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PSICOLOGIA UMA INTRODUÇÃO

CRÍTICA
Dra. GEISA NUNES DE SOUZA MOZZER
FACULDADE DE EDUCAÇÃO/UFG
Setembro/2020
A PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA
INDEPENDENTE

• Segunda metade do Séc. XIX - surgiram homens que


pretendiam reservar aos estudos psicológicos um território
próprio. Só nesta época passou a existir a figura do
psicólogo e passaram a ser criadas instituições voltadas para
a produção e transmissão de conhecimento psicológico.

• Para se criar uma nova ciência é preciso mostrar que


ela tem um objeto próprio e métodos adequados ao estudo
deste objeto; que ela é capaz de firmar-se como ciência
independente das outras áreas do saber.
• Para a Psicologia a questão era extremamente
complicada. Grandes filósofos da Antiguidade - noções
e conceitos relacionados ao que hoje faz parte do
domínio da Psicologia científica, como, p.e.,
comportamento, ‘alma’ ou o ‘espírito’ do homem.

• Idade Moderna - físicos anatomistas, médicos e


fisiólogos tratavam dos diversos aspectos do
comportamento involuntário e voluntários do homem.
• Ainda neste século (XIX) começaram a
construir as ciências da sociedade, como a
Economia Política, a História e a Sociologia.
(Pág.13)

• Auguste Comte (1798-1857) - no seu sistema


de ciências não cabia uma Psicologia entre as
ciências biológicas e as sociais. (Pág.14)
EXPERIÊNCIA DA SUBJETIVIDADE PRIVATIZADA

Esta experiência acontece quando o


homem toma consciência do seu ‘EU’ individual
e subjetivo. Com o surgimento do mercantilismo,
o indivíduo passa a produzir produtos para
serem comercializados. O homem precisa, assim,
ser diferente. Precisa olhar para si, conhecer-se
para saber o que dá mais lucro e não somente o
necessário para a sobrevivência.
EXPERIÊNCIA DA SUBJETIVIDADE
PRIVATIZADA
• O coletivo deixa de ser prioridade e o
indivíduo passa a ser mais importante. O
homem, então, entende que é único, tem
sentimentos próprios e é livre para produzir o
que quiser e para vender para quem quiser. O
homem, com a produção de objetos com valor
de troca, passa a ter a necessidade de se
diferenciar do outro.
EXPERIÊNCIA DA SUBJETIVIDADE
PRIVATIZADA
Com o aparecimento deste sentimento
de subjetividade privatizada, no
Mercantilismo, segundo Figueiredo (1991),
parte das condições sociais e culturais para o
nascimento da Psicologia, enquanto ciência
separada da Filosofia, das Ciências Biológicas e
Sociais, estavam dadas. (Pág.18 e 19)
EXPERIÊNCIA DA SUBJETIVIDADE PRIVATIZADA

• Esta experiência de sermos sujeitos capazes de


decisões, sentimentos e emoções privados só se
desenvolve e se difunde amplamente numa sociedade
com determinadas características. (Ler p. 17 e 18).

• Artes - “tragédia”
• Literatura - poesia lírica
• Artes plásticas - escultura e pintura expressando de
forma individualizada a subjetividade do artista.
EXPERIÊNCIA DA SUBJETIVIDADE
PRIVATIZADA
• Religião - novos sistemas religiosos que
enfatizam a responsabilidade individual e
atribuem à consciência e às intenções mais
valor que os próprios atos ou obras.
• Este sentimento não é universal, ou seja, não
é igualmente experimentado por todos os
povos e em todos os momentos da História.
(p.20).
SISTEMA MERCANTIL E INDIVIDUALIZAÇÃO

O Sistema Mercantil plenamente


desenvolvido aprofunda e universaliza a
experiência da subjetividade privatizada.
Cada comunidade produzia o que
consumia - agricultura de subsistência. Este
quadro muda quando se desenvolve uma
produção para troca, em que cada um passa
a produzir aquilo a que está mais
capacitado.
• 1o motivo para a experiência da subjetividade
privatizada: cada um deve ser capaz de identificar a
sua especialidade, aperfeiçoar-se nela, identificar-se
com ela.

