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Introdução

A abolição da escravatura em África, um tema histórico de grande relevância, teve um impacto


significativo na trajetória do continente. Ao longo de séculos, o sistema escravista vigorou de
forma brutal e desumana, explorando e oprimindo milhões de africanos. No entanto, a luta
contra a escravidão ganhou força e, ao longo do século XIX, conquistas importantes foram
alcançadas no sentido de abolir essa prática. Nesta introdução, exploraremos o contexto
histórico da abolição da escravatura em África, destacando os principais eventos e atores
envolvidos nesse processo fundamental para a conquista da liberdade e dignidade de tantos
africanos.

Objetivos

Geral

 Compreender o processo de abolição da escravatura em África, buscando investigar os


fatores políticos, sociais, culturais e econômicos que contribuíram para essa
transformação histórica.

Específico

 Analisar as diferentes formas de resistência e luta contra a escravização por parte dos
africanos;
 Investigar os movimentos abolicionistas e líderes africanos que desempenharam um
papel importante na luta pela abolição da escravatura;
 Identificar as pressões e influências externas, como as ações dos países colonizadores,
que contribuíram para o fim da escravidão em África.

Metodologia

Para a realização do presente trabalho usou-se manuais físico (História Geral de Áfricana
Volume-VI) e electrónicos em formato PDF para a colecta de informação e com auxílio da
internet para a culminação do mesmo.
Abolição da Escravatura ou Movimento abolicionista

Segundo Ajayi (2010, p.78), a ideologia abolicionista não é de inspiração africana. Ela visava
todos os meios negreiros e escravagistas do mundo atlântico antes de se interessar pelos
efeitos dos tráficos transaariano ou árabe. Suas manifestações provinham de uma filosofia
moral, cujo poder de mobilização real era muito fraco. Entretanto, depois de meio século, as
bandeiras das forças antinegreiras e da “civilização” da África serviram de pretexto oficial às
pressões ocidentais cada vez mais fortes no litoral Oeste africano. Por volta de 1860, o
Ocidente instalou em definitivo uma presença até então pontual, subordinada, às vezes
proibida. O Norte e o Leste da África conheceram situações quase semelhantes, a partir de
1830 até o fim do século.

No alvorecer do século XIX a África, sangrada de todos os lados, desde há quatro séculos, pelo
tráfico negreiro, atrai cada vez mais a atenção do mundo. Porquê? Em primeiro lugar, por causa
do movimento contra a escravatura. Lembremos que a Grã-Bretanha, depois de suprimir a
escravatura no seu imenso império, em 1830, monta a guarda em três mares em volta de
África. Em Dezembro de 1836, Sá da Bandeira, promulga a abolição do tráfico dos escravos nos
domínios portugueses (mas não proibia a escravatura).

Em 1848, a França faz o mesmo. Embora o Brasil tenha esperado até 1898 para seguir a
corrente,desde meados do século XIX que o tráfico de escravos já não está em moda e será
cada vez maisbanido. O movimento missionário, resultante em parte desta nova atitude
europeia, vai contribuir também para a fortificar. Invertendo totalmente a posição do século
XV, as igrejas, sobretudo os protestantes ingleses, vão levar à África um capital prodigioso de
proselitismo, de dedicação, de generosidade, mas também, por vezes, de ingenuidade e de
compromissos. No século XV era de bom-tom arrancar os Negros da África para lhes salvar a
alma. No século XIX, observando na própria África o espantoso atoleiro humano, numerosos
missionários clamaram que se estava a praticar o genocídio e encorajaram o controlo, até a
conquista de África, pela Europa para pôr termo ao massacre.
O ímpeto abolicionista do Ocidente

Segundo Ajayi (2010, p. 79) ao longo do século XVIII, apurando a definição do direito universal
ao bem-estar e à liberdade, antropólogos, filósofos e teólogos voltaram-se para o caso do
africano e de sua condição no mundo. Sua reflexão levou-os a modificar as noções
ordinariamente admitidas até então sobre o negro da África e o escravo americano: de bruto e
animal de carga, eles transformaram-no em um ser moral e social. Sua fórmula, “o negro é um
homem”, recusava implicitamente o consenso sobre a honradez, a legitimidade e a utilidade da
venda de negros. Suas análises humanitaristas desembocaram na exigência abolicionista. Seu
balanço do tráfico era inteiramente negativo.

