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Em julho de 2017, Joana residente em Coimbra, ao saber que havia sido contratada para
trabalhar na Lousã, adquiriu a Zaida um automóvel ligeiro, da marca e modelo Peugeot 307 HD
i, do ano de 2011, pelo preço de €8.000, julgando que o carro tinha 50.000 km. Todavia, o
conta-quilómetros havia sido adulterado por Jorge, mecânico de Zaida. Na verdade, o carro
tinha, à data da compra, 370.000 km, em virtude de Zaida ser agente comercial na zona centro
do país e fazer diariamente longas viagens. Ao fim de 2 semanas, o carro teve uma grave
avaria, causada pelo desgaste das peças, tendo Joana uma despesa de €3.500.
1) Pode, hoje, Joana reagir? Que direitos tem e contra quem os pode fazer valer?
1. Neste casos, estamos perante uma situação de dolo, estando este presente em
qualquer sugestão ou artificio com a intenção ou consciência de induzir ou
manter em erro o autor da declaração ou que tenha lugar a dissimulação, pelo
declaratário ou por um terceiro, do erro do declarante (art.253º/1 CC).
Existem diferente modalidades de dolo, sendo elas o dolo positivo, que consiste
na sugestão de manter em erro ou induzir o autor da declaração, e o dolo
negativo, este não existe em todos os casos de silencio perante o erro em que
versa o declarante, a omissão de esclarecimento negocial só constituirá dolo
ilício quando exista um dever de elucidar, por força da lei (art.253º/2/2ª parte
CC). Outra modalidade de dolo consiste no dolo proveniente de terceiro, onde
são exigidas certas condições suplementares que devem acrescer às do dolo do
declaratário e o seu efeito é mais restrito. Existirá não apenas dolo de terceiro,
mas também dolo do declaratário, se este for cúmplice daquele ou conhecer a
atuação de terceiros (art.254º/2 CC). Outra modalidade, também importante
consiste no dolo essencial, em que o enganado foi induzido pelo dolo a concluir
o negocio em si mesmo e não apenas nos termos em que foi concluído, sem
dolo não se teria concluído qualquer negocio, aqui há uma dupla causalidade, o
dolo é a causa do erro e este é determinante do negocio.
O principal efeito do dolo é a anulabilidade do negocio (art.254º/1 CC),
acrescendo a responsabilidade pré-negocial do autor do dolo, por ter dado
origem à invalidade, com o seu comportamento contrario à boa fé, durante a
formação do negocio (art.227º). Assim, Joana tem direito de repristinação da
situação anterior ao negocio e a cobertura dos danos que sofreu por ter confiado
no negocio e não ter sofrido sem essa confiança. Posto isto, nos termos do
art.287º CC, Joana ainda tem prazo para intentar a ação de anulação, pois ela
teve conhecimento em Julho de 2017, tendo legitimidade para o fazer contra
Zaida, uma vez que esta “sabia ou devia saber” do engano. Assim, Joana terá
direito a anular o negocia e a ser indemnizada pelos 3500 euros que gastou no
conserto do automóvel, nos termos do art.227º CC, dano contratual negativo.
2) Quid iuris, no caso de Joana, ao fim de 2 dias, se aperceber que o trabalho não se
adaptava aos eu perfil curricular e ter desistido do mesmo, não tendo, portanto,
necessidade do automóvel?
2. Aqui estamos perante uma situação de erro sobre os motivos (art.252º/1). Este é
uma categoria residual, em que o erro não se refere à pessoa do declaratário
nem ao objeto do negocio. Neste tipo de casos o art.252º/1 CC permite a
anulação, desde que haja uma clausula, mo sentido da validade do negocio ficar
dependente da circunstancia sobre o que versou o erro, neste caso a não
adaptação de Joana ao novo trabalho. No entanto, é irrazoável permitir a
anulação, uma vez provado pela contraparte o conhecimento da essencialidade
do motivo que levou Joana ao negocio. Assim, justifica-se que se tenha exigido
uma efetiva estipulação tornando a validade do negocio dependente da
verificação da circunstancia sobre o que incidiu o erro, o que acontece
raramente. Assim, a função do art.252º/1 CC é a de realizar a exclusão, isto é,
exclui-se a relevância do erro sobre os motivos.
Posto isto, Joana não poderia anular o negocio com este fundamento.
1. Neste caso, temos que Bento coagiu Alberto a emitir uma declaração de
vontade, que é um elemento essencial do negocio, conduzindo a sua falta à
inexistência material do negocio. Uma vez que Alberto foi forçado por Bento a
emiti-la, estamos perante uma coação moral, em que Alberto vê a sua liberdade
cercada, tendo aqui então, um vicio de vontade uma vez que a sua liberdade
não foi totalmente excluída, quando lhe foram deixadas opções de escolha, uma
vez que Alberto poderia ter recusado a emissão do comportamento declarativo.
