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Abolição Da Esc-WPS Office
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Abolição Da Esc-WPS Office
Objetivos
Geral
Específico
Analisar as diferentes formas de resistência e luta contra a escravização por parte dos
africanos;
Investigar os movimentos abolicionistas e líderes africanos que desempenharam um
papel importante na luta pela abolição da escravatura;
Identificar as pressões e influências externas, como as ações dos países colonizadores,
que contribuíram para o fim da escravidão em África.
Metodologia
Para a realização do presente trabalho usou-se manuais físico (História Geral de Áfricana
Volume-VI) e electrónicos em formato PDF para a colecta de informação e com auxílio da
internet para a culminação do mesmo.
Abolição da Escravatura ou Movimento abolicionista
Segundo Ajayi (2010, p.78), a ideologia abolicionista não é de inspiração africana. Ela visava
todos os meios negreiros e escravagistas do mundo atlântico antes de se interessar pelos
efeitos dos tráficos transaariano ou árabe. Suas manifestações provinham de uma filosofia
moral, cujo poder de mobilização real era muito fraco. Entretanto, depois de meio século, as
bandeiras das forças antinegreiras e da “civilização” da África serviram de pretexto oficial às
pressões ocidentais cada vez mais fortes no litoral Oeste africano. Por volta de 1860, o
Ocidente instalou em definitivo uma presença até então pontual, subordinada, às vezes
proibida. O Norte e o Leste da África conheceram situações quase semelhantes, a partir de
1830 até o fim do século.
No alvorecer do século XIX a África, sangrada de todos os lados, desde há quatro séculos, pelo
tráfico negreiro, atrai cada vez mais a atenção do mundo. Porquê? Em primeiro lugar, por causa
do movimento contra a escravatura. Lembremos que a Grã-Bretanha, depois de suprimir a
escravatura no seu imenso império, em 1830, monta a guarda em três mares em volta de
África. Em Dezembro de 1836, Sá da Bandeira, promulga a abolição do tráfico dos escravos nos
domínios portugueses (mas não proibia a escravatura).
Em 1848, a França faz o mesmo. Embora o Brasil tenha esperado até 1898 para seguir a
corrente,desde meados do século XIX que o tráfico de escravos já não está em moda e será
cada vez maisbanido. O movimento missionário, resultante em parte desta nova atitude
europeia, vai contribuir também para a fortificar. Invertendo totalmente a posição do século
XV, as igrejas, sobretudo os protestantes ingleses, vão levar à África um capital prodigioso de
proselitismo, de dedicação, de generosidade, mas também, por vezes, de ingenuidade e de
compromissos. No século XV era de bom-tom arrancar os Negros da África para lhes salvar a
alma. No século XIX, observando na própria África o espantoso atoleiro humano, numerosos
missionários clamaram que se estava a praticar o genocídio e encorajaram o controlo, até a
conquista de África, pela Europa para pôr termo ao massacre.
O ímpeto abolicionista do Ocidente
Segundo Ajayi (2010, p. 79) ao longo do século XVIII, apurando a definição do direito universal
ao bem-estar e à liberdade, antropólogos, filósofos e teólogos voltaram-se para o caso do
africano e de sua condição no mundo. Sua reflexão levou-os a modificar as noções
ordinariamente admitidas até então sobre o negro da África e o escravo americano: de bruto e
animal de carga, eles transformaram-no em um ser moral e social. Sua fórmula, “o negro é um
homem”, recusava implicitamente o consenso sobre a honradez, a legitimidade e a utilidade da
venda de negros. Suas análises humanitaristas desembocaram na exigência abolicionista. Seu
balanço do tráfico era inteiramente negativo.
Na França, a Grande Enciclopédia e a obra do abade Raynal, revista por Diderot, ensinou aos
burgueses revolucionários a aversão à escravatura. Esta corrente de ideias nobres e profanas
apoiava indiretamente o ideal da Sociedade Francesa dos Amigos dos Negros, que teria sido
financiada pela Inglaterra. Os revolucionários não sentiam nem a realidade negreira nem a
necessidade de levar a opinião pública a apoiar sua nova ideologia. Pelo contrário, na
Inglaterra, a sensibilização do povo para a filantropia se fazia pela explicação teológica que
brotava de uma profunda renovação evangélica. Após terem proibido o comércio de escravos
entre eles, os quacres americanos persuadiram os quacres britânicos a juntarem-se ao
movimento abolicionista inglês.
