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Secretaria de Estado da

Educação do Pará - SEDUC-PA

Professor - Português

Língua Portuguesa
Compreensão e interpretação de textos; ........................................................................................................................1
Denotação e conotação; ......................................................................................................................................................2
Figuras; ..................................................................................................................................................................................3
Coesão e coerência; .............................................................................................................................................................6
Tipologia textual; .............................................................................................................................................................. 10
Significação das palavras; ............................................................................................................................................... 16
Emprego das classes de palavras; ................................................................................................................................. 18
Sintaxe da oração e do período; ..................................................................................................................................... 44
Pontuação; ......................................................................................................................................................................... 54
Concordância verbal e nominal; .................................................................................................................................... 55
Regência verbal e nominal; ............................................................................................................................................. 58
Estudo da crase; ................................................................................................................................................................ 62
Semântica e estilística. ..................................................................................................................................................... 64
Redação Oficial. ................................................................................................................................................................. 67

Legislação
Lei Estadual nº 7442/2010 que dispõe sobre o Plano de Cargos, Carreira e Remuneração dos Profissionais da
Educação Básica da Rede Pública de Ensino do Estado do Pará..................................................................................1
Lei Estadual nº 5810/1994, que dispõe sobre o Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis da
Administração Direta, das Autarquias e das Fundações Públicas do Estado do Pará........................................... 10

Conhecimentos Didático-Pedagógicos
Fundamentos da Educação: conceitos e concepções pedagógicas, seus fins e papel na sociedade ocidental
contemporânea .....................................................................................................................................................................1
Principais aspectos históricos da Educação Brasileira ..................................................................................................9
Aspectos legais e políticos da organização da educação brasileira: as Diretrizes Curriculares Nacionais e suas
implicações na prática pedagógica................................................................................................................................. 14
Estatuto da Criança e do Adolescente............................................................................................................................ 43
LDB Lei Federal nº 9394/96 e alterações posteriores ............................................................................................... 77
Parâmetros Curriculares Nacionais ............................................................................................................................... 92
Educação, trabalho, formação profissional e as transformações da Educação Básica........................................119
Função histórica e social da escola: a escola como campo de relações (espaços de diferenças, contradições e
conflitos), para o exercício e a formação da cidadania, difusão e construção do conhecimento ......................124
Organização do processo didático: planejamento, estratégias e metodologias, avaliação; Avaliação como
processo contínuo, investigativo e inclusivo ..............................................................................................................127
A didática como fundamento epistemológico do fazer docente .............................................................................147
O currículo e cultura, conteúdos curriculares e aprendizagem, projetos de trabalho........................................151
Interdisciplinaridade e contextualização ....................................................................................................................162
Multiculturalismo ............................................................................................................................................................166

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A escola e o Projeto Político Pedagógico .....................................................................................................................169
O espaço da sala de aula como ambiente interativo; a atuação do professor mediador; a atuação do aluno como
sujeito na construção do conhecimento ......................................................................................................................176
Planejamento e gestão educacional. Gestão da aprendizagem ...............................................................................191
O Professor: formação e profissão ...............................................................................................................................196
A pesquisa na prática docente ......................................................................................................................................198
A educação em sua dimensão teórico-filosófica: filosofias tradicionais da Educação e teorias educacionais
contemporâneas ..............................................................................................................................................................214
As concepções de aprendizagem/aluno/ensino/professor nessas abordagens teóricas ..................................218
Principais Teorias e práticas na educação; As bases empíricas, metodológicas e epistemológicas das diversas
teorias de aprendizagem; Contribuições de Piaget, Vygotsky e Wallon para a psicologia e pedagogia ..........218
Psicologia do desenvolvimento: aspectos históricos e biopsicossociais ...............................................................222
Temas contemporâneos: bullying, o papel da escola, a escolha da profissão, transtornos alimentares na
adolescência, família, escolhas sexuais .......................................................................................................................233
Ética Profissional .............................................................................................................................................................258

Conhecimentos Específicos
Acentuação gráfica. .............................................................................................................................................................1
Ortografia. .............................................................................................................................................................................3
Elementos da comunicação. ..............................................................................................................................................7
Funções de linguagem. .......................................................................................................................................................9
Norma culta e variação linguística. ............................................................................................................................... 11
Ética profissional. ............................................................................................................................................................. 14

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LÍNGUA PORTUGUESA

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APOSTILAS OPÇÃO
Não saber interpretar corretamente um texto pode gerar
inúmeros problemas, afetando não só o desenvolvimento
profissional, mas também o desenvolvimento pessoal. O mundo
moderno cobra de nós inúmeras competências, uma delas é a
proficiência na língua, e isso não se refere apenas a uma boa
comunicação verbal, mas também à capacidade de entender
aquilo que está sendo lido. O analfabetismo funcional está
Compreensão e interpretação de relacionado com a dificuldade de decifrar as entrelinhas do
textos; código, pois a leitura mecânica é bem diferente da leitura
interpretativa, aquela que fazemos ao estabelecer analogias e
criar inferências. Para que você não sofra mais com a análise de
Interpretação de Texto
textos, elaboramos algumas dicas para você seguir e tirar suas
dúvidas.
A leitura é o meio mais importante para chegarmos ao
Uma interpretação de texto competente depende de
conhecimento, portanto, precisamos aprender a ler e não
inúmeros fatores, mas nem por isso deixaremos de contemplar
apenas “passar os olhos sobre algum texto”. Ler, na verdade,
alguns que se fazem essenciais para esse exercício. Muitas vezes,
é dar sentido à vida e ao mundo, é dominar a riqueza de
apressados, descuidamo-nos das minúcias presentes em um
qualquer texto, seja literário, informativo, persuasivo, narrativo,
texto, achamos que apenas uma leitura já se faz suficiente, o que
possibilidades que se misturam e as tornam infinitas. É preciso,
não é verdade. Interpretar demanda paciência e, por isso, sempre
para uma boa leitura, exercitar-se na arte de pensar, de captar
releia, pois uma segunda leitura pode apresentar aspectos
ideias, de investigar as palavras… Para isso, devemos entender,
surpreendentes que não foram observados anteriormente.
primeiro, algumas definições importantes:
Para auxiliar na busca de sentidos do texto, você pode também
retirar dele os tópicos frasais presentes em cada parágrafo,
Texto
isso certamente auxiliará na apreensão do conteúdo exposto.
O texto (do latim textum: tecido) é uma unidade básica de
Lembre-se de que os parágrafos não estão organizados, pelo
organização e transmissão de ideias, conceitos e informações de
menos em um bom texto, de maneira aleatória, se estão no lugar
modo geral. Em sentido amplo, uma escultura, um quadro, um
que estão, é porque ali se fazem necessários, estabelecendo
símbolo, um sinal de trânsito, uma foto, um filme, uma novela de
uma relação hierárquica do pensamento defendido, retomando
televisão também são formas textuais.
ideias supracitadas ou apresentando novos conceitos.
Para finalizar, concentre-se nas ideias que de fato foram
Interlocutor
explicitadas pelo autor: os textos argumentativos não costumam
É a pessoa a quem o texto se dirige.
conceder espaço para divagações ou hipóteses, supostamente
contidas nas entrelinhas. Devemos nos ater às ideias do autor,
Texto-modelo
isso não quer dizer que você precise ficar preso na superfície
“Não é preciso muito para sentir ciúme. Bastam três – você,
do texto, mas é fundamental que não criemos, à revelia do
uma pessoa amada e uma intrusa. Por isso todo mundo sente.
autor, suposições vagas e inespecíficas. Quem lê com cuidado
Se sua amiga disser que não, está mentindo ou se enganando.
certamente incorre menos no risco de tornar-se um analfabeto
Quem agüenta ver o namorado conversando todo animado com
funcional e ler com atenção é um exercício que deve ser
outra menina sem sentir uma pontinha de não-sei-o-quê? (…)
praticado à exaustão, assim como uma técnica, que fará de nós
É normal você querer o máximo de atenção do seu namorado,
leitores proficientes e sagazes. Agora que você já conhece nossas
das suas amigas, dos seus pais. Eles são a parte mais importante
dicas, desejamos a você uma boa leitura e bons estudos!
da sua vida.”
Fonte: http://portugues.uol.com.br/redacao/dicas-para-uma-boa-
(Revista Capricho)
interpretacao-texto.html
Modelo de Perguntas
1) Considerando o texto-modelo, é possível identificar quem
Questões
é o seu interlocutor preferencial?
Um leitor jovem.
O uso da bicicleta no Brasil
2) Quais são as informações (explícitas ou não) que permitem
A utilização da bicicleta como meio de locomoção no Brasil
a você identificar o interlocutor preferencial do texto?
ainda conta com poucos adeptos, em comparação com países
Do contexto podemos extrair indícios do interlocutor
como Holanda e Inglaterra, por exemplo, nos quais a bicicleta
preferencial do texto: uma jovem adolescente, que pode ser
é um dos principais veículos nas ruas. Apesar disso, cada vez
acometida pelo ciúme. Observa-se ainda , que a revista Capricho
mais pessoas começam a acreditar que a bicicleta é, numa
tem como público-alvo preferencial: meninas adolescentes.
comparação entre todos os meios de transporte, um dos que
A linguagem informal típica dos adolescentes.
oferecem mais vantagens.
A bicicleta já pode ser comparada a carros, motocicletas
09 DICAS PARA MELHORAR A INTERPRETAÇÃO DE TEXTOS
e a outros veículos que, por lei, devem andar na via e jamais
01) Ler todo o texto, procurando ter uma visão geral do
na calçada. Bicicletas, triciclos e outras variações são todos
assunto;
considerados veículos, com direito de circulação pelas ruas e
02) Se encontrar palavras desconhecidas, não interrompa a
prioridade sobre os automotores.
leitura;
Alguns dos motivos pelos quais as pessoas aderem à bicicleta
03) Ler, ler bem, ler profundamente, ou seja, ler o texto pelo
no dia a dia são: a valorização da sustentabilidade, pois as bikes
menos duas vezes;
não emitem gases nocivos ao ambiente, não consomem petróleo
04) Inferir;
e produzem muito menos sucata de metais, plásticos e borracha;
05) Voltar ao texto tantas quantas vezes precisar;
a diminuição dos congestionamentos por excesso de veículos
06) Não permitir que prevaleçam suas ideias sobre as do
motorizados, que atingem principalmente as grandes cidades; o
autor;
favorecimento da saúde, pois pedalar é um exercício físico muito
07) Fragmentar o texto (parágrafos, partes) para melhor
bom; e a economia no combustível, na manutenção, no seguro e,
compreensão;
claro, nos impostos.
08) Verificar, com atenção e cuidado, o enunciado de cada
No Brasil, está sendo implantado o sistema de
questão;
compartilhamento de bicicletas. Em Porto Alegre, por exemplo,
09) O autor defende ideias e você deve percebê-las;
o BikePOA é um projeto de sustentabilidade da Prefeitura, em
Fonte: http://portuguesemfoco.com/09-dicas-para-melhorar-a-
parceria com o sistema de Bicicletas SAMBA, com quase um
interpretacao-de-textos-em-provas/
ano de operação. Depois de Rio de Janeiro, São Paulo, Santos,
Sorocaba e outras cidades espalhadas pelo país aderirem a

Língua Portuguesa 1
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APOSTILAS OPÇÃO
esse sistema, mais duas capitais já estão com o projeto pronto Considerando a relação entre o título e a imagem, é correto
em 2013: Recife e Goiânia. A ideia do compartilhamento é concluir que um dos temas diretamente explorados no cartum é
semelhante em todas as cidades. Em Porto Alegre, os usuários (A) o aumento da circulação de ciclistas nas vias públicas.
devem fazer um cadastro pelo site. O valor do passe mensal é (B) a má qualidade da pavimentação em algumas ruas.
R$ 10 e o do passe diário, R$ 5, podendo-se utilizar o sistema (C) a arbitrariedade na definição dos valores das multas.
durante todo o dia, das 6h às 22h, nas duas modalidades. Em (D) o número excessivo de automóveis nas ruas.
todas as cidades que já aderiram ao projeto, as bicicletas estão (E) o uso de novas tecnologias no transporte público.
espalhadas em pontos estratégicos.
A cultura do uso da bicicleta como meio de locomoção Respostas
não está consolidada em nossa sociedade. Muitos ainda não 1. (B) / 2. (A) / 3. (D)
sabem que a bicicleta já é considerada um meio de transporte,
ou desconhecem as leis que abrangem a bike. Na confusão de
um trânsito caótico numa cidade grande, carros, motocicletas, Denotação e conotação;
ônibus e, agora, bicicletas, misturam-se, causando, muitas vezes,
discussões e acidentes que poderiam ser evitados.
Ainda são comuns os acidentes que atingem ciclistas. A
verdade é que, quando expostos nas vias públicas, eles estão Denotação e Conotação
totalmente vulneráveis em cima de suas bicicletas. Por isso
é tão importante usar capacete e outros itens de segurança. A A língua portuguesa é rica, interessante, criativa e versátil,
maior parte dos motoristas de carros, ônibus, motocicletas e encontrando-se em constante evolução. As palavras não
caminhões desconhece as leis que abrangem os direitos dos apresentam apenas um significado objetivo e literal, mas sim
ciclistas. Mas muitos ciclistas também ignoram seus direitos uma variedade de significados, mediante o contexto em que
e deveres. Alguém que resolve integrar a bike ao seu estilo de ocorrem e as vivências e conhecimentos das pessoas que as
vida e usá-la como meio de locomoção precisa compreender utilizam.
que deverá gastar com alguns apetrechos necessários para A significação das palavras não é fixa, nem estática. Por meio
poder trafegar. De acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, da imaginação criadora do homem, as palavras podem ter seu
as bicicletas devem, obrigatoriamente, ser equipadas com significado ampliado, deixando de representar apenas a ideia
campainha, sinalização noturna dianteira, traseira, lateral e nos original (básica e objetiva). Assim, frequentemente remetem-
pedais, além de espelho retrovisor do lado esquerdo. nos a novos conceitos por meio de associações, dependendo de
(Bárbara Moreira, http://www.eusoufamecos.net. Adaptado) sua colocação numa determinada frase. Observe os seguintes
exemplos:
01. De acordo com o texto, o uso da bicicleta como meio de
locomoção nas metrópoles brasileiras A menina está com a cara toda pintada.
(A) decresce em comparação com Holanda e Inglaterra Aquele cara parece suspeito.
devido à falta de regulamentação.
(B) vem se intensificando paulatinamente e tem sido No primeiro exemplo, a palavra cara significa “rosto”, a parte
incentivado em várias cidades. que antecede a cabeça, conforme consta nos dicionários. Já no
(C) tornou-se, rapidamente, um hábito cultivado pela segundo exemplo, a mesma palavra cara teve seu significado
maioria dos moradores. ampliado e, por uma série de associações, entendemos que
(D) é uma alternativa dispendiosa em comparação com os nesse caso significa “pessoa”, “sujeito”, “indivíduo”.
demais meios de transporte. Algumas vezes, uma mesma frase pode apresentar duas (ou
(E) tem sido rejeitado por consistir em uma atividade mais) possibilidades de interpretação. Veja:
arriscada e pouco salutar.
Marcos quebrou a cara.
02. A partir da leitura, é correto concluir que um dos Em seu sentido literal, impessoal, frio, entendemos que
objetivos centrais do texto é Marcos, por algum acidente, fraturou o rosto. Entretanto,
(A) informar o leitor sobre alguns direitos e deveres do podemos entender a mesma frase num sentido figurado, como
ciclista. “Marcos não se deu bem”, tentou realizar alguma coisa e não
(B) convencer o leitor de que circular em uma bicicleta é conseguiu.
mais seguro do que dirigir um carro.
(C) mostrar que não há legislação acerca do uso da bicicleta Pelos exemplos acima, percebe-se que uma mesma
no Brasil. palavra pode apresentar mais de um significado, ocorrendo,
(D) explicar de que maneira o uso da bicicleta como meio de basicamente, duas possibilidades:
locomoção se consolidou no Brasil. a) No primeiro exemplo, a palavra apresenta seu sentido
(E) defender que, quando circular na calçada, o ciclista deve original, impessoal, sem considerar o contexto, tal como aparece
dar prioridade ao pedestre. no dicionário. Nesse caso, prevalece o sentido denotativo - ou
denotação - do signo linguístico.
03. Considere o cartum de Evandro Alves. b) No segundo exemplo, a palavra aparece com outro
Afogado no Trânsito significado, passível de interpretações diferentes, dependendo
do contexto em que for empregada. Nesse caso, prevalece o
sentido conotativo - ou conotação do signo linguístico.
Obs.: a linguagem poética faz bastante uso do sentido
conotativo das palavras, num trabalho contínuo de criar ou
modificar o significado. Na linguagem cotidiana também é
comum a exploração do sentido conotativo, como consequência
da nossa forte carga de afetividade e expressividade.

Exemplos de variação no significado das palavras:


Os domadores conseguiram enjaular a fera. (sentido próprio
ou literal)
Ele ficou uma fera quando soube da notícia. (sentido
figurado)
Aquela aluna é fera na matemática. (sentido figurado)
(http://iiiconcursodecartumuniversitario.blogspot.com.br)
As variações nos significados das palavras ocasionam
o sentido denotativo (denotação) e o sentido conotativo

Língua Portuguesa 2
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APOSTILAS OPÇÃO
(conotação) das palavras. O sentido denotativo é também convencionalmente empregado, a fim de se conseguir um efeito
conhecido como sentido próprio ou literal e o sentido conotativo mais expressivo na comunicação.
é também conhecido como sentido figurado.
São figuras de palavras:
Denotação a) comparação e) catacrese
b) metáfora f) sinestesia
Uma palavra é usada no sentido denotativo (próprio ou literal) c) metonímia g) antonomásia
quando apresenta seu significado original, independentemente d) sinédoque h) alegoria
do contexto frásico em que aparece. Quando se refere ao seu
significado mais objetivo e comum, aquele imediatamente Comparação: Ocorre comparação quando se estabelece
reconhecido e muitas vezes associado ao primeiro significado aproximação entre dois elementos que se identificam, ligados
que aparece nos dicionários, sendo o significado mais literal da por conectivos comparativos explícitos – feito, assim como,
palavra. tal, como, tal qual, tal como, qual, que nem – e alguns verbos –
A denotação tem como finalidade informar o receptor parecer, assemelhar-se e outros.
da mensagem de forma clara e objetiva, assumindo assim um
caráter prático e utilitário. É utilizada em textos informativos, Exemplos: “Amou daquela vez como se fosse máquina.
como jornais, regulamentos, manuais de instrução, bulas de Beijou sua mulher como se fosse lógico.
medicamentos, textos científicos, entre outros.
Metáfora: Ocorre metáfora quando um termo substitui
Exemplos: outro através de uma relação de semelhança resultante da
O elefante é um mamífero. subjetividade de quem a cria. A metáfora também pode ser
Já li esta página do livro. entendida como uma comparação abreviada, em que o conectivo
A empregada limpou a casa. não está expresso, mas subentendido.

Conotação Exemplo: “Supondo o espírito humano uma vasta concha, o


meu fim, Sr. Soares, é ver se posso extrair pérolas, que é a razão.”
Uma palavra é usada no sentido conotativo (figurado)
quando apresenta diferentes significados, sujeitos a diferentes Metonímia: Ocorre metonímia quando há substituição de
interpretações, dependendo do contexto frásico em que aparece. uma palavra por outra, havendo entre ambas algum grau de
Quando se refere a sentidos, associações e ideias que vão além semelhança, relação, proximidade de sentido ou implicação
do sentido original da palavra, ampliando sua significação mútua. Tal substituição fundamenta-se numa relação objetiva,
mediante a circunstância em que a mesma é utilizada, assumindo real, realizando-se de inúmeros modos:
um sentido figurado e simbólico.
A conotação tem como finalidade provocar sentimentos no - A causa pelo efeito e vice-versa:
receptor da mensagem, através da expressividade e afetividade
que transmite. É utilizada principalmente numa linguagem “E assim o operário ia
poética e na literatura, mas também ocorre em conversas Com suor e com cimento*
cotidianas, em letras de música, em anúncios publicitários, entre Erguendo uma casa aqui
outros. Adiante um apartamento.”
*Com trabalho.
Exemplos:
Você é o meu sol! - O lugar de origem ou de produção pelo produto:
Minha vida é um mar de tristezas.
Você tem um coração de pedra! Comprei uma garrafa do legítimo porto*.
*O vinho da cidade do Porto.
Fontes: http://www.soportugues.com.br/secoes/estil/estil1.php
http://www.normaculta.com.br/conotacao-e-denotacao/ - O autor pela obra:

Ela parecia ler Jorge Amado*.


Figuras; *A obra de Jorge Amado.
- O abstrato pelo concreto e vice-versa:

Não devemos contar com o seu coração*.


Figuras de Linguagem *Sentimento, sensibilidade.

As figuras de linguagem ou de estilo, de acordo com Renan Sinédoque: Ocorre sinédoque quando há substituição de
Bardine, são empregadas para valorizar o texto, tornando um termo por outro, havendo ampliação ou redução do sentido
a linguagem mais expressiva. É um recurso linguístico para usual da palavra numa relação quantitativa. Encontramos
expressar experiências comuns de formas diferentes, conferindo sinédoque nos seguintes casos:
originalidade, emotividade ou poeticidade ao discurso.
- O todo pela parte e vice-versa:
As figuras revelam muito da sensibilidade de quem as
produz, traduzindo particularidades estilísticas do autor. A “A cidade inteira (1) viu assombrada, de queixo caído, o
palavra empregada em sentido figurado, não-denotativo, passa pistoleiro sumir de ladrão, fugindo nos cascos (2) de seu cavalo.”
a pertencer a outro campo de significação, mais amplo e criativo. *1 O povo. 2 Parte das patas.

As figuras de linguagem classificam-se em: - O singular pelo plural e vice-versa:


1) figuras de palavra;
2) figuras de harmonia; O paulista (3) é tímido; o carioca (4), atrevido.
3) figuras de pensamento; *3 Todos os paulistas. 4 Todos os cariocas.
4) figuras de construção ou sintaxe.
- O indivíduo pela espécie (nome próprio pelo nome comum):
1) FIGURAS DE PALAVRA
As figuras de palavra são figuras de linguagem que consistem Para os artistas ele foi um mecenas (5).
no emprego de um termo com sentido diferente daquele *5 Protetor.

Língua Portuguesa 3
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APOSTILAS OPÇÃO
Modernamente, a metonímia engloba a sinédoque. Exemplo: “Sou Ana, da cama
da cana, fulana, bacana
Catacrese: A catacrese é um tipo de especial de metáfora, Sou Ana de Amsterdam.”
“é uma espécie de metáfora desgastada, em que já não se sente
nenhum vestígio de inovação, de criação individual e pitoresca. Paronomásia: Ocorre paronomásia quando há reprodução
É a metáfora tornada hábito lingüístico, já fora do âmbito de sons semelhantes em palavras de significados diferentes.
estilístico.” (Othon M. Garcia)
Exemplo: “Berro pelo aterro pelo desterro
Exemplos: folhas de livro, pele de tomate, dente de alho, berro por seu berro pelo seu erro
montar em burro, céu da boca, cabeça de prego, mão de direção, quero que você ganhe que você me apanhe
ventre da terra, asa da xícara, sacar dinheiro no banco. sou o seu bezerro gritando mamãe.”

Sinestesia: A sinestesia consiste na fusão de sensações Onomatopeia: Ocorre quando uma palavra ou conjunto de
diferentes numa mesma expressão. Essas sensações podem ser palavras imita um ruído ou som.
físicas (gustação, audição, visão, olfato e tato) ou psicológicas
(subjetivas). Exemplo: “O silêncio fresco despenca das árvores.
Veio de longe, das planícies altas,
Exemplo: “A minha primeira recordação é um muro velho, no Dos cerrados onde o guaxe passe rápido…
quintal de uma casa indefinível. Tinha várias feridas no reboco Vvvvvvvv… passou.”
e veludo de musgo. Milagrosa aquela mancha verde [sensação
visual] e úmida, macia [sensações táteis], quase irreal.” (Augusto 3) FIGURAS DE PENSAMENTO
Meyer)
As figuras de pensamento são recursos de linguagem que se
Antonomásia: Ocorre antonomásia quando designamos referem ao significado das palavras, ao seu aspecto semântico.
uma pessoa por uma qualidade, característica ou fato que a
distingue. São figuras de linguagem de pensamento:

Na linguagem coloquial, antonomásia é o mesmo que apelido, a) antítese d) apóstrofe g) paradoxo


alcunha ou cognome, cuja origem é um aposto (descritivo, b) eufemismo e) gradação h) hipérbole
especificativo etc.) do nome próprio. c) ironia f) prosopopéia i) perífrase

Exemplos: Antítese: Ocorre antítese quando há aproximação de


“E ao rabi simples(1), que a igualdade prega, palavras ou expressões de sentidos opostos.
Rasga e enlameia a túnica inconsútil;
*1 Cristo Exemplo: “Amigos ou inimigos estão, amiúde, em posições
Pelé (= Edson Arantes do Nascimento) trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem. Outros nos
O poeta dos escravos (= Castro Alves) almejam o bem, e nos trazem o mal.” (Rui Barbosa)
O Dante Negro (= Cruz e Souza)
O Corso (= Napoleão) Apóstrofe: Ocorre apóstrofe quando há invocação de uma
pessoa ou algo, real ou imaginário, que pode estar presente
Alegoria: A alegoria é uma acumulação de metáforas ou ausente. Corresponde ao vocativo na análise sintática e é
referindo-se ao mesmo objeto; é uma figura poética que utilizada para dar ênfase à expressão.
consiste em expressar uma situação global por meio de outra
que a evoque e intensifique o seu significado. Na alegoria, todas Exemplo: “Deus! ó Deus! onde estás, que não respondes?”
as palavras estão transladadas para um plano que não lhes é (Castro Alves)
comum e oferecem dois sentidos completos e perfeitos – um
referencial e outro metafórico. Paradoxo: Ocorre paradoxo não apenas na aproximação
de palavras de sentido oposto, mas também na de idéias que
Exemplo: “A vida é uma ópera, é uma grande ópera. O tenor se contradizem referindo-se ao mesmo termo. É uma verdade
e o barítono lutam pelo soprano, em presença do baixo e dos enunciada com aparência de mentira. Oxímoro (ou oximoron) é
comprimários, quando não são o soprano e o contralto que outra designação para paradoxo.
lutam pelo tenor, em presença do mesmo baixo e dos mesmos
comprimários. Há coros numerosos, muitos bailados, e a Exemplo: “Amor é fogo que arde sem se ver;
orquestra é excelente… (Machado de Assis) É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
2) FIGURAS DE HARMONIA É dor que desatina sem doer;” (Camões)

Chamam-se figuras de som ou de harmonia os efeitos Eufemismo: Ocorre eufemismo quando uma palavra ou
produzidos na linguagem quando há repetição de sons ou, ainda, expressão é empregada para atenuar uma verdade tida como
quando se procura “imitar”sons produzidos por coisas ou seres. penosa, desagradável ou chocante.

As figuras de linguagem de harmonia ou de som são: Ex:“E pela paz derradeira(1) que enfim vai nos redimir
Deus lhe pague” (Chico Buarque)
a) aliteração c) assonância *1 paz derradeira: morte
b) paronomásia d) onomatopéia
Gradação: Ocorre gradação quando há uma seqüência de
Aliteração: Ocorre aliteração quando há repetição da palavras que intensificam uma mesma idéia.
mesma consoante ou de consoantes similares, geralmente em
posição inicial da palavra. Exemplo: “Aqui… além… mais longe por onde eu movo o
passo.” (Castro Alves)
Exemplo: “Toda gente homenageia Januária na janela.”
Hipérbole: Ocorre hipérbole quando há exagero de uma
Assonância: Ocorre assonância quando há repetição da idéia, a fim de proporcionar uma imagem emocionante e de
mesma vogal ao longo de um verso ou poema. impacto.

Língua Portuguesa 4
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APOSTILAS OPÇÃO
Exemplo: “Rios te correrão dos olhos, se chorares!” (Olavo 1 Elipse do pronome ela (Ela veio) e da preposição de (de
Bilac) sandálias…)

Ironia: Ocorre ironia quando, pelo contexto, pela entonação, Zeugma: Ocorre zeugma quando um termo já expresso na
pela contradição de termos, sugere-se o contrário do que as frase é suprimido, ficando subentendida sua repetição.
palavras ou orações parecem exprimir. A intenção é depreciativa
ou sarcástica. Exemplo: “Foi saqueada a vida, e assassinados os partidários
dos Felipes.” 1
Exemplo: “Moça linda, bem tratada, 1 Zeugma do verbo: “e foram assassinados…”
três séculos de família,
burra como uma porta: Anáfora: Ocorre anáfora quando há repetição intencional de
um amor.” (Mário de Andrade) palavras no início de um período, frase ou verso.

Prosopopéia: Ocorre prosopopéia (ou animização ou Exemplo: “Depois o areal extenso…


personificação) quando se atribui movimento, ação, fala, Depois o oceano de pó…
sentimento, enfim, caracteres próprios de seres animados a Depois no horizonte imenso
seres inanimados ou imaginários. Desertos… desertos só…” (Castro Alves)

Também a atribuição de características humanas a seres Pleonasmo: Ocorre pleonasmo quando há repetição da
animados constitui prosopopéia o que é comum nas fábulas mesma ideia, isto é, redundância de significado.
e nos apólogos, como este exemplo de Mário de Quintana: “O
peixinho (…) silencioso e levemente melancólico…” a) Pleonasmo literário: É o uso de palavras redundantes para
reforçar uma ideia, tanto do ponto de vista semântico quanto
Exemplos: “… os rios vão carregando as queixas do caminho.” do ponto de vista sintático. Usado como um recurso estilístico,
(Raul Bopp) enriquece a expressão, dando ênfase à mensagem.

Um frio inteligente (…) percorria o jardim…” (Clarice Exemplo: “Iam vinte anos desde aquele dia
Lispector) Quando com os olhos eu quis ver de perto
Quando em visão com os da saudade via.” (Alberto
Perífrase: Ocorre perífrase quando se cria um torneio de de Oliveira)
palavras para expressar algum objeto, acidente geográfico ou
situação que não se quer nomear. “Ó mar salgado, quando do teu sal
São lágrimas de Portugal” (Fernando Pessoa)
Exemplo: “Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil b) Pleonasmo vicioso: É o desdobramento de ideias que
Cidade maravilhosa já estavam implícitas em palavras anteriormente expressas.
Coração do meu Brasil.” (André Filho) Pleonasmos viciosos devem ser evitados, pois não têm valor de
reforço de uma idéia, sendo apenas fruto do descobrimento do
4) FIGURAS DE SINTAXE sentido real das palavras.

As figuras de sintaxe ou de construção dizem respeito a Exemplos: subir para cima, entrar para dentro, repetir de
desvios em relação à concordância entre os termos da oração, novo, ouvir com os ouvidos, hemorragia de sangue, monopólio
sua ordem, possíveis repetições ou omissões. exclusivo, breve alocução, principal protagonista
Elas podem ser construídas por:
a) omissão: assíndeto, elipse e zeugma; Polissíndeto: Ocorre polissíndeto quando há repetição
b) repetição: anáfora, pleonasmo e polissíndeto; enfática de uma conjunção coordenativa mais vezes do que exige
c) inversão: anástrofe, hipérbato, sínquise e hipálage; a norma gramatical ( geralmente a conjunção e). É um recurso
d) ruptura: anacoluto; que sugere movimentos ininterruptos ou vertiginosos.
e) concordância ideológica: silepse.
Exemplo: “Vão chegando as burguesinhas pobres,
Portanto, são figuras de linguagem de construção ou sintaxe: e as criadas das burguesinhas ricas
a) assíndeto e) elipse i) zeugma e as mulheres do povo, e as lavadeiras da redondeza.”
b) anáfora f) pleonasmo j) polissíndeto (Manuel Bandeira)
c) anástrofe g) hiperbato l) sínquise
d) hipálage h) anacoluto m) silepse Anástrofe: Ocorre anástrofe quando há uma simples
inversão de palavras vizinhas (determinante / determinado).
Assíndeto: Ocorre assíndeto quando orações ou palavras
deveriam vir ligadas por conjunções coordenativas, aparecem Exemplo: “Tão leve estou (1) que nem sombra tenho.” (Mário
justapostas ou separadas por vírgulas. Quintana)
*1 Estou tão leve…
Exigem do leitor atenção maior no exame de cada fato, por
exigência das pausas rítmicas (vírgulas). Hipérbato: Ocorre hipérbato quando há uma inversão
completa de membros da frase.
Exemplo: “Não nos movemos, as mãos é que se estenderam
pouco a pouco, todas quatro, pegando-se, apertando-se, Exemplo: “Passeiam à tarde, as belas na Avenida. ” 1 (Carlos
fundindo-se.” (Machado de Assis) Drummond de Andrade)
*1 As belas passeiam na Avenida à tarde.
Elipse: Ocorre elipse quando omitimos um termo ou
oração que facilmente podemos identificar ou subentender no Sínquise: Ocorre sínquise quando há uma inversão violenta
contexto. Pode ocorrer na supressão de pronomes, conjunções, de distantes partes da frase. É um hipérbato exagerado.
preposições ou verbos. É um poderoso recurso de concisão e
dinamismo. Exemplo: “A grita se alevanta ao Céu, da gente. ” 1 (Camões)

Exemplo: “Veio sem pinturas, em vestido leve, sandálias *1 A grita da gente se alevanta ao Céu.
coloridas.”

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APOSTILAS OPÇÃO
Hipálage: Ocorre hipálage quando há inversão da posição do 65ºC. Para fritar um ovo, seria preciso que o local alcançasse
adjetivo: uma qualidade que pertence a uma objeto é atribuída a aproximadamente 90 ºC.
outro, na mesma frase. Disponível em: http://zerohora.clicrbs.com.br. Acesso em:
22 jan. 2014.
Exemplo: “… as lojas loquazes dos barbeiros.” 2 (Eça de
Queiros) O texto cita que o dito popular “está tão quente que dá para
*2 … as lojas dos barbeiros loquazes. fritar um ovo no asfalto” expressa uma figura de linguagem. O
autor do texto refere-se a qual figura de linguagem?
Anacoluto: Ocorre anacoluto quando há interrupção (A) Eufemismo.
do plano sintático com que se inicia a frase, alterando-lhe a (B) Hipérbole.
seqüência lógica. A construção do período deixa um ou mais (C) Paradoxo.
termos – que não apresentam função sintática definida – (D) Metonímia.
desprendidos dos demais, geralmente depois de uma pausa (E) Hipérbato.
sensível. Respostas
01. D\02. D\03. B
Exemplo: “Essas empregadas de hoje, não se pode confiar
nelas.” (Alcântara Machado)
Coesão e coerência;
Silepse: Ocorre silepse quando a concordância não é feita
com as palavras, mas com a ideia a elas associada.

a) Silepse de gênero: Ocorre quando há discordância entre Coerência e Coesão


os gêneros gramaticais (feminino ou masculino).
Não basta conhecer o conteúdo das partes de um trabalho:
Exemplo: “Quando a gente é novo, gosta de fazer bonito.” introdução, desenvolvimento e conclusão. Além de saber o que
(Guimarães Rosa) se deve (e o que não se deve) escrever em cada parte constituinte
do texto, é preciso saber escrever obedecendo às normas de
b) Silepse de número: Ocorre quando há discordância coerência e coesão. Antes de tudo, é necessário definir os termos:
envolvendo o número gramatical (singular ou plural). coerência diz respeito à articulação do texto, à compatibilidade
das ideias, à lógica do raciocínio, a seu conteúdo. Coesão refere
Exemplo: Corria gente de todos lados, e gritavam.” (Mário - se à expressão linguística, ao nível gramatical, às estruturas
Barreto) frasais e ao emprego do vocabulário.
Coerência e coesão relacionamse com o processo de
c) Silepse de pessoa: Ocorre quando há discordância entre o produção e compreensão do texto, a coesão contribui para
sujeito expresso e a pessoa verbal: o sujeito que fala ou escreve a coerência, mas nem sempre um texto coerente apresenta
se inclui no sujeito enunciado. coesão. Pode ocorrer que o texto sem coerência apresente
coesão, ou que um texto tenha coesão sem coerência. Em outras
Exemplo: “Na noite seguinte estávamos reunidas algumas palavras: um texto pode ser gramaticalmente bem construído,
pessoas.” (Machado de Assis) com frases bem estruturadas, vocabulário correto, mas
apresentar ideias disparatadas, sem nexo, sem uma sequência
Questões lógica: há coesão, mas não coerência. Por outro lado, um texto
pode apresentar ideias coerentes e bem encadeadas, sem que no
01. Ao dizer que os shoppings são “cidades”, o autor do texto plano da expressão, as estruturas frasais sejam gramaticalmente
faz uso de um tipo de linguagem figurada denominada aceitáveis: há coerência, mas não coesão.
(A) metonímia. Na obra de Oswald de Andrade, por exemplo, encontramse
(B) eufemismo. textos coerentes sem coesão, ou textos coesos, mas sem coerência.
(C) hipérbole. Em Carlos Drummond de Andrade, há inúmeros exemplos de
(D) metáfora. textos coerentes, sem coesão gramatical no plano sintático. A
(E) catacrese. linguagem literária admite essas liberdades, o que não vem ao
caso, pois na linguagem acadêmica, referencial, a obediência às
02. Identifique a figura de linguagem presente na tira normas de coerência e coesão são obrigatórias. Ainda assim,
seguinte: para melhor esclarecimento do assunto, apresentamse exemplos
de coerência sem coesão e coesão sem coerência:

“Cidadezinha Qualquer”

Casas entre bananeiras


mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar:

Um homem vai devagar


Um cachorro vai devagar.
(A) metonímia Um burro vai devagar
(B) prosopopeia
(C) hipérbole Devagar.. as janelas olham.
(D) eufemismo Eta vida besta, meu Deus.”
(E) onomatopeia (Andrade, 1973, p. 67)
03. Apesar da aparente falta de nexo, percebe - se nitidamente
Está tão quente que dá para fritar um ovo no asfalto. a descrição de uma cidadezinha do interior: a paisagem rural,
o estilo de vida sossegado, o hábito de bisbilhotar, de vigiar
O dito popular é, na maioria das vezes, uma figura de das janelas tudo o que se passa lá fora. No plano sintático, a
linguagem. Entre as 14h30min e às 15h desta terça-feira, primeira estrofe contém apenas frases ou sintagmas nomi¬nais
horário do dia em que o calor é mais intenso, a temperatura (cantar pode ser verbo ou substantivo os meu cantares = as
do asfalto, medida com um termômetro de contato, chegou a minhas canções); as demais, não apresentam coesão uma frase

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APOSTILAS OPÇÃO
não se relaciona com outra, mas, pela forma de apresentação, - relaciona-se com a microestrutura, trabalha com as partes
colaboram para a coerência do texto. componentes do texto;
- Estabelece relações entre os vocábulos no interior das
“Do outro lado da parede” frases.

Meu laço de botina. Coerência e coesão são responsáveis pela inteligibilidade ou


Recebi a tua comunicação, escrita do beiral da viragem compreensão do texto. Um texto bem redigido tem parágrafos
sempieterna. Foi um tiro no alvo do coração, se bem que ele já bem estruturados e articulados pelo encadeamento das ideias
esteja treinado. neles contidas. As estruturas frasais devem ser coerentes
A culpa de tudo quem temna é esse bandido desse coronel do e gramaticalmente corretas, no que respeita à sintaxe. O
Exército Brasileiro que nos inflicitou. vocabulário precisa ser adequado e essa adequação só se
Reflete antes de te matares! Reflete Joaninha. Principalmente consegue pelo conhecimento dos significados possíveis de
se ainda é tempo! És uma tarada. cada palavra. Talvez os erros mais comuns de redaçao sejam
Quando te conheci, Chez Hippolyte querias falecer dia e noite. devidos à impropriedade do vocabulário e ao mau emprego
Enfim, adeus. dos conectivos (conjunções, que têm por função ligar uma frase
Nunca te esquecerei. Never more! Como dizem os corvos.” ou período a outro). Eis alguns exemplos de impropriedade do
João da Slavonia vocabulário, colhidos em redações sobre censura e os meios de
(Andrade, O., 1971, p. 201202) comunicação e outras.

Embora as frases sejam sintaticamente coesas, nota - se que, “Nosso direito é frisado na Constituição.”
neste texto, não há coerência, não se observa uma linha lógica Nosso direito é assegurado pela Constituição.
de raciocínio na expressão das ideias. Percebese vagamente “Estabelecer os limites as quais a programação deveria estar
que a personagem João Slavonia teria recebido uma mensagem exposta.”
de Joaninha (Recebi a tua comunicação), ameaçando cometer Estabelecer os limites aos quais a programação deveria
suicídio (Reflete antes de te matares!). A última frase contém estar sujeita.
uma alusão ao poema “O corvo”, de Edgar Alan Poe.
“A censura deveria punir as notícias sensacionalistas.”
A respeito das relações entre coerência e coesão, Guimarães A censura deveria proibir (ou coibir) as notícias
diz: sensacionalistas ou punir os meios de comunicação que
veiculam tais notícias.
“O exposto autorizanos a seguinte conclusão: ainda que
distinguiveis (a coesão diz respeito aos modos de interconexão “Retomada das rédeas da programação.”
dos componentes textuais, a coerência refere - se aos modos como Retomada das rédeas dos meios de comunicação, no que diz
os elementos subjacentes à superfície textual tecem a rede do respeito a programação.
sentido), trata - se de dois aspectos de um mesmo fenômeno a
coesão funcionando como efeito da coerência, ambas cúmplices “Os meios de comunicação estão sendo apelativos,
no processamento da articulação do texto.” vulgarizando e deteriorando indivíduos.”
Os meios de comunicação estão recorrendo a expedientes
A coerência textual subjaz ao texto e é responsável pela grosseiros vulgarizando o nível dos programas e desrespeitando
hierarquização dos elementos textuais, ou seja, ela tem origem os telespectadores.
nas estruturas profundas, no conhecimento do mundo de
cada pessoa, aliada à competência linguística, que permitirá a “A discussão deste assunto é inerente à sociedade.”
expressão das ideias percebidas e organizadas, no processo A discussão deste assunto é tarefa da sociedade (compete à
de codificação referido na página... Deduz - se daí que é difícil, sociedade).
senão impossível, ensinar coerência textual, intimamente
ligada à visão de mundo, à origem das ideias no pensamento. A “Na verdade, daquele autor eles pegaram apenas a
coesão, porém, refere - se à expressão linguística, aos processos nomenclatura...”
sintáticos e gramaticais do texto. Na verdade, daquele autor eles adotaram (utilizaram)
apenas a nomenclatura...
O seguinte resumo caracteriza coerência e coesão:
“A ordem e forma de apresentação dos elementos das
Coerência: rede de sintonia entre as partes e o todo de um referências bibliográficas são mostradas na NBR 6023 da ABNT”
texto. Conjunto de unidades sistematizadas numa adequada (são regulamentadas pela NBR 6023 da ABNT).
relação semântica, que se manifesta na compatibilidade entre as
ideias. (Na linguagem popular: “dizer coisa com coisa” ou “uma O emprego de vocabulário inadequado prejudica muitas
coisa bate com outra”). vezes a compreensão das ideias. É importante, ao redigir,
Coesão: conjunto de elementos posicionados ao longo do empregar palavras cujo significado seja conhecido pelo
texto, numa linha de sequência e com os quais se estabelece um enunciador, e cujo emprego faça parte de seus conhecimentos
vínculo ou conexão sequencial. Se o vínculo coesivo se faz via linguísticos. Muitas vezes, quem redige conhece o significado de
gramática, fala-se em coesão gramatical. Se se faz por meio do determinada palavra, mas não sabe empregála adequadamente,
vocabulário, tem-se a coesão lexical. isso ocorre frequentemente com o emprego dos conectivos
(preposições e conjunções). Não basta saber que as preposições
Coerência ligam nomes ou sintagmas nominais no interior das frases e
que as conjunções ligam frases dentro do período; é necessário
- assenta-se no plano cognitivo, da inteligibilidade do texto; empregar adequadamente tanto umas como outras. É bem
- situa-se na subjacência do texto; estabelece conexão verdade que, na maioria das vezes, o emprego inadequado dos
conceitual; conectivos remete aos problemas de regência verbal e nominal.
- relaciona-se com a macroestrutura; trabalha com o todo,
com o aspecto global do texto; Exemplos:
- estabelece relações de conteúdo entre palavras e frases.
“Coação aos meios de comunicação” tem o sentido de atuar
Coesão contra os meios de comunicação; os meios de comunicação sofrem
a ação verbal, são coagidos.
- assenta-se no plano gramatical e no nível frasal; “Coação dos meios de comunicação” significa que os meios de
- situa-se na superfície do texto, estabele conexão sequencial; comunicação é que exercem a ação de coagir.

Língua Portuguesa 7
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APOSTILAS OPÇÃO
“Estar inteirada com os fatos” significa participação, “Havia recebido um envelope em meu nome e que não portava
interação. destinatário, apesar que em seu conteúdo havia uma folha em
“Estar inteirada dos fatos” significa ter conhecimento dos branco. ( .. )”
fatos, estar informada. Não se emprega apesar que, mas apesar de. E mais: apesar de
não ligar corretamente as duas frases, não faz sentido, as frases
“Ir de encontro” significa divergir, não concordar. deveriam ser coordenadas por e: não portava destinatário e em
“Ir ao encontro” quer dizer concordar. seu interior havia uma folha ou: havia recebido um envelope em
meu nome, que não portava destinatário, cujo conteúdo era uma
“Ameaça de liberdade de expressão e transmissão de ideias” folha em branco.
significa a liberdade não é ameaça;
“Ameaça à liberdade de expressão e transmissão de ideias”, Essas e outras frases foram observadas em redações, quando
isto é, a liberdade fica ameaçada. foi proposto o seguinte tema:

“A princípio” indica um fato anterior (A princípio, ela aceitava “Imagine a seguinte situação:
as desculpas que Mário lhe dava, mas depois deixou de acreditar hoje você está completando dezoito anos.
nele). Nesta data, você recebe pelo correio uma folha de papel em
“Em princípio” indica um fato de certeza provisória (Em branco, num envelope em seu nome, sem indicação do remetente.
princípio, faremos a reunião na quartafeira quer dizer que a Além disso, você ganha de presente um retrato seu e um disco.
reunião será na quarta-feira, se todos concordarem, se houver Reflita sobre essa situação.
possibilidade, porém admite a ideia de mudar a data).
“Por princípio” indica crença ou convicção (Por princípio, sou A partir da reflexão feita, redija um texto em prosa, sem
contra o racismo). ultrapassar o espaço reservado para redação no caderno de
respostas.”
Quanto à regência verbal, convém sempre consultar um
dicionário de verbos e regimes, pois muitos verbos admitem Como de costume, muito se comentou, até nos jornais da
duas ou três regências diferentes; cada uma, porém, tem um época, a falta de coerência, as frases sem clareza, pelo mau
significado específico. Lembrese, a propósito, de que as dúvidas emprego dos conectivos, como as seguintes:
sobre o emprego da crase decorrem do fato de considerar - se
crase como sinal de acentuação apenas, quando o problema “Primeiramente achei gozado aqueles dois presentes, pois
refere - se à regencia nominal e verbal. concluo que nunca deveria esquecer minha infância.”
Exemplos: Há falta de nexo entre as duas frases, pois uma não é
conclusão da outra, nem ao menos estão relacionadas e gozado
O verbo assistir admite duas regências: deveria ser substituído por engraçado ou estranho.
assistir o/a (transitivo direto) significa dar ou prestar
assistência (O médico assiste o doente): “A folha pode estar amarrada num cesto de lixo mas o disco
Assistir ao (transitivo indireto): ser espectador (Assisti ao repete sempre a mesma música.”
jogo da seleção). A primeira frase não tem sentido e a segunda não se
relaciona com a primeira. O conectivo “mas” deveria sugerir
Inteirar o/a (transitivo direto) significa completar (Inteirei o ideia de oposição, o que não ocorre no exemplo anterior. Não se
dinheiro do presente). percebe relação entre “o disco repete sempre a mesma música” e
Inteirar do (transitivo direto e indireto), significa informar a primeira frase.
alguém de..., tomar ou dar conhecimento de algo para alguém
(Quero inteirála dos fatos ocorridos...). “Mas, ao abrir a porta, era apenas o correio no qual viera
trazerme uma encomenda.”
Pedir o (transitivo direto) significa solicitar, pleitear (Pedi o Observase o emprego de no qual por o qual, melhor ainda
jornal do dia). ficaria que, simplesmente: era apenas o correio que viera
Pedir que contém uma ordem (A professora pediu que trazerme uma encomenda.
fizessem silêncio).
Pedir para pedir permissão (Pediu para sair da classe); Por outro lado, não mereceram comentários nem apareceram
significa também pedir em favor de alguém (A Diretora pediu nos jornais boas redações como a que se segue:
ajuda para os alunos carentes) em favor dos alunos, pedir algo
a alguém (para si): (Pediu ao colega para ajudá - lo); pode “A vida hoje me cumprimentou, mandoume minha fotografia
significar ainda exigir, reclamar (Os professores pedem aumento de garoto, com olhos em expectativa admirando o mundo. Este
de salário). mundo sem respostas para os meus dezoito anos. Mundo carta
sem remetente, carta interrogativa para moço que aguarda o
O mau emprego dos pronomes relativos também pode levar futuro, saboreando o fruto do amanhã.
à falta de coesão gramatical. Frequentemente, empregase no Recebi um disco, também, cuja música tem a sonoridade de
qual ou ao qual em lugar do que, com prejuízo da clareza do passos marchando para o futuro, ao som de melodias de cirandas
texto; outras vezes, o emprego é desnecessário ou inadequado. esquecidas do meninomoço de outrora, e do moçohomem de hoje,
Barbosa e Amaral (colaboradora) apresentam os seguintes que completa dezoito anos.
exemplos: Sou agora a certeza de uma resposta à carta sem remetente
que me comunica a vida. Vejo, na fotografia de mim mesmo, o
“Pela manhã o carteiro chegou com um envelope para mim homem que enfrentará a vida, que colherá com seu amor à luta e
no qual estava sem remetente”. (Chegou com um envelope que (o com seu espírito ambicioso, os frutos do destino.
qual) estava sem remetente). E a música dos passosfuturos na cadência do menino que
deixou de ser, está o ritmo da vitória sobre as dificuldades, a minha
“Encontrei apenas belas palavras o qual não duvido da consagração futura do homem, que vencerá o destino e será uma
sensibilidade...” afirmação dentro da sociedade.” C. G.
Encontrei belas palavras e não duvido da sensibilidade delas Exemplo de: (Fonseca, 1981, p. 178)
(palavras cheias de sensibilidade).
Para evitar a falta de coerência e coesão na articulação das
“Dentro do envelope havia apenas um papel em branco onde frases, aconselhase levar em conta as seguintes sugestões para
atribui muitos significados”: havia apenas um papel em branco o emprego correto dos articuladores sintáticos (conjunções,
ao qual atribui muitos significados (onde significa lugar no qual). preposições, locuções prepositivas e locuções conjuntivas).

Língua Portuguesa 8
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APOSTILAS OPÇÃO
Para dar ideia de oposição ou contradição, a articulação meus dois primeiros romances, Os Éguas e Moscow. Temos
sintática se faz por meio de conjunções adversativas: mas, porém, trocado e-mails muito interessantes, por conta de palavras e
todavia, contudo, no entanto, entretanto (nunca no entretanto). gírias comuns no meu Pará e absolutamente sem sentido para
Podem também ser empregadas as conjunções concessivas e ele. Às vezes é bem difícil explicar, como na cena em que alguém
locuções prepositivas para introduzir a ideia de oposição aliada empina papagaio e corta o adversário “no gasgo”.
à concessão: embora, ou muito embora, apesar de, ainda que,
conquanto, posto que, a despeito de, não obstante. Os termos muito e bem, em destaque, atribuem aos termos
A articulação sintática de causa pode ser feita por meio aos quais se subordinam sentido de:
de conjunções e locuções conjuntivas: pois, porque, como, por (A) comparação.
isso que, visto que, uma vez que, já que. Também podem ser (B) intensidade.
empregadas as preposições e locuções prepositivas: por, por (C) igualdade.
causa de, em vista de, em virtude de, devido a, em consequência (D) dúvida.
de, por motivo de, por razões de. (E) quantidade.
O principal articulador sintático de condição é o “se”: Se o
time ganhar esse jogo, será campeão. Podese também expressar 3. (TJ-PA - MÉDICO PSIQUIATRA - VUNESP - 2014).
condição pelo emprego dos conectivos: caso, contanto que, desde Assinale a alternativa em que a seguinte passagem – Mas o
que, a menos que, a não ser que. vento foi mais ágil e o papel se perdeu. (terceiro parágrafo) –
O emprego da preposição “para” é a maneira mais comum de está reescrita com o acréscimo de um termo que estabelece uma
expressar finalidade. “É necessário baixar as taxas de juros para relação de conclusão, consequência, entre as orações.
que a economia se estabilize” ou para a economia se estabilizar. (A) mas o vento foi mais ágil e, contudo, o papel se perdeu.
“Teresa vai estudar bastante para fazer boa prova.” Há outros (B) mas o vento foi mais ágil e, assim, o papel se perdeu.
articuladores que expressam finalidade: afim de, com o propósito (C) mas o vento foi mais ágil e, todavia, o papel se perdeu
de, na finalidade de, com a intenção de, com o objetivo de, com o (D) mas o vento foi mais ágil e, entretanto, o papel se perdeu.
fito de, com o intuito de. (E) mas o vento foi mais ágil e, porém, o papel se perdeu.
A ideia de conclusão pode ser introduzida por meio dos
articuladores: assim, desse modo, então, logo, portanto, pois, por 4. (PREFEITURA DE PAULISTA/PE – RECEPCIONISTA –
isso, por conseguinte, de modo que, em vista disso. Para introduzir UPENET/2014). Observe o fragmento de texto abaixo:
mais um argumento a favor de determinada conclusão “Mas o que fazer quando o conteúdo não é lembrado
empregase ainda. Os articuladores, aliás, além do mais, além justamente na hora da prova?”
disso, além de tudo, introduzem um argumento decisivo, cabal, Sobre ele, analise as afirmativas abaixo:
apresentado como um acréscimo, para justificar de forma
incontestável o argumento contrário. I. O termo “Mas” é classificado como conjunção subordinativa
Para introduzir esclarecimentos, retificações ou e, nesse contexto, pode ser substituído por “desde que”.
desenvolvimento do que foi dito empregamse os articuladores: II. Classifica-se o termo “quando” como conjunção
isto é, quer dizer, ou seja, em outras palavras. A conjunção subordinativa que exprime circunstância temporal.
aditiva “e” anuncia não a repetição, mas o desenvolvimento do III. Acentua-se o “u” tônico do hiato existente na palavra
discurso, pois acrescenta uma informação nova, um dado novo, “conteúdo”.
e se não acrescentar nada, é pura repetição e deve ser evitada. IV. Os termos “conteúdo”, “hora” e “prova” são palavras
Alguns articuladores servem para estabelecer uma gradação invariáveis, classificadas como substantivos.
entre os correspondentes de determinada escala. No alto dessa
escala achamse: mesmo, até, até mesmo; outros situamse no Está CORRETO apenas o que se afirma em:
plano mais baixo: ao menos, pelo menos, no mínimo. (A) I e III.
(B) II e IV.
Questões (C) I e IV.
(D) II e III.
1. (CONAB - CONTABILIDADE - IADES - 2014). Assinale (E) I e II.
a alternativa que preserva as relações morfossintáticas e
semânticas do período “Diante de sua rápida adaptação ao 5. (PREFEITURA DE OSASCO/SP - MOTORISTA DE
solo e ao clima, o produto adquiriu importância no mercado, AMBULÂNCIA – FGV/2014).
transformando-se em um dos principais itens de exportação,
desde o Império até os dias atuais.” (linhas de 3 a 6). Dificuldades no combate à dengue
(A) Em face de sua rápida adaptação ao solo e ao clima, o
produto adquiriu importância no mercado, porém transformou- A epidemia da dengue tem feito estragos na cidade de São
se em um dos principais itens de exportação, desde o Império Paulo. Só este ano, já foram registrados cerca de 15 mil casos da
até os dias atuais. doença, segundo dados da Prefeitura.
(B) O produto, em virtude de sua rápida adaptação ao solo As subprefeituras e a Vigilância Sanitária dizem que existe
e ao clima, adquiriu importância no mercado e transformou-se um protocolo para identificar os focos de reprodução do
em um dos principais itens de exportação, desde o Império até mosquito transmissor, depois que uma pessoa é infectada. Mas
os dias atuais. quando alguém fica doente e avisa as autoridades, não é bem
(C) O produto, por sua rápida adaptação ao solo e ao clima, isso que acontece.
adquiriu importância no mercado, todavia, desde o Império até (Saúde Uol).
os dias atuais, transformou-se, consequentemente, em um dos “Só este ano...” O ano a que a reportagem se refere é o ano
principais itens de exportação. (A) em que apareceu a dengue pela primeira vez.
(D) Face sua rápida adaptação ao solo e ao clima, o produto (B) em que o texto foi produzido.
adquiriu importância no mercado, e, conquanto, transformou-se (C) em que o leitor vai ler a reportagem.
em um dos principais itens de exportação, desde o Império até (D) em que a dengue foi extinta na cidade de São Paulo.
os dias atuais. (E) em que começaram a ser registrados os casos da doença.
(E) O produto transformou-se, desde o Império até os dias
atuais, em um dos principais itens de exportação por que sua Respostas
adaptação ao solo e ao clima foi rápida. 1. (B)
O item que reproduz o enunciado de maneira adequada é: O
2. (TJ-PA - MÉDICO PSIQUIATRA - VUNESP - 2014). Leia o produto, em virtude de sua rápida adaptação ao solo e ao clima,
trecho do primeiro parágrafo para responder à questão. adquiriu importância no mercado e transformou-se em um dos
principais itens de exportação, desde o Império até os dias atuais.
Meu amigo lusitano, Diniz, está traduzindo para o francês

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APOSTILAS OPÇÃO
2. (B) Dissertação
Muito interessantes / bem difícil = ambos os advérbios
mantêm relação com adjetivos, dando-lhes noção de intensidade.
Expõe um tema, explica, avalia, classifica, analisa;
3. (B) É um tipo de texto argumentativo.
Nas alternativas A, C, D e E são apresentadas conjunções
adversativas – que nos dão ideia contrária à apresentada Defesa de um argumento:
anteriormente; já na B, temos uma conjunção conclusiva (assim). a) apresentação de uma tese que será defendida,
b) desenvolvimento ou argumentação,
4. (D) c) fechamento;
I. O termo “Mas” é classificado como conjunção subordinativa Predomínio da linguagem objetiva;
= é conjunção coordenativa adversativa
II. Classifica-se o termo “quando” como conjunção Prevalece a denotação.
subordinativa que exprime circunstância temporal = correta
III. Acentua-se o “u” tônico do hiato existente na palavra Carta
“conteúdo” = correta
IV. “Os termos “conteúdo”, “hora” e “prova” são palavras Esse é um tipo de texto que se caracteriza por envolver um
invariáveis, classificadas como substantivos = são substantivos, remetente e um destinatário;
mas variáveis (conteúdos, horas e provas. Lembrando que
“prova” e “provas” podem ser verbo: Ele prova todos os doces! É normalmente escrita em primeira pessoa, e sempre visa um
Tu provas também?) tipo de leitor;
É necessário que se utilize uma linguagem adequada com
5. (B) o tipo de destinatário e que durante a carta não se perca a
O ano em questão corresponde ao ano em que foi feita a visão daquele para quem o texto está sendo escrito.
matéria.
Descrição

Tipologia textual; É a representação com palavras de um objeto, lugar, situação


ou coisa, onde procuramos mostrar os traços mais particulares
ou individuais do que se descreve. É qualquer elemento que seja
apreendido pelos sentidos e transformado, com palavras, em
Tipos Textuais imagens.
Sempre que se expõe com detalhes um objeto, uma pessoa
Para escrever um texto, necessitamos de técnicas que ou uma paisagem a alguém, está fazendo uso da descrição. Não
implicam no domínio de capacidades linguísticas. Temos dois é necessário que seja perfeita, uma vez que o ponto de vista do
momentos: o de formular pensamentos (o que se quer dizer) observador varia de acordo com seu grau de percepção. Dessa
e o de expressá-los por escrito (o escrever propriamente dito). forma, o que será importante ser analisado para um, não será
Fazer um texto, seja ele de que tipo for, não significa apenas para outro.
escrever de forma correta, mas sim, organizar ideias sobre A vivência de quem descreve também influencia na hora de
determinado assunto. transmitir a impressão alcançada sobre determinado objeto,
E para expressarmos por escrito, existem alguns modelos de pessoa, animal, cena, ambiente, emoção vivida ou sentimento.
expressão escrita: Descrição – Narração – Dissertação.
Exemplos:
Descrição (I) “De longe via a aleia onde a tarde era clara e redonda. Mas
a penumbra dos ramos cobria o atalho.
Expõe características dos seres ou das coisas, apresenta uma Ao seu redor havia ruídos serenos, cheiro de árvores,
visão; pequenas surpresas entre os cipós. Todo o jardim triturado
pelos instantes já mais apressados da tarde. De onde vinha o
É um tipo de texto figurativo; meio sonho pelo qual estava rodeada? Como por um zunido de
Retrato de pessoas, ambientes, objetos; abelhas e aves. Tudo era estranho, suave demais, grande demais.”

Predomínio de atributos; (extraído de “Amor”, Laços de Família, Clarice Lispector)


Uso de verbos de ligação;
(II) Chamava-se Raimundo este pequeno, e era mole,
Frequente emprego de metáforas, comparações e outras aplicado, inteligência tarda. Raimundo gastava duas horas em
figuras de linguagem; reter aquilo que a outros levava apenas trinta ou cinquenta
Tem como resultado a imagem física ou psicológica. minutos; vencia com o tempo o que não podia fazer logo com o
cérebro. Reunia a isso grande medo ao pai. Era uma criança fina,
Narração pálida, cara doente; raramente estava alegre. Entrava na escola
depois do pai e retiravase antes. O mestre era mais severo com
ele do que conosco.
Expõe um fato, relaciona mudanças de situação, aponta
antes, durante e depois dos acontecimentos (geralmente); (Machado de Assis. “Conto de escola”. Contos. 3ed. São
Paulo, Ática, 1974, págs. 3132.)
É um tipo de texto sequencial;
Relato de fatos; Esse texto traça o perfil de Raimundo, o filho do professor da
escola que o escritor frequentava.
Presença de narrador, personagens, enredo, cenário, tempo;
Deve-se notar:
Apresentação de um conflito; - que todas as frases expõem ocorrências simultâneas (ao
mesmo tempo que gastava duas horas para reter aquilo que os
Uso de verbos de ação;
outros levavam trinta ou cinquenta minutos, Raimundo tinha
Geralmente, é mesclada de descrições; grande medo ao pai);
- por isso, não existe uma ocorrência que possa ser
O diálogo direto é frequente.
considerada cronologicamente anterior a outra do ponto de
vista do relato (no nível dos acontecimentos, entrar na escola é

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APOSTILAS OPÇÃO
cronologicamente anterior a retirar-se dela; no nível do relato, Recursos:
porém, a ordem dessas duas ocorrências é indiferente: o que o - Usar impressões cromáticas (cores) e sensações térmicas.
escritor quer é explicitar uma característica do menino, e não Ex: O dia transcorria amarelo, frio, ausente do calor alegre do
traçar a cronologia de suas ações); sol.
- ainda que se fale de ações (como entrava, retirava-se), todas - Usar o vigor e relevo de palavras fortes, próprias, exatas,
elas estão no pretérito imperfeito, que indica concomitância em concretas. Ex: As criaturas humanas transpareciam um céu
relação a um marco temporal instalado no texto (no caso, o ano sereno, uma pureza de cristal.
de 1840, em que o escritor frequentava a escola da Rua da Costa) - As sensações de movimento e cor embelezam o poder da
e, portanto, não denota nenhuma transformação de estado; natureza e a figura do homem. Ex: Era um verde transparente
- se invertêssemos a sequência dos enunciados, não que deslumbrava e enlouquecia qualquer um.
correríamos o risco de alterar nenhuma relação cronológica - A frase curta e penetrante dá um sentido de rapidez do
poderíamos mesmo colocar o últímo período em primeiro lugar texto. Ex: Vida simples. Roupa simples. Tudo simples. O pessoal,
e ler o texto do fim para o começo: O mestre era mais severo com muito crente.
ele do que conosco. Entrava na escola depois do pai e retirava-se
antes... A descrição pode ser apresentada sob duas formas:
Descrição Objetiva: quando o objeto, o ser, a cena, a passagem
Características: são apresentadas como realmente são, concretamente. Ex: “Sua
- Ao fazer a descrição enumeramos características, altura é 1,85m. Seu peso, 70 kg. Aparência atlética, ombros largos,
comparações e inúmeros elementos sensoriais; pele bronzeada. Moreno, olhos negros, cabelos negros e lisos”.
- As personagens podem ser caracterizadas física e Não se dá qualquer tipo de opinião ou julgamento. Exemplo:
psicologicamente, ou pelas ações; “ A casa velha era enorme, toda em largura, com porta central
- A descrição pode ser considerada um dos elementos que se alcançava por três degraus de pedra e quatro janelas de
constitutivos da dissertação e da argumentação; guilhotina para cada lado. Era feita de pau-a-pique barreado,
- é impossível separar narração de descrição; dentro de uma estrutura de cantos e apoios de madeira-de-lei.
- O que se espera não é tanto a riqueza de detalhes, mas sim a Telhado de quatro águas. Pintada de roxo-claro. Devia ser mais
capacidade de observação que deve revelar aquele que a realiza; velha que Juiz de Fora, provavelmente sede de alguma fazenda
- Utilizam, preferencialmente, verbos de ligação. Exemplo: que tivesse ficado, capricho da sorte, na linha de passagem da
“(...) Ângela tinha cerca de vinte anos; parecia mais velha pelo variante do Caminho Novo que veio a ser a Rua Principal, depois
desenvolvimento das proporções. Grande, carnuda, sanguínea a Rua Direita – sobre a qual ela se punha um pouco de esguelha
e fogosa, era um desses exemplares excessivos do sexo que e fugindo ligeiramente do alinhamento (...).” (Pedro Nava – Baú
parecem conformados expressamente para esposas da multidão de Ossos)
(...)” (Raul Pompéia – O Ateneu);
- Como na descrição o que se reproduz é simultâneo, não Descrição Subjetiva: quando há maior participação da
existe relação de anterioridade e posterioridade entre seus emoção, ou seja, quando o objeto, o ser, a cena, a paisagem são
enunciados; transfigurados pela emoção de quem escreve, podendo opinar
- Devem-se evitar os verbos e, se isso não for possível, que ou expressar seus sentimentos. Ex: “Nas ocasiões de aparato é
se usem então as formas nominais, o presente e o pretério que se podia tomar pulso ao homem. Não só as condecorações
imperfeito do indicativo, dando-se sempre preferência aos gritavam-lhe no peito como uma couraça de grilos. Ateneu! Ateneu!
verbos que indiquem estado ou fenômeno. Aristarco todo era um anúncio; os gestos, calmos, soberanos,
- Todavia deve predominar o emprego das comparações, dos calmos, eram de um rei...” (“O Ateneu”, Raul Pompéia)
adjetivos e dos advérbios, que conferem colorido ao texto. “(...) Quando conheceu Joca Ramiro, então achou outra
esperança maior: para ele, Joca Ramiro era único homem, par-
A característica fundamental de um texto descritivo é essa de-frança, capaz de tomar conta deste sertão nosso, mandando
inexistência de progressão temporal. Pode-se apresentar, numa por lei, de sobregoverno.”
descrição, até mesmo ação ou movimento, desde que eles sejam (Guimarães Rosa – Grande Sertão: Veredas)
sempre simultâneos, não indicando progressão de uma situação
anterior para outra posterior. Tanto é que uma das marcas Os efeitos de sentido criados pela disposição dos elementos
linguísticas da descrição é o predomínio de verbos no presente descritivos:
ou no pretérito imperfeito do indicativo: o primeiro expressa Como se disse anteriormente, do ponto de vista da progressão
concomitância em relação ao momento da fala; o segundo, em temporal, a ordem dos enunciados na descrição é indiferente,
relação a um marco temporal pretérito instalado no texto. uma vez que eles indicam propriedades ou características que
Para transformar uma descrição numa narração, bastaria ocorrem simultaneamente. No entanto, ela não é indiferente do
introduzir um enunciado que indicasse a passagem de um ponto de vista dos efeitos de sentido: descrever de cima para
estado anterior para um posterior. No caso do texto II inicial, baixo ou viceversa, do detalhe para o todo ou do todo para o
para transformá-lo em narração, bastaria dizer: Reunia a isso detalhe cria efeitos de sentido distintos.
grande medo do pai. Mais tarde, Iibertou-se desse medo... Observe os dois quartetos do soneto “Retrato Próprio”, de
Bocage:
Características Linguísticas:
O enunciado narrativo, por ter a representação de Magro, de olhos azuis, carão moreno,
um acontecimento, fazer-transformador, é marcado pela bem servido de pés, meão de altura,
temporalidade, na relação situação inicial e situação final, triste de facha, o mesmo de figura,
enquanto que o enunciado descritivo, não tendo transformação, nariz alto no meio, e não pequeno.
é atemporal.
Na dimensão linguística, destacam-se marcas sintático- Incapaz de assistir num só terreno,
semânticas encontradas no texto que vão facilitar a compreensão: mais propenso ao furor do que à ternura;
- Predominância de verbos de estado, situação ou indicadores bebendo em níveas mãos por taça escura
de propriedades, atitudes, qualidades, usados principalmente de zelos infernais letal veneno.
no presente e no imperfeito do indicativo (ser, estar, haver,
situar-se, existir, ficar). Obras de Bocage. Porto, Lello & Irmão,1968, pág. 497.
- Ênfase na adjetivação para melhor caracterizar o que é
descrito; O poeta descreve-se das características físicas para as
- Emprego de figuras (metáforas, metonímias, comparações, características morais. Se fizesse o inverso, o sentido não seria
sinestesias). o mesmo, pois as características físicas perderiam qualquer
- Uso de advérbios de localização espacial. relevo.

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APOSTILAS OPÇÃO
O objetivo de um texto descritivo é levar o leitor a - Desenvolvimento: análise das características físicas,
visualizar uma cena. É como traçar com palavras o retrato de associadas às características psicológicas (2ª parte).
um objeto, lugar, pessoa etc., apontando suas características - Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter
exteriores, facilmente identificáveis (descrição objetiva), ou geral.
suas características psicológicas e até emocionais (descrição
subjetiva). A descrição, ao contrário da narrativa, não supõe ação. É uma
Uma descrição deve privilegiar o uso frequente de adjetivos, estrutura pictórica, em que os aspectos sensoriais predominam.
também denominado adjetivação. Para facilitar o aprendizado Porque toda técnica descritiva implica contemplação e
desta técnica, sugere-se que o concursando, após escrever seu apreensão de algo objetivo ou subjetivo, o redator, ao descrever,
texto, sublinhe todos os substantivos, acrescentando antes ou precisa possuir certo grau de sensibilidade. Assim como o pintor
depois deste um adjetivo ou uma locução adjetiva. capta o mundo exterior ou interior em suas telas, o autor de uma
descrição focaliza cenas ou imagens, conforme o permita sua
Descrição de objetos constituídos de uma só parte: sensibilidade.
- Introdução: observações de caráter geral referentes à
procedência ou localização do objeto descrito. Conforme o objetivo a alcançar, a descrição pode ser não-
- Desenvolvimento: detalhes (lª parte) formato (comparação literária ou literária. Na descrição não-literária, há maior
com figuras geométricas e com objetos semelhantes); dimensões preocupação com a exatidão dos detalhes e a precisão vocabular.
(largura, comprimento, altura, diâmetro etc.) Por ser objetiva, há predominância da denotação.
- Desenvolvimento: detalhes (2ª parte) material, peso, cor/
brilho, textura. Textos descritivos não-literários: A descrição técnica é
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua um tipo de descrição objetiva: ela recria o objeto usando uma
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto linguagem científica, precisa. Esse tipo de texto é usado para
como um todo. descrever aparelhos, o seu funcionamento, as peças que os
compõem, para descrever experiências, processos, etc.
Descrição de objetos constituídos por várias partes: Exemplo:
- Introdução: observações de caráter geral referentes à Folheto de propaganda de carro
procedência ou localização do objeto descrito. Conforto interno - É impossível falar de conforto sem incluir
- Desenvolvimento: enumeração e rápidos comentários das o espaço interno. Os seus interiores são amplos, acomodando
partes que compõem o objeto, associados à explicação de como tranquilamente passageiros e bagagens. O Passat e o Passat
as partes se agrupam para formar o todo. Variant possuem direção hidráulica e ar condicionado de
- Desenvolvimento: detalhes do objeto visto como um todo elevada capacidade, proporcionando a climatização perfeita do
(externamente) formato, dimensões, material, peso, textura, cor ambiente.
e brilho. Porta-malas - O compartimento de bagagens possui
- Conclusão: observações de caráter geral referentes a sua capacidade de 465 litros, que pode ser ampliada para até 1500
utilidade ou qualquer outro comentário que envolva o objeto em litros, com o encosto do banco traseiro rebaixado.
sua totalidade. Tanque - O tanque de combustível é confeccionado em
plástico reciclável e posicionado entre as rodas traseiras, para
Descrição de ambientes: evitar a deformação em caso de colisão.
- Introdução: comentário de caráter geral.
- Desenvolvimento: detalhes referentes à estrutura global do Textos descritivos literários: Na descrição literária
ambiente: paredes, janelas, portas, chão, teto, luminosidade e predomina o aspecto subjetivo, com ênfase no conjunto de
aroma (se houver). associações conotativas que podem ser exploradas a partir de
- Desenvolvimento: detalhes específicos em relação a objetos descrições de pessoas; cenários, paisagens, espaço; ambientes;
lá existentes: móveis, eletrodomésticos, quadros, esculturas ou situações e coisas. Vale lembrar que textos descritivos também
quaisquer outros objetos. podem ocorrer tanto em prosa como em verso.
- Conclusão: observações sobre a atmosfera que paira no
ambiente. Narração

Descrição de paisagens: A Narração é um tipo de texto que relata uma história real,
- Introdução: comentário sobre sua localização ou qualquer fictícia ou mescla dados reais e imaginários. O texto narrativo
outra referência de caráter geral. apresenta personagens que atuam em um tempo e em um
- Desenvolvimento: observação do plano de fundo espaço, organizados por uma narração feita por um narrador.
(explicação do que se vê ao longe). É uma série de fatos situados em um espaço e no tempo,
- Desenvolvimento: observação dos elementos mais tendo mudança de um estado para outro, segundo relações
próximos do observador explicação detalhada dos elementos de sequencialidade e causalidade, e não simultâneos como na
que compõem a paisagem, de acordo com determinada ordem. descrição. Expressa as relações entre os indivíduos, os conflitos e
- Conclusão: comentários de caráter geral, concluindo acerca as ligações afetivas entre esses indivíduos e o mundo, utilizando
da impressão que a paisagem causa em quem a contempla. situações que contêm essa vivência.
Todas as vezes que uma história é contada (é narrada),
Descrição de pessoas (I): o narrador acaba sempre contando onde, quando, como e
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer com quem ocorreu o episódio. É por isso que numa narração
aspecto de caráter geral. predomina a ação: o texto narrativo é um conjunto de ações;
- Desenvolvimento: características físicas (altura, peso, cor assim sendo, a maioria dos verbos que compõem esse tipo de
da pele, idade, cabelos, olhos, nariz, boca, voz, roupas). texto são os verbos de ação. O conjunto de ações que compõem
- Desenvolvimento: características psicológicas o texto narrativo, ou seja, a história que é contada nesse tipo de
(personalidade, temperamento, caráter, preferências, texto recebe o nome de enredo.
inclinações, postura, objetivos). As ações contidas no texto narrativo são praticadas pelas
- Conclusão: retomada de qualquer outro aspecto de caráter personagens, que são justamente as pessoas envolvidas
geral. no episódio que está sendo contado. As personagens são
identificadas (nomeadas) no texto narrativo pelos substantivos
Descrição de pessoas (II): próprios.
- Introdução: primeira impressão ou abordagem de qualquer Quando o narrador conta um episódio, às vezes (mesmo sem
aspecto de caráter geral. querer) ele acaba contando “onde” (em que lugar)  as ações do
- Desenvolvimento: análise das características físicas, enredo foram realizadas pelas personagens. O lugar onde ocorre
associadas às características psicológicas (1ª parte). uma ação ou ações  é chamado de espaço, representado no texto

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APOSTILAS OPÇÃO
pelos advérbios de lugar. - Complicação: é a parte do texto em que se inicia
Além de contar onde, o narrador também pode esclarecer propriamente a ação. Encadeados, os episódios se sucedem,
“quando” ocorreram as ações da história. Esse elemento da conduzindo ao clímax.
narrativa é o tempo, representado no texto narrativo através - Clímax: é o ponto da narrativa em que a ação atinge seu
dos tempos verbais, mas principalmente pelos advérbios de momento crítico, tornando o desfecho inevitável.
tempo. É o tempo que ordena as ações no texto narrativo: é ele - Desfecho: é a solução do conflito produzido pelas ações
que indica ao leitor “como” o fato narrado aconteceu. dos personagens.
A história contada, por isso, passa por uma introdução
(parte inicial da história, também chamada de prólogo), pelo Tipos de Personagens:
desenvolvimento do enredo (é a história propriamente dita, Os personagens têm muita importância na construção de um
o meio, o “miolo” da narrativa, também chamada de trama) texto narrativo, são elementos vitais. Podem ser principais ou
e termina com a conclusão da história (é o final ou epílogo). secundários, conforme o papel que desempenham no enredo,
Aquele que conta a história é o narrador,  que pode ser pessoal podem ser apresentados direta ou indiretamente.
(narra em 1ª pessoa: Eu) ou impessoal (narra em 3ª pessoa: A apresentação direta acontece quando o personagem
Ele). aparece de forma clara no texto, retratando suas características
Assim, o texto narrativo é sempre estruturado por verbos físicas e/ou psicológicas, já a apresentação indireta se dá quando
de ação, por advérbios de tempo, por advérbios de lugar e pelos os personagens aparecem aos poucos e o leitor vai construindo
substantivos que nomeiam as personagens, que são os agentes a sua imagem com o desenrolar do enredo, ou seja, a partir de
do texto, ou seja, aquelas pessoas que fazem as ações expressas suas ações, do que ela vai fazendo e do modo como vai fazendo.
pelos verbos, formando uma rede: a própria história contada.
Tudo na narrativa depende do narrador, da voz que conta a - Em 1ª pessoa:
história. Personagem Principal: há um “eu” participante que conta a
história e é o protagonista.
Elementos Estruturais (I): Observador: é como se dissesse: É verdade, pode acreditar,
- Enredo: desenrolar dos acontecimentos. eu estava lá e vi.
- Personagens: são seres que se movimentam, se relacionam
e dão lugar à trama que se estabelece na ação. Revelam-se por - Em 3ª pessoa:
meio de características físicas ou psicológicas. Os personagens
podem ser lineares (previsíveis), complexos, tipos sociais Onisciente: não há um eu que conta; é uma terceira pessoa.
(trabalhador, estudante, burguês etc.) ou tipos humanos (o Narrador Objetivo: não se envolve, conta a história como
medroso, o tímido, o avarento etc.), heróis ou antiheróis, sendo vista por uma câmara ou filmadora. Exemplo:
protagonistas ou antagonistas.
- Narrador: é quem conta a história. Tipos de Discurso:
- Espaço: local da ação. Pode ser físico ou psicológico. Discurso Direto: o narrador passa a palavra diretamente
- Tempo: época em que se passa a ação. Cronológico: o para o personagem, sem a sua interferência.
tempo convencional (horas, dias, meses); Psicológico: o tempo Discurso Indireto: o narrador conta o que o personagem
interior, subjetivo. diz, sem lhe passar diretamente a palavra.
Discurso Indireto-Livre: ocorre uma fusão entre a fala do
Elementos Estruturais (II): personagem e a fala do narrador. É um recurso relativamente
Personagens Quem? Protagonista/Antagonista recente. Surgiu com romancistas inovadores do século XX.
Acontecimento O quê? Fato
Tempo Quando? Época em que ocorreu o fato Sequência Narrativa:
Espaço Onde? Lugar onde ocorreu o fato Uma narrativa não tem uma única mudança, mas várias:
Modo Como? De que forma ocorreu o fato uma coordenase a outra, uma implica a outra, uma subordinase
Causa Por quê? Motivo pelo qual ocorreu o fato a outra.
Resultado - previsível ou imprevisível. A narrativa típica tem quatro mudanças de situação:
Final - Fechado ou Aberto. - uma em que uma personagem passa a ter um querer ou um
dever (um desejo ou uma necessidade de fazer algo);
Esses elementos estruturais combinam-se e articulam-se - uma em que ela adquire um saber ou um poder (uma
de tal forma, que não é possível compreendê-los isoladamente, competência para fazer algo);
como simples exemplos de uma narração. Há uma relação - uma em que a personagem executa aquilo que queria ou
de implicação mútua entre eles, para garantir coerência e devia fazer (é a mudança principal da narrativa);
verossimilhança à história narrada. - uma em que se constata que uma transformação se deu e
Quanto aos elementos da narrativa, esses não estão, em que se podem atribuir prêmios ou castigos às personagens
obrigatoriamente sempre presentes no discurso, exceto as (geralmente os prêmios são para os bons, e os castigos, para os
personagens ou o fato a ser narrado. maus).

Existem três tipos de foco narrativo: Toda narrativa tem essas quatro mudanças, pois elas se
pressupõem logicamente. Com efeito, quando se constata a
- Narrador-personagem: é aquele que conta a história na realização de uma mudança é porque ela se verificou, e ela
qual é participante. Nesse caso ele é narrador e personagem ao efetuase porque quem a realiza pode, sabe, quer ou deve fazêla.
mesmo tempo, a história é contada em 1ª pessoa. Tomemos, por exemplo, o ato de comprar um apartamento:
- Narrador-observador: é aquele que conta a história como quando se assina a escritura, realizase o ato de compra; para
alguém que observa tudo que acontece e transmite ao leitor, a isso, é necessário poder (ter dinheiro) e querer ou dever
história é contada em 3ª pessoa. comprar (respectivamente, querer deixar de pagar aluguel ou
- Narrador-onisciente: é o que sabe tudo sobre o enredo ter necessidade de mudar, por ter sido despejado, por exemplo).
e as personagens, revelando seus pensamentos e sentimentos Algumas mudanças são necessárias para que outras se
íntimos. Narra em 3ª pessoa e sua voz, muitas vezes, aparece deem. Assim, para apanhar uma fruta, é necessário apanhar um
misturada com pensamentos dos personagens (discurso bambu ou outro instrumento para derrubála. Para ter um carro,
indireto livre). é preciso antes conseguir o dinheiro.

Estrutura: Narrativa e Narração


- Apresentação: é a parte do texto em que são apresentados Existe alguma diferença entre as duas? Sim. A narratividade
alguns personagens e expostas algumas circunstâncias da é um componente narrativo que pode existir em textos que
história, como o momento e o lugar onde a ação se desenvolverá. não são narrações. A narrativa é a transformação de situações.

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APOSTILAS OPÇÃO
Por exemplo, quando se diz “Depois da abolição, incentivouse Considerarei longamente meu pequeno deserto, a redondeza
a imigração de europeus”, temos um texto dissertativo, que, escura e uniforme dos seixos. Seria o leito seco de algum rio. Não
no entanto, apresenta um componente narrativo, pois contém havia, em todo o caso, como negarlhe a insipidez.”
uma mudança de situação: do não incentivo ao incentivo da
imigração européia. (Linda, Ieda. As amazonas segundo tio Hermann. Porto
Se a narrativa está presente em quase todos os tipos de texto, Alegre: Movimento, 1981, p. 51)
o que é narração?
A narração é um tipo de narrativa. Tem ela três características: Exemplo - Tempo
- é um conjunto de transformações de situação (o texto de
Manuel Bandeira – “Porquinho-da-índia”, como vimos, preenche “Sete da manhã. Honorato Madeira acorda e lembrase: a
essa condição); mulher lhe pediu que a chamasse cedo.”
- é um texto figurativo, isto é, opera com personagens e fatos
concretos (o texto “Porquinho-daíndia» preenche também esse (Veríssimo, Érico. Caminhos Cruzados. p.4)
requisito);
- as mudanças relatadas estão organizadas de maneira tal Tipologia da Narrativa Ficcional:
que, entre elas, existe sempre uma relação de anterioridade e - Romance
posterioridade (no texto “Porquinhodaíndia» o fato de ganhar - Conto
o animal é anterior ao de ele estar debaixo do fogão, que por - Crônica
sua vez é anterior ao de o menino leválo para a sala, que por seu - Fábula
turno é anterior ao de o porquinhoda-índia voltar ao fogão). - Lenda
- Parábola
Essa relação de anterioridade e posterioridade é sempre - Anedota
pertinente num texto narrativo, mesmo que a sequência linear - Poema Épico
da temporalidade apareça alterada. Assim, por exemplo, no
romance machadiano Memórias póstumas de Brás Cubas, Tipologia da Narrativa NãoFiccional:
quando o narrador começa contando sua morte para em - Memorialismo
seguida relatar sua vida, a sequência temporal foi modificada. - Notícias
No entanto, o leitor reconstitui, ao longo da leitura, as relações - Relatos
de anterioridade e de posterioridade. - História da Civilização
Resumindo: na narração, as três características explicadas
acima (transformação de situações, figuratividade e relações Apresentação da Narrativa:
de anterioridade e posterioridade entre os episódios relatados) - visual: texto escrito; legendas + desenhos (história em
devem estar presentes conjuntamente. Um texto que tenha só quadrinhos) e desenhos.
uma ou duas dessas características não é uma narração. - auditiva: narrativas radiofonizadas; fitas gravadas e discos.
- audiovisual: cinema; teatro e narrativas televisionadas.
Esquema que pode facilitar a elaboração de seu texto
narrativo: Dissertação
- Introdução: citar o fato, o tempo e o lugar, ou seja, o que
aconteceu, quando e onde. A dissertação é uma exposição, discussão ou interpretação
- Desenvolvimento: causa do fato e apresentação dos de uma determinada ideia. É, sobretudo, analisar algum tema.
personagens. Pressupõe um exame crítico do assunto, lógica, raciocínio,
- Desenvolvimento: detalhes do fato. clareza, coerência, objetividade na exposição, um planejamento
- Conclusão: consequências do fato. de trabalho e uma habilidade de expressão.
É em função da capacidade crítica que se questionam
Caracterização Formal: pontos da realidade social, histórica e psicológica do mundo
Em geral, a narrativa se desenvolve na prosa. O aspecto e dos semelhantes. Vemos também, que a dissertação no seu
narrativo apresenta, até certo ponto, alguma subjetividade, significado diz respeito a um tipo de texto em que a exposição
porquanto a criação e o colorido do contexto estão em função de uma ideia, através de argumentos, é feita com a finalidade
da individualidade e do estilo do narrador. Dependendo do de desenvolver um conteúdo científico, doutrinário ou artístico.
enfoque do redator, a narração terá diversas abordagens. Assim Observe-se que:
é de grande importância saber se o relato é feito em primeira - o texto é temático, pois analisa e interpreta a realidade
pessoa ou terceira pessoa. No primeiro caso, há a participação com conceitos abstratos e genéricos (não se fala de um homem
do narrador; segundo, há uma inferência do último através da particular e do que faz para chegar a ser primeiroministro, mas
onipresença e onisciência. do homem em geral e de todos os métodos para atingir o poder);
Quanto à temporalidade, não há rigor na ordenação dos - existe mudança de situação no texto (por exemplo, a
acontecimentos: esses podem oscilar no tempo, transgredindo mudança de atitude dos que clamam contra a corrupção da corte
o aspecto linear e constituindo o que se denomina “flashback”. no momento em que se tornam primeirosministros);
O narrador que usa essa técnica (característica comum no - a progressão temporal dos enunciados não tem importância,
cinema moderno) demonstra maior criatividade e originalidade, pois o que importa é a relação de implicação (clamar contra a
podendo observar as ações ziguezagueando no tempo e no corrupção da corte implica ser corrupto depois da nomeação
espaço. para primeiroministro).

Exemplo - Personagens Características:


- ao contrário do texto narrativo e do descritivo, ele é
“Aboletado na varanda, lendo Graciliano Ramos, O Dr. temático;
Amâncio não viu a mulher chegar. - como o texto narrativo, ele mostra mudanças de situação;
Não quer que se carpa o quintal, moço? - ao contrário do texto narrativo, nele as relações de
Estava um caco: mal vestida, cheirando a fumaça, a face anterioridade e de posterioridade dos enunciados não têm maior
escalavrada. Mas os olhos... (sempre guardam alguma coisa do importância o que importa são suas relações lógicas: analogia,
passado, os olhos).” pertinência, causalidade, coexistência, correspondência,
(Kiefer, Charles. A dentadura postiça. Porto Alegre: Mercado implicação, etc.
Aberto, p. 5O) - a estética e a gramática são comuns a todos os tipos de
redação. Já a estrutura, o conteúdo e a estilística possuem
Exemplo - Espaço características próprias a cada tipo de texto.
 

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APOSTILAS OPÇÃO
São partes da dissertação: Introdução / Desenvolvimento - Causa e Consequência: estruturar o texto através dos
/ Conclusão. porquês de uma determinada situação.
- Oposição: abordar um assunto de forma dialética.
Introdução: em que se apresenta o assunto; se apresenta a - Exemplificação: dar exemplos.
ideia principal, sem, no entanto, antecipar seu desenvolvimento.
Tipos: Conclusão: é uma avaliação final do assunto, um fechamento
- Divisão: quando há dois ou mais termos a serem discutidos. integrado de tudo que se argumentou. Para ela convergem todas
Ex: “Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que as ideias anteriormente desenvolvidas.
olha de dentro para fora, outra que olha de fora para dentro...” - Conclusão Fechada: recupera a ideia da tese.
- Alusão Histórica: um fato passado que se relaciona a um - Conclusão Aberta: levanta uma hipótese, projeta um
fato presente. Ex: “A crise econômica que teve início no começo pensamento ou faz uma proposta, incentivando a reflexão de
dos anos 80, com os conhecidos altos índices de inflação que quem lê.
a década colecionou, agravou vários dos históricos problemas
sociais do país. Entre eles, a violência, principalmente a urbana, 1º Parágrafo – Introdução
cuja escalada tem sido facilmente identificada pela população
brasileira.” A. Tema: Desemprego no Brasil.
- Proposição: o autor explicita seus objetivos. Contextualização: decorrência de um processo histórico
- Convite: proposta ao leitor para que participe de alguma problemático.
coisa apresentada no texto. Ex: Você quer estar “na sua”? Quer
se sentir seguro, ter o sucesso pretendido? Não entre pelo cano! 2º ao 6º Parágrafo – Desenvolvimento
Faça parte desse time de vencedores desde a escolha desse
momento! B. Argumento 1: Exploram-se dados da realidade que
- Contestação: contestar uma ideia ou uma situação. Ex: “É remetem a uma análise do tema em questão.
importante que o cidadão saiba que portar arma de fogo não é a C. Argumento 2: Considerações a respeito de outro dado da
solução no combate à insegurança.” realidade.
- Características: caracterização de espaços ou aspectos. D. Argumento 3: Coloca-se sob suspeita a sinceridade de
- Estatísticas: apresentação de dados estatísticos. Ex: quem propõe soluções.
“Em 1982, eram 15,8 milhões os domicílios brasileiros com E. Argumento 4: Uso do raciocínio lógico de oposição.
televisores. Hoje, são 34 milhões (o sexto maior parque de
aparelhos receptores instalados do mundo). Ao todo, existem 7º Parágrafo: Conclusão
no país 257 emissoras (aquelas capazes de gerar programas) e F. Uma possível solução é apresentada.
2.624 repetidoras (que apenas retransmitem sinais recebidos). G. O texto conclui que desigualdade não se casa com
(...)” modernidade.
- Declaração Inicial: emitir um conceito sobre um fato.
- Citação: opinião de alguém de destaque sobre o assunto do É bom lembrarmos que é praticamente impossível opinar
texto. Ex: “A principal característica do déspota encontra-se no sobre o que não se conhece. A leitura de bons textos é um dos
fato de ser ele o autor único e exclusivo das normas e das regras recursos que permite uma segurança maior no momento de
que definem a vida familiar, isto é, o espaço privado. Seu poder, dissertar sobre algum assunto. Debater e pesquisar são atitudes
escreve Aristóteles, é arbitrário, pois decorre exclusivamente de que favorecem o senso crítico, essencial no desenvolvimento de
sua vontade, de seu prazer e de suas necessidades.” um texto dissertativo.
- Definição: desenvolve-se pela explicação dos termos que
compõem o texto. Ainda temos:
- Interrogação: questionamento. Ex: “Volta e meia se faz a Tema: compreende o assunto proposto para discussão, o
pergunta de praxe: afinal de contas, todo esse entusiasmo pelo assunto que vai ser abordado.
futebol não é uma prova de alienação?” Título: palavra ou expressão que sintetiza o conteúdo
- Suspense: alguma informação que faça aumentar a discutido.
curiosidade do leitor. Argumentação: é um conjunto de procedimentos
- Comparação: social e geográfica. linguísticos com os quais a pessoa que escreve sustenta suas
- Enumeração: enumerar as informações. Ex: “Ação à opiniões, de forma a torná-las aceitáveis pelo leitor. É fornecer
distância, velocidade, comunicação, linha de montagem, triunfo argumentos, ou seja, razões a favor ou contra uma determinada
das massas, Holocausto: através das metáforas e das realidades tese.
que marcaram esses 100 últimos anos, aparece a verdadeira
doença do século...” Estes assuntos serão vistos com mais afinco posteriormente.
- Narração: narrar um fato.
Alguns pontos essenciais desse tipo de texto são:
Desenvolvimento: é a argumentação da ideia inicial, - toda dissertação é uma demonstração, daí a necessidade de
de forma organizada e progressiva. É a parte maior e mais pleno domínio do assunto e habilidade de argumentação;
importante do texto. Podem ser desenvolvidos de várias formas: - em consequência disso, impõem-se à fidelidade ao tema;
- Trajetória Histórica: cultura geral é o que se prova com - a coerência é tida como regra de ouro da dissertação;
este tipo de abordagem. - impõem-se sempre o raciocínio lógico;
- Definição: não basta citar, mas é preciso desdobrar a ideia - a linguagem deve ser objetiva, denotativa; qualquer
principal ao máximo, esclarecendo o conceito ou a definição. ambiguidade pode ser um ponto vulnerável na demonstração
- Comparação: estabelecer analogias, confrontar situações do que se quer expor. Deve ser clara, precisa, natural, original,
distintas. nobre, correta gramaticalmente. O discurso deve ser impessoal
- Bilateralidade: quando o tema proposto apresenta pontos (evitar-se o uso da primeira pessoa).
favoráveis e desfavoráveis.
- Ilustração Narrativa ou Descritiva: narrar um fato ou O parágrafo é a unidade mínima do texto e deve apresentar:
descrever uma cena. uma frase contendo a ideia principal (frase nuclear) e uma ou
- Cifras e Dados Estatísticos: citar cifras e dados estatísticos. mais frases que explicitem tal ideia.
- Hipótese: antecipa uma previsão, apontando para Exemplo: “A televisão mostra uma realidade idealizada
prováveis resultados. (ideia central) porque oculta os problemas sociais realmente
- Interrogação: Toda sucessão de interrogações deve graves. (ideia secundária)”.
apresentar questionamento e reflexão. Vejamos:
- Refutação: questiona-se praticamente tudo: conceitos, Ideia central: A poluição atmosférica deve ser combatida
valores, juízos. urgentemente.

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APOSTILAS OPÇÃO
Desenvolvimento: A poluição atmosférica deve ser Explicitação: Num parágrafo dissertativo pode-se
combatida urgentemente, pois a alta concentração de elementos conceituar, exemplificar e aclarar as ideias para torná-las mais
tóxicos põe em risco a vida de milhares de pessoas, sobretudo compreensíveis.
daquelas que sofrem de problemas respiratórios: Exemplo: “Artéria é um vaso que leva sangue proveniente do
coração para irrigar os tecidos. Exceto no cordão umbilical e na
- A propaganda intensiva de cigarros e bebidas tem levado ligação entre os pulmões e o coração, todas as artérias contém
muita gente ao vício. sangue vermelho-vivo, recém-oxigenado. Na artéria pulmonar,
- A televisão é um dos mais eficazes meios de comunicação porém, corre sangue venoso, mais escuro e desoxigenado, que o
criados pelo homem. coração remete para os pulmões para receber oxigênio e liberar
- A violência tem aumentado assustadoramente nas cidades gás carbônico”.
e hoje parece claro que esse problema não pode ser resolvido
apenas pela polícia. Antes de se iniciar a elaboração de uma dissertação, deve
- O diálogo entre pais e filhos parece estar em crise delimitar-se o tema que será desenvolvido e que poderá ser
atualmente. enfocado sob diversos aspectos. Se, por exemplo, o tema é a
- O problema dos sem-terra preocupa cada vez mais a questão indígena, ela poderá ser desenvolvida a partir das
sociedade brasileira. seguintes ideias:

O parágrafo pode processar-se de diferentes maneiras: - A violência contra os povos indígenas é uma constante na
história do Brasil.
Enumeração: Caracteriza-se pela exposição de uma série de - O surgimento de várias entidades de defesa das populações
coisas, uma a uma. Presta-se bem à indicação de características, indígenas.
funções, processos, situações, sempre oferecendo o complemento - A visão idealizada que o europeu ainda tem do índio
necessário à afirmação estabelecida na frase nuclear. Pode-se brasileiro.
enumerar, seguindo-se os critérios de importância, preferência, - A invasão da Amazônia e a perda da cultura indígena.
classificação ou aleatoriamente.
Exemplo: Depois de delimitar o tema que você vai desenvolver, deve
fazer a estruturação do texto.
1- O adolescente moderno está se tornando obeso por várias
causas: alimentação inadequada, falta de exercícios sistemáticos A estrutura do texto dissertativo constitui-se de:
e demasiada permanência diante de computadores e aparelhos
de Televisão. Introdução: deve conter a ideia principal a ser desenvolvida
(geralmente um ou dois parágrafos). É a abertura do texto, por
2- Devido à expansão das igrejas evangélicas, é grande o isso é fundamental. Deve ser clara e chamar a atenção para dois
número de emissoras que dedicam parte da sua programação à itens básicos: os objetivos do texto e o plano do desenvolvimento.
veiculação de programas religiosos de crenças variadas. Contém a proposição do tema, seus limites, ângulo de análise e a
hipótese ou a tese a ser defendida.
3- Desenvolvimento: exposição de elementos que vão
- A Santa Missa em seu lar. fundamentar a ideia principal que pode vir especificada
- Terço Bizantino. através da argumentação, de pormenores, da ilustração, da
- Despertar da Fé. causa e da consequência, das definições, dos dados estatísticos,
- Palavra de Vida. da ordenação cronológica, da interrogação e da citação. No
- Igreja da Graça no Lar. desenvolvimento são usados tantos parágrafos quantos
forem necessários para a completa exposição da ideia. E esses
4- parágrafos podem ser estruturados das cinco maneiras expostas
- Inúmeras são as dificuldades com que se defronta o governo acima.
brasileiro diante de tantos desmatamentos, desequilíbrios Conclusão: é a retomada da ideia principal, que agora deve
sociológicos e poluição. aparecer de forma muito mais convincente, uma vez que já
- Existem várias razões que levam um homem a enveredar foi fundamentada durante o desenvolvimento da dissertação
pelos caminhos do crime. (um parágrafo). Deve, pois, conter de forma sintética, o
- A gravidez na adolescência é um problema seríssimo, objetivo proposto na instrução, a confirmação da hipótese
porque pode trazer muitas consequências indesejáveis. ou da tese, acrescida da argumentação básica empregada no
- O lazer é uma necessidade do cidadão para a sua desenvolvimento.
sobrevivência no mundo atual e vários são os tipos de lazer.
- O Novo Código Nacional de trânsito divide as faltas em
várias categorias. Significação das palavras;

Comparação: A frase nuclear pode-se desenvolver através


da comparação, que confronta ideias, fatos, fenômenos e
apresenta-lhes a semelhança ou dessemelhança. Significação das palavras
Exemplo:
Na língua portuguesa, uma PALAVRA (do latim parabola, que
“A juventude é uma infatigável aspiração de felicidade; a por sua vez deriva do grego parabolé) pode ser definida como
velhice, pelo contrário, é dominada por um vago e persistente sendo um conjunto de letras ou sons de uma língua, juntamente
sentimento de dor, porque já estamos nos convencendo de que a com a ideia associada a este conjunto.
felicidade é uma ilusão, que só o sofrimento é real”.
(Arthur Schopenhauer) Sinônimos: são palavras de sentido igual ou aproximado.
Exemplo:
Causa e Consequência: A frase nuclear, muitas vezes, - Alfabeto, abecedário.
encontra no seu desenvolvimento um segmento causal (fato - Brado, grito, clamor.
motivador) e, em outras situações, um segmento indicando - Extinguir, apagar, abolir, suprimir.
consequências (fatos decorrentes). - Justo, certo, exato, reto, íntegro, imparcial.
Na maioria das vezes não é indiferente usar um sinônimo
Tempo e Espaço: Muitos parágrafos dissertativos marcam pelo outro. Embora irmanados pelo sentido comum, os
temporal e espacialmente a evolução de ideias, processos. sinônimos diferenciam-se, entretanto, uns dos outros, por
matizes de significação e certas propriedades que o escritor não

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pode desconhecer. Com efeito, estes têm sentido mais amplo, - Pomos (substantivo), pomos (verbo pôr).
aqueles, mais restrito (animal e quadrúpede); uns são próprios - Alude (avalancha), alude (verbo aludir).
da fala corrente, desataviada, vulgar, outros, ao invés, pertencem
à esfera da linguagem culta, literária, científica ou poética Parônimos: são palavras parecidas na escrita e na
(orador e tribuno, oculista e oftalmologista, cinzento e cinéreo). pronúncia: Coro e couro, cesta e sesta, eminente e iminente,
A contribuição Greco-latina é responsável pela existência, tetânico e titânico, atoar e atuar, degradar e degredar, cético e
em nossa língua, de numerosos pares de sinônimos. Exemplos: séptico, prescrever e proscrever, descrição e discrição, infligir
- Adversário e antagonista. (aplicar) e infringir (transgredir), osso e ouço, sede (vontade
- Translúcido e diáfano. de beber) e cede (verbo ceder), comprimento e cumprimento,
- Semicírculo e hemiciclo. deferir (conceder, dar deferimento) e diferir (ser diferente,
- Contraveneno e antídoto. divergir, adiar), ratificar (confirmar) e retificar (tornar reto,
- Moral e ética. corrigir), vultoso (volumoso, muito grande: soma vultosa) e
- Colóquio e diálogo. vultuoso (congestionado: rosto vultuoso).
- Transformação e metamorfose.
- Oposição e antítese. Polissemia: Uma palavra pode ter mais de uma significação.
O fato linguístico de existirem sinônimos chama-se sinonímia, A esse fato linguístico dá-se o nome de polissemia. Exemplos:
palavra que também designa o emprego de sinônimos. - Mangueira: tubo de borracha ou plástico para regar as
plantas ou apagar incêndios; árvore frutífera; grande curral de
Antônimos: são palavras de significação oposta. Exemplos: gado.
- Ordem e anarquia. - Pena: pluma, peça de metal para escrever; punição; dó.
- Soberba e humildade. - Velar: cobrir com véu, ocultar, vigiar, cuidar, relativo ao véu
- Louvar e censurar. do palato.
- Mal e bem. Podemos citar ainda, como exemplos de palavras
polissêmicas, o verbo dar e os substantivos linha e ponto, que
A antonímia pode originar-se de um prefixo de sentido têm dezenas de acepções.
oposto ou negativo. Exemplos: Bendizer/maldizer, simpático/
antipático, progredir/regredir, concórdia/discórdia, explícito/ Sentido Próprio e Figurado das Palavras
implícito, ativo/inativo, esperar/desesperar, comunista/ Pela própria definição acima destacada podemos perceber
anticomunista, simétrico/assimétrico, pré-nupcial/pós-nupcial. que a palavra é composta por duas partes, uma delas relacionada
a sua forma escrita e os seus sons (denominada significante) e a
Homônimos: são palavras que têm a mesma pronúncia, e às outra relacionada ao que ela (palavra) expressa, ao conceito que
vezes a mesma grafia, mas significação diferente. Exemplos: ela traz (denominada significado).
- São (sadio), são (forma do verbo ser) e são (santo). Em relação ao seu SIGNIFICADO as palavras subdividem-se
- Aço (substantivo) e asso (verbo). assim:
Só o contexto é que determina a significação dos homônimos. - Sentido Próprio - é o sentido literal, ou seja, o sentido comum
A homonímia pode ser causa de ambiguidade, por isso é que costumamos dar a uma palavra.
considerada uma deficiência dos idiomas. - Sentido Figurado -  é o sentido  “simbólico”,  “figurado”, que
O que chama a atenção nos homônimos é o seu aspecto podemos dar a uma palavra.
fônico (som) e o gráfico (grafia). Daí serem divididos em: Vamos analisar a palavra  cobra utilizada em diferentes
contextos:
Homógrafos Heterofônicos: iguais na escrita e diferentes 1. A cobra picou o menino. (cobra = tipo de réptil peçonhento)
no timbre ou na intensidade das vogais. 2. A sogra dele é uma cobra. (cobra = pessoa desagradável, que
- Rego (substantivo) e rego (verbo). adota condutas pouco apreciáveis)
- Colher (verbo) e colher (substantivo). 3. O cara é cobra em Física! (cobra = pessoa que conhece muito
- Jogo (substantivo) e jogo (verbo). sobre alguma coisa, “expert”)
- Apoio (verbo) e apoio (substantivo). No item 1 aplica-se o termo cobra em seu sentido comum
- Para (verbo parar) e para (preposição). (ou literal); nos itens 2 e 3 o termo cobra é aplicado em sentido
- Providência (substantivo) e providencia (verbo). figurado.
- Às (substantivo), às (contração) e as (artigo). Podemos então concluir que um mesmo significante (parte
- Pelo (substantivo), pelo (verbo) e pelo (contração de concreta) pode ter vários significados (conceitos).
per+o).
Fonte:
Homófonos Heterográficos: iguais na pronúncia e http://www.tecnolegis.com/estudo-dirigido/oficial-de-justica-tjm-
diferentes na escrita. sp/lingua-portuguesa-sentido-proprio-e-figurado-das-palavras.html
- Acender (atear, pôr fogo) e ascender (subir).
- Concertar (harmonizar) e consertar (reparar, emendar). Denotação e Conotação
- Concerto (harmonia, sessão musical) e conserto (ato de - Denotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o
consertar). seu significado primitivo e original, com o sentido do dicionário;
- Cegar (tornar cego) e segar (cortar, ceifar). usada de modo automatizado; linguagem comum. Veja este
- Apreçar (determinar o preço, avaliar) e apressar (acelerar). exemplo:
- Cela (pequeno quarto), sela (arreio) e sela (verbo selar). Cortaram as asas da ave para que não voasse mais.
- Censo (recenseamento) e senso (juízo). Aqui a palavra em destaque é utilizada em seu sentido
- Cerrar (fechar) e serrar (cortar). próprio, comum, usual, literal.
- Paço (palácio) e passo (andar). - DICA - Procure associar Denotação com Dicionário: trata-
- Hera (trepadeira) e era (época), era (verbo). se de definição literal, quando o termo é utilizado em seu sentido
- Caça (ato de caçar), cassa (tecido) e cassa (verbo cassar = dicionarístico.
anular). - Conotação: verifica-se quando utilizamos a palavra com o
- Cessão (ato de ceder), seção (divisão, repartição) e sessão seu significado secundário, com o sentido amplo (ou simbólico);
(tempo de uma reunião ou espetáculo). usada de modo criativo, figurado, numa linguagem rica e
expressiva. Veja este exemplo:
Homófonos Homográficos: iguais na escrita e na pronúncia. Seria aconselhável cortar as asas deste menino, antes que
- Caminhada (substantivo), caminhada (verbo). seja tarde mais.
- Cedo (verbo), cedo (advérbio). Já neste caso o termo (asas) é empregado de forma figurada,
- Somem (verbo somar), somem (verbo sumir). fazendo alusão à ideia de restrição e/ou controle de ações;
- Livre (adjetivo), livre (verbo livrar). disciplina, limitação de conduta e comportamento.

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Questões Em qual das alternativas abaixo NÃO há um par de sinônimos?
a) Armistício – destruição
01. McLuhan já alertava que a aldeia global resultante das b) Claudicante – manco
mídias eletrônicas não implica necessariamente harmonia, c) Reveses – infortúnios
implica, sim, que cada participante das novas mídias terá um d) Fealdade – feiura
envolvimento gigantesco na vida dos demais membros, que terá e) Opilados – desnutridos
a chance de meter o bedelho onde bem quiser e fazer o uso que
quiser das informações que conseguir. A aclamada transparência 03. Atento ao emprego dos Homônimos, analise as palavras
da coisa pública carrega consigo o risco de fim da privacidade sublinhadas e identifique a alternativa CORRETA: 
e a superexposição de nossas pequenas ou grandes fraquezas a) Ainda vivemos no Brasil a  descriminação  racial. Isso é
morais ao julgamento da comunidade de que escolhemos crime! 
participar. b) Com a crise política, a renúncia já parecia eminente.
Não faz sentido falar de dia e noite das redes sociais, apenas c) Descobertas as manobras fiscais, os políticos irão
em número de atualizações nas páginas e na capacidade dos agora expiar seus crimes. 
usuários de distinguir essas variações como relevantes no d) Em todos os momentos, para agir corretamente, é preciso
conjunto virtualmente infinito das possibilidades das redes. Para o bom censo. 
achar o fio de Ariadne no labirinto das redes sociais, os usuários e) Prefiro macarronada com molho, mas sem  estrato de
precisam ter a habilidade de identificar e estimar parâmetros, tomate. 
aprender a extrair informações relevantes de um conjunto finito
de observações e reconhecer a organização geral da rede de que 04. Assinale a alternativa em que as palavras podem servir
participam. de exemplos de parônimos:
O fluxo de informação que percorre as artérias das redes a) Cavaleiro (Homem a cavalo) – Cavalheiro (Homem gentil).
sociais é um poderoso fármaco viciante. Um dos neologismos b) São (sadio) – São (Forma reduzida de Santo).
recentes vinculados à dependência cada vez maior dos jovens c) Acento (sinal gráfico) – Assento (superfície onde se senta).
a esses dispositivos é a “nomobofobia” (ou “pavor de ficar sem d) Nenhuma das alternativas.
conexão no telefone celular”), descrito como a ansiedade e o
sentimento de pânico experimentados por um número crescente 05. Na língua portuguesa, há muitas palavras parecidas,
de pessoas quando acaba a bateria do dispositivo móvel ou seja no modo de falar ou no de escrever. A palavra sessão, por
quando ficam sem conexão com a Internet. Essa informação, exemplo, assemelha-se às palavras cessão e seção, mas cada
como toda nova droga, ao embotar a razão e abrir os poros da uma apresenta sentido diferente. Esse caso, mesmo som, grafias
sensibilidade, pode tanto ser um remédio quanto um veneno diferentes, denomina-se homônimo homófono. Assinale a
para o espírito. alternativa em que todas as palavras se encontram nesse caso.
(Vinicius Romanini, Tudo azul no universo das redes. a) taxa, cesta, assento
Revista USP, no 92. Adaptado) b) conserto, pleito, ótico
c) cheque, descrição, manga
As expressões destacadas nos trechos –  meter o bedelho d) serrar, ratificar, emergir
/ estimar  parâmetros / embotar a razão – têm sinônimos
adequados respectivamente em: Respostas
a) procurar / gostar de / ilustrar 01. B\02. A\03. C\04. A\05. A
b) imiscuir-se / avaliar / enfraquecer
c) interferir / propor / embrutecer
d) intrometer-se / prezar / esclarecer
Emprego das classes de
e) contrapor-se / consolidar / iluminar palavras;

02. A entrada dos prisioneiros foi comovedora (...) Os


combatentes contemplavam-nos entristecidos. Surpreendiam- Classes de Palavras
se; comoviam-se. O arraial, in extremis, punhalhes adiante,
naquele armistício transitório, uma legião desarmada, Artigo
mutilada faminta e claudicante, num assalto mais duro que o
das trincheiras em fogo. Custava-lhes admitir que toda aquela Artigo é a palavra que, vindo antes de um substantivo, indica
gente inútil e frágil saísse tão numerosa ainda dos casebres se ele está sendo empregado de maneira definida ou indefinida.
bombardeados durante três meses. Contemplando-lhes os Além disso, o artigo indica, ao mesmo tempo, o gênero e o
rostos baços, os arcabouços esmirrados e sujos, cujos molambos número dos substantivos.
em tiras não encobriam lanhos, escaras e escalavros – a vitória
tão longamente apetecida decaía de súbito. Repugnava aquele Classificação dos Artigos
triunfo. Envergonhava. Era, com efeito, contraproducente
compensação a tão luxuosos gastos de combates, de reveses e de Artigos Definidos: determinam os substantivos de maneira
milhares de vidas, o apresamento daquela caqueirada humana – precisa: o, a, os, as. Por exemplo: Eu matei o animal.
do mesmo passo angulhenta e sinistra, entre trágica e imunda,
passando-lhes pelos olhos, num longo enxurro de carcaças e Artigos Indefinidos:  determinam os substantivos
molambos... de maneira vaga:  um, uma, uns, umas. Por exemplo: Eu
Nem um rosto viril, nem um braço capaz de suspender matei um animal.
uma arma, nem um peito resfolegante de campeador domado:
mulheres, sem-número de mulheres, velhas espectrais, Combinação dos Artigos
moças envelhecidas, velhas e moças indistintas na mesma É muito presente a combinação dos artigos definidos e
fealdade, escaveiradas e sujas, filhos escanchados nos quadris indefinidos com preposições. Este quadro apresenta a forma
desnalgados, filhos encarapitados às costas, filhos suspensos assumida por essas combinações:
aos peitos murchos, filhos arrastados pelos braços, passando;
crianças, sem-número de crianças; velhos, sem-número de Preposições Artigos
velhos; raros homens, enfermos opilados, faces túmidas e - o, os
mortas, de cera, bustos dobrados, andar cambaleante.
a ao, aos
(CUNHA, Euclides da. Os sertões: campanha de Canudos. de do, dos
Edição Especial. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1980.)
em no, nos

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Morfossintaxe
por (per) pelo, pelos
a, as um, uns uma, umas Para definir o que é artigo é preciso mencionar suas relações
com o substantivo. Assim, nas orações da língua portuguesa,
à, às - -
o artigo exerce a função de adjunto adnominal do substantivo
da, das dum, duns duma, dumas a que se refere. Tal função independe da função exercida pelo
substantivo:
na, nas num, nuns numa, numas
pela, pelas - - A existência é uma poesia.
Uma existência é a poesia.
- As formas à e às indicam a fusão da preposição  a com o
artigo definido a. Essa fusão de vogais idênticas é conhecida Questões
por crase.
01. Determine o caso em que o artigo tem valor qualificativo:
Constatemos as circunstâncias em que os artigos se A) Estes são os candidatos que lhe falei.
manifestam: B) Procure-o, ele é o médico! Ninguém o supera.
C) Certeza e exatidão, estas qualidades não as tenho.
- Considera-se obrigatório o uso do artigo depois do numeral D) Os problemas que o afligem não me deixam descuidado.
“ambos”: E) Muito é a procura; pouca é a oferta.
Ambos os garotos decidiram participar das olimpíadas.
02. Em qual dos casos o artigo denota familiaridade?
- Nomes próprios indicativos de lugar admitem o uso do A) O Amazonas é um rio imenso.
artigo, outros não: B) D. Manuel, o Venturoso, era bastante esperto.
São Paulo, O Rio de Janeiro, Veneza, A Bahia... C) O Antônio comunicou-se com o João.
D) O professor João Ribeiro está doente.
- Quando indicado no singular, o artigo definido pode indicar E) Os Lusíadas são um poema épico
toda uma espécie:
O trabalho dignifica o homem. 03.Assinale a alternativa em que o uso do artigo está
substantivando uma palavra.
- No caso de nomes próprios personativos, denotando a ideia A) A liberdade vai marcar a poesia social de Castro Alves.
de familiaridade ou afetividade, é facultativo o uso do artigo: B) Leitor perspicaz é aquele que consegue ler as entrelinhas.
O Pedro é o xodó da família. C) A navalha ia e vinha no couro esticado.
D) Haroldo ficou encantado com o andar de bailado de Joana.
- No caso de os nomes próprios personativos estarem no E) Bárbara dirigia os olhos para a lua encantada.
plural, são determinados pelo uso do artigo:
Os Maias, os Incas, Os Astecas... Respostas
1-B / 2-C / 3-D
- Usa-se o artigo depois do pronome indefinido todo(a) para
conferir uma ideia de totalidade. Sem o uso dele (o artigo), o Substantivo
pronome assume a noção de qualquer.
Toda a classe parabenizou o professor. (a sala toda) Tudo o que existe é ser e cada ser tem um nome. Substantivo é
Toda classe possui alunos interessados e desinteressados. a classe gramatical de palavras variáveis, as quais denominam
(qualquer classe) os seres. Além de objetos, pessoas e fenômenos, os substantivos
também nomeiam:
- Antes de pronomes possessivos, o uso do artigo é facultativo: -lugares: Alemanha, Porto Alegre...
Adoro o meu vestido longo. Adoro meu vestido longo. -sentimentos: raiva, amor...
- A utilização do artigo indefinido pode indicar uma ideia de -estados: alegria, tristeza...
aproximação numérica: -qualidades: honestidade, sinceridade...
O máximo que ele deve ter é uns vinte anos. -ações: corrida, pescaria...

- O artigo também é usado para substantivar palavras Morfossintaxe do substantivo


oriundas de outras classes gramaticais:
Não sei o porquê de tudo isso. Nas orações de língua portuguesa, o substantivo em geral
exerce funções diretamente relacionadas com o verbo: atua
- Nunca deve ser usado artigo depois do pronome relativo como núcleo do sujeito, dos complementos verbais (objeto
cujo (e flexões). direto ou indireto) e do agente da passiva. Pode ainda funcionar
Este é o homem cujo amigo desapareceu. como núcleo do complemento nominal ou do aposto, como
Este é o autor cuja obra conheço. núcleo do predicativo do sujeito ou do objeto ou como núcleo
do vocativo. Também encontramos substantivos como núcleos
- Não se deve usar artigo antes das palavras casa (no sentido de adjuntos adnominais e de adjuntos adverbiais - quando essas
de lar, moradia) e terra (no sentido de chão firme), a menos que funções são desempenhadas por grupos de palavras. 
venham especificadas.
Eles estavam em casa. Classificação dos Substantivos
Eles estavam na casa dos amigos.
Os marinheiros permaneceram em terra. 1-  Substantivos Comuns e Próprios
Os marinheiros permanecem na terra dos anões. Observe a definição:

- Não se emprega artigo antes dos pronomes de tratamento, s.f. 1: Povoação maior que vila, com muitas casas e edifícios,
com exceção de senhor(a), senhorita e dona. dispostos em ruas e avenidas (no Brasil, toda a sede de município
Vossa excelência resolverá os problemas de Sua Senhoria. é cidade). 2. O centro de uma cidade (em oposição aos bairros).
Qualquer “povoação maior que vila, com muitas casas e
- Não se une com preposição o artigo que faz parte do nome edifícios, dispostos em ruas e avenidas” será chamada  cidade.
de revistas, jornais, obras literárias. Isso significa que a palavra cidade é um substantivo comum.
Li a notícia em O Estado de S. Paulo. Substantivo Comum é aquele que designa os seres de uma
mesma espécie de forma genérica.

Língua Portuguesa 19
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APOSTILAS OPÇÃO
cidade, menino, homem, mulher, país, cachorro. O substantivo guarda-chuva é formado por dois elementos
(guarda + chuva). Esse substantivo é composto.
Estamos voando para Barcelona. Substantivo Composto: é aquele formado por dois ou mais
elementos.
O substantivo Barcelona designa apenas um ser da espécie Outros exemplos: beija-flor, passatempo.
cidade. Esse substantivo é  próprio. Substantivo Próprio:  é  
aquele que designa os seres de uma mesma espécie de forma Substantivos Primitivos e Derivados
particular. Meu limão meu limoeiro,
meu pé de jacarandá...
Londres, Paulinho, Pedro, Tietê, Brasil.
O substantivo limão é primitivo, pois não se originou de
2 - Substantivos Concretos e Abstratos nenhum outro dentro de língua portuguesa.
Substantivo Primitivo: é aquele que não deriva de nenhuma
LÂMPADA MALA outra palavra da própria língua portuguesa.
O substantivo limoeiro é derivado, pois se originou a partir
Os substantivos lâmpada e mala  designam seres com da palavra limão.
existência própria, que são independentes de outros seres. São Substantivo Derivado:  é aquele que se origina de outra
assim, substantivos concretos. palavra.
Substantivo Concreto: é aquele que designa o ser que existe,
independentemente de outros seres. Flexão dos substantivos
O substantivo é uma classe variável. A palavra é variável
quando sofre flexão (variação). A palavra menino, por exemplo,
Obs.: os substantivos concretos designam seres do mundo pode sofrer variações para indicar:
real e do mundo imaginário. Plural: meninos
Feminino: menina
Seres do mundo real: homem, mulher, cadeira, cobra, Brasília, Aumentativo: meninão
etc. Diminutivo: menininho
Seres do mundo imaginário: saci, mãe-d’água, fantasma, etc.
  Flexão de Gênero
Observe agora: Gênero  é a propriedade que as palavras têm de indicar
sexo real ou fictício dos seres. Na língua portuguesa,
Beleza exposta há dois gêneros:  masculino  e  feminino. Pertencem ao
Jovens atrizes veteranas destacam-se pelo visual. gênero masculino os substantivos que podem vir precedidos dos
artigos o, os, um, uns. Veja estes títulos de filmes:
O substantivo beleza designa uma qualidade. O velho e o mar
Substantivo Abstrato:  é aquele que designa seres que Um Natal inesquecível
dependem de outros para se manifestar ou existir. Os reis da praia
Pense bem: a beleza não existe por si só, não pode ser  
observada. Só podemos observar a beleza numa pessoa ou coisa Pertencem ao gênero feminino os substantivos que podem
que seja bela. A beleza depende de outro ser para se manifestar. vir precedidos dos artigos a, as, uma, umas:
Portanto, a palavra beleza é um substantivo abstrato. A história sem fim
Os substantivos abstratos designam estados, qualidades, Uma cidade sem passado
ações e sentimentos dos seres, dos quais podem ser abstraídos, As tartarugas ninjas
e sem os quais não podem existir.
vida (estado), rapidez (qualidade), viagem (ação), saudade Substantivos Biformes e Substantivos Uniformes
(sentimento).  
Substantivos Biformes (= duas formas):  ao indicar nomes
3 - Substantivos Coletivos de seres vivos, geralmente o gênero da palavra está relacionado
Ele vinha pela estrada e foi picado por uma abelha, outra ao sexo do ser, havendo, portanto, duas formas, uma para o
abelha, mais outra abelha. masculino e outra para o feminino. Observe: gato – gata, homem
Ele vinha pela estrada e foi picado por várias abelhas. – mulher, poeta – poetisa, prefeito - prefeita
Ele vinha pela estrada e foi picado por um enxame.
Substantivos Uniformes: são aqueles que apresentam uma
Note que, no primeiro caso, para indicar plural, foi necessário única forma, que serve tanto para o masculino quanto para o
repetir o substantivo: uma abelha, outra abelha, mais outra feminino. Classificam-se em:
abelha... - Epicenos: têm um só gênero e nomeiam bichos.
No segundo caso, utilizaram-se duas palavras no plural. a cobra macho e a cobra fêmea, o jacaré macho e o jacaré
No terceiro caso, empregou-se um substantivo no singular fêmea.
(enxame) para designar um conjunto de seres da mesma espécie - Sobrecomuns: têm um só gênero e nomeiam pessoas.
(abelhas). a criança, a testemunha, a vítima, o cônjuge, o gênio, o ídolo,
O substantivo enxame é um substantivo coletivo. o indivíduo.
Substantivo Coletivo:  é o substantivo comum que, mesmo - Comuns de Dois Gêneros: indicam o sexo das pessoas por
estando no singular, designa um conjunto de seres da mesma meio do artigo.
espécie. o colega e a colega, o doente e a doente, o artista e a artista.
Formação dos Substantivos Saiba que:
Substantivos Simples e Compostos - Substantivos de origem grega terminados em ema ou oma,
são masculinos.
Chuva - subst. Fem. 1 - água caindo em gotas sobre a terra. o axioma, o fonema, o poema, o sistema, o sintoma, o teorema.
- Existem certos substantivos que, variando de gênero,
O substantivo chuva é formado por um único elemento ou variam em seu significado.
radical. É um substantivo simples. o rádio (aparelho receptor) e a rádio (estação emissora) o
Substantivo Simples:  é aquele formado por um único capital (dinheiro) e a capital (cidade)
elemento.
Outros substantivos simples: tempo, sol, sofá, etc. Veja agora:

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APOSTILAS OPÇÃO
Formação do Feminino dos Substantivos Biformes um jovem - uma jovem
a) Regra geral: troca-se a terminação -o por -a. artista famoso - artista famosa
aluno - aluna
- A palavra personagem é usada indistintamente nos dois
b) Substantivos terminados em -ês: acrescenta-se -a ao gêneros.
masculino. a) Entre os escritores modernos nota-se acentuada
freguês - freguesa preferência pelo masculino:
O menino descobriu nas nuvens os personagens dos contos de
c) Substantivos terminados em -ão: fazem o feminino de três carochinha.
formas: b) Com referência a mulher, deve-se preferir o feminino:
- troca-se -ão por -oa. = patrão – patroa O problema está nas mulheres de mais idade, que não aceitam
- troca-se -ão por -ã. = campeão - campeã a personagem.
- troca-se -ão por ona. = solteirão - solteirona Não cheguei assim, nem era minha intenção, a criar uma
personagem.
Exceções: barão – baronesa ladrão- ladra sultão - sultana - Diz-se: o (ou a) manequim Marcela, o (ou a) modelo
fotográfico Ana Belmonte.
d) Substantivos terminados em -or:
- acrescenta-se -a ao masculino = doutor – doutora Observe o gênero dos substantivos seguintes:
- troca-se -or por -triz: = imperador - imperatriz
Masculinos
e) Substantivos com feminino em -esa, -essa, -isa: o tapa
cônsul - consulesa abade - abadessa poeta - poetisa o eclipse
duque - duquesa conde - condessa profeta - profetisa o lança-perfume
o dó (pena)
f) Substantivos que formam o feminino trocando o -e final o sanduíche
por -a: o clarinete
elefante - elefanta o champanha
o sósia
g) Substantivos que têm radicais diferentes no masculino e o maracajá
no feminino: o clã
bode – cabra boi - vaca o hosana
o herpes
h) Substantivos que formam o feminino de maneira especial, o pijama
isto é, não seguem nenhuma das regras anteriores:
czar – czarina réu - ré Femininos
a dinamite
Formação do Feminino dos Substantivos Uniformes a áspide
a derme
- Epicenos: a hélice
Novo jacaré escapa de policiais no rio Pinheiros. a alcíone
Não é possível saber o sexo do jacaré em questão. Isso ocorre a filoxera
porque o substantivo jacaré tem apenas uma forma para indicar a clâmide
o masculino e o feminino. a omoplata
Alguns nomes de animais apresentam uma só forma para a cataplasma
designar os dois sexos. Esses substantivos são chamados de a pane
epicenos. No caso dos epicenos, quando houver a necessidade a mascote
de especificar o sexo, utilizam-se palavras macho e fêmea. a gênese
A cobra macho picou o marinheiro. a entorse
A cobra fêmea escondeu-se na bananeira. a libido

Sobrecomuns: - São geralmente masculinos os substantivos de origem


grega terminados em -ma:
Entregue as crianças à natureza. o grama (peso)
A palavra crianças refere-se tanto a seres do sexo masculino, o quilograma
quanto a seres do sexo feminino. Nesse caso, nem o artigo nem o plasma
um possível adjetivo permitem identificar o sexo dos seres a que o apostema
se refere a palavra. Veja: o diagrama
A criança chorona chamava-se João. o epigrama
A criança chorona chamava-se Maria. o telefonema
Outros substantivos sobrecomuns: o estratagema
a criatura = João é uma boa criatura. Maria é uma boa o dilema
criatura. o teorema
o cônjuge = O cônjuge de João faleceu. O o apotegma
cônjuge de Marcela faleceu o trema
o eczema
Comuns de Dois Gêneros: o edema
o magma
Motorista tem acidente idêntico 23 anos depois.
Quem sofreu o acidente: um homem ou uma mulher? Exceções: a cataplasma, a celeuma, a fleuma, etc.
É impossível saber apenas pelo título da notícia, uma vez
que a palavra motorista é um substantivo uniforme. O restante Gênero dos Nomes de Cidades:
da notícia informa-nos de que se trata de um homem.
A distinção de gênero pode ser feita através da análise do Com raras exceções, nomes de cidades são femininos.
artigo ou adjetivo, quando acompanharem o substantivo. A histórica Ouro Preto.
o colega - a colega A dinâmica São Paulo.

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APOSTILAS OPÇÃO
A acolhedora Porto Alegre. Exceção: cânon - cânones.
Uma Londres imensa e triste.
b) Os substantivos terminados em “m” fazem o plural em
Exceções: o Rio de Janeiro, o Cairo, o Porto, o Havre. “ns”.
homem - homens.
Gênero e Significação:
c) Os substantivos terminados em “r” e “z” fazem o plural
Muitos substantivos têm uma significação no masculino e pelo acréscimo de “es”.
outra no feminino. revólver – revólveres raiz - raízes
Observe: Atenção: O plural de caráter é caracteres.

o baliza (soldado que, que à frente da tropa, indica os d) Os substantivos terminados em al, el, ol, ul flexionam-se
movimentos que se deve realizar em conjunto; o que vai à frente no plural, trocando o “l” por “is”.
de um bloco carnavalesco, manejando um bastão) quintal - quintais caracol – caracóis hotel - hotéis
a baliza (marco, estaca; sinal que marca um limite ou Exceções: mal e males, cônsul e cônsules.
proibição de trânsito)
o cabeça (chefe) e) Os substantivos terminados em “il” fazem o plural de duas
a cabeça (parte do corpo) maneiras:
- Quando oxítonos, em “is”: canil - canis
o cisma (separação religiosa, dissidência) - Quando paroxítonos, em “eis”: míssil - mísseis.
a cisma (ato de cismar, desconfiança) Obs.: a palavra réptil pode formar seu plural de duas
maneiras: répteis ou reptis (pouco usada).
o cinza (a cor cinzenta)
a cinza (resíduos de combustão) f) Os substantivos terminados em “s” fazem o plural de duas
maneiras:
o capital (dinheiro) - Quando monossilábicos ou oxítonos, mediante o acréscimo
a capital (cidade) de “es”: ás – ases / retrós - retroses
- Quando paroxítonos ou proparoxítonos, ficam invariáveis:
o coma (perda dos sentidos) o lápis - os lápis / o ônibus - os ônibus.
a coma (cabeleira)
g) Os substantivos terminados em “ao” fazem o plural de três
o coral (pólipo, a cor vermelha, canto em coro) maneiras.
a coral (cobra venenosa) - substituindo o -ão por -ões: ação - ações
- substituindo o -ão por -ães: cão - cães
o crisma (óleo sagrado, usado na administração da crisma e - substituindo o -ão por -ãos: grão - grãos
de outros sacramentos) h) Os substantivos terminados em “x” ficam invariáveis: o
a crisma (sacramento da confirmação) látex - os látex.

o cura (pároco) Plural dos Substantivos Compostos


a cura (ato de curar) A formação do plural dos substantivos compostos depende
da forma como são grafados, do tipo de palavras que formam
o estepe (pneu sobressalente) o composto e da relação que estabelecem entre si. Aqueles que
a estepe (vasta planície de vegetação) são grafados sem hífen comportam-se como os substantivos
simples:
o guia (pessoa que guia outras) aguardente e aguardentes girassol e girassóis
a guia (documento, pena grande das asas das aves) pontapé e pontapés malmequer e malmequeres

o grama (unidade de peso) O plural dos substantivos compostos cujos elementos são
a grama (relva) ligados por hífen costuma provocar muitas dúvidas e discussões.
Algumas orientações são dadas a seguir:
o caixa (funcionário da caixa)
a caixa (recipiente, setor de pagamentos) a) Flexionam-se os dois elementos, quando formados de:
substantivo + substantivo = couve-flor e couves-flores
o lente (professor) substantivo + adjetivo = amor-perfeito e amores-perfeitos
a lente (vidro de aumento) adjetivo + substantivo = gentil-homem e gentis-homens
numeral + substantivo = quinta-feira e quintas-feiras
o moral (ânimo)
a moral (honestidade, bons costumes, ética) b) Flexiona-se somente o segundo elemento, quando
formados de:
o nascente (lado onde nasce o Sol) verbo + substantivo = guarda-roupa e guarda-roupas
a nascente (a fonte) palavra invariável + palavra variável = alto-falante e alto-
falantes
Flexão de Número do Substantivo palavras repetidas ou imitativas = reco-reco e reco-recos

Em português, há dois números gramaticais: o singular, que c) Flexiona-se somente o primeiro elemento, quando
indica um ser ou um grupo de seres, e formados de:
o plural, que indica mais de um ser ou grupo de seres. A substantivo + preposição clara + substantivo = água-de-
característica do plural é o “s” final. colônia e águas-de-colônia
substantivo + preposição oculta + substantivo = cavalo-
Plural dos Substantivos Simples vapor e cavalos-vapor
substantivo + substantivo que funciona como determinante
a) Os substantivos terminados em vogal, ditongo oral e “n” do primeiro, ou seja, especifica a função ou o tipo do termo
fazem o plural pelo acréscimo de “s”. anterior.
pai – pais ímã - ímãs hífen - hifens (sem acento, no palavra-chave - palavras-chave
plural). bomba-relógio - bombas-relógio

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APOSTILAS OPÇÃO
notícia-bomba - notícias-bomba corpo (ô) corpos (ó) osso (ô) ossos (ó)
homem-rã - homens-rã esforço esforços ovo ovos
fogo fogos poço poços
d) Permanecem invariáveis, quando formados de: forno fornos porto portos
verbo + advérbio = o bota-fora e os bota-fora fosso fossos posto postos
verbo + substantivo no plural = o saca-rolhas e os saca-rolhas imposto impostos rogo rogos
olho olhos tijolo tijolos
e) Casos Especiais
o louva-a-deus e os louva-a-deus
o bem-te-vi e os bem-te-vis Têm a vogal tônica fechada (ô): adornos, almoços, bolsos,
o bem-me-quer e os bem-me-queres esposos, estojos, globos, gostos, polvos, rolos, soros, etc.
o joão-ninguém e os joões-ninguém. Obs.: distinga-se molho (ô) = caldo (molho de carne), de
molho (ó) = feixe (molho de lenha).
Plural das Palavras Substantivadas
Particularidades sobre o Número dos Substantivos
As palavras substantivadas, isto é, palavras de outras classes
gramaticais usadas como substantivo, apresentam, no plural, as a) Há substantivos que só se usam no singular:
flexões próprias dos substantivos. o sul, o norte, o leste, o oeste, a fé, etc.
Pese bem os prós e os contras.
O aluno errou na prova dos noves. b) Outros só no plural:
Ouça com a mesma serenidade os sins e os nãos. as núpcias, os víveres, os pêsames, as espadas/os paus
Obs.: numerais substantivados terminados em “s” ou “z” não (naipes de baralho), as fezes.
variam no plural.
Nas provas mensais consegui muitos seis e alguns dez. c) Outros, enfim, têm, no plural, sentido diferente do singular:
bem (virtude) e bens (riquezas)
Plural dos Diminutivos honra (probidade, bom nome) e honras (homenagem,
títulos)
Flexiona-se o substantivo no plural, retira-se o “s” final e
acrescenta-se o sufixo diminutivo. d) Usamos às vezes, os substantivos no singular, mas com
pãe(s) + zinhos = pãezinhos sentido de plural:
animai(s) + zinhos = animaizinhos Aqui morreu muito negro.
botõe(s) + zinhos = botõezinhos Celebraram o sacrifício divino muitas vezes em capelas
chapéu(s) + zinhos = chapeuzinhos improvisadas.
farói(s) + zinhos = faroizinhos
tren(s) + zinhos = trenzinhos Flexão de Grau do Substantivo
colhere(s) + zinhas = colherezinhas Grau é a propriedade que as palavras têm de exprimir as
flore(s) + zinhas = florezinhas variações de tamanho dos seres. Classifica-se em:
mão(s) + zinhas = mãozinhas
papéi(s) + zinhos = papeizinhos - Grau Normal - Indica um ser de tamanho considerado
nuven(s) + zinhas = nuvenzinhas normal. Por exemplo: casa
funi(s) + zinhos = funizinhos
pé(s) + zitos = pezitos - Grau Aumentativo - Indica o aumento do tamanho do ser.
Classifica-se em:
Plural dos Nomes Próprios Personativos Analítico = o substantivo é acompanhado de um adjetivo que
indica grandeza. Por exemplo: casa grande.
Devem-se pluralizar os nomes próprios de pessoas sempre Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
que a terminação preste-se à flexão. aumento. Por exemplo: casarão.
Os Napoleões também são derrotados.
As Raquéis e Esteres. - Grau Diminutivo - Indica a diminuição do tamanho do ser.
Pode ser:
Plural dos Substantivos Estrangeiros Analítico = substantivo acompanhado de um adjetivo que
indica pequenez. Por exemplo: casa pequena.
Substantivos ainda não aportuguesados devem ser escritos Sintético = é acrescido ao substantivo um sufixo indicador de
como na língua original, acrescentando -se “s” (exceto quando diminuição. Por exemplo: casinha.
terminam em “s” ou “z”).
os shows os shorts os jazz Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/morf12.php
Substantivos já aportuguesados flexionam-se de acordo com
as regras de nossa língua: Questões
os clubes os chopes
os jipes os esportes 01. A flexão de número do termo “preços-sombra” também
as toaletes os bibelôs ocorre com o plural de
os garçons os réquiens (A) reco-reco.
(B) guarda-costa.
Observe o exemplo: (C) guarda-noturno.
Este jogador faz gols toda vez que joga. (D) célula-tronco.
O plural correto seria gois (ô), mas não se usa. (E) sem-vergonha.

Plural com Mudança de Timbre 02. Assinale a alternativa cujas palavras se apresentam
flexionadas de acordo com a norma-padrão.
Certos substantivos formam o plural com mudança de (A) Os tabeliãos devem preparar o documento.
timbre da vogal tônica (o fechado / o aberto). É um fato fonético (B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis.
chamado metafonia (plural metafônico). (C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local.
(D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos.
(E) Cuidado com os degrais, que são perigosos!
Singular Plural Singular Plural

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APOSTILAS OPÇÃO
03. Indique a alternativa em que a flexão do substantivo está Japão nipo- / Por exemplo: Associações nipo-
errada: brasileiras
A) Catalães.
B) Cidadãos. Portugal luso- / Por exemplo: Acordos luso-brasileiros
C) Vulcães.
D) Corrimões. Flexão dos adjetivos
Respostas
1-D / 2-D / 3-C O adjetivo varia em gênero, número e grau.

Adjetivo Gênero dos Adjetivos

Adjetivo é a palavra que expressa uma qualidade ou Os adjetivos concordam com o substantivo a que se referem
característica do ser e se relaciona com o substantivo. (masculino e feminino). De forma semelhante aos substantivos,
Ao analisarmos a palavra bondoso, por exemplo, percebemos classificam-se em: 
que, além de expressar uma qualidade, ela pode ser colocada ao Biformes - têm duas formas, sendo uma para o masculino e
lado de um substantivo: homem bondoso, moça bondosa, pessoa outra para o feminino.
bondosa.
Já com a palavra bondade, embora expresse uma qualidade, Por exemplo: ativo e ativa, mau e má, judeu e judia.
não acontece o mesmo; não faz sentido dizer: homem bondade,
moça bondade, pessoa bondade.  Se o adjetivo é composto e biforme, ele flexiona no feminino
Bondade, portanto, não é adjetivo, mas substantivo. somente o último elemento.
Por exemplo: o moço norte-americano, a moça norte-
Morfossintaxe do Adjetivo: americana. 
O adjetivo exerce sempre funções sintáticas (função dentro
de uma oração) relativas aos substantivos, atuando como adjunto Uniformes - têm uma só forma tanto para o masculino como
adnominal ou como predicativo (do sujeito ou do objeto). para o feminino. Por exemplo: homem feliz e mulher feliz.
Se o adjetivo é composto e uniforme, fica invariável no
Adjetivo Pátrio feminino. Por exemplo: conflito político-social e desavença
Indica a nacionalidade ou o lugar de origem do ser. Observe político-social.
alguns deles:
Estados e cidades brasileiros: Número dos Adjetivos

Plural dos adjetivos simples


Alagoas alagoano Os adjetivos simples flexionam-se no plural de acordo com
Amapá amapaense as regras estabelecidas para a flexão numérica dos substantivos
simples.
Aracaju aracajuano ou aracajuense Por exemplo:
Amazonas amazonense ou baré mau e maus
feliz e felizes
Belo Horizonte belo-horizontino ruim e ruins
Brasília brasiliense boa e boas
Cabo Frio cabo-friense Caso o adjetivo seja uma palavra que também exerça função
Campinas campineiro ou campinense de substantivo, ficará invariável, ou seja, se a palavra que estiver
qualificando um elemento for, originalmente, um substantivo,
Adjetivo Pátrio Composto  ela manterá sua forma primitiva. Exemplo: a palavra  cinza  é
Na formação do adjetivo pátrio composto, o primeiro originalmente um substantivo; porém, se estiver qualificando
elemento aparece na forma reduzida e, normalmente, erudita. um elemento, funcionará como adjetivo. Ficará, então, invariável.
Observe alguns exemplos: Logo: camisas cinza, ternos cinza.
Veja outros exemplos:
África afro- / Por exemplo: Cultura afro-americana Motos vinho (mas: motos verdes)
Alemanha germano- ou teuto- / Por exemplo: Paredes musgo (mas: paredes brancas).
Competições teuto-inglesas Comícios monstro (mas: comícios grandiosos).
América américo- / Por exemplo: Companhia Adjetivo Composto
américo-africana
Bélgica belgo- / Por exemplo: Acampamentos belgo- É aquele formado por dois ou mais elementos. Normalmente,
franceses esses elementos são ligados por hífen. Apenas o último elemento
concorda com o substantivo a que se refere; os demais ficam
China sino- / Por exemplo: Acordos sino-japoneses na forma masculina, singular. Caso um dos elementos que
Espanha hispano- / Por exemplo: Mercado hispano- formam o adjetivo composto seja um substantivo adjetivado,
português todo o adjetivo composto ficará invariável. Por exemplo:  a
palavra rosa é originalmente um substantivo, porém, se estiver
Europa euro- / Por exemplo: Negociações euro- qualificando um elemento, funcionará como adjetivo. Caso se
americanas ligue a outra palavra por hífen, formará um adjetivo composto;
França franco- ou galo- / Por exemplo: Reuniões como é um substantivo adjetivado, o adjetivo composto inteiro
franco-italianas ficará invariável. Por exemplo:
Grécia greco- / Por exemplo: Filmes greco-romanos Camisas rosa-claro.
Inglaterra anglo- / Por exemplo: Letras anglo- Ternos rosa-claro.
portuguesas Olhos verde-claros.
Calças azul-escuras e camisas verde-mar.
Itália ítalo- / Por exemplo: Sociedade ítalo- Telhados marrom-café e paredes verde-claras.
portuguesa

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APOSTILAS OPÇÃO
Observe O secretário é inteligentíssimo.
- Azul-marinho, azul-celeste, ultravioleta e qualquer adjetivo
composto iniciado por cor-de-... são sempre invariáveis. Observe alguns superlativos sintéticos: 
- O adjetivo composto pele-vermelha têm os dois elementos
flexionados.
benéfico beneficentíssimo
Grau do Adjetivo bom boníssimo ou ótimo

Os adjetivos flexionam-se em grau para indicar a comum comuníssimo


intensidade da qualidade do ser. São dois os graus do adjetivo: cruel crudelíssimo
o comparativo e o superlativo.
difícil dificílimo
Comparativo doce dulcíssimo

Nesse grau, comparam-se a mesma característica fácil facílimo


atribuída a dois ou mais seres ou duas ou mais características fiel fidelíssimo
atribuídas ao mesmo ser. O comparativo pode ser de igualdade,
de superioridade ou de inferioridade. Observe os exemplos Superlativo Relativo: ocorre quando a qualidade de um ser
abaixo: é intensificada em relação a um conjunto de seres. Essa relação
pode ser:
1) Sou tão alto como você.  = Comparativo de Igualdade De Superioridade: Clara é a mais bela da sala.
No comparativo de igualdade, o segundo termo da De Inferioridade: Clara é a menos bela da sala.
comparação é introduzido pelas palavras como, quanto ou quão.
Note bem:
2) Sou  mais alto  (do) que  você.  = Comparativo de 1)  O superlativo absoluto analítico é expresso por meio
Superioridade Analítico dos advérbios muito, extremamente, excepcionalmente, etc.,
No comparativo de superioridade analítico, entre os dois antepostos ao adjetivo.
substantivos comparados, um tem qualidade superior. A forma é 2)  O superlativo absoluto sintético apresenta-se sob duas
analítica porque pedimos auxílio a “mais...do que” ou “mais...que”. formas : uma erudita, de origem latina, outra popular, de origem
vernácula. A forma erudita é constituída pelo radical do adjetivo
3) O Sol é  maior (do) que  a Terra.  = Comparativo de latino +  um dos sufixos -íssimo, -imo ou érrimo. Por exemplo:
Superioridade Sintético fidelíssimo, facílimo, paupérrimo.
A forma popular é constituída do radical do adjetivo
Alguns adjetivos possuem, para o comparativo de português + o sufixo -íssimo: pobríssimo, agilíssimo.
superioridade, formas sintéticas, herdadas do latim. 3) Em vez dos superlativos normais seriíssimo, precariíssimo,
necessariíssimo, preferem-se, na linguagem atual, as formas
São eles: seríssimo, precaríssimo, necessaríssimo, sem o desagradável
bom-melhor hiato i-í.
pequeno-menor
mau-pior Questões
alto-superior
grande-maior 01. Leia o texto a seguir.
baixo-inferior
Violência epidêmica
Observe que: 
a) As formas menor e pior são comparativos de superioridade, A violência urbana é uma enfermidade contagiosa. Embora
pois equivalem a mais pequeno e mais mau, respectivamente. possa acometer indivíduos vulneráveis em todas as classes
b) Bom, mau, grande e pequeno têm formas sintéticas sociais, é nos bairros pobres que ela adquire características
(melhor, pior, maior e menor), porém, em comparações feitas epidêmicas.
entre duas qualidades de um mesmo elemento, deve-se usar A prevalência varia de um país para outro e entre as cidades
as formas analíticas mais bom, mais mau, mais grande e mais de um mesmo país, mas, como regra, começa nos grandes
pequeno. centros urbanos e se dissemina pelo interior.
Por exemplo: Pedro é maior do que Paulo - Comparação de As estratégias que as sociedades adotam para combater a
dois elementos. violência variam muito e a prevenção das causas evoluiu muito
Pedro é  mais grande  que pequeno -  comparação de duas pouco no decorrer do século 20, ao contrário dos avanços
qualidades de um mesmo elemento. ocorridos no campo das infecções, câncer, diabetes e outras
enfermidades.
4) Sou  menos alto  (do) que  você.  = Comparativo de A agressividade impulsiva é consequência de perturbações
Inferioridade nos mecanismos biológicos de controle emocional. Tendências
Sou menos passivo (do) que tolerante. agressivas surgem em indivíduos com dificuldades adaptativas
que os tornam despreparados para lidar com as frustrações de
Superlativo seus desejos.
A violência é uma doença. Os mais vulneráveis são os que
O superlativo expressa qualidades num grau muito tiveram a personalidade formada num ambiente desfavorável ao
elevado ou em grau máximo. O grau superlativo pode ser desenvolvimento psicológico pleno.
absoluto ou relativo e apresenta as seguintes modalidades: A revisão de estudos científicos permite identificar três
Superlativo Absoluto:  ocorre quando a qualidade de um fatores principais na formação das personalidades com maior
ser é intensificada, sem relação com outros seres. Apresenta-se inclinação ao comportamento violento:
nas formas: 1) Crianças que apanharam, foram vítimas de abusos,
Analítica: a intensificação se faz com o auxílio de palavras humilhadas ou desprezadas nos primeiros anos de vida.
que dão ideia de intensidade (advérbios). Por exemplo: O 2) Adolescentes vivendo em famílias que não lhes
secretário é muito inteligente. transmitiram valores sociais altruísticos, formação moral e não
Sintética: a intensificação se faz por meio do acréscimo de lhes impuseram limites de disciplina.
sufixos. 3) Associação com grupos de jovens portadores de
Por exemplo: comportamento antissocial.

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APOSTILAS OPÇÃO
Na periferia das cidades brasileiras vivem milhões de crianças daquilo que está sendo colocado por meio dos pronomes no
que se enquadram nessas três condições de risco. Associados à ato da comunicação. Com exceção dos pronomes interrogativos
falta de acesso aos recursos materiais, à desigualdade social, e indefinidos, os demais pronomes têm por função principal
esses fatores de risco criam o caldo de cultura que alimenta a apontar para as pessoas do discurso ou a elas se relacionar,
violência crescente nas cidades. indicando-lhes sua situação no tempo ou no espaço. Em virtude
Na falta de outra alternativa, damos à criminalidade a dessa característica, os pronomes apresentam uma forma
resposta do aprisionamento. Porém, seu efeito é passageiro: o específica para cada pessoa do discurso.
criminoso fica impedido de delinquir apenas enquanto estiver
preso. Minha carteira estava vazia quando eu fui assaltada.
Ao sair, estará mais pobre, terá rompido laços familiares [minha/eu: pronomes de 1ª pessoa = aquele que fala]
e sociais e dificilmente encontrará quem lhe dê emprego. Ao
mesmo tempo, na prisão, terá criado novas amizades e conexões Tua carteira estava vazia quando tu foste assaltada?
mais sólidas com o mundo do crime. [tua/tu: pronomes de 2ª pessoa = aquele a quem se fala]
Construir cadeias custa caro; administrá-las, mais ainda.
Obrigados a optar por uma repressão policial mais ativa, A carteira dela estava vazia quando ela foi assaltada.
aumentaremos o número de prisioneiros. As cadeias continuarão [dela/ela: pronomes de 3ª pessoa = aquele de quem se fala]
superlotadas.
Seria mais sensato investir em educação, para prevenir a Em termos morfológicos, os pronomes são palavras
criminalidade e tratar os que ingressaram nela. variáveis  em gênero (masculino ou feminino) e em número
Na verdade, não existe solução mágica a curto prazo. (singular ou plural). Assim, espera-se que a referência através
Precisamos de uma divisão de renda menos brutal, motivar os do pronome seja coerente em termos de gênero e número
policiais a executar sua função com dignidade, criar leis que (fenômeno da concordância) com o seu objeto, mesmo quando
acabem com a impunidade dos criminosos bem-sucedidos e este se apresenta ausente no enunciado.
construir cadeias novas para substituir as velhas.
Enquanto não aprendermos a educar e oferecer medidas Fala-se de Roberta. Ele  quer participar do desfile
preventivas para que os pais evitem ter filhos que não serão da nossa escola neste ano.
capazes de criar, cabe a nós a responsabilidade de integrá-los [nossa: pronome que qualifica “escola” = concordância
na sociedade por meio da educação formal de bom nível, das adequada]
práticas esportivas e da oportunidade de desenvolvimento [neste: pronome que determina “ano” = concordância
artístico. adequada]
[ele: pronome que faz referência à “Roberta” = concordância
(Drauzio Varella. In Folha de S.Paulo, 9 mar.2002. Adaptado) inadequada]

Em – características epidêmicas –, o adjetivo epidêmicas Existem seis tipos de pronomes:  pessoais, possessivos,
corresponde a – características de epidemias. demonstrativos, indefinidos, relativos e interrogativos.
Assinale a alternativa em que, da mesma forma, o adjetivo
em destaque corresponde, corretamente, à expressão indicada. Pronomes Pessoais
A) água fluvial – água da chuva.
B) produção aurífera – produção de ouro. São aqueles que substituem os substantivos, indicando
C) vida rupestre – vida do campo. diretamente as pessoas do discurso. Quem fala ou escreve
D) notícias brasileiras – notícias de Brasília. assume os pronomes “eu” ou “nós”, usa os pronomes “tu”, “vós”,
E) costela bovina – costela de porco. “você” ou “vocês” para designar a quem se dirige e “ele”, “ela”,
“eles” ou “elas” para fazer referência à pessoa ou às pessoas de
02.Não se pluraliza os adjetivos compostos abaixo, exceto: quem fala.
A) azul-celeste Os pronomes pessoais variam de acordo com as funções
B) azul-pavão que exercem nas orações, podendo ser do caso reto ou do caso
C) surda-muda oblíquo.
D) branco-gelo
Pronome Reto
03.Assinale a única alternativa em que os adjetivos não
estão no grau superlativo absoluto sintético: Pronome pessoal do caso reto é aquele que, na sentença,
A) Arquimilionário/ ultraconservador; exerce a função de sujeito ou predicativo do sujeito.
B) Supremo/ ínfimo; Nós lhe ofertamos flores.
C) Superamigo/ paupérrimo;
D) Muito amigo/ Bastante pobre Os pronomes retos apresentam flexão de número, gênero
(apenas na 3ª pessoa) e pessoa, sendo essa última a principal
Respostas flexão, uma vez que marca a pessoa do discurso. Dessa forma, o
1-B / 2-C / 3-D quadro dos pronomes retos é assim configurado:
- 1ª pessoa do singular: eu
Pronome - 2ª pessoa do singular: tu
- 3ª pessoa do singular: ele, ela
Pronome é a palavra que se usa em lugar do nome, ou a ele - 1ª pessoa do plural: nós
se refere, ou ainda, que acompanha o nome qualificando-o de - 2ª pessoa do plural: vós
alguma forma. - 3ª pessoa do plural: eles, elas
A moça era mesmo bonita. Ela morava nos meus sonhos! Atenção: esses pronomes não costumam ser usados como
[substituição do nome] complementos verbais na língua-padrão. Frases como “Vi
ele na rua”, “Encontrei ela na praça”, “Trouxeram eu até aqui”,
A moça que morava nos meus sonhos era mesmo bonita! comuns na língua oral cotidiana, devem ser evitadas na língua
[referência ao nome] formal escrita ou falada. Na língua formal, devem ser usados os
pronomes oblíquos correspondentes: “Vi-o na rua”, “Encontrei-a
Essa moça morava nos meus sonhos! na praça”, “Trouxeram-me até aqui”.
[qualificação do nome] Obs.: frequentemente observamos a  omissão  do pronome
Grande parte dos pronomes não possuem significados reto em Língua Portuguesa. Isso se dá porque as próprias formas
fixos, isto é, essas palavras só adquirem significação dentro de verbais marcam, através de suas desinências, as pessoas do
um contexto, o qual nos permite recuperar a referência exata verbo indicadas pelo pronome reto.

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APOSTILAS OPÇÃO
Fizemos boa viagem. (Nós) Pronome Oblíquo Tônico

Pronome Oblíquo Os pronomes oblíquos tônicos são sempre


precedidos por preposições, em geral as preposições a, para, de
Pronome pessoal do caso oblíquo é aquele que, na sentença, e com. Por esse motivo, os pronomes tônicos exercem a função
exerce a função de complemento verbal (objeto direto ou  de objeto indireto da oração. Possuem acentuação tônica forte.
indireto) ou complemento nominal. O quadro dos pronomes oblíquos tônicos é assim
configurado:
Ofertaram-nos flores. (objeto indireto)
Obs.: em verdade, o pronome oblíquo é uma forma variante - 1ª pessoa do singular (eu): mim, comigo
do pronome pessoal do caso reto. Essa variação indica a função - 2ª pessoa do singular (tu): ti, contigo
diversa que eles desempenham na oração: pronome reto marca - 3ª pessoa do singular (ele, ela): ele, ela
o sujeito da oração; pronome oblíquo marca o complemento da - 1ª pessoa do plural (nós): nós, conosco
oração. - 2ª pessoa do plural (vós): vós, convosco
Os pronomes oblíquos sofrem variação de acordo com - 3ª pessoa do plural (eles, elas): eles, elas
a acentuação tônica que possuem, podendo ser átonos ou tônicos.
Observe que as únicas formas próprias do pronome tônico
Pronome Oblíquo Átono são a primeira pessoa (mim) e segunda pessoa (ti). As demais
repetem a forma do pronome pessoal do caso reto.
São chamados átonos os pronomes oblíquos que não são - As preposições essenciais introduzem sempre pronomes
precedidos de preposição. Possuem acentuação tônica  fraca. pessoais do caso oblíquo e nunca pronome do caso reto. Nos
Ele me deu um presente. contextos interlocutivos que exigem o uso da língua formal, os
pronomes costumam ser usados desta forma:
O quadro dos pronomes oblíquos átonos é assim configurado: Não há mais nada entre mim e ti.
- 1ª pessoa do singular (eu): me Não se comprovou qualquer ligação entre ti e ela.
- 2ª pessoa do singular (tu): te Não há nenhuma acusação contra mim.
- 3ª pessoa do singular (ele, ela): o, a, lhe Não vá sem mim.
- 1ª pessoa do plural (nós): nos
- 2ª pessoa do plural (vós): vos Atenção:
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): os, as, lhes Há construções em que a preposição, apesar de surgir
anteposta a um pronome, serve para introduzir uma oração cujo
Observações: verbo está no infinitivo. Nesses casos, o verbo pode ter sujeito
O “lhe” é o único pronome oblíquo átono que já se expresso; se esse sujeito for um pronome, deverá ser do caso
apresenta na forma contraída, ou seja, houve a união entre o reto.
pronome “o” ou “a” e preposição “a” ou “para”. Por acompanhar
diretamente uma preposição, o pronome “lhe” exerce sempre a Trouxeram vários vestidos para eu experimentar.
função de objeto indireto na oração. Não vá sem eu mandar.

Os pronomes me, te, nos e vos podem tanto ser objetos - A combinação da preposição  “com” e alguns pronomes


diretos como objetos indiretos. originou as formas especiais comigo, contigo, consigo,
Os pronomes o, a, os e as atuam exclusivamente como conosco e convosco. Tais pronomes oblíquos tônicos
objetos diretos. frequentemente exercem a função de  adjunto adverbial de
companhia.
Saiba que: Ele carregava o documento consigo.
Os pronomes me, te, lhe, nos, vos e lhes podem combinar-se
com os pronomes o, os, a, as, dando origem a formas como mo, - As formas “conosco” e “convosco” são substituídas por “com
mos, ma, mas; to, tos, ta, tas; lho, lhos, lha, lhas; no-lo, no-los, no- nós” e “com vós” quando os pronomes pessoais são reforçados
la, no-las, vo-lo, vo-los, vo-la, vo-las. Observe o uso dessas formas por palavras como outros, mesmos, próprios, todos, ambos ou
nos exemplos que seguem: algum numeral.

Você terá de viajar com nós todos.


- Trouxeste o pacote? - Não contaram a novidade a Estávamos com vós outros quando chegaram as más notícias.
vocês? Ele disse que iria com nós três.
- Sim, entreguei-to ainda há - Não, no-la contaram.
pouco. Pronome Reflexivo

No português do Brasil, essas combinações não são usadas; São pronomes pessoais oblíquos que, embora funcionem
até mesmo na língua literária atual, seu emprego é muito raro.  como objetos direto ou indireto, referem-se ao sujeito da oração.
Indicam que o sujeito pratica e recebe a ação expressa pelo
Atenção: verbo.
Os pronomes o, os, a, as assumem formas especiais depois O quadro dos pronomes reflexivos é assim configurado:
de certas terminações verbais. Quando o verbo termina em -z,
-s ou -r, o pronome assume a forma lo, los, la ou las, ao mesmo - 1ª pessoa do singular (eu): me, mim.
tempo que a terminação verbal é suprimida. Eu não me vanglorio disso.
Por exemplo: fiz + o = fi-lo Olhei para mim no espelho e não gostei do que vi.
fazei + o = fazei-os
dizer + a = dizê-la - 2ª pessoa do singular (tu): te, ti.
Assim tu te prejudicas.
Quando o verbo termina em som nasal, o pronome assume Conhece a ti mesmo.
as formas no, nos, na, nas. Por exemplo:
viram + o: viram-no - 3ª pessoa do singular (ele, ela): se, si, consigo.
repõe + os = repõe-nos Guilherme já se preparou.
retém + a: retém-na Ela deu a si um presente.
tem + as = tem-nas Antônio conversou consigo mesmo.

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APOSTILAS OPÇÃO
- 1ª pessoa do plural (nós): nos. Quando tu vieres, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus
Lavamo-nos no rio. cabelos. (correto)

- 2ª pessoa do plural (vós): vos. Pronomes Possessivos


Vós vos beneficiastes com a esta conquista.
São palavras que, ao indicarem a pessoa gramatical
- 3ª pessoa do plural (eles, elas): se, si, consigo. (possuidor), acrescentam a ela a ideia de posse de algo (coisa
Eles se conheceram. possuída).
Elas deram a si um dia de folga. Este caderno é meu. (meu = possuidor: 1ª pessoa do singular)

A Segunda Pessoa Indireta Observe o quadro:

A chamada segunda pessoa indireta manifesta-se quando Número Pessoa Pronome


utilizamos pronomes que, apesar de indicarem nosso singular primeira meu(s), minha(s)
interlocutor ( portanto, a segunda pessoa), utilizam o verbo na
terceira pessoa. É o caso dos chamados pronomes de tratamento, singular segunda teu(s), tua(s)
que podem ser observados no quadro seguinte: singular terceira seu(s), sua(s)

Pronomes de Tratamento plural primeira nosso(s), nossa(s)


Vossa Alteza V. A. príncipes, duques plural segunda vosso(s), vossa(s)
Vossa Eminência V. Ema.(s) cardeais
Vossa Reverendíssima V. Revma.(s) sacerdotes e bispos plural terceira seu(s), sua(s)
Vossa Excelência V. Ex.ª (s) altas autoridades e
oficiais-generais Note que: A forma do possessivo depende da pessoa
Vossa Magnificência V. Mag.ª (s) reitores de gramatical a que se refere; o gênero e o número concordam com
universidades o objeto possuído.
Vossa Majestade V. M. reis e rainhas Ele trouxe seu apoio e sua contribuição naquele momento
Vossa Majestade Imperial V. M. I. Imperadores difícil.
Vossa Santidade V. S. Papa
Vossa Senhoria V. S.ª (s) tratamento Observações:
cerimonioso
Vossa Onipotência V. O. Deus 1 - A forma “seu” não é um possessivo quando resultar da
alteração fonética da palavra senhor.
Também são pronomes de tratamento o senhor, a - Muito obrigado, seu José.
senhora e você, vocês. “O senhor” e “a senhora” são empregados
no tratamento cerimonioso; “você” e “vocês”, no tratamento 2 - Os pronomes possessivos nem sempre indicam posse.
familiar. Você e vocês são largamente empregados no português Podem ter outros empregos, como:
do Brasil; em algumas regiões, a forma  tu  é de uso frequente; a) indicar afetividade.
em outras, pouco empregada. Já a forma vós tem uso restrito à - Não faça isso, minha filha.
linguagem litúrgica, ultraformal ou literária. b) indicar cálculo aproximado.
Ele já deve ter seus 40 anos.
Observações: c) atribuir valor indefinido ao substantivo.
a) Vossa Excelência X Sua Excelência:  os pronomes de Marisa tem lá seus defeitos, mas eu gosto muito dela.
tratamento que possuem “Vossa (s)”  são empregados em
relação à pessoa com quem falamos. 3- Em frases onde se usam pronomes de tratamento, o
Espero que V. Ex.ª, Senhor Ministro, compareça a este pronome possessivo fica na 3ª pessoa.
encontro. Vossa Excelência trouxe sua mensagem?
Emprega-se “Sua (s)” quando se fala a respeito da pessoa.
Todos os membros da C.P.I. afirmaram que Sua Excelência, o 4- Referindo-se a mais de um substantivo, o possessivo
Senhor Presidente da República, agiu com propriedade. concorda com o mais próximo.
Trouxe-me seus livros e anotações.
- Os pronomes de tratamento representam uma forma
indireta de nos dirigirmos aos nossos interlocutores. Ao 5- Em algumas construções, os pronomes pessoais oblíquos
tratarmos um deputado por Vossa Excelência, por exemplo, átonos assumem valor de possessivo.
estamos nos endereçando à excelência que esse deputado Vou seguir-lhe os passos. (= Vou seguir seus passos.)
supostamente tem para poder ocupar o cargo que ocupa.
Pronomes Demonstrativos
b)  3ª pessoa:  embora os pronomes de tratamento dirijam-
se à  2ª pessoa, toda a concordância deve ser feita com a 3ª Os pronomes demonstrativos são utilizados para explicitar a
pessoa. Assim, os verbos, os pronomes possessivos e os posição de uma certa palavra em relação a outras ou ao contexto.
pronomes oblíquos empregados em relação a eles devem ficar Essa relação pode ocorrer em termos de espaço, no tempo ou
na 3ª pessoa. discurso.
Basta que V. Ex.ª cumpra a terça parte das suas promessas,
para que seus eleitores lhe fiquem reconhecidos. No espaço:
Compro este carro (aqui). O pronome este indica que o carro
c) Uniformidade de Tratamento:  quando escrevemos ou está perto da pessoa que fala.
nos dirigimos a alguém, não é permitido mudar, ao longo do Compro esse carro (aí). O pronome  esse  indica que o carro
texto, a pessoa do tratamento escolhida inicialmente. Assim, está perto da pessoa com quem falo, ou afastado da pessoa que
por exemplo, se começamos a chamar alguém de “você”, não fala.
poderemos usar “te” ou “teu”. O uso correto exigirá, ainda, verbo Compro aquele carro (lá). O pronome aquele diz que o carro
na terceira pessoa. está afastado da pessoa que fala e daquela com quem falo.
Quando você vier, eu te abraçarei e enrolar-me-ei nos teus  
cabelos. (errado) Atenção:  em situações de fala direta (tanto ao vivo quanto
Quando você vier, eu a abraçarei e enrolar-me-ei nos seus por meio de correspondência, que é uma modalidade escrita de
cabelos. (correto) fala), são particularmente importantes o este e o esse - o primeiro

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APOSTILAS OPÇÃO
localiza os seres em relação ao emissor; o segundo, em relação Não é difícil perceber que  “alguém”  indica uma pessoa
ao destinatário. Trocá-los pode causar ambiguidade. de quem se fala (uma terceira pessoa, portanto) de forma
imprecisa, vaga. É uma palavra capaz de indicar um ser humano
Dirijo-me a essa universidade com o objetivo de solicitar que seguramente existe, mas cuja identidade é desconhecida ou
informações sobre o concurso vestibular. (trata-se da universidade não se quer revelar. 
destinatária).
Reafirmamos a disposição  desta  universidade em participar Classificam-se em:
no próximo Encontro de Jovens. (trata-se da universidade que
envia a mensagem). - Pronomes Indefinidos Substantivos:  assumem o lugar
do ser ou da quantidade aproximada de seres na frase. São
No tempo: eles:  algo, alguém, fulano, sicrano, beltrano, nada, ninguém,
Este ano está sendo bom para nós. O pronome este se refere outrem, quem, tudo.
ao ano presente. Algo o incomoda?
Esse ano que passou foi razoável. O pronome esse se refere a Quem avisa amigo é.
um passado próximo.
Aquele ano foi terrível para todos. O pronome aquele está se - Pronomes Indefinidos Adjetivos:  qualificam um ser
referindo a um passado distante. expresso na frase, conferindo-lhe a noção de quantidade
  aproximada. São eles: cada, certo(s), certa(s).
- Os pronomes demonstrativos podem ser variáveis ou Cada povo tem seus costumes.
invariáveis, observe: Certas pessoas exercem várias profissões.

Variáveis: este(s), esta(s), esse(s), essa(s), aquele(s), aquela(s). Note que: Ora são pronomes indefinidos substantivos, ora
Invariáveis: isto, isso, aquilo. pronomes indefinidos adjetivos:
algum, alguns, alguma(s), bastante(s) (= muito, muitos),
- Também aparecem como pronomes demonstrativos: demais, mais, menos, muito(s), muita(s), nenhum, nenhuns,
- o(s), a(s): quando estiverem antecedendo o “que” e puderem nenhuma(s), outro(s), outra(s), pouco(s), pouca(s), qualquer,
ser substituídos por aquele(s), aquela(s), aquilo. quaisquer, qual, que, quanto(s), quanta(s), tal, tais, tanto(s),
Não ouvi o que disseste. (Não ouvi aquilo que disseste.) tanta(s), todo(s), toda(s), um, uns, uma(s), vários, várias.
Essa rua não é a que te indiquei. (Esta rua não é aquela que
te indiquei.) Menos palavras e mais ações.
- mesmo(s), mesma(s): Alguns se contentam pouco.
Estas são as mesmas pessoas que o procuraram ontem.
- próprio(s), própria(s): Os pronomes indefinidos podem ser divididos
Os próprios alunos resolveram o problema. em variáveis e invariáveis. Observe:

- semelhante(s): Variáveis = algum, nenhum, todo, muito, pouco, vário, tanto,


Não compre semelhante livro. outro, quanto, alguma, nenhuma, toda, muita, pouca, vária,
- tal, tais: tanta, outra, quanta, qualquer, quaisquer, alguns, nenhuns,
Tal era a solução para o problema. todos, muitos, poucos, vários, tantos, outros, quantos, algumas,
nenhumas, todas, muitas, poucas, várias, tantas, outras, quantas.
Note que: Invariáveis = alguém, ninguém, outrem, tudo, nada, algo,
cada.
a)  Não raro os demonstrativos aparecem na frase, em
construções redundantes, com finalidade expressiva, para São  locuções pronominais indefinidas: cada qual, cada um,
salientar algum termo anterior. Por exemplo: qualquer um, quantos quer (que), quem quer (que), seja quem for,
Manuela, essa é que dera em cheio casando com o José Afonso. seja qual for, todo aquele (que), tal qual (= certo), tal e qual, tal ou
Desfrutar das belezas brasileiras, isso é que é sorte! qual, um ou outro, uma ou outra, etc.
b)  O pronome demonstrativo neutro  ou  pode representar Cada um escolheu o vinho desejado.
um termo ou o conteúdo de uma oração inteira, caso em que
aparece, geralmente, como objeto direto, predicativo ou aposto. Indefinidos Sistemáticos
O casamento seria um desastre. Todos o pressentiam.
c)  Para evitar a repetição de um verbo anteriormente Ao observar atentamente os pronomes indefinidos,
expresso, é comum empregar-se, em tais casos, o verbo fazer, percebemos que existem alguns grupos que criam oposição
chamado, então, verbo vicário (= que substitui, que faz as vezes de sentido. É o caso de: algum/alguém/algo, que têm sentido
de). afirmativo, e nenhum/ninguém/nada, que têm sentido negativo;
Ninguém teve coragem de falar antes que ela o fizesse. todo/tudo,  que indicam uma totalidade afirmativa, e  nenhum/
d)  Em frases como a seguinte,  este  se refere à pessoa nada, que indicam uma totalidade negativa; alguém/ninguém,
mencionada em último lugar; aquele, à mencionada em primeiro que se referem à pessoa, e  algo/nada, que se referem à coisa;
lugar. certo, que particulariza, e qualquer, que generaliza.
O referido deputado e o Dr. Alcides eram amigos íntimos; Essas oposições de sentido são muito importantes na
aquele casado, solteiro este. [ou então: este solteiro, aquele casado] construção de frases e textos coerentes, pois delas muitas
e) O pronome demonstrativo tal pode ter conotação irônica. vezes dependem a solidez e a consistência dos argumentos
A menina foi a tal que ameaçou o professor? expostos. Observe nas frases seguintes a força que os pronomes
f) Pode ocorrer a contração das preposições a, de, em com indefinidos destacados imprimem às afirmações de que fazem
pronome demonstrativo:  àquele, àquela, deste, desta, disso, parte:
nisso, no, etc. Nada do que tem sido feito produziu qualquer resultado
Não acreditei no que estava vendo. (no = naquilo) prático.
Certas  pessoas conseguem perceber sutilezas: não são
Pronomes Indefinidos pessoas quaisquer.

São palavras que se referem à terceira pessoa do discurso, Pronomes Relativos


dando-lhe sentido vago (impreciso) ou expressando quantidade
indeterminada. São aqueles que representam nomes já mencionados
Alguém entrou no jardim e destruiu as mudas recém- anteriormente e com os quais se relacionam. Introduzem as
plantadas. orações subordinadas adjetivas.

Língua Portuguesa 29
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APOSTILAS OPÇÃO
O racismo é um sistema  que  afirma a superioridade de um h) Na indicação de tempo, deve-se empregar quando ou em
grupo racial sobre outros. que.
(afirma a superioridade de um grupo racial sobre outros = Sinto saudades da época em que (quando) morávamos no
oração subordinada adjetiva). exterior.
O pronome relativo “que” refere-se à palavra “sistema” e
introduz uma oração subordinada. Diz-se que a palavra “sistema” i) Podem ser utilizadas como pronomes relativos as palavras:
é antecedente do pronome relativo que. - como (= pelo qual)
O antecedente do pronome relativo pode ser o pronome Não me parece correto o modo como você agiu semana
demonstrativo o, a, os, as. passada.
Não sei o que você está querendo dizer. - quando (= em que)
Às vezes, o antecedente do pronome relativo não vem Bons eram os tempos quando podíamos jogar videogame.
expresso.
Quem casa, quer casa. j)  Os pronomes relativos permitem reunir duas orações
numa só frase.
Observe: O futebol é um esporte.
Pronomes relativos variáveis = o qual, cujo, quanto, os quais, O povo gosta muito deste esporte.
cujos, quantos, a qual, cuja, quanta, as quais, cujas, quantas. O futebol é um esporte de que o povo gosta muito.
Pronomes relativos invariáveis = quem, que, onde.
k)  Numa série de orações adjetivas coordenadas, pode
Note que: ocorrer a elipse do relativo “que”.
a)  O pronome  “que”  é o relativo de mais largo emprego, A sala estava cheia de gente que conversava, (que) ria,
sendo por isso chamado relativo universal. Pode ser substituído (que) fumava.
por o qual, a qual, os quais, as quais, quando seu antecedente for
um substantivo. Pronomes Interrogativos

O trabalho que eu fiz refere-se à corrupção. (= o qual) São usados na formulação de perguntas, sejam elas diretas
A cantora que acabou de se apresentar é péssima. (= a qual) ou indiretas. Assim como os pronomes indefinidos, referem-
Os trabalhos que eu fiz referem-se à corrupção. (= os quais) se à 3ª pessoa do discurso de modo impreciso. São pronomes
As cantoras que se apresentaram eram péssimas. (= as quais) interrogativos: que, quem, qual (e variações), quanto (e variações).

b)  O qual, os quais, a qual e as quais são exclusivamente Quem fez o almoço?/ Diga-me quem fez o almoço.
pronomes relativos: por isso, são utilizados didaticamente para Qual das bonecas preferes? / Não sei qual das bonecas
verificar se palavras como “que”, “quem”, “onde” (que podem ter preferes.
várias classificações) são pronomes relativos. Todos eles são Quantos passageiros desembarcaram? / Pergunte quantos
usados com referência à pessoa ou coisa por motivo de clareza passageiros desembarcaram.
ou depois de determinadas preposições:
Sobre os pronomes:
Regressando de São Paulo, visitei o sítio de minha tia, o
qual me deixou encantado. (O uso de “que”, neste caso, geraria O pronome pessoal é do caso reto quando tem função de
ambiguidade.) sujeito na frase. O pronome pessoal é do caso oblíquo quando
desempenha função de complemento. Vamos entender,
Essas são as conclusões sobre as quais pairam muitas primeiramente, como o pronome pessoal surge na frase e que
dúvidas? (Não se poderia usar “que” depois de sobre.) função exerce. Observe as orações:
1. Eu não sei essa matéria, mas ele irá me ajudar.
c) O relativo “que” às vezes equivale a o que, coisa que, e se 2. Maria foi embora para casa, pois não sabia se devia ajudá-
refere a uma oração. lo.

Não chegou a ser padre, mas deixou de ser poeta, que era a Na primeira oração os pronomes pessoais “eu” e “ele”
sua vocação natural. exercem função de sujeito, logo, são pertencentes ao caso reto.
Já na segunda oração, observamos o pronome “lhe” exercendo
d) O pronome “cujo” não concorda com o seu antecedente, função de complemento, e, consequentemente, é do caso oblíquo.
mas com o consequente. Equivale a do qual, da qual, dos quais, Os pronomes pessoais indicam as pessoas do discurso,
das quais. o pronome oblíquo “lhe”, da segunda oração, aponta para a
segunda pessoa do singular (tu/você): Maria não sabia se devia
Este é o caderno cujas folhas estão rasgadas. ajudar.... Ajudar quem? Você (lhe).
(antecedente) (consequente) Importante: Em observação à segunda oração, o emprego do
pronome oblíquo “lhe” é justificado antes do verbo intransitivo
e) “Quanto” é pronome relativo quando tem por antecedente “ajudar” porque o pronome oblíquo pode estar antes, depois ou
um pronome indefinido: tanto (ou variações) e tudo: entre locução verbal, caso o verbo principal (no caso “ajudar”)
estiver no infinitivo ou gerúndio.
Emprestei tantos quantos foram necessários. Eu desejo lhe perguntar algo.
(antecedente) Eu estou perguntando-lhe algo.

Ele fez tudo quanto havia falado. Os pronomes pessoais oblíquos podem ser átonos ou tônicos:
(antecedente) os primeiros não são precedidos de preposição, diferentemente
dos segundos que são sempre precedidos de preposição.
f)  O pronome  “quem” se refere a pessoas e vem sempre - Pronome oblíquo átono: Joana me perguntou o que eu
precedido de preposição. estava fazendo.
- Pronome oblíquo tônico: Joana perguntou para mim o que
É um professor a quem muito devemos. eu estava fazendo.
(preposição)
Questões
g)  “Onde”, como pronome relativo, sempre possui
antecedente e só pode ser utilizado na indicação de lugar. 01. Observe as sentenças abaixo.
A casa onde morava foi assaltada. I. Esta é a professora de cuja aula todos os alunos gostam.

Língua Portuguesa 30
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APOSTILAS OPÇÃO
II. Aquela é a garota com cuja atitude discordei - tornamo- 03. Observe a charge a seguir.
nos inimigas desde aquele episódio.
III. A criança cuja a família não compareceu ficou inconsolável.

O pronome ‘cuja’ foi empregado de acordo com a norma


culta da língua portuguesa em:
(A) apenas uma das sentenças
(B) apenas duas das sentenças.
(C) nenhuma das sentenças.
(D) todas as sentenças.

02. Um estudo feito pela Universidade de Michigan constatou


que o que mais se faz no Facebook, depois de interagir com
amigos, é olhar os perfis de pessoas que acabamos de conhecer.
Se você gostar do perfil, adicionará aquela pessoa, e estará
formado um vínculo. No final, todo mundo vira amigo de todo
mundo. Mas, não é bem assim. As redes sociais têm o poder de Em relação à charge acima, assinale a afirmativa inadequada.
transformar os chamados elos latentes (pessoas que frequentam (A) A fala do personagem é uma modificação intencional de
o mesmo ambiente social, mas não são suas amigas) em elos uma fala de Cristo.
fracos – uma forma superficial de amizade. Pois é, por mais (B) As duas ocorrências do pronome “eles” referem-se a
que existam exceções _______qualquer regra, todos os estudos pessoas distintas.
mostram que amizades geradas com a ajuda da Internet são (C) A crítica da charge se dirige às autoridades políticas no
mais fracas, sim, do que aquelas que nascem e se desenvolvem poder.
fora dela. (D) A posição dos braços do personagem na charge repete a
Isso não é inteiramente ruim. Os seus amigos do peito de Cristo na cruz.
geralmente são parecidos com você: pertencem ao mesmo (E) Os elementos imagísticos da charge estão distribuídos de
mundo e gostam das mesmas coisas. Os elos fracos, não. Eles forma equilibrada.
transitam por grupos diferentes do seu e, por isso, podem lhe Respostas
apresentar novas pessoas e ampliar seus horizontes – gerando 01. A\02. E\03. B
uma renovação de ideias que faz bem a todos os relacionamentos,
inclusive às amizades antigas. O problema é que a maioria das Verbo
redes na Internet é simétrica: se você quiser ter acesso às
informações de uma pessoa ou mesmo falar reservadamente com Verbo  é a classe de palavras que se flexiona em pessoa,
ela, é obrigado a pedir a amizade dela. Como é meio grosseiro número, tempo, modo e voz. Pode indicar, entre outros
dizer “não” ________ alguém que você conhece, todo mundo acaba processos: ação (correr); estado (ficar); fenômeno (chover);
adicionando todo mundo. E isso vai levando ________ banalização ocorrência (nascer); desejo (querer).
do conceito de amizade. O que caracteriza o verbo são as suas flexões, e não os seus
É verdade. Mas, com a chegada de sítios como o Twitter, ficou possíveis significados. Observe que palavras como corrida,
diferente. Esse tipo de sítio é uma rede social completamente chuva e nascimento têm conteúdo muito próximo ao de alguns
assimétrica. E isso faz com que as redes de “seguidores” e verbos mencionados acima; não apresentam, porém, todas as
“seguidos” de alguém possam se comunicar de maneira muito possibilidades de flexão que esses verbos possuem.
mais fluida. Ao estudar a sua própria rede no Twitter, o sociólogo
Nicholas Christakis, da Universidade de Harvard, percebeu Estrutura das Formas Verbais
que seus amigos tinham começado a se comunicar entre si
independentemente da mediação dele. Pessoas cujo único ponto Do ponto de vista estrutural, uma forma verbal pode
em comum era o próprio Christakis acabaram ficando amigas. apresentar os seguintes elementos:
No Twitter, eu posso me interessar pelo que você tem a dizer e
começar a te seguir. Nós não nos conhecemos. a)  Radical:  é a parte invariável, que expressa o significado
Mas você saberá quando eu o retuitar ou mencionar seu essencial do verbo. Por exemplo:
nome no sítio, e poderá falar comigo. Meus seguidores também fal-ei; fal-ava; fal-am. (radical fal-)
podem se interessar pelos seus tuítes e começar a seguir você.
Em suma, nós continuaremos não nos conhecendo, mas as b) Tema: é o radical seguido da vogal temática que indica a
pessoas que estão ________ nossa volta podem virar amigas entre conjugação a que pertence o verbo. Por exemplo: fala-r
si.
Adaptado de: COSTA, C. C.. Disponível em: São três as conjugações:
<http://super.abril.com.br/cotidiano/como-internet- 1ª - Vogal Temática - A - (falar)
estamudando-amizade-619645.shtml>. 2ª - Vogal Temática - E - (vender)
3ª - Vogal Temática - I - (partir)
Considere as seguintes afirmações sobre a relação que se
estabelece entre algumas palavras do texto e os elementos a que c) Desinência modo-temporal: é o elemento que designa o
se referem. tempo e o modo do verbo.
I. No segmento que nascem, a palavra que se refere a Por exemplo:
amizades. falávamos ( indica o pretérito imperfeito do indicativo.)
II. O segmento elos fracos retoma o segmento uma forma falasse ( indica o pretérito imperfeito do subjuntivo.)
superficial de amizade.
III. Na frase Nós não nos conhecemos, o pronome Nós refere- d)  Desinência número-pessoal:  é o elemento que designa
se aos pronomes eu e você. a pessoa do discurso ( 1ª, 2ª ou 3ª) e o número (singular ou
plural).
Quais estão corretas? falamos (indica a 1ª pessoa do plural.)
(A) Apenas I. falavam (indica a 3ª pessoa do plural.)
(B) Apenas II. Observação:  o verbo pôr, assim como seus derivados
(C) Apenas III. (compor, repor, depor, etc.), pertencem à 2ª conjugação, pois a
(D) Apenas I e II. forma arcaica do verbo pôr era poer. A vogal “e”, apesar de haver
(E) I, II e III. desaparecido do infinitivo, revela-se em algumas formas do
verbo: põe, pões, põem, etc.