Existe a coação moral, pois há o medo de Alberto, em resultado de uma ameaça
ilícita de Bento, que tinha como objetivo a extorsão da emissão de declaração
negocial (art.255º/1 CC). A ilicitude da ameaça de Bento não resulta de um
meio em si, pois caso Alberto tivesse cometido o crime que Bento ameaçou
revelar, a denuncia do seu comportamento não seria uma conduta ilícita em si
mesma, mas do emprego daquele meio (ameaça da denuncia) para aquele fim,
ou seja, forçar Alberto à venda do apartamento.
Posto isto, o negocio seria anulável com base na coação moral, tendo Alberto
um ano a contar do momento em que ele foi absolvido pelo juiz, a 2 de
dezembro de 2017 (art.287º/1 CC).
Bento transmitiu o direito de propriedade sobre o apartamento para Catarina.
Mas este direito chega-lhe com base num negocio anterior anulável por coação
moral. Quanto a isto, Catarina poderia defender-se contra a sua invocação por
Alberto através do art.291º CC, numa das exceções ao principio nemo plus iuris,
que protege terceiros de boa fé. Contudo, esta não teria sucesso por ainda não
terem decorrido os 3 anos previstos no n º 2 do mesmo artigo, a contar a partir
da conclusão do negocio viciado por coação.
Por fim, note-se que Alberto pode reaver o apartamento com base na
anulabilidade da venda a Bento, anulabilidade esse que pode opor a Catarina,
desde que a invoque ate 2 de Dezembro de 2018 (no caso).
Em Maio de 2015, Fabiana vendeu um serviço de porcelana a Gustavo, por este estar
convencido de que o mesmo era do século XVIII e pintado à mão. Em Setembro do
mesmo ano, Gustavo teve conhecimento da verdadeira data de fabrico do serviço:
1994. Por este motivo Gustavo não tinha qualquer interesse na manutenção do
negócio, mas, por consideração para com Fabiana, nunca abordou o assunto. Em
Agosto de 2017, através de uma reportagem televisiva, Gustavo ficou a saber que foi
Fabiana quem produziu as louças, escolhendo artificiosamente os materiais de modo a
obter “serviços antigos” para venda. Hoje Gustavo pretende desvincular-se do negócio.
Quid iuris?
2. Gustavo poderá desvincular-se do negocio, existindo dois meios para o fazer:
os regimes do erro-vicio e do dolo.
O erro-vicio constitui um representação inexata ou ignorância de uma
qualquer circunstancia de facto ou de direito, que foi determinante na decisão
de efetuar o negocio, isto é, de emitir a declaração de vontade. Dentro desta
categoria existem varias modalidades de erros, estando aqui presente o erro
sobre o objeto, pois o erro incide em determinadas qualidades do objeto
mediato, o serviço de porcelana (art.251º CC).
O erro-vicio releva como causa de anulabilidade da declaração de vontade se
estiverem presentes certos requisitos gerais e especiais, variando estes últimos
em função da modalidade de erro vicio em causa. Os pressupostos gerais, a
essencialidade e a propriedade foram respeitados, uma vez que sem o erro
Gustavo nunca teria emitido a declaração de vontade, e o erro incide sobre
qualidades do objeto mediato e não sobre qualquer elemento legal de validade
do negocio. Também o requisito especifico do erro sobre o objeto (art.247º por
remissão art.251º CC) foi observado, uma vez que, a essencialidade, para o
declarante Gustavo, do elemento sobre que incidiu o erro deste, ou seja as
qualidades do objeto, deveria, no mínimo, ter sido conhecida por Fabiana, que,
de resto, forjava o serviço.
O prazo para arguir anulabilidade é de um ano a contar da cessão do vicio que
lhe serve de fundamento (art.287º CC). Há, ainda, duas representações inexatas:
uma cessão em Setembro de 2015, quando Gustavo fica a saber que o serviço foi
fabricado em 1994, e não no sec. XVIII; e outra, que cessão em agosto de 2017,
relativa a quem e como teria produzido as louças, nesta situação poderíamos
considerar que ainda não tinha passado o prazo de um ano.
Gustavo também havia sido vitima de dolo: um erro-vicio de Gustavo
determinado por um comportamento artificioso e ilícito de Fabiana (art.253º
CC). O dolo, enquanto causa da anulabilidade da declaração de vontade, requer
que sejam preenchidos certos requisitos: os artifícios tem de ter sido produzidos
com a intenção ou consciência de induzir ou de manter o declarante, Gustavo,
em erro; tem de ser ilícitos, isto é, o dolo tem de ser mau, o que significa que os
artifícios não podem ser usuais, isto é, considerados legítimos segundo as
conceções dominantes no comercio jurídico (art.253º/2 CC); e tem de ter sido
condição necessária da decisão de emitir a declaração de vontade, isto é, dolo
essencial. Nesta situação todos estes requisitos foram respeitados.
O prazo de um ano para arguir a anulação ainda não tinha expirado, uma vez
que, Gustavo só tomou o conhecimento do que havia acontecido em Agosto de
2017.
