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A.
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42 LAVILLE & DIONNE

Objetividade e objetivação
O pesquisador disto tem consciência: as compreensões assim produzi
das são compreensões relativas. Dependem do talento do pesquisador
para determinar o problema que escolhe eswdar, retraçar seus múltiplos
fatores, escolhê-los e interpretá-los. Escolher e interpretar, isso também
se toma central.
Pensemos, por exemplo, na situação do historiador que nos oferece
seu último livro sobre, digamos, as origens do pensamento nacionalista
atual. E um livro de 200 páginas. Mas, para escrevê-las, o historiador
teve que ler milhares de páginas de estudos sobre o assunto, documen
tos históricos de todos os tipos (discursos, relatórios, estatísticas, testemu
nhos diversos, etc.); confrontou seus pontos de vista com outros... Final
mente, no entanto, apenas 200 páginas: é que escolheu e interpretou. O
que a nós submete é sua compreensão, que é uma escolha e uma interpre
tação. Um outro poderia escolher e interpretar diferentemente, produzindo
outros saberes válidos e igualmente relativos. A maior parte das ciênci
as humanas procede assim.
O que garante então o valor desse sâber? Um princípio dito de obje
tivação.
Para os positivistas, o valor do conhecimento produzido repousava
essencialmente sobre o procedimento experimental e a quantificação
das observações. Tratava-se de fazer jogar fatores da realidade variá

veis —, medir seus efeitos, do modo mais exato possível, com o auxilio
de instrumentos que se valem das ciências matemáticas e da estatística
(daí, casualmente, a idéia de ciências exatas). Um tal procedimento era
facilmente reconhecível e, portanto, reproduzível: poder reproduzi-lo,
nas mesmas condições com os mesmos resultados, era um critério-cha
ve para a validade do saber para os positivistas.

que v&cé :err


SfnN
A CONSTRUÇÃO DO SABER 43

Em tais circunstâncias, os mesmos exames da realidade produzindo


sempre os mesmos resultados, poder-se-ia esperar explicações seguras e
gerais, pretender, inclusive, determinar as leis naturais e reconhecer seu
determinismo. Mas saberes que se declaram interpretações não podem
evidentemente pretender tanto, e a idéia de lei vem desaparecendo da
ciência moderna. No melhor possível, o pesquisador que chega a um
nível elevado de generalização será tentado a falar em teoria. Por exem
plo, se um pesquisador compreendesse hoje o que economistas do passado
denominaram “lei da oferta e da procura”, iria se preferir, certamente,
nomeá-la teoria ao invés de lei.
Um saber que repousa sobre a interpretação não possibilita necessa
riamente um procedimento experimental e quantificador nem a repro
dutíbilidade, ainda que isso não seja excluído. Mas, com freqüência, da
mente do pesquisador que, a seu modo, e por diversas razões, efetua as
escolhas e as interpretações evocadas anterïormente. E esse modo e es
sas razões que são o objeto da objetivação: de uma parte, do lado do
pesquisador do qual se espera que tome metodicamente consciência des
ses fatores e os racionalize; de outra, do lado daquele ao qual serão

Quantitativo versus qualitativo -

O desmoronamento da perspectiva positivista não se deu sem debates entre seus defensores e adversários.
Esses debates continuam ainda hoje. Pode-se verificá-lo principalmente na oposição entre pesquisa quan
titativa e pesquisa qualitativa.
A pesquisa de espírito positivista aprecia números. Pretende tomar a medida exata dos fenômenos
humanos e do que os exphca. E, para ela, urna das princioais chaves da objetividade e da validade dos
saberes construídos, Conseqüentemente, deve escoiher com precisão o que será medido e apenas conser
var o que é mensurável de modo preciso. Para os adversários desse método, trata-se de truncar o real,
afastando numerosos aspectos essenciais à compreensão.
Os adversários propõem respeitar mais o real. Quando se trata do real humano, afirmam, tentemos
conhecer as motivações, as representações, consideremos os valores, mesmo se dificilmente quantificáveis;
deixemos falar o réal a seu modo e o escutemos. Os defensores da quantificação apenas das características
objetivamente mensuráveis respondem, então, que esse encontro incontrolado de subjerividades que se
adicionam só pode conduzir ao saber “mol&, de pouca validade. Esquecem, desse modo, que para cons
truir suas quantificações, tiveram que afastar inúmeros fatores e aplicar inúmeras convenções estatfsticas
que, do real estudado, corre-se o risco de não ter restado grande substância, Mas é verdade que o que resta
e assegurado por um procedimento muito rigoroso, testado e ureciso, E alguns gostam de afirmar que são as
exigências estritas desse rigor oue afastam os pesquisadores qualitativos (o que infelizmente parece, às
Vezes, correto, sobretudo em vista do saber matemático e do estatistíco necessário!).
Na realidade, esse debate, ainda que muito presente, parece freqüenteme..te inútil e até falso.
inútil. pornue os pesquisadores anrenderaro. há muco tempo, a conjugar suas abordagens conforme-
as ner-essidarl,s ‘-‘É-se accra pesquisadores de .abcrdagem posirlv!ua deixar de lado seus asarethos de

‘ e r

seus dac!os ocra .:-r. :v,aronto 5J5

CC Ç
‘- —

o melhor nossive!. ebenes desejados.


Nesse sentido, centralizes :s pvsnui:sa em um proh!.ema convida a conciliar abo degens nre:ocupadas
mp!e>nciade do re -rder o conmto co 555 ane’to e
44 LAVILLE & DIONNE

comunicados os resultados da pesquisa, que espera que o pesquisador


lhe informe tudo para que possa julgar a validade dos saberes produz
i
dos. E esse princípio de objetivação que fundamenta a regra da prova
e
define a objetividade. Poder-se-ia dizer que a objetividade repousa
so
bre a objetivação da subjetividade.
A preocupação em
evitar as compartimen- .

rações leda alguns Multidisciplinandade


.

pesquisadores a
desconfiar das
numerosas Em sua fase de desenvolvimento, as ciências humanas tenderam a de-
categorizações das marcar-se umas em relaçao as outras, cada uma tendo seu propno setor
pesquisas que foram de atividade (psicológico, econômico, cultural, histórico, etc.). A pers
desenvolvidas: ,

experimental, teorica, pectiva positivista contribuía para o estabelecimento dessa distinção


.

fendrnenológica, sugerindo, para as necessidades da experimentaçao, o corte do real em


hermenêutica, múltiplos componentes, a fim de facilitar o exame e o controle.
avaliativa, descritiva,
pesquisa-aÇao, dc. Quando as ciências humanas perdem a ambicão de retirar de cada
um dos setores da atividade humana as leis que a caractenzam e se orien
,.
.
largão, dizem alguns
Se a pesquisa define-se tam mais para um procedimento de resolução de problemas, isso as con
por um problema a ser
resolvido, duas duz a se inquietarem com as divisões que poderiam restringir sua ação,
especialmente as fronteiras disciplinares, com seus terntonos reserva
.
. - . .
-
categorias lhe parecem .

suficientes: pesquisa
-
dos (os historiadores ocupam-se do passado; os sociólogos do presente;
fundamental, se se trata
de preencher vazios no os geógrafos do espaço; etc.), pois isso poderia ser um obstáculo à com-

próprio saber; pesquisa preensao completa de um problema sob todos os seus aspectos e as inter-
aplicada, se se trata de relações entre eles. O real, pensa-se, deveria ser abordado em sua globa
resolver um problema
pratico. lidade, como um sistema de fatores inter-relacionados. Mas tal aborda-
- gem, dita sistêmica, não é simples, devido aos limites dos pensamentos
individuais e aos hábitos disciplinares adotados. E por isso, provavel
mente, que a pesquisa sistêmica ainda não obteve muitos resultados,
O que se desenvolve, então, é uma abordagem muitidisciplinar, que
consiste em abordar os problemas de pesquisa apelando às diversas dis
ciplinas das ciências humanas que nos parecem úteis. Os modos de fa
Multidisciplinar: alguns zer são diversos. Um pesquisador pode se inspirar em perspectivas de
escolheriam
interdisciplinar. Na
disciplinas vizinhas, usar seus aparelhos conceituais e analíticos, tomar
prática, ambos parecem emprestado certas tecmcas de abordagem, multiplicar os angulos de
- .

sinõnimos. questionamento e de visao... Cada vez mais, devido a amplitude e a

Um geógrafo inquieta-se com compartirnentações


Sempre lamentei que a imagem das ciências sociais seja pulverizada: aprende-se a
ser histori
economista, sociólogo, etnólogo, mas em parte alguma adquire-se uma visão de conjun ador, geógrafo,
to
que analisam o homem em sociedade. Após uns vinte anos, as preocupações e os proble das disciplinas
práticos aproximam-se. Os historiadores descobrem as dimensões etnoiógicas -e socioló mas de todos os
gicas das civiliza
ções antigas e completam a visão econômica que haviam adotado há uma ou duas geraçõ
Aele r tu s ccrr a re tu st oçado sreeramer o ds nundoe suar udos es. Os geógrafos
os stem cs Lc se’

ucham frente a nrohicrnas que os socádio s e s geógrafos encontram, há muito tempo.


SIeVAL Pau!. Les ru-vrhes rOndameun des sciences sacia/es, Pariu Presses UrriversiLdres de Prarsr•e,
1 98C
R 45
A CONSTRUÇÃO DO SABE

s
dos pro ble ma s no cam po do humano, os pesquisadore
complexid ade . Essa inclina
para reunir o saber de cada um
enclinam-se a se associarem za, de modo
par a os tra bal hos mu ltid isciplinares em equipe caracteri
o, rene
ÇãO
te, a pes qui sa em ciê nci as humanas hoje, sem, entretant
importan vel.
cujo valor permanece indiscutí
gar a pesquisa individual,

ltidisciplinaridade
Cedeplar: um exemplo de mu um árgão de
Des env olv ime nto e Pla neja mento Regional CEDEPLAR é

de
Em Belo Horizonte, o Centro que oferece bons exemplos de trabalhos muhidisciplinares.
ulaç ão to basicamente por
pes qui sas sob re a pop
do à Fac uld ade de Ciê ncia s Econômicas da UFMG, é compos s áreas para a reali
Este Centro, liga colaboradores de diversa
conta, corri freqüência, com rentes cam
economistas e demógrafos, mas as que requerem uma conjunção de conhecimentos de dife de Trans
zação de pesquisas sobre problemalária na Fronteira Amazônica: Aspectos Econômicos e Sociais cia políti
pos. Por exemplo, a pesqui sa “M
gia, economia, antropologia, ciên
ecialistas em demografia, socïolode pública e bioestatística, pertencentes ao
missão e Controle” reuniu esp ento urbano e regional, saú , a Fundação
ca, história, arquitetura, planejams tais como a SUCAM, o Centro de Pesquisa René Rachou da UFMG.
CEDEPLAR e a outras instituiçõeria de Saúde e departamentos de Parasitologia e Farmacologiagir os princi
Ezequiel Dias (FUNED), Secreta desenvolvimento de uma linguagem comum, puderam atinprofundidade
Esses especialistas, a partir do de uma base de referência para
um estudo em
1) esta bele cim ento dônia; 2) identi
pais objetivos da pes qui sa:
a tran smi ssão e o con trol e da Malária em Ari mes, Ronrelevantes para o
que
dos fatores humanos que afetam rrência da Malária e
e ambientais associados a oco para a pesquisa econômica e social
fica ção dos (ato res sóc io-e con ôm icos iada
imento de metodologia apropr
controle da doença; 3) desenvolv assentamentos e alta mobilidade populacional.
sobre a malária em áreas de novos

EM RESUMO: O MÉTODO
humanas,
s de nosso século, as ciências
Em resumo, nas últimas década à pers
o ciê nci as em ger al, dis tan cia ram-se um pouco em relação
com as aminhamento
nascer e determinaram o enc
pectiva positivista que as viu
principal de seu método
de constituição do saber. ble
de pesquisa encontra-se o pro
No ponto de partida da operação Voltare
s influenciam o pesquisador.
ma a ser resolvido! Diversos fatore , ass lar que
ina
Ff05 a isso mais detalhada
mente, Importa, no momento , lhe
es ore s faz em com que o pes quisador perceba um problema
est fat ional
o possível, uma explicação rac
tazeru igualmente- sur-or uma soluçã
rfeiçoada: a hipótese.
da situação a ser compreendida ou ape sempre a
itas vez es, o pes qui sad or sabe que sua hipótese não é
Mu retém a
am ser consideradas. Mas ele
única possível, e que outras poderi a pro gredir
lhe parece suficiente par
lhe rarece ser a melhor, a cjue
ara duo Jo h coml.areensao. do ooh
ie.nsa. e à sua. eventr:ai sohição
.acão
de urna soluçio ou de umaexó:o
Resta ver se essa ante.cipação itsir a ess a reila
uda. si:, cara isso. deve—se vc.;
possível mantém—se na reaL-si- or a eia
‘veriuloando—e.. O pesquisad
a fim de compro-sair a hipó tese. do
a am ent e. co lhe as inf orm açõ es oue sua hipótese suõe:. e,
anu efàtiv
conclusRo.
trato desta 0rieflÇu, tira sua ja via torras la-—
si ua conc•iu são não é mais
absoluta ruesbisóte. 5-e na
ctas tsóz.,
di.
5
46 LA’IILLE & DION?;F

No entanto, o pesquisador estará geralmeQte atento para a divuIga


çâo das condições dessa validade, para sua objetivação: dirá quais são
as delimitações do problema, como as percebeu, por que sua hipótese é
legítima e o procedimento de verificação empregado justificado. Desse
modo, cada um poderá julgar os saberes produzidos e sua credibilidade.
Essa operação de objetivação, como a concentração em um problema.
está hoje no centro do método cientifico.
Se se deseja retomar o conjunto do procedimento e apresentar esque
maticamente seu caminho, poder-se-ia fazê-lo da seguinte maneira.

PROPOR E DEFINIR
UM PROBLEMA

1’
ELABORAR
UMA HIPÓTESE

VERIFICAR
A HIPÓTESE

‘4’
CONCLUiR

[ Mas trata-se aqui de uma simplificação lógica extrema. Na realida


de, cada uma das grandes etapas de um processo de pesquisa supõe um
certo número de outras operações intelectuais, cujo quadro a seguir fome-
cc uma idéia mais completa — mas ainda não inteiramente, pois, na
realidade do pesquisador com experiência, o procedimento conhece diver
Los vaivéns e encurtamentos que uma tal representação, reduzida às arti
culações lógicas essendiais, ignora. Voltaremos a falar nisso.
Tal procedimento já havia sido evocado desde as primeiras linhas
do livro. Voltaremos a ele longamente demonstrando, detalhadamente,
cada uma das operações principais nas panes H em, Aliás, voltando-se
um instante ao Sumário do volume, vê-se que as panes estão ordenadas
segundo esse caminho.

Qbsor.em os bem no
quadto d°° 5
orimeitamente seta eixo
princir.xd, do-pois seus
desdobramentos, A eis.
volta rsa nos várias se

t
A CONSTRUÇÃO DO SABER
47

1 nscientizar-se de um
problema

PROPOR,E OEFINIR
[ná-lo significativo e UM PRO8LEMA
delimitá-lo
Analisar os dados
disponíveis
Formulá-lo em forma de
perguhta
Formular a hipótese
ELABORAR UMA tendo consciência de
HIPÓTESE sua natureza provisória

Prever suas implicações


lógicas

Decidir sobre novos


dados necessários
r
VERIFICAR A
Recolhê-los HIPÓTESE Invalidar, confirmar ou
modificar a hipótese

Analisar, avaliar e
interpretar os dados em
4 Traça(um esquema de
relação à hipótese CONCLUIR explicação significativo

Quando possível, gene


ralizar a conclusão

l, 1979. p. 43.
Snjdies, C&unibus (Oh4o: Charles E. MerHl
Fnnte fnspradoern-Bacry Beyer, ièachiogin Scx ia)
DA HWÓTESEÀ CONCLUSÃO
PARTE

11

Um longo trajeto já foi percorrido desde a percepção inicial do proble


ma de pesquisa até o enunciado da hipótese, que veio encerrar a primei
ra vertente do procedimento. O trajeto nessa vertente se mostra sempre
o mais delicado da aventura de pesquisa. Um pouco como em uma ex
iti
cursão à montanha onde a ascensão se revela a etapa penosa. Uma vez
atingido o cume, a seqüência será mais fácil: dominando a paisagem,
nela se está situado de maneira precisa, percebendo melhor o objetivo a
atingir e os caminhos que levam a ele. A seqüênciã das opêrações decor
rerá naturalmente do trabalho já realizado, das decisões tomadas.
A hipótese que veio encerrar o primeiro tempo do procedimento se ia

apresentava como uma resposta plausível, até mesmo provável, para a


questão colocada. Essa resposta plausível deve agora ser submetida a
uma verificação a fim de saber se resiste à prova dos fatos. É a razão de
ser da etapa que se abre e que deve levar o pesquisador da hipótese à
conclusão. A parte III do livro é, portanto, dedicada aos mecanismos
dessa verificação, que é também uma demonstração do valor da hipóte
Se: suas principais operações estão resumidas na metade inferior do qua
aro reproduzido na página seguinte.
Emitir um julgamento esclarecdo sobre o valor de urna hipótese
exige informações sobre as quais apoiá.lo. O primeiro cuid. do do pesqui
sador é então inten’ogarse sobre a natureza dos dados necessários à sua
Verificação e sobre seus modos de coleta, Essas interrogações e suas Ir
Possíveis respostas serão tratadas no capítulo 6, “As estratégias de verifi
ao passo que, no capítulo?, “Em busca de informações”, destacas
asPos as exiências práticas, os ir:stramentos e as técnicas dessa coleta
usdos.
formaçõcs é urna ccisa ver se o que foi raurudo
Mas a coi.eta das ir
1
bem aue estava previsto outra: sial a clara ala-analise e da
.

ti
ou ate rnesrr:.o a relelílo. as rapoiesu. alIa. .

Lar ii
- as - ‘ a, co las ioc asa rO
1
°sões que delas se pode tirar, que será ded.icada o capÍtulo 8
LAVILLE & DONNE
130

Conscientizar-se de um
problema

PROPOR E DEFINIR UM
Torná-lo significativo e PROBLEMA
delimitá-lo
Analisar os dados
disponíveis
Formulá-lo em forma de
pergunta ‘7 Formular a hipóte’
ELABORAR UMA tendo consciência de
HIPÓTESE sua natureza provisória

Prever suas implicaes


lógicas

Decidir sobre novos


dados necessários

VERIFICAR A
Recolhê-los HIPÓTESE nvaIidar, confirmar ou
modificar a hipótese

Analisar, avaliar e
interpretar os dados em Traçar um esquema de
relação à- hipótese CONCLUIR explicação significativo

Quando possível,
generalizar a conclusão

, 43.
us Chio), Chades EMerrHI, 1979 p,
irado em Garr y Beye r. Teac hing ir, Social Studies, CoZumb
Fonte, Insp

Ao
de entrar no ceme do assunto.
Urna última observação antes Ini cia l-
go do per cur so. vem os del ine ar-se o papel central da hipótese.
lon marca principal
, apesar de provisória, que
mente explicação plausível probleftn;
imento indutivo, originado do
mente o termo de um proced ento, pre
partida de um novo procedim
toma-se em seguida o ponto de para
ent e ded uti vo, cru que se ef& ua um retomo à realidade
ferentem desempe
dos fatos. Nesse sentido, ela
submeter essa explicação à prova s vertem
no do qual se articulam as dua
nha bem esse papel de pivô em tor nie
qui sa, cuj o car áte r hip oté tico -dedutivo se sobressai nitidarne
tcs da pes unsi
ia dem ais , por tan to, ins isti r sobre a importância de
açui. Não ser cedirren’
ída, coração e motor doura pro
hctcse cuidad.osamente. c.onstru
to metódico de-. construção do
1 q

:1

CAPÍTULO
11

As Estratégias de Verificação ii

Elaborada sua hipótese, o pesquisador deve decidir como procederá à


Comparando o
sua verificação: deve determinar as informações que serão necessárias, procedimento de
as fontes às quais recorrer.e a maneira de recolhê-las e analisá-las para pesquisa ao da
tirar conclusões. Essas decisões não são deixadas só à fertilidade de sua construção de uma Ir
casa, a hipótese seria o
imaginação. A hipótese lhe ditará em grande parte a conduta nessas
matérias. Constataremos isso na primeira parte deste capítulo em que
serão desenvolvidos alguns exemplos de pesquisas centradas em um
plano desta: primeiro,
concebe-se o plano em
função das
t
eIs
necessidades dos
mesmo problema. As outras duas partes do capítulo tratarão das princi moradores e-de-suas —

pais estratégias de verificação, em função do gênero de informações possibilidades: em


exigida& seguida este plano
orienta a escolha dos
materiais e Sua reunião
tt i
t
1
HIPÓTESES DIVERSAS, NECESSWADES DIFERENTES

Às vezes, podemos ler nos jornais manchetes que noticiam disputas inter-
culturais nas escolás.

r
1!

1
Estes conflitos interraciais filizmente não são freqüentes nem tão
tLCtos Mas r 3° isxam, por ;“c de merecc nossa atençã icilam
l es aí nrn r olema re3 r eôer o is °enro no o
O fl5CO de atiflr c&ia u.Tna nas e

4:
1

132 LAVILLE & Dt0NNE

• Como se poderiam prevenir tais enfrertamentos violentos?


a Como alunos podem chegar a bater-se assim?

Originadas em uma mesma situação-problema, tais questões reve


Iam-se t’undamentalmente diferentes. A primeira testemunha uma vontade
de prevenir tais acontecimentos, a segunda gostaria de compreender Um
aspecto deles. Intervir ou compreender: presume-se que se pesquisas
vidas no rastro dessas questões, encontrar-se-ão dois grandes
são promo
tipos de pesquisa evocados antes — a pesquisa aplicada e a pesquisa
fundamental — tipos de pesqui sas que dependem essencialmente das
intenções dos pesquisadores.
Quais poderiam ser as hipóteses ao fim de tais projetos? É fácil de
imaginar.
No primeiro caso, o pesquisador poderia querer tentar um meio de
diminuir as tensões antes que degenerem, e propor a idéia de fazer as
pessoas se encontrarem em um clima aberto e sereno, conjecturando que

a celebração de encontros interculturais permite diminuir a agressi


vidade dos alunos que deles participam em relação às pessoas prove
nientes de comunidades diferentes da sua,

• Na segunda questão, que trata das razões da violência observada


- Li. -
-
entre alunos confrontados com a presença de colegas de culturas dite-
rentes, o pesquisador podena chegar a urna outra hipotese
-

Duas hitesesde os alunos sao ainda mais agressivos com as pessoas de comunida
— .

espírito diferente
surgem aqui de um des diferentes porque conhecem mal a culwra delas.
mesmo problema.
FixTos
bem e55e -Tendo partido de questões diferentes sobre um mesmo problema.
pois ele será útil ainda nos deparamos com hipóteses também diferentes e que conduzem, por
antes do fim desta sua vez, a verificações diferentes, tanto no tocante à natureza dos dados
parte requendos quanto na maneira de proceder

—••_—

1.. O que e exatamente uru dado?


O termo dado jâ apareceu em diversas ocasiõe, mesno que a ele tenham
os, muitas-vezes, preferido a
palavra informação. Mas como é encontrado por toda parte em pesqui sa, inclusi ve neste livro, não podere
moa
sempre fugir dele.
O termo revela-se um pouco enganador Contrariamente ao une poderia
‘ia crer ade ruçao ao D,c’ond o çueno rrar 3O ta ee des g’’, na e e DADO tie’l er tu ,u
E algo que nao é daco, que não é evtdente, mas que e prectso e procurar com quantidade conhecida
auxílio de técnicas e de instrumentos, busca que demanda esforços e precauções. que serve de base à
Para os pesquisadores, os dados são esclarecimentos, informações sobre uma resolução de um
e problema.
s:tuação um fenômeno, um acontecimento.A verificação da hipótese apóia-s
sobre tais inform ações; nesse sentido , os dados constit uem um dos ingred mntes
s
que fundamentam a pesquisa, a matéria de base nue p•ermïte construir a demon
A CONSTRUÇÃO DO SABER 133

Dados criados, dados existentes


A primeira das hipóteses que precedem prevê uma ação, a implantação
de encontros interculturais para modificar uma situação julgada deplorá

O que a verificação dessa hipótese exigirá? Informações ou dados,


como para qualquer verificação de hipótese. Relendo-a, nota-se que esta
iii
presume uma mudança na agressividade dos alunos, mudança que deve
ria ser atestada pela presença dos dados colhidos. E como é uma interven ri
ção planejada — os encontros interculturais organizados pelo pesquisa-
dor— que trará essa mudança, que provocará o aparecimento dos da
dos, falar-se-á, nesse caso, de dados criados ou engendrados no âmbito
PESQUISA COM
DADOS CRIADOS OU
ENGENDRADOS
ri]
da pesquisa. Pesquisa baseada em
dados colados após
A segunda hipótese não visa a uma mudança, mas a um saber, o da uma intervenção
relação entre os conhecimentos que os alunos têm de outras culturas e a deliberada, que visa a til
agressividade que eles experimentam relativamente aos pertencentes a provocar uma
mudança.
essas culturas. Desta vez, as informações assentam, de uma parte, no
grau de agressividade intercultural presente nos alunos e, de outra parte,
no seu nível de conhecimento das outras culturas, informações que o
pesquisador em seguida colocará em relação. Nenhuma necessidade aqui
de provocar uma mudança qualquer: falar-se-á então de dados existen PESQUISA COM
DADOS EXISTENTES
Pesquisa baseada em 1
Esses dados certamente não existem independentemente da presen dados já presentes na
ça do pesquisador e de sua atividade. E ele, na verdade, que os faz apa situação em estudo e 1
recer como dados: pela escolha de um ponto de vista e o recurso a diver
sos instrumentos, seleciona alguns elementos, transformando-os em in
formações significativas. Desempenha desse modo um papel essencial
que o pesquisador faz
aparecer sem tentar
modificá4os por uma
intervenção
4
na existência desses dados, da mesma forma que a presença de uma
testemunha é necessária para que um fenômeno, a queda de um meteorito,
por exemplo, se tome um acontecimento. Mas, assim como só a teste
munha não faz aparecer o meteorito, também o pesquisador não quer
aqui induzir a proqução de dados novos, por meio de uma intervenção
que transfon-ne o objeto de estudo. No caso precedente, ao contrário, tal
Intervenção era desejada pan mudar as atitudes, para modificar urna
realidade, modificação portadora de novos dados, engendrados pela ação
Consciente do pesquisador.
Desde o começo do capítulo, lembramos que um mesmo problema
P?de permitir questionamentos diversos os quais, por sua vez, levam a
hIpóteses diferentes. Aprendemos também que a verificação dessas hi
Poteses exige coleta de dados diferentes: dados que existem em um caso;
5 cso surgimeto sio provocados em out:o Oi;temcs aLa esboço
dad
cieu:ta nova cate• orjzccãoda pesquisas: pes visas coro dados existeas
e pesquisas com dados criados. O resto’do capítulo trará mais preci
Soes ao assunto das novas categ.orjas,
134 LAVILLE & DIONNE

Um retorno aplicado a categorizações fundamentais...


É grande a tentação de se associar a idéia de pesquisa com dados criados à pesquisa aplicada, uma vez que
esta supõe ação ou intervenção, e de vincular, da mesma forma, a pesquisa com dados existentes à pesqui
sa fundamental que não quer modificar o real. Todavia, é preciso evitar estabelecer tais vínculos com
demasiada rapidez, pois as duas categorizações são definidas em bases muito diferentes, uma fundada nas
intenções do pesquisador, e outra, acabamos de dizê-lo, no tipo de informações colhidas. Há exemplos de
pesquisas fundamentais que não têm por objetivo a intervenção. Contudo, os pesquisadores são levados a
nelas intervir para melhor compreenderem as interações dos diversos (atores, objetos de seus trabalhos.
Assim, qualquer um poderia querer determinar se a relação entre nível de conhecimento e grau de
agressividade pode ser uma relação de causa e efeito. Ele acrescentaria, então, os conhecimentos das
diversas culturas em um certo número de participantes para, em seguida, verificar se esse acréscimo acar
reta uma redução da agressividade intercultural nessas pessoas. Ele o faria sem ter forçosamente a intenção
de instalar em seguida, ele próprio, outras atitudes, mas simplesmente para melhor compreender as atitudes
e comportamentos humanos. Teríamos então uma pesquisa fundamental em que se apresentariam dados
criados. Inversamente, lembremos que a pesquisa aplicada visa a uma intervenção no real. Ela não 4
obigazoriamente isso. Assim, o projeto em que o pesquisador apenas constata a existência de um vínculo
entre conhecimento de outras culturas e agressividade em relação a elas poderia ser aplicado se servisse
para preparar uma intervenção futura mesmo que não se interviesse nela ativamente no momento, que não
se provocasse nenhum surgimento de dados novos. De fato, as intenções que fundamentam a primeira
categorização, pesquisa aplicada-pesquisa fundamental, não permitem de forma alguma prejulgar o tipc
de informações a colher.

Os dados são criados


De início, vamos observar mais a fundo um exemplo de pesquisa com
dados criados, conduzindo nossa reflexão em tomo da primeira hipóte
se, aquela em que se quer julgar a utilidade de encontros interculturais.
A verificação dessa hipótese supõe a comprovação de uma relação
de causa e efeito entre a participação nos encontros e aredução da agressivi
dade intercultural nos alunos. Para esse fim, o pesquisador deve provocar
uma experiência na qual ele intervém, através da organização dos encon
tros previstos na hipótese, fazendo assim agir a causa. Verificará logo a
presença dos efeitos. Apoiando-se nos dados engendrados pela experiên
cia, observará se a intervenção acarretou a mudança de atitude prevista.
Imaginemos que, com a continuação da experiência, o pesquisador
note com satisfação, nos alunos presentes nos encontros, um fraco nível
de agressividade a respeito dos pertencentes a outras culturas. Sua satisfa
ção éjustificada? Poder-se-ia €rer nisso: os encontros foram implanta
dos visando a diminuir a animosidade; a que se observa é p quena. logo.
Mas tem-se realmente uma prova da eficácia da intervenção? Não.
Ai de nós! Pois outros fatores poderiam explicar essa fraca agressividade.
Talvez o nível de animosidade intercultural já fosse baixo nos par
ticipantes, antes da intervenção. Se, por exemplo, estes fossem voluntá
rios sem agressividade, mas, ao contrário, interessados pelas pessoas
diferentes, os encontros não poderiam de forma alguma modificá-los.
(demo então cencluír nuca causa provoceu o efeire eserado? De fat:j.
ter rc-rnnza da eresenca uma madama, cerrar e renuer a hirrúeec.
CSSt ,,e a’ -r um cqtc e rr,nc e para issu cnnce
attt.udes dos participantes antes dos encontrose Somente então, cumpri-
li

A CONSTRUÇÃO DO SABER 135 1.

