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Detalhamento de Acórdão

PJe 15. 0040400-11.2008.5.03.0085 (ReeNec)

Órgão Julgador Setima Turma

Relator(a)/Redator(a) Marcelo Lamego Pertence

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ENTE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA. RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL. ADC 16.Tendo


em vista o entendimento firmado pelo STF no julgamento da ADC 16, não há
responsabilidade contratual da Administração Pública pelas verbas trabalhistas dos
empregados terceirizados, conforme a literalidade do art. 71, §1º, da Lei 8.666/93.
Também, conforme posicionamento do STF, a responsabilidade da Administração Pública,
nesses casos, não estará calcada no art. 37, § 6º, da CR/88, não sendo objetiva. Assim, a
eventual responsabilidade dos entes públicos por créditos trabalhistas relacionados a
serviços terceirizados é necessariamente extracontratual e subjetiva, decorrente, pois, de
ato ilícito ou abuso de direito, nos termos dos arts. 186 e 187 do CC/02, conforme se
apurar caso a caso. Ressalte-se que, nos termos da Tese Jurídica Prevalecente n. 23 deste
Regional, é do ente público o ônus da prova quanto à existência de efetiva fiscalização
dos contratos de trabalho de terceirização, para que não lhe seja imputada a
responsabilidade subsidiária. Isto porque constitui fato impeditivo ou extintivo da
condenação postulada pelo autor, nos termos do art. 373, II, do CPC.

PODER JUDICIÁRIO
JUSTIÇA DO TRABALHO
TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 03ª REGIÃO

PROCESSO nº 0040400-11.2008.5.03.0085 (RemNecTrab)


RECORRENTE: UNIÃO FEDERAL (AGU)
RECORRIDO: 1) ROZANGELA DOS REIS SILVA,
2) SOVE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA.
RELATOR: DESEMBARGADOR MARCELO LAMEGO PERTENCE

EMENTA

ENTE DA ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA.

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RESPONSABILIDADE PATRIMONIAL. ADC 16.Tendo em


vista o entendimento firmado pelo STF no julgamento da
ADC 16, não há responsabilidade contratual da
Administração Pública pelas verbas trabalhistas dos
empregados terceirizados, conforme a literalidade do art.
71, §1º, da Lei 8.666/93. Também, conforme
posicionamento do STF, a responsabilidade da
Administração Pública, nesses casos, não estará calcada
no art. 37, § 6º, da CR/88, não sendo objetiva. Assim, a
eventual responsabilidade dos entes públicos por
créditos trabalhistas relacionados a serviços terceirizados
é necessariamente extracontratual e subjetiva,
decorrente, pois, de ato ilícito ou abuso de direito, nos
termos dos arts. 186 e 187 do CC/02, conforme se
apurar caso a caso. Ressalte-se que, nos termos da Tese
Jurídica Prevalecente n. 23 deste Regional, é do ente
público o ônus da prova quanto à existência de efetiva
fiscalização dos contratos de trabalho de terceirização,
para que não lhe seja imputada a responsabilidade
subsidiária. Isto porque constitui fato impeditivo ou
extintivo da condenação postulada pelo autor, nos termos
do art. 373, II, do CPC.

RELATÓRIO

Conforme registrado no v. acórdão de ID. 8246df2 desta


Eg. 7ª Turma, "A MM. Juíza Célia das Graças Campos, da Vara do Trabalho de
Diamantina, pela v. sentença de fls. 106/114, cujo relatório adoto e a este incorporo, julgou
procedentes, em parte, para condenar as reclamadas SOVE SERVIÇOS
ESPECIALIZADOS LTDA. e UNIÃO FEDERAL, sendo a 2ª de forma subsidiária, a
pagarem ao reclamante os pedidos formulados na inicial conforme dispositivo de fls.
112/113. A reclamada, União Federal, interpôs recurso ordinário, às fls. 117/131, que pugna
pela reforma da v. sentença no que tange à imposição da responsabilidade solidária,
pretendendo a sua exclusão da lide. Sucessivamente, na hipótese de eventual manutenção
da responsabilidade subsidiária impugna as parcelas deferidas ao argumento de que são
da responsabilidade exclusiva da empregadora. Na eventualidade requer que seja
restringida a sua responsabilidade ao período em que efetivamente o reclamante tenha
trabalhado para o ente público. Não foram apresentadas contrarrazões. A Procuradoria
Regional do Trabalho, em parecer de lavra da Dra. Júnia Castelar Savaget, opinou pelo
conhecimento e desprovimento do recurso ordinário (fl. 149)." (ID. 8246df2 - Pág. 3).

Esclareço que nos termos da r. sentença de ID. 83c8abe,


folhas 106/114, a que o v. acórdão faz referência, foram julgados, procedentes em

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parte, os pedidos formulados pela autora, ROZANGELA DOS REIS SILVA, em face
de SOVE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA. e UNIÃO FEDERAL, para: "condenar
as Reclamadas, sendo a última, subsidiariamente, nos limites definidos no item 2.4, dos
fundamentos supra, a pagar à Reclamante, no prazo legal, as seguintes parcelas: a) aviso
prévio (R$96,67); b) 8/12 de 13º salário proporcional (R$64,40); c) férias vencidas e 1/12
de proporcionais, ambas acrescidas do terço legal (R$139,63); d) multa de 40% do FGTS
(R$40,21); e) multa do art. 477, da CLT (R$96,97); multa do art. 467/CLT (R$150,34). A
Primeira Reclamada deverá, ainda, no prazo legal, promover a retificação da CTPS da
Reclamante, no que se refere à data de ingresso, para fazer constar o dia 24/07/2007.
Isso, sob pena de fazê-lo a Secretaria da Vara, sem prejuízo de incidência das cominações
legais pertinentes. (...) Custas pela 1ª Reclamada, no importe de R$40,00, calculadas
sobre R$2.000,00, valor arbitrado à condenação. ISENTA a 2ª Reclamada, na forma do art.
790-A, da CLT." (ID. 83c8abe - Pág. 7/9).