Língua Portuguesa 31
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APOSTILAS OPÇÃO
Formas Rizotônicas e Arrizotônicas bramir: crocodilo
cacarejar: galinha
Ao combinarmos os conhecimentos sobre a estrutura dos coaxar: sapo
verbos com o conceito de acentuação tônica, percebemos com cricrilar: grilo
facilidade que nas formas rizotônicas, o acento tônico cai no
radical do verbo: opino, aprendam,  nutro, por exemplo. Nas Os principais verbos unipessoais são:
formas arrizotônicas, o acento tônico não cai no radical, mas sim 1. cumprir, importar, convir, doer, aprazer, parecer,
na terminação verbal: opinei, aprenderão, nutriríamos. ser (preciso, necessário, etc.).
Cumpre  trabalharmos bastante. (Sujeito:  trabalharmos
Classificação dos Verbos bastante.)
Parece que vai chover. (Sujeito: que vai chover.)
Classificam-se em: É preciso que chova. (Sujeito: que chova.)
a) Regulares:  são aqueles que possuem as desinências 2. fazer e ir, em orações que dão ideia de tempo, seguidos da
normais de sua conjugação e cuja flexão não provoca alterações conjunção que.
no radical.
Faz  dez anos que deixei de fumar. (Sujeito:  que deixei de
Por exemplo: canto     cantei      cantarei     cantava      cantasse fumar.)
b) Irregulares:  são aqueles cuja flexão provoca alterações Vai para (ou Vai em ou Vai por) dez anos que não vejo Cláudia.
no radical ou nas desinências. (Sujeito: que não vejo Cláudia)
Por exemplo: faço     fiz      farei     fizesse Obs.: todos os sujeitos apontados são oracionais.
c) Defectivos: são aqueles que não apresentam conjugação
completa. Classificam-se em impessoais, unipessoais e pessoais. - Pessoais:  não apresentam algumas flexões por motivos
morfológicos ou eufônicos. Por exemplo:
- Impessoais: são os verbos que não têm sujeito. verbo falir. Este verbo teria como formas do presente do
Normalmente, são usados na terceira pessoa do singular. Os indicativo falo, fales, fale, idênticas às do verbo falar - o que
principais verbos impessoais são: provavelmente causaria problemas de interpretação em certos
a)  haver, quando sinônimo de existir, acontecer, realizar-se contextos.
ou fazer (em orações temporais). verbo computar. Este verbo teria como formas do presente do
Havia poucos ingressos à venda. (Havia = Existiam) indicativo computo, computas, computa - formas de sonoridade
Houve duas guerras mundiais. (Houve = Aconteceram) considerada ofensiva por alguns ouvidos gramaticais. Essas
Haverá reuniões aqui. (Haverá = Realizar-se-ão) razões muitas vezes não impedem o uso efetivo de formas
Deixei de fumar há muitos anos. (há = faz) verbais repudiadas por alguns gramáticos: exemplo disso é
o próprio verbo computar, que, com o desenvolvimento e a
b) fazer, ser e estar (quando indicam tempo) popularização da informática, tem sido conjugado em todos os
Faz invernos rigorosos no Sul do Brasil. tempos, modos e pessoas.
Era primavera quando a conheci.
Estava frio naquele dia. d) Abundantes:  são aqueles que possuem mais de uma
forma com o mesmo valor. Geralmente, esse fenômeno costuma
c) Todos os verbos que indicam fenômenos da natureza ocorrer no particípio, em que, além das formas regulares
são impessoais: chover, ventar, nevar, gear, trovejar, amanhecer, terminadas em -ado ou -ido, surgem as chamadas formas
escurecer, etc. Quando, porém, se constrói, “Amanheci mal- curtas (particípio irregular). Observe:
humorado”, usa-se o verbo  “amanhecer”  em sentido figurado.
Qualquer verbo impessoal, empregado em sentido figurado,
deixa de ser impessoal para ser pessoal. Infinitivo Particípio regular Particípio irregular
Amanheci mal-humorado. (Sujeito desinencial: eu)
Choveram candidatos ao cargo. (Sujeito: candidatos) Anexar Anexado Anexo
Fiz quinze anos ontem. (Sujeito desinencial: eu)
Dispersar Dispersado Disperso
d) São impessoais, ainda: Eleger Elegido Eleito
1. o verbo passar (seguido de preposição), indicando tempo.
Ex.: Já passa das seis. Envolver Envolvido Envolto
2. os verbos  bastar  e  chegar, seguidos da preposição  de, Imprimir Imprimido Impresso
indicando suficiência. Ex.: 
Basta de tolices. Chega de blasfêmias. Matar Matado Morto
3. os verbos  estar  e  ficar  em orações tais como  Está bem, Morrer Morrido Morto
Está muito bem assim, Não fica bem, Fica mal,  sem referência
a sujeito expresso anteriormente. Podemos, ainda, nesse caso, Pegar Pegado Pego
classificar o sujeito como  hipotético, tornando-se, tais verbos, Soltar Soltado Solto
então, pessoais.
4. o verbo deu + para da língua popular, equivalente de “ser e) Anômalos: são aqueles que incluem mais de um radical
possível”. Por exemplo: em sua conjugação.
Não deu para chegar mais cedo. Por exemplo: 
Dá para me arrumar uns trocados?

- Unipessoais:  são aqueles que, tendo sujeito, conjugam-se Ir Pôr Ser Saber
apenas nas terceiras pessoas, do singular e do plural. vou ponho sou sei
A fruta amadureceu. vais pus és sabes
As frutas amadureceram. ides pôs fui soube
fui punha foste saiba
Obs.: os verbos unipessoais podem ser usados como verbos
foste seja
pessoais na linguagem figurada:
Teu irmão amadureceu bastante.
Entre os unipessoais estão os verbos que significam vozes de f) Auxiliares
animais; eis alguns: São aqueles que entram na formação dos tempos
bramar: tigre compostos e das locuções verbais. O verbo principal, quando

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APOSTILAS OPÇÃO
acompanhado de verbo auxiliar, é expresso numa das formas Futuro do Presente Simples: eu estarei, tu estarás, ele
nominais: infinitivo, gerúndio ou particípio. estará, nós estaremos, vós estareis, eles estarão.
                         Futuro do Presente Composto: terei estado.
  Vou                       espantar           as          moscas. Futuro do Pretérito Simples: eu estaria, tu estarias, ele
(verbo auxiliar)       (verbo principal no infinitivo) estaria, nós estaríamos, vós estaríeis, eles estariam.
Futuro do Pretérito Composto: teria estado.
Está                    chegando            a         hora     do    debate.
(verbo auxiliar)      (verbo principal no gerúndio)                  ESTAR - Modo Subjuntivo e Imperativo
                   
Obs.: os verbos auxiliares mais usados são: ser, estar, ter e Presente: que eu esteja, que tu estejas, que ele esteja, que
haver. nós estejamos, que vós estejais, que eles estejam.
Pretérito Imperfeito: se eu estivesse, se tu estivesses, se
Conjugação dos Verbos Auxiliares ele estivesse, se nós estivéssemos, se vós estivésseis, se eles
estivessem.
SER - Modo Indicativo Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse estado
Futuro Simples: quando eu estiver, quando tu estiveres,
Presente: eu sou, tu és, ele é, nós somos, vós sois, eles são. quando ele estiver, quando nós estivermos, quando vós
Pretérito Imperfeito: eu era, tu eras, ele era, nós éramos, estiverdes, quando eles estiverem.
vós éreis, eles eram. Futuro Composto: Tiver estado.
Pretérito Perfeito Simples: eu fui, tu foste, ele foi, nós
fomos, vós fostes, eles foram. Imperativo Afirmativo: está tu, esteja ele, estejamos nós,
Pretérito Perfeito Composto: tenho sido. estai vós, estejam eles.
Mais-que-perfeito simples: eu fora, tu foras, ele fora, nós Imperativo Negativo: não estejas tu, não esteja ele, não
fôramos, vós fôreis, eles foram. estejamos nós, não estejais vós, não estejam eles.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tinha sido. Infinitivo Pessoal: por estar eu, por estares tu, por estar ele,
Futuro do Pretérito simples: eu seria, tu serias, ele seria, por estarmos nós, por estardes vós, por estarem eles.
nós seríamos, vós seríeis, eles seriam.
Futuro do Pretérito Composto: terei sido. Formas Nominais
Futuro do Presente: eu serei, tu serás, ele será, nós seremos, Infinitivo: estar
vós sereis, eles serão. Gerúndio: estando
Futuro do Pretérito Composto: Teria sido. Particípio: estado

SER - Modo Subjuntivo ESTAR - Formas Nominais

Presente: que eu seja, que tu sejas, que ele seja, que nós Infinitivo Impessoal: estar
sejamos, que vós sejais, que eles sejam. Infinitivo Pessoal: estar, estares, estar, estarmos, estardes,
Pretérito Imperfeito: se eu fosse, se tu fosses, se ele fosse, estarem.
se nós fôssemos, se vós fôsseis, se eles fossem. Gerúndio: estando
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse sido. Particípio: estado
Futuro Simples: quando eu for, quando tu fores, quando ele
for, quando nós formos, quando vós fordes, quando eles forem. HAVER - Modo Indicativo
Futuro Composto: tiver sido.
Presente: eu hei, tu hás, ele há, nós havemos, vós haveis, eles
SER - Modo Imperativo hão.
Pretérito Imperfeito: eu havia, tu havias, ele havia, nós
Imperativo Afirmativo: sê tu, seja ele, sejamos nós, sede havíamos, vós havíeis, eles haviam.
vós, sejam eles. Pretérito Perfeito Simples: eu houve, tu houveste, ele
Imperativo Negativo: não sejas tu, não seja ele, não sejamos houve, nós houvemos, vós houvestes, eles houveram.
nós, não sejais vós, não sejam eles. Pretérito Perfeito Composto: tenho havido.
Infinitivo Pessoal: por ser eu, por seres tu, por ser ele, por Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu houvera, tu
sermos nós, por serdes vós, por serem eles. houveras, ele houvera, nós houvéramos, vós houvéreis, eles
houveram.
SER - Formas Nominais Pretérito Mais-que-Prefeito Composto: tinha havido.
Futuro do Presente Simples: eu haverei, tu haverás, ele
Formas Nominais haverá, nós haveremos, vós havereis, eles haverão.
Infinitivo: ser Futuro do Presente Composto: terei havido.
Gerúndio: sendo Futuro do Pretérito Simples: eu haveria, tu haverias, ele
Particípio: sido haveria, nós haveríamos, vós haveríeis, eles haveriam.
Futuro do Pretérito Composto: teria havido.
Infinitivo Pessoal : ser eu, seres tu, ser ele, sermos
nós, serdes vós, serem eles. HAVER - Modo Subjuntivo e Imperativo

ESTAR - Modo Indicativo Modo Subjuntivo


Presente: que eu haja, que tu hajas, que ele haja, que nós
Presente: eu estou, tu estás, ele está, nós estamos, vós estais, hajamos, que vós hajais, que eles hajam.
eles estão. Pretérito Imperfeito: se eu houvesse, se tu houvesses, se
Pretérito Imperfeito: eu estava, tu estavas, ele estava, nós ele houvesse, se nós houvéssemos, se vós houvésseis, se eles
estávamos, vós estáveis, eles estavam. houvessem.
Pretérito Perfeito Simples: eu estive, tu estiveste, ele Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse havido.
esteve, nós estivemos, vós estivestes, eles estiveram. Futuro Simples: quando eu houver, quando tu houveres,
Pretérito Perfeito Composto: tenho estado. quando ele houver, quando nós houvermos, quando vós
Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu estivera, tu houverdes, quando eles houverem.
estiveras, ele estivera, nós estivéramos, vós estivéreis, eles Futuro Composto: tiver havido.
estiveram.
Pretérito Mais-que-perfeito Composto: tinha estado

Língua Portuguesa 33
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APOSTILAS OPÇÃO
Modo Imperativo Eu me arrependo 
Imperativo Afirmativo: haja ele, hajamos nós, havei vós, Tu te arrependes 
hajam eles. Ele se arrepende 
Imperativo Negativo: não hajas tu, não haja ele, não Nós nos arrependemos 
hajamos nós, não hajais vós, não hajam eles. Vós vos arrependeis 
Infinitivo Pessoal: por haver eu, por haveres tu, por haver Eles se arrependem
ele, por havermos nós, por haverdes vós, por haverem eles.
 - 2. Acidentais:  são aqueles verbos transitivos diretos em que
HAVER - Formas Nominais a ação exercida pelo sujeito recai sobre o objeto representado por
pronome oblíquo da mesma pessoa do sujeito; assim, o sujeito
Infinitivo Impessoal: haver, haveres, haver, havermos, faz uma ação que recai sobre ele mesmo. Em geral, os verbos
haverdes, haverem. transitivos diretos ou transitivos diretos e indiretos podem ser
Infinitivo Pessoal: haver conjugados com os pronomes mencionados, formando o que se
Gerúndio: havendo chama voz reflexiva. Por exemplo: Maria se penteava.
Particípio: havido A reflexibilidade é acidental, pois a ação reflexiva pode
ser exercida também sobre outra pessoa. Por exemplo:  Maria
TER - Modo Indicativo penteou-me.
 
Presente: eu tenho, tu tens, ele tem, nós temos, vós tendes, Observações:
eles têm. 1- Por fazerem parte integrante do verbo, os pronomes
Pretérito Imperfeito: eu tinha, tu tinhas, ele tinha, nós oblíquos átonos dos verbos pronominais não possuem função
tínhamos, vós tínheis, eles tinham. sintática.
Pretérito Perfeito Simples: eu tive, tu tiveste, ele teve, nós 2- Há verbos que também são acompanhados de pronomes
tivemos, vós tivestes, eles tiveram. oblíquos átonos, mas que não são essencialmente pronominais,
Pretérito Perfeito Composto: tenho tido. são os verbos reflexivos. Nos verbos reflexivos, os pronomes,
Pretérito Mais-que-Perfeito Simples: eu tivera, tu tiveras, apesar de se encontrarem na pessoa idêntica à do sujeito,
ele tivera, nós tivéramos, vós tivéreis, eles tiveram. exercem funções sintáticas.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tinha tido. Por exemplo:
Futuro do Presente Simples: eu terei, tu terás, ele terá, nós Eu me feri. = Eu(sujeito) - 1ª pessoa do singular me (objeto
teremos, vós tereis, eles terão. direto) - 1ª pessoa do singular
Futuro do Presente: terei tido.
Futuro do Pretérito Simples: eu teria, tu terias, ele teria, Modos Verbais
nós teríamos, vós teríeis, eles teriam.
Futuro do Pretérito composto: teria tido. Dá-se o nome de modo às várias formas assumidas pelo
verbo na expressão de um fato. Em Português, existem três
TER - Modo Subjuntivo e Imperativo modos: 
Indicativo - indica uma certeza, uma realidade. Por exemplo:
Modo Subjuntivo Eu sempre estudo.
Presente: que eu tenha, que tu tenhas, que ele tenha, que Subjuntivo - indica uma dúvida, uma possibilidade. Por
nós tenhamos, que vós tenhais, que eles tenham. exemplo: Talvez eu estude amanhã.
Pretérito Imperfeito: se eu tivesse, se tu tivesses, se ele Imperativo  - indica uma ordem, um pedido. Por
tivesse, se nós tivéssemos, se vós tivésseis, se eles tivessem. exemplo: Estuda agora, menino.
Pretérito Mais-que-Perfeito Composto: tivesse tido.
Futuro: quando eu tiver, quando tu tiveres, quando ele tiver, Formas Nominais
quando nós tivermos, quando vós tiverdes, quando eles tiverem.
Futuro Composto: tiver tido. Além desses três modos, o verbo apresenta ainda formas
que podem exercer funções de nomes (substantivo, adjetivo,
Modo Imperativo advérbio), sendo por isso denominadas  formas nominais.
Imperativo Afirmativo: tem tu, tenha ele, tenhamos nós, Observe: 
tende vós, tenham eles. - a) Infinitivo Impessoal:  exprime a significação do verbo
Imperativo Negativo: não tenhas tu, não tenha ele, não de modo vago e indefinido, podendo ter valor e função de
tenhamos nós, não tenhais vós, não tenham eles. substantivo. Por exemplo: Viver é lutar. (= vida é luta)
Infinitivo Pessoal: por ter eu, por teres tu, por ter ele, por É indispensável combater a corrupção. (= combate à)
termos nós, por terdes vós, por terem eles. O infinitivo impessoal pode apresentar-se no presente
(forma simples) ou no passado (forma composta). Por exemplo:
g) Pronominais: São aqueles verbos que se conjugam com É preciso ler este livro. Era preciso ter lido este livro.
os pronomes oblíquos átonos me, te, se, nos, vos, se, na mesma
pessoa do sujeito, expressando reflexibilidade (pronominais b) Infinitivo Pessoal:  é o infinitivo relacionado às três
acidentais) ou apenas reforçando a ideia já implícita no próprio pessoas do discurso. Na 1ª e 3ª pessoas do singular, não
sentido do verbo (reflexivos essenciais). Veja: apresenta desinências, assumindo a mesma forma do impessoal;
- 1. Essenciais: são aqueles que sempre se conjugam com os nas demais, flexiona- -se da seguinte maneira:
pronomes oblíquos me, te, se, nos, vos, se. São poucos: abster-se,
ater-se, apiedar-se, atrever-se, dignar-se, arrepender-se, etc. Nos 2ª pessoa do singular: Radical + ES Ex.: teres(tu)
verbos pronominais essenciais a reflexibilidade já está implícita 1ª pessoa do plural: Radical + MOS Ex.:termos (nós)
no radical do verbo. Por exemplo: 2ª pessoa do plural: Radical + DES Ex.:terdes (vós)
Arrependi-me de ter estado lá. 3ª pessoa do plural: Radical + EM Ex.:terem (eles)
A ideia é de que a pessoa representada pelo sujeito (eu) tem
um sentimento (arrependimento) que recai sobre ela mesma, Por exemplo:
pois não recebe ação transitiva nenhuma vinda do verbo; o Foste elogiado por teres alcançado uma boa colocação.
pronome oblíquo átono é apenas uma partícula integrante do
verbo, já que, pelo uso, sempre é conjugada com o verbo. Diz- - c) Gerúndio: o gerúndio pode funcionar como adjetivo ou
se que o pronome apenas serve de reforço da ideia reflexiva advérbio. Por exemplo: 
expressa pelo radical do próprio verbo.   Saindo  de casa, encontrei alguns amigos. (função de
Veja uma conjugação pronominal essencial (verbo e advérbio)
respectivos pronomes):  Nas ruas, havia crianças vendendo doces. (função adjetivo)

Língua Portuguesa 34
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APOSTILAS OPÇÃO
Na forma simples, o gerúndio expressa uma ação em curso; - Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato posterior
na forma composta, uma ação concluída. Por exemplo: ao momento atual mas já terminado antes de outro fato
Trabalhando, aprenderás o valor do dinheiro. futuro. Por exemplo:  Quando ele  tiver saído do hospital, nós o
Tendo trabalhado, aprendeu o valor do dinheiro. visitaremos.

- d) Particípio:  quando não é empregado na formação dos Presente do Indicativo


tempos compostos, o particípio indica geralmente o resultado
de uma ação terminada, flexionando-se em gênero, número e 1ª conjugação/2ª conjugação/3ª conjugação / Desinência
grau. Por exemplo: pessoal
Terminados os exames, os candidatos saíram. CANTAR VENDER PARTIR
Quando o particípio exprime somente estado, sem nenhuma cantO vendO partO O
relação temporal, assume verdadeiramente a função de adjetivo cantaS vendeS parteS S
(adjetivo verbal). Por exemplo: canta vende parte -
Ela foi a aluna escolhida para representar a escola. cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
cantaIS vendeIS partIS IS
Tempos Verbais cantaM vendeM parteM M

Tomando-se como referência o momento em que se fala, Pretérito Perfeito do Indicativo


a ação expressa pelo verbo pode ocorrer em diversos tempos.
Veja: 1ª conjugação/2ª conjugação/3ª conjugação/Desinência
pessoal
1. Tempos do Indicativo CANTAR VENDER PARTIR
canteI vendI partI I
- Presente  - Expressa um fato atual. Por exemplo: cantaSTE vendeSTE partISTE STE
Eu estudo neste colégio. cantoU vendeU partiU U
- Pretérito Imperfeito  - Expressa um fato ocorrido num cantaMOS vendeMOS partiMOS MOS
momento anterior ao atual, mas que não foi completamente cantaSTES vendeSTES partISTES STES
terminado. Por exemplo: Ele  estudava  as lições quando foi cantaRAM vendeRAM partiRAM AM
interrompido.
- Pretérito Perfeito (simples)  -  Expressa um fato ocorrido Pretérito mais-que-perfeito
num momento anterior ao atual e que foi totalmente terminado.
Por exemplo: Ele estudou as lições ontem à noite. 1ª conj. / 2ª conj. / 3ª conj. /Desin. Temp. /Desin. Pess.
- Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato que teve 1ª/2ª e 3ª conj.
início no passado e que pode se prolongar até o momento atual. CANTAR VENDER PARTIR - -
Por exemplo: Tenho estudado muito para os exames. cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
- Pretérito-Mais-Que-Perfeito - Expressa um fato ocorrido cantaRAS vendeRAS partiRAS RA S
antes de outro fato já terminado. Por exemplo: Ele já  tinha cantaRA vendeRA partiRA RA Ø
estudado  as lições quando os amigos chegaram. (forma cantáRAMOS vendêRAMOS partíRAMOS RA MOS
composta) Ele já estudara as lições quando os amigos chegaram. cantáREIS vendêREIS partíREIS RE IS
(forma simples) cantaRAM vendeRAM partiRAM RA M
- Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que deve
ocorrer num tempo vindouro com relação ao momento atual. Pretérito Imperfeito do Indicativo
Por exemplo:  Ele estudará as lições amanhã.
- Futuro do Presente (composto) - Enuncia um fato que deve 1ª conjugação / 2ª conjugação / 3ª conjugação
ocorrer posteriormente a um momento atual, mas já terminado CANTAR VENDER PARTIR
antes de outro fato futuro. Por exemplo: Antes de bater o sinal, cantAVA vendIA partIA
os alunos já terão terminado o teste. cantAVAS vendIAS partAS
- Futuro do Pretérito (simples) - Enuncia um fato que pode CantAVA vendIA partIA
ocorrer posteriormente a um determinado fato passado. Por cantÁVAMOS vendÍAMOS partÍAMOS
exemplo: Se eu tivesse dinheiro, viajaria nas férias. cantÁVEIS vendÍEIS partÍEIS
- Futuro do Pretérito (composto)  -  Enuncia um fato que cantAVAM vendIAM partIAM
poderia ter ocorrido posteriormente a um determinado fato
passado. Por exemplo:  Se eu tivesse ganho esse dinheiro, teria Futuro do Presente do Indicativo
viajado nas férias.
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
2. Tempos do Subjuntivo CANTAR VENDER PARTIR
cantar ei vender ei partir ei
- Presente - Enuncia um fato que pode ocorrer no momento cantar ás vender ás partir ás
atual. Por exemplo: É conveniente que estudes para o exame. cantar á vender á partir á
- Pretérito Imperfeito  -  Expressa um fato passado, mas cantar emos vender emos partir emos
posterior a outro já ocorrido. Por exemplo: Eu esperava que cantar eis vender eis partir eis
ele vencesse o jogo. cantar ão vender ão partir ão

Obs.: o pretérito imperfeito é também usado nas construções Futuro do Pretérito do Indicativo
em que se expressa a ideia de condição ou desejo. Por exemplo:
Se ele viesse ao clube, participaria do campeonato. 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
- Pretérito Perfeito (composto) - Expressa um fato totalmente CANTAR VENDER PARTIR
terminado num momento passado. Por exemplo: Embora tenha cantarIA venderIA partirIA
estudado bastante, não passou no teste. cantarIAS venderIAS partirIAS
- Futuro do Presente (simples) - Enuncia um fato que pode cantarIA venderIA partirIA
ocorrer num momento futuro em relação ao atual. Por exemplo: cantarÍAMOS venderÍAMOS partirÍAMOS
Quando ele vier à loja, levará as encomendas. cantarÍEIS venderÍEIS partirÍEIS
Obs.: o futuro do presente é também usado em frases que cantarIAM venderIAM partirIAM
indicam possibilidade ou desejo. Por exemplo: Se ele vier à loja,
levará as encomendas.

Língua Portuguesa 35
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APOSTILAS OPÇÃO
Presente do Subjuntivo Presente do Subjuntivo Imperativo Negativo
Que eu cante ---
Para se formar o presente do subjuntivo, substitui-se a Que tu cantes Não cantes tu
desinência -o da primeira pessoa do singular do presente do Que ele cante Não cante você
indicativo pela desinência -E (nos verbos de 1ª conjugação) ou Que nós cantemos Não cantemos nós
pela desinência -A (nos verbos de 2ª e 3ª conjugação). Que vós canteis Não canteis vós
Que eles cantem Não cantem eles
1ª conj./2ª conj./3ª conju./Des.Temp./Des.temp./Des. pess
1ª conj. 2ª/3ª conj. Observações:
CANTAR VENDER PARTIR
cantE vendA partA E A Ø - No modo imperativo não faz sentido usar na 3ª pessoa
cantES vendAS partAS E A S (singular e plural) as formas ele/eles, pois uma ordem, pedido
cantE vendA partA E A Ø ou conselho só se aplicam diretamente à pessoa com quem se
cantEMOS vendAMOS partAMOS E A MOS fala. Por essa razão, utiliza-se você/vocês.
cantEIS vendAIS partAIS E A IS - O verbo SER, no imperativo, faz excepcionalmente: sê (tu),
cantEM vendAM partAM E A M sede (vós).

Pretérito Imperfeito do Subjuntivo Infinitivo Impessoal

Para formar o imperfeito do subjuntivo, elimina-se a 1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação


desinência -STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, CANTAR VENDER PARTIR
obtendo-se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse
tema a desinência temporal -SSE mais a desinência de número Infinitivo Pessoal
e pessoa correspondente.
1ª conjugação 2ª conjugação 3ª conjugação
1ª conj. 2ª conj. 3ª conj. Des. temporal Desin. pessoal CANTAR VENDER PARTIR
1ª /2ª e 3ª conj. cantar vender partir
CANTAR VENDER PARTIR cantarES venderES partirES
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø cantar vender partir
cantaSSES vendeSSES partiSSES SSE S cantarMOS venderMOS partirMOS
cantaSSE vendeSSE partiSSE SSE Ø cantarDES venderDES partirDES
cantáSSEMOS vendêSSEMOS partíssemos SSE MOS cantarEM venderEM partirEM
cantáSSEIS vendêSSEIS partíSSEIS SSE IS
cantaSSE vendeSSEM partiSSEM SSE M Questões

Futuro do Subjuntivo 01. Considere o trecho a seguir. É comum que objetos


___ esquecidos em locais públicos. Mas muitos transtornos
Para formar o futuro do subjuntivo elimina-se a desinência poderiam ser evitados se as pessoas ______ a atenção voltada
-STE da 2ª pessoa do singular do pretérito perfeito, obtendo- para seus pertences, conservando-os junto ao corpo. Assinale a
se, assim, o tema desse tempo. Acrescenta-se a esse tema a alternativa que preenche, correta e respectivamente, as lacunas
desinência temporal -R mais a desinência de número e pessoa do texto.
correspondente. (A) sejam … mantesse
(B) sejam … mantivessem
1ª conj. / 2ª conj. / 3ª conj. / Des. temp. /Desin. pess. (C) sejam … mantém
1ª /2ª e 3ª conj. (D) seja … mantivessem
CANTAR VENDER PARTIR (E) seja … mantêm
cantaR vendeR partiR Ø
cantaRES vendeRES partiRES R ES 02. Na frase –… os níveis de pessoas sem emprego estão
cantaR vendeR partiR R Ø apresentando quedas sucessivas de 2005 para cá. –, a locução
cantaRMOS vendeRMOS partiRMOS R MOS verbal em destaque expressa ação
cantaRDES vendeRDES partiRDES R DES (A) concluída.
cantaREM vendeREM PartiREM R EM (B) atemporal.
(C) contínua.
Imperativo (D) hipotética.
(E) futura.
Imperativo Afirmativo
03. (Escrevente TJ SP Vunesp) Sem querer estereotipar,
Para se formar o imperativo afirmativo, toma-se do presente mas já estereotipando: trata--se de um ser cujas interações sociais
do indicativo a 2ª pessoa do singular (tu) e a segunda pessoa do terminam, 99% das vezes, diante da pergunta “débito ou crédito?”.
plural (vós) eliminando-se o “S” final. As demais pessoas vêm, Nesse contexto, o verbo estereotipar tem sentido de
sem alteração, do presente do subjuntivo. Veja:  (A) considerar ao acaso, sem premeditação.
(B) aceitar uma ideia mesmo sem estar convencido dela.
Pres. do Indicativo Imperativo Afirm. Pres. do Subjuntivo (C) adotar como referência de qualidade.
Eu canto --- Que eu cante (D) julgar de acordo com normas legais.
Tu cantas CantA tu Que tu cantes (E) classificar segundo ideias preconcebidas.
Ele canta Cante você Que ele cante
Nós cantamos Cantemos nós Que nós cantemos Respostas
Vós cantais CantAI vós Que vós canteis 1-B / 2-C / 3-E
Eles cantam Cantem vocês Que eles cantem
Advérbio
Imperativo Negativo
O  advérbio, assim como muitas outras palavras existentes
Para se formar o imperativo negativo, basta antecipar a na Língua Portuguesa, advém de outras línguas. Assim sendo,
negação às formas do presente do subjuntivo. tal qual o adjetivo, o prefixo “ad-” indica a ideia de proximidade,
contiguidade.

Língua Portuguesa 36
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APOSTILAS OPÇÃO
Essa proximidade faz referência ao processo verbal, no Há locuções adverbiais que possuem advérbios
sentido de caracterizá-lo, ou seja, indicando as circunstâncias correspondentes.
em que esse processo se desenvolve.  Exemplo:
Carlos saiu às pressas. = Carlos saiu apressadamente.
O advérbio relaciona-se aos verbos da língua, no sentido de
caracterizar os processos expressos por ele. Contudo, ele não Apenas os advérbios de intensidade, de lugar e de modo são
é modificador exclusivo desta classe (verbos), pois também flexionados, sendo que os demais são todos invariáveis. A única
modifica o  adjetivo e até outro advérbio. Seguem alguns flexão propriamente dita que existe na categoria dos advérbios
exemplos: é a de grau:
Para quem se diz  distantemente alheio  a esse assunto,
Superlativo:  aumenta a intensidade. Exemplos: longe
você está até bem informado.
- longíssimo, pouco - pouquíssimo, inconstitucionalmente -
Temos o advérbio “distantemente” que modifica o adjetivo inconstitucionalissimamente, etc;
alheio, representando uma qualidade, característica. Diminutivo: diminui a intensidade.
Exemplos: perto - pertinho, pouco - pouquinho, devagar -
O artista canta muito mal. devagarinho, 

Nesse caso, o advérbio de intensidade “muito” modifica outro Questões


advérbio de modo – “mal”. Em ambos os exemplos pudemos
verificar que se tratava de somente uma palavra funcionando 01. Leia os quadrinhos para responder a questão.
como advérbio. No entanto, ele pode estar demarcado por
mais de uma palavra, que mesmo assim não deixará de ocupar
tal função. Temos aí o que chamamos de  locução adverbial,
representada por algumas expressões, tais como: às vezes, sem
dúvida, frente a frente, de modo algum, entre outras.

Mediante tais postulados, afirma-se que, dependendo das


circunstâncias expressas pelos advérbios, eles se classificam em
distintas categorias, uma vez expressas por:    
de modo: Bem, mal, assim, depressa, devagar, às pressas, às
claras, às cegas, à toa, à vontade, às escondidas, aos poucos, desse
jeito, desse modo, dessa maneira, em geral, frente a frente, lado
a lado, a pé, de cor, em vão, e a maior parte dos que terminam
em -mente: calmamente, tristemente, propositadamente,
pacientemente, amorosamente, docemente, escandalosamente,
bondosamente, generosamente
de intensidade: Muito, demais, pouco, tão, menos, em
excesso, bastante, pouco, mais, menos, demasiado, quanto, quão,
tanto, que(equivale a quão), tudo, nada, todo, quase, de todo, de
muito, por completo.
de tempo: Hoje, logo, primeiro, ontem, tarde outrora,
amanhã, cedo, dantes, depois, ainda, antigamente, antes,
doravante, nunca, então, ora, jamais, agora, sempre, já, enfim,
afinal, breve, constantemente, entrementes, imediatamente,
primeiramente, provisoriamente, sucessivamente, às vezes,
à tarde, à noite, de manhã, de repente, de vez em quando, de
quando em quando, a qualquer momento, de tempos em tempos,
em breve, hoje em dia (Leila Lauar Sarmento e Douglas Tufano. Português. Volume
de lugar: Aqui, antes, dentro, ali, adiante, fora, acolá, atrás, Único)
além, lá, detrás, aquém, cá, acima, onde, perto, aí, abaixo, aonde,
longe, debaixo, algures, defronte, nenhures, adentro, afora, No primeiro e segundo quadrinhos, estão em destaque dois
alhures, nenhures, aquém, embaixo, externamente, a distância, advérbios: AÍ e ainda.
à distância de, de longe, de perto, em cima, à direita, à esquerda, Considerando que advérbio é a palavra que modifica
ao lado, em volta um verbo, um outro advérbio ou um adjetivo, expressando
de negação  : Não, nem, nunca, jamais, de modo algum, de a circunstância em que determinado fato ocorre, assinale
forma nenhuma, tampouco, de jeito nenhum a alternativa que classifica, correta e respectivamente, as
de dúvida: Acaso, porventura, possivelmente, circunstâncias expressas por eles.
provavelmente, quiçá, talvez, casualmente, por certo, quem sabe A) Lugar e negação.
de afirmação: Sim, certamente, realmente, decerto, B) Lugar e tempo.
efetivamente, certo, decididamente, realmente, deveras, C) Modo e afirmação.
indubitavelmente D) Tempo e tempo.
de exclusão: Apenas, exclusivamente, salvo, senão, somente, E) Intensidade e dúvida.
simplesmente, só, unicamente
de inclusão: Ainda, até, mesmo, inclusivamente, também 02. Leia o texto a seguir.
de ordem: Depois, primeiramente, ultimamente
de designação: Eis Impunidade é motor de nova onda de agressões
de interrogação: onde?(lugar), como?(modo),
quando?(tempo), por quê?(causa), quanto?(preço e intensidade), Repetidos episódios de violência têm sido noticiados nas
para quê?(finalidade) últimas semanas. Dois que chamam a atenção, pela banalidade
com que foram cometidos, estão gerando ainda uma série de
Locução adverbial  repercussões.
É reunião de duas ou mais palavras com valor de advérbio. Em Natal, um garoto de 19 anos quebrou o braço da
Exemplo: estudante de direito R.D., 19, em plena balada, porque ela teria
Carlos saiu às pressas. (indicando modo) recusado um beijo. O suposto agressor já responde a uma ação
Maria saiu à tarde. (indicando tempo)

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APOSTILAS OPÇÃO
penal, por agressão, movida por sua ex-mulher. A matemática está no centro de algumas das mais intrigantes
No mesmo final de semana, dois amigos que saíam de uma especulações cosmológicas da atualidade. Se as equações da
boate em São Paulo também foram atacados por dois jovens mecânica quântica indicam que existem universos paralelos,
que estavam na mesma balada, e um dos agredidos teve a perna isso basta para que acreditemos neles? Ou, no rastro de Eugene
fraturada. Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem Wigner, podemos nos perguntar por que a matemática é tão
sucesso, de duas garotas que eram amigas dos rapazes que eficaz para exprimir as leis da física.
saíam da boate. Um dos suspeitos do ataque alega que tudo não Releia os trechos apresentados a seguir.
passou de um engano e que o rapaz teria fraturado a perna ao - Aqueles que não simpatizavam muito com Pitágoras
cair no chão. podiam simplesmente escolher carreiras nas quais os números
Curiosamente, também é possível achar um blog que diz não encontravam muito espaço... (1.º parágrafo)
que R.D., em Natal, foi quem atacou o jovem e que seu braço se - Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma
quebrou ao cair no chão. ponta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental...(3.º
Em ambos os casos, as câmeras dos estabelecimentos parágrafo)
felizmente comprovam os acontecimentos, e testemunhas vão
ajudar a polícia na investigação. Os advérbios em destaque nos trechos expressam, correta e
O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se respectivamente, circunstâncias de
quebrando por aí ao cair no chão, não é mesmo? As agressões A) afirmação e de intensidade.
devem ser rigorosamente apuradas e, se houver culpados, que B) modo e de tempo.
eles sejam julgados e condenados. C) modo e de lugar.
A impunidade é um dos motores da onda de violência que D) lugar e de tempo.
temos visto. O machismo e o preconceito são outros. O perfil E) intensidade e de negação.
impulsivo de alguns jovens (amplificado pela bebida e por
outras substâncias) completa o mecanismo que gera agressões. Respostas
Sem interferir nesses elementos, a situação não vai mudar. 1-B / 2-C / 3-B
Maior rigor da justiça, educação para a convivência com o outro,
aumento da tolerância à própria frustração e melhor controle Preposição
sobre os impulsos (é normal levar um “não”, gente!) são alguns
dos caminhos. Preposição  é uma palavra invariável que serve para ligar
(Jairo Bouer, Folha de S.Paulo, 24.10.2011. Adaptado) termos ou orações. Quando esta ligação acontece, normalmente
há uma subordinação do segundo termo em relação ao
Assinale a alternativa cuja expressão em destaque apresenta primeiro. As preposições são muito importantes na estrutura
circunstância adverbial de modo. da língua, pois estabelecem a coesão textual e possuem valores
A) Repetidos episódios de violência (...) estão gerando ainda semânticos indispensáveis para a compreensão do texto.
uma série de repercussões.
B) ...quebrou o braço da estudante de direito R. D., 19, em Tipos de Preposição
plena balada…
C) Esses dois jovens teriam tentado se aproximar, sem 1. Preposições essenciais: palavras que atuam exclusivamente
sucesso, de duas amigas… como preposições.
D) Um dos suspeitos do ataque alega que tudo não passou A, ante, perante, após, até, com, contra, de, desde, em, entre,
de um engano... para, por, sem, sob, sobre, trás, atrás de, dentro de, para com.
E) O fato é que é difícil acreditar que tanta gente ande se
quebrando por aí… 2.  Preposições acidentais: palavras de outras  classes
gramaticais que podem atuar como preposições.
03. Leia o texto a seguir. Como, durante, exceto, fora, mediante, salvo, segundo, senão,
visto.
Cultura matemática
Hélio Schwartsman 3.  Locuções prepositivas: duas ou mais palavras valendo
como uma preposição, sendo que a última palavra é uma delas.
SÃO PAULO – Saiu mais um estudo mostrando que o ensino Abaixo de, acerca de, acima de, ao lado de, a respeito de, de
de matemática no Brasil não anda bem. A pergunta é: podemos acordo com, em cima de, embaixo de, em frente a, ao redor de,
viver sem dominar o básico da matemática? Durante muito graças a, junto a, com, perto de, por causa de, por cima de, por
tempo, a resposta foi sim. Aqueles que não simpatizavam muito trás de.
com Pitágoras podiam simplesmente escolher carreiras nas
quais os números não encontravam muito espaço, como direito, A preposição, como já foi dito, é invariável. No entanto pode
jornalismo, as humanidades e até a medicina de antigamente. unir-se a outras palavras e assim estabelecer concordância em
Como observa Steven Pinker, ainda hoje, nos meios gênero ou em número. Ex: por + o = pelo por + a = pela
universitários, é considerado aceitável que um intelectual se
vanglorie de ter passado raspando em física e de ignorar o beabá Vale ressaltar que essa concordância não é característica da
da estatística. Mas ai de quem admitir nunca ter lido Joyce ou preposição, mas das palavras às quais ela se une.
dizer que não gosta de Mozart. Sobre ele recairão olhares tão
recriminadores quanto sobre o sujeito que assoa o nariz na Esse processo de junção de uma preposição com outra
manga da camisa. palavra pode se dar a partir de dois processos:
Joyce e Mozart são ótimos, mas eles, como quase toda a
cultura humanística, têm pouca relevância para nossa vida 1. Combinação: A preposição não sofre alteração.
prática. Já a cultura científica, que muitos ainda tratam com uma preposição a + artigos definidos o, os
ponta de desprezo, torna-se cada vez mais fundamental, mesmo a + o = ao
para quem não pretende ser engenheiro ou seguir carreiras preposição a + advérbio onde
técnicas. a + onde = aonde
Como sobreviver à era do crédito farto sem saber calcular as
armadilhas que uma taxa de juros pode esconder? Hoje, é difícil 2. Contração: Quando a preposição sofre alteração.
até posicionar-se de forma racional sobre políticas públicas sem
assimilar toda a numeralha que idealmente as informa. Preposição + Artigos
Conhecimentos rudimentares de estatística são pré-requisito De + o(s) = do(s)
para compreender as novas pesquisas que trazem informações De + a(s) = da(s)
relevantes para nossa saúde e bem-estar. De + um = dum

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APOSTILAS OPÇÃO
De + uns = duns tratamento.
De + uma = duma Instrumento = Escreveu a lápis.
De + umas = dumas Posse = Não posso doar as roupas da mamãe.
Em + o(s) = no(s) Autoria = Esse livro de Machado de Assis é muito bom.
Em + a(s) = na(s) Companhia = Estarei com ele amanhã.
Em + um = num Matéria = Farei um cartão de papel reciclado.
Em + uma = numa Meio = Nós vamos fazer um passeio de barco.
Em + uns = nuns Origem = Nós somos do Nordeste, e você?
Em + umas = numas Conteúdo = Quebrei dois frascos de perfume.
A + à(s) = à(s) Oposição = Esse movimento é contra o que eu penso.
Por + o = pelo(s) Preço = Essa roupa sai por R$ 50 à vista.
Por + a = pela(s)
Questões
Preposição + Pronomes
De + ele(s) = dele(s) 01. Leia o texto a seguir.
De + ela(s) = dela(s)
De + este(s) = deste(s) “Xadrez que liberta”: estratégia, concentração e reeducação
De + esta(s) = desta(s)
De + esse(s) = desse(s) João Carlos de Souza Luiz cumpre pena há três anos e dois
De + essa(s) = dessa(s) meses por assalto. Fransley Lapavani Silva está há sete anos
De + aquele(s) = daquele(s) preso por homicídio. Os dois têm 30 anos. Além dos muros,
De + aquela(s) = daquela(s) grades, cadeados e detectores de metal, eles têm outros pontos
De + isto = disto em comum: tabuleiros e peças de xadrez.
De + isso = disso O jogo, que eles aprenderam na cadeia, além de uma válvula
De + aquilo = daquilo de escape para as horas de tédio, tornou-se uma metáfora para o
De + aqui = daqui que pretendem fazer quando estiverem em liberdade.
De + aí = daí “Quando você vai jogar uma partida de xadrez, tem que pensar
De + ali = dali duas, três vezes antes. Se você movimenta uma peça errada,
De + outro = doutro(s) pode perder uma peça de muito valor ou tomar um xeque-mate,
De + outra = doutra(s) instantaneamente. Se eu for para a rua e movimentar a peça
Em + este(s) = neste(s) errada, eu posso perder uma peça muito importante na minha
Em + esta(s) = nesta(s) vida, como eu perdi três anos na cadeia. Mas, na rua, o problema
Em + esse(s) = nesse(s) maior é tomar o xeque-mate”, afirma João Carlos.
Em + aquele(s) = naquele(s) O xadrez faz parte da rotina de cerca de dois mil internos
Em + aquela(s) = naquela(s) em 22 unidades prisionais do Espírito Santo. É o projeto “Xadrez
Em + isto = nisto que liberta”. Duas vezes por semana, os presos podem praticar
Em + isso = nisso a atividade sob a orientação de servidores da Secretaria de
Em + aquilo = naquilo Estado da Justiça (Sejus). Na próxima sexta-feira, será realizado
A + aquele(s) = àquele(s) o primeiro torneio fora dos presídios desde que o projeto foi
A + aquela(s) = àquela(s) implantado. Vinte e oito internos de 14 unidades participam da
A + aquilo = àquilo disputa, inclusive João Carlos e Fransley, que diz que a vitória
não é o mais importante.
Dicas sobre preposição “Só de chegar até aqui já estou muito feliz, porque eu não
esperava. A vitória não é tudo. Eu espero alcançar outras coisas
1. O “a” pode funcionar como preposição, pronome pessoal devido ao xadrez, como ser olhado com outros olhos, como
oblíquo e artigo. Como distingui-los? estou sendo olhado de forma diferente aqui no presídio devido
ao bom comportamento”.
- Caso o “a” seja um artigo, virá precedendo a um substantivo. Segundo a coordenadora do projeto, Francyany Cândido
Ele servirá para determiná-lo como um substantivo singular Venturin, o “Xadrez que liberta” tem provocado boas mudanças
e feminino. no comportamento dos presos. “Tem surtido um efeito positivo
A dona da casa não quis nos atender. por eles se tornarem uma referência positiva dentro da unidade,
Como posso fazer a Joana concordar comigo? já que cumprem melhor as regras, respeitam o próximo e
pensam melhor nas suas ações, refletem antes de tomar uma
- Quando é preposição, além de ser invariável, liga dois atitude”.
termos e estabelece relação de subordinação entre eles. Embora a Sejus não monitore os egressos que ganham a
Cheguei a sua casa ontem pela manhã. liberdade, para saber se mantêm o hábito do xadrez, João Carlos
Não queria, mas vou ter que ir à outra cidade para procurar já faz planos. “Eu incentivo não só os colegas, mas também
um tratamento adequado. minha família. Sou casado e tenho três filhos. Já passei para a
minha família: xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo
- Se for pronome pessoal oblíquo estará ocupando o lugar e/ vai ter que aprender porque vai rolar até o torneio familiar”.
ou a função de um substantivo. “Medidas de promoção de educação e que possibilitem que o
Temos Maria como parte da família. / A temos como parte egresso saia melhor do que entrou são muito importantes. Nós
da família não temos pena de morte ou prisão perpétua no Brasil. O preso
Creio que conhecemos nossa mãe melhor que ninguém. / tem data para entrar e data para sair, então ele tem que sair
Creio que a conhecemos melhor que ninguém. sem retornar para o crime”, analisa o presidente do Conselho
Estadual de Direitos Humanos, Bruno Alves de Souza Toledo.
2. Algumas relações semânticas estabelecidas por meio das (Disponível em: www.inapbrasil.com.br/en/noticias/xadrez-que-
preposições: liberta-estrategia-concentracao-e-reeducacao/6/noticias. Adaptado)
Destino = Irei para casa.
Modo = Chegou em casa aos gritos. No trecho –... xadrez, quando eu sair para a rua, todo mundo
Lugar = Vou ficar em casa; vai ter que aprender porque vai rolar até o torneio familiar.– o
Assunto = Escrevi um artigo sobre adolescência. termo em destaque expressa relação de
Tempo = A prova vai começar em dois minutos. A) espaço, como em – Nosso diretor foi até Brasília para falar
Causa = Ela faleceu de derrame cerebral. do projeto “Xadrez que liberta”.
Fim ou finalidade = Vou ao médico para começar o B) inclusão, como em – O xadrez mudou até o nosso modo

Língua Portuguesa 39
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APOSTILAS OPÇÃO
de falar.
C) finalidade, como em – Precisamos treinar até junho para Conjunções coordenativas
termos mais chances de vencer o torneio de xadrez. Dividem-se em:
D) movimento, como em – Só de chegar até aqui já estou
muito feliz, porque eu não esperava. - ADITIVAS: expressam a ideia de adição, soma.
E) tempo, como em – Até o ano que vem, pretendo conseguir Ex. Gosto de cantar e de dançar.
a revisão da minha pena. Principais conjunções aditivas: e, nem, não só...mas também,
não só...como também.
02. Considere o trecho a seguir.
O metrô paulistano, ________quem a banda recebe apoio, - ADVERSATIVAS: Expressam ideias contrárias, de oposição,
garante o espaço para ensaios e os equipamentos; e a estabilidade de compensação.
no emprego, vantagem________ que muitos trabalhadores sonham, Ex. Estudei, mas não entendi nada.
é o que leva os integrantes do grupo a permanecerem na Principais conjunções adversativas: mas, porém, contudo,
instituição. todavia, no entanto, entretanto.
As preposições que preenchem o trecho, correta,
respectivamente e de acordo com a norma-padrão, são: - ALTERNATIVAS: Expressam ideia de alternância.
A) a ...com Ou você sai do telefone ou eu vendo o aparelho.
B) de ...com Principais conjunções alternativas: Ou...ou, ora...ora, quer...
C) de ...a quer, já...já.
D) com ...a
E) para ...de - CONCLUSIVAS: Servem para dar conclusões às orações. Ex.
Estudei muito, por isso mereço passar.
03. Assinale a alternativa cuja preposição em destaque Principais conjunções conclusivas: logo, por isso, pois
expressa ideia de finalidade. (depois do verbo), portanto, por conseguinte, assim.
A) Além disso, aumenta a punição administrativa, de R$
957,70 para R$ 1.915,40. - EXPLICATIVAS: Explicam, dão um motivo ou razão. Ex. É
B) ... o STJ (Superior Tribunal de Justiça) decidiu que melhor colocar o casaco porque está fazendo muito frio lá fora.
o bafômetro e o exame de sangue eram obrigatórios para Principais conjunções explicativas: que, porque, pois (antes
comprovar o crime. do verbo), porquanto.
C) “... Ele é encaminhado para a delegacia para o perito fazer
o exame clínico”... Conjunções subordinativas
D) Já para o juiz criminal de São Paulo, Fábio Munhoz - CAUSAIS
Soares, um dos que devem julgar casos envolvendo pessoas Principais conjunções causais: porque, visto que, já que, uma
embriagadas ao volante, a mudança “é um avanço”. vez que, como (= porque).
E) Para advogados, a lei aumenta o poder da autoridade Ele não fez o trabalho porque não tem livro.
policial de dizer quem está embriagado...
- COMPARATIVAS
Respostas Principais conjunções comparativas: que, do que, tão...como,
1-B / 2-B / 3-B mais...do que, menos...do que.
Ela fala mais que um papagaio.
Conjunção
- CONCESSIVAS
Conjunção  é a palavra invariável que liga duas orações ou Principais conjunções concessivas: embora, ainda que,
dois termos semelhantes de uma mesma oração. Por exemplo: mesmo que, apesar de, se bem que.
Indicam uma concessão, admitem uma contradição, um fato
A menina segurou a boneca e mostrou quando viu as inesperado. Traz em si uma ideia de “apesar de”.
amiguinhas.
Deste exemplo podem ser retiradas três informações: Embora estivesse cansada, fui ao shopping. (= apesar de estar
cansada)
1-) segurou a boneca 2-) a menina mostrou 3-) viu as Apesar de ter chovido fui ao cinema.
amiguinhas
- CONFORMATIVAS
Cada informação está estruturada em torno de um verbo: Principais conjunções conformativas: como, segundo,
segurou, mostrou, viu. Assim, há nessa frase três orações: conforme, consoante
1ª oração: A menina segurou a boneca 2ª oração: e  mostrou Cada um colhe conforme semeia.
3ª oração: quando viu as amiguinhas. Expressam uma ideia de acordo, concordância, conformidade.
A segunda oração liga-se à primeira por meio do “e”, e a
terceira oração liga-se à segunda por meio do “quando”. As - CONSECUTIVAS
palavras “e” e “quando” ligam, portanto, orações. Expressam uma ideia de consequência.
Principais conjunções consecutivas: que (após “tal”, “tanto”,
Observe: Gosto de natação e de futebol. “tão”, “tamanho”).
Nessa frase as expressões de natação, de futebol são partes Falou tanto que ficou rouco.
ou termos de uma mesma oração. Logo, a palavra  “e” está
ligando termos de uma mesma oração. - FINAIS
Expressam ideia de finalidade, objetivo.
Conjunção é a palavra invariável que liga duas orações Todos trabalham para que possam sobreviver.
ou dois termos semelhantes de uma mesma oração. Principais conjunções finais: para que, a fim de que, porque
(=para que),
Morfossintaxe da Conjunção
- PROPORCIONAIS
As conjunções, a exemplo das preposições, não exercem Principais conjunções proporcionais: à medida que, quanto
propriamente uma função sintática: são conectivos. mais, ao passo que, à proporção que.
À medida que as horas passavam, mais sono ele tinha.
Classificação - Conjunções Coordenativas- Conjunções
Subordinativas - TEMPORAIS

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APOSTILAS OPÇÃO
Principais conjunções temporais: quando, enquanto, logo Considerando-se o contexto, é INCORRETO afirmar que o
que. elemento grifado pode ser substituído por:
Quando eu sair, vou passar na locadora. A) Porém.
B) Contudo.
Importante: C) Todavia.
D) Entretanto.
Diferença entre orações causais e explicativas E) Conquanto.

Quando estudamos Orações Subordinadas Adverbiais (OSA) 02. Observando as ocorrências da palavra “como” em –
e Coordenadas Sindéticas (CS), geralmente nos deparamos Como fomos programados para ver o mundo como um lugar
com a dúvida de como distinguir uma oração causal de uma ameaçador… – é correto afirmar que se trata de conjunção
explicativa. Veja os exemplos: (A) comparativa nas duas ocorrências.
(B) conformativa nas duas ocorrências.
1º) Na frase “Não atravesse a rua, porque você pode ser (C) comparativa na primeira ocorrência.
atropelado”: (D) causal na segunda ocorrência.
a) Temos uma CS Explicativa, que indica uma justificativa ou (E) causal na primeira ocorrência.
uma explicação do fato expresso na oração anterior.
b) As orações são coordenadas e, por isso, independentes 03. Leia o texto a seguir.
uma da outra. Neste caso, há uma pausa entre as orações que
vêm marcadas por vírgula. Participação
Não atravesse a rua. Você pode ser atropelado.
b) Outra dica é, quando a oração que antecede a OC (Oração Num belo poema, intitulado “Traduzir-se”, Ferreira Gullar
Coordenada) vier com verbo no modo imperativo, ela será aborda o tema de uma divisão muito presente em cada um de
explicativa. nós: a que ocorre entre o nosso mundo interior e a nossa atuação
Façam silêncio, que estou falando. (façam= verbo imperativo) junto aos outros, nosso papel na ordem coletiva. A divisão não é
simples: costuma-se ver como antagônicas essas duas “partes”
2º) Na frase “Precisavam enterrar os mortos em outra cidade de nós, nas quais nos dividimos. De fato, em quantos momentos
porque não havia cemitério no local.” da nossa vida precisamos escolher entre o atendimento de um
a) Temos uma OSA Causal, já que a oração subordinada interesse pessoal e o cumprimento de um dever ético? Como poeta
(parte destacada) mostra a causa da ação expressa pelo e militante político, Ferreira Gullar deixou-se atrair tanto pela
verbo da oração principal. Outra forma de reconhecê- expressão das paixões mais íntimas quanto pela atuação de um
la é colocá-la no início do período, introduzida pela convicto socialista. Em seu poema, o diálogo entre as duas partes
conjunção como - o que não ocorre com a CS Explicativa. é desenvolvido de modo a nos fazer pensar que são incompatíveis.
Como não havia cemitério no local, precisavam enterrar os mortos
em outra cidade. Mas no último momento do poema deparamo-nos com esta
b) As orações são subordinadas e, por isso, totalmente estrofe:
dependentes uma da outra. “Traduzir uma parte na outra parte − que é uma questão de
vida ou morte − será arte?”
Questões
O poeta levanta a possibilidade da “tradução” de uma parte
01. Leia o texto a seguir. na outra, ou seja, da interação de ambas, numa espécie de
A música alcançou uma onipresença avassaladora em nosso espelhamento. Isso ocorreria quando o indivíduo conciliasse
mundo: milhões de horas de sua história estão disponíveis em verdadeiramente a instância pessoal e os interesses de uma
disco; rios de melodia digital correm na internet; aparelhos comunidade; quando deixasse de haver contradição entre a razão
de mp3 com 40 mil canções podem ser colocados no bolso. No particular e a coletiva. Pergunta-se o poeta se não seria arte esse
entanto, a música não é mais algo que fazemos nós mesmos, ou tipo de integração. Realmente, com muita frequência a arte se
até que observamos outras pessoas fazerem diante de nós. mostra capaz de expressar tanto nossa subjetividade como nossa
Ela se tornou um meio radicalmente virtual, uma arte sem identidade social.
rosto. Quando caminhamos pela cidade num dia comum, nossos Nesse sentido, traduzir uma parte na outra parte significaria
ouvidos registram música em quase todos os momentos − pedaços vencer a parcialidade e chegar a uma autêntica participação,
de hip-hop vazando dos fones de ouvido de adolescentes no metrô, de sentido altamente político. O poema de Gullar deixa-nos essa
o sinal do celular de um advogado tocando a “Ode à alegria”, de hipótese provocadora, formulada com um ar de convicção.
Beethoven −, mas quase nada disso será resultado imediato de (Belarmino Tavares, inédito)
um trabalho físico de mãos ou vozes humanas, como se dava no
passado. Os seguintes fatos, referidos no texto, travam entre si uma
Desde que Edison inventou o cilindro fonográfico, em1877, relação de causa e efeito:
existe gente que avalia o que a gravação fez em favor e desfavor A) ser poeta e militante político / confronto entre
da arte da música. Inevitavelmente, a conversa descambou para subjetividade e atuação social
os extremos retóricos. No campo oposto ao dos que diziam que a B) ser poeta e militante político / divisão permanente em
tecnologia acabaria com a música estão os utópicos, que alegam cada um de nós
que a tecnologia não aprisionou a música, mas libertou-a, levando C) ser movido pelas paixões / esposar teses socialistas
a arte da elite às massas. Antes de Edison, diziam os utópicos, D) fazer arte / obliterar uma questão de vida ou morte
as sinfonias de Beethoven só podiam ser ouvidas em salas de E) participar ativamente da política / formular hipóteses
concerto selecionadas. Agora, as gravações levam a mensagem com ar de convicção
de Beethoven aos confins do planeta, convocando a multidão Respostas
saudada na “Ode à alegria”: “Abracem-se, milhões!”. Glenn Gould, 1-E / 2-E / 3-A
depois de afastar-se das apresentações ao vivo em 1964, previu
que dentro de um século o concerto público desapareceria no éter Interjeição
eletrônico, com grande efeito benéfico sobre a cultura musical.
(Adaptado de Alex Ross. Escuta só. Tradução Pedro Maia Interjeição  é a palavra invariável que exprime emoções,
Soares. São Paulo, Cia. das Letras, 2010, p. 76-77) sensações, estados de espírito, ou que procura agir sobre o
interlocutor, levando-o a adotar certo comportamento sem que,
No entanto, a música não é mais algo que fazemos nós mesmos, para isso, seja necessário fazer uso de estruturas linguísticas
ou até que observamos outras pessoas fazerem diante de nós. mais elaboradas. Observe o exemplo:
Droga! Preste atenção quando eu estou falando!

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APOSTILAS OPÇÃO
No exemplo acima, o interlocutor está muito bravo. Toda sua - Aplauso ou Aprovação: Bravo!, Bis!, Apoiado!, Viva!, Boa!
raiva se traduz numa palavra: Droga! - Concordância: Claro!, Sim!, Pois não!, Tá!, Hã-hã!

Ele poderia ter dito: - Estou com muita raiva de você! Mas usou - Repulsa ou Desaprovação: Credo!, Irra!, Ih!, Livra!, Safa!,
simplesmente uma palavra. Ele empregou a interjeição Droga! Fora!, Abaixo!, Francamente!, Xi!, Chega!, Basta!, Ora!
As sentenças da língua costumam se organizar de forma - Desejo ou Intenção: Oh!, Pudera!, Tomara!, Oxalá!
lógica: há uma sintaxe que estrutura seus elementos e os distribui - Desculpa: Perdão!
em posições adequadas a cada um deles. As interjeições, por - Dor ou Tristeza: Ai!, Ui!, Ai de mim!, Que pena!, Ah!, Oh!,
outro lado, são uma espécie de “palavra-frase”, ou seja, há uma Eh!
ideia expressa por uma palavra (ou um conjunto de palavras - - Dúvida ou Incredulidade: Qual!, Qual o quê!, Hum!, Epa!,
locução interjetiva) que poderia ser colocada em termos de uma Ora!
sentença. - Espanto ou Admiração: Oh!, Ah!, Uai!, Puxa!, Céus!, Quê!,
Veja os exemplos: Caramba!, Opa!, Virgem!, Vixe!, Nossa!, Hem?!, Hein?, Cruz!, Putz!
Bravo! Bis! - Impaciência ou Contrariedade: Hum!, Hem!, Irra!, Raios!,
bravo  e  bis: interjeição / sentença (sugestão): «Foi muito Diabo!, Puxa!, Pô!, Ora!
bom! Repitam!» - Pedido de Auxílio: Socorro!, Aqui!, Piedade!
Ai! Ai! Ai! Machuquei meu pé... - Saudação,  Chamamento  ou  Invocação:  Salve!, Viva!,
ai: interjeição / sentença (sugestão): “Isso está doendo!” ou Adeus!, Olá!, Alô!, Ei!, Tchau!, Ô, Ó, Psiu!, Socorro!, Valha-me,
“Estou com dor!” Deus!
- Silêncio: Psiu!, Bico!, Silêncio!
A interjeição é um recurso da linguagem afetiva, em que - Terror ou Medo: Credo!, Cruzes!, Uh!, Ui!, Oh!
não há uma ideia organizada de maneira lógica, como são as
Saiba que: As interjeições são palavras invariáveis, isto é,
sentenças da língua, mas sim a manifestação de um suspiro,
não sofrem variação em gênero, número e grau como os nomes,
um estado da alma decorrente de uma situação particular, um
nem de número, pessoa, tempo, modo, aspecto e voz como os
momento ou um contexto específico. Exemplos:
verbos. No entanto, em uso específico, algumas interjeições
Ah, como eu queria voltar a ser criança!
sofrem variação em grau. Deve-se ter claro, neste caso, que
ah: expressão de um estado emotivo = interjeição
não se trata de um processo natural dessa classe de palavra,
Hum! Esse pudim estava maravilhoso!
mas tão só uma variação que a linguagem afetiva permite.
hum: expressão de um pensamento súbito = interjeição
Exemplos: oizinho, bravíssimo, até loguinho.
O significado das interjeições está vinculado à maneira Locução Interjetiva
como elas são proferidas. Desse modo, o tom da fala é que dita
o sentido que a expressão vai adquirir em cada contexto de Ocorre quando duas ou mais palavras formam uma
enunciação. Exemplos: expressão com sentido de interjeição. Por exemplo
Psiu! Ora bolas!
contexto:  alguém pronunciando essa expressão na rua; Quem me dera!
significado da interjeição (sugestão):  “Estou te chamando! Ei, Virgem Maria!
espere!” Meu Deus!
Psiu! Ai de mim!
contexto:  alguém pronunciando essa expressão em um Valha-me Deus!
hospital; significado da interjeição (sugestão):  “Por favor, faça Graças a Deus!
silêncio!” Alto lá!
Puxa! Ganhei o maior prêmio do sorteio! Muito bem!
puxa: interjeição; tom da fala: euforia
Puxa! Hoje não foi meu dia de sorte! Observações:
puxa: interjeição; tom da fala: decepção
1) As interjeições são como frases resumidas, sintéticas. Por
As interjeições cumprem, normalmente, duas funções: exemplo:
a)  Sintetizar uma frase  exclamativa, exprimindo alegria, Ué! = Eu não esperava por essa!
tristeza, dor, etc. Perdão! = Peço-lhe que me desculpe.
Você faz o que no Brasil?
Eu? Eu negocio com madeiras. 2) Além do contexto, o que caracteriza a interjeição é o seu
Ah, deve ser muito interessante. tom exclamativo; por isso, palavras de outras classes gramaticais
b) Sintetizar uma frase apelativa podem aparecer como interjeições.
Cuidado! Saia da minha frente. Viva! Basta! (Verbos)
As interjeições podem ser formadas por: Fora! Francamente! (Advérbios)
a) simples sons vocálicos: Oh!, Ah!, Ó, Ô.
b) palavras: Oba!, Olá!, Claro! 3) A interjeição pode ser considerada uma “palavra-frase”
c) grupos de palavras (locuções interjetivas): Meu Deus!, Ora porque sozinha pode constituir uma mensagem.
bolas! Socorro!
A ideia expressa pela interjeição depende muitas vezes Ajudem-me! 
da entonação com que é pronunciada; por isso, pode ocorrer que Silêncio!
uma interjeição tenha mais de um sentido. Por exemplo: Fique quieto!
Oh! Que surpresa desagradável! (ideia de contrariedade)
Oh! Que bom te encontrar. (ideia de alegria) 4) Há, também, as interjeições onomatopaicas ou imitativas,
que exprimem ruídos e vozes.
Classificação das Interjeições
Pum! Miau! Bumba! Zás! Plaft! Pof!
Comumente, as interjeições expressam sentido de:
Catapimba! Tique-taque! Quá-quá-quá!, etc.
- Advertência:  Cuidado!, Devagar!, Calma!, Sentido!,
Atenção!, Olha!, Alerta!
5) Não se deve confundir a interjeição de apelo “ó” com a sua
- Afugentamento: Fora!, Passa!, Rua!, Xô!
homônima  “oh!”, que exprime admiração, alegria, tristeza, etc.
- Alegria ou Satisfação: Oh!, Ah!,Eh!, Oba!, Viva!
Faz-se uma pausa depois do” oh!” exclamativo e não a fazemos
- Alívio: Arre!, Uf!, Ufa! Ah!
depois do “ó” vocativo.
- Animação  ou  Estímulo:  Vamos!, Força!, Coragem!, Eia!,
Ânimo!, Adiante!, Firme!, Toca!
“Ó natureza! ó mãe piedosa e pura!» (Olavo Bilac) 

Língua Portuguesa 42
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APOSTILAS OPÇÃO
Oh! a jornada negra!» (Olavo Bilac) Os numerais ordinais variam em gênero e número:
primeiro segundo milésimo
6) Na linguagem afetiva, certas interjeições, originadas primeira segunda milésima
de palavras de outras classes, podem aparecer flexionadas no primeiros segundos milésimos
diminutivo ou no superlativo. primeiras segundas milésimas
Calminha! Adeusinho! Obrigadinho!
Interjeições, leitura e produção de textos Os numerais multiplicativos são invariáveis quando atuam
em funções substantivas:
Usadas com muita frequência na língua falada informal, Fizeram o dobro do esforço e conseguiram o triplo de produção.
quando empregadas na língua escrita, as interjeições costumam Quando atuam em funções adjetivas, esses numerais
conferir-lhe certo tom inconfundível de coloquialidade. Além flexionam-se em gênero e número:
disso, elas podem muitas vezes indicar traços pessoais do falante Teve de tomar doses triplas do medicamento.
- como a escassez de vocabulário, o temperamento agressivo ou Os numerais fracionários flexionam-se em gênero e número.
dócil, até mesmo a origem geográfica. É nos textos narrativos - Observe: um terço/dois terços, uma terça parte/duas terças
particularmente nos diálogos - que comumente se faz uso partes
das interjeições com o objetivo de caracterizar personagens Os numerais coletivos flexionam-se em número. Veja: uma
e, também, graças à sua natureza sintética, agilizar as falas. dúzia, um milheiro, duas dúzias, dois milheiros.
Natureza sintética e conteúdo mais emocional do que É comum na linguagem coloquial a indicação de grau nos
racional fazem das interjeições presença constante nos textos numerais, traduzindo afetividade ou especialização de sentido.
publicitários. É o que ocorre em frases como:
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/morf/ “Me empresta duzentinho...”
morf89.php É artigo de primeiríssima qualidade!
Numeral O time está arriscado por ter caído na segundona. (= segunda
divisão de futebol)
Numeral é a palavra que indica os seres em termos
numéricos, isto é, que atribui quantidade aos seres ou os situa Emprego dos Numerais
em determinada sequência.
Os quatro últimos ingressos foram vendidos há pouco. *Para designar papas, reis, imperadores, séculos e partes em
[quatro: numeral = atributo numérico de “ingresso”] que se divide uma obra, utilizam-se os ordinais até décimo e a
Eu quero café duplo, e você? partir daí os cardinais, desde que o numeral venha depois do
[duplo: numeral = atributo numérico de “café”] substantivo:
A primeira pessoa da fila pode entrar, por favor! Ordinais Cardinais
[primeira: numeral = situa o ser “pessoa” na sequência de João Paulo II (segundo) Tomo XV (quinze)
“fila”] D. Pedro II (segundo) Luís XVI (dezesseis)
Ato II (segundo) Capítulo XX (vinte)
Note bem: os numerais traduzem, em palavras, o que Século VIII (oitavo) Século XX (vinte)
os números indicam em relação aos seres. Assim, quando a Canto IX (nono) João XXIII ( vinte e três)
expressão é colocada em números (1, 1°, 1/3, etc.) não se trata
de numerais, mas sim de algarismos. *Para designar leis, decretos e portarias, utiliza-se o ordinal
Além dos numerais mais conhecidos, já que refletem a até nono e o cardinal de dez em diante:
ideia expressa pelos números, existem mais algumas palavras Artigo 1.° (primeiro) Artigo 10 (dez)
consideradas numerais porque denotam quantidade, proporção Artigo 9.° (nono) Artigo 21 (vinte e um)
ou ordenação. São alguns exemplos: década, dúzia, par,
ambos(as), novena. *Ambos/ambas são considerados numerais. Significam “um
e outro”, “os dois” (ou “uma e outra”, “as duas”) e são largamente
Classificação dos Numerais empregados para retomar pares de seres aos quais já se fez
referência.
Cardinais: indicam contagem, medida. É o número básico: Pedro e João parecem ter finalmente percebido a importância
um, dois, cem mil, etc. da solidariedade. Ambos agora participam das atividades
Ordinais: indicam a ordem ou lugar do ser numa série dada: comunitárias de seu bairro.
primeiro, segundo, centésimo, etc.
Fracionários: indicam parte de um inteiro, ou seja, a divisão Obs.: a forma “ambos os dois” é considerada enfática.
dos seres: meio, terço, dois quintos, etc. Atualmente, seu uso indica afetação, artificialismo.
Multiplicativos: expressam ideia de multiplicação dos
seres, indicando quantas vezes a quantidade foi aumentada: Cardinais Ordinais Multiplicativos Fracionários
dobro, triplo, quíntuplo, etc. um primeiro - -
dois segundo dobro, duplo meio
Leitura dos Numerais três terceiro triplo, tríplice terço
quatro quarto quádruplo quarto
Separando os números em centenas, de trás para frente, cinco quinto quíntuplo quinto
obtêm-se conjuntos numéricos, em forma de centenas e, no seis sexto sêxtuplo sexto
início, também de dezenas ou unidades. Entre esses conjuntos sete sétimo sétuplo sétimo
usa-se vírgula; as unidades ligam-se pela conjunção “e”. oito oitavo óctuplo oitavo
1.203.726 = um milhão, duzentos e três mil, setecentos e vinte nove nono nônuplo nono
e seis. dez décimo décuplo décimo
45.520 = quarenta e cinco mil, quinhentos e vinte. onze décimo primeiro - onze avos
doze décimo segundo - doze avos
Flexão dos numerais treze décimo terceiro - treze avos
catorze décimo quarto - catorze avos
Os numerais cardinais que variam em gênero são um/uma, quinze décimo quinto - quinze avos
dois/duas e os que indicam centenas de duzentos/duzentas em dezesseis décimo sexto - dezesseis avos
diante: trezentos/trezentas; quatrocentos/quatrocentas, etc. dezessete décimo sétimo - dezessete avos
Cardinais como milhão, bilhão, trilhão, variam em número: dezoito décimo oitavo - dezoito avos
milhões, bilhões, trilhões. Os demais cardinais são invariáveis. dezenove décimo nono - dezenove avos
vinte vigésimo - vinte avos

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APOSTILAS OPÇÃO
trinta trigésimo - trinta avos desempenha uma função sintática. Geralmente apresentam dois
quarenta quadragésimo - quarenta avos grupos de palavras: um grupo sobre o qual se declara alguma
cinquenta quinquagésimo - cinquenta avos coisa (o sujeito), e um grupo que apresenta uma declaração (o
sessenta sexagésimo - sessenta avos predicado), e, excepcionalmente, só o predicado. Exemplo:
setenta septuagésimo - setenta avos
oitenta octogésimo - oitenta avos A menina banhou-se na cachoeira.
noventa nonagésimo - noventa avos A menina – sujeito
cem centésimo cêntuplo centésimo banhou-se na cachoeira – predicado
duzentos ducentésimo - ducentésimo Choveu durante a noite. (a oração toda predicado)
trezentos trecentésimo - trecentésimo
quatrocentos quadringentésimo - quadringentésimo O sujeito é o termo da frase que concorda com o verbo em
quinhentos quingentésimo - quingentésimo número e pessoa. É normalmente o «ser de quem se declara
seiscentos sexcentésimo - sexcentésimo algo», «o tema do que se vai comunicar».
setecentos septingentésimo - septingentésimo O predicado é a parte da oração que contém “a informação
oitocentos octingentésimo - octingentésimo nova para o ouvinte”. Normalmente, ele se refere ao sujeito,
novecentos nongentésimo constituindo a declaração do que se atribui ao sujeito.
ou noningentésimo - nongentésimo
mil milésimo - milésimo Observe: O amor é eterno. O tema, o ser de quem se declara
milhão milionésimo - milionésimo algo, o sujeito, é “O amor”. A declaração referente a “o amor”, ou
bilhão bilionésimo - bilionésimo seja, o predicado, é «é eterno».

Questões Já na frase: Os rapazes jogam futebol. O sujeito é “Os rapazes”,


que identificamos por ser o termo que concorda em número e
01.Na frase “Nessa carteira só há duas notas de cinco reais” pessoa com o verbo “jogam”. O predicado é “jogam futebol”.
temos exemplos de numerais:
A) ordinais; Núcleo de um termo é a palavra principal (geralmente um
B) cardinais; substantivo, pronome ou verbo), que encerra a essência de
C) fracionários; sua significação. Nos exemplos seguintes, as palavras amigo e
D) romanos; revestiu são o núcleo do sujeito e do predicado, respectivamente:
E) Nenhuma das alternativas. “O amigo retardatário do presidente prepara-se para
desembarcar.” (Aníbal Machado)
02.Aponte a alternativa em que os numerais estão bem A avezinha revestiu o interior do ninho com macias plumas.
empregados.
A) Ao papa Paulo Seis sucedeu João Paulo Primeiro. Os termos da oração da língua portuguesa são classificados
B) Após o parágrafo nono virá o parágrafo décimo. em três grandes níveis:
C) Depois do capítulo sexto, li o capitulo décimo primeiro. - Termos Essenciais da Oração: Sujeito e Predicado.
D) Antes do artigo dez vem o artigo nono.
E) O artigo vigésimo segundo foi revogado. - Termos Integrantes da Oração: Complemento Nominal e
Complementos Verbais (Objeto Direto, Objeto indireto e Agente
03. Os ordinais referentes aos números 80, 300, 700 e 90 da Passiva).
são, respectivamente
A) octagésimo, trecentésimo, septingentésirno, - Termos Acessórios da Oração: Adjunto Adnominal,
nongentésimo Adjunto Adverbial, Aposto e Vocativo.
B) octogésimo, trecentésimo, septingentésimo, nonagésimo
C) octingentésimo, tricentésimo, septuagésimo, nonagésimo Termos Essenciais da Oração: São dois os termos essenciais
D) octogésimo, tricentésimo, septuagésimo, nongentésimo (ou fundamentais) da oração: sujeito e predicado. Exemplos:

Respostas
1-B / 2-D / 3-B Sujeito Predicado
Pobreza não é vileza.
Os sertanistas capturavam os índios.
Sintaxe da oração e do período;
Um vento áspero sacudia as árvores.

Sujeito: é equivocado dizer que o sujeito é aquele que pratica


Oração uma ação ou é aquele (ou aquilo) do qual se diz alguma coisa. Ao
fazer tal afirmação estamos considerando o aspecto semântico
Oração: é todo enunciado linguístico dotado de sentido, do sujeito (agente de uma ação) ou o seu aspecto estilístico
porém há, necessariamente, a presença do verbo. A oração (o tópico da sentença). Já que o sujeito é depreendido de uma
encerra uma frase (ou segmento de frase), várias frases ou um análise sintática, vamos restringir a definição apenas ao seu
período, completando um pensamento e concluindo o enunciado papel sintático na sentença: aquele que estabelece concordância
através de ponto final, interrogação, exclamação e, em alguns com o núcleo do predicado. Quando se trata de predicado verbal,
casos, através de reticências. o núcleo é sempre um verbo; sendo um predicado nominal, o
Em toda oração há um verbo ou locução verbal (às vezes núcleo é sempre um nome. Então têm por características básicas:
elípticos). Não têm estrutura sintática, portanto não são orações, - estabelecer concordância com o núcleo do predicado;
não podem ser analisadas sintaticamente frases como: - apresentar-se como elemento determinante em relação ao
predicado;
Socorro! - constituir-se de um substantivo, ou pronome substantivo
Com licença! ou, ainda, qualquer palavra substantivada.
Que rapaz impertinente!
Muito riso, pouco siso. Exemplo:

Na oração as palavras estão relacionadas entre si, como A padaria está fechada hoje.
partes de um conjunto harmônico: elas formam os termos está fechada hoje: predicado nominal
ou as unidades sintáticas da oração. Cada termo da oração fechada: nome adjetivo = núcleo do predicado

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APOSTILAS OPÇÃO
a padaria: sujeito Agente: se faz a ação expressa pelo verbo da voz ativa: O Nilo
padaria: núcleo do sujeito - nome feminino singular fertiliza o Egito.
Paciente: quando sofre ou recebe os efeitos da ação expressa
No interior de uma sentença, o sujeito é o termo determinante, pelo verbo passivo: O criminoso é atormentado pelo remorso;
ao passo que o predicado é o termo determinado. Essa posição Muitos sertanistas foram mortos pelos índios; Construíram-se
de determinante do sujeito em relação ao predicado adquire açudes. (= Açudes foram construídos.)
sentido com o fato de ser possível, na língua portuguesa, uma Agente e Paciente: quando o sujeito realiza a ação expressa
sentença sem sujeito, mas nunca uma sentença sem predicado. por um verbo reflexivo e ele mesmo sofre ou recebe os efeitos
Exemplo: dessa ação: O operário feriu-se durante o trabalho; Regina
trancou-se no quarto.
As formigas invadiram minha casa. Indeterminado: quando não se indica o agente da ação
as formigas: sujeito = termo determinante verbal: Atropelaram uma senhora na esquina. (Quem atropelou
invadiram minha casa: predicado = termo determinado a senhora? Não se diz, não se sabe quem a atropelou.); Come-se
Há formigas na minha casa. bem naquele restaurante.
há formigas na minha casa: predicado = termo determinado
sujeito: inexistente Observações:
- Não confundir sujeito indeterminado com sujeito oculto.
O sujeito sempre se manifesta em termos de sintagma - Sujeito formado por pronome indefinido não é
nominal, isto é, seu núcleo é sempre um nome. Quando esse indeterminado, mas expresso: Alguém me ensinará o caminho.
nome se refere a objetos das primeira e segunda pessoas, o Ninguém lhe telefonou.
sujeito é representado por um pronome pessoal do caso reto (eu, - Assinala-se a indeterminação do sujeito usando-se o
tu, ele, etc.). Se o sujeito se refere a um objeto da terceira pessoa, verbo na 3ª pessoa do plural, sem referência a qualquer agente
sua representação pode ser feita através de um substantivo, de já expresso nas orações anteriores: Na rua olhavam-no com
um pronome substantivo ou de qualquer conjunto de palavras, admiração; “Bateram palmas no portãozinho da frente.”; “De
cujo núcleo funcione, na sentença, como um substantivo. qualquer modo, foi uma judiação matarem a moça.”
Exemplos: - Assinala-se a indeterminação do sujeito com um verbo
Eu acompanho você até o guichê. ativo na 3ª pessoa do singular, acompanhado do pronome se. O
eu: sujeito = pronome pessoal de primeira pessoa pronome se, neste caso, é índice de indeterminação do sujeito.
Vocês disseram alguma coisa? Pode ser omitido junto de infinitivos.
vocês: sujeito = pronome pessoal de segunda pessoa Aqui vive-se bem.
Marcos tem um fã-clube no seu bairro. Devagar se vai ao longe.
Marcos: sujeito = substantivo próprio Quando se é jovem, a memória é mais vivaz.
Ninguém entra na sala agora. Trata-se de fenômenos que nem a ciência sabe explicar.
ninguém: sujeito = pronome substantivo
O andar deve ser uma atividade diária. - Assinala-se a indeterminação do sujeito deixando-se o
o andar: sujeito = núcleo: verbo substantivado nessa oração verbo no infinitivo impessoal: Era penoso carregar aqueles
fardos enormes; É triste assistir a estas cenas repulsivas.
Além dessas formas, o sujeito também pode se constituir
de uma oração inteira. Nesse caso, a oração recebe o nome de Normalmente, o sujeito antecede o predicado; todavia, a
oração substantiva subjetiva: posposição do sujeito ao verbo é fato corriqueiro em nossa
língua.
É difícil optar por esse ou aquele doce... Exemplos:
É difícil: oração principal É fácil este problema!
optar por esse ou aquele doce: oração substantiva subjetiva Vão-se os anéis, fiquem os dedos.
“Breve desapareceram os dois guerreiros entre as árvores.”
O sujeito é constituído por um substantivo ou pronome, ou (José de Alencar)
por uma palavra ou expressão substantivada. Exemplos:
Sem Sujeito: constituem a enunciação pura e absoluta de um
O sino era grande. fato, através do predicado; o conteúdo verbal não é atribuído a
Ela tem uma educação fina. nenhum ser. São construídas com os verbos impessoais, na 3ª
Vossa Excelência agiu com imparcialidade. pessoa do singular: Havia ratos no porão; Choveu durante o jogo.
Isto não me agrada. Observação: São verbos impessoais: Haver (nos sentidos
de existir, acontecer, realizar-se, decorrer), Fazer, passar, ser
O núcleo (isto é, a palavra base) do sujeito é, pois, um e estar, com referência ao tempo e Chover, ventar, nevar, gear,
substantivo ou pronome. Em torno do núcleo podem aparecer relampejar, amanhecer, anoitecer e outros que exprimem
palavras secundárias (artigos, adjetivos, locuções adjetivas, etc.). fenômenos meteorológicos.
Exemplo: “Todos os ligeiros rumores da mata tinham uma
voz para a selvagem filha do sertão.” (José de Alencar) Predicado: assim como o sujeito, o predicado é um
segmento extraído da estrutura interna das orações ou das
O sujeito pode ser: frases, sendo, por isso, fruto de uma análise sintática. Nesse
sentido, o predicado é sintaticamente o segmento linguístico
Simples: quando tem um só núcleo: As rosas têm espinhos; que estabelece concordância com outro termo essencial
“Um bando de galinhas-d’angola atravessa a rua em fila indiana.” da oração, o sujeito, sendo este o termo determinante (ou
Composto: quando tem mais de um núcleo: “O burro e o subordinado) e o predicado o termo determinado (ou principal).
cavalo nadavam ao lado da canoa.” Não se trata, portanto, de definir o predicado como “aquilo
Expresso: quando está explícito, enunciado: Eu viajarei que se diz do sujeito” como fazem certas gramáticas da língua
amanhã. portuguesa, mas sim estabelecer a importância do fenômeno
Oculto (ou elíptico): quando está implícito, isto é, quando da concordância entre esses dois termos essenciais da oração.
não está expresso, mas se deduz do contexto: Viajarei amanhã. Então têm por características básicas: apresentar-se como
(sujeito: eu, que se deduz da desinência do verbo); “Um soldado elemento determinado em relação ao sujeito; apontar um
saltou para a calçada e aproximou-se.” (o sujeito, soldado, está atributo ou acrescentar nova informação ao sujeito.
expresso na primeira oração e elíptico na segunda: e (ele)
aproximou-se.); Crianças, guardem os brinquedos. (sujeito: Exemplo:
vocês) Carolina conhece os índios da Amazônia.
sujeito: Carolina = termo determinante

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APOSTILAS OPÇÃO
predicado: conhece os índios da Amazônia = termo João puxou a rede.
determinado “Não invejo os ricos, nem aspiro à riqueza.” (Oto Lara
Resende)
Nesse exemplo podemos observar que a concordância é “Não simpatizava com as pessoas investidas no poder.”
estabelecida entre algumas poucas palavras dos dois termos (Camilo Castelo Branco)
essenciais. No exemplo, entre “Carolina” e “conhece”. Isso se dá
porque a concordância é centrada nas palavras que são núcleos, Observe que, sem os seus complementos, os verbos puxou,
isto é, que são responsáveis pela principal informação naquele invejo, aspiro, etc., não transmitiriam informações completas:
segmento. No predicado o núcleo pode ser de dois tipos: um puxou o quê? Não invejo a quem? Não aspiro a quê?
nome, quase sempre um atributo que se refere ao sujeito da Os verbos de predicação completa denominam-se
oração, ou um verbo (ou locução verbal). No primeiro caso, intransitivos e os de predicação incompleta, transitivos. Os
temos um predicado nominal (seu núcleo significativo é um verbos transitivos subdividem-se em: transitivos diretos,
nome, substantivo, adjetivo, pronome, ligado ao sujeito por transitivos indiretos e transitivos diretos e indiretos
um verbo de ligação) e no segundo um predicado verbal (seu (bitransitivos).
núcleo é um verbo, seguido, ou não, de complemento(s) ou Além dos verbos transitivos e intransitivos, quem encerram
termos acessórios). Quando, num mesmo segmento o nome e o uma noção definida, um conteúdo significativo, existem os de
verbo são de igual importância, ambos constituem o núcleo do ligação, verbos que entram na formação do predicado nominal,
predicado e resultam no tipo de predicado verbo-nominal (tem relacionando o predicativo com o sujeito.
dois núcleos significativos: um verbo e um nome). Exemplos: Quanto à predicação classificam-se, pois os verbos em:
Intransitivos: são os que não precisam de complemento,
Minha empregada é desastrada. pois têm sentido completo.
predicado: é desastrada “Três contos bastavam, insistiu ele.” (Machado de Assis)
núcleo do predicado: desastrada = atributo do sujeito “Os guerreiros Tabajaras dormem.” (José de Alencar)
tipo de predicado: nominal “A pobreza e a preguiça andam sempre em companhia.”
(Marquês de Maricá)
O núcleo do predicado nominal chama-se predicativo
do sujeito, porque atribui ao sujeito uma qualidade ou Observações: Os verbos intransitivos podem vir
característica. Os verbos de ligação (ser, estar, parecer, etc.) acompanhados de um adjunto adverbial e mesmo de um
funcionam como um elo entre o sujeito e o predicado. predicativo (qualidade, características): Fui cedo; Passeamos
pela cidade; Cheguei atrasado; Entrei em casa aborrecido.
A empreiteira demoliu nosso antigo prédio. As orações formadas com verbos intransitivos não podem
predicado: demoliu nosso antigo prédio “transitar” (= passar) para a voz passiva. Verbos intransitivos
núcleo do predicado: demoliu = nova informação sobre o passam, ocasionalmente, a transitivos quando construídos com
sujeito o objeto direto ou indireto.
tipo de predicado: verbal - “Inutilmente a minha alma o chora!” (Cabral do Nascimento)
- “Depois me deitei e dormi um sono pesado.” (Luís Jardim)
Os manifestantes desciam a rua desesperados. - “Morrerás morte vil da mão de um forte.” (Gonçalves Dias)
predicado: desciam a rua desesperados - “Inútil tentativa de viajar o passado, penetrar no mundo
núcleos do predicado: desciam = nova informação sobre o que já morreu...” (Ciro dos Anjos)
sujeito; desesperados = atributo do sujeito
tipo de predicado: verbo-nominal Alguns verbos essencialmente intransitivos: anoitecer,
crescer, brilhar, ir, agir, sair, nascer, latir, rir, tremer, brincar,
Nos predicados verbais e verbo-nominais o verbo é chegar, vir, mentir, suar, adoecer, etc.
responsável também por definir os tipos de elementos que
aparecerão no segmento. Em alguns casos o verbo sozinho basta Transitivos Diretos: são os que pedem um objeto direto, isto
para compor o predicado (verbo intransitivo). Em outros casos é, um complemento sem preposição. Pertencem a esse grupo:
é necessário um complemento que, juntamente com o verbo, julgar, chamar, nomear, eleger, proclamar, designar, considerar,
constituem a nova informação sobre o sujeito. De qualquer declarar, adotar, ter, fazer, etc. Exemplos:
forma, esses complementos do verbo não interferem na tipologia Comprei um terreno e construí a casa.
do predicado. “Trabalho honesto produz riqueza honrada.” (Marquês de
Entretanto, é muito comum a elipse (ou omissão) do verbo, Maricá)
quando este puder ser facilmente subentendido, em geral por “Então, solenemente Maria acendia a lâmpada de sábado.”
estar expresso ou implícito na oração anterior. Exemplos: (Guedes de Amorim)

“A fraqueza de Pilatos é enorme, a ferocidade dos algozes Dentre os verbos transitivos diretos merecem destaque os
inexcedível.” (Machado de Assis) (Está subentendido o verbo é que formam o predicado verbo nominal e se constrói com o
depois de algozes) complemento acompanhado de predicativo. Exemplos:
“Mas o sal está no Norte, o peixe, no Sul” (Paulo Moreira da Consideramos o caso extraordinário.
Silva) (Subentende-se o verbo está depois de peixe) Inês trazia as mãos sempre limpas.
“A cidade parecia mais alegre; o povo, mais contente.” (Povina O povo chamava-os de anarquistas.
Cavalcante) (isto é: o povo parecia mais contente) Julgo Marcelo incapaz disso.

Chama-se predicação verbal o modo pelo qual o verbo Observações: Os verbos transitivos diretos, em geral, podem
forma o predicado. ser usados também na voz passiva; Outra característica desses
Há verbos que, por natureza, tem sentido completo, verbos é a de poderem receber como objeto direto, os pronomes
podendo, por si mesmos, constituir o predicado: são os verbos o, a, os, as: convido-o, encontro-os, incomodo-a, conheço-as; Os
de predicação completa denominados intransitivos. Exemplo: verbos transitivos diretos podem ser construídos acidentalmente
com preposição, a qual lhes acrescenta novo matiz semântico:
As flores murcharam. arrancar da espada; puxar da faca; pegar de uma ferramenta;
Os animais correm. tomar do lápis; cumprir com o dever; Alguns verbos transitivos
As folhas caem. diretos: abençoar, achar, colher, avisar, abraçar, comprar,
castigar, contrariar, convidar, desculpar, dizer, estimar, elogiar,
Outros verbos há, pelo contrário, que para integrarem entristecer, encontrar, ferir, imitar, levar, perseguir, prejudicar,
o predicado necessitam de outros termos: são os verbos de receber, saldar, socorrer, ter, unir, ver, etc.
predicação incompleta, denominados transitivos. Exemplos:

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APOSTILAS OPÇÃO
Transitivos Indiretos: são os que reclamam um Predicativo do Sujeito: é o termo que exprime um atributo,
complemento regido de preposição, chamado objeto indireto. um estado ou modo de ser do sujeito, ao qual se prende por um
Exemplos: verbo de ligação, no predicado nominal. Exemplos:
“Ninguém perdoa ao quarentão que se apaixona por uma A bandeira é o símbolo da Pátria.
adolescente.” (Ciro dos Anjos) A mesa era de mármore.
“Populares assistiam à cena aparentemente apáticos e
neutros.” (Érico Veríssimo) Além desse tipo de predicativo, outro existe que entra na
“Lúcio não atinava com essa mudança instantânea.” (José constituição do predicado verbo-nominal. Exemplos:
Américo) O trem chegou atrasado. (=O trem chegou e estava
“Do que eu mais gostava era do tempo do retiro espiritual.” atrasado.)
(José Geraldo Vieira) O menino abriu a porta ansioso.
Todos partiram alegres.
Observações: Entre os verbos transitivos indiretos importa
distinguir os que se constroem com os pronomes objetivos lhe, Observações: O predicativo subjetivo às vezes está
lhes. Em geral são verbos que exigem a preposição a: agradar-lhe, preposicionado; Pode o predicativo preceder o sujeito e até
agradeço-lhe, apraz-lhe, bate-lhe, desagrada-lhe, desobedecem- mesmo ao verbo: São horríveis essas coisas!; Que linda
lhe, etc. Entre os verbos transitivos indiretos importa distinguir estava Amélia!; Completamente feliz ninguém é.; Raros são os
os que não admitem para objeto indireto as formas oblíquas verdadeiros líderes.; Quem são esses homens?; Lentos e tristes,
lhe, lhes, construindo-se com os pronomes retos precedidos de os retirantes iam passando.; Novo ainda, eu não entendia certas
preposição: aludir a ele, anuir a ele, assistir a ela, atentar nele, coisas.; Onde está a criança que fui?
depender dele, investir contra ele, não ligar para ele, etc. Predicativo do Objeto: é o termo que se refere ao objeto de
Em princípio, verbos transitivos indiretos não comportam um verbo transitivo. Exemplos:
a forma passiva. Excetuam-se pagar, perdoar, obedecer, e O juiz declarou o réu inocente.
pouco mais, usados também como transitivos diretos: João O povo elegeu-o deputado.
paga (perdoa, obedece) o médico. O médico é pago (perdoado,
obedecido) por João. Há verbos transitivos indiretos, como Observações: O predicativo objetivo, como vemos dos
atirar, investir, contentar-se, etc., que admitem mais de uma exemplos acima, às vezes vem regido de preposição. Esta, em
preposição, sem mudança de sentido. Outros mudam de sentido certos casos, é facultativa; O predicativo objetivo geralmente
com a troca da preposição, como nestes exemplos: Trate de sua se refere ao objeto direto. Excepcionalmente, pode referir-se
vida. (tratar=cuidar). É desagradável tratar com gente grosseira. ao objeto indireto do verbo chamar. Chamavam-lhe poeta;
(tratar=lidar). Verbos como aspirar, assistir, dispor, servir, etc., Podemos antepor o predicativo a seu objeto: O advogado
variam de significação conforme sejam usados como transitivos considerava indiscutíveis os direitos da herdeira.; Julgo
diretos ou indiretos. inoportuna essa viagem.; “E até embriagado o vi muitas
vezes.”; “Tinha estendida a seus pés uma planta rústica da
Transitivos Diretos e Indiretos: são os que se usam com cidade.”; “Sentia ainda muito abertos os ferimentos que aquele
dois objetos: um direto, outro indireto, concomitantemente. choque com o mundo me causara.”
Exemplos:
No inverno, Dona Cléia dava roupas aos pobres. Termos Integrantes da Oração
A empresa fornece comida aos trabalhadores. Chamam-se termos integrantes da oração os que completam
Oferecemos flores à noiva. a significação transitiva dos verbos e nomes. Integram (inteiram,
Ceda o lugar aos mais velhos. completam) o sentido da oração, sendo por isso indispensável à
compreensão do enunciado. São os seguintes:
De Ligação: Os que ligam ao sujeito uma palavra ou - Complemento Verbais (Objeto Direto e Objeto Indireto);
expressão chamada predicativo. Esses verbos, entram na - Complemento Nominal;
formação do predicado nominal. Exemplos: - Agente da Passiva.
A Terra é móvel.
A água está fria. Objeto Direto: é o complemento dos verbos de predicação
O moço anda (=está) triste. incompleta, não regido, normalmente, de preposição. Exemplos:
A Lua parecia um disco. As plantas purificaram o ar.
“Nunca mais ele arpoara um peixe-boi.” (Ferreira Castro)
Observações: Os verbos de ligação não servem apenas de Procurei o livro, mas não o encontrei.
anexo, mas exprimem ainda os diversos aspectos sob os quais Ninguém me visitou.
se considera a qualidade atribuída ao sujeito. O verbo ser, por
exemplo, traduz aspecto permanente e o verbo estar, aspecto O objeto direto tem as seguintes características:
transitório: Ele é doente. (aspecto permanente); Ele está doente. - Completa a significação dos verbos transitivos diretos;
(aspecto transitório). Muito desses verbos passam à categoria - Normalmente, não vem regido de preposição;
dos intransitivos em frases como: Era =existia) uma vez uma - Traduz o ser sobre o qual recai a ação expressa por um
princesa.; Eu não estava em casa.; Fiquei à sombra.; Anda com verbo ativo: Caim matou Abel.
dificuldades.; Parece que vai chover. - Torna-se sujeito da oração na voz passiva: Abel foi morto
por Caim.
Os verbos, relativamente à predicação, não têm classificação
fixa, imutável. Conforme a regência e o sentido que apresentam O objeto direto pode ser constituído:
na frase, podem pertencer ora a um grupo, ora a outro. Exemplos: - Por um substantivo ou expressão substantivada: O lavrador
O homem anda. (intransitivo) cultiva a terra.; Unimos o útil ao agradável.
O homem anda triste. (de ligação) - Pelos pronomes oblíquos o, a, os, as, me, te, se, nos, vos:
Espero-o na estação.; Estimo-os muito.; Sílvia olhou-se ao
O cego não vê. (intransitivo) espelho.; Não me convidas?; Ela nos chama.; Avisamo-lo a
O cego não vê o obstáculo. (transitivo direto) tempo.; Procuram-na em toda parte.; Meu Deus, eu vos amo.;
“Marchei resolutamente para a maluca e intimei-a a ficar
Não dei com a chave do enigma. (transitivo indireto) quieta.”; “Vós haveis de crescer, perder-vos-ei de vista.”
Os pais dão conselhos aos filhos. (transitivo direto e indireto) - Por qualquer pronome substantivo: Não vi ninguém na
loja.; A árvore que plantei floresceu. (que: objeto direto de
Predicativo: Há o predicativo do sujeito e o predicativo do plantei); Onde foi que você achou isso? Quando vira as folhas do
objeto. livro, ela o faz com cuidado.; “Que teria o homem percebido nos
meus escritos?”

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APOSTILAS OPÇÃO
Frequentemente transitivam-se verbos intransitivos, dando- O dinheiro, Jaime o trazia escondido nas mangas da camisa.
se-lhes por objeto direto uma palavra cognata ou da mesma O bem, muitos o louvam, mas poucos o seguem.
esfera semântica: “Seus cavalos, ela os montava em pelo.” (Jorge Amado)
“Viveu José Joaquim Alves vida tranquila e patriarcal.”
(Vivaldo Coaraci) Objeto Indireto: É o complemento verbal regido de
“Pela primeira vez chorou o choro da tristeza.” (Aníbal preposição necessária e sem valor circunstancial. Representa,
Machado) ordinariamente, o ser a que se destina ou se refere à ação verbal:
“Nenhum de nós pelejou a batalha de Salamina.” (Machado “Nunca desobedeci a meu pai”. O objeto indireto completa a
de Assis) significação dos verbos:
Em tais construções é de rigor que o objeto venha
acompanhado de um adjunto. - Transitivos Indiretos: Assisti ao jogo; Assistimos à missa e
à festa; Aludiu ao fato; Aspiro a uma vida calma.
Objeto Direto Preposicionado: Há casos em que o objeto - Transitivos Diretos e Indiretos (na voz ativa ou passiva):
direto, isto é, o complemento de verbos transitivos diretos, vem Dou graças a Deus; Ceda o lugar aos mais velhos; Dedicou sua
precedido de preposição, geralmente a preposição a. Isto ocorre vida aos doentes e aos pobres; Disse-lhe a verdade. (Disse a
principalmente: verdade ao moço.)
- Quando o objeto direto é um pronome pessoal tônico:
Deste modo, prejudicas a ti e a ela.; “Mas dona Carolina amava O objeto indireto pode ainda acompanhar verbos de outras
mais a ele do que aos outros filhos.”; “Pareceu-me que Roberto categorias, os quais, no caso, são considerados acidentalmente
hostilizava antes a mim do que à ideia.”; “Ricardina lastimava o transitivos indiretos: A bom entendedor meia palavra basta;
seu amigo como a si própria.”; “Amava-a tanto como a nós”. Sobram-lhe qualidades e recursos. (lhe=a ele); Isto não lhe
- Quando o objeto é o pronome relativo quem: “Pedro convém; A proposta pareceu-lhe aceitável.
Severiano tinha um filho a quem idolatrava.”; “Abraçou a todos;
deu um beijo em Adelaide, a quem felicitou pelo desenvolvimento Observações: Há verbos que podem construir-se com dois
das suas graças.”; “Agora sabia que podia manobrar com ele, com objetos indiretos, regidos de preposições diferentes: Rogue a
aquele homem a quem na realidade também temia, como todos Deus por nós.; Ela queixou-se de mim a seu pai.; Pedirei para
ali”. ti a meu senhor um rico presente; Não confundir o objeto direto
- Quando precisamos assegurar a clareza da frase, evitando com o complemento nominal nem com o adjunto adverbial; Em
que o objeto direto seja tomado como sujeito, impedindo frases como “Para mim tudo eram alegrias”, “Para ele nada é
construções ambíguas: Convence, enfim, ao pai o filho amado.; impossível”, os pronomes em destaque podem ser considerados
“Vence o mal ao remédio.”; “Tratava-me sem cerimônia, como a adjuntos adverbiais.
um irmão.”; A qual delas iria homenagear o cavaleiro?
- Em expressões de reciprocidade, para garantir a clareza e a O objeto indireto é sempre regido de preposição, expressa
eufonia da frase: “Os tigres despedaçam-se uns aos outros.”; “As ou implícita. A preposição está implícita nos pronomes objetivos
companheiras convidavam-se umas às outras.”; “Era o abraço de indiretos (átonos) me, te, se, lhe, nos, vos, lhes. Exemplos:
duas criaturas que só tinham uma à outra”. Obedece-me. (=Obedece a mim.); Isto te pertence. (=Isto
- Com nomes próprios ou comuns, referentes a pessoas, pertence a ti.); Rogo-lhe que fique. (=Rogo a você...); Peço-
principalmente na expressão dos sentimentos ou por amor da vos isto. (=Peço isto a vós.). Nos demais casos a preposição é
eufonia da frase: Judas traiu a Cristo.; Amemos a Deus sobre expressa, como característica do objeto indireto: Recorro a
todas as coisas. “Provavelmente, enganavam é a Pedro.”; “O Deus.; Dê isto a (ou para) ele.; Contenta-se com pouco.; Ele
estrangeiro foi quem ofendeu a Tupã”. só pensa em si.; Esperei por ti.; Falou contra nós.; Conto com
- Em construções enfáticas, nas quais antecipamos o objeto você.; Não preciso disto.; O filme a que assisti agradou ao
direto para dar-lhe realce: A você é que não enganam!; Ao público.; Assisti ao desenrolar da luta.; A coisa de que mais
médico, confessor e letrado nunca enganes.; “A este confrade gosto é pescar.; A pessoa a quem me refiro você a conhece.; Os
conheço desde os seus mais tenros anos”. obstáculos contra os quais luto são muitos.; As pessoas com
- Sendo objeto direto o numeral ambos(as): “O aguaceiro quem conto são poucas.
caiu, molhou a ambos.”; “Se eu previsse que os matava a
ambos...”. Como atestam os exemplos acima, o objeto indireto é
- Com certos pronomes indefinidos, sobretudo referentes a representado pelos substantivos (ou expressões substantivas)
pessoas: Se todos são teus irmãos, por que amas a uns e odeias a ou pelos pronomes. As preposições que o ligam ao verbo são: a,
outros?; Aumente a sua felicidade, tornando felizes também aos com, contra, de, em, para e por.
outros.; A quantos a vida ilude!.
- Em certas construções enfáticas, como puxar (ou arrancar) Objeto Indireto Pleonástico: à semelhança do objeto direto,
da espada, pegar da pena, cumprir com o dever, atirar com os o objeto indireto pode vir repetido ou reforçado, por ênfase.
livros sobre a mesa, etc.: “Arrancam das espadas de aço fino...”; Exemplos: “A mim o que me deu foi pena.”; “Que me importa
“Chegou a costureira, pegou do pano, pegou da agulha, pegou a mim o destino de uma mulher tísica...? “E, aos brigões,
da linha, enfiou a linha na agulha e entrou a coser.”; “Imagina-se incapazes de se moverem, basta-lhes xingarem-se a distância.”
a consternação de Itaguaí, quando soube do caso.”
Complemento Nominal: é o termo complementar reclamado
Observações: Nos quatro primeiros casos estudados a pela significação transitiva, incompleta, de certos substantivos,
preposição é de rigor, nos cinco outros, facultativa; A substituição adjetivos e advérbios. Vem sempre regido de preposição.
do objeto direto preposicionado pelo pronome oblíquo átono, Exemplos: A defesa da pátria; Assistência às aulas; “O ódio ao
quando possível, se faz com as formas o(s), a(s) e não lhe, mal é amor do bem, e a ira contra o mal, entusiasmo divino.”;
lhes: amar a Deus (amá-lo); convencer ao amigo (convencê- “Ah, não fosse ele surdo à minha voz!”
lo); O objeto direto preposicionado, é obvio, só ocorre com
verbo transitivo direto; Podem resumir-se em três as razões Observações: O complemento nominal representa o
ou finalidades do emprego do objeto direto preposicionado: recebedor, o paciente, o alvo da declaração expressa por um
a clareza da frase; a harmonia da frase; a ênfase ou a força da nome: amor a Deus, a condenação da violência, o medo de
expressão. assaltos, a remessa de cartas, útil ao homem, compositor
de músicas, etc. É regido pelas mesmas preposições usadas
Objeto Direto Pleonástico: Quando queremos dar destaque no objeto indireto. Difere deste apenas porque, em vez de
ou ênfase à ideia contida no objeto direto, colocamo-lo no complementar verbos, complementa nomes (substantivos,
início da frase e depois o repetimos ou reforçamos por meio do adjetivos) e alguns advérbios em –mente. Os nomes que
pronome oblíquo. A esse objeto repetido sob forma pronominal requerem complemento nominal correspondem, geralmente, a
chama-se pleonástico, enfático ou redundante. Exemplos: verbos de mesmo radical: amor ao próximo, amar o próximo;

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APOSTILAS OPÇÃO
perdão das injúrias, perdoar as injúrias; obediente aos pais, é expresso: Pelos advérbios: Cheguei cedo.; Ande devagar.;
obedecer aos pais; regresso à pátria, regressar à pátria; etc. Maria é mais alta.; Não durma ao volante.; Moramos aqui.;
Ele fala bem, fala corretamente.; Volte bem depressa.; Talvez
Agente da Passiva: é o complemento de um verbo na voz esteja enganado.; Pelas locuções ou expressões adverbiais: Às
passiva. Representa o ser que pratica a ação expressa pelo verbo vezes viajava de trem.; Compreendo sem esforço.; Saí com meu
passivo. Vem regido comumente pela preposição por, e menos pai.; Júlio reside em Niterói.; Errei por distração.; Escureceu
frequentemente pela preposição de: Alfredo é estimado pelos de repente.
colegas; A cidade estava cercada pelo exército romano; “Era
conhecida de todo mundo a fama de suas riquezas.” Observações: Pode ocorrer a elipse da preposição antes
de adjuntos adverbiais de tempo e modo: Aquela noite, não
O agente da passiva pode ser expresso pelos substantivos ou dormi. (=Naquela noite...); Domingo que vem não sairei. (=No
pelos pronomes: domingo...); Ouvidos atentos, aproximei-me da porta. (=De
As flores são umedecidas pelo orvalho. ouvidos atentos...); Os adjuntos adverbiais classificam-se de
A carta foi cuidadosamente corrigida por mim. acordo com as circunstâncias que exprimem: adjunto adverbial
de lugar, modo, tempo, intensidade, causa, companhia, meio,
O agente da passiva corresponde ao sujeito da oração na voz assunto, negação, etc. É importante saber distinguir adjunto
ativa: adverbial de adjunto adnominal, de objeto indireto e de
A rainha era chamada pela multidão. (voz passiva) complemento nominal: sair do mar (ad.adv.); água do mar (adj.
A multidão aclamava a rainha. (voz ativa) adn.); gosta do mar (obj.indir.); ter medo do mar (compl.nom.).
Ele será acompanhado por ti. (voz passiva)
Aposto: É uma palavra ou expressão que explica ou esclarece,
Observações: desenvolve ou resume outro termo da oração. Exemplos:
Frase de forma passiva analítica sem complemento agente D. Pedro II, imperador do Brasil, foi um monarca sábio.
expresso, ao passar para a ativa, terá sujeito indeterminado “Nicanor, ascensorista, expôs-me seu caso de consciência.”
e o verbo na 3ª pessoa do plural: Ele foi expulso da cidade. (Carlos Drummond de Andrade)
(Expulsaram-no da cidade.); As florestas são devastadas.
(Devastam as florestas.); Na passiva pronominal não se declara O núcleo do aposto é um substantivo ou um pronome
o agente: Nas ruas assobiavam-se as canções dele pelos substantivo:
pedestres. (errado); Nas ruas eram assobiadas as canções dele Foram os dois, ele e ela.
pelos pedestres. (certo); Assobiavam-se as canções dele nas Só não tenho um retrato: o de minha irmã.
ruas. (certo)
O aposto não pode ser formado por adjetivos. Nas frases
Termos Acessórios da Oração seguintes, por exemplo, não há aposto, mas predicativo do
sujeito:
Termos acessórios são os que desempenham na oração Audaciosos, os dois surfistas atiraram-se às ondas.
uma função secundária, qual seja a de caracterizar um ser, As borboletas, leves e graciosas, esvoaçavam num balé de
determinar os substantivos, exprimir alguma circunstância. São cores.
três os termos acessórios da oração: adjunto adnominal, adjunto
adverbial e aposto. Os apostos, em geral, destacam-se por pausas, indicadas, na
escrita, por vírgulas, dois pontos ou travessões. Não havendo
Adjunto adnominal: É o termo que caracteriza ou determina pausa, não haverá vírgula, como nestes exemplos:
os substantivos. Exemplo: Meu irmão veste roupas vistosas. Minha irmã Beatriz; o escritor João Ribeiro; o romance Tóia;
(Meu determina o substantivo irmão: é um adjunto adnominal o rio Amazonas; a Rua Osvaldo Cruz; o Colégio Tiradentes, etc.
– vistosas caracteriza o substantivo roupas: é também adjunto “Onde estariam os descendentes de Amaro vaqueiro?”
adnominal). (Graciliano Ramos)
O adjunto adnominal pode ser expresso: Pelos adjetivos:
água fresca, terras férteis, animal feroz; Pelos artigos: o O aposto pode preceder o termo a que se refere, o qual, às
mundo, as ruas, um rapaz; Pelos pronomes adjetivos: nosso tio, vezes, está elíptico. Exemplos:
este lugar, pouco sal, muitas rãs, país cuja história conheço, Rapaz impulsivo, Mário não se conteve.
que rua?; Pelos numerais: dois pés, quinto ano, capítulo sexto; Mensageira da ideia, a palavra é a mais bela expressão da
Pelas locuções ou expressões adjetivas que exprimem qualidade, alma humana.
posse, origem, fim ou outra especificação:
- presente de rei (=régio): qualidade O aposto, às vezes, refere-se a toda uma oração. Exemplos:
- livro do mestre, as mãos dele: posse, pertença Nuvens escuras borravam os espaços silenciosos, sinal de
- água da fonte, filho de fazendeiros: origem tempestade iminente.
- fio de aço, casa de madeira: matéria O espaço é incomensurável, fato que me deixa atônito.
- casa de ensino, aulas de inglês: fim, especialidade
Um aposto pode referir-se a outro aposto:
Observações: Não confundir o adjunto adnominal formado “Serafim Gonçalves casou-se com Lígia Tavares, filha do
por locução adjetiva com complemento nominal. Este representa velho coronel Tavares, senhor de engenho.” (Ledo Ivo)
o alvo da ação expressa por um nome transitivo: a eleição do
presidente, aviso de perigo, declaração de guerra, empréstimo O aposto pode vir precedido das expressões explicativas isto
de dinheiro, plantio de árvores, colheita de trigo, destruidor é, a saber, ou da preposição acidental como:
de matas, descoberta de petróleo, amor ao próximo, etc. O
adjunto adnominal formado por locução adjetiva representa Dois países sul-americanos, isto é, a Bolívia e o Paraguai,
o agente da ação, ou a origem, pertença, qualidade de alguém não são banhados pelo mar.
ou de alguma coisa: o discurso do presidente, aviso de amigo, Este escritor, como romancista, nunca foi superado.
declaração do ministro, empréstimo do banco, a casa do
fazendeiro, folhas de árvores, farinha de trigo, beleza das O aposto que se refere a objeto indireto, complemento
matas, cheiro de petróleo, amor de mãe. nominal ou adjunto adverbial vem precedido de preposição:

Adjunto adverbial: É o termo que exprime uma circunstância O rei perdoou aos dois: ao fidalgo e ao criado.
(de tempo, lugar, modo, etc.) ou, em outras palavras, que modifica “Acho que adoeci disso, de beleza, da intensidade das
o sentido de um verbo, adjetivo ou advérbio. Exemplo: “Meninas coisas.” (Raquel Jardim)
numa tarde brincavam de roda na praça”. O adjunto adverbial De cobras, morcegos, bichos, de tudo ela tinha medo.

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APOSTILAS OPÇÃO
Vocativo: (do latim vocare = chamar) é o termo (nome, título, Quero que você aprenda. (dois verbos, duas orações)
apelido) usado para chamar ou interpelar a pessoa, o animal ou Está pegando fogo no prédio. (uma locução verbal, uma
a coisa personificada a que nos dirigimos: oração)
Deves estudar para poderes vencer na vida. (duas locuções
“Elesbão? Ó Elesbão! Venha ajudar-nos, por favor!” (Maria verbais, duas orações)
de Lourdes Teixeira)
“A ordem, meus amigos, é a base do governo.” (Machado de Há três tipos de período composto: por coordenação, por
Assis) subordinação e por coordenação e subordinação ao mesmo
“Correi, correi, ó lágrimas saudosas!” (Fagundes Varela) tempo (também chamada de misto).

Observação: Profere-se o vocativo com entoação exclamativa. Período Composto por Coordenação – Orações
Na escrita é separado por vírgula(s). No exemplo inicial, os Coordenadas
pontos interrogativo e exclamativo indicam um chamado alto e
prolongado. O vocativo se refere sempre à 2ª pessoa do discurso, Considere, por exemplo, este período composto:
que pode ser uma pessoa, um animal, uma coisa real ou entidade Passeamos pela praia, / brincamos, / recordamos os tempos
abstrata personificada. Podemos antepor-lhe uma interjeição de de infância.
apelo (ó, olá, eh!): 1ª oração: Passeamos pela praia
“Tem compaixão de nós , ó Cristo!” (Alexandre Herculano) 2ª oração: brincamos
“Ó Dr. Nogueira, mande-me cá o Padilha, amanhã!” 3ª oração: recordamos os tempos de infância
(Graciliano Ramos) As três orações que compõem esse período têm sentido
“Esconde-te, ó sol de maio, ó alegria do mundo!” (Camilo próprio e não mantêm entre si nenhuma dependência sintática:
Castelo Branco) elas são independentes. Há entre elas, é claro, uma relação de
O vocativo é um tempo à parte. Não pertence à estrutura da sentido, mas, como já dissemos, uma não depende da outra
oração, por isso não se anexa ao sujeito nem ao predicado. sintaticamente.
As orações independentes de um período são chamadas
Questões de orações coordenadas (OC), e o período formado só de
orações coordenadas é chamado de período composto por
01. O termo em destaque é adjunto adverbial de intensidade coordenação.
em: As orações coordenadas são classificadas em assindéticas e
(A) pode aprender e assimilar MUITA coisa sindéticas.
(B) enfrentamos MUITAS novidades
(C) precisa de um parceiro com MUITO caráter - As orações coordenadas são assindéticas (OCA) quando
(D) não gostam de mulheres MUITO inteligentes não vêm introduzidas por conjunção. Exemplo:
(E) assumimos MUITO conflito e confusão Os torcedores gritaram, / sofreram, / vibraram.
OCA OCA OCA
02. Assinale a alternativa correta: “para todos os males, há
dois remédios: o tempo e o silêncio”, os termos grifados são “Inclinei-me, apanhei o embrulho e segui.” (Machado de
respectivamente: Assis)
(A) sujeito – objeto direto; “A noite avança, há uma paz profunda na casa deserta.”
(B) sujeito – aposto; (Antônio Olavo Pereira)
(C) objeto direto – aposto; “O ferro mata apenas; o ouro infama, avilta, desonra.”
(D) objeto direto – objeto direto; (Coelho Neto)
(E) objeto direto – complemento nominal.
- As orações coordenadas são sindéticas (OCS) quando vêm
03. Assinale a alternativa em que o termo destacado é objeto introduzidas por conjunção coordenativa. Exemplo:
indireto. O homem saiu do carro / e entrou na casa.
(A) “Quem faz um poema abre uma janela.” (Mário Quintana) OCA OCS
(B) “Toda gente que eu conheço e que fala comigo / Nunca
teve um ato ridículo / Nunca sofreu enxovalho (...)” (Fernando As orações coordenadas sindéticas são classificadas de
Pessoa) acordo com o sentido expresso pelas conjunções coordenativas
(C) “Quando Ismália enlouqueceu / Pôs-se na torre a sonhar que as introduzem. Pode ser:
/ Viu uma lua no céu, / Viu uma lua no mar.” (Alphonsus de
Guimarães) - Orações coordenadas sindéticas aditivas: e, nem, não só...
(D) “Mas, quando responderam a Nhô Augusto: ‘– É a mas também, não só... mas ainda.
jagunçada de seu Joãozinho Bem-Bem, que está descendo para Saí da escola / e fui à lanchonete.
a Bahia.’ – ele, de alegre, não se pôde conter.” (Guimarães Rosa) OCA OCS Aditiva

Respostas Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção


01. D\02. C\03. D que expressa idéia de acréscimo ou adição com referência à
oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa aditiva.
Período
A doença vem a cavalo e volta a pé.
Período: Toda frase com uma ou mais orações constitui um As pessoas não se mexiam nem falavam.
período, que se encerra com ponto de exclamação, ponto de “Não só findaram as queixas contra o alienista, mas até
interrogação ou com reticências. nenhum ressentimento ficou dos atos que ele praticara.”
O período é simples quando só traz uma oração, chamada (Machado de Assis)
absoluta; o período é composto quando traz mais de uma - Orações coordenadas sindéticas adversativas: mas,
oração. Exemplo: Pegou fogo no prédio. (Período simples, oração porém, todavia, contudo, entretanto, no entanto.
absoluta.); Quero que você aprenda. (Período composto.)
Estudei bastante / mas não passei no teste.
Existe uma maneira prática de saber quantas orações há OCA OCS Adversativa
num período: é contar os verbos ou locuções verbais. Num
período haverá tantas orações quantos forem os verbos ou as Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção
locuções verbais nele existentes. Exemplos: que expressa idéia de oposição à oração anterior, ou seja, por
Pegou fogo no prédio. (um verbo, uma oração) uma conjunção coordenativa adversativa.

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APOSTILAS OPÇÃO
A espada vence, mas não convence. Não durma sem cobertor, pois a noite está fria.
“É dura a vida, mas aceitam-na.” (Cecília Meireles) Quero desculpar-me, mas consigo encontrá-los.
 
- Orações coordenadas sindéticas conclusivas: portanto, 02. E\03. C
por isso, pois, logo.
Período Composto por Subordinação
Ele me ajudou muito, / portanto merece minha gratidão.
OCA OCS Conclusiva Observe os termos destacados em cada uma destas orações:
Vi uma cena triste. (adjunto adnominal)
Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma conjunção Todos querem sua participação. (objeto direto)
que expressa ideia de conclusão de um fato enunciado na oração Não pude sair por causa da chuva. (adjunto adverbial de
anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa conclusiva. causa)

Vives mentindo; logo, não mereces fé. Veja, agora, como podemos transformar esses termos em
Ele é teu pai: respeita-lhe, pois, a vontade. orações com a mesma função sintática:
Vi uma cena / que me entristeceu. (oração subordinada
- Orações coordenadas sindéticas alternativas: ou,ou... ou, com função de adjunto adnominal)
ora... ora, seja... seja, quer... quer. Todos querem / que você participe. (oração subordinada
com função de objeto direto)
Seja mais educado / ou retire-se da reunião! Não pude sair / porque estava chovendo. (oração
OCA OCS Alternativa subordinada com função de adjunto adverbial de causa)

Observe que a 2ª oração vem introduzida por uma Em todos esses períodos, a segunda oração exerce uma
conjunção que estabelece uma relação de alternância ou escolha certa função sintática em relação à primeira, sendo, portanto,
com referência à oração anterior, ou seja, por uma conjunção subordinada a ela. Quando um período é constituído de pelo
coordenativa alternativa. menos um conjunto de duas orações em que uma delas (a
subordinada) depende sintaticamente da outra (principal), ele
Venha agora ou perderá a vez. é classificado como período composto por subordinação. As
“Jacinta não vinha à sala, ou retirava-se logo.” (Machado de orações subordinadas são classificadas de acordo com a função
Assis) que exercem: adverbiais, substantivas e adjetivas.
“Em aviação, tudo precisa ser bem feito ou custará preço
muito caro.” (Renato Inácio da Silva) Orações Subordinadas Adverbiais
“A louca ora o acariciava, ora o rasgava freneticamente.”
(Luís Jardim) As orações subordinadas adverbiais (OSA) são aquelas
que exercem a função de adjunto adverbial da oração principal
- Orações coordenadas sindéticas explicativas: que, (OP). São classificadas de acordo com a conjunção subordinativa
porque, pois, porquanto. que as introduz:
Vamos andar depressa / que estamos atrasados.
OCA OCS Explicativa - Causais: Expressam a causa do fato enunciado na oração
Observe que a 2ª oração é introduzida por uma conjunção principal. Conjunções: porque, que, como (= porque), pois que,
que expressa ideia de explicação, de justificativa em relação visto que.
à oração anterior, ou seja, por uma conjunção coordenativa Não fui à escola / porque fiquei doente.
explicativa. OP OSA Causal

Leve-lhe uma lembrança, que ela aniversaria amanhã. O tambor soa porque é oco.
“A mim ninguém engana, que não nasci ontem.” (Érico Como não me atendessem, repreendi-os severamente.
Veríssimo) Como ele estava armado, ninguém ousou reagir.
“Faltou à reunião, visto que esteve doente.” (Arlindo de
Questões Sousa)

01. Relacione as orações coordenadas por meio de - Condicionais: Expressam hipóteses ou condição para a
conjunções: ocorrência do que foi enunciado na principal. Conjunções: se,
(A) Ouviu-se o som da bateria. Os primeiros foliões surgiram. contanto que, a menos que, a não ser que, desde que.
(B) Não durma sem cobertor. A noite está fria. Irei à sua casa / se não chover.
(C) Quero desculpar-me. Não consigo encontrá-los. OP OSA Condicional
  
02. Em: “... ouviam-se amplos bocejos, fortes como o marulhar Deus só nos perdoará se perdoarmos aos nossos
das ondas...” a partícula como expressa uma ideia de: ofensores.
(A) causa Se o conhecesses, não o condenarias.
(B) explicação “Que diria o pai se soubesse disso?” (Carlos Drummond de
(C) conclusão Andrade)
(D) proporção A cápsula do satélite será recuperada, caso a experiência
(E) comparação tenha êxito.
  - Concessivas: Expressam ideia ou fato contrário ao da
03. “Entrando na faculdade, procurarei emprego”, oração oração principal, sem, no entanto, impedir sua realização.
sublinhada pode indicar uma ideia de: Conjunções: embora, ainda que, apesar de, se bem que, por mais
(A) concessão que, mesmo que.
(B) oposição Ela saiu à noite / embora estivesse doente.
(C) condição OP OSA Concessiva
(D) lugar Admirava-o muito, embora (ou conquanto ou posto que
(E) consequência ou se bem que) não o conhecesse pessoalmente.
   Embora não possuísse informações seguras, ainda assim
Respostas arriscou uma opinião.
01. Cumpriremos nosso dever, ainda que (ou mesmo quando
Ouviu-se o som da bateria e os primeiros foliões surgiram. ou ainda quando ou mesmo que) todos nos critiquem.

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APOSTILAS OPÇÃO
Por mais que gritasse, não me ouviram. À medida que se vive, mais se aprende.
À proporção que avançávamos, as casas iam rareando.
- Conformativas: Expressam a conformidade de um fato O valor do salário, ao passo que os preços sobem, vai
com outro. Conjunções: conforme, como (=conforme), segundo. diminuindo.
O trabalho foi feito / conforme havíamos planejado.
OP OSA Conformativa Orações Subordinadas Substantivas

O homem age conforme pensa. As orações subordinadas substantivas (OSS) são aquelas
Relatei os fatos como (ou conforme) os ouvi. que, num período, exercem funções sintáticas próprias de
Como diz o povo, tristezas não pagam dívidas. substantivos, geralmente são introduzidas pelas conjunções
O jornal, como sabemos, é um grande veículo de informação. integrantes que e se. Elas podem ser:

- Temporais: Acrescentam uma circunstância de tempo ao - Oração Subordinada Substantiva Objetiva Direta: É
que foi expresso na oração principal. Conjunções: quando, assim aquela que exerce a função de objeto direto do verbo da oração
que, logo que, enquanto, sempre que, depois que, mal (=assim que). principal. Observe: O grupo quer a sua ajuda. (objeto direto)
Ele saiu da sala / assim que eu cheguei. O grupo quer / que você ajude.
OP OSA Temporal OP OSS Objetiva Direta

Formiga, quando quer se perder, cria asas. O mestre exigia que todos estivessem presentes. (= O
“Lá pelas sete da noite, quando escurecia, as casas se mestre exigia a presença de todos.)
esvaziam.” (Carlos Povina Cavalcânti) Mariana esperou que o marido voltasse.
“Quando os tiranos caem, os povos se levantam.” (Marquês Ninguém pode dizer: Desta água não beberei.
de Maricá) O fiscal verificou se tudo estava em ordem.
Enquanto foi rico, todos o procuravam.
- Finais: Expressam a finalidade ou o objetivo do que foi - Oração Subordinada Substantiva Objetiva Indireta: É
enunciado na oração principal. Conjunções: para que, a fim de aquela que exerce a função de objeto indireto do verbo da oração
que, porque (=para que), que. principal. Observe: Necessito de sua ajuda. (objeto indireto)
Abri a porta do salão / para que todos pudessem entrar. Necessito / de que você me ajude.
OP OSA Final OP OSS Objetiva Indireta

“O futuro se nos oculta para que nós o imaginemos.” Não me oponho a que você viaje. (= Não me oponho à sua
(Marquês de Maricá) viagem.)
Aproximei-me dele a fim de que me ouvisse melhor. Aconselha-o a que trabalhe mais.
“Fiz-lhe sinal que se calasse.” (Machado de Assis) (que = Daremos o prêmio a quem o merecer.
para que) Lembre-se de que a vida é breve.
“Instara muito comigo não deixasse de frequentar as
recepções da mulher.” (Machado de Assis) (não deixasse = - Oração Subordinada Substantiva Subjetiva: É aquela
para que não deixasse) que exerce a função de sujeito do verbo da oração principal.
Observe: É importante sua colaboração. (sujeito)
- Consecutivas: Expressam a consequência do que foi É importante / que você colabore.
enunciado na oração principal. Conjunções: porque, que, como (= OP OSS Subjetiva
porque), pois que, visto que.
A chuva foi tão forte / que inundou a cidade. A oração subjetiva geralmente vem:
OP OSA Consecutiva - depois de um verbo de ligação + predicativo, em construções
do tipo é bom, é útil, é certo, é conveniente, etc. Ex.: É certo que
Fazia tanto frio que meus dedos estavam endurecidos. ele voltará amanhã.
“A fumaça era tanta que eu mal podia abrir os olhos.” (José - depois de expressões na voz passiva, como sabe-se, conta-
J. Veiga) se, diz-se, etc. Ex.: Sabe-se que ele saiu da cidade.
De tal sorte a cidade crescera que não a reconhecia mais. - depois de verbos como convir, cumprir, constar, urgir,
As notícias de casa eram boas, de maneira que pude ocorrer, quando empregados na 3ª pessoa do singular e seguidos
prolongar minha viagem. das conjunções que ou se. Ex.: Convém que todos participem
da reunião.
- Comparativas: Expressam ideia de comparação com
referência à oração principal. Conjunções: como, assim como, É necessário que você colabore. (= Sua colaboração é
tal como, (tão)... como, tanto como, tal qual, que (combinado com necessária.)
menos ou mais). Parece que a situação melhorou.
Ela é bonita / como a mãe. Aconteceu que não o encontrei em casa.
OP OSA Comparativa Importa que saibas isso bem.

A preguiça gasta a vida como a ferrugem consome o ferro.” - Oração Subordinada Substantiva Completiva Nominal:
(Marquês de Maricá) É aquela que exerce a função de complemento nominal de um
Ela o atraía irresistivelmente, como o imã atrai o ferro. termo da oração principal. Observe: Estou convencido de sua
Os retirantes deixaram a cidade tão pobres como vieram. inocência. (complemento nominal)
Como a flor se abre ao Sol, assim minha alma se abriu à luz Estou convencido / de que ele é inocente.
daquele olhar. OP OSS Completiva Nominal

Obs.: As orações comparativas nem sempre apresentam Sou favorável a que o prendam. (= Sou favorável à prisão
claramente o verbo, como no exemplo acima, em que está dele.)
subentendido o verbo ser (como a mãe é). Estava ansioso por que voltasses.
- Proporcionais: Expressam uma ideia que se relaciona Sê grato a quem te ensina.
proporcionalmente ao que foi enunciado na principal. “Fabiano tinha a certeza de que não se acabaria tão cedo.”
Conjunções: à medida que, à proporção que, ao passo que, quanto (Graciliano Ramos)
mais, quanto menos.
Quanto mais reclamava / menos atenção recebia. - Oração Subordinada Substantiva Predicativa: É aquela
OSA Proporcional OP que exerce a função de predicativo do sujeito da oração principal,

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APOSTILAS OPÇÃO
vindo sempre depois do verbo ser. Observe: O importante é sua Deus, que é nosso pai, nos salvará.
felicidade. (predicativo) Valério, que nasceu rico, acabou na miséria.
O importante é / que você seja feliz. Ele tem amor às plantas, que cultiva com carinho.
OP OSS Predicativa Alguém, que passe por ali à noite, poderá ser assaltado.

Seu receio era que chovesse. (Seu receio era a chuva.) Orações Reduzidas
Minha esperança era que ele desistisse. Observe que as orações subordinadas eram sempre
Meu maior desejo agora é que me deixem em paz. introduzidas por uma conjunção ou pronome relativo e
Não sou quem você pensa. apresentavam o verbo numa forma do indicativo ou do
subjuntivo. Além desse tipo de orações subordinadas há outras
- Oração Subordinada Substantiva Apositiva: É aquela que se apresentam com o verbo numa das formas nominais
que exerce a função de aposto de um termo da oração principal. (infinitivo, gerúndio e particípio). Exemplos:
Observe: Ele tinha um sonho: a união de todos em benefício
do país. (aposto) - Ao entrar nas escola, encontrei o professor de inglês.
Ele tinha um sonho / que todos se unissem em benefício do (infinitivo)
país. - Precisando de ajuda, telefone-me. (gerúndio)
OP OSS Apositiva - Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário.
(particípio)
Só desejo uma coisa: que vivam felizes. (Só desejo uma
coisa: a sua felicidade) As orações subordinadas que apresentam o verbo numa das
Só lhe peço isto: honre o nosso nome. formas nominais são chamadas de reduzidas.
“Talvez o que eu houvesse sentido fosse o presságio disto: de Para classificar a oração que está sob a forma reduzida,
que virias a morrer...” (Osmã Lins) devemos procurar desenvolvê-la do seguinte modo: colocamos
“Mas diga-me uma cousa, essa proposta traz algum motivo a conjunção ou o pronome relativo adequado ao sentido e
oculto?” (Machado de Assis) passamos o verbo para uma forma do indicativo ou subjuntivo,
As orações apositivas vêm geralmente antecedidas de dois- conforme o caso. A oração reduzida terá a mesma classificação
pontos. Podem vir, também, entre vírgulas, intercaladas à oração da oração desenvolvida.
principal. Exemplo: Seu desejo, que o filho recuperasse a
saúde, tornou-se realidade. Ao entrar na escola, encontrei o professor de inglês.
Quando entrei na escola, / encontrei o professor de inglês.
Observação: Além das conjunções integrantes que e se, OSA Temporal
as orações substantivas podem ser introduzidas por outros Ao entrar na escola: oração subordinada adverbial temporal,
conectivos, tais como quando, como, quanto, etc. Exemplos: reduzida de infinitivo.
Não sei quando ele chegou.
Diga-me como resolver esse problema. Precisando de ajuda, telefone-me.
Se precisar de ajuda, / telefone-me.
Orações Subordinadas Adjetivas OSA Condicional
Precisando de ajuda: oração subordinada adverbial
As orações subordinadas Adjetivas (OSA) exercem condicional, reduzida de gerúndio.
a função de adjunto adnominal de algum termo da oração
principal. Observe como podemos transformar um adjunto Acabado o treino, os jogadores foram para o vestiário.
adnominal em oração subordinada adjetiva: Assim que acabou o treino, / os jogadores foram para o
Desejamos uma paz duradoura. (adjunto adnominal) vestiário.
Desejamos uma paz / que dure. (oração subordinada OSA Temporal
adjetiva) Acabado o treino: oração subordinada adverbial temporal,
reduzida de particípio.
As orações subordinadas adjetivas são sempre introduzidas
por um pronome relativo (que , qual, cujo, quem, etc.) e podem Observações:
ser classificadas em:
- Há orações reduzidas que permitem mais de um tipo de
- Subordinadas Adjetivas Restritivas: São restritivas desenvolvimento. Há casos também de orações reduzidas
quando restringem ou especificam o sentido da palavra a que se fixas, isto é, orações reduzidas que não são passíveis de
referem. Exemplo: desenvolvimento. Exemplo: Tenho vontade de visitar essa
O público aplaudiu o cantor / que ganhou o 1º lugar. cidade.
OP OSA Restritiva - O infinitivo, o gerúndio e o particípio não constituem
orações reduzidas quando fazem parte de uma locução verbal.
Nesse exemplo, a oração que ganhou o 1º lugar especifica Exemplos:
o sentido do substantivo cantor, indicando que o público não Preciso terminar este exercício.
aplaudiu qualquer cantor mas sim aquele que ganhou o 1º lugar. Ele está jantando na sala.
Essa casa foi construída por meu pai.
Pedra que rola não cria limo. - Uma oração coordenada também pode vir sob a forma
Os animais que se alimentam de carne chamam-se reduzida. Exemplo:
carnívoros. O homem fechou a porta, saindo depressa de casa.
Rubem Braga é um dos cronistas que mais belas páginas O homem fechou a porta e saiu depressa de casa. (oração
escreveram. coordenada sindética aditiva)
“Há saudades que a gente nunca esquece.” (Olegário Saindo depressa de casa: oração coordenada reduzida de
Mariano) gerúndio.
- Subordinadas Adjetivas Explicativas: São explicativas Qual é a diferença entre as orações coordenadas explicativas
quando apenas acrescentam uma qualidade à palavra a que se e as orações subordinadas causais, já que ambas podem ser
referem, esclarecendo um pouco mais seu sentido, mas sem iniciadas por que e porque? Às vezes não é fácil estabelecer a
restringi-lo ou especificá-lo. Exemplo: diferença entre explicativas e causais, mas como o próprio nome
O escritor Jorge Amado, / que mora na Bahia, / lançou um indica, as causais sempre trazem a causa de algo que se revela na
novo livro. oração principal, que traz o efeito.
OP OSA Explicativa OP Note-se também que há pausa (vírgula, na escrita) entre
a oração explicativa e a precedente e que esta é, muitas vezes,

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APOSTILAS OPÇÃO
imperativa, o que não acontece com a oração adverbial causal. -  “Os pobres dão pelo pão o trabalho; os ricos dão pelo pão
Essa noção de causa e efeito não existe no período composto por a fazenda; os de espíritos generosos dão pelo pão a vida; os de
coordenação. Exemplo: Rosa chorou porque levou uma surra. nenhum espírito dão pelo pão a alma...” (VIEIRA)
Está claro que a oração iniciada pela conjunção é causal, visto
que a surra foi sem dúvida a causa do choro, que é efeito. 2- Separa partes de frases que já estão separadas por
Rosa chorou, porque seus olhos estão vermelhos. O vírgulas.
período agora é composto por coordenação, pois a oração - Alguns quiseram verão, praia e calor; outros montanhas, frio
iniciada pela conjunção traz a explicação daquilo que se revelou e cobertor.
na coordena anterior. Não existe aí relação de causa e efeito: o
fato de os olhos de Elisa estarem vermelhos não é causa de ela 3- Separa itens de uma enumeração, exposição de motivos,
ter chorado. decreto de lei, etc.
- Ir ao supermercado;
Ela fala / como falaria / se entendesse do assunto. - Pegar as crianças na escola;
OP OSA Comparativa OSA Condicional - Caminhada na praia;
- Reunião com amigos.
Questões
Dois pontos
01. Na frase: “Maria do Carmo tinha a certeza de que estava 1- Antes de uma citação
para ser mãe”, a oração destacada é: - Vejamos como Afrânio Coutinho trata este assunto:
(A) subordinada substantiva objetiva indireta
(B) subordinada substantiva completiva nominal 2- Antes de um aposto
(C) subordinada substantiva predicativa - Três coisas não me agradam: chuva pela manhã, frio à tarde
(D) coordenada sindética conclusiva e calor à noite.
(E) coordenada sindética explicativa
3- Antes de uma explicação ou esclarecimento
02. “Na ‘Partida Monção’, não há uma atitude inventada. - Lá estava a deplorável família: triste, cabisbaixa, vivendo a
Há reconstituição de uma cena como ela devia ter sido na rotina de sempre.
realidade.” A oração sublinhada é:
(A) adverbial conformativa 4- Em frases de estilo direto
(B) adjetiva  Maria perguntou:
(C) adverbial consecutiva - Por que você não toma uma decisão?
(D) adverbial proporcional
(E) adverbial causal Ponto de Exclamação
1- Usa-se para indicar entonação de surpresa, cólera, susto,
03.“Esses produtos podem ser encontrados nos súplica, etc.
supermercados com rótulos como ‘sênior’ e com características - Sim! Claro que eu quero me casar com você!
adaptadas às dificuldades para mastigar e para engolir dos
mais velhos, e preparados para se encaixar em seus hábitos de 2- Depois de interjeições ou vocativos
consumo”. O segmento “para se encaixar” pode ter sua forma - Ai! Que susto!
verbal reduzida adequadamente desenvolvida em - João! Há quanto tempo!
(A) para se encaixarem.
(B) para seu encaixotamento. Ponto de Interrogação
(C) para que se encaixassem. Usa-se nas interrogações diretas e indiretas livres.
(D) para que se encaixem. “- Então? Que é isso? Desertaram ambos?” (Artur Azevedo)
(E) para que se encaixariam. Reticências
1- Indica que palavras foram suprimidas.
Respostas - Comprei lápis, canetas, cadernos...
01. B\02. A\03. D
2- Indica interrupção violenta da frase.
“- Não... quero dizer... é verdad... Ah!”
Pontuação;
3- Indica interrupções de hesitação ou dúvida
- Este mal... pega doutor?

Pontuação 4- Indica que o sentido vai além do que foi dito


- Deixa, depois, o coração falar...
Os sinais de pontuação são marcações gráficas que servem
para compor a coesão e a coerência textual além de ressaltar Vírgula
especificidades semânticas e pragmáticas. Vejamos as principais Não se usa vírgula
funções dos sinais de pontuação conhecidos pelo uso da língua *separando termos que, do ponto de vista sintático, ligam-se
portuguesa. diretamente entre si:

Ponto a) entre sujeito e predicado.


1- Indica o término do discurso ou de parte dele. Todos os alunos da sala    foram advertidos. 
- Façamos o que for preciso para tirá-la da situação em que Sujeito                            predicado
se encontra.
- Gostaria de comprar pão, queijo, manteiga e leite. b) entre o verbo e seus objetos.
O trabalho custou            sacrifício             aos realizadores. 
- Acordei. Olhei em volta. Não reconheci onde estava.              V.T.D.I.              O.D.                      O.I.

2- Usa-se nas abreviações - V. Exª. - Sr. c) entre nome e complemento nominal; entre nome e adjunto
adnominal.
Ponto e Vírgula ( ; ) A surpreendente reação do governo contra os sonegadores
1- Separa várias partes do discurso, que têm a mesma despertou reações entre os empresários.
importância. adj. adnominal nome adj. adn. complemento nominal

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APOSTILAS OPÇÃO
Usa-se a vírgula: 03. Os sinais de pontuação estão empregados corretamente
em:
- Para marcar intercalação: A) Duas explicações, do treinamento para consultores
a) do adjunto adverbial: O café, em razão da sua abundância, iniciantes receberam destaque, o conceito de PPD e a construção
vem caindo de preço. de tabelas Price; mas por outro lado, faltou falar das metas de
b) da conjunção: Os cerrados são secos e áridos. Estão vendas associadas aos dois temas.
produzindo, todavia, altas quantidades de alimentos. B) Duas explicações do treinamento para consultores
c) das expressões explicativas ou corretivas: As indústrias iniciantes receberam destaque: o conceito de PPD e a construção
não querem abrir mão de suas vantagens, isto é, não querem abrir de tabelas Price; mas, por outro lado, faltou falar das metas de
mão dos lucros altos. vendas associadas aos dois temas.
C) Duas explicações do treinamento para consultores
- Para marcar inversão: iniciantes receberam destaque; o conceito de PPD e a construção
a) do adjunto adverbial (colocado no início da oração): de tabelas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas de
Depois das sete horas, todo o comércio está de portas fechadas. vendas associadas aos dois temas.
b) dos objetos pleonásticos antepostos ao verbo: Aos D) Duas explicações do treinamento para consultores
pesquisadores, não lhes destinaram verba alguma. iniciantes, receberam destaque: o conceito de PPD e a construção
c) do nome de lugar anteposto às datas: Recife, 15 de maio de tabelas Price, mas, por outro lado, faltou falar das metas de
de 1982. vendas associadas aos dois temas.
E) Duas explicações, do treinamento para consultores
- Para separar entre si elementos coordenados (dispostos iniciantes, receberam destaque; o conceito de PPD e a construção
em enumeração): de tabelas Price, mas por outro lado, faltou falar das metas, de
Era um garoto de 15 anos, alto, magro. vendas associadas aos dois temas.
A ventania levou árvores, e telhados, e pontes, e animais.
04. Assinale a alternativa em que o período, adaptado da
- Para marcar elipse (omissão) do verbo: revista Pesquisa Fapesp de junho de 2012, está correto quanto à
Nós queremos comer pizza; e vocês, churrasco. regência nominal e à pontuação.
(A) Não há dúvida que as mulheres ampliam, rapidamente,
- Para isolar: seu espaço na carreira científica ainda que o avanço seja mais
notável em alguns países, o Brasil é um exemplo, do que em
- o aposto: outros.
São Paulo, considerada a metrópole brasileira, possui um (B) Não há dúvida de que, as mulheres, ampliam rapidamente
trânsito caótico. seu espaço na carreira científica; ainda que o avanço seja mais
notável, em alguns países, o Brasil é um exemplo!, do que em
- o vocativo: outros.
Ora, Thiago, não diga bobagem. (C) Não há dúvida de que as mulheres, ampliam rapidamente
seu espaço, na carreira científica, ainda que o avanço seja mais
Questões notável, em alguns países: o Brasil é um exemplo, do que em
outros.
01. Assinale a alternativa em que a pontuação está (D) Não há dúvida de que as mulheres ampliam rapidamente
corretamente empregada, de acordo com a norma-padrão da seu espaço na carreira científica, ainda que o avanço seja mais
língua portuguesa. notável em alguns países – o Brasil é um exemplo – do que em
(A) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora, outros.
experimentasse, a sensação de violar uma intimidade, procurou (E) Não há dúvida que as mulheres ampliam rapidamente,
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse seu espaço na carreira científica, ainda que, o avanço seja mais
ajudar a revelar quem era a sua dona. notável em alguns países (o Brasil é um exemplo) do que em
(B) Diante, da testemunha o homem abriu a bolsa e, embora outros.
experimentasse a sensação, de violar uma intimidade, procurou
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse 05. Assinale a alternativa em que a frase mantém-se correta
ajudar a revelar quem era a sua dona. após o acréscimo das vírgulas.
(C) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora (A) Se a criança se perder, quem encontrá-la, verá na pulseira
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou instruções para que envie, uma mensagem eletrônica ao grupo
a esmo entre as coisinhas, tentando encontrar algo que pudesse ou acione o código na internet.
ajudar a revelar quem era a sua dona. (B) Um geolocalizador também, avisará, os pais de onde o
(D) Diante da testemunha, o homem, abriu a bolsa e, embora código foi acionado.
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou (C) Assim que o código é digitado, familiares cadastrados,
a esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse recebem automaticamente, uma mensagem dizendo que a
ajudar a revelar quem era a sua dona. criança foi encontrada.
(E) Diante da testemunha, o homem abriu a bolsa e, embora, (D) De fabricação chinesa, a nova pulseirinha, chega primeiro
experimentasse a sensação de violar uma intimidade, procurou às, areias do Guarujá.
a esmo entre as coisinhas, tentando, encontrar algo que pudesse (E) O sistema permite, ainda, cadastrar o nome e o telefone
ajudar a revelar quem era a sua dona. de quem a encontrou e informar um ponto de referência

02. Assinale a opção em que está corretamente indicada a Resposta


ordem dos sinais de pontuação que devem preencher as lacunas 1-C 2-C 3-B 4-D 5-E
da frase abaixo:

“Quando se trata de trabalho científico ___ duas coisas devem Concordância verbal e nominal;
ser consideradas ____ uma é a contribuição teórica que o trabalho
oferece ___ a outra é o valor prático que possa ter.
A) dois pontos, ponto e vírgula, ponto e vírgula
B) dois pontos, vírgula, ponto e vírgula; Concordância Verbal
C) vírgula, dois pontos, ponto e vírgula;
D) pontos vírgula, dois pontos, ponto e vírgula; Ao falarmos sobre a concordância verbal, estamos nos
E) ponto e vírgula, vírgula, vírgula. referindo à relação de dependência estabelecida entre um termo
e outro mediante um contexto oracional. Desta feita, os agentes

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APOSTILAS OPÇÃO
principais desse processo são representados pelo sujeito, que no 9) Em casos nos quais o sujeito aparece realçado pela palavra
caso funciona como subordinante; e o verbo, o qual desempenha “que”, o verbo deverá concordar com o termo que antecede essa
a função de subordinado.  palavra: Nesta empresa somos nós que tomamos as decisões. /
Dessa forma, temos que a concordância verbal caracteriza- Em casa sou eu que decido tudo.   
se pela adaptação do verbo, tendo em vista os quesitos “número
e pessoa” em relação ao sujeito. Exemplificando, temos: O aluno 10) No caso de o sujeito aparecer representado por
chegou expressões que indicam porcentagens, o verbo concordará com o
Temos que o verbo apresenta-se na terceira pessoa do numeral ou com o substantivo a que se refere essa porcentagem:   
singular, pois faz referência a um sujeito, assim também expresso 50% dos funcionários aprovaram a decisão da diretoria. / 50%
(ele).  Como poderíamos também dizer: os alunos chegaram do eleitorado apoiou a decisão.
atrasados. Observações:
Temos aí o que podemos chamar de princípio básico. - Caso o verbo aparecer anteposto à expressão de
Contudo, a intenção a que se presta o artigo em evidência é porcentagem, esse deverá concordar com o numeral: Aprovaram
eleger as principais ocorrências voltadas para os casos de sujeito a decisão da diretoria 50% dos funcionários.     
simples e para os de sujeito composto. Dessa forma, vejamos:  - Em casos relativos a 1%, o verbo permanecerá no singular:
1% dos funcionários não aprovou a decisão da diretoria.  
Casos referentes a sujeito simples - Em casos em que o numeral estiver acompanhado de
determinantes no plural, o verbo permanecerá no plural: Os
1) Em caso de sujeito simples, o verbo concorda com o 50% dos funcionários apoiaram a decisão da diretoria. 
núcleo em número e pessoa: O aluno chegou atrasado. 
11) Nos casos em que o sujeito estiver representado por
2) Nos casos referentes a sujeito representado por pronomes de tratamento, o verbo deverá ser empregado na terceira
substantivo coletivo, o verbo permanece na terceira pessoa do pessoa do singular ou do plural:  Vossas Majestades gostaram das
singular:  A multidão, apavorada, saiu aos gritos. homenagens. Vossa Majestade agradeceu o convite.  
Observação:
- No caso de o coletivo aparecer seguido de adjunto adnominal 12) Casos relativos a sujeito representado por substantivo
no plural, o verbo permanecerá no singular ou poderá ir para o próprio no plural se encontram relacionados a alguns aspectos
plural: Uma multidão de pessoas saiu aos gritos. que os determinam:
Uma multidão de pessoas saíram aos gritos. - Diante de nomes de obras no plural, seguidos do verbo ser,
este permanece no singular, contanto que o predicativo também
3) Quando o sujeito é representado por expressões partitivas, esteja no singular:  Memórias póstumas de Brás Cubas  é  uma
representadas por “a maioria de, a maior parte de, a metade de, criação de Machado de Assis.   
uma porção de, entre outras”, o verbo tanto pode concordar - Nos casos de artigo expresso no plural, o verbo também
com o núcleo dessas expressões quanto com o substantivo permanece no plural: Os  Estados Unidos  são  uma potência
que a segue: A  maioria  dos alunos  resolveu  ficar.   A maioria mundial.
dos alunos resolveram ficar. - Casos em que o artigo figura no singular ou em que ele nem
aparece, o verbo permanece no singular:  Estados Unidos é uma
4) No caso de o sujeito ser representado por expressões potência mundial. 
aproximativas, representadas por “cerca de, perto de”, o verbo
concorda com o substantivo determinado por elas: Cerca de Casos referentes a sujeito composto
vinte candidatos se inscreveram no concurso de piadas.
1) Nos casos relativos a sujeito composto de pessoas
5) Em casos em que o sujeito é representado pela expressão gramaticais diferentes, o verbo deverá ir para o plural, estando
“mais de um”, o verbo permanece no singular: Mais de relacionado a dois pressupostos básicos:
um candidato se inscreveu no concurso de piadas.   - Quando houver a 1ª pessoa, esta prevalecerá sobre as
Observação: demais: Eu, tu e ele faremos um lindo passeio.
- No caso da referida expressão aparecer repetida ou - Quando houver a 2ª pessoa, o verbo poderá
associada a um verbo que exprime reciprocidade, o verbo, flexionar na 2ª ou na 3ª pessoa: Tu e ele sois primos.
necessariamente, deverá permanecer no plural: Mais de um Tu e ele são primos.
aluno, mais de um professor contribuíram na campanha de
doação de alimentos.  2) Nos casos em que o sujeito composto aparecer anteposto
Mais de um formando se abraçaram durante as solenidades ao verbo, este permanecerá no plural: O pai e seus dois
de formatura.  filhos compareceram ao evento.  

6) Quando o sujeito for composto da expressão “um dos 3) No caso em que o sujeito aparecer posposto ao verbo, este
que”, o verbo permanecerá no plural: Esse jogador foi  um dos poderá concordar com o núcleo mais próximo ou permanecer
que atuaram na Copa América. no plural: Compareceram  ao evento  o pai e seus dois filhos.
Compareceu ao evento o pai e seus dois filhos.
7) Em casos relativos à concordância com locuções
pronominais, representadas por “algum de nós, qual de vós, 4) Nos casos relacionados a sujeito simples, porém com
quais de vós, alguns de nós”, entre outras, faz-se necessário nos mais de um núcleo, o verbo deverá permanecer no singular:
atermos a duas questões básicas: Meu esposo e grande companheiro merece toda a felicidade do
- No caso de o primeiro pronome estar expresso no plural, mundo.
o verbo poderá com ele concordar, como poderá também
concordar com o pronome pessoal: Alguns de nós o receberemos. 5) Casos relativos a sujeito composto de palavras sinônimas
/ Alguns de nós o receberão. ou ordenado por elementos em gradação, o verbo poderá
- Quando o primeiro pronome da locução estiver expresso permanecer no singular ou ir para o plural: Minha vitória,
no singular, o verbo permanecerá, também, no singular:  Algum minha conquista, minha premiação são frutos de meu esforço.
de nós o receberá.   / Minha vitória, minha conquista, minha premiação é fruto de
meu esforço.
8) No caso de o sujeito aparecer representado pelo pronome
“quem”, o verbo permanecerá na terceira pessoa do singular Questões
ou poderá concordar com o antecedente desse pronome:   
Fomos nós  quem  contou  toda a verdade para ela. / Fomos 01. A concordância realizou-se adequadamente em qual
nós quem contamos toda a verdade para ela. alternativa?

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APOSTILAS OPÇÃO
(A) Os Estados Unidos é considerado, hoje, a maior potência recomenda Gramsci, os critérios que levam em conta a dor
econômica do planeta, mas há quem aposte que a China, em humana.
breve, o ultrapassará. Respostas
(B) Em razão das fortes chuvas haverão muitos candidatos 01. C\02. A\03. C
que chegarão atrasados, tenho certeza disso.
(C) Naquela barraca vendem-se tapiocas fresquinhas, pode Concordância Nominal
comê-las sem receio!
(D) A multidão gritaram quando a cantora apareceu na Concordância nominal é que o ajuste que fazemos aos
janela do hotel! demais termos da oração para que concordem em gênero e
número com o substantivo. Teremos que alterar, portanto, o
02. “Se os cachorros correm livremente, por que eu não artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome. Além disso, temos
posso fazer isso também?”, pergunta Bob Dylan em “New também o verbo, que se flexionará à sua maneira.
Morning”. Bob Dylan verbaliza um anseio sentido por todos
nós, humanos supersocializados: o anseio de nos livrarmos Regra geral: O artigo, o adjetivo, o numeral e o pronome
de todos os constrangimentos artificiais decorrentes do fato concordam em gênero e número com o substantivo.
de vivermos em uma sociedade civilizada em que às vezes nos - A pequena criança é uma gracinha.
sentimos presos a uma correia. Um conjunto cultural de regras - O garoto que encontrei era muito gentil e simpático.
tácitas e inibições está sempre governando as nossas interações
cotidianas com os outros. Casos especiais: Veremos alguns casos que fogem à regra
Uma das razões pelas quais os cachorros nos atraem é o fato geral mostrada acima.
de eles serem tão desinibidos e livres. Parece que eles jogam
com as suas próprias regras, com a sua própria lógica interna. a) Um adjetivo após vários substantivos
Eles vivem em um universo paralelo e diferente do nosso - um 1 - Substantivos de mesmo gênero: adjetivo vai para o plural
universo que lhes concede liberdade de espírito e paixão pela ou concorda com o substantivo mais próximo.
vida enormemente atraentes para nós. Um cachorro latindo ao - Irmão e primo recém-chegado estiveram aqui.
vento ou uivando durante a noite faz agitar-se dentro de nós - Irmão e primo recém-chegados estiveram aqui.
alguma coisa que também quer se expressar.
Os cachorros são uma constante fonte de diversão para 2 - Substantivos de gêneros diferentes: vai para o
nós porque não prestam atenção as nossas convenções sociais. plural masculino ou concorda com o substantivo mais próximo.
Metem o nariz onde não são convidados, pulam para cima - Ela tem pai e mãe louros.
do sofá, devoram alegremente a comida que cai da mesa. Os - Ela tem pai e mãe loura.
cachorros raramente se refreiam quando querem fazer alguma
coisa. Eles não compartilham conosco as nossas inibições. Suas 3 - Adjetivo funciona como predicativo: vai obrigatoriamente
emoções estão ã flor da pele e eles as manifestam sempre que para o plural.
as sentem. - O homem e o menino estavam perdidos.
(Adaptado de Matt Weistein e Luke Barber. Cão que - O homem e sua esposa estiveram hospedados aqui.
late não morde. Trad. de Cristina Cupertino. S.Paulo: Francis,
2005. p 250) b) Um adjetivo anteposto a vários substantivos
1 - Adjetivo anteposto normalmente concorda com o mais
A frase em que se respeitam as normas de concordância próximo.
verbal é: Comi delicioso almoço e sobremesa.
(A) Deve haver muitas razões pelas quais os cachorros nos Provei deliciosa fruta e suco.
atraem. 2 - Adjetivo anteposto funcionando como predicativo:
(B) Várias razões haveriam pelas quais os cachorros nos concorda com o mais próximo ou vai para o plural.
atraem. Estavam feridos o pai e os filhos.
(C) Caberiam notar as muitas razões pelas quais os cachorros Estava ferido o pai e os filhos.
nos atraem.
(D) Há de ser diversas as razões pelas quais os cachorros nos c) Um substantivo e mais de um adjetivo
atraem. 1- antecede todos os adjetivos com um artigo.
(E) Existe mesmo muitas razões pelas quais os cachorros Falava fluentemente a língua inglesa e a espanhola.
nos atraem. 2- coloca o substantivo no plural.
Falava fluentemente as línguas inglesa e espanhola.
03. Uma pergunta
d) Pronomes de tratamento
Frequentemente cabe aos detentores de cargos de 1 - sempre concordam com a 3ª pessoa.
responsabilidade tomar decisões difíceis, de graves Vossa Santidade esteve no Brasil.
consequências. Haveria algum critério básico, essencial, para
amparar tais escolhas? Antonio Gramsci, notável pensador e) Anexo, incluso, próprio, obrigado
e político italiano, propôs que se pergunte, antes de tomar a 1 - Concordam com o substantivo a que se referem.
decisão: - Quem sofrerá? As cartas estão anexas.
Para um humanista, a dor humana é sempre prioridade a se A bebida está inclusa.
considerar. Precisamos de nomes próprios.
(Salvador Nicola, inédito) Obrigado, disse o rapaz.

O verbo indicado entre parênteses deverá flexionar-se no f) Um(a) e outro(a), num(a) e noutro(a)
singular para preencher adequadamente a lacuna da frase: 1 - Após essas expressões o substantivo fica sempre no
(A) A nenhuma de nossas escolhas ...... (poder) deixar de singular e o adjetivo no plural.
corresponder nossos valores éticos mais rigorosos. Renato advogou um e outro caso fáceis.
(B) Não se ...... (poupar) os que governam de refletir sobre o Pusemos numa e noutra bandeja rasas o peixe.
peso de suas mais graves decisões.
(C) Aos governantes mais responsáveis não ...... (ocorrer) g) É bom, é necessário, é proibido
tomar decisões sem medir suas consequências. 1- Essas expressões não variam se o sujeito não vier
(D) A toda decisão tomada precipitadamente ...... (costumar) precedido de artigo ou outro determinante.
sobrevir consequências imprevistas e injustas. Canja é bom. / A canja é boa.
(E) Diante de uma escolha, ...... (ganhar) prioridade, É necessário sua presença. / É necessária a sua presença.

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APOSTILAS OPÇÃO
É proibido entrada de pessoas não autorizadas. / A entrada (B) Todos sabemos que a solução não é fácil.
é proibida. (C) Essa gente trabalhadora merecia mais, pois acordam às
cinco horas para chegar ao trabalho às oito da manhã.
h) Muito, pouco, caro (D) Todos os brasileiros sabem que esse problema vem de
1- Como adjetivos: seguem a regra geral. longe...
Comi muitas frutas durante a viagem. (E) Senhor diretor, espero que Vossa Senhoria seja mais
Pouco arroz é suficiente para mim. compreensivo.
Os sapatos estavam caros.
03. A concordância nominal está INCORRETA em:
2- Como advérbios: são invariáveis. (A) A mídia julgou desnecessária a campanha e o
Comi muito durante a viagem. envolvimento da empresa.
(B) A mídia julgou a campanha e a atuação da empresa
Pouco lutei, por isso perdi a batalha. desnecessária.
Comprei caro os sapatos. (C) A mídia julgou desnecessário o envolvimento da empresa
e a campanha.
i) Mesmo, bastante (D) A mídia julgou a campanha e a atuação da empresa
1- Como advérbios: invariáveis desnecessárias.
Preciso mesmo da sua ajuda. Respostas
Fiquei bastante contente com a proposta de emprego. 01. D\02. D\03. B

2- Como pronomes: seguem a regra geral.


Seus argumentos foram bastantes para me convencer. Regência verbal e nominal;
Os mesmos argumentos que eu usei, você copiou.

j) Menos, alerta
1- Em todas as ocasiões são invariáveis. Regência Verbal e Nominal
Preciso de menos comida para perder peso.
Estamos alerta para com suas chamadas. Dá-se o nome de regência à relação de subordinação que
ocorre entre um verbo (ou um nome) e seus complementos.
k) Tal Qual Ocupa-se em estabelecer relações entre as palavras, criando
1- “Tal” concorda com o antecedente, “qual” concorda com o frases não ambíguas, que expressem efetivamente o sentido
consequente. desejado, que sejam corretas e claras.
As garotas são vaidosas tais qual a tia.
Os pais vieram fantasiados tais quais os filhos. Regência Verbal

l) Possível Termo Regente:  VERBO


1- Quando vem acompanhado de “mais”, “menos”, “melhor” A regência verbal estuda a relação que se estabelece entre
ou “pior”, acompanha o artigo que precede as expressões. os verbos e os termos que os complementam (objetos diretos e
A mais possível das alternativas é a que você expôs. objetos indiretos) ou caracterizam (adjuntos adverbiais).
Os melhores cargos possíveis estão neste setor da empresa. O estudo da regência verbal permite-nos ampliar nossa
As piores situações possíveis são encontradas nas favelas da capacidade expressiva, pois oferece oportunidade de
cidade. conhecermos as diversas significações que um verbo pode
assumir com a simples mudança ou retirada de uma preposição. 
m) Meio Observe:
1- Como advérbio: invariável. A mãe agrada o filho. -> agradar significa acariciar, contentar.
Estou meio (um pouco) insegura. A mãe agrada ao filho. -> agradar significa “causar agrado ou
2- Como numeral: segue a regra geral. prazer”, satisfazer.
Comi meia (metade) laranja pela manhã.
Logo, conclui-se que “agradar alguém” é diferente de
n) Só “agradar a alguém”.
1- apenas, somente (advérbio): invariável.
Só consegui comprar uma passagem. Saiba que:
2- sozinho (adjetivo): variável. O conhecimento do uso adequado das preposições é um
Estiveram sós durante horas. dos aspectos fundamentais do estudo da regência verbal (e
também nominal). As preposições são capazes de modificar
Questões completamente o sentido do que se está sendo dito. Veja os
exemplos:
01. Indique o uso INCORRETO da concordância verbal ou Cheguei ao metrô.
nominal: Cheguei no metrô.
(A) Será descontada em folha sua contribuição sindical.
(B) Na última reunião, ficou acordado que se realizariam No primeiro caso, o metrô é o lugar a que vou; no segundo
encontros semanais com os diversos interessados no assunto. caso, é o meio de transporte por mim utilizado. A oração “Cheguei
(C) Alguma solução é necessária, e logo! no metrô”, popularmente usada a fim de indicar o lugar a que se
(D) Embora tenha ficado demonstrado cabalmente a vai, possui, no padrão culto da língua, sentido diferente. Aliás, é
ocorrência de simulação na transferência do imóvel, o pedido muito comum existirem divergências entre a regência coloquial,
não pode prosperar. cotidiana de alguns verbos, e a regência culta.
(E) A liberdade comercial da colônia, somada ao fato de D.
João VI ter também elevado sua colônia americana à condição de Para estudar a regência verbal, agruparemos os verbos de
Reino Unido a Portugal e Algarves, possibilitou ao Brasil obter acordo com sua transitividade. A transitividade, porém, não é
certa autonomia econômica. um fato absoluto: um mesmo verbo pode atuar de diferentes
formas em frases distintas.
02. Aponte a alternativa em que NÃO ocorre silepse (de
gênero, número ou pessoa): Verbos Intransitivos
(A) “A gente é feito daquele tipo de talento capaz de fazer a Os verbos intransitivos não possuem complemento. É
diferença.” importante, no entanto, destacar alguns detalhes relativos

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APOSTILAS OPÇÃO
aos adjuntos adverbiais que costumam acompanhá-los. Todas as perguntas foram respondidas satisfatoriamente.
a) Chegar, Ir d) Simpatizar e  Antipatizar - Possuem seus complementos
Normalmente vêm acompanhados de adjuntos adverbiais introduzidos pela preposição “com”.
de lugar. Na língua culta, as preposições usadas para Antipatizo com aquela apresentadora.
indicar destino ou direção são: a, para. Simpatizo com  os que condenam os políticos que governam
Fui ao teatro. para uma minoria privilegiada.
      Adjunto Adverbial de Lugar
Verbos Transitivos Diretos e Indiretos
Ricardo foi para a Espanha. Os verbos transitivos diretos e indiretos são acompanhados
                  Adjunto Adverbial de Lugar de um objeto direto e um indireto. Merecem destaque, nesse
b) Comparecer grupo:
O adjunto adverbial de lugar pode ser introduzido
por em ou a. Agradecer, Perdoar e Pagar
Comparecemos ao estádio (ou no estádio) para ver o último São verbos que apresentam objeto direto
jogo. relacionado a coisas e objeto indireto relacionado a pessoas.
Verbos Transitivos Diretos Veja os exemplos:
Os verbos transitivos diretos são complementados por Agradeço    aos ouvintes         a audiência.
objetos diretos. Isso significa que  não  exigem preposição  para                    Objeto Indireto      Objeto Direto
o estabelecimento da relação de regência. Ao empregar esses Cristo ensina que é preciso perdoar     o pecado        ao pecador.
verbos, devemos lembrar que os pronomes oblíquos o, a, os,                                                                  Obj. Direto       Objeto Indireto
as atuam como objetos diretos. Esses pronomes podem assumir Paguei      o débito        ao cobrador.
as formas lo, los, la, las (após formas verbais terminadas em -r,                Objeto Direto      Objeto Indireto
-s ou -z) ou no, na, nos, nas (após formas verbais terminadas em
sons nasais), enquanto  lhe e lhes são, quando complementos - O uso dos pronomes oblíquos átonos deve ser feito com
verbais, objetos indiretos. particular cuidado. Observe:
São verbos transitivos diretos, dentre outros: abandonar, Agradeci o presente. / Agradeci-o.
abençoar, aborrecer, abraçar, acompanhar, acusar, admirar, Agradeço a você. / Agradeço-lhe.
adorar, alegrar, ameaçar, amolar, amparar, auxiliar, castigar, Perdoei a ofensa. / Perdoei-a.
condenar, conhecer, conservar,convidar, defender, eleger, estimar, Perdoei ao agressor. / Perdoei-lhe.
humilhar, namorar, ouvir, prejudicar, prezar, proteger, respeitar, Paguei minhas contas. / Paguei-as.
socorrer, suportar, ver, visitar. Paguei aos meus credores. / Paguei-lhes.
Na língua culta, esses verbos funcionam exatamente como o
verbo amar: Informar
Amo aquele rapaz. / Amo-o. - Apresenta objeto direto ao se referir a coisas e objeto
Amo aquela moça. / Amo-a. indireto ao se referir a pessoas, ou vice-versa.
Amam aquele rapaz. / Amam-no. Informe os novos preços aos clientes.
Ele deve amar aquela mulher. / Ele deve amá-la. Informe os clientes dos novos preços. (ou sobre os novos
preços)
Obs.: os pronomes lhe, lhes só acompanham esses verbos para
indicar posse (caso em que atuam como adjuntos adnominais). - Na utilização de pronomes como complementos,  veja as
Quero beijar-lhe o rosto. (= beijar seu rosto) construções:
Prejudicaram-lhe a carreira. (= prejudicaram sua carreira) Informei-os aos clientes. / Informei-lhes os novos preços.
Conheço-lhe o mau humor! (= conheço seu mau humor) Informe-os dos novos preços. / Informe-os deles. (ou sobre
eles)
Verbos Transitivos Indiretos Obs.: a mesma regência do verbo  informar é usada  para os
Os verbos transitivos indiretos são complementados por seguintes:  avisar, certificar, notificar, cientificar, prevenir.
objetos indiretos. Isso significa que esses verbos exigem uma
preposição  para o estabelecimento da relação de regência. Comparar
Os pronomes pessoais do caso oblíquo de terceira pessoa que Quando seguido de dois objetos, esse verbo admite as
podem atuar como objetos indiretos são o “lhe”, o “lhes”, para preposições  “a”  ou  “com” para introduzir o complemento
substituir pessoas. Não se utilizam os pronomes o, os, a, as como indireto.
complementos de verbos transitivos indiretos. Com os objetos Comparei seu comportamento ao (ou com o) de uma criança.
indiretos que não representam pessoas, usam-se pronomes
oblíquos tônicos de terceira pessoa (ele, ela) em lugar dos Pedir
pronomes átonos lhe, lhes.  Esse verbo pede objeto direto de coisa (geralmente na forma
de oração subordinada substantiva) e indireto de pessoa.
Os verbos transitivos indiretos são os seguintes: Pedi-lhe                 favores.
a) Consistir - Tem complemento introduzido pela Objeto Indireto    Objeto Direto
preposição “em”.                                      
A modernidade verdadeira consiste em direitos iguais para Pedi-lhe                     que mantivesse em silêncio.
todos. Objeto Indireto           Oração Subordinada Substantiva
b) Obedecer e Desobedecer - Possuem seus complementos                                                            Objetiva Direta
introduzidos pela preposição “a”.
Devemos obedecer aos nossos princípios e ideais. Saiba que:
Eles desobedeceram às leis do trânsito. 1) A construção  “pedir para”,  muito comum na linguagem
c) Responder - Tem complemento introduzido pela cotidiana, deve ter emprego muito limitado na língua culta. No
preposição “a”. Esse verbo pede objeto indireto para indicar “a entanto, é considerada correta quando a palavra licença estiver
quem” ou “ao que” se responde. subentendida.
Respondi ao meu patrão. Peço (licença) para ir entregar-lhe os catálogos em casa.
Respondemos às perguntas. Observe que, nesse caso, a preposição “para” introduz uma
Respondeu-lhe à altura. oração subordinada adverbial final reduzida de infinitivo (para
Obs.:  o verbo  responder, apesar de transitivo indireto ir entregar-lhe os catálogos em casa).
quando exprime aquilo a que se responde, admite voz passiva 2) A construção  “dizer para”,  também muito usada
analítica. Veja: popularmente, é igualmente considerada incorreta.
O questionário foi respondido corretamente.

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APOSTILAS OPÇÃO
Preferir preposicionado ou não.
Na língua culta, esse verbo deve apresentar objeto A torcida chamou o jogador mercenário.
indireto introduzido pela preposição “a”. Por Exemplo: A torcida chamou ao jogador mercenário.
Prefiro qualquer coisa a abrir mão de meus ideais. A torcida chamou o jogador de mercenário.
Prefiro trem a ônibus. A torcida chamou ao jogador de mercenário.
Obs.: na língua culta, o verbo “preferir” deve ser usado sem
termos intensificadores, tais como:  muito, antes, mil vezes, um CUSTAR
milhão de vezes, mais. A ênfase já é dada pelo prefixo existente 1) Custar é intransitivo no sentido de ter determinado valor
no próprio verbo (pre). ou preço, sendo acompanhado de adjunto adverbial.
Frutas e verduras não deveriam custar muito.
Mudança de Transitividade versus Mudança de
Significado 2) No sentido de ser difícil, penoso, pode ser intransitivo ou
transitivo indireto.
Há verbos que, de acordo com a mudança de transitividade, Muito custa          viver tão longe da família.
apresentam mudança de significado. O conhecimento das             Verbo   Oração Subordinada Substantiva Subjetiva 
diferentes regências desses verbos é um recurso linguístico        Intransitivo                       Reduzida de Infinitivo
muito importante, pois além de permitir a correta interpretação
de passagens escritas, oferece possibilidades expressivas a Custa-me (a mim)  crer que tomou realmente aquela atitude.
quem fala ou escreve. Dentre os principais, estão:         Objeto                 Oração Subordinada Substantiva Subjetiva 
        Indireto                                     Reduzida de Infinitivo
AGRADAR
1) Agradar é transitivo direto no sentido de fazer carinhos, Obs.: a Gramática Normativa condena as construções que
acariciar. atribuem ao verbo “custar” um sujeito representado por pessoa.
Sempre agrada o filho quando o revê. / Sempre o agrada Observe o exemplo abaixo:
quando o revê. Custei para entender o problema. 
Cláudia não perde oportunidade de agradar o gato. / Cláudia Forma correta: Custou-me entender o problema.
não perde oportunidade de agradá-lo.
IMPLICAR
2) Agradar é transitivo indireto no sentido de causar agrado 1) Como transitivo direto, esse verbo tem dois sentidos:
a, satisfazer, ser agradável a.  Rege complemento introduzido
pela preposição “a”. a) dar a entender, fazer supor, pressupor
O cantor não agradou aos presentes. Suas atitudes implicavam um firme propósito.
O cantor não lhes agradou.
b)  Ter como consequência, trazer como consequência,
ASPIRAR acarretar, provocar
1) Aspirar é transitivo direto no sentido de sorver, inspirar Liberdade de escolha implica amadurecimento político de um
(o ar), inalar. povo.
Aspirava o suave aroma. (Aspirava-o)
2) Como transitivo direto e indireto, significa comprometer,
2)  Aspirar  é transitivo indireto no sentido de  desejar, ter envolver
como ambição. Implicaram aquele jornalista em questões econômicas.
Aspirávamos a melhores condições de vida. (Aspirávamos a
elas) Obs.: no sentido de antipatizar, ter implicância, é transitivo
Obs.: como o objeto direto do verbo “aspirar” não é pessoa, indireto e rege com preposição “com”.
mas coisa, não se usam as formas pronominais átonas “lhe” Implicava com quem não trabalhasse arduamente.
e “lhes” e sim as formas tônicas “a ele (s)”, “ a ela (s)”.  Veja o
exemplo: PROCEDER
Aspiravam a uma existência melhor. (= Aspiravam a ela) 1)  Proceder  é intransitivo no sentido de  ser decisivo,
ter cabimento, ter fundamento ou portar-se, comportar-se,
ASSISTIR agir.  Nessa segunda acepção, vem sempre acompanhado de
1)  Assistir  é transitivo direto no sentido de  ajudar, prestar adjunto adverbial de modo.
assistência a, auxiliar. Por Exemplo: As afirmações da testemunha procediam, não havia como
As empresas de saúde negam-se a assistir os idosos. refutá-las.
As empresas de saúde negam-se a assisti-los. Você procede muito mal.

2) Assistir é transitivo indireto no sentido de ver, presenciar, 2) Nos sentidos de ter origem, derivar-se (rege a preposição”
estar presente, caber, pertencer. de”) e  fazer, executar  (rege complemento introduzido pela
preposição “a”) é transitivo indireto.
Exemplos: O avião procede de Maceió.
Assistimos ao documentário. Procedeu-se aos exames.
Não assisti às últimas sessões. O delegado procederá ao inquérito.
Essa lei assiste ao inquilino.
Obs.: no sentido de  morar, residir,  o verbo  “assistir”  é QUERER
intransitivo, sendo acompanhado de adjunto adverbial de lugar 1)  Querer  é transitivo direto no sentido de  desejar, ter
introduzido pela preposição “em”. vontade de, cobiçar.
Assistimos numa conturbada cidade. Querem melhor atendimento.
Queremos um país melhor.
CHAMAR
1)  Chamar  é transitivo direto no sentido de  convocar, 2)  Querer  é transitivo indireto no sentido de  ter afeição,
solicitar a atenção ou a presença de. estimar, amar.
Por gentileza, vá chamar sua prima. / Por favor, vá chamá-la.
Chamei você várias vezes. / Chamei-o várias vezes. Quero muito aos meus amigos.
Ele quer bem à linda menina.
2)  Chamar  no sentido de  denominar, apelidar  pode Despede-se o filho que muito lhe quer.
apresentar objeto direto e indireto, ao qual se refere predicativo

Língua Portuguesa 60
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APOSTILAS OPÇÃO
VISAR Respeito a, com, para com, por
1)  Como transitivo direto, apresenta os sentidos de  mirar,
fazer pontaria e de pôr visto, rubricar. Adjetivos
O homem visou o alvo. Acessível a
O gerente não quis visar o cheque. Diferente de
Necessário a
2)  No sentido de  ter em vista, ter como meta, ter como Acostumado a, com
objetivo, é transitivo indireto e rege a preposição “a”. Entendido em
O ensino deve sempre visar ao progresso social. Nocivo a
Prometeram tomar medidas que visassem  ao bem-estar Afável com, para com
público. Equivalente a
Questões Paralelo a
Agradável a
01. Todas as alternativas estão corretas quanto ao emprego Escasso de
correto da regência do verbo, EXCETO: Parco em, de
(A) Faço entrega em domicílio. Alheio a, de
(B) Eles assistem o espetáculo. Essencial a, para
(C) João gosta de frutas. Passível de
(D) Ana reside em São Paulo. Análogo a
(E) Pedro aspira ao cargo de chefe. Fácil de
Preferível a
02. Assinale a opção em que o verbo Ansioso de, para, por
chamar é empregado com o mesmo sentido que Fanático por
apresenta em __ “No dia em que o chamaram de Ubirajara, Prejudicial a
Quaresma ficou reservado, taciturno e mudo”: Apto a, para
(A) pelos seus feitos, chamaram-lhe o salvador da pátria; Favorável a
(B) bateram à porta, chamando Rodrigo; Prestes a
(C) naquele momento difícil, chamou por Deus e pelo Diabo; Ávido de
(D) o chefe chamou-os para um diálogo franco; Generoso com
(E) mandou chamar o médico com urgência. Propício a
Benéfico a
03. A regência verbal está correta na alternativa: Grato a, por
(A) Ela quer namorar com o meu irmão. Próximo a
(B) Perdi a hora da entrevista porque fui à pé. Capaz de, para
(C) Não pude fazer a prova do concurso porque era de menor. Hábil em
(D) É preferível ir a pé a ir de carro. Relacionado com
Compatível com
Respostas Habituado a
01. B\02. A\03. D Relativo a
Contemporâneo a, de
Regência Nominal Idêntico a
   
É o nome da relação existente entre um nome (substantivo, Advérbios
adjetivo ou advérbio) e os termos regidos por esse nome. Essa Longe de Perto de
relação é sempre intermediada por uma preposição. No estudo Obs.: os advérbios terminados em  -mente tendem a seguir
da regência nominal, é preciso levar em conta que vários nomes o regime dos adjetivos de que são formados: paralela a;
apresentam exatamente o mesmo regime dos verbos de que paralelamente a; relativa a; relativamente a.
derivam. Conhecer o regime de um verbo significa, nesses casos, Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/sint/sint61.php
conhecer o regime dos nomes cognatos. Observe o exemplo:
Verbo  obedecer  e os nomes correspondentes: todos regem Questões
complementos introduzidos pela preposição «a”.Veja:
01. Assinale a alternativa em que a preposição “a” não deva
Obedecer a algo/ a alguém. ser empregada, de acordo com a regência nominal.
Obediente a algo/ a alguém. (A) A confiança é necessária ____ qualquer relacionamento.
(B) Os pais de Pâmela estão alheios ____ qualquer decisão.
Apresentamos a seguir vários nomes acompanhados (C) Sirlene tem horror ____ aves.
da preposição ou preposições que os regem. Observe-os (D) O diretor está ávido ____ melhores metas.
atentamente e procure, sempre que possível, associar esses (E) É inegável que a tecnologia ficou acessível ____ toda
nomes entre si ou a algum verbo cuja regência você conhece. população.

Substantivos 02. Quanto a amigos, prefiro João.....Paulo,.....quem sinto......


Admiração a, por simpatia.
Devoção a, para, com, por (A) a, por, menos
Medo a, de (B) do que, por, menos
Aversão a, para, por (C) a, para, menos
Doutor em (D) do que, com, menos
Obediência a (E) do que, para, menos
Atentado a, contra
Dúvida acerca de, em, sobre 03. Assinale a opção em que todos adjetivos podem ser
Ojeriza a, por seguidos pela mesma preposição:
Bacharel em (A) ávido, bom, inconsequente
Horror a (B) indigno, odioso, perito
Proeminência sobre (C) leal, limpo, oneroso
Capacidade de, para (D) orgulhoso, rico, sedento
Impaciência com (E) oposto, pálido, sábio

Língua Portuguesa 61
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APOSTILAS OPÇÃO
Respostas Casos em que a crase SEMPRE ocorre:
01. D\02. A\03. D
1-) diante de palavras femininas:
Amanhã iremos à festa de aniversário de minha colega.
Sempre vamos à praia no verão.
Estudo da crase; Ela disse à irmã o que havia escutado pelos corredores.
Sou grata à população.
Fumar é prejudicial à saúde.
Crase Este aparelho é posterior à invenção do telefone.

A palavra crase é de origem grega e significa «fusão», 2-) diante da palavra “moda”, com o sentido de “à moda de”
«mistura». Na língua portuguesa, é o nome que se dá à «junção» (mesmo que a expressão moda de fique subentendida):
de duas vogais idênticas. É de grande importância a crase da O jogador fez um gol à (moda de) Pelé. 
preposição “a” com o artigo feminino “a” (s), com o “a” inicial dos Usava sapatos à (moda de) Luís XV.
pronomes aquele(s), aquela (s), aquilo e com o “a” do relativo a Estava com vontade de comer frango à (moda de) passarinho.
qual (as quais). Na escrita, utilizamos o acento grave ( ` ) para O menino resolveu vestir-se à (moda de) Fidel Castro.
indicar a crase. O uso apropriado do acento grave depende da
compreensão da fusão das duas vogais. É fundamental também, 3-) na indicação de horas:
para o entendimento da crase, dominar a regência dos verbos Acordei às sete horas da manhã.
e nomes que exigem a preposição  “a”. Aprender a usar a Elas chegaram às dez horas.
crase, portanto, consiste em aprender a verificar a ocorrência Foram dormir à meia-noite.
simultânea de uma preposição e um artigo ou pronome. 
4-) em locuções adverbiais, prepositivas e conjuntivas de
Observe: que participam palavras femininas. Por exemplo:
Vou a + a igreja.
Vou à igreja. à tarde às ocultas às pressas à medida que
à noite às claras às escondidas à força
No exemplo acima, temos a ocorrência da
preposição  “a”,  exigida pelo verbo  ir (ir a algum lugar) e a à vontade à beça à larga à escuta
ocorrência do artigo “a” que está determinando o substantivo às avessas à revelia à exceção de à imitação de
feminino igreja. Quando ocorre esse encontro das duas vogais e
elas se unem, a união delas é indicada pelo acento grave. Observe à esquerda às turras às vezes à chave
os outros exemplos: à direita à procura à deriva à toa

Conheço a aluna. à proporção
à luz à sombra de à frente de
Refiro-me à aluna. que
No primeiro exemplo, o verbo é transitivo direto (conhecer à
algo ou alguém), logo não exige preposição e a crase não pode semelhança às ordens à beira de
ocorrer. No segundo exemplo, o verbo é transitivo indireto de
(referir-se a algo ou a alguém) e exige a preposição  “a”.
Portanto, a crase é possível, desde que o termo seguinte seja Crase diante de Nomes de Lugar
feminino e admita o artigo feminino “a” ou um dos pronomes já
especificados. Alguns nomes de lugar não admitem a anteposição do
Veja os principais casos em que a crase NÃO ocorre: artigo “a”. Outros, entretanto, admitem o artigo, de modo que
diante deles haverá crase, desde que o termo regente exija a
1-) diante de substantivos masculinos: preposição “a”. Para saber se um nome de lugar admite ou não
Andamos a cavalo. a anteposição do artigo feminino “a”, deve-se substituir o termo
Fomos a pé. regente por um verbo que peça a preposição  “de”  ou  “em”. A
ocorrência da contração  “da”  ou  “na”  prova que esse nome de
2-) diante de  verbos no infinitivo: lugar aceita o artigo e, por isso, haverá crase.
A criança começou a falar. Por exemplo:
Ela não tem nada a dizer. Vou  à  França. (Vim  da [de+a] França. Estou  na [em+a]
França.)
Obs.: como os verbos não admitem artigos, o “a” dos Cheguei à Grécia. (Vim da Grécia. Estou na Grécia.)
exemplos acima é apenas preposição, logo não ocorrerá crase. Retornarei à Itália. (Vim da Itália. Estou na Itália)
Vou  a  Porto Alegre. (Vim  de Porto Alegre. Estou em Porto
3-) diante da maioria dos pronomes e das expressões de Alegre.) 
tratamento, com exceção das formas senhora, senhorita e dona:
Diga a ela que não estarei em casa amanhã. - Minha dica: use a regrinha “Vou A volto DA, crase HÁ; vou A
Entreguei a todos os documentos necessários. volto DE, crase PRA QUÊ?”
Ele fez referência a Vossa Excelência no discurso de ontem. Ex: Vou a Campinas. = Volto de Campinas.
Vou à praia. = Volto da praia.
Os poucos casos em que ocorre crase diante dos pronomes
podem ser identificados pelo método: troque a palavra feminina - ATENÇÃO: quando o nome de lugar estiver especificado,
por uma masculina, caso na nova construção surgir a forma ao, ocorrerá crase. Veja:
ocorrerá crase. Por exemplo: Retornarei  à  São Paulo dos bandeirantes. =
mesmo que, pela regrinha acima, seja a do “VOLTO DE”
Refiro-me à mesma pessoa. (Refiro-me ao mesmo indivíduo.) Irei à Salvador de Jorge Amado.
Informei o ocorrido à senhora. (Informei o ocorrido ao senhor.)
Peça à própria Cláudia para sair mais cedo. (Peça ao próprio Crase diante dos Pronomes Demonstrativos Aquele (s),
Cláudio para sair mais cedo.) Aquela (s), Aquilo

4-) diante de numerais cardinais: Haverá crase diante desses pronomes sempre que o termo
Chegou a duzentos o número de feridos regente exigir a preposição “a”. Por exemplo:
Daqui a uma semana começa o campeonato.

