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Língua Portuguesa

Na abertura de sua obra política, Aristóteles afirma que somente o homem é um “animal político”,
isto é, social e cívico, porque somente ele é dotado de linguagem. Os outros animais, escreve
Aristóteles, possuem voz (“phone”) e, com ela, exprimem dor e prazer, mas o homem possui
palavra (“logos”) e, com ela, exprime o bom e o mau, o justo e o injusto. Exprimir e possuir em
comum esses valores é o que torna possível a vida social e política e, dela, somente os homens são
capazes.
Marilena Chauí. Convite a Filosofia.

I – O PROCESSO DE COMUNICAÇÃO
Se procuramos o significado da palavra ´comunicação`no dicionário Aurélio encontramos como
sendo: “ Ato ou efeito de emitir, transmitir e receber mensagens por meio de métodos e/ou
processos,quer de aparelhamento técnico especializado, sonoro e/ou visual. (...) A ação de utilizar
os meios necessários para realizar tal comunicação. (...)”(Novo Dicionário Aurélio da Língua
Portuguesa”, Aurélio Buarque de Holanda Ferreira P.443)

Como será feita essa comunicação?


A comunicação se forma através da linguagem. A linguagem se forma através de palavras, gestos,
expressões fisionômicas, sinais visuais, símbolos. Esses “sinais” são de diferentes natureza e podem
ser classificados em:
• Verbais
• Não verbais
Para que uma língua cumpra sua finalidade é necessário que os membros de uma comunidade, que
compartilham as mesmas experiências coletivas, se coloquem previamente de acordo quanto ao
sentido que vão atribuir às partes da corrente sonora que emitem e ouvem. Os falantes de cada
língua associam de modo arbitrário um conteúdo (=sentido) a uma expressão. Portanto, Língua é
um sistema de signos convencionais usado pelos membros de uma mesma comunidade.
Ao empregar os signos que formam a nossa língua,devemos obedecer certas regras de organização
que a própria língua nos oferece. Por exemplo, é perfeitamente possível antepor-se à palavra casa a
palavra uma formando a seqüência uma casa. Já a seqüência um casa contraria uma regra de
organização da língua portuguesa, o que faz com que a rejeitemos. Portanto, os padrões de
organização são determinados. O conhecimento de uma língua engloba não apenas identificação de
seus signos, mas também o uso adequado de suas regras combinatórias.
Individualmente, cada pessoa pode utilizar a língua de seu grupo social de uma maneira particular,
desenvolvendo assim a fala, ou seja, a fala é o uso individual da língua. Nenhum falante de uma
língua fará uso de todos os signos que a compõem; um médico fará uso de uma parte da língua que
será diferente , por exemplo, de um professor de geografia. Por mais original e criativa que seja, no
entanto, sua fala estará contida no conjunto mais amplo, no nosso caso a Língua Portuguesa.
“Estudar a língua portuguesa é tornar-se apto a utiliza-la com eficiência na produção e interpretação
dos textos com que se organiza nossa vida social. Por meio desses estudos, amplia-se o exercício de
nossa sociabilidade – e, conseqüentemente, de nossa cidadania, que passa a ser lúcida.”(Gramática
da Língua Portuguesa. Pasquale Cipro Neto Ulisses. Infante. P. 12)

Professora Ms. Ivete Vidigoi – 2011


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A IMPORTÂNCIA DO ATO DE LER

Rara tem sido a vez, ao longo de tantos anos de prática pedagógica, por isso política, em que me
tenho permitido a tarefa de abrir, de inaugurar ou de encerrar encontros ou congressos.
Aceitei faze-lo agora, da maneira, porém, menos formal possível. Aceitei vir aqui paras falar um
pouco da importância do ato de ler.
Me parece indispensável, ao procurar falar de tal importância, dizer algo do momento mesmo em
que me preparava para aqui estar hoje; dizer algo do processo em que me enseri enquanto ia
escrevendo este texto que agora leio, processo que envolvia uma concepção crítica do ato de ler,
que não se esgota na decodificação pura da palavra escrita ou da linguagem escrita, mas que se
antecipa e se alonga na inteligência do mundo. A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí
que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade da leitura daquele. Linguagem e
realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançado por sua leitura
crítica implica a percepção das relações entre texto e contexto. Ao ensaiar escrever sobre a
importância do ato de ler eu me senti levado – e até gostosamente – a “reler” momentos
fundamentais de minha prática, guardados na memória, desde as experiências mais remotas de
minha infância, de minha adolescência, de minha mocidade, em que a compreensão crítica da
importância do ato de ler se veio em mim constituído. Ao ir escrevendo este texto, ia “tomando
distância” dos diferentes momentos em que o ato de ler se veio dando na minha experiência
existencial. Primeiro, a “leitura” do mundo, do pequeno mundo em que me movia; depois, a leitura
da palavra que nem sempre, ao longo de minha escolarização, foi a leitura da “palavramundo”.
A retomada da infância distante, buscando a compreensão do meu ato de “ler” o mundo particular
em que me ouvia – e até onde sou traído pela memória – me é absolutamente significativa. Neste
esforço a que me vou entregando, re-crio, re-vivo, no texto que escrevo, a experiência vivida no
momento em que ainda não lia a palavra. Me vejo então na casa mediana em que nasci, no Recife,
rodeada de árvores, algumas delas como se fossem gente, tal a intimidade entre nós – à sua sombra
brincava em seus galhos mais dóceis à minha altura eu me experimentava em riscos e aventuras
maiores. A velha casa, seus quartos, seu corredor, seu sótão, seu terraço – o sítio das avencas de
minha mãe -, o quintal amplo em que se achava, tudo isso foi meu primeiro mundo. Nele
engatinhei, balbuciei, me pus de pé, andei, falei. Na verdade, aquele mundo especial se dava a mim
como o mundo de minha atividade perceptiva, por isso mesmo como o mundo de minhas primeiras
leituras. Os “textos”, as “palavras” daquele contexto – em cuja percepção me experimentava e,
quanto mais o fazia, mais aumentava a capacidade de perceber – se encantavam numa série de
coisas, de objetos, de sinais,cuja compreensão eu ia aprendendo no meu trato com eles, nas minhas
relações com meus irmãos mais velhos e com meus pais. Freire, Paulo. A importância do ato de ler.
SP, Cortez, 1986.p 11-3.

1.1 Competências e a leitura de mundo

Ler o mundo significa mais do que ser capaz de ler um texto. É necessário aprender outras
linguagens além da escrita. Gráficos, estatísticas, desenhos geométricos, pinturas, desenhos e
outras manifestações artísticas, as ciências, as formas de expressão formais e coloquiais – tudo
deve ser lido e tem códigos e símbolos específicos de decifração. Quando um aluno está diante
de um problema matemático, precisa ser capaz de interpretar a pergunta para entender que tipo
de resposta é esperado. Idem para quem busca extrair conclusões de uma tabela de censo
demográfico. Se o professor pede para escrever cartas a destinatários diferentes, o estudante tem
de escolher o estilo e o vocabulário adequados a cada situação.

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Competência leitora e habilidades de leitura

“Uma competência é uma do que um conhecimento”, afirma Lino de Macedo, do Instituto de


Psicologia da Universidade de São Paulo (USP) e um dos autores da matriz do Exame Nacional
do Ensino Médio, o Enem. “Ela pode ser explicada como um saber que se traduz na tomada de
decisões, na capacidade de avaliar e julgar. Ao contrário de que muita gente pode pensar, esse
saber articulado ao fazer não é um modismo”, garante ele. “A evolução da tecnologia é
definitiva e, infelizmente, mais exclui do que inclui. Quem não sabe operar um computador,
dificilmente consegue emprego”, exemplifica.

Portanto, a competência pode ser traduzida como uma espécie de “saber fazer”, isto é,
saber lidar com as diferentes situações e problemas que se colocam diante de nós no dia a
dia.

Se a competência está relacionada com o “saber fazer, as habilidades estão relacionadas com
o “como fazer”, isto é, como o indivíduo mobiliza recursos, toma decisões, adota
estratégias ou procedimentos e realiza ações concretas para resolver os problemas.
Portanto, competência e habilidade são duas dimensões interdependentes do “saber”, que
se completam mutuamente.

No âmbito da leitura e da interpretação de textos, a competência leitora se expressa por meio


de habilidades de leitura, que, por sua vez, se concretiza por meio de operações ou esquemas de
ação.

XIV – COMO LER UM TEXTO

A palavra texto origina-se do latim “textum”, que significa “tecido, entrelaçamento”. Sua
etimologia nos dá a exata definição: texto é o resultado do entrelaçamento de unidades para formar
um todo.
Sua estrutura organiza-se de tal modo que as frases não têm significado autônomo; o sentido de uma
frase é dado pela correlação com as demais, ou seja, o significado global de um texto não é o
resultado da soma de suas partes, mas sim de uma combinação geradora de sentidos.

TEXTO E CONTEXTO

O sentido ou significado de uma frase dependo do contexto em que ela está inserida. Contexto é a
unidade maior em que uma unidade menor está inserida. Assim, o texto serve de contexto para a
frase; a frase serve de contexto para a palavra etc.
Além do contexto, devemos levar em consideração que, anterior ao texto, existe um motivo para
escrevê-lo. Por mais subjetivo ou ficcional que seja um texto, ele não pode ser desvinculado da
realidade que o produziu. O autor de um texto expõe através dele suas idéias e pontos de vista,
ambos vinculados a acontecimentos reais. Protanto, todo texto possui um “caráter histórico (...) na
medida em que revela os ideais e as concepções de um grupo social numa determinada época”.

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Um texto é uma manifestação lingüística produzida por alguém, em alguma situação concreta (um
contexto), com determinada intenção. Ele é sempre dirigido a alguém, ou seja, a situação de
produção de um texto supõe a existência de um interlocutor a quem ele se dirige. A interação entre
o locutor de um texto e seu interlocutor é o que vai construir o sentido desse texto.

Texto e discurso – Intertexto e interdiscurso

1. Texto verbal é uma unidade lingüística concreta, percebida pela audição (na fala) ou pela
visão (na escrita), que tem unidade de sentido e intencionalidade comunicativa.
2. Discurso é a atividade comunicativa – constituída de texto e contexto – discurso (quem fala,
com quem fala, com que finalidade, etc) – capaz de gerar sentido desenvolvido entre
interlocutores.
3. Intertextualidade é a relação entre dois textos caracterizada por um citar o outro.
4. Interdiscursividade é a relação entre dois discursos caracterizada por um citar o outro.
Toda relação interdiscursiva é também uma relação intertextual. Contudo, a
interdiscursividade é mais ampla: é um tipo de citação entre discursos, ou seja, que faz
referência não apenas a um texto ou a partes dele, mas também á sua situação de produção
(quem fez, para que, em que momento histórico, com qual finalidade, em que gênero, etc.), à
ideologia nele subjacente e aos significados que ele foi assumindo historicamente.

Atividades
Leia os textos a seguir. O primeiro texto foi escrito no século XIX por Casimiro de Abreu,
poeta romântico. O segundo foi escrito por Oswald de Andrade, escritor modernista do
século XX.

Texto 1
Meus oito anos

Oh! Que saudade que tenho


Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Que amor, que sonhos, que flores
Naquelas tardes fagueiras
Á sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!

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[...]
Casimiro de Abreu

Texto 2
Meus oito anos

Oh que saudades que eu tenho


Da aurora de minha vida
De minha infância querida
Que os anos não trazem mais
Naquele quintal de terra
Da Rua de Santo Antônio
Debaixo da bananeira
Sem nenhum laranjais.
[...]
Oswald de Andrade
1. Ambos os poemas se intitulam “Meus oito anos”. Compare-os.
a) Qual é o tema de ambos os textos?
b) Como o tema é abordado no poema de Casimiro de Abreu?
c) Como o tema é abordado no poema de Oswald de Andrade
2. Oswald de Andrade cita explicitamente o poema de Casimiro de Abreu, mas muda alguns de
seus elementos, como o verso “debaixo dos laranjais, que troca por “sem nenhum laranjais”.
a) Como você explica a concordância, ou a falta de concordância, em “sem nenhum laranjais”?
b) Que efeito de sentido essa opção provoca no texto?
c) Na opinião do poeta modernista, como seria uma infância de verdade, no Brasil?

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ESTRUTURA PROFUNDA DE UM TEXTO

A primeira leitura de um texto nos levará a sua estrutura superficial, isto é, aquilo que está claro e
explícito na sua organização. Essa primeira leitura trará uma noção ainda vaga do que pretende
dizer o autor.
Para uma leitura bem feita será preciso depreender do texto sua informação essencial, ultrapassando
sua superfície e inferindo seu sentido maior.
“Buscar as palavras mais importantes de cada parágrafo consitui uma boa maneira de chegar a sua
estrutura profunda, uma vez que, em torno delas, as outras se organizam para produzirem sentidos.
As palavras-chave aparecem ao longo do texto através de repetições ou sinônimos.
Algumas vezes, as palavras-chave não serão suficientes para sintetizar um texto e teremos de buscar
isso através das idéias-chave. Essas idéias-chave deverão ser retiradas de cada parágrafo do texto.
Unindo essas idéias teremos a síntese do texto”. (in Roteiro de Redação – Lendo e Argumentando.
Antônio Carlos Viana e outros. Editora Scipione, 1998)

ORGANIZAÇÃO FUNDAMENTAL DE UM TEXTO

Um texto sempre nos remete a duas concepções diferentes: aquela que ele defende e aquela em
oposição à qual ele se constrói. Sempre há dois pontos de vista, duas vozes presentes no texto. No
entanto, esses dois pontos de vista não estão mostrados claramente.
Há diversos mecanismos lingüísticos que servem para mostrar diferentes vozes no interior de um
texto. O primeiro deles é a negação. Nela estão implicadas duas vozes: uma que afirma e outra que
contesta.
A organização fundamental de um texto baseia-se em oposições de sentido. Para detectá-las é
preciso listar os elementos que estão em oposição e depois encontrar um denominado semântico
comum para eles. Um dos lados dessa oposição sempre aparece de apreciação positiva, enquanto o
outro é valorizado negativamente.

