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Poder Judiciário
Justiça do Trabalho
Tribunal Regional do Trabalho da 7ª Região

Recurso Ordinário - Rito Sumaríssimo


0000198-16.2020.5.07.0002
Relator: PAULO REGIS MACHADO BOTELHO

Processo Judicial Eletrônico

Data da Autuação: 29/10/2020


Valor da causa: R$ 100,00

Partes:
RECORRENTE: EMPRESA BRASILEIRA DE SERVICOS HOSPITALARES - EBSERH

ADVOGADO: GERMANO ANDRADE MARQUES


ADVOGADO: LORENA DUARTE VIEIRA
RECORRIDO: LEONARDO JOSE ARAUJO MACEDO DE ALCANTARA
ADVOGADO: BRENO SILVA CORREA
ADVOGADO: RAFAEL STUDART SINDEAUX
PAGINA_CAPA_PROCESSO_PJE
Fls.: 2

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO

PROCESSO nº 0000198-16.2020.5.07.0002 (RORSum)


RECORRENTE: EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES - EBSERH
RECORRIDO: LEONARDO JOSÉ ARAÚJO MACEDO DE ALCÂNTARA
RELATOR: PAULO REGIS MACHADO BOTELHO

RELATÓRIO

RITO SUMARÍSSIMO. RELATÓRIO DISPENSADO.

FUNDAMENTAÇÃO

1. ADMISSIBILIDADE

Recurso Ordinário adequado, tempestivo, com regularidade de


representação e devidamente preparado. Portanto, dele se conhece.

2. MÉRITO

Insurge-se a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares - EBSERH


contra a Sentença de ID 8103252, por cujos termos a MM. Juíza Substituta Taciana Orlovicin Gonçalves
Pita, atuante na 2ª Vara do Trabalho de Fortaleza, julgou procedente a vertente Ação, para o fim de
reconhecer ao reclamante, Leonardo José Araújo Macedo de Alcântara, o direito a licença não -
remunerada para desempenho de mandado como dirigente do Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará
- SINDMED-CE, determinando a imediata implementação do afastamento, a título de tutela de urgência,
sob pena de incidência de multa diária.

De início, a recorrente postula que se lhe estendam as prerrogativas


processuais asseguradas à Fazenda Pública, ao argumento de que seu objeto social é a prestação gratuita
de serviço público de saúde, com capital exclusivamente público, vinculada unicamente ao SUS e sem
visar à obtenção de lucro.

Assinado eletronicamente por: PAULO REGIS MACHADO BOTELHO - 23/11/2020 12:29:04 - b0a8f80
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Número do processo: 0000198-16.2020.5.07.0002 ID. b0a8f80 - Pág. 1
Número do documento: 20110414435882700000007916371
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No mérito, destaca haver indeferido, administrativamente, a postulação do


autor, por entender que o Regulamento de Pessoal, ao disciplinar a licença para exercício de cargo de
direção sindical, restringe esse direito ao empregado que desempenha mandato no órgão de classe
representativo do corpo funcional daquela empresa, que seria a Confederação dos Trabalhadores no
Serviço Público Federal / Federação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal (CONDSEF
/FENADSEF), entidade que compõe a Mesa Nacional de Negociação Permanente da EBSERH,
juntamente com a Federação Nacional dos Médicos - FENAM, a Federação Nacional dos Enfermeiros
(FNE) e a Federação Nacional dos Farmacêuticos (FENAFAR).

Aduz, ademais, que o enquadramento sindical é definido a partir da


atividade econômica preponderante do empregador, sendo os seus empregados, por conseguinte,
representados pela mencionada CONDSEF. Acresce, ainda, que o SINDMED-CE não está vinculado à
CONDSEF ou à FENAM, mas filiado a Federação distinta.

Nesse passo, ressaltando tratar-se de empresa pública de âmbito nacional,


que aplica normas administrativas a seus empregados de forma isonômica, defende que a representação
de classe destes deve ser também de abrangência nacional, daí pugnar pela improcedência da presente
Ação.

2.1 Da pretensa equiparação à Fazenda Pública

Quanto a essa matéria, a Sentença recorrida assim se fundamentou:

"Pretende a reclamada o reconhecimento de sua equiparação à Fazenda Pública,


isentando-a das despesas processuais nos termos previstos no art. 790-A da CLT, ao
argumento de que é uma empresa pública federal que tem por finalidade a prestação de
serviços gratuitos de assistência médico-hospitalar, ambulatorial e de apoio e
terapêutico à comunidade, não explorando atividade econômica.

