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Universidade Estadual de Goiás

Unidade Universitária de Ciências Exatas e Tecnológicas


Curso de Farmácia

Estrutura tridimensional da penicilina

Apostila de Química Orgânica Experimental I

Profa. Geralda de Fátima Lemes


geraldafatimalemes@gmail.com
Anápolis, 2016
Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
Sumário

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Calendário de atividades 2016.1

3
1. Segurança em laboratório de química

9
3. Recristalização

4
4. Determinação do ponto de fusão

14
5. Destilação com arraste de vapor

16
6. Determinação de coeficiente de partição do ácido salicílico em água e álcool
amílico (ou isoamílico).
17
7. Extração contínua

18
8. Verificação da influência do pH e do pka na ionização de fármacos

20
9. Extração ácido-base

22
10. Cromatografia

23
10.1. Cromatografia em coluna

24
10.2. Cromatografia em camada delgada

26
11. Determinação da rotação específica da D-glicose e da D-frutose

27
12. Referências bibliográficas

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
Calendário de atividades 2016.1
Turma Turma Experimentos
(2a feira) (6a feira)
15/02 15/02 1. Segurança em laboratório de química, materiais (vidrarias e
equipamentos)
22/02 19/02 3. Recristalização

29/02 26/02 4. Ponto de fusão

07/03 04/03 5. Destilação por arraste de vapor (1a parte)

14/03 11/03 5. Destilação por arraste de vapor (2a parte)

21/03 18/03 6. Determinação de coeficiente de partição do ácido salicílico em


água e álcool amílico (ou isoamílico).
28/03 01/04 Atividade sobre coeficiente de partição

04/04 08/04 Prova (1a VA)

11/04 15/04 7. Extração contínua

18/04 29/04 8. Verificação da influência do pH e do pka na ionização de


fármacos
25/04 06/05 9. Extração ácido-base (1a parte)

02/05 13/05 9. Extração ácido-base (2a parte)

09/05 20/05 10.1. Cromatografia em coluna


16/05 16/05 Prova 1 (2a VA)
23/05 03/06 10.2. Cromatografia em camada delgada

06/06 10/06 11. Determinação da rotação específica

13/06 17/06 Atividade complementar

20/06 20/06 Prova 2 (2a VA)

27/06 27/06 Segunda chamada/Entrega de notas

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
1. SEGURANÇA NO LABORATÓRIO DE QUÍMICA

A inter-relação entre o conhecimento adquirido em química através de estudos teóricos e a


experimentação laboratorial, quando realizada de forma bem clara e coordenada permite ao aluno a
construção de conceitos de forma bem mais sólida e com um maior relacionamento entre os tópicos
teóricos. Neste sentido, o laboratório de química experimental é a grande oportunidade que os
alunos têm de ter um contato com o mundo real da química. O aluno terá contato com as técnicas de
purificação, preparação e caracterização de substâncias orgânicas, a manipular substâncias tóxicas e
inflamáveis e a montar as aparelhagens necessárias para diversas finalidades.
As experiências de laboratório, além de estimular a curiosidade e desenvolver as habilidades
de observação, registro e interpretação de dados, oferecem a oportunidade de um bom treinamento
na manipulação de diversos materiais e aparelhagens.
O sucesso de uma experiência está diretamente relacionado com o interesse, organização e
cuidado na sua execução. Assim, o respeito às normas de segurança é fundamental para se evitar
acidentes, devido aos riscos inerentes aos trabalhos desenvolvidos. A segurança do aluno e de seus
colegas depende de sua conduta no transcorrer das aulas de laboratório. Portanto, as instruções e
recomendações sobre o procedimento no laboratório devem ser seguidas rigorosamente.

Entre os riscos mais comuns, destacam-se os seguintes:

 manipulação de substâncias tóxicas, corrosivas, inflamáveis e explosivas;


 manuseio de material de vidro;
 uso do fogo e da eletricidade.

1.1. Riscos químicos


Os agentes químicos podem ser introduzidos no organismo humano por três vias: inalação,
absorção e ingestão. Dentre elas, a inalação constitui a principal via de intoxicação devido à
facilidade de disseminação da substância dos pulmões para o sangue e daí para as diversas partes do
corpo.
O dano causado por uma substância específica depende: do tempo de exposição, da
concentração, das características físico-químicas do composto e da suscetibilidade pessoal.

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
Utilização de substâncias corrosivas
Entre os principais agentes corrosivos encontrados nos laboratórios químicos destacamos os
ácidos, as bases e os halogênios. Muitos deles provocam sérias queimaduras e devem ser
manipulados cuidadosamente, evitando-se contato com a pele e mucosas.
No caso de acidentes com esses produtos, deve-se conhecer a natureza química das substâncias
para se executar corretamente os primeiros socorros.
Como proceder no caso de acidentes com:

a) Ácidos: (H2SO4, HCl, HNO3, etc.) deve-se lavar, imediatamente, com muita água, neutralizar
com solução alcalina diluída (geralmente solução aquosa de bicarbonato de sódio a 1%) e
novamente com água.
b) Bases: (NaOH, KOH, NH4OH, etc.) deve-se lavar, imediatamente, com muita água, neutralizar
com solução ácida diluída (geralmente solução aquosa de ácido acético a 1%) e novamente com
água.
c) Sódio: (Na) deve-se remover qualquer resíduo de sódio e depois proceder como para as bases.

d) Bromo: (Br2). O bromo é um líquido castanho-avermelhado muito volátil, sendo os seus


vapores bastante tóxicos. No caso de acidentes, deve-se lavar imediatamente com muita água,
secar e aplicar glicerina.
Obs. Nos casos de queimaduras leves, após os procedimentos descritos, se necessário, aplicar
pomada para queimaduras. Em casos graves, procurar auxílio médico.

