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GUIA DE

FERRAMENTAS PRÁTICAS:
AVALIAÇÃO DO PREMATURO

Prof. Dr. Paulo Roberto Pachi


• Doutor e Mestre em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da
Santa Casa de São Paulo.
• Professor do Serviço de Neonatologia do Departamento de Pediatria da
Santa Casa de São Paulo.
• Médico Neonatologista da Maternidade Pro Matre Paulista.
• Membro do Departamento Científico de Neonatologia da Sociedade de
Pediatria de São Paulo (SPSP).

A prematuridade é causa de cerca de um milhão de mortes


neonatais em todo o mundo a cada ano e um fator contribuinte
significativo para morbidades que se estendem até a idade adulta.1
No Brasil, 69% das mortes em menores de 1 ano de idade
relacionam-se ao nascimento prematuro,2 que é definido como o
que ocorre antes de 37 semanas (s) ou 259 dias de idade gestacional
(IG),3 e é subclassificado de acordo com a IG ao nascer em:4
• Recém-nascido pré-termo extremo: <28 s
• Recém-nascido pré-termo muito prematuro: 28 a <32 s
• Recém-nascido pré-termo moderado a tardio: 32 a <37 s
O conhecimento aprimorado da fisiopatologia das morbidades e
limitações metabólicas, digestórias, respiratórias e imunológicas dos
recém-nascidos pré-termo (RNPT) tem ajudado a se obter uma substancial
melhora na sobrevivência destes bebês, porém com consequente

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maior risco de sequelas neurológicas, cognitivas, sensoriais,
distúrbios respiratórios, digestórios, renais, cardiovasculares,
metabólicos, imunológicos e psicossociais no longo prazo.5,6 Esses
desfechos relacionam-se inversamente com a idade gestacional,
proporcionando aos mais prematuros um maior risco de alterações
de saúde em geral.7
Sabe-se e compreende-se cada vez mais que os prognósticos
relacionados à saúde atual e futura do pré-termo dependem do seu
estado nutricional.8-10 A nutrição adequada dos prematuros é um dos
maiores desafios atuais da neonatologia, devido à sua enorme influência
na sobrevivência, crescimento e desenvolvimento satisfatórios,
além de prevenção de doenças crônicas não transmissíveis a longo
prazo.11 O principal objetivo da terapia nutricional é proporcionar
um crescimento pós-natal adequado e o desenvolvimento funcional
satisfatório ao prematuro.12
Por esse motivo, este livreto apresenta de forma prática as
mais recentes recomendações sobre as estratégias de nutrição e seu
monitoramento na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), na Unidade de
Cuidados Intermediários e após a alta hospitalar. 

CRESCIMENTO NA UTI NEONATAL


A avaliação do crescimento e ganho de peso do
RNPT na UTI neonatal deve ser uma das prioridades
da equipe que cuida do paciente, pois ela espelha
a adequação das medidas adotadas no intuito de prover a
nutrição apropriada.
O equilíbrio entre não superalimentar ou, por outro lado, desnutrir o
RNPT deve ser almejado, já que esses extremos resultam em: síndrome
metabólica no primeiro caso e déficits cognitivos no segundo.13
O ganho de peso mais rápido do que o adequado em RNPT pode
estar associado a um risco aumentado de sobrepeso e obesidade, maior
percentual de gordura corporal, aumento de circunferência da cintura,
triglicérides elevados, hipertensão arterial e disfunção endotelial, com
consequentes desfechos cardiovasculares adversos no longo prazo.14-17

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Tabela 1. Velocidade de crescimento recomendada pelo livro de
Koletzko e colaboradores7

Peso do RNPT Velocidade de crescimento (g/kg/dia)


500 - 1.000 g 15 - 20
1.000 - 1.500 g 15 - 20
1.500 - 2.000 g 15 - 20
2.000 - 2.500 g 12 - 15
2.500 - 3.000 g 10 - 13

Portanto, monitorar e garantir o ganho de peso ideal é essencial


em todo o espectro gestacional, bem como no período neonatal e
pós-neonatal, para evitar complicações a longo prazo.