--Á

1
rando a agressividade antes e depois da intervenção, se tornará possível •

concluir pela modificação. -

Isolar a causa da modificação


Porém a questão fundamental permaneceria: se houve evolução, ela expli
ca-se somente pelos encontros? Talvez ela se tivesse produzido de qual
quer maneira. Um acontecimento especial, estranho ao que nos interes
sa, teria podido provocá-la: o único dono da loja de conveniência do
bairro teria, por exerfiplo decidido fechar suas portas, cansado de servir
incessantemente de alvo das perseguições de jovens, porque pertence
visivelmente a uma minoria,
Como então distinguir a influência dos encontros, dos outros fato
res possíveis?
O uso é recorrer a um segundo grupo, análogo ao dos participantes GRUPO
EXPERIMENTAL
e que, durante o mesmo período, deveria normalmente sofrer as mesmas Em uma pesquisa com
Influências, salvo que tenha ficado à margem dos encontros, Subme dados criados por uma
tem-se os dois grupos às mesmas avaliações, antes e depois do período experiência, conjunto
de pessoas .submetldrs à
00 tempo cbnsiddrado,
intervc’nção coreto-lada
t uermeteJugarseesdc sgrvpcs,c iosp oipz
Aa,’ acãeriu’a -
1 o-elo pesoulsados O
tes dos encontros ou grupo experimental, e o outro, que serve de ponto GRUPO-TESTEMUNHA
é então (or-mado por
cc comparação, o grupo-testemunha, são equivalentes: equiva.lentes no pessoas não submetidas
plano da agressividade sentida, mas em outros- pianos também-, pois se à intervenção, mas que
deve consideras um míximo de fátorus suscetíveis de explicar uma even
tual diferença entre os grupos, ao término da experidncia. Depois desse
passam peb.s abesmas
avaliações do gruo-o
:fl
experimentaL a fim de
tempo, então, se os dois se revelam razoavelmente semelhantes n.o inI fornecer um ponto de
aio, uma boa parte das diferençaà que aparecerão quando da avaliação comparação, :4]

11
1
ti’
Tt.
136 LAVILLE & DIOMNE

final poderão ser legitimamente atribuídas à intervenção, único fator


conhecido que os grupos não terão partilhacfà. A estratégia usada terá
permitido isolar a participação nos encontros como fonte da evolução
observada, como causa da diminuição da agressividade para com as pes
soas culturalmente diferentes.
Mas é preciso evitar umh fé absoluta em tal isolamento da causa,
Assim, por exemplo, os dois grupos poderiam vivenciar, durante a expe
nência, acontecimentos como o fechamento da loja, tendo o dono cedi-
do ante a hostilidade racista, mas sem vivê-los da mesma maneira: os
participantes dos encontros, mais sensibilizados pelos problemas do racis
mo, poderiam sentir mais a injustiça sofrida pelo comerciante. Isso am
pliaria neles as transformações observadas ao término da intervenção e
levaria eventualmente o pesquisador a julgá-la mais eficaz do que real-
mente é. Constata-se que, se a estratégia que se apóia na presença de
dois grupos permite minimizar a influência de fatores exteriores, cena-
mente ela nunca a afasta.

Fantasia séria sobre as múltiplas personalidades da causa


O termo “causa” pode assumir significações muito diversas, daí o risco de confusão. Será usado ora quereis-
do significar “acarreta inelutave!mente”, ou então, “permite, torna possível”, ou ainda, “provoca, engen
dra, conduz”, se não for simplesmente “favorece, contribui para”. O que bem traduz a natureza variada das
causas possíveis: diretas ou incidentes, necessárias, suficientes, facilitadoras... A esse respeito, os dias se
guintes a unia partida de hockeypodern fornecer exemplos tão divertidos quanto instrutivos, se alguém se
detém nas penetrantes análises dos comentadores.

4 3
“De qualquer maneira, teve-se nossas chances de scorer (sic) 1...], mas é preciso aproveitar isso”,
confiou aos jornalistas o treinador da equipe perdedora. Essas chances de marcar constituem, na verdade,
uma condição necessária à vitória, mas, constata filosoficamente o estrategista, essa condição não basta
para assegurar essa vitória. Ao contrário, falando dos vencedores: “Eles foram mais oportunistas (sk) que
nós e [seu goleiro] fez a diferença”, reconhece. Eis aí uma condição suficiente para vencer: aproveitar
melhor que o adversário as ocasiões que se apresentam! Poder-se-ia, aliás, por último, acrescentar que a
condição necessária e suficiente para ganhar é marcar mais gols que o adversádo E unia condição contrí
boi pan a obtenção da vitória: um goleiro que hrflha diante do gol. Outras causas não têm efeito direto,
mas desempenham um poyco o papel de catalisador; sem intervir na ação propriamente dita, faciLta,h as
coisas. “Não se deve esquecer a contribuição dos ‘torcedores’, pois, impelidos pela multidão, os jogadores
realizaram mi!agres”, dirão os analistas.
Entre os pesquisadores, a idéia de causalidade animou muitos debates. Para os positivistas, “as mes
mas causas geram os mesmos efeitos”, a causa de um fenômeno podia ser isolada e observada de fora. Ora.
em ciências humanas sabe-se que e efeito pode variar: assim, em função do momento, do contexto e cas
mcàc.:das. uma provocação. aaressisa le’.ará ora a uma reacãc :5:03 vic:à*zta, cia a uma soaso
asca cortara aeaiad*-:Ea aEe’v -;rrzr de 05/
roc ,ae —‘‘ ec —,u,m -‘c
:3O0s infiuêsc ias diversas e freqüentemente ira orevisfveis, usadas aos atores e àsci rcunstãncias, e das.
quadnãoépossfveí hbertar-se sem Ozer desapamcero próprio fenômeno.__
Ti
A CONSTRUÇÃO DO SABER
137
Equivalência dos grupos
A comparação com um grupo-testemunha constitui muitas vezes uma
estratégia eficaz para pôr em dia relações causais, mas ela continua a ter
um uso delicado; assim, as conclusões de um estudo, em que o grupo
experimental seria composto de voluntários e o grupo-testemunha
de
alunos escolhidos ao acaso na escola, seriam contestáveis. Pois mesmo
que, na ocasião da avaliação inicial, os dois grupos se mostrem equivalen-
tes no que concerne aos conhecimentos e às atitudes, as diferenças obser 1 -

vadas no final, diferenças que se poderiam atribuir à influência benéfica


dos encontros, poderiam também se explicar pela qualidade de voluntá-
rios dos membros do grupo experimental, que testemunham assim uma :4
o-
abertura de espírito sem dúvida ausente nas pessoas racistas ou simples-
mente indiferentes.
Como assegurar melhor a equivalência dos grupos?
No exemplo considerado, o pesquisador pode escolher ao acaso um
certo número de alunos da escola e reparti-los, sempre ao acaso, em dois
grupos. Um será forçado (sempre respeitando as regras da ética) a partici
par dos encontros, para constituir o grupo experimental, o outro será
deixado à parte para servir de testemunha. Desta vez, as pessoas “força
das” não demonstram a priori nenhuma característica particular como
o
fato de ser voluntárias. Os grupos formados parecem bem semelhantes
e
representam adequadamente o conjunto dos alunos, para quem se pode
rá legitimamente generalizar as conclusões tiradas da experiência.
Mais
legitimamente, em todo caso, que se o pesquisador tivessé escolh
ido
trabalhar somente com os voluntários, para compor os dois grupos
: as Se o acaso constitui o
conclusões teriam então valido apenas para tais voluntários, meio mak confiávei de
Ter-se-á notado, talvez, que o acaso foi o único critério que prevale- assegurar a
ceu no momento de decidir se um aluno devia juntar-se ao equivaIenca dos
grupo experi- grupos, essa segurança
mental ou ao grupo-testemunha, falar-se-a então de grupos aleator
ios continua por natureza
Esclareçamos que não e por covardia nem por falta de imaginação
que
nos confiamos ao acaso para a composição dos grupos. Essa ur
maneira de conseguinte, proeder
proceder (ou suas variantes, estudadas no capítulo 7) permanece
a mais às veriflcações, a fim de
confiavel para assegurar a requerida equivalencia. constatar eventuais
diferenças entre os
-
-

grupos para levá-las sJm


?‘voçao de vaz-zavel considetação.

No exemplo que precede, os termos fatores. elemen


tos em jogo, e talvez
Outros, foram corretamente usados para designar ora a causa,
ora o efei
to. Contudo, no tipo de pesquisa descrita, com
freqüência chamada de
Pesquisa exoer ;eraaL o tento consaurado rara desianar cssas ftr:r<
cu e!e-orr;c 5 rt:’ g -;----

O—-r- ‘to--rr-O
OLas naturais
em que as experiências estão empre presentes.
Em nosso exemolo, as duas variáveis centrajs sae,é claro aoarticioa
-
are’ orm eQJ EIcJ O1’,. :m _atear.
Para com as pessoas de culturas diferentes da sua,
.Mas essas não são as
::rEoas nois vi.uae também
anresentarem--se vs.:iávesconcernentesesue
asr re nus’
e contexto no qua.i se desenvoivia a pesqui
sa (presença ou ausência de
aconte/imentos estranhos e perturbaclores
138 LAVILLE & DIONNE

Se o termo “variável” é usado para designar esses fatores, é justamen


te porque cada um é suscetível de variação sob’ uma ou outra forma
Uma variável é, pois, um elemento ou fator que pode ter mais de um
valor ou se encontrar em majs de um estado.
Assim, a variável “encontros” assume, no exemplo, dois estados:
participação ou não-participaçãd. Poder-se-ia, uma vez que aqui é ques
tão de uma série de encontros, multiplicar os valores, considerando a
participação em O, 1, 2... encontros, ou avaliando, com o auxílio de um
instrumento qualquer, o grau de implicação dos participantes nas trocas
Do mesmo modo, determinam-se, com ou sem o auxilio de testes, de
questionários, ou através de observação, os níveis de agressividade nos
alunos.
Poderseá rever o Fala-se às vezes de variáveis quantitativas ou qualitativas, segundo
quadro do capítulo 2 sejam seus valores ou estados medidos e expressos numericamente ou
(página 43) intitulado
“Quantitativo versus descritos em palavras. Essa distinção, contudo, permanece secundária,
qualitativo”. Assim, a idade seria a priori uma variável numérica, cujos valores são
particularizados em termos de número de anos, de meses...; mas, às vezes,
é suficiente determinar se a pessoa é jovem, de meia-idade ou velha.
Outras variáveis que seriam maïs qualitativas, traduzindo sentimen
tos ou emoções, por exemplo, podem também ser medidas com o auxí
lio dos testes adequados. O essencial é usar o que convém mais ao objeto
da pesquisa.
Uma distinção, no entanto, revela-se muito importante. No exem
pio, as duas variáveis, encontros e agressividade, não desempenham o
mesmo papel. A primeira está conectadaà causa; suas variações devem
provocar mudanças da outra variável. E sobre essa primeira variável
que o pesquisador age na experiência. A segunda variável, a agressivi
VARIÁVEL dade, está ligada ao efeito esperado; sofre a influência da primeira e
INDEPENDENTE Em varia em função das mudanças que o pesquisador lhe impõe. E por isso
urna relação de que se qualifica esta última como variável dependente, enquanto a primei
causalidade. Variável
ligada à causa e cujas ra é chamada de variável independente. Notemos que esses nomes deve
variações ïnfluenciam riam normalmente ser usados apenas no caso de pesquisas em que se
os valores de uma outra explora uma relação de causa e efeito: acontece, todavia, que, por exten
variável chamada
VARIÁVEL são ou variação, alguns usam o termo “variável” descrevendo pesquisas
DEPENDENTE, ligada em que não aparece nenhuma relação de causalidade.
ao efeito.

Os dados são existentes

Em torno do problema intercuftural em urna escola, problema que nos


serve de exemplo desde o começo do capítulo, conserváramos urna segun
da hipótese querendo que a agressividade dos alunos para com os perten
centes a outras culturas variasse inversamente ao conhecjmento que eles
têm dessas culturas, Essa hipótese tinha sido então assodada à pesquisa
Compreender uma baseada em dados existentes.
situação não é só As exigências da verificação dessa hipótese, menos centrada em
precisar-Iie as rebções
rr.
‘ares Oe cjusa e
urna explicação cru termos de causalidade linear, vão conduzir a urna
- O’r- -“u ,,r’cccerL”
A CONSTRUÇÃO DO SABER 139
.
1
A noção de pesquisa experimental
Ouve-se freqüentemente o nome pesquisa experimental. As características e exigências desta são muito
precisamente definidas. Para ser considerada como experimental, uma pesquisa deve inicialmente visar a 1
demonstrar a existência de uma relação de causa e efeito entre duas variáveis. Essa demonstração apóia-se
em uma experiência na qual o pesquisador atua sobre a variável independente associada à causa para, em
seguida. medir os efeitos engendrados no plano da variável dependente.
A fim de poder legitimamente atribuir esses efeitos à causa presumida, é preciso isolar as variáveis
consideradas dos outros fatores que poderiam intervir no meio. Nas pesquisas com participantes humanos,
a estratégia que permite satisfazer essa exigência supõe a formação aleatória de grupos. Um será o grupo
experimental junto ao;qual o pesquisador intervir, aplicando o fator que deve desencadear o efeito. O di
.11

outro grupo será mantido à parte da intervenção propriamente dita e servirá de testemunha. Antes de -1
intervir, o pesquisador tomará suas primeiras medidas junto aos dois grupos a fim de assegurar-se de sua
equivalência inicial. Essas medidas se referirão evidentemente à variável dependente, mas também aos
outros fatores ou variáveis estranhos à experiência (idade, meio de origem, nível de escolarização, etc.),
que poderiam distinguir os grupos e influenciar os resultados obtidos ao término da experimentação. Novas
medidas tomadas no fim da experiência, após a intervenção junto ao grupo experimental, permitirão ao
pesquisador verificar, com o auxilio de instrumentos estatísticos, a presença de diferenças entre os dois
grupos, diferenças que poderão então ser razoavelmente atribuídas a essa intervenção. O esquema repro
duzido abaixo resume o essencial das características da estratégia experimental. Notemos que existem
variantes em que se vêem aparecer medidas múltiplas antes, durante ou depois da intervenção, e outras em
que se recorre a mais de um grupo experimental ou testemunha.
O estudo experimental, com suas variáveis mensuráveis, seu recurso ao instrumental estatístico em
uma experiência provocada em que se exerce um controle cerrado sobre o ambiente da pesquisa, constitui
uma abordagem muito particular da construção do saber; na verdade, ele é fortemente marcado pela ima
gem dos métodos das ciências naturais que inspiraram seu nascimento e conserva traços de um positivismo
do começo do século.

[Grupo experimental j [ Medida inicial 1 t1 Intervenção L Med,dafin&

+ +
Verificar a presença de
Formados equivalência
diferenças entre os grupos
\.aleatoriament)

t t t
de intervenção H-da final
estemunhab___flMedida_inicia_—*éncia

É importante a pesquisa experimental em ciências humanas? Raros, no entanto, são os trabalhos que
Podem respeitar seus cânones, pois não se pode permitir a manipulação de seres humanos como partículas
de matéria ou ratos de laboratório. Além disso, e apesar da eficácia real dos instrumentos matemáticos,
grande parte dos fenômenos humanos não podem ser medidos de maneira significativa e conservar sua
riqueza. Sem contar que as relações de causalidade linear não bastam de forma alguma, já o dissemos, para
tI à sua complexidade. E importante a pesquisa experimental em ciências humanas? Sem dúvida,
5
tazerjti
0
ect _:n3reem “ r.rertcJc s’cCe

urp tru7r acn mcc ae rjs_ ena

rN’5oexperimentais, colocando-se esses Úitimos em uma massa de subcategorias: visjo muito hierárquica
na
pesquisa, que desvaloriza os estudos menos experimentais, definindo-os pela negativa em relação a
Urna abordac;em um pouco idealizada, No entanto, a mais séda pesquisa não é necessariamente a que mais
aproxima dos- modos das cïéncias naturais, as sim aquela cujo método é o mais adaptado ao seu
s,J —
—N cc

-_-, -__-: N’a

a-, ::a_r t,-e”c- E-,


.ca,—’-
- — - ‘- --
4H

140 LAVILLE & Dt0NNE -

o, é de não
vez ao conhecimento das outras culturas, a intenção, contud
se
modificar nem esse conhecimento, nem as atitudes’: deseja- somente
entre esses fatores .
verificar a existência do vínculo pressentido

Uma verificação com exigências reduzidas


intervindo o me
A própria natureza da hipótese exige estudar o que é,
to,
nos possível, e não o que poderia ser. Nenhuma obrigação, portan de
provocar uma experiência com um antes e um depois em que se meçam
variáveis para examinar se a situação se transforma, e como. Já se disse,
os dados tais como existem vão ser suficientes.
Não mais mudança a provocar, não mais causa da qual essa mudan
à busca do
ça seja o efeito: desaparecem assim as obrigações ligadas
necess idade de iso
descobrimento da relação de causalidade. Nenhuma
suscetí veis de
lar variáveis, exercendo um controle cerrado dos fatores
modificar os resultados da experiência, nenhum a necess idade de formar
grupos experimentais e testemunhas com cujas equivalências alguém
precisaria preocupar-se.
Resta sempre a verificação a fazer, mas de uma maneira diferente.

O processo de verificação
ação
O primeiro cuidado do pesquisador será o de colher a inform
inform ação no meio escolar ,
requerida pela hipótese. Encontrará essa
subgru pos.
junto aos alunos, que ele não precisará, desta vez, cindir em
parte des
Mas, se por razões práticas, preferir dirigir-se somente a uma
mais uma vez tio acaso a fim
ses alunos, ele os escolherá, apoiando-se
ção à qual essas
de obter uma imagem tão fiel quanto possível da popula
aborda
conclusões deveriam poder generalizar-se. No capítulo seguinte,
remos, aliás, as diversas técnicas de amostragem.
Encerrada a fase de escolha dos participantes, proceder-se-á à coleta
tes
dos dados propriamente dita. Diversos instrumentos, questionários,
tratam,
tes, grades de observação servirão para colher informações que
nente às outras cultu
evidentemente, do nível de conhecimento concer
rime n
ras, por parte de cada aluno e do grau de agressividade que ele expe
ta em relação aos pertencentes a essas culturas.
ladas,
Depois virá o tempo da análise das informações assim acumu
entre aquele s
a fim de saber se efetivamente a agressividade é menor
, no qual
com conhecimentos mais desenvolvidos. Esse gênero de estudo
si para estabel ecer uma rela
se comparam dois ou vários fatores entre
mudan ça em
ção entre seus diversos estados ou valores, sem provocar
as. E
um para ver o que isso traz ao outro, é freqüente em ciências human
os quan
chamado de estudo de correlação quando os fatores são avaliad
de correla ção,
titativamente e se utilizam testes estatísticos, ditos testes
para medir a força de sua inter-relação.
o dc
Se a hipótese se ‘ie confirmada. node se tomar urande a tentacã
matéri a de
‘co.nc!uir cor rehIL.ic de causa e efeito e de afirrar auc, era
ntes.
culturas leva a uma redução da auressividade para corra seus integra
no estudo viu-
Csntudc. se impõe on.rdéncis, roi.s em nerahurn momento
lii

A CoNsTRuçÃo no SABER
31’
sua agres
se crescerem os conhecimentos de um indivíduo nem diminuir ESTUDO DE
CORRELAÇÁO Estudo
sividade. A estratégia de pesquisa não estava orientada simplesmente no qual se comparam,
para este tipo de dados, tendo sido feita no tempo para cada participan com o auxílio de testes
te, uma só medida de cada um dos fatores. A confirmação da hipótese, estatísticos, dQis (ou
vários) fatores entre si -ti

segundo a estratégia selecionada, baseia-se em diferenças entre os indi


-1

para estabelecer
víduos. Comparando-os um ao outro, nota-se que uma variação da relações entre seus
agressividade em um sentido é acompanhada de uma variação no outro diversos estados ou
valores.
sentido do nível de conhecimento. Um fator acarreta outro? Um melhor
conhecimento é suscetível de diminuir a agressividade, mas uma
agressividade maior permite também um melhor conhecimento, tomando
entao mais fáceis os contatos entre pessoas de culturas diferentes. Vê-se
aqui despontar uma relação de intercausalidade possível, mais rica que
uma reação linear de causa e efeito. Sem contar a presença de um even
mal terceiro fator que pode afetar aqueles obtidos no estado: um melhor
enraizamento em sua própria culwra não poderia, por exemplo, possibi
litar a um indivíduo sentir-se menos ameaçado pelas outras culturas e
lhe fornecer referências para melhor compreendê-las?

Variáveis que não variam


que a pesquisa não
Há variáveis nas pesquisas com dados existentes? A prior4 a resposta é não. Uma vezestudo que tomamos
provoca mudança nos elementos em jogo, ter-se-iam variáveis que não variam... No
uma mesma pessoa,
como exemplo, apoiamo-nos em diferenças entre os indivíduos e não em variações em
para chegar a concluir. fatores em jogo em
Na prática, acontecerá que se use, apesar de tudo, o termo variável para falar dos selecionada para esse
urna tal pesquisa, utilização que afinal não é muito abusiva, caso sevolte à definição
de um estado.
termo: elemento que pode tomar mais de um valor ou encontrar-se em mais
-

termos essencial-
O que, ao contrário, seria abusivo, seria falar de variável dependente ou independente,
mente associados às relações de causa e efeito.

Correlação e causal idade


correlação, número
O termo correlação toma com freqüência uma conotação estatística: o coeficiente de
em que p5 dados sao
que mede a interdependência de dois fatores, intervém muitas vezes em pesquisas
falarao de correIa
quantificados. Com a falta de realismo que freqüentemente os caracteriza, os matemáticos reíaçao entre eles:
çao positiva quando os fatores evoluem paralelamente, mesmo que não haja nenhuma
correlato as vendas
assim, o preço das habitações em algumas grandes cidades americanas seria fortemente a correlaÇan
opostas.
de cigarros na França! Se os fatores variam de maneira semelhante. mas em direções tadores nas
dos microcõmpu
será chamada de negativa: pode-se assim ver ta correlação entre as vendas por uma relaçao
diversas regiões e o número de nascimentos aí ocorridos. Não se deve, contudo, concluir realidade,
de causa e efeito e considerar a compra de um computador como uni meio de contracepÇão! Na
a correfaç traduz aqui um fenômeno social: as sociedades ricas, mais avançadas tecnologicam ente sao
os dac o c’rrocej c .c,ãc ‘-o s tantirnenta dsccru ’
eces- rCCSD

o cão nue co nico 00 e essa, nuo r


uC purm a SOL unia
E cedo que um ‘studo de co relação não se apoIa ni ne hama estratenia de reiaçoes
nto
iuSae seu efebo. Mas os pesouisadores não se lançam também, ao acaso. no estabelecime
o
co se
ao sabor na fantas:a do roomerro. Pelo contrãrjo.
rooj ,taOOíaO a aOt 0ee o
nem aoa aoasm’atu
e e se !ne deva dar 3 pescolsa& tem rn coosegu 1 te, desuo ua doa bas’ante tJC a o
o n no,
de outra manewa
°4tureza da relação; não é uma relação de causalidade linear— ele tarja então procedido onistatrse
o-”r i °cuu3Oe e ntareczc
a
o no o arco xn ooniaa
142 LAVILLE & DI0NNE
r
hipóteses formu
Esta primeira parte do capíwlo apresentou-nos duas
difer etes que nos condu
ladas a partir de um mesmo problema, hipóteses
ziram a duas categorias de pesquisa.
relação de causali
A primeira hipótese presumia a existência de uma
de uma experiência: nela
dade. Sua verificação demandou a implantação
os, certificando—se da
se fez agir a causa, para em seguida avaliar os efeit
possível, a fonte dessa
presença de uma mudança e isolando, o melhor
o-tes temu nha equivalente ao
mudança por meio do recurso a um grup
uisa em que os dados São
grupo experimental. Era um exemplo de pesq
criados por uma experiência.
de causa e deixava
A segunda hipótese era menos dirigida à idéia
simplesmente veri
de lado a idéia de uma mudança provocada. Buscava
na situação. Basta
ficar a presença de vínculos entre os fatores em jogo
para , em segu ida, estabelecer
va, portanto, avaliar esses diversos fatores

Fontes diferentes de dados


implicavam diretamente pessoas. Mas, se humanos são
Os exemplos de pesquisas examinados até aqui
sempre encontrados em ciências humanas, eles são alcanç
ados, freqüentemente de maneira indireta, por
a forma de documentos: livros, jornais, papéis
marcas de sua presença e sua atividade, marcas que tomam fotos...
s, quadros e tabelas estatísticas, discos, filmes, vídeos,
oficiai
das disputas interculturais, Tais choques
isso brevemente, prosseguindo com o exemplo
ou vinte anos, talvez porque a mídia fizesse
parecem um fenâtienõ recente, desconhecido há quinze muito. Como explicar sua presença?
porque se amplio u
menos alarde disso do que hoje, talvez também
compreendé-lo?
Que transformações sociais poderiam ajudar a
Seria tão inútil quanto reduto r querer atribui r o fenômeno a uma causa isolada e imediata. Ele tem a
fatores, que um pesquisador poderia resumir em uma
ver mais verossimilmente com uma conjunção de em que o quadro
hipótese como a seguinte: as disputa s intercuíturais manifestam-se mais desde o momento
pelo desmoronamento dos valores religiosos
social transforma-se pela vinda acelerada de recém-chegados,
e familiares tradicionais, pela escalada do desem
prego.
tes a cada
Para fins de verificação de sua hipótese, o pesquisador deverá colher informações referen
lem
interrogar pessoas idosas da comunidade, mas as
um dos fatores considerados. Poderia certamente rá encont rar as man i
pletas. E por isso que ele preferi
branças permanecem subjetivas e muitas vezes incom Esses docum entos fornec e—
s dos últimos vinte anos.
festações de intolerância relatadas nos jornais e revista
sobre o empreg o ou a imigra ção, mas, nesse caso, os relatórios publicados pelos
rão igualmente estatísticas a
das. Procurará da mesma forma informações sobre
governos trarão informações mais completas e detalha
e as representações, etc.
evolução das estruturas familiares e religiosas, os valores
analisá -los e colocá -los em relação. Ele comparará muito certamente
Uma vez coligidos os dados, restará taxa de
o de imigrantes, número de famílias detectadas,
o número de embates aos outros fatores: númer relaçõe s
enos aparecem efetivamente. Mas outras
desemprego.. para ver se as ligações entré esses fenôm e o dese mpre
conexão entre o número de imigrantes
podem contribuir para a compreensão da situação. A estu
s julgam os recém-chegados como “ladrões de empregos”,
o, por exemplo: enquanto muitas pessoa ocupam .
empregos do que os
dos recentes permitiram constatar que eles criam mais tal
O exame do conjun to dos vínculo s que se podem tecer entre os diversos fatores considerados em
complexidade do real: esse exame, todavia , não
espécie de pesquisa possibilita entrar profundamente na
bela explicação causal, estrita e linear, ofere
traz o senbniento de segurança, mesmo enganador. que uma e nossa compreensão da realidade,
ce; dá, contudo, uma imagem mais justa, que nutre diferentement o um papel capital. Mesmo que O
Nessa pesquisa, documentos de diversos tipos terão desempenhad
as em documentos não são o apanágio
exemplo proposto tenha um sabor histórico, tais pesquisas apoiadpessoas de todos os ramos das ciências
exclusivo dos historiadores ou dos especialistas em passado. AsPeuscmcs co administrador ou no econc

matéria de comérc
e a
io- interna
o a ,
huaacas cedicam-sa restuia:menre a ar-áises d dccurnentcs. cesigaus as. políticas gc’crnamentais em
mista que cousuda •s indices ccdesau-.’.mer:.tc focara-
cional;
ag
ou no

pesqu:sas de t.ase documentai sê.o, aent te


especia

todas,
-

as
lista

mais
das
cuiu
religiões que se interes.s.a pelas variações da

numer osas em
o
ciência s isumacas.

-li
:11

A CONSTRUÇÃO DO SABER 143

relações entre os resultados dessas avaliações. Tínhamos aqui um exem


PIO de pesquisa fundada em dados existentes.
As duas últimas seções deste capítulo serão dedicadas ao estudo
dessas categorias de pesquisas. A próxima nos mostrará, com o auxilio •1
de exemplos, as diversas formas que pode assumir a pesquisa com da
dos criados, e a seguinte fará o mesmo em relação à pesquisa com dados
existentes.

DIVERSIDADE DÁ. PESQUISA COM DADOS CRIADOS ‘1

A experiência realizada em torno da organização de encontros intercul


turais, descrita no primeiro exemplo deste capítulo (página 134), colo
cou-nos em contato com uma forma extremamente delimitadora de pes
quisa com dados criados, forma cujas características e exigências foram
resumidas em um esquema na página 139.
Essas delimitações não são nem o fruto do acaso, nem o resultado
de caprichos. Cada uma das precauções tomadas servia para descartar
uma ou várias das explicações possíveis do fenômeno estudado, até que
a causa adiantada pela hipótese se encontrasse isolada; a experiência
provocada devia assim permitir verificar se essa causa acarretava real
mente o efeito esperado.
Mas a realidade da pesquisa impõe suas próprias delimitações que
podem impedir o pesquisador de respeitar algumas dessas exigências. O r
tempo pode seruma delas, que às vezes poderá até coiitjtFõfifõ15táãilõ
dificilmente superável.
Felizmente, esses constrangimentos não vão habitualmente até o
ponto de impedir uma verificação válida da hipótese, apesar das redu
ções que eles impõem ao esquema. No que segue, vamos considerar três

[f;

HV 5 ti

so pode muito bem fevar à moeahdade mas evará a eternidade pára vedficá4o-
144 LAVILLE & DtONNE

casos: um apreciará o abandono do caráter aleatório da formação dos


grupos, o segundo prescindirá da medida preliúnar, ao passo que o
terceiro levará, por enquanto, a fazer desaparecer o grupo-testemunha

Abandono do caráter aleátório dos grupos


De todas as exigências, a que prevê a formação aleatória dos grupos
experimentais e testemunhas é a mais regularmente descartada. A razão
disso é que não se pode sempre respeitá-la sem subverter o ambiente no
qual se efetua a pesquisa, quando nesse ambiente já estão formados gru
pos, antes de qualquer presença de pesquisador. E, por exemplo, o caso
em meio escolar em que se organizarão com muita freqüência experiên
cias, preservando os grupos de aula.
Imaginemos, em um outro contexto, um pesquisador desejoso de
pôr à prova novas estratégias de treinamento que devem reforçar o espírito
de equipe. Ele vem encontrar os responsáveis por uma liga de basquete
a fim de escolher com eles dois treinadores voluntários para participa..
rem da experiência. Aquele da equipe que se toma grupo experimental,
ele expõe suas estratégias e se certifica de que serão aplicadas, ao passo
que o outro treinador, cuja equipe serve de testemunha, é, por enquanto,
mantido na ignorância das novas estratégias.

Uma armadilha a evitar


Para que uma pesquisa que comporta uma experiência com criação de dados conduza a conclusões realmente
úteis, é preciso permanecer crítico em relação a cada um dos elementos: as armadilhas nem sempre estão
onde são esperadas.
Assim, nos anos 80, várias pesquisas sobre o uso pedagógico do computador revelaram-se de uma
inutilidade deplorável por causa de uma fraqueza em matéria de organização da intervenção. Querendo,
por exemplo, demonstrar a eficácia de um software de treinamento para a enunciação de hipóteses em
geometria, um pesquisador recorreu a dois grupos inscritos em um mesmo curso de geometria. Para os
estudantes do grupo experimental, ele acrescentou, às seis horas semanais de matemática, quatro horas
suplementares de trabalho no computador e constatou em seguida que esses estudantes eram melhores que
os outros: sem brincadeira...?

