Você está na página 1de 26

MORMO

MANUELA CRISTINE CAMARGO LAMBERT

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO


FACULDADE DE ZOOTECNIA E ENGENHARIA DE ALIMENTOS

Zoonoses
Vigilância Sanitária e Meio Ambiente
Programas Sanitários em Saúde Animal e Saúde Pública

Pirassununga – SP
2020
Mormo é uma das doenças mais antigas registradas de
equídeos com potencial zoonótico, conhecido desde
os tempos antigos. Sintomas da doença foram
registrados por Hipócrates em 425 a.C. e foi dado o
nome de “melis” por Aristóteles em 350 a.C.
O mormo é uma doença endêmica no Brasil, alvo de
prevenção, controle e erradicação no território
nacional no âmbito do Programa Nacional de
Sanidade dos Equídeos (PNSE).
MORMO

■ Doença contagiosa e geralmente fatal, causada pela


bactéria Burkholderia mallei, de curso agudo ou
crônico, que acomete principalmente os equídeos,
Fonte:http://equalli.com.br/site/mormo/
podendo ou não vir acompanhada por sintomas
clínicos, e para qual não há tratamento eficaz para a
eliminação do agente nos animais portadores (IN nº
6/2018 - MAPA).

Fonte: (SELLON, D.C.; LONG, M. T.)


Agente etiológico

■ Bactéria Burkholderia mallei;
■ Bastonetes gram-negativos aeróbicos, que
pertencem à ordem Burkholderiales e à família
Burkholderiaceae;
■ Bactéria intracelular facultativa, não móvel, não
formadora de esporos;
■ Sobrevive fora do hospedeiro por vários períodos
de tempo, dependendo de muitos fatores.
Epidemiologia e Patogênese

■ Principais hospedeiros: cavalos, burros e mulas;

■ Ocasionalmente: gatos, cães, cabras e ovelhas;

■ Recentemente relatada em camelos;

■ Equídeos são o único reservatório;


Fonte: Google Imagens

■ Infecção humana pode ocorrer por transmissão de aerossol de animais infectados e

são freqüentemente fatais se não tratados.


Epidemiologia e Patogênese
■ Transmissão: contato com o material infectante (pus, secreção nasal, urina ou fezes)

■ O agente penetra por via digestiva, respiratória, genital ou cutânea (por lesão).

■ Carnívoros podem ser infectados pela ingestão de


carne de animais infectados.

Fonte: Google Imagens


Epidemiologia e Patogênese
■Formas agudas e crônicas da doença: cavalos tipicamente são infectados cronicamente,

enquanto burros e mulas tem maior probabilidade de desenvolver a forma aguda;

■Transmitida por cavalos subclínicos;

■Fatores de risco: mau saneamento, aglomeração e imunossupressão por

parasitismo;

■O período de incubação: alguns dias a muitos meses.

Fonte: Google Imagens


Epidemiologia e Patogênese
■ Equídeos: lesões primárias se formam no local de entrada da bactéria, se dissemina ao longo dos vasos
linfáticos, ocasionando lesões nodulares no trajeto até os linfonodos, e pela corrente sanguínea, por meio
da qual o microrganismo se propaga. 

■ Lesões metastáticas se formam nos pulmões ou em outros órgãos, como baço, fígado e pele, originando o
mormo cutâneo.

■ As lesões de septo nasal podem ser primárias, se instalando por via hematógena, ou secundárias, a um foco
pulmonar.
Fonte: (SELLON, D.C.; LONG, M. T.)
1. Granulomas pulmonares
em pulmões de cavalo
com mormo.

2. Granulomas e úlceras
(cicatriz estrelada) em
septo nasal de cavalo com
mormo.

3. Abcessos no baço de
cavalo com mormo

4. Prepúcio inchado em
cavalo com orquite
causada por mormo
Epidemiologia e Patogênese
■ Mormo está restrito geograficamente à Europa Oriental, Ásia, África do Norte, América do

Sul e Oriente Médio.  

■ Foi erradicado da Europa, Austrália e América do Norte por uma rigorosa política de abate de

animais positivos.

■ O número crescente de surtos em últimos anos levou

à classificação do mormo como uma doença reemergente.

