Você está na página 1de 10

Casos práticos

Exame 2018 época normal

Em julho de 2017, Joana residente em Coimbra, ao saber que havia sido contratada para
trabalhar na Lousã, adquiriu a Zaida um automóvel ligeiro, da marca e modelo Peugeot 307 HD
i, do ano de 2011, pelo preço de €8.000, julgando que o carro tinha 50.000 km. Todavia, o
conta-quilómetros havia sido adulterado por Jorge, mecânico de Zaida. Na verdade, o carro
tinha, à data da compra, 370.000 km, em virtude de Zaida ser agente comercial na zona centro
do país e fazer diariamente longas viagens. Ao fim de 2 semanas, o carro teve uma grave
avaria, causada pelo desgaste das peças, tendo Joana uma despesa de €3.500.

1) Pode, hoje, Joana reagir? Que direitos tem e contra quem os pode fazer valer?

1. Neste casos, estamos perante uma situação de dolo, estando este presente em
qualquer sugestão ou artificio com a intenção ou consciência de induzir ou
manter em erro o autor da declaração ou que tenha lugar a dissimulação, pelo
declaratário ou por um terceiro, do erro do declarante (art.253º/1 CC).
Existem diferente modalidades de dolo, sendo elas o dolo positivo, que consiste
na sugestão de manter em erro ou induzir o autor da declaração, e o dolo
negativo, este não existe em todos os casos de silencio perante o erro em que
versa o declarante, a omissão de esclarecimento negocial só constituirá dolo
ilício quando exista um dever de elucidar, por força da lei (art.253º/2/2ª parte
CC). Outra modalidade de dolo consiste no dolo proveniente de terceiro, onde
são exigidas certas condições suplementares que devem acrescer às do dolo do
declaratário e o seu efeito é mais restrito. Existirá não apenas dolo de terceiro,
mas também dolo do declaratário, se este for cúmplice daquele ou conhecer a
atuação de terceiros (art.254º/2 CC). Outra modalidade, também importante
consiste no dolo essencial, em que o enganado foi induzido pelo dolo a concluir
o negocio em si mesmo e não apenas nos termos em que foi concluído, sem
dolo não se teria concluído qualquer negocio, aqui há uma dupla causalidade, o
dolo é a causa do erro e este é determinante do negocio.
O principal efeito do dolo é a anulabilidade do negocio (art.254º/1 CC),
acrescendo a responsabilidade pré-negocial do autor do dolo, por ter dado
origem à invalidade, com o seu comportamento contrario à boa fé, durante a
formação do negocio (art.227º). Assim, Joana tem direito de repristinação da
situação anterior ao negocio e a cobertura dos danos que sofreu por ter confiado
no negocio e não ter sofrido sem essa confiança. Posto isto, nos termos do
art.287º CC, Joana ainda tem prazo para intentar a ação de anulação, pois ela
teve conhecimento em Julho de 2017, tendo legitimidade para o fazer contra
Zaida, uma vez que esta “sabia ou devia saber” do engano. Assim, Joana terá
direito a anular o negocia e a ser indemnizada pelos 3500 euros que gastou no
conserto do automóvel, nos termos do art.227º CC, dano contratual negativo.
2) Quid iuris, no caso de Joana, ao fim de 2 dias, se aperceber que o trabalho não se
adaptava aos eu perfil curricular e ter desistido do mesmo, não tendo, portanto,
necessidade do automóvel?
2. Aqui estamos perante uma situação de erro sobre os motivos (art.252º/1). Este é
uma categoria residual, em que o erro não se refere à pessoa do declaratário
nem ao objeto do negocio. Neste tipo de casos o art.252º/1 CC permite a
anulação, desde que haja uma clausula, mo sentido da validade do negocio ficar
dependente da circunstancia sobre o que versou o erro, neste caso a não
adaptação de Joana ao novo trabalho. No entanto, é irrazoável permitir a
anulação, uma vez provado pela contraparte o conhecimento da essencialidade
do motivo que levou Joana ao negocio. Assim, justifica-se que se tenha exigido
uma efetiva estipulação tornando a validade do negocio dependente da
verificação da circunstancia sobre o que incidiu o erro, o que acontece
raramente. Assim, a função do art.252º/1 CC é a de realizar a exclusão, isto é,
exclui-se a relevância do erro sobre os motivos.
Posto isto, Joana não poderia anular o negocio com este fundamento.

