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O problema do critério da moralidade

das ações:
•a ética deontológica de Kant
•a ética utilitarista de Stuart Mill

http://filosofiaes.blogspot.com/2020/04/telensino-filos
A NECESSIDADE DE
FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL
Como distinguir O que há de
uma ação incorreto em
moralmente matar, roubar
correta de uma e mentir e de
ação PROBLEMA DA correto em
ajudar?
moralmente
incorreta?
FUNDAMENTAÇÃO
DA MORAL
Que critério ético Será sempre
justifica incorreto matar,
ou fundamenta a roubar e mentir?
afirmação de que a O que é correto fazer numa situação em que E será sempre
ação A é correta e a todas as alternativas são más e é preciso correto ajudar?
ação B é incorreta? escolher a menos má?

a ética deontológica de
Duas respostas diferentes Immanuel Kant
ao problema
da fundamentação da o utilitarismo de Stuart Mill
moral:
O PROBLEMA DA FUNDAMENTAÇÃO DA MORAL

Haverá um critério A ética deontológica


capaz de indicar de Kant e o utilitarismo
com clareza qual de Mill são teorias
é, em cada caso, a objetivistas, pois
ação moralmente consideram
certa e a ação
… que o critério da
moralmente COMO DEVO VIVER? moralidade pode ser
errada? aplicado pelos
COMO ME DEVO COMPORTAR? agentes de modo
Muitos filósofos imparcial
pensam que esse O QUE É O BEM E O QUE É O e objetivo, recorrendo à
critério MAL? razão
existe, mas e não a sentimentos
discordam acerca

pessoais ou tradições
de qual ele seja sociais.
e propõem critérios
diferentes.
História

O utilitarismo moderno,
associado aos ideais liberais
e democráticos, foi fundado
por Jeremy Bentham (1748-
1832) e Stuart Mill (1806-
1873) e tornou-se uma das
teorias morais e políticas
mais importantes do século
XIX.
4
Stuart Mill (1806-1873)
A ÉTICA DE STUART MILL

Se uma ação tiver


consequências
O utilitarismo é favoráveis, é
consequencialista, moralmente correta.
pois a moralidade das
ações depende das
consequências. Se uma ação tiver
consequências
desfavoráveis, é
moralmente
t Mill
St ua r incorreta.

Ao contrário do que acontece na ética kantiana,


o motivo é irrelevante para avaliar a moralidade
de uma ação.
Para Mill, a moralidade de uma ação depende
das suas consequências.
John Stuart Mill é o defensor de uma das mais
discutidas éticas consequencialitas: o utilitarismo.

O que é que, segundo Stuart Mill, torna as ações


boas ou más?

Qual o critério para as avaliar?

6
• Esta teoria responde ao problema da fundamentação da
moral da seguinte forma:
i) o bem último é a felicidade; e
ii) a ação correta é aquela, de entre as alternativas
disponíveis, que mais promove a felicidade.
O PRINCÍPIO DA UTILIDADE

O princípio da utilidade (de uma ação)


é o fundamento da moral
MAXIMIZAR A FELICIDADE.
MINIMIZAR A INFELICIDADE.
trazem Maximizam
Ações têm FELICIDADE a felicidade A UTILIDADE (ou FELICIDADE)
consequências SE (ou bem- e minimizam é o critério ético que permite
favoráveis estar) a infelicidade: justificar se uma ação
são ações é correta ou é incorreta.
às pessoas
envolvidas corretas
O PRINCÍPIO DA
UTILIDADE é, assim, o REGRA
fundamento da moral DAS
(ou o princípio ético REGR
Minimizam AS
supremo).
Ações têm trazem a felicidade
consequências INFELICIDADE ou aumentam a i o d a utilidade
SE às pessoas infelicidade: são
Princíp
a «princ
s, Mill us
ípio
de
desfavoráveis envolvidas Por veze licidade» em vez
ações da maior
fe .
io d a utilidade
incorretas «princ í p
O utilitarismo de John Stuart Mill

O credo que aceita a utilidade,


ou o Princípio da Maior
Felicidade, como fundamento
da moralidade, defende que as
ações estão certas na medida
em que tendem a promover a
felicidade e erradas na medida
em que tendem a produzir o
reverso da felicidade.

John Stuart Mill (1806-1873)

9
Texto de Stuart Mill

• Entende-se por felicidade o prazer e a ausência de do


infelicidade a dor e a ausência do prazer.

• O prazer e a ausência de dor são as únicas


desejáveis como fins; e todas as coisas desejáveis s
pelo prazer inerente a elas mesmas, ou como meios p
promoção do prazer e a prevenção da dor.

Stuart Mill, O Utilitari

10
ARGUMENTO DO BEM
ÚLTIMO Pág.194

A única prova que se pode apresentar para


mostrar que um objeto é visível é o facto de as
pessoas efetivamente o verem. A única prova
de que um som é audível é o facto de as
pessoas o ouvirem, e as coisas passam-se do
mesmo modo com as outras fontes da nossa
experiência. Similarmente, entendo que a única
evidência que se pode produzir para mostrar
que uma coisa é desejável é o facto de as
pessoas efetivamente a desejarem. […]
ARGUMENTO DO BEM
ÚLTIMO

[C]ada pessoa, na medida em que


acredita que esta é alcançável, deseja
a sua própria felicidade.
Isto, no entanto, sendo um facto, dá-
nos não só toda a prova que o caso
admite, mas toda a prova que é
possível exigir, para mostrar que a
felicidade é um bem: que a felicidade
de cada pessoa é um bem para essa
pessoa.
ARGUMENTO DO BEM ÚLTIMO
Pág.194

(1) A única prova de que algo é visível (ou


audível) é o facto de ser visto (ou ouvido)por
alguém.
(2) Logo, a única prova de que algo é
desejável é o facto de ser desejado por
alguém. (De 1 e 2, por analogia)
ARGUMENTO DO BEM ÚLTIMO

(3) A única coisa que cada pessoa deseja, por


si mesma, é a sua própria felicidade.
(4) Se a única prova de que algo é desejável é
o facto de ser desejado por alguém e a única
coisa que cada pessoa deseja, por si mesma,
é a sua própria felicidade, então a felicidade
de cada pessoa é a única coisa que é, por si
mesma, desejável para cada pessoa.
(5) Logo, a felicidade de cada pessoa é a
única coisa que é, por si mesma, desejável
para cada pessoa. (De 2 e 4 )
10ºB 10/05

15
O princípio moral em que se baseia o utilitarismo
é o princípio da Utilidade ou da Maior Felicidade

“ A máxima felicidade possível para o maior número é a medida do bem e do


mal”

Uma ação é boa quando promove a felicidade


A felicidade é a “única coisa desejável como fim”

16
Princípio da Maior Felicidade

As ações humanas são julgadas como


moralmente boas na medida em que
proporcionam a maior felicidade ao maior
número de pessoas.

