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Legislação Social

Prof. João Gabriel Lopes


Aula 5
UNIDADE 3
Relações de trabalho
Introdução à relação de emprego

▪ Elementos subjetivos: empregado e empregador.


– O grupo econômico – por subordinação ou por coordenação

▪ Elementos objetivos:
– Subordinação
– Não eventualidade
– Onerosidade
– Pessoalidade
Introdução à relação de emprego

Art. 2º - Considera-se empregador a empresa, individual ou coletiva, que, assumindo os


riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de serviço.
§ 1º Equiparam-se ao empregador, para os efeitos exclusivos da relação de emprego, os
profissionais liberais, as instituições de beneficência, as associações recreativas ou
outras instituições sem fins lucrativos, que admitirem trabalhadores como
empregados.
§ 2º Sempre que uma ou mais empresas, tendo, embora, cada uma delas,
personalidade jurídica própria, estiverem sob a direção, controle ou administração de
outra, ou ainda quando, mesmo guardando cada uma sua autonomia, integrem grupo
econômico, serão responsáveis solidariamente pelas obrigações decorrentes da relação
de emprego.
§ 3º Não caracteriza grupo econômico a mera identidade de sócios, sendo necessárias,
para a configuração do grupo, a demonstração do interesse integrado, a efetiva
comunhão de interesses e a atuação conjunta das empresas dele integrantes.
Art. 3º - Considera-se empregado toda pessoa física que prestar serviços de natureza
não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário.
Personalidade do empregado e do empregador

▪ Empregador: pessoa física ou jurídica, inclusive entidades beneficentes.


▪ Empregado: sempre pessoa física.
– Vedação à fraude: o problema de “Pejotização” – art. 9º, CLT. + princípio da primazia
da realidade.
– Pessoalidade: prestação vinculada ao indivíduo.
Subordinação

▪ Elemento fundamental da relação entre a relação de emprego


dependente e o trabalho autônomo.
▪ Trabalho subordinado – elemento diferencial do direito do trabalho
moderno.
▪ Subordinação:
– Econômica.
– Técnica.
– Jurídica.

▪ A chamada subordinação estrutural – integração aos fins do negócio.


Não eventualidade

▪ Reiteração razoável da prestação de serviços no tempo.


▪ Não implica longevidade.
▪ Não implica forma ou frequência específica de pagamento.
▪ O caso do trabalho doméstico – LC 150/2015:
Art. 1º Ao empregado doméstico, assim considerado aquele que presta
serviços de forma contínua, subordinada, onerosa e pessoal e de finalidade
não lucrativa à pessoa ou à família, no âmbito residencial destas, por mais de
2 (dois) dias por semana, aplica-se o disposto nesta Lei
Onerosidade

▪ Decorrência da natureza bilateral/sinalagmática do contrato de trabalho


e do fato de os riscos do negócio correrem unicamente por conta do
empregador.
▪ Trabalho voluntário: lei nº 9.608/1998
Art. 1º Considera-se serviço voluntário, para os fins desta Lei, a atividade
não remunerada prestada por pessoa física a entidade pública de qualquer
natureza ou a instituição privada de fins não lucrativos que tenha objetivos
cívicos, culturais, educacionais, científicos, recreativos ou de assistência à
pessoa.
▪ O caso do trabalho pastoral.
Onerosidade

TRABALHO RELIGIOSO - PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS PARA IGREJA - RELAÇÃO DE EMPREGO


CARACTERIZADA - AFASTAMENTO DA CONDIÇÃO DE PASTOR - SUBORDINAÇÃO,
EXIGÊNCIA DE CUMPRIMENTO DE METAS E SALÁRIO - LIVRE CONVENCIMENTO DO JUÍZO -
ART. 131 DO CPC - REEXAME DE FATOS E PROVAS VEDADO PELA SÚMULA 126 DO TST. 1. A
Lei 9.608/98 contemplou o denominado trabalho voluntário-, entre os quais pode ser
enquadrado o trabalho religioso, que é prestado sem a busca de remuneração, em função de
uma dedicação abnegada em prol de uma comunidade, que muitas vezes nem sequer teria
condições de retribuir economicamente esse serviço, precisamente pelas finalidades não
lucrativas que possui. 2. No entanto, na hipótese, o Regional, após a análise dos depoimentos
pessoais, do preposto e das testemunhas obreiras e patronais, manteve o reconhecimento de
vínculo empregatício entre o Autor e a Igreja Universal do Reino de Deus, pois concluiu que o
Obreiro não era simplesmente um pastor, encarregado de pregar, mas um prestador de
serviços à igreja, com subordinação e metas de arrecadação de donativos a serem cumpridas,
mediante pagamento de salário.
(RR - 19800-83.2008.5.01.0065, Relator Ministro: Ives Gandra Martins Filho, 7ª Turma, DEJT
10/2/2012)
Definição de contrato de emprego

