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A FISIOTERAPIA

E A GESTAÇÃO
PROF. RENATA MONTEIRO TEIXEIRA PONTES
• Segundo a Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) atualmente, no Brasil, o
percentual de partos cesáreos chega a 84% no
atendimento privado de saúde. Na rede pública
este número é menor, de cerca de 40% dos
partos.
• A cesariana, quando não tem indicação
médica, ocasiona riscos desnecessários à saúde
da mulher e do bebê: aumenta em 120 vezes a
probabilidade de problemas respiratórios para o
recém-nascido e triplica o risco de morte da mãe.
• Assim, desde 2000 quando foi lançado o
Programa de Humanização do Parto e
Nascimento e em janeiro de 2015 com a lei de
Incentivo ao Parto Normal há a tentativa de
estimular o parto normal e consequente
redução de cesarianas desnecessárias.
• Para amparar e incentivar a gestante na hora do
trabalho de parto uma equipe multidisciplinar estará
atuando, inclusive o fisioterapeuta. Este profissional
possui técnicas apropriadas, comprovadas
cientificamente, que podem ser aplicadas para
proporcionar à parturiente conforto, alívio da dor,
relaxamento e confiança em relação ao próprio corpo.
• A gravidez provoca, como é óbvio, profundas alterações
anatómicas e funcionais no organismo da mulher. Por um lado, o
próprio crescimento do feto no interior do útero que o alberga
altera de maneira evidente a silhueta do abdómen da mãe,
tendo repercussões mecânicas nos órgãos adjacentes e também
na estética do corpo, sobretudo quando são acompanhadas
pelas modificações sofridas pelos seios para que estes estejam
preparados para produzirem o alimento do recém-nascido.
• Por outro lado, a influência dos hormônios da gravidez
altera a atividade de todo o organismo materno, já que
este tem que se adaptar a esta nova condição, com vista
a cobrir as necessidades do feto. O único hormônios
próprio da gravidez é a gonadotrofina coriónica (hCG),
segregada pela placenta durante as primeiras fases da
gestação.
A sua função é a de manter a atividade do corpo lúteo do
ovário para que este prossiga com a produção, em
quantidades cada vez mais significativas, dos hormônios
sexuais femininos, os estrógeno e a progesterona, já que a
implantação do ovo no útero e também a sobrevivência do
feto depende da ação destes dois hormônios. Tendo em
conta que os inúmeros efeitos dos hormônios se fazem
sentir em todo o organismo, originam várias adaptações
funcionais.
Crescimento do útero
• O útero, o órgão no interior do qual se desenvolve o produto da
concepção, passa por um crescimento espetacular ao longo dos nove
meses de gravidez, já que o seu peso passa dos 50 a 60 g para mais de
1 kg e a sua capacidade aumenta milhares de vezes, pois a cavidade
uterina passa dos 3 a 5 ml para cerca de 4 a 5 1 ou até mais em alguns
casos. Apesar de o útero se dilatar desde o início da gravidez, o seu
crescimento, ao longo do primeiro trimestre de gestação, não é
evidente, já que ainda se mantém oculto na pélvis. 
• Para além de provocar uma evidente alteração da silhueta
abdominal, o crescimento do útero provoca a compressão dos
órgãos adjacentes, com as consequências habituais. A
compressão da bexiga reduz a capacidade deste órgão e
origina um aumento da frequência das micções, sobretudo ao
longo do primeiro trimestre, quando o útero ainda se
encontra na pélvis e, na última parte da gravidez, quando o
feto desce e o útero volta a pressionar a bexiga.
• A progressiva compressão do estômago e dos
intestinos costuma ter consequências comuns, como
por exemplo problemas digestivos e um certo grau de
constipação. Por fim, a compressão do útero sobre os
troncos venosos da pélvis costuma contribuir para o
inchaço das pernas e para o desenvolvimento de
varizes.
Aumento de peso
• Apesar de, ao longo da gravidez, a mãe passar por um
progressivo aumento do peso do corpo, variável de caso para
caso de acordo com fatores como a sua constituição física, o
tamanho do feto e, como é óbvio, a alimentação, este aumento
de peso costuma manter-se dentro de determinados limites, já
que o normal, ou o desejável, é que o aumento seja de 9 a 12
kg.
• Mais de metade deste aumento corresponde ao
peso alcançado pelo próprio feto já desenvolvido,
ao líquido amniótico que o rodeia e à placenta,
enquanto que o resto é originado pelo crescimento
do útero e dos seios, através do aumento dos
depósitos adiposos e do volume sanguíneo.
Alterações cardiovasculares
• O aparelho cardiovascular materno encarrega-se do
fornecimento das substâncias necessárias para o
desenvolvimento do feto e eliminação dos seus
resíduos, utilizando a placenta como órgão
intermediário, o que justifica o facto de o seu
funcionamento ao longo da gravidez ser adaptado.
• A influência dos hormônios da gravidez proporciona a
dilatação de praticamente todos os vasos circulatórios, o que
provoca um aumento tão significativo do volume de sangue
que os glóbulos vermelhos ficam mais diluídos, originando
uma anemia relativa. Dado que o coração tem que aumentar
a frequência dos seus batimentos para manter a circulação, o
débito cardíaco aumenta no mínimo 30% nos dois últimos
trimestres da gravidez. 
• À medida que a gravidez vai avançando, a mulher
tem a tendência para deslocar a parte superior do
tronco e a cabeça para trás, de modo a compensar o
deslocamento do centro de gravidade, o que
proporciona um exagero das curvaturas da coluna
vertebral que, caso a mulher não se esforce para
manter o mais direita possível, pode provocar dores,
especialmente na zona lombar.
• Para além disso, de modo a aumentar a base de
sustentação e melhorar o equilíbrio, a mulher tem a
tendência para separar as pernas e abrir os pés
para fora, um outro traço característico das
posições de uma mulher grávida.
Modificação Postural