Compreender-se-á que teriA sido difícil para o pesquisador modifi


car as equipes. E ele teria acrescentado isso à demonstração? O objetivo
da formação aleatória dos grupos é assegurar ao máximo a equivalência
desses grupos, equivalência que se verifica também por uma avaliação
antes da intervenção. Ora, nas circunstâncias, pode-se crer razoavelmerae
nesta equivalência: os jogadores provêm de meios comparáveis, as equi
pes foram formadas para assegurar partidas equilibradas, os diversos
treinadores compartilham uma filosofia comum sobre as atividades de
rinieros de horas ueinamenro das eouírcs slo semelhante5
e perm;inecemai..im duran te a intervenção., Sem contar a avaliação
final que permite assegurar que o espírito de eqüipe manifestado pelos
grupos, um a uni., e comparavel, antes do lmcio da expeneneta
A CONSTRUÇÃO DO SABER 145

A pesquisa quase experimental


Um estudo em que os grupos não são formados de maneira aleatória é habitualmente qualificado como
quase experimentaL O termo parece infeliz, pois parece querer dizer que o trabalho é quase bom, quase
certo... Ora, o risco aqui corrido de comparar grupos demasiado diferentes parece mínimo, sobretudo se o
pesquisador se informa sobre as condições que prevaleceram no momento da formação desses grupos.
Certamente, se o que se quis foi compor um grupo de elite, ele deverá mostrar-se desconfiado. Mas bem
freqüentemente os agrupamentos terão sido efetuados sem critério especial ou em função de uma preocu
pação de equilíbrio que favorece mais o valor da demonstração. Evitaremos também o uso do termo “quase
experimental” para simplesmente fixar que a categoria das pesquisas com dados criados abrange diversas
modalidades de pesquisa, que permitem adaptar-se aos objetivos perseguidos e às circunstâncias encontra
das.

Supressão da medida preliminar


Outros embaraços práticos podem às vezes impedir um pesquisador de
proceder a uma avaliação dos grupos que participam da pesquisa, antes
do começo da intervenção junto ao grupo experimental. No exemplo
precedente, imaginemos que seja um treinador que, no curso da tempo
rada, elabore a nova abordagem para melhorar o espírito de equipe. Pa
rece—lhe que tudo vai bem, mas, temendo tomar seus desejos por realidade,
pede a um pesquisador que verifique. Estando já iniciada a intervenção,
a comprovação acha-se irremediavelmente comprometida? Não comple
tamente. A aplicação já realizada da abordagem nova toma insignificante
uma medida da equivalência do espírito de equipe dos grupos, medida
que não seria mais realmente preliminar; encontramo-nos, pois, com um
esquema de prova simplificado (o que é atenuado corresponde ao que
foi tirado do esquema de prova inicial):

xperintal-—---—-- Medida inicial Intervenção —‘*


- Medida final

‘7 4
Verificar a presença de
F,r,nadcs / Verificar a eouivalênda à
diferenças entre os gnipos
dos grupos 1

+ A
A

C.’U0testmufha
-4

Aqui, o dmo de querer comparar, ao témduo da experiência, gn]


Pos que não eram equ-ivaientes no in.ício é aumentado. Algumas medú
d.as d.e m dilca ão restam, contudo, possíveis: aquelas, evocadas anterior
umnte, q:e tratam da proveniência dos jogadores, da força comparada
das duas equipes, do número de homs de einaniento de cada uma, da
tilosoa gemi” de seus respectivos treinadores, Se as diferenças nessas
146 LAVILLE & DI0NNE

matérias são mínimas, se a isso se acrescentam outras informações que


mostram, por exemplo, que o acaso ou preocupações que não correm
absolutamente o risco de afetar as conclusões da pesquisa prevaleceram
que dife
no momento de formar as equipes, o pesquisador poderá inferir
renças constatadas entre os grupos ao término da interve nção explicam.
o isso será
se pelas diferenças entre os métodos de treinamento. Contud
uma inferência, uma vez que ele não poderá certific ar a semelh ança
planos , conclu i
original das equipes: vendo-as semelhantes em vários
que isso devia bem ser assim nos outros planos, especialmente no do
espírito de equipe, que o preocupa.
No que concerne à causalidade, deve-se permanecer prudente, pois
a conclusão apóia-se em uma espécie de “tido leva a crer na equivalên
el.
cia inicial”. Mas ela permanece, no entanto, legítima e razoáv
Acrescentemos que o pesquisador teria podido medir o espírit o de
equipe dos grupos no momento em que recebeu seu mandato. Teria sem
dúvida constatado uma certa diferença, menor talvez do que aquela
medida ao final, o que teria sido um índice suplementar do valor possp
vel da abordagem preconizada. Claro, estamos ainda longe da prova
r
O acréscimo dessa
medida teria trazido um irrefutável! A pequena diferença constatada no início pôde toma mais
eficaz um método que teria deixado poucos traços sem ela, exatam ente
elemento a mais ao
valor ao espír i
dossié; ao menos se como o entusiasmo do treinador, que atribui certamente
teria constatado, de
maneira mais
to de equipe que pode ter exercido uma influência maior do que qual
estruturada, a melhoria quer outra forma de intervenção. Mas é possível também que a interven
iti
do espírito de equipe no ção tenha servido para qualquer coisa que tenha, por exemplo, perm
do ao treinador haver canalizado eficazmente seu entusiasmo.
seio do grupo, em vez
de simplesmente inferi
o de uma comparação
com outro grupo. Isso
para dizer, ainda, que
essas estratégias de Ausência do grupo-testemunha
verificação podem ser
adotar
moduladas de diversas Imaginemos que uma empresa instalada em região afastada venha a
maneiras: o acréscimo res desejam
de medidas no curso do
uma política de participação nos lucros. Os administrado
dos
desenvolvimento é saber se sua hipótese, de que o pagamento de uma porcentagem
aumen to da produt ividad e,
apenas uma delas, a das lucros aos trabalhadores acarretaria um
medidas múltiplas após e medir a
a intervenção é uma
mostra-se justa. Se lhes é fácil conhecer a situação inicial
nova políti
outra. Essas varïações produtividade nos meses e anos que seguirão à aplicação da
ação:
na estratégia, bem ca, um problema, contido, coloca-se quanto à estratégia de verific
como outras igualmente possív el enco n
possíveis, merecem ser a ausência de um grupo-testemunha. Não é realmente
empres a,
trar outra empresa que seja comparável (distância, porte da
-

levadas em
tament e pensar em cindir o
consideração: podem tipo de produtosi, e não se pode absolu
aumentar a oficáca da outro ficando
dcc abstração.
pessoal em dois: um grupo participando dos lucros e o
a de prova de gru
míng ua. Encontramo-nos, portanto, com um esquem
po único.
ar-se da
Uma tal estrutura de verificação permite ao menos certific
exatamente
presença de uma mudança. Ademais, se a mudança coincide
prova. mas uma indica
com o anúncio da nova política, ter-se-á não uma
situa
aresar de tudo, séra da eficácia dessa poiftica Em muitas
mos cor:
ções, por causa das particularidades da própria simação, devere
a1-a5:Safla’JjaaZJtL;-aflace Zar:.cia1e.
:nctaca ea -a um
p0 t.s, mesmo coe se dera r:crmanece-r criceo-, a
A CONSTRUÇÃO DO SABER 147

Medida inicial

1-
4 4
Verificar a equivaI.ncia
dos grupos

4
4

rnunha —-—1ida_inciaI_J êncÍa de_inteenção—--÷ Medida fln

para manter a ação da causa em um julgamento um pouco fatalista da


espécie “até prova em contrário...”.
Resta sempre a possibilidade de que as razões da mudança sejam
outras: a mudança poderia ter começado mais cedo, sem ser ainda real
mente aparente, e a nova política terá simplesmente acentuado isso. Fe
chamento de empresas na região, por exemplo, fizeram com que os em
pregados temessem o desemprego e eles reagiram tomando-se mais efi
cientes.
Algumas verificações permitiriam fazer um pouco melhor a parte
das diversas causas possíveis. Uma pesquisa documental poderia reve
lar a eventual presença de uma tendência ao crescimento da produtivida
de. Os empregados serão inquiridos para saber que influência a política
de participação pôde ter sobre seu empenho ardoroso na obra. A experiên
cia será prolongada, fazendo-se variar a porcentagem dos lucros partilha
dos para ver se a produtividade continua, sabendo que o importante é
menos a porcentagem do que a existência de uma partilha, pela qual o
empregado trabalha em seu proveito e não unicamente por seu salário.
Essas informações não poderão fornecer provas, mas poderão contri
buir para reforçar á indicação “séria” antes evocada.
Esse exemplo, como os precedentes, mostra que é possível imagi
nar várias estratégias de comprovação de hipóteses em que, por uma
tntervenção que cria dados, verifica-se a existência de uma relação de
causa e efeito entre uma variável dita independente, sobre a qual se atua,
e uma variável dependente cujas flutuações são analisadas na seqüência
Ca intervenção. Há circunstâncias que obrigam a recorrer a esquemas
mais leves de verificação de relação causal, mas, com bastante freqüência,
as condições nas quais se desenvolve a experiência permitem compen
sar um pouco pelas precauções impossíveis de tomar e conduzem a con
-
-

Oussa conduzir a urna conclusão r’erfbic mente segura nessas matérias


de causalidade
Tira última ouestão nersiste: vede-se tornar mais leve ainda nussis
na outra carci uva cc TZtiSQiUiSft.
queia em case se trabalha com dados exi.stentes.
5
148 LAvILLE & DIONHE

DIVERSAS ESTRATÉGIAS DE PESQUISA COM DADOS


EXISTENTES

Tomando mais leve o esquema da seção anterior, não resta senão uma
intervenção, seguida de uma avaliação junto a um único grupo ou, en
tão, somente essa avaliação. Afastamo-nos aqui do gênero de pesquisas
estudado na seção anterior em que se apresenta sempre uma forma de
comparação, seja entre o antes e o depois de uma intervenção, ou entre
dois grupos.
Uma pesquisa em que não se encontre mais esse tipo de compara
ção não pode legitimamente visar à revelação de uma relação de causa e
efeito. Mas continua sempre possível e útil para um pesquisador atentar
para os diversos fatores ligados a um problema para compreender-lhes
o jogo e, uma vez adquirida essa compreensão, tomar conhecida essa
relação.
Esta compreensão dos fatores que marcam ou caracterizam urna
situação exige informações às quais as pesquisas baseadas em dados
existentes permitem ter acesso sem modificar radicalmente essa situa
ção. Já vimos alguns exemplos desse tipo de pesquisa, dentre os quais,
aquele de caráter histórico, em um quadro na página 142. Há vários
outros que iremos abordar, detendo-nos sucessivamente na pesquisa de
opinião, na enquete, na pesquisa de natureza antropológica, no estudo
de caso e na história de vida.

Pesquisa de opinião

Muitos são os estudos encomendados por empresas privadas ou organis


mos governamentais a fim de orientar suas políticas, basear suas deci
sões. Se um governo deseja saber se mudanças no piano econômico
alteram o grau de sua popularidade; se se quer saber qual a representa
ção que o brasileiro faz de si mesmo, ou ainda se o interesse é saber
quem consome cultura e com qual freqüência e outras tantas questões,
as pesquisas de opinião poderão trazer respostas.
Como o deus do pequeno catecismo de outrora, as pesquisas de
opinião estão por toda parte, ainda que nem sempre sejam vistas. Algu
mas fazem manchetes, Basta pensar nos índices de audiência e nas pes
quisas eleitorais.
P6QtJISA DE A pesquisa de opinião é urna estratégia de pesquisa que visa a conhe
OPINIÃO Estratégia de
pesquisa que Visa a
cer as opiniões, as intenções ou até os comportamentos dc uma popula
conhecer a opinião de ção freqüentemente muito grande. Nesse aM, recorre-se a um conjunto
uma população sobre de questões propostas a uma amostra dessa população. Com freqüência.
um assunto dado,
intenogando uma
os interrogados têm que escolher apenas dentre respostas previameme
amostra dessa determinadas. As informações assim coligidas podem ser tratadas com
população. o auxílio de instrumentos estatísticos,
A pesquisa de opinião é urna estratégia de pesquisa, digamos. ou de
errr:cação-, urna ‘-ezq-ue. a exemplo do: CUttOS Lr;oS ce ;esqusa. cc-rn:*

cientaão de investimentc culturais...), para responder urna ou várias


:4

A CONSTRUÇÃO DO SABER
149

1’

‘49

Folha de São Paulo, 20/11/97

questões relacionadas a esse problema: Com


o seria recebida uma tarifa
moderadora? Que tipo de moradias demanda
m os compradores ? Qual
seria o melhor momento para dar a conhecer
um produto às pessoas? O
sondador apóia-se em uma hipótese implícita
pelo menos, para guiá-lo
em seu trabalho desde a escolha do ou
dos meios de investigação e a
preparação do questionário até a análise dos
dados coletados.
Sob o termo pesquisa de opinião reúnem-se vária
s estratégias parti
culares, Fala-se, põr exemplo, de pesq
uisa incidental ou instantânea
quando o questionário é administrado som A PESQUISA DE
ente uma vez para a amostra, OPINIAO não é urna
fornecendo justamente um instantâneo da
população no que tange às estratégia única; t
características estudadas. E possível
rio em vários momentos sucessivos:
mite então observar as variações de carac
estabelecer relações entre algumas delas
também usar o mesmo questioná
a seqüência de imagens obtida per
terísticas da população e até
existem vários tipos:
pesquisa incidenta’,
pesquisa de tendênca,
pesquisa por painel.
:1
. A amostra, que muda sempre, 1-
chamase pesquisa de tendências: é
o tipo de pesquisa freqüente por
Ocasião das campanhas eleitorais, quan
do se indagam as intenções dos
eieitcrc.s a i ter:alc s resuiares, Prev
endo um cuco antecmadarnenr.,
POde-.sc repara.r u.ma pesqi..ihva
de opinião por poinel empoe, desrav
a mc-srna amostra de pessoas
será interrogaia era várias tomadas: aevolu
çao do-s indivíduos toma-se então aces
sível ao observador.
As principais exigências da pesquisa de opin
ÕU instnsrriento privilegia
ião dizem respeito ao
do, o questionário, e à necessidade de cor
tur uma amostra representa .sti
tiva da população visada pela investinçã
Sem entrar nos detalhes, que o,
serão examinados no próximo capítulo,
0400 trata de técni
cas e instrumentos, podemos afirmar que
o questioná
150 LAVILLE & DI0NNE

rio é padronizado, isto é, que as mesmas questões simples e precisas


devem ser propostas na mesma ordem e oferecêndo a mesma opção de
respostas a todos os interrogados.

fontes de problemas para


Os “discretos e os indecisos, isto é, as pessoas que não querem ou não podem responder, são
vezes são simplesment e afastados, o que pode modificar as característica s da amostra; ou então seu
os sondadores. Às
pouco importa o grau de sofisticação das
número será repartido nas categorias associadas às diversas respostas. Mas
homem em sua ata de lixo prejudicarão a precisão dos resultados.
medidas tomadas, os não—interrogados como nosso

Mas mais ainda que a do questionário, a qualidade da amostra será


determinante para a precisão da pesquisa de opinião.
Uma pesquisa de opinião é precisa quando fornece uma imagem
fiel do conjunto da população que visa. Isto exige uma amostra represen
tativa dessa população, urna amostra cujas características e proprieda
des são também as do conjunto da população. Vários métodos. descritos
no próximo capítulo, permitem assegurgr essa representatividade, mé
todos em que o acaso desempenha um papel importante.

Enquete
A! umas rescu;sas. exigem ratais de •nue dados gue s.e anírram à c.nrnric’
LanCE
das unsanes. Deseandnse Castas tO5 CC Int :-nnacces. rEna SC
uma enquete. Imaginemos que e drarlo encarre gado de oferece r SerCiCCE
aos deficientes de urna região veia seus orçamentos diminuídos. Deve,
A CONSTRUÇÃO DO SABER 151

ietodo1ogia
Na campanha eleitoral para presidente em 1989. o lançamento imprevisto do nome do
apresentador de TV Sílvio Santos foi um fator desestabilizador para o favoritismo do
então candidato do PRN, Fernando Colior, atestado pelas pesquisas, fazendo surgir o
fantasma que tirava o sono da FLESP: o Brizuta — ou seja, um segundo turno disputa
do entre Brizola e Lula Este fato exigiu maior apuro da metodologia das sondagens. À
tanto na técnica de amostragem como de abordagem dos entrevistados.
Na primeira semana de novembro foi feita uma pesquisa pela revista Isto éJSe
nhcre a agência Tôledo Associados com 3618 entrevistas, nas quatro regiões do país,
e
e uma equipe de 380 pesquisadores de campo. A amostra acatou rigorosamente o peso
-

eleitoral de cada região, de cada cidade, cada nívd de escolaridade e as diferenças de


sexo. Todas as 23 capitais estiveram representadas com seu peso específico na pesqui
sa, além de outras 52 cidades em todo o país. Por exigência de rapidez na apuração, a -‘4
pesquisa foi do tipo estimulada o pesquisador exibia para o entrevistado um cartão

com 12 nomes dos principais candidatos à presidência da república, inclusive do no


vato Sfivio Santos. A margem de erro foi de 2%.
Na segunda semana de novembro, já às vésperas da eleição, mas antes da impug
nação do nome de Sílvio pelo Tribunal Superior Eleitoral, os mesmos agentes fizeram
uma pesquisa com uma amostra ampliada para 4.185 eleitores, de 158 cidades das
quatro regiões do país, utilizando três formas de abordagem dos entrevistados: a es
pontânea, em que o pesquisador pergunta ao eleitor se ele já tem candidato e. somente
se a resposta é sim, quem é esse
eleitor um cartão com o nome dos 12
candidato; a
candidatos
estimulada,
e em que
em que se apresentou ao
o apresentador aparecia
-:1- -li
como Sílvio Santos; e a cédula, réplica da cédula oficial, que era depositada numa
urna, guardando-se o sigilo do voto e em que ele figuray&com um nome fictício. e.

Texto adaptado da revista Isto USenhor n 1051, p. 38-40, 8 nov., 1989; n. 1052. p. 30-31. 15
nov., 1989.

Eis aí uma descrição do método utilizado para a pesquisa de opinião, ressaltando-se os


detalhes fornecidos sobre a formação da amostra: eles podem ajudar a julgar a representativi
dade dessa amostra e, portanto, do valor da pesquisa.

portanto, reorganizar a utilização de seus recursos financeiros, materi


ais e humanos para continuar a cumprir melhor sua missão. Poderá en
tão instituir urna enquete a fim de determinar mais acuradarnente as ne
cessidades dos beneficiários, os serviços a oferecer com prioridade, os
recursos a privilegiar. Nessa enquete, a opinião dos deficientes e a das
Pessoas que os rodeian,, bem como a dos empregados do órgão, serão
dados kndamentais mie oderJo sercoiNdos atravs de
CL OVSi2. NEm se cuscar
ptc•csa que
mim:darosserneon, rec1Oasj mcm detarrinar o quadro
reguiamentaam o funcionamento deles; todas as informações çue pode geral de uma situação,
rao eventualmente permitir unia diminuição dos custos, preservando o apoiaodqe dra dados
obtidus dÉíomes
essc-oiai
-ceCoi: e
-
152 LAvILLE & DIONNE

Comoção nas agências de pesquisa de opinão


prova a credibilidade dos pesquisadores. Como de
A eleição de 1994 no Québec submeteu a uma dura
atribui u urna vantagem que variava de 2 a 10,9 pontos
monstra o quadro abaixo, a maior parte das agências
Somen te Crop destaca -se com uma pesquisa que atribui 3 pontos
de porcentagem ao partido que vencesse.
de vantagem para os liberais.
AS PESQUISAS
PLQ (%) PQ (%) DESVIO (%)
42,7 51,6 8,9
Léger & Léger (25-27 jul) 2,0
46,0 48,0
Crop (28 jul.-2 agi 5,4
44,0 49,4
Léger & Léger (5-9 ag.) 2,7
45,2 47,9
Léger & Léger (12-17 ag.) 4,0
45,4 49,4
Sondagem (13-18 ag.) 4,6
44,5 49,1
Léger & Léger (19-23 ag.) 3,0
44,0 47,0
Crop (1 8-24 ag.) 6,4
42,6 49,0
Léger & Léger (30 ag.-1 set.) 10,0
40,0 50,0
Angus Reid (30 ag.-4 set.) 10,9
38,3 49,2
Sondagem (30 ag.-4 set.) 3,0
46,0 43,0
Crop (1-3 sei) 5,5
43,5 49,0
Léger & Léger (6-8 sei) 3,0
43,0 46,0
Som (6- 8 sei)
a repartição dos indecisos.
Nota: Os resultados publicados acima são os obtidos após
sadores: o PQ o ultrapassa, mas o desvio é
O resultado do escrutínio desaprovou a todos os pesqui
claráiiierite inferior a1%’
pesquisas de opinão, diz-se, não predizem,
Logo “fornecem” as análises para explicar o fenômeno. As
são o da eleição; as pessoas podem mudar de
mas fornecem retratos da realidade em momentos que não
daquel es que não souberam ou não quiseram responder?
idéia, várias acabam por não votar; e o que dizer
seio das categorias dos verdadeiros interrogados.
O resultado variará segundo o modo de reparti-los no as agências de pesquisa são empresas
Dentre as explicações fornecidas, fez-se notar também que
mercan tis e pouco científicos, manipular o trabalho,
comerciais que às vezes podem, devido a imperativos
r ao cliente-comanditário.
sobretudo se elas sentem que os resultados poderão agrada
serão sempre probab ilística s por natureza. Mas levadas com o devido rigor, os
As pesquïsas de opinião
se situarão no interior de margens de erros que
riscos de erros são mínimos e as variações observadas
também se podem avaliar com notável precisão.

tanto às
freqüentemente com o objetivo de melhorá-la. Ela se prende
necessidades,
opiniões, intenções e atitudes das pessoas quanto às suas
s instrum entos: ao
comportamentos e recursos. de recorrer a diverso
agem, mas
questionário, claro. e, se necessário, às técnicas de atnostr
dos documen
também à observação, à entrevista, ao teste e à consulta
o questio nário permite
tos, Esse recurso a outros instrumentos que não
pelas pessoas
lhe atingir o que nem sempre é expresso ou exprimível
envolvidas,
investigações,
Como o termo enquete abrange múltiplos tipos de
e de técni
com recurso possível auma grande variedade de instrementos
requisïtos e
cas, seria difícil resumir aqui seus requisites elirnites. Esses
técnicas ope
limites serão sobretudo os dos ias trarnentos utilizados, das
,C c_rJD
.,_

deve proceder a
usos que a representatividade das amostras, quanda’ se
Ii’:
[1
r
A CONSTRUÇÃO DO SABER 153

una a’nostragem, desempenha um papel importante no que concerne à


ualidade das conclusões.
1

4bordagem antropológica

Os grupos de punks não passam despercebidos e causam estranheza a


muita gente. Mas ao mesmo tempo, além de seus aspectos mais exóti
:os, de seu lado às yezes fora da lei, a vida que levam impressionam
algumas pessoas pelasensação de rebeldia e o sentimento de solidarieda
de que ela produz. A curiosidade de um pesquisador poderia ser incita
la, o que o levará a se interrogar sobre este universo: universo fechado,
todavia, e pouco fácil de captar do exterior. Ora, o que interessa aqui ao
pesquisador é menos as extravagâncias dos indivíduos em relação às
normas de nosso mundo do que o sentido desses gestos no mundo deles.
Como proceder para compreender essa sociedade, do ponto de vista de
seus membros? Como apreender as particulares da cultura destes gru
pos; como apreender seus mecanïsmos e regras de convivência social?
Como estes vivenciam e representam para si essas regras?

Foram os antrcpóbgos
que ebborararn essa
A resposta não é simples: compreender um universo “como ele é” estratégia de pesquisa.
não é julgá-lo ou compará-lo a um outro. Isso supõe, de preferência, que Freqüentemente
hatizada cone
Seja observado do interior. Está aí o princípio fundamental da resquisa ChSC!V3ÇvG faIiC!Pflflt-*.
de natureza antropolócica. Esta estratégia objetiva essenciaLmente o usada
do de anrnos ou de comunidades como meios de vaia nos quais o pescui iniciaimente ra o
estudo de sociedades
Sador integra-se corno punk entre os punks, por exemplo: ele mistura-se primitivas, depois, para
ao quotidiano do grupo, fazendo sua presença tão discreta quanto possf o de diverta.s
ei. e realiza a experiência. conwartiihando a vida, as atividades. os. s.ubcuiturar,
exemplo 050 50010
Comportamentos, até mesmo as atitudes e: os sentimoraos das pessoas
e. Uvseo
eos dea até para
fletue, será ora uma comunidade bem circunsorira, a população de t.ima
t eapiorar ambíectes de
Cidade, de um bairro, de uma vila, o pessoal de urna empresa, uma co- trabalho.
154 LAVILLE & DIONNE

munidade religiosa, ora um grupo menos definido, a população sempre


cambiante dos (invasores) de um prédi&abandonado, por exem
squatters

pio, ou grupos diversos de marginais.


O pesquisador deve se integrar ativamente no “campo” que quer
explorar: ele, aí, não é senão uma testemunha, um peso morto do qual,
de outra parte, muitos meios ãão poderiam se desembaraçar, ou que
suas regras ou tradições impediriam de admitir. Sua integração, sua pari..
cipação nas atividades varia certamente em função do meio abordado e
de seu status nesse meio. Essa participação ocupa todavia uma parte
importante de seu tempo e de seus esforços, parte que ele disputa com a
busca de informações tomando mais rica esta última.
Essa busca tem por objetivo reunir o máximo de dados, O pesquisa
dor não pode, contudo, tudo ver, tudo ouvir, tudo fixar, daí a utilidade de
• li um guia, de uma baliza, papel habitualmente exercido pela pergunta e
• pela hipótese. Nesse caso, porém, sem necessariamente excluir a presen
ça, no início, de uma pergunta ou de uma hipótese precisas, o pesquisa
dor se deixa amiúde orientar por uma preocupação mais geral, seu qua
dro de referência, umaproblernática no interiorda qual perguntas e hip&
teses são esclarecidas pouco a pouco e evoluem ao sabor dos progressos
da aventura.
A estratégia continua muito indutiva, sendo que o procedimento
inscreve-se na “vida real”. O pesquisador aí evolui, tomando nota do
que vê e ouve, fixando o que lhe parece util bem como o que lhe parece
IiflÏT -
negligenciávei:acontecimentos; conversas, anedotas, mas também im
pressões, rumores, fofocas Registra cuidadosamente o maximo desses
elementos em um diário de bordo, tarefa árdua de redação estressante,
11- mas única maneira de registrar a informação necessária à análise. E no
momento do retomo sobre essa informação que ele poderá melhor jul
a verdadeira importância das informações assim obtidas e estabele
gar
cer os vinculos realmente significativos
Essas
informações podem eventualmente ser ennquecidas pelo re
141: curso aos instrumentos mais clássicos como a entrevista, o questïonário,
a análise de documentos... Aqui, tudo depende da maneira como o pesqui
sador se integrou ao meio, principalmente do conhecimento que esse
meio tem de seu de pesquisador.
status

As vantagens, os inconvenient es e os limites da abordagem são em


muito os da observação participativa, que é o instrumento privilegiado
dessa abordagem. Como se disse, esta abordagem pode levara conhecer
os meios, inacessíveis de outta maneira, fornecer informações raras e
que as pessoas desses n’ezos não forneceriam olartanamente Sem con
tar que as revelações então obtidas sâ toletadas no contexto, o quc
permite dar-lhes mais sentido
A riqueza da informação está ligada também ao fato deque se encon
trem os comportamentos reais, freqüentemente distantes dos comporta
mentos verbalizados.
Mas tal tora de 1 rnet’ga; não e neutr’ apesar das prccaucõcs
o
tomadas p&o pesqLlsaaor e d contianca une 1 e e tc emuhada, e’
pe irb’ c rin’ De cn -a par* os L es cm s rân ister se ur
1

iJ
-,_ -

:-_ —

4::’
A CONSTRUÇÃO DO SABER
155
pessoas obtiveram resultados muito diferen
tes ao estudar, no entanto, o
mesmo meio. A isso podem ser acrescentad
os outros possíveis proble
mas, dentre os quais o de um excesso de simpati
a por parte do pesquisa-
dor para com as pessoas bem como sua maneira de viver que ele

observa e que o priva da dist5ncia necessá —

ria para assegurar sua lucidez


e seu sentido crítico. E mais, com uma pesquisa
dessa espécie, os dela
lhés práticos não são simples de acertar: a estr
atégia alonga-se no tem
po, demanda uma disponibilidade de todos
os momentos, pode levar a
viver acontecimeqtos penosos no plano afetivo
... E que dizer da monta-
riba de nados que o pesquisador deverá trat
ar ao término do estudo de
campo!?
De outra parte, tal estrategia não deixa de
levantar algumas ques-
tões no plano ético, Assim, se aceita cada si
vez menos que um pesquisa-
dor se cale sobre seu papel, que os partiei
pantes de uma pesquisa não
sejam informadds sobre isso e não tenham
ocasião de recusar essa partici-
pação. O que pode às vezes ser uma fonte dl
de complicações com as quais
o pesquisador devera conviver pois toda
pesquisa deve manter-se respei-
tosa para com as pessoas que dela partici
pam. Ora, os participantes tra
zem uma contribuição não-negligenciáve
l, é o menos que se pode dizer!