Nos termos do dispositivo de ID. 8246df2 - Pág. 6, esta


Eg. Turma, unanimemente, conheceu do recurso ordinário interposto pela 2ª ré,
UNIÃO FEDERAL, e, no mérito, sem divergência, negou-lhe provimento.

A 2ª ré, UNIÃO FEDERAL, interpôs o recurso de revista


de ID. b29dd22 - Pág. 2/11, versando sobre a sua exclusão da lide, com a reforma da
sua condenação subsidiária; e sucessivamente, caso mantida a sua condenação,
requereu a redução da sua condenação às verbas trabalhistas diretas, excluídas as
rescisórias e multas, e que a execução contra a recorrente se processe somente
depois de exaurida a execução forçada contra a primeira reclamada e seus sócios,
com a aplicação de juros de 0,5% em caso de execução em face da União.

Conforme o despacho proferido pelo Exmo.


Desembargador Caio Luiz de Almeida Vieira de Mello, então Vice-Presidente Judicial
deste Regional (ID. 93c26c1), foi denegado seguimento ao recurso de revista da 2ª
ré.

A 2ª ré aviou o agravo de instrumento de ID. d78086c,


recebido pela Exma. Desembargadora Emília Facchini, então Vice-Presidente
Judicial deste Regional, nos termos do despacho de ID. d78086c - Pág. 8, com
determinação de envio dos autos eletrônicos ao col. TST, para exame de sua

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admissibilidade, concedendo, no mesmo ato, vista às partes agravadas para


contraminuta.

Os autos foram enviados para o col. TST (ID. d78086c -


Pág. 9). Parecer emitido pelo Procurador Regional do Trabalho Maurício Correia de
Mello, ID. d78086c - Pág. 11/13, opinando pelo conhecimento e não provimento do
Agravo de Instrumento.

Conforme Certidão de Julgamento de ID. 8af0450 - Pág.


1, a 2ª Turma do C. TST decidiu por conhecer do agravo de instrumento para negar-
lhe provimento, nos termos do v. acórdão de ID. 8af0450 - Pág. 5/11, de relatoria do
Exmo. Ministro Renato de Lacerda Paiva.

Inconformada, a UNIÃO FEDERAL interpôs Recurso


Extraordinário de ID. 8b4984e, pleiteando a reforma do acórdão impugnado, ante a
demonstração de violação aos preceitos constitucionais, para que seja excluída a
condenação em responsabilidade subsidiária trabalhista imposta, inclusive as multas
decorrentes do inadimplemento perpetrado.

A Exma. Ministra Maria Cristina Irigoyen Peduzzi, Vice


Presidente do TST à época, em despacho de ID. 1180780 - Pág. 5, de 06/04/2011,
com fundamento no art. 543-B, parágrafo 1º do CPC, determinou o sobrestamento do
recurso extraordinário, Tema 246, até que sobrevenha decisão final do STF sobre a
matéria, considerando que, em hipótese idêntica, reconheceu em 04/02/2010, a
existência de repercussão geral da questão no Recurso Extraordinário nº 603.397/
SC, ainda pendente de julgamento de mérito.

Em despacho de ID. 21984e5, o Exmo. Ministro Ives


Gandra da Silva Martins Filho, Vice-Presidente do TST, revogou o sobrestamento do
recurso extraordinário, denegando seguimento ao recurso extraordinário,
determinando a baixa dos autos à origem, em decisão de 15/04/2015.

A UNIÃO FEDERAL, não se conformando com a decisão


que negou seguimento a seu recurso extraordinário, interpôs Agravo com
fundamento no art. 544 do CPC, no que prevê o art. 897, alínea "b", §§ 4º, 5º, 6º e 7º,
da CLT, e, subsidiariamente, na forma do art. 544, do CPC, com redação dada pela

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Lei 12.322/10, requerendo que as razões deduzidas sejam encaminhadas ao Excelso


Supremo Tribunal Federal. Pleiteou o provimento do agravo para determinar o
sobrestamento do recurso extraordinário denegado até o julgamento final pelo
Plenário do STF do recurso representativo da controvérsia relativo ao Tema 246 - RE
790.931/DF (ID. c543368).

O Exmo. Ministro Emmanoel Pereira Vice Presidente do


TST, recebeu o agravo apresentado pera recorrente, reconsiderou a decisão anterior,
para manter sobrestado o recurso extraordinário interposto pela UNIÃO (ID. bc96422
- Pág. 2/3).

Em novo despacho de ID. 30ff048 - Pág. 2, o Exmo.


Ministro Emmanoel Pereira Vice Presidente do TST, determinou o dessobrestamento
do processo para que seja efetivado o necessário exame da tese contida no acórdão
proferido no presente feito, em confrontação com aquela fixada no precedente de
repercussão geral, considerando que a matéria do Tema 246 foi julgada na Sessão
do Tribunal Pleno do STF em 26/04/2017.

Por meio do despacho de ID. 40b7916 - Pág. 3/4, o C.


TST decidiu por manter o sobrestamento do recurso extraordinário até o trânsito em
julgado de decisão do STF sobre a matéria, considerando que: "No caso em exame, a
matéria impugnada no recurso extraordinário corresponde ao Tema nº 246 da tabela de
temas do Supremo Tribunal Federal, ao qual o Pretório Excelso, em 16/04/2010,
reconheceu a existência de repercussão geral. Por meio do despacho de sequencial retro,
o então Ministro Vice-Presidente determinou o dessobrestamento do recurso
extraordinário, considerando-se o julgamento da tese de mérito do precedente. Contudo,
conquanto o Supremo Tribunal Federal tenha apreciado o mérito da matéria em acórdão
publicado em 12/09/2017, foram opostos embargos de declaração, ainda pendentes de
julgamento, e cuja redistribuição foi determinada em 02/02/2018, de modo que não se
operou o trânsito em julgado, impondo-se o sobrestamento deste recurso
extraordinário."(ID. 40b7916 - Pág. 3).