Ao mesmo tempo, uma campanha intensa tinha sido realizada nos meios políticos. Vanguarda e
porta-voz destas forças conjuntas, a Seita de Clapham levava anualmente suas reivindicações à
Câmara dos Comuns por intermédio de William Wilberforce. O combate contra os numerosos
obstáculos acumulados pelos escravagistas e pelos negreiros durou vinte anos.
Aos 25 de março de 1807, a Inglaterra aboliu o tráfico. Foi a segunda abolição oficial, depois da
Dinamarca em 1802. Os Estados Unidos generalizaram as decisões individuais dos quacres em
1808. Essa defesa dos interesses humanitários pelos poderes políticos tinha tido por campeã a
Grã-Bretanha, nação cujos negreiros haviam importado cerca de 1.600.000 africanos em suas
colônias americanas ao longo do século precedente.
A hagiografia, segundo a qual a revolução humanitária abriu uma “das mais nobres páginas” da
história inglesa, foi abalada, em 1944, por uma tese fundada no materialismo histórico.
Segundo Eric Williams, a abolição servia poderosamente aos interesses econômicos da
Inglaterra industrial nascente. Com certeza, esta abordagem fértil não negava inteiramente o
papel da filosofia moral nem o de um humanitarismo ideal e triunfante.
Mas fez aparecer severas contradições entre o pensamento teórico e a realidade prática: entre
os principais dirigentes do movimento abolicionista figuravam numerosos banqueiros (o caso
vale também para a Sociedade Francesa dos Amigos dos Negros), ou seja, a abolição do tráfico
servia aos interesses do capital. Mais tarde, as ideias teóricas revelar-se-iam impotentes para
dominar o fluxo bem real de escravos para explorações escravagistas em pleno
desenvolvimento, em Cuba e no Brasil; e as forças ditas humanitárias não conseguiriam
dominar a equalização dos direitos sobre o açúcar, cuja consequência eventual, numa época
em que a mecanização das plantações estava ainda bem longe de ser efetuada, seria o
aumento da demanda de mão de obra negra. O principal mérito da interessante tese de Eric
Williams foi talvez o de ter dado um impulso às novas pesquisas, enquanto o debate
econômico prosseguia. Seymour Drescher mostrou assim que a abolição era um “econocídio”,
e Roger Anstey, que a fé e a benevolência estavam na origem da filantropia inglesa. Os
historiadores divergem talvez menos na crítica dos fatores políticos da abolição.
Segundo Drescher (1976, p. 427) proposições de abolição coletiva, lançadas pela Inglaterra em
1787, depois em 1807, haviam fracassado. Em 1810, Portugal fez vagas promessas em troca de
aberturas para o mercado britânico. Um mundo desmoronou com o fim das guerras
napoleônicas. A paz de 1815 devolveu o Mediterrâneo, o Oceano Índico e o Atlântico ao
comércio marítimo, e os reabriu ao tráfico negreiro. No Congresso de Viena, buscando uma
condenação explícita do tráfico, a diplomacia inglesa obteve uma declaração platônica e
temporizadora, retomada em Verona. A partir de 1841, esta aparência de moral abolicionista
oficial autorizou daí por diante todas as estratégias combinadas do Foreign Office e do
Almirantado nos negócios negreiros mundiais.
Este projeto agradou a um público de perfil liberal ou filantrópico. Por outro lado, nenhuma
economia nacional podia negligenciar a clientela ou as fabricações inglesas. Ademais, para os
governos novos ou em dificuldade que buscavam a aprovação ou a passividade de Londres, um
gesto abolicionista equivalia a um verdadeiro gesto de cooperação. Inversamente, o projeto
inglês só podia suscitar a resistência dos interesses que a supressão do tráfico pela força lesaria.
Resistência dos Estados, em nome de sua soberania nacional: direito de visita e comissões
mistas pressupunham um abandono parcial desta soberania. Resistência dos clássicos
“interesses superiores”, a fim de fazer frente ao “maquiavelismo” e às ambições hegemônicas
que repousavam sobre a preponderância absoluta da Royal Navy. Resistência à ruína das
marinhas, das colônias, dos comércios nacionais. Portugal, Espanha, Estados Unidos e França
consumiam e distribuíam algodão, açúcar, café e tabaco de produção escravagista ligada à
importação de africanos no Brasil, em Cuba, nos Estados do Sul dos Estados Unidos e nas
Antilhas. Diretamente envolvido, o empreendedor marítimo drenava os investimentos e
oferecia emprego aos pequenos setores econômicos locais que tiravam proveito do tráfico.