Exame 2018 época de recurso

Em 1 de Outubro de 2016 Bento, jornalista de um semanário sensacionalista, convenceu


Alberto a vender-lhe um apartamento, por um preço baixíssimo, dizendo-lhe que, caso
contrário, o incluiria numa lista de pessoas envolvidas num negócio de tráfico de crianças para
adoção, que ele investigara e que publicaria no próximo número do jornal. Bento registou
imediatamente a aquisição. Em 1 de Abril de 2017 o Ministério Público instaura procedimento
criminal contra Alberto por envolvimento naquele negócio, mas este é absolvido em 2 de
Dezembro de 2017.Em 1 de Setembro de 2017 Catarina comprou o referido apartamento a
Bento, desconhecendo as relações pessoais deste com Alberto e registando de imediato a
aquisição. Poderá, agora, Alberto invalidar a sua venda, fazendo regressar o apartamento ao
seu património?

1. Neste caso, temos que Bento coagiu Alberto a emitir uma declaração de
vontade, que é um elemento essencial do negocio, conduzindo a sua falta à
inexistência material do negocio. Uma vez que Alberto foi forçado por Bento a
emiti-la, estamos perante uma coação moral, em que Alberto vê a sua liberdade
cercada, tendo aqui então, um vicio de vontade uma vez que a sua liberdade
não foi totalmente excluída, quando lhe foram deixadas opções de escolha, uma
vez que Alberto poderia ter recusado a emissão do comportamento declarativo.
Existe a coação moral, pois há o medo de Alberto, em resultado de uma ameaça
ilícita de Bento, que tinha como objetivo a extorsão da emissão de declaração
negocial (art.255º/1 CC). A ilicitude da ameaça de Bento não resulta de um
meio em si, pois caso Alberto tivesse cometido o crime que Bento ameaçou
revelar, a denuncia do seu comportamento não seria uma conduta ilícita em si
mesma, mas do emprego daquele meio (ameaça da denuncia) para aquele fim,
ou seja, forçar Alberto à venda do apartamento.
Posto isto, o negocio seria anulável com base na coação moral, tendo Alberto
um ano a contar do momento em que ele foi absolvido pelo juiz, a 2 de
dezembro de 2017 (art.287º/1 CC).
Bento transmitiu o direito de propriedade sobre o apartamento para Catarina.
Mas este direito chega-lhe com base num negocio anterior anulável por coação
moral. Quanto a isto, Catarina poderia defender-se contra a sua invocação por
Alberto através do art.291º CC, numa das exceções ao principio nemo plus iuris,
que protege terceiros de boa fé. Contudo, esta não teria sucesso por ainda não
terem decorrido os 3 anos previstos no n º 2 do mesmo artigo, a contar a partir
da conclusão do negocio viciado por coação.
Por fim, note-se que Alberto pode reaver o apartamento com base na
anulabilidade da venda a Bento, anulabilidade esse que pode opor a Catarina,
desde que a invoque ate 2 de Dezembro de 2018 (no caso).