Por meio do despacho de ID. 8e38274 - Pág. 2/3, o C.


TST determinou o dessobrestamento dos autos e o seu encaminhamento ao órgão
fracionário prolator da decisão recorrida, para que se manifeste sobre a necessidade

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ou não de exercer eventual juízo de retratação da decisão proferida.

A 2ª Turma do C. TST, em sessão virtual realizada no


período de 10/03/2020 à 17/03/2020, sob a presidência da Exma. Ministra Delaíde
Miranda Arantes, decidiu, em juízo de retratação, "dar provimento ao agravo de
instrumento da segunda parte reclamada por possível violação do art. 71 §1º, da Lei
8.666/93, determinando o processamento do recurso de revista, a reautuação dos autos e
a intimação das partes e dos interessados para seu julgamento, nos termos dos arts. 935
do CPC e 122 do RITST."(ID. f3f3add - Pág. 1).

A eg. 2ª Turma do col. TST, por meio do v. acórdão de ID


ID. 3870f76, decidiram, por unanimidade, em juízo de retratação, "I - dar provimento
ao agravo de instrumento da segunda parte reclamada, por possível violação do art. 71, §
1º, da Lei 8.666/93, determinando o processamento do recurso de revista, a reautuação
dos autos e a intimação das partes e dos interessados para seu julgamento, nos termos
dos arts. 935 do CPC e 122 do RITST; II - conhecer do recurso de revista por violação do
art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93 e, no mérito, dar-lhe provimento parcial para determinar o
retorno dos autos ao Tribunal de origem para que examine a existência de culpa in
vigilando, nos termos da fundamentação."(ID. 3870f76 - Pág. 14).

Embargos de Declaração opostos pela UNIÃO


FEDERAL, com pedido de efeito modificativo, ID. 8e594c4, que foram rejeitados pelo
C. TST, conforme o v. acórdão de ID. ab15118 - Pág. 6/8.

Embargos à SDI-I do C. TST apresentados pela UNIÃO


FEDERAL (ID. 6cec893), cujo seguimento foi denegado pelo TST (ID. d5c7071).

A decisão transitou em julgado em 25/11/2020, conforme


Certidão de ID. f8f06a1 - Pág. 6, visto que houve interposição de recurso contra a decisão
proferida nos autos.

O d. juízo a quo, da Vara do Trabalho de Diamantina, em


despacho de ID. 1ea310c, considerando a decisão da 2ª Turma do C. TST, que em
juízo de retratação determinou o retorno dos autos ao Tribunal de origem para que se
examine a existência de culpa in vigilando, remeteu o processo para apreciação desta
Eg. 7ª Turma.

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Intimação judicial da autora ROZANGELA DOS REIS


SILVA para tomar conhecimento do retorno dos autos ao Segundo Grau para exame
da existência de culpa in vigilando, em juízo de retração (ID. c22ea89 - Pág. 2). Edital
de intimação da 1ª reclamada SOVE SERVICOS ESPECIALIZADOS LTDA., que se
encontra em lugar incerto ou não sabido (ID. 6aeea7d). Intimação da UNIÃO
FEDERAL, para tomar conhecimento do retorno dos autos (ID. 60ced45).

Remetidos os autos a este Regional, foram inicialmente


distribuídos para o Gabinete de Desembargador nº 46, em que a Exma.
Desembargadora Gisele de Cássia Vieira Dias Macedo, considerando a ocorrência
de prevenção, determinou a redistribuição do feito para esta Eg. 7ª Turma, nos
termos do art. 136 do Regimento Interno desta corte, (ID. 3b79a72).

Encaminhado para o Gabinete da Presidência desta Eg.


7ª Turma, a Exma. Desembargadora Cristiana Maria Valadares Fenelon, nos termos
da previsão contida no art. 136, § 3º, do Regimento Interno, determinou a
redistribuição do processo, por sorteio, a um dos integrantes desta 7ª Turma (ID.
8d0adf5).

Recebido por sorteio o referido processo por este relator,


os autos foram encaminhados ao Ministério Público do Trabalho para seu
pronunciamento prévio, nos termos do artigo 129, I, "a", do Regimento Interno deste
Eg. Regional (ID. 235c4d0).

Manifestação do Ministério Público do Trabalho de ID.


c5cd06a, da lavra da Exma. Procuradora do Trabalho Dra. FERNANDA BRITO
PEREIRA, opinando pelo reconhecimento da responsabilidade subsidiária da UNIÃO,
nos termos da fundamentação.

É o relatório.

QUESTÃO DE ORDEM

Necessário registrar que, embora o presente feito tenha


sido classificado como "Remessa Necessária Trabalhista (RemNecTrab)", trata-se,
na verdade, de interposição de "Recurso Ordinário Trabalhista (ROT)", razão pela
qual determina-se que o presente apelo seja autuado na classe processual Recurso

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Ordinário Trabalhista (ROT).

JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Juízo de admissibilidade superado no v. acórdão de ID.


8246df2. Em cumprimento à decisão proferida pelo col. TST, de ID. 3870f76 - Pág.
3/14, passo à análise do recurso ordinário da UNIÃO FEDERAL para que se examine
a existência de culpa in vigilando na fiscalização do cumprimento dos direitos
trabalhistas de empregados da prestadora de serviços contratada, sob o prisma do
art. 71, §1°, da Lei 8.666/1993.

JUÍZO DE MÉRITO

RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA DA 2ª RÉ, UNIÃO


FEDERAL - CULPA IN VIGILANDO

A eg. 2ª Turma do col. TST, através da decisão de ID.


3870f76 - Pág. 3, da lavra da relatoria da Exma. Ministra Maria Helena Mallmann,
proferiu o seguinte entendimento:

"(...) Em recente decisão, no julgamento dos embargos de


declaração nos autos do RE-760931/DF, o Supremo Tribunal
Federal reafirmou sua jurisprudência acerca da
responsabilidade da Administração Pública quanto ao
pagamento de verbas trabalhistas devidas a empregados
que a ela prestam serviços de maneira terceirizada.

