eu...
– Não, eu quero falar. Você me arrancou da sua vida de uma hora para
outra, sendo que um segundo atrás estávamos no auge da felicidade.
Simplesmente chegou e disse que tudo que vivemos foi uma grande farsa,
armada para que você tivesse um pouco mais de emoção em seus dias, para
melhorar a sua imagem. Que eu fui um experimento. E terminou o discurso com
chave de ouro, me deixando acreditar que eu sempre fui traída, enganada o
tempo todo, ao me mandar aquele vídeo. Algo em mim morreu naquele dia,
Oliver. Algo que era bom. Se você visse o estado em que cheguei aqui. Eu
estava dilacerada. Não tinha fome, não tinha forças. Queimava de febre todos
os dias de saudades suas. Foi a descoberta da gravidez que me fez reagir. Eu
precisava lutar, por ele. – Aponto para o bercinho e seco as lágrimas, seu rosto
está banhado também.
Será cruel, mas tomo coragem, preciso dizer.
– Guardadas as devidas motivações por trás do ato, e o agravante da
idade, você fez comigo o mesmo que Vivienne fez com você. – Ele arregala os
olhos, assustado.
– Não Bia, não.
– Sim, Oliver, você me descartou.
– Anjo... eu... eu te deixei com a minha família, com a minha vida. Com
todo o meu mundo.
– Assim como você me disse que a única coisa que te importava na sua
vida até os seis anos era a sua mãe, a única coisa que me importava na minha
era você. Não percebe? Eu também não queria viver sem você. Não com o
tamanho do sentimento que corria em meu peito.
– Eu tentei te proteger, você me disse tantas vezes que não queria mais
incertezas e sofrimento em sua vida...
– Ah Oliver! Daí você foi lá e me atirou no centro do maior deles.
– Porra... – Ele passa as mãos pelos cabelos, frustrado. – Eu nunca quis o
seu mal.
– Eu quis tanto te ligar e contar sobre a gravidez. Mas como ter certeza da
sua reação? O que era verdade das coisas que você me dizia? Depois quis te
ligar para escolhermos o nome, juntos. Eu desejei demais que você estivesse
comigo no dia do parto, estava tão assustada. Quanto mais e mais Ben se
apegava a Denis, mais meu coração se apertava e mais eu tinha vontade de te
contar, porque não era com Denis que ele deveria criar aquele laço. Mas eu
nunca tive coragem.
– Por quê?
– Porque se eu ligasse e você confirmasse tudo o que me disse antes de eu
ir embora, eu morreria Oliver. Enquanto ficava na ignorância, mantinha a
ilusão de que você se arrependeu e estava à minha espera.
– Eu nunca fiquei à sua espera. Eu passei cada segundo à sua procura. –
Passo a mão por seus cabelos e rosto. Ele fecha os olhos absorvendo o meu
carinho.
– Estou sendo dura, eu sei. Mas é para que você entenda que nada, nenhum
outro tipo de sofrimento que eu possa vir a passar ao seu lado, será pior do
que o de ser afastada de você naqueles termos.
– Ah baby, me desculpe, eu não sei mais... o que eu posso fazer, Bia? Por
favor, me diz o que eu posso fazer para consertar o nosso amor? Não posso
viver sem você, sem vocês.
– Tem duas coisas...
– Diga! Qualquer coisa, o que você quiser...
– A primeira, jurar que nunca mais, em hipótese alguma, você vai mentir
para mim com a intenção de me proteger de qualquer sofrimento que seja.
Sobre nada, Oliver. – Ele não gosta, respira fundo.
– Eu sempre vou querer te proteger, Beatriz. É mais forte que eu. Mas sim,
juro a você. Nunca mais. E a segunda? – Encosto nossas testas.
– Você poderia me beijar ago...
Não consigo terminar.
Suas mãos estão em mim, sua boca está na minha.
Forte, determinado.
Sugando meus lábios, minha língua, com fome.
Quanta saudade eu tenho disso, de sentir o seu vigor e o seu poder sobre
mim. Beijo-o na mesma pegada, querendo aplacar os dez meses de distância
num único momento.
Desço minhas mãos, que estão emaranhadas em seus cabelos, me lembrando
da delícia que é sentir aqueles fios correndo entre meus dedos, em direção ao
seu pescoço. Procuro ali o fecho da corrente que segura o meu anel de
noivado. Abro-o e retiro a joia, depositando-a em sua mão. Desvio minha boca
dos seus lábios e deslizo-a por seu rosto até alcançar o seu ouvido.
– Devolva-a ao meu dedo, noivo. – Oliver me puxa e me abraça apertado,
chorando em meu ombro como um menino assustado.
Um choro de alívio, pelo fim de um pesadelo.
Tentando se conter, se afasta o tanto necessário para pegar minha mão
direita e recolocar, trêmulo, a aliança nela. Leva-a a boca e beija o anel.
– Eu nem acredito que isto está mesmo acontecendo. Que você é minha
outra vez.
– Olhe para mim. – Prendo meus olhos nos dele. – Mesmo com toda a dor,
com toda a mágoa e sofrimento, eu não deixei de amar você um segundo
sequer. Nunca conseguirei arrancá-lo de dentro de mim, Oliver. Nunca
consegui quando era só uma menina que te viu uma única vez. Como
conseguiria depois de tudo? Depois de tê-lo?
– Ah, minha menina, meu amor... – Volta a me beijar e se põe de joelhos na
cama, me obrigando a fazer o mesmo e aproximando nossos corpos ao máximo.
É real? Estou mesmo em seus braços outra vez?
Embriagada pelo seu cheiro? Envolta em sua energia?
Levo minha mão ao seu abdômen, perto do cós da calça, aonde passo os
dedos, de leve. Sua pele arrepia inteira. Não é frio. Meu peito enche de júbilo
por provocar aquela reação no meu homem.
– Faz tanto tempo. – Sua mão se infiltra pela barra da minha regata,
subindo pelas minhas costas.
– Tempo demais. – Beijo seu peito, bem acima do coração, onde ele traz o
meu nome tatuado.
Subo a mão outra vez e contorno as letras com a ponta do dedo uma a uma,
ele observa.
Volto a explorar seu tórax e abdômen, agora incluindo os lábios na
deliciosa tarefa. Beijo cada centímetro da sua pele exposta. Me certificando de
que ele está mesmo ali. Que é real.
– Meu – digo beijando seu mamilo e puxando os pelos do seu peito de
leve.
– Sim, seu. – Desço a mão espalmada pelo seu abdômen, que ele contrai
em antecipação. A infiltro dentro da sua calça e brinco com os pelos pubianos.
– Bia... Preciso me enterrar em você.
Ele puxa a barra da minha blusa, acabando assim com a minha exploração
dentro da sua calça.
Analisa meus seios, ainda sustentados pelo sutiã.
– Lindos demais! Parecem maiores. – Passa os dedos de leve pelo meu
colo, contornando a lingerie.
– E estão. Vivo com um bezerrinho grudado neles, esqueceu?
– Não, não esqueci. Uma das cenas mais lindas que eu já vi. Minha mulher
amamentando o meu filho enquanto ele a olha com adoração. Acho que entendo
bem o que ele sente. Sofro do mesmo mal. – Desce as alças liberando os meus
peitos e arfa.
– Juro que não quero competir com Benjamin, mas não posso negar que me
deu inveja e uma vontade louca de fazer o que ele faz. – Beija delicadamente
um mamilo, depois o outro.
Volta a colar nossos corpos, deixando meus seios espremidos em seu
peitoral. Gemo de satisfação entre os seus lábios enquanto nossas bocas
dançam uma na outra com ardor mais uma vez.
Aos pouquinhos e sem desfazer o contato, baixa nossos troncos em direção
a cama.
Quase choro de felicidade quando sinto o seu peso sobre mim.
Me esmagando contra o colchão e nos preparando para o tipo de contato
que tanto precisamos para aliviar os nossos corações machucados.
O tipo de contato em que todos os sentidos te chamam e aguçam juntos, para
que se sinta o outro em si mesmo, sinta o outro em forma, peso, toque, gosto,
cheiro, movimento e calor.
Tudo ao mesmo tempo.
Ficamos algum tempo assim, nos beijando e nos sentindo, relembrando. Até
que Oliver se aventura a descer os lábios e tomar um dos meus seios em sua
boca.
Estremeço.
Desejei tanto!
Os lábios quentes dele ali, me sugando, tinha esquecido como é delicioso.
Suga tão forte que sinto o leite descer.
– Ahhh pequena, que delícia! Eu queria provar isso desde que vi Ben
mamando em você...
– Oliver! Por favor...
– É bom, baby.
– Céus!
– Vou querer todo dia um pouquinho também. – Não aguento e rio.
– Só o que me faltava, bebezão!
– Acostume-se, estou carente. Dez meses sem você foi pesado demais. E
falando em demais, tem roupa sobrando aqui.
– Aí sou obrigada a concordar.
– Vamos dar um jeito nisso, já! – Ergue-se e retira completamente o sutiã,
depois a minha calça, e por último a sua própria.
Olhamo-nos por um instante, comparando se nossas memórias fazem jus a
realidade.
Tão lindo e gostoso quanto eu me lembrava.
– Você está mais magro.
– Mais magro, mais olheiras. E você também. Suas coxas continuam
deliciosas, mas já foram mais cheias.
– Sim, comer passou a ser uma coisa automática, apenas por
sobrevivência.
– Sei bem como é. Mas não vamos pensar em dor agora. Acabou.
– Me deixa te sentir em mim, rockstar. Dez meses queimando por você...
– Ah, minha delícia, eu estava aqui pensando se você iria querer
preliminares, porque eu estou louco para ir direto ao ponto.
– Direto ao ponto, por favor. – Afasto minhas pernas, convidando e
confirmando minhas palavras, ele sorri.
Primeiro baixa o rosto me beija depois vai soltando o peso sobre mim
novamente, se encaixando no lugar de onde ele nunca deveria ter se ausentado.
A cabeça do pau pressiona, entra um pouquinho e trememos juntos pela delícia
do contato há tanto tempo desejado. Ele para o beijo e me olha.
– Me perdoe se eu não segurar por muito tempo, vários meses sem...
– Também não vou demorar, meu bem, subi paredes esse tempo todo, mas
não consigo gozar sozinha, esqueceu? Durante a gravidez foi o período mais
foda, meu tesão estava ultrapassando a barreira do som e nada... tive que tomar
muito banho frio.
– Ah anjo... – Ele empurra e me penetra por completo, fazendo uma
mistura poderosa de sentimentos explodirem dentro de mim.
Um choro inconveniente chega forte.
Eu não estava esperando, não sei de onde veio.
– Pequena... não chore... – Pouso os dedos em seus lábios.
– Eu achei que nunca mais... que não teria você assim nunca mais. Que
jamais iria te sentir em mim outra vez. E esta ideia era simplesmente
desesperadora, Oliver. – Ele me beija e minhas lágrimas alcançam nossos
lábios e se misturam à nossa saliva, tornando o nosso beijo salgado.
Enlaço-o com braços e pernas. Preciso senti-lo com todas as partes do meu
corpo. Oliver está na mesma necessidade, nossas bocas não se afastam ou dos
lábios ou de outra parte de pele qualquer, suas mãos me acariciam e exploram
como podem, enquanto ele segue entrando e saindo de mim devagar e
carinhosamente.
– Bia... – Sopra meu nome como se eu fosse um relicário sagrado. O ar
saindo de sua boca e narinas próximo ao meu ouvido.
A paixão um pelo outro corre em nossas veias por toda a distância que
seguimos percorrendo em busca do prazer máximo. Extravasa pelos nossos
poros, criando aquela bolha de amor quase material, palpável, ao redor de
nossos corpos.
Ele.
Dentro e fora.
Meu Éden.
É difícil respirar.
– Estar dentro de você é o paraíso – fala como se lesse os meus
pensamentos.
– Já dizia aquela música... – Ele ri.
– Saudades disso também. Das suas tiradinhas de pôr fim ao romantismo.
Da minha Bia sendo Bia. – Ele dá uma arremetida forte e fecho os olhos,
saboreando a invasão.
– Ahh que delícia. Você é definitivamente o meu número rockstar.
– Eu sempre soube, baby, sempre soube... o tora foi feito para você.
Depois que te conheceu, viciou na sua boceta. Só quer ela, só pensa nela, só
deseja ela. – Seguro sua bunda instigando-o a ir mais forte, mais fundo.
– Isso baby, bem aí... ahhh... cacete, que gostoso!
– Está gostoso o meu cacete?
– Demais! Cacetão delicioso da porra! – Oliver afunda a cabeça no meu
ombro e ri.
– Pode rir, mas não perde o ritmo. – Ele ri mais.
– Não me atrevo pequena, não me atrevo... você está tão sem-vergonha...
depois sou eu que devo controlar a língua perto do menino.
– Ele está dormindo. Daí pode!
– Sei. Vamos ver daqui há alguns dias...
– Oliver...
– Oi amor, tá quase? Quer mais rápido? Tô me segurando muito aqui...
– Sim, mais rápido. – Ele até tenta, mas a cama velha começa a ranger em
todas as junções e bater na parede fazendo um barulho danado.
– Vai ter que ser devagar, sinto muito.
– Continua como estava, só continua...
– Sim, senhora. – E ele dá o seu melhor.
Metendo no ritmo certo e guinando os quadris para me tocar no ponto exato,
onde sabe que vejo estrelas.
Fazendo amor comigo como só ele faz.
– Vou cair, baby.
– Eu te seguro amor, vá com tudo. – E eu vou.
Meu gozo é forte, revigorante e curativo, pois mentalizei para que levasse
embora todas as dores da fase negra que passamos. Ainda dói, mas preciso
voltar a me sentir feliz, esquecer.
Não adianta ficar culpando-o, castigando-o.
Ele também já sofreu demais.
– Bia... porraaaaa... que gostoso, que delícia. Deus, como eu te amo! – Ele
me beija ao mesmo tempo que dá as últimas estocadas.
Saboreamos o momento, enquanto nossas respirações se normalizam.
Apesar de momentaneamente saciados e felizes, não foi o bastante para aplacar
a saudade.
– Não quero sair de você.
– Não quero que saia. – Ele se ergue um pouco apoiando os antebraços na
cama.
Acaricio seu rosto.
– Também amo você.
– Eu precisava tanto ouvir isso outra vez.
– Nós dois precisávamos. – Então um pensamento me alarma e a bolha
estoura – Puta-merda!
– O que foi?
– Você gozou dentro, Oliver. Eu já te dei um bebê!
– Calma. Amanhã compramos a pílula.
– Não posso tomar, estou amamentando, esqueceu? Merda!
– Bia, calma, vamos ao médico ver o que podemos fazer, não se aflija
assim, perdão, eu nem lembrei...
– Pois é. Nessa hora nós dois sempre perdemos a memória. Não quero
outro filho agora Oliver. Céus, preciso voltar a estudar. Eu adoro aquilo,
adorei participar da turnê, estar nos shows. Aquele é definitivamente o meu
lugar. – Ele sorri.
– É o seu lugar e está esperando por você. Edgar não vê a hora. Ele se
apegou muito a você, pequena. Me xingou tanto. Ficou tão triste, sentiu tanto a
sua falta.
– Deus, eu também. Senti falta de todos, demais.
– Não vejo a hora de levar os dois para casa. – Meus olhos enchem.
– Somos uma família.
– Somos. Tudo bem quanto a isto?
– Sim. Sabe, eu encontrei aqui mais uma pessoa que me ajudou muito. A
médica que fez o parto do nosso filho. Deva é o nome dela. Ela conversou
tanto comigo. Claro que eu já estava um pouco mais tranquila, por causa das
sessões com Henry, mas quando cheguei e comecei a ter as febres emocionais
e outros sintomas da gravidez, óbvio que associei ao pior. Foi ela quem me
acalmou e me fez entender que não havia motivo de desespero. Me tranquilizou
em relação à maternidade e a ter uma família. Devo muito a ela. Depois bastou
olhar o rostinho de Benjamin para não sobrar um único sentimento negativo
dentro de mim em relação a isso. Claro que tenho medo, mas ele não me
consome mais como antes.
– Fico tão feliz em ouvir isto, baby. Quero conhecer esta mulher.
– Nossa bobeira vai me obrigar a procurá-la amanhã. E nós não vamos
mais ficar dando mole, entendeu?
– Entendi. Mas falta uma coisa para eu fazer oficialmente parte da sua
família. Transferir a aliança do dedo direto para o esquerdo. Quero fazer isto o
mais rápido possível. E mudar o registro de Ben. Preciso dos dois com o meu
nome. Quando podemos nos casar Bia? Como você sonha com o seu
casamento?
– Ah Oliver...
– Por favor, não me peça para esperar mais.
– Não, esse “ah” não foi em relação a esperar. Também não quero. Quero
gritar ao mundo que você é meu, meu marido. – Ele abre um sorriso enorme.
– Eu mesmo vou fazer o post.
– Está se tornando sociável demais rockstar, o que aconteceu com a
pegada inacessível?
– Minha inacessibilidade tinha dois nomes, meu amor. Medo e Tristeza.
Felizmente uma menina linda afastou totalmente a tristeza, e o medo, esse eu
vou trabalhar duro para empurrar cada vez mais para longe. – Me emociono
com a sua declaração sincera.
Ben resmunga e Oliver é obrigado a sair de cima de mim para checá-lo no
pé da cama.
– Tudo bem aí? – pergunto.
– Sim, aparentemente só um gemido. Dorme tranquilo. – Volta e deita-se
ao meu lado, me aconchego em seu peito.
– Mas você não me disse, qual o motivo do “ah”?
– Você vai rir de mim.
– Adoro rir com você.
– Eu disse de mim!
– Fala logo. Quero rir de uma vez!
– Não se atreva!
– Pare de enrolar.
– Só tem um tipo de casamento no qual eu me visualizei quando menina...
– O noivo era eu, espero.
– Sempre. A questão é quem era o cerimonialista.
– Que diferença faz o cerimonialista, Beatriz?
– Para mim, bastante. Eu disse que você iria rir... mas como falei, foi a
única forma de casar que eu já imaginei e até certo ponto, desejei. Nunca fui
muito ligada em vestidos brancos, flores, e dias de princesa, nada disse me
comove ou seduz.
– E o que te comove e seduz?
– Além de você? Melodia e poesia. Som e ritmo. Humor e malícia. Amor
e paixão. Tem também um lado meio dark-trash que me instiga, mas vamos
deixar quieto...
– Pelo visto, o tal cerimonialista remete a algum destes fatores. E vou
querer saber mais sobre o dark-trash no futuro.
– Se você for um bom menino...
– Sempre sou. – Dá uma guinada de quadril para que eu me recorde o
quanto é bom. Como se fosse possível esquecer... – Mas conta logo, vamos,
quem é a personalidade que eu devo contratar para nos declarar marido e
mulher?
– O Elvis.
– O Elvis? Como assim? – Me encara e tenta entender a minha maluquice.
Mas é tão óbvio e batido que a sua ficha logo cai.
E o que ele faz?
Ri.
– Não... paraí... não Beatriz, por favor, não me diga que você sonha em se
casar em...
– Vegas!
– Puta-merda, não! – Cai na gargalhada.
– Para! – Bato em seu braço.
– Baby... porra... nós temos uma praia linda só nossa, podemos fazer a
cerimônia mais exótica e romântica, repleta de melodia e poesia, do jeito que
imaginarmos. Posso contratar quem você quiser para tocar na festa. Só não o
Elvis, porque enfim, razões transcendentais. Mas posso trazer os Stones, que
tal? Quase tão velhos quanto. – Meus olhos brilham com a possibilidade.
– Casamos em Vegas e no dia seguinte fazemos a festa com os Stones na
praia. – Faz uma cara de quem não acredita que estou mesmo falando sério.
– É sério? Você quer isso mesmo? É tão... brega. Aí! Caralho, doeu. –
Belisco sua bunda.
– Brega ou não, seria um Deus do rock casando outro.
– Um Deus do rock fake, Bia. Brega. Elvis nem gostava que o
considerassem assim. A paixão dele era o soul e música gospel.
– Eu sei. Mas gostando ou não, ele fez fama e deitou na cama. E ele era
talentosíssimo. É simbólico. É divertido. Não quero um casamento lindo
Oliver, quero um casamento cool. Que ao relembrarmos ou olharmos as fotos,
a gente se emocione e se divirta ao mesmo tempo. Chore e ria.
– E se a gente pedir pro Lian se vestir de Elvis e nos casar na praia?
Daríamos boas risadas. – Suspiro.
– Não, tudo bem, casamos na praia, o Lian não precisa... – Ele ergue meu
rosto para analisar minha expressão.
– É importante que seja em Vegas, não é? Você quer se sentir Priscila
Presley por um dia... – Dou de ombros.
– Vegas, então! – Suspira. – O que eu não faço por você? Mas... – E, do
nada, ele abre um enorme sorriso, que dá até medo da ideia que está por trás.
– Na verdade, Vegas é ótimo! Vegas é o que há! Estou gostando muito,
muito da ideia, com Elvis e tudo, não vejo mais nada de brega.
– Você está me assustando... no que está pensando?
– Estou pensando que para casar em Vegas, basta chegar. E amanhã à noite
é ano novo, o dia perfeito para um casamento. Noivamos no ano novo, casamos
no ano novo.
– Amanhã? – Arregalo os olhos.
– Amanhã. Quer mais cool que isso?
– Isso não é cool. É crazy. Tá maluco, Oliver?
– Temos um avião, Vegas é logo ali.
– Não.
– Eu concordo com Vegas, você concorda com amanhã. Diga sim. O que
temos a perder?
– É muito em cima, como vamos organizar as coisas? Tenho o show de ano
novo no bar, não vou deixar Denis na mão. E você acha que vamos conseguir
vaga nas capelas assim, de hoje para amanhã? Em uma época de festas?
– Vamos, Riley dará um jeito. Também acharemos alguém para ficar no seu
lugar no bar, seria necessário de qualquer jeito. Temos funcionários para nos
ajudar a resolver as coisas, Bia. Não é tão tarde ainda, vou mandar algumas
mensagens para já adiantar as coisas. – Se levanta e pega o telefone. Fico tão
sem reação com a ideia do amanhã que nem consigo contrariá-lo.
– Também avisarei a família que viajarão para Vegas. Estou tão
empolgado...
Como terei coragem de acabar com sua animação? Parece uma criança em
manhã de natal, com os olhos brilhando ao olhar o tanto de pacotes embaixo da
árvore. E, de qualquer forma, não acho que ele consiga. Então, vou deixar
rolar e brincar.
– Tenho uma condição para que o casamento seja amanhã.
Uma brincadeira com benefícios.
– Qual?
– No mínimo mais dois orgasmos esta noite. – Ele larga o telefone na hora
e se joga sobre mim.
– Tá no papo! – Põe minha mão em seu pau. – Veja. Quase no ponto outra
vez. Um leve carinho seu e... uow... a mágica acontece... – Eu ia rir da
gracinha, mas daí ele roça lábios e barba pelo meu pescoço e um tipo de som
bem diferente escapa pela minha boca.
– Baby...
– Ah, delicia! – Leva a mão ao meu sexo e penetra um dedo em mim. –
Hum, tão quentinha. E molhada. De você e da minha porra. Preciso sentir seu
gosto, baby.
– Sim, por favor, saudades da sua boca em mim.
Oliver desliza pelo meu corpo, parando estrategicamente para uma nova
sugada em meus peitos. Depois vai deixando uma trilha de beijo molhados
pelas minhas costelas e ventre. Deliro com o contato dos pelos do seu rosto e o
calor dos seus lábios na minha pele depois de tanto tempo.
Deus, já estou completamente acessa.
– Minha futura esposa. Sou um filho-da-puta sortudo do caralho. – Dá um
único e quente beijo lá. Minhas pernas trepidam.
– É mesmo – concordo. Ele sorri e passa o queixo de cima a baixo nela. A
aspereza deixa minha pele arrepiada.
– Uhm... Trêmula e arrepiada. Deste jeito eu vou tirar a nota máxima, anjo.
– Está me provocando Mr. Rain? – Ele assopra.
– Ahh... – Provocando, definitivamente.
– Jamais. Apenas admirando, e degustando, a sua doce singularidade.
– Minha doce singularidade? Está poético?
– Você é bem singular, poética e melodiosa aqui embaixo.
– É mesmo? E como você.... Esquece! Não quero saber. – Ele ri.
– Tão linda! – Passa as costas da mão pelo interior das minhas coxas e
depois pelo meu sexo, de leve.
– Oliver... – A respiração pesa.
– Preciso provar que sou cool e garantir o meu sim amanhã, baby. Seduzir
e comover minha mulher. Sempre! Este será o meu lema daqui para frente.
– Neste momento preferiria você a me comer.
– Tão romântica... Mas tão cheirosa! – Enfia a cara lá e inspira. Contraio.
– Trêmula, arrepiada, arfando e se contorcendo. A com estrelinhas.
– Senhor nota máxima, – minha voz sai rouca – preciso de mais...
– Mais?
– Mais. Por favor...
– Mais beijos? – Seus lábios e língua deslizam entre os meus lábios
vaginais e se demoram um instante mais em cima do meu clitóris.
Caraca, vou morrer se ele não parar! Quer dizer, continuar...
– Não – digo com a voz fraca.
– Não? Nada de beijos?
– Não. Mais movimento. Mais pegada!
– Ah, tão afoita a minha pequena!
Ele desce a cabeça com determinação e minha libido se agita empolgada,
pensando, finalmente...Vai abocanhar!
Mas desvia de última hora e lambe a tatuagem que traz o seu nome.
Arrrg.
– Oliver! Não é hora de ser provocador. Sem orgasmos, sem casamento.
– Opa! Não se brinca com o futuro da família. – Finalmente seus lábios
envolvem meu clitóris, sugando-o com força.
– Ahhhh... isso, baby, isso...
Agarro seus cabelos e faço uma leve pressão em sua cabeça para garantir
que ele não tente outra gracinha.
Dois dedos seus me fodem enquanto sua boca e língua operam aquela
mágica que ele domina tão bem.
Uhm... Ele quer mesmo este casamento.
E eu já estou na reta final outra vez.
– Oliver, carambaaaaa! – grito ao gozar, me esquecendo que tem um bebê
dormindo ali.
– Pequena, pequena, essa foi rápida.
Nem me dá tempo de processar, me gira de bruços na cama e empina minha
bunda para ele, arremetendo, certeiro, para dentro de mim.
Estou sem forças, mas grito.
Agradeço pelo meu filho ter um sono pesado.
– Eu preciso de um tempo. – Tento pará-lo.
Não me ouve.
Mete. Com força.
– Oliver... não aguento gozar de novo tão em seguida.
Outra arremetida.
Potente.
– Meu Deus, homem, preciso me recuperar. – Mais uma. A cama estala.
– Só estou comendo a minha mulher. Como ela disse que preferiria. Já lhe
dei paixão, poesias e melodias. Hora do ritmo e do movimento.
– Esqueceu do som.
– Tenho ouvido uns gemidos, no mínimo, estimulantes. – Me empala com
força. Aquela sensação já está crescendo outra vez...
Neste momento, tenho medo dela.
Não vou aguentar.
Ele vai me reduzir a pó.
– Baby...
– Deus, Bia. Como você é gostosa! – Sorrio com a cara encostada no
travesseiro. – Toda vez que eu cogitava que outro filho-da-puta qualquer
pudesse estar tendo você assim... Tendo o que é só meu... – Os pensamentos
raivosos o deixam ainda mais eficaz na tarefa que desempenha. E ensandecido.
– Oliver calma, a cama, o barulho...
– Será breve. Você não vai aguentar muito mais tempo, nem eu. E você
queria pegada. Minha missão é fazê-la feliz. Inclusive vou prometer isto
amanhã. Diante do... Elvis. – Sinto um certo tom de desdém na sua voz.
– Não torça o nariz! Oliver...
– Baby aproveite, porque a próxima vez que eu comer essa boceta, você
será minha mulher. De papel passado. Assim que a gente disser sim para o
Elvis fake, eu vou te arrastar para o primeiro canto escuro que encontrar e te
foder como se não houvesse amanhã.
Como assim?
– E o sexo matinal? Não é você que é adepto?
– Sem sexo matinal para você amanhã, Chucky. Depois deste, – torna a
pegada ainda mais frenética – seu próximo orgasmo será como Miss Rain.
Então ele dá uma sequência mortal daquelas suas guinadas de quadril
enlouquecedoras, eu não resisto e me entrego.
Gozo. Muito.
Ele tira o tora e jorra, quente, na minha bunda.
Entrou sem camisinha. De novo...
Prevenção definitivamente não é o nosso forte.
Mas estou esgotada demais. Até para xingar.
Deixo meu corpo desabar na cama de qualquer jeito.
Ele desaba ao meu lado.
Só quero dormir, mas logo descubro que não posso.
Ben chora, chamando por mim. Quero chorar também.
– Foi o barulho, culpa sua! – digo tão mole quanto um joão-bobo furado.
Ele se levanta para pegar o filho.
– Não reclame, ele foi um cavalheiro e – beija seu rostinho – esperou a
mãe gozar três vezes.
– Verdade. – Faço um esforço sobre-humano para sentar na cama e atender
ao meu filho. – Resta saber se o pai dele deixou algum leite na despensa.
– Olhando daqui a despensa parece muito bem abastecida. – Coloca o
bebê em meu colo, que logo procura o seio.
Pela sua carinha de satisfação, nada de escassez.
– Oliver deita a cabeça em minha coxa, afago os cabelos de um, enquanto
beijo a careca com um único cachinho no topete do outro.
Meus dois meninos. Meus dois amores.
Estou novamente em paz.
Capítulo 36

“Sei que, às vezes, uso


Palavras repetidas
Mas quais são as palavras
Que nunca são ditas?”
(Quase sem querer – Legião Urbana)

Oliver

M ais calma agora que a doutora disse que você pode


tomar a pílula sem maiores problemas?
– Com certeza! Muito, muito mais calma.
– Ótimo. Vamos resolver as questões com o seu amigo de uma vez.
– Oliver, por favor, deixe que eu falo com ele. Não seja grosseiro.
– Não serei. Apesar da vontade de esganá-lo depois que me contou sobre
o beijo.
– Só eu mesma para abrir a minha boca...
– Fique tranquila, apesar de tudo, devo a ele. Reconheço. Me manterei o
mais calado possível.
– Parece que Ben gostou de ficar no canguru.
– Não é o canguru. Ele adora é ficar grudado em mim. Igualzinho a mãe
dele. – Revira os olhos para mim e tenho vontade de beijá-la, de novo. E faço.
Já perdi as contas de quantas paradas eu fiz para beijá-la na curta distância que
percorremos até a entrada do bar.
– A mãe dele ainda não esqueceu que você a deixou na mão esta manhã.
Apesar de ela implorar, muito... Não ria! Dez meses de atraso para matar e
você negando fogo... fala sério, Oliver...
– Só depois da meia-noite, quando o anel estiver no outro dedo, Chucky.
– Quanta bobagem... Ainda duvido que consiga.
– Rá! Caiu do cavalo, baby. Capela reservada, cerimônia com Elvis
contratada, passagens dos familiares compradas, hotéis garantidos, segurança
sendo organizada e Hazel será responsável pelo nosso traje.
– Caramba, você não brinca em serviço. Mas nem em pensamentos eu vou
às compras com Hazel.
– Não será necessário. Peças de diversas lojas especializadas de Nevada
serão entregues num salão do hotel. Bastará você escolher.
– Como conseguiu, assim? Do dia para a noite? Só falta me dizer que nos
casaremos na capela Graceland[18].
– Nome e dinheiro, anjo. E sim, você se casará na capela do Elvis, numa
cerimônia celebrada pelo Elvis. – Bia abre um enorme sorriso de satisfação.
Vai entender! – Se quiser me visto de Elvis e se casa com o próprio.
– Não, quero meu noivo fantasiado de outro roqueiro. Oliver Rain,
conhece?
– Já ouvi falar.
Entramos no bar, e o panaca está organizando alguma coisa no caixa. A
morena que ofendeu Bia, próxima a ele. O bar está fechado, os efeitos da noite
explosiva ainda podem ser vistos por todo o ambiente e muita coisa precisa
ser organizada antes que possa ser reaberto.
– Denis, podemos conversar um minuto? No escritório? – Bia pede.
Ele passa alguns segundo nos analisando e percebo exatamente o momento
em que seus olhos murcham ao recaírem sobre a mão direita dela. Sim, otário.
Ela é minha. Por fim, assente.
– Vejo que se acertaram. Foi rápido. – Imbecil.
– Sim, nós voltamos e é por isto que estou aqui. – Ele engole em seco.
Está desconcertado.
Tinha alguma dúvida?
– Você vai embora. – Conclui por si só.
– Vou. E... nem sei como dizer... – Acho melhor assumir o controle.
– Nós vamos nos casar hoje à noite. Beatriz não fará o show da virada,
ontem foi sua última apresentação. Mas estamos levantando cantoras das
cidades vizinhas que tenham talento e interesse em ficar em seu lugar. Riley já
tem algumas opções que topariam assumir o posto de Angel e inclusive fazer o
show de hoje. Logo mais minha advogada conversará com você e Paul a
respeito. – Ele mal me olha, mantém os olhos nela.
– Então você nem ao menos se despedirá das pessoas que vem aqui quase
todas as semanas para te ouvir? – Cretino.
Pensar na boca dele tentando beijar a minha mulher...
– Vou gravar um vídeo explicando os meus motivos, o que for possível,
claro e agradecendo. Deixaremos um telão montado atrás do palco, para que
você exiba se achar conveniente.
– Certo. – Respira fundo e abre os baços. – Então é isso?
– Denis, sei que é inesperado e em cima da hora. Não queria sair assim,
por outro lado, penso que não adianta protelar. Eu preciso levar Ben para casa,
retomar a minha vida. Estou há tempo demais longe dela. Mas de maneira
alguma quero te prejudicar ou te deixar na mão. Caso nenhuma das garotas que
Riley sugerir for do seu agrado ou você fizer questão que eu fique mais alguns
dias, adiamos o casamento. – O quê? Nem pensar.
– Desculpe An... Bia. Eu só... uuuh... – Ele solta o ar pesada e lentamente,
tenta conter a emoção. – Eu sabia que isto iria acontecer, e logo, mas por mais
que tentei me preparar, acho que não foi o suficiente. O baque foi maior do que
eu esperava.
– Ah, meu amigo... – Ela vai para perto dele e o abraça, abraça! Outra
vez!
É demais para mim, então me viro de costas e ando até a janela, porque ao
olhar para ele eu visualizo a tal cena do beijo e minha única vontade é esfolá-
lo vivo.
– Desculpe o meu comentário, eu não me importo em perder a cantora.
Nunca foi pela cantora. Aliás, a brincadeira de vocês ontem me rendeu quase a
receita do ano. O que me dói é saber que nunca mais verei os dois. Nunca mais
verei Ben. – Solto um risinho baixo e debochado.
Sinto muito, mas o roubador de beijos não consegue me comover.
Ele achou mesmo que ficaria com a minha família?
Ben acorda no canguru e reclama, o que me ajuda a afastar os pensamentos
homicidas. Retiro-o de lá. Ele vê Bia e inicia um chorinho que tento apartar.
Volto-me na direção deles outra vez e descubro que ela ainda está abraçada ao
mané.
Meu sangue ferve. Se eu não fosse culpado, acabaria com a viadagem num
já.
– Claro que você nos verá de novo. – Hã? Como assim? – Viremos visitá-
lo e você irá nos visitar, – sério? – inclusive tenho um convite a fazer. – Que
porra?
O que minha mulher está inventando?
– Se for para o casamento hoje à noite, sinto muito, mas não posso deixar
o bar...
– Não, eu sei... é outra coisa. Oliver e eu conversamos sobre muitas coisas
ontem e hoje, e decidimos que não iremos batizar Ben em uma religião. Mas
faremos uma cerimônia de apresentação e boas-vindas, para que ele receba as
bençãos dos amigos e familiares. Convidaremos pessoas importantes para nós
como padrinhos. Eu gostaria demais que você aceitasse ser padrinho dele. –
Acho que fiquei sem cor agora. Mesmo Beatriz? Como você não fala comigo
antes? – Se não se importar em dividir o posto com Lian e Max, claro.
– Mesmo? – Pois é camarada, me fiz a mesma pergunta.
– Claro, ele adora você, Denis.
– Eu vou adorar... amo esse menininho. – Ele está mesmo com lágrimas
nos olhos? – Será que posso pegá-lo? – pede a ela.
Por que não perguntou a mim?
Sou eu que estou com o menino no colo, caramba!
– Pode, claro.
– Ele está chorando, não sei... – Tento fazê-lo declinar.
– Tudo bem, estou acostumado a acalmá-lo. – O infeliz faz questão de me
lembrar o que eu perdi antes de retirar o meu filho dos meus braços.
Ben se agita, faz festa para ele, engulo em seco, não é uma sensação boa.
Não mesmo.
Bia se aproxima e abraça minha cintura. Abraço-a de volta.
– Não se preocupe amor, ele sabe quem é o pai dele. Denis será um tio
querido, divertido e brincalhão, apenas isto – fala baixinho.
– É difícil pensar que ele esteve perto e eu não. Que não fui o primeiro
homem a pegá-lo no colo. É meu filho...
– Não pense. Já foi, não temos como mudar. Concentre-se no daqui em
diante, é o que importa, é o que vale a pena.
Ah, minha encantadora mulher... sempre com as palavras certas...
– Eu vou.
Trago-a para mim, levo minha boca a dela e a beijo. Preciso me fartar da
sua doçura para eliminar o gosto amargo em minha boca.
O gosto da culpa.
A prendo pela cintura com uma mão, a outra adentra os seus cabelos e para
em sua nuca. Mantendo-a presa a mim. Ela enlaça meu pescoço. A saudade
aperta o peito, ainda não deu para apartá-la de vez.
Vai demorar.
O beijo é quente, molhado. Por um instante esquecemos onde estamos e nos
perdemos no momento, nos perdemos um no outro.
Quando paramos, tudo que queremos é mais.
– Espero um dia encontrar um amor assim. Não há como negar que há algo
muito raro e especial entre os dois. – A voz do meliante nos devolve ao
presente. Ben se agita para ir para o colo da mãe, ela o pega. Ele se agarra a
ela e deita a cabeça em seu ombro.
É filho... ela também é o meu lugar preferido no mundo.
– Quem sabe o seu amor não está mais próximo do que imagina, Denis.
– Não estou entendendo.
– Quem sabe se você der uma chance a alguém que é muito apaixonada por
você...
– Está mesmo me sugerindo o que acho que está?
– Sim. Estou. – O babaca ri.
– Sério? Conhecendo Julie como conhece?
– Sabe o que eu acho, de verdade? Que no fundo, Julie é um doce de
menina. Pelo jeitinho dela quando não está tentando se fazer de durona e
difícil, diria que é meiga e carinhosa. E você não pode negar que é uma bela
mulher. Já te flagrei algumas vezes com os olhos em cima dela.
– Rá!
– Não negue, você sabe que é verdade. Todo o rancor e frieza que
demonstra, nada mais é do que um mecanismo de defesa. Um jeito de se
proteger da sua rejeição constante e de aliviar a dor de te ver desfilando com
outras. Outra coisa que não podemos negar é que ela te ama. Te ama de
verdade. Por qual motivo acha que ela se doa como faz por este bar? Porque
ele é importante para você. Por que não se envolve com outros caras? Nem
que seja para te fazer ciúmes? Porque ela não te quer por querer, ela só quer
você. Cuide para não perceber tarde demais que a mulher certa esteve sempre
bem diante dos seus olhos.
– Não há a menor possibilidade... – Denis está branco.
– Por que não? Já se fez esta pergunta com sinceridade? Que motivos você
teria para nunca ter dado uma chance real a vocês? Orgulho? Não quer dar o
braço a torcer? Medo? Por ela estar ali, disponível, não impor resistência?
Sinceramente, não acho que seja falta de química. O que você tem a perder?
Está chovendo caras atrás dela. Ela não dá mole a ninguém por sua causa, mas
uma hora vai cansar e eu diria que essa hora está bem próxima. – Bia faz uma
longa pausa para que Denis se defenda, mas ele está completamente sem ação.
– Agora precisamos ir. Nosso dia será uma loucura e tenho que falar com
Maggie ainda. Obrigada por tudo, de verdade Denis, jamais vou esquecer e
conte comigo, sempre. Não perderemos contato, eu lhe prometo. Será sempre
bem-vindo em nosso lar e na vida de Ben. Te aviso sobre a festa de
apresentação e você irá nos visitar, conhecer a nossa casa. Por favor, fique
bem. – Eles se abraçam, de novo.
– Até mais querida, foi uma honra ter os dois aqui. Obrigado por
transformar o Secret Hidden no que ele é hoje.

Bia

– Bia, oi? – Maggie atende a minha ligação ao terceiro toque.


– Maggie, estou na recepção do hotel, sei que está em seu horário de
trabalho, mas será que consegue uns quinze minutos para conversarmos?
– Consigo, claro. Me espere no sofazinho que já me junto a você. – Não
demora muito e ela chega, me abraça e senta-se ao meu lado.
– O que te traz aqui? Aconteceu alguma coisa?
– Aconteceu. – Mostro o dedo com a aliança, e ela me abre um lindo
sorriso.
– Que bom que colocaram um fim ao drama. Já era mais que sem tempo.
Olhar vocês dois juntos ontem foi... Nossa! Tá na cara que foram feitos um
para o outro, sem contar que você é uma sortuda do capeta! Porque... Jesus! –
Ela se abana e nós rimos.
– É, sou sim. Posso te contar em outro momento como se deram as coisas,
mas não agora, meu tempo é curto. E eu preciso aproveitá-lo para te fazer duas
propostas.
– Propostas?
– É. A primeira você não pode negar. Oliver e eu vamos nos casar hoje à
meia noite em Vegas. – Ela grita, preciso lembrá-la que não estamos sozinhas
ali. – E eu gostaria muito de ter você como uma de minhas madrinhas e Mary
Ann como minha daminha. Partiremos hoje as quatorze e trinta, de Trenton[19],
no avião de The Order. O que significa que teremos que deixar Sea Bright no
máximo as treze. Quero que você e Mary Ann venham conosco.
– Bia, é em menos de duas horas.
– Sim. Oliver já falou com o seu patrão. Ele a liberou. Te deu uma folga
de três dias.
– O quê?
– Pois é. Tudo acertado, basta ir para casa e fazer as malas. Terá que ser
rápida, é muito em cima eu sei, Oliver é maluco....
– Se é assim, nossa, vou adorar ser sua madrinha. E a outra proposta?
– A outra vou torcer para que aceite, mas entenderei que precisará pensar.
Vou te falar agora, caso queira conversar rapidamente com seus pais antes de
irmos para Vegas. Voltarei para o meu estágio e estudo assim que organizar a
minha vida ao chegar em casa. Ficarei de manhã com Ben, mas a tarde e, as
vezes, início da noite, estarei na Three Minds. E precisarei de alguém para
cuidar dele neste período. Você me contou uma vez sobre o seu sonho de fazer
pedagogia e trabalhar com crianças. Então a minha proposta é a seguinte,
venha para Oceanside conosco, disponibilizaremos uma casa próximo à
gravadora para você morar com Mary Ann. De manhã vai estudar, fazer
faculdade a distância, pagaremos os seus estudos e a tarde trabalhará para nós,
cuidará de Ben, Anthony e Mary Ann juntos. Contrataremos ajudantes que
ficarão sob a sua supervisão, pois confio meu filho a você de olhos fechados,
Maggie. Este será o valor do seu ordenado caso aceite, – deposito um
envelope em sua mão – não abra agora, veja em casa. Além disso, te daremos
passagens quinzenais, para vir ver seus pais ou levá-los para lá, como você
preferir.
– Bia...
– Calma, tem mais. Os meninos já estudam há tempos a possibilidade de
abrir uma escola dentro do condomínio, do maternal aos primeiros anos de
ensino fundamental, para atender aos filhos pequenos dos funcionários.
Conforme sua formação avance e se sinta apta, o projeto sairá do papel e a
escola iniciará as atividades sob a sua direção. Pronto, agora acabou.
– Nossa, isso... – Beijo sua bochecha.
– Pense, não responda agora. Sei que você e seus pais são muito ligados.
Mas é uma oportunidade para construir o seu futuro e o de Mary Ann, querida.
As opções em Sea Bright são poucas.
– Eu sei. O que você me oferece é um sonho, é muito mais do que eu
jamais imaginei conseguir. Pelo menos não com a minha realidade. – Ela
aponta para o uniforme de arrumadeira do hotel.
– O convite está feito e torço muito para que aceite. Agora vamos agilizar
porque o nosso tempo é curto demais.

– Não acredito que você conseguiu!


– Ah, primeira-dama, hoje todos os seus desejos são lei.
– Hazel, isso é perfeito! Bem o que eu imaginei. – Comemoro, olhando o
look noiva que ela separou para mim.
Depois que Oliver me contou que ela seria a responsável por nossos trajes,
mandei uma mensagem dizendo que eu queria entrar na capela vestida num
estilo meio Cindy Lauper. E a danada conseguiu o vestido perfeito.
Ele é um tomara que caia branco, estilo coração, o corpete justo, bordado
com pontos de luz, e um fino acabamento em tule preto em torno dos seios. Na
cintura há um cinto preto, largo, em couro brilhante. A saia é de tule branco,
bem cheia, rodada, curta na frente e um pouco mais longa atrás. Meias arrastão
pretas e uma bota branca meia canela, também em couro reluzente, com
cadarço e salto plataforma altíssimo, completam o visual. Ah, e um enorme
laço preto, que ficará encrustado no meio dos meus cachos, deixando um lado
dos meus cabelos mais altos, bem do jeito que a roqueira usava nos anos
oitenta.
Acabamos de chegar no hotel em Las Vegas, depois de mais de cinco horas
de voo. Não vi ninguém ainda, porque a afobada me arrastou direto para o
local que foi organizado no térreo para eu me arrumar, mas toda a família,
incluindo Henry e Iris, já se encontram no local.
Abraço minha amiga.
– Hazel, foi tanta confusão nestes três dias que mal pudemos conversar.
Mas não vejo a hora de termos um tempo só nosso. Estava morta de saudades,
quero saber tudo sobre Londres e um certo ruivo.
– Sim, tenho muito pra contar, desabafar... – confidência, desanimada –
mas também muito para ouvir, caramba, Bia, você é mãe! – Meu rosto todo
deve ter se iluminado.
– Eu sou! Foi um baque. Mas me apaixonei no primeiro ultrassom. Lindo
seu afilhado, não?
– Ah, já prevejo tantos corações partidos no futuro... serei uma madrinha
tão babona, vou amassar tanto aquele menino...
– Ele vai correr de você.
– Pode até tentar, mas não me escapa. Agora vamos, tem um salão cheio de
gente ansiosa para rever você.
– Hã? Achei que só os veria no casamento.
– Não mesmo. Todos estão loucos de saudades, Bia. E seu filho já deve
estar passando de mão em mão.
Saímos da sala e o segurança nos guia até onde armaram a tal recepção.
Assim que abro a porta, rostos muito queridos viram em minha direção com
largos sorrisos no rosto.
Rostos que eu já considerava minha família e dos quais foi difícil me
afastar.
Johnathan e Alicia abraçados, Henry e Iris também, Kellan ao lado de Max
e Lian, Laura com Ben no colo e lágrimas escorrendo pelo rosto. Edgar, Helen
e Oliver ao seu entorno.
Apresso o passo na direção de Laura e a abraço apertado. Um longo
abraço. Ben, espremido entre nós duas, agarra meus cabelos.
– Laura, como senti sua falta! Quis tanto tê-la comigo quando ele nasceu.
– Ah querida! Por que não me ligou? Eu teria ido até você no mesmo
instante. Por que fugiu, Bia? – lamenta com a voz embargada e lágrimas
escorrendo, a emoção dela libera a minha. – Por que não esperou
conversarmos? Ficamos tão preocupados.
– Desculpe Laura, era o que eu mais queria naquele momento, mas o vídeo
mudou tudo.
– Eu a teria tranquilizado sobre isso também, meu bem. Ele foi um idiota,
mas acha mesmo que seria capaz? Te amando como ama? – Beija minha
cabeça. – Mas hoje é dia de alegrias. – Ela se afasta para me olhar, usa uma
mão para secar os meus olhos. – O importante é que você está aqui, que vocês
estão aqui. Que lindo presente nos deu. Olha essa fofura! Sou bisavó! – Sorri.
– Você é avó e bisavó, dois em um.
– E eu, posso me considerar um vovô? – Edgar me puxa para um abraço,
acabo levando Ben comigo, pois ele não me soltou mais.
– Benjamin terá o melhor vovô do mundo.
– Nunca mais nos deixe preocupados daquele jeito, menina. Não tenho
mais idade.
– Senti tantas saudades, mestre. Será que você me aceita como pupila
novamente? Alguma chance de retomarmos os planos?
– Só se você prometer que não some nunca mais. – Sorrio.
– Está prometido!
– Ótimo, porque será sua última chance – diz com o semblante bem sério,
mas o olhar divertido.
– Entendido. Mais claro impossível. Tenho mais um pedido, posso?
– Hoje estou atendendo desejos. Diga.
– Meu pai não está mais aqui, e eu não quero entrar naquela capela
sozinha. – Seus olhos marejam antes que eu termine. – Tenho certeza de que ele
ficaria honrado se você assumisse o posto, e eu também. O que me diz? Aceita
ser o meu segundo pai?
– Sempre quis uma filha.
– Cuidado com o que deseja. – Beijo seu rosto molhado e cumprimento
Helen, que dá muitos beijos na bochecha de Ben, deixando-o irritado. Ela está
encantada com o bebê, tenta pegá-lo, mas infelizmente, neste momento, acho
que ninguém conseguirá tirá-lo do meu colo. Muito agito, muitas pessoas
novas, ele está assustado.
Antes que eu consiga chegar em Iris e Henry, Oliver bloqueia minha
passagem, me intercepta, me envolve em seus braços e me beija. Ouvimos
vivas e aplausos ao fundo, fico vermelha e há um bom tempo isto não
acontecia. Ele sorri e afaga minhas bochechas. Se vira para os demais, mas
mantém os braços em torno de mim.
– Eu queria agradecer. Cada um de vocês aqui acompanhou o meu
desespero e a minha luta para consertar a grande merda que eu fiz. Por sorte, a
vida me deu uma nova chance e hoje posso ter aqui, dentro do meu abraço,
tudo que eu mais amo. Minha mulher e o filho que eu nem fazia ideia que
existia. Eu não teria conseguido passar por aqueles dias sem a ajuda de vocês.
Sou muito grato a todos. Obrigado. – Me beija outra vez.
– Eu amo você – sussurra para mim.
– Também te amo. Cadê Maggie e Mary Ann? – pergunto, me dando conta
da ausência da minha amiga.
– A pequena estava cansada. Maggie entrou, apresentei-a rapidamente a
todos e depois preferiu subir para que a menina tirasse um cochilo antes da
cerimônia.
– Certo. Agora me solte e me deixe matar a saudade dos outros, rockstar. –
Ele sorri, beija a cabeça de Ben e nos libera.
– Bia! – Iris me abraça. – Você fez tanta falta. Tive que ir para Londres
sozinha e o combinado é que seríamos um trio.
– Ah, Iris... também senti saudades. Eu não estava bem...
– Eu sei, querida. E isso aí em seu colo? – Ben está com a cabeça
enterrada no meu pescoço, como quem diz, por hoje chega, não quero ver mais
ninguém...
– Pois é. Surpresa! – Rimos.
– Linda surpresa! – Henry me abraça. – Você está bem? – Entendo
perfeitamente o sentido do seu questionamento.
– Sim Henry, inacreditavelmente estou tranquila. Veja só, aceitei até me
casar em três dias...
– Verdade. – Ele acha graça. – Fico feliz que esteja bem e que vocês se
acertaram. Os dois foram feitos um para o outro.
– Nos amamos, merecemos ser felizes, Benjamin merece uma família.
Falando nisso, um passarinho me contou que há outro casamento em vista. –
Iris fica encabulada.
– Por mim, aproveitava que estamos aqui e resolvia a questão. – Henry a
abraça e sorri. – Mas está difícil convencê-la.
– Você sabe porque quero esperar, não se faça de desentendido.
– Sei sim, meu amor, só acho uma bobagem...
– Henry!
– Desculpe, desculpe...
– Primeira-dama, agiliza! Temos que começar a produção. – Hazel grita
do outro lado do salão, abraçada a Max.
– O furacão está fiscalizando, – faço um movimento de cabeça em direção
a Hazel – me deem licença, por favor.
Me aproximo dos meninos. Paro em frente a Kellan. Ele ergue o braço e
segura a mãozinha de Ben. Meu bebê finalmente resolve sair do seu
“esconderijo” e olhar para quem o acaricia.
– Mais a cara de Oliver, impossível. – Sinto que não sabe bem como agir
na minha presença, pois não me olha nos olhos.
– Kellan, olhe para mim, por favor. – Ele vacila um pouco, mas faz.
– Obrigada. Se não fosse o que você fez, não sei quanto tempo mais
viveríamos separados. Talvez eu nunca tivesse coragem de me aproximar outra
vez e Benjamin perderia a chance de crescer perto da família incrível que ele
tem. Posso te dar um abraço? – Não espero que autorize, passo meu braço por
seu pescoço e o trago para perto de mim.
– Eu fiquei tão preocupado. Quis matar Oliver – confessa, finalmente me
abraçando de volta.
– Querido, não pude retribuir o tipo de sentimento que você esperava de
mim, mas eu amo você. Seremos família e sempre poderá contar comigo.
Quero tanto que seja feliz. O seu amor Kellan, a mulher que terá a honra de ser
a dona do seu coração, está por aí, e no momento certo vocês vão se encontrar.
– Obrigado. As coisas estão a cada dia mais bem resolvidas dentro de
mim, não se preocupe. Já não machuca como antes. Estou feliz por vocês dois,
de verdade. Acompanhei o sofrimento dele e entendi a diferença. Será que
posso me considerar um tio? – Sorrio e beijo sua bochecha.
– Ben, este é o seu tio Kellan. Assim como todos os outros tios, ele vai
mimar e “estragar” você e que Deus tenha piedade de mim. – Rimos, Johnathan
e Alicia vêm até nós. Eles me abraçam, brincam com Ben, conversamos não
mais que três minutos quando Hazel e Oliver se aproximam.
– Tempo esgotado – determina ela. – Preciso preparar a noiva.
– Não tão rápido, princesa. – Oliver me abraça por trás. – Primeiro a
noiva vai me entregar o nosso filho e se encaminhará ao buffet. Você precisa
comer alguma coisa, Beatriz. – Beija o topo da minha cabeça.
– Estou mesmo com fome... Ei meu amor, – tento fazer Ben desgrudar do
meu pescoço – você fica com o papai um pouquinho? – Ele deita a cabeça no
meu ombro outra vez, como se entendesse e não concordasse.
– Vem cá filhão, larga a mamãe. Hora de fazermos coisas de homens. –
Ben resmunga, mas assim que o pai o ergue e faz firula em sua barriguinha,
abre um sorriso.
– Coisas de homens? E o que seria? Peidar, cuspir e arrotar? – Hazel
pergunta.
– Com que tipo de homens você anda saindo, Hazel? Eu hein... Fala para
ela filho, os machos conversam sobre garotas... garotas gostosas... papai vai
ensinar algumas técnicas.
– Oliver Rain! Eu ainda não disse sim.
– Um pai tem que mostrar certas coisas ao filho, anjo, não se meta, é coisa
nossa. – Fecho a cara para dele, mas não se abala. – Hazel, por favor, arraste
minha mulher daqui e garanta que ela coma.
– É para já, estrela. Venha primeira-dama, ou hoje você não se casa.
Oliver

– Cara, você tá ridículo! – Lian, Max, Kellan e Henry, meus adoráveis


padrinhos, estão se dobrando de tanto rir da minha cara.
– Vão a merda! Max, nem fodendo, abaixa a câmera! – Apesar do meu
protesto o veado tira a foto.
– Ah, que vontade de postar esta primazia na nossa página...
– Considere-se um homem morto!
– Não fazia ideia de que um homem para casar precisa abrir mão da sua
masculinidade.
– Pelo menos eu tenho uma para abrir mão, bundão. – Mostro o dedo da
discórdia para Lian.
– Mas conta aí Oliver, como conseguiu fazer a obra de arte? Praticou
muito nos últimos meses? – Henry pergunta aos risos.
– Inferno... ideia de Hazel... – Eles gargalham mais.
– Tô só tentando imaginar o objetivo disso... – Suspiro com o comentário
de Kellan.
– Sua irmã decidiu que eu preciso surpreender Bia no altar, e para isto
resolveu me transformar no Jim Morrison. Como o cara tinha os cabelos
ondulados, veio aqui e enfiou os bobes na minha cabeça... – Os quatro quase
rolam no chão. – E tem mais...
– O quê? O cara usava calcinha? Mostra aí... – Lian apela. Reviro os
olhos.
– O furacão disse que... peraí, disse não, ordenou, que eu tirasse
completamente a barba para “entrar no personagem”. Porra, minha barba é
rente, mas não me lembro a última vez que fiquei com a cara toda lisa... –
Focalizo em Max. – Tenho até pena do homem que Hazel fisgar.
– Está com medo da noiva fugir quando vir sua verdadeira face? – Lian
segue na zoação.
– Rá. Rá – zombo, mas por dentro estou uma pilha. – Brincadeiras à parte,
estou nervoso pra caralho – admito.
– Nervoso por retirar a barba ou medo de que os cachos não fiquem
“definidos”?
– Vá a merda, fedelho.
– Deixa de bobagem, Oliver, vai dar tudo certo. A não ser que na hora H
ela resolva trocar o Jim pelo Elvis. – Henry não consegue me olhar sem rir.
– Porra! Que merdas de padrinhos eu escolhi. Se arrependimento
matasse...
– Velho, é que está difícil olhar pra você com a cabeça parecendo uma
árvore de natal e te levar a sério.
– Vocês não deveriam estar se arrumando? Que tal me procurarem ali na
esquina?
– Nada disso, temos que ficar aqui e dar apoio moral. É nossa função. –
Lian atira um embrulho no meu colo. – E este será o nosso look, veja se está à
altura do evento... – Olho desconfiado para o pacote, mas depois dos bobes
nos cabelos, nada pode ser pior, não é mesmo?
Abro e assim que entendo do que se trata, meus olhos enchem.
– Vocês são uns cretinos filhos-da-puta!
– Ah, brother, não era essa a reação que esperávamos. – Lian passa uma
mão pelos meus ombros. Max faz o mesmo, pelo outro lado.
– É que... acho que eu ainda não acredito que ele existe, sabem? Que está
aqui, que é meu! E ver estes pedaços de pano do tamanhinho dele... a camiseta
com o logo da nossa banda... parece que fez tudo valer a pena. É especial,
obrigado.
– Não por isso. Ele será o quinto elemento. Estaremos os quatro
combinando com Benjamin. – Analiso as peças com cuidado.
– Espera aí? Vocês vão de calça de couro? – Os quatro confirmam. – E
com mangas tatuadas?
– Não, as mangas são exclusivas de Ben, se você olhar bem, são as minhas
tatuagens do peito replicadas. Porque claro que serei o padrinho preferido e
ele vai querer se parecer comigo... – Lian abre um baita sorriso. Só balanço a
cabeça.
– Quero deixar claro que fomos contra a parte das mangas. – Esclarece
Max, apontando dele pare Kellan e Henry.
– Ficou um arraso, confessem! – Lian se gaba.
– Falando em tatuagem, conseguiu Kellan?
– Sim, o tatuador está chegando aí.
– Ótimo. Obrigado.
– Bom, preciso cumprir a promessa de mandar uma foto para Hazel, não
quero correr o risco dela se vingar colocando adereços nos meus cabelos. –
Max diz aos risos.
– Pode deixar que eu mesmo mando. – Posiciono as roupinhas sobre o
balcão branco e clico.

