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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO

INSTITUTO DE EDUCAÇÃO, LETRAS, ARTES, CIÊNCIAS HUMANAS E


SOCIAIS DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

ANÁLISE DO FILME “A ONDA” SOB ANÁLISE DE MICHEL


FOUCAULT

JÚLIA DE AZEVEDO CAIXETA

UBERABA, MG
2023
JÚLIA DE AZEVEDO CAIXETA

ANÁLISE DO FILME “A ONDA” SOB ANÁLISE DE MICHEL


FOUCAULT

Trabalho apresentado à disciplina de Psicologia


Institucional
Orientadora: Walter Amora de Faria Silva

UBERABA, MG
2023
O filme “A onda” (2008) é inspirado em uma história real de um professor de história

estadunidense, o qual aplicou um experimento social nos seus alunos do ensino médio para

provar que sociedades democráticas não estão imunes a sistemas autoritários, como o

fascismo. Nesse sentido, o filme em si relata a história do professor Rainer Wenger que

conduz uma experiência social com seus alunos sobre o tema “autocracia”, a qual vai desde

simples explicações sobre o regime até chegar em atos violentos oriundos dela. Dito isso, o

professor estuda melhor técnicas de manipulação de massas e história de forma mais profunda

a fim de conseguir aplicar de forma bem sucedida o experimento.

Sobre esse contexto, é necessário explanar de forma mais contundente sobre o que é

um sistema autocrata e como ele pode interferir na vida social. Esse sistema, por definição, é

um regime político no qual o governante possui poder absoluto e ilimitado, além das leis e

decisões políticas serem centradas apenas nele, o que pode ter a ideia de uma personificação

do poder (Friedrich & Brzezinski, 1965). Um exemplo moderno que mostra de forma prática

como esse sistema funciona é o governo ditatorial alemão de Adolf Hitler, no qual tudo estava

relacionado à política estava concentrado na sua figura.

No que tange Michel Foucault (1975) e sua relação com o filme “A onda” (2008), é

possível apontar a teoria de docilização dos corpos presente nessa obra cinematográfica. Dito

isso, essa teoria sugere que o poder não é exercido por meio da coerção ou da violência, mas

também por meio de práticas disciplinares que moldam o comportamento humano e os corpos

(Foucault, 1975). Isso se mostra presente no filme, pois o professor (símbolo escolhido de

poder) faz uso de técnicas disciplinares para transformar a turma na qual ele está aplicando o

experimento em um grupo coeso e obediente, além de usar técnicas de controle, como

uniformes, saudações e slogans a fim de moldar o comportamento desses indivíduos. Nesse

contexto, a ideologia desse grupo passa a dominar a vida dos estudantes ao controlar suas

ações e pensamentos.
Ainda sobre esse contexto, isso demonstra como essas práticas para docilizar os

corpos são eficientes para o controle e o poder da pessoa personificada, o que, de acordo com

Michel Foucault (1975), elas podem ser encontradas em todos os lugares, como escolas,

prisões e, até mesmo, hospitais e, que elas têm o propósito de manter a ordem social vigente

que beneficia quem está no poder.

Além disso, no filme “A onda” (2008) é perceptível que o professor e sua equipe

controlam e monitoram de forma constante a classe no experimento de autocracia ao

instalarem câmeras e microfones para vigiar o comportamento dos alunos, além de criar uma

sensação de vigilância constante, o que faz com que os indivíduos pertencentes a esse grupo, e

até mesmo de outros, se sintam observados o tempo todo. Dito isso, o conceito de panóptico

de Michel Foucault (1975) pode ser aplicado nessa situação, pois ele é uma metáfora para

descrever um sistema de vigilância e controle que é onipresente e invisível ao mesmo tempo

por ele ter uma estrutura arquitetônica, a qual é caracterizada pela figura de um observador

que vê tudo e os observados que não vêem nada e que, pode levar o indivíduo a se auto vigiar

e vigiar os outros para que não haja punição.

