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Guia Pratico para A Meditacao
Guia Pratico para A Meditacao
para a
Meditação
Simples de aprender.
Viável na vida cotidiana.
Acessível, algo em que você possa aperfeiçoar-se.
Gratificante para você e para as pessoas à sua volta.
Vai levá-lo pelo caminho do meio até a meditação.
E esse é o melhor caminho.
A meditação é uma ferramenta excelente para aliviar a tensão. Pesquisas recentes indicam
que este processo oferece uma quantidade específica de benefícios físicos. Algumas das
vantagens físicas mais conhecidas da meditação são as seguintes:
Além disso, estudos psicológicos indicam que indivíduos que meditam alcançam
também vários benefícios mentais. Em “Técnicas Meditativas em Psicoterapia”, Wolfgang
Kretschmer sumariza os exercícios meditativos específicos que os psiquiatras e
psicoterapeutas usam para ajudar seus pacientes a alcançar vidas mais ricas, mais
significativas e mais criativas. Como Meditar de Lawrence LeShan relaciona os dois efeitos
psicológicos principais da meditação consistente: maior eficiência e entusiasmo na vida
cotidiana e a consecução de outro modo de perceber e se relacionar com a realidade. Os
campos da psicologia e da psiquiatria são abundantes em dados positivos que
consubstanciam os resultados benéficos da meditação.
A meditação relaxa o corpo e a mente enquanto renova nossa força física e mental.
Existem muitas definições para meditação bem como técnicas para praticá-la. Uma
definição útil diz que meditação é simplesmente a focalização da atenção em um símbolo,
um som, um canto, um objeto, ou até mesmo o próprio processo de respiração. Os
fundamentos básicos da meditação podem ser aprendidos sem a necessidade de um
professor, e também ser alcançados facilmente sem pagar grandes taxas ou participar de
cursos extensivos; mas o que é de suma importância para o sucesso da meditação é a
prática diária.
Faça isto pelo menos três vezes. Cada vez que você inspira, pense no fluxo do ar se
expandindo através de cada fibra de seu corpo. Cada vez que você expira, pense no ar
expulsando fadiga e tensão.
Limpar a mente nos permite jamais sermos perturbados por pensamentos, imagens
e sentimentos, particularmente aqueles que minam nossa energia e nos impedem de
procurar nosso objetivo espiritual. Com o tempo, e com a prática, a suspensão da
atividade mental favorecerá a uma tranqüilidade da mente, a uma quietude através da
qual o poder de cura de Deus estará ao nosso alcance.
Exercício de Meditação.
Embora se requeiram muita disciplina e prática para tornar-se hábil nos aspectos
mais difíceis da meditação, o seguinte exercício, muito simples de praticar, familiarizará os
leitores com um procedimento básico para acalmar a mente e produzir um poder curativo.
Sinta esta energia poderosa de Deus penetrando em cada extremidade de seu corpo,
fluindo através de cada órgão.
Logo você vai perceber uma sensação agradável de calor, sintomático das
emanações do espírito dentro de você.
Esta prática simples da meditação conforta, acalma a mente e traz paz ao espírito.
Em suma: aumenta o bem-estar.
Copie esta frase e a coloque em locais bem visíveis para se lembrar: na porta da
geladeira, no monitor do computador, no espelho do banheiro, no vidro do carro, no
quadro de avisos da sala. Mas, lembre-se de que esta é somente uma definição. A única
maneira de compreender o que é a meditação é meditar.
Para o estado meditativo é necessário que se aquiete a mente. Normalmente, nossos
sentidos são bombardeados por uma ampla variedade de estímulos que exigem reações
imediatas do cérebro. São estímulos físicos, como a fome, mentais, como o pensamento, ou
emocionais, como o medo. Quando são enviadas mensagens demais ao mesmo tempo, o
cérebro fica superaquecido, como um sistema elétrico sobrecarregado, o que se manifesta
no nível consciente: ficamos ansiosos, assoberbados, confusos e estressados.
No estado meditativo, ao contrário, a consciência, a concentração e a atenção são
dirigidas a uma só coisa, tal como a respiração, que é chamada de objeto da consciência.