Em um primeiro momento, a Corte Constitucional ratificou a


constitucionalidade do art. 71, §1º, da Lei 8.666/93, na linha
do que já havia decidido na ADC 16. Em um segundo
instante, fixou-se a tese no sentido de que 'o inadimplemento
dos encargos trabalhistas dos empregados do contratado
não transfere automaticamente ao Poder Público contratante
a responsabilidade pelo seu pagamento, seja em caráter
solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei nº
8.666/93'.

Aqui, deixou-se evidente que o inadimplemento da


empresa terceirizada não autoriza, por si só, o
redirecionamento da responsabilidade à Administração
Pública. Com efeito, embora seja possível a
responsabilização do ente púbico, não é o inadimplemento
oseu pressuposto único. Aliás, a equilibrada decisão do
Supremo Tribunal Federal deixou claro que a expressão
"automaticamente" contida na tese teve como objetivo
possibilitar ao trabalhador a responsabilização doente
público, 'dependendo de comprovação de culpa in eligendo

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ou culpa in vigilando, o que decorre da inarredável obrigação


da administração pública de fiscalizar os contratos
administrativos firmados sob osefeitos da estrita legalidade'
(voto do Min. Edson Fachin, redator do acórdão do ED-
RE760931/DF).

Portanto, ficou decidido no julgamento do recurso


extraordinário (e reafirmado no julgamento dos embargos de
declaração) que é possível responsabilizar a Administração
Pública pelo pagamento das verbas trabalhistas devidas a
empregados das empresas terceirizadas, de maneira
subsidiária, quando constatada a omissão na sua atuação,
que é obrigatória, sendo vedada a presunção de culpa.
Sendo assim, diferentemente da posição que esta 2ª Turma
vinha adotando (com ressalva de entendimento pessoal de
seus integrantes) - por entender que o Supremo Tribunal
Federal havia também firmado entendimento no sentido de
que seria do trabalhador o ônus da prova da omissão na
fiscalização pelo ente da Administração Pública -, o Supremo
Tribunal não firmou tese processual acerca da distribuição do
onus probandi.

Neste sentido, as regras de distribuição do ônus da prova


continuam a observar os dispositivos infraconstitucionais que
as regulam, a exemplo dos arts. 373 do CPC/2015 e 818 da
CLT. Dito isso, é a Administração Pública quem tem a
aptidão para a prova da fiscalização do contrato
administrativo de prestação de serviços (aspecto subjetivo do
ônus da prova), obrigação que decorre da própria Lei de
Licitações (arts. 58, III, e 67 da Lei 8.666/93), na linha do que
definiu o Supremo Tribunal Federal.

Assim, nos casos em que não há prova de fiscalização, deve


o julgador decidir contrariamente à parte que tinha o ônus
probatório e dele não se desincumbiu: é a própria adoção da
distribuição do ônus da prova como regra de julgamento
(aspecto objetivo do ônus da prova).

No caso, contudo, o Tribunal Regional não examinou a


controvérsia à luz da caracterização da culpa in
vigilando do ente público diante do conjunto probatório
produzido pelas partes. Sendo assim, considerando a
impossibilidade de reexame probatório nesta via
extraordinária do recurso de revista, bem como que a
Corte a quo não examinou a questão à luz dos
julgamentos da ADC 16 e do RE760931/DF, cumpre
determinar o retorno dos autos ao eg. Tribunal de origem
para que aprecie a pretensão objeto da ação, levando em
consideração a existência dos elementos que norteiam a
responsabilidade do ente público, em especial a
caracterização da sua culpa in vigilando na fiscalização
do cumprimento dos direitos trabalhistas de
empregados da prestadora de serviços contratada.

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Dessa forma, a decisão regional merece ser reformada para


se compatibilizar com a tese fixada no âmbito do Supremo
Tribunal Federal.

Diante do exposto, conheço do recurso de revista por


violação ao art. 71, § 1°, da Lei 8.666/1993.

1.2 - Mérito

Conhecido o recurso de revista por violação do art. 71, § 1º,


da Lei 8.666/93, no mérito, dou-lhe provimento parcial para
determinar o retorno dos autos ao Tribunal de origem para
que examine a existência de culpa in vigilando, nos termos
da fundamentação.

ISTO POSTO

ACORDAM os Ministros da Segunda Turma do Tribunal


Superior do Trabalho, por unanimidade, em juízo de
retratação, nos termos do artigo 1.030, inciso II, do CPC/
2015 (art. 543-B, §3.º, do CPC/1973), I - dar provimento ao
agravo de instrumento da segunda parte reclamada, por
possível violação do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93,
determinando o processamento do recurso de revista, a
reautuação dos autos e a intimação das partes e dos
interessados para seu julgamento, nos termos dos arts. 935
do CPC e 122 do RITST; II - conhecer do recurso de revista
por violação do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93 e, no mérito,
dar-lhe provimento parcial para determinar o retorno dos
autos ao Tribunal de origem para que examine a existência
de culpa in vigilando, nos termos da fundamentação." (ID.
3870f76 - Pág. 12/14).

O col. TST reconheceu, com amparo na decisão


proferida pelo STF nos julgamentos da ADC 16 e do RE-760931/DF, que ao analisar
a responsabilidade da Administração Pública quanto ao pagamento de verbas
trabalhistas devidas a empregados que a ela prestam serviços de maneira
terceirizada,o inadimplemento da empresa terceirizada não autoriza, por si só, o
redirecionamento da responsabilidade à Administração Pública contratante, seja em
caráter solidário ou subsidiário, nos termos do art. 71, § 1º, da Lei nº 8.666/93,
dependendo de comprovação de culpa in eligendo ou culpain vigilando, o que decorre
da obrigação do ente público de fiscalizar os contratos administrativos firmados.