Negócio jurídico em virtude do qual um trabalhador obriga-se a prestar pessoalmente


serviços não eventuais a uma pessoa física ou jurídica, subordinado ao seu poder de
comando, dele recebendo os salários ajustados (Arnaldo Sussekind).

▪ Forma de constituição: tácita ou expressa.


▪ Tempo de constituição: em regra, indeterminado.
▪ Requisitos de validade:
– Capacidade das partes.
– Forma contratual prescrita em lei ou por ela não proibida.
– Livre formação da vontade.
– Licitude do objeto.

▪ Alguns casos interessantes: jogo do bicho; policial que exerce atividade de


segurança; contrato nulo na administração pública.
Terceirização trabalhista

▪ Terceirização como fenômeno decorrente da expansão de modos flexíveis da economia


capitalista.
▪ Vinculação da produção à demanda.
▪ Multifuncionalidade operária.
▪ Flexibilidade do processo produtivo.
▪ Estrutura empresarial horizontalizada e enxuta (downsizing – eliminação planejada de
postos de trabalho).
Terceirização trabalhista

Empresa

CONTRAPRESTAÇÃO
tomadora

COMERCIAL
Empregador

TRABALHO
Empresa

TRABALHO
SALÁRIO

prestadora

SALÁRIO
Empregado

Empregado
Terceirização trabalhista – a
expectativa
▪ Justificativas econômicas apresentadas pelos empregadores:
– Desoneração de custos.
– Dedicação do tomador às suas atividades “principais”.
– Maior especialização das empresas terceirizadas.
– Maior produtividade
Terceirização trabalhista – a
realidade
• Estudo do FMI (World Economic Outlook [WEO], April 2015).
• Flexibilidade laboral tem pouco efeito sobre a produtividade do trabalhador.
• DIEESE (2017)
Terceirização trabalhista – a
realidade
Terceirização trabalhista – a
realidade
Terceirização trabalhista – a
realidade
Terceirização trabalhista – a
realidade
“dos 10 maiores resgates de trabalhadores em condições análogas
à de escravos no Brasil entre 2010 e 2013, em 90% dos flagrantes,
os trabalhadores vitimados eram terceirizados, conforme dados
obtidos a partir do total de ações do Departamento de Erradicação
do Trabalho Escravo (Detrae) do Ministério do Trabalho e
Emprego” (Vitor Filgueiras – UFBA)
Regulamentação da
terceirização no brasil
▪ Única hipótese original da CLT: SUBEMPREITADA (art. 455)
Art. 455 - Nos contratos de subempreitada responderá o subempreiteiro pelas obrigações
derivadas do contrato de trabalho que celebrar, cabendo, todavia, aos empregados, o
direito de reclamação contra o empreiteiro principal pelo inadimplemento daquelas
obrigações por parte do primeiro.
Parágrafo único - Ao empreiteiro principal fica ressalvada, nos termos da lei civil, ação
regressiva contra o subempreiteiro e a retenção de importâncias a este devidas, para a
garantia das obrigações previstas neste artigo.
Regulamentação da
terceirização no brasil
▪ Decreto-Lei 200/1967.
Art. 10. A execução das atividades da Administração Federal deverá ser amplamente
descentralizada.
(...)

§ 7º Para melhor desincumbir-se das tarefas de planejamento, coordenação, supervisão e