Utilização de substâncias inflamáveis

Uma das principais causas de incêndios nos laboratórios relaciona-se com a manipulação
incorreta de líquidos inflamáveis. Os mais comuns em laboratórios de química são: acetato de etila,
acetona, benzeno, cicloexano, dissulfeto de carbono, etanol, éter de petróleo, éter etílico, hexano,
metanol. Estes reagentes devem ser manipulados longe das chamas. Além disso, deve-se evitar que
seus vapores sejam liberados para o ambiente do laboratório.
Um pequeno incêndio pode ser extinto colocando-se um pano molhado sobre a chama. Nos
casos graves, usar areia seca ou extintores de incêndio.

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia

1.2. Normas gerais de segurança em laboratório de Química

 Observar as normas e procedimentos de segurança;


 Usar sempre avental (jaleco) abotoado, sapatos fechados e cabelos presos;
 Usar óculos de segurança;
 Não usar lente de contato;
 Usar luvas de látex durante a lavagem de material;
 Não provar nem cheirar produtos químicos;
 Não levar a mão à boca ou aos olhos quando estiver manuseando produtos químicos;
 Não usar reagentes sem rótulos;
 Antes de iniciar experimentos verificar a toxicidade e inflamabilidade das substâncias
utilizadas;
 Nunca utilizar chama direta para aquecer líquidos inflamáveis;
 Não trabalhar com vidro trincado ou quebrado;
 Ao introduzir tubos de vidro ou termômetro em rolhas, lubrificar o vidro com vaselina e
proteger a mão com luvas grossas ou panos;
 Não deixar livros, bolsas, sobre as bancadas;
 Não fumar ou comer no laboratório;
 Não deixar experimento em execução desacompanhado;
 Evitar brincadeiras que possam comprometer a segurança dos colegas;
 Em caso de acidente avisar imediatamente os professores ou técnicos;
 Lavar bem as mãos e os braços após as aulas;
 O material específico recebido para determinado experimento deve ser devolvido limpo e em
condições de uso;
 Manter o local de trabalho limpo e organizado.

1.3. Algumas substâncias tóxicas e/ou corrosivas comumente encontradas em

laboratórios de Química

 Acetato de etila: líquido inflamável e volátil; inalação prolongada causa danos renais e
hepáticos. Trabalhar em local arejado.
 Ácido acético glacial: libera vapores irritantes. Manipular em capela

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 Ácido bórico: pode ocasionar envenenamento fatal se absorvido por ferimento da pele.

 Ácido cianídrico: gás incolor altamente venenoso, dose concentrada pode ser fatal em poucos
minutos.
 Ácido clorídrico: libera vapores corrosivos. Manusear em capela.

 Ácido fórmico: produz queimaduras. Trabalhar com luvas.

 Ácido nítrico concentrado: libera vapores corrosivos. Trabalhar em capela.

 Ácido nítrico fumegante: consiste de ácido nítrico a 95 % e contém óxidos de nitrogênio;


seus vapores são corrosivos e sufocantes. Trabalhar em capela.
 Ácido sulfúrico concentrado: provoca sérias queimaduras. Trabalhar com luvas.

 Ácido sulfúrico fumegante: extremante corrosivo e possui odor irritante de SO3. Trabalhar
em capela utilizando luvas.
 Anilina: líquido altamente venenoso e cancerígeno pode causar intoxicação.

 Amônia: gás incolor, corrosivo e tóxico possui odor irritante. Inalação de vapores concentrados
provoca asfixia. Trabalhar em capela.
 Anidrido acético: líquido com odor acético bastante acentuado; produz irritação e
queimaduras na pele. Trabalhar em local arejado.
 Benzeno: líquido inflamável, venenoso, cancerígeno, pode causar intoxicação, por inalação,
ingestão ou absorção cutânea. Trabalhar em capela e evitar o contato coma pele.
 Bromo: líquido volátil, extremamente corrosivo e irritante, ataca rapidamente os tecidos
orgânicos provocando sérias queimaduras. Seus vapores podem ocasionar danos nas vias
respiratórias. Trabalhar em capela, usar luvas e manter uma cuba contendo hidróxido de amônio
ou hidróxido de sódio a 10 % nas proximidades.
 1-butanol: seus vapores causam irritação nas mucosas e dores de cabeça. Trabalhar em local
arejado.
 Cianeto de sódio: fatal em pequenas concentrações. Trabalhar em capela eficiente, com
luvas e tendo por perto solução de NaOH a 10%.
 Cicloexano: líquido inflamável, irritante e narcótico. Trabalhar em local arejado.

 Clorofórmio: líquido volátil, hepatotóxico, cancerígeno. Trabalhar em capela.

 Dicromato de potássio: venenoso, corrosivo, evitar contato com a pele.

 Diclorometano: narcótico em altas concentrações.


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 Éteres: éter etílico, isopropílico, tetrahidrofurano, dioxano. Além de serem altamente
inflamáveis, podem também absorver e reagir como oxigênio quando estocados por longo
tempo, formando peróxidos altamente explosivos. Fazer teste para peróxido antes de utilizar.
 Éter de petróleo (ligroína): libera vapores tóxicos que provocam desde dores de cabeça até
coma. Trabalhar em local arejado e longe de chamas.
 Fenol: sólido venenoso e corrosivo, pode causar intoxicação fatal por ingestão, inalação ou
absorção pela pele. Trabalhar em capela, usar luvas.
 Formaldeído: líquido venenoso, com odor irritante.

 Hidróxido de amônio: consiste em uma solução aquosa de amônia a 28%. Líquido de odor
irritante. Trabalhar em capela.
 Hidróxido de sódio ou de potássio: altamente corrosivo, evitar contato com a pele e olhos.