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO
Diariamente, até a recuperação do peso do
nascimento.
Peso
2x por semana, após recuperação do peso,
até a alta hospitalar.

Plotar semanalmente em curva de


crescimento até atingir 50 a 64 semanas
Comprimento de idade gestacional corrigida, de acordo
com a curva selecionada.
Utilizar fita métrica não extensível.

Plotar semanalmente em curva de


crescimento até atingir 50 a 64 semanas
Perímetro
de idade gestacional corrigida, de acordo
cefálico com a curva selecionada.
Utilizar fita métrica não extensível.

Em relação às curvas de crescimento, a Sociedade Brasileira


de Pediatria recomenda que os RNPT sejam acompanhados
com as curvas de crescimento pós-natal do Intergrowth: projeto
multicêntrico internacional que produziu curvas longitudinais prescritivas

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de crescimento, a partir de 27 semanas, incluindo RNPT de gestações
de baixo risco, alimentados com leite materno, e práticas clínicas
evidenciadas. A limitação da curva é o número pequeno de RNPT abaixo
de 33 semanas incluídos no estudo, portanto as curvas prescritivas do
Intergrowth são robustas para pré-termos a partir de 33 semanas.18
As curvas de Fenton 201319, construídas a partir de uma revisão
sistemática e metanálise, incluem valores de peso, perímetro cefálico e
comprimento de recém-nascidos de países desenvolvidos e proporcionam
valores próximos ao padrão que se iniciam nas 24 semanas de idade
gestacional e terminam nas 50 semanas de idade corrigida, seguindo
com a curva da OMS de 2006. São apropriadas para serem aplicadas
naqueles mais prematuros, abaixo de 33 semanas.19

NECESSIDADES NUTRICIONAIS DO
PREMATURO HOSPITALIZADO

Nos últimos anos, a sobrevivência de recém-nascidos


prematuros aumentou expressivamente, sendo os avanços na
terapia nutricional um dos grandes fatores de impacto positivo.7
Uma melhor nutrição nas primeiras semanas de vida do RNPT,
com maior ingestão de proteína e energia, resulta em maior quociente
de inteligência verbal (QI), menor risco de retardo de crescimento e
maiores escores de função cognitiva avaliada em longo prazo.20-25
Portanto, a administração de alimentação enteral precoce e o suporte
parenteral (NPP) nas primeiras horas pós-nascimento ajudam a melhorar
o crescimento e o desenvolvimento dos prematuros.26

NUTRIÇÃO PARENTERAL

Apesar de frequentemente necessária, idealmente, a NPP deve ser


compensada em termos de volume e nutrientes pela nutrição enteral,
já que complicações com o cateter, infecções e sepse não são incomuns
com essa terapia,27,28 e a sua interrupção deve sempre ser planejada.
No site da ESPGHAN (https://espghan.info/paediatric-parenteral-
nutrition-tool/) existe um guia bastante interessante que planeja uma NPP
adequada, de acordo com a idade e peso, que segue os atuais guidelines
de nutrição parenteral propostos pela entidade e que é aberto a todos.

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O momento de transição da nutrição parenteral para
nutrição enteral é crítico, e a monitorização do prematuro
deve ser intensificada e individualizada.29 De modo geral, é
recomendável a suplementação de aminoácidos pela nutrição
parenteral até o recém-nascido atingir um volume de ao
menos 75 mL/kg/dia de alimentação enteral.29

NUTRIÇÃO ENTERAL
A alimentação enteral estimula o desenvolvimento do intestino,
reduz a perda de proteína endógena e diminui o risco de
infecções e sepse.28,29,30 Sua introdução deve ser precoce, já que
os estudos sistemáticos demonstram que atinge-se mais rapidamente
a alimentação enteral plena e promove menor incidência de osteopenia
da prematuridade e menor duração da nutrição parenteral e internação
hospitalar, sem qualquer aumento na taxa de complicações.31,32
Caso a condição clínica não permita o início da alimentação enteral,
a colostroterapia deve ser sempre iniciada, conforme tabela abaixo:33,34

