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Os Modelos Penitenciários No Século Xix PDF
Os Modelos Penitenciários No Século Xix PDF
Resumo: Este artigo possui como objetivo apresentar alguns modelos de sistema penitenciário adotados
em países Europeus e nos Estados Unidos, no século XIX. Tal explanação se faz necessária para
compreendermos as discussões que aconteceram no Brasil quanto ao tipo de prisão e pena que deveria
vigorar em nosso país. Ainda faremos uma descrição de como eram nossas prisões desde o período
colonial e o que foi alterado nestas, com a formulação de nossa primeira Constituição Brasileira, em
1824, e o Código Criminal, em 18311.
Abstract: This article has as objective to present some penitentiary’s system models adopted in
European Countries and in the United States in the 19th century. Such explanation makes itself necessary
to comprehend the discussions which happened on Brazil about the kind of prison and punish that should
work in our country. We still will make a description about how were our prisons since the Colonial
Period and what was changed in these, with the formulation of our first Brazilian's Constitution, in 1824,
and the Criminal Code in 1831.
∗
Bacharel em História pela Universidade Federal de Juiz de Fora. Bolsista CNPQ de Apoio técnico a
pesquisa.
1
O presente artigo foi apresentado pela primeira vez como comunicação científica no Seminário Nacional
de História da Historiografia: historiografia brasileira e modernidade, ocorrido na cidade de Mariana –
MG entre os dias 01 a 03 de agosto de 2007.
Em fins do século XVIII e início do XIX, conjuntamente com as transformações
da sociedade americana e européia, a partir da revolução industrial, o sistema
penitenciário e as formas de reclusão dos criminosos passaram a ser discutidas
intensamente. Estas se deram tanto no campo teórico quanto na prática com a aplicação
de modelos correcionais em alguns presídios, como por exemplo, o de Filadélfia e o
Arburn em Nova York.
Uma mudança significativa do sistema prisional foi a privação da liberdade,
onde o indivíduo encarcerado perderia toda a sua liberdade por um determinado tempo.
Assim as penas dadas a um infrator passaram a ser quantificadas através do tempo,
impondo-o ficar recluso da vida social durante um período julgado suficiente para
reparar o mal feito à sociedade.
Além do cerceamento da liberdade quantificada através do tempo, a alteração
revolucionária nas penitenciárias, sem dúvida nenhuma, foi o encarceramento do interno
em celas separadas. Segundo Foucault, o preso deveria ser isolado do mundo exterior, a
tudo o que motivou a infração, às cumplicidades que o facilitaram2, e dos outros
detentos, a fim de evitar qualquer tipo de complô e revolta. A pena deveria ser
individual e individualizante, justificando assim o isolamento do encarcerado de
qualquer outra pessoa.
2
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. História da violência nas prisões. 33ª ed. Tradução de Raquel
Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2007. p. 199.
3
SÁ, Geraldo Ribeiro de. A prisão dos excluídos: origens e reflexões sobre a pena privativa de
liberdade. Juiz de Fora: UFJF, 1996. pp. 93-94.
Imagem I
Litografia da Penitenciária de Cherry Hill, Filadélfia.
This institution known as "Cherry Hill State Prison" at Philadelphia, is the model
prison of "The Pennsylvania System of Prison Discipline" or "Separate System" as it is
called to distinguish it from "The Congregate." Each convict occupies a single cell /
From a drawing by convict No. 2954 [Samuel Cowperthwaite]. (Philadelphia: P. S.
Duval & Co., 1855). 17 x 25 cm. (6.5 x 10 in.)4
4
Litografia da Penitenciária de Cherry Hill, localizada na cidade de Filadélfia, Pensilvânia. Foi neste
presídio que o modelo de Willian Penn foi experimentado. A imagem foi retirada de Library Company of
Philadelphia Wainwright Lithograph Collection <http://www.lcpgraphics.org>, em 02 de junho de 2007.
Imagem II
Planta da Penitenciária de Cherry Hill, Filadélfia
5
Os números marcados na planta representam respectivamente: 1) “torre” de fiscalização; 2)corredor;
3)Celas; 4)pátio pequeno; 5) Administração. Retirado de, MIGNOT, Claude. L’architecture au XIXe
siecle. França: Fribourg-Paris, Lê Moniteur, 1983. p.217.
6
RUSCHE, Georg & KIRCHHEIMER, Otto. Punição e estrutura social. 2ª edição. Tradução de Gizlene
Neder. Rio de Janeiro: Revan, 2004. p. 179.
iluminá-lo de dentro7. De tal modo, podemos concluir que no regime adotado na
Filadélfia, as únicas operações da correção do indivíduo foram a consciência e a
arquitetura que isolava o indivíduo de todo contato com outro ser humano.
1.1.2 AURBURN
7
FOUCAULT, Michel. Op. cit. p. 201.
8
Ibidem, p. 200.
a) o condenado ingressava no estabelecimento, tomava banho, recebia
uniforme, e após o corte de barba e do cabelo era conduzido à cela, com
isolamento durante a noite; b) acordava às 5:30 horas, ao som da alvorada; c)
o condenado limpava a cela e fazia sua higiene; d) alimentava-se e ia para as
oficinas, onde trabalhava até tarde, podendo permanecer até às 20 horas no
mais absoluto silêncio, só se ouvia o barulho das ferramentas e dos
movimentos dos condenados; e) regime de total silêncio de dia e de noite; f)
após o jantar o condenado era recolhido; g) as refeições eram feitas no mais
completo mutismo, em salões comuns; h) a quebra do silêncio era motivo de
castigo corporal. O chicote era o instrumento usado para quem rompia com o
mesmo; i) aos domingos e feriados o condenado podia passear em lugar
apropriado, com a obrigação de se conservar incomunicável9.