O tráfico manchava de sangue os Estados que o encorajavam ou o subsidiavam. Matava


dezenas de milhares de brancos e centenas de milhares de negros. Retirava de sua terra
produtores-consumidores que, reduzidos à escravidão americana, não representavam mais
nada. Impediu a diversificação da atividade comercial na costa. Perpetrou a barbárie no
continente negro – opinião que tinha como base unicamente as observações dos ocidentais
dotados de um “saber” sobre a África, os negreiros. Ao denunciar um flagelo, o abolicionista
não pretendia converter imediatamente traficantes negros ou escravagistas brancos. Propôs
um programa de regeneração da África através da cristianização, da civilização, do comércio
natural e fixou etapas racionais para sua execução: reverter a opinião pública do mundo cristão;
levar os governos “civilizados” a tomar posições oficiais; abolir legalmente o tráfico no
Atlântico.

Na França, a Grande Enciclopédia e a obra do abade Raynal, revista por Diderot, ensinou aos
burgueses revolucionários a aversão à escravatura. Esta corrente de ideias nobres e profanas
apoiava indiretamente o ideal da Sociedade Francesa dos Amigos dos Negros, que teria sido
financiada pela Inglaterra. Os revolucionários não sentiam nem a realidade negreira nem a
necessidade de levar a opinião pública a apoiar sua nova ideologia. Pelo contrário, na
Inglaterra, a sensibilização do povo para a filantropia se fazia pela explicação teológica que
brotava de uma profunda renovação evangélica. Após terem proibido o comércio de escravos
entre eles, os quacres americanos persuadiram os quacres britânicos a juntarem-se ao
movimento abolicionista inglês.

Ao mesmo tempo, uma campanha intensa tinha sido realizada nos meios políticos. Vanguarda e
porta-voz destas forças conjuntas, a Seita de Clapham levava anualmente suas reivindicações à
Câmara dos Comuns por intermédio de William Wilberforce. O combate contra os numerosos
obstáculos acumulados pelos escravagistas e pelos negreiros durou vinte anos.

Aos 25 de março de 1807, a Inglaterra aboliu o tráfico. Foi a segunda abolição oficial, depois da
Dinamarca em 1802. Os Estados Unidos generalizaram as decisões individuais dos quacres em
1808. Essa defesa dos interesses humanitários pelos poderes políticos tinha tido por campeã a
Grã-Bretanha, nação cujos negreiros haviam importado cerca de 1.600.000 africanos em suas
colônias americanas ao longo do século precedente.

A hagiografia, segundo a qual a revolução humanitária abriu uma “das mais nobres páginas” da
história inglesa, foi abalada, em 1944, por uma tese fundada no materialismo histórico.
Segundo Eric Williams, a abolição servia poderosamente aos interesses econômicos da
Inglaterra industrial nascente. Com certeza, esta abordagem fértil não negava inteiramente o
papel da filosofia moral nem o de um humanitarismo ideal e triunfante.

Mas fez aparecer severas contradições entre o pensamento teórico e a realidade prática: entre
os principais dirigentes do movimento abolicionista figuravam numerosos banqueiros (o caso
vale também para a Sociedade Francesa dos Amigos dos Negros), ou seja, a abolição do tráfico
servia aos interesses do capital. Mais tarde, as ideias teóricas revelar-se-iam impotentes para
dominar o fluxo bem real de escravos para explorações escravagistas em pleno
desenvolvimento, em Cuba e no Brasil; e as forças ditas humanitárias não conseguiriam
dominar a equalização dos direitos sobre o açúcar, cuja consequência eventual, numa época
em que a mecanização das plantações estava ainda bem longe de ser efetuada, seria o
aumento da demanda de mão de obra negra. O principal mérito da interessante tese de Eric
Williams foi talvez o de ter dado um impulso às novas pesquisas, enquanto o debate
econômico prosseguia. Seymour Drescher mostrou assim que a abolição era um “econocídio”,
e Roger Anstey, que a fé e a benevolência estavam na origem da filantropia inglesa. Os
historiadores divergem talvez menos na crítica dos fatores políticos da abolição.

