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PSICOLOGIA

ORGANIZACIONAL E DO
TRABALHO

Sentidos e Centralidade do
Trabalho
O QUE O TRABALHO SIGNIFICA PARA VOCÊ?

https://padlet.com /fl aviatraldi7/ny61g38nkcdir44g


Introdução

O amor, o desprezo, a esperança, o temor et c. ao t rabalho sã o sent imentos


e disposi ções subjetivos que foram sendo const ruídos ao longo do t empo;

Di ferent es imagens, metáforas, valores ou signifi ca ções associ adas ao


trabal ho – mui tas vezes cont radi tóri as:

- Cast igo;

- Sal vação;

- Sofri ment o;

- Real i za ção
- ...
Introdução

 Tai s s i g ni fi caç õ es atraves s am a v i da do s i n di ví du o s de di fer entes


fo r mas , adqu i r i n do i mpo r tân ci a na fo r mação s o ci al e n a co ns ti tu i ção d a
i d en ti d ad e .

Id en ti d ad e: Nar rat iva que usamos para descr ever “quem sou eu?”. É aquilo
q ue nos i g uala e o q ue nos diferencia (C iamp a, 2007).

- O trabalho pode estar associado a um cer to status ou prest ígio;


- O trabalho representa um lugar social e a falta dele também;
- Oferece pertencimento em meio a uma classe de trabalhadores;
- Pode representar um propósito pessoal;
- Meio para a realiza ção pessoal;
- Meio para criação de laços sociais;
- Oferece impacto em um grupo /sociedade
Centralidade do Trabalho

D i z e m o s p o r i s s o, s o b r e a c e n t ra l i d a d e d o tra b a l h o n a v i d a d o s i n d i v í d u o s .

Pa ra B e n d a s s o l i i “ a c e n t ra l i d a d e d o trab a l h o é u m a c o n s tr u ç ã o
l i n g u í s t i c a” ( B e n d as s o l l i , p. 4)

N e s s e s e n t i d o [ . . . ] o a u t o r d i z q u e a c en tra l i d a d e d o tra b a l h o fo i
i nve n t a d a - In t e n c i o n a l

N ã o b a s t a s s e a i nv e n ç ã o, t e ve — e t e m — d e s e r co n t i n u am e n t e a l i m e n t a d a
e a b a s t e c i d a c o m n ova s d e s c r i ç õ e s , n ovo s e ve n t o s e n ova s fo r m as d e
c o n e x ã o c o m a “ r e a l i d a d e ” ( B e n d a s s o l i , 20 0 9 p. 5 )

 C r i a ç ã o d e n ovo s d i s c u r s o s q u e j u s t i fi q u e m a n ova o r d e m s o ci al .
Centralidade do trabalho como
construção discursiva

A “ r e a lid a d e ” d o t ra b a lh o e s e u d is c u r s o ( s e n t i d o s e s i g n i fi c a d o s ) m u d a ra m a o
lo n g o d o t e m p o – n ã o p o r q u e tin h a n e c e s s a r i a m e n te d e a c o n t e c e r

Mas,

A c o n te c e u p o r q u e u m c o n ju n t o d e p r á tic a s e d i s c u r s o s f o ra m s e n d o p a u l a ti n a m e n te
in s t itu í d o s , r e s p a ld a d o s e a s s e g u ra d o s p o r d e t e r m i n a d a s te o r i a s d e ve r d a d e .

A ve r d a d e é s u s te n ta d a p o r q u e h á a c o r d o s q u e p o d e m s e b a s e a r e m v i o l ê n c i a
s im b ó lic a , f o r ç a o u p e r s u a s ã o - q u e m e lh o r a te n d e m , n e s s e c a s o, a o s i n t e r e s s e s d e
u m g r u p o d o m in a n t e .

É p r e c is o ju s t ifi c a r t a is ve r d a d e s p a ra q u e s e m a n te n h a m v i va s . É p r e c i s o q u e s e
c r ie m ra z õ e s p a ra a m a n u t e n ç ã o d e a lg u m a s d e s s a s c r e n ç a s . (Bendassoli, 2009)
Ideologia do Trabalho

E s s a i d e o l o g i a fo i i n ve n t a d a n a m e d i d a e m q u e o t ra b a l h o s e t o r n o u u m
“ p r o b l e m a”  q u a n d o a s p e s s o a s , q u e a p a r e n t e m e n t e n ã o t i n h a m p r e d i s p o s i ç ã o
i n t r í n s e c a e n a t u ra l a t ra b a l h a r, t i ve ra m d e p a s s a r a f a z ê - l o c o m e s p í r i t o
vo l u n t a r i o s o e e n g a j a d o.

L o g o, a i d e i a , h o j e e m g e ra l t ã o c o m u m , d e q u e o t ra b a l h o é n o b r e e d e fi n e
q u e m s o m o s , fo i u m a c o n s t r u ç ã o n e c e s s á r i a a o c a p i t a l i s m o p a ra q u e a s
p e s s o a s s e e n g a j a s s e m n a s n ova s e x i g ê n c i a s d o s i s t e m a p r o d u t i vo .

