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FILOSOFIA DA RELIGIÃO

Capítulo 4 – O problema da existência de Deus


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Sara R
a
Carlos poso
Pires
FILOSOFIA 11.º
DEUS

• Será que Deus existe mesmo?


• Será mais plausível a posição
dos ateus, que acreditam que
Deus não existe?
• Será mais plausível a posição dos
agnósticos, que não afirmam nem
negam a existência de Deus?

?
RELEVÂNCIA DO PROBLEMA

O que nos pode trazer a discussão


sobre a existência de Deus?

• Além de esclarecimentos acerca


do tema, contribui para
compreender melhor alguns
problemas atuais.
• A abordagem filosófica do tema
contribui para desenvolver
tolerância e respeito
relativamente às crenças alheias.

?
FILOSOFIA DA RELIGIÃO

A existência de Deus é um dos problemas


estudados na Filosofia da religião.

Muitas pessoas:
• têm fé em Deus; e
• não procuram nenhuma justificação
para acreditar em Deus.

Na filosofia:
• essa justificação é procurada e debatida; A Criação de Adão,
de Miguel Ângelo
• discute-se o problema racionalmente, (1508-12)
sem apelar à fé.
A DIVERSIDADE RELIGIOSA

Religiões politeístas

Existe um grande número de religiões no Há, portanto, várias conceções de divino.


mundo, com diferenças significativas entre si: Algumas religiões são politeístas, admitem
• têm crenças distintas; a existência de vários deuses.
• têm rituais e normas muito diferentes. É o caso das religiões do Antigo Egito
e da Grécia Antiga.
A DIVERSIDADE RELIGIOSA

Religiões monoteístas

Outras religiões são monoteístas, admitem a existência de


um único Deus.
É o caso do judaísmo, do cristianismo e do islamismo.

JUDAÍSMO CRISTIANISMO ISLAMISMO


A DIVERSIDADE RELIGIOSA

Religiões politeístas e monoteístas

Em resumo:
A DIVERSIDADE RELIGIOSA

Conceções de Deus

A maioria dos crentes monoteístas


tem uma conceção de Deus
Para os teístas,
conhecida por teísmo. Deus é uma pes
• um ser dota s o a:
Deus é o criador do universo, do de consciên
e vontade, tal c cia
é um ser todo-poderoso, sabe o mo n ó s ;
• mas muito
tudo e é absolutamente bom. superior a nós,
limitações e se s em
m imperfeições
É também pensado como .
transcendente, incorpóreo
e eterno.
A DIVERSIDADE RELIGIOSA

Conceções de Deus

O monoteísmo não implica aceitar o teísmo.


Uma outra conceção monoteísta de Deus
é o deísmo.
Há mais do que um tipo de deísmo, mas
muitos deístas concordam que Deus:
• criou o universo mas não intervém nele;
• deixa as coisas ocorrerem de acordo com
as leis da natureza.
A DIVERSIDADE RELIGIOSA

Conceções de Deus

Em resumo:
O ARGUMENTO COSMOLÓGICO

Tomás de Aquino

Um argumento cosmológico pretende provar


a existência de Deus.
Tenta fazê-lo a partir de um facto empiricamente
constatável: existem coisas no universo.
Um desses argumentos foi apresentado por
Tomás de Aquino.
Por vezes, é também designado argumento
da causa primeira.
O ARGUMENTO COSMOLÓGICO

Tomás de Aquino
– O argumento cosmológico –

1 Existem seres sensíveis.

2 Todos os seres sensíveis têm causas.

3 Nenhum ser sensível é causa de si próprio. Tomás de Aquino


(1225-1274)
4 A cadeia de causas dos seres sensíveis não pode
regredir até ao infinito.