Língua Portuguesa 62
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APOSTILAS OPÇÃO
Veja:
Refiro-me a + aquele atentado.
Gostava de fotografar à distância.
Preposição Pronome Ensinou à distância.
Dizem que aquele médico cura à distância.
Refiro-me àquele atentado.
Casos em que a ocorrência da crase é FACULTATIVA
O termo regente do exemplo acima é o verbo transitivo 1-) diante de nomes próprios femininos:
indireto referir (referir-se a algo ou alguém) e exige preposição, Observação: é facultativo o uso da crase diante de nomes
portanto, ocorre a crase. Observe este outro exemplo: próprios femininos porque é facultativo o uso do artigo. Observe:
Paula é muito bonita. Laura é minha amiga.
Aluguei aquela casa. A Paula é muito bonita. A Laura é minha amiga.
O verbo “alugar” é transitivo direto (alugar algo) e não exige Como podemos constatar, é facultativo o uso do artigo
preposição. Logo, a crase não ocorre nesse caso. feminino diante de nomes próprios femininos, então podemos
Veja outros exemplos: escrever as frases abaixo das seguintes formas:
Dediquei àquela senhora todo o meu trabalho. Entreguei o cartão a Paula. Entreguei o cartão a
Quero agradecer àqueles que me socorreram. Roberto.
Refiro-me àquilo que aconteceu com seu pai. Entreguei o cartão à Paula. Entreguei o cartão ao
Não obedecerei àquele sujeito. Roberto.

Crase com os Pronomes Relativos A Qual, As Quais 2-) diante de pronome possessivo feminino:
Observação: é facultativo o uso da crase diante de
A ocorrência da crase com os pronomes relativos a qual e as pronomes possessivos femininos porque é facultativo o uso do
quais depende do verbo. Se o verbo que rege esses pronomes artigo. Observe:
exigir a preposição  «a»,  haverá crase. É possível detectar a Minha avó tem setenta anos. Minha irmã está
ocorrência da crase nesses casos utilizando a substituição do esperando por você.
termo regido feminino por um termo regido masculino.  A minha avó tem setenta anos. A minha irmã está
Por exemplo: esperando por você.
A igreja à qual me refiro fica no centro da cidade.
O monumento ao qual me refiro fica no centro da cidade Sendo facultativo o uso do artigo feminino diante de
pronomes possessivos femininos, então podemos escrever as
Caso surja a forma ao com a troca do termo, ocorrerá a crase. frases abaixo das seguintes formas:
Veja outros exemplos: Cedi o lugar a minha avó. Cedi o lugar a meu avô.
São normas às quais todos os alunos devem obedecer. Cedi o lugar à minha avó. Cedi o lugar ao meu avô.
Esta foi a conclusão à qual ele chegou.
Várias alunas às quais ele fez perguntas não souberam 3-) depois da preposição até:
responder nenhuma das questões. Fui até a praia. ou Fui até à praia.
A sessão à qual assisti estava vazia. Acompanhe-o até a porta. ou Acompanhe-o até à porta.
A palestra vai até as cinco horas da tarde. ou
Crase com o Pronome Demonstrativo “a” A palestra vai até às cinco horas da tarde.

A ocorrência da crase com o pronome Questões


demonstrativo “a” também pode ser detectada através da
substituição do termo regente feminino por um termo regido 01. No Brasil, as discussões sobre drogas parecem limitar-
masculino.  se ______aspectos jurídicos ou policiais. É como se suas únicas
Veja: consequências estivessem em legalismos, tecnicalidades
Minha revolta é ligada à do meu país. e estatísticas criminais. Raro ler ____respeito envolvendo
Meu luto é ligado ao do meu país. questões de saúde pública como programas de esclarecimento
As orações são semelhantes às de antes. e prevenção, de tratamento para dependentes e de reintegração
Os exemplos são semelhantes aos de antes. desses____ vida. Quantos de nós sabemos o nome de um médico
Suas perguntas são superiores às dele. ou clínica ____quem tentar encaminhar um drogado da nossa
Seus argumentos são superiores aos dele. própria família?
Sua blusa é idêntica à de minha colega.
Seu casaco é idêntico ao de minha colega. (Ruy Castro, Da nossa própria família. Folha de S.Paulo,
17.09.2012. Adaptado)
A Palavra Distância
As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e
Se a palavra  distância  estiver especificada, determinada, a respectivamente, com:
crase deve ocorrer. (A) aos … à … a … a
Por exemplo: (B) aos … a … à … a
Sua casa fica  à  distância de 100 Km daqui. (A palavra está (C) a … a … à … à
determinada) (D) à … à … à … à
Todos devem ficar  à  distância de 50 metros do palco. (A (E) a … a … a … a
palavra está especificada.)
02. Leia o texto a seguir.
Se a palavra  distância  não estiver especificada, a Foi por esse tempo que Rita, desconfiada e medrosa, correu
crase não pode ocorrer.  ______ cartomante para consultá-la sobre a verdadeira causa do
Por exemplo: procedimento de Camilo. Vimos que ______ cartomante restituiu-
Os militares ficaram a distância. lhe ______ confiança, e que o rapaz repreendeu-a por ter feito o
Gostava de fotografar a distância. que fez.
Ensinou a distância. (Machado de Assis. A cartomante. In: Várias histórias. Rio de
Dizem que aquele médico cura a distância. Janeiro: Globo, 1997, p. 6)
Reconheci o menino a distância.
Preenchem corretamente as lacunas da frase acima, na
Observação: por motivo de clareza, para evitar ambiguidade, ordem dada:
pode-se usar a crase. A) à – a – a

Língua Portuguesa 63
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APOSTILAS OPÇÃO
B) a – a – à comunitária, originando a fala. A fala está sempre condicionada
C) à – a – à pelas regras socialmente estabelecidas da língua, mas é
D) à – à – a suficientemente ampla para permitir um exercício criativo da
E) a – à – à comunicação. Um indivíduo pode pronunciar um enunciado da
seguinte maneira:
03 “Nesta oportunidade, volto ___ referir-me ___ problemas já A família de Regina era paupérrima.
expostos ___ V. Sª ___ alguns dias”. Outro, no entanto, pode optar por:
a) à - àqueles - a - há  A família de Regina era muito pobre.
b) a - àqueles - a - há 
c) a - aqueles - à - a  As diferenças e semelhanças constatadas devem-se às
d) à - àqueles - a - a  diversas manifestações da fala de cada um. Note, além disso, que
e) a - aqueles - à - há essas manifestações devem obedecer às regras gerais da língua
Respostas portuguesa, para não correrem o risco de produzir enunciados
1-B / 2-A / 3-B incompreensíveis como:
Família a paupérrima de era Regina.
Língua Falada e Língua Escrita
Semântica e estilística. Não devemos confundir língua com escrita, pois são dois
meios de comunicação distintos. A escrita representa um estágio
posterior de uma língua. A língua falada é mais espontânea,
abrange a comunicação linguística em toda sua totalidade.
Semântica Além disso, é acompanhada pelo tom de voz, algumas vezes
por mímicas, incluindo-se fisionomias. A língua escrita não é
A semântica é o estudo do significado. Incide sobre a relação apenas a representação da língua falada, mas sim um sistema
entre significantes, tais como palavras, frases, sinais e símbolos, mais disciplinado e rígido, uma vez que não conta com o jogo
e o que eles representam, a sua denotação. A semântica fisionômico, as mímicas e o tom de voz do falante.
linguística estuda o significado usado por seres humanos para No Brasil, por exemplo, todos falam a língua portuguesa,
se expressar através da linguagem. Outras formas de semântica mas existem usos diferentes da língua devido a diversos fatores.
incluem a semântica nas linguagens de programação, lógica Dentre eles, destacam-se:
formal, e semiótica.
Em sentido largo, pode-se entender semântica como um Fatores regionais: é possível notar a diferença do português
ramo dos estudos linguísticos que se ocupa dos significados falado por um habitante da região nordeste e outro da região
produzidos pelas diversas formas de uma língua. Dentro dessa sudeste do Brasil. Dentro de uma mesma região, também há
definição ampla, pertence ao domínio da semântica tanto a variações no uso da língua. No estado do Rio Grande do Sul, por
preocupação com determinar o significado dos elementos exemplo, há diferenças entre a língua utilizada por um cidadão
constituintes das palavras (prefixo, radical, sufixo) como o das que vive na capital e aquela utilizada por um cidadão do interior
palavras no seu todo e ainda o de frases inteiras. do estado.

Linguagem Fatores culturais:  o grau de escolarização e a formação


cultural de um indivíduo também são fatores que colaboram
É a capacidade que possuímos de expressar nossos para os diferentes usos da língua. Uma pessoa escolarizada
pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos. A Linguagem está utiliza a língua de uma maneira diferente da pessoa que não teve
relacionada a fenômenos comunicativos; onde há comunicação, acesso à escola.
há linguagem. Podemos usar inúmeros tipos de linguagens
para estabelecermos atos de comunicação, tais como: sinais, Fatores contextuais: nosso modo de falar varia de acordo
símbolos, sons, gestos e regras com sinais convencionais com a situação em que nos encontramos: quando conversamos
(linguagem escrita e linguagem mímica, por exemplo). Num com nossos amigos, não usamos os termos que usaríamos se
sentido mais genérico, a Linguagem pode ser classificada como estivéssemos discursando em uma solenidade de formatura.
qualquer sistema de sinais que se valem os indivíduos para
comunicar-se. Fatores profissionais:  o exercício de algumas atividades
requer o domínio de certas formas de língua chamadas línguas
Tipos de Linguagem técnicas. Abundantes em termos específicos, essas formas
têm uso praticamente restrito ao intercâmbio técnico de
A linguagem pode ser: engenheiros, químicos, profissionais da área de direito e da
Verbal:  a Linguagem Verbal é aquela que faz uso informática, biólogos, médicos, linguistas e outros especialistas.
das palavras para comunicar algo.
Não Verbal:  é aquela que utiliza outros métodos de Fatores naturais:  o uso da língua pelos falantes sofre
comunicação, que não são as palavras. Dentre elas estão influência de fatores naturais, como idade e sexo. Uma criança
a linguagem de sinais, as placas e sinais de trânsito, a não utiliza a língua da mesma maneira que um adulto, daí falar-
linguagem corporal, uma figura, a expressão facial, um se em linguagem infantil e linguagem adulta.
gesto, etc.
Fala
Língua
É a utilização oral da língua pelo indivíduo. É um ato
A Língua é um instrumento de comunicação, sendo composta individual, pois cada indivíduo, para a manifestação da fala, pode
por regras gramaticais que possibilitam que determinado grupo escolher os elementos da língua que lhe convém, conforme seu
de falantes consiga produzir enunciados que lhes permitam gosto e sua necessidade, de acordo com a situação, o contexto,
comunicar-se e compreender-se. Por exemplo: sua personalidade, o ambiente sociocultural em que vive,
etc. Desse modo, dentro da unidade da língua, há uma grande
Falantes da língua portuguesa. diversificação nos mais variados níveis da fala. Cada indivíduo,
A língua possui um caráter social: pertence a todo um além de conhecer o que fala, conhece também o que os outros
conjunto de pessoas, as quais podem agir sobre ela. Cada falam; é por isso que somos capazes de dialogar com pessoas
membro da comunidade pode optar por esta ou aquela forma dos mais variados graus de cultura, embora nem sempre a
de expressão. Por outro lado, não é possível criar uma língua linguagem delas seja exatamente como a nossa. 
particular e exigir que outros falantes a compreendam. Dessa
forma, cada indivíduo pode usar de maneira particular a língua

Língua Portuguesa 64
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APOSTILAS OPÇÃO
Níveis da fala A
A persistirem os sintomas, o médico deve ser consultado.
Devido ao caráter individual da fala, é possível observar (condição)
alguns níveis: O filho puxou ao pai. (conformidade, semelhança)
Nas férias passadas, viajamos a Roma. (destino)
Nível coloquial-popular: é a fala que a maioria das pessoas Candidatos, façam a prova a caneta. (instrumento)
utiliza no seu dia a dia, principalmente em situações informais.
Esse nível da fala é mais espontâneo, ao utilizá-lo, não nos COM
preocupamos em saber se falamos de acordo ou não com as Os moradores perderam tudo o que tinham com as
regras formais estabelecidas pela língua. enchentes. (causa)
Amanhã sairei com amigos. (companhia)
Nível formal-culto: é o nível da fala normalmente utilizado No próximo domingo, o Flamengo jogará com o Botafogo.
pelas pessoas em situações formais. Caracteriza-se por um (oposição)
cuidado maior com o vocabulário e pela obediência às regras A idosa bateu no ladrão com a bengala. (instrumento)
gramaticais estabelecidas pela língua. A moça estava atrasada; caminhava com pressa. (modo)
Signo Com certeza, iremos ao teatro no feriado. (afirmação)
No sistema capitalista, as pessoas somente sobrevivem com
O  signo linguístico  é um elemento representativo que recursos. (condição)
apresenta dois aspectos: o  significado  e o significante. Ao
escutar a palavra cachorro, reconhecemos a sequência de DE
sons que formam essa palavra. Esses sons se identificam com Saí de casa. (origem)
a lembrança deles que está em nossa memória. Essa lembrança Falaram de você. (assunto)
constitui uma real imagem sonora, armazenada em nosso Veio de táxi. (meio)
cérebro que é o significante do signo  cachorro. Quando A menina chorou de raiva. (causa)
escutamos essa palavra, logo pensamos em um animal irracional Os siris andam de lado. (modo)
de quatro patas, com pelos, olhos, orelhas, etc. Esse conceito que Voltemos de noite. (tempo)
nos vem à mente é o significado do signo cachorro e também Comprei um relógio de ouro. (matéria)
se encontra armazenado em nossa memória. Aquele livro é de Marcelo. (posse)
Ao empregar os signos que formam a nossa língua, Ontem, bebemos dois copos de vinho. (conteúdo)
devemos obedecer às regras gramaticais convencionadas pela Estou sob a mesa. (lugar)
própria língua. Desse modo, por exemplo, é possível colocar O bicheiro caminhava de anel no dedo. (companhia)
o artigo indefinido  um diante do signocachorro, formando
a sequência um cachorro, o mesmo não seria possível se EM
quiséssemos colocar o artigouma diante do signo cachorro. A Hoje à noite, estarei em casa. (lugar)
sequência uma cachorro contraria uma regra de concordância Formou-se em Direito. (especialidade)
da língua portuguesa, o que faz com que essa sentença seja O relógio é feito em ouro. (matéria)
rejeitada. Os signos que constituem a língua obedecem a padrões Tenho que apresentar o tema em quinze minutos. (tempo)
determinados de organização. O conhecimento de uma língua
engloba tanto a identificação de seus signos, como também o PARA
uso adequado de suas regras combinatórias. O bombeiro veio para socorrê-lo. (finalidade)
Viajou para a Itália. (destino)
signo = significado (é o conceito, a ideia transmitida pelo Para João, Flamengo é o melhor time do campeonato.
signo, a parte abstrata do signo) + significante (é a imagem (conformidade)
sonora, a forma, a parte concreta do signo, suas letras e seus É proibida a venda de bebidas para menores de dezoito
fonemas) anos. (restrição)

Língua: conjunto de sinais baseado em palavras que POR


obedecem às regras gramaticais. Comprei o livro por cem reais. (preço)
Signo: elemento representativo que possui duas partes Distantes, os namorados falavam-se por internet. (meio)
indissolúveis:  significado e significante. Viajamos por diversas cidades. (lugar)
Fala: uso individual da língua, aberto à criatividade e ao “Eu sei que vou te amar / por toda a minha vida” (tempo) –
desenvolvimento da liberdade de expressão e compreensão. Vinícius de Moraes

Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/seman/seman6. Conectores: são palavras ou expressões que servem para


php conectar (ligar, unir) vários segmentos
Linguísticos, como exemplo: as frases no período, os
Segundo o Professor Fabiano Sales, Preposição é uma classe períodos no parágrafo e os parágrafos no texto.
de palavras com o objetivo de ligar palavras e orações. Nessas
ligações, as preposições podem, ou não, acrescentar valor Incluem-se no grupo de conectores as seguintes subclasses
semântico ao período. gramaticais de palavras:
Preposições que são apenas uma exigência do termo - conjunções (e; pois...)
antecedente, isto é, que não acrescentam qualquer valor - locuções conjuncionais (além disso; no entanto...)
semântico, são chamadas de relacionais. As preposições - advérbios (depois; finalmente...)
relacionais introduzem o objeto indireto ou o complemento - locuções adverbiais (em seguida; por último...)
nominal. - algumas orações reduzidas – orações sem conjunção e
com o verbo numa forma nominal – gerúndio, infinitivo ou
Exemplos: particípio – (concluindo; para terminar; feito isto).
Necessito de chocolate. (de chocolate = objeto indireto)
Ele é essencial para o grupo. (para o grupo = complemento Funções:
nominal)
Adicionar / Enumerar: e; além disso; não só...mas
Preposições essenciais: a, ante, após, até, com, contra, de, também; depois; finalmente; seguidamente; em primeiro lugar;
desde, em, entre, para, per, perante, por, sem, sob, sobre, trás. em seguida; por um lado...por outro; adicionalmente; ainda;
do mesmo modo; pela mesma razão; igualmente; também; de
novo;...

Língua Portuguesa 65
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APOSTILAS OPÇÃO
Sintetizar / Concluir: logo; pois; assim; por isso; por (C) “Preparamo-nos para os festejos natalinos”;
conseguinte; portanto; enfim; em conclusão; concluindo; em (D) “Após o terremoto, várias crianças morreram de
suma;... desnutrição”;

Particularizar: especificamente; nomeadamente; por 02. Assinale a assertiva em que a preposição COM exprime
exemplo; em particular;... a mesma ideia que possui em “Surge a lua cheia para chorar
com os poetas”.
Explicar / Exemplificar: pois; porque; porquanto; por (A) O menino machucou-se com a faca.
causa de; uma vez que; especificamente; nomeadamente; isto é; (B) Ela se afastou com um súbito choro.
ou seja; quer dizer; por exemplo; em particular; como se pode (C) Tinha empobrecido com as secas.
ver; é o caso de; é o que se passa com;... (D) Deve-se rir com alguém, não de alguém.
(E) Ele se confundiu com a minha resposta.
Inferir: assim; consequentemente; daí; então; logo; pois; 03. Considere o trecho:
deste modo; portanto; em consequência; por conseguinte; por
esta razão; por isso;... “O desenvolvimento do cérebro é de natureza biológica e
Substituir / Reformular: mais corretamente; mais cultural. O cérebro se forma, se desenvolve e amadurece com
precisamente; ou melhor; quer dizer; dito de outro modo; por base na genética da espécie e pelas experiências de vida de
outras palavras;... cada um.”
Fonte: www.cartanaescola.com.br
Contrariar / Opor / Restringir: porém; contrariamente; Há, entre os dois períodos, uma relação semântica de:
em vez de; pelo contrário; por oposição; ainda assim; mesmo (A) condição, que poderia ser explicitada pelo conector
assim; apesar de; contudo; no entanto; por outro lado;... desde que.
(B) explicação, que poderia ser explicitada pelo conector
Fim: para; para que; com o intuito de; a fim de; com o porque.
objetivo de;... (C) oposição, que poderia ser explicitada pelo conector
entretanto.
Dúvida: talvez; é provável; é possível; provavelmente; (D) concessão, que poderia ser explicitada pelo conector
porventura;... ainda que.

Certeza: é evidente que; certamente; decerto; com toda a Respostas


certeza; naturalmente; evidentemente;...
01. Resposta C
Hipótese / Condição: se; a menos que; supondo que; A) A preposição “DE” indica matéria.
admitindo que; salvo se; exceto;... B) A preposição “DE” indica origem.
C) Alternativa Correta: Preparamo-nos com a finalidade de
Chamar a atenção: note-se que; atente-se em; repare-se; aproveitar as comemorações natalinas.
veja-se; constate-se;... D) A preposição “DE” indica causa.

Enfatizar: efetivamente; com efeito; na verdade; como 02. Resposta D - Na frase citada no enunciado do exercício
vimos;... a preposição “com” indica companhia, o mesmo ocorre na
alternativa “D”: Deve-se rir na companhia de alguém.
Opinar: a meu ver; estou em crer que; em nosso entender;
parece-me que;... 03. Resposta B - A segunda oração estabelece uma relação
de explicação com relação a oração anterior, esclarecendo os
Reafirmar / Resumir: por outras palavras; ou melhor; ou motivos de se ter afirmado que o cérebro é de natureza biológica
seja; em resumo; em suma;... e cultural.

Semelhança: do mesmo modo; tal como; assim como; pela Estilística


mesma razão;...
Estilística é o ramo da linguística que estuda as variações
Organizadores do discurso: são as expressões que, mais da língua e sua utilização, incluindo o uso estético da linguagem
do que conectar ideias, contribuem para a organização dos e as suas diferentes aplicações dependendo do contexto ou
planos textuais. situação. Por exemplo, a língua de publicidade, política, religião,
autores individuais, ou a língua de um período, todos pertencem
Organizar no espaço: à direita; atrás; sobre; sob; de um a uma situação particular. Em outras palavras, todos possuem
lado; no meio; naquele lugar;... um “lugar”.
Na estilística, analisa-se a capacidade de provocar sugestões
Organizar no tempo: depois; então; após; de seguida; e emoções usando certas fórmulas e efeitos de estilo, por
seguidamente; dias mais tarde; agora; já; antes; até que; exemplo, as características da estilística incluírem o uso
quando;... do diálogo, incluindo acentos regionais e os dialetos desse
determinado povo, língua descritiva, o uso da gramática, tal
Organizar o plano textual: como a voz passiva ou voz ativa, o uso da língua particular, etc.
- Abrir uma série: por um lado; de um lado; primeiramente; Além disso, a estilística é um termo distintivo que pode ser usado
em primeiro lugar; para começar; começando;... para determinar conexões entre forma e efeitos dentro de uma
- Acentuar a continuidade: por outro lado; de outro lado; variedade particular da língua. Consequentemente, a estilística
seguidamente; em segundo lugar;... visa ao que “acontece” dentro da língua; o que as associações
- Encerrar: por último; concluindo; para terminar; linguísticas revelam do estilo da língua.
em conclusão; em último lugar; em síntese; finalizando; Em geral, a situação em que um tipo de língua é encontrado
recapitulando;... pode geralmente ser vista enquanto apropriada ou imprópria
ao estilo da língua que se usou. Uma carta pessoal de amor
Questões provavelmente não possuiria a linguagem apropriada para
este tipo de artigo. Entretanto, dentro da língua de uma
01. A preposição DE traduz FINALIDADE no verso: correspondência romântica o estilo da carta e seu contexto
(A) “Andar e pilotar um pássaro de aço”; podem estar relacionados. Pode ser intenção do autor incluir
(B) “Todos os turistas são de Belo Horizonte”; uma palavra, frase ou sentença que não apenas transmite

Língua Portuguesa 66
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APOSTILAS OPÇÃO
os sentimentos de afeição, mas também reflete o ambiente vezes, não há como separar uma do outro. Indicamse, a seguir,
original de sua composição romântica. Mesmo assim, usando alguns pressupostos de como devem ser redigidos os textos
uma suposta língua convencional e aparentemente apropriada oficiais.
dentro de um contexto específico (as palavras aparentemente
apropriadas que correspondem à situação em que aparecem), Padrão culto do idioma
existe a possibilidade que nesta língua possa faltar o sentido e
deixar de transmitir fielmente a mensagem destinada ao leitor A redação oficial deve observar o padrão culto do idioma
do autor, tornando assim tal linguagem obsoleta precisamente quanto ao léxico (seleção vocabular), à sintaxe (estrutura
devido à sua convencionalidade. Além disso, para qualquer gramatical das orações) e à morfologia (ortografia, acentuação
escritor que pretenda transmitir a sua opinião em uma variedade gráfica etc.).
de linguagem que sinta, é adequado para o contexto encontrar- Por padrão culto do idioma devese entender a língua
se involuntariamente em conformidade com um estilo particular, referendada pelos bons gramáticos e pelo uso nas situações
que, em seguida, obscurece o conteúdo da sua escrita. formais de comunicação. Devem-se excluir da Redação Oficial
A divisão proposta pelo francês Pierre Giraud abarca duas a erudição minuciosa e os preciosismos vocabulares que criam
condições de origem: aquelas figuras usadas pelo próprio idioma entraves inúteis à compreensão do significado. Não faz sentido
(estilística da língua), e aquelas criadas pelo autor (estilística usar “perfunctório” em lugar de “superficial” ou “doesto” em vez
genética). Para aqueles que a entendem como uma divisão da de “acusação” ou “calúnia”. São descabidos também as citações
gramática, a Estilística divide-se em: em língua estrangeira e os latinismos, tão ao gosto da linguagem
forense. Os manuais de Redação Oficial, que vários órgãos têm
• Figuras de sintaxe ou de construção - das quais as mais feito publicar, são unânimes em desaconselhar a utilização de
importantes são a elipse (com a subespécie zeugma), pleonasmo, certas formas sacramentais, protocolares e de anacronismos
polissíndeto, inversão (hipérbato, anástrofe, prolepse e que ainda se leem em documentos oficiais, como: “No dia 20
sínquise), anacoluto, silepse, onomatopeia e repetição. de maio, do ano de 2011 do nascimento de Nosso Senhor Jesus
Cristo”, que permanecem nos registros cartorários antigos.
• Figuras de palavras - onde se tem a metáfora, a metonímia Não cabem também, nos textos oficiais, coloquialismos,
(e seu caso especial: a sinédoque), catacrese e antonomásia. neologismos, regionalismos, bordões da fala e da linguagem
oral, bem como as abreviações e imagens sígnicas comuns na
• Figuras de pensamento - antítese, apóstrofe, eufemismo, comunicação eletrônica.
disfemismo, hipérbole, ironia (antífrase), personificação e Diferentemente dos textos escolares, epistolares,
retificação. jornalísticos ou artísticos, a Redação Oficial não visa ao efeito
estético nem à originalidade. Ao contrário, impõe uniformidade,
Segundo essa divisão, a ela cabe, também, o estudo dos sobriedade, clareza, objetividade, no sentido de se obter a maior
chamados Vícios de linguagem, tais como a ambiguidade compreensão possível com o mínimo de recursos expressivos
(anfibologia), barbarismo, cacofonia, estrangeirismo, colisão, necessários. Portarias lavradas sob forma poética, sentenças e
eco, solecismo e obscuridade. despachos escritos em versos rimados pertencem ao “folclore”
Fonte: http://osletrados.blogspot.com.br/2012/11/semantica- jurídico administrativo e são práticas inaceitáveis nos textos
estilistica.html oficiais. São também inaceitáveis nos textos oficiais os vícios
de linguagem, provocados por descuido ou ignorância, que
constituem desvios das normas da língua padrão. Enumeram-
se, a seguir, alguns desses vícios:
Redação Oficial.
- Barbarismos: São desvios:
- da ortografia: “advinhar” em vez de adivinhar; “excessão”
Redação Oficial em vez de exceção.
- da pronúncia: “rúbrica” em vez de rubrica.
Conceito - da morfologia: “interviu” em vez de interveio.
- da semântica: desapercebido (sem recursos) em vez de
Entende-se por Redação Oficial o conjunto de normas e despercebido (não percebido, sem ser notado).
práticas que devem reger a emissão dos atos normativos e - pela utilização de estrangeirismos: galicismo (do francês):
comunicações do poder público, entre seus diversos organismos “miseenscène” em vez de encenação; anglicismo (do inglês):
ou nas relações dos órgãos públicos com as entidades e os “delivery” em vez de entrega em domicílio.
cidadãos.
A Redação Oficial inscreve-se na confluência de dois - Arcaísmos: Utilização de palavras ou expressões
universos distintos: a forma rege-se pelas ciências da linguagem anacrônicas, fora de uso. Ex.: “asinha” em vez de ligeira, depressa.
(morfologia, sintaxe, semântica, estilística etc.); o conteúdo
submete-se aos princípios jurídico administrativos impostos à - Neologismos: Palavras novas que, apesar de formadas de
União, aos Estados e aos Municípios, nas esferas dos poderes acordo com o sistema morfológico da língua, ainda não foram
Executivo, Legislativo e Judiciário. incorporadas pelo idioma. Ex.: “imexível” em vez de imóvel, que
Pertencente ao campo da linguagem escrita, a Redação não se pode mexer; “talqualmente” em vez de igualmente.
Oficial deve ter as qualidades e características exigidas do texto
escrito destinado à comunicação impessoal, objetiva, clara, - Solecismos: São os erros de sintaxe e podem ser:
correta e eficaz. - de concordância: “sobrou” muitas vagas em vez de
Por ser “oficial”, expressão verbal dos atos do poder público, sobraram.
essa modalidade de redação ou de texto subordina-se aos - de regência: os comerciantes visam apenas “o lucro” em
princípios constitucionais e administrativos aplicáveis a todos vez de ao lucro.
os atos da administração pública, conforme estabelece o artigo - de colocação: “não tratava-se” de um problema sério em
37 da Constituição Federal: vez de não se tratava.

“A administração pública direta e indireta de qualquer dos - Ambiguidade: Duplo sentido não intencional. Ex.:
Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios O desconhecido faloume de sua mãe. (Mãe de quem? Do
obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, desconhecido? Do interlocutor?)
moralidade, publicidade e eficiência ( ... )”.
- Cacófato: Som desagradável, resultante da junção de duas
A forma e o conteúdo da Redação Oficial devem convergir ou mais palavras da cadeia da frase. Ex.: Darei um prêmio por
na produção dos textos dessa natureza, razão pela qual, muitas cada eleitor que votar em mim (por cada e porcada).

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APOSTILAS OPÇÃO
- Pleonasmo: Informação desnecessariamente redundante. Vale lembrar que os pronomes de tratamento são
Exemplos: As pessoas pobres, que não têm dinheiro, vivem na obrigatoriamente regidos pela terceira pessoa. São erros muito
miséria; Os moralistas, que se preocupam com a moral, vivem comuns construções como “Vossa Excelência sois bondoso(a)”;
vigiando as outras pessoas. o correto é “Vossa Excelência é bondoso(a)”.
A Redação Oficial supõe, como receptor, um operador A utilização da segunda pessoa do plural (vós), com que
linguístico dotado de um repertório vocabular e de uma os textos oficiais procuravam revestir-se de um tom solene e
articulação verbal minimamente compatíveis com o registro cerimonioso no passado, é hoje incomum, anacrônica e pedante,
médio da linguagem. Nesse sentido, deve ser um texto neutro, salvo em algumas peças oratórias envolvendo tribunais ou
sem facilitações que intentem suprir as deficiências cognitivas juizes, herdeiras, no Brasil, da tradição retórica de Rui Barbosa
de leitores precariamente alfabetizados. e seus seguidores.
Como exceção, citam-se as campanhas e comunicados Outro aspecto das formalidades requeridas na Redação
destinados a públicos específicos, que fazem uma aproximação Oficial é a necessidade prática de padronização dos expedientes.
com o registro linguístico do público alvo. Mas esse é um campo Assim, as prescrições quanto à diagramação, espaçamento,
que refoge aos objetivos deste material, para se inserir nos caracteres tipográficos etc., os modelos inevitáveis de ofício,
domínios e técnicas da propaganda e da persuasão. requerimento, memorando, aviso e outros, além de facilitar a
Se o texto oficial não pode e não deve baixar ao nível de legibilidade, servem para agilizar o andamento burocrático, os
compreensão de leitores precariamente equipados quanto despachos e o arquivamento.
à linguagem, fica evidente o falo de que a alfabetização e É também por essa razão que quase todos os órgãos públicos
a capacidade de apreensão de enunciados são condições editam manuais com os modelos dos expedientes que integram
inerentes à cidadania. Ninguém é verdadeiramente cidadão se sua rotina burocrática. A Presidência da República, a Câmara
não consegue ler e compreender o que leu. O domínio do idioma dos Deputados, o Senado, os Tribunais Superiores, enfim, os
é equipamento indispensável à vida em sociedade. poderes Executivo, Legislativo e Judiciário têm os próprios ritos
na elaboração dos textos e documentos que lhes são pertinentes.
Impessoalidade e Objetividade
Concisão e Clareza
Ainda que possam ser subscritos por um ente público
(funcionário, servidor etc.), os textos oficiais são expressão do Houve um tempo em que escrever bem era escrever “difícil”.
poder público e é em nome dele que o emissor se comunica, Períodos longos, subordinações sucessivas, vocábulos raros,
sempre nos termos da lei e sobre atos nela fundamentados. inversões sintáticas, adjetivação intensiva, enumerações,
Não cabe na Redação Oficial, portanto, a presença do “eu” gradações, repetições enfáticas já foram considerados virtudes
enunciador, de suas impressões subjetivas, sentimentos ou estilísticas. Atualmente, a velocidade que se impõe a tudo o que
opiniões. Mesmo quando o agente público manifesta-se em se faz, inclusive ao escrever e ao ler, tornou esses recursos quase
primeira pessoa, em formas verbais comuns como: declaro, sempre obsoletos. Hoje, a concisão, a economia vocabular, a
resolvo, determino, nomeio, exonero etc., é nos termos da lei que precisão lexical, ou seja, a eficácia do discurso, são pressupostos
ele o faz e é em função do cargo que exerce que se identifica e se não só da Redação Oficial, mas da própria literatura. Basta
manifesta. observar o estilo “enxuto” de Graciliano Ramos, de Carios
O que interessa é aquilo que se comunica, é o conteúdo, Drummond de Andrade, de João Cabral de Melo Neto, de Dalton
o objeto da informação. A impessoalidade contribui para Trevisan, mestres da linguagem altamente concentrada.
a necessária padronização, reduzindo a variabilidade da Não têm mais sentido os imensos “prolegômenos” e
linguagem a certos padrões, sem o que cada texto seria suscetível “exórdios” que se repetiam como ladainhas nos textos oficiais,
de inúmeras interpretações. como o exemplo risível e caricato que segue:
Por isso, a Redação Oficial não admite adjetivação. O “Preliminarmente, antes de mais nada, indispensável se faz
adjetivo, ao qualificar, exprime opinião e evidencia um juízo que nos valhamos do ensejo para congratularmo-nos com Vossa
de valor pessoal do emissor. São inaceitáveis também a Excelência pela oportunidade da medida proposta à apreciação
pontuação expressiva, que amplia a significação (! ... ), ou o de seus nobres pares. Mas, quem sou eu, humilde servidor público,
emprego de interjeições (Oh! Ah!), que funcionam como índices para abordar questões de tamanha complexidade, a respeito das
do envolvimento emocional do redator com aquilo que está quais divergem os hermeneutas e exegetas.
escrevendo. Entrementes, numa análise ainda que perfunctória das causas
Se nos trabalhos artísticos, jornalísticos e escolares o estilo primeiras, que fundamentaram a proposição tempestivamente
individual é estimulado e serve como diferencial das qualidades encaminhada por Vossa Excelência, indispensável se faz uma
autorais, a função pública impõe a despersonalização do sujeito, abordagem preliminar dos antecedentes imediatos, posto que
do agente público que emite a comunicação. São inadmissíveis, estes antecedentes necessariamente antecedem os consequentes”.
portanto, as marcas individualizadoras, as ousadias estilísticas, Observe que absolutamente nada foi dito ou informado.
a linguagem metafórica ou a elíptica e alusiva. A Redação Oficial
prima pela denotação, pela sintaxe clara e pela economia As Comunicações Oficiais
vocabular, ainda que essa regularidade imponha certa
“monotonia burocrática” ao discurso. A redação das comunicações oficiais obedece a preceitos de
Reafirma-se que a intermediação entre o emissor e o objetividade, concisão, clareza, impessoalidade, formalidade,
receptor nas Redações Oficiais é o código linguístico, dentro do padronização e correção gramatical.
padrão culto do idioma; uma linguagem “neutra”, referendada Além dessas, há outras características comuns à comunicação
pelas gramáticas, dicionários e pelo uso em situações formais, oficial, como o emprego de pronomes de tratamento, o tipo
acima das diferenças individuais, regionais, de classes sociais e de fecho (encerramento) de uma correspondência e a forma
de níveis de escolaridade. de identificação do signatário, conforme define o Manual de
Redação da Presidência da República. Outros órgãos e instituições
Formalidade e Padronização do poder público também possuem manual de redação próprio,
como a Câmara dos Deputados, o Senado Federal, o Ministério
As comunicações oficiais impõem um tratamento polido das Relações Exteriores, diversos governos estaduais, órgãos do
e respeitoso. Na tradição iberoamericana, afeita a títulos e a Judiciário etc.
tratamentos reverentes, a autoridade pública revela sua posição
hierárquica por meio de formas e de pronomes de tratamento Pronomes de Tratamento
sacramentais. “Excelentíssimo”, “Ilustríssimo”, “Meritíssimo”,
“Reverendíssimo” são vocativos que, em algumas instâncias do A regra diz que toda comunicação oficial deve ser formal
poder, tornaramse inevitáveis. Entenda-se que essa solenidade e polida, isto é, ajustada não apenas às normas gramaticais,
tem por consideração o cargo, a função pública, e não a pessoa como também às normas de educação e cortesia. Para isso, é
de seu exercente. fundamental o emprego de pronomes de tratamento, que devem

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APOSTILAS OPÇÃO
ser utilizados de forma correta, de acordo com o destinatário e A Sua Excelência o Senhor
as regras gramaticais. Fulano de Tal
Embora os pronomes de tratamento se refiram à segunda Juiz de Direito da l0ª Vara Cível
pessoa (Vossa Excelência, Vossa Senhoria), a concordância é Rua ABC, nº 123
feita em terceira pessoa. 01010000 São Paulo. SP
Concordância verbal:
Vossa Senhoria falou muito bem. Conforme o Manual de Redação da Presidência, “em
Vossa Excelência vai esclarecer o tema. comunicações oficiais, está abolido o uso do tratamento
Vossa Majestade sabe que respeitamos sua opinião. digníssimo (DD) às autoridades na lista anterior. A dignidade é
pressuposto para que se ocupe qualquer cargo público, sendo
Concordância pronominal: desnecessária sua repetida evocação”.

Pronomes de tratamento concordam com pronomes Vossa Senhoria: É o pronome de tratamento empregado para
possessivos na terceira pessoa. as demais autoridades e para particulares. O vocativo adequado
Vossa Excelência escolheu seu candidato. (e não “vosso...”). é: Senhor Fulano de Tal / Senhora Fulana de Tal.

Concordância nominal: No envelope, deve constar do endereçamento:


Ao Senhor
Os adjetivos devem concordar com o sexo da pessoa a que se Fulano de Tal
refere o pronome de tratamento. Rua ABC, nº 123
Vossa Excelência ficou confuso. (para homem) 70123-000 – Curitiba.PR
Vossa Excelência ficou confusa. (para mulher)
Vossa Senhoria está ocupado. (para homem) Conforme o Manual de Redação da Presidência, em
Vossa Senhoria está ocupada. (para mulher) comunicações oficiais “fica dispensado o emprego do superlativo
Sua Excelência - de quem se fala (ele/ela). Ilustríssimo para as autoridades que recebem o tratamento
Vossa Excelência - com quem se fala (você) de Vossa Senhoria e para particulares. É suficiente o uso do
pronome de tratamento Senhor.
Emprego dos Pronomes de Tratamento O Manual também esclarece que “doutor não é forma de
tratamento, e sim título acadêmico”. Por isso, recomenda-se
As normas a seguir fazem parte do Manual de Redação da empregá-lo apenas em comunicações dirigidas a pessoas que
Presidência da República. tenham concluído curso de doutorado. No entanto, ressalva-se
Vossa Excelência: É o tratamento empregado para as que “é costume designar por doutor os bacharéis, especialmente
seguintes autoridades: os bacharéis em Direito e em Medicina”.
Vossa Magnificência: É o pronome de tratamento dirigido a
- Do Poder Executivo - Presidente da República; Vice- reitores de universidade. Correspondelhe o vocativo: Magnífico
presidente da República; Ministros de Estado; Governadores Reitor.
e vicegovernadores de Estado e do Distrito Federal; Oficiais Vossa Santidade: É o pronome de tratamento empregado em
generais das Forças Armadas; Embaixadores; Secretários comunicações dirigidas ao Papa. O vocativo correspondente é:
executivos de Ministérios e demais ocupantes de cargos Santíssimo Padre.
de natureza especial; Secretários de Estado dos Governos Vossa Eminência ou Vossa Eminência Reverendíssima: São os
Estaduais; Prefeitos Municipais. pronomes empregados em comunicações dirigidas a cardeais.
- Do Poder Legislativo - Deputados Federais e Senadores; Os vocativos correspondentes são: Eminentíssimo Senhor
Ministro do Tribunal de Contas da União; Deputados Estaduais Cardeal, ou Eminentíssimo e Reverendíssimo Senhor Cardeal.
e Distritais; Conselheiros dos Tribunais de Contas Estaduais; Nas comunicações oficiais para as demais autoridades
Presidentes das Câmaras Legislativas Municipais. eclesiásticas são usados: Vossa Excelência Reverendíssima (para
- Do Poder Judiciário - Ministros dos Tribunais Superiores; arcebispos e bispos); Vossa Reverendíssima ou Vossa Senhoria
Membros de Tribunais; Juizes; Auditores da Justiça Militar. Reverendíssima (para monsenhores, cônegos e superiores
religiosos); Vossa Reverência (para sacerdotes, clérigos e demais
Vocativos religiosos).

O vocativo a ser empregado em comunicações dirigidas Fechos para Comunicações


aos chefes de poder é Excelentíssimo Senhor, seguido do cargo
respectivo: Excelentíssimo Senhor Presidente da República; De acordo com o Manual da Presidência, o fecho das
Excelentíssimo Senhor Presidente do Congresso Nacional; comunicações oficiais “possui, além da finalidade óbvia de
Excelentíssimo Senhor Presidente do Supremo Tribunal Federal. arrematar o texto, a de saudar o destinatário”, ou seja, o fecho
As demais autoridades devem ser tratadas com o vocativo é a maneira de quem expede a comunicação despedir-se de seu
Senhor ou Senhora, seguido do respectivo cargo: Senhor Senador destinatário.
/ Senhora Senadora; Senhor Juiz/ Senhora Juiza; Senhor Ministro Até 1991, quando foi publicada a primeira edição do atual
/ Senhora Ministra; Senhor Governador / Senhora Governadora. Manual de Redação da Presidência da República, havia 15 padrões
de fechos para comunicações oficiais. O Manual simplificou a
Endereçamento lista e reduziu-os a apenas dois para todas as modalidades de
comunicação oficial. São eles:
De acordo com o Manual de Redação da Presidência, no
envelope, o endereçamento das comunicações dirigidas às Respeitosamente: para autoridades superiores, inclusive o
autoridades tratadas por Vossa Excelência, deve ter a seguinte presidente da República.
forma: Atenciosamente: para autoridades de mesma hierarquia ou
A Sua Excelência o Senhor de hierarquia inferior.
Fulano de Tal
Ministro de Estado da Justiça “Ficam excluídas dessa fórmula as comunicações dirigidas
70064900 Brasília. DF a autoridades estrangeiras, que atenderem a rito e tradição
próprios, devidamente disciplinados no Manual de Redação do
A Sua Excelência o Senhor Ministério das Relações Exteriores”, diz o Manual de Redação da
Senador Fulano de Tal Presidência da República.
Senado Federal A utilização dos fechos “Respeitosamente” e “Atenciosamente”
70165900 Brasília. DF é recomendada para os mesmos casos pelo Manual de Redação

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da Câmara dos Deputados e por outros manuais oficiais. Já os da comunicação, que é encaminhar, indicando a seguir os dados
fechos para as cartas particulares ou informais ficam a critério completos do documento encaminhado (tipo, data, origem ou
do remetente, com preferência para a expressão “Cordialmente”, signatário, e assunto de que trata), e a razão pela qual está sendo
para encerrar a correspondência de forma polida e sucinta. encaminhado, segundo a seguinte fórmula:
“Em resposta ao Aviso nº 112, de 10 de fevereiro de 2011,
Identificação do Signatário encaminho, anexa, cópia do Ofício nº 34, de 3 de abril de 2010, do
Departamento Geral de Administração, que trata da requisição do
Conforme o Manual de Redação da Presidência do República, servidor Fulano de Tal.”
com exceção das comunicações assinadas pelo presidente da
República, em todas as comunicações oficiais devem constar ou
o nome e o cargo da autoridade que as expede, abaixo de sua
assinatura. A forma da identificação deve ser a seguinte: “Encaminho, para exame e pronunciamento, a anexa cópia do
telegrama nº 112, de 11 de fevereiro de 2011, do Presidente da
(espaço para assinatura) Confederação Nacional de Agricultura, a respeito de projeto de
Nome modernização de técnicas agrícolas na região Nordeste.”
Chefe da Secretaria Geral da Presidência da República
Desenvolvimento: se o autor da comunicação desejar fazer
(espaço para assinatura) algum comentário a respeito do documento que encaminha,
Nome poderá acrescentar parágrafos de desenvolvimento; em caso
Ministro de Estado da Justiça contrário, não há parágrafos de desenvolvimento em aviso ou
“Para evitar equívocos, recomenda-se não deixar a assinatura ofício de mero encaminhamento.
em página isolada do expediente. Transfira para essa página ao - Fecho.
menos a última frase anterior ao fecho”, alerta o Manual. - Assinatura.
- Identificação do Signatário
Padrões e Modelos
Forma de Diagramação
O Padrão Ofício
Os documentos do padrão ofício devem obedecer à seguinte
O Manual de Redação da Presidência da República lista três forma de apresentação:
tipos de expediente que, embora tenham finalidades diferentes, - deve ser utilizada fonte do tipo Times New Roman de corpo
possuem formas semelhantes: Ofício, Aviso e Memorando. A 12 no texto em geral, 11 nas citações, e 10 nas notas de rodapé;
diagramação proposta para esses expedientes é denominada - para símbolos não existentes na fonte Times New Roman,
padrão ofício. poder-se-ão utilizar as fontes symbol e Wíngdings;
O Ofício, o Aviso e o Memorando devem conter as seguintes - é obrigatório constar a partir da segunda página o número
partes: da página;
- Tipo e número do expediente, seguido da sigla do órgão - os ofícios, memorandos e anexos destes poderão ser
que o expede. Exemplos: impressos em ambas as faces do papel. Neste caso, as margens
Of. 123/2002-MME esquerda e direita terão as distâncias invertidas nas páginas
Aviso 123/2002-SG pares (“margem espelho”);
Mem. 123/2002-MF - o início de cada parágrafo do texto deve ter 2,5 cm de
- Local e data. Devem vir por extenso com alinhamento à distância da margem esquerda;
direita. Exemplo: - o campo destinado à margem lateral esquerda terá, no
Brasília, 20 de maio de 2011 mínimo 3,0 cm de largura;
- o campo destinado à margem lateral direita terá 1,5 cm;
- Assunto. Resumo do teor do documento. Exemplos: - deve ser utilizado espaçamento simples entre as linhas e de
Assunto: Produtividade do órgão em 2010. 6 pontos após cada parágrafo, ou, se o editor de texto utilizado
Assunto: Necessidade de aquisição de novos computadores. não comportar tal recurso, de uma linha em branco;
- não deve haver abuso no uso de negrito, itálico, sublinhado,
- Destinatário. O nome e o cargo da pessoa a quem é dirigida letras maiúsculas, sombreado, sombra, relevo, bordas ou
a comunicação. No caso do ofício, deve ser incluído também o qualquer outra forma de formatação que afete a elegância e a
endereço. sobriedade do documento;
- Texto. Nos casos em que não for de mero encaminhamento - a impressão dos textos deve ser feita na cor preta em
de documentos, o expediente deve conter a seguinte estrutura: papel branco. A impressão colorida deve ser usada apenas para
gráficos e ilustrações;
Introdução: que se confunde com o parágrafo de abertura, - todos os tipos de documento do padrão ofício devem ser
na qual é apresentado o assunto que motiva a comunicação. impressos em papel de tamanho A4, ou seja, 29,7 x 21,0 cm;
Evite o uso das formas: “Tenho a honra de”, “Tenho o prazer de”, - deve ser utilizado, preferencialmente, o formato de arquivo
“Cumpre-me informar que”,empregue a forma direta; Rich Text nos documentos de texto;
- dentro do possível, todos os documentos elaborados devem
Desenvolvimento: no qual o assunto é detalhado; se o texto ter o arquivo de texto preservado para consulta posterior ou
contiver mais de uma ideia sobre o assunto, elas devem ser aproveitamento de trechos para casos análogos;
tratadas em parágrafos distintos, o que confere maior clareza à - para facilitar a localização, os nomes dos arquivos devem
exposição; ser formados da seguinte maneira: tipo do documento + número
do documento + palavras chave do conteúdo. Exemplo:
Conclusão: em que é reafirmada ou simplesmente
reapresentada a posição recomendada sobre o assunto. “Of. 123 relatório produtividade ano 2010”
Os parágrafos do texto devem ser numerados, exceto nos
casos em que estes estejam organizados em itens ou títulos e Aviso e Ofício (Comunicação Externa)
subtítulos.
Quando se tratar de mero encaminhamento de documentos, São modalidades de comunicação oficial praticamente
a estrutura deve ser a seguinte: idênticas. A única diferença entre eles é que o aviso é expedido
exclusivamente por Ministros de Estado, para autoridades de
Introdução: deve iniciar com referência ao expediente que mesma hierarquia, ao passo que o ofício é expedido para e pelas
solicitou o encaminhamento. Se a remessa do documento não demais autoridades. Ambos têm como finalidade o tratamento
tiver sido solicitada, deve iniciar com a informação do motivo de assuntos oficiais pelos órgãos da Administração Pública

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entre si e, no caso do ofício, também com particulares. - na conclusão, novamente, qual medida deve ser tomada,
Quanto a sua forma, Aviso e Ofício seguem o modelo ou qual ato normativo deve ser editado para solucionar o
do padrão ofício, com acréscimo do vocativo, que invoca o problema.
destinatário, seguido de vírgula. Exemplos:
Deve, ainda, trazer apenso o formulário de anexo à exposição
Excelentíssimo Senhor Presidente da República, de motivos, devidamente preenchido, de acordo com o seguinte
Senhora Ministra, modelo previsto no Anexo II do Decreto nº 4.1760, de 28 de
Senhor Chefe de Gabinete, março de 2010.
Anexo à exposição de motivos do (indicar nome do Ministério
Devem constar do cabeçalho ou do rodapé do ofício as ou órgão equivalente) nº ______, de ____ de ______________ de 201_.
seguintes informações do remetente: - Síntese do problema ou da situação que reclama
- nome do órgão ou setor; providências;
- endereço postal; - Soluções e providências contidas no ato normativo ou na
- telefone e endereço de correio eletrônico. medida proposta;
- Alternativas existentes às medidas propostas. Mencionar:
Memorando ou Comunicação Interna - se há outro projeto do Executivo sobre a matéria;
- se há projetos sobre a matéria no Legislativo;
O Memorando é a modalidade de comunicação entre - outras possibilidades de resolução do problema.
unidades administrativas de um mesmo órgão, que podem estar - Custos. Mencionar:
hierarquicamente em mesmo nível ou em nível diferente. Trata- - se a despesa decorrente da medida está prevista na lei
se, portanto, de uma forma de comunicação eminentemente orçamentária anual; se não, quais as alternativas para custeá-la;
interna. - se a despesa decorrente da medida está prevista na lei
Pode ter caráter meramente administrativo, ou ser orçamentária anual; se não, quais as alternativas para custeá-la;
empregado para a exposição de projetos, ideias, diretrizes etc. a - valor a ser despendido em moeda corrente;
serem adotados por determinado setor do serviço público. - Razões que justificam a urgência (a ser preenchido somente
Sua característica principal é a agilidade. A tramitação do se o ato proposto for medida provisória ou projeto de lei que
memorando em qualquer órgão deve pautar-se pela rapidez deva tramitar em regime de urgência). Mencionar:
e pela simplicidade de procedimentos burocráticos. Para - se o problema configura calamidade pública;
evitar desnecessário aumento do número de comunicações, - por que é indispensável a vigência imediata;
os despachos ao memorando devem ser dados no próprio - se se trata de problema cuja causa ou agravamento não
documento e, no caso de falta de espaço, em folha de continuação. tenham sido previstos;
Esse procedimento permite formar uma espécie de processo - se se trata de desenvolvimento extraordinário de situação
simplificado, assegurando maior transparência a tomada de já prevista.
decisões, e permitindo que se historie o andamento da matéria - Impacto sobre o meio ambiente (somente que o ato ou
tratada no memorando. medida proposta possa vir a tê-lo)
Quanto a sua forma, o memorando segue o modelo do - Alterações propostas. Texto atual, Texto proposto;
padrão ofício, com a diferença de que seu destinatário deve ser - Síntese do parecer do órgão jurídico.
mencionado pelo cargo que ocupa. Exemplos:
Com base em avaliação do ato normativo ou da medida
Ao Sr. Chefe do Departamento de Administração proposa à luz das questões levantadas no item 10.4.3.
Ao Sr. Subchefe para Assuntos Jurídicos. A falta ou insuficiência das informações prestadas pode
acarretar, a critério da Subchefia para Assuntos Jurídicos da
Exposição de Motivos Casa Civil, a devolução do projeto de ato normativo para que se
complete o exame ou se reformule a proposta.
É o expediente dirigido ao presidente da República ou ao O preenchimento obrigatório do anexo para as exposições
vice-presidente para: de motivos que proponham a adoção de alguma medida ou a
- informá-lo de determinado assunto; edição de ato normativo tem como finalidade:
- propor alguma medida; ou - permitir a adequada reflexão sobre o problema que se
- submeter a sua consideração projeto de ato normativo. busca resolver;
Em regra, a exposição de motivos é dirigida ao Presidente - ensejar mais profunda avaliação das diversas causas do
da República por um Ministro de Estado. Nos casos em que o problema e dos defeitos que pode ter a adoção da medida ou a
assunto tratado envolva mais de um Ministério, a exposição de edição do ato, em consonância com as questões que devem ser
motivos deverá ser assinada por todos os Ministros envolvidos, analisadas na elaboração de proposições normativas no âmbito
sendo, por essa razão, chamada de interministerial. do Poder Executivo (v. 10.4.3.)
Formalmente a exposição de motivos tem a apresentação - conferir perfeita transparência aos atos propostos.
do padrão ofício. De acordo com sua finalidade, apresenta duas
formas básicas de estrutura: uma para aquela que tenha caráter Dessa forma, ao atender às questões que devem ser analisadas
exclusivamente informativo e outra para a que proponha alguma na elaboração de atos normativos no âmbito do Poder Executivo,
medida ou submeta projeto de ato normativo. o texto da exposição de motivos e seu anexo complementam-se
No primeiro caso, o da exposição de motivos que e formam um todo coeso: no anexo, encontramos uma avaliação
simplesmente leva algum assunto ao conhecimento do profunda e direta de toda a situação que está a reclamar a
Presidente da República, sua estrutura segue o modelo antes adoção de certa providência ou a edição de um ato normativo; o
referido para o padrão ofício. problema a ser enfrentado e suas causas; a solução que se propõe,
Já a exposição de motivos que submeta à consideração seus efeitos e seus custos; e as alternativas existentes. O texto da
do Presidente da República a sugestão de alguma medida a exposição de motivos fica, assim, reservado à demonstração da
ser adotada ou a que lhe apresente projeto de ato normativo, necessidade da providência proposta: por que deve ser adotada
embora sigam também a estrutura do padrão ofício, além de e como resolverá o problema.
outros comentários julgados pertinentes por seu autor, devem, Nos casos em que o ato proposto for questão de pessoal
obrigatoriamente, apontar: (nomeação, promoção, ascenção, transferência, readaptação,
- na introdução: o problema que está a reclamar a adoção reversão, aproveitamento, reintegração, recondução,
da medida ou do ato normativo proposto; remoção, exoneração, demissão, dispensa, disponibilidade,
- no desenvolvimento: o porquê de ser aquela medida ou aposentadoria), não é necessário o encaminhamento do
aquele ato normativo o ideal para se solucionar o problema, e formulário de anexo à exposição de motivos. Ressalte-se que:
eventuais alternativas existentes para equacioná-lo; - a síntese do parecer do órgão de assessoramento jurídico
não dispensa o encaminhamento do parecer completo;

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APOSTILAS OPÇÃO
- o tamanho dos campos do anexo à exposição de motivos Procurador Geral da República, Chefes de Missão Diplomática
pode ser alterado de acordo com a maior ou menor extensão dos etc.) têm em vista que a Constituição, no seu art. 52, incisos III
comentários a serem alí incluídos. e IV, atribui àquela Casa do Congresso Nacional competência
privativa para aprovar a indicação. O currículum vitae do
Ao elaborar uma exposição de motivos, tenha presente que indicado, devidamente assinado, acompanha a mensagem.
a atenção aos requisitos básicos da Redação Oficial (clareza,
concisão, impessoalidade, formalidade, padronização e uso do - Pedido de autorização para o presidente ou o vice-
padrão culto de linguagem) deve ser redobrada. A exposição de presidente da República se ausentarem do País por mais
motivos é a principal modalidade de comunicação dirigida ao de 15 dias: Trata-se de exigência constitucional (Constituição,
Presidente da República pelos Ministros. Além disso, pode, em art. 49, III, e 83), e a autorização é da competência privativa do
certos casos, ser encaminhada cópia ao Congresso Nacional ou Congresso Nacional.
ao Poder Judiciário ou, ainda, ser publicada no Diário Oficial da O presidente da República, tradicionalmente, por cortesia,
União, no todo ou em parte. quando a ausência é por prazo inferior a 15 dias, faz uma
comunicação a cada Casa do Congresso, enviando-lhes
Mensagem mensagens idênticas.

É o instrumento de comunicação oficial entre os Chefes dos - Encaminhamento de atos de concessão e renovação de
Poderes Públicos, notadamente as mensagens enviadas pelo concessão de emissoras de rádio e TV: A obrigação de submeter
Chefe do Poder Executivo ao Poder Legislativo para informar tais atos à apreciação do Congresso Nacional consta no inciso
sobre fato da Administração Pública; expor o plano de governo XII do artigo 49 da Constituição. Somente produzirão efeitos
por ocasião da abertura de sessão legislativa; submeter ao legais a outorga ou renovação da concessão após deliberação do
Congresso Nacional matérias que dependem de deliberação Congresso Nacional (Constituição, art. 223, § 3º). Descabe pedir
de suas Casas; apresentar veto; enfim, fazer e agradecer na mensagem a urgência prevista no art. 64 da Constituição,
comunicações de tudo quanto seja de interesse dos poderes porquanto o § 1º do art. 223 já define o prazo da tramitação.
públicos e da Nação. Além do ato de outorga ou renovação, acompanha a
Minuta de mensagem pode ser encaminhada pelos mensagem o correspondente processo administrativo.
Ministérios à Presidência da República, a cujas assessorias
caberá a redação final. - Encaminhamento das contas referentes ao exercício
As mensagens mais usuais do Poder Executivo ao Congresso anterior: O Presidente da República tem o prazo de sessenta
Nacional têm as seguintes finalidades: dias após a abertura da sessão legislativa para enviar ao
Congresso Nacional as contas referentes ao exercício anterior
- Encaminhamento de projeto de lei ordinária, (Constituição, art. 84, XXIV), para exame e parecer da Comissão
complementar ou financeira: Os projetos de lei ordinária ou Mista permanente (Constituição, art. 166, § 1º), sob pena
complementar são enviados em regime normal (Constituição, de a Câmara dos Deputados realizar a tomada de contas
art. 61) ou de urgência (Constituição, art. 64, §§ 1º a 4º). Cabe (Constituição, art. 51, II), em procedimento disciplinado no art.
lembrar que o projeto pode ser encaminhado sob o regime 215 do seu Regimento Interno.
normal e mais tarde ser objeto de nova mensagem, com
solicitação de urgência. - Mensagem de abertura da sessão legislativa: Ela deve
Em ambos os casos, a mensagem se dirige aos Membros do conter o plano de governo, exposição sobre a situação do País e
Congresso Nacional, mas é encaminhada com aviso do Chefe da solicitação de providências que julgar necessárias (Constituição,
Casa Civil da Presidência da República ao Primeiro Secretário art. 84, XI).
da Câmara dos Deputados, para que tenha início sua tramitação O portador da mensagem é o Chefe da Casa Civil da
(Constituição, art. 64, caput). Presidência da República. Esta mensagem difere das demais
Quanto aos projetos de lei financeira (que compreendem porque vai encadernada e é distribuída a todos os congressistas
plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamentos anuais e em forma de livro.
créditos adicionais), as mensagens de encaminhamento dirigem-
se aos membros do Congresso Nacional, e os respectivos avisos - Comunicação de sanção (com restituição de autógrafos):
são endereçados ao Primeiro Secretário do Senado Federal. Esta mensagem é dirigida aos membros do Congresso Nacional,
A razão é que o art. 166 da Constituição impõe a deliberação encaminhada por Aviso ao Primeiro Secretário da Casa onde se
congressual sobre as leis financeiras em sessão conjunta, mais originaram os autógrafos. Nela se informa o número que tomou a
precisamente, “na forma do regimento comum”. E à frente da lei e se restituem dois exemplares dos três autógrafos recebidos,
Mesa do Congresso Nacional está o Presidente do Senado Federal nos quais o Presidente da República terá aposto o despacho de
(Constituição, art. 57, § 5º), que comanda as sessões conjuntas. sanção.
As mensagens aqui tratadas coroam o processo desenvolvido
no âmbito do Poder Executivo, que abrange minucioso exame - Comunicação de veto: Dirigida ao Presidente do Senado
técnico, jurídico e econômico-financeiro das matérias objeto das Federal (Constituição, art. 66, § 1º), a mensagem informa sobre
proposições por elas encaminhadas. a decisão de vetar, se o veto é parcial, quais as disposições
Tais exames materializam-se em pareceres dos diversos vetadas, e as razões do veto. Seu texto vai publicado na íntegra
órgãos interessados no assunto das proposições, entre eles o no Diário Oficial da União, ao contrário das demais mensagens,
da Advocacia Geral da União. Mas, na origem das propostas, as cuja publicação se restringe à notícia do seu envio ao Poder
análises necessárias constam da exposição de motivos do órgão Legislativo.
onde se geraram, exposição que acompanhará, por cópia, a
mensagem de encaminhamento ao Congresso. - Outras mensagens: Também são remetidas ao Legislativo
com regular frequência mensagens com:
- Encaminhamento de medida provisória: Para dar - encaminhamento de atos internacionais que acarretam
cumprimento ao disposto no art. 62 da Constituição, o Presidente encargos ou compromissos gravosos (Constituição, art. 49, I);
da República encaminha mensagem ao Congresso, dirigida a - pedido de estabelecimento de alíquolas aplicáveis
seus membros, com aviso para o Primeiro Secretário do Senado às operações e prestações interestaduais e de exportação
Federal, juntando cópia da medida provisória, autenticada pela (Constituição, art. 155, § 2º, IV);
Coordenação de Documentação da Presidência da República. - proposta de fixação de limites globais para o montante da
dívida consolidada (Constituição, art. 52, VI);
- Indicação de autoridades: As mensagens que submetem - pedido de autorização para operações financeiras externas
ao Senado Federal a indicação de pessoas para ocuparem (Constituição, art. 52, V); e outros.
determinados cargos (magistrados dos Tribunais Superiores,
Ministros do TCU, Presidentes e diretores do Banco Central, Entre as mensagens menos comuns estão as de:

Língua Portuguesa 72
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APOSTILAS OPÇÃO
- convocação extraordinária do Congresso Nacional Correio Eletrônico
(Constituição, art. 57, § 6º);
- pedido de autorização para exonerar o Procurador Geral da O correio eletrônico (“email”), por seu baixo custo e
República (art. 52, XI, e 128, § 2º); celeridade, transformou-se na principal forma de comunicação
- pedido de autorização para declarar guerra e decretar para transmissão de documentos.
mobilização nacional (Constituição, art. 84, XIX); Um dos atrativos de comunicação por correio eletrônico é
- pedido de autorização ou referendo para celebrara paz sua flexibilidade. Assim, não interessa definir forma rígida para
(Constituição, art. 84, XX); sua estrutura. Entretanto, deve-se evitar o uso de linguagem
- justificativa para decretação do estado de defesa ou de sua incompatível com uma comunicação oficial.
prorrogação (Constituição, art. 136, § 4º); O campo assunto do formulário de correio eletrônico
- pedido de autorização para decretar o estado de sítio mensagem deve ser preenchido de modo a facilitar a organização
(Constituição, art. 137); documental tanto do destinatário quanto do remetente.
- relato das medidas praticadas na vigência do estado de Para os arquivos anexados à mensagem deve ser utilizado,
sítio ou de defesa (Constituição, art. 141, parágrafo único); preferencialmente, o formato Rich Text. A mensagem que
- proposta de modificação de projetas de leis financeiras encaminha algum arquivo deve trazer informações mínimas
(Constituição, art. 166, § 5º); sobre seu conteúdo.
- pedido de autorização para utilizar recursos que ficarem Sempre que disponível, deve-se utilizar recurso de
sem despesas correspondentes, em decorrência de veto, emenda confirmação de leitura. Caso não seja disponível, deve constar
ou rejeição do projeto de lei orçamentária anual (Constituição, da mensagem pedido de confirmação de recebimento.
art. 166, § 8º); Nos termos da legislação em vigor, para que a mensagem
- pedido de autorização para alienar ou conceder terras de correio eletrônico tenha valor documental, isto é, para que
públicas com área superior a 2.500 ha (Constituição, art. 188, possa ser aceita como documento original, é necessário existir
§ 1º); etc. certificação digital que ateste a identidade do remetente, na
forma estabelecida em lei.
As mensagens contêm:
- a indicação do tipo de expediente e de seu número, Apostila
horizontalmente, no início da margem esquerda:
É o aditamento que se faz a um documento com o objetivo
Mensagem nº de retificação, atualização, esclarecimento ou fixar vantagens,
evitando-se assim a expedição de um novo título ou documento.
- vocativo, de acordo com o pronome de tratamento e o Estrutura:
cargo do destinatário, horizontalmente, no início da margem - Título: APOSTILA, centralizado.
esquerda: - Texto: exposição sucinta da retificação, esclarecimento,
atualização ou fixação da vantagem, com a menção, se for o caso,
Excelentíssimo Senhor Presidente do Senado Federal, onde o documento foi publicado.
- Local e data.
- o texto, iniciando a 2 cm do vocativo; - Assinatura: nome e função ou cargo da autoridade que
- o local e a data, verticalmente a 2 cm do final do texto, e constatou a necessidade de efetuar a apostila.
horizontalmente fazendo coincidir seu final com a margem Não deve receber numeração, sendo que, em caso de
direita. A mensagem, como os demais atos assinados pelo documento arquivado, a apostila deve ser feita abaixo dos textos
Presidente da República, não traz identificação de seu signatário. ou no verso do documento.
Em caso de publicação do ato administrativo originário,
Telegrama a apostila deve ser publicada com a menção expressa do ato,
número, dia, página e no mesmo meio de comunicação oficial no
Com o fito de uniformizar a terminologia e simplificar qual o ato administrativo foi originalmente publicado, a fim de
os procedimentos burocráticos, passa a receber o título de que se preserve a data de validade.
telegrama toda comunicação oficial expedida por meio de
telegrafia, telex etc. Por se tratar de forma de comunicação ATA
dispendiosa aos cofres públicos e tecnologicamente superada,
deve restringir-se o uso do telegrama apenas àquelas situações É o instrumento utilizado para o registro expositivo dos fatos
que não seja possível o uso de correio eletrônico ou fax e que e deliberações ocorridos em uma reunião, sessão ou assembleia.
a urgência justifique sua utilização e, também em razão de seu Estrutura:
custo elevado, esta forma de comunicação deve pautar-se pela - Título ATA. Em se tratando de atas elaboradas
concisão. sequencialmente, indicar o respectivo número da reunião ou
Não há padrão rígido, devendo-se seguir a forma e a sessão, em caixa alta.
estrutura dos formulários disponíveis nas agências dos Correios - Texto, incluindo: Preâmbulo registro da situação espacial
e em seu sítio na Internet. e temporal e participantes; Registro dos assuntos abordados e
de suas decisões, com indicação das personalidades envolvidas,
Fax se for o caso; Fecho termo de encerramento com indicação,
se necessário, do redator, do horário de encerramento, de
O fax (forma abreviada já consagrada de facsímile) é uma convocação de nova reunião etc.
forma de comunicação que está sendo menos usada devido ao A ATA será assinada e/ou rubricada portodos os presentes
desenvolvimento da Internet. É utilizado para a transmissão de à reunião ou apenas pelo presidente e relator, dependendo das
mensagens urgentes e para o envio antecipado de documentos, exigências regimentais do órgão.
de cujo conhecimento há premência, quando não há condições A fim de se evitarem rasuras nas atas manuscritas, deve-se,
de envio do documento por meio eletrônico. Quando necessário em caso de erro, utilizar o termo “digo”, seguido da informação
o original, ele segue posteriormente pela via e na forma de praxe. correta a ser registrada. No caso de omissão de informações ou
Se necessário o arquivamento, deve-se fazê-lo com cópia de erros constatados após a redação, usa-se a expressão “Em
xerox do fax e não com o próprio fax, cujo papel, em certos tempo” ao final da ATA, com o registro das informações corretas.
modelos, se deteriora rapidamente.
Os documentos enviados por fax mantêm a forma e a Carta
estrutura que lhes são inerentes. É conveniente o envio,
juntamente com o documento principal, de folha de rosto, isto É a forma de correspondência emitida por particular,
é, de pequeno formulário com os dados de identificação da ou autoridade com objetivo particular, não se confundindo
mensagem a ser enviada. com o memorando (correspondência interna) ou o ofício

Língua Portuguesa 73
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APOSTILAS OPÇÃO
(correspondência externa), nos quais a autoridade que assina Parecer
expressa uma opinião ou dá uma informação não sua, mas, sim,
do órgão pelo qual responde. Em grande parte dos casos da É a opinião fundamentada, emitida em nome pessoal ou de
correspondência enviada por deputados, deve-se usar a carta, órgão administrativo, sobre tema que lhe haja sido submetido
não o memorando ou ofício, por estar o parlamentar emitindo para análise e competente pronunciamento. Visa fornecer
parecer, opinião ou informação de sua responsabilidade, e não subsídios para tomada de decisão. Estrutura:
especificamente da Câmara dos Deputados. O parlamentar - Número de ordem (quando necessário).
deverá assinar memorando ou ofício apenas como titular de - Número do processo de origem.
função oficial específica (presidente de comissão ou membro da - Ementa (resumo do assunto).
Mesa, por exemplo). Estrutura: - Texto, compreendendo: Histórico ou relatório (introdução);
- Local e data. Parecer (desenvolvimento com razões e justificativas); Fecho
- Endereçamento, com forma de tratamento, destinatário, opinativo (conclusão).
cargo e endereço. - Local e data.
- Vocativo. - Assinatura, nome e função ou cargo do parecerista.
- Texto. Além do Parecer Administrativo, acima conceituado, existe o
- Fecho. Parecer Legislativo, que é uma proposição, e, como tal, definido
- Assinatura: nome e, quando necessário, função ou cargo. no art. 126 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados.
O desenvolvimento do parecer pode ser dividido em tantos
Se o gabinete usar cartas com frequência, poderá numerá- itens (e estes intitulados) quantos bastem ao parecerista para
las. Nesse caso, a numeração poderá apoiar-se no padrão básico o fim de melhor organizar o assunto, imprimindo-lhe clareza e
de diagramação. didatismo.
O fecho da carta segue, em geral, o padrão da correspondência
oficial, mas outros fechos podem ser usados, a exemplo de Portaria
“Cordialmente”, quando se deseja indicar relação de proximidade
ou igualdade de posição entre os correspondentes. É o ato administrativo pelo qual a autoridade estabelece
regras, baixa instruções para aplicação de leis ou trata da
Declaração organização e do funcionamento de serviços dentro de sua
esfera de competência. Estrutura:
É o documento em que se informa, sob responsabilidade, - Título: PORTARIA, numeração e data.
algo sobre pessoa ou acontecimento. Estrutura: - Ementa: síntese do assunto.
- Título: DECLARAÇÃO, centralizado. - Preâmbulo e fundamentação: denominação da autoridade
- Texto: exposição do fato ou situação declarada, com que expede o ato e citação da legislação pertinente, seguida da
finalidade, nome do interessado em destaque (em maiúsculas) e palavra “resolve”.
sua relação com a Câmara nos casos mais formais. - Texto: desenvolvimento do assunto, que pode ser dividido
- Local e data. em artigos, parágrafos, incisos, alíneas e itens.
- Assinatura: nome da pessoa que declara e, no caso de - Assinatura: nome da autoridade competente e indicação do
autoridade, função ou cargo. cargo.
A declaração documenta uma informação prestada por
autoridade ou particular. No caso de autoridade, a comprovação Certas portarias contêm considerandos, com as razões que
do fato ou o conhecimento da situação declarada deve serem justificam o ato. Neste caso, a palavra “resolve” vem depois deles.
razão do cargo que ocupa ou da função que exerce. A ementa justifica-se em portarias de natureza normativa.
Declarações que possuam características específicas podem Em portarias de matéria rotineira, como nos casos de
receber uma qualificação, a exemplo da “declaração funcional”. nomeação e exoneração, por exemplo, suprime-se a ementa.

Despacho Relatório

É o pronunciamento de autoridade administrativa em É o relato exposilivo, detalhado ou não, do funcionamento


petição que lhe é dirigida, ou ato relativo ao andamento do de uma instituição, do exercício de atividades ou acerca do
processo. Pode ter caráter decisório ou apenas de expediente. desenvolvimento de serviços específicos num determinado
Estrutura: período. Estrutura:
- Nome do órgão principal e secundário. - Título RELATÓRIO ou RELATÓRIO DE...
- Número do processo. - Texto registro em tópicos das principais atividades
- Data. desenvolvidas, podendo ser indicados os resultados parciais e
- Texto. totais, com destaque, se for o caso, para os aspectos positivos
- Assinatura e função ou cargo da autoridade. e negativos do período abrangido. O cronograma de trabalho a
O despacho pode constituir-se de uma palavra, de uma ser desenvolvido, os quadros, os dados estatísticos e as tabelas
expressão ou de um texto mais longo. poderão ser apresentados como anexos.
- Local e data.
Ordem de Serviço - Assinatura e função ou cargo do(s) funcionário(s)
relator(es).
É o instrumento que encerra orientações detalhadas e/ou No caso de Relatório de Viagem, aconselha-se registrar
pontuais para a execução de serviços por órgãos subordinados uma descrição sucinta da participação do servidor no evento
da Administração. Estrutura: (seminário, curso, missão oficial e outras), indicando o período
- Título: ORDEM DE SERVIÇO, numeração e data. e o trecho compreendido. Sempre que possível, o Relatório de
- Preâmbulo e fundamentação: denominação da autoridade Viagem deverá ser elaborado com vistas ao aproveitamento
que expede o ato (em maiúsculas) e citação da legislação efetivo das informações tratadas no evento para os trabalhos
pertinente ou por força das prerrogativas do cargo, seguida da legislativos e administrativos da Casa.
palavra “resolve”. Quanto à elaboração de Relatório de Atividades, deve-se
- Texto: desenvolvimento do assunto, que pode ser dividido atentar para os seguintes procedimentos:
em itens, incisos, alíneas etc. - abster-se de transcrever a competência formal das unidades
- Assinatura: nome da autoridade competente e indicação da administrativas já descritas nas normas internas;
função. - relatar apenas as principais atividades do órgão;
A Ordem de Serviço se assemelha à Portaria, porém possui - evitar o detalhamento excessivo das tarefas executadas
caráter mais específico e detalhista. Objetiva, essencialmente, a pelas unidades administrativas que lhe são subordinadas;
otimização e a racionalização de serviços.

Língua Portuguesa 74
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APOSTILAS OPÇÃO
- priorizar a apresentação de dados agregados, grandes metas Questões
realizadas e problemas abrangentes que foram solucionados;
- destacar propostas que não puderam ser concretizadas, 01. Analise:
identificando as causas e indicando as prioridades para os 1. Atendendo à solicitação contida no expediente acima
próximos anos; referido, vimos encaminhar a V. Sª. as informações referentes ao
- gerar um relatório final consolidado, limitado, se possível, andamento dos serviços sob responsabilidade deste setor.
ao máximo de dez páginas para o conjunto da Diretoria, 2. Esclarecemos que estão sendo tomadas todas as medidas
Departamento ou unidade equivalente. necessárias para o cumprimento dos prazos estipulados e o
atingimento das metas estabelecidas.
Requerimento (Petição)
A redação do documento acima indica tratar-se
É o instrumento por meio do qual o interessado requer (A) do encaminhamento de uma ata.
a uma autoridade administrativa um direito do qual se julga (B) do início de um requerimento.
detentor. Estrutura: (C) de trecho do corpo de um ofício.
- Vocativo, cargo ou função (e nome do destinatário), ou seja, (D) da introdução de um relatório.
da autoridade competente. (E) do fecho de um memorando.
- Texto incluindo: Preâmbulo, contendo nome do requerente
(grafado em letras maiúsculas) e respectiva qualificação: 02. A redação inteiramente apropriada e correta de um
nacionalidade, estado civil, profissão, documento de identidade, documento oficial é:
idade (se maior de 60 anos, para fins de preferência na (A) Estamos encaminhando à Vossa Senhoria algumas
tramitação do processo, segundo a Lei 10.741/03), e domicílio reivindicações, e esperamos poder estar sendo recebidos em
(caso o requerente seja servidor da Câmara dos Deputados, vosso gabinete para discutir nossos problemas salariais.
precedendo à qualificação civil deve ser colocado o número (B) O texto ora aprovado em sessão extraordinária prevê a
do registro funcional e a lotação); Exposição do pedido, de redistribuição de pessoal especializado em serviços gerais para
preferência indicando os fundamentos legais do requerimento os departamentos que foram recentemente criados.
e os elementos probatórios de natureza fática. (C) Estou encaminhando a presença de V. Sª. este jovem,
muito inteligente e esperto, que lhe vai resolver os problemas
- Fecho: “Nestes termos, Pede deferimento”. do sistema de informatização de seu gabinete.
- Local e data. (D) Quando se procurou resolver os problemas de pessoal
- Assinatura e, se for o caso de servidor, função ou cargo. aqui neste departamento, faltaram um número grande de
servidores para os andamentos do serviço.
Quando mais de uma pessoa fizer uma solicitação, (E) Do nosso ponto de vista pessoal, fica difícil vos informar
reivindicação ou manifestação, o documento utilizado será um de quais providências vão ser tomadas para resolver essa
abaixoassinado, com estrutura semelhante à do requerimento, confusão que foi criado pelos manifestantes.
devendo haver identificação das assinaturas.
03. A frase cuja redação está inteiramente correta e
A Constituição Federal assegura a todos, independentemente apropriada para uma correspondência oficial é:
do pagamento de taxas, o direito de petição aos Poderes (A) É com muito prazer que encaminho à V. Exª. Os
Públicos em defesa de direitos ou contra ilegalidade ou abuso convites para a reunião de gala deste Conselho, em que se
de poder (art. 51, XXXIV, “a”), sendo que o exercício desse direito fará homenagens a todos os ilustres membros dessa diretoria,
se instrumentaliza por meio de requerimento. No que concerne importantíssima na execução dos nossos serviços.
especificamente aos servidores públicos, a lei que institui o (B) Por determinação hoje de nosso Excelentíssimo Chefe do
Regime único estabelece que o requerimento deve ser dirigido Setor, nos dirigimos a todos os de vosso gabinete, para informar
à autoridade competente para decidi-lo e encaminhado por de que as medidas de austeridade recomendadas por V. Sa. já
intermédio daquela a que estiver imediatamente subordinado o está sendo tomadas, para evitar-se os atrasos dos prazos.
requerente (Lei nº 8.112/90, art. 105). (C) Estamos encaminhando a V. Sa. os resultados a que
chegaram nossos analistas sobre as condições de funcionamento
Protocolo deste setor, bem como as providências a serem tomadas
para a consecução dos serviços e o cumprimento dos prazos
O  registro de protocolo (ou simplesmente “o  protocolo“) estipulados.
é o livro (ou, mais atualmente, o suporte informático) em que (D) As ordens expressas a todos os funcionários é de que se
são transcritos progressivamente os documentos e os atos possa estar tomando as medidas mais do que importantes para
em entrada e em saída de um sujeito ou entidade (público ou tornar nosso departamento mais eficiente, na agilização dos
privado). Este registro, se obedecerem a normas legais, têm fé trâmites legais dos documentos que passam por aqui.
pública, ou seja, tem valor probatório em casos de controvérsia (E) Peço com todo o respeito a V. Exª., que tomeis
jurídica. providências cabíveis para vir novos funcionários para esse
O termo protocolo tem um significado bastante amplo, nosso setor, que se encontra em condições difíceis de agilizar
identificando-se diretamente com o próprio procedimento. Por todos os documentos que precisamos enviar.
extensão de sentido, “protocolo” significa também um  trâmite
a ser seguido para alcançar determinado objetivo (“seguir o 04. A respeito dos padrões de redação de um ofício, é
protocolo”). INCORRETO afirmar que:
A gestão do protocolo é normalmente confiada a uma (A) Deve conter o número do expediente, seguido da sigla do
repartição determinada, que recebe o material documentário órgão que o expede.
do sujeito que o produz em saída e em entrada e os anota num (B) Deve conter, no início, com alinhamento à direita, o local
registro (atualmente em programas informáticos), atruibuindo- de onde é expedido e a data em que foi assinado.
lhes um número e também uma posição de arquivo de acordo (C) Deverá constar, resumidamente, o teor do assunto do
com suas características. documento.
O registro tem quatro elementos necessários e obrigatórios: (D) O texto deve ser redigido em linguagem clara e direta,
- Número progressivo. respeitando-se a formalidade que deve haver nos expedientes
- Data de recebimento ou de saída. oficiais.
- Remetente ou destinatário. (E) O fecho deverá caracterizar-se pela polidez, como por
- Regesto, ou seja, breve resumo do conteúdo da exemplo: Agradeço a V. Sª. a atenção dispensada.
correspondência.
05. Haveria coerência com as ideias do texto e respeitaria
as normas de redação de documentos oficiais se o texto

Língua Portuguesa 75
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APOSTILAS OPÇÃO
apresentado fosse incluído como parágrafo inicial em um ofício
complementado pelo parágrafo final e os fechos apresentados
a seguir.

Solicita-se, portanto, a divulgação desses dados junto aos


órgãos competentes.

Atenciosamente,

Pedro Santos
Pedro Santos
Secretário do Conselho

Respostas
01-C / 02-B / 03-C / 04-E / 05-C (correta)

Anotações

Língua Portuguesa 76
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LEGISLAÇÃO

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VI - gestão democrática do ensino público estadual;


VII - valorização do desempenho, da qualificação e do
conhecimento;
VIII - avanço na carreira dos profissionais da educação
básica, através da progressão funcional;
IX - período reservado ao Professor, em sua jornada de
trabalho, a estudos, planejamento e avaliação do trabalho
discente;
X - participação dos profissionais da educação básica na
elaboração, execução e avaliação do Projeto Político
Lei Estadual nº 7442/2010 Pedagógico da Escola.
que dispõe sobre o Plano de Seção III Dos Conceitos Fundamentais
Cargos, Carreira e Art. 4º Para efeito desta Lei, entende-se por:
Remuneração dos I - Plano de Cargos, Carreira e Remuneração – é o conjunto
Profissionais da Educação de normas que disciplinam o desenvolvimento do servidor na
carreira, correlacionam as respectivas classes de cargos com
Básica da Rede Pública de os níveis de escolaridade e de remuneração dos profissionais
Ensino do Estado do Pará que ocupam e que estabelecem critérios para o
desenvolvimento, mediante progressão vertical e horizontal;
II - Cargo Efetivo – é o lugar instituído na organização do
LEI N° 7.442, DE 2 DE JULHO DE 2010 serviço público, com denominação própria, atribuição e
responsabilidade específica e estipêndio correspondente, para
Dispõe sobre o Plano de Cargos, Carreira e Remuneração dos ser provido e exercido por um titular, o qual exige para
Profissionais da Educação Básica da Rede Pública de Ensino do ingresso, prévia aprovação em concurso público;
Estado do Pará e dá outras providências. III - Função Permanente – é o conjunto de atribuições de
caráter definitivo desempenhadas por servidor estável, na
A ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARÁ forma do art. 19 do Ato das Disposições Constitucionais
estatui e eu sanciono a seguinte Lei: Transitórias - ADCT da Constituição Federal de 1988;
IV - Servidor – é a pessoa física, legalmente investida em
CAPÍTULO I cargo público, com direitos, deveres, responsabilidades,
Seção I vencimento e vantagens previstas em lei;
Das Disposições Gerais V - Magistério Público – é o conjunto de cargos ocupados
por profissionais da Educação, que exercem atividades de
Art. 1º Esta Lei institui e estrutura o Plano de Cargos, docência e de suporte pedagógico, incluídas as de
Carreira e Remuneração dos Profissionais da Educação Básica administração escolar, planejamento, supervisão e orientação
da Rede Pública de Ensino do Estado do Pará. educacional, bem como assessoramento técnico e avaliação de
ensino e pesquisa;
Art. 2º Para efeito desta Lei, entendam-se integrantes do VI - Carreira – é o conjunto de classes e níveis que definem
Quadro Permanente dos Profissionais da Educação Básica da a evolução funcional e remuneratória do servidor, de acordo
Rede Pública de Ensino do Estado do Pará os seguintes cargos: com a complexidade de atribuições e grau de
I - Professor; responsabilidade;
II - Especialista em Educação; VII - Classe – é o conjunto de cargos de mesma natureza
III - Auxiliar Educacional; funcional, mesma escolaridade e/ou titulação e de mesmo
IV - Assistente Educacional. grau de responsabilidade;
Parágrafo único. Os cargos de Auxiliar Educacional e VIII - Nível – é o símbolo alfabético indicativo do valor do
Assistente Educacional serão regulamentados por lei vencimento-base fixado para a classe, que representa o
específica. crescimento funcional do servidor no plano e/ou na carreira;
IX - Grade de Vencimentos – é o conjunto de matrizes de
Seção II vencimento referente a cada cargo;
Dos Objetivos, Princípios e Garantias X - Evolução Funcional – é o desenvolvimento do servidor
na carreira através de procedimentos de progressão vertical
Art. 3º O Plano de Cargos, Carreira e Remuneração de que nas classes e progressão horizontal nos níveis;
trata esta Lei objetiva o aperfeiçoamento profissional e XI - Educação Básica – é a educação escolar composta pela
contínuo, a valorização dos profissionais da educação básica, a educação infantil, ensino fundamental e ensino médio;
percepção de remuneração digna, a melhoria do desempenho XII - Hora-Aula – é o tempo reservado à regência de classe,
profissional e da qualidade do ensino prestado à população do com a participação efetiva do aluno, realizado em sala de aula
Estado, baseado nos seguintes objetivos, princípios e ou em outros locais adequados ao processo ensino-
garantias: aprendizagem;
I - reconhecimento da importância da carreira dos XIII - Hora-Atividade – é o tempo reservado ao docente,
profissionais da educação básica e de seus agentes; cumprido na escola ou fora dela, para estudo e planejamento,
II - profissionalização, que pressupõe qualificação e destinado à avaliação do trabalho didático e à socialização de
aperfeiçoamento profissional contínuo, com remuneração experiências pedagógicas, atividades de formação continuada,
digna e condições adequadas de trabalho; reunião, articulação com a comunidade e outras atividades
III - formação continuada; estabelecidas no Projeto Político Pedagógico;
IV - promoção da educação visando o pleno XIV - Quadro Permanente – é o conjunto de cargos de
desenvolvimento da pessoa e seu preparo para o exercício da provimento efetivo dos profissionais da educação básica
cidadania; escolar;
V - liberdade de ensinar, aprender, pesquisar e divulgar o XV - Quadro Suplementar – é o conjunto de cargos de
pensamento, a arte e o saber, dentro dos ideais de democracia; provimento efetivo ou de funções permanentes do Magistério,

Legislação 1
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APOSTILAS OPÇÃO

não enquadrados no Quadro Permanente instituído por esta requerer progressão funcional após o cumprimento do estágio
Lei; probatório, sendo-lhe permitida, neste caso, a progressão
XVI - Enquadramento – é o posicionamento do servidor imediata para a Classe correspondente à sua titulação,
ocupante de cargo efetivo em cargo, classe e nível de observadas as regras de progressão dispostas nesta Lei.
vencimento, do Quadro Permanente do Magistério instituído
por esta Lei, em face da tabela de correlação de cargos. Seção II
Parágrafo único. Trabalhadores da Educação são Do Desenvolvimento na Carreira
profissionais que direta ou indiretamente atuam na escola,
seja desenvolvendo as funções do Magistério, seja na atividade Art. 9º O desenvolvimento na carreira ocorrerá mediante:
meio, dando suporte administrativo e operacional. I - o atendimento das condições estabelecidas no plano de
qualificação profissional;
CAPÍTULO II II - aprovação na avaliação de desempenho funcional.
ESTRUTURA, CARGOS E CARREIRA Seção III
Da Avaliação de Desempenho Funcional
Art. 5º Os cargos da carreira do Magistério são
estruturados em classes, assim considerados: Art. 10. A avaliação de desempenho do profissional do
I - Professor: Magistério e do sistema de ensino, que leve em conta entre
a) Classe Especial: formação de nível médio na modalidade outros fatores, a objetividade, que é a escolha de requisitos que
normal; possibilitem a análise de indicadores qualitativos e
b) Classe I: formação de nível superior em curso de quantitativos, a transparência, que assegura que o resultado
licenciatura, de graduação plena; da avaliação possa ser analisado pelo avaliado e pelos
c) Classe II: formação em nível superior em curso de avaliadores, com vistas à superação das dificuldades
licenciatura, de graduação plena, acrescida de pós-graduação detectadas para o desempenho profissional ou do sistema, a
obtida em curso de especialização na Educação com duração ser realizada com base no princípio da amplitude.
mínima de 360 (trezentos e sessenta) horas; Parágrafo único. A avaliação deve incidir sobre todas as
d) Classe III: formação em nível superior em curso de áreas de atuação do sistema de ensino que compreendem:
licenciatura, de graduação plena, acrescida de mestrado na I - a formulação das políticas educacionais;
área de educação; II - a aplicação delas pelas redes de ensino;
e) Classe IV: formação em nível superior em curso de III - o desempenho dos profissionais do Magistério;
licenciatura, de graduação plena, acrescida de doutorado na IV - a estrutura escolar;
área de educação. V - as condições sócio educativas dos educandos;
II - Especialista em Educação: VI - outros critérios que os sistemas considerarem
a) Classe I: formação de nível superior em curso de pertinentes;
licenciatura, de graduação plena; VII - os resultados educacionais da escola.
b) Classe II: formação em nível superior em curso de
licenciatura, de graduação plena, acrescida de pós-graduação Art. 11. Os procedimentos para execução da avaliação de
obtida em curso de especialização na Educação com duração desempenho funcional serão objeto de regulamentação por
mínima de 360 (trezentos e sessenta) horas; parte do Poder Executivo, por lei específica assegurando-se ao
c) Classe III: formação em nível superior em curso de servidor a recorribilidade das decisões.
licenciatura, de graduação plena, acrescida de mestrado na
área de educação; Seção IV
d) Classe IV: formação em nível superior em curso de Comissão Permanente de Avaliação de Desempenho
licenciatura, de graduação plena, acrescida de doutorado na Funcional
área de educação.
Art. 12. A comissão permanente de avaliação de
Art. 6º As classes de que trata o art. 5º desdobram-se em desempenho funcional será composta por cinco servidores
doze Níveis, definidos de “A” a “L”, cuja evolução funcional dar- estáveis, integrantes do Quadro Permanente do Magistério,
se-á mediante critérios de avaliação de desempenho e designados por ato do Secretário de Estado de Educação, pelo
participação em programas de desenvolvimento profissional. período de até dois anos, prorrogável, uma única vez, por igual
período e terá as seguintes competências:
Art. 7º Os cargos do Quadro Permanente da Rede Pública I - incentivar, coordenar e acompanhar o processo de
de Ensino do Estado do Pará são os descritos no Anexo I desta avaliação de desempenho funcional;
Lei. II - apreciar assuntos concernentes ao desenvolvimento
Parágrafo único. As atribuições gerais e os requisitos de dos profissionais da educação na carreira compreendendo as
escolaridade exigidos para os cargos tratados no caput deste progressões;
artigo estão descritos no Anexo II desta Lei. III - desenvolver estudos e análises, que subsidiem
informações para fixação e aperfeiçoamento da política de
CAPÍTULO III pessoal;
DO PROVIMENTO E DESENVOLVIMENTO NA IV - planejar, organizar e coordenar o sistema de avaliação
CARREIRA de desempenho funcional dos servidores alcançados por esta
Seção I Lei;
Do Ingresso V - examinar e emitir parecer conclusivo sobre os pedidos
de progressão funcional;
Art. 8º O ingresso no cargo de Professor ou Especialista em VI - acompanhar o enquadramento e sua revisão anual dos
Educação da carreira do Magistério Público de que trata esta servidores da educação;
Lei dar-se-á, obrigatoriamente, sempre na Classe I, Nível A, VII - responder às consultas relativas às matérias de sua
mediante aprovação em concurso público de provas, ou de competência;
provas e títulos. VIII - analisar os recursos administrativos dos servidores,
Parágrafo único. O servidor que ingressar na carreira com cabendo ao Secretário de Estado de Educação deliberar;
titulação correspondente às Classes II, III e IV, somente poderá

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IX - criar subcomissão por URES – Unidade Regional de IV - participação em eventos científicos;


Educação, composta por cinco servidores estáveis e efetivos, V - participação em programas de formação e/ou
pelo período de até dois anos, admitida uma única qualificação profissional relacionados à educação.
prorrogação, por igual período, para conduzir o processo de § 1º Os critérios estabelecidos neste dispositivo serão
avaliação na Unidade Regional. especificados e terão pontuação individual atribuída por meio
Parágrafo único. Os membros da Comissão Permanente de de decreto do Poder Executivo.
Avaliação de Desempenho Funcional e Subcomissões § 2º Os cursos de pós-graduação lato sensu e stricto sensu,
exercerão suas funções sem prejuízo das suas atividades para os fins previstos nesta Lei, somente serão considerados
técnicas e docentes e sem direito à remuneração excedente, se ministrados por instituição autorizada ou reconhecida por
sendo-lhes assegurado horário de trabalho compatível com o órgãos competentes e, quando realizados no exterior, se forem
funcionamento da Comissão. revalidados por instituição brasileira, conforme legislação
especifica.
Seção V
Da Progressão Funcional Art. 17. A Progressão Funcional Vertical ocorrerá mediante
abertura de processo anualmente promovido pela Secretaria
Art. 13. A progressão funcional dos servidores de que trata de Estado de Educação, e dar-se-á através de solicitação do
esta Lei ocorrerá de forma horizontal e vertical. servidor junto à comissão permanente de avaliação de
Parágrafo único. O servidor ocupante do cargo de desempenho funcional, condicionada à disponibilidade
Professor, Classe Especial, somente concorrerá à progressão orçamentária.
horizontal.
Art. 18. O servidor que ocupar dois cargos do Quadro
Subseção I Permanente do Magistério, nos termos das disposições
Da Progressão Funcional Horizontal constitucionais que tratam do acúmulo remunerado de cargos
públicos, poderá utilizar a mesma titulação para fins de
Art. 14. A progressão funcional horizontal dar-se-á de progressão funcional vertical em ambos os cargos.
forma alternada, ora automática, ora mediante a avaliação de
desempenho a cada interstício de três anos. Art. 19. A titulação utilizada para fins de progressão
§ 1º A primeira progressão na carreira dar-se-á de forma funcional vertical não poderá ser utilizado para efeito de
automática mediante a aprovação no estágio probatório. progressão funcional horizontal.
§ 2º Caso a disponibilidade orçamentária e financeira
limite o número de progressões horizontais, o Estado ficará Art. 20. O servidor somente fará jus às progressões
obrigado a efetivá-las em até um ano a contar da data em que funcionais tratadas nesta Lei, após a sua aprovação em estágio
o servidor tenha adquirido o direito, lhe sendo resguardado os probatório e confirmação na carreira.
pagamentos retroativos a data em que tenha satisfeito os
requisitos para obtê-la. Art. 21. Ato do Poder Executivo regulamentará o processo
§ 3º Caso a Secretaria de Estado de Educação - SEDUC, não de avaliação de desempenho.
proceda a avaliação de desempenho, o servidor progredirá
automaticamente para o próximo nível na carreira, sem Seção VI
prejuízo das progressões futuras. Da Formação e Qualificação Profissional

Art. 22. A qualificação profissional ocorrerá por iniciativa


do servidor ou incentivo do Governo do Estado, com base no
Subseção II levantamento prévio das necessidades da instituição, tendo
Da Progressão Funcional Vertical em vista atividades que primem pela valorização do
profissional do Magistério mediante a integração, atualização
Art. 15. A progressão funcional vertical dar-se-á pela e o aperfeiçoamento profissional, objetivando a melhoria da
passagem do servidor de uma classe para outra, habilitando- qualidade do ensino público.
se os candidatos à progressão de acordo com a titulação
acadêmica obtida na área da educação, na seguinte forma:
I - a progressão para a Classe II ocorrerá mediante a
obtenção do título de pós-graduação lato sensu, Especialização, Art. 23. A qualificação profissional deverá atender aos
com carga horária mínima de 360 (trezentos e sessenta) horas, seguintes programas:
na área da educação; I - programa de integração à administração pública
aplicado a todos os servidores do quadro permanente da rede
II - a progressão para a Classe III ocorrerá mediante a pública de ensino, para informar sobre a estrutura e
obtenção do título de pós-graduação stricto sensu, Mestrado na
organização da administração pública da Secretaria de Estado
área da educação;
de Educação, dos direitos e deveres definidos na legislação
III - a progressão para a Classe IV ocorrerá mediante a estadual e sobre o Plano Estadual de Educação e Plano
obtenção do título de pós-graduação stricto sensu, Doutorado Nacional de Educação;
na área da educação. II - programa de capacitação aplicado aos servidores para
Parágrafo único. Será mantido o mesmo nível em que incorporação de novos conhecimentos e habilidades,
estiver situado o servidor, por ocasião de sua progressão para decorrentes de inovações científicas e tecnológicas ou de
outra Classe, conforme tratada neste artigo. alteração da legislação, normas e procedimentos específicos
ao desempenho do seu cargo ou função;
Art. 16. Caso a disponibilidade orçamentária limite o III - programa de desenvolvimento destinado à
número de vagas à progressão vertical, serão observados os incorporação de conhecimentos e habilidades técnicas
seguintes critérios para seleção dos candidatos inscritos: inerentes ao cargo, através de cursos regulares oferecidos pela
I - produção acadêmica; Instituição;
II - produção bibliográfica; IV - programa de aperfeiçoamento aplicado aos servidores
III - atuação em missões institucionais; com a finalidade de incorporação de conhecimentos

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complementares, de natureza especializada, relacionados ao FUNCAP, não exigindo que o servidor seja colocado à
exercício ou desempenho do cargo ou função, podendo constar disposição destes órgãos.
de cursos regulares, seminários, palestras, simpósios,
congressos e outros eventos similares reconhecidos pela Art. 30. O servidor que exercer suas atividades no Sistema
SEDUC; de Organização Modular de Ensino - SOME, fará jus a
V - programas de desenvolvimento gerencial destinados gratificação no valor correspondente a 100% (cem por cento)
aos ocupantes de cargos de direção, gerência, assessoria e sobre o vencimento-base acrescido da gratificação de
chefia, para habilitar os servidores ao desempenho eficiente escolaridade, repercutindo sobre a parcela salarial referente a
das atribuições inerentes ao cargo ou função. férias e ao décimo terceiro salário.
Parágrafo único. Lei específica do Poder Executivo
Art. 24. A qualificação profissional de que trata esta Lei estabelecerá sobre o Sistema de Organização Modular de
será regulamentada por Decreto do Poder Executivo. Ensino.

CAPÍTULO IV Art. 31. A gratificação de titularidade será devida em razão


DA REMUNERAÇÃO do aprimoramento da qualificação do servidor do Magistério,
Seção I e será calculada sobre o vencimento-base do cargo, à razão de:
Do Plano de Remuneração I - 30% (trinta por cento) para o possuidor de Diploma de
Doutorado;
Art. 25. A remuneração dos servidores de que trata esta Lei II - 20% (vinte por cento) para o possuidor de Diploma de
corresponderá ao vencimento da Classe e nível do cargo que Mestrado;
ocupa, observada a jornada de trabalho, acrescida dos III - 10% (dez por cento) para o possuidor de Curso de
adicionais e gratificações a que fizer jus. Especialização em Educação.
§ 1º Os cargos de que trata esta Lei terão seus vencimentos § 1º Entende-se por aprimoramento de qualificação, para
iniciais fixados a partir do Nível A, da Classe I, e para as demais efeito do disposto neste artigo, a conclusão de cursos de pós-
Classes conforme a seguir: graduação em educação e áreas afins.
I - O vencimento inicial da Classe II, Nível A corresponderá § 2º Os percentuais constantes dos incisos I, II e III não são
ao valor do vencimento inicial da Classe I, acrescido de 1,5% cumulativos, o maior excluindo o menor.
(um por cento e cinco décimos);
II - O vencimento inicial da Classe III, Nível A Art. 32. A gratificação de Magistério será devida ao
corresponderá ao valor do vencimento inicial da Classe II, servidor ocupante do cargo de Professor, que se encontrar em
acrescido de 1,5% (um por cento e cinco décimos); regência de Classe, e corresponderá a 10% (dez por cento) do
III - O vencimento inicial da Classe IV, Nível A vencimento.
corresponderá ao valor do vencimento inicial da Classe III, Parágrafo único. A gratificação de que trata o caput deste
acrescido de 1,5% (um por cento e cinco décimos). artigo será paga no percentual de 50% (cinquenta por cento),
§ 2º A diferença de vencimento entre os níveis, no caso da para o Professor de Educação Especial.
progressão horizontal, corresponderá ao acréscimo de 0,5%
(zero vírgula cinco décimos percentuais), de um nível para o Art. 33. Ao cargo de Professor, Classe Especial será
outro, utilizando-se como base de cálculo, sempre, o atribuído vantagem pecuniária progressiva, desde que
vencimento do Nível A da respectiva Classe. habilitado em curso de licenciatura plena, no percentual de
10% (dez por cento) do vencimento-base, majorado a cada ano
Art. 26. Para efeito de fixação do vencimento do servidor no mesmo percentual cumulativo, até o limite de 50%
ocupante do cargo de Professor que optar pelas cargas (cinquenta por cento), sendo que a primeira concessão da
horárias de 30 (trinta) ou 40 (quarenta) horas semanais, será vantagem se dará no ano da vigência desta Lei.
considerada a proporcionalidade do vencimento fixado para a
carga horária de 20 (vinte) horas semanais, conforme a grade Art. 34. A gratificação de direção será devida ao servidor,
de vencimentos, constante do Anexo III desta Lei. pelo exercício de funções de direção e de vice direção escolar;
direção de escola-sede, de unidade da Secretaria de Estado de
Art. 27. A remuneração do Cargo de Especialista em Educação na escola, de unidade regional de ensino; e de
Educação será equivalente a atribuída ao Cargo de Professor, secretário de unidade, na forma estabelecida pela Lei nº 7.107,
para uma jornada de 30 (trinta) ou 40 (quarenta) horas de 12 de fevereiro de 2008.
semanais. CAPÍTULO V
DO REGIME DE TRABALHO
Art. 28. As aulas suplementares, bem como, os abonos
pecuniários creditados em favor do Grupo Ocupacional do Art. 35. O servidor ocupante de cargo de Professor, em
Magistério, serão regulamentadas através de lei específica regência de classe, submeter-se-á às jornadas de trabalho a
num período de até cento e oitenta dias, a contar da vigência seguir:
desta Lei, com a participação de comissão paritária composta I - jornada parcial semanal de 20 (vinte) horas; II - jornada
por seis membros, com representantes do Poder Executivo e parcial semanal de 30 (trinta) horas;
dos Trabalhadores em Educação. III - jornada integral semanal de 40 (quarenta) horas.
§ 1º As jornadas de trabalho previstas neste artigo
Seção II compreendem as horas-aula e as horas-atividade.
Das Vantagens § 2º A hora-atividade corresponderá ao percentual de 20%
(vinte por cento) da jornada de trabalho, com a majoração
Art. 29. O servidor da SEDUC que exercer suas atividades desse percentual para 25% (vinte e cinco por cento) até quatro
na SUSIPE - Superintendência do Sistema Penal e na FUNCAP - anos da vigência desta Lei.
Fundação da Criança e do Adolescente, fará jus a gratificação § 3º Ao Professor que não se encontrar no exercício da
de risco de vida e alta complexidade no valor equivalente a 50 regência de classe será atribuída a jornada de trabalho
% (cinquenta por cento) do vencimento-base. estabelecida no inciso III deste artigo, excluída a hora-
Parágrafo único. A vantagem de que trata este artigo faz atividade.
parte de programas instituídos no âmbito da SUSIPE e da

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Art. 36. A atribuição das jornadas de trabalho I - Sistema de Organização Modular de Ensino, a ser
estabelecidas no artigo anterior levará em consideração a encaminhado ao Poder Legislativo até o final do ano de 2010;
disponibilidade de carga horária e a opção do Professor, II - abrangência, direitos e obrigações dos cargos de que
conforme regulamentação em vigor. trata o Parágrafo único do art. 2º desta Lei, a ser elaborada por
§ 1º A jornada de trabalho do Grupo Ocupacional do comissão composta por membros do Poder Executivo e dos
Magistério será cumprida, prioritariamente, numa única Trabalhados em Educação, instituída no mês de outubro de
unidade de ensino. 2010, e a ser encaminhada até o mês de maio de 2011;
§ 2º Caso não seja possível o cumprimento do disposto no III - aulas suplementares e abono pecuniários no prazo de
parágrafo anterior, a jornada de trabalho deverá ser cento e oitenta dias a contar da vigência desta Lei, elaborada
completada em projetos a serem regulamentados pela por meio de comissão paritária composta por seis membros,
Secretaria de Estado de Educação, no âmbito da unidade de com representantes do Poder Executivo e dos Trabalhadores
ensino em que esteja lotado o servidor, ou ainda, em caráter em Educação.
suplementar, a jornada de trabalho deverá ser complementada
em outra unidade de ensino. Subseção II
Do Quadro Suplementar
Art. 37. O servidor ocupante do cargo de Especialista em
Educação submeter-se-á à jornada de trabalho de 30 (trinta) Art. 46. O Quadro Suplementar da Carreira do Magistério é
ou 40 (quarenta) horas semanais. composto por cargos efetivos, em extinção, conforme Anexo V.
Parágrafo único. O vencimento do servidor integrante do
CAPÍTULO VI Quadro Suplementar de que trata o caput deste artigo, do
DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS E FINAIS ocupante de função permanente do Magistério e do não
Seção I optante pelo enquadramento de que trata o art. 38
Das Disposições Transitórias corresponderá ao vencimento da Classe I, Nível A, ou da Classe
Subseção I Especial, Nível A, do cargo efetivo cujo requisito de
Do Enquadramento escolaridade seja compatível com a do cargo efetivo ou função
permanente que ocupa, mantidas todas as demais vantagens
Art. 38. O enquadramento de servidor ocupante de cargo percebidas na ocasião.
efetivo do Magistério no Quadro Permanente deste plano de
cargos, carreira e remuneração ocorrerá mediante a Art. 47. Fica vedada a realização de concurso público para
correlação de cargos estabelecida no Anexo IV, desta Lei. provimento de vagas dos cargos efetivos do Quadro
Parágrafo único. O servidor ocupante de cargo efetivo, que Suplementar, os quais serão declarados extintos à medida que
optar pelo não enquadramento de que trata o caput deste vagarem.
artigo, passará a integrar o Quadro Suplementar, que após a
sua vacância será transferido para o Quadro Permanente do Seção II
Magistério, observada a tabela de correlação constante desta Das Disposições Finais
Lei.
Art. 48. As despesas decorrentes da aplicação desta
Art. 39. O servidor que se encontrar em uma das situações Lei correrão à conta da dotação orçamentária destinada à
de afastamento consideradas como de efetivo exercício, nos manutenção do desenvolvimento da educação básica.
termos da Lei nº 5.810, de 24 de janeiro de 1994 será
enquadrado, na forma do art. 34. Art. 49. O servidor ocupante de cargo efetivo não mais fará
jus à percepção do abono salarial concedido pelo Governo do
Art. 40. O servidor ocupante de cargo efetivo que se Estado por meio do Decreto nº 2.839, de 25 de maio de 1998,
encontrar à disposição de outro órgão ou entidade, com ou a partir do momento do seu enquadramento no Quadro
sem ônus, no âmbito dos Poderes da União, Estados, Permanente do Magistério, de que trata esta Lei.
Municípios e Distrito Federal, somente será enquadrado nos
termos desta Lei, após o seu retorno às funções junto à Art. 50. Aplicam-se subsidiariamente as disposições da Lei
Secretaria de Estado de Educação. nº 5.351, de 21 de novembro de 1986 e da Lei nº 5.810, de 24
Parágrafo único. Excetua-se do caput deste artigo o de janeiro de 1994, no que não forem incompatíveis com as
servidor que se encontrar à disposição das prefeituras definidas nesta Lei.
municipais do Estado, em face do processo de municipalização
do ensino. Art. 51. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 41. O enquadramento de que trata esta Lei não PALÁCIO DO GOVERNO, 2 julho de 2010.
implicará redução do vencimento-base atualmente percebido,
salvo quando houver redução da jornada de trabalho.

Art. 42. O ato de enquadramento é sujeito a recurso na


forma do regulamento.

Art. 43. Para efeito do enquadramento do servidor será


considerada a titulação e o tempo de efetivo exercício no cargo
do Magistério que atualmente ocupa.

Art. 44. O servidor enquadrado passará a perceber o


vencimento e demais vantagens a que fizer jus, após a
publicação do ato de enquadramento.

Art. 45. Leis específicas do Poder Executivo tratarão dos


seguintes assuntos:

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ANEXO I 8. Participa da elaboração, execução e avaliação do


QUADRO PERMANENTE DA CARREIRA DO GRUPO projeto pedagógico, do planejamento geral da escola e das
OCUPACIONAL DO propostas curriculares;
MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE 9. Apresenta propostas e contribui para o
PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DO PARÁ melhoramento da qualidade de ensino;
10. Participa da escolha do livro didático;
11. Participa de palestras, seminários, congressos,
encontros pedagógicos, capacitações, cursos, e outros eventos
da área educacional e correlatos; Fl. 2 do Anexo II
12. Acompanha e orienta estagiários;
13. Zela pela integridade física e moral do aluno;
14. Participa de reuniões interdisciplinares;
15. Confecciona material didático;
16. Realiza atividades extra classe em bibliotecas,
museus, laboratórios e outros;
17. Avalia e participa do encaminhamento dos alunos
portadores de necessidades especiais, para os setores
específicos de atendimento;
18. Participa do processo de inclusão do aluno portador
de necessidades especiais no ensino regular;
19. Propicia aos educandos, portadores de necessidades
especiais, a sua preparação profissional, orientação e
encaminhamento para o mercado de trabalho;
20. Incentiva os alunos a participarem de concursos,
feiras de cultura, grêmios estudantis e similares;
21. Realiza atividades de articulação da escola com a
família do aluno e a comunidade;
ANEXO II
22. Orienta e incentiva o aluno para a pesquisa;
DESCRIÇÃO DO QUADRO PERMANENTE DO GRUPO
23. Participa do conselho de classe;
OCUPACIONAL DO
24. Prepara o aluno para o exercício da cidadania;
MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE
25. Incentiva o gosto pela leitura;
PÚBLICA DE
26. Desenvolve a auto estima do aluno;
ENSINO DO ESTADO DO PARÁ
27. Participa da elaboração e aplicação do regimento da
escola;
CARGO: PROFESSOR
28. Orienta o aluno quanto à conservação da escola e dos
seus equipamentos;
DESCRIÇÃO SUMÁRIA
29. Contribui para a aplicação da política pedagógica do
Estado e o cumprimento da legislação de ensino;
Exerce à docência na Rede Pública de Ensino do Estado do
30. Propõe a aquisição de equipamentos que venham
Pará, transmitindo os conteúdos pertinentes de forma
favorecer às atividades de ensino-aprendizagem;
integrada, proporcionando ao aluno condições de exercer sua
31. Planeja e realiza atividades de recuperação para os
cidadania;
alunos de menor rendimento; Fl. 3 do Anexo II
Planeja, coordena, avalia e reformula o processo
32. Analisa dados referentes à recuperação, aprovação,
ensino/aprendizagem, e propõe estratégias metodológicas
reprovação e evasão escolar;
compatíveis com os programas a serem operacionalizados;
33. Participa de estudos e pesquisas em sua área de
Desenvolve o educando para o exercício pleno de sua
atuação;
cidadania, proporcionando a compreensão de co-participação
34. Zela pelo cumprimento da legislação escolar e
e co-responsabilidade de cidadão perante sua comunidade,
educacional;
Município, Estado e País, tornando-o agente de transformação
35. Zela pela manutenção e conservação do patrimônio
social.
escolar;
36. Participa da gestão democrática da unidade escolar;
DESCRIÇÃO DETALHADA
37. Executa outras atividades correlatas;
38. Participa de programa de treinamento, quando
1. Planeja e ministra aulas nos dias letivos e horas-aula
convocado.
estabelecidos, além de participar integralmente dos períodos
dedicados ao planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento
REQUISITO DE ESCOLARIDADE
profissional;
2. Seleciona, apresenta e revisa conteúdos;
Graduação em Licenciatura Plena para atuação nos
3. Avalia o rendimento dos alunos de acordo com o
diferentes níveis e modalidades de ensino.
regimento escolar;
Para atuação na Educação Especial será exigido curso de
4. Mantém atualizados os registros de aula, frequência
especialização na área.
e de aproveitamento escolar do aluno;
5. Informa aos pais e responsáveis sobre a frequência e
CARGO: ESPECIALISTA EM EDUCAÇÃO
aproveitamento dos alunos, bem como sobre a execução de
sua proposta pedagógica;
DESCRIÇÃO SUMÁRIA
6. Participa de atividades cívicas, sociais, culturais e
esportivas;
Implementa a execução, avalia e coordena a construção ou
7. Participa de reuniões pedagógicas e técnico-
reconstrução do projeto pedagógico de educação básica com a
administrativas;
equipe escolar;

Legislação 6
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APOSTILAS OPÇÃO

Viabiliza o trabalho pedagógico coletivo e facilita o 29. Sistematiza os processos de coleta de dados relativos
processo comunicativo da comunidade escolar e de ao educando através de assessoramento aos Professores,
associações a ela vinculadas; favorecendo a construção coletiva do conhecimento sobre a
Elabora projetos pedagógicos especiais; realidade do aluno;
Exerce atividades técnico-pedagógicas que dão 30. Acompanha e orienta pedagogicamente a utilização
diretamente suporte às atividades de ensino; de recursos tecnológicos nas unidades escolares;
Gerencia, planeja, organiza e coordena a execução de 31. Promove o intercâmbio entre Professor, aluno,
propostas administrativo-pedagógicas, possibilitando o equipe técnica e administrativa, e conselho escolar;
desempenho satisfatório das atividades docentes e discentes. 32. Trabalha o currículo, enquanto processo
interdisciplinar e viabilizador da relação
DESCRIÇÃO DETALHADA transmissão/produção de conhecimentos, em consonância
com o contexto sócio-político-econômico;
1. Elabora, participa e executa estudos, pesquisas e 33. Conhece os princípios norteadores de todas as
projetos pertinentes à sua área de atuação; disciplinas que compõem os currículos da educação básica;
2. Participa da promoção e coordenação de reuniões 34. Desenvolve pesquisa de campo, promovendo visitas,
com o corpo docente e discente da unidade escolar; consultas e debates, estudos e outras fontes de informação, a
3. Assegura o cumprimento dos dias letivos e horas- fim de colaborar na fase de discussão do currículo pleno da
aula estabelecidas; Fl. 4 do Anexo II escola;
4. Estimula o uso de recursos tecnológicos e o 35. Busca a modernização dos métodos e técnicas
aperfeiçoamento dos recursos humanos; utilizados pelo pessoal docente, sugerindo sua participação em
5. Elabora relatórios de dados educacionais; programas de capacitação e demais eventos;
6. Participa do processo de lotação numérica; 36. Assessora o trabalho docente na busca de soluções
7. Zela pela integridade física e moral do aluno; para os problemas de reprovação e evasão escolar;
8. Participa e coordena as atividades de planejamento 37. Contribui para o aperfeiçoamento do ensino e da
global da escola; aprendizagem desenvolvida pelo Professor em sala de aula, na
9. Participa da elaboração, execução, acompanhamento elaboração e implementação do projeto educativo da escola,
e avaliação de políticas de ensino, de propostas curriculares e consubstanciado numa educação transformadora;
do projeto pedagógico da escola; 38. Coordena as atividades de elaboração do regimento
10. Estabelece parcerias para desenvolvimento de escolar; Fl. 6 do Anexo II
projetos; 39. Participa da análise e escolha do livro didático;
11. Articula-se com órgãos gestores de educação e 40. Acompanha e orienta estagiários;
outros; 41. Participa de reuniões interdisciplinares;
12. Participa da elaboração do currículo e calendário 42. Avalia e participa do encaminhamento dos alunos
escolar; portadores de necessidades especiais, para os setores
13. Incentiva os alunos a participarem de concursos, específicos de atendimento;
feiras de cultura, grêmios estudantis e outros; 43. Promove a inclusão do aluno portador de
14. Participa da análise do plano de organização das necessidades especiais no ensino regular;
atividades dos Professores, como: distribuição de turmas, 44. Propicia aos educandos portadores de necessidades
horas-aula, horas-atividade, disciplinas e turmas sob a especiais a sua preparação profissional, orientação e
responsabilidade de cada Professor; encaminhamento para o mercado de trabalho;
15. Mantém intercâmbio com outras instituições de 45. Coordena a elaboração, execução e avaliação de
ensino; projetos pedagógicos e administrativos da escola;
16. Participa de reuniões pedagógicas e técnico- 46. Trabalha a integração social do aluno;
administrativas; 47. Traça o perfil do aluno, através de observação,
17. Acompanha e orienta o corpo docente e discente da questionários, entrevistas e outros;
unidade escolar; 48. Auxilia o aluno na escolha de profissões, levando em
18. Participa de palestras, seminários, congressos, consideração a demanda e a oferta no mercado de trabalho;
encontros pedagógicos, capacitações, cursos e outros eventos 49. Orienta os Professores na identificação de
da área educacional e correlato; comportamentos divergentes dos alunos, levantando e
19. Coordena as atividades de integração da escola com selecionando, em conjunto, alternativas de soluções a serem
a família e a comunidade; adotadas;
20. Coordena conselho de classe; 50. Divulga experiências e materiais relativos à
21. Contribui na preparação do aluno para o exercício da educação;
cidadania; 51. Promove e coordena reuniões com o corpo docente,
22. Zela pelo cumprimento da legislação escolar e discente e equipes administrativas e pedagógicas da unidade
educacional; escolar;
23. Zela pela manutenção e conservação do patrimônio 52. Programa, realiza e presta contas das despesas
escolar; Fl. 5 do Anexo II efetuadas com recursos diversos;
24. Contribui para aplicação da política pedagógica do 53. Coordena, acompanha e avalia as atividades
Estado e o cumprimento da legislação de ensino; administrativas e técnico-pedagógicas da escola;
25. Propõe a aquisição de equipamentos que assegurem 54. Orienta escolas na regularização e nas normas legais
o funcionamento satisfatório da unidade escolar; referentes ao currículo e à vida escolar do aluno;
26. Planeja, executa e avalia atividades de capacitação e 55. Acompanha estabelecimentos escolares, avaliando o
aperfeiçoamento de pessoal da área de educação; desempenho de seus componentes e verificando o
27. Apresenta propostas que visem à melhoria da cumprimento de normas e diretrizes para garantir eficácia do
qualidade do ensino; processo educativo;
28. Contribui para a construção e operacionalização de 56 Elabora documentos referentes à vida escolar dos
uma proposta pedagógica que objetiva a democratização do alunos de escolas extintas;
ensino, através da participação efetiva da família e demais
segmentos da sociedade;

Legislação 7
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APOSTILAS OPÇÃO

57. Participa da avaliação do grau de produtividade atingido pela escola e pelo Sistema Público de Ensino do Estado,
apresentando subsídios para tomada de decisões a partir dos resultados das avaliações;
58. Participa da gestão democrática da unidade escolar;
59. Executa outras atividades correlatas;
60. Elabora relatórios e laudos técnicos em sua área de especialidade;
61. Participa de programa de treinamento, quando convocado.

REQUISITO DE ESCOLARIDADE

Habilitação específica, obtida em curso de Graduação em Pedagogia.

ANEXO III
GRADE DE VENCIMENTOS
QUADRO PERMANENTE DO GRUPO OCUPACIONAL DO MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
BÁSICA DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DO PARÁ

Legislação 8
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APOSTILAS OPÇÃO

ANEXO IV
TABELA DE CORRELAÇÃO COM O QUADRO PERMANENTE DO GRUPO
OCUPACIONAL DO MAGISTÉRIO DA EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DO PARÁ

ANEXO V
QUADRO SUPLEMENTAR DA CARREIRA DOS PROFISSIONAIS
DA EDUCAÇÃO BÁSICA DA REDE PÚBLICA DE ENSINO DO ESTADO DO PARÁ

Legislação 9
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APOSTILAS OPÇÃO

Questões Parágrafo único. As suas disposições aplicam-se aos


servidores dos Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, do
01. De acordo com a Lei 7442/2010 entende-se por Cargo Ministério Público e dos Tribunais de Contas.
Efetivo, o conjunto de atribuições de caráter definitivo
desempenhadas por servidor estável, na forma do art. 19 do Art. 2° Para os fins desta lei:
Ato das Disposições Constitucionais Transitórias - ADCT da I - servidor é a pessoa legalmente investida em cargo
Constituição Federal de 1988. público;
(....) Certo (....) Errado II - cargo público é o criado por lei, com denominação
própria, quantitativo e vencimento certos, com o conjunto de
02. De acordo com a Lei 7442/2010 entende-se por atribuições e responsabilidades previstas na estrutura
Carreira, o conjunto de cargos de mesma natureza funcional, organizacional que devem ser cometidas a um servidor;
mesma escolaridade e/ou titulação e de mesmo grau de III - categoria funcional é o conjunto de cargos da mesma
responsabilidade. natureza de trabalho;
(....) Certo (....) Errado IV - grupo ocupacional é o conjunto de categorias
funcionais da mesma natureza, escalonadas segundo a
03. Analise a Lei 7442/2010 julgue o item abaixo e marque escolaridade, o nível de complexidade e o grau de
certo ou errado: responsabilidade;
Hora-Aula é o tempo reservado ao docente, cumprido na Parágrafo único. Os cargos públicos serão acessíveis aos
escola ou fora dela, para estudo e planejamento, destinado à brasileiros que preencham os requisitos do art. 17, desta lei.
avaliação do trabalho didático e à socialização de experiências
pedagógicas, atividades de formação continuada, reunião, Art. 3° É vedado cometer ao servidor atribuições e
articulação com a comunidade e outras atividades responsabilidades diversas das inerentes ao seu cargo, exceto
estabelecidas no Projeto Político Pedagógico. participação assentida em órgão colegiado e em comissões
(....) Certo (....) Errado legais.

04. Analise a Lei 7442/2010 julgue o item abaixo e marque Art. 4° Os cargos referentes a profissões regulamentadas
certo ou errado: serão providos unicamente por quem satisfizer os requisitos
Enquadramento é o posicionamento do servidor ocupante legais respectivos.
de cargo efetivo em cargo, classe e nível de vencimento, do TÍTULO II
Quadro Permanente do Magistério instituído por esta Lei, em DO PROVIMENTO, DO EXERCÍCIO, DA CARREIRA E DA
face da tabela de correlação de cargos. VACÂNCIA
(....) Certo (....) Errado Capítulo I - Do Provimento

Respostas Art. 5° Os cargos públicos serão providos por:


I - nomeação;
01. Resposta: Errado. II - promoção;
02. Resposta: Errado. III - reintegração;
03. Resposta: Errado. IV - transferência;
04. Resposta: Certo. V - reversão;
VI - aproveitamento;
VII - readaptação;
Lei Estadual nº 5810/1994, VIII - recondução.
que dispõe sobre o Regime Capítulo II - Da Nomeação
Jurídico Único dos Servidores Seção I - Das Formas de Nomeação
Públicos Civis da
Art. 6° A nomeação será feita:
Administração Direta, das I - em caráter efetivo, quando exigida a prévia habilitação
Autarquias e das Fundações em concurso público, para essa forma de provimento;
Públicas do Estado do Pará II - em comissão, para cargo de livre nomeação e
exoneração, declarado em lei.
Parágrafo único. A designação para o exercício de função
gratificada recairá, exclusivamente, em servidor efetivo.
LEI N° 5.810, DE 24 DE JANEIRO DE 19941
Art. 7° Compete aos Poderes Executivo, Legislativo e
Dispõe sobre o Regime Jurídico Único dos Servidores Judiciário, ao Ministério Público e aos Tribunais de Contas na
Públicos Civis da Administração Direta, das Autarquias e das área de sua competência, prover, por ato singular, os cargos
Fundações Públicas do Estado do Pará. públicos.
A Assembleia Legislativa do Estado do Pará estatui e eu Art. 8° O ato de provimento conterá, necessariamente, as
sanciono a seguinte lei: seguintes indicações, sob pena de nulidade e responsabilidade
de quem der a posse:
TÍTULO I - DAS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES I - modalidade de provimento e nome completo do
interessado;
Art. 1° Esta lei institui o Regime Jurídico Único e define os II - denominação de cargo e forma de nomeação;
direitos, deveres, garantias e vantagens dos Servidores III - fundamento legal.
Públicos Civis do Estado, das Autarquias e das Fundações
Públicas.

1 SEAD – Secretaria do Estado de Administração do Pará. Disponível em:

http://www.sead.pa.gov.br/sites/default/files/RJU_atual._06-05-2010.pdf.

Legislação 10
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APOSTILAS OPÇÃO

Seção II - Do Concurso § 3º Equipe multiprofissional avaliará a compatibilidade


entre as atribuições do cargo e a deficiência do candidato
Art. 9° A investidura em cargo de provimento efetivo durante o estágio probatório. (NR)
depende de aprovação prévia em concurso público de provas
ou de provas e títulos, observado o disposto no art. 4° desta lei. Art. 15. A administração proporcionará aos portadores de
deficiência, condições para a participação em concurso de
Art. 10. A aprovação em concurso público gera o direito à provas ou de provas e títulos.
nomeação, respeitada a ordem de classificação dos candidatos Parágrafo único. Às pessoas portadoras de deficiência é
habilitados. assegurado o direito de inscrever-se em concurso público para
§ 1° Terá preferência para a ordem de classificação o provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com
candidato já pertencente ao serviço público estadual e, a deficiência de que são portadoras, às quais serão reservadas
persistindo a igualdade, aquele que contar com maior tempo até 20% (vinte por cento), das vagas oferecidas no concurso.
de serviço público ao Estado
§ 2° Se ocorrer empate de candidatos não pertencentes ao Seção III - Da Posse
serviço público do Estado, decidir-se-á em favor do mais idoso.
Art. 16. Posse é o ato de investidura em cargo público ou
Art. 11. A instrumentação e execução dos concursos serão função gratificada.
centralizadas na Secretaria de Estado de Administração, no Parágrafo único. Não haverá posse nos casos de promoção
âmbito do Poder Executivo, e nos órgãos competentes dos e reintegração.
Poderes Legislativo e Judiciário, do Ministério Público, e dos
Tribunais de Contas. Art. 17. São requisitos cumulativos para a posse em cargo
§ 1° O conteúdo programático, para preenchimento de público:
cargo técnico de nível superior poderá ser elaborado pelo I - ser brasileiro, nos termos da Constituição;
órgão solicitante do concurso. II - ter completado 18 (dezoito) anos;
§ 2° O concurso público será realizado, preferencialmente, III - estar em pleno exercício dos direitos políticos;
na sede do Município, ou na região onde o cargo será provido. IV - ser julgado apto em inspeção de saúde realizada em
§ 3° Fica assegurada a fiscalização do concurso público, em órgão médico oficial do Estado do
todas as suas fases, pelas entidades sindicais representativas Pará;
de servidores públicos. V - possuir a escolaridade exigida para o exercício do cargo;
VI - declarar expressamente o exercício ou não de cargo,
Art. 12. As provas serão avaliadas na escala de zero a dez emprego ou função pública nos órgãos e entidades da
pontos, e aos títulos, quando afins, serão atribuídos, no Administração Pública Estadual, Federal ou Municipal, para
máximo, cinco pontos. fins de verificação do acúmulo de cargos. (NR)
Parágrafo único. As provas de título, quando constantes do VII - a quitação com as obrigações eleitorais e militares;
Edital, terão caráter meramente classificatório. VIII - não haver sofrido sanção impeditiva do exercício de
cargo público.
Art. 13. O Edital do concurso disciplinará os requisitos para
a inscrição, o processo de realização, os critérios de Art. 18. A compatibilidade das pessoas portadoras de
classificação, o número de vagas, os recursos e a homologação. deficiência, de que trata o art. 15, parágrafo único, será
declarada por junta especial, constituída por médicos
Art. 14. Na realização dos concursos, serão adotadas as especializados na área da deficiência diagnosticada.
seguintes normas gerais: Parágrafo único. Caso o candidato seja considerado inapto
I - não se publicará Edital, na vigência do prazo de validade para o exercício do cargo, perde o direito à nomeação. (NR)
de concurso anterior, para o mesmo cargo, se ainda houver
candidato aprovado e não convocado para a investidura, ou Art. 19. São competentes para dar posse:
enquanto houver servidor de igual categoria em I - No Poder Executivo:
disponibilidade; a) o Governador, aos nomeados para cargos de Direção ou
II - poderão inscrever-se candidatos até 69 anos de idade; Assessoramento que lhe sejam diretamente subordinados;
III - Os concursos terão a validade de até dois anos, a contar b) os Secretários de Estado e dirigentes de Autarquias e
da publicação da homologação do resultado, no Diário Oficial, Fundações, ou a quem seja delegada competência, aos
prorrogável expressamente uma única vez por igual período. nomeados para os respectivos órgãos, inclusive, colegiados;
(NR) II - No Poder Legislativo, no Poder Judiciário, no Ministério
IV - Comprovação, no ato da posse, dos requisitos previstos Público e nos Tribunais de Contas, conforme dispuser a
no edital. (NR) legislação específica de cada Poder ou órgão.
V - participação de um representante do Sindicato dos
Trabalhadores ou de Conselho Regional de Classe das Art. 20. O ato de posse será transcrito em livro especial,
categorias afins na comissão organizadora do concurso assinado pela autoridade competente e pelo servidor
público ou processo seletivo. (NR) empossado.
§ 1º Será publicada lista geral de classificação contendo Parágrafo único. Em casos especiais, a critério da
todos os candidatos aprovados e, paralela e autoridade competente, a posse poderá ser tomada por
concomitantemente, lista própria para os candidatos que procuração específica.
concorreram às vagas reservadas aos deficientes. (NR)
§ 2º Os candidatos com deficiência aprovados e incluídos Art. 21. A autoridade que der posse verificará, sob pena de
na lista reservada aos deficientes serão chamados e responsabilidade, se foram observados os requisitos legais
convocados alternadamente a cada convocação de um dos para a investidura no cargo ou função.
candidatos chamados da lista geral até preenchimento do
percentual reservado às pessoas com deficiência no edital do Art. 22. A posse ocorrerá no prazo de 30 (trinta) dias,
concurso. (NR) contados da publicação do ato de provimento no Diário Oficial
do Estado.

Legislação 11
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APOSTILAS OPÇÃO

§ 1º O prazo para a posse poderá ser prorrogado por mais Art. 31. O servidor no exercício de cargo de provimento
quinze dias, em existindo necessidade comprovada para o efetivo, mediante a sua concordância poderá ser colocado à
preenchimento dos requisitos para posse, conforme juízo da disposição de qualquer órgão da administração direta ou
Administração. (NR) indireta, da União, do Estado, do Distrito Federal e dos
§ 2° O prazo do servidor em férias, licença, ou afastado por Municípios, com ou sem ônus para o Estado do Pará, desde que
qualquer outro motivo legal, será contado do término do observada a reciprocidade.
impedimento.
§ 3° Se a posse não se concretizar dentro do prazo, o ato de Seção V - Do Estágio Probatório
provimento será tornado sem efeito.
§ 4° No ato da posse, o servidor apresentará declaração de Art. 32. Ao entrar em exercício, o servidor nomeado para o
bens e valores que constituam seu patrimônio, e declaração cargo de provimento efetivo ficará sujeito a estágio probatório
quanto ao exercício, ou não, de outro cargo, emprego ou função por período de três anos, durante os quais a sua aptidão e
pública. capacidade serão objeto de avaliação para o desempenho do
Art. 22-A. Ao interessado é permitida a renúncia da posse, cargo, observados os seguintes fatores: (NR)
no prazo legal, sendo-lhe garantida a última colocação dentre I - assiduidade;
os classificados no correspondente concurso público. (NR) II - disciplina;
III - capacidade de iniciativa;
Seção IV - Do Exercício IV - produtividade;
V - responsabilidade;
Art. 23. Exercício é o efetivo desempenho das atribuições e § 1° Quatro meses antes do findo período do estágio
responsabilidade do cargo. probatório, será submetida à homologação da autoridade
competente a avaliação do desempenho do servidor, realizada
Art. 24. Compete ao titular do órgão para onde for de acordo com o que dispuser a lei ou regulamento do sistema
nomeado o servidor, dar-lhe o exercício. de carreira, sem prejuízo da continuidade de apuração dos
fatores enumerados nos incisos I a V deste artigo.
Art. 25. O exercício do cargo terá início dentro do prazo de § 2° O servidor não aprovado no estágio probatório será
quinze dias, contados: (NR) exonerado, observado o devido processo legal.
I - da data da posse, no caso de nomeação; § 3º O disposto no “caput” deste artigo não se aplica aos
II - da data da publicação oficial do ato, nos demais casos. servidores que já tenham entrado em exercício na data de
§ 1º Os prazos poderão ser prorrogados por mais quinze publicação desta Lei, que se sujeitam ao regime anterior. (NR)
dias, em existindo necessidade comprovada para o
preenchimento dos requisitos para posse, conforme juízo da Art. 33. O término do estágio probatório importa no
Administração. (NR) reconhecimento da estabilidade de ofício.
§ 2° Será exonerado o servidor empossado que não entrar
em exercício nos prazos previstos neste artigo. Art. 34. O servidor estável aprovado em outro concurso
público fica sujeito a estágio probatório no novo cargo.
Art. 26. O servidor poderá ausentar-se do Estado, para Parágrafo único. Ficará dispensado do estágio probatório
estudo, ou missão de qualquer natureza, com ou sem o servidor que tiver exercido o mesmo cargo público em que já
vencimento, mediante prévia autorização ou designação do tenha sido avaliado. (NR)
titular do órgão em que servir.
Capítulo III - Da Promoção
Art. 27. O servidor autorizado a afastar-se para estudo em
área do interesse do serviço público, fora do Estado do Pará, Art. 35. A promoção é a progressão funcional do servidor
com ônus para os cofres do Estado, deverá, sequentemente, estável a uma posição que lhe assegure maior vencimento
prestar serviço, por igual período, ao Estado. base, dentro da mesma categoria funcional, obedecidos os
critérios de antiguidade e merecimento, alternadamente.
Art. 28. O afastamento do servidor para participação em
congressos e outros eventos culturais, esportivos, técnicos e Art. 36. A promoção por antiguidade dar-se-á pela
científicos será estabelecido em regulamento. progressão à referência imediatamente superior, observado o
interstício de 2 (dois) anos de efetivo exercício.
Art. 29. O servidor preso em flagrante, pronunciado por
crime comum, denunciado por crime administrativo, ou Art. 37. A promoção por merecimento dar-se-á pela
condenado por crime inafiançável, será afastado do exercício progressão à referência imediatamente superior, mediante a
do cargo, até sentença final transitada em julgado. avaliação do desempenho a cada interstício de 2 (dois) anos de
§ 1º Durante o afastamento, o servidor perceberá dois efetivo exercício.
terços da remuneração, excluídas as vantagens devidas em Parágrafo único. No critério de merecimento será
razão do efetivo exercício do cargo, tendo direito à diferença, obedecido o que dispuser a lei do sistema de carreira,
se absolvido. (NR) considerando-se, em especial, na avaliação do desempenho, os
§ 2º Em caso de condenação criminal, transitada em cursos de capacitação profissional realizados, e assegurada, no
julgado, não determinante da demissão, continuará o servidor processo, a plena participação das entidades de classe dos
afastado até o cumprimento total da pena, com direito a um servidores.
terço do vencimento ou remuneração, excluídas as vantagens
devidas em razão do efetivo exercício do cargo. (NR) Art. 38. O servidor que não estiver no exercício do cargo,
ressalvadas as hipóteses consideradas como de efetivo
Art. 30. Ao servidor da administração direta, das exercício, não concorrerá à promoção.
Autarquias e das Fundações Públicas ou dos Poderes § 1° Não poderá ser promovido o servidor que se encontre
Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e dos Tribunais cumprindo o estágio probatório.
de Contas, diplomado para o exercício de mandato eletivo § 2° O servidor, em exercício de mandato eletivo, somente
federal, estadual ou municipal, aplica-se o disposto no Título terá direito à promoção por antiguidade na forma da
III, Capítulo V, Seção VII, desta lei.

Legislação 12
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APOSTILAS OPÇÃO

Constituição, obedecidas as exigências legais e Art. 49. A remoção é a movimentação do servidor ocupante
regulamentares. de cargo de provimento efetivo, para outro cargo de igual
denominação e forma de provimento, no mesmo Poder e no
Art. 39. No âmbito de cada Poder ou órgão, o setor mesmo órgão em que é lotado.
competente de pessoal processará as promoções que serão Parágrafo único. A remoção, a pedido ou ex-officio, do
efetivadas por atos específicos no prazo de 60 (sessenta) dias, servidor estável, poderá ser feita: (NR)
contados da data de abertura da vaga. I - de uma para outra unidade administrativa da mesma
Parágrafo único. O critério adotado para promoção deverá Secretaria, Autarquia, Fundação ou órgão análogo dos Poderes
constar obrigatoriamente do ato que a determinar. Legislativo e Judiciário, do Ministério Público e dos Tribunais
de Contas.
Capítulo IV - Da Reintegração II - de um para outro setor, na mesma unidade
administrativa.
Art. 40. Reintegração é o reingresso do servidor na
administração pública, em decorrência de decisão Art. 50. A redistribuição é o deslocamento do servidor, com
administrativa definitiva ou sentença judicial transitada em o respectivo cargo ou função, para o quadro de outro órgão ou
julgado, com ressarcimento de prejuízos resultantes do entidade do mesmo Poder, sempre no interesse da
afastamento. Administração. (NR)
§ 1° A reintegração será feita no cargo anteriormente § 1° A redistribuição será sempre ex-officio, ouvidos os
ocupado e, se este houver sido transformado, no cargo respectivos órgãos ou entidades interessados na
resultante. movimentação. (NR)
§ 2° Encontrando-se regularmente provido o cargo, o seu § 2° A redistribuição dar-se-á exclusivamente para o
ocupante será deslocado para cargo equivalente, ou, se ajustamento do quadro de pessoal às necessidades dos
ocupava outro cargo, a este será reconduzido, sem direito à serviços, inclusive nos casos de reorganização, extinção ou
indenização. criação de órgão ou entidade. (NR)
§ 3° Se o cargo houver sido extinto, a reintegração dar-se- § 3° Nos casos de extinção de órgão ou entidade, os
á em cargo equivalente, respeitada a habilitação profissional, servidores estáveis que não puderam ser redistribuídos, na
ou, não sendo possível, ficará o reintegrado em forma deste artigo, serão colocados em disponibilidade até seu
disponibilidade no cargo que exercia. aproveitamento. (NR)

Art. 41. O ato de reintegração será expedido no prazo Capítulo VI - Da Reversão


máximo de 30 (trinta) dias do pedido, reportando-se sempre à
decisão administrativa definitiva ou à sentença judicial, Art. 51. Reversão é o retorno à atividade de servidor
transitada em julgado. aposentado por invalidez, quando, por junta médica oficial,
forem declarados insubsistentes os motivos da aposentadoria.
Art. 42. O servidor reintegrado será submetido à inspeção § 1° A reversão, ex-officio ou a pedido, dar-se-á no mesmo
de saúde na instituição pública competente e aposentado, cargo ou no cargo resultante de sua transformação.
quando incapaz. § 2° A reversão, a pedido, dependerá da existência de cargo
Capítulo V vago.
Da Transferência, da Remoção e da Redistribuição § 3° Não poderá reverter o aposentado que já tiver
(NR) alcançado o limite da idade para aposentadoria compulsória.

Art. 43. Transferência é a movimentação do servidor Art. 52. Será tornada sem efeito a reversão ex-officio, e
ocupante de cargo de provimento efetivo, para outro cargo de cassada a aposentadoria do servidor que não tomar posse e
igual denominação e provimento, de outro órgão, mas no entrar no exercício do cargo.
mesmo Poder.
Capítulo VII - Do Aproveitamento
Art. 44. Caberá a transferência:
I - a pedido do servidor; Art. 53. O aproveitamento é o reingresso, no serviço
II - por permuta, a requerimento de ambos os servidores público, do servidor em disponibilidade, em cargo de natureza
interessados. e padrão de vencimento correspondente ao que ocupava.

Art. 45. A transferência será processada atendendo a Art. 54. O aproveitamento será obrigatório quando:
conveniência do servidor desde que no órgão pretendido I - restabelecido o cargo de cuja extinção decorreu a
exista cargo vago, de igual denominação. disponibilidade;
II - deva ser provido cargo anteriormente declarado
Art. 46. O servidor transferido somente poderá renovar o desnecessário.
pedido, após decorridos 2 (dois) anos de efetivo exercício no
cargo. Art. 55. Será tornado sem efeito o aproveitamento e
cassada a disponibilidade de servidor que, aproveitado, não
Art. 47. Não será concedida a transferência: tomar posse e não entrar em exercício dentro do prazo legal.
I - para cargos que tenham candidatos aprovados em
concurso, com prazo de validade não esgotado; Capítulo VIII Da Readaptação
II - para órgãos da administração indireta ou fundacional
cujo regime jurídico não seja o estatutário; Art. 56. Readaptação é a forma de provimento, em cargo
III - do servidor em estágio probatório. mais compatível, pelo servidor que tenha sofrido limitação, em
sua capacidade física ou mental, verificada em inspeção
Art. 48. A transferência dos membros da Magistratura, médica oficial.
Ministério Público, Magistério e da Polícia Civil, será definida § 1° A readaptação ex-officio ou a pedido, será efetivada em
no âmbito de cada Poder, por regime próprio. cargo vago, de atribuições afins, respeitada a habilitação
exigida.

Legislação 13
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APOSTILAS OPÇÃO

§ 2° A readaptação não acarretará diminuição ou aumento II - pela forma determinada quanto aos servidores cujas
da remuneração. atividades sejam permanentemente exercidas externamente,
§ 3° Ressalvada a incapacidade definitiva para o serviço ou que, por sua natureza, não possam ser mensuradas por
público, quando será aposentado, é direito do servidor unidade de tempo.
renovar pedido de readaptação.
Art. 65. Na antecipação ou prorrogação da duração da
Capítulo IX - Da Recondução jornada de trabalho, será também remunerado o trabalho
suplementar, na forma prevista neste Estatuto.
Art. 57. Recondução é o retorno do servidor estável ao
cargo anteriormente ocupado e decorrerá de: Art. 66. O servidor ocupante de cargo comissionado,
I - inabilitação em estágio probatório relativo a outro independentemente de jornada de trabalho, atenderá às
cargo; convocações decorrentes da necessidade do serviço de
II - reintegração do anterior ocupante. interesse da Administração.
Parágrafo único. Encontrando-se provido o cargo de
origem, o servidor será aproveitado em outro, observado o que Capítulo II - Da Estabilidade
dispõe a presente lei nos casos de disponibilidade e
aproveitamento. Art. 67. O servidor habilitado em concurso público e
empossado em cargo de provimento efetivo, adquirirá
Capítulo X - Da Vacância estabilidade no serviço público ao completar 2 (dois) anos de
efetivo exercício.
Art. 58. A vacância do cargo decorrerá de:
I - exoneração; Art. 68. O servidor estável só perderá o cargo em virtude
II - demissão; de sentença judicial transitada em julgado, ou de processo
III - promoção; administrativo disciplinar no qual lhe seja assegurada ampla
IV - aposentadoria; defesa.
V - readaptação;
VI - falecimento; Art. 69. É vedada a exoneração, a suspensão ou a demissão
VII - transferência; de servidor sindicalizado, a partir do registro da candidatura a
VIII - destituição. cargo de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda
Parágrafo único. A vaga ocorrerá na data: que suplente, até um ano após o final do mandato, salvo se
I - do falecimento; cometer falta grave, devidamente apurada em processo
II - da publicação do decreto que exonerar, demitir, administrativo.
promover, aposentar, readaptar, transferir, destituir e da
posse em outro cargo inacumulável. Capítulo III - Do Tempo de Serviço

Art. 59. A exoneração de cargo efetivo dar-se-á a pedido do Art. 70. Considera-se como tempo de serviço público o
servidor ou de ofício. exclusivamente prestado à União, Estados, Distrito Federal,
Parágrafo único. A exoneração de ofício dar-se-á: Municípios, Autarquias e Fundações instituídas ou mantidas
I - quando não satisfeitas as condições do estágio pelo Poder Público.
probatório; § 1° Constitui tempo de serviço público, para todos os
II - quando, tendo tomado posse, o servidor não entrar em efeitos legais, salvo para estabilidade, o anteriormente
exercício no prazo legal. prestado pelo servidor, qualquer que tenha sido a forma de
admissão ou de pagamento.
Art. 60. A exoneração de cargo em comissão dar-se-á: § 2° Para efeito de aposentadoria e disponibilidade é
I - a juízo da autoridade competente; assegurada, ainda, a contagem do tempo de contribuição
II - a pedido do próprio servidor. financeira dos sistemas previdenciários, segundo os critérios
estabelecidos em lei.
Art. 61. A vacância de função gratificada dar-se-á por
dispensa, a pedido ou de ofício, ou por destituição. Art. 71. A apuração do tempo de serviço será feita em dias.
§ 1° O número de dias será convertido em anos,
Art. 62. Na vacância do cargo de titular de Autarquia ou considerados sempre como de 365 (trezentos e sessenta e
Fundação Pública, poderá o mesmo ser provido com a cinco) dias.
nomeação temporária, ressalvado no ato de provimento o § 2° Para efeito de aposentadoria, feita a conversão, os dias
disposto no art. 92, XX da Constituição do Estado. restantes, até 182, não serão computados, arredondando-se
para um ano quando excederem a esse número.
TÍTULO III - DOS DIREITOS E VANTAGENS
Capítulo I - Da Duração do Trabalho Art. 72. Considera-se como de efetivo exercício, para todos
os fins, o afastamento decorrente de:
Art. 63. A duração da jornada diária de trabalho será de 6 I - férias;
(seis) horas ininterruptas, salvo as jornadas especiais II - casamento, até 8 (oito) dias;
estabelecidas em lei. III - falecimento do cônjuge, companheira ou companheiro,
§ 1° Nas atividades de atendimento público que exijam pai, mãe, filhos e irmãos, até 8 (oito) dias;
jornada superior, serão adotados turnos de revezamento. IV - serviços obrigatórios por lei;
§ 2° A duração normal da jornada, em caso de comprovada V - desempenho de cargo ou emprego em órgão da
necessidade, poderá ser antecipada ou prorrogada pela administração direta ou indireta de
administração. Municípios, Estados, Distrito Federal e União, quando
colocado regularmente à disposição;
Art. 64. A frequência será apurada diariamente: VI - missão oficial de qualquer natureza, ainda que sem
I - pelo ponto de entrada e saída; vencimento, durante o tempo da autorização ou designação;

Legislação 14
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APOSTILAS OPÇÃO

VII - estudo, em área do interesse do serviço público, II - por motivo de doença em pessoa da família;
durante o período da autorização; III - maternidade;
VIII - processo administrativo, se declarado inocente; IV - paternidade;
IX - desempenho de mandato eletivo, exceto para V - para o serviço militar e outras obrigações previstas em
promoção por merecimento; lei;
X - participação em congressos ou outros eventos culturais, VI - para tratar de interesse particular;
esportivos, técnicos, científicos ou sindicais, durante o período VII - para atividade política ou classista, na forma da lei;
autorizado. VIII - por motivo de afastamento do cônjuge ou
XI - licença-prêmio; companheiro;
XII - licença maternidade com a duração de cento e oitenta IX - a título de prêmio por assiduidade.
dias; (NR) § 1° As licenças previstas nos incisos I e II dependerão de
XIII - licença-paternidade; inspeção médica, realizada pelo órgão competente.
XIV - licença para tratamento de saúde; § 2° Ao servidor ocupante de cargo em comissão não serão
XV - licença por motivo de doença em pessoa da família; concedidas as licenças previstas nos incisos VI, VII e VIII.
XVI - faltas abonadas, no máximo de 3 (três) ao mês; § 3° A licença - da mesma espécie - concedida dentro 60
XVII - doação de sangue, 1 (um) dia; (sessenta) dias, do término da anterior, será considerada como
XVIII - desempenho de mandato classista. prorrogação.
§ 1° Será contado em dobro o tempo de serviço prestado às § 4° Expirada a licença, o servidor assumirá o cargo no
Forças Armadas em operações de guerra. primeiro dia útil subsequente.
§ 2° As férias e a licença-prêmio serão contadas em dobro § 5° O servidor não poderá permanecer em licença da
para efeito de aposentadoria a partir da expressa renúncia do mesma espécie por período superior a 24 (vinte e quatro)
servidor. meses, salvo os casos previstos nos incisos V, VII e VIII.

Art. 73. É vedada a contagem acumulada de tempo de Art. 78. A licença poderá ser prorrogada de ofício ou
serviço simultaneamente prestado em mais de um cargo, mediante solicitação.
emprego ou função. § 1° O pedido de prorrogação deverá ser apresentado pelo
Parágrafo único. Em regime de acumulação legal, o Estado menos 8 (oito) dias antes de findo o prazo.
não contará o tempo de serviço do outro cargo ou emprego, § 2° O disposto neste artigo não se aplica às licenças
para o reconhecimento de vantagem pecuniária. previstas no art. 77, incisos III, IV, VI e IX.

Capítulo IV - Das Férias Art. 79. É vedado o exercício de atividade remunerada


durante o período das licenças previstas nos incisos I e II do
Art. 74. O servidor, após cada 12 (doze) meses de exercício art. 77.
adquire direito a férias anuais, de 30 (trinta) dias
consecutivos. Art. 80.O servidor notificado que se recusar a submeter-se
§ 1° É vedado levar, à conta das férias, qualquer falta ao à inspeção médica, quando julgada necessária, terá sua licença
serviço. cancelada automaticamente.
§ 2° As férias somente são interrompidas por motivo de
calamidade pública, comoção interna, convocação para júri, Seção II - Da Licença para Tratamento de Saúde
serviço militar ou eleitoral, ou por motivo de superior
interesse público; podendo ser acumuladas, pelo prazo Art. 81. A licença para tratamento de saúde será concedida
máximo de dois anos consecutivos. a pedido ou de ofício, com base em inspeção médica, realizada
§ 3° O disposto neste artigo se estende aos Secretários de pelo órgão competente, sem prejuízo da remuneração.
Estado. (NR) Parágrafo único. Sempre que necessário, a inspeção
médica será realizada na residência do servidor ou no
Art. 75. As férias serão de: estabelecimento hospitalar onde se encontrar internado.
I - 30 (trinta) dias consecutivos, anualmente;
II - 20 (vinte) dias consecutivos, semestralmente, para os Art. 82. A licença superior a 60 (sessenta) dias só poderá
servidores que operem, direta e permanentemente, com Raios ser concedida mediante inspeção realizada por junta médica
X ou substâncias radioativas. oficial.
§ 1° Em casos excepcionais, a prova da doença poderá ser
Art. 76. Durante as férias, o servidor terá direito a todas as feita por atestado médico particular se, a juízo da
vantagens do exercício do cargo. administração, for inconveniente ou impossível a ida da junta
§ 1° As férias serão remuneradas com um terço a mais do médica à localidade de residência do servidor.
que a remuneração normal, pagas antecipadamente, § 2° Nos casos referidos no § anterior, o atestado só
independente de solicitação. produzirá efeito depois de homologado pelo serviço médico
§ 2° (VETADO) oficial do Estado.
§ 3º O servidor exonerado do cargo efetivo, ou em § 3° Verificando-se, a qualquer tempo, ter ocorrido má-fé
comissão, perceberá indenização relativa ao período das férias na expedição do atestado ou do laudo, a administração
a que tiver direito e ao incompleto, na proporção de um doze promoverá a punição dos responsáveis.
avos por mês de efetivo exercício, ou fração superior a
quatorze dias. Art. 83. Findo o prazo da licença, o servidor será submetido
§ 4º A indenização será calculada com base na à nova inspeção médica, que concluirá pela volta ao serviço,
remuneração do mês em que ocorrer a exoneração. pela prorrogação da licença ou pela aposentadoria.

Capítulo V - Das Licenças Art. 84. O atestado e o laudo da junta médica não se
Seção I - Das Disposições Gerais referirão ao nome ou natureza da doença, salvo quando se
tratar de lesões produzidas por acidente em serviço e doença
Art. 77. O servidor terá direito à licença: profissional.
I - para tratamento de saúde;

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Seção III - Da Licença por Motivo de Doença em d) em outras hipóteses previstas em legislação federal
Pessoa da Família específica;
Parágrafo único. Concluído o serviço militar, o servidor
Art. 85. Poderá ser concedida licença ao servidor por terá até 30 (trinta) dias, sem remuneração, para reassumir o
motivo de doença do cônjuge, companheiro ou companheira, exercício do cargo.
padrasto ou madrasta; ascendente, descendente, enteado,
menor sob guarda, tutela ou adoção, e colateral consanguíneo Seção VI - Da Licença para Tratar de Interesses
ou afim até o segundo grau civil, mediante comprovação Particulares
médica.
Parágrafo único. Nas hipóteses de tutela, guarda e adoção, Art. 93. A critério da administração, poderá ser concedida
deverá o servidor instruir o pedido com documento legal ao servidor estável, licença para o trato de assuntos
comprobatório de tal condição. particulares, pelo prazo de até 2 (dois) anos consecutivos, sem
remuneração.
Art. 86. A licença para tratamento de saúde em pessoa da § 1° A licença poderá ser interrompida, a qualquer tempo,
família será concedida: a pedido do servidor ou no interesse do serviço.
I - com remuneração integral, no primeiro mês; § 2° Não se concederá nova licença antes de decorrido 2
II - com 2/3 (dois terços) da remuneração, quando exceder (dois) anos do término da anterior.
de 1 (um) até 6 (seis) meses;
III - com 1/3 (um terço) da remuneração quando exceder Seção VII - Da Licença para Atividade Política ou
a 6 (seis) meses até 12 (doze) meses; Classista
IV - sem remuneração, a partir do 12°. (Décimo segundo) e
até o 24°. (Vigésimo quarto) mês. Art. 94. O servidor terá direito à licença para atividade
Parágrafo único. O órgão oficial poderá opinar pela política, obedecido o disposto na legislação federal específica.
concessão da licença pelo prazo máximo de 30 (trinta) dias, Parágrafo único. Ao servidor investido em mandato eletivo
renováveis por períodos iguais e sucessivos, até o limite de 2 aplicam-se as seguintes disposições:
(dois) anos. I - tratando-se de mandato federal ou estadual ficará
afastado do cargo ou função;
Art. 87. Nos mesmos parâmetros do artigo anterior será II - investido no mandato de Prefeito, será afastado do
concedida licença para o pai, a mãe, ou responsável legal de cargo ou função, sendo-lhe facultado optar pela sua
excepcional em tratamento. remuneração;
III - investido no mandato de Vereador:
Seção IV Das Licenças Maternidade e Paternidade a) havendo compatibilidade de horário, perceberá as
vantagens de seu cargo, sem prejuízo da remuneração do
Art. 88. Será concedida licença à servidora gestante, por cargo eletivo;
cento e oitenta dias consecutivos, sem prejuízo de b) não havendo compatibilidade de horários, será afastado
remuneração. (NR) do cargo, sendo-lhe facultado optar pela sua remuneração.
§ 1° A licença poderá ter início no primeiro dia do nono
mês de gestação, salvo antecipação por prescrição médica. Art. 95. É assegurado ao servidor o direito à licença para
§ 2° No caso de nascimento prematuro, a licença terá início desempenho de mandato em confederação, federação,
a partir do parto. sindicato representativo da categoria, associação de classe de
§ 3° No caso de aborto, atestado por médico oficial, a âmbito local e/ou nacional, sem prejuízo de remuneração do
servidora terá direito a 30 (trinta) dias de repouso cargo efetivo. (NR)
remunerado. § 1º Somente poderão ser licenciados os servidores eleitos
§ 4º O benefício previsto no caput deste artigo alcançará a para cargos de direção ou representação nas referidas
servidora que já se encontre no gozo da referida licença. (NR) entidades, até o máximo de quatro por entidade constituída
em conformidade com o art. 5º, inciso LXX, alínea “b”, da
Art. 89. Para amamentar o próprio filho, até a idade de 6 Constituição Federal. (NR)
(seis) meses, a servidora lactante terá direito, durante a § 2º A licença terá duração igual ao mandato, podendo ser
jornada de trabalho, a uma hora de descanso, que poderá ser prorrogada, no caso de reeleição, por uma única vez. (NR)
parcelada em 2 (dois) períodos de meia hora. § 3º O período de licença de que trata este artigo será
contado para todos os efeitos legais, exceto para a promoção
Art. 90. À servidora que adotar ou obtiver a guarda judicial por merecimento. (NR)
de criança até 1 (um) ano de idade, serão concedidos 90
(noventa) dias de licença remunerada. Seção VIII - Da Licença para Acompanhar Cônjuge
Parágrafo único. No caso de adoção ou guarda judicial de
criança com mais de 1 (um) ano de idade, o prazo de que trata Art. 96. Ao servidor estável, será concedida licença sem
este artigo será de 30 (trinta) dias. remuneração, quando o cônjuge ou companheiro, servidor
civil ou militar:
Art. 91. Ao servidor será concedida licença-paternidade de I - assumir mandato conquistado em eleição majoritária ou
10 (dez) dias consecutivos, mediante a apresentação do proporcional para exercício de cargo em local diverso do da
registro civil, retroagindo está à data do nascimento. lotação do acompanhante;
II - for designado para servir fora do Estado ou no exterior.
Seção V - Da Licença para o Serviço Militar e outras
obrigatórias por lei Art. 97. A licença será concedida pelo prazo da duração do
mandato, ou nos demais casos por prazo indeterminado.
Art. 92. O servidor será licenciado, quando: § 1° A licença será instruída com a prova da eleição, posse
a) convocado para o serviço militar na forma e condições ou designação.
estabelecidas em lei; § 2° Na hipótese do deslocamento de que trata este artigo,
b) requisitado pela Justiça Eleitoral; o servidor poderá ser lotado, provisoriamente, em repartição
c) sorteado para o trabalho do Júri; da Administração Estadual direta, autárquica ou fundacional,

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desde que para o exercício de atividade compatível com o seu Parágrafo único. Em caso de provimento do pedido de
cargo. reconsideração ou do recurso, os efeitos da decisão
retroagirão à data do ato impugnado.
Seção IX - Da Licença-Prêmio
Art. 108. O direito de requerer prescreve:
Art. 98. Após cada triênio ininterrupto de exercício, o I - em 5 (cinco) anos, quanto aos atos de demissão e de
servidor fará jus à licença de 60 (sessenta) dias, sem prejuízo cassação de aposentadoria ou disponibilidade, ou que afetem
da remuneração e outras vantagens. interesse patrimonial e créditos resultantes das relações
funcionais;
Art. 99. A licença será: II - em 120 (cento e vinte) dias, nos demais casos, salvo
I - a requerimento do servidor: quando outro prazo por fixado em lei.
a) gozada integralmente, ou em duas parcelas de 30 Parágrafo único. O prazo de prescrição será contado da
(trinta) dias; data da publicação do ato impugnado ou da data da ciência
b) convertida integralmente em tempo de serviço, contado pelo interessado, quando o ato não for publicado.
em dobro;
c) (VETADO) Art. 109. Para o exercício do direito de petição, é
II - convertida, obrigatoriamente, em remuneração assegurada vista do processo ou documento, na repartição, ao
adicional, na aposentadoria ou falecimento, sempre que a servidor ou a procurador por ele constituído.
fração de tempo for igual ou superior a 1/3 (um terço) do Parágrafo único. Os prazos contam-se continuamente a
período exigido para o gozo da licença-prêmio. partir da publicação ou ciência do ato, excluído o dia do
Parágrafo único. Decorridos 30 (trinta) dias do pedido de começo e incluindo o do vencimento.
licença, não havendo manifestação expressa do Poder Público,
é permitido ao servidor iniciar o gozo de sua licença. Capítulo VII - Da Aposentadoria

Art. 100. Para os efeitos da assiduidade, não se consideram Art. 110. O servidor será aposentado:
interrupção do exercício os afastamentos enumerados no art. I - por invalidez permanente, com proventos integrais,
72. quando decorrente de acidente em serviço, moléstia
profissional, ou doença grave ou incurável especificada em lei,
Capítulo VI - Do Direito de Petição e proporcionais nos demais casos;
II - compulsoriamente, aos 70 (setenta) anos de idade, com
Art. 101. É assegurado ao servidor: proventos proporcionais ao tempo de serviço;
I - o direito de petição em defesa de direitos ou contra III - voluntariamente:
ilegalidade ou abuso de poder; a) aos 35 (trinta e cinco) anos de serviço, se homem, e aos
II - a obtenção de certidões em defesa de direitos e 30 (trinta), se mulher, com proventos integrais;
esclarecimento de situações de interesse pessoal. b) aos 30 (trinta) anos de efetivo exercício em funções do
magistério, se professor, e aos 25 (vinte e cinco) anos, se
Art. 102. O direito de peticionar abrange o requerimento, a professora, com proventos integrais;
reconsideração e o recurso. c) aos 30 (trinta) anos de serviço, se homem, e aos 25
Parágrafo único. Em qualquer das hipóteses, o prazo para (vinte e cinco) anos, se mulher, com proventos proporcionais
decidir será de 30 (trinta) dias; não havendo a autoridade a esse tempo;
competente, prolatado a decisão, considerar-se-á como d) aos 65 (sessenta e cinco) anos de idade, se homem, e aos
indeferida a petição. 60 (sessenta), se mulher, com proventos proporcionais ao
tempo de serviço.
Art. 103. O requerimento será dirigido à autoridade § 1° No caso do exercício de atividades consideradas
competente para decidir sobre ele e encaminhá-lo à que penosas, insalubres ou perigosas, o disposto no inciso III, a e c
estiver imediatamente subordinado o requerente. obedecerá ao que dispuser lei complementar federal.
§ 2° A aposentadoria em cargos ou empregos temporários
Art. 104. Cabe pedido de reconsideração à autoridade que observará o disposto na lei federal.
houver expedido o ato ou proferido a primeira decisão, não
podendo ser renovado. Art. 111. A aposentadoria compulsória será automática e o
servidor afastar-se-á do serviço ativo no dia imediato àquele
Art. 105. Caberá recurso: em que atingir a idade-limite, e o ato que a declarar terá
I - do indeferimento do pedido de reconsideração; vigência a partir da data em que o servidor tiver completado
II - das decisões sobre os recursos sucessivamente 70 (setenta) anos de idade.
interpostos.
§ 1° O recurso será dirigido à autoridade imediatamente Art. 112. A aposentadoria voluntária ou por invalidez
superior à que tiver expedido o ato ou proferido a decisão, e, vigorará a partir da data da publicação do respectivo ato.
sucessivamente, em escala ascendente, às demais autoridades. § 1° A aposentadoria por invalidez será precedida de
§ 2° O recurso será encaminhado por intermédio da licença para tratamento de saúde, por período não excedente
autoridade à que estiver imediatamente subordinado o a 24 (vinte e quatro) meses.
requerente. § 2° Expirado o período de licença e não estando em
condições de reassumir o cargo, ou de ser readaptado, o
Art. 106. O prazo para interposição de pedido de servidor será aposentado.
reconsideração ou de recurso é de 30 (trinta) dias, a contar da § 3° O lapso de tempo compreendido entre o término da
publicação ou da ciência, pelo interessado, da decisão licença para tratamento de saúde e a publicação do ato da
recorrida. aposentadoria será considerado como de prorrogação da
licença.
Art. 107. O recurso quando tempestivo terá efeito § 4° Nos casos de aposentadoria voluntária ao servidor que
suspensivo e interrompe a prescrição. a requerer, fica assegurado o direito de não comparecer ao
trabalho a partir do 91°. (Nonagésimo primeiro) dia

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subsequente ao do protocolo do requerimento da § 2° No Ministério Público, o limite máximo é o valor


aposentadoria, sem prejuízo da percepção de sua percebido como remuneração, em espécie, a qualquer título,
remuneração, caso não seja antes cientificado do pelos Procuradores de Justiça.
indeferimento. § 3° Os acréscimos pecuniários, percebidos pelo servidor
público, não serão computados nem acumulados, para fins de
Art. 113. (VETADO) concessão de acréscimos ulteriores, sob o mesmo título ou
idêntico fundamento.
Art. 114. Será aposentado, com os proventos
correspondentes à remuneração do cargo em comissão ou da Art. 122. Revogado.
função gratificada, o servidor que o tenha exercido por 5
(cinco) anos consecutivos. Art. 123. O 13° (décimo terceiro) salário será pago com
§ 1° As vantagens definidas neste artigo são extensivas ao base na remuneração ou proventos integrais do mês de
servidor que, à época da aposentadoria, contar ou perfizer 10 dezembro.
(dez) anos consecutivos ou não, em cargos de comissão ou § 1° O 13° (décimo terceiro) salário corresponderá a um
função gratificada, mesmo que, ao aposentar-se, se ache fora doze avos por mês de serviço, e a fração igual ou superior a 15
do exercício do cargo ou da função gratificada. (quinze) dias será considerada como mês integral.
§ 2° Quando mais de um cargo ou função tenha sido § 2° Na exoneração e na demissão, o 13° (décimo terceiro)
exercido, serão atribuídos os proventos de maior padrão salário será pago no mês dessas ocorrências.
desde que lhe corresponda o exercício mínimo de 2 (dois) anos
consecutivos; ou padrão imediatamente inferior, se menor o Art. 124. O servidor perderá:
lapso de tempo desses exercícios I - no caso de ausência e impontualidade:
§ 3° A aplicação do disposto neste artigo exclui as a) o vencimento ou remuneração do dia, quando não
vantagens previstas no artigo anterior, bem como os comparecer ao serviço;
adicionais pelo exercício de cargo de direção ou b) (VETADO)
assessoramento, ressalvado o direito de opção. II - metade da remuneração na hipótese de suspensão
disciplinar convertida em multa;
Art. 115. Os proventos da aposentadoria serão revistos, na III - o vencimento, a remuneração, ou parte deles, nos
mesma proporção e na mesma data, sempre que se modificar demais casos previstos nesta lei.
a remuneração dos servidores em atividade, sendo, também, Parágrafo único. As faltas ao serviço, em razão de causa
estendidos aos inativos quaisquer benefícios ou vantagens relevante, poderão ser abonadas pelo titular do órgão, quando
posteriormente concedidos aos servidores em atividade, requerido abono no dia útil subsequente, obedecido o disposto
inclusive quando decorrentes da transformação ou no art. 72, inciso XVI.
reclassificação do cargo ou função em que se deu a
aposentadoria, independente de requerimento. Art. 125. As reposições devidas e as indenizações por
prejuízos que o servidor causar, poderão ser descontadas em
Capítulo VIII - Dos Direitos e Vantagens Financeiras parcelas mensais monetariamente corrigidas, não excedentes
Seção I - Do Vencimento e da Remuneração à décima parte da remuneração ou provento.
Parágrafo único. A faculdade de reposição ou indenização
Art. 116. O vencimento é a retribuição pecuniária mensal parceladas não se estende ao servidor exonerado, demitido ou
devida ao servidor, correspondente ao padrão fixado em lei. licenciado sem vencimento.
Parágrafo único. Nenhum servidor receberá, a título de
vencimento, importância inferior ao salário mínimo. Art. 126. As consignações em folha de pagamento, para
efeito de desconto, não poderão, as facultativas, exceder a 1/3
Art. 117. A revisão geral dos vencimentos dos servidores (um terço) do vencimento ou da remuneração. (NR)
civis será feita, pelo menos, nos meses de abril e outubro, com Parágrafo único. A consignação em folha, servirá,
vigência a partir desses meses. unicamente, como garantia de:
Parágrafo único. Abonos e antecipação, à conta da revisão, I - débito à Fazenda Pública;
ficam condicionados ao limite de despesas, definido na Lei de II - contribuições para as associações ou sindicatos
Diretrizes Orçamentárias. representantes das categorias de servidores públicos
estaduais;
Art. 118. Remuneração é o vencimento acrescido das III - dívidas para cônjuge, ascendente ou descendente, em
demais vantagens de caráter permanente, atribuídas ao cumprimento de decisão judicial;
servidor pelo exercício do cargo público. IV - contribuições para aquisição de casa própria,
Parágrafo único. As indenizações, auxílios e demais negociada através de órgão oficial;
vantagens, ou gratificações de caráter eventual não integram a V - empréstimos contraídos junto ao órgão previdenciário
remuneração. do Estado do Pará;
VI - autorização do servidor a favor de terceiros, a critério
Art. 119. Proventos são rendimentos atribuídos ao da administração, com a reposição de custos definida em
servidor em razão da aposentadoria ou disponibilidade. regulamento.

Art. 120. O vencimento, a remuneração e os proventos não Seção II - Das Vantagens


serão objeto de arresto, sequestro ou penhora, exceto nos
casos de prestação de alimentos resultante de decisão judicial. Art. 127. Além do vencimento, o servidor poderá perceber
as seguintes vantagens:
Art. 121. A remuneração do servidor não excederá, no I - adicionais;
âmbito do respectivo Poder, os valores percebidos como II - gratificações;
remuneração, em espécie, a qualquer título, pelos Deputados III - diárias;
Estaduais, Secretários de Estado e Desembargadores. IV - ajuda de custo;
§ 1° Entre o maior e o menor vencimento, a relação de V - salário-família;
valores será de um para vinte. VI - indenizações;

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VII - outras vantagens e concessões previstas em lei. implicam a perda das gratificações previstas neste artigo, salvo
Parágrafo único. Excetuados os casos expressamente a do inciso I.
previstos neste artigo, o servidor não poderá perceber, a
qualquer título ou forma de pagamento, nenhuma outra Art. 133. O serviço extraordinário será pago com
vantagem financeira. acréscimo de 50% (cinquenta por cento) em relação à hora
normal de trabalho.
Seção III - Dos Adicionais § 1° Somente será permitido serviço extraordinário para
atender a situações excepcionais e temporárias, respeitado o
Art. 128. Ao servidor serão concedidos adicionais: limite máximo de 2 (duas) horas por jornada
I - pelo exercício do trabalho em condições penosas, § 2° Será considerado serviço extraordinário aquele que
insalubres ou perigosas; exceder, por antecipação ou prorrogação, à jornada normal
II - pelo exercício de cargo em comissão ou função diária de trabalho.
gratificada; § 3° A prestação de serviço extraordinário não poderá
III - por tempo de serviço. exceder ao limite de 60 (sessenta) horas mensais, salvo para
os servidores integrantes de categorias funcionais com
Art. 129. O adicional pelo exercício de atividades penosas, horário diferenciados em legislação própria.
insalubres ou perigosas será devido na forma prevista em lei
federal. Art. 134. O serviço noturno, prestado em horário
Parágrafo único. Os adicionais de insalubridade, compreendido entre 22 (vinte e duas) horas de um dia e
periculosidade, ou pelo exercício em condições penosas são 5(cinco) horas do dia seguinte, terá o valor-hora acrescido de
inacumuláveis e o seu pagamento cessará com a eliminação 25% (vinte e cinco por cento) computando-se cada hora como
das causas geradoras, não se incorporando ao vencimento, sob 52 (cinquenta e dois) minutos e 30 (trinta segundos).
nenhum fundamento. Parágrafo único. Em se tratando de serviço extraordinário,
o acréscimo de que trata este artigo incidirá sobre a
Art. 130. (REVOGADO) gratificação prevista no artigo anterior.
§ 1° (REVOGADO)
§ 2° (REVOGADO) Art. 135. A gratificação de representação será atribuída aos
§ 3° (REVOGADO) servidores ocupantes de cargos comissionados de Direção e
§ 4° (REVOGADO) Assessoramento Superior.
Parágrafo único. A gratificação de representação incidirá
Art. 131. O adicional por tempo de serviço será devido por sobre o padrão do cargo, nos seguintes percentuais:
triênios de efetivo exercício, até o máximo de 12 (doze). a) GEP-DAS.6 - 100% (cem por cento);
§ 1° Os adicionais serão calculados sobre a remuneração b) GEP-DAS.5 - 95% (noventa e cinco por cento);
do cargo, nas seguintes proporções: c) GEP-DAS.4 - 90% (noventa por cento);
I - aos três anos, 5%; d) GEP-DAS.3 - 85% (oitenta e cinco por cento);
II - aos seis anos, 5% - 10%; e) GEP-DAS.2 - 80% (oitenta por cento);
III - aos nove anos, 5% - 15%; f) GEP-DAS.1 - 80% (oitenta por cento).
IV - aos doze anos, 5% - 20%;
V - aos quinze anos, 5% - 25%; Art. 136. A gratificação pela participação em órgão
VI - aos dezoito anos, 5% - 30%; colegiado será fixada através de regulamento.
VII - aos vinte e um anos, 5% - 35%;
VIII - aos vinte e quatro anos, 5% - 40%; Art. 137. A gratificação por regime especial de trabalho é a
IX - aos vinte e sete anos, 5% - 45%; retribuição pecuniária mensal destinada aos ocupantes dos
X - aos trinta anos, 5% - 50%; cargos que, por sua natureza, exijam a prestação do serviço em
XI - aos trinta e três anos, 5% - 55%; tempo integral ou de dedicação exclusiva.
XII - após trinta e quatro anos, 5% - 60%. § 1° As gratificações devidas aos funcionários convocados
§ 2° O servidor fará jus ao adicional a partir do mês em que para prestarem serviço em regime de tempo integral ou de
completar o triênio, independente de solicitação. dedicação exclusiva obedecerão escala variável, fixada em
regulamento, respeitados os seguintes limites percentuais:
Seção IV - Das Gratificações a) pelo tempo integral, a gratificação variará entre 20%
(vinte por cento) e 70% (setenta por cento) do vencimento
Art. 132. Ao servidor serão concedidas gratificações: atribuído ao cargo;
I - pela prestação de serviço extraordinário; b) pela dedicação exclusiva, a gratificação variará entre
II - a título de representação; 50% (cinquenta por cento) e 100% (cem por cento) do
III - pela participação em órgão colegiado; vencimento atribuído ao cargo.
IV - pela elaboração de trabalho técnico, científico ou de § 2° A concessão da gratificação por regime especial de
utilidade para o serviço público; trabalho, de que trata este artigo, dependerá, em cada caso, de
V - pelo regime especial de trabalho; ato expresso das autoridades referidas no art. 19 da presente
VI - pela participação em comissão, ou grupo especial de lei.
trabalho;
VII - pela escolaridade; Art. 138. As gratificações por prestação de serviço
VIII - pela docência, em atividade de treinamento; extraordinário e por regime especial de trabalho excluem-se
IX - pela produtividade; mutuamente.
X - pela interiorização; § 1° Ao servidor sujeito ao regime de dedicação exclusiva é
XI - pelo exercício de atividade na área de educação vedado o exercício de outro cargo ou emprego
especial; § 2° A gratificação, em regime de tempo integral, não se
XII - Pelo exercício da função. coaduna com a mesma vantagem percebida em outro cargo, de
Parágrafo único. Os casos considerados como de efetivo qualquer esfera administrativa, exercido cumulativamente no
exercício pelo art. 72, excetuados os incisos V, IX e XVI não serviço público.

Legislação 19
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Art. 139. A gratificação pela participação em comissão ou Art. 146. No arbitramento das diárias será considerado o
grupo especial de trabalho e pela elaboração ou execução de local para o qual foi deslocado o funcionário.
trabalho técnico ou científico, em decorrência de formal
designação ou autorização, será arbitrada previamente, não Art. 147. Não caberá a concessão de diárias, quando o
podendo exceder ao vencimento ou remuneração do servidor. deslocamento do servidor constituir exigência permanente do
§ 1° O percentual da gratificação será fixado, cargo.
considerando-se a duração da atividade e o vencimento ou
remuneração do servidor, sendo idêntico para todos os Art. 148. O servidor que não se afastar da sede, por
membros quando se tratar de comissão ou grupo de trabalho. qualquer motivo, fica obrigado a restituir integralmente o
§ 2° O pagamento da gratificação cessará na data da valor das diárias e custos de transporte recebidos, no prazo de
conclusão do trabalho, e esta não será incorporada à 5 (cinco) dias.
remuneração, sob nenhuma hipótese. Parágrafo único. Na hipótese de o servidor retornar à sede,
§ 3° Não havendo concluído o trabalho no prazo fixado ou no prazo menor do que o previsto para o seu afastamento,
prorrogado, o servidor fica obrigado a ressarcir mensalmente, restituirá as diárias recebidas em excesso, no prazo previsto
no mesmo percentual recebido, o valor da gratificação de que no caput deste artigo.
trata este artigo.
§ 4° Esta gratificação não substitui nem impede o Art. 149. Conceder-se-á indenização de transporte ao
reconhecimento do direito autoral, quando a atribuição não servidor que realizar despesas com a utilização de meio de
for inerente ao cargo. locomoção, conforme se dispuser em regulamento.

Art. 140. A gratificação de escolaridade, calculada sobre o Seção VI Das Ajudas de Custo
vencimento, será devida nas seguintes proporções:
I - (VETADO) Art. 150. A ajuda de custo será concedida ao servidor que,
II - (VETADO) no interesse do serviço público, passar a ter exercício em nova
III - na quantia correspondente a 80% (oitenta por cento), sede com mudança de domicílio.
ao titular de cargo para cujo exercício a lei exija habilitação § 1° A ajuda de custo destina-se a compensar o servidor
correspondente à conclusão do grau universitário. pelas despesas realizadas com seu transporte e de sua família,
compreendendo passagem, bagagem e bens pessoais.
Art. 141. A gratificação pela docência, em atividade de § 2° Não será concedida ajuda de custo ao servidor que:
treinamento, será atribuída ao servidor, no regime hora-aula, a) afastar-se do cargo ou reassumi-lo em virtude do
desde que esta atividade não seja inerente ao exercício do exercício ou término de mandato eletivo;
cargo e seja desempenhada fora da jornada normal de b) for colocado à disposição de outro Poder, ou esfera de
trabalho. Governo;
c) for removido ou transferido, a pedido.
Art. 142. A gratificação de produtividade destina-se a § 3° À família do servidor que falecer na nova sede, serão
estimular as atividades dos servidores ocupantes de cargos assegurados ajuda de custo e transporte para a localidade de
nas áreas de tributação, arrecadação e fiscalização fazendária, origem, dentro do prazo de 1 (um) ano, contado do óbito.
extensiva aos servidores de apoio técnico operacional e
administrativo da Secretaria de Estado da Fazenda, Art. 151. Caberá, também, ajuda de custo ao servidor
observados os critérios, prazos e percentuais previstos em designado para serviço ou estudo no exterior, a qual será
regulamento. arbitrada pela autoridade que efetuar a designação.

Art. 143. A gratificação de interiorização é devida aos Art. 152. A ajuda de custo será calculada sobre a
servidores que, tendo domicílio na região metropolitana de remuneração do servidor, conforme se dispuser em
Belém, sejam lotados, transferidos, ou removidos para outros regulamento, não podendo exceder à importância
Municípios, enquanto perdurar essa lotação ou correspondente a 3 (três) meses.
movimentação.
Parágrafo único. A gratificação de interiorização será Art. 153. As ajudas de custo serão restituídas, quando:
calculada sobre o valor do vencimento, não podendo exceder- I - o servidor não se apresentar na nova sede no prazo de
lhe e será proporcional ao grau de dificuldade de acesso ao 30 (trinta) dias;
Município, observados os percentuais fixados em II - o servidor solicitar exoneração;
regulamento. III - a designação for tornada sem efeito.

Art. 144. A gratificação de função será devida por encargo Seção VII - Do Salário-Família
de chefia e outros que a lei determinar.
Art. 154. (REVOGADO)
Seção V - Das Diárias § 1° (REVOGADO)
§ 2° (REVOGADO)
Art. 145. Ao servidor que, em missão oficial ou de estudos, § 3° (REVOGADO)
afastar-se temporariamente da sede em que seja lotado, serão
concedidas, além do transporte, diárias a título de indenização Art. 155. (REVOGADO)
das despesas de alimentação, hospedagem e locomoção § 1°(REVOGADO)
urbana. § 2° (REVOGADO)
§ 1° A diária será concedida por dia de afastamento, sendo
devida pela metade, quando o deslocamento não exigir Art. 156. O salário-família é devido, a partir do início do
pernoite fora da sede. exercício do cargo e comprovação da dependência.
§ 2° As diárias serão pagas antecipadamente e isentam o
servidor da posterior prestação de contas. Art. 157. O afastamento do cargo efetivo, sem
remuneração, não acarreta a suspensão do pagamento do
salário-família.