Max disse que tinha uma


promessa a cumprir, então aí
está...
Ah que fofo... não mande para Bia,
é surpresa
Sim, será uma grande surpresa
ela vir o filho de braços tatuados
e o futuro marido parecendo
uma boneca no altar... que tal
você deixar eu ir de eu mesmo?
Quanto as tatus, coisa de Lian, não
tive nada a ver com isso... e sobre a
outra questão... NÃO!
Já fez a barba? Estou terminando
com a primeira-dama e logo volto aí
com a sua roupa. E ai de você se
não tiver tirado todos os pelos do
rosto
Inferno Hazel, Bia gosta da
barba...
Cresce de novo. Não pedi para
cortar o pau, Oliver. Desse sim sei
que ela não abre mão... ��

Caio na gargalhada com a espiga de milho e Max arranca o telefone da


minha mão para ler a nossa conversa. É briga perdida, melhor não discutir e
fazer o que ela quer...
– Cada vez me assusto mais com a minha menina – comenta o ruivo.
– Ela está se tornando uma mulher incrível, Max. O cara que a laçar será
um homem de sorte... – Jogo verde. Ele faz uma careta em repulsa a ideia de
alguém laçá-la.
– E que Deus o ajude! – Kellan complementa. Pego meu celular de volta
para encerrar a conversa.

Sabe princesa, estou começando a ter pena de


Max. Pensando seriamente em rever minha
decisão de te ajudar... �� até mais, furacão!

Antes de dar adeus a minha barba, ligo para vovó.


– Oi filho.
– Como ele está?
– Dormindo tranquilamente, não se preocupe. Bia veio aqui, o trocou e
amamentou, então caiu no sono, está assim há mais de uma hora, para tristeza
de Helen. – Sorrio e coloco no viva voz para que Max ouça.
– Helen ainda está babando no meu filho?
– Muito! – A própria responde alto para que eu ouça.
– Não sai de perto. – Suspira vovó. – Está apaixonada pelo meu netinho,
até demais para o meu gosto... – Dou uma bela risada e ouço as risadas de
Helen e Edgar ao fundo.
– Ciúmes, dona Laura?
– Claro! Ela disse que terei que dividir o posto de avó com ela... veja se
tem cabimento? E não me espantaria em nada se Alicia se candidatar também.
– Sei que no fundo vovó está contente em ver Helen empolgada, todos nós
torcemos para vê-la feliz.
– Acho que a solução é adicionarmos mais netos à ninhada compartilhada,
o que acham? O próximo pode vir de Max... – Ele só me olha, não reage.
– Ótima ideia! – Vovó afirma.
– Seria um sonho... – Helen ajuda. Olho para Max e me assusto. Há
lágrimas escorrendo pelo seu rosto.
– Cuidem bem dele. Até depois. – Desligo rapidamente para que Helen
não ouça e se preocupe.
– Irmão, o que foi? – Lian e eu tentamos abraçá-lo, mas não permite. Se
afasta, passa as mãos pelos cabelos, anda pelo quarto enquanto tenta se
acalmar. Henry pede que aguardemos em silêncio.
– Será que é isso? Isso que eu tenho que fazer para ela voltar a ser feliz?
Para parar de pensar... – Finalmente se abre.
– Max... – Henry ergue a mão para que eu deixe.
– Porque se for... mesmo eu não pretendendo, eu faço. Faço um filho.
Arranjo uma mulher qualquer, me caso e dou um neto a ela. Perceberam a
animação na voz dela? A última vez que lembro de vê-la genuinamente
animada... – Não diz mais nada, se perde em pensamentos.
– Não é assim que as coisas funcionam, Max. Se é para arranjar uma
mulher qualquer, como diz, melhor dar um neto a ela sem se casar. Uma coisa
não depende da outra. Ter um filho não é motivo forte o suficiente para prender
duas pessoas a um casamento, e outra... – Max corta Henry.
– Jamais traria uma criança ao mundo sem que ela tenha pai e mãe. Juntos.
Sei bem qual o sentimento de não ter...
– Certo. Mas o que eu ia complementar e você não deixou, é que o desejo
de sua mãe em ter um neto, também não é motivo suficiente para ter um filho,
por mais que isto a faça feliz. Você tem que se tornar pai porque você se
sentiria feliz, Max.
– Eu faria qualquer coisa para vê-la bem outra vez, Henry. Qualquer coisa.
– Não espera que ninguém diga mais nada e deixa o quarto.
– Devo ir atrás dele? – Lian pergunta.
– Não. Ele precisa de um tempo, organizar os próprios pensamentos.
– E eu tenho que agilizar, me deem licença, por favor. –
Infelizmente não tenho tempo para me preocupar com Max agora, mas
teremos uma bela conversa em um futuro próximo. Neste momento, minha
opção é ir para o banheiro cumprir a missão que me foi imposta e que não me
agrada em nada.

Bia

– Você está maravilhosa, primeira-dama.


– Tem certeza? Não lembro de ver clipes ou fotos da Cindy Lauper com os
peitos pulando para fora do decote. – A doida pintou uma mexa do meu cabelo
de rosa desta vez, e minha maquiagem mescla tons de rosa e chumbo.
– Porque ela não tinha peitos como os seus para mostrar. É uma Cindy
Lauper decote Madonna, pronto. – Olho torto para ela. – Está linda demais,
Bia, bem rock’n’roll e muito, muito sexy. Oliver pedirá ao Elvis que acelere a
cerimônia para pular logo em você. E para embelezar ainda mais o decote,
temos isto. – Ela me entrega uma caixa de veludo preto com um lindo laço
branco em cima.
Olho desconfiada.
– Abra, é de Oliver.
Desfaço o laço e abro a caixa. Reconheço a peça, é o colar da campanha da
Tiffany. Levo a mão a boca. A joia de ouro branco tem cinco voltas, duas
formam uma gargantilha e as outras três caem em cascata pelo colo. Toda
adornada com diamantes, pérolas e pérolas negras. Tiro a peça da caixa e acho
um papelzinho dobrado.
Meu amor, tenho isto comigo desde a campanha. A intenção era dar a
você quando a turnê terminasse, mas não houve oportunidade. Nestes dez
infindáveis meses, fiquei várias e várias vezes olhando para esta joia e me
imaginando prendendo você pelas voltas do colar como fiz durante o ensaio.
Só que na minha imaginação, você estava nua, vestia apenas ele. Não vejo a
hora de tirar seu vestido de noiva e realizar minhas fantasias. Use-o e
colabore com os meus sonhos. Te amo tanto... Seu, Mr. Rain.
Hazel me abraça.
– Não precisa segurar as lágrimas, a maquiagem é a prova d’água. Tenho a
impressão de que você vai chorar muitas vezes nesta noite. – Respiro fundo
tentando me conter ao máximo.
– Hazel, vou carregar milhões em meu pescoço. Vai chamar atenção, não
sei se é seguro...
– O esquema de segurança está fortíssimo, estará protegida, não se
preocupe.
– Coloque em mim então, querida.
– É para já, maninha... pronto, lindíssima! A limusine com o Elvis, já
chegou. Vamos?
– Vamos, só me deixe ligar para Laura...
– Você ligou três vezes em menos de duas horas, ele está bem Bia...
– É rápido... – Não perco tempo e disco. – Oi Laura?
– Oi querida! Benjamin está ótimo. Quando acordou, dei o leite que
deixou, conforme orientou. Acabamos de chegar na capela. Ele está com
Maggie e Mary Ann agora. E Helen rondando, claro... – Sorrio ante o seu tom
enciumado. – O carro que trouxe Oliver acabou de estacionar, estou na porta
esperando para levá-lo até o altar.
– Obrigada por cuidar do meu filhote e não deixe meu noivo desistir,
sairemos do hotel em poucos minutos.
– Mais fácil o Trump virar gente humilde do que Oliver desistir deste
casamento. Até logo, filha.
– Deixamos a sala que foi o meu “camarim”, cercadas de seguranças.
Conforme nos aproximamos da saída do hotel em que a limusine branca nos
espera, é possível ouvir o nosso Elvis, cantando Heartbreak Hotel. Era
exatamente o clima que eu queria para este dia... nada convencional, nada
sofisticado. Música e amor.
Enquanto Elvis, que está muito bem caracterizado por sinal, canta que
ficaria com o coração partido e muito, muito solitário sem mim, entramos no
carro. Ele encerra a performance e toma o acento ao lado do motorista.
Hazel saca o telefone e digita algo rapidamente. Instantes depois recebe
uma mensagem, olha, sorri, digita mais alguma coisa e me mostra.
É a página da The Order.
Oliver acabou de postar uma foto de nossas mãos dadas, onde mostra bem
as alianças. E embaixo está escrito “Hoje estas alianças mudam de mão. Hoje
ela será minha para sempre. Não há homem mais sortudo e feliz do que eu.”
Porra, lágrimas outra vez.
Elvis canta Suspicious Minds durante o trajeto, admitindo que já caiu na
armadilha e não pode mais sair dela, porque me ama muito.
Não demora, estacionamos defronte à capelinha branca, que lembra muito
uma casinha de campo, chamada Graceland[20] Chapel. Assim que liberam a
minha saída, Elvis me pede para não ser cruel com um coração sincero, pois
temos um futuro brilhante pela frente, cantando Don’t be Cruel.
Na entrada da capela consigo avistar Maggie e Iris, minhas duas outras
madrinhas, minha daminha, e Edgar. Todos, assim como Hazel, com capas
pretas para que eu não veja os looks que vestem por baixo. As três garotas com
os cabelos presos. Mary Ann tem os cabelos todos cacheadinhos, parecendo
Shirley Temple.
– Uau! – Iris e Maggie falam juntas quando me veem.
– Tem um cara ansioso ao extremo em cima daquele altar. Espero que o
coração dele seja forte, porque quando te vir assim...
– Ah Iris, pegue minha mão, estou gelada. – Edgar me abraça.
– Acalme-se, já são um do outro, só vão oficializar.
– Eu lembro bem da sua calma no dia do seu casamento, mestre. – Ele ri. –
E então, vão me deixar ver os seus looks ou não?
– Primeiro Mary Ann, determina Hazel. – Ela retira a capa e eu não
poderia ficar mais surpresa.
A menina está usando uma réplica da roupa que Olivia Newton John usou
na última cena de Grease. Um macacão em couro tomara que caia, o cinto com
fivela de metal e uma jaqueta de couro por cima. Na mão ela segura um
microfone.
– Mary Ann, você está um arraso, uma gata! – Me abaixo, a abraço e a
beijo. – Mas qual a do microfone?
– Mostre a ela fofinha – pede Hazel. A menina aperta um botão e de dentro
do objeto saltam papeizinhos prateados minúsculos.
– Suas pétalas de rosas para a entrada. – Hazel diz e sorri para mim, caio
na gargalhada. – Vez das Madrinhas. – As três viram-se de costas para mim e
abaixam as cabeças.
– No três. Um, dois, três – canta Hazel.
Tornam a ficar de frente e retiram as capas ao mesmo tempo. Minha
gargalhada aumenta. As malucas estão com perucas morenas na altura dos
ombros, com franja desfiada, um vestido de couro muito justo e colado, com
ombreiras largas e saltos altíssimos.
– E aí, reconhece? Quero ver se você é boa mesmo em reconhecer os
clássicos do rock. – Olho tentando associar o look à celebridade do século
vinte... – Peraí, talvez isto ajude. – Elas se afastam e pegam três guitarras que
estavam encostadas na parede e eu nem tinha percebido. Atravessam os
instrumentos sobre os ombros.
Minha ficha cai, eu acho...
– Joan Jett no clipe de I love rock and roll?
– Isso! – Hazel bate palmas. Ela se empenhou mesmo, caramba. – Só
trocamos a calça preta pelas saias, para ficar mais sexy.
– Estão lindas! E acho que deveriam aderir ao penteado – digo debochada,
as três me xingam. Elvis agora canta que está com os joelhos trêmulos e todo
arrepiado por causa da menina que ama, por estar apaixonado, em All Shook
Up.
– Só para você saber, esta foi a música que ele cantou, quer dizer, o outro
sósia cantou, na entrada de Oliver. – Maggie me atualiza.
– E foi bem apropriado, se não me engano as pernas dele falharam alguns
passos. – Iris complementa.
– Bom, falta uma revelação. – Aponto para Edgar.
– Ah, esse é o melhor, se prepare... – Ela remove a capa e eu não posso
acreditar que Edgar topou aquilo.
– Mestre...
– Não tive escolha pupila.
– Posso imaginar. – Ele está com uma calça púrpura, uma camisa branca
com babados, estilo os nobres franceses usavam e um sobretudo púrpura
brilhante. Um dos famosos looks de Prince.
– Só não consegui fazê-lo concordar com a peruca – lamenta Hazel.
– Ele é um Prince muito mais elegante de cabelos grisalhos. – Beijo a
bochecha de Edgar.
– Só por você menina, só por você... – murmura. Elvis termina a segunda
música e se aproxima.
– Hora de iniciarmos a cerimônia, assim que eu começar a próxima
canção, as portas vão se abrir e as madrinhas podem entrar. Posicionem-se por
favor. Noiva e daminha, aguardem ao lado. Não pode espiar – adverte e dá
uma piscadinha.
Uma assistente cerimonial ajuda as meninas a ficarem na formação correta.
Elvis afina seu violão, se posiciona ao lado da entrada e assim que toca o
primeiro acorde de Hard Headed Woman, as portas se abrem.
Minhas lindas, amadas e loucas madrinhas entram uma atrás da outra, com
Hazel puxando a fila, carregando guitarras ao invés de flores, enquanto ele
canta que as mulheres cabeça-dura tem sido um problema para os homens
desde os primórdios da humanidade.
Ouço as risadas dos convidados ao contemplarem os looks delas, mas antes
que eu consiga tirar uma palhinha do que acontece lá dentro, as portas se
fecham novamente.
A assistente põe Mary Ann em seu lugar e eu, de braços dados com Edgar,
atrás dela. Tenta colocar um lindo buquê de tulipas cor-de-rosa em minhas
mãos, mas eu recuso.
Quero as mãos livres.
No instante em que Elvis inicia Always on My Mind, a linda música
gravada para o amor de sua vida, Priscila, amor que ele lamentou perder até o
dia da sua morte e na qual confessa que mesmo nos momentos de distância, ela
não saiu de seus pensamentos, as portas se abrem. E por mais que eu tente, não
consigo enxergar nada, pois meus olhos estão cheios de lágrimas contidas.
Isto está mesmo acontecendo?
Estou mesmo me casando com Oliver Rain?
O meu sonho de menina?
Mary Ann dá passos à frente, largando papeizinhos pelo caminho e eu vou
junto, guiada por Edgar e com a voz de Elvis acompanhando atrás de nós.
Ouço pessoas fungando conforme caminho, outras rindo pelo look de Edgar,
não me atrevo a olhar para os lados e não consigo achar foco ao olhar para
frente. Algumas lágrimas escapam e só quando ouço um soluço, é que
finalmente o vejo.
O vejo e paro.
Com pouco mais da metade do caminho percorrido.
Ele tem os olhos vermelhos e o rosto banhado como o meu.
Mas não é a sua emoção que me fez parar.
Não. Paro porque mesmo em meio às lágrimas uma onda de riso me
acomete. Não consigo segurar.
Oliver me olha e também trava uma luta entre a diversão e a emoção, a
graça vence e ele ri junto comigo.
Perfeito!
É desta forma que lembraremos deste dia.
Aqui eu ri, aqui eu chorei.
E era mais do que certo que ele não escaparia das garras do furacão.
Meu quase marido tem os cabelos soltos e levemente encaracolados, usa
uma calça de couro boca de sino e uma camisa branca anos setenta, mangas
largas nos punhos imitando a calça, decote canoa, com três botões abertos na
frente, deixando um pouco dos pelos do peito à mostra.
E detalhe.
O rosto parece o bumbum do meu bebê.
Não fosse pelos músculos muito mais trabalhados do que os de Jim, diria
que ficou igual ao personagem que representa.
E deste jeito ou no seu normal, não há dúvidas de que ele sempre, sempre
acende o meu fogo.
Um Deus em carne e osso.
E meu.
Acho que eu mesma vou pedir ao Elvis que acelere a cerimônia.
– Hazel, minha noiva está indecisa se vem até mim. Eu avisei que ela
gostava da barba. Edgar, não a deixe desistir, dois dias no máximo e estarei
com o rosto coberto outra vez.
– O que ela decidir eu apoio, filho. – Edgar brinca e Oliver pragueja.
Só então percebo o quarteto de padrinhos. Opa, quarteto não, quinteto, pois
Ben está no colo de Lian, vestido igual aos quatro, com camiseta da banda.
Não há coração de mãe que resista.
Meu menininho me olha e treme o queixinho querendo chorar, mas Lian o
embala e ele resiste bravamente.
Não sou tão forte.
– Hei, quem tatuou os braços do meu filho? – pergunto secando os olhos.
– Baby, por favor, trate de vir até mim... já estou suando frio aqui. Quanto
antes terminarmos, antes eu tiro o seu vestido. – As pessoas riem. – Você não
teve um pingo de dó de mim ao escolher o figurino... Porra! – Abandono as
lágrimas e volto ao riso.
– Oliver Rain, comporte-se na frente dos nossos convidados.
– Vamos querida, Elvis teve até que recomeçar a música. – Edgar diz
divertido, ao meu ouvido.
Sim, vamos.
É tudo o que eu mais quero.
Ser dele.
Mal me aproximo do altar, Oliver tenta me levar para os seus braços, mas
Edgar frustra os seus planos.
– Não tão rápido, filho – adverte. – Eu amo os dois, mas esta menina terá
sempre o meu coração nas mãos, ainda mais agora que ganhei o posto de
segundo pai. Então abra os olhos, pois os meus estarão sempre bem abertos –
ameaça.
– Sei muito bem o que é ter o coração nas mãos dela, Edgar, não se
preocupe. Beatriz é a minha vida. – Os dois apertam as mãos e Oliver
consegue finalmente fazer o que tanto queria, unir nossas bocas num beijo
quente.
– Uma experiência nova te beijar sem a barba roçando meu rosto, confesso
que não via a hora de experimentar, mas deixa eu te contar uma coisa, rockstar.
O beijo é só no final.
– Muitas saudades, anjo, não deu para esperar. – Acaricia meu rosto. –
Cindy Lauper, hã?
– Jim Morrison? Eu pretendia me casar com Oliver Rain. – Ergo as
sobrancelhas, fazendo graça.
– E o furacão deu chance?
– Posso imaginar... Mas sabe, você está gostoso pra caramba, vai ser
interessante saber como é sem barba quando você for... – encosto a boca em
seu ouvido – lá embaixo... – Ele sorri e balança a cabeça.
– Porra, não vá me deixar de pau duro aqui – sussurra de volta. – Você
está maravilhosa, mas tem muito peito aparecendo aí, Beatriz, flagrei o Elvis
charlatão babando neles algumas vezes... E eu estou seco para descer a minha
língua e deslizá-la em tordo do seu colar...
– Hã, hã. – Elvis nos lembra da sua presença e de que está posicionado
para iniciar a cerimônia.
Bem neste momento Benjamin resolve que já passou tempo demais longe
dos pais e chora. O noivo pede um minuto e vai em socorro ao filho, que se
joga em seus braços. Oliver não cabe em si de tanta satisfação.
Somos três no altar agora.
As “bençãos” são rápidas, Elvis basicamente diz que espera que saibamos
nos respeitar e colocar o amor acima de todas as outras coisas, por fim deixa
seus votos de felicidades e nos entrega as alianças que devemos colocar um no
dedo do outro ao findar dos nossos votos.
Ele passa um microfone primeiro para mim.
Respeito fundo e tomo coragem.
– Hoje, olhando para o passado, eu já sabia. Soube no momento em que te
vi pela primeira vez. Por isso me impactou tanto. Por isso não esqueci. Era o
meu destino, o nosso destino estarmos aqui, hoje, olhando um para o outro e
afirmando na frente das pessoas que amamos aquilo que nossos corações
tramaram no primeiro contato.
– Desde o momento em que aterrissei de supetão em sua casa, você me
colocou em primeiro lugar. Mesmo nos rompantes, nos ciúmes e nas fugas, –
ele sorri e alguns risos pipocam pelos bancos da capelinha – estava ou
pensando em mim, ou cuidando do nosso amor, porque você também sabia,
sempre soube. – Ele não evita que algumas lágrimas escapem e eu passo a mão
pelo seu rosto.
– E depois que aceitou o inevitável, foi atrás de mim e me beijou naquela
boate, só o que fez foi me cercar de mais cuidados e mais amor. Me deu tantas
e tão lindas provas dele. Seu coração é incrivelmente lindo, Oliver. Abrir mão
de você mesmo para o bem do outro é algo tão natural no seu íntimo que nem
pestaneja e as vezes mete os pés pelas mãos...
– Anjo...
– Calma, não terminei. – Puxo o ar outra vez. – Eu sei, meu amor, que
mesmo naquele momento você estava cuidando de mim. E o que sentimos é tão
forte que até durante o tempo em que estivemos separados, não estivemos. Nos
mantivemos conectados e leais aos nossos sentimentos. Eu não suportaria nem
cogitar a ideia de viver de outra forma. – Me aproximo mais dele e foco bem
dentro dos seus olhos, ainda com a mão acariciando seu rosto.
– Se não for você, não quero mais ninguém.
Ele desaba.
Ele precisa tanto disso. Entender que é especial.
O menino machucado dentro dele precisa desesperadamente ser colocado
em primeiro lugar e se sentir único para alguém.
E eu não falei nada mais do que a verdade.
Só ele.
Antes de continuar, trago Ben para o meu colo, pois está assustado com o
choro do pai.
– Eu amo tudo e cada coisa em você. Sempre te olho encantada, como a
criança que vê o mar pela primeira vez, e suponho que isso nunca vá mudar.
Venero o músico talentoso, cuja poesia toca minha alma e a voz me hipnotiza.
Admiro o ser humano, que ama acima de si mesmo. Me emociono com o pai,
tão encantado e apaixonado pelo filho. Me derreto pelo homem, que rouba
meus sentidos, descompassa meu coração, tira o meu fôlego e me acende.
Basta um olhar.
– Nosso encaixe é perfeito, rockstar. Nossa química, explosiva. É só nos
seus braços que desejo estar. Então, por favor, mantenha-se me amando e
fazendo amor comigo pelo resto da vida. Sou e sempre serei,
incondicionalmente sua. – Pego o anel, coloco em seu dedo anelar esquerdo e
beijo.
– Amo você, Mr. Rain. – Os meninos e as garotas assoviam, aplaudem,
alguns choram e os que estão nos bancos acabam acompanhando.
Devolvo o microfone ao Elvis, que o passa para Oliver.
– Pequena, você acabou comigo... vai ser difícil superar..., mas está certa,
tem razão. Eu já sabia. Não ao olhar para a garotinha de oito anos, homens são
mais lentos, sabe...
– Principalmente os com alguma idade... – provoco e a plateia se diverte.
– Quieta. São os meus votos – toma folego. – Eu soube assim que vi o
perfil de uma menina linda perdida em pensamentos pela praia. Foi tão forte
aquele momento, anjo. Senti que não poderia mais viver sem você, e não estou
exagerando.
– Você era pura luz e delicadeza e eu reconheci ali a minha felicidade.
Quis tanto aquilo para mim. Mas como seria possível? Eu e felicidade eram
como água e azeite, elementos que se expelem, jamais se conectam. Com todos
os meus fantasmas, minhas dores e meus problemas, seria um despropósito te
arrastar para o meio do meu caos. Não era para mim, não deveria ser.
– Só que aí, na nossa primeira interação você fala em ir embora, e meu
coração aperta. Na segunda, você elogia outro cara e o meu coração sangra,
sinto raiva, ciúmes. Não suporto nem ouvir. Algo inexplicável me acomete,
causa uma confusão danada dentro de mim, um sentimento desconhecido vem
de repente, sem me dar tempo de entender ou aprender a lidar. E quanto mais te
conhecia, mas enfeitiçado eu ficava.
– Meus olhos te seguiam, perdi a voz e a ação perto de você tantas vezes.
O desejo ascendia cada vez mais e mais, e a culpa acompanhava. Mas a
necessidade de tê-la e o sentimento de posse em relação a você falavam mais
alto e ao mesmo tempo que dava um passo para trás, dava outros dois em sua
direção.
– Você tirou meu prumo, puxou meu tapete, roubou o meu chão.
Desconstruiu quem eu era. E muito, muito obrigado por isso. – Ele se
aproxima, baixa a cabeça e cola nossas testas, Ben leva a mãozinha à boca do
pai, que a beija.
– Até que, como você disse, aceitei o inevitável e deixei o meu destino em
suas mãos. Pois foi isso que eu fiz naquela boate, meu amor, te dei o poder de
me elevar ou me destruir. Me entreguei a você de corpo e alma e óbvio que
você só me elevou. Me amou tanto e eu precisava muito, muito me sentir
amado. – Fungo, tento me conter.
Ah meu amor, você só merece ser amado.
– Vivi os melhores dias da minha vida ao seu lado, os momentos mais
leves, divertidos, quentes e apaixonados. Muito quentes e muito apaixonados.
– Abre um sorriso sacana. Reviro os olhos.
– Você me enlouquece pequena e te quero o tempo todo, você sabe... Só
quem tem a sorte de ter o que temos passará perto de entender o magnetismo
que nos domina quando nos entregamos ao ato de fazer amor... É forte pra
cacete!
– Mas aí, por minha culpa, passei outra vez por dias tenebrosos. E a única
coisa que aprendi com eles, Beatriz, foi o seguinte: eu não faço o mínimo
sentido sem você. – Já não contenho as lágrimas, deixo que corram.
– Viro um nada, um ser sem propósito, que se mantém vivo sem vontade de
viver. Depois de tê-la, nada mais me satisfaz se não posso compartilhar com
você. Só você me completa. Só você me aquece. Preciso de você como
preciso de ar. Obrigado por me amar, obrigado por não desistir de mim,
obrigado por este menininho em seu colo. Vocês são minha vida, minha
felicidade e o meu futuro, e eu farei de tudo para fazê-los felizes. – Põe o anel
no meu dedo esquerdo e beija.
– Eu a amo demais, Miss Rain. – Choro e sorrio ao mesmo tempo. Ele
devolve o microfone.
– Sendo assim, com o poder concedido a mim pelo estado de Nevada, os
declaro casados, são agora marido e mulher, pode beijar a noiva, de novo... –
anuncia o Elvis e não perdemos tempo.
Como se tivesse sido cronometrado, só que não, os fogos de artifício
anunciando o ano novo explodem no céu de Las Vegas, enquanto nosso beijo se
estende ali dentro e Ben tenta participar babando em nossas bochechas.
Paramos e beijamos cada um de um lado de seu rostinho, fazendo dele o
recheio do nosso sanduíche.
– Assinem os documentos por favor, são os papéis do cartório. Peço que
os padrinhos assinem como testemunhas na sequência – lembra a nossa
celebridade casamenteira.
Oliver assina primeiro e me entrega a caneta sorrindo de orelha a orelha e
com os olhos fixos no papel para não perder o lance, aquele pelo qual ele tanto
insistiu.
Então eu faço.
Pela primeira vez.
Assino, Beatriz Rain.
É oficial!
Sou a mulher do rockstar.
Ele me abraça e me beija de novo. Depois procura um papel debaixo dos
que assinamos e me mostra.
É a nova certidão de Benjamin.
Benjamin Rain, filho de Oliver e Beatriz Rain. – Bem que Hazel me avisou
que seriam muitas lágrimas.
Ergo as sobrancelhas para ele, que sorri e dá de ombros.
Como ele conseguiu isto antes de termos a nossa certidão de casamento não
sei, mas imagino que novamente tenha a ver com a fama e o dinheiro.
Elvis se afasta para pegar o violão, mas Oliver corre até ele, fala algo
baixinho e o outro concorda.
Meu noiv... não marido, pega o instrumento, o microfone no pedestal e se
aproxima de onde estou o máximo possível.
– Eu tenho uma surpresa, baby, ensaiei muito e guardei para usar como
arma, caso você dificultasse as coisas para voltar para mim... – De novo
aquele sorriso sacana estampa o seu rosto. – O trecho da música que vou
cantar agora, resume tudo que eu gostaria de dizer, não só hoje, mas todos os
dias da minha vida. Peço desculpas se a maioria aqui não entender nada. –
Fico confusa com o comentário.
Começa a tocar e quando abre a boca não posso acreditar no que ouço. Não
tem como não me emocionar outra vez.
Ele canta em português!
Como? Quando?
A música é “De Janeiro a Janeiro”, do Nando Reis.
Olhe bem no fundo dos meus olhos
E sinta a emoção que nascerá
quando você me olhar
O universo conspira a nosso favor
A consequência do destino é o amor
Pra sempre vou te amar
Mas talvez, você não entenda
Essa coisa de fazer o mundo acreditar
Que meu amor, não será passageiro
Te amarei de janeiro a janeiro
Até o mundo acabar
Até o mundo acabar
De janeiro a janeiro

Preciso pular nele.


É urgente!
Entrego Ben para Hazel e me atiro em seus braços.
O beijo, enlouquecida.
– Como você...?
– Uhm, pela sua reação, marquei muitos pontos... Gostou? Estou fazendo
aulas de português com Eva.
– Aulas com a minha prima?
– Sim, me aproximei muito dos seus tios e de Eva nestes dez meses. Nos
falamos quase todos os dias. Eles são maravilhosos, me ajudaram muito.
Infelizmente não deu tempo de trazê-los hoje aqui.
– Eu amei. Já podemos conversar em português em casa?
– Pega leve, Chucky, ainda estou no início. Esta música custou muitas
horas da sua prima até deixá-la neste nível de pronúncia.
– Realmente me surpreendeu, saber que você se dedicou tanto por algo que
é importante para mim... Assim me apaixono, rockstar...
– Essa é a ideia anjo, te manter sempre sob o meu domínio. Seduzir e
comover. Sempre. – Elvis se aproxima e retoma o seu violão.
Cantando It's Now Or Never, encerra a cerimônia, afirmando que quando
me viu pela primeira vez seu coração foi fisgado, sua alma se rendeu e que ele
esperaria a vida toda pelo momento certo. E o momento é agora, serei dele
esta noite.
Enquanto Elvis segue dizendo que é agora ou nunca, outra equipe invade a
capelinha, trazendo drinks e canapés.
– Bem apropriada a canção final... – Oliver ergue as sobrancelhas e abre
um sorriso malicioso. – Gostou do seu casamento, esposa? – Meu sorriso não
cabe no meu rosto – Foi assim que imaginou?
– Foi muito melhor, marido. – Ele se derrete pelo seu novo título sendo
usado por mim pela primeira vez. – Esperava apenas o Elvis, mas veja quantos
ícones da música reunimos aqui hoje. – Corro os olhos em volta, apontando,
olhando pela primeira vez para os nossos poucos convidados.
Alicia, Johnathan, Riley, Peter e Helen. Selena, Rose e o marido também
estão ali.
Só então reparo em Laura.
Caio na gargalhada, ela está de Janis Joplin.
De vestido hippie, peruca loira longa e óculos redondos estilo John Lenon
de lentes cor-de-rosa.
– Não tinha visto sua avó...
– Pois é, nosso casamento foi praticamente a festa do além, poucos aqui
ainda habitam este plano...
– Os clássicos nunca envelhecem – lembro e ele abre um sorriso de orelha
a orelha.
– Sempre apresentando bons argumentos, esposa.
– Às ordens, marido.
– Mas voltando, o pior mesmo foi a minha situação, tive que por bobes nos
cabelos... – Gargalho ainda mais.
– Bobes? Sério?
– Eu tenho uma foto. – Max grita do outro canto para que eu ouça.
– Depois me manda, preciso ver.
– Max, não se atreva, minha mulher não pode brochar na noite de núpcias.
– Chego bem pertinho dele para poder baixar o tom da minha voz.
– Ah baby, não se preocupe, não há bobes que me tirem o tesão quando eu
pegar no seu pau. – Passo meus dedos por dentro do vão entre os botões da sua
camisa e acaricio a pele abaixo do umbigo. Ele contrai o abdômen.
– Uau! Esposa! Tão audaciosa. Estou chocado.
– Mesmo? – Desço ainda mais os dedos e os passo entre a pele e o cós da
calça.
Me espreita com o seu olhar letal.
Exalando fogo e sensualidade. E um toque de divertimento.
Que tesão!
– Sabe. As coisas estão ficando interessantes. Bem interessantes. – Dá
uma leve ajeitadinha no pau por cima da calça tentando melhorar seu crescente
desconforto. – E nem vermelha você fica mais. Quanto atrevimento...
– Esposas atrevidas merecem levar muita vara, você não acha?
Seguro o riso.
Agora realmente eu o choquei.
Porque ele perde momentaneamente a pose e sua boca está aberta.
– Beatriz Rain! Cadê a menina com quem me casei?
– Em algum lugar debaixo deste vestido. Você vai ter que procurar, marido
– sussurro.
E então seu olhar muda.
Volta a ficar quente e sensual.
Mas não tem mais nada de divertimento.
Está determinado.
– Vó, Hazel, cuidem de Ben. Tenho uma promessa a cumprir.
Capítulo 37

“Será que existe alguém


Ou algum motivo importante
Que justifique a vida
Ou pelo menos esse instante”
(Lágrimas e Chuva – Kid Abelha)

Bia

O nde pretende me levar? Não podemos sair daqui sem


Benjamin, sou a fonte de alimento dele, esqueceu?
– Não vamos. Estou só procurando um canto escuro
qualquer para atender as necessidades mais urgentes. Ontem fiz uma promessa
e hoje você me desafiou a tirar o seu vestido, senhora Rain.
– Céus Oliver! E como pensa em achar um canto escuro aqui? A cidade está
a nossa volta, as luzes de Las Vegas iluminam até a alma e ainda por cima é
ano novo.
– Uhmmm vejamos, quem sabe se forçarmos aquela porta bem ali,
tenhamos alguma sorte, senhora Rain.
– Vai ficar repetindo senhora Rain o tempo todo?
– Claro, senhora Rain. Esperei demais para poder dizer... – Reviro os
olhos.
Ele abre a tal porta com muita facilidade, me conduz para o interior da
pequena sala e fico pasma quando entendo o que fez ali.
O chão está coberto com pétalas de rosas brancas. Contornando a saleta, no
piso, rente às paredes, há lindas velas brancas em formato de vitória-régia, a
única fonte de iluminação.
O teto está todo revestido com faixas de tecido brancos, formando um efeito
abaulado, convexo. As pontas dos tecidos caem soltas até a altura do meio das
paredes. O efeito da luz de velas refletindo no tecido em movimento é
lindíssimo.
No meio do cômodo, uma espécie de tenda. Um colchão em um tablado com
dossel em véu branco sobre ele. O cenário não poderia ser mais romântico.
– Venha meu amor. – Pega minha mão, eu só me deixo levar... Paramos ao
pé da tenda, um de frente para o outro, ele larga minha mão, e apenas nos
olhamos, sem nos tocar.
– Se você pudesse enxergar dentro de mim e ver o tamanho da felicidade
que sinto agora... – Quebra o silêncio, mas não o contato visual. Leva as mãos
aos meus cabelos e retira o enorme laço preto, deixando-os cair livremente.
– Você me fascina – murmuro sem nem saber como saiu, sem perceber
em que momento aquelas palavras se formaram em minha boca. Sai quase
como uma oração.
– Tudo que eu mais quis é meu, anjo. De papel passado. – O cinto que
adornava o meu vestido também já não se encontra mais onde estava.
– Tenho tanta sorte! – admito no mesmo tom, olhos nos olhos.
Ele retira sua camisa e fica apenas ali, parado, exuberante e imponente à
minha frente. Não estou preparada, nunca estou. Ele sempre me desconcerta,
desestabiliza e atrai.
Arfo em antecipação a tudo o que eu sei que virá, tudo que fará comigo. Me
controlo demais para não o tocar, principalmente quando vejo que acrescentou
o nome Ben abaixo do Bia em seu peito, aonde estou louca de vontade de
beijar. Mas quero que ele conduza, que me venere como eu sei que ele quer
fazer.
– Hoje, finalmente, eu entendi que tudo valeu a pena. Só para tê-la!
Dá a volta em meu corpo e se posiciona atrás de mim. Ainda não me toca.
Só sinto o ar quente que sai da sua respiração em meus cabelos, sinto o calor
que emana do seu corpo quase tocar a minha pele, minha respiração acelera e
meu desejo é tanto que me causa dor. Afasta meus cabelos para o lado e aquele
leve toque da ponta dos seus dedos em minha nuca e ombros me arrepia
inteira.
– Devo causar tanta inveja por aí... – Sinto seu sorriso se abrir com a
minha declaração soberba.
Sim meu amor, saber que você é meu, me faz sentir a rainha das poderosas.
– Vou fazer amor com você, senhora Rain – diz grudado à minha nuca.
O ar que sai de sua boca batendo ali me arrepiando inteira, enquanto
aguardo pelo seu toque desesperadamente. Abre o zíper do meu vestido com
uma lentidão agoniante. A peça cai aos meus pés.
– Bem devagar – sussurra.
Ai. Minhas pernas falham. Ele é bom demais nisso.
– Muita, muita inveja! – reforço.
Sem dúvida estou sendo muito amaldiçoada e praguejada no dia de hoje.
Me regozijo mentalmente da minha sorte.
Seu toque, aquele pelo qual eu tanto anseio e que faz a minha calcinha
enxarcar, me traz de volta. Uma mão envolve minha cintura me colando ao seu
corpo e a outra invade a renda da minha calcinha, rasgando-a.
– Saudades de fazer isto. – Distribui beijos pelos meus ombros.
– Não vou mais comprar calcinhas de renda.
– Você só deve comprá-las. – Torna a ficar de frente para mim. Estou
apenas com as botas, as meias arrastão e o colar.
– Meu Deus! Minha mulher é uma deusa. Linda e sexy pra caralho!
– Então não a torture mais, Mister Rain. Me pegue para você de uma vez.
Estou o dia inteiro o desejando. De manhã quando acordamos, na cabine do
avião... Você já judiou demais de mim.
Ele não diz nada, volta a prender o olhar no meu e retira sua calça. Está
completamente nu agora e pelo visto me reservou mais uma surpresa. Não
retirou apenas a barba, lá embaixo também está completamente lisinho. Minha
boca enche.
– Marido, você é um verdadeiro atentado ao pudor.
– Gostou?
– Estou salivando... – Suspiro e não há como deixar de me gabar. Não, eu
preciso. Eu mereço. – Meu marido! MEU!
– Completamente seu. Para sempre.
Se põe de joelhos a minha frente e beija a tatuagem com seu nome em minha
virilha, depois meu umbigo e depois bem na junção entre as minhas pernas,
coloca a língua para fora e brinca ali, mas sem afastá-las. Fecho os olhos e
aproveito, afago seus cabelos, hoje ondulados. Ele retira uma das botas,
levanta a minha perna, a coloca sobre o seu ombro e desliza o queixo pelo meu
sexo.
– Gosta da nova textura? – Solto um gemido alto, pois bem no momento em
que eu iria responder ele me chupa gostoso.
– Gosto. – A voz sai rouca. – Mas também gosto do efeito que a barba
provoca. Podemos variar.
– Como preferir, esposa. Com ou sem barba, vou me esbaldar em seu
cheiro, seu gosto.
– Ahhhh, Oliver... – Minhas pernas tremem pela força da sua mamada. Ele
não me dá trégua enquanto não me faz perder o norte de vez. – Baby... – estava
muito excitada, muito necessitada, gozo em sua boca. Foi rápido.
– Tão gostosa... não quero perder uma gota sequer... – E ele não perde, me
deixa sequinha.
Quando se dá por satisfeito, retira minha outra bota, depois as meias e então
levanta-se.
– Do jeitinho que eu queria, apenas o colar... Linda demais! Minha ninfa
paradisíaca, de cachos de anjo e olhar infinito.
Como prometeu que faria lá no altar, enrola uma mão numa das voltas do
colar e me puxa com força, chocando meu ventre no seu sexo. Espalma a outra
mão enorme nas minhas costas intensificando o contato, seu pau pulsa, quente e
duro contra a minha barriga, abaixa a cabeça e passa a língua pelo meu colo,
contornando a joia extravagante e caríssima.
– Estou cometendo um pecado imperdoável aqui... Ainda não dei atenção a
eles, estão chamando por mim, tão lindos, tão macios... – lamenta-se, levanto a
boca até os meus seios aumentados pela lactação, e claro, aproveita para
mamar, literalmente, um pouquinho ali também.
Sem eu esperar, num movimento rápido, me pega no colo, como se pega um
bebê. Envolvo seu pescoço com meus braços.
Sua boca desce até a minha e sua língua mistura os gostos do meu homem,
do meu leite e do meu gozo. Seu beijo é faminto e urgente. Nossas línguas
brigam entre si, tentando provar qual dos dois quer mais do outro, qual fome é
maior, mais necessitada.
Eu não quero que aquela briga acabe nunca.
Sem parar de me beijar, sobe na tendinha improvisada, me deita no meio da
cama e acomoda-se sobre o meu corpo, tomando o espaço entre as minhas
pernas que eu fiz questão de deixar livre para que ele se encaixe.
O seu peso, seu cheiro, seu beijo, e o calor e a maciez do seu pau duro
roçando em mim, é o próprio manjar dos deuses. Espero ansiosa pela invasão,
que elevará o nível para o êxtase dos deuses. Mas antes que ela venha, ele
para o beijo e me olha ressabiado, com o tora posicionado na entrada do túnel
da alegria, aguardando permissão para brincar.
– O que foi, meu amor?
– Eu te amo.
– Eu sei. Só falta me mostrar. – Ergo o quadril e dou uma roçadinha, ele
sorri.
– Não quero usar camisinha. Não hoje, não neste momento. – Putz, entendi
a paradinha. Pelo menos desta vez ele lembrou antes, é uma vitória. – E quero
gozar dentro. Como todo bom macho, preciso marcar a minha mulher.
– Está querendo coisas demais, marido.
– Por favor.
– Ah rockstar... – Acaricio seu rosto. – Sorte sua que a doutora disse que
dificilmente se engravida amamentando... e já comecei a pílula que ela
receitou, então, está liberado. – Sua boca volta para a minha no ato e seu sexo
começa a alargar o meu, bem lentamente...
QUE DELÍCIA!
Quando ele me penetra por inteiro, gememos juntos, um nos lábios do outro.
Ainda lamentamos, ainda sentimos falta, ainda não curamos a saudade, e
aquele contato nos faz lembrar que sim, somos um do outro novamente,
estamos em casa.
O vai e vem dos nossos corpos segue no ritmo que ele prometeu, devagar,
em que a cada nova investida nos saboreamos milímetro por milímetro, com
muita calma e atenção. Cada avanço e cada recuo é amplamente sentido.
Oliver passa os braços por baixo dos meus e me prende de tal forma contra
si que fica difícil respirar. Seu rosto cola e pesa na curva do meu pescoço e o
delicioso som dos seus gemidos roucos de prazer no meu ouvido era o
ingrediente que faltava para me fazer enlouquecer e chegar perto da borda
outra vez.
Prendo-o com braços e pernas tanto quanto ele o faz e deixo os meus
próprios gemidos lhe dizerem o quanto ele me satisfaz, tanto quanto ele me diz.
– Eu amo tanto você, meu marido, tanto. – Lhe digo em palavras o que meu
corpo está lhe dizendo há vários minutos. – Só você, ninguém mais. – Enfatizo
a parte dos meus votos que tanto o tocou.
Ele aumenta um pouco o ritmo, confirmando que aquelas palavras mexem
com ele, mas logo volta a desacelerar para se declarar em meu ouvido:
– Minha linda e incrível mulher, eu sou louco por você, você me quebrou
com suas palavras. – Me invade e se vai.
– Só quero os seus beijos. – Entra em mim como eu tanto anseio, como eu
tanto senti falta por longos dez meses. Cravo os dedos em suas costas e enfio o
rosto em seu pescoço como ele faz no meu.
– Você é a mais perfeita das minhas visões Beatriz, nada me inspira mais.
Volto a me deliciar e a me perder em seus gemidos e rosnados, os sons do
seu prazer e do seu esforço, deliciosos sons graves e roucos arrancados do
fundo de sua garganta e de sua alma.
Ele se empenha com tenacidade naquele ato de amor, dando tudo de si,
querendo imprimir no meu corpo o seu DNA, para que não haja mais chance de
nos perdermos um do outro. Não. Qualquer exame, qualquer raio X que eu vir
a tirar imprimiria sempre o mesmo resultado.
Oliver Rain, meu bem, meu mal.
As estocadas estão vigorosas, o suor escorre por suas costas e banha os
meus dedos. Seu cheiro inflama as minhas narinas, meus sentidos de fêmea
estão todos conectados nele. Estou inflando e inflando... a explosão? Perto,
muito perto.
– Minha pequena...
– Oliver, mais rápido, por favor. – Toma minha boca e atende aos meus
desejos, se movendo com mais velocidade. E a faísca acesa no estopim está
quase chegando à pólvora.
– Mr. Rain...
– Sim, baby, venha... posso sentir você vindo... goze amor, goze muito, goze
forte no meu pau.
– Eu amo o seu pau.
– Eu sei. E eu amo que você o ame. Seu deleite é o meu prazer.
Literalmente. – Sorrio. Ele coloca ainda mais afinco na profundidade e na
velocidade.
– Rockstar, puta-merda... – Explodo em milhões e milhões de partículas à
sua volta.
– Ah Bia... Amor... Cacete! – Ele goza, sinto o líquido quente me invadindo,
e ouço os seus pequenos urros de êxtase enquanto absorve o prazer do seu
orgasmo e arremete dentro de mim mais algumas vezes.
Seu corpo todo treme.
Paramos ofegantes e suados, muito suados. Testas coladas e sorrisos nos
rostos.
– Está consumado. – Alargo ainda mais o meu sorriso.
– Obrigada por esta surpresa, foi a consumação perfeita. Como? – Aponto
para o ambiente.
– Pelo que sei aqui era uma sala de uso dos funcionários. Tiraram os
móveis e a transformaram no nosso canto escuro a meu pedido. – Faço um
sinal de reprovação com a cabeça, mas minha expressão é divertida.
– Aff... quer dizer que todos lá fora já sabiam que iríamos nos pegar
depois da cerimônia?
– Pelo que eu sei é o que todos os recém-casados fazem. Eles se pegam
depois.
– Não de forma tão anunciada e inusitada.
– Sei que gosta de coisas inusitadas.
– É... nada mais inusitado do que trepar na saletinha da capela... você
realmente superou qualquer expectativa que eu pudesse ter em relação a nossa
noite de núpcias, rockstar. Não teria pensado em nada mais cool – corroboro e
ele ri.
– Verdade anjo, preciso admitir que nem eu mesmo conseguirei me superar
algum dia.
– Sim, esta será sempre a nossa top one das fodas.
– Estou aqui pensando qual a nossa top two...
– Bom, fico em dúvida entre a festa no Lian ou a foda em frente às câmeras
e divulgada para o mundo...
– Realmente, páreo duro. Temos um empate. E a top three fica para a do
estúdio... toda vez que eu olhar para aquele piano...
– Uhmm, sendo assim, quero uma em cima da mesa de mixagem.
– Totalmente factível. Só não sei se será muito confortável... – Rimos.
– Como conseguiu tantas coisas em tão pouco tempo? Isto aqui, todas as
roupas... Nosso casamento foi decidido da noite para o dia....
– Quando se tem dinheiro e nome, as portas se abrem facilmente, Bia...
Todos sempre estão dispostos a “ajudar”, se é que você me entende... Não sou
de agir assim, mas esta situação pedia, não podia correr o risco de você mudar
de ideia, e – ele sorri e dá de ombros – eu posso!
– Entendo. E entendo também Mr. Rain, que por mais que eu queira ficar
aqui aninhada em você, matando toda a saudade que eu ainda sinto, nossa
situação não é a mesma de dez meses atrás. Agora temos um filho, que deve
estar precisando de nós, principalmente disto aqui, – aponto meus seios –
devemos voltar para ele. – Seu rosto se ilumina de um jeito diferente, como se
de repente uma ficha tivesse caído.
– Eu fiz um filho em você. – Se gaba.
Ele sorri um sorriso tão lindo de menino que não consigo não refletir em
meu rosto a sua alegria perante a sua mais que óbvia constatação.
– Sim, você fez.
– E somos marido e mulher.
– Somos, todos os seus sonhos realizados...
– Eu avisei que eu nunca deixei de realizar nenhum. – Leva a mão a minha
bunda e circula o meu ânus, me lembrando do contexto em que me disse
aquelas palavras.
– Verdade, não posso reclamar, fui muito bem avisada. – O beijo. Ele se
levanta e me puxa junto. Olho para o seu pau meio adormecido e minha boca
saliva outra vez.
Nem tive tempo... minha ninfomaníaca interior lamenta.
– Mais tarde, marido, quero lamber você inteirinho, quero ele – dou uma
apalpadinha – e as suas bolas na minha boca. Está tão lisinho aqui embaixo... –
ele geme pelo meu estímulo.
– Jamais poderia negar um pedido destes, anjo.
– E, sabe, faz tanto tempo que não ganho um vinho... acho que voltei a ser
virgem lá atrás. – Ele gargalha.
– Darei um jeito nisso, não se preocupe. Agora vamos senão a ceia do
nosso filho virará um café da manhã. – Começo a olhar onde catar as minhas
roupas e então me dou conta.
– Oliver Rain! – digo, enérgica.
– Que foi? – Ele se assusta.
– Você rasgou a minha calcinha!
– Rasguei... – fala, pianinho.
– E aqui não tem banheiro, suponho?
– Não... – Quase um murmúrio.
– E a sua porra está escorrendo! – Abre um sorriso safado.
– Está?
– Óbvio que está! Como vou sair daqui?
Muito calmamente, ele faz eu afastar as pernas para primeiro admirar a sua
obra, então pega minha calcinha rasgada e limpa o que consegue. Dá um
beijinho nela, levanta-se e me estende a sua boxer.
– Problema resolvido. Está vendo por que você precisa de um marido,
Chucky? – Pego a peça e reviro os olhos para ele.
Ouço um resmungo, um choramingo.
Estou prestes a me virar e levantar, mas então uma voz grave e potente
enche o ambiente.
– Não carinha, converse com o papai, vamos deixar a mamãe dormir um
pouquinho mais... ela e o papai brincaram até o sol nascer. Sua mãe está muito,
muito cansada. – Outro resmungo.
– Deixe-me te contar uma coisa, quando você crescer, vai gostar muito de
fazer este tipo de brincadeira com as meninas. – Reviro os olhos internamente.
– Vai experimentar com muitas e muitas. – Ah? Sério Oliver? – Mas só quando
encontrar A Menina, é que a brincadeira ficará boa de verdade... é que vale a
pena... – Oin, quase perdoado pelo muitas e muitas, quase... – Hei, sabe do
que o papai lembrou? Hoje você está de parabéns, é primeiro de janeiro, você
está completando três meses. – Um beijo e uma pausa. – O papai só não sabe...
a hora em que você nasceu... – Sinto a tristeza em sua voz. Decido mostrar que
estou acordada e me volto para eles.
– Onze e onze da manhã. – Ele ergue as sobrancelhas.
– É sério?
– Sim, ele quis te incluir naquele momento de alguma forma. – Oliver
sorri.
– Então faltam vinte e três minutos. – Confere a hora no celular. – Procuro
meu telefone, sei que ontem antes de capotar, literalmente, coloquei-o no
criado mudo ao lado da cama. Vasculho o que eu quero e estendo o aparelho
para ele.
– Aqui.
– O que é?
– É o álbum que eu criei das fotos que tirei da minha barriga, do
nascimento e dos primeiros dias de Benjamin. – Ele pega o aparelho, Ben
reclama de novo. Me recosto na cabeceira da cama.
– Vem, bebê da mamãe, quer seu café da manhã, não é? – Oliver o coloca
em meu colo. – Bom dia, de novo, marido. – Roubo um selinho quando se
aproxima. Ele sorri, lembrando das nossas brincadeiras, que se estenderam até
menos de quatro horas atrás e do bom dia que já nos demos depois da última
rodada de sexo.
– Bom dia, trapaceira. Estava ouvindo a nossa conversa, é?
– Sim, inclusive quero tirar satisfação sobre algumas partes...
Experimentar com muitas e muitas? Sério? – Ele ri.
– Não se iluda, baby.
– Ele só terá olhos para a mamãe.
– Ahã. Claro. A terra é plana, o sol gira em torno dela e Papai Noel existe.
– Se ele fosse uma menina, você daria os mesmos incentivos? – Faz uma
careta de dor.
– Ele não é. Graças por isso! Não posso nem imaginar... – Me divirto,
parece mesmo sentir dor com aquela ideia. – E você deveria estar dormindo,
Miss Rain. Não dormiu nem quatro horas...
– Você também não.
– Eu sou macaco velho e não estou amamentando.
– Ouvi o chorinho dele... acordo no ato. Éramos só nós dois, Oliver,
aprendi a dormir meio alerta. – Ele deita-se ao meu lado e começa a olhar as
fotos no telefone. Para numa em que a minha barriga de oito meses está bem a
mostra. Poucos dias antes da bolsa estourar. Passa os dedos, acariciando a
barriga na imagem. Seus olhos brilham pela emoção contida.
– Queria tanto tê-la acariciado... beijado... você foi uma grávida linda,
anjo.
– Eu falava de você para ele.
– Falava?
– Sim. Sempre conversei. Falar de você fazia eu me sentir perto... – Ele
rouba outro beijo meu, Ben para de mamar, ergue a cabeça e chia. Não
seguramos o riso.
– Ei camarada, é a minha mulher...
– Tente mexer na tigela de comida de um cachorro enquanto ele está
comento para ver o que acontece... é a mesma coisa – brinco. Acaricio o
rostinho de Ben. – Né feijão?
– Feijão?
– É como eu o chamava quando não sabia o sexo e não tinha um nome. Na
primeira ultrassonografia a doutora me disse, o seu bebê é este feijãozinho
que você vê ali... daí pegou.
– Bom, pelo menos ele não deve ter estranhado a mudança... Ben, bean,
soa parecido.
– Verdade. – Cheiro e beijo sua carequinha. Ele segue passando as fotos e
para novamente, é uma do hospital, da sala de parto. Quando o colocaram
sobre mim logo após o nascimento. Agora as lágrimas escapam, foi demais
para ele.
– Não se atormente Oliver, por favor...
A próxima é a foto em que corto o cordão umbilical. Ele solta um gemido
baixo de dor.
– Queria demais ter feito isto, ter estado lá, vivido o momento com você. –
Ele passa para outra foto impactante. Nós dois no quarto, quando Ben mamou
pela primeira vez.
– Sei que queria, amor. Ben também saberá. Sabe... você não estar lá foi
mais culpa minha do que...
– Não. Jamais. Jamais se culpe por não ter me chamado, Beatriz. O
culpado, o imbecil fui eu, só eu.
– Sem culpados, tudo bem? Vamos só... seguir...
– Tudo bem.
– Nosso bean embarcou no soninho outra vez. Nem sei como aguentou
tanto tempo acordado ontem à noite.
– Pelo menos agora posso dar uns amassos na mãe dele sem levar
bronca... Me dê ele aqui que o coloco no berço. – Oliver pega o filho, mas
antes de colocá-lo na cama o enche de fungadas e beijos.
– É lindo ver vocês dois juntos, sabia?
– Somos os homens da sua vida. – Se joga sobre mim. – E somos lindos! –
Meu sorriso se alarga.
– Convencido.
– Vai negar?
– Não. Impossível. Diriam que tenho sérios problemas de percepção. –
Me beija.
– Volte a dormir, anjo. Aproveite que ele dormiu.
– Acho que não conseguiria.
– Quer transar? – Ergue as sobrancelhas.
– Por Deus, Oliver, você acabou comigo. Estou toda assada. Nem que eu
quisesse. Muito.
– Tive que defender minha honra. Alguém me acusou de, como foi mesmo,
negar fogo? Mas confesso que o tora está sofrendo do mesmo mal, esfolado.
Agora, se você quisesse muito, daríamos um jeito... Tomar café, então?
– Sabe o que eu quero? Recostar a cabeça sobre o peito do meu marido e
ficar ali, quentinha e aconchegada.
– Venha cá, senhora Rain. – Eu vou, rapidinho. Não se nega um convite
destes.
– Você gostou de ver Beatriz Rain por escrito pela primeira vez ontem,
confesse?
– Eu gozei de tanta felicidade, baby. Mas não foi a primeira vez que vi.
– Como não? Foi a primeira vez que escrevi.
– Não foi.
– Claro que foi, rockstar. Está delirando?
– Eu posso provar.
– Essa eu quero ver... Prove então. – Ele estica o braço e pega o telefone.
Retira a capa e tira lá de dentro um papelzinho amarelado, dobrado, que me
estende. Tento pegar, mas antes que eu consiga, recolhe a mão.
– Antes de mais nada, quero deixar bem claro que isto é precioso e é meu.
Quero de volta. Manuseie com muito cuidado.
– Certo.
– A prova. – Volta a me oferecer o papel.
Abro a relíquia, que está dobrada em quatro partes, e levo minha mão a
boca. Não é que está lá mesmo? Beatriz Rain, ao pé do papel de caderno onde
eu declarei o meu amor aos doze, treze anos. Eu não lembrava...
– Você roubou da minha caixinha?
– É meu!
– Há controvérsias.
– O cacete! O “eu amo você” escrito aí foi para mim, você é minha, tudo
que é seu é meu. Sendo assim, meu! – Tira o papel da minha mão e devolve-o
ao seu esconderijo. – Não seguro a risada pelo seu apego ao papelzinho.
– Céus, que vergonha, se tivesse lembrado deste papel teria retirado da
caixa antes de entregá-la a você.
– Ué, por quê?
– Praticamente te pedi em casamento. – Ele sorri.
– Eu fiquei vários minutos olhando-o, sabia? Encantado...
– Eu escrevia por todos os lugares, nos meus cadernos da escola... Papai
as vezes via e pegava no meu pé.
– O que mais você escrevia, anjo? Tenho que estar preparado, pois
acontece!
– Sendo assim, preciso escrever sobre Max e Hazel. Distribuir bilhetinhos
assinando Hazel Connor.
– Neste caso, não sei se seus poderes serão o suficiente.
– Nem fale... mudando de assunto, por que você reservou uma suíte tão
grande?
– Porque eu posso. Porque você merece.
– Bobagem. Só precisamos de uma cama, um berço e um banheiro.
– Tem mesa de bilhar... – provoca.
– Hum... agora não tem mais graça. Já dominei o uso do taco e das bolas.
– Beatriz Rain! Sua pilantra. Você admite?
– Admite o que?
– Que não prestou atenção em nada do que ensinei naquele dia, só estava
interessada em se aproveitar de mim.
– Se o seu objetivo era que eu prestasse atenção no bilhar, meu bem,
deixasse que Kellan me ensinasse. E quanto a me aproveitar, posso ter... um
pouquinho... Me atirei em você, beijei sua bochecha...
– E eu quase me perdi no seu cheiro. – Inspira em meus cabelos. –
Pequena, o que você espera da sua lua de mel? Para onde quer ir?
– De verdade?
– Claro, qualquer lugar.
– Então me leve pra casa, rockstar. O quanto antes. Estou morta de
saudades.
– Como eu torci para ouvir isto. Quer voltar hoje ainda? Temos o jantar de
comemoração programado num dos salões do hotel, mas podemos cancelar. –
Até queria, mas meu telefone apita.
É do grupo das meninas.
– Bom, marido, parece que não posso. Já traçaram planos para mim. –
Mostro a ele.