Estudo de caso

Freqüentemente, se ouvirão express


ões do tipo “É um caso!” com o
qualificativo “raro” ou então “grave”, sub -

entendido ou explícito. Os “be


los casos” vão também, é claro, interess
ar pesquisadores que, na defesa
de suas estratégias, previram exatam
ente estudos de caso. A denomina
ção refere-se evidentemente ao estudo
de um caso, talvez o de uma pes
soa, mas também o de um grupo, de
uma comunidade, de um meio, ou
então fará referência a um acontecimento
especial, uma mudança políti-
ca, um conflito...
Tal investigaço permitirá inicialmente
tange diretamente ao caso conside fornecer explicações no que
rado e elementos que lhe marcam o
Contexto. Tomemos como exemplo
o estudo que trata de uma greve parti
cularmente longa e árdua, Para com
preender-lhe os conteúdos e os limi
tes, o pesquisador usou diversas
técnicas de observação, mas também
enUevistas em profundidade com algu
ns protagonistas da greve, dentre
estes, os dirigentes patronais e sind
icais; outras entrevistas mais curtas e
estruturadas com grevistas, par
a conhecer, principalmente, seus recur
sos; da mesma forma, estudou
diversos documentos, leis, convenções
Coletivas, etc, Acoropa;±
ou dia a dia o desenrolar dos accntecime
?Lfl.:)tr a-decisões ntas,
tomadas, as inicarivas urornovidas por cad
etc.
a urna das
As anáiises da idaorrnação assimd acumu
lada permitiram tinr
°nsa série de conciusões, tais corno a evid
énc.ia de cerr.os conluios entre
do e droentes na emprega a tad
eh cree pt
-

Se da força de trabalho dos emp eur


regados.
5
r
U H
t 5 UL i1 ns.i aLtu- Ls,.
e’n 5 tn ta cc o iE.—
o da ao O a 1 OO’9 ei te as 1-;
‘o nrn as conciasõe Pcue-sc cs
le ioga rLsI m’dcr 1
t’e ‘ao da da
Inútil, concernente aos conhecime
ntos sobrn as pessoas ou os tenême-
156 LAVILLE & DIONNE

Se o estudo de caso nos humanos, estes como aquelas conservam sempre características muito
incide sempre sobre um pessoais ou particulares cujo destaque aumenta a compreensão. Assim,
caso particular, o psicólogo que explora a fobia aos cães de que sofre um paciente o
examinado em
profundidade, toda interroga sobre seu passado, seu ambiente, sobre as pessoas que lhe te
forma de generalização riam transmitido esse medo irracional; toma explícitos, assim, aconteci
não é por isso excluida. mentos e influências particulares concernentes a essa pessoa e a ajuda a
Com efeito, um
pesquisador seleciona melhor compreender a si mesma, o que não é um mau servïço a lhe
um caso, na medida em prestar.
que este lhe pareça A vantagem mais marcante dessa estratégia de pesquisa repousa, é
típico, representativo de
outros casos análogos. claro, na possibilidade de aprofundamento que oferece, pois os recursos
As conclusões gerais se vêem concentrados no caso visado, não estando o estudo submetido
que ele tirará deverão, às restrições ligadas à comparação do caso com outros casos. Ao longo
contudo, ser marcadas
pela prudência, da pesquisa, o pesquisador pode, pois, mostrar-se mais criativo, mais
devendo o pesquisador imaginativo; tem mais tempo de adaptar seus instrumentos, modificar
fazer prova de rigor e sua abordagem para explorar elementos imprevistos, precisar alguns
transparência no
momento de detalhes e construir uma compreensão do caso que leve em conta tudo
enuncïá-las. isso, pois ele não mais está atrelado a um protocolo de pesquisa que
deveria permanecer o mais imutável possível. Os elementos imprevis
tos, os detalhes, desse modo melhor conhecidos, podem obrigar a
reexaminar alguns aspectos da teoria que sustenta a investigação: um
caso evidentemente aberrante, de pessoa que sofre de fobia, na qual não
se descobriria, aliás, nenhum traço de traumatismo em relação com sua
fobia, obrigaria, sem dúvida, a interrogar-se sobre várias teoriaspsicoló
gicas e poderia, na seqüência do trabalho, ser a fonte de enriquecimento
e refinamento dessas teorias.
No entanto, o estudo de caso é freqüentemente criticado. A princi
pal censura feita a ele é de resultar em conclusões dificilmente generali
záveis. Mesmo que o pesquisador queira escolher casos representativos
de um conjunto, os que ele considera podem ser marginais, excêntricos,
resultando, afirma-se, que essa abordagem dïficilmente poderá servir à
verificação de hipóteses gerais ou de teorias que ela terá, aliás, contribuído
para fazer melhorar.
E verdade que as conclusões de tal investigação valem de início
para o caso considerado, e nada assegura, a priori, que passam se apli
car a outros casos. Mas também nada o contradiz: pode-se crer que, se
um pesquisador se dedica a um dado caso, é muitas vezes porque ele
. tem razões para considerá-lo como típico de um conjunto mais amplo
do qual se toma o representante, que eI pensa que esse caso pode, por
exemplo, ajudar a melhor cómpreender uma situação ou um fenômeno
complexo, até mesmo um meio, uma época.
Voltemos ao exemplo da greve evocado antes, Para compreender o
fenômeno das greves de uma maneira quê não seja superficial, o pesquisa
dor não pode considerar todas as greves. O campo a levar em conta, que
se verifica imenso e complexo, vai, preferentemente, estudar uma mani
festação particular, mas ele a escolherá como a mais exemplar, consid&
rando o tipo de empresa, as particularidades do meio e outras característi
cas, Levará igualmente em consideração tais características no momem
to de tirar conclusões de suas investigações, de modo a poder eventuaL
mente estendêdas às outras greves. sempre levando em conta, pnidentm
mente, condições diferentes que podem, então, prevalecer. Isso trará nuam
A CONSTRUÇÃO DO SABER 157

ças. a exposição de todas as dimensões ou contexto dessas condições,


em raciocínios muito transparentes e que dependem dessa operação de
objetivação, já tratados em muitas ocasiões.
Tem-se aqui um exemplo em que uma situação se verifica ampla e
complexa demais para ser abordada em seu conjunto, de maneira signifi
cativa. O pesquisador escolhe, pois, considerar um segmento para che
gar a uma visão que não seja superficial e que possa, apesar de tudo,
valer para o conjunto. A escolha do caso, ou dos casos particulares,
exige um cuidado minucioso.
Há OUtrOS fenômenos dos quais já se pdde teruina experiência apre
ciável. Por exemplo, o universo das fobias que os psicólogos conhecem
razoavelmentebem. O estudo dc caso não serve mais então para abordar
a exploração do domínio. E preferentemente usado para o fim de preci
sar os conhecimentos adquiridos, esclarecê-los, aprofundá-los, desta
car, por exemplo, as particularidades ligadas a uma ou outra das fobias,
atualizar a diversidade de suas manifestações em função dos indivíduos.
Outros tantos casos enriquecem os saberes já adquiridos sobre um fenô
meno.
Esses dois exemplos demonstram ainda mais uma vez que o estudo
de caso visa sobretudo à profundidade. Assim, tal estudo bem conduzi
do não poderia se contentar em fornecer uma simples descrição que não
desembocasse em uma explicação, pois, como sempre, o objetivo de
uma pesquisa não é ver, mas, sim, compreender. Essa profundidade liga
da ao caso particular não exclui, contudo, toda forma de generalização.
Isso porque 6 suisàdàr ièhi habitualmente uma idéia clara e precisa
do que pesquisa e sabe escolher casos exemplares para logo considerar
não somente os aspectos que lhe convêm em relação a suas expectativas
ou opiniões, mas todos os que podem se verificar pertinentes. E aí que a
objetivação desempenha um papel central. Encontra-se assim a idéia
dos “belos casos” antes evocada e entendida desta vez no sentido de
Casos típicos, representativos, a partir dos quais o pesquisador pode extra
vasar do particular para o geral.

História de vida
Um pesquisador está intrigado: em urna comunidade indígena, assiste
e ao retomo de pessoas que haviam deixado a reserva no fim de sua
adolescência para irem se integrar no meio dos não-indígenas, onde
se
desenvolveu uma grande parte de sua vida ativa. Agora, no momento de
Sua aDosentadona. elas mudam de novo seu quadro de vida e raencon
caminho de suas
Quais são os elementos motores destesdesiocamentos? O que tradm
Zense..les da identidade pessoal e cultural dessa gente? Corno vêem elas
Seu paei social? Evoluíram se.us o•ntos de vista? Ou
viveram essas
PesscHs urna parte dc sua existêncaem eon-iradi ão com seus valores e
cre.ri:ase Questõe.s
apaixo nomes, para as qpais as respostas, COmO em
rnuit situações, continuarão individuais. Respostas
uue, por outro lado,
essas pessoas teriam dificuldade de exprimir
se as questões fossem pr-o
OOcu diretart
en ‘las —oc’ ç5n me’- tec
r
158 LAVLLLE & DIONNE

veis de lançar uma luz sobre as relações indivíduo-sociedade-cultura.


daí o interesse de ir coletá-las.
Uma estratégia, elaborada por volta da metade do século e em se
guida caída em desuso, há alguns anos revitalizou-se. Esta estratégia,
pela importância que atribui aos indivíduos e à sua vivência, poderia
prestar serviços ao pesquisador à procura de respostas às questões colo.
cadas acima. Batizada de história ou narrativa de vida, pode ser defini.
da como a narração, por uma pessoa, de sua experiência vivida.

‘1 Esta narração é autobiográfica, uma vez que é a própria persona


gem que a constrói e a produz, estimulada, mas o menos possível, influ
enciada ou orientada, pelo pesquisador que deve se mostrar discreto, O
ponto de vista deve continuar o do autor-participante. A narrativa será
forçosamente um amálgama de fatos de toda natureza, de julgamentos,
de interpretações, que interessará tanto ao historiador apaixonado por
“pequena história” para esclarecer a “grande”, quanto ao homem de le
tras, o psicólogo e, claro, as pessoas preocupadas com os fenômenos
sociológicos e culturais como nosso pesquisador, intrigado pelo retomo
dos indígenas ao rebanho.
A história de vida, Como se desenvolve uma pesquisa baseada na história de vida? Do
como qualquer outro lado do pesquisador, ela é evidentemente guiada por uma ou algumas
material empírico, interrogações e mesmo algumas hipóteses inscritas em uma dada proble
permanece muda
qtiando privada de mática. Mas o papel desses elementos, sempre capital, verifica-se em
problematizaçáo, certos momentos mais discreto que em outras formas de pesquisa.
No início, essas perguntas e hipóteses servem para selecionar algu
mas escolhas; inicialmente a de um ou vários participantes (uma vez
que com mais freqüência se falará dc pesquisa baseada em histórias de
vida) e escolhas também do que é abordado. Em nosso exemplo, toda a
vida dos indígenas escolhidos pode ser abrangida, ao passo que em ou
tras pesquisas o pesquisador se limitará a uma parte dessa vida, que
corresponde aos seus interesses e às suas necessidades.
Depois, vem o momento da narração proubamente dita. A tarefa do
sesquisador é de se apanar o mais possível diante do autor e seu relatoS
5
evitar toda intervenção que possa fazer desviar a trama: mesmo pedidos
de explicações correm o risco de impeiir o autorpartioipante a atribuir
*
Lh.
E
A CONSTRUÇÃO DO SABER 159

mais importância a alguns elementos, o que ele normalmente não teria


feitô. No máximo, aceitam-se algumas perguntas que visam a fazer pre
jsar alguns detalhes factuais sobre datas, os lugares, as pessoas envol
0
vidas..., questões cujas respostas constam de algumas palavras e correm
menos o risco de perturbar o desenrolar do relato. Senão, o pesquisador
se contentará em repor o participante nos trilhos (“Você me contava
então que...” retomando evenrualmente as últimas palavras pronuncia
das), em incentivá-lo a prosseguir (“E então, o que aconteceu em segui
da?”). Está visto: problema, questão, hipótese se dissimulam atrás de
urna forma de neutralidade operatória, uma Torma não-direta que afasta
o menor sinal ou comentário que possa comportar uma forma de julga
mento, devendo se manifestar somente um interesse geral pelo que é
dito.
A narração devidarnente registrada, depois transcrita — a menos,
que o participante tenha ele mesmo escrito um texto a seu modo —, o
pesquisador decide, em seguida, completar suas informações por meio
de uma entrevista mais estruturada, que se apóia no relato e na qual
pode mais levar em conta suas questões e suas preocupações. Depois, os
textos assim coletados são normalmente submetidos a uma análise em
que são aplicadas as técnicas correntes de análise de documentos ou de
discurso descritas no capítulo 8.
Os documentos redigidos a partir das histórias de vida são, muitas
vezes, extremamente vivos: neles descobrem-se pontos de vista origi
nais sobre experiências pessoais, até mesmo íntimas em detalhes, nas
quais se delineiam, de modo implícito às vezes, acontecimentos, se não
históricos, pelo menos públicos, uma organização social e cultural que
vive e evolui quando não é subitamente modificada. Obtêm-se assim
belas ocasiões de compreender como as pessoas representam esses fe
nômenos e acontecimentos históricos, sociais ou culturais, como passa
ram por eles, vividos na indiferença ou em uma participação mais ativa.
E uma maneira de recolocar o indivíduo no social e na história: inscrita
entre a análise psiológiea individual e a dos sistemas soeioculturais, a
história de vida permite captas de que modo indivíduos fazem a história
e modelam sua sociedade, sendo também modelados por ela.
Mas essa maneira, às vezes, não é muito bem aceita como estratégia
de pesquisa, criticando alguns sua estrutura um pouco imprecisa, princi
palmente quando o pesquisador coloca-se na retaguarda, no momento
da construção do relato pelo participante, deixando uma grande liberda
de a este como narrador. Em contrapartida, se é certo que problemática,
questão e hipótese fazem sentir menos sua presença no momento em
o narrador se expressa, essa :rescnça torna-se nitísiamente mais for
te nas etr4nas subse.aüentes da leitura e da análise dessa
narrativa.
Censora-se na nsona d qia a ausência de dastarcia erro do nafli- Cee<eo e da
ipante frente ao objeto de seu discurso; ele raramente pode, com ciNto,
5 possíbihdade de
‘ar(1 to’a er— -Jaoá ue ele t amC’ r Ç( ‘rs epcrên- nerahzc- par
aO 1 -

oor sua t na natureza. o prcxeeoinscn:to não sura


pro
o
- a ãu 5CfOL L_C sitntea
‘-ou a questao, constantemente colocaca, da representatsvidade dessas 2
o dera ‘o ur
serma de eswdo de
Pessoas, da generalização sempre delicada já evocada, tratando-se do raso.
160 LAVILLE & DioNris

estudo de caso. Sobretudo de que as análises de histórias de vida ficam


freqüentemente muito limitadas, aparecendo efltão os relatos mais como
simples imagens a observar e mais nada, Sabe-se no entanto que a fun,
ção da pesquisa não é a de simplesmente descrever o observado, mas
sim compreendê-lo, como já se assinalou em outras ocasiões.

Este capítulo sobre as estratégias de pesquisa nas ciências humanas


encerra-se aqui: não porque a lista seja exaustiva — como, na verdade,
falar de exaustividade em um domínio em que a imaginação terá sempre
um papel a desempenhar? — mas porque o essencial nos parece dito.
Neste capítulo, constatamos que de um mesmo problema podem
emergir questões diversas que conduzem a hipóteses diferentes. A veri
ficação dessas hipóteses exige informações cuja natureza varia, o que
nos levou a distinguir duas grandes categorias de pesquisa, aquelas em
que os dados são engendrados ou criados pela experiência e aquelas
baseadas em dados existentes.
Os dados criados supõem uma intervenção sobre o real, tendo em
vista verificar a existência de uma relação de causa e efeito. O pesquisa-
dor atua sobre a variável dita independente associada à causa, para ava
liar, habitualmente de modo quantitativo, os efeitos produzidos sobre a
variável dependente ligada ao efeito, Consideramos diversos esquemas
de experimentação possíveis. Com essas estratégias, o pesquisador visa
o
a isolar o melhor possível essa causa e seu efeito, levando em conta,
mais estritamente que possa imposições da realida de e sabend o que
nenhuma abordagem, por mais sofisticada que pareça. assegura certeza
absoluta em matéria de relação causal.
As pesquisas corri dados existentes prendem-se menos a uma explica
linear
ção das situações e dos fenômenos sob b ângulo da causalidade
do que ao esclarecimento de diferentes aspectos ou fatores que podem
uma
contribuir para a sua compreensão, Sem modificar o real através de
sa de
intervenção, estratégias corno o estudo de correlações, a pesqui
caso
opinião, a enquete. a abordagem de tipo antropológico, o estudo de
ou hist5ria de ‘uda isam a explorar-lhe as
‘ oropbe dades e caracre rfst
cas experimentando considerar toda a. sua complexidade.
1
A CONSTRUÇÃO DO SABER
161
Essas estratégias de verificação demandam que se apele a técnica
s
e instrumentos, o que assinalamos várias vezes. Constatar-se-á que essa
exigência nem sempre permite distinguir facilmente estratégias e técni
cas, como no caso da pesquisa antropológica, freqüentemente designa-
da pela técnica de observação participante que a caracteriza, O próximo
capítulo abordará essas técnicas e os instrumentos de coleta da informa ii
ção, que constituem o arsenal dos pesquisadores em ciências humanas. -ti
Depois virá o tempo da análise e das conclusões: essa será a proposta do
capítulo 8.
1
PRATICA
•0 a
SEGUNDA ETAPA DO TRABALHO DE PESQUISA (1):
PREPARAÇÃO DE SUA ESTRATÉGIA

Eis aqui surnariamente apresentados alguns projetos de pesqui


sa sob
forma de perguntas. Trata-se de explicar brevemente que estraté
gia de
verificação parece apropriada a cada um. Como acontece muitas vezes, 1
as estratégias possíveis não são únicas: quando você achou uma,
veja se
não existem outras delas. Depois, para cada uma, pergunte-se
se há difi
culdades a prever e precauções a tomar que permitiam contor
nar ou ate
nuar essas dificuldades. Assim, você será levado, talvez,
mas variantes das estratégias; se não, você circunscreverá
as forças e os limites: é em função destes que você deve
a ajustar algu
tudo, menos :1
fixar ejustificar -1
explicitamente sua escolha.
As perguntas que seguem apresentam-se, às vezes, vagas
demais
para constituir realmente questões de pesquisa; você sentirá
então neces
sidade de precisá-las, enunciando, por exemplo, uma
ou algumas hipóte
ses, Não hesite também em situar o contexto
no qual a pesquisa poderia i
ser conduzida: como a hipótese, cste pode ,

trazer algumas obrigações


que o ajudado a orientar sua estratégia.

Projeto 1
A omanj7acn
de cm comitê de “boa v:z:nhanca” coe assocora orinci
:c—- ooaasS
r
oLLiguos ommdo da ausencla dos morde ,4 5
res, fana diminuir o nun.iero
de Orrienavei Dhjpnns
1
no bairro todos os 1
iir
n s?

Projeto 2

uar.tes
JiinS000 00 na unguuporwguoua
IuoO - -
-

O.SCí]-tO nnae o-s -

esw
-4
upj-v-
5
ijn5s: e mito ou realidade?
r
162 LAVILLE & DI0NNE

Projeto 3
Viver com um filho autista: como pais conciliaram as exigências dos
cuidados físicos e afetivos, da vigilância, etc., com as obrigações de sua
própria vida, trabalho, educação dos outros filhos da família, vida social
e afetiva...?

Projeto 4
Um programa de educação sexual no colégio levaria os estudantes a
melhor se protegerem por ocasião das relações sexuais?

Projeto 5
As moças que se orientam para carreiras não-tradicionais são diferentes
das outras: mais dinâmicas, mais independentes, menos conformistas?

Projeto 6
Como se vê a si mesmo o pai de família? Como um educador? Como um
provedor de recursos? Os dois? Diferentemente? E como os membros
de sua família o vêem?

Projeto 7
Por que os adolescentes se lançam sem proteção em sua primeira rela
ção sexual?

Projeto 8
Vêem-se freqüentemente preços exibidos: R$ 7,95, R$ 10,95... Fazer com
que jovens consumidores notem que preços de R$l,95 ou R$2,95 estão
bem mais próximos de R$ 2 e R$ 3 do que de R$ 1 ou R$ 2 os levaria a
julgar mais adequadamente suas despesas?

Projeto 9
É verdade que vivemos em uma sociedade cada vez mais violenta e
perigosa?

Projeto 10
Todos os anos, a imprensafalada volta dos “gaivotas” à praçade YouvilLe,
de
no Québec: os que ela designa assim não são pássaros, mas jovens
mais
13-14 anos, às vezes marginais por seu cabelo e suas roupas, mas
que
ainda pela vida que levam. Quem são eles? O que procuram ? O
esperam? Quais silo seus valores? Como os vivem? O que é,
finalmente,
‘e r
A CONSTRUÇÃO DO SABER
163
Projeto 11
A instalação de uma passagem para pedestre prote
gida por sinais lumi
nosos permitiria diminuir o número de acidentes
que envolvem pedes
tres em tal cruzamento especialmente perigoso?

Projeto 12
Um curso de metodologia da pesquisa prepara
os estudantes universirá
rios para tirar mais proveito de suas aprentliz
agens ulteriores?

Projeto 13
Qual é a atuação do meio social na decisão das
jovens mães solteiras de
ficar com seu bebé em vez de dá-lo em adoç
ão?

Projeto 14
Os manuais usados nos colégios são sexis
tas?

À lista desses projetos você já pode acrescentar


preparar a verificação de sua hipótese de o seu e começar a
trabalho respondendo às mes
mas perguntas: A que tipo de dados
você prevê que deva apelar? Que
estratégia você selecionaria? Há outras
opções põssíVëis? Qüài&ãs difi
culdades que você teme? Seria possível
reduzi-las ou contorná-las?...

.4
1

CAPÍTULO

Em Busca de Informações

A informação constitui sempre a provisão de base dos trabalhos de


pesquisa. E sobre ela que se estabelecem, de uma parte, o procedimento,
principalmente indutivo, de construção do problema e da hipótese e, de Se as informações
t
outra, aquele, de preferência dedutivo, de verificação dessa hipótese. empregadas no início
da pesquisa são, às
Na primeira seção deste capítulo, nos deteremos nas fontes dessas Vezes, vagas ou
informações: essas fontes podem ser pessoas, claro, mas muito incompletas, a coleta f!1
freqüentemente serão documentos de várias naturezas. As outras seções dos dados necessários à
etapa da verificação
do capítulo serãO deditadas às niúltiplãs téõnicãs e instrúmentos que deve ser sistemática,
servem para a coleta desses dados: a segunda tratará da passagem da ordenada e a mais
hipótese aos indicadores e variáveis, etapa obrigatória da escolha e da completa possível.
elaboração das técnicas e instrumentos, que aparecerão em seguida na
terceira e última seção do capítulo.

O :0 310F0Sc:.
166 LAVILLE & DIONNE

FONTES DE INFORMAÇÕES

Certamente não há surpresa no fato de ver seres humanos empenhados


em contribuir para a pesquisa em ciências humanas. Contudo, as modali..
dades dessa contribuição surpreenderão às vezes. Contrariamente ao que
muitos acreditam, as pesquisas nas quais as pessoas são atingidas mcii..
retamente, a partir de documentos termo que engloba todas as formas

de traços humanos —, são as mais numerosas no campo das ciências


humanas. Não é, portanto, ao acaso que começáremos por abordar a
fonte documental de dados, antes de passarmos às questões relativas à
população e amostra.

Pesquisas com base documental


Um pesquisador precisava conhecer as emissoras de rádio preferidas
dos automobilistas. Uma pesquisa de opinião junto a essas pessoas lhe
parecia difícil de realizar; teve então a idéia de pedir aos frentistas de
postos de gasolina, que observando os painéis dos carros que passavam
por suas mãos anotassem a estação radiofônica em que estavam sinto
nizados os rádios dos mesmos sem, no entanto, perguntar diretamente
aos motoristas. Documento de forma inabitual, mas que forneceu ao
pesquisadoros da ecessários na tarefa muitas vezes árdua de coleta
de informações. A imaginação constitui um elemento eficaz, até mesmo
insubstituível!
Esse exemplo mostra que um documento pode ser algo mais do que
um pergaminho poeirento: o termo designa toda fonte de informações já
existente. Pensa-se, é claro, nos documentos impressos, mas também
em tudo que se pode extrair dos recursos audiovisuais e, como ilustrado
no capítulo anterior, em todo vestígio deixado pelo homem.
Entre as fontes impressas, distinguem-se vários tipos de documen
tos, desde as publicações de organismos que definem orientações, enun
ciam políticas, expõem projetos, prestam conta de realizações, até do
cumentos pessoais, diários íntimos, correspondência e outros escritos
em que as pessoas contam suas experiências, descrevem suas emoções,
expressam a percepção que têm de si mesmas. Passando por diversos
tipos de dossiês que apresentam dados sobre a educação, a justiça, a
saude, as relações de trabalho, &jcondições econômicas, etc,, sem esque
cer os artigos dejornais e periódicos nem as diversas publicações cientí
ficas: revistas, atas de congressos e colóquios.
Notemos de passagem que os dados estatísticos desempenham im
portante papel em muitas pesquisas. Os organismos nacionais ou inter
nacionais são pródigos neles, a tal ponto que a maioria dos aspectos
socioecQnômicos de nossas vidas são objeto de tais dados: recenseamen
tos que comportam informações sobre a idade, o sexo, a organização
familiar, o local de residência, a língua de uso e estatísticas .sobre a saú
de, a economia,. a educsção.,,; pouc.as coisas escapam aos bancos de
dados numéricos
4
A CONSTRUÇÃO DO SABER 167

O pesquisador pode ter todo o interesse em tirar proveito disso, na


medida das necessidades de seu projeto: tais dados já coletados lhe ais
tam pouco, tanto em esforços quanto em dinheiro. São, com freqüência,
de fácil acesso e ele raramente terá de trabalhar com grandes quantida
des de números brutos: repertórios como o Anuário estatístico da
UNESCO e o Anuário do IBGE apresentam dados já tratados e organi
zados, muitas vezes com textos que analisam vários aspectos das reali
dades econômicas, políticas ou sociais e sua evolução. E, aliás, uma das
vantagens de tais repertórios: como são publicados a intervalos regula
res, permitem seguir a evolução dos fenômenos e das situações no tempo.
Acrescentemos, enfim, que um conjunto de bancos de dados criado
pelo IRGE, reunindo informações estatísticas relativas à economia, à
demografia, à geografia e a outros, encontra-se disponível através da
Internei
Os documentos sonoros e visuais são também portadores de infor
mações úteis, ainda que ocupem menos espaço que os anteriores no cam
po da pesquisa. Dentre esses documentos, colocam-se os discos e fitas
magnéticas, as fotos, pinturas, desenhos, os filmes e vídeos, etc, Em
suma, tudo o qüe, em suporte audiovisual, pode veicular informaçõe-s
sobre o humano. Pode-se encontrar esses documentos nos serviços ra
diofônicos e televisivos, junto a organismos ligados ao cincma como a
Cinemateca do Museu de Arte Moderna e o Museu da Imagem e do
Sorri, ambos no Rio de Janeiro, bem como a Fundação Roberto Marinho
e a Fundação Padre Anchieta que produzem urna infinidade de docu
mentários sobre vários aspectos da vida brasileira. Inúmeras bibliotecas
oferecem, aliás, serviços de empréstimo de filmes: algumas compreen
dem uma fototeca.
i\las. em comi, esses eccumentos são do acosse mais dtfícil do oco
se mostrara uso moeri:s cemeco: no mc—
satacece
- e ti:everasv cc -

nsais u.suai dc escdto,


Mas pouco importa sua forma, os documentos acartam infórmação
O
, rhoos estão ‘a resma fazer au t os msto(,
r rnca-
1
Julgar sua qualidade em função das necessidades da pesquisa, codifieá
105 o
eategorizá-Ioaz, Onde, nesse caso, traças- o limite entas a coleta e
i68 LAVILLE & DI0NNE

a análise? Pois atribuir um código, associar a uma categoria, já é anal


js
ou até interpretar. Para simplificar, pode-se concluir que a coleta da inforrp
,
2
ção resume-se em reunir os documentos, em descrever ou transcrever
even
tualmente seu conteúdo e talvez em efetuar uma primeira ordenação
das
informações para selecionar aquelas que parecem pertinentes. A
seqüência
depende da análise de conteúdó que abordaremos no próximo capítulo.

População e amostra

A importância dos documentos nas pesquisas em ciências humanas


não
descarta todo recurso direto às pessoas: estas se mostram freqüentemen
te
a fonte melhor adaptada às necessidades de informação do pesqui
sador.
O que leva a algumas considerações sobre a escolha dessas pessoas
que
serão observadas ou interrogadas, selecionando, às vezes,
alguns indiví
duos, ou então populações inteiras, ou ainda panes dessas, Um exemp
lc.
nos servirá para descrever tudo isso.
Conhecem-se as dificuldades experimentadas no recrutamento
de
médicos para as regiões interioranas do país.
Uma questão prática impõe-se: em que condição(ões) médicos dos
grandes centros aceitariam exercer sua profissão nas regiões interio
ranas?
Para conhecer essas condições, o mais simples ainda
é perguntar
aos próprios médicos. Poder-se-ia questionar somente alguns deles,
o
que permitiria estudar suas motivações profundas. Mas a questão colo
cada visa à solução de um problema e exige respostas mais globai
s,
mais gerais. Preferir-se-á também, às vezes, submeter nossas questõ
es
ao conjunto da população abrangida na pesquisa, que deve ser definid
a
com precisão: trata-se de todos os médicos, especialistas e clínicos ge
rais? Incluem-se os estudantes de medicina? Que se entende por “gran
de centro”? São Paulo? São Paulo e bairros da periferia (até onde)?
Todo o estado de São Paulo?
Mas nem sempre é fácil nem mesmo possível alcançar
assim toda
uma população. Diversos embaraços freqüentemente levam a se n’aba-

Documentos e dados criados


Poder-se-ia ter uma pesquisa de base documental que seja com dados
contraditória, sendo os documentos, dissemos, fontes já existentes de dados.
criados? A idéia parece a prion
Mas não se deve confundir fontes existentes de dados e fontes de
documentos não são arquivos ultrapassados, mas veículos vivos de informdados existentes. Vimos que os
ação. Imaginemos que um pes
quisador queira saber se uma mudança de programaçâo objetando melhor
automobilistas os leva a escutar mais tal estação de rádio. Ele pode, por responder às necessidades dos
exemplo, pedir aos garagistas que
anotem a freqüência sintonizada nos receptores radiofônicos dos carros
que passam por suas mãos. De
pois, após a mudança na programação, ele procede, sempre da mesma
dados a fim de verificar se os hábitos mudaram, maneira, a uma nova coleta dc
Poderosa irragir.ar tamcém esqu aserr oca se usarac ccurcentcs mais
‘c!ãsshjos’, as rddas, cc:
para u!car a irficierciade croa car cc-r.ha de ccbl7.cibcde anti -racista
, esume ranco a r’cacLOaO
de choques referidos anfts e depois dessa campanha. Poder-se-ia até observ
uma retomada da campanha restabelecerá esse efeito. Não é mane ra h.ahitu ar se o efeito dura no tempo, se
a! dd proceder, mas uma ta
maneira nodo fornecer ndicaçõcs úteis com cequeno custo
.--

Ir:

Ld E
A CONSTRUÇÃO DO SABER 169

lhar apenas com uma parte, uma amostra dessa população. Salvo que se
desejem, ainda assim, conclusões que se apliquem ao conjunto: é preci
so, portanto, uma amostra que seja representativa da população, isto é,
que forneça dela uma imagem fiel.
O caráter representativo de uma amostra depende evidentemente
da maneira pela qual ela é estabelecida. Diversas técnicas foram elabora
das para assegurar tanto quanto possível tal representatividade; mas,
apesar de seu requinte, que permite diminuir muitas vezes os erros de
amostragem, ist.o é, as diferenças entre as características da amostra e as
da população dè que foi tirada, tais erro continuam sempre possíveis,
incitando os pesquisadores a exercer vigilância e seu senso crítico.
No que se segue, vamos apresentar sucintamente os principais tipos
de amostras, ditos probabilistas ou não-probabilistas, conforme suas téc
nicas de formação apelem ou não ao acaso. Precisemos que o termo
acaso deve ser compreendido aqui no sentido matemático: a amostra de
médicos será realmente formada ao acaso se todos têm uma oportunida
de igual de fazer parte dela. Contudo, há casos em que o objetivo da AMOSTRA
PROBABILISTA Amostra
pesquisa exige aumentar uma parte da população-alvo — o subgrupo da qual todos os
dos médicos que faz tal especialidade, por exemplo. Alguns processos elementos de uma
de amostragem o permitem, processos que permanecem probabilistas população têm
oportunidade
na medida em que o acaso desempenha sempre neles um papel central. conhecida e não-nula
Ademais, para falar de amostra probabilista bastará exigir-se que todos de fazer parte. Uma
os membros da população tenham uma oportunidade conhecida e não- amostra que não tenha
nula de pertencer à amostra. Pegar a lista telefônica dos médicos e apon essas características é
dita Não-Probabilista.
tar seus nomes “ao acaso”, nas páginas, não é suficiente para formar
uma amostra probabilista, isto porque alguns médicos não têm seu nú
mero de telefone nela publicado.
170 LAVILLE & DLONNE