“Procurando ser útil nas suas ações, o homem regula o seu


egoísmo natural ao mesmo tempo que supera a ética do
puro prazer”
17
Segundo o utilitarismo de Stuart Mill

• A finalidade da moralidade é a felicidade global

• O critério de moralidade das ações (o que torna uma


ação boa) é a sua utilidade, o seu contributo para criar a
maior felicidade (CONSEQUENCIALISMO)

Fazer uma opção moral exige inventariação e avaliação


das consequências possíveis para se poder escolher
a que previsivelmente (cálculo) produzirá mais
felicidade ou bem-estar

18
argumento A FAVOR DO Princípio
da maior felicidade Pág.196

Se o fim que a doutrina utilitarista


propõe a si própria não fosse, na
teoria e na prática, reconhecido
como um fim, nada poderia alguma
vez convencer qualquer pessoa de
que o era. Não se pode apresentar
qualquer razão para mostrar que a
felicidade geral é desejável, exceto a
de que cada pessoa, na medida em
que acredita que esta é alcançável,
deseja a sua própria felicidade.
argumento A FAVOR DO Princípio da
maior felicidade

Isto, no entanto, sendo um facto, dá-nos não


só toda a prova que o caso admite, mas toda
a prova que é possível exigir, para mostrar
que […] a felicidade geral um bem para o
agregado de todas as pessoas.(…)
Se isto for verdade, a felicidade é o único fim
da ação humana, e a sua promoção é o teste
para julgar toda a conduta humana. Daqui
segue-se necessariamente que ela tem de ser
o critério da moralidade(…)
argumento A FAVOR DO Princípio da
maior felicidade Pág.196

(1) A felicidade individual é a única coisa que é, por si


mesma, desejável para cada pessoa. (conclusão do
argumento do bem último)
(2) Se a felicidade de cada pessoa é a única coisa que é,
por si mesma, desejável para cada pessoa, então a
felicidade geral é a única coisa que é, por si mesma,
desejável para o agregado das pessoas.
(3) Logo, a felicidade geral é a única coisa que é, por si
mesma, desejável para o agregado das pessoas. (De 1 e
2, por Modus Ponens)
argumento A FAVOR DO Princípio da
maior felicidade

(4) Se a felicidade geral é a única coisa que é,


por si mesma, desejável para o agregado das
pessoas, então a felicidade é o único fim da
ação humana, e a sua promoção é o teste
para julgar toda a conduta humana.
(5) Logo, a felicidade é o único fim da ação
human, e a sua promoção é o teste para
julgar toda a conduta humana. (De 3 e 4, por
Modus Ponens) – Princípio da Maior
Felicidade
UTILITARISMO
• Assim, para um utilitarista, o bem que
devemos promover é a felicidade.
• Consequentemente, o estatuto moral de
um ato depende de um único fator: a sua
contribuição para a felicidade ou bem-
estar.

Princípio da Maior Felicidade:


uma ação é correta, se e só se, de entre as
alternativas disponíveis, é aquela que
mais promove a felicidade.
Teleensino ‘16.50

10ºA 24
25
hedonismo
Ver Pág.198

Por felicidade, entende-se o


prazer e a ausência de dor;
por infelicidade, a dor e a
privação de prazer.
hedonismo

• Mill era um hedonista, o que significa que,


para ele, a felicidade ou bem-estar de um
indivíduo consiste unicamente no prazer
(experiências aprazíveis) e na ausência de
dor.
Hedonismo QUANTITATIVO
Ver Pág.198
• Jeremy Bentham defendia uma versão
puramente quantitativa de hedonismo.
• Para calcular o bem-estar causado por
uma dada ação temos de ver como ela
afeta cada um dos indivíduos envolvidos,
subtraindo a quantidade de dor à
quantidade de prazer que ela provoca.
• A quantidade de dor e de prazer é
calculada exclusivamente com base na sua
intensidade e na sua duração.
Hedonismo QUALITATIVO
Ver Pág.199

• Ao contrário de Bentham, Mill defendia


uma versão qualitativa de hedonismo.
• Para Mill, há prazeres qualitativamente
superiores a outros, ou seja, há prazeres
intrinsecamente melhores do que outros.
Hedonismo QUALITATIVO

