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Novos Paradigmas da Educação Física

Os novos paradigmas da Educação Física tratam os conteúdos como expressões


culturais, considerados em sua dimensão antropológica, ou seja, enfocam o ser
humano como um ser biologicamente cultural, o que implica o fato de que toda
expressão e produção humana se dá a partir de um contexto cultural.

Do universo de possibilidades de práticas corporais, nasceram vários


conhecimentos e representações que foram se recodificando ao longo do tempo,
constituindo a Cultura corporal do movimento.

Algumas dessas práticas corporais foram assimiladas pela Educação Física como
os jogos, as brincadeiras, as danças, as lutas, as atividades circenses e as
ginásticas, que apresentam um aspecto em comum, que é o de expressarem
representações de diversos contextos da cultura humana.

Um dos princípios fundamentais deste enfoque é o da inclusão de todos os


indivíduos nas práticas corporais de movimento, descartando os critérios de
seletividade por aptidão física e rendimento padronizado.

Assim, ficam evidenciados os princípios que favorecem o desenvolvimento da


autonomia, da participação, da cooperação, da afetividade e da afirmação de valores
democráticos.

O acesso à cultura lúdica — seus espaços, objetos e meios de informação, formação


e pesquisa — são necessidades a serem atendidas, uma vez que geram saúde,
trocas de vivências entre diferentes gerações e colaboram na internalização de uma
consciência crítica dos valores sociais construtivos. Também favorecem os
questionamentos a respeito da mídia que permeia o universo dos esportes e, ainda,
alertam para a ética profissional, a violência, o uso de dopping e o uso inadequado
de atividades corporais de movimento.
Logo, torna-se necessário, na escola, discutir e construir estratégias de trabalho
com os alunos, que confrontem a cultura do melhor, a cultura da exclusão e a
cultura do consumo induzido.
Sabemos que a educação deve buscar cada vez mais o aluno, centrando o currículo
nele, em suas experiências, interesses, expectativas e necessidades.

Sabemos também da complexidade que tal tarefa demanda, tendo-se em conta as


crescentes dificuldades sociais e a crescente desmobilização dos espaços de
discussão crítica e de práticas sociais, culturais e políticas, em suas dimensões
éticas e estéticas.

Como está posto nos Parâmetros Curriculares Nacionais de Educação Física, é


tarefa da Educação Física escolar, portanto, garantir o acesso dos alunos às
práticas da cultura corporal, contribuir para a construção de um estilo pessoal de
exercê-las e oferecer instrumentos para que eles sejam capazes de apreciá-las

criticamente.

Logo, para contemplar todos os aspectos ideológicos e sócio-históricos que


fundamentam o olhar crítico presente na Cultura Corporal de Movimento, todo o
repertório de atividades, utilizado nas aulas de Educação Física, deve ser
trabalhado, levando-se em consideração as características cognitivas, afetivas,
corporais, éticas, estéticas e interpessoais dos alunos e o real poder contextual e de
inserção social que elas apresentam.

Wilson de Souza Costa*

O jogo como atividade por excelência, que mobiliza afetos, emoções e sentimentos

Por várias razões, o universo de jogos e brincadeiras se constitui num tipo de


atividade que favorece a vivência e a expressão de afetos e sentimentos. A primeira
delas é que, pela própria natureza da atividade, a participação no jogo é voluntária e
parte da iniciativa própria do sujeito, sendo impossível de ser imposta sem que se
descaracterize esse princípio básico: o desejo pessoal de jogar e obter satisfação
com o jogo. Neste sentido, as relações entre os indivíduos no grupo vão se
constituir na perspectiva da participação e da satisfação e, quanto mais nova é a
criança,mais essas relações são vividas de um ponto de vista egocêntrico que,
lentamente,deve ir se transformando num comportamento social, no qual é levado
em consideração o desejo do outro. Uma série de aspectos constitui esse universo
de relações: escolher e ser escolhido, admirar e ser admirado, respeitar e ser
respeitado, demonstrar competência, sentir-se integrante do grupo, expressar
emoções (raiva, tristeza, alegria, medo), comunicar-se, controlar-se, simular,
comemorar, arriscar, surpreender, ocupar espaços, entre outros. Todas essas
matrizes são vividas corporalmente – literalmente “à flor da pele” – e são mediadas
simultaneamente pela afetividade e pela cognição, constituindo, portanto, um
conjunto de experiências concretas, impossível de ser distorcido ou substituído
pelo discurso, pela verbalização. Em síntese, todos os sentimentos e emoções
presentes numa situação de jogo, satisfatórios ou não, agradáveis ou não, positivos
ou não, decorrentes dos ajustes corporais construídos dentro das atividades, são
vividos de forma inequívoca e verdadeira, mesmo sendo o jogo uma situação de
simulação. Há que se sublinhar, dentre esses componentes, uma atenção especial
para as relações entre os gêneros, que se constroem sob forte influência do
ambiente sociocultural e, portanto, podem ser facilmente manifestadas através de
condutas estereotipadas e até preconceituosas. Podem ser considerados, na
construção das relações entre os indivíduos dentro do grupo, três grandes eixos de
intenção:

– Competição: construir competências para superar (subjetivamente) o outro;


– Comparação: construir competências para superar-se (objetivamente), a partir do
modelo e da referência do outro;
– Cooperação: construir competências para evoluir (subjetiva e objetivamente) com
o outro.

Marcelo Barros da Silva*

NOTAS:
* Professor de Educação Física; Consultor da Fundação Gol de Letra; Assessor da
Prefeitura Municipal de São Bernardo do Campo; Autor dos PCN de Educação Física.
Postado por Proª Marianne às 16:13

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