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A IMPORTÂNCIA DA FILOSOFIA PARA A

DEMOCRACIA
24 de fevereiro de 2008
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Escrito por Redação

Com o desenvolvimento das cidades, Atenas tornou-se o centro da vida social,


política e cultural da Grécia, vivendo seu período de esplendor durante o século V
a.C., conhecido como Século de Péricles.

A democracia grega possuía, entre outras, duas características de grande importância


para o futuro da Filosofia. Em primeiro lugar, ela afirmava a igualdade de todos os
homens adultos perante as leis e o direito de todos de participar diretamente do
governo da cidade, da pólis.

Em segundo lugar, a democracia, que era indireta e não previa a eleição de


representantes, garantia aos cidadãos a participação no governo, concedendo a eles
o direito de discutir e defender suas opiniões sobre as decisões que a cidade deveria
tomar. Surgia, assim, a figura política do cidadão.

Ora, pra conseguir que sua opinião fosse aceita nas assembléias, o cidadão
precisava saber falar e ser capaz de persuadir.

Quando não havia democracia, mas dominavam as famílias aristocráticas, senhoras


das terras, o poder lhes pertencia. Essas famílias criaram um padrão de educação
próprio dos aristocratas. Esse padrão afirmava que o homem ideal ou perfeito era o
guerreiro belo e bom.

Quando, porém, a democracia se instala e o poder vai sendo retirado dos aristocratas,
esse ideal educativo ou pedagógico vai sendo substituído por outro. O ideal da
educação do Século de Péricles é a formação do cidadão.

Ora, qual é o momento em que o cidadão mais aparece e mais exerce sua cidadania?
Quando opina, discute, delibera e vota nas assembléias. Assim, a nova educação
estabelece como padrão ideal a formação do bom orador, isto é, aquele que sabe
falar em público e persuadir os outros na política.

Para dar aos jovens essa educação, surgiram na Grécia os sofistas, dos quais os
mais importantes foram: Protágoras de Abdera, Górgias de Leontini e Sócrates de
Atenas.

Eles diziam que os ensinamentos dos filósofos cosmologistas (aqueles que buscavam
uma explicação racional e sistemática sobre a origem e transformação da natureza e
do homem) estavam repletos de erros e contradições e que não tinham utilidade para
a vida da pólis. Apresentavam-se como mestres de oratória ou de retórica, afirmando
ser possível ensinar aos jovens tal arte para que fossem bons cidadãos. Que arte era
essa? A arte da persuasão.

O filósofo Sócrates, considerado o patrono da Filosofia, rebelou-se contra os sofistas,


dizendo que eles não eram filósofos, pois não tinham amor pela sabedoria nem
respeito pela verdade, defendendo qualquer idéia, se isso fosse vantajoso.
Corrompiam o espírito dos jovens, pois faziam o erro e a mentira valerem tanto
quanto a verdade.

Sócrates concordava com os sofistas em um ponto: por um lado, a educação antiga


do guerreiro belo e bom já não atendia às exigências da sociedade grega, e, por
outro, os filósofos cosmologistas defendiam idéias tão contrárias entre si que também
não eram uma fonte segura para o conhecimento verdadeiro.

Sócrates propunha que, antes de conhecer a natureza e de querer persuadir os


outros, cada um deveria, primeiro, conhecer-se a sim mesmo. A expressão “conhece-
te a ti mesmo”, gravada no pórtico do templo de Apolo, deus da sabedoria, tornou-se
a divisa de Sócrates.

Esse filósofo andava pelas ruas de Atenas, pelo mercado e pela assemléia indagando
a cada um: “Você sabe o que é isso que está dizendo? Você sabe o que isso em que
você acredita?” “Você diz que a coragem é importante, mas o que é a coragem? Você
acredita que a justiça é importante, mas o que é a justiça? Você crê que seus amigos
são a melhor coisa que você tem, mas o que é a amizade?”

As perguntas de Sócrates deixavam os interlocutores embaraçados, irritados,


curiosos, pois, quando tentavam responder ao célebre “o que é?, descobriam que não
sabiam responder a essa questão e que nunca tinham pensado em suas crenças,
seus valores e suas idéias.

A consciência da própria ignorância é o começo da Filosofia. O que procurava


Sócrates? Procurava a definição daquilo que uma coisa, uma idéia, um valor é
verdadeiramente. Procurava a essência verdadeira da coisa, da idéia, do valor.
Procurava o conceito, e não a mera opinião que temos de nós mesmos, das coisas,
das idéias e dos valores.

Ora, as perguntas de Sócrates se referiam a idéias, valores práticas e


comportamentos que os atenienses julgavam certos e verdadeiros. Ao fazer suas
perguntas e suscitar dúvidas, Sócrates os fazia pensar não só sobre si mesmos,
também sobre a pólis. Aquilo que parecia evidente acaba sendo percebido como
duvidoso e incerto.

Sabemos que os poderosos têm medo do pensamento, pois o poder é mais forte se
ninguém pensar. Para os poderosos de Atenas, Sócrates tornara-se um perigo, pois
fazia a juventude pensar. Por isso, eles o acusaram de desrespeitar os deuses,
corromper os jovens e violar as leis. Diante da assembléia, à qual foi levado, Sócrates
não se defendeu e foi condenado a tomar um veneno – a cicuta – e obrigado a
suicidar-se.

https://www.mundovestibular.com.br/blog/a-importancia-da-filosofia-para-a-democracia

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