Amostras não-probabilistas
T
As amostras não-probabilistas são as mais simples de compor. Sua quali..
dade, contudo, é desigual e a generalização das conclusões mostra..s
delicada, principalmente porque é impossível medir o erro de amostra.
gem.
A primeira e menos requintada dessas’é a amostra dita acidentai.
escolhem-se simplesmente os médicos encontrados até o momento em
que se estima ter interrogado suficientemente. Alguns não têm evidente
mente chance de serem selecionados, ao passo que outros, que traba
lham na vizinhança do pesquisador, por exemplo, quase não podem es.
capar disso. Segundo os modos de escolha e do meio pesquisado, as
respostas obtidas correm o risco de ir em direções muito particulares e
de representar muito mal a opinião do conjunto dos médicos.
As vezes, quando a participação na pesquisa é exigente, ou por ra
zões éticas, o tema abordado for delicado, apelar-se-á a uma amostra de
voluntários fazendo um apelo para reunir pessoas que aceitem partici
par. O problema é que as pessoas têm então esta característica de serem
voluntárias, o que, ainda aí, pode tomar ocasional a generalização das
conclus6es. Todavia, nem sempre é uma desvantagem importante.
Outras amostras são formadas em função de escolhas explícitas do
pesquisador. Eo caso da amostra típica, em que, a partir das necessida
des de seu estudo, o pesquisador seleciona casos julgados exemplares
ou típicos da população-alvo ou de uma parte desta: assim, ele poderia
interrogar médicos que não querem de forma alguma deixar os grandes
centros, para identificar vários dos obstáculos ao recrutamento de efetivos
para as regiões.
A amostra por quotas depende de uma outra técnica em que o pesqui
sador intervém, desta vez para obter uma representação, a mais fiel possí
- vel, da população estudada. Seleciona um certo número de caracterfsti
Na formaçao de urna cas conhecidas dessa população, o número de clínicos g&ais e de médi
QUOTAS, o acaso não cos de cada especialidade, por exemplo, categorização que ele pode apri
desempenha papel morar, fazendo intervir outras variáveis como o sexo ou as faixas de
algum. Para aumentar a idade, Depois, para cada uma das combinações, determina a proporção
representatividade das ,. . — . -. -

pessoas esco’hidas de medicos que as compoem no conjunto da populaçao, para respeitar


subgrupos, o essa proporção no nível da amostra. Assim, se ele sabe que 2% dos
pesquisador pode, médicos do arande centro são uroloaistas homens, de 25 a 34 anos, esco
,
O
contudo, decidir faze-la -

lhera, com o auxilio de uma das tecnicas anteriores, urologistas homens


,

intrvir: é a técnica de
arnostragem por estrato de 25 a 34 anos para formar 2% de sua amostra. Contudo, persiste um
que Lera tratada em problema, o da representatividade dos eleitos que, dentro de cada sub
seguida.
grupo, nao sao mais escolhidos ao acaso,

Amostras probabilistas
Urna amostra probabilista é composta a partir de uma escolha ao acaso,
tenda todos os dementes da poouia;ão uma chance real e conhecida de
seiecic::adc:s esse cerjiecme:ea cas L:urli dc’ cada
‘permite ao pes.quisador calcuiarc:: errde amostragem, isto é, avaliar os
riscos de se enaanar, generalizando para toda a popuiaçao as conclusoes
de seu estud.o sobre a amostra. Estima-se tambem que as tecnlcas em
A CONSTRUÇÃO DO SABER 171

jogo oferecem melhores garantias de objetividade, sendo o acaso, e não


as preferências ou os caprichos do pesquisador o fator determinante na
escolha das pessoas.
A amostra aleatória simples é a mais elementar das amostras pro
babilistas. Todos os médicos têm aqui a mesma oportunidade de ser
selecionados: como se fossçm escolhidos tirando-se seu nome de um AMOSTRA ALEATÓRIA
SIMPLES. Amostra
chapéu. Na prática, o procedimento é um pouco diferente, listando-se os probabilista formada
membros da população-alvo e atribuindo um número a cada um; o sor por sorteio, concedendo
teio é então reali
zado com a ajuda de uma tabela de números aleatórios.
1 a todos os elementos da
população uma
A técnica da amostragem por grupos igualmente apóiaLse no acaso, oportunidade igual de
mas nela selecionam-se grupos em Vez de indivíduos. Efetua-se então a serem escolhidos.
pesquisa, seja com o grupos inteiros, seja com uma parte dos elemen AMOSTRA POR
tos que os compõem. Pode-se até proceder a uma cascata de escolhas: GRUPOS, Amostra
selecionar, por exemplo, cinco bairros tomados ao acaso na cidade, de probabilista formada
pela seleção de
pois, sempre ao acaso, duas clínicas por bairro e quatro médicos por agniparnentos de
clínica. A vantagem dessa maneira de proceder, em que um médico é elementos (e.
escolhido após três tiragens aleatórias simples, é evitar a labuta, às ve eventualmente, por
diversas ordens de
zes fastidiosa, de fazer a lista completa dos médicos. Em contrapartida, subgrupos) em cujo
o recurso a três amostragens sucessivas aumenta os riscos de erros da interior serão
amostra. finalmente escolhidos
de modo aleatório.
A última técnica, a da amostragem por estratos, é a mais requinta
da: divide-se a população, a de nossos médicos, por exemplo, em estra
tos ou subgrupos em função de certas características úteis aos fins do
estudo, como foi feito na amostragem por quotas, para em seguida esta AMOSTRA POR
ESTRATOS:Amostra
belecer uma amostra aleatória de cada um desses estratos. Essa maneira probabilista cujos
de fazer permite principalmente reduzir o erro de amostragem sem au elementos são
mentar a extensão da amostra global. Será usada também para comparar escolhidos
aleatoriamente no
diversos subgrupos entre si: isso leva, às vezes, um pesquisador a extra interior de estratos ou
ir subamostras cujas extensões não serão proporcionais às dos estratos subgrupos, definidos
correspondentes, quando um desses estratos, importante para o estudo, por uma ou mais
características
não o é por sua grandeza em relação aos outros. -

particulares.
Esses são os principais tipos de amostragem. Não entramos aqui no
detalhe das técnicas e instrumentos matemáticos de que dispõe o pes
quisador para praticá-los, pois existem manuais de fácil acesso que tra-’
tain disso, O essencial para nós é fixai’ que existem múltiplas maneiras
-de formar uma amostra. Nossa escolha nessa matéria será determinada
em fúnção das necessidades da hipótese e das exigências de sua verifi
cação, do grau de generalização pretendido, levando em conta, de outra
parte, as’contingências mais terra-a-terra de tempo e de custo. As vezes,
uma amostra de voluntários ou uma amostra típica serão perfeitamente
Convenientes, ao passo que outras pesquisas demandarão uma ou outra Norma’mente, quanto
lOrma de amostra probabilista. A natureza e o grau de homogeneidade maior o tamanho da
da população-alvo devem também ser coásiderados neste capítulo, como amostra, mais forte é
sua representatividade,
flo do tamanho da amostra: quanto maior a homogeneidade, menor poderá pois as peculiaridades
ser a amostra, sem que sua representatividade qualidade essencial de são diluídas na massa.
qualquer amostra A rigor, a amostra
— se encontre gravemente afetada por isso, Mas pou perfeitamente
co Importa o modo de amostragem escolhido, udo há nessa matéria de
representativa
sepresentatividade como em muitas outras, nenhuma certeza absoluta, compreenderia toda a
Isso encerra nossa b-reve panorâmica das fontes de informações: os população.
ocumentos. de um lado, vestígios escritos, sonoros, Pisuais ou outros,
172 LAVILLE & DI0NNE

da presença e da atividade humana; de outro jado, os próprios sere5


humanos, que serão observados ou interrogado&selecionando-se Popu
lações inteiras, quando de tamanho razoável, ou então, em outros mo
mentos, amostra simplesmentë de alguns indivíduos. Mas, para assim
observar ou interrogar é preciso instrumentos: é na sua preparação que
nos deteremos na seção que se segue, antes de descrevê-los na que Virá
em seguida.

Quadro operacional da pesquisa


Uma vez bem determinadas as fontes de dados necessários à verjfjca
ção, vem o tempo de preparar a coleta e o tratamento desses dados. Á
hipótese guiará essa busca de informações, ao termo da qual a análise
permitirá ver se ela resiste à prova dos fatos. Mas é preciso antes trans
por uma etapa delicada: a elaboração do quadro operacional da pesqu[
sa. O exemplo que segue permitirá compreender do que se trata.

FANATISMO

Ritual de fogo
Seita apacalípti cci deixe, ir ais
cleces.veis Inortov na França
conteceti de novo. niais de uni
A
S
depois (lZt morte dc 53
UI1( 3
ti iça C Onici
Pouco
JC5SOUS tia
3(3 o do Tem pio
CLtiladi. a
S;.lai. mmi das seitt apocalipticas que
prc)liftl;im pelo I33LII1LILJ. voltou a jiidutir
Uliu, inigetlia spjos. A ja)IIL’III lnnc
descobriu no dia 22. num bosque na

Revista Veja, 03/01/96

Uru pesquisador, horrorizado com o suicídio coletivo de adeptos de


alguma seita, escolheu estudaradependência dessas pessoas em relação
ao grupo em que se integraram, a ponto de chegar a esse funesto extre
ruo. Sua hipótese é, na verdade, que com o tempo, a perda de autonomia
dos membros dessa seita torna-se tal QUe flO pedem mais escapar de
rc’:’:e:::e. rej’c a:i efe e; nLs;z e
A CONSTRUÇÃO no SABER 177

Observação estruturada
pio fim de um estudo sobre o consumo, um pesquisador quer conhecer o
comportamento dos clientes ante a exposição dos cereais, O meio mais
seguro para alcançar esse objetivo é constatar diretamente o que se passa.
Duas condições especiais são aqui atendidas: o pesquisadorconhe
ce bem o contexto em que vai operar e conhece também os aspectos que
deverão chamar sua atenção no comportamento das pessoas. Pode, por
tanto, prepararnm piano bem determinado de observação: adaptado às
circunstâncias e ao objeto de estudo, ese instrumento vai permitir-lhe
fazer uma ordenação de dados antecipada dentre o fluxo de informações
e selecionar as que são pertinentes.
A construção desse instrumento alicerça-se evidentemente na hipó
tese, a serviço da qual, dizíamos na introdução, deve se colocar a observa
ção. Mas como não são conceitos, mas, antes, atitudes e gestos reais e
concretos que são observados, é por intermédio de seus indicadores que
a hipótese suportará o instrumento.
Segundo a natureza do problema abordado e as condições de investi
gação, o instrumento pode assumir diversas formas. As vezes é muito
aberto, deixando ao observador uma grande margem na escolha e maneira
de anotar as informações. Em contrapartida, como em nosso exemplo,
pode também assumir a forma de uma grade fechada em que os comporta
mentos se vêem previamente definidos, de tal modo que o observador
freqüentemente deve apenas assinalá-los para registrar sua presença.
Na prática, para bem delimitar a situação em estudo, a grade se
aterá a duas grandes categorias de informações. A primeira dessas catego
rias agrupa os esclarecimentos de natureza contextual: descrição dos
locais, das pessoas observadas e das razões de sua presença. Assim,
para os locais, deverá ser precisado o tipo de estabelecimento considerado
(supermercado, loja de conveniência...), a arrumação da vitrine (modo
de classificação dos produtos, exibição dos preços.,.), etc. Quanto aos
clientes, serão anotados seu sexo, idade aproximada, o fato de que este
jam ou não acompanhados,,.
A segunda categoria diz respeito mais diretamente aos comporta
mentos desses clientes consumidores. Aí se encontram infonnações so
bre sua passagem diante das prateleiras (duração, com ou sem parada,
Com ou sem escolha de um produto.,.), sobre a maneira pela qual se
eretuon a escolha (em função dos tipos de cereais, das marcas, dos pre
ços...), etc.
Conforme sua natureza, as informações serão ora registradas assina-
ando_se campos (marcando cem cruzinhas). ou então assinalando-se
irta pos:cão em urna escaN. As vezes, alaurnn.s linias permitirão
ao
serqador Inscrever anotacõe.s especia. O esboço de uma onde é apre
àpászina 179. •
Urna grade desse tipo é acompanhada habitualmente por diretivas •1
Sobre sua utilização, sobretudo se não foi o observador que concebeu o • •:
1•
flstnJmento Determina-se. por exemplo, ohse.rvar a quints- pessoa que .ii
UtIeg diante da vitrjne 5
após o fim da observacão anteor: caso se trate
Um c-am,i e.seoihera nes:soa cue detém. a lista da mercearia, ou se

‘1
178 LAVILLE & DI0NNE

Indica-se como situar as pessoas nas escalas,que espécies de coment4


rios são esperados, etc. Olhando-se esse exemplo, compreende-se facil.
mente por que se fala de observação estruturada: o observador tem sua
atenção centrada em aspectos da situação que estão explicitamente deflnj
dos e para os quais são previstos modos de registro simples, rápidos
que não apelam para a memória e que reduzem os riscos de equívoco.
Essa maneira de proceder apresenta muitas vantagens, Assim, a in
fluência do observador sobre o comportamento das pessoas — um proble.
ma freqüente — se acha muito reduzida, pois não há interação acentUa.
da entre o observador e o cliente, não sabendo mesmo este último, mui—
tas vezes, que é estudado. Por outro lado, a observação é sistemática,
todos os participantes se vêem submetidos a um tratamento semelhante,
embora mudem os observadores: diretivas precisas e um treinamerito
mínimo bastam para assegurar a homogeneidade das informações
coletada.s. Habitualmente o tratamento dos dados mostra-se simples, po
estes estão bem uniformizados: permitem um recurso fácil aos instrurnem
tos estatísticos. Acrescentemos que esse gênero de observação pode ser
facilmente usado nas pesquisas com dados criados, facilitando as diver—
sas comparações que habitualmente devem ser estabelecidas. Isso permite
precisar que, embora use a observação, o pesquisador pode muito bem
intervïr na situação objeto de sua investigação sem destruir-lhe o caráter
natural. Assim, ele poderia muito bem mudar a localização ou a decora
ção da prateleira para ver se isso traz modificações ao comportamento
dos possíveis compradores.
A observação estruturada tem, por outro lado, suas exigências e
impõe certos limites. Demanda principalmente um sólido conhecimento
do contexto no qual será realizada e igualmente uma análise minuciosa
dos conceitos emjogo, pois se uma manifestação importante for esquecida
ou não puder ser colhida, seria necessário, freqüentemente, retomar tudo.
Ademais, sendo as observações muito delimitadas, o pesquisador depa
ra-se, muitas vezes, com uma visão muito parcial, até mesmo superfici
al, da situação. Assim, no nosso exemplo, o comportamento diante da
caixas de cereais é isolado do que aconteceu antes. Esse gênero de limi
te pode privar o pesquisador de um ponto de vista sobre a complexidadc
real de uma situação. Sem contar que, em função das circunstâncias e dc
número de observações que se quer efetuar por unidade de tempo, sert
necessário, às vezes, limitar o número de fatores selecionados na grade
e
Observação pouco ou não-estruturada
Na outra extremidade do espectro aparece a observação sem verdadeir
estrutura. Não que seja sem guia. Se ela se pretende científica, se base:
em uma hipótese, mesmo que menos explícita que no quadro anterior:
pesquisador não está sem segundas intenções ainda que queira evitar o
OBSERVAÇÃO
a priori,
PARTICR\NTE Téenica A forma clássica é aobse’rvaç& participante, lá encontrada quar.
ra
1
e na
1n — ----—-
----
-

compreendelOJie n:tercssacio pela dinámica interna de um crupo de nunks, neste se


[1 sentido de dentro. grou para estudá-lo de. dentro. Nessa forn:adeobservação o pCSL U15
1. 4
A CONSTRUÇÃO DO SAIIER 173

Ora, toda hipótese pertence ao mundo das abstrações. Ainda que


O termo ‘conceito’ já
sua construção se tenha iniciado com a percepção de um problema bem apareceu em alguns
real, ela em seguida foi explicitada e precisada ao longo da problemáti momentos nas páginas
ca, até expressar-se em um enunciado que põe em jogo um ou alguns deste manual. Revela-o,
principalmente o que é
conceitos que são essencialmente construções do espírito. Assim, a auto dito nas páginas 89 a
noinia, conceito central da hipótese selecionada, não tem existência em 94, capitulo 4.
si mesma, não pode ser vista, ouvida ou tocada diretamente. E uma repre
sentação mental tirada de um conjunto de observações e de experiências
particulares. O termo autonomia abrange, aliás, um vasto leque de senti
dos: não se fala da autonomia de vôo de úm avião?
A verificação da hipótese exige, no entanto, uma avaliação explíci
ta do grau de autonomia de algumas pessoas. Daí a necessidade de uma
tradução que assegure a passagem da linguagem abstrata do conceito
para a linguagem concreta da observação empírica, a fim de que se saiba
o que pesquisar e o que selecionar como informações ao conduzir o QUADRO
OPE RACIONAL
estudo. Essa ponte entre o universo da hipótese e o de sua verificação Conjunto dos
1W

empírica é essencial à operacionalização da pesquisa: daí seu nome de indicadores que


quadro operacional. Contrapartida do quadro conceitual que conduziu estabelecem o vínculo
entre os conceitos
à abstração da hipótese, ele torna possível o retomo à realidade dos empregados pela
fatos, ao mesmo tempo que sua interpretação dos fundamentos teóricos hipótese e as
do trabalho. observações empíricas
necessárias à
Estabelecer o quadro operacional de uma pesquisa consiste em espe verificação dessa
cificar as manifestações observáveis empiricamente do ou dos concei hipótese,
tos em jogo e, se na verdade houver vários, explicitar as relações que
deveriam aparecer entre suas respectivas manifestações.
- ijf
Como conseguir isso na prática? Consideremos o conceito de autono
mia selecionado no nosso exemplo. Está aí uma noção muito rica. As
sim, devemos inicialmente escolher dentre suas dimensões possíveis,
ou, caso se prefira, seus componentes, aquelas que correspondem à nos
sadefinição do conceito e ao objetivo da pesquisa. A autonomia de mo
vimento, no sentido daquela que se acha reduzida em alguns deficien
tes, não é aqui um aspecto pertinente. Podemos em contrapartida pren
der-nos à autonomia financeira ou psicológica das pessoas- Para cada
urna dessas dimensões, selecionaremos indicadores, isto é, sinais Alguns conceitos mais
tangí complexos demandarão
veis, observáveis na realidade, que nos permitirão conclu uma composição mais
ir a presença
da forma de autonomia considerada. Assim, a autono elaborada: ter-se-ão
mia financeira pode dimensões,
se manifestar pela posse de bens, pela acumu
lação de poupanças, pelo subdirnensões. até
Fato de ter uma renda regular. A autonomia psicológica traduz-se pela Que se chegue a
Capacidade de tomar decisões, fazer escolhas, emitir opiniões, criticar manifestações que
as dos outros, definir seus próprios valores... Poder- possam ser observadas
se-ia também falar
de autonomia física quando a própria pessoa determ
hati Os e r a a cuot 3 ara s 95
ina seu meio e seus
e n rare1a cc 3
dadc
concretamenle.
ii
de saúde ou ainda autonomia social quando escolh
e suas amizades.
flceita res.ponsabilidades, exerce seu direito de voto. E a lista poderi
a
estenderse visto que cada indicador poderia traduzir somente um
&SL:ectos da dimensão e une as dos
dimensões podem rnultir licar—se e aprimo—

A partir de taisi odicadorer torna-se possível elaborar urna cace


de obsen’ç prepamr questões,
muni.r-se de insnme•ntos que servi
rao oara acumular inform
acões, Do me.sni modo. os- liames que se
-----
174 LAVILLE &DIONNE

Lerá o cuidado de explicitar que conectam esses indicadores ao concei


Lo permitirão analisar as atitudes, comportarnehtos, respostas e outr


reações coletadas, interpretá-las, para finalmente formular umjulgarne
0
sobre a autonomia das pessoas.

Informações, indicadores e conclusões


já ressaltamos, ao precisar o sentido a atribuir à expressão dados existentes: as informações não existem era
estado puro, como frutos que esperam ser colhidos, O próprio pesquisador faz a informação. Assim, a
autonomia ou a agressividade não existem em si mesmas: o que se encontra são pessoas que o pesquisado
chega a definir como autónomas ou agressivas, baseando-se em critérios ou indicadores que ele mesmo
fixou. A escolha dos indicadores é, portanto, crucial para o valor e a credibilidade das conclusões da
pesquisa. Desse modo, selecionar somente a presença de ataques físicos como indicador da agressivida
pode conduzir a desconsiderar uma agressividade, no entanto muito experimentada pelas vítimas de ata
ques verbais ou feridas por urna simulada indiferença. Ao contrário, pode-se fazer ainda mais: em algumas
pesquisas sobre a vio!ência, as atitudes e comportamentos descritos como violentos abrangem campos tão
amplos, que se segue uma banalização do fenômeno, de modo a prejudicar a compreensão deste,

Como escolher ou construir os indicadores? A primeira tarefa é


decompor o conceito: depois, para cada um dos componentes identifica
dos, apela-se a seus conhecjmentos e a suas experiências para imaginar
manifestações concretas dele. Não se deve negligenciar também a expe
riência ãlheia: uma olhada nas pesquisas conexas ou, mais geralmente,
nos trabalhos em que um ou outro dos conceitos em jogo em nosso estu
do apareceram pode trazer muita coisa. Resta em seguida pousar uni
olhar crítico sobre o que foi assim acumulado, de início para operar uma
triagem, mas também para referenciar as eventuais lacunas e preenchê
las, a fim de que todos os aspectos do conceito sejam representados.
Traduttore, rraditore, Essa representação, a exemplo de toda tradução, resta sempre im
dizem os italianos: perfeita. Selecionam-se os indicadores que parecem trair menos o essen
Traduzir é TRAIR! cial do conceito.
É necessário assinalar que o indicador deve permitir mais do que
um simples acúmulo de informação, mas conduzir a categorizações de
pessoas ou objetos em função da característica do conceito que ele con
cretiza. Assim, no capítulo da autonomia financeira, o indicador renda
leva a classificar as pessoas em função de seus ganhos mensais: é uni
exemplo de categorização numérica. Outras categorizações são ditas
ordinais, quando suas divers’as categorias são simplesmente hierarqui
zadas: as pessoas observadas no plano da autonomia psicológica serão.
por exemplo, classificadas conforme tenham uma propensão fraca, rné
dia ou forte a criticar as idéias dos outros. Fala-se, enfim, de categorias
nominais, quando elas são simplesmente colocadas lado a lado, seifl
ordem particular, como as que nos permitem distinguir as pessoas em
função de suas crenças religiosas. Acrescentemos que, para serem real
mente úteis, as ca:egcrias devem ser exaustivas. 15:0 é, devem prever
rodas as uessibi]idades e serem tamitém mcaiamerze exclusivas.
- moer, mIo: Se rCOraieRO Em SUH1J. Vez eteniaca a CatOSOflzaÇ’

um elemento ou uma pessoa deve encontrar-se em urna -—-e somen°


uma — das categorias, se não, como inteqretar o fato de que uma pes
A CONSTRUÇÃO DO SABER
175

soa seja julgada, ao mesmo tempo, muito capaz de tomar uma decisão e
medianamente capaz de executá-la.., é o pesquisador então que não po
derá mais decidir que conclusão tirar!
Isso nos leva aos critérios de qualidade dos indicadores. O bom
indicador é, inicialmente, preciso, dizendo claramente quais manifesta..
ções observáveis ele inclui em tal categoria e quais ele rejeita. Deve
também ser fidedigno, quer dizer, deve conduzir a categorizações que
não flutuarão com o tempo ou o lugar. Enfim, é válido, quer dizer que
representa bemo que deve representar. Um pesquisador que, na aplica
ção de uma pedagogia considerada estimulante da motivação dos alu
nos, apresentasse fotos de alunos sorridentes como manifestação da eficá-
cia de sua abordagem, explicando “veja, eles gostam do que estão fazen
do”, não teria aí um indicador nem preciso, nem fidedigno, nem válido.
Uma última nota antes de encenar essa seção. No capítulo anterior,
apresentamos a noção de variável: os pesquisadores, contudo, não estão
de acordo sobre seu status, a respeito dos conceitos e indicadores. Para
evitar complicações fúteis, fixemos simplesmente que as vanáveis en 14
contrain-se mais do lado abstrato da hipótese. Assim, no capítulo 6, incor
poramos as variáveis aos conceitos em jogo em nosso primeiro exem
pio, declarando que a participação nos encontros interculturais e uma
variável independente e reconhecendo o nível de agressividade dos alu ti
nos como variável dependente. Ademais, para nós, o termo variável tradu-
rirá simplesmente a cor particular assumida pelos conceïtos nos estudos
com dados criados, aqueles em que, por uma intervenção, o pesquisador
quer evidenciar uma relação de causa e efeito. J
A guisa de conclusão, lembremos que a elaboração do quadro ope
racional tem por objeto, inicialmente, concretizar a hipótese em vista
de
sua verificação empírica. Essa hipótese compreende, na verdade, um
ou
vários conceitos, e estes são abstratos: é preciso traduzir-lhes as dimen
sões sob forma de indicadores que possibilitem a delimitação de
suas
manifestações.
Mas o quadro operacional e mais do que uma simples escolha de
Indicadores: estabelece também a ligação entre a hipótese e o trabalh
o
de análise e de interpretação, precisando o que necessita
considerar para
a verificação dessa hipótese. Explicitar-se-á principalmente
a natureza
das manifestações concretas e, se o objeto da pesquisa o
determinas, a
Oflentação de eventuais transformações, manifestações e transformaçõe
s,
Cuja presença confirmaria a hipótese; Se vários conceitos estão
em jogo,
clevese do mesmo modo precisar as relações que deveriam existir
entre
seus respectivos indicadores, a maneira pela qual os valores
destes de
veriam evoluir em função uns dos outros. Finda essa etapa, vem
o tempo
de se preccunar com tócnicas e :nstrumentos de coleta
dos dados. Isso
obieto da próxima sesão.

TÉCNICAS E INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS

infoa ão a propósito de fenômenos humanos, o pcsqui


sador pode, segundo a natureza do fenômeno e a de suas
preocupações
Ge pesoni
o•uencontraressa
r 176 LAVILLE & DtoNNtï

informação observando o próprio fenômeno, ou ainda interro


as que o conhecem.

retomará no capítulo 8, quando abordarmos a análise


também como o pesquisador pode proced
to a quem coligirá seus dados. Resta a
er
questã
na
o
escolh
do
a
“como
aqui nos deteremos nas diversas técnicas de observação
das

gar pesso.

A questão dos documentos já foi tratada no início deste capítul e


dos dados.
pessoa
desta

igualmente, nas diversas maneiras de interrogá-las. Considerarem as


forças e limites de cada uma, AS ARMA DILHA S a
mos os instrumentos aos quais se poderá ou se deverá
evita r e
o
Vimos
s jun
coleta:
das pessoas e,

descre
recorrer.
os
vere.

fj;
Observação
modo de contata
A observação reve1ase certamente nosso privilegiado
ca
com o real: é observando que nos situamos, orientamos nossos deslo
Para ter informação mentos, reconhecemos as pessoas, emitímos juízos sobre
elas. Sem alon
sobre uni acidente, ativida des quot i
pode-se ler o que o gar inutilmente essa lista, convenhamos que, em nossas
espaço à observ ação.
jornal refere ou dianas, não há quase exemplos que não deixem
interrogar as de desco
testemunhas, a menos A observação participa também de uma ampla variedade
os em seu
que seja o próprio bertas e de aprendizagens realizadas pelos homens. Pensem
a pouco
1: observador uma dessas
testemunhas, tendo
papel no desenvolvimento das crianças que, através dela, pouco
assim a informação “de se apossam do mundo que as rodeia.
um pa
primeira mão. Não é, pois, surpreendente que a observação tenha também
1H pel importante na construção dos saberes, no sentido em
qualifi
que
cada
a expr
de
es
cien
são é entendida em ciências humanas. Mas para ser
tífica, a observação deve respeitar certos critérios, satisfazer
certas exi
serviço de
gências: não deve ser uma busca ocasional, mas ser posta a
ente explici tado; esse
um objeto de pesquisa, questão ou hipótese, claram
tido a críticas
serviço deve ser rigoroso em suas modalidades e subme
nos planos da confiabilidade e da validade.
leque
Essa exigência de rigor não impede a presença de um vasto
ação parti ci
de técnicas de observação das quais algumas, como a observ
estruturadas, ao
pante já evocada no capítulo anterior, acham-se pouco
arem revis
passo que outras o estão muito mais. Começaremos por pass
ta essas técnicas.

O verdadeiro olhar do pesquisador


passiva; não é também um simptes
A observação como técnica de pesquisa não é contemplação beata e por uma hipótese cujo papO
olhar atento. E essencialmente um olhar ativo sustentado por urna questão e
essencial é uni /eJtmC(j’/ desta obra mais urna vez rercanhecemo s.
ntãO
de observação: vê-se 0

Esse suporte da hipótese por vezes tomará a torma concreta de urna grade s. as ohserv a
Ti cs:r;t:caC:cres e ofl:zr e cr2anj1am. em raus diverso
:s:ac Lt _cr r a —‘
1’
tal manifestação particulaS
pesquisa que guiará o olho e o ouvido do pesquisadoG levá-lo-á a ator-se a
deter-se em tal asoecto ou elemento.

L
2
í1
r

A CONSTRUÇÃO DO SABER
179

Esboço de uma grade de observação


Comportamento dos clientes diante da vitrine de cereais

A. Quadro geral de observação D. Passagem na prateleira

1- Zona urbana • 1 2.A pessoa observada -

favorecida ci media ci desfavorecida ci passa sem parar


passa e depois volta ci
2. Género de estabelecimento detém-se na primeira passagem ci
supermercado ci mercearia ci pade sem produto ci
loja de conveniências Ø escolhe um (alguns) produto(s) fl
Iqual (is)? j
3. Decoração volta e repãe o produto
volta para pegar o niesmo produto
moderna ci antiga ci
volta e troca por um outro produto
ci 44’
ci
13. Descrição da prateleira observada (qual?

4. lluminaçao da exibiçao dos preços


-
-
13 Outros comentarios
grande ci média ci fraca O
14. Duração da presença diante da varina:
5. Facilidade de identificação dos produtos
segundos
grande O média O fraca O
E. Critérios (modalidades) da escolha
6. Os produtos são classificados por
tipo ci marca ci preço O formato O 15. Para sua escolha a pessoa parece sobretudo
procurar uma marca particular O
C Descrição do cliente observado procurar um tipo de cereal a
7. Sexo
olhar na altura de seus olhos
olhar todas as prateleiras
O vi
El
O
ler as informações das caixas
masculino O feminino
comparar os preços
O LI:
ci
r. dade aproximada
à. Dutros comentários:
10
20 30 40 50 60 70 80 90 100 ——---—
-—-—-——
—-———

9. Aparência gera 17. Houve interJenção de acompanhantes?


Criança(s): sim O não O
Descontraída Ener;ada Okitro(s): sim EI rOo O

eSe:*Ja de acu.mpart:asteO Se ler oher:tado a es*oida


tiança(s)
Derr:mmorSr

1. Outros comentádos:
tu
180 LAVILLE & DI0NNE

dor-observador não fica retirado como no exemp,o da mercearia, mas se


integra à situação por uma participação direta e jessoal.
O quadro de observação fica um pouco impreciso, sobretudo por..
que não se concretiza em uma grade ou outro instrumento do gênero. A
coleta das informações deve, contudo, continuar metódica embora qua.
se não seja possível ao pesquisador tomar notas, durante sua observação:
o risco de perturbar pessoas e acontecimentos muitas vezes o impede.
Talvez poderá consignar discretamente algumas indicações em um pedaço
de papel, mas ele fia-se sobretudo em suã memória e em seu senso da
disciplina que o impelem a redigir uma exposição detalhada uma vez
concluída sua observação. Essa disciplina é exigente, mas é o melhor
método para evitar os esquecimentos e a confusão que poderiam resul
tardo acúmulo de sessões de observação.

