Você está na página 1de 37

Nutrição da Gestação à Lactação

Conteudista: Prof.ª Dra. Wysllenny Nascimento de Souza Buzzi


Revisão Textual: Maria Thereza Carvalho Rodriguez Guisande | M.ª Allyne Fiorentino de Oliveira

Objetivos da Unidade:

Compreender a importância e a função da nutrição no início da vida intrauterina e


nos primeiros dias de vida;

Reconhecer as diferenças hormonais, fisiológicas e nutricionais decorrentes da gestação e


da lactação.

ʪ Contextualização

ʪ Material Teórico

ʪ Material Complementar

ʪ Referências
1/4

ʪ Contextualização

Leitura
O que a mãe come na gestação interfere no paladar da criança?
Leia a matéria a seguir e reflita:

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Com as crescentes pesquisas sobre programação fetal e sobre a influência da alimentação materna tanto
na vida intrauterina quanto na vida adulta, você, como profissional da nutrição, precisa estar apto e
atualizado para discernir qual é a melhor estratégia nutricional para sua paciente gestante. Além disso, você
já deve ter ouvido falar sobre a influência do aleitamento materno na diminuição das doenças crônicas não
transmissíveis e na formação de hábitos alimentares saudáveis. Tendo isso em vista, qual a melhor maneira
de conduzir a alimentação de uma nutriz para melhor aproveitamento da condição de saúde dela e do seu
bebê? Vem comigo e você verá os principais desafios da conduta nutricional nesse ciclo da vida tão
importante.
Leitura
Early Taste Experiences and Later Food Choices
Acesse o artigo a seguir e saiba mais:

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
2/4

ʪ Material Teórico

Gestação

Introdução e Conceito
A gestação é um período que engloba quarenta semanas, durante as quais ocorrem alterações anatômicas,
fisiológicas, metabólicas e psicológicas, afetando quase todos os órgãos e suas respectivas funções na
mulher gestante. Essas alterações são necessárias para o crescimento do feto e para habilitar e preparar o
corpo feminino para o parto e para o período de lactação.

Como você deve saber, essa gestação resulta da fecundação de um óvulo por um espermatozoide em uma
mulher em idade fértil, seja de forma natural ou in vitro. Em seguida, ocorre o desenvolvimento do feto em
ambiente uterino e, por fim, o parto.
Figura 1 – Fecundação e gestação
Fonte: Getty Images

A gestação é dividida em três trimestres:

1º Trimestre: da 1ª à 13ª semana;

2º Trimestre: da 14ª à 27ª semana;

3º Trimestre: da 28ª à 40º semana.


Figura 2 – Desenvolvimento e crescimento fetal durante a gestação
Fonte: Getty Images

As características da idade gestacional, do crescimento, da velocidade e do peso do feto, você pode


verificar no Quadro 1.

Quadro 1 – Características da gestação e do feto de acordo com a idade gestacional

Tipo de Peso médio do


Idade gestacional Velocidade
crescimento feto

1º trimestre
12ª semana =
(até 12 Hiperplasia Lenta
300g
semanas)

2º trimestre
Hiperplasia e 27ª semana =
(da 13ª à 27ª Acelerada
Hipertrofia 1000g
semana)
Tipo de Peso médio do
Idade gestacional Velocidade
crescimento feto

3º trimestre
38ª semana =
(da 28ª semana Hipertrofia Máxima
3000g
em diante)

Fonte: Adaptado de VITOLO, 2008

Alterações Fisiológicas, Metabólicas e Hormonais


Durante a gestação, mudanças importantes ocorrem tanto no embrião/feto quanto na mulher. Essas
mudanças também podem ser divididas por trimestres.

O primeiro trimestre é marcado pelo desenvolvimento dos órgãos e do sistema nervoso central do embrião.
No segundo trimestre, o crescimento e o desenvolvimento ocorrem de forma contínua e, a partir da 24ª
semana, o feto já pode sobreviver fora do útero. O desenvolvimento e o crescimento continuam no terceiro
trimestre. Duas características marcantes dessa última fase da gestação são a armazenagem de ferro e de
outros nutrientes e o desenvolvimento do tecido gorduroso pelo feto.

Como já falamos, importantes alterações também ocorrem no corpo materno. Além de preparar o corpo da
grávida para o parto e para a lactação, tais alterações são responsáveis por causar as mudanças corporais
verificadas na gestante e pelo desenvolvimento e crescimento do feto.