contrôle e com o objetivo de impedir o crescimento desmesurado da máquina
administrativa, a Administração procurará desobrigar-se da realização material de tarefas
executivas, recorrendo, sempre que possível, à execução indireta, mediante contrato,
desde que exista, na área, iniciativa privada suficientemente desenvolvida e capacitada a
desempenhar os encargos de execução.
Regulamentação da
terceirização no brasil
▪ Lei nº 5.645/1970:
Art. 3º (...)
Parágrafo único. As atividades relacionadas com transporte, conservação, custódia,
operação de elevadores, limpeza e outras assemelhadas serão, de preferência, objeto de
execução indireta, mediante contrato, de acôrdo com o artigo 10, § 7º, do Decreto-lei
número 200, de 25 de fevereiro de 196 7.
Regulamentação da
terceirização no brasil
▪ Lei nº 6.019/1974 (redação original):
Art. 4º - Compreende-se como empresa de trabalho temporário a pessoa física ou jurídica
urbana, cuja atividade consiste em colocar à disposição de outras empresas,
temporariamente, trabalhadores, devidamente qualificados, por elas remunerados e
assistidos.
Regulamentação da
terceirização no brasil
▪ Lei nº 7.102/1983:
Art. 3º - A vigilância ostensiva e o transporte de valores serão executados:
I - por empresa especializada contratada; ou
II - pelo próprio estabelecimento financeiro, desde que organizado e preparado para tal
fim, e com pessoal próprio.
Parágrafo único - Nos estabelecimentos financeiros federais ou estaduais, o serviço de
vigilância ostensiva poderá ser desempenhado pelas Policias Militares, a critério do
Governo do respectivo Estado, Território ou Distrito Federal.
Regulamentação da
terceirização no brasil
▪ Ampla generalização da terceirização: os posicionamentos do TST.
▪ Atividade meio x atividade fim.
▪ O caso da terceirização na Administração Pública.
▪ Modificações da reforma trabalhista de 2017.
▪ O posicionamento do Supremo Tribunal Federal.
▪ Ainda é possível que a terceirização configure fraude?
Indícios de vínculo direto

▪ Fixação da organização e dos métodos de desenvolvimento da função.


▪ Cessão total ou parcial das instalações físicas para a realização dos serviços.
▪ Cessão total ou parcial de bens móveis e de ferramentas de trabalho para a execução dos
serviços.
▪ Cessão de bancos de dados, endereços e telefones dos clientes a serem contatados.
▪ Exclusividade ou quase exclusividade do prestador de serviços.
▪ Controle de qualidade feito por pessoa da tomadora.
▪ Acesso do tomador à contabilidade do prestador.
▪ Realização de contratações e dispensas em substituição à prestadora de serviços.
Trabalho doméstico

▪ Reconhecimento normativo: Lei nº 5.859/1972.


– Definição: “aquele que presta serviços de natureza contínua e de finalidade não
lucrativa à pessoa ou à família no âmbito residencial destas”.
– Previsão de apenas dois direitos: assinatura da carteira de trabalho, concessão de
férias anuais remuneradas de 20 dias e inscrição obrigatória na Previdência Social.
– Necessidade de apresentação de “atestado de boa conduta” para admissão.
– Até 1988, só um novo direito: vale-transporte.

▪ Constituição de 1988:
– Influência do movimento de trabalhadoras domésticas – atuação de Laudelina de
Campos Melo.
– Expansão contida de direitos: salário mínimo, irredutibilidade de salário, 13º salário,
repouso semanal, licença-maternidade, licença-paternidade, aviso prévio,
aposentadoria.
Trabalho doméstico

▪ Lei nº 11.324/2006: novos direitos.


– Descanso remunerado em feriados.
– Férias remuneradas de 30 dias.
– Garantia de emprego à gestante, desde a gravidez até 5 meses após o parto.
– Vedação de descontos a título de alimentação, vestuário, higiene ou moradia.

▪ EC 72/2013 + Lei Complementar 150/2015:


– Jornada de trabalho igual à dos demais trabalhadores.
– Direito ao pagamento de horas extras.
– Redução dos riscos do trabalho.
– Reconhecimento de normas coletivas.
– Proibição de diferença de salários, critérios de admissão e exercício de funções.
– Multa de 40% do FGTS em caso de dispensa.
– Seguro desemprego.
– FGTS.
– Adicional Noturno.
– Seguro contra acidentes de trabalho e responsabilidade em caso de culpa ou dolo.
Trabalho doméstico

▪ LC 150/2015: inovações legislativas.