Só para informar, sua despedida de solteira


será hoje após o jantar, pq não deu tempo!
Você não tem escolha e coloque seu marido no
lugar dele

– Bia... Não...
– Oliver...
– Você sabe como me sinto.
– Por favor, Mr. Rain, já me casei com você... eu só vou sair com as
meninas.
– Só sair com as meninas? Sozinhas? Em Las Vegas? Acha pouco? – O
telefone apita de novo. Ele espia.

Henry deu pity


– Viu só? Não sou só eu. E ele é o cara que diz para um monte de maridos
ciumentos que precisam dar espaço, se controlar... – Seguro o riso.

Não quero saber. Controle o


seu também Gênia

– Ah Hazel, ainda me cobro... – Promete meu delicioso marido, já com a


mão em seu telefone.
– Sério que você vai dedurá-la para Max?
– Já dedurei.

Oliver avisou Max, só


para você saber...

Não estou nem aí para Max

Tenho Mary Ann, não


posso...

– Deus, são quatro agora? O seu avatar me deu medo... E por que Maggie é
uma rosquinha?
– Ela é um doce! E fofa.
– Uma rosquinha... – Reviro os olhos.

Helen ficará com Mary Ann, já combinei.


E casadas... Sem vigias desta vez

– Essa menina precisa trepar e logo! – Não aguento e rio da afirmação de


Oliver.
– Acho que nisso eu concordo com você. O furacão está ficando cada vez
mais perigoso, subindo de grau na escala, tem de extravasar a energia antes
que ganhe mais força e fique incontrolável.
– Diga a ela que não quer ir, simples. Que vamos voltar hoje.
– Mas eu quero. – Olho-o com aquele olhar.
– Você quer? Por que iria querer no nosso primeiro dia de casados? – Vejo
surpresa, confusão e até decepção em seu rosto.
– Meu amor, olhe para mim... Não tenho nem dezenove anos completos,
mas tenho marido, um bebê, e nunca tive a experiência de sair entre amigas,
sozinha. Amo a minha vida como ela é agora, mas claro que quero uma noite
de diversão com as meninas. Fiquei dez meses longe delas também. Pense em
tudo que você já viveu...
– Trocaria tudo que vivi pelo que tenho agora, para ter te conhecido antes.
– Ah meu bem... É uma linda declaração, mas...
– Não faça isso comigo, Oliver. Não estou escolhendo entre vocês dois e
elas. Passarei minha vida com você. Mas além de esposa e mãe, pretendo
estudar, trabalhar e ter amizades. Precisamos de momentos com os amigos.

Porra, eu vou matar Oliver. O ruivo tá me


torrando a paciência para saber onde vamos

– Onde vocês vão? – Oliver arregala os olhos ao meu lado, dou de


ombros. – Pergunte.

Onde vamos?

Ah, não vou dizer... para a comitiva


aparecer por lá? Nem pensar... É
surpresa!

– Hazel enlouqueceu? Vocês não são garotas comuns. Tem que ter
preparação, segurança para uma coisa assim.

E a segurança?

Peter e Lian sabem. Cuidaram de


tudo.
E nem adianta Oliver tentar, Peter não
vai falar, ordens de Lian.!
Pobre Peter, não deve ser fácil ter três chefes. O telefone de Oliver toca.
– Isto vai ser interessante. Preparada? – Ele atende no viva voz. – Fala
Max.
– Estão trepando?
– Porra, você é direto. Não, por quê?
– Estou chegando aí. – Desliga.
– Vamos nos vestir. – Me levanto rápido e cato uma roupa qualquer no
closet. Claro que a suíte tem um closet e alguém desfez as nossas malas. Oliver
me segue.
– Para Max falar no tom que falou e vir até aqui, Hazel está aprontando
das boas.
– Você acha que ele descobriu onde ela quer nos levar?
– Óbvio que descobriu. O que Hazel não sabe, é que temos um acordo...
Max é o coringa. Em caso de ordens contraditórias, é a decisão dele que
prevalece.
– Então Max é o chefe dos chefes?
– Pode-se dizer que sim. Procuramos sempre nos respeitar e chegar ao
consenso, mas envolvendo Hazel, ele certamente usou da sua supremacia para
fazer Peter passar por cima da ordem de Lian.
– Vou avisar Hazel e pedir que suba também. A briga é mais deles do que
nossa... – Mando a mensagem.
– Eu ainda não concordei, Beatriz.
– Sinto muito, Oliver. Mas irei, você concordando ou não.
– Como assim?
– Foi o que ouviu. Acho que meu pedido é justo...
– Será assim entre nós? Se eu decidir sair com os caras e você não
concordar, ligo o foda-se?
– Se eu não concordar, haverá algum motivo a mais e não simplesmente o
fato de não conseguir lidar com o meu ciúme. Eu confio em você. Mesmo
morrendo de ciúmes, te deixarei sair com os caras de vez em quando, não se
preocupe.
– Mas eu não quero!
– Sorte a minha então. – Ele me olha pasmo. – E Benjamin?
– Fica com o pai.
– O pai não tem tetas.
– Faço o mesmo que fiz com sua avó ontem. Tiro o leite e você dá mais
tarde. Será apenas uma mamada.
– E se o pai resolver sair com os caras, tipo hoje? – Estreito os olhos para
ele. Sério?
– Você não pode. Temos um filho agora, aquele com o qual tanto sonhou...
se eu saio, você fica!
– Estava louca para me jogar essa, não estava? – Sorrio, travessa.
– Foi legal... – Ele me abraça e vai me beijar, mas a campainha soa.
Oliver abre a porta e Max entra vermelho e bufando.
– Você vai permitir?
Nem um bom dia?
– Minha mulher não me deu opção, disse que vai de qualquer jeito. – Max
abre a boca.
– Vai deixar sua mulher dançar no meio de um bando de homens pelados?
– O quê?
– Elas vão num clube para mulheres, Oliver.
– Pode esquecer, Beatriz, ou teremos nossa primeira briga de casados no
primeiro dia de matrimônio. – Antes que eu possa preparar a minha resposta, a
campainha toca de novo, e desta vez eu atendo.
O furacão entra causando ventos de vários quilômetros por hora.
– Pare de se meter aonde não é chamado, Max Connor! Você não tinha
nada que bisbilhotar com Peter.
– Ah, eu tinha sim! Você só pode estar fora de juízo. Um clube para
mulheres Hazel, sério? Se alguém a reconhece? – Aponta para mim. – Já
pensou nisso? No problema que vai causar? As várias piadinhas envolvendo o
nome de Oliver, Beatriz e da The Order que vão pipocar nos tabloides?
– Já te disse mais de uma vez e vou dizer outra. Não sou irresponsável! É
claro que pensei. Envolvi Peter, Riley, envolvi Lian. Estaremos seguras e
protegidas.
– Seguras e protegidas? Bebendo e dançando no meio de um bando de
homens pelados e de pau duro? E sabe-se lá o que mais...
– Não vamos a um bordel! É uma casa de shows conceituada. Os meninos
dançam no palco. De tanga.
– Conta outra! Esquece quem somos? A inocência aqui passa longe, meu
bem... Eles se aproximam, se insinuam, se prostituem, eles querem... ainda
mais com meninas lindas como vocês... fazem até de graça!
– Olha só, não acho que eu precise justificar para você aonde vou, com
quem vou e o que farei. Mas vou fazê-lo em respeito a Bia e Oliver, porque os
dois sim tem um vínculo que merece justificativas neste nível. A casa é chique,
renomada. Há duas salas privê. Ficaremos numa destas, só nós quatro. O palco
é giratório, depois do número ser apresentado no salão comum, se repete nas
salas, enquanto outro grupo anima o palco principal.
– Beatriz não vai! – Sentencia o meu marido em alto e bom tom. Eu até
poderia considerar fazer Hazel mudar de ideia quanto ao local, mas depois
desta, preciso me impor.
– Beatriz vai. – Hazel me olha e abre um baita sorriso. Oliver me encara e
cruza os braços.
– Vai mesmo declarar guerra hoje? No nosso primeiro dia como marido e
mulher?
– Não quero declarar guerra. Mas você não pode determinar que eu não
vou sem discutir o assunto comigo antes. Quer defender o seu ponto para mim
em particular, vou te ouvir. Caso contrário, assunto encerrado.
– Hazel e Max, por favor, nos deixem a sós – pede sem desviar os olhos
ou descruzar os braços. Os dois não discutem e se vão.
– Descruze os braços, vamos nos sentar no sofá e conversar. Não sou sua
inimiga, meu amor. – Ele fecha os olhos e respira fundo.
– Sentei. Estou ouvindo. – Quebro o gelo me encaixando em seu colo e
beijando sua boca.
– Não fique zangado. Eu amo você.
– E quer sair para conferir o pau de outros homens.
– Eu gostaria de ir a um lugar assim. Tenho curiosidade. Você ouviu, será
um ambiente reservado, sem público a nossa volta. Ninguém tentará chegar em
nós, flertar, essas coisas. Só nós e os dançarinos se apresentando...
– Eles dançam de pau duro. Descem do palco, rebolam próximo às
mesas...
– E daí se fazem?
– Se tem uma noiva, ela é o alvo. Vão se esfregar em você!
– Não vou deixar, me afasto, digo que não quero contato. Não irão forçar.
Teremos os seguranças. Eu só quero ver como é e dar boas risadas com as
meninas.
– Você me deixaria ir a um clube de strippers?
– Oliver, não faça assim... Não é uma competição, poxa! Você já cansou de
ir a lugares do tipo e provavelmente não ficou apenas na apreciação.
– Imaginou como será a minha noite sabendo que você está lá?
– Você supera! Eu passei dezessete noites surtando durante uma turnê e
sobrevivi. E olha que, no meu caso, sabia que as moças em questão tinham
objetivos muito bem definidos. Chame Max e Henry aqui e chorem as pitangas
juntos, como eu fazia com Hazel, ajuda a passar o tempo... – Ele debocha.
– Agora entendo quando dizem que basta casar para virar pau-mandado...
– Controlo a vontade de rir.
– Sem drama, marido. Nem beber eu posso, estou amamentando. E outra
coisa que jamais concordaria, é em sair sem que você saiba onde estou. Eu
faria Hazel contar o nosso destino e te diria antes. Assim como espero que
você sempre me diga aonde vai. Por favor, Oliver, confie e me deixe saber
como é a diversão entre amigas...
– Inferno! Você é letal, Beatriz. Vai aniquilando aos poucos, com jeitinho,
a gente nem percebe a resistência abandonando o corpo. Precisa ensinar
algumas coisas a Hazel. Aquele avatar combina tanto com você, Chucky!
– Foi um sim? – Abro um baita sorriso.
– Um sim a contragosto. A muito contragosto! Que desce atravessado, me
corroendo por dentro. Terei uma noite de merda, só para você sa...
Não o deixo terminar, calo sua boca com um beijo que dura até sermos
lembrados de que já não somos apenas dois.

Oliver

– Não acredito que deixou! Você era a minha esperança, porra!


– Beatriz sabe pleitear uma causa como ninguém, Henry. Se não der certo
como produtora, temos uma boa opção para integrar a equipe de Riley. E
também... – Respiro fundo, brincando com a mãozinha de Bem, que dorme
tranquilo sobre o meu peito. – Não estou em condições de negar muita coisa a
ela, não depois do que a fiz passar...
– Pare de se condenar. Acabou!
– Eu também apostei todas as minhas fichas na sua proibição, a única
forma de Hazel desistir..., mas não, o bonitão vai lá e abre as pernas para a
patroa...
– Porra, assim vai ser o nosso fim de noite? Três barbados choramingando
por que as garotas foram se divertir? Deveria ter ido com Kellan e os amigos
para o cassino...
– E por que não foi? Me espanta você e Max não arrumarem esquema para
uma noite de sexta em Vegas, Lian.
– Enquanto Hazel não estiver inteira e a salvo neste hotel outra vez, não
consigo pensar em nada – desabafa o ruivo.
– E quanto a mim, – confidência Lian – o esquema está armado, só que
ainda não chegou.
– Está trazendo Tina para Vegas? – provoco.
– Não. Este corpinho, esta noite, será de Elfie D. Deliciosa, não vejo a
hora... – Suspira sonhador.
– O que? Elfie D., a cantora pop? – Max se empolga.
– A própria.
– Como se acharam? Está hospedada aqui? – Tento entender como
conseguiu armar o tal esquema.
– Ainda não, mas ficará. Ela vem me sondando há um tempo, mas nunca
coincidiu das nossas agendas baterem. Eis a surpresa quando descubro que tem
shows em Vegas amanhã e depois. Casou a fome com a vontade de comer,
literalmente. Desembarca na cidade do pecado em duas horas.
– Que eu saiba é casada com um diretor de cinema, não? – Henry indaga,
entendo bem, quando se é casado, não é uma boa pensar em solteirões
comendo a mulher dos outros por aí.
– Separada. Fiquem tranquilos, só como as casadas com o aval dos
maridos. – Henry e eu nos olhamos e fazemos careta de dor.
– Se ela quiser ter dois a bajulando, me avise. – Max pleiteia em causa
própria.
– Não estou a fim de dividir hoje, valeu.
– Por quê? Quer dormir de conchinha?
– Isso só com você, amor. – Lian joga um beijinho para ele. Max levanta o
dedo do meio.
De repente, Benjamin “se espreme” e solta um “torpedo” no meu colo, que
faz um barulho alto, enchendo a fralda. Além de deixar uma fragrância nada
convidativa pelo ambiente.
Os velhacos não se seguram, óbvio, e caem na gargalhada. O bebê se
assusta com o rompante, acorda desnorteado e abre o berreiro.
É a primeira vez que o ouço chorar assim, com tanto vigor.
E Beatriz não está aqui!
– Calem a boca, imbecis. Vocês assustaram o menino, porra! – Enquanto
os manés tentam se conter, levanto e começo a andar com ele pela sala, na
esperança que se calme.
Deus, até saem lágrimas, ficou mesmo sentido.
– Acalme-se amorzinho, foi só os seus tios idiotas. – Colo seu rostinho no
meu, encho-o de beijos, e nada. Ele quer a mãe, claro.
– É mesmo seu filho Oliver, caramba. Te puxou até nisso.
– Vá se ferrar, Max. – Eles ainda riem, baixinho agora. – Filho, colabore,
se acalme... O papai não sabe o que fazer e a mamãe está na farra.
Aquele “na farra” sai com um pouco mais de raiva do que deveria.
– E puxou no gogó também. Com toda essa potência na garganta, será o
próximo vocalista da The Order, com certeza. Caraca! Eu estaria
desesperado... – Lian complementa.
– Dê o peito, Oliver, talvez resolva...
– Rá, rá rá muito engraçado, Henry.
– Talvez o que ele descarregou na fralda esteja incomodando-o, não? –
Porra, Max pode ter razão.
– Ruivo, não é que você as vezes dá uma dentro?
– Troquei a fralda de muitas bonecas, eu disse que deveria ser o único
padrinho.
– O caralho! – Lian desaprova. Max se levanta para encher o copo de
whisky e eu aproveito.
– Segure, firme! Já volto. – Deposito Ben aos prantos em seus braços.
– Hei... como assim? O que eu faço? As bonecas não choravam...
– Vire-se, padrinho. – No que estou caminhando para o quarto, Ben solta
outro rojão, daqueles. Max pragueja e Lian e Henry se afinam no sofá.
– Oliver, volte aqui! Senti escorrer merda na minha mão, cacete...
Aí é demais para mim, me entrego às risadas também. Pelo menos o choro
parou, ao que tudo indica, era dor de barriga.
Bia

– Deus, nunca ri tanto na minha vida. – Iris ainda segura a barriga e tenta
se conter dentro da limusine que nos leva de volta ao hotel. Foram inúmeras
crises de risos desenfreado durante a noite. – Temos que fazer isto com muito
mais frequência.
– O problema é a luta até conseguir o vale-night – lembro-a.
– Verdade. Henry estará emburrado quando eu chegar, tenho certeza. Mas
foi tão divertido...
– Sim, e nunca vi tanto pau duro chacoalhando a minha volta. Senhor!
Difícil agora é voltar para o hotel e dormir sozinha. – Maggie lamenta, ri e se
abana ao mesmo tempo.
– Nem me fale... – Suspira Hazel.
– Quando se está na seca há mais de um ano, como é o meu caso, é tortura
ver tanto poder junto. – Maggie segue se abanando.
– Poder é o que estas duas sortudas têm na cama delas. – Hazel indica Iris
e eu, ela está bem altinha. Tive que dar uma de Max e segurar a sua onda em
vários momentos. – E pensar que tem mais dois poderosos no grupo. Bem que
eles poderiam esquentar a nossa, né loiraaaa? O ruivo é meu! – fala
rapidamente.
– Ah, não posso com isso, não, furacão. Se eu tiver um homem como Lian
na minha cama, nunca mais me contento com outro. É problema! – Iris e eu
rimos.
– Porra, maneirem... não aguento mais rir. – Iris pede.
– Iriiizzz – Hazel berra como se a gênio do grupo não estive sentada a sua
frente. – Me passa as medidas?
– Que medidas, maluca?
– Do pau de Henry.
– Ah? Sai pra lá... do pau do meu homem cuido eu.
– Fala gênia, vai... só falta o dele.
– Você sabe o calibre da The Order toda? – Maggie arregala os olhos.
– Sei! E, se a informação estiver correta, são todos pauzudos. Chantageei
meu irmão ano passado quando descobri uns podres dele. – Senhor!
– Hazel, só para eu me preparar psicologicamente, você pretende falar do
pau do meu marido?
– Siiimm, primeira-dama. Oliver é o mais grosso! O calibre mais largo! –
Valha-me Deus, tem um mais comprido? Tenho pena da “felizarda”.
– Fala de uma vez. Quem é o mais comprido? – instiga Maggie. –
Ajoelhou tem que rezar.
– O ruivo.
– Amiga, congela uns óvulos, sério. Tô com dó do seu útero. – A conselho
e me arrepio.
– Meu útero já perdeu as esperanças de ser invadido por ele, brinquedo
assassino.
– A furacão é uns quatro centímetros mais alta do que você Bia, deve
compensar... – Iris diz e gargalha, se estraga de tanto rir e eu a acompanho.
– Ai... minha barriga dói, sério... estão proibidas de falar qualquer outra
besteira por hoje.
– Então Lian teria o pau perfeito pra mim... – Maggie nem dá bola à minha
súplica e suspira, perdida em devaneios.
– É um pouco menos que os outros dois, mas não muito, doçurinha, não
festeje... Vai sofrer igual.
– Mesmo se for perfeito, não vou nem chegar perto, fique tranquila. Como
eu disse, é problema! E de lembranças de uma noite que não consigo esquecer,
me basta o pai de Mary Ann, não quero acumular mais uma... – Maggie viaja
nas lembranças. Ela também se passou na bebida, não tanto quanto Hazel, mas
passou.
– Agora que você me deixou super feliz por aceitar a minha proposta e
virá morar pertinho de nós, – abraço Maggie – talvez o cabeludo tatuado possa
virar mais do que uma mera futura lembrança, tudo é possível...
– Não... eu brinco assim, mas sei que não é para mim.
No fundo acho que ela sonha em reencontrar a tal transa de uma noite que
lhe rendeu uma filha. Sonha em se tornarem uma família. Entendo suas
esperanças e não posso culpá-la.
– E seu irmão? – pergunta Iris, voltando ao assunto, só pra ver Hazel fazer
cara de nojo.
– Sério que vocês têm interesse? É pau de pirralho...
– Eu sou chegada num pirralho... – Maggie incentiva e Hazel torce o nariz.
– Segundo ele, quase como o de Lian. Justificou dizendo que o dele ainda
estava em crescimento... tão iludido...
– Vai ver está mesmo ué... que eu saiba os homens crescem até os vinte e
um. – Ajudo Kellan, que não está ali para se defender das garras da irmã.
– Sendo verdade ou não, meu irmão não interessa. Iris é quem tem que nos
dar algo. Só responde uma pergunta então, gêniaaaaaa, – Fala tão alto e
arrastado aquele gênia que Iris até se assusta. – É de boa ou é sofrido?
– Sofrido Hazel, bem sofrido..., mas tão gostoso....
– Sei bem como é amiga. – Suspiro.
– Loiraaa, por que não tem um pau de sofrer pra gente também? Queria
taanntooo um...
– Você não quer um pau de sofrer qualquer, quer um bem específico. Então
pare de se lamuriar – lembro-a.
– Morrer virgem. É a minha sina! – sentencia-se.

Entro com cuidado na suíte para não fazer barulho e acordá-los. Passa um
pouco das três da manhã. Foi uma noite divertidíssima, mas no final, já estava
agoniada, inquieta, louca para voltar para os meus meninos.
Na real, não queria me afastar de Oliver na noite de ontem, passamos tanto
tempo longe um do outro... Claro que queria o momento com as garotas,
conhecer o clube, mas não naquele dia. Um dia depois de sermos marido e
mulher. Entretanto, eu precisava dar isto a Hazel. Ela acha que não percebo
que os rompantes exagerados e a bebedeira são a sua forma de camuflar a
grande tristeza em que se encontra. Minha amiga não está nada, nada bem. Não
vejo a hora de voltarmos para casa e aprofundar a questão com tranquilidade.
– Finalmente. – Puta-merda!
Levo a mão ao coração, paro e respiro, tentando conter o susto. Corro os
olhos ao entorno, situando de onde veio a voz, percebo uma silhueta no escuro
cantinho de leitura da suíte colossal, entre o grande paredão de vidro e o piano
de cauda. Oliver acende um abajur, está sentado na poltrona, com Ben
aconchegado, dormindo sobre seu peito, uma manta cobre o bebê.
– Amor, o que faz aí, sentado no escuro? Por que não está na cama,
dormindo? – Me aproximo.
– Achou mesmo que eu conseguiria dormir antes de você pôr os pés para
dentro deste quarto? Porra Beatriz, quase quatro da manhã! Não sabe quantas
vezes eu decidi ir atrás de vocês e me controlei.
– Oliver...
– Foi a merda de uma noite terrível, angustiante. Por favor, não me peça
mais nada do tipo por um bom tempo... minha cota tolerável de distância e de
imaginar o que você anda fazendo por aí está mais do que esgotada... por uma
vida inteira.
– Não seja dramático! – ironizo e beijo os meus dois meninos. Se fosse o
contrário, eu também não dormiria, admito. Faço-o afastar as pernas, me sento
em um de seus joelhos e deito a cabeça em seu peito, do lado contrário ao que
nosso filho está acomodado. Ele afaga meus cabelos. – Senti sua falta,
rockstar.
– Bem aqui! Onde você está agora. Esse é o seu lugar, baby. O lugar de
onde você não deve sair. O lugar de vocês dois.
– Sim, inclusive você escreveu a ferro e fogo, para nunca nos
esquecermos. Para não restar dúvidas. – Ele sorri.
– Temos que programar o número de filhos conforme o espaço que sobrou
em meu peito.
– Não me venha falar em mais filhos, Mr. Rain. O próximo só daqui a uns
dez anos, se houver próximo...
– Claro que haverá próximo, Ben precisa de um irmão. E dez anos é muito
tempo.
– Oliver, nem vem! Nem brinque!
– É você quem toma a pílula, meu bem. Não poderia antecipar a sua
decisão nem que eu quisesse. – Brinco com o único cachinho do meu bebê.
– Ao que tudo indica, você terá o seu bebê de cabelos encaracolados. Ao
menos isto ele puxou de mim.
– Ele tem muitos traços seus. A boca, a cor dos olhos pode ser como a
minha, mas o formato, são como os seus.
– E as semelhanças param por aí. Só não consigo entender de onde vieram
as covinhas nas bochechas.
– É, também não sei. Mas são uma fofura, não são? Nós caprichamos.
– Verdade, fizemos um belo trabalho. – Sorrio. – Quando ele ri e formam
aquelas covinhas, tenho vontade de morder todinho.
– Tá vendo porquê não podemos parar no número um? Temos que espalhar
mais fofuras pelo mundo.
– Melhor irmos para a cama antes que eu acabe concordando com você. –
Tento erguer meu tronco para sair do seu colo e meus olhos são atraídos para o
sofá creme, que está com algumas toalhas estendida pelo encosto e assento.
– Por que tantas toalhas pelo sofá?
– Está arruinado. Teremos que ressarcir o hotel.
– O que você fez?
– Eu? Nada. Seu filho foi o responsável.
– Meu filho? Meu bebê de três meses? Como seria possível?
– Estou me perguntando o mesmo até agora. Como é possível sair tanto
cocô de algo tão pequeno.
– Como assim? – pergunto segurando o riso e imaginando o estrago. Olho
para Ben e só estão me dou conta de que ele não está com a mesma roupa que
separei e Oliver colocou antes de eu sair.
– Ah Bia, sei lá... ele teve uma baita dor de barriga. O infeliz do Lian
confessou que colocou mouse de chocolate na boca do nosso filho durante o
jantar... Pode? – Levo minhas mãos ao rosto em sinal de incredulidade. – É um
cabeça-de-bagre. Quase arranquei as bolas dele depois que falou... Justificou
dizendo que ficou com pena, porque Benjamin olhava para ele com água na
boca pelo doce que estava comendo e não resistiu a deixar o afilhado
experimentar.
– Senhor... ele só tem três meses...
– Pois é. Mal vocês tinham saído, estávamos os quatro aqui, quando ele
teve a primeira diarreia e acordou assustado, berrando no meu colo. Ficou uns
bons minutos chorando desesperado, eu já estava ficando apavorado, não sabia
mais o que fazer para acalmá-lo. Até que lembramos que poderia ser a fralda
suja. Deixei-o com Max para ir ao quarto buscar as coisas para trocá-lo, e
veio a segunda onda. Mais forte que a primeira. Vazou pelas laterais, sujando a
roupinha dele, as mãos e a camisa de Max. – Estreito os meus olhos para ele.
– Oliver Rain, foi você quem colocou a fralda depois do banho. Por acaso
a deixou frouxa para não apertar as partes do seu filho? – Pela cara que ele faz,
bingo!
– Posso ter, um pouquinho... – Balanço a cabeça de um lado a outro, não
tem jeito mesmo. – Mas ali, foi tanta merda, anjo, que não haveria fralda que
segurasse, – não aguento e caio na gargalhada – mas continuando, Max, quando
sentiu o quentinho na mão e na barriga, segurou nosso filho afastado do corpo,
– ele estica os dois braços para frente, ilustrando – e a merda então ficou
pingando pelo assento e encosto do sofá.
– Que show de horror – digo, ainda aos risos.
– Calma, piora. Ben, que tinha parado de chorar depois da segunda
barroada, volta a abrir o berreiro, e Max, com medo de deixá-lo cair e não
podendo mais encostá-lo contra o corpo, o deitou no sofá. Lian foi para perto
para garantir que o bebê não rolasse para o chão.
– Meu Deus, tô ficando com medo de onde isso vai parar, quase me
arrependendo de tê-los deixado esta noite...
– Logo depois, veio a terceira onda, e sem brincadeira, a merda subiu e
chegou no pescoço dele na parte de trás. E o que vazou foi direto no assento do
sofá. Na parte da frente, na barriga, a roupa estava toda marrom. Quando voltei
e vi o seu estado, constatei que não haveria como apenas limpá-lo com
lencinhos umedecidos. O tirei das roupas sujas, a fralda era um pântano só, o
enrolei numa toalha e o coloquei no colo de Lian. Voltei e pus a banheira
encher.
– Então veio a quarta e derradeira onda. O bom foi que deixou Lian mais
cagado do que Max, ele merecia levar uma bem dada. Nosso filho não
decepcionou, porque foi grande... – Ele ri junto comigo.
– Mas juro que se ele fizesse mais uma vez, eu o levaria ao hospital. – Me
arrepio ao ouvir aquela palavra. – Fiquei muito preocupado, sabe lá o que
chocolate pode provocar num bebê tão pequeno... Lian estava apavorado. Se
culpando e com razão. E você não estava aqui..., mas felizmente parece que
passou. – Ele solta um suspiro de alívio.
– Depois do banho, de estar limpinho, voltou a dormir em meu colo.
Acordou apenas há uma hora e meia atrás, dei a mamadeira e logo apagou
outra vez. Sem dores, pelo visto. – Olho para o meu pequeno, acaricio o seu
rostinho, beijo sua bochecha, depois levo minha boca a do meu marido.
– Você se saiu muito bem, papai. Nosso filho tem tanta sorte... Ficou com
ele a noite toda no colo, não foi? Não o colocou na cama um minuto se quer,
estou errada?
– Não, não está.
– É lindo que queira ficar o tempo todo com o seu filho grudado em você.
Mas se ele se acostumar a isto, a só dormir assim, estamos ferrados. E vai se
habituar rapidinho, meu bem. Dormir sentindo o seu calor e ouvindo as batidas
do seu coração? Assim como eu, Benjamin não vai querer outra coisa na vida.
– Já estava sem você, baby, não ficaria afastado dele também. Ainda mais
depois do susto. Precisava ter certeza de que ele estava bem. – Não resisto e o
beijo novamente. E este beijo acende todos os meus desejos.
– Venha, vamos colocar nosso menino na cama. Voltei cheia de energia,
marido, quero você.
– Nasci para satisfazê-la, senhora Rain. Só não me conte o que você viu
por lá para acender o seu desejo, não quero saber.
– Vi muita coisa dura e de pé. Mas nada que ascendesse o meu desejo, meu
bem. Isto só aconteceu quando eu passei por aquela porta bem ali. Nada do que
vi lá se compara ao que eu tenho na minha cama, ao meu dispor.
– Porra, Beatriz. Você acabou de ajudar a formar na minha mente a cena de
um musical pornô dos anos cinquenta. Minha linda esposa num vestido de gala
dançando e cantando no meio de um bando de machos pedados e de pau duro.
Inferno! – Reviro os olhos, pego Ben do colo de Oliver, beijo demoradamente
sua testa, depois o ajeito em sua caminha e cubro-o. Então me sento na beirada
da cama, apoio os meus braços no colchão, atrás do corpo e cruzo as pernas.
– Vamos marido, comece.
– Começar o que?
– A dançar e a tirar a roupa para mim. Me mostre o único pau duro que me
interessa ver balançar.
– Ah Beatriz, o casamento fez bem a você. – Tira a camiseta.
– É mesmo? Por que diz isso?
– Tão sem-vergonha. Mas aqui não tem essa bichisse de dancinha erótica e
passadinha de mão pelo próprio corpo não, querida. – Tira a calça e nossa...
tadinhos dos dançarinos daquela boate... Preciso chupar. – Da minha dança
você participará ativamente, do começo ao fim. – Tenta se agigantar para cima
do meu corpo, mas paro-o colocando um pé em seu peito.
– Não tão rápido, rockstar. – Caio de joelhos em sua frente. – Hoje, ele
não me escapa! – Seguro o pau pesado e duro e beijo a cabeça.
– Você é a minha ruína e o meu deleite, esposa.
Corro minha língua por toda a sua pélvis, agora parecendo o bumbum de
Benjamin, lisinha e sem pelos. Beijo demoradamente a sua tatuagem, depois
ergo o pau e levo minha boca à suas bolas. Ele fecha os olhos e suspira
pesadamente, com os lábios entreabertos. Ah meu homem, tão lindo... Sugo
uma bola para dentro da minha boca e brinco com a língua ao redor dela,
repito o processo com a outra. Corro a língua do seu saco por toda a extensão
de seu pau até a cabeça, ele contrai o abdômen e geme.
– Bia...
– Quem quer leite hoje sou eu, rockstar. Quero você enterrado na minha
boca e sua porra quente escorrendo pela minha garganta depois que eu te
mamar bem gostoso.
– Porra!
Enfio-o na minha boca e levo-o até o máximo que consigo.
– Puta-Merda, Beatriz. Essa sua boca deveria ser censurada. Ela é o
próprio pecado. Erótica demais! – Chupo-o gostoso e molhado. Olhando-o
através dos cílios. Me deliciando com o sabor dele. Tanta saudade! Ainda não
havia tido a oportunidade de tê-lo de novo em meus lábios. Noite passada ele
não abriu mão de estar o tempo todo dentro de mim.
– Caramba! Ninguém mama como você, pequena. Não vou aguentar mais
muito... Que delícia!
– Eu que o diga, bebê, eu que o diga. – Chupo e me esbaldo, a saliva
escorre de tanto que ele me dá água na boca.
Meus lábios e maxilar sofrem, mas nada me tira dali até que eu receba o
meu prêmio.
E ele logo chega, quente e abundante.
– Baby... – Treme e segura a minha cabeça, arremetendo como precisa
algumas vezes mais.
Assim que se situa, me traz para seus braços e no mesmo instante está em
minha boca, me atirando contra a cama, erguendo o meu vestido e se
apossando de mim como eu nunca me canso que ele faça.
Capítulo 38

“Eu quero a sorte de um amor tranquilo


Com sabor de fruta mordida
Nós na batida, no embalo da rede
Matando a sede na saliva
Ser teu pão, ser tua comida
Todo amor que houver nessa vida
E algum trocado pra dar garantia”
(Todo Amor que Houver Nessa Vida – Barão Vermelho)

Bia

detê-lo.
A mor, uma rapidinha... – Oliver me joga no sofá e cai por
cima de mim antes que eu consiga alcançar a porta.
– Marquei com Hazel, Oliver, vou me atrasar. – Tento