• A modificação postural é um mecanismo


compensatório, que tende a minimizar os
efeitos ligados ao aumento de massa e
distribuição corporal na gestante.
• Nos últimos meses de gravidez: as
mulheres tendem a projetar os ombros
para frente, arqueando mais que o
normal a curva das costas, para
encontrar um equilíbrio postural.
• As articulações dos joelhos e dos tornozelos
tornam-se menos estáveis, e as da coluna
vertebral e do quadril alcançam uma mobilidade
que, apesar de modesta, expõe a musculatura
dessas regiões a maior tensão.
• As lesões ortopédicas, que ocorrem
frequentemente durante a gravidez podem ser
devido ao hiper-relaxamento ligamentar, como
também as modificações no equilíbrio da mulher.
Desse modo, a hiperlordose lombar aumenta
particularmente o risco de hérnia de disco
Modificações mamárias

• Em caso de gravidez, os seios alcançam o seu desenvolvimento máximo, já que é apenas


dessa forma que adquirem as características necessárias para desempenharem a sua
função, ou seja, a produção de leite para alimentar o bebê. É por isso que, ao longo de
toda a gravidez, a influência de determinadas hormônios, sobretudo da progesterona,
proporciona alterações evidentes. A partir do primeiro mês de gravidez é possível
observar uma notória proliferação dos canais galactóforos, um facto que determina um
aumento do volume dos seios, um dos primeiros sinais da gravidez que, por vezes, é
detectado antes da gravidez. 
IMPORTÂNCIA DA MAMA

MAMA – Afeto e Alimento MAMA - Sexualidade MAMA - Imunidade


A PRODUÇÃO DE LEITE MATERNO

• As primeiras etapas da produção de leite são


controladas por hormônios ou mensageiros químicos
no sangue.
• Durante a gestação, as hormônios ajudam o
desenvolvimento e o aumento da mama.
• As mamas começam a produzir colostro.
• Após o parto, os hormônios da gestação diminuem.
Hormônios – Prolactina e Ocitocina

• Tornam-se importantes para ajudar na produção e no fluxo ou


ejeção de leite.
• Sob a influência da prolactina, as mamas começam a produzir
maiores quantidades de leite.
• Em geral, são necessárias entre 30 e 40 horas após o
nascimento até que um grande volume de leite seja produzido.
• O colostro já está presente quando o bebê nasce.
REFLEXO DA PROLACTINA

• A prolactina é uma hormônio que faz os alvéolos produzirem


leite. A prolactina funciona depois da mamada do bebé, para a
produção de leite para a mamada seguinte. A prolactina
também pode deixar a mãe sonolenta e relaxada.
• O nível de prolactina é elevado nas primeiras duas horas após
o parto. Também é elevado à noite. Portanto, o aleitamento
materno noturno permite mais secreção de prolactina.
REFLEXO DA OCITOCINA