TIPOLOGIA TEXTUAL
Características formais dos diversos tipos de textos. Assim, quando interagimos com outras pessoas
por meio da linguagem, seja a linguagem oral, seja linguagem escrita, produzimos certos tipos de
textos que, com poucas variações, se repetem no tipo de conteúdo, no tipo de linguagem e na
estrutura.
Esses tipos de textos constituem os chamados gêneros textuais e foram historicamente criados pelo
ser humano a fim de atender a determinadas necessidades de interação verbal. De acordo com o
momento histórico, pode nascer um gênero novo, podem desaparecer gêneros de pouco uso, ou
ainda, um gênero pode sofrer mudanças até transformar-se em um novo gênero.

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A estrutura de um texto compreende unidade, organicidade e forma. A unidade diz respeito ao


núcleo temático, o texto deve constituir-se de um só assunto. A organicidade refere-se à articulação
entre as partes (introdução, desenvolvimento, conclusão) de forma coerente e lógica. A forma é a
maneira como o conteúdo se apresenta; o tema pode ser abordado de forma descritiva, narrativa ou
dissertativa, e outros, conforme o parágrafo anterior.
Os gêneros discursivos gerlamente estão ligados a esferas de circulação. Assim, na esfera
jornalística, por exemplo, são comuns gêneros como notícias, reportagens, editoriais, entrevistas; na
esfera de divulgação científica, são comuns gêneros como verbete de dicionário ou de enciclopédia,
artigo ou ensaio científico, seminário, conferência.
Desse modo, os gêneros textuais que circulam na sociedade podem ser organizados em cinco
grupos: gêneros do narrar, de relatar, do argumentar, do expor e do instruir.

O conteúdo exige coerência e clareza, ou seja, as idéias devem ser fundamentais e pertinentes ao
tema e sem abordagens fragmentadas ou diluídas ao longo da redação. Para a obtenção da clareza,
devemos ter uma linguagem simples, sem expressões vagas, evitar os pleonasmos e a ambigüidade.
Além disso, deve-se também evitar o uso de lugares-comuns, clichês e palavras repetidas.

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VARIAÇÕES LINGÜISTICAS

“Como foi mencionado anteriormente, para que se efetue a comunicação é necessário haver um
código comum. Diz-se, em termos mais gerais, que é preciso `falar a mesma língua´: o português,
por exemplo, que é a língua que utilizamos. Mas trata-se de uma língua portuguesa ou várias
línguas portuguesas? O português da Bahia é o mesmo português do Rio Grande do Sul? Não está
cada um deles sujeito a influências diferentes – lingüísticas, climática, ambientais? O português de
um médico é igual ao de seu cliente? O ambiente social e o cultural não determinam a língua? Estas
questões levam a constatação de que existem níveis de linguagem. O vocabulário, a sintaxe e
mesmo a pronúncia variam segundo esses níveis.
Começaremos por distinguir a língua escrita da língua falada. Admitem os lingüistas que no interior
da língua falada existe uma língua comum, conjunto de palavras, expressões e construções mais
usuais, língua tida geralmente como simples, mas correta. A partir desse nível tem-se, em ordem
crescente do ponto de vista da elaboração, a linguagem cuidada (ou tensa) e a linguagem oratória. E
no sentido contrário, da informalidade, tem-se a linguagem familiar e a linguagem informal ou
“popular”.
(...)
De modo geral, a linguagem cuidada emprega um vocabulário mais preciso, mais raro, e uma
sintaxe mais elaborada que a da linguagem comum. A linguagem oratória cultiva os efeitos
sintáticos, rítmicos e sonoros, e utiliza imagens.
As linguagens familiar e popular recorrem às expressões pitorescas, à gíria, e muitas de suas
construções são tidas como `incorreções graves` nos níveis de maior formalidade.
A língua escrita é, geralmente, mais elaborada que a língua falada (...). Ai os níveis são menos
numerosos e diretamente relacionado com o condicionamento sociocultural.
(...) O essencial é ter consciência desses níveis de linguagem na medida em que determinam o bom
funcionamento da comunicação. Tentar adaptar a própria linguagem à do interlocutor já é efetuar
um ato de comunicação. É difícil imaginar como um professor daria suas aulas se não empregasse
uma linguagem acessível às crianças; entretanto, a preocupação de levar os alunos à utilização da
linguagem comum obriga o mestre a recorrer a uma linguagem um pouco mais trabalhada que a de
seus ouvintes, tanto no vocabulário quanto na sintaxe. A comunicação envolve, neste caso, uma
reelaboração.”

VANOYE, Francis. Usos da linguagem.2ed2São Paulo, Martins Fontes, 1981.p30-2

Como falantes da Língua Portuguesa, podemos perceber que há situações em que a língua se
apresenta de uma forma bastante diferente daquela que estamos acostumados a ouvir em casa ou
através dos meios de comunicação. Essas diferenças apresentam-se tanto no vocabulário como na
pronúncia ou na organização da frase. Isso é perfeitamente natural se entendemos a língua como um
sistema dinâmico e sensível a fatores como região geografia, idade, sexo, grupo social dos falantes e
o grau de formalidade de um contexto.
Do ponto de vista lingüístico, não há nada nessas variedades que permita classifica-las como boas
ou ruins, melhores ou piores, feias ou bonitas, certas ou erradas. As variedades constituem sistemas
lingüísticos adequados para expressões das necessidades comunicativas e cognitivas dos falantes,
dadas as práticas sociais e os hábitos culturais de suas comunidades.

O texto abaixo é uma transcrição de um vídeo exibido na Casa de Detenção, em São Paulo, escrito e
interpretado pelo ator e dramaturgo Plínio Marcos.

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“Aqui é bandido: Plínio Marcos,Atenção, malandrage! Eu num vô pedir nada, vô te dá um
alô! Te liga aí: Aids é praga que rói até os mais fortes, e rói devagarinho. Deixa o corpo sem defesa
contra a doença. Quem pega está praga está praga está ralado de verde e amarelo, de primeiro ao
quinto, e semvaselina. Num tem doto que dê jeito, nem reza brava, nem choro, nem vela, nem aí,
Jesus. Pegou Aids, foi pro brejo! Agora sente o aroma da perpétua: Aids passa pelo esperma e pelo
sangue, entendeu? pelo esperma e pelo sangue! (pausa)
E num to te dando esse alô pra te assombra, então se toca! Não é porque tu ta na tranca que
ninguém pode valê pra ninguém nesse negócio de Aids! Então, já viu:: transa, só de acordo com o
parceiro, e de camisinha! (pausa)
Agora, tu aí que é metido a esculacha os outros, metido a ganha o companheiro na força bruta, na
congesta! Pára com isso, tu vai acaba empesteado! Aids num toma conhecimento de macheza, pega
pra lá e pega pra cá, pega em homem, pega em bicha, pega em mulhé, pega em roçadeira! Pra essa
peste num tem bom! Quem bobeia fica premiado. E fica um tempão sem sabe. Daí, o mais
malandro, no dia da visita, recebe mamão com açúcar da família e manda pra casa o Aids! E não é
isto que tu qué, né vago mestre? Então te cuida! Sexo só com camisinha. (pausa)
Quanto a tu, mais chega ao pico, eu to sabendo que ninguém corta o vício só por ordem da chefia.
Mas escuta bem, vago mestre, a seringa é o canal pro Aids. No desespero, tu não se toca, num vê,
num qué nem sabê que, às vezes, a seringa vem até com um pingo de sangue, e tu mete ela direta
em ti. Às vezes, ela parece que vem limpona, e vem com a praga! E tu, na afobação, mete elqa
direto na veia. Aí tu dança. Tu que se diz mais tu, mas que diz que num pode agüenta a tranca sem
pico, se cuida. Quem gosta de tu é tu mesmo. (pausa) E a farinha que tu cheira, e a erva que tu
barrufa enfraquece o corpo e deixa tu chué da cabeça e dos peitos. E aí tu fica moleza pro Aids!
Mas o pico é o canal direto pra essa praga que está aí. Então, malandro, se cobre! Quem gosta de tu
é tu mesmo. A saúde é como a liberdade. A gente só dá valor para ela quando ela já era! (Vídeo
exibido na Casa de Detenção, São Paulo. Agência Adag, 1988. Realização TV Cultura, São Paulo.
Duração: 2min48s)

1- Considerando as diferenças entre língua oral e língua escrita, assinale a opção que representa
também uma inadequação da linguagem usada ao contexto:
a) “ o carro bateu e capoto, mas num deu pra vê direito”. ( um pedreste que Assistiu ao
acidente comenta com outro que vai passando)
b) “ E aí, ô meu! Como vai essa força?” ( um jovem que fala para um amigo)
c) “ Só um instante, por favor. Eu gostaria de fazer uma observação”. (alguém comenta em
uma reunião de trabalho)
d) “ Venho manifestar meu interesse em candidatar-me ao cargo de Enfermeiro Chefe deste
conceituado hospital”. (alguém que escreve uma carta candidatando-se a um emprego)
e) “ Porque a gente corre o risco de temos, num futuro próximo, muito pouca comida nos lares
brasileiros”. ( um professor universitário em um congresso)

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Texto: Minha vida

Três paixões, simples mais irresistivelmente fortes, governaram minha vida:


o desejo imenso do amor, a procura do conhecimento e a insuportável compaixão
pelo sofrimento da humanidade. Essas paixões, como os fortes ventos, levaram-me
de um lado para outro, em caminhos caprichosos, para além de um profundo
oceano de angústias, chegando á beira do verdadeiro desespero.
Primeiro busquei o amor, que traz o êxtase – êxtase tão grande que
sacrificaria o resto de minha vida por umas poucas horas dessa alegria. Procurei-o,
também, porque abranda a solidão – aquela terrível solidão em que uma
consciência horrizada observa, da margem do mundo, o insondável e frio abismo
sem vida. Procurei-o, finalmente, porque na união do amor vi, em mística miniatura,
a visão prefigurada do paraíso que santos e poetas imaginaram. Isso foi o que
procurei e, embora pudesse parecer bom demais para a vida humana, foi o que
encontrei.
Com igual paixão busquei o conhecimento. Desejei compreender os
corações dos homens. Desejei saber por que as estrelas brilham? E tentei
apreender a força pitagórica pela qual o número se mantém acima do fluxo. Um
pouco disso, não muito, encontrei.
Amor e conhecimento, até onde foram possíveis, conduziram-me aos
caminhos do paraíso. Mas a compaixão sempre me trouxe de volta á Terra. Ecos
de gritos de dor reverberam em meu coração. Crianças famintas, vítimas torturadas
por opressores, velhos desprotegidos – odiosa carga para seus filhos – e o mundo
inteiro de solidão, pobreza e dor transformaram em arremedo o que a vida humana
poderia ser. Anseio ardentemente aliviar o mal, mas não posso, e também sofro.
Isso foi a minha vida. Achei-a digna de ser vivia e vivê-la de novo com a
maior alegria se a oportunidade me fosse oferecida.

RUSSEL, Bertrand, revista de Cultura, Enciclopédia Bloch, n. 53, set.1971,p.83

Retire do texto as palvras chaves de cada parágrafo

Palavras-chave

Palavras mais importantes de cada parágrafo, em torno das quais outras se


organizam, criando uma ligação para produzirem sentido. As palavras-chave
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aparecem, muitas vezes, ao longo do texto de diversas formas: repetidas,
modificadas ou retomadas por sinônimos. As palavras-chave formam o alicerce do
texto, são a base de sua sustentação, levam o leitor ao entendimento da totalidade
do texto, dando condições para reconstruí-lo

Texto II

Existem duas formas de operação marginal: a que toma a classificação genérica


de economia informal, correspondente a mais de 50% do Produto interno Bruto
(PIB), e a representada pelos trabalhadores admitidos sem carteira assinada.
Ambas são portadoras de efeitos econômicos e sociais catastróficos.

A atividade econômica excercida ao largo dos registro oficiais frustra a


arrecadação de receitas tributárias nunca inferiores a R$ 50 bilhões ao ano. A
perda de receita fiscal de tal porte torna precários os programas governamentais
para atendimento á demanda por saúde, educação, habitação, assist~encia
previdenciária e segurança pública.

Quanto aos trabalhadores sem anotações em carteiras, formam um colossal


conjunto de excluídos. Então á margem dos benefícios sociais garantidos pelos
direitos de cidadania, entre os quais vale citar o acesso á aposentadoria, ao seguro
desemprego e ás indenizações reparadoras pela despedida sem justa causa. De
outro lado, não recolhem a contribuição previdenciária, mas exercem fortes
pressões sobre os serviços públicos de assistência médico-hospitalar.

A reforma tributária poderá converter a expressões toleráveis a economia informal.


A redução fiscal incidente sobre as micro e pequenas empresas provocará, com
certeza, a regularização de grande parte das unidades produtivas em ação
clandestina. E a adoção de uma política consistente para permitir o aumento do
emprego e da renda trará de volta ao mercado formal os milhões de empregados
sem carteira assinada. É preciso entender que o esforço em favor da inserção da
economia no sistema mundial não pode pagar tributo ao desemprego e á
marginalização social de milhões de pessoas.

Correio Braziliense – 13.7.97

Retire de cada parágrafo as palavras-chave e a idéia chave.