Legislação 20
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Art. 158. Será suspenso definitivamente o pagamento do Parágrafo único. O servidor não poderá exercer mais de um
salário-família quando: cargo em comissão.
I - cessada a dependência;
II - verificada a inexatidão dos documentos apresentados; Art. 164. A acumulação será havida de boa-fé, até final
III - um dos cônjuges já perceba esse direito. conclusão de processo administrativo.
Art. 159. (REVOGADO)
§ 1° (REVOGADO) Art. 165. (VETADO)
§ 2° (REVOGADO)
§ 3° (REVOGADO) TÍTULO IV - DA SEGURIDADE SOCIAL
Capítulo I - Das Disposições Gerais
Capítulo IX - Outras Vantagens e Concessões
Art. 166. A seguridade social compreende um conjunto de
Art. 160. Além das demais vantagens previstas nesta lei, ações do Estado destinadas a assegurar os direitos à saúde, à
será concedido: previdência e à assistência social do servidor e de seus
I - Ao servidor: dependentes.
a) participação no Programa de Formação do Patrimônio Parágrafo único. Na seguridade social prevalecem os
do Servidor Público; seguintes objetivos:
b) vale-transporte, nos termos da Legislação Federal; I - universalidade da cobertura do atendimento;
c) auxílio-natalidade, correspondente a um salário II - uniformidade dos benefícios;
mínimo, após a apresentação da certidão de nascimento para III - irredutibilidade do valor dos benefícios;
a inscrição do dependente; IV - caráter democrático da gestão administrativa, com
d) auxílio-doença, correspondente a um mês de participação paritária do servidor estável e do aposentado
remuneração, após cada período consecutivo de 6 (seis) meses eleitos para o colegiado do órgão previdenciário do Estado do
de licença para tratamento de saúde; Pará.
e) custeio do tratamento de saúde, quando laudo de junta
médica oficial atestar tratar-se de lesão produzida por Art. 167. O Município que não dispuser de sistema
acidente em serviço ou doença profissional; previdenciário próprio poderá aderir, mediante convênio, ao
f) quando estudante, e mediante comprovação, regime de órgão de seguridade do Estado do Pará para garantir aos seus
compensação para realização de provas e abono de faltas para servidores a seguridade, na forma da lei.
exame vestibular;
g) transporte ou indenização correspondente, quando Art. 168. A seguridade social será financiada através das
licenciado para tratamento de saúde, estando impossibilitado seguintes contribuições:
de locomover-se, na forma do regulamento; I - contribuição incidente sobre a folha de vencimento e
h) seguro contra acidente de trabalho, para os que exerçam remunerações;
atividades com risco de vida. II - dos servidores de qualquer quadro funcional;
II - Ao cônjuge, companheiro ou dependentes: III - de outras fontes estabelecidas em lei destinadas a
a) custeio das despesas de translado do corpo, quando o garantir a manutenção ou expansão da seguridade social.
servidor, no desempenho de suas atribuições, falecer fora da Parágrafo único. As receitas destinadas à seguridade social
sede do exercício; constarão do orçamento do Estado do Pará.
b) auxílio-funeral, correspondente a 2 (dois) meses de
remuneração ou provento, aos dependentes ou, na ausência Art. 169. As metas e prioridades caracterizadoras dos
destes, a quem realizar as despesas do sepultamento; programas, projetos e atividades estabelecidas no orçamento,
c) pensão especial, no valor integral do vencimento ou manterão absoluta fidelidade à finalidade e ao objetivo do
remuneração, quando o servidor falecer em decorrência de órgão de Previdência e Assistência dos Servidores do Estado
acidente em serviço ou moléstia profissional; do Pará.
d) vantagens pecuniárias que o servidor deixou de
perceber em decorrência de seu falecimento. Capítulo II - Da Saúde

Art. 161. Garantido o direito de opção, é vedada a Art. 170. A assistência à saúde será prestada pelo órgão
percepção cumulativa de duas ou mais pensões, ressalvadas a estadual competente e, de forma complementar, por
diretriz constitucional da acumulação remunerada de cargos instituições públicas e privadas.
públicos.
Capítulo X - Das Acumulações Remuneradas Art. 171. Nas situações de urgência e emergência o setor de
Recursos Humanos comunicará formalmente ao órgão de
Art. 162. É vedada a acumulação remunerada de cargos seguridade social, no primeiro dia útil seguinte, o atendimento
públicos, exceto quando houver compatibilidade de horários, médico do servidor ou de seus dependentes.
nos seguintes casos: § 1° A assistência à saúde fora do domicílio do servidor
a) a de 2 (dois) cargos de professor; depende da manifestação favorável do órgão de seguridade
b) a de 1 (um) cargo de professor com outro técnico ou social do Estado do Pará.
científico, de nível médio ou superior; § 2° O atendimento de urgência e emergência fora do
c) a de 2 (dois) cargos privativos de médico. domicílio do servidor obedecerá ao que dispuser o
Parágrafo único. A proibição de acumular estende-se a regulamento.
empregos e funções e abrange autarquias, fundações mantidas
pelo Poder Público, empresas públicas, sociedades de Capítulo III - Da Previdência Social
economia mista, da União, Distrito Federal, dos Estados, dos
Territórios e dos Municípios, não se aplicando, porém, ao Art. 172. Os planos de Previdência Social atenderão, nos
aposentado, quando investido em cargo comissionado. termos da legislação pertinente:
I - à cobertura dos eventos de doença, invalidez, morte,
Art. 163. A acumulação de cargos, ainda que lícita, fica incluindo os resultantes de acidentes de trabalho, velhice e
condicionada à comprovação da compatibilidade de horários. reclusão;

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II - à pensão por morte de segurado, homem ou mulher, ao Capítulo II - Das Proibições


cônjuge e dependente.
§ 1° A contribuição previdenciária incidirá sobre a Art. 178. É vedado ao servidor:
remuneração total do servidor, exceto salário-família, com a I - acumular inconstitucionalmente cargos ou empregos na
consequente repercussão em benefícios. administração pública;
§ 2° É assegurado o reajustamento de benefícios para II - revelar fato de que tem ciência em razão do cargo, e que
preservar-lhes, em caráter permanente, o valor real da época deve permanecer em sigilo, ou facilitar sua revelação;
da concessão. III - pleitear como intermediário ou procurador junto ao
§ 3° O 13° (décimo terceiro) salário dos aposentados e serviço público, exceto quando se tratar de interesse do
pensionistas terá por base o valor dos proventos do mês de cônjuge ou dependente;
dezembro de cada ano. IV - deixar de comparecer ao serviço, sem causa justificada,
por 30 (trinta) dias consecutivos;
Capítulo IV - Da Assistência Social V - valer-se do exercício do cargo para auferir proveito
pessoal ou de outrem, em detrimento da dignidade da função;
Art. 173. A assistência social será prestada ao servidor e VI - cometer encargo legítimo de servidor público à pessoa
dependentes. estranha à repartição, fora dos casos previstos em lei;
VII - participar de gerência ou administração de empresa
Art. 174. A assistência social tem por objetivo: privada, de sociedade civil, ou exercer o comércio, exceto na
I - proteção ao servidor, sobretudo nos trabalhos penosos, qualidade de acionista, cotista ou comanditário;
insalubres e perigosos; VIII - aceitar contratos com a Administração Estadual,
II - proteção à família, à maternidade e à infância; quando vedado em lei ou regulamento;
III - amparo às crianças, em creche; IX - participar da gerência ou administração de associação
IV - a cultura, o esporte, a recreação e o lazer. ou sociedade subvencionada pelo Estado, exceto entidades
comunitárias e associação profissional ou sindicato;
TÍTULO V - DA ASSOCIAÇÃO SINDICAL X - tratar de interesses particulares ou desempenhar
atividade estranha ao cargo, no recinto da repartição;
Art. 175. É garantido ao servidor público civil do Estado do XI - referir-se, de modo ofensivo, a servidor público e a ato
Pará o direito à livre associação, como também, entre outros, da Administração;
os seguintes direitos, dela decorrentes: XII - utilizar-se do anonimato, ou de provas obtidas
a) de ser representado pelos sindicatos, na forma da ilicitamente;
legislação processual civil; XIII - permutar ou abandonar serviço essencial, sem
b) de inamovibilidade dos dirigentes dos sindicatos até 1 expressa autorização;
(um) ano após o final do mandato; XIV - omitir-se no zelo e conservação dos bens e
c) de descontar em folha, mediante autorização do documentos públicos;
servidor, sem ônus para a entidade sindical a que for filiado, o XV - desrespeitar ou procrastinar o cumprimento de
valor das mensalidades e contribuições definidas em decisão judicial;
Assembleia Geral da categoria. XVI - deixar, sem justa causa, de observar prazos legais
administrativos ou judiciais;
Art. 176. É assegurada a participação permanente do XVII - praticar ato lesivo ao patrimônio Estadual;
servidor nos colegiados dos órgãos do Estado do Pará em que XVIII - solicitar, aceitar ou exigir vantagem indevida pela
seus interesses profissionais ou previdenciários sejam objeto abstenção ou prática regular de ato de ofício;
de discussão e deliberação. XIX - aceitar representação de Estado estrangeiro, sem
autorização legal;
TÍTULO VI - DOS DEVERES, DAS PROIBIÇÕES E DAS XX - exercer atribuições sob as ordens imediatas de
RESPONSABILIDADES parentes até o segundo grau, salvo em cargo comissionado;
Capítulo I - Dos Deveres XXI - praticar atos, tipificados em lei como crime, contra a
administração pública;
Art. 177. São deveres do servidor: XXII - exercer a advocacia fora das atribuições
I - assiduidade e pontualidade; institucionais, se ocupante do cargo incompatível;
II - urbanidade; XXIII - retardar, injustificadamente, a nomeação de
III - discrição; classificado em concurso público.
IV - obediência às ordens superiores, exceto quando Parágrafo único. Não se compreende na proibição do inciso
manifestamente ilegais; VIII o exercício de cargo ou função na Administração Indireta,
V - exercício pessoal das atribuições; quando regularmente colocado à disposição.
VI - observância aos princípios éticos, morais, às leis e
regulamentos; Capítulo III - Das Responsabilidades
VII - atualização de seus dados pessoais e de seus
dependentes; Art. 179. O servidor responde civil, penal e
VIII - representação contra as ordens manifestamente administrativamente pelo exercício irregular de suas
ilegais e contra irregularidades; atribuições.
IX - atender com presteza:
a) às requisições para a defesa do Estado; Art. 180. A responsabilidade civil decorre de ato omissivo
b) às informações, documentos e providências solicitadas ou comissivo, doloso ou culposo, que resulte em prejuízo ao
por autoridades judiciárias ou administrativas; erário ou a terceiros.
c) à expedição de certidões para a defesa de direitos, para § 1° A indenização de prejuízo dolosamente causado ao
a arguição de ilegalidade ou abuso de autoridade. erário somente será liquidada na forma prevista no art. 125,
na falta de outros bens que assegurem a execução do débito
pela via judicial.
§ 2° Tratando-se de dano causado a terceiros, responderá
o servidor perante a Fazenda Pública, em ação regressiva.

Legislação 22
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§ 3° A obrigação de reparar o dano estende-se aos III - faltas ao serviço, sem causa justificada, por 60
sucessores e contra eles será executada, até o limite do valor (sessenta) dias intercaladamente, durante o período de 12
da herança recebida. (doze) meses;
IV - improbidade administrativa;
Art. 181. As sanções civis, penais e administrativas V - incontinência pública e conduta escandalosa, na
poderão cumular-se, sendo independentes entre si. repartição;
Art. 182. A absolvição judicial somente repercute na esfera VI - insubordinação grave em serviço;
administrativa, se negar a existência do fato ou afastar do VII - ofensa física, em serviço, a servidor ou a particular,
servidor a autoria. salvo em legítima defesa própria ou de outrem;
VIII - aplicação irregular de dinheiros públicos;
Capítulo IV - Das Penalidades e sua Aplicação IX - revelação de segredo do qual se apropriou em razão do
cargo;
Art. 183. São penas disciplinares: X - lesão aos cofres públicos e dilapidação do patrimônio
I - repreensão; estadual;
II - suspensão; XI - corrupção;
III - demissão: XII - acumulação ilegal de cargos, empregos ou funções
IV - destituição de cargo em comissão ou de função públicas;
gratificada; XIII - lograr proveito pessoal ou de outrem, valendo-se do
V - cassação de aposentadoria ou de disponibilidade. cargo, em detrimento da dignidade da função pública;
XIV - participação em gerência ou administração de
Art. 184. Na aplicação das penalidades serão considerados empresa privada, de sociedade civil, ou exercício do comércio,
cumulativamente: exceto na qualidade de acionista, cotista ou comanditário;
I - os danos decorrentes do fato para o serviço público; XV - atuação, como procurador ou intermediário, junto a
II - a natureza e a gravidade da infração e as circunstâncias repartições públicas, salvo quando se tratar de benefícios
em que foi praticada; previdenciários ou assistenciais a parentes até o segundo grau,
III - a repercussão do fato; e de cônjuge ou companheiro;
IV - os antecedentes funcionais. XVI - recebimento de propina, comissão, presente ou
vantagem de qualquer espécie, em razão de suas atribuições;
Art. 185. As penas disciplinares serão aplicadas através de: XVII - aceitação de comissão, emprego ou pensão de Estado
I - portaria, no caso de repreensão e suspensão; estrangeiro;
II - decreto, no caso de demissão, destituição de cargo em XVIII - prática de usura sob qualquer de suas formas;
comissão ou de função gratificada, cassação de aposentadoria XIX - procedimento desidioso;
ou de disponibilidade. XX - utilização de pessoal ou recursos materiais de
Parágrafo único. A portaria ou o decreto indicará a repartição em serviços ou atividades particulares.
penalidade e o fundamento legal, com a devida inscrição nos § 1° O servidor indiciado em processo administrativo não
assentamentos do servidor. poderá ser exonerado, salvo se comprovada a sua inocência ao
final do processo.
Art. 186. Na aplicação de penalidade, serão inadmissíveis § 2° O abandono de cargo só se configura pela ausência
as provas obtidas por meios ilícitos. intencional do servidor ao serviço, por mais de 30 (trinta) dias
consecutivos e injustificados.
Art. 187. Aos acusados e litigantes, em processo
administrativo, são assegurados o contraditório e a ampla Art. 191. Verificada, em processo disciplinar, a acumulação
defesa, com os meios e recursos a ela inerentes. proibida e provada a boa-fé, o servidor optará por um dos
Parágrafo único. Ao servidor punido com pena disciplinar cargos.
é assegurado o direito de pedir reconsideração e recorrer da § 1° Provada a má-fé, perderá também o cargo que exercia
decisão. há mais tempo e restituirá o que tiver percebido
indevidamente.
Art. 188. A pena de repreensão será aplicada nas infrações § 2° Na hipótese do parágrafo anterior, sendo um dos
de natureza leve, em caso de falta de cumprimento dos deveres cargos, função ou emprego exercido em outro órgão ou
ou das proibições, na forma que dispuser o regulamento. entidade, a demissão lhe será comunicada.

Art. 189. A pena de suspensão, que não exceder a 90 Art. 192. A destituição de cargo em comissão ou de função
(noventa) dias, será aplicada em caso de falta grave, gratificada será aplicada nos casos de infração, sujeita à
reincidência, ou infração ao disposto no art. 178, VII, XI, XII, penalidade de demissão.
XIV e XVII. Parágrafo único. Constatada a hipótese de que trata este
§ 1° O servidor, enquanto suspenso, perderá os direitos e artigo, a exoneração efetuada, nos termos do artigo 60, será
vantagens de natureza pecuniária, exceto o salário-família. convertida em destituição de cargo em comissão ou de função
§ 2° Quando licenciado, a penalidade será aplicada após o gratificada.
retorno do servidor ao exercício.
§ 3° Quando houver conveniência para o serviço, a Art. 193. A demissão ou destituição de cargo em comissão
autoridade que aplicar a pena de suspensão poderá convertê- ou de função gratificada, nos casos dos incisos IV, VIII, X e XI
la em multa, na base de 50% (cinquenta por cento) por dia de do art. 190, implica a indisponibilidade dos bens e o
vencimento ou remuneração, permanecendo o servidor em ressarcimento ao erário, sem prejuízo da ação penal cabível.
exercício.
Art. 194. A pena de demissão será aplicada com a nota "a
Art. 190. A pena de demissão será aplicada nos casos de: bem do serviço público", sempre que o ato fundamentar-se no
I - crime contra a Administração Pública, nos termos da lei art. 190, incisos I, IV, VII, X e XI.
penal; Parágrafo único. O servidor demitido ou destituído do
II - abandono de cargo; cargo em comissão ou da função gratificada, na hipótese
prevista neste artigo, não poderá retornar ao serviço estadual.

Legislação 23
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APOSTILAS OPÇÃO

Art. 195. A demissão ou a destituição de cargo em comissão Art. 202. Sempre que o ilícito praticado pelo servidor,
ou de função gratificada, nas hipóteses do art. 190, incisos XIII ensejar a imposição de penalidade de suspensão por mais de
e XV, incompatibiliza o servidor para nova investidura em 30 (trinta) dias, de demissão, cassação de aposentadoria ou
cargo público estadual, pelo prazo de 5 (cinco) anos. disponibilidade, ou destituição, será obrigatória a instauração
de processo disciplinar.
Art. 196. Será cassada a aposentadoria ou a
disponibilidade do inativo que houver praticado, na atividade, Capítulo VI - Do Afastamento Preventivo
falta punível com a demissão.
§ 1° A cassação da aposentadoria ou da disponibilidade Art. 203. Como medida cautelar e a fim de que o servidor
será precedida do competente processo administrativo. não venha a influir na apuração da irregularidade, a
§ 2° Aplica-se, ainda, a pena de cassação de aposentadoria autoridade instauradora do processo disciplinar poderá
ou de disponibilidade se ficar provado que o inativo: determinar o seu afastamento do exercício do cargo, pelo
I - aceitou ilegalmente cargo ou função pública; prazo de até 60 (sessenta) dias, sem prejuízo da remuneração.
II - aceitou ilegalmente representação, comissão, emprego Parágrafo único. O afastamento poderá ser prorrogado por
ou pensão de Estado estrangeiro; igual prazo, findo o qual cessarão os seus efeitos, ainda que não
III - praticou a usura em qualquer de suas formas; concluído o processo.
IV - não assumiu no prazo legal o exercício do cargo em que
foi aproveitado. Capítulo VII - Do Processo Disciplinar

Art. 197. As penalidades disciplinares serão aplicadas, Art. 204. O processo disciplinar é o instrumento destinado
observada a vinculação do servidor ao respectivo Poder, órgão a apurar responsabilidade de servidor por infração praticada
ou entidade: no exercício de suas atribuições, ou que tenha relação com as
I - pela autoridade competente para nomear em qualquer atribuições do cargo em que se encontre investido.
caso, e privativamente, nos casos de demissão, destituição e
cassação de aposentadoria ou disponibilidade; Art. 205. O processo disciplinar será conduzido por
II - pelos Secretários de Estado e dirigentes de órgão a comissão composta de 3 (três) servidores estáveis, designados
estes equiparados, nos casos de suspensão superiores a 30 pela autoridade competente, que indicará, dentre eles, o seu
(trinta) dias; presidente.
III - pelo chefe da repartição e outras autoridades, na forma § 1° A Comissão terá como secretário, servidor designado
dos respectivos regimentos ou regulamentos, nos casos de pelo seu presidente, podendo a indicação recair em um de seus
repreensão ou de suspensão até 30 (trinta) dias. membros.
§ 2° Não poderá participar de comissão de sindicância ou
Art. 198. A ação disciplinar prescreverá: de inquérito, cônjuge, companheiro ou parente do acusado,
I - em 5 (cinco) anos, quanto às infrações puníveis com consanguíneo ou afim, em linha reta ou colateral, até o terceiro
demissão, cassação de aposentadoria ou disponibilidade e grau.
destituição;
II - em 2 (dois) anos, quanto à suspensão; Art. 206. A Comissão exercerá suas atividades com
III - em 180 (cento e oitenta) dias, quanto à repreensão. independência e imparcialidade, assegurado o sigilo
§ 1° O prazo de prescrição começa a correr da data em que necessário à elucidação do fato ou exigido pelo interesse da
o fato se tornou conhecido. administração.
§ 2° Os prazos de prescrição previstos na lei penal aplicam- Parágrafo único - As reuniões e as audiências das
se às infrações disciplinares capituladas também como crime. comissões terão caráter reservado.
§ 3° A abertura de sindicância ou a instauração de processo
disciplinar interrompe a prescrição, até a decisão final
proferida por autoridade competente. Art. 207. O processo disciplinar se desenvolve nas
seguintes fases:
Capítulo V - Do Processo Administrativo Disciplinar I - instauração, com a publicação do ato que constituir a
comissão;
Art. 199. A autoridade que tiver ciência de irregularidade II - inquérito administrativo, que compreende instrução,
no serviço público é obrigada a promover a sua apuração defesa e relatório;
imediata, mediante sindicância ou processo administrativo III - julgamento.
disciplinar, assegurada ao acusado ampla defesa.
Art. 208. O prazo para a conclusão do processo disciplinar
Art. 200. As denúncias sobre irregularidades serão objeto não excederá 60 (sessenta) dias, contados da data de
de apuração, desde que contenham a identificação e o publicação do ato que constituir a comissão, admitida a sua
endereço do denunciante e sejam formuladas por escrito, prorrogação por igual prazo, quando as circunstâncias o
confirmada a autenticidade. exigirem.
Parágrafo único. Quando o fato narrado não configurar § 1° Sempre que necessário, a comissão dedicará tempo
evidente infração disciplinar ou ilícito penal, a denúncia será integral aos seus trabalhos, ficando seus membros
arquivada, por falta de objeto. dispensados do ponto, até a entrega do relatório final.
§ 2° As reuniões da comissão serão registradas em atas que
Art. 201. Da sindicância poderá resultar: deverão detalhar as deliberações adotadas.
I - arquivamento do processo;
II - aplicação de penalidade de repreensão ou suspensão de Capítulo VIII - Do Inquérito
até 30 (trinta) dias;
III - instauração de processo disciplinar. Art. 209. O inquérito administrativo obedecerá ao
Parágrafo único. O prazo para conclusão da sindicância não princípio do contraditório, assegurada ao acusado ampla
excederá a 30 (trinta) dias, podendo ser prorrogado por igual defesa, com a utilização dos meios e recursos admitidos em
período, a critério da autoridade superior. direito.

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Art. 210. Os autos da sindicância integrarão o processo § 2° Havendo 2 (dois) ou mais indiciados, o prazo será
disciplinar, como peça informativa da instrução. comum e de 20 (vinte) dias.
Parágrafo único. Na hipótese de o relatório da sindicância § 3° O prazo de defesa poderá ser prorrogado em dobro,
concluir que a infração está capitulada como ilícito penal, a para diligências reputadas indispensáveis.
autoridade competente encaminhará cópia dos autos ao § 4° No caso de recusa do indiciado em apor o ciente na
Ministério Público, independentemente da imediata cópia da citação, o prazo para defesa contar-se-á da data
instauração do processo disciplinar. declarada, em termo próprio, pelo membro da comissão que
fez a citação, com a assinatura de 2 (duas) testemunhas.
Art. 211. Na fase do inquérito, a comissão promoverá a
tomada de depoimentos, acareações, investigações e Art. 218. O indiciado que mudar de residência fica obrigado
diligências cabíveis, objetivando a coleta de prova, recorrendo, a comunicar à comissão o local onde poderá ser encontrado.
quando necessário, a técnicos e peritos, de modo a permitir a
completa elucidação dos fatos. Art. 219. Achando-se o indiciado em local incerto e não
sabido, será citado por Edital, publicado no Diário Oficial do
Art. 212. É assegurado ao servidor o direito de Estado e em jornal de grande circulação na localidade do
acompanhar o processo, pessoalmente ou por intermédio de último domicílio conhecido, para apresentar defesa.
procurador, arrolar e reinquirir testemunhas, produzir provas Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, o prazo para
e contraprovas e formular quesitos, quando se tratar de prova defesa será de 15 (quinze) dias, a partir da última publicação
pericial. do Edital.
§ 1° O presidente da comissão poderá denegar pedidos
considerados impertinentes, meramente protelatórios, ou de Art. 220. Considerar-se-á revel o indiciado que,
nenhum interesse para o esclarecimento dos fatos. regularmente citado, não apresentar defesa no prazo legal.
§ 2° Será indeferido o pedido de prova pericial, quando a § 1° A revelia será declarada, por termo, nos autos do
comprovação do fato independer de conhecimento especial de processo e devolverá o prazo para a defesa.
perito. § 2° Para defender o indiciado revel, a autoridades
instauradora do processo designará um servidor como
Art. 213. As testemunhas serão intimadas a depor defensor dativo, ocupante de cargo de nível igual ou superior
mediante mandato expedido pelo presidente da comissão, ao do indiciado.
devendo a segunda via, com o ciente do intimado, ser anexada
aos autos. Art. 221. Apreciada a defesa, a comissão elaborará
Parágrafo único. Se a testemunha for servidor público, a relatório minucioso, em que resumirá as peças principais dos
expedição do mandato será imediatamente comunicada ao autos e mencionará as provas nas quais se baseou para formar
chefe da repartição onde serve, com a indicação do dia e hora a sua convicção.
marcados para a inquirição. § 1° O relatório será sempre conclusivo quanto à inocência
ou à responsabilidade do servidor.
Art. 214. O depoimento será prestado oralmente e § 2° Reconhecida a responsabilidade do servidor, a
reduzido a termo, não sendo lícito à testemunha trazê-lo por comissão indicará o dispositivo legal ou regulamentar
escrito. transgredido, bem como as circunstâncias agravantes ou
§ 1° As testemunhas serão inquiridas separadamente. atenuantes.
§ 2° Na hipótese de depoimentos contraditórios ou que se Art. 222. O processo disciplinar, com o relatório da
infirmem, proceder-se-á à acareação entre os depoentes. comissão, será remetido à autoridade que determinou a sua
instauração, para julgamento.
Art. 215. Concluída a inquirição das testemunhas, a
comissão promoverá o interrogatório do acusado, observados Capítulo IX - Do Julgamento
os procedimentos previstos nos arts. 213 e 214.
§ 1° No caso de mais de um acusado, cada um deles será Art. 223. A autoridade julgadora proferirá a sua decisão, no
ouvido separadamente, e sempre que divergirem em suas prazo de 20 (vinte) dias, contados do recebimento do
declarações sobre fatos ou circunstâncias, será promovida a processo.
acareação entre eles. § 1° Se a penalidade a ser aplicada exceder à alçada da
§ 2° O procurador do acusado poderá assistir ao autoridade instauradora do processo, este será encaminhado
interrogatório, bem como à inquirição das testemunhas, à autoridade competente, que decidirá em igual prazo.
sendo-lhe vedado interferir nas perguntas e respostas, § 2° Havendo mais de um indiciado e diversidade de
facultando-se lhe, porém, reinquiri-las, por intermédio do sanções, o julgamento caberá à autoridade competente para a
presidente da comissão. imposição da pena mais grave.
§ 3° Se a penalidade prevista for a demissão, cassação de
Art. 216. Quando houver dúvida sobre a sanidade mental aposentadoria ou disponibilidade, ou destituição o julgamento
do acusado, a comissão proporá à autoridade competente que caberá às autoridades de que trata o inciso I do art. 197.
ele seja submetido, a exame por junta médica oficial, da qual
participe, pelo menos, um médico psiquiatra. Art. 224. O julgamento acatará o relatório da comissão,
Parágrafo único. O incidente de sanidade mental será salvo quando contrário às provas dos autos.
processado em auto apartado e apenso ao processo principal, Parágrafo único. Quando o relatório da comissão
após a expedição do laudo pericial. contrariar as provas dos autos, a autoridade julgadora poderá,
Art. 217. Tipificada a infração disciplinar, será formulada a motivadamente, agravar a penalidade proposta, abrandá-la ou
indicação do servidor, com a especificação dos fatos a ele isentar o servidor de responsabilidade.
imputados e das respectivas provas.
§ 1° O indiciado será citado por mandato expedido pelo Art. 225. Verificada a existência de vício insanável, a
presidente da comissão para apresentar defesa escrita, no autoridade julgadora declarará a nulidade total ou parcial do
prazo de 10 (dez) dias, assegurando-se lhe vista do processo processo e ordenará a constituição de outra comissão, para
na repartição. instauração de novo processo.

Legislação 25
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APOSTILAS OPÇÃO

§ 1° O julgamento fora do prazo legal não implica nulidade direitos do servidor, exceto em relação à destituição, que será
do processo. convertida em exoneração.
§ 2° A autoridade julgadora que der causa à prescrição de Parágrafo único. Da revisão não poderá resultar
que trata o art. 198, § 2°, será responsabilizada na forma da agravamento de penalidade.
presente lei.
TÍTULO VII - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 226. Extinta a punibilidade pela prescrição, a
autoridade julgadora determinará o registro do fato nos Art. 238. O dia 28 de outubro é consagrado ao servidor
assentamentos individuais do servidor. público estadual.

Art. 227. Quando a infração estiver capitulada como crime, Art. 239. O tempo de serviço gratuito será contado para
o processo disciplinar será remetido ao Ministério Público todos os fins, quando prestado à autarquia profissional, ou aos
para instauração da ação penal, ficando trasladado na que tenham exercido gratuitamente mandato de Vereador,
repartição. sendo vedada a contagem quando for simultâneo com o
exercício de cargo, emprego ou função pública.
Art. 228. Serão assegurados transporte e diárias:
I - ao servidor convocado para prestar depoimento fora da Art. 240. É assegurado o direito de greve, na forma de lei
sede de sua repartição, na condição de testemunha, específica. (NR)
denunciado ou indiciado;
II - aos membros da comissão e ao secretário, quando Art. 241. O servidor de nível superior ou equiparado ao
obrigados a se deslocarem da sede dos trabalhos para a mesmo, sujeito à fiscalização da autarquia profissional, ou
realização de missão essencial ao esclarecimento dos fatos. entidade análoga, suspenso do exercício profissional não
poderá desempenhar atividade que envolva responsabilidade
Capítulo X - Da Revisão do Processo técnico-profissional, enquanto perdurar a medida disciplinar.
Art. 242. Fica assegurada a participação de 1 (um)
Art. 229. O processo disciplinar poderá ser revisto, a representante dos sindicatos de servidores públicos no
qualquer tempo, a pedido ou de ofício, quando se aduzirem Conselho de Política de Cargos e Salários do Estado do Pará, na
fatos novos ou circunstâncias suscetíveis de justificar a forma do regulamento.
inocência do punido ou a inadequação da penalidade aplicada.
§ 1° Em caso de falecimento, ausência ou desaparecimento TÍTULO VIII - DAS DISPOSIÇÕES TRANSITÓRIAS
do servidor, qualquer pessoa da família poderá requerer a
revisão do processo. Art. 243. (VETADO)
§ 2° No caso de incapacidade mental do servidor, a revisão
será requerida pelo respectivo curador. Art. 244. Aos servidores da administração direta,
autarquias e fundações públicas, contratados por prazo
Art. 230. No processo revisional, o ônus da prova cabe ao indeterminado, pelo regime da Consolidação das Leis do
requerente. Trabalho ou como serviços prestados é assegurado até que
seja promovido concurso público para fins de provimento dos
Art. 231. A simples alegação de injustiça da penalidade não cargos por eles ocupados, ou que venham a ser criados, as
constitui fundamento para a revisão, que requer elementos mesmas obrigações e vantagens atribuídas aos demais
novos ainda não apreciados no processo originário. servidores considerados estáveis por força do artigo 19 do Ato
das Disposições Transitórias da Constituição Federal.
Art. 232. O requerimento de revisão do processo será
dirigido ao Secretário de Estado ou autoridade equivalente Art. 245. (VETADO)
que, se autorizar a revisão, encaminhará o pedido ao dirigente Parágrafo único. (VETADO)
do órgão ou entidade onde se originou o processo disciplinar.
Parágrafo único. Deferida a petição, a autoridade Art. 246. Aos servidores em atividade na área de educação
competente providenciará a constituição de comissão, na especial fica atribuída a gratificação de cinquenta por cento
forma do art. 205. (50%) do vencimento.

Art. 233. A revisão correrá em apenso ao processo Art. 247. É assegurada ao servidor a contagem da soma do
originário. tempo de serviço prestado à União, Estados, Distrito Federal,
Parágrafo único. Na petição inicial, o requerente pedirá dia Territórios e Municípios, desde que ininterrupta e
e hora para a produção de provas e inquirição das sucessivamente, para efeito de aferição da estabilidade nas
testemunhas que arrolar. condições previstas no art. 19 do Ato das Disposições
Constitucionais Transitórias da Constituição Federal.
Art. 234. A comissão revisora terá 60 (sessenta) dias para
a conclusão dos trabalhos. Art. 248. (VETADO)
Art. 235. Aplicam-se aos trabalhos da comissão revisora,
no que couber, as normas e procedimentos próprios da Art. 249. Esta lei entra em vigor na data da sua
comissão do processo disciplinar. promulgação.

Art. 236. O julgamento caberá à autoridade que aplicou a Art. 250. (VETADO)
penalidade, nos termos do art. 197.
Parágrafo único. O prazo para julgamento será de 20 Palácio do Governo do Estado do Pará, em 24 de janeiro
(vinte) dias, contados do recebimento do processo, no curso de 1994.
do qual a autoridade julgadora poderá determinar diligências.

Art. 237. Julgada procedente a revisão, será declarada sem


efeito a penalidade aplicada, restabelecendo-se todos os

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APOSTILAS OPÇÃO

Questões

01. (PC/PA – Delegado de Polícia – FUNCAB/2016)


Considerando o Regime Jurídico Único dos Servidores
Públicos Civis da Administração Direta, das Autarquias e das
Fundações Públicas do Estado do Pará (Lei n° 5.810/1994),
assinale a alternativa correta.
(A) O prazo para conclusão da sindicância não excederá a
60 (sessenta) dias, podendo ser prorrogado por igual período,
a critério da autoridade processante.
(B) As denúncias sobre irregularidades serão objetos de
apuração, desde que contenham a identificação e o endereço
do denunciante e sejam formuladas por escrito, confirmada a
autenticidade.
(C) Não há previsão de processo administrativo disciplinar
na legislação estadual, sendo aplicada a legislação federal em
sua integralidade ante a lacuna.
(D) Da sindicância resultará o arquivamento do processo
ou a instauração do processo disciplinar, sendo vedada, ao seu
final, a aplicação direta de qualquer punição.
(E) O contraditório e a ampla defesa não são garantidos nas
sindicâncias, servindo como mera peça de instrução para um
eventual procedimento administrativo disciplinar, tendo a
característica de inquisitorial.

02. (TCE/PA – Conhecimentos Básicos – CESPE/2016)


De acordo com as disposições contidas na Lei n.º 5.810/1994,
que dispõe o regime jurídico único dos servidores públicos
civis da administração direta, das autarquias e das fundações
públicas do estado do Pará, julgue o item que se segue.
O servidor reintegrado será exonerado se, submetido a
inspeção de saúde em instituição pública competente, ele for
julgado incapaz para o exercício do cargo.
(....) Certo (....) Errado

03. (TCE/PA – Conhecimentos Básicos – CESPE/2016)


De acordo com as disposições contidas na Lei n.º 5.810/1994,
que dispõe o regime jurídico único dos servidores públicos
civis da administração direta, das autarquias e das fundações
públicas do estado do Pará, julgue o item que se segue.
A condição de brasileiro nato é requisito para a posse em
cargo público integrante da estrutura do TCE/PA.

Respostas

01. Resposta: B.
02. Resposta: Errado.
03. Resposta: Errado.

Anotações

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APOSTILAS OPÇÃO

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CONHECIMENTOS
DIDÁTICO-PEDAGÓGICOS

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pelo qual as pessoas constituem e vivenciam sua própria


subjetividade. A percepção dos valores integra esse processo
tanto quanto a intelecção lógica dos conceitos. Esse processo
de subjetivação é que permite aos homens atribuir
significações aos dados e situações de sua experiência do real,
o que eles fazem sempre de forma plurivalente, pois essa
atribuição de significações não leva a sentidos unívocos,
porém, o mais das vezes, plurais e mesmo equívocos.
Fundamentos da Educação:
conceitos e concepções A discussão dos fundamentos éticopolíticos da educação,
pedagógicas, seus fins e papel objeto desta reflexão, envolve necessariamente a esfera da
subjetivação, uma vez que implica referência a valores. Para
na sociedade ocidental conduzir essa discussão, o presente ensaio, elaborado de uma
contemporânea. perspectiva filosófico-educacional, foi desenvolvido em três
movimentos, cada um deles se desdobrando em dois
percursos. O primeiro movimento, de caráter antropológico,
Fundamentos sócio históricos e Políticos da Educação1 procura, no primeiro percurso, situar a educação como prática
humana, mediada e mediadora do agir histórico dos homens;
A educação para Severino, é processo inerente à vida dos e, no segundo, fundamentar teoricamente a necessária
seres humanos, intrínseco à condição da espécie, uma vez que intencionalidade ético-política dessa prática, explicitando a
a reprodução dos seus integrantes não envolve apenas uma sua relação com o processo de subjetivação. No segundo
memória genética mas, com igual intensidade, pressupõe uma movimento, de cunho histórico, busca-se no primeiro
memória cultural, em decorrência do que cada novo membro momento mostrar como a experiência socioeducacional
do grupo precisa recuperá-la, inserindo-se no fluxo de sua brasileira marcou-se por diversas subjetivações ideológicas,
cultura. Ao longo da constituição histórico-antropológica da enquanto no segundo são destacados, por sua relevância, os
espécie, esse processo de inserção foi se dando, inicialmente, desafios e dilemas da educação brasileira atual no contexto da
de forma quase que instintiva, prevalecendo o processo de sociabilidade neoliberal. No terceiro movimento, que tem uma
imitação dos indivíduos adultos pelos indivíduos jovens, nos perspectiva político pedagógica, ressalta-se, inicialmente, o
mais diferentes contextos pessoais e grupais que tecem a compromisso éticopolítico da educação como mediação da
malha da existência humana. Porém, com a ‘complexificação’ cidadania, para enfatizar, em seguida, a importância que a
da vida social, foram implementadas práticas sistemáticas e escola pública ainda tem como espaço público privilegiado
intencionais destinadas a cuidar especificamente desse para um projeto de educação emancipatória.
processo, instaurando-se então instituições especializadas
encarregadas de atuar de modo formal e explícito na inserção A educação como prática histórico-social
dos novos membros no tecido sociocultural. Nasceram então Falar de fundamentos éticos e políticos da educação
as escolas. pressupõe assumi-la na sua condição de prática humana de
Sem prejuízo dos esforços e investimentos sistemáticos caráter interventivo, ou seja, prática marcada por uma
que ocorrem no seio de suas práticas formais, o processo intenção interventiva, intencionando mudar situações
abrangente de educação informal continua presente e atuante individuais ou sociais previamente dadas. Implica uma eficácia
no âmbito da vida social em geral, graças às atividades construtiva e realiza-se numa necessária historicidade e num
interativas da convivência humana. Mas a formalização cada contexto social. Tal prática é constituída de ações mediante as
vez maior da interação educativa decorre da própria natureza quais os agentes pretendem atingir determinados fins
da atividade humana, que é sempre intencionalmente relacionados com eles próprios, ações que visam provocar
planejada, sempre vinculada a um télos que a direciona. Desse transformações nas pessoas e na sociedade, ações marcadas
modo, todos os agrupamentos sociais, quanto mais se por finalidades buscadas intencionalmente. Pouco importa
tornaram complexos, mais desenvolveram práticas formais de que essas finalidades sejam eivadas de ilusões, de ideologias
educação, institucionalizando-as sistematicamente. ou de alienações de todo tipo: de qualquer maneira são ações
Desde sua gênese mais arcaica, essa inserção sociocultural intencionalizadas das quais a mera descrição objetivada
envolve sempre uma significação valorativa, ainda que o mais obtida mediante os métodos positivos de pesquisa não
das vezes implícita nos padrões comportamentais do grupo e consegue dar conta da integralidade de sua significação. O lado
inconsciente para os indivíduos envolvidos, pois se trata de um visível do agir educacional dos homens fica profundamente
compartilhamento subjetivamente vivenciado de sentidos e marcado por essa construtividade e historicidade da prática
valores. A cultura, como conjunto de signos objetivados, só é humana e, como tal, escapa da normatividade nomotética e de
apropriada mediante um intenso processo de subjetivação. qualquer outra forma de necessidade, seja ela lógica, seja
O existir histórico dos homens realiza-se objetivamente biológica, física ou mesmo social, se tomado este último
nas circunstâncias dadas pelo mundo material (a natureza aspecto como elemento de pura objetividade. Os fenômenos de
física) e pelo mundo social (a sociedade e a cultura) como natureza política e educacional não se determinam por pura
referências externas de sua vida. No entanto, essa condição mecanicidade, ou melhor, só a posteriori ganham objetividade
objetiva de seu existir concreto está intimamente articulada à mecânica, transitiva, mas, a essa altura, já perderam sua
vivência subjetiva, esfera constituída de diferentes e significação especificamente humana. É que eles se dão num
complexas expressões de seus sentimentos, sensibilidades, fluxo de construtividade histórica, construção está
consciência, memória, imaginação. Esses processos põem em referenciada a intenções e finalidades que comprometem toda
cena a intervenção subjetiva dos homens no fluxo de suas a logicidade nomotética de seu eventual conhecimento.
práticas reais, marcando-as intensamente. Mas, ao mesmo O caráter práxico da educação, ou seja, sua condição de
tempo, as referências objetivas condicionantes da existência prática intencionalizada, faz com que ela fique vinculada a
atuam fortemente na gestação, na formação e na configuração significações que não são da ordem da fenomenalidade
dessa vivência. Daí falar-se do processo de subjetivação, modo empírica dessa existência e que devem ser levadas em conta

1SEVERINO, A. J. Fundamentos Ético-Políticos da Educação no Brasil De Hoje.

Fundamentos da Educação Escolar do Brasil Contemporâneo.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 1
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em qualquer análise que se pretenda fazer dela, exigindo força do valor que lhe é, então, imposto. Os usos, os costumes,
diferenciações epistemológicas que interferem em seu perfil as práticas, os comportamentos, as atitudes que carregam
cognoscitivo. Educação é prática histórico-social, cujo consigo essas características e que configuram o agir dos
norteamento não se fará de maneira técnica, conforme ocorre homens nas mais diferentes culturas e sociedades constituem
nas esferas da manipulação do mundo natural, como, por a moral. A moralidade é fundamentalmente a qualificação
exemplo, naquelas da engenharia e da medicina. desses comportamentos, aquela ‘força’ que faz com que eles
sejam praticados pelos homens em função dos valores que
No seu relacionamento com o universo simbólico da essa qualificação subsume. Podemos constatar que é em
existência humana, a prática educativa revela-se, em sua função desses valores que as várias culturas, nos vários
essencialidade, como modalidade técnica e política de momentos históricos, vão constituindo seus códigos morais de
expressão desse universo, e como investimento formativo em ação, impondo aos seus integrantes um modo de agir que
todas as outras modalidades de práticas. Como modalidade de esteja de acordo com essas normas. Porém, por mais que se
trabalho, atividade técnica, essa prática é estritamente encontre premido por essas normas, o homem defronta-se
cultural, uma vez que se realiza mediante o uso de ferramentas com a experiência insuperável de que participa pessoalmente
simbólicas. Desse modo, é como prática cultural que a da decisão que o leva a agir dessa ou daquela maneira; sente-
educação se faz mediadora da prática produtiva e da prática se responsável por sua ação e muitas vezes bem ciente das
política, ao mesmo tempo que responde também pela consequências dela. Assim, a norma moral tem um caráter
produção cultural. É servindo-se de seus elementos de imperativo que o impressiona. Os valores morais impõem-se
subjetividade que a prática educativa prepara para o mundo ao homem com força normativa e prescritiva, quase que
do trabalho e para a vida social2. Os recursos simbólicos de que ditando como e quando suas ações devem ser conduzidas.
se serve, em sua condição de prática cultural, são aqueles Quando não as segue, tem a impressão de estar fazendo o que
constituídos pelo próprio exercício da subjetividade, em seu não devia fazer, embora continue com um nível proporcional
sentido mais abrangente, sob duas modalidades mais de liberdade para não fazer como e quando a norma parece lhe
destacadas: a produção de conceitos e a vivência de valores. impor.
Conceitos e valores são as referências básicas para a
intencionalização do agir humano, em toda a sua abrangência. Se toda e qualquer ação do homem dependesse
O conhecimento é a ferramenta fundamental de que o homem deterministicamente de fatores alheios à sua vontade livre,
dispõe para dar referências à condução de sua existência então não seria o caso de se sentir responsável por elas; mas
histórica. Tais referências se fazem necessárias para a prática ocorre que, apesar de toda a gama de condicionamentos que o
produtiva, para a política e mesmo para a prática cultural. cercam e o determinam, há margem para a intervenção de uma
Ser eminentemente prático, o homem tem sua existência avaliação de sua parte e para uma determinada tomada de
definida como um contínuo devir histórico, ao longo do qual posição e de decisão. Goza, por isso, de um determinado campo
vai construindo seu modo de ser, mediante sua prática. Essa de liberdade, de vontade livre, de autonomia, não podendo
prática coloca-o em relação com a natureza, mediante as alegar total determinação por fatores externos à sua decisão.
atividades do trabalho; em relação com seus semelhantes, Hoje, os conhecimentos objetivos da realidade humana,
mediante os processos de sociabilidade; em relação com sua proporcionados pelas ciências humanas, de modo especial a
própria subjetividade, mediante sua vivência da cultura psicologia, a sociologia, a economia, a etologia, a psicanálise, a
simbólica. Mas a prática dos homens não é uma prática antropologia e a história, permitem identificar com bastante
mecânica, transitiva, como o é a dos demais seres naturais; ela precisão aquelas atitudes que são tomadas por imposição de
é uma prática intencionalizada, marcada que é por um sentido, forças superiores à vontade pessoal. Mas permitem ver
vinculado a objetivos e fins, historicamente apresentados. igualmente mais claro o alcance da vontade e o nível de
Além disso, a intencionalização de suas práticas também se arbítrio de que se dispõe quando se tem de escolher entre
faz pela sensibilidade valorativa da subjetividade. O agir várias alternativas, assim como a possibilidade de saber qual a
humano implica, além de sua referência cognoscitiva, uma ‘melhor’ opção cabe em cada caso. Pode-se falar então da
referência valorativa. Com efeito, a intencionalização da consciência moral, fonte de sensibilidade aos valores que
prática histórica dos homens depende de um processo de norteiam o agir humano, análoga à consciência epistêmica, que
significação simultaneamente epistêmico e axiológico. Daí a permite ao homem o acesso à representação dos objetos de
imprescindibilidade das referências éticas do agir e da sua experiência geral, mediante a formação de conceitos.
explicitação do relacionamento entre ética e educação. Assim, como tem uma consciência sensível aos conceitos, tem
igualmente uma consciência sensível aos valores. Do mesmo
A prática educacional como prática ético-política modo que a filosofia sempre se preocupou em discutir e buscar
Na esfera da subjetividade, a vivência moral é uma compreender como se formam os conceitos, como se pode
experiência comum a todos nós. Pelo que cada um pode acessá-los, o que os funda, ela procura igualmente
observar em si mesmo e pelo que se pode constatar pelas mais compreender como se justifica essa sensibilidade aos valores.
diversificadas formas de pesquisas científicas e de Desenvolveu então uma área específica de seu campo de
observações culturais, todos os homens dispõem de uma investigação, no âmbito da axiologia, para conduzir essa
sensibilidade moral, mediante a qual avaliam suas ações, discussão: a ética.
caracterizando-as por um índice valorativo, o que se expressa Cabe aqui um breve esclarecimento semântico. Moral e
comumente ao serem consideradas como boas ou más, lícitas ética não são propriamente dois termos sinônimos, apesar da
ou ilícitas, corretas ou incorretas. Hoje se sabe, graças às etimologia análoga, em latim e em grego, respectivamente. É
contribuições das diversas ciências do campo antropológico, certo que, na linguagem comum do dia-a-dia, já não se
que muitos dos padrões que marcam o nosso agir derivam de distingue um conceito do outro. Mas, a rigor, moral refere-se à
imposições de natureza sociocultural, ou seja, os próprios relação das ações com os valores que a fundam, tais como
homens, vivendo em sociedade, acabam impondo uns aos consolidados num determinado grupo social, não exigindo
outros determinadas normas de comportamento e de ação. uma justificativa desses valores que vá além da consagração
Mas a incorporação dessas normas pressupõe uma espécie de coletiva em função dos interesses imediatos desse grupo. No
adesão por parte das pessoas individualmente, ou seja, é caso da ética, refere-se a essa relação, mas sempre precedida
preciso que elas vivenciem, no plano de sua subjetividade, a de um investimento elucidativo dos fundamentos, das

2 SEVERINO, A. J. Educação, Sujeito e História. São Paulo: Olho d’Água, 2001.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 2
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justificativas desses valores, independentemente de sua das ações dos mais fortes. Não sem razão, durante todo esse
aprovação ou não por qualquer grupo. Por isso, fala-se de ética longo período de Colônia e Império, a evolução do sistema
em dois sentidos correlatos: de um lado, frisa-se a educacional do país, tanto do ponto de vista organizacional
sensibilidade aos valores justificados mediante uma busca como do ponto de vista de sua função social, foi pouco
reflexiva por parte dos sujeitos; de outro, convencionou-se significativa, uma vez que a finalidade da escola encontrava-se
chamar igualmente de ética a disciplina filosófica que busca na continuidade da finalidade evangelizadora e pastoral da
elucidar esses fundamentos. Igreja, não se podendo falar de referências políticas para a
Mas de onde vem o valor dos valores? Onde se funda a configuração da ética. Visava-se a uma ética fundada na
consciência moral? Se o homem é um ser histórico em vontade individual das pessoas, o que podia se realizar
construção, em devir, sem vinculação determinante com a preferencialmente na esfera privada, não se atribuindo à
essência metafísica e a natureza física, naquilo que lhe é educação a contribuição para a instauração de um espaço
específico, onde ancorar a referência valorativa de sua público de vida. Desse modo, o pouco que houve de
consciência moral? O valor fundador dos valores que fundam institucionalização de educação escolar serviu de reforço para
a moralidade é aquele representado pela própria dignidade da a reprodução da ideologia dominante e das condições
pessoa humana, ou seja, os valores éticos fundam-se no valor econômico-sociais, marcadas pela degradação, pela opressão e
da existência humana. É em função da qualidade desse existir, pela alienação da maioria da população em relação às
delineado pelas características que lhe são próprias, que se situações de trabalho, de participação política e de vivência
pode traçar o quadro da referência valorativa, para se definir cultural. O modelo econômico era o agrário exportador,
o sentido do agir humano, individual ou coletivo. O próprio voltado para a produção agrícola destinada à exportação aos
homem já é um valor em si, nas suas condições contingenciais países centrais. Todo o aparato político da época visava dar
de existência, na sua radical historicidade, facticidade, sustentação aos segmentos dominantes, que, além de
corporeidade, incompletude e finitude. possuírem os meios de produção e até a força de trabalho
Assim, a filosofia, por meio da ética, busca dar conta dos (detinham a posse da terra, a força escrava, a renda
possíveis fundamentos desse nosso modo de ‘vivenciar’ as financeira), utilizavam o controle ideológico pela divulgação e
coisas, tendo sempre em vista que é necessário ir além das ‘inculcação’ da concepção cristã do mundo. Assim, ao lado da
justificativas imediatistas, espontaneístas e particularistas das alienação objetiva em que as pessoas se encontravam lançadas
morais empíricas de cada grupo social. A ética coloca-se numa pelas condições socioeconômicas, ocorria o reforço de uma
perspectiva de universalidade, enquanto a moral fica sempre percepção enviesada dessas condições pela consciência, que
presa à particularidade dos grupos e mesmo dos indivíduos. instaura então uma alienação subjetiva. Coube ao ideário
Mas é possível encontrar um fundamento universal para os católico exercer esse papel, funcionando então como ideologia
valores éticos? A filosofia ocidental, como mostra sua história adequada ao momento histórico.
milenar, sempre o procurou e continua a procurá-lo, dada a
permanência das demandas da consciência ética. Pode-se afirmar que o cristianismo, a par de seus
princípios teológicos, apresentava igualmente uma ética
A educação brasileira: determinação histórica e individual, da qual decorreram as referências também para o
subjetivação valorativa convívio social, dada a suprema prioridade da pessoa sobre a
A presença da educação formal e institucionalizada é traço sociedade. É a qualidade moral dos indivíduos que devia
marcante das sociedades ocidentais, com destaque para a garantir a qualidade moral da sociedade. Mas o caráter
sociedade europeia. No caso do Brasil, em que pese sua ainda idealizado dessas referências comprometia sua eficácia
pequena trajetória na era moderna da sociedade ocidental e a histórica, pois esta dependeria da causalidade da vontade,
lentidão de seu desenvolvimento nos três primeiros séculos de insuficiente para mover a realidade social. Daí transformar-se
sua inserção histórica nessa sociedade, ela não ocorreu de numa ideologia, atuando apenas como ideologia. É o que
forma diferente. O Brasil conta com uma já bastante visível explica sua incapacidade de impedir a prática da escravidão,
experiência de educação formal, experiência esta herdeira da apesar de, no plano teórico, tratar-se de prática incompatível
experiência europeia, forjada sob a marca da perspectiva com os valores apregoados.
cristã, mas tributária igualmente das circunstâncias históricas Mas a ideologia católica dos primeiros séculos de formação
próprias do contexto local. da sociedade brasileira foi perdendo aos poucos sua
Instaurada então nos idos da fase colonial sob a concepção hegemonia em decorrência da mudança socioeconômica pela
escolástica da formação humana, a educação no Brasil nasce qual o país igualmente sofreu em decorrência da lenta, extensa
como obra do trabalho missionário dos jesuítas, fundada sob e intensa expansão do capitalismo. Embora a imersão do Brasil
uma perspectiva ideológica católica, de origem na no capitalismo não tivesse ocorrido com características
Contrarreforma, e operacionalizada pedagogicamente sob o idênticas ao que havia acontecido na Europa e na América do
modelo da escolástica. Em que pese a pequena expressão de Norte, não se podendo nem mesmo falar de uma revolução
um aparelho escolar nesse período, a cultura brasileira dos burguesa que o implantasse em nossas paragens, o país não
períodos colonial e imperial foi impregnada pelo catolicismo. podia escapar à influência dessa expansão comandada
Com seus conceitos e valores, o catolicismo marcou a vida inicialmente pelos ingleses e, posteriormente, pelos
social e cultural do país, contribuindo significativamente para americanos. Assim, a sociedade brasileira, embora
um forte processo de subjetivação de seus habitantes, sob a conservando muitos elementos de sua fase escravista,
representação dos dogmas doutrinários católicos. incorporou as forças produtivas do modo de produção
No que concerne às relações entre a educação e a ideologia capitalista e as consequentes configurações no plano político e
católica, fundada, de um lado, na teologia cristã e, de outro, na cultural. Da mesma forma, novos valores passaram a marcar a
metafísica da escolástica tomista, prevalece a postulação de subjetividade das pessoas, dando nova fisionomia à vida da
uma ética essencialista, articulada ao voluntarismo moral. A sociedade. Com o capitalismo, a oligarquia rural e o
dimensão política não tem autonomia como dinâmica de campesinato perderam poder social, emergindo uma
pulsão de valores propriamente sociais. Toda a defesa dos burguesia urbano-industrial, as camadas médias e o
valores cristãos é baseada na crença do poder da vontade proletariado, que se tornaram os novos sujeitos a conduzir a
individual para a condução da vida, uma vez que da postura vida nacional, impondo alterações significativas no perfil da
ética de todas as pessoas decorreria necessariamente uma vida político-social do país. Em que pesem suas reconhecidas
vida coletiva harmoniosa, independentemente das condições limitações, o processo republicano espelhou essa nova
contextuais, da hierarquização das pessoas e da arbitrariedade realidade, ligando-se a novas referências ideológicas,

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decorrentes de outros paradigmas filosóficos, como o educacionais e culturais efetivamente implementadas não
iluminismo, o liberalismo, o laicismo, o positivismo.3 foram necessariamente coerentes, em seu caráter radical, com
os valores declarados. Com isso, não se nega o efetivo
A nova ideologia que se configurou entrou em conflito com desenvolvimento ocorrido no país, mas ele não aconteceu por
a ideologia conservadora do catolicismo, embora se trate de força da realização dos novos valores; ao contrário, ocorreu
conflito que não chegou a gerar uma ruptura radical na coesão muito mais pela violência das determinações do capitalismo
da sociedade, em função das peculiaridades da própria em sua incansável busca da acumulação, com sensibilidade
configuração das classes sociais do país. A Revolução de 1930 mínima às necessidades objetivas da maioria da população.
é um marco representativo desse novo momento vivido pela De qualquer modo, é correto afirmar que a ideologia que
sociedade brasileira, referendando-o e dando-lhe maior prevaleceu como elemento aglutinador da constituição da
identidade. O processo se consolidou com o fim da Segunda subjetividade social brasileira desse segundo período da
Guerra Mundial, quando o capitalismo, sob a égide americana, trajetória sociopolítico-educacional do país foi a ideologia
se instalou de forma irreversível. Com a Revolução de 1964, liberal burguesa, laicizada, modernizada e modernizadora,
esse ciclo se completou, mediante uma estruturação com pretensão de ser fundada na ciência e no reconhecimento
tecnocrática, inserindo de vez a economia do país no fluxo do da liberdade e da igualdade humanas. Impôs-se assim uma
capitalismo mundial. concepção liberal do mundo, da cultura e da educação. Essa
Essa modernização econômica e cultural do país levou à ideologia atendia aos interesses da burguesia nacional urbano
paulatina substituição da ideologia religiosa do catolicismo industrial e justificava a modernização de todos os setores da
por uma ideologia laica, de inspiração liberal e republicana. vida social. Na verdade, estava lançando raízes para um
Nesse novo ambiente de desenvolvimentismo e modernização, projeto que deveria consolidar cada vez mais o capitalismo
a educação institucionalizada teve seu papel extremamente monopolista, a serviço do qual deveria ser colocado o próprio
revalorizado, uma vez que lhe cabiam então tarefas Estado.4
importantes não só na formação cultural das pessoas mas
também na profissionalização dos trabalhadores para as No entanto, assim como a ideologia católica, a ideologia
indústrias e para os diversos serviços. Além disso, as camadas liberal não conseguiu implementar uma educação
médias viam na educação um dos principais caminhos para a efetivamente voltada para a emancipação de toda a população,
ascensão social, o que suscitou forte demanda pela educação. como pressupunha o ideário republicano, liberal e iluminista,
Esta deveria ser fornecida por um sistema público, laico, limitando-se a exercer apenas seu papel ideológico, ou seja,
imune às interferências de cunho religioso. À educação cabia proclamar, como se fossem universais, valores que são
então cuidar da preparação de mão-de-obra para a expansão realizados apenas para atender a interesses particulares de
industrial e dos serviços, bem como da oferta de cultura e grupos privilegiados. Enquanto as camadas dominantes
status social. Este passava a ser o perfil do novo cidadão, mantiveram e ampliaram seus privilégios e as camadas médias
imbuído de espírito público e identificado com a construção de usufruíram de algumas conquistas, vendo atendidas algumas
sua pátria nacional. de suas reivindicações, graças a seu poder de negociação e de
Todo o complexo conjunto de valores, de forte inspiração aliança, os segmentos populares alcançaram objetivamente
iluminista e liberal, passou a ganhar contornos específicos, poucas conquistas econômicas, sociais e culturais, aí incluída a
constituindo uma nova hegemonia ideológica. O modelo educação, que sequer se universalizou em seus níveis iniciais.
academicista, literário e humanístico da educação cristã foi Apesar de o atendimento das necessidades do povo fazer
considerado alienado em relação aos problemas sociais do parte explícita do discurso político oficial, como se fosse o
país e não tinha condições de superar os desafios do atraso objetivo primordial das políticas públicas, na realidade, no
nacional. Só um humanismo lastreado no conhecimento tecido socioeconômico, não ocorreram mudanças
científico e expresso mediante valores liberais poderia levar o significativas, nem quanto à quantidade nem quanto à
país a seu verdadeiro destino. E a educação pública era o qualidade. É o que mostram a injusta distribuição não só da
grande instrumento de que dispunha a sociedade para renda como também dos bens culturais e os índices da
alcançar esse objetivo. Pública, laica, obrigatória e gratuita, a desigualdade social, que permanecem até hoje.5
nova educação, nascida no bojo de uma reconstrução Agregou-se a essa ideologia liberal a crença no caráter
educacional, seria a única via para a reconstrução social. São redentor e equalizador da educação, que, se fosse difundido
apregoados os valores ligados ao espírito científico, à ordem universalmente, eliminaria os conflitos de classe, promoveria
democrática, às metodologias renovadas de ensino, à esfera o progresso econômico e social e asseguraria a condição de
pública, à cidadania e ao desenvolvimento econômico e social cidadania a todas as pessoas.6
do país. Com o regime militar autoritário que se estabelece no país
em 1964, os elementos básicos dessa concepção
Mas esse novo projeto encontrou dois obstáculos socioeducacional foram mantidos tecendo a política
insuperáveis que fizeram com que esses novos valores educacional, mas agregando agora um referencial a mais, que
continuassem sendo apenas valores ideológicos. De um lado, a é aquele do valor técnico especializado da educação. Essa
ideologia religiosa do catolicismo, embora não mais peculiaridade dará às políticas públicas do período e, em
hegemônica no plano oficial, continuou impregnando, particular, às políticas educacionais um feitio explicitamente
capilarmente, a vida cultural brasileira, da qual constitui, na tecnicista sob uma perspectiva ideológica tecnocrática. Foi
verdade, uma camada arcaica da subjetivação das massas, característica do movimento conduzido pela elite empresarial
arraigada que era no espírito do povo – e, como tal, impôs e pelo estamento militar a ideia-força de que o
resistência à recepção das novas referências. Por isso, o desenvolvimento tecnológico é a grande matriz de todo
impacto da nova ideologia, do lado da subjetivação, foi muito desenvolvimento econômico, desde que possa ocorrer num
lento e superficial. De outro lado, o modo de produção clima de total harmonia político-social. Daí ser a educação
capitalista tem suas exigências férreas, suas cláusulas pétreas, chamada a implementar uma vocação eminentemente
e não atua nos termos dos valores que apregoa. As políticas dedicada à formação profissional, visando à preparação de

3 SEVERINO, A. J. Educação, Ideologia e Contra Ideologia. São Paulo: EPU, 6 XAVIER, M. E. S. P. Políticas educacionais, modelos pedagógicos e

1986. movimentos sociais. In: MIGUEL, M. E. B. & CORRÊA, L. T. (Orgs.). A Educação


4 BRESSER PEREIRA, L. C. Desenvolvimento e Crise no Brasil: 1939-1967. Rio Escolar em Perspectiva Histórica. Campinas: Autores Associados, Capes, 2005.
de Janeiro: Zahar, 1968. p.283-291. (Memória da educação)
5 IBGE. PNAD: Relatório 2004. Brasília: IBGE, 2005.

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mão-de-obra técnica bem qualificada de cidadãos ordeiros e marcada pela implementação da agenda neoliberal, nova
pacíficos. Foi imbuído desse espírito que o próprio mote do proposta do capitalismo internacional.
novo sistema de gerenciamento da nação se expressou,
retomando o anacrônico lema comtiano ‘ordem e progresso’, Os desafios da educação no contexto da sociabilidade
que então passou a ser ‘desenvolvimento e segurança’. neoliberal
Politicamente, o regime levou aos estertores as últimas A partir dos anos 1980, o Brasil, como de resto todo o
veleidades do discurso liberal populista, sufocando, inclusive Terceiro Mundo, é instado a inserir-se no novo processo de
pela repressão violenta, todas as iniciativas atreladas ao desenvolvimento econômico e social do capitalismo em
ideário libertário do período anterior, pondo fim ao populismo expansão. De preferência isso deveria ser feito sem o uso da
sob todas as suas expressões. Ao mesmo tempo, o atrelamento violência física de regimes repressivos. Ao contrário, deveria
da economia nacional ao capitalismo internacional se acontecer num ambiente político-social de redemocratização.
consolidou definitivamente, mediante uma política de Nessa linha, os grandes agentes desse capitalismo
associação e de dependência. A função do Estado nacional se internacional sem pátria especificam, além de cobrar, via
redefine, gerando um Executivo forte e centralizador, com mecanismos propriamente econômicos, a adoção de suas
poder de controle político-policial, modernizando e práticas produtivas, monetárias e financeiras,
centralizando a administração pública e repelindo comprometendo todos os países por meio de acordos
brutalmente toda contestação. Trata-se de um regime mundiais, passando a exigir também adequações nos campos
tecnoburocrático, assumidamente autoritário e repressor. político e cultural. A meta continua sendo aquela da plena
expansão do capitalismo, agora sem concorrências ideológicas
Valores proclamados, seja pela ideologia católica, seja pela significativas e numa perspectiva declarada de globalização.
ideologia liberal, são reenquadrados nas coordenadas da Fala-se então da agenda neoliberal, ou seja, de uma retomada
ideologia tecnocrática, que passa a ser o critério de sua dos princípios do liberalismo clássico, mas com a devida
validade e sobrevivência no novo contexto social. Suas correção de seus desvios humanitários. O que está em pauta é
contribuições só são aproveitadas quando não se contrapõem a total liberação das forças do mercado, a quem cabe a efetiva
aos novos interesses, não provocando interferências e condução da vida das nações e das pessoas. Daí a pregação do
questionamentos nos negócios de Estado da nova ordem livre-comércio, da estabilização macroeconômica e das
político-social. Ao mesmo tempo, o governo militar apoiava, reformas estruturais necessárias, em todos os países, para que
incentivava e induzia iniciativas, em todos os campos da vida o sistema tenha alcance mundial e possa funcionar
social, que concretizassem os valores de sua nova política adequadamente. Opera-se então severa crítica ao Estado do
plenamente em sintonia com o capitalismo. Assim, no campo Bem-Estar Social, propondo-se um estado mínimo, em seu
educacional e cultural, favoreceu e incentivou a privatização, papel e funções. A iniciativa política deve dar prioridade à
uma vez que a educação deve ser entendida e praticada como iniciativa econômica dos agentes privados. Graças às
um serviço, no seio de um mercado livre. A demanda por impressionantes inovações tecnológicas, mormente na esfera
educação, tão cara às camadas médias da população, deverá da informática, mudam-se igualmente as relações industriais,
ser atendida pela oferta do mercado dos serviços educacionais. o sistema do trabalho e o gerenciamento da produção. Os
Trata-se de uma política de expansão pela privatização. mercados financeiros são liberados e expandidos. Os Estados
Ademais, o Estado pós-64 tem uma visão instrumentalista da nacionais tornam-se reféns das políticas internacionais do
educação, organizada em função do crescimento econômico.7 grande capital. A política interna dos países, por sua vez, é
O conteúdo do ensino deve ser técnico, sem conotação política forçada a esse ajuste econômico, impondo a queda dos salários
de cunho crítico. Visa-se à maior produtividade possível, a reais, o crescimento do desemprego estrutural, a estatização
baixo custo, mediante o preparo de uma mão-de-obra da dívida externa e a elevação da taxa de juros. Isso implica
numerosa, com qualificação puramente técnica, disciplinada e também a ruptura do esquema de financiamento do setor
dócil, adequada ao atendimento das necessidades do sistema público.8
econômico. A ideologia tecnocrática do período pratica um Assim como nas fases anteriores, também agora
autoritarismo disciplinar intrínseco ao processo de desencadeia-se um processo ideológico para justificar o
engenharia social que deve comandar todos os aspectos da modelo imposto, apresentando-o como o único capaz de
vida da sociedade. Alicerçada epistemologicamente no mesmo realizar os objetivos emancipatórios da sociedade e, nesse
cientificismo positivista, que se julga legitimado pela sua sentido, superando os anteriores. Mais uma vez, tem-se um
eficácia tecnológica, opera a modernização da sociedade pelo conjunto articulado de valores que são proclamados, mas não
uso da sofisticação técnico-informacional, ao mesmo tempo realizados. Uma retórica, que não deixa de encontrar apoios
que, investindo pesado nos meios de comunicação, desenvolve estratégicos em formulações teóricas do pensamento pós
um intenso programa de indústria cultural destinado à moderno, se torna insistentemente presente em todas as
formação da opinião pública, banalizando ainda mais os frentes do debate social, fazendo sua cerrada defesa. Ao
conteúdos do conhecimento disponibilizado para as massas. mesmo tempo, por meio da legislação e das medidas
Após 25 anos de autoritarismo exacerbado, o regime, no programáticas, o governo passa a aplicar políticas públicas que
início da década de 1980, começa a dar sinais de exaustão. vão efetivando as diretrizes neoliberais, mais uma vez adiando
Devorando seus próprios filhos, não mais satisfazia aos e talvez inviabilizando uma educação que possa ser mediação
interesses capitalistas que pretendiam se universalizar mundo da libertação, da emancipação e da construção da cidadania.
afora. Considerou-se superada essa fase da imposição Não sem razão, o ceticismo e a desesperança constituem a
tecnocrática, entendendo-se que os 25 anos foram suficientes conclusão de estudiosos da questão educacional brasileira. Ao
para aplainar o terreno para uma nova etapa, agora não mais falar da escola brasileira, em conclusão a seus estudos
baseada na repressão violenta pela força, mas pela históricos sobre a educação escolar, conclui Xavier: 9
impregnação sutil da subjetivação ideológica por si mesma.
Nos últimos trinta anos, o país vivencia então uma nova fase Ela parece ser uma instituição, se não dispensável,
secundária para o funcionamento da sociedade brasileira, tal

7 MARTINS, C. B. Ensino Privado, um Retrato sem Retoques. São Paulo: Global, 9 XAVIER, M. E. S. P. Políticas educacionais, modelos pedagógicos e

1981. movimentos sociais. In: MIGUEL, M. E. B. & CORRÊA, L. T. (Orgs.). A Educação


8 IANNI, O. O cidadão do mundo. In: LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. & Escolar em Perspectiva Histórica. Campinas: Autores Associados, Capes, 2005.
SANFELICE, J. L. (Orgs.). Capitalismo, Trabalho e Educação. 2.ed. Campinas: p.283-291. (Memória da educação)
Autores Associados, 2004. p.27-34

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como se encontra estruturada. Entretanto, é fundamental, para histórico não corresponde ao conteúdo de seu discurso. Esse
o controle das insatisfações populares e a neutralização dos discurso se pauta em princípios e valores elevados, mas que
movimentos sociais contestatórios e reivindicatórios, alimentar não são sustentados nas condições objetivas para sua
a crença no caráter redentor da educação escolarizada. Daí a realização histórica no plano da realidade social.
ênfase no discurso pedagógico, nos debates e na elaboração de No plano da subjetividade, utilizando-se de diferentes
projetos educacionais e a falta de pressa em realizá-los. modalidades de intervenções ideológicas, particularmente
através dos meios de comunicação, o sistema atua fortemente
Para essa autora, ocorre uma mitificação da escola, no processo da subjetivação humana. Numa frente, opera a
mitificação que atua como um dos pilares da doutrina liberal subversão do desejo, deturpando a significação do prazer, não
produzida na transição capitalista e que penetrou cedo em se investindo adequadamente no aprimoramento da
nossa sociedade como parte da ideologia do colonialismo. E sensibilidade estética. Açulam-se os corpos no sentido de fazer
quanto mais o capitalismo avançou no país, mais se solidificou deles fogueiras insaciáveis de prazer que jamais será satisfeito.
essa crença. O poder se concentrava, a riqueza crescia e Ocorre total regressão do estético. Embora prometa a
supostamente não se distribuía porque a expansão da escola felicidade, não gera condições para sua efetiva realização por
não acompanhava o crescimento populacional, ou sua todas as pessoas. Subverte também a vontade, impedindo o
qualidade não atendia às demandas sociais. “A escola não exercício de sua liberdade, não deixando que o homem
revoluciona ou transforma a sociedade que a produz e à qual pratique sua condição de igualdade: não investe na formação
serve; ela apenas consolida e maximiza as transformações em do cidadão, ou seja, aquele que pode agir livremente na
curso quando a aparelhamos para tanto”. sociedade de iguais. Propaga a ideia de uma democracia
puramente formal. Não tem por meta o cidadão, mas o
Essa forma atual de expressão histórica do capitalismo, sob contribuinte, o socícola, aquele que habita o locus social mas
predomínio do capital financeiro, conduzido de acordo com as não compartilha efetivamente de sua constituição, não
regras de um neoliberalismo desenfreado, num momento compartilha das decisões que instauram o processo político-
histórico marcado por um irreversível processo de social. No fundo mantém-se a servidão... que até se torna
globalização econômica e cultural, produz um cenário voluntária... Toda essa pedagogia, em vez de levar os sujeitos a
existencial em que as referências ético-políticas perdem sua entender-se no mundo, mistifica o mundo, manipulando-o
força na orientação do comportamento das pessoas, trazendo para produzir a ilusão da felicidade. Prosperidade prometida
descrédito e desqualificação para a educação. Ao mesmo mas nunca realizada. Leva ao individualismo egoísta e
tempo que, pelas regras da condução da vida econômica e narcísico, simulacro do sujeito autônomo e livre.
social, instaura um quadro de grande injustiça social, Essa pedagogia subverte ainda a prática do conhecimento,
sonegando para a maioria das pessoas as condições objetivas eliminando o seu processamento como construção dos objetos
mínimas para uma subsistência num patamar básico de que são conhecidos. Torna-se mero produto e não mais
qualidade de vida, interfere profundamente na constituição da processo, experiência de criatividade, de criticidade e de
subjetividade, no processo de subjetivação, manipulando e competência. É literalmente tecnicizado, objetivado,
desestabilizando valores e critérios. Prevalece um espírito de empacotado. A própria ciência é vista como conhecimento
niilismo axiológico, de esvaziamento de todos os valores, de eminentemente técnico, o que vem a ser um conceito
fim das utopias e metanarrativas e da esperança de um futuro autocontraditório. Todas as demais formas de saber são
melhor, de incapacidade de construir projetos. A eficiência e a desqualificadas. O ceticismo e o relativismo generalizados se
produtividade são os únicos critérios válidos. Com bem impõem, sob alegação de seus compromissos com
sintetiza Goergen, “generaliza-se nesse processo para toda a metanarrativas infundadas.
cultura um aspecto da ordem econômica: a eficiência tornase Nesse contexto, prospera uma ética hedonista baseada no
padrão do bom comportamento exigido pela sociedade”.10 individualismo, de traço narcísico, que vê o homem como se
Configura-se então uma sociabilidade típica desse fosse um átomo solto, vivendo em torno de si mesmo, numa
contexto neoliberal, que se constitui atrelada a profundas sensibilidade ligada apenas ao espetáculo. Puro culto ao
mudanças provocadas pelas injunções dessa etapa da prazer que se pretende alcançar pelo consumo compulsivo e
economia capitalista na esfera do trabalho, da cidadania e da desregrado dos bens do mercado. Essa lógica fundada na
cultura. Desse modo, constata-se a ocorrência de situações de exacerbada valorização de uma suposta autonomia e
degradação, no mundo técnico e produtivo do trabalho; de suficiência do sujeito individual, no apelo ao consumo
opressão, na esfera da vida social; e de alienação, no universo desenfreado, compromete o reconhecimento e a reafirmação
cultural. Essas condições manifestam-se, em que pesem as dos valores universais da igualdade, da justiça e da equidade,
alegações em contrário de variados discursos, como referências necessárias para uma concepção mais consistente
profundamente adversas à formação humana, o que tem da humanidade, alicerçada no valor básico da dignidade
levado a um crescente descrédito quanto ao papel e à humana.
relevância da educação, como processo intencional e Coagida pela pressão das determinações objetivas, de um
sistemático. lado, e pelas interferências subjetivas, de outro, a educação é
Nesse contexto da história real, a educação é interpelada presa fácil do enviesamento ideológico, que manipula as
pela dura determinação dessa realidade, no que diz respeito às intenções e obscurece os caminhos, confundindo objetivos
condições objetivas da existência. Numa profunda inserção com interesses. Tal situação aumenta e agrava o desafio que a
histórico-social, a educação é serva da história. Aqui se paga educação enfrenta em sua dialética tarefa de, simultânea e
tributo a nossa condição existencial de seres encarnados e, contraditoriamente, inserir os sujeitos educandos nas malhas
como tais, profundamente predeterminados – esfera dos a culturais de sua sociedade e de levá-los a criticar e a superar
priori existenciais. Uma lógica perversa compromete o esforço essa inserção; assim como de fazer um investimento na
da humanização. São adversas as condições para se assegurar conformação das pessoas a sua cultura ao mesmo tempo que
a qualidade necessária para a educação. Em que pese a precisa levá-las a se tornarem agentes da transformação dessa
existência, nas esferas do Estado brasileiro, de um discurso cultura.
muito elogioso e favorável à educação, a prática real da Como a educação tem papel fundamental no processo de
sociedade política e das forças econômicas desse atual estágio subjetivação, embora não seja ela o único vetor desse

10 LOMBARDI, J. C.; SAVIANI, D. & SANFELICE, J. L. (Orgs.). Capitalismo,

Trabalho e Educação. 2.ed. Campinas: Autores Associados, 2004

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processo, já que essa subjetivação se dá também por outras relacionam-se com nossos interesses e necessidades, por meio
vias, seja no âmbito da vivência familiar, seja pelos meios de da experiência dessa subjetividade valorativa, atendendo, de
comunicação de massa, seja ainda por interações informais um modo ou de outro, a uma sensibilidade que temos, tão
das pessoas no seio da sociedade civil, ela sofre o impacto arraigada quanto aquela que nos permite representar as coisas
dessas forças geradas no bojo da dinâmica da vida social e e conhece-las mediante os conceitos.
cultural do capitalismo contemporâneo. Com efeito, a ética só pode ser estabelecida por meio de um
processo permanente de decifração do sentido da existência
O horizonte do compromisso éticopolítico da educação: humana, tal como ela se desdobra no tecido social e no tempo
em busca de uma nova sociabilidade histórico, não mais partindo de um quadro atemporal de
No contraponto dessa situação de degradação, de opressão valores, abstratamente concebidos e idealizados. Essa
e de alienação, a educação é interpelada pela utopia, ou seja, investigação é inteiramente compromissada com as
por um télos que acena para uma responsabilidade histórica mediações históricas da existência humana, não tendo mais a
de construção de uma nova sociedade também mediante a ver apenas com ideais abstratos, mas também com referências
construção de uma nova sociabilidade. Isso decorre da econômicas, políticas, sociais, culturais. Nenhuma ação que
condição dos homens como sendo também seres teleológicos, provoque a degradação do homem em suas relações com a
dispondo da necessidade e da capacidade de estabelecer fins natureza, que reforce sua opressão pelas relações sociais, ou
para sua ação. É isso que ocorre com a educação; ela precisa que consolide a alienação subjetiva, pode ser considerada
ter intencionalidades, buscar a realização de fins previamente moralmente boa, válida e legítima.
estabelecidos. É por isso que, na perspectiva do modo atual de se
Levando em conta o seu papel no processo de subjetivação conceber a ética, ela se encontra profundamente entrelaçada
e tendo em vista que o conhecimento é a única ferramenta que com a política, concebida esta como a área de apreensão e
cabe ao educador utilizar para enfrentar esses desafios, há que aplicação dos valores que atravessam as relações sociais que
se entender a educação como processo que faz a mediação interligam os indivíduos entre si. Mas a política, por sua vez,
entre os seus resultados e as práticas reais, pelas quais os está intimamente vinculada à ética, pelo fato de não poder se
brasileiros devem conduzir sua história. Assim, cabe à ater exclusivamente a critérios técnico-funcionais, caso em
educação ter em seu horizonte três objetivos intrínsecos: que se transformaria numa nova forma de determinismo
extrínseco ao homem, à sua humanidade. Isso quer dizer que
1) Desenvolver ao máximo o conhecimento científico e os valores pessoais não são apenas valores individuais; eles
tecnológico em todos os campos e dimensões; superar o são simultaneamente valores sociais, pois a pessoa só é
amadorismo e apropriar-se da ciência e da tecnologia especificamente um ser humano quando sua existência
disponíveis para alicerçar o trabalho de intervenção na realiza-se nos dois registros valorativos. Assim, a avaliação
realidade natural e social. ética de uma ação não se refere apenas a uma valoração
2) Desenvolver ao máximo a sensibilidade ética e estética individual do sujeito; é preciso referi-la igualmente ao índice
buscando delinear o télos da educação com sensibilidade do coletivo.
profunda à condição humana; sentir a razão de ser da existência É assim que, à luz das contribuições mais críticas da
e a pulsação da vida. filosofia da educação da atualidade, impõe-se atribuir à
3) Desenvolver ao máximo sua racionalidade filosófica educação, como sua tarefa essencial, a construção da
numa dupla direção: numa frente, esclarecer epistemicamente o cidadania. A educação já se deu outrora como objetivo a busca
sentido da existência, e, noutra, afastar o ofuscamento da perfeição humana, idealizada como realização da essência
ideológico dos vários discursos; construir uma contra ideologia do homem, de sua natureza; mais recentemente, essa
como ideologia universalizante que apresenta os produtos do perfeição foi concebida como plenitude da vida orgânica, como
conhecimento para atender aos interesses da totalidade dos saúde física e mental. Hoje, no entanto, as finalidades
homens. perseguidas pela educação dizem respeito à instauração e à
consolidação da condição de cidadania, pensada como
Pela sua própria natureza, a educação tende a atuar como qualidade específica da existência concreta dos homens,
força de conformação social, mas precisa atuar também como lembrando-se sempre que essa é uma teleologia
força de transformação social. A conformação nasce da historicamente situada.
necessidade de conservação da memória cultural da espécie, Com efeito, a educação só se compreende e se legitima
força centrípeta, apelo da imanência, enquanto que a enquanto for uma das formas de mediação das mediações
transformação, força centrífuga, apelo da transcendência, existenciais da vida humana, se for efetivo investimento em
busca um avanço, a criação do novo, gerando elementos que busca das condições do trabalho, da sociabilidade e da cultura
respondam pela criação de nova cultura. simbólica. Portanto, só se legitima como mediação para a
A educação conforma os indivíduos, inserindo-os na sua construção da cidadania. Por isso, enquanto investe, do lado do
sociedade, fazendo-os compartilhar dos costumes morais e de sujeito pessoal, na construção dessa condição de cidadania, do
todos os demais padrões culturais, com o fito de preservar a lado dos sujeitos sociais estará investindo na construção da
memória cultural; porém, ao transformar, impele à criação de democracia, que é a qualidade da sociedade que assegura a
nova cultura, reavaliando seus estágios anteriores de todos os seus integrantes a efetivação coletiva dessas
subjetivação. Cabe-lhe questionar os estágios vigentes de uma mediações.
perspectiva crítica, desconstruindo para reconstruir, pois o À educação cabe, como prática intencionalizada, investir
que não se transforma se petrifica. nas forças emancipatórias dessas mediações, num
É pela mediação de sua consciência subjetiva que o homem procedimento contínuo e simultâneo de denúncia,
pode intencionar sua prática, pois essa consciência é capaz de desmascaramento e superação de sua inércia de entropia, bem
elaborar sentidos e de se sensibilizar a valores. Assim, ao agir, como de anúncio e instauração de formas solidárias de ação
o homem está sempre se referenciando a conceitos e valores, histórica, buscando contribuir, com base em sua própria
de tal modo que todos os aspectos da realidade envolvidos especificidade, para a construção de uma humanidade
com sua experiência, todas as situações que vive e todas as renovada. Ela deve ser assumida como prática
relações que estabelece são atravessados por um coeficiente simultaneamente técnica e política, atravessada por uma
de atribuição de significados, por um sentido, por uma intencionalidade teórica, fecundada pela significação
intencionalidade, feita de uma referência simultaneamente simbólica, mediando a integração dos sujeitos educandos
conceitual e valorativa. Desse modo, as coisas e situações nesse tríplice universo das mediações existenciais: no

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universo do trabalho, da produção material, das relações Por práxis, entende-se a prática real do homem,
econômicas; no universo das mediações institucionais da vida atravessada pela intencionalização subjetiva, ou seja, pela
social, lugar das relações políticas, esfera do poder; no reflexão epistêmica elucidativa e esclarecedora, que delineia
universo da cultura simbólica, lugar da experiência da os fins e o sentido dessa ação.
identidade subjetiva, esfera das relações intencionais. Em O que está em pauta, pois, na reflexão filosófica
suma, a educação só se legitima intencionalizando a prática contemporânea, é a radical historicidade humana. O homem
histórica dos homens. concebido como ser histórico perde tanto sua fusão com a
Com efeito, se se espera que a educação seja de fato um totalidade metafísica como com a natureza física do mundo.
processo de humanização, é preciso que ela se torne mediação Desse ponto de vista, ele só é especificamente humano quando,
que viabilize, que invista na implementação dessas mediações em que pesem suas amarras ao mundo objetivo, é capaz de ir
mais básicas, contribuindo para que elas se efetivem em suas construindo-se efetivamente mediante sua ação real. Ora, a
condições objetivas reais. Ora, esse processo não é automático, ética só tem a ver com sua dimensão especificamente humana,
não é decorrência mecânica da vida da espécie. É verdade que e é nessa especificidade que ela pode encontrar suas
ao superar a transitividade do instinto e, com ela, a referências.
univocidade das respostas às situações, a espécie humana Esse é o sentido da historicidade da existência humana, ou
ganha em flexibilidade, mas simultaneamente torna-se vítima seja, o homem não é a mera expressão de uma essência
fácil das forças alienantes, uma vez que todas as mediações são metafísica predeterminada, nem o mero resultado de um
ambivalentes: ao mesmo tempo que constituem o lugar da processo de transformações naturais que estaria em evolução.
personalização, constituem igualmente o lugar da Ao contrário, naquilo em que o faz especificamente humano, o
desumanização, da despersonalização. Assim, a vida homem é um ser em permanente processo de construção, em
individual, a vida em sociedade, o trabalho, as formas culturais, ininterrupto devir. Nunca está pronto e acabado, nem no plano
as vivências subjetivas, podem estar levando não a uma forma individual, nem no plano coletivo, como espécie. Por sobre um
mais adequada de existência, da perspectiva humana, mas lastro de uma natureza físico-biológica prévia, mas que é pré-
antes a formas de despersonalização individual e coletiva, ao humana, compartilhada com todos os demais seres vivos, ele
império da alienação. Sempre é bom não perdermos de vista a vai se transformando e se reconstruindo como ser
ideia de que o trabalho pode degradar o homem, a vida social especificamente humano, como ser ‘cultural’. E isso não
pode oprimi-lo e a cultura pode aliená-lo, ideologizando-o. apenas na linha de um necessário aprimoramento, de um
É por isso que, ao lado do investimento na transmissão aos aperfeiçoamento contínuo ou de progresso. Ao contrário,
educandos dos conhecimentos científicos e técnicos, impõe-se essas mudanças transformativas, decorrentes de sua prática,
garantir que a educação seja mediação da percepção das podem até ser regressivas, nem sempre sinalizando para uma
relações situacionais, que ela lhes possibilite a apreensão das eventual direção de aprimoramento de nosso modo de ser. O
intrincadas redes políticas da realidade social, pois só a partir que é importante observar é que seu modo de ser vai se
daí eles poderão se dar conta também do significado de suas constituindo por aquilo que ele efetivamente faz; é sua ação
atividades técnicas e culturais. Cabe ainda à educação, no que o constitui, e não seus desejos, seus pensamentos ou suas
plano da intencionalidade da consciência, desvendar os teorias...
mascaramentos ideológicos de sua própria atividade, evitando Assim, a ética contemporânea entende que o sujeito
assim que ela se instaure como mera força de reprodução humano se encontra sob as injunções de sua realidade natural
social e se torne força de transformação da sociedade, e histórico-social, que até certo ponto o conduz, determinando
contribuindo para extirpar do tecido desta todos os focos da seu comportamento, mas que é também constituída por ele,
alienação.11 por meio de sua prática efetiva. Ele não é visto mais como um
A análise crítica da experiência histórica da educação sujeito substancial, soberano e absolutamente livre, nem como
brasileira mostra que ela desempenhou, em cada um dos seus um sujeito empírico puramente natural. Existe concretamente
cenários temporais, a função de reprodução da ideologia, nos dois registros, na medida mesma em que é um sujeito
mediante o que contribuiu para a reprodução das relações histórico-social, um sujeito cultural. É uma entidade natural
sociais vigentes a cada momento. Mas isso não compromete histórica, determinada pelas condições objetivas de sua
seu outro papel fundamental, que é aquele de transformar existência, ao mesmo tempo que atua sobre elas por meio de
essas relações sociais, contribuindo para a elaboração de uma sua práxis.
contra ideologia que possa identificar-se com os interesses e
objetivos da maioria da população, fazendo com que os Questões
benefícios do conhecimento possam atingir o universo da
comunidade humana a que se destina. 01. (ENEM - Exame Nacional do Ensino Médio – INEP)
Esse compromisso éticopolítico da educação para com a Existe uma cultura política que domina o sistema e é
condução do destino da sociedade não pode, no entanto, ser fundamental para entender o conservadorismo brasileiro. Há
concebido nos parâmetros da ética essencialista, de fundo um argumento, partilhado pela direita e pela esquerda, de que
metafísico, ou de uma ética funcionalista, de fundo a sociedade brasileira é conservadora. Isso legitimou o
fenomenista. Trata-se de entender sua concepção e prática conservadorismo do sistema político: existiriam limites para
com base num enfoque praxista. Isso decorre de um modo transformar o país, porque a sociedade é conservadora, não
igualmente novo de pensar o homem. Embora continue sendo aceita mudanças bruscas. Isso justifica o caráter vagaroso da
entendido como ser natural e dotado de uma identidade redemocratização e da redistribuição da renda. Mas não é
subjetiva, que lhe permite projetar e antever suas ações, ele assim. A sociedade é muito mais avançada que o sistema
não é visto mais nem como um ser totalmente determinado político. Ele se mantém porque consegue convencer a
nem como um ser inteiramente livre. Ele é simultaneamente sociedade de que é a expressão dela, de seu conservadorismo.
determinado e livre. Sua ação é sempre um compromisso, em NOBRE, M. Dois ismos que não rimam.
equilíbrio instável entre as injunções impostas pela sua A característica do sistema político brasileiro, ressaltada
condição de ser natural e a autonomia de sujeito capaz de no texto, obtém sua legitimidade da
intencionalizar suas ações, a partir da atividade de sua (A) dispersão regional do poder econômico.
consciência. (B) polarização acentuada da disputa partidária.

11 ALTHUSSER, L. Ideologia e Aparelhos Ideológicos de Estado. Lisboa, São SEVERINO, A. J. Educação, Ideologia e Contra Ideologia. São Paulo: EPU, 1986.
Paulo: Presença, Martins Fontes, s.d -SEVERINO, A. J. Educação, Ideologia e Contra
Ideologia. São Paulo: EPU, 1986.

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(C) orientação radical dos movimentos populares. Quando os jesuítas chegaram por aqui, eles não trouxeram
(D) condução eficiente das ações administrativas. somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia;
(E) sustentação ideológica das desigualdades existentes. trouxeram também os métodos pedagógicos.
Este método funcionou absoluto durante 210 anos, quando
02. Educação é prática histórico-social, cujo norteamento uma nova ruptura marca a História da Educação no Brasil: a
se fará de maneira técnica, conforme ocorre nas esferas da expulsão dos jesuítas por Marquês de Pombal. Se existia
manipulação do mundo natural. alguma coisa muito bem estruturada em termos de educação o
( ) Certo ( ) Errado que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. Tentou-se as aulas
régias, o subsídio literário, mas o caos continuou até que a
03. A discussão dos fundamentos ético-políticos da Família Real, fugindo de Napoleão na Europa, resolve
educação, objeto desta reflexão, envolve necessariamente a transferir o Reino para o Novo Mundo.
esfera da subjetivação, uma vez que implica referência a Na verdade não se conseguiu implantar um sistema
valores. educacional nas terras brasileiras, mas a vinda da Família Real
( ) Certo ( ) Errado permitiu uma nova ruptura com a situação anterior. Para
preparar terreno para sua estadia no Brasil, D. João VI abriu
04. Quanto à escola, ela visa buscar o mundo real, suas Academias Militares, Escolas de Direito e Medicina, a
necessidades, saindo ideologia e colocando em prática as reais Biblioteca Real, o Jardim Botânico e, sua iniciativa mais
necessidades. marcante em termos de mudança, a Imprensa Régia. Segundo
( ) Certo ( ) Errado alguns autores, o Brasil foi finalmente "descoberto" e a nossa
História passou a ter uma complexidade maior.
Respostas A educação, no entanto, continuou a ter uma importância
secundária. Basta ver que, enquanto nas colônias espanholas
01. E. já existiam muitas universidades, sendo que em 1538 já existia
02. Errado. a Universidade de São Domingos e em 1551 a do México e a de
03. Certo. Lima, a nossa primeira Universidade só surgiu em 1934, em
04. Certo. São Paulo.
Por todo o Império, incluindo D. João VI, D. Pedro I e D.
Pedro II, pouco se fez pela educação brasileira e muitos
Principais aspectos reclamavam de sua qualidade ruim. Com a Proclamação da
históricos da Educação República tentaram-se várias reformas que pudessem dar uma
nova guinada, mas se observarmos bem, a educação brasileira
Brasileira. não sofreu um processo de evolução que pudesse ser
considerado marcante ou significativo em termos de modelo.
Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento
História da Educação Brasileira educacional, mas a educação continua a ter as mesmas
características impostas em todos os países do mundo, que é a
Conforme o texto de Bello12, a História da Educação de manter o "status quo" para aqueles que frequentam os
Brasileira não é uma História difícil de ser estudada e bancos escolares.
compreendida. Ela evolui em rupturas marcantes e fáceis de Concluindo podemos dizer que a Educação Brasileira tem
serem observadas. um princípio, meio e fim bem demarcado e facilmente
A primeira grande ruptura travou-se com a chegada observável. E é isso que tentamos passar neste texto.
mesmo dos portugueses ao território do Novo Mundo. Não Os períodos foram divididos a partir das concepções do
podemos deixar de reconhecer que os portugueses trouxeram autor em termos de importância histórica.
um padrão de educação próprio da Europa, o que não quer Se considerarmos a História como um processo em eterna
dizer que as populações que por aqui viviam já não possuíam evolução, não podemos considerar este trabalho como
características próprias de se fazer educação. E convém terminado. Novas rupturas estão acontecendo no exato
ressaltar que a educação que se praticava entre as populações momento em que esse texto está sendo lido. A educação
indígenas não tinha as marcas repressivas do modelo brasileira evolui em saltos desordenados, em diversas
educacional europeu. direções.
Num programa de entrevista na televisão, o indigenista
Orlando Villas Boas contou um fato observado por ele numa Período Jesuítico
aldeia Xavante que retrata bem a característica educacional A educação indígena foi interrompida com a chegada dos
entre os índios: Orlando observava uma mulher que fazia jesuítas. Os primeiros chegaram ao território brasileiro em
alguns potes de barro. Assim que a mulher terminava um pote março de 1549. Comandados pelo Padre Manoel de Nóbrega,
seu filho, que estava ao lado dela pegava o pote pronto e o quinze dias após a chegada edificaram a primeira escola
jogava ao chão quebrando. Imediatamente ela iniciava outro e, elementar brasileira, em Salvador, tendo como mestre o Irmão
novamente, assim que estava pronto, seu filho repetia o Vicente Rodrigues, contando apenas 21 anos. Irmão Vicente
mesmo ato e o jogava no chão. Esta cena se repetiu por sete tornou-se o primeiro professor nos moldes europeus, em
potes até que Orlando não se conteve e se aproximou da terras brasileiras, e durante mais de 50 anos dedicou-se ao
mulher Xavante e perguntou por que ela deixava o menino ensino e a propagação da fé religiosa.
quebrar o trabalho que ela havia acabado de terminar. No que No Brasil, os jesuítas se dedicaram à pregação da fé católica
a mulher índia respondeu: "- Porque ele quer". e ao trabalho educativo. Perceberam que não seria possível
Podemos também obter algumas noções de como era feita converter os índios à fé católica sem que soubessem ler e
a educação entre os índios na série Xingu, produzida pela escrever. De Salvador a obra jesuítica estendeu-se para o sul e,
extinta Rede Manchete de Televisão. Neste seriado podemos em 1570, vinte e um anos após a chegada, já era composta por
ver crianças indígenas subindo nas estruturas de madeira das cinco escolas de instrução elementar (Porto Seguro, Ilhéus, São
construções das ocas, numa altura inconcebivelmente alta. Vicente, Espírito Santo e São Paulo de Piratininga) e três
colégios (Rio de Janeiro, Pernambuco e Bahia).

12 Texto adaptado de BELLO, J. L. P.

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Quando os jesuítas chegaram por aqui, eles não trouxeram nomeados por indicação ou sob concordância de bispos e se
somente a moral, os costumes e a religiosidade europeia; tornavam "proprietários" vitalícios de suas aulas régias.
trouxeram também os métodos pedagógicos. Todas as escolas O resultado da decisão de Pombal foi que, no princípio do
jesuítas eram regulamentadas por um documento, escrito por século XIX, a educação brasileira estava reduzida a
Inácio de Loiola, o Ratio Studiorum, que tinha como objetivos praticamente nada. O sistema jesuítico foi desmantelado e
de organização social e cultural, bem como de catequese nada que pudesse chegar próximo deles foi organizado para
baseada na “cristandade”. O ensino era essencialmente de dar continuidade a um trabalho de educação.
caráter humanístico. Eles não se limitaram ao ensino das
primeiras letras; além do curso elementar mantinham cursos Período Joanino
de Letras e Filosofia, considerados secundários, e o curso de A vinda da Família Real, em 1808, permitiu uma nova
Teologia e Ciências Sagradas, de nível superior, para formação ruptura com a situação anterior. Para atender às necessidades
de sacerdotes. No curso de Letras estudava-se Gramática de sua estadia no Brasil, D. João VI abriu Academias Militares,
Latina, Humanidades e Retórica; e no curso de Filosofia Escolas de Direito e Medicina, a Biblioteca Real, o Jardim
estudava-se Lógica, Metafísica, Moral, Matemática e Ciências Botânico e, sua iniciativa mais marcante em termos de
Físicas e Naturais. E quem tinha interesse em estudar Medicina mudança, a Imprensa Régia. Segundo alguns autores, o Brasil
ou Direito deveria ir estudar na Europa. foi finalmente "descoberto" e a nossa História passou a ter uma
Este modelo funcionou absoluto durante 210 anos, de complexidade maior. O surgimento da imprensa permitiu que
1549 a 1759, quando uma nova ruptura marca a História da os fatos e as ideias fossem divulgados e discutidos no meio da
Educação no Brasil: a expulsão dos jesuítas por Marquês de população letrada, preparando terreno propício para as
Pombal. Se existia algo muito bem estruturado, em termos de questões políticas que permearam o período seguinte da
educação, o que se viu a seguir foi o mais absoluto caos. História do Brasil.
No momento da expulsão, os jesuítas tinham 25 A educação, no entanto, continuou a ter uma importância
residências, 36 missões e 17 colégios e seminários, além de secundária. Para Lima, "a 'abertura dos portos', além do
seminários menores e escolas de primeiras letras instaladas significado comercial da expressão, significou a permissão
em todas as cidades onde havia casas da Companhia de Jesus. dada aos 'brasileiros' (madeireiros de pau-brasil) de tomar
A educação brasileira, com isso, vivenciou uma grande ruptura conhecimento de que existia, no mundo, um fenômeno
histórica num processo já implantado e consolidado como chamado civilização e cultura".
modelo educacional.
Período Imperial
Período Pombalino D. João VI volta a Portugal em 1821. Em 1822 seu filho D.
Com a expulsão saíram do Brasil 124 jesuítas da Bahia, 53 Pedro I proclama a Independência do Brasil e, em 1824,
de Pernambuco, 199 do Rio de Janeiro e 133 do Pará. Com eles outorga a primeira Constituição brasileira. O Art. 179 desta Lei
levaram também a organização monolítica baseada no Ratio Magna dizia que a "instrução primária é gratuita para todos os
Studiorum. cidadãos".
Desta ruptura, pouca coisa restou de prática educativa no Em 1823, na tentativa de se suprir a falta de professores
Brasil. Continuaram a funcionar o Seminário Episcopal, no institui-se o Método Lancaster, ou do "ensino mútuo", onde um
Pará, e os Seminários de São José e São Pedro, que não se aluno treinado (decurião) ensinava um grupo de dez alunos
encontravam sob a jurisdição jesuítica; a Escola de Artes e (decúria) sob a rígida vigilância de um inspetor.
Edificações Militares, na Bahia, e a Escola de Artilharia, no Rio Em 1826 um Decreto institui quatro graus de instrução:
de Janeiro. Pedagogias (escolas primárias), Liceus, Ginásios e Academias.
Os jesuítas foram expulsos das colônias em função de Em 1827 um projeto de lei propõe a criação de pedagogias em
radicais diferenças de objetivos com os dos interesses da todas as cidades e vilas, além de prever o exame na seleção de
Corte. Enquanto os jesuítas preocupavam-se com o professores, para nomeação. Propunha ainda a abertura de
proselitismo e o noviciado, Pombal pensava em reerguer escolas para meninas.
Portugal da decadência em que se encontrava diante de outras Em 1834 o Ato Adicional à Constituição dispõe que as
potências europeias da época. Além disso, Lisboa passou por províncias passariam a ser responsáveis pela administração
um terremoto que destruiu parte significativa da cidade e do ensino primário e secundário. Graças a isso, em 1835, surge
precisava ser reerguida. A educação jesuítica não convinha aos a primeira Escola Normal do país, em Niterói. Se houve
interesses comerciais emanados por Pombal. Ou seja, se as intenção de bons resultados não foi o que aconteceu, já que,
escolas da Companhia de Jesus tinham por objetivo servir aos pelas dimensões do país, a educação brasileira perdeu-se mais
interesses da fé, Pombal pensou em organizar a escola para uma vez, obtendo resultados pífios.
servir aos interesses do Estado. Em 1837, onde funcionava o Seminário de São Joaquim, na
Através do alvará de 28 de junho de 1759, ao mesmo cidade do Rio de Janeiro, é criado o Colégio Pedro II, com o
tempo em que suprimia as escolas jesuíticas de Portugal e de objetivo de se tornar um modelo pedagógico para o curso
todas as colônias, Pombal criava as aulas régias de Latim, secundário. Efetivamente o Colégio Pedro II não conseguiu se
Grego e Retórica. Criou também a Diretoria de Estudos que só organizar até o fim do Império para atingir tal objetivo.
passou a funcionar após o afastamento de Pombal. Cada aula Em 1872, a população brasileira era de 10 milhões de
régia era autônoma e isolada, com professor único e uma não habitantes, e apenas150.000 estavam matriculados em escolas
se articulava com as outras. primárias. O analfabetismo era da ordem de 64%.
Portugal logo percebeu que a educação no Brasil estava Até a Proclamação da República, em 1889 praticamente
estagnada e era preciso oferecer uma solução. Para isso nada se fez de concreto pela educação brasileira. O Imperador
instituiu o "subsídio literário" para manutenção dos ensinos D. Pedro II, quando perguntado que profissão escolheria não
primário e médio. Criado em 1772 o “subsídio” era uma fosse Imperador, afirmou que gostaria de ser "mestre-escola".
taxação, ou um imposto, que incidia sobre a carne verde, o Apesar de sua afeição pessoal pela tarefa educativa, pouco foi
vinho, o vinagre e a aguardente. Além de exíguo, nunca foi feito, em sua gestão, para que se criasse, no Brasil, um sistema
cobrado com regularidade e os professores ficavam longos educacional.
períodos sem receber vencimentos a espera de uma solução O resultado do ensino no Brasil Império foi deficiente, sem
vinda de Portugal. uma plano nacional que lhe desse um sistema ou estrutura
Os professores geralmente não tinham preparação para a adequada. As políticas foram sucessivas e caracterizadas pela
função, já que eram improvisados e mal pagos. Eram falta de continuidade e articulação.

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Período da Primeira República primeira a ser criada e organizada segundo as normas do


A República proclamada adotou o modelo político Estatuto das Universidades Brasileiras de 1931.
americano baseado no sistema presidencialista. Na Em 1935 o Secretário de Educação do Distrito Federal,
organização escolar percebe-se influência da filosofia Anísio Teixeira, cria a Universidade do Distrito Federal, no
positivista. A Reforma de Benjamin Constant tinha como atual município do Rio de Janeiro, com uma Faculdade de
princípios orientadores a liberdade e laicidade do ensino, Educação na qual se situava o Instituto de Educação.
como também a gratuidade da escola primária. Estes
princípios seguiam a orientação do que estava estipulado na Período do Estado Novo
Constituição brasileira. Refletindo tendências fascistas é outorgada uma nova
Uma das intenções desta Reforma era transformar o Constituição em 1937. A orientação político-educacional para
ensino em formador de alunos para os cursos superiores e não o mundo capitalista fica bem explícita em seu texto sugerindo
apenas preparador. Outra intenção era substituir a a preparação de um maior contingente de mão-de-obra para
predominância literária pela científica. as novas atividades abertas pelo mercado. Neste sentido, a
Esta Reforma foi bastante criticada: pelos positivistas, já nova Constituição enfatiza o ensino pré-vocacional e
que não respeitava os princípios pedagógicos de Comte; pelos profissional.
que defendiam a predominância literária, já que o que ocorreu Por outro lado propõe que a arte, a ciência e o ensino sejam
foi o acréscimo de matérias científicas às tradicionais, livres à iniciativa individual e à associação ou pessoas coletivas
tornando o ensino enciclopédico. públicas e particulares, tirando do Estado o dever da educação.
O Código Epitácio Pessoa, de 1901, inclui a lógica entre as Mantém ainda a gratuidade e a obrigatoriedade do ensino
matérias e retira a biologia, a sociologia e a moral, acentuando, primário. Também dispõe como obrigatório o ensino de
assim, a parte literária em detrimento da científica. trabalhos manuais em todas as escolas normais, primárias e
A Reforma Rivadávia Correa, de 1911, pretendeu que o secundárias.
curso secundário se tornasse formador do cidadão e não como No contexto político o estabelecimento do Estado Novo,
simples promotor a um nível seguinte. Retomando a segundo a historiadora Otaíza Romanelli, faz com que as
orientação positivista, prega a liberdade de ensino, discussões sobre as questões da educação, profundamente
entendendo-se como a possibilidade de oferta de ensino que ricas no período anterior, entrem "numa espécie de
não seja por escolas oficiais, e de frequência. Além disso, prega hibernação". As conquistas do movimento renovador,
ainda a abolição do diploma em troca de um certificado de influenciando a Constituição de 1934, foram enfraquecidas
assistência e aproveitamento e transfere os exames de nessa nova Constituição de 1937. Marca uma distinção entre o
admissão ao ensino superior para as faculdades. Os resultados trabalho intelectual, para as classes mais favorecidas, e o
desta Reforma foram desastrosos para a educação brasileira. trabalho manual, enfatizando o ensino profissional para as
Num período complexo da História do Brasil surge a classes mais desfavorecidas.
Reforma João Luiz Alves que introduz a cadeira de Moral e Em 1942, por iniciativa do Ministro Gustavo Capanema,
Cívica com a intenção de tentar combater os protestos são reformados alguns ramos do ensino. Estas Reformas
estudantis contra o governo do presidente Arthur Bernardes. receberam o nome de Leis Orgânicas do Ensino, e são
A década de vinte foi marcada por diversos fatos compostas por Decretos-lei que criam o Serviço Nacional de
relevantes no processo de mudança das características Aprendizagem Industrial – SENAI e valoriza o ensino
políticas brasileiras. Foi nesta década que ocorreu o profissionalizante.
Movimento dos 18 do Forte (1922), a Semana de Arte Moderna O ensino ficou composto, neste período, por cinco anos de
(1922), a fundação do Partido Comunista (1922), a Revolta curso primário, quatro de curso ginasial e três de colegial,
Tenentista (1924) e a Coluna Prestes (1924 a 1927). podendo ser na modalidade clássico ou científico. O ensino
Além disso, no que se refere à educação, foram realizadas colegial perdeu o seu caráter propedêutico, de preparatório
diversas reformas de abrangência estadual, como as de para o ensino superior, e passou a se preocupar mais com a
Lourenço Filho, no Ceará, em 1923, a de Anísio Teixeira, na formação geral. Apesar dessa divisão do ensino secundário,
Bahia, em 1925, a de Francisco Campos e Mario Casassanta, em entre clássico e científico, a predominância recaiu sobre o
Minas, em 1927, a de Fernando de Azevedo, no Distrito Federal científico, reunindo cerca de 90% dos alunos do colegial.
(atual Rio de Janeiro), em 1928 e a de Carneiro Leão, em
Pernambuco, em 1928. Período da Nova República
O fim do Estado Novo consubstanciou-se na adoção de uma
Período da Segunda República nova Constituição de cunho liberal e democrático. Esta nova
A Revolução de 30 foi o marco referencial para a entrada Constituição, na área da Educação, determina a
do Brasil no mundo capitalista de produção. A acumulação de obrigatoriedade de se cumprir o ensino primário e dá
capital, do período anterior, permitiu com que o Brasil pudesse competência à União para legislar sobre diretrizes e bases da
investir no mercado interno e na produção industrial. A nova educação nacional. Além disso, a nova Constituição fez voltar
realidade brasileira passou a exigir uma mão-de-obra o preceito de que a educação é direito de todos, inspirada nos
especializada e para tal era preciso investir na educação. princípios proclamados pelos Pioneiros, no Manifesto dos
Sendo assim, em 1930, foi criado o Ministério da Educação e Pioneiros da Educação Nova, nos primeiros anos da década de
Saúde Pública e, em 1931, o governo provisório sanciona 30.
decretos organizando o ensino secundário e as universidades Ainda em 1946 o então Ministro Raul Leitão da Cunha
brasileiras ainda inexistentes. Estes Decretos ficaram regulamenta o Ensino Primário e o Ensino Normal, além de
conhecidos como "Reforma Francisco Campos". criar o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial - SENAC,
Em 1932, um grupo de educadores lança à nação o atendendo as mudanças exigidas pela sociedade após a
Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, redigido por Revolução de 1930.
Fernando de Azevedo e assinado por outros conceituados Baseado nas doutrinas emanadas pela Carta Magna de
educadores da época. 1946, o Ministro Clemente Mariani, cria uma comissão com o
Em 1934, a nova Constituição (a segunda da República) objetivo de elaborar um anteprojeto de reforma geral da
dispõe, pela primeira vez, que a educação é direito de todos, educação nacional. Esta comissão, presidida pelo educador
devendo ser ministrada pela família e pelos Poderes Públicos. Lourenço Filho, era organizada em três subcomissões: uma
Ainda em 1934, por iniciativa do governador Armando para o Ensino Primário, uma para o Ensino Médio e outra para
Salles Oliveira, foi criada a Universidade de São Paulo. A o Ensino Superior. Em novembro de 1948 este anteprojeto foi

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encaminhado à Câmara Federal, dando início a uma luta assumido um caráter político. Para isso contribuiu a
ideológica em torno das propostas apresentadas. Num participação mais ativa de pensadores de outras áreas do
primeiro momento, as discussões estavam voltadas às conhecimento que passaram a falar de educação num sentido
interpretações contraditórias das propostas constitucionais. mais amplo do que as questões pertinentes à escola, à sala de
Num momento posterior, após a apresentação de um aula, à didática, à relação direta entre professor e estudante e
substitutivo do Deputado Carlos Lacerda, as discussões mais à dinâmica escolar em si mesma. Impedidos de atuarem em
marcantes relacionaram-se à questão da responsabilidade do suas funções, por questões políticas durante o Regime Militar,
Estado quanto à educação, inspirados nos educadores da velha profissionais de outras áreas, distantes do conhecimento
geração de 1930, e a participação das instituições privadas de pedagógico, passaram a assumir postos na área da educação e
ensino. a concretizar discursos em nome do saber pedagógico.
Depois de 13 anos de acirradas discussões foi promulgada No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei para uma
a Lei 4.024, em 20 de dezembro de 1961, sem a pujança do nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal, pelo Deputado
anteprojeto original, prevalecendo as reivindicações da Igreja Octávio Elísio, em 1988. No ano seguinte o Deputado Jorge
Católica e dos donos de estabelecimentos particulares de Hage enviou à Câmara um substitutivo ao Projeto e, em 1992,
ensino no confronto com os que defendiam o monopólio o Senador Darcy Ribeiro apresenta um novo Projeto que
estatal para a oferta da educação aos brasileiros. acabou por ser aprovado em dezembro de 1996, oito anos
Se as discussões sobre a Lei de Diretrizes e Bases para a após o encaminhamento do Deputado Octávio Elísio.
Educação Nacional foi o fato marcante, por outro lado, muitas Neste período, do fim do Regime Militar aos dias de hoje, a
iniciativas marcaram este período como, talvez, o mais fértil da fase politicamente marcante na educação, foi o trabalho do
História da Educação no Brasil: em 1950, em Salvador, no economista e Ministro da Educação Paulo Renato de Souza.
Estado da Bahia, Anísio Teixeira inaugura o Centro Popular de Logo no início de sua gestão, através de uma Medida Provisória
Educação (Centro Educacional Carneiro Ribeiro), dando início extinguiu o Conselho Federal de Educação e criou o Conselho
a sua ideia de escola-classe e escola-parque; em 1952, em Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação e
Fortaleza, Estado do Ceará, o educador Lauro de Oliveira Lima Cultura. Esta mudança tornou o Conselho menos burocrático e
inicia uma didática baseada nas teorias científicas de Jean mais político.
Piaget: o Método Psicogenético; em 1953 a educação passa a Mesmo que possamos não concordar com a forma como
ser administrada por um Ministério próprio: o Ministério da foram executados alguns programas, temos que reconhecer
Educação e Cultura; em 1961 tem início uma campanha de que, em toda a História da Educação no Brasil, contada a partir
alfabetização, cuja didática, criada pelo pernambucano Paulo do descobrimento, jamais houve execução de tantos projetos
Freire, propunha alfabetizar em 40 horas adultos analfabetos; na área da educação numa só administração.
em 1962 é criado o Conselho Federal de Educação, que O mais contestado deles foi o Exame Nacional de Cursos e
substitui o Conselho Nacional de Educação e os Conselhos o seu "Provão", no qual os alunos das universidades têm que
Estaduais de Educação e, ainda em 1962 é criado o Plano realizar uma prova ao fim do curso para receber seus
Nacional de Educação e o Programa Nacional de Alfabetização, diplomas. Esta prova, em que os alunos podem simplesmente
pelo Ministério da Educação e Cultura, inspirado no Método assinar a ata de presença e se retirar sem responder nenhuma
Paulo Freire. questão, é levada em consideração como avaliação das
instituições. Além do mais, entre outras questões, o exame não
Período do Regime Militar diferencia as regiões do país.
Em 1964, um golpe militar aborta todas as iniciativas de se Até os dias de hoje muito tem se mexido no planejamento
revolucionar a educação brasileira, sob o pretexto de que as educacional, mas a educação continua a ter as mesmas
propostas eram "comunizantes e subversivas". características impostas em todos os países do mundo, que é
O Regime Militar espelhou na educação o caráter mais o de manter o "status quo", para aqueles que frequentam
antidemocrático de sua proposta ideológica de governo: os bancos escolares, e menos de oferecer conhecimentos
professores foram presos e demitidos; universidades foram básicos, para serem aproveitados pelos estudantes em suas
invadidas; estudantes foram presos e feridos, nos confronto vidas práticas.
com a polícia, e alguns foram mortos; os estudantes foram Concluindo, podemos dizer que a História da Educação
calados e a União Nacional dos Estudantes proibida de Brasileira tem um princípio, meio e fim bem demarcado e
funcionar; o Decreto-Lei 477 calou a boca de alunos e facilmente observável. Ela é feita em rupturas marcantes, e em
professores. cada período determinado teve características próprias.
Neste período deu-se a grande expansão das universidades A bem da verdade, apesar de toda essa evolução e rupturas
no Brasil. Para acabar com os "excedentes" (aqueles que inseridas no processo, a educação brasileira não evoluiu muito
tiravam notas suficientes para serem aprovados, mas não no que se refere à questão da qualidade. As avaliações, de
conseguiam vaga para estudar), foi criado o vestibular todos os níveis, estão priorizadas na aprendizagem dos
classificatório. estudantes, embora existam outros critérios. O que podemos
Para erradicar o analfabetismo foi criado o Movimento notar, por dados oferecidos pelo próprio Ministério da
Brasileiro de Alfabetização – MOBRAL, aproveitando-se, em Educação, é que os estudantes não aprendem o que as escolas
sua didática, do expurgado Método Paulo Freire. O MOBRAL se propõem a ensinar.
propunha erradicar o analfabetismo no Brasil. Não conseguiu. Embora os Parâmetros Curriculares Nacionais estejam
E, entre denúncias de corrupção, acabou por ser extinto e, no sendo usados como norma de ação, nossa educação só teve
seu lugar criou-se a Fundação Educar. caráter nacional no período da Educação jesuítica. Após isso o
É no período mais cruel da ditadura militar, onde qualquer que se presenciou foi o caos e muitas propostas
expressão popular contrária aos interesses do governo era desencontradas que pouco contribuíram para o
abafada, muitas vezes pela violência física, que é instituída a desenvolvimento da qualidade da educação oferecida.
Lei 5.692, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em É provável que estejamos próximos de uma nova ruptura.
1971. A característica mais marcante desta Lei era tentar dar E esperamos que ela venha com propostas desvinculadas do
à formação educacional um cunho profissionalizante. modelo europeu de educação, criando soluções novas em
respeito às características brasileiras, como fizeram os países
Período da Abertura Política conhecidos como Tigres Asiáticos, os quais, buscaram soluções
No fim do Regime Militar a discussão sobre as questões para seu desenvolvimento econômico, investindo em
educacionais já haviam perdido o seu sentido pedagógico e educação; ou, como fez Cuba que, por decisão política de

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governo erradicou o analfabetismo em apenas um ano e trouxe A história da estrutura e da organização do Sistema
para a sala de aula todos os cidadãos cubanos. de ensino no Brasil14
Assim, na evolução da História da Educação brasileira a
próxima ruptura precisaria implantar um modelo que fosse A história da estrutura e da organização do ensino no
único e que atendesse às necessidades de nossa população e Brasil reflete as condições socioeconômicas do país, mas
que fosse eficaz. revela, sobretudo, o panorama político de determinados
Duas instituições educativas, em particular, sofreram uma períodos históricos.
profunda redefinição e reorganização na Modernidade: a A partir da década de 1980, por exemplo, o panorama
família e a escola, que se tornaram cada vez mais centrais na socioeconômico brasileiro indicava uma tendência
experiência formativa dos indivíduos e na própria reprodução neoconservadora para a minimização do Estado, que se
(cultural, ideológica e profissional) da sociedade. As duas afastava de seu papel de provedor dos serviços públicos, como
instituições chegaram a cobrir todo o arco da infância – saúde e educação. Na década de 1990, esse modelo instalou-se
adolescência, como “locais” destinados à formação das jovens e, no primeiro decênio do século XXI, ainda não foi superado.
gerações, segundo um modelo socialmente aprovado e Paradoxalmente, as alterações da organização do trabalho,
definido. resultantes, em grande parte, dos avanços tecnológicos,
solicitam da escola um trabalhador mais qualificado para as
Período Moderno novas funções no processo de produção e de serviços.
13A família, objeto de uma retomada como núcleo de afetos Ausentando-se o Estado de suas responsabilidades com
e animada pelo “sentimento da infância”, que fazia cada vez educação pública, como e onde formar, então, o trabalhador?
mais da criança o centro-motor da vida familiar, elaborava um As constantes críticas ao desempenho do poder público
sistema de cuidados e de controles da mesma criança, que remetem ao setor privado, apontado como o mais competente
tendiam a conformá-la a um ideal, mas também a valorizá-la para essa tarefa. Apresenta-se uma questão crucial para o
como mito, um mito de espontaneidade e de inocência, embora entendimento do papel social da escola: é sua função formar
às vezes obscurecido por crueldade, agressividade etc. Os pais especificamente para o trabalho ou ela constitui espaço de
não se contentavam mais em apenas pôr filhos no mundo. A formação do cidadão participe da vida social?
moral da época impõe que se dê a todos os filhos, não só ao O teórico Hayek (1990), considerado o pai do
primogênito, e no fim dos anos seiscentos também as filhas, neoliberalismo, contrapõe-se à ingerência estatal na educação.
uma preparação para a vida. A tarefa de assegurar tal Sua referência, porém, são os países em que a educação básica
afirmação é atribuída à escola. já foi universalizada e as condições sociais são mais favoráveis,
Ao lado da família, à escola: uma escola que instruía e que em razão de anterior consolidação do Estado de bem-estar
formava que ensinava conhecimentos, mas também social. Mas como pensar a atuação do Estado no Brasil, país
comportamentos, que se articulava em torno da didática, da considerado periférico, com grandes desigualdades sociais,
racionalização da aprendizagem dos diversos saberes, e em perversa concentração de renda, baixo índice de escolaridade,
torno da disciplina, da conformação programada e das práticas escola básica não universalizada? Certamente, para países com
repressivas (constritivas, mas por isso produtoras de novos estas condições socioeconômicas, a receita deveria ser outra.
comportamentos). Mas, sobretudo, uma escola que Organismos financiadores dos países terceiro-mundistas,
reorganizava suas próprias finalidades e seus meios como o Banco Internacional de Reconstrução e
específicos. Uma escola não mais sem graduação na qual se Desenvolvimento, também chamado Banco Mundial (BM),
ensinavam as mesmas coisas a todos e segundo processos de sugerem a garantia de educação básica mantida pelo Estado,
tipo adulto, não mais caracterizada pela “promiscuidade das isto é, gratuita, o que não significa, todavia, que ela seja
diversas idades” e, portanto, por uma forte incapacidade ministrada em escolas públicas. Os neoliberais criticam o fato
educativa, por uma rebeldia endêmica por causa da ação dos de a escola pública manter o monopólio do ensino gratuito.
maiores sobre os menores e, ainda, marcadas pela “liberdade Sugerem que o Estado dê aos pais vales-escolas ou cheques
dos estudantes”, sem disciplina interna e externa. Com a com o valor necessário para manter o estudo dos filhos,
instituição do colégio (no século XVI), porém, teve início um cabendo ao mercado de escolas públicas e particulares
processo de reorganização disciplinar da escola e de disputar esses subsídios. Assim, as escolas públicas não
racionalização e controle de ensino, através da elaboração de recebe- riam recursos do Estado, mas manter-se-iam com o
métodos de ensino/educação – o mais célebre foi a Ratio recebimento desses valores em condições iguais às das
Studiorum dos jesuítas – que fixavam um programa minucioso particulares, alterando-se, assim, o conceito de instituição
de estudo e de comportamento, o qual tinha ao centro a "pública". Trata-se da implementação da política de livre
disciplina, o internato e as “classes de idade”, além da escolha, uma das propostas mais caras ao ideário neoliberal.
graduação do ensino/aprendizagem. Os defensores de posições neoconservadoras alegam que
Também é dessa época a descoberta da disciplina: uma países mais pobres, como o Brasil, devem dar primazia à
disciplina constante e orgânica, muito diferente da violência e educação básica (leia-se ensino fundamental), o que significa
autoridade não respeitada. A disciplina escolar teve raízes na menor aporte de recursos para a educação infantil e para o
disciplina religiosa; era menos instrumento de exercício que ensino médio e superior. Também, no caso do ensino superior,
de aperfeiçoamento moral e espiritual, era buscada pela sua o Estado financiaria o aluno que não pudesse pagar seus
eficácia, como condição necessária do trabalho em comum, estudos, e este devolveria os valores do empréstimo depois de
mas também por seu valor próprio de edificação. Enfim, a formado.
escola ritualizava o momento do exame atribuindo-lhe o papel O estudo Primary Education, de 1996, patrocinado pelo
crucial no trabalho escolar. O exame era o momento em que o BM, diz que a educação escolar básica “é o pilar do crescimento
sujeito era submetido ao controle máximo, mas de modo econômico e do desenvolvimento social e o principal meio de
impessoal: mediante o controle do seu saber. Na realidade, o promover o bem-estar das pessoas” (Netz, 1996, p. 41-2). A
exame agia, sobretudo como instrumento disciplinar, de média de escolaridade dos trabalhadores no Brasil é de
controle do sujeito, como instrumento de conformação. aproximadamente 4 anos, contra 7,5 anos no Chile, 8,7 anos na
Argentina e 11 anos na França. Há a preocupação dos
empresários brasileiros em ampliar essa média, não só para

13 http://www.pedagogia.com.br/historia/moderno.php 14LIBÂNEO, José Carlos, OLIVEIRA, João Ferreira e TOSCHI, Mirza Seabra.

Educação Escolar: políticas, estrutura e organização. 10ª. Ed., São Paulo: Cortez,
2012.

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“promover o bem-estar das pessoas”, como diz o documento (A) É fundamental que os educadores e toda a sociedade
do BM, mas também para oferecer ao mercado uma mão de percebam que a situação na qual o trabalho educativo se
obra mais qualificada. Um fabricante de armas gaúcho processa, suas rupturas e permanências, os problemas que os
declarou que “os processos de produção estão cada vez mais educadores enfrentam são produtos de construções históricas.
sofisticados. (...) Não podemos deixar equipamentos de 500 (B) Buscar recuperar os conhecimentos do passado
mil, 1 milhão de dólares, nas mãos de operários sem evidencia as principais necessidades econômicas de uma
qualificação” (Netz, 1996, p. 44). sociedade.
Como se pode observar, não é possível discutir educação e (C) É importante apenas para o professor, único agente
ensino sem fazer referência a questões econômicas, políticas e responsável pelo ensino, perceber que a educação é um
sociais. Daí a escolha da década de 1930, começo do processo fenômeno contínuo e imutável.
de industrialização do país, para iniciarmos o estudo sobre o (D) Cabe lembrar ao educador que a educação do presente
processo de organização do ensino no Brasil. não apresenta relação com o passado, devendo o professor
Os acontecimentos políticos, econômicos e sociais da preocupar-se, sobretudo, com fenômenos cotidianos do
década de 1930 imprimiram novo perfil à sociedade brasileira. presente.
A quebra da Bolsa de Nova York, em 1929, mergulhou o Brasil (E) É preciso que alunos, professores e a sociedade notem
na crise do café, mas em contrapartida encaminhou o país para que as determinações do passado não se relacionam com a
o desenvolvimento industrial, por meio da adoção do modelo prática do ensino aprendizado, mas apenas com a
econômico de substituição das importações, alterando assim o compreensão daquilo que aconteceu no passado.
comando da nação, que passou da elite agrária aos novos
industriais. 03. O primeiro ministro Marques de Pombal procura
De 1930 a 1937, motivada pela industrialização emergente através de uma reorganização administrativa e econômica
e pelo fortalecimento do Estado-nação, a educação ganhou superar o atraso de Portugal frente às potencias europeias no
importância e foram efetuadas ações governamentais com a século XVIII. Como metas da Reforma Pombalina no Brasil
perspectiva de organizar, em plano nacional, a educação temos:
escolar. A intensificação do capitalismo industrial alterou as (A) a formação de Universidades na Colônia.
aspirações sociais em relação à educação, uma vez que nele (B) a criação das aulas régias avulsas em substituição da
eram exigidas condições mínimas para concorrer no mercado, ação educativa dos jesuítas.
diferentemente da estrutura oligárquica rural, na qual a (C) a possibilidade do uso da língua tupi em detrimento do
necessidade de instrução não era sentida nem pela população ensino da gramática da língua portuguesa.
nem pelos poderes constituídos (Romanelli, 1987). (D) o fortalecimento da aliança do Estado Português e a
A complexidade do período histórico que abrange desde a Companhia de Jesus.
década de 1930 até o momento atual e sua repercussão na (E) o incentivo a escolas de ofícios na Colônia.
evolução da educação escolar no país requerem, para
apropriada compreensão, a utilização de outras categorias 04. A construção da memória histórica da educação
além das econômicas e políticas. Vamos, pois, a partir de agora, brasileira é importante uma vez que:
analisar a história da estrutura e da organização da educação (A) Toda a produção historiográfica depende de sua
brasileira com base em pares conceituais que acompanharam compreensão.
historicamente o debate da democratização do ensino no (B) É fundamental para a elaboração de manuais didáticos
Brasil, permeando os diferentes períodos e alternando-se em para universitários.
importância, de acordo com o momento histórico. (C) Está ligada à preservação da memória da educação
brasileira.
Questões (D) É matéria presente nos currículos de ensino
fundamental I e II das escolas do Brasil.
01. Os Jesuítas chegaram ao Brasil em 1549 e tiveram uma (E) Relaciona-se apenas ao ensino da história no cotidiano
forte influência na formação escolar e cultural do Brasil de sala de aula.
Colônia. No decorrer do século XVIII passa a ocorrer no Respostas
contexto das Reformas Pombalinas, uma forte animosidade 01. E / 02. A / 03. B / 04. C
entre a Coroa Portuguesa e a Companhia de Jesus, que levou:
(A) ao fortalecimento da Companhia de Jesus.
(B) ao oferecimento da educação de base protestante na Aspectos legais e políticos
Colônia. da organização da educação
(C) a descentralização político-administrativa do Estado
Português. brasileira: as Diretrizes
(D) ao enfraquecimento do Estado Português. Curriculares Nacionais e suas
(E) a expulsão dos Jesuítas do Brasil. implicações na prática
02. Por que devemos estudar sobre a história da educação pedagógica;
no Brasil hoje? Pergunta um aluno ao seu professor e este
responde exemplificando com uma frase que retrata um
fenômeno iniciado no século XX: "A destruição do passado- ou PARECER CNE/CEB Nº: 7/201015
melhor, dos mecanismos sociais que vinculam nossas DIRETRIZES CURRICULARES NACIONAIS GERAIS PARA
experiência pessoais à das gerações passadas- é um dos A EDUCAÇÃO BÁSICA
fenômenos mais característicos e lúgubres do final do século
XX.(...) Por isso os historiadores, cujo ofício é lembrar o que os I – RELATÓRIO
outros esquecem, tornam-se mais importantes que nunca no
fim desse segundo milênio" 1.Histórico
Essa frase de Eric Hobsbawn explica a importância do Na organização do Estado brasileiro, a matéria educacional
estudo sobre a história da educação no Brasil pois: é conferida pela Lei nº 9.394/96, de Diretrizes e Bases da

15 http://pactoensinomedio.mec.gov.br/images/pdf/pceb007_10.pdf

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Educação Nacional (LDB), aos diversos entes federativos: a integração curricular das três etapas sequentes desse nível
União, Distrito Federal, Estados e Municípios, sendo que a cada da escolarização, essencialmente para compor um todo
um deles compete organizar seu sistema de ensino, cabendo, orgânico.
ainda, à União a coordenação da política nacional de educação, Além das avaliações que já ocorriam assistematicamente,
articulando os diferentes níveis e sistemas e exercendo função marcou o início da elaboração deste Parecer, particularmente,
normativa, redistributiva e supletiva (artigos 8º, 9º, 10 e 11). a Indicação CNE/CEB nº 3/2005, assinada pelo então
No tocante à Educação Básica, é relevante destacar que, conselheiro da CEB, Francisco Aparecido Cordão, na qual
entre as incumbências prescritas pela LDB aos Estados e ao constava a proposta de revisão das Diretrizes Curriculares
Distrito Federal, está assegurar o Ensino Fundamental e Nacionais para a Educação Infantil e para o Ensino
oferecer, com prioridade, o Ensino Médio a todos que o Fundamental. Nessa Indicação, justificava-se que tais
demandarem. E ao Distrito Federal e aos Municípios cabe Diretrizes encontravam-se defasadas, segundo avaliação
oferecer a Educação Infantil em Creches e Pré-Escolas, e, com nacional sobre a matéria nos últimos anos, e superadas em
prioridade, o Ensino Fundamental. decorrência dos últimos atos legais e normativos,
Em que pese, entretanto, a autonomia dada aos vários particularmente ao tratar da matrícula no Ensino
sistemas, a LDB, no inciso IV do seu artigo 9º, atribui à União Fundamental de crianças de 6 (seis) anos e consequente
estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito Federal ampliação do Ensino Fundamental para 9 (nove) anos de
e os municípios, competências e diretrizes para a Educação duração. Imprescindível acrescentar que a nova redação do
Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, que nortearão inciso I do artigo 208 da nossa Carta Magna, dada pela Emenda
os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a assegurar Constitucional nº 59/2009, assegura Educação Básica
formação básica comum. obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a
A formulação de Diretrizes Curriculares Nacionais sua oferta gratuita para todos os que a ela não tiveram acesso
constitui, portanto, atribuição federal, que é exercida pelo na idade própria.
Conselho Nacional de Educação (CNE), nos termos da LDB e da Nesta perspectiva, o processo de formulação destas
Lei nº 9.131/95, que o instituiu. Esta lei define, na alínea “c” do Diretrizes foi acordado, em 2006, pela Câmara de Educação
seu artigo 9º, entre as atribuições de sua Câmara de Educação Básica com as entidades: Fórum Nacional dos Conselhos
Básica (CEB), deliberar sobre as Diretrizes Curriculares Estaduais de Educação, União Nacional dos Conselhos
propostas pelo Ministério da Educação. Esta competência para Municipais de Educação, Conselho dos Secretários Estaduais
definir as Diretrizes Curriculares Nacionais torna-as de Educação, União Nacional dos Dirigentes Municipais de
mandatórias para todos os sistemas. Ademais, atribui-lhe, Educação, e entidades representativas dos profissionais da
entre outras, a responsabilidade de assegurar a participação educação, das instituições de formação de professores, das
da sociedade no aperfeiçoamento da educação nacional (artigo mantenedoras do ensino privado e de pesquisadores em
7º da Lei nº 4.024/61, com redação dada pela Lei 8.131/95), educação.
razão pela qual as diretrizes constitutivas deste Parecer Para a definição e o desenvolvimento da metodologia
consideram o exame das avaliações por elas apresentadas, destinada à elaboração deste Parecer, inicialmente, foi
durante o processo de implementação da LDB. constituída uma comissão que selecionou interrogações e
O sentido adotado neste Parecer para diretrizes está temas estimuladores dos debates, a fim de subsidiar a
formulado na Resolução CNE/CEB nº 2/98, que as delimita elaboração do documento preliminar visando às Diretrizes
como conjunto de definições doutrinárias sobre princípios, Curriculares Nacionais para a Educação Básica, sob a
fundamentos e procedimentos na Educação Básica (...) que coordenação da então relatora, conselheira Maria Beatriz
orientarão as escolas brasileiras dos sistemas de ensino, na Luce. (Portaria CNE/CEB nº 1/2006)
organização, na articulação, no desenvolvimento e na avaliação A comissão promoveu uma mobilização nacional das
de suas propostas pedagógicas. diferentes entidades e instituições que atuam na Educação
Por outro lado, a necessidade de definição de Diretrizes Básica no País, mediante:
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica está
posta pela emergência da atualização das políticas I – encontros descentralizados com a participação de
educacionais que consubstanciem o direito de todo brasileiro Municípios e Estados, que reuniram escolas públicas e
à formação humana e cidadã e à formação profissional, na particulares, mediante audiências públicas regionais,
vivência e convivência em ambiente educativo. Têm estas viabilizando ampla efetivação de manifestações;
Diretrizes por objetivos: II – revisões de documentos relacionados com a Educação
I – sistematizar os princípios e diretrizes gerais da Educação Básica, pelo CNE/CEB, com o objetivo de promover a
Básica contidos na Constituição, na LDB e demais dispositivos atualização motivadora do trabalho das entidades, efetivadas,
legais, traduzindo-os em orientações que contribuam para simultaneamente, com a discussão do regime de colaboração
assegurar a formação básica comum nacional, tendo como foco entre os sistemas educacionais, contando, portanto, com a
os sujeitos que dão vida ao currículo e à escola; participação dos conselhos estaduais e municipais.
II – estimular a reflexão crítica e propositiva que deve
subsidiar a formulação, execução e avaliação do projeto Inicialmente, partiu-se da avaliação das diretrizes
político-pedagógico da escola de Educação Básica; destinadas à Educação Básica que, até então, haviam sido
III – orientar os cursos de formação inicial e continuada de estabelecidas por etapa e modalidade, ou seja, expressando-se
profissionais – docentes, técnicos, funcionários - da Educação nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil;
Básica, os sistemas educativos dos diferentes entes federados e para o Ensino Fundamental; para o Ensino Médio; para a
as escolas que os integram, indistintamente da rede a que Educação de Jovens e Adultos; para a Educação do Campo;
pertençam. para a Educação Especial; e para a Educação Escolar Indígena.
Ainda em novembro de 2006, em Brasília, foi realizado o
Nesse sentido, as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais Seminário Nacional Currículo em Debate, promovido pela
para a Educação Básica visam estabelecer bases comuns Secretaria de Educação Básica/MEC, com a participação de
nacionais para a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o representantes dos Estados e Municípios. Durante esse
Ensino Médio, bem como para as modalidades com que podem Seminário, a CEB realizou a sua trigésima sessão ordinária na
se apresentar, a partir das quais os sistemas federal, estaduais, qual promoveu Debate Nacional sobre as Diretrizes
distrital e municipais, por suas competências próprias e Curriculares para a Educação Básica, por etapas. Esse debate
complementares, formularão as suas orientações assegurando foi denominado Colóquio Nacional sobre as Diretrizes

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Curriculares Nacionais. A partir desse evento e dos demais que 11.494/2007, que fixa percentual de recursos a todas as etapas
o sucederam, em 2007, e considerando a alteração do quadro e modalidades da Educação Básica;
de conselheiros do CNE e da CEB, criou-se, em 2009, nova V – a criação do Conselho Técnico Científico (CTC) da
comissão responsável pela elaboração dessas Diretrizes, Educação Básica, da Coordenação de Aperfeiçoamento de
constituída por Adeum Hilário Sauer (presidente), Clélia Pessoal de Nível Superior do Ministério da Educação
Brandão Alvarenga Craveiro (relatora), Raimundo Moacir (Capes/MEC);
Mendes Feitosa e José Fernandes de Lima (Portaria CNE/CEB VI – a formulação, aprovação e implantação das medidas
nº 2/2009). Essa comissão reiniciou os trabalhos já expressas na Lei nº 11.738/2008, que regulamenta o piso
organizados pela comissão anterior e, a partir de então, vem salarial profissional nacional para os profissionais do
acompanhando os estudos promovidos pelo MEC sobre magistério público da Educação Básica;
currículo em movimento, no sentido de atuar articulada e VII – a criação do Fórum Nacional dos Conselhos de
integradamente com essa instância educacional. Educação, objetivando prática de regime de colaboração entre
Durante essa trajetória, os temas considerados pertinentes o CNE, o Fórum Nacional dos Conselhos Estaduais de Educação
à matéria objeto deste Parecer passaram a se constituir nas e a União Nacional dos Conselhos Municipais de Educação;
seguintes ideias-força: VIII – a instituição da política nacional de formação de
profissionais do magistério da Educação Básica (Decreto nº
I – as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a 6.755, de 29 de janeiro de 2009);
Educação Básica devem presidir as demais diretrizes IX – a aprovação do Parecer CNE/CEB nº 9/2009 e da
curriculares específicas para as etapas e modalidades, Resolução CNE/CEB nº 2/2009, que institui as Diretrizes
contemplando o conceito de Educação Básica, princípios de Nacionais para os Planos de Carreira e Remuneração dos
organicidade, sequencialidade e articulação, relação entre as Profissionais do Magistério da Educação Básica Pública, que
etapas e modalidades: articulação, integração e transição; devem ter sido implantados até dezembro de 2009;
II – o papel do Estado na garantia do direito à educação de X – as recentes avaliações do PNE, sistematizadas pelo CNE,
qualidade, considerando que a educação, enquanto direito expressas no documento Subsídios para Elaboração do PNE
inalienável de todos os cidadãos, é condição primeira para o Considerações Iniciais. Desafios para a Construção do PNE
exercício pleno dos direitos: humanos, tanto dos direitos sociais (Portaria CNE/CP nº 10/2009);
e econômicos quanto dos direitos civis e políticos; XI – a realização da Conferência Nacional de Educação
III – a Educação Básica como direito e considerada, (CONAE), com o tema central “Construindo um Sistema
contextualizadamente, em um projeto de Nação, em Nacional Articulado de Educação: Plano Nacional de Educação
consonância com os acontecimentos e suas determinações – Suas Diretrizes e Estratégias de Ação”, tencionando propor
histórico-sociais e políticas no mundo; diretrizes e estratégias para a construção do PNE 2011-2020;
IV – a dimensão articuladora da integração das diretrizes XII – a relevante alteração na Constituição, pela
curriculares compondo as três etapas e as modalidades da promulgação da Emenda Constitucional nº 59/2009, que, entre
Educação Básica, fundamentadas na indissociabilidade dos suas medidas, assegura Educação Básica obrigatória e gratuita
conceitos referenciais de cuidar e educar; dos 4 aos 17 anos de idade, inclusive a sua oferta gratuita para
V – a promoção e a ampliação do debate sobre a política todos os que a ela não tiveram acesso na idade própria; assegura
curricular que orienta a organização da Educação Básica como o atendimento ao estudante, em todas as etapas da Educação
sistema educacional articulado e integrado; Básica, mediante programas suplementares de material
VI – a democratização do acesso, permanência e sucesso didático-escolar, transporte, alimentação e assistência à saúde,
escolar com qualidade social, científica, cultural; bem como reduz, anualmente, a partir do exercício de 2009, o
VII – a articulação da educação escolar com o mundo do percentual da Desvinculação das Receitas da União incidente
trabalho e a prática social; sobre os recursos destinados à manutenção e ao
VIII – a gestão democrática e a avaliação; desenvolvimento do ensino.
IX – a formação e a valorização dos profissionais da Para a comissão, o desafio consistia em interpretar essa
educação; realidade e apresentar orientações sobre a concepção e
X – o financiamento da educação e o controle social. organização da Educação Básica como sistema educacional,
segundo três dimensões básicas: organicidade,
Ressalte-se que o momento em que estas Diretrizes sequencialidade e articulação. Dispor sobre a formação básica
Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Básica estão nacional relacionando-a com a parte diversificada, e com a
sendo elaboradas é muito singular, pois, simultaneamente, as preparação para o trabalho e as práticas sociais, consiste,
diretrizes das etapas da Educação Básica, também elas, portanto, na formulação de princípios para outra lógica de
passam por avaliação, por meio de contínua mobilização dos diretriz curricular, que considere a formação humana de
representantes dos sistemas educativos de nível nacional, sujeitos concretos, que vivem em determinado meio ambiente,
estadual e municipal. A articulação entre os diferentes contexto histórico e sociocultural, com suas condições físicas,
sistemas flui num contexto em que se vivem: emocionais e intelectuais.
Este Parecer deve contribuir, sobretudo, para o processo
I – os resultados da Conferência Nacional da Educação de implementação pelos sistemas de ensino das Diretrizes
Básica (2008); Curriculares Nacionais específicas, para que se concretizem
II – os 13 anos transcorridos de vigência da LDB e as efetivamente nas escolas, minimizando o atual distanciamento
inúmeras alterações nela introduzidas por várias leis, bem como existente entre as diretrizes e a sala de aula. Para a organização
a edição de outras leis que repercutem nos currículos da das orientações contidas neste texto, optou-se por enunciá-las
Educação Básica; seguindo a disposição que ocupam na estrutura estabelecida
III – o penúltimo ano de vigência do Plano Nacional de na LDB, nas partes em que ficam previstos os princípios e fins
Educação (PNE), que passa por avaliação, bem como a da educação nacional; as orientações curriculares; a formação
mobilização nacional em torno de subsídios para a elaboração e valorização de profissionais da educação; direitos à educação
do PNE para o período 2011-2020; e deveres de educar: Estado e família, incluindo-se o Estatuto
IV – a aprovação do Fundo de Manutenção e da Criança e do Adolescente (ECA) Lei nº 8.069/90 e a
Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essas referências
Professores da Educação (FUNDEB), regulado pela Lei nº levaram em conta, igualmente, os dispositivos sobre a
Educação Básica constantes da Carta Magna que orienta a

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Nação brasileira, relatórios de pesquisas sobre educação e uma vez que, dentre eles, apenas 8 formularam e aprovaram
produções teóricas versando sobre sociedade e educação. os seus planos de educação. Relendo a avaliação técnica do
Com treze anos de vigência já completados, a LDB recebeu aprovaram os seus planos de educação. Relendo a avaliação
várias alterações, particularmente no referente à Educação técnica do PNE, promovida pela Comissão de Educação e
Básica, em suas diferentes etapas e modalidades. Cultura da Câmara dos Deputados (2004), pode-se constatar
Após a edição da Lei nº 9.475/1997, que alterou o artigo que, em todas as etapas e modalidades educativas
33 da LDB, prevendo a obrigatoriedade do respeito à contempladas no PNE, três aspectos figuram reiteradamente:
diversidade cultural religiosa do Brasil, outras leis acesso, capacitação docente e infraestrutura. Em
modificaram-na quanto à Educação Básica. contrapartida, nesse mesmo documento, é assinalado que a
A maior parte dessas modificações tem relevância social, permanência e o sucesso do estudante na escola têm sido
porque, além de reorganizarem aspectos da Educação Básica, objeto de pouca atenção. Em outros documentos acadêmicos e
ampliam o acesso das crianças ao mundo letrado, asseguram- oficiais, são também aspectos que têm sido avaliados de modo
lhes outros benefícios concretos que contribuem para o seu descontínuo e escasso, embora a permanência se constitua em
desenvolvimento pleno, orientado por profissionais da exigência fixada no inciso I do artigo 3º da LDB.
educação especializados. Nesse sentido, destaca-se que a LDB Salienta-se que, além das condições para acesso à escola,
foi alterada pela Lei nº 10.287/2001 para responsabilizar a há de se garantir a permanência nela, e com sucesso. Esta
escola, o Conselho Tutelar do Município, o juiz competente da exigência se constitui em um desafio de difícil concretização,
Comarca e o representante do Ministério Público pelo mas não impossível. O artigo 6º, da LDB, alterado pela Lei nº
acompanhamento sistemático do percurso escolar das 11.114/2005, prevê que é dever dos pais ou responsáveis
crianças e dos jovens. Este é, sem dúvida, um dos mecanismos efetuar a matrícula dos menores, a partir dos seis anos de
que, se for efetivado de modo contínuo, pode contribuir idade, no Ensino Fundamental.
significativamente para a permanência do estudante na escola. Reforça-se, assim, a garantia de acesso a essas etapas da
Destaca-se, também, que foi incluído, pela Lei nº 11.700/2008, Educação Básica. Para o Ensino Médio, a oferta não era,
o inciso X no artigo 4º, fixando como dever do Estado efetivar originalmente, obrigatória, mas indicada como de extensão
a garantia de vaga na escola pública de Educação Infantil ou de progressiva, porém, a Lei nº 12.061/2009 alterou o inciso II do
Ensino Fundamental mais próxima de sua residência a toda artigo 4º e o inciso VI do artigo 10 da LDB, para garantir a
criança a partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de universalização do Ensino Médio gratuito e para assegurar o
idade. atendimento de todos os interessados ao Ensino Médio
Há leis, por outro lado, que não alteram a redação da LDB, público. De todo modo, o inciso VII do mesmo artigo já
porém agregam-lhe complementações, como a Lei nº estabelecia que se deve garantir a oferta de educação escolar
9.795/99, que dispõe sobre a Educação Ambiental e institui a regular para jovens e adultos, com características e
Política Nacional de Educação Ambiental; a Lei nº modalidades adequadas às suas necessidades e
10.436/2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais disponibilidades, garantindo-se aos que forem trabalhadores
(LIBRAS); a Lei nº 10.741/2003, que dispõe sobre o Estatuto as condições de acesso e permanência na escola.
do Idoso; a Lei nº 9.503/97, que institui o Código de Trânsito O acesso ganhou força constitucional, agora para quase
Brasileiro; a Lei nº 11.161/2005, que dispõe sobre o ensino da todo o conjunto da Educação Básica (excetuada a fase inicial
Língua Espanhola; e o Decreto nº 6.949/2009, que promulga a da Educação Infantil, da Creche), com a nova redação dada ao
Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com inciso I do artigo 208 da nossa Carta Magna, que assegura a
Deficiência e seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova Educação Básica obrigatória e gratuita dos 4 aos 17 anos de
York, em 30 de março de 2007. idade, inclusive a gratuita para todos os que a ela não tiveram
É relevante lembrar que a Constituição Federal, acima de acesso na idade própria, sendo sua implementação
todas as leis, no seu inciso XXV do artigo 7º, determina que um progressiva, até 2016, nos termos do Plano Nacional de
dos direitos dos trabalhadores urbanos e rurais e, portanto, Educação, com apoio técnico e financeiro da União.
obrigação das empresas, é a assistência gratuita aos filhos e Além do PNE, outros subsídios têm orientado as políticas
dependentes desde o nascimento até 5 (cinco) anos de idade públicas para a educação no Brasil, entre eles as avaliações do
em Creches e Pré-Escolas. Embora redundante, registre-se que Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), da Prova
todas as Creches e Pré-Escolas devem estar integradas ao Brasil e do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM),
respectivo sistema de ensino (artigo 89 da LDB). definidas como constitutivas do Sistema de Avaliação da
A LDB, com suas alterações, e demais atos legais Qualidade da Oferta de Cursos no País. Destaca-se que tais
desempenham papel necessário, por sua função referencial programas têm suscitado interrogações também na Câmara de
obrigatória para os diferentes sistemas e redes educativos. Educação Básica do CNE, entre outras instâncias acadêmicas:
Pode-se afirmar, sem sombra de dúvida, que ainda está em teriam eles consonância com a realidade das escolas?
curso o processo de implementação dos princípios e das Esses programas levam em consideração a identidade de
finalidades definidos constitucional e legalmente para orientar cada sistema, de cada unidade escolar? O fracasso do escolar,
o projeto educativo do País, cujos resultados ainda não são averiguado por esses programas de avaliação, não estaria
satisfatórios, até porque o texto da Lei, por si só, não se traduz expressando o resultado da forma como se processa a
em elemento indutor de mudança. Ele requer esforço avaliação, não estando de acordo com a maneira como a escola
conjugado por parte dos órgãos responsáveis pelo e os professores planejam e operam o currículo? O sistema de
cumprimento do que os atos regulatórios preveem. avaliação aplicado guardaria relação com o que efetivamente
No desempenho de suas competências, o CNE iniciou, em acontece na concretude das escolas brasileiras?
1997, a produção de orientações normativas nacionais, Como consequência desse método de avaliação externa, os
visando à implantação da Educação Básica, sendo a primeira o estudantes crianças não estariam sendo punidos com
Parecer CNE/CEB nº 5/97, de lavra do conselheiro Ulysses de resultados péssimos e reportagens terríveis? E mais, os
Oliveira Panisset. A partir de então, foram editados pelo estudantes das escolas indígenas, entre outros de situações
Conselho Nacional de Educação pareceres e resoluções, em específicas, não estariam sendo afetados negativamente por
separado, para cada uma das etapas e modalidades. essas formas de avaliação?
No período de vigência do Plano Nacional de Educação Lamentavelmente, esses questionamentos não têm
(PNE), desde o seu início até 2008, constata-se que, embora em indicado alternativas para o aperfeiçoamento das avaliações
ritmo distinto, menos de um terço das unidades federadas (26 nacionais. Como se sabe, as avaliações ENEM e Prova Brasil
Estados e o Distrito Federal) apresentaram resposta positiva, vêm-se constituindo em políticas de Estado que subsidiam os

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sistemas na formulação de políticas públicas de equidade, bem teriam sido editados como obrigação de conteúdos a serem
como proporcionam elementos aos municípios e escolas para contemplados no Brasil inteiro, como se fossem um roteiro,
localizarem as suas fragilidades e promoverem ações, na sugerindo entender que essa medida poderia ser orientação
tentativa de superá-las, por meio de metas integradas. Além suficiente para assegurar a qualidade da educação para todos.
disso, é proposta do CNE o estabelecimento de uma Base Entretanto, a educação para todos não é viabilizada por
Nacional Comum que terá como um dos objetivos nortear as decreto, resolução, portaria ou similar, ou seja, não se efetiva
avaliações e a elaboração de livros didáticos e de outros tão somente por meio de prescrição de atividades de ensino ou
documentos pedagógicos. de estabelecimento de parâmetros ou diretrizes curriculares:
O processo de implantação e implementação do disposto a educação de qualidade social é conquista e, como conquista
na alteração da LDB pela Lei nº 11.274/2006, que estabeleceu da sociedade brasileira, é manifestada pelos movimentos
o ingresso da criança a partir dos seis anos de idade no Ensino sociais, pois é direito de todos.
Fundamental, tem como perspectivas melhorar as condições Essa conquista, simultaneamente, tão solitária e solidária
de equidade e qualidade da Educação Básica, estruturar um quanto singular e coletiva, supõe aprender a articular o local e
novo Ensino Fundamental e assegurar um alargamento do o universal em diferentes tempos, espaços e grupos sociais
tempo para as aprendizagens da alfabetização e do letramento. desde a primeira infância. A qualidade da educação para todos
Se forem observados os dados estatísticos a partir da exige compromisso e responsabilidade de todos os envolvidos
relação entre duas datas referenciais – 2000 e 2008 –, tem-se no processo político, que o Projeto de Nação traçou, por meio
surpresa quanto ao quantitativo total de matriculados na da Constituição Federal e da LDB, cujos princípios e finalidades
Educação Básica, já que se constata redução de matrícula (- educacionais são desafiadores: em síntese, assegurando o
0,7%), em vez de elevação. direito inalienável de cada brasileiro conquistar uma formação
Contudo, embora se perceba uma redução de 20,6% no sustentada na continuidade de estudos, ou seja, como
total da Educação Infantil, na Creche o crescimento foi temporalização de aprendizagens que complexifiquem a
expressivo, de 47,7%. Os números indicam que, no Ensino experiência de comungar sentidos que dão significado à
Fundamental e no Ensino Médio, há decréscimo de matrícula, convivência.
o que trai a intenção nacional projetada em metas Há de se reconhecer, no entanto, que o desafio maior está
constitutivas do Plano Nacional de Educação, pois, no na necessidade de repensar as perspectivas de um
primeiro, constata-se uma queda de -7,3% e, no segundo, de - conhecimento digno da humanidade na era planetária, pois um
8,4%. Uma pergunta inevitável é: em que medida as políticas dos princípios que orientam as sociedades contemporâneas é
educacionais estimularia a superação desse quadro e em quais a imprevisibilidade. As sociedades abertas não têm os
aspectos essas Diretrizes poderiam contribuir como indutoras caminhos traçados para um percurso inflexível e estável.
de mudanças favoráveis à reversão do que se coloca? Trata-se de enfrentar o acaso, a volatilidade e a
Há necessidade de aproximação da lógica dos discursos imprevisibilidade, e não programas sustentados em certezas.
normativos com a lógica social, ou seja, a dos papéis e das Há entendimento geral de que, durante a Década da
funções sociais em seu dinamismo. Um dos desafios, Educação (encerrada em 2007), entre as maiores conquistas
entretanto, está no que Miguel G. Arroyo (1999) aponta, por destaca-se a criação do FUNDEF, posteriormente
exemplo, em seu artigo, “Ciclos de desenvolvimento humano e transformado em FUNDEB. Este ampliou as condições efetivas
formação de educadores”, em que assinala que as diretrizes de apoio financeiro e de gestão às três etapas da Educação
para a educação nacional, quando normatizadas, não chegam Básica e suas modalidades, desde 2007. Do ponto de vista do
ao cerne do problema, porque não levam em conta a lógica apoio à Educação Básica, como totalidade, o FUNDEB
social. Com base no entendimento do autor, as diretrizes não apresenta sinais de que a gestão educacional e de políticas
preveem a preparação antecipada daqueles que deverão públicas poderá contribuir para a conquista da elevação da
implantá-las e implementá-las. O comentário do autor é qualidade da educação brasileira, se for assumida por todos os
ilustrativo por essa compreensão: não se implantarão que nela atuam, segundo os critérios da efetividade, relevância
propostas inovadoras listando o que teremos de inovar, e pertinência, tendo como foco as finalidades da educação
listando as competências que os educadores devem aprender nacional, conforme definem a Constituição Federal e a LDB,
e montando cursos de treinamento para formá-los. É (...) no bem como o Plano Nacional de Educação.
campo da formação de profissionais de Educação Básica onde Os recursos para a educação serão ainda ampliados com a
mais abundam as leis e os pareceres dos conselhos, os palpites desvinculação de recursos da União (DRU) aprovada pela já
fáceis de cada novo governante, das equipes técnicas, e até das destacada Emenda Constitucional nº 59/2009. Sem dúvida,
agências de financiamento, nacionais e internacionais (Arroyo, essa conquista, resultado das lutas sociais, pode contribuir
1999, p. 151). para a melhoria da qualidade social da ação educativa, em todo
Outro limite que tem sido apontado pela comunidade o País.
educativa, a ser considerado na formulação e implementação No que diz respeito às fontes de financiamento da
das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação Educação Básica, em suas diferentes etapas e modalidades, no
Básica, é a desproporção existente entre as unidades entanto, verifica-se que há dispersão, o que tem repercutido
federadas do Brasil, sob diferentes pontos de vista: recursos desfavoravelmente na unidade da gestão das prioridades
financeiros, presença política, dimensão geográfica, educacionais voltadas para a conquista da qualidade social da
demografia, recursos naturais e, acima de tudo, traços educação escolar, inclusive em relação às metas previstas no
socioculturais. PNE 2001-2010. Apesar da relevância do FUNDEF, e agora com
Entre múltiplos fatores que podem ser destacados, o FUNDEB em fase inicial de implantação, ainda não se tem
acentua-se que, para alguns educadores que se manifestaram política financeira compatível com as exigências da Educação
durante os debates havidos em nível nacional, tendo como foco Básica em sua pluridimensionalidade e totalidade.
o cotidiano da escola e as diretrizes curriculares vigentes, há As políticas de formação dos profissionais da educação, as
um entendimento de que tanto as diretrizes curriculares, Diretrizes Curriculares Nacionais, os parâmetros de qualidade
quanto os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), definidos pelo Ministério da Educação, associados às normas
implementados pelo MEC de 1997 a 2002, transformaram-se dos sistemas educativos dos Estados, Distrito Federal e
em meros papéis. Preencheram uma lacuna de modo Municípios, são orientações cujo objetivo central é o de criar
equivocado e pouco dialógico, definindo as concepções condições para que seja possível melhorar o desempenho das
metodológicas a serem seguidas e o conhecimento a ser escolas, mediante ação de todos os seus sujeitos.
trabalhado no Ensino Fundamental e no Médio. Os PCNs

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Assume-se, portanto, que as Diretrizes Curriculares gênero, raça, etnia, geração, constituídas por categorias que se
Nacionais Gerais para a Educação Básica terão como entrelaçam na vida social pobres, mulheres,
fundamento essencial a responsabilidade que o Estado afrodescentendes, indígenas, pessoas com deficiência, as
brasileiro, a família e a sociedade têm de garantir a populações do campo, os de diferentes orientações sexuais, os
democratização do acesso, inclusão, permanência e sucesso sujeitos albergados, aqueles em situação de rua, em privação
das crianças, jovens e adultos na instituição educacional,
sobretudo em idade própria a cada etapa e modalidade; a sociedade brasileira e que começam a ser contemplados pelas
aprendizagem para continuidade dos estudos; e a extensão da políticas públicas.
obrigatoriedade e da gratuidade da Educação Básica. Para que se conquiste a inclusão social, a educação escolar
deve fundamentar-se na ética e nos valores da liberdade, na
2. Mérito justiça social, na pluralidade, na solidariedade e na
sustentabilidade, cuja finalidade é o pleno desenvolvimento de
Inicialmente, apresenta-se uma sintética reflexão sobre seus sujeitos, nas dimensões individual e social de cidadãos
sociedade e a educação, a que se seguem orientações para a conscientes de seus direitos e deveres, compromissados com a
Educação Básica, a partir dos princípios definidos transformação social. Diante dessa concepção de educação, a
constitucionalmente e da contextualização apresentada no escola é uma organização temporal, que deve ser menos rígida,
histórico, tendo compromisso com a organicidade, a segmentada e uniforme, a fim de que os estudantes,
sequencialidade e a articulação do conjunto total da Educação indistintamente, possam adequar seus tempos de
Básica, sua inserção na sociedade e seu papel na construção do aprendizagens de modo menos homogêneo e idealizado.
Projeto Nacional. Visa-se à formulação das Diretrizes A escola, face às exigências da Educação Básica, precisa ser
Curriculares específicas para suas etapas e modalidades, reinventada: priorizar processos capazes de gerar sujeitos
organizando-se com os seguintes itens: 1) Referências inventivos, participativos, cooperativos, preparados para
conceituais; 2) Sistema Nacional de Educação; 3) Acesso e diversificadas inserções sociais, políticas, culturais, laborais e,
permanência para a conquista da qualidade social; 4) ao mesmo tempo, capazes de intervir e problematizar as
Organização curricular: conceito, limites, possibilidades; 5) formas de produção e de vida. A escola tem, diante de si, o
Organização da Educação Básica; 6) Elementos constitutivos desafio de sua própria recriação, pois tudo que a ela se refere
para organização e implantação das Diretrizes Curriculares constitui-se como invenção: os rituais escolares são invenções
Nacionais Gerais para a Educação Básica. de um determinado contexto sociocultural em movimento.
A sociedade, na sua história, constitui-se no locus da vida, A elaboração das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
das tramas sociais, dos encontros e desencontros nas suas para a Educação Básica pressupõe clareza em relação ao seu
mais diferentes dimensões. É nesse espaço que se inscreve a papel de indicador de opções políticas, sociais, culturais,
instituição escolar. O desenvolvimento da sociedade engendra educacionais, e a função da educação, na sua relação com os
movimentos bastante complexos. Ao traduzir-se, ao mesmo objetivos constitucionais de projeto de Nação,
tempo, em território, em cultura, em política, em economia, em fundamentando-se na cidadania e na dignidade da pessoa, o
modo de vida, em educação, em religião e outras que implica igualdade, liberdade, pluralidade, diversidade,
manifestações humanas, a sociedade, especialmente a respeito, justiça social, solidariedade e sustentabilidade.
contemporânea, insere-se dialeticamente e movimenta-se na
continuidade e descontinuidade, na universalização e na 2.1 Referências conceituais
fragmentação, no entrelaçamento e na ruptura que Os fundamentos que orientam a Nação brasileira estão
conformam a sua face. Por isso, vive-se, hoje, a problemática definidos constitucionalmente no artigo 1º da Constituição
da dispersão e ruptura, portanto, da superficialidade. Nessa Federal, que trata dos princípios fundamentais da cidadania e
dinâmica, inscreve-se a compreensão do projeto de Nação, o da dignidade da pessoa humana, do pluralismo político, dos
da educação nacional e, neste, o da instituição escolar, com sua valores sociais do trabalho e da livre iniciativa. Nessas bases,
organização, seu projeto e seu processo educativo em suas assentam-se os objetivos nacionais e, por consequência, o
diferentes dimensões, etapas e modalidades. projeto educacional brasileiro: construir uma sociedade livre,
O desafio posto pela contemporaneidade à educação é o de justa e solidária; garantir o desenvolvimento nacional;
garantir, contextualizadamente, o direito humano universal e erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as
social inalienável à educação. O direito universal não é passível desigualdades sociais e regionais; promover o bem de todos
de ser analisado isoladamente, mas deve sê-lo em estreita sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer
relação com outros direitos, especialmente, dos direitos civis e outras formas de discriminação.
políticos e dos direitos de caráter subjetivo, sobre os quais Esse conjunto de compromissos prevê também a defesa da
incide decisivamente. Compreender e realizar a educação, paz; a autodeterminação dos povos; a prevalência dos direitos
entendida como um direito individual humano e coletivo, humanos; o repúdio ao preconceito, à violência e ao
implica considerar o seu poder de habilitar para o exercício de terrorismo; e o equilíbrio do meio ambiente, bem de uso
outros direitos, isto é, para potencializar o ser humano como comum do povo e essencial à qualidade de vida, impondo-se
cidadão pleno, de tal modo que este se torne apto para viver e ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e
conviver em determinado ambiente, em sua dimensão preservá-lo para as presentes e as futuras gerações.
planetária. A educação é, pois, processo e prática que se As bases que dão sustentação ao projeto nacional de
concretizam nas relações sociais que transcendem o espaço e educação responsabilizam o poder público, a família, a
o tempo escolares, tendo em vista os diferentes sujeitos que a sociedade e a escola pela garantia a todos os estudantes de um
demandam. Educação consiste, portanto, no processo de ensino ministrado com base nos seguintes princípios:
socialização da cultura da vida, no qual se constroem, se I – igualdade de condições para o acesso, inclusão,
mantêm e se transformam saberes, conhecimentos e valores. permanência e sucesso na escola;
Exige-se, pois, problematizar o desenho organizacional da II – liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
instituição escolar, que não tem conseguido responder às cultura, o pensamento, a arte e o saber;
singularidades dos sujeitos que a compõem. Torna-se III – pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
inadiável trazer para o debate os princípios e as práticas de um IV – respeito à liberdade e aos direitos;
processo de inclusão social, que garanta o acesso e considere a V – coexistência de instituições públicas e privadas de
diversidade humana, social, cultural, econômica dos grupos ensino;
historicamente excluídos. Trata-se das questões de classe,

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VI – gratuidade do ensino público em estabelecimentos o juiz competente da Comarca, com o representante do


oficiais; Ministério Público e com os demais segmentos da sociedade.
VII – valorização do profissional da educação escolar; Para que isso se efetive, torna-se exigência, também, a
VIII – gestão democrática do ensino público, na forma da corresponsabilidade exercida pelos profissionais da educação,
legislação e normas dos sistemas de ensino; necessariamente articulando a escola com as famílias e a
IX – garantia de padrão de qualidade; comunidade.
X – valorização da experiência extraescolar; Nota-se que apenas pelo cuidado não se constrói a
XI – vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as educação e as dimensões que a envolvem como projeto
práticas sociais. transformador e libertador. A relação entre cuidar e educar se
Além das finalidades da educação nacional enunciadas na concebe mediante internalização consciente de eixos
Constituição Federal (artigo 205) e na LDB (artigo 2º), que têm norteadores, que remetem à experiência fundamental do
como foco o pleno desenvolvimento da pessoa, a preparação valor, que influencia significativamente a definição da conduta,
para o exercício da cidadania e a qualificação para o trabalho, no percurso cotidiano escolar. Não de um valor pragmático e
deve-se considerar integradamente o previsto no ECA (Lei nº utilitário de educação, mas do valor intrínseco àquilo que deve
8.069/90), o qual assegura, à criança e ao adolescente de até caracterizar o comportamento de seres humanos, que
18 anos, todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa, as respeitam a si mesmos, aos outros, à circunstância social e ao
oportunidades oferecidas para o desenvolvimento físico, ecossistema. Valor este fundamentado na ética e na estética,
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e que rege a convivência do indivíduo no coletivo, que
de dignidade. São direitos referentes à vida, à saúde, à pressupõe relações de cooperação e solidariedade, de respeito
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à à alteridade e à liberdade.
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito mútuo, à Cuidado, por sua própria natureza, inclui duas
liberdade, à convivência familiar e comunitária (artigos 2º, 3º significações básicas, intimamente ligadas entre si. A primeira
e 4º). consiste na atitude de solicitude e de atenção para com o outro.
A Educação Básica é direito universal e alicerce A segunda é de inquietação, sentido de responsabilidade, isto
indispensável para a capacidade de exercer em plenitude o é, de cogitar, pensar, manter atenção, mostrar interesse,
direto à cidadania. É o tempo, o espaço e o contexto em que o revelar atitude de desvelo, sem perder a ternura (Boff, 1999,
sujeito aprende a constituir e reconstituir a sua identidade, em p. 91), compromisso com a formação do sujeito livre e
meio a transformações corporais, afetivo-emocionais, independente daqueles que o estão gerando como ser humano
socioemocionais, cognitivas e socioculturais, respeitando e capaz de conduzir o seu processo formativo, com autonomia e
valorizando as diferenças. Liberdade e pluralidade tornam-se, ética.
portanto, exigências do projeto educacional. Cuidado é, pois, um princípio que norteia a atitude, o modo
Da aquisição plena desse direito depende a possibilidade prático de realizar-se, de viver e conviver no mundo. Por isso,
de exercitar todos os demais direitos, definidos na na escola, o processo educativo não comporta uma atitude
Constituição, no ECA, na legislação ordinária e nas inúmeras parcial, fragmentada, recortada da ação humana, baseada
disposições legais que consagram as prerrogativas do cidadão somente numa racionalidade estratégico-procedimental.
brasileiro. Somente um ser educado terá condição efetiva de Inclui ampliação das dimensões constitutivas do trabalho
participação social, ciente e consciente de seus direitos e pedagógico, mediante verificação das condições de
deveres civis, sociais, políticos, econômicos e éticos. aprendizagem apresentadas pelo estudante e busca de
Nessa perspectiva, é oportuno e necessário considerar as soluções junto à família, aos órgãos do poder público, a
dimensões do educar e do cuidar, em sua inseparabilidade, diferentes segmentos da sociedade. Seu horizonte de ação
buscando recuperar, para a função social da Educação Básica, abrange a vida humana em sua globalidade. É essa concepção
a sua centralidade, que é o estudante. Cuidar e educar iniciam- de educação integral que deve orientar a organização da
se na Educação Infantil, ações destinadas a crianças a partir de escola, o conjunto de atividades nela realizadas, bem como as
zero ano, que devem ser estendidas ao Ensino Fundamental, políticas sociais que se relacionam com as práticas
Médio e posteriores. educacionais. Em cada criança, adolescente, jovem ou adulto,
Cuidar e educar significa compreender que o direito à há uma criatura humana em formação e, nesse sentido, cuidar
educação parte do princípio da formação da pessoa em sua e educar são, ao mesmo tempo, princípios e atos que orientam
essência humana. Trata-se de considerar o cuidado no sentido e dão sentido aos processos de ensino, de aprendizagem e de
profundo do que seja acolhimento de todos – crianças, construção da pessoa humana em suas múltiplas dimensões.
adolescentes, jovens e adultos – com respeito e, com atenção Cabe, aqui, uma reflexão sobre o conceito de cidadania, a
adequada, de estudantes com deficiência, jovens e adultos forma como a ideia de cidadania foi tratada no Brasil e, em
defasados na relação idade-escolaridade, indígenas, muitos casos, ainda o é. Reveste-se de uma característica –
afrodescendentes, quilombolas e povos do campo. para usar os termos de Hannah Arendt – essencialmente
Educar exige cuidado; cuidar é educar, envolvendo “social”. Quer dizer: algo ainda derivado e circunscrito ao
acolher, ouvir, encorajar, apoiar, no sentido de desenvolver o âmbito da pura necessidade. É comum ouvir ou ler algo que
aprendizado de pensar e agir, cuidar de si, do outro, da escola, sugere uma noção de cidadania como “acesso dos indivíduos
da natureza, da água, do Planeta. Educar é, enfim, enfrentar o aos bens e serviços de uma sociedade moderna”, discurso
desafio de lidar com gente, isto é, com criaturas tão contemporâneo de uma época em que os inúmeros
imprevisíveis e diferentes quanto semelhantes, ao longo de movimentos sociais brasileiros lutavam, essencialmente, para
uma existência inscrita na teia das relações humanas, neste obter do Estado condições de existência mais digna, do ponto
mundo complexo. Educar com cuidado significa aprender a de vista dominantemente material. Mesmo quando esse
amar sem dependência, desenvolver a sensibilidade humana discurso se modificou num sentido mais “político” e menos
na relação de cada um consigo, com o outro e com tudo o que “social”, quer dizer, uma cidadania agora compreendida como
existe, com zelo, ante uma situação que requer cautela em a participação ativa dos indivíduos nas decisões pertinentes à
busca da formação humana plena. sua vida cotidiana, esta não deixou de ser uma reivindicação
A responsabilidade por sua efetivação exige que situava o político na precedência do social: participar de
corresponsabilidade: de um lado, a responsabilidade estatal na decisões públicas significa obter direitos e assumir deveres,
realização de procedimentos que assegurem o disposto nos solicitar ou assegurar certas condições de vida minimamente
incisos VII e VIII, do artigo 12 e VI do artigo 13, da LDB; de civilizadas.
outro, a articulação com a família, com o Conselho Tutelar, com

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Em um contexto marcado pelo desenvolvimento de formas articula organicamente com as demais de maneira complexa e
de exclusão cada vez mais sutis e humilhantes, a cidadania intrincada, permanecendo todas elas, em suas diferentes
aparece hoje como uma promessa de sociabilidade, em que a modalidades, individualizadas, ao logo do percurso do escolar,
escola precisa ampliar parte de suas funções, solicitando de apesar das mudanças por que passam por força da
seus agentes a função de mantenedores da paz nas relações singularidade de cada uma, bem assim a dos sujeitos que lhes
sociais, diante das formas cada vez mais amplas e destrutivas dão vida.
de violência. Nessa perspectiva e no cenário em que a escola Atende-se à dimensão sequencial quando os processos
de Educação Básica se insere e em que o professor e o educativos acompanham as exigências de aprendizagem
estudante atuam, há que se perguntar: de que tipo de educação definidas em cada etapa da trajetória escolar da Educação
os homens e as mulheres dos próximos 20 anos necessitam, Básica (Educação Infantil, Ensino Fundamental e Médio), até a
para participarem da construção desse mundo tão diverso? A Educação Superior. São processos educativos que, embora se
que trabalho e a que cidadania se refere? Em outras palavras, constituam em diferentes e insubstituíveis momentos da vida
que sociedade florescerá? Por isso mesmo, a educação dos estudantes, inscritos em tempos e espaços educativos
brasileira deve assumir o desafio de propor uma escola próprios a cada etapa do desenvolvimento humano,
emancipadora e libertadora. inscrevem-se em trajetória que deve ser contínua e
progressiva.
2.2. Sistema Nacional de Educação A articulação das dimensões orgânica e sequencial das
etapas e modalidades da Educação Básica, e destas com a
O Sistema Nacional de Educação é tema que vem Educação Superior, implica a ação coordenada e integradora
suscitando o aprofundamento da compreensão sobre sistema, do seu conjunto; o exercício efetivo do regime de colaboração
no contexto da história da educação, nesta Nação tão diversa entre os entes federados, cujos sistemas de ensino gozam de
geográfica, econômica, social e culturalmente. O que a autonomia constitucionalmente reconhecida. Isso pressupõe o
proposta de organização do Sistema Nacional de Educação estabelecimento de regras de equivalência entre as funções
enfrenta é, fundamentalmente, o desafio de superar a distributiva, supletiva, de regulação normativa, de supervisão
fragmentação das políticas públicas e a desarticulação e avaliação da educação nacional, respeitada a autonomia dos
institucional dos sistemas de ensino entre si, diante do sistemas e valorizadas as diferenças regionais. Sem essa
impacto na estrutura do financiamento, comprometendo a articulação, o projeto educacional – e, por conseguinte, o
conquista da qualidade social das aprendizagens, mediante projeto nacional – corre o perigo de comprometer a unidade e
conquista de uma articulação orgânica. a qualidade pretendida, inclusive quanto ao disposto no artigo
Os debates sobre o Sistema Nacional de Educação, em 22 da LDB:
vários momentos, abordaram o tema das diretrizes para a
Educação Básica. Ambas as questões foram objeto de análise desenvolver o educando, assegurar-lhe a formação comum
em interface, durante as diferentes etapas preparatórias da indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios
Conferência Nacional de Educação (CONAE) de 2009, uma vez para progredir no trabalho e em estudos posteriores, inspirada
que são temas que se vinculam a um objetivo comum: articular nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
e fortalecer o sistema nacional de educação em regime de humana.
colaboração.
Para Saviani16, o sistema é a unidade de vários elementos Mais concretamente, há de se prever que a transição entre
intencionalmente reunidos de modo a formar um conjunto Pré-Escola e Ensino Fundamental pode se dar no interior de
coerente e operante. Caracterizam, portanto, a noção de uma mesma instituição, requerendo formas de articulação das
sistema: a intencionalidade humana; a unidade e variedade dimensões orgânica e sequencial entre os docentes de ambos
dos múltiplos elementos que se articulam; a coerência interna os segmentos que assegurem às crianças a continuidade de
articulada com a externa. seus processos peculiares de aprendizagem e
Alinhado com essa conceituação, este Parecer adota o desenvolvimento. Quando a transição se dá entre instituições
entendimento de que sistema resulta da atividade intencional diferentes, essa articulação deve ser especialmente cuidadosa,
e organicamente concebida, que se justifica pela realização de garantida por instrumentos de registro – portfólios, relatórios
atividades voltadas para as mesmas finalidades ou para a que permitam, aos docentes do Ensino Fundamental de uma
concretização dos mesmos objetivos. outra escola, conhecer os processos de desenvolvimento e
Nessa perspectiva, e no contexto da estrutura federativa aprendizagem vivenciados pela criança na Educação Infantil
brasileira, em que convivem sistemas educacionais da escola anterior. Mesmo no interior do Ensino Fundamental,
autônomos, faz-se necessária a institucionalização de um há de se cuidar da fluência da transição da fase dos anos
regime de colaboração que dê efetividade ao projeto de iniciais para a fase dos anos finais, quando a criança passa a ter
educação nacional. União, Estados, Distrito Federal e diversos docentes, que conduzem diferentes componentes e
Municípios, cada qual com suas peculiares competências, são atividades, tornando-se mais complexas a sistemática de
chamados a colaborar para transformar a Educação Básica em estudos e a relação com os professores.
um conjunto orgânico, sequencial, articulado, assim como A transição para o Ensino Médio apresenta contornos
planejado sistemicamente, que responda às exigências dos bastante diferentes dos anteriormente referidos, uma vez que,
estudantes, de suas aprendizagens nas diversas fases do ao ingressarem no Ensino Médio, os jovens já trazem maior
desenvolvimento físico, intelectual, emocional e social. experiência com o ambiente escolar e suas rotinas; além disso,
Atende-se à dimensão orgânica quando são observadas as a dependência dos adolescentes em relação às suas famílias é
especificidades e as diferenças de cada uma das três etapas de quantitativamente menor e qualitativamente diferente. Mas,
escolarização da Educação Básica e das fases que as compõem, certamente, isso não significa que não se criem tensões, que
sem perda do que lhes é comum: as semelhanças, as derivam, principalmente, das novas expectativas familiares e
identidades inerentes à condição humana em suas sociais que envolvem o jovem. Tais expectativas giram em
determinações históricas e não apenas do ponto de vista da torno de três variáveis principais conforme o estrato
qualidade da sua estrutura e organização. Cada etapa do sociocultural em que se produzem: a) os “conflitos da
processo de escolarização constitui-se em unidade, que se adolescência”; b) a maior ou menor aproximação ao mundo do

16 SAVIANI, Dermeval. Sistema de educação: subsídios para a Conferência Educação e o Plano Nacional de Educação. Brasília, Instituto Nacional de Estudos
Nacional de Educação. In: Reflexões sobre o Sistema Nacional Articulado de e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2009.

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trabalho; c) a crescente aproximação aos rituais da passagem No Ensino Fundamental e, nas demais etapas da Educação
da Educação Básica para a Educação Superior. Básica, a qualidade não tem sido tão estimulada quanto à
Em resumo, o conjunto da Educação Básica deve se quantidade. Depositar atenção central sobre a quantidade,
constituir em um processo orgânico, sequencial e articulado, visando à universalização do acesso à escola, é uma medida
que assegure à criança, ao adolescente, ao jovem e ao adulto de necessária, mas que não assegura a permanência, essencial
qualquer condição e região do País a formação comum para o para compor a qualidade. Em outras palavras, a oportunidade
pleno exercício da cidadania, oferecendo as condições de acesso, por si só, é destituída de condições suficientes para
necessárias para o seu desenvolvimento integral. Estas são inserção no mundo do conhecimento.
finalidades de todas as etapas constitutivas da Educação O conceito de qualidade na escola, numa perspectiva ampla
Básica, acrescentando-se os meios para que possa progredir e basilar, remete a uma determinada ideia de qualidade de vida
no mundo do trabalho e acessar a Educação Superior. São na sociedade e no planeta Terra. Inclui tanto a qualidade
referências conceituais e legais, bem como desafio para as pedagógica quanto a qualidade política, uma vez que requer
diferentes instâncias responsáveis pela concepção, aprovação compromisso com a permanência do estudante na escola, com
e execução das políticas educacionais. sucesso e valorização dos profissionais da educação. Trata-se
da exigência de se conceber a qualidade na escola como
2.3. Acesso e permanência para a conquista da qualidade qualidade social, que se conquista por meio de acordo coletivo.
social Ambas as qualidades – pedagógica e política – abrangem
A qualidade social da educação brasileira é uma conquista diversos modos avaliativos comprometidos com a
a ser construída de forma negociada, pois significa algo que se aprendizagem do estudante, interpretados como indicações
concretiza a partir da qualidade da relação entre todos os que se interpenetram ao longo do processo didático
sujeitos que nela atuam direta e indiretamente.17Significa pedagógico, o qual tem como alvo o desenvolvimento do
compreender que a educação é um processo de socialização da conhecimento e dos saberes construídos histórica e
cultura da vida, no qual se constroem, se mantêm e se socialmente.
transformam conhecimentos e valores. Socializar a cultura O compromisso com a permanência do estudante na escola
inclui garantir a presença dos sujeitos das aprendizagens na é, portanto, um desafio a ser assumido por todos, porque, além
escola. Assim, a qualidade social da educação escolar supõe a das determinações sociopolíticas e culturais, das diferenças
sua permanência, não só com a redução da evasão, mas individuais e da organização escolar vigente, há algo que
também da repetência e da distorção idade/ano/série. supera a política reguladora dos processos educacionais: há os
Para assegurar o acesso ao Ensino Fundamental, como fluxos migratórios, além de outras variáveis que se refletem no
direito público subjetivo, no seu artigo 5º, a LDB instituiu processo educativo. Essa é uma variável externa que
medidas que se interpenetram ou complementam, compromete a gestão macro da educação, em todas as esferas,
estabelecendo que, para exigir o cumprimento pelo Estado e, portanto, reforça a premência de se criarem processos
desse ensino obrigatório, qualquer cidadão, grupo de gerenciais que proporcionem a efetivação do disposto no
cidadãos, associação comunitária, organização sindical, artigo 5º e no inciso VIII do artigo 12 da LDB, quanto ao direito
entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o ao acesso e à permanência na escola de qualidade.
Ministério Público, podem acionar o poder público. Assim entendida, a qualidade na escola exige de todos os
Esta medida se complementa com a obrigatoriedade sujeitos do processo educativo:
atribuída aos Estados e aos Municípios, em regime de
colaboração, e com a assistência da União, de recensear a I – a instituição da Política Nacional de Formação de
população em idade escolar para o Ensino Fundamental, e os Profissionais do Magistério da Educação Básica, com a
jovens e adultos que a ele não tiveram acesso, para que seja finalidade de organizar, em regime de colaboração entre a
efetuada a chamada pública correspondente. União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, a formação
Quanto à família, os pais ou responsáveis são obrigados a inicial e continuada dos profissionais do magistério para as
matricular a criança no Ensino Fundamental, a partir dos 6 redes públicas da educação (Decreto nº 6.755, de 29 de janeiro
anos de idade, sendo que é prevista sanção a esses e/ou ao de 2009);
poder público, caso descumpram essa obrigação de garantia II – ampliação da visão política expressa por meio de
dessa etapa escolar. habilidades inovadoras, fundamentadas na capacidade para
Quanto à obrigatoriedade de permanência do estudante na aplicar técnicas e tecnologias orientadas pela ética e pela
escola, principalmente no Ensino Fundamental, há, na mesma estética;
Lei, exigências que se centram nas relações entre a escola, os III – responsabilidade social, princípio educacional que
pais ou responsáveis, e a comunidade, de tal modo que a escola norteia o conjunto de sujeitos comprometidos com o projeto que
e os sistemas de ensino tornam-se responsáveis por: definem e assumem como expressão e busca da qualidade da
escola, fruto do empenho de todos.
- zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à
escola; Construir a qualidade social pressupõe conhecimento dos
- articular-se com as famílias e a comunidade, criando interesses sociais da comunidade escolar para que seja
processos de integração da sociedade com a escola; possível educar e cuidar mediante interação efetivada entre
- informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o princípios e finalidades educacionais, objetivos, conhecimento
rendimento dos estudantes, bem como sobre a execução de sua e concepções curriculares. Isso abarca mais que o exercício
proposta pedagógica; político-pedagógico que se viabiliza mediante atuação de
- notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz todos os sujeitos da comunidade educativa. Ou seja, efetiva-se
competente da Comarca e ao respectivo representante do não apenas mediante participação de todos os sujeitos da
Ministério Público a relação dos estudantes que apresentem escola – estudante, professor, técnico, funcionário,
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do coordenador – mas também mediante aquisição e utilização
percentual permitido em lei. adequada dos objetos e espaços (laboratórios, equipamentos,
mobiliário, salas-ambiente, biblioteca, videoteca etc.)
requeridos para responder ao projeto político-pedagógico

17 A garantia de padrão de qualidade é um dos princípios da LDB (inciso IX do

artigo 3º).

