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Laville PDF
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J
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Ad
1
A.
r
Objetividade e objetivação
O pesquisador disto tem consciência: as compreensões assim produzi
das são compreensões relativas. Dependem do talento do pesquisador
para determinar o problema que escolhe eswdar, retraçar seus múltiplos
fatores, escolhê-los e interpretá-los. Escolher e interpretar, isso também
se toma central.
Pensemos, por exemplo, na situação do historiador que nos oferece
seu último livro sobre, digamos, as origens do pensamento nacionalista
atual. E um livro de 200 páginas. Mas, para escrevê-las, o historiador
teve que ler milhares de páginas de estudos sobre o assunto, documen
tos históricos de todos os tipos (discursos, relatórios, estatísticas, testemu
nhos diversos, etc.); confrontou seus pontos de vista com outros... Final
mente, no entanto, apenas 200 páginas: é que escolheu e interpretou. O
que a nós submete é sua compreensão, que é uma escolha e uma interpre
tação. Um outro poderia escolher e interpretar diferentemente, produzindo
outros saberes válidos e igualmente relativos. A maior parte das ciênci
as humanas procede assim.
O que garante então o valor desse sâber? Um princípio dito de obje
tivação.
Para os positivistas, o valor do conhecimento produzido repousava
essencialmente sobre o procedimento experimental e a quantificação
das observações. Tratava-se de fazer jogar fatores da realidade variá
—
veis —, medir seus efeitos, do modo mais exato possível, com o auxilio
de instrumentos que se valem das ciências matemáticas e da estatística
(daí, casualmente, a idéia de ciências exatas). Um tal procedimento era
facilmente reconhecível e, portanto, reproduzível: poder reproduzi-lo,
nas mesmas condições com os mesmos resultados, era um critério-cha
ve para a validade do saber para os positivistas.
O desmoronamento da perspectiva positivista não se deu sem debates entre seus defensores e adversários.
Esses debates continuam ainda hoje. Pode-se verificá-lo principalmente na oposição entre pesquisa quan
titativa e pesquisa qualitativa.
A pesquisa de espírito positivista aprecia números. Pretende tomar a medida exata dos fenômenos
humanos e do que os exphca. E, para ela, urna das princioais chaves da objetividade e da validade dos
saberes construídos, Conseqüentemente, deve escoiher com precisão o que será medido e apenas conser
var o que é mensurável de modo preciso. Para os adversários desse método, trata-se de truncar o real,
afastando numerosos aspectos essenciais à compreensão.
Os adversários propõem respeitar mais o real. Quando se trata do real humano, afirmam, tentemos
conhecer as motivações, as representações, consideremos os valores, mesmo se dificilmente quantificáveis;
deixemos falar o réal a seu modo e o escutemos. Os defensores da quantificação apenas das características
objetivamente mensuráveis respondem, então, que esse encontro incontrolado de subjerividades que se
adicionam só pode conduzir ao saber “mol&, de pouca validade. Esquecem, desse modo, que para cons
truir suas quantificações, tiveram que afastar inúmeros fatores e aplicar inúmeras convenções estatfsticas
que, do real estudado, corre-se o risco de não ter restado grande substância, Mas é verdade que o que resta
e assegurado por um procedimento muito rigoroso, testado e ureciso, E alguns gostam de afirmar que são as
exigências estritas desse rigor oue afastam os pesquisadores qualitativos (o que infelizmente parece, às
Vezes, correto, sobretudo em vista do saber matemático e do estatistíco necessário!).
Na realidade, esse debate, ainda que muito presente, parece freqüenteme..te inútil e até falso.
inútil. pornue os pesquisadores anrenderaro. há muco tempo, a conjugar suas abordagens conforme-
as ner-essidarl,s ‘-‘É-se accra pesquisadores de .abcrdagem posirlv!ua deixar de lado seus asarethos de
—
‘ e r
CC Ç
‘- —
pesquisadores a
desconfiar das
numerosas Em sua fase de desenvolvimento, as ciências humanas tenderam a de-
categorizações das marcar-se umas em relaçao as outras, cada uma tendo seu propno setor
pesquisas que foram de atividade (psicológico, econômico, cultural, histórico, etc.). A pers
desenvolvidas: ,
suficientes: pesquisa
-
dos (os historiadores ocupam-se do passado; os sociólogos do presente;
fundamental, se se trata
de preencher vazios no os geógrafos do espaço; etc.), pois isso poderia ser um obstáculo à com-
—
próprio saber; pesquisa preensao completa de um problema sob todos os seus aspectos e as inter-
aplicada, se se trata de relações entre eles. O real, pensa-se, deveria ser abordado em sua globa
resolver um problema
pratico. lidade, como um sistema de fatores inter-relacionados. Mas tal aborda-
- gem, dita sistêmica, não é simples, devido aos limites dos pensamentos
individuais e aos hábitos disciplinares adotados. E por isso, provavel
mente, que a pesquisa sistêmica ainda não obteve muitos resultados,
O que se desenvolve, então, é uma abordagem muitidisciplinar, que
consiste em abordar os problemas de pesquisa apelando às diversas dis
ciplinas das ciências humanas que nos parecem úteis. Os modos de fa
Multidisciplinar: alguns zer são diversos. Um pesquisador pode se inspirar em perspectivas de
escolheriam
interdisciplinar. Na
disciplinas vizinhas, usar seus aparelhos conceituais e analíticos, tomar
prática, ambos parecem emprestado certas tecmcas de abordagem, multiplicar os angulos de
- .
s
dos pro ble ma s no cam po do humano, os pesquisadore
complexid ade . Essa inclina
para reunir o saber de cada um
enclinam-se a se associarem za, de modo
par a os tra bal hos mu ltid isciplinares em equipe caracteri
o, rene
ÇãO
te, a pes qui sa em ciê nci as humanas hoje, sem, entretant
importan vel.
cujo valor permanece indiscutí
gar a pesquisa individual,
ltidisciplinaridade
Cedeplar: um exemplo de mu um árgão de
Des env olv ime nto e Pla neja mento Regional CEDEPLAR é
—
de
Em Belo Horizonte, o Centro que oferece bons exemplos de trabalhos muhidisciplinares.
ulaç ão to basicamente por
pes qui sas sob re a pop
do à Fac uld ade de Ciê ncia s Econômicas da UFMG, é compos s áreas para a reali
Este Centro, liga colaboradores de diversa
conta, corri freqüência, com rentes cam
economistas e demógrafos, mas as que requerem uma conjunção de conhecimentos de dife de Trans
zação de pesquisas sobre problemalária na Fronteira Amazônica: Aspectos Econômicos e Sociais cia políti
pos. Por exemplo, a pesqui sa “M
gia, economia, antropologia, ciên
ecialistas em demografia, socïolode pública e bioestatística, pertencentes ao
missão e Controle” reuniu esp ento urbano e regional, saú , a Fundação
ca, história, arquitetura, planejams tais como a SUCAM, o Centro de Pesquisa René Rachou da UFMG.
CEDEPLAR e a outras instituiçõeria de Saúde e departamentos de Parasitologia e Farmacologiagir os princi
Ezequiel Dias (FUNED), Secreta desenvolvimento de uma linguagem comum, puderam atinprofundidade
Esses especialistas, a partir do de uma base de referência para
um estudo em
1) esta bele cim ento dônia; 2) identi
pais objetivos da pes qui sa:
a tran smi ssão e o con trol e da Malária em Ari mes, Ronrelevantes para o
que
dos fatores humanos que afetam rrência da Malária e
e ambientais associados a oco para a pesquisa econômica e social
fica ção dos (ato res sóc io-e con ôm icos iada
imento de metodologia apropr
controle da doença; 3) desenvolv assentamentos e alta mobilidade populacional.
sobre a malária em áreas de novos
EM RESUMO: O MÉTODO
humanas,
s de nosso século, as ciências
Em resumo, nas últimas década à pers
o ciê nci as em ger al, dis tan cia ram-se um pouco em relação
com as aminhamento
nascer e determinaram o enc
pectiva positivista que as viu
principal de seu método
de constituição do saber. ble
de pesquisa encontra-se o pro
No ponto de partida da operação Voltare
s influenciam o pesquisador.
ma a ser resolvido! Diversos fatore , ass lar que
ina
Ff05 a isso mais detalhada
mente, Importa, no momento , lhe
es ore s faz em com que o pes quisador perceba um problema
est fat ional
o possível, uma explicação rac
tazeru igualmente- sur-or uma soluçã
rfeiçoada: a hipótese.
da situação a ser compreendida ou ape sempre a
itas vez es, o pes qui sad or sabe que sua hipótese não é
Mu retém a
am ser consideradas. Mas ele
única possível, e que outras poderi a pro gredir
lhe parece suficiente par
lhe rarece ser a melhor, a cjue
ara duo Jo h coml.areensao. do ooh
ie.nsa. e à sua. eventr:ai sohição
.acão
de urna soluçio ou de umaexó:o
Resta ver se essa ante.cipação itsir a ess a reila
uda. si:, cara isso. deve—se vc.;
possível mantém—se na reaL-si- or a eia
‘veriuloando—e.. O pesquisad
a fim de compro-sair a hipó tese. do
a am ent e. co lhe as inf orm açõ es oue sua hipótese suõe:. e,
anu efàtiv
conclusRo.
trato desta 0rieflÇu, tira sua ja via torras la-—
si ua conc•iu são não é mais
absoluta ruesbisóte. 5-e na
ctas tsóz.,
di.
5
46 LA’IILLE & DION?;F
PROPOR E DEFINIR
UM PROBLEMA
1’
ELABORAR
UMA HIPÓTESE
VERIFICAR
A HIPÓTESE
‘4’
CONCLUiR
Qbsor.em os bem no
quadto d°° 5
orimeitamente seta eixo
princir.xd, do-pois seus
desdobramentos, A eis.
volta rsa nos várias se
t
A CONSTRUÇÃO DO SABER
47
1 nscientizar-se de um
problema
PROPOR,E OEFINIR
[ná-lo significativo e UM PRO8LEMA
delimitá-lo
Analisar os dados
disponíveis
Formulá-lo em forma de
perguhta
Formular a hipótese
ELABORAR UMA tendo consciência de
HIPÓTESE sua natureza provisória
Analisar, avaliar e
interpretar os dados em
4 Traça(um esquema de
relação à hipótese CONCLUIR explicação significativo
l, 1979. p. 43.
Snjdies, C&unibus (Oh4o: Charles E. MerHl
Fnnte fnspradoern-Bacry Beyer, ièachiogin Scx ia)
DA HWÓTESEÀ CONCLUSÃO
PARTE
11
ti
ou ate rnesrr:.o a relelílo. as rapoiesu. alIa. .
Lar ii
- as - ‘ a, co las ioc asa rO
1
°sões que delas se pode tirar, que será ded.icada o capÍtulo 8
LAVILLE & DONNE
130
Conscientizar-se de um
problema
PROPOR E DEFINIR UM
Torná-lo significativo e PROBLEMA
delimitá-lo
Analisar os dados
disponíveis
Formulá-lo em forma de
pergunta ‘7 Formular a hipóte’
ELABORAR UMA tendo consciência de
HIPÓTESE sua natureza provisória
VERIFICAR A
Recolhê-los HIPÓTESE nvaIidar, confirmar ou
modificar a hipótese
Analisar, avaliar e
interpretar os dados em Traçar um esquema de
relação à- hipótese CONCLUIR explicação significativo
Quando possível,
generalizar a conclusão
, 43.
us Chio), Chades EMerrHI, 1979 p,
irado em Garr y Beye r. Teac hing ir, Social Studies, CoZumb
Fonte, Insp
Ao
de entrar no ceme do assunto.