Assim,o TST entendeu que este Eg. Tribunal não


examinou a controvérsia à luz da caracterização da culpa in vigilando da UNIÃO
FEDERAL, e, considerando a impossibilidade de reexame probatório, bem como à

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luz dos julgamentos da ADC 16 e do RE760931/DF, determinou o retorno dos autos a


este Tribunal de origem para que aprecie a pretensão da 2ª reclamada, considerando
a existência dos elementos que norteiam a sua responsabilidade, em especial quanto
a caracterização da sua culpa in vigilandona fiscalização do cumprimento dos direitos
trabalhistas de empregados da prestadora de serviços contratada.

Dessa forma, nos estritos limites da decisão proferida pelo


col. TST, deve ser analisada a culpa da 2ª ré, UNIÃO FEDERAL, nos moldes dos
julgamentos da ADC 16 e do RE760931/DF, quanto a caracterização da sua culpa in
vigilando na fiscalização, para fim de manutenção da responsabilidade subsidiária a ela
imposta na sentença de ID. 83c8abe.

Pois bem.

Conforme já examinado por esta eg. Turma no acórdão


de ID. 8246df2 - Pág. 4, a 2ª ré, ora recorrente, UNIÃO FEDERAL, contratou a 1ª
reclamada para a prestação de serviços, sendo fato incontroverso nos autos. Foi
reconhecido o vínculo empregatício da reclamante com a 1ª ré, com a imputação da
responsabilidade da 2ª ré, pelas obrigações trabalhistas advindas da relação de
emprego, por ser beneficiária dos serviços prestados pela autora.

Conforme o Termo de Reclamação de ID. a9eb84a, a


autora Rozangela dos Reis Silva alegou que foi contratada pela 1ª ré, SOVE
SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA. para prestar labor ao Ministério do Trabalho
em Diamantina/MG, na função de faxineira, com início do labor em 24/07/2007 e
dispensa em 01/08/2008 com aviso prévio laborado até 30/08/2008, com o não
recebimento das parcelas rescisórias.

A UNIÃO FEDERAL juntou cópia do Contrato formalizado


com a empresa SOVE SERVIÇOS ESPECIALIZADOS LTDA., para a prestação de
serviços contínuos de limpeza, asseio e conservação com fornecimento de toda a
mão de obra, equipamentos e materiais, em 17/12/2003, ID. 1776c45 - Pág. 5. Assim
como do 1º Termo Aditivo formalizado em 28/11/2004, com vigência até 28/12/2005
(ID. a50e900 - Pág. 1/2), 2º Termo Aditivo com vigência até 28/12/2005 (ID. a50e900
- Pág. 3/4), prorrogação por meio de Termo Aditivo com vigência até 28/12/2006 (ID.
a50e900 - Pág. 5/6), nova prorrogação por meio de Termo Aditivo até 28/12/2007 (ID.

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a50e900 - Pág. 7/8), concessão de equilíbrio financeiro em 26/11/2007 (ID. a50e900 -


Pág. 9/10), prorrogação da vigência até 28/12/2008, por Termo Aditivo (ID. a50e900 -
Pág. 11/12). O Contrato foi rescindido a contar de 15/10/2008, como rescisão de ID.
a50e900 - Pág. 13/14.

Consta na Cláusula Quarta do Contrato inicial que a


execução contratual será acompanhada e fiscalizada por um servidor responsável,
denominado Gestor do Contrato, a ser designado pelo Contratante, no caso, a
UNIÃO FEDERAL (ID. 8b87f1a - Pág. 9).

Em sede de contestação, ID. d174f85, alegou a


recorrente que cumpriu todos os compromissos constantes no contrato firmado em
17/12/2003, celebrado com a 1ª reclamada, por meio do Ministério do Trabalho e
Emprego, observada as disposições da Lei nº 8.666/93. Informa que "Assevere-se
que, por ser a prestação de serviços do reclamante decorrente de contrato licitatório
celebrado entre as Reclamadas, regida pela Lei nº 8.666/93, que, em seu art. 71, §1º,
alterado pela Lei nº 9.032/95, exclui, expressamente, a responsabilidade do ente público
por qualquer débito de natureza trabalhista, é patente a completa impossibilidade jurídica
de se condenar a UNIÃO como responsável subsidiária."(ID. d174f85 - Pág. 3).

Quanto a fiscalização, alega a UNIÃO FEDERAL que


"(...) como houve a fiscalização por parte do Poder Público no caso em tela - como pode
ser comprovado pela documentação apresentada pelo órgão tomador de serviço em anexo
- no que se refere ao pagamento das verbas trabalhistas, pelo menos enquanto esteve ao
alcance da Administração, não há que se falar em culpa in vigilando. É que assim quis o
legislador, pelo menos até o momento. Se a Administração Pública não descumpriu
qualquer obrigação legal, não há como lhe impor uma condenação, e caso ocorra, única e
exclusivamente no que cabia à Administração fiscalizar e controlar."(ID. d174f85 - Pág.
5). Afirma a recorrente que a autora prestou serviço apenas no mês de julho de 2008.

A 1ª reclamada não apresentou defesa e não


compareceu a audiência inaugural.

A UNIÃO FEDERAL juntou cópia da folha de ponto da


autora no mês de julho de 2008, por todo o mês, ID. e826869 - Pág. 4, não sendo
juntada aos autos as demais folhas. O fato de ter juntado apenas o controle de ponto

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de julho/2008 não representa que a autora não laborou em benefício da tomadora por
todo o período pleiteado na inicial, considerando que por todo o período a UNIÃO
manteve contrato com a 1ª reclamada, conforme os contratos juntados aos autos.

Caberia a UNIÃO designar um servidor público para a


função de gestor do contrato, para acompanhar e fiscalizar a sua execução, inclusive
a comprovação do recolhimento dos encargos sociais e previdenciários, assim como
a regularidade do pagamento das verbas trabalhistas pela empresa contratada. No
entanto, a UNIÃO não comprovou ter exercido o seu dever de fiscalizar de forma
eficaz.