Tabela 2. Esquema de início da colostroterapia33,34

INÍCIO Preferencialmente no 1º dia de vida


ESQUEMA MAIS Instilar 0,1 mL em cada canto da cavidade oral a
UTILIZADO34 cada 3 ou 4 horas

• Possui uma significativa quantidade de agentes


imunobiológicos, onde a concentração é bem
maior comparada ao leite maduro;

BENEFÍCIOS DO • É composto de anticorpos secretores (SIgA) -


COLOSTRO33 fundamentais defensores das mucosas- , vetores
de crescimento, lactoferrina e citocinas que
reagem a condições inflamatórias;
• Possui um amplo poder de interação com o
tecido linfoide ao tocar a mucosa oral;
• Capacidade de articular a resposta inflamatória.

Assim que se percebe que há tolerância digestória


(evacuações, ruídos abdominais, ausência de vômitos ou débitos por

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sondas ou distensão abdominal), deve ser iniciada a alimentação
enteral mínima, ou alimentação trófica, com pequenos
volumes (<24 mL / kg / dia). Deve ser iniciada em todos os bebês no
primeiro dia, mas isto vai depender do diagnóstico subjacente, estado
clínico geral do RN e se o leite materno está disponível. Alimentos
tróficos geralmente são dados a cada 2 a 3 horas.
O objetivo de alcançar a alimentação enteral plena
deve ser tentado com incrementos que, dependendo da
aceitação e tolerância do paciente, devem ser de 30 a 40
mL/kg/dia. Se este volume for bem aceito, e ao final da 1ª semana de
vida já estiver sendo administrado, o RNPT poderá prescindir da NPP e,
consequentemente, do acesso vascular para ela utilizado, o que acaba
por diminuir as chances de sepse e suas consequências.
A tabela 3 abaixo apresenta a sugestão de evolução da dieta
enteral segundo Feferbaum e colaboradores:29

Tabela 3. Sugestão de evolução da dieta enteral.29

Peso de Volume Quando Quanto


Nascimento Inicial aumentar aumentar
(gramas) (mL/kg/dia) (mL/kg/dia)
<1250 15-20 Manter por 3 dias 10-20
1250-1500 20 Cada 24-48 horas 20
1500-2000 20 Cada 24-48 horas 25-40
2000-2500 25-30 Diariamente 25-40
Estáveis > 2500 50 Em cardiopatias: 25-40
Em cadiopatias: manter volume inicial
20 mL/kg/dia por maior tempo

Uma das complicações mais temidas da alimentação enteral de


um bebê prematuro é o risco de Enterocolite Necrosante (ECN), porém,
utilizando-se das técnicas de alimentação enteral mais recentes,
vários estudos apontam no sentido de não haver esse aumento no
risco, com esquemas de introdução de alimentação enteral precoce e
com avanços rápidos com leite materno ordenhado ou fórmula para
pré-termo em comparação com a introdução lenta ou retardada da
alimentação enteral PT.35,36

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Na Tabela 4 encontram-se as atuais recomendações de Koletzko e
colaboradores de alguns dos principais nutrientes para o atendimento
das necessidades dos RNPT:7

Tabela 4. Recomendações dos principais nutrientes para o atendimento


das necessidades dos RNPT.7

Nutriente Valor recomendado


Energia (kcal/kg/dia) 110-130
Fluidos (mL/Kg) 135-200
Proteínas (g/kg/dia) 3,5-4,5
Carboidratos(g/kg/dia) 11,6-13,2
Lipídios (g/kg/dia) 4,55-8,1
Ácido linoleico (mg/kg/dia) 385-1540
Ácido alfa-linolênico (mg/kg/dia) >55
Ácido araquidônico (g/kg/dia) Sem valores definidos
Ácido docosahexaenóico (g/kg/dia) Sem valores definidos
Cálcio (mg/kg/dia) 120-220
Fósforo (mg/kg/dia) 70-120
Vitamina D (UI/kg/dia) 400-1000
Ferro (mg/kg/dia) 1,0-3,0
Zinco (mg/kg/dia) 2,0-3,0
Sódio (mg/kg/dia) 69-115
Potássio (mg/kg/dia) 78-195
Magnésio (mg/kg/dia) 8-15