As técnicas da observação participante na vida quotdiana


O juiz impacienta-se! Acausa parecia simples; uma altercação vulgar entre dois indivíduos que se estapearam,
a propósito da qual era preciso fazer a verificação das responsabilidades. Mas o incidente remonta a mais
1 JL de um ano; testemunhas são imprecisas, incertas, chegando até a se contradizer.
Para evitar este tipo de constrangimento, recomenda-se freqüentemente às pessoas suscetíveis de
serem chamar’as a assim prestar contas de acontecimentos a anotar logo o que viram ou ouviram, antes que
os detalhes r.fumem-se, que a memória deixe escapar ou transforme alguns aspectos da situação. Em suma,
sugere-se a essas testemunhas potenciais que se submetam à disciplina dos obsewadores, que conhecem
bem o caráter evanescente das recãidações e se apressam a retê-las muito tempo com toda a riqueza dos
detalhes que lhes dão, muitas vezes, seu verdadeiro sentido

“1 As breves indicações registradas ao vivo, aquelas eventualmente


acrescentadas com o tempo, e os relatórios mais exaustivos redigidos
em seguida constituem as notas descritivas do observador: devem ser
4 tanto quanto possível neutros e factuais para melhor corresponder a situa
observada.
ção Outras notas, ditas analíticas, vêm juntar-se as descritivas Nas no
tas analiticas, o pesquisador fala de suas reflexões pessoais, elas com
4, preendem as idéias ou intuições freqüentemente surgidas no fogo da
ação e logo registradas sob forma de breves lembretes. Esses lembretes
e outras anotações mais elaboradas, redigidas fora da observação propria
mente dita, dão conta da evolução do pesquisador no plano teórico Ali
mentam esta evolução, permitindo um vaivém entre os dados descríti
vos colhidos e a reflexão que subentende e conjunto do procediMento;
A isso se acrescentam habitualmente um diário de bordo e notas de pIa
nejamento No primeiro, o pesquisador fala de sua vivência no curso da
investigação, ao passo que as segundas servem para orientar O
procedirrerto em função do que precede
Ccnstata-se que, se a tecnca de obsenecão r mencs esfl
turda, o pesquisacor deve se mostrar asda ma s e ou co se quer rir
1
proveito de seu trabaiho, Porem os resultados podem revelar-se substan
dais, Não impondo limite à investigação nem estratura de análise definida
.t 1 apriori, a observação participante permite “ver longe”, levar em conside’
A CONSTRUÇÃO DO SABER
181
ração várias facetas de uma situação, sem isolá-las umas das outras;
entrar em contato com os comportamentos reais dos atores, com fre
qüência diferentes dos comportamentos verbalizados, e extrair o senti
do que eles lhes atribuem.
Vários pesquisadores vêem nesse gênero de observação uma técni
ca conveniente sobretudo à enunciação de hipóteses ou à explicitação
de indicadores, hipóteses que serão cru seguida verificadas com o auxí
lio de abordagens mais estruturadas. E verdade que esse papel, que se
poderia qua1ficar de exploratório, é importante. Mas, em princípio, nada
se opõe a que a observação participante sirva também para a comprova
ção de hipóteses, e isso até no caso de pesquisas com dados criados.
Assim, um pesquisador que se integra em um meio de fumantes (sem
necessariamente fumar) poderia estudar as mudanças de hábito induzidas
pela nova política que proíbe o cigarro em ambientes públicos fechados.
Esse modo de observação também tem limites e inconvenientes.
Principalmente sua fidedignidade e validade, às vezes, são questiona
das por alguns, pois estão muito ligadas à maneira pela qual o pesquisa Um instrumento é dito
VALIDO se ele faz bem ir
dor consegue integrar-se no grupo, à qualidade de sua memória, ao que
seu trabalho, isto é, se
ele veicula como valores, concepções e representações, fatores que, com permfte trazer as
outros, inevitavelmente influenciam o que ele seleciona de suas observa informações para as
ções. Também se poderia acrescentar sua “chance” de estar ou não presen quais foi construído.
Um instrumento é dito
te lá onde acontece tal fato significativo. FIDEDIGNO, se conduz
Um outro inconveniente tem a ver com a quantidade, muitas vezes aos mesmos resultados
espantosa, de dados de toda ordem que o pesquisador deve tratar quando se estuda, em
no momentos diversos, um
curso e ao término da investigação. Se a informação é essencial à
pes fenômeno ou uma
quisa, sua proliferação representa às vezes um problema, quando não situação que não
se
toma um obstáculo. deveria ter mudado no
intervalo.
Resta ainda a questão sempre presente da influência do observador
sobre a situação e as pessoas observadas, pois, inevitavelmente,
sua pre
sença modifica essa situação e pode afetar o comportamento dos atores.
Esses efeitos, quando muito, poderão ser minimizados. Sabe-s tJ]
e, por
exemplo, que, com o hábito, a sensibilidade à observação atenua
-se nas
pessoas: o observador lhes dará, pois, tempo para se familiarizarem
sua presença antes de realmente começar seu trabalho. Cuidan
com ‘-À
do da apre
sentação de seus objetivos, poderá também atenuar as reações de
resistên
cia ou ansiedade dos participantes.

deya rr ealar nente a irezaJ


182 LAVILLE & DIONNE

Ele também pode ocultar sua condição de, observador. Essa dissimu..
lação causa, contudo, alguns problemas, dentie os quais as questões de
ética não são as menores. Corre igualmente o risco de complicar o traba..
lho— os registros das notas, por exemplo, uma vez que o pesquisado
não deve trair-se—, mas também a própria observação; integrando-se
ao grupo, com um papel a desempenhar, o pesquisador limita sua disponi
bilidade como observador. Em contrapartida, essa integração pode leva..
lo a participar mais intensamente da vida do grupo e, assim, alcançar
uma qualidade e uma profundidade de informação, inacessíveis de outra
forma.

Técnicas intermediárias de observação


Entre a observação mais estruturada e a que se pretende livre, há lucar
para vários modos intermediários. Assim, o pesquisador que, no capítu
lo anterior, deve comparar o espírito de equipe de diferentes unidades
de uma liga de basquetebol pode muito bem selecionar a observação
para realizar suas avaliações, sem por isso integrar uma equipe corno
jogador nem inventar indicadores artificiais sobre uma atitude que não é
fácil de circunscrever a priori.
Ele pode, na verdade, recorrer a uma abordagem adaptada à situa
ção: escolher lugares e momentos pertinentes para observar uma equipe
e acumular então o máximo possível de anotações sobre os acontecimen
tos, comportamentos, gestos ou palavras que poderii ter ézitido no que
se refere à sua preocupação. Assim, instalado nas tribunas, no momento
dos treinos ou das partidas, ele toma nota das interações entre os jogado
res, dos estímulos ou admoestações trocados, dos gestos de colaboração
ou de rivalidade. No vestiário, observará a maneira como os jogadores
agrupam-se, sua capacidade de ± (ou de chorar) dos erros cometidos,
de se alegrar com os bons lances ou de invejá-los...
Esse modo de proceder, situado entre as duas maneiras descritas
anteriormente, pode se modular de diversas maneiras: o pesquisador
pode dar-se tempo para se integrar mais no grupo ou dotar-se pouco a
pouco de uma estrutura de observação mais elaborada, ou, ainda, combi-
nar as duas. Ainda uma vez, o importante continua a ser o recurso a urna
abordagem que convém ao objetivo perseguido, às intenções do pesquisa-
dor.
A observação não é tarpbém uma técnica exclusiva: ela se presta, às
vezes admiravelmente, a casamentos com outras técnicas e instrumen
tos. Já falamos disso em outro lugar, ao descrever a estratégia de nature
za antropológica, explicando então que os pesquisadores completarão
às vezes suas observações com entrevistas. Falaremos desses casamen
tos após ter tratado deste outro grupo de técnicas e instrumentos.
Por enquanto, fixemos que a observação constitui um meio funda
mental de colher informação. Para que esta informação seja útil, é in
dispensável, contudo, que sua busca seja seriamente orientada por urna
preocupação definida de pesqui.sa, e que essa busca seja, também, organi
zada com rigor. O jesquïsador deve principalmente estar atento a tudo o
que diz respeito à sua hipótese e não simplesmente selecionar o que lhe
permitiria confirmá-la.
A CONSTRUÇÃO DO SABER
183
As técnica de observação variam por seu grau de
estruturação e
pelo grau de proximidade entre o observador e o objeto de
sua observa
ção: desde o observador que se mantém completamente afastado,
muni
do de uma grade precisa e detalhada, até aquele que se integ
ra em um
grupo e em uma situação para selecionar
o máximo de informações,
podem-se imaginar tantas modalidades de observação quan
tas se quiser,
sendo que o essencial é, ainda uma vez, escolher uma que conv
enha ao
objeto da pesquisa.

:5:
Testemunhos
Além da observação dos fenômenos (instrumento de apreensã
o do real
que as ciências humanas compartilham com as ciências natu
rais), uma
maneira reconhecida e comprovada, própria das ciências
humanas, de
obter informação consiste em colher os depoimentos
de pessoas que
detêm essa informação. O recurso a esses depoimentos perm
ite a explora
ção dos conhecimentos das pessoas, mas também de suas
representa
ções, crenças, valores, opiniões, sentimentos, esperanç
as, desejos, pro
jetos, etc. As maneiras de chegar a esses objetos de estud
o, e a muitos
outros, são variadas: os termos questionários e entrevistas

que
anunciam as duas partes desta seção estão justamen

recobrem um amplo espectro de técnicas e de instrume


te no plural, pois tiui•
ntos que servem
para interrogar as pessoas. hemos percorrer esse espectro
desde o questio
nário normatizado até à entrevista não-estruturada.

Questionários
Para saber a opinião da população sobre uma escolha
de sociedade como
a da preservação dos programas sociais, é
preciso, evidentemente, As técnicas e os
interrogá-la. Talvez não a população inteira, mas, instrumentos que
seguindo a estratégia
da pesquisa de opinião, uma amostra sufic apelam para o
ientemente grande, constituí testemunho são
da com os cuidados requeridos para asseg
urar sua representatividade. próprios das ciências
Para interrogar os indivíduos que compõem essa amo humanas.
stra, a aborda
gem mais usual consiste em preparar uma série
de perguntas sobre o
tema visado, perguntas escolhidas em funç
ão da hipótese. Para cada uma
dessas perguntas, oferece-se aos interroga
dos uma opção de respostas,
definida a partir dos indicadores, pedindo-
lhes que assinalem a que cor
responde melhor à sua opinião. Ou então, outra Se o questionário
forma possível de questio padronizado é o
nário: enunciados lhes são propostos, cada um
acompanhado de uma instrumento
escala (freqüentemente dita escala de Like privilegiado de
rt), série de campos que lhes
Permite urecisar se. nor exemplo, estão em total sordasem, seu uso não
desacordo, co: desacor :03 .3 a
Ou so.rn OJDIntaO,
oe c:rdo, ou wraljmente ele 000rJO oon1 o enuncaoo
Or)nsiierd() pesquisa.
Que sua forma seja uma dessas ou uma outra em
Imponder se acha determinada, o questioná que a maneira de
rio em seguida é distribuído,
Pelo corro-io ou por outro• meio: as pessoas
cue
Pois o devolveu: ao e.x.ped:dor.
Dentre as vantagens desse tipo de questionário padr
onizado —
diz•
ri —oie-aerr: r
ir E

184 LAVILLFL & DIONNE

no uso e permite alcançar rápida e simultanearnente um grande número


de pessoas, uma vez que elas respondem sem ue seja necessário Cnvi
ar-lhes um entrevistador. A uniformização assegura, de outro lado, que
cada pessoa veja as questões formuladas da mesma maneira, na mesma
ordem e acompanhadas da mesma opção de respostas, o que facilita a
compilação e a comparação das respostas escolhidas e permite recorrer
ao aparelho estatístico quando chega o momento da análise.

Questão de forma e de ordem


A formulação, principalmente a escolha das palavras, e a ordem das questões revestem-se de muita impor
tância quando se interrogam pessoas. Assim, elas não responderão a uma questão que fala de despesas
efetuadas nos programas sociais necessariamente da mesma maneira que a uma outra que evoca as somas
comprometidas nesses programas.
Da mesma forma, questões sobre essas somas, seguidas de outras questões sobre os impostos pagos
pelo individuo, acarretarão reações diferentes daquelas suscitadas pelas. mesm as questões que võm
questões sobre o que lhe trouxe o regime de seguro-saúde.
Via de regra, faz-se um esforço para propor a formulação mais neutra possível e ordenar as questões
de maneira a minimizar os efeitos de umas sobre as outras.
De outra parte, quando se fala de questionário uniformizado (e ocorrerá a mesma coisa no assunto das
entrevistas, mais adiante), isso não exclui a presença de diferenças na seqüência das questões às quais o
participante responde efetivamente. Algumas perguntas são às vezes acompanhadas de instruções que
orientam a trajetória do participante em função de suas respostas:

5. Você recorreu aos sèrviços de saúde no ciirsã dàstrês últfmos mesés? —

Sim O Passe à questão seguinte.


Não D Passe à questão 13.

A uniformidade da ordem das questões não está, por outro lado, jamais perfeitamente assegurada.
Como o interrogado coloca a si mesmo essas questões, ele pode às vezes voltar atrás ou mesmo borboletear
de uma questão a outra, Pode-se lhe pedir que evite esse comportamento, mas não é garantido que ele
Ii respeite a instrução. Consegue.se um melhor controle sobre isso com a entrevista estruturada.

1I
Oferecer apenas respostas predeterminadas pode parecer constran
gedor. Mas isso apresenta vantagens. As escolhas de respostas ajudam
inicialmente a eclarecer o sentido das perguntas que poderiam mostrar-
se ambíguas, garantindo ao pesquisador que as respostas fornecidas se
rão da ordem das respostas esperadas, que corresponderão aos indicadores
que ele estabeleceu. Deixado a si mesmo face à questão “Você está satis
feito com os serviços oferecidos pelo Estado?”, um interrogado poderia
II
escrever “sim” pensando nos serviços sociais (visados pelo questioná
rio) que garantem um mínimo ao conjunto das pessoas, ou “não”, julgan
1
do que eles lhe custam caro demais, ao passo que o pesquisador queria
saber dele se foi recebido satisfatoriamente quando se apresentou er:
um desses serviços. Ao mesmo tempo, uma escolha dc respostas pr
ii
tabelecidas evita que o pesquisador deva ïnterpretar as respostas de.:
interrogados: estes colocam a si mesmos nas categoHas, apontando sua
escolha.

4
A CoNsTRuçÃo DO SABER 185

o anonimato habitual garantido aos interrogados mostra-se uma


outra vantagem desse gênero de questionário, pois pode facilitar a tarefa
deles: um empregado poderá melhor dar parte de suas queixas, sentin
do-se ao abrigo de eventuais represálias. Mas esse anonimato não pode
garantir a sinceridade das respostas obtidas.
A utilização do questionário normatizado não deixa de ter certas
exigências nem alguns inconvenientes. As primeiras têm muito a ver
com a qualidade dos interrogados, com sua competência, sua franqueza
e boa vontade, ao passo que os segundos decorrem freqüentemente de
problemas nessa natéria.
Assim como os interrogados colocam a si mesmos as perguntas,
deve-se presumir que eles compreendem seu sentido, que eles as inter
pretam como o pesquisador. E claro que as escolhas de respostas aju
dam a esclarecer esse sentido, mas não asseguram invariavelmente a
uniformidade das interpretações, e o pesquisador não pode sempre jul
gar facilmente ou levar em consideração a presença possível de inter
pretações diferentes.
De fato, nem sempre é possível que esse pesquisadorjulgue conheci
mentos do interrogado e o valor das respostas fornecidas: um interroga
do pode escolher uma resposta sem realmente ter opinião, simplesmente
porque ele sente-se compelido a fazê-lo ou não quer confessar sua igno
rância. Ou então, tendo uma consciência limitada de seus valores e pre
conceitos, fornecerá respostas bastante afastadas da realidade.

Que você faria se...?


A consciência que as pessoas têm sobre suas crenças, valores, preconceitos e atitudes é às vezes surpreen
denternente fraca, a ponto de, freqüentemente, não poderem prever suas reações. Nos anos 30, quando as
manifestações de racismo eram comuns, um pesquisador fez com que um casal de chineses fosse a várias
dezenas de hotéis e restaurantes sem que tivessem sido barrados. Alguns meses mais tarde, o mesmo pes
quisador mandou um questionário a cada um dos estabelecimentos visitados pelo casal, perguntando se
clientes chineses eram aceitos. Mais de 00% das respostas recebidas foram negativas...

Alguns temas abordados podem, algumas vezes, deixar as pessoas


Incomodadas e compeli-las a esconder o fundo de seu pensamento. às
Vezes para proteger sua auto-imagem ou por outras razões que ficarão
1nevitavelmene ignoradas do pesquisador.
E depois. há a impositividade das respostas predeterminadas que
Pcde também falsear os resultados, lImitando a expressc correta e nuan
çada das oninides, Um intero2ado rode :jer-se forcado a escolher uma
tesposta que não corresponda ao tundo de seu pensamento, smpiesmente.
Porque sua “verdadeira” resposta não aparece na lista: selecionando enulo
r.
a bor apro’i 1 anão cieNs resp
a ‘omec r, n 1 cio as “

acréscimo de or.cces do tc poria rc.suor:cler a

lJ
1
186 LAVZLLE & DI0NHE

• dos, salvo que se essas opções são muito freqüentemente selecionada


5
• pelos interrogados, o pesquisador dificilment’ poderá concluir. Mas ao
menos saberá que é preciso ampliar o campo de seus indicadores para
poder refletir bem a opinião das pessoas, o que é, sem dúvida, melhor do
que descrevê-la a partir de respostas imprecisas ou inexatas.
Um problema important’e no recurso aos questionários emerge da
taxa amiúde muito baixa de retomo desses questionários, não se dando
as pessoas o trabalho de respondê-los. Pode-se, todavia, estimular seu
interesse por meio de uma carta de apresentação personalizada que, sem
deixar dúvida sobre o anonimato do interrogado, explique-lhe as vanta
fi’ gens esperadas das conseqüências da pesquisa. Outras precauções ajuda
rão a aumentar a taxa de respostas: um questionário curto, atraente em
sua apresentação, com questões simples e claras (o que não exclui obri
ti gar o interrogado a refletir), um modo de resposta fácil de compreender
e usar e, enfim, um enveloperesposta franqueado para assegurar o re
tomo dos questionários em caso de distribuição postal.
Se o pesquisador teme que os inconvenientes do recurso ao questio
41 nário uniformizado o impeçam de atingir seu objetivo, pode-se voltar para
os outros instrumentos e técnicas qõe se prestam à coleta de testemunhos.
Então algumas barreiras desaparecerão, mas outras vantagens também,
1’ Um pesquisador pode, por exemplo, decidir usar um questionário
de respostas abertas. Como o anterior, este compõe-se de questões cuja
formulação e ordem são uniformizadas, mas para as quais não se of.ere
ii -
cem mais opções de respostas. A impositividade evocada antes desapare
ce, o interrogado acha simplesmente um espaço para emitir sua opinião.
Tem assim a ocasião para exprimir seu pensamento pessoal, traduzi-lo
com suas próprias palavras, conformç seu próprio sistema de referênci
ir as. Tal instrumento mostra-se particularmente precioso quando o leque
das respostas possíveis é amplo ou então imprevisível, mal conhecido.
Permite ao mesmo tempo ao pesquisador assegurar-se da competência do
interrogado, competência demonstrada pela qualidade de suas respostas.
Em contrapartida, se uma questão é ambígua, o interrogado não
1[. tem mais referência para esclarecê-la. As respostas fornecidas podem
assim estar muito longe das expectativas do pesquisador. Este corre o
risco de surpresas, principalmente se não reconheceu todas as dimen
sões do ou dos conceitos em jogo.
etapa do tratamento dos dados, o pesquisador terá de construir
categorias e ele mesmo deverá interpretar as respostas dos sujeitos em
função dessas categorias, Rs comparações entre sujeitos serão também
mais delicadas de estabelecer. Acrescentemos, enfim, que a obrigação
de redigir uma resposta poderá provocar aversão a vários dos interroga
dos previstos, seja por preguiça ou porque não se sentem capazes: por
isso, a taxa de respostas se achará reduzida.
11
1 ‘ Entrevistas

Se a fraqueza da tara de resposta corre o risco de comprometer seu


projeto, o pesquisador provavelmente terá vantagem em usar a entrevis
ta, A entrevista estruturada, por exemplo, se constrói exatamente como
• um questionário uniformizado com suas opções de respostas detennina
r
A CONSTRUÇÃO DO SAnaR 187
das, salvo se, em vez de serem apresentadas por esc
rito, cada pergunta e
as respostas possíveis são lidas por um entrevistado Pode-se encontrar na
r que anota ele mes página 51, urna a’usão
mo, sempre assinalando campos ou marcando esc
alas, o que escolhe o às técnicas modernas
entrevistado. O trabalho pode ser feito por ocasião de um enc de amostragem.
entrevistador e entrevistado, mas será mai ontro entre
s freqüentemente realizado
por telefone. Pouco importa o modo usado, sab
e-se que tal abordagem
aumenta sensivelmente a taxa de resposta
, sem dúvida porque é mais
difícil dizer não a alguém do que jogar no
lixo um questionário, e iam
bém porque o sforço exigido do interrogado
é menor.
Salvo no que concerne à questão da taxa
de resposta, encontra-se

1
aqui a maior parte das vantagens e dos inconve
nientes do questionário
normatizado: principalmente os que têm ver
a com a impositividade das
repostas previstas antecipadamente, resposta
s que esclarecem as pergun
tas e orientam o interrogado para o quadro de
referência do pesquisador,
mas o impedem talvez de exprimir o verdad
eiro fundo de seu pensamen
to. Por outro lado, a padronização permit pro
e ceder rapidamente, a cus
tos razoáveis e com um grande número de
pessoas, facilitando o tratamen
to dos dados graças aos instrumentos esta
tísticos cujo uso ela autoriza.
Ademais, é preciso encontrar pessoas par
a fazer as perguntas, mas
estas necessitam de um treinamento mín 1
imo para garantir auniformida
de do processo. Procedendo-se às entrevis
tas por contato direto, no cam
po, deve-se, todavia, tomar precauçõe
s em matéria de amostragem: os
clientes de uma clínica médica não
reagirão, necessariamente, como os
de um centro esportivo a questões
sobre seguro-saúde. O problema de
amostra resolve-se mais simplesmen
te ao telefone, a tecnologia perini
tindo agora compor os números ao
acaso e atingir até pessoas não ins
critas na lista telefônica.
Sempre em função da hipótese e das exig
ências de sua verificação, o
pesquisador pode também reduzir o cará
ter estruturado da entrevista e torná
la menos rígida e menos con
strangedora. Inspirando-se, por exemplo, no
que foi feito anteriormente com
o questionário normatizado, pode-se con
servas a padronização das pergun
tas sem impor opções de respostas.
O pesquisador consegue os mesmo
s ganhos que no caso do questio
nário, principalmente pelo fato
de que, deixando o entrevistado formu
lar urna resposta pessoal, obt
ém uma idéia melhor do que este realmen
pensa e se certifica, na mesma te
ocasião, de sua competência.
Com as próprias perdas também: a da
de sua inclusão forçada em uniformidade das respostas,
seu quadro de referência, sem contar a nec
sária interpretação que ele es
deverá dar dessas respostas a fim de clas
cá-las por categorias. Os entr sifi
evistadores devem ser também muito trei
nados, especialmente para
podertomarnota convenientemente das pala
rns dos interrogados. Um gravador pod
a ta.refa eria facilitar1bes grandemer.te

Assinalomos de passagem —p.uiurfam


0
qu
s os té-io feito a propos:to dos
esticrj — que o pesquisador pode também usar uma form
entrevista, em que algumas questõe a mista
Io fcl]?a de
s são acoro andadas de urna op
respostas enouanto outras seni.o abertas.
ialas a entrevista oferece maior amp
lItude do que o- oguestiunsiriu,
as aarvrian ttrcfl
au a Um docum
ento entregue a cada um dos interrogados, os
entrevista-
is
188 LAVILLE & DÍONNE

Quem, então, deveria fazer as perguntas?


A preocupação com a neutralidade mostra-se habitualmente um traço fundamental do trabalho dos pesqui.
sadores. Assim, não contentes de escolher minuciosamente a amostra dos interrogados para garantir Sua
representatividade, eles se dedicam do mesmo modo a formular as perguntas de maneira a dirigir o menos
possível as respostas das pessoas interrogadas. O que não os põe ao abrigo de todos os vieses, como
demonstrou uma experiência americana com resultados perturbadores.
A pesquisa apoiava-se no delicado problema das relações entre negros e brancos, e a cor da pele do
5
entrevistadores, parece, influenciou claramente as respostas obtidas. Sem entrar em detalhes, precisem
05
por exemplo, que 63% dos brancos interrogados por um branco afirmam que os negros poderiam sair.s
tão bem quanto os brancos se concordassem em fazer mais esforços. Essa porcentagem cai para 53%
quando a pergunta é formulada por um negro. Ao contrário, 57% dos brancos interrogados por um branco
reconhecem contar ao menos um negro entre seus amigos próximos, porcentagem que se eleva em 10 —a
67% — quando a entrevista é realizada por um negro. Obtiveram-se vários resultados semelhantes com
interrogados negros. Se 67% afirmam a um entrevistador negro que têm um amigo branco, essa porcenta.
gem atinge 80% quando o entrevistador é branco. Da mesma forma, os negros se sentem mais facilmente
vítimas de discriminação diante de um negro do que diante de um branco.
Se nem todos os temas abordados na entrevista apresentaram números tão diferentes, muitas pergun
tas levaram a resultados desse tipo. Que concluir disso? Que seria necessário, evidentemente, conduzir a
pesquisa de maneira que os ïnterrogados não possam ver quem faz as perguntas, usando o telefone, por
exemplo.
O nó da questão é que na experiência evocada, a pesquisa era justamente telefônica, a identidade dos
pesquisadores não podia ser revelada a partir de indícios evidentes: esses não tinham sotaque especial,
usavam todos um vocabulário uniforme...
Se você decidisse fazer uma pesquisa, por entrevista, sobre o feminismo, quem então deveria fazer as
perguntas?

dores permitem-se, muitas vezes, explicitar algumas questões no curso


II ENTREVISTA SEMI-
ESTRUTURADA Sérïe da entrevista, reformulá-las para atender às necessidades do entrevista
de perguntas abertas,
1 a feitas verbalmente em
uma ordem prevista,
mas na qual o
do. Muitas vezes, eles mudam a ordem das perguntas em função das
respostas obtidas, a fim de assegurar mais coerência em suas trocas com
o interrogado. Chegam até a acrescentar perguntas para fazer precisar
entrevistador pode uma resposta ou para fazê-la aprofundar: Por quê? Como? Você pode
ii? acrescentar perguntas
dar-me um exemplo? E outras tantas subperguntas que trarão freqüente
de esclarecimento.
mente uma porção de informações significativas.
As características desse tipo de entrevista distanciam-se então daque
las de tipo estruturado, mas não sem inconvenientes: a flexibilidade adqui
ENTREVISTA rida se traduz por uma perda de uniformidade, que atinge agora tanto as
PARCIALMENTE perguntas quanto as respostas. Ainda que todas as entrevistas sejam fei
ESTRUTURADA
Entrevistas cujos temas tas pela mesma pessoa, ainda que essa pessoa retome o mesmo núcleo
são particularizados e de perguntas de uma entrevista a outra e não se autorizem senão varia
as questões (abertas) ções em tomo desse núcleo central, as diferenças correm o risco de ser
preparadas
antecipadamente. Mas grandes de uma entrevista a outra. As medidas e recursos à aparelhagem
com plena liberdade estatística tomam-se mais difíceis, se não impossíveis, e a análise deve
quanto à retirada tomar uma coloração nova.
eventual de algumas
Ii perguntas, à ordem em Mas serão mesmo inconvenientes? Aqui, deve-se tomar Conscien
eia de que se acaba de mudar o registro: fazendo assim evoluir para urna
7 que essas perguntas
estão colocadas e ao
acréscimo de perguntas
mai.or flexibilidade as modalidades da entrevista, ficou-se afastado do
improvisadas. mundo dos instnamentos adap-tados aos estudos que envolvem um gras
de número de participantes ou que supõem o estabelecimento de compa
rações: o instrumento que emerge convém menos às pesquisas com da
A CONSTRUÇÃO DO SABER
189
dos criados e à sua busca de relações de causa e efeito. Em compensa
ção, sua flexibilidade possibilita um contato mais íntimo entre o entre
vistador e o entrevistado, favorecendo assim a exploração em profu
ndida
de de seus saberes, bem como de suas representações, de suas crenças
e
valores... em suma, tudo o que reconhecemos, desde o início, com
o o
objeto das investigações baseadas no testemunho. Não há, pois, traiç
ão
ao objeto de pesquisa, mas apenas evolução da intenção do pesquisador
na perseguição deste objeto. Preferentemente à opinião de toda uma
população sobre preservação dos programas sociais, ou aind
a à de
uma amostra devidamente selecionada, o pesquisador julga esclareced
or
perscrutar a fundo o ponto de vista de assistentes sociais, dirigentes
de
empresas ou pessoas da classe média: para colher suas opiniões,
mas
também para lhes conhecer as motivações a fim de obter uma
melhor
compreensão da realidade social.
Menos adaptada, dissemos, às pesquisas com dados criados,
tal for
ma de entrevista pode prestar serviços em algumas enquetes em
que
será conjugada a outros instrumentos ou técnicas, questionários de
pesqui
sade opinião, por exemplo, alguns aspectos dos quais ela perm
itirá apro
fundar. Mas é encontrada sobretudo nas pesquisas de natureza
antropoló
gica ou nos estudos de caso. Talvez também na busca de histó
rias de
vida, se bem que, com essa última estratégia, se lançará mão
sobretudo
da entrevista não-estruturada.
A ausência de estrutura, porém, pode ser mais desenvolvida
, amplia
da: sempre em função das necessidades de seu projeto, algu
ns pesquisado
res recorreram, às vezes, a entrevistas para as quais eles
não tinham nem
mesmo preparado perguntas precisas.
Imaginemos que um pesquisador queria explorar a situação
de um
grevista, circunscrevendo suas percepções e sentimen
tos face à greve
que vive e suporta, os princípios que pensa respeitar
e o sentido de suas
atitudes no quadro do conflito. Compreende-se
facilmente que vários
fatores conjugados contribuem para a complexidad
e da situação vivida
pelo grevista: fatores sociais como a inserção em
um meio de trabalho, a
necessidade de solidariedade sindical..., fatores
familiares que podem
Impelir para uma direção diferente, resultando em
uma possível angús
Ua para a pessoa. Sem contar suas crenças valores
e pessoais e os princí
Plos que daí decorrem. Tantos elementos que
o indivíduo deve fazer
Concordarem entre si.
Para desembaraçar esta meada de forças sociais, fami
nus, afetivas, etc., o pesquisador vai liares, rno-
selecionar um certo número de
temas: a vida no ambiente de traba
lho, a coesão entre esse ambiente e o
ambiente familiar, o grau de cumplici
dade existente entre esses dois
mundos.,. Vai então levar o entrevistado
a se exprimir sobre essas maré
nas, a traduzir seus sentimcnti-.s
face ao rdbalho e a sem colegas, face.
as suas responsah-iiidades
familiares, face também s suas convicções,
Para distjnujru modo de articulaçã
o dessas forças nas opções de atitudes.
de comportamentos. Para c.ada tema,
ele prepara urna pergunta a fim de
a. ent.revista, para logo seguir o interiocuto.r c.m seu terre
Provisardc entdo suas intervenções cm fnnção no, ias
cio tiesunroiardasinteraç.oes
Compreender-seh facilmente que a dificuldade do recu
ma, csté à ai:ura da rso a tal abor
complexidade d;i satuação mie eh quer cacunscre
LAVILLE & DIONNE
190
habilidade se quer le
demonstrar uma grande
ver, O pesquisador deve taneidade e o cará
ENTREVISTA NÃO erl oc uto r ao ess en cial, preservando a espon
var seu int uma qual ida.
ESTRUTU RADA su as res po sta s. M as se ele chega lá, pode obter
Entrevista na qual o pessoal de lidade dos seres huma
sobre uma faceta da rea
entrevistador apóia-se de única de observação ão prudenteme
em um ou vários tem
as
inf orm aç ão ne m sem pre será generalizável, sen
nos. Es sa de seu carate
e talvez em algumas pa rti cip an te ho uv er sid o escolhido em virtude
perguntas iniciais. te, quando o no capítulo 6. Mas ela
típico, como já se viu ao
falar do estudo de caso
previstas pesquisa, perrrIitj..
antecipadamente, par
a
pre ab rir o ca mi nho a novos domínios de
pode rá sem pessoas impli.
improvisar em seguid
a
bri r as pe rgu nta s fun da mentais, os termos que as ório fre
suas outras perguntas do desco
ra fal ar do ass un to, etc . Este é o papel explorat
em função de suas cadas usam pa trumentos pouco ou
intenções e das tem en te rec on he cid o às pesquisas que usam ins
qüen
respostas obtidas de seu
interlocutor. não-estruturados. mo de lo único para esse tipo
de entrevjs
Acresce nte mo s qu e nã o há
pesquisador mantém o
utu rad as. As sim, em alguns casos, o
tas nã oe str s, ele partilha esse
eç õe s tom ad as nas interações: às veze
controle da s dir ao entrevista..
pa sso qu e, no s ca so s ex tremos, ele o abandona o-se
controle, ao
an do -o a se ex pre ssa r livremente, contentand
do, somente incen tiv he prosseguir: esta
om ar as últ im as fra ses deste a fim de permitir-l ias de vida.
em ret a co rrente no recurso às histór
ira de ag ir é prá tic ciso
última mane en to do s dados será exigente: é pre
ca so s, o tra tam
Em todos os letadas, habitual
cia tra ns cre ve r cu idadosamente as frases co
com fre qü ên ses de conteú
rad as em gra va do r, pa ra logo proceder às análi
mente regist cas.
ge ral , ma is de lic ad as do que as análises estatísti
do, que são, em rta a técnica ou
a de ser visto, pouco impo
Resumindo-se o que acab agem própria
uti liz ad o, a co let a de testemunhos, abord
o instrume nto ssoas que
ma na s, ex ige qu e o pe squisador dirija-se a pe
das ciências hu ê-lo e
as pe rgu nta s, qu e têm a competência para faz
querem responder recurso ao testemunho pe
rmite a explo
em co m ho ne sti da de , O representa
que o faz sso as, mas também de suas
nh ec im en tos da s pe
ração dos co
timentos, opiniões...
ções, crenças, valores, sen qu est ion ári o ou entrevista, serão amiúd
e
us ad os ,
Os instrumentos es de respos
est rut ura do s, en ce rra nd o o participante em opçõ rapida
fortemente sa inf orm ação permite interrogar
ipa da me nte . Es os
tas previstas antec gra nd e nú me ro de pessoas, e tratar
cu sto , um
mente, e com menor tirar conclusões gerais. Ou
tros instru
sti ca me nte pa ra de les ento das
dados estati rut ura dos: com o desaparecim
no s ou na da est núme
mentos serão me iza çã o qu e possibilita o grande
ura , a un ifo rm o
exigências da estrut co mp ara çõ es ap aga-se, acarretando
ta as
ro de participantes e facili did as e às estatísticas. A fle
xibilidade
to do rec urs o às me mais
desaparecimen tad os inf ormações muitas vezes
ter do s en tre vis
adquirida permite ob is próxima da complexid?
de das situa
un da s, um a im ag em ma ção ser
ricas e fec en tos , imagem cuja generaliza adm
os ou ac on tec im
ções, fenômen parte do pesquis
av ia de lic ad a e ex igi rá cuidado e prudência por
tod