– E daí? Ela te roubou de mim há quatro dias. Estamos há apenas dois em


casa, Bia... Muito cedo para querer te tirar de mim de novo. – Ele parece um
gatinho manhoso que se esfrega nas pernas pedindo leite. – Hazel que espere!
Não é nada urgente, só vão papear. Estou a ponto de bala, baby, dá para mim,
vai... – Quando eu não quero dar para ele?
– E dar para você, pela terceira vez no dia, é algo urgente, por acaso?
– Urgentíssimo! – Esfrega a tora dura que carrega entre as penas em mim.
– Sentiu o tamanho da urgência?
– Você está incontrolável, rockstar. A última vez que esteve assim foi no
Brasil. E eu engravidei!
– Culpa da sua bunda magnífica! Olhei para ela rebolando neste vestido,
lembrei do meu pau entrando nela ontem à noite e pirei. Estou sofrendo... –
Oin... Outra vez aquela voz manhosa. Leva as mãos às minhas nádegas e
aperta.
O que Oliver não sabe é que meu encontro não é só com Hazel e muito
menos para papear..., mas as duas que me perdoem.
– Coitadinho. – Retiro o seu pau de dentro das calças, afasto minha
calcinha para o lado e deixo-o ali, engatilhado. Ele pressiona um pouquinho a
cabeça.
– Uhmmm, tão apertada! – Vai penetrando devagar. Ahh...
– Como você pode? Como consegue, Oliver? Me deixar tão acesa sempre
que quer? Basta encostar...
– É um mero reflexo do que você provoca em mim, pequena. – Dá uma
guinada e uma rebolada espetacular, que me faz arfar. – Saboreie esposa.
– Sempre. Continue assim, fundo e bem devagarinho...
– Devagarinho então.
Ele entra, rebola e sai em câmera lenta, beijando minha boca. Nossos sexos,
ao se fundirem, produzem aquele som delicioso e estalado causado pelo rio de
umidade em que me encontro lá embaixo. Como ele sugeriu, eu saboreio e levo
a virilha ao seu encontro, sempre ajudando na reboladinha.
Poderia ficar ali, assim, entretida naquela dança, me perdendo na sensação
dele invadindo o meu corpo para sempre. Não fosse a necessidade física
clamar que o ritmo se intensifique um pouco, para chegarmos aonde
precisamos chegar com sucesso. Ele sabe exatamente o momento em que
impera nos dar mais, e intensifica a pegada na medida certa.
Gozamos juntos.
Entre respirações pesadas e gemidos altos.
Ele solta o peso, afunda o rosto no meu pescoço, e ali fica.
– Satisfeito, marido?
– Uhm. – Nem se mexe.
– Oliver...
– Uhmm...
– Preciso ir.
– Ainda não... – Rio das suas tentativas de me manter em casa.
– Eu amo você, Mr. Rain, e também não quero que saia de mim, mas eu
realmente tenho que ir.
– Hum – resmunga outra vez e continua ali, curtindo o seu orgasmo e se
fazendo de desentendido.
– Me libere marido, vamos... Já atendi às suas necessidades urgentes. –
Finalmente se mexe e levanta o tronco para me olhar.
– Posso inventar outra urgência rapidinho para você ficar. Ainda quero a
sua bunda... – Ergue as sobrancelhas e me exibe um sorriso mais que cretino.
– Sei que pode. E conseguiria me convencer facilmente. Mas eu preciso. –
Tenho contas, contas altas a acertar. Ele suspira resignado e sai de cima de
mim.
– Diga para Hazel dar uma folga depois de hoje.
– Direi. E você, comporte-se. – Lhe dou um beijo rápido. – E cuide bem
do meu filho.
– Perfeitamente, Sra. Rain. Assim que acordar, vai tomar sol com o papai.
– Quinze minutos Oliver, mesmo sendo o sol ameno do fim de tarde, não
pode ficar mais do que este tempo sem protetor solar. Ainda é muito pequeno
para engatinhar pela praia e comer areia... – Sorrio para ele, deixando claro
que ouvi sua mensagem de tantos meses atrás.
– Você ouviu?
– Sim, meu amor, depois que nos acertamos, todo dia eu ouço algumas das
mensagens que você me enviou. Choro na maioria. Chorei muito nesta. Foi tão
linda! E pensar que ele já estava a caminho e você nem fazia ideia.
– De alguma forma eu sentia, eu acho, pois não foi uma nem duas vezes
que fantasiei sobre. Cogitei ser o impacto do nascimento de Anthony, mas hoje
penso diferente.
– Aos incríveis fatos inexplicáveis da nossa história. Ainda temos que
brindar a isso. Com um bom e velho vinho. – Pisco para ele. – Agora eu vou!
Tchau!
Saio rapidamente antes que tenhamos mais ideias e entro no carro que
estava a minha espera.
Foi tão bom voltar para casa.
Me emocionei muito na nossa chegada anteontem. Só ao pôr os pés ali outra
vez é que pude medir o tamanho da minha saudade. Até de Gia eu sentia falta.
A Abracei tanto que a mulher se assustou. Oliver insistiu para que Laura a
levasse junto, quando mudou para sua nova casa, mas nossa avó não aceitou,
pois sabe que o neto confia na mulher. Disse que era mais fácil para ela
colocar alguém novo dentro de casa, do que para ele. No fundo eu acho que ela
quis garantir que alguém a mantivesse informada e cuidasse para que ele não
parasse de se alimentar de vez durante o tempo que passou sozinho naquela
casa.
Oliver preparou uma surpresa para quando eu chegasse ali. Mandou
transformarem a antiga, e enorme, suíte de Laura no quarto de Benjamim. Ficou
um sonho. A decoração em cinza clarinho, branco e azul bebê, o berço preto
super moderno dando o contraste, e a decoração rock’n’roll, como não poderia
deixar de ser. Quadrinhos com logo de bandas nas paredes, um canto com
guitarrinha, microfone e até uma bateria pequena com o logo da The Order
enfeitam o espaço, aonde muitos bichinhos de pelúcia roqueiros fazem a festa.
Lindo demais!
Mas não sei se Benjamin chegará a dormir naquele berço. Mesmo tendo
instalado a melhor parafernália em termos de babá eletrônica existente, pensa
se ele deixou colocarmos o menino lá durante a noite? É, pensou certo. Nosso
bebê dorme mesmo é num segundo berço, posicionado bem ao lado da nossa
cama.
Quinze minutos depois, estou saltando do primeiro carro e entrando no
segundo, que me aguardava na entrada do condomínio.
– Porra! Demorou primeira-dama. – Hazel reclama.
– Desculpem, me atrasei.
– Bia, tem certeza que quer fazer isso mesmo?
– Você não faria, Riley?
– Sem dúvida eu faria.
– Então já tem a sua resposta. Max está sabendo? Não quero que Oliver
desconfie, não até estar feito, pelo menos.
– Sim, ele está. Não gostou nada de vocês se envolverem em algo assim,
mas no fim concordou em manter sigilo. Peter já está com os homens
aguardando na entrada do prédio.
– Ótimo.
– Credo! Agora entendo porque Oliver te apelidou de Chucky. A cara de
brinquedo assassino que você fez me deu medo.
– Ah, estou mesmo para o derramamento de sangue, Hazel, você não faz
ideia...
A viagem até Long Beach é longa, a ansiedade e adrenalina fazem o tempo
passar mais devagar que o normal. Quando avisto Peter e os outros seguranças
na garagem do edifício, respiro fundo. Chegou a hora!
– Tinha esperanças de que minha mulher te convencesse a desistir – diz o
ex-militar assim que salto do carro.
– Sua mulher? Sério? – Ele suspira.
– Ela nem tentou, não é? – Olha atravessado para Riley.
– Nem adianta me olhar assim. Sabe muito bem o que eu penso e o que eu
faria se fosse com você.
– Não acho que você precise se rebaixar a este nível, Beatriz. Ainda dá
tempo de mudar de ideia.
– Eu preciso sim. E eu vou. Agora me mostre como faço para dar um soco
bem dado, Peter, vamos. – Ele pragueja, mas pega a minha mão e estende o
meu braço para frente.
– O mais importante para um soco ter impacto, é não dobrar o pulso e
formar o punho perfeito. Para isto você tem que fechar a mão com firmeza.
Assim. – Coloca meu pulso no ângulo certo e fecha meus dedos em direção a
palma da mão. – O polegar sempre acima dos outros dedos, desta forma,
pressionando forte sobre o dedo do meio para dar sustentação. De resto é levar
o braço para trás e depois projetá-lo para frente com força, em direção ao
alvo, sem mexer o pulso. – Movimenta meu braço para trás e para frente
algumas vezes, me mostrando a forma correta de fazer aquilo.
– Está ótimo, Peter, obrigada. Não vou errar, pode ser que a técnica não
saia perfeita e eu quebre a minha mão, mas a raiva contida me fará acertar o
alvo com vontade, ah se vai...
– Bia, Hazel, deixe-me apresentá-las ao investigador Anatoly McKay. –
Riley nos mostra um homem calvo e baixo, que tem a palavra astúcia refletida
no olhar. – Além de um grande amigo nosso, é também o chefe do
departamento de inteligência da polícia de Los Angeles. – Sério que ela contou
para um policial o que pretendemos fazer ali? – Foi ele quem nos ajudou a
desvendar os fatos de forma legal e a chegar nas garotas. Investigador
MacKay, esta é Beatriz Rain, esposa de Oliver. E esta, Hazel Wells, prima de
Lian.
– Prazer em conhecê-las, senhora Rain, senhorita Wells. – Me sinto tão
mais velha com as pessoas me chamando assim.
– O prazer é nosso, investigador. Obrigada por sua ajuda e bom... se Riley
contou ao senhor o que faremos aqui... não é algo muito legal, não é? –
pergunto apreensiva e ele ri.
– Não mesmo, em nenhum dos dois sentidos que a palavra tem – diz ainda
de forma divertida. – Mas sabe, programei para o dia de hoje uma crise de
amnésia, – dá uma piscadinha – fique tranquila.
– Santa amnésia, Batman! Vamos de uma vez ao que interessa? – Hazel
está impaciente.
– Não tão rápido, o plano é o seguinte. Primeiro entraremos eu e o
investigador, com os dois seguranças. Você e Hazel esperam no corredor, com
Peter. Deixarei a porta entreaberta para que ouçam.
– Por quê? Riley, eu quero ser a primeira...
– E vai. Mas antes tenho que garantir que não arranjaremos problemas
para vocês.
– Eu mesma me garanto, você não...
– É assim ou cancelamos, Bia. Prometi a Max que nada do que fará aqui
trará reflexos futuros, então ou aceita os meus termos ou voltamos agora
mesmo. – A advogada cruza os braços e me encara, demonstrando que não está
para brincadeira. Não tenho escolha.
– Que seja!
– Ótimo, vamos terminar logo com isto, quero voltar para o meu filho.
Primeiro entram Riley e os três homens num elevador, no seguinte, Hazel,
Peter e eu. Quando chegamos ao apartamento em questão, a porta já está
entreaberta e é possível ouvir a voz da infeliz claramente.
– Como entraram aqui? Mande seus brutamontes me soltarem! – grita.
– Seus pais me entregaram a chave de boa vontade, inclusive assinaram
uma declaração dizendo que tínhamos permissão para entrar no apartamento.
Pelo visto estão mesmo empenhados em mostrar à filha que suas atitudes não
são de gente de bem.
– Claro! Porque gente de bem invade a casa dos outros e manda os
capangas segurarem uma pessoa contra a sua vontade. Isso é ilegal, sabia? Vou
denunciá-la à polícia! – Riley ri com vontade.
– Sério? Você falando em denunciar à polícia? Não seja por isso, a polícia
está bem à sua frente, pode pleitear a causa agora mesmo... O que? Ficou
pálida? Não esperava? Pois é, garota. Tudo que estamos fazendo aqui, pelo
menos até agora, está embasado pela lei. Inclusive vou deixar o investigador
levar um papo com você.
– Olá Srta. Spencer. Sou Anatoly McKay, da polícia de Los Angeles. Há
mais ou menos dez meses, recebemos uma denúncia de que o seu nome estava
envolvido num esquema de aliciamento de pessoas e formação de quadrilha
pelas redes sociais. Conseguimos autorização judicial para investigar e
passamos a monitorar suas contas. Através disto, chegamos à um grupo seleto e
fechado para mulheres da Califórnia, com vinte e três membros, que se
autodenomina “O Jardim das Oliveiras” – Conforme o investigador vai falando
eu vou ficando cada vez mais nervosa. Sabia que ela tinha simpatizantes, Kate
é a prova disso, e que Riley contatou algumas outras, mas não que organizou
uma “seita”. Tudo aquilo é novidade para mim. Ouço também som de papel
batendo contra uma superfície, provavelmente ele está jogando um bocado de
provas na frente dela.
– Segundo o estatuto do grupo, do qual a Srta. consta como presidente e
idealizadora, há três pré-requisitos para fazer parte dele, além da localização
física e do sexo. Um, morrer de amor por Oliver Rain, dois, estar disposta a
fazer qualquer coisa determinada pelo grupo para estar com ele. E para provar
que a aspirante a membro realmente faria qualquer coisa, a Srta. distribui
testes. Testes estes que vão desde suborno por sedução, até sequestros
relâmpagos. Todos, claro, de vítimas escolhidas a dedo pela Srta., a Oliveira
Mor. A maioria tem bom sendo e declina mediante a loucura, claro, mas as
mulheres que persistem e são bem sucedidas na iniciação, como chamam, são
consideradas oficialmente membros do clã. – Puta-Merda! A garota é mais
doente do que eu imaginava. E tem pelo menos outras vinte doentes com ela.
– No dia dez de janeiro do ano passado, a senhorita fechou o grupo para
novos membros. E começou a arquitetar o plano para finalmente se apossar do
objeto de desejo de todas, o vocalista da banda de roque intitulada The Order.
– Um arrepio gelado me percorre a espinha de cima a baixo.
– O tal plano seria posto em prática no último show da turnê Another Life,
que a banda iniciava naquela mesma data. Show este a se realizar na cidade de
Los Angeles no início de março. A ideia era conseguir o convite para todas as
Oliveiras àquela apresentação, e ao final, conseguir acesso ao camarim do
músico para oito delas, incluindo a senhorita, onde o drogariam e por fim o
sequestrariam. As demais ficariam na retaguarda, despistando, aguardando nos
automóveis para retirá-las de lá depois da missão cumprida ou preparando a
festa no local escolhido para o cárcere. – Outro arrepio.
– Para conseguir meios de adentrar aos camarins a senhorita conseguiu
infiltrar três de suas Oliveiras no quadro de funcionários da arena onde
aconteceria o show. Roubaram uniformes da equipe e clonaram crachás, assim,
as oito escolhidas, mais as três funcionárias, puderam transitar pelos
corredores internos da arena sem maiores problemas.
– Meu Deus Bia, não acredito que um dia chamei essa louca de amiga.
Olha o perigo que eu trouxe para perto da minha família. – Hazel tem lágrimas
nos olhos. A abraço.
– Vocês arquitetaram tudo muito bem. – Voltamos nossa atenção ao policial
outra vez. – Só não esperavam que a equipe de segurança da banda revistasse
inclusive os funcionários que entram nos camarins para limpar banheiros,
organizar o ambiente e repor comes e bebes. Foi numa destas revistas que a
segurança achou, escondida entre as roupas de uma de suas discípulas, uma
pistola. E na de outra, uma seringa com uma dose altíssima de tranquilizante,
dose capaz de derrubar um elefante. – Eu estremeço, essa louca poderia tê-lo
matado se tivesse conseguido... Ah, eu acabo com ela!
– A ordem da segurança dos músicos em casos assim, além de levar os
suspeitos para a delegacia, claro, é retirar todas as pessoas estranhas de dentro
do camarim no ato. Foi o que fizeram e o que garantiu que seu plano original
fosse por água abaixo. Contudo, de alguma forma, a senhorita conseguiu se
esconder e permanecer lá dentro, dando uma nova abordagem a missão, uma
em que ficaria com o prêmio só para si.
Vaca!
– Quando conseguimos provas da ligação dos fatos ocorridos naquela
noite com a sua quadrilha, convocamos as integrantes a prestarem depoimento
e todas estas mulheres cujo a foto você pode ver a sua frente, atestaram
formalmente e de boa vontade o que relatei até agora. Principalmente depois
que eu contei que sua líder as traiu.
– Sendo assim, senhorita Carol Spencer, minha missão aqui é informá-la
de que, juntamente com a portadora da pistola e a do tranquilizante, está sendo
oficialmente indiciada pelo estado da Califórnia, pelos crimes de formação de
quadrilha, invasão de propriedade e tentativa de sequestro. A intimação que
lhe entrego traz a data e o local do seu depoimento. Tem direito a um advogado
e está proibida de sair do estado até o julgamento.
– Vocês não podem! Essa piranha aí tinha dito... – grita descontrolada.
– Ah sim, não se preocupe, o que Riley falou, continua valendo. Oliver
Rain não incluirá o estupro no processo. O que é uma pena, pois caso ele
tivesse feito eu poderia levá-la presa no ato, visto que aumenta em muito o
grau das acusações. Mas sabe, sempre se pode mudar de ideia. Portanto a
senhorita ficará caladinha e aceitará de bom grado o acerto de contas que
acontecerá aqui, daqui a pouco. Entendeu? – Ela não responde.
– Entendeu senhorita Spencer? – O investigador levanta a voz e dá uma
baita porrada em algum móvel que provoca um estrondo enorme. Ela chora.
– Que tipo de... – Tenta, aos prantos.
– Já vai descobrir.
– Podem entrar. – Riley chama.
– Hazel, se não quiser...
– Ah, eu quero! – Assinto para ela. Respiro fundo e entro no apartamento,
decidida, seguida pelos outros dois.
– O quê? Essas duas idiotas? – A vadia ri alto, os dois seguranças que a
mantém no lugar, um segurando em cada um de seus braços, lhe dão um tranco.
Ela pragueja. – É tudo culpa sua, fedelha órfã – diz me olhando com raiva,
muita raiva. E eu repasso as cenas daquele vídeo na minha mente para
alimentar ainda mais a minha. Deixá-la no ponto!
– Por que não continuou no seu poleiro de gente pobre em Chicago? Não
tinha nada que invadir o nosso mundo. Você não tem classe para estar ao lado
de um homem como Oliver. Ele precisa de uma mulher como...
Então eu largo, o primeiro deles, como Peter ensinou, levo o braço para trás
e o projeto com força, uma força que nem sabia que eu tinha. Acerto-a com
tudo na bochecha direita. A cabeça dela voa para o lado oposto. Berra alto,
ainda mais enfurecida.
– Este foi por você ousar pôr as suas mãos sujas, e outras partes deste seu
corpo imundo, no meu homem.
– Sua va... – Não consegue terminar. Lhe acerto a outra face, com tanto
vigor quanto. Minha mão dói, mas outras partes de mim estão em êxtase.
– Este foi para te mostrar a verdadeira classe de mulher que Oliver tem ao
lado dele.
– Você me pa... – Agora o derradeiro, para lavar a alma. Bem no meio do
nariz. Ela reclama de dor. Claro que meus socos não chegam a lhe causar
grandes danos, mas um pequeno filete de sangue escorre. Ótimo! Preciso
garantir que a minha marca vai ficar na fuça dela.
– E este foi para extravasar a minha raiva e todo o pavor que eu sinto só
de pensar no que teria acontecido a ele, caso vocês tivessem conseguido
aplicar aquele sedativo ou usar a pistola, sua puta desvairada e doente. – Ela
esperneia e tenta se soltar dos homens a todo custo, sem sucesso, óbvio.
– Fácil bater em alguém que está incapacitado de se defender! – Grita
furiosa!
– Boa! – E lhe acerto o soco bônus em cheio na boca. – Obrigada por me
lembrar de mais um motivo para quebrar a sua cara. Não gosta de ser atacada
enquanto está indefesa? Quanta ironia, não acha? Só está provando do próprio
veneno, vagabunda.
Meu telefone começa a tocar freneticamente, o que me tira do transe raivoso
e me traz de volta a realidade. Olho o visor, é Oliver. Sinto muito baby, não
tenho condições de lhe atender agora.
– Minha vez. – Hazel toma a frente. – Não se preocupe, – diz à ex-amiga,
puxando os cabelos da garota e levando sua cabeça até quase o meio das
costas. – Bia já fez um belo trabalho, pegarei mais leve. – Dá uma bofetada na
piranha, que estala alto, a outra grita e solta inúmeros palavrões. – Eu nem sei
quantas vezes eu te recebi na minha casa, te convidei para estar com a minha
família, sua cobra. E você arquitetando contra nós, contra a vida dele... – Outra
bofetada. O telefone de Riley começa a tocar insistentemente.
– Chega! – Peter retira Hazel de perto da infeliz. – É o suficiente.
– Não, eu preciso...
– Chega, Hazel, acabou. Mesmo que vocês batam até deixá-la
inconsciente, este sentimento de impotência não vai passar, acredite. Já deram
o seu recado, ela já foi avisada por nós inúmeras vezes para não ser idiota de
se aproximar novamente, temos gente nossa de olho em suas ações, a polícia
também fiscaliza e a justiça cuidará do resto.
– Sim, a partir de agora, eu finalizo com a senhorita Spencer – diz o
investigador.
– Obrigada Anatoly. Vamos sair daqui. Você também, Riley. – Peter nos
conduz para a saída.
– Eu ainda...
– Você nada! Chega para você também. Já se envolveu demais, vamos
embora. – Ela bufa, mas vem.
– Bia, é seu marido me ligando. Deve ter descoberto nossos planos. –
Puta-merda, se for isso ele deve estar possesso, não quero lidar com ele agora.
– Não atenda. – Ela concorda, mas na sequência é o meu celular que volta
a chamar sem trégua. Penso em não atender de novo, mas então a ideia de que
pode ser algo relacionado a Ben me domina e não consigo mais ignorar.
– Oi amor.
– Me diz que não está onde penso que está. Diz que você não fez o que
Max contou que iria fazer depois de eu ameaçá-lo de morte. Diz que ele
entendeu errado.
– Oliver...
– Não, Beatriz. Porra! – Ele deve ter dado um murro contra uma porta ou
uma parede, porque o barulho foi alto. – Não! Você não podia... Não podia se
arriscar assim, merda! Não quero essa mulher... Você tem um bebê, inferno...
– Acalme-se, eu...
– Me acalmar o caralho, estou indo aí te buscar.
– Não precisa, acabei de entrar no carro, estamos voltando.
– Falamos quando você chegar. Quero Peter e Riley aqui. – Desliga na
minha cara, furioso.
– Difícil?
– Ele está puto. Quer vocês dois lá.
– Já esperava por isto – confessa Riley. – Ainda bem que agora você é
mais minha chefe do que ele. – Faz graça, não entendo.
– Como assim, mais sua chefe do que ele?
– A Three Minds.
– O que tem a Three Minds? – Ela me olha abismada.
– Você não sabe? Ele não te contou?
– Não. E por Deus Riley, fale de uma vez, está me deixando nervosa.
– Ah, se ele não contou, não serei eu...
– Antes de terminar, ele transferiu a parte dele na empresa para você, Bia.
A ideia dele era ir embora, mas te deixar tudo, inclusive a Three Minds. –
Hazel esclarece.
– Tá brincando?
– Não, você é oficialmente a dona de um terço da The Order e de um
quarto da Three Minds e do condomínio, que era o que pertencia a Oliver. A
quarta parte são ações que lá no início distribuíram entre Laura, meus pais e
Helen. Do dinheiro que acumulou pessoalmente ficou com uma parte, mas
transferiu um tanto para você e outro para Laura. Mas do patrimônio que
construiu, só permaneceu com os imóveis que possui fora do condomínio e os
direitos das músicas que compôs antes de se conhecerem. Esta seria sua fonte
de renda futura.
– Ah, rockstar... – Fecho os olhos evitando que as lágrimas caiam. Não
quero nada disso, meu amor.
– Resumindo, Oliver deu o golpe quando te arrastou para casar às pressas
em Vegas, chefa. – Riley brinca, nos fazendo rir e melhorando o clima.

– Eu disse que queria Peter e Riley aqui! – Nunca vi Oliver tão nervoso e
bravo como agora.
– Pois eu os dispensei.
– Você os dispensou?
– Sim, parece que sou literalmente a dona da porra toda, não? – debocho.
– Quando pretendia me contar, Oliver?
– Ah não... não senhora... você não vai mudar o foco aqui, Beatriz. Vamos
falar DA MERDA QUE VOCÊ FEZ! – Berra a última parte da frase.
– Controle-se. Vai assustar Benjamin.
– Ele não está aqui. Está com vovó e Helen. – Porra, se tirou o menino de
casa é porque quer mesmo me dar uma dura. E não do tipo que eu gosto.
– Preciso amamentá-lo. – Tento me livrar.
– Você já vai. Pelos meus cálculos tem quase uma hora ainda até a próxima
mamada. – Suspiro, melhor encarar.
– Eu precisava fazer o que fiz, Oliver.
– O cacete que precisava! – Mantém o tom exaltado. – Aquela mulher... ela
é uma maluca, obcecada. Uma psicopata! Se você soubesse o que andam
investigando e tudo que já descobriram...
– Eu sei.
– Você sabe? VOCÊ SABE? Que ela planejou sequestros, torturas? Que fez
garotas venderem os corpos por um passe na sua seita? E ainda assim você foi
lá? Se expor na frente dela?
– Escuta...
– Não! Escuta você! – Ele dá de dedos, me sinto uma criancinha levando
bronca do pai. – Uma das minhas funções como seu homem, seu marido, é te
proteger. Mas como vou conseguir se você mesma joga contra? Se vai de livre
e espontânea vontade ter com o inimigo? E PELAS MINHAS COSTAS! Se
soubesse o pavor que eu senti... – Ele passa as mãos pelos cabelos e respira
fundo algumas vezes. – Enquanto ela... – Fecha os olhos, parece sentir dor.
– Enquanto a mira dela estiver apontada em minha direção, eu consigo
lidar com esta merda, mas a partir do momento que virar o canhão para você
ou Benjamin, aí não! Aí não respondo mais por mim! – A força da sua ira me
atinge, deixo as lágrimas caírem, silenciosas. Ele não entende...
– Eu realmente não queria incluir o abuso na lista de acusações contra ela,
porque irá expor a minha doença, por consequência o meu passado, e a coisa
estava sob controle. Ela foi exposta para a família, que está colaborando e está
de olho nela, nossos homens estão de olho e a polícia também, mas agora...
agora acho que terei que deixar tudo vir à tona, porque eu não quero essa
maluca em liberdade arquitetando um plano de vingança contra a minha
mulher! Já é tarde para evitar, mas eu não a queria sequer pensando sobre
você. Ou melhor, “pensenando”, como diz o dr Iori. Pensando e sentindo
coisas ruins a seu respeito, e direcionando a energia podre sobre você.
– Só o fato de eu estar com você já faz ela pensar coisas ruins a meu
respeito, Oliver. Não serão os quatro socos que meti na fuça dela que farão
diferença.
– Você alimentou a raiva dela! Não precisava Beatriz. Se rebaixar, se
vingar, ter isso no seu currículo.
– Me rebaixar? Me vingar? É assim que você vê o que eu fiz? Ela te
estuprou, porra! – Agora eu berro também. – Nada que a minha natureza me
impõe como um limite aceitável do que posso causar a ela, seria o suficiente
para eu me sentir vingada, Oliver. Para ela ter o que realmente merece, terei
que deixar nas mãos das leis que regem o universo. Mas consegue entender a
dor que eu sinto toda vez que penso sobre o fato? Se fosse o contrário? Se um
maluco apaixonado tivesse me estuprado, – ele fica branco – você ainda
pensaria que não precisava? Você não se rebaixaria? Realmente se importaria
em ter algumas porradas em seu currículo?
– Não tem comparação – diz, engolindo em seco.
– O QUÊ? Não tem comparação? Como assim? – Seco as lágrimas. Ele
realmente acha que vale tão pouco? – Ela feriu o que eu mais amo! – Dou com
o indicador em seu peito.
– Causando dor a você, causou dez vezes mais dor em mim. Ela se
aproveitou de você quando estava indefeso! Como se fosse um nada. Como se
não houvesse pessoas que te amam, que se importam e querem o seu bem. E
você tem, Oliver! Tem muitas. O que eu fiz hoje, indo lá e sentando a mão na
cara dela, não foi me rebaixar e muito menos me vingar. Foi deixar impresso
em seu rosto pelas marcas do meu punho, estes recados: Ele tem quem se
importa! Ele tem quem cuide dele! Ninguém machuca quem eu amo e sai
ileso. Ninguém abusa da minha família e fica por isso mesmo. – Ele sorri em
meio a algumas lágrimas que escapam.
– Bateu de punho fechado, Mrs. Rain? – Não seguro um sorriso também.
– Bati. Quatro vezes. Arranquei sangue! – Me exibo, orgulhosa. Ele leva o
olhar para a minha mão direita.
– Dela e da sua mão também, pelo visto.
– É. Está doendo. Um pouco.
– Me deixe ver. – Finalmente me toca, pega minha mão avermelhada e leva
aos lábios. Beija delicadamente sobre os nós dos meus dedos e depois me
estreita contra seu peito.
– Pelo visto sua direita é potente.
– Guarde a informação, Mr. Rain. Ela pode lhe ser útil no futuro. – Ele
sorri.
– Foi uma ameaça, Mrs. Rain?
– Por enquanto, só uma dica.
– Bom. Obrigado então. Eu acho.
– Não tem de que, marido. Tudo porque eu amo você. – Ele ri e respira
fundo. Sim, meu amor. Eu amo você. E bato em quantas mais precisar.
– Ah minha pequena... o que eu faço com você? Não posso nem pensar
nessa nojeira toda resvalar em você ou no nosso pequeno. Se ela fizer algo
contra vocês, eu... – Não o deixo terminar e o beijo.
– Ela não vai. Como você disse, há vários pares de olhos controlando os
seus passos e atos. E o investigador que nos acompanhou hoje tem muitas
provas contra ela, depoimentos tanto de cúmplices, quanto de várias vítimas
das provas de iniciação. Carol irá a julgamento público.
– Anatoly estava lá? Apoiou o seu acerto de contas?
– Ele disse que terá uma crise de amnésia. – Oliver balança a cabeça. – E
acho sim que deveria deixá-lo incluir o crime contra você no processo. Não
tem como correr em sigilo?
– Pode-se tentar, mas não seria garantido que conseguiríamos manter, e
realmente não quero mexer no vespeiro do meu passado. Certamente chegariam
em Vivienne e no conde, e sabe-se lá o que ele faria para manter as aparências
se seu nome circulasse na mídia associado a um escândalo envolvendo o meu.
Ele é muito poderoso. Não teríamos meios de monitorá-lo, como fazemos com
Carol. E eu... a verdade é que não o conheço, Bia. Só posso me basear no que
lembro e no que ele fez comigo e com a mulher que chamava de esposa.
– Você tem medo.
– Sim. Medo dele fazer mal a vocês, a vovó. Medo de que o fato de isto
tudo emergir me coloque em uma crise longa outra vez. – O empurro até o sofá
e me sento em seu colo.
– Você precisa enfrentá-los. Ele e Vivienne.
– Henry andou colocando coisas em sua cabeça, foi?
– Não. Mas assim como ele, eu acredito que passando por isto, você não
terá mais crises. Precisa encerrar o ciclo Oliver. Encerrar aqui dentro. – Ponho
a mão sobre o seu coração. – Descarregar, perdoar e deixar ir.
– Assim como você perdoou Carol?
– Olha só, meu amor. Carol para mim a partir de hoje é ninguém. Fui lá,
dei o meu recado a ela e está encerrado. Apesar de que sempre doerá pensar
no que ela fez, desde que não se meta de novo no meu caminho, e quanto a isto
não vamos descuidar, não vou ficar remoendo e desejando o seu mal. Só faria
mal a mim também. O resto, o que ela tiver que passar para limpar os socos do
seu currículo, a vida vai se encarregar de dar a ela. Espero realmente que seja
condenada, pois cometeu crimes graves e pode ser um perigo para a
sociedade. Mas se mesmo com todas as provas e esforço nosso não for... –
Dou de ombros. – Talvez só o susto, o medo, sirva para ela evoluir como
pessoa e mudar, talvez não. Mas ela vai colher as consequências do que
plantar, não duvido disto. Pode não ser agora, pode não ser aqui, mas ela vai. –
Acaricio seu rosto.
– O que eu sugiro, não é pensando no bem das pessoas que tanto te
machucaram quando criança. É pensando no seu. Não é para aliviar a
consciência deles, é para aliviar a sua. Você precisa ter a sua desforra com
eles, assim como tive a minha com Carol. O seu soco será dizer a eles, frente e
frente, tudo que ficou preso em seu coração estes anos todos. E no final, se
você sentir que deve, conceda o seu perdão e liberte-se, coloque-os no lugar
que realmente merecem em sua vida, que é a dos exemplos a não serem
seguidos e só. Vivienne está há anos colhendo os frutos das suas escolhas. O
conde, não sabemos, talvez também esteja.
– Eu ainda os amo. – Ouvi-lo admitir aquilo assim, fragilizado e com a
voz embargada, faz a minha emoção aflorar de novo.
– Eu sei, mais um motivo para perdoar. Eles são tão sortudos por terem o
seu amor, meu bem. Infelizmente não aprenderam a retribuir, não são capazes.
Só são dignos de pena.
– No tempo em que ficamos separados, eu criei coragem e tentei um
encontro com o conde. Queria entender o motivo dele estar naquele show. Mas
ele não deu chance.
– Meio estranho, não? Visto que ele fez o movimento de te procurar.
– Minha opinião é de que ele foi pego de surpresa. Não sabia que Oliver
Rain era o mesmo Oliver que ele carregou no colo.
– Mas como é possível? Seus olhos...
– Sei lá Bia, realmente não sei... só ele tem a resposta. Mas você não tem
medo?
– Do conde?
– De eu entrar em crise e não voltar para vocês, caso façamos as
acareações.
– Sinceramente? Não. Tenho uma certeza dentro de mim de que você já
venceu essa. A sua vontade de voltar para casa, para a nossa vida, para o seu
filho, te fará passar por isto ileso. Você não entrou em crise quando eu fui
embora e nem quando me contou sua história. Talvez o choque causado pela
nossa separação era o que faltava para você virar a página dentro do seu
inconsciente. Quem sabe não era o que precisávamos para nos ver livres dos
fantasmas, você e eu. O filho que eu tinha medo de ter por causa de uma antiga
tristeza foi o que me salvou de afundar na nova. A nova dor que você sentiu te
obrigou a dar outra perspectiva à antiga.
– Talvez... de qualquer forma, se eu fizer... será o meu teste de fogo.
– E outra, não irá sozinho, vou junto e ficarei lá, segurando a sua mão. Te
dando força e te lembrando de que é comigo que você precisa estar. Ninguém
te machucará de novo. Eu já sei usar a direita, lembra? Acertar um conde dará
um belo up ao meu currículo.
– Chucky, Chucky... e pensar que eu compus uma música te descrevendo
como um anjo... quanta ingenuidade a minha...
– Pois é marido, deveria ter esperado eu mostrar a minha verdadeira face.
Agora vamos resgatar o nosso filho e depois vai me contar direitinho qual foi a
da maluquice de pôr tudo no meu nome.

– Quantas saudades eu senti de dormir de conchinha com você... gostosa!


– Hummm vem um calor tão bom aí de trás. – Me aconchego mais.
– Combinou com Edgar a retomada das aulas?
– Sim. Assim que Maggie chegar, retomamos.
– E quando será?
– Vem para a festa e fica de vez. Teremos a casa pronta para a data, não é?
– Sim, a casa está em boas condições, só pequenos reparos e limpeza,
ficou fechada por muito tempo. E claro, a montagem do berçário como você
pediu, com espaço para Ben e Anthony. Vamos criar um quarto de princesa
para Mary Ann, também.
– Ela vai amar.
– Tem certeza que não prefere que Maggie venha cuidar dele aqui em
casa?
– Não. Quero-o lá, perto de mim. Assim posso continuar amamentando e
quando a saudade apertar...
– Só não sei se conseguiremos fechar a contratação da enfermeira e da
governanta tão cedo. Principalmente da enfermeira que fale português.
– Contratamos outra por enquanto, procuramos a que fala português com
calma. Mas é importante para mim que ele seja fluente na língua, você sabe... e
quanto a ajuda até fecharmos as contratações, esqueci de comentar esta parte
com você – rio lembrando da cena – enquanto conversava sobre a retomada
das aulas com Edgar, toquei no assunto de com quem Ben ficaria todas as
tardes, então Helen se ofereceu para auxiliar Maggie, sua avó ouviu, ficou
enciumada e disse que também irá.
– Pobre Maggie...
– Sim..., mas tem outro assunto que precisamos encerrar, Mr. Rain?
– E qual seria?
– A volta dos seus bens para o seu nome.
– Esquece isso, pequena. São nossos bens, que diferença faz?
– Faz Oliver! Você é o sócio e um dos chefes na produtora, não eu. Você
idealizou a banda e se esforçou para fazê-la dar certo, não eu. Você projetou
este condomínio junto com os garotos.
– E eu sou seu marido. Logo, pertenço a você, assim como tudo que vem
comigo.
– Sem gracinhas. É sério! Quero que volte tudo para o seu nome. Ou ainda
tem planos de sumir?
– Não meu amor, de forma alguma. Só não acho que seja necessário...
– É.
– Ok, faremos o seguinte. Volto a Three Minds e a The Order, mas você
continua como sócia no condomínio.
– Por quê?
– Porque não quero mais me envolver nas questões organizacionais e
administrativas. Quero deixar a parte que me cabe da bucha na sua mão. – Ele
ergue a sobrancelha. – Sendo assim, burocraticamente falando, é melhor que
você continue como a proprietária.
– Sei... o papinho não me convenceu, mas vou deixar passar, desde que
cumpra com a parte de voltar a empresa e a banda.
– Será feito. – Meu telefone apita. Tento pegá-lo, mas Oliver impede.
– Não, deixa pra lá, não quero que você saia dos meus braços.
– Mas está tarde, pode ser importante.
– Não é.
– Oliver, e se for Hazel? Ela não está bem, eu sinto, mas está se
esquivando de conversar comigo a respeito. Me deixe ver, por favor... – Ele
bufa, mas afrouxa os braços em torno de mim. Pego o aparelho e retorno
rapidinho ao meu casulo.
– Viu? Nem deu tempo de sentir a minha falta.
– Deu sim, foi uma eternidade. – Olho o visor e Oliver também vê. É
Denis. – O que o mané quer com você a esta hora?
– Vamos abrir a mensagem e descobriremos.

Recebi as passagens para dia nove. Obrigado, como eu


disse, não precisava ter mandado. Eu queria perguntar...

por favor, não ria de mim... Posso levar Julie


comigo?

Ah, mas eu rio, rio muito.


– Então o babaca se rendeu a megera?
– Pelo visto...

Resolveu seguir o meu conselho


e dar uma chance a vocês?
Oi... não esperava que fosse
responder a esta hora. Bom falar
com você. Saudades. Como está
meu afilhado? Sim, resolvi tentar...

– Porra, flertando o imbecil... não dê trela.


– Pare de xingá-lo, Oliver, por Deus, você não diz uma frase envolvendo
Denis que não tenha um ultrage atrelado... não tem ninguém flertando aqui.
– Hã? Paro nada. Não são só as frases que eu digo que são seguidas por
xingamentos, as que eu penso também. Babaca! Idiota! Ele te beijou, contra sua
vontade...
– E ainda acha que eu não deveria ter dados uns socos na Carol?
– Eu dou uns socos nele com muito gosto.
– Nada disso!
Fico feliz e torço por vocês. Claro que pode trazê-
la. E quero saber os detalhes semana que vem.
Ben está ótimo! Dorme como um anjinho. Boa
noite!

– Não acredito que vou ter que aturar esse otário na minha casa por três
dias.
– Vai e faça o favor de tratá-lo bem. Ele ama Benjamin.
– Não é só o meu filho que ele ama. Bocó!
– Deixe disso! Ele está namorando, não viu? Sem contar que foi
insistência sua fazermos uma festança no dia do meu aniversário. Por mim, não
precisava.
– Precisa sim. Temos muitas coisas a comemorar e eu quero comemorar.
Seus dezenove anos, nossa reconciliação, nosso casamento, nosso filho e
nosso amor. Será uma festa para celebrarmos tudo de bom e bonito que temos.
– Certo, Mr. Rain. – Me viro de frente para ele. – Mas há outro tipo de
celebração que eu ando sentindo falta.
– É mesmo? E qual seria?
– Uma, digamos assim... com uma pegada mais bruta, mais selvagem... –
Ele morde o meu ombro para abafar o riso.
– Mrs. Rain, não temos nem uma semana de casados e está reclamando que
o sexo é insuficiente? Caiu na rotina? Meu desempenho deixa a desejar?
– Jamais. Mas você anda muito controlado.
– É porque nosso pimpolho está aqui ao lado. E quanto mais eu me
descontrolo, mais você grita, então...
– Eu sei que é por causa dele. Mas estou com saudades de gritar. Sabe,
não precisamos restringir o nosso ninho a este quarto. Somos só nós na ca...
AAAAAIIII. – Ele me pega e me joga em cima do ombro. Cata a babá
eletrônica no caminho e sai do quarto.
– Comece a gritar desde já, esposa. – Dá um belo tapa na minha bunda.
– Ai!
– Quer chocar os empregados, Mrs. Rain?
– Não me importaria em chocar um ou dois... Aii!. – Outro tapasso de mão
aberta.
– Que sem-vergonha! E pensar que quando chegou aqui ficava vermelha
por qualquer coisa...
– Eu ainda não conhecia o que era bom. Ai! Cacete, Oliver! – Porra, doeu!
– Esse é o exemplo que quer dar ao nosso filho?
– Ah sim, espero que ele seja amplamente realizado neste quesito quando
crescer. Tanto quanto nós. Onde está me levando?
– Quer gritar? Fará isto num lugar pelo qual sou alfinetado de vez em
quando e por causa de uma ruiva de quem nem me lembro. – Ele não pode ver,
mas arregalei os olhos. Não pode estar falando sério.
– A hidro de Lian?
– A hidro. Mas não a de Lian. A nossa. – Ufa! Ele aciona o botão que abre
a porta para o deck. Tá frio pra caralho.
– É noite, é janeiro e estamos pelados. Está frio demais aqui fora, Oliver.
– A hidro obviamente é aquecida e temos lareiras, esqueceu? – Outro
botão, e as três lareiras embutidas no chão emergem. – Quanto a estarmos
pelados, o que faremos dispensa vestimentas. Pronto! – Me põe no chão. –
Preparada?
– Não sei. Preciso?
– Ah, precisa! – E sem me dar tempo para respirar, cola nossos lábios e a
intensidade de seu beijo me deixa zonza. Que delícia! Que beijo! Os braços
envolvem minha cintura e me tiram do chão outra vez. As pernas se movem e
me colocam na parte mais funda da hidro, que está quentinha e borbulha. Ele
mantém-se de pé na borda, e só então me dou conta do que fez. Deixou o meu
rosto bem na altura do seu mastro, que mesmo a meia bomba, é admirável.
– Vamos começar com um belo boquete. Quero foder sua boca. – Ele não
está para brincadeira, entra tanto no personagem que fico em dúvida se está só
atuando mesmo. Não espera protestos, puxa minha cabeça e esfrega o pau na
minha cara. – Me chupe! – Ordena, imperativo.
Abocanho-o com gosto, encho a boca e sinto-o cada vez endurecer mais lá
dentro, até que chega ao seu máximo e meus músculos faciais sofrem como
sempre, impossível levá-lo inteiro, na verdade mal chego à metade. Só que
Oliver levou a sério a parte da pegada bruta, segura as laterais da minha
cabeça enquanto mete o pau goela a dentro sem se fazer de rogado ou me dar
trégua. Está descontrolado! Grito muito, internamente. Lágrimas saem dos
meus olhos pelo esforço. A saliva escorre e tento segurar a ânsia, enquanto ele
mete e tira, mete e tira, levando a minha face com força em direção à sua
virilha, onde os pelos voltam a crescer, ao mesmo tempo que arrete o quadril
com convicção. Por sorte, ou compaixão, ele percebe quando chego ao limite,
da ânsia, puxa meus cabelos para trás me dando um respiro.
– Boa menina. – Beija minha boca e se junta a mim na hidro.
– Você qua...
– Não, não... quietinha! – Fecha minha boca com sua mão. – Os únicos
sons que você irá emitir a partir de agora serão os de gritos e gemidos. – Beija
meu pescoço, levanta uma das minhas pernas na altura dos seus quadris e me
empala de uma vez. É forte, é bruto. Ainda mais com a água tirando a
lubrificação natural. Eu berro! Mas sai abafado pela sua mão.
– Vou tirar a mão, mas lembre-se, as únicas coisas que quero ouvir são
gritos e gemidos. Entendeu?
– Enten... aiii... – Puxa meus cabelos com força, me obrigando a erguer o
rosto.
– Só gritos e gemidos! Entendeu? – Movo a cabeça para cima e para
baixo.
– Ótimo. Segure-se nos meus ombros, você vai precisar.
Oliver dobra um pouco os joelhos, inclina o tronco para frente, me faz
enlaçar sua cintura com as penas e com a força dos dois braços e a ajuda da
água, inicia os movimentos de vai e vem com tanta força e selvageria, que o
som da água revolta é altíssimo. Era assim, era bem assim que ele empalava a
ruiva naquele dia. A puxava com foça contra os seus quadris, como faz agora
comigo.
Cravo meus dedos e unhas no seu ombro para não cair. Me sinto numa
daquelas gangorras que encontramos em parques e pracinhas, quando a criança
da outra ponta é muito mais pesada e sempre te deixa bater com a bunda no
chão. E toda vez que bate, você pula e grita. Alto.
– Era assim, baby? Era assim que eu comia a ruiva nas suas lembranças?
Hã? – Não posso responder, então acrescento mais e mais gemidos de deleite
em concordância. – Ah, não. Espera aí. Pelo que me contou tinha isso também,
não tinha? – Inclina-se um pouco mais sobre o meu tronco, desce a boca e suga
forte em meus peitos toda vez que meu tronco vem de encontro a ele, sem
aliviar as investidas. Sim, tinha. E uau, aquela mamada junto com toda a fúria é
simplesmente enlouquecedora! Sorte que não faz muito tempo que Benjamin os
esvaziou senão ele estaria engasgado, pois não está poupando esforço. Meus
gemidos são constantes e altos, não dá para evitar.
– Ah querida! Grite, isso! Grite alto e entenda de uma vez por todas que
esta fúria, este fogo e esta fome, só você provoca em mim. E é só você que tem
o poder de saciar.
– AAAHHHHH – berro porque ele enlouquece ainda mais e agora dá
trancos potentes e espaçados. Dói. É sofrido! Mas, como disse Iris, é tão
gostoso! Mesmo que não transemos pelos próximos três dias, eu ainda sentiria
sua presença ali embaixo. Delicioso!
– Senhora Rain, você é gostosa demais! Apertada demais! Vou gozar tão
forte, baby, tão forte... – E mal termina de pronunciar aquelas palavras, cumpre
sua promessa. – UHRRR! Caralho! QUE TESÃO! – Se senta na parte rasa da
hidro se mantendo dentro de mim.
Não acredito que ele parou.
Sentou e Parou!
Como assim? Eu ainda...
– Não gozou, né amor? – Está totalmente entregue e sem forças. Ergo as
sobrancelhas para ele como quem pergunta, tenho permissão para falar? – Ele
ri e me beija.
– Pode falar, está liberada.
– Obrigada, meu amor. Respondendo. Porra, Oliver! Você usou e abusou
de mim, e me deixou na mão! – Ele tem a audácia de rir. Não é engraçado,
parar antes de gozar é triste, muito triste. E péssimo para a saúde. Mordo seu
queixo e rebolo em seu colo. Tão Lindo! Tentação!
– Coitadinha! Mas te fiz gritar.
– Isso você fez, muito. – Não posso negar.
– Foi brutalidade e descontrole o suficiente para você?
– Foi perfeito! – Começo a me mexer com mais afinco, procurando a
fricção certa, porque, enfim, eu preciso chegar lá... e estava tão perto... – Ele
geme.
– Isso pequena, rebola assim que o tora logo acorda outra vez.
– Acho que nem será necessário o gigante despertar completamente, estou
na pontinha, só mais um empurrãozinho... – E dito e feito, umas reboladas,
umas esfregadinhas do meu clitóris no seu púbis e pronto, caí! Gozo gostoso
em seu pau.

– Isso aqui é o paraíso!


– É sua casa também agora. – Abraço Maggie.
É nove de janeiro, fim de tarde, apesar de ser inverno, hoje fez vinte e cinco
graus, coisas da Califórnia. Denis, Julie, Maggie e seus pais chegaram pouco
antes do almoço. Mary Ann e Lian constroem um enorme castelo à beira-mar.
Laura, Helen, Alicia, tia Cecília e a mãe de Maggie conversam no deck. Seu
pai, Johnathan, tio Jorge e Edgar jogam tejo[21]. Oliver, Kellan, Max e Denis se
engalfinham no vôlei de praia. Mas nada de sungas, jogam comportados, de
bermuda e camiseta. Julie, Maggie, Hazel, Eva e eu, sentadas na areia,
apreciamos as brincadeiras.
Ben, muito fofo, de boné, óculos escuros e forte protetor solar, também
aprecia do meu colo. Meu lindo marido, vira e mexe larga o jogo e vem beijar
a minha boca e a bochecha do filho, nos deixando um pouco mais cheios de
areia a cada vez. Ele está tão feliz! Nem a presença de Denis ofuscou sua
felicidade.
Julie parece outra garota. Me pediu um minuto a sós e se desculpou pela
forma como me tratou por tantos meses. Disse que acabou ouvindo as coisas
que falei sobre ela a Denis no meu último dia lá, percebeu que eu estava certa
e ela precisava mudar. Resolveu seguir o meu conselho e pediu demissão.
Falou a Denis que bastava, queria esquecê-lo e tocar sua vida em frente. Não
demorou três dias para o loiro bater à sua porta, pedindo para que voltasse e
dizendo que deveriam tentar. Eles demonstram estar realmente bem.
Meus tios e Eva chegaram há dois dias. Tivemos muito tempo para ficarmos
só nós e aprofundarmos os nossos laços, que começaram a se formar e foram
abruptamente interrompidos com o meu distanciamento, pelo qual me
desculpei. Está sendo ótimo tê-los ali. Oliver criou um carinho muito grande
por eles durante aqueles dez meses, um vínculo forte. E eles o adoram também.
É bonito de ver. Mesmo com o entrave da língua. Mas Eva pelo visto é uma
ótima mediadora. Ela melhorou muito o seu inglês também. Meus primos
acabaram não vindo, Rafael e Melissa pelo eminente nascimento de seu
primeiro bebê. Uma menina que ganhará o nome da bisavó, Anabel. Como
Melissa está de oito meses, foi proibida de viajar por seu médico. Matheus,
por vergonha, segundo minha prima.
– Então Raquel ainda está criando problemas, Eva?
– Sim. Não se conforma com o divórcio. Fica rondando Matheus,
aparecendo nos lugares onde ele vai. Se insinuando, causando barraco, enfim.
Ele sofre, pois acho que ainda é apaixonado por ela, apesar de tudo. Mas
depois que começou a cavar e viu que a cada enxadada surgia um novo podre,
um novo caso e uma nova traição... quando entendeu que a sua cabeça tinha
mais ramificações do que chifre de alce, pôs um fim ao casamento. Graças a
Deus! Papai e Rafa sempre o avisaram, mas nunca deu ouvidos...
– Tia Eva! – Mary Ann grita. – Quer nos ajudar a construir o castelo? –
convida e Eva me olha confusa.
– A menina me chamou?
– Sim, está pedindo para você ir lá, ajudá-los. Você brincou tanto com ela
ontem... Mary Ann gamou – falo em inglês e Eva entende. As meninas riem.
Minha prima leva as duas mãos às laterais das bochechas.
– A nossa brincadeira ontem não dependia de muitas palavras. E se... e se o
gostosão tentar falar comigo e eu não entender, o que eu faço? – gargalho.
– Se vira, priminha. Você entende Oliver, não entende?
– Oliver e eu temos um combinado. Ele fala muito, muito devagar, e quando
mesmo assim eu não entendo, ele desenha.
– Tá certo... Lian, – chamo alto – Eva está indo aí ajudar no seu projeto de
engenharia. Fale muito pausado com ela e se ela não entender, desenhe. – O
guitarrista sorri malicioso.
– Eu sei cuidar muito bem de uma garota, Bela-Bia, e falo a linguagem
universal. Diga à bela Eva que ela estará em boas mãos.
– Estou de olho – aviso. – Vá prima, já dei o recado a Lian. – Assim que
ela sai, abraço Hazel com o meu braço livre e beijo sua bochecha. Ela devolve
o beijo. Vejo tanta tristeza em seu olhar.
– Loira, já conheceu sua casa? – pergunta a Maggie.
– Sim, chegamos e o motorista nos levou direto para lá. Deixamos nossas
coisas e viemos para cá. É uma casa tão linda, nunca pensei que um dia
moraria em algo bonito assim, foi difícil tirar Mary Ann do quarto novo... –
Ela tem os olhos brilhantes.
– Vocês merecem! Quem sabe no futuro não convence seus pais a se
mudarem para Oceanside.
– É, quem sabe. Coitados, estavam tão nervosos com este encontro. São
pessoas simples, e tinham medo de serem julgamos pelas roupas e modos
pouco refinados. Se não fosse sua ligação insistindo para que viessem, Bia, eu
não teria conseguido convencê-los.
– Mas parecem estar bem à vontade agora, não? Os homens obviamente
estão entrosados e a conversa das mulheres parece bem animada. – Vira e
mexe ouvimos as quatro dando risadas. Há uma intérprete na roda ajudando
titia.
– Sim, estão super bem, obrigada.
– E você, está me devendo uma conversa de atualização – falo baixinho
para Hazel.
– Ah primeira-dama, teremos esta conversa, mas deixe sua vida
normalizar primeiro.
– Está certo. – Sempre a mesma desculpa.
– Seu ex virá amanhã? Já deu uma resposta?
– Virá sim, mas chegará mais tarde, pois estará voltando da Alemanha.
Agora me dê aqui o meu afilhado que vou levá-lo para ver aquele castelo bem
de perto. – Deixo que pegue Benjamin do meu colo e vá para junto de Lian,
Eva e Mary Ann. Ela definitivamente não está no seu normal.
– Julie, e o Secret Hidden? Continua lotado? Paul e a nova cantora estão
se dando bem?
– O bar segue bombando. Depois do show da The Order enche tanto que
tivemos que manter a ideia de caixas de som e venda na parte externa também.
Denis está com novas ideias de expansão. Os clientes de carteirinha reclamam
bastante, sentem sua falta, mas continuam indo. Quanto a Paul e Violet, se dão
bem até demais. Acho que está nascendo um romance.
– Ah, que bom! Fico feliz, Paul merece alguém bacana ao seu lado. Pena
que ele não pode vir.
– Bem, Denis precisava de alguém de confiança lá e hoje também é dia de
apresentação.
– Entendo. Não faltará oportunidade para ele nos visitar.
– E quando eu pensaria que um dia a minha filha estaria construindo
castelos na areia com um dos roqueiros mais famosos e gostosos do mundo? –
Maggie suspira e devaneia em voz alta, chamando nossa atenção.
– E quando eu acreditaria que estaria casada com um? – complemento e
agora somos três suspirando.
Naquele entardecer gostoso na praia, entre família e amigos, eu nem
imaginava o tamanho da surpresa que me aguardava no dia seguinte.

Como sugeriu “de brincadeira” em Sea Brigth, na noite antes de nos


casarmos, meu excelentíssimo marido trouxe ninguém menos do que os Rolling
Stones para tocar na nossa festa de celebração, como a batizamos. De que
forma ele convenceu a banda inglesa a aceitar? Mistério.
Mas as visitas ilustres chegaram à nossa casa ainda pela manhã no dia do
meu aniversário e passaram aquele dia e a manhã seguinte conosco. Enquanto
sua equipe técnica e a equipe da The Order cuidavam da montagem do palco e
equipamentos.
Ter Mick Jagger, Keith Richards, Charlie Watts e Ron Wood andando
despretensiosamente pela sua casa é estanho. Almoçar tendo a maior lenda do
rock na ativa de um lado da mesa e a maior banda da nova geração do outro, é
paralisante. Mesmo Kellan, Max, Lian e até Oliver pareciam em muitos
momentos, adoradores extasiados diante de divindades. Vê-los trocando
figurinhas, e incluo Edgar neste pacote, e experiências sobre músicas, gostos e
estilos foi um show e uma aula a parte.
A festa começou duas horas antes dos músicos subirem ao palco, e ali, entre
família, amigos mais próximos, tanto do círculo pessoal, quanto da Three
Minds, e os integrantes da banda inglesa, reafirmamos o nosso amor, como
fizemos no dia do nosso casamento. Depois apresentamos nosso filho, sua
madrinha e seus três padrinhos de coração e não de religião. Por último
assoprei oficialmente as velinhas dos meus dezenove anos e meia hora depois,
a sonzeira começou, e para este momento, Oliver liberou a entrada de todos os
funcionários da Three Minds que quisessem vir para o show e quem mais os
garotos quisessem convidar.
E o show foi de arrasar! Laura, Helen e Alicia se revezaram nos cuidados
com Ben, depois que ele não aguentou mais e caiu no sono. Insistiram que a
noite era nossa e eu deveria aproveitar. Então aproveitei, e como! Dancei,
pulei, cantei e gritei até não sobrar nada de mim em frente ao palco, ao lado de
Oliver e das pessoas que nos são queridas. E nossa, foi tão bom!
Me presenteie com o momento “desvairada e rebelde” que todos
precisamos de vez em quando, e que eu nunca tive muitas oportunidades de ter.
Descarreguei qualquer resquício de pesadelo que ousou se esconder em algum
canto escuro de mim, teimando em não desabitar meu corpo ou mente. E Eva
estava na mesma pegada. Fizemos uma bela competição ela e eu. Não sei dizer
qual das duas alucinou mais.
Havia comentado com Mick que gosto de muitas das músicas deles, mas
tenho um carinho especial por Ruby Tuesday, algo nela me toca. Ele me
surpreende e me chama para o palco para cantar a música. Põe o microfone na
minha mão e faz apenas o backvocal no refrão. Foi especial ter a honra de
dividir o palco com artistas como eles.
Não questione por que ela precisa ser tão livre
Ela lhe dirá que é o único modo de ser
Não há tempo a perder, eu a ouvi dizer
Agarre seus sonhos antes que escapem
E morram com o tempo
Perca seus sonhos
E perderá a razão
A vida não é cruel?
Adeus, Ruby da terça-feira
Quem se atreveria a dar um nome a você?
Enquanto você muda a cada novo dia
Eu ainda sinto a sua falta

Antes que eu pudesse descer, engataram Eden e eu cantei com ele a parte
que canto com Oliver. Depois convidou Lian para cantar Sympathy for The
Devil.

Prazer em lhe conhecer


Espero que adivinhe o meu nome
Mas o que lhe intriga mesmo, admita
É a natureza do meu jogo
Diga-me baby, qual é o meu nome?
Diga-me doçura, qual é o meu nome?
Lhe darei uma única pista,
Tem algo a ver com a sua culpa

Depois foi a vez de Max subir ao palco e soltar a voz em Miss You.

Eu acho que estou mentindo para mim


É só você e ninguém mais
Não vou sentir a sua falta
Você tem destruído a minha mente
Tomado meu tempo
Não, eu não vou sentir a sua falta
Caramba, eu sinto a sua falta!
Oliver foi chamado para a dar voz a Love is Strong e Kellan, que não quis
cantar, fez as honras na gaita de boca.

O amor é forte
E você é tão doce
Você me põe de pé
Você me faz fraquejar
O amor é forte
E você é tão doce
E algum dia, baby
Nós vamos nos encontrar

Oliver assumiu o vocal em conjunto com Jagger também em Start Me Up e


nossos convidados foram à loucura. Cantaram juntos e agitaram demais com a
abatida super sensual e a letra altamente sugestiva.

Se você me ligar, eu nunca vou parar


Eu estou ficando quente
Por sua causa estou gritando e vou explodir
Se você me ligar, eu nunca vou parar
Se você me ligar dê tudo de si
Não pare, nunca, nunca pare
Nunca, nunca
Acelere

Você faz um homem adulto chorar


Cavalgue como o vento em velocidade máxima
Eu te levarei a lugares que você nunca, nunca viu antes
Ligue-me
Não quero que a gente pare nunca

Antes de expulsarem todos os intrusos, no caso nós, do palco para


finalizarem o seu show, os meninos assumiram os instrumentos e Jagger cantou
Crazy Blue Dog, da The Order.

Eu não preciso ser relevante


Não espero ser amado ou respeitado
Me contento com restos e migalhas
Esqueça-me num canto qualquer
Num espaço sujo e frio do seu coração
Não me importo em ser apenas
O seu louco cachorro azul
Aquele que nem existe, que nem está lá
Só não me jogue fora
Não me peça para ir embora

Oliver pula para a área em frente ao palco e me jogo em seus braços para
descer também. Aproveito a carona, envolvo seu pescoço e o beijo.
– Feliz? – pergunta.
– Demais! Isso é tão legal! – Eu pareço uma criança indo para a Disney
pela primeira vez. E olha que eu nunca fui à Disney.
– Só não pode virar mais fã deles do que nossa.
– Você não corre o risco, rockstar.
– Divirta-se com as meninas, já volto. – Me dá um selinho.
– Oliver? De novo? Ele está bem. – Abre um sorriso torto.
– Eu sei. Mas já sinto falta do cheirinho dele. Vou e volto rapidinho,
prometo. – Nego com a cabeça enquanto rio.
Deixo que vá lamber a cria e me viro para ver onde Hazel está. Mas o que
encontro é uma outra amiga, branca e paralisada em meio aos demais que
continuam pulando e cantando com o show, com o olhar fixo em algo que não
consigo identificar.
– Maggie, o que foi? Está passando mal? – Ela não responde, nem se
mexe.
– Venha, vamos sair daqui, tomar uma água... – Tento puxá-la pelo braço,
mas seus pés não se movem.
– Maggie, por Deus, fale alguma coisa, está me deixando nervosa.
– Bia... ele... ele está aqui.
– Ele quem?
– O pai de Mary Ann.
– Hã? Como? Quem? – Olho novamente para a direção que ela olha, mas
há muitas pessoas.
– O loiro. Falando com Hazel. – Procuro por Hazel para entender de quem
ela fala. Então vejo.
– Maggie, você tem certeza? Será que não é alguém parecido?
– Absoluta. Jamais me esqueceria. Apesar do nosso caso ter sido uma
rápida transa de uma noite, ele frequentou muito o bar naquele verão. Ia
sempre com um grupo de amigos, e nunca mais vi nenhum deles por Sea Bright
depois daquele ano. Como me chamou muito a atenção, eu o observava
enquanto trabalhava. Seus trejeitos ao sorrir, ao falar... é ele sim.
– Você me disse que a única informação que tem sobre o pai da sua filha é
o primeiro nome. Me diga Maggie, qual era o nome dele?
– Eric. – Inacreditável! Fecho os olhos e a abraço.
– Mary Ann poderá conhecer o pai, querida. – Ela deixa uma lágrima
rolar.
– Como é possível, Bia? Encontrá-lo aqui. Justo aqui. Num círculo tão
restrito. Eu procurei tanto por informações por Sea Brigth e arredores...
– Trapaças do universo? O jeito que a vida tem de debochar da nossa
cara? Não sei amiga. O Importante é que o reencontrou. Quer ir lá falar com
ele?
– Não, não vou jogar a bomba assim, no meio de uma festa.
– Não me referi a isto. Vamos apenas nos aproximar, só cumprimentá-lo. –
Ela pensa por um instante e então concorda.
– Tudo bem. – Seca a lágrima fujona. Engato seu braço e nos guio na
direção de Hazel e Eric.
– Ah primeira-dama, aí está você. Eric chegou há pouco, quer lhe dar os
parabéns.
– Olá Eric. Bom revê-lo.
– Oi Bia, desculpe chegar assim, tão tarde, mas eu estava voltando de
Munique e não poderia deixar de vir, estava louco para rever esta moça, e
vocês, é claro. – Ele abraça Hazel, sinto Maggie apertar meu braço. –
Obrigada pelo convite e meus parabéns! Pelo aniversário, pelo bebê e pelo
casamento. Nossa, parece que faz séculos! A última vez que nos vimos foi no
último show da turnê. – Nem me lembre Eric, nem me lembre.
– Eric, já que Bia foi mal educada e não lhe apresentou, esta é Maggie,
nossa amiga. – Na verdade eu estava esperando para ver se ele a reconhecia.
– Prazer, Maggie.
– Pr... Prazer. – Ela está desconcertada. Torcia para que, assim como ela
não esqueceu, ele também não tivesse, mas pelo visto, nem faz ideia de quem
ela seja.
– Eric, velho! Que bom que veio!
– Oliver! – chamo sua atenção. Não acredito no que ele fez.
– Não brigue comigo!
– Você o tirou do quentinho. Está frio aqui fora, e barulhento. – Tento
achar o meu bebê em meio aos cobertores que Oliver segura contra o peito.
– Ele acordou, brincamos um pouco e quando tentei sair, começou a
chorar. Não consegui deixá-lo. – Reviro os olhos para ele.
– Oi bebê da mamãe, você quer agito é? – Ele resmunga e tenta se lançar
em minha direção.
– Posso conhecê-lo? – Eric pergunta.
– Claro, aproxime-se. – Por um minuto me esqueci do drama de Maggie.
Me afasto, dando espaço para que Eric veja o meu filho pelo vão das cobertas,
e volto para perto dela.
– Ele é lindo, parabéns, mandaram muito bem. – E não é que olhando
agora, consigo ver o jeitinho de Mary Ann em Eric? O modo de sorrir, de
franzir a testa. E fisicamente são parecidos também. Como não percebi?
– É a cara de Oliver, Bia quase não teve participação. – Hazel me
provoca.
– Eu não me importaria que meu futuro filho fosse a cara da mãe,
principalmente se viesse com certos olhos azuis. – A indireta que Eric lança
para Hazel faz Maggie soltar um arquejo de dor. Qual será a sua reação quando
souber que já tem uma linda menininha de olhos azuis?
– Eric, por favor, já conversamos. Só amizade. – Ele suspira.
– Eu sei Hazel, eu sei... desculpe.
– Com licença, preciso ir. – Maggie dispara em direção a casa antes que
eu possa reagir a sua declaração. Hazel me lança um olhar interrogativo. Faço
sinal de que lhe explico depois.
– Oliver, vá curtir o final do show com Hazel e Eric, me deixe levar
Benjamin para dentro. – Antes que ele proteste, pego o bebê.
Preciso consolar Maggie.
Acho que a festa acabou para mim.
Capítulo 39

” Você culpa seus pais por tudo


E isso é absurdo
São crianças como você
O que você vai ser
Quando você crescer?
(Pais e Filhos, Legião Urbana)

Bia

O i Bia, entre. Acabei de voltar da casa de Maggie.