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pactuado, vinculados às condições/disponibilidades mínimas II – à relevância de um projeto político-pedagógico


para se instaurar a primazia da aquisição e do concebido e assumido coletivamente pela comunidade
desenvolvimento de hábitos investigatórios para construção educacional, respeitadas as múltiplas diversidades e a
do conhecimento. pluralidade cultural;
A escola de qualidade social adota como centralidade o III – à riqueza da valorização das diferenças manifestadas
diálogo, a colaboração, os sujeitos e as aprendizagens, o que pelos sujeitos do processo educativo, em seus diversos
pressupõe, sem dúvida, atendimento a requisitos tais como: segmentos, respeitados o tempo e o contexto sociocultural;
IV – aos padrões mínimos de qualidade6 (Custo Aluno
I – revisão das referências conceituais quanto aos diferentes Qualidade inicial – CAQi7), que apontam para quanto deve ser
espaços e tempos educativos, abrangendo espaços sociais na investido por estudante de cada etapa e modalidade da
escola e fora dela; Educação Básica, para que o País ofereça uma educação de
II – consideração sobre a inclusão, a valorização das qualidade a todos os estudantes.
diferenças e o atendimento à pluralidade e à diversidade
cultural, resgatando e respeitando os direitos humanos, Para se estabelecer uma educação com um padrão mínimo
individuais e coletivos e as várias manifestações de cada de qualidade, é necessário investimento com valor calculado a
comunidade; partir das despesas essenciais ao desenvolvimento dos
III – foco no projeto político-pedagógico, no gosto pela processos e procedimentos formativos, que levem,
aprendizagem, e na avaliação das aprendizagens como gradualmente, a uma educação integral, dotada de qualidade
instrumento de contínua progressão dos estudantes; social: creches e escolas possuindo condições de
IV – inter-relação entre organização do currículo, do infraestrutura e de adequados equipamentos e de
trabalho pedagógico e da jornada de trabalho do professor, acessibilidade; professores qualificados com remuneração
tendo como foco a aprendizagem do estudante; adequada e compatível com a de outros profissionais com
V – preparação dos profissionais da educação, gestores, igual nível de formação, em regime de trabalho de 40 horas em
professores, especialistas, técnicos, monitores e outros; tempo integral em uma mesma escola; definição de uma
VI – compatibilidade entre a proposta curricular e a relação adequada entre o número de estudantes por turma e
infraestrutura entendida como espaço formativo dotado de por professor, que assegure aprendizagens relevantes; pessoal
efetiva disponibilidade de tempos para a sua utilização e de apoio técnico e administrativo que garanta o bom
acessibilidade; funcionamento da escola.
VII – integração dos profissionais da educação, os
estudantes, as famílias, os agentes da comunidade interessados 2.4. Organização curricular: conceito, limites, possibilidades
na educação;
VIII – valorização dos profissionais da educação, com No texto “Currículo, conhecimento e cultura”, Moreira e
programa de formação continuada, critérios de acesso, Candau18 apresentam diversas definições atribuídas a
permanência, remuneração compatível com a jornada de currículo, a partir da concepção de cultura como prática social,
trabalho definida no projeto político-pedagógico; ou seja, como algo que, em vez de apresentar significados
IX – realização de parceria com órgãos, tais como os de intrínsecos, como ocorre, por exemplo, com as manifestações
assistência social, desenvolvimento e direitos humanos, artísticas, a cultura expressa significados atribuídos a partir da
cidadania, ciência e tecnologia, esporte, turismo, cultura e arte, linguagem. Em poucas palavras, essa concepção é definida
saúde, meio ambiente. como “experiências escolares que se desdobram em torno do
conhecimento, permeadas pelas relações sociais, buscando
No documento “Indicadores de Qualidade na Educação” articular vivências e saberes dos alunos com os conhecimentos
(Ação Educativa, 2004), a qualidade é vista com um caráter historicamente acumulados e contribuindo para construir as
dinâmico, porque cada escola tem autonomia para refletir, identidades dos estudantes”. Uma vez delimitada a ideia sobre
propor e agir na busca da qualidade do seu trabalho, de acordo cultura, os autores definem currículo como: conjunto de
com os contextos socioculturais locais. Segundo o autor, os práticas que proporcionam a produção, a circulação e o
indicadores de qualidade são sinais adotados para que se consumo de significados no espaço social e que contribuem,
possa qualificar algo, a partir dos critérios e das prioridades intensamente, para a construção de identidades sociais e
institucionais. Destaque-se que os referenciais e indicadores culturais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de
de avaliação são componentes curriculares, porque tê-los em grande efeito no processo de construção da identidade do (a)
mira facilita a aproximação entre a escola que se tem e aquela estudante (p. 27). Currículo refere-se, portanto, a criação,
que se quer, traduzida no projeto político-pedagógico, para recriação, contestação e transgressão (Moreira e Silva,
além do que fica disposto no inciso IX do artigo 4º da LDB: 1994).19

definição de padrões mínimos de qualidade de ensino, como Nesse sentido, a fonte em que residem os conhecimentos
a variedade e quantidade mínimas, por estudante, de insumos escolares são as práticas socialmente construídas. Segundo os
indispensáveis ao desenvolvimento do processo de ensino- autores, essas práticas se constituem em “âmbitos de
aprendizagem. referência dos currículos” que correspondem:

Essa exigência legal traduz a necessidade de se reconhecer a) às instituições produtoras do conhecimento científico
que a avaliação da qualidade associa-se à ação planejada, (universidades e centros de pesquisa);
coletivamente, pelos sujeitos da escola e supõe que tais b) ao mundo do trabalho;
sujeitos tenham clareza quanto: c) aos desenvolvimentos tecnológicos;
d) às atividades desportivas e corporais;
I – aos princípios e às finalidades da educação, além do e) à produção artística;
reconhecimento e análise dos dados indicados pelo IDEB e/ou f) ao campo da saúde;
outros indicadores, que complementem ou substituam estes; g) às formas diversas de exercício da cidadania;
h) aos movimentos sociais.

18 MOREIRA, A. F. B.; CANDAU, V. M. Indagações sobre currículo: currículo, NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro do (org.). Brasília: Ministério da Educação,
conhecimento e cultura. BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; Secretaria de Educação Básica, 2007, 48 p.
19Idem.

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Daí entenderem que toda política curricular é uma política colegiados, da organização estudantil e dos movimentos
cultural, pois o currículo é fruto de uma seleção e produção de sociais.
saberes: campo conflituoso de produção de cultura, de embate A escola de Educação Básica é espaço coletivo de convívio,
entre pessoas concretas, concepções de conhecimento e onde são privilegiadas trocas, acolhimento e aconchego para
aprendizagem, formas de imaginar e perceber o mundo. garantir o bem-estar de crianças, adolescentes, jovens e
Assim, as políticas curriculares não se resumem apenas a adultos, no relacionamento entre si e com as demais pessoas.
propostas e práticas enquanto documentos escritos, mas É uma instância em que se aprende a valorizar a riqueza das
incluem os processos de planejamento, vivenciados e raízes culturais próprias das diferentes regiões do País que,
reconstruídos em múltiplos espaços e por múltiplas juntas, formam a Nação. Nela se ressignifica e recria a cultura
singularidades no corpo social da educação. Para Lopes, herdada, reconstruindo as identidades culturais, em que se
mesmo sendo produções para além das instâncias aprende a valorizar as raízes próprias das diferentes regiões
governamentais, não significa desconsiderar o poder do País.
privilegiado que a esfera governamental possui na produção Essa concepção de escola exige a superação do rito escolar,
de sentidos nas políticas, pois as práticas e propostas desde a construção do currículo até os critérios que orientam
desenvolvidas nas escolas também são produtoras de sentidos a organização do trabalho escolar em sua
para as políticas curriculares. multidimensionalidade, privilegia trocas, acolhimento e
Os efeitos das políticas curriculares, no contexto da prática, aconchego, para garantir o bem-estar de crianças,
são condicionados por questões institucionais e disciplinares adolescentes, jovens e adultos, no relacionamento
que, por sua vez, têm diferentes histórias, concepções interpessoal entre todas as pessoas.
pedagógicas e formas de organização, expressas em diferentes Cabe, pois, à escola, diante dessa sua natureza, assumir
publicações. As políticas estão sempre em processo de vir-a- diferentes papéis, no exercício da sua missão essencial, que é a
ser, sendo múltiplas as leituras possíveis de serem realizadas de construir uma cultura de direitos humanos para preparar
por múltiplos leitores, em um constante processo de cidadãos plenos. A educação destina-se a múltiplos sujeitos e
interpretação das interpretações. tem como objetivo a troca de saberes8, a socialização e o
As fronteiras são demarcadas quando se admite tão confronto do conhecimento, segundo diferentes abordagens,
somente a ideia de currículo formal. Mas as reflexões teóricas exercidas por pessoas de diferentes condições físicas,
sobre currículo têm como referência os princípios sensoriais, intelectuais e emocionais, classes sociais, crenças,
educacionais garantidos à educação formal. Estes estão etnias, gêneros, origens, contextos socioculturais, e da cidade,
orientados pela liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e do campo e de aldeias. Por isso, é preciso fazer da escola a
divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o conhecimento instituição acolhedora, inclusiva, pois essa é uma opção
científico, além do pluralismo de ideias e de concepções “transgressora”, porque rompe com a ilusão da
pedagógicas, assim como a valorização da experiência homogeneidade e provoca, quase sempre, uma espécie de crise
extraescolar, e a vinculação entre a educação escolar, o de identidade institucional.
trabalho e as práticas sociais. A escola é, ainda, espaço em que se abrigam desencontros
de expectativas, mas também acordos solidários, norteados
Assim, e tendo como base o teor do artigo 27 da LDB, pode- por princípios e valores educativos pactuados por meio do
se entender que o processo didático em que se realizam as projeto político-pedagógico concebido segundo as demandas
aprendizagens fundamenta-se na diretriz que assim delimita o sociais e aprovado pela comunidade educativa.
conhecimento para o conjunto de atividades: Por outro lado, enquanto a escola se prende às
Os conteúdos curriculares da Educação Básica observarão, características de metodologias tradicionais, com relação ao
ainda, as seguintes diretrizes: ensino e à aprendizagem como ações concebidas
separadamente, as características de seus estudantes
I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos requerem outros processos e procedimentos, em que
direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem comum e à aprender, ensinar, pesquisar, investigar, avaliar ocorrem de
ordem democrática; modo indissociável. Os estudantes, entre outras
II - consideração das condições de escolaridade dos características, aprendem a receber informação com rapidez,
estudantes em cada estabelecimento; gostam do processo paralelo, de realizar várias tarefas ao
III - orientação para o trabalho; mesmo tempo, preferem fazer seus gráficos antes de ler o
IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas texto, enquanto os docentes creem que acompanham a era
desportivas não-formais. digital apenas porque digitam e imprimem textos, têm e-mail,
não percebendo que os estudantes nasceram na era digital.
Desse modo, os valores sociais, bem como os direitos e As tecnologias da informação e comunicação constituem
deveres dos cidadãos, relacionam-se com o bem comum e com uma parte de um contínuo desenvolvimento de tecnologias, a
a ordem democrática. Estes são conceitos que requerem a começar pelo giz e os livros, todos podendo apoiar e
atenção da comunidade escolar para efeito de organização enriquecer as aprendizagens. Como qualquer ferramenta,
curricular, cuja discussão tem como alvo e motivação a devem ser usadas e adaptadas para servir a fins educacionais
temática da construção de identidades sociais e culturais. A e como tecnologia assistiva; desenvolvidas de forma a
problematização sobre essa temática contribui para que se possibilitar que a interatividade virtual se desenvolva de modo
possa compreender, coletivamente, que educação cidadã mais intenso, inclusive na produção de linguagens. Assim, a
consiste na interação entre os sujeitos, preparando-os por infraestrutura tecnológica, como apoio pedagógico às
meio das atividades desenvolvidas na escola, individualmente atividades escolares, deve também garantir acesso dos
e em equipe, para se tornarem aptos a contribuir para a estudantes à biblioteca, ao rádio, à televisão, à internet aberta
construção de uma sociedade mais solidária, em que se exerça às possibilidades da convergência digital.
a liberdade, a autonomia e a responsabilidade. Nessa Essa distância necessita ser superada, mediante
perspectiva, cabe à instituição escolar compreender como o aproximação dos recursos tecnológicos de informação e
conhecimento é produzido e socialmente valorizado e como comunicação, estimulando a criação de novos métodos
deve ela responder a isso. É nesse sentido que as instâncias didático-pedagógicos, para que tais recursos e métodos sejam
gestoras devem se fortalecer instaurando um processo inseridos no cotidiano escolar. Isto porque o conhecimento
participativo organizado formalmente, por meio de científico, nos tempos atuais, exige da escola o exercício da
compreensão, valorização da ciência e da tecnologia desde a

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infância e ao longo de toda a vida, em busca da ampliação do 2.4.1. Formas para a organização curricular
domínio do conhecimento científico: uma das condições para
o exercício da cidadania. O conhecimento científico e as novas Retoma-se aqui o entendimento de que currículo é o
tecnologias constituem-se, cada vez mais, condição para que a conjunto de valores e práticas que proporcionam a produção e
pessoa saiba se posicionar frente a processos e inovações que a socialização de significados no espaço social e que
a afetam. contribuem, intensamente, para a construção de identidades
Não se pode, pois, ignorar que se vive: o avanço do uso da sociais e culturais dos estudantes. E reitera-se que deve
energia nuclear; da nanotecnologia;9 a conquista da produção difundir os valores fundamentais do interesse social, dos
de alimentos geneticamente modificados; a clonagem direitos e deveres dos cidadãos, do respeito ao bem comum e
biológica. Nesse contexto, tanto o docente quanto o estudante à ordem democrática, bem como considerar as condições de
e o gestor requerem uma escola em que a cultura, a arte, a escolaridade dos estudantes em cada estabelecimento, a
ciência e a tecnologia estejam presentes no cotidiano escolar, orientação para o trabalho, a promoção de práticas educativas
desde o início da Educação Básica. formais e não-formais.
Tendo em vista a amplitude do papel socioeducativo Na Educação Básica, a organização do tempo curricular
atribuído ao conjunto orgânico da Educação Básica, cabe aos deve ser construída em função das peculiaridades de seu meio
sistemas educacionais, em geral, definir o programa de escolas e das características próprias dos seus estudantes, não se
de tempo parcial diurno (matutino e/ou vespertino), tempo restringindo às aulas das várias disciplinas. O percurso
parcial noturno e tempo integral (turno e contra turno ou formativo deve, nesse sentido, ser aberto e contextualizado,
turno único com jornada escolar de 7 horas, no mínimo10, incluindo não só os componentes curriculares centrais
durante todo o período letivo), o que requer outra e diversa obrigatórios, previstos na legislação e nas normas
organização e gestão do trabalho pedagógico, contemplando educacionais, mas, também, conforme cada projeto escolar
as diferentes redes de ensino, a partir do pressuposto de que estabelecer, outros componentes flexíveis e variáveis que
compete a todas elas o desenvolvimento integral de suas possibilitem percursos formativos que atendam aos inúmeros
demandas, numa tentativa de superação das desigualdades de interesses, necessidades e características dos educandos.
natureza sociocultural, socioeconômica e outras. Quanto à concepção e à organização do espaço curricular e
Há alguns anos, se tem constatado a necessidade de a físico, se imbricam e se alargam, por incluir no
criança, o adolescente e o jovem, particularmente aqueles das desenvolvimento curricular ambientes físicos, didático-
classes sociais trabalhadoras, permanecerem mais tempo na pedagógicos e equipamentos que não se reduzem às salas de
escola. Tem-se defendido que o estudante poderia beneficiar- aula, incluindo outros espaços da escola e de outras
se da ampliação da jornada escolar, no espaço único da escola instituições escolares, bem como os socioculturais e esportivo-
ou diferentes espaços educativos, nos quais a permanência do recreativos do entorno, da cidade e mesmo da região.
estudante se liga tanto à quantidade e qualidade do tempo Essa ampliação e diversificação dos tempos e espaços
diário de escolarização, quanto à diversidade de atividades de curriculares pressupõe profissionais da educação dispostos a
aprendizagens. reinventar e construir essa escola, numa responsabilidade
Assim, a qualidade da permanência em tempo integral do compartilhada com as demais autoridades encarregadas da
estudante nesses espaços implica a necessidade da gestão dos órgãos do poder público, na busca de parcerias
incorporação efetiva e orgânica no currículo de atividades e possíveis e necessárias, até porque educar é responsabilidade
estudos pedagogicamente planejados e acompanhados ao da família, do Estado e da sociedade.
longo de toda a jornada. A escola precisa acolher diferentes saberes, diferentes
No projeto nacional de educação, tanto a escola de tempo manifestações culturais e diferentes óticas, empenhar-se para
integral quanto a de tempo parcial, diante da sua se constituir, ao mesmo tempo, em um espaço de
responsabilidade educativa, social e legal, assumem a heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade em
aprendizagem compreendendo-a como ação coletiva movimento, no processo tornado possível por meio de
conectada com a vida, com as necessidades, possibilidades e relações intersubjetivas, fundamentada no princípio
interesses das crianças, dos jovens e dos adultos. O direito de emancipador. Cabe, nesse sentido, às escolas desempenhar o
aprender é, portanto, intrínseco ao direito à dignidade papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental,
humana, à liberdade, à inserção social, ao acesso aos bens fundamentadas no pressuposto do respeito e da valorização
sociais, artísticos e culturais, significando direito à saúde em das diferenças, entre outras, de condição física, sensorial e
todas as suas implicações, ao lazer, ao esporte, ao respeito, à socioemocional, origem, etnia, gênero, classe social, contexto
integração familiar e comunitária. sociocultural, que dão sentido às ações educativas,
Conforme o artigo 34 da LDB, o Ensino Fundamental enriquecendo-as, visando à superação das desigualdades de
incluirá, pelo menos, quatro horas de trabalho efetivo em sala natureza sociocultural e socioeconômica. Contemplar essas
de aula, sendo progressivamente ampliado o período de dimensões significa a revisão dos ritos escolares e o
permanência na escola, até que venha a ser ministrado em alargamento do papel da instituição escolar e dos educadores,
tempo integral (§ 2º). Essa disposição, obviamente, só é adotando medidas proativas e ações preventivas.
factível para os cursos do período diurno, tanto é que o § 1º Na organização e gestão do currículo, as abordagens
ressalva os casos do ensino noturno. disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar
Os cursos em tempo parcial noturno, na sua maioria, são requerem a atenção criteriosa da instituição escolar, porque
de Educação de Jovens e Adultos (EJA) destinados, mormente, revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagógicas
a estudantes trabalhadores, com maior maturidade e dos educadores e organizam o trabalho do estudante.
experiência de vida. São poucos, porém, os cursos regulares Perpassam todos os aspectos da organização escolar, desde o
noturnos destinados a adolescentes e jovens de 15 a 18 anos planejamento do trabalho pedagógico, a gestão
ou pouco mais, os quais são compelidos ao estudo nesse turno administrativo-acadêmica, até a organização do tempo e do
por motivos de defasagem escolar e/ou de inadaptação aos espaço físico e a seleção, disposição e utilização dos
métodos adotados e ao convívio com colegas de idades equipamentos e mobiliário da instituição, ou seja, todo o
menores. A regra tem sido induzi-los a cursos de EJA, quando conjunto das atividades que se realizam no espaço escolar, em
o necessário são cursos regulares, com programas adequados seus diferentes âmbitos. As abordagens multidisciplinar,
à sua faixa etária, como, aliás, é claramente prescrito no inciso pluridisciplinar e interdisciplinar fundamentam-se nas
VI do artigo 4º da LDB: oferta de ensino noturno regular, mesmas bases, que são as disciplinas, ou seja, o recorte do
adequado às condições do educando. conhecimento.

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Para Basarab Nicolescu20, em seu artigo “Um novo tipo de A prática interdisciplinar é, portanto, uma abordagem que
conhecimento: transdisciplinaridade”, a disciplinaridade, a facilita o exercício da transversalidade, constituindo-se em
pluridisciplinaridade, a transdisciplinaridade e a caminhos facilitadores da integração do processo formativo
interdisciplinaridade são as quatro flechas de um único e dos estudantes, pois ainda permite a sua participação na
mesmo arco: o do conhecimento. escolha dos temas prioritários. Desse ponto de vista, a
Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do interdisciplinaridade e o exercício da transversalidade ou do
conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade estuda trabalho pedagógico centrado em eixos temáticos,
um objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias outras ao organizados em redes de conhecimento, contribuem para que
mesmo tempo. Segundo Nicolescu, a pesquisa pluridisciplinar a escola dê conta de tornar os seus sujeitos conscientes de seus
traz algo a mais a uma disciplina, mas restringe-se a ela, está a direitos e deveres e da possibilidade de se tornarem aptos a
serviço dela. aprender a criar novos direitos, coletivamente. De qualquer
A transdisciplinaridade refere-se ao conhecimento próprio forma, esse percurso é promovido a partir da seleção de temas
da disciplina, mas está para além dela. O conhecimento situa- entre eles o tema dos direitos humanos, recomendados para
se na disciplina, nas diferentes disciplinas e além delas, tanto serem abordados ao longo do desenvolvimento de
no espaço quanto no tempo. Busca a unidade do conhecimento componentes curriculares com os quais guardam intensa ou
na relação entre a parte e o todo, entre o todo e a parte. Adota relativa relação temática, em função de prescrição definida
atitude de abertura sobre as culturas do presente e do pelos órgãos do sistema educativo ou pela comunidade
passado, uma assimilação da cultura e da arte. O educacional, respeitadas as características próprias da etapa
desenvolvimento da capacidade de articular diferentes da Educação Básica que a justifica.
referências de dimensões da pessoa humana, de seus direitos, Conceber a gestão do conhecimento escolar enriquecida
e do mundo é fundamento básico da transdisciplinaridade. De pela adoção de temas a serem tratados sob a perspectiva
acordo com Nicolescu (p. 15), para os adeptos da transversal exige da comunidade educativa clareza quanto aos
transdisciplinaridade, o pensamento clássico é o seu campo de princípios e às finalidades da educação, além de conhecimento
aplicação, por isso é complementar à pesquisa pluri e da realidade contextual, em que as escolas, representadas por
interdisciplinar. todos os seus sujeitos e a sociedade, se acham inseridas. Para
A interdisciplinaridade pressupõe a transferência de isso, o planejamento das ações pedagógicas pactuadas de
métodos de uma disciplina para outra. Ultrapassa-as, mas sua modo sistemático e integrado é pré-requisito indispensável à
finalidade inscreve-se no estudo disciplinar. Pela abordagem organicidade, sequencialidade e articulação do conjunto das
interdisciplinar ocorre a transversalidade do conhecimento aprendizagens perspectivadas, o que requer a participação de
constitutivo de diferentes disciplinas, por meio da ação todos. Parte-se, pois, do pressuposto de que, para ser tratada
didático-pedagógica mediada pela pedagogia dos projetos transversalmente, a temática atravessa, estabelece elos,
temáticos. Estes facilitam a organização coletiva e cooperativa enriquece, complementa temas e/ou atividades tratadas por
do trabalho pedagógico, embora sejam ainda recursos que disciplinas, eixos ou áreas do conhecimento.
vêm sendo utilizados de modo restrito e, às vezes, Nessa perspectiva, cada sistema pode conferir à
equivocados. A interdisciplinaridade é, portanto, entendida comunidade escolar autonomia para seleção dos temas e
aqui como abordagem teórico-metodológica em que a ênfase delimitação dos espaços curriculares a eles destinados, bem
incide sobre o trabalho de integração das diferentes áreas do como a forma de tratamento que será conferido à
conhecimento, um real trabalho de cooperação e troca, aberto transversalidade. Para que sejam implantadas com sucesso, é
ao diálogo e ao planejamento (Nogueira, 2001, p. 27). Essa fundamental que as ações interdisciplinares sejam previstas
orientação deve ser enriquecida, por meio de proposta no projeto político-pedagógico, mediante pacto estabelecido
temática trabalhada transversalmente ou em redes de entre os profissionais da educação, responsabilizando-se pela
conhecimento e de aprendizagem, e se expressa por meio de concepção e implantação do projeto interdisciplinar na escola,
uma atitude que pressupõe planejamento sistemático e planejando, avaliando as etapas programadas e replanejando-
integrado e disposição para o diálogo. as, ou seja, reorientando o trabalho de todos, em estreito laço
A transversalidade é entendida como uma forma de com as famílias, a comunidade, os órgãos responsáveis pela
organizar o trabalho didático-pedagógico em que temas, eixos observância do disposto em lei, principalmente, no ECA.
temáticos são integrados às disciplinas, às áreas ditas Com a implantação e implementação da LDB, a expressão
convencionais de forma a estarem presentes em todas elas. A “matriz” foi adotada formalmente pelos diferentes sistemas
transversalidade difere-se da interdisciplinaridade e educativos, mas ainda não conseguiu provocar ampla e
complementam-se; ambas rejeitam a concepção de aprofundada discussão pela comunidade educacional. O que se
conhecimento que toma a realidade como algo estável, pronto pode constatar é que a matriz foi entendida e assumida
e acabado. A primeira se refere à dimensão didático- carregando as mesmas características da “grade”
pedagógica e a segunda, à abordagem epistemológica dos burocraticamente estabelecida. Em sua história, esta recebeu
objetos de conhecimento. A transversalidade orienta para a conceitos a partir dos quais não se pode considerar que matriz
necessidade de se instituir, na prática educativa, uma analogia e grade sejam sinônimas. Mas o que é matriz? E como deve ser
entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados entendida a expressão “curricular”, se forem consideradas as
(aprender sobre a realidade) e as questões da vida real orientações para a educação nacional, pelos atos legais e
(aprender na realidade e da realidade). Dentro de uma normas vigentes? Se o termo matriz for concebido tendo como
compreensão interdisciplinar do conhecimento, a referência o discurso das ciências econômicas, pode ser
transversalidade tem significado, sendo uma proposta didática apreendida como correlata de grade. Se for considerada a
que possibilita o tratamento dos conhecimentos escolares de partir de sua origem etimológica, será entendida como útero
forma integrada. Assim, nessa abordagem, a gestão do (lugar onde o feto de desenvolve), ou seja, lugar onde algo é
conhecimento parte do pressuposto de que os sujeitos são concebido, gerado e/ou criado (como a pepita vinda da matriz)
agentes da arte de problematizar e interrogar, e buscam ou, segundo Antônio Houaiss (2001, p. 1870), aquilo que é
procedimentos interdisciplinares capazes de acender a chama fonte ou origem, ou ainda, segundo o mesmo autor, a casa
do diálogo entre diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas. paterna ou materna, espaço de referência dos filhos, mesmo
após casados. Admitindo a acepção de matriz como lugar onde

20 NICOLESCU, Basarab. Um novo tipo de conhecimento - transdisciplinaridade. Tradução de Judite Vero, Maria F. de Mello e Américo
transdisciplinaridade. In: NICOLESCU, Basarab et al. Educação e Sommerman. Brasília: UNESCO, 2000. (Edições UNESCO).

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algo é concebido, gerado ou criado ou como aquilo que é fonte diferentes sistemas educativos (estadual e municipal, por
ou origem, não se admite equivalência de sentido, menos ainda exemplo) e a inclusão de estudantes com deficiência. São
como desenho simbólico ou instrumental da matriz curricular ressaltados, como pontos positivos, o intercâmbio de
com o mesmo formato e emprego atribuído historicamente à informações; a agilidade dos fluxos; os recursos que
grade curricular. A matriz curricular deve, portanto, ser alimentam relações e aprendizagens coletivas, orientadas por
entendida como algo que funciona assegurando movimento, um propósito comum: a garantia do direito de aprender.
dinamismo, vida curricular e educacional na sua Entre as vantagens, podem ser destacadas aquelas que se
multidimensionalidade, de tal modo que os diferentes campos referem à multiplicação de aulas de transmissão em tempo
do conhecimento possam se coadunar com o conjunto de real por meio de teleaulas, com elevado grau de qualidade e
atividades educativas e instigar, estimular o despertar de amplas possibilidades de acesso, em telessala ou em qualquer
necessidades e desejos nos sujeitos que dão vida à escola como outro lugar, previamente preparado, para acesso pelos
um todo. A matriz curricular constitui-se no espaço em que se sujeitos da aprendizagem; aulas simultâneas para várias salas
delimita o conhecimento e representa, além de alternativa (e várias unidades escolares) com um professor principal e
operacional que subsidia a gestão de determinado currículo professores assistentes locais, combinadas com atividades on-
escolar, subsídio para a gestão da escola (organização do line em plataformas digitais; aulas gravadas e acessadas a
tempo e espaço curricular; distribuição e controle da carga qualquer tempo e de qualquer lugar por meio da internet ou
horária docente) e primeiro passo para a conquista de outra da TV digital, tratando de conteúdo, compreensão e avaliação
forma de gestão do conhecimento pelos sujeitos que dão vida dessa compreensão; e oferta de esclarecimentos de dúvidas
ao cotidiano escolar, traduzida como gestão centrada na em determinados momentos do processo didático-
abordagem interdisciplinar. Neste sentido, a matriz curricular pedagógico.
deve se organizar por “eixos temáticos”, definidos pela 2.4.2. Formação básica comum e parte diversificada
unidade escolar ou pelo sistema educativo.
Para a definição de eixos temáticos norteadores da A LDB definiu princípios e objetivos curriculares gerais
organização e desenvolvimento curricular, parte-se do para o Ensino Fundamental e Médio, sob os aspectos:
entendimento de que o programa de estudo aglutina
investigações e pesquisas sob diferentes enfoques. O eixo I – duração: anos, dias letivos e carga horária mínimos;
temático organiza a estrutura do trabalho pedagógico, limita a II – uma base nacional comum;
dispersão temática e fornece o cenário no qual são construídos III – uma parte diversificada.
os objetos de estudo. O trabalho com eixos temáticos permite Entende-se por base nacional comum, na Educação Básica,
a concretização da proposta de trabalho pedagógico centrada os conhecimentos, saberes e valores produzidos culturalmente,
na visão interdisciplinar, pois facilita a organização dos expressos nas políticas públicas e que são gerados nas
assuntos, de forma ampla e abrangente, a problematização e o instituições produtoras do conhecimento científico e
encadeamento lógico dos conteúdos e a abordagem tecnológico; no mundo do trabalho; no desenvolvimento das
selecionada para a análise e/ou descrição dos temas. O recurso linguagens; nas atividades desportivas e corporais; na produção
dos eixos temáticos propicia o trabalho em equipe, além de artística; nas formas diversas de exercício da cidadania; nos
contribuir para a superação do isolamento das pessoas e de movimentos sociais, definidos no texto dessa Lei, artigos 26 e
conteúdos fixos. Os professores com os estudantes têm 3315, que assim se traduzem:
liberdade de escolher temas, assuntos que desejam estudar, I – na Língua Portuguesa;
contextualizando-os em interface com outros. II – na Matemática;
Por rede de aprendizagem entende-se um conjunto de III – no conhecimento do mundo físico, natural, da realidade
ações didático-pedagógicas, cujo foco incide sobre a social e política, especialmente do Brasil, incluindo-se o estudo
aprendizagem, subsidiada pela consciência de que o processo da História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena,
de comunicação entre estudantes e professores é efetivado por IV – na Arte em suas diferentes formas de expressão,
meio de práticas e recursos tradicionais e por práticas de incluindo-se a música;
aprendizagem desenvolvidas em ambiente virtual. Pressupõe V – na Educação Física;
compreender que se trata de aprender em rede e não de VI – no Ensino Religioso.
ensinar na rede, exigindo que o ambiente de aprendizagem
seja dinamizado e compartilhado por todos os sujeitos do Tais componentes curriculares são organizados pelos
processo educativo. Esses são procedimentos que não se sistemas educativos, em forma de áreas de conhecimento,
confundem. disciplinas, eixos temáticos, preservando-se a especificidade
Por isso, as redes de aprendizagem constituem-se em dos diferentes campos do conhecimento, por meio dos quais
ferramenta didático-pedagógica relevante também nos se desenvolvem as habilidades indispensáveis ao exercício da
programas de formação inicial e continuada de profissionais cidadania, em ritmo compatível com as etapas do
da educação. Esta opção requer planejamento sistemático desenvolvimento integral do cidadão.
integrado, estabelecido entre sistemas educativos ou conjunto A parte diversificada enriquece e complementa a base
de unidades escolares. Envolve elementos constitutivos da nacional comum, prevendo o estudo das características
gestão e das práticas docentes como infraestrutura favorável, regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia e da
prática por projetos, respeito ao tempo escolar, avaliação comunidade escolar. Perpassa todos os tempos e espaços
planejada, perfil do professor, perfil e papel da direção escolar, curriculares constituintes do Ensino Fundamental e do Médio,
formação do corpo docente, valorização da leitura, atenção independentemente do ciclo da vida no qual os sujeitos
individual ao estudante, atividades complementares e tenham acesso à escola. É organizada em temas gerais, em
parcerias. Mas inclui outros aspectos como interação com as forma de áreas do conhecimento, disciplinas, eixos temáticos,
famílias e a comunidade, valorização docente e outras selecionados pelos sistemas educativos e pela unidade escolar,
medidas, entre as quais a instituição de plano de carreira, colegiadamente, para serem desenvolvidos de forma
cargos e salários. transversal. A base nacional comum e a parte diversificada não
As experiências em andamento têm revelado êxitos e podem se constituir em dois blocos distintos, com disciplinas
desafios vividos pelas redes na busca da qualidade da específicas para cada uma dessas partes.
educação. Os desafios centram-se, predominantemente, nos A compreensão sobre base nacional comum, nas suas
obstáculos para a gestão participativa, a qualificação dos relações com a parte diversificada, foi objeto de vários
funcionários, a integração entre instituições escolares de pareceres emitidos pelo CNE, cuja síntese se encontra no

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Parecer CNE/CEB nº 14/2000, da lavra da conselheira Edla de V – compreender os efeitos da “infoera”, sabendo que estes
Araújo Lira Soares. Após retomar o texto dos artigos 26 e 27 atuam, cada vez mais, na vida das crianças, dos adolescentes e
da LDB, a conselheira assim se pronuncia: adultos, para que se reconheçam, de um lado, os estudantes, de
outro, os profissionais da educação e a família, mas
(...) a base nacional comum interage com a parte reconhecendo que os recursos midiáticos devem permear todas
diversificada, no âmago do processo de constituição de as atividades de aprendizagem.
conhecimentos e valores das crianças, jovens e adultos,
evidenciando a importância da participação de todos os Na organização da matriz curricular, serão observados os
segmentos da escola no processo de elaboração da proposta da critérios:
instituição que deve nos termos da lei, utilizar a parte I – de organização e programação de todos os tempos (carga
diversificada para enriquecer e complementar a base nacional horária) e espaços curriculares (componentes), em forma de
comum. eixos, módulos ou projetos, tanto no que se refere à base
(...) tanto a base nacional comum quanto a parte nacional comum, quanto à parte diversificada17, sendo que a
diversificada são fundamentais para que o currículo faça definição de tais eixos, módulos ou projetos deve resultar de
sentido como um todo. amplo e verticalizado debate entre os atores sociais atuantes
nas diferentes instâncias educativas;
Cabe aos órgãos normativos dos sistemas de ensino II – de duração mínima anual de 200 (duzentos) dias letivos,
expedir orientações quanto aos estudos e às atividades com o total de, no mínimo, 800 (oitocentas) horas, recomendada
correspondentes à parte diversificada do Ensino Fundamental a sua ampliação, na perspectiva do tempo integral, sabendo-se
e do Médio, de acordo com a legislação vigente. A LDB, porém, que as atividades escolares devem ser programadas articulada
inclui expressamente o estudo de, pelo menos, uma língua e integradamente, a partir da base nacional comum enriquecida
estrangeira moderna como componente necessário da parte e complementada pela parte diversificada, ambas formando um
diversificada, sem determinar qual deva ser, cabendo sua todo;
escolha à comunidade escolar, dentro das possibilidades da III – da interdisciplinaridade e da contextualização, que
escola, que deve considerar o atendimento das características devem ser constantes em todo o currículo, propiciando a
locais, regionais, nacionais e transnacionais, tendo em vista as interlocução entre os diferentes campos do conhecimento e a
demandas do mundo do trabalho e da internacionalização de transversalidade do conhecimento de diferentes disciplinas, bem
toda ordem de relações. A língua espanhola, no entanto, por como o estudo e o desenvolvimento de projetos referidos a temas
força de lei específica (Lei nº 11.161/2005) passou a ser concretos da realidade dos estudantes;
obrigatoriamente ofertada no Ensino Médio, embora IV – da destinação de, pelo menos, 20% do total da carga
facultativa para o estudante, bem como possibilitada no horária anual ao conjunto de programas e projetos
Ensino Fundamental, do 6º ao 9º ano. Outras leis específicas, a interdisciplinares eletivos criados pela escola, previstos no
latere da LDB, determinam que sejam incluídos componentes projeto pedagógico, de modo que os sujeitos do Ensino
não disciplinares, como as questões relativas ao meio Fundamental e Médio possam escolher aqueles com que se
ambiente, à condição e direito do idoso e ao trânsito. identifiquem e que lhes permitam melhor lidar com o
Correspondendo à base nacional comum, ao longo do conhecimento e a experiência. Tais programas e projetos devem
processo básico de escolarização, a criança, o adolescente, o ser desenvolvidos de modo dinâmico, criativo e flexível, em
jovem e o adulto devem ter oportunidade de desenvolver, no articulação com a comunidade em que a escola esteja inserida;
mínimo, habilidades segundo as especificidades de cada etapa V – da abordagem interdisciplinar na organização e gestão
do desenvolvimento humano, privilegiando-se os aspectos do currículo, viabilizada pelo trabalho desenvolvido
intelectuais, afetivos, sociais e políticos que se desenvolvem de coletivamente, planejado previamente, de modo integrado e
forma entrelaçada, na unidade do processo didático. pactuado com a comunidade educativa;
Organicamente articuladas, a base comum nacional e a VI – de adoção, nos cursos noturnos do Ensino Fundamental
parte diversificada são organizadas e geridas de tal modo que e do Médio, da metodologia didático-pedagógica pertinente às
também as tecnologias de informação e comunicação características dos sujeitos das aprendizagens, na maioria
perpassem transversalmente a proposta curricular desde a trabalhadores, e, se necessário, sendo alterada a duração do
Educação Infantil até o Ensino Médio, imprimindo direção aos curso, tendo como referência o mínimo correspondente à base
projetos político-pedagógicos. Ambas possuem como nacional comum, de modo que tais cursos não fiquem
referência geral o compromisso com saberes de dimensão prejudicados;
planetária para que, ao cuidar e educar, seja possível à escola VII – do entendimento de que, na proposta curricular, as
conseguir: características dos jovens e adultos trabalhadores das turmas
do período noturno devem ser consideradas como subsídios
I – ampliar a compreensão sobre as relações entre o importantes para garantir o acesso ao Ensino Fundamental e ao
indivíduo, o trabalho, a sociedade e a espécie humana, seus Ensino Médio, a permanência e o sucesso nas últimas séries, seja
limites e suas potencialidades, em outras palavras, sua em curso de tempo regular, seja em curso na modalidade de
identidade terrena; Educação de Jovens e Adultos, tendo em vista o direito à
II – adotar estratégias para que seja possível, ao longo da frequência a uma escola que lhes dê uma formação adequada ao
Educação Básica, desenvolver o letramento emocional, social e desenvolvimento de sua cidadania;
ecológico; o conhecimento científico pertinente aos diferentes VIII – da oferta de atendimento educacional especializado,
tempos, espaços e sentidos; a compreensão do significado das complementar ou suplementar à formação dos estudantes
ciências, das letras, das artes, do esporte e do lazer; público-alvo da Educação Especial, previsto no projeto político-
III – ensinar a compreender o que é ciência, qual a sua pedagógico da escola.
história e a quem ela se destina;
IV – viver situações práticas a partir das quais seja possível A organização curricular assim concebida supõe outra
perceber que não há uma única visão de mundo, portanto, um forma de trabalho na escola, que consiste na seleção adequada
fenômeno, um problema, uma experiência podem ser descritos e de conteúdos e atividades de aprendizagem, de métodos,
analisados segundo diferentes perspectivas e correntes de procedimentos, técnicas e recursos didático-pedagógicos. A
pensamento, que variam no tempo, no espaço, na perspectiva da articulação interdisciplinar é voltada para o
intencionalidade; desenvolvimento não apenas de conhecimentos, mas também
de habilidades, valores e práticas.

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Considera, ainda, que o avanço da qualidade na educação Tecnológica, Educação a Distância, a educação nos
brasileira depende, fundamentalmente, do compromisso estabelecimentos penais e a educação quilombola.
político, dos gestores educacionais das diferentes instâncias Assim referenciadas, estas Diretrizes compreendem
da educação, do respeito às diversidades dos estudantes, da orientações para a elaboração das diretrizes específicas para
competência dos professores e demais profissionais da cada etapa e modalidade da Educação Básica, tendo como
educação, da garantia da autonomia responsável das centro e motivação os que justificam a existência da instituição
instituições escolares na formulação de seu projeto político- escolar: os estudantes em desenvolvimento. Reconhecidos
pedagógico que contemple uma proposta consistente da como sujeitos do processo de aprendizagens, têm sua
organização do trabalho. identidade cultural e humana respeitada, desenvolvida nas
suas relações com os demais que compõem o coletivo da
2.5. Organização da Educação Básica unidade escolar, em elo com outras unidades escolares e com
a sociedade, na perspectiva da inclusão social exercitada em
Em suas singularidades, os sujeitos da Educação Básica, em compromisso com a equidade e a qualidade. É nesse sentido
seus diferentes ciclos de desenvolvimento, são ativos, social e que se deve pensar e conceber o projeto político-pedagógico, a
culturalmente, porque aprendem e interagem; são cidadãos de relação com a família, o Estado, a escola e tudo o que é nela
direito e deveres em construção; copartícipes do processo de realizado. Sem isso, é difícil consolidar políticas que efetivem
produção de cultura, ciência, esporte e arte, compartilhando o processo de integração entre as etapas e modalidades da
saberes, ao longo de seu desenvolvimento físico, cognitivo, Educação Básica e garanta ao estudante o acesso, a inclusão, a
socioafetivo, emocional, tanto do ponto de vista ético, quanto permanência, o sucesso e a conclusão de etapa, e a
político e estético, na sua relação com a escola, com a família e continuidade de seus estudos. Diante desse entendimento, a
com a sociedade em movimento. Ao se identificarem esses aprovação das Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a
sujeitos, é importante considerar os dizeres de Narodowski21. Educação Básica e a revisão e a atualização das diretrizes
Ele entende, apropriadamente, que a escola convive hoje com específicas de cada etapa e modalidade devem ocorrer
estudantes de uma infância, de uma juventude (des) realizada, mediante diálogo vertical e horizontal, de modo simultâneo e
que estão nas ruas, em situação de risco e exploração, e indissociável, para que se possa assegurar a necessária coesão
aqueles de uma infância e juventude (hiper) realizada com dos fundamentos que as norteiam.
pleno domínio tecnológico da internet, do orkut, dos chats.
Não há mais como tratar: os estudantes como se fossem 2.5.1. Etapas da Educação Básica
homogêneos, submissos, sem voz; os pais e a comunidade
escolar como objetos. Eles são sujeitos plenos de Quanto às etapas correspondentes aos diferentes
possibilidades de diálogo, de interlocução e de intervenção. momentos constitutivos do desenvolvimento educacional, a
Exige-se, portanto, da escola, a busca de um efetivo pacto em Educação Básica compreende:
torno do projeto educativo escolar, que considere os sujeitos
estudantes jovens, crianças, adultos como parte ativa de seus I – a Educação Infantil, que compreende: a Creche,
processos de formação, sem minimizar a importância da englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da criança
autoridade adulta. até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com duração
Na organização curricular da Educação Básica, devem-se de 2 (dois) anos.
observar as diretrizes comuns a todas as suas etapas, II – o Ensino Fundamental, obrigatório e gratuito, com
modalidades e orientações temáticas, respeitadas suas duração de 9 (nove) anos, é organizado e tratado em duas fases:
especificidades e as dos sujeitos a que se destinam. Cada etapa a dos 5 (cinco) anos iniciais e a dos 4 (quatro) anos finais;
é delimitada por sua finalidade, princípio e/ou por seus III – o Ensino Médio, com duração mínima de 3 (três) anos.
objetivos ou por suas diretrizes educacionais, claramente
dispostos no texto da Lei nº 9.394/96, fundamentando-se na Estas etapas e fases têm previsão de idades próprias, as
inseparabilidade dos conceitos referenciais: cuidar e educar, quais, no entanto, são diversas quando se atenta para alguns
pois esta é uma concepção norteadora do projeto político- pontos como atraso na matrícula e/ou no percurso escolar,
pedagógico concebido e executado pela comunidade repetência, retenção, retorno de quem havia abandonado os
educacional. Mas vão além disso quando, no processo estudos, estudantes com deficiência, jovens e adultos sem
educativo, educadores e estudantes se defrontarem com a escolarização ou com esta incompleta, habitantes de zonas
complexidade e a tensão em que se circunscreve o processo no rurais, indígenas e quilombolas, adolescentes em regime de
qual se dá a formação do humano em sua acolhimento ou internação, jovens e adultos em situação de
multidimensionalidade. privação de liberdade nos estabelecimentos penais.
Na Educação Básica, o respeito aos estudantes e a seus
tempos mentais, socioemocionais, culturais, identitários, é um 2.5.1.1. Educação Infantil
princípio orientador de toda a ação educativa. É
responsabilidade dos sistemas educativos responderem pela A Educação Infantil tem por objetivo o desenvolvimento
criação de condições para que crianças, adolescentes, jovens e integral da criança até 5 (cinco) anos de idade, em seus
adultos, com sua diversidade (diferentes condições físicas, aspectos físico, afetivo, psicológico, intelectual e social,
sensoriais e socioemocionais, origens, etnias, gênero, crenças, complementando a ação da família e da comunidade.
classes sociais, contexto sociocultural), tenham a Seus sujeitos situam-se na faixa etária que compreende o
oportunidade de receber a formação que corresponda à idade ciclo de desenvolvimento e de aprendizagem dotada de
própria do percurso escolar, da Educação Infantil, ao Ensino condições específicas, que são singulares a cada tipo de
Fundamental e ao Médio. atendimento, com exigências próprias. Tais atendimentos
Adicionalmente, na oferta de cada etapa pode carregam marcas singulares antropoculturais, porque as
corresponder uma ou mais das modalidades de ensino: crianças provêm de diferentes e singulares contexto etapa da
Educação Especial, Educação de Jovens e Adultos, Educação do Educação Básica devem ter a oportunidade de se sentirem
Campo, Educação Escolar Indígena, Educação Profissional e acolhidos, amparados e respeitados pela escola e pelos
profissionais da educação, com base nos princípios da

21 NARODOWSKI, Mariano. A infância como construção pedagógica. In:

COSTA, Marisa C. V. Escola Básica na virada do século: cultura, política e currículo.


Porto Alegre: FACED/UFRGS, 1995.

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individualidade, igualdade, liberdade, diversidade e O Parecer CNE/CEB nº 7/2007 admitiu coexistência do


pluralidade. Deve-se entender, portanto, que, para as crianças Ensino Fundamental de 8 (oito) anos, em extinção gradual,
de 0 (zero) a 5 (cinco) anos, independentemente das com o de 9 (nove), que se encontra em processo de
diferentes condições físicas, sensoriais, mentais, linguísticas, implantação e implementação. Há, nesse caso, que se respeitar
étnico-raciais, socioeconômicas, de origem, religiosas, entre o disposto nos Pareceres CNE/CEB nº 6/2005 e nº 18/2005,
outras, no espaço escolar, as relações sociais e intersubjetivas bem como na Resolução CNE/CEB nº 3/2005, que formula
requerem a atenção intensiva dos profissionais da educação, uma tabela de equivalência da organização e dos planos
durante o tempo e o momento de desenvolvimento das curriculares do Ensino Fundamental de 8 (oito) e de 9 (nove)
atividades que lhes são peculiares: este é o tempo em que a anos, a qual deve ser adotada por todas as escolas.
curiosidade deve ser estimulada, a partir da brincadeira O Ensino Fundamental é de matrícula obrigatória para as
orientada pelos profissionais da educação. Os vínculos de crianças a partir dos 6 (seis) anos completos até o dia 31 de
família, dos laços de solidariedade humana e de tolerância março do ano em que ocorrer matrícula, conforme
recíproca em que se assenta a vida social, devem iniciar-se na estabelecido pelo CNE no Parecer CNE/CEB nº 22/2009 e
Pré-Escola e sua intensificação deve ocorrer ao longo do Resolução CNE/CEB nº 1/2010. Segundo o Parecer CNE/CEB
Ensino Fundamental, etapa em que se prolonga a infância e se nº 4/2008, o antigo terceiro período da Pré-Escola, agora
inicia a adolescência. primeiro ano do Ensino Fundamental, não pode se confundir
Às unidades de Educação Infantil cabe definir, no seu com o anterior primeiro ano, pois se tornou parte integrante
projeto político-pedagógico, com base no que dispõem os de um ciclo de 3 (três) anos, que pode ser denominado “ciclo
artigos 12 e 13 da LDB e no ECA, os conceitos orientadores do da infância”. Conforme o Parecer CNE/CEB nº 6/2005, a
processo de desenvolvimento da criança, com a consciência de ampliação do Ensino Fundamental obrigatório a partir dos 6
que as crianças, em geral, adquirem as mesmas formas de (seis) anos de idade requer de todas as escolas e de todos os
comportamento que as pessoas usam e demonstram nas suas educadores compromisso com a elaboração de um novo
relações com elas, para além do desenvolvimento da projeto político-pedagógico, bem como para o consequente
linguagem e do pensamento. redimensionamento da Educação Infantil.
Assim, a gestão da convivência e as situações em que se Por outro lado, conforme destaca o Parecer CNE/CEB nº
torna necessária a solução de problemas individuais e 7/2007: é perfeitamente possível que os sistemas de ensino
coletivos pelas crianças devem ser previamente programadas, estabeleçam normas para que essas crianças que só vão
com foco nas motivações estimuladas e orientadas pelos completar seis anos depois de iniciar o ano letivo possam
professores e demais profissionais da educação e outros de continuar frequentando a Pré-escola para que não ocorra uma
áreas pertinentes, respeitados os limites e as potencialidades indesejável descontinuidade de atendimento e
de cada criança e os vínculos desta com a família ou com o seu desenvolvimento.
responsável direto. Dizendo de outro modo, nessa etapa deve- O intenso processo de descentralização ocorrido na última
se assumir o cuidado e a educação, valorizando a década acentuou, na oferta pública, a cisão entre anos iniciais
aprendizagem para a conquista da cultura da vida, por meio de e finais do Ensino Fundamental, levando à concentração dos
atividades lúdicas em situações de aprendizagem (jogos e anos iniciais, majoritariamente, nas redes municipais, e dos
brinquedos), formulando proposta pedagógica que considere anos finais, nas redes estaduais, embora haja escolas com
o currículo como conjunto de experiências em que se oferta completa (anos iniciais e anos finais do ensino
articulam saberes da experiência e socialização do fundamental) em escolas mantidas por redes públicas e
conhecimento em seu dinamismo, depositando ênfase: privadas. Essa realidade requer especial atenção dos sistemas
estaduais e municipais, que devem estabelecer forma de
I – na gestão das emoções; colaboração, visando à oferta do Ensino Fundamental e à
II – no desenvolvimento de hábitos higiênicos e alimentares; articulação entre a primeira fase e a segunda, para evitar
III – na vivência de situações destinadas à organização dos obstáculos ao acesso de estudantes que mudem de uma rede
objetos pessoais e escolares; para outra para completarem escolaridade obrigatória,
IV – na vivência de situações de preservação dos recursos da garantindo a organicidade e totalidade do processo formativo
natureza; do escolar.
V – no contato com diferentes linguagens representadas, Respeitadas as marcas singulares antropoculturais que as
predominantemente, por ícones – e não apenas pelo crianças de diferentes contextos adquirem, os objetivos da
desenvolvimento da prontidão para a leitura e escrita –, como formação básica, definidos para a Educação Infantil,
potencialidades indispensáveis à formação do interlocutor prolongam-se durante os anos iniciais do Ensino Fundamental,
cultural. de tal modo que os aspectos físico, afetivo, psicológico,
intelectual e social sejam priorizados na sua formação,
2.5.1.2 Ensino Fundamental complementando a ação da família e da comunidade e, ao
mesmo tempo, ampliando e intensificando, gradativamente, o
Na etapa da vida que corresponde ao Ensino Fundamental, processo educativo com qualidade social, mediante:
o estatuto de cidadão vai se definindo gradativamente
conforme o educando vai se assumindo a condição de um I – o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo
sujeito de direitos. As crianças, quase sempre, percebem o como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do
sentido das transformações corporais e culturais, afetivo- cálculo;
emocionais, sociais, pelas quais passam. Tais transformações II – foco central na alfabetização, ao longo dos três
requerem-lhes reformulação da autoimagem, a que se associa primeiros anos, conforme estabelece o Parecer CNE/CEB
o desenvolvimento cognitivo. Junto a isso, buscam referências nº4/2008, de 20 de fevereiro de 2008, da lavra do conselheiro
para a formação de valores próprios, novas estratégias para Murílio de Avellar Hingel, que apresenta orientação sobre os três
lidar com as diferentes exigências que lhes são impostas. anos iniciais do Ensino Fundamental de nove anos;
De acordo com a Resolução CNE/CEB nº 3/2005, o Ensino III – a compreensão do ambiente natural e social, do sistema
Fundamental de 9 (nove) anos tem duas fases com político, da economia, da tecnologia, das artes e da cultura dos
características próprias, chamadas de: anos iniciais, com 5 direitos humanos e dos valores em que se fundamenta a
(cinco) anos de duração, em regra para estudantes de 6 (seis) sociedade;
a 10 (dez) anos de idade; e anos finais, com 4 (quatro) anos de
duração, para os de 11 (onze) a 14 (quatorze) anos.

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IV – o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, preparação básica para o trabalho e a cidadania, e a prontidão


tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a para o exercício da autonomia intelectual são uma conquista
formação de atitudes e valores; paulatina e requerem a atenção de todas as etapas do processo
V – o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de de formação do indivíduo. Nesse sentido, o Ensino Médio,
solidariedade humana e de respeito recíproco em que se assenta como etapa responsável pela terminalidade do processo
a vida social. formativo da Educação Básica, deve se organizar para
proporcionar ao estudante uma formação com base unitária,
Como medidas de caráter operacional, impõe-se a adoção: no sentido de um método de pensar e compreender as
determinações da vida social e produtiva; que articule
I – de programa de preparação dos profissionais da trabalho, ciência, tecnologia e cultura na perspectiva da
educação, particularmente dos gestores, técnicos e professores; emancipação humana.
II – de trabalho pedagógico desenvolvido por equipes Na definição e na gestão do currículo, sem dúvida,
interdisciplinares e multiprofissionais; inscrevem-se fronteiras de ordem legal e teórico-
III – de programas de incentivo ao compromisso dos metodológica. Sua lógica dirige-se aos jovens não como
profissionais da educação com os estudantes e com sua categorização genérica e abstrata, mas consideradas suas
aprendizagem, de tal modo que se tornem sujeitos nesse singularidades, que se situam num tempo determinado, que,
processo; ao mesmo tempo, é recorte da existência humana e herdeiro
IV – de projetos desenvolvidos em aliança com a de arquétipos conformadores da sua singularidade inscrita em
comunidade, cujas atividades colaborem para a superação de determinações históricas. Compreensível que é difícil que
conflitos nas escolas, orientados por objetivos claros e tangíveis, todos os jovens consigam carregar a necessidade e o desejo de
além de diferentes estratégias de intervenção; assumir todo o programa de Ensino Médio por inteiro, como
V – de abertura de escolas além do horário regular de aulas, se acha organizado. Dessa forma, compreende-se que o
oferecendo aos estudantes local seguro para a prática de conjunto de funções atribuídas ao Ensino Médio não
atividades esportivo-recreativas e socioculturais, além de corresponde à pretensão e às necessidades dos jovens dos dias
reforço escolar; atuais e às dos próximos anos. Portanto, para que se assegure
VI – de espaços físicos da escola adequados aos diversos a permanência dos jovens na escola, com proveito, até a
ambientes destinados às várias atividades, entre elas a de conclusão da Educação Básica, os sistemas educativos devem
experimentação e práticas botânicas; prever currículos flexíveis, com diferentes alternativas, para
VII – de acessibilidade arquitetônica, nos mobiliários, nos que os jovens tenham a oportunidade de escolher o percurso
recursos didático-pedagógicos, nas comunicações e formativo que mais atenda a seus interesses, suas
informações. necessidades e suas aspirações.
Deste modo, essa etapa do processo de escolarização se
Nessa perspectiva, no geral, é tarefa da escola, palco de constitui em responsável pela terminalidade do processo
interações, e, no particular, é responsabilidade do professor, formativo do estudante da Educação Básica24, e,
apoiado pelos demais profissionais da educação, criar conjuntamente, pela preparação básica para o trabalho e para
situações que provoquem nos estudantes a necessidade e o a cidadania, e pela prontidão para o exercício da autonomia
desejo de pesquisar e experimentar situações de intelectual.
aprendizagem como conquista individual e coletiva, a partir do Na perspectiva de reduzir a distância entre as atividades
contexto particular e local, em elo com o geral e transnacional. escolares e as práticas sociais, o Ensino Médio deve ter uma
base unitária sobre a qual podem se assentar possibilidades
2.5.1.3. Ensino Médio diversas: no trabalho, como preparação geral ou,
facultativamente, para profissões técnicas; na ciência e na
Os princípios e as finalidades que orientam o Ensino tecnologia, como iniciação científica e tecnológica; nas artes e
Médio23, para adolescentes em idade de 15 (quinze) a 17 na cultura, como ampliação da formação cultural. Assim, o
(dezessete), preveem, como preparação para a conclusão do currículo do Ensino Médio deve organizar-se de modo a
processo formativo da Educação Básica (artigo 35 da LDB): assegurar a integração entre os seus sujeitos, o trabalho, a
ciência, a tecnologia e a cultura, tendo o trabalho como
I – a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos princípio educativo, processualmente conduzido desde a
adquiridos no Ensino Fundamental, possibilitando o Educação Infantil.
prosseguimento de estudos;
II – a preparação básica para o trabalho, tomado este como 2.5.2. Modalidades da Educação Básica
princípio educativo, e para a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de enfrentar novas Como já referido, na oferta de cada etapa pode
condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores; corresponder uma ou mais modalidades de ensino: Educação
III – o aprimoramento do estudante como um ser de direitos, de Jovens e Adultos, Educação Especial, Educação Profissional
pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento e Tecnológica, Educação Básica do Campo, Educação Escolar
da autonomia intelectual e do pensamento crítico; Indígena, Educação Escolar Quilombola e Educação a
IV – a compreensão dos fundamentos científicos e Distância.
tecnológicos presentes na sociedade contemporânea,
relacionando a teoria com a prática. 2.5.2.1. Educação de Jovens e Adultos

A formação ética, a autonomia intelectual, o pensamento A instituição da Educação de Jovens e Adultos (EJA) 25 tem
crítico que construa sujeitos de direitos devem se iniciar desde sido considerada como instância em que o Brasil procura
o ingresso do estudante no mundo escolar. Como se sabe, estes saldar uma dívida social que tem para com o cidadão que não
são, a um só tempo, princípios e valores adquiridos durante a estudou na idade própria. Destina-se, portanto, aos que se
formação da personalidade do indivíduo. É, entretanto, por situam na faixa etária superior à considerada própria, no nível
meio da convivência familiar, social e escolar que tais valores de conclusão do Ensino Fundamental e do Ensino Médio.
são internalizados. Quando o estudante chega ao Ensino A carência escolar de adultos e jovens que ultrapassaram
Médio, os seus hábitos e as suas atitudes crítico-reflexivas e essa idade tem graus variáveis, desde a total falta de
éticas já se acham em fase de conformação. Mesmo assim, a alfabetização, passando pelo analfabetismo funcional, até a

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incompleta escolarização nas etapas do Ensino Fundamental e conhecimento e das experiências avaliados por meio de
do Médio. Essa defasagem educacional mantém e reforça a exames para verificação de competências e habilidades é
exclusão social, privando largas parcelas da população ao objeto de diretrizes específicas a serem emitidas pelo órgão
direito de participar dos bens culturais, de integrar-se na vida normativo competente, tendo em vista a complexidade, a
produtiva e de exercer sua cidadania. Esse resgate não pode singularidade e a diversidade contextual dos sujeitos a que se
ser tratado emergencialmente, mas, sim, de forma sistemática destinam tais exames.
e continuada, uma vez que jovens e adultos continuam
alimentando o contingente com defasagem escolar, seja por 2.5.2.2. Educação Especial
não ingressarem na escola, seja por dela se evadirem por
múltiplas razões. A Educação Especial é uma modalidade de ensino
O inciso I do artigo 208 da Constituição Federal determina transversal a todas etapas e outras modalidades, como parte
que o dever do Estado para com a educação será efetivado integrante da educação regular, devendo ser prevista no
mediante a garantia de Ensino Fundamental obrigatório e projeto político-pedagógico da unidade escolar.
gratuito, assegurada inclusive sua oferta gratuita para todos os Os sistemas de ensino devem matricular todos os
que a ele não tiverem acesso na idade própria. Este estudantes com deficiência, transtornos globais do
mandamento constitucional é reiterado pela LDB, no inciso I desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, cabendo
do seu artigo 4º, sendo que, o artigo 37 traduz os fundamentos às escolas organizar-se para seu atendimento, garantindo as
da EJA ao atribuir ao poder público a responsabilidade de condições para uma educação de qualidade para todos,
estimular e viabilizar o acesso e a permanência do trabalhador devendo considerar suas necessidades educacionais
na escola, mediante ações integradas e complementares entre específicas, pautando-se em princípios éticos, políticos e
si, mediante oferta de cursos gratuitos aos jovens e aos estéticos, para assegurar:
adultos, que não puderam efetuar os estudos na idade regular, I – a dignidade humana e a observância do direito de cada
proporcionando-lhes oportunidades educacionais estudante de realizar seus projetos e estudo, de trabalho e de
apropriadas, consideradas as características do alunado, seus inserção na vida social, com autonomia e independência;
interesses, condições de vida e de trabalho, mediante cursos e II – a busca da identidade própria de cada estudante, o
exames. Esta responsabilidade deve ser prevista pelos reconhecimento e a valorização das diferenças e
sistemas educativos e por eles deve ser assumida, no âmbito potencialidades, o atendimento às necessidades educacionais no
da atuação de cada sistema, observado o regime de processo de ensino e aprendizagem, como base para a
colaboração e da ação redistributiva, definidos legalmente. constituição e ampliação de valores, atitudes, conhecimentos,
Os cursos de EJA devem pautar-se pela flexibilidade, tanto habilidades e competências;
de currículo quanto de tempo e espaço, para que seja: III – o desenvolvimento para o exercício da cidadania, da
I – rompida a simetria com o ensino regular para crianças e capacidade de participação social, política e econômica e sua
adolescentes, de modo a permitir percursos individualizados e ampliação, mediante o cumprimento de seus deveres e o
conteúdos significativos para os jovens e adultos; usufruto de seus direitos.
II – provido suporte e atenção individual às diferentes
necessidades dos estudantes no processo de aprendizagem, O atendimento educacional especializado (AEE), previsto
mediante atividades diversificadas; pelo Decreto nº 6.571/2008, é parte integrante do processo
III – valorizada a realização de atividades e vivências educacional, sendo que os sistemas de ensino devem
socializadoras, culturais, recreativas e esportivas, geradoras de matricular os estudantes com deficiência, transtornos globais
enriquecimento do percurso formativo dos estudantes; do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação nas
IV – desenvolvida a agregação de competências para o classes comuns do ensino regular e no atendimento
trabalho; educacional especializado (AEE). O objetivo deste
V – promovida a motivação e orientação permanente dos atendimento é identificar habilidades e necessidades dos
estudantes, visando à maior participação nas aulas e seu melhor estudantes, organizar recursos de acessibilidade e realizar
aproveitamento e desempenho; atividades pedagógicas específicas que promovam seu acesso
VI – realizada sistematicamente a formação continuada ao currículo. Este atendimento não substitui a escolarização
destinada especificamente aos educadores de jovens e adultos. em classe comum e é ofertado no contraturno da escolarização
em salas de recursos multifuncionais da própria escola, de
Na organização curricular dessa modalidade da Educação outra escola pública ou em centros de AEE da rede pública ou
Básica, a mesma lei prevê que os sistemas de ensino devem de instituições comunitárias, confessionais ou filantrópicas
oferecer cursos e exames supletivos, que compreenderão a sem fins lucrativos conveniadas com a Secretaria de Educação
base nacional comum do currículo, habilitando ao ou órgão equivalente dos Estados, Distrito Federal ou dos
prosseguimento de estudos em caráter regular. Entretanto, Municípios.
prescreve que, preferencialmente, os jovens e adultos tenham Os sistemas e as escolas devem proporcionar condições
a oportunidade de desenvolver a Educação Profissional para que o professor da classe comum possa explorar e
articulada com a Educação Básica (§ 3º do artigo 37 da LDB, estimular as potencialidades de todos os estudantes, adotando
incluído pela Lei nº 11.741/2008). uma pedagogia dialógica, interativa, interdisciplinar e
inclusiva e, na interface, o professor do AEE identifique
Cabe a cada sistema de ensino definir a estrutura e a habilidades e necessidades dos estudantes, organize e oriente
duração dos cursos da Educação de Jovens e Adultos, sobre os serviços e recursos pedagógicos e de acessibilidade
respeitadas as Diretrizes Curriculares Nacionais, a identidade para a participação e aprendizagem dos estudantes.
dessa modalidade de educação e o regime de colaboração Na organização desta modalidade, os sistemas de ensino
entre os entes federativos. devem observar as seguintes orientações fundamentais:
Quanto aos exames supletivos, a idade mínima para a
inscrição e realização de exames de conclusão do Ensino I – o pleno acesso e efetiva participação dos estudantes no
Fundamental é de 15 (quinze) anos completos, e para os de ensino regular;
conclusão do Ensino Médio é a de 18 (dezoito) anos completos. II – a oferta do atendimento educacional especializado
Para a aplicação desses exames, o órgão normativo dos (AEE);
sistemas de educação deve manifestar-se previamente, além III – a formação de professores para o AEE e para o
de acompanhar os seus resultados. A certificação do desenvolvimento de práticas educacionais inclusivas;

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IV – a participação da comunidade escolar; A Educação Profissional Técnica de nível médio, nos


V – a acessibilidade arquitetônica, nas comunicações e termos do artigo 36-B da mesma Lei, é desenvolvida nas
informações, nos mobiliários e equipamentos e nos transportes; seguintes formas:
VI – a articulação das políticas públicas interssetoriais.
I – articulada com o Ensino Médio, sob duas formas:
Nesse sentido, os sistemas de ensino assegurarão a II – integrada, na mesma instituição,
observância das seguintes orientações fundamentais: III – concomitante, na mesma ou em distintas instituições;
IV – subsequente, em cursos destinados a quem já tenha
I – métodos, técnicas, recursos educativos e organização concluído o Ensino Médio.
específicos, para atender às suas necessidades;
II – formação de professores para o atendimento As instituições podem oferecer cursos especiais, abertos à
educacional especializado, bem como para o desenvolvimento comunidade, com matrícula condicionada à capacidade de
de práticas educacionais inclusivas nas classes comuns de ensino aproveitamento e não necessariamente ao nível de
regular; escolaridade. São formulados para o atendimento de
III – acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais demandas pontuais, específicas de um determinado segmento
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino da população ou dos setores produtivos, com período
regular. determinado para início e encerramento da oferta, sendo,
como cursos de formação inicial e continuada ou de
A LDB, no artigo 60, prevê que os órgãos normativos dos qualificação profissional, livres de regulamentação curricular.
sistemas de ensino estabelecerão critérios de caracterização No tocante aos cursos articulados com o Ensino Médio,
das instituições privadas sem fins lucrativos, especializadas e organizados na forma integrada, o que está proposto é um
com atuação exclusiva em Educação Especial, para fins de curso único (matrícula única), no qual os diversos
apoio técnico e financeiro pelo poder público e, no seu componentes curriculares são abordados de forma que se
parágrafo único, estabelece que o poder público ampliará o explicitem os nexos existentes entre eles, conduzindo os
atendimento aos estudantes com necessidades especiais na estudantes à habilitação profissional técnica de nível médio ao
própria rede pública regular de ensino, independentemente mesmo tempo em que concluem a última etapa da Educação
do apoio às instituições previstas nesse artigo. Básica.
Os cursos técnicos articulados com o Ensino Médio,
O Decreto nº 6.571/2008 dispõe sobre o atendimento ofertados na forma concomitante, com dupla matrícula e dupla
educacional especializado, regulamenta o parágrafo único do certificação, podem ocorrer na mesma instituição de ensino,
artigo 60 da LDB e acrescenta dispositivo ao Decreto nº aproveitando-se as oportunidades educacionais disponíveis;
6.253/2007, prevendo, no âmbito do FUNDEB, a dupla em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as
matrícula dos alunos público-alvo da educação especial, uma oportunidades educacionais disponíveis; ou em instituições de
no ensino regular da rede pública e outra no atendimento ensino distintas, mediante convênios de
educacional especializado. intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao
desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
OBS: Nova redação conferida ao parágrafo único do São admitidas, nos cursos de Educação Profissional
art. 60, regulamentado pela Lei 12.796/2013. Técnica de nível médio, a organização e a estruturação em
etapas que possibilitem uma qualificação profissional
Parágrafo único. O poder público adotará, como alternativa intermediária.
preferencial, a ampliação do atendimento aos educandos com Abrange, também, os cursos conjugados com outras
deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas modalidades de ensino, como a Educação de Jovens e Adultos,
habilidades ou superdotação na própria rede pública regular de a Educação Especial e a Educação a Distância, e pode ser
ensino, independentemente do apoio às instituições previstas desenvolvida por diferentes estratégias de educação
neste artigo. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de 2013) continuada, em instituições especializadas ou no ambiente de
trabalho. Essa previsão coloca, no escopo dessa modalidade
2.5.2.3. Educação Profissional e Tecnológica educacional, as propostas de qualificação, capacitação,
atualização e especialização profissional, entre outras livres de
A Educação Profissional e Tecnológica (EPT), em regulamentação curricular, reconhecendo que a EPT pode
conformidade com o disposto na LDB, com as alterações ocorrer em diversos formatos e no próprio local de trabalho.
introduzidas pela Lei nº 11.741/2008, no cumprimento dos Inclui, nesse sentido, os programas e cursos de Aprendizagem,
objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes previstos na Consolidação das Leis Trabalhistas (CLT)
níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, aprovada pelo Decreto-Lei nº 5.452/43, desenvolvidos por
da ciência e da tecnologia. Dessa forma, pode ser entidades qualificadas e no ambiente de trabalho, através de
compreendida como uma modalidade na medida em que contrato especial de trabalho.
possui um modo próprio de fazer educação nos níveis da A organização curricular da educação profissional e
Educação Básica e Superior e em sua articulação com outras tecnológica por eixo tecnológico fundamenta-se na
modalidades educacionais: Educação de Jovens e Adultos, identificação das tecnologias que se encontram na base de uma
Educação Especial e Educação a Distância. dada formação profissional e dos arranjos lógicos por elas
A EPT na Educação Básica ocorre na oferta de cursos de constituídos. Por considerar os conhecimentos tecnológicos
formação inicial e continuada ou qualificação profissional, e pertinentes a cada proposta de formação profissional, os eixos
nos de Educação Profissional Técnica de nível médio ou, ainda, tecnológicos facilitam a organização de itinerários formativos,
na Educação Superior, conforme o § 2º do artigo 39 da LDB: apontando possibilidades de percursos tanto dentro de um
A Educação Profissional e Tecnológica abrangerá os mesmo nível educacional quanto na passagem do nível básico
seguintes cursos: para o superior.
I – de formação inicial e continuada ou qualificação Os conhecimentos e habilidades adquiridos tanto nos
profissional; cursos de educação profissional e tecnológica, como os
II – de Educação Profissional Técnica de nível médio; adquiridos na prática laboral pelos trabalhadores, podem ser
III – de Educação Profissional Tecnológica de graduação e objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para
pós-graduação. prosseguimento ou conclusão de estudos. Assegura-se, assim,

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ao trabalhador jovem e adulto, a possibilidade de ter ao adequado desempenho do estudante. Nesse sentido, os dois
reconhecidos os saberes construídos em sua trajetória de vida. ambientes/situações são intercomplementares.
Para Moacir Alves Carneiro, a certificação pretende valorizar a
experiência extraescolar e a abertura que a Lei dá à Educação 2.5.2.5. Educação escolar indígena
Profissional vai desde o reconhecimento do valor igualmente
educativo do que se aprendeu na escola e no próprio ambiente A escola desta modalidade tem uma realidade singular,
de trabalho, até a possibilidade de saídas e entradas inscrita em terras e cultura indígenas31. Requer, portanto,
intermediárias. pedagogia própria em respeito à especificidade étnico-cultural
de cada povo ou comunidade e formação específica de seu
2.5.2.4. Educação Básica do campo quadro docente, observados os princípios constitucionais, a
base nacional comum e os princípios que orientam a Educação
Nesta modalidade, a identidade da escola do campo é Básica brasileira (artigos 5º, 9º, 10, 11 e inciso VIII do artigo
definida pela sua vinculação com as questões inerentes à sua 4º da LDB).
realidade, ancorando-se na temporalidade e saberes próprios Na estruturação e no funcionamento das escolas indígenas
dos estudantes, na memória coletiva que sinaliza futuros, na é reconhecida sua condição de escolas com normas e
rede de ciência e tecnologia disponível na sociedade e nos ordenamento jurídico próprios, com ensino intercultural e
movimentos sociais em defesa de projetos que associem as bilíngue, visando à valorização plena das culturas dos povos
soluções exigidas por essas questões à qualidade social da vida indígenas e à afirmação e manutenção de sua diversidade
coletiva no País. étnica.
A educação para a população rural está prevista no artigo
28 da LDB, em que ficam definidas, para atendimento à São elementos básicos para a organização, a estrutura e o
população rural, adaptações necessárias às peculiaridades da funcionamento da escola indígena:
vida rural e de cada região, definindo orientações para três
aspectos essenciais à organização da ação pedagógica: I – localização em terras habitadas por comunidades
indígenas, ainda que se estendam por territórios de diversos
I – conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às Estados ou Municípios contíguos;
reais necessidades e interesses dos estudantes da zona rural; II – exclusividade de atendimento a comunidades indígenas;
II – organização escolar própria, incluindo adequação do III – ensino ministrado nas línguas maternas das
calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições comunidades atendidas, como uma das formas de preservação
climáticas; da realidade sociolinguística de cada povo;
III – adequação à natureza do trabalho na zona rural. IV – organização escolar própria.

Obs: a lei 12.960/2014, incluiu o parágrafo único ao Na organização de escola indígena deve ser considerada a
artigo 28 da LDB: participação da comunidade, na definição do modelo de
organização e gestão, bem como:
Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo,
indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do I – suas estruturas sociais;
órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que II – suas práticas socioculturais e religiosas;
considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de III – suas formas de produção de conhecimento, processos
Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a próprios e métodos de ensino-aprendizagem;
manifestação da comunidade escolar. (Incluído pela Lei nº IV – suas atividades econômicas;
12.960, de 2014) V – a necessidade de edificação de escolas que atendam aos
interesses das comunidades indígenas;
As propostas pedagógicas das escolas do campo devem VI – o uso de materiais didático-pedagógicos produzidos de
contemplar a diversidade do campo em todos os seus acordo com o contexto sociocultural de cada povo indígena.
aspectos: sociais, culturais, políticos, econômicos, de gênero,
geração e etnia. Formas de organização e metodologias As escolas indígenas desenvolvem suas atividades de
pertinentes à realidade do campo devem, nesse sentido, ter acordo com o proposto nos respectivos projetos pedagógicos
acolhida. Assim, a pedagogia da terra busca um trabalho e regimentos escolares com as prerrogativas de: organização
pedagógico fundamentado no princípio da sustentabilidade, das atividades escolares, independentes do ano civil,
para que se possa assegurar a preservação da vida das futuras respeitado o fluxo das atividades econômicas, sociais, culturais
gerações. e religiosas; e duração diversificada dos períodos escolares,
Particularmente propícia para esta modalidade, destaca-se ajustando-a às condições e especificidades próprias de cada
a pedagogia da alternância (sistema dual), criada na Alemanha comunidade.
há cerca de 140 anos e, hoje, difundida em inúmeros países, Por sua vez, tem projeto pedagógico próprio, por escola ou
inclusive no Brasil, com aplicação, sobretudo, no ensino por povo indígena, tendo por base as Diretrizes Curriculares
voltado para a formação profissional e tecnológica para o meio Nacionais referentes a cada etapa da Educação Básica; as
rural. Nesta metodologia, o estudante, durante o curso e como características próprias das escolas indígenas, em respeito à
parte integrante dele, participa, concomitante e especificidade étnico-cultural de cada povo ou comunidade; as
alternadamente, de dois ambientes/situações de realidades sociolinguísticas, em cada situação; os conteúdos
aprendizagem: o escolar e o laboral, não se configurando o curriculares especificamente indígenas e os modos próprios
último como estágio, mas, sim, como parte do currículo do de constituição do saber e da cultura indígena; e a participação
curso. Essa alternância pode ser de dias na mesma semana ou da respectiva comunidade ou povo indígena.
de blocos semanais ou, mesmo, mensais ao longo do curso.
Supõe uma parceria educativa, em que ambas as partes são A formação dos professores é específica, desenvolvida no
corresponsáveis pelo aprendizado e formação do estudante. É âmbito das instituições formadoras de professores, garantido-
bastante claro que podem predominar, num ou noutro, se aos professores indígenas a sua formação em serviço e,
oportunidades diversas de desenvolvimento de competências, quando for o caso, concomitantemente com a sua própria
com ênfases ora em conhecimentos, ora em habilidades escolarização.
profissionais, ora em atitudes, emoções e valores necessários

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2.5.2.6. Educação a Distância interdependência, da possibilidade de fazer escolhas visando


a um trabalho educativo eticamente responsável, que devem
A modalidade Educação a Distância caracteriza-se pela ser postas em prática nas instituições educacionais, no
mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e cumprimento do artigo 3º da LDB, em que vários princípios
aprendizagem que ocorre com a utilização de meios e derivam da Constituição Federal. Essa autonomia tem como
tecnologias de informação e comunicação, com estudantes e suporte a Constituição Federal e o disposto no artigo 15 da
professores desenvolvendo atividades educativas em lugares LDB:
ou tempos diversos.
O credenciamento para a oferta de cursos e programas de Os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares
Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de públicas de Educação Básica que os integram progressivos
Educação Profissional e Tecnológica de nível médio, na graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão
modalidade a distância, compete aos sistemas estaduais de financeira, observadas as normas gerais de direito financeiro
ensino, atendidas a regulamentação federal e as normas público.
complementares desses sistemas.
O ponto de partida para a conquista da autonomia pela
2.5.2.6. Educação Escolar Quilombola instituição educacional tem por base a construção da
identidade de cada escola, cuja manifestação se expressa no
A Educação Escolar Quilombola é desenvolvida em seu projeto pedagógico e no regimento escolar próprio,
unidades educacionais inscritas em suas terras e cultura, enquanto manifestação de seu ideal de educação e que permite
requerendo pedagogia própria em respeito à especificidade uma nova e democrática ordenação pedagógica das relações
étnicocultural de cada comunidade e formação específica de escolares. O projeto político-pedagógico deve, pois, ser
seu quadro docente, observados os princípios constitucionais, assumido pela comunidade educativa, ao mesmo tempo, como
a base nacional comum e os princípios que orientam a sua força indutora do processo participativo na instituição e
Educação Básica brasileira. como um dos instrumentos de conciliação das diferenças, de
Na estruturação e no funcionamento das escolas busca da construção de responsabilidade compartilhada por
quilombolas, deve ser reconhecida e valorizada sua todos os membros integrantes da comunidade escolar, sujeitos
diversidade cultural. históricos concretos, situados num cenário geopolítico
preenchido por situações cotidianas desafiantes.
2.6. Elementos constitutivos para a organização das Assim concebido, o processo de formulação do projeto
Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais para a Educação político-pedagógico tem como referência a democrática
Básica ordenação pedagógica das relações escolares, cujo horizonte
de ação procura abranger a vida humana em sua globalidade.
Estas Diretrizes inspiram-se nos princípios constitucionais Por outro lado, o projeto político-pedagógico é também um
e na LDB e se operacionalizam – sobretudo por meio do documento em que se registra o resultado do processo
projeto político-pedagógico e do regimento escolar, do sistema negocial estabelecido por aqueles atores que estudam a escola
de avaliação, da gestão democrática e da organização da escola e por ela respondem em parceria (gestores, professores,
– na formação inicial e continuada do professor, tendo como técnicos e demais funcionários, representação estudantil,
base os princípios afirmados nos itens anteriores, entre os representação da família e da comunidade local). É, portanto,
quais o cuidado e o compromisso com a educação integral de instrumento de previsão e suporte para a avaliação das ações
todos, atendendo-se às dimensões orgânica, sequencial e educativas programadas para a instituição como um todo;
articulada da Educação Básica. referência e transcende o planejamento da gestão e do
A LDB estabelece condições para que a unidade escolar desenvolvimento escolar, porque suscita e registra decisões
responda à obrigatoriedade de garantir acesso à escola e colegiadas que envolvem a comunidade escolar como um todo,
permanência com sucesso. Ela aponta ainda alternativas para projetando-as para além do período do mandato de cada
flexibilizar as condições para que a passagem dos estudantes gestor. Assim, cabe à escola, considerada a sua identidade e a
pela escola seja concebida como momento de crescimento, de seus sujeitos, articular a formulação do projeto político-
mesmo frente a percursos de aprendizagem não lineares. pedagógico com os planos de educação nacional, estadual,
A isso se associa o entendimento de que a instituição municipal, o plano da gestão, o contexto em que a escola se
escolar, hoje, dispõe de instrumentos legais e normativos que situa e as necessidades locais e as de seus estudantes. A
lhe permitam exercitar sua autonomia, instituindo as suas organização e a gestão das pessoas, do espaço, dos processos e
próprias regras para mudar, reinventar, no seu projeto os procedimentos que viabilizam o trabalho de todos aqueles
político-pedagógico e no seu regimento, o currículo, a que se inscrevem no currículo em movimento expresso no
avaliação da aprendizagem, seus procedimentos, para que o projeto político-pedagógico representam o conjunto de
grande objetivo seja alcançado: educação para todos em todas elementos que integram o trabalho pedagógico e a gestão da
as etapas e modalidades da Educação Básica, com qualidade escola tendo como fundamento o que dispõem os artigos 14,
social. 12 e 13, da LDB, respectivamente.

2.6.1. O projeto político-pedagógico e o regimento escolar Na elaboração do projeto político-pedagógico, a concepção


de currículo e de conhecimento escolar deve ser enriquecida
O projeto político-pedagógico, nomeado na LDB como pela compreensão de como lidar com temas significativos que
proposta ou projeto pedagógico, representa mais do que um se relacionem com problemas e fatos culturais relevantes da
documento. É um dos meios de viabilizar a escola democrática realidade em que a escola se inscreve. O conhecimento prévio
e autônoma para todos, com qualidade social. Autonomia sobre como funciona o financiamento da educação pública,
pressupõe liberdade e capacidade de decidir a partir de regras tanto em nível federal quanto em estadual e municipal, pela
relacionais. O exercício da autonomia administrativa e comunidade educativa, contribui, significativamente, no
pedagógica da escola pode ser traduzido como a capacidade de momento em que se estabelecem as prioridades institucionais.
governar a si mesmo, por meio de normas próprias. A natureza e a finalidade da unidade escolar, o papel
A autonomia da escola numa sociedade democrática é, socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, as questões de
sobretudo, a possibilidade de ter uma compreensão particular gênero, etnia, classe social e diversidade cultural que
das metas da tarefa de educar e cuidar, das relações de compõem as ações educativas, particularmente a organização

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e a gestão curricular, são os componentes que subsidiam as IV – esclareça o papel dos gestores da instituição, da
demais partes integrantes do projeto político-pedagógico. organização estudantil e dos conselhos: comunitário, de classe,
Nele, devem ser previstas as prioridades institucionais que a de pais e outros;
identificam. Além de se observar tais critérios e compromisso, V – perceba e interprete o perfil real dos sujeitos – crianças,
deve-se definir o conjunto das ações educativas próprias das jovens e adultos – que justificam e instituem a vida da e na
etapas da Educação Básica assumidas pela unidade escolar, de escola, do ponto de vista intelectual, cultural, emocional, afetivo,
acordo com as especificidades que lhes correspondam, socioeconômico, como base da reflexão sobre as relações vida-
preservando a articulação orgânica daquelas etapas. conhecimento-culturaprofessor-estudante e instituição escolar;
Reconhecendo o currículo como coração que faz pulsar o VI – considere como núcleo central das aprendizagens pelos
trabalho pedagógico na sua multidimensionalidade e sujeitos do processo educativo (gestores, professores, técnicos e
dinamicidade, o projeto político-pedagógico deve constituir- funcionários, estudantes e famílias) a curiosidade e a pesquisa,
se: incluindo, de modo cuidadoso e sistemático, as chamadas
referências virtuais de aprendizagem que se dão em contextos
I – do diagnóstico da realidade concreta dos sujeitos do digitais;
processo educativo, contextualizado no espaço e no tempo; VII – preveja a formação continuada dos gestores e
II – da concepção sobre educação, conhecimento, avaliação professores para que estes tenham a oportunidade de se manter
da aprendizagem e mobilidade escolar; atualizados quanto ao campo do conhecimento que lhes cabe
III – da definição de qualidade das aprendizagens e, por manejar, trabalhar e quanto à adoção, à opção da metodologia
consequência, da escola, no contexto das desigualdades que nela didático-pedagógica mais própria às aprendizagens que devem
se refletem; vivenciar e estimular, incluindo aquelas pertinentes às
IV – de acompanhamento sistemático dos resultados do Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC);
processo de avaliação interna e externa (SAEB, Prova Brasil, VIII – realize encontros pedagógicos periódicos, com tempo
dados estatísticos resultantes das avaliações em rede nacional e e espaço destinados a estudos, debates e troca de experiências
outras; pesquisas sobre os sujeitos da Educação Básica), de aprendizagem dos sujeitos do processo coletivo de gestão e
incluindo resultados que compõem o Índice de Desenvolvimento pedagógico pelos gestores, professores e estudantes, para a
da Educação Básica (IDEB) e/ou que complementem ou reorientação de caminhos e estratégias;
substituam os desenvolvidos pelas unidades da federação e IX – defina e justifique, claramente, a opção por um ou outro
outros; método de trabalho docente e a compreensão sobre a qualidade
V – da implantação dos programas de acompanhamento do das aprendizagens como direito social dos sujeitos e da escola:
acesso, de permanência dos estudantes e de superação da qualidade formal e qualidade política (saber usar a qualidade
retenção escolar; formal);
VI – da explicitação das bases que norteiam a organização X – traduza, claramente, os critérios orientadores da
do trabalho pedagógico tendo como foco os fundamentos da distribuição e organização do calendário escolar e da carga
gestão democrática, compartilhada e participativa (órgãos horária destinada à gestão e à docência, de tal modo que se
colegiados, de representação estudantil e dos pais). viabilize a concretização do currículo escolar e, ao mesmo
tempo, que os profissionais da educação sejam valorizados e
No projeto político-pedagógico, deve-se conceber a estimulados a trabalharem prazerosamente;
organização do espaço físico da instituição escolar de tal modo XI – contemple programas e projetos com os quais a escola
que este seja compatível com as características de seus desenvolverá ações inovadoras, cujo foco incida na prevenção
sujeitos, além da natureza e das finalidades da educação, das consequências da incivilidade que vem ameaçando a saúde
deliberadas e assumidas pela comunidade educacional. Assim, e o bem estar, particularmente das juventudes, assim como na
a despadronização curricular pressupõe a despadronização do reeducação dos sujeitos vitimados por esse fenômeno
espaço físico e dos critérios de organização da carga horária do psicossocial;
professor. A exigência – o rigor no educar e cuidar – é a chave XII – avalie as causas da distorção de idade/ano/série,
para a conquista e recuperação dos níveis de qualidade projetando a sua superação, por intermédio da implantação de
educativa de que as crianças e os jovens necessitam para programas didático-pedagógicos fundamentados por
continuar a estudar em etapas e níveis superiores, para metodologia específica.
integrar-se no mundo do trabalho em seu direito inalienável
de alcançar o lugar de cidadãos responsáveis, formados nos Daí a necessidade de se estimularem novas formas de
valores democráticos e na cultura do esforço e da organização dos componentes curriculares dispondo-os em
solidariedade. eixos temáticos, que são considerados eixos fundantes, pois
Nessa perspectiva, a comunidade escolar assume o projeto conferem relevância ao currículo. Desse modo, no projeto
político-pedagógico não como peça constitutiva da lógica político-pedagógico, a comunidade educacional deve
burocrática, menos ainda como elemento mágico capaz de engendrar o entrelaçamento entre trabalho, ciência,
solucionar todos os problemas da escola, mas como instância tecnologia, cultura e arte, por meio de atividades próprias às
de construção coletiva, que respeita os sujeitos das características da etapa de desenvolvimento humano do
aprendizagens, entendidos como cidadãos de direitos à escolar a que se destinarem, prevendo:
proteção e à participação social, de tal modo que:
I – as atividades integradoras de iniciação científica e no
I – estimule a leitura atenta da realidade local, regional e campo artístico-cultural, desde a Educação Infantil;
mundial, por meio da qual se podem perceber horizontes, II – os princípios norteadores da educação nacional, a
tendências e possibilidades de desenvolvimento; metodologia da problematização como instrumento de
II – preserve a clareza sobre o fazer pedagógico, em sua incentivo à pesquisa, à curiosidade pelo inusitado e ao
multidimensionalidade, prevendo-se a diversidade de ritmo de desenvolvimento do espírito inventivo, nas práticas didáticas;
desenvolvimento dos sujeitos das aprendizagens e caminhos por III – o desenvolvimento de esforços pedagógicos com
eles escolhidos; intenções educativas, comprometidas com a educação cidadã;
III – institua a compreensão dos conflitos, das divergências e IV – a avaliação do desenvolvimento das aprendizagens
diferenças que demarcam as relações humanas e sociais; como processo formativo e permanente de reconhecimento de
conhecimentos, habilidades, atitudes, valores e emoções;

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V – a valorização da leitura em todos os campos do 2.6.2. Avaliação


conhecimento, desenvolvendo a capacidade de letramento dos
estudantes; Do ponto de vista teórico, muitas são as formulações que
VI – o comportamento ético e solidário, como ponto de tratam da avaliação. No ambiente educacional, ela
partida para o reconhecimento dos deveres e direitos da compreende três dimensões básicas:
cidadania, para a prática do humanismo contemporâneo, pelo I – avaliação da aprendizagem;
reconhecimento, respeito e acolhimento da identidade do outro; II – avaliação institucional interna e externa;
VII – a articulação entre teoria e prática, vinculando o III – avaliação de redes de Educação Básica.
trabalho intelectual com atividades práticas experimentais;
VIII – a promoção da integração das atividades educativas Nestas Diretrizes, é a concepção de educação que
com o mundo do trabalho, por meio de atividades práticas e de fundamenta as dimensões da avaliação e das estratégias
estágios, estes para os estudantes do Ensino Médio e da didático-pedagógicas a serem utilizadas. Essas três dimensões
Educação Profissional e Tecnológica; devem estar previstas no projeto político-pedagógico para
IX – a utilização de novas mídias e tecnologias educacionais, nortearem a relação pertinente que estabelece o elo entre a
como processo de dinamização dos ambientes de aprendizagem; gestão escolar, o professor, o estudante, o conhecimento e a
X – a oferta de atividades de estudo com utilização de novas sociedade em que a escola se situa.
tecnologias de comunicação. No nível operacional, a avaliação das aprendizagens tem
XI – a promoção de atividades sociais que estimulem o como referência o conjunto de habilidades, conhecimentos,
convívio humano e interativo do mundo dos jovens; princípios e valores que os sujeitos do processo educativo
XII – a organização dos tempos e dos espaços com ações projetam para si de modo integrado e articulado com aqueles
efetivas de interdisciplinaridade e contextualização dos princípios e valores definidos para a Educação Básica,
conhecimentos; redimensionados para cada uma de suas etapas.
XIII – a garantia do acompanhamento da vida escolar dos A avaliação institucional interna, também denominada
estudantes, desde o diagnóstico preliminar, acompanhamento autoavaliação institucional, realiza-se anualmente,
do desempenho e integração com a família; considerando as orientações contidas na regulamentação
XIV – a promoção da aprendizagem criativa como processo vigente, para revisão do conjunto de objetivos e metas,
de sistematização dos conhecimentos elaborados, como mediante ação dos diversos segmentos da comunidade
caminho pedagógico de superação à mera memorização; educativa, o que pressupõe delimitação de indicadores
XV – o estímulo da capacidade de aprender do estudante, compatíveis com a natureza e a finalidade institucionais, além
desenvolvendo o autodidatismo e autonomia dos estudantes; de clareza quanto à qualidade social das aprendizagens e da
XVI – a indicação de exames otorrino, laringo, oftálmico e escola.
outros sempre que o estudante manifestar dificuldade de A avaliação institucional externa, promovida pelos órgãos
concentração e/ou mudança de comportamento; superiores dos sistemas educacionais, inclui, entre outros
XVII– a oferta contínua de atividades complementares e de instrumentos, pesquisas, provas, tais como as do SAEB, Prova
reforço da aprendizagem, proporcionando condições para que o Brasil, ENEM e outras promovidas por sistemas de ensino de
estudante tenha sucesso em seus estudos; diferentes entes federativos, dados estatísticos, incluindo os
XVIII – a oferta de atividades de estudo com utilização de resultados que compõem o Índice de Desenvolvimento da
novas tecnologias de comunicação. Educação Básica (IDEB) e/ou que o complementem ou o
substituem, e os decorrentes da supervisão e verificações in
Nesse sentido, o projeto político-pedagógico, concebido loco. A avaliação de redes de Educação Básica é periódica, feita
pela escola e que passa a orientá-la, deve identificar a por órgãos externos às escolas e engloba os resultados da
Educação Básica, simultaneamente, como o conjunto e avaliação institucional, que sinalizam para a sociedade se a
pluralidade de espaços e tempos que favorecem processos em escola apresenta qualidade suficiente para continuar
que a infância e a adolescência se humanizam ou se funcionando.
desumanizam, porque se inscrevem numa teia de relações
culturais mais amplas e complexas, histórica e socialmente 2.6.2.1. Avaliação da aprendizagem
tecidas. Daí a relevância de se ter, como fundamento desse
nível da educação, os dois pressupostos: cuidar e educar. Este No texto da LDB, a avaliação da aprendizagem, na
é o foco a ser considerado pelos sistemas educativos, pelas Educação Básica, é norteada pelos artigos 24 e 31, que se
unidades escolares, pela comunidade educacional, em geral, e complementam. De um lado, o artigo 24, orienta o Ensino
pelos sujeitos educadores, em particular, na elaboração e Fundamental e Médio, definindo que a avaliação será
execução de determinado projeto institucional e regimento organizada de acordo com regras comuns a essas duas etapas.
escolar. De outro lado, o artigo 31 trata da Educação Infantil,
O regimento escolar trata da natureza e da finalidade da estabelecendo que, nessa etapa, a avaliação será realizada
instituição; da relação da gestão democrática com os órgãos mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento da
colegiados; das atribuições de seus órgãos e sujeitos; das suas criança, sem o objetivo de promoção, mesmo em se tratando
normas pedagógicas, incluindo os critérios de acesso, de acesso ao Ensino Fundamental. Essa determinação pode ser
promoção, e a mobilidade do escolar; e dos direitos e deveres acolhida para o ciclo da infância de acordo com o Parecer
dos seus sujeitos: estudantes, professores, técnicos, CNE/CEB nº 4/2008, anteriormente citado, que orienta para
funcionários, gestores, famílias, representação estudantil e não retenção nesse ciclo.
função das suas instâncias colegiadas. O direito à educação constitui grande desafio para a escola:
Nessa perspectiva, o regimento, discutido e aprovado pela requer mais do que o acesso à educação escolar, pois
comunidade escolar e conhecido por todos, constitui-se em um determina gratuidade na escola pública, obrigatoriedade da
dos instrumentos de execução, com transparência e Pré-Escola ao Ensino Médio, permanência e sucesso, com
responsabilidade, do seu projeto político-pedagógico. As superação da evasão e retenção, para a conquista da qualidade
normas nele definidas servem, portanto, para reger o trabalho social. O Conselho Nacional de Educação, em mais de um
pedagógico e a vida da instituição escolar, em consonância Parecer em que a avaliação da aprendizagem escolar é
com o projeto político-pedagógico e com a legislação e as analisada, recomenda, aos sistemas de ensino e às escolas
normas educacionais. públicas e particulares, que o caráter formativo deve
predominar sobre o quantitativo e classificatório. A este

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respeito, é preciso adotar uma estratégia de progresso matéria vêm mencionando dificuldades para incluir esse
individual e contínuo que favoreça o crescimento do estudante no novo contexto escolar.
estudante, preservando a qualidade necessária para a sua A mobilidade escolar ou a conhecida transferência também
formação escolar. tem sido objeto de regulamento para o que a LDB dispõe, por
meio de instrumentos normativos emitidos pelos Conselhos
2.6.2.2. Promoção, aceleração de estudos e classificação de Educação. Inúmeras vezes, os estudantes transferidos têm
a sensação de abandono ou descaso, semelhante ao que
No Ensino Fundamental e no Médio, a figura da promoção costuma ocorrer com estudantes que não acompanham o
e da classificação pode ser adotada em qualquer ano, série ou ritmo de seus colegas. A LDB estabeleceu, no § 1º do artigo 23,
outra unidade de percurso escolhida, exceto no primeiro ano que a escola poderá reclassificar os estudantes, inclusive
do Ensino Fundamental. Essas duas figuras fundamentam-se quando se tratar de transferências entre estabelecimentos
na orientação de que a verificação do rendimento escolar situados no País e no exterior, tendo como base as normas
observará os seguintes critérios: curriculares gerais.
De acordo com essas normas, a mobilidade entre turmas,
I – avaliação contínua e cumulativa do desempenho do séries, ciclos, módulos ou outra forma de organização, e
estudante, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os escolas ou sistemas, deve ser pensada, prioritariamente, na
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de dimensão pedagógica: o estudante transferido de um para
eventuais provas finais; outro regime diferente deve ser incluído onde houver
II – possibilidade de aceleração de estudos para estudantes compatibilidade com o seu desenvolvimento e com as suas
com atraso escolar; aprendizagens, o que se intitula reclassificação. Nenhum
III – possibilidade de avanço nos cursos e nas séries mediante estabelecimento de Educação Básica, sob nenhum pretexto,
verificação do aprendizado; pode recusar a matrícula do estudante que a procura. Essa
IV– aproveitamento de estudos concluídos com êxito; atitude, de caráter aparentemente apenas administrativo,
V – obrigatoriedade de apoio pedagógico destinado à deve ser entendida pedagogicamente como a continuidade dos
recuperação contínua e concomitante de aprendizagem de estudos iniciados em outra turma, série, ciclo, módulo ou outra
estudantes com déficit de rendimento escolar, a ser previsto no forma, e escola ou sistema.
regimento escolar. Em seu novo percurso, o estudante transferido deve
receber cuidadoso acompanhamento sobre a sua adaptação na
A classificação pode resultar da promoção ou da instituição que o acolhe, em termos de relacionamento com
adaptação, numa perspectiva que respeita e valoriza as colegas e professores, de preferências, de respostas aos
diferenças individuais, ou seja, pressupõe uma outra ideia de desafios escolares, indo além de uma simples análise do seu
temporalização e espacialização, entendida como sequência currículo escolar. Nesse sentido, os sistemas educativos devem
do percurso do escolar, já que cada criatura é singular. ousar propor a inversão da lógica escolar: ao invés de
Tradicionalmente, a escola tem tratado o estudante como se conteúdos disciplinados estanques (substantivados), devem
todos se desenvolvessem padronizadamente nos mesmos investir em ações pedagógicas que priorizem aprendizagens
ritmos e contextos educativos, semelhantemente ao processo através da operacionalidade de linguagens visando à
industrial. É como se lhe coubesse produzir cidadãos em série, transformação dos conteúdos em modos de pensar, em que o
em linha de montagem. Há de se admitir que a sociedade que interessa, fundamentalmente, é o vivido com outros,
mudou significativamente. A classificação, nos termos regidos aproximando mundo, escola, sociedade, ciência, tecnologia,
pela LDB (inciso II do artigo 24), é, pois, uma figura que se dá trabalho, cultura e vida.
em qualquer momento do percurso escolar, exceto no A possibilidade de aceleração de estudos destina-se a
primeiro ano do Ensino Fundamental, e realiza-se: estudantes com algum atraso escolar, aqueles que, por alguma
razão, encontram-se em descompasso de idade. As razões mais
I – por promoção, para estudantes que cursaram, com indicadas têm sido: ingresso tardio, retenção, dificuldades no
aproveitamento, a unidade de percurso anterior, na própria processo de ensinoaprendizagem ou outras.
escola; A progressão pode ocorrer segundo dois critérios: regular
II – por transferência, para candidatos procedentes de ou parcial. A escola brasileira sempre esteve organizada para
outras escolas; uma ação pedagógica inscrita num panorama de relativa
III – independentemente de escolarização anterior, estabilidade. Isso significa que já vem lidando, razoavelmente,
mediante avaliação feita pela escola, que defina o grau de com a progressão regular. O desafio que se enfrenta incide
desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua sobre a progressão parcial, que, se aplicada a crianças e jovens,
inscrição na série ou etapa adequada, conforme requer o redesenho da organização das ações pedagógicas. Em
regulamentação do respectivo sistema de ensino. outras palavras, a escola deverá prever para professor e
estudante o horário de trabalho e espaço de atuação que se
A organização de turmas seguia o pressuposto de classes harmonize entre estes, respeitadas as condições de locomoção
organizadas por série anual. Com a implantação da Lei, a de ambos, lembrando-se de que outro conjunto de recursos
concepção ampliou-se, uma vez que poderão ser organizadas didático-pedagógicos precisa ser elaborado e desenvolvido.
classes ou turmas, com estudantes de séries distintas, com A LDB, no artigo 24, inciso III, prevê a possibilidade de
níveis equivalentes de adiantamento na matéria, para o ensino progressão parcial nos estabelecimentos que adotam a
de línguas estrangeiras, artes, ou outros componentes progressão regular por série, lembrando que o regimento
curriculares (inciso IV do artigo 24 da LDB). escolar pode admiti-la “desde que preservada a sequência do
A consciência de que a escola se situa em um determinado currículo, observadas as normas do respectivo sistema de
tempo e espaço impõe-lhe a necessidade de apreender o ensino”. A Lei, entretanto, não é impositiva quanto à adoção de
máximo o estudante: suas circunstâncias, seu perfil, suas progressão parcial. Caso a instituição escolar a adote, é pré-
necessidades. Uma situação cada vez mais presente em nossas requisito que a sequência do currículo seja preservada,
escolas é a mobilidade dos estudantes. Quantas vezes a escola observadas as normas do respectivo sistema de ensino, (inciso
pergunta sobre o que fazer com os estudantes que ela recebe, III do artigo 24), previstas no projeto político-pedagógico e no
provenientes de outras instituições, de outros sistemas de regimento, cuja aprovação se dá mediante participação da
ensino, dentro ou fora do Município ou Estado. As análises comunidade escolar (artigo 13).
apresentadas em diferentes fóruns de discussão sobre essa

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Também, no artigo 32, inciso IV, § 2º, quando trata pedagógica da escola; (Redação dada pela Lei nº 12.013, de
especificamente do Ensino Fundamental, a LDB refere que os 2009).
estabelecimentos que utilizam progressão regular por série
podem adotar o regime de progressão continuada, sem VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz
prejuízo da avaliação do processo ensino-aprendizagem, competente da Comarca e ao respectivo representante do
observadas as normas do respectivo sistema de ensino. A Ministério Público a relação dos estudantes menores que
forma de progressão continuada jamais deve ser entendida apresentem quantidade de faltas acima de cinquenta por cento
como “promoção automática”, o que supõe tratar o do percentual permitido em lei (inciso incluído pela Lei nº
conhecimento como processo e vivência que não se harmoniza 10.287/2001).
com a ideia de interrupção, mas sim de construção, em que o
estudante, enquanto sujeito da ação, está em processo Conscientes da complexidade e da abrangência dessas
contínuo de formação, construindo significados. tarefas atribuídas às escolas, os responsáveis pela gestão do
Uma escola que inclui todos supõe tratar o conhecimento ato educativo sentem-se, por um lado, pouco amparados, face
como processo e, portanto, como uma vivência que não se à desarticulação de programas e projetos destinados à
harmoniza com a ideia de interrupção, mas sim de construção, qualificação da Educação Básica; por outro, sentem-se
em que o estudante, enquanto sujeito da ação, está desafiados, à medida que se tornam conscientes de que
continuamente sendo formado, ou melhor, formando-se, também eles se inscrevem num espaço em que necessitam
construindo significados, a partir das relações dos homens preparar-se, continuadamente, para atuar no mundo escolar e
entre si e destes com a natureza. na sociedade. Como agentes educacionais, esses sujeitos
Nessa perspectiva, a avaliação requer outra forma de sabem que o seu compromisso e o seu sucesso profissional
gestão da escola, de organização curricular, dos materiais requerem não apenas condições de trabalho. Exigelhes
didáticos, na relação professor-estudante-conhecimento- formação continuada e clareza quanto à concepção de
escola, pois, na medida em que o percurso escolar é marcado organização da escola: distribuição da carga horária,
por diferentes etapas de aprendizagem, a escola precisará, remuneração, estratégias claramente definidas para a ação
também, organizar espaços e formas diferenciadas de didático-pedagógica coletiva que inclua a pesquisa, a criação
atendimento, a fim de evitar que uma defasagem de de novas abordagens e práticas metodológicas incluindo a
conhecimentos se transforme numa lacuna permanente. Esse produção de recursos didáticos adequados às condições da
avanço materializa-se quando a concepção de conhecimento e escola e da comunidade em que esteja ela inserida, promover
a proposta curricular estão fundamentadas numa os processos de avaliação institucional interna e participar e
epistemologia que considera o conhecimento uma construção cooperar com os de avaliação externa e os de redes de
sociointerativa que ocorre na escola e em outras instituições e Educação Básica. Pensar, portanto, a organização, a gestão da
espaços sociais. Nesse caso, percebe-se já existirem múltiplas escola é entender que esta, enquanto instituição dotada de
iniciativas entre professores no sentido de articularem os função social, é palco de interações em que os seus atores
diferentes campos de saber entre si e, também, com temas colocam o projeto político-pedagógico em ação compartilhada.
contemporâneos, baseados no princípio da Nesse palco está a fonte de diferentes ideias, formuladas pelos
interdisciplinaridade, o que normalmente resulta em vários sujeitos que dão vida aos programas educacionais.
mudanças nas práticas avaliativas. Acrescente-se que a obrigatoriedade da gestão
democrática determinada, em particular, no ensino público
2.6.3. Gestão democrática e organização da escola (inciso VIII do artigo 3º da LDB), e prevista, em geral, para
todas as instituições de ensino nos artigos 12 e 13, que
Pensar a organização do trabalho pedagógico e a gestão da preveem decisões coletivas, é medida desafiadora, porque
escola, na perspectiva exposta e tendo como fundamento o que pressupõe a aproximação entre o que o texto da lei estabelece
dispõem os artigos 12 e 13 da LDB, pressupõe conceber a e o que se sabe fazer, no exercício do poder, em todos os
organização e gestão das pessoas, do espaço, dos processos, aspectos. Essa mudança concebida e definida por poucos
procedimentos que viabilizam o trabalho de todos aqueles que atinge a todos: desde a família do estudante até os gestores da
se inscrevem no currículo em movimento expresso no projeto escola, chegando aos gestores da educação em nível macro.
político-pedagógico e nos planos da escola, em que se Assim, este é um aspecto instituidor do desafiante jogo entre
conformam as condições de trabalho definidas pelos órgãos teoria e prática, ideal e realidade, concepção de currículo e
gestores em nível macro. Os estabelecimentos de ensino, ação didático-pedagógica, avaliação institucional e avaliação
respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, da aprendizagem e todas as exigências que caracterizam esses
terão, segundo o artigo 12, a incumbência de: componentes da vida educacional escolar.
I – elaborar e executar sua proposta pedagógica; As decisões colegiadas pressupõem, sobretudo, que todos
II – administrar seu pessoal e seus recursos materiais e tenham ideia clara sobre o que seja coletivo e como se move a
financeiros; liberdade de cada sujeito, pois é nesse movimento que o
III – assegurar o cumprimento dos anos, dias e horas profissional pode passar a se perceber como um educador que
mínimos letivos estabelecidos; tenta dar conta das temporalidades do desenvolvimento
IV – velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada humano com suas especificidades e exigências. A valorização
docente; das diferenças e da pluralidade representa a valorização das
V – prover meios para a recuperação dos estudantes de pessoas. Supõe compreender que a padronização e a
menor rendimento; homogeneização que, tradicionalmente, impregnou a
VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando organização e a gestão dos processos e procedimentos da
processos de integração da sociedade com a escola; escola têm comprometido a conquista das mudanças que os
VII – informar os pais e responsáveis sobre a frequência e o textos legais em referência definem.
rendimento dos estudantes, bem como sobre a execução de sua A participação da comunidade escolar na gestão da escola
proposta pedagógica; e a observância dos princípios e finalidades da educação,
particularmente o respeito à diversidade e à diferença, são
Atual redação do inciso VII: VII - informar pai e mãe, desafios para todos os sujeitos do processo educativo. Para
conviventes ou não com seus filhos, e, se for o caso, os
responsáveis legais, sobre a frequência e rendimento dos
alunos, bem como sobre a execução da proposta

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Moreira e Candau22, a escola sempre teve dificuldade em lidar transpor o disposto não apenas nos artigos 12 a 15, da LDB,
com a pluralidade e a diferença. Tende a silenciá-las e mas significa cumpri-los como política pública e transpô-los
neutralizá-las. Sente-se mais confortável com a uniformidade como fundamento político-pedagógico, uma vez que o texto
e a padronização. No entanto, abrir espaços para a diversidade, destes artigos deve harmonizar-se com o dos demais textos
para a diferença e para o cruzamento de culturas constitui o que regulamentam e orientam a Educação Básica. O ponto
grande desafio que está chamada a enfrentar. A escola precisa, central da Lei, naqueles artigos, incide sobre a obrigatoriedade
assim, “acolher, criticar e colocar em contato diferentes da participação da comunidade escolar e dos profissionais da
saberes, diferentes manifestações culturais e diferentes óticas. educação na tomada de decisões, quanto à elaboração e ao
A contemporaneidade requer culturas que se misturem e cumprimento do projeto político-pedagógico, com destaque
ressoem mutuamente. Requer que a instituição escolar para a gestão democrática e para a integração da sociedade
compreenda como o conhecimento é socialmente valorizado, com a escola, bem como pelo cuidado com as aprendizagens
como tem sido escrito de uma dada forma e como pode, então, dos estudantes.
ser reescrito. Que se modifiquem modificando outras culturas A gestão escolar deve promover o “encontro
pela convivência ressonante, em um processo contínuo, que pedagogicamente pensado e organizado de gerações, de
não pare nunca, por não se limitar a um dar ou receber, mas idades diferentes”24, inscritos num contexto diverso e plural,
por ser contaminação, ressonância” (Pretto, apud Moreira e mas que se pretende uno, em sua singularidade própria e
Candau, 2005, p. 103). inacabada, porque em construção dialética permanente. Na
Na escola, o exercício do pluralismo de ideias e de instituição escolar, a gestão democrática é aquela que tem, nas
concepções pedagógicas (inciso III do artigo 206 da instâncias colegiadas, o espaço em que são tomadas as
Constituição Federal, e inciso III do artigo 3º da LDB), decisões que orientam o conjunto das atividades escolares:
assumido como princípio da educação nacional, deve viabilizar aprovam o projeto político-pedagógico, o regimento escolar,
a constituição de relações que estimulem diferentes os planos da escola (pedagógicos e administrativos), as regras
manifestações culturais e diferentes óticas. Em outras de convivência. Como tal, a gestão democrática é entendida
palavras, a escola deve empenhar-se para se constituir, ao como princípio que orienta os processos e procedimentos
mesmo tempo, em um espaço da diversidade e da pluralidade, administrativos e pedagógicos, no âmbito da escola e nas suas
inscrita na diversidade em movimento, no processo tornado relações com os demais órgãos do sistema educativo de que faz
possível por meio de relações intersubjetivas, cuja meta seja a parte.
de se fundamentar num outro princípio educativo e Assim referenciada, a gestão democrática constitui-se em
emancipador, assim expresso: liberdade de aprender, ensinar, instrumento de luta em defesa da horizontalização das
pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a arte e o saber relações, de vivência e convivência colegiada, superando o
(LDB, artigo 3º, inciso II). autoritarismo no planejamento e na organização curricular.
Para Paulo Freire23, é necessário entender a educação não Pela gestão democrática, educa-se para a conquista da
apenas como ensino, não no sentido de habilitar, de “dar” cidadania plena, mediante a compreensão do significado social
competência, mas no sentido de humanizar. A pedagogia que das relações de poder que se reproduzem no cotidiano da
trata dos processos de humanização, a escola, a teoria escola, nas relações entre os profissionais da educação, o
pedagógica e a pesquisa, nas instâncias educativas, devem conhecimento, as famílias e os estudantes, bem assim, entre
assumir a educação enquanto processos temporal, dinâmico e estes e o projeto político-pedagógico, na sua concepção
libertador, aqueles em que todos desejam se tornar cada vez coletiva que dignifica as pessoas, por meio da utilização de um
mais humanos. A escola demonstra ter se esquecido disso, método de trabalho centrado nos estudos, nas discussões, no
tanto nas relações que exerce com a criança, quanto com a diálogo que não apenas problematiza, mas, também, propõe,
pessoa adolescente, jovem e adulta. fortalecendo a ação conjunta que busca, nos movimentos
A escola que adota a abordagem interdisciplinar não está sociais, elementos para criar e recriar o trabalho da e na escola,
isenta de sublinhar a importância da relação entre cuidado e mediante:
educação, que é a de propor a inversão da preocupação com a
qualidade do ensino pela preocupação com a qualidade social I – compreensão da globalidade da pessoa, enquanto ser que
das aprendizagens como diretriz articuladora para as três aprende, que sonha e ousa, em busca da conquista de uma
etapas que compõem a Educação Básica. Essa escola deve convivência social libertadora fundamentada na ética cidadã;
organizar o trabalho pedagógico, os equipamentos, o II – superação dos processos e procedimentos burocráticos,
mobiliário e as suas instalações de acordo com as condições assumindo com flexibilidade: os planos pedagógicos, os objetivos
requeridas pela abordagem que adota. Desse modo, tanto a institucionais e educacionais, as atividades de avaliação;
organização das equipes de profissionais da educação quanto III – prática em que os sujeitos constitutivos da comunidade
a arquitetura física e curricular da escola destinada as crianças educacional discutam a própria prática pedagógica
da educação infantil deve corresponder às suas características impregnando-a de entusiasmo e compromisso com a sua própria
físicas e psicossociais. O mesmo se aplica aos estudantes das comunidade, valorizando-a, situando-a no contexto das relações
demais etapas da Educação Básica. Estes cuidados guardam sociais e buscando soluções conjuntas;
relação de coexistência dos sujeitos entre si, facilitam a gestão IV – construção de relações interpessoais solidárias, geridas
das normas que orientam as práticas docentes instrucionais, de tal modo que os professores se sintam estimulados a conhecer
atitudinais e disciplinares, mas correspondendo à abordagem melhor os seus pares (colegas de trabalho, estudantes, famílias),
interdisciplinar comprometida com a formação cidadã para a a expor as suas ideias, a traduzir as suas dificuldades e
cultura da vida expectativas pessoais e profissionais;
Compreender e realizar a Educação Básica, no seu V – instauração de relações entre os estudantes,
compromisso social de habilitar o estudante para o exercício proporcionando-lhes espaços de convivência e situações de
dos diversos direitos significa, portanto, potencializá-lo para a aprendizagem, por meio dos quais aprendam a se compreender
prática cidadã com plenitude, cujas habilidades se e se organizar em equipes de estudos e de práticas esportivas,
desenvolvem na escola e se realizam na comunidade em que artísticas e políticas;
os sujeitos atuam. Essa perspectiva pressupõe cumprir e

22 MOREIRA, A. F. B.; CANDAU, V. M. Indagações sobre currículo: currículo, 23 FREIRE, Paulo. Ação cultural para a liberdade e outros escritos. Rio de

conhecimento e cultura. BEAUCHAMP, Jeanete; PAGEL, Sandra Denise; Janeiro: Paz e Terra, 1984
NASCIMENTO, Aricélia Ribeiro do (org.). Brasília: Ministério da Educação, 24 ARROYO, Gonzales Miguel. Imagens quebradas – Trajetórias e tempos de

Secretaria de Educação Básica, 2007 estudantes e mestres. Petrópolis: Vozes, 2004.

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VI – presença articuladora e mobilizadora do gestor no relações entre essas áreas, na perspectiva da complexidade;
cotidiano da instituição e nos espaços com os quais a instituição conhecer e compreender as etapas de desenvolvimento dos
escolar interage, em busca da qualidade social das estudantes com os quais está lidando. O professor da Educação
aprendizagens que lhe caiba desenvolver, com transparência e Infantil e dos anos iniciais do Ensino Fundamental é, ou
responsabilidade. deveria ser, um especialista em infância; os professores dos
anos finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio,
De todas as mudanças formalizadas com fundamento na conforme vem defendendo Miguel Arroyo25 devem ser
LDB, uma das exigências, para o exercício da gestão escolar, especialistas em adolescência e juventude, isto é, condutores e
consiste na obrigatoriedade de que os candidatos a essa função educadores responsáveis, em sentido mais amplo, por esses
sejam dotados de experiência docente. Isto é pré-requisito sujeitos e pela qualidade de sua relação com o mundo. Tal
para o exercício profissional de quaisquer outras funções de proposição implica um redimensionamento dos cursos de
magistério, nos termos das normas de cada sistema de ensino licenciaturas e da formação continuada desses profissionais.
(§ 1º do artigo 67 da LDB). Sabe-se, no entanto, que a formação inicial e continuada do
Para que a gestão escolar cumpra o papel que cabe à escola, professor tem de ser assumida como compromisso integrante
os gestores devem proceder a uma revisão de sua organização do projeto social, político e ético, local e nacional, que contribui
administrativo-pedagógica, a partir do tipo de cidadão que se para a consolidação de uma nação soberana, democrática,
propõe formar, o que exige compromisso social com a redução justa, inclusiva e capaz de promover a emancipação dos
das desigualdades entre o ponto de partida do estudante e o indivíduos e grupos sociais. Nesse sentido, os sistemas
ponto de chegada a uma sociedade de classes. educativos devem instituir orientações a partir das quais se
introduza, obrigatoriamente, no projeto político-pedagógico,
2.6.4. O professor e a formação inicial e continuada previsão:

O artigo 3º da LDB, ao definir os princípios da educação I – de consolidação da identidade dos profissionais da


nacional, prevê a valorização do profissional da educação educação, nas suas relações com a instituição escolar e com o
escolar. Essa expressão estabelece um amálgama entre o estudante;
educador e a educação e os adjetiva, depositando foco na II – de criação de incentivos ao resgate da imagem social do
educação. Reafirma a ideia de que não há educação escolar sem professor, assim como da autonomia docente, tanto individual
escola e nem esta sem aquele. O significado de escola aqui quanto coletiva;
traduz a noção de que valorizar o profissional da educação é III – de definição de indicadores de qualidade social da
valorizar a escola, com qualidade gestorial, educativa, social, educação escolar, a fim de que as agências formadoras de
cultural, ética, estética, ambiental. profissionais da educação revejam os projetos dos cursos de
A leitura dos artigos 67 e 13 da mesma Lei permite formação inicial e continuada de docentes, de modo que
identificar a necessidade de elo entre o papel do professor, as correspondam às exigências de um projeto de Nação.
exigências indicadas para a sua formação, e o seu fazer na
escola, onde se vê que a valorização profissional e da educação Na política de formação de docentes para o Ensino
escolar vincula-se à obrigatoriedade da garantia de padrão de Fundamental, as ciências devem, necessária e
qualidade (artigo 4º, inciso IX). Além disso, o Fundo de obrigatoriamente, estar associadas, antes de qualquer
Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de tentativa, à discussão de técnicas, de materiais, de métodos
Valorização dos Professores da Educação (FUNDEB) define para uma aula dinâmica; é preciso, indispensável mesmo, que
critérios para proporcionar aos sistemas educativos e às o professor se ache repousado no saber de que a pedra
escolas apoio à valorização dos profissionais da educação. A fundamental é a curiosidade do ser humano. É ela que faz
Resolução CNE/CEB nº 2/2009, baseada no Parecer CNE/CEB perguntar, conhecer, atuar, mais perguntar, reconhecer26.
nº 9/2009, que trata da carreira docente, é também uma Por outro lado, no conjunto de elementos que contribuem
norma que participa do conjunto de referências focadas na para a concepção, elaboração e execução do projeto político-
valorização dos profissionais da educação, como medida pedagógico pela escola, em que se inscreve o desenvolvimento
indutora da qualidade do processo educativo. Tanto a curricular, a capacitação docente é o aspecto mais complexo,
valorização profissional do professor quanto a da educação porque a formação profissional em educação insere-se no
escolar são, portanto, exigências de programas de formação âmbito do desenvolvimento de aprendizagens de ordem
inicial e continuada, no contexto do conjunto de múltiplas pessoal, cultural, social, ambiental, política, ética, estética.
atribuições definidas para os sistemas educativos. Assim, hoje, exige-se do professor mais do que um
Para a formação inicial e continuada dos docentes, conjunto de habilidades cognitivas, sobretudo se ainda for
portanto, é central levar em conta a relevância dos domínios considerada a lógica própria do mundo digital e das mídias em
indispensáveis ao exercício da docência, conforme disposto na geral, o que pressupõe aprender a lidar com os nativos digitais.
Resolução CNE/CP nº 1/2006, que assim se expressa: Além disso, lhe é exigida, como pré-requisito para o exercício
da docência, a capacidade de trabalhar cooperativamente em
I – o conhecimento da escola como organização complexa equipe, e de compreender, interpretar e aplicar a linguagem e
que tem a função de promover a educação para e na cidadania; os instrumentos produzidos ao longo da evolução tecnológica,
II – a pesquisa, a análise e a aplicação dos resultados de econômica e organizativa. Isso, sem dúvida, lhe exige utilizar
investigações de interesse da área educacional; conhecimentos científicos e tecnológicos, em detrimento da
III – a participação na gestão de processos educativos e na sua experiência em regência, isto é, exige habilidades que o
organização e funcionamento de sistemas e instituições de curso que o titulou, na sua maioria, não desenvolveu. Desse
ensino. ponto de vista, o conjunto de atividades docentes vem
ampliando o seu raio de atuação, pois, além do domínio do
Além desses domínios, o professor precisa, conhecimento específico, são solicitadas atividades
particularmente, saber orientar, avaliar e elaborar propostas, pluridisciplinares que antecedem a regência e a sucedem ou a
isto é, interpretar e reconstruir o conhecimento. Deve transpor permeiam. As atividades de integração com a comunidade são
os saberes específicos de suas áreas de conhecimento e das as que mais o desafiam.

25 ARROYO, Miguel G. Ofício de Mestre: imagens e auto-imagens. Petrópolis: 26 Freire, Paulo. Pedagogia e Autonomia. Saberes necessários à prática

Vozes, 2000 (8 a . edição) educativa. São Paulo, Brasil: Paz e Terra, 1997. (Coleção Leitura).

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Historicamente, o docente responsabiliza-se pela escolha Questões


de determinada lógica didático-pedagógica, ameaçado pela
incerteza quanto àquilo que, no exercício de seu papel de 01. (Prefeitura de Goiânia/GO - PE II – Português – CS-
professor, deve ou não deve saber, pensar e enfrentar, ou UFG/2016). As Diretrizes Curriculares Nacionais para a
evitar as dificuldades mais frequentes que ocorrem nas suas Educação Básica visam estabelecer bases comuns nacionais
relações com os seus pares, com os estudantes e com os para:
gestores. Atualmente, mais que antes, ao escolher a (A) a educação continuada, a formação docente e a
metodologia que consiste em buscar a compreensão sobre a educação ao longo da vida.
lógica mental, a partir da qual se identifica a lógica de (B) a educação infantil, o ensino fundamental e o ensino
determinada área do conhecimento, o docente haverá de médio.
definir aquela capaz de desinstalar os sujeitos aprendizes, (C) a educação infantil, o ensino fundamental e a educação
provocar-lhes curiosidade, despertar-lhes motivos, desejos. especial.
Esse é um procedimento que contribui para o (D) o ensino fundamental, o ensino médio e o ensino
desenvolvimento da personalidade do escolar, mas pressupõe profissionalizante
chegar aos elementos essenciais do objeto de conhecimento e
suas relações gerais e singulares. 02. (IF/PE - Técnico em Assuntos Educacionais – IF-
Para atender às orientações contidas neste Parecer, o PE). Considerando as Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais
professor da Educação Básica deverá estar apto para gerir as para a Educação Básica, é CORRETO afirmar que
atividades didático-pedagógicas de sua competência se os (A) o credenciamento para a oferta de cursos e programas
cursos de formação inicial e continuada de docentes levarem de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de
em conta que, no exercício da docência, a ação do professor é Educação Profissional e Tecnológica de nível médio, na
permeada por dimensões não apenas técnicas, mas também modalidade a distância, compete aos sistemas estaduais e
políticas, éticas e estéticas, pois terão de desenvolver municipais de ensino, atendidas a regulamentação federal e as
habilidades propedêuticas, com fundamento na ética da normas complementares desses sistemas.
inovação, e de manejar conteúdos e metodologias que (B) o credenciamento para a oferta de cursos e programas
ampliem a visão política para a politicidade das técnicas e de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de
tecnologias, no âmbito de sua atuação cotidiana. Educação Profissional e Tecnológica de nível médio, na
Ao selecionar e organizar o conhecimento específico que o modalidade a distância, compete ao sistema federal de ensino,
habilite para atuar em uma ou mais etapas da Educação Básica, consideradas as especificidades regionais.
é fundamental que se considere que o egresso dos cursos de (C) o credenciamento para a oferta de cursos e programas
formação de professores deverá ter a oportunidade de de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de
reconhecer o conhecimento (conceitos, teorias, habilidades, Educação Profissional e Tecnológica de nível médio, na
procedimentos, valores) como base para a formação integral modalidade a distância, compete aos sistemas estaduais de
do estudante, uma vez que esta exige a capacidade para ensino, atendidas a regulamentação federal e as normas
análise, síntese, comprovação, comparação, valoração, complementares desses sistemas.
explicação, resolução de problemas, formulação de hipóteses, (D) o credenciamento para a oferta de cursos e programas
elaboração, execução e avaliação de projetos, entre outras, de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de
destinadas à organização e realização das atividades de Educação Profissional e Tecnológica de nível médio, na
aprendizagens. modalidade a distância, compete ao sistema federal de ensino,
É na perspectiva exposta que se concebe o trabalho atendidas as disposições das Diretrizes Curriculares Nacionais
docente na tarefa de cuidar e educar as crianças e jovens que, Gerais para a Educação Básica.
juntos, encontram-se na idade de 0 (zero) a 17 (dezessete) (E) o credenciamento para a oferta de cursos e programas
anos. Assim pensada, a fundamentação da ação docente e dos de Educação de Jovens e Adultos, de Educação Especial e de
programas de formação inicial e continuada dos profissionais Educação Profissional e Tecnológica de nível médio, na
da educação instauram-se em meio a processos tensionais de modalidade a distância, compete ao sistema federal de ensino,
caráter político, social e cultural que se refletem na eleição de atendidas as suas normas e regulamentações.
um ou outro método de aprendizagem, a partir do qual é
justificado determinado perfil de docente para a Educação 03. Quanto às orientações normativas nacionais, julgue o
Básica. item subsequente:
Se o projeto político-pedagógico, construído Em 1997, a produção de orientações normativas nacionais,
coletivamente, está assegurado por lei, resultante da visando à implantação da Educação Básica, sendo a primeira o
mobilização de muitos educadores, torna-se necessário dar Parecer CNE/CEB nº 6/97.
continuidade a essa mobilização no intuito de promover a sua ( ) Certo ( ) Errado
viabilização prática pelos docentes. Para tanto, as escolas de
formação dos profissionais da educação, sejam gestores, 04. São elementos básicos para a organização, a estrutura
professores ou especialistas, têm um papel importantíssimo e o funcionamento da escola indígena:
no sentido de incluir, em seus currículos e programas, a I – localização em terras habitadas por comunidades
temática da gestão democrática, dando ênfase à construção do indígenas, ainda que se estendam por territórios de diversos
projeto pedagógico, mediante trabalho coletivo de que todos Estados ou Municípios contíguos;
os que compõem a comunidade escolar são responsáveis. II – exclusividade de atendimento a comunidades
Nesse sentido, o professor da Educação Básica é o indígenas;
profissional que conhece as especificidades dos processos de III – ensino ministrado nas línguas maternas das
desenvolvimento e de aprendizagens, respeita os direitos dos comunidades atendidas, como uma das formas de preservação
estudantes e de suas famílias. Para isso, domina o da realidade sociolinguística de cada povo;
conhecimento teórico-metodológico e teórico-prático IV – organização escolar própria.
indispensável ao desempenho de suas funções definidas no Agora assinale a alternativa correta:
artigo 13 da LDB, no plano de carreira a que se vincula, no (A) Apenas os itens I e IV estão corretos;
regimento da escola, no projeto político-pedagógico em sua (B) Todos os itens estão corretos;
processualidade. (C) Apenas os itens II e III estão corretos;
(D) Apenas os itens I, III e IV estão corretos.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 42
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05. A Educação Infantil, que compreende: a Creche, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei
englobando as diferentes etapas do desenvolvimento da qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos
criança até 3 (três) anos e 11 (onze) meses; e a Pré-Escola, com fundamentais.
duração de 2 (dois) anos.
( ) Certo ( ) Errado Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os
fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os
Respostas direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar
da criança e do adolescente como pessoas em
01. B. / 02. C. / 03. Errado. / 04. B. / 05. Certo. desenvolvimento.

Comentários:
Estatuto da Criança e do O ECA incorporou a doutrina da proteção integral à criança
e ao adolescente, passando assim a serem sujeitos e titulares
Adolescente; de direitos fundamentais.
O direito da criança e do adolescente possui fundamento
constitucional, em especial nos artigos 227 a 229.
LEI Nº 8.069, DE 13 DE JULHO DE 1990. O art. 2º do Estatuto traz os conceitos de criança e de
DISPÕE SOBRE O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO adolescente:
ADOLESCENTE E DÁ OUTRAS PROVIDÊNCIAS. Criança é a pessoa com até 12 anos de idade incompletos.
Adolescente é a pessoa entre 12 e 18 anos de idade.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA: Faço saber que o O critério adotado para distinguir essas pessoas foi o
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: cronológico, ou seja, verifica-se apenas a idade da pessoa e
não sua capacidade de discernimento para a prática de alguma
Título I conduta.
Das Disposições Preliminares Na interpretação do ECA se levará em conta as exigências
do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e
Art. 1º Esta Lei dispõe sobre a proteção integral à criança a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas
e ao adolescente. em desenvolvimento. Em eventual semelhança de interesses
jurídicos será preciso aplicar o princípio da
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a proporcionalidade, de modo a optar pelo interesse que mais se
pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aproxime dos fins sociais da lei e do princípio da dignidade
aquela entre doze e dezoito anos de idade. humana, coluna vertebral da proteção integral e do próprio
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se Direito da Infância e da Juventude.
excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e Temos 4 princípios norteadores do ECA:
vinte e um anos de idade. A- Princípio da Proteção Integral.
Em seu artigo 227, a Constituição Federal trás o princípio
Art. 3º A criança e o adolescente gozam de todos os direitos da Proteção Integral indica o dever da família, da sociedade e
fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da do Estado de zelar pela inviolabilidade dos direitos
proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, fundamentais da criança e do adolescente, deixando-os a salvo
por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, violência, crueldade e opressão.
mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e B- Princípio da Prioridade Absoluta.
de dignidade. Também previsto no artigo 227 da Carta Magna, o
Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam- princípio da prioridade absoluta determina que a criança e o
se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de adolescente devem ser tratados com absoluta preferência,
nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, pela sociedade e. em especial, pelo Poder Público.
religião ou crença, deficiência, condição pessoal de O próprio ECA traz em quais aspectos essa prioridade
desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, absoluta deve ser observada (art. 4º, parágrafo único):
ambiente social, região e local de moradia ou outra condição a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer
que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que circunstâncias;
vivem. (incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de
relevância pública;
Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em c) preferência na formulação e na execução das políticas
geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a sociais públicas;
efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas
alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à relacionadas com a proteção à infância e à juventude.
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à C- Princípio do Respeito à Condição Peculiar da
liberdade e à convivência familiar e comunitária. Criança e do Adolescente de Pessoa em Desenvolvimento.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: Por esse princípio entendemos que as crianças e
a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer adolescentes são pessoas em condições peculiares de
circunstâncias; desenvolvimento e, por isso, apresentam hipossuficiência
b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de frente à defesa dos seus próprios interesses, além de
relevância pública; possuírem interesses especiais, assim, esta expressão significa
c) preferência na formulação e na execução das políticas que a criança e o adolescente possuem todos os direitos, de
sociais públicas; que são detentores os adultos, desde que sejam aplicáveis à
d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas sua idade, ao grau de desenvolvimento físico ou mental e à sua
relacionadas com a proteção à infância e à juventude. capacidade de autonomia e discernimento.
D- Princípio da Participação Popular.
Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de Este princípio decorre do artigo, 204, II da Constituição
qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, Federal, que garante a participação da população, por meio de

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organizações representativas, na formulação das políticas Art. 9º O poder público, as instituições e os empregadores
públicas e no controle das ações em todos os níveis propiciarão condições adequadas ao aleitamento materno,
relacionados à infância e à juventude. inclusive aos filhos de mães submetidas a medida privativa de
liberdade.
Título II § 1o Os profissionais das unidades primárias de saúde
Dos Direitos Fundamentais desenvolverão ações sistemáticas, individuais ou coletivas,
Capítulo I visando ao planejamento, à implementação e à avaliação de
Do Direito à Vida e à Saúde ações de promoção, proteção e apoio ao aleitamento materno
e à alimentação complementar saudável, de forma
Art. 7º A criança e o adolescente têm direito a proteção à contínua. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais § 2o Os serviços de unidades de terapia intensiva neonatal
públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento deverão dispor de banco de leite humano ou unidade de coleta
sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. de leite humano. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

Art. 8o É assegurado a todas as mulheres o acesso aos Art. 10. Os hospitais e demais estabelecimentos de atenção
programas e às políticas de saúde da mulher e de à saúde de gestantes, públicos e particulares, são obrigados a:
planejamento reprodutivo e, às gestantes, nutrição adequada, I - manter registro das atividades desenvolvidas, através
atenção humanizada à gravidez, ao parto e ao puerpério e de prontuários individuais, pelo prazo de dezoito anos;
atendimento pré-natal, perinatal e pós-natal integral no II - identificar o recém-nascido mediante o registro de sua
âmbito do Sistema Único de Saúde. (Redação dada pela Lei impressão plantar e digital e da impressão digital da mãe, sem
nº 13.257, de 2016) prejuízo de outras formas normatizadas pela autoridade
§ 1o O atendimento pré-natal será realizado por administrativa competente;
profissionais da atenção primária. (Redação dada pela Lei III - proceder a exames visando ao diagnóstico e
nº 13.257, de 2016) terapêutica de anormalidades no metabolismo do recém-
§ 2o Os profissionais de saúde de referência da gestante nascido, bem como prestar orientação aos pais;
garantirão sua vinculação, no último trimestre da gestação, ao IV - fornecer declaração de nascimento onde constem
estabelecimento em que será realizado o parto, garantido o necessariamente as intercorrências do parto e do
direito de opção da mulher. (Redação dada pela Lei nº desenvolvimento do neonato;
13.257, de 2016) V - manter alojamento conjunto, possibilitando ao neonato
§ 3o Os serviços de saúde onde o parto for realizado a permanência junto à mãe.
assegurarão às mulheres e aos seus filhos recém-nascidos alta VI - acompanhar a prática do processo de amamentação,
hospitalar responsável e contra referência na atenção prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a
primária, bem como o acesso a outros serviços e a grupos de mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo
apoio à amamentação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, técnico já existente. (Incluído pela Lei nº 13.436, de
de 2016) 2017) (Vigência)
§ 4o Incumbe ao poder público proporcionar assistência
psicológica à gestante e à mãe, no período pré e pós-natal, Art. 11. É assegurado acesso integral às linhas de cuidado
inclusive como forma de prevenir ou minorar as voltadas à saúde da criança e do adolescente, por intermédio
consequências do estado puerperal. do Sistema Único de Saúde, observado o princípio da equidade
§ 5o A assistência referida no § 4o deste artigo deverá ser no acesso a ações e serviços para promoção, proteção e
prestada também a gestantes e mães que manifestem recuperação da saúde. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
interesse em entregar seus filhos para adoção, bem como a de 2016)
gestantes e mães que se encontrem em situação de privação de § 1o A criança e o adolescente com deficiência serão
liberdade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) atendidos, sem discriminação ou segregação, em suas
§ 6o A gestante e a parturiente têm direito a 1 (um) necessidades gerais de saúde e específicas de habilitação e
acompanhante de sua preferência durante o período do pré- reabilitação. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
natal, do trabalho de parto e do pós-parto § 2o Incumbe ao poder público fornecer gratuitamente,
imediato. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) àqueles que necessitarem, medicamentos, órteses, próteses e
§ 7o A gestante deverá receber orientação sobre outras tecnologias assistivas relativas ao tratamento,
aleitamento materno, alimentação complementar saudável e habilitação ou reabilitação para crianças e adolescentes, de
crescimento e desenvolvimento infantil, bem como sobre acordo com as linhas de cuidado voltadas às suas necessidades
formas de favorecer a criação de vínculos afetivos e de específicas. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
estimular o desenvolvimento integral da criança. (Incluído § 3o Os profissionais que atuam no cuidado diário ou
pela Lei nº 13.257, de 2016) frequente de crianças na primeira infância receberão
§ 8o A gestante tem direito a acompanhamento saudável formação específica e permanente para a detecção de sinais de
durante toda a gestação e a parto natural cuidadoso, risco para o desenvolvimento psíquico, bem como para o
estabelecendo-se a aplicação de cesariana e outras acompanhamento que se fizer necessário. (Incluído pela
intervenções cirúrgicas por motivos médicos. (Incluído Lei nº 13.257, de 2016)
pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 9o A atenção primária à saúde fará a busca ativa da Art. 12. Os estabelecimentos de atendimento à saúde,
gestante que não iniciar ou que abandonar as consultas de pré- inclusive as unidades neonatais, de terapia intensiva e de
natal, bem como da puérpera que não comparecer às consultas cuidados intermediários, deverão proporcionar condições
pós-parto. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) para a permanência em tempo integral de um dos pais ou
§ 10. Incumbe ao poder público garantir, à gestante e à responsável, nos casos de internação de criança ou
mulher com filho na primeira infância que se encontrem sob adolescente. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
custódia em unidade de privação de liberdade, ambiência que
atenda às normas sanitárias e assistenciais do Sistema Único Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo
de Saúde para o acolhimento do filho, em articulação com o físico, de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos
sistema de ensino competente, visando ao desenvolvimento contra criança ou adolescente serão obrigatoriamente
integral da criança. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)

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comunicados ao Conselho Tutelar da respectiva localidade, aplicação a todas as crianças, nos seus primeiros dezoito
sem prejuízo de outras providências legais. meses de vida, de protocolo ou outro instrumento construído
§ 1o As gestantes ou mães que manifestem interesse em com a finalidade de facilitar a detecção, em consulta pediátrica
entregar seus filhos para adoção serão obrigatoriamente de acompanhamento da criança, de risco para o seu
encaminhadas, sem constrangimento, à Justiça da Infância e da desenvolvimento psíquico.
Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2o Os serviços de saúde em suas diferentes portas de Capítulo II
entrada, os serviços de assistência social em seu componente Do Direito à Liberdade, ao Respeito e à Dignidade
especializado, o Centro de Referência Especializado de
Assistência Social (Creas) e os demais órgãos do Sistema de Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade,
Garantia de Direitos da Criança e do Adolescente deverão ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo
conferir máxima prioridade ao atendimento das crianças na de desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos
faixa etária da primeira infância com suspeita ou confirmação e sociais garantidos na Constituição e nas leis.
de violência de qualquer natureza, formulando projeto
terapêutico singular que inclua intervenção em rede e, se Art. 16. O direito à liberdade compreende os seguintes
necessário, acompanhamento domiciliar. (Incluído pela aspectos:
Lei nº 13.257, de 2016) I - ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços
comunitários, ressalvadas as restrições legais;
Art. 14. O Sistema Único de Saúde promoverá programas II - opinião e expressão;
de assistência médica e odontológica para a prevenção das III - crença e culto religioso;
enfermidades que ordinariamente afetam a população infantil, IV - brincar, praticar esportes e divertir-se;
e campanhas de educação sanitária para pais, educadores e V - participar da vida familiar e comunitária, sem
alunos. discriminação;
§ 1o É obrigatória a vacinação das crianças nos casos VI - participar da vida política, na forma da lei;
recomendados pelas autoridades sanitárias. (Renumerado VII - buscar refúgio, auxílio e orientação.
do parágrafo único pela Lei nº 13.257, de 2016)
§ 2o O Sistema Único de Saúde promoverá a atenção à Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da
saúde bucal das crianças e das gestantes, de forma transversal, integridade física, psíquica e moral da criança e do
integral e inter setorial com as demais linhas de cuidado adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da
direcionadas à mulher e à criança. (Incluído pela Lei nº identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos
13.257, de 2016) espaços e objetos pessoais.
§ 3o A atenção odontológica à criança terá função educativa
protetiva e será prestada, inicialmente, antes de o bebê nascer, Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e
por meio de aconselhamento pré-natal, e, posteriormente, no do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento
sexto e no décimo segundo anos de vida, com orientações desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou
sobre saúde bucal. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) constrangedor.
§ 4o A criança com necessidade de cuidados odontológicos
especiais será atendida pelo Sistema Único de Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser
Saúde. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
§ 5º É obrigatória a aplicação a todas as crianças, nos seus tratamento cruel ou degradante, como formas de correção,
primeiros dezoito meses de vida, de protocolo ou outro disciplina, educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais,
instrumento construído com a finalidade de facilitar a pelos integrantes da família ampliada, pelos responsáveis,
detecção, em consulta pediátrica de acompanhamento da pelos agentes públicos executores de medidas socioeducativas
criança, de risco para o seu desenvolvimento ou por qualquer pessoa encarregada de cuidar deles, tratá-los,
psíquico. (Incluído pela Lei nº 13.438, de 2017) educá-los ou protegê-los.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
Comentários: I - castigo físico: ação de natureza disciplinar ou punitiva
No Título II da Lei 8.069 está disposto os direitos aplicada com o uso da força física sobre a criança ou o
fundamentais das crianças e dos adolescentes, estes são adolescente que resulte em:
aqueles mesmos outorgados aos adultos, mais outros especiais a) sofrimento físico; ou
e conferidos em respeito a condição peculiar de pessoa em b) lesão;
desenvolvimento. II - tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma
No Capítulo II temos os direitos à vida e a saúde. cruel de tratamento em relação à criança ou ao adolescente
Atenção! No ano de 2016 esse capítulo sofreu relevantes que:
alterações em razão da publicação da Lei nº 13.257 que dispõe a) humilhe;
acerca da Primeira Infância. Observa-se, que o direito à vida, b) ameace gravemente; ou
embutido no direito à saúde, é considerado o mais elementar c) ridicularize.
e absoluto dos direitos fundamentais, já que este é
indispensável ao exercício dos demais direitos, ficando a cargo Art. 18-B. Os pais, os integrantes da família ampliada, os
do Estado garanti-los através de políticas públicas. responsáveis, os agentes públicos executores de medidas
Atenção! Em virtude da Lei n.º 13.438, os artigos 10 e 14 socioeducativas ou qualquer pessoa encarregada de cuidar de
sofreram adição de incisos e parágrafos, dessa forma, os crianças e de adolescentes, tratá-los, educá-los ou protegê-los
hospitais e demais estabelecimentos de atenção à saúde de que utilizarem castigo físico ou tratamento cruel ou
gestantes, públicos e particulares, passam a ser obrigados a degradante como formas de correção, disciplina, educação ou
acompanhar a prática do processo de amamentação, qualquer outro pretexto estarão sujeitos, sem prejuízo de
prestando orientações quanto à técnica adequada, enquanto a outras sanções cabíveis, às seguintes medidas, que serão
mãe permanecer na unidade hospitalar, utilizando o corpo aplicadas de acordo com a gravidade do caso:
técnico já existente, conforme agora o artigo 10º, VI. I - encaminhamento a programa oficial ou comunitário de
No que diz respeito ao artigo 14 §5º foi acrescido a proteção à família;
obrigatoriedade ao Sistema Único de Saúde promover a

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II - encaminhamento a tratamento psicológico ou e dos incisos I a IV do caput do art. 129 desta Lei. (Redação
psiquiátrico; dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
III - encaminhamento a cursos ou programas de § 4o Será garantida a convivência da criança e do adolescente
orientação; com a mãe ou o pai privado de liberdade, por meio de visitas
IV - obrigação de encaminhar a criança a tratamento periódicas promovidas pelo responsável ou, nas hipóteses de
especializado; acolhimento institucional, pela entidade responsável,
V - advertência. independentemente de autorização judicial.
Parágrafo único. As medidas previstas neste artigo serão § 5o Será garantida a convivência integral da criança com a
aplicadas pelo Conselho Tutelar, sem prejuízo de outras mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional.
providências legais. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 6o A mãe adolescente será assistida por equipe
Comentários: especializada multidisciplinar. (Incluído pela Lei nº 13.509,
O direito à liberdade é mais amplo do que o direito de ir e de 2017)
vir, sendo compreendido pelo amplo acesso a logradouros e
espaços comunitários, a livre opinião e expressão, crença e Art. 19-A. A gestante ou mãe que manifeste interesse em
culto religioso, bem como ao direito de participar sem entregar seu filho para adoção, antes ou logo após o
discriminação da vida familiar, comunitária e da vida política, nascimento, será encaminhada à Justiça da Infância e da
na forma da lei. Juventude. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Há, ainda, o especialíssimo direito de brincar, praticar § 1o A gestante ou mãe será ouvida pela equipe inter
esportes e divertir-se, absolutamente condizente com a profissional da Justiça da Infância e da Juventude, que
condição infanto-juvenil, aliás, tão agradável também ao apresentará relatório à autoridade judiciária, considerando
adulto que busca uma vida feliz e plena. inclusive os eventuais efeitos do estado gestacional e
Entretanto, esse direito à liberdade não é absoluto. É puerperal. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
importante lembrar que crianças e adolescentes estão § 2o De posse do relatório, a autoridade judiciária poderá
submetidos ao poder familiar dos pais ou à tutela ou guarda determinar o encaminhamento da gestante ou mãe, mediante
dos responsáveis, e por isso, a eles devem respeito e sua expressa concordância, à rede pública de saúde e
subordinação para efeito de criação e educação, cabendo-lhes assistência social para atendimento especializado. (Incluído
obediência e reverência. pela Lei nº 13.509, de 2017)
Outra restrição ao direito de liberdade, é a possibilidade do § 3o A busca à família extensa, conforme definida nos
adolescente de ser apreendido em flagrante pela prática de ato termos do parágrafo único do art. 25 desta Lei, respeitará o
infracional ou por ordem escrita e fundamentada da prazo máximo de 90 (noventa) dias, prorrogável por igual
autoridade judiciária competente. Observa-se que as período. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
limitações à liberdade são impostas devido a própria condição § 4o Na hipótese de não haver a indicação do genitor e de
de pessoas em desenvolvimento, levando sempre em não existir outro representante da família extensa apto a
consideração o seu bem estar. receber a guarda, a autoridade judiciária competente deverá
Atenção! A criança não pode ser privada de liberdade e, no decretar a extinção do poder familiar e determinar a colocação
caso de flagrante de ato infracional, tão somente, será da criança sob a guarda provisória de quem estiver habilitado
encaminhada ao Conselho Tutelar, na companhia dos pais ou a adotá-la ou de entidade que desenvolva programa de
responsável. acolhimento familiar ou institucional. (Incluído pela Lei nº
13.509, de 2017)
Capítulo III § 5o Após o nascimento da criança, a vontade da mãe ou de
Do Direito à Convivência Familiar e Comunitária ambos os genitores, se houver pai registral ou pai indicado,
Seção I deve ser manifestada na audiência a que se refere o § 1o do art.
Disposições Gerais 166 desta Lei, garantido o sigilo sobre a entrega. (Incluído pela
Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 19. É direito da criança e do adolescente ser criado e § 6o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família § 7o Os detentores da guarda possuem o prazo de 15
substituta, assegurada a convivência familiar e comunitária, (quinze) dias para propor a ação de adoção, contado do dia
em ambiente que garanta seu desenvolvimento seguinte à data do término do estágio de
integral. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) convivência. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 1o Toda criança ou adolescente que estiver inserido em § 8o Na hipótese de desistência pelos genitores -
programa de acolhimento familiar ou institucional terá sua manifestada em audiência ou perante a equipe inter
situação reavaliada, no máximo, a cada 6 (seis) meses, profissional - da entrega da criança após o nascimento, a
devendo a autoridade judiciária competente, com base em criança será mantida com os genitores, e será determinado
relatório elaborado por equipe inter profissional ou pela Justiça da Infância e da Juventude o acompanhamento
multidisciplinar, decidir de forma fundamentada pela familiar pelo prazo de 180 (cento e oitenta) dias. (Incluído
possibilidade de reintegração familiar ou colocação em família pela Lei nº 13.509, de 2017)
substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28 § 9o É garantido à mãe o direito ao sigilo sobre o
desta Lei. nascimento, respeitado o disposto no art. 48 desta
§ 2o A permanência da criança e do adolescente em Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
programa de acolhimento institucional não se prolongará por § 10. (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de
mais de 18 (dezoito meses), salvo comprovada necessidade 2017)
que atenda ao seu superior interesse, devidamente
fundamentada pela autoridade judiciária. (Redação dada Art. 19-B. A criança e o adolescente em programa de
pela Lei nº 13.509, de 2017) acolhimento institucional ou familiar poderão participar de
§ 3o A manutenção ou a reintegração de criança ou programa de apadrinhamento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
adolescente à sua família terá preferência em relação a 2017)
qualquer outra providência, caso em que será esta incluída em § 1o O apadrinhamento consiste em estabelecer e
serviços e programas de proteção, apoio e promoção, nos proporcionar à criança e ao adolescente vínculos externos à
termos do § 1o do art. 23, dos incisos I e IV do caput do art. 101 instituição para fins de convivência familiar e comunitária e

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colaboração com o seu desenvolvimento nos aspectos social, superior interesse, devidamente fundamentada pela
moral, físico, cognitivo, educacional e financeiro. (Incluído autoridade judiciária. Em relação a convivência, será garantida
pela Lei nº 13.509, de 2017) a mãe adolescente que estiver em acolhimento institucional a
§ 2o (VETADO). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) convivência integral com a criança, sendo assistida por equipe
§ 3o Pessoas jurídicas podem apadrinhar criança ou especializada multidisciplinar. Nos casos de gestantes ou mães
adolescente a fim de colaborar para o seu que manifeste o interesse em entregar seu filho para adoção,
desenvolvimento. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) antes ou logo após o nascimento será encaminhado à Justiça
§ 4o O perfil da criança ou do adolescente a ser da Infância e da Juventude, sendo levado em consideração para
apadrinhado será definido no âmbito de cada programa de tal, os efeitos do estado gestacional e puerperal.
apadrinhamento, com prioridade para crianças ou Acrescido o Art.19-B, que trata sobre o programa de
adolescentes com remota possibilidade de reinserção familiar apadrinhamento, que consiste em proporcionar à criança e ao
ou colocação em família adotiva. (Incluído pela Lei nº adolescentes, que estão em programa de acolhimento
13.509, de 2017) institucional, vínculos externos à instituição para fins de
§ 5o Os programas ou serviços de apadrinhamento convivência familiar e comunitária, colaborando assim para o
apoiados pela Justiça da Infância e da Juventude poderão ser seu desenvolvimento nos aspectos sociais, morais, físicos,
executados por órgãos públicos ou por organizações da cognitivos, educacionais e financeiros. Assim, deverá ser
sociedade civil. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) respeitada para tal as exigências contidas na Lei.
§ 6o Se ocorrer violação das regras de apadrinhamento, os
responsáveis pelo programa e pelos serviços de acolhimento Seção II
deverão imediatamente notificar a autoridade judiciária Da Família Natural
competente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade
Art. 20. Os filhos, havidos ou não da relação do casamento, formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou
proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e
filiação. filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos
com os quais a criança ou adolescente convive e mantém
Art. 21. O poder familiar será exercido, em igualdade de vínculos de afinidade e afetividade.
condições, pelo pai e pela mãe, na forma do que dispuser a
legislação civil, assegurado a qualquer deles o direito de, em Art. 26. Os filhos havidos fora do casamento poderão ser
caso de discordância, recorrer à autoridade judiciária reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no
competente para a solução da divergência. próprio termo de nascimento, por testamento, mediante
escritura ou outro documento público, qualquer que seja a
Art. 22. Aos pais incumbe o dever de sustento, guarda e origem da filiação.
educação dos filhos menores, cabendo-lhes ainda, no interesse Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o
destes, a obrigação de cumprir e fazer cumprir as nascimento do filho ou suceder-lhe ao falecimento, se deixar
determinações judiciais. descendentes.
Parágrafo único. A mãe e o pai, ou os responsáveis, têm
direitos iguais e deveres e responsabilidades compartilhados Art. 27. O reconhecimento do estado de filiação é direito
no cuidado e na educação da criança, devendo ser resguardado personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser
o direito de transmissão familiar de suas crenças e culturas, exercitado contra os pais ou seus herdeiros, sem qualquer
assegurados os direitos da criança estabelecidos nesta restrição, observado o segredo de Justiça.
Lei. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
Seção III
Art. 23. A falta ou a carência de recursos materiais não Da Família Substituta
constitui motivo suficiente para a perda ou a suspensão Subseção I
do poder familiar. Disposições Gerais
§ 1o Não existindo outro motivo que por si só autorize a
decretação da medida, a criança ou o adolescente será mantido Art. 28. A colocação em família substituta far-se-á
em sua família de origem, a qual deverá obrigatoriamente ser mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da
incluída em serviços e programas oficiais de proteção, apoio e situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta
promoção. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016) Lei.
§ 2o A condenação criminal do pai ou da mãe não implicará § 1o Sempre que possível, a criança ou o adolescente será
a destituição do poder familiar, exceto na hipótese de previamente ouvido por equipe inter profissional, respeitado
condenação por crime doloso, sujeito à pena de reclusão, seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre
contra o próprio filho ou filha. as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente
considerada
Art. 24. A perda e a suspensão do poder familiar serão § 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será
decretadas judicialmente, em procedimento contraditório, nos necessário seu consentimento, colhido em audiência.
casos previstos na legislação civil, bem como na hipótese de § 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de
descumprimento injustificado dos deveres e obrigações a que parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de
alude o art. 22. evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida.
§ 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção,
Comentários: tutela ou guarda da mesma família substituta, ressalvada a
Atenção! O texto do Capítulo III, Seção I, que trata sobre as comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que
disposições gerais do Direito à Convivência Familiar e justifique plenamente a excepcionalidade de solução diversa,
Comunitária, sofreu relevantes alterações após a Lei 13.257. procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento
A permanência da criança e do adolescente em programa definitivo dos vínculos fraternais.
de acolhimento não se prolongará por mais de dezoito § 5o A colocação da criança ou adolescente em família
meses, salvo comprovada necessidade que atenda ao seu substituta será precedida de sua preparação gradativa e

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acompanhamento posterior, realizados pela equipe inter acolhimento, sob a forma de guarda, de criança ou adolescente
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, afastado do convívio familiar.
preferencialmente com o apoio dos técnicos responsáveis pela § 1o A inclusão da criança ou adolescente em programas de
execução da política municipal de garantia do direito à acolhimento familiar terá preferência a seu acolhimento
convivência familiar. institucional, observado, em qualquer caso, o caráter
§ 6o Em se tratando de criança ou adolescente indígena ou temporário e excepcional da medida, nos termos desta Lei.
proveniente de comunidade remanescente de quilombo, é § 2o Na hipótese do § 1o deste artigo a pessoa ou casal
ainda obrigatório. cadastrado no programa de acolhimento familiar poderá
I - que sejam consideradas e respeitadas sua identidade receber a criança ou adolescente mediante guarda, observado
social e cultural, os seus costumes e tradições, bem como suas o disposto nos arts. 28 a 33 desta Lei.
instituições, desde que não sejam incompatíveis com os § 3o A União apoiará a implementação de serviços de
direitos fundamentais reconhecidos por esta Lei e pela acolhimento em família acolhedora como política pública, os
Constituição Federal; quais deverão dispor de equipe que organize o acolhimento
II - que a colocação familiar ocorra prioritariamente no temporário de crianças e de adolescentes em residências de
seio de sua comunidade ou junto a membros da mesma famílias selecionadas, capacitadas e acompanhadas que não
etnia; estejam no cadastro de adoção. (Incluído pela Lei nº 13.257,
III - a intervenção e oitiva de representantes do órgão de 2016)
federal responsável pela política indigenista, no caso de § 4o Poderão ser utilizados recursos federais, estaduais,
crianças e adolescentes indígenas, e de antropólogos, perante distritais e municipais para a manutenção dos serviços de
a equipe inter profissional ou multidisciplinar que irá acolhimento em família acolhedora, facultando-se o repasse de
acompanhar o caso. recursos para a própria família acolhedora. (Incluído pela
Lei nº 13.257, de 2016)
Art. 29. Não se deferirá colocação em família substituta a
pessoa que revele, por qualquer modo, incompatibilidade com Art. 35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo,
a natureza da medida ou não ofereça ambiente familiar mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério
adequado. Público.

Art. 30. A colocação em família substituta não admitirá Subseção III


transferência da criança ou adolescente a terceiros ou a Da Tutela
entidades governamentais ou não-governamentais, sem
autorização judicial. Art. 36. A tutela será deferida, nos termos da lei civil, a
pessoa de até 18 (dezoito) anos incompletos.
Art. 31. A colocação em família substituta estrangeira Parágrafo único. O deferimento da tutela pressupõe a
constitui medida excepcional, somente admissível na prévia decretação da perda ou suspensão do poder familiar e
modalidade de adoção. implica necessariamente o dever de guarda.

Art. 32. Ao assumir a guarda ou a tutela, o responsável Art. 37. O tutor nomeado por testamento ou qualquer
prestará compromisso de bem e fielmente desempenhar o documento autêntico, conforme previsto no parágrafo único
encargo, mediante termo nos autos. do art. 1.729 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 -
Código Civil, deverá, no prazo de 30 (trinta) dias após a
Subseção II abertura da sucessão, ingressar com pedido destinado ao
Da Guarda controle judicial do ato, observando o procedimento previsto
nos arts. 165 a 170 desta Lei.
Art. 33. A guarda obriga a prestação de assistência Parágrafo único. Na apreciação do pedido, serão
material, moral e educacional à criança ou adolescente, observados os requisitos previstos nos arts. 28 e 29 desta Lei,
conferindo a seu detentor o direito de opor-se a terceiros, somente sendo deferida a tutela à pessoa indicada na
inclusive aos pais. disposição de última vontade, se restar comprovado que a
§ 1º A guarda destina-se a regularizar a posse de fato, medida é vantajosa ao tutelando e que não existe outra pessoa
podendo ser deferida, liminar ou incidentalmente, nos em melhores condições de assumi-la.
procedimentos de tutela e adoção, exceto no de adoção por
estrangeiros. Art. 38. Aplica-se à destituição da tutela o disposto no art.
§ 2º Excepcionalmente, deferir-se-á a guarda, fora dos 24.
casos de tutela e adoção, para atender a situações peculiares
ou suprir a falta eventual dos pais ou responsável, podendo ser Subseção IV
deferido o direito de representação para a prática de atos Da Adoção
determinados.
§ 3º A guarda confere à criança ou adolescente a condição Art. 39. A adoção de criança e de adolescente reger-se-á
de dependente, para todos os fins e efeitos de direito, inclusive segundo o disposto nesta Lei.
previdenciários. § 1o A adoção é medida excepcional e irrevogável, à qual se
§ 4o Salvo expressa e fundamentada determinação em deve recorrer apenas quando esgotados os recursos de
contrário, da autoridade judiciária competente, ou quando a manutenção da criança ou adolescente na família natural ou
medida for aplicada em preparação para adoção, o extensa, na forma do parágrafo único do art. 25 desta Lei.
deferimento da guarda de criança ou adolescente a terceiros § 2o É vedada a adoção por procuração.
não impede o exercício do direito de visitas pelos pais, assim § 3o Em caso de conflito entre direitos e interesses do
como o dever de prestar alimentos, que serão objeto de adotando e de outras pessoas, inclusive seus pais biológicos,
regulamentação específica, a pedido do interessado ou do devem prevalecer os direitos e os interesses do
Ministério Público. adotando. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 34. O poder público estimulará, por meio de
assistência jurídica, incentivos fiscais e subsídios, o

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Art. 40. O adotando deve contar com, no máximo, dezoito § 3o Em caso de adoção por pessoa ou casal residente ou
anos à data do pedido, salvo se já estiver sob a guarda ou tutela domiciliado fora do País, o estágio de convivência será de, no
dos adotantes. mínimo, 30 (trinta) dias e, no máximo, 45 (quarenta e cinco)
dias, prorrogável por até igual período, uma única vez,
Art. 41. A adoção atribui a condição de filho ao adotado, mediante decisão fundamentada da autoridade
com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, judiciária. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os § 3o-A. Ao final do prazo previsto no § 3o deste artigo,
impedimentos matrimoniais. deverá ser apresentado laudo fundamentado pela equipe
§ 1º Se um dos cônjuges ou concubinos adota o filho do mencionada no § 4o deste artigo, que recomendará ou não o
outro, mantêm-se os vínculos de filiação entre o adotado e o deferimento da adoção à autoridade judiciária. (Incluído
cônjuge ou concubino do adotante e os respectivos parentes. pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2º É recíproco o direito sucessório entre o adotado, seus § 4o O estágio de convivência será acompanhado pela
descendentes, o adotante, seus ascendentes, descendentes e equipe inter profissional a serviço da Justiça da Infância e da
colaterais até o 4º grau, observada a ordem de vocação Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos
hereditária. responsáveis pela execução da política de garantia do direito à
convivência familiar, que apresentarão relatório minucioso
Art. 42. Podem adotar os maiores de 18 (dezoito) anos, acerca da conveniência do deferimento da medida.
independentemente do estado civil. § 5o O estágio de convivência será cumprido no território
§ 1º Não podem adotar os ascendentes e os irmãos do nacional, preferencialmente na comarca de residência da
adotando. criança ou adolescente, ou, a critério do juiz, em cidade
§ 2o Para adoção conjunta, é indispensável que os limítrofe, respeitada, em qualquer hipótese, a competência do
adotantes sejam casados civilmente ou mantenham união juízo da comarca de residência da criança. (Incluído pela
estável, comprovada a estabilidade da família. Lei nº 13.509, de 2017)
§ 3º O adotante há de ser, pelo menos, dezesseis anos mais
velho do que o adotando. Art. 47. O vínculo da adoção constitui-se por sentença
§ 4o Os divorciados, os judicialmente separados e os ex judicial, que será inscrita no registro civil mediante mandado
companheiros podem adotar conjuntamente, contanto que do qual não se fornecerá certidão.
acordem sobre a guarda e o regime de visitas e desde que o § 1º A inscrição consignará o nome dos adotantes como
estágio de convivência tenha sido iniciado na constância do pais, bem como o nome de seus ascendentes.
período de convivência e que seja comprovada a existência de § 2º O mandado judicial, que será arquivado, cancelará o
vínculos de afinidade e afetividade com aquele não detentor da registro original do adotado.
guarda, que justifiquem a excepcionalidade da concessão. § 3o A pedido do adotante, o novo registro poderá ser
§ 5o Nos casos do § 4o deste artigo, desde que demonstrado lavrado no Cartório do Registro Civil do Município de sua
efetivo benefício ao adotando, será assegurada a guarda residência.
compartilhada, conforme previsto no art. 1.584 da Lei § 4o Nenhuma observação sobre a origem do ato poderá
no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil constar nas certidões do registro.
§ 6o A adoção poderá ser deferida ao adotante que, após § 5o A sentença conferirá ao adotado o nome do adotante
inequívoca manifestação de vontade, vier a falecer no curso do e, a pedido de qualquer deles, poderá determinar a
procedimento, antes de prolatada a sentença. modificação do prenome.
§ 6o Caso a modificação de prenome seja requerida pelo
Art. 43. A adoção será deferida quando apresentar reais adotante, é obrigatória a oitiva do adotando, observado o
vantagens para o adotando e fundar-se em motivos legítimos. disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
§ 7o A adoção produz seus efeitos a partir do trânsito em
Art. 44. Enquanto não der conta de sua administração e julgado da sentença constitutiva, exceto na hipótese prevista
saldar o seu alcance, não pode o tutor ou o curador adotar o no § 6o do art. 42 desta Lei, caso em que terá força retroativa à
pupilo ou o curatelado. data do óbito.
§ 8o O processo relativo à adoção assim como outros a ele
Art. 45. A adoção depende do consentimento dos pais ou relacionados serão mantidos em arquivo, admitindo-se seu
do representante legal do adotando. armazenamento em microfilme ou por outros meios, garantida
§ 1º. O consentimento será dispensado em relação à a sua conservação para consulta a qualquer tempo.
criança ou adolescente cujos pais sejam desconhecidos ou § 9º Terão prioridade de tramitação os processos de
tenham sido destituídos do poder familiar. adoção em que o adotando for criança ou adolescente com
§ 2º. Em se tratando de adotando maior de doze anos de deficiência ou com doença crônica.
idade, será também necessário o seu consentimento. § 10. O prazo máximo para conclusão da ação de adoção
será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável uma única vez por
Art. 46. A adoção será precedida de estágio de convivência igual período, mediante decisão fundamentada da autoridade
com a criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90 judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
(noventa) dias, observadas a idade da criança ou adolescente
e as peculiaridades do caso. (Redação dada pela Lei nº Art. 48. O adotado tem direito de conhecer sua origem
13.509, de 2017) biológica, bem como de obter acesso irrestrito ao processo no
§ 1o O estágio de convivência poderá ser dispensado se o qual a medida foi aplicada e seus eventuais incidentes, após
adotando já estiver sob a tutela ou guarda legal do adotante completar 18 (dezoito) anos.
durante tempo suficiente para que seja possível avaliar a Parágrafo único. O acesso ao processo de adoção poderá
conveniência da constituição do vínculo. ser também deferido ao adotado menor de 18 (dezoito) anos,
§ 2o A simples guarda de fato não autoriza, por si só, a a seu pedido, assegurada orientação e assistência jurídica e
dispensa da realização do estágio de convivência. psicológica.
§ 2o-A. O prazo máximo estabelecido no caput deste artigo
pode ser prorrogado por até igual período, mediante decisão Art. 49. A morte dos adotantes não restabelece o poder
fundamentada da autoridade judiciária. (Incluído pela familiar dos pais naturais.
Lei nº 13.509, de 2017)

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Art. 50. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ocorrência de má-fé ou qualquer das situações previstas nos
ou foro regional, um registro de crianças e adolescentes em arts. 237 ou 238 desta Lei.
condições de serem adotados e outro de pessoas interessadas § 14. Nas hipóteses previstas no § 13 deste artigo, o
na adoção. candidato deverá comprovar, no curso do procedimento, que
§ 1º O deferimento da inscrição dar-se-á após prévia preenche os requisitos necessários à adoção, conforme
consulta aos órgãos técnicos do juizado, ouvido o Ministério previsto nesta Lei.
Público. § 15. Será assegurada prioridade no cadastro a pessoas
§ 2º Não será deferida a inscrição se o interessado não interessadas em adotar criança ou adolescente com
satisfazer os requisitos legais, ou verificada qualquer das deficiência, com doença crônica ou com necessidades
hipóteses previstas no art. 29. específicas de saúde, além de grupo de irmãos. (Incluído
§ 3o A inscrição de postulantes à adoção será precedida de pela Lei nº 13.509, de 2017)
um período de preparação psicossocial e jurídica, orientado
pela equipe técnica da Justiça da Infância e da Juventude, Art. 51. Considera-se adoção internacional aquela na qual
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela o pretendente possui residência habitual em país-parte da
execução da política municipal de garantia do direito à Convenção de Haia, de 29 de maio de 1993, Relativa à Proteção
convivência familiar. das Crianças e à Cooperação em Matéria de Adoção
§ 4o Sempre que possível e recomendável, a preparação Internacional, promulgada pelo Decreto no 3.087, de 21 junho
referida no § 3o deste artigo incluirá o contato com crianças e de 1999, e deseja adotar criança em outro país-parte da
adolescentes em acolhimento familiar ou institucional em Convenção. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
condições de serem adotados, a ser realizado sob a orientação, § 1o A adoção internacional de criança ou adolescente
supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça da Infância brasileiro ou domiciliado no Brasil somente terá lugar quando
e da Juventude, com apoio dos técnicos responsáveis pelo restar comprovado:
programa de acolhimento e pela execução da política I - que a colocação em família adotiva é a solução adequada
municipal de garantia do direito à convivência familiar. ao caso concreto; (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 5o Serão criados e implementados cadastros estaduais e II - que foram esgotadas todas as possibilidades de
nacional de crianças e adolescentes em condições de serem colocação da criança ou adolescente em família adotiva
adotados e de pessoas ou casais habilitados à adoção. brasileira, com a comprovação, certificada nos autos, da
§ 6o Haverá cadastros distintos para pessoas ou casais inexistência de adotantes habilitados residentes no Brasil com
residentes fora do País, que somente serão consultados na perfil compatível com a criança ou adolescente, após consulta
inexistência de postulantes nacionais habilitados nos aos cadastros mencionados nesta Lei; (Redação dada pela Lei
cadastros mencionados no § 5o deste artigo. nº 13.509, de 2017)
§ 7o As autoridades estaduais e federais em matéria de III - que, em se tratando de adoção de adolescente, este foi
adoção terão acesso integral aos cadastros, incumbindo-lhes a consultado, por meios adequados ao seu estágio de
troca de informações e a cooperação mútua, para melhoria do desenvolvimento, e que se encontra preparado para a medida,
sistema. mediante parecer elaborado por equipe inter profissional,
§ 8o A autoridade judiciária providenciará, no prazo de 48 observado o disposto nos §§ 1o e 2o do art. 28 desta Lei.
(quarenta e oito) horas, a inscrição das crianças e adolescentes § 2o Os brasileiros residentes no exterior terão preferência
em condições de serem adotados que não tiveram colocação aos estrangeiros, nos casos de adoção internacional de criança
familiar na comarca de origem, e das pessoas ou casais que ou adolescente brasileiro.
tiveram deferida sua habilitação à adoção nos cadastros § 3o A adoção internacional pressupõe a intervenção das
estadual e nacional referidos no § 5o deste artigo, sob pena de Autoridades Centrais Estaduais e Federal em matéria de
responsabilidade. adoção internacional.
§ 9o Compete à Autoridade Central Estadual zelar pela
manutenção e correta alimentação dos cadastros, com Art. 52. A adoção internacional observará o procedimento
posterior comunicação à Autoridade Central Federal previsto nos arts. 165 a 170 desta Lei, com as seguintes
Brasileira. adaptações:
§ 10. Consultados os cadastros e verificada a ausência de I - a pessoa ou casal estrangeiro, interessado em adotar
pretendentes habilitados residentes no País com perfil criança ou adolescente brasileiro, deverá formular pedido de
compatível e interesse manifesto pela adoção de criança ou habilitação à adoção perante a Autoridade Central em matéria
adolescente inscrito nos cadastros existentes, será realizado o de adoção internacional no país de acolhida, assim entendido
encaminhamento da criança ou adolescente à adoção aquele onde está situada sua residência habitual;
internacional. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) II - se a Autoridade Central do país de acolhida considerar
§ 11. Enquanto não localizada pessoa ou casal interessado que os solicitantes estão habilitados e aptos para adotar,
em sua adoção, a criança ou o adolescente, sempre que emitirá um relatório que contenha informações sobre a
possível e recomendável, será colocado sob guarda de família identidade, a capacidade jurídica e adequação dos solicitantes
cadastrada em programa de acolhimento familiar. para adotar, sua situação pessoal, familiar e médica, seu meio
§ 12. A alimentação do cadastro e a convocação criteriosa social, os motivos que os animam e sua aptidão para assumir
dos postulantes à adoção serão fiscalizadas pelo Ministério uma adoção internacional;
Público. III - a Autoridade Central do país de acolhida enviará o
§ 13. Somente poderá ser deferida adoção em favor de relatório à Autoridade Central Estadual, com cópia para a
candidato domiciliado no Brasil não cadastrado previamente Autoridade Central Federal Brasileira;
nos termos desta Lei quando: IV - o relatório será instruído com toda a documentação
I - se tratar de pedido de adoção unilateral; necessária, incluindo estudo psicossocial elaborado por
II - for formulada por parente com o qual a criança ou equipe inter profissional habilitada e cópia autenticada da
adolescente mantenha vínculos de afinidade e afetividade; legislação pertinente, acompanhada da respectiva prova de
III - oriundo o pedido de quem detém a tutela ou guarda vigência;
legal de criança maior de 3 (três) anos ou adolescente, desde V - os documentos em língua estrangeira serão
que o lapso de tempo de convivência comprove a fixação de devidamente autenticados pela autoridade consular,
laços de afinidade e afetividade, e não seja constatada a observados os tratados e convenções internacionais, e

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acompanhados da respectiva tradução, por tradutor público autenticada do registro civil, estabelecendo a cidadania do país
juramentado; de acolhida para o adotado;
VI - a Autoridade Central Estadual poderá fazer exigências VI - tomar as medidas necessárias para garantir que os
e solicitar complementação sobre o estudo psicossocial do adotantes encaminhem à Autoridade Central Federal
postulante estrangeiro à adoção, já realizado no país de Brasileira cópia da certidão de registro de nascimento
acolhida; estrangeira e do certificado de nacionalidade tão logo lhes
VII - verificada, após estudo realizado pela Autoridade sejam concedidos.
Central Estadual, a compatibilidade da legislação estrangeira § 5o A não apresentação dos relatórios referidos no §
com a nacional, além do preenchimento por parte dos 4o deste artigo pelo organismo credenciado poderá acarretar
postulantes à medida dos requisitos objetivos e subjetivos a suspensão de seu credenciamento.
necessários ao seu deferimento, tanto à luz do que dispõe esta § 6o O credenciamento de organismo nacional ou
Lei como da legislação do país de acolhida, será expedido laudo estrangeiro encarregado de intermediar pedidos de adoção
de habilitação à adoção internacional, que terá validade por, internacional terá validade de 2 (dois) anos.
no máximo, 1 (um) ano; § 7o A renovação do credenciamento poderá ser concedida
VIII - de posse do laudo de habilitação, o interessado será mediante requerimento protocolado na Autoridade Central
autorizado a formalizar pedido de adoção perante o Juízo da Federal Brasileira nos 60 (sessenta) dias anteriores ao
Infância e da Juventude do local em que se encontra a criança término do respectivo prazo de validade.
ou adolescente, conforme indicação efetuada pela Autoridade § 8o Antes de transitada em julgado a decisão que concedeu
Central Estadual. a adoção internacional, não será permitida a saída do
§ 1o Se a legislação do país de acolhida assim o autorizar, adotando do território nacional.
admite-se que os pedidos de habilitação à adoção § 9o Transitada em julgado a decisão, a autoridade
internacional sejam intermediados por organismos judiciária determinará a expedição de alvará com autorização
credenciados. de viagem, bem como para obtenção de passaporte, constando,
§ 2o Incumbe à Autoridade Central Federal Brasileira o obrigatoriamente, as características da criança ou adolescente
credenciamento de organismos nacionais e estrangeiros adotado, como idade, cor, sexo, eventuais sinais ou traços
encarregados de intermediar pedidos de habilitação à adoção peculiares, assim como foto recente e a aposição da impressão
internacional, com posterior comunicação às Autoridades digital do seu polegar direito, instruindo o documento com
Centrais Estaduais e publicação nos órgãos oficiais de cópia autenticada da decisão e certidão de trânsito em
imprensa e em sítio próprio da internet. julgado.
§ 3o Somente será admissível o credenciamento de § 10. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá, a
organismos que: qualquer momento, solicitar informações sobre a situação das
I - sejam oriundos de países que ratificaram a Convenção crianças e adolescentes adotados
de Haia e estejam devidamente credenciados pela Autoridade § 11. A cobrança de valores por parte dos organismos
Central do país onde estiverem sediados e no país de acolhida credenciados, que sejam considerados abusivos pela
do adotando para atuar em adoção internacional no Brasil; Autoridade Central Federal Brasileira e que não estejam
II - satisfizerem as condições de integridade moral, devidamente comprovados, é causa de seu
competência profissional, experiência e responsabilidade descredenciamento.
exigidas pelos países respectivos e pela Autoridade Central § 12. Uma mesma pessoa ou seu cônjuge não podem ser
Federal Brasileira; representados por mais de uma entidade credenciada para
III - forem qualificados por seus padrões éticos e sua atuar na cooperação em adoção internacional.
formação e experiência para atuar na área de adoção § 13. A habilitação de postulante estrangeiro ou
internacional; domiciliado fora do Brasil terá validade máxima de 1 (um) ano,
IV - cumprirem os requisitos exigidos pelo ordenamento podendo ser renovada.
jurídico brasileiro e pelas normas estabelecidas pela § 14. É vedado o contato direto de representantes de
Autoridade Central Federal Brasileira. organismos de adoção, nacionais ou estrangeiros, com
§ 4o Os organismos credenciados deverão ainda: dirigentes de programas de acolhimento institucional ou
I - perseguir unicamente fins não lucrativos, nas condições familiar, assim como com crianças e adolescentes em
e dentro dos limites fixados pelas autoridades competentes do condições de serem adotados, sem a devida autorização
país onde estiverem sediados, do país de acolhida e pela judicial.
Autoridade Central Federal Brasileira; § 15. A Autoridade Central Federal Brasileira poderá
II - ser dirigidos e administrados por pessoas qualificadas limitar ou suspender a concessão de novos credenciamentos
e de reconhecida idoneidade moral, com comprovada sempre que julgar necessário, mediante ato administrativo
formação ou experiência para atuar na área de adoção fundamentado.
internacional, cadastradas pelo Departamento de Polícia
Federal e aprovadas pela Autoridade Central Federal Art. 52-A. É vedado, sob pena de responsabilidade e
Brasileira, mediante publicação de portaria do órgão federal descredenciamento, o repasse de recursos provenientes de
competente; organismos estrangeiros encarregados de intermediar
III - estar submetidos à supervisão das autoridades pedidos de adoção internacional a organismos nacionais ou a
competentes do país onde estiverem sediados e no país de pessoas físicas.
acolhida, inclusive quanto à sua composição, funcionamento e Parágrafo único. Eventuais repasses somente poderão ser
situação financeira; efetuados via Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente
IV - apresentar à Autoridade Central Federal Brasileira, a e estarão sujeitos às deliberações do respectivo Conselho de
cada ano, relatório geral das atividades desenvolvidas, bem Direitos da Criança e do Adolescente.
como relatório de acompanhamento das adoções
internacionais efetuadas no período, cuja cópia será Art. 52-B. A adoção por brasileiro residente no exterior em
encaminhada ao Departamento de Polícia Federal; país ratificante da Convenção de Haia, cujo processo de adoção
V - enviar relatório pós-adotivo semestral para a tenha sido processado em conformidade com a legislação
Autoridade Central Estadual, com cópia para a Autoridade vigente no país de residência e atendido o disposto na Alínea
Central Federal Brasileira, pelo período mínimo de 2 (dois) “c” do Artigo 17 da referida Convenção, será automaticamente
anos. O envio do relatório será mantido até a juntada de cópia recepcionada com o reingresso no Brasil.

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§ 1o Caso não tenha sido atendido o disposto na Alínea III - direito de contestar critérios avaliativos, podendo
“c” do Artigo 17 da Convenção de Haia, deverá a sentença ser recorrer às instâncias escolares superiores;
homologada pelo Superior Tribunal de Justiça. IV - direito de organização e participação em entidades
§ 2o O pretendente brasileiro residente no exterior em país estudantis;
não ratificante da Convenção de Haia, uma vez reingressado no V - acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
Brasil, deverá requerer a homologação da sentença residência.
estrangeira pelo Superior Tribunal de Justiça. Parágrafo único. É direito dos pais ou responsáveis ter
ciência do processo pedagógico, bem como participar da
Art. 52-C. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for definição das propostas educacionais.
o país de acolhida, a decisão da autoridade competente do país
de origem da criança ou do adolescente será conhecida pela Art. 54. É dever do Estado assegurar à criança e ao
Autoridade Central Estadual que tiver processado o pedido de adolescente:
habilitação dos pais adotivos, que comunicará o fato à I - ensino fundamental, obrigatório e gratuito, inclusive
Autoridade Central Federal e determinará as providências para os que a ele não tiveram acesso na idade própria;
necessárias à expedição do Certificado de Naturalização II - progressiva extensão da obrigatoriedade e gratuidade
Provisório. ao ensino médio;
§ 1o A Autoridade Central Estadual, ouvido o Ministério III - atendimento educacional especializado aos portadores
Público, somente deixará de reconhecer os efeitos daquela de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino;
decisão se restar demonstrado que a adoção é manifestamente IV – atendimento em creche e pré-escola às crianças de
contrária à ordem pública ou não atende ao interesse superior zero a cinco anos de idade; (Redação dada pela Lei nº 13.306,
da criança ou do adolescente. de 2016)
§ 2o Na hipótese de não reconhecimento da adoção, V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
prevista no § 1o deste artigo, o Ministério Público deverá e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
imediatamente requerer o que for de direito para resguardar VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
os interesses da criança ou do adolescente, comunicando-se as condições do adolescente trabalhador;
providências à Autoridade Central Estadual, que fará a VII - atendimento no ensino fundamental, através de
comunicação à Autoridade Central Federal Brasileira e à programas suplementares de material didático-escolar,
Autoridade Central do país de origem. transporte, alimentação e assistência à saúde.
§ 1º O acesso ao ensino obrigatório e gratuito é direito
Art. 52-D. Nas adoções internacionais, quando o Brasil for público subjetivo.
o país de acolhida e a adoção não tenha sido deferida no país § 2º O não oferecimento do ensino obrigatório pelo poder
de origem porque a sua legislação a delega ao país de acolhida, público ou sua oferta irregular importa responsabilidade da
ou, ainda, na hipótese de, mesmo com decisão, a criança ou o autoridade competente.
adolescente ser oriundo de país que não tenha aderido à § 3º Compete ao poder público recensear os educandos no
Convenção referida, o processo de adoção seguirá as regras da ensino fundamental, fazer-lhes a chamada e zelar, junto aos
adoção nacional. pais ou responsável, pela frequência à escola.