Dessa forma, a 2ª ré beneficiou-se, por força do contrato


de prestação de serviços entabulado com a 1ª demandada, dos serviços prestados
pela obreira.

No julgamento da ADC nº 16 (24/11/2010), o STF firmou


o entendimento de que o art. 71, § 1º, da Lei 8.666/1993 é constitucional, referindo-
se à responsabilidade contratual da Administração Pública.

Nesse julgamento, pacificou-se a compreensão de que


tal comando não viola o art. 37, § 6º, da CR/88, que trata da responsabilidade
extracontratual do Estado.

Nessa perspectiva, a responsabilidade do Poder Público


pelas verbas trabalhistas atinentes aos empregados das empresas prestadoras de
serviços não decorreria do mero inadimplemento por parte das empresas
contratadas, não apresentando, portanto, caráter objetivo.

Assim sendo, tal responsabilidade deveria ser objeto de


análise, caso a caso, a fim de se perquirir se alguma ação ou omissão da
Administração Pública contribuiu para lesar o patrimônio do trabalhador.

Conforme a literalidade do art. 71, §1º, da Lei 8.666/93:


"A inadimplência do contratado, com referência aos encargos trabalhistas, fiscais e
comerciais não transfere à Administração Pública a responsabilidade por seu pagamento,
nem poderá onerar o objeto do contrato ou restringir a regularização e o uso das obras e
edificações, inclusive perante o Registro de Imóveis".

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De toda forma, o sobredito julgamento, proferido pelo


STF, não obsta a responsabilização subsidiária da Administração, caracterizado o
inadimplemento de créditos trabalhistas pela prestadora de serviços, caso o Poder
Público proceda de forma culposa, em afronta aos comandos legais regentes das
licitações e contratos administrativos.

Nesses termos, o posicionamento do STF não exclui a


configuração da responsabilidade aquiliana/subjetiva do ente público por créditos
trabalhistas relacionados à execução de obras/serviços contratados perante
terceiros, em face da comprovação do nexo de causalidade entre sua ação/omissão
culposa, verificada em contradição com o dever de vigilância imposto pela Lei
8.666/93, e o dano patrimonial impingido aos trabalhadores mobilizados em seu
benefício, nos termos dos arts. 186, 187 e 927 do Código Civil, conforme se apurar
caso a caso.

Frise-se que nos termos do disposto no item 2.II da


ADPF 324 do STF, verbis:

"Na terceirização, compete à contratante: (...) II) responder


subsidiariamente pelo descumprimento das normas
trabalhistas, bem como por obrigações previdenciárias, na
forma do artigo 31 da Lei 8.212/1993".

No presente caso, é incontroverso que a 2º ré era a


tomadora de serviços prestados pela autora.

Estabelecida tal premissa, impende destacar que em


julgamento ocorrido em 26.04.2017, o Col. Supremo Tribunal Federal, no RE 760931/DF,
fixou a tese de repercussão geral nº 246, in verbis:

"O inadimplemento dos encargos trabalhistas dos


empregados do contratado não transfere automaticamente
ao Poder Público contratante a responsabilidade pelo seu
pagamento, seja em caráter solidário ou subsidiário, nos
termos do art. 71, §1º, da Lei 8666/1993".

No julgamento, prevaleceu o voto do Em. Ministro Luiz


Fux, em que consta o seguinte:

"a imputação da culpa in vigilando ou in elegendo à


Administração Pública, por suposta deficiência na

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fiscalização da fiel observância das normas trabalhistas pela


empresa contratada, somente pode acontecer nos casos em
que se tenha a efetiva comprovação da ausência de
fiscalização". Ademais, "a ausência de comprovação em
juízo da efetiva fiscalização do contrato não substitui a
necessidade de prova taxativa do nexo de causalidade entre
a conduta da Administração e o dano sofrido".

Neste sentido, é o Informativo nº 862, do STF.

As teses fixadas pelo Supremo Tribunal estão em


consonância com o teor do item V, da Súmula 331 do TST, que dispõe:

"Os entes integrantes da Administração Pública direta e


indireta respondem subsidiariamente, nas mesmas
condições do item IV, caso evidenciada a sua conduta
culposa no cumprimento das obrigações da Lei n.º 8.666, de
21.06.1993, especialmente na fiscalização do cumprimento
das obrigações contratuais e legais da prestadora de serviço
como empregadora. A aludida responsabilidade não decorre
de mero inadimplemento das obrigações trabalhistas
assumidas pela empresa regularmente contratada".

Registre-se que a decisão proferida pelo Plenário do


STF, no julgamento do Recurso Extraordinário 760.931/DF, admitiu a
responsabilização da Administração Pública, condicionada à demonstração efetiva da
ausência da fiscalização e do nexo de causalidade entre o dano sofrido e a conduta
omissiva ou comissiva da tomadora de serviços. Nos termos do entendimento
firmado pelo STF no julgamento da ADC 16, não há responsabilidade contratual da
Administração Pública decorrente do inadimplemento de verbas trabalhistas dos
empregados terceirizados, conforme a literalidade do art. 71, § 1º, da Lei 8.666/93.

Portanto, o entendimento adotado pela Corte Suprema


não afastou a possibilidade de responsabilização da Administração Pública, apenas
havendo-se assentado que as decisões deverão ser proferidas depois de analisado
com acuidade o caso concreto, mormente se os entes públicos destinatários da
norma (§1º do art. 71 da Lei 8.666/93), beneficiários finais dos serviços prestados,
foram diligentes ou não em relação ao seu dever de fiscalizar a execução do objeto
contratual, inclusive no que respeita ao cumprimento das obrigações relativas aos
empregados da prestadora de serviços, responsável principal, considerando-se
especialmente, que o Estado de Direito está alicerçado nos valores sociais do
trabalho, consoante artigos 1º, IV e 193 da Constituição Federal, salientando-se que

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este último dispõe que: "a ordem social tem como base o primado do trabalho e a
justiça sociais".