• A ocitocina causa contração das células musculares ao redor dos


alvéolos, fazendo o leite fluir pelos ductos. Isso é fundamental
para que o bebê receba o leite.
• Esse processo é chamado reflexo da ocitocina, ou reflexo de
ejeção de leite. Ele pode ocorrer diversas vezes durante uma
mamada. O reflexo pode dar uma sensação diferente ou ficar
menos perceptível no decorrer do tempo.
Alguns sinais do reflexo da ocitocina:

• Contrações uterinas dolorosas, às vezes com aumento


momentâneo de sangramento,
• Sede súbita,
• Saída de leite da mama, onde o bebé não está a mamar
• Pressão (fisgada) na mama.
• No entanto, as mães nem sempre têm uma sensação
física.
• Para o leite ser ejetado o bebê, suga rapidamente , quando
este reflexo começa a funcionar o ritmo de sucção do bebê
muda de rápido para lento, e sente-se deglutir goles
profundos e lentos (cerca de um por segundo).
Fator Inibidor da Lactação

A mãe pode ter percebido que às vezes o leite é produzido em uma


mama, mas não na outra, em geral quando o bebê mama apenas de
um lado. Isso ocorre porque o leite contém um inibidor que pode
reduzir a sua própria produção. Se o leite não for retirado e a mama
estiver cheia, esse inibidor reduz a produção de leite.
• Se o leite for retirado da mama, os níveis do inibidor caem e a produção
de leite aumenta.
• Portanto, a quantidade de leite produzida depende do quanto é removido.
• Para garantir uma boa produção de leite, certifique-se de que o leite é
retirado da mama de maneira eficiente.
TIPOS DE MAMILO
Os mamilos normais são aqueles que se sobressaem as aréolas. A
maioria das mulheres possuem este tipo de mamilo e ele é o
melhor tipo de mamilo para a amamentação. De modo que não
proporciona qualquer dificuldade na hora de amamentar. Basta
ter a pega correta na hora de oferecer os seios.
O mamilo plano é aquele que não se sobressai a aréola. Mulheres com mamilos planos
podem ter algumas dificuldades iniciais para amamentar.
Isto porque ao começar a mamada o bebê costuma utilizar a língua para pressionar o
mamilo contra o palato e assim fazer o leite escorrer. No caso do mamilo plano, o bebê
tem dificuldade em fazer isso.
Apesar disso, os mamilos planos não são um empecilho para a amamentação.
Se conseguir fazer uma boa pega e o bebê abocanhar a aréola toda, conseguimos
amamentar.
Os mamilos invertidos são aqueles que estão virados para dentro dos seios. Mulheres
com mamilos invertidos podem ter algumas dificuldades iniciais para amamentar pelo
mesmo motivo que as mulheres com mamilos planos: o bebê costuma utilizar a língua
para pressionar o mamilo contra o palato e assim fazer o leite escorrer. No caso do
mamilo invertido, o bebê tem dificuldade em fazer isso.
No mamilo invertido também é essencial iniciar a amamentação o quanto antes, pois
na fase do colostro a mama está mais macia.
Ingurgitamento Mamário

No ingurgitamento mamário, há três componentes básicos:


• congestão/aumento da vascularização;
• acúmulo de leite;
• edema decorrente da congestão e obstrução da drenagem do
sistema linfático.
Ingurgitamento Mamário:
retenção de leite nos alvéolos

distensão alveolar compressão dos


ductos

obstrução do fluxo do leite

piora da distensão alveolar

aumento da obstrução.
Depois do Nascimento

• Após o parto há o período de quarentena.


Nesse período, há uma queda considerável
de hormônios no organismo feminino, as
consequências normalmente são cansaços,
acompanhado de uma sensação de tristeza
e insegurança.
• Para que todas as mudanças ocorridas ao
longo dos nove meses de gestação
desapareçam, o organismo requer algum
tempo, em torno de 6 meses. As mamas
continuam aumentadas durante a
amamentação. 
A assistência do fisioterapeuta consiste

• Incentivar a mulher a manter o seu corpo ativo;

• Orientar e conscientizar para que desenvolva sua


potencialidade, que será exigida neste momento, tornando-a
segura e confiante;

• Facilitar e diminuir o tempo do processo do trabalho de


parto e assim, trazer-lhe satisfação com a experiência do
nascimento.
• A cinesioterapia tem como objetivo promover o alívio
dos sintomas musculoesqueléticos no período
gestacional.