O leite da própria mãe deve ser priorizado, sendo o leite humano


(LH) de banco a 2ª opção. Ambos apresentam calorias, proteínas
e oligoelementos insuficientes para as altas demandas dos RNPT,
havendo a necessidade, portanto, da aditivação com suplementos
próprios para tanto, os chamados Aditivos de Leite Humano.37
A aditivação do LH é essencial para proporcionar
aos prematuros a adequada ingestão nutricional para
evitar a restrição de crescimento pós-natal e deficiências
em minerais e micronutrientes, além de contribuir
para um melhor crescimento, mineralização óssea e
desenvolvimento cognitivo.7,38

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De acordo com a recomendação de Koletzko e
colaboradores, a aditivação de leite humano deve iniciada
quando o lactente tolera de 50 a 100 mL/kg/dia por via enteral
e deve ser realizada em lactentes com necessidades nutricionais
aumentadas, como prematuros com peso menor que 1.800 g.7
Na impossibilidade do leite da própria mãe ou de
doadora, as fórmulas infantis para prematuros são indicadas.7

Monitoramento dos Resíduos Gástricos


Embora essa modalidade de controle ainda hoje seja bastante
utilizada em UTIs neonatais, utilizar o resíduo gástrico (RG)
como parâmetro para se avançar, retroceder ou até mesmo
suspender a dieta não encontra respaldo nas atuais
evidências em nutrição enteral do RNPT. Pelo contrário,
interrupções na dieta e até mesmo ECN são menos frequentes
quando não se considera a avaliação do RG nos pacientes estáveis,
assim como é menor o tempo para atingir a alimentação enteral
plena é maior o ganho de peso. Portanto, essa prática não
deve ser utilizada rotineiramente.39

CRITÉRIOS PARA ALTA DO PREMATURO


De acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP),
o RNPT pode receber alta hospitalar quando apresentar
os critérios abaixo:40

Capacidade para alimentar-se exclusivamente por via oral, sem


apresentar engasgo, cianose ou dispneia, em quantidade suficiente para
garantir um crescimento adequado (mínimo de 20 gramas por dia por
pelo menos 3 dias consecutivos).

Capacidade de manter temperatura corporal normal, estando vestido e


em berço comum, a uma temperatura ambiente de 20 a 25ºC.

Função cardiorespiratória estável e fisiologicamente madura,


sem apneia ou bradicardia por um período de 8 dias.

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A maioria dos prematuros atinge tais competências com 36 a 37
semanas de idade corrigida (IC), mas o controle da respiração, a ponto
de permitir uma alta segura, pode demorar até as 44 semanas de IC.
Quanto menor o peso e a idade gestacional ao nascer e quanto maior
a gravidade da doença neonatal, maior será o tempo para atingir essas
competências fisiológicas.40

SEGUIMENTO DO PREMATURO APÓS A ALTA HOSPITALAR


Por conta de suas particularidades e necessidades
específicas, o seguimento dos prematuros é essencial para
proporcionar um adequado desenvolvimento e cuidado,
tanto para o RNPT quanto para a sua família. A SBP recomenda o
seguinte esquema de consultas:40

Primeira consulta 7 a 10 dias após a alta.

Revisões mensais até 6 meses de idade corrigida.

Revisões bimestrais ou 6 meses aos 12 meses de idade


trimestrais corrigida.

Revisões trimestrais 13-24 meses.

Revisões semestrais 2 a 4 anos de idade cronológica.

Revisões anuais dos 4 anos até a puberdade.