Fonte: Google Imagens


Epidemiologia e Patogênese

■ Humano se infecta:

– Contato com equídeos, cães e gatos infectados;

– Contato com feridas e secreções mucopurulentas do animal infectado;

– Em necropsias sem devidos cuidados (uso de EPIs);

– No uso de instrumentos contaminados;

– No manuseio de amostras clínicas no laboratório;

– E na inalação de aerossóis e poeira contaminada com secreção de


animais doentes. 
Sinais Clínicos

■ Agudo: broncopneumonia e septicemia, febre moderada a alta, depressão


e rápida perda de peso, secreção nasal altamente infecciosa,
mucopurulenta a hemorrágica, forma crostas nas narinas externas.

■ Linfonodos submaxilares inchados, indolores e raramente se rompem.

■ Na forma cutânea, os nódulos se desenvolvem em forma de cratera


úlceras descarregando um exsudato amarelo espesso e geralmente
acompanham os vasos linfáticos até os linfonodos regionais.

■ Três formas de manifestação clínica: a cutânea, linfática e respiratória,


podendo o mesmo animal apresentar todas simultaneamente.

Fotos: A, Úlceras em forma de cratera com exsudato. B, Vasos linfáticos


cutâneos inchados com nódulos. (Doenças Inf)
Diagnóstico
■ Mormo deve ser considerado diagnótico diferencial de outras infecções crônicas do trato respiratório

superior.

■ Manual Terrestre da OIE em 2012 para o comércio internacional é o teste de fixação de complemento

(TFC). Resultados falso-positivos inespecíficos.

■ O teste da maleína foi usado para erradicar mormo do Norte América e Grã-Bretanha na virada do século

XX.

■ Vários outros testes sorológicos e técnicas de diagnóstico agora estão disponíveis para diagnóstico de

mormo, incluindo reação em cadeia da polimerase (PCR), aglutinação, hemoaglutinação indireta, ensaio

de imunoabsorção enzimática (ELISA), contra-imunoeletroforese, coloração Rosa-Bengala e ELISA

competitivo (cELISA) .

■ Cultura e coloração imunohistoquímica para antígeno bacteriano pode ser usada.


Tratamento

■ A eutanásia e o abate de equídeos com mormo são fortemente


recomendados e pode ser obrigatório em alguns países.

■ EUTANÁSIA É OBRIGATÓRIA NO BRASIL!

■ Resistente a muitos medicamentos antimicrobianos.


Prevenção
■ Abate rigoroso de animais positivos;

■ Quarentena de animais e pré-teste de cavalos em trânsito;

■ Existe uma grande variedade de regulamentos nacionais e internacionais,


e mormo é uma doença de notificação obrigatória para a OIE e em muitos países;

■ Não existe vacina para a prevenção do mormo em animais;

■ Os esforços de pesquisa atualmente estão focados no desenvolvimento de uma


vacina para pessoas caso o organismo se torne um instrumento de bioterrorismo.
PRINCIPAIS NORMAS RELACIONADAS
AO MORMO NO BRASIL:

■ Instrução Normativa SDA nº 17, de maio de 2008: Institui o Programa Nacional de Sanidade
dos Equídeos – PNSE.

■ Instrução Normativa Mapa nº 06, de 17 de janeiro de 2018: Aprova as diretrizes para o


controle, a erradicação e a prevenção do mormo no território nacional.

■ Portaria SDA nº 35, de 17 de abril de 2018: Define os testes laboratoriais para o diagnóstico do
mormo no Brasil.
Programa Nacional de Sanidade dos Equídeos – PNSE

■ Instituído pelo MAPA em 2008;


■ Objetivo de fortalecer o complexo agropecuário dos equídeos, por meio de ações
de vigilância e defesa sanitária animal;
■ Para prevenir, diagnosticar, controlar e erradicar doenças através de:
– Educação sanitária;
– Estudos epidemiológicos; 
– Controle do trânsito; 
– Cadastramento, fiscalização e certificação sanitária; 
– Intervenção imediata quando há suspeita ou ocorrência de doença de
notificação obrigatória.
Diagnóstico (Portaria SDA n° 35, de 17/04/18 – MAPA)

■Exame de triagem, realizado em laboratório credenciado e acreditado, com finalidade de trânsito de

animais:
ELISA (indireto ou competição) à partir de abril de 2020.

A prova de Fixação de Complemento (FC) será utilizada apenas para trânsito internacional, conforme regulamentação da OIE.