 Iodo: sólido facilmente sublimável, seus vapores são bastante são bastante tóxicos e
corrosivos. Trabalhar em capela e usar luvas
 Metanol: venenoso e inflamável e pode causar intoxicação fatal por ingestão, inalação ou
absorção cutânea, exposição prolongada pode ocasionar cegueira. Trabalhar em capela e evitar
contato com a pele.
 Propanona: líquido volátil e inflamável, inalação prolongada pode ocasionar irritação
brônquica e narcose. Trabalhar em local arejado.
 Salicilato de metila: bastante venenoso, se ingerido; evitar também inalação prolongada.

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2. VIDRARIAS E EQUIPAMENTOS

Tubo de ensaio Erlenmeyer béquer proveta balão


20 mL

pipeta volumétrica funil de vidro e


balão volumétrico bureta funil de separação termômetro papel de filtro
e graduada

funil de buchner frasco de kitazato gral e pistilo capsula de porcelana conexões Dean-stark

condensador reto condensador de bolas codensador de serpentina condensador de coluna suporte


coluna de vigreux
(Liebig) (Allinh) (Grahan) Friedrich cromatográfica universal

manta chapa elétrica evaporador extrator de


Dessecador bico de bunsen estufa
aquecedora c/ agitação rotativo soxhlet

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3. RECRISTALIZAÇÃO

É o método mais comum de purificação de substâncias sólidas. O processo baseia-se na


diferença de solubilidade do sólido e das impurezas nele contida, em um solvente ou mistura de
solventes quente e frio.
Seleção do solvente
A seleção do solvente é a etapa mais importante na recristalização. O sólido a ser purificado
deve se dissolver totalmente no solvente quente e ser pouco solúvel no solvente à temperatura
ambiente, assim, ao resfriar a solução, o sólido se recristaliza e é separado por filtração.
Outros fatores, como facilidade de manipulação, a volatilidade, a inflamabilidade e outros,
devem ser considerados na seleção do solvente. Na tabela abaixo, estão listados os solventes mais
freqüentemente empregados em recristalização.
Solventes comuns em recristalização
solvente PE (C) solvente PE (C)
Acetato de etila 77,0 Etanol 78,5
Acetona 56,5 Éter etílico 34,6
Ácido acético 118,0 Éter de petróleo 20-90
Água 100,0 Metanol 64,7
Benzeno 80,1 Tetracloreto de carbono 76,7
diclorometano 39,8

Durante as preparações, nem sempre são fornecidas informações a respeito do solvente


apropriado para a recristalização do produto obtido. Neste caso é recomendável fazer testes em
tubos de ensaio, com os solventes mais comuns. Observa-se a solubilidade em diversos solventes a
frio e a temperatura de ebulição, a formação dos cristais durante o resfriamento e o volume de
solvente necessário por grama de amostra a ser purificada. Às vezes, uma mistura de dois solventes
é mais conveniente. Isto é feito quando um dos solventes dissolve bem o material a frio e o outro
não, mesmo a quente.
Para que se possa fazer a mistura de solventes é necessário observar: os solventes devem ser
miscíveis em todas as proporções e compatíveis entre si e com o soluto.

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
Misturas de solventes mais usadas em recristalização
 Etanol + água  Éter + metanol
 Matanol + água  Benzeno +ligroína
 Ácido acético + água  Éter + acetona

O par mais comum é etanol e água. A substância geralmente é bem solúvel em etanol e
pouco solúvel em água. A técnica consiste em aquecer o material a ser purificado com o melhor
solvente até a ebulição e adicionar lentamente o pior solvente, até aparecer uma ligeira turvação.
Adiciona-se, então uma pequena quantidade do melhor solvente, obtendo-se uma solução límpida a
quente.
Durante a solubilização do material a quente, é importante usar a menor quantidade possível
de solvente para diminuir as perdas do produto por solubilização.
Impurezas coloridas ou resinosas podem ser removidas pela adição de pequena quantidade
de carvão ativo à solução aquecida (em geral de 1 a 2% p/p) do material a ser purificado. As
impurezas adsorvidas na superfície das partículas de carvão são removidas durante filtração.
Formação dos cristais- pode ocorrer de maneira espontânea ou induzida por meio de agitação,
resfriamento ou introdução de cristais da substância pura. O resfriamento muito rápido induz a
formação de cristais pequenos que podem adsorver impurezas contidas na solução.

Regras para a recristalização passo a passo:

A. Dissolução
1. Encontrar um solvente onde a substância (soluto) seja pouco solúvel à temperatura ambiente e
muito solúvel a quente.
2. Aqueça o solvente até próximo do ponto de ebulição;
3. Dissolver o sólido num mínimo de solvente em ebulição;
4. Adicionar, se necessário, carvão ativado, CUIDADO!
5. Filtrar a solução quente através de um funil pré-aquecido com papel filtro pregueado, afim de
remover as impurezas sólidas e o carvão.

OBS: Pode eliminar o passo 5 se:


i) Não tiver sido necessário adicionar carvão ativado ou
ii) Não existir impurezas sólidas.

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6. Deixe a solução esfriar (não toque mais no frasco).
7. Se os cristais não aparecerem - siga para o item B
Se os cristais aparecerem - siga para o item C.

B. Induzir a cristalização, opções:


i) Arranhar as paredes do Erlen com um bastão de vidro.
ii) Semeiar a solução (com cristais da mesma substância).
iii) Resfriar a solução em banho de gelo à ± 10 oC.

C. Coletar os cristais
1. Coletar os cristais usando um funil de Büchner.
2. Lavar os cristais com uma pequena porção de solvente frio.
3. Manter a sucção até que os cristais estejam secos.