Em Maio de 2015, Fabiana vendeu um serviço de porcelana a Gustavo, por este estar
convencido de que o mesmo era do século XVIII e pintado à mão. Em Setembro do
mesmo ano, Gustavo teve conhecimento da verdadeira data de fabrico do serviço:
1994. Por este motivo Gustavo não tinha qualquer interesse na manutenção do
negócio, mas, por consideração para com Fabiana, nunca abordou o assunto. Em
Agosto de 2017, através de uma reportagem televisiva, Gustavo ficou a saber que foi
Fabiana quem produziu as louças, escolhendo artificiosamente os materiais de modo a
obter “serviços antigos” para venda. Hoje Gustavo pretende desvincular-se do negócio.
Quid iuris?
2. Gustavo poderá desvincular-se do negocio, existindo dois meios para o fazer:
os regimes do erro-vicio e do dolo.
O erro-vicio constitui um representação inexata ou ignorância de uma
qualquer circunstancia de facto ou de direito, que foi determinante na decisão
de efetuar o negocio, isto é, de emitir a declaração de vontade. Dentro desta
categoria existem varias modalidades de erros, estando aqui presente o erro
sobre o objeto, pois o erro incide em determinadas qualidades do objeto
mediato, o serviço de porcelana (art.251º CC).
O erro-vicio releva como causa de anulabilidade da declaração de vontade se
estiverem presentes certos requisitos gerais e especiais, variando estes últimos
em função da modalidade de erro vicio em causa. Os pressupostos gerais, a
essencialidade e a propriedade foram respeitados, uma vez que sem o erro
Gustavo nunca teria emitido a declaração de vontade, e o erro incide sobre
qualidades do objeto mediato e não sobre qualquer elemento legal de validade
do negocio. Também o requisito especifico do erro sobre o objeto (art.247º por
remissão art.251º CC) foi observado, uma vez que, a essencialidade, para o
declarante Gustavo, do elemento sobre que incidiu o erro deste, ou seja as
qualidades do objeto, deveria, no mínimo, ter sido conhecida por Fabiana, que,
de resto, forjava o serviço.
O prazo para arguir anulabilidade é de um ano a contar da cessão do vicio que
lhe serve de fundamento (art.287º CC). Há, ainda, duas representações inexatas:
uma cessão em Setembro de 2015, quando Gustavo fica a saber que o serviço foi
fabricado em 1994, e não no sec. XVIII; e outra, que cessão em agosto de 2017,
relativa a quem e como teria produzido as louças, nesta situação poderíamos
considerar que ainda não tinha passado o prazo de um ano.
Gustavo também havia sido vitima de dolo: um erro-vicio de Gustavo
determinado por um comportamento artificioso e ilícito de Fabiana (art.253º
CC). O dolo, enquanto causa da anulabilidade da declaração de vontade, requer
que sejam preenchidos certos requisitos: os artifícios tem de ter sido produzidos
com a intenção ou consciência de induzir ou de manter o declarante, Gustavo,
em erro; tem de ser ilícitos, isto é, o dolo tem de ser mau, o que significa que os
artifícios não podem ser usuais, isto é, considerados legítimos segundo as
conceções dominantes no comercio jurídico (art.253º/2 CC); e tem de ter sido
condição necessária da decisão de emitir a declaração de vontade, isto é, dolo
essencial. Nesta situação todos estes requisitos foram respeitados.
O prazo de um ano para arguir a anulação ainda não tinha expirado, uma vez
que, Gustavo só tomou o conhecimento do que havia acontecido em Agosto de
2017.
O dolo dá ainda origem à responsabilidade pré-contratual caso sejam
preenchidos os pressupostos do art.227º CC, tendo esta responsabilidade lugar,
mesmo que não se verifiquem todos os requisitos de direito de anular, por dolo
ou este já tenha caducado.