Comentários: Art. 55. Os pais ou responsável têm a obrigação de


Atenção! Este capítulo também sofreu alterações em matricular seus filhos ou pupilos na rede regular de ensino.
decorrência da Lei 13.509, assim
O Capítulo III da Lei 8.069/90, assegura à toda criança e Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino
adolescente o direito de ser criado e educado no seio da sua fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de:
família e, excepcionalmente, em família substituta, I - maus-tratos envolvendo seus alunos;
assegurando a convivência familiar, bem como a comunitária, II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar,
assim, fica evidente que a legislação brasileira preconiza que esgotados os recursos escolares;
toda criança e adolescente tem direito a uma família, cujos III - elevados níveis de repetência.
vínculos devem ser protegidos pelo Estado e pela sociedade,
em caso de conflito entre direitos e interesses do adotando e Art. 57. O poder público estimulará pesquisas, experiências
de outras pessoas, inclusive de seus pais biológicos, devem e novas propostas relativas a calendário, seriação, currículo,
prevalecer os direitos e os interesses do adotando. metodologia, didática e avaliação, com vistas à inserção de
A adoção será precedida de estágio de convivência com a crianças e adolescentes excluídos do ensino fundamental
criança ou adolescente, pelo prazo máximo de 90 (noventa) obrigatório.
dias, observadas a idade da criança ou adolescente e as
peculiaridades do caso, sendo respeitada as exigências Art. 58. No processo educacional respeitar-se-ão os valores
estabelecidas na lei, e com prazo máximo para conclusão da culturais, artísticos e históricos próprios do contexto social da
ação de adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável criança e do adolescente, garantindo-se a estes a liberdade da
uma única vez por igual período, mediante decisão criação e o acesso às fontes de cultura.
fundamentada da autoridade judiciária.
Art. 59. Os municípios, com apoio dos estados e da União,
Capítulo IV estimularão e facilitarão a destinação de recursos e espaços
Do Direito à Educação, à Cultura, ao Esporte e ao para programações culturais, esportivas e de lazer voltadas
Lazer para a infância e a juventude.

Art. 53. A criança e o adolescente têm direito à educação, Comentários:


visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo A criança e o adolescente têm direito à educação, visando
para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o
assegurando-se lhes: exercício da cidadania e qualificação para o trabalho,
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na assegurando-se:
escola; a) igualdade de condições para o acesso e permanência na
II - direito de ser respeitado por seus educadores; escola;

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b) direito de ser respeitado por seus educadores; desenvolvimento pessoal e social do educando prevalecem
c) direito de contestar critérios avaliativos, podendo sobre o aspecto produtivo.
recorrer às instâncias escolares superiores; § 2º A remuneração que o adolescente recebe pelo
d) direito de organização e participação em entidades trabalho efetuado ou a participação na venda dos produtos de
estudantis; seu trabalho não desfigura o caráter educativo.
e) acesso à escola pública e gratuita próxima de sua
residência. Art. 69. O adolescente tem direito à profissionalização e à
Assim, a Lei8.069/90 assegura a criança e ao adolescente proteção no trabalho, observados os seguintes aspectos, entre
uma educação voltada ao integral desenvolvimento da pessoa, outros:
com prática para a cidadania de forma clara e objetiva e I - respeito à condição peculiar de pessoa em
capacitação para o trabalho, sempre preconizando o absoluto desenvolvimento;
respeito aos direitos fundamentais da criança e do II - capacitação profissional adequada ao mercado de
adolescente. trabalho.
Segundo o art. 59, os Municípios contarão com a
assistência e cooperação dos estados e da União na destinação Comentários:
de recursos e espaços para o desenvolvimento programações Observa-se no Capítulo V que, quando a criança ou o
culturais, esportivas e de lazer destinadas à criança e ao adolescente exercita o trabalho não mais como impulso de
adolescente. experimento de suas potencialidades, mas, sim, como
necessidade de prover seu próprio sustento, o trabalho torna-
Capítulo V se incompatível com outros interesses necessários ao seu
Do Direito à Profissionalização e à Proteção no pleno desenvolvimento.
Trabalho Assim, o trabalho poderá retirar estímulos imprescindíveis
para o acompanhamento das aulas regulares, limitando a
Art. 60. É proibido qualquer trabalho a menores de capacidade de aprendizado e prejudicando sua qualificação
quatorze anos de idade, salvo na condição de aprendiz. teórico-profissional. Ainda, o trabalho poderá representar um
esforço superior ao seu estágio de crescimento,
Art. 61. A proteção ao trabalho dos adolescentes é regulada comprometendo a saúde e o seu desenvolvimento cognitivo.
por legislação especial, sem prejuízo do disposto nesta Lei Para que isso não ocorra e visando sempre a proteção da
criança ou adolescente e, ao mesmo tempo, assegurar-lhes o
Art. 62. Considera-se aprendizagem a formação técnico- direito fundamental à profissionalização, o ordenamento
profissional ministrada segundo as diretrizes e bases da estabeleceu um regime especial de trabalho, com direitos e
legislação de educação em vigor. restrições.

Art. 63. A formação técnico-profissional obedecerá aos Título III


seguintes princípios: Da Prevenção
I - garantia de acesso e frequência obrigatória ao ensino Capítulo I
regular; Disposições Gerais
II - atividade compatível com o desenvolvimento do
adolescente; Art. 70. É dever de todos prevenir a ocorrência de ameaça
III - horário especial para o exercício das atividades. ou violação dos direitos da criança e do adolescente.

Art. 64. Ao adolescente até quatorze anos de idade é Art. 70-A. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
assegurada bolsa de aprendizagem. Municípios deverão atuar de forma articulada na elaboração
de políticas públicas e na execução de ações destinadas a coibir
Art. 65. Ao adolescente aprendiz, maior de quatorze anos, o uso de castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante e
são assegurados os direitos trabalhistas e previdenciários. difundir formas não violentas de educação de crianças e de
adolescentes, tendo como principais ações:
Art. 66. Ao adolescente portador de deficiência é I - a promoção de campanhas educativas permanentes
assegurado trabalho protegido. para a divulgação do direito da criança e do adolescente de
serem educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de
Art. 67. Ao adolescente empregado, aprendiz, em regime tratamento cruel ou degradante e dos instrumentos de
familiar de trabalho, aluno de escola técnica, assistido em proteção aos direitos humanos;
entidade governamental ou não-governamental, é vedado II - a integração com os órgãos do Poder Judiciário, do
trabalho: Ministério Público e da Defensoria Pública, com o Conselho
I - noturno, realizado entre as vinte e duas horas de um dia Tutelar, com os Conselhos de Direitos da Criança e do
e as cinco horas do dia seguinte; Adolescente e com as entidades não governamentais que
II - perigoso, insalubre ou penoso; atuam na promoção, proteção e defesa dos direitos da criança
III - realizado em locais prejudiciais à sua formação e ao e do adolescente;
seu desenvolvimento físico, psíquico, moral e social; III - a formação continuada e a capacitação dos
IV - realizado em horários e locais que não permitam a profissionais de saúde, educação e assistência social e dos
frequência à escola. demais agentes que atuam na promoção, proteção e defesa dos
direitos da criança e do adolescente para o desenvolvimento
Art. 68. O programa social que tenha por base o trabalho das competências necessárias à prevenção, à identificação de
educativo, sob responsabilidade de entidade governamental evidências, ao diagnóstico e ao enfrentamento de todas as
ou não-governamental sem fins lucrativos, deverá assegurar formas de violência contra a criança e o adolescente;
ao adolescente que dele participe condições de capacitação IV - o apoio e o incentivo às práticas de resolução pacífica
para o exercício de atividade regular remunerada. de conflitos que envolvam violência contra a criança e o
§ 1º Entende-se por trabalho educativo a atividade laboral adolescente;
em que as exigências pedagógicas relativas ao V - a inclusão, nas políticas públicas, de ações que visem a
garantir os direitos da criança e do adolescente, desde a

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atenção pré-natal, e de atividades junto aos pais e Parágrafo único. As crianças menores de dez anos somente
responsáveis com o objetivo de promover a informação, a poderão ingressar e permanecer nos locais de apresentação ou
reflexão, o debate e a orientação sobre alternativas ao uso de exibição quando acompanhadas dos pais ou responsável.
castigo físico ou de tratamento cruel ou degradante no
processo educativo; Art. 76. As emissoras de rádio e televisão somente exibirão,
VI - a promoção de espaços inter setoriais locais para a no horário recomendado para o público infanto juvenil,
articulação de ações e a elaboração de planos de atuação programas com finalidades educativas, artísticas, culturais e
conjunta focados nas famílias em situação de violência, com informativas.
participação de profissionais de saúde, de assistência social e Parágrafo único. Nenhum espetáculo será apresentado ou
de educação e de órgãos de promoção, proteção e defesa dos anunciado sem aviso de sua classificação, antes de sua
direitos da criança e do adolescente; transmissão, apresentação ou exibição.
Parágrafo único. As famílias com crianças e adolescentes
com deficiência terão prioridade de atendimento nas ações e Art. 77. Os proprietários, diretores, gerentes e funcionários
políticas públicas de prevenção e proteção. de empresas que explorem a venda ou aluguel de fitas de
programação em vídeo cuidarão para que não haja venda ou
Art. 70-B. As entidades, públicas e privadas, que atuem nas locação em desacordo com a classificação atribuída pelo órgão
áreas a que se refere o art. 71, dentre outras, devem contar, em competente.
seus quadros, com pessoas capacitadas a reconhecer e Parágrafo único. As fitas a que alude este artigo deverão
comunicar ao Conselho Tutelar suspeitas ou casos de maus- exibir, no invólucro, informação sobre a natureza da obra e a
tratos praticados contra crianças e adolescentes. faixa etária a que se destinam.
Parágrafo único. São igualmente responsáveis pela Art. 78. As revistas e publicações contendo material
comunicação de que trata este artigo, as pessoas encarregadas, impróprio ou inadequado a crianças e adolescentes deverão
por razão de cargo, função, ofício, ministério, profissão ou ser comercializadas em embalagem lacrada, com a advertência
ocupação, do cuidado, assistência ou guarda de crianças e de seu conteúdo.
adolescentes, punível, na forma deste Estatuto, o injustificado Parágrafo único. As editoras cuidarão para que as capas
retardamento ou omissão, culposos ou dolosos. que contenham mensagens pornográficas ou obscenas sejam
protegidas com embalagem opaca.
Art. 71. A criança e o adolescente têm direito à informação,
cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e Art. 79. As revistas e publicações destinadas ao público
serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em infanto-juvenil não poderão conter ilustrações, fotografias,
desenvolvimento. legendas, crônicas ou anúncios de bebidas alcoólicas, tabaco,
armas e munições, e deverão respeitar os valores éticos e
Art. 72. As obrigações previstas nesta Lei não excluem da sociais da pessoa e da família.
prevenção especial outras decorrentes dos princípios por ela
adotados. Art. 80. Os responsáveis por estabelecimentos que
explorem comercialmente bilhar, sinuca ou congênere ou por
Art. 73. A inobservância das normas de prevenção casas de jogos, assim entendidas as que realizem apostas,
importará em responsabilidade da pessoa física ou jurídica, ainda que eventualmente, cuidarão para que não seja
nos termos desta Lei. permitida a entrada e a permanência de crianças e
adolescentes no local, afixando aviso para orientação do
Comentários: público.
O direito à cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos
deve fazer parte da vida da criança em todas as suas fases de Seção II
desenvolvimento, reconhecendo assim o direito de receber Dos Produtos e Serviços
uma educação capaz de promover a sua cultura e capacitá-la a
desenvolver suas aptidões, sua capacidade de emitir juízo, seu Art. 81. É proibida a venda à criança ou ao adolescente de:
senso de responsabilidade moral e social. I - armas, munições e explosivos;
II - bebidas alcoólicas;
Capítulo II III - produtos cujos componentes possam causar
Da Prevenção Especial dependência física ou psíquica ainda que por utilização
Seção I indevida;
Da informação, Cultura, Lazer, Esportes, Diversões e IV - fogos de estampido e de artifício, exceto aqueles que
Espetáculos pelo seu reduzido potencial sejam incapazes de provocar
qualquer dano físico em caso de utilização indevida;
Art. 74. O poder público, através do órgão competente, V - revistas e publicações a que alude o art. 78;
regulará as diversões e espetáculos públicos, informando VI - bilhetes lotéricos e equivalentes.
sobre a natureza deles, as faixas etárias a que não se
recomendem, locais e horários em que sua apresentação se Art. 82. É proibida a hospedagem de criança ou
mostre inadequada. adolescente em hotel, motel, pensão ou estabelecimento
Parágrafo único. Os responsáveis pelas diversões e congênere, salvo se autorizado ou acompanhado pelos pais ou
espetáculos públicos deverão afixar, em lugar visível e de fácil responsável.
acesso, à entrada do local de exibição, informação destacada
sobre a natureza do espetáculo e a faixa etária especificada no Seção III
certificado de classificação. Da Autorização para Viajar

Art. 75. Toda criança ou adolescente terá acesso às Art. 83. Nenhuma criança poderá viajar para fora da
diversões e espetáculos públicos classificados como comarca onde reside, desacompanhada dos pais ou
adequados à sua faixa etária. responsável, sem expressa autorização judicial.
§ 1º A autorização não será exigida quando:

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a) tratar-se de comarca contígua à da residência da criança, V - integração operacional de órgãos do Judiciário,


se na mesma unidade da Federação, ou incluída na mesma Ministério Público, Defensoria, Segurança Pública e
região metropolitana; Assistência Social, preferencialmente em um mesmo local,
b) a criança estiver acompanhada: para efeito de agilização do atendimento inicial a adolescente
1) de ascendente ou colateral maior, até o terceiro grau, a quem se atribua autoria de ato infracional;
comprovado documentalmente o parentesco; VI - integração operacional de órgãos do Judiciário,
2) de pessoa maior, expressamente autorizada pelo pai, Ministério Público, Defensoria, Conselho Tutelar e
mãe ou responsável. encarregados da execução das políticas sociais básicas e de
§ 2º A autoridade judiciária poderá, a pedido dos pais ou assistência social, para efeito de agilização do atendimento de
responsável, conceder autorização válida por dois anos. crianças e de adolescentes inseridos em programas de
acolhimento familiar ou institucional, com vista na sua rápida
Art. 84. Quando se tratar de viagem ao exterior, a reintegração à família de origem ou, se tal solução se mostrar
autorização é dispensável, se a criança ou adolescente: comprovadamente inviável, sua colocação em família
I - estiver acompanhado de ambos os pais ou responsável; substituta, em quaisquer das modalidades previstas no art. 28
II - viajar na companhia de um dos pais, autorizado desta Lei;
expressamente pelo outro através de documento com firma VII - mobilização da opinião pública para a indispensável
reconhecida. participação dos diversos segmentos da sociedade.
VIII - especialização e formação continuada dos
Art. 85. Sem prévia e expressa autorização judicial, profissionais que trabalham nas diferentes áreas da atenção à
nenhuma criança ou adolescente nascido em território primeira infância, incluindo os conhecimentos sobre direitos
nacional poderá sair do País em companhia de estrangeiro da criança e sobre desenvolvimento infantil; (Incluído pela Lei
residente ou domiciliado no exterior. nº 13.257, de 2016)
IX - formação profissional com abrangência dos diversos
Parte Especial direitos da criança e do adolescente que favoreça a inter
Título I setorialidade no atendimento da criança e do adolescente e
Da Política de Atendimento seu desenvolvimento integral; (Incluído pela Lei nº 13.257, de
Capítulo I 2016)
Disposições Gerais X - realização e divulgação de pesquisas sobre
desenvolvimento infantil e sobre prevenção da
Art. 86. A política de atendimento dos direitos da criança e violência. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
do adolescente far-se-á através de um conjunto articulado de
ações governamentais e não-governamentais, da União, dos Art. 89. A função de membro do conselho nacional e dos
estados, do Distrito Federal e dos municípios. conselhos estaduais e municipais dos direitos da criança e do
adolescente é considerada de interesse público relevante e não
Art. 87. São linhas de ação da política de atendimento: será remunerada.
I - políticas sociais básicas;
II - serviços, programas, projetos e benefícios de Capítulo II
assistência social de garantia de proteção social e de Das Entidades de Atendimento
prevenção e redução de violações de direitos, seus Seção I
agravamentos ou reincidências; (Redação dada pela Lei nº Disposições Gerais
13.257, de 2016)
III - serviços especiais de prevenção e atendimento médico Art. 90. As entidades de atendimento são responsáveis pela
e psicossocial às vítimas de negligência, maus-tratos, manutenção das próprias unidades, assim como pelo
exploração, abuso, crueldade e opressão; planejamento e execução de programas de proteção e
IV - serviço de identificação e localização de pais, socioeducativos destinados a crianças e adolescentes, em
responsável, crianças e adolescentes desaparecidos; regime de:
V - proteção jurídico-social por entidades de defesa dos I - orientação e apoio sócio familiar;
direitos da criança e do adolescente. II - apoio socioeducativo em meio aberto;
VI - políticas e programas destinados a prevenir ou III - colocação familiar;
abreviar o período de afastamento do convívio familiar e a IV - acolhimento institucional;
garantir o efetivo exercício do direito à convivência familiar de V - prestação de serviços à comunidade;
crianças e adolescentes; VI - liberdade assistida;
VII - campanhas de estímulo ao acolhimento sob forma de VII - semiliberdade; e
guarda de crianças e adolescentes afastados do convívio VIII - internação.
familiar e à adoção, especificamente inter-racial, de crianças § 1o As entidades governamentais e não governamentais
maiores ou de adolescentes, com necessidades específicas de deverão proceder à inscrição de seus programas,
saúde ou com deficiências e de grupos de irmãos. especificando os regimes de atendimento, na forma definida
neste artigo, no Conselho Municipal dos Direitos da Criança e
Art. 88. São diretrizes da política de atendimento: do Adolescente, o qual manterá registro das inscrições e de
I - municipalização do atendimento; suas alterações, do que fará comunicação ao Conselho Tutelar
II - criação de conselhos municipais, estaduais e nacional e à autoridade judiciária.
dos direitos da criança e do adolescente, órgãos deliberativos § 2o Os recursos destinados à implementação e
e controladores das ações em todos os níveis, assegurada a manutenção dos programas relacionados neste artigo serão
participação popular paritária por meio de organizações previstos nas dotações orçamentárias dos órgãos públicos
representativas, segundo leis federal, estaduais e municipais; encarregados das áreas de Educação, Saúde e Assistência
III - criação e manutenção de programas específicos, Social, dentre outros, observando-se o princípio da prioridade
observada a descentralização político-administrativa; absoluta à criança e ao adolescente preconizado pelo caput
IV - manutenção de fundos nacional, estaduais e do art. 227 da Constituição Federal e pelo caput e parágrafo
municipais vinculados aos respectivos conselhos dos direitos único do art. 4o desta Lei.
da criança e do adolescente;

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§ 3o Os programas em execução serão reavaliados pelo § 4o Salvo determinação em contrário da autoridade


Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, judiciária competente, as entidades que desenvolvem
no máximo, a cada 2 (dois) anos, constituindo-se critérios para programas de acolhimento familiar ou institucional, se
renovação da autorização de funcionamento: necessário com o auxílio do Conselho Tutelar e dos órgãos de
I - o efetivo respeito às regras e princípios desta Lei, bem assistência social, estimularão o contato da criança ou
como às resoluções relativas à modalidade de atendimento adolescente com seus pais e parentes, em cumprimento ao
prestado expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e disposto nos incisos I e VIII do caput deste artigo.
do Adolescente, em todos os níveis; § 5o As entidades que desenvolvem programas de
II - a qualidade e eficiência do trabalho desenvolvido, acolhimento familiar ou institucional somente poderão
atestadas pelo Conselho Tutelar, pelo Ministério Público e pela receber recursos públicos se comprovado o atendimento dos
Justiça da Infância e da Juventude; princípios, exigências e finalidades desta Lei.
III - em se tratando de programas de acolhimento § 6o O descumprimento das disposições desta Lei pelo
institucional ou familiar, serão considerados os índices de dirigente de entidade que desenvolva programas de
sucesso na reintegração familiar ou de adaptação à família acolhimento familiar ou institucional é causa de sua
substituta, conforme o caso. destituição, sem prejuízo da apuração de sua responsabilidade
administrativa, civil e criminal.
Art. 91. As entidades não-governamentais somente § 7o Quando se tratar de criança de 0 (zero) a 3 (três) anos
poderão funcionar depois de registradas no Conselho em acolhimento institucional, dar-se-á especial atenção à
Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente, o qual atuação de educadores de referência estáveis e
comunicará o registro ao Conselho Tutelar e à autoridade qualitativamente significativos, às rotinas específicas e ao
judiciária da respectiva localidade. atendimento das necessidades básicas, incluindo as de afeto
§ 1o Será negado o registro à entidade que: como prioritárias. (Incluído pela Lei nº 13.257, de 2016)
a) não ofereça instalações físicas em condições adequadas
de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança; Art. 93. As entidades que mantenham programa de
b) não apresente plano de trabalho compatível com os acolhimento institucional poderão, em caráter excepcional e
princípios desta Lei; de urgência, acolher crianças e adolescentes sem prévia
c) esteja irregularmente constituída; determinação da autoridade competente, fazendo
d) tenha em seus quadros pessoas inidôneas. comunicação do fato em até 24 (vinte e quatro) horas ao Juiz
e) não se adequar ou deixar de cumprir as resoluções e da Infância e da Juventude, sob pena de responsabilidade.
deliberações relativas à modalidade de atendimento prestado Parágrafo único. Recebida a comunicação, a autoridade
expedidas pelos Conselhos de Direitos da Criança e do judiciária, ouvido o Ministério Público e se necessário com o
Adolescente, em todos os níveis. apoio do Conselho Tutelar local, tomará as medidas
§ 2o O registro terá validade máxima de 4 (quatro) anos, necessárias para promover a imediata reintegração familiar da
cabendo ao Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do criança ou do adolescente ou, se por qualquer razão não for
Adolescente, periodicamente, reavaliar o cabimento de sua isso possível ou recomendável, para seu encaminhamento a
renovação, observado o disposto no § 1o deste artigo. programa de acolhimento familiar, institucional ou a família
substituta, observado o disposto no § 2o do art. 101 desta
Art. 92. As entidades que desenvolvam programas de Lei.
acolhimento familiar ou institucional deverão adotar os
seguintes princípios Art. 94. As entidades que desenvolvem programas de
I - preservação dos vínculos familiares e promoção da internação têm as seguintes obrigações, entre outras:
reintegração familiar; I - observar os direitos e garantias de que são titulares os
II - integração em família substituta, quando esgotados os adolescentes;
recursos de manutenção na família natural ou extensa; II - não restringir nenhum direito que não tenha sido
III - atendimento personalizado e em pequenos grupos; objeto de restrição na decisão de internação;
IV - desenvolvimento de atividades em regime de III - oferecer atendimento personalizado, em pequenas
coeducação; unidades e grupos reduzidos;
V - não desmembramento de grupos de irmãos; IV - preservar a identidade e oferecer ambiente de respeito
VI - evitar, sempre que possível, a transferência para e dignidade ao adolescente;
outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; V - diligenciar no sentido do restabelecimento e da
VII - participação na vida da comunidade local; preservação dos vínculos familiares;
VIII - preparação gradativa para o desligamento; VI - comunicar à autoridade judiciária, periodicamente, os
IX - participação de pessoas da comunidade no processo casos em que se mostre inviável ou impossível o reatamento
educativo. dos vínculos familiares;
§ 1o O dirigente de entidade que desenvolve programa de VII - oferecer instalações físicas em condições adequadas
acolhimento institucional é equiparado ao guardião, para de habitabilidade, higiene, salubridade e segurança e os
todos os efeitos de direito. objetos necessários à higiene pessoal;
§ 2o Os dirigentes de entidades que desenvolvem VIII - oferecer vestuário e alimentação suficientes e
programas de acolhimento familiar ou institucional remeterão adequados à faixa etária dos adolescentes atendidos;
à autoridade judiciária, no máximo a cada 6 (seis) meses, IX - oferecer cuidados médicos, psicológicos,
relatório circunstanciado acerca da situação de cada criança odontológicos e farmacêuticos;
ou adolescente acolhido e sua família, para fins da reavaliação X - propiciar escolarização e profissionalização;
prevista no § 1o do art. 19 desta Lei. XI - propiciar atividades culturais, esportivas e de lazer;
§ 3o Os entes federados, por intermédio dos Poderes XII - propiciar assistência religiosa àqueles que desejarem,
Executivo e Judiciário, promoverão conjuntamente a de acordo com suas crenças;
permanente qualificação dos profissionais que atuam direta XIII - proceder a estudo social e pessoal de cada caso;
ou indiretamente em programas de acolhimento institucional XIV - reavaliar periodicamente cada caso, com intervalo
e destinados à colocação familiar de crianças e adolescentes, máximo de seis meses, dando ciência dos resultados à
incluindo membros do Poder Judiciário, Ministério Público e autoridade competente;
Conselho Tutelar.

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XV - informar, periodicamente, o adolescente internado Título II


sobre sua situação processual; Das Medidas de Proteção
XVI - comunicar às autoridades competentes todos os Capítulo I
casos de adolescentes portadores de moléstias Disposições Gerais
infectocontagiosas;
XVII - fornecer comprovante de depósito dos pertences dos Art. 98. As medidas de proteção à criança e ao adolescente
adolescentes; são aplicáveis sempre que os direitos reconhecidos nesta Lei
XVIII - manter programas destinados ao apoio e forem ameaçados ou violados:
acompanhamento de egressos; I - por ação ou omissão da sociedade ou do Estado;
XIX - providenciar os documentos necessários ao exercício II - por falta, omissão ou abuso dos pais ou responsável;
da cidadania àqueles que não os tiverem; III - em razão de sua conduta.
XX - manter arquivo de anotações onde constem data e
circunstâncias do atendimento, nome do adolescente, seus Capítulo II
pais ou responsável, parentes, endereços, sexo, idade, Das Medidas Específicas de Proteção
acompanhamento da sua formação, relação de seus pertences
e demais dados que possibilitem sua identificação e a Art. 99. As medidas previstas neste Capítulo poderão ser
individualização do atendimento. aplicadas isolada ou cumulativamente, bem como substituídas
§ 1o Aplicam-se, no que couber, as obrigações constantes a qualquer tempo.
deste artigo às entidades que mantêm programas de
acolhimento institucional e familiar. Art. 100. Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as
§ 2º No cumprimento das obrigações a que alude este necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que visem ao
artigo as entidades utilizarão preferencialmente os recursos fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
da comunidade. Parágrafo único. São também princípios que regem a
aplicação das medidas:
Art. 94-A. As entidades, públicas ou privadas, que I - condição da criança e do adolescente como sujeitos de
abriguem ou recepcionem crianças e adolescentes, ainda que direitos: crianças e adolescentes são os titulares dos direitos
em caráter temporário, devem ter, em seus quadros, previstos nesta e em outras Leis, bem como na Constituição
profissionais capacitados a reconhecer e reportar ao Conselho Federal;
Tutelar suspeitas ou ocorrências de maus-tratos. II - proteção integral e prioritária: a interpretação e
Seção II aplicação de toda e qualquer norma contida nesta Lei deve ser
Da Fiscalização das Entidades voltada à proteção integral e prioritária dos direitos de que
crianças e adolescentes são titulares;
Art. 95. As entidades governamentais e não- III - responsabilidade primária e solidária do poder
governamentais referidas no art. 90 serão fiscalizadas pelo público: a plena efetivação dos direitos assegurados a crianças
Judiciário, pelo Ministério Público e pelos Conselhos Tutelares. e a adolescentes por esta Lei e pela Constituição Federal, salvo
nos casos por esta expressamente ressalvados, é de
Art. 96. Os planos de aplicação e as prestações de contas responsabilidade primária e solidária das 3 (três) esferas de
serão apresentados ao estado ou ao município, conforme a governo, sem prejuízo da municipalização do atendimento e
origem das dotações orçamentárias. da possibilidade da execução de programas por entidades não
governamentais;
Art. 97. São medidas aplicáveis às entidades de IV - interesse superior da criança e do adolescente: a
atendimento que descumprirem obrigação constante do art. intervenção deve atender prioritariamente aos interesses e
94, sem prejuízo da responsabilidade civil e criminal de seus direitos da criança e do adolescente, sem prejuízo da
dirigentes ou prepostos: consideração que for devida a outros interesses legítimos no
I - às entidades governamentais: âmbito da pluralidade dos interesses presentes no caso
a) advertência; concreto
b) afastamento provisório de seus dirigentes; V - privacidade: a promoção dos direitos e proteção da
c) afastamento definitivo de seus dirigentes; criança e do adolescente deve ser efetuada no respeito pela
d) fechamento de unidade ou interdição de programa. intimidade, direito à imagem e reserva da sua vida privada;
II - às entidades não-governamentais: VI - intervenção precoce: a intervenção das autoridades
a) advertência; competentes deve ser efetuada logo que a situação de perigo
b) suspensão total ou parcial do repasse de verbas seja conhecida;
públicas; VII - intervenção mínima: a intervenção deve ser exercida
c) interdição de unidades ou suspensão de programa; exclusivamente pelas autoridades e instituições cuja ação seja
d) cassação do registro. indispensável à efetiva promoção dos direitos e à proteção da
§ 1o Em caso de reiteradas infrações cometidas por criança e do adolescente;
entidades de atendimento, que coloquem em risco os direitos VIII - proporcionalidade e atualidade: a intervenção deve
assegurados nesta Lei, deverá ser o fato comunicado ao ser a necessária e adequada à situação de perigo em que a
Ministério Público ou representado perante autoridade criança ou o adolescente se encontram no momento em que a
judiciária competente para as providências cabíveis, inclusive decisão é tomada;
suspensão das atividades ou dissolução da entidade. IX - responsabilidade parental: a intervenção deve ser
§ 2o As pessoas jurídicas de direito público e as efetuada de modo que os pais assumam os seus deveres para
organizações não governamentais responderão pelos danos com a criança e o adolescente;
que seus agentes causarem às crianças e aos adolescentes, X - prevalência da família: na promoção de direitos e na
caracterizado o descumprimento dos princípios norteadores proteção da criança e do adolescente deve ser dada
das atividades de proteção específica. prevalência às medidas que os mantenham ou reintegrem na
sua família natural ou extensa ou, se isso não for possível, que
promovam a sua integração em família adotiva; (Redação dada
pela Lei nº 13.509, de 2017)

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XI - obrigatoriedade da informação: a criança e o § 5o O plano individual será elaborado sob a


adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
capacidade de compreensão, seus pais ou responsável devem atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou
ser informados dos seus direitos, dos motivos que do adolescente e a oitiva dos pais ou do responsável.
determinaram a intervenção e da forma como esta se § 6o Constarão do plano individual, dentre outros:
processa; I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
XII - oitiva obrigatória e participação: a criança e o II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável;
adolescente, em separado ou na companhia dos pais, de e
responsável ou de pessoa por si indicada, bem como os seus III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com
pais ou responsável, têm direito a ser ouvidos e a participar a criança ou com o adolescente acolhido e seus pais ou
nos atos e na definição da medida de promoção dos direitos e responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja
de proteção, sendo sua opinião devidamente considerada pela esta vedada por expressa e fundamentada determinação
autoridade judiciária competente, observado o disposto nos §§ judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação
1o e 2o do art. 28 desta Lei. em família substituta, sob direta supervisão da autoridade
judiciária.
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no § 7o O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no
art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre local mais próximo à residência dos pais ou do responsável e,
outras, as seguintes medidas: como parte do processo de reintegração familiar, sempre que
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante identificada a necessidade, a família de origem será incluída
termo de responsabilidade; em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários; social, sendo facilitado e estimulado o contato com a criança
III - matrícula e frequência obrigatórias em ou com o adolescente acolhido.
estabelecimento oficial de ensino fundamental; § 8o Verificada a possibilidade de reintegração familiar, o
IV - inclusão em serviços e programas oficiais ou responsável pelo programa de acolhimento familiar ou
comunitários de proteção, apoio e promoção da família, da institucional fará imediata comunicação à autoridade
criança e do adolescente; (Redação dada pela Lei nº 13.257, de judiciária, que dará vista ao Ministério Público, pelo prazo de
2016) 5 (cinco) dias, decidindo em igual prazo.
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou § 9o Em sendo constatada a impossibilidade de
psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial; reintegração da criança ou do adolescente à família de origem,
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de após seu encaminhamento a programas oficiais ou
auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; comunitários de orientação, apoio e promoção social, será
VII - acolhimento institucional; enviado relatório fundamentado ao Ministério Público, no qual
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar; conste a descrição pormenorizada das providências tomadas e
IX - colocação em família substituta. a expressa recomendação, subscrita pelos técnicos da entidade
§ 1o O acolhimento institucional e o acolhimento familiar ou responsáveis pela execução da política municipal de
são medidas provisórias e excepcionais, utilizáveis como garantia do direito à convivência familiar, para a destituição
forma de transição para reintegração familiar ou, não sendo do poder familiar, ou destituição de tutela ou guarda.
esta possível, para colocação em família substituta, não § 10. Recebido o relatório, o Ministério Público terá o
implicando privação de liberdade. prazo de 15 (quinze) dias para o ingresso com a ação de
§ 2o Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais destituição do poder familiar, salvo se entender necessária a
para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e das realização de estudos complementares ou de outras
providências a que alude o art. 130 desta Lei, o afastamento da providências indispensáveis ao ajuizamento da
criança ou adolescente do convívio familiar é de competência demanda. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, § 11. A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou
a pedido do Ministério Público ou de quem tenha legítimo foro regional, um cadastro contendo informações atualizadas
interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento
garanta aos pais ou ao responsável legal o exercício do familiar e institucional sob sua responsabilidade, com
contraditório e da ampla defesa. informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada
§ 3o Crianças e adolescentes somente poderão ser um, bem como as providências tomadas para sua reintegração
encaminhados às instituições que executam programas de familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das
acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
de uma Guia de Acolhimento, expedida pela autoridade § 12. Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o
judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente
ou de seu responsável, se conhecidos; e da Assistência Social, aos quais incumbe deliberar sobre a
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, implementação de políticas públicas que permitam reduzir o
com pontos de referência; número de crianças e adolescentes afastados do convívio
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em familiar e abreviar o período de permanência em programa de
tê-los sob sua guarda; acolhimento.
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao Art. 102. As medidas de proteção de que trata este Capítulo
convívio familiar. serão acompanhadas da regularização do registro civil.
§ 4o Imediatamente após o acolhimento da criança ou do § 1º Verificada a inexistência de registro anterior, o
adolescente, a entidade responsável pelo programa de assento de nascimento da criança ou adolescente será feito à
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da
individual de atendimento, visando à reintegração familiar, autoridade judiciária.
ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em § 2º Os registros e certidões necessários à regularização de
contrário de autoridade judiciária competente, caso em que que trata este artigo são isentos de multas, custas e
também deverá contemplar sua colocação em família emolumentos, gozando de absoluta prioridade.
substituta, observadas as regras e princípios desta Lei. § 3o Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado
procedimento específico destinado à sua averiguação,

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conforme previsto pela Lei no 8.560, de 29 de dezembro de I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato
1992. infracional, mediante citação ou meio equivalente;
§ 4o Nas hipóteses previstas no § 3o deste artigo, é II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-
dispensável o ajuizamento de ação de investigação de se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas
paternidade pelo Ministério Público se, após o não necessárias à sua defesa;
comparecimento ou a recusa do suposto pai em assumir a III - defesa técnica por advogado;
paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para IV - assistência judiciária gratuita e integral aos
adoção. necessitados, na forma da lei;
§ 5o Os registros e certidões necessários à inclusão, a V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade
qualquer tempo, do nome do pai no assento de nascimento são competente;
isentos de multas, custas e emolumentos, gozando de absoluta VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou
prioridade. (Incluído dada pela Lei nº 13.257, de 2016) responsável em qualquer fase do procedimento.
§ 6o São gratuitas, a qualquer tempo, a averbação
requerida do reconhecimento de paternidade no assento de Capítulo IV
nascimento e a certidão correspondente. (Incluído dada Das Medidas Socioeducativas
pela Lei nº 13.257, de 2016) Seção I
Disposições Gerais
Título III
Da Prática de Ato Infracional Art. 112. Verificada a prática de ato infracional, a
Capítulo I autoridade competente poderá aplicar ao adolescente as
Disposições Gerais seguintes medidas:
I - advertência;
Art. 103. Considera-se ato infracional a conduta descrita II - obrigação de reparar o dano;
como crime ou contravenção penal. III - prestação de serviços à comunidade;
IV - liberdade assistida;
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de V - inserção em regime de semiliberdade;
dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei. VI - internação em estabelecimento educacional;
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser VII - qualquer uma das previstas no art. 101, I a VI.
considerada a idade do adolescente à data do fato. § 1º A medida aplicada ao adolescente levará em conta a
sua capacidade de cumpri-la, as circunstâncias e a gravidade
Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança da infração.
corresponderão as medidas previstas no art. 101. § 2º Em hipótese alguma e sob pretexto algum, será
admitida a prestação de trabalho forçado.
Capítulo II § 3º Os adolescentes portadores de doença ou deficiência
Dos Direitos Individuais mental receberão tratamento individual e especializado, em
local adequado às suas condições.
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua
liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem Art. 113. Aplica-se a este Capítulo o disposto nos arts. 99 e
escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. 100.
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação
dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado Art. 114. A imposição das medidas previstas nos incisos II
acerca de seus direitos. a VI do art. 112 pressupõe a existência de provas suficientes
da autoria e da materialidade da infração, ressalvada a
Art. 107. A apreensão de qualquer adolescente e o local hipótese de remissão, nos termos do art. 127.
onde se encontra recolhido serão incontinenti comunicados à Parágrafo único. A advertência poderá ser aplicada sempre
autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou que houver prova da materialidade e indícios suficientes da
à pessoa por ele indicada. autoria.
Parágrafo único. Examinar-se-á, desde logo e sob pena de
responsabilidade, a possibilidade de liberação imediata. Seção II
Da Advertência
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser
determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias. Art. 115. A advertência consistirá em admoestação verbal,
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e que será reduzida a termo e assinada.
basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade,
demonstrada a necessidade imperiosa da medida. Seção III
Da Obrigação de Reparar o Dano
Art. 109. O adolescente civilmente identificado não será
submetido a identificação compulsória pelos órgãos policiais, Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos
de proteção e judiciais, salvo para efeito de confrontação, patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso,
havendo dúvida fundada. que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento
do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.
Capítulo III Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a
Das Garantias Processuais medida poderá ser substituída por outra adequada.

Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua Seção IV


liberdade sem o devido processo legal. Da Prestação de Serviços à Comunidade

Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na
seguintes garantias: realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período
não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais,

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hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem § 6º Em qualquer hipótese a desinternação será precedida
como em programas comunitários ou governamentais. de autorização judicial, ouvido o Ministério Público.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as § 7o A determinação judicial mencionada no § 1o poderá ser
aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante revista a qualquer tempo pela autoridade judiciária.
jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados,
domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não Art. 122. A medida de internação só poderá ser aplicada
prejudicar a frequência à escola ou à jornada normal de quando:
trabalho. I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave
ameaça ou violência a pessoa;
Seção V II - por reiteração no cometimento de outras infrações
Da Liberdade Assistida graves;
III - por descumprimento reiterado e injustificável da
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se medida anteriormente imposta.
afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, § 1o O prazo de internação na hipótese do inciso III deste
auxiliar e orientar o adolescente. artigo não poderá ser superior a 3 (três) meses, devendo ser
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para decretada judicialmente após o devido processo legal.
acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por § 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação,
entidade ou programa de atendimento. havendo outra medida adequada.
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de
seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade
revogada ou substituída por outra medida, ouvido o exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele
orientador, o Ministério Público e o defensor. destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por
critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.
Art. 119. Incumbe ao orientador, com o apoio e a Parágrafo único. Durante o período de internação,
supervisão da autoridade competente, a realização dos inclusive provisória, serão obrigatórias atividades
seguintes encargos, entre outros: pedagógicas.
I - promover socialmente o adolescente e sua família,
fornecendo-lhes orientação e inserindo-os, se necessário, em Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade,
programa oficial ou comunitário de auxílio e assistência social; entre outros, os seguintes:
II - supervisionar a frequência e o aproveitamento escolar I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do
do adolescente, promovendo, inclusive, sua matrícula; Ministério Público;
III - diligenciar no sentido da profissionalização do II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
adolescente e de sua inserção no mercado de trabalho; III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - apresentar relatório do caso IV - ser informado de sua situação processual, sempre que
solicitada;
Seção VI V - ser tratado com respeito e dignidade;
Do Regime de Semiliberdade VI - permanecer internado na mesma localidade ou
naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou
Art. 120. O regime de semiliberdade pode ser determinado responsável;
desde o início, ou como forma de transição para o meio aberto, VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
possibilitada a realização de atividades externas, VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
independentemente de autorização judicial. IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio
§ 1º São obrigatórias a escolarização e a profissionalização, pessoal;
devendo, sempre que possível, ser utilizados os recursos X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene
existentes na comunidade. e salubridade;
§ 2º A medida não comporta prazo determinado XI - receber escolarização e profissionalização;
aplicando-se, no que couber, as disposições relativas à XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
internação. XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e
Seção VII desde que assim o deseje;
Da Internação XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de
local seguro para guardá-los, recebendo comprovante
Art. 121. A internação constitui medida privativa da daqueles porventura depositados em poder da entidade;
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, XVI - receber, quando de sua desinternação, os
excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
desenvolvimento. § 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
§ 1º Será permitida a realização de atividades externas, a § 2º A autoridade judiciária poderá suspender
critério da equipe técnica da entidade, salvo expressa temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se
determinação judicial em contrário. existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade
§ 2º A medida não comporta prazo determinado, devendo aos interesses do adolescente.
sua manutenção ser reavaliada, mediante decisão
fundamentada, no máximo a cada seis meses. Art. 125. É dever do Estado zelar pela integridade física e
§ 3º Em nenhuma hipótese o período máximo de mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas
internação excederá a três anos. adequadas de contenção e segurança.
§ 4º Atingido o limite estabelecido no parágrafo anterior, o
adolescente deverá ser liberado, colocado em regime de Capítulo V
semiliberdade ou de liberdade assistida. Da Remissão
§ 5º A liberação será compulsória aos vinte e um anos de
idade. Art. 126. Antes de iniciado o procedimento judicial para
apuração de ato infracional, o representante do Ministério

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Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão população local para mandato de 4 (quatro) anos, permitida 1
do processo, atendendo às circunstâncias e consequências do (uma) recondução, mediante novo processo de escolha.
fato, ao contexto social, bem como à personalidade do
adolescente e sua maior ou menor participação no ato Art. 133. Para a candidatura a membro do Conselho
infracional. Tutelar, serão exigidos os seguintes requisitos:
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da I - reconhecida idoneidade moral;
remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão II - idade superior a vinte e um anos;
ou extinção do processo. III - residir no município.

Art. 127. A remissão não implica necessariamente o Art. 134. Lei municipal ou distrital disporá sobre o local,
reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem dia e horário de funcionamento do Conselho Tutelar, inclusive
prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir quanto à remuneração dos respectivos membros, aos quais é
eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas assegurado o direito a:
em lei, exceto a colocação em regime de semiliberdade e a I - cobertura previdenciária;
internação. II - gozo de férias anuais remuneradas, acrescidas de 1/3
(um terço) do valor da remuneração mensal;
Art. 128. A medida aplicada por força da remissão poderá III - licença-maternidade;
ser revista judicialmente, a qualquer tempo, mediante pedido IV - licença-paternidade;
expresso do adolescente ou de seu representante legal, ou do V - gratificação natalina.
Ministério Público. Parágrafo único. Constará da lei orçamentária municipal e
da do Distrito Federal previsão dos recursos necessários ao
Título IV funcionamento do Conselho Tutelar e à remuneração e
Das Medidas Pertinentes aos Pais ou Responsável formação continuada dos conselheiros tutelares.

Art. 129. São medidas aplicáveis aos pais ou responsável: Art. 135. O exercício efetivo da função de conselheiro
I - encaminhamento a serviços e programas oficiais ou constituirá serviço público relevante e estabelecerá presunção
comunitários de proteção, apoio e promoção da família; de idoneidade moral.
(Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)
II - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, Capítulo II
orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos; Das Atribuições do Conselho
III - encaminhamento a tratamento psicológico ou
psiquiátrico; Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar:
IV - encaminhamento a cursos ou programas de I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses
orientação; previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas previstas no
V - obrigação de matricular o filho ou pupilo e acompanhar art. 101, I a VII;
sua frequência e aproveitamento escolar; II - atender e aconselhar os pais ou responsável, aplicando
VI - obrigação de encaminhar a criança ou adolescente a as medidas previstas no art. 129, I a VII;
tratamento especializado; III - promover a execução de suas decisões, podendo para
VII - advertência; tanto:
VIII - perda da guarda; a) requisitar serviços públicos nas áreas de saúde,
IX - destituição da tutela; educação, serviço social, previdência, trabalho e segurança;
X - suspensão ou destituição do poder familiar. b) representar junto à autoridade judiciária nos casos de
Parágrafo único. Na aplicação das medidas previstas nos descumprimento injustificado de suas deliberações.
incisos IX e X deste artigo, observar-se-á o disposto nos arts. IV - encaminhar ao Ministério Público notícia de fato que
23 e 24. constitua infração administrativa ou penal contra os direitos
da criança ou adolescente;
Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou V - encaminhar à autoridade judiciária os casos de sua
abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade competência;
judiciária poderá determinar, como medida cautelar, o VI - providenciar a medida estabelecida pela autoridade
afastamento do agressor da moradia comum. judiciária, dentre as previstas no art. 101, de I a VI, para o
Parágrafo único. Da medida cautelar constará, ainda, a adolescente autor de ato infracional;
fixação provisória dos alimentos de que necessitem a criança VII - expedir notificações;
ou o adolescente dependentes do agressor. VIII - requisitar certidões de nascimento e de óbito de
criança ou adolescente quando necessário;
IX - assessorar o Poder Executivo local na elaboração da
Título V proposta orçamentária para planos e programas de
Do Conselho Tutelar atendimento dos direitos da criança e do adolescente;
Capítulo I X - representar, em nome da pessoa e da família, contra a
Disposições Gerais violação dos direitos previstos no art. 220, § 3º, inciso II, da
Constituição Federal;
Art. 131. O Conselho Tutelar é órgão permanente e XI - representar ao Ministério Público para efeito das ações
autônomo, não jurisdicional, encarregado pela sociedade de de perda ou suspensão do poder familiar, após esgotadas as
zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e do possibilidades de manutenção da criança ou do adolescente
adolescente, definidos nesta Lei. junto à família natural.
XII - promover e incentivar, na comunidade e nos grupos
Art. 132. Em cada Município e em cada Região profissionais, ações de divulgação e treinamento para o
Administrativa do Distrito Federal haverá, no mínimo, 1 (um) reconhecimento de sintomas de maus-tratos em crianças e
Conselho Tutelar como órgão integrante da administração adolescentes.
pública local, composto de 5 (cinco) membros, escolhidos pela Parágrafo único. Se, no exercício de suas atribuições, o
Conselho Tutelar entender necessário o afastamento do

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convívio familiar, comunicará incontinenti o fato ao Ministério Título VI


Público, prestando-lhe informações sobre os motivos de tal Do Acesso à Justiça
entendimento e as providências tomadas para a orientação, o Capítulo I
apoio e a promoção social da família. Disposições Gerais

Art. 137. As decisões do Conselho Tutelar somente Art. 141. É garantido o acesso de toda criança ou
poderão ser revistas pela autoridade judiciária a pedido de adolescente à Defensoria Pública, ao Ministério Público e ao
quem tenha legítimo interesse. Poder Judiciário, por qualquer de seus órgãos.
§ 1º. A assistência judiciária gratuita será prestada aos que
Capítulo III dela necessitarem, através de defensor público ou advogado
Da Competência nomeado.
§ 2º As ações judiciais da competência da Justiça da
Art. 138. Aplica-se ao Conselho Tutelar a regra de Infância e da Juventude são isentas de custas e emolumentos,
competência constante do art. 147. ressalvada a hipótese de litigância de má-fé.

Capítulo IV Art. 142. Os menores de dezesseis anos serão


Da Escolha dos Conselheiros representados e os maiores de dezesseis e menores de vinte e
um anos assistidos por seus pais, tutores ou curadores, na
Art. 139. O processo para a escolha dos membros do forma da legislação civil ou processual.
Conselho Tutelar será estabelecido em lei municipal e Parágrafo único. A autoridade judiciária dará curador
realizado sob a responsabilidade do Conselho Municipal dos especial à criança ou adolescente, sempre que os interesses
Direitos da Criança e do Adolescente, e a fiscalização do destes colidirem com os de seus pais ou responsável, ou
Ministério Público. quando carecer de representação ou assistência legal ainda
§ 1o O processo de escolha dos membros do Conselho que eventual.
Tutelar ocorrerá em data unificada em todo o território
nacional a cada 4 (quatro) anos, no primeiro domingo do mês Art. 143. E vedada a divulgação de atos judiciais, policiais e
de outubro do ano subsequente ao da eleição presidencial. administrativos que digam respeito a crianças e adolescentes
§ 2o A posse dos conselheiros tutelares ocorrerá no dia 10 a que se atribua autoria de ato infracional.
de janeiro do ano subsequente ao processo de escolha. Parágrafo único. Qualquer notícia a respeito do fato não
§ 3o No processo de escolha dos membros do Conselho poderá identificar a criança ou adolescente, vedando-se
Tutelar, é vedado ao candidato doar, oferecer, prometer ou fotografia, referência ao nome, apelido, filiação, parentesco,
entregar ao eleitor bem ou vantagem pessoal de qualquer residência e, inclusive, iniciais do nome e sobrenome.
natureza, inclusive brindes de pequeno valor.
Art. 144. A expedição de cópia ou certidão de atos a que se
Capítulo V refere o artigo anterior somente será deferida pela autoridade
Dos Impedimentos judiciária competente, se demonstrado o interesse e
justificada a finalidade.
Art. 140. São impedidos de servir no mesmo Conselho
marido e mulher, ascendentes e descendentes, sogro e genro Capítulo II
ou nora, irmãos, cunhados, durante o cunhadio, tio e sobrinho, Da Justiça da Infância e da Juventude
padrasto ou madrasta e enteado. Seção I
Parágrafo único. Estende-se o impedimento do Disposições Gerais
conselheiro, na forma deste artigo, em relação à autoridade
judiciária e ao representante do Ministério Público com Art. 145. Os estados e o Distrito Federal poderão criar
atuação na Justiça da Infância e da Juventude, em exercício na varas especializadas e exclusivas da infância e da juventude,
comarca, foro regional ou distrital. cabendo ao Poder Judiciário estabelecer sua
proporcionalidade por número de habitantes, dotá-las de
Comentários: infraestrutura e dispor sobre o atendimento, inclusive em
O artigo 131 do Estatuto da Criança e do Adolescente plantões.
apresenta o conceito de Conselho Tutelar, bem como a sua
finalidade. Em sua definição apresenta três características Seção II
básicas: Permanente, autônomo e não jurisdicional. Do Juiz
O Conselho Tutelar é órgão permanente, com trabalho
contínuo e ininterrupto, com a finalidade de representação da Art. 146. A autoridade a que se refere esta Lei é o Juiz da
sociedade, implementando assim a participação popular no Infância e da Juventude, ou o juiz que exerce essa função, na
processo de busca de melhores condições para o forma da lei de organização judiciária local.
desenvolvimento do menor.
Também, o Conselho Tutelar é autônomo, já que não Art. 147. A competência será determinada:
necessita de ordem judicial para aplicar medidas protetivas I - pelo domicílio dos pais ou responsável;
previstas nesse Lei, quando as entender adequadas. Exercendo II - pelo lugar onde se encontre a criança ou adolescente, à
assim, sua função com independência, sob fiscalização do falta dos pais ou responsável.
Conselho Municipal, da autoridade judiciária competente e do § 1º. Nos casos de ato infracional, será competente a
Ministério Público. autoridade do lugar da ação ou omissão, observadas as regras
Este órgão Tutelar, exerce função de natureza executiva, e de conexão, continência e prevenção.
não está vinculado ao poder judiciário, por isso tem a § 2º A execução das medidas poderá ser delegada à
característica de não jurisdicional. autoridade competente da residência dos pais ou responsável,
ou do local onde sediar-se a entidade que abrigar a criança ou
adolescente.
§ 3º Em caso de infração cometida através de transmissão
simultânea de rádio ou televisão, que atinja mais de uma

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comarca, será competente, para aplicação da penalidade, a Seção III


autoridade judiciária do local da sede estadual da emissora ou Dos Serviços Auxiliares
rede, tendo a sentença eficácia para todas as transmissoras ou
retransmissoras do respectivo estado. Art. 150. Cabe ao Poder Judiciário, na elaboração de sua
proposta orçamentária, prever recursos para manutenção de
Art. 148. A Justiça da Infância e da Juventude é competente equipe inter profissional, destinada a assessorar a Justiça da
para: Infância e da Juventude.
I - conhecer de representações promovidas pelo Ministério
Público, para apuração de ato infracional atribuído a Art. 151. Compete à equipe inter profissional dentre outras
adolescente, aplicando as medidas cabíveis; atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local,
II - conceder a remissão, como forma de suspensão ou fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou
extinção do processo; verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos
III - conhecer de pedidos de adoção e seus incidentes; de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção
IV - conhecer de ações civis fundadas em interesses e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade
individuais, difusos ou coletivos afetos à criança e ao judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista
adolescente, observado o disposto no art. 209; técnico.
V - conhecer de ações decorrentes de irregularidades em Parágrafo único. Na ausência ou insuficiência de
entidades de atendimento, aplicando as medidas cabíveis; servidores públicos integrantes do Poder Judiciário
VI - aplicar penalidades administrativas nos casos de responsáveis pela realização dos estudos psicossociais ou de
infrações contra norma de proteção à criança ou adolescente; quaisquer outras espécies de avaliações técnicas exigidas por
VII - conhecer de casos encaminhados pelo Conselho esta Lei ou por determinação judicial, a autoridade judiciária
Tutelar, aplicando as medidas cabíveis. poderá proceder à nomeação de perito, nos termos do art. 156
Parágrafo único. Quando se tratar de criança ou da Lei no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo
adolescente nas hipóteses do art. 98, é também competente a Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Justiça da Infância e da Juventude para o fim de:
a) conhecer de pedidos de guarda e tutela; Capítulo III
b) conhecer de ações de destituição do poder familiar, Dos Procedimentos
perda ou modificação da tutela ou guarda; Seção I
c) suprir a capacidade ou o consentimento para o Disposições Gerais
casamento;
d) conhecer de pedidos baseados em discordância paterna Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-
ou materna, em relação ao exercício do poder familiar; se subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação
e) conceder a emancipação, nos termos da lei civil, quando processual pertinente.
faltarem os pais; § 1º É assegurada, sob pena de responsabilidade,
f) designar curador especial em casos de apresentação de prioridade absoluta na tramitação dos processos e
queixa ou representação, ou de outros procedimentos judiciais procedimentos previstos nesta Lei, assim como na execução
ou extrajudiciais em que haja interesses de criança ou dos atos e diligências judiciais a eles referentes.
adolescente; § 2º Os prazos estabelecidos nesta Lei e aplicáveis aos seus
g) conhecer de ações de alimentos; procedimentos são contados em dias corridos, excluído o dia
h) determinar o cancelamento, a retificação e o suprimento do começo e incluído o dia do vencimento, vedado o prazo em
dos registros de nascimento e óbito. dobro para a Fazenda Pública e o Ministério
Público. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 149. Compete à autoridade judiciária disciplinar,
através de portaria, ou autorizar, mediante alvará: Art. 153. Se a medida judicial a ser adotada não
I - a entrada e permanência de criança ou adolescente, corresponder a procedimento previsto nesta ou em outra lei, a
desacompanhado dos pais ou responsável, em: autoridade judiciária poderá investigar os fatos e ordenar de
a) estádio, ginásio e campo desportivo; ofício as providências necessárias, ouvido o Ministério
b) bailes ou promoções dançantes; Público.
c) boate ou congêneres; Parágrafo único. O disposto neste artigo não se aplica para
d) casa que explore comercialmente diversões eletrônicas; o fim de afastamento da criança ou do adolescente de sua
e) estúdios cinematográficos, de teatro, rádio e televisão. família de origem e em outros procedimentos
II - a participação de criança e adolescente em: necessariamente contenciosos.
a) espetáculos públicos e seus ensaios;
b) certames de beleza. Art. 154. Aplica-se às multas o disposto no art. 214.
§ 1º Para os fins do disposto neste artigo, a autoridade
judiciária levará em conta, dentre outros fatores: Seção II
a) os princípios desta Lei; Da Perda e da Suspensão do Poder Familiar
b) as peculiaridades locais;
c) a existência de instalações adequadas; Art. 155. O procedimento para a perda ou a suspensão
d) o tipo de frequência habitual ao local; do poder familiar terá início por provocação do Ministério
e) a adequação do ambiente a eventual participação ou Público ou de quem tenha legítimo interesse.
frequência de crianças e adolescentes;
f) a natureza do espetáculo. Art. 156. A petição inicial indicará:
§ 2º As medidas adotadas na conformidade deste artigo I - a autoridade judiciária a que for dirigida;
deverão ser fundamentadas, caso a caso, vedadas as II - o nome, o estado civil, a profissão e a residência do
determinações de caráter geral. requerente e do requerido, dispensada a qualificação em se
tratando de pedido formulado por representante do
Ministério Público;
III - a exposição sumária do fato e o pedido;

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APOSTILAS OPÇÃO

IV - as provas que serão produzidas, oferecendo, desde suspensão ou destituição do poder familiar previstas nos arts.
logo, o rol de testemunhas e documentos. 1.637 e 1.638 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002
(Código Civil), ou no art. 24 desta Lei. (Redação dada
Art. 157. Havendo motivo grave, poderá a autoridade pela Lei nº 13.509, de 2017)
judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar a suspensão § 2o (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509,
do poder familiar, liminar ou incidentalmente, até o de 2017)
julgamento definitivo da causa, ficando a criança ou § 3o Se o pedido importar em modificação de guarda, será
adolescente confiado a pessoa idônea, mediante termo de obrigatória, desde que possível e razoável, a oitiva da criança
responsabilidade. ou adolescente, respeitado seu estágio de desenvolvimento e
§ 1o Recebida a petição inicial, a autoridade judiciária grau de compreensão sobre as implicações da medida.
determinará, concomitantemente ao despacho de citação e § 4º É obrigatória a oitiva dos pais sempre que eles forem
independentemente de requerimento do interessado, a identificados e estiverem em local conhecido, ressalvados os
realização de estudo social ou perícia por equipe inter casos de não comparecimento perante a Justiça quando
profissional ou multidisciplinar para comprovar a presença de devidamente citados. (Redação dada pela Lei nº 13.509,
uma das causas de suspensão ou destituição do poder familiar, de 2017)
ressalvado o disposto no § 10 do art. 101 desta Lei, e § 5o Se o pai ou a mãe estiverem privados de liberdade, a
observada a Lei no 13.431, de 4 de abril de 2017. (Incluído autoridade judicial requisitará sua apresentação para a oitiva
pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2o Em sendo os pais oriundos de comunidades indígenas, Art. 162. Apresentada a resposta, a autoridade judiciária
é ainda obrigatória a intervenção, junto à equipe inter dará vista dos autos ao Ministério Público, por cinco dias, salvo
profissional ou multidisciplinar referida no § 1o deste artigo, quando este for o requerente, designando, desde logo,
de representantes do órgão federal responsável pela política audiência de instrução e julgamento.
indigenista, observado o disposto no § 6o do art. 28 desta § 1º (Revogado). (Redação dada pela Lei nº 13.509, de
Lei. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) 2017)
§ 2o Na audiência, presentes as partes e o Ministério
Art. 158. O requerido será citado para, no prazo de dez Público, serão ouvidas as testemunhas, colhendo-se oralmente
dias, oferecer resposta escrita, indicando as provas a serem o parecer técnico, salvo quando apresentado por escrito,
produzidas e oferecendo desde logo o rol de testemunhas e manifestando-se sucessivamente o requerente, o requerido e
documentos. o Ministério Público, pelo tempo de 20 (vinte) minutos cada
§ 1o A citação será pessoal, salvo se esgotados todos os um, prorrogável por mais 10 (dez) minutos. (Redação
meios para sua realização. dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 2o O requerido privado de liberdade deverá ser citado § 3o A decisão será proferida na audiência, podendo a
pessoalmente. autoridade judiciária, excepcionalmente, designar data para
§ 3o Quando, por 2 (duas) vezes, o oficial de justiça houver sua leitura no prazo máximo de 5 (cinco) dias. (Incluído
procurado o citando em seu domicílio ou residência sem o pela Lei nº 13.509, de 2017)
encontrar, deverá, havendo suspeita de ocultação, informar § 4o Quando o procedimento de destituição de poder
qualquer pessoa da família ou, em sua falta, qualquer vizinho familiar for iniciado pelo Ministério Público, não haverá
do dia útil em que voltará a fim de efetuar a citação, na hora necessidade de nomeação de curador especial em favor da
que designar, nos termos do art. 252 e seguintes da Lei criança ou adolescente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de
no 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo 2017)
Civil). (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
§ 4o Na hipótese de os genitores encontrarem-se em local Art. 163. O prazo máximo para conclusão do procedimento
incerto ou não sabido, serão citados por edital no prazo de 10 será de 120 (cento e vinte) dias, e caberá ao juiz, no caso de
(dez) dias, em publicação única, dispensado o envio de ofícios notória inviabilidade de manutenção do poder familiar, dirigir
para a localização. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) esforços para preparar a criança ou o adolescente com vistas à
colocação em família substituta. (Redação dada pela Lei
Art. 159. Se o requerido não tiver possibilidade de nº 13.509, de 2017)
constituir advogado, sem prejuízo do próprio sustento e de sua Parágrafo único. A sentença que decretar a perda ou a
família, poderá requerer, em cartório, que lhe seja nomeado suspensão do poder familiar será averbada à margem do
dativo, ao qual incumbirá a apresentação de resposta, registro de nascimento da criança ou do adolescente.
contando-se o prazo a partir da intimação do despacho de
nomeação. Atenção! A Lei 13.509 de 2017 também modificou o
Parágrafo único. Na hipótese de requerido privado de Capítulo III, Seção I e Seção II, que trata sobre os
liberdade, o oficial de justiça deverá perguntar, no momento procedimentos da perda e da suspenção do poder familiar.
da citação pessoal, se deseja que lhe seja nomeado defensor.
Seção III
Art. 160. Sendo necessário, a autoridade judiciária Da Destituição da Tutela
requisitará de qualquer repartição ou órgão público a
apresentação de documento que interesse à causa, de ofício ou Art. 164. Na destituição da tutela, observar-se-á o
a requerimento das partes ou do Ministério Público. procedimento para a remoção de tutor previsto na lei
processual civil e, no que couber, o disposto na seção anterior.
Art. 161. Se não for contestado o pedido e tiver sido
concluído o estudo social ou a perícia realizada por equipe Seção IV
inter profissional ou multidisciplinar, a autoridade judiciária Da Colocação em Família Substituta
dará vista dos autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias,
salvo quando este for o requerente, e decidirá em igual Art. 165. São requisitos para a concessão de pedidos de
prazo. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) colocação em família substituta:
§ 1º A autoridade judiciária, de ofício ou a requerimento I - qualificação completa do requerente e de seu eventual
das partes ou do Ministério Público, determinará a oitiva de cônjuge, ou companheiro, com expressa anuência deste;
testemunhas que comprovem a presença de uma das causas de

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II - indicação de eventual parentesco do requerente e de Art. 169. Nas hipóteses em que a destituição da tutela, a
seu cônjuge, ou companheiro, com a criança ou adolescente, perda ou a suspensão do poder familiar constituir pressuposto
especificando se tem ou não parente vivo; lógico da medida principal de colocação em família substituta,
III - qualificação completa da criança ou adolescente e de será observado o procedimento contraditório previsto nas
seus pais, se conhecidos; Seções II e III deste Capítulo.
IV - indicação do cartório onde foi inscrito nascimento, Parágrafo único. A perda ou a modificação da guarda
anexando, se possível, uma cópia da respectiva certidão; poderá ser decretada nos mesmos autos do procedimento,
V - declaração sobre a existência de bens, direitos ou observado o disposto no art. 35.
rendimentos relativos à criança ou ao adolescente.
Parágrafo único. Em se tratando de adoção, observar-se-ão Art. 170. Concedida a guarda ou a tutela, observar-se-á o
também os requisitos específicos. disposto no art. 32, e, quanto à adoção, o contido no art. 47.
Parágrafo único. A colocação de criança ou adolescente
Art. 166. Se os pais forem falecidos, tiverem sido sob a guarda de pessoa inscrita em programa de acolhimento
destituídos ou suspensos do poder familiar, ou houverem familiar será comunicada pela autoridade judiciária à entidade
aderido expressamente ao pedido de colocação em família por este responsável no prazo máximo de 5 (cinco) dias.
substituta, este poderá ser formulado diretamente em
cartório, em petição assinada pelos próprios requerentes, Seção V
dispensada a assistência de advogado. Da Apuração de Ato Infracional Atribuído a
§ 1o Na hipótese de concordância dos pais, o juiz: (Redação Adolescente
dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
I - na presença do Ministério Público, ouvirá as partes, Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem
devidamente assistidas por advogado ou por defensor público, judicial será, desde logo, encaminhado à autoridade judiciária.
para verificar sua concordância com a adoção, no prazo
máximo de 10 (dez) dias, contado da data do protocolo da Art. 172. O adolescente apreendido em flagrante de ato
petição ou da entrega da criança em juízo, tomando por termo infracional será, desde logo, encaminhado à autoridade
as declarações; e (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) policial competente.
II - declarará a extinção do poder familiar. (Incluído pela Parágrafo único. Havendo repartição policial especializada
Lei nº 13.509, de 2017) para atendimento de adolescente e em se tratando de ato
§ 2o O consentimento dos titulares do poder familiar será infracional praticado em coautoria com maior, prevalecerá a
precedido de orientações e esclarecimentos prestados pela atribuição da repartição especializada, que, após as
equipe inter profissional da Justiça da Infância e da Juventude, providências necessárias e conforme o caso, encaminhará o
em especial, no caso de adoção, sobre a irrevogabilidade da adulto à repartição policial própria.
medida.
§ 3o São garantidos a livre manifestação de vontade dos Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido
detentores do poder familiar e o direito ao sigilo das mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade
informações. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo
§ 4o O consentimento prestado por escrito não terá único, e 107, deverá:
validade se não for ratificado na audiência a que se refere o § I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o
1o deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) adolescente;
§ 5o O consentimento é retratável até a data da realização II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
da audiência especificada no § 1o deste artigo, e os pais podem III - requisitar os exames ou perícias necessários à
exercer o arrependimento no prazo de 10 (dez) dias, contado comprovação da materialidade e autoria da infração.
da data de prolação da sentença de extinção do poder Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante, a
familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017) lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de
§ 6o O consentimento somente terá valor se for dado após ocorrência circunstanciada.
o nascimento da criança.
§ 7o A família natural e a família substituta receberão a Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável,
devida orientação por intermédio de equipe técnica inter o adolescente será prontamente liberado pela autoridade
profissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua
preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela apresentação ao representante do Ministério Público, no
execução da política municipal de garantia do direito à mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato,
convivência familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de exceto quando, pela gravidade do ato infracional e sua
2017) repercussão social, deva o adolescente permanecer sob
Art. 167. A autoridade judiciária, de ofício ou a internação para garantia de sua segurança pessoal ou
requerimento das partes ou do Ministério Público, manutenção da ordem pública.
determinará a realização de estudo social ou, se possível,
perícia por equipe inter profissional, decidindo sobre a Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial
concessão de guarda provisória, bem como, no caso de adoção, encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do
sobre o estágio de convivência. Ministério Público, juntamente com cópia do auto de
Parágrafo único. Deferida a concessão da guarda apreensão ou boletim de ocorrência.
provisória ou do estágio de convivência, a criança ou o § 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a
adolescente será entregue ao interessado, mediante termo de autoridade policial encaminhará o adolescente à entidade de
responsabilidade. atendimento, que fará a apresentação ao representante do
Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
Art. 168. Apresentado o relatório social ou o laudo pericial, § 2º Nas localidades onde não houver entidade de
e ouvida, sempre que possível, a criança ou o adolescente, dar- atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial.
se-á vista dos autos ao Ministério Público, pelo prazo de cinco À falta de repartição policial especializada, o adolescente
dias, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo. aguardará a apresentação em dependência separada da
destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese,
exceder o prazo referido no parágrafo anterior.

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Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da
policial encaminhará imediatamente ao representante do internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de § 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão
ocorrência. cientificados do teor da representação, e notificados a
comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver § 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a
indícios de participação de adolescente na prática de ato autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
infracional, a autoridade policial encaminhará ao § 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade
representante do Ministério Público relatório das judiciária expedirá mandado de busca e apreensão,
investigações e demais documentos. determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva
apresentação.
Art. 178. O adolescente a quem se atribua autoria de ato § 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a
infracional não poderá ser conduzido ou transportado em sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou
compartimento fechado de veículo policial, em condições responsável.
atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua
integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade. Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela
autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do estabelecimento prisional.
Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de § 1º Inexistindo na comarca entidade com as
apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, características definidas no art. 123, o adolescente deverá ser
devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e § 2º Sendo impossível a pronta transferência, o
informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais adolescente aguardará sua remoção em repartição policial,
ou responsável, vítima e testemunhas. desde que em seção isolada dos adultos e com instalações
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de
representante do Ministério Público notificará os pais ou cinco dias, sob pena de responsabilidade.
responsável para apresentação do adolescente, podendo
requisitar o concurso das polícias civil e militar. Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou
responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos
Art. 180. Adotadas as providências a que alude o artigo mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
anterior, o representante do Ministério Público poderá: § 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a
I - promover o arquivamento dos autos; remissão, ouvirá o representante do Ministério Público,
II - conceder a remissão; proferindo decisão.
III - representar à autoridade judiciária para aplicação de § 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de
medida socioeducativa. internação ou colocação em regime de semiliberdade, a
autoridade judiciária, verificando que o adolescente não
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou possui advogado constituído, nomeará defensor, designando,
concedida a remissão pelo representante do Ministério desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a
Público, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo realização de diligências e estudo do caso.
dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para § 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no
homologação. prazo de três dias contado da audiência de apresentação,
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o § 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas
cumprimento da medida. arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos diligências e juntado o relatório da equipe inter profissional,
autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho será dada a palavra ao representante do Ministério Público e
fundamentado, e este oferecerá representação, designará ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos
outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou para cada um, prorrogável por mais dez, a critério da
ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.
autoridade judiciária obrigada a homologar.
Art. 187. Se o adolescente, devidamente notificado, não
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do comparecer, injustificadamente à audiência de apresentação, a
Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder autoridade judiciária designará nova data, determinando sua
a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária, condução coercitiva.
propondo a instauração de procedimento para aplicação da
medida socioeducativa que se afigurar a mais adequada. Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão
§ 1º A representação será oferecida por petição, que do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do
conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato procedimento, antes da sentença.
infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas,
podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer
pela autoridade judiciária. medida, desde que reconheça na sentença:
§ 2º A representação independe de prova pré-constituída I - estar provada a inexistência do fato;
da autoria e materialidade. II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato ato infracional;
Art. 183. O prazo máximo e improrrogável para a IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para
conclusão do procedimento, estando o adolescente internado o ato infracional.
provisoriamente, será de quarenta e cinco dias. Parágrafo único. Na hipótese deste artigo, estando o
adolescente internado, será imediatamente colocado em
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária liberdade.
designará audiência de apresentação do adolescente,

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Art. 190. A intimação da sentença que aplicar medida de 240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts.
internação ou regime de semiliberdade será feita: 154-A, 217-A, 218,218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de
I - ao adolescente e ao seu defensor; 7 de dezembro de 1940 (Código Penal). (Incluído pela Lei nº
II - quando não for encontrado o adolescente, a seus pais 13.441, de 2017)
ou responsável, sem prejuízo do defensor. Parágrafo único. O agente policial infiltrado que deixar de
§ 1º Sendo outra a medida aplicada, a intimação far-se-á observar a estrita finalidade da investigação responderá pelos
unicamente na pessoa do defensor. excessos praticados. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
§ 2º Recaindo a intimação na pessoa do adolescente,
deverá este manifestar se deseja ou não recorrer da sentença. Art. 190-D. Os órgãos de registro e cadastro público
poderão incluir nos bancos de dados próprios, mediante
Seção V-A procedimento sigiloso e requisição da autoridade judicial, as
(Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) informações necessárias à efetividade da identidade fictícia
Da Infiltração de Agentes de Polícia para a criada. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Investigação de Crimes contra a Dignidade Sexual de Parágrafo único. O procedimento sigiloso de que trata esta
Criança e de Adolescente Seção será numerado e tombado em livro
específico. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
Art. 190-A. A infiltração de agentes de polícia na internet
com o fim de investigar os crimes previstos nos arts. Art. 190-E. Concluída a investigação, todos os atos
240, 241, 241-A, 241-B, 241-C e 241-D desta Lei e nos arts. eletrônicos praticados durante a operação deverão ser
154-A, 217-A, 218, 218-A e 218-B do Decreto-Lei nº 2.848, de registrados, gravados, armazenados e encaminhados ao juiz e
7 de dezembro de 1940 (Código Penal), obedecerá às seguintes ao Ministério Público, juntamente com relatório
regras: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) circunstanciado. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017)
I – será precedida de autorização judicial devidamente Parágrafo único. Os atos eletrônicos registrados citados
circunstanciada e fundamentada, que estabelecerá os limites no caput deste artigo serão reunidos em autos apartados e
da infiltração para obtenção de prova, ouvido o Ministério apensados ao processo criminal juntamente com o inquérito
Público; (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) policial, assegurando-se a preservação da identidade do
II – dar-se-á mediante requerimento do Ministério Público agente policial infiltrado e a intimidade das crianças e dos
ou representação de delegado de polícia e conterá a adolescentes envolvidos. (Incluído pela Lei nº 13.441, de
demonstração de sua necessidade, o alcance das tarefas dos 2017)
policiais, os nomes ou apelidos das pessoas investigadas e,
quando possível, os dados de conexão ou cadastrais que Seção VI
permitam a identificação dessas pessoas; (Incluído pela Lei nº Da Apuração de Irregularidades em Entidade de
13.441, de 2017) Atendimento
III – não poderá exceder o prazo de 90 (noventa) dias, sem
prejuízo de eventuais renovações, desde que o total não Art. 191. O procedimento de apuração de irregularidades
exceda a 720 (setecentos e vinte) dias e seja demonstrada sua em entidade governamental e não-governamental terá início
efetiva necessidade, a critério da autoridade judicial. (Incluído mediante portaria da autoridade judiciária ou representação
pela Lei nº 13.441, de 2017) do Ministério Público ou do Conselho Tutelar, onde conste,
§ 1º A autoridade judicial e o Ministério Público poderão necessariamente, resumo dos fatos.
requisitar relatórios parciais da operação de infiltração antes Parágrafo único. Havendo motivo grave, poderá a
do término do prazo de que trata o inciso II do § 1º deste autoridade judiciária, ouvido o Ministério Público, decretar
artigo. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) liminarmente o afastamento provisório do dirigente da
§ 2º Para efeitos do disposto no inciso I do § 1º deste artigo, entidade, mediante decisão fundamentada.
consideram-se: (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) Art. 192. O dirigente da entidade será citado para, no prazo
I – dados de conexão: informações referentes a hora, data, de dez dias, oferecer resposta escrita, podendo juntar
início, término, duração, endereço de Protocolo de Internet documentos e indicar as provas a produzir.
(IP) utilizado e terminal de origem da conexão; (Incluído pela
Lei nº 13.441, de 2017) Art. 193. Apresentada ou não a resposta, e sendo
II – dados cadastrais: informações referentes a nome e necessário, a autoridade judiciária designará audiência de
endereço de assinante ou de usuário registrado ou autenticado instrução e julgamento, intimando as partes.
para a conexão a quem endereço de IP, identificação de usuário § 1º Salvo manifestação em audiência, as partes e o
ou código de acesso tenha sido atribuído no momento da Ministério Público terão cinco dias para oferecer alegações
conexão. finais, decidindo a autoridade judiciária em igual prazo.
§ 3º A infiltração de agentes de polícia na internet não será § 2º Em se tratando de afastamento provisório ou
admitida se a prova puder ser obtida por outros definitivo de dirigente de entidade governamental, a
meios. (Incluído pela Lei nº 13.441, de 2017) autoridade judiciária oficiará à autoridade administrativa
imediatamente superior ao afastado, marcando prazo para a
Art. 190-B. As informações da operação de infiltração substituição.
serão encaminhadas diretamente ao juiz responsável pela § 3º Antes de aplicar qualquer das medidas, a autoridade
autorização da medida, que zelará por seu sigilo. (Incluído judiciária poderá fixar prazo para a remoção das
pela Lei nº 13.441, de 2017) irregularidades verificadas. Satisfeitas as exigências, o
Parágrafo único. Antes da conclusão da operação, o acesso processo será extinto, sem julgamento de mérito.
aos autos será reservado ao juiz, ao Ministério Público e ao § 4º A multa e a advertência serão impostas ao dirigente da
delegado de polícia responsável pela operação, com o objetivo entidade ou programa de atendimento.
de garantir o sigilo das investigações. (Incluído pela Lei nº
13.441, de 2017)

Art. 190-C. Não comete crime o policial que oculta a sua


identidade para, por meio da internet, colher indícios de
autoria e materialidade dos crimes previstos nos arts.

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Seção VII III - requerer a juntada de documentos complementares e


Da Apuração de Infração Administrativa às Normas a realização de outras diligências que entender
de Proteção à Criança e ao Adolescente necessárias.

Art. 194. O procedimento para imposição de penalidade Art. 197-C. Intervirá no feito, obrigatoriamente, equipe
administrativa por infração às normas de proteção à criança e inter profissional a serviço da Justiça da Infância e da
ao adolescente terá início por representação do Ministério Juventude, que deverá elaborar estudo psicossocial, que
Público, ou do Conselho Tutelar, ou auto de infração elaborado conterá subsídios que permitam aferir a capacidade e o
por servidor efetivo ou voluntário credenciado, e assinado por preparo dos postulantes para o exercício de uma paternidade
duas testemunhas, se possível. ou maternidade responsável, à luz dos requisitos e princípios
§ 1º No procedimento iniciado com o auto de infração, desta Lei.
poderão ser usadas fórmulas impressas, especificando-se a § 1o É obrigatória a participação dos postulantes em
natureza e as circunstâncias da infração. programa oferecido pela Justiça da Infância e da Juventude,
§ 2º Sempre que possível, à verificação da infração seguir- preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela
se-á a lavratura do auto, certificando-se, em caso contrário, dos execução da política municipal de garantia do direito à
motivos do retardamento. convivência familiar e dos grupos de apoio à adoção
devidamente habilitados perante a Justiça da Infância e da
Art. 195. O requerido terá prazo de dez dias para Juventude, que inclua preparação psicológica, orientação e
apresentação de defesa, contado da data da intimação, que estímulo à adoção inter-racial, de crianças ou de adolescentes
será feita: com deficiência, com doenças crônicas ou com necessidades
I - pelo autuante, no próprio auto, quando este for lavrado específicas de saúde, e de grupos de irmãos. (Redação
na presença do requerido; dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
II - por oficial de justiça ou funcionário legalmente § 2o Sempre que possível e recomendável, a etapa
habilitado, que entregará cópia do auto ou da representação obrigatória da preparação referida no § 1o deste artigo incluirá
ao requerido, ou a seu representante legal, lavrando certidão; o contato com crianças e adolescentes em regime de
III - por via postal, com aviso de recebimento, se não for acolhimento familiar ou institucional, a ser realizado sob
encontrado o requerido ou seu representante legal; orientação, supervisão e avaliação da equipe técnica da Justiça
IV - por edital, com prazo de trinta dias, se incerto ou não da Infância e da Juventude e dos grupos de apoio à adoção, com
sabido o paradeiro do requerido ou de seu representante legal. apoio dos técnicos responsáveis pelo programa de
acolhimento familiar e institucional e pela execução da política
Art. 196. Não sendo apresentada a defesa no prazo legal, a municipal de garantia do direito à convivência
autoridade judiciária dará vista dos autos do Ministério familiar. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Público, por cinco dias, decidindo em igual prazo. § 3o É recomendável que as crianças e os adolescentes
acolhidos institucionalmente ou por família acolhedora sejam
Art. 197. Apresentada a defesa, a autoridade judiciária preparados por equipe inter profissional antes da inclusão em
procederá na conformidade do artigo anterior, ou, sendo família adotiva. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
necessário, designará audiência de instrução e julgamento.
Parágrafo único. Colhida a prova oral, manifestar-se-ão Art. 197-D. Certificada nos autos a conclusão da
sucessivamente o Ministério Público e o procurador do participação no programa referido no art. 197-C desta Lei, a
requerido, pelo tempo de vinte minutos para cada um, autoridade judiciária, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas,
prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, decidirá acerca das diligências requeridas pelo Ministério
que em seguida proferirá sentença. Público e determinará a juntada do estudo psicossocial,
designando, conforme o caso, audiência de instrução e
Seção VIII julgamento.
(Incluída pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência Parágrafo único. Caso não sejam requeridas diligências, ou
Da Habilitação de Pretendentes à Adoção sendo essas indeferidas, a autoridade judiciária determinará a
juntada do estudo psicossocial, abrindo a seguir vista dos
Art. 197-A. Os postulantes à adoção, domiciliados no autos ao Ministério Público, por 5 (cinco) dias, decidindo em
Brasil, apresentarão petição inicial na qual conste: igual prazo.
I - qualificação completa;
II - dados familiares; Art. 197-E. Deferida a habilitação, o postulante será
III - cópias autenticadas de certidão de nascimento ou inscrito nos cadastros referidos no art. 50 desta Lei, sendo a
casamento, ou declaração relativa ao período de união sua convocação para a adoção feita de acordo com ordem
estável; cronológica de habilitação e conforme a disponibilidade de
IV - cópias da cédula de identidade e inscrição no Cadastro crianças ou adolescentes adotáveis.
de Pessoas Físicas; § 1o A ordem cronológica das habilitações somente poderá
V - comprovante de renda e domicílio; deixar de ser observada pela autoridade judiciária nas
VI - atestados de sanidade física e mental hipóteses previstas no § 13 do art. 50 desta Lei, quando
VII - certidão de antecedentes criminais; comprovado ser essa a melhor solução no interesse do
VIII - certidão negativa de distribuição cível. adotando.
§ 2o A habilitação à adoção deverá ser renovada no mínimo
Art. 197-B. A autoridade judiciária, no prazo de 48 trienalmente mediante avaliação por equipe inter
(quarenta e oito) horas, dará vista dos autos ao Ministério profissional. (Redação dada pela Lei nº 13.509, de 2017)
Público, que no prazo de 5 (cinco) dias poderá: § 3o Quando o adotante candidatar-se a uma nova adoção,
I - apresentar quesitos a serem respondidos pela equipe será dispensável a renovação da habilitação, bastando a
inter profissional encarregada de elaborar o estudo técnico a avaliação por equipe inter profissional. (Incluído pela
que se refere o art. 197-C desta Lei; Lei nº 13.509, de 2017)
II - requerer a designação de audiência para oitiva dos § 4o Após 3 (três) recusas injustificadas, pelo habilitado, à
postulantes em juízo e testemunhas; adoção de crianças ou adolescentes indicados dentro do perfil

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APOSTILAS OPÇÃO

escolhido, haverá reavaliação da habilitação Parágrafo único. O Ministério Público será intimado da
concedida. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) data do julgamento e poderá na sessão, se entender
§ 5o A desistência do pretendente em relação à guarda necessário, apresentar oralmente seu parecer.
para fins de adoção ou a devolução da criança ou do
adolescente depois do trânsito em julgado da sentença de Art. 199-E. O Ministério Público poderá requerer a
adoção importará na sua exclusão dos cadastros de adoção e instauração de procedimento para apuração de
na vedação de renovação da habilitação, salvo decisão judicial responsabilidades se constatar o descumprimento das
fundamentada, sem prejuízo das demais sanções previstas na providências e do prazo previstos nos artigos anteriores.
legislação vigente. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017)
Art. 197-F. O prazo máximo para conclusão da habilitação Capítulo V
à adoção será de 120 (cento e vinte) dias, prorrogável por igual Do Ministério Público
período, mediante decisão fundamentada da autoridade
judiciária. (Incluído pela Lei nº 13.509, de 2017) Art. 200. As funções do Ministério Público previstas nesta
Lei serão exercidas nos termos da respectiva lei orgânica.
Capítulo IV
Dos Recursos Art. 201. Compete ao Ministério Público:
I - conceder a remissão como forma de exclusão do
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e processo;
da Juventude, inclusive os relativos à execução das medidas II - promover e acompanhar os procedimentos relativos às
socioeducativas, adotar-se-á o sistema recursal da Lei infrações atribuídas a adolescentes;
no 5.869, de 11 de janeiro de 1973 (Código de Processo Civil), III - promover e acompanhar as ações de alimentos e os
com as seguintes adaptações: procedimentos de suspensão e destituição do poder familiar,
I - os recursos serão interpostos independentemente de nomeação e remoção de tutores, curadores e guardiães, bem
preparo; como oficiar em todos os demais procedimentos da
II - em todos os recursos, salvo nos embargos de competência da Justiça da Infância e da Juventude;
declaração, o prazo para o Ministério Público e para a defesa IV - promover, de ofício ou por solicitação dos
será sempre de 10 (dez) dias; interessados, a especialização e a inscrição de hipoteca legal e
III - os recursos terão preferência de julgamento e a prestação de contas dos tutores, curadores e quaisquer
dispensarão revisor; administradores de bens de crianças e adolescentes nas
IV - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) hipóteses do art. 98;
V - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) V - promover o inquérito civil e a ação civil pública para a
VI - (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009) proteção dos interesses individuais, difusos ou coletivos
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior relativos à infância e à adolescência, inclusive os definidos
instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso de no art. 220, § 3º inciso II, da Constituição Federal;
agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho VI - instaurar procedimentos administrativos e, para
fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo instruí-los:
de cinco dias; a) expedir notificações para colher depoimentos ou
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão esclarecimentos e, em caso de não comparecimento
remeterá os autos ou o instrumento à superior instância injustificado, requisitar condução coercitiva, inclusive pela
dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo polícia civil ou militar;
pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos b) requisitar informações, exames, perícias e documentos
dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do de autoridades municipais, estaduais e federais, da
Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados da administração direta ou indireta, bem como promover
intimação. inspeções e diligências investigatórias;
c) requisitar informações e documentos a particulares e
Art. 199. Contra as decisões proferidas com base no art. instituições privadas;
149 caberá recurso de apelação. VII - instaurar sindicâncias, requisitar diligências
investigatórias e determinar a instauração de inquérito
Art. 199-A. A sentença que deferir a adoção produz efeito policial, para apuração de ilícitos ou infrações às normas de
desde logo, embora sujeita a apelação, que será recebida proteção à infância e à juventude;
exclusivamente no efeito devolutivo, salvo se se tratar de VIII - zelar pelo efetivo respeito aos direitos e garantias
adoção internacional ou se houver perigo de dano irreparável legais assegurados às crianças e adolescentes, promovendo as
ou de difícil reparação ao adotando. medidas judiciais e extrajudiciais cabíveis;
IX - impetrar mandado de segurança, de injunção e habeas
Art. 199-B. A sentença que destituir ambos ou qualquer corpus, em qualquer juízo, instância ou tribunal, na defesa dos
dos genitores do poder familiar fica sujeita a apelação, que interesses sociais e individuais indisponíveis afetos à criança e
deverá ser recebida apenas no efeito devolutivo. ao adolescente;
X - representar ao juízo visando à aplicação de penalidade
Art. 199-C. Os recursos nos procedimentos de adoção e de por infrações cometidas contra as normas de proteção à
destituição de poder familiar, em face da relevância das infância e à juventude, sem prejuízo da promoção da
questões, serão processados com prioridade absoluta, responsabilidade civil e penal do infrator, quando cabível;
devendo ser imediatamente distribuídos, ficando vedado que XI - inspecionar as entidades públicas e particulares de
aguardem, em qualquer situação, oportuna distribuição, e atendimento e os programas de que trata esta Lei, adotando de
serão colocados em mesa para julgamento sem revisão e com pronto as medidas administrativas ou judiciais necessárias à
parecer urgente do Ministério Público. remoção de irregularidades porventura verificadas;
XII - requisitar força policial, bem como a colaboração dos
Art. 199-D. O relator deverá colocar o processo em mesa serviços médicos, hospitalares, educacionais e de assistência
para julgamento no prazo máximo de 60 (sessenta) dias, social, públicos ou privados, para o desempenho de suas
contado da sua conclusão. atribuições.

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§ 1º A legitimação do Ministério Público para as ações Capítulo VII


cíveis previstas neste artigo não impede a de terceiros, nas Da Proteção Judicial dos Interesses Individuais,
mesmas hipóteses, segundo dispuserem a Constituição e esta Difusos e Coletivos
Lei.
§ 2º As atribuições constantes deste artigo não excluem Art. 208. Regem-se pelas disposições desta Lei as ações de
outras, desde que compatíveis com a finalidade do Ministério responsabilidade por ofensa aos direitos assegurados à
Público. criança e ao adolescente, referentes ao não oferecimento ou
§ 3º O representante do Ministério Público, no exercício de oferta irregular:
suas funções, terá livre acesso a todo local onde se encontre I - do ensino obrigatório;
criança ou adolescente. II - de atendimento educacional especializado aos
§ 4º O representante do Ministério Público será portadores de deficiência;
responsável pelo uso indevido das informações e documentos III – de atendimento em creche e pré-escola às crianças de
que requisitar, nas hipóteses legais de sigilo. zero a cinco anos de idade;
§ 5º Para o exercício da atribuição de que trata o inciso VIII IV - de ensino noturno regular, adequado às condições do
deste artigo, poderá o representante do Ministério Público: educando;
a) reduzir a termo as declarações do reclamante, V - de programas suplementares de oferta de material
instaurando o competente procedimento, sob sua presidência; didático-escolar, transporte e assistência à saúde do educando
b) entender-se diretamente com a pessoa ou autoridade do ensino fundamental;
reclamada, em dia, local e horário previamente notificados ou VI - de serviço de assistência social visando à proteção à
acertados; família, à maternidade, à infância e à adolescência, bem como
c) efetuar recomendações visando à melhoria dos serviços ao amparo às crianças e adolescentes que dele necessitem;
públicos e de relevância pública afetos à criança e ao VII - de acesso às ações e serviços de saúde;
adolescente, fixando prazo razoável para sua perfeita VIII - de escolarização e profissionalização dos
adequação. adolescentes privados de liberdade.
IX - de ações, serviços e programas de orientação, apoio e
Art. 202. Nos processos e procedimentos em que não for promoção social de famílias e destinados ao pleno exercício do
parte, atuará obrigatoriamente o Ministério Público na defesa direito à convivência familiar por crianças e adolescentes.
dos direitos e interesses de que cuida esta Lei, hipótese em que X - de programas de atendimento para a execução das
terá vista dos autos depois das partes, podendo juntar medidas socioeducativas e aplicação de medidas de
documentos e requerer diligências, usando os recursos proteção.
cabíveis. Obs: A Lei nº 13.431/2017 acrescentou o inciso XI ao
artigo 208, entretanto, essa lei só entrará em vigor após 1 ano
Art. 203. A intimação do Ministério Público, em qualquer de sua publicação (04/04/2018).
caso, será feita pessoalmente. § 1o As hipóteses previstas neste artigo não excluem da
proteção judicial outros interesses individuais, difusos ou
Art. 204. A falta de intervenção do Ministério Público coletivos, próprios da infância e da adolescência, protegidos
acarreta a nulidade do feito, que será declarada de ofício pelo pela Constituição e pela Lei.
juiz ou a requerimento de qualquer interessado. § 2o A investigação do desaparecimento de crianças ou
adolescentes será realizada imediatamente após notificação
Art. 205. As manifestações processuais do representante aos órgãos competentes, que deverão comunicar o fato aos
do Ministério Público deverão ser fundamentadas. portos, aeroportos, Polícia Rodoviária e companhias de
transporte interestaduais e internacionais, fornecendo-lhes
Capítulo VI todos os dados necessários à identificação do
Do Advogado desaparecido.

Art. 206. A criança ou o adolescente, seus pais ou Art. 209. As ações previstas neste Capítulo serão propostas
responsável, e qualquer pessoa que tenha legítimo interesse no foro do local onde ocorreu ou deva ocorrer a ação ou
na solução da lide poderão intervir nos procedimentos de que omissão, cujo juízo terá competência absoluta para processar
trata esta Lei, através de advogado, o qual será intimado para a causa, ressalvadas a competência da Justiça Federal e a
todos os atos, pessoalmente ou por publicação oficial, competência originária dos tribunais superiores.
respeitado o segredo de justiça.
Parágrafo único. Será prestada assistência judiciária Art. 210. Para as ações cíveis fundadas em interesses
integral e gratuita àqueles que dela necessitarem. coletivos ou difusos, consideram-se legitimados
concorrentemente:
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática I - o Ministério Público;
de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, II - a União, os estados, os municípios, o Distrito Federal e
será processado sem defensor. os territórios;
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á III - as associações legalmente constituídas há pelo menos
nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa
constituir outro de sua preferência. dos interesses e direitos protegidos por esta Lei, dispensada a
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento autorização da assembleia, se houver prévia autorização
de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto, estatutária.
ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato. § 1º Admitir-se-á litisconsórcio facultativo entre os
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se Ministérios Públicos da União e dos estados na defesa dos
tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido interesses e direitos de que cuida esta Lei.
indicado por ocasião de ato formal com a presença da § 2º Em caso de desistência ou abandono da ação por
autoridade judiciária. associação legitimada, o Ministério Público ou outro
legitimado poderá assumir a titularidade ativa.

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Art. 211. Os órgãos públicos legitimados poderão tomar Art. 219. Nas ações de que trata este Capítulo, não haverá
dos interessados compromisso de ajustamento de sua conduta adiantamento de custas, emolumentos, honorários periciais e
às exigências legais, o qual terá eficácia de título executivo quaisquer outras despesas.
extrajudicial.
Art. 220. Qualquer pessoa poderá e o servidor público
Art. 212. Para defesa dos direitos e interesses protegidos deverá provocar a iniciativa do Ministério Público, prestando-
por esta Lei, são admissíveis todas as espécies de ações lhe informações sobre fatos que constituam objeto de ação
pertinentes. civil, e indicando-lhe os elementos de convicção.
§ 1º Aplicam-se às ações previstas neste Capítulo as
normas do Código de Processo Civil. Art. 221. Se, no exercício de suas funções, os juízos e
§ 2º Contra atos ilegais ou abusivos de autoridade pública tribunais tiverem conhecimento de fatos que possam ensejar a
ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do propositura de ação civil, remeterão peças ao Ministério
poder público, que lesem direito líquido e certo previsto nesta Público para as providências cabíveis.
Lei, caberá ação mandamental, que se regerá pelas normas da Art. 222. Para instruir a petição inicial, o interessado
lei do mandado de segurança. poderá requerer às autoridades competentes as certidões e
informações que julgar necessárias, que serão fornecidas no
Art. 213. Na ação que tenha por objeto o cumprimento de prazo de quinze dias.
obrigação de fazer ou não fazer, o juiz concederá a tutela
específica da obrigação ou determinará providências que Art. 223. O Ministério Público poderá instaurar, sob sua
assegurem o resultado prático equivalente ao do presidência, inquérito civil, ou requisitar, de qualquer pessoa,
adimplemento. organismo público ou particular, certidões, informações,
§ 1º Sendo relevante o fundamento da demanda e havendo exames ou perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá
justificado receio de ineficácia do provimento final, é lícito ao ser inferior a dez dias úteis.
juiz conceder a tutela liminarmente ou após justificação § 1º Se o órgão do Ministério Público, esgotadas todas as
prévia, citando o réu. diligências, se convencer da inexistência de fundamento para
§ 2º O juiz poderá, na hipótese do parágrafo anterior ou na a propositura da ação cível, promoverá o arquivamento dos
sentença, impor multa diária ao réu, independentemente de autos do inquérito civil ou das peças informativas, fazendo-o
pedido do autor, se for suficiente ou compatível com a fundamentadamente.
obrigação, fixando prazo razoável para o cumprimento do § 2º Os autos do inquérito civil ou as peças de informação
preceito. arquivados serão remetidos, sob pena de se incorrer em falta
§ 3º A multa só será exigível do réu após o trânsito em grave, no prazo de três dias, ao Conselho Superior do
julgado da sentença favorável ao autor, mas será devida desde Ministério Público.
o dia em que se houver configurado o descumprimento. § 3º Até que seja homologada ou rejeitada a promoção de
arquivamento, em sessão do Conselho Superior do Ministério
Art. 214. Os valores das multas reverterão ao fundo gerido público, poderão as associações legitimadas apresentar razões
pelo Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente do escritas ou documentos, que serão juntados aos autos do
respectivo município. inquérito ou anexados às peças de informação.
§ 1º As multas não recolhidas até trinta dias após o trânsito § 4º A promoção de arquivamento será submetida a exame
em julgado da decisão serão exigidas através de execução e deliberação do Conselho Superior do Ministério Público,
promovida pelo Ministério Público, nos mesmos autos, conforme dispuser o seu regimento.
facultada igual iniciativa aos demais legitimados. § 5º Deixando o Conselho Superior de homologar a
§ 2º Enquanto o fundo não for regulamentado, o dinheiro promoção de arquivamento, designará, desde logo, outro
ficará depositado em estabelecimento oficial de crédito, em órgão do Ministério Público para o ajuizamento da ação.
conta com correção monetária. Art. 224. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as
disposições da Lei n.º 7.347, de 24 de julho de 1985.
Art. 215. O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos
recursos, para evitar dano irreparável à parte. Título VII
Dos Crimes e Das Infrações Administrativas
Art. 216. Transitada em julgado a sentença que impuser Capítulo I
condenação ao poder público, o juiz determinará a remessa de Dos Crimes
peças à autoridade competente, para apuração da Seção I
responsabilidade civil e administrativa do agente a que se Disposições Gerais
atribua a ação ou omissão.
Art. 225. Este Capítulo dispõe sobre crimes praticados
Art. 217. Decorridos sessenta dias do trânsito em julgado contra a criança e o adolescente, por ação ou omissão, sem
da sentença condenatória sem que a associação autora lhe prejuízo do disposto na legislação penal.
promova a execução, deverá fazê-lo o Ministério Público,
facultada igual iniciativa aos demais legitimados. Art. 226. Aplicam-se aos crimes definidos nesta Lei as
normas da Parte Geral do Código Penal e, quanto ao processo,
Art. 218. O juiz condenará a associação autora a pagar ao as pertinentes ao Código de Processo Penal.
réu os honorários advocatícios arbitrados na conformidade
do § 4º do art. 20 da Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973 Art. 227. Os crimes definidos nesta Lei são de ação pública
(Código de Processo Civil), quando reconhecer que a incondicionada.
pretensão é manifestamente infundada.
Parágrafo único. Em caso de litigância de má-fé, a Seção II
associação autora e os diretores responsáveis pela Dos Crimes em Espécie
propositura da ação serão solidariamente condenados ao
décuplo das custas, sem prejuízo de responsabilidade por Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de
perdas e danos. estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter
registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo

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referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à Art. 240. Produzir, reproduzir, dirigir, fotografar, filmar ou
parturiente ou a seu responsável, por ocasião da alta médica, registrar, por qualquer meio, cena de sexo explícito ou
declaração de nascimento, onde constem as intercorrências do pornográfica, envolvendo criança ou adolescente:
parto e do desenvolvimento do neonato: Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
Pena - detenção de seis meses a dois anos. § 1o Incorre nas mesmas penas quem agencia, facilita,
Parágrafo único. Se o crime é culposo: recruta, coage, ou de qualquer modo intermedeia a
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. participação de criança ou adolescente nas cenas referidas
no caput deste artigo, ou ainda quem com esses contracena.
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de § 2o Aumenta-se a pena de 1/3 (um terço) se o agente
estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar comete o crime:
corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, I – no exercício de cargo ou função pública ou a pretexto de
bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 exercê-la;
desta Lei: II – prevalecendo-se de relações domésticas, de coabitação
Pena - detenção de seis meses a dois anos. ou de hospitalidade; ou
Parágrafo único. Se o crime é culposo: III – prevalecendo-se de relações de parentesco
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa. consanguíneo ou afim até o terceiro grau, ou por adoção, de
tutor, curador, preceptor, empregador da vítima ou de quem,
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua a qualquer outro título, tenha autoridade sobre ela, ou com seu
liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante consentimento.
de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade
judiciária competente: Art. 241. Vender ou expor à venda fotografia, vídeo ou
Pena - detenção de seis meses a dois anos. outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que pornográfica envolvendo criança ou adolescente.
procede à apreensão sem observância das formalidades legais. Pena – reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.

Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela Art. 241-A. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir,
apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata distribuir, publicar ou divulgar por qualquer meio, inclusive
comunicação à autoridade judiciária competente e à família do por meio de sistema de informática ou telemático, fotografia,
apreendido ou à pessoa por ele indicada: vídeo ou outro registro que contenha cena de sexo explícito ou
Pena - detenção de seis meses a dois anos. pornográfica envolvendo criança ou adolescente:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua § 1o Nas mesmas penas incorre quem:
autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a I – assegura os meios ou serviços para o armazenamento
constrangimento: das fotografias, cenas ou imagens de que trata o caput deste
Pena - detenção de seis meses a dois anos. artigo;
II – assegura, por qualquer meio, o acesso por rede de
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, computadores às fotografias, cenas ou imagens de que trata
de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão o caput deste artigo.
logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão: § 2o As condutas tipificadas nos incisos I e II do § 1o deste
Pena - detenção de seis meses a dois anos. artigo são puníveis quando o responsável legal pela prestação
do serviço, oficialmente notificado, deixa de desabilitar o
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado acesso ao conteúdo ilícito de que trata o caput deste artigo.
nesta Lei em benefício de adolescente privado de liberdade:
Pena - detenção de seis meses a dois anos. Art. 241-B. Adquirir, possuir ou armazenar, por qualquer
meio, fotografia, vídeo ou outra forma de registro que
Art. 236. Impedir ou embaraçar a ação de autoridade contenha cena de sexo explícito ou pornográfica envolvendo
judiciária, membro do Conselho Tutelar ou representante do criança ou adolescente:
Ministério Público no exercício de função prevista nesta Lei: Pena – reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos, e multa.
Pena - detenção de seis meses a dois anos. § 1o A pena é diminuída de 1 (um) a 2/3 (dois terços) se de
pequena quantidade o material a que se refere o caput deste
Art. 237. Subtrair criança ou adolescente ao poder de quem artigo.
o tem sob sua guarda em virtude de lei ou ordem judicial, com § 2o Não há crime se a posse ou o armazenamento tem a
o fim de colocação em lar substituto: finalidade de comunicar às autoridades competentes a
Pena - reclusão de dois a seis anos, e multa. ocorrência das condutas descritas nos arts. 240, 241, 241-A e
241-C desta Lei, quando a comunicação for feita por:
Art. 238. Prometer ou efetivar a entrega de filho ou pupilo I – agente público no exercício de suas funções;
a terceiro, mediante paga ou recompensa: II – membro de entidade, legalmente constituída, que
Pena - reclusão de um a quatro anos, e multa. inclua, entre suas finalidades institucionais, o recebimento, o
Parágrafo único. Incide nas mesmas penas quem oferece processamento e o encaminhamento de notícia dos crimes
ou efetiva a paga ou recompensa. referidos neste parágrafo;
III – representante legal e funcionários responsáveis de
Art. 239. Promover ou auxiliar a efetivação de ato provedor de acesso ou serviço prestado por meio de rede de
destinado ao envio de criança ou adolescente para o exterior computadores, até o recebimento do material relativo à notícia
com inobservância das formalidades legais ou com o fito de feita à autoridade policial, ao Ministério Público ou ao Poder
obter lucro: Judiciário.
Pena - reclusão de quatro a seis anos, e multa. § 3o As pessoas referidas no § 2o deste artigo deverão
Parágrafo único. Se há emprego de violência, grave ameaça manter sob sigilo o material ilícito referido.
ou fraude:
Pena - reclusão, de 6 (seis) a 8 (oito) anos, além da pena Art. 241-C. Simular a participação de criança ou
correspondente à violência. adolescente em cena de sexo explícito ou pornográfica por

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meio de adulteração, montagem ou modificação de fotografia, quaisquer meios eletrônicos, inclusive salas de bate-papo da
vídeo ou qualquer outra forma de representação visual: internet.
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. § 2o As penas previstas no caput deste artigo são
Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas quem vende, aumentadas de um terço no caso de a infração cometida ou
expõe à venda, disponibiliza, distribui, publica ou divulga por induzida estar incluída no rol do art. 1o da Lei no 8.072, de 25
qualquer meio, adquire, possui ou armazena o material de julho de 1990.
produzido na forma do caput deste artigo.
Capítulo II
Art. 241-D. Aliciar, assediar, instigar ou constranger, por Das Infrações Administrativas
qualquer meio de comunicação, criança, com o fim de com ela
praticar ato libidinoso. Art. 245. Deixar o médico, professor ou responsável por
Pena – reclusão, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa. estabelecimento de atenção à saúde e de ensino fundamental,
Parágrafo único. Nas mesmas penas incorre quem: pré-escola ou creche, de comunicar à autoridade competente
I – facilita ou induz o acesso à criança de material contendo os casos de que tenha conhecimento, envolvendo suspeita ou
cena de sexo explícito ou pornográfica com o fim de com ela confirmação de maus-tratos contra criança ou adolescente:
praticar ato libidinoso; Pena - multa de três a vinte salários de referência,
II – pratica as condutas descritas no caput deste artigo com aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
o fim de induzir criança a se exibir de forma pornográfica ou
sexualmente explícita. Art. 246. Impedir o responsável ou funcionário de entidade
de atendimento o exercício dos direitos constantes nos incisos
Art. 241-E. Para efeito dos crimes previstos nesta Lei, a II, III, VII, VIII e XI do art. 124 desta Lei:
expressão “cena de sexo explícito ou pornográfica” Pena - multa de três a vinte salários de referência,
compreende qualquer situação que envolva criança ou aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
adolescente em atividades sexuais explícitas, reais ou
simuladas, ou exibição dos órgãos genitais de uma criança ou Art. 247. Divulgar, total ou parcialmente, sem autorização
adolescente para fins primordialmente sexuais. devida, por qualquer meio de comunicação, nome, ato ou
documento de procedimento policial, administrativo ou
Art. 242. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou judicial relativo a criança ou adolescente a que se atribua ato
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente arma, infracional:
munição ou explosivo: Pena - multa de três a vinte salários de referência,
Pena - reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos. aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
§ 1º Incorre na mesma pena quem exibe, total ou
Art. 243. Vender, fornecer, servir, ministrar ou entregar, parcialmente, fotografia de criança ou adolescente envolvido
ainda que gratuitamente, de qualquer forma, a criança ou a em ato infracional, ou qualquer ilustração que lhe diga
adolescente, bebida alcoólica ou, sem justa causa, outros respeito ou se refira a atos que lhe sejam atribuídos, de forma
produtos cujos componentes possam causar dependência a permitir sua identificação, direta ou indiretamente.
física ou psíquica: § 2º Se o fato for praticado por órgão de imprensa ou
Pena - detenção de 2 (dois) a 4 (quatro) anos, e multa, se o emissora de rádio ou televisão, além da pena prevista neste
fato não constitui crime mais grave. artigo, a autoridade judiciária poderá determinar a apreensão
da publicação ou a suspensão da programação da emissora até
Art. 244. Vender, fornecer ainda que gratuitamente ou por dois dias, bem como da publicação do periódico até por
entregar, de qualquer forma, a criança ou adolescente fogos de dois números. (Expressão declara inconstitucional pela ADIN
estampido ou de artifício, exceto aqueles que, pelo seu 869-2)
reduzido potencial, sejam incapazes de provocar qualquer
dano físico em caso de utilização indevida: Art. 248. Deixar de apresentar à autoridade judiciária de
Pena - detenção de seis meses a dois anos, e multa. seu domicílio, no prazo de cinco dias, com o fim de regularizar
a guarda, adolescente trazido de outra comarca para a
Art. 244-A. Submeter criança ou adolescente, como tais prestação de serviço doméstico, mesmo que autorizado pelos
definidos no caput do art. 2o desta Lei, à prostituição ou à pais ou responsável: (Vide Lei n.º 13.431, de 2017)
exploração sexual Pena - multa de três a vinte salários de referência,
Pena – reclusão de quatro a dez anos e multa, além da aplicando-se o dobro em caso de reincidência,
perda de bens e valores utilizados na prática criminosa em independentemente das despesas de retorno do adolescente,
favor do Fundo dos Direitos da Criança e do Adolescente da se for o caso.
unidade da Federação (Estado ou Distrito Federal) em que foi Observação: A Lei nº 13.431/2017 revoga o art. 248,
cometido o crime, ressalvado o direito de terceiro de boa- entretanto, essa lei só entrará em vigor após 1 ano de sua
fé. (Redação dada pela Lei nº 13.440, de 2017) publicação (04/04/2018).
§ 1o Incorrem nas mesmas penas o proprietário, o gerente
ou o responsável pelo local em que se verifique a submissão de Art. 249. Descumprir, dolosa ou culposamente, os deveres
criança ou adolescente às práticas referidas no caput deste inerentes ao poder familiar ou decorrente de tutela ou guarda,
artigo. bem assim determinação da autoridade judiciária ou Conselho
§ 2o Constitui efeito obrigatório da condenação a cassação Tutelar:
da licença de localização e de funcionamento do Pena - multa de três a vinte salários de referência,
estabelecimento. aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 250. Hospedar criança ou adolescente
Art. 244-B. Corromper ou facilitar a corrupção de menor desacompanhado dos pais ou responsável, ou sem autorização
de 18 (dezoito) anos, com ele praticando infração penal ou escrita desses ou da autoridade judiciária, em hotel, pensão,
induzindo-o a praticá-la: motel ou congênere:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. Pena – multa.
§ 1o Incorre nas penas previstas no caput deste artigo
quem pratica as condutas ali tipificadas utilizando-se de

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APOSTILAS OPÇÃO

§ 1º Em caso de reincidência, sem prejuízo da pena de Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três
multa, a autoridade judiciária poderá determinar o mil reais).
fechamento do estabelecimento por até 15 (quinze) dias. Parágrafo único. Incorre nas mesmas penas a autoridade
§ 2º Se comprovada a reincidência em período inferior a que deixa de efetuar o cadastramento de crianças e de
30 (trinta) dias, o estabelecimento será definitivamente adolescentes em condições de serem adotadas, de pessoas ou
fechado e terá sua licença cassada. casais habilitados à adoção e de crianças e adolescentes em
regime de acolhimento institucional ou familiar.
Art. 251. Transportar criança ou adolescente, por qualquer
meio, com inobservância do disposto nos arts. 83, 84 e 85 Art. 258-B. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de
desta Lei: estabelecimento de atenção à saúde de gestante de efetuar
Pena - multa de três a vinte salários de referência, imediato encaminhamento à autoridade judiciária de caso de
aplicando-se o dobro em caso de reincidência. que tenha conhecimento de mãe ou gestante interessada em
entregar seu filho para adoção:
Art. 252. Deixar o responsável por diversão ou espetáculo Pena - multa de R$ 1.000,00 (mil reais) a R$ 3.000,00 (três
público de afixar, em lugar visível e de fácil acesso, à entrada mil reais).
do local de exibição, informação destacada sobre a natureza da Parágrafo único. Incorre na mesma pena o funcionário de
diversão ou espetáculo e a faixa etária especificada no programa oficial ou comunitário destinado à garantia do
certificado de classificação: direito à convivência familiar que deixa de efetuar a
Pena - multa de três a vinte salários de referência, comunicação referida no caput deste artigo.
aplicando-se o dobro em caso de reincidência.
Art. 258-C. Descumprir a proibição estabelecida no inciso
Art. 253. Anunciar peças teatrais, filmes ou quaisquer II do art. 81:
representações ou espetáculos, sem indicar os limites de idade Pena - multa de R$ 3.000,00 (três mil reais) a R$ 10.000,00
a que não se recomendem: (dez mil reais);
Pena - multa de três a vinte salários de referência, Medida Administrativa - interdição do estabelecimento
duplicada em caso de reincidência, aplicável, separadamente, comercial até o recolhimento da multa aplicada.
à casa de espetáculo e aos órgãos de divulgação ou Observação: A Lei nº 13.431/2017 revoga o art. 248,
publicidade. entretanto, essa lei só entrará em vigor após 1 ano de sua
publicação (04/04/2018).
Art. 254. Transmitir, através de rádio ou televisão,
espetáculo em horário diverso do autorizado ou sem aviso de Disposições Finais e Transitórias
sua classificação:
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; Art. 259. A União, no prazo de noventa dias contados da
duplicada em caso de reincidência a autoridade judiciária publicação deste Estatuto, elaborará projeto de lei dispondo
poderá determinar a suspensão da programação da emissora sobre a criação ou adaptação de seus órgãos às diretrizes da
por até dois dias. política de atendimento fixadas no art. 88 e ao que estabelece
o Título V do Livro II.
Art. 255. Exibir filme, trailer, peça, amostra ou congênere Parágrafo único. Compete aos estados e municípios
classificado pelo órgão competente como inadequado às promoverem a adaptação de seus órgãos e programas às
crianças ou adolescentes admitidos ao espetáculo: diretrizes e princípios estabelecidos nesta Lei.
Pena - multa de vinte a cem salários de referência; na
reincidência, a autoridade poderá determinar a suspensão do Art. 260. Os contribuintes poderão efetuar doações aos
espetáculo ou o fechamento do estabelecimento por até quinze Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional,
dias. distrital, estaduais ou municipais, devidamente comprovadas,
sendo essas integralmente deduzidas do imposto de renda,
Art. 256. Vender ou locar a criança ou adolescente fita de obedecidos os seguintes limites:
programação em vídeo, em desacordo com a classificação I - 1% (um por cento) do imposto sobre a renda devido
atribuída pelo órgão competente: apurado pelas pessoas jurídicas tributadas com base no lucro
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso real; e
de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o II - 6% (seis por cento) do imposto sobre a renda apurado
fechamento do estabelecimento por até quinze dias. pelas pessoas físicas na Declaração de Ajuste Anual, observado
o disposto no art. 22 da Lei no 9.532, de 10 de dezembro de
Art. 257. Descumprir obrigação constante dos arts. 78 e 79 1997.
desta Lei: § 1o-A. Na definição das prioridades a serem atendidas
Pena - multa de três a vinte salários de referência, com os recursos captados pelos fundos nacional, estaduais e
duplicando-se a pena em caso de reincidência, sem prejuízo de municipais dos direitos da criança e do adolescente, serão
apreensão da revista ou publicação. consideradas as disposições do Plano Nacional de Promoção,
Proteção e Defesa do Direito de Crianças e Adolescentes à
Art. 258. Deixar o responsável pelo estabelecimento ou o Convivência Familiar e Comunitária e as do Plano Nacional
empresário de observar o que dispõe esta Lei sobre o acesso pela Primeira Infância. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
de criança ou adolescente aos locais de diversão, ou sobre sua de 2016)
participação no espetáculo: § 2o Os conselhos nacional, estaduais e municipais dos
Pena - multa de três a vinte salários de referência; em caso direitos da criança e do adolescente fixarão critérios de
de reincidência, a autoridade judiciária poderá determinar o utilização, por meio de planos de aplicação, das dotações
fechamento do estabelecimento por até quinze dias. subsidiadas e demais receitas, aplicando necessariamente
percentual para incentivo ao acolhimento, sob a forma de
Art. 258-A. Deixar a autoridade competente de guarda, de crianças e adolescentes e para programas de
providenciar a instalação e operacionalização dos cadastros atenção integral à primeira infância em áreas de maior
previstos no art. 50 e no § 11 do art. 101 desta Lei: carência socioeconômica e em situações de
calamidade. (Redação dada pela Lei nº 13.257, de 2016)

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§ 3º O Departamento da Receita Federal, do Ministério da Art. 260-D. Os órgãos responsáveis pela administração das
Economia, Fazenda e Planejamento, regulamentará a contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
comprovação das doações feitas aos fundos, nos termos deste nacional, estaduais, distrital e municipais devem emitir recibo
artigo. em favor do doador, assinado por pessoa competente e pelo
§ 4º O Ministério Público determinará em cada comarca a presidente do Conselho correspondente, especificando:
forma de fiscalização da aplicação, pelo Fundo Municipal dos I - número de ordem;
Direitos da Criança e do Adolescente, dos incentivos fiscais II - nome, Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica (CNPJ) e
referidos neste artigo. endereço do emitente;
§ 5o Observado o disposto no § 4o do art. 3o da Lei no 9.249, III - nome, CNPJ ou Cadastro de Pessoas Físicas (CPF) do
de 26 de dezembro de 1995, a dedução de que trata o inciso I doador;
do caput IV - data da doação e valor efetivamente recebido; e
I - será considerada isoladamente, não se submetendo a V - ano-calendário a que se refere a doação.
limite em conjunto com outras deduções do imposto; e § 1o O comprovante de que trata o caput deste artigo pode
II - não poderá ser computada como despesa operacional ser emitido anualmente, desde que discrimine os valores
na apuração do lucro real. doados mês a mês.
§ 2o No caso de doação em bens, o comprovante deve
Art. 260-A. A partir do exercício de 2010, ano-calendário conter a identificação dos bens, mediante descrição em campo
de 2009, a pessoa física poderá optar pela doação de que trata próprio ou em relação anexa ao comprovante, informando
o inciso II do caput do art. 260 diretamente em sua Declaração também se houve avaliação, o nome, CPF ou CNPJ e endereço
de Ajuste Anual. dos avaliadores.
§ 1o A doação de que trata o caput poderá ser deduzida até
os seguintes percentuais aplicados sobre o imposto apurado Art. 260-E. Na hipótese da doação em bens, o doador
na declaração: deverá
I - (VETADO); I - comprovar a propriedade dos bens, mediante
II - (VETADO); documentação hábil;
III - 3% (três por cento) a partir do exercício de 2012. II - baixar os bens doados na declaração de bens e direitos,
§ 2o A dedução de que trata o caput: quando se tratar de pessoa física, e na escrituração, no caso de
I - está sujeita ao limite de 6% (seis por cento) do imposto pessoa jurídica; e
sobre a renda apurado na declaração de que trata o inciso II III - considerar como valor dos bens doados:
do caput do art. 260; a) para as pessoas físicas, o valor constante da última
II - não se aplica à pessoa física que: declaração do imposto de renda, desde que não exceda o valor
a) utilizar o desconto simplificado; de mercado;
b) apresentar declaração em formulário; ou b) para as pessoas jurídicas, o valor contábil dos bens.
c) entregar a declaração fora do prazo; Parágrafo único. O preço obtido em caso de leilão não será
III - só se aplica às doações em espécie; e considerado na determinação do valor dos bens doados,
IV - não exclui ou reduz outros benefícios ou deduções em exceto se o leilão for determinado por autoridade
vigor. judiciária.
§ 3o O pagamento da doação deve ser efetuado até a data
de vencimento da primeira quota ou quota única do imposto, Art. 260-F. Os documentos a que se referem os arts. 260-D
observadas instruções específicas da Secretaria da Receita e 260-E devem ser mantidos pelo contribuinte por um prazo
Federal do Brasil. de 5 (cinco) anos para fins de comprovação da dedução
§ 4o O não pagamento da doação no prazo estabelecido no perante a Receita Federal do Brasil.
§ 3o implica a glosa definitiva desta parcela de dedução,
ficando a pessoa física obrigada ao recolhimento da diferença Art. 260-G. Os órgãos responsáveis pela administração das
de imposto devido apurado na Declaração de Ajuste Anual com contas dos Fundos dos Direitos da Criança e do Adolescente
os acréscimos legais previstos na legislação. nacional, estaduais, distrital e municipais devem:
§ 5o A pessoa física poderá deduzir do imposto apurado na I - manter conta bancária específica destinada
Declaração de Ajuste Anual as doações feitas, no respectivo exclusivamente a gerir os recursos do Fundo;
ano-calendário, aos fundos controlados pelos Conselhos dos II - manter controle das doações recebidas; e
Direitos da Criança e do Adolescente municipais, distrital, III - informar anualmente à Secretaria da Receita Federal
estaduais e nacional concomitantemente com a opção de que do Brasil as doações recebidas mês a mês, identificando os
trata o caput, respeitado o limite previsto no inciso II do art. seguintes dados por doador:
260. a) nome, CNPJ ou CPF;
b) valor doado, especificando se a doação foi em espécie ou
Art. 260-B. A doação de que trata o inciso I do art. 260 em bens.
poderá ser deduzida:
I - do imposto devido no trimestre, para as pessoas Art. 260-H. Em caso de descumprimento das obrigações
jurídicas que apuram o imposto trimestralmente; e previstas no art. 260-G, a Secretaria da Receita Federal do
II - do imposto devido mensalmente e no ajuste anual, para Brasil dará conhecimento do fato ao Ministério Público.
as pessoas jurídicas que apuram o imposto anualmente.
Parágrafo único. A doação deverá ser efetuada dentro do Art. 260-I. Os Conselhos dos Direitos da Criança e do
período a que se refere a apuração do imposto. Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais
Art. 260-C. As doações de que trata o art. 260 desta Lei divulgarão amplamente à comunidade:
podem ser efetuadas em espécie ou em bens. I - o calendário de suas reuniões;
Parágrafo único. As doações efetuadas em espécie devem II - as ações prioritárias para aplicação das políticas de
ser depositadas em conta específica, em instituição financeira atendimento à criança e ao adolescente;
pública, vinculadas aos respectivos fundos de que trata o art. III - os requisitos para a apresentação de projetos a serem
260. beneficiados com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança
e do Adolescente nacional, estaduais, distrital ou
municipais;

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IV - a relação dos projetos aprovados em cada ano- 5) Art. 214...................................................................


calendário e o valor dos recursos previstos para Parágrafo único. Se o ofendido é menor de catorze anos:
implementação das ações, por projeto; Pena - reclusão de três a nove anos.
V - o total dos recursos recebidos e a respectiva destinação, Art. 264. O art. 102 da Lei n.º 6.015, de 31 de dezembro de
por projeto atendido, inclusive com cadastramento na base de 1973, fica acrescido do seguinte item:
dados do Sistema de Informações sobre a Infância e a "Art. 102 ....................................................................
Adolescência; e 6º) a perda e a suspensão do pátrio poder. "
VI - a avaliação dos resultados dos projetos beneficiados
com recursos dos Fundos dos Direitos da Criança e do Art. 265. A Imprensa Nacional e demais gráficas da União,
Adolescente nacional, estaduais, distrital e municipais. da administração direta ou indireta, inclusive fundações
Art. 260-J. O Ministério Público determinará, em cada instituídas e mantidas pelo poder público federal promoverão
Comarca, a forma de fiscalização da aplicação dos incentivos edição popular do texto integral deste Estatuto, que será posto
fiscais referidos no art. 260 desta Lei. à disposição das escolas e das entidades de atendimento e de
Parágrafo único. O descumprimento do disposto nos arts. defesa dos direitos da criança e do adolescente.
260-G e 260-I sujeitará os infratores a responder por ação
judicial proposta pelo Ministério Público, que poderá atuar de Art. 265-A. O poder público fará periodicamente ampla
ofício, a requerimento ou representação de qualquer divulgação dos direitos da criança e do adolescente nos meios
cidadão. de comunicação social. (Redação dada pela Lei nº 13.257,
de 2016)
Art. 260-K. A Secretaria de Direitos Humanos da Parágrafo único. A divulgação a que se refere o caput será
Presidência da República (SDH/PR) encaminhará à Secretaria veiculada em linguagem clara, compreensível e adequada a
da Receita Federal do Brasil, até 31 de outubro de cada ano, crianças e adolescentes, especialmente às crianças com idade
arquivo eletrônico contendo a relação atualizada dos Fundos inferior a 6 (seis) anos. (Incluído dada pela Lei nº 13.257,
dos Direitos da Criança e do Adolescente nacional, distrital, de 2016)
estaduais e municipais, com a indicação dos respectivos
números de inscrição no CNPJ e das contas bancárias Art. 266. Esta Lei entra em vigor noventa dias após sua
específicas mantidas em instituições financeiras públicas, publicação.
destinadas exclusivamente a gerir os recursos dos Fundos. Parágrafo único. Durante o período de vacância deverão
ser promovidas atividades e campanhas de divulgação e
Art. 260-L. A Secretaria da Receita Federal do Brasil esclarecimentos acerca do disposto nesta Lei.
expedirá as instruções necessárias à aplicação do disposto nos
arts. 260 a 260-K. Art. 267. Revogam-se as Leis n.º 4.513, de 1964, e 6.697, de
10 de outubro de 1979 (Código de Menores), e as demais
Art. 261. A falta dos conselhos municipais dos direitos da disposições em contrário.
criança e do adolescente, os registros, inscrições e alterações a
que se referem os arts. 90, parágrafo único, e 91 desta Lei serão Brasília, 13 de julho de 1990; 169º da Independência e
efetuados perante a autoridade judiciária da comarca a que 102º da República.
pertencer a entidade.
Parágrafo único. A União fica autorizada a repassar aos Questões
estados e municípios, e os estados aos municípios, os recursos
referentes aos programas e atividades previstos nesta Lei, tão 01. (Prefeitura de Sul Brasil – SC - Agente Educativo –
logo estejam criados os conselhos dos direitos da criança e do ALTERNATIVE CONCURSOS/2017) De acordo com o
adolescente nos seus respectivos níveis. Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 60,
é proibido qualquer trabalho a menores:
Art. 262. Enquanto não instalados os Conselhos Tutelares, (A) De quatorze anos de idade, inclusive na condição de
as atribuições a eles conferidas serão exercidas pela aprendiz.
autoridade judiciária. (B) De quatorze anos de idade, salvo na condição de
aprendiz.
Art. 263. O Decreto-Lei n.º 2.848, de 7 de dezembro de (C) De dezesseis anos de idade, salvo na condição de
1940 (Código Penal), passa a vigorar com as seguintes aprendiz.
alterações: (D) De dezesseis anos de idade, inclusive na condição de
1) Art. 121 ............................................................ aprendiz.
§ 4º No homicídio culposo, a pena é aumentada de um (E) De dezessete anos de idade, inclusive na condição de
terço, se o crime resulta de inobservância de regra técnica de aprendiz.
profissão, arte ou ofício, ou se o agente deixa de prestar
imediato socorro à vítima, não procura diminuir as 02. (Prefeitura de Sul Brasil – SC - Educador Social –
consequências do seu ato, ou foge para evitar prisão em ALTERNATIVE CONCURSOS/2017) De acordo com o
flagrante. Sendo doloso o homicídio, a pena é aumentada de Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei n.º 8.069/90, art. 69,
um terço, se o crime é praticado contra pessoa menor de o adolescente tem direito à profissionalização e à proteção no
catorze anos. trabalho, observados os seguintes aspectos:
2) Art. 129 ............................................................... I. Respeito à condição peculiar de pessoa em
§ 7º Aumenta-se a pena de um terço, se ocorrer qualquer desenvolvimento.
das hipóteses do art. 121, § 4º. II. Capacitação profissional adequada ao mercado de
§ 8º Aplica-se à lesão culposa o disposto no § 5º do art. 121. trabalho.
3) Art. 136................................................................. III. Remuneração do adolescente em relação ao trabalho
§ 3º Aumenta-se a pena de um terço, se o crime é praticado prestado.
contra pessoa menor de catorze anos. (A) Somente I e III estão corretas.
4) Art. 213 .................................................................. (B) Somente I e II estão corretas.
Parágrafo único. Se a ofendida é menor de catorze anos: (C) Somente II e III estão corretas.
Pena - reclusão de quatro a dez anos.

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(D) Somente I está correta. TÍTULO II


(E) Todas estão corretas. Dos Princípios e Fins da Educação Nacional

03. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional – Art. 2º A educação, dever da família e do Estado, inspirada
CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
(ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte. humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
Conforme o ECA, professores que submeterem estudantes educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a qualificação para o trabalho.
constrangimento serão passíveis de detenção de um a seis
meses. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes
( ) Certo ( ) Errado princípios:
I - igualdade de condições para o acesso e permanência na
04. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional – escola;
CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente II - liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a
(ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte. cultura, o pensamento, a arte e o saber;
Os conselhos tutelares das regiões administrativas do DF III - pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas;
são compostos por seis membros indicados pela SEE/DF, com IV - respeito à liberdade e apreço à tolerância;
mandatos fixos de quatro anos. V - coexistência de instituições públicas e privadas de
( ) Certo ( ) Errado ensino;
VI - gratuidade do ensino público em estabelecimentos
05. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional – oficiais;
CESPE/2017) À luz do Estatuto da Criança e do Adolescente VII - valorização do profissional da educação escolar;
(ECA) — Lei n.º 8.069/1990 — e da CF, julgue o item seguinte. VIII - gestão democrática do ensino público, na forma desta
Situação hipotética: Maurício completou quatorze anos de Lei e da legislação dos sistemas de ensino;
idade e deseja trabalhar, mas não quer abandonar seus IX - garantia de padrão de qualidade;
estudos. Assertiva: Nesse caso, o direito de proteção especial X - valorização da experiência extraescolar;
permite que Maurício seja admitido ao trabalho, cabendo ao XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
Estado garantir seu acesso à escola. práticas sociais.
( ) Certo ( ) Errado XII - consideração com a diversidade étnico-racial.
XIII - garantia do direito à educação e à aprendizagem ao
Respostas longo da vida. (Incluído pela Lei nº 13.632, de 2018)

01. B. / 02. B. / 03. Errado. / 04. Errado. / 05. Certo. Comentários:


Os princípios e fins a que se refere à Lei 9.394/96, de modo
explícito e formal, são retirados da Constituição Federal de
LDB Lei Federal nº 9394/96 1988, em seu artigo 206.
e alterações posteriores TÍTULO III
Do Direito à Educação e do Dever de Educar

LEI Nº 9.394, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1996 Art. 4º O dever do Estado com educação escolar pública
DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL será efetivado mediante a garantia de:
I - educação básica obrigatória e gratuita dos 4 (quatro)
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o aos 17 (dezessete) anos de idade, organizada da seguinte
Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: forma:
a) pré-escola;
TÍTULO I b) ensino fundamental;
Da Educação c) ensino médio;
II - educação infantil gratuita às crianças de até 5 (cinco)
Art. 1º A educação abrange os processos formativos que se anos de idade;
desenvolvem na vida familiar, na convivência humana, no III - atendimento educacional especializado gratuito aos
trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa, nos educandos com deficiência, transtornos globais do
movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação,
manifestações culturais. transversal a todos os níveis, etapas e modalidades,
§ 1º Esta Lei disciplina a educação escolar, que se preferencialmente na rede regular de ensino;
desenvolve, predominantemente, por meio do ensino, em IV - acesso público e gratuito aos ensinos fundamental e
instituições próprias. médio para todos os que não os concluíram na idade própria;
§ 2º A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do V - acesso aos níveis mais elevados do ensino, da pesquisa
trabalho e à prática social. e da criação artística, segundo a capacidade de cada um;
VI - oferta de ensino noturno regular, adequado às
Comentários: condições do educando;
A LDB – Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei VII - oferta de educação escolar regular para jovens e
9.394/96, também conhecida como Lei Darcy Ribeiro, é a mais adultos, com características e modalidades adequadas às suas
importante lei do sistema educacional brasileiro, pois necessidades e disponibilidades, garantindo-se aos que forem
regulamenta as diretrizes gerais da educação, seja ele público trabalhadores as condições de acesso e permanência na
ou privado. escola;
VIII - atendimento ao educando, em todas as etapas da
educação básica, por meio de programas suplementares de
material didático-escolar, transporte, alimentação e
assistência à saúde;

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IX - padrões mínimos de qualidade de ensino, definidos TÍTULO IV


como a variedade e quantidade mínimas, por aluno, de Da Organização da Educação Nacional
insumos indispensáveis ao desenvolvimento do processo de
ensino-aprendizagem. Art. 8º A União, os Estados, o Distrito Federal e os
X – vaga na escola pública de educação infantil ou de ensino Municípios organizarão, em regime de colaboração, os
fundamental mais próxima de sua residência a toda criança a respectivos sistemas de ensino.
partir do dia em que completar 4 (quatro) anos de idade. § 1º Caberá à União a coordenação da política nacional de
Art. 5° O acesso à educação básica obrigatória é direito educação, articulando os diferentes níveis e sistemas e
público subjetivo, podendo qualquer cidadão, grupo de exercendo função normativa, redistributiva e supletiva em
cidadãos, associação comunitária, organização sindical, relação às demais instâncias educacionais.
entidade de classe ou outra legalmente constituída e, ainda, o § 2º Os sistemas de ensino terão liberdade de organização
Ministério Público, acionar o poder público para exigi-lo. nos termos desta Lei.
§ 1o O poder público, na esfera de sua competência
federativa, deverá: Art. 9º A União incumbir-se-á de:
I - recensear anualmente as crianças e adolescentes em I - elaborar o Plano Nacional de Educação, em colaboração
idade escolar, bem como os jovens e adultos que não com os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
concluíram a educação básica; II - organizar, manter e desenvolver os órgãos e
II - fazer-lhes a chamada pública; instituições oficiais do sistema federal de ensino e o dos
III - zelar, junto aos pais ou responsáveis, pela frequência à Territórios;
escola. III - prestar assistência técnica e financeira aos Estados, ao
§ 2º Em todas as esferas administrativas, o Poder Público Distrito Federal e aos Municípios para o desenvolvimento de
assegurará em primeiro lugar o acesso ao ensino obrigatório, seus sistemas de ensino e o atendimento prioritário à
nos termos deste artigo, contemplando em seguida os demais escolaridade obrigatória, exercendo sua função redistributiva
níveis e modalidades de ensino, conforme as prioridades e supletiva;
constitucionais e legais. IV - estabelecer, em colaboração com os Estados, o Distrito
§ 3º Qualquer das partes mencionadas no caput deste Federal e os Municípios, competências e diretrizes para a
artigo tem legitimidade para peticionar no Poder Judiciário, na educação infantil, o ensino fundamental e o ensino médio, que
hipótese do § 2º do art. 208 da Constituição Federal, sendo nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de modo a
gratuita e de rito sumário a ação judicial correspondente. assegurar formação básica comum;
§ 4º Comprovada a negligência da autoridade competente IV-A - estabelecer, em colaboração com os Estados, o
para garantir o oferecimento do ensino obrigatório, poderá ela Distrito Federal e os Municípios, diretrizes e procedimentos
ser imputada por crime de responsabilidade. para identificação, cadastramento e atendimento, na educação
§ 5º Para garantir o cumprimento da obrigatoriedade de básica e na educação superior, de alunos com altas habilidades
ensino, o Poder Público criará formas alternativas de acesso ou superdotação; (Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015)
aos diferentes níveis de ensino, independentemente da V - coletar, analisar e disseminar informações sobre a
escolarização anterior. educação;
VI - assegurar processo nacional de avaliação do
Art. 6° É dever dos pais ou responsáveis efetuar a matrícula rendimento escolar no ensino fundamental, médio e superior,
das crianças na educação básica a partir dos 4 (quatro) anos em colaboração com os sistemas de ensino, objetivando a
de idade. definição de prioridades e a melhoria da qualidade do ensino;
Art. 7º O ensino é livre à iniciativa privada, atendidas as VII - baixar normas gerais sobre cursos de graduação e
seguintes condições: pós-graduação;
I - cumprimento das normas gerais da educação nacional e VIII - assegurar processo nacional de avaliação das
do respectivo sistema de ensino; instituições de educação superior, com a cooperação dos
II - autorização de funcionamento e avaliação de qualidade sistemas que tiverem responsabilidade sobre este nível de
pelo Poder Público; ensino;
III - capacidade de autofinanciamento, ressalvado o IX - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e
previsto no art. 213 da Constituição Federal. avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de
educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de
Comentários: ensino.
§ 1º Na estrutura educacional, haverá um Conselho
Com o advento da Lei 12.796, de 04 de abril de 2013, que Nacional de Educação, com funções normativas e de
alterou a LDB n.º 9.394/96, incluindo Educação Infantil como supervisão e atividade permanente, criado por lei.
parte da educação básica, esta é dever do Estado, que deverá § 2° Para o cumprimento do disposto nos incisos V a IX, a
ser gratuita dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) anos de idade. União terá acesso a todos os dados e informações necessários
de todos os estabelecimentos e órgãos educacionais.
A Constituição Federal em seu artigo 205, diz: § 3º As atribuições constantes do inciso IX poderão ser
delegadas aos Estados e ao Distrito Federal, desde que
Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da mantenham instituições de educação superior.
família, será promovida e incentivada com a colaboração da
sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu Art. 10. Os Estados incumbir-se-ão de:
preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições
trabalho. oficiais dos seus sistemas de ensino;
II - definir, com os Municípios, formas de colaboração na
Desse modo, a educação é vista como um direito público oferta do ensino fundamental, as quais devem assegurar a
subjetivo, e isso significa que a não oferta ou a sua oferta distribuição proporcional das responsabilidades, de acordo
irregular por parte do Poder Público (Federal, Estadual ou com a população a ser atendida e os recursos financeiros
Municipal), importa no direito de acioná-lo para que este seja disponíveis em cada uma dessas esferas do Poder Público;
oferecido. Por outro lado, a matrícula nas escolas é dever dos III - elaborar e executar políticas e planos educacionais, em
pais ou responsáveis. consonância com as diretrizes e planos nacionais de educação,

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integrando e coordenando as suas ações e as dos seus V - ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,
Municípios; além de participar integralmente dos períodos dedicados ao
IV - autorizar, reconhecer, credenciar, supervisionar e planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
avaliar, respectivamente, os cursos das instituições de VI - colaborar com as atividades de articulação da escola
educação superior e os estabelecimentos do seu sistema de com as famílias e a comunidade.
ensino;
V - baixar normas complementares para o seu sistema de Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da
ensino; gestão democrática do ensino público na educação básica, de
VI - assegurar o ensino fundamental e oferecer, com acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes
prioridade, o ensino médio a todos que o demandarem, princípios:
respeitado o disposto no art. 38 desta Lei; I - participação dos profissionais da educação na
VII - assumir o transporte escolar dos alunos da rede elaboração do projeto pedagógico da escola;
estadual. II - participação das comunidades escolar e local em
Parágrafo único. Ao Distrito Federal aplicar-se-ão as conselhos escolares ou equivalentes.
competências referentes aos Estados e aos Municípios.
Art. 15. Os sistemas de ensino assegurarão às unidades
Art. 11. Os Municípios incumbir-se-ão de: escolares públicas de educação básica que os integram
I - organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa
oficiais dos seus sistemas de ensino, integrando-os às políticas e de gestão financeira, observadas as normas gerais de direito
e planos educacionais da União e dos Estados; financeiro público.
II - exercer ação redistributiva em relação às suas escolas;
III - baixar normas complementares para o seu sistema de Art. 16. O sistema federal de ensino compreende:
ensino; I - as instituições de ensino mantidas pela União;
IV - autorizar, credenciar e supervisionar os II - as instituições de educação superior criadas e mantidas
estabelecimentos do seu sistema de ensino; pela iniciativa privada;
V - oferecer a educação infantil em creches e pré-escolas, e, III - os órgãos federais de educação.
com prioridade, o ensino fundamental, permitida a atuação em
outros níveis de ensino somente quando estiverem atendidas Art. 17. Os sistemas de ensino dos Estados e do Distrito
plenamente as necessidades de sua área de competência e com Federal compreendem:
recursos acima dos percentuais mínimos vinculados pela I - as instituições de ensino mantidas, respectivamente,
Constituição Federal à manutenção e desenvolvimento do pelo Poder Público estadual e pelo Distrito Federal;
ensino. II - as instituições de educação superior mantidas pelo
VI - assumir o transporte escolar dos alunos da rede Poder Público municipal;
municipal. III - as instituições de ensino fundamental e médio criadas
Parágrafo único. Os Municípios poderão optar, ainda, por e mantidas pela iniciativa privada;
se integrar ao sistema estadual de ensino ou compor com ele IV - os órgãos de educação estaduais e do Distrito Federal,
um sistema único de educação básica. respectivamente.
Parágrafo único. No Distrito Federal, as instituições de
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as educação infantil, criadas e mantidas pela iniciativa privada,
normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a integram seu sistema de ensino.
incumbência de:
I - elaborar e executar sua proposta pedagógica; Art. 18. Os sistemas municipais de ensino compreendem:
II - administrar seu pessoal e seus recursos materiais e I - as instituições do ensino fundamental, médio e de
financeiros; educação infantil mantidas pelo Poder Público municipal;
III - assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas-aula II - as instituições de educação infantil criadas e mantidas
estabelecidas; pela iniciativa privada;
IV - velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada III - os órgãos municipais de educação.
docente;
V - prover meios para a recuperação dos alunos de menor Art. 19. As instituições de ensino dos diferentes níveis
rendimento; classificam-se nas seguintes categorias administrativas:
VI - articular-se com as famílias e a comunidade, criando I - públicas, assim entendidas as criadas ou incorporadas,
processos de integração da sociedade com a escola; mantidas e administradas pelo Poder Público;
VII - informar pai e mãe, conviventes ou não com seus II - privadas, assim entendidas as mantidas e
filhos, e, se for o caso, os responsáveis legais, sobre a administradas por pessoas físicas ou jurídicas de direito
frequência e rendimento dos alunos, bem como sobre a privado.
execução da proposta pedagógica da escola;
VIII – notificar ao Conselho Tutelar do Município, ao juiz Art. 20. As instituições privadas de ensino se enquadrarão
competente da Comarca e ao respectivo representante do nas seguintes categorias: (Regulamento)
Ministério Público a relação dos alunos que apresentem I - particulares em sentido estrito, assim entendidas as que
quantidade de faltas acima de cinquenta por cento do são instituídas e mantidas por uma ou mais pessoas físicas ou
percentual permitido em lei. jurídicas de direito privado que não apresentem as
características dos incisos abaixo;
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de: II - comunitárias, assim entendidas as que são instituídas
I - participar da elaboração da proposta pedagógica do por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
estabelecimento de ensino; jurídicas, inclusive cooperativas educacionais, sem fins
II - elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a lucrativos, que incluam na sua entidade mantenedora
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino; representantes da comunidade;
III - zelar pela aprendizagem dos alunos; III - confessionais, assim entendidas as que são instituídas
IV - estabelecer estratégias de recuperação para os alunos por grupos de pessoas físicas ou por uma ou mais pessoas
de menor rendimento;

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jurídicas que atendem a orientação confessional e ideologia situados no País e no exterior, tendo como base as normas
específicas e ao disposto no inciso anterior; curriculares gerais.
IV - filantrópicas, na forma da lei. § 2º O calendário escolar deverá adequar-se às
peculiaridades locais, inclusive climáticas e econômicas, a
Comentários: critério do respectivo sistema de ensino, sem com isso reduzir
Quando a Constituição Federal determina que a União o número de horas letivas previsto nesta Lei.
estabeleça as diretrizes e bases da educação nacional, ela está
propondo que a educação em todo o território do país seja Art. 24. A educação básica, nos níveis fundamental e médio,
organizada segundo diretrizes e bases comuns. Assim, a União será organizada de acordo com as seguintes regras comuns:
é que coordena as políticas educacionais, ficando responsável I - a carga horária mínima anual será de oitocentas horas
por recolher impostos e tributos dos municípios, do Distrito para o ensino fundamental e para o ensino médio, distribuídas
Federal e dos estados e redistribuí-los as instâncias por um mínimo de duzentos dias de efetivo trabalho escolar,
educacionais (Art. 8º da LDB). excluído o tempo reservado aos exames finais, quando houver;
Os artigos 9º, 10, 11, 12 e 13 possuem natureza atributiva, (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
ou seja, tratam da atribuição de responsabilidade à nível II - a classificação em qualquer série ou etapa, exceto a
federal, estadual, municipal, institucional e docente, primeira do ensino fundamental, pode ser feita:
respectivamente. a) por promoção, para alunos que cursaram, com
aproveitamento, a série ou fase anterior, na própria escola;
TÍTULO V b) por transferência, para candidatos procedentes de
Dos Níveis e das Modalidades de Educação e Ensino outras escolas;
c) independentemente de escolarização anterior, mediante
CAPÍTULO I avaliação feita pela escola, que defina o grau de
Da Composição dos Níveis Escolares desenvolvimento e experiência do candidato e permita sua
inscrição na série ou etapa adequada, conforme
Art. 21. A educação escolar compõe-se de: regulamentação do respectivo sistema de ensino;
I - educação básica, formada pela educação infantil, ensino III - nos estabelecimentos que adotam a progressão regular
fundamental e ensino médio; por série, o regimento escolar pode admitir formas de
II - educação superior. progressão parcial, desde que preservada a sequência do
currículo, observadas as normas do respectivo sistema de
Comentários: ensino;
A educação básica vai dos 4 (quatro) aos 17 (dezessete) IV - poderão organizar-se classes, ou turmas, com alunos
anos e é dividida em três etapas a educação infantil (creche e de séries distintas, com níveis equivalentes de adiantamento
pré-escola), a educação fundamental (até a oitava série, 9° na matéria, para o ensino de línguas estrangeiras, artes, ou
ano) e o ensino médio. outros componentes curriculares;
Outra etapa da educação é o ensino superior, em que o V - a verificação do rendimento escolar observará os
estudante opta pela “área” em que quer estudar e que só é seguintes critérios:
possível após a conclusão da educação básica. a) avaliação contínua e cumulativa do desempenho do
aluno, com prevalência dos aspectos qualitativos sobre os
quantitativos e dos resultados ao longo do período sobre os de
eventuais provas finais;
b) possibilidade de aceleração de estudos para alunos com
atraso escolar;
c) possibilidade de avanço nos cursos e nas séries
mediante verificação do aprendizado;
d) aproveitamento de estudos concluídos com êxito;
e) obrigatoriedade de estudos de recuperação, de
preferência paralelos ao período letivo, para os casos de baixo
rendimento escolar, a serem disciplinados pelas instituições
Observa-se que a educação escolar vai desde a educação de ensino em seus regimentos;
infantil até a educação superior, enquanto a educação básica, VI - o controle de frequência fica a cargo da escola,
deixa a educação superior de fora. conforme o disposto no seu regimento e nas normas do
respectivo sistema de ensino, exigida a frequência mínima de
CAPÍTULO II setenta e cinco por cento do total de horas letivas para
DA EDUCAÇÃO BÁSICA aprovação;
Seção I VII - cabe a cada instituição de ensino expedir históricos
Das Disposições Gerais escolares, declarações de conclusão de série e diplomas ou
certificados de conclusão de cursos, com as especificações
Art. 22. A educação básica tem por finalidades desenvolver cabíveis.
o educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável § 1º A carga horária mínima anual de que trata o inciso I do
para o exercício da cidadania e fornecer-lhe meios para caput deverá ser ampliada de forma progressiva, no ensino
progredir no trabalho e em estudos posteriores. médio, para mil e quatrocentas horas, devendo os sistemas de
ensino oferecer, no prazo máximo de cinco anos, pelo menos
Art. 23. A educação básica poderá organizar-se em séries mil horas anuais de carga horária, a partir de 2 de março de
anuais, períodos semestrais, ciclos, alternância regular de 2017. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
períodos de estudos, grupos não-seriados, com base na idade, § 2º Os sistemas de ensino disporão sobre a oferta de
na competência e em outros critérios, ou por forma diversa de educação de jovens e adultos e de ensino noturno regular,
organização, sempre que o interesse do processo de adequado às condições do educando, conforme o inciso VI do
aprendizagem assim o recomendar. art. 4º. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 1º A escola poderá reclassificar os alunos, inclusive
quando se tratar de transferências entre estabelecimentos

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Art. 25. Será objetivo permanente das autoridades § 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo
responsáveis alcançar relação adequada entre o número de incluirá diversos aspectos da história e da cultura que
alunos e o professor, a carga horária e as condições materiais caracterizam a formação da população brasileira, a partir
do estabelecimento. desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da
Parágrafo único. Cabe ao respectivo sistema de ensino, à África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas
vista das condições disponíveis e das características regionais no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o
e locais, estabelecer parâmetro para atendimento do disposto índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas
neste artigo. contribuições nas áreas social, econômica e política,
pertinentes à história do Brasil.
Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino § 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados
comum, a ser complementada, em cada sistema de ensino e em no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de
cada estabelecimento escolar, por uma parte diversificada, educação artística e de literatura e história brasileiras.
exigida pelas características regionais e locais da sociedade, da
cultura, da economia e dos educandos. Art. 27. Os conteúdos curriculares da educação básica
§ 1º Os currículos a que se refere o caput devem abranger, observarão, ainda, as seguintes diretrizes:
obrigatoriamente, o estudo da língua portuguesa e da I - a difusão de valores fundamentais ao interesse social,
matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da aos direitos e deveres dos cidadãos, de respeito ao bem
realidade social e política, especialmente do Brasil. comum e à ordem democrática;
§ 2º O ensino da arte, especialmente em suas expressões II - consideração das condições de escolaridade dos alunos
regionais, constituirá componente curricular obrigatório da em cada estabelecimento;
educação básica. (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017) III - orientação para o trabalho;
§ 3º A educação física, integrada à proposta pedagógica da IV - promoção do desporto educacional e apoio às práticas
escola, é componente curricular obrigatório da educação desportivas não-formais.
básica, sendo sua prática facultativa ao aluno:
I – que cumpra jornada de trabalho igual ou superior a seis Art. 28. Na oferta de educação básica para a população
horas; rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações
II – maior de trinta anos de idade; necessárias à sua adequação às peculiaridades da vida rural e
III – que estiver prestando serviço militar inicial ou que, em de cada região, especialmente:
situação similar, estiver obrigado à prática da educação física; I - conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às
IV – amparado pelo Decreto-Lei no 1.044, de 21 de outubro reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural;
de 1969; II - organização escolar própria, incluindo adequação do
V – (Vetado) calendário escolar às fases do ciclo agrícola e às condições
VI – que tenha prole. climáticas;
§ 4º O ensino da História do Brasil levará em conta as III - adequação à natureza do trabalho na zona rural.
contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação Parágrafo único. O fechamento de escolas do campo,
do povo brasileiro, especialmente das matrizes indígena, indígenas e quilombolas será precedido de manifestação do
africana e europeia. órgão normativo do respectivo sistema de ensino, que
§ 5º No currículo do ensino fundamental, a partir do sexto considerará a justificativa apresentada pela Secretaria de
ano, será ofertada a língua inglesa. (Redação dada pela Lei nº Educação, a análise do diagnóstico do impacto da ação e a
13.415, de 2017) manifestação da comunidade escolar.
§ 6o As artes visuais, a dança, a música e o teatro são as
linguagens que constituirão o componente curricular de que Comentários:
trata o § 2º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 13.278, de Quando pensamos em educação básica devemos não só
2016). considerar os conteúdos ministrados em sala de aula, mas
§ 7º A integralização curricular poderá incluir, a critério também, o desenvolvimento integral do aluno de modo a
dos sistemas de ensino, projetos e pesquisas envolvendo os possibilitar seu desenvolvimento para o exercício da
temas transversais de que trata o caput. (Redação dada pela cidadania, favorecendo assim o seu desenvolvimento para o
Lei nº 13.415, de 2017) trabalho e também para seus estudos posteriores servindo
§ 8º A exibição de filmes de produção nacional constituirá como base para o seu desenvolvimento enquanto sujeito e
componente curricular complementar integrado à proposta autor do seu futuro.
pedagógica da escola, sendo a sua exibição obrigatória por, no Assim, o Capítulo II, Seção I das disposições Gerais (Art. 22
mínimo, 2 (duas) horas mensais. a 28) trata sobre as regras comuns aos estabelecimentos de
§ 9o Conteúdos relativos aos direitos humanos e à ensino em relação à carga horária, dias letivos, bem como suas
prevenção de todas as formas de violência contra a criança e formas de organização (promoção, seriação, frequência,
ao adolescente serão incluídos, como temas transversais, nos currículos, transferências e avaliações).
currículos escolares de que trata o caput deste artigo, tendo
como diretriz a Lei no 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto Seção II
da Criança e do Adolescente), observada a produção e Da Educação Infantil
distribuição de material didático adequado.
§ 10. A inclusão de novos componentes curriculares de Art. 29. A educação infantil, primeira etapa da educação
caráter obrigatório na Base Nacional Comum Curricular básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da
dependerá de aprovação do Conselho Nacional de Educação e criança de até 5 (cinco) anos, em seus aspectos físico,
de homologação pelo Ministro de Estado da Educação. psicológico, intelectual e social, complementando a ação da
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) família e da comunidade. (Redação dada pela Lei nº 12.796, de
2013)
Art. 26.A- Nos estabelecimentos de ensino fundamental e
de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o Art. 30. A educação infantil será oferecida em:
estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. I - creches, ou entidades equivalentes, para crianças de até
três anos de idade;

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II - pré-escolas, para as crianças de 4 (quatro) a 5 (cinco) § 4º O ensino fundamental será presencial, sendo o ensino
anos de idade. a distância utilizado como complementação da aprendizagem
ou em situações emergenciais.
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com § 5o O currículo do ensino fundamental incluirá,
as seguintes regras comuns: obrigatoriamente, conteúdo que trate dos direitos das crianças
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do e dos adolescentes, tendo como diretriz a Lei no 8.069, de 13
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, de julho de 1990, que institui o Estatuto da Criança e do
mesmo para o acesso ao ensino fundamental; Adolescente, observada a produção e distribuição de material
II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, didático adequado.
distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho § 6º O estudo sobre os símbolos nacionais será incluído
educacional; como tema transversal nos currículos do ensino fundamental.
III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas
diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte
integral; integrante da formação básica do cidadão e constitui disciplina
IV - controle de frequência pela instituição de educação dos horários normais das escolas públicas de ensino
pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural
cento) do total de horas; religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de proselitismo.
V - expedição de documentação que permita atestar os § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os
processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e
Comentários: admissão dos professores.
A Educação Infantil (0 aos 5 anos) deve ser § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil,
complementar à ação da família e da comunidade desde então constituída pelas diferentes denominações religiosas, para a
possibilitando o desenvolvimento físico, psicológico, definição dos conteúdos do ensino religioso.
intelectual e social. Art. 34. A jornada escolar no ensino fundamental incluirá
O artigo 31 da Lei 9.394/96 traz em seu inciso I, algo que pelo menos quatro horas de trabalho efetivo em sala de aula,
merece ser destacado: Não existe promoção na educação sendo progressivamente ampliado o período de permanência
infantil, ou seja não há reprovação nessa etapa da educação na escola.
básica, a avaliação corre mediante registro e § 1º São ressalvados os casos do ensino noturno e das
acompanhamento do desenvolvimento da criança, sem o formas alternativas de organização autorizadas nesta Lei.
objetivo de promoção, ainda que este seja para o acesso ao § 2º O ensino fundamental será ministrado
ensino fundamental. progressivamente em tempo integral, a critério dos sistemas
de ensino.
Art. 31. A educação infantil será organizada de acordo com
as seguintes regras comuns: Comentários:
I - avaliação mediante acompanhamento e registro do O Ensino Fundamenta (06 aos 14 anos) têm duração de 9
desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, anos, podendo ser desdobrado em ciclos (Art. 32 § 1º), visa a
mesmo para o acesso ao ensino fundamental; formação básica do cidadão, ou seja, - o desenvolvimento da
capacidade de aprender através do domínio da leitura, da
Seção III escrita e do cálculo, a compreensão do ambiente natural e
Do Ensino Fundamental social, do sistema político, da tecnologia, das artes e dos
valores em que se fundamenta a sociedade, a aquisição de
Art. 32. O ensino fundamental obrigatório, com duração de conhecimentos e habilidades e a formação de atitudes e
9 (nove) anos, gratuito na escola pública, iniciando-se aos 6 valores e o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de
(seis) anos de idade, terá por objetivo a formação básica do solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se
cidadão, mediante: assenta a vida social.
I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo O artigo 33 da referida lei, merece ser destacado por trazer
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do informações relevantes:
cálculo;
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema Art. 33. O ensino religioso, de matrícula facultativa, é
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se parte integrante da formação básica do cidadão e constitui
fundamenta a sociedade; disciplina dos horários normais das escolas públicas de
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a cultural religiosa do Brasil, vedadas quaisquer formas de
formação de atitudes e valores; proselitismo.
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se procedimentos para a definição dos conteúdos do ensino
assenta a vida social. religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e
§ 1º É facultado aos sistemas de ensino desdobrar o ensino admissão dos professores.
fundamental em ciclos. § 2º Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída
§ 2º Os estabelecimentos que utilizam progressão regular pelas diferentes denominações religiosas, para a definição dos
por série podem adotar no ensino fundamental o regime de conteúdos do ensino religioso.
progressão continuada, sem prejuízo da avaliação do processo
de ensino-aprendizagem, observadas as normas do respectivo Assim, o artigo 33 da Lei 9.394/96 está em consonância
sistema de ensino. com o artigo 210 §1º da Constituição Federal que regulamenta
§ 3º O ensino fundamental regular será ministrado em o ensino religioso, de matrícula facultativa nas escolas públicas
língua portuguesa, assegurada às comunidades indígenas a de ensino fundamental. O objetivo de tal preceito não é uma
utilização de suas línguas maternas e processos próprios de formação religiosa específica, e sim a apresentação da
aprendizagem. diversidade religiosa, a escola ao trazer em seus espaços as

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diversas manifestações religiosas, ensina o princípio da de ensino por meio de atividades teóricas e práticas, provas
tolerância e o exercita em sua rotina escolar. orais e escritas, seminários, projetos e atividades on-line, de
tal forma que ao final do ensino médio o educando demonstre:
Seção IV (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
Do Ensino Médio I - domínio dos princípios científicos e tecnológicos que
presidem a produção moderna; (Incluído pela Lei nº 13.415,
Art. 35. O ensino médio, etapa final da educação básica, de 2017)
com duração mínima de três anos, terá como finalidades: II - conhecimento das formas contemporâneas de
I - a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos linguagem. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos; Art. 36. O currículo do ensino médio será composto pela
II - a preparação básica para o trabalho e a cidadania do Base Nacional Comum Curricular e por itinerários formativos,
educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz de que deverão ser organizados por meio da oferta de diferentes
se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou arranjos curriculares, conforme a relevância para o contexto
aperfeiçoamento posteriores; local e a possibilidade dos sistemas de ensino, a saber:
III - o aprimoramento do educando como pessoa humana, (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
incluindo a formação ética e o desenvolvimento da autonomia I - linguagens e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei nº
intelectual e do pensamento crítico; 13.415, de 2017)
IV - a compreensão dos fundamentos científico- II - matemática e suas tecnologias; (Redação dada pela Lei
tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria nº 13.415, de 2017)
com a prática, no ensino de cada disciplina. III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Redação dada
pela Lei nº 13.415, de 2017)
Art. 35-A. A Base Nacional Comum Curricular definirá IV - ciências humanas e sociais aplicadas; (Redação dada
direitos e objetivos de aprendizagem do ensino médio, pela Lei nº 13.415, de 2017)
conforme diretrizes do Conselho Nacional de Educação, nas V - formação técnica e profissional. (Incluído pela Lei nº
seguintes áreas do conhecimento: (Incluído pela Lei nº 13.415, 13.415, de 2017)
de 2017) § 1º A organização das áreas de que trata o caput e das
I - linguagens e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº respectivas competências e habilidades será feita de acordo
13.415, de 2017) com critérios estabelecidos em cada sistema de ensino.
II - matemática e suas tecnologias; (Incluído pela Lei nº (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
13.415, de 2017) I - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
III - ciências da natureza e suas tecnologias; (Incluído pela II - (revogado); (Redação dada pela Lei nº 13.415, de 2017)
Lei nº 13.415, de 2017) § 2º Revogado pela Lei nº 11.741/08
IV - ciências humanas e sociais aplicadas. (Incluído pela Lei § 3º A critério dos sistemas de ensino, poderá ser
nº 13.415, de 2017) composto itinerário formativo integrado, que se traduz na
§ 1º A parte diversificada dos currículos de que trata o composição de componentes curriculares da Base Nacional
caput do art. 26, definida em cada sistema de ensino, deverá Comum Curricular - BNCC e dos itinerários formativos,
estar harmonizada à Base Nacional Comum Curricular e ser considerando os incisos I a V do caput. (Redação dada pela Lei
articulada a partir do contexto histórico, econômico, social, nº 13.415, de 2017)
ambiental e cultural. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) § 4º (Revogado pela Lei nº 11.741, de 2008)
§ 2º A Base Nacional Comum Curricular referente ao § 5º Os sistemas de ensino, mediante disponibilidade de
ensino médio incluirá obrigatoriamente estudos e práticas de vagas na rede, possibilitarão ao aluno concluinte do ensino
educação física, arte, sociologia e filosofia. (Incluído pela Lei nº médio cursar mais um itinerário formativo de que trata o
13.415, de 2017) caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
§ 3º O ensino da língua portuguesa e da matemática será § 6º A critério dos sistemas de ensino, a oferta de formação
obrigatório nos três anos do ensino médio, assegurada às com ênfase técnica e profissional considerará: (Incluído pela
comunidades indígenas, também, a utilização das respectivas Lei nº 13.415, de 2017)
línguas maternas. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) I - a inclusão de vivências práticas de trabalho no setor
§ 4º Os currículos do ensino médio incluirão, produtivo ou em ambientes de simulação, estabelecendo
obrigatoriamente, o estudo da língua inglesa e poderão ofertar parcerias e fazendo uso, quando aplicável, de instrumentos
outras línguas estrangeiras, em caráter optativo, estabelecidos pela legislação sobre aprendizagem
preferencialmente o espanhol, de acordo com a profissional; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
disponibilidade de oferta, locais e horários definidos pelos II - a possibilidade de concessão de certificados
sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) intermediários de qualificação para o trabalho, quando a
§ 5º A carga horária destinada ao cumprimento da Base formação for estruturada e organizada em etapas com
Nacional Comum Curricular não poderá ser superior a mil e terminalidade. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017)
oitocentas horas do total da carga horária do ensino médio, de § 7º A oferta de formações experimentais relacionadas ao
acordo com a definição dos sistemas de ensino. (Incluído pela inciso V do caput, em áreas que não constem do Catálogo
Lei nº 13.415, de 2017) Nacional dos Cursos Técnicos, dependerá, para sua
§ 6º A União estabelecerá os padrões de desempenho continuidade, do reconhecimento pelo respectivo Conselho
esperados para o ensino médio, que serão referência nos Estadual de Educação, no prazo de três anos, e da inserção no
processos nacionais de avaliação, a partir da Base Nacional Catálogo Nacional dos Cursos Técnicos, no prazo de cinco anos,
Comum Curricular. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) contados da data de oferta inicial da formação. (Incluído pela
§ 7º Os currículos do ensino médio deverão considerar a Lei nº 13.415, de 2017)
formação integral do aluno, de maneira a adotar um trabalho § 8º A oferta de formação técnica e profissional a que se
voltado para a construção de seu projeto de vida e para sua refere o inciso V do caput, realizada na própria instituição ou
formação nos aspectos físicos, cognitivos e sócio emocionais. em parceria com outras instituições, deverá ser aprovada
(Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) previamente pelo Conselho Estadual de Educação,
§ 8º Os conteúdos, as metodologias e as formas de homologada pelo Secretário Estadual de Educação e
avaliação processual e formativa serão organizados nas redes

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certificada pelos sistemas de ensino. (Incluído pela Lei nº III - as exigências de cada instituição de ensino, nos termos
13.415, de 2017) de seu projeto pedagógico.
§ 9º As instituições de ensino emitirão certificado com
validade nacional, que habilitará o concluinte do ensino médio Art. 36.C- A educação profissional técnica de nível médio
ao prosseguimento dos estudos em nível superior ou em articulada, prevista no inciso I do caput do art. 36-B desta Lei,
outros cursos ou formações para os quais a conclusão do será desenvolvida de forma:
ensino médio seja etapa obrigatória. (Incluído pela Lei nº I - integrada, oferecida somente a quem já tenha concluído
13.415, de 2017) o ensino fundamental, sendo o curso planejado de modo a
§ 10. Além das formas de organização previstas no art. 23, conduzir o aluno à habilitação profissional técnica de nível
o ensino médio poderá ser organizado em módulos e adotar o médio, na mesma instituição de ensino, efetuando-se
sistema de créditos com terminalidade específica. (Incluído matrícula única para cada aluno;
pela Lei nº 13.415, de 2017) II - concomitante, oferecida a quem ingresse no ensino
§ 11. Para efeito de cumprimento das exigências médio ou já o estejam cursando, efetuando-se matrículas
curriculares do ensino médio, os sistemas de ensino poderão distintas para cada curso, e podendo ocorrer:
reconhecer competências e firmar convênios com instituições a) na mesma instituição de ensino, aproveitando-se as
de educação a distância com notório reconhecimento, oportunidades educacionais disponíveis;
mediante as seguintes formas de comprovação: (Incluído pela b) em instituições de ensino distintas, aproveitando-se as
Lei nº 13.415, de 2017) oportunidades educacionais disponíveis;
I - demonstração prática; (Incluído pela Lei nº 13.415, de c) em instituições de ensino distintas, mediante convênios
2017) de intercomplementaridade, visando ao planejamento e ao
II - experiência de trabalho supervisionado ou outra desenvolvimento de projeto pedagógico unificado.
experiência adquirida fora do ambiente escolar; (Incluído pela
Lei nº 13.415, de 2017) Art. 36.D- Os diplomas de cursos de educação profissional
III - atividades de educação técnica oferecidas em outras técnica de nível médio, quando registrados, terão validade
instituições de ensino credenciadas; (Incluído pela Lei nº nacional e habilitarão ao prosseguimento de estudos na
13.415, de 2017) educação superior.
IV - cursos oferecidos por centros ou programas Parágrafo único. Os cursos de educação profissional
ocupacionais; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) técnica de nível médio, nas formas articulada concomitante e
V - estudos realizados em instituições de ensino nacionais subsequente, quando estruturados e organizados em etapas
ou estrangeiras; (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) com terminalidade, possibilitarão a obtenção de certificados
VI - cursos realizados por meio de educação a distância ou de qualificação para o trabalho após a conclusão, com
educação presencial mediada por tecnologias. (Incluído pela aproveitamento, de cada etapa que caracterize uma
Lei nº 13.415, de 2017) qualificação para o trabalho.
§ 12. As escolas deverão orientar os alunos no processo de
escolha das áreas de conhecimento ou de atuação profissional Comentários:
previstas no caput. (Incluído pela Lei nº 13.415, de 2017) A Educação Profissional Técnica de Nível Médio, que
tem por princípios os mesmos pressupostos do ensino médio
Comentários: além de preparar o educando para o exercício de profissões
O Ensino Médio é a etapa final da educação básica, com técnicas, assim a Educação profissional técnica de nível médio
duração mínima de 3 anos, sua finalidade é o aprofundamento poderá ser articulada com o ensino médico, dessa forma,
dos conhecimentos adquiridos anteriormente, a preparação poderá ser integrada quando oferecida aos que tenha
para o trabalho, aprofundamento do desenvolvimento concluído o ensino fundamental, e concomitante quando
enquanto ser humano além da integração da teoria à pratica oferecida a quem ingresse no ensino médio ou já o estejam
profissional. cursando ou subsequente para aqueles que já concluíram o
Seção IV-A ensino médio.
Da Educação Profissional Técnica de Nível Médio
Seção V
Art. 36.A- Sem prejuízo do disposto na Seção IV deste Da Educação de Jovens e Adultos
Capítulo, o ensino médio, atendida a formação geral do
educando, poderá prepará-lo para o exercício de profissões Art. 37. A educação de jovens e adultos será destinada
técnicas. àqueles que não tiveram acesso ou continuidade de estudos
Parágrafo único. A preparação geral para o trabalho e, nos ensinos fundamental e médio na idade própria e
facultativamente, a habilitação profissional poderão ser constituirá instrumento para a educação e a aprendizagem ao
desenvolvidas nos próprios estabelecimentos de ensino médio longo da vida. (Redação dada pela Lei nº 13.632, de 2018)
ou em cooperação com instituições especializadas em § 1º Os sistemas de ensino assegurarão gratuitamente aos
educação profissional. jovens e aos adultos, que não puderam efetuar os estudos na
idade regular, oportunidades educacionais apropriadas,
Art. 36.B- A educação profissional técnica de nível médio consideradas as características do alunado, seus interesses,
será desenvolvida nas seguintes formas: condições de vida e de trabalho, mediante cursos e exames.
I - articulada com o ensino médio; § 2º O Poder Público viabilizará e estimulará o acesso e a
II - subsequente, em cursos destinados a quem já tenha permanência do trabalhador na escola, mediante ações
concluído o ensino médio. integradas e complementares entre si.
Parágrafo único. A educação profissional técnica de nível § 3º A educação de jovens e adultos deverá articular-se,
médio deverá observar: preferencialmente, com a educação profissional, na forma do
I - os objetivos e definições contidos nas diretrizes regulamento.
curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho Nacional
de Educação; Art. 38. Os sistemas de ensino manterão cursos e exames
II - as normas complementares dos respectivos sistemas de supletivos, que compreenderão a base nacional comum do
ensino; currículo, habilitando ao prosseguimento de estudos em
caráter regular.

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§ 1º Os exames a que se refere este artigo realizar-se-ão: II - formar diplomados nas diferentes áreas de
I - no nível de conclusão do ensino fundamental, para os conhecimento, aptos para a inserção em setores profissionais
maiores de quinze anos; e para a participação no desenvolvimento da sociedade
II - no nível de conclusão do ensino médio, para os maiores brasileira, e colaborar na sua formação contínua;
de dezoito anos. III - incentivar o trabalho de pesquisa e investigação
§ 2º Os conhecimentos e habilidades adquiridos pelos científica, visando o desenvolvimento da ciência e da
educandos por meios informais serão aferidos e reconhecidos tecnologia e da criação e difusão da cultura, e, desse modo,
mediante exames. desenvolver o entendimento do homem e do meio em que
vive;
Comentários: IV - promover a divulgação de conhecimentos culturais,
A Educação de Jovens e Adultos, diz respeito àqueles que científicos e técnicos que constituem patrimônio da
não tiveram acesso ou continuidade no ensino fundamental e humanidade e comunicar o saber através do ensino, de
médio na idade regular, assim, o EJA traz a oportunidade de publicações ou de outras formas de comunicação;
acesso e permanência do trabalhador na escola. V - suscitar o desejo permanente de aperfeiçoamento
O artigo 37 §3º traz a possibilidade da educação de jovens cultural e profissional e possibilitar a correspondente
e adultos se articular com um ensino profissional, porém não concretização, integrando os conhecimentos que vão sendo
há essa obrigatoriedade. Observe: adquiridos numa estrutura intelectual sistematizadora do
conhecimento de cada geração;
Art. 37. § 3o A educação de jovens e adultos deverá articular- VI - estimular o conhecimento dos problemas do mundo
se, preferencialmente, com a educação profissional, na forma presente, em particular os nacionais e regionais, prestar
do regulamento. serviços especializados à comunidade e estabelecer com esta
uma relação de reciprocidade;
CAPÍTULO III VII - promover a extensão, aberta à participação da
DA EDUCAÇÃO PROFISSIONAL população, visando à difusão das conquistas e benefícios
Da Educação Profissional e Tecnológica resultantes da criação cultural e da pesquisa científica e
tecnológica geradas na instituição.
Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no VIII - atuar em favor da universalização e do
cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aprimoramento da educação básica, mediante a formação e a
aos diferentes níveis e modalidades de educação e às capacitação de profissionais, a realização de pesquisas
dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia. pedagógicas e o desenvolvimento de atividades de extensão
§ 1o Os cursos de educação profissional e tecnológica que aproximem os dois níveis escolares. (Incluído pela Lei nº
poderão ser organizados por eixos tecnológicos, 13.174, de 2015)
possibilitando a construção de diferentes itinerários
formativos, observadas as normas do respectivo sistema e Art. 44. A educação superior abrangerá os seguintes cursos
nível de ensino. e programas:
§ 2o A educação profissional e tecnológica abrangerá os I - cursos sequenciais por campo de saber, de diferentes
seguintes cursos: níveis de abrangência, abertos a candidatos que atendam aos
I – de formação inicial e continuada ou qualificação requisitos estabelecidos pelas instituições de ensino, desde
profissional; que tenham concluído o ensino médio ou equivalente;
II – de educação profissional técnica de nível médio; II - de graduação, abertos a candidatos que tenham
III – de educação profissional tecnológica de graduação e concluído o ensino médio ou equivalente e tenham sido
pós-graduação. classificados em processo seletivo;
§ 3o Os cursos de educação profissional tecnológica de III - de pós-graduação, compreendendo programas de
graduação e pós-graduação organizar-se-ão, no que concerne mestrado e doutorado, cursos de especialização,
a objetivos, características e duração, de acordo com as aperfeiçoamento e outros, abertos a candidatos diplomados
diretrizes curriculares nacionais estabelecidas pelo Conselho em cursos de graduação e que atendam às exigências das
Nacional de Educação. instituições de ensino;
IV - de extensão, abertos a candidatos que atendam aos
Art. 40. A educação profissional será desenvolvida em requisitos estabelecidos em cada caso pelas instituições de
articulação com o ensino regular ou por diferentes estratégias ensino.
de educação continuada, em instituições especializadas ou no § 1º Os resultados do processo seletivo referido no inciso
ambiente de trabalho. II do caput deste artigo serão tornados públicos pelas
instituições de ensino superior, sendo obrigatória a divulgação
Art. 41. O conhecimento adquirido na educação da relação nominal dos classificados, a respectiva ordem de
profissional e tecnológica, inclusive no trabalho, poderá ser classificação, bem como do cronograma das chamadas para
objeto de avaliação, reconhecimento e certificação para matrícula, de acordo com os critérios para preenchimento das
prosseguimento ou conclusão de estudos. vagas constantes do respectivo edital.
Art. 42. As instituições de educação profissional e § 2º No caso de empate no processo seletivo, as instituições
tecnológica, além dos seus cursos regulares, oferecerão cursos públicas de ensino superior darão prioridade de matrícula ao
especiais, abertos à comunidade, condicionada a matrícula à candidato que comprove ter renda familiar inferior a dez
capacidade de aproveitamento e não necessariamente ao nível salários mínimos, ou ao de menor renda familiar, quando mais
de escolaridade. de um candidato preencher o critério inicial. (Incluído pela Lei
nº 13.184, de 2015)
CAPÍTULO IV § 3º O processo seletivo referido no inciso II considerará
Da Educação Superior as competências e as habilidades definidas na Base Nacional
Comum Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017)
Art. 43. A educação superior tem por finalidade:
I - estimular a criação cultural e o desenvolvimento do Art. 45. A educação superior será ministrada em
espírito científico e do pensamento reflexivo; instituições de ensino superior, públicas ou privadas, com
variados graus de abrangência ou especialização.

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Art. 46. A autorização e o reconhecimento de cursos, bem a) caso o curso mantenha disciplinas com duração
como o credenciamento de instituições de educação superior, diferenciada, a publicação deve ser semestral; (Incluída pela
terão prazos limitados, sendo renovados, periodicamente, lei nº 13.168, de 2015)
após processo regular de avaliação. b) a publicação deve ser feita até 1 (um) mês antes do início
§ 1º Após um prazo para saneamento de deficiências das aulas; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
eventualmente identificadas pela avaliação a que se refere este c) caso haja mudança na grade do curso ou no corpo
artigo, haverá reavaliação, que poderá resultar, conforme o docente até o início das aulas, os alunos devem ser
caso, em desativação de cursos e habilitações, em intervenção comunicados sobre as alterações; (Incluída pela lei nº 13.168,
na instituição, em suspensão temporária de prerrogativas da de 2015)
autonomia, ou em descredenciamento. V - deve conter as seguintes informações: (Incluído pela lei
§ 2º No caso de instituição pública, o Poder Executivo nº 13.168, de 2015)
responsável por sua manutenção acompanhará o processo de a) a lista de todos os cursos oferecidos pela instituição de
saneamento e fornecerá recursos adicionais, se necessários, ensino superior; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015)
para a superação das deficiências. b) a lista das disciplinas que compõem a grade curricular
§ 3º No caso de instituição privada, além das sanções de cada curso e as respectivas cargas horárias; (Incluída pela
previstas no § 1o deste artigo, o processo de reavaliação lei nº 13.168, de 2015)
poderá resultar em redução de vagas autorizadas e em c) a identificação dos docentes que ministrarão as aulas em
suspensão temporária de novos ingressos e de oferta de cada curso, as disciplinas que efetivamente ministrará naquele
cursos. (Alterado pela Lei 13.530/2017). curso ou cursos, sua titulação, abrangendo a qualificação
§ 4º É facultado ao Ministério da Educação, mediante profissional do docente e o tempo de casa do docente, de forma
procedimento específico e com aquiescência da instituição de total, contínua ou intermitente. (Incluída pela lei nº 13.168,
ensino, com vistas a resguardar os interesses dos estudantes, de 2015)
comutar as penalidades previstas nos §§ 1o e 3o deste artigo § 2º Os alunos que tenham extraordinário aproveitamento
por outras medidas, desde que adequadas para superação das nos estudos, demonstrado por meio de provas e outros
deficiências e irregularidades constatadas. (Alterado pela Lei instrumentos de avaliação específicos, aplicados por banca
13.530/2017). examinadora especial, poderão ter abreviada a duração dos
§ 5º Para fins de regulação, os Estados e o Distrito Federal seus cursos, de acordo com as normas dos sistemas de ensino.
deverão adotar os critérios definidos pela União para § 3º É obrigatória a frequência de alunos e professores,
autorização de funcionamento de curso de graduação em salvo nos programas de educação a distância.
Medicina.” (Incluído pela Lei 13.530/2017). § 4º As instituições de educação superior oferecerão, no
período noturno, cursos de graduação nos mesmos padrões de
Art. 47. Na educação superior, o ano letivo regular, qualidade mantidos no período diurno, sendo obrigatória a
independente do ano civil, tem, no mínimo, duzentos dias de oferta noturna nas instituições públicas, garantida a
trabalho acadêmico efetivo, excluído o tempo reservado aos necessária previsão orçamentária.
exames finais, quando houver.
§ 1º As instituições informarão aos interessados, antes de Art. 48. Os diplomas de cursos superiores reconhecidos,
cada período letivo, os programas dos cursos e demais quando registrados, terão validade nacional como prova da
componentes curriculares, sua duração, requisitos, formação recebida por seu titular.
qualificação dos professores, recursos disponíveis e critérios § 1º Os diplomas expedidos pelas universidades serão por
de avaliação, obrigando-se a cumprir as respectivas condições, elas próprias registrados, e aqueles conferidos por instituições
e a publicação deve ser feita, sendo as 3 (três) primeiras não-universitárias serão registrados em universidades
formas concomitantemente: (Redação dada pela lei nº 13.168, indicadas pelo Conselho Nacional de Educação.
de 2015). § 2º Os diplomas de graduação expedidos por
I - em página específica na internet no sítio eletrônico universidades estrangeiras serão revalidados por
oficial da instituição de ensino superior, obedecido o seguinte: universidades públicas que tenham curso do mesmo nível e
(Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) área ou equivalente, respeitando-se os acordos internacionais
a) toda publicação a que se refere esta Lei deve ter como de reciprocidade ou equiparação.
título “Grade e Corpo Docente”; (Incluída pela lei nº 13.168, de § 3º Os diplomas de Mestrado e de Doutorado expedidos
2015) por universidades estrangeiras só poderão ser reconhecidos
b) a página principal da instituição de ensino superior, bem por universidades que possuam cursos de pós-graduação
como a página da oferta de seus cursos aos ingressantes sob a reconhecidos e avaliados, na mesma área de conhecimento e
forma de vestibulares, processo seletivo e outras com a mesma em nível equivalente ou superior.
finalidade, deve conter a ligação desta com a página específica
prevista neste inciso; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 49. As instituições de educação superior aceitarão a
c) caso a instituição de ensino superior não possua sítio transferência de alunos regulares, para cursos afins, na
eletrônico, deve criar página específica para divulgação das hipótese de existência de vagas, e mediante processo seletivo.
informações de que trata esta Lei; (Incluída pela lei nº 13.168, Parágrafo único. As transferências ex officio dar-se-ão na
de 2015) forma da lei.
d) a página específica deve conter a data completa de sua
última atualização; (Incluída pela lei nº 13.168, de 2015) Art. 50. As instituições de educação superior, quando da
II - em toda propaganda eletrônica da instituição de ensino ocorrência de vagas, abrirão matrícula nas disciplinas de seus
superior, por meio de ligação para a página referida no inciso cursos a alunos não regulares que demonstrarem capacidade
I; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) de cursá-las com proveito, mediante processo seletivo prévio.
III - em local visível da instituição de ensino superior e de Art. 51. As instituições de educação superior credenciadas
fácil acesso ao público; (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) como universidades, ao deliberar sobre critérios e normas de
IV - deve ser atualizada semestralmente ou anualmente, de seleção e admissão de estudantes, levarão em conta os efeitos
acordo com a duração das disciplinas de cada curso oferecido, desses critérios sobre a orientação do ensino médio,
observando o seguinte: (Incluído pela lei nº 13.168, de 2015) articulando-se com os órgãos normativos dos sistemas de
ensino.