A chantagem dos ingleses para o reconhecimento jurídico do Brasil obrigou o novo império ao
tratado repressivo de 1826. Mas o tráfico brasileiro cresceu até 1850. No ano seguinte, ele
cessou, mas somente por que a Royal Navy violou as águas territoriais do Brasil para purgá-las
dos negreiros: o café dependia do mercado britânico; os fazendeiros se arruinaram para
reembolsar suas dívidas aos mercadores de escravos; e a população branca temia um
superpovoamento negro.
Estas mudança de atitude levou à adesão de muitos pequenos Estados às convenções de 1831-
-1833. A Grã-Bretanha aproveitou-se para renovar suas tentativas de internacionalização.
Estendeu a repressão naval .a todo Atlântico e ao Oceano Índico. Uma cláusula de
“equipamento” permi- tiu a captura de navios manifestamente armados para o tráfico, mesmo
vazios de carregamentos humanos. Os negreiros dos Estados Unidos permaneceram
invulneráveis. Durante quarenta anos, a diplomacia norte-americana escapou a qualquer
compromisso sério.
Nos anos 1840, os plantadores sulistas reclamaram a reabertura legal do tráfico. Todavia,
tomaram suas próprias medidas ao criarem escravos para venda interna em ranchos
especializados. Durante a Guerra Civil, a Administração Lincoln admitiu o direito de visita,
suspenso desde 1820. Cessou então o tráfico norte-americano.
Assim, durante meio século, a multidão dos textos acumulados provou sobre-tudo a inanidade
dos compromissos assumidos. Nesta avalanche verbal, a África e os africanos são muito
raramente mencionados, como se não existissem. O tráfico ilegal era proveitoso aos
empreendedores marítimos, cujos benefícios eram mais importantes do que na época do
tráfico legal e protegido. As explorações escravagistas estocavam mão de obra.
Mas em Cuba, onde o tráfico estava regredindo, a importação dos negros novos (bozales)
ultrapassou em 67%, nos anos 1851-1860, a dos anos 1821-1830. Durante os cinco anos de
uniformização dos direitos na Inglaterra, a introdução dos negros no Brasil aumentou 84% com
relação aos cinco anos precedentes, 1841-1845, Além disso, o explorador americano
rentabilizava a importação de mão de obra nova enquanto seu preço de compra era inferior a
600 dólares por cabeça. Isto até 1860.
A repressão
Conforme Ajayi (2010, p.83), os navios de guerra não agiam somente na costa africana. Desde
1816, na Conferência de Londres, proposições francesas contra o tráfico dito “berbere” tinham
sido rechaçadas, aliás, elas não representavam senão uma tentativa para tornar menos urgente
a repressão militar no Atlântico.
Mas em 1823, a França adotou uma disposição proibindo a seus navios o transporte de
escravos pelo Mediterrâneo. Esta decisão inscrevia-se em um contexto político que não tinha
muito a ver com o tráfico, guerra da Espanha, libertação dos Gregos, apoio ao Egito de
Muhammad ‘Alī – enfim, tentativa de domínio deste mar fechado, antes mesmo da intervenção
direta francesa na Argélia. Momentaneamente a Inglaterra havia sido ultrapassada.
Entretanto, as operações dos navios não tiveram resultados visíveis. A repressão militar era
mais séria em algumas águas do Oceano Índico, principalmente entre a ilha Maurício,
Madagascar e a Reunião. Lá, navios ingleses capturavam navios franceses; e é verossímil que
alguns negreiros ingleses de Maurício tenham ido procurar escravos em Madagascar, onde o
chefe Jean-René exercia seu domínio sobre Tamatave.
O efetivo foi bem menor na costa ocidental africana. Os cruzeiros holandeses, portugueses e
americanos eram episódicos. Os cruzadores americanos eram muitas vezes comandados por
sulistas. Baseados no Cabo Verde, estavam distante do tráfico. Esta situação que prevaleceu no
momento do nascimento da Libéria não mudou até 1842. O acordo concluído com os ingleses
exigiu a presença de quatro ou cinco navios mas isto permaneceu teórico. Entre 1839 e 1859,
dois negreiros americanos foram apreendidos com sua carga. Sete capturas aconteceram em
1860; os escravos que se achavam a bordo dos navios apreendidos foram povoar a Libéria.