D. Secar os cristais
1. Secar ao ar debaixo da bancada por 48 horas ou;
2. Usar uma estufa (se os cristais não sublimam ou fundem a esta temperatura) à 100 oC ou;
3. Usar um dessecador a vácuo (1 mmHg).

Procedimento experimental

1) Adiciona-se 1 g de ácido benzóico impuro em 100 mL de água quente;


2) Aquecer até a completa dissolução;
3) Junta à solução pequena quantidade de carvão ativado;
4) Filtrar a quente;
5) Separar o filtrado em dois recipientes e identifica-los;
6) Deixar um dos recipientes em repouso (cristalização espontânea);
7) Induzir a cristalização na outra porção por agitação e resfriamento (cristalização induzida)
8) Filtrar as duas porções, separadamente à pressão reduzida;
9) Comparar os tipos de cristais obtidos;
10) Determinar o ponto de fusão do produto recristalizado (próxima aula)

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4. DETERMINAÇÃO DO PONTO DE FUSÃO

O ponto de fusão (pf) de substância orgânica pura é definido como a temperatura na qual
a fase sólida coexiste com a fase líquida. Durante a fusão, a temperatura permanece inalterada
até que todo o sólido tenha se convertido em líquido. No ponto de fusão a pressão de vapor do
sólido é igual à pressão de vapor da fase líquida. Uma substância orgânica pura possui
geralmente um ponto de fusão bem definido, isto é, a fusão ocorre em uma faixa estreita de
temperatura (0,5 a 1,0 ºC) e por isto, esta propriedade é bastante usada como critério de pureza
de uma substância. A presença de impurezas produz, na maior parte dos casos, um alargamento
na faixa de fusão, além de abaixar a temperatura de fusão.
O ponto de fusão pode ser determinado com grande precisão mesmo com aparelhos muito
simples. A exatidão na determinação de ponto de fusão está estritamente relacionada com a precisão
do termômetro utilizado. É importante que a amostra esteja criteriosamente seca para a
determinação confiável de seu ponto de fusão.
No caso de dois compostos A e B aparentemente idênticos, com pontos de fusão similares
de 131-132 ºC. Pode-se facilmente determinar se A e B realmente são o mesmo composto
misturando uma pequena quantidade de B com A (ou vice-versa) e determinando o ponto de fusão
da mistura, caso A e B sejam o mesmo composto, o ponto de fusão da mistura será o mesmo pf de
A ou B puros. Se A e B não são o mesmo composto, um agirá como uma impureza no outro e o
ponto de fusão da mistura será mais baixo e com uma faixa de fusão mais ampla (talvez 120-125
ºC neste caso) do que o ponto de fusão individual de A ou de B, puros.
A determinação do ponto de fusão de uma substância pode ser efetuada no laboratório, em
tubos capilares, utilizando um tubo Thiele como banho de aquecimento (figura abaixo). A amostra a
ser analisada é colocada em um tubo capilar preso ao termômetro por meio de um anel de borracha.
A amostra deve estar próxima ao bulbo do termômetro.

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Aparelhagem para determinação de ponto de fusão

Procedimento experimental
1. Preencher um capilar (com uma das extremidades fechada) com a amostra pulverizada, de modo
a ter 2 a 3 mm de material nos capilares.
2. Compactar o material com o auxílio de uma vara de vidro.
3. Encher o tubo Thiele com glicerina (usando um funil de haste longa) até a metade do "pescoço"
do tubo (nujol ou silicone pode ser usado).
4. Fixar o capilar no termômetro usando um elástico de látex (Veja figura).
5. Mergulhar o termômetro/capilar no banho de glicerina, de modo a que a porção final do capilar
fique fora do banho.
5. Fixar a posição do termômetro com auxílio de uma rolha com a lateral cortada em V (veja
figura).
6. Começar a aquecer o sistema usando chama azul no Bunsen. A temperatura deve subir
rapidamente.
7. Quando faltar 10-15 oC para o p.f. da substância, iniciar um aquecimento brando (chama
amarela) na taxa de 1 oC/min.
8. Registrar a faixa de fusão da amostra.

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
UM BOM PONTO DE FUSÃO TEM UM INTERVALO DE FUSÃO (início - fim) de até 2 oC.
Obs. Para amostras desconhecidas é conveniente fazer uma determinação preliminar rápida,

anotando a faixa de fusão aproximada. Em seguida determina-se o pf como descrito acima.

5. DESTILAÇÃO POR ARRASTE DE VAPOR

Muitas plantas exalam aromas agradáveis que resultam de misturas complexas de compostos
orgânicos voláteis. Essas misturas de produtos naturais voláteis constituem o que se denomina de
óleos essenciais. Nas plantas o óleo fica geralmente armazenado em pequenas vesículas das folhas,
pétalas ou cascas. Devido a sua volatilidade ele escapa pelos poros das vesículas perfumando o
ambiente.
Dentre os óleos mais importantes podemos destacar de eucalipto, canela, hortelã, jasmim,
lavanda, limão, rosa, cravo, entre outros.
A extração e comercialização desses óleos são importantes para a indústria de perfume,
alimentos, fármacos e material de limpeza.
Os métodos mais comuns de extração de óleos essenciais são a prensagem, destilação por
arraste de vapor d’água, extração com solventes e extração com CO2 supercrítico.
A destilação com arraste de vapor é bastante utilizada na purificação de substância que
decompõe a temperatura elevada, pode também ser utilizada na separação de uma substância de
uma mistura reacional que contém substâncias não voláteis. Esta destilação é usualmente
empregada na purificação de substâncias orgânicas voláteis e imiscíveis com a água. Esta operação
envolve co-destilação da substância a purificar com a água, e tem como principal vantagem o fato
da mistura entrar em ebulição a uma temperatura inferior a ponto de ebulição da água.
De acordo com a Lei de Dalton sobre as pressões parciais dos gases, num sistema contendo
vapores imisciveis, cada componente exerce sua pressão de vapor, independentemente dos outros
componentes presentes. Portanto, a pressão de vapor total sobre a mistura é igual à soma das
pressões de vapor de cada componente.
PTotal = P1 + P2 + .....Pn.
Se uma mistura de dois líquidos for destilada o ponto de ebulição será a temperatura na qual
a soma das pressões de vapor é igual à da atmosfera. Essa temperatura será menor do que o ponto
de ebulição do componente mais volátil. Exemplo: anilina PE = 184 C, água PE = 100 C,
temperatura de ebulição da mistura é igual a 98,5 C, quando a pressão de vapor da água é igual a
717 mm Hg e de anilina 43 mmHg.
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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
O óleo de cravo-da-índia é obtido por destilação por arraste de vapor d’água de botões
dessecados da Syzgium aromaticum (L.) Merr. Et. L. M. Perry e os principais componentes do óleo
são eugenol (70 a 95 %), acetato de eugenol, -cariofileno (5 a 8 %). O óleo é usado como
aromatizante e possui propriedades antiséptica, contra irritanção e carminativa.

