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AUSTERIDADE FISCAL E O

FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO
BRASILEIRA
Jamerson Almeida - (UFPE/NFD/CAA)
Atraso educacional
brasileiro
“A democratização da
educação brasileira é
tardia e
permanentemente
inconclusa” (Florestan
Fernandes)

• Fatores endógenos -
financiamento

• Fatores exógenos –
Desigualdades sócio-
econômicas
AUSTERIDADE

Palavra do ano - 2018

Aristóteles – rigor, disciplina

Economia de guerra – Pós 2ª. Guerra

Neoliberalismo – redução da área social do Estado

Desfiguração constitucional – 1990


FINANCIAMENTO DA EDUCAÇÃO NA CONSTITUIÇÃO

Artigo 205 da Constituição Federal de 1988:


" A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e
incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da
pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
trabalho".

Direito público subjetivo;


A educação é dever do Estado
A educação é dever da família
A educação deve ser fomentada pela sociedade

Tripla vinculação – normas – MDE -


Impostos – 25% municípios, 25% estados e DF e 18% União
Salário Educação - 2,5% da folha de pagamento das empresas
% PIB é para comparação – Plano Nacional da Educação - 10%
FINANCIAMENTO NA CONSTITUIÇÃO DE 1988

• Direito público subjetivo


• Dever do Estado
• Fundo público e tripla vinculação
• Pacto Federativo e Regime de Colaboração
• Emenda Constitucional 95
AUSTERIDADE FISCAL

“A austeridade pode ser definida como uma política de ajuste da economia


fundada na redução dos gastos públicos e do papel do Estado em suas
funções de indutor do crescimento econômico e promotor do bem-estar
social. As práticas políticas em nome dessa ideia assumiram
protagonismo no Brasil em 2015 como um plano de ajuste de curto prazo
da economia brasileira. Porém, em 2016, os princípios da austeridade
passaram a nortear o setor público de forma estrutural com a Emenda
Constitucional 95 (EC95) que impõe uma redução do tamanho relativo
do Estado para os próximos 20 anos.”
ORÇAMENTO PÚBLICO

• “Fada da Confiança” – retomado dos investimentos privados no país


se dá pela perspectiva de lucro

• “Orçamento doméstico” - governo define o orçamento, retorno dos


impostos, famílias não define seu orçamento, nem emite moeda

• Quem ganha com a austeridade (corte de gastos do Estado)?

 GARANTIAS DE REMUNERAÇÃO DA DÍVIDA PÚBLICA


 ABERTURA DE MERCADOS PRIVADOS/PRIVATIZAÇÕES
 SUPEREXPLORAÇAO DA FORÇA DE TRABALHO
HISTÓRICO DAS POLÍTICAS DE AUSTERIDADE NO BRASIL

A austeridade é, também, um dos três pilares centrais do neoliberalismo,


juntamente com a liberalização dos mercados e as privatizações
(ANSTEAD, 2017). A racionalidade dessa política é, portanto, a defesa
de interesses específicos
SEGURIDADE, PROTEÇÃO SOCIAL E DESENVOLVIMENTO

“A Seguridade Social é o mais importante mecanismo de proteção social


do País e poderoso instrumento do desenvolvimento. Além de
transferências monetárias para as famílias (Previdência Rural e
Urbana, Assistência Social, Seguro-Desemprego), ela contempla a
oferta de serviços universais proporcionados pelo Sistema Único de
Saúde (SUS), pelo Sistema Único de Assistência Social (Suas) e pelo
Sistema Único de Segurança Alimentar e Nutricional (Susan)”
(FANGNANI, 2018, p.59)
• Nos anos de 1970, as forças que lutavam contra a ditadura desenharam um projeto de
reformas apoiado em três núcleos: a restauração da democracia; o desenho de um
sistema de proteção social mais igualitário; e a concepção de estratégia
macroeconômica direcionada para o crescimento com distribuição de renda (PMDB,
1982).