O dolo dá ainda origem à responsabilidade pré-contratual caso sejam
preenchidos os pressupostos do art.227º CC, tendo esta responsabilidade lugar,
mesmo que não se verifiquem todos os requisitos de direito de anular, por dolo
ou este já tenha caducado.
a) Xavier vendeu a Zaida, há 3 anos, mediante escritura pública, uma quota de um prédio
urbano, pelo preço de 200.000€, embora o valor que constasse do contrato de compra
e venda fosse apenas de 100.000€
1. Estamos aqui perante um contrato de compra e venda aparentemente valido, tendo
sido respeitados os requisitos do art.875º CC, que constitui uma exceção ao art.219º
CC. Caso não exista nenhum vicio de invalidade, cuja sanção seja a nulidade, significa
que Zaida passou a ser a proprietária da quota do prédio urbano, tendo Xavier de
proceder à “entrega” do imóvel, e Zaida pagar o preço devido, sendo que só assim se
cumpre o contrato de compra e venda. Uma vez celebrado o contrato, transmite
imediatamente a propriedade sobre a quota do prédio para Zaida, assim, no caso
concreto está em causa um contrato bilateral, sinalagmático, oneroso, solene e real
quanto aos efeitos.
1. A) Branca comprou a tela tendo por base uma representação deficiente das
qualidades do objeto do negocio jurídico (art.251º CC). Este erro-vicio foi
induzido intencionalmente por Carlota (art.253º/1 CC). Assim, temos dois
vícios de vontade, o dolo e o erro.
O dolo releva como causa de anulabilidade da declaração se for
essencial, isto é, sem este vicio Branca não teria emitido a declaração de
vontade, se for ilícito, nos termos do art.253º/2 a contrario sensu. Como se trata
de dolo de terceiro seria também necessário que o destinatário da declaração de
vontade de Branca, neste caso André conhecesse, ou devesse conhecer, o dolo
(art.254º/2 CC). Neste caso, apesar da essencialidade e da ilicitude do dolo de
Carlota, André não conhecia, nem devia ter conhecido, a sua existência, pelo
que o negocio não seria anulável.
O erro-vicio releva como causa de anulabilidade, primeiro se for
essencial e próprio, isto é, que não incida sobre elementos legais de validade do
negocio; e segundo, tratando-se especificamente de erro sobre o objeto, se o
destinatário da declaração de Branca conhecer, ou devesse conhecer, a
essencialidade, para Branca, do elemento que incidiu o erro (art.247º por
remissão do art.251º CC). André sabia ou devia ter sabido da essencialidade do
elemento “autoria de Vieira de Andrade” para Branca, pelo que o negocio seria
anulável. Branca disporia de um ano a contar da data d momento da cessação
do vicio, ou seja ate setembro de 2015 (art.287º/1 CC).
2. Eduardo do coagiu Diana e emitir uma declaração de vontade. A coação moral,
consiste num vicio de vontade, pois Diana poderia ter recusado a emissão do
comportamento declarativo. Há coação moral porque existe um medo de Diana,
que resulta da ameaça ilícita de Eduardo, feita com o fim de extorquir uma
declaração negocial (art.255º/1 CC). A ilicitude da ameaça de Eduardo não
resulta de um meio em si mesmo, porque denunciar Diana não seria um
comportamento ilícito, mas do emprego daquele meio para aquele fim, forçar
Diana a vender a quinta à sobrinha. Tratando-se de coação de terceiros, seria
ainda necessário que fosse grave o mal por este ameaçado, e que fosse
“justificado o meio da sua consumação” (art.256º CC).
O negocio seria anulável com base em coação moral, tendo Diana um ano a
contar do momento em que cessou a coação, ou seja, no momento em que os
seu patrões descobriram a sua falta de habilitação, que seria abril de 2015
(art.287º/1 CC).
O negocio entre Francisca e Guilherme é nulo por simulação absoluta, pois
estes fingem celebrar um negocio de compra e venda para ludibriar os credores
de Francisca, que assim não poderiam executar a quinta. Neste caso, enquanto
interessada, Diana poderia invocar a nulidade a todo o tempo (art.286º CC).
Guilherme transmite o direito de propriedade sobre a quinta a Hugo. No
entanto, o direito chega-lhe através de dois negócios inválidos: um por coação
moral e outros por simulação.
Quanto à anulabilidade por coação moral, Hugo poderia defender-se através do
art.291º CC, que protege terceiros de boa fé, por se verificarem os seus
requisitos inclusive o do prazo de 3 anos previstos no nº 2 do mesmo artigo. No
entanto, Hugo já não gozaria da mesma proteção face à nulidade por
simulação, uma vez que ainda não tinha passados os 3 anos desde a conclusão
do negocio simulado ( e o art.243º CC de nada lhe valia, por só ser aplicado
quando a nulidade é invocada por um dos simuladores, o que Diana não é).
Diana pode reaver a quinta se invocar a nulidade da simulação entre Francisca
e Guilherme, nulidade que pode opor a Hugo, desde que o faça até setembro de
2015, data em que se cumprem os 3 anos desde a conclusão do negocio
simulado, uma vez que se aplica o art.291º CC, no caso de Hugo invocar a sua
boa fé.