• Os prazeres inferiores correspondem aos


prazeres corpóreos: correspondem à
satisfação das necessidades primárias
(comida, água, sexo, etc).
• Os prazeres superiores correspondem aos
prazeres intelectuais e emocionais:
correspondem à satisfação das
necessidades mentais/espirituais (como a
fruição da beleza, do conhecimento, da
amizade e do amor, etc).
Hedonismo QUALITATIVO
É melhor ser um ser humano
insatisfeito do que um porco
satisfeito; é melhor ser Sócrates
insatisfeito do que um tolo satisfeito.
E se o tolo ou o porco têm uma
opinião diferente é porque só
conhecem o seu próprio lado da
questão. A outra parte da
comparação conhece ambos os
lados.
Ver texto
Pág.199
Hedonismo QUALITATIVO
(1) Se entre dois prazeres um deles é colocado, por aqueles que têm
experiência de ambos, tão acima do outro que não abdicariam dele por
quantidade alguma do outro, então esse prazer é qualitativamente superior
ao outro.
(2) Se aqueles que têm experiência quer dos prazeres intelectuais/espirituais,
quer dos prazeres corporais, dão preferência aos primeiros e não
abdicariam deles por quantidade alguma dos segundos, então os prazeres
intelectuais/espirituais são qualitativamente superiores aos prazeres
corporais. ( Aplicação a um caso concreto do princípio anunciado em 1)
(3) Aqueles que têm experiência quer dos prazeres intelectuais/espirituais,
quer dos prazeres corporais, dão preferência aos primeiros e não
abdicariam deles por quantidade alguma dos segundos.
(4) Logo, os prazeres intelectuais/espirituais são qualitativamente superiores
aos prazeres corporais. (De 2 e 3, por Modus Ponens)
10ºB
A ética de Mill é Prazeres superiores
hedonista O hedonism
QUALITATIV
o de Mill é
O
e inferiores e não quanti
tativo.
Os prazeres são todos iguais?
Ver Pág.198
Consiste
no prazer e na Mill responde que não. Considera que há prazeres
ausência de dor superiores (os intelectuais) e prazeres inferiores
ou sofrimento. (os corporais), e afirma que quem os conhece a
ambos prefere sempre os superiores aos
inferiores.
Por isso, dizemos Porque são preferíveis os prazeres intelectuais?
que a ética de Mill
é hedonista. Os prazeres intelectuais satisfazem melhor a natureza
ti c as
Teorias é dos seres racionais – capazes de pensar, imaginar e
de fin a m
que falar (que Mill considera as capacidades mais elevadas)
felicidade feito
como um e ão «hedonista» e não apenas de sentir, como os animais não racionais.
da realiza da ç
deriva do grego
pessoal ou hédoné = prazer
a
obediênci
o
a Deus nã istas
Ver Pág.201

34
35
Texto
Consequencialismo: Pág.201

intenção e consequências
[O] motivo, embora seja muito relevante
para o valor do agente, é irrelevante para
a moralidade da ação. Aquele que salva
um semelhante de se afogar faz o que está
moralmente certo seja o seu motivo o
dever, seja a esperança de ser pago pelo
incómodo; aquele que trai um amigo que
confia em si é culpado de um crime,
mesmo que o seu objetivo seja servir
outro amigo relativamente ao qual tem
maiores obrigações.
Consequencialismo:
intenção e consequências
• A avaliação moral das ações depende
apenas das suas consequências.
• As intenções e motivações do agente (a
razão pela qual este realiza as suas ações)
são irrelevantes para o estatuto moral dos
atos.
• Em qualquer situação, a ação correta é
aquela que, comparada com todas as
alternativas, tem as melhores
consequências, ou seja, aquela que gera o
melhor estado de coisas possível.
Consequencialismo:
intenção e consequências
• Para determinar o valor das
consequências de um ato, temos de
ponderar imparcialmente os prejuízos e
os benefícios que a sua realização trará a
todos os indivíduos afetados pelo mesmo.
• Devemos fazer esse cálculo com total
imparcialidade, o que significa que
devemos dar a mesma importância à
forma como cada indivíduo é afetado pela
nossa ação.
Consequencialismo:
intenção e consequências
Tenho de voltar a dizer o que os criticos
do utilitarismo raramente têm a justiça de
reconhecer : que a felicidade que
constitui o padrão utilitarista do que está
certo na conduta não é a felicidade do
próprio agente, mas a de todos os
envolvidos. Quanto à escolha entre a sua
própria felicidade e a felicidade dos
outros, o utilitarismo exige que ele seja
tão estritamente imparcial como um
espetador benevolente e desinteressado.

Texto
Pág.202
Consequencialismo: intenção e
consequências

• O padrão da maior felicidade não se refere


apenas à maior felicidade do próprio
agente, mas sim à maior felicidade geral,
ou seja, à felicidade de todos os seres
sencientes (incluindo animais não-
humanos) afetados pela nossa ação.
• Isto significa que, para Mill, sacrificar o
bem pessoal tem sentido, se, e só se,
aumentar a quantidade total de
felicidade.
Consequencialismo: intenção e
Ver Pág.202 consequências I = 4
EU

Indivíduos afetados
Tota
I1 I2 I3 II4 I5 l
Ações disponíveis
4
Opção A 8 9 4 3 4 28
Opção B 3 3 3 3 3 15
Opção C 4 5 6 5 6 26

Embora EU fique melhor na Opção C, a opção correta de acordo com o


utilitarismo de John Stuart Mill continua a ser a Opção A, porque é aquela em
que o maior total de felicidade é alcançado.
agregacionismo
• O utilitarismo de Mill defende que a ação correta é
aquela que mais promove o bem-estar agregado –
isto é, aquela que corresponde a um maior total de
bem-estar depois de descontar a dor à soma do
prazer de todos os envolvidos, independentemente
da forma como esse bem-estar se encontra
distribuído pelos diferentes indivíduos.
• Portanto, o utilitarismo de Mill é uma teoria
agregacionista.
• Uma teoria é agregacionista se, e só se, considera
que um determinado estado de coisas é melhor do
que outro, no caso de ter um maior total de bem,
independentemente da forma como este se encontra
distribuído.
Consequencialismo: intenção e
consequências Ver Pág.203

Indivíduos afetados
Tota
I1 I2 I3 I4 I5 l
Ações disponíveis
Opção A 8 9 4 3 4 28
Opção B 3 3 3 3 3 15
Opção C 4 5 6 5 6 26

Embora na Opção B haja uma distribuição mais


igualitária de felicidade e na Opção C haja mais
pessoas mais felizes (3 em vez de 2), a opção correta
de acordo com o utilitarismo de John Stuart Mill
continua a ser a Opção A, porque é aquela em que o
maior total de felicidade é alcançado.
44
45
DEVERES À questão
«Será que os fins
justificam os meios?»,
o utilitarismo responde:
Não há deveres absolutos «Por vezes, justificam.»
Para Mill, mentir, por exemplo, é
normalmente incorreto – porque
mentir provoca mais infelicidade se minimiza se maximiza
do que felicidade. a felicidade MENTIR a felicidade
ou aumenta
Mas mentir é sempre incorreto? a
ROUBAR infelicidade
ou reduz a
Mill responde que não.
Considera que em determinadas
infelicidade MATAR
situações mentir pode ser a ação (por exemplo)
correta, desde que ao mentir se
esteja ação ação
a maximizar a felicidade. incorreta correta

os fins
m
justificara
os meios
Princípios secundários: a inexistência
de regras morais absolutas Ver Pág.205