Veja, a seguir, os principais hormônios e suas respectivas alterações de acordo com Vitolo (2008):

Progesterona;

Estrogênio;

Gonadotrofina coriônica humana;


Lactogênio placentário humano;

Cortisol;

Tiroxina;

Insulina;

Glucagon;

Cortisona;

Aldosterona;

Renina-angiotensina;

Calcitonina.

Saiba Mais
Progesterona: este hormônio prepara o endométrio e o útero para receber o embrião e as mamas
para produção de leite. Além disso, ele é responsável por relaxar a musculatura lisa do útero e
favorecer a deposição de gordura. Por fim, ele também diminui a motilidade do intestino e
estimula o apetite materno na primeira metade da gestação;

Prolactina: responsável pela produção de leite, este hormônio é produzido durante toda a
gestação e aumenta no pós-parto. A elevação do estresse prejudica esse processo. Além
disso, este hormônio também impede a ovulação;
Estrogênio: responsável por reduzir as proteínas séricas e afetar a função tireoidiana na
gestação, este hormônio também atua aumentando a elasticidade da parede uterina e
participando da mamogênese;

Gonadotrofina Coriônica Humana (HCG): Responsável por inibir a contração uterina e a rejeição
imunológica do embrião nas primeiras semanas após a fecundação, este hormônio também
atua na placenta no início da gestação, quando ela ainda não produz estrogênio e progesterona
em quantidades adequadas;

Hormônio Lactogênico Placentário (HLP): Responsável por dar início à lactogênese, este hormônio
também aumenta a captação de aminoácidos e glicose pelo feto.

Glossário
Mamogênese: Desenvolvimento do tecido glandular mamário.
Lactogênese: processo de produção de leite nas glândulas mamárias.

Avaliação Nutricional
Como você já verificou, a gestação é marcada por intensas modificações no metabolismo materno. Por esse
motivo, as necessidades nutricionais da mulher também estão alteradas nesse período. Diante disso,
devemos garantir uma correta avaliação nutricional da gestante para que suas necessidades nutricionais
sejam adequadamente supridas e para assegurar o devido desenvolvimento e crescimento fetal.

Essa correta avaliação nutricional beneficiará a gestante com uma alimentação adequada e saudável,
trazendo melhorias também para o feto. Além disso, uma alimentação saudável e adequada assegura um
apropriado ganho de peso gestacional; assegura um bom desenvolvimento placentário; atende às
demandas metabólicas aumentadas da mãe; previne a anemia, a obesidade, o diabetes gestacional e as
síndromes hipertensivas; influencia no crescimento e desenvolvimento fetal; influencia no peso ao nascer; e
previne doenças na idade adulta da criança.

Por isso, a anamnese nutricional da gestante é de suma importância e deve incluir os seguintes pontos:

Avaliação antropométrica;

Avaliação do consumo alimentar;

Avaliação bioquímica e clínica;

Peso pré-gestacional;

IMC pré-gestacional;

Meta ganho de peso;

Antecedentes familiares;

Antecedentes pessoais (fumo, álcool, cirurgia, patologia etc.);

Gestações anteriores;

Atividade física;

Peso atual;

IMC atual;

Medicação em uso;

Últimos exames.
Nesse âmbito, o estado pré-gestacional é um determinante do ganho de peso insuficiente ou excessivo,
sendo essencial para a avaliação do estado nutricional da gestante. O peso pré-gestacional é o indicado na
primeira avaliação antropométrica, porém, se não for conhecido, pode-se utilizar o peso do primeiro trimestre
como o peso pré-gestacional. Depois de coletado o peso (ou o peso atual da gestante) e a altura, deve-se
proceder com o cálculo do Índice de Massa Corporal (IMC). Em seguida, verifica-se, na tabela do Institute of
Medicine (2009), qual é o ganho de peso recomendado segundo o estado nutricional pré-gestacional (veja a
Tabela 1).

A avaliação nutricional deve ser realizada em toda consulta da gestante.