– E como estão nossos meninos?
– Ton engatinhava atrás de Mary Ann e Ben
acompanhava atentamente a movimentação, sentado no meio de um monte de
brinquedos, louco para se juntar aos outros dois.
– Ele anda ensaiando. Logo, logo será parceiro de Anthony na bagunça e
na caça a Mary Ann.
– São apaixonados por ela, não são? Espero que a linda loirinha não seja
motivo de discórdia entre os dois daqui a alguns anos. – Rimos.
– Ah Riley, não se preocupe... Ela vai achar os nossos garotos pirralhos
demais, nem dará moral a eles.
– É provável. Nos restará curar os corações partidos. Nem acredito que
daqui a dois meses meu filho fará um aninho.
– E o meu já tem seis meses. – Suspiramos juntas e depois rimos da nossa
sincronia.
– Estamos tentando o segundo – confidência com um sorriso no rosto, que
eu devolvo.
– Precisamos ampliar o berçário de Maggie. – Seu sorriso se alarga.
– Sim, precisamos. Ela ainda não contou a Eric, não é?
– Não. Tem medo que ele rejeite a menina, já que nem se lembra que
esteve com ela.
– É complicado.
– É sim. Mas Hazel e eu temos um plano. Assim que o furacão voltar do
seu novo período em Londres, colocaremos em prática. E falando em Londres,
imagino que foi por isso que me chamou aqui, acertei?
– Acertou.
– E aí? Boas notícias? Conseguiu?
– Sim, consegui. Os dois. – Meu coração acelera.
– Comece pelo conde filho-da-puta.
– Eu estranhei muito este novo contato. Da outra vez, nem permitiu que
seus assessores passassem a ligação. Mas desta, falou comigo e não impôs
empecilhos. Aceitou recebê-los, só insistiu para que o encontro ocorra o
quanto antes, outra coisa que me deixou intrigada. Marquei para a próxima
segunda.
– Puta-merda, tenho cinco dias para convencer Oliver a embarcar para
Londres. Valeu! Ainda não consegui nem o convencer a ir até a clínica encarar
Vivienne...
– Você dará o seu jeito, tenho certeza. Além do mais, se deixarmos solto
ele nunca irá, Bia. Ele enrolou dois meses até permitir que eu tentasse um novo
contato com o conde, você sabe...
– Ele tem medo, Riley.
– Eu sei, mas acha mesmo que protelar mais tempo mudará alguma coisa?
– Não. Melhor acabar com isso de uma vez. Ele precisa. Segunda
estaremos lá. E quando ao outro? – Ela respira fundo.
– É uma pena que tenhamos demorado tanto tempo para procurar este
homem, sabia?
– Por que diz isso? – Meu coração acelera ainda mais.
– Vou começar do início. Quando você pediu que eu investigasse o tal
Chris, eu comecei obviamente pelos registros de funcionários das empresas do
conde naquela época, e foi bem fácil localizar um funcionário do alto escalão,
chamado Christopher Rainnold. – Ela enfatiza o sobrenome. Meu queixo cai.
– Laura não dá ponto sem nó.
– Não entendi.
– Oliver me disse que quando estava decidindo sobre qual nome adotar,
foi ela quem sugeriu Rain. – Riley ri e balança a cabeça em sinal de
incredulidade.
– Então Laura não desconfiava da paternidade, tinha certeza. E estava
correta.
– Como pode afirmar?
– Foi fácil localizá-lo e entrar em contato. Venho conversando com ele há
dois meses, mas decidi esperar e contar a você apenas quando tivesse algo
mais concreto em mãos. Hoje, no caso. Continuando com o relato, quando lhe
contei sobre o que se tratava o meu contato, o homem desabou, Bia. Disse que
quando soube que Vivienne estava grávida, teve certeza de que o filho era
dele. Que a pôs contra a parede várias vezes, mas ela negava. Ele não se fiou
na palavra dela, exigiu que quando o bebê nascesse fosse feito DNA ou
dividiria suas suspeitas com o conde. E fizeram, escondido, claro. Deu
negativo. Só assim ele se conformou e aceitou que não era o pai.
– Então...
– Calma. Eu perguntei a ele se estaria disposto a repetir o exame.
Concordou no ato. Catei fios de cabelos de Oliver dentro das perucas que usa
como disfarce e guarda no banheiro do estúdio, mandei para análise junto com
o material coletado de Christopher e bingo! Positivo! Vivienne deu seu jeito
para adulterar o exame feito quando Oliver nasceu.
– Minha nossa!
– Sim. Eu fiquei furiosa com a, que Laura me perdoe, vagabunda, porque
pelo pouco que conheci do homem, ele teria sido um pai presente. Ele queria
aquele filho. Quando contei a ele o que Vivienne fez com Oliver, ele chorou
muito. Se culpou e ficou repetindo “por que ela não o entregou a mim?”.
Confidenciou que amava a Coisa-Ruim, mas que a fixação dela era maior do
que qualquer amor que ele pudesse lhe oferecer. E o que ele me abriu depois,
Bia... ah se Vivienne fizesse ideia...
– O quê?
– Ele vem de uma família ainda mais nobre do que a do conde. É o
primogênito de um duque e já nasceu sob o título de conde. Porém, quando
cresceu e tomou ciência do quão ridículo e ultrapassado é a Inglaterra manter a
bobagem milenar de linhagem nobre e patriarcado, decidiu que não queria
compactuar com aquilo. Abriu mão do título e rompeu com a família, que não
aceitou sua escolha. Enfim, virou um cidadão comum.
– Mas estava disposto a procurar o pai e voltar atrás quando surgiu a
possibilidade da gravidez e esta ser a única forma de Vivienne aceitar deixar o
conde e se tornarem uma família. Ele queria a mulher que amava e o filho perto
de si. Disse que o pai concordaria, nunca o deserdou oficialmente, pois só teve
um filho homem. E sem o filho, o ducado passaria a um de seus sobrinhos
quando o velho morresse. Tomou a decisão de que se aquele exame desse
positivo, contaria a ela e retomaria a vida sob a qual nasceu. Então veja a
ironia Bia, se Vivienne tivesse deixado o exame mostrar a verdade, quando
Christopher herdasse o ducado, ela não seria tratada apenas por condessa, mas
por Vossa Graça... ou seja, ficaria apenas um degrau atrás de Vossa Alteza. Ele
não me abriu a qual ducado pertencia, mas ficou se culpando por não ter
contado a ela antes mesmo do resultado e evitado o destino que o filho acabou
tendo.
– Deus! Quanta dor essa mulher causou por sua fixação em um título. E,
ironicamente no fim das contas, apesar de todas as suas artimanhas para
enganar dois homens, Oliver tem mesmo sangue nobre inglês.
– Pois é! E as ironias não terminam aí. Sabe o que o Sr. Rainnold faz para
viver hoje em dia? – Nego.
– Depois que se conformou com a perda, resolveu abandonar também o
alto cargo nas empresas do conde. Pois sabia que sua rápida promoção dentro
das organizações ainda era um resquício da sua linhagem. Um favor entre
nobres que o conde prestava ao duque, uma forma de manter o filho
indiretamente sob os seus domínios e tentar demovê-lo de sua decisão. Pediu
então demissão e decidiu trabalhar com algo que tivesse algum vínculo com a
sua verdadeira paixão. A música. Abriu um pequeno pub no centro de Londres
que é famoso por promover novas bandas de rock. Todas as bandas inglesas
relevantes atualmente, e a maioria das estrangeiras, tocaram no Rock’n’Rain
no início de suas carreiras. – Levo a mão a boca.
– Ele sabia... sabia que Oliver Rain é o filho de Vivienne?
– Sabia. Disse que é impossível não ver as semelhanças.
– E nunca estranhou que Oliver tenha adotado parte do seu sobrenome?
– Contou que achou irônico, olha aí ela outra vez. Me perguntou se por
acaso Oliver desconfiava. Eu neguei, não sabia da história de Laura
desconfiar..., mas enfim, como rain é uma palavra comum, não deu muita
importância, tinha um exame negando qualquer parentesco. O que sabia de fato,
é que o casamento do conde e Vivienne terminou, que se divorciaram e que ela
resolveu voltar com o filho para os Estados Unidos. Nunca tomou
conhecimento da não paternidade, nem de que Oliver e o pai não tinham mais
contato. Achou que o mistério todo em torno do vocalista da The Order tinha a
ver justamente com a necessidade de não tornar público o vínculo dos dois.
– Faz sentido. Acho que no lugar dele eu também pensaria assim.
– Não é? Disse também que desconhecia menos ainda que Vivienne viveu
por mais de dez anos em Londres como cortesã da nobreza, apadrinhada pelo
homem que um dia chamou de marido. Confidenciou que os nobres protegem
os segredinhos sujos uns dos outros, e que se Alec suspeitava que o verdadeiro
pai do menino era Chris, foi muito conveniente manter Vivienne por perto e
garantir assim que ela nunca descobrisse que seu filho poderia se tornar duque
algum dia. Se protegeria de um escândalo maior e ainda se vingaria
silenciosamente da mulher, apenas lhe proporcionando alguns luxos.
– Céus, isso tá parecendo drama de novela mexicana. E ele se casou, tem
outros filhos? Oliver tem irmãos?
– Não. Chegou a ficar noivo uma vez, mas terminou antes de se casarem. E
quanto ao drama, não duvido de que nos círculos que envolvam dinheiro e
poder, haja muitos pais criando filhos ilegítimos sem saber. Os mexicanos
sabem das coisas... – Rimos.
– É parece que sabem. Você perguntou se ele quer uma aproximação?
– Se ele quer? Foi difícil convencê-lo a não bater na porta de vocês no dia
seguinte ao resultado do exame. Não vê a hora de abraçar o filho e conhecer o
neto. Disse que é fã da banda, apesar de nunca terem tocado em Londres, foi
em todos os shows que fizeram em outras cidades da Inglaterra e países
vizinhos. Os acha incríveis.
– Eu acho... acho que é melhor os dois se conhecerem casualmente
primeiro, sem Oliver saber. Me passe o contato do Sr. Rainnold, avisarei que
faremos uma visita ao seu pub semana que vem. Peço para Hazel insistir com
Oliver que deve conhecer o point do rock. Vamos deixá-los criar alguma
intimidade antes de abrir o jogo para o meu marido.
– É uma boa tática. Que mal lhe pergunte, esta é mesma linha do plano
para Eric e Mary Ann? – Rio da sua astúcia.
– Sim.
– Ótimo! Ah, outra coisa...
– O que?
– Prepare-se. Assim que você o conhecer, desvendará um grande mistério.
– Me dá um sorriso maroto e me deixa na curiosidade.
Oliver

– Por Deus, Oliver, você está tremendo. Ele não vai te morder, nem te
bater.
– Meu medo não é do que ele possa fazer, é do que eu venha a fazer
comigo mesmo.
– Não vai acontecer. Confie! Você tem mulher e filho agora. Ben precisa
de você, eu preciso de você. Está proibido de abandonar o barco, capitão. –
Ela envolve meu pescoço e me beija. – Ficarei segurando a sua mão para
lembrá-lo disso.
– Lord Stenteley irá recebê-los. Me acompanhem, por favor – avisa a
secretária.
É agora.
O momento em que minha vida pode mudar de vez.
Para o bem ou para o mal?
Logo saberei.
Quando você passa por uma rejeição tão pesada quanto a que eu passei,
gasta muitas horas da sua existência pensando em qual será a sua reação caso a
vida lhe proporcione um reencontro, um acerto de contas. Não que você queira
gastar todo esse tempo e dar importância ao que não deveria te roubar nem um
segundo a mais do que já roubou. Não.
O pensamento surge sem a sua autorização.
Simplesmente persegue sua mente.
Então você pensa.
Pensa em tudo que quer falar, desabafar. Projeta a cena. Decide como agir,
o que vai fazer. Analisa como se sentirá no instante fatídico. Mas
principalmente, pensa em qual será a expressão facial do outro no exato
momento da sua aparição.
Expressará medo?
Desprezo?
Arrependimento?
Raiva?
Indignação?
Você não sabe.
Então calcula uma contrarreação diferente para cada possibilidade.
Daí o momento chega.
Você atravessa a última barreira que o separa de descobrir. Encara o
propulsor dos seus traumas no olho, e descobre que não fazia a mínima ideia
do que iria encontrar.
De um lado está você com suas marcas.
Do outro está ele com as dele.
Há só um homem.
Cabelos brancos, barba branca, rugas, manchas de idade na pele, pálpebras
cansadas, leves tremores nos membros e um olhar perdido.
Nada da altivez com a qual esperava se deparar. Da imponência ou
autoridade que se recorda.
No meio dos dois, paira o peso das boas lembranças versus o descaso e as
expectativas não correspondidas, atrelado aos sentimentos contraditórios que
vêm com elas. Ou seja, uma complexa mistura de emoções, nenhuma das
simplistas possibilidades para a qual se preparou várias e várias vezes dentro
da sua cabeça.
– Oliver.
– Senhor conde. – Aperto a mão de Beatriz.
– É impressionante como você está ainda mais parecido com ela. – Fecho
os olhos e seguro a dor. – E esta jovem?
– Minha mulher.
– Prazer, Alec. – Ele lhe estende a mão, que ela não aperta. Essa é a minha
garota!
– Olá. Beatriz Rain. – Ela diz, simplesmente. Ele recolhe a mão um tanto
desconcertado.
– Sentem-se, por favor.
– Estamos bem assim, obrigado. Não pretendemos nos demorar.
– Certo. Tenho muitas coisas que quero lhe dizer, mas primeiro gostaria de
saber o que o motivou a me procurar agora?
– Preciso saber por que você foi me procurar ano passado. Foi intencional
ou nem fazia ideia de quem eu era? Por que apareceu na recepção do show em
Los Angeles? Você não estava nas mesas, não assistiu. – Ele respira fundo e se
senta.
– Me perdoem, mas eu preciso sentar. Realmente, não assisti. Desculpe
filho, mas...
– Não ouse me chamar assim. – Me lança um olhar sentido. É sério?
– Tudo bem, desculpe. Como ia dizendo, não assisti. Não é o estilo de
música que me habituei a apreciar. Em casa, só nos permitiam ouvir os
clássicos. Mas comprei uma mesa. Minha atual esposa e minha sobrinha são
admiradoras e estavam lá. Eu só me juntei a elas na hora da recepção porque
queria falar com você. Sim, foi intencional, sabia que você era o meu Oliver.
Seus olhos são inconfundíveis. Tentei fazer contato no hotel dias antes, mas
nenhum dos seus leões de chácara deixou que me aproximasse.
– Por que não marcou uma reunião através da minha advogada? Não seria
difícil para você achar os meios de me contatar.
– Não queria me anunciar. Achei que jamais concordaria em me receber.
– Então resolveu me cercar?
– Eu precisava que me recebesse. Mas assim que fiz menção de me
aproximar, você fugiu.
– Por que precisava? Se dias depois eu mesmo tentei uma conversa e você
se negou?
– Ali eu estava impossibilitado.
– Não entendi, explique-se. O que queria comigo depois de tanto tempo?
– Olhar nos seus olhos e dizer que me arrependo.
– Rá! Só pode ser uma piada. – Engulo em seco e tento me controlar. Bia
chega mais perto.
– Eu passei por sérios problemas de saúde meses antes de te procurar. Me
salvei por pouco. E descobri que quando estamos nesta situação, temos muito
tempo para pensar. Pensar na vida. No que valeu a pena e no que deixamos, de
bom e de ruim. E quando eu fechava os meus olhos no meio destas reflexões,
era sempre a mesma imagem que invadia a minha mente. A imagem de um
garotinho, que eu fui o primeiro a segurar no colo e a quem chamei de filho.
– Ali eu percebi... percebi não, admiti, pois perceber já tinha percebido
há muito tempo... que de tudo que realizei, e olha que realizei um bocado de
coisas, ter você foi o que mais me fez feliz, do que eu mais senti falta e o que
mais partiu meu coração abrir mão. Então, se eu pudesse, – suas mãos estão
tremendo muito – se tivesse a chance de voltar atrás e mudar uma única coisa
em minha vida, seria a decisão de te arrancar dela quando descobri não ser o
seu pai biológico.
– Engraçado. Não me lembro de muitas demonstrações de afeto suas,
mesmo quando acreditava ser o meu pai. E olha que eu me esforçava bastante
para te agradar. – Solto um som de deboche, não programei, só saiu. – Mas o
que você fez depois... arrancou de mim a minha casa, a minha família e o meu
nome, tudo isto enquanto ainda me recuperava de um grave acidente.
– Você não teve nem a decência de esperar que eu me sentisse forte o
suficiente antes de me enfiar com Vivienne num avião de volta para a América.
Mal me olhou, não me disse uma palavra. Nem adeus. Não se importou em
saber o que ela faria comigo. Eu e um cachorro sarnento de rua estávamos no
mesmo patamar para você. Opa, não, espera aí. Acho que o cachorro estaria
alguns níveis acima, pois lembro bem de você brincando com alguns dos seus
cães de caça na nossa casa e de eu sentir inveja deles. Agora vem dizer que
sentiu a minha falta? Conta outra Lord Stenteley. Diga de uma vez, o que quer
de mim, Alec?
– Apenas o que eu falei. Olhar nos seus olhos e dizer que me arrependo.
Veja bem, não estou pedindo perdão, tenho ciência da gravidade dos meus
atos. Não há perdão para o que eu fiz e que você descreveu tão bem. Mas se
engana ao pensar que eu não te amava, Oliver. Eu amava, demais. Aqueles dias
em que esteve entre a vida e a morte no hospital... Nossa, nunca senti uma dor
tão grande quanto aquela. No meu desespero com a possibilidade de perdê-lo,
ameacei médicos de morte. Sempre tive tanto orgulho de você. Tão inteligente,
criativo, amoroso. Era certo que teria um futuro brilhante, como de fato tem. Eu
também tinha inveja. Inveja de ver você com ela. Queria aquele amor que
dedicava a ela para mim também. Mas a minha educação, o jeito como somos
criados... não é que eu não queira demonstrar afeto, eu simplesmente não
consigo, não sei como... quando entendi o que significava nem eu e nem
Vivienne termos o tipo sanguíneo compatível com o seu, meu mundo caiu.
– Eu morri um pouco ali. Se é que havia alguma humanidade dentro de
mim, ali ela se esvaiu. Nada mais me importava. Era tanta dor, vergonha e
raiva... minha vida era uma mentira... ao decidir te mandar embora junto com
ela, se te olhasse, falasse com você, talvez eu fraquejasse em continuar com
aquilo e o meu orgulho, o peso da tradição, do meu nome, me obrigavam a
continuar.
– Eu poderia sim dizer que te perdoo pelo que fez comigo. Pensei que ao
entrar aqui, te olhar, sentiria raiva, mágoa, tristeza. Mas não sinto nada disso.
Eu te perdoaria porque, enfim, você foi enganado, estava ferido e eu, apesar de
tudo, sou feliz. Não tenho porquê poluir meu ser com rancor em relação a
você. Mas eu não posso te perdoar pelo que fez a ela. Tudo bem você a
condenar, a expor, humilhar e mandar embora, mas aceitá-la de volta para
transformá-la na sua puta e de seus comparsas. Isso, isso não!
– Sabe a parte em que eu falei que perdi toda a humanidade? Foi
justamente em relação a isto que eu me referi. Sim, eu puni Vivienne por me
tirar você, por me tirar Charlotte, puni enquanto pude. Culpava-a por tudo que
perdi. Eu me apaixonei por ela, mas eu adorava a mulher com quem era
casado. Se não fosse a gravidez, a possibilidade de ter um filho meu, coisa que
minha esposa em cinco anos de casamento não foi capaz de me dar, eu teria
dado um jeito de me livrar daquela paixão e permanecer com Charlotte.
Magoá-la foi a segunda coisa mais difícil que fiz na vida. – Ele faz uma pausa,
ainda treme muito e sua voz soa cansada.
– Quando mandei Vivienne embora, eu avisei a ela que esquecesse a ideia
de ter uma vida luxuosa, mesmo com outro homem, porque eu ficaria no seu
rastro para sempre e destruiria tudo. Até bons empregos, garantiria que ela não
arranjasse nenhum dali em diante. Ela se desesperou, claro, porque era
desesperador para ela pensar em uma vida comum, de sacrifícios, me implorou
por perdão. Então eu lhe dei uma escolha. Disse a ela que a aceitaria de volta,
não como esposa, mas como meu brinquedo sexual. Ela seria minha escrava e,
com o perdão da senhora aqui presente, abriria as pernas para mim e para
quem mais eu quisesse dali em diante, em troca eu a manteria. Só que para
isso, ela teria que voltar sem você. Mais uma forma de puni-la.
– Punir a ela ou a mim? Garanto que no caso dela, nem precisou pensar.
– A ela, claro. Sinceramente? Não achei que fosse voltar. Acreditava
piamente que te amava. Se tinha alguém capaz de balançar a ambição dela, eu
supunha, era o filho. Vocês eram tão ligados! Foi uma surpresa para mim
quando bateu à minha porta e disse que aceitava os meus termos. Perguntei a
ela onde você estava e me disse que te deixou com sua família na Califórnia.
Sabia que você deveria estar sofrendo longe dela, mas só pelo fato dela ter
optado em voltar, entendi que era melhor mesmo você crescer longe daquela
mulher, de nós. Você era melhor que tudo aquilo.
– Não importa o que ela fez comigo. Se era só isso o que queria, por que
não aceitou me receber quando Riley te procurou a primeira vez?
– Eu sofro de uma doença autoimune. Tenho crises de dor fortíssimas de
tempos em tempos. Quando sua equipe tentou contato, estava no início de uma
dessas crises. Nunca sei quanto tempo vão durar. E nem se da próxima vez saio
delas vivo. – Esse sentimento eu conheço bem, penso.
– Muito bem. Acho que falamos tudo que queríamos um ao outro. Passe
bem. – Puxo Beatriz pela mão e tento me virar para a saída, mas ele me
impede.
– Espere um minuto, por favor. Sei que agora não há muito mais que eu
possa fazer por você. Como você mesmo revelou, é feliz, realizado. Tem uma
carreira de sucesso, amor – ele olha para Beatriz – e um filho, não?
– Sim, temos um filho. – Ela confirma. Por mim ele ficaria no vácuo.
– Fico feliz. Eu reneguei o único que a vida me deu. Então o que posso
ainda fazer por você, filho, é dizer que deveria ter me divorciado da sua mãe
sim, a deixado ir sem perseguições, mas tê-lo mantido como meu. Apesar de
não ter o meu sangue, você era meu. Dizer também que eu amei você, ainda
amo. Mas que hoje fico feliz em saber que o título que herdei morrerá comigo,
porque o peso que vem com ele é duro demais de carregar. Mas as minhas
empresas, estas serão divididas em três partes iguais, entre você e meus dois
sobrinhos.
– Eu não quero nada seu. Divida entre os dois.
– Não. Já está decidido. Se não quiser, doe, dê fim, mas é seu. Além disso,
– ele para, toma fôlego – eu acho que sei quem é o seu pai biológico. Se quiser
conhecê-lo... – Bia se reseta.
– Não quero.
– É um bom homem, creio que gostaria de lhe...
– Não quero. – Sou mais incisivo.
– Tudo bem. Se mudar de ideia, basta me procurar. Para isto ou para
qualquer coisa que precisar. Minha casa está aberta a você e sua família, caso
um dia... – Ele está abalado, é nítido que tenta segurar uma demonstração de
emoção mais explícita. Porém, é tarde demais para nós.
Muito tarde.
– Olha, é o seguinte, aceito suas justificativas, foi bom vir aqui e
ajustarmos as arestas do nosso passado. Assim como você diz que aconteceu
com você, eu também nunca consegui matar totalmente o sentimento que nutria
pelos meus pais até os seis anos. Nunca consegui... – Minha voz embarga, do
rosto dele desce uma lágrima. – Te desejo melhoras, mas não quero contato.
Não faremos churrascos aos domingos, nem levarei minha família para visitá-
lo. Meu filho não lhe chamará de vovô. Sinto muito, é tarde demais para isto.
– Eu entendo. É justo. Mas se precisar de mim...
– Não vou.
– Na verdade, conde, tem algo que pode fazer por nós.
– Bia... – Ela me faz sinal com a mão para que espere.
– O que quiser. Me diga, por favor.
– Gostaria das fotos de bebê e infância de Oliver. Devem estar com o
senhor, não? Laura, a avó de Oliver, que foi quem o criou, disse que não
estavam com Vivienne, não acharam nada no apartamento dela quando a
resgataram depois do AVC. E Laura gostaria muito de ter estas fotos com ela.
Eu gostaria muito de tê-las para mostrar ao meu filho um dia.
– Sim, estão comigo. Me diga onde e mandarei entregar a vocês. – Estende
a ela um papel e uma caneta. Bia escreve ali o endereço.
– Vamos Beatriz – digo antes que ela resolva lhe pedir as minhas chupetas
ou os meus sapatinhos de bebê. – Adeus, conde.
– Até quem sabe um dia, filho. – Não Alec. Não haverá próximo encontro.
Aqui acaba a nossa história.
Está encerrado.
Assim que me vejo do lado de fora do prédio, abraço minha pequena.
– Eu consegui. – Comemoro ter passado pelo confronto e saído,
aparentemente, ileso.
– Ah meu amor, claro que conseguiria.
– Ainda estou aqui.
– Não tem permissão para não estar, lembra? Você foi maravilhoso lá.
Estou tão orgulhosa! Como se sente?
– Leve. Foi bom ouvi-lo dizer...
– Impossível não amar você. – Ela acaricia minha nuca. – Ele seria um
imbecil se não se arrependesse. – Suspiro me lembrando que ainda me resta a
missão mais dura delas.
– Agora falta Vivienne.
– Um passo de cada vez, baby, um passo de cada vez...

– Bia, não me sinto confortável em deixá-lo sozinho com a babá para ir a


um pub.
– Vamos lá, Oliver, precisamos sair um pouco. Holly cuida de Ben há três
meses...
– Sob a supervisão de Maggie.
– E você acha que se Maggie não confiasse nela já não teria trocado de
auxiliar? Além disso, ela é enfermeira, está preparada para lidar com qualquer
emergência. Ele está seguro com ela, e temos seguranças na porta.
– Detesto o que vou falar, mas quem sabe não seja melhor irem apenas
vocês duas...
– Não senhor. Quero sair com o meu marido.
– Se quiserem eu posso ficar e cuidar do meu afilhado, vocês vão... –
Hazel se oferece.
– Não. Quero a companhia do meu marido e da minha irmãzinha. Oliver
está exagerando. Benjamin está de banho tomado, alimentado e cansado de
tanto brincar. Dormirá tranquilamente a noite toda, como faz desde os cinco
meses. Holly é perfeitamente capaz e qualificada para tomar conta dele. E nos
ausentaremos pelo que? No máximo três horas? Relaxe, meu bem, não estamos
sendo negligentes. – Ela pode ter razão e ser exagero meu, mas não gosto nada
da ideia de deixá-lo com estranhos.
– Tudo bem. Três horas, não mais do que isto.
– Fechado.
Vinte minutos depois, devidamente disfarçados e com quatro seguranças à
paisana ao nosso encalço, estamos saltando do táxi em frente ao... Leio o
letreiro luminoso da fachada... Rock’n’Rain... peraí, é sério?
– Hazel, Rock‘n’Rain? Se você estiver aprontando...
– Calma, estrela... não fique animadinho, o nome do pub não é uma
homenagem a você. O Rain que tem aí vem do sobrenome do proprietário, Sr.
Rainnold. Apenas uma coincidência, eu juro.
– Aleluia! É bom mesmo. Pensei que estavam me levando para uma
armadilha, um covil de fãs enlouquecidos. – Hazel e Bia trocam olhares
expressivos.
Elas andam aos cochichos pelos cantos desde que chegamos a Londres.
Pensam que não percebi, mas só não me meti ainda por achar que é assunto de
Hazel. Que estão me escondendo algo? Não há dúvidas. Só espero que seja lá
o que estejam aprontando, não represente perigo, nem para o corpo e nem para
a minha sanidade... ou a de Max, o que é mais provável.
O Rock’n’Rain é uma porta dupla preta sinistra, com enormes argolas de
metal grosso como maçanetas penduradas, numa esquina mal iluminada de um
beco histórico no centro de Londres.
Simplesmente isso.
A porta medieval e o moderno letreiro luminoso em azul neon acima dela.
Uma junção nada atrativa. Sem janelas, luzes internas à vista ou movimentação
de clientes pelo lado de fora. Pelo conjunto, apostaria que Hazel nos pôs numa
bela de uma furada. Mas já estamos aqui.
Para as portas se abrirem, é preciso movimentar e bater as duas pesadas
argolas ao mesmo tempo. Então a mágica acontece e você é apresentado a uma
fraca luz amarelada vinda de tochas acesas nas paredes, um corredor estreito e
uma mais sinistra ainda escada de pedra em caracol que segue rumo ao
subsolo.
A impressão é a de estar caminhando de livre e espontânea vontade para o
seu próprio cárcere em uma masmorra.
Conforme descemos, alguns sons de conversa, copos batendo sobre as
mesas e passos ficam perceptíveis. No pé da escadaria há uma abertura lateral
e tudo se transforma em uma literal chuva de rock.
Cada milímetro do teto, chão envidraçado ou paredes que não contenha
algum móvel pendurado, é coberto por algum item que remete ao rock no
mundo.
Pôsteres, camisetas, capas de álbuns, guitarras, baixos, baquetas,
microfones, fotos, ingressos de shows e festivais lendários. Mesmo passando o
olho rapidamente, identifico muitas, muitas relíquias. E não só de bandas ou
músicos popularmente conhecidos. Não. A beleza está justamente naqueles de
quem o público leigo pouco sabe ou nunca ouviu falar, mas que para os
estudiosos ou profissionais apreciadores e difusores do estilo, são verdadeiras
preciosidades.
Pessoalmente falando, nunca entrei num local temático que me fascinasse e
empolgasse tanto quanto o Rock’n’Rain. Agradeço mentalmente a insistência
de Beatriz em virmos aqui hoje.
– Impressionante, não? – Saio do meu momento admirador embasbacado e
me dou conta de que minha mulher está parada ao meu lado, tão deslumbrada e
embasbacada quanto.
– Sim, é incrível.
– Hei vocês dois! Vão ficar parados feito estátuas no meio do pub por
muito tempo? – chama Hazel, que nos aguarda à mesa.
O local não é grande e tem mais da metade das mesas ocupadas. As mesas
são simples, quadradas, quatro lugares em madeira escura. Todos os móveis
são em madeira escura. A iluminação segue a linha da penumbra amarelada,
como as das tochas que iluminam a escadaria. Numa extremidade fica o bar e
na outra há um pequeno palco com instrumentos musicais e caixas de som nas
laterais.
– Venha baby, vamos nos sentar e beber algo, depois exploramos a
decoração.
– Nada de álcool para você, senhora Rain.
– Eu sei. É injusto sabia? Os homens deveriam poder revezar a
amamentação com as mulheres.
– Eu assumiria a missão com o maior prazer.
– Sei que sim. – Ela me beija.
– Princesa, Max e Lian iriam pirar neste lugar, seu irmão também – digo
enquanto me acomodo ao lado de Bia.
– Max chega amanhã, podemos voltar outra noite.
– Ele está vindo para cá de novo? Não esteve aqui no final de semana?
– Pois é. Foi embora no domingo. – O garçom se aproxima e pedimos
nossas bebidas.
– Não entendo o motivo de enfrentar tantas horas de voo para ficar três
dias em casa. Qual a desculpa desta vez? – Volto ao assunto.
– Vocês estarem aqui. Disse que seria legal os quatro juntos... – Ela revira
os olhos.
– Não entendi o revirar de olhos, não gosta mais da nossa companhia? –
Bia brinca.
– Claro que gosto, mas legal, legal mesmo é se fôssemos dois casais, né?
E não vocês no love, eu invejando e chupando o dedo, e ele indiferente. – Ela
respira fundo, seu olhar está triste.
– O que foi? – Bia pergunta e segura a mão dela por cima da mesa.
– Sei lá... é difícil... ele está praticamente todo final de semana aqui. E é
maravilho, claro, adoro a companhia dele. Mas sei que muito das suas vindas
são para garantir que eu passe o final de semana sem ninguém. Sabe que não
ficaria com alguém e o deixaria sozinho. Só que assim o meu objetivo de
afastamento vai pro brejo, e ao mesmo tempo não consigo dizer que não quero
mais que ele venha. Porque eu quero. Então deixo. E quando ele vai embora,
me sobra na boca o gosto amargo da desilusão e da solidão. – Pensei ser
exagero de Bia quando diz que ela não está bem, mas este relato doído me fez
admitir que tem razão. Preciso ficar de olho nela.
– Em todas as vindas dele para cá, nunca mais rolou algo como no nosso
noivado?
– O que rolou no nosso noivado? – pergunto surpreso.
– Hazel teve a impressão de que Max quis beijá-la. – Cacete. Ao mesmo
tempo que torço pelos dois, será esquisito pra caralho.
– Às vezes eu acho que sim. Que em um momento ou outro ele me olha
diferente... Mas então ele tem seus rompantes, pai-protetor e machista, ou o
flagro encarando os peitos de alguma peituda e me convenço que foi coisa da
minha cabeça. Até porque se a fixação dele for por peitos grandes, não tenho a
mínima chance, não é mesmo.
– Deixa de bobagem. Você é linda.
– Hazel, eu tenho quebrado a cabeça pensando em alguma forma de te
ajudar, é sério. Me rendi a teoria da minha esposa e de Henry, e penso que
realmente tem mais coisa escondida aí do que ele quer admitir a si mesmo.
Mas...
– Obrigada, amor! – Bia interrompe para me dar um selinho e um
sorrisinho convencido.
– Mas...?
– Mas ainda não cheguei em nenhuma abordagem que funcionaria para
Max. Só que não vou desistir, fique tranquila. Na pior das hipóteses jogo na
cara dele, na lata, e vejo como reage.
– Não estrela, não fa...
– Boa noite! Vejam se não é a menina Hazel aqui outra vez... – Uma voz
grave e potente anuncia enquanto entrega nossas bebidas. – Bia enrijece o
corpo e encara o homem fixamente. Não entendo.
– Olá, Sr. Rainnold. Eu disse que este é o meu lugar preferido em Londres,
o Sr. que teima em não acreditar.
– Vou acreditar a partir de hoje...
– Sr Rainnold, tipo, o dono do pub? – pergunto. Se for, tenho que lhe dar
os parabéns. Bia continua encarando. Ergo os meus olhos e acho que entendo o
que a fez ficar intrigada.
O homem bem que poderia ser uma versão minha mais velha. Ou no caso,
acho que o correto é dizer que eu seria uma versão dele mais jovem, visto que
foi ele quem nasceu primeiro.
Os mesmos cabelos na altura do ombro, um tanto grisalhos é verdade, mas o
que ainda resta da coloração original, remete ao mesmo tom de castanho que
os meus. É tão alto quanto eu, o mesmo porte físico. Os traços faciais, cor dos
olhos, mesmo diferentes, parecem familiares, deve ser em função do queixo
quadrado como o meu. Ele tem as mesmas covinhas nas bochechas que
Benjamin quando sorri, e me olha com certa... doçura?
– Sim, sou o dono.
– Nossa... este lugar é fantástico. Parabéns pelo que fez aqui. Todas estas
bandas...
– Sim. Cada uma delas já subiu naquele pequeno e mal iluminado palco
em seus primórdios ou depois. Quando eu assumi o local, ele estava fechado e
abandonado há uns três anos. Mas já possuía um histórico com o rock’n’roll de
longa data. Muitas destas coisas estavam encaixotadas e acumulando poeira
num velho depósito. Eu apenas expus a história pregressa e deixo que siga o
seu destino, que é acrescentar novos nomes e rostos a ela.
– Sr. Rainnold, o movimento hoje está tranquilo, sente-se um pouco
conosco. – Hazel convida.
– Não quero atrapalhar o encontro de vocês.
– Não, por favor, não atrapalha – reforço. – O senhor deve ter boas
histórias para compartilhar, também sou músico, vou gostar de ouvir.
– Ah, histórias envolvendo música não me faltam... – Aceita nosso convite,
se juntando a nós na mesa. Impressão minha ou ele se emocionou com o nosso
convite? Será que é tão raro assim alguém se interessar pelas histórias dele
aqui em Londres?
– Sr. Rainnold, estes são Oliver e Beatriz, minha família e pais do meu
lindo afilhado de seis meses, Benjamin. – Os olhos do homem ficam brilhantes.
– Aquele lindo bebê que você me mostrou uma foto outro dia?
– Esse mesmo.
– Parabéns ao casal. É um belo garoto. Parecido com você, filho – diz me
olhando nos olhos, sua voz embarga. – Prazer, Christopher Rainnold. –
Estende-me a mão, que aperto prontamente.
Resolvo me identificar para ele.
– Oliver Rain. – Ele sorri.
– Mesmo com o disfarce, é parecido. – Devolvo o sorriso.
– Não pus as lentes. – Ele assente.
– Sabe que muitos turistas me perguntam se este lugar tem relação com
você, com a The Order?
– Imagino. Eu mesmo achei que Hazel me arrastava para a sede de um fã
clube londrino quando li o seu letreiro. – Ele acha graça.
– Tive que mudar o nome original, que era Rock’n’Hell, porque o antigo
dono não me vendeu os direitos. Achei que Rock’n’Rain soaria bem e não
seria uma mudança tão drástica, apesar de migrarmos do fogo para a água. –
Rio junto com ele.
– Prazer, querida. – Estende a mão para Bia.
– Prazer, Sr. Rainnold. Me apaixonei pelo lugar.
– Fico feliz que tenha gostado, seja bem-vinda, Beatriz. Posso lhe chamar
assim?
– Deve. Bia, se preferir.
– Muito bem, Bia. Que bom que estão aqui. É especial demais para mim.
Uma enorme alegria. – Eles parecem se entender pelo olhar. – Podem me
chamar de Chris, por favor. Você tem sorte, Oliver.
– Sim, eu tenho, – abraço minha garota – Bia e Ben são a minha vida. Mas
não se engane com esta moça, hoje ela está calada demais, mas costuma ser
bem tagarela. – Levo a minha boca até ela e a beijo com cuidado e sem pressa.
Quando volto a atenção para o homem e Hazel, eles têm lágrimas nos olhos.
Fico sem reação, porque aquilo é meio estranho.
– Desculpem-me, – justifica-se – histórias de amor me comovem.
– E eu sou uma chorona mesmo – brinca Hazel, fungando e secando os
olhos.
– Você tem alguma outra bela história de amor além da que mantém com o
rock, Chris? – pergunto bem humorado, mas no caso dele, o sorriso abandona
sua face.
– Eu tive. Amei muito uma mulher e por um tempo breve acho que posso
dizer que nossa história foi bonita, sim. Principalmente porque ela deixou um
fruto. Mas não houve um final feliz para nós dois como casal.
– Sinto muito.
– Não sinta. Valeu a pena cada segundo, cada dor de saudade e cada
lágrima que eu derramei. Como disse, ela me deu algo maravilhoso, tenho um
filho – pronuncia aquilo com os olhos ainda cheios e muito orgulho na voz. –
Quer dar um rolé comigo pelo bar e lhe mostro os itens que têm as histórias
mais inusitadas por trás deles?
– Sem dúvida. Bia...
– Vá com Chris. Hazel e eu ficaremos papeando, divirta-se.

Bia
– Deus, Hazel... eu estava tão nervosa... acho... por que a vida não
permitiu que estes dois homens se encontrassem antes, caramba?
– Vai saber, uma pena. Mas terão muito tempo juntos de agora em diante.
Foi emocionante de ver, não foi?
– Demais. Me segurei muito para não chorar junto com vocês. São tão
parecidos e parece que Oliver se identificou com ele de cara.
– Parece mesmo. Deu tudo certo, ele nem desconfia, está relaxado.
– Sim, o teatro de vocês de já se conhecerem de muitas vindas suas aqui
funcionou.
– Chris e eu ensaiamos muito a aparição despretensiosa dele quando vim
conhecê-lo pessoalmente.
– Foi ótimo. E Riley tinha razão. Desvendei um grande mistério...
– Que mistério?
– A origem das adoráveis covinhas de Ben. – Hazel gargalha.
– O mesmo sorriso do nosso pitoco, não é?
– Igualzinho. Ele é um homem muito bonito. Deve chover mulher atrás
dele. Me admira não ter formado uma família.
– Verdade. – Ela concorda. Resolvo mudar de assunto.
– Poderíamos aproveitar a oportunidade e ter aquela conversa da qual
você anda fugindo, não?
– Ainda não, primeira-dama.
– Qual o problema Hazel?
– Falamos quando eu voltar para casa.
– Primeiro era quando minha vida se ajeitasse, agora é quando você voltar
para casa?
– Sua vida ainda não se ajeitou, Bia. Não até Oliver passar por todo o
processo com os pais. E ele ainda vai enfrentar a parte mais difícil.
– Meus problemas com Oliver não anulam a preocupação que eu sinto toda
vez que te olho e vejo a tristeza transbordando, querida.
– Minha tristeza tem nome e sobrenome, e você conhece bem.
– Mas está diferente. Você está apagada, Hazel. Se fechando. Distante.
Distante comigo.
– Tenho coisas para te falar, mas não quero fazer já, aqui, no meio de um
momento tão importante. Não se preocupe, não estou planejando nenhuma
loucura e nem deixei de confiar em você ou de te amar como minha irmã. Só
quero que no momento em que me abrir, você possa concentrar toda a sua
atenção em mim.
– Ah querida. – Mudo de lugar, sento-me ao seu lado e a abraço. – Falhei
com você, não é?
– Por favor, conversaremos mais para frente.
– Tudo bem, não vou mais insistir, respeitarei o seu tempo. – Um som alto
de acordes de guitarra ressoa.
Olhamos para o palco e Chris está sentado atrás da bateria, enquanto Oliver
se posiciona ao microfone já com a guitarra atravessada ao corpo.
Sério que eles vão fazer isso?
A batida começa e a guitarra entra junto em Born To Be Wild do
Steppenwolf.
Um super clássico.
E ver os dois lá, pai e filho, privados da convivência um com o outro por
tanto tempo, compartilhando a mesma paixão, é lindo demais! Emocionante!
– Hazel, vamos para perto do palco. Preciso registrar o momento e mandar
para Laura, que a esta altura deve estar com o coração na mão e a cabeça aqui.
Nos aproximamos deles, Oliver sorri. Posiciono o telefone para filmar e ele
franze a testa para mim. Chris deixa algumas lágrimas silenciosas rolaram
livremente, já que está mais atrás e o filho não consegue vê-lo.
O pub está lotado agora, várias pessoas resolvem fazer o mesmo que nós e
apreciar de perto.
Cochichos começam a rolar.
Na certa tentam decidir se é ou não Oliver Rain cantando ali. Ele tomou o
cuidado de acrescentar as lentes ao disfarce para que seus olhos não lhe
entreguem, mas a voz é inconfundível.
E aí? É, ou não é?
Cada um tira sua própria conclusão, enquanto curte o som e a voz grave e
rouca do cantor. Quando terminam, são amplamente aplaudidos.
Chris trata de secar as lágrimas rapidamente. Oliver retira a guitarra e antes
que possa abandonar o palco o homem o puxa para um abraço apertado.
Ele vai, meio desconcertado.
Não esperava por aquilo.
Chris o mantém preso junto a si por algum tempo, depois murmura algo em
seu ouvido, beija sua bochecha e o solta. Tem os olhos vermelhos, Oliver
percebe e o olha intrigado, mas engata uma conversa sobre a acústica do local.
Deixo os dois ali e volto com Hazel para a mesa. Aproveito e mando o
vídeo para Laura, com uma breve mensagem dizendo que tudo correu bem.
Depois checo com Holly como está Ben. Lá pelas tantas, pai e filho se juntam a
nós, Chris chega com o braço em torno dos ombros do filho, ambos estão
sorridentes.
– O show foi ótimo, mas curto, deveriam tocar mais. – Oliver senta-se a
minha frente.
– Concordo com Hazel. Queremos mais.
– Temos um menininho em casa a nossa espera, esqueceu, Mrs. Rain?
– De forma alguma, Mr. Rain. – Viro a tela do telefone para ele. – Acabei
de falar com Holly, me mandou esta foto. Nosso pequeno roqueiro dorme
tranquilamente. – Ele sorri feito bobo para a tela do telefone.
– É tão fofo, não é?
– A própria fofura. Mas somos suspeitos, marido...
– E a cada dia tem mais cachinhos. – Ele se ergue por cima da mesa e me
beija, depois passa o fone para que os outros dois vejam. O homem passa
longos minutos admirando o neto, encantado. – O que acha, Chris? – Oliver o
tira do seu transe com a foto. – A The Order precisa deixar a sua marca no
Rock’n’Rain, não? Estamos em desvantagem...
– Nossa, por nunca terem tocado em Londres eu nem tinha esperanças de
que um dia acontecesse, mas o Rock’n’Rain jamais poderá contar a completa e
verdadeira história do rock se uma banda do calibre da The Order não fizer
parte dela.
– Ficarei aqui por mais quatro dias. O que me diz? Tem agenda para nós
neste palco? – Meu queixo cai.
– É... é sério? – Chris também não acredita.
– Só você me confirmar que é possível e escrevo pros outros três bundões
fazerem as malas.
– Porra! Claro. A noite que quiserem. Se já houver banda escalada, eu
cancelo.
– Na sexta, então?
– Fechado.
– Mas sem divulgação, por favor. Apenas quem vier será surpreendido.
– Jamais divulgamos. Por isso este lugar fez história. Os clientes nunca
sabem o que lhes aguarda ao cruzarem aquelas portas. Os que estão aqui hoje
por exemplo, sairão intrigados.
– Sim, os olhares sobre esta mesa estão me incomodando, insistentes
demais...
– Com o tamanho da sua fama é inevitável filho. – Um garçom se
aproxima.
– Sr. Rain, – os dois homens olham na direção dele ao mesmo tempo,
deixando o rapaz confuso, mas ele tenta falar é com o seu patrão – vários
clientes estão nos perguntando se é Oliver Rain na mesa com o senhor.
– Não é. – Oliver se adianta.
– Melhor, – diz o homem mais velho – diga a verdade, que é meu filho,
minha família. Assim não insistirão e acaba a curiosidade.
– Ok. – O rapaz se afasta.
– Obrigado, mas você não precisava ter feito isso – diz ao pai.
– Está tudo bem.
– Quando ele falou Sr. Rain, achei que fosse comigo, que não havia mais
dúvidas da minha identidade... – Oliver ri, ele está tão... solto ali.
– Pois é, por causa do nome do bar, acabaram abreviando o meu
sobrenome. Todos me conhecem apenas como o Sr. Rain por aqui.
– Mais um motivo para os turistas acharem que temos ligação então...
– Sim, muitos me perguntam se somos parentes.
– Adorei saber das histórias que me contou. Tenho curiosidade sobre as
existentes por trás de vários dos itens expostos ainda. Muito legal o seu
cuidado de não só expor o artefato, mas escrever a relevância dele, para o
artista ou para o lugar. – Oliver realmente se encantou pelo pub.
– Obrigado. Agradeço ao antigo dono por ter sido meticuloso e registrado
tudo da época dele, apesar de manter às escondidas. Quando uma banda ou
músico estoura, é comum ouvir pessoas dizendo, “putz, eu os vi tocar no
Rock’n’Rain quando ainda eram ninguém”. E voltam para rever os itens
expostos sobre aquela fase, olhar as fotos e ler as curiosidades. As vezes a
banda retorna aqui depois de estar no auge e surpreende seu público. Então
itens novos são adicionados ao que já havia exposto sobre ela, de quando nem
era conhecida.
– Seu acervo deve valer milhões.
– Sim. Mas nada aqui está à venda. Todos os itens pertencem a este lugar,
tanto quanto cada tijolo e ferro usado em sua estrutura.
– Desculpe, foi apenas um comentário, não quis ofender. Nem estou
tentando comprar o seu pub, acredite... – Os dois riem.
– Não ofendeu, filho. De forma alguma.
– Chris, o que acha de jantar conosco amanhã, no meu apartamento? Max
estará aqui. Vi que seu hobby é a bateria, poderá conhecê-lo. – Hazel convida.
– E conhecer o terceiro homem que carrega Rain no nome, Benjamin –
acrescento. Seu rosto se ilumina com a perspectiva.
– Eu adoraria. – Percebo Oliver um pouco incomodado com aquele
convite, feito assim, de supetão, mas não contradiz.
– Então está combinado. Amanhã lá em casa. Registre o seu número aí
para eu lhe encaminhar o endereço depois. – Hazel estende o telefone ao
homem como parte do teatro, mesmo já tendo o número dele.
– Bom, já passou da nossa hora, não? Vamos? – Pronto! Oliver chegou ao
seu limite quanto ao convívio social. Como o resultado deste primeiro contato
foi muito acima do esperado, melhor não forçar mais.
– Vamos – confirmo e nos levantamos. Hazel abraça Chris.
– Até amanhã, Sr. Rain.
– Até, querida e obrigado pelo presente que me trouxe.
– Nem imaginava que eu tinha parentes ilustres, não é mesmo? – Ele ri.
– Não mesmo. – Me adianto e o abraço em seguida.
– Obrigada, Chris, foi uma noite muito especial.
– Eu que o diga, filha, eu que o diga... obrigado. – Ele beija meu rosto e
nos afastamos.
Oliver estende a mão para o homem, que aceita e o puxa para um novo
abraço. Assim como aconteceu no palco, mantém-se tenso com o contato.
– Obrigado pela visita, filho. Não imagina o quanto foi importante para
mim.
– Também gostei, Chris. Me diverti mesmo. Como minha mulher falou, foi
uma noite especial. Parabéns outra vez pelo espaço. Sexta acrescentaremos um
capítulo a mais a esta história.
– Empolgado por isto. Mas não esqueça, a tradição manda que ao final do
show, vocês nos deixem algo especial ou inusitado. Para marcar a passagem e
acrescentar algumas cifras a mais aos milhões do meu acervo. – Caem no riso
outra vez.
– Pode deixar. Pensarei em algo à altura.