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II - ORTOGRAFIA
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A competência para escrever corretamente as palavras está diretamente ligadas à freqüência do uso,
o que acaba trazendo a memorização da grafia correta. Além disso, as consultas ao dicionário
devem acontecer todas as vezes que surgirem dúvidas.
Entre os sons das palavras e também entre as letras que os representam podem ocorrer
coincidências. Isso acontece quando duas, às vezes três, palavras apresentam identidades total ou
parcial quanto à grafia e à pronúncia . Essas palavras recebem o nome de Homônimas (quando
apresentam a mesma grafia e a mesma pronúncia) e Parônimas (quando a grafia e a pronúncia são
apenas semelhantes). O conhecimento das diferenças de significado entre essas palavras
semelhantes e o maior delas trará a memorização; além, é claro, da sempre boa ajuda do dicionário.
Observe os exemplos abaixo:

• absolver/absorver • delatar/dilatar
acento/assento • despensa/dispensa
• acender/ascender • emergir/imegir
eminente/iminente
• área/ária • Flagrante/ fragrante
• censo/senso • Inflingir/infringir
• cessão/ceção /secção/sessão • Incipiente/ insipiente
• concerto/conserto • Peão/pião
• comprimento/cumprimento • Soar/suar
• deferir/diferir • Tráfego/tráfico
• descrição/discrição • Trás/traz
• descriminar/discriminar • Vultoso/vultuoso
• despercebido/desapercebido

Regras de ortografia
- A letra X é usada:
)a após um ditongo: paixão
)b após o grupo inicial em; enxada
)c após o grupo inicial em: mexerico
- As letras G/J
Usa-se a letra G: a) nos substantivos terminas em – agem, -igem, -ugem
b) nas palavras terminadas em –ágio, -égio, -igio, -ógio, -úgio
Usa-se a letra J: a) nas formas dos verbos terminados em –jar
b) nas palavras derivadas de outras que já apresentam j
- As letras S/Z

- Usa-se a letra S
a) nas palavras que derivam de outras que já existe s
b) nos sufixos –ês e –esa quando indicam nacionalidade, titulo ou origem
c) nos sufixos –ense –oso quando formam adjetivos
d) nosufixo –isa indicador de ocupação feminina
e) após ditongo
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f) nas formas do verbo pôr (e derivados) e querer

- Usa-se a letra Z
a) nas palavras derivadas de outras em que já exista z
b) nos sufixos –ez e –eza formados de substantivos abstrato
e) no sufixo –izar formado de verbos
d) no sufixo –ização formador de substantivos

- As letras S, C, Ç e os ditongos SC, SÇ, SS, XC e XS


)a verbos com nd formam substantivos com ns: ascender/ascensão
)b verbos com ced formam substantivos com cess: ceder/cessão – exceder/excesso
)c verbos com terminação ter formam substantivos com tenção: reter/retenção

- As letras E/I nas formas verbais


)a as formas dos verbos infinitivos terminados em –oar e –uar são grafadas com E:
abençoar/abençoe – perdoar/perdoe; atuar/atue
)b as formas dos verbos com infinitivos terminados em –air, -oer e –uir são grafadas com I:
cair/cai; doer/dói; influir/influi

Observe:
− adolescência, ascensorista, consciente, obsceno, rescisão, siscentos.
− Abuso, atrás, através, maisena
− Bege, gengiva, monge, tigela, vagem
− Berinjela, cafajeste, laje, majestade, traje
− Brecha, brocha, chalé, chope, chuchu, flecha, linchar, pichar
− Expectativa, expor, extravagante, texto
− Exceção, excesso, excêntrico, excepcional, exceto

III ACENTUAÇÃO

Na língua Portuguesa, a sílaba tônica pode aparecer em três diferentes posições:


a) oxítonas: são aquelas cuja sílaba tônica é a última
b) paroxítona: são aquelas cuja sílaba tônica é penúltima
c) proparoxítona: são aquelas cuja sílaba tônica é a antipenúltima

Regras básicas:
− Proparoxítonas são todas acentuadas
− Paroxítonas: são as mais numerosas da língua e justamente por isso as que recebem
menos acentos. São acentuadas as que terminam em:
 i, is, u, us, um, uns, ã, ãs, ao, aos
 r, x, n, l, os
 ditongo oral seguido ou não de s
− Oxítonas: são acentuadas as que terminam em:
 a, e, o seguidos ou não de s
 em, ens

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Regras especiais
a) monossílabos tônicos: são acentuados os terminados em a, e, o, seguidos ou não de s:
b) hiatos: quando o i e o u tônicos formam sílabas sozinhas, devem ser acentuados, com
exceção daqueles que antecedem nh.
c) Ditongos: as vogais e e o tônicos e abertas dos ditongos ei, eu, oi, devem ser
acentuadas.
d) gue, gui, que, qui: recebem trema no u quando este é pronunciado.

IV – EMPREGO CORRETO DE ALGUMAS PALAVRAS E EXPRESSÕES


 APAR /AO PAR: A par significa `estar bem informado`. Ao par indica
equivalência de valores.
 AONDE/ONDE: Aonde é usado quando há idéia de movimento. Onde
indica em que se está ou em que se passa algum fato.
 AO INVÉS DE /INVÉS: Ao invés de significa `ao contrario de´e só é usada
para indicar oposição.
 Invés é uma variedade de inverso.
 AO ENCONTRO DE/ DE ENCONTRO A: ao encontro de significa `estar
a favor de`, `caminhar ao encontro de alguém`. De encontro a significa `em
oposto a`, `ser contra`.
 A/HÁ: Há deve ser usado quando for possível substitui-lo por fazer ou
existir. Se essa substituição não for possível, usa-se ª
 ACERCA DE/HÁ CERCA DE: Há cerca de é usado quando puder ser
substituído por `faz cerca de`. Acerca de equivale a ´a respeito de´.
 AFIM/A FIM DE: Afim equivale a `igual, semelhante`. A fim de equivale a
`para`.
 A PRINCIPÍO/EM PRINCIPÍO: A precipício nos dá uma conotação de
tempo, equivale a no começo. Em principio nos dá idéia de aceitação.
 A VER/HAVER: A ver significa ter relação – Isso não tem relação comigo/
Isso não tem nada a ver comigo. Haver signivica, dependendo do sentido
empregado, Ter, possuir/obter; alcançar/existir/realizar.
 DEMAIS/DE MAIS: Demais pode significar em exesso ou equivaler
a restantes, os outros. De mais indica quantidade.
 MAS/MAIS: Eu já ia sair, mas começou a chover (mas – porém, contudo,
todavia, Tc). O banco que faz mais por você. (mais é o contrário de menos)
 MAL/MAU: Mal é o oposto de bem. Mau é o oposto de bom.
 SENÃO/ SE NÃO: Senão tem o valor de caso contrário ou não ser. Se não
equivale a ´caso não´.
 SEQUER/ SE QUER: Sequer significa ao menos, pelo menos. Se quer trata-
se de um termo composto pela palavra se mais a forma verbal quer.
 SOB/SOBRE: Sob significa debaixo de. Sobre significa em cima de, a
respeito de.
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 Trás /traz: trás corresponde a trás e significa depois de, após. Traz é a forma
verbal do verbo trazer.
 POR QUE/POR QUÊ/PORQUE/PORQUÊ:

1. POR QUE / POR QUÊ: equivale a por qual razão. Usa-se por que no início
ou meio de frases. Já por quê deve ser usado no final das frases.
2. POR QUE: equivale também a pelo qual a pelo qual, pela qual, pelos quais,
pelas quais.
3. PORQUE: tem valor aproximadamente a, pois, uma vez que.
4. PORQUÊ: significa o motivo, a razão e vem sempre precedido do artigo o

ATENÇÃO! EVITE USAR ALGUMAS EXPRESSÕES DE FORMA


ERRADA:

 Seje/esteje: essas formas verbais não existem na língua portuguesa, e o


correto é (seja e esteja).
 Tinha chego: alguns verbos apresentam duas formas para o particípio como
p. ex. pego/pegado, mas não é o que acontece com o verbo chegar, que possui
apenas uma forma para o particípio. Eu tinha chegado. Ele havia chegado.
 Menos/Meia: não é preciso dizer que o termo menos é invariável, portanto
não tem um correspondente para o feminino, usa-se sempre menos. Quanto
ao uso correto da palavra meio ou meia, é preciso atentar para o seu
significado: meia (= metade) e meio (=um pouco). Ela tomou meia (metade)
garrafa de vinho, por isso está meio (um pouco) tonta.
 Meio-dia e meia: meio dia são doze horas, correto? Portanto, se eu digo
meio-dia e meio estou me referindo a um dia inteiro , mas isso não existe!
12h30 min lê-se (e pronuncia-se) meio-dia e meia.
 Vou estar fazendo/ nós vamos estar fazendo/ ele vai estar enviando: nos
últimos tempos tem sido comum ouvirmos esse tipo de expressão. Por
influencia do Inglês, algumas pessoas tem abusado do uso do gerúndio de
forma desnecessária e incorreta, já que na língua portuguesa o gerúndio é
usado para indicar um processo de forma imprecisa, vagas, que já se iniciou,
mas que não está concluído, por exemplo. Há dois meses estou fazendo um
curso de decoração. Logo, as expressões como as citadas são indevidas, o
correto seria dizer Vou fazer ou farei, nós vamos tentar ou n´s tentaremos, ele
vai enviar ou ele enviará.

Para mim: o pronome mim não pode ser usado com sujeito. Simplificando, não devemos usá-lo
antes de verbo como na expressão Traga o carro para mim fazer a revisão, o correto é dizer para eu
fazer a revisão. Podemos usá-los apenas como objeto, por exemplo, Traga o carro para mim/ Faça
um favor para mim. Ou ainda: Para mim, a preocupação com o meio ambiente é fundamental.
Intervir/vir/ver: Esses verbos merecem cuidado no seu uso. Observe :
Eu intervim/Ele interveio/Eles intervieram.

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Língua Portuguesa
-Ver
quando eu vir/Quando elevir/Quando eles virem.
-Vir
Quando eu vier/Quando ele vier/Quando nós viermos/Quando eles vierem.
Fazer/Haver: O verbo fazer na indicação de tempo passado é impessoal, ou seja, deve permanecer
na terceira pessoa do singular, por exemplos: Faz algumas semanas que não o vejo./ Faz cinco
minutos que terminei o exercício.
O verbo haver também permanece na terceira pessoa do singular quando equivale a existir ou a
tempo passado. Observe:
Havia muitos sonhos em cada pessoa daquela sala.
Choveu há pouco e o cheiro da terra está no ar.

Tem/Têm: a forma verbal tem refere-se a 3° p.s. Ele tem bastante cuidado ao falar com os outros.
A forma verbal têm refere-se ao plural. Eles têm muitos problemas de relacionamento.
ATENÇÃO ao empregar essas formas!!!
Outras palavras que devem ser observadas na pronúncia e na grafia:
• Asterisco (e não asteristico) • Meteorologia (e não metereologia)
• Bandeja (e não bandeija) • Mendigo (e não mendingo)
• Beneficente (e não beneficiente) • Misto (e não mixto)
• Cabeleireira (e não cabeleleira) • Mortadela (e não mortandela)
• Cinqüenta (e não cincoenta) • Pátio (e não páteo)
• Disenteria (e não disinteria ou • Por isso (e não porisso)
desinteria) • Privilégio (e não previlégio)
• Empecilho (e não impecilho) • Problema (e não pobrema)
• Estupro (e não estrupo) • Questão (e não questã)
• Frustrado (e não frustado)

2 - Complete as lacunas com as palavras corretas.


Os dois enfermeiros caminhavam____________(ao par/a par).
Ele estava ___________da doença que o acometia. (ao par/a par)
O governo tomou medidas que vêm ________ as reivindicações dos trabalhadores, tomando, desse
modo, inevitável o movimento grevista. (Ao encontro/de encontro)
______ muito deixamos de nos ocupar com coisas tão miúdas. (há/a)
Daqui ________ alguns séculos pode ser que a vida seja mais valorizada. (há/a)
Daqui ________ pouco eu organizo os prontuários. (há/a)
Tudo se perdeu ________________ de quinze anos. (há cerca de/ acerca de)
Nada nos disse ________________de nossas reivindicações. (há cerca de / acerca de)

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Língua Portuguesa
Exerciam atividades _____________. (afim/ a fim)
Partiu ___________ de procurar uma vida melhor. (afim/ a fim)
___________ atenderem nosso pedido, teremos de interromper nosso trabalho. (senão/ se não)
Temos de encontrar uma solução ______não conseguirmos nada. (senão/ se não)
Aquela empresa __________ inúmeras estratégias publicitárias. (tem/têm)
Os candidatos ao governo _________ inúmeras soluções para os problemas do país. (tem/têm)
No passado, o hospital possuía um _________ administrador. (mau/mal)
O diretor _________ compreendia o que estava acontecendo com sua equipe. (mau/mal)
As relações surgiram, _________ o diretor divulgou as novas medidas tomadas por ele. (mau/mal)

Use por que, porque, porquê ou por quê


_______________ criar a dor?
Não sei ______________ criamos a dor.
Ainda não chegaram, ____________.
Venha depressa _________________ sua presença é indispensável.
Desistiu na última hora ____________ percebeu a falta de apoio.
Deve haver um ____________ convincente para desistir na última hora.
___________ não telefonou.
Foi _____________ estive doente.
Não acredito, no entanto, discutiremos os _________depois.
“pense nos ideais _____ batalhamos há tanto tempo, e diga-me _________ fracassamos. Será
_______________ fomos incapazes ou descuidado em algum ponto?”
___________ não vejo mais o auxiliar?
___________ foi despedido.
Sabe _______________?
Ninguém explicou ______________ da demissão.
“Não tinha a menor duvida dos motivos _________ lutava; _______ não se fez ouvir.” – Talvez
___________ não tenha usado argumentos convincente.
“(...) _________, no país do homem cordial, somos tão atabalhoados na etiqueta do celular.”
Cláudio de Moura e Castro. A etiqueta do celular. Veja, 19.04.00
“(...) Diferentemente quando a ética da empresa é apresentada apenasw de forma genérica, o
entrevistado não vê a condição comprador como um dos critérios prioritários para julgar a empresa.
Daí, o item respeito ao consumidor não surgir num honroso primeiro lugar tal como tratamento
dados aos funcionários. __________? Talvez pela atuação rasa dos próprios órgãos de defesa do
consumidor.
“(...) Josué Rios. Depois do leite derramado. Jornal da tarde, 24.06.00
“(...) Isso ___________cada uma daquelas pessoas estava ao celular resolvendo problemas indiáveis
da República (...) Cláudio de Moura e Castro. A etiqueta do celular. Veja. 19.04.00
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Língua Portuguesa
“(...) E a dívida interna, __________ crescer tanto? A resposta imediata seria: porque os juros que
fomos obrigados a pagar nos escapelaram (...)” Paulo Sandroni. Um governo impostor? Jornal da
tarde, 24.06.00

V – ESTRUTURA FRASEOLÓGICA E AS RELAÇÕES SEMÂNTICO-GRAMATICAIS


Frase é um enunciado com significado suficiente para estabelecer comunicação. pode expressar
ações, ordens, juízos, apelos ou emoções. A frase pode ou não possuir um verbo. Se possuí-lo
receberá o nome de oração. Apesar de na língua portuguesa haverem orações sem sujeito, a
estrutura da oração é composta de, no mínimo, sujeito e predicado.
Frase, gramaticalidade e inteligibilidade
Os falantes de uma língua tem liberdades de combinações, própria da fala e do discurso, que
permite expressar um pensamento da maneira pessoal, sem repetir frases já feitas. No entanto, há
certos limites impostos pela gramática que a invenção de uma nova língua a cada vez que se fala.
Assim nossa liberdade na construção de uma frase está condicionada a um mínimo de
gramaticalidade e inteligibilidade. Ou seja, uma frase não pode estar somente gramaticalmente
correta, inteligível.
Alem da gramaticabilidade e da inteligibilidade, a frase deve apresentar outras características, como
que seguem:
1. exclusão de duplicidade ou ambigüidade: “O ciúme da mulher levou-o ao suicídio.”
2. exclusão de tautologia (repetição da mesma idéia): “Morreu pobre porque não deixou nada.”
3. exclusão de incoerência, incompatibilidade e impropriedade: “seus olhos azuis são
negros.”/”A paz mundial está ameaçada, posto que a humanidade se vê dividida por
ideologia antagônicas.”/”A águia conhece a mecânica dos corpos.”
4. exclusão da necessidade de reorganização: “Creio que já disse que a ação de despejo o que o
advogado que o proprietário do apartamento que eu desconheço mandou me procurar me
disse que me vai mover é uma causa perdida.”
Estruturamos um período valendo-nos da relação entre as idéias e os pensamentos.
• ou, ora: relaciona idéias que se excluem
• mas, porém, contudo, entretanto...: marcam a oposição entre as idéias
• pois, porque: relacionam idéias de motivos ou justificativa
• logo, portanto, então, por isso...: relacionam idéias de que o que se afirma posteriormente é
conseqüência do que foi dito.