Ela se transforma numa âncora no mar de pensamentos e sentimentos que chamamos de
consciência. Concentrados na respiração, deixamos ir os pensamentos e as sensações assim
que tomamos consciência deles e voltamos imediatamente à respiração.
Quando nos concentramos num único objeto, o número de sinais enviados ao
cérebro fica muito reduzido, o que permite que a mente se acomode num estado
profundamente relaxado, mas alerta.
A meditação é uma tradição com raízes nas principais religiões do mundo. Ela se
junta à devoção e à prece para ajudar a humanidade em sua busca pela ligação com
alguma coisa maior do que ela mesma.
A prece é como falar com Deus, a meditação é uma maneira de ouvir a Deus. A
prece devota abraça a meditação na busca da humanidade por um nome para aquilo que
não tem nome, mas que recebe muitos nomes. Deus recebe muitos e variados nomes:
Dharma, Natureza Crística, Poder Superior, Tao, Presença Divina, Alá, Iahveh, Mente
Original.
No entanto, as crenças religiosas não são precondição para uma prática de
meditação válida e forte. A meditação pode ou não ter base religiosa.
“Há quem siga e há quem não siga uma religião, há quem acredite e há quem não
acredite em renascimento, mas não há ninguém que não aprecie a bondade e a compaixão.
Pessoas tolas e egoístas estão sempre pensando em si mesmas e o resultado é
negativo. Pessoas sábias e altruístas pensam nos outros, ajudam os outros o máximo
possível e o resultado é que elas também são beneficiadas.
Essa é a minha religião. Ela é simples. Não há necessidade de templos, não há
necessidade de uma filosofia complicada. O próprio cérebro, o próprio coração é nosso
templo; a filosofia é a bondade.” Dalai Lama.
Se começar a meditar imediatamente, de tão acelerada pode ser que sua mente só
comece a se aquietar no final da sessão. Por isso, é bom tirar um ou dois minutos para
desacelerar antes de começar a meditar.
Depois de meditar. É provável que se sinta mais relaxado, mais calmo e sinta mais
bem-estar no fim da sessão de meditação. Saltar da cadeira ou da almofada pode ser um
choque. Para seu bem-estar, é importante reservar alguns minutos depois da meditação
para se ajustar às suas atividades. Reservar um ou dois minutos para fazer a transição
depois do fim da sessão torna seu investimento mais lucrativo. São estas as orientações
para o fim da sessão:
1. Ainda na mesma postura, faça com calma uma verificação do corpo e da mente. Alguma
coisa está diferente do que estava antes de você começar? Melhor ou pior? A mudança é
positiva ou negativa?
2. Perceba que você fez uma coisa boa para si mesmo ao meditar. Não importa o que acha
que aconteceu: foi positivo.
3. Diga a você mesmo que vai levar consigo, para onde for, os benefícios dessa meditação.
4. Friccione lentamente os joelhos e os cotovelos, aumentando a circulação nessas áreas.
5. Saia com cuidado da postura de meditação. Preste atenção no corpo inteiro ao se
levantar.
“Cada dia da vida humana contém alegria e raiva, dor e prazer, escuridão e luz,
crescimento e decadência. Cada momento é marcado pelo grande desígnio da natureza –
não tente negar nem se opor à ordem cósmica das coisas.”
Morihei Ueshiba. Fundador da Arte Marcial Aikidô. The Art of Peace.
Resumindo.
1. A meditação é simples e fácil.
2. Mantenha sempre a mente aberta.
3. A meditação produz benefícios físicos e mentais cientificamente comprovados.
4. A única maneira de compreender a meditação é meditar.
5. A meditação tem suas origens nas grandes tradições religiosas do mundo.
6. A meditação cria um estado fisiológico de relaxamento profundo, conjugado a uma
atitude mental desperta e altamente alerta.
7. Vinte minutos por dia bastam para você colher os benefícios da meditação.
Aprofundando a prática da meditação.
Você já deve estar pronto para aprofundar sua prática da meditação. Há um antigo
ditado que diz: “Quando o aluno está pronto, o mestre aparece”. Escolher um professor é
uma decisão pessoal que depende de muitas coisas, tais como a disponibilidade do
professor, sua personalidade e métodos de ensino. Você tem que decidir se está à procura
de um mestre, de um guia ou de um técnico. Pode ser que queira o que chamamos de
amigo espiritual.
