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Material Complementar - Nutrição Materno Infantil

NUTRIÇÃO MATERNO INFANTIL

ASPECTOS FISIOMETABÓLICOS DA GESTAÇÃO


O período gestacional ideal é de 38 a 40 semanas, o feto nascido dentro dessa faixa
de tempo é chamado a termo, os nascidos antes desse período, são chamados pré-
termo. E para uma melhor análise das alterações metabólicas que ocorrem no corpo da
mulher, bem como suas necessidades para essa fase, é feita uma apreciação através
dos trimestres da gestação.
No primeiro trimestre da gestação é um período de intensa proliferação celular, tanto
dos tecidos da mãe, quanto dos tecidos fetais, e ele pesa em média 300g. Já no segundo
trimestre, o feto chega a 1000g, e há presença de hipertrofia e hiperplasia celulares da
mulher, no terceiro e último trimestre, há hipertrofia celular, o feto chega a um peso médio
de 3000g, podendo nascer acima, ou abaixo dessa faixa de peso. É importante ressaltar,
que a influência do meio externo nos dois últimos trimestres é intensa e decisiva até
para a fase adulta desse indivíduo.

1º trimestre 2º trimestre 3º trimestre


300 mg 1000 mg 3000 mg

Existem anexos embrionários que possuem função própria e auxiliar para o feto, um
deles é a placenta, responsável pela obtenção de oxigênio e nutrientes para o bebê, bem
como serve para eliminação dos produtos da excreção dele. Para, além disso, a placenta
é responsável pela produção de hormônios responsáveis pelo desenvolvimento do feto
e manutenção da gestação.
Para que ocorram alterações fisiológicas no corpo da mulher, bem como o desenvolvimento
ideal do feto, uma série de hormônios são produzidos, e agem diretamente nesses
processos metabólicos. Um deles é a gonadotrofina coriônica humana (HCG), este evita
a involução do corpo lúteo no final do ciclo menstrual feminino mensal, além de estimular
o corpo lúteo a secretar progesterona e estrogênio nos meses seguintes. O corpo lúteo
é responsável pela produção destes hormônios, enquanto a placenta não assume esse
papel.
Como já citado anteriormente, a progesterona é produzida pelo corpo lúteo, essa
produção é feita até a 8ª semana, a partir daí a placenta passa a produzir esse hormônio.
A principal função é promover o relaxamento da musculatura lisa do útero, tem como
consequências a obstipação intestinal. Como o próprio nome já diz, a progesterona, é
pró gestação, ou seja, favorece a manutenção da gestação, aumentando a absorção
de nutrientes, favorecendo o acúmulo de gordura, além de participar da mamogênese.
Assim como a progesterona, o estrogênio também começa sendo produzido pelo corpo
lúteo e em seguida a placenta passa a assumir o processo de produção. Sua principal
função é o aumento da elasticidade do útero e do canal cervical. Esse hormônio também

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contribui para o aumento do útero materno, das mamas e genitália externa da mulher, e
estimula a retenção de sódio, acentuando o volume intravascular.

IMPORTANTE: Níveis elevados de estrogênio → principal responsável pelas náuseas


e vômitos do período gestacional.

A somatomamotropina coriônica, também conhecido como hormônio lactogênio (HLP),


participa do metabolismo da glicose e das gorduras maternas, diminui a sensibilidade à
insulina, consequentemente disponibiliza mais glicose para o feto.
Outros hormônios, que não são produzidos pela placenta, também interferem diretamente
na fisiologia gestacional, como a insulina e os hormônios tireoidianos. Durante a
gestação, o organismo entra num estado hiperinsulinemico, o que pode ocasionar numa
hipoglicemia de jejum e hiperglicemia pós-prandial, e esta por sua vez, quando em níveis
elevados, resulta no diabetes gestacional. Os níveis elevados de estrogênio aumentam
consideravelmente os níveis da proteína transportadora de T4, além nos níveis elevados
de HCG estimularem a glândula tireoide.
Assim, ocorrem diversas mudanças fisiológicas no corpo da mulher durante a gestação,
para que todas as condições sejam propícias para o crescimento e desenvolvimento
fetal.