Sem razão.

De acordo com o art. 1º, da Lei 12.550/2011 (lei criadora da EMPRESA BRASILEIRA
DE SERVICOS HOSPITALARES - EBSERH), a reclamada é uma empresa pública, com
personalidade jurídica de direito privado e patrimônio próprio e, por tais razões, deve
se submeter ao regime próprio das empresas privadas, não podendo ser equiparada à
fazenda pública.

Nessa senda:

"AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO. RECURSO DE REVISTA. DESERÇÃO DO


RECURSO ORDINÁRIO. EMPRESA PÚBLICA PRESTADORA DE SERVIÇOS DE
SAÚDE. PRERROGATIVAS DA FAZENDA PÚBLICA. NÃO EXTENSÃO. Conforme já
registrado por esta Relatora na decisão agravada, esta Corte Superior entende que as
empresas públicas e sociedades de economia mista integrantes da administração pública
indireta, caso da reclamada Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares - EBSERH,
não são contempladas pelas prerrogativas típicas da Fazenda Pública, não havendo que
se falar em isenção das despesas processuais, permanecendo submetidas ao regime
jurídico próprio de empresas privadas, na forma do art. 173, § 1º, II, da Constituição

Assinado eletronicamente por: PAULO REGIS MACHADO BOTELHO - 23/11/2020 12:29:04 - b0a8f80
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Número do processo: 0000198-16.2020.5.07.0002 ID. b0a8f80 - Pág. 2
Número do documento: 20110414435882700000007916371
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Federal. Óbice da Súmula 333 do TST e do art. 896, § 7º, da CLT. Agravo não provido."
(Ag-AIRR-533-95.2017.5.19.0005, 2ª Turma, Relatora Ministra Maria Helena
Mallmann, DEJT 15/05/2020)

"AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. EXTENSÃO DAS


PRERROGATIVAS PROCESSUAIS DA FAZENDA PÚBLICA. À EBSERH se aplica o
regramento das empresas privadas previsto no artigo 173, § 1º, II, da Constituição da
República, não lhe sendo, portanto, estendidas as prerrogativas da Fazenda Pública.
(...) Agravo de instrumento conhecido e não provido" (AIRR-1183-73.2016.5.19.0007, 8ª
Turma, Relatora Ministra Dora Maria da Costa, DEJT 13/12/2019).

"RECURSO DE REVISTA DA EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS


HOSPITALARES - EBSERH. DESERÇÃO DO RECURSO DE REVISTA. O eg. TRT
afastou a preliminar de deserção da Reclamada EBSERH, arguida pela Reclamante, ao
fundamento de que, embora seja uma empresa pública, com personalidade de direito
privado, cuja criação foi autorizada pela Lei nº 12.550/11, dada a natureza pública das
suas atividades, faz jus a isenção das custas processuais e do depósito recursal. Quando
da interposição do recurso de revista a Reclamada EBSERH afirma que é isenta do
recolhimento das custas e do depósito recursal. No entanto, a Reclamada está submetida
ao disposto no artigo 173, §1º, II, da CR, que dispõe a sujeição ao regime incidência do
regime jurídico próprio das empresas privadas, inclusive no que se refere aos direitos e
obrigações civis, comerciais, trabalhistas e tributários. Portanto, a empresa se sujeita
ao regime próprio das empresas privadas, inclusive quanto aos direitos e obrigações
trabalhistas, razão pela qual descabe cogitar do direito à isenção pretendida. Recurso
de revista de que não se conhece. (...)" (RR-1260-67.2015.5.17.0009, 6ª Turma, Relatora
Desembargadora Convocada Cilene Ferreira Amaro Santos, DEJT 08/11/2018).

Pelo exposto, indefiro o pleito." (ID 8103252, págs. 01/02).

A apreciação supra não merece reproche.

Com efeito, é cediço que a EBSERH, consoante os termos de sua Lei


instituidora, de nº 12.550/2011, é empresa pública federal com personalidade jurídica de direito privado,
vinculada ao Ministério da Educação, estando, pois, enquadrada no art. 173, § 1º, II, da Constituição
Federal, daí não lhe serem extensíveis as prerrogativas processuais asseguradas à Fazenda Pública.

Trata-se, portanto, de pleito que não encontra amparo na legislação,


menos ainda na jurisprudência.