Tabela 1 – Ganho de peso recomendado em kg na gestação,


segundo o estado nutricional inicial (pré-gestacional)

Recomendação de
Recomendação de ganho
Estado nutricional inicial ganho de peso (kg)
de peso (kg) total na
(IMC) semanal médio no 2º e
gestação
3º trimestres*

Baixo peso (<


0,5 (0,44 – 0,58) 12,5 – 18,0
18,5kg/m2)

Adequado (18,5 –
0,4 (0,35 – 0,50) 11,5 – 16,0
24,9kg/m2)

Sobrepeso (25,0 –
0,3 (0,23 – 0,33) 7,0 – 11,5
29,9kg/m2)

Obesidade (2 30kg/m2) 0,2 (0, 17 – 0,27) 5,0 – 9,0

*Ganho de peso no 1 trimestre: 0,5 a 2kg


Fonte: Adaptada de INSTITUTE OF MEDICINE, 2009

O ganho de peso durante a gestação é fisiológico e normal. Ele é resultado do acúmulo de gordura materna,
do peso da placenta, do aumento no volume extracelular, do aumento do útero, do aumento das mamas e do
peso do feto. Entretanto, esse aumento deve ser de acordo com o recomendado, pois o ganho excessivo de
peso na gestação, assim como a obesidade, é um dos principais fatores para o aumento do risco de pré-
eclâmpsia, parto cesárea, Doença Hipertensiva Específica da Gravidez (DHEG) ou hipertensão arterial
gestacional, diabetes mellitus gestacional e macrossomia fetal. Adicionalmente, o excesso de ganho de
peso durante a gestação predispõe a um maior risco para o sobrepeso e a obesidade em mulheres (VITOLO,
2008; MAXIMINO; MACHADO, 2019; BRASIL, 2013).

Como você já pode imaginar, devido à gravidade e os riscos que o excesso de peso e a obesidade podem
causar durante a gestação, uma das principais recomendações para as mulheres com sobrepeso e
obesidade é a mudança de estilo de vida e o tratamento nutricional para perda de peso antes da concepção.
Dessa forma, os riscos de complicações na gravidez podem ser minimizados.

Saiba Mais
Como calcular a Idade Gestacional (IG)?

Gestação normal → 38 a 40 semanas


Idade gestacional deve ser calculada a partir da data da última menstruação (DUM).

Quando a mulher sabe a DUM: contar, no calendário, do primeiro dia da última menstruação até a
data da consulta, dividindo, em seguida, o total de dias contabilizados por 7. O resultado dessa
divisão indicará a idade gestacional em semanas;

Quando a mulher não sabe a DUM: considerar o resultado da ultrassonografia.


Exemplo: No dia 12 de dezembro de 2021, Joana Silveira foi à sua primeira consulta de pré-natal. Lá, ela
informou que sua DUM ocorreu no dia 8 de outubro de 2021. Dessa forma, a idade gestacional de Joana é 9
semanas e 2 dias, ou seja, 9 semanas.

Cálculo: 08/10/21 a 12/12/2021 = 65 dias ÷ 7 = 9,2 (9 semanas gestacionais).

Gestação múltipla e gestação na adolescência


Em gestantes adolescentes, existe uma distinção importante: aquelas que engravidaram há menos de 2
anos depois da menarca serão abordadas diferentemente daquelas que engravidaram depois de 2 anos da
menarca. Em geral, aquelas com menarca há menos de 2 anos são classificadas como baixo peso. Nesses
casos, deve-se observar o ganho de peso mês a mês no gráfico a seguir no box de Leitura. Já se a menarca
tiver sido há mais de 2 anos, as gestantes devem ser classificadas e acompanhadas de modo semelhante
às gestantes adultas (veja a Tabela 2).

Na gestação múltipla, o peso pré-gestacional também deve ser utilizado na avaliação do ganho de peso
durante a gestação e na avaliação do estado nutricional pré-gestacional. Segundo Peixoto (2014), a
recomendação de ganho de peso total durante a gestação múltipla é seguinte:

IMC = Baixo peso: não há evidências científicas satisfatória para uma recomendação;

IMC = Eutrofia: ganho de peso deve ser entre 16,8 kg a 24,5 kg;

IMC = Excesso de peso: ganho de peso deve ser entre 14,1 a 22,7kg;

IMC = Obesidade: ganho de peso deve ser entre 11,4 a 19,1 kg.
Leitura
Caderneta de Gestante
Além da recomendação de ganho de peso, o Ministério da Saúde utiliza o gráfico de Atalah
para classificar o ganho de peso durante a gestação. Veja esse gráfico e muito mais na
Caderneta da Gestante.