Segundo Drescher (1976, p. 427) proposições de abolição coletiva, lançadas pela Inglaterra em
1787, depois em 1807, haviam fracassado. Em 1810, Portugal fez vagas promessas em troca de
aberturas para o mercado britânico. Um mundo desmoronou com o fim das guerras
napoleônicas. A paz de 1815 devolveu o Mediterrâneo, o Oceano Índico e o Atlântico ao
comércio marítimo, e os reabriu ao tráfico negreiro. No Congresso de Viena, buscando uma
condenação explícita do tráfico, a diplomacia inglesa obteve uma declaração platônica e
temporizadora, retomada em Verona. A partir de 1841, esta aparência de moral abolicionista
oficial autorizou daí por diante todas as estratégias combinadas do Foreign Office e do
Almirantado nos negócios negreiros mundiais.

Em três pontos, Londres propôs às nações um procedimento pretensamente radical contra o


tráfico internacional: legislações internas proibindo o tráfico negreiro aos nacionais; tratados
bilaterais conferindo às marinhas de guerra o direito recíproco de visitar e prender no mar os
navios de comércio de cada nação contratante pega no tráfico ilegal; e colaboração nas
comissões mistas habilitadas a condenar os negreiros presos e a libertar os negros encontrados
a bordo. Tais disposições funcionariam também no Oceano Índico, especialmente entre
Maurício e Bourbon (a atual Ilha da Reunião).

Este projeto agradou a um público de perfil liberal ou filantrópico. Por outro lado, nenhuma
economia nacional podia negligenciar a clientela ou as fabricações inglesas. Ademais, para os
governos novos ou em dificuldade que buscavam a aprovação ou a passividade de Londres, um
gesto abolicionista equivalia a um verdadeiro gesto de cooperação. Inversamente, o projeto
inglês só podia suscitar a resistência dos interesses que a supressão do tráfico pela força lesaria.

Resistência dos Estados, em nome de sua soberania nacional: direito de visita e comissões
mistas pressupunham um abandono parcial desta soberania. Resistência dos clássicos
“interesses superiores”, a fim de fazer frente ao “maquiavelismo” e às ambições hegemônicas
que repousavam sobre a preponderância absoluta da Royal Navy. Resistência à ruína das
marinhas, das colônias, dos comércios nacionais. Portugal, Espanha, Estados Unidos e França
consumiam e distribuíam algodão, açúcar, café e tabaco de produção escravagista ligada à
importação de africanos no Brasil, em Cuba, nos Estados do Sul dos Estados Unidos e nas
Antilhas. Diretamente envolvido, o empreendedor marítimo drenava os investimentos e
oferecia emprego aos pequenos setores econômicos locais que tiravam proveito do tráfico.

Sempre escravagistas nas colônias menores, a Dinamarca, a Holanda e a Suécia subscreveram à


repressão recíproca. Substancialmente indenizados, Portugal e Espanha aceitaram-na em 1817.
Mas Portugal conservou um tráfico essencialmente lícito no Sul do Equador, que não se
atenuaria senão em 1842, sob a ameaça de severas sanções militares inglesas. A Espanha
reforçou sua legislação antinegreira e suas convenções com Londres; mas Cuba continuou o
tráfico até 1866, ano da terceira lei abolicionista espanhola: Cortes Gerais, o Conselho de
Estado e a Tesouraria cederam à chantagem para a fidelidade ou para a secessão dos
plantadores da Ilha.

A chantagem dos ingleses para o reconhecimento jurídico do Brasil obrigou o novo império ao
tratado repressivo de 1826. Mas o tráfico brasileiro cresceu até 1850. No ano seguinte, ele
cessou, mas somente por que a Royal Navy violou as águas territoriais do Brasil para purgá-las
dos negreiros: o café dependia do mercado britânico; os fazendeiros se arruinaram para
reembolsar suas dívidas aos mercadores de escravos; e a população branca temia um
superpovoamento negro.

As pressões inglesas, os Estados politicamente mais fortes responderam de modo diferente.