Exame época normal- 2020

a) Xavier vendeu a Zaida, há 3 anos, mediante escritura pública, uma quota de um prédio
urbano, pelo preço de 200.000€, embora o valor que constasse do contrato de compra
e venda fosse apenas de 100.000€
1. Estamos aqui perante um contrato de compra e venda aparentemente valido, tendo
sido respeitados os requisitos do art.875º CC, que constitui uma exceção ao art.219º
CC. Caso não exista nenhum vicio de invalidade, cuja sanção seja a nulidade, significa
que Zaida passou a ser a proprietária da quota do prédio urbano, tendo Xavier de
proceder à “entrega” do imóvel, e Zaida pagar o preço devido, sendo que só assim se
cumpre o contrato de compra e venda. Uma vez celebrado o contrato, transmite
imediatamente a propriedade sobre a quota do prédio para Zaida, assim, no caso
concreto está em causa um contrato bilateral, sinalagmático, oneroso, solene e real
quanto aos efeitos.

b) Sucede que, embora o preço acordado no contrato fosse de 100.000€, as partes


acordaram verbalmente, e não por escrito, que o preço seria, diversamente, de
200.000€.

Exame 2019- 2ª turma época recurso

1. Angelica e Benilde celebraram um, negocio de compra e venda por um valor,


300.000 euros, no entanto a sua vontade real foi a de celebrar o negocio por
outro valor, 150.000 euros, com o objetivo de enganar o Estado, AF. Assim,
estamos perante uma hipótese de simulação relativa, objetiva, quanto ao valor
do negocio. A simulação consiste em aparentar um negocio que não existe, que
sob as roupagens do ato simulado se oculte um negocio diferente quer não se
oculte coisa nenhuma. Neste caso A e B ocultavam o real valor pelo qual ia ser
feito o negocio (art.240º CC). Dentro desta, temos a simulação relativa, isto é, as
partes fingem celebrar um certo negocio jurídico e na realidade querem um
outro negocio jurídico de tipo ou conteúdo diverso (art.241º CC). Assim, temos
que o negocio simulado é nulo (art.240º/2 CC), não produzindo quaisquer
efeitos. Sendo assim, seria aplicado o regime da nulidade previsto no art.286º
CC, neste caso quem teria legitimidade para arguir a simulação poderiam ser os
próprios simuladores, mesmo que esta seja fraudulenta (art.242º/1 CC),
existindo exceções previstas no art.394º CC, onde se refere que são
inadmissíveis a prova por testemunhas. Por conseguinte, ao negocio é aplicável
o regime que lhe corresponderia se fosse concluído sem dissimulação
(art.241º/1 CC).
Camilo pretende preferir pelo preço declarado, sendo este um terceiro
interessado na validade do negocio simulado (art.243º CC). No entanto, o
conceito de terceiros, para efeitos de invocação da simulação é muito amplo,
definido para abranger qualquer pessoa, titulares de uma relação jurídica ou
praticamente afetado pelo negocio simulado e que não sejam os próprios
simuladores ou os seus herdeiros. Porem, com base em argumentos
teleológicos, entende-se que o regime do art.243º CC apenas protege terceiros
que evitem um prejuízo, e não os que se locupletem com a paralisia da nulidade
do negocio. Assim, Camilo poderia proferir nos termos do negocio
dissimulado, desde que este fosse valido. Tratando-se de um negocio formal,
deveria ser debatida a possibilidade da forma do negocio simulado (art.241º/2),
nos casos de simulação relativa quanto ao valor, tal é geralmente tida por
viável, sendo Camilo admitido, em suma, a preferir nos termos do negocio
dissimulado.