Urna última observação antes Ini cia l-
go do per cur so. vem os del ine ar-se o papel central da hipótese.
lon marca principal
, apesar de provisória, que
mente explicação plausível probleftn;
imento indutivo, originado do
mente o termo de um proced ento, pre
partida de um novo procedim
toma-se em seguida o ponto de para
ent e ded uti vo, cru que se ef& ua um retomo à realidade
ferentem desempe
dos fatos. Nesse sentido, ela
submeter essa explicação à prova s vertem
no do qual se articulam as dua
nha bem esse papel de pivô em tor nie
qui sa, cuj o car áte r hip oté tico -dedutivo se sobressai nitidarne
tcs da pes unsi
ia dem ais , por tan to, ins isti r sobre a importância de
açui. Não ser cedirren’
ída, coração e motor doura pro
hctcse cuidad.osamente. c.onstru
to metódico de-. construção do
1 q
:1
CAPÍTULO
11
As Estratégias de Verificação ii
Às vezes, podemos ler nos jornais manchetes que noticiam disputas inter-
culturais nas escolás.
r
1!
1
Estes conflitos interraciais filizmente não são freqüentes nem tão
tLCtos Mas r 3° isxam, por ;“c de merecc nossa atençã icilam
l es aí nrn r olema re3 r eôer o is °enro no o
O fl5CO de atiflr c&ia u.Tna nas e
4:
1
Duas hitesesde os alunos sao ainda mais agressivos com as pessoas de comunida
— .
espírito diferente
surgem aqui de um des diferentes porque conhecem mal a culwra delas.
mesmo problema.
FixTos
bem e55e -Tendo partido de questões diferentes sobre um mesmo problema.
pois ele será útil ainda nos deparamos com hipóteses também diferentes e que conduzem, por
antes do fim desta sua vez, a verificações diferentes, tanto no tocante à natureza dos dados
parte requendos quanto na maneira de proceder
—••_—
--Á
1
rando a agressividade antes e depois da intervenção, se tornará possível •
4 3
“De qualquer maneira, teve-se nossas chances de scorer (sic) 1...], mas é preciso aproveitar isso”,
confiou aos jornalistas o treinador da equipe perdedora. Essas chances de marcar constituem, na verdade,
uma condição necessária à vitória, mas, constata filosoficamente o estrategista, essa condição não basta
para assegurar essa vitória. Ao contrário, falando dos vencedores: “Eles foram mais oportunistas (sk) que
nós e [seu goleiro] fez a diferença”, reconhece. Eis aí uma condição suficiente para vencer: aproveitar
melhor que o adversário as ocasiões que se apresentam! Poder-se-ia, aliás, por último, acrescentar que a
condição necessária e suficiente para ganhar é marcar mais gols que o adversádo E unia condição contrí
boi pan a obtenção da vitória: um goleiro que hrflha diante do gol. Outras causas não têm efeito direto,
mas desempenham um poyco o papel de catalisador; sem intervir na ação propriamente dita, faciLta,h as
coisas. “Não se deve esquecer a contribuição dos ‘torcedores’, pois, impelidos pela multidão, os jogadores
realizaram mi!agres”, dirão os analistas.
Entre os pesquisadores, a idéia de causalidade animou muitos debates. Para os positivistas, “as mes
mas causas geram os mesmos efeitos”, a causa de um fenômeno podia ser isolada e observada de fora. Ora.
em ciências humanas sabe-se que e efeito pode variar: assim, em função do momento, do contexto e cas
mcàc.:das. uma provocação. aaressisa le’.ará ora a uma reacãc :5:03 vic:à*zta, cia a uma soaso
asca cortara aeaiad*-:Ea aEe’v -;rrzr de 05/
roc ,ae —‘‘ ec —,u,m -‘c
:3O0s infiuêsc ias diversas e freqüentemente ira orevisfveis, usadas aos atores e àsci rcunstãncias, e das.
quadnãoépossfveí hbertar-se sem Ozer desapamcero próprio fenômeno.__
Ti
A CONSTRUÇÃO DO SABER
137
Equivalência dos grupos
A comparação com um grupo-testemunha constitui muitas vezes uma
estratégia eficaz para pôr em dia relações causais, mas ela continua a ter
um uso delicado; assim, as conclusões de um estudo, em que o grupo
experimental seria composto de voluntários e o grupo-testemunha
de
alunos escolhidos ao acaso na escola, seriam contestáveis. Pois mesmo
que, na ocasião da avaliação inicial, os dois grupos se mostrem equivalen-
tes no que concerne aos conhecimentos e às atitudes, as diferenças obser 1 -
O—-r- ‘to--rr-O
OLas naturais
em que as experiências estão empre presentes.
Em nosso exemolo, as duas variáveis centrajs sae,é claro aoarticioa
-
are’ orm eQJ EIcJ O1’,. :m _atear.
Para com as pessoas de culturas diferentes da sua,
.Mas essas não são as
::rEoas nois vi.uae também
anresentarem--se vs.:iávesconcernentesesue
asr re nus’
e contexto no qua.i se desenvoivia a pesqui
sa (presença ou ausência de
aconte/imentos estranhos e perturbaclores
138 LAVILLE & DIONNE
outro grupo será mantido à parte da intervenção propriamente dita e servirá de testemunha. Antes de -1
intervir, o pesquisador tomará suas primeiras medidas junto aos dois grupos a fim de assegurar-se de sua
equivalência inicial. Essas medidas se referirão evidentemente à variável dependente, mas também aos
outros fatores ou variáveis estranhos à experiência (idade, meio de origem, nível de escolarização, etc.),
que poderiam distinguir os grupos e influenciar os resultados obtidos ao término da experimentação. Novas
medidas tomadas no fim da experiência, após a intervenção junto ao grupo experimental, permitirão ao
pesquisador verificar, com o auxilio de instrumentos estatísticos, a presença de diferenças entre os dois
grupos, diferenças que poderão então ser razoavelmente atribuídas a essa intervenção. O esquema repro
duzido abaixo resume o essencial das características da estratégia experimental. Notemos que existem
variantes em que se vêem aparecer medidas múltiplas antes, durante ou depois da intervenção, e outras em
que se recorre a mais de um grupo experimental ou testemunha.
O estudo experimental, com suas variáveis mensuráveis, seu recurso ao instrumental estatístico em
uma experiência provocada em que se exerce um controle cerrado sobre o ambiente da pesquisa, constitui
uma abordagem muito particular da construção do saber; na verdade, ele é fortemente marcado pela ima
gem dos métodos das ciências naturais que inspiraram seu nascimento e conserva traços de um positivismo
do começo do século.
+ +
Verificar a presença de
Formados equivalência
diferenças entre os grupos
\.aleatoriament)
t t t
de intervenção H-da final
estemunhab___flMedida_inicia_—*éncia
É importante a pesquisa experimental em ciências humanas? Raros, no entanto, são os trabalhos que
Podem respeitar seus cânones, pois não se pode permitir a manipulação de seres humanos como partículas
de matéria ou ratos de laboratório. Além disso, e apesar da eficácia real dos instrumentos matemáticos,
grande parte dos fenômenos humanos não podem ser medidos de maneira significativa e conservar sua
riqueza. Sem contar que as relações de causalidade linear não bastam de forma alguma, já o dissemos, para
tI à sua complexidade. E importante a pesquisa experimental em ciências humanas? Sem dúvida,
5
tazerjti
0
ect _:n3reem “ r.rertcJc s’cCe
rN’5oexperimentais, colocando-se esses Úitimos em uma massa de subcategorias: visjo muito hierárquica
na
pesquisa, que desvaloriza os estudos menos experimentais, definindo-os pela negativa em relação a
Urna abordac;em um pouco idealizada, No entanto, a mais séda pesquisa não é necessariamente a que mais
aproxima dos- modos das cïéncias naturais, as sim aquela cujo método é o mais adaptado ao seu
s,J —
—N cc
—
-_-, -__-: N’a
o, é de não
vez ao conhecimento das outras culturas, a intenção, contud
se
modificar nem esse conhecimento, nem as atitudes’: deseja- somente
entre esses fatores .
verificar a existência do vínculo pressentido
O processo de verificação
ação
O primeiro cuidado do pesquisador será o de colher a inform
inform ação no meio escolar ,
requerida pela hipótese. Encontrará essa
subgru pos.
junto aos alunos, que ele não precisará, desta vez, cindir em
parte des
Mas, se por razões práticas, preferir dirigir-se somente a uma
mais uma vez tio acaso a fim
ses alunos, ele os escolherá, apoiando-se
ção à qual essas
de obter uma imagem tão fiel quanto possível da popula
aborda
conclusões deveriam poder generalizar-se. No capítulo seguinte,
remos, aliás, as diversas técnicas de amostragem.
Encerrada a fase de escolha dos participantes, proceder-se-á à coleta
tes
dos dados propriamente dita. Diversos instrumentos, questionários,
tratam,
tes, grades de observação servirão para colher informações que
nente às outras cultu
evidentemente, do nível de conhecimento concer
rime n
ras, por parte de cada aluno e do grau de agressividade que ele expe
ta em relação aos pertencentes a essas culturas.
ladas,
Depois virá o tempo da análise das informações assim acumu
entre aquele s
a fim de saber se efetivamente a agressividade é menor
, no qual
com conhecimentos mais desenvolvidos. Esse gênero de estudo
si para estabel ecer uma rela
se comparam dois ou vários fatores entre
mudan ça em
ção entre seus diversos estados ou valores, sem provocar
as. E
um para ver o que isso traz ao outro, é freqüente em ciências human
os quan
chamado de estudo de correlação quando os fatores são avaliad
de correla ção,
titativamente e se utilizam testes estatísticos, ditos testes
para medir a força de sua inter-relação.
o dc
Se a hipótese se ‘ie confirmada. node se tomar urande a tentacã
matéri a de
‘co.nc!uir cor rehIL.ic de causa e efeito e de afirrar auc, era
ntes.
culturas leva a uma redução da auressividade para corra seus integra
no estudo viu-
Csntudc. se impõe on.rdéncis, roi.s em nerahurn momento
lii
A CoNsTRuçÃo no SABER
31’
sua agres
se crescerem os conhecimentos de um indivíduo nem diminuir ESTUDO DE
CORRELAÇÁO Estudo
sividade. A estratégia de pesquisa não estava orientada simplesmente no qual se comparam,
para este tipo de dados, tendo sido feita no tempo para cada participan com o auxílio de testes
te, uma só medida de cada um dos fatores. A confirmação da hipótese, estatísticos, dQis (ou
vários) fatores entre si -ti
para estabelecer
víduos. Comparando-os um ao outro, nota-se que uma variação da relações entre seus
agressividade em um sentido é acompanhada de uma variação no outro diversos estados ou
valores.
sentido do nível de conhecimento. Um fator acarreta outro? Um melhor
conhecimento é suscetível de diminuir a agressividade, mas uma
agressividade maior permite também um melhor conhecimento, tomando
entao mais fáceis os contatos entre pessoas de culturas diferentes. Vê-se
aqui despontar uma relação de intercausalidade possível, mais rica que
uma reação linear de causa e efeito. Sem contar a presença de um even
mal terceiro fator que pode afetar aqueles obtidos no estado: um melhor
enraizamento em sua própria culwra não poderia, por exemplo, possibi
litar a um indivíduo sentir-se menos ameaçado pelas outras culturas e
lhe fornecer referências para melhor compreendê-las?
termos essencial-
O que, ao contrário, seria abusivo, seria falar de variável dependente ou independente,
mente associados às relações de causa e efeito.
matéria de comérc
e a
io- interna
o a ,
huaacas cedicam-sa restuia:menre a ar-áises d dccurnentcs. cesigaus as. políticas gc’crnamentais em
mista que cousuda •s indices ccdesau-.’.mer:.tc focara-
cional;
ag
ou no
todas,
-
as
lista
mais
das
cuiu
religiões que se interes.s.a pelas variações da
numer osas em
o
ciência s isumacas.