• Resta acrescentar que, apesar de encarar o


princípio da utilidade (ou da maior felicidade)
como fundamento de toda a moralidade, Mill
não pensava que deveríamos orientar toda a
nossa conduta diretamente por esse princípio.
• Frequentemente, não há tempo, antes de uma
dada ação, para calcular e avaliar os efeitos
que esta terá na felicidade geral.
• Contudo, isso não significa que a ética
utilitarista se revela incapaz de fornecer
qualquer orientação prática para a nossa
conduta.
Princípios secundários: a inexistência
de regras morais absolutas
• A humanidade tem vindo a aprender por experiência
a tendência que certas ações têm para produzir
felicidade, ou infelicidade e, com base nisso,
podemos adotar certos princípios secundários e
utilizá-los como guias para a nossa conduta.
• Por exemplo, quando alguém se sente tentado a
roubar, ou a matar, não é como se tivesse de
considerar pela primeira vez se o roubo ou o
homicídio são benéficos ou prejudiciais para a
felicidade humana.
• Dada a tendência geral dessas ações para produzir
mais infelicidade do que felicidade, podemos
assumir como regra geral que não devemos roubar,
nem devemos matar ninguém.
Princípios secundários: a inexistência
de regras morais absolutas
• Contudo, estes princípios secundários não devem
ser encarados como regras morais absolutas, que
devemos respeitar em toda e qualquer situação.
• Desde logo, porque as peculiaridades de cada
circunstância assim o exigem.
• No caso de dois princípios fornecerem
recomendações contraditórias, por exemplo,
temos de recorrer ao princípio da utilidade (ou da
maior felicidade) para saber qual delas deverá
prevalecer sobre a outra.
• Sem poder recorrer ao padrão da utilidade,
qualquer teoria moral tornar-se-ia incapaz de nos
orientar nestes casos.
PRINCÍPIOS SUBORDINADOS MAXIMIZAR O PRAZE
R
MINIMIZAR A DOR

Por vezes não usamos o princípio da utilidade


Uma crítica ao utilitarismo é que, na maioria
das situações, não há tempo para se refletir Por vezes não é PRINCÍPIO
acerca da ação que se quer realizar de modo a diretamente usado.
perceber, através da aplicação do princípio da Usam-se regras de DA UTILIDADE
utilidade, se maximiza ou não a felicidade ação aprovadas pelo
geral. próprio princípio.
Mill responde que nos casos em que não é possível usar
o princípio da utilidade (o princípio supremo) o agente
orienta-se por regras de ação (os princípios
subordinados), consagradas pela experiência de vida e
«aprovadas» pelo princípio da utilidade, como, por
Se essas regras
exemplo: não se deve mentir; não se deve roubar; não
se deve matar. geram mais
infelicidade …pode
E se as regras não funcionarem, acabando a ação por do que felicidade... admitir-se
produzir, ao contrário do habitual, maior infelicidade uma
do que felicidade? exceção
Nestes casos, para Mill justifica-se, de acordo N ão h á à regra
de veres
com o princípio da utilidade, abrir uma exceção.
absolutos
51
Consequencialismo
Numa ação devemos dar importância moral às suas
consequências.
Altruísmo
O utilitarismo relega para segundo plano o que nos é útil
enquanto indivíduos e pode mesmo exigir que sacrifiquemos
o nosso interesse individual em nome da felicidade geral
(oposição ao egoísmo ético).
Imparcialidade
Os interesses dos indivíduos recebem a mesma atenção; as
discriminações baseadas no sexo, na raça e na
nacionalidade não são autorizadas. 52
53
54
55
56
57
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59
Agir moralmente bem não é sempre sinónimo
de aplicação do principio de utilidade:

em muitos casos uma ação é correta se cumpre


uma determinada norma moral e incorreta se a
transgride. Não é necessário em muitas situações
fazer apelo ao principio da máxima felicidade para
que uma ação seja moralmente valiosa.

Em que circunstâncias se impõe o apelo


ao principio supremo da moralidade?
No caso dos dilemas morais 60
Análise de casos

Exemplo 1
Ocupamos um cargo político e
podemos ordenar a construção de
uma de três coisas: um museu,
uma praça de touros ou um
hospital?

61
Exemplo 2

Um médico dispõe de recursos limitados com os quais


pode fazer uma das seguintes opções:
Tratar cinco feridos ligeiros, poupando-
os a algum sofrimento enquanto não
chegam a um hospital
OU
Ocupar-se exclusivamente de um ferido
grave, salvando-lhe a vida?
Que ação um utilitarista
aprovaria?

62
Entre os atos alternativos de que um agente dispõe numa certa
ocasião, só são permissíveis aquele ou aqueles que, comparados com
os restantes, têm as consequências mais valiosas .

Exemplo 1 Exemplo 2

A melhor escolha será aquela que O utilitarista aprovaria a segunda


dará origem a um maior bem acão, pois o benefício que trará ao
ferido grave suplanta os
O Hospital? benefícios menores que os outros
feridos poderiam obter.
É essa opção que maximiza o
bem

Obriga a um cálculo imparcial das Obriga a um cálculo imparcial das


consequências consequências

63
O Utilitarismo

a) Propõe um ideal moral: a felicidade de todos


os Homens, e não apenas a própria

b) Indica um ideal jurídico-político: o bem comum


ou a felicidade global

c) Sugere um ideal pedagógico: a formação


de indivíduos solidários, empenhados
em promover o bem comum e a
felicidade de todos