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Tabela 2 – Ponto de corte para a avaliação de sobrepeso e obesidade nas gestantes adolescentes

Fonte: Adaptada de BRASIL, 2011


Avaliação Bioquímica e Avaliação do Consumo Alimentar
Os exames bioquímicos são solicitados pelo ginecologista/obstetra de acordo com o trimestre da gestação.
Na avaliação bioquímica rotineira, o médico pode direcionar a gestante ao profissional de nutrição para
analisar possíveis deficiências de vitaminas, carências de ferro ou ácido fólico ou sinalizando a existência
de diabetes ou outras doenças pre-existentes e assim o profissional de nutrição poderá monitorar e planejar
uma orientação nutricional adequada. (PEIXOTO, 2014; VITOLO, 2008).

Não se esqueça de visualizar a Tabela 3 a seguir, com os exames relevantes em cada trimestre. A partir
disso, reflita: quais deles são de importância na avaliação nutricional?

Tabela 3 – Exames bioquímicos recomendados de acordo com o trimestre da gestação

Primeiro trimestre Segundo trimestre Terceiro trim


Primeiro trimestre Segundo trimestre Terceiro trim

Tipagem Hemograma Hemograma c


sanguínea (ABO/Rh) e completo;
Sorologias: sífil
Teste de Coombs
Teste de tolerância toxoplasmose
indireto se indicado;
oral à glicose B e HIV;
Hemograma completo; (TTOG) de 75g;
Urina I com
Glicemia de jejum; Sorologias: urocultura/ant
toxoplasmose e
Urina I com Cultura seletiv
sífilis;
urocultura/antibiograma; estreptococo
Ultrassonografia hemolítico de
Sorologias: rubéola,
morfológica de 2º vaginal e peria
toxoplasmose, sífilis,
trimestre com
citomegalovírus, Ultrassonogra
Dopplerfluxometria
hepatite B, hepatite C e obstétrica com
colorida das
HIV; Dopplerfluxom
artérias uterinas
colorida;
TSH; maternas e
avaliação do colo Ecocardiografi
Protoparasitológico de por via vaginal.
fezes (PPF); Cardiotocogra

Colpocitologia
oncológica;

Ultrassonografia
morfológica de primeiro
trimestre com perfil
bioquímico.

Fonte: Adaptado de PEIXOTO, 2014


Em relação à avaliação do consumo alimentar, pode-se realizar, por meio do recordatório de 24h,
questionários de frequência alimentar (QFA) ou diários alimentares. O objetivo da avaliação do consumo
alimentar é investigar o porcionamento das refeições, o intervalo entre as refeições, os erros alimentares, o
consumo de micronutrientes, as queixas alimentares e, adicionalmente, orientar sobre a higiene alimentar e
a prevenção de doenças transmitidas por alimentos (MAXIMINO; MACHADO, 2019).

Necessidades Energéticas
Na gestação, o primordial, ao calcular o gasto energético, é atender as demandas metabólicas que
aumentam durante o período gestacional e, adicionalmente, formar reserva energética para a amamentação.

Na literatura, existem vários métodos recomendados para o cálculo do valor energético total em gestantes.
Veja, a seguir, alguns deles (INSTITUTE OF MEDICINE, 2005; FAO/WHO, 2004; RDA, 1989).

Quadro 2 – Cálculo do valor energético segundo o Institute of Medicine

1º Trimestre 2º e 3º Trimestre

EER pré-gestacional + (8 KCAL X IG) EER pré-gestacional + (8 KCAL X


+0 IG) + 180

IG: idade gestacional em semanas

Fonte: Adaptado de INSTITUTE OF MEDICINE, 2005

Quadro 3 – Cálculo do valor energético segundo a FAO/WHO

Mulheres adultas Adolescente


Mulheres adultas Adolescente

VET = (TMB x NAF) + adicional VET = (TMB x NAF) x 1,01] +


energético gestacional adicional energético gestacional

NAF: Nível de atividade física

Adicional energético:

1º trimestre: 85 kcal/dia;

2º trimestre: 285 kcal/dia;

3º trimestre: 475 cal/dia.