Nesse sentido, o entendimento já está pacificado no âmbito da Colenda


Corte Superior Trabalhista, conforme ementas abaixo, extraídas de julgados recentes:

"AGRAVO. AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. PROCESSO


SOB A ÉGIDE DA LEI 13.467/2017. EBSERH. INTEMPESTIVIDADE. É intempestivo o
agravo interposto após o exaurimento do prazo de 8 (oito) dias úteis, conforme previsto
nos arts. 775 da CLT (com nova redação dada pela Lei nº 13.467/2017); e 265 do
Regimento Interno do TST. Registre-se que esta Corte Superior possui o entendimento de
que as empresas públicas e sociedades de economia mista, integrantes da administração
pública indireta, caso da Reclamada Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares -
EBSERH, não são contempladas pelas prerrogativas da Fazenda Pública, sendo
submetidas ao regime jurídico próprio de empresas privadas, na forma do art. 173, § 1º,
II, da Constituição Federal. Agravo não conhecido." (Ag-AIRR-657-03.2018.5.10.0811,
3ª Turma, Relator Ministro Mauricio Godinho Delgado, DEJT 16/10/2020).

"RECURSO DE REVISTA . RECURSO INTERPOSTO NA VIGÊNCIA DA LEI N.º 13.467


/2017. TRANSCENDÊNCIA. EMPRESA BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES.
CONCESSÃO DOS BENEFÍCIOS DA FAZENDA PÚBLICA. IMPOSSIBILIDADE. NÃO
CONHECIMENTO. O entendimento jurisprudencial desta colenda Corte Superior é no

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sentido de que a empresa brasileira de serviços hospitalares (EBSERH) não faz jus às
prerrogativas da fazenda pública, uma vez que é uma empresa pública, ou seja, ela
possui personalidade jurídica de direito privado. Dessa forma, embora seja considerada
um ente público por integrar a administração pública, a empresa supracitada está
submetida ao mesmo regime das sociedades empresárias particulares, conforme
estabelece o artigo 173, § 1º, II, da Constituição Federal. Precedentes. Na hipótese
vertente , o egrégio Tribunal Regional entendeu que a reclamada (EBSERH) não tem
direito à concessão dos privilégios da fazenda pública, como ocorre, por exemplo, com
os Correios. Isso porque seria necessária a previsão em lei específica, cuja aplicação
analógica não é possível a outros entes que não estejam no rol do texto legal. A decisão
regional, portanto, está em conformidade com a atual, iterativa e notória jurisprudência
desta colenda Corte Superior, razão pela qual se aplica o óbice previsto na Súmula nº
333. Dessa forma, a incidência do referido óbice processual (súmula nº 333), a meu
juízo, é suficiente para afastar a transcendência da causa, uma vez que inviabilizará a
análise da questão controvertida no recurso de revista e, por conseguinte, não serão
produzidos os reflexos gerais, nos termos previstos no § 1º do artigo 896-A da CLT.
Recurso de revista de que não se conhece" (RR-1143-87.2018.5.20.0009, 4ª Turma,
Relator Ministro Guilherme Augusto Caputo Bastos, DEJT 19/06/2020).

Na mesma direção, há precedentes, também, neste E. Regional:

"RECURSO ORDINÁRIO. PRERROGATIVAS DA FAZENDA PÚBLICA. EMPRESA


BRASILEIRA DE SERVIÇOS HOSPITALARES - EBSERH. IMPOSSIBILIDADE. Sendo
a recorrente empresa pública federal sujeita ao regime jurídico próprio das empresas
privadas, nos termos do artigo 173, § 1º, inciso II, da Constituição Federal e do artigo
5º do seu Estatuto Social, não lhe alcança os privilégios da Fazenda Pública.
Precedente desta 2ª Turma no Processo nº 0001048-85.2016.5.07.0010. (...)" (TRT-7 -
RO: 0001318-69.2017.5.07.0012, Relator: CLAUDIO SOARES PIRES, Data de
Julgamento: 13/05/2019, Data de Publicação: 13/05/2019).

Destarte, de se ratificar a conclusão do Decisum a quo de que as empresas


públicas e sociedades de economia mista integrantes da administração pública indireta, caso da
reclamada, não ostentam prerrogativas equiparadas às da Fazenda Pública.

2.2 Da licença para desempenho de mandato sindical

Confiram-se as razões de Decidir expendidas no primeiro grau de


jurisdição:

"A Constituição Federal garante a liberdade de associação sindical, estabelecendo em


seu artigo 5º, inciso XVII, que "é plena a liberdade de associação para fins lícitos,
vedada a de caráter paramilitar".