VI – PARALELISMO GRAMATICAL E SEMANTICO

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As idéias de algumas orações são similares, portanto deve haver correspondência similar entre as
formas verbais. Isso é o que chamamos paralelismo gramatical. O paralelismo evita construção
incorretas e inadequadas.
ex.:” Não fui ao trabalho por estar chovendo e porque era ponto facultativo.”
“Sua atitude foi aplaudida não só pelo povo mas também pelos companheiros de farda lhe
hipotecaram inteira solidariedade.”
“Na época de eleição, tanto para prefeito, governador ou presidência, as pessoas ficam sem
memória.”
“O governo deveria investir mais na saúde pública, não só em atendimento, mas em transmitir
informações.”
Nos exemplos acima, a falta de paralelismo causa uma falha estilística, o que torna o texto pouco
claro.
Dentro de uma frase também deve haver paralelismo, ao que chamamos de paralelismo semântico.
As palavras que se ligam devem caber no mesmo plano de significação, caso contrário a frase
parecerá ilógica como no exemplo abaixo.
“fiz duas operações: uma em São Paulo e outra no ouvido.”
5. Reescreva as frases seguintes, corrigindo os erros de paralelismo:
1. Gostaria de saber seu nome e onde ela mora.
2. O chanceler declarou estar propenso a reatar relações com aquele país, ou seja,
reiniciando o intercâmbio cultural e o de comércio.
3. Aja discretamente, com prudência e use o tato.
4. Ao encontrar com a tia, já bastante idosa, e vendo-a tão abatida, logo deduziu que
estava doente.
5. Vemos, portanto, o processo de execução forçada a fazer parte da demanda e
pertencente ao processo.
6. O jovem Newton não só inventou o cálculo infinitesimal, mas também os
fundamentos da ótica moderna foram lançados por ele.
7. Embora ele seja conhecido por todos e apesar de conviverem com João há dez anos
ninguém sabe se ele gosta de futebol.
8. Depois que surgiu a Internet, a impressão que se tem é de que o mundo diminuiu de
tamanho, não no sentido literal, apenas porque as distâncias parecem não existir
mais.
9. Fiquei decepcionado com o resultado do jogo e quando o meu irmão me disse que eu
não iria poder sair com ele aquela noite.
10. Escutamos uma pessoa forçando a janela da saída e um barulho.

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VII – USO DOS PRONOMES PESSOAIS OBLÍQUOS

1. Os pronomes o, os, a, as, são empregados como objetos diretos, ou seja, substituem nomes
que vem completar o sentido do verbo sem preposição:
Luís contava as boas notícias./ Luís contava-as
Carla bateu o carro. / Carla bateu-o
Essas formas sofrem modificações com os verbos terminados em R, -S, -Z, (lo, los, la, las), ou –
AM, -EM, -ÃO, ÕES (no, nos, na, nas): Julgar o réu./Julgá-lo – Compramos os livros./ Compramo-
los.
Cuidado: Não use Ele/Ela como objeto direto.
Acordei ele logo cedo. O correto é Acordei-o logo cedo.

2. Os pronomes lhe, lhes são empregados como objetos indireto, ou seja,, substituem nomes
que vem completar o sentido do verbo sempre com preposição:
Ofereci ajuda ao rapaz./ ofereci-lhe ajuda.
Eles pediram auxilio aos bombeiros,/ eles pediram-lhes ajuda.

COLOCAÇÃO DOS PRONOMES OBLÍCOS ÁTONOS:

1. antes do verbo (PRÓCLISE) quando houver:


1. palavras de valor negativo
2. pronomes relativos, interrogativos e exclamativos
3. conjunções subordinativas
4. advérbios
5. preposição em antes de gerúndio (-ndo)
6. oração que indicam desejo
7. com infinitivo flexionado
2. –no meio do verbo (MESÓCLISE):

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1. quando este estiver no futuro do presente ou futuro do pretérito do indicativo, desde
que não haja palavra que obrigue a próclise:

3. depois do verbo (ÊNCLISE):


1. no início do período
2. com verbos no imperativo, no gerúndio e no infinitivo não flexionado

6. Substitua o termo destacado por um pronome oblíquo átono:


• Entregue os prontuários ao atendeste. • A creise política derrubou o
• Entregue os prontuários ao atendente. presidente.
• Envie seus relatórios ao diretor. • Perdi os documentos na rua.
• Paguei aos meus credores. • Ponham as análises nesse envelope.
• Paguei os meus débitos. • Vou ler o reltório.
• Pediram remédios à farmácia. • Vimos as enfermeiras.
• Pediram remédios ao responsável pela • Eis a verdade.
farmácia. • Ele vai vender o produto.
• Devem destruir o antigo pronto- • Vou por as coisas em seus devidos
socorro. lugares.
• Guardei os livros no armário. • Vamos cumprimentar os vencedores.
• Mostre a radiografia ao paciente. • Diga a verdade ao paciente.
• Mostre a radiografia ao paciente. • Conte a novidade a seus amigos.
• Traga aqui as planilhas de custo. • Agradeça ao coordenador o favor que
• Os assistetes trouxeram o projeto. nos prestou.
• Levem o resultado dos tratamentos ao • Peça desculpas à secretária.
médico. • Apresente o projeto ao diretor.

7. Reescreva as frases, incluindoospronomes entre parenênteses:


• Eu entreguei a correspondência. (lhe) • Quem convidou para essa festa? (o)
• Entrei e cumprimentei. (o) • Se não engano, amanhã não haverá
• Disseram que você estava doente. aula. (me)
(me) • Espero que ajudes. (me)
• Nunca encontreoi no clube. (te) • Nínguém deu essa innformação. (me)
• Eu nunca direi o que aconteceu (lhe) • Quem deu essa ordem? (lhe)
• Não levante! (se) • Pedirei um favor. (lhe)

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• Diga o que aconteceu durante o seu • Espero que vopcê ajude no
plantãode sábado. (nos) levantamento dos dados. (o)
• Perguntei onde estão os documentos. • Não tenho certeza se orientei.
(lhe) Claramente sobre o horário das
injeções. (a)

8. Os pronomes pessoais são muito importantes para a retomada de dados e conceito ao longo
de um texto. No trecho abaixo, há asteriscos no lugar dos pronomes pessoais. Substitua-os
pelas formas pronominais apropriadas.

“Levado, ao espelho, o brasileiro dá de cara com uma imagem pertubadora – a sua própria
identidade em desordem. Certamente por força da crise que há longo tempo (*) invade por
todos oslados, (*) vê desmancharem-se diante (*) conhecias e reconfortantes fantasias. A
realidade atropela as ilusões nacionais, a começar pela matriz de todas elas, a de que Deus é
brasileiro.
Como um saltinbanco entre um trapézio e outro, o brasileiro parece ter perdido a confiança
na mitologia de suas gostosas qualidades, mas ainda não conseguiu (*) agarrar uma cadeia
de novas crenças, capazes de proteger (*) do absmo.” (Superinteressante, nov.1991)

VIII – USO DOS PRONOMES RELATIVOS


O pronome relativo apresenta um nome já mencionado anteriormente e estabelece relação entre
duas orações. Pode ou não vir precedido de preposição, dependendo da regência do verbo.
Este é o carro. Ganhei este carro no sorteio./ Este é o carro que ganhei no sorteio.
Aqui está o chaveiro. Você procura o chaveiro/ Aqui está o chaveiro que você procurava.
Tenho amigos. Sempre recorro aos meus amigos./Tenho amigos aos quais sempre recorro.
OBSERVAÇÕES
- O pronome relativo QUEM só se refere a pessoas e vem sempre precedido de preposição.
Esta é a moça de quem lhe falei.
- O pronome relativo ONDE sempre refere-se a lugar, equivalendo a em que
Esta é a cidade onde nasci.
- O pronome relativo CUJO e suas flexões equivalem a de que, do qual, de quem. Normalmente,
estabelecem relações de posse entre o termo antecedente e o tempo que especificam. NUNCA se
usa artigo depois de cujo.
Este é o diretor. O projeto do diretor foi aprovado/Este é o diretor cujo projeto foi aprovado.
NUNCA USE: “Este é o diretor cujo o projeto foi aprovado”.
9. Substitua os asteriscos por pronomes relativos. Observe a necessidade do uso da preposição
a. O hospital * o governo do estado quer recuperar é muito importante para a
comunidade.
b. Aquela médica * conversava ontem é a diretora do hospital.
c. As teses, * não duvido, foram rejeitadas.
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d. Este é o disco * repertório a crítica tem elogiado.
e. Aquela é a garota * irmã vive na Europa.
f. É um homem * opinião não se deve discordar.
g. Esta é a amiga, * prezo como irmã.
10. Una as frases abaixo em um único período, utilizando o pronome relatoivo necessário para
que as frases fiquem bem construídas.
a. Não tive tempo para ler todos os livros. Esses livros tem sido elogiado por quem já
os leu.
b. Felismente pude ver aquela peça. O professor havia falado bem dessa peça.
c. É fundamental criar projetos sociais exeqüíveis. A eliminação da miséria deve ser a
principal meta desses projetos.
d. Em toda eleição surgem candidatos oportunistas. Pouco se divulga sobre a vida
desses candidatos.
e. É preciso criar uma nação. A justiça social deve prevalecer nessa nação.
f. Não se pode sonhar com a paz social no Brasil. No Brasil, existe a pior distribuição
de renda do planeta.
g. Algumas pessoas participarão do seminário. Sempre lhe falo dessas pessoas.
h. Ele perdeu a chave da porta. Costumamos entrar por essa porta.
i. Leve aquela calça. Você fica muito bem com aquela calça.
j. Esses problemas podem ser facilmentes resolvidos. Conhecemos muito bem a causa
desses problemas.
11. Observe as ambigüidade das frases seguintes e proponha uma forma de reescrevê-las de
maneira clara.
a. O projeto será encaminhado ao líder de uma das comissões, que deve estudar o
assunto.
b. Um médico abriuum consultório no bairro, que atende todas as tardes.
c. Viajou para o Rio de Janeiro Joana de França onde ficará hospedada no palácio do
governo.
d. Está fazendo sucesso com sua nova escolinha o jogador Arturzinho, que fica no
bairro da Lapa.
e. Expus minhas sugestões à comissão de desenvolvimento tecnológico, que permitirá
novas perspectivas de trabalho.
f. É preciso que refaça o que havia feito.
g. Jão disse a Pedro que ele seria o escolhido.
h. Carlos me garantiu que conseguiria o cargo.
i. Silvia disse ao irmão que bateu seu carro.

IX – CONCORDÂNCIA VERBAL
SUJEITO COMPOSTO (anteposto ao verbo)
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1. O combustível e ogás de cozinha subiram de preço.
-Sujeito composto anteposto ao verbo, a concordância se faz no plural.
2. O amor e a paixão mora/moram naquele coração.
-Sujeitos composto por núcleos sinônimos, a concordância se faz no singular ou no plural.
3. Uma foto, uma imagem, uma lembrança bastava/bastavam para reviver aquele tempo.
- Sujeito composto por núcleos em gradação, a concordância se faz no plural ou no singular.
4. Massas, carnes, salgados, doces, tudo era servido na festa.
- Sujeito composto recuperado por expressões de resumo, a concordância é feita com esse
termo.
5. Nem o pai nem ofilho lembraram de fechar aporta.
Osvaldoou Osmar representam a empresa.
- Núcleo do sujeito unidos por ou ou nem, a concordância se faz no plural se o
predicadopuder ser atribuído a todos os núcleos.
Europa ou África será lugar de nossas próximas férias.
- Sefor excludente, o verbo fica no singular.
6. Eu, tu e ele viajaremos amanhã.
Tu e ele viajareis amanhã.
- sujeito composto por pessoas gramaticais diferentes: a primeira prevalece sobre a Segunda,
a Segunda sobre a terceira, ficando o verbo no plural correspondente a essas pessoas
gramaticais.
SUJEITO COMPOSTO ( posposto ao verbo)
1. Subiu/subiram de preço o combustível e o gás de cozinha.
2. Iremos à Europa meus filhos e eu.
Irei/iremos à Europa eu e meus filhos.
- Sujeito composto posposto ao verbo, a concordância pode ser feita no plural ou concordar
com o núcleo mais próximo. (exemplos 1 e 2)
SUJEITO SIMPLES
1. A maioria dos participantes concordou/concordaram com a decisão.
-Sujeito formado por expressões partitivas (parte de, uma porção de,metade de, a maioria de,
a mair parte de, grande parte de) seguida de um substantivo ou pronome no plural, o verbo
pode ficar no plural ou no singular.
2. -
a. Cerca de mil pessoas estiveram no comício.
b. Mais de um aluno cabulou a aula.
c. 25% do orçamento do país deve destinar-se a saúde.
d. 80% dos brasileiros discordam do FHC.
e. 19% aceitam o governo do FHC.
f. 1% não respondeu à pesquisa.
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- Sujeito formado por expressões que indicam quantidade aproximada (cerca de,
mais de, perto de) seguida de um numeral e substantivo, o verbo concorda com o
substantivo (ex. a. b). O mesmo acontece coma indicação de porcentagem (ex. c. d).
Quando a expressão não é seguida de substantivo, o verbo concorda com o número
(ex. E, f).
3. Vassouras fica no estado do Rio de Janeiro.
As Minas Gerais são inesquecíveis.
Os Sertões Glorificaram Euclides da Cunha.
- Sujeito composto por nomes próprios em plural, a concordância deve levar em conta a
presença do artigo. Se houver artigo, o verbo fica no plural. Sem a presença do artigo, o
verbo fica no singular.
Os Sertões é a obra máxima de Euclides da Cunha.
- Com o verbo ser pode ficar no singular se o predicativo também estiver no singular.
4. Quanto de nós são/somos capazes?
-Sujeito formado por pronome interrogativo ou indefinido plural ( quais, quantos, alguns,
poucos, muitos, vários) seguidos de nós ou vós, o verbo pode concordar com o primeiro
pronome (3° pessoa plural) ou com o pronome pessoal.
5. Fui eu que fiz o trabalho/Fomos nós que vimos o crime.
-Sujeito formado por pronome relativo que, a concordância se faz como antecedente.
6. Ele é um dos que pensam que a lei só existe para alguns.
- Sujeito formado pela expressão um dos que, a concordância se faz no plural.
7. Fui eu quem pagou/paguei a conta.
-Sujeito formado pelo pronome relativo quem, pode-se utilizar o verbo na terceira pessoa do
singular ou concordar com o antecedente do pronome.