↑ 15 a 20% da TMB ↑ 40 a 50% do ↑ da hemoglobina e da


volume sanguineo formação de eritrócito

↑ na absorção dos ↑ tecidos


micronutrientes mamários e uterinos

É importante ressaltar que o aumento das reservas dos nutrientes no organismo da


mulher, é feito com o intuito de serem utilizados no parto e na lactação.
Referente ao metabolismo dos macronutrientes, a gestante passa a ficar num estado
similar ao jejum, há uma maior produção endógena de glicose, maior sensibilidade
periférica à insulina e aumento da resistência hepática a ela, podendo gerar diabetes
gestacional. Há aumento da lipólise para suprir o gasto energético com formação de
corpos cetônicos, processo necessário até certo ponto. É importante ressaltar que há um
aumento do anabolismo, intimamente relacionado com a formação fetal.
Durante o período gestacional, há a mudança dos parâmetros bioquímicos plasmáticos e
urinários. Algumas alterações fisiológicas como redução em aproximadamente 20% da
hemoglobina plasmática, e 14% da hemoglobina corpuscular médica (HCM), possuem
relação direta com o aparecimento de uma patologia denominada anemia fisiológica.

↓ 20% da Hb plasmática ↓ 14% do HCM Anemia fisiológica

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Outras alterações como aumento do débito cardíaco, redução da pressão arterial durante
os 2 primeiros trimestres devido à vasodilatação periférica, aumento da pressão venosa
nos MMII devido à compressão uterina ocasionando o surgimento de varizes e edema
também são características deste período. Há aumento das necessidades de oxigênio,
a redução do limiar de gás carbônico e pressão que o útero causa nos pulmões, resulta
em dispneia, principalmente nos meses finais da gestação.

Os níveis elevados de estrogênio resultam no aumento de enjoo e ocorrência de vômitos,


bem como, altos níveis de progesterona, ocasiona pirose, refluxo, obstipação, aumento
de enfermidades na vesícula biliar por conta da diminuição do esvaziamento dela. É
possível observar o aumento da taxa de filtração glomerular, o que facilita o aumento da
excreção de resíduos nitrogenados da mulher e do feto, além de glicosúria, decorrente
do aumento da excreção das vitaminas hidrossolúveis.

↑Estrogênio ↑Progesterona
• Náusea • Pirose
• Vômito • Refluxo
• Obstipação

COMPLICAÇÕES NA GESTAÇÃO
Como já citado anteriormente, existem complicações que podem ocorrer durante o período
gestacional, consequências de alterações fisiometabólicas comuns nas gestações.
As complicações mais comuns são, anemia fisiológica, diabetes gestacional, doença
hipertensiva na gestação e síndrome Hellp. É necessário estar atento às recomendações
nutricionais em cada uma dessas patologias.
Existem sinais e sintomas da anemia fisiológica, que se manifestam na mãe e outras
no feto. Os principais maternos são, comprometimento do desempenho físico e mental,
pré-eclâmpsia e alterações cardiovasculares, diminuição da função imunológica;
alterações da função da tireoide, queda de cabelos e enfraquecimento das unhas, menor
tolerância às perdas sanguíneas do parto, resultando em maior risco de anemia pós-
parto e hemotransfusão. Já os sintomas fetais são, possível morte (abortamento e óbito
intrauterino), hipoxemia fetal prematuridade, quadro séptico por ruptura prematura
de membranas, restrição de crescimento intrauterino, muitas vezes com alterações
irreversíveis do desenvolvimento neurológico da criança. A conduta nutricional ideal
para mulheres com anemia fisiológica é ingestão de alimentos ricos em ferro e com alta
absorção, distribuição adequada de macros e micronutrientes e ingestão de substâncias
ativadoras da absorção de ferro.
É possível identificar fatores de risco para o desenvolvimento de diabetes gestacional
como, idade igual ou superior a 35 anos, índice de massa corporal (IMC) >25kg/m2
(sobrepeso e obesidade), antecedente pessoal de diabetes gestacional, antecedente
familiar de diabetes mellitus (parentes de primeiro grau), macrossomia ou polihidrâmnio

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em gestação anterior, óbito fetal sem causa aparente em gestação anterior ou


malformação fetal em gestação anterior, uso de drogas hiperglicemiantes (corticóides,
diuréticos tiazídicos), síndrome dos ovários policísticos e hipertensão arterial crônica.
A principal orientação nutricional é uma melhor escolha das fontes de carboidrato e
fracionamento das refeições.
Assim como o diabetes gestacional, a doença hipertensiva na gestação (DHGE) também
possui fatores de risco, são eles, obesidade, baixa estatura, idade materna maior que 40
anos, tabagismo, hereditariedade, dieta hipoprotéica e primigestas. Existem diferentes
classificações da DHGE, e seus parâmetros, como pode ser visto na tabela a seguir:

Classificação Parâmetro de avaliação


Hipertensão arterial crônica ≥140/90 mmHg antes ou até a 20a SG.
≥140/90 mmHg após a 20a SG + pro-
Pré- eclampsia/ Eclampsia
teinúria (≥300 mg/24 horas)
Hipertensão crônica Mulher hipertensa com proteinúria
com pré-eclampsia (≥300 mg/24 horas) até a 20a SG.
Hipertensão sem proteinúria após a 20a
Hipertensão gestacional
SG, podendo evoluir para pré-eclâmpsia.