AVALIAÇÃO DO CRESCIMENTO
As curvas de crescimento específicas para
prematuros devem ser utilizadas até 50 a 64
semanas de idade gestacional corrigida, de acordo
com a curva selecionada. Em seguida, as curvas de referência
da OMS 2006 devem ser utilizadas, apresentadas na forma de
escore Z ou percentil e diferenciadas pelo gênero (meninas/meninos).
Ao plotar os valores nas curvas de crescimento da OMS, a
idade corrigida deve ser utilizada até os 3 anos de idade e,
posteriormente, a idade cronológica.40

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Além da avaliação nas curvas de crescimento, os sinais a seguir
podem indicar falhas de crescimento do prematuro e devem ser
monitorados com atenção:41
• peso < p5 na curva em 2 ou mais medidas
• Velocidade de ganho de peso < 20 g/dia no primeiro semestre
• Velocidade de ganho de peso < 12 g/dia no segundo semestre
• Comprimento < 1,5 cm/mês no primeiro ano
• Não mantém ganho ponderal esperado ou canal de
crescimento 2 percentis abaixo das avaliações anteriores
• Perímetro cefálico sem recuperação até 6 a 12 meses de IC

NUTRIÇÃO APÓS A ALTA HOSPITALAR


No momento da alta hospitalar, muitos prematuros
possuem déficits cumulativos em relação à energia,
proteína, minerais e outros nutrientes, resultando
em requerimentos nutricionais maiores que de bebês nascidos a
termo por quilo de peso.7,42,43 Inclusive, as evidências sugerem que
os prematuros estão em maior risco nutricional no momento da
alta do que logo após o nascimento.43
De acordo com a SBP, os valores abaixo são aceitos como
necessidades básicas do prematuro no primeiro ano de vida:40

Energia (kcal/kg/dia) 120-130


Oferta hídrica (mL/kg/dia) 150-200
Proteínas (g/kg/dia) 2,5 - 3,5
Carboidratos (g/kg/dia) 10-14
Lipídios (g/kg/dia) 6,0-8,0

A decisão da nutrição após a alta hospitalar deve objetivar atingir


um catch up growth adequado, para reduzir os déficits nutricionais e
de crescimento e minimizar o risco de potenciais desfechos negativos
na vida adulta, sendo que o aleitamento materno exclusivo é o

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padrão-ouro para a alimentação dos prematuros após a
alta hospitalar.42,43 O leite materno fornece crescimento
harmônico, com ganho de peso adequado nos primeiros anos
de vida (prevenindo a síndrome metabólica), possui elementos
bioativos e está relacionado com melhor desempenho no
neurodesenvolvimento.7
Na impossibilidade do aleitamento materno exclusivo,
as fórmulas infantis podem ser utilizadas. Lactentes muito
prematuros ou com ganho de peso inadequado podem utilizar
as fórmulas infantis para prematuros pós-alta hospitalar,
que possuem uma maior quantidade calórica, proteica e de
LCPUFAs (ácidos graxos poli-insaturados de cadeia longa) que
fórmulas infantis para lactentes a termo.7,42,43
Essas fórmulas infantis pós-alta para prematuros visam suprir
as necessidades nutricionais específicas e auxiliar no catch up
growth.7,42,43 Por esse motivo, a ESPGHAN e o livro de Koletzko
e colaboradores recomendam a utilização dessas fórmulas
para um melhor crescimento linear, ganho de peso e melhor
conteúdo mineral ósseo, em comparação com o uso de fórmulas
infantis de rotina, podendo ser utilizadas até 6 meses de idade
corrigida.7,42,43 A duração da utilização dessas fórmulas deve ser
avaliada individualmente e periodicamente de acordo com o
crescimento do prematuro, para evitar under ou overfeeding.42,43

