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A Doença de Wilson

A Doença de Wilson é uma disfunção genética que provoca um


acúmulo excessivo de cobre no organismo.Deve ser diagnosticada e
tratada antes que o envenenamento por cobre provoque danos
graves e até mesmo a morte.

O cobre está presente na maioria dos alimentos, e pequenas parcelas


dele são tão essenciais quanto as vitaminas.Às vezes se ingere mais
cobre do que se necessita; as pessoas saudáveis eliminam o cobre de
que não precisam, mas os doentes de Wilson não fazem isso
espontaneamente.

Nos doentes de Wilson, o cobre começa a se acumular logo após o


nascimento.Seu excesso ataca o fígado e o cérebro, provocando
hepatite e sintomas neurológicos e psiquiátricos.Os sintomas
geralmente aparecem no fim da adolescência.Os pacientes podem
apresentar doença do fígado ou anomalias na função hepática,
icterícia, inchaço do abdome, vômito de sangue ou dor de
estômago.Podem apresentar anomalias motoras várias: tremores ou
descoordenação motora (ex: para escrever à mão), dificuldade para
caminhar, descoordenação no andar, enrijecimento ou rigidez
(distonia), reflexos anormais, dificuldade para falar e para engolir,
baba, reações oculares anormais (sintoma incomum). Podem
desenvolver alguma doença mental: depressão, agressividade,
comportamento anti-social que pode levar até o aprisionamento; a
impulsividade pode, inclusive, levar ao suicídio ou ao homicídio. O
sintoma pode ser uma anemia hemolítica ou sintomas semelhantes
aos do parkinsonismo.As mulheres podem apresentar irregularidade
na menstruação, períodos de ausência de menstruação, infertilidade
ou abortos múltiplos.Não importa como a doença começa, ela é
sempre fatal se não for diagnosticada e tratada. Por outro lado, é
importante se saber que os sintomas podem ser revertidos quando a
doença é tratada.
O primeiro lugar do corpo que o cobre ataca, é o fígado.Em cerca de
metade dos pacientes de Wilson, o fígado é o único órgão afetado.As
alterações nas células do fígado são visíveis apenas no
microscópio.Quando a doença evolui, costuma-se pensar que se trata
de uma hepatite infecciosa ou de uma mononucleose infecciosa,
quando na verdade o que eles têm é a hepatite da doença de
Wilson.Um resultado inexplicável em um teste de fígado deve sempre
levar a se pensar em um diagnóstico de Doença de Wilson.
Diagnóstico

O diagnóstico da Doença de Wilson é feito de maneira relativamente


simples.Os exames de laboratório são, principalmente: nível de cobre
na urina de 24 horas (maior do que 100 microgramas/24hs), cobre
no sangue, contagem de ceruloplasmina no sangue; verificação da
existência do anel de Kaiser-Fleischer nos olhos (nem sempre
presente).Esse anel, quando presente, é sinal decisivo da doença de
Wilson; pode ser invisível a olho nu, por isso é necessário o exame
com lâmpada de fenda por um oftalmologista. Estes exames são os
principais, e muitos vezes bastam para o diagnóstico.

Se muito necessário, faz-se uma biópsia do fígado (que revelaria


mais que 250mg/grama de tecido hepático seco no caso de existir a
doença). Frequentemente, anormalidades no cérebro podem ser
diagnosticadas pelo exame de ressonância magnética: os gânglios da
base e o putâmen são os mais comumente lesados; cerebelo, córtex
cerebral e substância branca podem também estar
envolvidos.Existem também alterações no PET scan envolvendo uma
diminuição do consumo de glicose. Existem também alterações
microscópicas características (presença de glicogênio nuclear,
esteatose macro e microgoticular e fibrose).Quando há uma hepatite
fulminante na doença de Wilson, estão presentes Corpúsculos de
Mallory e necrose hepática submaciça.

Os testes podem diagnosticar a doença tanto em pacientes com


sintomas, como naqueles que não apresentam nenhum sinal da
doença.É muito importante fazer o diagnóstico da Doença de Wilson o
mais cedo possível, para evitar sérios danos no fígado mesmo antes
de quaisquer sinais da doença se manifestarem. Pessoas com a
Doença de Wilson podem falsamente aparentar excelente saúde.

Para os parentes não afetados (assintomáticos), um exame de urina


deve ser feito aos cinco e outro aos quinze anos de idade.A
averiguação para um baixo nível de ceruloplasmina e de um
funcionamento anormal do fígado pode ser feita aos dois anos de
idade. 20% dos heterozigotos (portadores), também têm baixo nível
de ceruloplasmina no sangue, como os doentes de Wilson.

Todos os irmãos, tios, tias, filhos, sobrinhas, sobrinhos e primos


devem fazer o teste para a Doença de Wilson. Os doentes de Wilson
podem não apresentar nenhum sinal, sintomas ou evidências da
doença.No entanto, todas eles, com traços mínimos ou não aparentes
da doença, sempre acabarão ficando muito doentes e eventualmente
morrerão se não forem tratados.

Os testes são simples e seguros.Há excelentes tratamentos


disponíveis.