• Na proteção social, os reformistas se inspiraram na experiência da social- democracia


europeia durante a “Golden Age” (1945-1975), quando economia permaneceu tutelada
pela política e foram criadas condições para a regulação do capitalismo. Políticas
econômicas visando ao pleno emprego e instituições do Estado de Bem-estar Social
passaram a ser aceitas como instrumentos para lidar com disfunções decorrentes da
economia de mercado (Mazzucchelli, 2017).
• A questão social passou a ser vista como direito da cidadania (Marshal, 1967)
de caráter universal (todos têm direito) e regido pelo princípio da “Seguridade
Social” (todos têm direito, mesmo sem ter contribuído monetariamente), em
contraposição ao princípio do “Seguro Social” (somente tem direito quem
contribuiu). Consolidou-se uma relação virtuosa entre tributação progressiva e
regimes de Estado de Bem-estar Social. A redistribuição da renda pela via
tributária passou a suportar o financiamento dos direitos daqueles que não
podiam contribuir.

• A “Golden Age” foi um período de crescimento “sem precedentes e sem


paralelos” na economia capitalista internacional, e o aumento do gasto social
foi um dos mais “marcantes fenômeno” do desenvolvimento capitalista do
pós-guerra; o gasto social passou de 12% para 23% do PIB, em média, nos
países da OCDE, entre 1950 e 1975 (Persson, 1991).
• FANGNANI, 2018, p. 64).
A FORMAÇÃO DA AGENDA DE MUDANÇAS NO BRASIL

• Após longa tramitação, a Constituição de 1988 incorpora grande parte


dessa agenda. Pela primeira vez, a questão social passou a ter status
de direitos universais regidos pelo princípio da Seguridade Social,
desenhando-se, no plano legal, o embrião do um Estado Social tardio
no Brasil.
• Os avanços ocorreram em diversas frentes (Fagnani 2005). A cidadania
e a promoção da dignidade da pessoa humana passaram a serem
fundamentos da República. A erradicação da pobreza e a redução das
desigualdades sociais e regionais foram incluídas entre os objetivos da
Nação. Educação, saúde, trabalho, previdência social, proteção à
maternidade e à infância e assistência aos desamparados passaram a
ter status de direitos. (FANGNANI 2018, p. 65)
REAÇÕES
AO PACTO SOCIAL DA REDEMOCRATIZAÇÃO (1988-2018)

• O imperativo da “austeridade” e do ajuste fiscal encobre o propósito de


alterar o modelo de sociedade pactuado pela Constituição de 1988.
Esse propósito foi explicitado, com todas as letras, no início da década
de 1990, por Roberto Campos, economista liberal, que considerava a
Carta de 1988 um “hino à preguiça”, “coleção de anedotas”, “estímulo à
ociosidade” e ato de “anacronismo moderno”. Descreveu-a como um
“misto de regulamento trabalhista e dicionário de utopias”, o “canto do
cisne do nosso nacional-populismo” (Campos, 1994).
ARGUMENTOS CONTRA A CONSTITUIÇÃO DE 1988

Em 1988, por exemplo, Delfim Neto, deputado


constituinte, chegou a afirmar que o benefício
assistencial ao deficiente físico (Benefício de
Prestação Continuada) seria “capaz até de
estimular a autoflagelação, sobretudo entre as
camadas mais pobres da população, como
forma de sobreviver pelo resto da vida sem
necessidade de trabalhar, em troca, por
exemplo, de um dedo da mão ou do pé, o que
é suficiente para caracterizar a situação de
deficiente físico”.3 Diante da iminência de
aprovação dos direitos sociais na Constituição,
o líder do PFL (hoje Democratas) à época,
deputado José Lourenço, chegou a pregar o
fechamento da Constituinte por um ato de
força do governo.
ROBERTO CAMPOS E SARNEY

O então Senador Roberto Campos afirmou que a Carta Magna


“encerra duas curiosidades”.É ao mesmo tempo um“hino à
preguiça” e uma “coleção de anedotas.” Representa um
“estímulo à ociosidade”. Julgava-a como um ato de
“anacronismo moderno”. Descreveu-a como um “misto de
regulamento trabalhista e dicionário de utopias”, o “canto do
cisne do nosso nacional-populismo” (CAMPOS, 1994).

