A DEMOCRACIA E OS DESAFIOS

PARA O SISTEMA ELEITORAL

URIBAM XAVIER
LICENCIADO EM FLOSOFIA POLÍTICA E DOUTOR EM SOCIOLOGIA.
PROFESSOR DO DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DA UFC.
ÍNDICE
01 – O que as pessoas pensam que é a democracia?
02 – Somos analfabetos democráticos
03 – A cultura autocrática
04 – O que caracteriza uma cultura autocrática?
05 – Como podemos aprender democracia?
06 – Recusar a política como a “Arte da Guerra”
07 – Como construir a democracia?
08 – A democracia como modo de vida
09 – A democracia no sentido fraco
10 – A democracia no sentido forte
11 – Prospectos para um movimento de alfabetização democrática.
12 – A democracia e o sistema eleitoral
13 – Bibliografia utilizada.

A DEMOCRACIA E OS DESAFIOS PARA O SISTEMA ELEITORAL

Prof. Uribam Xavier
 O QUE AS PESSOAS PENSAM
QUE É A DEMOCRACIA?
-Idealmente é o governo de todos;

-É fazer a vontade do povo;

-É a prevalência da vontade da maioria;

-É a regra do jogo estabelecido para saber quem tem mais

popularidade e, assim, conduzir os cargos públicos
representativos;

- É a participação de todos regulada por um Estado de Direito.

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 SOMOS ANALFABETOS
DEMOCRÁTICOS
- A democracia não é uma coisa natural no mundo em que
vivemos;

- Nada ou quase nade aprendemos de democracia ao longo de

nossas vidas;

- O mundo político é composto de semi-analfabetos democráticos;

- Ao longo de seis mil anos estivemos submetidos a sistemas

míticos, sacerdotais e hierárquicos = SISTEMAS AUTOCRÁTICOS.

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 A CULTURA
AUTOCRÁTICA

Ao longo da história as estruturas de nossas instituições, em

grande parte, foram sedimentadas por relações autocráticas:

-A família;

-As religiões (sistemas de Tradições espirituais);

-O conhecimento (sistema de reprodução do saber);

-As empresas;

-As formas de governo;

- E as organizações privadas da sociedade civil.

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 O QUE CARACTERIZA UMA
CULTURA AUTOCRÁTICA?
-É a atitude hierárquica diante do poder [relação baseada na disciplina,
obediência e comando superior versus inferior];

-É a atitude guerreira [o outro é o inimigo, a diferença é para ser eliminada];

-É a atitude patriarcal [domínio do homem sobre a mulher; dos pais sobre os

filhos; domínio da natureza];

-É a atitude patrimonial [apropriação do público pelo privado; desprezo pela

ação cívica republicana];

-É a atitude sacerdotal diante do saber [baseado no segredo como capaz de

procedimentos de ordenação: sistema religioso; sistema jurídico];

-É a atitude mítica diante da história;

- É a atitude competitiva [alimentada na idéia de que não há lugar para todos,

mas somente para os melhores]
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 COMO PODEMOS APRENDER
DEMOCRACIA?

-O que impede os seres humanos de inventar uma nova política

democrática é sua consciência colonizada por idéias autocráticas;

-Aprender democracia é desaprender autocracia;

-Não estamos condenados a conviver eternamente com as formas

atuais de democracia representativa, mas não podemos aboli-las
sem garantir o essencial:

I – A aceitação da legitimidade do outro;

II – A liberdade e valorização da opinião;
III – O exercício da conversação no espaço público;
IV – A recusa da política como “Arte da Guerra”

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 RECUSAR A POLÍTICA COMO A
“ARTE DA GUERRA”
-A guerra já era o principal movimento autocratizante antes dos
gregos. Para Hannah Arendt, a guerra era uma atitude apolítica;

-A guerra é orientada pela idéia da existência de um homo hostilis

[competitivo, egoísta e hostil que luta para fazer prevalecer os seus
interesses];

-O Estado de Guerra [ Silencioso, frio ou aberto] é o meio que a

tradicionalidade política utiliza para derrotar o inimigo e
continuamente construir inimigos;

- Atualmente o exercício da política como arte da guerra é praticada

universalmente como Realpolitk.

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 COMO CONSTRUIR A
DEMOCRACIA
-A idéia de democracia pode ser materializada de diferentes
maneiras;

-A democracia como desconstituição da autocracia não se aplica a

países [Estados-Nações] e sim a pessoas, comunidades e
sociedades;

- A democracia não é um regime determinado, mas uma atitude, um

modo de vida.

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 A DEMOCRACIA COMO
MODO DE VIDA
-A democracia como modo de vida é a coexistência e coevolução da
efetivação das instituições do sistema de governo da tradição
política liberal [democracia no sentido fraco] mais a vivência
cotidiana de um estilo de vida de desconstituição da autocracia
[democracia no sentido forte];

- Democracia como modo de vida é = democracia no sentido fraco +

democracia no sentido forte.

