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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

CAMPUS UNIVERSITÁRIO PROF. ANTÔNIO GARCIA


FILHO
DEPARTAMENTO DE ENFERMAGEM

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À PACIENTE COM REAÇÃO HANSÊNICA


TIPO II

DEISEANE DE OLIVEIRA ALMEIDA  

LAGARTO (SE) 2019


Introdução
• A hanseníase é uma doença crônica, infectocontagiosa, cujo
agente etiológico é o Mycobacterium leprae, um bacilo álcool-
ácido resistente, fracamente gram-positivo, que infecta os
nervos periféricos e, mais especificamente, as células de
Schwann.
• Programa de combate à hanseníase: atualmente o Brasil faz
parte da Estratégia Mundial para Hanseníase 2016-2020.
Objetivos
• Geral:
• Realizar estudo de caso clínico referente à um caso de
Hanseníase.
• Específicos:
• Apresentar história clínica da paciente;
• Explanar sobre patologias identificadas;
• Descrever a assistência de enfermagem através do
processo de enfermagem e condutas baseados no caso;
Identificação
• Nome: MJS • Escolaridade: Fundamental
• Data de Nascimento: 18/10/1962 imcompleto
• Idade: 57 anos • Profissão/ocupação: Dona de
casa.
• Sexo: Feminino
• Área de saúde: 023
• Nacionalidade: Brasileira
• Enfermeira: Jocimeire
• Procedência: Lagarto
• UBS: Ponto de apoio em Saúde
• Estado Civil: Casada das Pratas
• Etnia: Parda • ACS: Cleane
História Pregressa
• Social e demográfica: aposentada por incapacidade após sequelas
de hanseníase, casa com 6 cômodos, água tratada, esgoto
encanado, 3 moradores, sem animais domésticos.
• Familiar: nega doenças crônicas ou casos de câncer na família,
relata que filho mais velho teve hanseníase em 2012.
• Pessoal: nega doenças crônicas, relata ter realizado tratamento de
Hanseníase em 2014.
• Ginecológica e sexual: G6P6A0, partos normais, todos os filhos
vivos, primeiro filho aos 16 anos, menarca aos 12 anos, sexarca aos
14 anos, um único parceiro a vida inteira, último exame citopatológico
realizado em 08/2019.
Histórico de atendimentos
• 05/2016: Lesão com abcesso em dedo indicador E, relata
tratamento de hanseníase em 2014, solicitado exames
laboratoriais.
• 07/2016: Lesão não mencionada, levou resultado de exames
laboratoriais.
• 04/2017: Atendimento médico: Neuralgia Ulnar secundária a
Hanseníase – encaminhada ao neurologista.
• 07/2017: Síndrome do Túnel Cubital (diagnóstico do
neurologista).
• 10/2017: realizou exame citopatológico.
História da doença atual
• 07/2019 – Compareceu com relatório médico (Dermatologista
particular) para tratamento de Hanseníase. Relatou ter feito
tratamento por 12 meses em outra UBS em 2014. Realizada
notificação. Início imediato do tratamento. Encaminhada para o
CEMAR do Ciqueira Campos. Agendado retorno e a busca ativa
de contatos.
• 08/2019 – Realizada a segunda dose supervisionada e realizada
a avaliação de contatos (familiares, vizinhos e circulantes da
casa), todos com a marca da vacina BCG e alguns com duas
marcas da mesma. Filho mais velho relata que teve Hanseníase
há 3 anos.
História da doença atual
• 09/2019 – 3º dose supervisionada, agendado retorno;
• 10/2019 – 4º dose supervisionada, solicitado nova baciloscopia
intradérmica, encaminhada ao dermatologista e agendado
retorno.
Patologias
• Hanseníase Virchowiana com reação hanseníca tipo II;
• Síndrome do Túnel Cubital por sequela de Hanseníase.
Revisão de literatura
• Hanseníase virchowiana
(multibacilar): É a forma mais
contagiosa da doença. O paciente
virchowiano não apresenta
manchas visíveis; a pele
apresenta-se avermelhada, seca,
infiltrada, cujos poros apresentam-
se dilatados (aspecto de “casca de
laranja”), poupando geralmente
couro cabeludo, axilas e o meio da
coluna lombar (áreas quentes).
Revisão de literatura