—
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:11
[f;
HV 5 ti
so pode muito bem fevar à moeahdade mas evará a eternidade pára vedficá4o-
144 LAVILLE & DtONNE
‘7 4
Verificar a presença de
F,r,nadcs / Verificar a eouivalênda à
diferenças entre os gnipos
dos grupos 1
+ A
A
C.’U0testmufha
-4
levadas em
tament e pensar em cindir o
consideração: podem tipo de produtosi, e não se pode absolu
aumentar a oficáca da outro ficando
dcc abstração.
pessoal em dois: um grupo participando dos lucros e o
a de prova de gru
míng ua. Encontramo-nos, portanto, com um esquem
po único.
ar-se da
Uma tal estrutura de verificação permite ao menos certific
exatamente
presença de uma mudança. Ademais, se a mudança coincide
prova. mas uma indica
com o anúncio da nova política, ter-se-á não uma
situa
aresar de tudo, séra da eficácia dessa poiftica Em muitas
mos cor:
ções, por causa das particularidades da própria simação, devere
a1-a5:Safla’JjaaZJtL;-aflace Zar:.cia1e.
:nctaca ea -a um
p0 t.s, mesmo coe se dera r:crmanece-r criceo-, a
A CONSTRUÇÃO DO SABER 147
Medida inicial
1-
4 4
Verificar a equivaI.ncia
dos grupos
4
4
Tomando mais leve o esquema da seção anterior, não resta senão uma
intervenção, seguida de uma avaliação junto a um único grupo ou, en
tão, somente essa avaliação. Afastamo-nos aqui do gênero de pesquisas
estudado na seção anterior em que se apresenta sempre uma forma de
comparação, seja entre o antes e o depois de uma intervenção, ou entre
dois grupos.
Uma pesquisa em que não se encontre mais esse tipo de compara
ção não pode legitimamente visar à revelação de uma relação de causa e
efeito. Mas continua sempre possível e útil para um pesquisador atentar
para os diversos fatores ligados a um problema para compreender-lhes
o jogo e, uma vez adquirida essa compreensão, tomar conhecida essa
relação.
Esta compreensão dos fatores que marcam ou caracterizam urna
situação exige informações às quais as pesquisas baseadas em dados
existentes permitem ter acesso sem modificar radicalmente essa situa
ção. Já vimos alguns exemplos desse tipo de pesquisa, dentre os quais,
aquele de caráter histórico, em um quadro na página 142. Há vários
outros que iremos abordar, detendo-nos sucessivamente na pesquisa de
opinião, na enquete, na pesquisa de natureza antropológica, no estudo
de caso e na história de vida.
Pesquisa de opinião
A CONSTRUÇÃO DO SABER
149
1’
‘49
Enquete
A! umas rescu;sas. exigem ratais de •nue dados gue s.e anírram à c.nrnric’
LanCE
das unsanes. Deseandnse Castas tO5 CC Int :-nnacces. rEna SC
uma enquete. Imaginemos que e drarlo encarre gado de oferece r SerCiCCE
aos deficientes de urna região veia seus orçamentos diminuídos. Deve,
A CONSTRUÇÃO DO SABER 151
ietodo1ogia
Na campanha eleitoral para presidente em 1989. o lançamento imprevisto do nome do
apresentador de TV Sílvio Santos foi um fator desestabilizador para o favoritismo do
então candidato do PRN, Fernando Colior, atestado pelas pesquisas, fazendo surgir o
fantasma que tirava o sono da FLESP: o Brizuta — ou seja, um segundo turno disputa
do entre Brizola e Lula Este fato exigiu maior apuro da metodologia das sondagens. À
tanto na técnica de amostragem como de abordagem dos entrevistados.
Na primeira semana de novembro foi feita uma pesquisa pela revista Isto éJSe
nhcre a agência Tôledo Associados com 3618 entrevistas, nas quatro regiões do país,
e
e uma equipe de 380 pesquisadores de campo. A amostra acatou rigorosamente o peso
-
Texto adaptado da revista Isto USenhor n 1051, p. 38-40, 8 nov., 1989; n. 1052. p. 30-31. 15
nov., 1989.
tanto às
freqüentemente com o objetivo de melhorá-la. Ela se prende
necessidades,
opiniões, intenções e atitudes das pessoas quanto às suas
s instrum entos: ao
comportamentos e recursos. de recorrer a diverso
agem, mas
questionário, claro. e, se necessário, às técnicas de atnostr
dos documen
também à observação, à entrevista, ao teste e à consulta
o questio nário permite
tos, Esse recurso a outros instrumentos que não
pelas pessoas
lhe atingir o que nem sempre é expresso ou exprimível
envolvidas,
investigações,
Como o termo enquete abrange múltiplos tipos de
e de técni
com recurso possível auma grande variedade de instrementos
requisïtos e
cas, seria difícil resumir aqui seus requisites elirnites. Esses
técnicas ope
limites serão sobretudo os dos ias trarnentos utilizados, das
,C c_rJD
.,_
deve proceder a
usos que a representatividade das amostras, quanda’ se
Ii’:
[1
r
A CONSTRUÇÃO DO SABER 153
4bordagem antropológica
Foram os antrcpóbgos
que ebborararn essa
A resposta não é simples: compreender um universo “como ele é” estratégia de pesquisa.
não é julgá-lo ou compará-lo a um outro. Isso supõe, de preferência, que Freqüentemente
hatizada cone
Seja observado do interior. Está aí o princípio fundamental da resquisa ChSC!V3ÇvG faIiC!Pflflt-*.
de natureza antropolócica. Esta estratégia objetiva essenciaLmente o usada
do de anrnos ou de comunidades como meios de vaia nos quais o pescui iniciaimente ra o
estudo de sociedades
Sador integra-se corno punk entre os punks, por exemplo: ele mistura-se primitivas, depois, para
ao quotidiano do grupo, fazendo sua presença tão discreta quanto possf o de diverta.s
ei. e realiza a experiência. conwartiihando a vida, as atividades. os. s.ubcuiturar,
exemplo 050 50010
Comportamentos, até mesmo as atitudes e: os sentimoraos das pessoas
e. Uvseo
eos dea até para
fletue, será ora uma comunidade bem circunsorira, a população de t.ima
t eapiorar ambíectes de
Cidade, de um bairro, de uma vila, o pessoal de urna empresa, uma co- trabalho.
154 LAVILLE & DIONNE
iJ
-,_ -
:-_ —
4::’
A CONSTRUÇÃO DO SABER
155
pessoas obtiveram resultados muito diferen
tes ao estudar, no entanto, o
mesmo meio. A isso podem ser acrescentad
os outros possíveis proble
mas, dentre os quais o de um excesso de simpati
a por parte do pesquisa-
dor para com as pessoas bem como sua maneira de viver que ele
—
Estudo de caso
Se o estudo de caso nos humanos, estes como aquelas conservam sempre características muito
incide sempre sobre um pessoais ou particulares cujo destaque aumenta a compreensão. Assim,
caso particular, o psicólogo que explora a fobia aos cães de que sofre um paciente o
examinado em
profundidade, toda interroga sobre seu passado, seu ambiente, sobre as pessoas que lhe te
forma de generalização riam transmitido esse medo irracional; toma explícitos, assim, aconteci
não é por isso excluida. mentos e influências particulares concernentes a essa pessoa e a ajuda a
Com efeito, um
pesquisador seleciona melhor compreender a si mesma, o que não é um mau servïço a lhe
um caso, na medida em prestar.
que este lhe pareça A vantagem mais marcante dessa estratégia de pesquisa repousa, é
típico, representativo de
outros casos análogos. claro, na possibilidade de aprofundamento que oferece, pois os recursos
As conclusões gerais se vêem concentrados no caso visado, não estando o estudo submetido
que ele tirará deverão, às restrições ligadas à comparação do caso com outros casos. Ao longo
contudo, ser marcadas
pela prudência, da pesquisa, o pesquisador pode, pois, mostrar-se mais criativo, mais
devendo o pesquisador imaginativo; tem mais tempo de adaptar seus instrumentos, modificar
fazer prova de rigor e sua abordagem para explorar elementos imprevistos, precisar alguns
transparência no
momento de detalhes e construir uma compreensão do caso que leve em conta tudo
enuncïá-las. isso, pois ele não mais está atrelado a um protocolo de pesquisa que
deveria permanecer o mais imutável possível. Os elementos imprevis
tos, os detalhes, desse modo melhor conhecidos, podem obrigar a
reexaminar alguns aspectos da teoria que sustenta a investigação: um
caso evidentemente aberrante, de pessoa que sofre de fobia, na qual não
se descobriria, aliás, nenhum traço de traumatismo em relação com sua
fobia, obrigaria, sem dúvida, a interrogar-se sobre várias teoriaspsicoló
gicas e poderia, na seqüência do trabalho, ser a fonte de enriquecimento
e refinamento dessas teorias.
No entanto, o estudo de caso é freqüentemente criticado. A princi
pal censura feita a ele é de resultar em conclusões dificilmente generali
záveis. Mesmo que o pesquisador queira escolher casos representativos
de um conjunto, os que ele considera podem ser marginais, excêntricos,
resultando, afirma-se, que essa abordagem dïficilmente poderá servir à
verificação de hipóteses gerais ou de teorias que ela terá, aliás, contribuído
para fazer melhorar.
E verdade que as conclusões de tal investigação valem de início
para o caso considerado, e nada assegura, a priori, que passam se apli
car a outros casos. Mas também nada o contradiz: pode-se crer que, se
um pesquisador se dedica a um dado caso, é muitas vezes porque ele
. tem razões para considerá-lo como típico de um conjunto mais amplo
do qual se toma o representante, que eI pensa que esse caso pode, por
exemplo, ajudar a melhor cómpreender uma situação ou um fenômeno
complexo, até mesmo um meio, uma época.
Voltemos ao exemplo da greve evocado antes, Para compreender o
fenômeno das greves de uma maneira quê não seja superficial, o pesquisa
dor não pode considerar todas as greves. O campo a levar em conta, que
se verifica imenso e complexo, vai, preferentemente, estudar uma mani
festação particular, mas ele a escolherá como a mais exemplar, consid&
rando o tipo de empresa, as particularidades do meio e outras característi
cas, Levará igualmente em consideração tais características no momem
to de tirar conclusões de suas investigações, de modo a poder eventuaL
mente estendêdas às outras greves. sempre levando em conta, pnidentm
mente, condições diferentes que podem, então, prevalecer. Isso trará nuam
A CONSTRUÇÃO DO SABER 157
História de vida
Um pesquisador está intrigado: em urna comunidade indígena, assiste
e ao retomo de pessoas que haviam deixado a reserva no fim de sua
adolescência para irem se integrar no meio dos não-indígenas, onde
se
desenvolveu uma grande parte de sua vida ativa. Agora, no momento de
Sua aDosentadona. elas mudam de novo seu quadro de vida e raencon
caminho de suas
Quais são os elementos motores destesdesiocamentos? O que tradm
Zense..les da identidade pessoal e cultural dessa gente? Corno vêem elas
Seu paei social? Evoluíram se.us o•ntos de vista? Ou
viveram essas
PesscHs urna parte dc sua existêncaem eon-iradi ão com seus valores e
cre.ri:ase Questõe.s
apaixo nomes, para as qpais as respostas, COmO em
rnuit situações, continuarão individuais. Respostas
uue, por outro lado,
essas pessoas teriam dificuldade de exprimir
se as questões fossem pr-o
OOcu diretart
en ‘las —oc’ ç5n me’- tec
r
158 LAVLLLE & DIONNE
Projeto 1
A omanj7acn
de cm comitê de “boa v:z:nhanca” coe assocora orinci
:c—- ooaasS
r
oLLiguos ommdo da ausencla dos morde ,4 5
res, fana diminuir o nun.iero
de Orrienavei Dhjpnns
1
no bairro todos os 1
iir
n s?