Sedenta de prestígio, a França adquiriu sua autonomia por um simulacro de legislação e de
cruzeiros de repressão, inofensivo, fosse na metrópole ou na costa. Entre 1815 e 1830, o tráfico
ilegal francês mobilizou 729 expedições negreiras para as costas Oeste e Leste da África. Mas
quando se tornou evidente que tais operações não constavam mais do balanço social e
financeiro dos portos, o governo assinou uma convenção de visita recíproca. Outra razão foi o
fato de a monarquia oriunda da revolução de 1830 ter tido interesse em se reconciliar com a
Inglaterra.

Estas mudança de atitude levou à adesão de muitos pequenos Estados às convenções de 1831-
-1833. A Grã-Bretanha aproveitou-se para renovar suas tentativas de internacionalização.
Estendeu a repressão naval .a todo Atlântico e ao Oceano Índico. Uma cláusula de
“equipamento” permi- tiu a captura de navios manifestamente armados para o tráfico, mesmo
vazios de carregamentos humanos. Os negreiros dos Estados Unidos permaneceram
invulneráveis. Durante quarenta anos, a diplomacia norte-americana escapou a qualquer
compromisso sério.

Em 1820, o tráfico foi legalmente assimilado à pirataria; em 1842, acrescentou-se o


compromisso da “verificação do pavilhão”, que preservou os norte-americanos da repressão
inglesa; cruzeiros repressivos de “80 canhões” salvaguardaram a dignidade nacional, embora
fossem medidas formais.

Nos anos 1840, os plantadores sulistas reclamaram a reabertura legal do tráfico. Todavia,
tomaram suas próprias medidas ao criarem escravos para venda interna em ranchos
especializados. Durante a Guerra Civil, a Administração Lincoln admitiu o direito de visita,
suspenso desde 1820. Cessou então o tráfico norte-americano.

Assim, durante meio século, a multidão dos textos acumulados provou sobre-tudo a inanidade
dos compromissos assumidos. Nesta avalanche verbal, a África e os africanos são muito
raramente mencionados, como se não existissem. O tráfico ilegal era proveitoso aos
empreendedores marítimos, cujos benefícios eram mais importantes do que na época do
tráfico legal e protegido. As explorações escravagistas estocavam mão de obra.

Os plantadores resistiam à abolição por razões diferentes. Impermeável às ideias difundidas


pelos organismos abolicionistas, sua psicologia apela invaria- velmente aos estereótipos raciais
e aos postulados civilizadores. A abolição não ajudaria “a raça escrava e embrutecida a sair de
sua sorte1”.

O prestígio social ligado à posse de escravos e os hábitos demográficos ligados à ausência de


imigração branca contribuíram para a justificação do sistema. A resistência se explicou
sobretudo pela contradição percebida entre o crescimento da demanda ocidental em produtos
do trabalho dos escravos e a interdição ocidental de importar os escravos julgados
indispensáveis para aumentar a oferta destes produtos. A exportação de café brasileiro
decuplicou entre 1817 e 1835, e triplicou de novo até 1850.

A exportação de açúcar cubano quadruplicou entre 1830 e 186411. Em 1846, as medidas


inglesas de livre comércio pareciam atribuir uma preferência à produção escravagista,
uniformizando os direitos de entrada dos diversos açúcares no mercado britânico. Os
historiadores não chegaram a um acordo quanto à incidência dessa iniciativa no
recrudescimento do tráfico negreiro12.

Mas em Cuba, onde o tráfico estava regredindo, a importação dos negros novos (bozales)
ultrapassou em 67%, nos anos 1851-1860, a dos anos 1821-1830. Durante os cinco anos de
uniformização dos direitos na Inglaterra, a introdução dos negros no Brasil aumentou 84% com
relação aos cinco anos precedentes, 1841-1845, Além disso, o explorador americano
rentabilizava a importação de mão de obra nova enquanto seu preço de compra era inferior a
600 dólares por cabeça. Isto até 1860.

A repressão

Conforme Ajayi (2010, p.83), os navios de guerra não agiam somente na costa africana. Desde
1816, na Conferência de Londres, proposições francesas contra o tráfico dito “berbere” tinham
sido rechaçadas, aliás, elas não representavam senão uma tentativa para tornar menos urgente
a repressão militar no Atlântico.