Na espécie, não há demonstração de culpa na


contratação da 1ª ré, pois se presume que o procedimento seguiu os trâmites
delineados na Lei 8.666/93.

Subentende-se, assim, que foi corretamente avaliada a


habilitação jurídica e a regularidade/qualificação técnica, econômico-financeira e
fiscal/trabalhista.

De todo modo, a simples realização de contrato sob a


égide da licitação prevista na Lei 8.666/93, não exime a tomadora de serviços da
fiscalização de seu cumprimento, inclusive quanto a obrigações trabalhistas e fiscais.
Tampouco exime a tomadora de responsabilização de forma subsidiária.

Tal compreensão de forma alguma fulmina a


constitucionalidade atribuída ao art. 71, §1º, da Lei 8.666/1993, considerando que
essa mesma lei apresenta outras normas cogentes, às quais devem ser observadas
e aplicadas pela Administração de forma sistemática com o citado dispositivo.

Nesse contexto, a interpretação do artigo 71 da Lei


8.666/93 deve ser feita em conjunto com todo o ordenamento jurídico e, em especial,
à luz da Constituição da República, que traz como princípio o valor social do trabalho
e a ordem econômica fundada na valorização do trabalho humano.

Importa frisar, ainda, que não se nega que a decisão do


Supremo Tribunal Federal tem efeito vinculante e erga omnes, inclusive para os
demais Tribunais, a teor do artigo 102, §2º, da CR.

Contudo, a declaração de constitucionalidade do artigo


71 da Lei 8.666/93 não implica revogação do entendimento jurisprudencial
consagrado na Súmula 331 do Col. TST, nem mesmo compromete o entendimento
em torno da responsabilidade subsidiária da Administração Pública.

E nem se poderia dizer da ausência de lei, em sentido


estrito, a respeito. Não se pode olvidar que, nos termos do art. 8º da CLT, em seara

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trabalhista a jurisprudência se erige em fonte de direito.

Sob este prisma, impõe-se perquirir sobre a presença


concreta dos elementos caracterizadores da responsabilidade civil, a saber, o dano, a
conduta culposa omissiva ou comissiva e o nexo de causalidade, nos termos do
artigo 186 do CC.

Como exigência que decorre do contrato administrativo,


a manutenção das condições de habilitação/qualificação e regularidade fiscal/
trabalhista da prestadora de serviços deve ser objeto de continuada fiscalização,
configurando obrigação a que está adstrito o Poder Público, por força dos arts. 55,
XIII, 58, III, e 67 da Lei 8.666/93.

À luz do art. 67 da Lei 8.666/93, a fiscalização/


monitoramento do contrato traduz um dever de vigilância ativo, de forma a possibilitar
o oportuno equacionamento/resolução de pendências identificadas na execução,
resguardando, ao mesmo tempo, o atendimento do interesse público e os direitos dos
trabalhadores.

Destaca-se que não há presunção legal da prática de


atos administrativos, mas apenas da legitimidade dos atos praticados. Assim, o
cumprimento do dever legal de fiscalizar a regularidade da prestadora contratada
quanto às obrigações contratuais deve ser comprovado pelo ente público. Isto porque
constitui fato impeditivo ou extintivo da condenação postulada pela autora, nos
termos do art. 373, II, do CPC.

Nesse mesmo sentido, a Tese Jurídica Prevalecente n.


23 deste Regional, verbis:

"Responsabilidade subsidiária. Terceirização. Ente público.


Fiscalização. Ônus da prova. É do ente público o ônus da
prova quanto à existência de efetiva fiscalização dos
contratos de trabalho de terceirização, para que não lhe seja
imputada a responsabilidade subsidiária. (RA 111/2018,
disponibilização: DEJT/TRT3/Cad. Jud. 16, 17 e
18/07/2018)."

No presente caso, a 2º ré, UNIÃO FEDERAL, não trouxe


aos autos elementos capazes de evidenciar a regular, contínua e eficaz fiscalização

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quanto ao adimplemento dos direitos trabalhistas da autora.

Conforme se extrai dos autos, a 2º reclamada apresentou


os documentos de ID. e826869 e seguintes, referentes a guia de recolhimento do
FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), competência 07/2008, as
contribuições previdenciárias atinentes a todos os empregados vinculados à
prestação do serviço contratado e a folha individual de ponto do mês de julho de
2008.

Nada obstante a providência demonstrada pela 2º ré não


é suficiente para comprovar a efetiva e eficaz fiscalização do regular cumprimento da
legislação trabalhista pela 1ª ré, o que vai muito além dos recolhimentos do FGTS e
das contribuições previdenciárias.

Conforme esclarecido por esta eg. Turma no v. acórdão


de ID. 8246df2 - Pág. 2/6, a UNIÃO FEDERAL não procedeu às devidas fiscalizações
relativamente ao cumprimento das obrigações trabalhistas da 1ª ré, prestadora de
serviços. Extrai-se dos autos a culpa in vigilando, vez que foram desrespeitados
direitos trabalhistas basilares pela 1ª ré, como aviso prévio, 13º salário, férias
vencidas, multa de 40% FGTS e multa dos arts. 477 e 467 da CLT, sendo a 2ª
reclamada beneficiária dos serviços prestados pela autora.

Constatada, assim, a culpa da UNIÃO FEDERAL, na


modalidade in vigilando.

No presente caso, conforme se aferiu, a 1ª reclamada


deixou de pagar corretamente à autora o aviso prévio no valor de R$96,67, 8/12 de
13º salário proporcional (R$64,40), férias vencidas e 1/12 de proporcionais,
acrescidas do terço legal (R$139,63), multa de 40% do FGTS (R$40,21), o que
evidencia a ausência de efetiva fiscalização por parte da 2º ré.