Ainda na Constituição, o artigo 8º dispõe sobre a livre associação sindical, vedando, em


seu inciso II, a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau,
representativa de categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que
será definida pelos trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser
inferior à área de um Município. Ademais, o inciso III determina que o sindicato
representa todos os integrantes da categoria, independentemente da manifestação de
vontade dos trabalhadores e empregadores abrangidos, e não apenas os filiados.

O enquadramento sindical, em nosso ordenamento jurídico, se faz por categorias


econômicas e profissionais (art. 570 da CLT). A categoria econômica é definida em
decorrência da atividade preponderante da empresa, (§ 1º do art. 511 da CLT). A
categoria profissional, por sua vez, é definida em razão do trabalho do empregado em
favor de empresa de determinada categoria econômica (§ 2º do art. 511 da CLT), exceto
em se tratando de categoria profissional diferenciada, que é formada pelos empregados
que exercem profissões ou funções diferenciadas por força de estatuto (§ 3º do art. 511
da CLT), que são aquelas definidas pelas leis que instituem os seus estatutos ou por atos
do Ministério do Trabalho e do Emprego.

Assinado eletronicamente por: PAULO REGIS MACHADO BOTELHO - 23/11/2020 12:29:04 - b0a8f80
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Número do processo: 0000198-16.2020.5.07.0002 ID. b0a8f80 - Pág. 4
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No caso da presente demanda, o reclamante se enquadra na categoria diferenciada dos


médicos, regida pelas Leis nº 3.999/61 e 12.842/13 e prevista no Quadro de Atividades e
Profissões de que fala o artigo 577 da CLT. Logo, o enquadramento sindical dos
médicos da reclamada não é definido pela atividade econômica preponderante, mas sim
pelo exercício de funções ou profissões diferenciadas por força do estatuto profissional
especial ou em consequência de condições de vidas singulares (§ 3º do art. 511 da CLT).

Assim, em decorrência do princípio da unicidade sindical, previsto no inciso II do artigo


8º da Constituição da República, os integrantes da categoria profissional diferenciada
dos médicos somente podem ser representados no município de Fortaleza pelo Sindicato
dos Médicos do Estado do Ceará - SINDMED-CE, não sendo permitido a dissociação
para parte da categoria integrar outra categoria de trabalhadores vinculados a
determinada atividade econômica. Não é permitido, no ordenamento jurídico vigente,
dissociar trabalhador do enquadramento horizontal (artigo 511, § 3º, da CLT) para
associá-lo ao enquadramento vertical (artigo 511, § 2º, da CLT). A dissociação de
categoria profissional diferenciada só é permitida por desmembramento territorial,
observado o limite mínimo de um município, conforme inciso II do artigo 8º da
Constituição Federal.

Dessa forma, reconheço que os médicos de Fortaleza são representados pelo Sindicato
dos Médicos do Estado do Ceará - SINDMED-CE e não pela Confederação dos
Trabalhadores no Serviço Público Federal/Federação dos Trabalhadores no Serviço
Público Federal, como alega a reclamada.

Outrossim, não prospera a alegação da contestação de que o Sindicato dos Médicos do


Ceará - SINDMED-CE não representa os médicos empregados da EBSERH por não ser
filiado à federação que participa da mesa de negociação nacional da reclamada, não
possuindo a devida representatividade, pois a representação sindical está compreendida
na base territorial do local de trabalho a que o empregado está subordinado, ou seja, o
local em que está concentrada a prestação de serviços, independentemente do sindicato
ser filiado a determinada Federação. A representatividade do Sindicato, condicionada à
filiação de determinada Federação, como pretende a reclamada, ofende o princípio da
liberdade de filiação, que se aplica tanto aos trabalhadores como às entidades
representativas, de modo que o Sindicato é livre para filiar-se ou desfiliar-se da
Federação e/ou Confederação correspondente.

O reclamante foi eleito diretor de finanças e patrimônio do Sindicato dos Médicos do


Estado do Ceará - SINDMED-CE, para o mandato referente ao triênio 2018/2021,
consoante ata de eleição anexado aos autos (fls. 65/74).

Nessa conjuntura, insta frisar que o empregado eleito para cargo de administração
sindical ou representação profissional, inclusive junto a órgão de deliberação coletiva,
não poderá ser impedido do exercício de suas funções, nem transferido para lugar ou
mister que lhe dificulte ou torne impossível o desempenho das suas atribuições sindicais,
nos termos do art. 543 da CLT.