VERBOS HAVER/FAZER/SER
1. Haverá protestos/houve protestos.
-Verbo na indicação de acontecimento ou existência é impessoal, devendo permanecer
sempre na terceira pessoa do singular.
2. Maria não viaja há dois anos/ Faz dois meses que o vi.
-Verbos haver e fazer ficam na terceira pessoa do singular quando indicam idéia de tempo.
3. O mundo são essas verdades.
-Verbo ser colocado entre um substantivo comum num singular e outro no plural, o verbo
tende a ir para o plural.
4. Pelé foi o mais incrível dribles./O homem é cinzas.
- Verbo sercolocadoentre um nome próprio e comum, o verbo ser tende a concordar com o
nome próprio.
5. Quatro anos é muito./Duas horas é pouco.

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- Nas expressões que indicam quantidade ( medida, valor, peso, preço) o verbo ser é
invariavél.
6. -
a. O responsável sou eu.
b. Tudo era sorrisos.
- Verbo ser colocado entre um substantivocomum e um pronome pessoal, o verbo concorda com o
pronome (ex. A/b). Quando o pronome não for pessoal condcorda com o substantivo (ex.c)
7. É uma hora./São quatro horas.
- Verbo ser na indicação de tempo concorda com a expressão numérica mais próxima.

X – CONCORDÂNCIA NOMINAL
Regras básicas: o adjetivo deve concordar com osubstantivo
genero e número
1. A empresa oferece perfeita localização e atendimento.
A empresa oferece perfeito atendimento e localização.
A empresa oferece localização e atendimento perfeitos.
A empresa oferece localização e atendimento perfeito.
A empresa oferece atendimento e localização perfeita.
A empresa oferece atendimentos e localização perfeitos.

2. Tropicália 2 é uma obra-prima dos brilhantes Caetano e Gil.

3. Mãe e filhos são talentosos.


Considero inteligente o professor e a aluna.
Julguei indevidas sua atitude e suas palavras.
São vergonhosos a pobreza e o desamparo.
É vergonhosa a pobreza e o desamparo.

4. Admiro a cultura italiana e a francesa./ Admiro as culturas italiana e francesa.

5. Convoquei os alunos da primeira e da segunda série.


Convoquei os alunos da primeira e segunda séries

6. Seguem anexas as faturas requeridas./Segue anexo o documento.


Seguem inclusos os comprovantes./ Segue inclusa a cópia do contrato.
- muito obrigadas, disseram elas, nós mesmas nos servimos.

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Língua Portuguesa
O rapaz agradeceu: - Muito obrigado.
Já lhe paguei a dívida: estamos quites.

7. Pedi meia cerveja e meia porção de azeitonas.


Meia classe terá de permanecer após meio-dia e meia.
Ela ficou meio nervosa quando soube do problema.
Ficamos meio chateados com o ocorrido,
O país não dispõe de recursos bastantes para a obra.
Os alunos ficaram, apesar de estarem bastante cansados.

8. É necessário chegar no horário previsto.


É proibido fumar.
Em certas situações, é necessário paciência.
Não é permitido entrada.
É proibida a entrada.
A liberdade é necessária.

REGÊNCIA VERBAL
- Aspirar
1. Não exige preposição quando significa “sorver”, “cheirar”.
2. Quando significa “desejar”, “ pretender” exige preposição a.

- Assistir
1. Exige preposição a quando significa “ver”, “presenciar”.
2. Quando significar “socorrer” não exige preposição.

- Chegar/ir
Pedem preposição a quando indicam “lugar para onde”.

- Custar
1. uando significa “ser difícil”, “ser penoso”, exige a preposição a.

- Esquecer/Lembrar
1. Não pedem preposição quando não estão acompanhados de pronomes oblíquos.

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2 – Pedem a preposição de quando estão acompanhados de pronome oblíquo.

• Implicar
1. Não exige a preposição quando significa “Ter como conseqüência”, “acarretar”;
2. Exige preposição com quando significa “Ter implicância”.

• Informar:
Admite a regência com as preposições a, de e sobre.

• Obedecer/Desobedecer
Exigem preposição a

• Pagar/Perdoar/Agradecer
1. Não exige preposição quando o complemento se refere a coisa;
2. Exige preposição a quando o complemento se refere a pessoa.

• Preferir
Exige dois complementos: um sem preposição e outro com preposição a;

• Proceder
1. Exige preposição de quando significa “Ter origem”, “provir';
2. Não exige preposição ou complemento quando significa “Ter cabimento”.

• Querer
1. Não exige preposição quando significa “desejar”;
2. Quando significa “gostar”, “Ter afeto”, exige a preposição a.

• Responder
Exige preposição a.

• Visar
1. Não exige preposição quando significa “apontar” ou “pôr visto”;
2. Exige preposição a quando significa “Ter em vista”, “desejar”.

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XII – REGÊNCIA NOMINAL

• acessível – a • capacidade – de, • imune – a, de


• acostumado – a, para • liberal – com
com • compatível – com • necessário – a
• afável – a, com, para • comum – a, entre • ojeriza – a, por
com • contrário – a • paralelo – a
• aflito – com, por • curioso – de, por • passível – de
• agradável – a • desejoso – de • peculiar – a, de
• alheio – a • devoto – a, de • preferência – por,
• ansioso – de, para, • empenho – de, em, sobre
por por • preferível – a
• apegado – a • entendido – em • relativo – a
• apto – a • equivalente – a, de • semelhante – a
• atento – a, em • essencial – a, para • sensível – a
• aversão – a, para, • fanático – de, por
por • sito – em
• grato – a, por • surdo – a
• ávido – de
• hábil – em • suspeito – a, de
• bacharel – em,
• horror – a • vazio – de
• benéfico – a,
• idêntico – a

XII – CRASE

CRASE é a fusão de duas vogais idênticas, sendo graficamente transicrita pelo acento grave (`)

NÃO ocorre crase antes:

a. dos substantivos masculinos: Fui a pé;


b. de verbos: Começou a chorar;
c. da maioria dos pronomes: Parabéns a você/isso não interessa a ninguém;
d. de palavras femininas precedidas de um a: A entrevista foi feita a mulheres casadas;
e. de expressões femininas formadas por palavras repetidas: cara a cara/gota a gota;
f. de pronomes de tratamento, exceção feita a senhora, senhorita e dona.

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SEMPRE ocorre crase:

a. na indicação do número de horas especificadas: Cheguei à meia-noite/Saiu às duas horas.


b. Nas expressões adverbiais, prepositivas e conjuntivas formadas por palavras femininas:

Nos encontramos à tarde.


Estou sempre às ordens.
Fiquem à vontade.
À medida que falava, chorava ainda mais.
Às vezes é bom ficar à toa.

c. Antes da expressão à moda de, mesmo que esteja subentendida:


Pedimos uma pizza à moda da casa.
Não gosto de arroz à grega.

Para verificar a ocorrência de um artigo feminino após a preposição a, existem duas formas práticas.

1. Colocar um termo masculino sinônimo (ou quase sinônimo) no lugar do termo feminino. Se
surgir a forma AO, ocorrerá a crase:

conheci o diretor/conheci a diretora


refiro-me ao diretor/refiro-me à diretora

2. Substituir o termo regente da preposição a por um que reja outra preposição (de, em, por).
Se surgirem as formas da(s), na(s) ou pela(s), ocorrerá crase.

Refiro-me a você/Gosto de você/Penso em você/Apaixonei-me por você.


Dirigi-me à cidade/Gosto da cidade.

Obs.: Deve-se usar o mesmo recurso para verificar a ocorrência da crase antes de nomes de cidades,
países e estados.

Vou à Itália/Estou na Itália.


Vou a São Paulo/Estou em São Paulo.

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Crase antes de pronomes

a. antes dos pronomes aquele(s), aquela(s) e aquilo deve-se verificar a presença da preposição:

Vejo aquele rapaz/Refiro-me àquele rapaz.

b. antes do demonstrativo a e dos relativos a qual/as quais deve-se substituir o termo feminino
por um termo masculino:

Sua proposta é semelhante à dele/Seu projeto é semelhante ao dele.


As amigas às quais dedicou o livro estavam presentes/Os amigos aos quais dedicou o livro estama
presentes.

16 – Complete as lacunas obedecendo à concordância das palavras entre parênteses:

• Ela conservou _______________________ as mãos e o rosto. (limpo)


• Só fala com _________________________ palavras. (meio)
• Situações e fatos _____________________. (inesperado)
• Os pensamentos, os atos, os gestos, tudo__________________sacrilégio. (verbo ser)
• Nem um nem outro__________________à reunião. (comparecer)
• Foi uma das coisas que mais me___________________. (surpreender)
• Amazonas_________________considerado um santuário ecológico. (verbo ser)
• Estados Unidos________________________________acordo com o Brasil. (assinar)
• Ela estava_________________________morta.(meio)
• Elas__________________________reconhecem o erro.(mesmo)
• Vitaminas______________ _____________________. (verbo ser = adjetivo bom/boa)
• Eles_____________________ denunciaram os culpados. (mesmo)
• Cofres e carteira__________________ de moedas. (cheio)
• Cláusulas_________________e___________________(primeiro – oitavo)
• ___________________ a colocação de cartazes.(proibidos)
• Sou eu que_____________________.(decidir)
• Sou eu quem______________.(pagar)
• ____________________três horas e a porta continua fechada. (dar)
• ____________________dois meses que não recebo suas cartas. (fazer)
• Entre os objetos antigos ______________________ muitos santos barrocos. (haver)
• ____________________, disseminados por aí, muitos preconceitos. (existir)

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• As vitaminas _________________ _______________. (verbo ser + adjetivo bom/boa)
• ____________________ discursos e redação. (belo)
• Riso e olhar ____________________ . (profundo)
• Paguei a dívida que tinha com você, portanto estamos _________________. (quite)
• Estou ______________________ com o banco. (quite)
• Amores e paixões _____________________. (doentio)
• Eram _____________________ a expressão, a presença e o gesto. (mudo)
• Seguem __________________ a procuração e o abaixo-assinado. (anexo)
• Esta classe tem _________________ alunas do que a outra. (menos)

17 – Coloque o assento indicador de crase quando necessário.

a. Assisti a última peça de Dias Gomes.


b. Estou acostumado a estudar.
c. Respondi a ela que não iria a festa.
d. Esta é a cena a qual me referi.
e. Aderimos a mobilização geral.
f. Entregamos o abaixo-assinado as deputadas.
g. Não vou a festas.

18 – Nos trechos abaixo, o acento indicador de crase não foi usado. Observe sua ocorrência e
acentue-a devidamente nos negritos.

a. Linus Pauling que faleceu esse ano, aos 94 anos de idade, de uma patologia que costuma
ocorrer aos 65-70 anos, (ou seja, adiou em 30 anos uma patologia a qual era predisposto,
devido ao uso que fazia das vitaminas e minerais) era um entusiasta do uso de grandes doses
de vitaminas diariamente.
b. Uma mulher morre a cada duas horas no Brasil por motivos relacionados a gravidez. Das
3000 a 5000 mortes por ano, 90% poderiam ser evitadas com a melhoria do atendimento às
gestantes e com o acesso aos cuidados básicos.
c. Não precisa muito esforço para perceber que há um vasto campo a ser explorado: a cada dia,
novas áreas são descobertas, apesar da carência de maior exploração no âmbito da pesquisa
científica.
d. Analisando o mercado de trabalho atual, há poucas oportunidades explícitas nas
especialidades mais difundidas, e quando ocorre, por existir uma fila de profissionais a sua
procura, o mercado fica retraído e os salários, rebaixados. Esta é uma realidade com a qual
os recém-formados irão deparar-se. Até então, discutir a retração de mercado restringia-se a
outras áreas da saúde, face ao grande número de profissionais colocados no mercado. Não
tardou para chegar a vez da fisioterapia.

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19 – Complete as frases seguintes, estabelecendo a regência correta:

• Não é possível viver em sociedade sem respeito _________ direitos dos outros.
• Tenho profunda aversão _________ egoístas.
• Aquele político não teve capacidade _________ governar o país.
• Não tenho devoção _________ futebol.
• A ditadura é um verdadeiro atentado _________ dignidade humana.
• Ele não está acostumado _________ linha da liberdade.
• É um assunto pouco acessível _________ leigos.
• É uma substância necessária _________ vida.
• É preferível fechar a boca _________ falar asneiras.
• Fui contrário _________ que incluíssem meu nome no manifesto.
• Era um pequeno cão, _________ cuja presença estávamos habituados.

20 – Substitua as palavras destacadas pela forma apropriada do verbo entre parênteses.