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Art. 52. As universidades são instituições financiamento pelo Poder Público, assim como dos seus planos
pluridisciplinares de formação dos quadros profissionais de de carreira e do regime jurídico do seu pessoal.
nível superior, de pesquisa, de extensão e de domínio e cultivo § 1º No exercício da sua autonomia, além das atribuições
do saber humano, que se caracterizam por: (Regulamento) asseguradas pelo artigo anterior, as universidades públicas
I - produção intelectual institucionalizada mediante o poderão:
estudo sistemático dos temas e problemas mais relevantes, I - propor o seu quadro de pessoal docente, técnico e
tanto do ponto de vista científico e cultural, quanto regional e administrativo, assim como um plano de cargos e salários,
nacional; atendidas as normas gerais pertinentes e os recursos
II - um terço do corpo docente, pelo menos, com titulação disponíveis;
acadêmica de mestrado ou doutorado; II - elaborar o regulamento de seu pessoal em
III - um terço do corpo docente em regime de tempo conformidade com as normas gerais concernentes;
integral. III - aprovar e executar planos, programas e projetos de
Parágrafo único. É facultada a criação de universidades investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
especializadas por campo do saber. geral, de acordo com os recursos alocados pelo respectivo
Poder mantenedor;
Art. 53. No exercício de sua autonomia, são asseguradas às IV - elaborar seus orçamentos anuais e plurianuais;
universidades, sem prejuízo de outras, as seguintes V - adotar regime financeiro e contábil que atenda às suas
atribuições: peculiaridades de organização e funcionamento;
I - criar, organizar e extinguir, em sua sede, cursos e VI - realizar operações de crédito ou de financiamento, com
programas de educação superior previstos nesta Lei, aprovação do Poder competente, para aquisição de bens
obedecendo às normas gerais da União e, quando for o caso, do imóveis, instalações e equipamentos;
respectivo sistema de ensino; VII - efetuar transferências, quitações e tomar outras
II - fixar os currículos dos seus cursos e programas, providências de ordem orçamentária, financeira e patrimonial
observadas as diretrizes gerais pertinentes; necessárias ao seu bom desempenho.
III - estabelecer planos, programas e projetos de pesquisa § 2º Atribuições de autonomia universitária poderão ser
científica, produção artística e atividades de extensão; estendidas a instituições que comprovem alta qualificação
IV - fixar o número de vagas de acordo com a capacidade para o ensino ou para a pesquisa, com base em avaliação
institucional e as exigências do seu meio; realizada pelo Poder Público.
V - elaborar e reformar os seus estatutos e regimentos em
consonância com as normas gerais atinentes; Art. 55. Caberá à União assegurar, anualmente, em seu
VI - conferir graus, diplomas e outros títulos; Orçamento Geral, recursos suficientes para manutenção e
VII - firmar contratos, acordos e convênios; desenvolvimento das instituições de educação superior por ela
VIII - aprovar e executar planos, programas e projetos de mantidas.
investimentos referentes a obras, serviços e aquisições em
geral, bem como administrar rendimentos conforme Art. 56. As instituições públicas de educação superior
dispositivos institucionais; obedecerão ao princípio da gestão democrática, assegurada a
IX - administrar os rendimentos e deles dispor na forma existência de órgãos colegiados deliberativos, de que
prevista no ato de constituição, nas leis e nos respectivos participarão os segmentos da comunidade institucional, local
estatutos; e regional.
X - receber subvenções, doações, heranças, legados e Parágrafo único. Em qualquer caso, os docentes ocuparão
cooperação financeira resultante de convênios com entidades setenta por cento dos assentos em cada órgão colegiado e
públicas e privadas. comissão, inclusive nos que tratarem da elaboração e
§ 1º Para garantir a autonomia didático-científica das modificações estatutárias e regimentais, bem como da escolha
universidades, caberá aos seus colegiados de ensino e de dirigentes.
pesquisa decidir, dentro dos recursos orçamentários
disponíveis, sobre: (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) Art. 57. Nas instituições públicas de educação superior, o
I - criação, expansão, modificação e extinção de cursos; professor ficará obrigado ao mínimo de oito horas semanais de
(Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) aulas.
II - ampliação e diminuição de vagas; (Redação dada pela
Lei nº 13.490, de 2017) Comentários:
III - elaboração da programação dos cursos; (Redação dada A Educação Superior faz parte apenas da educação
pela Lei nº 13.490, de 2017) escolar, com objetivos específicos e voltados a cultura de
IV - programação das pesquisas e das atividades de transformação, de forma avançada para aperfeiçoar
extensão; (Redação dada pela Lei nº 13.490, de 2017) competências voltadas ao trabalho, além de uma perspectiva
V - contratação e dispensa de professores; (Redação dada de pesquisa.
pela Lei nº 13.490, de 2017)
VI - planos de carreira docente. (Redação dada pela Lei nº CAPÍTULO V
13.490, de 2017) DA EDUCAÇÃO ESPECIAL
§ 2º As doações, inclusive monetárias, podem ser dirigidas
a setores ou projetos específicos, conforme acordo entre Art. 58. Entende-se por educação especial, para os efeitos
doadores e universidades. (Incluído pela Lei nº 13.490, de desta Lei, a modalidade de educação escolar oferecida
2017) preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos
§ 3º No caso das universidades públicas, os recursos das com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e
doações devem ser dirigidos ao caixa único da instituição, com altas habilidades ou superdotação.
destinação garantida às unidades a serem beneficiadas. § 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio
(Incluído pela Lei nº 13.490, de 2017) especializado, na escola regular, para atender às
peculiaridades da clientela de educação especial.
Art. 54. As universidades mantidas pelo Poder Público § 2º O atendimento educacional será feito em classes,
gozarão, na forma da lei, de estatuto jurídico especial para escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das
atender às peculiaridades de sua estrutura, organização e

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condições específicas dos alunos, não for possível a sua I – professores habilitados em nível médio ou superior
integração nas classes comuns de ensino regular. para a docência na educação infantil e nos ensinos
§ 3º A oferta de educação especial, nos termos do caput fundamental e médio;
deste artigo, tem início na educação infantil e estende-se ao II – trabalhadores em educação portadores de diploma de
longo da vida, observados o inciso III do art. 4º e o parágrafo pedagogia, com habilitação em administração, planejamento,
único do art. 60 desta Lei. (Redação dada pela Lei nº 13.632, supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com
de 2018) títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas;
III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de
Art. 59. Os sistemas de ensino assegurarão aos educandos curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim.
com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos
altas habilidades ou superdotação: respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de
I - currículos, métodos, técnicas, recursos educativos e áreas afins à sua formação ou experiência profissional,
organização específicos, para atender às suas necessidades; atestados por titulação específica ou prática de ensino em
II - terminalidade específica para aqueles que não puderem unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental, corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente
em virtude de suas deficiências, e aceleração para concluir em para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei
menor tempo o programa escolar para os superdotados; nº 13.415, de 2017)
III - professores com especialização adequada em nível V - profissionais graduados que tenham feito
médio ou superior, para atendimento especializado, bem como complementação pedagógica, conforme disposto pelo
professores do ensino regular capacitados para a integração Conselho Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415,
desses educandos nas classes comuns; de 2017)
IV - educação especial para o trabalho, visando a sua
efetiva integração na vida em sociedade, inclusive condições Parágrafo único. A formação dos profissionais da
adequadas para os que não revelarem capacidade de inserção educação, de modo a atender às especificidades do exercício
no trabalho competitivo, mediante articulação com os órgãos de suas atividades, bem como aos objetivos das diferentes
oficiais afins, bem como para aqueles que apresentam uma etapas e modalidades da educação básica, terá como
habilidade superior nas áreas artística, intelectual ou fundamentos:
psicomotora; I – a presença de sólida formação básica, que propicie o
V - acesso igualitário aos benefícios dos programas sociais conhecimento dos fundamentos científicos e sociais de suas
suplementares disponíveis para o respectivo nível do ensino competências de trabalho;
regular. II – a associação entre teorias e práticas, mediante estágios
supervisionados e capacitação em serviço;
Art. 59-A. O poder público deverá instituir cadastro III – o aproveitamento da formação e experiências
nacional de alunos com altas habilidades ou superdotação anteriores, em instituições de ensino e em outras atividades.
matriculados na educação básica e na educação superior, a fim
de fomentar a execução de políticas públicas destinadas ao Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação
desenvolvimento pleno das potencialidades desse alunado. básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura
(Incluído pela Lei nº 13.234, de 2015) plena, admitida, como formação mínima para o exercício do
magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do
Art. 60. Os órgãos normativos dos sistemas de ensino ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na
estabelecerão critérios de caracterização das instituições modalidade normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de
privadas sem fins lucrativos, especializadas e com atuação 2017)
exclusiva em educação especial, para fins de apoio técnico e § 1º A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios,
financeiro pelo Poder Público. em regime de colaboração, deverão promover a formação
Parágrafo único. O poder público adotará, como inicial, a continuada e a capacitação dos profissionais de
alternativa preferencial, a ampliação do atendimento aos magistério.
educandos com deficiência, transtornos globais do § 2º A formação continuada e a capacitação dos
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação na profissionais de magistério poderão utilizar recursos e
própria rede pública regular de ensino, independentemente tecnologias de educação a distância.
do apoio às instituições previstas neste artigo. § 3º A formação inicial de profissionais de magistério dará
preferência ao ensino presencial, subsidiariamente fazendo
Comentários: uso de recursos e tecnologias de educação a distância.
A Educação Especial diz respeito ao direito à Educação § 4o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
aos educandos com deficiência, transtornos globais do adotarão mecanismos facilitadores de acesso e permanência
desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, em cursos de formação de docentes em nível superior para
assim, com a alteração sofrida pela Lei 12.796/2013, a atuar na educação básica pública.
nomenclatura educandos portadores de necessidades § 5o A União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios
especiais deixou de ser utilizada. À essas crianças o direito incentivarão a formação de profissionais do magistério para
à educação deve ser garantido visando o maior atuar na educação básica pública mediante programa
desenvolvimento possível desse educando que deverá ser institucional de bolsa de iniciação à docência a estudantes
oferecido preferencialmente na rede regular, assim a educação matriculados em cursos de licenciatura, de graduação plena,
especial oferecerá um acesso igualitário além de uma nas instituições de educação superior.
educação de qualidade. § 6o O Ministério da Educação poderá estabelecer nota
mínima em exame nacional aplicado aos concluintes do ensino
TÍTULO VI médio como pré-requisito para o ingresso em cursos de
Dos Profissionais da Educação graduação para formação de docentes, ouvido o Conselho
Nacional de Educação - CNE.
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar § 7o (Vetado).
básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido
formados em cursos reconhecidos, são:

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§ 8º Os currículos dos cursos de formação de docentes termos dos estatutos e dos planos de carreira do magistério
terão por referência a Base Nacional Comum público:
Curricular. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017) I - ingresso exclusivamente por concurso público de provas
e títulos;
Art. 62. A- A formação dos profissionais a que se refere o II - aperfeiçoamento profissional continuado, inclusive
inciso III do art. 61 far-se-á por meio de cursos de conteúdo com licenciamento periódico remunerado para esse fim;
técnico-pedagógico, em nível médio ou superior, incluindo III - piso salarial profissional;
habilitações tecnológicas. IV - progressão funcional baseada na titulação ou
Parágrafo único. Garantir-se-á formação continuada para habilitação, e na avaliação do desempenho;
os profissionais a que se refere o caput, no local de trabalho ou V - período reservado a estudos, planejamento e avaliação,
em instituições de educação básica e superior, incluindo incluído na carga de trabalho;
cursos de educação profissional, cursos superiores de VI - condições adequadas de trabalho.
graduação plena ou tecnológicos e de pós-graduação. § 1o A experiência docente é pré-requisito para o exercício
profissional de quaisquer outras funções de magistério, nos
Art. 62-B. O acesso de professores das redes públicas de termos das normas de cada sistema de ensino.
educação básica a cursos superiores de pedagogia e § 2o Para os efeitos do disposto no § 5º do art. 40 e no §
licenciatura será efetivado por meio de processo seletivo 8o do art. 201 da Constituição Federal, são consideradas
diferenciado. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) funções de magistério as exercidas por professores e
especialistas em educação no desempenho de atividades
§ 1º Terão direito de pleitear o acesso previsto no caput educativas, quando exercidas em estabelecimento de
deste artigo os professores das redes públicas municipais, educação básica em seus diversos níveis e modalidades,
estaduais e federal que ingressaram por concurso público, incluídas, além do exercício da docência, as de direção de
tenham pelo menos três anos de exercício da profissão e não unidade escolar e as de coordenação e assessoramento
sejam portadores de diploma de graduação. (Incluído pela Lei pedagógico.
nº 13.478, de 2017) § 3o A União prestará assistência técnica aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios na elaboração de concursos
§ 2º As instituições de ensino responsáveis pela oferta de públicos para provimento de cargos dos profissionais da
cursos de pedagogia e outras licenciaturas definirão critérios educação.
adicionais de seleção sempre que acorrerem aos certames
interessados em número superior ao de vagas disponíveis TÍTULO VII
para os respectivos cursos. (Incluído pela Lei nº 13.478, de Dos Recursos financeiros
2017)
Art. 68. Serão recursos públicos destinados à educação os
§ 3º Sem prejuízo dos concursos seletivos a serem originários de:
definidos em regulamento pelas universidades, terão I - receita de impostos próprios da União, dos Estados, do
prioridade de ingresso os professores que optarem por cursos Distrito Federal e dos Municípios;
de licenciatura em matemática, física, química, biologia e II - receita de transferências constitucionais e outras
língua portuguesa. (Incluído pela Lei nº 13.478, de 2017) transferências;
III - receita do salário-educação e de outras contribuições
Art. 63. Os institutos superiores de educação manterão: sociais;
I - cursos formadores de profissionais para a educação IV - receita de incentivos fiscais;
básica, inclusive o curso normal superior, destinado à V - outros recursos previstos em lei.
formação de docentes para a educação infantil e para as
primeiras séries do ensino fundamental; Art. 69. A União aplicará, anualmente, nunca menos de
II - programas de formação pedagógica para portadores de dezoito, e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, vinte
diplomas de educação superior que queiram se dedicar à e cinco por cento, ou o que consta nas respectivas
educação básica; Constituições ou Leis Orgânicas, da receita resultante de
III - programas de educação continuada para os impostos, compreendidas as transferências constitucionais, na
profissionais de educação dos diversos níveis. manutenção e desenvolvimento do ensino público.
§ 1º A parcela da arrecadação de impostos transferida pela
Art. 64. A formação de profissionais de educação para União aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios, ou
administração, planejamento, inspeção, supervisão e pelos Estados aos respectivos Municípios, não será
orientação educacional para a educação básica, será feita em considerada, para efeito do cálculo previsto neste artigo,
cursos de graduação em pedagogia ou em nível de pós- receita do governo que a transferir.
graduação, a critério da instituição de ensino, garantida, nesta § 2º Serão consideradas excluídas das receitas de impostos
formação, a base comum nacional. mencionadas neste artigo as operações de crédito por
antecipação de receita orçamentária de impostos.
Art. 65. A formação docente, exceto para a educação § 3º Para fixação inicial dos valores correspondentes aos
superior, incluirá prática de ensino de, no mínimo, trezentas mínimos estatuídos neste artigo, será considerada a receita
horas. estimada na lei do orçamento anual, ajustada, quando for o
caso, por lei que autorizar a abertura de créditos adicionais,
Art. 66. A preparação para o exercício do magistério com base no eventual excesso de arrecadação.
superior far-se-á em nível de pós-graduação, prioritariamente § 4º As diferenças entre a receita e a despesa previstas e as
em programas de mestrado e doutorado. efetivamente realizadas, que resultem no não atendimento dos
Parágrafo único. O notório saber, reconhecido por percentuais mínimos obrigatórios, serão apuradas e corrigidas
universidade com curso de doutorado em área afim, poderá a cada trimestre do exercício financeiro.
suprir a exigência de título acadêmico. § 5º O repasse dos valores referidos neste artigo do caixa
Art. 67. Os sistemas de ensino promoverão a valorização da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios
dos profissionais da educação, assegurando-lhes, inclusive nos ocorrerá imediatamente ao órgão responsável pela educação,
observados os seguintes prazos:

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I - recursos arrecadados do primeiro ao décimo dia de cada para o ano subsequente, considerando variações regionais no
mês, até o vigésimo dia; custo dos insumos e as diversas modalidades de ensino.
II - recursos arrecadados do décimo primeiro ao vigésimo
dia de cada mês, até o trigésimo dia; Art. 75. A ação supletiva e redistributiva da União e dos
III - recursos arrecadados do vigésimo primeiro dia ao final Estados será exercida de modo a corrigir, progressivamente,
de cada mês, até o décimo dia do mês subsequente. as disparidades de acesso e garantir o padrão mínimo de
§ 6º O atraso da liberação sujeitará os recursos a correção qualidade de ensino.
monetária e à responsabilização civil e criminal das § 1º A ação a que se refere este artigo obedecerá a fórmula
autoridades competentes. de domínio público que inclua a capacidade de atendimento e
a medida do esforço fiscal do respectivo Estado, do Distrito
Art. 70. Considerar-se-ão como de manutenção e Federal ou do Município em favor da manutenção e do
desenvolvimento do ensino as despesas realizadas com vistas desenvolvimento do ensino.
à consecução dos objetivos básicos das instituições § 2º A capacidade de atendimento de cada governo será
educacionais de todos os níveis, compreendendo as que se definida pela razão entre os recursos de uso
destinam a: constitucionalmente obrigatório na manutenção e
I - remuneração e aperfeiçoamento do pessoal docente e desenvolvimento do ensino e o custo anual do aluno, relativo
demais profissionais da educação; ao padrão mínimo de qualidade.
II - aquisição, manutenção, construção e conservação de § 3º Com base nos critérios estabelecidos nos §§ 1º e 2º, a
instalações e equipamentos necessários ao ensino; União poderá fazer a transferência direta de recursos a cada
III – uso e manutenção de bens e serviços vinculados ao estabelecimento de ensino, considerado o número de alunos
ensino; que efetivamente frequentam a escola.
IV - levantamentos estatísticos, estudos e pesquisas § 4º A ação supletiva e redistributiva não poderá ser
visando precipuamente ao aprimoramento da qualidade e à exercida em favor do Distrito Federal, dos Estados e dos
expansão do ensino; Municípios se estes oferecerem vagas, na área de ensino de sua
V - realização de atividades-meio necessárias ao responsabilidade, conforme o inciso VI do art. 10 e o inciso V
funcionamento dos sistemas de ensino; do art. 11 desta Lei, em número inferior à sua capacidade de
VI - concessão de bolsas de estudo a alunos de escolas atendimento.
públicas e privadas;
VII - amortização e custeio de operações de crédito Art. 76. A ação supletiva e redistributiva prevista no artigo
destinadas a atender ao disposto nos incisos deste artigo; anterior ficará condicionada ao efetivo cumprimento pelos
VIII - aquisição de material didático-escolar e manutenção Estados, Distrito Federal e Municípios do disposto nesta Lei,
de programas de transporte escolar. sem prejuízo de outras prescrições legais.

Art. 71. Não constituirão despesas de manutenção e Art. 77. Os recursos públicos serão destinados às escolas
desenvolvimento do ensino aquelas realizadas com: públicas, podendo ser dirigidos a escolas comunitárias,
I - pesquisa, quando não vinculada às instituições de confessionais ou filantrópicas que:
ensino, ou, quando efetivada fora dos sistemas de ensino, que I - comprovem finalidade não-lucrativa e não distribuam
não vise, precipuamente, ao aprimoramento de sua qualidade resultados, dividendos, bonificações, participações ou parcela
ou à sua expansão; de seu patrimônio sob nenhuma forma ou pretexto;
II - subvenção a instituições públicas ou privadas de II - apliquem seus excedentes financeiros em educação;
caráter assistencial, desportivo ou cultural; III - assegurem a destinação de seu patrimônio a outra
III - formação de quadros especiais para a administração escola comunitária, filantrópica ou confessional, ou ao Poder
pública, sejam militares ou civis, inclusive diplomáticos; Público, no caso de encerramento de suas atividades;
IV - programas suplementares de alimentação, assistência IV - prestem contas ao Poder Público dos recursos
médico-odontológica, farmacêutica e psicológica, e outras recebidos.
formas de assistência social; § 1º Os recursos de que trata este artigo poderão ser
V - obras de infraestrutura, ainda que realizadas para destinados a bolsas de estudo para a educação básica, na forma
beneficiar direta ou indiretamente a rede escolar; da lei, para os que demonstrarem insuficiência de recursos,
VI - pessoal docente e demais trabalhadores da educação, quando houver falta de vagas e cursos regulares da rede
quando em desvio de função ou em atividade alheia à pública de domicílio do educando, ficando o Poder Público
manutenção e desenvolvimento do ensino. obrigado a investir prioritariamente na expansão da sua rede
local.
Art. 72. As receitas e despesas com manutenção e § 2º As atividades universitárias de pesquisa e extensão
desenvolvimento do ensino serão apuradas e publicadas nos poderão receber apoio financeiro do Poder Público, inclusive
balanços do Poder Público, assim como nos relatórios a que se mediante bolsas de estudo.
refere o § 3º do art. 165 da Constituição Federal.
Art. 73. Os órgãos fiscalizadores examinarão, TÍTULO VIII
prioritariamente, na prestação de contas de recursos públicos, Das Disposições Gerais
o cumprimento do disposto no art. 212 da Constituição
Federal, no art. 60 do Ato das Disposições Constitucionais Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração
Transitórias e na legislação concernente. das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos
índios, desenvolverá programas integrados de ensino e
Art. 74. A União, em colaboração com os Estados, o Distrito pesquisa, para oferta de educação escolar bilíngue e
Federal e os Municípios, estabelecerá padrão mínimo de intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:
oportunidades educacionais para o ensino fundamental, I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a
baseado no cálculo do custo mínimo por aluno, capaz de recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de
assegurar ensino de qualidade. suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e
Parágrafo único. O custo mínimo de que trata este artigo ciências;
será calculado pela União ao final de cada ano, com validade II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso
às informações, conhecimentos técnicos e científicos da

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sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não- respectivas instituições, exercendo funções de monitoria, de
índias. acordo com seu rendimento e seu plano de estudos.

Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os Art. 85. Qualquer cidadão habilitado com a titulação
sistemas de ensino no provimento da educação intercultural própria poderá exigir a abertura de concurso público de
às comunidades indígenas, desenvolvendo programas provas e títulos para cargo de docente de instituição pública
integrados de ensino e pesquisa. de ensino que estiver sendo ocupado por professor não
§ 1º Os programas serão planejados com audiência das concursado, por mais de seis anos, ressalvados os direitos
comunidades indígenas. assegurados pelos arts. 41 da Constituição Federal e 19 do Ato
§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos das Disposições Constitucionais Transitórias.
Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos:
I - fortalecer as práticas socioculturais e a língua materna Art. 86. As instituições de educação superior constituídas
de cada comunidade indígena; como universidades integrar-se-ão, também, na sua condição
II - manter programas de formação de pessoal de instituições de pesquisa, ao Sistema Nacional de Ciência e
especializado, destinado à educação escolar nas comunidades Tecnologia, nos termos da legislação específica.
indígenas;
III - desenvolver currículos e programas específicos, neles TÍTULO IX
incluindo os conteúdos culturais correspondentes às Das Disposições Transitórias
respectivas comunidades;
IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático Art. 87. É instituída a Década da Educação, a iniciar-se um
específico e diferenciado. ano a partir da publicação desta Lei.
§ 3o No que se refere à educação superior, sem prejuízo de § 1º A União, no prazo de um ano a partir da publicação
outras ações, o atendimento aos povos indígenas efetivar-se-á, desta Lei, encaminhará, ao Congresso Nacional, o Plano
nas universidades públicas e privadas, mediante a oferta de Nacional de Educação, com diretrizes e metas para os dez anos
ensino e de assistência estudantil, assim como de estímulo à seguintes, em sintonia com a Declaração Mundial sobre
pesquisa e desenvolvimento de programas especiais. Educação para Todos.
§ 2º (Revogado)
Art. 79-A. (Vetado) § 3o O Distrito Federal, cada Estado e Município, e,
supletivamente, a União, devem:
Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de I - (Revogado)
novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’. a) (Revogado)
Art. 80. O Poder Público incentivará o desenvolvimento e a b) (Revogado)
veiculação de programas de ensino a distância, em todos os c) (Revogado)
níveis e modalidades de ensino, e de educação continuada. II - prover cursos presenciais ou a distância aos jovens e
§ 1º A educação a distância, organizada com abertura e adultos insuficientemente escolarizados;
regime especiais, será oferecida por instituições III - realizar programas de capacitação para todos os
especificamente credenciadas pela União. professores em exercício, utilizando também, para isto, os
§ 2º A União regulamentará os requisitos para a realização recursos da educação a distância;
de exames e registro de diploma relativos a cursos de IV - integrar todos os estabelecimentos de ensino
educação a distância. fundamental do seu território ao sistema nacional de avaliação
§ 3º As normas para produção, controle e avaliação de do rendimento escolar.
programas de educação a distância e a autorização para sua § 4º (Revogado)
implementação, caberão aos respectivos sistemas de ensino, § 5º Serão conjugados todos os esforços objetivando a
podendo haver cooperação e integração entre os diferentes progressão das redes escolares públicas urbanas de ensino
sistemas. fundamental para o regime de escolas de tempo integral.
§ 4º A educação a distância gozará de tratamento § 6º A assistência financeira da União aos Estados, ao
diferenciado, que incluirá: Distrito Federal e aos Municípios, bem como a dos Estados aos
I - custos de transmissão reduzidos em canais comerciais seus Municípios, ficam condicionadas ao cumprimento do art.
de radiodifusão sonora e de sons e imagens e em outros meios 212 da Constituição Federal e dispositivos legais pertinentes
de comunicação que sejam explorados mediante autorização, pelos governos beneficiados.
concessão ou permissão do poder público;
II - concessão de canais com finalidades exclusivamente Art. 87.A- (Vetado).
educativas;
III - reserva de tempo mínimo, sem ônus para o Poder Art. 88. A União, os Estados, o Distrito Federal e os
Público, pelos concessionários de canais comerciais. Municípios adaptarão sua legislação educacional e de ensino
Art. 81. É permitida a organização de cursos ou instituições às disposições desta Lei no prazo máximo de um ano, a partir
de ensino experimentais, desde que obedecidas as disposições da data de sua publicação.
desta Lei. § 1º As instituições educacionais adaptarão seus estatutos
e regimentos aos dispositivos desta Lei e às normas dos
Art. 82. Os sistemas de ensino estabelecerão as normas de respectivos sistemas de ensino, nos prazos por estes
realização de estágio em sua jurisdição, observada a lei federal estabelecidos.
sobre a matéria. § 2º O prazo para que as universidades cumpram o
disposto nos incisos II e III do art. 52 é de oito anos.
Art. 83. O ensino militar é regulado em lei específica,
admitida a equivalência de estudos, de acordo com as normas Art. 89. As creches e pré-escolas existentes ou que venham
fixadas pelos sistemas de ensino. a ser criadas deverão, no prazo de três anos, a contar da
publicação desta Lei, integrar-se ao respectivo sistema de
Art. 84. Os discentes da educação superior poderão ser ensino.
aproveitados em tarefas de ensino e pesquisa pelas

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Art. 90. As questões suscitadas na transição entre o regime 03. (TJ/GO- Analista Judiciário- Pedagogia- FGV) A
anterior e o que se institui nesta Lei serão resolvidas pelo educação escolar, de acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da
Conselho Nacional de Educação ou, mediante delegação deste, Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394/96, é dever da família
pelos órgãos normativos dos sistemas de ensino, preservada a e do Estado.
autonomia universitária. Cabe ao Estado garantir, a partir da nova redação do Art.
4º da LDB instituída pela Lei nº 12.796, de 2013:
Art. 91. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (A) educação básica obrigatória e gratuita dos seis aos
quatorze anos de idade;
Art. 92. Revogam-se as disposições das Leis nºs 4.024, de (B) educação infantil e ensino fundamental obrigatórios e
20 de dezembro de 1961, e 5.540, de 28 de novembro de 1968, gratuitos;
não alteradas pelas Leis nºs 9.131, de 24 de novembro de (C) ensino fundamental e ensino médio obrigatórios e
1995 e 9.192, de 21 de dezembro de 1995 e, ainda, as Leis nºs gratuitos;
5.692, de 11 de agosto de 1971 e 7.044, de 18 de outubro de (D) educação básica obrigatória e gratuita a todos que
1982, e as demais leis e decretos-lei que as modificaram e desejarem cursá-la;
quaisquer outras disposições em contrário. (E) educação básica obrigatória e gratuita dos quatro aos
dezessete anos de idade.
Questões
04. (Pref. Mun. de Palhoça/SC – Professor de Educação
01. (SEAP/DF- Professor- IBFC) De acordo com o que Infantil – Pref. Mun. de Palhoça/2016) Assinale a
disserta a Lei 9.394/96, Lei de Diretrizes e Bases da Educação alternativa FALSA:
Brasileira (LDB), julgue os itens a seguir: (A) A educação superior somente será ministrada em
I. A LDB reconhece que a educação abrange os processos instituições de ensino superior públicas, com variados graus
formativos que se desenvolvem na vida familiar, na de abrangência ou especialização.
convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino, (B) Os cursos de pós-graduação serão oferecidos em
nos movimentos sociais e nas manifestações culturais. Por diversas instituições públicas ou privadas.
isso, a lei disserta, expressamente, que a educação escolar (C) A educação superior será oferecida tanto em
deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social. instituições públicas como nas privadas.
II. A educação básica é obrigatória e gratuita dos 6 anos aos (D) A educação superior será ministrada em instituições
17 anos de idade, organizada da seguinte forma: pré-escola, de ensino superior, públicas ou privadas, com variados graus
ensino fundamental e ensino médio. Sendo a educação infantil de abrangência ou especialização.
gratuita às crianças de até 6 anos de idade
III. O atendimento ao educando é previsto, em todas as 05. (Pref. Mun. de Nova Friburgo/RJ – Secretário
etapas da educação básica, por meio de programas Escolar – EXATUS/PR - 2015) A questão é concernente a Lei
suplementares de material didático-escolar e alimentação. de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB, Nº
Transporte e assistência à saúde não estão expressamente 9394/96)”. Segundo a LDB, a educação escolar compõe-se de:
previstos na LDB 9394/96, sendo deixados à lei ordinária. (A) Educação Básica e Educação Infantil.
IV. É garantida a vaga na escola pública de educação (B) Educação Infantil e Ensino Fundamental.
infantil ou de ensino fundamental mais próxima da residência (C) Educação Básica e Educação Superior.
a toda criança a partir do dia em que completar 4 anos de (D) Educação Básica, Educação Infantil e Educação
idade. Superior.
V. É garantido acesso público e gratuito aos ensinos
fundamental e médio para todos os que não os concluíram na Respostas
idade própria, porém vedado acesso aos níveis mais elevados
do ensino, da pesquisa e da criação artística, segundo a 01. B. / 02. E / 03. E. / 04. A. / 05. C.
capacidade de cada um.
É correto o que afirma em:
(A) I, II e III, apenas.
(B) I e IV, apenas. Parâmetros Curriculares
(C) II, III e V, apenas.
(D) I, IV e V, apenas.
Nacionais.

02. (Prefeitura Municipal de Alumínio/SP – Auxiliar de


Desenvolvimento Infantil – VUNESP/2016) A Lei Federal nº
9.394, de 20.12.1996 (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Caro(a) candidato(a) os Parâmetros Curriculares
Nacional), introduziu uma série de inovações em relação à Nacionais não sofreram as devidas alterações conforme a
Educação Básica, dentre as quais, lei vigente, por isso se encontram ainda classificando o
(A) a construção de identidade das creches e pré-escolas Ensino Fundamental em 8 séries, e não como o sistema
com base nas diferenciações em relação à classe social das atual de ensino dividido em 9 anos.
crianças. Não considere como um material errado, apenas não
(B) o atendimento obrigatório e gratuito no ensino ocorreram as devidas atualizações e alterações no próprio
fundamental e gratuidade extensiva apenas à Educação portal do Ministério da Educação ainda
Infantil das crianças a partir dos 4 anos de idade. <https://goo.gl/Gd2mGG>, mas são os parâmetros
(C) o atendimento em creches e pré-escolas pelos órgãos cobrados atualmente.
de assistência social, prioritariamente. Abaixo segue a parte Introdutória dos PCNs, caso queira
(D) o entendimento da creche e pré-escola como um favor lê-los em sua integralidade acesse o link a cima também que
aos socialmente menos favorecidos. constará disponível todos os volumes.
(E) a integração das creches nos sistemas de ensino,
compondo, junto com as pré-escolas, a primeira etapa da
Educação Básica.

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APOSTILAS OPÇÃO
27INTRODUÇÃO AOS PARÂMETROS CURRICULARES peculiaridades locais, a especificidade dos planos dos
NACIONAIS estabelecimentos de ensino e as diferenças individuais dos
alunos. Coube aos Estados a formulação de propostas
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES curriculares que serviriam de base às escolas estaduais,
O que são os Parâmetros municipais e particulares situadas em seu território,
Curriculares Nacionais compondo, assim, seus respectivos sistemas de ensino. Essas
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem um propostas foram, na sua maioria, reformuladas durante os
referencial de qualidade para a educação no Ensino anos 80, segundo as tendências educacionais que se
Fundamental em todo o País. Sua função é orientar e garantir generalizaram nesse período.
a coerência dos investimentos no sistema educacional, Em 1990 o Brasil participou da Conferência Mundial de
socializando discussões, pesquisas e recomendações, Educação para Todos, em Jomtien, na Tailândia, convocada
subsidiando a participação de técnicos e professores pela Unesco, Unicef, PNUD e Banco Mundial. Dessa
brasileiros, principalmente daqueles que se encontram mais conferência, assim como da Declaração de Nova Delhi —
isolados, com menor contato com a produção pedagógica assinada pelos nove países em desenvolvimento de maior
atual. contingente populacional do mundo —, resultaram posições
Por sua natureza aberta, configuram uma proposta flexível, consensuais na luta pela satisfação das necessidades básicas
a ser concretizada nas decisões regionais e locais sobre de aprendizagem para todos, capazes de tornar universal a
currículos e sobre programas de transformação da realidade educação fundamental e de ampliar as oportunidades de
educacional empreendidos pelas autoridades governamentais, aprendizagem para crianças, jovens e adultos.
pelas escolas e pelos professores. Não configuram, portanto, Tendo em vista o quadro atual da educação no Brasil e os
um modelo curricular homogêneo e impositivo, que se compromissos assumidos internacionalmente, o Ministério da
sobreporia à competência político-executiva dos Estados e Educação e do Desporto coordenou a elaboração do Plano
Municípios, à diversidade sociocultural das diferentes regiões Decenal de Educação para Todos (1993-2003), concebido
do País ou à autonomia de professores e equipes pedagógicas. como um conjunto de diretrizes políticas em contínuo
O conjunto das proposições aqui expressas responde à processo de negociação, voltado para a recuperação da escola
necessidade de referenciais a partir dos quais o sistema fundamental, a partir do compromisso com a equidade e com
educacional do País se organize, a fim de garantir que, o incremento da qualidade, como também com a constante
respeitadas as diversidades culturais, regionais, étnicas, avaliação dos sistemas escolares, visando ao seu contínuo
religiosas e políticas que atravessam uma sociedade múltipla, aprimoramento.
estratificada e complexa, a educação possa atuar, O Plano Decenal de Educação, em consonância com o que
decisivamente, no processo de construção da cidadania, tendo estabelece a Constituição de 1988, afirma a necessidade e a
como meta o ideal de uma crescente igualdade de direitos obrigação de o Estado elaborar parâmetros claros no campo
entre os cidadãos, baseado nos princípios democráticos. Essa curricular capazes de orientar as ações educativas do ensino
igualdade implica necessariamente o acesso à totalidade dos obrigatório, de forma a adequá-lo aos ideais democráticos e à
bens públicos, entre os quais o conjunto dos conhecimentos busca da melhoria da qualidade do ensino nas escolas
socialmente relevantes. brasileiras.
Entretanto, se estes Parâmetros Curriculares Nacionais Nesse sentido, a leitura atenta do texto constitucional
podem funcionar como elemento catalisador de ações na vigente mostra a ampliação das responsabilidades do poder
busca de uma melhoria da qualidade da educação brasileira, público para com a educação de todos, ao mesmo tempo que a
de modo algum pretendem resolver todos os problemas que Emenda Constitucional n. 14, de 12 de setembro de 1996,
afetam a qualidade do ensino e da aprendizagem no País. A priorizou o ensino fundamental, disciplinando a participação
busca da qualidade impõe a necessidade de investimentos em de Estados e Municípios no tocante ao financiamento desse
diferentes frentes, como a formação inicial e continuada de nível de ensino.
professores, uma política de salários dignos, um plano de A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei
carreira, a qualidade do livro didático, de recursos televisivos Federal n. 9.394), aprovada em 20 de dezembro de 1996,
e de multimídia, a disponibilidade de materiais didáticos. Mas consolida e amplia o dever do poder público para com a
esta qualificação almejada implica colocar também, no centro educação em geral e em particular para com o ensino
do debate, as atividades escolares de ensino e aprendizagem e fundamental. Assim, vê-se no art. 22 dessa lei que a educação
a questão curricular como de inegável importância para a básica, da qual o ensino fundamental é parte integrante, deve
política educacional da nação brasileira. assegurar a todos “a formação comum indispensável para o
exercício da cidadania e fornecer-lhes meios para progredir no
Breve histórico trabalho e em estudos posteriores”, fato que confere ao ensino
Até dezembro de 1996 o ensino fundamental esteve fundamental, ao mesmo tempo, um caráter de terminalidade e
estruturado nos termos previstos pela Lei Federal n. 5.692, de de continuidade.
11 de agosto de 1971. Essa lei, ao definir as diretrizes e bases Essa LDB reforça a necessidade de se propiciar a todos a
da educação nacional, estabeleceu como objetivo geral, tanto formação básica comum, o que pressupõe a formulação de um
para o ensino fundamental (primeiro grau, com oito anos de conjunto de diretrizes capaz de nortear os currículos e seus
escolaridade obrigatória) quanto para o ensino médio conteúdos mínimos, incumbência que, nos termos do art. 9º,
(segundo grau, não obrigatório), proporcionar aos educandos inciso IV, é remetida para a União. Para dar conta desse amplo
a formação necessária ao desenvolvimento de suas objetivo, a LDB consolida a organização curricular de modo a
potencialidades como elemento de auto realização, conferir uma maior flexibilidade no trato dos componentes
preparação para o trabalho e para o exercício consciente da curriculares, reafirmando desse modo o princípio da base
cidadania. nacional comum (Parâmetros Curriculares Nacionais), a ser
Também generalizou as disposições básicas sobre o complementada por uma parte diversificada em cada sistema
currículo, estabelecendo o núcleo comum obrigatório em de ensino e escola na prática, repetindo o art. 210 da
âmbito nacional para o ensino fundamental e médio. Manteve, Constituição Federal.
porém, uma parte diversificada a fim de contemplar as

27Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares 1998. 174 p. Disponível em:
nacionais: primeiro e segundo ciclos do ensino fundamental: introdução aos parâmetros <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/introducao.pdf>. Acesso em abril de
curriculares nacionais / Secretaria de Educação Fundamental. – Brasília: MEC/SEF, 2017.

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Em linha de síntese, pode-se afirmar que o currículo, tanto quase-totalidade, apontaram a necessidade de uma política de
para o ensino fundamental quanto para o ensino médio, deve implementação da proposta educacional inicialmente
obrigatoriamente propiciar oportunidades para o estudo da explicitada. Além disso, sugeriram diversas possibilidades de
língua portuguesa, da matemática, do mundo físico e natural e atuação das universidades e das faculdades de educação para
da realidade social e política, enfatizando-se o conhecimento a melhoria do ensino nas séries iniciais, as quais estão sendo
do Brasil. Também são áreas curriculares obrigatórias o incorporadas na elaboração de novos programas de formação
ensino da Arte e da Educação Física, necessariamente de professores, vinculados à implementação dos Parâmetros
integradas à proposta pedagógica. O ensino de pelo menos Curriculares Nacionais.
uma língua estrangeira moderna passa a se constituir um
componente curricular obrigatório, a partir da quinta série do A PROPOSTA DOS PARÂMETROS CURRICULARES
ensino fundamental (art. 26, § 5o). Quanto ao ensino religioso, NACIONAIS EM FACE DA SITUAÇÃO DO ENSINO
sem onerar as despesas públicas, a LDB manteve a orientação FUNDAMENTAL
já adotada pela política educacional brasileira, ou seja,
constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas, Durante as décadas de 70 e 80 a tônica da política
mas é de matrícula facultativa, respeitadas as preferências educacional brasileira recaiu sobre a expansão das
manifestadas pelos alunos ou por seus responsáveis (art. 33). oportunidades de escolarização, havendo um aumento
O ensino proposto pela LDB está em função do objetivo expressivo no acesso à escola básica. Todavia, os altos índices
maior do ensino fundamental, que é o de propiciar a todos de repetência e evasão apontam problemas que evidenciam a
formação básica para a cidadania, a partir da criação na escola grande insatisfação com o trabalho realizado pela escola.
de condições de aprendizagem para: Indicadores fornecidos pela Secretaria de
“I - o desenvolvimento da capacidade de aprender, tendo Desenvolvimento e Avaliação Educacional (Sediae), do
como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do Ministério da Educação e do Desporto, reafirmam a
cálculo; necessidade de revisão do projeto educacional do País, de
II - a compreensão do ambiente natural e social, do sistema modo a concentrar a atenção na qualidade do ensino e da
político, da tecnologia, das artes e dos valores em que se aprendizagem.
fundamenta a sociedade;
III - o desenvolvimento da capacidade de aprendizagem, Número de alunos e de estabelecimentos
tendo em vista a aquisição de conhecimentos e habilidades e a A oferta de vagas está praticamente universalizada no País.
formação de atitudes e valores; O maior contingente de crianças fora da escola encontra-se na
IV - o fortalecimento dos vínculos de família, dos laços de região Nordeste. Nas regiões Sul e Sudeste há desequilíbrios
solidariedade humana e de tolerância recíproca em que se na localização das escolas e, no caso das grandes cidades,
assenta a vida social” (art. 32). insuficiência de vagas, provocando a existência de um número
Verifica-se, pois, como os atuais dispositivos relativos à excessivo de turnos e a criação de escolas unidocentes ou
organização curricular da educação escolar caminham no multisseriadas.
sentido de conferir ao aluno, dentro da estrutura federativa, Em 1994, os 31,2 milhões de alunos do ensino fundamental
efetivação dos objetivos da educação democrática. concentravam-se predominantemente nas regiões Sudeste
(39%) e Nordeste (31%), seguidas das regiões Sul (14%),
O processo de elaboração dos Parâmetros Norte (9%) e Centro-Oeste (7%), conforme indicado no gráfico
Curriculares Nacionais 1.
O processo de elaboração dos Parâmetros Curriculares
Nacionais teve início a partir do estudo de propostas
curriculares de Estados e Municípios brasileiros, da análise
realizada pela Fundação Carlos Chagas sobre os currículos
oficiais e do contato com informações relativas a experiências
de outros países. Foram analisados subsídios oriundos do
Plano Decenal de Educação, de pesquisas nacionais e
internacionais, dados estatísticos sobre desempenho de
alunos do ensino fundamental, bem como experiências de sala
de aula difundidas em encontros, seminários e publicações.
Formulou-se, então, uma proposta inicial que, apresentada
em versão preliminar, passou por um processo de discussão
A maioria absoluta dos alunos frequentava escolas
em âmbito nacional, em 1995 e 1996, do qual participaram
públicas (88,4%) localizadas em áreas urbanas (82,5%), como
docentes de universidades públicas e particulares, técnicos de
resultado do processo de urbanização do País nas últimas
secretarias estaduais e municipais de educação, de instituições
décadas, e da crescente participação do setor público na oferta
representativas de diferentes áreas de conhecimento,
de matrículas. O setor privado responde apenas por 11,6% da
especialistas e educadores. Desses interlocutores foram
oferta, em consequência de sua participação declinante desde
recebidos aproximadamente setecentos pareceres sobre a
o início dos anos 70.
proposta inicial, que serviram de referência para a sua
No que se refere ao número de estabelecimentos de ensino,
reelaboração.
ao todo 194.487, mais de 70% das escolas são rurais, apesar
A discussão da proposta foi estendida em inúmeros
de responderem por apenas 17,5% da demanda de ensino
encontros regionais, organizados pelas delegacias do MEC nos
fundamental. Na verdade, as escolas rurais concentram-se
Estados da federação, que contaram com a participação de
sobretudo na região Nordeste (50%), não só em função de suas
professores do ensino fundamental, técnicos de secretarias
características socioeconômicas, mas também devido à
municipais e estaduais de educação, membros de conselhos
ausência de planejamento do processo de expansão da rede
estaduais de educação, representantes de sindicatos e
física (gráfico 2).
entidades ligadas ao magistério. Os resultados apurados
nesses encontros também contribuíram para a reelaboração
do documento.
Os pareceres recebidos, além das análises críticas e
sugestões em relação ao conteúdo dos documentos, em sua

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desigual do País revela os resultados do processo de extrema


concentração de renda e níveis elevados de pobreza.
Promoção, repetência e evasão

Em relação às taxas de transição28, houve substancial


melhoria dos índices de promoção, repetência e evasão do
ensino fundamental. Verifica-se, no período de 1981-92,
tendência ascendente das taxas de promoção — sobem de
55% em 1984, para 62% em 1992 — acompanhada de queda
razoável das taxas médias de repetência e evasão, que atingem,
respectivamente, 33% e 5% em 1992.
Essa tendência é muito significativa. Estudos indicam que
a repetência constitui um dos problemas do quadro
educacional do País, uma vez que os alunos passam, em média,
5 anos na escola antes de se evadirem ou levam cerca de 11,2
anos para concluir as oito séries de escolaridade obrigatória.
No entanto, a grande maioria da população estudantil acaba
desistindo da escola, desestimulada em razão das altas taxas
de repetência e pressionada por fatores socioeconômicos que
obrigam boa parte dos alunos ao trabalho precoce.
Apesar da melhoria observada nos índices de evasão, o
comportamento das taxas de promoção e repetência na
primeira série do ensino fundamental está ainda longe do
desejável: apenas 51% do total de alunos são promovidos,
enquanto 44% repetem, reproduzindo assim o ciclo de
A situação mostra-se grave ao se observar a evolução da retenção que acaba expulsando os alunos da escola (gráficos 3,
distribuição da população por nível de escolaridade. Se é 4 e 5).
verdade que houve considerável avanço na escolaridade
correspondente à primeira fase do ensino fundamental
(primeira a quarta séries), é também verdade que em relação
aos demais níveis de ensino a escolaridade ainda é muito
insuficiente: em 1990, apenas 19% da população do País
possuía o primeiro grau completo; 13%, o nível médio; e 8%
possuía o nível superior. Considerando a importância do
ensino fundamental e médio para assegurar a formação de
cidadãos aptos a participar democraticamente da vida social,
esta situação indica a urgência das tarefas e o esforço que o
estado e a sociedade civil deverão assumir para superar a
médio prazo o quadro existente.
Além das imensas diferenças regionais no que concerne ao
número médio de anos de estudo, que apontam a região
Nordeste bem abaixo da média nacional, cabe destacar a
grande oscilação deste indicador em relação à variável cor,
mas relativo equilíbrio do ponto de vista de gênero, como
mostram os dados da tabela 1.

Com efeito, mais do que refletir as desigualdades regionais


e as diferenças de gênero e cor, o quadro de escolarização

28 . As taxas de transição (promoção, repetência e evasão) são definidas por: seguinte (s+1) àquela que estavam matriculados no ano anterior; ii) alunos
a) taxa de promoção na série s é a razão entre o total de alunos promovidos desta repetentes na série s os que se matricularam no início do ano na mesma série (s)
série (para série s+1) e a matrícula inicial da série s no ano anterior; b) a taxa de que estavam matriculados no ano anterior; e iii) alunos evadidos na série s são
repetência na série s é o total de repetentes nesta série dividido pelo número de aqueles que estavam matriculados nesta série no ano anterior e não se
alunos matriculados na mesma série no ano anterior; e c) a taxa de evasão na matricularam em nenhuma escola no início do ano. Neste relatório essas taxas
série s é obtida dividindo-se o número de alunos evadidos desta série pelo total de estão calculadas em percentuais e foram estimadas por Ruben Klein
alunos matriculados nesta série no ano anterior. Define-se por: i) alunos (CNPq/LNCC).
promovidos da série s aqueles que se matricularam no início do ano na série

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Do ponto de vista regional, com exceção do Norte e do Nordeste, as demais regiões apresentam tendência à elevação das taxas
médias de promoção e à queda dos índices de repetência (gráficos 6 e 7), indicando relativo processo de melhoria da eficiência do
sistema. Ressalta-se, contudo, tendência à queda das taxas de evasão nas regiões Norte e Nordeste que, em 1992, chegam muito
próximas da média nacional (gráfico 8).

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As taxas de repetência evidenciam a baixa qualidade do ensino e a incapacidade dos sistemas educacionais e das escolas de garantir
a permanência do aluno, penalizando principalmente os alunos de níveis de renda mais baixos.
O “represamento” no sistema causado pelo número excessivo de reprovações nas séries iniciais contribui de forma significativa
para o aumento dos gastos públicos, ainda acrescidos pela subutilização de recursos humanos e materiais nas séries finais, devido ao
número reduzido de alunos.
Uma das consequências mais nefastas das elevadas taxas de repetência manifesta-se nitidamente nas acentuadas taxas de distorção
série/idade, em todas as séries do ensino fundamental (gráfico 9). Apesar da ligeira queda observada em todas as séries, no período
1984-94, a situação é dramática:
• mais de 63% dos alunos do ensino fundamental têm idade superior à faixa etária correspondente a cada série;
• as regiões Sul e Sudeste, embora situem-se abaixo da média nacional, ainda apresentam índices bastante elevados,
respectivamente, cerca de 42 % e de 54%;
• as regiões Norte e Nordeste situam-se bem acima da média nacional (respectivamente, 78% e 80%).

Para reverter esse quadro, alguns Estados e Municípios começam a implementar programas de aceleração do fluxo escolar, com o
objetivo de promover, a médio prazo, a melhoria dos indicadores de rendimento escolar. São iniciativas extremamente importantes,
uma vez que a pesquisa realizada pelo MEC, em 1995, por meio do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (SAEB) mostra
que quanto maior a distorção idade/série, pior o rendimento dos alunos em Língua Portuguesa e Matemática, tanto no ensino
fundamental como no médio. A repetência, portanto, parece não acrescentar nada ao processo de ensino e aprendizagem.

Desempenho
O perfil da educação brasileira apresentou significativas mudanças nas duas últimas décadas. Houve substancial queda da taxa de
analfabetismo, aumento expressivo do número de matrículas em todos os níveis de ensino e crescimento sistemático das taxas de
escolaridade média da população.
A progressiva queda da taxa de analfabetismo, que passa de 39,5% para 20,1% nas quatro últimas décadas, foi paralela ao processo
de universalização do atendimento escolar na faixa etária obrigatória (sete a quatorze anos), tendência que se acentua de meados dos
anos 70 para cá, sobretudo como resultado do esforço do setor público na promoção das políticas educacionais. Esse movimento não
ocorreu de forma homogênea. Ele acompanhou as características de desenvolvimento socioeconômico do País e reflete suas
desigualdades.
Por outro lado, resultados obtidos em pesquisa realizada pelo SAEB/95, baseados em uma amostra nacional que abrangeu 90.499
alunos de 2.793 escolas públicas e privadas, reafirmam a baixa qualidade atingida no desempenho dos alunos no ensino fundamental
em relação à leitura e principalmente em habilidade matemática.

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Pelo exame da tabela 2, os estudantes parecem lidar melhor com o reconhecimento de significados do que com extensões ou
aspectos críticos, já que os índices de acerto são sempre maiores nesse tipo de habilidade.

Os resultados de desempenho em matemática mostram um rendimento geral insatisfatório, pois os percentuais em sua maioria
situam-se abaixo de 50%. Ao indicarem um rendimento melhor nas questões classificadas como de compreensão de conceitos do que
nas de conhecimento de procedimentos e resolução de problemas, os dados parecem confirmar o que vem sendo amplamente
debatido, ou seja, que o ensino da matemática ainda é feito sem levar em conta os aspectos que a vinculam com a prática cotidiana,
tornando-a desprovida de significado para o aluno. Outro fato que chama a atenção é que o pior índice refere-se ao campo da geometria.
Os dados apresentados pela pesquisa confirmam a necessidade de investimentos substanciais para a melhoria da qualidade do
ensino e da aprendizagem no ensino fundamental.
Mesmo os alunos que conseguem completar os oito anos do ensino fundamental acabam dispondo de menos conhecimento do que
se espera de quem concluiu a escolaridade obrigatória. Aprenderam pouco, e muitas vezes o que aprenderam não facilita sua inserção
e atuação na sociedade. Dentre outras deficiências do processo de ensino e aprendizagem, são relevantes o desinteresse geral pelo
trabalho escolar, a motivação dos alunos centrada apenas na nota e na promoção, o esquecimento precoce dos assuntos estudados e
os problemas de disciplina.
Desde os anos 80, experiências concretas no âmbito dos Estados e Municípios vêm sendo tentadas para a transformação desse
quadro educacional mas, ainda que tenham obtido sucesso, são experiências circunscritas a realidades específicas.

Professores
O desempenho dos alunos remete-nos diretamente à necessidade de se considerarem aspectos relativos à formação do professor.
Pelo Censo Educacional de 1994 foi feito um levantamento da quantidade de professores que atuam no ensino fundamental, bem como
grau de escolaridade. Do total de funções docentes do ensino fundamental (cerca de 1,3 milhão), 86,3% encontram-se na rede pública;
mais de 79% relacionam-se às escolas da área urbana e apenas 20,4% à zona rural (tabela 4).

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A tabela 4 mostra a existência de 10% de funções docentes Essas exigências apontam a relevância de discussões sobre
sendo desempenhadas sem o nível de formação mínimo a dignidade do ser humano, a igualdade de direitos, a recusa
exigido. Ainda 5% de funções preenchidas por pessoas com categórica de formas de discriminação, a importância da
escolaridade de nível médio ou superior, mas sem função solidariedade e do respeito. Cabe ao campo educacional
específica para o magistério. Finalmente, a ausência de propiciar aos alunos as capacidades de vivenciar as diferentes
formação mínima concentra-se na área rural, onde chega a formas de inserção sociopolítica e cultural. Apresenta-se para
atingir 40%. a escola, hoje mais do que nunca, a necessidade de assumir-se
A exigência legal de formação inicial para atuação no como espaço social de construção dos significados éticos
ensino fundamental nem sempre pode ser cumprida, em necessários e constitutivos de toda e qualquer ação de
função das deficiências do sistema educacional. No entanto, a cidadania.
má qualidade do ensino não se deve simplesmente à não- No contexto atual, a inserção no mundo do trabalho e do
formação inicial de parte dos professores, resultando também consumo, o cuidado com o próprio corpo e com a saúde,
da má qualidade da formação que tem sido ministrada. Este passando pela educação sexual, e a preservação do meio
levantamento mostra a urgência de se atuar na formação ambiente são temas que ganham um novo estatuto, num
inicial dos professores. universo em que os referenciais tradicionais, a partir dos quais
Além de uma formação inicial consistente, é preciso eram vistos como questões locais ou individuais, já não dão
considerar um investimento educativo contínuo e sistemático conta da dimensão nacional e até mesmo internacional que
para que o professor se desenvolva como profissional de tais temas assumem, justificando, portanto, sua consideração.
educação. O conteúdo e a metodologia para essa formação Nesse sentido, é papel preponderante da escola propiciar o
precisam ser revistos para que haja possibilidade de melhoria domínio dos recursos capazes de levar à discussão dessas
do ensino. A formação não pode ser tratada como um acúmulo formas e sua utilização crítica na perspectiva da participação
de cursos e técnicas, mas sim como um processo reflexivo e social e política.
crítico sobre a prática educativa. Investir no desenvolvimento Desde a construção dos primeiros computadores, na
profissional dos professores é também intervir em suas reais metade deste século, novas relações entre conhecimento e
condições de trabalho. trabalho começaram a ser delineadas. Um de seus efeitos é a
exigência de um reequacionamento do papel da educação no
PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS DOS PARÂMETROS mundo contemporâneo, que coloca para a escola um horizonte
CURRICULARES NACIONAIS mais amplo e diversificado do que aquele que, até poucas
décadas atrás, orientava a concepção e construção dos
Na sociedade democrática, ao contrário do que ocorre nos projetos educacionais. Não basta visar à capacitação dos
regimes autoritários, o processo educacional não pode ser estudantes para futuras habilitações em termos das
instrumento para a imposição, por parte do governo, de um especializações tradicionais, mas antes trata-se de ter em vista
projeto de sociedade e de nação. Tal projeto deve resultar do a formação dos estudantes em termos de sua capacitação para
próprio processo democrático, nas suas dimensões mais a aquisição e o desenvolvimento de novas competências, em
amplas, envolvendo a contraposição de diferentes interesses e função de novos saberes que se produzem e demandam um
a negociação política necessária para encontrar soluções para novo tipo de profissional, preparado para poder lidar com
os conflitos sociais. novas tecnologias e linguagens, capaz de responder a novos
Não se pode deixar de levar em conta que, na atual ritmos e processos. Essas novas relações entre conhecimento
realidade brasileira, a profunda estratificação social e a injusta e trabalho exigem capacidade de iniciativa e inovação e, mais
distribuição de renda têm funcionado como um entrave para do que nunca, “aprender a aprender”. Isso coloca novas
que uma parte considerável da população possa fazer valer os demandas para a escola. A educação básica tem assim a função
seus direitos e interesses fundamentais. Cabe ao governo o de garantir condições para que o aluno construa instrumentos
papel de assegurar que o processo democrático se desenvolva que o capacitem para um processo de educação permanente.
de modo a que esses entraves diminuam cada vez mais. É papel Para tanto, é necessário que, no processo de ensino e
do Estado democrático investir na escola, para que ela prepare aprendizagem, sejam exploradas: a aprendizagem de
e instrumentalize crianças e jovens para o processo metodologias capazes de priorizar a construção de estratégias
democrático, forçando o acesso à educação de qualidade para de verificação e comprovação de hipóteses na construção do
todos e às possibilidades de participação social. conhecimento, a construção de argumentação capaz de
Para isso faz-se necessária uma proposta educacional que controlar os resultados desse processo, o desenvolvimento do
tenha em vista a qualidade da formação a ser oferecida a todos espírito crítico capaz de favorecer a criatividade, a
os estudantes. O ensino de qualidade que a sociedade demanda compreensão dos limites e alcances lógicos das explicações
atualmente expressa-se aqui como a possibilidade de o propostas. Além disso, é necessário ter em conta uma dinâmica
sistema educacional vir a propor uma prática educativa de ensino que favoreça não só o descobrimento das
adequada às necessidades sociais, políticas, econômicas e potencialidades do trabalho individual, mas também, e
culturais da realidade brasileira, que considere os interesses e sobretudo, do trabalho coletivo. Isso implica o estímulo à
as motivações dos alunos e garanta as aprendizagens autonomia do sujeito, desenvolvendo o sentimento de
essenciais para a formação de cidadãos autônomos, críticos e segurança em relação às suas próprias capacidades,
participativos, capazes de atuar com competência, dignidade e interagindo de modo orgânico e integrado num trabalho de
responsabilidade na sociedade em que vivem. equipe e, portanto, sendo capaz de atuar em níveis de
O exercício da cidadania exige o acesso de todos à interlocução mais complexos e diferenciados.
totalidade dos recursos culturais relevantes para a
intervenção e a participação responsável na vida social. O Natureza e função dos Parâmetros Curriculares
domínio da língua falada e escrita, os princípios da reflexão Nacionais
matemática, as coordenadas espaciais e temporais que
organizam a percepção do mundo, os princípios da explicação Cada criança ou jovem brasileiro, mesmo de locais com
científica, as condições de fruição da arte e das mensagens pouca infraestrutura e condições socioeconômicas
estéticas, domínios de saber tradicionalmente presentes nas desfavoráveis, deve ter acesso ao conjunto de conhecimentos
diferentes concepções do papel da educação no mundo socialmente elaborados e reconhecidos como necessários para
democrático, até outras tantas exigências que se impõem no o exercício da cidadania para deles poder usufruir. Se existem
mundo contemporâneo. diferenças socioculturais marcantes, que determinam

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diferentes necessidades de aprendizagem, existe também O segundo nível de concretização diz respeito às propostas
aquilo que é comum a todos, que um aluno de qualquer lugar curriculares dos Estados e Municípios. Os Parâmetros
do Brasil, do interior ou do litoral, de uma grande cidade ou da Curriculares Nacionais poderão ser utilizados como recurso
zona rural, deve ter o direito de aprender e esse direito deve para adaptações ou elaborações curriculares realizadas pelas
ser garantido pelo Estado. Secretarias de Educação, em um processo definido pelos
Mas, na medida em que o princípio da equidade reconhece responsáveis em cada local.
a diferença e a necessidade de haver condições diferenciadas O terceiro nível de concretização refere-se à elaboração da
para o processo educacional, tendo em vista a garantia de uma proposta curricular de cada instituição escolar,
formação de qualidade para todos, o que se apresenta é a contextualizada na discussão de seu projeto educativo.
necessidade de um referencial comum para a formação escolar Entende-se por projeto educativo a expressão da identidade
no Brasil, capaz de indicar aquilo que deve ser garantido a de cada escola em um processo dinâmico de discussão,
todos, numa realidade com características tão diferenciadas, reflexão e elaboração contínua. Esse processo deve contar com
sem promover uma uniformização que descaracterize e a participação de toda equipe pedagógica, buscando um
desvalorize peculiaridades culturais e regionais. comprometimento de todos com o trabalho realizado, com os
É nesse sentido que o estabelecimento de uma referência propósitos discutidos e com a adequação de tal projeto às
curricular comum para todo o País, ao mesmo tempo que características sociais e culturais da realidade em que a escola
fortalece a unidade nacional e a responsabilidade do Governo está inserida. É no âmbito do projeto educativo que
Federal com a educação, busca garantir, também, o respeito à professores e equipe pedagógica discutem e organizam os
diversidade que é marca cultural do País, mediante a objetivos, conteúdos e critérios de avaliação para cada ciclo.
possibilidade de adaptações que integrem as diferentes Os Parâmetros Curriculares Nacionais e as propostas das
dimensões da prática educacional. Secretarias devem ser vistos como materiais que subsidiarão
Para compreender a natureza dos Parâmetros Curriculares a escola na constituição de sua proposta educacional mais
Nacionais, é necessário situá-los em relação a quatro níveis de geral, num processo de interlocução em que se compartilham
concretização curricular considerando a estrutura do sistema e explicitam os valores e propósitos que orientam o trabalho
educacional brasileiro. Tais níveis não representam etapas educacional que se quer desenvolver e o estabelecimento do
sequenciais, mas sim amplitudes distintas da elaboração de currículo capaz de atender às reais necessidades dos alunos.
propostas curriculares, com responsabilidades diferentes, que O quarto nível de concretização curricular é o momento da
devem buscar uma integração e, ao mesmo tempo, autonomia. realização da programação das atividades de ensino e
Os Parâmetros Curriculares Nacionais constituem o aprendizagem na sala de aula. É quando o professor, segundo
primeiro nível de concretização curricular. São uma referência as metas estabelecidas na fase de concretização anterior, faz
nacional para o ensino fundamental; estabelecem uma meta sua programação, adequando-a àquele grupo específico de
educacional para a qual devem convergir as ações políticas do alunos. A programação deve garantir uma distribuição
Ministério da Educação e do Desporto, tais como os projetos planejada de aulas, distribuição dos conteúdos segundo um
ligados à sua competência na formação inicial e continuada de cronograma referencial, definição das orientações didáticas
professores, à análise e compra de livros e outros materiais prioritárias, seleção do material a ser utilizado, planejamento
didáticos e à avaliação nacional. Têm como função subsidiar a de projetos e sua execução. Apesar de a responsabilidade ser
elaboração ou a revisão curricular dos Estados e Municípios, essencialmente de cada professor, é fundamental que esta seja
dialogando com as propostas e experiências já existentes, compartilhada com a equipe da escola por meio da
incentivando a discussão pedagógica interna das escolas e a corresponsabilidade estabelecida no projeto educativo.
elaboração de projetos educativos, assim como servir de Tal proposta, no entanto, exige uma política educacional
material de reflexão para a prática de professores. que contemple a formação inicial e continuada dos
Todos os documentos aqui apresentados configuram uma professores, uma decisiva revisão das condições salariais,
referência nacional em que são apontados conteúdos e além da organização de uma estrutura de apoio que favoreça o
objetivos articulados, critérios de eleição dos primeiros, desenvolvimento do trabalho (acervo de livros e obras de
questões de ensino e aprendizagem das áreas, que permeiam referência, equipe técnica para supervisão, materiais
a prática educativa de forma explícita ou implícita, propostas didáticos, instalações adequadas para a realização de trabalho
sobre a avaliação em cada momento da escolaridade e em cada de qualidade), aspectos que, sem dúvida, implicam a
área, envolvendo questões relativas a o que e como avaliar. valorização da atividade do professor.
Assim, além de conter uma exposição sobre seus fundamentos,
contém os diferentes elementos curriculares — tais como Fundamentos dos Parâmetros Curriculares Nacionais
Caracterização das Áreas, Objetivos, Organização dos A TRADIÇÃO PEDAGÓGICA BRASILEIRA
Conteúdos, Critérios de Avaliação e Orientações Didáticas —,
efetivando uma proposta articuladora dos propósitos mais A prática de todo professor, mesmo de forma inconsciente,
gerais de formação de cidadania, com sua operacionalização sempre pressupõe uma concepção de ensino e aprendizagem
no processo de aprendizagem. que determina sua compreensão dos papéis de professor e
Apesar de apresentar uma estrutura curricular completa, aluno, da metodologia, da função social da escola e dos
os Parâmetros Curriculares Nacionais são abertos e flexíveis, conteúdos a serem trabalhados. A discussão dessas questões é
uma vez que, por sua natureza, exigem adaptações para a importante para que se explicitem os pressupostos
construção do currículo de uma Secretaria ou mesmo de uma pedagógicos que subjazem à atividade de ensino, na busca de
escola. Também pela sua natureza, eles não se impõem como coerência entre o que se pensa estar fazendo e o que realmente
uma diretriz obrigatória: o que se pretende é que ocorram se faz. Tais práticas se constituem a partir das concepções
adaptações, por meio do diálogo, entre estes documentos e as educativas e metodologias de ensino que permearam a
práticas já existentes, desde as definições dos objetivos até as formação educacional e o percurso profissional do professor,
orientações didáticas para a manutenção de um todo coerente. aí incluídas suas próprias experiências escolares, suas
Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão situados experiências de vida, a ideologia compartilhada com seu grupo
historicamente — não são princípios atemporais. Sua validade social e as tendências pedagógicas que lhe são
depende de estarem em consonância com a realidade social, contemporâneas.
necessitando, portanto, de um processo periódico de avaliação As tendências pedagógicas que se firmam nas escolas
e revisão, a ser coordenado pelo MEC. brasileiras, públicas e privadas, na maioria dos casos não
aparecem em forma pura, mas com características

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particulares, muitas vezes mesclando aspectos de mais de uma Nos anos 70 proliferou o que se chamou de “tecnicismo
linha pedagógica. educacional”, inspirado nas teorias behavioristas da
A análise das tendências pedagógicas no Brasil deixa aprendizagem e da abordagem sistêmica do ensino, que
evidente a influência dos grandes movimentos educacionais definiu uma prática pedagógica altamente controlada e
internacionais, da mesma forma que expressam as dirigida pelo professor, com atividades mecânicas inseridas
especificidades de nossa história política, social e cultural, a numa proposta educacional rígida e passível de ser totalmente
cada período em que são consideradas. Pode-se identificar, na programada em detalhes. A supervalorização da tecnologia
tradição pedagógica brasileira, a presença de quatro grandes programada de ensino trouxe consequências: a escola se
tendências: a tradicional, a renovada, a tecnicista e aquelas revestiu de uma grande autossuficiência, reconhecida por ela
marcadas centralmente por preocupações sociais e políticas. e por toda a comunidade atingida, criando assim a falsa ideia
Tais tendências serão sintetizadas em grandes traços que de que aprender não é algo natural do ser humano, mas que
tentam recuperar os pontos mais significativos de cada uma depende exclusivamente de especialistas e de técnicas. O que
das propostas. Este documento não ignora o risco de uma certa é valorizado nessa perspectiva não é o professor, mas a
redução das concepções, tendo em vista a própria síntese e os tecnologia; o professor passa a ser um mero especialista na
limites desta apresentação. aplicação de manuais e sua criatividade fica restrita aos limites
A “pedagogia tradicional” é uma proposta de educação possíveis e estreitos da técnica utilizada. A função do aluno é
centrada no professor, cuja função se define como a de vigiar e reduzida a um indivíduo que reage aos estímulos de forma a
aconselhar os alunos, corrigir e ensinar a matéria. corresponder às respostas esperadas pela escola, para ter
A metodologia decorrente de tal concepção baseia-se na êxito e avançar. Seus interesses e seu processo particular não
exposição oral dos conteúdos, numa sequência são considerados e a atenção que recebe é para ajustar seu
predeterminada e fixa, independentemente do contexto ritmo de aprendizagem ao programa que o professor deve
escolar; enfatiza-se a necessidade de exercícios repetidos para implementar. Essa orientação foi dada para as escolas pelos
garantir a memorização dos conteúdos. A função primordial da organismos oficiais durante os anos 60, e até hoje está
escola, nesse modelo, é transmitir conhecimentos presente em muitos materiais didáticos com caráter
disciplinares para a formação geral do aluno, formação esta estritamente técnico e instrumental.
que o levará, ao inserir-se futuramente na sociedade, a optar No final dos anos 70 e início dos 80, a abertura política
por uma profissão valorizada. Os conteúdos do ensino decorrente do final do regime militar coincidiu com a intensa
correspondem aos conhecimentos e valores sociais mobilização dos educadores para buscar uma educação crítica
acumulados pelas gerações passadas como verdades a serviço das transformações sociais, econômicas e políticas,
acabadas, e, embora a escola vise à preparação para a vida, não tendo em vista a superação das desigualdades existentes no
busca estabelecer relação entre os conteúdos que se ensinam interior da sociedade. Ao lado das denominadas teorias crítico-
e os interesses dos alunos, tampouco entre esses e os reprodutivistas, firma-se no meio educacional a presença da
problemas reais que afetam a sociedade. Na maioria das “pedagogia libertadora” e da “pedagogia crítico-social dos
escolas essa prática pedagógica se caracteriza por sobrecarga conteúdos”, assumida por educadores de orientação marxista.
de informações que são veiculadas aos alunos, o que torna o A “pedagogia libertadora” tem suas origens nos
processo de aquisição de conhecimento, para os alunos, muitas movimentos de educação popular que ocorreram no final dos
vezes burocratizado e destituído de significação. No ensino dos anos 50 e início dos anos 60, quando foram interrompidos pelo
conteúdos, o que orienta é a organização lógica das disciplinas, golpe militar de 1964; teve seu desenvolvimento retomado no
o aprendizado moral, disciplinado e esforçado. final dos anos 70 e início dos anos 80. Nessa proposta, a
Nesse modelo, a escola se caracteriza pela postura atividade escolar pauta-se em discussões de temas sociais e
conservadora. O professor é visto como a autoridade máxima, políticos e em ações sobre a realidade social imediata;
um organizador dos conteúdos e estratégias de ensino e, analisam-se os problemas, seus fatores determinantes e
portanto, o guia exclusivo do processo educativo. organiza-se uma forma de atuação para que se possa
A “pedagogia renovada” é uma concepção que inclui várias transformar a realidade social e política. O professor é um
correntes que, de uma forma ou de outra, estão ligadas ao coordenador de atividades que organiza e atua conjuntamente
movimento da Escola Nova ou Escola Ativa. Tais correntes, com os alunos.
embora admitam divergências, assumem um mesmo princípio A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” que surge no
norteador de valorização do indivíduo como ser livre, ativo e final dos anos 70 e início dos 80 se põe como uma reação de
social. O centro da atividade escolar não é o professor nem os alguns educadores que não aceitam a pouca relevância que a
conteúdos disciplinares, mas sim o aluno, como ser ativo e “pedagogia libertadora” dá ao aprendizado do chamado “saber
curioso. O mais importante não é o ensino, mas o processo de elaborado”, historicamente acumulado, que constitui parte do
aprendizagem. Em oposição à Escola Tradicional, a Escola acervo cultural da humanidade.
Nova destaca o princípio da aprendizagem por descoberta e A “pedagogia crítico-social dos conteúdos” assegura a
estabelece que a atitude de aprendizagem parte do interesse função social e política da escola mediante o trabalho com
dos alunos, que, por sua vez, aprendem fundamentalmente conhecimentos sistematizados, a fim de colocar as classes
pela experiência, pelo que descobrem por si mesmos. populares em condições de uma efetiva participação nas lutas
O professor é visto, então, como facilitador no processo de sociais. Entende que não basta ter como conteúdo escolar as
busca de conhecimento que deve partir do aluno. Cabe ao questões sociais atuais, mas que é necessário que se tenha
professor organizar e coordenar as situações de domínio de conhecimentos, habilidades e capacidades mais
aprendizagem, adaptando suas ações às características amplas para que os alunos possam interpretar suas
individuais dos alunos, para desenvolver suas capacidades e experiências de vida e defender seus interesses de classe.
habilidades intelectuais. As tendências pedagógicas que marcam a tradição
A ideia de um ensino guiado pelo interesse dos alunos educacional brasileira e aqui foram expostas sinteticamente
acabou, em muitos casos, por desconsiderar a necessidade de trazem, de maneira diferente, contribuições para uma
um trabalho planejado, perdendo-se de vista o que deve ser proposta atual que busque recuperar aspectos positivos das
ensinado e aprendido. Essa tendência, que teve grande práticas anteriores em relação ao desenvolvimento e à
penetração no Brasil na década de 30, no âmbito do ensino aprendizagem, realizando uma releitura dessas práticas à luz
pré-escolar (jardim de infância), até hoje influencia muitas dos avanços ocorridos nas produções teóricas, nas
práticas pedagógicas. investigações e em fatos que se tornaram observáveis nas

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experiências educativas mais recentes realizadas em também “provisório”, uma vez que não é possível chegar de
diferentes Estados e Municípios do Brasil. imediato ao conhecimento correto, mas somente por
No final dos anos 70, pode-se dizer que havia no Brasil, aproximações sucessivas que permitem sua reconstrução.
entre as tendências didáticas de vanguarda, aquelas que Os Parâmetros Curriculares Nacionais, tanto nos objetivos
tinham um viés mais psicológico e outras cujo viés era mais educacionais que propõem quanto na conceitualização do
sociológico e político; a partir dos anos 80 surge com maior significado das áreas de ensino e dos temas da vida social
evidência um movimento que pretende a integração entre contemporânea que devem permeá-las, adotam como eixo o
essas abordagens. Se por um lado não é mais possível deixar desenvolvimento de capacidades do aluno, processo em que os
de se ter preocupações com o domínio de conhecimentos conteúdos curriculares atuam não como fins em si mesmos,
formais para a participação crítica na sociedade, considera-se mas como meios para a aquisição e desenvolvimento dessas
também que é necessária uma adequação pedagógica às capacidades. Nesse sentido, o que se tem em vista é que o aluno
características de um aluno que pensa, de um professor que possa ser sujeito de sua própria formação, em um complexo
sabe e aos conteúdos de valor social e formativo. Esse processo interativo em que também o professor se veja como
momento se caracteriza pelo enfoque centrado no caráter sujeito de conhecimento.
social do processo de ensino e aprendizagem e é marcado pela
influência da psicologia genética. ESCOLA E CONSTITUIÇÃO DA CIDADANIA
O enfoque social dado aos processos de ensino e
aprendizagem traz para a discussão pedagógica aspectos de A importância dada aos conteúdos revela um compromisso
extrema relevância, em particular no que se refere à maneira da instituição escolar em garantir o acesso aos saberes
como se devem entender as relações entre desenvolvimento e elaborados socialmente, pois estes se constituem como
aprendizagem, à importância da relação interpessoal nesse instrumentos para o desenvolvimento, a socialização, o
processo, à relação entre cultura e educação e ao papel da ação exercício da cidadania democrática e a atuação no sentido de
educativa ajustada às situações de aprendizagem e às refutar ou reformular as deformações dos conhecimentos, as
características da atividade mental construtiva do aluno em imposições de crenças dogmáticas e a petrificação de valores.
cada momento de sua escolaridade. Os conteúdos escolares que são ensinados devem, portanto,
A psicologia genética propiciou aprofundar a compreensão estar em consonância com as questões sociais que marcam
sobre o processo de desenvolvimento na construção do cada momento histórico.
conhecimento. Compreender os mecanismos pelos quais as Isso requer que a escola seja um espaço de formação e
crianças constroem representações internas de informação, em que a aprendizagem de conteúdos deve
conhecimentos construídos socialmente, em uma perspectiva necessariamente favorecer a inserção do aluno no dia-a-dia
psicogenética, traz uma contribuição para além das descrições das questões sociais marcantes e em um universo cultural
dos grandes estágios de desenvolvimento. maior. A formação escolar deve propiciar o desenvolvimento
A pesquisa sobre a psicogênese da língua escrita chegou ao de capacidades, de modo a favorecer a compreensão e a
Brasil em meados dos anos 80 e causou grande impacto, intervenção nos fenômenos sociais e culturais, assim como
revolucionando o ensino da língua nas séries iniciais e, ao possibilitar aos alunos usufruir das manifestações culturais
mesmo tempo, provocando uma revisão do tratamento dado nacionais e universais.
ao ensino e à aprendizagem em outras áreas do conhecimento. No contexto da proposta dos Parâmetros Curriculares
Essa investigação evidencia a atividade construtiva do aluno Nacionais se concebe a educação escolar como uma prática
sobre a língua escrita, objeto de conhecimento que tem a possibilidade de criar condições para que todos os
reconhecidamente escolar, mostrando a presença importante alunos desenvolvam suas capacidades e aprendam os
dos conhecimentos específicos sobre a escrita que a criança já conteúdos necessários para construir instrumentos de
tem, os quais, embora não coincidam com os dos adultos, têm compreensão da realidade e de participação em relações
sentido para ela. sociais, políticas e culturais diversificadas e cada vez mais
A metodologia utilizada nessas pesquisas foi muitas vezes amplas, condições estas fundamentais para o exercício da
interpretada como uma proposta de pedagogia construtivista cidadania na construção de uma sociedade democrática e não
para alfabetização, o que expressa um duplo equívoco: excludente.
redução do construtivismo a uma teoria psicogenética de A prática escolar distingue-se de outras práticas
aquisição de língua escrita e transformação de uma educativas, como as que acontecem na família, no trabalho, na
investigação acadêmica em método de ensino. Com esses mídia, no lazer e nas demais formas de convívio social, por
equívocos, difundiram-se, sob o rótulo de pedagogia constituir-se uma ação intencional, sistemática, planejada e
construtivista, as ideias de que não se devem corrigir os erros continuada para crianças e jovens durante um período
e de que as crianças aprendem fazendo “do seu jeito”. Essa contínuo e extenso de tempo. A escola, ao tomar para si o
pedagogia, dita construtivista, trouxe sérios problemas ao objetivo de formar cidadãos capazes de atuar com
processo de ensino e aprendizagem, pois desconsidera a competência e dignidade na sociedade, buscará eleger, como
função primordial da escola que é ensinar, intervindo para que objeto de ensino, conteúdos que estejam em consonância com
os alunos aprendam o que, sozinhos, não têm condições de as questões sociais que marcam cada momento histórico, cuja
aprender. aprendizagem e assimilação são as consideradas essenciais
A orientação proposta nos Parâmetros Curriculares para que os alunos possam exercer seus direitos e deveres.
Nacionais reconhece a importância da participação Para tanto ainda é necessário que a instituição escolar garanta
construtiva do aluno e, ao mesmo tempo, da intervenção do um conjunto de práticas planejadas com o propósito de
professor para a aprendizagem de conteúdos específicos que contribuir para que os alunos se apropriem dos conteúdos de
favoreçam o desenvolvimento das capacidades necessárias à maneira crítica e construtiva. A escola, por ser uma instituição
formação do indivíduo. Ao contrário de uma concepção de social com propósito explicitamente educativo, tem o
ensino e aprendizagem como um processo que se desenvolve compromisso de intervir efetivamente para promover o
por etapas, em que a cada uma delas o conhecimento é desenvolvimento e a socialização de seus alunos.
“acabado”, o que se propõe é uma visão da complexidade e da Essa função socializadora remete a dois aspectos: o
provisoriedade do conhecimento. De um lado, porque o objeto desenvolvimento individual e o contexto social e cultural. É
de conhecimento é “complexo” de fato e reduzi-lo seria nessa dupla determinação que os indivíduos se constroem
falsificá-lo; de outro, porque o processo cognitivo não acontece como pessoas iguais, mas, ao mesmo tempo, diferentes de
por justaposição, senão por reorganização do conhecimento. É todas as outras. Iguais por compartilhar com outras pessoas

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um conjunto de saberes e formas de conhecimento que, por Em síntese, as escolas brasileiras, para exercerem a função
sua vez, só é possível graças ao que individualmente se puder social aqui proposta, precisam possibilitar o cultivo dos bens
incorporar. Não há desenvolvimento individual possível à culturais e sociais, considerando as expectativas e as
margem da sociedade, da cultura. Os processos de necessidades dos alunos, dos pais, dos membros da
diferenciação na construção de uma identidade pessoal e os comunidade, dos professores, enfim, dos envolvidos
processos de socialização que conduzem a padrões de diretamente no processo educativo. É nesse universo que o
identidade coletiva constituem, na verdade, as duas faces de aluno vivencia situações diversificadas que favorecem o
um mesmo processo. aprendizado, para dialogar de maneira competente com a
A escola, na perspectiva de construção de cidadania, comunidade, aprender a respeitar e a ser respeitado, a ouvir e
precisa assumir a valorização da cultura de sua própria a ser ouvido, a reivindicar direitos e a cumprir obrigações, a
comunidade e, ao mesmo tempo, buscar ultrapassar seus participar ativamente da vida científica, cultural, social e
limites, propiciando às crianças pertencentes aos diferentes política do País e do mundo.
grupos sociais o acesso ao saber, tanto no que diz respeito aos
conhecimentos socialmente relevantes da cultura brasileira no ESCOLA: UMA CONSTRUÇÃO COLETIVA E
âmbito nacional e regional como no que faz parte do PERMANENTE
patrimônio universal da humanidade.
O desenvolvimento de capacidades, como as de relação Nessa perspectiva, é essencial a vinculação da escola com
interpessoal, as cognitivas, as afetivas, as motoras, as éticas, as as questões sociais e com os valores democráticos, não só do
estéticas de inserção social, torna-se possível mediante o ponto de vista da seleção e tratamento dos conteúdos, como
processo de construção e reconstrução de conhecimentos. também da própria organização escolar. As normas de
Essa aprendizagem é exercida com o aporte pessoal de cada funcionamento e os valores, implícitos e explícitos, que regem
um, o que explica por que, a partir dos mesmos saberes, há a atuação das pessoas na escola são determinantes da
sempre lugar para a construção de uma infinidade de qualidade do ensino, interferindo de maneira significativa
significados, e não a uniformidade destes. Os conhecimentos sobre a formação dos alunos.
que se transmitem e se recriam na escola ganham sentido Com a degradação do sistema educacional brasileiro, pode-
quando são produtos de uma construção dinâmica que se se dizer que a maioria das escolas tende a ser apenas um local
opera na interação constante entre o saber escolar e os demais de trabalho individualizado e não uma organização com
saberes, entre o que o aluno aprende na escola e o que ele traz objetivos próprios, elaborados e manifestados pela ação
para a escola, num processo contínuo e permanente de coordenada de seus diversos profissionais.
aquisição, no qual interferem fatores políticos, sociais, Para ser uma organização eficaz no cumprimento de
culturais e psicológicos. propósitos estabelecidos em conjunto por professores,
As questões relativas à globalização, as transformações coordenadores e diretor, e garantir a formação coerente de
científicas e tecnológicas e a necessária discussão ético- seus alunos ao longo da escolaridade obrigatória, é
valorativa da sociedade apresentam para a escola a imensa imprescindível que cada escola discuta e construa seu projeto
tarefa de instrumentalizar os jovens para participar da cultura, educativo.
das relações sociais e políticas. A escola, ao posicionar-se dessa Esse projeto deve ser entendido como um processo que
maneira, abre a oportunidade para que os alunos aprendam inclui a formulação de metas e meios, segundo a
sobre temas normalmente excluídos e atua propositalmente particularidade de cada escola, por meio da criação e da
na formação de valores e atitudes do sujeito em relação ao valorização de rotinas de trabalho pedagógico em grupo e da
outro, à política, à economia, ao sexo, à droga, à saúde, ao meio corresponsabilidade de todos os membros da comunidade
ambiente, à tecnologia, etc. escolar, para além do planejamento de início de ano ou dos
Um ensino de qualidade, que busca formar cidadãos períodos de “reciclagem”.
capazes de interferir criticamente na realidade para A experiência acumulada por seus profissionais é
transformá-la, deve também contemplar o desenvolvimento naturalmente a base para a reflexão e a elaboração do projeto
de capacidades que possibilitem adaptações às complexas educativo de uma escola. Além desse repertório, outras fontes
condições e alternativas de trabalho que temos hoje e a lidar importantes para a definição de um projeto educativo são os
com a rapidez na produção e na circulação de novos currículos locais, a bibliografia especializada, o contato com
conhecimentos e informações, que têm sido avassaladores e outras experiências educacionais, assim como os Parâmetros
crescentes. A formação escolar deve possibilitar aos alunos Curriculares Nacionais, que formulam questões essenciais
condições para desenvolver competência e consciência sobre o que, como e quando ensinar, constituindo um
profissional, mas não restringir-se ao ensino de habilidades referencial significativo e atualizado sobre a função da escola,
imediatamente demandadas pelo mercado de trabalho. a importância dos conteúdos e o tratamento a ser dado a eles.
A discussão sobre a função da escola não pode ignorar as Ao elaborar seu projeto educativo, a escola discute e
reais condições em que esta se encontra. A situação de explicita de forma clara os valores coletivos assumidos.
precariedade vivida pelos educadores, expressa nos baixos Delimita suas prioridades, define os resultados desejados e
salários, na falta de condições de trabalho, de metas a serem incorpora a autoavaliação ao trabalho do professor. Assim,
alcançadas, de prestígio social, na inércia de grande parte dos organiza-se o planejamento, reúne-se a equipe de trabalho,
órgãos responsáveis por alterar esse quadro, provoca, na provoca-se o estudo e a reflexão contínuos, dando sentido às
maioria das pessoas, um descrédito na transformação da ações cotidianas, reduzindo a improvisação e as condutas
situação. Essa desvalorização objetiva do magistério acaba por estereotipadas e rotineiras que, muitas vezes, são
ser interiorizada, bloqueando as motivações. Outro fator de contraditórias com os objetivos educacionais compartilhados.
desmotivação dos profissionais da rede pública é a mudança A contínua realização do projeto educativo possibilita o
de rumo da educação diante da orientação política de cada conhecimento das ações desenvolvidas pelos diferentes
governante. Às vezes as transformações propostas reafirmam professores, sendo base de diálogo e reflexão para toda a
certas posições, às vezes outras. Esse movimento de vai e volta equipe escolar. Nesse processo evidencia-se a necessidade da
gera, para a maioria dos professores, um desânimo para se participação da comunidade, em especial dos pais, tomando
engajar nos projetos de trabalho propostos, mesmo que lhes conhecimento e interferindo nas propostas da escola e em suas
pareçam interessantes, pois eles dificilmente terão estratégias. O resultado que se espera é a possibilidade de os
continuidade. alunos terem uma experiência escolar coerente e bem-
sucedida.

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Deve ser ressaltado que uma prática de reflexão coletiva aprendizagem e ajustar a intervenção pedagógica para ajudar
não é algo que se atinge de uma hora para outra e a escola é a superá-lo. A superação do erro é resultado do processo de
uma realidade complexa, não sendo possível tratar as questões incorporação de novas ideias e de transformação das
como se fossem simples de serem resolvidas. Cada anteriores, de maneira a dar conta das contradições que se
escola encontra uma realidade, uma trama, um conjunto de apresentarem ao sujeito para, assim, alcançar níveis
circunstâncias e de pessoas. É preciso que haja incentivo do superiores de conhecimento.
poder público local, pois o desenvolvimento do projeto requer O que o aluno pode aprender em determinado momento da
tempo para análise, discussão e reelaboração contínua, o que escolaridade depende das possibilidades delineadas pelas
só é possível em um clima institucional favorável e com formas de pensamento de que dispõe naquela fase de
condições objetivas de realização. desenvolvimento, dos conhecimentos que já construiu
anteriormente e do ensino que recebe. Isto é, a intervenção
A prender e ensinar, construir e interagir pedagógica deve-se ajustar ao que os alunos conseguem
realizar em cada momento de sua aprendizagem, para se
Por muito tempo a pedagogia focou o processo de ensino constituir verdadeira ajuda educativa. O conhecimento é
no professor, supondo que, como decorrência, estaria resultado de um complexo e intrincado processo de
valorizando o conhecimento. O ensino, então, ganhou modificação, reorganização e construção, utilizado pelos
autonomia em relação à aprendizagem, criou seus próprios alunos para assimilar e interpretar os conteúdos escolares.
métodos e o processo de aprendizagem ficou relegado a Por mais que o professor, os companheiros de classe e os
segundo plano. Hoje sabe-se que é necessário ressignificar a materiais didáticos possam, e devam, contribuir para que a
unidade entre aprendizagem e ensino, uma vez que, em última aprendizagem se realize, nada pode substituir a atuação do
instância, sem aprendizagem o ensino não se realiza. próprio aluno na tarefa de construir significados sobre os
A busca de um marco explicativo que permita essa conteúdos da aprendizagem. É ele quem modifica, enriquece e,
ressignificação, além da criação de novos instrumentos de portanto, constrói novos e mais potentes instrumentos de ação
análise, planejamento e condução da ação educativa na escola, e interpretação.
tem se situado, atualmente, para muitos dos teóricos da Mas o desencadeamento da atividade mental construtiva
educação, dentro da perspectiva construtivista. não é suficiente para que a educação escolar alcance os
A perspectiva construtivista na educação é configurada objetivos a que se propõe: que as aprendizagens estejam
por uma série de princípios explicativos do desenvolvimento e compatíveis com o que significam socialmente.
da aprendizagem humana que se complementam, integrando O processo de atribuição de sentido aos conteúdos
um conjunto orientado a analisar, compreender e explicar os escolares é, portanto, individual; porém, é também cultural na
processos escolares de ensino e aprendizagem. medida em que os significados construídos remetem a formas
A configuração do marco explicativo construtivista para os e saberes socialmente estruturados.
processos de educação escolar deu-se, entre outras Conceber o processo de aprendizagem como propriedade
influências, a partir da psicologia genética, da teoria do sujeito não implica desvalorizar o papel determinante da
sociointeracionista e das explicações da atividade significativa. interação com o meio social e, particularmente, com a escola.
Vários autores partiram dessas ideias para desenvolver e Ao contrário, situações escolares de ensino e aprendizagem
conceitualizar as várias dimensões envolvidas na educação são situações comunicativas, nas quais os alunos e professores
escolar, trazendo inegáveis contribuições à teoria e à prática atuam como corresponsáveis, ambos com uma influência
educativa. decisiva para o êxito do processo.
O núcleo central da integração de todas essas A abordagem construtivista integra, num único esquema
contribuições refere-se ao reconhecimento da importância da explicativo, questões relativas ao desenvolvimento individual
atividade mental construtiva nos processos de aquisição de e à pertinência cultural, à construção de conhecimentos e à
conhecimento. Daí o termo construtivismo, denominando essa interação social. Considera o desenvolvimento pessoal como o
convergência. Assim, o conhecimento não é visto como algo processo mediante o qual o ser humano assume a cultura do
situado fora do indivíduo, a ser adquirido por meio de cópia do grupo social a que pertence. Processo no qual o
real, tampouco como algo que o indivíduo constrói desenvolvimento pessoal e a aprendizagem da experiência
independentemente da realidade exterior, dos demais humana culturalmente organizada, ou seja, socialmente
indivíduos e de suas próprias capacidades pessoais. É, antes de produzida e historicamente acumulada, não se excluem nem
mais nada, uma construção histórica e social, na qual se confundem, mas interagem. Daí a importância das
interferem fatores de ordem cultural e psicológica. interações entre crianças e destas com parceiros experientes,
A atividade construtiva, física ou mental, permite dentre os quais destacam-se professores e outros agentes
interpretar a realidade e construir significados, ao mesmo educativos.
tempo que permite construir novas possibilidades de ação e de O conceito de aprendizagem significativa, central na
conhecimento. perspectiva construtivista, implica, necessariamente, o
Nesse processo de interação com o objeto a ser conhecido, trabalho simbólico de “significar” a parcela da realidade que se
o sujeito constrói representações, que funcionam como conhece. As aprendizagens que os alunos realizam na escola
verdadeiras explicações e se orientam por uma lógica interna serão significativas à medida que conseguirem estabelecer
que, por mais que possa parecer incoerente aos olhos de um relações substantivas e não-arbitrárias entre os conteúdos
outro, faz sentido para o sujeito. As ideias “equivocadas”, ou escolares e os conhecimentos previamente construídos por
seja, construídas e transformadas ao longo do eles, num processo de articulação de novos significados.
desenvolvimento, fruto de aproximações sucessivas, são Cabe ao educador, por meio da intervenção pedagógica,
expressão de uma construção inteligente por parte do sujeito promover a realização de aprendizagens com o maior grau de
e, portanto, interpretadas como erros construtivos. significado possível, uma vez que esta nunca é absoluta —
A tradição escolar — que não faz diferença entre erros sempre é possível estabelecer alguma relação entre o que se
integrantes do processo de aprendizagem e simples enganos pretende conhecer e as possibilidades de observação, reflexão
ou desconhecimentos — trabalha com a ideia de que a e informação que o sujeito já possui.
ausência de erros na tarefa escolar é a manifestação da A aprendizagem significativa implica sempre alguma
aprendizagem. Hoje, graças ao avanço da investigação ousadia: diante do problema posto, o aluno precisa elaborar
científica na área da aprendizagem, tornou-se possível hipóteses e experimentá-las. Fatores e processos afetivos,
interpretar o erro como algo inerente ao processo de motivacionais e relacionais são importantes nesse momento.

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Os conhecimentos gerados na história pessoal e educativa têm crianças chegam à escola. Precisa manter a boa qualidade do
um papel determinante na expectativa que o aluno tem da vínculo com o conhecimento e não destruí-lo pelo fracasso
escola, do professor e de si mesmo, nas suas motivações e reiterado. Mas garantir experiências de sucesso não significa
interesses, em seu autoconceito e em sua autoestima. Assim omitir ou disfarçar o fracasso; ao contrário, significa conseguir
como os significados construídos pelo aluno estão destinados realizar a tarefa a que se propôs. Relaciona-se, portanto, com
a ser substituídos por outros no transcurso das atividades, as propostas e intervenções pedagógicas adequadas.
representações que o aluno tem de si e de seu processo de O professor deve ter propostas claras sobre o que, quando
aprendizagem também. É fundamental, portanto, que a e como ensinar e avaliar, a fim de possibilitar o planejamento
intervenção educativa escolar propicie um desenvolvimento de atividades de ensino para a aprendizagem de maneira
em direção à disponibilidade exigida pela aprendizagem adequada e coerente com seus objetivos. É a partir dessas
significativa. determinações que o professor elabora a programação diária
Se a aprendizagem for uma experiência de sucesso, o aluno de sala de aula e organiza sua intervenção de maneira a propor
constrói uma representação de si mesmo como alguém capaz. situações de aprendizagem ajustadas às capacidades
Se, ao contrário, for uma experiência de fracasso, o ato de cognitivas dos alunos.
aprender tenderá a se transformar em ameaça, e a ousadia Em síntese, não é a aprendizagem que deve se ajustar ao
necessária se transformará em medo, para o qual a defesa ensino, mas sim o ensino que deve potencializar a
possível é a manifestação de desinteresse. aprendizagem.
A aprendizagem é condicionada, de um lado, pelas
possibilidades do aluno, que englobam tanto os níveis de ORGANIZAÇÃO DOS PARÂMETROS CURRICULARES
organização do pensamento como os conhecimentos e NACIONAIS
experiências prévias, e, de outro, pela interação com os outros
agentes. A análise das propostas curriculares oficiais para o ensino
Para a estruturação da intervenção educativa é fundamental, elaborada pela Fundação Carlos Chagas, aponta
fundamental distinguir o nível de desenvolvimento real do dados relevantes que auxiliam a reflexão sobre a organização
potencial. O nível de desenvolvimento real se determina como curricular e a forma como seus componentes são abordados.
aquilo que o aluno pode fazer sozinho em uma situação Segundo essa análise, as propostas, de forma geral,
determinada, sem ajuda de ninguém. O nível de apontam como grandes diretrizes uma perspectiva
desenvolvimento potencial é determinado pelo que o aluno democrática e participativa, e que o ensino fundamental deve
pode fazer ou aprender mediante a interação com outras se comprometer com a educação necessária para a formação
pessoas, conforme as observa, imitando, trocando ideias com de cidadãos críticos, autônomos e atuantes. No entanto, a
elas, ouvindo suas explicações, sendo desafiado por elas ou maioria delas apresenta um descompasso entre os objetivos
contrapondo-se a elas, sejam essas pessoas o professor ou seus anunciados e o que é proposto para alcançá-los, entre os
colegas. Existe uma zona de desenvolvimento próximo, dada pressupostos teóricos e a definição de conteúdos e aspectos
pela diferença existente entre o que um aluno pode fazer metodológicos.
sozinho e o que pode fazer ou aprender com a ajuda dos A estrutura dos Parâmetros Curriculares Nacionais buscou
outros. De acordo com essa concepção, falar dos mecanismos contribuir para a superação dessa contradição. A integração
de intervenção educativa equivale a falar dos mecanismos curricular assume as especificidades de cada componente e
interativos pelos quais professores e colegas conseguem delineia a operacionalização do processo educativo desde os
ajustar sua ajuda aos processos de construção de significados objetivos gerais do ensino fundamental, passando por sua
realizados pelos alunos no decorrer das atividades escolares especificação nos objetivos gerais de cada área e de cada tema
de ensino e aprendizagem. transversal, deduzindo desses objetivos os conteúdos
Existem ainda, dentro do contexto escolar, outros apropriados para configurar as reais intenções educativas.
mecanismos de influência educativa, cuja natureza e Assim, os objetivos, que definem capacidades, e os conteúdos,
funcionamento em grande medida são desconhecidos, mas que estarão a serviço do desenvolvimento dessas capacidades,
que têm incidência considerável sobre a aprendizagem dos formam uma unidade orientadora da proposta curricular.
alunos. Dentre eles destacam-se a organização e o Para que se possa discutir uma prática escolar que
funcionamento da instituição escolar e os valores implícitos e realmente atinja seus objetivos, os Parâmetros Curriculares
explícitos que permeiam as relações entre os membros da Nacionais apontam questões de tratamento didático por área
escola; são fatores determinantes da qualidade de ensino e e por ciclo, procurando garantir coerência entre os
podem chegar a influir de maneira significativa sobre o que e pressupostos teóricos, os objetivos e os conteúdos, mediante
como os alunos aprendem. sua operacionalização em orientações didáticas e critérios de
Os alunos não contam exclusivamente com o contexto avaliação. Em outras palavras, apontam o que e como se pode
escolar para a construção de conhecimento sobre conteúdos trabalhar, desde as séries iniciais, para que se alcancem os
considerados escolares. A mídia, a família, a igreja, os amigos, objetivos pretendidos.
são também fontes de influência educativa que incidem sobre As propostas curriculares oficiais dos Estados estão
o processo de construção de significado desses conteúdos. organizadas em disciplinas e/ou áreas. Apenas alguns
Essas influências sociais normalmente somam-se ao processo Municípios optam por princípios norteadores, eixos ou temas,
de aprendizagem escolar, contribuindo para consolidá-lo; por que visam tratar os conteúdos de modo interdisciplinar,
isso é importante que a escola as considere e as integre ao buscando integrar o cotidiano social com o saber escolar.
trabalho. Porém, algumas vezes, essa mesma influência pode Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, optou-se por um
apresentar obstáculos à aprendizagem escolar, ao indicar uma tratamento específico das áreas, em função da importância
direção diferente, ou mesmo oposta, daquela presente no instrumental de cada uma, mas contemplou-se também a
encaminhamento escolar. É necessário que a escola considere integração entre elas. Quanto às questões sociais relevantes,
tais direções e forneça uma interpretação dessas diferenças, reafirma-se a necessidade de sua problematização e análise,
para que a intervenção pedagógica favoreça a ultrapassagem incorporando-as como temas transversais. As questões sociais
desses obstáculos num processo articulado de interação e abordadas são: ética, saúde, meio ambiente, orientação sexual
integração. e pluralidade cultural.
Se o projeto educacional exige ressignificar o processo de Quanto ao modo de incorporação desses temas no
ensino e aprendizagem, este precisa se preocupar em currículo, propõe-se um tratamento transversal, tendência
preservar o desejo de conhecer e de saber com que todas as que se manifesta em algumas experiências nacionais e

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internacionais, em que as questões sociais se integram na Sabe-se que, fora da escola, os alunos não têm as mesmas
própria concepção teórica das áreas e de seus componentes oportunidades de acesso a certos objetos de conhecimento que
curriculares. fazem parte do repertório escolar. Sabe-se também que isso
De acordo com os princípios já apontados, os conteúdos influencia o modo e o processo como atribuirão significados
são considerados como um meio para o desenvolvimento aos objetos de conhecimento na situação escolar: alguns
amplo do aluno e para a sua formação como cidadão. Portanto, alunos poderão estar mais avançados na reconstrução de
cabe à escola o propósito de possibilitar aos alunos o domínio significados do que outros.
de instrumentos que os capacitem a relacionar conhecimentos Ao se falar em ritmos diferentes de aprendizagem, é
de modo significativo, bem como a utilizar esses preciso cuidado para não incorrer em mal-entendidos
conhecimentos na transformação e construção de novas perigosos. Uma vez que não há uma definição precisa e clara
relações sociais. de quais seriam esses ritmos, os educadores podem ser
Os Parâmetros Curriculares Nacionais apresentam os levados a rotular alguns alunos como mais lentos que outros,
conteúdos de tal forma que se possa determinar, no momento estigmatizando aqueles que estão se iniciando na interação
de sua adequação às particularidades de Estados e Municípios, com os objetos de conhecimento escolar.
o grau de profundidade apropriado e a sua melhor forma de No caso da aprendizagem da língua escrita, por exemplo,
distribuição no decorrer da escolaridade, de modo a constituir se um aluno ingressa na primeira série sabendo escrever
um corpo de conteúdos consistentes e coerentes com os alfabeticamente, isso se explica porque seu ritmo é mais
objetivos. rápido ou porque teve múltiplas oportunidades de atuar como
A avaliação é considerada como elemento favorecedor da leitor e escritor? Se outros ingressam sem saber sequer como
melhoria de qualidade da aprendizagem, deixando de se pega um livro, é porque são lentos ou porque estão
funcionar como arma contra o aluno. É assumida como parte interatuando pela primeira vez com os objetos com que os
integrante e instrumento de autorregularão do processo de outros interatuam desde que nasceram? E, no caso desta
ensino e aprendizagem, para que os objetivos propostos sejam última hipótese, por mais rápidos que possam ser, será que
atingidos. A avaliação diz respeito não só ao aluno, mas poderão em alguns dias percorrer o caminho que outros
também ao professor e ao próprio sistema escolar. realizaram em anos?
A opção de organização da escolaridade em ciclos, Outras vezes, o que se interpreta como “lentidão” é a
tendência predominante nas propostas mais atuais, é expressão de dificuldades relacionadas a um sentimento de
referendada pelos Parâmetros Curriculares Nacionais. A incapacidade para a aprendizagem que chega a causar
organização em ciclos é uma tentativa de superar a bloqueios nesse processo. É fundamental que se considerem
segmentação excessiva produzida pelo regime seriado e de esses aspectos e é necessário que o professor possa intervir
buscar princípios de ordenação que possibilitem maior para alterar as situações desfavoráveis ao aluno.
integração do conhecimento. Em suma, o que acontece é que cada aluno tem,
Os componentes curriculares foram formulados a partir da habitualmente, desempenhos muito diferentes na relação com
análise da experiência educacional acumulada em todo o objetos de conhecimento diferentes e a prática escolar tem
território nacional. Pautaram-se, também, pela análise das buscado incorporar essa diversidade de modo a garantir
tendências mais atuais de investigação científica, a fim de respeito aos alunos e a criar condições para que possam
poderem expressar um avanço na discussão em torno da busca progredir nas suas aprendizagens.
de qualidade de ensino e aprendizagem. A adoção de ciclos, pela flexibilidade que permite,
possibilita trabalhar melhor com as diferenças e está
A organização da escolaridade em ciclos plenamente coerente com os fundamentos psicopedagógicos,
com a concepção de conhecimento e da função da escola que
Na década de 80, vários Estados e Municípios estão explicitados no item Fundamentos dos Parâmetros
reestruturaram o ensino fundamental a partir das séries Curriculares Nacionais.
iniciais. Esse processo de reorganização, que tinha como Os conhecimentos adquiridos na escola passam por um
objetivo político minimizar o problema da repetência e da processo de construção e reconstrução contínua e não por
evasão escolar, adotou como princípio norteador a etapas fixadas e definidas no tempo. As aprendizagens não se
flexibilização da seriação, o que abriria a possibilidade de o processam como a subida de degraus regulares, mas como
currículo ser trabalhado ao longo de um período de tempo avanços de diferentes magnitudes.
maior e permitiria respeitar os diferentes ritmos de Embora a organização da escola seja estruturada em anos
aprendizagem que os alunos apresentam. letivos, é importante uma perspectiva pedagógica em que a
Desse modo, a seriação inicial deu lugar ao ciclo básico com vida escolar e o currículo possam ser assumidos e trabalhados
a duração de dois anos, tendo como objetivo propiciar maiores em dimensões de tempo mais flexíveis. Vale ressaltar que para
oportunidades de escolarização voltada para a alfabetização o processo de ensino e aprendizagem se desenvolver com
efetiva das crianças. As experiências, ainda que tenham sucesso não basta flexibilizar o tempo: dispor de mais tempo
apresentado problemas estruturais e necessidades de ajustes sem uma intervenção efetiva para garantir melhores
da prática, acabaram por mostrar que a organização por ciclos condições de aprendizagem pode apenas adiar o problema e
contribui efetivamente para a superação dos problemas do perpetuar o sentimento negativo de autoestima do aluno,
desenvolvimento escolar. Tanto isso é verdade que, onde consagrando, da mesma forma, o fracasso da escola.
foram implantados, os ciclos se mantiveram, mesmo com A lógica da opção por ciclos consiste em evitar que o
mudanças de governantes. processo de aprendizagem tenha obstáculos inúteis,
Os Parâmetros Curriculares Nacionais adotam a proposta desnecessários e nocivos. Portanto, é preciso que a equipe
de estruturação por ciclos, pelo reconhecimento de que tal pedagógica das escolas se corresponsabilize com o processo
proposta permite compensar a pressão do tempo que é de ensino e aprendizagem de seus alunos. Para a concretização
inerente à instituição escolar, tornando possível distribuir os dos ciclos como modalidade organizativa, é necessário que se
conteúdos de forma mais adequada à natureza do processo de criem condições institucionais que permitam destinar espaço
aprendizagem. Além disso, favorece uma apresentação menos e tempo à realização de reuniões de professores, para discutir
parcelada do conhecimento e possibilita as aproximações os diferentes aspectos do processo educacional.
sucessivas necessárias para que os alunos se apropriem dos Ao se considerar que dois ou três anos de escolaridade
complexos saberes que se intenciona transmitir. pertencem a um único ciclo de ensino e aprendizagem, podem-
se definir objetivos e práticas educativas que permitam aos

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alunos avançar continuadamente na concretização das metas Para que estes parâmetros não se limitassem a uma
do ciclo. A organização por ciclos tende a evitar as frequentes orientação técnica da prática pedagógica, foi considerada a
rupturas e a excessiva fragmentação do percurso escolar, fundamentação das opções teóricas e metodológicas da área
assegurando a continuidade do processo educativo, dentro do para que, a partir destas, seja possível instaurar reflexões
ciclo e na passagem de um ciclo ao outro, ao permitir que os sobre a proposta educacional indicada. Na apresentação de
professores realizem adaptações sucessivas da ação cada área são abordados os seguintes aspectos: descrição da
pedagógica às diferentes necessidades dos alunos, sem que problemática específica da área por meio de um breve
deixem de orientar sua prática pelas expectativas de histórico no contexto educacional brasileiro; justificativa de
aprendizagem referentes ao período em questão. sua presença no ensino fundamental; fundamentação
Os Parâmetros Curriculares Nacionais estão organizados epistemológica da área; sua relevância na sociedade atual;
em ciclos de dois anos, mais pela limitação conjuntural em que fundamentação psicopedagógica da proposta de ensino e
estão inseridos do que por justificativas pedagógicas. Da forma aprendizagem da área; critérios para organização e seleção de
como estão aqui organizados, os ciclos não trazem conteúdos e objetivos gerais da área para o ensino
incompatibilidade com a atual estrutura do ensino fundamental.
fundamental. Assim, o primeiro ciclo se refere às primeira e A partir da Concepção de Área assim fundamentada, segue-
segunda séries; o segundo ciclo, à terceira e à quarta séries; e se o detalhamento da estrutura dos Parâmetros Curriculares
assim subsequentemente para as outras quatro séries. para cada ciclo (primeiro e segundo), especificando Objetivos
Essa estruturação não contempla os principais problemas e Conteúdos, bem como Critérios de Avaliação, Orientações
da escolaridade no ensino fundamental: não une as quarta e para Avaliação e Orientações Didáticas.
quinta séries para eliminar a ruptura desastrosa que aí se dá e Se a escola pretende estar em consonância com as
tem causado muita repetência e evasão, como também não demandas atuais da sociedade, é necessário que trate de
define uma etapa maior para o início da escolaridade, que questões que interferem na vida dos alunos e com as quais se
deveria (a exemplo da imensa maioria dos países) incorporar veem confrontados no seu dia-a-dia. As temáticas sociais, por
à escolaridade obrigatória as crianças desde os seis anos. essa importância inegável que têm na formação dos alunos, já
Portanto, o critério de dois anos para a organização dos ciclos, há muito têm sido discutidas e frequentemente incorporadas
nos Parâmetros Curriculares Nacionais, não deve ser aos currículos das áreas ligadas às Ciências Naturais e Sociais,
considerado como decorrência de seus princípios e chegando até mesmo, em algumas propostas, a constituir
fundamentações, nem como a única estratégia de intervenção novas áreas.
no contexto atual da problemática educacional. Mais recentemente, algumas propostas indicaram a
necessidade do tratamento transversal de temáticas sociais na
escola, como forma de contemplá-las na sua complexidade,
sem restringi-las à abordagem de uma única área.
Adotando essa perspectiva, as problemáticas sociais são
A organização do conhecimento escolar: Áreas e integradas na proposta educacional dos Parâmetros
Temas Transversais Curriculares Nacionais como Temas Transversais. Não
constituem novas áreas, mas antes um conjunto de temas que
As diferentes áreas, os conteúdos selecionados em cada aparecem transversalizados nas áreas definidas, isto é,
uma delas e o tratamento transversal de questões sociais permeando a concepção, os objetivos, os conteúdos e as
constituem uma representação ampla e plural dos campos de orientações didáticas de cada área, no decorrer de toda a
conhecimento e de cultura de nosso tempo, cuja aquisição escolaridade obrigatória. A transversalidade pressupõe um
contribui para o desenvolvimento das capacidades expressas tratamento integrado das áreas e um compromisso das
nos objetivos gerais. relações interpessoais e sociais escolares com as questões que
O tratamento da área e de seus conteúdos integra uma estão envolvidas nos temas, a fim de que haja uma coerência
série de conhecimentos de diferentes disciplinas, que entre os valores experimentados na vivência que a escola
contribuem para a construção de instrumentos de propicia aos alunos e o contato intelectual com tais valores.
compreensão e intervenção na realidade em que vivem os As aprendizagens relativas a esses temas se explicitam na
alunos. A concepção da área evidencia a natureza dos organização dos conteúdos das áreas, mas a discussão da
conteúdos tratados, definindo claramente o corpo de conceitualização e da forma de tratamento que devem receber
conhecimentos e o objeto de aprendizagem, favorecendo aos no todo da ação educativa escolar está especificada em textos
alunos a construção de representações sobre o que estudam. de fundamentação por tema.
Essa caracterização da área é importante também para que os O conjunto de documentos dos Temas Transversais
professores possam se situar dentro de um conjunto definido comporta uma primeira parte em que se discute a sua
e conceitualizado de conhecimentos que pretendam que seus necessidade para que a escola possa cumprir sua função social,
alunos aprendam, condição necessária para proceder a os valores mais gerais e unificadores que definem todo o
encaminhamentos que auxiliem as aprendizagens com posicionamento relativo às questões que são tratadas nos
sucesso. temas, a justificativa e a conceitualização do tratamento
Se é importante definir os contornos das áreas, é também transversal para os temas sociais e um documento específico
essencial que estes se fundamentem em uma concepção que os para cada tema: Ética, Saúde, Meio Ambiente, Pluralidade
integre conceitualmente, e essa integração seja efetivada na Cultural e Orientação Sexual, eleitos por envolverem
prática didática. Por exemplo, ao trabalhar conteúdos de problemáticas sociais atuais e urgentes, consideradas de
Ciências Naturais, os alunos buscam informações em suas abrangência nacional e até mesmo de caráter universal.
pesquisas, registram observações, anotam e quantificam A grande abrangência dos temas não significa que devam
dados. Portanto, utilizam-se de conhecimentos relacionados à ser tratados igualmente; ao contrário, exigem adaptações para
área de Língua Portuguesa, à de Matemática, além de outras, que possam corresponder às reais necessidades de cada região
dependendo do estudo em questão. O professor, considerando ou mesmo de cada escola. As características das questões
a multiplicidade de conhecimentos em jogo nas diferentes ambientais, por exemplo, ganham especificidades diferentes
situações, pode tomar decisões a respeito de suas intervenções nos campos de seringa no interior da Amazônia e na periferia
e da maneira como tratará os temas, de forma a propiciar aos de uma grande cidade.
alunos uma abordagem mais significativa e contextualizada. Além das adaptações dos temas apresentados, é
importante que sejam eleitos temas locais para integrar o

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componente Temas Transversais; por exemplo, muitas incentivando a reflexão e a análise crítica de valores, atitudes
cidades têm elevadíssimos índices de acidentes com vítimas e tomadas de decisão e possibilitando o conhecimento de que
no trânsito, o que faz com que suas escolas necessitem a formulação de tais sistemas é fruto de relações humanas,
incorporar a educação para o trânsito em seu currículo. Além historicamente situadas. Quanto à capacidade de inserção
deste, outros temas relativos, por exemplo, à paz ou ao uso de social, refere-se à possibilidade de o aluno perceber-se como
drogas podem constituir subtemas dos temas gerais; outras parte de uma comunidade, de uma classe, de um ou vários
vezes, no entanto, podem exigir um tratamento específico e grupos sociais e de comprometer-se pessoalmente com
intenso, dependendo da realidade de cada contexto social, questões que considere relevantes para a vida coletiva. Essa
político, econômico e cultural. Nesse caso, devem ser incluídos capacidade é nuclear ao exercício da cidadania, pois seu
como temas básicos. desenvolvimento é necessário para que se possa superar o
individualismo e atuar (no cotidiano ou na vida política)
OBJETIVOS levando em conta a dimensão coletiva. O aprendizado de
Os objetivos propostos nos Parâmetros Curriculares diferentes formas e possibilidades de participação social é
Nacionais concretizam as intenções educativas em termos de essencial ao desenvolvimento dessa capacidade.
capacidades que devem ser desenvolvidas pelos alunos ao Para garantir o desenvolvimento dessas capacidades é
longo da escolaridade. A decisão de definir os objetivos preciso uma disponibilidade para a aprendizagem de modo
educacionais em termos de capacidades é crucial nesta geral. Esta, por sua vez, depende em boa parte da história de
proposta, pois as capacidades, uma vez desenvolvidas, podem êxitos ou fracassos escolares que o aluno traz e vão determinar
se expressar numa variedade de comportamentos. O o grau de motivação que apresentará em relação às
professor, consciente de que condutas diversas podem estar aprendizagens atualmente propostas. Mas depende também
vinculadas ao desenvolvimento de uma mesma capacidade, de que os conteúdos de aprendizagem tenham sentido para ele
tem diante de si maiores possibilidades de atender à e sejam funcionais. O papel do professor nesse processo é,
diversidade de seus alunos. portanto, crucial, pois a ele cabe apresentar os conteúdos e
Assim, os objetivos se definem em termos de capacidades atividades de aprendizagem de forma que os alunos
de ordem cognitiva, física, afetiva, de relação interpessoal e compreendam o porquê e o para que do que aprendem, e assim
inserção social, ética e estética, tendo em vista uma formação desenvolvam expectativas positivas em relação à
ampla. aprendizagem e sintam-se motivados para o trabalho escolar.
A capacidade cognitiva tem grande influência na postura Para tanto, é preciso considerar que nem todas as pessoas têm
do indivíduo em relação às metas que quer atingir nas mais os mesmos interesses ou habilidades, nem aprendem da
diversas situações da vida, vinculando-se diretamente ao uso mesma maneira, o que muitas vezes exige uma atenção
de formas de representação e de comunicação, envolvendo a especial por parte do professor a um ou outro aluno, para que
resolução de problemas, de maneira consciente ou não. A todos possam se integrar no processo de aprender. A partir do
aquisição progressiva de códigos de representação e a reconhecimento das diferenças existentes entre pessoas, fruto
possibilidade de operar com eles interfere diretamente na do processo de socialização e do desenvolvimento individual,
aprendizagem da língua, da matemática, da representação será possível conduzir um ensino pautado em aprendizados
espacial, temporal e gráfica e na leitura de imagens. A que sirvam a novos aprendizados.
capacidade física engloba o autoconhecimento e o uso do A escola preocupada em fazer com que os alunos
corpo na expressão de emoções, na superação de estereotipias desenvolvam capacidades ajusta sua maneira de ensinar e
de movimentos, nos jogos, no deslocamento com segurança. A seleciona os conteúdos de modo a auxiliá-los a se adequarem
afetiva refere-se às motivações, à autoestima, à sensibilidade e às várias vivências a que são expostos em seu universo
à adequação de atitudes no convívio social, estando vinculada cultural; considera as capacidades que os alunos já têm e as
à valorização do resultado dos trabalhos produzidos e das potencializa; preocupa-se com aqueles alunos que encontram
atividades realizadas. Esses fatores levam o aluno a dificuldade no desenvolvimento das capacidades básicas.
compreender a si mesmo e aos outros. A capacidade afetiva Embora os indivíduos tendam, em função de sua natureza,
está estreitamente ligada à capacidade de relação interpessoal, a desenvolver capacidades de maneira heterogênea, é
que envolve compreender, conviver e produzir com os outros, importante salientar que a escola tem como função
percebendo distinções entre as pessoas, contrastes de potencializar o desenvolvimento de todas as capacidades, de
temperamento, de intenções e de estados de ânimo. O modo a tornar o ensino mais humano, mais ético.
desenvolvimento da inter-relação permite ao aluno se colocar Os Parâmetros Curriculares Nacionais, na explicitação das
do ponto de vista do outro e a refletir sobre seus próprios mencionadas capacidades, apresentam inicialmente os
pensamentos. No trabalho escolar o desenvolvimento dessa Objetivos Gerais do ensino fundamental, que são as grandes
capacidade é propiciado pela realização de trabalhos em metas educacionais que orientam a estruturação curricular. A
grupo, por práticas de cooperação que incorporam formas partir deles são definidos os Objetivos Gerais de Área, os dos
participativas e possibilitam a tomada de posição em conjunto Temas Transversais, bem como o desdobramento que estes
com os outros. A capacidade estética permite produzir arte e devem receber no primeiro e no segundo ciclos, como forma
apreciar as diferentes produções artísticas produzidas em de conduzir às conquistas intermediárias necessárias ao
diferentes culturas e em diferentes momentos históricos. A alcance dos objetivos gerais. Um exemplo de desdobramento
capacidade ética é a possibilidade de reger as próprias ações e dos objetivos é o que se apresenta a seguir.
tomadas de decisão por um sistema de princípios segundo o • Objetivo Geral do Ensino Fundamental: utilizar
qual se analisam, nas diferentes situações da vida, os valores e diferentes linguagens — verbal, matemática, gráfica, plástica,
opções que envolvem. A construção interna, pessoal, de corporal — como meio para expressar e comunicar suas
princípios considerados válidos para si e para os demais ideias, interpretar e usufruir das produções da cultura.
implica considerar-se um sujeito em meio a outros sujeitos. O • Objetivo Geral do Ensino de Matemática: analisar
desenvolvimento dessa capacidade permite considerar e informações relevantes do ponto de vista do conhecimento e
buscar compreender razões, nuanças, condicionantes, estabelecer o maior número de relações entre elas, fazendo
consequências e intenções, isto é, permite a superação da uso do conhecimento matemático para interpretá-las e avaliá-
rigidez moral, no julgamento e na atuação pessoal, na relação las criticamente.
interpessoal e na compreensão das relações sociais. A ação • Objetivo do Ensino de Matemática para o Primeiro Ciclo:
pedagógica contribui com tal desenvolvimento, entre outras identificar, em situações práticas, que muitas informações são
formas afirmando claramente seus princípios éticos, organizadas em tabelas e gráficos para facilitar a leitura e a

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interpretação, e construir formas pessoais de registro para imagens e representações que permitem organizar a
comunicar informações coletadas. realidade. A aprendizagem de conceitos se dá por
Os objetivos constituem o ponto de partida para se refletir aproximações sucessivas. Para aprender sobre digestão,
sobre qual é a formação que se pretende que os alunos subtração ou qualquer outro objeto de conhecimento, o aluno
obtenham, que a escola deseja proporcionar e tem precisa adquirir informações, vivenciar situações em que esses
possibilidades de realizar, sendo, nesse sentido, pontos de conceitos estejam em jogo, para poder construir
referência que devem orientar a atuação educativa em todas generalizações parciais que, ao longo de suas experiências,
as áreas, ao longo da escolaridade obrigatória. Devem, possibilitarão atingir conceitualizações cada vez mais
portanto, orientar a seleção de conteúdos a serem aprendidos abrangentes; estas o levarão à compreensão de princípios, ou
como meio para o desenvolvimento das capacidades e indicar seja, conceitos de maior nível de abstração, como o princípio
os encaminhamentos didáticos apropriados para que os da igualdade na matemática, o princípio da conservação nas
conteúdos estudados façam sentido para os alunos. ciências, etc. A aprendizagem de conceitos permite organizar
Finalmente, devem constituir-se uma referência indireta da a realidade, mas só é possível a partir da aprendizagem de
avaliação da atuação pedagógica da escola. conteúdos referentes a fatos (nomes, imagens,
As capacidades expressas nos Objetivos dos Parâmetros representações), que ocorre, num primeiro momento, de
Curriculares Nacionais são propostas como referenciais gerais maneira eminentemente mnemônica. A memorização não
e demandam adequações a serem realizadas nos níveis de deve ser entendida como processo mecânico, mas antes como
concretização curricular das secretarias estaduais e recurso que torna o aluno capaz de representar informações
municipais, bem como das escolas, a fim de atender às de maneira genérica — memória significativa — para poder
demandas específicas de cada localidade. Essa adequação relacioná-las com outros conteúdos.
pode ser feita mediante a redefinição de graduações e o Dependendo da diversidade presente nas atividades
reequacionamento de prioridades, desenvolvendo alguns realizadas, os alunos buscam informações (fatos), notam
aspectos e acrescentando outros que não estejam explícitos. regularidades, realizam produtos e generalizações que,
CONTEÚDOS mesmo sendo sínteses ou análises parciais, permitem verificar
se o conceito está sendo aprendido. Exemplo 1: para
Os Parâmetros Curriculares Nacionais propõem uma compreender o que vem a ser um texto jornalístico é
mudança de enfoque em relação aos conteúdos curriculares: necessário que o aluno tenha contato com esse texto, use-o
ao invés de um ensino em que o conteúdo seja visto como fim para obter informações, conheça seu vocabulário, conheça sua
em si mesmo, o que se propõe é um ensino em que o conteúdo estrutura e sua função social. Exemplo 2: a solidariedade só
seja visto como meio para que os alunos desenvolvam as pode ser compreendida quando o aluno passa por situações
capacidades que lhes permitam produzir e usufruir dos bens em que atitudes que a suscitem estejam em jogo, de modo que,
culturais, sociais e econômicos. ao longo de suas experiências, adquira informações que
A tendência predominante na abordagem de conteúdos na contribuam para a construção de tal conceito. Aprender
educação escolar se assenta no binômio transmissão- conceitos permite atribuir significados aos conteúdos
incorporação, considerando a incorporação de conteúdos pelo aprendidos e relacioná-los a outros.
aluno como a finalidade essencial do ensino. Existem, no Tal aprendizado está diretamente relacionado à segunda
entanto, outros posicionamentos: há quem defenda a posição categoria de conteúdos: a procedimental. Os procedimentos
de indiferença em relação aos conteúdos por considerá-los expressam um saber fazer, que envolve tomar decisões e
somente como suporte ao desenvolvimento cognitivo dos realizar uma série de ações, de forma ordenada e não aleatória,
alunos e há ainda quem acuse a determinação prévia de para atingir uma meta. Assim, os conteúdos procedimentais
conteúdos como uma afronta às questões sociais e políticas sempre estão presentes nos projetos de ensino, pois uma
vivenciadas pelos diversos grupos. pesquisa, um experimento, um resumo, uma maquete, são
No entanto, qualquer que seja a linha pedagógica, proposições de ações presentes nas salas de aula.
professores e alunos trabalham, necessariamente, com No entanto, conteúdos procedimentais são abordados
conteúdos. O que diferencia radicalmente as propostas é a muitas vezes de maneira equivocada, não sendo tratados como
função que se atribui aos conteúdos no contexto escolar e, em objeto de ensino, que necessitam de intervenção direta do
decorrência disso, as diferentes concepções quanto à maneira professor para serem de fato aprendidos. O aprendizado de
como devem ser selecionados e tratados. procedimentos é, por vezes, considerado como algo
Nesta proposta, os conteúdos e o tratamento que a eles espontâneo, dependente das habilidades individuais.
deve ser dado assumem papel central, uma vez que é por meio Ensinam-se procedimentos acreditando estar-se ensinando
deles que os propósitos da escola são operacionalizados, ou conceitos; a realização de um procedimento adequado passa,
seja, manifestados em ações pedagógicas. No entanto, não se então, a ser interpretada como o aprendizado do conceito. O
trata de compreendê-los da forma como são comumente exemplo mais evidente dessa abordagem ocorre no ensino das
aceitos pela tradição escolar. O projeto educacional expresso operações: o fato de uma criança saber resolver contas de
nos Parâmetros Curriculares Nacionais demanda uma reflexão adição não necessariamente corresponde à compreensão do
sobre a seleção de conteúdos, como também exige uma conceito de adição.
ressignificação, em que a noção de conteúdo escolar se amplia É preciso analisar os conteúdos referentes a
para além de fatos e conceitos, passando a incluir procedimentos não do ponto de vista de uma aprendizagem
procedimentos, valores, normas e atitudes. Ao tomar como mecânica, mas a partir do propósito fundamental da educação,
objeto de aprendizagem escolar conteúdos de diferentes que é fazer com que os alunos construam instrumentos para
naturezas, reafirma-se a responsabilidade da escola com a analisar, por si mesmos, os resultados que obtêm e os
formação ampla do aluno e a necessidade de intervenções processos que colocam em ação para atingir as metas a que se
conscientes e planejadas nessa direção. propõem. Por exemplo: para realizar uma pesquisa, o aluno
Neste documento, os conteúdos são abordados em três pode copiar um trecho da enciclopédia, embora esse não seja
grandes categorias: conteúdos conceituais, que envolvem o procedimento mais adequado. É preciso auxiliá-lo,
fatos e princípios; conteúdos procedimentais e conteúdos ensinando os procedimentos apropriados, para que possa
atitudinais, que envolvem a abordagem de valores, normas e responder com êxito à tarefa que lhe foi proposta. É preciso
atitudes. que o aluno aprenda a pesquisar em mais de uma fonte,
Conteúdos conceituais referem-se à construção ativa das registrar o que for relevante, relacionar as informações
capacidades intelectuais para operar com símbolos, ideias, obtidas para produzir um texto de pesquisa. Dependendo do

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assunto a ser pesquisado, é possível orientá-lo para fazer contemplada de maneira integrada no processo de ensino e
entrevistas e organizar os dados obtidos, procurar referências aprendizagem e não em atividades específicas.
em diferentes jornais, em filmes, comparar as informações Nos Parâmetros Curriculares Nacionais, os conteúdos
obtidas para apresentá-las num seminário, produzir um texto. referentes a conceitos, procedimentos, valores, normas e
Ao exercer um determinado procedimento, é possível ao atitudes estão presentes nos documentos tanto de áreas
aluno, com ajuda ou não do professor, analisar cada etapa quanto de Temas Transversais, por contribuírem para a
realizada para adequá-la ou corrigi-la, a fim de atingir a meta aquisição das capacidades definidas nos Objetivos Gerais do
proposta. A consideração dos conteúdos procedimentais no Ensino Fundamental. A consciência da importância desses
processo de ensino é de fundamental importância, pois conteúdos é essencial para garantir-lhes tratamento
permite incluir conhecimentos que têm sido tradicionalmente apropriado, em que se vise um desenvolvimento amplo,
excluídos do ensino, como a revisão do texto escrito, a harmônico e equilibrado dos alunos, tendo em vista sua
argumentação construída, a comparação dos dados, a vinculação à função social da escola. Eles são apresentados nos
verificação, a documentação e a organização, entre outros. blocos de conteúdos e/ou organizações temáticas.
Ao ensinar procedimentos também se ensina um certo Os blocos de conteúdos e/ou organizações temáticas são
modo de pensar e produzir conhecimento. Exemplo: uma das agrupamentos que representam recortes internos à área e
questões centrais do trabalho em matemática refere-se à visam explicitar objetos de estudo essenciais à aprendizagem.
validação. Trata-se de o aluno saber por seus próprios meios Distinguem as especificidades dos conteúdos, para que haja
se o resultado que obteve é razoável ou absurdo, se o clareza sobre qual é o objeto do trabalho, tanto para o aluno
procedimento utilizado é correto ou não, se o argumento de como para o professor — é importante ter consciência do que
seu colega é consistente ou contraditório. se está ensinando e do que se está aprendendo. Os conteúdos
Já os conteúdos atitudinais permeiam todo o são organizados em função da necessidade de receberem um
conhecimento escolar. A escola é um contexto socializador, tratamento didático que propicie um avanço contínuo na
gerador de atitudes relativas ao conhecimento, ao professor, ampliação de conhecimentos, tanto em extensão quanto em
aos colegas, às disciplinas, às tarefas e à sociedade. A não- profundidade, pois o processo de aprendizagem dos alunos
compreensão de atitudes, valores e normas como conteúdos requer que os mesmos conteúdos sejam tratados de diferentes
escolares faz com estes sejam comunicados sobretudo de maneiras e em diferentes momentos da escolaridade, de forma
forma inadvertida — acabam por ser aprendidos sem que haja a serem “revisitados”, em função das possibilidades de
uma deliberação clara sobre esse ensinamento. Por isso, é compreensão que se alteram pela contínua construção de
imprescindível adotar uma posição crítica em relação aos conhecimentos e em função da complexidade conceitual de
valores que a escola transmite explícita e implicitamente determinados conteúdos. Por exemplo, ao apresentar
mediante atitudes cotidianas. A consideração positiva de problemas referentes às operações de adição e subtração.
certos fatos ou personagens históricos em detrimento de Exemplo 1: Pedro tinha 8 bolinhas de gude, jogou uma partida
outros é um posicionamento de valor, o que contradiz a e perdeu 3. Com quantas bolinhas ficou? (8 - 3 = 5 ou 3 +? = 8).
pretensa neutralidade que caracteriza a apresentação escolar Exemplo 2: Pedro jogou uma partida de bolinha de gude. Na
do saber científico. segunda partida, perdeu 3 bolinhas, ficando com 5 no final.
Ensinar e aprender atitudes requer um posicionamento Quantas bolinhas Pedro ganhou na primeira partida? (? - 3 = 5
claro e consciente sobre o que e como se ensina na escola. Esse ou 8 - 3 = 5 ou 3 +? = 8). O problema 1 é resolvido pela maioria
posicionamento só pode ocorrer a partir do estabelecimento das crianças no início da escolaridade obrigatória em função
das intenções do projeto educativo da escola, para que se do conhecimento matemático que já têm; no entanto, o
possam adequar e selecionar conteúdos básicos, necessários e problema 2 para ser resolvido necessita que o aluno tenha tido
recorrentes. diferentes oportunidades para operar com os conceitos
É sabido que a aprendizagem de valores e atitudes é de envolvidos, caso contrário não o resolverá. O mesmo conteúdo
natureza complexa e pouco explorada do ponto de vista — adição e subtração — para ser compreendido requer uma
pedagógico. Muitas pesquisas apontam para a importância da abordagem mais ampla dos conceitos que o envolvem. Com
informação como fator de transformação de valores e atitudes; esses exemplos buscou-se apontar também que situações
sem dúvida, a informação é necessária, mas não é suficiente. aparentemente fáceis e simples são complexas tanto do ponto
Para a aprendizagem de atitudes é necessária uma prática de vista do objeto como da aprendizagem. No problema 2 a
constante, coerente e sistemática, em que valores e atitudes variação no local da incógnita solicita um tipo de raciocínio
almejados sejam expressos no relacionamento entre as diferente do problema 1. A complexidade dos próprios
pessoas e na escolha dos assuntos a serem tratados. Além das conteúdos e as necessidades das aprendizagens compõem um
questões de ordem emocional, tem relevância no aprendizado todo dinâmico, sendo impossível esgotar a aprendizagem em
dos conteúdos atitudinais o fato de cada aluno pertencer a um um curto espaço de tempo. O conhecimento não é um bem
grupo social, com seus próprios valores e atitudes. passível de acumulação, como uma espécie de doação da fonte
Embora esteja sempre presente nos conteúdos específicos de informações para o aprendiz.
que são ensinados, os conteúdos atitudinais não têm sido Para o tratamento didático dos conteúdos é preciso
formalmente reconhecidos como tal. A análise dos conteúdos, considerar também o estabelecimento de relações internas ao
à luz dessa dimensão, exige uma tomada de decisão consciente bloco e entre blocos. Exemplificando: os blocos de conteúdos
e eticamente comprometida, interferindo diretamente no de Língua Portuguesa são língua oral, língua escrita, análise e
esclarecimento do papel da escola na formação do cidadão. Ao reflexão sobre a língua; é possível aprender sobre a língua
enfocar os conteúdos escolares sob essa dimensão, questões escrita sem necessariamente estabelecer uma relação direta
de convívio social assumem um outro status no rol dos com a língua oral; por outro lado, não é possível aprender a
conteúdos a serem abordados. analisar e a refletir sobre a língua sem o apoio da língua oral,
Considerar conteúdos procedimentais e atitudinais como ou da escrita. Dessa forma, a inter-relação dos elementos de
conteúdos do mesmo nível que os conceituais não implica um bloco, ou entre blocos, é determinada pelo objeto da
aumento na quantidade de conteúdos a serem trabalhados, aprendizagem, configurado pela proposta didática realizada
porque eles já estão presentes no dia-a-dia da sala de aula; o pelo professor.
que acontece é que, na maioria das vezes, não estão Dada a diversidade existente no País, é natural e desejável
explicitados nem são tratados de maneira consciente. A que ocorram alterações no quadro proposto. A definição dos
diferente natureza dos conteúdos escolares deve ser conteúdos a serem tratados deve considerar o
desenvolvimento de capacidades adequadas às características

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sociais, culturais e econômicas particulares de cada localidade. avaliações não devem ser aplicadas exclusivamente nos inícios
Assim, a definição de conteúdos nos Parâmetros Curriculares de ano ou de semestre; são pertinentes sempre que o professor
Nacionais é uma referência suficientemente aberta para propuser novos conteúdos ou novas sequências de situações
técnicos e professores analisarem, refletirem e tomarem didáticas.
decisões, resultando em ampliações ou reduções de certos É importante ter claro que a avaliação inicial não implica a
aspectos, em função das necessidades de aprendizagem de instauração de um longo período de diagnóstico, que acabe por
seus alunos. se destacar do processo de aprendizagem que está em curso,
no qual o professor não avança em suas propostas, perdendo
AVALIAÇÃO o escasso e precioso tempo escolar de que dispõe. Ela pode se
realizar no interior mesmo de um processo de ensino e
A concepção de avaliação dos Parâmetros Curriculares aprendizagem, já que os alunos põem inevitavelmente em jogo
Nacionais vai além da visão tradicional, que focaliza o controle seus conhecimentos prévios ao enfrentar qualquer situação
externo do aluno mediante notas ou conceitos, para ser didática.
compreendida como parte integrante e intrínseca ao processo O processo também contempla a observação dos avanços
educacional. e da qualidade da aprendizagem alcançada pelos alunos ao
A avaliação, ao não se restringir ao julgamento sobre final de um período de trabalho, seja este determinado pelo
sucessos ou fracassos do aluno, é compreendida como um fim de um bimestre, ou de um ano, seja pelo encerramento de
conjunto de atuações que tem a função de alimentar, sustentar um projeto ou sequência didática. Na verdade, a avaliação
e orientar a intervenção pedagógica. Acontece contínua e contínua do processo acaba por subsidiar a avaliação final, isto
sistematicamente por meio da interpretação qualitativa do é, se o professor acompanha o aluno sistematicamente ao
conhecimento construído pelo aluno. Possibilita conhecer o longo do processo pode saber, em determinados momentos, o
quanto ele se aproxima ou não da expectativa de que o aluno já aprendeu sobre os conteúdos trabalhados. Esses
aprendizagem que o professor tem em determinados momentos, por outro lado, são importantes por se
momentos da escolaridade, em função da intervenção constituírem boas situações para que alunos e professores
pedagógica realizada. Portanto, a avaliação das aprendizagens formalizem o que foi e o que não foi aprendido. Esta avaliação,
só pode acontecer se forem relacionadas com as que intenciona averiguar a relação entre a construção do
oportunidades oferecidas, isto é, analisando a adequação das conhecimento por parte dos alunos e os objetivos a que o
situações didáticas propostas aos conhecimentos prévios dos professor se propôs, é indispensável para se saber se todos os
alunos e aos desafios que estão em condições de enfrentar. alunos estão aprendendo e quais condições estão sendo ou não
A avaliação subsidia o professor com elementos para uma favoráveis para isso, o que diz respeito às responsabilidades
reflexão contínua sobre a sua prática, sobre a criação de novos do sistema educacional.
instrumentos de trabalho e a retomada de aspectos que devem Um sistema educacional comprometido com o
ser revistos, ajustados ou reconhecidos como adequados para desenvolvimento das capacidades dos alunos, que se
o processo de aprendizagem individual ou de todo grupo. Para expressam pela qualidade das relações que estabelecem e pela
o aluno, é o instrumento de tomada de consciência de suas profundidade dos saberes constituídos, encontra, na avaliação,
conquistas, dificuldades e possibilidades para reorganização uma referência à análise de seus propósitos, que lhe permite
de seu investimento na tarefa de aprender. Para a escola, redimensionar investimentos, a fim de que os alunos
possibilita definir prioridades e localizar quais aspectos das aprendam cada vez mais e melhor e atinjam os objetivos
ações educacionais demandam maior apoio. propostos.
Tomar a avaliação nessa perspectiva e em todas essas Esse uso da avaliação, numa perspectiva democrática, só
dimensões requer que esta ocorra sistematicamente durante poderá acontecer se forem superados o caráter de
todo o processo de ensino e aprendizagem e não somente após terminalidade e de medição de conteúdos aprendidos — tão
o fechamento de etapas do trabalho, como é o habitual. Isso arraigados nas práticas escolares — a fim de que os resultados
possibilita ajustes constantes, num mecanismo de regulação da avaliação possam ser concebidos como indicadores para a
do processo de ensino e aprendizagem, que contribui reorientação da prática educacional e nunca como um meio de
efetivamente para que a tarefa educativa tenha sucesso. estigmatizar os alunos.
O acompanhamento e a reorganização do processo de Utilizar a avaliação como instrumento para o
ensino e aprendizagem na escola inclui, necessariamente, uma desenvolvimento das atividades didáticas requer que ela não
avaliação inicial, para o planejamento do professor, e uma seja interpretada como um momento estático, mas antes como
avaliação ao final de uma etapa de trabalho. um momento de observação de um processo dinâmico e não-
A avaliação investigativa inicial instrumentalizará o linear de construção de conhecimento.
professor para que possa pôr em prática seu planejamento de Em suma, a avaliação contemplada nos Parâmetros
forma adequada às características de seus alunos. Esse é o Curriculares Nacionais é compreendida como: elemento
momento em que o professor vai se informar sobre o que o integrador entre a aprendizagem e o ensino; conjunto de ações
aluno já sabe sobre determinado conteúdo para, a partir daí, cujo objetivo é o ajuste e a orientação da intervenção
estruturar sua programação, definindo os conteúdos e o nível pedagógica para que o aluno aprenda da melhor forma;
de profundidade em que devem ser abordados. A avaliação conjunto de ações que busca obter informações sobre o que foi
inicial serve para o professor obter informações necessárias aprendido e como; elemento de reflexão contínua para o
para propor atividades e gerar novos conhecimentos, assim professor sobre sua prática educativa; instrumento que
como para o aluno tomar consciência do que já sabe e do que possibilita ao aluno tomar consciência de seus avanços,
pode ainda aprender sobre um determinado conjunto de dificuldades e possibilidades; ação que ocorre durante todo o
conteúdos. É importante que ocorra uma avaliação no início do processo de ensino e aprendizagem e não apenas em
ano; o fato de o aluno estar iniciando uma série não é momentos específicos caracterizados como fechamento de
informação suficiente para que o professor saiba sobre suas grandes etapas de trabalho. Uma concepção desse tipo
necessidades de aprendizagem. Mesmo que o professor pressupõe considerar tanto o processo que o aluno desenvolve
acompanhe a classe de um ano para o outro, e tenha registros ao aprender como o produto alcançado. Pressupõe também
detalhados sobre o desempenho dos alunos no ano anterior, que a avaliação se aplique não apenas ao aluno, considerando
não se exclui essa investigação inicial, pois os alunos não as expectativas de aprendizagem, mas às condições oferecidas
deixam de aprender durante as férias e muita coisa pode ser para que isso ocorra. Avaliar a aprendizagem, portanto,
alterada no intervalo dos períodos letivos. Mas essas implica avaliar o ensino oferecido — se, por exemplo, não há a

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aprendizagem esperada significa que o ensino não cumpriu dos diferentes pontos de vista tanto do aluno quanto do
com sua finalidade: a de fazer aprender. professor.

Orientações para avaliação Critérios de avaliação

Como avaliar se define a partir da concepção de ensino e Avaliar significa emitir um juízo de valor sobre a realidade
aprendizagem, da função da avaliação no processo educativo e que se questiona, seja a propósito das exigências de uma ação
das orientações didáticas postas em prática. Embora a que se projetou realizar sobre ela, seja a propósito das suas
avaliação, na perspectiva aqui apontada, aconteça consequências. Portanto, a atividade de avaliação exige
sistematicamente durante as atividades de ensino e critérios claros que orientem a leitura dos aspectos a serem
aprendizagem, é preciso que a perspectiva de cada momento avaliados.
da avaliação seja definida claramente, para que se possa No caso da avaliação escolar, é necessário que se
alcançar o máximo de objetividade possível. estabeleçam expectativas de aprendizagem dos alunos em
Para obter informações em relação aos processos de consequência do ensino, que devem se expressar nos
aprendizagem, é necessário considerar a importância de uma objetivos, nos critérios de avaliação propostos e na definição
diversidade de instrumentos e situações, para possibilitar, por do que será considerado como testemunho das aprendizagens.
um lado, avaliar as diferentes capacidades e conteúdos Do contraste entre os critérios de avaliação e os indicadores
curriculares em jogo e, por outro lado, contrastar os dados expressos na produção dos alunos surgirá o juízo de valor, que
obtidos e observar a transferência das aprendizagens em se constitui a essência da avaliação.
contextos diferentes. Os critérios de avaliação têm um papel importante, pois
É fundamental a utilização de diferentes códigos, como o explicitam as expectativas de aprendizagem, considerando
verbal, o oral, o escrito, o gráfico, o numérico, o pictórico, de objetivos e conteúdos propostos para a área e para o ciclo, a
forma a se considerar as diferentes aptidões dos alunos. Por organização lógica e interna dos conteúdos, as
exemplo, muitas vezes o aluno não domina a escrita particularidades de cada momento da escolaridade e as
suficientemente para expor um raciocínio mais complexo possibilidades de aprendizagem decorrentes de cada etapa do
sobre como compreende um fato histórico, mas pode fazê-lo desenvolvimento cognitivo, afetivo e social em uma
perfeitamente bem em uma situação de intercâmbio oral, determinada situação, na qual os alunos tenham boas
como em diálogos, entrevistas ou debates. Considerando essas condições de desenvolvimento do ponto de vista pessoal e
preocupações, o professor pode realizar a avaliação por meio social. Os critérios de avaliação apontam as experiências
de: educativas a que os alunos devem ter acesso e são
• observação sistemática: acompanhamento do processo consideradas essenciais para o seu desenvolvimento e
de aprendizagem dos alunos, utilizando alguns instrumentos, socialização. Nesse sentido, os critérios de avaliação devem
como registro em tabelas, listas de controle, diário de classe e refletir de forma equilibrada os diferentes tipos de
outros; capacidades e as três dimensões de conteúdos, e servir para
• análise das produções dos alunos: considerar a variedade encaminhar a programação e as atividades de ensino e
de produções realizadas pelos alunos, para que se possa ter um aprendizagem.
quadro real das aprendizagens conquistadas. Por exemplo: se É importante assinalar que os critérios de avaliação
a avaliação se dá sobre a competência dos alunos na produção representam as aprendizagens imprescindíveis ao final do
de textos, deve-se considerar a totalidade dessa produção, que ciclo e possíveis à maioria dos alunos submetidos às condições
envolve desde os primeiros registros escritos, no caderno de de aprendizagem propostas; não podem, no entanto, ser
lição, até os registros das atividades de outras áreas e das tomados como objetivos, pois isso significaria um injustificável
atividades realizadas especificamente para esse aprendizado, rebaixamento da oferta de ensino e, consequentemente, o
além do texto produzido pelo aluno para os fins específicos impedimento a priori da possibilidade de realização de
desta avaliação; aprendizagens consideradas essenciais.
• atividades específicas para a avaliação: nestas, os alunos Os critérios não expressam todos os conteúdos que foram
devem ter objetividade ao expor sobre um tema, ao responder trabalhados no ciclo, mas apenas aqueles que são
um questionário. Para isso é importante, em primeiro lugar, fundamentais para que se possa considerar que um aluno
garantir que sejam semelhantes às situações de aprendizagem adquiriu as capacidades previstas de modo a poder continuar
comumente estruturadas em sala de aula, isto é, que não se aprendendo no ciclo seguinte, sem que seu aproveitamento
diferenciem, em sua estrutura, das atividades que já foram seja comprometido.
realizadas; em segundo lugar, deixar claro para os alunos o que Os Critérios de Avaliação por Área e por Ciclo, definidos
se pretende avaliar, pois, inevitavelmente, os alunos estarão nestes Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda que
mais atentos a esses aspectos. indiquem o tipo e o grau de aprendizagem que se espera que
Quanto mais os alunos tenham clareza dos conteúdos e do os alunos tenham realizado a respeito dos diferentes
grau de expectativa da aprendizagem que se espera, mais terão conteúdos, apresentam formulação suficientemente ampla
condições de desenvolver, com a ajuda do professor, para ser referência para as adaptações necessárias em cada
estratégias pessoais e recursos para vencer dificuldades. escola, de modo a poderem se constituir critérios reais para a
A avaliação, apesar de ser responsabilidade do professor, avaliação e, portanto, contribuírem para efetivar a
não deve ser considerada função exclusiva dele. Delegá-la aos concretização das intenções educativas no decorrer do
alunos, em determinados momentos, é uma condição didática trabalho nos ciclos. Os critérios de avaliação devem permitir
necessária para que construam instrumentos de concretizações diversas por meio de diferentes indicadores;
autorregularão para as diferentes aprendizagens. A assim, além do enunciado que os define, deverá haver um
autoavaliação é uma situação de aprendizagem em que o aluno breve comentário explicativo que contribua para a
desenvolve estratégias de análise e interpretação de suas identificação de indicadores nas produções a serem avaliadas,
produções e dos diferentes procedimentos para se avaliar. facilitando a interpretação e a flexibilização desses critérios,
Além desse aprendizado ser, em si, importante, porque é em função das características do aluno e dos objetivos e
central para a construção da autonomia dos alunos, cumpre o conteúdos definidos.
papel de contribuir com a objetividade desejada na avaliação, Exemplo de um critério de avaliação de Língua Portuguesa
uma vez que esta só poderá ser construída com a coordenação para o primeiro ciclo:

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“Escrever utilizando tanto o conhecimento sobre a ensino e, consequentemente, da aprendizagem, que, de forma
correspondência fonográfica como sobre a segmentação geral, o sistema educacional não tem conseguido resolver.
do texto em palavras e frases. Como resultado, ao reprovar os alunos que não realizam as
Com este critério espera-se que o aluno escreva textos aprendizagens esperadas, cristaliza-se uma situação em que o
alfabeticamente. Isso significa utilizar corretamente a letra (o problema é do aluno e não do sistema educacional.
grafema) que corresponda ao som (o fonema), ainda que a A repetência deve ser um recurso extremo; deve ser
convenção ortográfica não esteja sendo respeitada. Espera-se, estudada caso a caso, no momento que mais se adequar a cada
também, que o aluno utilize seu conhecimento sobre a aluno, para que esteja de fato a serviço da escolaridade com
segmentação das palavras e de frases, ainda que a convenção sucesso.
não esteja sendo respeitada (no caso da palavra, podem tanto A permanência em um ano ou mais no ciclo deve ser
ocorrer uma escrita sem segmentação, como em ‘derepente’, compreendida como uma medida educativa para que o aluno
como uma segmentação indevida, como em ‘de pois’; no caso tenha oportunidade e expectativa de sucesso e motivação,
da frase, o aluno pode separar frases sem utilizar o sistema de para garantir a melhoria de condições para a aprendizagem.
pontuação, fazendo uso de recursos como ‘e’, ‘aí’, ‘daí’, por Quer a decisão seja de reprovar ou aprovar um aluno com
exemplo)”. dificuldades, esta deve sempre ser acompanhada de
A definição dos critérios de avaliação deve considerar encaminhamentos de apoio e ajuda para garantir a qualidade
aspectos estruturais de cada realidade; por exemplo, muitas das aprendizagens e o desenvolvimento das capacidades
vezes, seja por conta das repetências ou de um ingresso tardio esperadas.
na escola, a faixa etária dos alunos de primeiro ciclo não
corresponde aos sete ou oito anos. Sabe-se, também, que as As avaliações oficiais: boletins e diplomas
condições de escolaridade em uma escola rural e multisseriada
são bastante singulares, o que determinará expectativas de Um outro lado na questão da avaliação é o aspecto
aprendizagem e, portanto, de critérios de avaliação bastante normativo do sistema de ensino que diz respeito ao controle
diferenciados. social. À escola é socialmente delegada a tarefa de promover o
A adequação dos critérios estabelecidos nestes ensino e a aprendizagem de determinados conteúdos e
parâmetros e dos indicadores especificados ao trabalho que contribuir de maneira efetiva na formação de seus cidadãos;
cada escola se propõe a realizar não deve perder de vista a por isso, a escola deve responder à sociedade por essa
busca de uma meta de qualidade de ensino e aprendizagem responsabilidade. Para tal, estabelece uma série de
explicitada na presente proposta. instrumentos para registro e documentação da avaliação e cria
os atestados oficiais de aproveitamento. Assim, as notas,
Decisões associadas aos resulta dos da avaliação conceitos, boletins, recuperações, aprovações, reprovações,
Tão importante quanto o que e como avaliar são as diplomas, etc., fazem parte das decisões que o professor deve
decisões pedagógicas decorrentes dos resultados da avaliação, tomar em seu dia-a-dia para responder à necessidade de um
que não devem se restringir à reorganização da prática testemunho oficial e social do aproveitamento do aluno. O
educativa encaminhada pelo professor no dia-a-dia; devem se professor pode aproveitar os momentos de avaliação
referir, também, a uma série de medidas didáticas bimestral ou semestral, quando precisa dar notas ou conceitos,
complementares que necessitem de apoio institucional, como para sistematizar os procedimentos que selecionou para o
o acompanhamento individualizado feito pelo professor fora processo de avaliação, em função das necessidades
da classe, o grupo de apoio, as lições extras e outras que cada psicopedagógicas.
escola pode criar, ou até mesmo a solicitação de profissionais É importante ressaltar a diferença que existe entre a
externos à escola para debate sobre questões emergentes ao comunicação da avaliação e a qualificação. Uma coisa é a
trabalho. A dificuldade de contar com o apoio institucional necessidade de comunicar o que se observou na avaliação, isto
para esses encaminhamentos é uma realidade que precisa ser é, o retorno que o professor dá aos alunos e aos pais do que
alterada gradativamente, para que se possam oferecer pôde observar sobre o processo de aprendizagem, incluindo
condições de desenvolvimento para os alunos com também o diálogo entre a sua avaliação e a autoavaliação
necessidades diferentes de aprendizagem. realizada pelo aluno. Outra coisa é a qualificação que se extrai
A aprovação ou a reprovação é uma decisão pedagógica dela, e se expressa em notas ou conceitos, histórico escolar,
que visa garantir as melhores condições de aprendizagem para boletins, diplomas, e cumprem uma função social. Se a
os alunos. Para tal, requer-se uma análise dos professores a comunicação da avaliação estiver pautada apenas em
respeito das diferentes capacidades do aluno, que permitirão qualificações, pouco poderá contribuir para o avanço
o aproveitamento do ensino na próxima série ou ciclo. Se a significativo das aprendizagens; mas, se as notas não forem o
avaliação está a serviço do processo de ensino e aprendizagem, único canal que o professor oferece de comunicação sobre a
a decisão de aprovar ou reprovar não deve ser a expressão de avaliação, podem constituir-se uma referência importante,
um “castigo” nem ser unicamente pautada no quanto se uma vez que já se instituem como representação social do
aprendeu ou se deixou de aprender dos conteúdos propostos. aproveitamento escolar.
Para tal decisão é importante considerar, simultaneamente
aos critérios de avaliação, os aspectos de sociabilidade e de ORIENTAÇÕES DIDÁTICAS
ordem emocional, para que a decisão seja a melhor possível,
tendo em vista a continuidade da escolaridade sem fracassos. A conquista dos objetivos propostos para o ensino
No caso de reprovação, a discussão nos conselhos de classe, fundamental depende de uma prática educativa que tenha
assim como a consideração das questões trazidas pelos pais como eixo a formação de um cidadão autônomo e
nesse processo decisório, podem subsidiar o professor para a participativo. Nessa medida, os Parâmetros Curriculares
tomada de decisão amadurecida e compartilhada pela equipe Nacionais incluem orientações didáticas, que são subsídios à
da escola. reflexão sobre como ensinar.
Os altos índices de repetência em nosso país têm sido Na visão aqui assumida, os alunos constroem significados
objeto de muita discussão, uma vez que explicitam o fracasso a partir de múltiplas e complexas interações. Cada aluno é
do sistema público de ensino, incomodando demais tanto sujeito de seu processo de aprendizagem, enquanto o
educadores como políticos. No entanto, muitas vezes se cria professor é o mediador na interação dos alunos com os objetos
uma falsa questão, em que a repetência é vista como um de conhecimento; o processo de aprendizagem compreende
problema em si e não como um sintoma da má qualidade do também a interação dos alunos entre si, essencial à

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socialização. Assim sendo, as orientações didáticas na relação com o conhecimento — saber o que se quer saber,
apresentadas enfocam fundamentalmente a intervenção do como fazer para buscar informações e possibilidades de
professor na criação de situações de aprendizagem coerentes desenvolvimento de tal conhecimento, manter uma postura
com essa concepção. crítica comparando diferentes visões e reservando para si o
Para cada tema e área de conhecimento corresponde um direito de conclusão, por exemplo —, ela não ocorre sem o
conjunto de orientações didáticas de caráter mais abrangente desenvolvimento da autonomia moral (capacidade ética) e
— orientações didáticas gerais — que indicam como a emocional que envolvem autorrespeito, respeito mútuo,
concepção de ensino proposta se estabelece no tratamento da segurança, sensibilidade, etc.
área. Para cada bloco de conteúdo correspondem orientações Como no desenvolvimento de outras capacidades, a
didáticas específicas, que expressam como determinados aprendizagem de determinados procedimentos e atitudes —
conteúdos podem ser tratados. Assim, as orientações didáticas tais como planejar a realização de uma tarefa, identificar
permeiam as explicitações sobre o ensinar e o aprender, bem formas de resolver um problema, formular boas perguntas e
como as explicações dos blocos de conteúdos ou temas, uma boas respostas, levantar hipóteses e buscar meios de verificá-
vez que a opção de recorte de conteúdos para uma situação de las, validar raciocínios, resolver conflitos, cuidar da própria
ensino e aprendizagem é também determinada pelo enfoque saúde e da de outros, colocar-se no lugar do outro para melhor
didático da área. refletir sobre uma determinada situação, considerar as regras
No entanto, há determinadas considerações a fazer a estabelecidas — é o instrumento para a construção da
respeito do trabalho em sala de aula, que extravasam as autonomia. Procedimentos e atitudes dessa natureza são
fronteiras de um tema ou área de conhecimento. Estas objeto de aprendizagem escolar, ou seja, a escola pode ensiná-
considerações evidenciam que o ensino não pode estar los planejada e sistematicamente criando situações que
limitado ao estabelecimento de um padrão de intervenção auxiliem os alunos a se tornarem progressivamente mais
homogêneo e idêntico para todos os alunos. A prática autônomos. Por isso é importante que desde as séries iniciais
educativa é bastante complexa, pois o contexto de sala de aula as propostas didáticas busquem, em aproximações sucessivas,
traz questões de ordem afetiva, emocional, cognitiva, física e cada vez mais essa meta.
de relação pessoal. A dinâmica dos acontecimentos em uma O desenvolvimento da autonomia depende de suportes
sala de aula é tal que mesmo uma aula planejada, detalhada e materiais, intelectuais e emocionais. No início da escolaridade,
consistente dificilmente ocorre conforme o imaginado: a intervenção do professor é mais intensa na definição desses
olhares, tons de voz, manifestações de afeto ou desafeto e suportes: tempo e forma de realização das atividades,
diversas outras variáveis interferem diretamente na dinâmica organização dos grupos, materiais a serem utilizados,
prevista. No texto que se segue, são apontados alguns tópicos resolução de conflitos, cuidados físicos, estabelecimentos de
sobre didática considerados essenciais pela maioria dos etapas para a realização das atividades. Também é preciso
profissionais em educação: autonomia; diversidade; interação considerar tanto o trabalho individual como o coletivo-
e cooperação; disponibilidade para a aprendizagem; cooperativo. O individual é potencializado pelas exigências
organização do tempo; organização do espaço; e seleção de feitas aos alunos para se responsabilizarem por suas ações,
material. suas ideias, suas tarefas, pela organização pessoal e coletiva,
pelo envolvimento com o objeto de estudo. O trabalho em
Autonomia grupo, ao valorizar a interação como instrumento de
desenvolvimento pessoal, exige que os alunos considerem
Nos Parâmetros Curriculares Nacionais a autonomia é diferenças individuais, tragam contribuições, respeitem as
tomada ao mesmo tempo como capacidade a ser desenvolvida regras estabelecidas, proponham outras, atitudes que
pelos alunos e como princípio didático geral, orientador das propiciam o desenvolvimento da autonomia na dimensão
práticas pedagógicas. grupal.
A realização dos objetivos propostos implica É importante salientar que a autonomia não é um estado
necessariamente que sejam desde sempre praticados, pois não psicológico geral que, uma vez atingido, esteja garantido para
se desenvolve uma capacidade sem exercê-la. Por isso didática qualquer situação. Por um lado, por envolver a necessidade de
é um instrumento de fundamental importância, na medida em conhecimentos e condições específicas, uma pessoa pode ter
que possibilita e conforma as relações que alunos e autonomia para atuar em determinados campos e não em
educadores estabelecem entre si, com o conhecimento que outros; por outro, por implicar o estabelecimento de relações
constroem, com a tarefa que realizam e com a instituição democráticas de poder e autoridade é possível que alguém
escolar. Por exemplo, para que possa refletir, participar e exerça a capacidade de agir com autonomia em algumas
assumir responsabilidades, o aluno necessita estar inserido situações e não noutras, nas quais não pode interferir. É
em um processo educativo que valorize tais ações. portanto necessário que a escola busque sua extensão aos
Este é o sentido da autonomia como princípio didático diferentes campos de atuação. Para tanto, é necessário que as
geral proposto nos Parâmetros Curriculares decisões assumidas pelo professor auxiliem os alunos a
Nacionais: uma opção metodológica que considera a desenvolver essas atitudes e a aprender os procedimentos
atuação do aluno na construção de seus próprios adequados a uma postura autônoma, que só será efetivamente
conhecimentos, valoriza suas experiências, seus alcançada mediante investimentos sistemáticos a o longo de
conhecimentos prévios e a interação professor-aluno e aluno- toda a escolaridade.
aluno, buscando essencialmente a passagem progressiva de É importante ressaltar que a construção da autonomia não
situações em que o aluno é dirigido por outrem a situações se confunde com atitudes de independência. O aluno pode ser
dirigidas pelo próprio aluno. independente para realizar uma série de atividades, enquanto
A autonomia refere-se à capacidade de posicionar-se, seus recursos internos para se governar são ainda incipientes.
elaborar projetos pessoais e participar enunciativa e A independência é uma manifestação importante para o
cooperativamente de projetos coletivos, ter discernimento, desenvolvimento, mas não deve ser confundida com
organizar-se em função de metas eleitas, governar-se, autonomia.
participar da gestão de ações coletivas, estabelecer critérios e
eleger princípios éticos, etc. Isto é, a autonomia fala de uma Diversidade
relação emancipada, íntegra com as diferentes dimensões da
vida, o que envolve aspectos intelectuais, morais, afetivos e As adaptações curriculares previstas nos níveis de
sociopolíticos2. Ainda que na escola se destaque a autonomia concretização apontam a necessidade de adequar objetivos,

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conteúdos e critérios de avaliação, de forma a atender a afetividade, o grau de aceitação ou rejeição, a competitividade
diversidade existente no País. Essas adaptações, porém, não e o ritmo de produção estabelecidos em um grupo interferem
dão conta da diversidade no plano dos indivíduos em uma sala diretamente na produção do trabalho.
de aula. A participação de um aluno muitas vezes varia em função
Para corresponder aos propósitos explicitados nestes do grupo em que está inserido.
parâmetros, a educação escolar deve considerar a diversidade Em síntese, a disponibilidade cognitiva e emocional dos
dos alunos como elemento essencial a ser tratado para a alunos para a aprendizagem é fator essencial para que haja
melhoria da qualidade de ensino e aprendizagem. uma interação cooperativa, sem depreciação do colega por sua
Atender necessidades singulares de determinados alunos eventual falta de informação ou incompreensão. Aprender a
é estar atento à diversidade: é atribuição do professor conviver em grupo supõe um domínio progressivo de
considerar a especificidade do indivíduo, analisar suas procedimentos, valores, normas e atitudes.
possibilidades de aprendizagem e avaliar a eficácia das A organização dos alunos em grupos de trabalho influencia
medidas adotadas. o processo de ensino e aprendizagem, e pode ser otimizada
A atenção à diversidade deve se concretizar em medidas quando o professor interfere na organização dos grupos.
que levem em conta não só as capacidades intelectuais e os Organizar por ordem alfabética ou por idade não é a mesma
conhecimentos de que o aluno dispõe, mas também seus coisa que organizar por gênero ou por capacidades específicas;
interesses e motivações. Esse conjunto constitui a capacidade por isso é importante que o professor discuta e decida os
geral do aluno para aprendizagem em um determinado critérios de agrupamento dos alunos. Por exemplo:
momento. desempenho diferenciado ou próximo, equilíbrio entre
Desta forma, a atuação do professor em sala de aula deve meninos e meninas, afinidades para o trabalho e afetividade,
levar em conta fatores sociais, culturais e a história educativa possibilidade de cooperação, ritmo de trabalho, etc.
de cada aluno, como também características pessoais de déficit Não existe critério melhor ou pior de organização de
sensorial, motor ou psíquico, ou de superdotação intelectual. grupos para uma atividade. É necessário que o professor
Deve-se dar especial atenção ao aluno que demonstrar a decida a forma de organização social em cada tipo de
necessidade de resgatar a autoestima. Trata-se de garantir atividade, em cada momento do processo de ensino e
condições de aprendizagem a todos os alunos, seja por meio de aprendizagem, em função daqueles alunos específicos.
incrementos na intervenção pedagógica ou de medidas extras Agrupamentos adequados, que levem em conta a diversidade
que atendam às necessidades individuais. dos alunos, tornam-se eficazes na individualização do ensino.
A escola, ao considerar a diversidade, tem como valor Nas escolas multisseriadas, as decisões sobre
máximo o respeito às diferenças — não o elogio à agrupamentos adquirem especial relevância. É possível reunir
desigualdade. As diferenças não são obstáculos para o grupos que não sejam estruturados por série e sim por
cumprimento da ação educativa; podem e devem, portanto, ser objetivos, em que a diferenciação se dê pela exigência
fator de enriquecimento. adequada ao desempenho de cada um.
Concluindo, a atenção à diversidade é um princípio O convívio escolar pretendido depende do
comprometido com a equidade, ou seja, com o direito de todos estabelecimento de regras e normas de funcionamento e de
os alunos realizarem as aprendizagens fundamentais para seu comportamento que sejam coerentes com os objetivos
desenvolvimento e socialização. definidos no projeto educativo. A comunicação clara dessas
Interação e cooperação normas possibilita a compreensão pelos alunos das atitudes de
disciplina demonstradas pelos professores dentro e fora da
Um dos objetivos da educação escolar é que os alunos classe.
aprendam a assumir a palavra enunciada e a conviver em
grupo de maneira produtiva e cooperativa. Dessa forma, são Disponibilidade para a aprendizagem
fundamentais as situações em que possam aprender a
dialogar, a ouvir o outro e ajudá-lo, a pedir ajuda, aproveitar Para que uma aprendizagem significativa possa acontecer,
críticas, explicar um ponto de vista, coordenar ações para é necessária a disponibilidade para o envolvimento do aluno
obter sucesso em uma tarefa conjunta, etc. É essencial na aprendizagem, o empenho em estabelecer relações entre o
aprender procedimentos dessa natureza e valorizá-los como que já sabe e o que está aprendendo, em usar os instrumentos
forma de convívio escolar e social. Trabalhar em grupo de adequados que conhece e dispõe para alcançar a maior
maneira cooperativa é sempre uma tarefa difícil, mesmo para compreensão possível. Essa aprendizagem exige uma ousadia
adultos convencidos de sua necessidade. para se colocar problemas, buscar soluções e experimentar
A criação de um clima favorável a esse aprendizado novos caminhos, de maneira totalmente diferente da
depende do compromisso do professor em aceitar aprendizagem mecânica, na qual o aluno limita seu esforço
contribuições dos alunos (respeitando-as, mesmo quando apenas em memorizar ou estabelecer relações diretas e
apresentadas de forma confusa ou incorreta) e em favorecer o superficiais.
respeito, por parte do grupo, assegurando a participação de A aprendizagem significativa depende de uma motivação
todos os alunos. intrínseca, isto é, o aluno precisa tomar para si a necessidade e
Assim, a organização de atividades que favoreçam a fala e a vontade de aprender. Aquele que estuda apenas para passar
a escrita como meios de reorganização e reconstrução das de ano, ou para tirar notas, não terá motivos suficientes para
experiências compartilhadas pelos alunos ocupa papel de empenhar-se em profundidade na aprendizagem. A disposição
destaque no trabalho em sala de aula. A comunicação para a aprendizagem não depende exclusivamente do aluno,
propiciada nas atividades em grupo levará os alunos a demanda que a prática didática garanta condições para que
perceberem a necessidade de dialogar, resolver mal- essa atitude favorável se manifeste e prevaleça.
entendidos, ressaltar diferenças e semelhanças, explicar e Primeiramente, a expectativa que o professor tem do tipo de
exemplificar, apropriando-se de conhecimentos. aprendizagem de seus alunos fica definida no contrato
O estabelecimento de condições adequadas para a didático estabelecido. Se o professor espera uma atitude
interação não pode estar pautado somente em questões curiosa e investigativa, deve propor prioritariamente
cognitivas. Os aspectos emocionais e afetivos são tão atividades que exijam essa postura, e não a passividade. Deve
relevantes quanto os cognitivos, principalmente para os valorizar o processo e a qualidade, e não apenas a rapidez na
alunos prejudicados por fracassos escolares ou que não realização. Deve esperar estratégias criativas e originais e não
estejam interessados no que a escola pode oferecer. A a mesma resposta de todos.

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A intervenção do professor precisa, então, garantir que o Em geral, os alunos buscam corresponder às expectativas
aluno conheça o objetivo da atividade, situe-se em relação à de aprendizagem significativa, desde que haja um clima
tarefa, reconheça os problemas que a situação apresenta, e seja favorável de trabalho, no qual a avaliação e a observação do
capaz de resolvê-los. Para tal, é necessário que o professor caminho por eles percorrido seja, de fato, instrumento de
proponha situações didáticas com objetivos e determinações autorregularão do processo de ensino e aprendizagem.
claros, para que os alunos possam tomar decisões pensadas Quando não se instaura na classe um clima favorável de
sobre o encaminhamento de seu trabalho, além de selecionar confiança, compromisso e responsabilidade, os
e tratar ajustadamente os conteúdos. A complexidade da encaminhamentos do professor ficam comprometidos.
atividade também interfere no envolvimento do aluno. Um
nível de complexidade muito elevado, ou muito baixo, não Organização do tempo
contribui para a reflexão e o debate, situação que indica a
participação ativa e compromissada do aluno no processo de A consideração do tempo como variável que interfere na
aprendizagem. As atividades propostas precisam garantir construção da autonomia permite ao professor criar situações
organização e ajuste às reais possibilidades dos alunos, de em que o aluno possa progressivamente controlar a realização
forma que cada uma não seja nem muito difícil nem demasiado de suas atividades. Por meio de erros e acertos, o aluno toma
fácil. Os alunos devem poder realizá-la numa situação consciência de suas possibilidades e constrói mecanismos de
desafiadora. autorregularão que possibilitam decidir como alocar seu
Nesse enfoque de abordagem profunda da aprendizagem, tempo.
o tempo reservado para a atuação dos alunos é determinante. Por essa razão, são importantes as atividades em que o
Se a exigência é de rapidez, a saída mais comum é estudar de professor seja somente um orientador do trabalho, cabendo
forma superficial. O professor precisa buscar um equilíbrio aos alunos o planejamento e a execução, o que os levará a
entre as necessidades da aprendizagem e o exíguo tempo decidir e a vivenciar o resultado de suas decisões sobre o uso
escolar, coordenando-o para cada proposta que encaminha. do tempo.
Outro fator que interfere na disponibilidade do aluno para Delegar esse controle não quer dizer, de modo algum, que
a aprendizagem é a unidade entre escola, sociedade e cultura, os alunos devam arbitrar livremente a respeito de como e
o que exige trabalho com objetos socioculturais do cotidiano quando atuar na escola. A vivência do controle do tempo pelos
extraescolar, como, por exemplo, jornais, revistas, filmes, alunos se insere dentro de limites criteriosamente
instrumentos de medida, etc., sem esvaziá-los de significado, estabelecidos pelo professor, que se tornarão menos
ou seja, sem que percam sua função social real, contribuindo, restritivos à medida que o grupo desenvolva sua autonomia.
assim, para imprimir sentido às atividades escolares. Assim, é preciso que o professor defina claramente as
Mas isso tudo não basta. Mesmo garantindo todas essas atividades, estabeleça a organização em grupos, disponibilize
condições, pode acontecer que a ansiedade presente na recursos materiais adequados e defina o período de execução
situação de aprendizagem se torne muito intensa e impeça previsto, dentro do qual os alunos serão livres para tomar suas
uma atitude favorável. A ansiedade pode estar ligada ao medo decisões. Caso contrário, a prática de sala de aula torna-se
de fracasso, desencadeado pelo sentimento de incapacidade insustentável pela indisciplina que gera.
para realização da tarefa ou de insegurança em relação à ajuda Outra questão relevante é o horário escolar, que deve
que pode ou não receber de seu professor, ou de seus colegas, obedecer ao tempo mínimo estabelecido pela legislação
e consolidar um bloqueio para aprender. vigente para cada uma das áreas de aprendizagem do
Quando o sujeito está aprendendo, se envolve currículo. A partir desse critério, e em função das opções do
inteiramente. O processo, assim como seu resultado, projeto educativo da escola, é que se poderá fazer a
repercutem de forma global. Assim, o aluno, ao desenvolver as distribuição horária mais adequada.
atividades escolares, aprende não só sobre o conteúdo em No terceiro e no quarto ciclos, nos quais as aulas se
questão mas também sobre o modo como aprende, organizam por áreas com professores específicos e tempo
construindo uma imagem de si como estudante. Essa previamente estabelecido, é interessante pensar que uma das
autoimagem é também influenciada pelas representações que maneiras de otimizar o tempo escolar é organizar aulas duplas,
o professor e seus colegas fazem dele e, de uma forma ou outra, pois assim o professor tem condições de propor atividades em
são explicitadas nas relações interpessoais do convívio grupo que demandam maior tempo (aulas curtas tendem a ser
escolar. Falta de respeito e forte competitividade, se expositivas).
estabelecidas na classe, podem reforçar os sentimentos de
incompetência de certos alunos e contribuir de forma efetiva Organização do espaço
para consolidar o seu fracasso.
O aluno com um autoconceito negativo, que se considera Uma sala de aula com carteiras fixas dificulta o trabalho em
fracassado na escola, ou admite que a culpa é sua e se convence grupo, o diálogo e a cooperação; armários trancados não
de que é um incapaz, ou vai buscar ao seu redor outros ajudam a desenvolver a autonomia do aluno, como também
culpados: o professor é chato, as lições não servem para nada. não favorecem o aprendizado da preservação do bem coletivo.
Acaba por desenvolver comportamentos problemáticos e de A organização do espaço reflete a concepção metodológica
indisciplina. adotada pelo professor e pela escola.
Aprender é uma tarefa árdua, na qual se convive o tempo Em um espaço que expresse o trabalho proposto nos
inteiro com o que ainda não é conhecido. Para o sucesso da Parâmetros Curriculares Nacionais é preciso que as carteiras
empreitada, é fundamental que exista uma relação de sejam móveis, que as crianças tenham acesso aos materiais de
confiança e respeito mútuo entre professor e aluno, de uso frequente, as paredes sejam utilizadas para exposição de
maneira que a situação escolar possa dar conta de todas as trabalhos individuais ou coletivos, desenhos, murais. Nessa
questões de ordem afetiva. Mas isso não fica garantido apenas organização é preciso considerar a possibilidade de os alunos
e exclusivamente pelas ações do professor, embora sejam assumirem a responsabilidade pela decoração, ordem e
fundamentais dada a autoridade que ele representa, mas limpeza da classe. Quando o espaço é tratado dessa maneira,
também deve ser conseguido nas relações entre os alunos. O passa a ser objeto de aprendizagem e respeito, o que somente
trabalho educacional inclui as intervenções para que os alunos ocorrerá por meio de investimentos sistemáticos ao longo da
aprendam a respeitar diferenças, a estabelecer vínculos de escolaridade.
confiança e uma prática cooperativa e solidária. É importante salientar que o espaço de aprendizagem não
se restringe à escola, sendo necessário propor atividades que

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ocorram fora dela. A programação deve contar com passeios, acordos nas escolas em relação às estratégias didáticas mais
excursões, teatro, cinema, visitas a fábricas, marcenarias, adequadas. A qualidade da intervenção do professor sobre o
padarias, enfim, com as possibilidades existentes em cada local aluno ou grupo de alunos, os materiais didáticos, horários,
e as necessidades de realização do trabalho escolar. espaço, organização e estrutura das classes, a seleção de
No dia-a-dia devem-se aproveitar os espaços externos para conteúdos e a proposição de atividades concorrem para que o
realizar atividades cotidianas, como ler, contar histórias, fazer caminho seja percorrido com sucesso.
desenho de observação, buscar materiais para coleções. Dada
a pouca infraestrutura de muitas escolas, é preciso contar com OBJETIVOS GERAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL
a improvisação de espaços para o desenvolvimento de
atividades específicas de laboratório, teatro, artes plásticas, Os Parâmetros Curriculares Nacionais indicam como
música, esportes, etc. objetivos do ensino fundamental que os alunos sejam capazes
Concluindo, a utilização e a organização do espaço e do de:
tempo refletem a concepção pedagógica e interferem • compreender a cidadania como participação social e
diretamente na construção da autonomia. política, assim como exercício de direitos e deveres políticos,
civis e sociais, adotando, no dia-a-dia, atitudes de
Seleção de matéria solidariedade, cooperação e repúdio às injustiças, respeitando
o outro e exigindo para si o mesmo respeito;
Todo material é fonte de informação, mas nenhum deve ser • posicionar-se de maneira crítica, responsável e
utilizado com exclusividade. É importante haver diversidade construtiva nas diferentes situações sociais, utilizando o
de materiais para que os conteúdos possam ser tratados da diálogo como forma de mediar conflitos e de tomar decisões
maneira mais ampla possível. coletivas;
O livro didático é um material de forte influência na prática • conhecer características fundamentais do Brasil nas
de ensino brasileira. É preciso que os professores estejam dimensões sociais, materiais e culturais como meio para
atentos à qualidade, à coerência e a eventuais restrições que construir progressivamente a noção de identidade nacional e
apresentem em relação aos objetivos educacionais propostos. pessoal e o sentimento de pertinência ao País;
Além disso, é importante considerar que o livro didático não • conhecer e valorizar a pluralidade do patrimônio
deve ser o único material a ser utilizado, pois a variedade de sociocultural brasileiro, bem como aspectos socioculturais de
fontes de informação é que contribuirá para o aluno ter uma outros povos e nações, posicionando-se contra qualquer
visão ampla do conhecimento. discriminação baseada em diferenças culturais, de classe
Materiais de uso social frequente são ótimos recursos de social, de crenças, de sexo, de etnia ou outras características
trabalho, pois os alunos aprendem sobre algo que tem função individuais e sociais;
social real e se mantêm atualizados sobre o que acontece no • perceber-se integrante, dependente e agente
mundo, estabelecendo o vínculo necessário entre o que é transformador do ambiente, identificando seus elementos e as
aprendido na escola e o conhecimento extraescolar. A interações entre eles, contribuindo ativamente para a
utilização de materiais diversificados como jornais, revistas, melhoria do meio ambiente;
folhetos, propagandas, computadores, calculadoras, filmes, faz • desenvolver o conhecimento ajustado de si mesmo e o
o aluno sentir-se inserido no mundo à sua volta. sentimento de confiança em suas capacidades afetiva, física,
É indiscutível a necessidade crescente do uso de cognitiva, ética, estética, de inter-relação pessoal e de inserção
computadores pelos alunos como instrumento de social, para agir com perseverança na busca de conhecimento
aprendizagem escolar, para que possam estar atualizados em e no exercício da cidadania;
relação às novas tecnologias da informação e se • conhecer e cuidar do próprio corpo, valorizando e
instrumentalizarem para as demandas sociais presentes e adotando hábitos saudáveis como um dos aspectos básicos da
futuras. qualidade de vida e agindo com responsabilidade em relação à
A menção ao uso de computadores, dentro de um amplo sua saúde e à saúde coletiva;
leque de materiais, pode parecer descabida perante as reais • utilizar as diferentes linguagens — verbal, matemática,
condições das escolas, pois muitas não têm sequer giz para gráfica, plástica e corporal — como meio para produzir,
trabalhar. Sem dúvida essa é uma preocupação que exige expressar e comunicar suas ideias, interpretar e usufruir das
posicionamento e investimento em alternativas criativas para produções culturais, em contextos públicos e privados,
que as metas sejam atingidas. atendendo a diferentes intenções e situações de comunicação;
• saber utilizar diferentes fontes de informação e recursos
Considerações finais tecnológicos para adquirir e construir conhecimentos;
• questionar a realidade formulando-se problemas e
A qualidade da atuação da escola não pode depender tratando de resolvê-los, utilizando para isso o pensamento
somente da vontade de um ou outro professor. É preciso a lógico, a criatividade, a intuição, a capacidade de análise
participação conjunta dos profissionais (orientadores, crítica, selecionando procedimentos e verificando sua
supervisores, professores polivalentes e especialistas) para adequação.
tomada de decisões sobre aspectos da prática didática, bem
como sua execução. Essas decisões serão necessariamente ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DOS PARÂMETROS
diferenciadas de escola para escola, pois dependem do CURRICULARES NACIONAIS
ambiente local e da formação dos professores.
As metas propostas não se efetivarão a curto prazo. É Todas as definições conceituais, bem como a estrutura
necessário que os profissionais estejam comprometidos, organizacional dos Parâmetros Curriculares Nacionais, foram
disponham de tempo e de recursos. Mesmo em condições pautadas nos Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, que
ótimas de recursos, dificuldades e limitações sempre estarão estabelecem as capacidades relativas aos aspectos cognitivo,
presentes, pois na escola se manifestam os conflitos existentes afetivo, físico, ético, estético, de atuação e de inserção social,
na sociedade. de forma a expressar a formação básica necessária para o
As considerações feitas pretendem auxiliar os professores exercício da cidadania. Essas capacidades, que os alunos
na reflexão sobre suas práticas e na elaboração do projeto devem ter adquirido ao término da escolaridade obrigatória,
educativo de sua escola. Não são regras a respeito do que devem receber uma abordagem integrada em todas as áreas
devem ou não fazer. No entanto, é necessário estabelecer constituintes do ensino fundamental.

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A seleção adequada dos elementos da cultura — conteúdos — é que contribuirá para o desenvolvimento de tais capacidades
arroladas como Objetivos Gerais do Ensino Fundamental.
Os documentos das áreas têm uma estrutura comum: iniciam com a exposição da Concepção de Área para todo o ensino
fundamental, na qual aparece definida a fundamentação teórica do tratamento da área nos Parâmetros Curriculares Nacionais.
Os Objetivos Gerais de Área, da mesma forma que os Objetivos Gerais do Ensino Fundamental, expressam capacidades que os
alunos devem adquirir ao final da escolaridade obrigatória, mas diferenciam-se destes últimos por explicitar a contribuição específica
dos diferentes âmbitos do saber presentes na cultura; trata-se, portanto, de objetivos vinculados ao corpo de conhecimentos de cada
área. Os Objetivos Gerais do Ensino Fundamental e os Objetivos Gerais de Área para o Ensino Fundamental foram formulados de modo
a respeitar a diversidade social e cultural e são suficientemente amplos e abrangentes para que possam conter as especificidades locais.
O ensinar e o aprender em cada ciclo enfoca as necessidades e possibilidades de trabalho da área no ciclo e indica os Objetivos de
Ciclo por Área, estabelecendo as conquistas intermediárias que os alunos deverão atingir para que progressivamente cumpram com
as intenções educativas gerais. Segue-se a apresentação dos Blocos de Conteúdos e/ou Organizações Temáticas de Área por Ciclo.
Esses conteúdos estão detalhados em um texto explicativo dos conteúdos que abrangem e das principais orientações didáticas que
envolvem. Nesta primeira fase de definição dos Parâmetros Curriculares Nacionais, segundo prioridade dada pelo Ministério da
Educação e do Desporto, há especificação dos Blocos de Conteúdos apenas para primeiro e segundo ciclos.
A eleição de objetivos e conteúdos de área por ciclo está diretamente relacionada com os Objetivos Gerais do Ensino Fundamental
e com os Objetivos Gerais de Área, da mesma forma que também expressa a concepção de área adotada.
Os Critérios de Avaliação explicitam as aprendizagens fundamentais a serem realizadas em cada ciclo e se constituem em
indicadores para a reorganização do processo de ensino e aprendizagem. Vale reforçar que tais critérios não devem ser confundidos
com critérios de aprovação e reprovação de alunos.
O último item são as Orientações Didáticas, que discutem questões sobre a aprendizagem de determinados conteúdos e sobre como
ensiná-los de maneira coerente com a fundamentação explicitada anteriormente.

ESTRUTURA DOS PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

Os quadrinhos não-sombreados correspondem aos itens que serão trabalhados nos Parâmetros Curriculares Nacionais de quinta
a oitava série.