Mas em 1823, a França adotou uma disposição proibindo a seus navios o transporte de
escravos pelo Mediterrâneo. Esta decisão inscrevia-se em um contexto político que não tinha
muito a ver com o tráfico, guerra da Espanha, libertação dos Gregos, apoio ao Egito de
Muhammad ‘Alī – enfim, tentativa de domínio deste mar fechado, antes mesmo da intervenção
direta francesa na Argélia. Momentaneamente a Inglaterra havia sido ultrapassada.

Entretanto, as operações dos navios não tiveram resultados visíveis. A repressão militar era
mais séria em algumas águas do Oceano Índico, principalmente entre a ilha Maurício,
Madagascar e a Reunião. Lá, navios ingleses capturavam navios franceses; e é verossímil que
alguns negreiros ingleses de Maurício tenham ido procurar escravos em Madagascar, onde o
chefe Jean-René exercia seu domínio sobre Tamatave.

Em caso de tomada “internacional”, regularizava-se o assunto restituindo o navio, mas não os


africanos que ele transportava. Em caso de apreensão por um navio nacional, havia adjudicação
judiciária, o que não significava que os negros a bordo eram libertados. Na maior parte das
vezes, eles incorporavam as plantações enquanto as autoridades aduaneiras fechavam os olhos
a essas operações.

Nas águas americanas, os franceses capturaram alguns negreiros nacionais e os levaram a


julgamento em Guadalupe e em Martinica. Os escravos “captura-dos” eram escoltados para
Caiena sob a ordem de Paris que era obcecada pela ideia de colonizar a Guiana. Quando
medidas de repressão foram previstas nos tratados bilaterais, foram os navios negreiros não os
homens que foram julgados perante as comissões mistas instauradas pelos acordos.

Sua eficácia do lado americano do Atlântico dependia da mentalidade dominante nas


explorações escravagistas. Em Cuba, apenas 45 negreiros foram condenados pela Comissão
hispano-britânica, dos 714 conhecidos entre 1819 e 1845. Um prêmio pela captura destinado
aos integrantes da marinha espanhola local levou à apreensão de 50 navios nos dez últimos
anos do tráfico. Os resultados das comissões do Suriname e do Brasil não foram melhores15.
Um navio a cada cinco foi capturado nas águas americanas. Entretanto, por volta de 1840,
cerca de 70 embarcações de guerra de diversas nacionalidades foram expedidas para a
repressão.

O efetivo foi bem menor na costa ocidental africana. Os cruzeiros holandeses, portugueses e
americanos eram episódicos. Os cruzadores americanos eram muitas vezes comandados por
sulistas. Baseados no Cabo Verde, estavam distante do tráfico. Esta situação que prevaleceu no
momento do nascimento da Libéria não mudou até 1842. O acordo concluído com os ingleses
exigiu a presença de quatro ou cinco navios mas isto permaneceu teórico. Entre 1839 e 1859,
dois negreiros americanos foram apreendidos com sua carga. Sete capturas aconteceram em
1860; os escravos que se achavam a bordo dos navios apreendidos foram povoar a Libéria.
Duas forças marítimas operaram permanentemente. Em 1818, a França estabeleceu seu
cruzeiro, que permaneceu independente até 1831. Partindo de Gorée, que não era mais um
centro de distribuição negreiro desde 1823-1824, mas que se tornou o quartel geral das
operações de repressão francesas, entre três e sete navios de guerra inspecionavam alguns
negreiros, sem jamais reprimir nos quatro primeiros anos. A incerteza reinava sobre as
intenções reais do governo.

Londres acusava os franceses de subtrair-se a seu dever e a toda obrigação moral. Os


abolicionistas franceses acusavam o ministério de conluio com os interesses negreiros. Em
1825, a marinha reagiu decidindo pela atribuição de um prêmio de 100 francos por escravo
“apreendido”. Cerca de trinta negreiros capturados no mar passaram pela justiça, elevando a
uma centena o número de condenados.