Mas nada se compara a um ato emblemá- tico do presidente José


Sarney (1985-1990). Numa derradeira tentativa para modificar
os rumos da ANC, Sarney convocou cadeia nacional de rádio e
televisão para “alertar o povo e os constituintes” para “os
perigos” que algumas das decisões contidas no texto aprovado
no primeiro turno representavam para o futuro do país. A
principal tese defendida era que o país tornar-se-ia
“ingovernável”.
INTELECTUAIS ORGÂNICOS DA AUSTERIDADE
https://www.scielo.br/j/rsocp/a/NLsj75CxC7VhjNwr4jRhY9D/?lang=pt
AUTONOMIA DO BANCO CENTRAL?
LUIZ GONZAGA BELUZZO (Economista) responde: https://youtu.be/cUE6-IsRN6M
EDUARDO MOREIRA (Economista) responde: https://youtu.be/yYeiqGoJg78
• É emblemática a tese do “país ingovernável”, esgrimida pelo presidente da República,
José Sarney;
• A partir de 1990 - princípios do Consenso de Washington (FIORI, 1993), a reação se
intensifica. Governo Fernando Collor de Mello (1990-1992) revisão da Constituição
em 1993. Essa revisão acaba ocorrendo por conta do impeachment do presidente;
• O segundo momento compreende o Governo Itamar Franco (1993-1994), que impôs
novas contramarchas preparatórias ao Plano Real, com destaque para a Desvinculação
das Receitas da União (DRU) captura 20% dos recursos constitucionais vinculados ao
financiamento da Seguridade Social e Educação;


• O terceiro momento compreende os governos de Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002), marcado pela retomada das reformas liberalizantes, que pregava a
focalização como única “estratégia” para se enfrentar a questão so- cial;

• O quarto momento compreende o período 2003-2005, marcado pela ambiguidade


na proteção social e pela manutenção da ortodoxia econômica. A eleição de 2002
trazia esperança de mudanças, mas as primeiras contramarchas ocorreram
quando o mercado financeiro internacional passou a apostar contra o Brasil e,
para acalmar esse setores, foi lançada a “Carta aos Brasileiros”.

• No final de 2005, o Ministério da Fazenda pretendia ampliar o aperto mo- netário


e fiscal. O chamado “Programa do déficit nominal zero” (reedição da “Agenda
Perdida”) almejava obter superávit nominal de 7% do PIB durante dez anos e,
para isso, assim como hoje, propunha o aumento (de 20% para 40%) da
Desvinculação das Receitas da União (DRU) (Giambiagi, 2006).
IMPACTOS DA EC. 95/2016 (PEC DOS GASTOS)

• Mudança institucional que institui um Novo Regime Fiscal (NRF) por 20 anos (2036);
• Despesas primárias só poderão ser reajustadas, no máximo, pela inflação do ano
anterior, conforme Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA);
• O valor mínimo anual deixa de ser estipulado como como parcela da Receita Liquida
de Impostos (RLI) e passa a ser reajustado -a partir de 2018- ano a ano de acordo
com a inflação, tomando como base aplicação de 18% aplicada em 2017.
• ”Despesas primárias são aquelas que ocorrem com o pagamento de pessoal* e
encargos sociais, água, luz, telefone, limpeza, vigilância, pessoal terceirizado, material
de consumo, aquisição de equipamentos, material permanente, construções,
aquisição de imóveis etc.”(AMARAL, 2017);
• Ficam de fora das despesas primárias as despesas com pagamento de juros,
encargos e amortização da dívida pública*, podendo esta ultrapassar o limite imposto
pelo IPCA;
A “AUSTERIDADE” E A DILAPIDAÇÃO DA SEGURIDADE SOCIAL

• O processo de destruição do Estado Social está sendo encenado em cinco atos


principais que asfixiam o financiamento da Seguridade Social:

• O “Novo Regime Fiscal” (PEC 55/2016), que congela os gastos primá- rios
do governo federal por um período de vinte anos.