Duas forças marítimas operaram permanentemente. Em 1818, a França estabeleceu seu
cruzeiro, que permaneceu independente até 1831. Partindo de Gorée, que não era mais um
centro de distribuição negreiro desde 1823-1824, mas que se tornou o quartel geral das
operações de repressão francesas, entre três e sete navios de guerra inspecionavam alguns
negreiros, sem jamais reprimir nos quatro primeiros anos. A incerteza reinava sobre as
intenções reais do governo.
Teoricamente, isto deveria ter salvado alguns milhares de africanos da escravidão americana.
Mas, na realidade, quando não foram enviados a Caiena, foram “empregados” no Senegal para
as obras públicas da colônia. As convenções de 1831-1833 foram pouco a pouco minadas pelas
rivalidades e pelo orgulho nacional dos parceiros16. A Marinha francesa procurava assegurar
um equilíbrio entre o número de seus cruzadores e os da Royal Navy.
Havia entre três e seis em 1838, e quatorze de cada lado em 1843-1844. Em 1845, como
consequência indireta do tratado anglo-americano, as convenções francesas foram emendadas,
e o número de embarcações destinadas à repressão foi fixado em vinte e seis de cada lado.
Desde então, contando com os cinco cruzadores americanos e os seis navios portugueses nas
costas do Congo, uma verdadeira força naval parecia direcionada contra o tráfico.
Em 1849, a França não cumpriu com algumas obrigações que não podia assumir. Durante sete
anos, o segundo Império favoreceu os “contratos livres” de mão de obra africana. Foi um
tráfico mascarado que a Inglaterra e a Holanda praticaram por sua conta. O cruzeiro francês
em quase nada interferiu, mas fez tremular sua bandeira ao longo da costa, o que era talvez
seu principal objetivo.
O Almirantado britânico encarregou-se da polícia humanitária, mas o fez sem entusiasmo. Os
meios materiais progrediram, passando de 3 a 26 navios, mal adaptados a esta missão especial.
Pesados, incapazes de subir os rios, destacavam botes, vulneráveis aos ataques das feitorias
negreiras e dos barcos que os esperavam. Lentos, eles eram ultrapassados no mar pelos brigues
rápidos e leves, antes de sê-lo pelos clíperes americanos. Na falta de vapores, no início, a
administração colonial da Serra Leoa comprou alguns navios condenados, destinando-os à
repressão por suas qualidades náuticas. A esquadra estacionava e abastecia-se na colônia, nos
fortes da Costa de Ouro e fazia escala na ilha da Ascensão. As ofertas de compra de Fernando
Pó à Espanha, a fim de melhor reprimir o tráfico no golfo de Biafra, não obtiveram êxito.
Com efeito, a mortalidade era severa entre a apreensão e a liberação em Serra Leoa, em Santa
Helena ou em Maurício. Os marinheiros também morriam de doença ou em serviço. Houve
combates mortíferos entre cruzadores e negreiros.
No Sul do equador, foi o bombardeamento sistemático dos negreiros nas águas “portuguesas”
de Cabinda e Ambriz. As expedições acabaram com o incêndio dos barracons, das aldeias dos
empreendedores africanos, reconstruídas rapidamente um pouco mais distante. Os escravos
presos eram libertados e enviados para a Serra Leoa, para a Gâmbia ou para Maurício por
causa do prêmio. Alguns ali se estabeleceram. Muitos foram alistados nas tropas coloniais
negras. A outros foram propostos contratos livres como trabalhadores nas Antilhas.
Extirpando o mal “pela raiz”20, estas operações foram tidas como decisivas na França e na
Inglaterra. Introduziram duas modalidades novas: de um lado, a assinatura de “tratados” com
os chefes locais, na costa, que se comprometeram a suprimir o tráfico nos territórios sob seu
controle (tratados mais ditados que discutidos, mais impostos que desejados); por outro lado,
a repressão através do bloqueio duradouro de grandes centros de exportação, e isso constituiu
o início de uma política de diplomacia armada e intervencionista. A década 1841-1850 foi
decisiva para a costa oeste africana que, até então, permanecera o principal foco do tráfico.
Esta década foi também importante no que concerne ao tráfico transaariano. Apesar dos
esforços do cônsul abolicionista Warrington, a Inglaterra continuava ainda indiferente ao
tráfico em direção à África Setentrional. Em teoria, todas as partes que a compunham estavam
sob a dependência dos Turcos de Constanti- nopla, com exceção do Marrocos. Na verdade, há
muito tempo, as frações consi- deravam insignificante a suserania dos Kāramānlī, e agiam de
modo autônomo.