Teoricamente, isto deveria ter salvado alguns milhares de africanos da escravidão americana.
Mas, na realidade, quando não foram enviados a Caiena, foram “empregados” no Senegal para
as obras públicas da colônia. As convenções de 1831-1833 foram pouco a pouco minadas pelas
rivalidades e pelo orgulho nacional dos parceiros16. A Marinha francesa procurava assegurar
um equilíbrio entre o número de seus cruzadores e os da Royal Navy.

Havia entre três e seis em 1838, e quatorze de cada lado em 1843-1844. Em 1845, como
consequência indireta do tratado anglo-americano, as convenções francesas foram emendadas,
e o número de embarcações destinadas à repressão foi fixado em vinte e seis de cada lado.
Desde então, contando com os cinco cruzadores americanos e os seis navios portugueses nas
costas do Congo, uma verdadeira força naval parecia direcionada contra o tráfico.

Em 1849, a França não cumpriu com algumas obrigações que não podia assumir. Durante sete
anos, o segundo Império favoreceu os “contratos livres” de mão de obra africana. Foi um
tráfico mascarado que a Inglaterra e a Holanda praticaram por sua conta. O cruzeiro francês
em quase nada interferiu, mas fez tremular sua bandeira ao longo da costa, o que era talvez
seu principal objetivo.
O Almirantado britânico encarregou-se da polícia humanitária, mas o fez sem entusiasmo. Os
meios materiais progrediram, passando de 3 a 26 navios, mal adaptados a esta missão especial.
Pesados, incapazes de subir os rios, destacavam botes, vulneráveis aos ataques das feitorias
negreiras e dos barcos que os esperavam. Lentos, eles eram ultrapassados no mar pelos brigues
rápidos e leves, antes de sê-lo pelos clíperes americanos. Na falta de vapores, no início, a
administração colonial da Serra Leoa comprou alguns navios condenados, destinando-os à
repressão por suas qualidades náuticas. A esquadra estacionava e abastecia-se na colônia, nos
fortes da Costa de Ouro e fazia escala na ilha da Ascensão. As ofertas de compra de Fernando
Pó à Espanha, a fim de melhor reprimir o tráfico no golfo de Biafra, não obtiveram êxito.

A eficácia dependia dos homens. Embebida no espírito metropolitano, a consciência


abolicionista do marinheiro inglês era inegável. Era igualmente válido para seu complexo de
poder. A serviço da humanidade, conduzia a Royal Navy a nem sempre obedecer às ordens do
Almirantado e a desprezar o direito marítimo internacional. Ilegalmente, a Royal Navy visitou e
prendeu franceses e americanos antes dos acordos bilaterais, acarretando medidas de protesto
e de reparação diplomáticos. Um prêmio pelas capturas, muito elevado no início, fez com que
os marinheiros da Inglaterra fossem acusados de se preocuparem antes pelo proveito garantido
pela captura de um navio que pelo estado dos africanos amontoados a bordo.

Com efeito, a mortalidade era severa entre a apreensão e a liberação em Serra Leoa, em Santa
Helena ou em Maurício. Os marinheiros também morriam de doença ou em serviço. Houve
combates mortíferos entre cruzadores e negreiros.

Estes últimos utilizavam com habilidade a incoerência das condições inter-nacionais da


repressão. Na costa, muito bem informados sobre os movimentos dos cruzadores, os negreiros
evitavam-nos, talvez quatro a cada cinco vezes. Içando falsos pavilhões e empregando falsos
documentos de bordo comprados nas Antilhas, agiam como piratas. Apesar das leis, até então
não sofriam sanções. Abandonaram seus disfarces no momento do reforço dos acordos
repressivos: os documentos franceses não mais os protegiam, depois de 1831; e os
portugueses, depois de 1842. Mas a manutenção da soberania americana salvaguardou efi-
cazmente o tráfico com pavilhão dos Estados Unidos até 1862.
A resposta a estes estratagemas foi a escalada da violência. Os comandantes de cruzadores e os
governantes locais das implantações ocidentais chegaram a empregar espontaneamente a
força militar. Praticaram “expedições punitivas” em terra, especialmente onde o poder africano
parecia desorganizado. Na zona de influência americana da Libéria, o governador, reverendo
Jehudi Ashmun, atuou contra as feitorias do cabo Mount. Perto da Serra Leoa, em 1825, a
campanha do governador Turner expurgou por um tempo as ilhas da península sobretudo,
estabeleceu definitivamente uma longa faixa costeira sob domínio inglês. Foram operações de
comando repetidas no rio Gallinas, depois no rio Sherbro e no rio Pongo.