O
OH
O CH3 O O CH 3
H

Eugenol Acetato de eugenol -cariofileno

Procedimento experimental

Triturar os cravos em gral de porcelana, colocar em um balão bitubular de 500 mL (balão B),
adicionar água até cobri-los. No outro balão (A), colocar água para aquecer (gerador de vapor).
Aquecer os balões. Quando estiver destilando apenas água, retirar a rolha do frasco gerador de
vapor e interromper o aquecimento. Se este cuidado não for tomado, pode haver refluxo do material
do balão B para o balão A. Transferir o destilado para um funil de separação. Extrair com acetato de
etila (2X30 mL). Coletar a fase orgânica, secar com sulfato de sódio anidro. Evaporar o acetato de
etila em banho-maria. Montar a aparelhagem conforme figura abaixo.

Aparelhagem para destilação por arraste de vapor

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
6. Determinação de coeficiente de partição do ácido salicílico em água e álcool
amílico (ou isoamílico).

Introdução

O coeficiente de partição óleo-agua (P) é definido como a relação das concentrações da


substância em óleo e em água. Para determinar o valor de P realiza-se um experimento no qual se
misturam quantidades conhecidas da substância, um solvente orgânico imiscível com água (n-
octanol, clorofórmio, éter etílico, etc.), que mimetiza a fase oleosa, e agua. Após a separação nas
fases orgânica e aquosa, determina-se a quantidade de substancia presente em cada uma das fases.
Para calcular P utiliza-se a seguinte expressão.

óleo

Agitar

esperar o equilibrio

água

P = CO/CA
Onde:
CO = concentração da substância na fase orgânica
CA = concentração da substância na fase aquosa

Procedimento experimental

Em um Béquer de 250 mL colocar 50 mL de agua destilada, 50 mL de álcool amílico (ou iso-


amílico) e 0,5 g de ácido salicílico (ácido o-hidroxibenzóico). Agitar a mistura durante alguns
minutos com um agitador magnético ou com um bastão de vidro para que o ácido salicílico se
distribua entre os dois solventes. Passar o líquido para funil de separação de capacidade adequada.
Esperar a separação das duas fases e transferir cada uma delas para um Erlenmeyer. Retirar uma
alíquota de 10 mL da fase aquosa e titular com uma solução 0,01 mol/L de NaOH, utilizando
solução de fenolftaleína como indicador. Repetir a operação. Retirar uma alíquota de 10 mL da fase
orgânica e titular com uma solução de NaOH 0,1 mol/L. Repetir a operação. Utilizar as médias dos
resultados obtidos para cada fase para calcular o coeficiente de partição do ácido salicílico nos dois
solventes. Colocar o resíduo de álcool amílico em funil de decantação grande, na capela. Colocar a
fase aquosa em um frasco para rejeitos aquosos.
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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
7. EXTRAÇÃO CONTÍNUA

É um processo em que uma mesma quantidade de solvente, entrando em


ebulição/condensação de seus vapores, atua sucessivamente sobre a mistura da qual se pretende
retirar algum ou alguns de seus componentes. A substância desejada deverá ser solúvel no solvente
utilizado.
O extrator mais empregado para este fim é o extrator de Soxhlet, o qual é composto de
3 partes: balão, cilindro de extração (B) ou extrator e condensador (A). A substância sólida é
colocada em um cilindro poroso de papel, e este por sua vez, é colocado dentro do extrator (B). Em
seguida, ajusta-se o aparelho a um balão de destilação, contendo o solvente, e a um condensador de
refluxo (A). Levando-se o solvente à fervura branda, seu vapor ao condensar cai sobre o material na
câmera de extração, enche-a lentamente. Quando o solvente alcançar o topo do sifão, é sifonado
para dentro do balão, transportando assim a substância extraída. O processo se repete
automaticamente, até que esteja completa a extração.
A grande vantagem deste aparelho está no fato de ser possível usar pequena quantidade de
solvente que atua repetidas vezes sobre a substância a ser extraída. Este solvente atua sobre à
mistura quase sempre puro.

Conjunto extrator do tipo Soxhlet

Procedimento experimental
Adaptar a um balão de 500 mL, contendo alguns fragmentos de porcelana porosa, um extrator do
tipo de Soxhlet. Triturar o material vegetal e colocá-lo em um cartucho de celulose, cobrir o
material a extrair com um pequeno chumaço de algodão e colocar o cartucho na câmera (B) do
extrator. Adicionar pelo extrator um volume de solvente equivalente a 1,5 o volume do extrator.
Aquecer o sistema até o refluxo. Repetir esta operação até a solução no extrator apresentar quase
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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
incolor. Terminada a extração, substituir o extrator de Soxhlet por uma aparelhagem para destilação
simples e destilar o solvente.