Projeto 2
uar.tes
JiinS000 00 na unguuporwguoua
IuoO - -
-
esw
-4
upj-v-
5
ijn5s: e mito ou realidade?
r
162 LAVILLE & DI0NNE
Projeto 3
Viver com um filho autista: como pais conciliaram as exigências dos
cuidados físicos e afetivos, da vigilância, etc., com as obrigações de sua
própria vida, trabalho, educação dos outros filhos da família, vida social
e afetiva...?
Projeto 4
Um programa de educação sexual no colégio levaria os estudantes a
melhor se protegerem por ocasião das relações sexuais?
Projeto 5
As moças que se orientam para carreiras não-tradicionais são diferentes
das outras: mais dinâmicas, mais independentes, menos conformistas?
Projeto 6
Como se vê a si mesmo o pai de família? Como um educador? Como um
provedor de recursos? Os dois? Diferentemente? E como os membros
de sua família o vêem?
Projeto 7
Por que os adolescentes se lançam sem proteção em sua primeira rela
ção sexual?
Projeto 8
Vêem-se freqüentemente preços exibidos: R$ 7,95, R$ 10,95... Fazer com
que jovens consumidores notem que preços de R$l,95 ou R$2,95 estão
bem mais próximos de R$ 2 e R$ 3 do que de R$ 1 ou R$ 2 os levaria a
julgar mais adequadamente suas despesas?
Projeto 9
É verdade que vivemos em uma sociedade cada vez mais violenta e
perigosa?
Projeto 10
Todos os anos, a imprensafalada volta dos “gaivotas” à praçade YouvilLe,
de
no Québec: os que ela designa assim não são pássaros, mas jovens
mais
13-14 anos, às vezes marginais por seu cabelo e suas roupas, mas
que
ainda pela vida que levam. Quem são eles? O que procuram ? O
esperam? Quais silo seus valores? Como os vivem? O que é,
finalmente,
‘e r
A CONSTRUÇÃO DO SABER
163
Projeto 11
A instalação de uma passagem para pedestre prote
gida por sinais lumi
nosos permitiria diminuir o número de acidentes
que envolvem pedes
tres em tal cruzamento especialmente perigoso?
Projeto 12
Um curso de metodologia da pesquisa prepara
os estudantes universirá
rios para tirar mais proveito de suas aprentliz
agens ulteriores?
Projeto 13
Qual é a atuação do meio social na decisão das
jovens mães solteiras de
ficar com seu bebé em vez de dá-lo em adoç
ão?
Projeto 14
Os manuais usados nos colégios são sexis
tas?
.4
1
CAPÍTULO
Em Busca de Informações
O :0 310F0Sc:.
166 LAVILLE & DIONNE
FONTES DE INFORMAÇÕES
População e amostra
Ir:
Ld E
A CONSTRUÇÃO DO SABER 169
lhar apenas com uma parte, uma amostra dessa população. Salvo que se
desejem, ainda assim, conclusões que se apliquem ao conjunto: é preci
so, portanto, uma amostra que seja representativa da população, isto é,
que forneça dela uma imagem fiel.
O caráter representativo de uma amostra depende evidentemente
da maneira pela qual ela é estabelecida. Diversas técnicas foram elabora
das para assegurar tanto quanto possível tal representatividade; mas,
apesar de seu requinte, que permite diminuir muitas vezes os erros de
amostragem, ist.o é, as diferenças entre as características da amostra e as
da população dè que foi tirada, tais erro continuam sempre possíveis,
incitando os pesquisadores a exercer vigilância e seu senso crítico.
No que se segue, vamos apresentar sucintamente os principais tipos
de amostras, ditos probabilistas ou não-probabilistas, conforme suas téc
nicas de formação apelem ou não ao acaso. Precisemos que o termo
acaso deve ser compreendido aqui no sentido matemático: a amostra de
médicos será realmente formada ao acaso se todos têm uma oportunida
de igual de fazer parte dela. Contudo, há casos em que o objetivo da AMOSTRA
PROBABILISTA Amostra
pesquisa exige aumentar uma parte da população-alvo — o subgrupo da qual todos os
dos médicos que faz tal especialidade, por exemplo. Alguns processos elementos de uma
de amostragem o permitem, processos que permanecem probabilistas população têm
oportunidade
na medida em que o acaso desempenha sempre neles um papel central. conhecida e não-nula
Ademais, para falar de amostra probabilista bastará exigir-se que todos de fazer parte. Uma
os membros da população tenham uma oportunidade conhecida e não- amostra que não tenha
nula de pertencer à amostra. Pegar a lista telefônica dos médicos e apon essas características é
dita Não-Probabilista.
tar seus nomes “ao acaso”, nas páginas, não é suficiente para formar
uma amostra probabilista, isto porque alguns médicos não têm seu nú
mero de telefone nela publicado.
170 LAVILLE & DLONNE
Amostras não-probabilistas
T
As amostras não-probabilistas são as mais simples de compor. Sua quali..
dade, contudo, é desigual e a generalização das conclusões mostra..s
delicada, principalmente porque é impossível medir o erro de amostra.
gem.
A primeira e menos requintada dessas’é a amostra dita acidentai.
escolhem-se simplesmente os médicos encontrados até o momento em
que se estima ter interrogado suficientemente. Alguns não têm evidente
mente chance de serem selecionados, ao passo que outros, que traba
lham na vizinhança do pesquisador, por exemplo, quase não podem es.
capar disso. Segundo os modos de escolha e do meio pesquisado, as
respostas obtidas correm o risco de ir em direções muito particulares e
de representar muito mal a opinião do conjunto dos médicos.
As vezes, quando a participação na pesquisa é exigente, ou por ra
zões éticas, o tema abordado for delicado, apelar-se-á a uma amostra de
voluntários fazendo um apelo para reunir pessoas que aceitem partici
par. O problema é que as pessoas têm então esta característica de serem
voluntárias, o que, ainda aí, pode tomar ocasional a generalização das
conclus6es. Todavia, nem sempre é uma desvantagem importante.
Outras amostras são formadas em função de escolhas explícitas do
pesquisador. Eo caso da amostra típica, em que, a partir das necessida
des de seu estudo, o pesquisador seleciona casos julgados exemplares
ou típicos da população-alvo ou de uma parte desta: assim, ele poderia
interrogar médicos que não querem de forma alguma deixar os grandes
centros, para identificar vários dos obstáculos ao recrutamento de efetivos
para as regiões.
A amostra por quotas depende de uma outra técnica em que o pesqui
sador intervém, desta vez para obter uma representação, a mais fiel possí
- vel, da população estudada. Seleciona um certo número de caracterfsti
Na formaçao de urna cas conhecidas dessa população, o número de clínicos g&ais e de médi
QUOTAS, o acaso não cos de cada especialidade, por exemplo, categorização que ele pode apri
desempenha papel morar, fazendo intervir outras variáveis como o sexo ou as faixas de
algum. Para aumentar a idade, Depois, para cada uma das combinações, determina a proporção
representatividade das ,. . — . -. -
intrvir: é a técnica de
arnostragem por estrato de 25 a 34 anos para formar 2% de sua amostra. Contudo, persiste um
que Lera tratada em problema, o da representatividade dos eleitos que, dentro de cada sub
seguida.
grupo, nao sao mais escolhidos ao acaso,
Amostras probabilistas
Urna amostra probabilista é composta a partir de uma escolha ao acaso,
tenda todos os dementes da poouia;ão uma chance real e conhecida de
seiecic::adc:s esse cerjiecme:ea cas L:urli dc’ cada
‘permite ao pes.quisador calcuiarc:: errde amostragem, isto é, avaliar os
riscos de se enaanar, generalizando para toda a popuiaçao as conclusoes
de seu estud.o sobre a amostra. Estima-se tambem que as tecnlcas em
A CONSTRUÇÃO DO SABER 171
particulares.
Esses são os principais tipos de amostragem. Não entramos aqui no
detalhe das técnicas e instrumentos matemáticos de que dispõe o pes
quisador para praticá-los, pois existem manuais de fácil acesso que tra-’
tain disso, O essencial para nós é fixai’ que existem múltiplas maneiras
-de formar uma amostra. Nossa escolha nessa matéria será determinada
em fúnção das necessidades da hipótese e das exigências de sua verifi
cação, do grau de generalização pretendido, levando em conta, de outra
parte, as’contingências mais terra-a-terra de tempo e de custo. As vezes,
uma amostra de voluntários ou uma amostra típica serão perfeitamente
Convenientes, ao passo que outras pesquisas demandarão uma ou outra Norma’mente, quanto
lOrma de amostra probabilista. A natureza e o grau de homogeneidade maior o tamanho da
da população-alvo devem também ser coásiderados neste capítulo, como amostra, mais forte é
sua representatividade,
flo do tamanho da amostra: quanto maior a homogeneidade, menor poderá pois as peculiaridades
ser a amostra, sem que sua representatividade qualidade essencial de são diluídas na massa.
qualquer amostra A rigor, a amostra
— se encontre gravemente afetada por isso, Mas pou perfeitamente
co Importa o modo de amostragem escolhido, udo há nessa matéria de
representativa
sepresentatividade como em muitas outras, nenhuma certeza absoluta, compreenderia toda a
Isso encerra nossa b-reve panorâmica das fontes de informações: os população.
ocumentos. de um lado, vestígios escritos, sonoros, Pisuais ou outros,
172 LAVILLE & DI0NNE
FANATISMO
Ritual de fogo
Seita apacalípti cci deixe, ir ais
cleces.veis Inortov na França
conteceti de novo. niais de uni
A
S
depois (lZt morte dc 53
UI1( 3
ti iça C Onici
Pouco
JC5SOUS tia
3(3 o do Tem pio
CLtiladi. a
S;.lai. mmi das seitt apocalipticas que
prc)liftl;im pelo I33LII1LILJ. voltou a jiidutir
Uliu, inigetlia spjos. A ja)IIL’III lnnc
descobriu no dia 22. num bosque na
Observação estruturada
pio fim de um estudo sobre o consumo, um pesquisador quer conhecer o
comportamento dos clientes ante a exposição dos cereais, O meio mais
seguro para alcançar esse objetivo é constatar diretamente o que se passa.
Duas condições especiais são aqui atendidas: o pesquisadorconhe
ce bem o contexto em que vai operar e conhece também os aspectos que
deverão chamar sua atenção no comportamento das pessoas. Pode, por
tanto, prepararnm piano bem determinado de observação: adaptado às
circunstâncias e ao objeto de estudo, ese instrumento vai permitir-lhe
fazer uma ordenação de dados antecipada dentre o fluxo de informações
e selecionar as que são pertinentes.
A construção desse instrumento alicerça-se evidentemente na hipó
tese, a serviço da qual, dizíamos na introdução, deve se colocar a observa
ção. Mas como não são conceitos, mas, antes, atitudes e gestos reais e
concretos que são observados, é por intermédio de seus indicadores que
a hipótese suportará o instrumento.