O parágrafo 2º do artigo acima referido concedeu ao empregado o direito de se


ausentar do trabalho sem o recebimento de remuneração.

Ademais, o art. 35 do Regulamento de Pessoal da EBSERH estabelece que (fl. 228):

"Art. 35 - O empregado poderá ser licenciado nas seguintes modalidades:

(...)

X. licença para exercício de mandato de cargo de direção em entidade Sindical


representativa dos empregados da EBSERH; (art.543, parágrafo 2º da CLT);

(...)

(destaquei).

Pelo exposto, julgo procedente o pleito da exordial para determinar que a reclamada
conceda licença ao reclamante para exercício de mandato de cargo de direção, nos
termos do inciso X do art. 35 do Regulamento de Pessoal da reclamada.

Assinado eletronicamente por: PAULO REGIS MACHADO BOTELHO - 23/11/2020 12:29:04 - b0a8f80
https://pje.trt7.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20110414435882700000007916371
Número do processo: 0000198-16.2020.5.07.0002 ID. b0a8f80 - Pág. 5
Número do documento: 20110414435882700000007916371
Fls.: 7

Nessa senda, defiro a tutela de urgência para determinar que a reclamada conceda
licença ao reclamante para exercício de mandato de cargo de direção, nos termos do
inciso X do art. 35 do Regulamento de Pessoal da EBSERH, por presentes os elementos
dispostos no art. 294 c/c Art. 300 do NCPC, acerca da probabilidade do direito e o
perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo, no prazo de 5 (cinco) dias úteis
da ciência desta decisão, sob pena de multa diária de R$ 1.000,00 limitada ao valor
global de R$ 20.000,00." (ID 8103252, págs. 03/06).

Impõem-se endossados os jurídicos fundamentos acima transcritos.

Sabe-se que, nos termos do art. 570 da CLT, respeitada a base territorial, a
atividade econômica preponderante do empregador deve ser considerada para a determinação do
enquadramento sindical de seus empregados, salvo se integrante de categoria profissional diferenciada.

É o caso dos autos, porquanto, efetivamente, o reclamante integra


categoria profissional diferenciada, pois, nos termos do § 3º do art. 511 da CLT, exerce ofício distinguido
em virtude de estatuto profissional especial, qual seja, a Lei nº 12.842/2013. Em assim, é representado
pelo Sindicato dos Médicos do Estado do Ceará - SINDMED-CE, não sendo o seu enquadramento
definido pela atividade econômica do empregador, como bem estabelecido na Sentença recorrida.

Em reforço argumentativo, colhe-se da jurisprudência:

"(...) RECURSO ADESIVO DA PARTE RÉ. MÉDICO. ENQUADRAMENTO SINDICAL.


CATEGORIA PROFISSIONAL DIFERENCIADA. A regra geral, no ordenamento
jurídico pátrio, é de que a categoria profissional dos empregados está diretamente
vinculada à atividade econômica preponderante da empresa, conforme parágrafo 2º do
artigo 511 da CLT, com a exceção contida no parágrafo 3º do mesmo dispositivo, que
diz respeito à categoria diferenciada, na qual se enquadram os médicos. Em sendo
assim, ao contrário do consignado na instância de origem, é inarredável a conclusão de
que é absolutamente legítima a sua representação pelo Sindicato dos Médicos do Estado
da Paraíba. Recurso adesivo a que se nega provimento." (TRT-13 - RO: 0000595-
51.2019.5.13.0032, Relator Des. Edvaldo de Andrade; Data de Julgamento: 10/09/2020,
Tribunal Pleno)

"ENQUADRAMENTO SINDICAL, DA CATEGORIA DIFERENCIADA. DA


CONTRIBUIÇÃO SINDICAL. A categoria constituída pelos médicos é considerada
como diferenciada, diante os termos do § 3º do art. 511 da CLT e da Lei nº 3.999/61.
Logo, o seu enquadramento sindical não se vincula ao critério geral da atividade
preponderante do empregador, ou a exemplo do caso dos autos, ao serviço público,
convindo frisar que ser aplicável aos entes públicos as diretrizes estabelecidas pela CLT
no que diz respeito ao tema contribuição sindical, ante a inexistência de norma
específica sobre o tema. Assim, prospera a pretensão recursal, a qual visa à reforma da
sentença para o fim de ser reconhecido SIMESC como a entidade sindical que
representa os médicos que trabalha em favor do Município réu." (TRT12 - ROT -
0001401-18.2017.5.12.0054, Rel. GARIBALDI TADEU PEREIRA FERREIRA, 4ª
Câmara, Data de Assinatura: 02/03/2020).