 O t ra b a l h o fo i j u s t i fi c a d o p o r m e i o d e u m a r e d e d e n o r m a s d e c o n d u t a
l e g í t i m a s .

Bendix (1966); Anthony (1977), apud


Bendassolli.
Como se construíram as ideias?

O “ p ro b le m a” d o t ra ba lh o lo g o n o in íc io d a in d u s t r ia liz a ç ã o r e f e r e -s e a c o m o
i n te g ra r o t ra b a l ho c o m a v i d a — e is s o o c o r r e u p o r m e io da
t ra n s f o r m a ç ã o do s u j e it o r e lig io s o e m u m s u j e it o d o t ra ba lh o.

M a x We b e r – “A é t i c a p r o t e s t a n t e ” : o q u e a n im a o t ra ba lh o, o u a
d is p o s i ç ã o a t ra b a lh a r, a c o n du t a e m r e la ç ã o a e le , é u m e s t ilo de v id a
m e t ó d i c o, dilig e n t e e a p lic a do

 A é t ic a do t ra b a lh o p ro t e s t a n t e a s s o c ia o c o n c e it o (r e lig io s o ) d e vo c a ç ã o,
n o d e p r o fi s s ã o.

 O h u m a n o e ra p r e de s t in a d o à s a lva ç ã o, do t a d o da g ra ç a de D e u s
m e d ia n t e o t ra ba lh o (Bendassoli, 2009)
Centralidade do trabalho como
construção discursiva

Isso signifi ca que:

- O senti do do trabalho e sua postul aç ão como central à defi niç ão de quem
somos e de nosso rel acionamento com o mundo dependeu de cren ças em
diferentes di scursos e teorias ;

- Essa centralidade do trabalho, como forma ção social vigente, por mei o da
construção discursi va, por tanto é uma i nven ção moderna - do capi tali smo
(séc XVIII – XIX) -, que cri a o “sujeito do trabalho”.

 As ra ízes da constru ção do “sujeito do trabalho” são ancestrai s.

(Bendassoli, 2009)
As Tradições da Centralidade do Trabalho

- Trabalho e lazer
“O trabalho rouba o tempo do cidadão para atividades mais elevadas”

- Trabalho como castigo e salvação Discurso


“Trabalho como sofrimento pesado mas necessário para salvar o indivíduo”
ancestral
- Trabalho como criação
“o trabalho como possibilidade de trazer à vida algo que foi criado pelo próprio trabalhador – fonte de
autorealização”

- Trabalho e valor
“o trabalho gera valor - o acesso e a posse da propriedade são determinados pelo trabalho”

- Trabalho e dever
“trabalho como vocação e obrigação”
Discurso
- Trabalho e subjetividade moderno
“sentido da existência e da realização pessoal pelo trabalho - identidade”

- Trabalho e moral
“o valor e caráter das pessoas é medido pelo trabalho ou pela falta dele”

(Bendassoli, 2009)
Centralidade do trabalho no séc. XX

A ce ntra l i d a d e mod e r na d o t ra b al ho d e comp ôs -s e e m vá r i a s p ar te s


( e thos ) , ca da u m deles preser va n do “peda ços” da s tra diç ões h istórica s do
tra ba lh o ( desde a s a n tig a s a t é a s m odern a s) ;

Ex istem “res ídu os” da s diversa s tra di ções h istórica s do t ra ba lh o n a


cen tra lida de do t ra ba lh o a tu a l . Pois seu discu rso ca rreg a a s dif eren tes
in terpreta ções e sig n ifi ca dos sobre o tra ba lh o sim u lta n ea m en te.

Ta is discu rsos e sig n ifi ca dos in trodu zem lóg ica s de su bj etiva çã o, de m odo
qu e du ra n te a v ida o in div ídu o desloca r- se de u m pa ra ou tro ‘discu rso’, à s
vezes, com in ev itá veis con fl itos.
(Bendassoli, 2009)
Centralidade do trabalho no séc. XX

Para o autor, a convivência desses discursos na atualidade faz do


trabalho um objeto social ambíguo e fragmentado .

Seu signifi cado, nesse contexto, é plural e n ão mais, como


antes, moldado por uma única metanarrativa, como foi
notadamente no caso da ética protestante.

(Bendassoli, 2009)
Neoliberalismo: Ideologia
econômica.
- Redução da intervenção estatal
na economia;

“A fábrica do sujeito neoliberal”


- Promoção do livre mercado;
- Privatização de empresas
estatais;
D ardo t & Laval - Diminuição de regulamentações

Q u e m é o s uje i to d o s é c u l o X X ?