• Nunca sorvi perfume tão agradável. (aspirar) ___________________________


• Almejo um futuro melhor para o país. (aspirar) ___________________________
• Não deixo de ver os filmes italianos. (assistir) ___________________________
• Você deve rubricar todas as vias do documento. (visar) _____________________
• Ele teve dificuldade em perceber o que estava acontecendo. (custar) ___________
• Cidadania tem como conseqüência direitos e deveres. (implica) ______________

21 – Considerando a regência verbal e a nominal, analise as frases e escreva C (certo) ou E (errado).

• Vou ao banco visar a este cheque. ( )


• Venha à minha casa para assistir o jogo. ( )
• Informei os amigos sobre a carta que recebi. ( )
• Paga o que deve aos seus empregados. ( )
• Esse jovem cantor aspira o sucesso. ( )
• Prefiro passear a ficar em casa vendo televisão. ( )
• Não faça nada que seja contrário dos bons princípios. ( )
• Esse produto é nocivo à saúde. ( )
• Ele mostrou-se insensível a meus apelos. ( )
• Tenho simpatia a ele. ( )
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XIV – COMO LER UM TEXTO

A palavra texto origina-se do latim “textum”, que significa “tecido, entrelaçamento”. Sua
etimologia nos dá a exata definição: texto é o resultado do entrelaçamento de unidades para formar
um todo.
Sua estrutura organiza-se de tal modo que as frases não têm significado autônomo; o sentido de uma
frase é dado pela correlação com as demais, ou seja, o significado global de um texto não é o
resultado da soma de suas partes, mas sim de uma combinação geradora de sentidos.

TEXTO E CONTEXTO

O sentido ou significado de uma frase dependo do contexto em que ela está inserida. Contexto é a
unidade maior em que uma unidade menor está inserida. Assim, o texto serve de contexto para a
frase; a frase serve de contexto para a palavra etc.
Além do contexto, devemos levar em consideração que, anterior ao texto, existe um motivo para
escrevê-lo. Por mais subjetivo ou ficcional que seja um texto, ele não pode ser desvinculado da
realidade que o produziu. O autor de um texto expõe através dele suas idéias e pontos de vista,
ambos vinculados a acontecimentos reais. Protanto, todo texto possui um “caráter histórico (...) na
medida em que revela os ideais e as concepções de um grupo social numa determinada época”.
Um texto é uma manifestação lingüística produzida por alguém, em alguma situação concreta (um
contexto), com determinada intenção. Ele é sempre dirigido a alguém, ou seja, a situação de
produção de um texto supõe a existência de um interlocutor a quem ele se dirige. A interação entre
o locutor de um texto e seu interlocutor é o que vai construir o sentido desse texto.

ESTRUTURA PROFUNDA DE UM TEXTO

A primeira leitura de um texto nos levará a sua estrutura superficial, isto é, aquilo que está claro e
explícito na sua organização. Essa primeira leitura trará uma noção ainda vaga do que pretende
dizer o autor.
Para uma leitura bem feita será preciso depreender do texto sua informação essencial, ultrapassando
sua superfície e inferindo seu sentido maior.
“Buscar as palavras mais importantes de cada parágrafo consitui uma boa maneira de chegar a sua
estrutura profunda, uma vez que, em torno delas, as outras se organizam para produzirem sentidos.
As palavras-chave aparecem ao longo do texto através de repetições ou sinônimos.
Algumas vezes, as palavras-chave não serão suficientes para sintetizar um texto e teremos de buscar
isso através das idéias-chave. Essas idéias-chave deverão ser retiradas de cada parágrafo do texto.
Unindo essas idéias teremos a síntese do texto”. (in Roteiro de Redação – Lendo e Argumentando.
Antônio Carlos Viana e outros. Editora Scipione, 1998)

ORGANIZAÇÃO FUNDAMENTAL DE UM TEXTO

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Um texto sempre nos remete a duas concepções diferentes: aquela que ele defende e aquela em
oposição à qual ele se constrói. Sempre há dois pontos de vista, duas vozes presentes no texto. No
entanto, esses dois pontos de vista não estão mostrados claramente.
Há diversos mecanismos lingüísticos que servem para mostrar diferentes vozes no interior de um
texto. O primeiro deles é a negação. Nela estão implicadas duas vozes: uma que afirma e outra que
contesta.
A organização fundamental de um texto baseia-se em oposições de sentido. Para detectá-las é
preciso listar os elementos que estão em oposição e depois encontrar um denominado semântico
comum para eles. Um dos lados dessa oposição sempre aparece de apreciação positiva, enquanto o
outro é valorizado negativamente.

XV – TIPOLOGIA TEXTUAL
Características formais dos diversos tipos de textos

A estrutura de um texto compreende unidade, organicidade e forma. A unidade diz respeito ao


núcleo temático, o texto deve constituir-se de um só assunto. A organicidade refere-se à articulação
entre as partes (introdução, desenvolvimento, conclusão) de forma coerente e lógica. A forma é a
maneira como o conteúdo se apresenta; o tema pode ser abordado de forma descritiva, narrativa ou
dissertativa.
O conteúdo exige coerência e clareza, ou seja, as idéias devem ser fundamentais e pertinentes ao
tema e sem abordagens fragmentadas ou diluídas ao longo da redação. Para a obtenção da clareza,
devemos ter uma linguagem simples, sem expressões vagas, evitar os pleonasmos e a ambigüidade.
Além disso, deve-se também evitar o uso de lugares-comuns, clichês e palavras repetidas.

Tipos de texto

Embora haja um esquema fundamental e uma estrutura dominante, dificilmente encontraremos um


texto que apresente somente descrições ou narrações, ou dissertações puras.
Para que possamos redigir um bom texto é necessário o conhecimento não só das normas
gramaticais, de um bom vocabulário ou criatividade. É preciso também conhecer as diferentes
formas de composição do texto.

1. Descrição

Descrição é a representação verbal de um objeto sensível. Pode ser comparada à fotografia, mas
admite interpretação, a não ser que se trate de descrição técnica.
A descrição pode ser de pessoas, animais, objeto, ambiente, paisagem ou cena. Sua estrutura
compreende três tipos de processo: nomear ou identificar, localizar, situar e qualificar. Ela poderá
ser literária ou técnica, segundo sua finalidade. A descrição literária é mais subjetiva, admitindo o
uso de figuras de linguagem. Já a descrição técnica apresenta maior objetividade. Normalmente, a

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descrição apresenta grande presença de substantivos, adjetivos e verbos de ligação ou estado. Seu
objetivo é fazer com que o leitor “crie” em sua mente a imagem do que está sendo descrito.

2. Narração

Narração é o relato de fatos ordenados em seqüência lógica, com a presença de personagens. A


personagem (quem?) e o fato (o quê?) são os elementos fundamentais da narração. Entretanto, pode
haver a presença de outras circunstâncias: modo de desenvolvimento dos fatos (como?), local do
fato (onde?), tempo ou época (quando?), causa (por quê?) e conseqüência (por isso).
Há várias espécies de narração: história do homem, biografias ou autobiografias, contos, crônicas,
novelas, romances, anedotas, entreveistas e reportagens.
A estrutura da narração divide-se em: exposição (apresentação do assunto), complicação (desenrolar
dos acontecimentos e o conflito entre as personagens), clímax (auge do conflito, o ponto culminante
da história ou do suspense) e desfecho (resolução do conflito).
Apesar de mais conum, a narração não é exclusividade dos contos, romances ou de outros textos em
prosa; ela também pode surgir na poesia e em letras de música popular. O que a caracteriza são os
verbos de ação, que traduzem não só o movimento das personagens no espaço ou no tempo, mas
também a mudança de situação das personagens.

3. Dissertação

Dissertação é uma forma de redação em que se apresentam considerações a respeito de um tema


para expor, explanar, explicar ou interpretar idéias. Seu tema exige o exercício da razão, do
raciocínio. A dissertação caracteriza-se pela reflexão e pelo vocabulário próprio.
Há dois tipos de dissertação: a expositiva e a argumentativa. A expositiva consiste na apresentação
e na discussão de uma idéia, de um assunto ou de uma doutrina de forma ordenada. Não há o
objetivo de convencer o leitor, mas apenas demonstrar. A argumentativa caracteriza-se por implicar
o debate, a discussão de uma idéia, assunto ou doutrina, com o objetivo de influenciar, persuadir o
leitor. Portanto, a exposição é acompanhada de argumentos, provas e técnicas de convencimento.
A estrutura dissertativa organiza-se em três partes. A introdução (apresentação da idéia-base), o
desenvolvimento (análise e reflexão) e conclusão (síntese/reafirmação da idéia central). O que
também caracteriza a dissertação é o seu encadeamento lógico, o que exige maior cuidado com a
ordem e a clareza na exposição de idéias.

XVI – DESENVOLVIMENTO DO PARÁGRAFO

1. Conceito de parágrafo: unidade de composição formada por um ou mais de um períodos que


gira em torno de uma idéia núcleo. Dessa idéia núcleo podem irradiar-se outras, secundárias,
desde que a ela associada pelo sentido.

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2. Construção do parágrafo: não há moldes rígidos para a construção do parágrafo. Sua
estrutura depende em parte da natureza do assunto, do tipo de composição (descrição,
narração, dissertação) e, em parte, do próprio escritor. No entanto, em fase de aprendizagem,
recomendam-se algumas estruturas que a experiência tem demonstrado assegurarem-se a
unidade (uma só idéia predominante) e a coerência (relação lógica entre a idéia central e as
secundárias), qualidades essenciais do parágrafo.
O parágrafo normalmente começa por um ou dois períodos, quase sempre breves, que encerram a
idéia núcleo. É o que se chama tópico frasal.
O conteúdo genérico do tópico frasal será em seguida especificado, no desenvolvimento, por vários
processos de explanação, através dos quais o autor torna mais precisa, justifica, exemplifica, enfim,
fundamenta sua declaração.
3. Modos de iniciar um parágrafo

1. Declaração inicial: o autor afirma ou nega alguma coisa para, em seguida, justificar ou
fundamentar a declaração, apresentando argumentos através de exemplos, confrontos,
analogias etc.
Exemplo: “O contribuinte brasileiro precisa receber um melhor tratamento das autroridades fiscais.
Ele é vítima constante de um Leão sempre descontente de sua mordida. Não há ano em que se sinta
a salvo. É sempre surpreendido por novas regras, novas alíquotas, novos assaltos ao seu bolso.”

2. Definição: o autor define algo, isto é, apresenta as características diferenciadoras do objeto


ou do conceito em questão. A definição pode ser denotativa ou conotativa.
Exemplo: “O mito, entre os povos primitivos, é uma forma de se situar no mundo, isto é, de
encontrar o seu lugar entre os demais seres da natureza. É um modo ingênuo, fantasioso, anterior a
toda reflexão e não-crítico de estabelecer algumas verdades que não só explicam parte dos
fenômenos naturais ou mesmo a construção cultural, mas que dão, também, as formas da ação
humana.” (ARANHA, Maria L. de Arruda & MARTINS, Maria H. Pires. Temas de Filosofia. São
Paulo, Moderna, 1992, p. 62)

3. Divisão: consiste em apresentar o tópico frasal sob a forma de divisão ou descriminação das
idéias a serem desenvolvidas.
Exemplo: “Predominam ainda no Brasil duas convicções errôneas sobre o problema da exclusão
social: a de que ela deve ser enfrentada apenas pelo poder público e a de que sua superação envolve
muitos recursos e esforços extraordinários. Experiências relatadas nesta Folha mostram que o
combate à marginalidade social em Nova Iorque vem contando com intensivos esforços do poder
público e ampla participação da iniciativa privada.” (Folha de São Paulo)

4. Interrogação: o parágrafo começa por uma pergunta, seguindo-se o desenvolvimento sob a


forma de resposta ou de esclarecimento.
Exemplo: “Será que é com novos impostos que a Saúde melhorará no Brasil? Os contribuintes já
estão cansados de tirar dinheiro do bolso para tapar um buraco que parece não ter fim.”

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As possibilidades acima são as mais comuns de iniciar-se um parágrafo, além delas pode-se usar a
alusão histórica, a adjetivação, a citação, a oposição, a comparação, entre outras.

4. Modos de desenvolver um parágrafo

a. Enumeração e descrição dos detalhes:


“Era um dia abafadiço e aborrecido. A pobre cidade São Luiz do Maranhão parecia entorpecida
pelo calor. Quase que se não podia sair à rua: as pedras escaldavam; as vidraças e os lampiões
faiscavam ao sol como enormes diamantes; as paredes tinham reverberações de prata polida; as
folhas das árvores nem se mexiam; as carroças d'água passavam ruidosamente a todo instante,
abalando os prédios; os aguadeiros, em mangas de camisa e pernas arregaçadas, invadiam sem
cerimônia as casas para encher as banheiras e os potes. Em certos pontos não se encontrava viva
alma na rua; tudo estava concentrado, adormecido; só os pretos faziam compras para o jantar, ou
andavam no ganho.” (Aluísio de Azevedo. O Cortiço)

b. Paralelo por contraste ou por semelhança:

semelhança (igualdade)

comparação

contraste (mais/menos)

“O comportamento humano é de dois tipos diferentes: simbólico e não simbólico. O homem boceja,
espreguiça, tosse, coça-se, grita quando sente dor, encolhe-se com medo, arrepia-se etc. O
comportamento não simbólico deste tipo não é peculiar ao homem. Ele apresenta isto não só como
os outros primatas, mas como muitas outras espécies animais. Mas o homem pode comunicar-se
pela palavra, usa amuletos, confessa feitas, faz leis, observa códigos de etiqueta, expõe seus sonhos,
classifica seus parentes em distintas categorias etc. Essa forma de comportamento é única. Só o
homem é capaz de realizá-la e ela é peculiar aos símbolos. O comportamento não simbólico do
homem animal; e o simbólico, é do homem ser humano” (Hayakawa, S.I.)

c. Apresentação de causas e conseqüências: “É sina de minha amiga penar pela sorte do


próximo, se bem que seja um penar jubiloso. Explico-me. Todo sentimento alheio a
preocupa, e acende nela o facho da ação, que a torna feliz. Não distingue entre gente e
bicho, quando tem de agir, mas, como há inúmeras sociedades (com verbas) para o bem dos
homens, e uma só, sem recurso, para o bem dos animais, é nesta última que gosta de militar.
Os problemas aparecem-lhe em cardume, e parece que escolhem de preferência outras
criaturas de menor sensibilidade e iniciativa (...)” (Drummond – Fala, amendoeira, p. 178)

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d. Exemplificação: “O que é a violência cotidiana? Os exemplos são muitos. É a crescente
concentração de renda em privilégio dos 20% mais ricos. (...) É o aumento da jornada de
trabalho (...) É a somatória de extorsões que se opera através da inexistência ou precariedade
de serviços de consumo coletivo (transporte, saneamento, habitação etc) que se apresentam
como socialmente necessários em relação aos níveis mínimos de subsistência e que acentua
ainda mais a dilapidação que já se realiza tão draconiamente no âmbito das relações de
trabalho. Talvez o exemplo mais flagrante daquilo que pode ser chamado de violência
urbano-cotidiana possa ser encontrado no tempo de locomoção diária entre a residência e o
trabalho, que, em média, para a mão-de-obra que mora nas periferias de São Paulo, é de 3 a
4 horas. Se a este tempo despendido no transporte coletivo for adicionada uma jornada de
trabalho, muitas vezes de 10 a 12 horas, pode-se ter uma imagem de dilapidação ou da
violência por que passam aqueles que levam adiante as engrenagens produtivas.” (Kawarick,
Lúcio - “Violência, Ideologias e Serventias”)]

SÍNTESE:

1. O parágrafo é composto por um conjunto de enunciados que convergem para a produção de


um sentido.
2. A primeira frase de cada parágrafo, tópico frasal, é muito importante e dever ter uma palavra
significativa que possa ser explorada.
3. Se o tópico frasal for muito vago, haverá dificuldade em desenvolver o parágrafo. Evite
abstrações.
4. Todo parágrafo deve ter uma palavra que o norteie.
5. Cada parágrafo deve desenvolver uma só idéia, caso contrário o texto ficará confuso e sem
nenhuma coerência.

