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Agência

O núcleo essencial da agência pode ser definido como a relação profissional, em que o agente, sem relação de emprego, de
modo independente e estável, obriga-se a promover, intermediar ou angariar, em nome próprio, mas por conta de outrem, o
principal (ou preponente, à boa forma), mediante retribuição, a realização de certos negócios em determinada região ou com
determinado círculo de clientes. A agência envolve uma obrigação de fazer, inserida em relação duradoura de prestação de
execução continuada.
Do conceito suso proposto, resultam como elementos essenciais à agência a promoção, intermediação de negócios por conta do
principal; a autonomia do agente, que assumindo os riscos e custos da sua atividade, não possui subordinação jurídica ao
principal; a estabilidade da relação, que não se consubstancia em ato isolado, mas em relação habitual e a onerosidade,
remuneração do agente.
De fato, é da essência do agente, e é elemento fundamental ao instituto da agência, a promoção de negócios por conta do
principal. Entenda-se promoção28 como incentivo29, preparação e estímulo.
O agente, embora intervenha na relação negocial, o faz por conta de terceiro, o principal, e os efeitos de sua atuação, as
consequências jurídicas do seu ato, não se produzem em sua esfera jurídica, mas naquele por conta de quem intervém.
O negócio intermediado pelo agente atinge ao principal30. Os efeitos de sua atuação separam-se de si e afetam a pessoa do
principal.31 O agente é um cooperador jurídico32 do principal, que, em seu nome, realiza suas vontades em âmbitos
comerciais.
→ A promoção de atos negociais não se consubstancia pela mera intermediação de contratos. Possui, por sua vez, um tecido
elástico, abrangendo desde o fornecimento de catálogos, a informações sobre clientes e mercados36 , prestação de contas, ou
mesmo a divulgação publicitária dos produtos do principal, além do recebimento de reclamações.
→ Via de regra, o agente não pratica ato juridico40; limita-se a estimulá-los. Nada impede, contudo, que o agente absorva,
acidentalmente, a prática do próprio ato jurídico. Nessa situação, obrigatoriamente convencionada, o agente estará assumindo
as funções de representação.
● A despeito de atuar, negocialmente, por conta de outrem, promovendo negócios para o principal, o agente, obrigatoriamente,
deve ser autônomo . A autonomia sugnifica a ausência de subordinação jurídica. O agente é um empresário independente, que,
por conta própria, gerencia, com liberdade de quem não possui um patrão, sua forma de trabalho, seu tempo laboral e sua
agenda. Assume ainda, essencialmente, os custos e riscos de sua atividade econômica. A autonomia do agente não impede que
o mesmo se adeque a determinadas instruções e procedimentos do principal, ou mesmo a orientações e supervisões. Referidas
medidas, desde que não ponham em causa a autonomia do agente, convivem, harmonicamente, com o contrato de agência. A
linha de fronteira entre aquilo que pode ou não ser objeto de atuação do prinicpal circunda entre “o que fazer” e o “como fazer”
. O principal pode até definir, abstratamente, o conceito e as regras para a disseminação dos seus produtos. A forma,
organização e conformação dessa atividade são questões zoneadas dentro do especto de autonomia do agente comercial.
Além de remunerada, o serviço do agente deve ser estável, não eventual, não podendo ser caracterizado pela prática isolada de
um só ato, mas no conjunto deles . A agência é uma relação que se protrai no tempo, uma atividade, cuja caracterização não
rima com a instantaneidade e nem com a transitoriedade.