1.1.3 IRLANDÊS
9
FARIAS JÚNIOR, João. In: SÁ, Geraldo Ribeiro de. Op.cit. p. 94.
10
RUSCHE, Georg & KIRCHHEIMER, Otto. Op cit. p. 189.
penitenciária até a liberdade total. São passos progressivos, de conquista cada vez
mais ampla de liberdade11.
A primeira fase pode ser considerada como “cópia” do modelo da Pensilvânia,
onde o interno ficaria recluso o tempo todo dentro de sua sela, a fim de refletir sobre
seus delitos. Deveria ficar recluso em torno de oito a nove meses.
A próxima, o detento passaria a trabalhar em um regime diurno, coletivo e em
silêncio, com um rigoroso controle e vigilância, além do regime noturno recolhido em
sela individual. Este modelo segue a proposta aurboniana.
A terceira, acrescida por Crofton, transferiria o interno a prisões intermediárias,
com um sistema de vigilância mais branda, onde o detento teria a permissão para
conversar, andar por uma distância determinada e com o trabalho sendo realizado no
campo. Estas mudanças tinham a intencionalidade de preparar o individuo para o
regresso à vida na sociedade.
E a quarta fase, e última, antes do retorno ao meio social, permitia ao detento
viver em uma comunidade livre, onde receberia uma liberdade condicional, até o final
do cumprimento de sua pena e liberdade definitiva.
11
SÁ, Geraldo Ribeiro de. Op. cit. p. 97.
imagens da penitenciária francesa, Petite Roquette, onde foi seguido à arquitetura do
princípio panóptico.
Imagem III
Litografia da Penitenciária Petite Roquette
Hippolyte Lebas, Maison dês jeunes détenus de la Petite Roquette, Paris, 1826-36, détruite
en 1974 (Musée du XIXe siècle, Paris)12.
12
MIGNOT, Claude. Op. Cit. p.216.
Imagem IV
Planta da Penitenciária Petite Roquette
O modelo das prisões brasileiras existentes até meados do século XIX ainda
remontavam as coloniais. A Cadeia Pública dividia o mesmo prédio com a Câmara
Municipal, possuindo dois pavimentos, sendo o primeiro ocupado pela cadeia e o
segundo pela Câmara.
O interior das prisões possuía alguns compartimentos, como as enxovias, salas e
celas onde ficavam os presos – homens, mulheres, negros e galés. Para penetrar no seu
interior, era necessário descer por escadas de mão móveis. Havia as salas-livres,
indicadas pela Justiça para o cumprimento de prisão fora do cárcere, e as salas fechadas
ou salas fortes para guardarem presos. Ainda existia uma sala denominada de segredo
ou moxinga, onde eram realizados interrogatórios - podendo ser aplicado torturas -, de
presos que tivessem cometidos crimes graves16. Além das prisões comuns existia o
aljube, destinada ao encarceramento de pessoas que cometeram crimes eclesiásticos ou
de lesa-majestade.
Para uma melhor elucidação de como era a estrutura arquitetônica das Casas da
Câmara e Cadeia observemos os desenhos da fachada e plantas do andar térreo da
cadeia da cidade Mariana, MG.
15
Expressão cunhada pelo autor. FOUCAULT, Michel. Op. cit. p.168.
16
Ver BARRETO, Paulo Thedim. Análise de alguns documentos relativos à Casa de Câmara e Cadeia de
Mariana. Rio de Janeiro: Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, 1966, n° 16.
Disponível em < http://www.iphan.gov.br/revistadopatrimonio>. Ver também, ROMEIRO, Adriana &
BOTELHO, Angela Vianna. Dicionário histórico das Minas Gerais. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
Imagem V
Desenho da frente da antiga Casa de Câmara e Cadeia de Mariana
Imagem VI
Plantas do pavimento térreo e do sobrado
da antiga Casa de Câmara e Cadeia de Mariana.
17
Retirado de: BARRETO, Paulo Thedim. Op. Cit.
A grande diferença existente do período colonial para o império quanto às
prisões, não se tratava da arquitetura, mas sim de sua administração. No século XVIII,
a cadeia era parte constitutiva do poder municipal. Era a ela que recorria a Câmara,
com seus oficiais, para recolher criminosos e todo tipo de transgressores18 (...). Com a
Independência do Brasil, e a formulação da primeira Constituição do país, a primeira lei
referente às prisões surgiu. O Artigo 179 § 21 da Constituição dizia assim:
Em 1831 com a criação do Código Criminal, alguns pontos ficaram ainda mais
definidos, principalmente quanto à pena de prisão - que anteriormente só “jogava” o
preso dentro das selas. Com as idéias vindas de fora do país, a partir das reformulações
penais nos Estados Unidos e na Europa, o cerceamento da liberdade passou a ser o
critério para as punições. Vejamos alguns artigos presentes no Código.
18
SALLA, Fernando. As prisões em São Paulo: 1822-1940. São Paulo: Annablume, Fapesp, 1999. p. 36.
acrescentando-se em tal caso a esta a sexta parte do tempo por que aquelas
deveriam impor-se.
BIBLIOGRAFIA:
FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir. História da violência nas prisões. 33ª ed.
Tradução de Raquel Ramalhete. Petrópolis: Vozes, 2007.
ROMEIRO, Adriana & BOTELHO, Angela Vianna. Dicionário histórico das Minas
Gerais. Belo Horizonte: Autêntica, 2003.
19
Ibidem, pp.46-47.
SÁ, Geraldo Ribeiro de. A prisão dos excluídos: origens e reflexões sobre a pena
privativa de liberdade. Juiz de Fora: UFJF, 1996.