Ainda sobre esse contexto, o panóptico de Foucault (1975) e a representação dele no

filme "A Onda" (2008) explicitam de forma bem clara como a vigilância constante e a

sensação de controle podem moldar o comportamento das pessoas. Isso se mostra quando os

alunos seguem as regras impostas pelo professor, quando sua presença invisível cria uma

atmosfera de medo e coerção, o que cria uma pressão psicológica que leva os alunos a se

conformarem com a ideologia coletiva. De forma a explicitar diretamente com uma cena do

filme essa relação entre panóptico e a obra, é possível encontrar alguns elementos que fazem

referência a isso na cena na qual o professor faz feedbacks para avaliar a participação dos

alunos em uma discussão em grupo, o qual é feito de maneira pública. Isso é feito para que

todos os alunos possam identificar quem contribui e quem não o faz com o intuito de fazer
com que eles se auto controlem com medo de represálias feitas por esse observador e também

pelos outros colegas.

De forma a unir os conceito de docilização dos corpos e panóptico de Michel Foucault

(1975), a teoria do biopoder, desenvolvida pelo autor em meados da década de 1970, sugere

que o pode se expandiu na sociedade moderna de formas bastante complexas, as quais

envolvem controle de corpos e da vida da população. Dito isso, como já foi dito, os indivíduos

são controlados por instituições e práticas que moldam o comportamento humano e controlam

o que os indivíduos fazem e pensam, o que é visto no filme. Além disso, o biopoder cria

mecanismos de controle sutis e onipresentes que fazem essas coerções de maneira “invisível”,

mas extremamente eficaz. Dessa forma, é possível relacionar essa teoria com o filme "A

Onda" (2008), uma vez que ambos mostram como a disciplina e o controle ideológico podem

ser usados para moldar a sociedade e controlar a vida e o comportamento das pessoas por

meio das técnicas disciplinares que giram em torno de uma ideologia autoritária e

controladora.

Por fim, a teoria do discurso de Michel Foucault (1960) é baseada no fato de que o

discurso não é simplesmente uma reflexão da realidade, mas uma construção social que a cria,

ou seja, o discurso cria as categorias e conceitos que são usados pelos indivíduos para

entender e descrever o mundo. De acordo com Michel Foucault (1960), a análise discursiva é

uma ferramenta fundamental para compreender como o discurso é usado a fim de manter

formas específicas de poder ao moldar como os componentes de uma sociedade agem e

pensam. Além disso, essa análise é uma ferramenta muito importante para a observação e

avaliação de como as pessoas se constroem como sujeitos dentro do discurso, ou seja, como

elas são ativas nesse processo e como ele exerce poder dentro desse contexto, o que pode ser

representado pelo termo de “autocriação”.


Nesse sentido, no filme “A onda” (2008) isso é explicitado por meio do discurso que

molda a identidade e a subjetividade dos indivíduos ao fazer com que os alunos que aderiram

à "Onda" passassem a se identificar com a ideologia do grupo e a se sentir parte de uma

comunidade coesa, o que fez com que eles mudassem a sua forma de se vestir, de se

comportar e de se relacionar com os outros, adotando uma postura mais autoritária e

agressiva, ou seja, o discurso do professor moldou a subjetividade desses indivíduos,

transformando-os em sujeitos disciplinados e conformados.


REFERÊNCIAS

Friedrich, C. J., & Brzezinski, Z. (1965). Totalitarismo e autocracia. Edições GRD.

Herman, E. S., & Chomsky, N. (2003). A manipulação do público: política e poder

econômico no uso da mídia. Futura.

de Azevedo, S. D. R. (2013). Formação discursiva e discurso em Michel Foucault.

Filogênese. Marília: UNESP, 6(2).

Foucault, M. (1987) Vigiar e Punir: história da violência nas prisões. Petrópolis: Editora

Vozes.

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