Na tradição do Budismo o amigo espiritual é conhecido como Kalyana mitta. É
também uma boa maneira de definir as relações professor-aluno em muitas outras
tradições da religião e da meditação.
Buddhadasa Bhikkhu (1906-1993), foi professor budista na Tailândia e autor de
vários livros. Ele explica o que significa ser um amigo espiritual:
“Na verdade, mesmo nos antigos sistemas de treinamento não se falava muito do
acariya (professor, mestre). Essa pessoa era chamada de bom amigo (kalyana mitta). É
correto chamar essa pessoa de amigo. Um amigo é um conselheiro que nos ajuda em certas
ocasiões. Mas não devemos esquecer o princípio básico de que ninguém pode ajudar
diretamente outra pessoa... Apesar de estar em condições de responder perguntas e
explicar certas dificuldades, um amigo não precisa estar sempre por perto,
supervisionando cada movimento da respiração. Um bom amigo que responda perguntas
e nos ajude a superar certos obstáculos é mais do que o suficiente.”
Na relação espiritual amigo-aluno, você não é submisso ao professor: não coloca seu
amigo espiritual num pedestal de poder. Ao reconhecer a sabedoria e a compaixão inatas
do professor, seu respeito e deferência por ele aumentam de maneira espontânea e natural.
É claro que a ligação com o amigo espiritual é menos intimidante do que a relação
mestre-aluno. Um amigo espiritual age como guia experiente em sua viagem através da
meditação e da lucidez. Ele já percorreu o caminho antes de você e pode ajudá-lo a se
desviar das armadilhas.
Um bom amigo espiritual quer que você dirija a própria vida e não vai permitir que
você se torne dependente. Vai atuar também como treinador espiritual, alguém sempre
pronto a lhe dizer que precisa trabalhar mais.
As exigências da vida moderna fazem da alternativa do amigo espiritual a mais
prática a ser seguida. Entretanto, nem sempre é possível contar com um amigo espiritual
por perto. Sabendo disso, muitos professores modernos desenvolveram livros, fitas, CDs e
outros materiais de apoio, que permitem o relacionamento à distância com o aluno.
Logicamente, todos estes materiais não substituem a presença de um bom professor, mas
na sua falta são a melhor opção.
Para essa finalidade, sugerimos o CD Relaxando & Meditando, com sete meditações,
concebido, produzido e interpretado por Mirna Grzich. Gravadora Eldorado.
A seguir, damos as descrições de cada uma dessas meditações feitas pela própria
Mirna Grzich e extraídas do encarte do seu CD.
1 – Para acordar.
Toda manhã é como um nascimento. Abrimos os olhos, fiapos de sonhos nos
espreitam, e aos poucos ajustamos nossa noção de “quem sou” e “onde estou”. Esse é um
momento decisivo. Todo nosso dia dependerá do nosso estado de espírito nessa hora da
manhã. É nessa hora que os antigos hábitos e as velhas frases que circulam no nosso disco
mental costumam atacar, propiciando o desânimo e a preguiça, o pensamento não-
vitorioso, o medo do fracasso. É nesta hora, quando saímos da inconsciência da noite, que
podemos programar nossa mente para realizar nossos objetivos e obter o sucesso que
almejamos.
Esta meditação foi criada segundo o método do budismo tibetano e da
programação neurolingüística, especificamente para transformar seu acordar no momento
mais positivo do seu dia, cheio de esperança e coragem.
2. Dançando para a vida – uma meditação dinâmica para agitar a poeira da alma.
Esta meditação é baseada em exercícios de Eutonia, de Gerda Alexander, Tai Chi
Chuan, arte marcial chinesa, diversos tipos de yoga, aulas do Esalen Institute, na
Califõrnia, práticas de meditação e movimento de Rajneesh na sua primeira fase, em
exercícios de xamanismo e concentração, e principalmente é inspirada no trabalho de
Gabrielle Roth, musicista e treinadora de consciência corporal, nos EUA.