Um primeiro fator foi, em 1830, a conquista militar francesa, transformada em colonização a
partir de 1842, que abalou a Regência de Argel. Foi uma coloni- zação de povoamento branco
que pouco desejava escravos.
Em 1870, o viajante alemão Georg Schweinfurth, que chegava “do coração da África”, se
perguntava que “proteção [...] a abolição do tráfico podia receber do Kediva”21. O, por fim,
apresentava uma situação excepcional. Dos países do Magreb, ele era a única nação que os
Europeus consideravam uma potência real, a ele não pensava em impor ou mesmo sugerir
uma atitude que fosse. As tentativas diplomáticas e as persuasões humanitárias fracassaram
até 1887.
Mesmo quando o tráfico pelo Oceano Atlântico começava a dar sinais de decréscimo, ainda
existiam, no quadro do tráfico transaariano, eixos sólidos para a exportação e a distribuição de
escravos: para o Marrocos, onde, em meados do século XIX, entre 3.500 e 4.000 africanos
negros eram importados anualmente, e ainda 500 por ano nos anos 188022; para o Mar
Vermelho e para o Oriente Próximo, como o estudaremos mais adiante. Contra esse tráfico
transaariano, totalmente nas mãos dos africanos, por se tratar de um tráfico inteiramente
interno à África, não havia qualquer meio ocidental de repressão.
Os abolicionistas sustentavam que, se não tivesse havido compradores de escravos, não teria
havido vendedores. Invertendo a ordem dos termos, os escra-vagistas afirmavam que sem
oferta africana de escravos, não haveria demanda ocidental; sua boa consciência, fundavam-na
em uma tácita cumplicidade da própria África.
As reações africanas
Entre 1787 e 1807, a fase pré-abolicionista ocidental, mais de um milhão de africanos foram
deportados para as Américas. Esse facto mostra que a abolição estava longe de perturbar de
imediato a vitalidade do mercado de exportação ao longo da costa. A indecisão abolicionista
deixou a Portugal e ao Brasil o lazer de traficar ilegalmente ao Sul do equador, e o lucro era tão
alto quanto no século XVIII.Combatido seriamente após 1842, o tráfico não desapareceu das
costas de Loango antes dos anos 1900.
Mas o efeito real quase não passou da periferia da implantação onde a autoridade política era
fraca. Às vezes ainda negreiros continuavam operando nestas paragens. Porém,
desapareceram progressivamente. Nas fronteiras da Serra Leoa, a geomorfologia favorecia
ativas feitorias negreiras inglesas e espanholas, ou pertencentes a mulatos, nos rios Nuñez e
Pongo, no Noroeste, e no rio Gallinas, no Sudeste.
A estimativa do tráfico negreiro ao longo dos sessenta anos da era abolicionista pertence ao
domínio dos valores aproximados. De 1807 a 1867, entre o Senegal e Moçambique, 4.000
navios europeus ou americanos realizaram por volta de 5.000 expedições negreiras, deslocando
1 milhão de toneladas métricas de carga. Mercadorias com o valor de cerca de 60 milhões de
piastras ou dólares foram negociadas por um total de 1.900.000 africanos, efetivamente
embarcados nos entrepostos de exportação. 80% desse total teria sido embarcado no Sul do
equador.29 Do começo do século aos anos de 1880, o tráfico transaariano, de um lado e o
tráfico árabe, de outro, exportavam em torno de 1.200.000 africanos negros no que se refere
ao primeiro e 800.000 no que diz respeito ao segundo30,indivíduos capturados no imenso arco
compreendido entre o país Bambara, no Oeste e Sul de Moçambique. (Curtin, 1969).
Conclusão
Referências Bibliográficas
AJAYI, J. F. Ade. (2010), História Geral da África VI: África do século XIX à década de 1880.
Brasília: UNESCO.
Curtin , P. D. (1981) ‘The abolition of the slave trade from Senegambia’, in D. Eltis and J. Walvin
(eds), pp. 83-97.
Daget , S. (1973) ‘Les mots esclave, nègre, Noir et les jugements de valeur sur la traite négrière
dans la littérature abolitionniste française, de 1770 à 1845’, RFHOM, 60, 4, pp. 511-48.
Drescher , S. (1977) Econocide. British Slavery in the Era of Abolition (Pittsburgh: Pittsburgh
University Press).