Na DHGE, a principal preocupação é com o consumo de sódio da gestante, por isso, a


depender da classificação feita, existem diferentes recomendações nutricionais. Na pré-
eclampsia leve, a alimentação deve ser normossódica (até 6g/dia), evitando alimentos
ricos em Na e dieta rica em proteína (2g/kg/dia). E na grave (diastólica > 110mmHg),
a conduta deve ser de dieta hipossódica (2 a 3g/dia), e na eclampsia a recomendação
é a mesma da grave. Na hipertensão crônica, a recomendação do consumo de sódio
deve ser a mesma da pré-eclampsia leve, dieta normosódica (até 6g/dia). Por fim, na
Síndrome Hellp, a conduta deve ser igual à pré-eclampsia grave.
A síndrome Hellp, se caracteriza como um agravamento da pré-eclampsia, com hemólise,
elevação das enzimas hepáticas e plaquetopenia (<100.000 mm3).

ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS
PARA SITUAÇÕES ESPECIAIS
Há algumas situações especiais que ocorrem na gestação, fruto das mudanças
hormonais, fisiológicas e físicas que ocorrem nesse período. E para estas alterações,
existem estratégias nutricionais, que podem auxiliar a gestante.
As náuseas e vômitos são causadas pelos níveis crescentes de estrogênio, podendo
acarretar em anorexia, e existe uma associação com perda de peso no primeiro
trimestre. É importante ressaltar que esse peso deve ser recuperado ao longo da
gestação, para evitar danos ao feto. A conduta nutricional adequada para essa situação
é o fracionamento adequado da dieta, evitar frituras, alimentos gordurosos e com odor
forte/desagradável ou que causem repugnâncias, evitar condimentos picantes, pela

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manhã preferir alimentos sólidos e secos, ingerir muitos líquidos para evitar o processo
de desidratação e evitar deitar-se após refeições.

Orientações para gestante com pirose.

Fracionamento da dieta Elevação da


cabeceira da cama

Evitar:
• Café;
• Álcool; Evitar consumo de
• Chá; leite = tamponamento
• Doces;
• Frituras;
• Pimenta
Evitar consumo de líqui-
dos durante as refeições

A pirose é caracterizada como uma sensação de queimação no esôfago, as principais


causas são ação da progesterona, hipotonia do Esfíncter Esofágico Inferior (EEI), Refluxo
Gastroesofágico (RGE) além de alimentos que levem a um maior tempo de esvaziamento
gástrico. A conduta adequada em situações de pirose é o fracionamento da dieta,
elevação da cabeceira da cama e evitar deitar-se após refeições, evitar café, chá, álcool,
doces, frituras, alimentos ricos em gorduras, excluir alimentos que causem desconforto,
não usar o leite como solução para o problema por conta do tamponamento e evitar o
consumo de líquido durante as refeições.
A sialorréia, também chamada ptialismo, é caracterizada pela salivação excessiva. Está
associada com a ingestão excessiva de amido, hipertonia vagal ou causas psicológicas.
As principais orientações são o fracionamento da dieta, aumento da ingestão hídrica e
o estímulo ao consumo de frutas ricas em água.
Alguns problemas intestinais também podem ocorrer como a obstipação intestinal e
flatulências. As principais causas são a ação da progesterona, que interfere na motilidade
intestinal e erros alimentares como a baixa ingestão de fibras e baixa ingestão hídrica,
além do sedentarismo. A conduta nutricional nesses casos é a indicação do aumento da
ingestão hídrica, aumento do consumo de fibras solúveis e insolúveis, uso de farelo de
trigo ou aveia (1 a 2 colheres sopa/dia), evitar alimentos flatulentos, como: alho, batata-
doce, brócolis, cebola, couve, couve-flor, ervilha, feijão, milho, ovo e repolho, estímulo à
mastigação em quantidade suficiente e estímulo à atividade física regular moderada e
orientada.
Outra complicação recorrente durante a gestação é a picamalácia, que é o apetite
incontrolável por substâncias não alimentares, como tijolo, terra e sabonete. Pode estar
associada à anemia, constipação, problemas dentários, síndromes hipertensivas na
gravidez e a interferências na absorção de nutrientes. A depender do que ingerir, pode
trazer complicações graves para a gestante e o feto. As orientações para a picamalácia

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vão além das condutas nutricionais, pois é necessário indicar a gestante um profissional
que auxilie no controle de aspectos psicossociais (problemas emocionais ou familiares)
e explicar as consequências do consumo de itens não alimentares.