Oliver
– A mamãe ama tanto, tanto você, filho. – Ela fala em português e o beija
antes de colocá-lo no berço. Está praticamente só falando português com ele
agora. Eu entendi quase todas as palavras daquela frase, tinha mother, love,
son e you, então fica fácil decifrar o contexto. Preciso retomar as aulas com
Eva e continuar a busca por uma babá-enfermeira que fale português.
Ben acabou acordando quando chegamos do pub. E estava energizado.
Ficamos uma hora e meia em torno dele antes do sono o derrubar outra vez,
bagunçando, brincando, beijando, lambendo nossa cria.
Ele está numa fase tão gostosa, dando gargalhadas tão engraçadas agora. E
quando aparecem aquelas covinhas em suas bochechas, o que acontece quase o
tempo todo, dá vontade de apertá-lo e mordê-lo até não poder mais. Os
cabelos crescendo em cachinhos, ainda são clarinhos, mas creio que ficarão no
mesmo tom de castanho dos de Bia. Os grandes olhos dourados sempre atentos
e curiosos. Está quase engatinhando também. Já fica na posição à espreita, só
ainda não entendeu como dar o primeiro “passo”.
Ela o põe na cama adormecido, faz carinho pelo seu rosto e canta uma
canção em português.
Desta vez não entendo muita coisa.
Olhar mãe e filho, meus dois amores juntos, aquece minha alma. É uma
ligação tão forte, tão especial. Ela é tão amorosa com ele, e ele é louco por
ela. Lembro momentaneamente da minha, com quem pensei ter uma ligação
assim na primeira infância e que há muitos anos está presa a uma cama de
hospital. Mas logo afasto o pensamento, como sempre faço.
Andar pelas ruas de Londres me causou um grande impacto. Não pela
paisagem, pois disso pouco me recordava, mas há coisas da infância que ficam
enraizadas em nós, só pode ser, porque me lembro dos cheiros, das sensações,
da energia da cidade.
Tudo me pareceu tão familiar.
Me senti voltando para casa, para o meu lar, matando a saudade do meu
primeiro lar, uma saudade que eu nem fazia ideia que sentia. Só não tive
coragem de passar em frente à casa onde morava, e nem na rua onde ocorreu o
acidente. A primeira posso até tentar em algum momento, mas esta última
evitarei para sempre.
– Pensativo demais Mr. Rain. – Minha menina monta em meu colo. Estou
sentado com as costas apoiadas na cabeceira da cama.
– Admirando mãe e filho. – A abraço.
– Hum, há algumas coisas que estou a noite toda querendo admirar
também. – Ela puxa a barra da minha camiseta e ajudo-a erguendo os braços.
– Sério? Passando vontade, Mrs. Rain? Pobrezinha. – Envolvo sua cintura
e a encaixo bem em cima do meu membro ganhando vida enquanto a beijo.
Como não poderia deixar de ser, dá uma reboladinha. Sorrio.
Ela contorna com os dedos os “Bs” estilizados de Bia e Ben escritos em
meu peito. Depois beija ali. Levo as mãos às suas coxas e vou deslizando-as
para cima ao mesmo tempo em que me embriago com seu cheiro afundando o
nariz em seu pescoço e cabelos. Alargo ainda mais o meu sorriso diante da
surpresa.
– Sem calcinha, esposa? – Corro meus dedos de leve por ali.
– Para facilitar o seu trabalho, marido. – Ela geme baixinho e arrepia
inteira.
Tão linda!
Caralho, não resisto, preciso dela!
– Deus! Sou louco por você! – declaro, já meio fora de controle.
Tomo sua boca de maneira intensa, derramando paixão em cada movimento,
cada entrelaçar de lábios e línguas e cada toque de minhas mãos em seu corpo,
que agora retiram dela a minha camiseta.
Beatriz me acende rápido demais! Certeiro demais!
Sou todo fogo em seus braços. E quanto mais me queimo mais preciso de
calor.
É insano, é instintivo, é amor.
É minha. Só minha.
– Amor, quero você... – Seu pedido é quase um gemido.
– Então seja uma boa menina, leve suas mãozinhas delicadas à minha calça
e liberte a fera. – Desço meus lábios aos seus seios e me farto ali, enquanto ela
cumpre a missão a qual foi encarregada com louvor, pois não só a liberta,
como a afaga.
Carinho que, no caso da fera, só a deixa mais faminta.
– Sente-se nele, anjo. Me envolva em seu calor. – Ela se ergue e se
posiciona, então vai descendo devagar, gemendo mais a cada centímetro de
mim que engole.
Fecho os olhos e absorvo a sensação sem igual de ser tomado por ela.
Bia faz um leve movimento de subida e descida, o suficiente para me fazer
tremer. Seguro sua nuca e colo nossas testas, ainda sem abrir os olhos.
– De novo – ordeno. Ela me atende uma única vez e para o movimento.
Sei que está fazendo um esforço danado com aquela brincadeira de não
continuar, pois sua respiração está ofegante, seu sexo pulsa e me aperta toda
vez que ela para. Suas mãos acariciam minha nuca, brincam com os meus
cabelos ali.
– Mais uma. – Ela sobe e desce em mim, me apertando ao máximo e
parando o movimento outra vez.
Ah pequena, quer me provocar é?
Tudo bem então... não sei qual respiração está mais pesada, a dela pelo
esforço de parar ou a minha pelo esforço de me obrigar a não acabar com a sua
gracinha de uma vez.
– Oliver... você é meu! – declara, do nada, e não poderia estar mais certa.
– Sim senhora, só seu. Outra vez, Beatriz. Suba e desça no meu pau –
exijo.
Ela faz e desliza a língua da base do meu ombro até atrás da minha orelha,
enquanto cumpre a minha ordem mais uma vez.
E apenas isso, uma única vez.
Estou no limite, mas vou prolongar aquilo, ah se vou... Vamos ver como
você se sai provando do próprio veneno, baby.
Levo a minha mão ao seu clitóris e massageio lentamente, de um jeito
angustiante. Ela geme e aperta os lábios numa linha reta, controlando a dor. O
estímulo é demais para ela, não consegue se manter parada, tenta subir e
descer, mas ponho a outra mão em sua cintura e a mantenho no lugar.
– Não. Ainda não te dei permissão para se mexer outra vez.
– Oliver... eu... eu preciso... porra...
– Não. – Continuo a massagem. Tão devagar que chega a doer em mim. Ela
baixa a cabeça e morde o meu ombro.
– Oliver, por favor... – As palavras saem entrecortadas pela respiração
difícil.
– Safada! Não estava me provocando? Isto é o que acontece com garotinhas
atrevidas. – Dificulto ainda mais as coisas para ela, chupando seu mamilo.
Faz força para se erguer, não deixo.
– Eu... não aguento mais... Oliver!!
– Não queria brincar? – Dou um tapa em sua bunda e depois um outro, curto
e rápido em seu clitóris, com tudo. Ela berra e logo morde o lábio ao lembrar
que o filho dorme ali.
Não tinha feito isso com ela ainda. Sei que a sensação é prazerosa e
dolorosa ao mesmo tempo. Potencializa a necessidade de gozar.
Tenta se projetar, mantenho-a parada.
– Oliver, clemência..., não quero mais brincar, nem provocar, falo muito
sério agora... Aiiii. – Pressiono o dedão firme sobre o pontinho duro em sua
boceta. – Ela treme inteira e continua tentando achar seu alívio, que eu sigo
negando a ela.
Ah baby, aguente... a hora que o orgasmo vier você vai agradecer...
– Pare por favor... Não vejo mais graça nenhuma... Pode me dar uma bela
de uma dura, marido, eu deixo... na verdade preciso... muito... Foi só uma
provocaçãozinha... Deus, você não sabe brincar?!?! – Tento segurar a vontade
de rir, ela sempre me quebra a atuação.
Não há personagem que resista as investidas de Beatriz por muito tempo.
Para me manter ali, dou outro tapinha em seu sexo. Ela segura o grito e
tranca o ar. Meu olhar para ela é fumegante.
– Preste bem atenção, vou deixar você se mexer, mas se vier com firula de
novo, só um de nós dois vai gozar com esta foda. E não será você.
– Serei um anjo, prometo... agora me deixa...
– Espero que tenha aprendido a lição. – Ela revira os olhos e eu volto ao
movimento torturante em seu clitóris sem a soltar.
– Oliver! Por Deus... Vou morrer! – Solto o riso e a ela também.
Bia começa a se mexer freneticamente no mesmo instante, com as duas mãos
pressionando meus ombros para ganhar força e intensidade, para chegar lá o
quanto antes.
Aquela agoniante espera doeu em mim também e a expectativa triplicou o
tesão.
– Isso bebê, faz bem rápido e bem gostoso... quero te encher de porra...
– Oliver que loucura... Fiz tanta força para suportar a tortura que você me
impôs que meu ventre dói, preciso gozar, desesperadamente. – Seus
movimentos constantes, em seu próprio ritmo, exigindo do meu corpo o
necessário para satisfazer o seu, me deixam a beira do precipício rapidinho.
– Eu também preciso, estou quase lá, também sofri com o nosso joguinho.
– Envolvo um braço na sua cintura e a ajudo a intensificar a pegada, a trazendo
contra o meu pau com força, quanto mordo seu queixo, lóbulo da orelha e
chupo seu pescoço. Ela me lambe e me morde na mesma medida.
Quando, junto a tudo aquilo, passa a mão pelo meu peito e belisca o meu
mamilo, é o meu fim.
– Bia... porra!
– Baby! – Ela me acompanha e goza forte sufocando os gritos ao morder o
meu ombro para não acordar Benjamin.
Porra, dói. Mas o gozo foi tão forte que nem ligo.
Aquilo foi divino, mas não é o suficiente, quero mais.
A coloco deitada de bruços na cama, afasto suas pernas com as minhas e já
arremeto para dentro dela outra vez, meu pau não chegou a amolecer, e nem
vai.
– Tão gostosa! – sussurro em seu ouvido.
– Que gozada, amor... E, ao que tudo indica, hoje é meu dia de sorte. Duas
seguidas, praticamente sem tirar? O que eu fiz para merecer?
– Abusada! – Mordo sua nuca, ela arrepia e geme baixinho. Meu ritmo
agora não é lento, mas também não é frenético. É apaixonado.
Ela me aperta com as paredes da vagina, provocando ondas de
estremecimento pelo meu corpo. Enfio as mãos entre ela e a cama, as
espalmando em sua barriga e vou subindo até alcançar os seus seios, brinco
com eles enquanto mantenho o ritmo das investidas contra ela.
Já estou duro ao máximo outra vez.
– Me dê sua boca, anjo. – Ela vira o rosto para mim e tomo sua boca com
vontade, sugo seus lábios e vou alternando, ora roçando minha barba em seu
pescoço, ora em sua nuca, depois volto a sua boca.
Bia arfa cada vez mais forte e leva a bundinha para trás ao meu encontro,
pedindo mais. Eu piro e quase me deixo levar para o lado da fúria outra vez.
– Ah baby, a sua bunda está me chamando... – Tiro meu pau da sua boceta e
pressiono no cuzinho. Vou colocando com cuidado, medindo a pressão
conforme seus gemidos e caretas. Quando estou todo lá, mexo devagarinho até
que ela se acostume.
– Amor... Ahhh, que delícia...
– Porra! Ver sua bunda me engolindo assim Bia... A segunda rodada vai
durar menos do que eu previa... – Ela então empina mais ainda a bunda e
rebola, a pilantra. – Pequena... tirou a noite para me provocar? Vou durar
pouco, muito pouco e eu não quero...
– Com força, Oliver. – Dou umas arremetidas fortes e espaçadas, como eu
sei que ela gosta.
Mas não me demoro muito ali, quero gozar na bocetinha outra vez. Mudo
nossas posições novamente, preciso olhar para ela. Me deito de costas, passo
um lenço umedecido no meu pau e a encaixo por cima outra vez. Afasto os
cabelos grudados de suor da sua testa, ela faz o mesmo comigo. Nossos olhos
exalam paixão.
– Eu te amo de um jeito impossível de descrever... você é todo o meu
mundo.
– Eu sei meu amor, eu sinto. Mesmo com toda a sacanagem e a tortura,
você está transbordando amor. E você? Sente o meu? Sente que cada vez que
eu te tomo e te aperto dentro de mim estou dizendo “não vivo sem você”?
– Não, você precisa me dizer mais vezes. Continue repetindo até eu
entender, meu anjo.
– Eu vou. – E ela faz, e geme, e suspira ao mesmo tempo que sussurra “eu
te amo”, “eu te amo”, “eu te amo”... um para cada nova investida contra o meu
pau.
– Nunca mais quero sentir na vida o que eu senti naqueles dez meses longe
de você, rockstar. Eu te amo. – Novo sussurro, olhando bem dentro dos meus
olhos.
– Eu também não, meu amor.
– Eu te amo. – Ouço novamente baixinho em meu ouvido. – Vou amar e
repetir por toda a minha vida e além – acrescenta. – Agora me beija. –
Faminta, exige minha boca e acelera o movimento, que agora passou mais para
um deslizar de frente para atrás sobre mim, junto com um rebolar, que a
permite roçar forte o clitóris em minha virilha.
Não demora muito, ela goza em meio aquele seu vai e vem dançante. Seus
sons de prazer são altos, mas saem abafados pelos nossos lábios, que não
desgrudamos
Envolvo sua cintura e mudo o teor da pegada, agora buscando a minha
própria satisfação, que chega logo. Derramo meu gozo dentro dela, forte,
enquanto sigo reivindicando os seus beijos e mudo nossa posição na cama pela
terceira vez, a deitando de costas e me acomodando em cima dela.
– Minha mulher é quente pra cacete! – Beijo a ponta do seu nariz, depois
as pequenas sardas que tanto adoro. – Você eleva o tesão a outro nível, meu
amor. Saciada?
– Demais, sem forças... gozei tão gostoso! – Abro meu melhor sorriso.
– Meu ego agradece!
– Seu ego é enorme!
– Meu enorme ego agradece então. Ele também inflou e gozou bastante.
– Percebi. – A beijo novamente, depois saio de cima, e de dentro dela, e
me deito ao seu lado.
– O que você estava cantando para Ben em português? A melodia me
pareceu uma brincadeira com a escala musical.
– E é. Se chama Minha Canção. My Song. É de um grande músico e poeta
brasileiro chamado Chico Buarque. As letras das músicas dele são lindas, mas
esta em específico fez para as crianças aprenderem sobre música. É tipo uma
canção de ninar que ao mesmo tempo ensina as notas e a altura de cada uma,
primeiro subindo e depois descendo na escala de dó maior. Cada verso
começa com a sílaba que dá nome a nota, para a criança associar o som ao
nome. E os versinhos curtos, alguns com apenas uma palavra são mágicos,
acho incrível como ele consegue fazer algo tão simples ter tanta profundidade
no contexto.
– Contam a história de alguém compondo uma música na madrugada,
enquanto todos os outros dormem, as emoções que transitam naquele momento
e que tenta transmitir. Então a música ganha poder e vida própria, já não é do
compositor, e alguém um dia, em algum outro lugar se apropriará dela e a
chamará de sua, pois ela lhe traz esperança. – Ela a canta e depois traduz para
mim.

Dorme a cidade
Resta um coração
Misterioso
Faz uma ilusão
Soletra um verso
Lavra a melodia
Singelamente
Dolorosamente
Doce a música
Silenciosa
Larga o meu peito
Solta-se no espaço
Faz-se certeza
Minha canção
Réstia de luz onde
Dorme o meu irmão

– É muito bonito, e criativo. – A trago para o meu peito. – Eu não quis


falar nada na hora, nem no carro Bia, mas não fiquei confortável com o convite
que Hazel fez ao dono do pub.
– Eu sei. Mas não há motivos para preocupação, amor, Chris me pareceu
uma ótima pessoa.
– A mim também, gostei mesmo do lugar, de conhecê-lo, mas daí a trazê-lo
para dentro de casa? Abrir este endereço? Não o conhecemos tão a fundo
assim. Depois vamos embora e Hazel ficará sozinha aqui...
– Chris é um bom homem.
– Parece. Espero que seja. Mas a verdade é que não sabemos nada dele
além de que é dono do point do rock Londrino.
– Dê um voto de confiança, relaxe e o trate bem amanhã. Felizmente o
mundo é feito de mais pessoas boas do que ruins. – Suspiro.
– Sei lá, gostei dele, me identifiquei, mas em alguns momentos achei o
comportamento dele emotivo demais, não sei explicar...
– Ele é fã de rock. Seu fã. Foi a todos os shows da Inglaterra e países
próximos. Não esperava sua aparição. Normal.
– É pode ser. Como sabe que foi a todos estes shows? Não me lembro dele
ter mencionado.
– Ah se... eu... sei lá... Hazel deve ter comentado... é, acho que foi isso.
– Hum... Bom, agora o convite já foi feito mesmo, nos resta recebê-lo. –
Ela boceja.
– Já pensou no que deixará no pub? Para exposição?
– Não. A camiseta que estivermos usando, talvez? Posso combinar com
eles de usarmos a primeira que fizemos quando ainda tocávamos nas
espeluncas de Long Beach.
– Isso é certo. Mas acho que dá para melhorar.
– Pelo visto você andou tendo ideias. Não vou deixar minha cueca,
Beatriz.
– Ah essa não vai mesmo. Nem por cima do meu cadáver. Besta! – Dá um
cutucão na lateral do meu corpo e depois boceja outra vez.
– Diga de uma vez. Antes que o monstro do sono te engula.
– Pensei que você poderia deixar o boné verde.
– O que? O meu boné verde? Aquele que estava usando no dia que te
conheci? E que está eternizado nas suas cartinhas? Nem pensar.
– Pense bem, seria lindo. E especial. Podemos colocar uma das minhas
cartinhas onde o desenhei de boné junto. Daí você escreve sobre como me
conheceu quando eu ainda era criança e como nos reencontramos anos depois.
Faremos um pacto de nunca tornar esta história pública. Só quem for a um
pequeno pub na Inglaterra, olhar para aquele boné e tiver o interesse de ler,
saberá.
– Até alguém filmar e sair na mídia.
– Se for, que seja. Ainda assim, estaria só lá.
– Não sei... deixar algo tão especial para nós nas mãos de um estranho.
Num lugar que sabe lá se e quando voltaremos...
– Você quem decide, eu acharia mágico. – Novo bocejo. – Mas decida
logo, porque temos que pedir para um deles pegar o boné e a cartinha lá em
casa. Avisou aos meninos sobre o show, né? Eles vêm?
– Max vem amanhã de manhã como já estava programado, Lian e Kellan
chegam num voo tarde da noite. – Um bocejo enorme desta vez.
– Preciso dormir. Boa noite. E não esqueça: Eu amo você – sussurra em
meu ouvido.
Durmo com ela aninhada a mim, completamente saciado e com um
sorriso bobo nos lábios.

– Não acredito que estamos aqui, esperando o dono de um bar de quem


não investigamos nada a respeito, para jantar no seu endereço fixo, sem nem
passar pela nossa segurança e assinar os termos de confidencialidade. – Max
está inconformado desde que soube da nossa visita desta noite.
E por mais que ele insistisse, e eu também, Hazel não permitiu que
envolvêssemos Riley e Peter no processo.
Estamos os quatro sentados nas poltronas da sala do enorme apartamento de
quatro quartos que Max comprou para Hazel em Londres. Numa delas, Max a
abraça, e ela tem a cabeça apoiada em seu peito. Na outra, à frente deles, faço
o mesmo com Bia.
– Relaxa Max, chega disso. Já disse que aqui, na minha casa, é sob os
meus termos. Não há motivo nenhum para submeter o Sr. Rainnold a um
interrogatório e constrangimentos desnecessários. Aliás, por que sua mala está
no meu quarto e não no que fica de costume?
– Ué? Lian e Kellan não vêm também? Não teremos quartos para todos.
Oliver e Bia estão em um, a babá em outro. A menos que convençam a babá a
receber um deles em sua cama, os dois manés ou ficam juntinhos, ou alguém
terá que dormir no sofá. Duvido que algum deles queria ir para um hotel.
– E então você resolveu que vai dormir comigo?
– É. Senão seriam dois na cama da babá ou no sofá. Algum problema? –
Ela solta o ar pesadamente.
– Não, nenhum. Mas você não precisava... Kellan poderia ficar comigo,
você com o seu quarto e Lian com o sofá, ou a babá, no caso... – O rosto de
Max é pura decepção.
– Você prefere... não quer... – Ela fecha os olhos e respira fundo de novo.
– Claro que quero, deixamos assim... só... só falei para você não precisar
sair do seu quarto.
– Não me importo.
– E nada de envolver a babá do meu filho na dança das camas. Kellan e
Lian que procurem quem os esquente bem longe daqui. – Dou meu recado e a
campainha toca na sequência.
Nosso convidado pelo visto leva a sério a pontualidade britânica.
Hazel abre a porta.
– Olá Chris, que bom que veio. Entre por favor. – Nos levantamos para
receber o homem.
– Obrigada por me convidar, menina Hazel.
– Venha, deixe eu lhe apresentar a Max. – Hazel engata o braço no de
Chris e o traz para perto de nós.
– Max, este é Chris Rainnold, dono do Rock’n’Rain, o pub que lhe falei. –
Max olha para ele com olhar duro. Sua marca registrada para mandar um
recado silencioso e pôr a pessoa no lugar dela. Mas o homem permanece
relaxado.
– Prazer. – Max cumprimenta, mas não alivia na encarada, apertam as
mãos.
– O prazer é meu, Max. Posso lhe chamar pelo primeiro nome?
– Sem problemas.
– Sou um grande admirador seu. Também arrisco na bateria e tocar como
você é o meu ideal. Nunca vou conseguir alcançá-lo, claro, mas todos
precisamos manter um ideal elevado, não é mesmo? – O homem sorri e o ruivo
parece baixar um pouco a guarda e suaviza o olhar, ao mesmo tempo que olha
de mim para o homem e franze a testa.
– Olá Chris, fico feliz que esteja aqui. – Bia quebra o momento avaliativo
de Max e o cumprimenta. Faço o mesmo na sequência.
– Seja bem-vindo, Chris, fique à vontade. Logo nosso jantar será servido.
– Obrigado, filho, estou muito feliz em compartilhar outro momento com
você e sua família. Trouxe isto, é da minha adega particular. – Ele me entrega
uma garrafa de vinho tinto. E uau, é um vinho francês, um dos melhores do
mundo. – De uma safra especial – completa.
– Estou vendo... Safra de 1951. É um vinho muito raro, Chris, tem
certeza...
– Absoluta. Estava guardando-o para uma ocasião especial, e ela chegou.
– Olho-o intrigado mais uma vez, pois mais uma vez vejo uma emoção
exagerada em seu olhar. Um tipo de emoção que me parece meio fora de
contexto. Apesar da empatia natural que sinto por ele, aquilo me deixa
desconfortável e alerta.
– Fico honrado. Sente-se, por favor. – Nos acomodamos mais ou menos na
mesma configuração, com ele tomando o terceiro assento ao nosso lado.
A conversa transcorre tranquila a partir dali, apesar de que sempre que ele
me olha sinto algo esquisito. Nos conta muitas histórias divertidas ocorridas
no pub e até algumas de sua juventude, quando ainda não era dono de nada,
como gosta de frisar. Nós, em contrapartida, contamos várias gafes e
curiosidades de nossas andanças por aí. Max inclusive abriu a minha gafe mais
recente, a aparição espetacular na minha festa surpresa, e assim, o clima
divertido predominou durante todo o tempo.
Depois jantamos, saboreamos o delicioso vinho que ele trouxe. E é a partir
daí que as coisas começaram a ficar estranhas de verdade.
– Sra. Rain, pediu que eu o trouxesse assim que acordasse? – Holly entra
na sala com Ben no colo. Ele nos vê e automaticamente começa a reclamar e a
fazer força para sair do colo da babá.
– Ah sim, Holly, obrigada. – Antes que Bia se levante, eu o faço.
– Oi filhão. Veio jantar conosco? Comporte-se, temos visita – brinco, ele
abre seu sorriso lindo para mim e se atira em meus braços. Volto para a mesa e
me sento com ele no colo.
Ben olha para a comida em meu prato e fica alucinado. Ele agora já pode
comer alguns alimentos, Bia me entrega um recipiente com um pouco de purê
de batatas, feito especialmente para ele, mais natural, sem gorduras e sem
temperos fortes. Coloco o pote no lugar do meu prato e pego uma colher na
intenção de alimentá-lo, mas antes que eu consiga chegar com a colher ao purê,
ele enfia a mão espalmada dentro da papinha com força, o gesto causa um
barulho que ele acha engraçado e gargalha gostoso. Rimos junto, pois é
impossível ficar imune ao seu sorriso frouxo com covinhas. Depois ele leva a
mão empapada de batata para a boca e delicia-se, lambendo a própria
mãozinha. Coloca mais batata no rosto do que dentro da boca efetivamente e
arranca mais gargalhadas dos ocupantes daquela mesa, menos de uma pessoa.
Dessa, ele arranca um soluço.
Ouço aquele lamento e ergo o olhar à procura. Chris tem lágrimas
escorrendo pelo rosto e é visível que faz uma tremenda força para reverter
aquela reação e não deixar o choro tomar conta.
Que merda!
Qual será o problema desse cara?
Não é uma simples reação de fã emocionado. Não, tem mais coisa... o
incômodo que eu sinto desde ontem, quando ele me abraçou, quando o flagrei
me olhando de forma estranha, quase uma veneração dolorosa... não é coisa da
minha cabeça.
Será que esse cara perdeu um filho? Um neto? E Ben e eu ativamos suas
memórias?
Ele seca os olhos. Hazel e Bia trocam olhares. Max me olha desconfiado e
interrogativo. Ergo meus ombros para ele, dizendo silenciosamente que não
faço ideia.
Enquanto me distraio analisando a situação bizarra, Ben segue fazendo a
festa, metendo a mão na batata e se lambuzando cada vez mais. Deixo que se
divirta com a comida.
– Me desculpem – diz o homem, um tanto recomposto. Não sei nem o que
responder. Bia me salva.
– Não se preocupe com isso, está tudo bem, Chris. – A porra que está tudo
bem. Não está nada bem. Mas me mantenho calado.
– Se quiser compartilhar conosco o motivo do choro, somos todos
ouvidos. – Max instiga, pois está tão incomodado quanto eu.
– Eu tenho um filho, da idade de vocês. – Aponta para Max e para mim.
Bia e Hazel ficam tensas.
– Você já nos falou isso ontem – digo um tanto ríspido.
Ben pelo visto se fartou do purê. Pego o guardanapo e tento limpá-lo o
máximo possível. Bia o tira do meu colo e oferece água.
– Fui privado de conviver com ele na infância – esclarece. – Por isso ver
você com o seu bebê, Oliver, me comoveu. Fiquei pensando nas tantas coisas
boas e especiais que eu perdi. Ele se parece tanto com você. – Nova lágrima,
que ele seca rapidamente. – Momentos como este, um pai poder ver seu
menininho descobrindo as coisas, tão feliz e tão amado, isso... isso não tem
preço. Isso vale uma vida.
As palavras dele me tocam. Sua emoção é genuína.
Sim, vale uma vida.
Mas ainda parece que tem algo que não estou captando. Meu estômago
chega a estar um tanto embrulhado. Estou começando a achar que devo rever a
decisão de tocar naquele pub amanhã.
– Quer segurá-lo, Chris? – Bia pergunta e já se levanta para lhe entregar a
criança. Ele sorri.
Como assim?
Ela não vê que o homem é descompensado, instável?
Como tem coragem de largar nosso filho no colo dele?
– Beatriz... – tento.
– Está tudo bem, Oliver. – Me diz com muita autoridade, propriedade e
segurança no olhar. Não deixando margem para contestá-la.
Ela se volta novamente para o homem e lhe entrega Benjamin, sussurrando
algo em seu ouvido no processo.
O que é isso agora?
O que cochichou para ele?
O homem assente, com lágrimas nos olhos outra vez. Benjamin o olha
desconfiado. Max acompanha tudo tão pasmo quanto eu. Ele tenta falar alguma
coisa, mas Hazel o impede.
Chris está sentado de lado na cadeira, e segura Ben de frente para ele na
altura do seu rosto, ficando os dois de perfil para nós.
– Você é um garotinho tão lindo, Ben. Tão parecido com o seu pai. É uma
alegria tão grande estar aqui hoje e ter a felicidade de segurá-lo em meus
braços. Eu sempre estarei aqui por você. Sempre! Você sempre poderá contar
comigo. Todo amor que não pude dar ao meu filho quando criança, será seu. –
Que papo de merda é esse?
Arrasto a cadeira para trás, já me preparando para tirar meu filho do colo
daquele lunático. Max me olha como quem diz: se você não pegar o menino
agora, eu pego.
Mas então ele beija a ponta do nariz de Ben, que lhe abre o seu enorme e
luminoso sorriso com covinhas em resposta, Chris sorri da mesma forma, em
reação. E olhar os dois assim, de perfil, com o mesmo sorriso, me faz
empalidecer.
Não pode ser.
Não... não pode... então me lembro do nome que vovó me falou... o meu
suposto pai, também inglês, namorado de Vivienne, quem a apresentou ao
conde... Chris, ela disse... Chris... puta-merda... Rain, foi vovó quem sugeriu
que eu adotasse este nome...
Olho fixo para Beatriz ao meu lado, que percebe que matei a charada. Ela
não podia... não podia... Bia armou tudo isso e eu caí na emboscada.
Me levanto e saio dali.
– Oliver... – Max me chama, confuso.
– Minha mulher te explica, Max. Vou para o quarto.
Sento-me na beirada da cama, baixo a cabeça e levo as mãos à nuca,
entrelaçando os dedos.
Por que isso?
Por que ela quis enfiar esse homem em minha vida a essa altura?
Para que mexer no passado assim?
Eu não queria, nunca quis. Vovó insistiu bastante, nunca concordei.
Fico um tempo ali, tentando achar uma lógica para ela querer fazer eu
passar por mais aquilo até que meu fone vibra.
É uma mensagem dela. Um vídeo.

Amor, sei que está confuso e até magoado comigo, mas dê uma
chance a ele. O ouça. Ele também foi vítima. Uma vez, quando
eu estava em dúvidas se entrava em contato ou não com a
minha tia, você me disse que achava que eu só tinha a ganhar.
Eu lhe digo o mesmo agora, baby. Acredito do fundo do meu
coração que você só tem a ganhar. Te amo!

Clico no vídeo e somos ele e eu tocando no Rock’n’Rain ontem. Agora


entendo de onde veio o reconhecimento que tive ao olhá-lo. Somos muito
parecidos em termos de estrutura física, jeito, o formato do rosto.
Bia dá um close nele em determinada altura, e consigo ver as lágrimas
caindo em sua face. Ele sabia o tempo todo. Há quanto tempo? Por que nunca
me procurou? A porta do quarto se abre.
– Bia, não é um bom negócio conversarmos agora...
– Não é sua esposa. – Respiro fundo.
– Continua não sendo um bom negócio – digo ainda sem levantar os olhos
para ele.
– Se você não quiser falar comigo, eu vou entender e tudo bem, vou
embora. Mas eu realmente gostaria de conversar com você em algum momento.
Te contar a minha parte nesta história, sobre o meu envolvimento com a sua
mãe... e também, gostaria de te ouvir, ouvir sobre você, seus sentimentos. Eu
não sabia que você era meu, filho... – A voz dele embarga. Não consigo evitar
que meus olhos enchem também. Levanto o olhar. Ele percebe a emoção. –
Posso me sentar? – Só concordo com a cabeça.
– Ontem, quando você mandou o seu garçom dizer que era o seu filho na
mesa, não estava mentindo, afinal.
– Não, não estava.
– Comece, Chris, o que tem para me falar?
Ele começa me contando sobre seus pais, suas duas irmãs, meu avô duque.
Sua vontade de se ver livre daquela prisão existencial que é a tradição inglesa.
Como, assim que teve oportunidade, rompeu com tudo aquilo, as retaliações
que sofreu da família e de outras tantas famílias “nobres” do seu restrito
círculo de convívio da época. Que já trabalhava com o conde quando tomou a
decisão e que ficou surpreso quando o homem não adotou a mesma postura e o
mandou embora. E que, pelo contrário, investiu nele e sua carreira dentro das
empresas despontou em poucos anos. Depois descobriu que tudo não passava
de um acordo entre o conde e o duque.
Por conta de uma reestruturação que precisavam fazer em empresas recém
adquiridas nos Estados Unidos, ele foi para lá assumindo a presidência e
liderança do grupo naquele país. E foi num almoço, na casa de um dos
diretores de sua organização, que conheceu minha mãe. Apresentada a ele
como uma amiga da filha do homem.
– Nosso romance durou seis meses. E eu a amei como nunca mais amei
ninguém. Por causa deste amor, nunca consegui assumir outra mulher como
minha. Este lugar sempre será dela, pois não posso me contentar com menos do
que aquilo. E por mais que ela nunca tenha admitido, sei que me amou com a
mesma intensidade. Um homem sabe o nível de entrega de uma mulher quando
a tem em seus braços. E ela era minha, completamente.
– A química e a paixão que havia entre nós beirava o insuportável.
Poderíamos ter sido tão felizes! Ela era maravilhosa quando estávamos só nós
dois, doce, carinhosa. Mas infelizmente, e até hoje não consigo entender seus
motivos, ela tinha essa ambição de fazer parte da nobreza dentro dela, uma
ideia fixa, que anulava qualquer outra boa possibilidade que surgisse. Valia até
o sofrimento da nossa separação, pois sei que ela sofreu também. Para mim era
o cúmulo da ironia, eu reneguei meu título e me apaixono por uma mulher que
tudo que deseja é alguém com um. Não quis alimentar sua fixação contando a
minha origem. Queria que ela me escolhesse pelo motivo certo, por mim, você
entende?
– Claro.
– Quando ela soube que o dono da empresa em que eu trabalhava era um
conde, começou a nossa ruína. Mostrou interesse que lhe conseguisse um
emprego na empresa, o que eu fiz, e o resto ela fez por conta própria. Era uma
mulher lindíssima. Ele se sentiu atraído, claro. Se envolveram. Terminamos
nosso namoro, mas ela vez ou outra ainda procurava a minha cama. Como eu
era completamente apaixonado, acabava aceitando-a. E então ela engravidou.
– E você não desconfiou nem por um momento que...
– Claro que sim. Eu não só desconfiei, eu tinha certeza. A pus contra a
parede, ela negava piamente. Não acreditei, exigi DNA quando você
nascesse...
– Então não entendo...
– Ela falsificou o exame. – Ele retira dois papéis de dentro do bolso e me
entrega um deles. – Este é o teste que foi feito com o material coletado no dia
do seu nascimento. Eu acompanhei a coleta, depois coletaram o meu. Tudo
muito profissional. Ela deve ter subornado os técnicos ou o laboratório, não
vejo de que outra forma... sendo uma rica condessa, não seria difícil... – Abro
o papel, está lá, data da coleta, data do resultado, todos do mês e ano que
nasci. E o resultado, 0.5% compatível. Ou seja, negativo.
– Este é o exame que fiz há menos de duas semanas, quando sua advogada
e depois a sua mulher me procuraram. – Me entrega o outro papel. Vejo as
datas recentes e 99,9% de compatibilidade. Não resta dúvidas. As lágrimas
escapam. Levanto o rosto para olhá-lo nos olhos. Me reconheço dentro deles.
Seu rosto está tão banhado quanto o meu.
– Oliver, sabe o que mais me dói? Não são os anos que eu perdi de
convívio com o meu filho, é saber que você sofreu. Se mesmo ela tendo feito
tudo o que fez, você tivesse crescido feliz, com Alec como pai, te amando, te
apoiando, eu lamentaria a nossa distância, claro, mas eu estaria em paz. Agora,
ele te rejeitar e ela, sabendo que você tinha um pai que te aceitaria de braços e
coração abertos, preferir deixá-lo num orfanato a entregá-lo a mim? Isso eu
não consigo aceitar, nem perdoar. Nem a ela e nem a mim mesmo.
– Você não teve culpa. Fez tudo que pode. Foram escolhas dela. Poderia
ter me entregue à minha avó e também não o fez.
– Aí é que está. Eu poderia ter feito mais, sim. Dado a ela de uma vez o
que tanto queira. Ter revelado, antes do resultado, que eu também era um
conde. Que futuramente seria um duque e evitado...
– Não! Você fez o que era certo. Mesmo passando pelo que passei, te
asseguro com certeza que prefiro mil vezes saber que sou filho deste homem
que está à minha frente agora. Aquele que abriu mão do seu amor, e acredite,
eu sei bem o quanto dói e o quanto é difícil, para não sucumbir a uma tradição
mais que ultrapassada e opressora, e nem alimentar a paranoia egóica da
mulher que ama. Sinto orgulho de como conduziu as coisas, pai. – Aquela
última palavra pula para fora da minha boca, nem eu esperava, ela sai quase
como uma oração.
Ele desaba no choro com a minha declaração e me puxa para um abraço,
vou meio sem jeito. É a terceira vez que faz isso comigo. Mas pelo menos
agora eu entendo o porquê.
– Eu chorei tanto quando recebi o resultado daquele primeiro exame. Eu
tinha certeza, certeza que era o seu pai! Te olhei na maternidade e não via a
hora de te pegar no colo, te levar para casa. E daí... eu não podia ir contra o
que estava escrito naquele papel, mas algo dentro de mim permaneceu
inquieto. Tinha tanta necessidade de acompanhar o que eu conseguisse da sua
vida... Sua semelhança com ela não me deixou dúvidas de que você era o
mesmo Oliver que eu cogitei ser meu. Cada show que eu consegui ir, eu fui, e
não só por admirá-los como músicos, vocês são sem sombra de dúvidas a
melhor banda de rock na ativa, tanto no talento quanto na técnica, mas era
também uma necessidade velada de te ver, ficar o mais perto possível por
algum tempo. – Me rendo e o abraço tão apertado quanto.
– Eu também sou parecido com você. Nunca te intrigou?
– Sim. Mas quando se tem uma prova tão definitiva em mãos quanto a que
eu tinha, chega uma hora que você atribui algumas coisas à uma ilusão sua, um
desejo profundo de que fosse verdade ou simplesmente às ironias da vida.
– Como eu ter escolhido usar Rain como sobrenome, por exemplo?
– É. Neste caso em particular, confesso que até achei que fosse uma coisa
armada pela sua mãe para zombar de mim e me machucar um pouco mais.
– Foi minha avó quem sugeriu. Seus argumentos para tal não foram
relacionados a você, claro, mas hoje percebo que esse foi, sim, o verdadeiro
motivo. Pelo visto, ela também tinha certeza... – Ele abre um amplo sorriso.
– Tive a honra de encontrar com Laura três vezes durante o namoro com a
sua mãe. Gostamos um do outro de cara. Ela é uma mulher muito especial.
– É sim. Ela me salvou e sempre falou bem de você, insistiu algumas vezes
para eu... – Passo as mãos pelo rosto, puta-merda, por que eu não a ouvi?
– Ei, ei... não... – Ele me puxa contra ele outra vez. – Não se atormente por
isto, por favor. Você foi muito ferido, ficou com sequelas graves, é normal que
tenha tentado se proteger de um novo golpe ou uma nova decepção, filho, é
uma reação humana, de sobrevivência, eu entendo.
– Eu não me atormento com isto, se você prometer não se atormentar mais
com a culpa, vamos seguir daqui. Deixar o passado no passado, fechado? –
Seus olhos se iluminam de satisfação.
– Você me aceita em sua vida?
– Lembro de você ter feito algumas promessas bem sérias ao seu neto lá
fora. Ai de você se não as cumprir à risca! – Ele ri e chora ao mesmo tempo.
Beija o meu rosto.
– Fechado, filho. Sem culpas e sem tormentos. Vamos aproveitar os bons
anos que a vida ainda nos reserva. Eu só queria te pedir uma coisa.
– Diga.
– Me deixe assumi-lo oficialmente? Por meu nome na sua certidão de
nascimento?
– Será uma honra. Mas não gostaria de causar alarde, tornar um evento
público. Até para a sua segurança... Beatriz e Ben não tenho como evitar, mas
nem minha avó tem sua imagem associada a mim até hoje...
– Não busco exposição. Eu só quero ser o pai do meu filho, na vida e no
papel. Continuarei negando para os turistas que o Rain no meu nome e no nome
do pub tem relação com você. – Ele me arranca um riso.
– Se um dia descobrirem, tudo bem, só não acho que precisamos abrir os
detalhes da nossa história.
– Concordo com você. Se um dia descobrirem, para todos os efeitos, o
meu nome sempre esteve lá nos seus registros.
– Isso. Como deveria ter sido.
– Como deveria ter sido.

– Eu achei que você era um perturbado. Quase bati em Oliver quando saiu
da sala e não tirou o meu afilhado do seu colo.
– Por isso eu cochichei no ouvido dele que era melhor começar a abrir o
jogo, mesmo não sendo a nossa intenção que isto acontecesse já, pois vocês
dois estavam prestes a chamar os seguranças. – Rimos da confissão de Bia.
Estamos os cinco de volta aos sofás da sala, saboreando um café.
Isso mesmo, você entendeu direito.
Noite de quinta, em Londres, e estamos tomando café.
Nada de whisky ou vinho, muito menos chá inglês.
Olhar para o momento intimista e me dar conta de que o meu pai participa
dele ainda é um pouco desconexo para mim. Posso até o chamar de pai, o que
de fato ele é, mas vê-lo como tal, me sentir seu filho, não é algo que acontecerá
do dia para a noite; contudo, acho que temos boas chances de criar um vínculo
positivo, ser bons amigos.
Vi sinceridade em seus olhos, em seu relato.
Quero de verdade que Ben tenha a figura do avô por perto.
Volto a realidade quando Bia olha para o seu telefone e ri de algo.
– O que foi? – Não seguro a curiosidade.
– É Helen. Está me dando uma bronca por estarmos tantos dias fora. Pede
para voltarmos logo, pois está morta de saudades de Ben.
– Sério? Comigo isso só acontece quando estou há pelo menos quinze dias
longe… – Max se vitimiza.
– Oh, tadinho… ciúmes da mamãe com o afilhado? – Hazel debocha. Ele
faz uma careta para ela e a puxa para mais perto dele na sequência.
– Vejo nela expressões contraditoras com aquele contato, deleite e
insuficiência. Ela ainda passará pela prova de fogo de dormir com ele na
mesma cama por alguns dias. Preciso descobrir uma forma de chegar em Max,
logo.
– Minha mãe está mesmo apegada a Ben, não é? Assumiu para valer o
papel de avó.
– Sim, sempre que pode está rondando, enlouquecendo Maggie, deixando
Laura enciumada. É divertido ver as duas competindo pela atenção dele. – Bia
conta.
– Depois que ele chegou, não teve nenhuma das suas crises de tristeza
aguda. Vira e mexe Mary Ann também está lá em casa. E é incrível ver como
ela brinca com a menina de igual para igual. Me traz memórias dela comigo
quando era assim pequeno, era divertidíssimo brincar com ela. – Sua voz sai
carregada de emoção e saudade.
– Hum, então foi daí que veio o seu talento para entreter crianças, ruivo?
– Não princesa, o dela está no sangue, o meu só era ativado por você! –
Beija a cabeça de Hazel. – Mas sério, pela primeira vez em anos, eu olho nos
olhos dela e vejo lampejos daquela mãe alegre e feliz de quem me lembro até
os nove anos.
– Acho que está na hora de você adicionar mais crianças à vida de sua
mãe, Max. – Chris provoca.
– Tenho pensado seriamente nisto, Chris. – Ah?
Minha surpresa foi tanta com aquela afirmação que devo ter até emitido um
som. Hazel empalidece, entristece ainda mais o olhar e enrijece o corpo.
– Como assim tem pensado nisso? – Bia pergunta o que a amiga muito
provavelmente tem medo de perguntar.
– Tenho pensado, oras! Nunca cogitei, casar, ter filhos, mas depois de Ben,
de vê-la tão animada, não sei… talvez eu deva, sabe? Fazer tudo isso, ter um
filho, dar um neto a ela… – Hazel tem os olhos cheios. Para nós, que estamos
sentados de frente para os dois, é impossível não perceber que ela está por um
triz, inclusive Chris percebe.
– Não se casa e se faz um filho só para dar um neto a mãe, Max. Isto é
ridículo. Acho que Henry te disse algo parecido no dia do meu casamento,
não? Estas coisas devem ser feitas por desejo e por amor.
– Cada um tem seus próprios motivos para procriar, Oliver.
– Você cometeria um grande erro, irmão – insisto. Ele só suspira, não diz
mais nada.
Chris coloca a sua xícara na mesinha de centro e se levanta. Fazemos o
mesmo. Ele se aproxima, abraça Bia com um braço e Hazel com o outro.
Depois dá um beijo na bochecha de cada uma.
– Esta noite foi a mais importante da minha vida. E sem dúvida a mais
feliz em muito tempo. Ganhei um filho, uma nora e um neto que já amo do
fundo do meu coração. E dois novos amigos, espero. Obrigado a vocês duas,
minhas queridas, pela ajuda, pelo apoio, por me procurarem e me permitirem
viver esta alegria, uma alegria que eu nem esperava mais viver. A de ter uma
família. Ter um filho. – Ele as solta, estende a mão para Max e, como fez
comigo ontem, o puxa para um abraço e ele vai, tão desnorteado quanto eu fui.
E assim como fez com as meninas, lhe beija a bochecha.
– É bom saber que o meu filho teve a sorte de fazer amigos tão leais.
Obrigado por todas as vezes que esteve lá por ele, quando eu não pude, Max.
– Ele sempre esteve lá por nós também, Chris. Se não fosse Oliver, nem
estaríamos aqui hoje. – Ele assente, então passa o braço pelos meus ombros.
– Me acompanha até a porta?
– Claro. – No que estamos nos aproximando dela, a companhia toca. –
Pelo visto você conhecerá Lian e Kellan hoje ainda. – Abro a porta e os dois
malas estão lá. Olham intrigados para o homem abraçado a mim.
– Porra, eu esperava encontrar qualquer coisa ao abrir desta porta, menos
dois machos abraçados. Não vá me dizer que no fim da história resolveu se
revelar, Oliver! Que seu final feliz é duro a dar com o pau.
– Vai tomar no cu, Lian. Desculpa, pai – digo de propósito, para chocá-lo.
– Pai? Como assim? Esse... esse é o conde? – Ele pergunta e
automaticamente sua expressão muda. Lian está roxo de raiva, e só espera uma
confirmação minha para avançar sobre o homem e meter a porrada.
– Não, Lian, não sou Alec. Por Deus, ele tem dez anos a mais do que eu.
Assim você me ofende, ainda sou bem jovem – brinca o meu pai, sorridente.
Acho que ninguém consegue tirar seu bom humor hoje. Nem a expressão
assassina de Lian.
– As mesmas covinhas de Benjamin – observa Kellan.
– Temos mesmo, não temos? – Chris pede a minha confirmação, o sorriso
de orelha a orelha.
– Têm sim, pai – enfatizo outra vez, na verdade, acho eu estou gostando de
dizer aquela palavra.
– Que brincadeira é essa? – pergunta o guitarrista, olhando de um para o
outro desconfiado.
Chris me solta e abraça Lian, da mesma forma que fez com Max. Lhe dá o
mesmo beijo na bochecha e lhe faz os mesmos agradecimentos. Lian entende
que não estamos brincando, aquele é mesmo o meu pai, e coração mole que é,
não segura umas fungadas de contenção, em parte pelas palavras do homem,
em parte pela importância que aquilo tem para mim. Depois Chris cumprimenta
Kellan, também de forma calorosa.
– Então o tal pub pelo qual esse bundão nos obrigou a vir às pressas para
Londres e cancelar uma noitada de muito sexo, é da família? – Chris ri.
– É sim. E espero que fique nela por muito tempo. Não é porque é meu,
mas ele é especial. – Lian baixa a cabeça e suspira.
– Esta é a mesma frase que você usará para falar de Oliver daqui para
frente, não é? “Não é porque é meu, mas ele é especial”. – Rimos.
– Babaca – xingo.
– Também senti sua falta, coração. – Me joga um beijinho.
– Porra, este lugar é da hora! – Kellan está maravilhado. – Já li e vi tanta
história bacana por estas paredes.
– Então agora sossegue, vá tirar o seu disfarce que está na hora de
subirmos naquele palco e fazermos história. – Os olhos dele brilham.
– É pra já! – Estamos aglomerados num pequeno quartinho atrás do palco
só aguardando o bebê da turma acabar o seu tour para surpreendermos os
clientes que compareceram hoje.
– É um lugar muito especial mesmo, Chris, parabéns! Ainda quero olhar
item a item com calma.
– A casa é de vocês, Max. Soube que está praticamente todo final de
semana na cidade, venha sempre que quiser, inclusive quando estivermos
fechados, basta me avisar.
– Porra, tem uma guitarra de Jimmy Hendrix na sua parede, velho! – Lian
diz deslumbrado. Chris ri.
– Tem sim.
– E uma do Santana, do David Gilmor, Jeff Beck, Van Halen, Slash, até do
Kiko Loureiro do Megadeth. – Lian está alucinado.
– Sim, quase todos os melhores guitarristas do mundo já passaram por este
palco e me deixaram uma de suas guitarras.
– Quase? Todos eles estão aí… Keith Richards, Bryan May, Jimmy Page,
Pete Townshend, Angus Young, Derek Trucks, Kirk Hammett…
– Não, todos não, falta um. Lian Mace.
– Ah cacete… vai me fazer chorar? – Ele funga. – Não falta mais. Assim
que terminarmos, essa belezinha aqui é sua.
– Agora sim. Meu acervo está completo. Mas sabe que só me dar a
guitarra não basta, não é? Você terá que contar alguma história especial ou
inusitada sobre ela, ou sobre você, para eu expor junto com o instrumento.
– Não se preocupe, tem uma bela história. Vou te contar. Ela foi usada para
celebrar um momento emocionante, quando um dos meus irmãos conheceu o
pai de quem foi privado do convívio por trinta e dois anos.
– Lian, isto aqui não é uma competição para ver quem faz quem chorar… –
Chris o abraça.
– Também tenho meus truques.
– Tô pronto – anuncia o fedelho.
– Todos os seguranças estão aí? – Max pergunta.
– Estão sim, as pessoas estão curiosas sobre o porquê de tantos homens de
pé, conversando ao redor do palco, sendo que ainda tem uma ou outra mesa
vazia. Desconfiam que algo especial vai rolar aqui hoje.
– A desconfiança termina agora – digo. Fazemos o nosso habitual grito de
guerra antes de subir ao palco, que consiste em unirmos as nossas mãos acima
das nossas cabeças e gritar “É nosso!” e entramos o mais calmamente possível,
como quem não quer nada.
Cabeças baixas, checamos os equipamentos, instrumentos, Lian abaixa e
pluga sua guitarra, ajusto o microfone, ainda de costas, Max testa a altura da
banqueta, Kellan confere as caixas de som.
Essa é outra tradição do Rock’n’Rain. Seja desconhecido ou consagrado,
tocar ali é igual para todo mundo, é na hora, é na raça. Nada de trazer os seus
amplificadores, sua equipe técnica, nada de testar e ajustar horas antes, nada
de passagem de som. Se quer, faça, se não quer, tchau.
Essa pegada nos traz o gostinho do nosso começo, em que éramos apenas
nós, por nós mesmos. Todo o mérito, do erro ou do acerto era só nosso.
O ônus e o bônus.
Kellan não viveu muito disso, então para ele a experiência está sendo ainda
mais especial. E apesar de termos trazido os seguranças que nos acompanham
em viagens, todo o resto está sendo feito “no pelo”. Riley e Peter não sabem,
não tem contrato, não tem regras, não tem limitações. Ela vai nos encher o saco
depois, estamos cientes, porque a mídia vai noticiar, mas não faria sentido se
não fosse assim.
Por mais que tentemos nos manter de costas e cabeças baixas o máximo
possível até ali, todos cochicham, esticam os pescoços. Alguns já se
aproximam do palco. Quando Lian se ergue e se põe de frente atravessando a
guitarra no corpo, a gritaria começa. Me viro para ajustar a posição do
microfone e a gritaria explode. Um “bum” de gente toma a frente do palco ao
mesmo tempo, se empurrando para ter a melhor visão.
Max larga a primeira batida. Lian e Kellan acompanham.
Eu ergo os olhos e procuro a minha menina.
Hazel e ela estão lá, num cantinho, protegidas por seguranças à paisana.
Sorrio para ela e solto a voz na primeira canção da noite, a pedido do meu pai,
Crazy Blue Dog. Um super e pesado hardrock, em que eu suplico por continuar
tendo algum espaço no coração de uma mulher, mesmo que seja um espaço
irrelevante. Suplico para que ela não me “jogue fora”. Nem imagino porque
meu pai gosta desta música… desconfio que tenha feito a mesma súplica a
esta mesma mulher…
Private Chaos e Crazy Blue Dog foram as minhas primeiras composições,
escritas ainda na adolescência. Ambas baseadas em Vivienne, no que ela fez,
numa peço que me esqueça, na outra, que reconsidere.
Eu canto, ele chora.
Preciso abstrair para não me deixar abalar e chorar junto com ele. Se não
tivesse feito tantas más escolhas, talvez Vivienne estivesse aqui agora, vivendo
o momento conosco. Ou, se ela não as tivesse feito, talvez não existisse banda
e nós não estivéssemos ali, juntos, curtindo.
Vai saber…
A música termina, no vácuo do primeiro som, engatamos outra pancadaria,
Sweet Salt, música de Lian. As pessoas estão enlouquecidas, não acreditam na
“sorte” que tiveram ao decidir vir a um pequeno pub de Londres numa simples
e agradável noite de sexta. Pulam, vibram, fotografam, mandam mensagens,
contando a boa nova. O lugar vai lotando mais e mais a cada minuto. Mas
Chris me confirmou que há um limite, uma lotação máxima que garante
segurança, e assim que chega nisso, as portas são fechadas para qualquer novo
cliente.
A vibração é tanta que decido manter a pegada hard, como não temos um
roteiro, tudo ali é no improviso, faço sinal para eles para que a próxima seja
Little Naughty Princess, música muito curiosa de Max. Como diz o título, fala
de uma “princesinha” travessa, que obviamente é inspirada em Hazel, a sua
princesinha, só que os versos são dúbios, a “travessa” pode ser interpretada
como uma criança levada, ou como uma jovem atrevida. A música explodiu
tanto quando foi lançada, ainda pela antiga gravadora, que tivemos que fazer
um clipe. E nele prevaleceu a imagem das travessuras sexuais, o que não
agradou a Max. Então quando Hazel pergunta se a música foi feita para ela, ele
nega com todas as suas forças.
Passamos para Obstinate e volto o foco para a minha garota. Bia é toda
entusiasmo. Está pulando e cantando desde a primeira música, sem pausa, sem
trégua. Os cabelos grudam em sua testa e em seu rosto por causa do suor, mas
ela nem liga.
Ela se entrega, sente a música.
Ritmo, notas e letra.
Sente a emoção provocada quando estas três coisas se juntam formando
algo único. Está em seu DNA, faz parte dela, e sua empolgação só reflete o seu
íntimo.
E mesmo naquela agitação e euforia toda, mesmo depois de estarmos há um
bom tempo juntos, nos conhecermos bem demais, dividirmos a mesma cama
todas as noites, estarmos casados e termos um filho, o seu olhar quando recai
sobre mim reflete sempre a mesma coisa.
Fascínio.
E aquilo sempre me comove.
Sentir o fascínio em seu olhar de mulher sobre mim como homem, sobre o
meu corpo, já me balança pra caramba. Acrescentar a isto o fascínio pelo
ídolo, me derruba. E é esta combinação letal de fascínios que ela lança sobre
mim neste exato momento.
Paro a música antes de chegar ao fim.
– Venha aqui Beatriz – chamo ao microfone. Os instrumentos que me
acompanhavam vão morrendo aos poucos quando percebem que parei mesmo.
Ela me olha confusa, assustada.
– Oliver, se vai parar de cantar e falar, dê primeiro um boa noite para as
pessoas, não foi essa a educação que eu te dei. – Lian ralha, divertido, para
interagir com o público. Mantendo o meu personagem de turrão, só mostro o
dedo do meio para ele e não cumprimento ninguém. Ele balança a cabeça. As
pessoas reagem animadas.
– Boa noite, galera! – cumprimenta. – Uma honra e um prazer estar aqui
com vocês hoje. Nem imaginam o quanto. Desculpem o nosso vocalista, mas já
conhecem a fama dele, dispensa comentários, não é mesmo? Só não entendi
porque…
– Venha aqui, baby – repito o meu pedido.
– Pelo visto o caso é sério… – entretém Lian.
Ela retira a peruca e finalmente se move, os seguranças a ajudam a chegar
até nós. Mal se aproxima, engato sua cintura e a beijo, possessivo. As
mulheres vão ao delírio, principalmente porque a danada aproveita a
oportunidade e aperta a minha bunda, ali, na frente de todos. Descarada!
– Desculpem, mas eu simplesmente não podia esperar mais para beijar a
minha mulher – dirijo finalmente algumas palavras ao público ao largar a sua
boca, e abro o meu mais sacana e sexy sorriso, mantendo os olhos fixos nela. A
mulherada grita outra vez e ela me olha ainda mais fascinada.
Linda!
Em outros tempos suas bochechas estariam vermelhas.
Sussurro algo em seu ouvido.
Ela arregala os olhos e balança a cabeça de um lado para o outro, negando.
Eu balanço a cabeça de cima para baixo, afirmando. Então a viro de frente
para a plateia, reposiciono o microfone para a sua altura e dou alguns passos
para trás. Falo para os caras a próxima música e em que tom devem trocá-la.
Inicio em minha guitarra o primeiro acorde de Private Chaos, a galera
reconhece e se agita.
Os outros instrumentos acompanham, a sonzeira explode e Bia canta
divinamente. Sua voz doce e aguda dá outra pegada à música, mas ela soube
colocar o fator rock’n’roll perfeitamente para não ser engolida pelos metais e
pela bateria, acrescentando peso, força e intensidade à voz, e chamando a
atenção para os momentos da música que precisam causar impacto. Foi
perfeito e todo mundo pulou e cantou junto com ela.
– Já posso me aposentar e você trabalha pelo leitinho das crianças, amor –
declaro ao microfone de Lian quando a música termina.
– Nem pensar, gostosão! – revida ao seu.
Sua declaração arranca nova onda de euforia feminina, então se aproxima
de mim, me dá outro beijo e um novo apertão na bunda, mais demorado desta
vez, sorrio entre os seus lábios.
Ela sai do palco.
Sei que acabei com o seu disfarce, mas ela volta para o seu cantinho sem
maiores problemas e as pessoas respeitam seu espaço, agradeço por isto.
Assumo os vocais novamente, Chris se junta a meninas e os três curtem
juntos até o final da apresentação. Acho que tudo que tinha de mais pesado e
agitado no nosso catálogo foi tocado naquela noite. Tocamos muitas, muitas
músicas que nem todo mundo conhece e que por isso raramente temos a
oportunidade de tocar tantas delas num mesmo show. E o público ali, a maioria
conhecedor e apreciador ao extremo, cantou junto cada uma. Só por este fator
já foi especial demais. Juntando todo o resto então…
Concluída a brincadeira, voltamos a nos reunir com Chris nos bastidores.
– Como prometido, a guitarra autografada e a história do meu amigo. –
Lian passa o instrumento para Chris, que sorri para ele.
– E aqui as baquetas que usei durante toda a turnê Another Life, por ser a
maior turnê assistencial promovida por uma única banda na história, acho que
é importante eternizá-las e expô-las.
– Sem dúvidas, fico honrado – responde meu pai.
– Esta é a minha gaita de boca, onde aprendia a tocar e a primeira que
toquei num show oficial, que usei ao dividir o palco com Mick Jagger e
também esta noite. – Kellan acabou ganhando a gaita de boca de Mick Jagger,
então está doando a sua para o acervo do pub. Disse que de agora em diante só
usará aquela. Jagger arranjou um fã ferrenho.
Tiro a minha camiseta, autógrafo e a entrego para Chris.
– Esta camiseta foi a primeira com o logo da banda que fizemos e usei em
apresentações nos nossos primórdios. Economizamos os trocados das
apresentações anteriores e conseguimos estampar três camisetas, ainda tivemos
que barganhar sete dólares de desconto, porque nosso dinheiro não dava.
– E aqui, – entrego a ele o boné verde e a cartinha que Bia fez aos oitos
anos. Junto, uma outra carta com o relato da história daqueles itens – duas
coisas muito especiais para mim e para Bia. Fiz um relato bem detalhado do
que é e o que significa para nós. Esta história, nunca mais repetiremos a
alguém que não faça parte do nosso convívio mais íntimo. Só quem vier aqui
poderá conhecê-la.
– Terão um lugar especial e de destaque aqui dentro, filho. Um onde será
proibido filmar ou fotografar. – Sorrio para ele. Isso!
– Me diverti e me emocionei muito esta noite, pai! Amanhã vamos
embora… vou… vou sentir saudades – digo com a voz um pouco alterada. Ele
me abraça.
– Eu também. Muitas.
– Vá nos visitar.
– Eu vou, só me dizer quando…
– Quando o senhor quiser. Sempre que sentir vontade.
– Obrigado! Eu amo você, filho.
Minha garganta arde. Engulo em seco.
Está aí a combinação de quatro palavras que jamais imaginei ouvir de
alguém que não a minha avó.
Capítulo 40