64
O BEM ÚLTIMO

Porque é que Mill considera a felicidade


como o fundamento da moral?
A felicidade é o bem último porque,
para Mill, é a finalidade última FELICIDADE
das ações humanas.
Ao contrário das outras coisas, É um bem último.
a felicidade tem valor intrínseco: Te m valor
desejamo-la por si mesma. intrínseco:
BENS
As outras coisas são desejadas é algo bom em si
DINHEIRO, SAÚDE,
como meios de alcançar a felicidade, mesmo.
mas desejamos a felicidade por exemplo
por si mesma. têm apenas valor instrumental:
valem apenas como meios para
f e l ic id ad e
A im o
atingir a felicidade.
e m ú lt
éob
Objeções ao Arg. do bem último
• A analogia subjacente à passagem das
premissas (1) e (2) para a premissa (3) é
bastante fraca, pois existem diferenças
relevantes entre propriedades como
“visível” e “audível” e a propriedade
“desejável”.
• As primeiras são puramente descritivas, ou
seja, limitam-se a dizer como as coisas são –
dizer que algo é visível é o mesmo que dizer
que pode ser visto e dizer que algo é audível
é o mesmo que dizer que pode ser ouvido
Objeções ao Arg. do bem último
• A última tem, geralmente, um certo conteúdo
normativo: não diz apenas como as coisas são,
mas antes como devem ser – dizer que algo é
desejável significa geralmente que deve ser
desejado, e não simplesmente que pode ser
desejado.
• Assim, o facto de algo ser desejado não prova
que deve ser desejado, mas sim que pode ser
desejado.
• Contudo, Mill pretende estabelecer que a
felicidade de cada pessoa é desejável para si
mesma, num sentido normativo.
Objeções ao Arg. do bem último

• A premissa (4) do Argumento do Bem


Último corresponde à tese do egoísmo
psicológico: A única coisa que cada pessoa
deseja, por si mesma, é a sua própria
felicidade.
• Alguns autores consideram que existem
fortes contraexemplos a essa tese e, por
esse motivo rejeitam a premissa (4) do
argumento de Mill.
Objeções ao Arg. do bem último
Imaginemos um pai que foi raptado por seres alienígenas
com tecnologia bastante sofisticada que pretendem
descobrir se a tese do egoísmo psicológico é verdadeira.
Para isso dão-lhe a escolher:
(A) salvar o filho, mas sofrer processo de reconfiguração
das suas memórias que o faria acreditar (erradamente)
que condenou o filho a um grande sofrimento; ou
(B) não salvar o filho, mas sofrer processo de
reconfiguração das suas memórias que o faria acreditar
(erradamente) que o fez, ficando em paz com a sua
consciência.
Presumivelmente, o pai iria preferir salvar o filho por uma
preocupação direta com os interesses da criança.
Objeções ao Arg. A FAVOR DO PMF
• Os críticos do Argumento a Favor do
Princípio da Maior Felicidade têm atacado
a premissa (2) desse argumento.
• Esta premissa tem subjacente a falácia da
composição, que consiste em atribuir ao
todo características que apenas podem
ser legitimamente atribuídas a cada uma
das suas partes.
• Considerar que do facto de que cada um
dos alunos da turma ser pessoa se segue
que a turma é uma pessoa é um bom
exemplo desta falácia.
Objeções ao Arg. A FAVOR DO PMF

• Alegadamente, Mill incorre nessa falácia


ao considerar que o facto de a felicidade
de cada pessoa ser a única coisa que é,
por si mesma, desejável para cada uma
delas é uma condição suficiente para que
a felicidade geral seja a única coisa que é,
por si mesma, desejável para o agregado
das pessoas.
objeção ao hedonismo
• O filósofo Robert Nozick (1938-2002) concebeu uma
engenhosa experiência mental para mostrar a nossa
felicidade não consiste apenas no prazer e na ausência de dor.
• Essa experiência mental ficou conhecida como “A Máquina de
Experiências”.
objeção ao hedonismo
Suponhamos que havia uma máquina de
experiências que proporcionaria ao leitor a
experiência que desejasse. Neuropsicólogos
superfixes podiam estimular o seu cérebro de
maneira a pensar e sentir que escrevia um
grande romance, fazia um amigo, ou lia um livro
interessante. Durante todo o tempo estaria a
flutuar numa cuba, com elétrodos ligados ao
cérebro. Dever-se-ia ligar esta máquina durante
toda a vida, pré-programando as suas
experiências de vida? (...) Evidentemente,
enquanto está na cuba não saberá que ali está;
pensará que tudo aquilo acontece efetivamente.
(...) Ligar-se-ia? O que mais pode ter
importância para nós, além do modo como são
as nossas vidas a partir de dentro?

Robert Nozick (1938-2002)


objeção ao hedonismo
(1) Se o hedonismo fosse verdadeiro, estaríamos
apenas interessados em obter o maior saldo
possível de experiências aprazíveis.
(2) Se estivéssemos apenas interessados em
obter o maior saldo possível de experiências
aprazíveis, aceitaríamos ligar-nos a uma máquina
que subjetivamente nos desse a ilusão de que
vivemos uma vida com sentido.
(3) Não estamos dispostos a ligar-nos a uma
máquina como essa.
(4) Logo, não estamos apenas interessados em
obter o maior saldo possível de experiências
aprazíveis. (De 2 e 3)
(5) Logo, o hedonismo é falso. (De 1 e 4)
objeção ao hedonismo

• Nozick sugere que a maioria de nós recusaria ligar-


se à máquina de experiências, porque a nossa
felicidade não depende apenas da forma como a
nossa vida corre de um ponto de vista subjetivo.
• Para este autor, estamos interessados em mais do
que obter o maior saldo possível de experiências
aprazíveis, caso contrário não hesitaríamos ligar-
nos à “máquina de experiências”.
• Queremos, efetivamente, concretizar os nossos
objetivos, satisfazer as nossas preferências,
realizar certas ações e envolver-nos em
determinados projetos, e não apenas ter a
sensação subjetiva de o fazer.
objeções ao agregacionismo - 1
• O problema da separação entre os indivíduos:
• Uma outra objeção comum ao utilitarismo está
diretamente relacionada com o caráter
agregacionista desta teoria.
• Como vimos anteriormente, para uma teoria
agregacionista o importante é produzir o maior
total de bem-estar agregado, independentemente
da forma como este se encontra distribuído pelos
diferentes indivíduos.
• O filósofo norte-americano John Rawls considera
que esta conceção não respeita os princípios da
justiça social, pois não tem em conta a separação
entre os indivíduos.
objeções ao agregacionismo - 1

A característica marcante da visão utilitarista da


justiça é a de que, para ela, não importa, a não
ser indiretamente, o modo como a soma das
satisfações é distribuída entre os sujeitos, da
mesma forma que não importa, também salvo
indiretamente, a forma como os sujeitos
distribuem as suas satisfações no tempo. Em
ambos os casos, a distribuição correta é aquela
que produz a máxima satisfação. […] Não há,
pois, razão para que, em princípio, os maiores
ganhos de alguns não compensem as perdas,
comparativamente menores, de outros; ou,
mais importante, para que a violação da
liberdade de alguns não possa ser justificada
por um maior bem partilhado por muitos.