INTERCORRÊNCIAS MAMÁRIAS
Existem intercorrências mamárias que podem interromper a produção ou o fornecimento
de leite materno pela mulher, por isso é importante orientar a mãe para evitar tais
situações.
O bloqueio de ductos lactíferos ocorre quando a mama não é esvaziada corretamente,
acarretando em nódulos mamários sensíveis e dolorosos, calor e eritema. A profilaxia
é feita através da ordenha correta das mamas, aplicação da técnica correta de
amamentação e evitar sutiã apertado e cremes que possam bloquear a drenagem do
leite. O tratamento é feito através da amamentação em livre demanda, aplicação de
compressa quente e realização de massagens e alternar as posições da amamentação.
No ingurgitamento mamário ocorre a congestão e aumento da vascularização da
mama, retenção de leite nos alvéolos e edema decorrente da congestão e obstrução
da drenagem do sistema linfático. As mamas ficam edemaciadas, doloridas, quentes,
vermelhas, brilhantes e tensas. Ingurgitamento fisiológico representa um sinal positivo
de que o leite está sendo produzido e conduzido aos alvéolos não sendo necessária
qualquer intervenção. No ingurgitamento patológico, a mama fica excessivamente
distendida, o que causa grande desconforto, às vezes acompanhado de febre e mal-
estar. A profilaxia é iniciar a amamentação o mais cedo possível e usar a técnica correta
de amamentação. O tratamento é feito através da ordenha manual do leite antes da
mamada, amamentação em livre demanda, aplicação de compressa morna para ajudar
na liberação do leite e aplicação de compressa fria após/ou nos intervalos para diminuir
edema.
As fissuras mamilares na maior parte dos casos é consequência do ingurgitamento
acompanhado da pega e/ou sucção incorreta. O tratamento é realizado através do
início da mamada pela mama menos afetada e umedecimento dos mamilos com leite
materno devido a sua propriedade anti-infecciosa. A profilaxia é realizar banho de sol
nos seios, evitar o uso de protetores de mamilo por conta dos riscos de infecção, usar
técnica correta de amamentação, não utilizar sabão, álcool, creme ou qualquer produto
secante nos mamilos.
A mastite puerperal é resultado do acúmulo de leite sem a realização da ordenha, e as
fissuras mamilares se tornam porta de entrada para bactérias, causando infecções no
local. Os principais sintomas são: febre, calafrios, mamas doloridas e edemaciadas com
produção de secreção purulenta. O tratamento é a aplicação de compressas úmidas e
frias sobre a área afetada, esvaziamento completo da mama afetada, oferecer as duas
mamas mesmo que haja dor, utilizar medicamentos permitidos e sob prescrição médica,
e profilaxia é semelhante ao do ingurgitamento e fissura mamária.
O abscesso mamário é causado por mastite não tratada ou por tratamento tardio
e ineficaz. Os principais sintomas são: mal-estar, febre e calafrios. A profilaxia se

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faz através da prevenção da mastite e o tratamento é feito com o esvaziamento do


abscesso por meio de drenagem cirúrgica ou aspiração e não há contraindicação para
amamentação. A mesma deve ocorrer normalmente, a não ser que a mulher adquira
infecções mais graves.

RECOMENDAÇÕES NUTRICIONAIS NA GESTAÇÃO


Existe um aumento das necessidades energéticas no período gestacional por conta
de diversos fatores já citados anteriormente. O custo energético total da gestação
adotado pelo comitê da “Food and Agriculture Organization” FAO/WHO/ONU é de
aproximadamente 77.000 kcal, para um ganho gestacional de 10 a 14 kg, sendo
aproximadamente 3,3 kg, o ganho de peso do feto. A recomendação de adicional
energético, pela mesma referência, é de 35.000 kcal durante toda a gestação. É importante
salientar que existem diferentes referências para a determinação de adicional de energia
durante esse período, como a RDA 1989, que recomenda um adicional de 300 kcal/dia
a partir do segundo trimestre, a IOM recomenda um adicional de 250 kcal/dia durante
toda a gestação, a FAO recomenda 285kcal/dia para as gestantes com rotina similar
à anterior e 200kcal/dia para as gestantes que reduziram atividades. E por fim a FAO/
WHO/UNU, 2001, com a recomendação do adicional de energia é 85kcal/dia no primeiro
trimestre, 285kcal/dia no segundo trimestre e 475kcal/dia no terceiro trimestre.