2. Amadeu e Cesar celebram um negocio de compra e venda, porem a vontade de


Cesar encontrava-se viciada por coação moral provinda de Belarmino, existindo
um vicio de vontade, que existe quando a liberdade de alguém, neste caso C,
não foi totalmente excluída, quando lhe foram deixadas possibilidade de
escolha, embora a submissão à força fosse a escolha mais normal. Neste sentido,
são preenchidos os requisitos gerais de relevância da coação moral, pois
verificou-se a intenção de extrair a declaração em causa, bem como a ilicitude
da ameaça (art.255º CC), isto é, Cesar foi ilicitamente ameaçado por Balbino a
comprar o quadro a Amadeu com o objetivo deste conseguir quitar as sua
dividas, assim com medo da ilícita ameaça de Balbino, Cesar emite a declaração
de vontade coagido por ele. Aqui não se verifica o requisito da essencialidade,
uma vez que a coação foi meramente incidental, mas não deixa de ter
consequências jurídicas. Provindo a coação de terceiro, teria ainda que ser grave
o mal e justificado o receio da sua consumação (art.256º CC), o que se verifica
no caso.
Quanto às consequências jurídicas, se a coação fosse essencial, o negocio seria
anulável (art.256º CC, que nos diz que a declaração negocial extorquida por
coação é anulável, remetido para o art.287º), sendo que só tem legitimidade
para arguir anulabilidade as pessoas cuja interesse a lei estabelece e dentro do
prazo de 1 ano subsequente à cessação do vicio. O ano contado da cessação do
vicio terminou em Março de 2019, porém como o negocio não chega a ser
cumprido (art.287º/2 CC e 879º CC), a arguição ainda está em prazo. Tratando-
se, aqui, de uma coação incidental, deveriam ser aplicados os princípios da
redução do negócios jurídico (art.292º CC), esta consiste na manifestação, no
plano jurídico, de um problema tipo pertinente em todos os domínios,
principalmente a vida. A resposta a isto é encontrada sob a perspetiva dos
valores ou fins relevantes nesse domínio, nomeadamente a boa fé. Assim, A
pode provar a vontade hipotética de não manutenção do negocio pelo preço
reduzido, com a anulação total do caso. B poderia ainda ser responsabilizado
pelos danos causados a A ou a C, com base nas regras de responsabilidade civil
pré-contratual.

Exame época normal-2019

1. O negocio entre A e B configura uma hipótese de simulação absoluta, esta


insere-se na divergência entre a vontade, que é um elemento interno e a
declaração negocial que é o elemento externo, assim existe uma efetiva
autodeterminação de efeitos jurídicos pelo autor da declaração, se a vontade se
formou sobre uma motivação conforme com a realidade e com a liberdade. A
simulação, que consiste num aparente negocio que não existe, que sob as
roupagens do ato simulado se oculte um negocio diferente quer se oculte coisa
nenhuma (art.240º/1 CC). E dentro desta temos a simulação presente no caso, a
simulação absoluta, onde as partes fingem celebrar um negocio jurídico e na
realidade não querem negocio jurídico nenhum, há apenas um negocio
simulado e por detrás dele nada mais. O negocio simulado é nulo (art.240º/2
CC), não produzindo qualquer efeito jurídico (art.286º CC). Segundo o
art.242º/1 CC os simuladores podem também arguir a anulabilidade, no
entanto existem limitações quanto a isso previstas no art.394º CC. Como tal,
nem B, nem C ou D adquiriram qualquer direitos, a invalidade precedente poe
em causa as aquisições subsequentes, que neste caso são aquisições derivadas
translativas, em que o direito adquirido é o mesmo que pertencia ao anterior
titular.
Porém, vale aqui um regime especial de proteção a um terceiro de boa fé,
previsto no art.243º CC. Sendo um dos simuladores, A, a invocar a
anulabilidade, preenchia-se um dos pressupostos para a mobilização deste
regime; de outro modo, apenas o regime geral do art.291º CC estaria disponível.
B dispôs duplamente do seu direito, a favor de C e D, estes entre si eram
terceiros para efeitos de registo, isto é, são pessoas que do mesmo autor ou
transmitente adquirem direitos incompatíveis (total ou parcialmente) sobre o
mesmo prédio (art.5º/4 CRPredial). Se ambos lograssem obter proteção através
do art 243º CC, D poderia por a C a eficácia da sua aquisição primeiramente
registada, protegendo-se quanto a ambas as fontes de ilegitimidade. Porem D
não preenche os requisitos do art.243º CC, por estar de má fé, sendo que tao
pouco preenchia os requisitos do art.291º CC. Assim, temos que o prédio é de C
que pode invocar com sucesso o art.243º CC contra A.
2. A declaração emitida por Eduardo no contrato de compra e venda celebrado
com Fausto foi baseada num erro-vicio, isto é, foi baseada numa representação
inexata ou na ignorância de uma qualquer circunstancia de facto ou de direito
que foi determinante na decisão de efetuar o negocio, este é enquadrado nos
vícios de vontade, pois não se confundem com os erros na declaração, assim
temos aqui presente um erro sobre o objeto do negocio, pois o carro que
Eduardo pensava ser valioso, afinal não o é, e erro na transmissão da declaração
(art.251º e 252º CC). Assim, este trata-se de um erro quanto ao objeto mediato
do negocio, pois este incide sobre a identidade e as caraterísticas do objeto,
incidindo sobre as suas qualidades intrínsecas (art.251º CC). Sendo este um erro
essencial, isto é, sem ele não se celebraria qualquer negocio ou seria celebrado
de maneira diferente, o que é o caso da situação expressa, torna o negocio
anulável nos termos do art.247º CC, já que é transparente, para Fausto, o
declaratário, a essencialidade do elemento sobre o qual incide o erro, pois se
este tivesse conhecimento do erro antes de celebrar o negocio este não chegaria
a ser concretizado, uma vez que Fausto pretendia vender o automóvel a um
bom preço a um sobrinho que procurava um automóvel para as suas primeiras
experiencias de condução.
Eduardo, nos termos do art.287º CC, ainda está em prazo para requere a
anulação, uma vez que este só termina em Setembro de 2019, pois o prazo só
começa a contar a partir da cessação do vicio, sendo assim, o primeiro
argumento de Fausto não é viável. Os dois restantes argumentos de Fausto não
poe qualquer entrave à anulação, uma vez que o CC não requer que o erro seja
desculpável para facultar a anulação, mas aponta para o direito de F a obter
reparação por responsabilidade civil pré-contratual, verificando-se culpa de
Eduardo e ocorrendo um dano, neste caso, um lucro cessante, na esfera de
Fausto.
Assim, Eduardo poderia anular o negocio (art.251º, 247º e 287º CC), mas
incorria, à partida, num dever de indemnizar (art.227º CC).