Segundo a natureza do problema abordado e as condições de investi
gação, o instrumento pode assumir diversas formas. As vezes é muito
aberto, deixando ao observador uma grande margem na escolha e maneira
de anotar as informações. Em contrapartida, como em nosso exemplo,
pode também assumir a forma de uma grade fechada em que os comporta
mentos se vêem previamente definidos, de tal modo que o observador
freqüentemente deve apenas assinalá-los para registrar sua presença.
Na prática, para bem delimitar a situação em estudo, a grade se
aterá a duas grandes categorias de informações. A primeira dessas catego
rias agrupa os esclarecimentos de natureza contextual: descrição dos
locais, das pessoas observadas e das razões de sua presença. Assim,
para os locais, deverá ser precisado o tipo de estabelecimento considerado
(supermercado, loja de conveniência...), a arrumação da vitrine (modo
de classificação dos produtos, exibição dos preços.,.), etc. Quanto aos
clientes, serão anotados seu sexo, idade aproximada, o fato de que este
jam ou não acompanhados,,.
A segunda categoria diz respeito mais diretamente aos comporta
mentos desses clientes consumidores. Aí se encontram infonnações so
bre sua passagem diante das prateleiras (duração, com ou sem parada,
Com ou sem escolha de um produto.,.), sobre a maneira pela qual se
eretuon a escolha (em função dos tipos de cereais, das marcas, dos pre
ços...), etc.
Conforme sua natureza, as informações serão ora registradas assina-
ando_se campos (marcando cem cruzinhas). ou então assinalando-se
irta pos:cão em urna escaN. As vezes, alaurnn.s linias permitirão
ao
serqador Inscrever anotacõe.s especia. O esboço de uma onde é apre
àpászina 179. •
Urna grade desse tipo é acompanhada habitualmente por diretivas •1
Sobre sua utilização, sobretudo se não foi o observador que concebeu o • •:
1•
flstnJmento Determina-se. por exemplo, ohse.rvar a quints- pessoa que .ii
UtIeg diante da vitrjne 5
após o fim da observacão anteor: caso se trate
Um c-am,i e.seoihera nes:soa cue detém. a lista da mercearia, ou se
‘1
178 LAVILLE & DI0NNE
soa seja julgada, ao mesmo tempo, muito capaz de tomar uma decisão e
medianamente capaz de executá-la.., é o pesquisador então que não po
derá mais decidir que conclusão tirar!
Isso nos leva aos critérios de qualidade dos indicadores. O bom
indicador é, inicialmente, preciso, dizendo claramente quais manifesta..
ções observáveis ele inclui em tal categoria e quais ele rejeita. Deve
também ser fidedigno, quer dizer, deve conduzir a categorizações que
não flutuarão com o tempo ou o lugar. Enfim, é válido, quer dizer que
representa bemo que deve representar. Um pesquisador que, na aplica
ção de uma pedagogia considerada estimulante da motivação dos alu
nos, apresentasse fotos de alunos sorridentes como manifestação da eficá-
cia de sua abordagem, explicando “veja, eles gostam do que estão fazen
do”, não teria aí um indicador nem preciso, nem fidedigno, nem válido.
Uma última nota antes de encenar essa seção. No capítulo anterior,
apresentamos a noção de variável: os pesquisadores, contudo, não estão
de acordo sobre seu status, a respeito dos conceitos e indicadores. Para
evitar complicações fúteis, fixemos simplesmente que as vanáveis en 14
contrain-se mais do lado abstrato da hipótese. Assim, no capítulo 6, incor
poramos as variáveis aos conceitos em jogo em nosso primeiro exem
pio, declarando que a participação nos encontros interculturais e uma
variável independente e reconhecendo o nível de agressividade dos alu ti
nos como variável dependente. Ademais, para nós, o termo variável tradu-
rirá simplesmente a cor particular assumida pelos conceïtos nos estudos
com dados criados, aqueles em que, por uma intervenção, o pesquisador
quer evidenciar uma relação de causa e efeito. J
A guisa de conclusão, lembremos que a elaboração do quadro ope
racional tem por objeto, inicialmente, concretizar a hipótese em vista
de
sua verificação empírica. Essa hipótese compreende, na verdade, um
ou
vários conceitos, e estes são abstratos: é preciso traduzir-lhes as dimen
sões sob forma de indicadores que possibilitem a delimitação de
suas
manifestações.
Mas o quadro operacional e mais do que uma simples escolha de
Indicadores: estabelece também a ligação entre a hipótese e o trabalh
o
de análise e de interpretação, precisando o que necessita
considerar para
a verificação dessa hipótese. Explicitar-se-á principalmente
a natureza
das manifestações concretas e, se o objeto da pesquisa o
determinas, a
Oflentação de eventuais transformações, manifestações e transformaçõe
s,
Cuja presença confirmaria a hipótese; Se vários conceitos estão
em jogo,
clevese do mesmo modo precisar as relações que deveriam existir
entre
seus respectivos indicadores, a maneira pela qual os valores
destes de
veriam evoluir em função uns dos outros. Finda essa etapa, vem
o tempo
de se preccunar com tócnicas e :nstrumentos de coleta
dos dados. Isso
obieto da próxima sesão.
descre
recorrer.
os
vere.
fj;
Observação
modo de contata
A observação reve1ase certamente nosso privilegiado
ca
com o real: é observando que nos situamos, orientamos nossos deslo
Para ter informação mentos, reconhecemos as pessoas, emitímos juízos sobre
elas. Sem alon
sobre uni acidente, ativida des quot i
pode-se ler o que o gar inutilmente essa lista, convenhamos que, em nossas
espaço à observ ação.
jornal refere ou dianas, não há quase exemplos que não deixem
interrogar as de desco
testemunhas, a menos A observação participa também de uma ampla variedade
os em seu
que seja o próprio bertas e de aprendizagens realizadas pelos homens. Pensem
a pouco
1: observador uma dessas
testemunhas, tendo
papel no desenvolvimento das crianças que, através dela, pouco
assim a informação “de se apossam do mundo que as rodeia.
um pa
primeira mão. Não é, pois, surpreendente que a observação tenha também
1H pel importante na construção dos saberes, no sentido em
qualifi
que
cada
a expr
de
es
cien
são é entendida em ciências humanas. Mas para ser
tífica, a observação deve respeitar certos critérios, satisfazer
certas exi
serviço de
gências: não deve ser uma busca ocasional, mas ser posta a
ente explici tado; esse
um objeto de pesquisa, questão ou hipótese, claram
tido a críticas
serviço deve ser rigoroso em suas modalidades e subme
nos planos da confiabilidade e da validade.
leque
Essa exigência de rigor não impede a presença de um vasto
ação parti ci
de técnicas de observação das quais algumas, como a observ
estruturadas, ao
pante já evocada no capítulo anterior, acham-se pouco
arem revis
passo que outras o estão muito mais. Começaremos por pass
ta essas técnicas.
Esse suporte da hipótese por vezes tomará a torma concreta de urna grade s. as ohserv a
Ti cs:r;t:caC:cres e ofl:zr e cr2anj1am. em raus diverso
:s:ac Lt _cr r a —‘
1’
tal manifestação particulaS
pesquisa que guiará o olho e o ouvido do pesquisadoG levá-lo-á a ator-se a
deter-se em tal asoecto ou elemento.
L
2
í1
r
A CONSTRUÇÃO DO SABER
179
1. Outros comentádos:
tu
180 LAVILLE & DI0NNE
Ele também pode ocultar sua condição de, observador. Essa dissimu..
lação causa, contudo, alguns problemas, dentie os quais as questões de
ética não são as menores. Corre igualmente o risco de complicar o traba..
lho— os registros das notas, por exemplo, uma vez que o pesquisado
não deve trair-se—, mas também a própria observação; integrando-se
ao grupo, com um papel a desempenhar, o pesquisador limita sua disponi
bilidade como observador. Em contrapartida, essa integração pode leva..
lo a participar mais intensamente da vida do grupo e, assim, alcançar
uma qualidade e uma profundidade de informação, inacessíveis de outra
forma.
:5:
Testemunhos
Além da observação dos fenômenos (instrumento de apreensã
o do real
que as ciências humanas compartilham com as ciências natu
rais), uma
maneira reconhecida e comprovada, própria das ciências
humanas, de
obter informação consiste em colher os depoimentos
de pessoas que
detêm essa informação. O recurso a esses depoimentos perm
ite a explora
ção dos conhecimentos das pessoas, mas também de suas
representa
ções, crenças, valores, opiniões, sentimentos, esperanç
as, desejos, pro
jetos, etc. As maneiras de chegar a esses objetos de estud
o, e a muitos
outros, são variadas: os termos questionários e entrevistas
—
que
anunciam as duas partes desta seção estão justamen
—
Questionários
Para saber a opinião da população sobre uma escolha
de sociedade como
a da preservação dos programas sociais, é
preciso, evidentemente, As técnicas e os
interrogá-la. Talvez não a população inteira, mas, instrumentos que
seguindo a estratégia
da pesquisa de opinião, uma amostra sufic apelam para o
ientemente grande, constituí testemunho são
da com os cuidados requeridos para asseg
urar sua representatividade. próprios das ciências
Para interrogar os indivíduos que compõem essa amo humanas.
stra, a aborda
gem mais usual consiste em preparar uma série
de perguntas sobre o
tema visado, perguntas escolhidas em funç
ão da hipótese. Para cada uma
dessas perguntas, oferece-se aos interroga
dos uma opção de respostas,
definida a partir dos indicadores, pedindo-
lhes que assinalem a que cor
responde melhor à sua opinião. Ou então, outra Se o questionário
forma possível de questio padronizado é o
nário: enunciados lhes são propostos, cada um
acompanhado de uma instrumento
escala (freqüentemente dita escala de Like privilegiado de
rt), série de campos que lhes
Permite urecisar se. nor exemplo, estão em total sordasem, seu uso não
desacordo, co: desacor :03 .3 a
Ou so.rn OJDIntaO,
oe c:rdo, ou wraljmente ele 000rJO oon1 o enuncaoo
Or)nsiierd() pesquisa.
Que sua forma seja uma dessas ou uma outra em
Imponder se acha determinada, o questioná que a maneira de
rio em seguida é distribuído,
Pelo corro-io ou por outro• meio: as pessoas
cue
Pois o devolveu: ao e.x.ped:dor.
Dentre as vantagens desse tipo de questionário padr
onizado —
diz•
ri —oie-aerr: r
ir E
A uniformidade da ordem das questões não está, por outro lado, jamais perfeitamente assegurada.
Como o interrogado coloca a si mesmo essas questões, ele pode às vezes voltar atrás ou mesmo borboletear
de uma questão a outra, Pode-se lhe pedir que evite esse comportamento, mas não é garantido que ele
Ii respeite a instrução. Consegue.se um melhor controle sobre isso com a entrevista estruturada.
1I
Oferecer apenas respostas predeterminadas pode parecer constran
gedor. Mas isso apresenta vantagens. As escolhas de respostas ajudam
inicialmente a eclarecer o sentido das perguntas que poderiam mostrar-
se ambíguas, garantindo ao pesquisador que as respostas fornecidas se
rão da ordem das respostas esperadas, que corresponderão aos indicadores
que ele estabeleceu. Deixado a si mesmo face à questão “Você está satis
feito com os serviços oferecidos pelo Estado?”, um interrogado poderia
II
escrever “sim” pensando nos serviços sociais (visados pelo questioná
rio) que garantem um mínimo ao conjunto das pessoas, ou “não”, julgan
1
do que eles lhe custam caro demais, ao passo que o pesquisador queria
saber dele se foi recebido satisfatoriamente quando se apresentou er:
um desses serviços. Ao mesmo tempo, uma escolha dc respostas pr
ii
tabelecidas evita que o pesquisador deva ïnterpretar as respostas de.:
interrogados: estes colocam a si mesmos nas categoHas, apontando sua
escolha.
