A glomerulonefrite difusa aguda pós-estreptocócica (GNDA)
caracteriza-se fundamentalmente por processo inflamatório de origem imunológica que acomete todos os glomérulos de ambos os rins. É a mais comum das glomerulopatias da infância. EPIDEMIOLOGIA Estima-se que mais de 470.000 casos de GNDA ocorram anualmente no mundo: - incidência de 9,5 a 28,5 por 100.000 indivíduos, -97% desses casos ocorrem nos países em desenvolvimento, em virtude das péssimas condições higiênico-sanitárias das moradias e coabitação da população de baixa renda determinando uma maior frequência de infecções bacterianas, principalmente pelos estreptococos beta-hemolíticos do grupo A (EBHGA). Nos últimos 20 a 30 anos, a prevalência de GNDA tem diminuído nos países desenvolvidos. EPIDEMIOLOGIA A GNDA pode incidir de forma endêmica ou epidêmica.
rara em menores de 2 anos, sendo mais frequente no período
pré-escolar(2 a 6 anos) e escolar(6 a 15 anos), com pico de incidência ao redor dos 7 anos. A incidência no sexo masculino em relação ao feminino é de 2:1, nos casos associados a infecção de vias aéreas superiores, nos casos de piodermite, observa-se equivalência entre os sexos. ETIOLOGIA
Após infecção por EBHGA e, ocasionalmente, pelo grupo C ou
G7. Somente algumas cepas, denominadas nefritogênicas, são capazes de causar a glomerulonefrite. Essas cepas são identificadas pela presença de uma proteína localizada na parede de suas células, chamada proteína M. Entre as mais frequentes pós-faringites, destacam-se os sorotipos M 1, 3, 4, 12, 18, 25 e 49, e pós-impetigo, M 2, 49, 55, 57 e 60. O EBHGA é constituído por três partes: cápsula, parede celular e citoplasma. A parede celular é formada por uma camada protéica, e a proteína M, constituinte dessa parede, permite que os estreptococos sejam tipados por técnica de precipitação de 1 a 61. Essa proteína representa também o antígeno responsável pela indução da imunidade na infecção estreptocócica. Portanto, no soro de indivíduos adultos, comumente encontram- se anticorpos contra vários M tipos de estreptococos. Além da imunidade antibacteriana, existe também a imunidade antitóxica, que é transplacentária e protege a criança no 1o ano de vida. Essa mesma imunidade relaciona-se com a toxina eritrogênica e, quando adquirida por infecção, provavelmente persiste por toda a vida. a fisiopatogenia da GNDA não está totalmente definida e há, na literatura, várias teorias que objetivam explicá-la. É provável a existência de um antígeno estreptocócico capaz de desencadear um processo imunológico que levaria à produção de anticorpos e, consequentemente, à formação de imunocomplexos nos glomérulos, isto é, formação de imunocomplexos in situ. Considerando a formação de imunocomplexos in situ, 2 teorias são as mais aceitas: Teoria heteróloga (teoria catiônica de Vogt): os estreptococos têm proteínas catiônicas capazes de se ligar à membrana basal glomerular (MBG), que possui carga elétrica facilitando a afinidade (proteínas estreptocócicas-MBG). Esses antígenos catiônicos, uma vez na MBG, determinariam a formação de imunocomplexos in situ; Teoria autóloga (teoria das neuraminidases): pesquisa inicial demonstrou que a neuraminidase produzida pelo estreptococo nefritogênico atuaria sobre a imunoglobulina G (IgG) autóloga removendo o ácido siálico e tornando-a antigênica. Essa IgG modificada se depositaria inicialmente na região subendotelial da MBG. O imunocomplexo depositado na região subendotelial do capilar ativa o sistema de complemento pela via clássica ou, mais frequentemente, pela via alternada. Uma vez ativado o sistema de complemento, há liberação de substâncias quimiotáxicas por meio de neutrófilos e secreção de proteases e/ou substâncias oxidantes, que determinarão alterações na MBG. Patologia
Na macroscopia, os rins encontram-se moderadamente
aumentados de volume, e pontos hemorrágicos podem ser observados na cápsula. Na microscopia óptica, todos os glomérulos estão uniformemente envolvidos. . A MBG apresenta-se íntegra, exceto nos locais onde existem depósitos eletrodensos. À imunofluorescência, observam-se depósitos granulares de C3, IgG e beta-1-C-globulina ao longo das paredes capilares e, em menor intensidade, na matriz mesangial. QUADRO CLÍNICO
Os sintomas clínicos clássicos – edema, hipertensão e
hematúria – manifestam-se 10 a 20 dias (no máximo 6 semanas) após a infecção estreptocócica de vias aéreas superiores ou de pele. Estado geral da criança está pouco comprometido e as queixas são vagas, como indisposição, inapetência, cefaleia e edema periorbital. QUADRO CLÍNICO O edema ocorre em 85% dos casos, com intensidade variável. Muitas vezes, é evidenciado apenas por queixas indiretas, como: - aumento brusco de peso e/ou observação de roupas ou calçados apertados. - podendo ser generalizado e influenciado pela postura.