No Sul do equador, foi o bombardeamento sistemático dos negreiros nas águas “portuguesas”
de Cabinda e Ambriz. As expedições acabaram com o incêndio dos barracons, das aldeias dos
empreendedores africanos, reconstruídas rapidamente um pouco mais distante. Os escravos
presos eram libertados e enviados para a Serra Leoa, para a Gâmbia ou para Maurício por
causa do prêmio. Alguns ali se estabeleceram. Muitos foram alistados nas tropas coloniais
negras. A outros foram propostos contratos livres como trabalhadores nas Antilhas.

Extirpando o mal “pela raiz”20, estas operações foram tidas como decisivas na França e na
Inglaterra. Introduziram duas modalidades novas: de um lado, a assinatura de “tratados” com
os chefes locais, na costa, que se comprometeram a suprimir o tráfico nos territórios sob seu
controle (tratados mais ditados que discutidos, mais impostos que desejados); por outro lado,
a repressão através do bloqueio duradouro de grandes centros de exportação, e isso constituiu
o início de uma política de diplomacia armada e intervencionista. A década 1841-1850 foi
decisiva para a costa oeste africana que, até então, permanecera o principal foco do tráfico.

Esta década foi também importante no que concerne ao tráfico transaariano. Apesar dos
esforços do cônsul abolicionista Warrington, a Inglaterra continuava ainda indiferente ao
tráfico em direção à África Setentrional. Em teoria, todas as partes que a compunham estavam
sob a dependência dos Turcos de Constanti- nopla, com exceção do Marrocos. Na verdade, há
muito tempo, as frações consi- deravam insignificante a suserania dos Kāramānlī, e agiam de
modo autônomo.
Um primeiro fator foi, em 1830, a conquista militar francesa, transformada em colonização a
partir de 1842, que abalou a Regência de Argel. Foi uma coloni- zação de povoamento branco
que pouco desejava escravos.

Encontrando-se entre pressões francesas e britânicas, a Regência vizinha de Tunis, aboliu o


tráfico entre 1840 e 1842. A Leste, a Regência de Trípoli encontrou mais dificuldades, porque
precisava receber a concordância dos chefes do interior, alguns dos quais eram poderosos
distribuidores de escravos provenientes do Borno ou de Sokoto. Mas em 1842, o shaykh
‘Abdul-Djalīl, que de Murzuk dominava o Fezzān, consentiu a abolição do tráfico, mas foi
assassinado. A Turquia restabelecera sua suserania direta sobre Trípoli e a Cirenaica desde
1835; e doravante precisava contar com ela para realizar uma abolição efetiva do tráfico. O
sultão de Constantinopla proibiu o tráfico em 1857; mas este não se interrompeu de fato em
lugar nenhum, nem mesmo em um Egito já fortemente ocidentalizado.

Em 1870, o viajante alemão Georg Schweinfurth, que chegava “do coração da África”, se
perguntava que “proteção [...] a abolição do tráfico podia receber do Kediva”21. O, por fim,
apresentava uma situação excepcional. Dos países do Magreb, ele era a única nação que os
Europeus consideravam uma potência real, a ele não pensava em impor ou mesmo sugerir
uma atitude que fosse. As tentativas diplomáticas e as persuasões humanitárias fracassaram
até 1887.

Mesmo quando o tráfico pelo Oceano Atlântico começava a dar sinais de decréscimo, ainda
existiam, no quadro do tráfico transaariano, eixos sólidos para a exportação e a distribuição de
escravos: para o Marrocos, onde, em meados do século XIX, entre 3.500 e 4.000 africanos
negros eram importados anualmente, e ainda 500 por ano nos anos 188022; para o Mar
Vermelho e para o Oriente Próximo, como o estudaremos mais adiante. Contra esse tráfico
transaariano, totalmente nas mãos dos africanos, por se tratar de um tráfico inteiramente
interno à África, não havia qualquer meio ocidental de repressão.