4
A CoNsTRuçÃo DO SABER 185
lJ
1
186 LAVZLLE & DI0NHE
1
aqui a maior parte das vantagens e dos inconve
nientes do questionário
normatizado: principalmente os que têm ver
a com a impositividade das
repostas previstas antecipadamente, resposta
s que esclarecem as pergun
tas e orientam o interrogado para o quadro de
referência do pesquisador,
mas o impedem talvez de exprimir o verdad
eiro fundo de seu pensamen
to. Por outro lado, a padronização permit pro
e ceder rapidamente, a cus
tos razoáveis e com um grande número de
pessoas, facilitando o tratamen
to dos dados graças aos instrumentos esta
tísticos cujo uso ela autoriza.
Ademais, é preciso encontrar pessoas par
a fazer as perguntas, mas
estas necessitam de um treinamento mín 1
imo para garantir auniformida
de do processo. Procedendo-se às entrevis
tas por contato direto, no cam
po, deve-se, todavia, tomar precauçõe
s em matéria de amostragem: os
clientes de uma clínica médica não
reagirão, necessariamente, como os
de um centro esportivo a questões
sobre seguro-saúde. O problema de
amostra resolve-se mais simplesmen
te ao telefone, a tecnologia perini
tindo agora compor os números ao
acaso e atingir até pessoas não ins
critas na lista telefônica.
Sempre em função da hipótese e das exig
ências de sua verificação, o
pesquisador pode também reduzir o cará
ter estruturado da entrevista e torná
la menos rígida e menos con
strangedora. Inspirando-se, por exemplo, no
que foi feito anteriormente com
o questionário normatizado, pode-se con
servas a padronização das pergun
tas sem impor opções de respostas.
O pesquisador consegue os mesmo
s ganhos que no caso do questio
nário, principalmente pelo fato
de que, deixando o entrevistado formu
lar urna resposta pessoal, obt
ém uma idéia melhor do que este realmen
pensa e se certifica, na mesma te
ocasião, de sua competência.
Com as próprias perdas também: a da
de sua inclusão forçada em uniformidade das respostas,
seu quadro de referência, sem contar a nec
sária interpretação que ele es
deverá dar dessas respostas a fim de clas
cá-las por categorias. Os entr sifi
evistadores devem ser também muito trei
nados, especialmente para
podertomarnota convenientemente das pala
rns dos interrogados. Um gravador pod
a ta.refa eria facilitar1bes grandemer.te
Espaço à imaginação
desemj;
rm an ec e um dc nd Pi o em coe a irnacinaçio deve
A pesquisa pe r a reaiidade’,
im po rta nte : ci o com o fim de “inventa
nhar um pa pe i de instnsrne
lho r ab ord á-l a, po is a pa rtirdas grandes categorias
para me
A CONSTRUÇÃO DO SABER 191
tos descritos naquilo que precedeu, tudo se torna possível. Cabe ao pesqui’
permitirão
ador imaginar e ajustar a técnica, os instrumentos que lhe
5
necessária
delimitar o objeto de sua pesquisa, extrair deles a informação
compreensão que ele quer ter para logo partilhá-la e contribuir assim
para a construção dos saberes.
Nenhum instrumento é perfeito: aliás, temos insistido nas qualidades
pesquisa-
como nas falhas e limites daqueles que consideramos. Mas um
ento e aprove itar assim as
dor decide sempre usar mais de um instrum
s.
vantagens de cada um, minimizando alguns de seus inconveniente 1’
Podem ser dois instrumentos depefidentes de uma só técnica: um
pesquisador poderá, por exemplo, aprofundar as informações colhid
as :4:
sua entrevi sta
com o auxilio de entrevistas estruturadas, prolongando
da
com alguns assuntos, atraves de uma entrevista semi ou não-estrutura
tência desses partici pantes , verific ar
Isso lhe permitirá verificar a compe
também se as respostas dadas à parte estruturada corresp ondem exatam en-
iras
te ao fundo do pensamento dessas pessoas, ou se são apenas grosse
aproximações dele E podem ademais explorar os diversos fatores que
puderam conduzir seus interrogados às opiniões emitidas: fatores
rr
Testes
Dentre os instrumentos desenvolvidos para a exploração do humano, há 1-
urna categoria que merece ser distinguida das outras: os lestes.
Existe uma espantosa variedade de- testes, variedade que permite
atingir uma enorme quantidade de caracteres que marcam a natureza
humana. Às vezes muito estruturados, como os testes nos quais o interro
gado deve indicar seu grau de concord5ncia com enunciados, outros
testes osão menos, ouando, por exemolo, lhe é soIictado a contar urna
h rarr de: urna irnanem
-,
JOgos nas revistas: pedese a vocã, por exemplo, pai especificar quais
seriam suas reações dentre algumas descritas em relação a situações
:ft;las pontos por caiAs oucão: deeois, em fim ão de
°°eiro
5.
.
. LAURENR.t *ksHJ::. 1,
7
Ci
4:
w
ANÁLiSE_ ANÁUSE
DE CONTEÚDO OS CONTEÚDO
na Universidade de Paris V, apli
Laurence Bardin, professora-assistente de psicologia ção psicossociológica e no estudo
cou as técnicas da Análise de Conteúdo na investiga um manual claro, concreto e ope
das comunicações de massas. Este livro procura ser ser utilizado por psicólogos
racional desse método de investigação, que tanto pode ou finalidade, como por psica
e sociólogos, qualquer que seja a sua especialidade
nalistas, historiadores políticos, jornalistas, etc.
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edições 70
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edições 70
1
ORGANIZAÇÃO DA ANÁLISE
As diferentes fases da análise de conteúdo, tal como o
inquérito sociológico ou a experimentação, organizam-se
em torno de três pólos cronológicos:
1) a pré-análise;
2) a exploração do material;
3) o tratamento dos resultados, a inferência e a iutcr
pretação.
1, A PKt-ANÁLISE
É a fase de organização propriamente dita. Corresponde
a um penedo de intuições, mas, tem por objectivo tornar
operacionais e sistematizar as ideias iniciais, de maneira
a conduzir a um esquema preciso do desenvolvimento das
operações sucessivas, num plano de análise. Recorrendo ou
não ao ordenador, trata-se de estabelecer um programa
que, podendo ser flexivel (quer dizer, que permita a intro
dução de novos procedimentos no decurso da análise), deve,
no entanto, ser preciso.
Geralmente, esta primeira fase possui três inisC’es
a escolha dos documentos a. serem submetidos à análise, a
formulação das hipóteses e dos objectivos e a elaboração
de indicadores que fundamentem a interpretação final.
95
A
constituição implica, muitas vezes, escolhas, selecçôes e
m, obrigatoriamente, se regras. Eis as principais regras:
Estes três factores, não se sucede embora se mantenham
gundo uma ordem cronológica,outros: a escolha de do • Regra da exaustividade: uma vez definido o campo
estreitarnente ligados uns aos do corpus (entrevistas de um inquérito, respostas a um
vos, ou, inversamente, o
cumentos depende dos objecti dos documentos dispo questionário, editoriais de um quotidiano de Paris entre
objectivo só é possível em função construídos em função das tal e tal data, emissões de televisão sobre determinado
níveis; os indicadores serão as hipóteses serão criadas na assunto, etc.), é preciso terem-se em\conta todos os ele
hipóteses, ou, pelo contrário, pré-análise tem por objectivo mentos desse corpus. Por outras palavras, não se pode dei
presença de certos índices. A xar de fora qualquer um dos elementos por esta ou por
própria seja composta por acti
a organização, embora eia abertasê, por oposição à explo aquela razão (dificuldade de acesso, impressão de não
vidades não estruturadas, -interesse), que não possa ser justificável ElO pliuio do
ração sistemática dos documentos. rigor. Esta regra é completada pela de nõo-sclccfiridadc,
A primeira actividade con Por exemplo, reune-se um material de análise da publi
a) A leitura «flutuante».— com os documeútos a analisar cidade a automóveis publicada na imprensa duranteestes um
siste em estabelecer contacto
deixan do-se invadir por impressões ano. Qualquer anúncio publicitário que corresponda a
e em conhecer o texto chama da de leitura (flutuante), critérios, deve ser recenseado.
e orientações. Esta fase é psicanalista. Pouco a pouco,
por analogia com a atitude do precisa, em função de hipó
mais é Regra da representatividade. A análise pude efectuar-
a leitura vai-se tornando ão de teorias adaptadas sobre -se numa amostra desde que o material a isso se preste.
teses emergentes, da projecç aplicação de técnicas utilizadas A amostragein diz-se rigorosa se a amostra for uma parte
o material e da possível representativa do universo inicial. Neste caso, os resui
sobre materiais análogos. tados obtidos para a amostra serão generalizados ao todo
entos. O universo de do Para se proceder à arnostragem, é necessário ser’ pos
li) A escolha dos docum determinado a priori: sível descobrir a distribuição dos caracteres (los elementos
—
cumentos de análise pode ser da amostra. Um universo heterogéneo requer urna amos
a solicita a urna equipa
de tra maior do que um universo homogéneo. A costureira,
• por exemplo: uma empres recortes de imprensa reuni para que possa fazer ideia de uma peça de tecido com
fio,!
analistas a exploração dos do novo produto lançado res, tem necessidade de uma amostra maior desse tecido,
dos num press-book, acerca atrás. do que aquela que seria necessária para ter a ideia de um
no mercado alguns meses tecido liso. Tal como para uma sondagem, a arnustrageniidas
inado, e, por conseguinte, pode fazer-se ao acaso, ou por quotas (sendo conhec
Ou então o objectivo é determ documentos susceptíveis de as frequências das características da população, retoma
convém escolher o universo de problema levantado: mo-las na amostra, em proporções reduzidas).
fornecer informações sobre o Por exemplo, se se souber que existe x marcas de auto
é seguir a evolução dos valores móveis e que cada uma possui uma taxa média de n anún
• por exemplo: o objectivo a durante um determinado cios por ano. Além disso, conhece-se a distribuição pelos
da. instituição escolar frances dos discursos de distri órgãos de imprensa. Finalmente, avaliamos a repartição
ano. Opta-se então pela análisehomogéneo, regular, con quantitativa e a variação qualitativa dos conteúdos telná.
buição dos prémios: materialinformações relativamente ticos segundo os meses do ano. Tidos em conta estes cri
senado, acessivel e rico em térios (marcas, órgãos de imprensa, períodos) que depen
ao objectivo. dem do objectivo da análise, pode proceder-se a ‘nua re
(o género de documen dução pensada (amostragem) do universo e diminuir a
Estando o universo demarcado r a análise), é muitas parte submetida a análise.
efectua
tos sobre os quais se pode à constituição de um corpu3. Nem todo o material de análise é susceptivel de dar
vezes necessário proceder-se documentos tidos em conta para lugar a uma amostragem, e, nesse caso, mais vale abster-
O corpus é o conjunto dosprocedimentos analíticos, A sua
serem submetidos aos 97
96
i
análise
A propósito deste problema do primado do quadro(1)deparecem
e
mo-nos e reduzir o próprio universo (e portanto o alcanc sobre as técnicas e vice-versa, 1’. Henry e 5.