– Continuidade caracterizada pela frequência em mais de 2 dias por semana.
– Vedação da contratação de menor de 18 anos (C-182/OIT).
– Banco de horas por acordo escrito entre empregado e empregador.
▪ Até 40 horas compensáveis durante o mês.
▪ As excedentes a 40 horas: compensáveis em até um ano.
▪ Se rescindido o contrato: saldo do banco de horas devido ao empregado como horas extras.
– Possibilidade de acordo individual de jornada 12x36.
– Obrigatoriedade do registro de jornada.
– Intervalo intrajornada: 1 a 2 horas, autorizada a redução a 30 minutos por acordo
individual.
– Intervalo interjornadas: 11 horas.
– Possibilidade de divisão das férias, a critério do empregador.
– Possibilidade de conversão de até 1/3 das férias em abono.
– Depósito de garantia de multa rescisória: 3,2% do salário por mês.
Trabalho doméstico

▪ Raquel Santana: “a limitadíssima positivação de direitos no diploma


constitucional significou novo reforço de negação ao reconhecimento da
cidadania das trabalhadoras e trabalhadores doméstico/as, em um
momento político e social em que a regra era a irrestrita inclusão
jurídica”.
▪ Persistência das desigualdades: adicionais de insalubridade e
periculosidade; possibilidade do reconhecimento das diaristas; validade
de acordos individuais.
Estágio

▪ Vínculo sociojurídico que objetiva o aperfeiçoamento e complementação


da formação acadêmico-profissional do estudante.
▪ Não há relação de emprego.
▪ Não precisa de anotação em carteira.
▪ Lei nº 11.788/2008 – art. 1º:
Estágio é ato educativo escolar supervisionado, desenvolvido no ambiente de
trabalho, que visa à preparação para o trabalho produtivo de educandos que
estejam freqüentando o ensino regular em instituições de educação superior,
de educação profissional, de ensino médio, da educação especial e dos anos
finais do ensino fundamental, na modalidade profissional da educação de
jovens e adultos.
Estágio

▪ Estágio obrigatório: previsto no PPC.


▪ Estágio não obrigatório: atividade opcional, acrescida à carga horária do
curso.
▪ Dupla supervisão: universidade e parte concedente.
▪ Requisitos:
– Matrícula e frequência regular a curso de educação superior, profissional, ensino
médio, educação especial, anos finais do fundamental (EJA).
– Celebração de termo de compromisso.
– Compatibilidade entre as atividades do estágio e aquelas previstas no termo de
compromisso.
Estágio

▪ Jornada máxima:
– 4h/dia e 20h/semana, para estudantes de educação especial e anos finais do ensino
fundamental (EJA).
– 6h/dia e 30h/semana, para estudantes do ensino profissional, ensino médio e ensino
superior.
– 40h/semana, nos cursos que alternem teoria e prática, apenas nos períodos em que não
haja aulas presenciais, desde que autorizado pela instituição.

▪ Duração máxima: 2 anos.


▪ Benefícios não obrigatórios:
– Bolsa.
– Transporte.
– Alimentação.
– Saúde.
– Previdência social.
Estágio

▪ Obrigações do concedente:
I – celebrar termo de compromisso com a instituição de ensino e o educando, zelando por seu
cumprimento;
II – ofertar instalações que tenham condições de proporcionar ao educando atividades de
aprendizagem social, profissional e cultural;
III – indicar funcionário de seu quadro de pessoal, com formação ou experiência profissional na
área de conhecimento desenvolvida no curso do estagiário, para orientar e supervisionar até
10 (dez) estagiários simultaneamente;
IV – contratar em favor do estagiário seguro contra acidentes pessoais, cuja apólice seja
compatível com valores de mercado, conforme fique estabelecido no termo de compromisso;
V – por ocasião do desligamento do estagiário, entregar termo de realização do estágio com
indicação resumida das atividades desenvolvidas, dos períodos e da avaliação de
desempenho;
VI – manter à disposição da fiscalização documentos que comprovem a relação de estágio;
VII – enviar à instituição de ensino, com periodicidade mínima de 6 (seis) meses, relatório de
atividades, com vista obrigatória ao estagiário.
Estágio

▪ Número máximo de estagiários:


I – de 1 (um) a 5 (cinco) empregados: 1 (um) estagiário;
II – de 6 (seis) a 10 (dez) empregados: até 2 (dois) estagiários;
III – de 11 (onze) a 25 (vinte e cinco) empregados: até 5 (cinco) estagiários;
IV – acima de 25 (vinte e cinco) empregados: até 20% (vinte por cento) de
estagiários.
▪ Descumprimento da lei ou do termo de compromisso: vínculo de
emprego direto.
– Reincidência: impedimento ao recebimento de novos estagiários.
Estágio

▪ Recesso: até 30 dias, sempre que o estágio dure mais de um ano, a ser
gozado preferencialmente durante as férias escolares.
▪ Recesso deve ser remunerado pelo valor da bolsa.
▪ Estágio inferior a um ano: proporcional.

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