5 Logo, tem de existir uma primeira causa – que é Deus.


O ARGUMENTO COSMOLÓGICO

Tomás de Aquino
– O argumento cosmológico –

1 Existem seres sensíveis.

Exemplos de seres sensíveis:


rochas, gases, água, plantas, Tomás de Aquino
animais, seres humanos, (1225-1274)

artefactos, etc.
O ARGUMENTO COSMOLÓGICO

Tomás de Aquino
– O argumento cosmológico –

2 Todos os seres sensíveis têm causas.

Isto é:
Tomás de Aquino
• uma coisa não pode simplesmente existir; (1225-1274)
• tem de haver algo que a provocou
(mesmo que seja algo desconhecido).
O ARGUMENTO COSMOLÓGICO

Tomás de Aquino
– O argumento cosmológico –

3 Nenhum ser sensível é causa de si próprio.

Isto é:
uma coisa não pode ser causa de si própria Tomás de Aquino
ou (1225-1274)

seria anterior a ela mesma.


Exemplo: uma pessoa não pode ser o seu próprio
pai.
O ARGUMENTO COSMOLÓGICO

Tomás de Aquino
– O argumento cosmológico –

4 A cadeia de causas dos seres sensíveis


não pode regredir até ao infinito.

Não é possível recuar infinitamente na sequência


Tomás de Aquino
de causas (1225-1274)
ou
o próprio processo causal não existiria.
Tem de ter havido um começo do processo causal,
ou seja,
teve de haver uma primeira causa incausada.
O ARGUMENTO COSMOLÓGICO Atenção!
Existem
outras ob
jeções
Objeções ao argumento cosmológico ao argum
ento
cosmológ
ico.

1. Qual é a causa de Deus? Este argumento é autocontraditório.

Ter uma natureza diferente das coisas do universo não explica


porque Deus não precisa de uma causa.

Criou-se a si mesmo?
Para isso, tinha de existir antes de si próprio.

Terá Deus sido criado por um Deus superior?


E quem criou esse Deus superior? Um Deus ainda mais superior?

Explicar a existência do universo recorrendo a Deus também


leva a uma regressão infinita.
O ARGUMENTO COSMOLÓGICO Atenção!
Existem
outras ob
jeções
Objeções ao argumento cosmológico ao argum
ento
cosmológ
ico.

2. A causa primeira pode não ser o Deus teísta

Provar a necessidade de uma causa primeira não prova que esta


seja o Deus teísta.

A causa primeira poderia:


• ser uma divindade deísta;
• não ser sequer uma divindade.

A primeira causa incausada teria de ser muito poderosa, mas podia


não ser omnipotente, nem omnisciente nem perfeitamente boa.
Este argumento pressupõe que não há uma regressão infinita na série de causas e
3
efeitos: esta não retrocede no tempo de modo infinito.

Ora, se aplicarmos idêntico raciocínio em relação ao futuro, teremos de supor a


existência de um efeito final que não seria causa de nada.

Mas o mais plausível é pensar que as causas e efeitos se prolongam infinitamente


no futuro.

Por isso, temos razão para pensar que, em relação ao passado, essa série infinita
da cadeia causal é igualmente possível.

Isto significa que o Universo pode existir desde sempre.


4 A existência do mal

Um defensor deste argumento teria ainda de responder ao problema de saber


como pode o Deus perfeito, omnisciente, omnipotente e sumamente bom tolerar
o mal que existe no mundo.
O ARGUMENTO TELEOLÓGICO

Tomás de Aquino

O argumento teleológico é também conhecido


como argumento do desígnio.

Tem várias versões, mas estudamos a de


Tomás de Aquino.

«Teleológico» significa:
• dirigido a um objetivo ou finalidade;
• feito com um desígnio;
• feito com um propósito.
O ARGUMENTO TELEOLÓGICO

Tomás de Aquino

Objetos teleológicos:
foram propositadamente concebidos para executar uma função.

Exemplos de objetos teleológicos:


• sapatos;
• raquetas de ténis.
Tomás de Aquino
(1225-1274)
As coisas naturais também têm um caráter teleológico.
Exemplo:
As pernas têm uma forma adequada à sua função, que é andar.
O ARGUMENTO TELEOLÓGICO
Tomás de Aquino
– O argumento teleológico –