• 2o motivo: numa situação de barganha cada um quer


vender o que produziu por um preço alto e comprar
o que necessita e não produz por um preço mais
barato. O mercado cria a idéia de que o lucro pode
ser o prejuízo do outro. e que cada um deve defender
seus próprios interesses. Os interesses de cada
produtor são para ele mais importantes do que os
interesses da sociedade como um todo(Pág. 22 e 23)
• 3o motivo: o mercado de trabalho - para este
mercado vão os homens que não têm meios
próprios para produzir e sobreviver,
necessitando alugar sua capacidade de
trabalho para receber em troca um salário
com o qual devem comprar os produtos de
que necessitam. O que se disse sobre a
consciência de sua especialidade como
produtor, de sua habilidade aplica-se
igualmente ao trabalhador assalariado.
• Estes trabalhadores assalariados perderam suas
condições mais antigas de vida e produção. Ou seja
sua vinculação com o grupo, pois a produção era
sempre diretamente social. Havia também uma forte
relação com os meios de produção (florestas e
pastagens ou meios particulares muito rústicos, cujo
acesso não apresentava problemas). Mesmo as
relações entre senhores, servos e escravos que
continha, por um lado, um elemento de exploração,
também estabeleciam obrigações de proteção, defesa
e apoio dos fortes em relação aos fracos.
• Tudo isso precisou desaparecer para que
surgisse o trabalhador livre. Ou seja, o sujeito
ao ganhar esta liberdade, perde uma porção
de apoios e meios de sustentação. Perde a
solidariedade de seu grupo: a família ou a
aldeia deixam de ser auto-suficientes e cada
indivíduo vai isoladamente procurar seu
sustento.(p.25 e 26).
IDEOLOGIA LIBERAL ILUMINISTA E ROMANTISMO

Duas formas de pensamento, desenvolvidas no Séc. XVIII e XIX,


que refletem muito a experiência de subjetividade privatizada:

• Ideologia Liberal - Revolução Francesa (1789-1799) - todos os


homens são iguais, em direitos, e livres. Todos devem ser
solidários aos outros para que esta liberdade não redunde em
caos.

• Romantismo - movimento que se expressou intensamente no


campo das artes e da Filosofia - os homens são diferentes e a
liberdade está exatamente, na liberdade de ser diferente e
único.
A CRISE DA SUBJETIVIDADE PRIVATIZADA

• Outra condição para que surjam projetos de uma


psicologia científica é a necessidade de que esta
experiência da subjetividade privatizada entre em crise.
• Enquanto a subjetividade privatizada não está
sendo contestada, não há por que se fazer ciência
psicológica.
• A subjetividade privatizada entra em crise quando
se descobre que a liberdade e a diferença são ilusões.
Os interesses particulares levam a conflitos. A liberdade
para um tratar de seu negócio desencadeou crises,
• Os trabalhadores do séc. XIX foram aos poucos
descobrindo que se defenderiam melhor
unidos em sindicatos e partidos do que
sozinhos. Para combater os movimentos
operários reivindicatórios, para pôr um pouco
de ordem na vida social - em que cada um
defendia o que é seu pensar nas consequências
para todos - a administração pública cresceu,
cresceu o Estado, a burocracia, cresceram as
forças armadas (p. 30).
• Em todas estas questões se expressa o
reconhecimento de que existe um sujeito
individual e a esperança de que é possível
padronizá-lo segundo uma disciplina,
normatizá-lo, colocá-lo a serviço da ordem
social. Surge, assim, a demanda por uma
psicologia aplicada, principalmente nos
campos da educação e do trabalho.
A PRÁTICA CIENTÍFICA E A EMERGÊNCIA DA PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA

As condições socioculturais até agora referidas foram um


terreno propício para que se desenvolvessem projetos de
psicologia.

Condições dos cientistas e filósofos no Séc. XIX:


o cientista sente-se com poder e com direito de lidar com
fenômenos naturais para conhecê-los, desvendar seus
mistérios, dominá-los, manipulá-los em experimentos
bem controlados etc. Ou Seja, a ciência moderna está
baseada na suposição de que o homem é o senhor que
tem o poder e o direito de colocar a natureza a seu serviço
• Esta suposição está associada ao
aprofundamento da experiência subjetiva
individualizada, já que esta enfatiza a liberdade
dos homens para decidir e agir de acordo com
sua própria vontade, sem qualquer tipo de
limitação, elaborando suas crenças e avaliando-
as a partir de suas experiências pessoais, livres
do domínio das autoridades e das tradições. Ou
seja, por um lado a ciência moderna pressupõe
sujeitos livres e diferenciados, senhores de fato
e de direito da natureza;
• os procedimentos científicos exigem que os
cientistas sejam capazes de ‘objetividade’,
deixando de lado seus preconceitos, sentimentos e
desejos para obterem um conhecimento
‘verdadeiro’. Para fazer ciência é preciso disciplinar
a mente, eliminar todos os ‘subjetivismos’ (pág.
35). Por outro lado, então, a ciência moderna
procura conhecer e dominar subjetividade dos
cientistas, reduzir ou mesmo eliminar suas
diferenças individuais.
• Sendo assim, as práticas científicas
contribuíram para o reconhecimento de que
há fatores subjetivos e individuais
permanentemente em ação. Isso reforça a
idéia de uma experiência subjetiva
individualizada, privada, acessível apenas a
quem a vive. Porém, para a ciência progredir
seria necessário conhecer e controlar esta
subjetividade.
• Wundt (1832— 1920) foi
médico, filósofo e psicólogo alemão. É considerado um
dos fundadores da psicologia experimental.
• Entre as contribuições que o fazem merecedor desse
reconhecimento histórico estão criação do primeiro
laboratório de psicologia no Instituto Experimental de
Psicologia daUniversidade de Leipzig (Lipsia) na
Alemanha em 1879 e a publicação de Princípios de
Psicologia Fisiológica em 1873 no qual afirmava
textualmente que seu propósito, com o livro, era de
demarcar um novo domínio da ciência.
OS PROJETOS DE PSICOLOGIA COMO CIÊNCIA
INDEPENDENTE

• TITCHENER - Titchener (1867-1927) foi um psicólogo estruturalista


britânico. Estudou em Leipzig Alemanha com o mestre Wundt.
Voltou para o Reino Unido e tentou divulgar a nova psicologia, mas
esta não foi aceita pelos demais filósofos da época. Isso o levou
aos Estados Unidos onde alunos de todo o país vinham ouvir e
estudar sua nova psicologia.
Titchener alterou o sistema de Wundt, enquanto jurava ser um
leal seguidor. Ele propôs uma nova abordagem que designou
estruturalismo e afirmou que esta apresentava a forma de Psicologia
postulada por Wundt, contudo, os dois sistemas são diferentes e o
rótulo de estruturalismo só pode ser aplicado à concepção de
Titchener. Assim, o estruturalismo foi estabelecido por Titchener
como a primeira escola de pensamento no campo da Psicologia.
• A PSICOLOGIA FUNCIONAL – Pragmatismo – William James
William James (Nova Iorque, 1842 – 1910) foi um dos
fundadores da psicologia moderna e
importante filósofo ligado ao pragmatismo; formado
como médico. Ele escreveu diversos livros conceituados
sobre a então jovem ciência da psicologia, sendo um dos
formuladores da psicologia funcional e conhecido como "O
pai da Psicologia Americana". James também é altamente
influente como filósofo, tendo sido um dos formuladores e
principais defensores do pragmatismo, perspectiva que até
hoje exerce forte presença, principalmente nos EUA.
• Gestalt ("forma", em alemão) refere-se a um
processo de dar forma, de configurar "o que é
colocado diante dos olhos, exposto ao olhar":
a palavra gestalt tem o significado de uma
entidade concreta, individual e característica,
que existe como algo destacado e que tem
uma forma ou configuração como um de seus
atributos." A amplificação da percepção ou
dos gestos não é “leitura do corpo”.
• Um dos principais temas trazido por ela é tornar mais
explícito o que está implícito, projetando na cena
exterior aquilo que ocorre na cena interior, permitindo
assim que todos tenham mais consciência da maneira
como se comportam aqui e agora, na fronteira de
contato com seu meio. Trata-se de seguir o processo em
curso, observando atentamente os “fenômenos de
superfície” e não mergulhando nas profundezas
obscuras e hipotéticas do inconsciente – que só podem
ser exploradas com a ajuda da iluminação artificial da
interpretação.
• De acordo com a teoria gestáltica, não se pode ter
conhecimento do "todo" por meio de suas partes, pois o
todo é maior que a soma de suas partes: "(...) "A+B" não
é simplesmente "(A+B)", mas sim um terceiro elemento
"C", que possui características próprias". Segundo o
critério da transponibilidade, independentemente dos
elementos que compõem determinado objeto, a forma
é que sobressai: as letras R O S A não constituem apenas
uma palavra em nossas mentes: "(...) evocam a imagem
da flor, seu cheiro e simbolismo - propriedades não
exatamente relacionadas às letras."
• COMPORTAMENTALISMO
• BEHAVIORISMO DE SKINNER
• A PSICANÁLISE FREUDIANA
• A PSICOLOGIA COGNITIVISTA DE PIAGET

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