John Rawls (1921-


2002)
objeções ao agregacionismo - 1
Nesta concepção da sociedade, os
sujeitos individuais são considerados
como entidades às quais são atribuídos
direitos e deveres e a quem são
afetados os recursos escassos que
permitem a satisfação dos desejos, de
acordo com regras que conduzem à
maior satisfação possível das
necessidades. Assim, a natureza da
decisão tomada pelo legislador ideal
não é materialmente diferente da
tomada por um empresário que decide
o modo de maximizar o seu lucro […].

John Rawls (1921-


2002)
objeções ao agregacionismo - 1
Em cada caso, há um único sujeito cujo
sistema de desejos determina a melhor
afetação de recursos limitados. A decisão
correta é, essencialmente, um problema
de administração eficiente. Esta visão da
cooperação social é a consequência da
extensão à sociedade do princípio de
escolha aplicável ao indivíduo, seguida,
como modo de tornar efetiva esta
extensão, da união de todos os sujeitos
num só […]. O utilitarismo não considera,
pois, seriamente a pluralidade de
sujeitos.

John Rawls (1921-


2002)
objeção ao agregacionismo - 11

População População
1
A 1
1
B1 1
1 1 1
1 1 1
1 1 1
8 9 7 8 1 1 1
1 1 1
1 1
1 1
1
1
objeção ao agregacionismo - ii
• O problema da conclusão repugnante:
– Mill defende que a ação correta é aquela que
mais promove o bem-estar agregado, isto é,
aquela que corresponde a um maior total de
bem-estar depois de descontar a dor à soma
do prazer de todos os envolvidos.
– Mas, nesse caso, uma ação que resultasse
numa sociedade com um grande número de
indivíduos que vivessem vidas que quase não
merecem ser vividas seria preferível a uma
sociedade com poucos indivíduos, ainda que
tivessem vidas com elevados níveis de bem-
estar.
objeção ao agregacionismo - 11

(1) Se o agregacionismo fosse verdadeiro, então


uma ação que resultasse numa sociedade com
um grande número de indivíduos que vivessem
vidas que quase não merecem ser vividas seria
preferível a uma sociedade com poucos
indivíduos, ainda que tivessem vidas com
elevados níveis de bem-estar.
(2) Ora, é falso que uma ação que resultasse
numa sociedade com um grande número de
indivíduos que vivessem vidas que quase não
merecem ser vividas seria preferível a uma
sociedade com poucos indivíduos, ainda que
tivessem vidas com elevados níveis de bem-estar.
(3) Logo, o agregacionismo é falso. (De 1 e 4)
Contraexemplos ao PMF
• O Princípio da Maior Felicidade diz-nos que: “uma
ação é moralmente correta, se, e só se, é aquela,
de entre as alternativas disponíveis, que mais
promove a felicidade.”
• Se quisermos mostrar que esta bicondicional é
falsa temos de encontrar contraexemplos para a
mesma.
• Para isso, recordemos as condições de verdade da
bicondiconal: ela só é falsa quando o valor de
verdade das proposições que a compõem difere
(como se pode ver na tabela de verdade do slide
seguinte).
Contraexemplos ao PMF

Dicionário:
P: A ação é moralmente correta.
Q: A ação é aquela que, de entre as alternativas
disponíveis, mais promove a felicidade.

P Q (P ↔ Q)
V V V
V F F
F V F
F F V
Contraexemplos ao PMF

• Isto significa que se pretendemos mostra que


o Princípio da Maior Felicidade é falso através
de um contraexemplo, teremos de encontrar
uma das seguintes situações:
1. P é verdadeira, mas Q é falsa – ou seja, uma ação
que é moralmente correta, apesar de não ser a
alternativa disponível que mais promove a
felicidade.
2. P é falsa, mas Q é verdadeira – ou seja, uma ação
que não é moralmente correta, apesar de ser a
alternativa disponível que mais promove a
felicidade.
Contraexemplos ao PMF

• No caso 1. a definição apresentada é demasiado


restrita, pois exclui casos que deveria incluir.
• No caso 2., a definição apresentada é demasiado
abrangente, pois inclui casos que deveria excluir.
• No caso 1., estaremos a considerar que a ética
utilitarista é demasiado exigente, pois considera
que é sempre errado fazer algo que não contribua
para a felicidade geral no maior grau possível, por
maiores que sejam os sacrifícios pessoais que isso
implique.
• No caso 2., estaremos a considerar que a ética
utilitarista é demasiado permissiva, porque
considera que qualquer ato, por mais hediondo
que seja, é moralmente correto desde que
promova a felicidade.
Objeção da exigência extrema

• Imagina que tens à sua disposição as


seguintes opções:
Opção A: Doar 500€ à UNICEF.
Opção B: Doar 500€ à OXFAM.
• Agora, imagina que decidiste doar o dinheiro à
UNICEF produzindo uma grande quantidade
de felicidade a um número significativo de
crianças e respetivas famílias.
• Imagina ainda que se tivesses decidido
oferecer o dinheiro à OXFAM, terias produzido
um maior número de felicidade.
Objeção da exigência extrema
• O utilitarismo diria que essa ação não foi
moralmente correta, pois havia uma alternativa
disponível que produziria mais felicidade.
• Mas parece inaceitável afirmar que fazer um
grande bem é errado simplesmente porque se
podia ter feito um bem ainda maior.
• Ou seja, a ação em causa parece ser moralmente
correta, embora não seja a alternativa disponível
que mais promove a felicidade.
• Podemos acabar por viver uma vida miserável,
abdicando de sistematicamente dos nossos
projetos pessoais em prol da maximização da
felicidade geral.
Objeção da permissividade extrema
• Uma vez que não admite a existência de
restrições deontológicas e obrigações
centradas no agente, o utilitarismo implica
que por vezes cometer uma injustiça ou
fazer algo moralmente condenável, pode
ser a coisa certa a fazer.
• Por exemplo, para um utilitarista é correto
prender, matar ou torturar inocentes se
isso resultar numa maior felicidade geral.
• Mas parece que atos desse tipo não são
justificáveis pelo simples facto de
produzirem as melhores consequências.
Objeção da permissividade extrema