Moscovici
w quadro de
da análise), se este for demasiado importante. privilegiar os procedimentos exploratórl.os (em que
uma colocação
análise não está determinado, e em que se parte de estes
em evidência das propriedades dos textos.) em relaçao ao que
Regra da homogeneidade: os documentos retidos autores chamam os procedimentos fechados.
devem ser homogéneos, quer dizer, devem obedecer aa sincri PÔr em funcionamento um procedimento fechad
o, é começar
-se a partir de um quadro empírico ou teórico de , an4ltp e de certos
térios precisas de escolha e não apresentar demasiad estados psicológicos, paico-sociológicos ou outros
que se tentam
gularidade fora destes critérios de escolha. s particularizar, ou então a propósito dos quais se formul
aram ldpÓ•
Por exemplo, as entrevistas de inquérito efectuada teses ou se levantaram questões. Keúnem-se textos, Depois
obser
tema,
sobre um dado tema, devem: referir-se todas a esseticas e
te’irico,
vam-se esses textos através de um determinado quadro
modificado,,
te; sido obtidas por intermédio de técnicas idên regra quadro esse pré-estabelecido e que nAs, pode ser
almento por
Os procedimentos fechados, caracterizados eSenci dop textos
sérem realizadas por. individuos semelhantes. Esta técnicas taxinómicas (por classificação de elemen
tos
r resultados
é, sobretudo, utilizada quando se desejam obte uais. em função de critérios Internos ou externos),
são métodos de obser
globais ou comparar entre si os resultados individ
nervcm
vação que funcionam segundo o mecanismo da lnduç&o e
Precisemos, no entanto, que se a constituição de um para a experimentação de hipóteses.
Enquanto que os procedimentos de cxploraçdo, aos quais
podeni
para
corpus é uma fase habitual na análise de conteúdo, fun corresponder técnicas ditas siatemdt4cas (e nomea
damente auto
certas análises monográficas (uma entrevista apro livro), máticas), permitem, a partir dos próprios textos, apreen
der as liga
dada, a estrutura de um sopho ou a temática de um único,
o o prccessc
ções entre as diferentes varláveis, funcionam segund
tal fase não tem sentido (caso de um documento dedutivo e facilitam a construção de novas hipóteses.
Segundo os autores, cujo ponto de vista particu
lar, os conduz
singular). ffo .— ou campo
ao desejo de Insistir, quer nas condições de produç ão
(situaç le como
de determinações— dos textos no sentido iato
Regra de pertinência: os documentos retidos devem etc.), quer nas
nicação, meto sócio-cultural, psicologia Individual,
o, modo a ões de pro
ser adequados, enquanto fonte de informaçã de relações entre os próprios documentos e as suas condiç
em de
. dução, os métodos exploratórios sistemáticos têm a vantag
corresponderem ao objectivo que suscita a análise experirnen
poderem servir de introdução aos únicos procedimentos o que estes
tais capazes de apreender as ligações funcionais entre
Uma de produção,
c) A. formulação das hipóteses e dos objectivos. autores chamam o plano vertical (nível de condições
—
ntal (uivei doe
os enquanto varláveis independentes) e o plano horizo
hipótese é uma afirmação provisória que nos propom textos anaUsados enquanto variávete dependentes).
verificar (confirmar ou infirmar), recorrend ção
o aos pro
cedimentos de análise. Trata-se de uma suposi cuja
so en No entanto, em muitos casos, o trabalho do a.nalista
origem é a intuição e que permanece em suspen s. é insidiosamente orientado por hipóteses implícitas. Da
quanto não for submetida à prova de dados seguro qui, a necessidade das posições latentes serem reveladas
propomos
O objectivo é a finalidade geral a que nos o qua e postas à prova pelos factos, posições estas susceptlveis
(ou que é fornecida por uma instância exterior), s obti s,
de introduzir desvios nos procedimentos e nos resultado r
dro teórico e/ou pragmático, no qual os resultado Formular hipóteses consiste, muitas vezes, em explicita
dos serão utilizados. e precisar e, por conseguinte, em dominar dimensões
—
Levantar urna hipótese é interrogarmo-nos: «será ver
—
e direcções de análise, que apesar de tudo funcionam no
dade que, tal como é sugerido pela análise a priori do processo.
problema e pelo conhecimento que dele possuo, ou, como
as minhas primeiras leituras me levam a pensar, que... ?.. d) A. referenciação dos {ndices e a elaboração de i’uZi
De facto, as hipóteses nem sempre são estabelecidas cadores. Se se considerarem os textos como urna mani
quando da pré-análise. Por outro lado, não é obrigatório
—
e festação contendo Indices que a análise vai fazer falai-,
ter-se como guia um corpus de hipóteses, para se proc o trabalho preparatório será o da escolha destes em —
der à análise. Algumas análises efectuam-se da cegas
e sem ideias pré-concebidas. Uma ou várias técnicas são.
consideradas adequadas a prlod, para fazerem cfalars u,
o material, utilizando-se sistematicamente. Isto é o que (9 P. flenry e 5. Mesoovlcl, (Problêmos de l’anatvse de c’onteu
informática. em Langage, n.’ ri, Setembro, 1968,
sucede muitas vezes, ao recorrermos
99
.98
função das hipóteses, caso elas estejam determinadas —
A preparação formal, ou «edição*, dos textos, pode ir
e sua organização sistemática em indicadores. desde o alinhamento dos enunciados intactos, proposição
Por exemplo, o índice pode ser a menção explícita de por proposição, até à transformação linguística dos sin
um tema numa mensagem. Se se parte do princípio, de tagmas, para standartização e classificação por equiva
que este tema possui tanto mais importância para o lo lência, No caso do tratamento informático, os textos de
cutor, quanto mais frequentemente é repetido (caso da vem ser preparados e codificados segundo as possibilh
análise sistemática quantitativa), o indicador correspon dades de deitura do ordenador e segundo as instruções
dente será a. frequência deste tema de maneira relativa do programa.
ou obsoluta, relativamente a outros.
Por exemplo: supõe-se que a emoção e a ansiedade se
müifestam por perturbações da palavra(2)durante uma en 2, Á EXPLORAÇÃO DO MATERLL
trevista terapêutica. Os índices retidos (.Rã, frases
interrompidas, repetição, gaguez, sons incoerentes...) e a Se as diferentes operações da pré-análise foram coo
sua frequência de aparição, vão servir de indicador do venientemente coneluídas, a fase ‘de análise propriamente
estado emocional subjacente. dita não é mais do que a administração sistemática das
Uma vez escolhidos os índices, procede-se à constru decisões tomadas. Quer se trate de procedimentos apli
ção de indicadores precisos e seguros. Desde a pré-análise cados manualmente ou de operações efectuadas peio orde
devem ser determinadas operações: de recorte do texto nador, o decorrer do programa completa-se mecanica
em unidades comparáveis de categorização para análise mente. Esta fases longa e fastidiosa, consiste essencial-
temática e de modalidade de codificação para o registo mente de operações de codificação, desconto ou enuxne
dos dados. ração, em função de. regras previamente fonouladas
Geralmente, certificamo-nos da eficácia e da pertinên (cf. capftulo seguinte)..
eia dos indicadores, testando-os cm algumas passagens
ou em alguns elementos dos documentos (pre-teste de
3. TRATAMENTO DOS RESULTADOS OIYI11JOS
análise). E rNTERPRTAÇÁO
e) A preparação do material. Antes da análise pro
—
priamente dita, o material reunido deve ser preparado. Os resultados brutos são tratados de niamir a a serem
Trata-se de uma preparação material e, eventualmente, significativos ((falantes)) e válidos. Operações etatís
de uma preparação formal (cediçào). ticas simples (percentagens), ou mais complexas (análise
Por exemplo: as entrevistas gravadas são transmitidas factorial), permitem estabelecer quadros de resultados,
(na integra) eas gravações conservadas (pan Informação diagramas, figuras e modelos, os quais condensam e põem
paralinguística), os artigos de imprensa são recortados, as em relevo as informações fornecidas pela análise.
respostas a questões abertas são anotadas em fichas, etc. Para um maior rigor, estes resultados são subn.ietidos
Ë aconselhável que se prevejam reproduções em número a provas estatísticas, assim como a testes de validação.
suficiente (recortes, equipa numerosa) e que se numerem O analista, tendo à sua disposição tesultados signifi
os elementos do corpus. Suportes materiais do tipo pre cativos e fiéis, pode então propor inferências e adiantar
ciso, podem facilitar a manipulação da análise: entrevis interpretações a propósito dos objectivos previstos,, ou que
tas dactilografadas num rolo de papel, dispondo de colunas digam respêlto a outras descobertas inesperadas.
vazias à esquerda e à direita para o código e respostas a Por outro lado, os resultados obtidos, a confrontação
questionários em fichas standard para que se possam sistemática com o material e o tipo de inferências alcan
marcar os contrastes. çadas, podem servir de base a uma outra análise disposta
em tomo de novas diniensões teóricas, ou praticada graças
nal atates by content analy
a técnicas diferentes (ver figura na pág. eqninLc,
(‘) G. E. MahI, cExplorlng emotio , Unlverstty
&s,, em 1. de 8, Poel, Trenda 1.. content analØ*, Urbana
of Illinois Prese, 1959,
100 201
.4’
ii
À (k
..)
‘4jj
7 9
iLxsE rE crwrtOoo isto é, do Ixam e do nau prnfeso
restrito: A detannlnaçio das regras de crxlific-a,À: ic’Vk-d.
A expressão ‘análise de crnteõdo’ á utilizada nu sentido
-
rar o unidade de eiiuiieraçãa c* de cxuta<pr- cada rela:.çdc, i cm)
refere—se apenas às técnicas usualwente utilizadas pelas Ciências
ra a exploração de &xnnentos • não abragenio portanto os tipos de
caie, directaniente co ástito da linguística e da literatura.
Scx,iais pa
anil (se que unidade de registo cu ‘a4 signiricd%ac.Lacx4iticar’, temio
“em vista a catasor-zaçic € mi tatds Ju,c - u na ‘J
1)
e— nos a proposição.
Djb,ra as téaúcas de análise de czrnteízjo não tenhasn cessado de
ação, Utilizímms o teoni prcpciçdo no sent.:.ii qne lia dá Macio—
luir rx (iltinos decéstice, atingindo um graj3e grau de sofistic
as leva —Qiristine d’WX ‘r-’ar pnxIção enteni<,oa orne eflntnç.&o, çxna
jecti’,os limita&’s do cosso traba)ho’e a falta de treino dos analist
declaração, Um juizo CU Uni L9tern’JZiÇa) L1 a.at; C
es e práticas ireis tradicicra.is, directanonte
reu—ros a optar por crrcepç
6
Ema frase ai um eleiesito de frase que, tal -:‘‘:c
inspiradas trabalhs de &RESa e diwlgadas e, córas da especialida
tom
-
ca, estabelece una relação entre dois cxi na,). e t.acrn::o, Li,. are,. pe: .i.n—
dê (1).
dpio, Uma unidade que se hista a ela Inirla (2).