Os abolicionistas sustentavam que, se não tivesse havido compradores de escravos, não teria
havido vendedores. Invertendo a ordem dos termos, os escra-vagistas afirmavam que sem
oferta africana de escravos, não haveria demanda ocidental; sua boa consciência, fundavam-na
em uma tácita cumplicidade da própria África.

As reações africanas

Entre 1787 e 1807, a fase pré-abolicionista ocidental, mais de um milhão de africanos foram
deportados para as Américas. Esse facto mostra que a abolição estava longe de perturbar de
imediato a vitalidade do mercado de exportação ao longo da costa. A indecisão abolicionista
deixou a Portugal e ao Brasil o lazer de traficar ilegalmente ao Sul do equador, e o lucro era tão
alto quanto no século XVIII.Combatido seriamente após 1842, o tráfico não desapareceu das
costas de Loango antes dos anos 1900.

Ao Norte do equador, a abolição imposta aos estabelecimentos europeus suprimiu postos de


tráfico tradicionais, na Senegâmbia, em Serra Leoa, na Libéria e na Costa do Ouro.

Mas o efeito real quase não passou da periferia da implantação onde a autoridade política era
fraca. Às vezes ainda negreiros continuavam operando nestas paragens. Porém,
desapareceram progressivamente. Nas fronteiras da Serra Leoa, a geomorfologia favorecia
ativas feitorias negreiras inglesas e espanholas, ou pertencentes a mulatos, nos rios Nuñez e
Pongo, no Noroeste, e no rio Gallinas, no Sudeste.

A estimativa do tráfico negreiro ao longo dos sessenta anos da era abolicionista pertence ao
domínio dos valores aproximados. De 1807 a 1867, entre o Senegal e Moçambique, 4.000
navios europeus ou americanos realizaram por volta de 5.000 expedições negreiras, deslocando
1 milhão de toneladas métricas de carga. Mercadorias com o valor de cerca de 60 milhões de
piastras ou dólares foram negociadas por um total de 1.900.000 africanos, efetivamente
embarcados nos entrepostos de exportação. 80% desse total teria sido embarcado no Sul do
equador.29 Do começo do século aos anos de 1880, o tráfico transaariano, de um lado e o
tráfico árabe, de outro, exportavam em torno de 1.200.000 africanos negros no que se refere
ao primeiro e 800.000 no que diz respeito ao segundo30,indivíduos capturados no imenso arco
compreendido entre o país Bambara, no Oeste e Sul de Moçambique. (Curtin, 1969).
Conclusão

A abolição da escravatura em África marcou uma importante transformação na história do


continente, rompendo com séculos de exploração e opressão. Ao longo do século XIX, diversos
movimentos em favor da emancipação tomaram forma, contando com a resistência e a luta de
líderes africanos, além do apoio internacional. Apesar dos avanços alcançados, a sombra da
escravidão ainda ecoa na realidade africana atual, com suas marcas sociais, econômicas e
culturais. Portanto, é fundamental continuar a reflexão e o debate sobre as consequências e
heranças dessa abominável prática, a fim de construir um futuro mais justo e igualitário para
todos os povos africanos. A preocupação em educar e conscientizar sobre a história da
escravidão é necessária para evitar a repetição de erros do passado, valorizando a memória e
promovendo a reafirmação do respeito à dignidade humana.

Referências Bibliográficas
AJAYI, J. F. Ade. (2010), História Geral da África VI: África do século XIX à década de 1880.
Brasília: UNESCO.

Curtin , P. D. (1981) ‘The abolition of the slave trade from Senegambia’, in D. Eltis and J. Walvin
(eds), pp. 83-97.

Curtin , P. D. (1969) The Atlantic Slave Trade: A Census (Madison: UWP).

Daget , S. (1973) ‘Les mots esclave, nègre, Noir et les jugements de valeur sur la traite négrière
dans la littérature abolitionniste française, de 1770 à 1845’, RFHOM, 60, 4, pp. 511-48.

Drescher , S. (1977) Econocide. British Slavery in the Era of Abolition (Pittsburgh: Pittsburgh
University Press).

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