• Imagina que és um chefe da polícia que


tem à sua disposição as seguintes opções:
Opção A: Condenar à morte um inocente sem
qualquer tipo de ligações afetivas, para por
fim a uma onda de agitação social que está a
provocar uma grande quantidade de mortes e
sofrimento na generalidade da população.
Opção B: Não condenar o inocente, permitindo
que a agitação social continue a provocar
mortes e sofrimento na generalidade da
população.
Objeção da permissividade extrema
• O utilitarismo diria que essa ação foi moralmente
correta, pois era a alternativa disponível que
produziria mais felicidade.
• Mas parece inaceitável afirmar que fazer um
grande mal a uma pessoa é correto simplesmente
porque é a alternativa que mais promove a
felicidade geral.
• Isto parece reduzir as pessoas ao estatuto de
coisas que podem ser usadas de qualquer maneira
se isso permitir produzir um grande número de
felicidade para outros.
• Ou seja, a ação em causa parece não ser
moralmente correta, embora seja a alternativa
disponível que mais promove a felicidade.
Críticas negativas
•Se vivemos à base de cálculos de riscos, vivemos numa sociedade
hedonista e pragmática, correndo o risco de esquecer a solidariedade.

•O utilitarismo, devido à ausência de um princípio ético, leva ao


individualismo.

•O utilitarismo não defende um princípio ético universal, pois este está


evidenciado pelos interesses e conjuntura, politico – social.

•Não devemos avaliar só as consequências, corremos o risco de


considerar morais ações que violam valores universais.
92
Objeções ao utilitarismo:
1. A defesa da utilidade das consequências, em
função da felicidade que provoca, como critério
da moralidade coloca sérias dificuldades:

Será que é possível atingir boas consequências


se não se souber previamente o que se
pretende atingir?

93
Objeções ao utilitarismo:
Se a resposta for positiva, o cálculo das
consequências é feito apenas com base nas
experiências passadas, o que é falível e não
contempla situações novas, e não com base em
valores e intenções que nos levam a preferir
determinadas consequências a priori.

(Os valores são guias mais seguros que as consequências,


destas só temos a certeza depois de as coisas acontecerem.)

94
Objeções ao utilitarismo:
2. Dificuldade em calcular as consequências:

a) A dificuldade do número
b) Com que critério se compara o grau de prazer
ou de dor?
O critério que seguimos quando não há nenhum valor ou
intenção universal arrisca-se a ser o reflexo do que o seu autor
considera como preferível.

95
Objeções ao utilitarismo:

c) A indução é falível – tem que lidar com


consequências prováveis.

3. A concepção de felicidade dos utilitaristas é


posta em causa
Se ela for definida como simples bem estar/ausências de dor, segue-se que tal
justificaria moralmente o consumo de uma droga que sem provocar grandes danos á
saúde física, preservasse um estado de bem estar artificial e desligado da realidade,
por parte de toda a população.

96
Objeções ao utilitarismo:
Parece que esta teoria permite justificar muitas ações
que habitualmente aparecem à nossa consciência como
imorais, mesmo provocando maior prazer do que outras.

4. Os fins não podem justificar qualquer meio.

A utilidade não pode ser o único critério

a) Usar as pessoas como ‘bodes expiatórios’


b) Atentados terroristas
c) Os direitos individuais – divulgar fotografias sem o consentimento das pessoas
poderá provocar bem estar a um grande nº mas viola os princípios fundamentais
da dignidade humana 97
Objeções ao utilitarismo:
Há valores que não podem ser postos em causa , mesmo que provoquem bem estar
num grande nº de pessoas.

5. O fato de sermos responsáveis só pelas


consequências, faz com que sejamos responsáveis por
atos de que não somos autores?

98
Conclusão:

O utilitarista ignora a importância moral da intenção dos agentes morais e não tem
em conta a moralidade dos meios com que se alcançam os resultados, uma vez
que estes são os únicos fatores de determinação do valor moral das ações.

99
OBJEÇÕES À ÉTICA DE MILL (ao utilitarismo)

Dificuldades de cálculo Excesso de exigência


Segundo esta objeção, podemos Esta objeção sustenta que não é correto
cometer um erro ao calcular as o agente tentar ser tão imparcial como
consequências das ações e o utilitarismo pretende e que está certo
considerar benéficas ações que dar mais peso à felicidade de algumas
afinal são prejudiciais. pessoas (familiares, por exemplo).

Violação de direitos
individuais
Segundo esta objeção, o utilitarismo
parece justificar ações que a intuição
nos diz serem erradas – como, por
exemplo, sacrificar uma pessoa inocente,
violando o seu direito à vida, para
aumentar a felicidade geral.
São ações que põem em causa os direitos
de algumas pessoas, embora maximizem
a felicidade.
x salva uma pessoa de morrer afogada para
obter reconhecimento público

Esta ação é moralmente boa?

NÃO

Immanuel Kant (1724 -1804)


PORQUÊ?

101
x salva uma pessoa de morrer afogada
para obter reconhecimento público

Esta ação é moralmente boa?

SIM
Stuart Mill (1806-1873)

PORQUÊ?

102
O Utilitarismo

Os fins justificam os
meios se o meio for a
melhor forma de
promover a felicidade
da maioria
Stuart Mill
103
Os fins justificam os meios?