FAO/WHO/UNU,
RDA, 1989 IOM, 2009 FAO, 1985
2001 (2004)
300kcal/dia 250kcal/dia 285kcal/dia 85kcal/dia
• A partir do 2º tri- • Por todo perío- • Para as gestan- • 1º trimestre
mestre do da gestação tes com rotina
• No caso de ges- similar à anterior 285kcal/dia
tantes adolescen- • 2º trimestre
tes ou com baixo 200kcal/dia
peso, iniciar no 1º • Para as gestan- 475kcal/dia
trimestre tes que reduzi- • 3º trimestre
ram atividades.

As recomendações de macro e alguns macronutrientes se difere no período gestacional,


a seguir as recomendações de todos os macronutrientes, e suas respectivas referências:

Macronutriente Recomendação
55 a 75% do VET;
• Açúcares simples: <10%
Carboidrato
• Fibras: 28g/dia (DRIS, 2005);
• Fibras: 20 a 35g/dia (ADA, 2008).

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Macronutriente Recomendação
Proteína: 0,8 a 1,0g/kg/dia com adicional de 1g (1otrim), 9g (2o
trim) e 31g/dia (3o trim) (FAO/WHO/UNU)
Proteína
Ou adicional de 1,2g (1otrim), 6,1g (2o trim) e 10,7g (3o trim)
(FAO, 1985)
15 a 30% do VET;
• Gordura saturada : <10% (FAO,OMS, 2004)
Lipídeo
• Ômega 6: 13g/dia (IOM, 2005);
• Ômega 3: 1,4g/dia (IOM, 2005).

Para gestantes adolescentes, há uma diferença no cálculo da recomendação de


proteínas, a ANVISA recomenda 71g/dia, a FAO (1985) 1,5g/kg/dia, a ADA (1989) 1,7g/
kg/dia para menores de 15 anos e 1,5g/kg/dia para maiores de 15 anos.
A recomendação de algumas vitaminas se difere no período gestacional, outras não,
como no caso da vitamina E, D, K e biotina.

Idade Vit A Vit C Tiamina Niacina B6 Folato B12 B5 Colina


(anos) (μg/d) (mg/d) (mg/d) (mg/d) (mg/d) (μg/d) (μg/d) (mg/d) (mg/d)
14-18 750 80 1,4 18 1,9 600 2,6 6 450
19-30 770 85 1,4 18 1,9 600 2,6 6 450
31-50 770 85 1,4 18 1,9 600 2,6 6 450
1 Recomendação de vitaminas, RDA

Assim como as vitaminas, alguns minerais não sofrem alteração de recomendação no


período gestacional como no caso do cálcio, fósforo, potássio, sódio, flúor e cloro.

Idade Ca Cr Cu Fe Se Zn Na P K
(anos) (mg/d) (ug/d) (ug/d) (mg/d) (ug/d) (mg/d) (g/d) (mg/d) (g/d)
14-18 1.300 44 1.000 27 60 12 1,5 1.250 4,7
19-30 1.000 45 1.000 27 60 11 1,5 750 4,7
31-50 1.000 45 1.000 27 60 11 1,5 750 4,7
2 Recomendações de minerais, RDA

FISIOLOGIA DA LACTAÇÃO
A lactação é de extrema importância, tanto para a mulher, como para o bebê. Existe uma
relação positiva entre amamentar e apresentar menos doenças como câncer de mama,
cânceres ovarianos, câncer de endométrio e osteoporose e fraturas. Para além disso,
é imprescindível para o retorno ao peso pré-gestacional bem como para a involução
uterina mais rápida por conta da maior produção de ocitocina. Esse período é dividido
entre 3 fases, lactogênese I, II e III.
A lactogênese I, acontece a partir da vigésima semana gestacional, é marcada pela
produção de leite (pré-colostro) através de um controle endócrino, onde a progesterona

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placentária inibe a prolactina, o que acaba por diminuir a produção. Logo após da
saída da placenta, a produção dos hormônios placentários cai, e ocorre o aumento da
prolactina.
A lactogênese II ocorre de 2 a 3 dias após o parto indo até a produção do leite maduro, há
a manutenção dos níveis elevados de prolactina e esse processo independe da sucção
da criança. É importante salientar as implicações fisiológicas provenientes da secreção
de prolactina e ocitocina, ambos hormônios possuem interação com a estimulação
sensorial da sucção do bebê.

Prolactina Ocitocina
Age nas mamas mantendo as glân- Ela é transportada do sangue para
dulas mamárias secretando leite as mamas fazendo as células mioe-
nos alvéolos para os períodos de piteliais se contraírem, transportando
amamentação subsequentes. o leite dos alvéolos para os ductos.

A lactogênese III ou galactopoiese perdura durante toda amamentação, possui controle


neuroendócrino. Caso a sucção seja reduzida, há também redução da prolactina, e
consequentemente queda na produção do leite materno. O volume passa a depender
da mamada.