8. Verificação da influência do pH e do pka na ionização de fármacos

Introdução
Como os fármacos, em geral são ácidos ou bases fracas, no meio biológico eles estarão
mais ou menos ionizados, dependendo da constante de acidez (Ka) e do pH do meio em que se
encontram. Considerando-se que a forma não-ionizada de um fármaco é mais lipossolúvel que a
ionizada, a constante de acidez da substância e o pH do meio são dois parâmetros que influem
diretamente na passagem de fármacos através das membranas biológicas e, portanto, são
determinantes dos processos de absorção, transporte e excreção de fármacos.
É possível prever qualitativamente, apenas com base na reação do fármaco com a agua,
em que pH a relação das concentrações de formas não-ionizadas e ionizadas será maior e dessa
forma avaliar, por exemplo, em que parte do trato gastrointestinal a absorção será mais efetiva.
Assim, para um fármaco de caráter ácido fraco (HA)

HA + H2O A- + H3O+

Quanto menor for o pH, maior será a concentração de H3O+, portanto, o equilíbrio da reação
será deslocando para a esquerda com o aumento da forma não-ionizada (HA). Ao contrário,
quanto maior for o pH maior será a concentração de OH-, maior será o consumo de H3O+ e o
equilíbrio da reação se deslocará para a direita com o consequente aumento da concentração da
forma ionizada (A-).
Para um fármaco de caráter básico, que recebe H+ da água,

B + H2O BH+ + HO-

BH+ + H2O B + H3O+

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
haverá aumento da forma ionizada (BH+) em pH menor e da forma não-ionizada (B) em pH
maior.
Se os valores de Ka (pKa) e do pH do meio são conhecidos, é possível calcular a relação
das concentrações de formas ionizadas e não-ionizadas de um fármaco:
Para um fármaco de caráter ácido,

A- pH-pKa
=10
HA
Para um fármaco de caráter básico,

do ácido conjugado
B pH-pKa
= 10 da base
BH+

Objetivo
Será observada a influência do pH na relação das concentrações de formas ionizadas e
não-ionizadas de três fármacos: ácido acetilsalicílico de caráter ácido (pKa = 5), o paracetamol,
ácido muito fraco, considerado neutro (pKa = 10) e p-aminofenol, de caráter básico (pka do
ácido conjugado = 6).
O

O OH H
NH2 N CH3

O CH3

ácido acetilsalicilico
OH OH
p-aminofenol paracetamol

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
Procedimento experimental
Em tubos de ensaio, adicionar as amostras de ácido acetilsalicílico (AAS), paracetamol (PC) e
p-aminofenol (AF), as soluções de pH 1 e 8 e o solvente, seguindo o especificado na tabela a
seguir.
Tubo Substância Vol. (mL) Vol. (mL) Vol. (mL) Resultado
(peso mg) sol HCl tampão acetato de (F ou f)
pH =1 pH = 8* etila
1 AAS (30) 3 - 3
2 AAS (30) - 3 3
3 PC (20) 3 - 3
4 PC (20) - 3 3
5 AF (20) 3 - 3
6 AF (20) - 3 3
*Misturar 1 mL de solução de NaH2PO4 a 0,2 mol/L e 19 mL de solução de Na2HPO4 a 0,2 mol/L.

Agitar vigorosamente, deixar em repouso até ocorrer a separação das fases aquosa e
orgânica e aplicar, com o auxílio de um capilar, volumes aproximadamente iguais de cada uma
das fases orgânicas em placas de sílica com indicador de fluorescência. Secar e observar a placa
sob a luz ultravioleta. Comparar as fluorescências das manchas relativas ao mesmo fármaco
especificando como forte (F) ou fraco (f).

Cálculos
Calcular as relações das concentrações de formas ionizadas e não-ionizadas dos três
fármacos em pH 1 e 8 e verificar se o resultado do experimento está de acordo com o que pode
ser previsto pelos cálculos.

9. Extração Ácido-Base

Até agora consideramos casos em que não há reação entre o soluto e o solvente, mas
também podemos fazer uma separação usando solventes quimicamente ativos, denominados
“solventes de reação”. É muito usada na separação de componentes de uma mistura ou na remoção
de impurezas dos compostos orgânicos. Esta extração é mais fácil de ser executado no caso de
substâncias ácidas ou básicas, por conversão em sal, geralmente solúvel na fase aquosa. A
substância ácida ou básica, após a separação da fase aquosa, é recuperada por deslocamento e
extração com um solvente orgânico apropriado.

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
A maioria dos fármacos possui natureza fracamente ácida ou básica, portanto
controlando o pH do meio pela adição de ácidos ou bases, as substâncias podem ser
transformadas em sais, como exemplificados nas equações a seguir:
RCOOH + NaOH RCOO-Na+ + H2O
RNH2 + HCl RNH3+Cl-

A substância ao ser transformada em sal deixa de ser solúvel no solvente orgânico e torna
solúvel na fase aquosa, podendo então, ser separada de outras substâncias solúveis na fase orgânica.

