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2 -A CRISE DA ECONOMIA AGROEXPORTADORA

Desde a colonização o Brasil tem uma economia de base agroexportadora. No século


XIX, o principal produto primário de exportação era o café. Esse tipo de economia era
caracterizado pela incerteza, pois qualquer oscilação na economia mundial afetava diretamente
a economia interna, uma vez que toda a economia brasileira dependia do setor cafeeiro.

No final do século XIX, o Brasil era responsável por abastecer ¾ do mercado mundial
de café, o que lhe possibilitava a manipulação do preço do produto. A primeira crise de
superprodução do século XX, decorrente da crise econômica dos EUA de 1893, permitiu ao
setor cafeeiro brasileiro perceber esse privilégio e utilizou dele para proteger-se da baixa do
preço do café. Percebeu-se que a contração artificial da oferta poderia ser uma alternativa para
fugir do prejuízo. Era necessário segurar parte da produção, para posteriormente, quando o
mercado mundial se reestabelecesse, liberá-la. (FURTADO, 1975)

Para segurar os estoques os cafeicultores necessitavam da intervenção do Estado, que


atuaria comprando os excedentes. A solução viria com o Convenio de Taubaté, a primeira
política estatal protecionista e de valorização do café, assinado em 1906 por os estados do Rio
de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. (TEOTÔNIO,1994) Em sua essência o convênio contava
com os seguintes pontos:

a)com o fim de restabelecer o equilíbrio entre a oferta e a procura de café, o governo


interviria no mercado para comprar os excedentes; b) o financiamento dessas compras
se faria com empréstimos estrangeiros; c) o serviço desses empréstimos seria coberto
com um novo imposto cobrado em ouro sobre cada saca de café exportada; d) a fim
de solucionar o problema mais alongo prazo, os governadores dos Estados produtores
deveriam desencorajar a expansão das plantações (FURTADO, 1975, p. 179)

Entretanto, essa política trouxe efeitos negativos a longo prazo. Acontece que ao manter
elevados os preços, também se mantinha elevado os lucros dos produtores que não deixavam
de investir nas plantações, o que exigia do Estado recursos ainda maiores para comprar os
excedentes que não deixavam de aumentar. Não bastasse isso, tal política ameaçava a posição
semimonopólica do país, pois ao manter a alta do preço do café, acabou incentivando a
produção desse artigo nos países que possuíam clima e terras propicias para a produção,
aumentando assim a competição internacional. (TEOTÔNIO,1994; FURTADO,1975)

Em 1929, o setor cafeeiro recebe um golpe definitivo. A produção de café continuava


em níveis altíssimos, mas com a crise o consumo externo caiu e os créditos obtidos no exterior
para financiar a contenção dos estoques não entravam mais. Em uma tentativa de solucionar o
problema, o Estado, na figura de Vargas, interveio mais uma vez, comprando os excedentes.
Como não haviam mais empréstimos estrangeiros a única forma de financiar a retenção da
produção era por meio de recursos internos, que eram obtidos por meio da retenção de parte do
fruto da exportação, pela emissão de moeda e pela expansão de crédito. (TEOTÔNIO,1994;
FURTADO,1975)

Em relação aos estoques, estes se tornaram invendáveis e sua circulação pressionaria o


mercado acarretando a baixa de preço. A única solução encontrada pelo o governo de Vargas
foi a queima dos estoques, só assim seria possível conseguir o equilíbrio entre a oferta e a
demanda e manter os preços elevados. (FURTADO,1975)

Somente com a Revolução de 30, o Estado muda sua posição em relação a oligarquia
agrário exportadora e cria bases para a industrialização. Mas isso não quer dizer que Vargas
ameaçou a sobrevivência das Oligarquias rurais. Como retratado acima, ele continuou com as
políticas de defesa do café. A diferença é que agora, também há uma preocupação em defender
os interesses do capital industrial (SINGER,1987), ponto que será aprofundado nos próximos
tópicos.

Alguns teóricos podem afirmar que nesse período de política forte de defesa do setor
agrário exportador existia uma ausência de uma política burguesa industrialista. Mas, Teotônio
(1987), afirma que essa política existia de forma sútil e muito clara. Tratava-se de manter a
produção de café para se apoderar dessas divisas por meio da substituição de importações de
bens e consumo não duráveis.

REFERÊNCIAS
FURTADO, Celso. Formação econômica do Brasil. São Paulo: Nacional, 1976
SANTOS, Theotônio. Evolução Histórica do Brasil: da colônia à crise da Nova República.
Petrópolis/RJ: Vozes, 1994.
SINGER, Paul. O Capitalismo: sua evolução, sua lógica e sua dinâmica. São Paulo:
Moderna, 1987.

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