O descaso com o tratamento da Doença de Wilson provoca


deficiências graves e eventualmente até a morte.

Genética

A Doença de Wilson é uma doença hereditária recessiva.Isto significa


que uma pessoa precisa receber um gene anormal do pai e da mãe
para ser um doente de Wilson: a doença só acontece se a pessoa
tiver dois genes anormais.Cada um dos pais tem que ser um portador
do gene anormal.

Se ambos os pais forem portadores do gene da Doença de Wilson,


então a chance de a criança ter a doença é de 25%.

O gene responsável está localizado precisamente no cromossomo


13.O gene é chamado de ATP7B.

Muitos casos da Doença de Wilson ocorrem devido à mutação


espontânea do gene. Muitos são simplesmente transmitidos de
geração para geração.Um número significativo de casos não tem uma
história familiar da doença.

As pessoas com apenas um gene anormal são chamadas de


portadoras.Elas não desenvolvem a doença e nem precisam de
tratamento.

Mais de trinta mutações foram identificadas.Por isso, tem sido difícil


encontrar um único teste genético para diagnosticar a doença.Mas se
em uma determinada família a mutação for identificada, um
diagnóstico genético é possível.Isso pode ajudar no caso de um
parente assintomático, de modo que possa ser tratado antes que
fique doente ou que seja fisicamente prejudicado.No futuro, um teste
genético possibilitará um diagnóstico pré-natal.
Detalhes genéticos:

• 1 em cada 100 pessoas da população são portadoras do gene


da Doença de Wilson.Os portadores têm um gene normal e um
anormal.
• 100% dos pacientes da Doença de Wilson receberam dois
genes da Doença de Wilson.
• 50% das crianças portadoras receberão o gene da Doença de
Wilson, desde que o portador tenha um gene normal e um
anormal.
• Irmãos de pacientes doentes de Wilson têm uma chance de
25% de ter a doença.Desde que ambos os pais de um irmão de
paciente sejam portadores, ¼ dessas crianças terão a Doença
de Wilson, ½ (2/4) serão portadores e ¼ não terão a doença e
nem o gene da doença.
• Crianças filhas de pacientes têm 1 chance em 200 de terem a
doença.
• Do paciente, seus filhos terão 100% de chance de terem o gene
anormal.O cônjuge do paciente, sendo uma pessoa normal, tem
1 chance em 100 de ser portador do gene e metade disto de
transmiti-lo.
• Netos de pacientes têm uma chance em 400 de ter a doença.
• Dos filhos de pacientes, seus netos têm 50% de chance de
terem o gene, já que todos os filhos de pacientes são
portadores.Do outro pai/mãe eles têm 1 chance em 200 de
receber o gene:1/2 vezes (1/2 vezes 1 em 100) do pai/mãe
normal 1 vez em 400.
• Sobrinhos e sobrinhas de irmãos que não têm a Doença de
Wilson, têm 1 chance em 600 de terem a doença.
• 2/3 dos irmãos não afetados são portadores do gene.Portanto,
o risco de ambos os irmãos se tornarem portadores é de 2/3
vezes 1 em 100 =1em 150; o risco de seus filhos terem a
doença é de ¼ vezes 1/150 = 1/600.
• Primos têm 1 chance em 800 de terem a doença.
• 50% dos tios e tias são portadores. No entanto, ½ vezes 1/100
= 1/200 são casais em que cada um é um portador e ¼ de
seus filhos – 1/800 – serão afetados

Tratamento

A Doença de Wilson é facilmente tratável. Com a terapia adequada, o


desenvolvimento da doença pode ser interrompido e muitas vezes os
sintomas podem ser revertidos. O tratamento visa remover o excesso
de cobre acumulado e prevenir um novo acúmulo. É importante que o
tratamento seja mantido para o resto da vida.

Uma vez diagnosticada a doença, deve-se imediatamente iniciar o


tratamento: um atraso de apenas alguns dias pode provocar um
agravamento irreversível.

O tratamento consiste em medicação associada a uma dieta


alimentar com o mínimo possível de ingestão de cobre, pelo menos
na fase da retirada do metal acumulado antes do diagnóstico (ver
adiante a tabela com a quantidade de cobre nos alimentos).

No momento, os médicos escolhem uma dentre tres substâncias para


tratar a doença: a penicilamina (distribuída no Brasil pela Prodome,
da Merck Sharp & Dohme, com o nome de CUPRIMINE); o trientine
(SYPRINE), do mesmo laboratório (ainda não disponível no Brasil); o
acetato de zinco (no Brasil, manipulado; nos Estados Unidos,
distribuído com o nome de GALZIN). Os tres foram aprovados pela
FDA americana, o rigoroso órgão de controle dos medicamentos
produzidos e comercializados nos Estados Unidos.