Objetivos
Separação e purificação de compostos orgânicos através do uso de solventes reativos
(extração ácido-base).
NH2

OH COOH

NO2

p-nitroanilina -naftol ácido benzóico

Procedimento experimental

Pesar 0,5 g de cada uma das seguintes substâncias: p-nitroanilina, -naftol e ácido benzóico.
Juntar as 3 substâncias em um Erlenmeyer e dissolver com 30 mL de éter de etílico. Transferir esta
solução para um funil de separação e proceder à extração de acordo com a orientação descrita
abaixo (ATENÇÃO: Abrir a torneira do funil de separação após cada agitação).
1) Adicionar 30 mL de solução aquosa de HCl 10 % (2 x 15 mL) e recolher as fases aquosas em um
recipiente. Guardar a fase orgânica para prosseguir na etapa 2. Neutralizar a fase aquosa com NaOH
40 %. Recuperar o precipitado formado por filtração a vácuo.
2) Extrair a solução orgânica com 30 mL de solução de NaHCO3 10 % (2 x 15 mL) e recolher as
frações aquosas em um recipiente. Guardar a fase orgânica para etapa 3. Neutralizar a fração aquosa
com HCl concentrado. DEVAGAR e com agitação branda. Recuperar o precipitado formado por
filtração a vácuo.
3) Extrair a solução orgânica com NaOH 10 % (2 X 15 mL). Juntar as fases aquosas e neutralizar
com HCl concentrado (cuidado!!). Recuperar o precipitado por filtração a vácuo.
4) Secar os compostos obtidos e pesar. Calcular a porcentagem de material recuperado.

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
10. CROMATOGRAFIA

É um método físico-químico de separação, no qual os componentes a serem separados são


distribuídos entre duas fases: uma fase fixa de grande área superficial denominada fase estacionária,
e a outra um fluido que percola através dela sendo, por isto, denominada fase móvel.
Os métodos cromatográficos são os procedimentos de separação e isolamento mais
amplamente utilizados atualmente. Servem, também, para fins de identificação e análise de misturas
e de substâncias isoladas, neste caso chama-se cromatografia analítica, enquanto para fins de
isolamento de compostos é dita cromatografia preparativa. A fase estacionária pode encontrar-se
empacotada em coluna (aberta ou fechada) ou construir uma superfície plana, como na
cromatografia em papel e cromatografia em camada delgada.
De acordo com o mecanismo de separação esta cromatografia é classificada, de modo geral,
como sendo uma cromatografia de adsorção ou de partição.

METODOS CROMATOGRAFICOS DE ADSORÇÃO

Neste método, a fase estacionária é constituída por um sólido finamente dividido e a fase
móvel, por um líquido. A separação dos componentes da mistura analisada depende do equilíbrio de
adsorção-dessorção entre as substâncias adsorvidas na superfície estacionária sólida e a fase móvel
líquida. A força de adsorção das substâncias a serem separadas depende da polaridade das
moléculas, da atividade do adsorvente e da polaridade da fase móvel. As substâncias pouco polares
são adsorvidas menos fortemente, permanecendo menos tempo na fase estacionária, e necessitando,
portanto, de menor quantidade de solvente para percorrer a fase estacionária do que as substâncias
mais polares.
A atividade do adsorvente, ou seja, seu poder de adsorção altera de acordo com o tipo de
material a ser cromatografado. O silicato de magnésio é indicado para a separação de açúcares,
substâncias acetiladas, esteróides e óleos essências. A alumina (Al2O3) na forma ácida é utilizada
para separar ácidos carboxílicos e ácidos aminados.
O adsorvente mais utilizado em cromatografia por adsorção é a sílica (SiO2) - um sólido,
altamente poroso, levemente ácido. Existem vários tipos de sílica:

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● sílica G – apresenta em sua composição substâncias aglutinantes (10 a 15% de gesso, ou 1


a 3% de amido) com o objetivo de fixar o adsorvente sobre uma superfície plana;

● Sílica H – não contém aglutinante, é utilizada em cromatografia em coluna;

● Sílica “F” – contém substâncias fluorescentes;

● Sílica “P” – para uso em cromatografia preparativa.

Estrutura inorgânica da sílica

10.1. CROMATOGRAFIA EM COLUNA

Os métodos cromatográficos, líquido-sólido (adsorção) podem ser realizados


numa coluna recheada com um sólido (fase estacionária) e uma fase móvel líquida,
onde a adsorção ocorrerá entre as superfícies das fases móvel e estacionária.
Dependendo do tamanho, a coluna pode ser usada para fins preparativos, devendo
ser monitorada, principalmente por cromatografia em camada delgada.
A quantidade de fase estacionária e o tamanho da coluna dependem da
quantidade de material a ser cromatografado.

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Química Orgânica Experimental I – Curso de Farmácia
Separação de pigmentos vegetais
Prepare a amostra, colocando em um almofariz uma pequena porção do material vegetal
(folhas) com uma mistura de éter de petróleo e acetona (80:20) e macerar até obter uma solução
esverdiada.
Quanto mais uniforme for o enchimento da coluna maior será a sua eficiência. Durante o
enchimento o ar pode ficar retido entre as partículas, para evitar que isso ocorra deve-se agitar o
adsorvente num frasco com a fase móvel, a qual será colocada dentro da coluna, já contendo 1/3 da
fase móvel. Nesta operação acompanhada por vibração da coluna e, deixando o material assentar
gradualmente, obtém-se uma razoável homogeneidade no enchimento. Deve-se evitar deixar a
coluna secar durante o enchimento ou na eluição, porque aparecem rachaduras na coluna, o que
prejudicará a separação cromatográfica.
A coluna será recheada com uma suspensão de sílica gel (200-400 mesh) em éter de
petróleo.

Aplicação da amostra na columa cromatografica


Utilizar um conta-gotas para transferir uma porção da amostra para o topo da coluna e abrir a
torneira até a solução atingir o nível do recheio. Iniciar a eluição com éter de petróleo. Coletar a
banda amarela quando começar a sair da coluna. Mudar a fase móvel para a mistura de éter de
petróleo e acetona (1:1) e coletar a banda verde.

