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CURSO INTRODUTÓRIO EM PRÁTICAS

INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES:
ANTROPOSOFIA APLICADA À SAÚDE

 
Antroposofia aplicada à saúde:
contexto histórico e panorama geral do
modelo de cuidados

Iracema de Almeida Benevides

 
Medicina e História I
A humanidade enfrenta problemas de saúde desde os
primórdios da nossa civilização.
As práticas que procuram promover, manter ou recuperar a
saúde têm estreita relação com a cultura, os significados
atribuídos ao corpo humano e o conhecimento disponível
em cada época.

Fotos: wikimedia
Medicina e saúde:
Em cada época existiu uma forma de compreender saúde e doença

Civilização
greco -romana: Civilização
1200 ac chinesa:
1600 ac

Civilização
indiana:
2500 ac
Civilização
americana:
600 ac Civilização
egípcia: Civilização
PORTER, 2002; MORAES, 2007 3000 ac mesopotâmica
3500 ac
Foto: PORTER, 2002
Modelos terapêuticos:
A visão de corpo no modelo biomédico
• No final do século XVIII os conhecimentos e
descobertas tecnológicas influenciam o saber médico
• A ciência passa a ocupar-se e a valorizar a “matéria”
concreta que pode ser medida, pesada e estudada em
partes e detalhes
• O conceito de corpo é influenciado. A doença localiza-
se no corpo; para existir doença é preciso haver uma
base no corpo (lesão). Basta remover a causa para
que haja a cura da doença
(GUEDES, CR; NOGUEIRA, MI; CAMARGO Jr, KR., 2008)
Medicina e Corpo I:
O materialismo do século XIX
• A Medicina atual (chamamos também de “modelo
biomédico”) baseia-se em máquinas, instrumentos e
em substâncias que atuam quimicamente
• Está embasada no empirismo, na observação
sensorial e foi fortemente influenciada pelo
materialismo do século XIX
• Tem o corpo como seu local de trabalho e entende
as enfermidades como o resultado de forças físicas e
a interação química entre substâncias
Medicina e corpo II:
A visão das partes separadas
• O modelo biomédico dedica-se centralmente à
dimensão material, corporal, do ser humano
• Valoriza a especialização e os métodos diagnósticos
complementares (exames)
• Tende a desconsiderar e não ser capaz de relacionar
a complexidade humana com os processos de
adoecimento e cura

NÃO SE TRATA DE DESCONSIDERAR O CORPO MAS


DE NÃO CONSIDERÁ-LO COMO PARTE DE UM
TODO.
Medicina e História II:
Uma referência histórica da visão do “todo"
Paracelso, (Philippus Aureolus
Theophrastus Bombastus von
Hohenheim, 1493 - 1541)

Médico, químico, alquimista, físico


e astrólogo. Relacionava a
natureza com o universo, falando
sobre a signatura das plantas. Seu
pensamento e seus estudos vão
influenciar o modelo vitalista

Foto: wikimedia
Homeopatia e a dimensão vital:
Empirismo como base para o intangível
Christian Friedrich Samuel
Hahnemann (1755 – 1843)

Médico fundador da Homeopatia (do


grego "homoion", similar, e "pathos“,
doença). Baseou-se em Hipócrates e
Paracelsus sobre o princípio Similia
similibus curentur (cura pelo
semelhante). Surge o medicamento
diluído e dinamizado e o conceito de
corpo vital
Foto: wikimedia
Outros modelos terapêuticos:
A visão de corpo no modelo vitalista
“Na condição de saúde do homem, a força vital espiritual,
(autocrata), a dinâmica que anima o corpo material
(organismo), governa com poder ilimitado, e mantém todas
as partes do organismo em funcionamento harmonioso e
admirável, com respeito tanto a sensações como a funções,
de modo a que o espírito dotado de razão que vive dentro de
nós, pode empregar livremente este instrumento vivo e são
nos mais elevados propósitos da nossa existência.” 
                                          
(Parágrafo 9 do Organon ou Arte de Curar)
Uma ciência sobre o “todo”:
O surgimento da Antroposofia
Rudolf Steiner Joseph Lorenz
(1861 - 1925)