Fonte: Adaptado de FAO/WHO, 2004

Quadro 4 – Cálculo do valor energético segundo o Método Prático

Adultas Adolescentes

1º trimestre:

Peso ideal pré-gestacional x 40 a


PIPG x 36 kcal
50 kcal

2 e 3º Trimestre
Adultas Adolescentes

PIPG x 36 kcal + 300 kcal

PIPG x 40 a 50 kcal + 300 kcal


PIPG = peso ideal pré-gestacional
(IMC: 21 kg/m2)

Fonte: Adaptado de RDA, 1989

Importante!
Gestantes com IMC pré-gestacional de eutrofia: deve-se utilizar o peso pré-gestacional;

Gestantes com o IMC pré-gestacional de baixo peso: deve-se utilizar o peso ideal pré-gestacional,
calculado a partir do IMC ideal pré-gestacional de 21 kg/m²;

Gestantes com excesso de peso pré-gestacional: deve-se utilizar o peso pré-gestacional e não
utilizar adicional energético.

Necessidade de Macronutrientes
Recomendação nutricional de macronutrientes para gestantes adultas e adolescentes:
Proteína
É recomendado uma ingestão de aproximadamente 10-35% do VET (DRIs, 2005):

10 a 15% VET;

1,1g/kg/dia (considerar peso pré-gestacional), sendo, no mínimo, de 71g/dia.

Para adolescentes:

< 15 anos: 1,7g/kg;

> 15 anos: 1,5g/kg (FAO/OMS, 2007).

Gestação múltipla:

1,1g/kg/dia + 50g/dia (FAO/OMS, 2007).

Carboidratos
Recomendação:

55 a 75% do VET ou 175g/dia;

Açúcar de adição < 10% do VET;

Fibras > 28g/dia (DRIs, 2005).

Adoçantes (recomendados apenas para gestantes com diabetes mellitus):

Permitidos: acessulfame K, aspartame, sacarina sódica e sucralose;


Evitar: ciclamato (efeitos teratogênicos).

Lipídeos
Recomendação: 15 a 30% do VET;

AG saturados < 10% do VET;

w3: 1,4g/dia (óleo de canola, óleo de linhaça, sementes, nozes, castanhas e peixes oleosos,
como atum, salmão, cavala e arenque);

Evitar AG trans e colesterol (< 300mg/dia) (DRIs, 2005).

Fonte: VITOLO, 2008 | INSTITUTE OF MEDICINE, 2005, 2019 | BRASIL, 2014

Necessidade de micronutrientes
No Quadro a seguir, você irá visualizar os micronutrientes de importância durante a gestação, bem como sua
recomendação durante esse período.

Quadro 5 – Recomendação de vitaminas e minerais de acordo com a RDA para gestantes

Vitaminas
Vitaminas

< 18 anos: 750 mcg/dia;

> 18 anos: 770 mcg/dia.


Vit. A

* Suplementação apenas em caso de deficiência


endêmica, pois o excesso possui risco de teratogenia.

<18 anos: 80 mg/dia;


Vit. C
> 18 anos: 85 mg/dia.

Vit. D 1500 a 2.000 UL/dia.

Vit. E 15mg/dia.

Vit. B1 1,4mg/dia.

Vit. B2 1,4mg/dia.

Vit. B3 18mg/dia.

Vit. B6 1,9 mg/dia.

Vit.B12 2,6 mcg/dia.


Vitaminas

600 mcg/dia*.

Vit. B9 (ácido
*Recomendado a suplementação pela Organização
fólico)
Mundial de Saúde e pelo Ministério da Saúde para toda
gestante e para as mulheres que planejam engravidar.
Suplementar 400mcg/dia durante toda a gestação.

Minerais

27mg/dia *.

A suplementação deve se iniciar na primeira consulta do


Ferro
pré-natal. É recomendada, para todas as gestantes, a
suplementação de 30 a 60 mg/dia de ferro elementar
durante todo o período gestacional.

Cálcio 1000mg/dia.

Fonte: Adaptado de VITOLO, 2008; INSTITUTE OF MEDICINE, 2005, 2019; BRASIL, 2014

Veja, a seguir, algumas orientações importantes:

Esclarecer a gestante quanto a importância do ganho de peso adequado;

Fracionar a dieta com menor volume e intervalo de 3/3 horas;

Investigar possíveis sintomas: azia, pirose, constipação, náuseas e vômitos;


Investigar problemas familiares e atividade física excessiva;

Adequar a dieta conforme as queixas, as intercorrências e a condição socioeconômica da


mulher;

Por fim, não se esqueça de acessar os links e materiais extras.