Mamogênese Divisão e proliferação celular

Lactogênese I Atividade ceclular secretora e acúmulo de colostro

Lactogênese II Aumento da produção de leite com a expulsa da placenta

Lactogênese III Fase de produção de leite consolidada

COMPOSIÇÃO DO LEITE MATERNO


A composição do leite materno, depende do estágio de lactação, citados anteriormente e
se o parto foi a termo ou pré termo. É importante ressaltar que existem alguns nutrientes,
que quando ingeridos pela mulher, podem interferir na composição desse leite. De acordo
com a fase, o leite pode ser classificado em colostro, leite de transição ou leite maduro.

COLOSTRO
O colostro é o leite secretado na primeira semana pós-parto, possui efeito laxativo
para o bebê, favorecendo a eliminação do mecônio, possui cor alaranjada por ser rico
em carotenoides, e também é rico em proteínas, vitamina A e E, e possui alto teor de
anticorpos IgA. Nessa fase, o leite materno possui menor teor de carboidrato (lactose),

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gorduras e vitaminas do complexo B. A produção do leite varia entre 10 a 100ml/ dia,


com uma média de 30 mL.

LEITE DE TRANSIÇÃO
O leite de transição é produzido entre o 6º e o 14º dia pós-parto. É rico em água, e por isso
sacia a sede, além disso, é rico em fatores de proteção (macrófagos, imunoglobulinas).
Nessa fase, muitas mulheres acham que por ser mais “aguado” o leite está se tornando
fraco e interrompem a lactação.

LEITE MADURO
O leite maduro possui elevada concentração de lactose e gordura e menor concentração
de imunoglobulinas e proteínas; possui coloração mais esbranquiçada. O volume
produzido no dia varia entra 700 a 900ml. Nessa fase, a composição do leite garante o
ganho de peso adequado para o bebê.
Muitas mulheres fazem a introdução do leite de vaca precocemente na alimentação do
bebê. Entretanto, essa introdução precoce pode trazer danos a saúde dele, é necessário
considerar a imaturidade do trato gastrointestinal do lactente. O leite de vaca pode
afetar a digestão e absorção de nutrientes, além de possuir baixa quantidade de ferro,
o que pode levar a anemia ferropriva. A seguir é possível ver um quadro comparativo do
leite materno, leite de vaca e as fórmulas infantis.

Nutriente Leite Materno Leite de Vaca Fórmula Infantil


Mario quantidade. Melhor relação ptn
Quantidade do soro/caseína.
Proteínas Difícil digestão de-
adequada, Algumas possuem
vido à relação
fácil de digerir. melhor perfil de aa.
caseína/ptn do soro.
Adicionados AGE,
Deficientes em
Lipídeos Suficiente em AGE, diminuição de satu-
AGE. Não rada e acréscimo de
lipase para digestão
apresenta lipase óleos vegetais
Excesso de Ca, Relação Ca/P
Minerais Quantidade correta
P, Na, Cl e K. adequada

Ferro e zinco Pouca quantidade, Pouca quantidade, Adicionado


bem absorvido mal absorvido
Vitaminas Quantidade suficiente Deficiente D, E e C. Adicionadas
Adicionado
Prébioticos Quantidade suficiente Deficiente FOS e GOS
Probioticos Quantidade suficiente Deficiente Adicionado
Água Suficiente Necessário Extra Pode ser necessária

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Colostro Leite Maduro


Constituinte
Pré-termo A termo Pré-termo A termo
Energia (kcal) 58 48 70 62
Lactose (g) 5,0 5,1 6,0 6,5
Proteína Total (g) 2,1 1,9 1,4 1,3
Gordura Total (g) 3,0 1,8 4,1 3,0

ALEITAMENTO MATERNO
O aleitamento materno pode ser classificado de diferentes maneiras, a depender se é
exclusivo, ou se outros alimentos são ofertados juntamente com ele.

Tipo de aleitamento Características


Quando a criança recebe somente leite materno, direto da mama
Aleitamento ou ordenhado, ou leite humano de outra fonte, sem outros líquidos
materno exclusivo ou sólidos, com exceção de gotas ou xaropes contendo vitaminas,
sais de reidratação oral, suplementos minerais ou medicamentos.
Aleitamento Quando a criança recebe, além do leite materno, água ou bebi-
materno das à base de água (água adocicada, chás, infusões), sucos de
predominante frutas e fluidos rituais.
Aleitamento Quando a criança recebe leite materno (direto da mama ou orde-
materno nhado), independentemente de receber ou não outros alimentos.
Quando a criança recebe, além do leite materno, qualquer ali-
Aleitamento mento sólido ou semi-sólido com a finalidade de complementá-
materno -lo, e não de substituí-lo. Nessa categoria a criança pode receber,
complementado além do leite materno, outro tipo de leite, mas este não é conside-
rado alimento complementar.
Aleitamento
materno misto Quando a criança recebe leite materno e outros tipos de leite.
ou parcial