Mas além de tudo me inspirei no meu próprio trabalho de corpo e história de vida,
onde a música e o movimento sempre estiveram presentes. “Dance your way to God” – se
há alguma maneira de pela qual eu gostaria de chegar a Deus, essa maneira seria
dançando, transformando-me na própria dança, no êxtase do deus hindu Nataraj.
Afinal, tudo começa pelo corpo e é muito importante que sempre tenhamos um
momento no dia em que estejamos completamente sozinhos e possamos dançar a nossa
própria dança. Sem professores nem mestres, o corpo encontra seu próprio caminho, seu
próprio ritmo, sua própria vida.
Recomendo que você feche as portas, ligue o som bem alto, vista uma roupa bem
confortável, mas com que você se sinta bonito, e feche os olhos. Aos poucos, conforme se
sentir presente em tudo que faz, você pode fazer esse exercício acompanhado de um
amigo ou amiga ou de alguém que você ama. Perca qualquer vergonha que porventura
você tenha de seu corpo; simplesmente respire fundo e... dance!
5. Contemplação.
Muita gente pensa que meditar e contemplar é a mesma coisa. Mas elas são dois
lados da mesma moeda. Na meditação, relaxamos a mente. Na contemplação,
concentramos nossa energia. Como um exercício físico que fazemos, em que tensionamos e
relaxamos determinado músculo, a meditação precisa da contemplação e vice-versa. Existe
a ilusão de que quando penetramos nesse caminho desligamos nossos sentidos, mas é
exatamente o contrário. Eles devem ficar mais ligados do que nunca.
Vamos contemplar aqui algumas frases do grande lama tibetano Sogyal Rinpoche,
refletindo sobre a vida e a morte, e a arte de viver.
Que essas palavras penetrem no seu coração, enchendo-o de consciência e
determinação pelo seu desenvolvimento espiritual, a coisa mais importante desta vida, e a
que menos contemplamos!
“Há isso em mim – não sei o que é – mas sei que está em mim...
Não conheço isso – não tem nome – é uma palavra que não foi dita.
Que não está em nenhum dicionário, em nenhuma elocução, em nenhum símbolo.
Estão vendo, meus irmãos e irmãs?
Não é caos nem morte – é forma, união, plano – é vida eterna – é Felicidade.”
Walt Whitman
Meditação e Vida
A Meditação em Ação
“Nunca é demais enfatizar: integrar a meditação à ação é a base e o objetivo
da meditação. A violência e o stress, as dificuldades e distrações da vida moderna tornam
essa integração ainda mais urgente e necessária... Assim, o que realmente importa não é
apenas sentar e meditar, mas o estado mental que se segue à meditação. É esse estado
mental calmo e centralizado que devemos estender a tudo que fazemos.”
Sogyal Rinpoche
Vamos tratar aqui de uma vida melhor através da meditação em ação. Algo milagroso:
melhor qualidade de vida sem precisar fazer nada de especial. A meditação em ação
descreve o ato de estar presente em cada momento da atividade cotidiana.
A meditação em ação é o aperfeiçoamento do mesmo processo que você desenvolve
quando se senta para meditar: a arte de se abrir a cada momento da vida com consciência
calma. Na meditação em ação você traz às atividades diárias a mesma consciência lúcida
que traz aos outros tipos de meditação, que pratica sentado ou andando. A única diferença
é que, enquanto medita, você faz também alguma outra atividade.
A meditação em ação é aplicável a tudo o que você faz, desde levar as crianças para
a escola até um aumento de salário ao patrão. O objetivo é estar totalmente presente no
momento, esteja você cozinhando, fazendo amor ou vendo seu programa favorito de
televisão.
Trazendo lucidez ao relacionamento com o companheiro ou com a companheira,
com as crianças, com os amigos e até mesmo com os animais de estimação, você vai sentir
essa ligação de modo inteiramente novo e mais rico. Essa prática pode mudar nossa vida
para melhor.