Lactação
A lactação é caracterizada por ser um processo complementar à gestação, com grande impacto no
desenvolvimento e na saúde do bebê (lactente). Também é uma fase em que a mulher é capaz de produzir
leite por meio das glândulas mamárias. Além disso, é marcada por transformações fisiológicas, sociais,
biológicas e psicológicas na mulher.

A lactação é influenciada pelos seguintes hormônios:

Hormônios reprodutivos (estrogênio, progesterona, lactogênio placentário humano, prolactina e ocitocina):


que atuam de forma direta sobre a glândula mamária, no seu desenvolvimento e na produção
do leite;

Hormônios metabólicos (hormônio do crescimento, da tireoide, glicocorticoides e insulina): que atuam


de forma indireta na glândula mamária, alterando o fluxo de nutrientes para a glândula.

Hormônios Envolvidos no Período de Lactação

Prolactina: responsável pela produção de leite nos alvéolos mamários, este hormônio tem um
aumento na sua secreção minutos após o parto. Além disso, sua secreção e sua produção vão
diminuindo continuamente até 6 meses após o nascimento da criança. A sucção do bebê é um
dos principais estímulos para este hormônio, tendo sua concentração aumentada ao máximo
em 45 minutos após o início da mamada;

Ocitocina: é o hormônio que induz a ejeção do leite pela glândula mamária. Ele também tem sua
maior produção estimulada pela sucção do bebê. Além disso, o aumento da secreção deste
hormônio também sofre forte influência dos estímulos visuais (mãe olhando para o bebê),
tateis (contato físico e sensorial com o bebê), olfativos e auditivos.

Os estágios da lactação podem ser divididos em três. O primeiro estágio corresponde à lactogênese e tem
início no último trimestre. No pós-parto, há uma diminuição da progesterona e um consequente aumento da
prolactina. Nesse momento, o leite precisa ser extraído ou succionado pelo bebê. Caso isso não aconteça
até o quarto dia do pós-parto, a produção de leite pode diminuir consideravelmente. No segundo estágio, que
ocorre dois a três dias após o parto, acontece a “descida do leite”. Por fim, ocorre o terceiro estágio, também
chamado de fase da “manutenção da lactação” ou galactopoiese.

Não esqueça que a sucção estimula tanto receptores da aréola quanto do mamilo, favorecendo a descida e
a produção de leite. Por esse motivo, o volume de leite não é afetado pela ingestão diária materna, e, sim,
pela frequência da amamentação.

Benefícios do Aleitamento Materno


Entre os benefícios do aleitamento materno para a lactante, podemos citar: a rápida recuperação no pós-
parto; a conservação dos estoques de ferro, diminuindo a perda de sangue após o parto; a diminuição do
risco de câncer de mama e osteoporose; o fortalecimento do vínculo mãe-filho; o efeito contraceptivo; o
aumento da autoestima da mãe; a redução ou a eliminação dos riscos de contaminação no preparo dos
alimentos lácteos e de diluições inadequadas; a ausência de custo financeiro; e, por fim, a praticidade do
leite materno, que sempre está disponível, livre de contaminações e na temperatura ideal.

Já entre os benefícios para o lactente, podemos citar: a diminuição do risco de alergias; a redução da
mortalidade infantil por infecções respiratórias e diarreia; melhor nutrição, pois contém todos os nutrientes
essenciais para o crescimento e desenvolvimento ótimos da criança; a diminuição do risco de obesidade,
hipertensão, hipercolesterolemia e diabetes na vida adulta; o efeito positivo na inteligência; e a contribuição
para o desenvolvimento cognitivo.

Avaliação Nutricional
O objetivo da avaliação nutricional durante a lactação é o retorno ao peso pré-gestacional da mulher, pois a
manutenção do peso adquirido durante a gestação é um dos fatores associados à alta prevalência de
excesso de peso nesse grupo. Na avaliação nutricional da lactante, devem estar incluídos: avaliação clínica,
avaliação antropométrica, avaliação bioquímica e avaliação do consumo alimentar.
Figura 3
Fonte: Freepik

Você pode estar se perguntando: será que a perda de peso durante o aleitamento materno afeta a produção
e a qualidade do leite? A resposta é não. Na verdade, é bastante normal e frequente que o aleitamento
materno exclusivo produza perda de peso significativa nos três primeiros meses, porém, quando associada
a uma alimentação saudável e sem grandes restrições calóricas, essa perda de peso não prejudica nem
interfere no volume de leite produzido, assim como não interfere no valor nutricional do leite materno.