O n e o lib e ra lis m o im põ e n ã o a pe n a s u m m o do d e p r á t ic a s e c o n ô m ic a s m a s
im p õ e u m n ovo e s t a d o s u b j e t ivo p o r m e io do d is c u r s o  pr o d u z f u n c io n a m e n t o
p s íq u ic o d e u m n ovo t ipo

S u j e it o n e o libe ra l – a v ida d o h o m e m g ira e m t o r n o d a e m pr e s a e s e u s


va lo r e s . N ã o div is ã o e n t r e t ra ba lh o e a s de m a is e s f e ra s da v id a

C r i o u u m d is p o s it ivo d e e fi c á c ia – f a br ic a r h o m e n s u t e is , dó c e is a o t ra ba lh o,
d is p o s t o a o c o n s u m o
Dardot & Laval, 2016
“A fábrica do sujeito neoliberal”
Dardot & Laval

Não adestra apenas os corpos para


docilizá-los  governa a subjetividade
produzindo um sujeito que se envolve, se
engaja e se entrega por completo a sua
atividade profi ssional

 isso porque, é só por meio do trabalho


(e do mérito) que se alcan ça a realização
pessoal, o prazer e a felicidade (se é
“bem sucedido”)  a empresa é o lugar
de realização pessoal.

Dardot & Laval, 2016


“A fábrica do sujeito neoliberal”
Dardot & Laval

Se é somente através do trabalho que se


alcança a realização pessoal, isso abre
amplo espaço para a produção de formas
efi cazes de sujeição (novas formas de
emprego precárias, temporárias) e
aumento da dependência dos
empregadores.

Dardot & Laval, 2016


“A fábrica do sujeito neoliberal”
Dardot & Laval

O discurso gerencial “alicia” as subjetividades com inclina ções de


caráter, maneiras de ser, falar e se comportar;

Discursos: “O mundo é dos espertos”, “durma enquanto os outros


dormem /estudam”;

Uso de estrangeirismos no mundo corporativo: “Maindfulness,


brainstorming, assessment, branding, case, briefi ng.  identifi cação do
sujeito com a empresa

Dardot & Laval, 2016


“A fábrica do sujeito neoliberal”
Dardot & Laval

• Se a empresa vai mal é porque os trabalhadores não se


engajaram sufi cientemente – é preciso estar mais engajado e
comprometido.

• É preciso se aper fei çoar mais (responsabilidade pela forma ção


contínua);

• Com isso, o risco do desemprego, demissão ou perda da


atividade se torna um medo social;

• Se a realização pessoal advém do mérito e do esfor ço pelo


trabalho, é preciso que cada um intensifi que seus esfor ços, se
exponha a riscos e assuma a responsabilidade pelos fracassos.

Dardot & Laval, 2016


“A fábrica do sujeito neoliberal”
Dardot & Laval

• “O bom desempenho é um dever ” – máxima do “sempre mais” 


intensifi car a efi c ácia e o desempenho não só para o trabalho (escolar,
profi ssional, relacional, sexual, etc) “We are the champions” “Not time for
losers”.

• Uso de novas técnicas para “melhor domínio de si mesmo”, das


emoções, do estresse, das rela ções com clientes, colaboradores, chefes,
subordinados

 Objetivo de se adaptar melhor à realidade, tornar o sujeito mais


operacional em situa ções difíceis, aumentar a efi c ácia, o carisma, estratégias
de comunicação  Coaching, PNL

Dardot & Laval, 2016


“A fábrica do sujeito neoliberal”
Dardot & Laval

Então, quem é o “sujeito neoliberal”?

- Indivíduo “formado” pelas pol íticas e discursos do neoliberalismo.

- Isso signifi ca que o neoliberalismo não é apenas uma ideologia econômica


mas uma forma de governan ça que infl uencia modos de ser, rela ções
sociais, pol íticas e culturais.

- Sujeito neoliberal: ênfase na competi ção, busca do interesse próprio


(individualiza ção), adaptado as demandas do trabalho e do mercado, que
se autogerencia para alcan çar o ‘sucesso’

Dardot & Laval, 2016


Vídeo: Funcionário do ano (Porta dos fundos)

https://www.youtube.com /watch?v=R3WW_fmVQJU
Referência

BENDASSOLLI, Pe d r o F. Construção do Campo do Tr a b a l h o no Pe n s a m e n t o


Ocidental como Condição para a Emerg ência da Psicologia do Tr a b a l h o . In:
P s i c o l o g i a e Tr a b a l h o : a p r o p r i a ç õ e s e s i g n i fi c a d o s . C e n g a g e L e a r n i n g B r a s i l , 2 0 0 9 . p .
1-34. Acesso: Minha Biblioteca Mackenzie.

C I A M PA , A n t ô n i o d a C o s t a . A e s t ó r i a d o S e v e r i n o e a h i s t ó r i a d e
S e v e r i n a . 9 ª r e i m p r. S ã o P a u l o : B r a s i l i e n s e , 2 0 0 7 .

D A R D OT, P. ; L AVA L , C . A n o v a r a z ã o d o m u n d o : e n s a i o s o b r e a s o c i e d a d e n e o l i b e r a l .
S ã o Pa u l o : B o i t e m p o , 2 0 1 6 .

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