• Suspeitar de reação hansênica tipo 2 (eritema nodoso hansênico) se
houver:
• Manchas ou “caroços” na pele, quentes, dolorosos e avermelhados, às
vezes
• Ulcerados; e/ou
• Febre, “dor nas juntas”, mal-estar; e/ou
• Ocasionalmente dor nos nervos periféricos (mãos e pés); e/ou
• Comprometimento dos olhos; e/ou
• Comprometimento sistêmico (anemia severa aguda, leucocitose com
desvio à esquerda, comprometimento do fígado, baço, linfonodos,
rins, testículos, suprarrenais).
Revisão de literatura
• A síndrome do túnel cubital é um conjunto de sintomas
causados ​por uma pressão anormal no nervo ulnar. O nervo
ulnar passa por uma área no interior do cotovelo, também
chamada de túnel cubital. Esta neuropatia pode causar uma
sensação de dormência e fraqueza na mão, especialmente nos
dedos pequenos e anulares.
Medicações em uso
• Amtriptilina 25mg, V.O, 1 comp. à noite;
• Clorprometazina 5mg, V.O, 5 gotas pela manhã e 5 gotas à
noite;
• Talidomina 100mg, V.O., 1 comp. à noite;
• Dose supervisionada: Rifampicina 600mg, Dapsona 100mg e
Clofazimina 300mg.
• Em casa: Dapsona 100mg e Clofazimina 50mg.
Evolução de enfermagem
• 04/11/2019 - Altura: 153cm Peso: 60,300Kg P.A.:130x90mmHg
• Paciente comparece à unidade para tomar a 5º dose supervisionada do tratamento de
Hanseníase. Paciente orientada em tempo e espaço, em bom estado nutricional. Relata
sentir dores pelo corpo, febre, que se sente cansada, triste e incapaz por não conseguir mais
trabalhar nem realizar todos os afazeres de casa sozinha como antes da doença. Ao exame
físico: crânio normocéfalo, sem retrações, cicatrizes e abaulamentos no couro cabeludo,
cabelo com implantação normal, com fios grisalhos e sem infestações parasitárias, face
simétrica; pele infiltrada, com várias manchas hipocrômicas e de coloração eritemato-
acastanhada de tamanhos variados em todo corpo, com alteração de sensibilidade térmica,
dolorosa e tátil em quase todas as manchas, presença hansenomas em região genal direita
(2cm), acima do lábio superior (1cm), região lateral média do braço direito (2,5cm) e região
anterior do braço esquerdo (2cm), com zonas quentes ao redor dos hansenomas, no
pescoço, axilas, mãos e joelhos; implantação de olhos, nariz e orelhas normais; narinas
ressecadas com feridas no septo nasal sem perfurações; olhos sem triquíase ou ectrópio,
presença de madarose superciliar e ciliar, movimento palpebrar normal, porém com
diminuição do reflexo córneo córnea opaca e presença de catarata em ambos os
olhos, dor retroorbitária, boa acuidade visual ao uso de óculos;
Evolução de enfermagem
pavilhão auricular e conduto auditivo infiltrado; lábios, língua, gengiva e
mucosa jugal sem alterações, uso de prótese dentária em toda dentição
superior, dentes inferiores em mal estado de conservação; pescoço com
mobilidade ativa e passiva normais; tireoide de tamanho normal, indolor, sem
nódulos, móvel à deglutição e sopros; mobilidade traqueal normal, ausência de
sopros carotídeos; Tórax atípico, eupnêica, sem esforço respiratório,
exapansividade presevada bilateralmente, murmúrios vesiculares audíveis
sem ruídos adventícios; bulhas cardíacas norfonéticas em dois tempos, pulsos
arteriais periféricos simétricos, sincrônicos e com boa amplitude; abdome
plano, sem cicatrizes, circulação colateral ou herniações, hepatimetria
medindo aproximadamente 9 cm (lobo direito), ausência de hipertimpanismo,
baço impalpável, ruídos hidroaéreos normoativos, abdome indolor à palpação
superficial e profunda, ausência de massas; Realizada avaliação neurológica
simplificada, grau 2 de incapacidade. Realizada orientações. Oferecido 1 copo
de água para a paciente tomar a dose supervisionada. Agendado retorno.
Dor Crônica Risco de baixa
Integridade da autoestima
Pele Prejudicada situacional