A taxa média de perda de peso durante a lactação pode chegar a 1kg/mês (entre 0,5 a 1kg/mês) e em nutriz
com obesidade ou sobrepeso, essa perda pode se aproximar dos 2 kg/mês (veja a Quadro 6).

Quadro 6 – Perda de peso recomendada no pós-parto segundo o estado nutricional da lactante

Recomendação de
IMC (kg/m2) Objetivo
perda de peso

Alcance de um IMC
< 18,5 0,0
saudável (eutrófico).

Manutenção do peso
18,5 a 24,9 dentro da faixa de 0,8 kg/mês
eutrofia.

Perda de peso até


25 a 29,9 atingir o IMC dentro da 0,5 a 1,0 kg/mês
faixa de eutrofia.
Recomendação de
IMC (kg/m2) Objetivo
perda de peso

Perda de peso até


≥ 30,0 atingir IMC dentro da 0,5 a 2,0 kg/mês
faixa de eutrofia.

Fonte: Adaptado de INSTITUTE OF MEDICINE, 1990

Necessidades Nutricionais
Devido às alterações fisiológicas no corpo da lactante para a produção do leite materno, suas necessidades
nutricionais também são alteradas. Nesse sentido, é recomendado que em lactantes com baixo peso, seja

utilizado o peso atual ou ideal (utilizando o IMC = 18,5kg/m2); nas lactantes eutróficas, utilizado o peso atual;
e nas lactantes acima do peso, utilizado o peso ajustado ou peso pré-gestacional.

As fórmulas para calcular as necessidades energéticas durante a lactação podem ser visualizadas no
Quadro 7.

Quadro 7 – Necessidades energéticas durante a lactação

Adolescente EER pré-gestacional = 135,3 – (30,8 x idade anos) +{NAF x [(10,0


(14 a 18
x peso kg) + (934 x altura m)]} + 20 kcal de depósito*.
anos)

EER nutriz = EER pré-gestacional + energia necessária para


produção de leite – energia para perda de peso.

1º. Semestre pós-parto = EER (pré-gestacional) + 500 – 170.


2º. Semestre pós-parto = EER (pré-gestacional) + 400 – 0.
NAF: Nível de atividade física (1,00 = sedentária; 1,16 = pouco
ativa; 1,31= ativa; 1,56 = muito ativa).

EER pré-gestacional = 354 – ( 6,91 x idade anos) + {NAF x [(9,36


x peso kg) + (726 x altura m)]}.

EER nutriz = EER pré-gestacional + energia necessária para


Adulta
produção de leite – energia para perda de peso.

1º. Semestre pós-parto = EER (pré-gestacional) + 500 – 170.


2º. Semestre pós-parto = EER (pré-gestacional) + 400 – 0.

Fonte: Adaptado de VITOLO, 2008

Com essas informações apresentadas, você já pode deduzir que as necessidades energéticas serão
maiores na lactação do que na gestação. Assim, é desaconselhável dietas com valores inferiores a 1500
kcal/dia. Outra informação importante é que em gestantes com baixo peso, não é necessário fazer a
dedução de -170 (presente na fórmula do EER da nutriz).

Por fim, em relação às recomendações de macronutrientes, veja a Figura 4.


Figura 4 – Recomendações de macronutrientes
Fonte: Adaptada de DRIs, 2005

Quadro 8 – Recomendação de micronutrientes na lactação

Micronutriente Recomendação

Ácido fólico 500 mcg/dia

Ferro 9 mg/dia

Cálcio 1000mg/dia

Zinco 12 mg/dia
Micronutriente Recomendação

Iodo 290 mcg/dia

Vit. B1 1,4 mg/dia

Vit B2 1,6 mg/dia

Vit. B3 17 mg/dia

Vit. B6 2 mg/dia

Vit. B12 2,8 mcg/dia

Vit. D 15mcg/dia

Vit. A 1.300mcg/dia

Vit. C 120 mg/dia

Vit. E 15 mg/dia

Fonte: Adaptado de INSTITUTE OF MEDICINE, 2005

Importante!
Orientar a mãe sobre a pega correta, manejo da amamentação e mitos;

Orientar sobre o tabagismo (pode reduzir a produção de leite e tem efeito prejudicial à mãe e
ao bebê);

Orientar sobre o uso de álcool (pode alterar o odor do leite materno, ocasionado recusa do
bebê). Quantidade pequena após a mamada é permitido esporadicamente;

Orientar sobre o consumo de café; a lactante deve planejar sua ingestão de café para não
ultrapassar 100ml/dia, pois reduz o teor de ferro do leite humano e pode provocar insônia e
irritabilidade no bebê.