Nesse sentido, inadimplente a 1ª ré no cumprimento das


obrigações decorrentes do contrato de trabalho, não há nos autos documentos que
demonstrem a prestação de contas completa perante a recorrente, a requisição de
informações ou a aplicação de correições ou sanções pelo descumprimento
contratual.

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Não há dúvidas, portanto, que o dever de vigilância


imposto pela Lei 8.666/93 não era efetivamente cumprido.

Reitero, quanto à culpa in vigilando, que a supervisão da


tomadora de serviços há de ser, sobretudo preventiva, a fim de não comprometer a
execução do contrato, evitando igualmente a transgressão dos direitos dos
trabalhadores.

A contínua fiscalização da execução, nos termos do art.


67, §1º, da Lei 8.666/93, é o procedimento necessário à perfeita consecução do
objeto pactuado, permitindo a tempestiva identificação e superação de problemas.

Há, pois, algum vício nesse procedimento se as


desconformidades não são oportunamente identificadas, como também na hipótese
de as medidas necessárias, diante da situação concreta, não serem adotadas.

Manifesta, pois, é a culpa in vigilando da tomadora de


serviços, sendo patente a relação de causalidade entre a sua conduta culposa omissiva e
os danos impingidos à demandante, o que justifica a imputação de responsabilidade
subsidiária da 2º ré pelos créditos objeto de condenação, com fulcro nos arts. 186, 187 e
927 do Código Civil.

O adimplemento de obrigações trabalhistas por parte da


empresa contratada guarda estreita relação com a execução das obras/serviços
pactuados e deve, sim, sofrer intenso controle por parte da Administração Pública.

Essa obrigação avulta não somente da observância


estrita aos preceitos da Lei 8.666/93, mas também da necessidade imperiosa de
atender aos princípios da eficiência e da moralidade administrativa (art. 37, caput,
CR).

Descabe ao Poder Público, estribado apenas no preço


da obra/serviço, negligenciando o dever de fiscalizar que lhe é imposto, beneficiar-se
à custa da exploração do trabalho daqueles que são chamados a operar, como
agentes terceirizados, em sua própria intimidade.

Por todo exposto, conclui-se que a UNIÃO FEDERAL

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não providenciou a efetiva e constante fiscalização do cumprimento das obrigações


trabalhistas pela 1ª ré, falhando em seus deveres preventivos e fiscalizatórios,
definidos em contrato e na legislação.

Em face do processo de intermediação de mão de obra,


não compete ao empregado terceirizado suportar o ônus decorrente da negligência
do Poder Público na fiscalização da empresa prestadora de serviços.

Insta salientar que tal supervisão há de ser, sobretudo


preventiva, a fim de não comprometer a execução do contrato, evitando igualmente a
transgressão dos direitos dos trabalhadores.

Nestes termos, a despeito de o contratante ostentar a


condição de ente público, não há óbice para que lhe seja imposta a responsabilidade
civil, nos termos dos arts. 186, 187 e 927 do CC/02.

O entendimento aqui exposto está em consonância com


o princípio da valorização do trabalho humano, adotado na Constituição da República
(art. 1º, IV).

Não há que prevalecer o interesse secundário do Poder


Público na defesa, a qualquer custo, do próprio patrimônio, às expensas dos mais
elementares princípios e direitos, consagrados nos âmbitos civil, administrativo e
trabalhista, os quais devem ser primordialmente resguardados pela própria
Administração.

Salienta-se, ainda, que a posição adotada na presente


decisão não viola nenhum dispositivo de ordem constitucional e infraconstitucional,
em especial os artigos 71, § 1º, da Lei 8.666/93, 5º, inc. II, 37, inc. II e XXI e 97 da
Constituição Federal, 818 da CLT e 373 do CPC.

Esclareço que a responsabilidade subsidiária decorrente


da terceirização de serviços alcança todas as obrigações de natureza pecuniária
deferidas na sentença, excetuando-se as obrigações de fazer de cunho
personalíssimo que recaiam sobre a devedora principal. Nesse sentido, o
entendimento sedimentado na Súmula 331, VI, do c. TST é de que a
"responsabilidade subsidiária do tomador de serviços abrange todas as verbas decorrentes

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da condenação referentes ao período da prestação laboral".

A responsabilidade é ampla, abrangendo todas as


parcelas decorrentes do contrato de trabalho que foram inadimplidas pela
empregadora. Assim, evidenciado o descumprimento das obrigações trabalhistas, a
responsabilidade subsidiária alcança até mesmo as indenizações e multas.

Pelo acima exposto, mantém-se a responsabilização


subsidiária da 2ª ré pelo prisma citado na decisão do TST.

Nada a prover.

ACÓRDÃO

Fundamentos pelos quais

O Tribunal Regional do Trabalho da Terceira Região, em


sessão ordinária da sua Sétima Turma, hoje realizada, sob a presidência da Exma.
Desembargadora Cristiana Maria Valadares Fenelon, presente a Exma. Procuradora
Sílvia Domingues Bernardes Rossi, representante do Ministério Público do Trabalho,
computados os votos da Exma. Desembargadora Cristiana Maria Valadares Fenelon
e do Exmo. Desembargador Antônio Carlos Rodrigues Filho, JULGOU o presente
processo e, unanimemente, CONHECEU do recurso ordinário interposto pela 2ª ré,
UNIÃO FEDERAL, e, no mérito, sem divergência, afastada pelo C. TST a decisão do
v. acórdão de ID. 8246df2 - Pág. 2/6, que foi reapreciada, em cumprimento à
determinação superior, a controvérsia sobre a responsabilidade subsidiária da
tomadora dos serviços, sob o prisma dos julgamentos da ADC 16 e do RE760931/DF
do STF, quanto a caracterização da sua culpa in vigilando na fiscalização, NEGOU-
LHE PROVIMENTO.

Mantido o valor da condenação, por compatível.

Belo Horizonte, 5 de fevereiro de 2021.

MARCELO LAMEGO PERTENCE

Desembargador Relator
MLP/DFA

VOTOS

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