LUCIDEZ NO DIA-A-DIA
O ideal da prática da meditação é estar desperto a cada momento da vida. Não há
no mundo lugar melhor do que o lugar onde você está agora. A prática da meditação não
termina quando você se levanta da almofada ou da cadeira. Cada momento da vida é uma
oportunidade de ouro para estar desperto e praticar a lucidez. É no mundo que temos a
oportunidade de aplicar a prática da lucidez, do amor e da compaixão.
Não existe uma técnica nova ou especial de que você necessita para aprender a ser
lúcido na vida diária. Na verdade, quando começou a meditar você já começou a trabalhar
no sentido de ser lúcido na vida diária. Isso não quer dizer que deva fechar os olhos e
contar a respiração quando está dirigindo ou sentar em posição de meio lótus na reunião
anual de vendas. Significa que a consciência que está desenvolvendo na prática diária da
meditação vai se expandindo naturalmente, até abranger o dia inteiro.
Quando você medita caminhando, os objetos da meditação são os fenômenos
ligados à caminhada: os movimentos de erguer, estender e abaixar os pés. Na meditação
em ação, os objetos da meditação são os diferentes fenômenos que surgem na vida diária.
A idéia é estar o mais presente possível a cada momento do panorama em constante
mutação dos pensamentos, sentimentos e emoções. Não existe maneira melhor nem mais
feliz de viver o dia do que estar totalmente presente naquilo que está acontecendo.
A prática da meditação deve ser considerada como uma grande dádiva. As
ferramentas que lhe permitem viver uma vida lúcida servem também para que você viva
de maneira total e cheia de graça. São muitos os benefícios que decorrem naturalmente da
meditação. Deixa o pensamento mais claro em situações normais e de stress. Traz maior
prazer ao sexo, ao trabalho e ao lazer. Adquire-se mais paciência com os amigos, as
crianças e os colegas. Sente-se menos aversão e mais aceitação diante de uma atividade
desagradável ou aborrecida. Ajuda a melhorar os hábitos alimentares e a reeducação do
peso.
Além de nos favorecer na rotina diária, a meditação em ação é uma ajuda
inestimável em momentos de crise ou catástrofe. Mas não espere que aconteça um desastre
para começar a praticar. Para começar é importante estabelecer e manter uma prática
diária de meditação; aplicar o aspecto da lucidez da meditação a situações simples do dia-
a-dia; trabalhar no sentido de conseguir lidar com as situações difíceis de maneira capaz e
lúcida.
Vida lúcida. Meditação em ação significa manter o contato com tudo o que está
acontecendo conosco no nível físico, emocional e mental. O corpo é o melhor indicativo
que temos para desenvolver a lucidez na vida diária. Infelizmente, temos pouco ou
nenhum contato com ele. Tente fazer o seguinte:
Neste exato momento, tome consciência plena do seu corpo. Faça um completo inventário.
Você vai observar que está um tanto curvado. Talvez esteja apertando os olhos por causa da luz do
sol. Entre em contato com o seu corpo agora, do jeito que ele está. Observe o que acontece quando
muda de posição. É simples: você só precisa lembrar.
“Esta é a história dos três pedreiros. Quando perguntaram ao primeiro o que estava
construindo, ele respondeu asperamente, sem nem erguer os olhos: ‘Estou assentando
tijolos.’ O segundo homem respondeu: ‘Estou fazendo uma parede.’ Mas o terceiro homem
disse com entusiasmo e orgulho: ‘Estou construindo uma catedral.’ ”
Margaret M. Stevens
À hora da saída, ao terminar o seu dia de trabalho, antes de pegar a pasta e correr
para o ônibus ou para o carro, reserve um momento para ficar sentado ou em pé num
cantinho calmo do local de trabalho. Este procedimento é, de certo modo, o oposto da
transição que se seguiu à sua meditação formal diária: em vez de levar preocupações com
você, você vai deixá-las para trás. Respire fundo e deixe que tudo se vá. Saia para a rua
consciente de cada momento da volta para casa e de cada momento da noite que vai
começar.
Se for dirigir, faça-o com lucidez. A maioria dos motoristas passa muito tempo
pensando em tudo, menos no que estão fazendo no momento que é dirigir consciente. O
motorista lúcido responde aos estímulos com consciência relaxada. Para tanto, ao dirigir
verifique o seu nível de consciência, sempre que parar num farol ou engarrafamento. Ao
colocar ou tirar a chave do contato pare por um momento e sinta a mão na chave. Qual a
sensação que lhe dá? Respire uma ou duas vezes e acompanhe a inspiração e a expiração.