XVII – COESÃO E COERÊNCIA

Coesão é a ligação entre os elementos de um texto, que ocorre no interior das frases, entre as
próprias frases e entre os parágrafos. A coesão manifesta-se através de elementos formais que criam
o vínculo entre os componentes do texto. A coesão pode ser feita através da antecipação ou
retomada de termos, expressões ou frases e pelo encadeamento de segmentos do texto.
Coerência diz respeito à ordenação das idéias e dos argumentos. Para criar uma unidade de sentido
no texto é preciso que haja uma seqüência lógica entre esses elementos. Um texto coerente é aquele
em que as idéias harmonizam-se, sem a presença de contradições. Isso é que o diferencia de um
amontoado de frases.
A coerência apresenta-se através da repetição (ou retomada), da progressão, da não-contradição e da
relação. A repetição (ou retomada) ocorre pel uso de expressões sinônimas (ou equivalentes) e pelo
uso de pronomes. A progressão é o acréscimo de novas informações sem que elas se contradigam
ao que já foi colocado. Todos os fatos e conceitos expostos em um texto devem estar relacionados
para que se justifique sua presença. Portanto, um texto deve ser: uma seqüência de dados não-
contraditórios e relacionáveis, apresentados gradativamente por meio da repetição e da progressão.
(Do texto ao texto, Ulisses Infante, Ed. Scipione, p. 94)

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XVIII – COMO ARGUMENTAR E PERSUADIR

O encaminhamento do tema é sempre produto de uma escolha que se dá dentro de uma ordem. O
que escrever? Como escrever? Para que escrever? Tais perguntas delimitam este ato e fazem o
recorte necessário para que o texto não se apresente como um aglomerado de afirmações sem um
objetivo definido.
Assim como as palavras ordenam-se em frases, as frases, em parágrafos, estes devem ordenar-se
para produzir um texto. Ao escrever, devemos procurar manter-nos fiéis ao tema, produzir sentidos
e mostrar sua relação com a realidade.
Uma das maiores preocupações de quem escreve é a de não se perder dentro do tema que lhe foi
proposto. A manutenção da unidade do texto e a produção de sentidos só acontecem se soubermos
argumentar. Escrever bem é saber argumentar bem.
Ao expor um tema, é preciso pensar de antemão que direção pretendemos tomar, para onde
queremos conduzir nossa argumentação. Para isso, é preciso ter uma posição definida em relação ao
assunto, criar um pressuposto a partir do qual vamos encaminhá-lo, a fim de deixar bem claro nosso
ponto de vista. Diante de um tema tão amplo como saúde, por exemplo, a primeira atitude é recortá-
lo, ou seja, delimitar nosso campo de questionamento, cuja base está no pressuposto.
Quem pretende escrever de forma coerente tem de partir de um pressuposto claro, bem definido.
Isso vai depender do conhecimento que temos do mundo, das leituras que viemos fazendo ao longo
do tempo. Antes mesmo de escrever, já devemos saber o que queremos passar ao leitor. A atividade
escrita é uma atividade planejada.
O texto começa, portanto, bem antes de se colocar a caneta no papel. As primeiras palavras escritas
são fruto de uma reflexão. Ninguém deve escrever intempestivamente. Qualquer afirmação que
fazemos deve resultar de um conhecimento partilhado com outras pessoas, senão corremos o risco
de não sermos compreendidos. É difícil escrever sem ter convicção do qje enunciamos. Se não
conhecemos os fatos com propriedade, podemos chegar à incoerência, cair em contradição. Um
texto começa a mostrar sua fragilidade quando partimos de um pressuposto mal formulado, que não
dá margem a uma boa argumentação. É muito difícil escrever sem saber de onde estamos partindo.
E o ponto de partida é o pressuposto, que é o modo como cada um de nós vê e problematiza o tema.
O pressuposto tem de dar margem a divergências, senão fica difícil argumentar.
Voltemos ao tema saúde. Para começar, não basta saver como anda a saúde no Brasil, é preciso
formular um presuposto para orientar toda nossa argumentação. Ele é uma espécie de “idéia fixa”
que nos vai acompanhar do princípio ao fim do texto. Significa que estamos sendo fiéis à idéia que
defendemosw e demonstra que temos uma posição firmada diante do assunto.
Eis alguns presupostos possíveis:
• O Brasil só resolverá seus problemas quando a saúde for preocupação prioritária do
governo.
• Não se pode pensar em desenvolvimento sem antes pensar em saúde pública.
• A ansiada passagem do Brasil para o Primeiro Mundo só se dará quando resolverem os
problemas da saúde.
• Cada um desses presupostos criará um tipo de desenvolvimento de texto. A segunda etapa
será procurar os argumentos que o sustentem. Antes, porém, Transformá-se o presuposto

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numa pergunta. O mais comum é perguntar por queê?, mas também pode-se perguntar
como?
• Por que o Brasil só resolverá seus problemas quando a saúde for preocupação prioritária do
governo?
• Por que não se pode pensar em desenvolvimento sem antes pensar em saúde pública?
• Por que a ansiada passagem do Brasil para o Primeiro Mundo só se dará quando resolverem
os problemas da saúde?
As respostas serão seus argumentos, e cada uma delas servirá de base a construção dos parágrafos.
A forma de argumentar é responsável pela estruturação do texto e demonstra o caminho que
escolhemos para defender nossa opinião. A argumentação é um processo que exige ordem. Um
argumento deve encadear-se ao outro naturalmente, em busca de uma unidade de sentido. Nossa
capacidade de convencer o leitor depende da ordenação e da força de nossos argumentos. O
encaminamento do texto, fundado nos argumentos, revela ao mesmo tempo nossa capacidade de
criação, avaliação e crítica. Nosso discurso deve passar ao leitor determinados questionamentos,
observações e conclusões sobre o tema.

Uma argumentação sustenta-se basicamente em:

• argumentos de valor universal: aqueles que são irrefutáveis, com os quais conquistamos a
adesão incontinenti dos leitores. Se você diz, por exemplo, que sem resolver os problemas
da família não se resolverão os das crianças de rua, vai ser difícil alguém contradizê-lo.
Trata-se de um argumento forte. Por isso, evite afirmações baseadas em emoções,
sentimentos, preconceitos, crenças, porque são argumentos muito pessoais. Podem
convencer algumas pessoas, mas não todas.
• Dados colhidos na realidade: as informações têm de ser exatas e do conhecimento de todos.
Você não conseguirá convencer ninguém com informações falsas, que não têm respaldo na
realidade.
• Citações de autoridades no assunto: procure ler os pricipais autores sobre o assunto de que
você vai falar. Ler revistas e jornais ajuda muito.
• Exemplos e ilustrações: para fortalecer sua argumentação recorra a exemplos conhecidos, a
fatos que a ilustrem.
• Dados estatísticos e pesquisas: utilizar fontes de pesquisas como Ibope, por exemplo, ou
dados estatísticos confere ao argumento maior veracidade.

Nossos filhos terão emprego?


A grande maioria das mães de adolescentes e pré-adolescentes se preocupam, com razão, com as
perspectivas de emprego dos seus filhos e filhas.
As notícias sobre o fim do emprego, terceirização, globalização, níveis de desemprego são
alarmantes para quem pretende iniciar uma carreira daqui há alguns poucos anos.
Quais são os fatos concretos?