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 A DEMOCRACIA NO
SENTIDO FRACO
-É o sistema em que os governantes são escolhidos pelos cidadãos
com a garantia:

I – Da liberdade de ir-e-vir;
II – Da liberdade de organização social e política;
III – Da liberdade de imprensa [ existência de várias fontes
alternativas de informação];
IV – Do direito de votar e ser votado;
V – De eleições livres, periódicas e isentas;
VI – Instituições estáveis capazes de cumprir a Lei e de serem
eficientes em suas funções;

-forma de funcionamento dos sistemas representativos;

- forma política de administração do Estado transparente,

participativo e eficiente na condução da coisa pública.
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 A DEMOCRACIA NO
SENTIDO FORTE
-A democracia no sentido forte não é um regime, mas um movimento
ou uma atitude constante de desconstituição de autocracia;

-A condição para que a democracia em seu sentido forte possa se

realizar é a sua existência em seu sentido fraco;

-A democracia no sentido forte é uma aposta na possibilidade da

natureza humana [na capacidade de todas as pessoas para dirigir
sua própria vida, livre de toda coerção e imposição por parte dos
demais, sempre que estejam dadas as devidas condições – John
Dewey];

-É um modo de regulação de conflitos. É a afirmação da política

como meio de normatização da sociabilidade.

- Para ter democracia como modo de vida é preciso um movimento

por uma alfabetização democrática. A DEMOCRACIA E OS DESAFIOS PARA O SISTEMA ELEITORAL
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 PROSPECTOS PARA UM MOVIMENTO
DE ALFABETIZAÇÃO DEMOCRÁTICA
Um movimento de alfabetização democrática deve criar meios para
que as pessoas possam ser capazes de compreender que:

-É possível aceitar a legitimidade do outro;

-Não existe uma verdade política;

-Nenhuma ideologia política pode ser mais verdadeira ou mais correta

do que outra por motivos extra político [ como os motivos científicos
ou religiosos];

-Os seres humanos são capazes de se autoconduzirem a partir de

suas livres opiniões;

-a política não é a continuação da guerra por outros meios;

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-A democracia é uma questão de modo e não uma questão de lado;

-A democracia é um modo pazeante de regulação de conflitos;

-A democracia não é o regime da maioria, mas o regime das

múltiplas minorias;

-O exercício da democracia depende da formação de uma opinião

pública, mas não tem proteção eficaz contra o discurso inverídico;

-Não é correto que o vencedor leve tudo;

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- A votação nem sempre é a forma mais democrática de escolha e
que a construção do consenso é sempre preferível à disputa por
votos como processo democrático de decisão;

- Todo centralismo é autocrático;

- Não se pode democratizar a sociedade sem democratizar a

política;

- Só se pode alcançar a democracia praticando a democracia;

- A alfabetização democrática não é um ensinar, mas um deixar

aprender

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 A DEMOCRACIA E O
SISTEMA ELEITORAL
-O sistema eleitoral define um conjunto de regras que normatizam:

I – Quem pode votar e ser votado;

II – Como os eleitores podem fazer as suas escolhas transformando

voto em representação;

III – Como os votos são somados para serem transformados em

mandatos;

IV – O funcionamento das instituições políticas.

-O sistema político faz parte do modo fraco da democracia, mas é,
ao mesmo tempo, condição para sua existência. Assim, alguns
desafios são postos:

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I – Nem sempre o sistema eleitoral que se apresenta como o teoricamente
mais democrático é, na sua prática, um mecanismo democrático. Como o
sistema eleitoral brasileiro pode aproximar representantes de
representados?

II – O sistema eleitoral brasileiro apresenta grave imperfeição [ que é o não

cumprimento do princípio constitucional de igualdade jurídica, que se
entende aos direitos políticos em sentido restrito para significar um eleitor
um voto]. Como fazer para que o voto do eleitor de estados como São Paulo,
Minas Gerais, Rio de Janeiro e Bahia passe a valer o mesmo que o voto dos
eleitores de Rondônia, Roraima, Amapá, Acre e Sergipe?

III – Como deveria ser um sistema eleitoral para romper com a longa tradição
autocrática que transforma o espaço político em mercado?

IV – A democracia não é o regime da maioria, mas regime das múltipas

minorias. No atual sistema legislativo o coeficiente eleitoral funciona como
cláusula de barreira para os partidos pequenos e para os seus leitores que
ficam sem representatividade. Que medidas são possíveis de serem
efetivadas para garantir a representatividade das minorias e ao mesmo
tempo evitar os partidos de aluguel?

A DEMOCRACIA E OS DESAFIOS PARA O SISTEMA ELEITORAL

Prof. Uribam Xavier
V – A legislação eleitoral[ muitas vezes causuísta e autoritária] sustenta
um sistema proporcional que possibilita situações na qual um candidato [
Eneas, Ciro Gomes, Clodovil] consegue se eleger e levar com ele vários
outros com menor número de votos do que outros candidatos de
partidos diferentes que não se elegem. Que medidas poderiam ser
adotadas para evitar tais distorções permitidas pelo nosso sistema
eleitoral?

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