Risco de
Risco de lesão ressecamento
por pressão ocular
Integridade
Mobilidade Física
Tissular
Prejudicada
Prejudicada
Risco de boca Risco de
seca queda

Risco de lesão
térmica
• DE: Dor crônica relacionada à dano no sistema nervoso causado por
agente biológico lesivo (bacilo de Hansen) evidenciada por relato de
pontuação 8 na Escava Visual Analógica, pela expressão facial de
dor, nervos dos MMSS e MMII espessados e doloridos a palpação.

Resultado Esperado: A paciente deverá expressa alívio da dor na próxima


consulta e deverá relatar o uso correto da medicação para alívio da dor

Conduta:
• Orientar quanto à importância de seguir corretamente a prescrição da
medicação para o alívio da dor durante o tratamento;
• Explicar a causa da dor;
• Esclarecer as dúvidas em relação à dor.
• DE: Mobilidade física prejudicada relacionada a dor, desconforto (mãos e pés
reacionais), prejuízos sensório perceptivo (anestesias em mãos e pés) caracterizada
por mudanças na marcha, amplitude limitada de movimento, capacidade limitada de
desempenhar as habilidades motoras finas e grossas e tempo de reação diminuído
aos estímulos externos.
• Resultado Esperado: A paciente terá a mobilidade física melhorada com as
limitações das sequelas já existentes e não aumentará o grau de incapacidade
física.

Conduta:
• Incorporar as atividades da vida diária (ADL) ao protocolo de exercícios;
• Ajudar o paciente a elaborar um protocolo de exercícios para força, resistência e
flexibilidade;
• Orientar sobre o uso correto das medicações;
• Encaminhar a paciente para o setor de especialidade para que possa ter
atendimento de fisioterapeuta, terapeuta ocupacional, psicólogo, dermatologista,
nutricionista. (A paciente já é acompanhada no CEMAR).
• DE: Integridade tissular prejudicada relacionada à neuropatia
periférica evidenciada por dor e alterações de sensibilidade
térmica, tátil e dolorosa.

Resultado Esperado: A paciente deverá expressa alívio da dor


na próxima consulta e deverá relatar o uso correto da
medicação para alívio da dor

Conduta:
• Orientar a paciente quando à sinais de inflação e/ou piora do
seu quadro de saúde
• Avaliar alterações tissulares mensalmente;
• Observar, prevenir e tratar alterações da pele;
• Orientar quanto o uso correto das medicações do tratamento.
DE: Percepção sensorial tátil perturbada relacionada a transmissão e
integração sensorial perturbada caracterizada por mudança na resposta
aos estímulos externos pela presença de sensibilidade diminuída em
mãos, pés e em manchas espalhadas pelo corpo, demonstradas pelo teste
de insensibilidade.
Conclusão
Considerando-se o Brasil o segundo país no mundo com
maior detecção de casos de Hanseníase, a enfermagem deve
estar atenta para as lesões cutâneas sugestivas da doença,
principalmente quando há alterações nervosas sensitivas ou
autonômicas nas lesões.
Enquanto estagiária o caso clínico apresentado foi enriquecedor
tanto de forma prática quanto de forma teórica em meu
crescimento acadêmico.
Referências
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde.
Departamento de Vigilância Epidemiológica. Guia de procedimentos
técnicos: baciloscopia em hanseníase. Ministério da Saúde, Secretaria de
Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica. Brasília:
Editora do Ministério da Saúde; 2017. Disponível em:
http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/
pdf/guia_hanseniase_10_0039_m_final.pdf. Acessado em 2019 (15 nov).

NANDA. Diagnósticos de enfermagem da NANDA: definições e


classificações 2015-2017. Porto Alegre: Artmed, 2015. [Versão digital].

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