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Exame Teoria Geral do Direito Civil I

4-Janeiro-2011

No dia 1 de Setembro de 2010, António encontrou no pára-brisas do seu


automóvel, um papel no qual Bento faz um convite à realização de um negócio de
compra e venda do automóvel de António.

No mesmo dia, António envia a Bento uma proposta negocial expressa, nos
termos do art.º 217.º do Cód. Civil, demonstrando a vontade inequívoca de contratar e
sendo completa , acresce ainda que sendo o automóvel o objecto mediato do presente
negócio jurídico e nos termos do art. 205.º do Cód. Civil este é um bem móvel,
porquanto não se aplica o art. 875.º do cód. Civil, pelo que o presente negócio jurídico
não carece de forma especial, assim ao abrigo do disposto no art. 219.º do cód. Civil,
estamos perante uma declaração negocial recipienda, a qual nos termos do art. 224.º, n.º
1 do Cód. Civil tornou-se eficaz assim que chegou à esfera jurídica de Bento, uma vez
que o meio utilizado por António foi uma mensagem de texto, e o tempo médio da
mesma chegar ao destino é de cerca de 5 min., e uma vez que foi feita a pessoa ausente,
nos termos da al. c) em consonância com al. b), do n.º 1, do art. 228.º do Cód. Civil, a
proposta tinha a validade de 5 dias e 10 minutos, nos quais Bento dispunha de um
direito potestativo sobre António, e este último encontrava-se num estado de sujeição à
formação do contrato.

No dia 5 de Setembro, António colocou um anúncio na internet, representando


uma oferta ao público, nestes termos e ao abrigo do disposto no art. 224.º, n.º 1 do
Código Civil, a oferta ao público torna-se eficaz logo que a vontade do declarante se
manifesta na forma adequada, assim quando Carlos respondeu ao anuncio, declarou
expressamente, nos termos do art. 217.º do Cód. Civil, aceitar a proposta negocial de
António, uma vez que o contrato in casu é um contrato de compra e venda nos termos
do art. 874.º do Cód. Civil, ou seja um contrato real quad effectum, ao abrigo do
disposto no art. 408.º do Cód. Civil, os efeitos previstos no art. 879.º do mesmo diploma
legal, dão-se por mero efeito do contrato, porquanto a propriedade do automóvel foi
transmitida para Carlos, assim que este enviou a declaração negocial de aceitação,
porquanto nos termos do n.º 2 do art. 224.º do Cód. Civil, o facto de António não ter
lido o email de Carlos não invalida a sua eficácia.

Assim, quando António recebeu a mensagem de Bento, com a declaração de


aceitação do mesmo, a propriedade do automóvel já era de Carlos, assim o negócio
celebrado com Bento é nulo, ao abrigo do disposto no art. 892.º do Código Civil, uma
vez que António não dispunha de legitimidade para vender o automóvel.

Acresce que, António pode responder pelos danos causados, nos termos do art.
227.º do Cód. Civil, uma vez que a proposta negocial que fez a Bento ainda estava
válida, pelo que não devia ter colocado a oferta ao público no sítio de internet, agindo
assim com culpa in contrahendo, ou seja violando os princípios da boa-fé.
Face ao antecedentemente exposto, o direito de propriedade do automóvel é de
Carlos.

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