A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o Ministério da Saúde recomendam aleitamento


materno exclusivo por seis meses e complementado até os dois anos ou mais. A
introdução precoce de outros alimentos está associada a maior número de episódios de
diarreia, maior número de hospitalizações por doença respiratória, risco de desnutrição,
se os alimentos introduzidos forem nutricionalmente inferiores ao leite materno, como
por exemplo, alimentos muito diluídos. A duração do aleitamento materno interfere na
absorção de nutrientes importantes, como o ferro e o zinco, reduz a eficácia da lactação
como método anticoncepcional e menor duração do aleitamento materno como um todo.
Devido aos inúmeros fatores existentes no leite materno que protegem contra infecções,
ocorrem menos mortes entre as crianças amamentadas. Além de evitar diarreia, há ainda
uma proteção contra infecções respiratórias, por conta da presença de imunoglobulinas,

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fatores anti-inflamatórios e imunoestimuladores. O esforço do bebê para sugar o


leite ajuda no desenvolvimento dos pulmões e da musculatura facial. Além de evitar
a obesidade por conta do melhor desenvolvimento da auto regulação de ingestão de
alimentos.
Vale ressaltar que o leite de vaca está associado a irritações no organismo, podendo
levar ao surgimento de dermatite, rinite, sinusite, bronquite asmática e amidalite.
Já há alguns anos têm sido descrito por diversos profissionais da área que o consumo
de leite de vaca (LV) por crianças menores de 1 ano está associado ao aparecimento da
anemia ferropriva (anemia por deficiência de ferro). Além do baixo teor, o ferro do leite
de vaca não é bem absorvido pelo organismo de lactente.
Em virtude de um trato gastrointestinal não totalmente desenvolvido, o consumo de LV
por crianças menores de 12 meses têm sido relacionado como um fator predisponente
no aparecimento da alergia a proteína do leite de vaca. Além disso, a exposição precoce
da criança ao LV aumenta o risco não somente de reações adversas a este leite, como
também de alergias a outros alimentos.

ALEITAMENTO MATERNO- CONTRA INDICAÇÕES


As vantagens do aleitamento materno são múltiplas e já bastante reconhecidas, quer
a curto, quer em longo prazo. No entanto, existem casos específicos que apresentam
contraindicações, umas temporárias, outras definitivas e por isso não podem amamentar.
É proibida a amamentação caso a mãe tenha HTLV 1 e 2 e HIV. A presença da
galactosemia em recém-nascidos também suspende o aleitamento materno, já que o
lactente não possui a capacidade de converter a galactose em glicose.

Proibída Relativamente
amamentação contraindicado

HTLV 1 e 2 Herpes 1 e 2

HIV Citomegalovírus

Galactosemia Hepatite C
(lactente)

Hanseníase

Varicela

Doença de Chagas

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O aleitamento é relativamente contraindicado em casos de infecção pelo Herpes Simples


1 e 2 quando as vesículas estiverem próximas ao mamilo. Caso as feridas estejam em
outro local, proteger com máscara ou cobrir as feridas e amamentar normalmente.
Também é contra indicado em mulheres que possuem o citomegalovírus, mas somente
quando a criança nascer de parto prematuro menor de 32 semanas. A amamentação é
contra-indicada na hanseníase virchowiana ou com menos de 3 meses de tratamento.
Em caso de tratamento materno adequado, o aleitamento é liberado. Infecção materna
pelo vírus da hepatite C, apenas quando a mãe tem carga viral elevada ou lesões
mamilares sangrantes. Na varicela, apenas se a mãe apresentar vesículas na pele cinco
dias antes do parto ou até 2 dias após o parto. Isolamento materno até que as lesões
adquiram a forma de crosta. É indicado nas mulheres com doença de Chagas crônica,
exceto se houver sangramento mamilar evidente. Está contraindicado nas mulheres com
doença de Chagas aguda.
Existem algumas doenças que podem ocorrer no bebê e por isso existem indicações de
aleitamento materno. A galactosemia é um distúrbio, transmitido por herança genética,
é provocado pela incapacidade do organismo em transformar a galactose, em glicose. O
acúmulo de galactose no sangue causa lesões no SNC, tubular renal, catarata e cirrose
hepática. A criança com galactosemia não poderá ingerir leite humano e nem de vaca,
deverá tomar leite de soja. A fenilcetonúria é distúrbio genético provocado pela falta ou
deficiência da enzima fenilalanina hidroxilase. Não há contraindicação ao aleitamento
materno, entretanto é necessário um controle da ingestão a depender do grau da doença
no bebê.

ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR
É definida como alimentação complementar, alimentação no período em que outros
alimentos ou líquidos são oferecidos à criança, em adição ao leite materno, também
chamado de alimentos de desmame. De acordo com o Guia Alimentar para Crianças
Menores de 2 anos, do Ministério da Saúde, existem dez passos para uma alimentação
saudável, que serão explanados a seguir.

• PASSO 1
Dar somente leite materno até os 6 meses, sem oferecer água, chás ou qualquer outro
alimento. Além de ser porta para infecções e aumentarem o risco de doenças, a oferta de
outros alimentos prejudica a sucção, reduzindo a produção e ingestão de leite materno.

• PASSO 2
Ao completar 6 meses, introduzir de forma lenta e gradual outros alimentos, mantendo o
leite materno até os dois anos de idade ou mais. Nessa fase, as necessidades nutricionais
da criança já não são mais atendidas só com o leite materno. A partir dos 8 meses a
criança já pode receber gradativamente os alimentos preparados para a família, desde
que sem temperos picantes, sem alimentos industrializados e com pouco sal.

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• PASSO 3
Ao completar 6 meses, dar alimentos complementares (cereais, tubérculos, carnes,
leguminosas, frutas e legumes) três vezes ao dia, se a criança estiver em aleitamento
materno. O ovo cozido (clara e gema) pode ser introduzido ao completar 6 meses,
mas seu uso deve ser avaliado pela equipe de saúde e a introdução dos alimentos
complementares deve ser feita com colher ou copo, no caso da oferta de líquidos.

• PASSO 4
A alimentação complementar deve ser oferecida de acordo com os horários de refeição da
família, em intervalos regulares e de forma a respeitar o apetite da criança. Esse respeito
é importante para que a criança saiba distinguir a sensação de fome e a sensação de
estar saciado. Após os 6 meses, a capacidade gástrica do bebê é de 20 a 30ml/Kg de
peso, e é importante que o intervalo entre as refeições seja regular (2 a 3 horas).

• PASSO 5
A alimentação complementar deve ser espessa desde o início e oferecida de colher, iniciar
com a consistência pastosa (papas/purês) e, gradativamente, aumentar a consistência
até chegar à alimentação da família. Alimentos espessos e consistentes representam
uma maior densidade calórica.

• PASSO 6
Oferecer à criança diferentes alimentos ao dia. Uma alimentação variada é uma
alimentação colorida. As vísceras podem ser recomendadas para consumo, no mínimo
uma vez na semana, e a papa deve conter um alimento de cada grupo: cereais ou
tubérculos, leguminosas, legumes e verduras e carne ou ovo.

• PASSO 7
Estimular o consumo diário de frutas, verduras e legumes nas refeições. É importante
que as frutas sejam oferecidas in natura, evitar oferecer em forma de sucos ou papas. É
necessário que uma criança se exponha de 8 a 10 vezes a um alimento para que ele seja
plenamente aceito, por isso é importante não desistir de introduzir um alimento.

• PASSO 8
Evitar açúcar, café, enlatados, frituras, refrigerantes, balas, salgadinho e outras
guloseimas, nos primeiros anos de vida. Usar sal com moderação. É proibido o consumo
de mel por crianças menores de dois anos por conta da possível contaminação por
Clostridium botulinum.

• PASSO 9
É importante cuidar da higiene no preparo e manuseio dos alimentos, além de garantir
o seu armazenamento e conservação adequados. É importante que as frutas, legumes
e verduras sejam levados em água corrente e colocados de molho por dez minutos, em
água clorada. Se, após a refeição, sobrar alimentos no prato (restos), eles não podem

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ser oferecidos posteriormente. Usar água tratada, e filtrada para oferecer à criança e
também para o preparo das refeições.

• PASSO 10
Estimular a criança doente e convalescente a se alimentar, oferecendo sua alimentação
habitual e seus alimentos preferidos, respeitando a sua aceitação. A criança doente
precisa comer mais, para não perder peso e recuperar-se mais rapidamente. Para
aumentar o teor energético diário da alimentação de crianças que apresentarem baixo
peso para a estatura, acrescentar às refeições salgadas, uma colher das de sobremesa
de óleo para menores de 1 ano e uma colher das de sopa para maiores de 1 ano. É
importante não forçar a criança a comer, isso aumenta o estresse e diminui ainda mais
o apetite. As refeições devem ser momentos tranquilos e felizes.

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