É incensurável, também, a afirmação decisória de que o fato de o


SINDMED-CE não participar da Mesa de Negociação Nacional da EBSERH, nem estar filiado a
qualquer das entidades que ali têm assento, em nada afeta a sua representatividade na situação em apreço,
pois o que importa na espécie é a base territorial do local de trabalho e o pertencimento a uma categoria
diferenciada.

Assinado eletronicamente por: PAULO REGIS MACHADO BOTELHO - 23/11/2020 12:29:04 - b0a8f80
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Número do documento: 20110414435882700000007916371
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Nesse passo, considerando ser incontroversa a eleição do autor para o


exercício de cargo de direção do SINDMED-CE, no triênio 2018/2021, assiste-lhe o direito ao
afastamento não-remunerado previsto no art. 543, § 2º, da CLT, in verbis:

"Art. 543 - O empregado eleito para cargo de administração sindical ou representação


profissional, inclusive junto a órgão de deliberação coletiva, não poderá ser impedido
do exercício de suas funções, nem transferido para lugar ou mister que lhe dificulte ou
torne impossível o desempenho das suas atribuições sindicais.

(...)

§ 2º - Considera-se de licença não remunerada, salvo assentimento da emprêsa ou


cláusula contratual, o tempo em que o empregado se ausentar do trabalho no
desempenho das funções a que se refere êste artigo."

Acolher a argumentação recursal implicaria erigir óbice ao desempenho


do mandato sindical, o que é inadmissível.

Frise-se não prosperar a alegativa recursal de que o Regulamento de


Pessoal da EBSERH somente autorizaria a licença do autor para o exercício de cargo diretivo na
Confederação dos Trabalhadores no Serviço Público Federal / Federação dos Trabalhadores no Serviço
Público Federal (CONDSEF/FENADSEF), que representaria os empregados daquela empresa pública.

Tratando-se de norma interna, o Regulamento em questão não pode se


sobrepor às disposições da CLT e da Constituição Federal, que tratam da representação sindical, as quais,
conforme aqui já analisado, sinalizam ser o autor integrante de categoria profissional diferenciada,
portanto não sujeito a enquadramento sindical atrelado à atividade econômica preponderante de seu
empregador.

E, repita-se, em sendo ele representado pelo SINDMED-CE, sua eleição


para cargo diretivo desta entidade de classe confere o direito ao afastamento discutido nestes autos.

Em suma, o pronunciamento sentencial recorrido não comporta qualquer


reparo, merecendo, pois, integral ratificação, por seus fundamentos.

CONCLUSÃO DO VOTO

Conhecer do Recurso, mas lhe negar provimento, mantendo a Sentença


por seus próprios fundamentos.

DISPOSITIVO

Assinado eletronicamente por: PAULO REGIS MACHADO BOTELHO - 23/11/2020 12:29:04 - b0a8f80
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Número do processo: 0000198-16.2020.5.07.0002 ID. b0a8f80 - Pág. 7
Número do documento: 20110414435882700000007916371
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ACORDAM OS DESEMBARGADORES INTEGRANTES DA 2ª


TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 7ª REGIÃO, por
unanimidade, conhecer do Recurso, mas lhe negar provimento, mantendo a Sentença por seus próprios
fundamentos.

Participaram do julgamento os Exmos. Srs. Desembargadores Cláudio


Soares Pires (Presidente), Paulo Régis Machado Botelho (Relator) e Jefferson Quesado Júnior. Presente
ainda o(a) Exmo(a). Sr(a). membro do Ministério Público do Trabalho. Em gozo de férias o Exmo. Sr.
Desembargador Francisco José Gomes da Silva.

Fortaleza, 23 de novembro de 2020.

PAULO REGIS MACHADO BOTELHO


Relator

VOTOS

Assinado eletronicamente por: PAULO REGIS MACHADO BOTELHO - 23/11/2020 12:29:04 - b0a8f80
https://pje.trt7.jus.br/segundograu/Processo/ConsultaDocumento/listView.seam?nd=20110414435882700000007916371
Número do processo: 0000198-16.2020.5.07.0002 ID. b0a8f80 - Pág. 8
Número do documento: 20110414435882700000007916371

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