SUPLEMENTAÇÃO NUTRICIONAL DE PREMATUROS


A reserva limitada de vitaminas e minerais peculiar ao
prematuro requer que a oferta seja constante desde o
início da vida, sendo que a falta de micronutrientes pode
afetar o funcionamento adequado dos órgãos, aumentar o risco de
complicações e comprometer o crescimento e o desenvolvimento,
principalmente nos primeiros anos de vida.44
Não há medicamento polivitamínico de uso exclusivo para
prematuros, sendo fundamental a escolha de um produto ou
uma combinação de produtos que atendam às necessidades de
ingestão e, ao mesmo tempo, não levem a altas doses de algum
componente, que podem ser tóxicas para o prematuro.44

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A Tabela a seguir apresenta a recomendação de suplementação
em prematuros de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria:44

Tabela 5. Recomendação de suplementação para prematuros de


acordo com a SBP.44

MICRONUTRIENTE RECOMENDAÇÃO DE SUPLEMENTAÇÃO


Ferro A partir de 30 dias de vida até um ano. De acordo
com o peso de nascimento:
Entre 2500 g e 1500 g 2 mg/kg/dia
Entre 1500 g e 1000 g 3 mg/kg/dia
Inferior a 1000 g 4 mg/kg/dia
Após este período, 1 mg/kg/dia por mais um ano

Zincoa 0,5 a 1 mg/kg/dia de 36 semanas até 6 meses de idade corrigida

Cálciob 50 a 100 mg/kg/dia

Fósforob 25 a 50 mg/kg/dia

Vitamina D Peso > 1500 g e em nutrição enteral plena (até 2 anos)


< 1 ano: 400 UI/ dia
> 1 ano: 600 UI/ dia

Demais Dose de uma vez a recomendação diária até um ano


vitaminasc Início a partir dos 10 dias de vida, se nutrição enteral plena

a
O sulfato de zinco pode ser formulado (10 mg/ mL) e adicionado à oferta alimentar.
b
Sem DMO: até completar 40 semanas; Com DMO: por 3 a 6 meses após alta. Opção de uso:
fosfato tricálcico 12,9% (1 mL, contém 50 mg Ca e 25 mg de P).
c
Principalmente vitaminas A e C.
DMO: Doença metabólica óssea.
É importante considerar a possibilidade do fornecimento de uma maior quantidade
de vitamina D, dependendo do estado mineral do paciente, entre 600 e 800 UI/dia.

RNPT que receberam mais de 100 mL de concentrado de hemácias


durante a internação devem ser avaliados individualmente, pois
podem não necessitar de suplementação de ferro com 30 dias de vida,
mas sim posteriormente.45

ALIMENTAÇÃO COMPLEMENTAR
O início da alimentação complementar depende da maturidade
neurológica do prematuro, razão pela qual normalmente
emprega-se a idade corrigida como parâmetro de decisão.40

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Em uma situação de neurodesenvolvimento normal, entre 3 e 4 meses
de idade corrigida, a criança nascida prematura é capaz de fazer rolar para
2/3 posterior da língua os alimentos semissólidos colocados no 1/3 anterior
da língua. Já o reflexo de mastigação estará presente somente entre 5 e 6
meses; nesta fase a criança é capaz de controlar o reflexo de abrir a boca para
dar entrada à colher e girar a cabeça para os lados. Portanto, geralmente
inicia-se alimentação complementar entre 4 e 6 meses de idade
corrigida e quando a criança adquire pelo menos 5 kg de peso.40
Dificuldades alimentares são frequentemente observadas no
seguimento ambulatorial do prematuro, podendo ser consequências de
alguma morbidade do período neonatal, como enterocolite necrosante
ou displasia bronco-pulmonar, ou ainda causadas pelo “stress de
memória” decorrente dos múltiplos procedimentos a que estes recém-
nascidos estão sujeitos durante a sua hospitalização. O uso prolongado
de sonda gástrica tem sido descrito como causa de fobia alimentar no
seguimento ambulatorial após a alta.40
De acordo com a SBP, as manifestações clínicas que auxiliam o
diagnóstico de dificuldades alimentares no prematuro são:40

Presença de comportamento oral defensivo importante, a criança


chora ao ver o alimento ou a mamadeira, resiste à alimentação:
chorando, arqueando o corpo, recusando-se a abrir a boca.