Exame 2016- época normal

1. Neste caso, Bernardo poderá desvincular-se do negocio, existindo dois meios


para o fazer: os regime do erro-vicio e do dolo.
O erro-vicio constitui uma representação inexata ou ignorância de uma
qualquer circunstancia de facto ou de direito, que foi determinante na decisão
de emitir a declaração de vontade. No caso, temos que a representação incorreta
incide sobre certas qualidades do objeto, o serviço de porcelana, sendo, por isso,
um erro sobre o objeto art.251º CC.
O erro-vicio releva como causa de anulabilidade da declaração de
vontade se estiverem presentes certos requisitos gerais e especiais, variando
estes últimos conforme a modalidade do erro-vicio em causa. Os pressupostos
gerais são a essencialidade e a propriedade, que neste caso foram respeitados,
uma vez que sem o erro Bernardo nunca teria emitido a declaração de vontade,
e o erro incide sobre as qualidades do objeto e não sobre qualquer elemento
legal de validade do negocio. Também os requisitos especiais sobre o objeto
(art.247º por remissão do art.251 CC) foi respeitado, uma vez que a
essencialidade, para o declarante, Bernardo, do elemento sobre que incidiu o
erro desde, ou seja, as qualidades do objeto, deveria, no mínimo, ter sido
conhecida por Alexandra, que, de resto, forjava o serviço.
O prazo para arguir a anulabilidade é de um ano a contar da cessação do
vicio que lhe serve de fundamento (art.287º CC). Há duas representações
inexatas: uma que cessa em setembro de 2013, quando Bernardo fica a saber
que o serviço havia sido fabricado em 1992,e não no sec. XVIII; e outra, que
cessa em Agosto de 2015, relativa a quem e como teriam sido fabricadas as
louças, se for considerada esta cessação vemos que o prazo para arguir a
anulabilidade ainda esta a decorrer, pois ainda não passou um ano.
Bernardo também foi vitima de dolo, pois temos um erro-vicio de
Bernardo determinado por um comportamento artificioso ilícito de Alexandra
(art.253º CC).
O dolo, enquanto causa de anulabilidade da declaração de vontade requer o
preenchimento de alguns requisitos: os artifícios tem de ter sido produzidos
com a intenção ou consciência de induzir ou manter Bernardo em erro, tem de
ser ilícitos, isto é, o dolo tem de ser mau, o que significa que os artifícios não
podem ser usuais (art.253º/2 CC); e tem de ter sido condição necessária de
emissão da declaração, pois sem a existência deste a declaração não seria
emitida.
Todos estes requisitos foram preenchidos.
Assim, Bernardo tem o prazo de um ano para arguição da anulabilidade, e este
ainda não havia expirado, pois este só tomou conhecimento dos feitos de
Alexandra em agosto de 2015.
O dolo dá ainda origem a uma responsabilidade civil pré-contratual caso sejam
igualmente preenchidos os requisitos do art.227º CC, tendo essa
responsabilidade lugar mesmo que não se verifiquem todos os pressupostos de
anular, por dolo, ou este já tenha caducado.