Agora, devagar e com lucidez, dê a partida ou tire a chave.
Resumindo. Meditação em ação é a prática de estar totalmente lúcido e no momento
presente durante cada atividade do dia. Trazer sua prática para o trabalho diminui o stress,
aumenta a produtividade, favorece o relacionamento com os colegas e pode até
transformar um mau dia num dia melhor. Fazer uma pausa para meditar por um
momento no início e no fim de cada dia de trabalho, limpa e centraliza sua mente para o
que vem a seguir. Dirigir com lucidez resulta em ser capaz de reagir com consciência
relaxada às situações que se desenvolvem à sua volta. Até nos esportes, na academia
exercitando-se, a atitude de meditação purifica a mente e traz equilíbrio à ligação mente-
corpo, ajuda a ver e a sentir, aumenta a consciência do que está acontecendo e proporciona
um aprimoramento natural e intuitivo.
ALIMENTAÇÃO LÚCIDA
“Sempre que possível, evite comer com pressa. Mesmo em casa, não engula a comida.
Comer é um ato sagrado. Exige total presença da mente.”
Rabino Nachman de Breslov
Esse exercício nos ajuda a desenvolver a consciência e a lucidez sobre o que estamos
comendo e como estamos comendo.
REDUÇÃO DO STRESS
A meditação traz benefícios psicológicos e fisiológicos. Reduz os níveis de
ansiedade, permitindo ao meditador se recuperar do stress. Muito do que acontece na
meditação é terapêutico, pois ela favorece as metas terapêuticas de integração, humildade,
estabilidade e autoconsciência. Mas há algo no âmbito da meditação budista que vai além
da terapia, rumo a um horizonte de autocompreensão que normalmente não é acessível só
através da psicoterapia... Na meditação, a noção arraigada de eu é profunda e
irrevogavelmente transformada.
1. Deixe o corpo relaxar. Sinta o corpo por inteiro. Relaxe e tome consciência de
como seu corpo se sente neste momento. Sinta a sua totalidade como um campo
unificado de sentimento: os braços, o torso, as pernas, a cabeça... Fique o mais
quieto e relaxado possível, mesmo que esteja sentindo stress ou algum
desconforto.
2. Vá para o ponto principal do seu stress, o lugar onde ele está mais forte neste
momento. Comece a mapear a forma desse stress, como se você fosse um
cartógrafo mapeando o contorno de um novo território. Como ele é? Qual o seu
formato? É simétrico ou assimétrico? É redondo ou oval? É tridimensional? Uma
esfera?
3. Leve toda a atenção ao perímetro desse ponto principal do stress. Acompanhe-o
de perto, o mais meticulosamente possível. Descubra o nível do stress principal
em seu corpo. Ele está na superfície da pele, logo abaixo ou lá no fundo?
4. Dê uma olhada nos limites da forma. São distintos ou embaçados? Olhe para a
intensidade do stress dentro de seus limites. Ele é agudo ou mortiço? Ele se
expande ou se contrai entre os dois extremos? Examine o movimento do stress
dentro dos confins de seu limite. É uniforme? Oscila? Talvez ele aumente e
diminua, expandindo-se e contraindo-se. Examine o “sabor” da forma. É
mortiça, aguda, queima, dói? É muscular, orgânica? Continue a inundar o stress
de consciência.
5. Observe o impacto desse stress no resto do corpo. Ele emite ondas locais? Ondas
globais? Faz com que seu corpo se contraia em certas áreas? Como? Há
movimentos visíveis ou ele é como um sinal invisível?
6. Continue a se concentrar na forma de seu stress. Observe se ocorrem mudanças,
especialmente mudanças sutis. Quando tiver mapeado essa área principal, vá
para outras partes do corpo em que sinta stress. Explore cada uma delas da
mesma maneira. Defina o mais claramente possível a localização, a forma, o
tamanho, os limites, a intensidade, o sabor e o movimento do stress. Compare
seus atributos com o ponto principal. Não trace paralelos nem faça teorias.