Alteração no processamento sensorial extraoral e intraoral,


observado durante a avaliação fonoaudiológica.

Disfagia orofaríngea com sinais clínicos de aspiração para


todas as consistências (tanto líquida, quanto pastosa).

Reflexo de náusea muito acentuado, contribuindo para a


ocorrência de vômitos.

Demanda de muito tempo durante as refeições e lanches: em


média uma hora/refeição.

Alimentação muito frequente, sendo descrita pela família e/ou


cuidadores como de 2 em 2 horas, mesmo ao final do primeiro
ano de vida, e inclusive à noite, causando alterações no padrão
sono/vigília.

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Nesses casos, o acompanhamento multidisciplinar é imprescindível
para evitar que o prematuro tenha déficits de crescimento.

VACINAÇÃO DE PREMATUROS
O prematuro deve ser vacinado de acordo com sua idade
cronológica, seguindo o calendário oficial nas mesmas
doses e intervalos, devendo-se evitar atraso vacinal durante
a longa permanência na UTI.40

CALENDÁRIO DE VACINAÇÃO 2021


(RECOMENDAÇÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA)46

IDADE meses anos


Ao
nascer
2 3 4 5 6 7-11 12 15 18 4 a 6 10 11-12 13-15 16 17-19

BCG ID

Hepatite B Adolescentes não vacinados


deverão receber 3 doses
Rotavírus
DTP/DTPa
dT/dTpa
Hib
VOP/VIP

Pneumocócica
conjugada

Meningocócica
conjuda C e ACWY

Meningocócica B Adolescentes não vacinados


recombinante deverão receber 2 doses

Influenza A partir dos 6 meses de idade


Reforço entre Adolescentes não vacinados
SCR/Varicela/SCRV 15 meses deverão receber 2 doses de
a 4 anos ambas as vacinas

Hepatite A Adolescentes não vacinados


deverão receber 2 doses

Meninos e meninas a partir


HPV dos 9 anos de idade
A partir dos 9 meses 1 dose para não
Febre Amarela de idade e 1 reforço vacinados previamente
aos 4 anos
Crianças e adolescentes a partir
Dengue dos 9 anos de idade com
infecção prévia comprovada

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SAÚDE. PROIBIDA A DISTRIBUIÇÃO A OUTROS PÚBLICOS E A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL
As particularidades da vacinação do prematuro são
apresentadas abaixo:40

Recém-nascidos internados na unidade neonatal não devem receber vacinas com


vírus vivo atenuado (poliomilite oral e rotavírus)

nos pré-termos com menos de 34 semanas de idade gestacional


Hepatite B: recomenda-se quatro doses (nas primeiras 12 horas de vida, com
1, 2 e 6 meses).

a vacina Salk (injetável, com vírus inativo) está indicada em pré-


Poliomielite: termos com peso ao nascer inferior a 1.000 g e em crianças que
ainda permaneçam internadas por ocasião da idade da vacinação.

DTP acelular: indicada em pré-termos com menos de 32 semanas e em crianças que


ainda permaneçam internadas por ocasião da idade da vacinação.

Rotavírus: indicada após a alta hospitalar.

Influenza: lembra que não somente a criança deve ser vacinada, mas também
seus familiares e comunicantes domiciliares.

É essencial que os pais ou cuidadores recebam as informações sobre


as vacinas que o RNPT já recebeu durante a internação.40

CONSIDERAÇÕES FINAIS
O número de crianças nascidas prematuras que sobrevivem
aumentou expressivamente nas últimas décadas,
principalmente por conta dos avanços no cuidado dessa
população, tanto no ambiente hospitalar quanto após a alta.
Portanto, é essencial a busca pelo melhor cuidado possível aos
prematuros, para que eles apresentem crescimento e desenvolvimento
satisfatórios, de forma a atingir o seu pleno potencial.