■ Vantagens e evolução obtidos através da adoção da plataforma ELISA:

– Ausência de resultados inconclusivos (tais como os que podem ocorrer na FC);

– Sensibilidade mais alta que FC, reduzindo a ocorrência de falsos negativos;

■Exame confirmatório: todos os resultados diferentes do negativo na prova de triagem serão retestados:
– prova Western Blotting (WB) nos Laboratórios Federais de Defesa Agropecuária (LFDAs).
IN, nº 6, de 17/01/2018 - MAPA

Art. 9º Qualquer caso suspeito de mormo é de notificação obrigatória ao SVO da UF onde se encontra o animal, em prazo não

superior a 24 (vinte e quatro) horas.

§ 1º O médico veterinário, produtor rural, transportador de animais e profissionais que atuam em laboratórios veterinários

ou instituições de ensino, pesquisa ou extensão veterinária são obrigados a comunicar casos suspeitos de mormo.

Art. 10. Será considerado caso suspeito de mormo o equídeo que apresentar pelo menos uma das seguintes condições:

I - resultado diferente de negativo no teste sorológico de triagem realizado em laboratório credenciado;

II - quadro clínico compatível com o mormo ou diagnóstico clínico inconclusivo de doença respiratória ou cutânea, refratária a

tratamentos prévios ou com recidivas; ou

III - vínculo epidemiológico com caso confirmado da doença.


IN, nº 6, de 17/01/2018 - MAPA

Art. 14. Diante de foco confirmado de mormo, o SVO deverá:

I - manter a interdição da(s) unidade(s) epidemiológica(s);

II - determinar e acompanhar a eliminação do foco, a eutanásia e, a critério do SVO, a realização de necropsia com colheita de amostras,

e posterior destruição da carcaça;

III - realizar colheita de amostra para investigação sorológica nos demais equídeos da(s) unidade(s) epidemiológica(s);

IV - realizar investigação epidemiológica, incluindo avaliação da movimentação dos equídeos do estabelecimento pelo menos nos últimos

180 (cento e oitenta) dias anteriores à confirmação do caso, com vistas a identificar possíveis vínculos epidemiológicos;

V - supervisionar a destruição do material utilizado para cama, fômites e restos de alimentos do animal infectado e orientar sobre medidas a

serem adotadas para descontaminação do ambiente;

VI - realizar investigação clínica e soroepidemiológica nos estabelecimentos com vínculo epidemiológico; e

VII - notificar a ocorrência de mormo às autoridades locais de saúde pública.


IN, nº 6, de 17/01/2018 - MAPA

Art. 15. A eutanásia e destruição dos casos confirmados de mormo serão realizadas no estabelecimento onde o animal se encontra, de acordo com os procedimentos

e métodos aprovados pelo Conselho Federal de Medicina Veterinária (CFMV), no prazo máximo de 15 (quinze) dias, a contar da notificação ao proprietário do

animal.

§ 4º Cabe ao proprietário do animal eutanasiado proceder o enterramento do cadáver no próprio local e a desinfecção das instalações e fômites, sob a supervisão do

veterinário oficial que acompanhou a eutanásia.

Art. 16. Todo foco de mormo deverá ser obrigatoriamente eliminado, observando-se:

II - a realização de testes de diagnóstico consecutivos de todos os equídeos da unidade epidemiológica, com intervalo de 21 (vinte e um) a 30 (trinta) dias entre as

colheitas, com prazo máximo de 30 (trinta) dias para a primeira coleta:

c) Potros com idade inferior a 6 (seis) meses de idade, filhos de éguas positivas para mormo deverão ser examinados clinicamente e, caso não apresentem sintomas de

mormo, devem ser mantidos isolados e submetidos a testes sorológicos ao completarem 6 (seis) meses de vida.

Art. 17. A desinterdição das unidades epidemiológicas onde se confirmou foco de mormo ocorrerá mediante análise técnica e epidemiológica do SVO e após a obtenção

de 2 (dois) resultados negativos consecutivos nos testes diagnósticos em todos os equídeos existentes na unidade epidemiológica definida .
Fonte: MAPA
Fonte: MAPA
Referências bibliográficas

■ SELLON, D.C.; LONG, M. T. Equine infectious diseases – Second edition. Saunders Elsevier: Missouri, 2014.
■ https://www.in.gov.br/materia/-/asset_publisher/Kujrw0TZC2Mb/content/id/1892934/do1-2018-01-17-instrucao-no
rmativa-n-6-de-16-de-janeiro-de-2018-1892930
■ https://www.defesa.agricultura.sp.gov.br/
■ https://www.crmvsp.gov.br/site/
■ https://www.gov.br/agricultura/pt-br
Fonte: Google Imagens

OBRIGADA!

Você também pode gostar