Habitualmente, o edema antecede o aparecimento da
hematúria que, em 2/3 dos casos, é macroscópica. No restante dos casos- apenas microhematúria –exame laboratorial QUADRO CLÍNICO
A hipertensão arterial que está presente em 60 a 90%
dos casos é, em geral, moderada, depende da intensidade da hipervolemia e pode ser agravada pela ingestão de alimentos com elevado teor de sódio. Sintomas menos frequentes, como cólicas abdominais, hipertermia e vômitos alimentares. BIÓPSIA RENAL Evolução natural dos casos não complicados: -- média de 7 a 15 dias após o início da doença, desaparecimento do edema, acompanhado por aumento da diurese e, 2 a 3 dias após, normalização dos níveis tensionais. --Ao redor da 3a ou 4a semana após o início da sintomatologia, ocorre o restabelecimento clínico geral da criança. --Deve-se salientar que alguns doentes podem desenvolver quadros subclínicos de GNDA caracterizados apenas por edema subclínico, hipertensão e diminuição do complemento. DIAGNÓSTICO DIFERENCIAL • glomerulonefrite membranoproliferativa, que acomete sobretudo o sexo feminino e ocorre geralmente em maiores de 7 anos de idade; na infância, costuma apresentar-se com complemento sérico baixo por meses; • glomerulonefrite rapidamente progressiva, caracterizada por manifestações clínicas importantes e aumento progressivo dos níveis de creatinina; • doença de Berger, que apresenta, em geral, hematúria recorrente, sem os demais sinais clínicos que caracterizam a GNDA, com complemento sérico normal e cujo diagnóstico é confirmado por biópsia, com imunofluorescência positiva para IgA em deposição mesangial. COMPLICAÇÕES Congestão circulatória : complicação mais frequente. Caracteriza- se por: - sinais clínicos de hipervolemia, como taquicardia, dispneia, tosse, estertores subcrepitantes em bases pulmonares e hepatomegalia. Pode ser agravada por hipertensão e levar a ICC e EAP. Encefalopatia hipertensiva: Deve-se à hipertensão, podendo ocorrer: - cefaleia, vômitos, alterações visuais (diplopia ou amaurose transitória), irritabilidade, agitação, sonolência, crise convulsiva ou coma. Insuficiência Renal Aguda :É a menos comum das complicações da GNDA. Estabelece-se : -oligoanúria intensa, retenção de escórias proteicas no plasma e distúrbios hidreletrolíticos graves, com tendência à hiperpotassemia. TRATAMENTO TRATAMENTO TRATAMENTO ORAL
O tratamento da GNDA requer erradicação da infecção
com administração de penicilina V na dose de 25.000 a 50.000 UI/ kg/dia, por via oral (VO), a cada 6 horas, durante 8 a 10 dias. TRATAMENTO TRATAMENTO TRATAMENTO Evolução e prognóstico
O primeiro sinal de melhora é o aumento da diurese com consequente
diminuição do edema e a normalização dos níveis da pressão arterial. A hematúria macroscópica desaparece entre a 1a e a 2a semana, enquanto a microscópica pode permanecer até 18 meses, sem indicar um mau prognóstico. A proteinúria nefrótica desaparece em até 4 semanas, e proteinúria discreta pode persistir por alguns meses. O prognóstico da GNDA é bom: - embora 5% dos pacientes possam evoluir para cronicidade. O óbito durante o período agudo é excepcional e, quando ocorre, se relaciona com manejo indevido ou tardio das complicações. OBRIGADA