2. Neste caso, Ernesto, Filipe e Graça adquiriram, em momentos diferentes, o


direito sobre a mesma moradia, a qual havia sido objeto de um negocio
simulado entre Carlos e Diana em Fevereiro de 2013. Assim vemos que existiu
uma simulação absoluta, que consiste no fingimento das partes de celebrarem
um negocio, mas na realidade não querem nenhum negocio jurídico. Há apenas
um negocio simulado e por detrás deste nada mais. Para alem disso, temos
também uma simulação fraudulenta, pois há intuito ou de prejudicar terceiros
ilicitamente ou de contornar qualquer norma da lei. Neste caso vemos que
existe uma venda fantasma, efetuada por Carlos para prejudicar o seu credor
Xavier.
Como o negocio simulado é nulo (art.240º/2 CC) Diana, que é um dos
simuladores, não adquire o direito de propriedade sobre a moradia que Carlos
simulou vender-lhe. Não tendo adquirido tal direito não poderia ter
transmitido gratuitamente a Ernesto através de doação: o que esta de acordo
com o principio nemo plus iuris que nos diz que ninguém pode transmitir
poderes jurídicos de que não seja titular.
No entanto, este principio conhece 3 exceções. Neste caso, uma de duas dessas
exceções poderia ser à colação, ou o art.243º CC, ou a regra geral do art.291º CC.
Como Xavier não era um dos simuladores, a posição do curso diz-nos
que os terceiros- Ernesto, Filipe e Graça- só se poderiam fazer valer da proteção
do art.291º CC. No entanto, este exige o preenchimento de vários requisitos,
entre os quais a aquisição de direitos a titulo oneroso, contudo Ernesto havia
adquirido a titulo gratuito, enquanto donatário; e a boa fé do adquirente, esta
definida como desconhecimento, sem culpa, do vicio do negocio nulo ou
anulável, no momento da aquisição (art.291º/3 CC), assim exclui-se Filipe e
Graça do âmbito da sua proteção. Filipe não estaria de boa fé, porque, embora
desconhecesse a simulação, “conhecia a situação patrimonial de Carlos e
deveria ter sabido que a venda a Diana não fora verdadeira”. Caso agisse de
boa fé Filipe já se encontraria protegido pelo art.243º CC, que apenas exige o
desconhecimento, independentemente de culpa do terceiro adquirente.
Xavier teria legitimidade para invocar a nulidade da simulação,
sustentando a sua pretensão nos arts.286º e 605º CC, bem como opor a
nulidade, com êxito, aos terceiros Ernesto, Filipe e Graça nos termos já
apreciados.