A penicilamina (CUPRIMINE) tem sido usada nos últimos 20 anos; é


um agente quelante útil no tratamento de diversas doenças; na
doença de Wilson, destina-se a retirar o cobre depositado em tecidos
do organismo: associa-se ao cobre (e outros metais pesados) para
formar complexos estáveis que são expelidos pela urina. Entretanto,
"é um medicamento com alta incidência de efeitos indesejáveis,
alguns dos quais podem ser graves", conforme sua própria bula. Sua
ingestão deve ser seguida pelo médico especialista. Costuma-se
acompanhá-la de vitamina B6, que parece proteger o sistema
nervoso dos efeitos colaterais desta medicação.

O acetato de zinco (GALZIN) foi o mais recente medicamento a ser


aprovado pela FDA. Ele age bloqueando a absorção de cobre pelo
trato intestinal; sua ação remove o cobre acumulado (embora
lentamente) e previne um novo acúmulo. Sua maior vantagem é a
ausência de efeitos colaterais. A eficácia do acetato de zinco tem sido
demontrada há quinze anos, com experiências internacionais;
constitui-se em uma alternativa efetiva para a manutenção do
tratamento, logo após a retirada do cobre acumulado
anteriormente.Pode ser tomado durante toda a gravidez sem causar
anomalias no feto; pode também ser usado mesmo por crianças
pequenas. O acetato de zinco é particularmente interessante para os
pacientes que tenham desenvolvido reações adversas aos agentes
quelantes. Ele parece induzir a produção intestinal de metalotionina,
uma proteína com grande afinidade com o cobre; essa ação bloqueia
a absorção de cobre envolvendo-o com enterócitos. Isto quer dizer
que novas ingestões de cobre não atingem o sistema circulatório,
sendo excretado.

O trientine é um quelante que está sendo utilizado nos Estados


Unidos com bons resultados. Pacientes que não toleraram a
penicilamina têm, muitas vezes, se beneficiado bastante com o uso
do trientine. Ainda não está à venda no Brasil. Para utilizá-lo aqui, é
preciso importá-lo.

Há uma outra substância sob investigação inicial para o tratamento


da Doença de Wilson: o Tetrathiomolybdate. Embora seus efeitos
colaterais não estejam ainda claramente estabelecidos, as indicações
são de que é bastante seguro.Tem-se a esperança de que não cause
uma piora no quadro neurológico, como pode ocorrer com a
penicilamina.

Pacientes portadores de hepatite grave podem precisar de um


transplante de fígado.

A interrupção completa do tratamento resultará em morte, algumas


vezes num prazo de tres meses. A diminuição da dosagem pode
resultar numa progressão desnecessária da doença.

ATENÇÃO

Todas essas informações são apenas uma apresentação da Doença de


Wilson e seu tratamento. Não substituem, de maneira nenhuma,
uma orientação médica.

Consulte sempre o seu médico.

Quantidade de cobre nos alimentos

Quantidade de cobre (em microgramas)


contido em 100 gramas de alimento
Óleo de algodão - 5,2 Galinha (ovos) - 143,4
Água mineral - 9,5 Pepino - 160,0
Aguardente - 15,2 Milho seco - 163,4
Mamão - 18,2 Batata-doce branca - 183,6
Soda Limonada - 18,8 Alcachofra - 198,2
Manteiga - 19,6 Chicória - 199,6
Abóbora moranga - 21,7 Brócolis - 233,0
Guaraná - 22,7 Beterraba. - 254,6
Rabanete - 24,2 Quiabo - 269,2
Cerveja - 24,7 Farinha de trigo - 280,2
Conhaque - 37,2 Pão francês - 289,0
Tomate - 41,0 Vinho tinto - 302,2
Leite tipo A - 45,8 Vagem verde - 305,6
Banana-maçã - 51,4 Abacate - 316,0
Goiaba branca. - 53,4 Alho - 329,2
Laranja-pera - 54,2 Galinha (peito) - 351,5
Repolho - 55,7 Boi (contra-filé) - 381,2
Melão - 56,6 Arroz-agulha - 393,0
Ameixa - 64,4 Agrião - 401,4
Maçã - .65,8 Ervilha enlatada. - 583,2
Chuchu - .69,4 Coco da Bahia - 741,6
Limão - 72,2 Ameixa preta - 750,2
Pera - 73,0 Shiitake fresco - 897,0
Açúcar - 82,0 Grão de bico - 956,2
Melancia - 88,2 Canela - 1114,0
Porco (pernil) - 89,0 Camarão - 1186,0
Mandioquinha - 93,6 Amêndoa - 1233,7
Beringela - 95,0 Noz européia - 1246,2
Queijo prato. - 103,0 Feijão jalo - 1304,6
Uva rosada - 105,4 Café em grão - 1433,2
Cebola - 107,0 Lentilha - 1480,8
Batata inglesa - 116,2 Pó de café torrado - 1480,8
Mel de abelhas - 117,4 Soja. - 1523,8
Pêssego - 120,0 Erva-doce - 1637,7
Manga-rosa - 125,6 Chocolate em pó - 1641,4
Alface - 129,2 Erva-mate - 1806,0
Nabo - 130,0 Amendoim torrado - 1870,6
Pescada - 130,7 Castanha do Pará. - 1954,0
Morango - .132,6 Ostra - 2840,0
Cenoura - 138,7 Marisco - 3150,0
Castanha de caju - 3569,0

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