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1. As 500 maiores empresas brasileiras não acrescentaram um único emprego novo nos últimos 10
anos. Pelo contrário, retiraram do mercado 400.000 postos de trabalho, passando a empregar
somente 1.600.000 funcionários, o que representa um insignificante 2,3% dos trabalhadores
brasileiros.
2. A globalização está dizimando não somente empresas brasileiras, mas setores inteiros.
3. O crescimento das importações não gera apenas um problemático déficit comercial, mas cria
empregos no exterior em detrimento do emprego interno.
Existem algumas considerações que amenizam este quadro, sem querer dar uma impressão de um
mar de rosas. Dificuldades os jovens terão, mas os argumentos abaixo serão úteis quando o pânico
empregatício surgir novamente.
1. O crescimento das importações não durará para sempre neste nível, e nunca chegará a 90% do
PIB, desempregando todo mundo, como uma simples extrapolação poderia sugerir. Provavelmente
estabilizaremos em torno de 15% as importações, como na Índia e EUA. Oitenta e cinco porcento
do PIB será feito por brasileiros para brasileiros.
2. O grande gerador de emprego, no mundo inteiro não é a grande empresa, e sim a pequena e
média. Quem emprega 97,3% da força de trabalho hoje em dia é a pequena e média empresa,
bastante esquecidas ultimamente nas prioridades econômicas do governo.
O governo FHC tem priorizado as grandes empresas, seja nas grandes privatizações, na busca de
grandes investidores internacionais e nas grandes reformas. A pequena e média empresa mal
figuram no discurso presidencial, uma importante razão desse aumento do desemprego. Mais dia
menos dia, alguém irá alertar FHC que não é simplesmente abaixando os juros que irá fomentar os
empregos que precisamos.
3. Mas o principal argumento para acalmar mães aflitas é que o povo brasileiro ainda não consome
seu primeiro e segundo televisor, como ocorre no primeiro mundo, nem seu quinto par de sapatos
ou sua viagem a Fortaleza. Enquanto estes desejos existirem, nossos filhos terão oportunidades
incríveis para produzir os itens necessários para satisfazê-los.
O mercado brasileiro é incrível em termos de potencial, e nosso problema hoje é exclusivamente de
produção, não de mercado nem econômico.
Preocupadas deveriam estar as mães alemãs, suíças e francesas, porque nesses países eles já têm 5
pares de sapatos , três televisores em cada casa, um mercado saturado. Nenhum europeu vai querer
dois televisores em cada quarto, nem 10 pares de sapato, pois não são a Imelda Marcos. Na Europa
não há mais emprego porque o consumismo europeu está chegando à saturação.
4. Se seu filho e sua filha souberem adquirir competência e conhecimentos práticos que sejam
demandados por este novo mercado emergente, não terão dificuldades.
Quem não estiver minimamente preocupado com seu futuro profissional, ou freqüentando uma
escola mais preocupada em ensinar o que era importante no passado do que o que será importante
no futuro, vai ficar sem o que fazer.
Não querendo deixar a impressão de que tudo será fácil, nem de que estamos no caminho certo,
quem decifrar o seguinte enigma não terá de se preocupar: no futuro faltarão empregos, mas não
faltará trabalho.
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Publicado na Revista Veja edição 1539 de 25 de março de 1998
O futuro da nova geração
Na próxima vez em que seus pais lhes falarem que eles começaram do zero, digam que eles tiveram
muita sorte. Vocês começarão com muito menos do que zero, pois irão começar com uma dívida de
quase meio milhão de reais por casal. Quando seus pais lhes contarem que na época deles tudo era
muito mais difícil, peçam a eles que leiam novamente este artigo. Quando seus pais nasceram, a
população mundial era de somente 2 bilhões de habitantes. Enquanto eles pregavam o amor livre,
em vez da paternidade responsável, nasceram mais 4 bilhões de criaturas para competir com vocês.
Até hoje, discutir paternidade responsável é considerado politicamente incorreto no Brasil. Na
época de seus pais, pagavam-se somente 5 a 15 dólares o barril de petróleo; agora vocês terão de
pagar de 50 a 100 dólares. Isso eles delicadamente sempre se esquecem de mencionar.
Na época de seus pais, a carga tributária era de somente 15% do PIB. Eles podiam gastar 85% de
tudo o que ganhavam, podiam viajar para a Disney com toda a família, tirar férias e trabalhar das 9
até as 17 horas. Agora, graças à opção ou omissão deles, a carga tributária já chega a 45% do PIB e
vocês poderão gastar no máximo 55% do que ganharem. O crime organizado não paga impostos,
por isso o governo só recebe 40% do PIB, mas vocês pagarão 45% do que ganham. A mãe não
precisava trabalhar fora porque a renda do pai dava para sustentar a família. Hoje, em vez de cuidar
da educação moral dos filhos, sua futura esposa certamente terá de trabalhar duro para ajudar no
sustento da casa. O pior é que boa parte do que ela ganhar será para pagar os impostos e as alíquotas
que seus pais criaram ou deixaram criar. A velha geração também criou esta dívida pública interna
de 1 trilhão de reais que vocês terão de pagar, com juros de 19% ao ano.
Outra dívida monumental que eles escondem a sete chaves é a previdenciária, estimada num estudo
de Francisco Oliveira, do Ipea, em mais de 7 trilhões de reais, a ser pagos por vocês, jovens, nos
próximos trinta anos. Isso tudo significa que os 20 milhões de famílias cujo titular está abaixo dos
30 anos começam a vida com uma dívida pública inicial de 400.000 reais mais ou menos. A maioria
não consegue ganhar isso numa vida inteira, muito menos poupar esse valor, mas será obrigada a
fazê-lo, está na Constituição. Não confiem nesses estudos e papers feitos por pesquisadores com
mais de 50 anos que pretendem se aposentar. Façam vocês os próprios estudos e projeções. Nem
confiem em mim; criem um grupo de estudo na internet e calculem essa dívida vocês mesmos, se
deixarem. Para não ser acusado de exagerado, deliberadamente não incluí outra dívida, colossal nos
Estados Unidos, que é a da saúde. Os velhos gastam de oito a trinta vezes mais em saúde do que os
jovens, mas poucos da velha geração, muito menos o governo, estão poupando para uma eventual
doença grave ou ponte de safena. Quem pagará por essa conta provavelmente serão vocês. Por isso,
os gastos do governo e a carga tributária aumentarão de 45% para 50% ao longo dos anos. Em
nome da dívida social eles criaram uma dívida monumental.
Seus pais fazem parte ou foram vítimas da geração que assinou a Constituição de 1988. Ou então
fazem parte ou foram vítimas da escola keynesiana de intelectuais, a turma do gastem e endividem-
se hoje porque "a longo prazo estaremos todos mortos". Mui amigos! A bem da verdade, a velha
geração do mundo inteiro fez o mesmo, não é um fenômeno exclusivamente brasileiro. A velha
geração americana, por exemplo, deixa dívida de 40 trilhões de dólares para a próxima geração
pagar, leiam The Coming Generation Storm . O resto do mundo deixa um estrago bem maior, leiam
Who Will Pay, publicado pelo FMI. Graças às dívidas públicas que seus pais contraíram para
"desenvolver" o Brasil, aos impostos que eles criaram para "ajudar" os outros, aos direitos que eles
concederam para si, ao petróleo que eles consumiram a 100 quilômetros por hora, a vida de vocês
vai ser muito, mas muito mais difícil do que a deles. Mas isso eles não publicam, não escrevem nem
contam na hora do jantar.
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Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Editora Abril, Revista Veja, edição 1914, ano 38, nº 29, 20 de julho de 2005, página 22
ESTIMULANDO A CURIOSIDADE
Durante a estada de Richard Feynman no Brasil - um dos poucos ganhadores do Prêmio Nobel que
o Brasil pôde conhecer de perto – os alunos pediram a ele que desse uma aula sobre nossos métodos
de ensino na área da física. Feynman pegou cinco ou seis livros de física adotados pelo MEC
naquela época e um mês depois disse que só daria aquela aula no último dia de sua permanência no
país.
No dia fatídico, dezenas de professores de física se reuniram para ouvir sua palestra. Essa história é
contada por ele no livro Deve Ser Brincadeira, Sr. Feynman.
Começou assim a palestra: "Triboluminescência, diz no livro de vocês, é a propriedade que certas
substâncias possuem de emitir luz sob atrito". E mostrou como nossos livros apresentavam a
matéria pronta, incentivavam a decoreba, eram essencialmente chatos e confusos. Isso foi escrito há
trinta anos, mas, pelas queixas dos alunos, nossos livros de física não melhoraram tanto quanto
deveriam.
Segundo Feynman, um livro americano abordaria a questão de forma um pouco diferente. "Pegue
um torrão de açúcar e coloque-o no congelador. Acorde às 3 da manhã, vá até a cozinha e abra o
congelador. Amasse o torrão de açúcar com um alicate e você verá um clarão azul. Isso se chama
triboluminescência."
Não sei se ficou clara a diferença que Feynman tentava demonstrar, nem sei se os livros didáticos
americanos continuam os mesmos, mas basicamente nossos métodos de ensino apresentam muita
informação e teoria em vez de despertar a curiosidade.
Criamos alunos tão bem informados que no Brasil inteligência virou sinônimo de erudição.
Inteligente é quem sabe muito, quem repete as teorias e conclusões dos outros. Um dia ele poderá
até ter opinião própria, mas será difícil se ninguém estimular sua curiosidade.
Sem dúvida, toda sociedade precisa de pessoas eruditas, aquelas que sabem os caminhos que já
foram percorridos. Erudição não mostra necessariamente inteligência, mas demonstra que a pessoa
tem boa memória.
No mundo moderno, em constante mutação, inteligência quer dizer outra coisa. Significa enxergar o
que os outros (ainda) não vêem. Isso é próprio de pessoas criativas, pesquisadoras, curiosas,
exploradoras, que encontram soluções para os novos problemas que temos de enfrentar.
O método de ensino eficaz, segundo Feynman, deveria formar indivíduos curiosos. O objetivo final
de uma aula teria de ser formar futuros pesquisadores, e não decoradores da matéria. O que mais o
espantou é que nosso ensino de física e química é muito superior ao americano, algo que todo
brasileiro já sabe. Mesmo assim, notou Feynman, o Brasil produz menos físicos e químicos que os
Estados Unidos.
A hipótese que ele levanta é o método de ensino. Damos muita teoria e informação, mas ensinamos
pouco como usar as informações aprendidas. Por sua vez, os americanos sabem e aprendem muito
menos teoria, mas devotam mais tempo aprendendo como usar a informação apresentada, sob todos
os ângulos.
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Suspeito que essa seja a razão de nosso péssimo desempenho nos testes internacionais
administrados pelo Programa Internacional de Avaliação Estudantil (Pisa), em que o Brasil aparece
nas últimas colocações, inclusive em física. Os testes do Pisa enfatizam mais o uso da informação
do que a lembrança da informação em si, algo em que o aluno brasileiro se destaca.
O certo seria, talvez, escrever livros "didáticos" menos didáticos e mais motivadores, que
estimulassem a curiosidade e fossem mais relacionados com a vida futura de nossos alunos. Alguns
dos livros que avaliei mal estimulam o aluno a virar a página para o próximo tópico, muito menos
poderiam seduzi-lo a se dedicar ao assunto o resto da vida.
Vamos fazer um simples teste entre 1 000 alunos e descobrir quantos jogaram fora seus livros
didáticos após a formatura e quantos os guardaram como o primeiro volume de uma grande
biblioteca sobre o assunto. Isso nos diria quais os livros didáticos que de fato estimularam nossa
curiosidade, o objetivo principal do ensino moderno.
Stephen Kanitz é administrador por Harvard (www.kanitz.com.br)
Revista Veja, Editora Abril, edição 1826, ano 36, nº 43 de 29 de outubro de 2003

O professor de Bill Gates

Esta estória é meio lenda meio fato, mas merece ser contada como se fosse real.
Quando Bill Gates estudava em Harvard, ele tinha um professor de matemática fantástico e muito
exigente. Tanto isso é verdade que Bill Gates se classificou em 18º lugar num teste nacional de
matemática. Esse professor dava uma prova final dificílima e poucos alunos conseguiam acertar
todas as questões.
"Se alguém conseguir acertar completamente esta prova, eu renunciarei ao meu cargo de Professor
de matemática e trabalharei para ele", dizia o professor no início da prova, com total seriedade.
Em inglês esta frase soa bem mais forte, tipo "eu serei seu subordinado para sempre", uma forma
simpática de dizer que se aceita a derrota e que finalmente se encontrou alguém superior.
Bill Gates foi o aluno que mais próximo chegou de encontrar todas as soluções, tendo errado uma
questão, somente no finalzinho da dedução.
Passados vinte anos, se alguém for para Boston poderá encontrar o tal professor batendo a cabeça
na parede de Harvard Square, balbuciando : "Por que eu fui tão rígido? Por que que eu fui tão
rígido?’’
Tivesse sido menos rigoroso, o agora anônimo professor seria hoje, provavelmente, o segundo
homem mais rico do mundo.
O interessante dessa estória é o fato de que alunos de Harvard ouvem de seus professores o seguinte
conselho: "Se um dia você encontrar alguém, um colega ou um subordinado, mais competente que
você, faça dele o seu chefe, e suba na vida com ele".
No Brasil, um colega de trabalho que comece a despontar é imediatamente tachado de picareta,
enganador e puxa-saco. Em vez de fazê-lo chefe, começa um lento e certeiro boicote ao talento.
Nossa mania de boicotar chefes lembra a mentalidade do "Se hay gobierno soy contra". Nestas
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condições, equipes dificilmente conseguem ser formadas no Brasil, e temos um excesso de prima-
donas, donos da verdade sem nenhuma equipe para colocar as idéias em prática.
Se não aprendermos a escolher os nossos chefes imediatos, como iremos escolher deputados,
governadores e presidentes da República ?
Milhares de jovens acreditam ingenuamente que, apesar de ter cabulado a maioria das aulas, quando
adultos contratarão pessoas inteligentes que suprirão o que não aprenderem. Ledo engano, pessoas
inteligentes são as primeiras a procurar parceiros competentes para trabalhar.
Melhor do que procurar as melhores empresas para trabalhar é procurar os melhores chefes e trocar
de emprego quantas vezes seu chefe trocar o dele. Como fizeram as dezenas de programadores que
decidiram trabalhar para a Microsoft, na época em que ela era dirigida por um fedelho de 19 anos e
totalmente desconhecido.
Achar um bom chefe não é fácil. Temos muito mais informações sobre empresas do que sobre
pessoas com capacidade de liderança.
Mas, na próxima vez que encontrar um amigo para saber se o emprego dele paga bem, pergunte
quem são os bons chefes e líderes da empresa em que ele trabalha,
É muito melhor promover um subordinado a seu chefe se ele for claramente mais competente do
que você, do que ficar atravancando a carreira dele e a sua.
Subordinar-se a um chefe competente não é sinal de submissão nem de servilismo, mas uma das
melhores coisas que você poderá fazer para sua carreira. Embora ser o número 1 de uma
organização seja o sonho de muitos jovens, a realidade é que 95% de sua carreira será desenrolada
como o número 2 de algum cargo.
A pior decisão na vida do professor de Bill Gates foi a de não seguir o seu próprio conselho.
Portanto fique de olho nos seus colegas de trabalho e faculdade que parecem ser brilhantes e tente
trabalhar com eles no futuro. Eles poderão ser o caminho para o seu sucesso.
Publicado na Revista Veja de 24 de junho de 1998

Por que a Sinfônica não tem negros?


"Não temos negros e quase não temos pobresna música erudita porque não há onde
possam aprender instrumentos aos 7 anos de idade"

Eu assistia a um belo concerto da Orquestra Sinfônica Brasileira. Mas a concentração derrapou,


e comecei a olhar para os músicos. Notei que não existiam negros ou mulatos dentre eles. Não
há de ser por falta de talento, pois brilham em nossa música popular, e não haveria razões
para pensar em uma falha genética prejudicando seu pendor para a música erudita.
Existem centenas de departamentos de música no ensino superior. Não obstante, com
freqüência os jornais noticiam a contratação de instrumentistas estrangeiros (sobretudo do
Leste Europeu).
A resposta para tal enigma é muito simples. Como sabe qualquer professor de piano
experiente, quem quer ser pianista tem de começar antes de 10 anos de idade. Começando
mais tarde, pode desfrutar divinamente a convivência com o instrumento e entreter parentes,
mas, para virar instrumentista, perdeu o bonde. Há uma programação no sistema nervoso que
não espera. Ou acontece na idade certa, ou não acontece.

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Não temos negros e quase não temos pobres na música erudita porque não há onde possam
aprender instrumentos aos 7 anos de idade – Brasília e Tatuí e mais alguns programas
paulistas são exceções neste enorme Brasil. Quem chega ao umbral da universidade sem mais
de dez anos de experiência acumulada com o instrumento não poderá se beneficiar dela para
se aperfeiçoar como músico. No Brasil, só começaram a tocar na idade certa os jovens de
classe média, por causa da família. E, como existem poucos candidatos (em alguns casos, há
tantos alunos quanto professores), os custos por aluno são altíssimos. Ou seja, é ineficaz e
caro.

Quando as bandas de música eram mais numerosas, preparavam instrumentistas para os


metais das sinfônicas. O próprio maestro Eleazar de Carvalho começou tocando tuba na banda
de fuzileiros navais de Aracati.

O que foi dito para a música se aplica igualmente às áreas acadêmicas. Nelas, também há um
relógio biológico que vai fechando as portas para o desenvolvimento cognitivo. Ao chegar à
universidade, é tarde demais para consertar a devastação feita por um ensino que não
conseguiu estimular nem exercitar a inteligência. Claro, existem sobreviventes que superam as
deficiências de um ensino pobre. Mas são as exceções, como se pode verificar pela
modestíssima proporção de pobres – brancos e negros – que chegam ao fim do ensino médio e
pelo número ínfimo dos que podem enfrentar os vestibulares mais competitivos.
O MEC faria muito melhor se redirecionasse grande parte dos professores dos departamentos
universitários de música para formar jovens instrumentistas a partir
de 7 anos. Se fizesse isso, certamente suas vagas no ensino superior de música seriam
preenchidas por futuros virtuosos e os cursos estariam cheios de alunos (no Conservatório
Popular de Genebra há 22 alunos por professor). E, como os dons musicais não conhecem
classe social, a música erudita poderia ser um magnífico canal de mobilidade para jovens
pobres, de qualquer raça. Os países do Leste Europeu produzem tantos músicos clássicos
justamente porque têm escolas para capturar os talentos mais jovens. As escolas públicas
americanas, igualmente, oferecem formação instrumental desde muito cedo. Não há
novidades, não há segredos.

Novamente, o paralelo com o ensino acadêmico se impõe. Se o Estado cuidasse melhor do


ensino fundamental, não seria necessário propor mecanismos compensatórios de penosa
implementação para os candidatos ao ensino superior de origem mais pobre. Sem tirar os
méritos de alguns mecanismos de cotas que vêm sendo propostos (como o da Unicamp), ou
do apoio ao ensino médio (como na Universidade Federal de Santa Maria), serão sempre
soluções paliativas beneficiando muito poucos, pois a maioria já ficou para trás.

Se queremos que nossos médicos e violinistas de primeira linha venham de todas as classes
sociais, é preciso que comece cedo seu aprendizado. O país deveria oferecer oportunidades
para que desabrochassem plenamente os talentos precocemente detectados. O relógio
biológico não espera os burocratas da educação.
Claudio de Moura Castro é economista

(claudiodmc@attglobal.net)

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