Exame 2015- época normal

1. A) Branca comprou a tela tendo por base uma representação deficiente das
qualidades do objeto do negocio jurídico (art.251º CC). Este erro-vicio foi
induzido intencionalmente por Carlota (art.253º/1 CC). Assim, temos dois
vícios de vontade, o dolo e o erro.
O dolo releva como causa de anulabilidade da declaração se for
essencial, isto é, sem este vicio Branca não teria emitido a declaração de
vontade, se for ilícito, nos termos do art.253º/2 a contrario sensu. Como se trata
de dolo de terceiro seria também necessário que o destinatário da declaração de
vontade de Branca, neste caso André conhecesse, ou devesse conhecer, o dolo
(art.254º/2 CC). Neste caso, apesar da essencialidade e da ilicitude do dolo de
Carlota, André não conhecia, nem devia ter conhecido, a sua existência, pelo
que o negocio não seria anulável.
O erro-vicio releva como causa de anulabilidade, primeiro se for
essencial e próprio, isto é, que não incida sobre elementos legais de validade do
negocio; e segundo, tratando-se especificamente de erro sobre o objeto, se o
destinatário da declaração de Branca conhecer, ou devesse conhecer, a
essencialidade, para Branca, do elemento que incidiu o erro (art.247º por
remissão do art.251º CC). André sabia ou devia ter sabido da essencialidade do
elemento “autoria de Vieira de Andrade” para Branca, pelo que o negocio seria
anulável. Branca disporia de um ano a contar da data d momento da cessação
do vicio, ou seja ate setembro de 2015 (art.287º/1 CC).
2. Eduardo do coagiu Diana e emitir uma declaração de vontade. A coação moral,
consiste num vicio de vontade, pois Diana poderia ter recusado a emissão do
comportamento declarativo. Há coação moral porque existe um medo de Diana,
que resulta da ameaça ilícita de Eduardo, feita com o fim de extorquir uma
declaração negocial (art.255º/1 CC). A ilicitude da ameaça de Eduardo não
resulta de um meio em si mesmo, porque denunciar Diana não seria um
comportamento ilícito, mas do emprego daquele meio para aquele fim, forçar
Diana a vender a quinta à sobrinha. Tratando-se de coação de terceiros, seria
ainda necessário que fosse grave o mal por este ameaçado, e que fosse
“justificado o meio da sua consumação” (art.256º CC).
O negocio seria anulável com base em coação moral, tendo Diana um ano a
contar do momento em que cessou a coação, ou seja, no momento em que os
seu patrões descobriram a sua falta de habilitação, que seria abril de 2015
(art.287º/1 CC).
O negocio entre Francisca e Guilherme é nulo por simulação absoluta, pois
estes fingem celebrar um negocio de compra e venda para ludibriar os credores
de Francisca, que assim não poderiam executar a quinta. Neste caso, enquanto
interessada, Diana poderia invocar a nulidade a todo o tempo (art.286º CC).
Guilherme transmite o direito de propriedade sobre a quinta a Hugo. No
entanto, o direito chega-lhe através de dois negócios inválidos: um por coação
moral e outros por simulação.
Quanto à anulabilidade por coação moral, Hugo poderia defender-se através do
art.291º CC, que protege terceiros de boa fé, por se verificarem os seus
requisitos inclusive o do prazo de 3 anos previstos no nº 2 do mesmo artigo. No
entanto, Hugo já não gozaria da mesma proteção face à nulidade por
simulação, uma vez que ainda não tinha passados os 3 anos desde a conclusão
do negocio simulado ( e o art.243º CC de nada lhe valia, por só ser aplicado
quando a nulidade é invocada por um dos simuladores, o que Diana não é).
Diana pode reaver a quinta se invocar a nulidade da simulação entre Francisca
e Guilherme, nulidade que pode opor a Hugo, desde que o faça até setembro de
2015, data em que se cumprem os 3 anos desde a conclusão do negocio
simulado, uma vez que se aplica o art.291º CC, no caso de Hugo invocar a sua
boa fé.

Você também pode gostar