Indemnização de clientela.
Este tema traz consigo uma série de discussões e divergências doutrinárias quanto a sua essência.
Se, numa fase inicial, cabe ao agente, significativamente, o peso e a credibilidade revelantes para a fixação da clientela, com o
desenvolvimento das marcas, consecutivamente, com a criação de um selling-power aos produtos, a importância do agente
como elemento fixador da clientela foi paulatinamente perdendo espaço. Tal situação descambaria na comum prática do
principal de, uma vez conquistado o mercado cuja atuação do agente inicialmente se fez necessária, dispensar a cooperação do
representante, substituindo-o ou mesmo assumindo referidas atividades, com a concentração, para si, de tais lucros.
Em seguimento a tal perspectiva, surge-se a Indenização de Clientela. Por tal figura, é cabido ao agente, ao término do contrato
de agência, uma indemnização, a ser paga pelo principal, em face da perda da oportunidade de explorar, comercialmente, a
clientela por si angariada, ou, noutros termos, pela mais-valia decorrente da manutenção, pelo principal, da clientela que, como
agente, angariou. A Indemnização de Clientela nasceu, pois, independente129 e alheia a qualquer outro molde indemnizatório,
como instituto que equilibraria, combateria e removeria um ganho obtido pelo principal, por fato atribuído ao agente, qual seja
o incremento ou desenvolvimento de sua clientela.
O regime jurídico da Indemnização de Clientela é objeto de valiosas teorizações e animados debates. Longe de possuir uma
unicidade na doutrina quanto à natureza da indemnização por clientela, verifica-se uma distinção ora para aproximar o instituto
às regras de proteção, de cunho social, à parte mais fraca, ou mesmo a entender a Indemnização de Clientela como forma de
retribuição do agente diferida para o término do contrato. Há ainda alguma doutrina que que aponta na direcção de uma
compensação, socorrendo-se ao institutos do direito civil, como enriquecimento sem causa, ou ainda vêem-na como uma forma
de reparação pelos danos causados ao agente. Outrossim, vem ganhando corpo a teorização da Indemnização de Clientela
envolvendo um ativo comum: a clientela.
Deste modo o agente, uma vez encerrado o contrato de agência, deixa de partilhar os benefícios decorrentes de sua atividade de
promoção de negócios para o principal; permanecendo, à contraparte, isoladamente, todos os ganhos. Esse desequilíbrio é
corrigido pela Indemnização de Clientela. Visa-se remover os ganhos, para além da vigência contratual, que o principal terá em
virtude dos esforços do agente.
Outros autores defendem que a Indemnização de Clientela viria reequilibrar um enriquecimento do principal pela intervenção
do agente. Nesse caso, o enriquecimento dar-se-ia porque, com o fim da relação contratual, o principal, negociando com o
terceiro, assumiria para si os lucros que o agente, quando da vigência do ajuste, auferia. A agência é um contrato
sinalagmático. Se a atuação do agente por conta do principal culmina por justificar seu enriquecimento, por outro obriga a esse
principal o pagamento das comissões ao agente, sendo este argumento a maior objecção a esta tese.
1. No Ac. Da Relação de Coimbra, datado de 12-10-2010, estipula que A “indemnização de clientela” devida na sequência da
cessação do contrato de agência, pressupõe a verificação cumulativa de cinco requisitos: i) que o agente tenha angariado novos
clientes ou aumentado substancialmente o volume de negócios com a clientela já existente; ii) que a outra parte venha a
beneficiar consideravelmente, após a cessação do contrato, da actividade anteriormente desenvolvida pelo agente; iii) que o
agente deixe de receber qualquer retribuição por contratos negociados ou concluídos, após a cessação do contrato, com os
clientes por si angariados; iv) que o contrato de agência não tenha cessado por razões imputáveis ao agente, por acordo com a
outra parte, ou por cedência a terceiro da sua posição contratual; v) que o agente ou seus herdeiros tenham comunicado à outra
parte, no prazo de um ano a contar da cessação do contrato, a vontade de receber a indemnização; vi) que a acção judicial seja
proposta dentro do ano subsequente a tal comunicação.
2. Tal indemnização é fixada com recurso à equidade, estabelecendo a lei um parâmetro máximo, correspondente à média anual
das remunerações recebidas pelo agente durante os últimos cinco anos, atendendo-se à média do período em que o contrato
esteve em vigor, nas situações em que a duração foi inferior a cinco anos.

Outro ac., do Supremo tribunal de justiça, de 20-10-2009, refere que Os principais factores que estão subjacentes ao direito à
Indemnização de clientela são a atracção de clientela por parte do agente e o efectivo acesso do principal, no futuro, à clientela
angariada pelo agente – que no caso se verificam –, sendo esse direito um afloramento do princípio do enriquecimento sem
causa por parte do principal (CC. art. 473º) à custa do correlativo empobrecimento do agente.

- O pagamento de uma retribuição ou compensação, por parte do principal ao agente, após a cessação do contrato, é uma
circunstância que obsta a que este tenha direito à indemnização de clientela – posto que a intenção da lei é «evitar
acumulações» de compensações.

- Trata-se, por isso, de facto impeditivo do direito daquele à compensação, que não constitutivo desse direito (Cód. Civil, art.s
342º n.ºs 1 e 2):

- Assim o tem entendido, e bem, este Supremo Tribunal, mormente no seu Acórdão de 1995.11.22:

«Se o principal lhe pagou algo, pelos negócios que posteriormente à cessação tiveram lugar com clientes agenciados pelo
agente, o direito à indemnização não existe. Logo, trata-se de facto impeditivo»). Em idêntico sentido, de não incumbir ao
agente a prova do «não recebimento de qualquer quantia após a cessação do contrato, mas sim ao principal ter pago algo
àquele. Por outro lado, está-se perante uma situação de responsabilidade contratual, pois a culpa do devedor presume-se
(principal)-(Cód. Civil, art. 799° nº 1), a quem compete ilidir a presunção, provar que teria pago fosse o que fosse ao agente
após a cessação da relação contratual de agência, como facto Impeditivo do direito do dele à indemnização de clientela.

Conclui-se:
a) A indemnização de clientela destina-se a compensar o agente pelos lucros, ou benefícios, que o principal continua a auferir,
após a cessação do contrato, com a clientela por aquele angariada.
Assim é devida segundo o preenchimento dos requisitos do n.º 1 do artigo 33.º e 34º do Decreto-Lei n.º 118/93 de 13 de Abril
(o agente ter angariado para o principal novos cliente ou aumento substancial do volume de negócios com os clientes já
existentes, e que tenha produzido num benefício considerável para o principal no contrato de agencia, após a cessação do
contrato com o agente, e que esse benefício se deva à actividade deste.
c) Tais requisitos – designadamente o da alínea c) do n.º 1 do artigo 33.º daquele diploma – são constitutivos do direito à
indemnização de clientela, devendo o agente, que quer ser ressarcido daquele dano contratual, alegar e provar os factos que os
integram, nos termos do n.º 1 do artigo 342.º do Código Civil.

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