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SAÚDE. PROIBIDA A DISTRIBUIÇÃO A OUTROS PÚBLICOS E A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL
O leite materno deve ser sempre a primeira opção para a alimentação do lactente. Quando não
for possível a manutenção do aleitamento materno, as fórmulas infantis são os substitutos mais
adequados para o primeiro ano de vida, conforme orientação do médico ou nutricionista. (SBP, 2018)

COMO É BOM TER UM

APOIO
VERDADEIRO **IMS/IQVIA
e NIELSEN 2020
DESDE O COMEÇO. *1-7

Linha Especial
Prematuros
USO USO
HOSPITALAR PÓS-ALTA
A nutrição adequada dos
prematuros é um grande
desafio. Por isso, a Nestlé
desenvolveu uma linha
para a nutrição apropriada
e cuidado especial neste
período.*1-7

*Na impossibilidade do
aleitamento materno.

NÃO CONTÉM GLÚTEN

NOTA IMPORTANTE: Acreditamos que a amamentação é a melhor opção para a nutrição de lactentes, pois o leite materno fornece uma dieta
balanceada e proteção contra doenças para o bebê, sendo superior quando comparado aos seus substitutos. Apoiamos totalmente a recomendação
da Organização Mundial da Saúde de amamentação exclusiva até o 6º mês de vida, seguida pela introdução de alimentos complementares
nutricionalmente adequados juntamente com a continuidade da amamentação até os 2 anos de idade ou mais. A gestante e a nutriz devem ter
uma alimentação adequada durante a gestação e a amamentação, para apoiar uma gravidez saudável e preparar e manter a lactação. Nós também
reconhecemos que o aleitamento materno nem sempre é uma opção viável, em especial devido a certas condições médicas. Recomendamos
que profissionais de saúde informem os pais sobre as vantagens da amamentação. Caso os pais optem por não amamentar, eles devem receber
orientações sobre as instruções de preparo de substitutos do leite materno, bem como dos prejuízos causados à saúde do lactente pelo uso
desnecessário ou inadequado de alimentos artificiais. Profissionais de saúde devem informar que esta decisão pode ser difícil de ser revertida,
e que a introdução da alimentação parcial com mamadeira, o uso de bicos e de chupetas reduzirá o fornecimento de leite materno. Os pais devem
considerar as implicações sociais e econômicas do uso de fórmulas infantis. Fórmulas infantis e alimentos complementares devem ser sempre
preparados, usados e armazenados de acordo com as instruções do rótulo, a fim de evitar riscos à saúde do bebê. Fórmulas infantis para necessidades
dietoterápicas específicas devem ser utilizadas sob supervisão médica, após a consideração de todas as opções de alimentação, incluindo a
amamentação. Seu uso continuado deve ser avaliado pelo profissional de saúde considerando o progresso do bebê. É importante que a família tenha
uma alimentação equilibrada e que se respeitem os hábitos educativos e culturais para a realização de escolhas alimentares saudáveis. Como bebês
crescem em ritmos diferentes, profissionais de saúde devem orientar sobre o momento apropriado para iniciar a alimentação complementar.
Em conformidade com a Lei 11.265/06 e regulamentações subsequentes; e com o Código Internacional de Comercialização dos Substitutos
do Leite Materno da OMS (Resolução WHA 34:22, maio de 1981).”

As referências bibliográficas podem ser acessadas


C2120- Fevereiro de 2022

clicando abaixo ou pelo site www.pediatrianestle.com.br


“Material técnico-científico destinado exclusivamente aos profissionais de saúde, atendendo integralmente
aos critérios constantes na Lei nº 11.265/06 e regulamentações subsequentes. Proibida a distribuição a outros
públicos e a reprodução total ou parcial do mesmo. É proibida a utilização deste material para a realização
de promoção comercial. Conteúdo para uso exclusivo da equipe Nestlé e de Representantes comerciais
autorizados pela Nestlé, sendo indevido o acesso por terceiros não autorizados por esta empresa. A prescrição,
recomendação ou indicação de uso dos produtos é de competência exclusiva de médicos e/ou nutricionistas.”

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