Vem depressa pra mim


Que eu não sei esperar
Já fizemos promessas demais
E já me acostumei com a tua voz
Quando estou contigo estou em paz
Quando não estás aqui
Meu espírito se perde, voa longe...
Quando não estás aqui
Sinto falta de mim mesmo
E sinto falta do meu corpo junto ao teu
(Sete Cidades – Legião Urbana)

Oliver

N ossa! É tão brilhante! – Pego a areia na mão e deixo


que os grãozinhos escorram por entre os meus dedos.
Eles refletem tanta luz.
Estou na praia, minha casa, mas ao mesmo tempo não é a minha praia. A
paisagem é a mesma, o costão, o trapiche, as quatro casas, o velho tronco de
madeira. Mas tudo está muito mais vivo, colorido.
Olho em volta.
O céu, a água, a areia.
Tudo tão reluzente!
Volto minha atenção outra vez para os grãos de areia em minha mão.
Minha mão pequenina.
Peraí!
Eu já sou um homem! Tenho até barba!
Tenho uma banda.
Sou casado, tenho um filho. Bia. Ben. Eu lembro!
Jantamos ainda há pouco… estávamos cansados do retorno de Londres…
ele dormiu, fizemos amor, ela dormiu. Fiquei admirando seu lindo rosto de
menina, então senti uma sensação de leveza e dormi também.
Por que… Por que minhas mãos estão assim?
Olho para os meus pés.
São pés de criança.
Meu corpo todo é de criança. Voltei a ser um menino. Um menino de seis
anos.
Mas conservo as memórias do homem.
Será que eu morri?
Não posso. Bia, Ben. Eles precisam de mim.
Volto meu olhar em direção às casas, à minha casa. Ela também está lá,
mas também não parece a mesma. Também está mais viva!
Preciso chegar até eles.
Me levanto, dou um passo, depois outro. São curtos, não têm o mesmo
alcance.
A praia parece tão maior!
Sem querer, meus olhos são atraídos na direção do trapiche.
Há duas pessoas vindo em minha direção. Descalços. Andam sem pressa,
mas com firmeza. Mais à frente vem a mulher, usa um vestido branco,
praiano, desses longos…
Quem é? Será que é Helen?
Os cabelos parecem ter o mesmo tom de mel dos cabelos de Helen.
Um pouco atrás, vem o homem. Também está todo de branco, usa uma
calça com as barras dobradas e uma camiseta. Tem olhos e cabelos escuros e
usa um cavanhaque.
Não reconheço, não me parece familiar. Mas sua figura me acalma.
Opa!
Da distância em que estou, eu não deveria conseguir distinguir tantos
detalhes, muito menos a cor dos olhos dele. Mas eu consigo. Nitidamente.
Como pode?
Tento focar nos olhos dela, ela está bem mais próxima do que ele. Mas os
dela eu não vejo.
Ainda quero ir na direção da casa, ver se Bia e Ben estão bem. Mas meus
pés de criança teimam em não se mover. Estão fixos, parados naquele ponto
da areia só esperando que os dois estranhos se aproximem.
E eles o fazem rapidamente.
Ela chega bem perto, ele para a alguns metros de distância, e se mantém
ali, como observador.
O rosto dela só se torna nítido para mim quando se agacha e o deixa a
poucos centímetros do meu. Acho que para evitar que eu fugisse, já que seus
olhos são inconfundíveis.
Iguais aos meus, aos do meu filho.
É Vivienne quem está à minha frente. Minha mãe.
Linda!
Sorridente!
A mesma Vivienne da minha infância, da nossa casa em Londres. Não
aquele trapo de mulher que Max e Lian resgataram de um apartamento
chique, quando sofreu o AVC.
De onde veio isso?
Esta imagem dela quando sofreu o AVC nítida em minha mente?
Eu sequer cheguei a vê-la... Nunca mais a vi depois que me deixou...
E voltando ao AVC… Como é possível? Ela não estava…
– Olá, Oliver.
– Eu morri? Você morreu?
– Não, não morremos. Você está bem.
– O que faz aqui? Você estava em coma.
– Sim. Meu corpo está em coma. Continua lá, naquela cama, apenas
respirando. Mas eu, eu não fiquei lá todo este tempo…
– Como assim?
Por que estou falando com ela desta forma? Com toda esta... calma?
Com tanta… racionalidade?
Eu não deveria estar nervoso?
No mínimo, impactado, abalado?
Deveria.
Mas não estou.
Olho além dela, o desconhecido continua lá, observando, guardando.
– Podemos nos sentar? Você se sentaria ao meu lado aqui na areia?
Conversaria comigo por algum tempo?
Aceito e assim fazemos.
Sentamos lado a lado.
Como dois velhos amigos a admirar o horizonte.
Tranquilos e em paz.
Até que ela quebra o silêncio.
– Em dado momento depois do AVC, algumas pessoas começaram a me
visitar naquele quarto. Com a intenção de me ajudar a passar pelo meu
sofrimento da melhor forma possível. Pessoas do meu passado longínquo,
ninguém que você reconheceria no momento.
– Como o homem lá atrás?
– Sim, ele foi uma destas pessoas.
– Não entendo.
– Você se importaria em segurar a minha mão? Será mais fácil para
entender. – Ela vira a palma de sua mão que está apoiada na areia para
cima, à espera de que a minha se junte a dela.
Pondero por um momento.
Como lidarei com o fato de sentir o seu toque outra vez?
Não deveria ser algo fácil para mim.
Mas inacreditavelmente, eu estou imerso naquela interação guiado única
e exclusivamente pelo âmbito da razão.
Nada ali, até agora, me envolveu emocionalmente.
Por isso pouso minha mão sobre a dela.
Aberto. Disposto.
Sem medos ou mágoas.
E no instante em que faço isto, eu entendo.
Entendo tudo de uma única vez.
Não me pergunte como é possível, nem como se deu exatamente.
Não sei.
É como se um véu de segurança, um necessário para a saúde da nossa
sanidade e da nossa sobrevivência, fosse retirado de dentro da minha cabeça
de uma única vez. Me permitindo compreender e relembrar coisas que,
talvez, não devesse.
Entendo que nossa ligação não é de agora.
Lembro que a conheço melhor do que imaginaria conhecer.
Revejo cenas de suas lutas e suas dores.
Compreendo sua obsessão, sua doença.
Suas dívidas. Seus créditos.
Minhas dívidas.
Sinto a decepção que ela sente em relação a si mesma.
A dor de ter desperdiçado a vida e a convivência benéfica com quem mais
lhe quiz bem.
Vovó. Chris. Eu.
Entendo que a condição em qual se encontra foi uma escolha dela.
Não um castigo, mas uma redenção.
Aceito e desejado após um momento de lucidez.
Uma segunda chance.
Que ela vem aproveitando com sacrifício e resignação para amenizar os
impactos dos males que causou.
E o mais importante.
Entendo que aquele momento ali, na praia, na areia, não foi o nosso
primeiro encontro desde os meus seis anos.
Já tivemos inúmeros outros, principalmente quando eu estava imerso nas
minhas crises. No meu caos.
Ela me amparou, me acalmou e me ajudou a voltar.
Uma cena nítida começa a se desenrolar na minha mente. Assim como a
imagem que tive dela após o AVC a pouco.
Nela, uma linda jovem, de cabelos cor de mel e olhos dourados, bate com
força o portão baixo e enferrujado de um pobre orfanato ao fechá-lo.
Ela olha para trás, por cima do portão, e diz coisas duras a um garotinho
que a observa em desespero da calçada deste mesmo orfanato. Calçada esta
revestida com restos de cerâmica picotadas, como se fosse um grande e
aleatório mosaico improvisado de cores escuras.
Calçada da qual me lembro muito bem. Assim como do portão.
Apesar de ter passado apenas poucos momentos lá de forma consciente.
Então ela corre dali, dobra a esquina e se deixa cair de joelhos na
calçada, não aquela mesma, outra, da rua, do lado de fora.
Escora as costas no muro de concreto bruto e batido, e chora.
Chora em desespero. Por um longo tempo.
Abre a bolsa pequena que carrega transpassada pelo corpo e retira de lá
um pequeno retrato.
O retrato de um menininho de cabelos castanhos e olhos como os dela.
Ela olha, acaricia a foto com os dedos, depois a leva aos lábios e a beija,
ainda aos prantos.
Quando se acalma, guarda a foto, se levanta, seca os olhos e vai embora.
A cena se apaga.
Sim. Ela foi o estopim da minha doença, é fato. Agravando assim coisas
que eu precisava curar de muito antes.
Mas ela também me amou.
Só o que eu ainda não entendo é...
– O que mudou para hoje…?
– Você mudou, se curou Oliver. E esta é a única ponta solta que faltava
para você deixar o passado para trás de uma vez. Por causa de escolhas
recentes suas, esta franca acareação é possível hoje, porque hoje você é
capaz de entender de alguma forma o porquê de eu dizer as coisas que disse
a você quando o deixei. Você usou da mesma técnica com Beatriz quando
resolveu se afastar dela.
– Você disse aquilo tudo para que eu desapegasse, não te esperasse
voltar, pois não iria acontecer. Para que eu sentisse apenas raiva quando
pensasse em você. Assim como eu fiz ao mandar o vídeo.
– Sim. Só que você fez o que fez pensando nela, eu pensava apenas em
mim mesma. Mas numa coisa fomos iguais, assim como você, eu sofri por
fazer o que fiz, por me afastar de você...
– Eu sei. Agora eu sei.
– Talvez este sofrimento é que tenha me dado algum crédito e
possibilitado eu ter a opção desta escolha final. Não sei… eu também não
entendo tudo ainda…
– Você poderia ter voltado, se sofreu, sabia onde eu estava…
– Sim, poderia. Mas a minha paranoia prevalecia até sobre o meu
sofrimento. Fui uma pessoa predominantemente má, egoísta, Oliver, não
estou aqui tentando amenizar as minhas dívidas. Usar estes anos
aprisionada a uma cama para aliviar o sofrimento que eu mesma causei e
entender que isto é o melhor, é o que deve ser feito, foi um enorme passo
para mim.
– Pelo que me mostrou, tem se saindo bem.
– É, mas está sendo difícil, muito difícil, pois não deixei totalmente de
ser aquela pessoa orgulhosa e ambiciosa. Só quis te mostrar que sofri ao me
afastar de você, para que saiba que sim, eu o amava. No nível torto que a
minha obsessão permitia, mas amava. E para que perceba que mesmo dentro
de todo o mal, há respingos de luz. No nosso meio, nada é de todo bom ou de
todo mal. E sempre haverá pessoas tentando ajudar a fazer com que a nossa
luz prevaleça. Sempre haverá escolhas.
– E por qual motivo, para termos esta conversa, eu precisei voltar a ser
um menino de seis anos?
– Foi um presente para nós dois. Para possibilitar que eu faça uma
coisa da qual precisamos muito. – Ela levanta nossas mãos ainda unidas
sobre a areia e a beija.
No momento em que seus lábios tocam a minha pele, é a primeira vez em
todo o nosso encontro que sinto emoção.
Sinto saudade e vontade de chorar.
Ela me segura e me põe em seu colo, como fazia em nossos piqueniques
nos vastos jardins da mansão onde morávamos.
Me acalenta da mesma forma, eu sentado atravessado em seu colo, a
cabeça apoiada em seu peito. E quando encosto ali, sinto o seu cheiro, o seu
calor, da mesma forma que sentia anos atrás.
Então me liberto.
Deixo que um choro triste e doído, um há muito trancafiado, ganhe
espaço e seja expurgado de dentro de mim. Ela chora junto comigo, porém
seu choro é mais contido, afaga meus cabelos, me embala e lamentamos a
nossa dor por todo o tempo que precisamos.
– Eu senti falta disso, filho. Senti a sua falta. O seu amor foi a coisa
mais linda e pura que eu tive. Eu sinto tanto, tanto pelo que eu fiz, pelo que
causei a você. Você não merecia, não precisava passar por aquilo. Sinto
demais não ter valorizado o seu amor, o seu carinho. Perdão, meu lindo
filho, pelo meu egoísmo e por não ter sido a mãe que você merecia. Eu amo
você, Oliver. Foi uma honra ter tido a chance de ser a sua mãe. Admiro tanto
o homem que você é.
– Eu também amo você, mãe. – É tudo que eu consigo dizer, pois ainda
não parei de chorar.
– Eu sei filho. Eu sempre senti o seu amor. Diga a sua avó que eu a amo,
que sinto muito e agradeço por tudo que ela fez por mim. Eu senti cada
toque de carinho dela durante todos os anos que passei acamada. E ao seu
pai, diga que ele é o meu amor. Me doeu cada segundo da separação que
impus a nós dois. Ele será feliz outra vez.
– Eu direi.
– Oliver, se você quiser me ver fisicamente, se sentir que precisa disso
para ficar em paz, peço que se apresse. Meu tempo está se esvaindo, não
resistirei muito mais. Estar com você aqui e abrir o meu coração era a única
coisa que eu ainda precisava fazer.
– Mãe?
– Sim?
– Eu vou me lembrar, não vou? Não quero esquecer. – Ela ergue o meu
rosto e beija minha fronte, demoradamente.
– Vai sim, meu amor. Desta vez você vai se lembrar de tudo que for
necessário que se lembre e que lhe faça bem.
Não dizemos mais nada, apenas continua a embalar o meu choro, agora
menos exacerbado, e canta uma canção que costumava cantar para mim
antes de eu dormir.
Ficamos assim, mãe e filho, aconchegados um no outro, pelo tempo que
dura aquela canção.

Bia

– Oliver? Por Deus, o que houve? – Estou tremendo. Acordei atordoada,


com barulhos de alguém chorando, e no que tento me situar, vejo que é Oliver
quem chora de soluçar, encolhido na cama.
– Amor, você está me assustando, por favor, fale comigo.
– Eu… ive… ela. – Ele murmura alguma coisa em meio ao seu desespero
que eu não entendo. Ele só pode estar passando mal. Com muita dor.
– Oliver, por favor, respire, se acalme, e me fale o que está acontecendo
com você… – Chacoalho-o, já estou chorando também. – Por favor…
Ele se senta na cama, ainda chorando muito, me sento também. Me abraça e
deita a cabeça em meu ombro, chora ali. Eu fungo, seco os olhos e tento me
manter forte para ele.
– O que houve, meu amor? Me diga alguma coisa… – Ele levanta a cabeça
e tenta achar sua voz outra vez.
– Eu a vi… eu estive com ela.
– Ela quem?
– Minha mãe.
– Vivienne? Quando? Você saiu no meio da noite…
– Não. Em sonho.
– Ah…
– Não, Bia. Não foi um simples sonho… foi muito vívido, foi real…
– Como assim?
– Não sei se eu vou conseguir explicar, mas eu tinha ciência de tudo, de
quem eu era, o que nós fizemos antes de dormir. Minhas memórias estavam
todas comigo. Não estava sendo levado por um enredo fantástico de um sonho
comum, eu tinha discernimento sobre os meus atos e pensamentos. E eu sentia.
Estava na praia, sentia os cheiros, a brisa, ouvia o barulho do mar. Mas tudo
de uma forma muito mais intensa, as cores, nossa, as cores eram tão mais
nítidas… os meus olhos… parecia… parecia que a minha visão tinha um
alcance maior, eu enxergava longe. Senti a textura dos grãos de areia na minha
mão da mesma forma que eu sentiria se estivesse lá fora agora. E intimamente,
eu sentia muita calma, muita serenidade. O meu entendimento das coisas estava
ampliado. É estranho… então duas pessoas se aproximaram de mim pela praia,
um homem que não saberia dizer quem é, e Vivienne.
– E o que ela queria, baby? Me conte tudo, por favor. Para você acordar
do jeito que acordou ou ela te disse coisas muito bonitas e profundas ou te
machucou outra vez, e se foi o segundo caso, eu mesma vou até aquela clínica
amanhã e ponho fim ao coma dela. – Arranco um sorriso seu.
Ele me faz um relato detalhado de sua incrível experiência e reencontro
com a mãe. Me emocionei com a sua emoção. Com a paz que finalmente eu
vejo em seus olhos em relação ao seu passado. Não posso afirmar se o que
vivenciou dormindo foi real ou ilusório, mas posso afirmar que foi
importantíssimo, necessário e terapêutico.
Realmente, um presente!
Vivienne cicatrizou em seu coração de menino a ferida que ela mesma abriu
e fez sangrar por anos. Tenho certeza absoluta que ele nunca mais terá uma
crise de ausência na vida.
– Eu senti tudo, baby, o seu toque, o seu carinho, o seu amor, da mesma
forma que sentia quando eu era pequeno. Senti seu calor, seu cheiro… ainda
consigo sentir, na verdade. E como ela prometeu, me lembro de tudo… num
minuto eu estava lá, em seu colo, sendo embalado por ela, no seguinte estava
aqui, na nossa cama, acordado, sentindo a mesma emoção que sentia lá. – Levo
minhas mãos às laterais do seu rosto, uno nossos lábios e seco suas lágrimas.
– Isso foi lindo. Oliver. Especial. Muito especial.
– Foi. Não vejo a hora de contar a vovó, a Chris… – Sorrio para ele.
– Já é dia lá fora, logo, logo você poderá contar.
– Desculpe por te assustar.
– Achei que você estava com dor, passando mal. – Ele me beija. – Já
decidiu se você vai? Vê-la?
– Vou. Já não me assusta. Não tenho mais sentimentos negativos em
relação a visitá-la. Se eu pensar sobre o que eu passei depois do que ela fez,
ainda dói, claro, mas não me causa mais pânico a ponto de eu querer fugir de
mim mesmo. Só vai ser um baque vê-la tão diferente da mulher que já foi,
imagino.
– Você não precisa ir, já se despediu…
– Eu quero. Quero levar Ben, se você permitir.
– Claro que sim. Acho que deveria convidar o seu pai para ir junto.
– Você acha que ele…
– Acho.
– Vou perguntar.
– Mais calmo?
– Sim. O impacto do sonho está se ajustando. Já me sinto totalmente aqui
outra vez. E parece... parece que um peso foi retirado dos meus ombros, Bia.
Uma montanha enorme e pesada que eu nem fazia ideia de que carregava.
– A montanha da mágoa.
– É, pode ser. Venha, deite-se aqui. Tudo que eu mais quero e preciso
agora é abraçar você. – Me aninho em seu peito e beijo bem no meio do
esterno.
– Uhm, desse jeito eu me arriscaria a dizer que você está apaixonado,
rockstar.
– Ah sim, este mal já é crônico em mim. Graças a Deus! Não estranhe se
tudo que eu vir a compor daqui para frente forem melosas baladas românticas.
– Não se atreva! Eu peço o divórcio.
– Minha mulher mostrando as garras. Sua ameaça é um belo incentivo à
minha criatividade.
– Disponha. Estamos juntos.
– Está no modo abusada, Sra. Rain?
– Estou no modo fazer meu marido descontrair e relaxar.
– É mesmo? Tenho umas ideias bem criativas para sugerir em prol do
sucesso da sua empreitada.
– Ah tem? Ideias românticas e melosas?
– Românticas, safadas e meladas. – Ele inverte nossas posições, deita-me
de costas e se posiciona sobre mim.
– É, acho que você já está melhor.
– Só falta uma coisa para eu ficar totalmente bem. Comer a minha mulher.
– Sorrio e capturo seus lábios com os meus.
– Espero que você não tenha se apresentado à sua mãe nos mesmos trajes
que usa para dormir. – Ele ri.
– Estava devidamente vestido, não se preocupe. De qualquer forma, minha
nudez não iria chocá-la. Eu era um menino, lembra?
– Certo. E sinto que tem outro menino, – ergo o quadril e me esfrego nele
– que está ansioso para se meter na nossa conversa.
– Ah, ele está!
– Mexa-se e não o faça esperar mais, pobrezinho.
– Amo você, dona impaciente. Ao sexo matinal então. – Entra todo de uma
vez. Sinto o delicioso tranco. E um gemido rouco e baixo escapa da minha
garganta em apreciação.
– A sua cara de satisfação é impagável, Mrs. Rain.
– O que eu posso fazer se o meu marido é implacável, gostoso e
irresistível? – Se movimenta e eu não contenho mais os meus gemidos. Assim
como ele não contém os seus.
E aqueles sons de prazer vibrando entre nós inflamam nossas libidos.
– Quase abandonei o palco do pub para te foder, Beatriz. O olhar de gula e
tesão que você lançava sobre mim… nunca vai aceitar totalmente que eu sou
seu, não é? – Ele está num vai e vem tão gostoso…
– Não. A fome que eu tenho de você nunca conseguirá saciar, rockstar…
assim como a incredulidade quanto a minha sorte nunca irá me abandonar…
uma parte de mim sempre será aquela menina que sonha em alcançar o seu
grande e impossível amor. Ela ainda acha que está presa dentro de um sonho
delicioso e logo acordará…
– Ah, meu amor… Eu é que não posso acreditar na minha sorte!
– Somos dois sortudos então... Ahhh baby… isso… assim… mais…
– Como quiser, meu bem, minha missão neste mundo é satisfazer você,
nasci para isso, para te fazer feliz…
– Vai me fazer chorar de manhã cedo, Mr. Rain?
– O verbo é outro, querida. Pretendo te fazer gozar.
– Isso também… sempre tão eficiente o meu marido... que gostoso…
– Agora me dê aqui a sua boca pecaminosa, anjo. Acho que você já falou
demais.
– Sempre.
Em meio a muitos beijos quentes, paixão, uivos e sussurros cada vez mais
urgentes e exigentes, ele me dá o que pedi. Me dá mais, mais dele, dele todo.
Lábios, mãos, sexo, sentimento. Viril, potente. Sem parar, sem trégua. O ápice
do incêndio não tarda a chegar e nosso fogo cessa momentaneamente após um
certeiro, bombástico e revigorante êxtase.
Morri!
– Céus!
– Porra!
– Você acabou comigo.
– Tô morto!
– Eu também! – Mas tudo indica que não conseguiremos curtir o momento
de saciedade como gostaríamos, pois um chorinho sútil começa a preencher o
nosso quarto.
– Parece que um de nós dois terá que voltar a vida, e rápido.
– Traga o desfibrilador. – Nenhum dos dois consegue se mexer, estamos
anestesiados pela descarga energética do orgasmo poderoso.
O chorinho aumenta. Rimos.
– Vá lá papai.
– Vá lá mamãe.
– Você é o herói.
– Você é o café da manhã.
– Poxa, valeu!
– É um fato! – O choro se torna impaciente.
– Chato! – digo em português, desagradada em ter que me levantar para
desempenhar o meu papel de mãe.
Oliver fica lá, deitado com cara de deleite, braços atrás da cabeça, só
observando a paisagem e rindo da minha resignação forçada.
– Calma filho, o café da manhã já está chegando...

Quase dois meses depois de sua aparição noturna de despedida, e um mês


após a visita que os três homens Rain fizeram a ela na clínica, Vivienne
finalmente partiu.
Ontem foi a cerimônia de cremação e hoje, Edgar e eu assistimos,
acomodados no velho tronco de madeira ao pôr-do-sol, com Benjamin sentado
ao nosso lado sobre uma esteira estendida na areia e cercado de brinquedos,
Laura, Chris e Oliver espalharem as suas cinzas pela areia da praia, rente ao
mar.
– Como ela está, mestre? – Ele me abraça.
– Triste, mas ao mesmo tempo aliviada. Apesar do sonho de Oliver ter lhe
trazido algum alento quanto ao sofrimento da filha em cima daquela cama,
Laura não suportava mais vê-la naquele estado, definhando mais e mais, dia a
dia. Foi muito sofrido para ela acompanhar o processo por todos esses anos…
– Nem consigo imaginar a dor… Oliver voltou abaladíssimo da visita. Por
mais que Laura e eu tenhamos tentado prepará-lo para o que iria encontrar.
– Sim, eu admiro demais a força da minha mulher. Poucos são os que
passam pelo que ela passou e se mantém de pé.
– Não só de pé, mas fazendo a diferença na vida de tantos outros. Faz
sentido que Vivienne admita que era a sua melhor chance.
– É mais do que um privilégio ter a chance de conviver com uma mulher
como Laura. Mas e você, filha? Preparada para as provas de semana que vem?
– Creio que sim. Meu professor é um doce, top demais, mas caxias... Não
me dá moleza. E ele fez questão de frisar uma vez que esta é a minha última
chance… Ai de mim se não me sair bem…
– Esse cara parece uma grande contradição, hein?
– Se é. Do nível, Deus me livre, mas quem me dera… – Ele cai na
gargalhada.
– Só você…
– Nem acredito que será a quarta matéria do currículo que elimino.
– Você é muito talentosa, filha. Meu legado estará mais do que seguro em
suas mãos.
– Você tem me ensinado tanto, mestre. Adoro cada segundo que passamos
juntos.
– Eu também querida. Amo você. Amo o meu netinho. Só sinto por esse
inglês boa-pinta ter aparecido e me tirado o posto de único avô… – Sorrio.
– Oliver e ele estão a cada dia mais próximos. Seus olhos brilham ao falar
do pai.
– Sim, é bonito de ver. – Ouço uma agitação ao meu lado e vejo que Ben
tenta engatinhar para fora da esteira, mas o clima está um tanto frio e a areia
ainda molhada da chuva do dia anterior.
– Não filho, – o coloco de volta sentado no centro do local que preparei
para ele – brinque aqui, meu amor. – Ele chia e reclama, tenta se livrar dos
meus braços, mas o faço se sentar. Contudo, basta soltá-lo e tenta engatinhar
para fora outra vez.
– Não Benjamin, a areia está molhada filho. – Coloco-o novamente na
posição, e novamente ele tenta sair quando retiro meus braços.
– A mamãe já disse que não pode. – Ele estende os braços na direção do
mar.
– Papá – diz, do nada. Arregalo os olhos e abro a boca, pasma. Ele disse
mesmo isso? Olho para a frente, na direção de seu olhar e confirmo que Oliver
está mesmo lá… ah, seu danado…
– O que você quer, filho? – Levanta os braços outra vez.
– Papá. – Viro o rosto para Edgar e o sorriso dele é tão largo quanto o
meu.
– Ben, olhe para a mamãe. – Ele me atende. – Papai, não. Mamãe. A sua
primeira palavra deveria ser mamãe. Eu que te carreguei por oito meses.
Vamos, diga, mamãe.
– Papá – diz e ainda me abre um sorriso debochado o pestinha…
– Mamãe – testo, só para ver se ele está mesmo me provocando.
– Papá – retruca e ri.
– Mamãe!
– Papá. – O trago para o meu colo e faço cócegas em sua barriga.
– Mamãe, mamãe, mamãe... – Ele gargalha.
– Papá. Papá.
– Melhor desistir – diz Edgar em meio a risos.
– Sim, pelo visto a luta está perdida. Né malandrinho? – O esmago contra
o meu corpo e o encho de beijos.
– Papáaa – reclama e tenta se soltar do meu aperto.
– Você quer o seu pai?
– Papá.
– Tudo bem então. Que se dane a praia molhada. Vá lá encontrá-lo e fazê-
lo feliz. – Beijo sua bochecha e o coloco de gatinho na areia. Ele não tarda a
tomar o rumo escolhido.
– Oliver! – chamo alto. Ele me olha, aponto na direção do pingo de gente
rastejante. Observa o filho sorridente e depois faz um gesto interrogativo,
estranhando que eu tenha permitido.
– Quando ele chegar aí, pergunte o que ele quer antes de pagá-lo no colo.
– Ele acha ainda mais estranho, mas se agacha e espera Ben chegar até ele.
Meu pequeno e fofo bebê de oito meses e meio, cabelinhos cacheados e
olhos dourados, se aproxima do pai pela areia e se senta à sua frente. Oliver
conversa com ele por um instante, ele estende os bracinhos e eu sei exatamente
o que acabou de falar.
Meu lindo roqueiro me procura com o olhar e um sorriso maior que a sua
cara de felicidade. Então olha para o filho outra vez, repete a mesma pergunta
e obtém a mesma resposta. E já não suporta mais não o pegar nos braços e não
o amassar da mesma forma que eu fiz. Depois o ergue acima da cabeça e beija
sua barriguinha.
Podemos ouvir dali as deliciosas risadas de Ben. A lembrança de uma cena
me vem à mente, uma que o vi admirar e desejar tanto… foi há quase dois
anos, quando saiamos da consulta com a Barbie emproada. Aonde um certo pai
erguia e brincava com o seu bebê de cachinhos da mesma forma que ele faz
agora com o nosso.
Minha visão embaça.
– Aí está o seu final feliz, filha.
– Sim mestre, eles são a minha felicidade. Não preciso de mais nada.

– Eu vou matá-lo, Hazel.


– Calma.
– Calma nada! Se isso for verdade eu vou fazer picadinho de Oliver Rain.
Ah se vou…
– Justamente, você nem sabe se é verdade e já está condenando o seu
marido…
– Melhor, primeiro eu arranco o pau, lentamente, com uma faca de
cozinha… para me assegurar que mesmo depois de morto, nunca mais faça
nada parecido… Não ria! Você vai me ajudar e garantir que ele assista a tudo,
para sofrer bastante vendo a parte que mais ama de si mesmo sendo separada
do seu corpo. Depois eu pico o resto e... Nunca fiz muita questão de ter um
cachorro, mas neste momento eu só vejo vantagens…
– Não acho que seja verdade, Bia… você está levando o comentário de
Riley a sério demais…
– Espero que não Hazel, espero que não, porque…
– Acho que está se descabelando à toa. Pegue e olhe de uma vez. – Ela me
estende o aparelho.
– Tenho medo. Onde eles estão?
– Max está com ele no camarim de vocês. Os outros, no camarim da The
Order, se preparando.
– A nova turnê mal começou e… – Lágrimas vêm aos meus olhos.
– Ei! Chega! Acabe com a sua agonia de uma vez. Olhe amiga.
– Não posso!
– Bia, você está enrolando com isso há quase uma hora. Daqui a pouco
eles virão atrás de nós. Se você não olhar agora, eu olho. – Meu telefone toca e
me salva de encarar a verdade por mais algum tempo. É a babá.
– Oi Tatiana. – Há nove meses encontramos a tão sonhada enfermeira que
fala português e que agora é a babá oficial de Ben.
– Mamãe. – Meu coração se acalma um pouco ao ouvir a sua vozinha.
– Oi meu amor. Você já deveria estar dormindo, filho.
– Num qué mimi.
– Por que você não quer dormir, amorzinho?
– Ben qué mimi mamãe e papai.
– Mas a mamãe e o papai explicaram para você que chegaríamos muito,
muito tarde hoje e que você teria que dormir com a Tati.
– Num qué mimi Tatiii... – Sua voz embargada. Ah filhinho…
– Ben, não chore, escute a mamãe. Sabe aquele doce que você adora
comer de colherinha?
– Bigadelo
– Isso, brigadeiro. Você quer fazer brigadeiro com a mamãe amanhã?
– Qué.
– Então nós faremos, mas para isso você tem que deixar a Tati te colocar
na caminha e te contar uma história, não precisa dormir, só fique lá deitadinho
até a mamãe e o papai chegarem. Combinado?
– Binado.
– Ótimo, meu amor. Deite lá e me espere.
– Ben péla.
– A mamãe ama você.
– Ama cê. – Sorrio.
– Passe o telefone para a Tati agora filho.
– Oi Bia, desculpe incomodar, mas ele não quer se deitar sem vocês de
jeito nenhum.
– Tudo bem Tati, fez bem em deixá-lo ligar. Foi o que combinamos. Eu
prometi que se ele aceitar ir para a cama, ficar lá quietinho e te deixar contar
uma história, amanhã faremos brigadeiro.
– Vou lembrá-lo da promessa então. – Rimos.
– Faça isso e qualquer coisa ligue. – Desligo.
– Ele não quer dormir?
– Não. Oliver o acostumou a dormir conosco, – dou de ombros – agora ele
sofre quando não pode. – Uma lágrima cai. Hazel pega minha mão e põe nela a
prova que reluto em olhar.
– Pegue e olhe. – Respiro fundo, crio coragem e olho. Quando processo a
imagem, as lágrimas explodem. É verdade. Riley tinha razão.
– Bia… – Ela me abraça.
– Ah Hazel…
– Venha, sente-se aqui.
– Não, vou deixar para chorar depois. – Seco os olhos. – Primeiro eu vou
lá fazer o que avisei que faria.
Com passos rápidos, pesados e decididos, já sem lágrimas rolando, mas
com a raiva explodindo, atravesso os corredores dos bastidores da arena em
Londres. Abro a porta do camarim de supetão e interrompo a reação a alguma
piada, pois Oliver e Max são só risadas.
Ele percebe que minha cara não está nada amigável e o riso cessa no ato.
– O que foi? O que aconteceu? – Avanço para cima dele e distribuo tapas
em meio às lágrimas. Ele arregala os olhos.
– Bia, por Deus, o que houve? – Não respondo e continuo batendo,
socando. – Hazel? Ben?
– Ben está bem, estrela, não se preocupe.
– Anjo, se acalme e fale comigo. – Ele tenta segurar meus braços.
– Falar? Não quero falar com você nunca mais. – Soco seu peito.
– O que aconteceu para te deixar neste estado?
– Você… o motivo de eu estar assim é culpa sua, só culpa sua… –
Empurro a evidência conta o peito dele.
– O que é isto?
– Isto, – balanço a prova em frente ao seu rosto – é a razão pela qual eu
vou arrancar o seu pau e depois comê-lo na conserva.
– Porra! – Max se assusta.
– Não estou entendendo nada Beatriz, me deixe ver isto aí. – Ele pega o
aparelho da minha mão. Abre, vê, processa, tenta entender, e quando entende,
me olha já com as lágrimas batendo à porta.
– Amor… – Me puxa contra si.
– Não! Me larga! – Tento empurrá-lo.
– Nunca! – Me abraça apertado e chora feito criança.
– Você me prometeu, Oliver… – Segura minha nuca e beija minha boca.
Depois se põe de joelhos à minha frente e leva as duas mãos aos lados da
minha cintura. Eu já choro tanto quanto ele também.
– Oi bebê, o papai já ama você, muito! – Beija minha barriga e encosta a
testa ali.
– Deus, – ouço Max se sentar – eu estava aqui suando frio e pensando que
merda saiu sobre Oliver na mídia que provocou tanta ira… que alívio…
– Alívio! Alívio nada, Max. Ele me prometeu, me jurou que esperaríamos
pelo menos até Benjamin ter uns sete anos antes de…
– Eu estou tão feliz! Tão feliz! – Beija a barriga novamente.
– Eu tinha pelo menos mais cinco anos, Oliver. Eu não queria agora… não
queria... não quero... – Choro.
– Já está aqui amor. É nosso. Nosso bebezinho. Nosso filho. Como Ben. –
Ele segue beijando meu ventre e eu choro mais.
– Eu tenho um bebê de um ano e nove meses em casa.
– E daqui a menos de nove teremos outro.
– Eu quero terminar meus estudos, trabalhar, vir às turnês.
– E você vai, está aqui, não está?
– Sim, estou. Mas estou tranquila? Relaxada? Curtindo? Não. Estou aqui
me sentindo culpada pois o meu filhinho, que está no hotel com a babá, me
ligou chorando porque ele só quer dormir com a mamãe e o papai. Ele está lá
em sua caminha neste momento, lutando contra o sono, esperando que a mãe
dele chegue em casa antes que ele durma. Só que ela não vai! – Soluço.
– Ah Bia, não… – Ele se levanta e me abraça.
– E se eu estivesse lá, eu estaria me sentindo culpada por não acompanhar
o homem que eu amo, quando eu sei que ele quer que eu esteja aqui e eu mesma
quero estar porque eu adoro e… e além da culpa eu estaria surtando de
ciúmes… – Nova crise de choro desesperado me consome.
– Pequena…
– E daqui a oito meses, vai ter mais alguém esperando alguma outra coisa
de mim, e ao invés de escolher entre dois dos meus amores, terei que escolher
entre três… – Abro o berreiro. Ele me abraça apertado e ri. Ri, o infeliz!
– Porque – soluço – você – fungo – tá – puxo o ar e bato nele – rindo?
– Porque você está fazendo disso um baita de um drama sem solução.
Acho que são os hormônios... – Ele me embala contra ele. Soco seu peito.
– Vou te mostrar os hormônios mais tarde lá no quarto, Oliver Rain. Eu não
estava brincando na parte da conserva! – Dou novos soquinhos em seu peito e
ele gargalha.
Já não tem mais choro, a raiva voltou.
Será que são os hormônios mesmo? Deve ser.
Afinal, foi a minha recente variação de humor sem lógica que fez Riley
tecer o comentário brincalhão e acendeu o meu alerta.
– Ah pequena, não me preocupo quanto a isso, você não vive sem o tora.
Ele não corre perigo.
– Neste momento, tudo que eu quero é transformá-lo em serragem.
– Max, quanto tempo temos até o horário de subir ao palco?
– Uma hora e meia mais ou menos.
– Certo. Antes disso devo estar de volta, mas se eu não estiver, atrase o
início do show em meia hora, ok?
– Sem problemas.
– Por que isso? – questiono, secando o resquício de líquido que sobrou em
meu rosto.
– Para te provar que tudo pode ser ajustado. Que você não precisa abrir
mão de nada e nem escolher entre os seus amores. Também não quero meu
filho chorando para dormir. Então, senhora Rain, nós iremos até o hotel,
faremos nosso menininho dormir tranquilamente e depois voltamos. – Ele põe
as duas mãos em torno do meu rosto para que eu não possa desviar o olhar.
– Você sempre estará nas turnês comigo. Não só porque eu preciso de você
aqui ou porque você ame estar aqui, mas porque é o seu trabalho. A direção
artística desta turnê traz o seu nome em conjunto com o de Edgar. Duas das
novas músicas você produziu sozinha. Elas levam apenas a sua assinatura e
ficaram incríveis, fantásticas. Uma delas está há mais de um mês nas paradas
como top one. Você é o futuro da Three Minds. As bandas que agenciaremos
terão você como produtora musical e artística, não Edgar. E para os próximos
shows da The Order, já sabemos que precisamos ajustar duas coisas, só
começam em um horário que nos permita sair do hotel sem culpa e que é
necessário termos um quarto na arena com isolamento acústico, para que, se
for o caso, possamos trazer nosso filho e deixá-lo bem aqui, debaixo das
nossas asas.
– Para você é tudo tão simples…
– E é. Olhe nos meus olhos e preste muita atenção, Beatriz. – Eu faço,
mergulho naqueles olhos impressionantes como fiz quando era uma garotinha,
os olhos que sempre me impactam e tranquilizam. – Nada. Nada é mais
importante para mim do que você e a nossa família. Você, o seu bem estar, os
seus sonhos e os seus desejos serão sempre a minha prioridade. E se para que
você conquiste cada um deles eu tiver que me desligar da banda e ficar em
casa cuidando dos nossos filhos, eu farei. Eu farei, está me entendendo? Não
você.
– Ah Oliver… Eu amo tanto você! – O abraço, ele respira aliviado. Outro
suspiro de alívio é nítido também.
– Ufa! Nada como um homem poder dormir à noite sabendo que o seu pau
está seguro. – Max constata com um grande tom de graças na voz e nós rimos.

– Boa noite, Londres! – A arena explode em gritos de delírio. Isso porque


o meu excelentíssimo marido, não só cumprimentou o público, como ele tirou
a camisa!
Minha vontade neste momento é invadir o palco e cumprir a minha
promessa de antes. Só não o faço porque não houve outra opção senão
trazermos Benjamin conosco, ele não dormiu de jeito nenhum durante o tempo
em que ficamos no hotel, e assiste ao pai do meu colo, ali dos bastidores,
protegido pelo protetor auricular. Mas a minha raiva voltou e ele que se cuide,
porque não se brinca assim com uma mulher grávida.
Suspiro, incrédula. Ainda não acredito que vou mesmo ter outro filho antes
dos vinte e um anos.
É isso que acontece quando se faz tanto sexo, Beatriz. Meu inconsciente
intrometido, inconveniente e debochado me lembra baixinho.
– Desculpem-me, mas antes de continuar a conversa com vocês, eu preciso
tranquilizar a minha mulher, que neste momento me olha aqui da lateral do
palco, com o seu melhor olhar de brinquedo assassino. – A plateia reage
divertida.
– – É, vocês não fazem ideia, ela é especialista nisso. E fez umas ameaças
bem sérias às minhas bolas mais cedo, então, todo cuidado é pouco. – Muitos
risos despontam e eu só fecho ainda mais a minha cara. Não é o momento certo
para se tornar o rockstar engraçadinho, Oliver. Nem hora de conversa fiada
com o público pelo script do show.
Estou muito amarga?
– Calma, Chucky. – Ele diz ao microfone, mas olhando para mim. – Eu não
tirei a camisa para exibir o meu tanquinho e nem para que todas as outras
vejam a sorte que você tem. – A arena alucina porque o desgraçado além de
tudo desliza a mão pelo peito, e despretensiosamente, vai descendo em direção
aos gominhos e ao V perfeito que se perde dentro das suas calças, causando
água-na-boca.
Filho-da-mãe!
Não é um bom dia para me provocar, papai.
Eu mostro o dedo do meio para ele. Oliver gargalha.
– Não ensine coisas feias ao nosso filho, baby… Eu só tirei a camisa
porque eu preciso mostrar uma coisa a eles. Câmera, por favor, um close aqui
no meu peito. – Se vira outra vez para o público e aponta para o Bia e Ben
tatuados ali.
– Aqui, marcado a ferro e fogo em meu peito, em cima do meu coração, eu
trago o registro do que eu mais amo. – É possível ouvir, muitos, muitos
suspiros e exclamações das mulheres presentes em reação àquela declaração
– E eu preciso contar a vocês, que logo, logo um novo nome se juntará a
estes dois bem aqui. Eu serei pai outra vez. – Ele fala a última frase com a voz
cheia de orgulho e abalada pela emoção.
Palmas, uhuu’s e explosões de felicitações começam.
Ele faz um gesto com a mão para que as pessoas se acalmem.
Lian e Kellan me olham espantados, mas com enormes sorrisos, que, por
mais que a ideia ainda não me agrade, não consigo deixar de devolver.
– Ainda não sei qual será este nome, se será ele ou ela, pois acabamos de
descobrir a boa nova, mas eu precisava muito compartilhar a minha felicidade
aqui, hoje, com todos vocês. Eu estou feliz pra cacete! – Ele confessa com
toda a sua energia, e mesmo puta, meus olhos marejam. As pessoas novamente
se agitam em reação à sua sincera e emocionada exposição de sentimentos.
– E a minha mulher nem imagina o quanto foi simbólico e especial ela ter
me dado esta notícia hoje, aqui, nesta arena. No dia em que a The Order faz o
seu primeiro show da nova turnê e o seu primeiro show em Londres. O dia em
que eu faço oficialmente as pazes com esta cidade. A minha cidade. A cidade
onde eu nasci e morei até os seis anos. A cidade do meu pai. O pai que eu amo
demais e que pode, hoje, pela primeira vez, assistir a um show oficial da
banda de seu filho em sua cidade natal. No mesmo dia em que esse filho
descobre que será pai pela segunda vez. Você será avô de novo, velho! –
Oliver fala olhando para Chris, ambos visivelmente emocionados. O Mr. Rain
mor assiste ao show de uma área especial reservada para alguns convidados
muito queridos em frente ao palco.
– Vocês também vó e vô. – Sorri para Laura e Edgar. Nossa, ele está
eloquente demais e abrindo o jogo geral hoje. Mas acho que combinou
direitinho com os câmeras para não filmarem os rostos aos quais se dirige.
Nitidamente energizado pela alegria, anda por toda a extensão da beira do
palco, distribuindo sorrisos e estendendo a mão, fazendo um agradecimento
velado para cada um dos nossos convidados especiais.
Toda a nossa família e amigos mais queridos estão ali hoje, inclusive meus
tios e primos.
Ele fez questão.
Este show é muito importante para ele.
Um marco.
Uma declaração de paz definitiva com o seu passado.
E a notícia do novo bebê só o deixou mais especial ainda.
Por fim, chama Max, Lian e Kellan no meio do palco, dão um grande abraço
em conjunto e antes de se separarem ele dá um beijo na testa de cada um deles.
É uma cena linda, comovente.
O amor que existe entre eles salta aos olhos. Homens que tiveram suas
difíceis histórias entrelaçadas quase que sem querer e que fizeram nascer dali
toda uma vida de novas perspectivas, para eles e suas famílias.
Eu choro feito bebê ali da lateral do palco. Acho que boa parte da plateia
chora também.
– Mamãe não chola. – Ben segura o meu rosto, assustado, tremendo o
queixinho e fazendo um beicinho lindo, prestes a chorar também. Beijo muito
sua bochecha.
– A mamãe está chorando porque está muito feliz, filho, muito feliz. Seco
meus olhos para que ele se tranquilize.
– Venham aqui meus amores. – Oliver pede. Adentro ao palco com
Benjamin nos braços. Ele me abraça, nosso bebê se joga em seu colo, ele pega
o filho e me beija.
Um beijo cheio de amor e gratidão.
Ben tenta nos separar com suas mãozinhas e fica impaciente porque não
consegue, nosso beijo é longo. Depois o pai o enche de beijos também e ele se
dá por satisfeito. Antes de deixá-lo seguir com o show, me abaixo, junto a sua
camiseta e a empurro contra o seu abdômen.
Ele ri, a plateia ri.
Pego Benjamin novamente e saímos do palco.
– Como eu já mandei para o ralo o nosso roteiro e na certa vamos estourar
e muito o tempo deste show, vou pedir permissão para sair ainda mais dos
trilhos e cantar uma música que não estava no script, que não é nossa, não fui
eu quem a escrevi, mas poderia muito bem ter sido. Porque ela tem tudo a ver
com a minha história, a minha descoberta do amor.
– Quem acompanhou a nossa história, ao ouvir esta letra, vai concordar
comigo. É muito mais calma do que o que estão acostumados a nos ouvir tocar,
mas ela diz as coisas exatas que eu gostaria de contar a vocês e também de
reafirmar para o meu grande amor hoje. – Oliver se aproxima dos outros para
combinar a tal música, eles assentem e cada um toma o seu espaço sobre o
palco outra vez.
Logo a bela canção escrita por Elton John ganha vida na cativante voz de
Oliver Rain. E ele canta The One[22], com tanta paixão que o silêncio na arena
é surpreendente.
Todos presos em sua bolha de carisma, sensualidade e afeto.

Eu vi você dançando no oceano


Vindo rápido pela areia
Uma alma nascida da terra e da água
Luz saindo de suas mãos

No momento em que você percebe que ama alguém


No segundo em que o martelo bate
A realidade sobe pela sua espinha
E as peças finalmente se encaixam

Tudo que eu precisava era da pessoa certa


Para ver que há campos de liberdade
onde cavalos selvagens correm
Quando estrelas colidem como você e eu
Nenhuma sombra bloqueia o Sol
Você é tudo que eu sempre precisei
Querida, você é a única

Existem caravanas que seguimos por um tempo


Noites embriagadas em hotéis escuros
Onde perigos sussurram em meio ao silêncio
Onde sexo e amor não se misturam

Pois todo homem é o seu próprio Caim por algum tempo


Até que ele caminhe pela praia
E veja o seu futuro ali, na água
Ao alcance do seu coração há muito perdido
Tudo que eu precisava era da pessoa certa
Para ver que há campos de liberdade
onde cavalos selvagens correm
Quando estrelas colidem como você e eu
Nenhuma sombra bloqueia o Sol
Você é tudo que eu sempre precisei

Querida, você é a única

– Baby, você está muito calado. Algum problema? Não está feliz?
– Claro que estou Beatriz, você viu o quanto me emocionei. É só que…
– Só que? – Seguro meu riso porque sei bem o rumo que os pensamentos
dele andam tomando.
– Nada não, vamos entrar, estão todos nos esperando.
– Vamos, estou faminta.
Assim que colocamos os pés dentro da área de festas da casa de Lian, Ben
corre para o aconchego dos braços do pai e eu beijo o meu filho.
– Finalmente, estávamos agoniados aqui. – Hazel declara, ansiosa.
Laura vem e me abraça. Ben já cansou do colo e corre para perto de Kellan
e do videogame. Oliver, ainda calado, anda até o bar e se serve de uma dose
de whisky. Laura ergue a sobrancelha para mim. Dou de ombros.
– E então querida, tudo bem com você e o bebê?
– Sim, ele está ótimo. Nós dois estamos bem.
– E ele mostrou ao que veio? Ganhei um afilhado ou uma afilhada? –
Kellan pergunta o que todos querem saber de verdade.
– É uma menina. – Mato a curiosidade deles de uma vez e muitas
comemorações explodem.
– Agora estou entendendo o silêncio e a cara de preocupação do pai. –
Lian zoa. Ele e Max cercam Oliver perto do bar.
– Ah Oliver… nada como um dia após o outro, não? – Max dá dois
tapinhas nas costas dele. – Me lembro de alguns conselhos muito interessantes
que você me deu há alguns anos… estão todos muito bem guardado para
devolver a você no momento certo.
– Não fode Max.
– Ah meu irmão… sinto muito, mas você vai sofrer. – Oliver passa as
mãos pelos cabelos.
– Já estou, só de imaginar… – confessa. Lian se estraga de rir da cara de
desespero de Oliver.
Ele está realmente sofrendo.
– Velho, mal posso esperar pelos anos de diversão a frente… pense
Oliver, você cuida e protege a sua linda filhinha, a coisa mais doce e amada…
daí um dia, um barbado qualquer entra por estes portões e…
– Pode parar por aí, Lian. Se continuar te transformo num eunuco. Minha
filha não! – Todos gargalham, mas meu marido fala muito sério.
– Como era mesmo aquele papo? Não vou gostar, mas terei que aceitar?
– Max…
– Se ela aparecer aos dezesseis grávida de um homem mais ve…
– Nunca! Nunca, entendeu? Eu mato. Enforco. Faço picadinho. Velho ou
novo. – Eu rio tanto que se não me controlar agora minha filha sai pela boca.
Max se escora no balcão do bar para não cair.
– Vai ser tão lindo de acompanhar… – Lian segue na provocação. – Um
cabeludo, tatuado assim como eu se apr…
– Inferno! Chega!
– Deixe a menina dar para quem ela quiser, Oliver… – Max não alivia.
– Porra! Cacete, Max.
– Não fale assim da minha afilhada.
– Obrigado, Kellan.
– Nada do que eu já não tenha ouvido da boca dele em relação a sua irmã,
fedelho…
– O sonho dela será permanecer virgem e morar com o papai e a mamãe
para sempre. Fim de papo.
– Não senhor, a minha filha vai aproveitar muito o que a vida tem de
melhor – provoco.
– Nem por cima do meu cadáver…
– Quem vai morar com a mamãe para sempre é o Ben, né filho?
– É.
– Viu? O meu está garantido…
– Rá. Se puxar a mim, com treze anos já…
– Calado, Oliver! – Agora é ele quem ri, eu não achei graça nenhuma.
– Só gostaria de lembrar aos dois bundões aí, – aponta de Lian para Max –
que nenhum deles está livre de passar pelo mesmo no futuro, então pensem
bem… – Os dois xingam e finalmente mudam de assunto, aliviando para o pai
enciumado.