Não, porque em nome das


consequências não podemos
ignorar o dever de tratar as
pessoas como fins e nunca como
meios

 Mesmo que as consequências


pareçam boas isso não justifica
que se desrespeite o dever e os
direitos humanos.
104
Immanuel Kant
Problema

O que torna as ações Qual é o critério ou


boas ou más ? principio supremo da
avaliação moral das
Uma teoria deontológica:
acções?
a ética racional de Kant

Uma teoria consequencialista:


a ética utilitarista de Stuart Mill

106
1) Teorias deontológicas -o
valor moral da acção não
está propriamente no que se
faz, mas na forma como
fazemos o que fazemos, isto
é, no modo como agimos,
na intenção que preside aos
nossos actos. Depende do
respeito pelos princípios,
pelo Dever

2) Teorias consequencialistas – o valor moral da acção é


determinado, não pela intenção com que agimos, mas
pelo que fazemos, pelo que da acção resulta. 107
Depende das suas consequências
Organograma conceptual pag.129

Duas teorias: Kant e Stuart Mill


Teoria deontológica: KANT Teoria consequencialista: S. MILL
o valor moral das acções depende o valor das acções depende das
do respeito pelos princípios, não consequências
das consequências

Toma a forma do
Princípio da maior felicidade: a
Fundamento
Lei moral aImperativo
lei moral eCategórico:
o dever pelo dever
impõe
maximização do bem ou da felicidade
da moralidade (a vontade
deveres boa)
absolutos

por valorizar os princípios defende a imparcialidade,


Critério morais não faz depender as consequências
o altruísmo e a felicidade global
o cumprimento do dever ou a
de avaliação
Vantagens a moralidade de circunstâncias previsíveis: acção
como ideal moral boa é
e político.
da moralidade universalização da máxima como
particulares; opõe-se aValoriza
que trazosmais
efeitos práticos
felicidade
regra da acção
à instrumentalização da pessoa da acção
global

Imparcialidade
a autonomia Imparcialidade
Fim da
Aspectos Condenação do egoísmo Altruísmo
(a opção pela lei que a razão dá
comuns
moralidade a si mesma): transformação a felicidade global
da vontade numa vontade boa
108
FORMAIS MATERIAIS
▼ ▼
Definem que a validade moral de uma
acção não está propriamente no Teorias que põem o assento
que se faz, mas na forma como tónico no conteúdo ou na
fazemos o que fazemos, isto é, no matéria da acção.
modo como agirmos, na intenção ▼
que preside aos nossos actos.
▼ A validade moral de um acto é
Não estabelece qualquer fim exterior determinada, não pela intenção
à acção moralmente boa. com que agimos, mas pelo que

fazemos e pelo que da acção
Pelo contrário: para Kant a acção resulta.
moralmente boa tem o seu fim em
si mesma ▼
▼ Exemplo: para Stuart Mill
Vale não pelo dever que cumpre, mas mentir não é errado
pela forma como procura cumprir por princípio, mas em função
o dever.
das consequências

109
Pensar Azul Texto Editores

Dimensão ética do Ser Humano pag.130

Dimensão ética do agir


Ser social o domínio da acção voluntária e intencional orientada Ser moral
(cidadão) por princípios, visando a dignificação e o (pessoa)
aperfeiçoamento dos seres humanos
→ ↓ ←

Ética
reflexão sobre os princípios e valores que legitimam os códigos morais

Moral
códigos e regras morais estabelecidos por um grupo, sociedade ou cultura

Norma Consciência moral Intenção
regras Capacidade interior de orientação Julgamento íntimo de
estabelecidas e avaliação da acção com base em cada um sobre o que
socialmente princípios. Dimensão autónoma de é permitido ou
← proibido110

determinação da acção
>>> Fundamentação da moral
De que depende a moralidade da acção?

Fundamentos da moral
Justificação e critério de moralidade
↓ ↓
Uma teoria deontológica Uma teoria consequencialista
Ética do dever de Kant Utilitarismo de Stuart Mill

Fundamento da moralidade Fundamento da moralidade


A lei moral e o dever como fim em si Princípio da Utilidade ou da Maior
mesmo (a vontade boa) Felicidade
↓ ↓
Critério da moralidade das acções Critério da moralidade das acções
O cumprimento do dever por dever As consequências da acção: felicidade ou
(o respeito absoluto pela lei universal) infelicidade para o maior número
111
QUESTÕES RESPOSTA DE KANT RESPOSTA DE MILL

A intenção é o critério ou fator decisivo Sim. A minha ética considera boa a ação cuja Não. As consequências são o critério
para avaliar se uma ação é moralmente máxima exprime a intenção de cumprir o dever decisivo da moralidade de um ato. A
boa? pelo dever. A minha ética é deontológica. intenção só diz respeito ao caráter do
agente.  A minha ética é consequencialista.

Há ações boas em si mesmas, isto é, que Sim. O valor moral de uma ação depende da máxima Não. Não podemos dizer que uma ação é boa ou
tenham um valor intrínseco? que o agente adota sendo independente das má antes de olharmos para as suas
consequências, efeitos ou resultados do que fazemos. consequências.

Há deveres absolutos? Há normas morais que Sim. Mentir, roubar e matar, por exemplo, são atos Não. Apesar de esses atos terem
não devemos nunca desrespeitar? sempre errados. Há normas morais absolutas, que frequentemente consequências más, nem
devem ser incondicionalmente respeitadas, ou que sempre é assim. Há situações em que não
As consequências são o que devem Não. A minha
ser sempre ética não é
cumpridas. cumprir
Sim. esses deveres
A minha tem é
ética como consequência
um melhor estado de coisas.
mais conta para decidir se uma intencionalista.(2) consequencialista.(2)
ação é ou não moralmente
boa?(1)  
Qual é o princípio moral fundamental que O princípio moral fundamental a respeitar é o O princípio moral fundamental a respeitar é o
temos de respeitar para que a nossa ação seja imperativo categórico. Exige que nunca se faça do princípio de utilidade. Exige que das nossas
moralmente boa? outro um simples meio e que para tal a máxima da acções resulte a maior felicidade possível para o
minha vontade possa ser a de todos. maior número possível de pessoas.

Maximizar o bem-estar ou a felicidade é Não. Não é obrigatório e muitas vezes não é Sim. Se o valor moral das ações depende da sua
obrigatório? permissível. O respeito absoluto pelos direitos da capacidade para maximizar o bem-estar, mesmo
pessoa humana implica que haja deveres absolutos ou que por vezes isso implique a violação de algum
coisas que é absolutamente proibido fazer. direito. A minha ética não é deontológica .

112

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