Incentivar o aleitamento materno exclusivo até os 6 meses;

Orientar sobre o consumo de ovo, amendoim, café, refrigerante e chocolate, pois há relatos na
literatura de aumento das cólicas no bebê.
3/4

ʪ Material Complementar

Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

Leitura

A Dieta da Mãe e sua Influência no Paladar e Olfato do Bebê

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Campanha Alerta para a Importância da Alimentação Saudável Durante a


Gravidez e a mamentação

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
Maternal Dietary Consumption of Legumes, Vegetables and Fruit
During Pregnancy, Does It Protect Against Small for Gestational
Age?

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Caderneta de Gestante

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE

Atenção ao Pré-Natal de Baixo Risco

Clique no botão para conferir o conteúdo.

ACESSE
4/4

ʪ Referências

BRASIL. Ministério da Saúde. Assistência integral à saúde da mulher: bases de ação programática. Brasília, 1984.
Disponível em: <https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/assistencia_integral_saude_mulher.pdf>.
Acesso em: 10/01/2022.

________. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Atenção ao
pré-natal de baixo risco. Brasília, 2013. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/atencao_pre_natal_baixo_risco.pdf>. Acesso em: 10/01/2022.

________. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas


Estratégicas. Área Técnica de Saúde da Mulher. Pré-natal e Puerpério: atenção qualificada e humanizada –
manual técnico/. Brasília: Ministério da Saúde, 2005. Disponivel em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_pre_natal_puerperio_3ed.pdf>. Acesso em
14/01/2022.

________. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Secretaria de Atenção Básica. Orientações para
a coleta e análise de dados antropométricos em serviços de saúde: norma técnica do Sistema de Vigilância
Alimentar e Nutricional – SISVAN. Brasília, 2011. Disponível em:
<https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_coleta_analise_dados_antropometricos.pdf>.
Acesso em: 10/01/2022.

FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION/WORLD HEALTH ORGANIZATION/UNITED NATIONS


UNIVERSITY (FAO/WHO/UNU). Human energy requirements: report of a joint FAO/WHO/UNU expert
consultation. FAO. Food and nutrition technical report series. ISSN 1813-3932. Rome, 17-24 oct, 2001.
Geneva: FAO/WHO/ONU; 2004.
INSTITUTE OF MEDICINE. Dietary Reference Intakes for Energy, Carbohydrate, Fiber, Fat, Fatty Acids,
Cholesterol, Protein, and Amino Acids. Washington: The National Academies Press, 2005.

________. Nutrition during pregnancy. Washington: National Academy Press, 1990.

________. Weight gain during pregnancy: reexamining the guidelines Washington: National Academy Press,
2009.

MAXIMINO, P.; MACHADO, R. H. V. Nutrição na gravidez e na lactação. In: ROSSI, L.; POLTRONIERI, F. (org.).
Tratado de Nutrição e dietoterapia. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2019. p. 443-454.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL. Recommended Dietary Allowance. 10. ed. Washington: National Academy
Press, 1989

PEIXOTO, S. Manual de assistência pré-natal. 2. ed. São Paulo: Federação Brasileira das Associações de
Ginecologia e Obstetrícia, 2014. Disponível em: <https://portaldeboaspraticas.iff.fiocruz.br/wp-
content/uploads/2019/07/304_Manual_Pre_natal_25SET.pdf>. Acesso em: 10/01/2022.

TALAH, E. S. et al. Propuesta de un nuevo estándar de evaluación nutricional em embarazadas. Rev.


Med. Chile, [s.l.], v. 125, p. 1429-1436, 1997.

VITOLO, M. R. Nutrição: da gestação ao envelhecimento. 1. ed. Rio de Janeiro: Rubio, 2008.

WORLD HEALTH ORGANIZATION. Maternal anthropometry and pregnancy outcomes: A WHO Collaborative
Study. Bulletin of the World Health Organization, 1995. v. 73.

Você também pode gostar