Ãssii,, partians da definição de BD%N de
análise de cnteÇxb co
sistemática A téauca usada foI a]c.fl.a Cfr3 a nnr!a arrora
co “tina tj&xaica de investigação que visa a descrição cójectiva,
.
e quantitativa do ocnte&lo manifesto da ctnunicação” -
x’ra e cola”, Isto é, o texto foI dlvlctick’ ‘e fica:preni:a qca io-
categoriae.’ ?msbn asca,) pcxleer&e La
/
AS etapas seguidas na análise corresprniaram às regras correntes:
3. cimenta ser refeunaiadas - reilda cswa v1r r-orir t-n<’-.. o o (co::’
ica
10 - Leitura Inicial dos &nzrentos para una apreensão sincrát tos.
das suas características e ava1iaç& das pssibllidales de anil! A escolha da gaciade de cx:E nato ,‘a’ (co - se era, e dii (cii
sex determinação do ‘segrento da lrensarysn cujo tacanho (superior á o’
O ‘‘(r ora’
Etenninação dos cójectivos da aniUse de acordo o as nidade de registo) é éptIieo para ‘3j3i±Ol.iCr a cc
—
es acóre o tema
teses enitidas. Por exaplo, na análise àas relacçz
5 da unidade de registo’ 3) ofereceu-tais -panOs cc’ );
“Se eu fosse pxofessr, - -“, partiu—se da hipótese de que esses
tex deficiente sistema de Faitoação utilizado tos texto-e anal lssdc’s
o.niuta pe— e o tairianto naluz ido de mui tcs de los nor 1 eso, (.Cn: ao -‘e’
etJunos
tos expriiren a identificação do aluo azo ti, irodelo de
-
dag5gica que traduz a sua crnceçção do lnn professor. A
leitura lJr aalo unidade de contexto a rnJdcru -
ve Na entievtsta_a w’üd&.ie de asit.axtu o’ n’eh: .1
desses &zzmentos, revelaMo que essa definição se faz nuitas
zes pela negativa ai pelo estabelecijrento de cxritrastes, 1eni-nt’s , :cttas voas, tonsa-caa cacos
resposta a uma pergunta ti) entwit
6
a cn-isiderar a pcssibilidade de definição de nn3elos antitéti
cos, sino atender ao sitido das respostas aniece,(os,ta , se
Cada categiria & definecla Cja: aries A] Ir:: o eis e.)o
(1) aniltar,en língua portnguesa:
— BAIOIN, Laurence, Análise de Çtte&%o, Lislx,a, Fdiçães 70, 1979, (1) BAmIN, L., L’analyse de atenu, Paris, PUI 1577, p103
- FES’flN2 e KP.TZ, A Pesquisa na Psimloaia Scx,ial, Rio de Janeiro, fl14 (2) D’UIM.X, ?4arie—Õ-&nistij-ie Lanalvse dectuteir,, Pans, r1.tío-- Y(co,’—
tora Fzxlaç&o Cebfllo Varjas, 1974, pi. 403—449. sitaires, 1974, p1167.
(3) BAnJLN, ctre citada, pio?
Inlicadas pol 3ULs
As wüdas de registo (8) aSo
itn se deve prDcer exaustivanente.
tes, a aijo levantái
À seneibarça de que a0n
tece an qualquer pnxsso de
categori
ecr a critérios de
f A anilise desta parta do texto penn
ite—rt’s- .Iot rt Jar tr
zaçaç, a &texminaç das categorias deverá cÓa1
professor ai seja, as nnelo de JaessDr.
stividade.
exclusivid? recíproca e exau
cter&ria, Nroneidaie, Assim, terimios:
adas,
das categorias devn ser test
A validade e a flôsudale Bri Professor
s e veri ficant
as 1) Categoria —
o a vrlcs analista
5uhne tenSa us lieslo teçt ltirt oranizacbr do pnxr.s,s.
2) $ubcategorias —
cordáncias e as divergências. bx organizador da rehv;&
aia aluna de li anas
,do cria cahwi o ‘
cazos as texto 3) IndicaSares —“Explicava brio
A títuio de exençio. fome clsas:e
ira escoLa do ciclo Prepara vezes rp.e fossen pre
ctrigat&ia, a frentar
59 ana de esrx,Larlda3e
tzSrio de Lisha øj, de roxio esquanátioa
5e eu fosse professora”
Ban Professor — sua def1sitç&cerc,.a
Categoria
a e paciSnciaj e repetia
as vezes
explicava brio ctn, calm
Processo firiLç
de rfiniçâo pela Afiunativa
definiç&z
que fosses precisas
3 1 - O professor acuo orqani
—
a p,sczvesa ensu>
rranlaria trahailx>s para cas
1 z&)t- k
Subcate raSar do pX5&O e’süo
goria 1
-aprenlhza
jras a te, apenas estalar as liç6es nua livr
o apniriIa 1 tkiidazie
5 1 a—o
de 1 — Explicava bxki cxiii cal-
tc os alma o oarrigirtam lia e pacircia
vez que eu desse sn pcsa
2 - ltFx,tla as vezes
fosses precisas
cxnoasH. 3 — lia..: fvlI-r
Jlk1IcadOces
:ss.i
ea atrasabe da fnra
fnra Us baU JDenas quanSa deqaso
Stltr
Maniarf a apenas estudar
J:flriO 4 -
lrl&n para a rua as liç&s nua livro aprtpri
i tfl 0.1 mau cxxrportanento
tinhaafalta de raspe
S t aluros o.nigiriaii c
-
ttn Los caio sojbe 55w
* Ou vez de tivesses
• r 1 - O. professar caio orni - O Professor crn,o ar-gani
O
,t’) 00. -
zakr da relzçio: o eauaia lógico anterior da aceitaçSo—negaçio, agora na densa rweaçaa»ace za
çáo: a—se o castiga cixrparai, n’as reafirma—se o dl:! 1 o ã pintç.,
1 t& lhes batia
o roxitezinento do pcder e da autoridade de q.!::a’
-
inpilca
j — Qasado degassenatras uências foi feita na
A ostatagen das fra
4
dos ai tinhajn” falta de inter—gnipal. Qio a varive1 ccrzsideraia foi o sa,o dos a.Ltusis, foCo’ sL’sj»s,e
fltt caio res respeito Ccix mau xrrxnta— a caxparação das fraxnoLn,.sigj,_jy1jca0ores nos textos da ao torne a5o
r
da
moto) irian pará ana lirns e fendnirc.s.
categoria
Outros prpzessos, mais crrçiexns e soflsttcai e ide:-3 se’ .‘s’
CDt atrás referinos, utilizábos esta netodolojia cl.: a ,‘:oS.: 03: .:5 “L’’
do raso trabalho, aproveitamento da inforuaç&-i co O: los á ci :5 ca]<ao rei ‘ts’tas::
minados elsientos de caraote.rizaç& ão profesoor e do aloni,: dat’i.nlçáso spera
cicnal de estratégias de ctservaçáo e de intervnn?an 1 salso de soalHo .05 -
‘o Assim, teTos aplicado esta técdca -— nil’d:ssr-m-; doo
tos de entrevistas de alusos e professores rnst Irá: 1- -‘--ro: ‘,,.eo’ -
4) MiUse de se:u&ncias e antaan das freqincias hinos e professores; ralacções ria alasos,
ro estojo de
A anilise das serx2ias (1) foi utilizada sctrettsio
para tentar captar a articul.aqke osiniflcacb do discurso. Na re
sequencial traduz
dacç&’ atrás transcrita, gtta—se, p& exaplo, que a ordan
que é, m entes
a interiorizaçao de tn eapflM did&stio, de cariz traiicicnal
casa,
to, ,gto an causa ros oeus aspectos mais azerciços (o trabailo de
prIncipal Biblicigraf ia Czrzsultaia
ccntrolo czmiçotanta do professor, o castiga cx-zpral).
.2 Coo efeito, a sequncia do discursa seque a sçquncia did5ctica da
Uç& trwiicia’ial e eicprlize os sais valores,, a cLareza
gidade da repetiçáa, a ctnsolidaçÃo atravésdomarmal, o
da explicaçSo, a fleces
cx-ritrolo &is orrihe—
ciimotoe. !b entanto, o esqtoa é subvertido na iralida e. que
o trabalto de
-
—
—
39’)9
Parte. Edltloco doAva,
sie UM nl4alwa de 150015! stnlv,
(1) ‘Distinguir-se—A a rova sequência cada vez que descrição i explica—
— nDL, I.de S., Trends is (»itent Analysi, U:bana,
sujeito ai a- passageo da narraçaa £ descriç&s, da 1959.
çáo, etc.” D’IX{RX, MC., ctra citada, pl?
—
.
2
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AJÉGNICA DA ENTREViSTA Em suma, pretende’se utilizar, na condução da entrevista, urna orientação
semidirectiva, sem prejuizo de uma prévia estruturação da entrevista, estruturação
lI Asoectos de Ordem Geral desenvolvida em termos de obiectivos gerais e específicos.
Pensamos, aliàs, que a definição precisa dos obiectivos é questão essencial,
A técnica da entrevista poderá ser utilizada em vários momentos do trabalho Essa definição permitirá uma maior maleabilidade na escolha dos processos e
—
a realizar com os professores e alunos das classes observadas. meios utilizados na orientação da entrevista a estruturação deverá, portanto,
A finalidade das entrevistas a realizar consiste, em última instância, na incidir no plano da definição e hierarquização dos obiectivos, e não no piano da
recolha de dados de opinião que permitam não só fornecer pistas para organização dos meios necessários à sua prossecução.
a caracteri
zação do processo em estudo, como também conhecer, sob alguns
aspectos, os Pelo expresso no 2.’ ponto, procura-se salvaguardar a possibilidade de
intervenientes do processo. Isto é, se, por um lado, se procura uma informação alargamento, ao longo da entrevista, dos temas propostos ào entrevistado. Note-se
sobre o real, por outro, pretende-se conhecer algo dos quadros
conceptuais dos que esse alargamento, directa ou indirectamente, tem sempre algo a ver com os
dadores dessa informação, enquanto elementos constituintes desse processo. temas centrais. Por outro lado, corresponde, por vezes, a pontos do plano previsto
As entrevistas têm, assim, finalidades de investigação, evidentes
nos dois para a entrevista, pontos que se pretendiam abordar de seguida e que, assim,
planos de aproveitamento de dados. ficam ia tratados, na medida em que o entrevistado forneceu, ‘espOntaneamense’,
Em virtude de se tratar de ‘entrevistas de investigação’, impõe-se
a definição informação que se tinha previsto obter apenas numa fase mais adiantada da
de um certo número de princípios, necessários à sua
concretização Iprincipios que entrevista.
podem servir, simuftaneamente de ponto de partida para
a elaboração das instruções Em relação ao 3.’ ponto, entendemos que a liberdade que se pretende dar ao
e fornecer aos entrevistadoresl entrevistado não deverá ser incompatível com a necessidade de precisar os
Em sintese, poderemos agrupar em três pontos esses piincipios
orientadores quadros de referência do entrevistado, levando-o a esclarecer conceitos e
da condução da entrevista: situações,
Assim, por exemplo, interessará conhecer a conotação dada pelo professor
—
3.’ Evitar, na medida do possivel, dirigir a entrevista: le as situações a que ele se refere), quando utiliza expressões como ‘aluno
—
2.- Não restringir a temática abordada; abúlico’, ‘aluno mal inserido na turma’, ‘turma indisciplinada’, etc.
-. Esclarecer os quadros de referência utilizados pelo entrevistado.
III Um Modelo de Entrevista la Entrevista ao Professorf
Pelo primeiro princípio, procuramos ‘dar a palavra’ ao
entrevistado, não As entrevistas que lemos efectuado com prolessores e alunos constituem
coarciando a sua expressão, sob qualquer aspecto: o
entrevistado poderá abordar
o tem
8 como quïser durante o
duas variantes de um mesmo modelo de entrevista, modelo decorrente do que
tenpo que quiser, sem interferências do
entrevistador Também se procura acautelar o modo acabámos de precopizar.
de pôr as questões, a firo de Seguidamente, apresentamos um exemplo da entrevista que temos realizado
evitar influenciar o entrevistado.
com os professores.
00
n
sou
lelefi so anua e) sai
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o,ôenaas tua
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da atraves ao um pediao de
urna coiabotaçáo produtiva, deverá ser susc:sa
formul ado de modo explice o a ncisivÜ. A tuni kjiuà poderá
ajuda,
:sr corno ponto la cantos e definiç
ão do pape ao entrev’sZao onoprciect.O
n’a tiqação coro ip,d:ca;àc. dc preu e o ao tornas uossieis De