Professor e filósofo austríaco. Ele


fundou a Antroposofia – do grego
Anthropos, homem e Sophia,
sabedoria: sabedoria sobre o
Homem. Propôs iniciativas para
vários campos de atuação:
educação, medicina, arquitetura,
agricultura e outros.
Foto: Arquivos ABMA
Antroposofia e o ser humano I:
Microcosmo e macroscomo interligados
• Steiner valoriza o pensamento objetivo que permitiu o
desenvolvimento da ciência e o conhecimento profundo
dos processos corporais
• Aplica sua forma de pensar na direção não das partes,
mas de uma visão integrada do ser humano em si e do
ser humano com o mundo
• Uma visão que, internamente, relaciona e mostra a
interdependência entre os diversos órgãos do corpo.
Antroposofia e o ser humano II:
Microcosmo e macroscomo interligados
• Com relação ao mundo exterior mostra como a
organização humana engloba e unifica fenômenos que
ocorrem nos reinos animal, vegetal e mineral e também
as influências que partem do cosmos, as estações do
ano, e influências dos astros

TUDO ESTÁ INTERLIGADO, INCLUSIVE AS DIVERSAS


DISCIPLINAS OU ESPECIALIDADES MÉDICAS.
Antroposofia e Saúde I:
Nossa educação e nossa forma
de compreender e de atuar
• A dificuldade de entender que o homem não é, em sua
totalidade, o resultado de forças físicas e químicas é
fortalecida pelo fato de que desde crianças, muito
antes de nos depararmos com a necessidade de cuidar
de pessoas doentes, nosso pensamento é treinado a
medir e a contar
• Há uma tendência da educação contemporânea de
formar pessoas que possam ser inseridas na indústria,
na produção de tecnologia, daquilo que é novo
Antroposofia e Saúde II:
Nossa educação e nossa forma
de compreender e de atuar
• Nas áreas biomédicas nos dedicamos mais ao estudo
e desenvolvimento de máquinas e aparelhos, do que
ao conhecimento da vida e da natureza humana
• A dimensão espiritual do ser humano não é
considerada como importante

SOMOS EDUCADOS A NÃO PENSAR E CONHECER O


SER HUMANO EM SUA COMPLEXIDADE
Um poeta cientista I:
A fenomenologia de Goethe
Johann Wolfgang von Goethe
(1749 - 1832) Poeta, escritor e
cientista. Importante referência na
literatura romântica da Europa,
suas obras são mundialmente
conhecidas. No campo das
ciências, desenvolveu estudos na
área da física, especialmente da
ótica (Teoria das Cores) e das
ciências naturais
Foto: wikimedia
Uma poeta cientista II:
A fenomenologia de Goethe
Como cientista natural, seu lado menos conhecido, Goethe
desenvolveu um método de investigação compreensivo: a
fenomenologia goetheana ou Goetheanismo

Fotos: wikimedia
Steiner pensa Goethe:
A descoberta de um modelo de investigação da natureza
do ser humano

Goethe desenvolveu um caminho


de conhecimento para além dos
sentidos....e assim percebeu que
Acontece uma transformação das
Formas na natureza! Como será
isso nos seres humanos?

Em sua juventude Steiner trabalhou, durante um tempo,


organizando o arquivo de Goethe e maravilhou-se ao
descobrir como ele pensava: um pensar “vivo”, orgânico.

Foto: Arquvos ABMA


Ciência e Filosofia I:
O pensamento além do que é sentido
• A Antroposofia busca conhecer o ser humano
observando o corpo e pensando as leis que atuam
sobre o corpo e não podem ser observadas
sensorialmente
• O ser humano não é apenas constituído de corpo, mas
também de vida, emoções e espirito
• Não é o corpo que produz a psique, assim como não é
a vela que produz o fogo. Ao contrário, é o fogo que
desgasta a vela. Um depende do outro, mas a vela não
é capaz de produzir fogo  
Ciência e Filosofia II:
O pensamento além do que é sentido
• O corpo não é capaz de produzir pensamentos e
emoções. Eles não são de natureza material. A
antroposofia aplicada à saúde correlaciona as emoções
e os pensamentos com o funcionamento e com a
estrutura corporal, na saúde e na doença
 
O HOMEM É UM SER FÍSICO, ANIMICO E ESPIRITUAL
 
Uma ampliação da Medicina:
O surgimento da Medicina Antroposófica
Ita Wegman (1876-1943), médica e
responsável pelo desenvolvimento das
bases da antroposofia aplicada à
saúde em conjunto com Steiner.
Escreveram juntos o livro “Elementos
fundamentais para uma ampliação da
arte de curar”. Propôs aplicações para
enfermagem, massagem e diversas
terapias antroposóficas
 
Foto: Arquvos ABMA
Antroposofia aplicada à saúde:
Integração e ampliação
• A antroposofia aplicada à saúde reconhece, estuda e
se baseia nos conhecimentos da Biomedicina
• O corpo humano está submetido a leis e forças que
interagem e respondem às leis da biologia, da física e
da química. Mas também possui suas forças internas
de auto-regulação e recuperação da saúde
• De acordo com a doença, será necessário usar sempre
as abordagens da alopatia com medicamentos,
cirurgia, radiação, etc