– Temos que decidir o nome dela, baby, você está me enrolando. – Ele
reclama, enquanto acaricia a minha barriga de seis meses.
A bebezinha mexe.
Ela sempre mexe quando sente o seu toque.
Está uma noite linda. Céu claro e estrelado, a lua enorme no céu, um clima
delicioso, propício para o romance.
Estamos os dois no trapiche, ele apoiado na parede e eu sentada entre as
suas pernas, assim como no dia do nosso primeiro contato mais íntimo, o dia
em que a nossa paixão explodiu e não pudemos mais ignorá-la.
– Certo. Eu já tenho um nome. Mas primeiro preciso que você diga sim.
– Como assim?
– Diga sim, Oliver.
– Mas eu nem sei qual é…
– DIGA SIM.
– Mas…
– Só diga.
– Bia…
– Diga, amor.
– Você… você não está pensando em dar a ela o nome da…
– Não! Eu jamais daria à nossa filha o nome da mulher que te magoou
tanto, meu bem. Mesmo que você já esteja em paz com isto.
– Então me fale…
– Só quando você disser sim.
– Por quê?
– Porque não existe outro nome para ela. Então diga. – Ele suspira.
– Eu vou dizer, porque mesmo que eu não goste, no final você vai me
convencer de qualquer forma, então… Você tem o seu sim, Beatriz. Agora me
conte, qual é o nome da minha filha? – Sorrio.
– Olivia.
– Mas…
– Está decidido rockstar, você já disse sim.
– Bia…
– Ben e eu compartilhamos a letra B, você e ela a letra O.
– Ela e eu compartilharemos bem mais do que a letra O.
– Você gosta do nome que a mamãe escolheu, não gosta, Olivia? – Ela
mexe bastante. – Viu? É o nome dela.
– E aquela história de que cada pessoa importante na nossa vida tem que
ser única? Aquela que você me contou quando eu sugeri que déssemos a ela o
nome da sua mãe, mesmo você já tendo uma prima…
– Não tenho nenhuma outra Olivia em minha vida, você tem?
– Engraçadinha. Você entendeu. Por isso sempre desconversou quando eu
sugeri alguns nomes? Já tinha decidido desde o início, não é?
– Sim. Não consigo imaginá-la a não ser como sendo a nossa Liv. – Sinto
o sorriso se formar em seu rosto.
– Sim. Nossa Liv. Gostei.
– Olivia Rain. Minha pequena roqueira. – Afago minha filhinha. – Já pode
chamar o tatuador.
– Farei amanhã mesmo. Bia, Ben, Liv.
– Aproveite e peça para ele tatuar mais três letras no final, End, porque
sua lista se encerra aí, rockstar.
– Ah pequena, nunca se sabe… surpresas acontecem, Liv é a prova
disso…
– Surpresas? Sei! Você sabe muito bem porque ela aconteceu. Eu juro,
Oliver, mais uma vez e meu lado assassino não ficará só nas promessas.
– Calma, Chucky. Se for, será só daqui a uns…
– Pode parar! Não caio mais nesse seu papinho. – Ele ri e mordisca o meu
ombro.
– Foi só para te provocar, meu amor. Como lhe disse uma vez, mesmo que
nunca me desse um filho, eu seria completamente feliz desde que tivesse você.
Você, aqui, comigo, sempre. Lembra?
– Lembro. – Me viro e sento-me atravessada em seu colo, de frente para
ele. – Lembro também de algumas coisas bem interessantes que fizemos por
aqui.
– Lembra é?
– Ahã.
– Humm, refresque a minha memória então, meu anjo. Sei que está louca
para isto.
– Ah meu amor… como não estaria? – Retiro sua camiseta. – Você é tão
lindo, baby. – Levo meus lábios ao seu pescoço, beijo, me esfrego e mordo ali.
– Tão cheiroso, tão sexy… Só de olhar para você eu…
– Sei bem, sei bem… se sem gravidez nunca aliviou, agora então… O tora
tem feito muita hora extra. – Sorrio contra seu ombro, o qual mordisco de leve
como ele fez comigo.
Ele desliza as mãos por minhas costas, por dentro da minha blusa e abre o
fecho do sutiã, depois puxa as duas peças para fora do meu corpo de uma só
vez. Afasta um pouco nossos troncos e me olha.
Meus seios novamente mais cheios que o normal.
Meu ventre grávido.
Seus olhos brilham de emoção contida, uma lágrima solitária escorre.
Há um mês e meio tem sido assim. Desde que a barriga começou a
despontar.
A dor e a culpa por não ter me visto grávida da primeira vez, por não ter
dado ao filho o que está dando à Liv.
Seu toque, sua voz.
E não há nada que eu diga que o console neste sentido, então já desisti.
Só deixo e espero.
As pontas de seus dedos me tocam levemente. Enquanto ele tenta controlar
suas lutas internas e voltar ao nosso momento. Passam pelo ventre, e pelo vão
entre os meus seios. Depois retornam até os mamilos, primeiro um, depois o
outro, muito leve, carinhoso, mas o suficiente para me fazer arfar e desejar o
seu toque mais potente.
– Pequena, eu nunca imaginei que seria possível te ver ainda mais linda do
que já vi, mas você assim, sob a luz do luar, o luar que reflete em seus cabelos,
em seus olhos, nua em meu colo, carregando o meu bebê em seu ventre.
Carregando tanto amor. É de uma beleza de arrancar lágrimas, Beatriz, muitas
lágrimas.
Abaixa a cabeça e beija a barriga. Mas seus lábios não abandonam a minha
pele depois disto, eles vão subindo, queimando, acendendo e acarinhando cada
centímetro de mim que conseguem. Enfio as duas mãos em seus cabelos e arfo
cada vez mais alto conforme aqueles lábios e beijos vão avançando pelo
caminho.
Eles passam pelas costelas, e desviam para a lateral do seio, se perdem ali
por longos minutos. Retomam a rota e avançam para a clavícula, e ali brincam
de um lado para o outro, uma ponta a outra, até que descem para a lateral do
outro seio e novamente se esquecem de seguir viagem. Tomam a rota dos andes
e chegam ao cume, onde eu os aguardava ansiosamente.
E quando alcançam a sua tão merecida recompensa, deixam de ser leves,
carinhosos e se apossam do seu prêmio com fome. Seus lábios envolvem o
meu mamilo e o chupam enquanto a língua, atrevida, brinca com ele em
movimentos circulares. As mãos decidem que não podem ficar de fora daquela
festa e uma delas toma o outro seio, enquanto a outra segue me sustentando e
deslizando em minhas costas.
– Tenho tanta fome de você amor… tanta… – Me agarro a ele, aos seus
cabelos com todas as minhas forças, enquanto ele segue me torturando com
dedos e lábios em meus seios.
– Eu também, anjo. Quando mais a tenho, mais preciso ter. É insano. –
Seus lábios abandonam um de seus brinquedos favoritos e se alojam em meu
pescoço, arrancando arrepios e mais gemidos. Não aguento mais esperar e
puxo seu rosto para cima, tomando sua boca na minha.
Já desisti de esperar que beijar Oliver Rain, o meu marido, o pai dos meus
filhos, se torne algo cotidiano, corriqueiro.
Não.
Nunca será.
Sempre me causará frisson.
Sempre haverá essa corrente elétrica circulando pelo meu corpo cada vez
que unirmos as nossas bocas, cada vez que eu entrelaçar a minha língua na dele
e sentir o seu gosto.
Cada vez que ele me tocar.
Se isso não é felicidade, não sei mais o que seria.
Ele se ergue comigo no colo, se vira, para que minhas costas toquem a
parede da marina e depois me põe de pé sobre o trapiche.
Volta a deslizar os lábios pelo meu corpo até que se ajoelha à minha frente,
beijando meu sexo sobre a calça. Suas mãos procuram pelo botão, que abre
sem dificuldade, desce as peças e as retira completamente de meu corpo.
Estou ali, à luz do luar, inteiramente nua e entregue a ele, que me admira e
sorri.
– Ahhh minha mulher… tão linda… tão gostosa...
– Desliza um dedo levemente e depois beija-me novamente lá, sem a
inconveniência do pano agora. Beija o que alcança assim, mantendo as minhas
pernas fechadas, inspira meu cheiro e volta a beijar, lamber, a correr a língua
pelo púbis até o início da rachadura entre as minhas pernas. Seguro sua cabeça
lá, na esperança de que ele avance um pouco mais com aquela língua
abençoada.
Mas ele não faz.
Eu tremo de tanto desejo. Ele percebe.
– Ansiosa, esposa?
– Demais.
– Vou te deixar subindo pelas paredes antes de te comer, amor.
– Eu estou grávida, Mr. Rain. Não brinque comigo.
– Tarde demais. – Ergue uma das minhas pernas e põe sobre seu ombro.
Vira o rosto e beija minha coxa ali, desliza a barba e mordisca, desvia do
ponto chave e repete o processo na outra perna.
É demais.
– Oliver! – Ele ri da minha impaciência.
– Onde você quer a minha boca, anjo, me diga.
– Filho da…
– Não fale palavrões perto da minha filha.
– Então não posso te dizer onde eu quero a sua boca.
– Certo, dona respostinha, me pegou. Mas você pode me mostrar. Que tal?
– Levo a mão à minha boceta, mas antes que eu chegue lá, ele a pega e chupa
um dos dedos. Depois o leva até onde a quer e me faz enfiá-lo dentro da
vagina.
– Ah pequena… – Brinca com a minha mão ali, me fazendo colocar e tirar
o dedo, depois o pega e o chupa com toda a sua força. – Que gostosa!
Estupidamente gostosa. Minha bermuda está explodindo. Vou gozar nas calças
só de te olhar.
– Você é um homem morto! Me dê ele de uma vez Oliver…
– Não. Agora eu preciso beber mais do seu mel, só aquele dedo não foi o
suficiente. Leva a boca até lá e eu, prestes a suspirar de alívio, me frustro
quando o senhor molha calcinhas dá apenas um leve beijinho nela.
– Ah, por favor… – Ele ri, porque está fazendo tudo de caso muito bem
pensado.
Mas compadecido do meu desespero, me abocanha de uma vez, põe um
dedo seu aonde acabei de tirar o meu, me suga e me lambe de todas as formas
mais deliciosamente Oliver que existem. – Baby…
– Tanto mel, amor. Que delícia, tão, tão molhada… meu pau não vê a hora
de se afogar nesse rio. – Leva a mão à sua bermuda e abre o botão para ganhar
algum espaço.
Quero mais, quero vê-lo.
– Tira a bermuda e a cuequinha amor. Deixe-me admirar o meu melhor
amigo em toda a sua glória.
– Safada! Abusada! Gostosa! Cuequinha o cacete! – Ele baixa a bermuda e
o enorme aparador dos meus melhores sonhos pula livre e contente… oh, meu
pai… é lindo demais!
– Estava sem cueca, Mr Rain?
– Uhmmm não posso falar, minha boca está muito ocupada. – E ele põe
tanto empenho na chupada e no jeito que me fode com seus dedos que minhas
pernas vacilam e precisa me segurar.
– Caramba!
– Gostoso?
– Muito.
– Então se segura. – Eu faço e quase não é o bastante para me manter de
pé.
– Oliver, acho… acho melhor você parar… não vou aguen… Aaaaahhhh
puta-meeerdaaa! – Eu gozo, gozo muito forte e ele não para de me chupar e me
foder.
– Baby… Oliver…. aii… Deus…
Ele não para e mais um espasmo começa a se formar em meu ventre e vai
indo, vai indo, até que explode outra vez. Meus joelhos falham completamente,
ele me segura e já me põe deitada de costas no chão do trapiche, se posiciona
sobre mim, com o cuidado de não esmagar a barriga e me penetra, gemendo de
vontade de entrar ali.
Grito alto.
É muito estímulo junto, seguido. Estou muito, muito sensível lá embaixo.
Felizmente ele entra e para. Não se movimenta.
Respiro.
– Puta-que-pariu, Oliver…
– Tô fazendo o maior esforço para não me mexer, baby. Tá tudo bem? –
Tira uma mexa de cabelo do meu rosto e contorna minha face com os dedos.
– Tirando que minha alma deixou o corpo e voltou, sim. – Ele sorri, entre
amoroso e agoniado.
– Pronta para perdê-la outra vez?
– Não.
– Preciso te comer, anjo. Minhas bolas estão doendo.
– Não dá ainda, Oliver. – Resolvo levá-lo ao limite como fez comigo,
devolver um pouco da provocação.
– Só um pouquinho.
– Calma... – Ele baixa a cabeça e suspira, tentando controlar os impulsos
instintivos doidos para se apossar dele.
– Vou começar devagarinho... – pede e libero, sentindo pena, mas só um
pouquinho.
– Muito, muito devagarinho. – Ele começa o vai e vem bem lento,
delicioso. Cada vez que sai e entra solta um gemido, misturando dor e prazer,
está louco de vontade de se soltar de vez, necessitado. Resolvo deixar ainda
mais difícil para ele.
– Mais devagar amor, tô sensível.
– Sério?
– Sim, bem, bem devagar. – Ele diminui e quase chora.
– Ain…
– Que pau gostoso, rockstar.
– Ai, não fala…
– Delicioso, olha isso. – Dou uma reboladinha.
– Bia…
– Tão, tão grosso, me preenche todinha, não sobra um mísero espacinho. –
Rebolo de novo.
– Você tá fazendo de propósito?
– Não, imagina. – Aperto-o com a minha boceta. Ele urra e esconde o
rosto na curva do meu pescoço.
– Ah, se você não estivesse grávida… Se prepare Beatriz, assim que
Olivia sair daí, eu me cobro.
– Se cobre agora, marido, venha, solte a fera que existe em você e me
come gostoso, vai.
– Graças a Deus! – Desce a boca na minha e acelera os movimentos lá
embaixo, já estou tão excitada de novo pela brincadeirinha que fiz com ele,
que levo a virilha ao seu encontro tão esfomeada quanto.
Ele segura nas laterais da minha cabeça, fazendo força nos antebraços para
não largar o peso sobre mim e cola nossas testas enquanto segue me amando.
Eu caio na besteira de mergulhar em seu olhar naquele momento, e por um
segundo, um breve instante, como num flash, tenho a nítida impressão de já ter
vivido aquilo.
Um momento exatamente igual aquele.
Com outras paisagens, outros sons, outros aromas e outras cores.
Mas ainda assim, igual.
Onde amei aquele mesmo homem.
Com a mesma intensidade.
Senti as mesmas emoções e mergulhei no mesmo olhar.
Em outros tempos.
A experiência é breve, porém poderosa.
E não me pergunte como, mas todo o amor que eu sinto por ele duplica,
triplica.
E uma paz, uma paz tão grande toma conta de mim que as lágrimas
escorrem.
Não importam os caminhos.
Não importam as lutas.
Não importam as distâncias.
Não importam os nomes.
O nosso ponto de chegada será sempre o mesmo.
Um no outro.
Epílogo

Lua de prata no céu


O brilho das estrelas no chão
Tenho certeza que não sonhava
A noite linda continuava
E a voz tão doce que me falava
O mundo pertence a nós
(Hoje a Noite não Tem Luar – Legião Urbana)

Oliver

É apenas um toque, um carinho tão leve. Antes mesmo de abrir


os olhos já sei quem está ali, dividindo a cama comigo.
Largo um sorriso apaixonado e me viro para o lado onde
aquelas mãozinhas me afagam. Abro os olhos e encontro outro par de olhos
iguaizinhos aos meus.
– Você veio acordar o papai? – Ela migra o carinho para o meu rosto e
só balança a cabeça para cima e para baixo em resposta a minha pergunta,
porque não pode largar a mamadeira que tem na boca.
– A mamãe quem pediu? – O novo balançar é de um lado ao outro. A
mãozinha agora está em minha boca, esperando beijinhos, que eu não nego e
a trago para dentro do meu abraço.
– Estava com saudades do papai? – Outro sim silencioso.
– Falta muito para terminar o seu leitinho? O papai quer amassar você.
– Já tá cabando. – Sorrio. Essa valeu uma fala. Creio que tenha a ver
com a parte do amassar.
– Está gostoso? – Minha resposta voltou a ser só gestual. Ela toma mais
rápido.
– Cabô. – Me estende a mamadeira, coloco-a sobre o criado mudo.
– Agora venha aqui. – Abraço-a muito apertado e distribuído muitos
beijos. Inspiro seu cheirinho doce. Esfrego a barba pelo seu rosto e pescoço
e ela ri muito.
– Liv, diz pro papai, quem é o seu amor?
– Papai, dindo Kellan.
– Não Liv, o dindo Kellan não, só o papai.
– Papai, dindo Kellan. – Faço cócegas e a amasso outra vez. Ela sempre
me provoca dessa forma, só para eu ter aquela mesma reação.
– Só o papai. Vamos, diga!
– Dindo também.
– Seu dindo é feio. Muito feio!
– Num é não.
– É sim. – Fecho a cara para ela.
– Ce tá babo? – Me pergunta rindo. Feliz em atingir o seu objetivo.
– Estou muito, muito bravo. O que você vai fazer a respeito? – Ela se
ergue, procura pela tatuagem com o seu nome em meu peito e beija ali.
– Ponto! Não tá mais babo? – A trago mais para perto outra vez, levanto
seus cabelos cacheados e beijo seu pescoço.
– Não amorzinho, seus beijinhos curam qualquer braveza.
– O Ben tá babo.
– O Ben está bravo? Por quê? – Ela dá de ombros e enrola os dedos em
meus cabelos.
Como se ouvisse o seu nome, o terceiro par de olhos dourados que habita
aquela casa abre a porta e se aproxima, cabeça baixa e suspirando pesado.
– Pai, me ajuda.
Quando o seu filho de seis anos entra no seu quarto num sábado de manhã,
visivelmente chateado e fala “Pai, me ajuda”, se você está deitado
rapidamente se senta.
Eu pelo menos fico alerta.
– O que houve, filho?
– Eu não aguento mais. – Suspira.
– Não aguenta mais o que, Benjamin?
– As meninas. – Ufa, que alívio! Quero rir, mas me mantenho sério.
Ben gosta que o levem a sério.
– As meninas?
– É. Elas não me dão folga! – Ouço um grunhir baixinho, olho além dele
e vejo que Bia espia pelo vão da porta com a mão na boca, tentando evitar
que ele ouça a sua risada.
– Como assim, filhão? – Outro suspiro.
– Não me dão folga, pai. Nas brincadeiras, todas querem que eu seja o
seu príncipe, ou o papai... Porque não chamam o Saylor ou o Travis? Não.
Elas querem sempre eu. Só eu. Se pelo menos Ton estivesse na minha sala…
– Me esforço e mantenho o meu melhor tom de seriedade.
– E por que isso te chateia, filho?
– Porque uma me puxa pra cá, outra me puxa pra lá. Daí tenho que
sentar, tomar chá… segurar bonecas, pai. Bonecas! E dar beijos…
– Beijos?
– É, pai, você sabe, beijar para acordar a princesa. Beijar a mamãe
quando vai para o trabalho…
– Hum. – Bia já ri tanto que se escora na porta e apoia a cabeça no
batente.
– Mas o pior não é isso.
– Tem pior? O que pode ser pior para um homem do que segurar
bonecas?
– Eu gosto de bonecas. – Opina minha pequena. A pequena, pequena, no
caso.
– Claro! Porque você é menina, Liv... – Ele revira os olhos para a irmã e
estreita a boca de um jeito que exibe suas covinhas. Tão fofo que não resisto,
o trago para perto e beijo sua bochecha.
– Paiê…
– Só um beijinho, filho. Continue. Qual é a pior parte?
– Eu ganhei isso. – Me entrega um papel dobrado. Abro e leio “Ben
quer ser meu namorado Mia” numa letra tremida e disforme, típico de quem
está aprendendo a escrever.
– A tal Mia quer namorar com você.
– É. Mas eu não quero namorar com ela.
– Então diga para ela, filho.
– Esse é o problema.
– Como assim?
– Eu não quero dizer.
– Por que não?
– Porque elas choram! – Ele joga as mãos para o alto e eu quase não
consegui segurar depois dessa, quase… – Bia tá com a cabeça baixa.
– Este é um problema com o qual um homem tem que aprender a lidar.
Algumas vão chorar, filho, não tem jeito.
– Tio Lian falou o mesmo.
– Seu tio Lian é sábio. Então apenas ignore, Ben, não diga nada.
– É o que eu queria fazer, mas não posso.
– Claro que pode.
– Não posso, a mamãe disse que é feio. Quem pergunta merece sempre
uma resposta.
– Bom, se a sua mãe falou… – Eu é que não vou me arriscar a
contrariar. Tenho amor às minhas bolas.
– Eu não quero que ela chore, mas eu também não quero namorar pai, eu
quero curtir. Tio Kellan disse que um homem precisa curtir.
– Isso, exatamente, você deve curtir. – Olho para o meu Chucky parado à
porta e o olhar assassino diante da minha resposta está lá.
Penso em acrescentar um adendo para explicar o que eu quis dizer com
aquele curtir, mas a colocação de Liv não deixa.
É mais urgente explicar aquela.
– Eu também quero cuti, papai.
– Não filha, você não. As meninas não gostam de curtir. Elas só gostam
de ficar pertinho do papai, lembra? – Chucky abre a porta.
Essa foi demais para ela.
– Oliver Rain!
– Oi amor, bom dia!
– Olivia, as meninas gostam de curtir, sim. A mamãe adora. – Ela tenta
passar por mim para chegar em Ben, mas a impeço e a faço sentar em meu
joelho.
– Sim, a mamãe tem curtido muito, demais – digo baixinho, ela sorri, na
certa lembrando da nossa curtição acalorada na noite anterior.
Tão linda!
Trago a sua boca para a minha.
– Aliás, posso saber por que você saiu da cama antes da curtição
matinal?
– Dei uma passada na produtora. Os meninos da Scrap’s Crumb estão no
estúdio, me mandaram mensagem ontem à noite sobre uma ideia, resolvi ir
até lá para testarmos.
– Você já foi até Three Minds, testou uma ideia e voltou?
– Ahã.
– Porra, que horas são?
– Papai, a boca…
– Desculpa, filha. Por acaso o Scrap’s Crumb que te mandou mensagem
numa noite de sexta foi o Bryan?
– Oliver…
– Foi, não foi?
– Foi. – Puta-merda. O idiota não sabe com quem está brincando.
– Esse cara está na minha esquerda, Beatriz, eu já falei. Estou no meu
limite com ele. Um olhar a mais que ele lançar em sua direção na minha
frente e eu não vou me importar em estampar as primeiras páginas dos
tabloides.
– Eu já disse que é coisa da sua imaginação.
– Rá. Anos de estrada, baby. Conheço muito bem o nível da imaginação
dele quando te olha. Ele que se cuide, o contrato ainda não está garantido.
Continuo achando que é furada investir neles. Começando por esse nome de
merda que deram à banda.
– Pai… você falou merda.
– Foi mal, filho.
– Sim, o nome é uma mer… – Ergo as sobrancelhas para ela e dou um
sorriso de lado em desafio – ...cadoria mesmo. Se fechar, teremos que
mudar. Dei uma missão a eles, uma prova de fogo e eles sabem, por isso
estão no estúdio num sábado de manhã. Mas Bryan e Devon são bons,
Oliver, muito bons, Hazel tinha razão… pena que o vocalista e o baixista não
estão no mesmo nível… vamos ver...
– Se resolverem fechar com eles, eu quero uma conversa em particular
com o tal Bryan, ou não assino o contrato.
– Certo chefe.
– Você está trabalhando demais, Beatriz. Além das novas bandas tem
havido uma enxurrada de pedidos de artistas para que você produza suas
músicas que eu sei. E pelo que Willian me falou, você não tem negado
muitos destes pedidos. Edgar já avisou que ficará só com a The Order daqui
em diante, você não dará conta, baby. Precisa de ajuda e precisa dizer alguns
nãos…
– É bom para os negócios. A Three Minds só cresce. E quanto mais ela
cresce, mais empregos e mais pessoas ajudamos.
– Você não dará conta, ouça o que estou dizendo. E logo sairemos em
turnê outra vez.
– Vou pensar. Mas agora eu preciso falar com o meu segundo amor.
Filho, sobre o que a mamãe falou, que quem pergunta merece uma resposta…
– Eu sei… – Ele suspira, preocupado.
– Você pode responder de um jeito que ela não fique triste.
– Como?
– Diga que não pode namorar, porque ainda é uma criança. E crianças
não namoram, apenas brincam. Mas que você aceita ser seu amigo.
– Acho que assim ela não vai chorar. – Ele se anima.
– Também acho.
– E você, mocinha, – Bia a puxa para perto pelas pernas e faz cócegas
em sua barriga, Olivia gargalha – era para ter vindo acordar o seu pai para
que ele levantasse. E não para ficar de chamego com ele na cama.
– Para mamãe! – pede ela já sem forças.
– Agora levante Liv, dê um beijinho na mamãe e vá trocar de roupa.
Você também Ben.
– Ah mãeee... – Respondem os dois juntos. Eles adoram passar o dia de
pijama.
– Tudo bem. Quando Mary Ann, Ton e Emily chegarem, ninguém desta
casa sai para brincar na praia. – A mãe nem chega à última palavra da frase
e quatro pezinhos disparam pela casa em direção aos seus quartos.
– Ops. Nada de beijinhos para você, Chucky.
– Ninguém pode contra Mary Ann, já me acostumei.
– Não mesmo. Juntando a dupla de Riley à equação então... – Bia se
senta em meu colo de frente para mim e me beija.
– Enfim sós!
– Hummm, meu amor, não me dê ideias… estou louco para te deitar
nesta cama e me enterrar em você. – Aperto-a contra mim e apalpo sua
bunda por baixo do vestido.
– Oliver, estou com tanto tesão. Vamos dar uma rapidinha no banheiro?
– Rio quando se esfrega no meu pau meio endurecido, impaciente.
– Seu tesão está fora de controle nos últimos dias, não? Não posso
passar na sua frente sem que você me olhe com olhos de “quero arrancar
suas roupas agora”, exatamente como fazia quando estava grávida de Liv.
– Rá. Cai fora, bonitão. É só o seu efeito natural sobre mim, não estou
grávida e nem adianta arranjar desculpas para puxar a conversa como tem
feito ultimamente. Acha que não percebo? Desista. Não darei mais mole.
Não vai rolar…
– Ainda te convenço, tenho certeza.
– Ficará velhinho, de bengala e ainda estará tentando.
– Primeiro, os clássicos nunca envelhecem. Segundo, duvido. Tem um
espaço a ser preenchido no meu peito que precisa de um nome.
– O nome é End, ou Fim, se preferir em português. Fique à vontade para
escolher, não tenho preferências, gosto dos dois da mesma maneira.
– Saudades de mamar nesses peitos e ficar com a boca cheia de leite,
bebê.
– Vá se foder, Oliver. – Gargalho.
– Mais gostoso quando você me fode, pequena. – Ela se esfrega de novo
no meu mastro.
– Agora o papo ficou bom...
– Foi só um adendo. Não terminei o assunto anterior. Ainda quero o meu
bebê de misteriosos e profundos olhos negros.
– Pelo visto a genética dos olhos âmbar é poderosa demais, rockstar.
Teremos cinquenta filhos e todos sairão com lindos e sedutores olhos
felinos.
– O próximo terá os seus olhos, tenho certeza.
– Não haverá próximo.
– Isso veremos. – Caminho com ela no colo em direção ao banheiro da
suíte.
– Sim, veremos. Agora me beija rockstar.
– Sempre!
Se chegou até aqui, a história te prendeu
Então não deixe de avaliar o livro, por favor.
Agradeço imensamente!
Abraços e até o livro II da série The Order.
Próximo

Sob Meus Olhos


(The Order II)

A História de
Max e Hazel
Prólogo

N ão! A Lily já tomou banho duas vezes, uivo! Tem que


pegar outra filha. Você não é um bom pai!
– Desculpe, princesa, mas eu jurava que tinha dado
banho na Lola. Você sabe, elas são gêmeas, me confundo...
– Mas eu já te falei um milhão de vezes. – Bufo, será que ele nunca vai
aprender? – Lily Connor está de vestido oxo e a Lola Connor de vestido osa.
– Certo... não vou mais esquecer.
– Você sempre diz isso. E sempre esquece!
– Eu falei para você que deveríamos ter colocado um nome diferente. Lola
e Lily são muito parecidos, e elas são iguais!
– Todas os nomes das minhas filhas vão começar com la, le, li, lo, lu.
– O pai não pode opinar?
– Não. A Lara, a Laís, a Lia e a Leila não são gêmeas, por que ainda não
tomaram banho?
– A Lara é muito bebê, mal abre o olho, tenho medo de machucar. Acho
que ela precisa da mãe. As outras já são bem grandinhas e podem tomar banho
sozinhas, você não acha? A Laís e a Leila têm até peitos! – Reviro os olhos,
esse papo de novo?
– Todas as Barbies tem peitos, uivo!
– Então já tem idade para tomar banho sem a ajuda do pai. Acho que está
na hora de incluirmos um menino na família. São filhas demais.
– Nem pensar! Meninos são feios e chatos. Olhe o meu irmão... Só teremos
filhas. Mesmo quando eu crescer e a gente casar de verdade, só filhas!
– Que Deus me proteja!
– O que você disse?
– Nada não. Se tivermos mais uma filha teremos que escolher outra letra,
porque acho que não sobrou nenhum nome fora Laura, e já temos uma Laura na
família.
– Ah não, podemos ter muitas ainda, tem Lydia, Loren, Lucy, Louise,
Lizzie, Leticia, Luzia... tem Leia também, mas não gosto muito porque me
lembra geleia... E eu eu não gosto nadinha de geleia. – Ele cai na gargalhada e
me põe em seu colo.
Gosto quando ele ri, quando brinca comigo.
Adoro ficar em seu colo, perto dele.
Acho que é o único menino que não é chato e feio!
– Você é tão linda e tão fofa! Principalmente quando fala uivo. – Me aberta
e beija minha bochecha.
Ele agora tem pelos crescendo no rosto, pinica.
Disso não gosto muito.
– Onde cabe tanta imaginação numa cabecinha de quatro anos? Acho que
mais sete filhas estão de bom tamanho, vamos dispensar o Leia.

– O que foi princesa, parece triste? Qual das nossas filhas fez malcriação?
– A Lucy foi para o cantinho do pensamento, mas não é por isto que eu
estou triste. – Ele me pega no colo e deito a cabeça em seu peito.
É tão quentinho ali.
– Qual o motivo então? Me conte.
– Mamãe disse que não posso mais ir para a escola porque vocês estão
muito famosos.
– Eu sei. Sinto muito querida, mas é necessário para a sua proteção.
– Não terei mais amigas para brincar.
– Você tem o seu irmão, e tem a mim.
– Kellan não sabe brincar e você quase não tem mais tempo para me
ajudar com as bonecas.
– Mas cada minuto que eu tiver será seu, eu prometo.
– Não é verdade.
– Claro que é.
– Ouvi sua mãe conversando com tia Laura, e elas diziam que toda noite
vocês três saem para transar. O que é transar, uivo? – Ele tosse e fica
vermelho.
– Você deve perguntar para a sua mãe.
– Eu já perguntei, ela disse que uma menina de seis anos não pode saber
destas coisas. Nem Kellan que já tem quase oito pode. Por isso esolvi
perguntar a você, já que falou que sempre será meu amigo e que podemos
conversar qualquer coisa. Ou isso também não é verdade?
– Eu nunca menti para você, princesa, nem vou. Então sim, todas as noites
nós saímos, mas é no horário que você já está dormindo.
– Para transar? – Deve ser algo ruim, porque ele ficou mais vermelho.
– Uma criança não deve usar esta palavra, Hazel. Não é apropriado. Não
posso lhe explicar exatamente o que é, só quando for mais velha, mas é mais
ou menos a mesma coisa que namorar.
– Então vocês saem para namorar? – Olho para ele magoada, as lágrimas
invadem os meus olhos.
– Sim. Por que está chorando?
– Mas eu pensei... pensei que você fosse meu namorado... temos filhas...
– Ah meu amorzinho, nunca vai existir outra menina tão especial na minha
vida quanto você. Você é o que eu mais amo no mundo todo. – Sorrio e seco as
lágrimas, acho que isso quer dizer que ele é meu namorado, né?
– Agora que não vou mais a escola, não terei mais amigas e você não vai
mais me levar em festinhas de aniversário.
– Hum... sabe aquela praia que a gente visitou e você adorou?
– Siimm! – falo empolgada.
– Pois então, se tudo der certo, lá será a nossa casa daqui a um tempo.
Talvez não tenhamos mais muitas festas de aniversário para ir, mas teremos
mar, piscina, e faremos muitos e muitos castelos na areia. O que você acha?
– Demais!
– E além disso, princesa, nós abriremos a nossa própria empresa, e será lá
perto da praia também. Teremos pessoas trabalhando para nós e talvez algumas
destas pessoas tenham filhas da sua idade, então você poderá fazer novas
amigas na nossa nova casa. – Meu sorriso se alarga mais.
– Eu adoro brincar com você, mas eu gostaria de ter uma amiga.
– Sei que sim. Você terá. Poderá ter tudo, qualquer coisa que quiser na
vida Hazel. Farei tudo que estiver ao meu alcance para que tenha.
– Quando vamos morar lá?
– Nós temos mais um ano de contrato com a gravadora para cumprir.
Estamos negociando o terreno e se as coisas saírem conforme esperamos,
usaremos este um ano para construir as nossas casas e a sede da Three Minds e
então nos mudamos.
– Um ano... – digo desanimada – é muito tempo...
– É nada, vai passar voando, você vai ver.

– Uivo!
– Oi meu amorzinho. Que saudade! – Pulo em seu colo.
– Você demorou!
– Mas te liguei todos os dias, como prometi.
– Ligou, mas não é a mesma coisa.
– Já conversamos sobre isso, princesa... É o meu trabalho.
– Eu sei, desculpe. É que sinto a sua falta. Quatro meses é muiiiito tempo.
– Max, eu já disse que a filha é minha! – Papai passa por nós e beija minha
cabeça.
– Deixa de ser ciumento, Johnathan.
– Olha quem fala. Mais ciúme que você tem da minha filha? Estou para
ver...
– Ela é um pouco minha filha também.
– Não sou não. Sou sua namorada! – Os dois riem, mas não falei nada
engraçado.
– Eu trouxe um presente. – Ele me põe no sofá e se senta ao meu lado.
– Você sempre traz.
– Mas este é especial, uma coisa que você me pede há um tempo e eu não
encontrava. Acho que vai gostar...
– Minha filha uiva?
– É bom... – Ele coça o pescoço, sempre faz isso quando está nervoso. –
Abra, vamos ver... – Me agarro ansiosa ao pacote que ele estende e rasgo o
papel, afoita.
Como eu sonhei com uma bebezinha ruiva!
Já posso ver os cabelinhos, bem da cor dos dele... ai que linda... opa....
mas...
– É um menino! – digo um tanto surpresa, um tanto decepcionada.
Coloco o bebê deitado em suas pernas e não toco mais.
– Sim. Um bebezinho ruivo. Não parece um bebê de verdade? – Olho para
o boneco e realmente parece um bebê real, um recém-nascido.
– Mas não é uma filha!
– Humm, verdade! Mas sabe, quando eu fui buscar seu bebê ruivo, eu vi
este menininho e o achei tão triste, tão sozinho. Ele precisava de uma mamãe.
Eu pensei no quanto eu fico triste e sinto a sua falta quando estou longe e não
queria que ele sentisse o mesmo. E além disso, tem aquele outro problema,
você sabe...
– Que problema?
– Ué, já gastamos todos os sete nomes com L. Se tivéssemos mais uma
filha, teria que ser a Leia. – Torço o nariz.
Leia não!
– Era para termos apenas filhas...
– Pois é! Mas o que acha de termos um filho também?Poderíamos chamá-
lo de Leopold ou Leonard.
– Eca! São nomes de velho.
– Eu acho que são nomes de gente importante.
– Eu prefiro só Leo. Leo Connor.
– Leo, então. E aí? O Leo foi aceito na família?
– Ainda não sei se tem muita coisa que se possa fazer com um menino... –
Ele gargalha.
– Realmente princesa, meninos não servem para muita coisa. E espero que
você continue pensando assim na adolescência.
– O que é adolescência?
– É a fase da vida em que a menina começa a virar mulher e o menino,
homem.
– Ah... e já podemos casar na adolescência?
– Não, casar só quando for adulta.
– E com quanto anos se vira adulta?
– As outras meninas com dezoito. Você com trinta. – Arregalo os olhos.
Trinta é muito, muito velho.
– Por quê?
– Porque fora o Leo aqui, não vou deixar nenhum outro menino chegar
perto de você antes desta idade. Que dirá casar.
– Ah uivo, mas não precisa... eu vou casar com você!
– Tá certo. Bom, acho que terei que encontrar outra mãe para o Leo, não
é? – Ele tenta colocar o bebê no chão.
– De jeito nenhum! Ninguém mais cuida do meu uivinho. Ele já tem dona,
não vai ficar triste e sozinho. – Abraço e embalo o meu novo bebê.
– Ah não mesmo, com treze irmãs? Pode ficar maluco, mas sozinho,
impossível!

– Filha, ainda acordada? – Não respondo, não era para mamãe entrar aqui
agora.
– Hazel, está assim porque Max não ligou? Com certeza ele não pôde, não
é que não quis. – Fungo. Ela senta ao meu lado na cama.
– Ah, meu amor, está chorando? – Me agarro ainda mais ao Leo e às
cobertas. Mamãe tenta secar as minhas lágrimas, mas o contato da sua mão fria
com a minha pele quente me causa um estremecimento.
– Por Deus, filha, você está com febre.
– Dois dias mãe, dois dias que ele não liga! E amanhã é meu aniversário.
Será que aconteceu alguma coisa?
– Claro que não. Falamos com Oliver hoje de manhã, então bem.
– Então será que ele me esqueceu? – Ela ri.
– O Max? Esquecer você? Mais fácil passar um camelo pelo buraco de
uma agulha.
– Mãe... você tem cada uma...
– É verdade.
– Então por que...
– Licença! Posso entrar?
– Max! – Me sento tão rápido na cama que Leo cai no chão.
– Pronto, chegou a sua cura. Se você não aparecesse em meia hora, Max,
eu teria que revelar a surpresa. Veja como ela está quente. Da próxima vez, dê
um jeito de ligar, mesmo em voo. – Max ri.
– Eu não podia perder os oito anos da minha princesa.
– Vai ficar aqui? Vamos virar a meia noite acordados?
– Claro, como fazemos desde os seus cinco anos.
– Obaaaa! – Pulo na cama.
– Desculpe por não ligar, Alicia, esse problema com Lian me tirou do
eixo... foi por pouco desta vez, sorte que o socorremos rápido.
– Mas ele está bem mesmo, não é? Ou vocês... – Mamãe tem os olhos
vermelhos.
– Não, não escondemos nada. Ele está bem, mas seguirá internado em
Chicago por um tempo ainda. Oliver está lá com ele e eu volto para lá na
sequência. Laura irá comigo. – Lian está doente?
Paro de pular.
– Nós é que deveríamos ir...
– Vocês tem as crianças, e além disso, precisamos que mantenham a
empresa nos trilhos. Lian sabe e entende, não se torture com isso.
– O que aconteceu com Lian? – Eles de repente se dão conta de que estou
ali.
– Ele ingeriu umas coisas ruins e passou mal. Está no hospital, mas já está
melhor. Logo, logo volta para casa. – Max me explica.
– Dor de barriga? – Mamãe ri.
– Sim, uma baita dor de barriga. Bom, vou deixar vocês e ir ver o meu
filho. Enquanto uma estava cabisbaixa por sua causa, o outro está do mesmo
jeito por causa de Lian. Cada um dos meus filhos tem um segundo pai, afinal.
– Ele sabe?
– Ouviu uma conversa minha com Johnathan. E talvez até seja bom, para
no futuro não se meter em nada parecido já que jura que vai entrar para a
banda.
– Tranquilize-o. O perigo passou. De verdade.
– Farei isto. Dormirá aqui? – Não espero que ele responda.
– Siiim!!! – grito e volto a pular na cama.
– Deixarei o quarto de hósped... – Me meto de novo.
– O ruivo vai dormir no meu quarto!
– Acho que não tenho escolha. – Os dois riem.
– Não mesmo. Você é de casa, fique à vontade e boa noite!

– Isso é tão legal!


– Era assim que você queria passar a noite do seu aniversário de onze
anos?
– Sim. Está perfeito.
Estamos acampando na praia, entre a casa de Max e o trapiche. Tem uma
bela fogueira, uma barraca enorme, onde vamos dormir, e um tablado com
colchonetes e almofadas, onde estamos agora, deitados olhando as estrelas.
O céu está lindo, a noite perfeita.
– Que bom! Agora me conte, porque mudou de ideia e não deixou Kellan,
Lian e Oliver participarem desta noite conosco? Kellan ficou bem sentido com
você.
– Eu sei. – Suspiro. Não gosto de magoar meu irmão e nem os outros dois,
todos me amam e eu amo todos, mas esta noite preciso estar ali apenas com
ele. – Podemos marcar uma outra noite para fazermos isto todos juntos, não
podemos?
– Claro que podemos. Mas por que não hoje? Esta noite é especial!
– E justamente por isso que eu queria estar aqui só com você. Vocês
voltaram da turnê há apenas quatro dias, sinto sua falta, estou com saudades,
quero conversar e se eles estivessem aqui, não poderia. Você é meu melhor
amigo.
– Certo. É justo princesa, seu aniversário, você escolhe. Os três bundões
que se contentem com a festa amanhã e em acampar um outro dia. – Rimos.
– É lindo este azul quase negro do céu a noite, não?
– É sim. Mas não existe azul mais lindo do que o dos seus olhos, Hazel.
– Você sempre diz isso.
– Então acredite, porque é verdade.
– Ruivo?
– Hã?
– Este mês a srta. Grace começou a me ensinar sobre o corpo humano.
– Mas já? Isso não é matéria para quando você tiver, sei lá, uns...
– Trinta anos? – zombo.
– É, por aí. – Ele suspira. – É sobre isso que você quer conversar?
– Sim.
– Ai, ai... tá bom, manda lá!
– Eu fiquei assustada.
– Com o quê? O que ela te mostrou? – Ele se exalta.
– Ela disse que eu vou sangrar todo mês, logo, logo.
– Ah, isso... bom, eu acho que não será tão logo assim, você acabou de
fazer onze anos, mas sim, acontece com todas as meninas entrando na
adolescência. É normal, não tem porquê ficar assustada. Acho que deveria
conversar com a sua mãe a respeito.
– Eu vou. Mas primeiro quero conversar com você. Sabe, se eu fosse a
uma escola como as outras garotas, depois de uma aula assim, imagino que
faríamos uma roda de amigas e debateríamos o assunto entre nós primeiro,
antes de recorrer a mães, tias e primas. Como eu não vou, debato com você.
Tudo bem a gente conversar, né?
– Sinto muito por você não poder frequentar uma escola, princesa, sei que
se sente sozinha. E quanto a conversar, podemos conversar sobre qualquer
coisa, querida. Qualquer coisa. Eu já falei a você, deve sempre perguntar e
sanar suas dúvidas com pessoas em quem confia e que te amam. Nunca com
estranhos ou na internet.
– Deve ser tão ruim. Sangrar...
– Acho que não deve ser tão ruim quanto ter pelos crescendo na cara,
como acontece com os meninos. E no nosso caso, não é só uma vez por mês.
– Pensando por este lado...
– Sem contar que é uma coisa bonita. Significa que poderá abrigar um
bebê na barriga.
– Verdade. Ela também falou isso, mas está aí a minha outra dúvida, ruivo,
como o bebê vai parar na minha barriga? – Ele respira fundo.
– Esse era meu medo... ela não explicou essa parte?
– Não, disse que antes de falar sobre isso, tenho que aprender sobre o
corpo dos meninos. Será uma aula mais para frente.
– E você não quer esperar? Ou perguntar aos seus pais? Não sei se eu
devo...
– Ruivo, por favor, estou muito curiosa. Como eu falei, quero conversar
com você, ou vou acabar pesquisando na internet...
– Não, isso nem pensar. Prometa para mim.
– Então vai me contar? Tem a ver com aquela outra palavra que eu te
perguntei uma vez, não tem? Transar?
– Tem sim.
– O que é transar?
– Você já viu uma menino pelado, não viu?
– Claro, via o meu irmão quando éramos menores, agora não mais, porque
ele é cheio das vergonhas...
– Então, você sabe que os meninos lá embaixo são bem diferentes das
meninas.
– Sim, eles têm pinto.
– Pênis.
– Certo, pênis.
– A Srta. Grace te explicou por onde as meninas sangram?
– Sim, pela vagina, que é um buraco que temos no meio das pernas. Eu
nem sabia que eu tinha um buraco ali antes dela falar, acredita? – Ele ri.
– Acredito. Então, para um bebê chegar na barriga de uma mulher, – me
viro de lado para olhar para ele, porque aquilo realmente me interessa, muito –
o homem e a mulher, precisam transar ou fazer sexo, são sinônimos.
– Já ouvi muito as duas palavras, nos filmes, nas séries, mas ainda não sei
o que é exatamente.
– É quando o homem...
– É coisa ruim, não é?
– Por que diz isso?
– Porque você está vermelho.
– Eu não fico vermelho por ser coisa ruim, meu bem, e sim por estar um
pouco envergonhado.
– Então é coisa feia?
– Não querida, não é. Não há nada de feio no ato de fazer um bebê. Eu que
sou complicado. Esqueça a minha vermelhidão, ok?
– Ok. Você estava dizendo que é quando o homem...
– Coloca o seu pênis dentro da vagina da mulher. – O que? Me sento
depressa.
– Como assim? Como pôr o... lá... ajudaria a fazer um bebê?
– Quando o homem faz isso, sai um líquido do seu pênis que é necessário
para gerar um bebê na mulher, sua professora vai explicar melhor como
acontece dentro do corpo. – Estou atordoada, não esperava por algo assim.
É tão... nojento...
– Então para Kellan e eu nascermos, meu pai teve que pôr o pênis dele,
que é por onde ele faz xixi, dentro da vagina da minha mãe? – Devo ter feito
uma careta muito feia, porque Max não aguenta e racha o bico de tanto rir.
– Exatamente isso.
– Não pode ser... – Penso um pouco. – Está explicado então.
– Explicado o que?
– O porquê da minha mãe responder que dois filhos já é muito toda vez
que pedi uma irmãzinha. Teria que deixar o meu pai fazer isso pela terceira
vez... – Agora ele se rola de lado para rir.
– Por que está rindo tanto? O que falei de tão engraçado?
– Nada, desculpe. É que você parece muito preocupada.
– E eu estou. – Estou mesmo.
Porque se tem que fazer isso para ter um bebê...
Vejo que ele se esforça para manter a seriedade, mas eu preciso falar.
– Ruivo, quando eu crescer e a gente casar de verdade, podemos não ter
filhos? Não sei se quero que você coloque o seu pênis em mim. – Então a
expressão dele muda, de divertida para dolorida.
– Vamos esclarecer duas questões então, a primeira, o que eu contei a
você, não é algo sofrido, princesa, as pessoas gostam. Elas não fazem sexo só
para ter bebês, fazem por prazer. Por amor.
– Por que eu iria gostar que um menino coloque o pênis em mim?
– Eu realmente torço para que você nunca goste e continue pensando
assim, mas normalmente a partir de certa idade, conforme o corpo vai
mudando, amadurecendo, as pessoas começam a gostar e a desejar o sexo.
– Por isso vocês três saiam toda noite para transar quando não morávamos
aqui? Eu pensei que precisava se casar para fazer bebês.
– E deve. Eu jamais faria um bebê sem estar casado. Mas é possível fazer
sexo sem fazer um bebê. Nem eu, nem Oliver e nem Lian temos bebês perdidos
por aí.
– E você gosta? De pôr o seu pênis na vagina das garotas? – Agora ele
parece um pimentão.
Por que pensar nele fazendo isso com outras garotas me incomoda?
– Gosto. – Pois eu não gosto que você faça!
– Vocês fazem isso aonde? No banheiro? É como ir fazer xixi? Dá vontade
e… – Segura a vontade de rir outra vez.
– Não princesa, normalmente se faz no quarto, na cama. Com beijos e
abraços envolvidos no processo.
– Ah... e você já fez com muitas?
– Sim, algumas.
– Eu não gosto de pensar em você fazendo isso com as garotas.
– E nem deve. Estamos tendo esta conversa porque eu realmente acredito
que as crianças devem descobrir como as coisas funcionam da forma correta
quando desperta a curiosidade. Mas não é algo que você deva ficar pensando a
respeito e nem repetir para outra criança, entendeu? Aproveite a sua infância,
terá muito tempo para se preocupar com garotos e bebês quando crescer.
– Não ruivo, você não entendeu, eu sinto ciúmes. Ciúmes de você. – Ele
em abraça.
– Ah princesa, eu também morro de ciúmes de você, quando crescer e
quiser namorar, eu vou surtar. Porque eu quero que você seja sempre a minha
menininha. Aquela que brigava comigo por eu não conseguir diferenciar a Lily
da Lola.
– Você nunca conseguiu.
– Eu fazia de propósito, só para ouvir você brigar com o seu uivo e dizer
oxo e osa. Era tão fofinho.
– Que sacanagem! Eu cheguei a pensar que você tivesse problemas para
enxergar as cores.
– E você demorou bastante para conseguir dizer o r no início das palavras.
Mas agora eu quero esclarecer o segundo ponto, porque as vezes fico na
dúvida. Você sabe que esta história de casarmos quando você crescer, de
sermos namorados, é uma brincadeira de quando você era pequenininha, certo?

Não, não sabia.
Ou não queria saber.
Engulo em seco e tento, tento muito não deixar as lágrimas aparecerem. –
Sabe que seria impossível nós dois casarmos um dia, não é?
– Por quê? – Minha voz sai um pouco tremida.
– Porque eu sou muito mais velho que você, amorzinho e eu amo você
como se fosse minha filha. Você é o que eu mais amo no mundo Hazel e isto
nunca vai mudar. Quando crescer um pouco mais, vai começar a se interessar
por meninos, meninos da sua idade e eu serei só o seu chato e velho
“paimigo”. Aquele que, assim como Johnathan, vai perguntar onde você vai,
que horas volta, se está segura. Te dar conselhos e morrer de preocupação
enquanto não voltar para casa. Você pode pensar que quer se casar comigo
agora, mas isto logo vai mudar, não se preocupe e não fique triste.
E ali, na noite do meu aniversário de onze anos, na praia, sob o céu
estrelado de Oceanside, nossa casa, ele acabou com a maior certeza e a maior
alegria que havia dentro de mim.
Ali, naquele momento, começou a minha angústia, o meu vazio e a minha
espera.
Espera pelo momento tão sonhado, em que vou me interessar por outros
garotos e não vou mais querer me casar com ele.
Aquele que ele disse que logo viria.
Estou aguardando.
Até hoje.
Agradecimentos

Em primeiríssimo lugar, preciso agradecer ao meu marido, João


Alexandre. Além de ser o meu maior incentivador, ele foi o meu termômetro
masculino durante a escrita. Sim, eu o fiz ler! Ele me xingou em muitos
momentos, mas nós demos altas e boas risadas juntos no processo. Isso não
tem preço! Ele vai concordar comigo que nessa “pegada” precisamos
agradecer também ao Helmut, Hans, Wolfgang e Egon, nossa “pandinha”
alemã que surgiu no caminho.

Agradeço também ao meu filhote, Gustavo, que em momento algum


reclamou das horas que a sua mãe passou escrevendo. Bem pelo contrário,
sempre se mostrou favorável e interessado em saber do meu progresso. Você
é demais, filho!

Agora o meu termômetro feminino no processo de escrita. Minha amada


amiga Jerusa Tocantins. Sabe aquela amizade que mesmo que nunca mais nos
vejamos, jamais se esquece? Pois é. É ela! Fiquei com receio de te deixar
ler amiga, confesso. Achei que você não iria curtir a vibe romântica. Mas eis
minha surpresa quando ela passou a ser uma consumidora voraz. Sinal de
que alguma coisa eu acertei. Obrigada, foi muito importante para mim. E me
desculpe, mas não vou conseguir escrever um próximo romance cujo
protagonista seja um cantor sertanejo. Ficarei te devendo essa!
Eternamente...

Outras duas mulheres que eu admiro demais e que moram em um lugar


muito, muito especial em meu coração. Minha mãe e minha irmã. Vocês são
muito importantes para mim. Obrigada por todo cuidado, carinho e por toda
a paciência com as minhas esquisitices, minhas músicas e meu rompantes ao
longo da juventude (e da vida). Este agradecimento se estende a você
também, pai. Amo vocês.

Agora a minha revisora, apoio publicitário e também autora, Danieli


Mützenberg. Foi uma sorte termos nos achado. Nossa parceria casou tão bem
e nos entrosamos tanto que eu só posso dizer uma coisa, era para
ser! Obrigada por embarcar nessa, sei que não é fácil, o livro não é pequeno
e que você dedica muitas horas no processo. Estou adorando trabalhar
contigo!

Por fim, agradeço às minhas maravilhosas e empolgadíssimas leitoras do


Wattpad. Em especial, e representando todas as outras, Caroline Silva,
Adriana Nunes Pires, Ju Ferraz Paulino, Cintya Mari e Eugenia Moraes. Meu
muitíssimo obrigada também a Paloma, pelo companheirismo e parceria no
@me_indica_books.
[1]
Sasaeng, é um nome dado para o fã que é excessivamente obcecado pelo seu ídolo, ou seja fãs que
perseguem e invadem sua privacidade a qualquer custo.
[2]
A Juilliard School é uma das mais conceituadas escola de ensino sup erior de música localizada em Nova Iorque. Ensina
também dança e dramaturgia.
[3]
O pensene é um p rincíp io evolutivo estudado p ela Conscienciologia .
[4] Alusão ao filme da Disney Lady and The Tramp, no Brasil A Dama e o Vagabundo.
[5]
Eu tenho um pacote enorme para você.
[6]
Este pacote enorme tem dona.
[7]
Beije o meu Elfo gigante.
[8]
Guerra de bolas.
[9]
Me coma.
[10]
Doce Libertação (o momento de sua vida)
[11]
Eu ainda sei como sobreviver.
[12]
O transtorno de despersonalização ou desrealização é um tipo de transtorno dissociativo que
consiste em sentimentos recorrentes ou persistentes de distanciamento do próprio corpo ou processos
mentais, geralmente com uma sensação de ser um observador externo da própria vida.

[13]
O transtorno dissociativo de personalidade, popularmente múltiplas personalidades, é
caracterizado pela presença de duas ou mais identidades com personalidades distintas. Cada uma delas
pode ter um nome, histórico pessoal e característica diferentes. Geralmente é uma reação a um trauma
como forma de ajudar uma pessoa a evitar memórias ruins.
[14]
Esconderijo Secreto Praia Bar
[15]
Conhecida marca de veneno de rato.
[16]
Vérnix caseoso é uma substância esbranquiçada e gordurosa, com textura p arecida a do queijo ou da cera, que recobre a
p ele dos recém-nascidos.
[17]
.
Corte no p eríneo p ara facilitar a p assagem do bebê na hora do p arto
[18]
Graceland Wedding Chapel é uma cap ela p ara casamentos localizada em Las Vegas, Nevada, que foi p alco de muitos
casamentos de celebridades. É uma das mais antigas e a p rimeira a oferecer casamentos realizados p or imitadores de Elvis.
[19]
Trenton é a cap ital de Nova Jersey
[20] Graceland é também o nome da mansão em que Elvis vivia, em M enp his, Tenesee.
[21]
Bocha colombiana, com discos, que em muitos países se joga nas praias.
[22]
A única, a pessoa, o que há, no sentido de que não existe ninguém além de e ninguém melhor para.

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