• A ampliação da DRU (de 20 para 30%) eleva a captura de recursos do setor


(de cerca de R$ 60 para R$ 110 bilhões por ano).
• A Reforma Tributária – que pretende, apenas, “simplificar” o sistema pela
substituição de diversos tributos indiretos (constitucionalmente vinculados à
proteção social) por um Imposto sobre o Valor Agregado, sem nenhuma
vinculação – também desmontará as bases de financiamento Seguridade
Social.

• A reforma trabalhista – ao estimular a terceirização irrestrita, o trabalho


intermitente, a Jornada Parcial, a contratação na modalidade de Pessoa
Jurídica e de autônomos com “exclusividade e continuidade” – alterou mais de
cem artigos da Consolidação das Leis do Trabalho de 1943, muitos deles
incorporados na Carta de 1988, o que terá impactos severos na destruição
dos empregos formais e, por consequência, nas receitas da Previdência
pública, que, de fato, poderá “quebrar” por in- suficiência de receitas.

• A Reforma da Previdência Social, cuja proposta original impunha, para um


dos países mais desiguais do mundo, regras restritivas para a aposentadoria,
mais restritivas, aqui, que as praticadas em nações mui- to menos desiguais. A
extinção do direito à proteção na velhice, em curso, agride o artigo 25 da
clássica Declaração Universal dos Direitos do Homem de 1948.
QUEM GANHA COM A AUSTERIDADE?
Política de classe das elites econômica
• ao gerar recessão e desemprego, reduzem-se pressões salariais e
aumenta-se lucratividade. E como mostram Bova, Kinda e Woo
(2018), a austeridade tende a aumentar a desigualdade de renda:
em média, um ajuste de 1% do PIB está associado a aumento no
coeficiente de Gini do rendimento disponível de cerca de 0,4 a 0,7%
nos dois anos seguintes6;
• o corte de gastos e a redução das obrigações sociais abrem espaço
para futuros cortes de impostos das empresas e das elites
econômicas;
• a redução da quantidade e da qualidade dos serviços públicos
aumenta a demanda de parte da população por serviços privados
em setores como educação e saúde, o que aumenta os espaços de
acumulação de lucro privado.
Impactos da EC. 95/2016 (PEC dos gastos)

Mudança institucional que institui um Novo Regime Fiscal (NRF) por 20


anos (2036);
Despesas primárias só poderão ser reajustadas, no máximo, pela
inflação do ano anterior, conforme Índice Nacional de Preços ao
Consumidor Amplo (IPCA);
O valor mínimo anual deixa de ser estipulado como parcela da Receita
Liquida de Impostos (RLI) e passa a ser reajustado - a partir de 2018-
ano a ano de acordo com a inflação, tomando como base aplicação de
18% aplicada em 2017.
”Despesas primárias são aquelas que ocorrem com o pagamento de
pessoal* e encargos sociais, água, luz, telefone, limpeza, vigilância,
pessoal terceirizado, material de consumo, aquisição de equipamentos,
material permanente, construções, aquisição de imóveis etc.”(AMARAL,
2017);
Ficam de fora das despesas primárias as despesas com pagamento de
juros, encargos e amortização da dívida pública*, podendo esta
ultrapassar o limite imposto pelo IPCA;
IMPACTOS DAS POLÍTICAS DE AUSTERIDADE FISCAL NA EDUCAÇÃO

É importante frisar que


o mínimo
constitucional já
não garante
recursos
suficientes para o
desenvolvimento
dos investimentos
federais em
Educação,
representando
apenas 40% das
despesas totais
destinadas à
Educação.
PROJEÇÃO DOS
INVESTIMENTOS
MÍNIMOS EM
EDUCAÇÃO EM
2025

R$13,6 BILHÕES DE
MARGEM PARA
CORTES EM 2025
BIBLIOGRAFIA

https://outraspalavras.net/mercadovsdemocracia/austeridade-historia-de-uma-
fraude/

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