Podemos apresentar o argumento teleológico como se


segue:
1 As coisas naturais, mesmo sem inteligência, atuam para atingir
certas finalidades devido a um desígnio e não ao acaso.
2 Se as coisas naturais, mesmo sem inteligência, atuam para
atingir certas finalidades devido a um desígnio e não ao acaso,
Tomás de Aquino
então foram criadas e organizadas por um ser inteligente e com (1225-1274)
conhecimento (e poder) suficiente para tal.
3 Se as coisas naturais foram criadas e organizadas por um ser
inteligente e com conhecimento (e poder) suficiente para tal,
então esse ser (Deus) existe.
4 Logo, esse ser – que é Deus – existe.
O ARGUMENTO TELEOLÓGICO
Tomás de Aquino
– O argumento teleológico –

1 As coisas naturais, mesmo sem inteligência, atuam


para atingir certas finalidades devido a um desígnio
e não ao acaso.

As coisas naturais atuam para atingir certas finalidades


é o mesmo que dizer, por exemplo:
Tomás de Aquino
• o objetivo dos olhos é ver; (1225-1274)
• as diversas partes dos olhos articulam-se e ajustam-se
para permitir a visão.
O ARGUMENTO TELEOLÓGICO
Tomás de Aquino
– O argumento teleológico –

1 As coisas naturais, mesmo sem inteligência, atuam


para atingir certas finalidades devido a um desígnio
e não ao acaso.

É difícil que essa característica dos olhos resulte do acaso.


Tomás de Aquino
Deve, pelo contrário, resultar de um desígnio, resultar de (1225-1274)
uma criação intencional.

O mesmo se pode dizer das outras coisas da natureza.


O ARGUMENTO TELEOLÓGICO
Tomás de Aquino
– O argumento teleológico –

2 Se as coisas naturais, mesmo sem inteligência, atuam


para atingir certas finalidades devido a um desígnio
e não ao acaso, então foram criadas e organizadas
por um ser inteligente e com conhecimento (e poder)
suficiente para tal.
O desígnio não pode residir nos olhos, nem nas outras Tomás de Aquino
coisas naturais porque não têm inteligência. (1225-1274)

As coisas da natureza são dirigidas para as suas finalidades


por um ser exterior a elas. É preciso um poder superior
ao dos seres humanos para criar e organizar as coisas
da natureza.
O ARGUMENTO TELEOLÓGICO
Tomás de Aquino
– O argumento teleológico –

3 Se as coisas naturais foram criadas e organizadas por um


ser inteligente e com conhecimento (e poder) suficiente
para tal, então esse ser (Deus) existe.

Um ser inteligente capaz de conferir finalidades às coisas


naturais só o pode fazer caso exista.
Tomás de Aquino
(1225-1274)
Esse ser é Deus: de todos os seres em que conseguimos
pensar, é o único que tem as características necessárias.
O ARGUMENTO TELEOLÓGICO
Tomás de Aquino
– O argumento teleológico –

4 Logo, esse ser – que é Deus – existe.

A conclusão declara a existência de Deus.

Para quem defende um argumento deste género:


• basta olhar para a ordem que existe no mundo Tomás de Aquino
(1225-1274)
para perceber que Deus existe.
O ARGUMENTO TELEOLÓGICO Atenção!
Existem
outras ob
jeções
Objeções ao argumento teleológico ao argum
ento
teleológic
o.

1. O criador inteligente pode não ser o Deus teísta


Provar a necessidade de um criador inteligente não prova que
este seja o Deus teísta.

O criador inteligente pode:


David Hume con
• ser um deus diferente do deus teísta; side
mesmo que o arg rou
um
• nem sequer ser divino. exclui a possibilid ento não
ade de
o universo – por
O argumento também não consegue excluir a hipótese conter muitas
maravilhas, mas
também
de o universo ter sido criado por mais do que um deus. defeitos – ter sid
o criado por
um deus imperf
eito.
O ARGUMENTO TELEOLÓGICO Atenção!
Existem
outras ob
Objeções ao argumento teleológico jeções
ao argum
ento
teleológic
o.