Espaço à imaginação
desemj;
rm an ec e um dc nd Pi o em coe a irnacinaçio deve
A pesquisa pe r a reaiidade’,
im po rta nte : ci o com o fim de “inventa
nhar um pa pe i de instnsrne
lho r ab ord á-l a, po is a pa rtirdas grandes categorias
para me
A CONSTRUÇÃO DO SABER 191

tos descritos naquilo que precedeu, tudo se torna possível. Cabe ao pesqui’
permitirão
ador imaginar e ajustar a técnica, os instrumentos que lhe
5
necessária
delimitar o objeto de sua pesquisa, extrair deles a informação
compreensão que ele quer ter para logo partilhá-la e contribuir assim
para a construção dos saberes.
Nenhum instrumento é perfeito: aliás, temos insistido nas qualidades
pesquisa-
como nas falhas e limites daqueles que consideramos. Mas um
ento e aprove itar assim as
dor decide sempre usar mais de um instrum
s.
vantagens de cada um, minimizando alguns de seus inconveniente 1’
Podem ser dois instrumentos depefidentes de uma só técnica: um
pesquisador poderá, por exemplo, aprofundar as informações colhid
as :4:
sua entrevi sta
com o auxilio de entrevistas estruturadas, prolongando
da
com alguns assuntos, atraves de uma entrevista semi ou não-estrutura
tência desses partici pantes , verific ar
Isso lhe permitirá verificar a compe
também se as respostas dadas à parte estruturada corresp ondem exatam en-
iras
te ao fundo do pensamento dessas pessoas, ou se são apenas grosse
aproximações dele E podem ademais explorar os diversos fatores que
puderam conduzir seus interrogados às opiniões emitidas: fatores
rr

afetivos, representações sociais, valores pessoais... O quadro assim ex-


traido poderá ser ao mesmo tempo geral, caso se pense no que emergirá
da parte mais estruturada, e aprofundado, pois fornecerá uma visão de
certos elementos sobre os quais se baseiam as conclusões gerais.
Pode-se também imaginar casamentos entre instrumentos que de-
pendem de técnicas diferentes Assim, Piaget, um dos destaques da psi
cologia cognitiva, coordenou brilhantemente a observação e a entrevis
ta, interrogando crianças pequenas e dando-lhes tarefas, para chegar a
extrair de suas respostas e reações as informações que o levaram a sua
teoria dos estágios no desenvolvimento da inteligência. Fato notável,
seus instrumentos eram freqüentemente pouco estruturados e ele os usou
com muito poucas crianças, o que não o impediu de chegar a conclusões 1::
cujo valor e ainda altamente reconhecido mesmo que, as vezes, tenham
sido, desde então, aperfeiçoadas e nuançadas.

Testes
Dentre os instrumentos desenvolvidos para a exploração do humano, há 1-
urna categoria que merece ser distinguida das outras: os lestes.
Existe uma espantosa variedade de- testes, variedade que permite
atingir uma enorme quantidade de caracteres que marcam a natureza
humana. Às vezes muito estruturados, como os testes nos quais o interro
gado deve indicar seu grau de concord5ncia com enunciados, outros
testes osão menos, ouando, por exemolo, lhe é soIictado a contar urna
h rarr de: urna irnanem
-,

JOgos nas revistas: pedese a vocã, por exemplo, pai especificar quais
seriam suas reações dentre algumas descritas em relação a situações
:ft;las pontos por caiAs oucão: deeois, em fim ão de

°°eiro

5.
.
. LAURENR.t *ksHJ::. 1,
7
Ci
4:
w
ANÁLiSE_ ANÁUSE
DE CONTEÚDO OS CONTEÚDO
na Universidade de Paris V, apli
Laurence Bardin, professora-assistente de psicologia ção psicossociológica e no estudo
cou as técnicas da Análise de Conteúdo na investiga um manual claro, concreto e ope
das comunicações de massas. Este livro procura ser ser utilizado por psicólogos
racional desse método de investigação, que tanto pode ou finalidade, como por psica
e sociólogos, qualquer que seja a sua especialidade
nalistas, historiadores políticos, jornalistas, etc.
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edições 70
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edições 70
1
ORGANIZAÇÃO DA ANÁLISE
As diferentes fases da análise de conteúdo, tal como o
inquérito sociológico ou a experimentação, organizam-se
em torno de três pólos cronológicos:
1) a pré-análise;
2) a exploração do material;
3) o tratamento dos resultados, a inferência e a iutcr
pretação.
1, A PKt-ANÁLISE
É a fase de organização propriamente dita. Corresponde
a um penedo de intuições, mas, tem por objectivo tornar
operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira
a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das
operações sucessivas, num plano de análise. Recorrendo ou
não ao ordenador, trata-se de estabelecer um programa
que, podendo ser flexivel (quer dizer, que permita a intro
dução de novos procedimentos no decurso da análise), deve,
no entanto, ser preciso.
Geralmente, esta primeira fase possui três inisC’es
a escolha dos documentos a. serem submetidos à análise, a
formulação das hipóteses e dos objectivos e a elaboração
de indicadores que fundamentem a interpretação final.
95
A
constituição implica, muitas vezes, escolhas, selecçôes e
m, obrigatoriamente, se regras. Eis as principais regras:
Estes três factores, não se sucede embora se mantenham
gundo uma ordem cronológica,outros: a escolha de do • Regra da exaustividade: uma vez definido o campo
estreitarnente ligados uns aos do corpus (entrevistas de um inquérito, respostas a um
vos, ou, inversamente, o
cumentos depende dos objecti dos documentos dispo questionário, editoriais de um quotidiano de Paris entre
objectivo só é possível em função construídos em função das tal e tal data, emissões de televisão sobre determinado
níveis; os indicadores serão as hipóteses serão criadas na assunto, etc.), é preciso terem-se em\conta todos os ele
hipóteses, ou, pelo contrário, pré-análise tem por objectivo mentos desse corpus. Por outras palavras, não se pode dei
presença de certos índices. A xar de fora qualquer um dos elementos por esta ou por
própria seja composta por acti
a organização, embora eia abertasê, por oposição à explo aquela razão (dificuldade de acesso, impressão de não
vidades não estruturadas, -interesse), que não possa ser justificável ElO pliuio do
ração sistemática dos documentos. rigor. Esta regra é completada pela de nõo-sclccfiridadc,
A primeira actividade con Por exemplo, reune-se um material de análise da publi
a) A leitura «flutuante».— com os documeútos a analisar cidade a automóveis publicada na imprensa duranteestes um
siste em estabelecer contacto
deixan do-se invadir por impressões ano. Qualquer anúncio publicitário que corresponda a
e em conhecer o texto chama da de leitura (flutuante), critérios, deve ser recenseado.
e orientações. Esta fase é psicanalista. Pouco a pouco,
por analogia com a atitude do precisa, em função de hipó
mais é Regra da representatividade. A análise pude efectuar-
a leitura vai-se tornando ão de teorias adaptadas sobre -se numa amostra desde que o material a isso se preste.
teses emergentes, da projecç aplicação de técnicas utilizadas A amostragein diz-se rigorosa se a amostra for uma parte
o material e da possível representativa do universo inicial. Neste caso, os resui
sobre materiais análogos. tados obtidos para a amostra serão generalizados ao todo
entos. O universo de do Para se proceder à arnostragem, é necessário ser’ pos
li) A escolha dos docum determinado a priori: sível descobrir a distribuição dos caracteres (los elementos

cumentos de análise pode ser da amostra. Um universo heterogéneo requer urna amos
a solicita a urna equipa
de tra maior do que um universo homogéneo. A costureira,
• por exemplo: uma empres recortes de imprensa reuni para que possa fazer ideia de uma peça de tecido com
fio,!
analistas a exploração dos do novo produto lançado res, tem necessidade de uma amostra maior desse tecido,
dos num press-book, acerca atrás. do que aquela que seria necessária para ter a ideia de um
no mercado alguns meses tecido liso. Tal como para uma sondagem, a arnustrageniidas
inado, e, por conseguinte, pode fazer-se ao acaso, ou por quotas (sendo conhec
Ou então o objectivo é determ documentos susceptíveis de as frequências das características da população, retoma
convém escolher o universo de problema levantado: mo-las na amostra, em proporções reduzidas).
fornecer informações sobre o Por exemplo, se se souber que existe x marcas de auto
é seguir a evolução dos valores móveis e que cada uma possui uma taxa média de n anún
• por exemplo: o objectivo a durante um determinado cios por ano. Além disso, conhece-se a distribuição pelos
da. instituição escolar frances dos discursos de distri órgãos de imprensa. Finalmente, avaliamos a repartição
ano. Opta-se então pela análisehomogéneo, regular, con quantitativa e a variação qualitativa dos conteúdos telná.
buição dos prémios: materialinformações relativamente ticos segundo os meses do ano. Tidos em conta estes cri
senado, acessivel e rico em térios (marcas, órgãos de imprensa, períodos) que depen
ao objectivo. dem do objectivo da análise, pode proceder-se a ‘nua re
(o género de documen dução pensada (amostragem) do universo e diminuir a
Estando o universo demarcado r a análise), é muitas parte submetida a análise.
efectua
tos sobre os quais se pode à constituição de um corpu3. Nem todo o material de análise é susceptivel de dar
vezes necessário proceder-se documentos tidos em conta para lugar a uma amostragem, e, nesse caso, mais vale abster-
O corpus é o conjunto dosprocedimentos analíticos, A sua
serem submetidos aos 97
96
i
análise
A propósito deste problema do primado do quadro(1)deparecem
e
mo-nos e reduzir o próprio universo (e portanto o alcanc sobre as técnicas e vice-versa, 1’. Henry e 5.
Moscovici
w quadro de
da análise), se este for demasiado importante. privilegiar os procedimentos exploratórl.os (em que
uma colocação
análise não está determinado, e em que se parte de estes
em evidência das propriedades dos textos.) em relaçao ao que
Regra da homogeneidade: os documentos retidos autores chamam os procedimentos fechados.
devem ser homogéneos, quer dizer, devem obedecer aa sincri PÔr em funcionamento um procedimento fechad
o, é começar
-se a partir de um quadro empírico ou teórico de , an4ltp e de certos
térios precisas de escolha e não apresentar demasiad estados psicológicos, paico-sociológicos ou outros
que se tentam
gularidade fora destes critérios de escolha. s particularizar, ou então a propósito dos quais se formul
aram ldpÓ•
Por exemplo, as entrevistas de inquérito efectuada teses ou se levantaram questões. Keúnem-se textos, Depois
obser
tema,
sobre um dado tema, devem: referir-se todas a esseticas e
te’irico,
vam-se esses textos através de um determinado quadro
modificado,,
te; sido obtidas por intermédio de técnicas idên regra quadro esse pré-estabelecido e que nAs, pode ser
almento por
Os procedimentos fechados, caracterizados eSenci dop textos
sérem realizadas por. individuos semelhantes. Esta técnicas taxinómicas (por classificação de elemen
tos
r resultados
é, sobretudo, utilizada quando se desejam obte uais. em função de critérios Internos ou externos),
são métodos de obser
globais ou comparar entre si os resultados individ
nervcm
vação que funcionam segundo o mecanismo da lnduç&o e
Precisemos, no entanto, que se a constituição de um para a experimentação de hipóteses.
Enquanto que os procedimentos de cxploraçdo, aos quais
podeni
para
corpus é uma fase habitual na análise de conteúdo, fun corresponder técnicas ditas siatemdt4cas (e nomea
damente auto
certas análises monográficas (uma entrevista apro livro), máticas), permitem, a partir dos próprios textos, apreen
der as liga
dada, a estrutura de um sopho ou a temática de um único,
o o prccessc
ções entre as diferentes varláveis, funcionam segund
tal fase não tem sentido (caso de um documento dedutivo e facilitam a construção de novas hipóteses.
Segundo os autores, cujo ponto de vista particu
lar, os conduz
singular). ffo .— ou campo
ao desejo de Insistir, quer nas condições de produç ão
(situaç le como
de determinações— dos textos no sentido iato
Regra de pertinência: os documentos retidos devem etc.), quer nas
nicação, meto sócio-cultural, psicologia Individual,
o, modo a ões de pro
ser adequados, enquanto fonte de informaçã de relações entre os próprios documentos e as suas condiç
em de
. dução, os métodos exploratórios sistemáticos têm a vantag
corresponderem ao objectivo que suscita a análise experirnen
poderem servir de introdução aos únicos procedimentos o que estes
tais capazes de apreender as ligações funcionais entre
Uma de produção,
c) A. formulação das hipóteses e dos objectivos. autores chamam o plano vertical (nível de condições

ntal (uivei doe
os enquanto varláveis independentes) e o plano horizo
hipótese é uma afirmação provisória que nos propom textos anaUsados enquanto variávete dependentes).
verificar (confirmar ou infirmar), recorrend ção
o aos pro
cedimentos de análise. Trata-se de uma suposi cuja
so en No entanto, em muitos casos, o trabalho do a.nalista
origem é a intuição e que permanece em suspen s. é insidiosamente orientado por hipóteses implícitas. Da
quanto não for submetida à prova de dados seguro qui, a necessidade das posições latentes serem reveladas
propomos
O objectivo é a finalidade geral a que nos o qua e postas à prova pelos factos, posições estas susceptlveis
(ou que é fornecida por uma instância exterior), s obti s,
de introduzir desvios nos procedimentos e nos resultado r
dro teórico e/ou pragmático, no qual os resultado Formular hipóteses consiste, muitas vezes, em explicita
dos serão utilizados. e precisar e, por conseguinte, em dominar dimensões

Levantar urna hipótese é interrogarmo-nos: «será ver

e direcções de análise, que apesar de tudo funcionam no
dade que, tal como é sugerido pela análise a priori do processo.
problema e pelo conhecimento que dele possuo, ou, como
as minhas primeiras leituras me levam a pensar, que... ?.. d) A. referenciação dos {ndices e a elaboração de i’uZi
De facto, as hipóteses nem sempre são estabelecidas cadores. Se se considerarem os textos como urna mani
quando da pré-análise. Por outro lado, não é obrigatório

e festação contendo Indices que a análise vai fazer falai-,
ter-se como guia um corpus de hipóteses, para se proc o trabalho preparatório será o da escolha destes em —
der à análise. Algumas análises efectuam-se da cegas
e sem ideias pré-concebidas. Uma ou várias técnicas são.
consideradas adequadas a prlod, para fazerem cfalars u,
o material, utilizando-se sistematicamente. Isto é o que (9 P. flenry e 5. Mesoovlcl, (Problêmos de l’anatvse de c’onteu
informática. em Langage, n.’ ri, Setembro, 1968,
sucede muitas vezes, ao recorrermos
99
.98
função das hipóteses, caso elas estejam determinadas —
A preparação formal, ou «edição*, dos textos, pode ir
e sua organização sistemática em indicadores. desde o alinhamento dos enunciados intactos, proposição
Por exemplo, o índice pode ser a menção explícita de por proposição, até à transformação linguística dos sin
um tema numa mensagem. Se se parte do princípio, de tagmas, para standartização e classificação por equiva
que este tema possui tanto mais importância para o lo lência, No caso do tratamento informático, os textos de
cutor, quanto mais frequentemente é repetido (caso da vem ser preparados e codificados segundo as possibilh
análise sistemática quantitativa), o indicador correspon dades de deitura do ordenador e segundo as instruções
dente será a. frequência deste tema de maneira relativa do programa.
ou obsoluta, relativamente a outros.
Por exemplo: supõe-se que a emoção e a ansiedade se
müifestam por perturbações da palavra(2)durante uma en 2, Á EXPLORAÇÃO DO MATERLL
trevista terapêutica. Os índices retidos (.Rã, frases
interrompidas, repetição, gaguez, sons incoerentes...) e a Se as diferentes operações da pré-análise foram coo
sua frequência de aparição, vão servir de indicador do venientemente coneluídas, a fase ‘de análise propriamente
estado emocional subjacente. dita não é mais do que a administração sistemática das
Uma vez escolhidos os índices, procede-se à constru decisões tomadas. Quer se trate de procedimentos apli
ção de indicadores precisos e seguros. Desde a pré-análise cados manualmente ou de operações efectuadas peio orde
devem ser determinadas operações: de recorte do texto nador, o decorrer do programa completa-se mecanica
em unidades comparáveis de categorização para análise mente. Esta fases longa e fastidiosa, consiste essencial-
temática e de modalidade de codificação para o registo mente de operações de codificação, desconto ou enuxne
dos dados. ração, em função de. regras previamente fonouladas
Geralmente, certificamo-nos da eficácia e da pertinên (cf. capftulo seguinte)..
eia dos indicadores, testando-os cm algumas passagens
ou em alguns elementos dos documentos (pre-teste de
3. TRATAMENTO DOS RESULTADOS OIYI11JOS
análise). E rNTERPRTAÇÁO
e) A preparação do material. Antes da análise pro

priamente dita, o material reunido deve ser preparado. Os resultados brutos são tratados de niamir a a serem
Trata-se de uma preparação material e, eventualmente, significativos ((falantes)) e válidos. Operações etatís
de uma preparação formal (cediçào). ticas simples (percentagens), ou mais complexas (análise
Por exemplo: as entrevistas gravadas são transmitidas factorial), permitem estabelecer quadros de resultados,
(na integra) eas gravações conservadas (pan Informação diagramas, figuras e modelos, os quais condensam e põem
paralinguística), os artigos de imprensa são recortados, as em relevo as informações fornecidas pela análise.
respostas a questões abertas são anotadas em fichas, etc. Para um maior rigor, estes resultados são subn.ietidos
Ë aconselhável que se prevejam reproduções em número a provas estatísticas, assim como a testes de validação.
suficiente (recortes, equipa numerosa) e que se numerem O analista, tendo à sua disposição tesultados signifi
os elementos do corpus. Suportes materiais do tipo pre cativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar
ciso, podem facilitar a manipulação da análise: entrevis interpretações a propósito dos objectivos previstos,, ou que
tas dactilografadas num rolo de papel, dispondo de colunas digam respêlto a outras descobertas inesperadas.
vazias à esquerda e à direita para o código e respostas a Por outro lado, os resultados obtidos, a confrontação
questionários em fichas standard para que se possam sistemática com o material e o tipo de inferências alcan
marcar os contrastes. çadas, podem servir de base a uma outra análise disposta
em tomo de novas diniensões teóricas, ou praticada graças
nal atates by content analy
a técnicas diferentes (ver figura na pág. eqninLc,
(‘) G. E. MahI, cExplorlng emotio , Unlverstty
&s,, em 1. de 8, Poel, Trenda 1.. content analØ*, Urbana
of Illinois Prese, 1959,
100 201
.4’
ii
À (k
..)
‘4jj
7 9
iLxsE rE crwrtOoo isto é, do Ixam e do nau prnfeso
restrito: A detannlnaçio das regras de crxlific-a,À: ic’Vk-d.
A expressão ‘análise de crnteõdo’ á utilizada nu sentido
-
rar o unidade de eiiuiieraçãa c* de cxuta<pr- cada rela:.çdc, i cm)
refere—se apenas às técnicas usualwente utilizadas pelas Ciências
ra a exploração de &xnnentos • não abragenio portanto os tipos de
caie, directaniente co ástito da linguística e da literatura.

Scx,iais pa
anil (se que unidade de registo cu ‘a4 signiricd%ac.Lacx4iticar’, temio
“em vista a catasor-zaçic € mi tatds Ju,c - u na ‘J
1)
e— nos a proposição.
Djb,ra as téaúcas de análise de czrnteízjo não tenhasn cessado de
ação, Utilizímms o teoni prcpciçdo no sent.:.ii qne lia dá Macio—
luir rx (iltinos decéstice, atingindo um graj3e grau de sofistic
as leva —Qiristine d’WX ‘r-’ar pnxIção enteni<,oa orne eflntnç.&o, çxna
jecti’,os limita&’s do cosso traba)ho’e a falta de treino dos analist
declaração, Um juizo CU Uni L9tern’JZiÇa) L1 a.at; C
es e práticas ireis tradicicra.is, directanonte
reu—ros a optar por crrcepç
6
Ema frase ai um eleiesito de frase que, tal -:‘‘:c
inspiradas trabalhs de &RESa e diwlgadas e, córas da especialida
tom
-
ca, estabelece una relação entre dois cxi na,). e t.acrn::o, Li,. are,. pe: .i.n—
dê (1).
dpio, Uma unidade que se hista a ela Inirla (2).
Ãssii,, partians da definição de BD%N de
análise de cnteÇxb co
sistemática A téauca usada foI a]c.fl.a Cfr3 a nnr!a arrora
co “tina tj&xaica de investigação que visa a descrição cójectiva,
.
e quantitativa do ocnte&lo manifesto da ctnunicação” -
x’ra e cola”, Isto é, o texto foI dlvlctick’ ‘e fica:preni:a qca io-
categoriae.’ ?msbn asca,) pcxleer&e La
/
AS etapas seguidas na análise corresprniaram às regras correntes:
3. cimenta ser refeunaiadas - reilda cswa v1r r-orir t-n<’-.. o o (co::’
ica
10 - Leitura Inicial dos &nzrentos para una apreensão sincrát tos.
das suas características e ava1iaç& das pssibllidales de anil! A escolha da gaciade de cx:E nato ,‘a’ (co - se era, e dii (cii
sex determinação do ‘segrento da lrensarysn cujo tacanho (superior á o’
O ‘‘(r ora’
Etenninação dos cójectivos da aniUse de acordo o as nidade de registo) é éptIieo para ‘3j3i±Ol.iCr a cc

es acóre o tema
teses enitidas. Por exaplo, na análise àas relacçz
5 da unidade de registo’ 3) ofereceu-tais -panOs cc’ );
“Se eu fosse pxofessr, - -“, partiu—se da hipótese de que esses
tex deficiente sistema de Faitoação utilizado tos texto-e anal lssdc’s
o.niuta pe— e o tairianto naluz ido de mui tcs de los nor 1 eso, (.Cn: ao -‘e’
etJunos
tos expriiren a identificação do aluo azo ti, irodelo de
-
dag5gica que traduz a sua crnceçção do lnn professor. A
leitura lJr aalo unidade de contexto a rnJdcru -
ve Na entievtsta_a w’üd&.ie de asit.axtu o’ n’eh: .1
desses &zzmentos, revelaMo que essa definição se faz nuitas
zes pela negativa ai pelo estabelecijrento de cxritrastes, 1eni-nt’s , :cttas voas, tonsa-caa cacos
resposta a uma pergunta ti) entwit
6
a cn-isiderar a pcssibilidade de definição de nn3elos antitéti
cos, sino atender ao sitido das respostas aniece,(os,ta , se
Cada categiria & definecla Cja: aries A] Ir:: o eis e.)o
(1) aniltar,en língua portnguesa:
— BAIOIN, Laurence, Análise de Çtte&%o, Lislx,a, Fdiçães 70, 1979, (1) BAmIN, L., L’analyse de atenu, Paris, PUI 1577, p103
- FES’flN2 e KP.TZ, A Pesquisa na Psimloaia Scx,ial, Rio de Janeiro, fl14 (2) D’UIM.X, ?4arie—Õ-&nistij-ie Lanalvse dectuteir,, Pans, r1.tío-- Y(co,’—
tora Fzxlaç&o Cebfllo Varjas, 1974, pi. 403—449. sitaires, 1974, p1167.
(3) BAnJLN, ctre citada, pio?
Inlicadas pol 3ULs
As wüdas de registo (8) aSo
itn se deve prDcer exaustivanente.
tes, a aijo levantái
À seneibarça de que a0n
tece an qualquer pnxsso de
categori
ecr a critérios de
f A anilise desta parta do texto penn
ite—rt’s- .Iot rt Jar tr
zaçaç, a &texminaç das categorias deverá cÓa1
professor ai seja, as nnelo de JaessDr.
stividade.
exclusivid? recíproca e exau
cter&ria, Nroneidaie, Assim, terimios:
adas,
das categorias devn ser test
A validade e a flôsudale Bri Professor
s e veri ficant
as 1) Categoria —
o a vrlcs analista
5uhne tenSa us lieslo teçt ltirt oranizacbr do pnxr.s,s.
2) $ubcategorias —
cordáncias e as divergências. bx organizador da rehv;&
aia aluna de li anas
,do cria cahwi o ‘
cazos as texto 3) IndicaSares —“Explicava brio
A títuio de exençio. fome clsas:e
ira escoLa do ciclo Prepara vezes rp.e fossen pre
ctrigat&ia, a frentar
59 ana de esrx,Larlda3e
tzSrio de Lisha øj, de roxio esquanátioa
5e eu fosse professora”
Ban Professor — sua def1sitç&cerc,.a
Categoria
a e paciSnciaj e repetia
as vezes
explicava brio ctn, calm
Processo firiLç
de rfiniçâo pela Afiunativa
definiç&z
que fosses precisas
3 1 - O professor acuo orqani

a p,sczvesa ensu>
rranlaria trahailx>s para cas
1 z&)t- k
Subcate raSar do pX5&O e’süo
goria 1
-aprenlhza
jras a te, apenas estalar as liç6es nua livr
o apniriIa 1 tkiidazie
5 1 a—o
de 1 — Explicava bxki cxiii cal-
tc os alma o oarrigirtam lia e pacircia
vez que eu desse sn pcsa
2 - ltFx,tla as vezes
fosses precisas
cxnoasH. 3 — lia..: fvlI-r
Jlk1IcadOces
:ss.i
ea atrasabe da fnra
fnra Us baU JDenas quanSa deqaso
Stltr
Maniarf a apenas estudar
J:flriO 4 -
lrl&n para a rua as liç&s nua livro aprtpri
i tfl 0.1 mau cxxrportanento
tinhaafalta de raspe
S t aluros o.nigiriaii c
-
ttn Los caio sojbe 55w
* Ou vez de tivesses
• r 1 - O. professar caio orni - O Professor crn,o ar-gani

casa e o papel do professor aZ10 corrector—juiz ao rwr,I ‘9


&as que a sequência refere.t.e a aspectos rclacic.r,ais arje 0)
quéncias que se referes aos aspectos cio ensinc propr iantrit..e di ti:), Erx’Os t rasos

O
,t’) 00. -
zakr da relzçio: o eauaia lógico anterior da aceitaçSo—negaçio, agora na densa rweaçaa»ace za
çáo: a—se o castiga cixrparai, n’as reafirma—se o dl:! 1 o ã pintç.,
1 t& lhes batia
o roxitezinento do pcder e da autoridade de q.!::a’
-
inpilca
j — Qasado degassenatras uências foi feita na
A ostatagen das fra
4
dos ai tinhajn” falta de inter—gnipal. Qio a varive1 ccrzsideraia foi o sa,o dos a.Ltusis, foCo’ sL’sj»s,e
fltt caio res respeito Ccix mau xrrxnta— a caxparação das fraxnoLn,.sigj,_jy1jca0ores nos textos da ao torne a5o
r
da
moto) irian pará ana lirns e fendnirc.s.
categoria
Outros prpzessos, mais crrçiexns e soflsttcai e ide:-3 se’ .‘s’
CDt atrás referinos, utilizábos esta netodolojia cl.: a ,‘:oS.: 03: .:5 “L’’
do raso trabalho, aproveitamento da inforuaç&-i co O: los á ci :5 ca]<ao rei ‘ts’tas::
minados elsientos de caraote.rizaç& ão profesoor e do aloni,: dat’i.nlçáso spera
cicnal de estratégias de ctservaçáo e de intervnn?an 1 salso de soalHo .05 -
‘o Assim, teTos aplicado esta técdca -— nil’d:ssr-m-; doo
tos de entrevistas de alusos e professores rnst Irá: 1- -‘--ro: ‘,,.eo’ -
4) MiUse de se:u&ncias e antaan das freqincias hinos e professores; ralacções ria alasos,
ro estojo de
A anilise das serx2ias (1) foi utilizada sctrettsio
para tentar captar a articul.aqke osiniflcacb do discurso. Na re
sequencial traduz
dacç&’ atrás transcrita, gtta—se, p& exaplo, que a ordan
que é, m entes
a interiorizaçao de tn eapflM did&stio, de cariz traiicicnal
casa,
to, ,gto an causa ros oeus aspectos mais azerciços (o trabailo de
prIncipal Biblicigraf ia Czrzsultaia
ccntrolo czmiçotanta do professor, o castiga cx-zpral).
.2 Coo efeito, a sequncia do discursa seque a sçquncia did5ctica da
Uç& trwiicia’ial e eicprlize os sais valores,, a cLareza
gidade da repetiçáa, a ctnsolidaçÃo atravésdomarmal, o

da explicaçSo, a fleces
cx-ritrolo &is orrihe—
ciimotoe. !b entanto, o esqtoa é subvertido na iralida e. que
o trabalto de

-

BMCm, Laurence, MiUse de Ctxite&io, Lisboa, aiiç&s 70,


O’IIITUD, Marie—Ciristine,
talres, 1974.
FYST1N2R e KATZ, A
Exuxiação Getíiio 9s,
Var
a
Peap.tisa na Psicologia So_7jpt,
1974, a. 403-449.
1:’:, 5,

39’)9
Parte. Edltloco doAva,
sie UM nl4alwa de 150015! stnlv,
(1) ‘Distinguir-se—A a rova sequência cada vez que descrição i explica—
— nDL, I.de S., Trends is (»itent Analysi, U:bana,
sujeito ai a- passageo da narraçaa £ descriç&s, da 1959.
çáo, etc.” D’IX{RX, MC., ctra citada, pl?