10.2. CROMATOGRAFIA EM CAMADA DELGADA (CCD)

Os métodos mais eficientes de separação de misturas de compostos


orgânicos são os métodos cromatográficos. As técnicas cromatográficas mais
aplicadas são: cromatografia em camada delgada (CCD), cromatografia
líquida (LC) e cromatografia gasosa (CG).
A cromatografia em camada delgada, CCD (thin layer chromatography, TLC), é um tipo de
cromatografia sólido-líquido, na qual a fase móvel é o solvente de desenvolvimento e a fase
estacionária é constituída por uma camada de sílica-gel espalhada sobre uma superfície plana.
Oferece separação em breve espaço de tempo, versátil, apresenta grande reprodutibilidade, de fácil
execução e de baixo custo.

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As principais etapas na cromatografia em camada delgada, CCD

a) Preparação das placas: existem várias formas de se preparar uma placa cromatográfica,
quer manualmente quer com emprego de espalhadores. Independente do método escolhido, as
placas devem ser estar totalmente limpas, procurando eliminar toda a gordura de sua superfície.
Faz-se uma suspensão do adsorvente com um solvente adequado e mantendo-se a placa na
horizontal, transfere-se a suspensão para a superfície da placa, espalhando-se de maneira bem
uniforme. Deixa-se secar ao ar e então faz a ativação das mesmas em estufa a 110 C por
aproximadamente 60 minutos.
b) Escolha da fase móvel: o solvente ou mistura de solventes tem papel fundamental na
separação dos componentes da mistura. Entende-se que existe uma competição entre as moléculas
da fase móvel e da amostra, pela superfície do adsorvente, portanto, a escolha da fase móvel tem
que considerar a natureza química das substâncias a serem separadas e a polaridade. Deve-se tomar
como base à série eluotrópica dos solventes apresentada abaixo. Para cromatografia em fase normal
o poder de eluição da fase móvel está diretamente relacionado com a sua polaridade. Assim, para
aumentar a força da fase móvel, deve-se aumentar a sua polaridade.
Série eluotrópica (ordem crescente de polaridade)
Pentano < éter de petróleo < cicloexano < benzeno < clorofórmio < éter etílico < acetato de etila <
acetona < etanol < metanol < água.

c) Aplicação das amostras nas cromatoplacas é feita a partir de soluções relativamente


concentradas, tendo o cuidado de aplicar as mesmas com capilares, a uma distancia adequada das
bordas laterais e inferior, bem como das demais amostras. Empregar solventes voláteis no preparo
das soluções, para que possa ser eliminado rapidamente após aplicação na placa.
d) Revelação: após a eluição deixar a cromatoplaca secar e revelar primeiramente com lâmpada
ultravioleta (cuidado para não olhar diretamente para a luz) os contornos das manchas devem ser
marcados com lápis, em seguida as placas devem ser reveladas em cubas saturadas com vapores de
iodo ou com reveladores específicos para algumas classes de substância de interesse.
e) Documentação: desenhar, xerocar ou fotografar as cromatoplacas.

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f) Calculo do Rf (fator de retenção)

11. Determinação da rotação especifica de D-glicose e da D-frutose


A rotação especifica ([α]DT) é característica de uma substância a uma determinada
temperatura e para um determinado comprimento de onda da radiação desviada.

Onde,
α =rotação observada (graus)
l = comprimento do tubo (dm)
c = concentração da amostra (g/mL)
T = temperatura em Cesius
D = comprimento de onda da raia D de sódio, λ 586 nm

O ângulo de rotação (α) pode ser medido em um polarímetro, cujo esquema é mostrado abaixo.

Fotografia de um polarímetro de disco (esquerda). Esquema interno de um polarímetro (direita)

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O aparelho é formado por uma fonte de luz (1), um filtro polarizador fixo (2), um tubo (3)
contendo a amostra (4) e um filtro polarizador para análise (6), que ao ser girado registra o sentido
levógiro (-) ou dextrógiro (+) e o ângulo em graus (de 0 a 180). Observe na figura o desvio do plano
ao sair a luz do compartimento da amostra (5). O analisador pode girar em torno do eixo
longitudinal do instrumento, enquanto o prisma polarizador é fixo.
Quando o tubo polarimétrico contiver uma substância que não possuir atividade ótica (água,
por exemplo) e o analisador estiver cruzado com o polarizador, nenhuma luz passará e o campo
visual do instrumento apresentar-se-á escuro. Esta será a situação correspondente ao zero gravado
no limbo do instrumento. Se o tubo estiver uma substância oticamente ativa, o feixe luminoso, ao
atravessá-lo, sofrerá um desvio no seu plano de polarização - para que o campo visual volte a ficar
escuro será necessário girar o analisador até cruzá-lo com a nova direção da polarização da luz. Este
desvio poderá ser lido no limbo do instrumento e constituirá o ângulo desvio da luz polarizada.
O polarímetro tem um dispositivo auxiliar que torna a medida do ângulo de rotação mais
precisa. Graças a ele (prisma de Nicol auxiliar) o campo visual do instrumento fica dividido em
duas metades, uma clara e outra escura, quando o analisador está um pouco antes da posição
cruzada; um pouco além, a situação se inverte: a metade do campo que estava escura torna-se clara
e a outra fica clara. Uma posição intermediária, em que as duas metades do campo visual fiquem
igualmente pouco iluminadas, corresponde à posição de leitura do ângulo .

Procedimento experimental
Determinar a rotação específica dos açúcares D-glicose e D-frutose, ambos na concentração 10 %
(m/v).
12. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ZUBRICK, J. W. Manual de sobrevivência no laboratório de química orgânica, 6 ed. LTC,


2005.

PINTO, M. M. M. (Coordenadora). Manual de trabalhos laboratoriais de química orgânica e


farmacêutica, 2a ed. Lidel, Lisboa, 2011.

PAVIA, D. L., LAMPMAN, G. M., KRIZ, G. S. Química orgânica experimental: técnicas de


escala pequena. 2a ed., Brookman, 2009.

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