2. A crítica baseada
em Charles Darwin

A teoria da evolução, de Charles


Darwin, explica a complexidade
De acordo com
da natureza através do processo
a teoria da evolução
da seleção natural, sem
das espécies,
pressupor que há desígnio
as girafas
na natureza.
desenvolveram um
Isto mostra a improbabilidade pescoço comprido
de existir um criador inteligente. para conseguirem
sobreviver.
4 O problema do mal

Este argumento acusa uma fragilidade idêntica à dos anteriores, uma vez que
a existência do mal parece colidir com a possibilidade da existência de um
Deus bom e perfeito.
O ARGUMENTO ONTOLÓGICO
Argumentos a priori e a posteriori

Os argumentos cosmológico e teleológico As premissas do argumento ontológico


têm premissas empíricas: de Anselmo de Cantuária:
• no mundo existem coisas; • não têm informação empírica;
• as coisas da natureza estão • podem ser justificadas apenas pelo
organizadas por finalidades. pensamento.

Por isso, são argumentos a posteriori. Este é um argumento a priori.


O ARGUMENTO ONTOLÓGICO

Anselmo de Cantuária

O argumento ontológico procura mostrar


que a existência de Deus é necessária.

A afirmação «Deus existe» é uma verdade


necessária, tanto quanto a afirmação
«um triângulo tem três lados».

Deus «existe tão verdadeiramente que


não se pode pensar que não existe».
O ARGUMENTO ONTOLÓGICO

Anselmo de Cantuária

Podemos apresentar o argumento ontológico como se segue:

1 Se Deus, o ser mais grandioso em que se pode pensar,


for apenas uma ideia e não existir realmente, Anselmo de Cantuári
a
então podemos pensar num ser mais grandioso do que Deus. (c. 1033-1109)

2 Mas é falso que possamos pensar num ser mais grandioso


do que Deus.

3 Logo, Deus, o ser mais grandioso em que se pode pensar,


não é apenas uma ideia e existe realmente.
O ARGUMENTO ONTOLÓGICO

Anselmo de Cantuária

1 Se Deus, o ser mais grandioso em que se pode pensar,


for apenas uma ideia e não existir realmente, então
podemos pensar num ser mais grandioso do que Deus.
Anselmo de Cantuári
a
(c. 1033-1109)
Se Deus é apenas uma ideia e não existe, pode-se pensar num
outro ser supremo e perfeito, e que exista.

Porém, nesse caso, estaremos a pensar em algo mais grandioso


do que Deus, pois atribuímos-lhe as mesmas qualidades mais a
existência.
O ARGUMENTO ONTOLÓGICO

Anselmo de Cantuária

CONTRADIÇÃO
2 Mas é falso que possamos pensar num
ser mais grandioso do que Deus.

Pensar num ser mais grandioso do que Deus


é uma contradição.

Negar a existência de Deus é negar-lhe


a grandeza máxima que lhe tinha sido
reconhecida como «aquilo maior do que
o qual nada pode ser pensado».
O ARGUMENTO ONTOLÓGICO Atenção!
Existem
outras ob
jeções
Objeções ao argumento ontológico ao argum
ento
ontológico
.

1. Será Deus realmente


Permite «provar» coisas irreais
o ser maior do que
o qual nenhum outro Seguindo a estrutura do argumento:
pode ser pensado? • podemos afirmar a existência de
A definição de Deus como coisas irreais.
o ser mais grandioso que se
Exemplo: bastaria imaginar
pode conceber é incorreta:
uma ilha mais perfeita que
• podemos sempre todas as outras para que
imaginar um ser ainda essa ilha tivesse de existir,
mais grandioso. o que é absurdo.
Kant (1724-1804) criticou neste argumento o pressuposto de
2
que a existência é uma propriedade ou um predicado.

Se dissermos que Deus existe, não estamos a acrescentar qualquer predicado à


essência divina. Segundo Kant, a existência não é uma propriedade essencial,
como o poderão ser a omnipotência ou a suma bondade.

A existência é apenas a condição de possibilidade para que algo tenha,


realmente, esta ou aquela propriedade. O termo “é” não constitui um predicado,
antes o elemento que estabelece uma relação entre o predicado (omnipotente) e
o sujeito (Deus).
3 O problema do mal

Este argumento acusa uma fragilidade idêntica à dos anteriores, uma vez que
a existência do mal parece colidir com a possibilidade da existência de um
Deus bom e perfeito.

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