.
2
5IlAflaÍq0 op stunb 0?bS0AW ap erimba ep wqwaw
op a RuSfAJ3
-epo saweibod • wabaz;p .iad si, sepo; ao no5tnas au jossaojd O Ji,DOfO —
-00 tP seus])
sou sopolafaqausa 500 Wa]a aoatuoaiqo uasdtu a ‘iopaoaao -oqfaqait 0f
3 oaxf o a.iad AfptJ!OSttJdw!
.asaajtO ato j
50.000 wau jossao,d o as iaoyua, —
• aaot: .00 a artaiq aiuawaunfoso.e a 000qu0000 050
OUÇSSU] tIO
OuuawaoaAoicia.. ap sOWia] .0•03 oooaid opow nas o siosi iossajott op aotflt Jipad —.
opa; -000) a
.s, issa 0tiO o
usa tusso; ao os5oz,ia;,osas a )t000ifO$ au J0000ÕSOJ ‘{OLJflIt OU 5Ppi,i2000 505IbObePad -sina is o a tu; soai;
‘uadap sitnb
— anb eAaatH sao5envs cl, o ezasoeicu a finco o- Jesosou, ‘1.50 00
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muito ep .iasqu ao seibolopotaw sCt.00 ciqos 011] a Eas]n oe5ew
.iad SEP on [
oebezuaa OIWØf EÇ -ana :os5ebusa,ui ap O11lC11Efl ossou -cima e 9
-iziba
-ejoqela E Ei
:0108w odtiiaj Op ‘SieDõ sequ! SEOS SEU ‘iEUUOJUI — t JEUJi5iflO]
-ed eprtied ap ‘3C.1E3 E ©
sozuod manto sauu&ialai Jeiapis003 anb sopedse eied eis sosijio s030jq
sou eunna El, eiab oessaidwi e iipa —
-5003 saiun6 z sagõeMasqp seounõsad ap Osi?lnWiOJ wn EiE —atisa sors sop Ofl
-as 5030N toesuezi ap soiuod IE;et -s)qg J.euõisao
sou a atsau OAitOOl flue ou opu OSSAU anb J!O!JOP E me ‘es
sossaudxo seuunt woz, no flue owseu, op seanc iossa$ud .5e13 V
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oçõesuesso :oçinb aio tied souodçsf &çlflE3I$WWfflõfltr5õi5aE!rj
E ‘ElflE ap OCãEiilis 1538
-eoiboâeped oeõe)aJ ep sosoade auqos
oeõ,e ens ep e) sepeasa;d ág5euuojui
.sossapid op ogiuido ep o ezuanejeo emn eied sopep uaqlooag -
5E13 letsuep4uoo ieneieo O sesnBassy

euilds,sip a wabezipuaide Ouisua ep Ui51A ep ozuod
‘OOf 3Ø)C$ OPOW
o qos ‘eusirn ep oflewesqo ep oflesusuo E and sopep iaqjo3a — -z
ap openuuof ias iaap {oflebflsaAuf

eu!)dias!p a wabazipuaude owsua op EflIA El,
ep edintia — sossajosd) oaoidpai epnle
oauod o qos emins ep ocõezuapaje, ewn eued sosuewaja ia;q —
ep
ofdpu)id O ‘oç5eMasqo ap opopad
o eiueinp o5oe ens ep jaeqpaaj, :siaJoO soAltoaiqp —
‘03Ol OP $03 o opfoaLuOJ e.atfl.ias ‘OtfleqeiZ Op leu
13ioedsa SOA aped eu toflebqseAu! ep siediouud ‘euqdsosip e wabezipuaide — ou!Sue Op EssiA ap otuod
133 aiqo sop sossed sop opezuouauued 518w) o pos ‘lepapiJelOoSe SP DOE ewins caio ali 0?5ezuBtOEJED !flttTI —
‘LI
OiASap tuas oauawioaquos øU83 Eu ‘atuawienpe)6
,°Pe3SIO.8Ue :feioedsa owieasa tun moo eioqwa
HOSS3OHd 0V VISIA3U.LN3 30 01dfl3X3 tÍ1
AJÉGNICA DA ENTREViSTA Em suma, pretende’se utilizar, na condução da entrevista, urna orientação
semidirectiva, sem prejuizo de uma prévia estruturação da entrevista, estruturação
lI Asoectos de Ordem Geral desenvolvida em termos de obiectivos gerais e específicos.
Pensamos, aliàs, que a definição precisa dos obiectivos é questão essencial,
A técnica da entrevista poderá ser utilizada em vários momentos do trabalho Essa definição permitirá uma maior maleabilidade na escolha dos processos e

a realizar com os professores e alunos das classes observadas. meios utilizados na orientação da entrevista a estruturação deverá, portanto,
A finalidade das entrevistas a realizar consiste, em última instância, na incidir no plano da definição e hierarquização dos obiectivos, e não no piano da
recolha de dados de opinião que permitam não só fornecer pistas para organização dos meios necessários à sua prossecução.
a caracteri
zação do processo em estudo, como também conhecer, sob alguns
aspectos, os Pelo expresso no 2.’ ponto, procura-se salvaguardar a possibilidade de
intervenientes do processo. Isto é, se, por um lado, se procura uma informação alargamento, ao longo da entrevista, dos temas propostos ào entrevistado. Note-se
sobre o real, por outro, pretende-se conhecer algo dos quadros
conceptuais dos que esse alargamento, directa ou indirectamente, tem sempre algo a ver com os
dadores dessa informação, enquanto elementos constituintes desse processo. temas centrais. Por outro lado, corresponde, por vezes, a pontos do plano previsto
As entrevistas têm, assim, finalidades de investigação, evidentes
nos dois para a entrevista, pontos que se pretendiam abordar de seguida e que, assim,
planos de aproveitamento de dados. ficam ia tratados, na medida em que o entrevistado forneceu, ‘espOntaneamense’,
Em virtude de se tratar de ‘entrevistas de investigação’, impõe-se
a definição informação que se tinha previsto obter apenas numa fase mais adiantada da
de um certo número de princípios, necessários à sua
concretização Iprincipios que entrevista.
podem servir, simuftaneamente de ponto de partida para
a elaboração das instruções Em relação ao 3.’ ponto, entendemos que a liberdade que se pretende dar ao
e fornecer aos entrevistadoresl entrevistado não deverá ser incompatível com a necessidade de precisar os
Em sintese, poderemos agrupar em três pontos esses piincipios
orientadores quadros de referência do entrevistado, levando-o a esclarecer conceitos e
da condução da entrevista: situações,
Assim, por exemplo, interessará conhecer a conotação dada pelo professor

3.’ Evitar, na medida do possivel, dirigir a entrevista: le as situações a que ele se refere), quando utiliza expressões como ‘aluno

2.- Não restringir a temática abordada; abúlico’, ‘aluno mal inserido na turma’, ‘turma indisciplinada’, etc.
-. Esclarecer os quadros de referência utilizados pelo entrevistado.
III Um Modelo de Entrevista la Entrevista ao Professorf
Pelo primeiro princípio, procuramos ‘dar a palavra’ ao
entrevistado, não As entrevistas que lemos efectuado com prolessores e alunos constituem
coarciando a sua expressão, sob qualquer aspecto: o
entrevistado poderá abordar
o tem
8 como quïser durante o
duas variantes de um mesmo modelo de entrevista, modelo decorrente do que
tenpo que quiser, sem interferências do
entrevistador Também se procura acautelar o modo acabámos de precopizar.
de pôr as questões, a firo de Seguidamente, apresentamos um exemplo da entrevista que temos realizado
evitar influenciar o entrevistado.
com os professores.
00
n
sou
lelefi so anua e) sai
flTV’lOS
oMi,efqo -unbiad se ala *
‘ame ep euqdrnstp
oe sai -ue ogãe6q v
o,ôenaas tua
.‘

ep ou otuos ‘uiaüez,pueide ep oueld oueld


‘(leseIei 105501
aossejoid op Ou OWEI ‘loAlieBeu no oAoisOd anta Ou sop
soiuew ‘oid op
seAqepedxe -eauaa
e (o-çxiap e) op Sotiuet Lua) ,50583, oujoti eiepisuo
‘ela O sei eituez
no seg5ed gd_ leAap
-o
1 aossejoid o enb soun;e so’ ossi ‘sou saia ‘som
-Guetue eoIiqW
‘sem
-n,oejd aias ‘eqoad 055 ‘°(t -nle ep _sosos_ Lo JOZiPUi eiod sipe
sop selei ‘

-sesdxe opow ap o?3 •uatie e aos


-sope,uasqo .uetueld ‘euqd
uniOlo ep ‘anta iuqep -sed 5W ep
sgu iod uiesso anta epeisoø .woo so ‘ilSf13 ‘105
sopep sf140 jaM ee anta
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sowapueaead anta sose no se anus ‘soaoadso ‘
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8 ‘sewefqold ep oflesípui 8 1ei40!lo$ — 1 saqloeJ ® ens e Jeluetu ouald
o ‘ejobe euqd
‘01 uns tatu
‘SepalS!beJ ‘a adwon o lia
‘oçhei -!O5(PU(
ias uiqwq ‘fassep-odni6 -apesuos ep a deu
iaAep O Of ii
O?iaAaP fl04 ou ofloaõetui 5!euo!aeleJ sopatise teu tua op -ooe;ea
JopRlsM.tqaia
•s!nuif segõ diostp)
1
‘i ep souual uai ‘sou, sol3edstw
O ‘possooid)
‘BlOuOO $8
opels)Aaaue use eut.’m ep o3eaaezeieo e seiatto — t -tatu s ©
a siuqie*-Cu
ou epanuso
seginei 5 les çi,Aap
‘tuaõez
-e pewe uaqied • ‘055! lO
-!Pualdv’
-tuo, vuuoj -ouisu3
oniaaapnbea
Gun GWOSS8
O les 9lBA JOSsajoja
OU 125 Ala ‘soo!ôçã.ped sopoiul sepue.st no ouad
cstMaua
-eia e anta ep sewono, ‘sonpedsied use iossaaad o oflei
ou OPGlilQfl
(0f4 e SWIW op segõaasui siaAfssod I8U1UIIBIBØ
‘e pisuo a
oepoui O —

-opalnt,pJu ‘aosse;oid of ad sopttiiiii eweUilBt.tuoti tua opue


eS’iQtt13C49 J ‘sieieô
_0p8$!Ae-oUe oflse ep soleu, e sopoaqm ia,aquo —

-anap (SO,Olq

Independentemente dos seus ob ectivos e conteúdos espocilicos. as


1
segumte o da
Através do exempio poderemos verificar que usilizârnos o
fornecido, estratégias foram definidas a partir de dois principios de ordem geral:
na relação entrevi stador’ enti’e’ nstado (e
esquema para a elaboração das entrevistas: tais e do ainuniu. Autenticidade
lo da situação por pane do
nos sentimentos expressos); contro
Formulação do lema. deforme sinténca e explici
ta;
autenti cidade e da sinceri dade da posição pessoal.
1.’ —
entrevistador, sem perda da quando tem a impressão
istado é tranco
33 Definição dos objectivos gerais; Para BINGHAN e MOORE, o ‘entrev
ado’ com a condição de que a

ão dos objectivos de ordem de vista é aprecia do e respeit


3.’ A partir dos objectivos gerais, definiç de que o seu ponto da ao
onda uma atitude vivida e não simula
nzação, ou seja: essa impressão do entrevistado corresp

especifica e provis ão das estraté gias de concre


entrevistador.
blocos seis, neste caso), aos quais gia é ainda a qu.e considera a
a) A entrevista foi dividida em grandes Segundo NAHOIJN, ‘a melhor estraté
objecti vos. so contro lado pelo entrevistador, processo de unia
correspondem determinados entrevista como um proces
sta ao professor, tem como parte do entrevistado
Assim, por exemplo, o ‘Bloco A’, da entrevi tomada de consciência exacta de situaçã
o por
entrevi sta e motiva r o entreyi stado. Os tópicos que
objectivo ‘legitim ar a
desse bloco apontam notas explicativas), acentuemos a
propusemos para a elabora ção do formul ário das pergun tas Nas observações (simultaneamente,
priori, as formas de que a entrevista se
isara os seguintes aspectos:
necessidade de senão determinarem, ‘e da à situação
seja, a situação decorrente da assumir a forma mais adequa
Necessidade do legitimar a entrevista, ou pode revestir. Estas deverão
de uma relação de autenti cidade.
uma determ inada pessoa (o entrevastador) fez e oneetando-se, sempre, para a criação
proposta de diálogo que
stador no processo ae perguntas dependerá de elementos dr
unia outra lo entrevistado). A posiçã o do entrevi Assim, por exemplo, a articulação das e
como as finalidades e a compartimentação dos temas
ordem contextual, a fim de se evitar
-

investi gação deverá ser definid a, assim vir a perder ser


inform ação que se possa
gação. A utilização dos dados ‘interrogatório’ do entrevistado. A
características principais dessa investi ial que, desse modo, foi possível coar,
investi gação também deverá ser largamente compensada pelo clima coloqu
recolhidos durante o trabalho de de entrevi sta, esta deverá situar-se no plano d
mense explica da. a
1 raniinõ o-se o seu carácter confidencial. Note-se que, neste modelo
cevida entrevi stado, soenas.
A motivação do entrev,stado, em
ordem a urna parttC:pação afacbva e a -atação individual um entrevi

stador e am

da atraves ao um pediao de
urna coiabotaçáo produtiva, deverá ser susc:sa
formul ado de modo explice o a ncisivÜ. A tuni kjiuà poderá
ajuda,
:sr corno ponto la cantos e definiç
ão do pape ao entrev’sZao onoprciect.O
n’a tiqação coro ip,d:ca;àc. dc preu e o ao tornas uossieis De

partir ipa çâo).


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dwaxa iod ‘as-atou ezuosuEn
e s000;e op sotuanbui a souçuottsenb seiosseoid e S000IE ep sefsAa4U8
ep sotxaz ;sozuown3op setuinbas soe eiuorn una opezde sowa2 ‘01155v flUe oç5,epai RN ‘osinos;p Op opes!puUis 08 OflRfnO!lJe e ieãdeo ieàuat
-sejeue ep outast ofluenatu e 0beMeSqO ap 5e5W3Wa tieti ‘tosco ap opflsa OU opnoaiqos ‘PCZIttn fOJ npugnoas SCP eSIlCUS v
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A semelhança do que acontece em qualquer processo de categorização. a As unidades de registo (SI são indicadas pelos segmentos de recta
determinação das categorias deverS obedecer a critérios de coeréncia botntigt
neidade exclusividade recioroca e exaustividade. A análise desta parte do texto permite-nos determinar um modelo de
A validade e a fiAjjdftde das categorias devam ser testadas, submetendo uni . ou seja, um modelo da bom omlessor.
mesmo texto a vários analistas e verificando as concordãncias e divergéncias. Assim, terianios:
-
A titulo de exemplo, fornecemos um texto de uma aluna de 11 anos, do 5.’ ano —
1 Categoria Bom Professor;
de escolaridade obrigatória, a frequentar uma escola do Ciclo Preparatório de —
2) Subcateoorias Bom organizador do processo de ensino-aprendizagem;
Lisboa, bom organizador da relação;
Se eu fosse professora 31 kuicdmez —
Explicava tudo com calm e paciência”; ‘repetia as vezes
1 2 que fossem precisas’; etc.
1 Explicava tudo com calma e paciência 1 e repetia as vezes que Ou, de modo esquemático:
fossem precisas
3 Categoria Bom Professor — sua definição operacional
1 Não mandaria trabalhos para casa 1
Processo de Definição pela Negativa
Definição pela Afirmativa
1 tuas sim, apenas estudar as lições num livro apropriado. definição
Unidade
5 de —
l — 0
r enor corno organiza- 1 O professor como
Cada vez que eu desse um ponto os alunos o corrigiriam como Contexto Subcategoria giocesso ensmo- rçriizador do Drefl
soubessem. -aprendizagem: ensino-aprendiza
• 1 — Explicava tudo com calma e
1 Nunca lhes batia, apenas quando chegassem atrasados 1 paciencia
a
2— Repetia as vezes qqe fossem
1 ou tinham • falta de respeito ou mau comportamento iriam para precisas
Indicadores 3— Não mandaria trabalhos
a rue-]
da para casa
subcategoria 4— Mandaria apenas estudar as
lições num livro apropriado
5 — Os alunos corrigiriam os
pontos como soubessem
• Em vez detivessem 1
ap opnw nas o anlpfdwaxa as a
st,tpu saijt wtwasajdt asapuo
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3.’— A determinação das regras da codificação levou-nos a considerar como
A expressão ‘análise de conteúdo é utilizada num sentido restrito: refere-se unidade de enumeração ou de contaoem cada redacção Como unidaoe
apenas às técnicas usualmente utilizadas pelas Ciências Sociais para a exploração de registo ou ‘unidade de signilicacão a codificar’, tendo ‘em vista a
de documentos, não abrangendo, portanto, os tipos de análise que caem directa - categodzação e contagem de frequéncias’ ‘“, escolhemos a proposição.
mente no âmbito da linguística e da literatura.
Embora as técnicas de análise de conteúdo não tenham cessado de evoluir Utilizámos o termo proposição no sentido que lhe dá Marie.Christine
nos últimos decénios, atingindo um grande grau de sofisticação, os objectivos d’UNRUO; ‘por proposição entendemos uma afirm4çao, uma declaração, um ulio
limitedos do nosso trabalho e e falta de treino dos analistas levaram-nos a optar (ou uma interrogação ou negação), em suma, uma frase ou um alememto de frase
por concepções e práticas mais tradicionais, directamente inspiradas nos trabalhos que, tal tomo a proposição lógica, estabelece uma relação entre dois ou meis
de BERELSON e divulgadas em obras da especialidade termos, É, em princípio, uma unidade que se basta a ela própria’ °.
Assim, partimos da definição de BERELSON de análise de conteúdo como A técnica usada foi aquela que a mesma autora designa de tasoura e cola’,
‘Uma técnica de investigação que visa a descrição objectiva, sistemática e quantitativa isto é, o texto foi dividido em fragmentos que foram distribuidos peles várias
do conteúdo manifesto de comunicação’. categorias, Assim, estas poderão facilmente ser reformuladas, à medida que vão
As etapas seguidas na análise corresponderam às regras correntes: surgindo novos elementos.
A escolha da unidade de contexto revelou-se mais dificil. A determinação do
— Leitura inicial dos documentos para uma apreensão sincrética das suas
‘segmento da mensagem cujo tamanho (superior à unidade de registo) é óptimo
caracteristicas e avaliação das possibilidades de análise; para apreender a significação exacta da unidade de registo’ otereceu’nos
2.’ — Determinação dos objectivos da análise de acordo com as hipóteses grandes Problemas, dado o deficiente sistema de pontuação utilirado nos textos
emitidas. Por exemplo, na análise das redacções sobre o tema Se eu analisados e o tamanho reduzido de muitos deles. Optámos, por issD, por escolher
fosse professor.,,’, partiu-se da hipótese de que esses textos exprimem como unidade de Contexto a redacção.
a identificação do aluno com um modelo de conduta pedagógica que Na entrevista, a unidade de contexto poderá correspnnder à resposta a urna
traduz a sua concepção do bom professor A leitura desses documentos, pergunta. No entanto, muitas vezes, torna-se necessário atender ao sentido das
revelando que essa definição se faz, muitas vezes, pela negativa ou pelo respostas antecedente e seguinte.
estabelecimento de contrastes, levou-nos e considerar a possibilidade Ceda categoria á definida operacionalmente pelos seus jnicadoiei. a cujo
de definição de moelos antitéricos, isto édo bom e do mau professor; levantamento se deve proceder exeustivamante.
Consultar, em lingua portuguesa: BARDIN, L, L ‘analyse de conrenu, Pans, PUF, 197’/, o. 103.
— BARDIN, Laurence, Anã hse de Conteúdo. bsboa, Edições 70, 1973. D’UNRUS, Marie-Christine, Lana!yse de contam,, Paris, Èditions Universitai(e,
— FESTINGER e tAl?, A Pesquisa na Psicologia Social, Rio de Janeiro, Editora 1974, p167.
°
Fundação Getõlio Vargas, 1974. pp. 403-449. BARDIN, obra citada, p. 107.
AS ABORDAGENS CRITICAS E NAU-e RITICAS
EM ANÁLISI DO DISCURSO
joseiiic 1 A’i (07 (S Vi(’(TTL
1. Introdução
E’.e artigo tem o propôsito de exaininai (luas-ahcrQa
• gens para a Análise ão Discurso; urna (hiUca C OUU8 ãO
Crítica. Pretende ainda estabelecer as prir icipais diferen
os
ças entre essas duas concepções, assim corno os objeuv
da Análise do Discurso Crítica e as novas perspectivas des
sa área de estudo no contexto contemporãi teu
A priori, antes de adentrar a disctrssiu sobre Aióilsc
do Discurso, sob urna visão mais ortodoxa, e dc aprofundar
ade
alguns conceitos e princípios para compreerider mais
, é
quadaiucnte o que seja a Análise do Discurso Critica
A
imprescindível definir discurso, tarefa por si só penosa
respeito de discurso. Emilia Ribeiro Pedro (t997: 19) decla
uzentos
ra que fundamentalmente é possível dois cniend
discurso conio
Para essa lingüista, há teóricos que olhtun o
o uso
um momento do uso ilngüistico. e os que c{n}sldermn
primeiros
llngüístco como um momento do discursu Os
sourso
valorizam o substrato Iingüístico: os segui vios o
propriatriente dito.
Nesse senil lo a concepção de Fotioautt (1 P69) é estre
!o!rflsrrso
nianiez rio prodtz liva. Coritradajnczi{e ao ei tr u
144 /0/111(1 /III!I?lif,Ç i-1i’iiii Aniise lo liisc:lIl-so: florutirsos teóricos e uetodológicoç 145
centrado rios elementos lingüísiicos. o discurso, para ele, é estudos da linguagem. É Impossível estudar qualquer
concebido corno uma dispersão e exerce ln’iriiazia sobr-e o evento cliscui’sivo sem definir a direção a ser tornada pelo
lingoistico. Acredita que os elementos do discurso mio estão trabalho analítico. Por essa razão, pretendo examinar aqui
ligados por nenhum princípio de unidade. Segundo ele, cabe alguns (los fundamentos teóricos que ajudarani a deline
à Análise do Discurso descrever essa dispers;io, idenlilicaji aro percurso da Análise do Discurso. Pai-a tal far’fa, coa
do regras que possam orientar a fonuação dlsc:ursiva, Assim. vãrn buscar no tempo algumas referências (]UC possam
-para Foucault, um dIscurso é um conjunto de enunciados contribuir para a sua compreensão.
que abriga princípios de regularidade ciii tiiii;i niesina for Em sua origem, a retórica clássica foi ohtneiro
mação discursiva. berço (Ia Análise do Discurso. Segundo Aristóteles, os re -
Mas, é com Bakiitin (1979:109) que a verdadeira na cursos retóricos e-’i persuasão em contextos públicos-
tureza da linguagem e do discurso é desvelada. A lingua marcavam a argumentação da época. Ainda que os estu
gem abandona seu caráter monológico para assuritir uni dos retóricos tivessem se concentrado mais nas figuras
papel decisivo, de caráter dialógico. nas interações ver de linguagem, Van Dijk (1990:36) defende a sua relevân
bais. Declara que a verdadeira substância da língua é cons cia pana os estudos contetaporáneos do discurso.
tituída pelo fenômeno social da inleração verbal, realizada Na segunda metade cio século ). os estudos trndlelo
por meio da enunciação verbal e pelas enunciações e não nais do discurso eram direcionados pela análise filológica que
por um sistema abstrato de fàrmas lingüisiicas. examhiava o texto à luz da história. Depois. com o advento da
De outro modo, ao relegar à parte as clcflnições á vis- teoria jpq Formalistas Russos, a análise de textos 11 esoeii
[as, o discurso poderá também adotar a vertente da Análise ainien(i’ inspirada no trabalho de Prop (i 95P1 sobre a
do Discurso Crítica e, nesse momento, estará de modo cons morfologia dos contos russos que proporcionou u:ridõs pri
ciente abandonando a neutralidade. Deixará de ser apenas meiros impulsos para a análise sistemática do diro urso nar
uma representação da realidade para ser uni discurso em rativo, Os Fonnalistns alaigaramn princípios anaiiticos para
cujas manifestações a ideologia passará a ter espaço e exis as quesi õcs da lingtiagenn e aprofundarani o ei itendimerito
tência. A análise discursiva de cunho crítico quer explicitar teórico q’ ando ii 1110(11 izirani no estudo da iii iragei a murei
a determinação do social no discurso. bem como os seus efei tos como o de lilcrariedade, o de verossiiniliiança e o de
tos sobre as manifestações discursivas em geral. Intertextrialidade, além de tantos outros aplicados ao estudo
O presente artigo opta pela vertente crítica nos tra do texto, principalmente ao texto literário,
balhos de Análise do Discurso. No entanto, seja qual for a Mais uma relevante contribuição aos estudos do dis
tendência seguida, o certo é que a Análise do Discurso, a curso foi dada pelo Estruturalismo. Esse movimento
par da Análise do Discurso Crítica, são obctos hoje de lingüistico foi um tios mais tradicionais, ruas, por seu
expressivo número de trabalhos tanto teóricos quanto prá caráter monológico, não sobrepujou em seus estudos o
ticos em diferentes áreas do conhecimento, razão sufici nível da frase, Os estudos textuais não foram o principal
emite parajustíficar o presente artigo. ponto conitempiado em suas investigações, tendo em vis -
la que o objeto das pesquisas estniturais eia a fala e ntio
2. Breve Retrospectiva do Percurso da Análise do a escrita Os pcsquisadoi’es estruturalistas alialisavaul
-
D is e un o tudo: o i número de fonemas, os morfenias. oss intagnnas
contidos na frase, porém não ultrapassavam em suas
Na modernidade, as diferentes abordagens para análises os limites tia sentença- As relações eorrc írasrs
analisar o discurso oferecem iiii’iitipias opç’õvs iira os estabciet ‘Ias por cieteriniinadas eoiiiunç’)’’s, o; c’asiçóe
i
146 1
b ,t,i,,r5 ‘,rlIÏI Ai,áikp 1. ,iisc’iirs,, .‘:ursos t’órict.,; e ,rrntodoiogHa 115
pronomes ou advérbios ou até mesmo por ticteI-Illiila(ias enunciaçâo como uru processo de apropriação da Ungua. Por
partículas de continuidade eram desconhecidas e, por esse nieio de tal conceito. õ autor ttàbelece que a língua é ape
motivo, desconsideradas. Durante o niovlrnento estrutu nas uma possibilidade que ganha realidade somente no ato
rallsta, a análise centrou-se na [rase e não no texto. enunciativo ao expressar sua relação com o mundo. Assim.
Simultaneamente a esse momento da história 1h- a refei-êncfa deixa de estar fora da iinguageni para tacorpo
güístlca. o único movimento a considerar o texto como rar-sc á enunciação. Além disso, fàz com que a construçáo
unidade de análise foi a Tagmêmica de Kenneth Plke. (te sentido passe pela noção de sujeito. fl,’qs’ 010(1(5,
Embora também essa abordageiri fosse estruturalista, seus fala tem papei ativo na elaboração do sentido
propósitos direcionaram-Se a unidades maiores do que a \‘aie acrescentar ainda que a vaiorizaçcio do sciw
frase. pois o seu intuito era traduzir os evangelhos para locutor de I3enveniste (1974) é urna tias niais sign1flcat.i
as línguas indígenas. Mas, ainda que o seu intciito fosse vas contribóições à Análise do Discurso. Afirma ele que o
motivado por aspectos não-llngüisticos e. apesar de essa locutor se apropria do aparelho formal da língua e enuncia
corrente altamente imanente ligar-se ao lstrtituralismo. sua posição por índices específicos. Declara De,n’erdste que
é inegável e extremamente relevante a sua conribuição o sujeito deixa marcas. rastros de sua presença. nus ermu;
para o avanço dos estudos do texto como unidade maior e dados por ele produzidos. Para a Análise do Discurso, esse
mais abrangente do que à frase. Os estudos de textos des conceito de enunciação tem sido altamente produtivo. O
se período, sem dúvida, tomaram-se [ator de relevância sujeito, ao ser marcado na linguagem, vai-se revelando rr
para os estudos posteriores do discurso. longo ria cadeia discursiva. permitindo a sua i(i5r1tifle3Ç0’i0.
Nos Estados Unidos. Harris publica ciii 1950 a obra apesar dc sua dispersão ao longo do discurso. -
tatitulada Discourse Anaiysis a qual aponta os meios de No que concerne à Análise do Discurso de origem’
exceder os limites analíticos da frase. Do mesmo Tuodo. os francesa, tal como é concebida hoje. o vínculo i com a
trabalhos de Jakobson, que vinculam o conceito dc [un tradição intelectual européla. Esse tipo dc análise busca
ções da linguagem aos estudos da língua. io lado (ias v’° no texto a reconstrução histórica do próprio s Ie1to. Acrescc
postas de Benveniste (1974) para os estudos da enunciação, que, ao unir a reflexão cio texto à história, a boiar trance
foram outros acréscimos de extremo valor liara o (lcscllvoi sa rcsgala a interdisciplinaridade em Análise do Discur
vlmento da Análise do Discurso. São pontos de vista teóri so. Passa o discurso, desse modo, a objeto de atenção lan
cos que redirecionaín a análise llngüística. Impulsiotiail to de historiadores como de psicólogos. Razão suficiente
do-a para além da linha da lma.néricia proposta pelo Estru para explicar as investidas tanto do marxismo corno da
turalismo. psicanálise nos estudos do discurso. Dc outro iado, a rues
Tais inovações contribuíram para a libertação dos es ma França de tradição literária, que ensinava a Interpre
tudos textuais do enclausUrainento das análises que se tar e a. explicar textos, contribuiu tambétri com os prtnci-
mantinham presas ás análises de orientação filológica ou pais fundamentos para a Análise do Discurso, ‘9
estruturalista e, portanto. não transcendiairi a Instância da 9
frase. É precisamente nesse espaçD que ioratn Identificados
3 fllta,..,,nn -, •..4fl.- - -
os primeiros encadeamentos e as ligações trans[rásicas que.
sem dúvida, seriam o embrião dos estudos futuros da lingüís
tiea do texto e, posterlormente. da Análise do Discurso.
Mas, é Benveniste (1974) quem inaugura uma época
de fertilidade para os estudos cio discurso ao definir a

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