Limite-se a observar.
7. Quando acabar de mapear as áreas de stress localizado, recue, como se fosse
uma câmera de cinema, afastando-se lentamente. Veja e sinta todo o seu corpo.
Faça uma vistoria: os membros, o rosto, o peito. Sinta o corpo como um espaço
integrado.
8. Observe como o corpo sofre o impacto dos pontos principais e secundários do
stress. Veja como as sensações e pensamentos negativos distorcem e ampliam as
áreas de stress localizado, tornando-as ainda mais intensas e desagradáveis do
que quando você as examinou isoladamente. Perceba como suas crenças e
julgamentos contribuem para o sentimento de que o stress não pode ser
administrado.
9. Com consciência serena, pare de resistir aos sentimentos e sensações corporais.
Procure liberar os pensamentos que vão surgindo. Enquanto isso, observe
qualquer diminuição ou aumento na intensidade do stress. Se ele o impede de
pensar, aceite o fato, como se a Natureza lhe dissesse que agora não é hora de
pensar.
10. É possível que já esteja sentindo algum alívio, uma diminuição do stress, no
ponto principal ou no corpo inteiro. Se não, não fique zangado nem agitado.
Procure não julgar sua capacidade de seguir estas instruções: deixe os
pensamentos irem e virem, como nuvens no céu. Eles vêm e vão, não é preciso
fazer nada.
11. Aceite o stress e a confusão, na mente e no corpo. Dessa forma você se liberta do
eu sofredor. Se deixar cair a resistência, vai sofrer menos. Será que consegue
deixá-la cair até chegar a zero?
12. Descanse na mudança constante. Fique como o céu – vasto, amplo, plácido e
sereno. E deixe que o tempo faça o resto.
TRANSPONDO BARREIRAS
Meditar parece fácil: sentar-se, respirar, concentrar-se de maneira relaxada. Então,
por que não está todo mundo meditando? E por que tantas pessoas que começam a
meditar não transformam a meditação em parte do seu cotidiano?
A resposta é que o nosso mundo interior e o nosso mundo exterior erguem
barreiras entre nós e a meditação. As principais são as dúvidas com relação á meditação,
levantadas pela nossa sociedade ocidental e pela nossa mente. Há também certas
armadilhas espirituais e psicológicas em que os meditadores costumam cair quando não
prestam atenção em sua prática.
Essas barreiras parecem intransponíveis. Mas, com um pouco de orientação, elas
podem ser superadas com facilidade. Certas instruções podem ajudá-lo a aguçar a
inteligência e a manter o equilíbrio.
OS EQUÍVOCOS
A melhor forma de transpor as barreiras que o separam da meditação é substituir a
ignorância e as idéias equivocadas pelo conhecimento e pelos fatos.
Você não precisa renunciar a nada. Não há regras contra café, chocolate, balas,
campeonato de luta livre, MTV, sorvete e nem mesmo contra certos desenhos animados.
Mas é possível que, naturalmente, você corte coisas que não são lá muito benéficas. Se, de
repente, você preferir meditar a assistir à reprise de um filme policial ou de um jogo de
futebol, saiba que a meditação põe sua parte mais profunda em contato com o que é
melhor para você.
A meditação vai fazer com que você fique desperto, não com sono ou em transe.
Embora o relaxamento ocorra naturalmente na meditação, ele não é o seu objetivo. É um
maravilhoso subproduto ou um privilégio, como uma sala maior ou uma vaga coberta.
Durante a meditação, é possível que você entre em estados ainda mais relaxantes do
que o sono ou o transe hipnótico. Se isso acontecer, volte sua atenção para esses estados,
observe-os e deixe-os ir. Na meditação, você não busca estados mentais, mas aceita de boa
vontade os que aparecem em seu caminho, deixando-os ir em seguida.
Além de não ser estranha, a meditação está totalmente de acordo com a vida
moderna. Existem certos direitos inalienáveis próprios do ser humano, como direito à
vida, à liberdade e à busca da felicidade. Esses três direitos fundamentais são também os
objetivos da meditação – estar integralmente presente na vida, libertar-se da noção estreita
de eu e ser feliz. Além de não ser estranha, a meditação tem muito a ver com cidadania.