 
Antroposofia aplicada à saúde:
Forças de auto-regulação, vida de sentimentos e individualidade

• A antroposofia aplicada à saúde procura identificar e


apoiar as diversas dimensões geradoras de saúde no
ser humano
• Reconhece que os aspectos relacionados à esfera dos
sentimentos e da vida emocional estão implicados em
qualquer processo de adoecimento
• Enfatiza que cada ser humano é único e singular. Sua
essência mais profunda atua sobre o todo de sua vida
Antroposofia aplicada à saúde:
A busca pelo diagnóstico ampliado
• Diante de uma doença, o médico antroposófico vai
considerar o quadro clínico do paciente como qualquer
outro médico: sintomas, dados de anamnese, de
exame físico, exames laboratoriais ou de imagem
• Mas buscará também diagnosticar como está a
vitalidade desse paciente, o seu desenvolvimento
emocional e como ele tem conduzido sua vida através
dos anos, sua história de vida ou biografia. Busca-se
um diagnóstico mais profundo e individualizado
Antroposofia aplicada à saúde:
A busca pela terapêutica ampliada
• Diante de um diagnóstico o médico antroposófico
poderá prescrever ou indicar uma gama de recursos
medicamentosos ou não-medicamentosos
• Entre os recursos medicamentosos ele poderá
prescrever medicamentos alopáticos, se considerar
necessários ou homeopáticos, fitoterápicos e
antroposóficos
• Entre os recursos não medicamentosos poderá
recomendar uma ou mais das Terapias Antroposóficas
ou outras terapias não antroposóficas
Áreas da Saúde e Terapias:
Cuidado multidisciplinar ampliado pela Antroposofia
Enfermagem Antroposófica
Odontologia Integral Antroposófica
Psicologia Ampliada pela Antroposofia
Massagem Rítmica
Banhos e Aplicações Externas
Terapia Artística
Aconselhamento Biográfico
Euritmia
Quirofonética
Cantoterapia e Musicoterapia ...

Fotos: Arquvos ABMA


Medicamento Antroposófico:
Uma farmácia dinâmica
• Fórmula de medicamentos com substâncias da natureza e
inspirada em seus processos: minerais, plantas e até de alguns
animais (abelha, corais, etc)

• Os processos farmacêuticos ampliados pela Antroposofia


possuem técnicas semelhantes ao método homeopático (diluição
e dinamização), porém possui princípios e métodos específicos
como é o caso dos metais vegetabilizados e metais praeparatum

Fotos: Arquivos ABMA


Antroposofia aplicada
O conhecimento aplicado a algumas áreas
• Agricultura biodinâmica: compreende que a terra, as plantas, os
animais e os seres humanos estão interligados. Observa os ciclos da
natureza, estações do ano e as características próprias de cada
alimento
• Pedagogia Waldorf: Considera que a aprendizagem dá-se de
maneira integrada a todas as atividades infantis: cognitivas, artísticas
e corporais. Apoia o desenvolvimento global das crianças e com
base no respeito à individualidade e incentiva a criatividade
• Pedagogia Social: apoia o desenvolvimento humano e a organização
social com base na compreensão do potencial de cada indivíduo, de
cada grupo de trabalho ou campo de atuação de colaborar pelo bem
comum
Em resumo...
Um olhar para a integralidade e a complexidade
Vimos nessa apresentação que a Medicina e as Terapias
Antroposóficas surgiram na Europa no início do século XX,
baseadas na imagem do homem trazida pela Antroposofia. O
trabalho conjunto do filósofo Rudolf Steiner e da médica Ita
Wegman gerou um modelo de cuidados em saúde
contemporâneo e essencialmente integrativo. Atualmente a
antroposofia aplicada à saúde está presente em mais de
sessenta países, nos cinco continentes
Referências:
BRASIL. Ministério da Saúde. Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares. Brasília, Ministério da Saúde, 2006

IBÁÑEZ, N. MARSIGLIA, R. Medicina e Saúde: um enfoque histórico. Em


CANESQUI, A.M (org.): Ciências sociais e Saúde para o Ensino Médico,
São Paulo, FAPESP, 2000, p.49-73.

Porter, R. Medicina: história da cura. Livros e Livros. Lisboa, 2002

GUEDES, CR; NOGUEIRA, MI; CAMARGO Jr, KR. "Os sintomas vagos
e difusos em biomedicina: uma revisão da literatura." Cienc Saude
Coletiva 13.1 (2008): 135-44.

MORAES, WA. Medicina Antroposófica: um paradigma para o século XII.


Associação Brasileira de Medicina Antroposófica. São Paulo, 2007
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

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