• Os exercícios realizados em grupos musculares


estressados aumentam a capacidade funcional e
facilitam a compensação muscular, reduzindo os
sintomas de dores pélvicas na gravidez e no puerpério
• Grande parte das mulheres referem a lombalgia
como um fator que interfere na realização das
AVD’s e do trabalho, podendo promover insônia,
perda da mobilidade lombar, pélvica e dificuldades
na marcha, além de gerar consequências posturais
a longo prazo.
• Os efeitos do alongamento contribuem para o alívio da dor
lombar e pélvica posterior. Promove o aumento de força
muscular e da amplitude de movimento articular, diminuição
da tensão muscular, melhora da condutividade nervosa e
diminuição da intensidade da dor. A cinesioterapia associada
à terapia manual, contribui eficazmente na eliminação da dor
e melhora da mobilidade da região lombar.
• A intervenção fisioterapêutica consisti em exercícios de
alongamento através de posturas estáticas, observou-se
redução da dor, relaxamento e melhora da consciência
corporal, promovendo, após oito semanas de atividades,
melhora da respiração, diminuição do consumo de
analgésicos e maior segurança na realização das
atividades de vida diária (ADV’s).
O atendimento fisioterapêutico gestacional deve ser
o mais precoce possível, através de informações e
orientações, preparo físico e psíquico, objetivando
diminuir a ansiedade e o medo, promovendo
confiança e saúde física, psíquica e emocional.
O protocolo de tratamento

• Avaliação Inicial;

• Aplicação de Questionário de Qualidade de Vida;

• Alongamentos passivos, ativos e ativo-assistidos,


associados à respiração diafragmática,

• Fortalecimento dinâmico de MMSS e de peitoral,


• Fortalecimento isométrico e dinâmico de MMII;
• Fortalecimento e propriocepção de assoalho pélvico
com o auxílio de bola suíça, rolo e faixa elástica;
• Relaxamento em região dorsal com massagem
manual e auxílio de bolas crespas;
• Orientações quanto à vestimenta, cuidados com a
mama e posicionamento ao realizar as AVD’s. Todas as
técnicas de fortalecimento foram associadas à
respiração diafragmática.
• Estimular a mobilidade materna e incentivar posturas
verticais para facilitar o encaixe do bebê à pelve e ao
canal de parto, diminuindo a duração do período de
dilatação e expulsivo, além de melhorar a dinâmica da
contratilidade uterina.
(melhor irrigação sanguínea uterina).
• O fisioterapeuta irá estimular desde o pré-natal o
uso adequado dos músculos respiratórios através
da respiração diafragmática, natural e leve, para
que no momento do parto a mulher já esteja
conscientizada e consiga desviar a atenção
das dores e beneficie a sua oxigenação e a do bebê.
• É importante ressaltar que a respiração rápida e superficial,
conhecida como “cachorrinho”, não é mais utilizada, pois
leva a um rápido aumento da taxa respiratória e uma
redução da profundidade interferindo nas trocas gasosas,
podendo levar à hiperventilação que tem como sinais e
sintomas: tonturas, entorpecimento, parestesia e espasmo
muscular, tensão, exaustão e ansiedade.
• Além de reduzir o fluxo de sangue,
e consequentemente, o volume de oxigênio disponível
tanto para a mãe quanto para o bebê. Deve-se evitar
respirações curtas e ofegantes durante os intervalos das
contrações para não intensificar o estado de ansiedade e
fadiga. O ideal é que se faça respirações profundas para
produzir efeito calmante na parturiente.
• A eletroestimulação transcutânea (TENS) é uma grande
aliada na diminuição da sensação dolorosa nas fases
iniciais do trabalho de parto, retardando com isto a
necessidade da utilização de métodos farmacológicos.
Este método é seguro, de baixo custo e isento de
efeitos colaterais para a mulher e para o bebê.
• A massagem é um meio não farmacológico relacionado
ao alívio da dor, sendo assim, observa-se na prática
que essa técnica tranquiliza a parturiente. Estratégias
como exercícios respiratórios, relaxamento muscular,
massagem lombrossacral e banhos quentes, realizadas
na fase ativa do trabalho de parto, alivia a dor e a
ansiedade da parturiente, conduzindo de maneira
satisfatória o trabalho de parto.

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