Quando se tem um bom professor fica bem mais fácil aprender uma técnica como a
da meditação. São poucos os professores de meditação bons e confiáveis. Por isso, fica
muito difícil conseguir bons professores para um treinamento individual. Mas não
desanime por causa disso. Um antigo provérbio budista diz: “Quando o aluno está pronto,
o professor aparece.” Assim é há milhares de anos.
Para começar, esta apostila é mais do que suficiente para iniciá-lo no caminho da
meditação. Portanto, não se preocupe: quando você realmente precisar de um professor,
ele vai aparecer.
Não existe a melhor maneira de meditar. Elas são muitas, vindas das mais ricas e
variadas tradições religiosas do mundo todo. Dizem que só o Buda ensinou 84 caminhos
para a lucidez. Assim, é óbvio que há espaço para muitas opiniões.
Algumas escolas e professores de meditação afirmam que o seu caminho é o único
sistema correto. Muitos dizem: “É do meu jeito ou não é.” Duvide. Os verdadeiros
professores de meditação seguem o caminho do meio (o equilíbrio entre a busca e a
aceitação da verdade). Em geral, eles são receptivos às técnicas de outras disciplinas.
Assim, a melhor maneira de meditar é a que combina com você, aquela a que você
quer se dedicar com disciplina e empenho.
“Os monges e os estudiosos devem aceitar a minha palavra não por respeito, mas depois
de analisá-la como um ourives analisa o ouro: cortando, derretendo, raspando e polindo”.
Buda
A meditação não é só aquilo que você faz sentado numa almofada ou numa cadeira
por alguns minutos e depois esquece. Ela deve fazer parte da sua vida: é esse objetivo que
você deve ter em mente. De algum modo e em algum nível, devemos meditar o tempo
todo. È importante tomar consciência dessa prática, estendendo essa consciência a mais e
mais áreas da vida cotidiana. Este é um bom conselho. Experimente. Fique o mais lúcido
possível, durante o dia inteiro.
AS ARMADILHAS DO CAMINHO
Outra maneira de resistir interiormente à meditação é cair em tentações emocionais
ou espirituais que essa prática pode trazer. São as armadilhas do caminho. Cada nível,
cada passo do caminho parece ter seus obstáculos correspondentes. Entre os perigos mais
comuns que se interpõem no caminho espiritual e da meditação se encontram: o
materialismo, o triunfalismo, a pressa, a busca desordenada, a distração, fuga da
realidade, passividade espiritual, aceitar que tudo é destino (karma), apostar em milagres,
desvio pelo ocultismo.
Não deixe que essas armadilhas do caminho o intimidem. É possível transpô-las
com três ferramentas eficientes que os meditadores usam há milênios. Elas são: 1. ouvir o
coração; 2. manter o senso de humor; 3. seguir o caminho do meio.
Use-as sempre que sentir que está prestes a cair numa armadilha – ou pratique-as
sempre e evite as armadilhas da meditação. Elas vão ajudá-lo a permanecer no caminho,
indicando se está na direção errada, se está perdendo o equilíbrio ou chegando a extremos.
Quando tiver alguma preocupação ou dúvida, ouça a voz interior, o seu coração. A
verdade sempre está lá. As sugestões que vêm do fundo do coração vão guiá-lo durante
suas experiências de meditação. Você pode ser vítima da dependência dos “baratos”
espirituais ou da vontade de se desviar para o oculto e ficar mentalmente convencido de
que está no caminho certo. Mas o seu coração vai sempre saber a verdade sobre seus
motivos, suas crenças e seus atos – e vai revelá-la a você. E a melhor maneira de entrar em
contato com a verdade do coração é através da meditação. Aquiete-se. Deixe que venha à
tona qualquer problema ou comportamento que o preocupe. Pergunte ao seu coração:
“Qual é a verdade?” Você vai sentir um clique mental quando chegar à verdade.
2. Mantenha o senso de humor.
Frei Betto é escritor, autor de “Gosto de Uva” (Garamond), entre outros livros.
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A Meditação em Ação