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técnicas, a metodologia deve dispor de um instrumental claro,


Educação, trabalho, coerente, elaborado, capaz de encaminhar os impasses
teóricos para o desafio da prática.
formação profissional e as O endeusamento das técnicas produz ou um formalismo
transformações da Educação árido, ou respostas estereotipadas. Seu desprezo, ao contrário,
Básica. leva ao empirismo sempre ilusório em suas conclusões ou a
especulações abstratas e estéreis.
Nada substitui, no entanto, a criatividade do pesquisador.
Feyerabend, num trabalho denominado Contra o método
Trabalho e Pesquisa (1989), observa que o progresso da ciência está associado
mais à violação das regras do que à sua obediência. “Dada uma
O ensino e a aprendizagem devem observar o Trabalho e a regra qualquer, por fundamental e necessária que se afigure
Pesquisa. Embora na vida real, quando um professor pede para para a ciência, sempre haverá circunstâncias em que se torna
que se faça um trabalho, pressupõe-se que para sua elaboração conveniente não apenas ignorá-la como adotar a regra
é feita uma pesquisa. Mas será que é isso mesmo? oposta”. Em Estrutura das Revoluções Científicas (1978)
Thomas Kuhn reconhece que nos diversos momentos
Para entendermos bem esses dois pontos, vamos começar históricos e nos diferentes ramos da ciência há um conjunto de
tratando da Pesquisa. crenças, visões de mundo e de formas de trabalhar,
reconhecidos pela comunidade científica, configurando o que
Pesquisa ele denomina paradigma.
O termo “pesquisa” significa, segundo o dicionário Aurélio, Porém, para Kuhn, o progresso da ciência se faz pela
“indagação ou busca minuciosa para averiguação da realidade; quebra dos paradigmas, pela colocação em discussão das
investigação, inquirição”. Além disso, também significa teorias e dos métodos, acontecendo assim uma verdadeira
“investigação e estudo, minudentes e sistemáticos, com o fim revolução.
de descobrir ou estabelecer fatos ou princípios relativos a um O método, dizia o historicista Dilthey32, é necessário por
campo qualquer do conhecimento”. Essas definições nos causa de nossa “mediocridade”. Para sermos mais generosos,
ajudam a compreender a pesquisa como uma ação de diríamos, como não somos gênios, precisamos de parâmetros
conhecimento da realidade, um processo de investigação, para caminhar no conhecimento. Porém, ainda que simples
minucioso e sistemático, para conhecermos a realidade ou mortais, a marca de criatividade é nossa griffe em qualquer
alguns aspectos da realidade ainda desconhecidos, seja essa trabalho de investigação.
realidade natural ou social. Entendemos por pesquisa a atividade básica da Ciência na
A pesquisa trata-se da atividade da Ciência responsável sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que
por conduzir a atividade de ensino e usa frente à realidade do alimenta a atividade de ensino e a atualiza frente à realidade
mundo. Desse modo, ainda que seja uma prática teórica, a do mundo. Portanto, embora seja uma prática teórica, a
pesquisa leva ao pensamento e à ação. pesquisa vincula pensamento e ação. Ou seja, nada pode ser
intelectualmente um problema, se não tiver sido, em primeiro
Segundo Gil29: lugar, um problema da vida prática. As questões da
A pesquisa é desenvolvida mediante o concurso dos investigação estão, portanto, relacionadas a interesses e
conhecimentos disponíveis e a utilização cuidadosa de circunstâncias socialmente condicionadas. São frutos de
métodos, técnicas e outros procedimentos científicos (...) ao determinada inserção no real, nele encontrando suas razões e
longo de um processo que envolve inúmeras fases, desde a seus objetivos.
adequada formulação do problema até a satisfatória Toda investigação se inicia por um problema com uma
apresentação dos resultados. questão, com uma dúvida ou com uma pergunta, articuladas a
Quando falamos em pesquisa, devemos associar com a conhecimentos anteriores, mas que também podem demandar
ideia de conhecimento. O conhecimento é um mecanismo de a criação de novos referenciais.
compreensão e transformação do mundo, como um objeto de Esse conhecimento anterior, construído por outros
libertação. É através do conhecimento que se reflete sobre o estudiosos e que lançam luz sobre a questão de nossa pesquisa,
mundo cultural. O mundo humano é aquele construído pela é chamado teoria. A palavra teoria tem origem no verbo grego
cultura, através dos seres humanos e sua relação em sua theorein, cujo significado é “ver”. A associação entre “ver” e
relação cultural. “saber” é uma das bases da ciência ocidental.
A teoria é construída para explicar ou compreender um
Conceito de Metodologia de Pesquisa 30 fenômeno, um processo ou um conjunto de fenômenos e
Entendemos por metodologia o caminho do pensamento e processos. Este conjunto citado constitui o domínio empírico
a prática exercida na abordagem da realidade. Neste sentido, a da teoria, pois esta tem sempre um caráter abstrato.
metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e Nenhuma teoria, por mais bem elaborada que seja, dá
está sempre referida a elas. Dizia Lênin31 (1965) que “o conta de explicar todos os fenômenos e processos. O
método é a alma da teoria”, distinguindo a forma exterior com investigador separa, recorta determinados aspectos
que muitas vezes é abordado tal tema (como técnicas e significativos da realidade para trabalhá-los, buscando
instrumentos) do sentido generoso de pensar a metodologia interconexão sistemática entre eles.
como a articulação entre conteúdos, pensamentos e existência.
Da forma como tratamos neste trabalho, a metodologia Teorias, portanto, são explicações parciais da realidade.
inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de Cumprem funções muito importantes:
técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro a) colaboram para esclarecer melhor o objeto de
divino do potencial criativo do investigador. investigação;
Enquanto abrangência de concepções teóricas de b) ajudam a levantar as questões, o problema, as perguntas
abordagem, a teoria e a metodologia caminham juntas, e/ou as hipóteses com mais propriedade;
intrincavelmente inseparáveis. Enquanto conjunto de c) permitem maior clareza na organização dos dados;

29GIL, A. C. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Altas, 1996. 31LÊNIN, W. Cahiers philosophiques. Paris: Sociales, 1965. p.28
30 Reis, Marília Freitas de Campos Tozoni. A Pesquisa e a Produção de 32 DILTHEY, W. Introducciòn a las ciencias del espiritu. Madrìd, Revìsta de
Conhecimentos Occidente, 1956.

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d) e também iluminam a análise dos dados organizados, universidade representam um espaço educativo privilegiado,
embora não possam direcionar totalmente essa atividade, sob onde a produção crítica de conhecimentos contribui
pena de anulação da originalidade da pergunta inicial. significativamente para a sociedade. Dessa forma, a pesquisa
nos cursos de graduação tem o sentido de produzir
Em resumo, a teoria é um conhecimento de que nos conhecimentos atualizados e significativos para fundamentar
servimos no processo de investigação como um sistema as atividades de formação humana e profissional, mas, por
organizado de proposições, que orientam a obtenção de dados outro lado, tem também o objetivo de formar pesquisadores. A
e a análise dos mesmos, e de conceitos, que veiculam seu pesquisa nos cursos de graduação é conhecida, em geral, como
sentido. um trabalho de iniciação científica.
Proposições são declarações afirmativas sobre fenômenos
e/ou processos. Para alguns autores, a proposição é uma Tipos de Pesquisa33
hipótese comprovada. As proposições de uma teoria devem ter A pesquisa tem seus horizontes múltiplos. Compreendida
três principais características: como capacidade de elaboração própria, a pesquisa condensa-
a) serem capazes de sugerir questões reais; se numa multiplicidade de horizontes no contexto cientifico. É
b) serem inteligíveis; comum prende-la à sua construção empírica. Vamos aos tipos:
c) representarem relações abstratas entre coisas, fatos,
fenômenos e/ou processos. - Pesquisa empírica:
Ao se utilizarem de um conjunto de proposições É apenas um horizonte dela, que com exclusividade torna-
logicamente relacionadas, a teoria busca uma ordem, uma se desvirtuado do conceito de pesquisa. O reconhecimento é
sistemática, uma organização do pensamento, sua articulação que não pode fazer levantamento empírico sem a associação
como real concreto, e uma tentativa de ser compreendida dos outros horizontes como: teoria, método e prática.
pelos membros de uma comunidade que seguem o mesmo
caminho de reflexão e ação. - Pesquisa teórica:
Se quisermos, portanto, trilhar a carreira de pesquisador, É importante por proporcionar a criatividade do
temos de nos aprofundar nas obras dos diferentes autores que intérprete. Domínio teórico significa a construção, via
trabalham os temas que nos preocupam, inclusive dos que pesquisa, da capacidade de relacionar alternativas
trazem proposições com as quais ideologicamente não explicativas, de conhecer seus vazios e virtudes, sua historio,
concordamos. sua consistência, potencialidade, de cultivar a polemica do
A busca de compreensão do campo científico que nos é diálogo construtivo, explorar chances possíveis de caminhos
pertinente, já trilhado por antecessores e contemporâneos, ainda não explorados. O bom teórico é aquele que sabe bem
nos alça a membros de sua comunidade e nos faz ombrear, perguntar, colocando a teoria no devido lugar: instrumentação
lado a lado com eles, as questões fundamentais existentes, na criativa, diante de realidade dissimulada. Quem dispõe de boa
atualidade, sobre nossa área de investigação. Ou seja, a teoria teoria, sabe interpretar, ou pelo menos sabe propor caminhos
não é só o domínio do que vem antes para fundamentar nossos de interpretação possível. Faz parte da pesquisa teórica:
caminhos, mas é também um artefato nosso como - conhecer a fundo quadros de referência alternativos,
investigadores, quando concluímos, ainda que clássicos e modernos, ou aos teóricos relevante;
provisoriamente, o desafio de uma pesquisa. - atualizar-se na polemica teórica, sem modismos, para
No processo de pesquisa trabalhamos com a linguagem abastecer-se e desinstalar-se;
científica das proposições que são construções lógicas; e - elabora previsão conceitual, atribuindo significado
conceitos que são construções de sentido. estrito aos termos básicos de cada teoria;
As funções dos conceitos podem ser classificadas em - aceitar o desafio criativo de prepor a realidade à fixação
cognitivas, pragmáticas e comunicativas. Eles servem para teórica para que a prática não se reduza à “prática teórica “, e
ordenar os objetos e os processos e fixar melhor o recorte do para que a teoria se mantenha em seu devido lugar, como
que deve ou não ser examinado e construído. instrumentação interpretativa e condição de criatividade;
Em seu aspecto cognitivo, o conceito é delimitador. Por - investir na consciência crítica, que se alimenta de
exemplo, se decidimos analisar a influência da AIDS no alternativas explicativas, do vaivém entre teoria e prática, dos
comportamento de adolescentes do sexo feminino de uma limites de cada teoria.
escola X, turma Y, eliminamos todas as outras possibilidades.
- Pesquisa metodológica:
Enquanto valorativos, os conceitos determinam com que Nela predomina a expectativa de que método se aprende,
conotações o pesquisador vai trabalhar. Ou seja, que corrente não cria-se. E um modelo pronto, é comum constatar, que na
teórica adotará na interpretação do comportamento pesquisa metodológica todo cientista criativo e produtivo
adolescente e da AIDS, por exemplo. marca sua presença no mundo científico não só pela teoria e
Na sua função pragmática, o conceito tem que ser por vezes pela discussão metodológica. Preocupa-se com o
operativo, ou seja, ser capaz de permitir ao investigador método, pois é sinal de competência, no mínimo de bom nível.
trabalhar com ele no campo. Teoria coloca a discussão sobre concepções de realidade.
Por fim, no seu caráter comunicativo, o conceito deve ser Método é instrumento, caminho, procedimento, e por isso
de tal forma claro, específico e abrangente que permita sua nunca vem antes de concepção de realidade. É a metodologia
compreensão pelos interlocutores participantes da mesma que coloca mais propriamente a pretensão cientifica e seu
área de interesse. domínio define na prática quem é ou não cientista.
A pesquisa metodológica é um dos horizontes estratégicos
A pesquisa, portanto, é uma importante atividade de da pesquisa, que não se restringe a “decorar”. Alcança a
professores e alunos nas instituições de ensino superior, em capacidade de discutir criativamente caminhos alternativos
especial, nas instituições universitárias de ensino superior. para a ciência e mesmo de cria-los, um exemplo recente é a
Embora, no Brasil, ela se concretize mais nas instituições pesquisa participante, que além de recolocar a questão da
públicas do que nas instituições privadas, a pesquisa é teoria e da prática, apresenta ofensiva forte na linha de refazer
considerada uma das principais funções sociais do ensino caminhos científicos. Alguns tópicos da pesquisa metodológica
superior. Isso porque entendemos que o ensino superior e a podem ser:

Texto adaptado de NUNES, S. G. Pesquisa e Tecnologia: Desafio constante na Capacitação e Formação do Professor

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dos dados pesquisados, (dialogar não impor conhecimento)


- discussão crítica das metodologias em uso: dialéticas, argumentar, criar espaços ainda para defesa de pensamento
positivismos, estruturalismos, empirismos, positivismos, assim como a crítica e a autocrítica, são meios para uma
estruturalismos, sistemismos: formação de procedimentos desenvolvendo atitudes
- propostas de metodologias alternativas: pesquisa consciente e contributiva para nossa sociedade.
participante, avaliação qualitativa, hermenêutica; Não há só uma necessidade de atualização pedagógica
- capacidade de conferir de uma teoria a concepção como também a de revisitar velhos paradigmas
cientifica subjacente, garimpando nas linhas e nas entrelinhas a contextualizando-os a nossa realidade. Uma realidade
postura metodológicas; sociocultural que não só respeite e valorize o indivíduo como
- capacidade de detectar o fundo ideológico das produções dê condições, para ações de transformação no meio em que
cientificas, já que são condicionadas também socialmente, do vive.
que se pode conferir a concepção de ciência e de método; A escola tem que, deixar de lado seu tradicional depósito
- formação crítica e emancipatória de espaço próprio; de conteúdo e humanizar-se, valorizando os conhecimentos
- discussão do lugar da ciência na sociedade, que, como juntando ideias novas, permitindo a troca de conhecimentos,
técnica, tem sido tática de lucro e opressão. só assim se tornará um espaço incentivador, inovador e
emancipador.
- Pesquisa prática:
Outro horizonte da pesquisa é a prática, por mais que as Professor pesquisador35
ciências sociais, contraditórias, possam estranhar tal postura. Como podemos definir professor? E pesquisador?
Por caminhos surpreendentes, as ciências sociais que tratam a Lima define o professor como aquele profissional que
práxis social histórica, tornaram-se ou produto tipicamente ministra, relaciona ou instrumentaliza os alunos para as aulas
teórico, ou cópia teórica. ou cursos em todos os níveis educacionais, segundo
Teoria e prática detêm a mesma relevância científica e concepções que regem esse profissional da educação e o
constitui no fundo um todo só. Uma não substitui a outra e pesquisador. O professor pesquisador é aquele que exerce a
cada qual tem sua lógica. Não se pode realizar prática criativa atividade de buscar reunir informações sobre um determinado
sem retorno constante à teoria, bem como não se pode problema ou assunto e analisá-las, utilizando para isso o
fecundar a teoria sem conforto com a prática. método científico com o objetivo de aumentar o conhecimento
A pesquisa prática que nunca pode ser bem-feita sem de determinado assunto, descobrir algo novo ou refutar
teoria, método e empírica, é modo de produção de conjecturas anteriores.
conhecimento, que possui ainda a vantagem de puxar para o
cotidiano a ciência. Pode resvalar facilmente para o senso Então o que seria professor-pesquisador?
comum, mas pode adquirir tonalidades muito criativas da Ainda para esse autor, professor pesquisador seria aquele
sabedoria e do bom senso. Pesquisa prática não significa professor que parte de questões relativas a sua prática com o
apenas a noção de aplicabilidade concreta, porque seria objetivo de aprimorá-la.
irônica uma teoria não-aplicável, mas sobretudo a prática A pesquisa acadêmica visa a originalidade, validade e
como parte integrante do processo cientifico como tal. aceitação através da comunidade científica. O professor
Consequência disso será que prática deve ser estritamente quando pesquisa visa o conhecimento da realidade, buscando
curricular, não fazendo sentido a noção truncada de estágio. a melhoria das suas práticas pedagógicas. Quanto ao rigor o
Pesquisa prática quer dizer “olhos abertos” para realidade, professor pesquisa sua própria prática e encontra-se
tomando-a como mestra de nossas concepções. Quem é envolvido com seu objeto de pesquisa.
inteligente sempre aprende, porque está em atitude de Nas áreas da pesquisa em Ciências, como por exemplo a
pesquisa. Matemática, contribui-se com a estrutura teórica, causando
um aumento no corpo de conhecimentos existentes, através de
- Pesquisa participante: novos teoremas.
É talvez a proposta mais ostensiva de valorização da Alguns estudiosos entendem que o ato de ensinar é
prática como fonte de conhecimento, apesar de suas diferente do ato de pesquisar. Para os estudiosos que
banalizações típicas. Defende a eliminação da separação entre defendem essa corrente, a formação desses profissionais
sujeito e objeto, tentando estabelecer relação dialogal de volta-se para o desenvolvimento de competências compatíveis
influência mútua, teórica e prática. Conhecimento adquire a com o exercício de cada uma dessas funções.
dimensão de autoconhecimento, aparecendo logo a Para saber o caminho que deve seguir com suas pesquisas,
importância da formação da consciência crítica como primeiro o professor precisa ser reflexivo, tendo em vista que somente
passo de toda proposta emancipatória. Todo conhecimento refletindo ele poderá avaliar se tem ou não condições de
vindo da prática necessita de elaboração teórica, mas não é modificar seus atos, fazendo jus a responsabilidade que lhe
menos verdadeira a postura contrária. fora imposta.
Segundo Demo34, na proposta de pesquisa o professor Pensando nisso, aparece a figura do professor reflexivo,
deve orientar o aluno. Apesar de muitos professores não que reconstrói suas práticas e saberes, pois é capaz de
estarem preparados, para assumir essa postura de examinar sua prática, reconhecendo os problemas e criando,
orientadores, muitos não se sentem incentivados e deixam de logo em seguida, as hipóteses, seus valores, participando de
lado a importância do compromisso de ensinar a metodologia desenvolvimento curricular, fortalecendo seu grupo.
de orientação aos futuros professores, para que eles possam
viabilizar sua postura de orientadores, além de ter capacidade Engana-se quem pensa que o professor só deve refletir
de ensinar o aluno a aprender. antes da ação, a reflexão deve ocorrer constantemente, seja
A estrutura da escola de hoje não dá margem a inovação e antes, durante ou depois do seu próprio agir – reflexão ação -
emancipações do aluno, há uma necessidade de atualização Muitos estudiosos gostam de separar e dar distinções
pedagógica contínua, na qual o professor seja incentivado e diversas ao professor pesquisador e o professor reflexivo,
incentive seu aluno, proporcionando a criação de um espaço contudo, embora sejam usados dois tipos de professor,
de discussão, construção coletiva e individual através de coleta podemos entender que todos correspondem ao mesmo. Basta

34 Demo, Pedro. Pesquisa: Princípio científico e educativo. 9ª ed. São Paulo: 35 Texto adaptado de BACKES, L. H. Professor pesquisador.
Cortez, 2002

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pensarmos que o professor pesquisador é aquele que pesquisa em conhecimentos existentes, produzem novos
ou reflete sobre sua prática. conhecimentos.38
É preciso desmistificar a educação formada apenas na base Pelo primeiro sentido, o trabalho é princípio educativo à
em um tipo de pesquisa, permitindo com que o conhecimento medida que proporciona a compreensão do processo histórico
e pesquisa de outros alunos sejam usados a favor da formação de produção científica e tecnológica, como conhecimentos
e docência dos professores. desenvolvidos e apropriados socialmente para a
transformação das condições naturais da vida e a ampliação
Trabalho como princípio educativo36,37 das capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos.
A concepção do trabalho como princípio educativo é a base O trabalho, no sentido ontológico, é princípio e organiza a base
para a organização e desenvolvimento curricular em seus unitária.
objetivos conteúdos e métodos. Pelo segundo sentido, o trabalho é princípio educativo na
Compreender a relação indissociável entre trabalho, medida em que coloca exigências específicas para o processo
ciência, tecnologia e cultura significa entender o trabalho educacional, visando a participação direta dos membros da
como princípio educativo, o que não significa aprender sociedade no trabalho socialmente produtivo. Com este
fazendo, nem é sinônimo de formar para o exercício do sentido, conquanto também organize a base unitária do ensino
trabalho. Considerar o trabalho como princípio educativo médio, fundamenta e justifica a formação específica para o
equivale dizer que o ser humano é produtor de sua realidade exercício de profissões, essas entendidas como uma forma
e, por isto, se apropria dela e pode transformá-la. Equivale contratual socialmente reconhecida, do processo de compra e
dizer, ainda, que nós somos sujeitos de nossa história e de venda da força de trabalho. Como razão da formação
nossa realidade. Em síntese, o trabalho é a primeira mediação específica, o trabalho aqui se configura também como
entre o homem e a realidade material e social. contexto. Se pela formação geral as pessoas adquirem
O trabalho também se constitui como prática econômica, conhecimentos que permitam compreender a realidade, na
obviamente porque nós garantimos nossa existência, formação profissional o conhecimento científico adquire, para
produzindo riquezas e satisfazendo necessidades. Na o trabalhador, o sentido de força produtiva, traduzindo-se em
sociedade moderna a relação econômica vai se tornando técnicas e procedimentos, a partir da compreensão dos
fundamento da profissionalização. Mas sob a perspectiva da conceitos científicos e tecnológicos básicos que o
integração entre trabalho, ciência e cultura, a possibilitarão à atuação autônoma e consciente na dinâmica
profissionalização se opõe à redução da formação para o econômica da sociedade.
mercado de trabalho. Antes, ela incorpora valores éticos- Por fim, a concepção de cultura que embasa a síntese entre
políticos e conteúdos históricos e científicos que caracterizam formação geral e formação específica a compreende como as
a práxis humana. diferentes formas de criação da sociedade, de tal forma que o
Portanto, a educação profissional não é meramente conhecimento característico de um tempo histórico e de um
ensinar a fazer e preparar para o mercado de trabalho, mas é grupo social traz a marca das razões, dos problemas e das
proporcionar a compreensão das dinâmicas sócio produtivas dúvidas que motivaram o avanço do conhecimento numa
das sociedades modernas, com as suas conquistas e os seus sociedade. Esta é a base do historicismo como método39, que
revezes, e também habilitar as pessoas para o exercício ajuda a superar o enciclopedismo – quando conceitos
autônomo e crítico de profissões, sem nunca se esgotar a elas. históricos são transformados em dogmas – e o espontaneísmo,
Apresentados esses pressupostos, defendemos que o forma acrítica de apropriação dos fenômenos que não
projeto unitário de educação profissional não elide as ultrapassa o senso comum.
singularidades dos grupos sociais, mas se constitui como Em um projeto unitário, ao mesmo tempo em que o
síntese do diverso, tem o trabalho como o primeiro trabalho se configura como princípio educativo – condensando
fundamento da educação como prática social. Além do sentido em si as concepções de ciência e cultura –, também se constitui
ontológico do trabalho, a partir das finalidades atribuídas pela como contexto econômico (o mundo do trabalho) que justifica
LDB ao ensino médio, em particular na sua forma de oferta a formação específica para atividades diretamente produtivas.
com a educação profissional, nesta etapa da educação básica Do ponto de vista organizacional, essa relação deve
toma especial importância seu sentido histórico. É onde se integrar em um mesmo currículo a formação plena do
explicita mais claramente o modo como o saber se relaciona educando, possibilitando construções intelectuais elevadas; a
com o processo de trabalho, convertendo-se em força apropriação de conceitos necessários para a intervenção
produtiva. Ressalta-se, neste caso, o trabalho também como consciente na realidade e a compreensão do processo histórico
categoria econômica, a partir do qual se justificam projetos de construção do conhecimento.
que incorporem a formação específica para o trabalho. Com isto queremos erigir a escola ativa e criadora
Na base da construção de um projeto de formação – que organicamente identificada com o dinamismo social da classe
enquanto reconhece e valoriza o diverso, supera a dualidade trabalhadora. Como nos diz Gramsci, essa identidade orgânica
histórica entre formação básica e formação profissional – está é construída a partir de um princípio educativo que unifique,
a compreensão do trabalho no seu duplo sentido: na pedagogia, éthos, logos e técnos, tanto no plano
a) ontológico, como práxis humana e, então, como a forma metodológico quanto no epistemológico. Isso porque esse
pela qual o homem produz sua própria existência na relação projeto materializa, no processo de formação humana, o
com a natureza e com os outros homens e, assim, produz entrelaçamento entre trabalho, ciência e cultura, revelando
conhecimentos; um movimento permanente de inovação do mundo material e
b) histórico, que no sistema capitalista se transforma em social.
trabalho assalariado ou fator econômico, forma específica da Quando se fala em trabalho como princípio educativo,
produção da existência humana sob o capitalismo; portanto, adentra-se no campo econômico, social, histórico, fazendo com
como categoria econômica e práxis produtiva que, baseadas que o trabalho seja visto pelos sentidos ontológico e histórico.

36 Texto adaptado de MOURA, D. H. Algumas Possibilidades de Organização 38 LUKÁCS, G. As bases ontológicas do pensamento e da atividade do homem.

do Ensino Médio a Partir de uma Base Unitária: Trabalho, Ciência, Tecnologia e Temas de Ciências Humanas. São Paulo, Ciências Humanas, nº 4, 1978, p. 1-18.
Cultura. 39GRAMSCI, A. Os intelectuais e a organização da cultura. 8.ed., Rio de Janeiro:
37http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download Civilização Brasileira, 1991.
&alias=6695-dcn-paraeducacao-profissional-debate&category_slug=setembro-
2010-pdf&Itemid=30192

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 122


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No campo ontológico, quando o trabalho é considerado técnico-científica (ou funcionalista), a autogestionária e a


como princípio educativo, ele é compreendido como a democrático-participativa.
existência humana. Assim, podemos dizer que seja a busca da A concepção técnico científica baseia-se na hierarquia de
própria existência que o homem gera conhecimentos, que são cargos e funções visando a racionalização do trabalho, a
considerados históricos e culturais. eficiência dos serviços escolares. Tende a seguir princípios e
O trabalho também é princípio educativo em seu sentido métodos da administração empresarial. Algumas
histórico, através dos variados significados que o trabalho vem características desse modelo são:
assumindo nas sociedades humanas. Com isso permite-se
compreender que no sistema capitalista, o trabalho se - Prescrição detalhada de funções, acentuando-se a divisão
transforma em trabalho assalariado ou fator econômico, técnica do trabalho escolar (tarefas especializadas).
capazes de auxiliar a produzir novos conhecimentos. - Poder centralizado do diretor, destacando-se as relações de
O trabalho é ainda uma obrigação coletiva, já que é a partir subordinação em que uns têm mais autoridades do que outros.
da produção de todos que se produz e se transforma a - Ênfase na administração (sistema de normas, regras,
existência humana, não sendo justo que muitos trabalhem procedimentos burocráticos de controle das atividades), às
para que poucos enriqueçam. Pior ainda é que muitos sequer vezes descuidando-se dos objetivos específicos da instituição
podem ou conseguem trabalhar. escolar.
- Comunicação linear (de cima para baixo), baseada em
Organização e trabalho na educação40 normas e regras.
O estudo da educação como organização de trabalho não é - Maior ênfase nas tarefas do que nas pessoas.
novo, há toda uma pesquisa sobre administração educacional
que remonta aos pioneiros da educação nova, nos anos 30. Atualmente, esta concepção também é conhecida como
Esses estudos se deram no âmbito da Administração gestão da qualidade total. A concepção autogestionária baseia-
Educacional e, frequentemente, estiveram marcados por uma se na responsabilidade coletiva, ausência de direção
concepção burocrática, funcionalista, aproximando a centralizada e acentuação da participação direta e por igual de
organização escolar da organização empresarial. Tais estudos todos os membros da instituição. Outras características:
eram identificados com o campo de conhecimentos
denominado Administração e Organização Escolar ou, - Ênfase nas inter-relações mais do que nas tarefas.
simplesmente Administração Escolar. Nos anos 80, com as - Decisões coletivas (assembleias, reuniões), eliminação de
discussões sobre reforma curricular dos cursos de Pedagogia todas as formas de exercício de autoridade e poder.
e de Licenciaturas, a disciplina passou em muitos lugares a ser - Vínculo das formas de gestão interna com as formas de
denominada de Organização do Trabalho Pedagógico ou auto-gestão social (poder coletivo na escola para preparar
Organização do Trabalho Escolar, adotando um enfoque formas de auto-gestão no plano político).
crítico, frequentemente restringido a uma análise crítica da - Ênfase na auto-organização do grupo de pessoas da
escola dentro da organização do trabalho no Capitalismo. instituição, por meio de eleições e alternância no exercício de
Houve pouca preocupação, com algumas exceções, com os funções.
aspectos propriamente organizacionais e técnico- - Recusa a normas e sistemas de controle, acentuando-se a
administrativos da escola. responsabilidade coletiva.
É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, um - Crença no poder instituinte da instituição (vivência da
enfoque científico-racional e um enfoque crítico, de cunho experiência democrática no seio da instituição para expandi-la
sócio-político. Não é difícil aos futuros professores fazerem à sociedade) e recusa de todo o poder instituído. O caráter
distinção entre essas duas concepções de organização e gestão instituinte se dá pela prática da participação e auto-gestão,
da escola. No primeiro enfoque, a organização escolar é modos pelos quais se contesta o poder instituído.
tomada como uma realidade objetiva, neutra, técnica, que
funciona racionalmente; portanto, pode ser planejada, A concepção democrática-participativa baseia-se na
organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices relação orgânica entre a direção e a participação do pessoal da
de eficácia e eficiência. As escolas que operam nesse modelo escola. Acentua a importância da busca de objetivos comuns
dão muito peso à estrutura organizacional: organograma de assumidos por todos. Defende uma forma coletiva de gestão
cargos e funções, hierarquia de funções, normas e em que as decisões são tomadas coletivamente e discutidas
regulamentos, centralização das decisões, baixo grau de publicamente. Entretanto, uma vez tomadas as decisões
participação das pessoas que trabalham na organização, coletivamente, advoga que cada membro da equipe assuma a
planos de ação feitos de cima para baixo. Este é o modelo mais sua parte no trabalho, admitindo-se a coordenação e avaliação
comum de funcionamento da organização escolar. sistemática da operacionalização das decisões tomada dentro
O segundo enfoque vê a organização escolar basicamente de uma tal diferenciação de funções e saberes. Outras
como um sistema que agrega pessoas, importando bastante a características desse modelo:
intencionalidade e as interações sociais que acontecem entre
elas, o contexto sócio-político etc. A organização escolar não - Definição explícita de objetos sócio-políticos e pedagógicos
seria uma coisa totalmente objetiva e funcional, um elemento da escola, pela equipe escolar.
neutro a ser observado, mas uma construção social levada a - Articulação entre a atividade de direção e a iniciativa e
efeito pelos professores, alunos, pais e integrantes da participação das pessoas da escola e das que se relacionam com
comunidade próxima. Além disso, não seria caracterizado pelo ela.
seu papel no mercado mas pelo interesse público. A visão - A gestão é participativa mas espera-se, também, a gestão
crítica da escola resulta em diferentes formas de viabilização da participação.
da gestão democrática, conforme veremos em seguida. - Qualificação e competência profissional.
Com base nos estudos existentes no Brasil sobre a - Busca de objetividade no trato das questões da
organização e gestão escolar e nas experiências levadas a organização e gestão, mediante coleta de informações reais.
efeito nos últimos anos, é possível apresentar, de forma
esquemática, três das concepções de organização e gestão: a

40 Texto adaptado de LIBÂNEO, José Carlos. “O sistema de organização e

gestão da escola” In: LIBÂNEO, José Carlos. Organização e Gestão da Escola - teoria
e prática. 4ª ed. Goiânia: Alternativa, 2001.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 123


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- Acompanhamento e avaliação sistemáticos com finalidade Estão corretas as afirmativas:


pedagógica: diagnóstico, acompanhamento dos trabalhos, (A) I, II e III;
reorientação dos rumos e ações, tomada de decisões. (B) I, III e IV;
- Todos dirigem e são dirigidos, todos avaliam e são (C) II, III e V;
avaliados. (D) I, IV e V;

Atualmente, o modelo democrático-participativo tem sido 02. Com relação à pesquisa metodológica, julgue o item
influenciado por uma corrente teórica que compreende a abaixo:
organização escolar como cultura. Esta corrente afirma que a É um modelo pronto, onde constata-se, que na pesquisa
escola não é uma estrutura totalmente objetiva, mensurável, metodológica todo cientista criativo e produtivo marca sua
independente das pessoas, ao contrário, ela depende muito presença no mundo científico não só pela teoria e por vezes
das experiências subjetivas das pessoas e de suas interações pela discussão metodológica.
sociais, ou seja, dos significados que as pessoas dão às coisas ( ) Certo ( ) Errado
enquanto significados socialmente produzidos e mantidos. Em
outras palavras, dizer que a organização é uma cultura 03. Quanto à estrutura organizacional, constata-se que:
significa que ela é construída pelos seus próprios membros. Toda a instituição escolar necessita de uma estrutura de
Esta maneira de ver a organização escolar não exclui a organização externa, geralmente prevista no Regimento
presença de elementos objetivos, tais como as ferramentas de Escolar ou em legislação específica estadual ou municipal.
poder externas e internas, a estrutura organizacional, e os ( ) Certo ( ) Errado
próprios objetivos sociais e culturais definidos pela sociedade
e pelo Estado. Uma visão sócio crítica propõe considerar dois 04. O atual modelo democrático-participativo tem sido
aspectos interligados: por um lado, compreende que a influenciado por uma corrente teórica que compreende a
organização é uma construção social, a partir da Inteligência organização escolar como cultura, construída pelos seus
subjetiva e cultural das pessoas, por outro, que essa próprios membros.
construção não é um processo livre e voluntário, mas ( ) Certo ( ) Errado
mediatizado pela realidade sociocultural e política mais ampla,
incluindo a influência de forças externas e internas marcadas Respostas
por interesses de grupos sociais, sempre contraditórios e às
vezes conflitivos. Busca relações solidárias, formas 01. B. / 02. Certo. / 03. Errado. / 04. Certo.
participativas, mas também valoriza os elementos internos do
processo organizacional- o planejamento, a organização e a
gestão, a direção, a avaliação, as responsabilidades individuais Função histórica e social da
dos membros da equipe e a ação organizacional coordenada e
supervisionada, já que precisa atender a objetivos sociais e escola: a escola como campo
políticos muito claros, em relação à escolarização da de relações (espaços de
população. diferenças, contradições e
As concepções de gestão escolar refletem portanto,
posições políticas e concepções de homem e sociedade. O conflitos), para o exercício e a
modo como uma escola se organiza e se estrutura tem um formação da cidadania,
caráter pedagógico, ou seja, depende de objetivos mais amplos difusão e construção do
sobre a relação da escola com a conservação ou a
transformação social. A concepção funcionalista, por exemplo, conhecimento.
valoriza o poder e a autoridade, exercidas unilateralmente.
Enfatizando relações de subordinação, determinações rígidas
de funções, hipervalorizando a racionalização do trabalho, Educação – Função Social
tende a retirar ou, ao menos, diminuir nas pessoas a faculdade
de pensar e decidir sobre seu trabalho. Com isso, o grau de Introdução
envolvimento profissional fica enfraquecido. Estamos vivendo um momento de profundas
As duas outras concepções valorizam o trabalho coletivo, transformações. A sociedade atual encontra-se em profunda
implicando a participação de todos nas decisões. Embora crise, na qual somos remetidos a repensar nossos valores e
ambas tenham entendimentos das relações de poder dentro da atitudes frente ao conceito de educação.
escola, concebem a participação de todos nas decisões como A educação faz parte da nossa vida, ninguém está isento
importante ingrediente para a criação e desenvolvimento das dela, estamos envolvidos para aprender e ensinar, e a escola
relações democráticas e solidárias. Adotamos, neste livro, a surge como instituição formadora de indivíduos.
concepção democrático-participativa. Para que essa transformação social ocorra é necessário
que a escola impõe o conhecimento, nesse caso a educação é e
Questões sempre foi um duplo processo, que significa a atividade
desempenhada pelos adultos para assegurar a vida e o
01. (Prefeitura de Teresópolis/RJ – Pedagogia - desenvolvimento de gerações futuras, e para despertar e fazer
BIORIO) Por gestão participativa entende-se: crescer as suas habilidades, e nesse caso a escola é vista como
I - envolvimento de todos que fazem parte direta ou uma instituição, ou seja, um conjunto de normas e
indiretamente no processo educacional; procedimentos padronizados, e valorizados pela sociedade,
II - compartilhamento na solução de problemas e nas cujo objetivo principal é a socialização do indivíduo e a
tomadas de decisão do diretor escolar; transmissão de determinados aspectos da cultura.
III - implementação, monitoramento e avaliação dos
resultados; Reflexões sobre o papel da educação
IV - estabelecimento de objetivos claros e democráticos; Há muitas reflexões importantes a fazer, quando se fala no
V - visão de conjunto associada a uma posição hierárquica. conceito de educação para a sociedade. Começa na inserção da
escola na comunidade, com formação de espíritos críticos, o
envolvimento da escola nos projetos de transformação social,

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a aproximação entre teorias e práticas, entre ideias e A educação e sua função social
realidades, entre o conhecimento e a existência real do Mudanças legais – Uma nova realidade
estudante, entre educação e vida, que evidenciam a urgente Ao delimitar a função da educação e da escola como
necessidade de repensar várias coisas relacionadas a complexas, amplas, diversificadas, ampliam a necessidade de
educação. dedicação exclusivamente por parte do professor, de
Diante tais situações, são muitas as vozes que reivindicam acompanhar as mudanças que se processam no campo de
a importância da educação para enfrentar os desafios. Em todo trabalho, atualizando o seu currículo e sua metodologia.
mundo, a educação hoje é uma prioridade nos programas de Para dar sustentação às contínuas evoluções, a educação
quase todos os partidos políticos. De fato, umas das principais precisa ressaltar um ensino que crie conexão entre o que o
funções da escola sempre foi a de preparar as novas aluno aprende nela e o que ele faz fora dela, há um parâmetro
gerações para as mudanças e garantir uma melhor entre o ensino formal, o trabalho, o conhecimento e a na vida
inserção no mundo profissional e no mercado de trabalho. prática do aluno.
Devemos perguntar o que significa hoje pedir mais Buscando a solucionar essas lacunas, o Poder Público tem
educação. Por um lado, essas mudanças introduzidas pela buscado alternativas de reforma do sistema ensino, criando e
sociedade da informação e do conhecimento fazem que aprovando leis, como: Lei de Diretrizes e Bases da Educação
tenhamos de rever o significado atual do conceito de educação, – LDB – n. 9.394/96, que institui o Fundo de Manutenção e
pois em nenhum caso as formas de transmissão e de criação Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização
do conhecimento serão as mesmas. do Magistério – FUNDEF – Lei n. 9.424/96 e o Plano
As mudanças ocorridas no âmbito político, científico e Nacional de Educação (PNE). É importante reconhecer o
tecnológico não parecem trazer uma sociedade mais justa e papel da legislação tem exercido no cenário brasileiro, seja no
solidária, pelo contrário, introduzimos novas formas de sentido de promover reformas necessárias ou de implantar a
desigualdade e de injustiça, que fazem aumentar a pobreza, a profissionalização da educação básica. Mas a reflexão sobre a
marginalização e a exclusão. Diante de tal fato, devemos função social da escola, não pode ser vista somente com base
repensar essa frase “a educação para todos durante toda a na legislação, isto porque nela estão definidos os fins da
vida”, está bem longe de ser realidade num mundo que educação brasileira.
20%(vinte por cento) das crianças entre 6 a 11 anos estão fora O direito de todos à educação está estabelecido na
das escolas, mesmos nos países desenvolvidos. Podem refletir Constituição Federal no artigo 205 e no artigo 2 da Lei de
em fenômenos derivados da negação da diferença, em Diretrizes e Bases da Educação – LDB – n. 9.394/96:
forma de guerra, xenofobia e violência, demonstrando que Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da
existe uma importante crise ética e moral. Por tudo isso, é família, será promovida e incentivada com a colaboração da
preciso que deixemos de pensar na educação exclusivamente sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu
a partir dos parâmetros econômicos e produtivos e passamos preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o
a uma concepção da educação que cultive, sobretudo em trabalho.
valores de cidadania democrática, conforme a resolução da Art. 2º. A educação, dever da família e do Estado, inspirada
Unesco41: nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade
humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
“Aprender a ser, a formação de uma cidadania criativa, educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
capaz de transformar a informação em conhecimentos qualificação para o trabalho.
que, a partir da diferença, afirme o respeito e a De acordo como o artigo 12 da LDB, os seguintes
valorização do próximo, para, dessa forma, projetarem parâmetros:
juntos um futuro comum de convivência ativa e Artigo 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as
participativa na vida democrática, como lugar normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a
privilegiado para consensuar objetivos que conciliem os incumbência de:
legítimos interesses individuais como os coletivo.” VI - articular-se com as famílias e a comunidade,
criando processos de integração da sociedade com a escola;
Muitos anos, a escola e a família foram as duas instituições Portanto, conforme previsto em lei, o papel da escola é de
encarregadas da educação e da formação das novas gerações, promover o pleno desenvolvimento do educando e
mas hoje isso é impossível de afirmar. A família está passando preparar para a cidadania, qualificando-o para o trabalho,
por grandes transformações e muitas vezes, delega sua função conforme cada características e formas de organização
educativa tradicional para outros agentes, como a televisão ou própria, dependendo de sua localização geográfica e outros
a própria escola. Por um lado, a escola não pode enfrentar aspectos.
sozinha todos os desafios apresentados pela nova sociedade
da informação. A função do professor
A crise nas escolas agravam, como também aumentam as Nos dias atuais levam-nos a refletir sobre a complexidade
sensações de desvalorizações sociais aos professores. Nos das funções entre uma boa ou péssima administração da
dias atuais, a influência educativa é exercida a partir de vários educação e as políticas de formação dos profissionais.
âmbitos, a tais como a família, trabalho, sociedade, associações No contexto das transformações que vêm ocorrendo no
etc., e por diferentes meios, televisão, multimídia e as vezes mundo, os desafios das políticas de formação dos profissionais
que opõem às propostas educativas. da educação. O professor, exerce sua função enquanto
Considerando, todas essas mudanças dentro do contexto educador, ao estimular o educando a refletir sobre os cuidados
histórico, visando a sua transformação, pois se compreende com a saúde, natureza, as questões da sociedade, entre outros,
que a realidade não é algo pronto e acabado, não se trata, no a consciência do que seja participante dessa sociedade, sendo
entanto, de atribuir à educação e a escola nenhuma função de aspecto importante ao exercício da democracia, isso se torna
salvação e sim de reconhecer seu incontestável papel social no mais fácil, facilitar a aprendizagem do aluno, aguçar seu poder
desenvolvimento de processos educativos, na sistematização e de argumentação, conduzir ás aulas de modo questionador,
socialização da cultura historicamente produzida pelos onde o aluno- sujeito ativo estará também exercendo seu papel
homens. de sujeito pensante; que dá ótica construtivista constrói seu
aprendizado, através de hipóteses que vão sendo testadas,

41 UNESCO. Disponível em: <http://unesdoc.unesco.org

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interagindo com o professor, argumentando, questionando em com objetivo explícito, através do desenvolvimento das
fim trocando ideias que produzem inferências. potencialidades físicas, cognitivas e afetivas dos alunos,
O papel da família nesse contexto, está ligado ao nível capacitando-o a tornar um cidadão, participativo na sociedade
social e educacional, que a escola oferece através da em que vivem, tendo como função básica de garantir a
socialização. O professor surge como agente de socialização, aprendizagem de conhecimento, habilidades e valores
significando o elo entre a família e a sociedade. Pois são necessários à socialização do indivíduo, sendo necessário
construídos a partir do desenvolvimento da moralidade, os que a escola propicie o domínio dos conteúdos culturais
hábitos e responsabilidade social, devido uma situação de básicos da leitura, da escrita, da ciência das artes e das letras,
mudança e de resultados das convivências familiares, em um sem estas aprendizagens dificilmente o aluno poderá exercer
meio que o estimula ou impede. seus direitos de cidadania.
Para o sucesso cognitivo do aluno e êxito no Neste sentido a escola por ser uma instituição que
desenvolvimento do trabalho do professor, o planejamento é transmite o saber, essa função de formar cidadãos para atuar
como uma bússola que orienta a direção a ser seguida, pois na sociedade, deve contribuir para a mudança de uma
quando o professor não planeja o aluno é o primeiro a sociedade desigual, injusta. A escola deve dar condições, para
perceber que algo ficou a desejar, por mais experiente que seja preparar o indivíduo na construção sólida da sua identidade,
o docente, e esse é um dos fatores que contribuem para a inserindo valores e pressupostos que possa fazer com que o
indisciplina e o desinteresse na sala de aula. mesmo conviva em sociedade e na sociedade com autonomia,
É importante que o planejar aconteça de forma solidariedade, capacidade de transformação e ética.
sistematizada e contextualizado com o cotidiano do aluno, A escola deve oferecer situações que favoreçam o
para desperta seu interesse e participar ativamente no aprendizado, onde haja sede em aprender e também razão,
resultado, que será aulas dinâmicas e prazerosas. entendimento da importância desse aprendizado no futuro do
Para que a escola exerça sua função como local de aluno. Se ele compreender que, muito mais importante do que
oportunidades, interação e de encontro e o saber, para que possuir bens materiais, é ter uma fonte de segurança que
haja esse paralelo tão importante para o sucesso do aluno o garanta seu espaço no mercado competitivo, ele buscará
bom desenvolvimento das atribuições do coordenador conhecer e aprender sempre mais. E para o sociólogo francês
pedagógico tem grande relevância, pois a ele cabe organizar o Émile Durkheim, a principal função do professor é formar
tempo na escola para que os professores façam seus cidadãos capazes de contribuir para a harmonia social. Dessa
planejamentos e ainda que atue como formador de fato. forma, Durkheim acreditava que a sociedade seria mais
Conforme que ensina Libâneo42, as características beneficiada pelo processo educativo. Para ele, "a educação é
positivas eficazes para o bom funcionamento de uma escola: uma socialização da jovem geração pela geração adulta". E
professores preparados, com clareza de seus objetivos e quanto mais eficiente for o processo, melhor será o
conteúdos, que planejem as aulas, cativem os alunos, através desenvolvimento da comunidade em que a escola esteja
de um bom clima de trabalho, em que a direção contribua para inserida.
conseguir o empenho de todos, em que os professores aceitem Assim, a função social da educação e da escola tem como
aprender com a experiência dos colegas. objetivo de incluir o indivíduo ao saber histórico, ao
Os coordenadores por sua vez precisam assumir sua conhecimento científico, de forma eficaz e com qualidade,
responsabilidade pela qualidade do ensino, atuando como também cumpre com sua função social de preparar o sujeito
formadores do corpo docente, promovendo momentos de para o trabalho, o pleno exercício da cidadania e seu
trocas de experiências e reflexão sobre a prática pedagógica, o desenvolvimento de pessoas solidárias, cooperativas,
que trará bons resultados na resolução de problemas autônomas, capazes de conviver com as diferenças, precisa ser
cotidianos, e ainda fortalece a qualidade de ensino, contribui um espaço de socialização, que possibilite a construção do
para o resgate da auto-estima do professor, pois o mesmo conhecimento, tendo em vista que esse conhecimento não é
precisa se libertar de práticas não funcionais, e para isso a dado a priori. Pois, trata-se de conhecimento vivo e que se
contribuição do coordenador será imprescindível, o que caracteriza como processo em construção.
resultará no crescimento intelectual dos alunos.
Essa clareza no plano de trabalho do Projeto pedagógico- E o papel da educação num contexto democrático, está
curricular que vá de encontro às reais necessidades da escola, previsto no artigo 3º da LDB:
para sanar problemas como: falta de professores, Artigo 3º. O ensino será ministrado com base nos seguintes
cumprimento de horário e atitudes que assegurem a princípios:
seriedade, o compromisso com o trabalho de ensino e XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as
aprendizagem, com relação a alunos e funcionários e seu práticas sociais.
profissionalismo conquista o respeito e admiração da maioria As políticas que fortaleçam laços entre comunidade e
de seus funcionários e alunos, há um clima de harmonia que escola é uma medida, um caminho que necessita ser trilhado,
predispõe a realização de um trabalho, onde, apesar das para assim alcançar melhores resultados. O aluno é parte da
dificuldades, os professores terão prazer em ensinar e alunos escola, é sujeito que aprende, que constrói seu saber, que
prazer em aprender. direciona seu projeto de vida, assim sendo a escola lida com
A escola enquanto espaço de reflexões sobre a pessoas, valores, tradições, crenças, opções e precisa estar
comunidade, passa a reconstruir alguns elementos de preparada para enfrentar tudo isso.
desenvolvimento de uma escola para a formação da cidadania,
precisa formar profissionais que conheçam quais as funções Ao analisarmos toda esta conjuntura verificamos que,
sociais da escola brasileira em diferentes momentos, para que apesar da tendência para limitar a educação ao contexto
em seguida possa discutir a função pedagógica, política e do escolar e familiar, trabalho e as práticas sociais, a educação
trabalho em relação à escola cidadã. assume um sentido muito mais amplo e complexo. Não se
reduz apenas a uma etapa, mas trata-se sim de um processo
A função social gradual e contínuo, vivido ao longo da vida, que promove a
Ao se falar em educação devemos estar atentos ao contexto consciencialização, desenvolvimento e libertação do ser
social ao qual a escola se configura. É uma instituição social humano.

42 LIBÂNEO, J. C.; OLIVEIRA J. F.; TOSCHI M. S.; Educação escolar: políticas

estrutura e organização. 2ª ed. São Paulo: Cortez, 2005. (Coleção Docência em


Formação)

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Podemos afirmar que a educação assume um papel 05. (SAP-SP – Analista sociocultural - VUNESP). De
determinante na formação associada à capacidade de acordo com Libâneo, a didática trata dos objetivos, condições
transformação e mudança do indivíduo e consequentemente e meios de realização do processo de ensino, unindo meios
da própria realidade em que este está inserido. pedagógico-didáticos a objetivos sócio-políticos. Neste
sentido,
Questões (A) Os conteúdos devem ser trabalhados de forma acrítica
e inflexível para não intervir no produto.
01 . (Minas Gerais Administração e Serviços S.A - MGS (B) O ensino deve ser planejado a partir de propósitos
– Pedagogo – IBFC) A escola é uma instituição social, que claros sobre a sua finalidade, tendo em vista que os alunos
mediante sua prática no campo do conhecimento, dos valores estão sendo preparados para viverem em sociedade.
e atitudes, contribui para a constituição dos processos (C) As questões de ordem social sempre prevalecem sobre
educativos. Assim, a escola, no desempenho de sua função as de ordem pedagógica.
social de formadora de sujeitos históricos, precisa ser um (D) Os planejamentos indicam a necessidade de serem
espaço de sociabilidade que possibilite a construção do neutros e escolarizados.
conhecimento produzido. Com esse contexto, assinale a (E) Os estudantes são vistos enquanto seres passivos, daí
alternativa correta a seguir: porque a facilidade de aprendizagem.
(A) Em nossa sociedade, a escola é um lugar privilegiado
para o exercício da democracia indireta com a escolha dos seus Respostas
dirigentes.
(B) A escola tem como função social formar o cidadão, 01. B. / 02. C. / 03. Certo. / 04. Certo. / 05. B.
construir conhecimentos, atitudes e valores que tornem o
estudante solidário, crítico, ético e participativo.
(C) A escola, em sua função social, contribuirá Organização do processo
efetivamente para afirmar os interesses individuais das
pessoas no processo educativo. didático: planejamento,
(D) A função social da escola é irrelevante para a estratégias e metodologias,
administração civil e os órgãos governamentais. avaliação; Avaliação como
02. (CETAM – Analista Técnico Educacional – processo contínuo,
Psicologia – FCC). Para responder à questão, considere a Lei investigativo e inclusivo;
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional − LDB (Lei nº
9.394/1996). A Lei destaca um entendimento amplo da função
social da educação, quando: Para Moretto43, planejar é organizar ações (ideias e
(A) determina que a mesma deve ser organizada em informações). Essa é uma definição simples mas que mostra
período integral. uma dimensão da importância do ato de planejar, uma vez que
(B) propõe a reflexão crítica da prática educacional. o planejamento deve existir para facilitar o trabalho tanto do
(C) explicita que deverá vincular-se ao mundo do trabalho professor como do aluno.
e à prática social.
(D) destaca o entendimento da função social de uma Gandin44 sugere que se pense no planejamento como uma
educação preparatória. ferramenta para dar eficiência à ação humana, ou seja, deve ser
(E) vincula a vida social à vida cultural a partir do ensino utilizado para a organização na tomada de decisões. Para
na escola. melhor entender precisa-se compreender alguns conceitos,
tais como: planejar, planejamento e planos.
03. (FUB- Pedagogo – CESPE). A respeito dos
fundamentos da educação e da relação Planejamento: “É um instrumento direcional de todo o
educação/sociedade em suas dimensões filosófica, processo educacional, pois estabelece e determina as grandes
sociocultural e pedagógica, julgue o item subsequente. urgências, indica as prioridades básicas, ordena e determina
A educação, em uma abordagem funcionalista, é, todos os recursos e meios necessários para a consecução de
essencialmente, um meio de socialização dos indivíduos a grandes finalidades, metas e objetivos da educação.”
fim de torná-los membros de uma dada estrutura social
preestabelecida, exercendo, portanto, a função de Plano Nacional de Educação: “Nele se reflete a política
integração social. educacional de um povo, num determinado momento histórico
( ) CERTO ( ) ERRADO do país. É o de maior abrangência porque interfere nos
planejamentos feitos no nível nacional, estadual e municipal.”
04. (SEDU-ES – Professor –Pedagogo – CESPE).
Considerando o desenvolvimento histórico das concepções Plano de Curso: “O plano de curso é a sistematização da
pedagógicas e a função social atribuída à escola, julgue o item proposta geral de trabalho do professor naquela determinada
que se segue. disciplina ou área de estudo, numa dada realidade. Pode ser
A perspectiva progressista, sustentando as finalidades anual ou semestral, dependendo da modalidade em que a
sociopolíticas da educação, define que a escola tem a função disciplina é oferecida.”
social de formar o cidadão mediante um processo de
construção de conhecimento, de atitudes e de valores que o Plano de Aula: “É a sequência de tudo o que vai ser
tomem um sujeito solidário, crítico, ético e participativo. desenvolvido em um dia letivo. (...) É a sistematização de todas
( ) CERTO ( ) ERRADO as atividades que se desenvolvem no período de tempo em que

43 MORETTO, Vasco Pedro. Planejamento: planejando a educação para o www.maxima.art.br/arq_palestras/planejamento_como_ferramenta_(completo).


desenvolvimento de competências. Petrópolis, RJ: Vozes, 2007. doc.
44 GANDIN, Danilo. O planejamento como ferramenta de transformação da

prática educativa.

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o professor e o aluno interagem, numa dinâmica de ensino e de carrasco é eficiente quando o condenado morre segundo o
aprendizagem.” previsto. A telefonista é eficiente quando atende a todos os
chamados e faz, a tempo, todas as ligações. O digitador, quando
Plano de Ensino: “É a previsão dos objetivos e tarefas do escreve rapidamente (há expectativas fixadas) e não comete
trabalho docente para um ano ou um semestre; é um erros.
documento mais elaborado, no qual aparecem objetivos O planejamento e um plano ajudam a alcançar a eficiência,
específicos, conteúdos e desenvolvimento metodológico.” isto é, elaboram-se planos, implanta-se um processo de
planejamento a fim de que seja benfeito aquilo que se faz
Projeto Político Pedagógico: “É o planejamento geral que dentro dos limites previstos para aquela execução.
envolve o processo de reflexão, de decisões sobre a Mas esta não é a mais importante finalidade do
organização, o funcionamento e a proposta pedagógica da planejamento. Ele visa também a eficácia. Os dicionários não
instituição. É um processo de organização e coordenação da fazem diferença suficiente entre eficácia e eficiência. O melhor
ação dos professores. Ele articula a atividade escolar e o é não se preocupar com palavras e verificar que o
contexto social da escola. É o planejamento que define os fins planejamento deve alcançar não só que se faça bem as coisas
do trabalho pedagógico.” (MEC45) que se fazem (chamaremos isso de eficiência), mas que se
façam as coisas que realmente importa fazer, porque são
Os conceitos apresentados têm por objetivo mostrar para socialmente desejáveis (chamaremos isso de eficácia).
o professor a importância, a funcionalidade e principalmente A eficácia é atingida quando se escolhem, entre muitas
a relação íntima existente entre essas tipologias. ações possíveis, aqueles que, executadas, levam à consecução
de um fim previamente estabelecido e condizente com aquilo
Segundo Fusari46, “Apesar de os educadores em geral em que se crê.
utilizarem, no cotidiano do trabalho, os termos “planejamento” Além destas finalidades do planejamento, Gandin introduz
e “plano” como sinônimos, estes não o são.” a discussão sobre uma outra, tão significativa quanto estas, e
que dá ao planejamento um status obrigatório em todas as
Outro aspecto importante, segundo Schmitz47 é que “as atividades humanas: é a compreensão do processo de
denominações variam muito. Basta que fique claro o que se planejamento como um processo educativo.
entende por cada um desses planos e como se caracterizam.” É evidente que esta finalidade só é alcançada quando o
O que se faz necessário é estar consciente que: processo de planejamento é concebido como uma prática que
sublime a participação, a democracia, a libertação. Então o
“Qualquer atividade, para ter sucesso, necessita ser planejamento é uma tarefa vital, união entre vida e técnica
planejada. O planejamento é uma espécie de garantia dos para o bem-estar do homem e da sociedade.
resultados. E sendo a educação, especialmente a educação
escolar, uma atividade sistemática, uma organização da Elementos Constitutivos do Planejamento
situação de aprendizagem, ela necessita evidentemente de Objetivos e Conteúdos de Ensino: Os objetivos
planejamento muito sério. Não se pode improvisar a determinam de antemão os resultados esperados do processo
educação, seja ela qual for o seu nível.” entre o professor e o aluno, determinam também a gama de
Conceito de Planejamento habilidades e hábitos a serem adquiridos. Já os conteúdos
O Planejamento pode ser conceituado como um processo, formam a base da instrução.
considerando os seguintes aspectos: produção, pesquisa, A prática educacional baseia-se nos objetivos por meio de
finanças, recursos humanos, propósitos, objetivos, estratégias, uma ação intencional e sistemática para oferecer
políticas, programas, orçamentos, normas e procedimentos, aprendizagem. Desta forma os objetivos são fundamentais
tempo, unidades organizacionais etc. Desenvolvido para o para determinação de propósitos definidos e explícitos quanto
alcance de uma situação futura desejada, de um modo mais às qualidades humanas que precisam ser adquiridas. Os
eficiente, eficaz e efetivo, com a melhor concentração de objetivos têm pelo menos três referências fundamentais para
esforços e recursos. a sua formulação.
O Planejamento também pressupõe a necessidade de um - Os valores e ideias ditos na legislação educacional.
processo decisório que ocorrerá antes, durante e depois de sua - Os conteúdos básicos das ciências, produzidos na história
elaboração e implementação na escola. Este processo deve da humanidade.
conter ao mesmo tempo, os componentes individuais e - As necessidades e expectativas da maioria da sociedade.
organizacionais, bem como a ação nesses dois níveis deve ser
orientada de tal maneira que garanta certa confluência de Métodos e Estratégias: O método por sua vez é a forma
interesses dos diversos fatores alocados no ambiente escolar. com que estes objetivos e conteúdos serão ministrados na
O processo de planejar envolve, portanto, um modo de prática ao aluno. Cabe aos métodos dinamizar as condições e
pensar; e um salutar modo de pensar envolve indagações; e modos de realização do ensino. Refere-se aos meios utilizados
indagações envolvem questionamentos sobre o que fazer, pelos docentes na articulação do processo de ensino, de acordo
como, quando, quanto, para quem, por que, por quem e onde. com cada atividade e os resultados esperados.
É um processo de estabelecimento de um estado futuro As estratégias visam à consecução de objetivos, portanto,
desejado e um delineamento dos meios efetivos de torna-lo há que ter clareza sobre aonde se pretende chegar naquele
realidade justifica que ele antecede à decisão e à ação. momento com o processo de ensino e de aprendizagem. Por
isso, os objetivos que norteiam devem estar claros para os
Finalidade - Para que Planejar?48 sujeitos envolvidos – professores e alunos.
A primeira coisa que nos vem à mente quando
perguntamos sobre a finalidade do planejamento é a eficiência. Multimídia Educativa: A multimídia educativa é uma
Ela é a execução perfeita de uma tarefa que se realiza. O estratégia de ensino e de aprendizagem que pode ser utilizada

45 MEC – Ministério da Educação e Cultura. Trabalhando com a Educação de 47 SCHMITZ, Egídio. Fundamentos da Didática. 7ª Ed. São Leopoldo, RS:

Jovens e Adultos – Avaliação e Planejamento – Caderno 4 – SECAD – Secretaria de Editora Unisinos, 2000.
Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade – 2006. 48 GANDIN, Danilo. Planejamento. Como Prática Educativa. São Paulo:
46 FUSARI, José Cerchi. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas Edições Loyola, 2013.
indagações e tentativas de respostas.
www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf.

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por estudantes e professores. É imperativa a importância das programá-la. A revolução de 30 foi o desfecho das crises
multimídias educativas com uso da informática no processo políticas e econômicas que agitaram profundamente a década
educativo como uma ferramenta auxiliar na educação. de 20, compondo-se assim, um quadro histórico propício à
transformação da Educação no Brasil.
Avaliação Educacional: É uma tarefa didática necessária Em 1932, um grupo de educadores conseguiu captar o
e permanente no trabalho do professor, deve acompanhar anseio coletivo e lançou um manifesto ao povo e ao governo
todos os passos do processo de ensino e de aprendizagem. É que ficou conhecido como “Manifesto dos Pioneiros da
através dela que vão sendo comparados os resultados obtidos Educação Nova”, que extravasava o entusiasmo pela Educação.
no decorrer do trabalho conjunto do professor e dos alunos, O manifesto era ao mesmo tempo uma denúncia uma exigência
conforme os objetivos propostos, a fim de verificar progressos, de uma política educacional consistente e, um plano científico
dificuldades e orientar o trabalho para as correções para executá-la, livrando a ação educativa do empirismo e da
necessárias. descontinuidade. O mesmo teve tanta repercussão e motivou
A avaliação insere-se não só nas funções didáticas, mas uma campanha que repercutiu na Assembleia Constituinte de
também na própria dinâmica e estrutura do Processo de 1934.
Ensino e de Aprendizagem. De acordo com a Constituição de 34, o conselho Nacional
de Educação elaborou e enviou, em maio de 37, um
Planejamento e Políticas de Educação no Brasil anteprojeto do Plano de Educação Nacional, mas com a
A formação da Educação Brasileira inicia-se com a chegada do estado Novo, o mesmo nem chegou a ser discutido.
Companhia de Jesus, em 1549, com o trabalho dos Jesuítas: Sendo assim, mesmo que a ideia de plano nacional de
suas escolas de primeiras letras, colégios e seminários, até os educação fosse um fruto do manifesto e das campanhas que se
dias atuais. Nesse primeiro momento, a educação não foi um seguiram, o Plano 37 era uma negação das teses defendidas
problema que emergisse como um assunto Nacional, no pelos educadores ligados àqueles movimentos. Totalmente
entanto, tenha sido um dos aspectos das tensões constantes centralizador, o mesmo pretendia ordenar em minúcias toda a
entre a Ordem dos Jesuítas e a Coroa Portuguesa, que mais educação nacional. Tudo estava regulamentado ao plano,
tarde, levou à expulsão dos mesmos em 1759. A expulsão dos desde o ensino pré-primário ao ensino superior; os currículos
jesuítas criou um vazio escolar. A insuficiência de recursos e eram estabelecidos e até mesmo o número de provas e os
escassez de mestres desarticulou o trabalho educativo no País, critérios de avaliação.
com repercussões que se estenderam até o período imperial.
Com a vinda da Família Imperial, a educação brasileira No entanto, os dois primeiros artigos dos 504 que
toma um novo impulso, principalmente com a criação dos compuseram o Plano de 37, chamam atenção, no que se refere
cursos superiores, no entanto a educação popular foi relegada ao Planejamento Educacional a nível nacional, atualmente:
em segundo plano. Com a reforma constitucional de 1834, as
responsabilidades da educação popular foram Art. 1°- O Plano Nacional de Educação, código da educação
descentralizadas, deixando-as às províncias e reservando à nacional, é o conjunto de princípios e normas adotados por
Corte a competência sobre o ensino médio e superior. esta lei para servirem de base à organização e funcionamento
Nesse período, a situação continuou a mesma: escassez de das instituições educativas, escolares e extraescolares,
escolas e de professores na educação básica. Com a educação mantidas no território nacional pelos poderes públicos ou por
média e superior, prevaleceram às aulas avulsas destinadas particulares.
apenas às classes mais abastadas. Art. 2°- Este Plano só poderá ser revisto após vigência de
A Proclamação da República, também não alterou dez anos.
significativamente a ordenação legal da Educação Brasileira,
foi preciso esperar até a década de 20 para que, o debate Nesses artigos, há três pontos os quais convém destacar,
educacional ganhasse um espaço social mais amplo. Nesta pois repercutiram e persistiram em parte, em iniciativas e leis
época, as questões educacionais deixaram de ser temas posteriores:
isolados para se tornarem um problema nacional. Várias - O Plano de Educação identifica-se com as diretrizes da
tentativas de reforma ocorreram em vários estados; iniciou-se Educação Nacional;
uma efetiva profissionalização do magistério e novos modelos - O Plano deve ser fixado por Lei;
pedagógicos começaram a ser discutidos e introduzidos na - O Plano só poderá ser revisto após uma vigência
escola. prolongada.

Surgimento do Plano de Educação Segundo Kuenzer49 “o planejamento de educação também


A primeira experiência de planejamento governamental no é estabelecido a partir das regras e relações da produção
Brasil foi executada no governo de Juscelino Kubitschek com capitalista, herdando, portanto, as formas, os fins, as
seu Plano de Metas (1956/61). Antes, os chamados planos que capacidades e os domínios do capitalismo monopolista do
se sucederam desde 1940, foram diagnósticos que tentavam Estado.”
racionalizar o orçamento. Neste processo de planejamento Aqui no Brasil, Padilha50 explica que “Durante o regime
convém distinguir três fases: autoritário, eles foram utilizados com um sentido autocrático.
- a decisão de planejar; Toda decisão política era centralizada e justificada
- o plano em si; e tecnicamente por tecnocratas à sombra do poder.” Kuenzer
- a implantação do plano. complementa a citação acima explicando que “A ideologia do
Planejamento então oferecida a todos, no entanto, escondia
A primeira e a última fase são políticas e a segunda é um essas determinações político-econômicas mais abrangentes e
assunto estritamente técnico. decididas em restritos centros de poder.”
No caso do Planejamento Educacional, essa distinção é O regime autoritário fez com que muitos educadores
interessante, pois foi preciso um longo período de maturação criassem uma resistência com relação à elaboração de planos,
para que se formulasse de forma explícita a necessidade uma vez que esses planos eram supervisionados ou
nacional de uma política de educação e de um plano para elaborados por técnicos que delimitavam o que o professor

49 KUENZER, Acácia Zeneida, CALAZANS, M. Julieta C., GARCIA, Walter. 50 PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto

Planejamento e educação no Brasil. 6. ed. São Paulo: Cortez, 2003. político-pedagógico da escola. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 129


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deveria ensinar, priorizando as necessidades do regime administração pública brasileira. A educação, realmente não
político. “Num regime político de contenção, o planejamento era prioritária para os governos. As coordenadas da ação
passa a ser bandeira altamente eficaz para o controle e governamental no setor ficavam bloqueadas ou dificultadas
ordenamento de todo o sistema educativo.” pela falta de uma integração ministerial.
Em consequência disso e de outras razões, sobretudo
Apesar de se ter claro a importância do planejamento na políticas, o panorama da experiência brasileira de
formação, Fusari51 explica que: planejamento educacional é um quadro de descontinuidades
“Naquele momento, o Golpe Militar de 1964 já implantava a administrativas, que, fez dessa experiência um conjunto
repressão, impedindo rapidamente que um trabalho mais crítico fragmentado de incoerentes iniciativas governamentais que
e reflexivo, no qual as relações entre educação e sociedade nunca foram mais do que esquemas distributivos de recursos.
pudessem ser problematizadas, fosse vivenciada pelos Com esta visão podemos compreender o “porquê” do caos
educadores, criando, assim, um “terreno” propício para o avanço educacional em nosso país. Desde há muito a educação foi
daquela que foi denominada ‘tendência tecnicista’ da educação relegada ao final das filas. O povo foi passando de governo em
escolar.” governo sem perceber as perdas que lhe trariam o atraso
Mas não se pode pensar que o regime político era o único educacional.
fator que influenciava no pensamento com relação à
elaboração dos planos de aulas; as teorias da administração Níveis de Planejamento
também refletiam no ato de planejar do professor, uma vez
que essas teorias traziam conceitos que iriam auxiliar na
definição do tipo de organização educacional que seria
adotado por uma determinada instituição.
No início da história da humanidade, o planejamento era
utilizado sem que as pessoas percebessem sua importância,
porém com a evolução da vida humana, principalmente no
setor industrial e comercial, houve a necessidade de adaptá-lo
para os diversos setores.
Nas escolas ele também era muito utilizado; a princípio, o
planejamento era uma maneira de controlar a ação dos
professores de modo a não interferir no regime político da
época. Hoje o planejamento já não tem a função reguladora
dentro das escolas, ele serve como uma ferramenta
importantíssima para organizar e subsidiar o trabalho do
professor.

Diretrizes e Bases da Educação Nacional


Na esfera educacional o processo de planejamento ocorre
Após o anteprojeto de Plano de 37, a ideia de um Plano
em diversos níveis, segundo a magnitude da ação que se tem
Nacional de Educação permaneceu sem efeito até 1962,
em vista realizar. O planejamento educacional é o mais amplo,
quando foi elaborado e efetivamente instituído o primeiro
geral e abrangente. Prevê a estruturação e o funcionamento da
Plano Nacional governamental. No entanto, no Plano de Metas
totalidade do sistema educacional. Determina as diretrizes da
de Kubitschek, a educação era a meta número 30.
política nacional de educação.
O setor de educação entrou no conjunto do Plano de metas
A seguir, temos o planejamento Escolar e depois o
pressionado pela compreensão de que a falta de recursos
Curricular, que está intimamente relacionado às prioridades
humanos qualificados poderia ser um dos pontos de
assentadas no planejamento educacional. Sua função é
estrangulamento do desenvolvimento do país.
traduzir, em termos mais próximos e concretos, as linhas-
A primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
mestras de ação delineadas no planejamento imediatamente
(LDB) acabou surgindo com a Lei n° 4.024 de 1961, no entanto,
superior, através de seus objetivos e metas. Constitui o
vale ressaltar a concepção do que deveria ser uma LDB.
esquema normativo que serve de base para definir e
Segundo o Relatório Geral da Comissão:
particularizar a linha de ação proposta pela escola. Permite a
Diretriz é uma linha de orientação, norma de conduta,
inter-relação entre a escola e a comunidade.
"Base" é a superfície de apoio, fundamento. Aquela indica a
Logo após, temos o planejamento de ensino, que parte
direção geral a seguir, não às minudências do caminho.
sempre de pontos referenciais estabelecidos no planejamento
Significa também o alicerce do edifício, não o próprio edifício
curricular. Temos, em essência, neste tipo de planejamento,
sobre o qual o alicerce está construído. A lei de Diretrizes e
dimensões:
Bases conterá somente os preceitos genéricos e fundamentais.
- filosófica, que explicita os objetivos da escola;
No entanto, a LDB de 61, distanciou-se muito da clareza e
- psicológica, que indica a fase de desenvolvimento do
da sensatez do anteprojeto original, e a lei que sucedeu e
aluno, suas possibilidades e interesses;
substituiu em parte (Lei n° 5.692/71) agravou a situação.
- social, que expressa as características do contexto sócio-
Eliminaram substancialmente qualquer possibilidade de
econômico-cultural do aluno e suas exigências.
instituição de políticas e planos de educação como
Este detalhamento é feito tendo em vista os processos de
instrumentos efetivos de um desenvolvimento ideal da
ensino e de aprendizagem. Assim, chegamos ao nível mais
Educação Brasileira, pois novamente foi consagrada a ideia de
elementar e próximo da ação educativa. É através dele que, em
plano como distribuição de recursos.
relação ao aluno:
Após a iniciativa pioneira de 1962 e suas revisões,
- prevemos mudanças comportamentais e aprendizagem
sucedem-se, em trinta anos, cerca de dez planos. Em um
de elementos básicos;
estudo realizado nessa área até 1989, conclui-se que essa
- propomos aprendizagens a partir de experiências
sucessão de planos que são elaboradas, parcialmente
anteriores e de suas reais possibilidades;
executadas, revista e abandonada, refletem os males gerais da

51 FUSARI, José Cerchi. O planejamento do trabalho pedagógico: algumas

indagações e tentativas de respostas.


http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_08_p044-053_c.pdf.

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- estimulamos a integração das diversas áreas de estudo. Fundamentos do Planejamento Educacional


Como vemos, o planejamento tem níveis distintos de
abrangência; no entanto, cada nível tem bem definido e Concepções Características
delimitado o seu universo. Sabemos que um nível particulariza Divisão pormenorizada,
- um ou vários - aspectos delineados no nível antecedente, hierarquizado verticalmente,
especificando com maior precisão as decisões tomadas em Clássica
com ênfase na organização e
relação a determinados eventos da ação educativa. pragmático.
A linha de relacionamento se evidencia, então, através de Planejamento seguindo
escalões de complexidade decrescente, exigindo sempre um Transitiva procedimentos de trabalho com
alto grau de coerência e subordinação na determinação dos ênfase na liderança.
objetivos almejados. Visão horizontal, com ênfase nas
relações humanas, na dinâmica
Vejamos cada um deles: Mayoista interpessoal e grupal, na
Planejamento Educacional delegação de autoridade e na
Planejamento educacional é aplicar à própria educação autonomia.
àquilo que os verdadeiros educadores se esforçam por Pragmática, racionalidade no
inculcar em seus alunos: uma abordagem racional e científica processo decisório,
dos problemas. Tal abordagem supõe a determinação dos Neoclássica / por
participativo, com ênfase nos
objetivos e dos recursos disponíveis, a análise das objetivos
resultados e estratégia de
consequências que advirão das diversas atuações possíveis, a cooperação.
escolha entre essas possibilidades, a determinação de metas Tradição Características (do consenso /
específicas a atingir em prazos bem definidos e, finalmente, o Funcionalista positivista / evolucionista)
desenvolvimento dos meios mais eficazes para implantar a Cumprimento de leis e normas.
política escolhida. Visa à eficácia institucional do
O planejamento educacional significa bem mais que a Burocrático
sistema. Enfatiza a dimensão
elaboração de um projeto contínuo que engloba uma série de institucional ou objetiva.
operações interdependentes. Enfatiza a eficiência individual
O Planejamento do Sistema de Educação é o de maior de todos os que participam do
abrangência (enquanto um dos níveis de planejamento na Idiossincrático
sistema, portanto, dimensão
educação escolar), correspondendo ao planejamento que é subjetiva.
feito em nível nacional, estadual ou municipal. Incorpora e Clima organizacional
reflete as grandes políticas educacionais. Enfrenta os pragmático. Visa o equilíbrio
problemas de atendimento à demanda, alocação e Integradora entre eficácia institucional e
gerenciamento de recursos etc. eficiência individual, com ênfase
na dimensão grupal ou holística.
Características do Planejamento Educacional
Tradição Características (conflito /
Interacionista teorias críticas e libertárias)
Categorias Tipos Características Ênfase nas condições estruturais
1- Global ou de de natureza econômica do
Para todo o sistema Estruturalista sistema. Enfatiza a dimensão
conjunto
Graus do Sistema institucional ou objetiva.
2- Por setores Orientação determinista.
Níveis Escolar
Por divisões Ênfase na subjetividade e na
3- Regional dimensão individual. O sistema é
geográficas
Interpretativa uma criação do ser humano. A
4- Local Por escola
gestão é mediadora reflexiva
Por utilizar
entre o indivíduo e o seu meio.
metodologia de
Ênfase na dimensão grupal ou
1- Técnico análise, previsão,
holística e nos princípios de
programação e
Dialógica totalidade, contradição, práxis e
Enquanto avaliação.
transformação do sistema
Processo Por permitir a tomada
2- Político educacional.
de decisão.
Enfoques Características
Por coordenar as
3- Práticas normativas e legalistas /
atividades Jurídico
Administrativo sistema fechado.
administrativas.
Predomínio dos quadros
1- Curto prazo 1 a 2 anos Tecnocrático
Quanto aos técnicos / especialistas.
2- Médio prazo 2 a 5 anos
Prazos Resgate da dimensão humana:
3- Longo prazo 5 a 15 anos Comportamental
ênfase psicológica.
Com base nas
Ênfase para atingir objetivos
1- Demanda demandas individuais Desenvolvimentista
econômicos e sociais.
de educação.
Ênfase nos valores culturais e
Com base nas
Sociológico políticos, contextualizados.
necessidades do
Enquanto Visão interdisciplinar.
2- Mão-de-obra mercado, voltado para
Método
o desenvolvimento do
país.
Com base nos recursos
3- Custo e
disponíveis visando a
Benefício
maiores benefícios.

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Fonte dos dois quadros: Padilha52 instrumento que orienta a educação como um processo
dinâmico e integrado de todos os elementos que interagem
Objetivos do Planejamento Educacional para consecução dos objetivos, tanto os dos alunos como os da
São objetivos do planejamento educacional, segundo escola.
Joanna Coaracy53: O Planejamento curricular, enquanto um dos níveis dos
- “relacionar o desenvolvimento do sistema educacional planejamentos da educação escolar é a proposta geral das
com o desenvolvimento econômico, social, político e cultural experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela
do país, em geral, e de cada comunidade, em particular; escola, incorporada nos diversos componentes curriculares.
- “estabelecer as condições necessárias para o Enquanto um dos níveis do planejamento na educação
aperfeiçoamento dos fatores que influem diretamente sobre a escolar, o Planejamento curricular é a proposta geral das
eficiência do sistema educacional (estrutura, administração, experiências de aprendizagem que serão oferecidas pela
financiamento, pessoal, conteúdo, procedimentos e escola, incorporada nos diversos componentes curriculares
instrumentos); desde as séries iniciais até as finais.
- alcançar maior coerência interna na determinação dos A proposta curricular pode ter como referência os
objetivos e nos meios mais adequados para atingi-los; seguintes elementos:
- conciliar e aperfeiçoar a eficiência interna e externa do - Fundamentos da disciplina;
sistema”. - Área de estudo;
- Desafios Pedagógicos;
É condição primordial do processo de planejamento - Encaminhamento Metodológico;
integral da educação que, em nenhum caso, interesses - Propostas de Conteúdos;
pessoais ou de grupos possam desviá-lo de seus fins essenciais - Processos de Avaliação.
que vão contribuir para a dignificação do homem e para o
desenvolvimento cultural, social e econômico do país. Objetivos do Planejamento Curricular
Requisitos do Planejamento Educacional - Ajudar aos membros da comunidade escolar a definir
- Aplicação do método científico na investigação da seus objetivos;
realidade educativa, cultural, social e econômica do país; - Obter maior efetividade no ensino;
- Apreciação objetiva das necessidades, para satisfazê-las a - Coordenar esforços para aperfeiçoar o processo de
curto, médio e longo prazo; ensino e de aprendizagem;
- Apreciação realista das possibilidades de recursos - Propiciar o estabelecimento de um clima estimulante
humanos e financeiros, a fim de assegurar a eficácia das para o desenvolvimento das tarefas educativas.
soluções propostas;
- Previsão dos fatores mais significativos que intervêm no Requisitos do Planejamento Curricular
desenvolvimento do planejamento; O planejamento curricular deve refletir os melhores meios
- Continuidade que assegure a ação sistemática para de cultivar o desenvolvimento da ação escolar, envolvendo,
alcançar os fins propostos; sempre, todos os elementos participantes do processo.
- Coordenação dos serviços da educação, e destes com os Seus elaboradores devem estar alertas paras novas
demais serviços do Estado, em todos os níveis da descobertas e para os novos meios postos ao alcance das
administração pública; escolas. Estes devem ser minuciosamente analisados para
- Avaliação periódica dos planos e adaptação constante verificar sua real validade naquele âmbito escolar. Posto isso,
destes mesmos às novas necessidades e circunstâncias; fica evidente a necessidade dos organizadores explorarem,
- Flexibilidade que permita a adaptação do plano a aceitarem, adaptarem, enriquecerem ou mesmo rejeitarem
situações imprevistas ou imprevisíveis; tais inovações.
- Trabalho de equipe que garanta uma soma de esforços O planejamento curricular é de complexa elaboração.
eficazes e coordenados; Requer um contínuo estudo e uma constante investigação da
- Formulação e apresentação do plano como iniciativa e realidade imediata e dos avanços técnicos, principalmente na
esforço nacionais, e não como esforço de determinadas área educacional. Constitui, por suas características, base vital
pessoas, grupos e setores”.54 do trabalho. A dinamização e integração da escola como uma
célula viva da sociedade, que palmilha determinados caminhos
Pressupostos Básicos do Planejamento Educacional conforme a linha filosófica adotada, é o pressuposto inerente a
- O delineamento da filosofia da educação do país, sua estruturação.
evidenciando o valor da pessoa e da escola na sociedade; O planejamento curricular constitui, portanto, uma tarefa
- A aplicação da análise - sistemática e racional - ao contínua a nível de escola, em função das crescentes exigências
processo de desenvolvimento da educação, buscando torná-lo de nosso tempo e dos processos que tentam acelerar a
mais eficiente e passível de responder com maior precisão às aprendizagem. Será sempre um desafio a todos aqueles
necessidades e objetivos da sociedade. envolvidos no processo educacional, para busca dos meios
Podemos, portanto, considerar que o planejamento mais adequados à obtenção de maiores resultados.
educacional constitui a abordagem racional e científica dos
problemas da educação, envolvendo o aprimoramento gradual Planejamento de Ensino
de conceitos e meios de análise, visando estudar a eficiência e Planejamento de ensino é o processo que envolve a
a produtividade do sistema educacional, em seus múltiplos atuação concreta dos educadores no cotidiano do seu trabalho
aspectos. pedagógico, envolvendo todas as suas ações e situações o
tempo todo. Envolve permanentemente as interações entre os
Planejamento Curricular educadores e entre os próprios educandos.
Planejamento curricular é o processo de tomada de
decisões sobre a dinâmica da ação escolar. É a previsão Objetivos do Planejamento de Ensino
sistemática e ordenada de toda a vida escolar do aluno. É o - Racionalizar as atividades educativas;

52 PADILHA, Paulo Roberto. Planejamento dialógico: como construir o projeto 54 UNESCO, Seminário Interamericano sobre planejamento integral na

político-pedagógico da escola. 4ª Ed. São Paulo: Cortez, 2003. educação. Washington. 1958.
53COARACY, Joanna. O planejamento como processo. Revista Educação, Ano I,

no. 4, Brasília, 1972.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 132


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- Assegurar um ensino efetivo e econômico; realidade específica de cada escola - tomando decisões sobre o
- Conduzir os alunos ao alcance dos objetivos; que, para que, como e com o que se vai fazer o trabalho na
- Verificar a marcha do processo educativo. escola o período proposto levando em conta as linhas tiradas
no plano global.
Requisitos do Planejamento do Ensino
Por maior complexidade que envolva a organização da Planejamento Participativo
escola, é indispensável ter sempre bem presente que a O Planejamento Participativo se constitui num processo
interação professor-aluno é o suporte estrutural, cuja político onde há um propósito contínuo e coletivo onde se tem
dinâmica concretiza ao fenômeno educativo. Portanto, o a oportunidade de discutir a construção do futuro da
planejamento de ensino deve ser alicerçado neste pressuposto comunidade, na qual participe o maior número possível de
básico. membros de todas as categorias que a constituem. Mais do que
O professor, ao planejar o trabalho, deve estar um significado técnico, o planejamento participativo é um
familiarizado com o que pode pôr em prática, de maneira que processo político vinculado à decisão da maioria que será em
possa selecionar o que é melhor, adaptando tudo isso às benefício da maioria.
necessidades e interesses de seus alunos. Na maioria das Genericamente o planejamento participativo constitui-se
situações, o professor dependerá de seus próprios recursos em uma estratégia de trabalho que se caracteriza pela
para elaborar seus planos de trabalho. Por isso, deverá estar integração de todos os setores da atividade humana social,
bem informado dos requisitos técnicos para que possa dentro de um processo global para solucionar problemas
planejar, independentemente, sem dificuldades. comuns.
Ainda temos a considerar que as condições de trabalho
diferem de escola para escola, tendo sempre que adaptar seus Planejamento de Aulas
projetos às circunstâncias e exigências do meio. Considerando O Planejamento de aula é a tomada de decisões referentes
que o ensino é o guia das situações de aprendizagem e que ao trabalho específico da sala de aula:
ajuda os estudantes a alcançarem os resultados desejados, a - Temas
ação de planejá-lo é predominantemente importante para - Conteúdos
incrementar a eficiência da ação a ser desencadeada no âmbito - Metodologia
escolar. - Recursos didáticos
O professor, durante o período (ano ou semestre) letivo, - Avaliação.
pode organizar três tipos de planos de ensino. Por ordem de Antes, porém de se planejar a aula propriamente dita deve
abrangência: ser executado um planejamento de curso para o ano todo. E
- Plano de Curso - delinear, globalmente, toda a ação a ser este deve ser subdividido em semestre para que possa ser
empreendida; visualizado com mais clareza e objetividade.
- Plano de Unidade - disciplinar partes da ação pretendida Dentro destes Planos anuais podem ser inseridas as
no plano global; unidades temáticas, temas transversais que ocorrerão com o
- Plano de Aula - especificar as realizações diárias para a desenvolvimento do Plano bimestral ou trimestral. Estes são
concretização dos planos anteriores. os marcos para que o professor e toda a equipe da escola não
Pelo significativo apoio que o planejamento empresta à se percam dentro de conteúdos extensos e, deixem de
atividade do professor e alunos, é considerado etapa ministrar em cada momento a essência, o significativo para
obrigatória de todo o trabalho docente. O planejamento tende que o aluno possa prosseguir seu conhecimento e transformá-
a prevenir as vacilações do professor, oferecendo maior lo em aprendizagem.
segurança na consecução dos objetivos previstos, bem como O centro do processo educativo não deve ser o conteúdo
na verificação da qualidade do ensino que está sendo preestabelecido como se tem feito nas escolas ainda hoje.
orientado pelo mestre e pela escola. Qualquer professor estaria de acordo em dizer que o centro do
processo não é o conteúdo, mas em sua prática, a grande
Planejamento Escolar maioria faz dele todo o processo. Muitas vezes, isso acontece
O Planejamento escolar é uma tarefa docente que inclui até contra a sua vontade. É que há uma cultura dentro da
tanto a previsão das atividades didáticas em termos da sua escola, junto com os pais dos alunos e em todo senso comum
organização e coordenação em face dos objetivos propostos, social, de que se vai para a Escola para memorizar alguma
quanto a sua revisão e adequação no decorrer do processo de informação, normalmente até consideradas inúteis até pelas
ensino. É um processo de racionalização, organização e mesmas pessoas que as exigem.
coordenação da ação docente, articulando a atividade escolar O centro do processo educativo também não pode ser o
e a problemática do contexto social. aluno. Este desastre é tão conservador como centrar o
trabalho no conteúdo. E que quando centramos o processo
Planejamento global da escola é o nível do planejamento educativo somente no aluno convertemos todo o processo em
que corresponde às decisões sobre a organização, um egoísmo e em um individualismo onde uns dominam os
funcionamento e proposta pedagógica da escola. É o que o que outros.
mais requer a participação conjunta da comunidade.
Planejamento e Educação Libertadora55
O Planejamento da escola, enquanto outro nível do No planejamento, é fundamental a ideia de transformação
planejamento na educação escolar é o que chamamos de da realidade. Isto quer dizer que uma instituição (um grupo)
“Projeto Educativo” - sendo o plano global da instituição. se transforma a si mesma tendo em vista influir na
Compõem-se de Marco Referencial, Diagnóstico e transformação da realidade global.
programação. Envolve as dimensões pedagógicas, Quer dizer, também, que fez sentido falar em
administrativas e comunitárias da escola. planejamento, acima e além da administração, como uma
tarefa política, no sentido de participar na organização na
O Planejamento anual da escola consiste em elaborar a mudança das estruturas sociais existentes. Quer dizer,
estratégia de ação para o prazo de um ano - conforme a finalmente, que planejar não é preencher quadrinhos para dar

55 GANDIN, Danilo. Planejamento. Como Prática Educativa. São Paulo:

Edições Loyola, 2013.

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status de organização séria a um setor qualquer da atividade modificar”) e o projeto do processo (“representações relativas
humana. ao processo que permite chegar a este estado final”).
Isso nos traz à educação libertadora como proposta
educacional apta a inspirar um processo de planejamento. O projeto é, por um lado, uma “antecipação” relativa a
Porque a educação libertadora é uma proposta de mudança. um estado, uma “representação antecipadora do estado
Essa educação libertadora Gandin fala que tem sua base na II final de uma realidade”, uma previsão ou prospectiva, um
Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Medellín, objetivo ou fim a atingir, uma pequena utopia.
Colômbia, 1968).
Referindo-se a educação: Seu conteúdo não é um acontecimento ou objeto
- “a que converte o educando em sujeito do seu próprio pertencente ao ambiente atual ou passado, mas um fato
desenvolvimento”; possível, uma imagem ou representação de uma possibilidade,
- “o meio-chave para libertar os povos de toda a escravidão uma ideia a se transformar em ato, um futuro a se “fazer”, uma
e para fazê-los ascender de condições de vida menos humanas possibilidade a se transformar em realidade. Sua relação é com
a condições mais humanas”. um “tempo a vir”, “um futuro de que constitui uma
Há nisto uma dimensão pessoal e uma proposta social antecipação, uma visão prévia” (Barbier).
global bem claras, no texto apresentadas de forma não Por outro lado, a função do projeto não se reduz a simples
separada, mas como um posicionamento apenas. representação do futuro. Barbier atribui-lhe ainda um duplo
Sem entrar na discussão se o termo “meio-chave” é efeito – o operatório ou pragmático e o mobilizador da
exagerado e aceitando que a educação, mesmo a escolar, tem atividade dos atores implicados.
uma dimensão política realizável, pode-se ver que esta dupla No entendimento de Boutinet58, o projeto implica um
proposta leva em conta os dois grandes problemas da América comprometimento com o futuro. A construção de um projeto
Latina de então, que perduram ainda hoje: a organização já implica na vontade de fazê-lo acontecer. Daí, seu valor
injusta da sociedade e a falta quase total do remédio para isso, pragmático. O projeto não age, pois, dizer não equivale
a participação. automaticamente a fazer, mas “dizer prepara o fazer”.
Ao propor que o educando seja sujeito de seu O projeto expressa a representação da realização da ação,
desenvolvimento, está propondo a existência do grupo, da ou seja, a imagem do resultado da ação. “No caso de uma ação
participação e, como consequência, a conscientização que gera coletiva[...], escreve Barbier, é o projeto que fornece a
a transformação. Basicamente está dando ao pedagógico a representação comum que permite a realização coordenada
força que ele realmente pode assumir como contribuinte de das operações de execução”. Na sua função mobilizadora, o
uma transformação social ampla em proveito do homem todo projeto apresenta, no plano afetivo, efeitos dinamizadores da
e de todos os homens. atividade dos atores implicados.
A partir daí, a aproximação entre educação libertadora e Nossas imagens ou representações constituem um
planejamento educacional sublinha as mesmas ideias básicas, elemento dinamizador da mudança e, portanto, um fator de
de grupo, de participação, de transformação da realidade. concretização do projeto.
Tanto que, a partir desta dupla base de Medellín, e pensando Para Vidal, Cárave e Florencio59, o projeto educativo é:
no que lhe é mais característico, a metodologia, pode-se definir - Um meio de adequação das intenções educativas da
a educação libertadora assim: um grupo (sujeitos em sociedade às características concretas de uma escola;
interação) na dinâmica de ação-reflexão, buscando a verdade - Elemento orientador do conjunto de atividades
e tendendo ao crescimento pessoal e à transformação social. educativas de uma escola;
- Instrumento integrador das atividades educativas de uma
Projetos Educativos escola;
É o primeiro grande instrumento de planejamento da ação - Garantia de coerência e de continuidade nas diferentes
educativa da escola, devendo por isso, servir atuações dos membros de uma comunidade escolar;
permanentemente de ponto de referência e orientação na - Critério para avaliar e homologar os processos;
atuação de todos os elementos da Comunidade Educativa em - Documento dinâmico para definir as estruturas e
que a escola se insere, em prol da formação de pessoas e estratégias organizacionais da escola;
cidadãos cada vez mais cultos, autônomos, responsáveis, - Ponto de referência para a solução dos conflitos de
solidários e democraticamente comprometidos na construção convivência.
de um destino comum e de uma sociedade melhor.
Um Projeto Educativo é, segundo a definição de Costa56, um O projeto educativo traduz o engajamento da instituição
“documento de caráter pedagógico que, elaborado com a escolar, suas prioridades, seus princípios. Ele define o sentido
participação da comunidade educativa, estabelece a de suas ações e fixa as orientações e os meios para colocá-las
identidade da própria escola através da adequação do quadro em prática. É formulado por um documento escrito que
legal em vigor à sua situação concreta, apresenta o modelo estabelece a identidade da escola (diz o que ela é), apresenta
geral de organização e os objetivos pretendidos pela seus propósitos gerais (diz o que ela quer) e descreve seu
instituição e, enquanto instrumento de gestão, é ponto de modelo geral de organização (diz como ela se organiza).
referência orientador na coerência da ação educativa”. Concebido como um projeto de longo prazo, ele visa
Isto é, um Projeto Educativo é um documento de favorecer a continuidade e a coerência da ação da escola.
orientação pedagógica que, não podendo contrariar a Embora não seja um documento inalterável, não deverá estar
legislação vigente, explicita os princípios, os valores, as metas sujeito a profundas e constantes alterações anuais. De modo
as estratégias através das quais a escola propõe realizar a sua geral, “a sua duração dependerá fundamentalmente da
função educativa. permanência em cada instituição das pessoas que o
Barbier57 distingue dois tipos de projeto – o projeto de elaboraram e da estabilidade das suas convicções” (Costa60).
situação (“representações relativas ao estado final do objeto,
da identidade, da situação que se procura transformar ou

56 COSTA, Adelino Jorge: "Construção de projetos educativos nas escolas: 58 BOUTINET, J. P. (1986). Le concept de projet e ses niveaux. Éducation

traços de um percurso debilmente articulado." - Revista Portuguesa de Educação, Permanente, nº 86.


Volume 17, nº 2. 59 VIDAL, J. G., CÁRAVE, G. e FLORENCIO, M. A. (1992). Madrid: Editorial EOS.
57 BARBIER, J.-M. (1993). Elaboração de projectos de acção e planificação. 60 COSTA, J. A. (1992). Gestão escolar: Participação, autonomia, projecto

Porto: Porto Editora. educativo da escola. Lisboa: Texto Editora.

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Para Vidal, Cárave e Florencio e para Carvalho e Diogo61, o Um projeto dinâmico e


Um produto fechado,
projeto educativo de escola é um documento de planificação modificável em função da
acabado e inalterável.
da ação educativa, de amplitude integral, de duração de longo prática educativa.
prazo e de natureza geral e estratégica. Assim, é mais amplo e Um “empenho” pessoal de Uma criação coletiva do
abrangente do que o projeto pedagógico e o plano de Unidade algum membro do corpo conjunto de membros da
Didática que são meios em relação ao projeto educativo e têm docente ou da Associação comunidade educativa do
como objeto converter as finalidades deste em ações, pois são de Pais de Alunos. centro.
documentos de planificação operatória. Uma complicação a mais Um facilitador do trabalho
O projeto educativo distingue-se também de outras para o trabalho docente. docente.
planificações escolares, como o Plano Trienal escolar, o Plano Uma fórmula Um conjunto articulado de
anual de Escola, o Projeto curricular de turma e o Regimento paradigmática que resolve princípios, orientações e
interno da Escola, que estão destinados a concretizá-lo todos os problemas do sistemas que servem de
relativamente a aspectos mais operacionais e, portanto, têm centro. Um regulamento de marco às atividades
um caráter tático, e instrumental. funcionamento. educativas.
O projeto educativo é elaborado por toda a comunidade Um projeto equilibrado,
escolar. O projeto educativo da escola é um conjunto de opções Um “panfleto” que diz
produto das intenções de
ideológicas, políticas, antropológicas, axiológicas e coisas muito “atrevidas”
toda a comunidade
pedagógicas resultantes da tensão entre o estabelecido ou sobre a educação.
educativa.
imposto pelo Estado (projeto vertical), a prática implícita Um projeto resultante da
interna à escola (projeto ritual) e a postura utópica ou Um documento que só tensão entre o estabelecido
intencional da comunidade escolar (projeto intencional). expressa o que se quer que (imposto), a prática
se conheça. implícita (ritual) e o
Dimensões do projeto educativo, citadas por Carvalho e intencional.
Diogo:
O projeto deve servir a incerteza, ter em conta o Em suma, concebendo-se como uma adaptação do “projeto
indeterminado, ser capaz de infletir de direção como resultado educacional” do país (leis e diretrizes curriculares) ao nível
de uma avaliação permanente, incorporar o conflito, mas, específico local, como uma programação geral da escola e
sobretudo, devolver a cada indivíduo o seu espaço de como um instrumento de autonomia didático-pedagógica e
criatividade e ação de modo a que ele sinta reconhecida a sua organizativa da escola, o projeto educativo da escola se
atividade, compreenda as suas ações e as possa inscrever num caracteriza por quatro categorias metodológicas (Baldacci62):
todo significativo. - a intencionalidade;
Neste sentido, o projeto educativo deve ser coletivo, mas - a contextualização;
favorecendo a interação; autônomo mas não independente. - a metodicidade; e
Uma tal concepção exige do projeto educativo: - a flexibilidade.
- explicitação de valores comuns;
- coerência de atividades; Pela intencionalidade, o projeto educativo estabelece
- busca coletiva de recursos e meios para melhorar o direção e metas precisas e explícitas, evitando a ação educativa
ensino; casual e extemporânea.
- definição de ação; A contextualização representa a adaptação do projeto
- definição de um sentido para uma ação comum; educacional do país à realidade sociocultural concreta de uma
- gestão participativa; escola. A intencionalidade passa a ser “historicizada”, ou seja,
- avaliação permanente, participada e interativa; contextualizada num ambiente de referência específico, o que
- implicação do conjunto dos atores; permite a passagem de um projeto abstrato para um projeto
- apropriação de saberes e instrumentos de ação por parte concreto.
dos implicados. A metodicidade valoriza o princípio de sistematicidade e
Sobre o que não deve ser e o que deve ser o projeto organicidade no processo didático, mesmo reconhecendo as
educativo de escola, Vidal, Cárave e Florencio elaboraram um diferenças de estilo de aprender e ensinar de alunos e
quadro-síntese que ajuda a clarificar seu entendimento professores, respectivamente.
adequado. Finalmente, a flexibilidade assegura que o projeto
educativo seja tratado como uma mera hipótese de trabalho e
por isso está sujeito a retificações e revisões ao longo de sua
Não deve ser Deve ser implementação.
Uma exposição clara,
Uma enumeração
concisa e breve das PPP – Projeto Político Pedagógico
detalhada dos elementos
intenções educativas, O PPP nasce da necessidade de organização do trabalho
que compõem um centro:
estruturas, regulamentos e pedagógico para os alunos, a escola é o lugar de concepção,
planos, descrições,
organização curricular de realização e avaliação dessa ação. Será um elo entre a escola e
professores, etc.
uma comunidade escolar. a comunidade escolar, bem como com o sistema de ensino que
Uma adequação daqueles a compõe. Essa construção faz emergir a necessidade de
Um manual de psicologia, princípios e estruturas responsabilização de diversos atores na prática social.
pedagogia, sociologia, de educativas que se É projeto porque significa lançar para diante. “Todo
organização escolar, etc. consideram adequados para projeto supõe rupturas com o presente e promessas para o
uma comunidade. futuro” (Gadotti).
Um documento destinado Um documento orientador e É político, pois “a dimensão política se cumpre na medida
ao exercício burocrático da guia de todas as atividades em que ela se realiza enquanto prática especificamente
educação. educativas. pedagógica" (Saviani).

61 CARVALHO, A. E DIOGO, F. (1994). Projecto educativo. Porto: Edições 62 BALDACCI, M. (1996). La scuola dell´autonomia: Il Progetto educativo

Afrontamento. d´Istituto. Bari: Maria Adda Edittore.

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É pedagógico porque traz a possibilidade de efetivação da objetivos do trabalho docente em relação a um conteúdo
intencionalidade da escola, que é a formação do cidadão específico. Eles regulam as formas de interação entre ensino e
participativo, responsável, compromissado, crítico e criativo. aprendizagem, entre o professor e os alunos, cujo resultado é
A partir de ações educativas. (Ilma Veiga) a assimilação consciente dos conhecimentos e o
desenvolvimento das capacidades cognoscitivas e operativas
Questões dos alunos.
O método não se reduz a um conjunto de procedimentos. O
01. (ANAC – Analista Administrativo - CESPE) No tocante procedimento é um detalhe do método, formas específicas da
a conceitos e dimensões de planejamento, objetivos de ensino ação docente utilizadas em distintos métodos de ensino. Por
e avaliação no processo educativo, julgue o item subsecutivo. exemplo, se é utilizado o método da exposição, podem-se
O planejamento educacional tem como pressuposto a utilizar procedimentos tais como leitura de texto,
análise da eficiência do sistema educacional e tem como demonstração de um experimento, etc.
requisito a continuidade da ação sistemática para alcançar os
fins propostos. Qual é o melhor método
( ) Certo ( ) Errado O melhor método para a alfabetização64 é uma discussão
antiga entre os especialistas no assunto e também entre os
02. (SEDF - Professor de Educação Básica - CESPE/2017) pais quando vão escolher uma escola para seus filhos
Com relação a planejamento pedagógico, começaram a ler as primeiras palavras e frases. No caso
transdisciplinaridade, avaliação e projeto político-pedagógico, brasileiro, com os elevados índices de analfabetismo e os
julgue o item que se segue. graves problemas estruturais na rede pública de ensino,
Os elementos constituintes, os objetivos e os conteúdos de especialistas debatem qual seria o melhor método para
um planejamento devem, obrigatoriamente, estar interligados, revolucionar, ou pelo menos, melhorar a educação brasileira.
mas as estratégias, não, pois estas são flexíveis. Ao longo das décadas, houve uma mudança da forma de pensar
( ) Certo ( ) Errado a educação, que passou de ser vista da perspectiva de como o
aluno aprende e não como o professor ensina.
03. (SEDF - Professor de Educação Básica - CESPE/2017) São muitas as formas de alfabetizar e cada uma delas
Com relação a planejamento pedagógico, destaca um aspecto no aprendizado. Desde o método fônico,
transdisciplinaridade, avaliação e projeto político-pedagógico, adotado na maioria dos países do mundo, que faz associação
julgue o item que se segue. entre as letras e sons, passando pelo método da linguagem
Os únicos níveis de organização da prática educativa que total, que não utiliza cartilhas, e o alfabético, que trabalha com
influenciam no planejamento docente são o planejamento do o soletramento, todos contribuem de uma forma ou de outra,
professor e o planejamento escolar, que devem ser articulados. para o processo de alfabetização.
( ) Certo ( ) Errado
Para Libâneo:65
04. (IFB - Professor Pedagogia - IFB/2017) Em relação "Os métodos são determinados pela relação objetivos-
aos aspectos do planejamento, assinale a opção que contenha conteúdos, e referem-se aos meios para alcançar os objetivos
a CORRETA sequência hierárquica do mais amplo ao mais gerais e específicos do ensino, ou seja, ao 'como' do processo de
restrito, em relação ao planejamento: ensino, englobando as ações a serem realizadas pelo professor e
(A) planejamento escolar; planejamento educacional; pelos alunos para atingir objetivos e conteúdos."
planejamento de ensino; planejamento curricular;
(B) planejamento curricular; planejamento educacional; Passamos a analisar os métodos detalhadamente:
planejamento escolar; planejamento de ensino; - Método Sintético
(C) planejamento de ensino; planejamento curricular; O método sintético estabelece uma correspondência entre
planejamento escolar; planejamento educacional; o som e a grafia, entre o oral e o escrito, através do
(D) planejamento de ensino; planejamento educacional; aprendizado por letra por letra, ou sílaba por sílaba e palavra
planejamento curricular planejamento escolar; por palavra.
(E) planejamento educacional; planejamento escolar; Os métodos sintéticos podem ser divididos em três tipos: o
planejamento curricular; planejamento de ensino. alfabético, o fônico e o silábico. No alfabético, o estudante
aprende inicialmente as letras, depois forma as sílabas
05. (SEDF - Professor de Educação Básica - juntando as consoantes com as vogais, para, depois, formar as
Quadrix/2017) Quanto ao planejamento e à organização do palavras que constroem o texto.
trabalho pedagógico, julgue o item subsecutivo. No fônico, também conhecido como fonético, o aluno parte
No processo de planejamento e organização do trabalho do som das letras, unindo o som da consoante com o som da
pedagógico, as ações estão circunstanciadas no âmbito dos vogal, pronunciando a sílaba formada. Já no silábico, ou
vários elementos que compõem o universo escolar, devendo silabação, o estudante aprende primeiro as sílabas para formar
ser dada importância máxima àquelas circunscritas à prática as palavras.
pedagógica do professor e à sua formação. Por este método, a aprendizagem é feita primeiro através
( ) Certo ( ) Errado de uma leitura mecânica do texto, através da decifração das
palavras, vindo posteriormente a sua leitura com
Respostas compreensão.
Neste método, as cartilhas são utilizadas para orientar os
01. Certo. / 02. Errado. / 03. Errado. / 04. E /05. Errado. alunos e professores no aprendizado, apresentando um
fonema e seu grafema correspondente por vez, evitando
Métodos de Ensino63 confusões auditivas e visuais.
Como este aprendizado é feito de forma mecânica, através
Os métodos de ensino são as ações do professor pelas quais da repetição, o método sintético é tido pelos críticos como
se organizam as atividades de ensino e dos alunos para atingir mais cansativo e enfadonho para as crianças, pois é baseado

63 Libâneo , Os Métodos de Ensino , 1994, cap.7.) 65 Libâneo, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994
64 Adaptação de VISVANATHAN, C.

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apenas na repetição e é fora da realidade da criança, que não Visando aproximar os alunos de algum significado é que
cria nada, apenas age sem autonomia. foram criadas variações do método fônico. O que difere uma
modalidade da outra é a maneira de apresentar os sons: seja a
- Método Analítico partir de uma palavra significativa, de uma palavra vinculada
O método analítico, também conhecido como “método à imagem e som, de um personagem associado a um fonema,
olhar-e-dizer”, defende que a leitura é um ato global e de uma onomatopeia ou de uma história para dar sentido à
audiovisual. Partindo deste princípio, os seguidores do apresentação dos fonemas. Um exemplo deste método é o
método começam a trabalhar a partir de unidades completas professor que escreve uma letra no quadro e apresenta
de linguagem para depois dividi-las em partes menores. Por imagens de objetos que comecem com esta letra. Em seguida,
exemplo, a criança parte da frase para extrair as palavras e, escreve várias palavras no quadro e pede para os alunos
depois, dividi-las em unidades mais simples, as sílabas. apontarem a letra inicialmente apresentada. A partir do
Este método pode ser divido em palavração, sentenciação conhecimento já adquirido, o aluno pode apresentar outras
ou global. Na palavração, como o próprio nome diz, parte-se da palavras com esta letra.
palavra. Primeiro, existe o contato com os vocábulos em uma Os especialistas dizem que este método alfabetiza crianças,
sequência que engloba todos os sons da língua e, depois da em média, no período de quatro a seis meses. Este é o método
aquisição de certo número de palavras, inicia-se a formação mais recomendado nas diretrizes curriculares dos países
das frases. desenvolvidos que utilizam a linguagem alfabética.
Na setenciação, a unidade inicial do aprendizado é a frase, A maior crítica a este método é que não serve para
que é depois dividida em palavras, de onde são extraídos os trabalhar com as muitas exceções da língua portuguesa. Por
elementos mais simples: as sílabas. Já no global, também exemplo, como explicar que cassa e caça têm a mesma
conhecido como conto e estória, o método é composto por pronúncia e se escrevem de maneira diferente?
várias unidades de leitura que têm começo, meio e fim, sendo
ligadas por frases com sentido para formar um enredo de
interesse da criança. Os críticos deste método dizem que a A velha cartilha Caminho Suave
criança não aprende a ler, apenas decora. A grande maioria dos brasileiros alfabetizados até os anos
de 1970 e início dos 80 teve na cartilha Caminho Suave o seu
- Método Alfabético primeiro passo para o aprendizado das letras. Com mais de 40
Um dos mais antigos sistemas de alfabetização, o método milhões de exemplares vendidos desde a sua criação, a cartilha
alfabético, também conhecido como soletração, tem como idealizada pela educadora Branca Alves de Lima, que morreu
princípio de que a leitura parte da decoração oral das letras do em 2001, aos 90 anos, teve um grande sucesso devido à
alfabeto, depois, todas as suas combinações silábicas e, em simplicidade de sua técnica.
seguida, as palavras. A partir daí, a criança começa a ler Na tentativa de facilitar a memorização das letras, vogais e
sentenças curtas e vai evoluindo até conhecer histórias. consoantes, e depois das sílabas para aprender a formar as
Por este processo, a criança vai soletrando as sílabas até palavras, a então professora Branca, no final da década de 40,
decodificar a palavra. criou uma série de desenhos que continham a inicial das
Por exemplo, a palavra casa soletra-se assim c, a, ca, s, palavras: o “A” no corpo da abelha, o “F” no cabo da faca, o “G”,
a, sa, casa. O método Alfabético permite a utilização de no corpo do gato.
cartilhas. Por causa da facilidade no aprendizado por meio desta
As principais críticas a este método estão relacionadas à técnica, rapidamente a cartilha tornou-se o principal aliado na
repetição dos exercícios, o que o tornaria tedioso para as alfabetização brasileira até o início dos anos 80, quando o
crianças, além de não respeitar os conhecimentos adquiridos construtivismo começou a tomar forma. Em 1995, o Ministério
pelos alunos antes de eles ingressarem na escola. da Educação retirou a cartilha do seu catálogo de livros. Apesar
O método alfabético, apesar de não ser o indicado pelos disto, estima-se que ainda são vendidas 10 mil cartilhas por
Parâmetros Curriculares Nacionais, ainda é muito utilizado em ano no Brasil.
diversas cidades do interior do Nordeste e Norte do país, já que
é mais simples de ser aplicado por professores leigos, através Tipos de Método66
da repetição das Cartas de ABC, e na alfabetização doméstica.
1 – Método de Exposição pelo professor
- Método Fônico Exposição verbal, demonstração, ilustração,
O método fônico consiste no aprendizado através da exemplificação, etc.
associação entre fonemas e grafemas, ou seja, sons e letras.
Esse método de ensino permite primeiro descobrir o princípio 2 – Método de Trabalho Independente;
alfabético e, progressivamente, dominar o conhecimento Estudo dirigido, investigação e solução de problemas, etc.
ortográfico próprio de sua língua, através de textos
produzidos especificamente para este fim. 3 – Método de Elaboração Conjunta
O método é baseado no ensino do código alfabético de Conversação didática (perguntas)
forma dinâmica, ou seja, as relações entre sons e letras devem
ser feitas através do planejamento de atividades lúdicas para 4 – Método de Trabalho em Grupo
levar as crianças a aprender a codificar a fala em escrita e a Debate, TPG, Tempestade Mental, GV-GO, Seminário, etc.
decodificar a escrita no fluxo da fala e do pensamento.
O método fônico nasceu como uma crítica ao método da 5 – Atividades Especiais
soletração ou alfabético. Primeiro são ensinadas as formas e os Estudo do meio, atividades práticas, etc.
sons das vogais. Depois são ensinadas as consoantes, sendo,
aos poucos, estabelecidas relações mais complexas. Cada letra Questões
é aprendida como um fonema que, juntamente com outro,
forma sílabas e palavras. São ensinadas primeiro as sílabas 01. (IF/AP - Pedagogo – FUNIVERSA/2016). Os métodos
mais simples e depois as mais complexas. de ensino são as ações por meio das quais os professores
organizam as atividades de ensino com o intuito de atingir

66 Libaneo, Texto 5: Os Métodos de Ensino 1994, cap.7

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 137


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objetivos. Considerando essa informação, assinale a juízo de valor sobre a propriedade de um processo para a
alternativa correta. aferição da qualidade do seu resultado, porém, a compreensão
(A) Os métodos de ensino adotados em sala de aula do processo de avaliação do processo ensino/aprendizagem tem
independem dos objetivos gerais propostos pelo Projeto sido pautada pela lógica da mensuração, isto é, associa-se o ato
Político-Pedagógico (PPP) da escola. de avaliar ao de “medir” os conhecimentos adquiridos pelos
(B) O método de ensino deve corresponder à necessária alunos.
unidade: objetivos; conteúdos; métodos; e formas de A avaliação da aprendizagem tem seus princípios e
organização do ensino. características no campo da Psicologia, sendo que as duas
(C) Os métodos de ensino independem dos conteúdos e das primeiras décadas do século XX foram marcadas pelo
disciplinas, por isso todos os métodos podem ser utilizados em desenvolvimento de testes padronizados para medir as
qualquer conteúdo. habilidades e aptidões dos alunos.
(D) A escolha do método a ser utilizado para o ensino de A avaliação é uma operação descritiva e informativa nos
um determinado conteúdo independe da idade e do nível de meios que emprega, formativa na intenção que lhe preside e
desenvolvimento dos alunos. independente face à classificação. De âmbito mais vasto e
(E) No PPP da escola, já estão definidos todos os métodos conteúdo mais rico, a avaliação constitui uma operação
e todas as ações que o professor adotará em sala de aula. indispensável em qualquer sistema escolar.
Havendo sempre, no processo de ensino/aprendizagem,
02. (Secretaria da Criança/DF - Especialista um caminho a seguir entre um ponto de partida e um ponto de
Socioeducativo – Pedagogia – FUNIVERSA/2015). Assinale chegada, naturalmente que é necessário verificar se o trajeto
a alternativa que apresenta o termo correspondente ao está a decorrer em direção à meta, se alguns pararam por não
seguinte conceito: são determinados pela relação objetivo- saber o caminho ou por terem enveredado por um desvio
conteúdo e referem-se aos meios para alcançar objetivos errado.
gerais e específicos do ensino, englobando as ações a serem É essa informação, sobre o progresso de grupos e de cada
realizadas pelo professor e pelos alunos. um dos seus membros, que a avaliação tenta recolher e que é
(A) conteúdos de ensino necessária a professores e alunos.
(B) planos de aulas A avaliação descreve que conhecimentos, atitudes ou
(C) currículos aptidões que os alunos adquiriram, ou seja, que objetivos do
(D) planejamentos curriculares ensino já atingiram num determinado ponto de percurso e que
(E) métodos de ensino dificuldades estão a revelar relativamente a outros.
Esta informação é necessária ao professor para procurar
Respostas meios e estratégias que possam ajudar os alunos a resolver
essas dificuldades e é necessária aos alunos para se
01. B. / 02. E. aperceberem delas (não podem os alunos identificar
claramente as suas próprias dificuldades num campo que
Avaliação desconhecem) e tentarem ultrapassá-las com a ajuda do
professor e com o próprio esforço. Por isso, a avaliação tem
A avaliação67, tal como concebida e vivenciada na maioria uma intenção formativa.
das escolas brasileiras, tem se constituído no principal A avaliação proporciona também o apoio a um processo a
mecanismo de sustentação da lógica de organização do decorrer, contribuindo para a obtenção de produtos ou
trabalho escolar e, portanto, legitimador do fracasso, resultados de aprendizagem.
ocupando mesmo o papel central nas relações que
estabelecem entre si os profissionais da educação, alunos e As avaliações a que o professor procede enquadram-se
pais. em três grandes tipos: avaliação diagnostica, formativa e
Os métodos de avaliação ocupam, sem dúvida espaço somativa.
relevante no conjunto das práticas pedagógicas aplicadas ao
processo de ensino e aprendizagem. Avaliar, neste contexto, Evolução da avaliação
não se resume à mecânica do conceito formal e estatístico; não A partir do início do século XX, a avaliação vem
é simplesmente atribuir notas, obrigatórias à decisão de atravessando pelo menos quatro gerações, conforme Guba e
avanço ou retenção em determinadas disciplinas. Lincoln69 são elas: mensuração, descritiva, julgamento e
Para Oliveira68, devem representar as avaliações aqueles negociação.
instrumentos imprescindíveis à verificação do aprendizado 1 – Mensuração – não distinguia avaliação e medida. Nessa
efetivamente realizado pelo aluno, ao mesmo tempo que fase, era preocupação dos estudiosos a elaboração de
forneçam subsídios ao trabalho docente, direcionando o instrumentos ou testes para verificação do rendimento
esforço empreendido no processo de ensino e aprendizagem escolar. O papel do avaliador era, então, eminentemente
de forma a contemplar a melhor abordagem pedagógica e o técnico e, neste sentido, testes e exames eram indispensáveis
mais pertinente método didático adequado à disciplina – mas na classificação de alunos para se determinar seu progresso.
não somente -, à medida que consideram, igualmente, o 2 – Descritiva – essa geração surgiu em busca de melhor
contexto sócio-político no qual o grupo está inserido e as entendimento do objetivo da avaliação. Conforme os
condições individuais do aluno, sempre que possível. estudiosos, a geração anterior só oferecia informações sobre o
A avaliação da aprendizagem possibilita a tomada de aluno.
decisão e a melhoria da qualidade de ensino, informando as Precisavam ser obtidos dados em função dos objetivos por
ações em desenvolvimento e a necessidade de regulações parte dos alunos envolvidos nos programas escolares, sendo
constantes. necessário descrever o que seria sucesso ou dificuldade com
relação aos objetivos estabelecidos.
Origem da avaliação Neste sentido o avaliador estava muito mais concentrado
Avaliar vem do latim a + valere, que significa atribuir valor em descrever padrões e critérios. Foi nessa fase que surgiu o
e mérito ao objeto em estudo. Portanto, avaliar é atribuir um termo “avaliação educacional”.

67 Texto adaptado de KRAEMER, M. E. P. 69 FIRME, Tereza Penna. Avaliação: tendências e tendenciosidades. Avaliação
68 OLIVEIRA, I. B. Currículos praticados: entre a regulação e a emancipação. v Políticas Públicas Educacionais, Rio de Janeiro,1994.
Rio de Janeiro: DP & A, 2003.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 138


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3 – Julgamento – a terceira geração questionava os testes Estes mecanismos permitem que o professor detecte e
padronizados e o reducionismo da noção simplista de identifique deficiências na forma de ensinar, possibilitando
avaliação como sinônimo de medida; tinha como preocupação reformulações no seu trabalho didático, visando aperfeiçoa-lo.
maior o julgamento. Para Bloom, Hastings e Madaus, a avaliação formativa visa
Neste sentido, o avaliador assumiria o papel de juiz, informar o professor e o aluno sobre o rendimento da
incorporando, contudo, o que se havia preservado de aprendizagem no decorrer das atividades escolares e a
fundamental das gerações anteriores, em termos de localização das deficiências na organização do ensino para
mensuração e descrição. possibilitar correção e recuperação.
Assim, o julgamento passou a ser elemento crucial do A avaliação formativa pretende determinar a posição do
processo avaliativo, pois não só importava medir e descrever, aluno ao longo de uma unidade de ensino, no sentido de
era preciso julgar sobre o conjunto de todas as dimensões do identificar dificuldades e de lhes dar solução.
objeto, inclusive sobre os próprios objetivos. Função somativa – Tem como objetivo, segundo Miras e
4 – Negociação – nesta geração, a avaliação é um processo Solé determinar o grau de domínio do aluno em uma área de
interativo, negociado, que se fundamenta num paradigma aprendizagem, o que permite outorgar uma qualificação que,
construtivista. Para Guba e Lincoln é uma forma responsiva de por sua vez, pode ser utilizada como um sinal de credibilidade
enfocar e um modo construtivista de fazer. da aprendizagem realizada.
A avaliação é responsiva porque, diferentemente das Pode ser chamada também de função creditativa. Também
alternativas anteriores que partem inicialmente de tem o propósito de classificar os alunos ao final de um período
variáveis, objetivos, tipos de decisão e outros, ela se situa e de aprendizagem, de acordo com os níveis de aproveitamento.
desenvolve a partir de preocupações, proposições ou
controvérsias em relação ao objetivo da avaliação, seja ele A avaliação somativa pretende ajuizar do progresso
um programa, projeto, curso ou outro foco de atenção. Ela realizado pelo aluno no final de uma unidade de
é construtivista em substituição ao modelo científico, que aprendizagem, no sentido de aferir resultados já colhidos
tem caracterizado, de um modo geral, as avaliações mais por avaliações do tipo formativa e obter indicadores que
prestigiadas neste século. permitem aperfeiçoar o processo de ensino. Corresponde a
Neste sentido, Souza diz que a finalidade da avaliação, de um balanço final, a uma visão de conjunto relativamente a
acordo com a quarta geração, é fornecer, sobre o processo um todo sobre o qual, até aí, só haviam sido feitos juízos
pedagógico, informações que permitam aos agentes escolares parcelares.
decidir sobre as intervenções e redirecionamentos que se
fizerem necessários em face do projeto educativo, definido Objetivos da avaliação
coletivamente, e comprometido com a garantia da Na visão de Miras e Solé, os objetivos da avaliação são
aprendizagem do aluno. Converte-se, então, em um traçados em torno de duas possibilidades: emissão de “um
instrumento referencial e de apoio às definições de natureza juízo sobre uma pessoa, um fenômeno, uma situação ou um
pedagógica, administrativa e estrutural, que se concretiza por objeto, em função de distintos critérios”, e “obtenção de
meio de relações partilhadas e cooperativas. informações úteis para tomar alguma decisão”.
Para Nérici, a avaliação é uma etapa de um procedimento
Funções do processo avaliativo maior que incluiria uma verificação prévia. A avaliação, para
As funções da avaliação são: de diagnóstico, de verificação este autor, é o processo de ajuizamento, apreciação,
e de apreciação. julgamento ou valorização do que o educando revelou ter
Função diagnóstica - A primeira abordagem, de acordo aprendido durante um período de estudo ou de
com Miras e Solé70, contemplada pela avaliação diagnóstica desenvolvimento do processo ensino/aprendizagem.
(ou inicial), é a que proporciona informações acerca das Para outros autores, a avaliação pode ser considerada
capacidades do aluno antes de iniciar um processo de como um método de adquirir e processar evidências
ensino/aprendizagem, ou ainda, segundo Bloom, Hastings e necessárias para melhorar o ensino e a aprendizagem,
Madaus, busca a determinação da presença ou ausência de incluindo uma grande variedade de evidências que vão além
habilidades e pré-requisitos, bem como a identificação das do exame usual de ‘papel e lápis’.
causas de repetidas dificuldades na aprendizagem. É ainda um auxílio para classificar os objetivos
A avaliação diagnóstica pretende averiguar a posição do significativos e as metas educacionais, um processo para
aluno face a novas aprendizagens que lhe vão ser propostas e determinar em que medida os alunos estão se desenvolvendo
a aprendizagens anteriores que servem de base àquelas, no dos modos desejados, um sistema de controle da qualidade,
sentido de obviar as dificuldades futuras e, em certos casos, de pelo qual pode ser determinada etapa por etapa do processo
resolver situações presentes. ensino/aprendizagem, a efetividade ou não do processo e, em
Função formativa - A segunda função á a avaliação caso negativo, que mudança devem ser feitas para garantir sua
formativa que, conforme Haydt, permite constatar se os alunos efetividade.
estão, de fato, atingindo os objetivos pretendidos, verificando
a compatibilidade entre tais objetivos e os resultados Modelo tradicional de avaliação x modelo mais
efetivamente alcançados durante o desenvolvimento das adequado
atividades propostas. Gadotti diz que a avaliação é essencial à educação, inerente
Representa o principal meio através do qual o estudante e indissociável enquanto concebida como problematização,
passa a conhecer seus erros e acertos, assim, maior estímulo questionamento, reflexão, sobre a ação.
para um estudo sistemático dos conteúdos. Entende-se que a avaliação não pode morrer, ela se faz
Outro aspecto é o da orientação fornecida por este tipo de necessária para que possamos refletir, questionar e
avaliação, tanto ao estudo do aluno como ao trabalho do transformar nossas ações.
professor, principalmente através de mecanismos de O mito da avaliação é decorrente de sua caminhada
feedback. histórica, sendo que seus fantasmas ainda se apresentam
como forma de controle e de autoritarismo por diversas
gerações. Acreditar em um processo avaliativo mais eficaz é o

70 MIRAS, M., SOLÉ, I. A Evolução da Aprendizagem e a Evolução do Processo Desenvolvimento psicológico e educação: psicologia da educação. Porto Alegre:
de Ensino e Aprendizagem in COLL, C., PALACIOS, J., MARCHESI, A. Artes Médicas, 1996.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 139


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mesmo que cumprir sua função didático-pedagógica de reais motivos para


auxiliar e melhorar o ensino/aprendizagem. discrepâncias em Implicação - o foco da
A forma como se avalia, segundo Luckesi, é crucial para a determinadas disciplinas). escola passa a ser o
concretização do projeto educacional. É ela que sinaliza aos resultado de seu ensino
alunos o que o professor e a escola valorizam. O autor, na para o aluno e não mais a
tabela 1, traça uma comparação entre a concepção tradicional média do aluno na escola.
de avaliação com uma mais adequada a objetivos O sistema social se contenta
contemporâneos, relacionando-as com as implicações de sua com as notas - as notas são
adoção. suficientes para os quadros Sistema social
estatísticos. Resultados dentro preocupado com o futuro -
Tabela 1 – Comparação entre a concepção tradicional de da normalidade são bem Já alertava o ex-ministro da
avaliação com uma mais adequada vistos, não importando a Educação, Cristóvam
Modelo tradicional de qualidade e os parâmetros Buarque: "Para saber como
Modelo adequado
avaliação para sua obtenção (salvo nos será um país daqui há 20
Foco na aprendizagem - o casos de exames como o ENEM anos, é preciso olhar como
Foco na promoção – o alvo
alvo do aluno deve ser a que, de certa forma, avaliam e está sua escola pública no
dos alunos é a promoção. Nas
aprendizagem e o que de "certificam" os diferentes presente". Esse é um sinal
primeiras aulas, se discutem as
proveitoso e prazeroso dela grupos de práticas de que a sociedade já
regras e os modos pelos quais
obtém. educacionais e começa a se preocupar com
as notas serão obtidas para a
estabelecimentos de ensino). o distanciamento
promoção de uma série para
Implicação - neste contexto, educacional do Brasil com o
outra.
a avaliação deve ser um Implicação - não há garantia dos demais países. É esse o
auxílio para se saber quais sobre a qualidade, somente os caminho para revertermos o
Implicação – as notas vão
objetivos foram atingidos, resultados interessam, mas quadro de uma educação
sendo observadas e
quais ainda faltam e quais estes são relativos. Sistemas "domesticadora" para
registradas. Não importa como
as interferências do educacionais que rompem com "humanizadora".
elas foram obtidas, nem por
professor que podem ajudar esse tipo de procedimento
qual processo o aluno passou.
o aluno. tornam-se incompatíveis com Implicação - valorização da
Foco nas provas - são os demais, são marginalizados educação de resultados
utilizadas como objeto de e, por isso, automaticamente efetivos para o indivíduo.
pressão psicológica, sob Foco nas competências - o pressionados a agir da forma
pretexto de serem um desenvolvimento das tradicional.
'elemento motivador da competências previstas no
aprendizagem', seguindo ainda projeto educacional devem Mudando de paradigma, cria-se uma nova cultura
a sugestão de Comenius em ser a meta em comum dos avaliativa, implicando na participação de todos os envolvidos
sua Didática Magna criada no professores. no processo educativo. Isto é corroborado por Benvenutti, ao
século XVII. É comum ver dizer que a avaliação deve estar comprometida com a escola e
professores utilizando Implicação - a avaliação esta deverá contribuir no processo de construção do caráter, da
ameaças como "Estudem! Caso deixa de ser somente um consciência e da cidadania, passando pela produção do
contrário, vocês poderão se objeto de certificação da conhecimento, fazendo com que o aluno compreenda o mundo
dar mal no dia da prova!" ou consecução de objetivos, em que vive, para usufruir dele, mas sobretudo que esteja
"Fiquem quietos! Prestem mas também se torna preparado para transformá-lo.
atenção! O dia da prova vem aí necessária como
e vocês verão o que vai instrumento de diagnóstico A avaliação da aprendizagem como processo
acontecer..." e acompanhamento do construtivo de um novo fazer
processo de aprendizagem. O processo de conquista do conhecimento pelo aluno ainda
Implicação - as provas são Neste ponto, modelos que não está refletido na avaliação. Para Wachowicz &
utilizadas como um fator indicam passos para a Romanowski, embora historicamente a questão tenha
negativo de motivação. Os progressão na evoluído muito, pois trabalha a realidade, a prática mais
alunos estudam pela ameaça aprendizagem, como a comum na maioria das instituições de ensino ainda é um
da prova, não pelo que a Taxionomia dos Objetivos registro em forma de nota, procedimento este que não tem as
aprendizagem pode lhes trazer Educacionais de Benjamin condições necessárias para revelar o processo de
de proveitoso e prazeroso. Bloom, auxiliam muito a aprendizagem, tratando-se apenas de uma contabilização dos
Estimula o desenvolvimento prática da avaliação e a resultados.
da submissão e de hábitos de orientação dos alunos. Quando se registra, em forma de nota, o resultado obtido
comportamento físico tenso pelo aluno, fragmenta-se o processo de avaliação e introduz-se
(estresse). uma burocratização que leva à perda do sentido do processo e
Os estabelecimentos de Estabelecimentos de da dinâmica da aprendizagem.
ensino estão centrados nos ensino centrados na Se a avaliação tem sido reconhecida como uma função
resultados das provas e qualidade - os diretiva, ou seja, tem a capacidade de estabelecer a direção do
exames - eles se preocupam estabelecimentos de ensino processo de aprendizagem, oriunda esta capacidade de sua
com as notas que demonstram devem preocupar-se com o característica pragmática, a fragmentação e a burocratização
o quadro global dos alunos, presente e o futuro do acima mencionadas levam à perda da dinamicidade do
para a promoção ou aluno, especialmente com processo.
reprovação. relação à sua inclusão social
(percepção do mundo, Os dados registrados são formais e não representam a
Implicação - o processo criatividade, realidade da aprendizagem, embora apresentem
educativo permanece oculto. A empregabilidade, interação, consequências importantes para a vida pessoal dos alunos,
leitura das médias tende a ser posicionamento, para a organização da instituição escolar e para a
ingênua (não se buscam os criticidade). profissionalização do professor.

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Uma descrição da avaliação e da aprendizagem poderia Esta seria a concepção que se opõe à anterior, polarizando
revelar todos os fatos que aconteceram na sala de aula. Se fosse em torno das condições do sujeito e não mais do objeto ou
instituída, a descrição (e não a prescrição) seria uma fonte de meio. Funda-se em uma base filosófica de natureza
dados da realidade, desde que não houvesse uma vinculação racionalista ou apriorista, que percebe o conhecimento como
prescrita com os resultados. resultante de estruturas pré-formadas, de variáveis biológicas
A isenção advinda da necessidade de analisar a ou maturacionais e de organização perceptual de situações
aprendizagem (e não julgá-la) levaria o professor e os alunos a imediatas. A escola psicológica alemã conhecida como Gestalt,
constatarem o que realmente ocorreu durante o processo: se o responsável no início do século XX, por estudos na vertente da
professor e os alunos tivessem espaço para revelar os fatos tais percepção, constitui umas das expressões mais fortes dessa
como eles realmente ocorreram, a avaliação seria real, posição, tendo deixado um legado mais associado ao estudo da
principalmente discutida coletivamente. “boa forma” ou das condições capazes de propiciar soluções de
problemas por discernimento súbito (insight), em função de
No entanto, a prática das instituições não encontrou uma relações estabelecidas na totalidade da situação. Neste
forma de agir que tornasse possível essa isenção: as modelo, a aprendizagem prevalece sobre o ensino, em seu
prescrições suplantam as descrições e os pré-julgamentos estatuto de autossuficiência e autorregulação, reducionismo
impedem as observações. que permanece recusando a relação ensino-aprendizagem e se
A consequência mais grave é que essa arrogância não fixando em apenas um de seus polos.
permite o aperfeiçoamento do processo de ensino e
aprendizagem. E este é o grande dilema da avaliação da “Aprendizagem é organização de conhecimentos como
aprendizagem. estruturas, ou rede construídas a partir das interações
O entendimento da avaliação, como sendo a medida dos entre sujeito e meio de conhecimento ou práticas sociais”
ganhos da aprendizagem pelo aluno, vem sofrendo denúncias
há décadas, desde que as teorias da educação escolar Esta seria uma concepção de base construtivista ou
recolocaram a questão no âmbito da cognição. interacionista, comprometida com a superação dos
Pretende-se uma mudança da avaliação de resultados para reducionismos anteriores (experiência advinda dos objetos X
uma avaliação de processo, indicando a possibilidade de pré-formação de estruturas) e identificada com modelos mais
realizar-se na prática pela descrição e não pela prescrição da abertos, fundados nas ideias de gênese ou processo.
aprendizagem. Por esta razão, suas principais vertentes podem ser
identificadas como “psicogenéticas” e são representadas pela
Avaliação da aprendizagem71 Epistemologia Genética Piagetiana e pela abordagem sócio-
A noção de aprendizagem está, em sua origem, associada a histórica dos psicólogos soviéticos (Vygotsky, Luria e
ideia de apreensão de conhecimento e, nesse sentido, só pode Leontierv, em especial).
ser compreendida em função de determinada concepção de
conhecimento – algo que a filosofia compreende como base ou Dois destaques merecem ser feitos em relação a essas duas
matriz epistemológica. A partir de tais concepções, podem ser vertentes:
focalizadas três possibilidades de definição de aprendizagem: 1- Na perspectiva piagetiana, aprendizagem se
identifica com adaptação ou equilibração à medida que
“Aprendizagem é mudança de comportamento supõe a “passagem de um estado de menor conhecimento a
resultante do treino ou da experiência” um estado de conhecimento mais avançado” ou “uma
construção sucessiva com elaborações constantes de
Esta seria a definição mais impregnada e dominante no estruturas novas, rumo a equilibrações majorantes”72
campo psicológico e pedagógico e, certamente, a mais (O motor para tais processos de adaptação e equilibração
resistente às proposições alternativas. Funda-se na concepção seria o conflito cognitivo diante de novos desafios ou
empirista formulada por Locke e Hume. Realimenta-se do necessidades de aprendizagem, em esforços complementares
positivismo de Comte, com seus ideais de objetividade de assimilação (polo do sujeito responsável por incorporações
científica, ao final do século XIX e se encarna como corrente de elementos do mundo exterior) e acomodação (polo
behaviorista, comportamentista ou de estímulo–resposta, no modificado do estado anterior do sujeito em função das atuais
início do século XX. Valoriza o polo do objeto e não o do sujeito, demandas apresentadas pelo objeto de conhecimento). Essa
marcando a influência do meio ou do ambiente através de posição sugere a importância de que o meio de aprendizagem
estímulos, sensações e associações. Reserva ao sujeito o papel seja alargado e pleno de significado, para que se chegue a uma
de receptáculo e reprodutor de informações, através de congruência entre a parte do sujeito e as pressões externas,
modelagens comportamentais progressivamente reforçadas e entre autorregulações e regulações externas, entre sistemas
dele expropria funções mais elaboradas que tenham relação pertinentes ao aluno e ao professor. Assim, a não-
com motivações e significações. Neste modelo, aprendizagem aprendizagem seria resultante da ausência de congruência
e ensino têm o mesmo estatuto ou identidade, pois a primeira entre os sistemas envolvidos nos processos de ensino-
é considerada decorrência linear do segundo (em outros aprendizagem.
termos: se algo foi ensinado, dentro de contingências 2- Na perspectiva sócio-histórica de Vygotsky e seus
ambientais adequadas, certamente foi apreendido...). Na colaboradores, destaca-se, no contexto dessa discussão, a
perspectiva pedagógica, essa concepção encontra plena articulação fortemente estabelecida entre aprendizagem e
afinidade com práticas mecanicistas, tecnicistas e bancárias – desenvolvimento, sendo a primeiro motor do segundo, no
metáfora utilizada por Paulo Freire, para traduzir a ideia de sentido que apresenta potência para projeta-lo até
passividade do sujeito, depositário de informações, conforme patamares mais avançados. Esta potência da
a lógica do acúmulo, a serviço da seleção e da classificação. aprendizagem se ancora nas relações entre ”zona de
desenvolvimento real” e “zona de desenvolvimento
“Aprendizagem é apreensão de configurações proximal”: a primeira referindo-se às competências ou
perceptuais através de insights”. domínios já instalados (no campo conceitual,
procedimental ou atitudinal, por exemplo) e a segunda

71 http://crv.educacao.mg.gov.br/ 72 PIAGET, J. A Evolução Intelectual da Adolescência à Vida Adulta. Trad.

Fernando Becker; Tania B.I. Marques, Porto Alegre: Faculdade de Educação, 1993.

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entendida como campo aberto de possibilidades, em A centralidade da aprovação/reprovação na cultura


transição ou em vias de se consolidar, a partir de escolar impõe algumas considerações importantes em torno
intervenções ou mediações de outros – professores ou pares da nota e da ideia de avaliação como medida dos desempenhos
mais experientes ou competentes em determinada área, do aluno. Para se medir objetivamente um fenômeno, é preciso
tarefa ou função.73 definir uma unidade de medida. Sua operacionalização se dá
através de um instrumento. No caso da avaliação escolar, este
Nesse sentido, este teórico redimensiona a relação ensino- instrumento é produzido, aplicado e corrigido pelo professor,
aprendizagem, superando as dicotomias e fragmentação de que acaba sendo, ele próprio, um instrumento de medição do
outras concepções e valoriza o aprendizado escolar como meio desempenho do aluno, uma vez que é ele quem atribui o valor
privilegiado para as mediações em direito a patamares ao trabalho. Portanto, o critério de objetividade, implícito na
conceituais mais elevados. ideia de avaliação como medida, perde sua confiabilidade, já
Além disso, a perspectiva dialética dessa abordagem insere que o professor é um ser humano e, como tal, impossibilitado
a aprendizagem em uma dimensão mais próxima de nossa de despir-se de sua dimensão subjetiva: a visão de mundo, as
realidade educacional: um processo marcado por preferências pessoais, o estado de humor, as paixões, os afetos
contradições, conflitos, rupturas e, até mesmo, regressões – e desafetos, os valores, etc., estão necessariamente presentes
necessitando, por isso mesmo, de mediações que assegurem o nas ações humanas. Esta questão é objeto de estudo de
espaço do reconhecimento das práticas sociais dos alunos, de inúmeras pesquisas que apontam desacordos consideráveis
seus conhecimentos prévios, dos significados e sentidos na atribuição de valor a um mesmo trabalho ou exame
pertinentes às situações de aprendizagem de cada sujeito corrigido por diferentes professores. E esse valor, geralmente
singular e de suas dimensões compartilhadas. registrado de forma numérica, é a referência para a
As abordagens contemporâneas da Psicologia da classificação do aluno e o julgamento do professor ou da escola
Aprendizagem e dos estudos sobre reorientações curriculares quanto à sua aprovação/reprovação.
apoiam-se nessas categorias para a necessária reorientação No contexto escolar, e no imaginário social também, o
das estratégias de aprendizagem. significado da nota e sua identificação com a própria avaliação
Um enfoque superficial: centrado em estratégias tornaram-se tão fortes que num dos argumentos para a sua
mnemônicas ou de memorização (reprodutoras em manutenção costuma ser o de que, sem ela, acabou-se a
contingências de provas ou exames) ou centrado em avaliação e o interesse ou a motivação do aluno pelos estudos.
passividade, isolamento, ausência de reflexão sobre Estes argumentos refletem, por um lado, a distorção da função
propósitos ou estratégias; maior foco na fragmentação e no avaliativa na escola, que não deve confundir-se com a
acúmulo de elementos; atribuição de notas: a avaliação deve servir à orientação das
Um enfoque profundo: centrado na intenção de aprendizagens. Por outro lado, revelam uma compreensão do
compreender, na relação das novas ideias e conceitos com o desempenho do aluno como decorrente exclusivamente de sua
conhecimento anterior, na relação dos conceitos como responsabilidade ou competência individual. Daí o fato da
experiência cotidiana, nos componentes significativos dos avaliação assumir, frequentemente, o sentido de premiação ou
conteúdos, nas inter-relações e nas condições de punição. Essa questão torna-se mais grave na medida que os
transcendência em relação às situações e aprendizagens do privilégios são justificados com base nas diferenças e
momento. desigualdades entre os alunos. Fundamentada na meritocracia
As questões mais relevantes, a partir dessas distinções (a ideia de que a posição dos indivíduos na sociedade é
seriam: Por que um aluno se dirige para um outro tipo de consequência do mérito individual), a Avaliação Classificatória
aprendizagem? O que faz com que mostre maior ou menor passa a servir à discriminação e à injustiça social.
disposição para a realização de aprendizagens significativas? Na Avaliação Classificatória trabalha-se com a ideia de
Por que não aprende em determinadas circunstâncias? Por verificação da aprendizagem. O termo verificar tem origem na
que alunos modificam seu enfoque em função da tarefa ou da expressão latina verum facere, que significa verdadeiro. Parte-
mudança de estratégias dos professores? Quais os fatores de se do princípio de que existe um conhecimento – uma verdade
mediação capazes de produzir novos patamares motivacionais – que dever ser assimilado pelo aluno. A avaliação consistiria
e novas zonas de aprendizagem e competência? na aferição do grau de aproximação entre as aprendizagens do
Tais questões sinalizam para um projeto educativo aluno e essa verdade.
comprometido com novas práticas e relações pedagógicas, Estabelece-se uma escala formulada a partir de critérios de
uma lógica a serviço das aprendizagens e da Avaliação qualidade de desempenho, tendo como referência o conteúdo
Formativa, uma concepção construtiva e propositiva sobre do programa. É a partir dessa escala que os alunos serão
erros e correção dos mesmos, uma articulação entre classificados, tendo em vista seu rendimento nos instrumentos
dimensões cognitivas e sócio afetivas que ressignifiquem o ato de avaliação, ou seja, o total de pontos adquiridos. De um modo
de aprender. geral, as provas e os testes são os instrumentos mais utilizados
pelo professor para medir o alcance dos objetivos traçados
Definindo os tipos de avaliação para aprendizagem dos alunos. A sua formulação exige rigor
- Avaliação classificatória técnico e deve estar de acordo com os conteúdos
Avaliação Classificatória é uma perspectiva de avaliação desenvolvidos e os objetivos que se quer avaliar. A dimensão
vinculada à noção de medida, ou seja, à ideia de que é possível diagnóstica não está ausente dessa perspectiva de avaliação.
aferir, matemática, e objetivamente, as aprendizagens
escolares. A noção de medida supõe a existência de padrões de - Avaliação de conteúdos
rendimento a partir dos quais, mediante comparação, o Dimensão Conceitual: A dimensão conceitual do
desempenho de um aluno será avaliado e hierarquizado. A conhecimento implica que a pessoa esteja estabelecendo
Avaliação Classificatória é realizada através de variadas relações entre fatos para compreendê-los. Os fatos e dados,
atividades, tais como exercícios, questionários, estudos dirigidos, segundo COLL, estão num extremo de um contínuo de
trabalhos, provas, testes, entre outros. Sua intenção é aprendizagem e a retenção da informação simples, a
estabelecer uma classificação do aluno para fins de aprendizagem de natureza mnemônica ou “memorística”. São
aprovação ou reprovação. informações curtas sobre os fenômenos da vida, da natureza,

73 VYGOTSKY, Lev S. A formação social da mente. São Paulo: Martins

Fontes,1984.

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da sociedade, que dão uma primeira informação objetiva sobre instituir também a observação como uma técnica de
o que é, quem fez, quando fez, o que foi. Os conceitos estão no levantamento de dados sobre a aprendizagem dos alunos,
outro extremo (desse contínuo da aprendizagem) e envolvem ampliando as informações sobre o que o aluno está sabendo
a compreensão e o estabelecimento de relações. Traduzem um para além dos momentos formais de avaliação, como
entendimento do porquê daquele fenômeno ser assim como é. momentos de provas ou outros instrumentos de verificação.
As crianças, para aprenderem fatos, apenas os
memorizam. Esquecem mais rápido. Para aprenderem - Dimensão Procedimental
conceitos precisam estabelecer conexões mais complexas, de A dimensão procedimental do conhecimento implica no
aprendizagem significativa, identificada por autores como os saber fazer. Ex.: uma pesquisa tem uma dimensão
citados acima. Quando elas constroem os conceitos, os fatos procedimental. O aluno precisa saber observar, saber ler,
vão tomando outras dimensões, informando o conceito. É saber registrar, saber procurar dados em várias fontes, saber
como se os fatos começassem a ser ordenados, atribuindo analisar e concluir a partir dos dados levantados. Nesse caso,
sentido ao que se tenta entender. são procedimentos que precisam ser desenvolvidos. Muitas
Como a escola teve, durante muito tempo, a predominância vezes o aluno está com uma dificuldade procedimental e não
da concepção empirista de ensino como transmissão, a conceitual e, dependendo do instrumento usado, o professor
memorização era o referencial mais comum para a avaliação. não identifica essa dificuldade para então ajudá-lo a superá-la,
Nesse sentido, os instrumentos e momentos de avaliação por isso é importante diferenciar essas dimensões. Outros
traziam a característica de um espaço em que as pessoas exemplos de dimensões procedimentais do conhecimento:
tentavam recuperar um dado de sua memória. Um meio e saber fazer um gráfico, um cartaz, uma tabela, escrever um
realizar essa atividade por evocação (pergunta direta, com texto dissertativo, narrativo. Vale a pena, nesse caso, que o
resposta certa ou errada) ou por reconhecimento, quando lhe professor acompanhe de perto essa aprendizagem. O melhor
oferecemos pistas e apresentamos alternativas para as instrumento para isso é a observação sistemática – um
respostas. Uma hipótese a ser levantada é a de que a avaliação conjunto de ações que permitem ao professor conhecer até
foi, durante muito tempo, entendida com a recuperação dos que ponto seus alunos estão sabendo: dialogar, debater,
fatos nas memórias. Essa redução do entendimento do que é trabalhar em equipe, fazer uma pesquisa bibliográfica,
avaliar vem sendo superada nas reflexões sobre a tipologia dos orientar-se no espaço, dentre outras. Devem ser atividades
conteúdos, principalmente ao se diferenciar a aprendizagem e abertas, feitas em aula, para o professor perceber como o
a avaliação de conceitos. A construção conceitual demanda aluno transfere o conteúdo para a prática.
compreensão e estabelecimento de relações, sendo, portanto,
mais complexa para ser avaliada. - Dimensão Atitudinal
Ao decidir a legitimidade de um instrumento de avaliação, A dimensão atitudinal do conhecimento é aquela que
cada escola e cada professor precisam analisar seu alcance. indicará os valores em construção. É mais difícil de ser
Pedir ao aluno que defina um significado (técnica muito trabalhada porque não se desliga da formação mais ampla em
comum nas escolas), nem sempre proporciona boa medida outros espaços da sociedade, sendo complexa por seus
para avaliação, é uma técnica com desvantagens, pois pode componentes cognitivos (conhecimentos e crenças), afetivos
induzir a falsos erros e falsos acertos. É uma técnica que exige (sentimentos e preferências) e condutais (ações e declaração
um critério de correção muito minucioso. Ele ainda propõe de intenção). Manifesta-se mais através do comportamento
que, se a opção for por usar essa técnica, que se valide mais o referenciado em crenças e normas. Por isso, precisa ser
que o aluno expuser com as próprias palavras do que uma amplamente entendida à luz dos valores que a escola
reprodução literal. Se usarmos a técnica de múltipla escolha, o considera formadores. A aquisição de valores é alcançada
reconhecimento da definição, corre-se o risco de se cair na através do desenvolvimento de atitudes de acordo com esse
armadilha da mera reprodução de uma definição previamente sistema de valores. Depende de uma autopersuasão que está
estabelecida e mesmo de um conhecimento fragmentário, o sempre permeada por crenças que sustentam a visão que as
que coloca esse tipo de instrumento e questão na condição de pessoas têm delas mesmas e do mundo. E delas mesmas em
insuficiente para conhecer a aprendizagem de conceitos. Outra relação ao mundo. As atitudes e valores envolvem também as
possibilidade é a da exposição temática na qual o aluno debate normas.
sobre um tema incluindo comparações, estabelecendo Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às
relações. pessoas emitir um juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a
É preciso cuidado do professor para analisar se o aluno não solidariedade, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos
está procurando reproduzir termos e ideias de autores e sim outros. Atitudes são tendências relativamente estáveis das
usando sua compreensão e sua linguagem. Evidencia-se, com pessoas para atuarem de certas maneiras: cooperar com o
isso, a necessidade de se trabalhar com questões abertas. grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas
Outra técnica, - a identificação e categorização de exemplos – escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados.
por evocação (aberta) ou reconhecimento (fechada), Normas são padrões ou regras de comportamentos que as
possibilita ao professor conhecer como o aluno está pessoas devem seguir em determinadas situações sociais.
entendendo aquele conceito. Na técnica de reconhecimento o Portanto, são desenvolvidas nas interações, nas relações, nos
aluno deverá trabalhar, em questão fechada, com a debates, nos trabalhos em grupos, o que indica uma natureza
categorização. Pode ser incluída, portanto, num instrumento do planejamento das atividades de sala de aula.
como a prova objetiva. Os melhores instrumentos para se avaliar a aprendizagem
Outra possibilidade para avaliar a aprendizagem de de atitudes são a observação e autoavaliação.
conceitos seria a técnica de aplicação à solução de problemas, Para uma avaliação completa (envolvendo fatos, conceitos,
deveriam ser situações abertas, nas quais os alunos fariam procedimentos e atitudes), deve-se formalizar sempre o
exposição da compreensão que têm do conceito, tentando momento da avaliação inicial. Ela é um início de diagnóstico
responder à situação apresentada. Nesse caso, o instrumento que ajudará aos professores e alunos conhecerem o processo
mais adequado seria uma prova operatória, é importante, no de aprendizagem. O professor deve diversificar os
caso da avaliação de conceitos, resgatar sempre os instrumentos para cobrir toda a tipologia dos conhecimentos:
conhecimentos prévios dos alunos, para analisar o que estiver provas, trabalhos e observação, para avaliar fatos e conceitos,
sendo aprendido. Isso implica legitimar a avaliação inicial, o observação para concluir na avaliação da construção
momento inicial da aprendizagem. A avaliação de conceitual; observação para avaliar a aprendizagem de
aprendizagem de conceitos remete o professor, portanto, a

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procedimentos e atitudes; autoavaliação para avaliar atitudes Dentro de um conceito como o de sociedade, outros específicos
e conceitos. como o de migração, democracia, crescimento populacional,
Além disso, deve-se validar o momento de avaliação inicial estariam subjacentes. Portanto, ao definir o que referenciará o
em todo o processo de aprendizagem, usando a prática de trabalho do professor, será muito importante uma revisão
datar o que está sendo registrado e propiciando ao próprio conceitual por área de conhecimento e por disciplina. Será
aluno refletir sobre o que ele já sabe acerca de um conteúdo preciso esclarecer as características dos fatos e dos conceitos
novo quando se começa a estudar seriamente sobre ele. como objetos de conhecimento.

Sugestões de avaliação inicial / campo atitudinal - Avaliação formativa


Essa sugestão não substitui a avaliação inicial de cada Essa perspectiva de avaliação fundamenta-se em várias
conteúdo que é introduzido, pois, é a partir dela que se pode teorias que postulam o caráter diferenciado e singular dos
fazer uma avaliação do que realmente pode ser considerado processos de formação humana, que é constituída por
aprendido. dimensões de natureza diversa - afetiva, emocional, cultural,
Como são os alunos individualmente em grupos? social, simbólica, cognitiva, ética, estética, entre outras. A
Que grupos sociais representam? aprendizagem é uma atividade que se insere no processo
Como se comportam e se vestem? global de formação humana, envolvendo o
O que apreciam? desenvolvimento, a socialização, a construção da
Quais seus interesses? identidade e da subjetividade.
O que valorizam?
O que fazem quando não estão na escola? Aprendizagem e formação humana são processos de
Como suas famílias vivem? natureza social e cultural. É nas interações que estabelece com
O que suas famílias e vizinhos fazem e o que comemoram? seu meio que o ser humano vai se apropriando dos sistemas
Como se organiza o espaço que compartilham fora da simbólicos, das práticas sociais e culturais de seu grupo. Esses
escola? processos têm uma base orgânica, mas se efetivam na vida
Como falam, expressam seus sentimentos, seus valores, social e cultural, e é através deles que o ser humano elabora
sua adesão/rejeição às normas, suas atitudes? formas de conceber e de se relacionar com o mundo físico e
social. Esses estudos sobre a formação humana e a
Feito isso, planeja-se como trabalhar as atitudes aprendizagem trazem implicações profundas para a educação
importantes para a formação dos alunos na adolescência. Para e destacam a importância do papel do professor como
mudança de atitudes é que são feitos os projetos. mediador do processo de construção de conhecimento dos
- Valores são princípios ou ideias éticas que permitem às alunos. Sua ação pedagógica deve estar voltada para a
pessoas emitir juízo sobre as condutas e seu sentido. Ex.: a compreensão dos processos sociocognitivos dos alunos e a
solidariedade, a responsabilidade, a liberdade, o respeito aos busca de uma articulação entre os diversos fatores que
outros... constituem esses processos – o desenvolvimento psíquico do
- Atitudes são tendências relativamente estáveis das aluno, suas experiências sociais, suas vivências culturais, sua
pessoas para atuarem de certas maneiras: cooperar com o história de vida – e as intenções educativas que pretende levar
grupo, respeitar o meio ambiente, participar das tarefas a cabo. Nesse contexto, a avaliação constitui-se numa prática
escolares, respeitar datas, prazos, horários, combinados... que permite ao professor aproximar-se dos processos de
- Normas são padrões ou regras de comportamentos que a aprendizagem do aluno, compreender como esse aluno está
pessoas devem seguir em determinadas situações sociais. elaborando seu conhecimento. Não importa, aqui, registrar os
fracassos ou os sucessos através de notas ou conceitos, mas
Depois de realizada a avaliação inicial, os professores terão entender o significado do desempenho: como o aluno
dados para dar continuidade ao trabalho com a Avaliação compreendeu o problema apresentado? Que tipo de
Formativa: a serviço das aprendizagens. elaboração fez para chegar a determinada resposta? Que
Fatos ou dados devem ser “aprendidos” de forma dificuldades encontrou? Como tentou resolvê-las?
reprodutiva: não é necessário compreendê-los. Ex.: capitais de Na Avaliação Formativa, o desempenho do aluno deve ser
um estado ou país, data de acontecimentos, tabela de símbolos tomado como uma evidência ou uma dificuldade de
químicos. Correspondem a uma informação verbal literal aprendizagem. E cabe ao professor interpretar o significado
como vocabulários, nomes ou informação numérica que não desse desempenho. Nessa perspectiva, a avaliação coloca-se a
envolvem cálculos, apenas memorização. Para isso se usa a serviço das aprendizagens, da forma dos alunos. Trata-se,
repetição, buscando mesmo a automatização da informação. portanto, de uma avaliação que tem como finalidade não o
Esse processo de repetição não se adequa à construção controle, mas a compreensão e a regulação dos processos dos
conceitual. Um aluno aprende, atribui significado, adquire um educandos, tendo em vista auxiliá-los na sua trajetória escolar.
conceito, quando o explica com suas próprias palavras. É Isso significa entender que a avaliação, indo além da
comum o aluno dizer que sabe, mas não sabe explicar. Nesse constatação, irá subsidiar o trabalho do professor, apontando
caso, eles estão num início de processo de compreensão do as necessidades de continuidade, de avanços ou de mudanças
conceito. Precisam trabalhar mais a situação, o que vai ajudá- no seu planejamento e no desenvolvimento das ações
los a entender melhor, até saberem explicar com as suas educativas. Caracterizando-se como uma prática voltada para
palavras. Esse processo de construção conceitual não é o acompanhamento dos processos dos alunos, este tipo de
estanque, ele está em permanente movimento entre o conceito avaliação não comporta registros de natureza quantitativa
espontâneo, construído nas representações sociais e o (notas ou mesmo conceitos), já que estes são insuficientes para
conceito científico. revelar tais processos. Tampouco pode-se pensar, a partir
Princípios são conceitos muito gerais, de alto nível de desta concepção, na manutenção da aprovação/reprovação.
abstração, subjacentes, à organização conceitual de uma área, Isso porque este tipo de avaliação não tem como objetivo
nem sempre explícitos. Atravessam todos os conteúdos das classificar ou selecionar os alunos, mas interpretar e
matérias, devendo ser o objetivo maior da aprendizagem na compreender os seus processos, e promover ações que os
educação básica. Eles orientam a compreensão de noções ajudem a avançar no seu desenvolvimento, nas suas
básicas. Assim, por exemplo, se a compreensão de conceitos aprendizagens. Sendo assim, a avaliação a serviço das
como sociedade e cultura são princípios das áreas de humanas, aprendizagens desmistifica a ideia de seleção que está
eles devem referenciar o trabalho nos conceitos específicos. implícita na discussão sobre aprovação automática. É uma

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avaliação que procura administrar, de forma contínua, a mesmos e de nossa relação com tudo isso. Essa atividade não
progressão dos alunos. Trata-se, portanto, de Progressão se constitui exclusivamente no interior de uma sala de aula. É
Continuada. preciso alargar o espaço educativo no interior da escola
A Avaliação Formativa é um trabalho contínuo de (pátios, biblioteca, salas de multimídia, laboratórios, etc.) e
regulação da ação pedagógica. Sua função é permitir ao para além dela, apropriando-se dos múltiplos espaços da
professor identificar os progressos e as dificuldades dos cidade (parques, praças, centros culturais, livrarias, fábricas,
alunos para dar continuidade ao processo, fazendo as outras escolas, teatros, cinemas, museus, salas de exposição,
mediações necessárias para que as aprendizagens aconteçam. universidades, etc.). A sala de aula, por sua vez, deve adquirir
Inicialmente, é fundamental conhecer a situação do aluno, o diferentes configurações, tendo em vista a necessidade de
que ele sabe e o que ele ainda não sabe, tendo em vistas as diversificação das atividades pedagógicas.
intenções educativas definidas. A partir dessa avaliação inicial, A forma de agrupamento dos alunos é outro aspecto que
organiza-se o planejamento do trabalho, de forma pode potencializar a aprendizagem e a Avaliação Formativa.
suficientemente flexível para incorporar, ao longo do Os grupos ou classes móveis – em vez de classes fixas –
processo, as adequações que se fizerem necessárias. Ao possibilitam a organização diferenciada do trabalho
mesmo tempo, o uso de variados instrumentos e pedagógico e uma maior personalização do itinerário escolar
procedimentos de avaliação, possibilitará ao professor do aluno, na medida em que atendem melhor às suas
compreender o processo do aluno para estabelecer novas necessidades e interesses. A mobilidade refere-se ao
propostas de ação. agrupamento interno de uma classe ou entre classes
Uma mudança fundamental, sobretudo nos ciclos ou séries diferentes. Na prática, acontece conforme o objetivo da
finais do Ensino Fundamental, diz respeito à organização dos atividade e as necessidades do aluno.
professores. Agrupamentos de professores responsáveis por Ex.: oficinas de livre escolha onde alunos de diferentes
um determinado número de turmas facilita o planejamento, o turmas de um ciclo se agrupam por interesse (oficina de
desenvolvimento das atividades, a relação pessoal com os cinema, de teatro, de pintura, de jogos matemáticos, de
alunos e o trabalho coletivo. fotografia, de música, de vídeo, etc.). Projetos de trabalho
Ex.: definir um grupo de X professores para trabalhar com também permitem que a turma assuma configurações
5 turmas de um mesmo ciclo ou de séries aproximadas, diferentes, em momentos diferentes, de acordo com o
visando favorecer o trabalho voltado para determinado interesse e para atendimento às necessidades de
período de formação humana (infância, adolescência, etc.). aprendizagem.
Este tipo de organização tende a romper com a fragmentação
do trabalho pedagógico, facilitando a interdisciplinaridade e o Instrumentos de avaliação
desenvolvimento de uma Avaliação Formativa. As provas objetivas (mais conhecidas como provas de
Tendo em vista a diversidade de ritmos e processos de múltipla escolha), as provas abertas / operatórias, observação
aprendizagem dos alunos, um dos aspectos importantes da e autoavaliação são ferramentas para levantamento de dados
ação docente deve ser a organização de atividades cujo nível sobre o processo de aprendizagem. São materiais preparados
de abordagem seja diferenciado. Isso significa criar situações, pelo professor levando em conta o que se ensina e o que se
apresentar problemas ou perguntas e propor atividades que quer saber sobre a aprendizagem dos alunos. Podem ter
demandem diferentes níveis de raciocínio e de realização. A diferentes naturezas. Alguns, como as provas, são
diversificação das tarefas deve também possibilitar aos alunos instrumentos que têm uma intenção de testagem, de
que realizem escolhas. As atividades devem oferecer graus verificação, de colocar o aluno em contato com o que ele
variados de compreensão, diferentes níveis de utilização dos realmente estiver sabendo. Esses instrumentos podem ser
conteúdos, e devem permitir distintas aproximações ao elaborados em dois formatos: um de questões fechadas, de
conhecimento. múltipla escolha ou de respostas curtas, identificado como
Outro movimento importante rumo a uma Avaliação prova objetiva; outro com questões abertas. Ambos são
Formativa deve acontecer na organização dos tempos e instrumentos que possibilitam tanto a avaliação de
espaços escolares. Os tempos de aula (50min, 1h, etc.) os aprendizagem de fatos, como de aprendizagem de conceitos,
recortes de cada disciplina, os bimestres, os semestres, as embora, em relação à construção conceitual, o professor
séries, os níveis de ensino são formas de estruturar o tempo precisará inserir também instrumentos de observação.
escolar que têm como fundamento a lógica da organização dos Outra importante ferramenta é a observação: uma técnica
conteúdos. Os processos de aprender e de construir que coloca o professor como pesquisador da sua prática. Toda
conhecimento, no entanto, não seguem essa mesma lógica. A observação pressupõe registros. É um bom instrumento para
organização escolar por ciclos é uma experiência que busca avaliar a construção conceitual, o desenvolvimento de
harmonizar os tempos da escola com os tempos de procedimentos e as atitudes.
aprendizagem próprios do ser humano. Os ciclos permitem Outro instrumento é a autoavaliação, que é muito
tomar as progressões das aprendizagens mais fluidas, importante no desenvolvimento das habilidades
evitando rupturas ao longo do processo. A flexibilização do metacognitivas e na avaliação de atitudes.
tempo e do trabalho pedagógico possibilita o respeito aos Pode-se ainda utilizar questionários e entrevistas quando
diferentes ritmos de aprendizagem dos alunos e a organização as situações escolares necessitarem de um aprofundamento
de uma prática pedagógica voltada para a construção do maior para levantamento de dados.
conhecimento, para a pesquisa.
Os tempos podem ser organizados, por exemplo, em torno Outra questão relevante ao processo de avaliação do
de projetos de trabalho, de oficinas, de atividades. A ensino e aprendizagem é Como avaliar o aluno com
estruturação do tempo é parte do planejamento pedagógico deficiência? 74
semanal ou mensal, uma vez que a natureza da atividade e os
ritmos de aprendizagem irão definir o tempo que será A avaliação sempre foi uma pedra no sapato do trabalho
utilizado. docente do professor. Quando falamos em avaliação de alunos
O espaço de aprendizagem também deve ser ampliado, não com deficiência, então, o problema torna-se mais complexo
pode restringir-se a sala de aula. Aprender é constituir uma ainda. Apesar disso, discutir a avaliação como um processo
compreensão do mundo, da realidade social e humana, de nós mais amplo de reflexão sobre o fracasso escolar, dos

74 SARTORETTO, Mara Lúcia. Assistiva-Tecnologia e Educação, 2010.

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mecanismos que o constituem e das possibilidades de escolar só será possível quando tivermos professores
diminuir o violento processo de exclusão causado por ela, dispostos a aceitar novos desafios, capazes de identificar nos
torna-se fundamental para possibilitarmos o acesso e a erros pistas que os instiguem a repensar seu planejamento e
permanência com sucesso dos alunos com deficiência na as atividades desenvolvidas em sala de aula e que considerem
escola. seus alunos como parceiros, principalmente aqueles que não
De início, importa deixar claro um ponto: alunos com se deixam encaixar no modelo de escola que reduz o
deficiência devem ser avaliados da mesma maneira que seus conhecimento à capacidade de identificar respostas
colegas. Pensar a avaliação de alunos com deficiência de previamente definidas como certas ou erradas.
maneira dissociada das concepções que temos acerca de Segundo a professora Maria Teresa Mantoan, a educação
aprendizagem, do papel da escola na formação integral dos inclusiva preconiza um ensino em que aprender não é um ato
alunos e das funções da avaliação como instrumento que linear, continuo, mas fruto de uma rede de relações que vai
permite o replanejamento das atividades do professor, não sendo tecida pelos aprendizes, em ambientes escolares que
leva a nenhum resultado útil. não discriminam, que não rotulam e que oferecem chances de
Nessa linha de raciocínio, para que o processo de avaliação sucesso para todos, dentro dos interesses, habilidades e
do resultado escolar dos alunos seja realmente útil e inclusivo, possibilidades de cada um. Por isso, quando apenas avaliamos
é imprescindível a criação de uma nova cultura sobre o produto e desconsideramos o processo vivido pelos alunos
aprendizagem e avaliação, uma cultura que elimine: para chegar ao resultado final realizamos um corte totalmente
- o vínculo a um resultado previamente determinado pelo artificial no processo de aprendizagem.
professor; Pensando assim temos que fazer uma opção pelo que
- o estabelecimento de parâmetros com os quais as queremos avaliar: produção ou reprodução. Quando
respostas dos alunos são sempre comparadas entre si, como se avaliamos reprodução, com muita frequência, utilizamos
o ato de aprender não fosse individual; provas que geralmente medem respostas memorizadas e
- o caráter de controle, adaptação e seleção que a avaliação comportamentos automatizados. Ao contrário, quando
desempenha em qualquer nível; optamos por avaliar aquilo que o aluno é capaz de produzir, a
- a lógica de exclusão, que se baseia na homogeneidade observação, a atenção às repostas que o aluno dá às atividades
inexistente; que estão sendo trabalhadas, a análise das tarefas que ele é
- a eleição de um determinado ritmo como ideal para a capaz de realizar fazem parte das alternativas pedagógicas
construção da aprendizagem de todos os alunos. utilizadas para avaliar.
Vários instrumentos podem ser utilizados, com sucesso,
Numa escola onde a avaliação ainda se define pela para avaliar os alunos, permitindo um acompanhamento do
presença das características acima certamente não haverá seu percurso escolar e a evolução de suas competências e de
lugar para a aceitação da diversidade como inerente ao ser seus conhecimentos. Um dos recursos que poderá auxiliar o
humano e da aprendizagem como processo individual de professor a organizar a produção dos seus alunos e por isso
construção do conhecimento. Numa educação que parte do avaliar com eficiência é utilizar um portfólio.
falso pressuposto da homogeneidade não há espaço para o A utilização do portfólio permite conhecer a produção
reconhecimento dos saberes dos alunos, que muitas vezes não individual do aluno e analisar a eficiência das práticas
se enquadram na lógica de classificação das respostas pedagógicas do professor. A partir da observação sistemática
previamente definidas como certas ou erradas. e diária daquilo que os alunos são capazes de produzir, os
O que estamos querendo dizer é que todas as questões professores passam a fazer descobertas a respeito daquilo que
referentes à avaliação dizem respeito à avaliação de qualquer os motiva a aprenderem, como aprendem e como podem ser
aluno e não apenas das pessoas com deficiências. A única efetivamente avaliados.
diferença que há entre as pessoas ditas normais e as pessoas No caso dos alunos com deficiências, os portfólios podem
com deficiências está nos recursos de acessibilidade que facilitar a tomada de decisão sobre quais os recursos de
devem ser colocados à disposição dos alunos com deficiências acessibilidade que deverão ser oferecidos e qual o grau de
para que possam aprender e expressar adequadamente suas sucesso que está sendo obtido com o seu uso. Eles permitem
aprendizagens. Por recursos de acessibilidade podemos que tomemos conhecimento não só das dificuldades, mas
entender desde as atividades com letra ampliada, digitalizadas também das habilidades dos alunos, para que, através dos
em Braille, os interpretes, até uma grande gama de recursos da recursos necessários, estas habilidades sejam ampliadas.
tecnologia assistiva hoje já disponíveis, enfim, tudo aquilo que Permitem, também, que os professores das classes comuns
é necessário para suprir necessidades impostas pelas possam contar com o auxílio do professor do atendimento
deficiências, sejam elas auditivas, visuais, físicas ou mentais. educacional especializado, no caso dos alunos que frequentam
esta modalidade, no esclarecimento de dúvidas que possam
Neste contexto, a avaliação escolar de alunos com surgir a respeito da produção dos alunos.
deficiência ou não, deve ser verdadeiramente inclusiva e ter a Quando utilizamos adequadamente o portfólio no
finalidade de verificar continuamente os conhecimentos que processo de avaliação podemos:
cada aluno possui, no seu tempo, por seus caminhos, com seus - melhorar a dinâmica da sala de aula consultando o
recursos e que leva em conta uma ferramenta muito pouco portfólio dos alunos para elaborar as atividades:
explorada que é a coaprendizagem. - evitar testes padronizados;
Nessa mudança de perspectiva, o primeiro passo talvez - envolver a família no processo de avaliação;
seja o de nos convencermos de que a avaliação usada apenas - não utilizar a avaliação como um instrumento de
para medir o resultado da aprendizagem e não como parte de classificação;
um compromisso com o desenvolvimento de uma prática - incorporar o sentido ético e inclusivo na avaliação;
pedagógica comprometida com a inclusão, e com o respeito às - possibilitar que o erro possa ser visto como um processo
diferenças é de muito pouca utilidade, tanto para os alunos de construção de conhecimentos que dá pistas sobre o modo
com deficiências quanto para os alunos em geral. cada aluno está organizando o seu pensamento;
De qualquer modo, a avaliação como processo que Esta maneira de avaliar permite que o professor
contribui para investigação constante da prática pedagógica acompanhe o processo de aprendizagem de seus alunos e
do professor que deve ser sempre modificada e aperfeiçoada a descubra que cada aluno tem o seu método próprio de
partir dos resultados obtidos, não é tarefa simples de ser construir conhecimentos, o que torna absurdo um método de
conseguida. Entender a verdadeira finalidade da avaliação

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ensinar único e uma prova como recurso para avaliar como se esforços no que as crianças não sabem fazer e, não, considerar
houvesse homogeneidade de aprendizagem. as suas potencialidades.
Nessa perspectiva, entendemos que é possível avaliar, de (C) A avaliação deve se dar de forma sistemática e
forma adequada e útil, alunos com deficiências. Mas, se contínua, aperfeiçoando a ação educativa, identificando
analisarmos com atenção, tudo o que o que se diz da avaliação pontos que necessitam de maior atenção na busca de
do aluno com deficiência, na verdade serve para avaliar reorientar a prática do educador, permitindo definir critérios
qualquer aluno, porque a principal exigência da inclusão para o planejamento, auxiliando o educador a refletir sobre as
escolar é que a escola seja de qualidade – para todos! E uma condições de aprendizagem oferecidas e ajustar sua prática às
escola de qualidade é aquela que sabe tirar partido das necessidades colocadas pelas crianças.
diferenças oportunizando aos alunos a convivência com seus (D) Na educação infantil, a avaliação tem a finalidade
pares, o exemplo dos professores que se traduz na qualidade básica de fornecer subsídios para a intervenção na tomada de
do seu trabalho em sala de aula e no clima de acolhimento decisões educativas e observar a evolução da criança, como
vivenciado por toda a comunidade escolar. também, ajudar o educador a analisar se é preciso intervir ou
modificar determinadas situações, relações ou atividades na
Questões sala de aula.

01. (TSE – Analista Judiciário – Pedagogia – 05. (Prefeitura do Rio de Janeiro/RJ- Professor de
CONSULPLAN) Para Cipriano Carlos Luckesi (2000), a Ensino Fundamental- Artes Plásticas- Prefeitura do Rio de
avaliação é um ato amoroso e dialógico que envolve sujeitos e, Janeiro/2016).
como tal, a primeira fase do processo de avaliação começa Leia o fragmento abaixo: Normalmente, quando nos
com: referimos ao desenvolvimento de uma criança, o que
(A) o acolhimento do sujeito avaliado. buscamos compreender é até onde a criança já chegou, em
(B) a qualificação dos conhecimentos prévios. termos de um percurso que, supomos, será percorrido por ela.
(C) o julgamento das aprendizagens avaliadas. Assim, observamos seu desempenho em diferentes tarefas e
(D) o diagnóstico do perfil do sujeito. atividades, como por exemplo: ela já sabe andar? Já sabe
amarrar sapatos? Já sabe construir uma torre com cubos de
02. (Prefeitura de Uberlândia/MG – Professor diversos tamanhos? Quando dizemos que a criança já sabe
Educação Básica II – Português – CONSULPLAN) A avaliação realizar determinada tarefa, referimo-nos à sua capacidade de
da aprendizagem escolar é um elemento do processo de ensino realizá-la sozinha. Por exemplo, se observamos que a criança
e de aprendizagem. já sabe amarrar sapatos, está implícita a ideia de que ela sabe
Dessa forma, a avaliação tanto serve para avaliar a amarrar sapatos, sozinha, sem necessitar de ajuda de outras
aprendizagem dos alunos quanto o ensino desenvolvido pelo pessoas.
professor. Numa perspectiva emancipatória, que parte dos OLIVEIRA, Martha Kolh de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento; um
processo sócio-histórico. São Paulo: Scipione, 1991. Pág. 11
princípios da autoavaliação e da formação, podemos afirmar
O trecho apresenta uma das categorias de análise usada
que:
por Vygotsky ao estudar o desenvolvimento humano, que é:
(A) os alunos também devem participar dos critérios que
(A) a zona de desenvolvimento real
servirão de base para a avaliação de sua aprendizagem.
(B) a zona de desenvolvimento proximal
(B) os professores devem utilizar a avaliação como um
(C) a fase potencial do pensamento formal
mecanismo de seleção para o processo de ensino.
(D) a fase operatória do pensamento formal
(C) alunos e professores devem compartilhar dos mesmos
critérios que possam classificar as aprendizagens corretas.
Respostas
(D) os alunos também devem registrar o processo de
avaliação que servirá para disciplinar o espaço da sala de aula.
01. A. / 02. A. / 03. B. / 04. B. / 05. A.
03. (Prefeitura de Montes Claros/MG – PEB I –
UNIMONTES) De acordo com Luckesi (1999), é importante
estar atento à função ontológica (constitutiva) da avaliação da
A didática como
aprendizagem, que é de diagnóstico. fundamento epistemológico
Dessa forma, a avaliação cria a base para a tomada de do fazer docente.
decisão. Articuladas com essa função básica estão, EXCETO:
(A) a função de motivar o crescimento.
(B) a função de propiciar a autocompreensão, tanto do A Didática e o processo de formação e prática do
educando quanto da família. profissional da Educação
(C) a função de aprofundamento da aprendizagem.
(D) a função de auxiliar a aprendizagem. Como arte a Didática não objetiva apenas o conhecimento
por conhecimento, mas procura aplicar os seus próprios
04. (IFC-SC-Pedagogia-Educação Infantil-IESES) No que princípios com a finalidade de desenvolver no indivíduo as
diz respeito à avaliação no processo de aprendizagem, é habilidades cognoscitivas, tornando-os críticos e reflexivos,
INCORRETO afirmar que: desenvolvendo assim um pensamento independente.
(A) A avaliação é constituída de instrumentos de
diagnóstico que levam a uma intervenção, visando à melhoria Processos Didáticos Básicos, Ensino e Aprendizagem
da aprendizagem. Ela deve propiciar elementos diagnósticos Anteriormente convém ressaltar o conceito atual de
que sirvam de intervenção para qualificar a aprendizagem. didática segundo a análise etimológica, o contexto histórico em
(B) Na esfera educacional infantil, a avaliação que se faz que prevaleceram determinados conceitos, a problemática
das crianças pode ter algumas consequências e influências educacional e sua relevância para o ensino.
decisivas no seu processo de aprendizagem e crescimento. Etimologicamente a palavra ‘didática’ significa ‘expor
Neste sentido, a expectativa dos professores sobre os seus claramente’, ‘demonstrar’, ‘ensinar’, ‘instruir’. Em primeira
alunos tem grande influência no que diz respeito ao instância, este sentido mais originário corresponde
rendimento da aprendizagem. Nesta fase, é preciso ter uma aproximadamente a tudo aquilo que é ‘próprio para o ensino’.
visão fragmentada da criança. É aconselhável concentrar

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Levando em consideração o seu significado etimológico proporcionada pela percepção prático-sensorial e pelas ações
percebemos que a didática está intimamente ligada ao mentais que caracterizam o pensamento. Entendida como
processo de ensino-aprendizagem, e a tudo que se refere ao fundamental no processo de ensino a assimilação ativa
ato de ensinar e aprender. desenvolve no indivíduo a capacidade de lógica e raciocínio,
A Didática foi concebida como base de uma reforma facilitando o processo de aprendizagem do aluno.
educacional importante pela primeira vez no século XVII, com O nível cognitivo refere-se à aprendizagem de
João Amós Comenius, em sua obra Didática Magna. Nesta determinados conhecimentos e operações mentais,
época, ele havia observado que a educação se dava de maneira caracterizada pela apreensão consciente, compreensão e
muito espontânea, permeada de puro praticismo, não havia generalização das propriedades e relações essenciais da
sistematização, organização ou planejamento. Com o objetivo realidade, bem como pela aquisição de modos de ação e
de organizar e sistematizar a educação, Comenius escreveu a aplicação referentes a essas propriedades e relações. De
Didática Magna, que pretendia estabelecer os fundamentos da acordo com esse contexto podemos despertar uma
‘arte universal de ensinar tudo a todos’, privilegiando aprendizagem autônoma, seja no meio escolar ou no ambiente
sobretudo o professor, o método e o conteúdo. em que estamos.
A didática então surge como objeto de estudo no processo Pelo meio cognitivo, os indivíduos aprendem tanto pelo
de ensino/aprendizagem, pois este está inserido em todas as contato com as coisas no ambiente, como pelas palavras que
práticas educacionais, em todos os níveis de ensino, e cada designam das coisas e dos fenômenos do ambiente. Portanto
prática educacional evidencia uma intenção, ideologia, as palavras são importantes condições de aprendizagem, pois
objetivos e meios para serem atingidos. Desta forma ocorre o através delas são formados conceitos pelos quais podemos
processo de ensino aprendizagem, que em momento algum é pensar.
neutro, apolítico ou isolado de sua realidade político social. O ensino é o principal meio de progresso intelectual dos
Assim, a Didática é o principal ramo de estudo da alunos, através dele é possível adquirir conhecimentos e
pedagogia, pois ela situa-se num conjunto de conhecimentos habilidades individuais e coletivas. Por meio do ensino, o
pedagógicos, investiga os fundamentos, as condições e os professor transmite os conteúdos de forma que os alunos
modos de realização da instrução e do ensino, portanto é assimilem esse conhecimento, auxiliando no desenvolvimento
considerada a ciência de ensinar. Nesse contexto, o professor intelectual, reflexivo e crítico.
tem como papel principal garantir uma relação didática entre Por meio do processo de ensino o professor pode alcançar
ENSINO x APRENDIZAGEM. seu objetivo de aprendizagem, essa atividade de ensino está
Segundo Libâneo75, o professor tem o dever de planejar, ligada à vida social mais ampla, chamada de prática social,
dirigir e controlar esse processo de ensino, bem como portanto o papel fundamental do ensino é mediar à relação
estimular as atividades e competências próprias do aluno para entre indivíduos, escola e sociedade.
a sua aprendizagem. A condição para o processo de ensino
requer uma clara e segura compreensão do processo de O Caráter Educativo do Processo de Ensino e o Ensino
aprendizagem, ou seja, deseja entender como as pessoas Crítico
aprendem e quais as condições que influenciam para esse No desempenho da profissão docente, o professor deve ter
aprendizado. Assim, ressalta que podemos distinguir a em mente a formação da personalidade dos alunos, não apenas
aprendizagem em dois tipos: aprendizagem casual e a no aspecto intelectual, como também nos aspectos morais,
aprendizagem organizada. afetivos e físicos. Como resultado do trabalho escolar, os
alunos vão formando o senso de observação, a capacidade de
A) Aprendizagem casual: É quase sempre espontânea, exame objetivo e crítico de fatos e fenômenos da natureza e
surge naturalmente da interação entre as pessoas com o das relações sociais, habilidades de expressão verbal e escrita.
ambiente em que vivem, ou seja, através da convivência social, O processo de ensino deve estimular o desejo e o gosto pelo
observação de objetos e acontecimentos. estudo, mostrando assim a importância do conhecimento para
a vida e o trabalho, nesse processo o professor deve criar
B) Aprendizagem organizada: É aquela que tem por situações que estimule o indivíduo a pensar, analisar e
finalidade específica aprender determinados conhecimentos, relacionar os aspectos estudados com a realidade que vive.
habilidades e normas de convivência social. Este tipo de Essa realização consciente das tarefas de ensino e
aprendizagem é transmitido pela escola, que é uma aprendizagem é uma fonte de convicções, princípios e ações
organização intencional, planejada e sistemática, as que irão relacionar as práticas educativas dos alunos,
finalidades e condições da aprendizagem escolar é tarefa propondo situações reais que façam com que os indivíduos
específica do ensino. reflitam e analisem de acordo com sua realidade.
Entretanto, o caráter educativo está relacionado aos
Esses tipos de aprendizagem têm grande relevância na objetivos do ensino crítico e é realizado dentro do processo de
assimilação ativa dos indivíduos, favorecendo um ensino. É através desse processo que acontece a formação da
conhecimento a partir das circunstâncias vivenciadas pelo consciência crítica dos indivíduos, fazendo-os pensar
mesmo. independentemente, por isso o ensino crítico, chamado assim
O processo de assimilação de determinados por implicar diretamente nos objetivos sócio-políticos e
conhecimentos, habilidades, percepção e reflexão é pedagógicos, também os conteúdos, métodos escolhidos e
desenvolvido por meios atitudinais, motivacionais e organizados mediante determinada postura frente ao contexto
intelectuais do aluno, sendo o professor o principal orientador das relações sociais vigentes da prática social.
desse processo de assimilação ativa, é através disso que se É através desse ensino crítico que os processos mentais
pode adquirir um melhor entendimento, favorecendo um são desenvolvidos, formando assim uma atitude intelectual.
desenvolvimento cognitivo. Nesse contexto os conteúdos deixam de serem apenas
Através do ensino podemos compreender o ato de matérias, e passam então a ser transmitidos pelo professor aos
aprender que é o ato no qual assimilamos mentalmente os seus alunos formando assim um pensamento independente,
fatos e as relações da natureza e da sociedade. Esse processo para que esses indivíduos busquem resolver os problemas
de assimilação de conhecimentos é resultado da reflexão postos pela sociedade de uma maneira criativa e reflexiva.

75 LIBÂNEO, José Carlos. A Didática e as exigências do processo de

escolarização: formação cultural e científica e demandas das práticas


socioculturais.

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criatividade dos alunos (REFLEXÃO), reelaborar as aulas após


As contribuições da Didática na formação do observadas as necessidades dos educandos (NOVA AÇÃO).
profissional da Educação
Como vimos anteriormente à didática estuda o processo de Entretanto é necessário que haja uma interação mútua
ensino no seu conjunto, no qual os objetivos, conteúdos fazem entre docentes e discentes, pois não há ensino se os alunos não
parte, de modo a criar condições que garantam uma desenvolverem suas capacidades e habilidades mentais, ou
aprendizagem significativa dos alunos. Nessa perspectiva, a seja, o professor dirige as atividades de aprendizagem dos
didática torna-se o principal ramo de estudos da pedagogia, alunos a fim de que estes se tornem sujeitos ativos da própria
pois é necessário dominar bem todas as teorias para que haja aprendizagem. Portanto, podemos dizer que o processo
uma boa prática educativa, assim o educador dispõe de didático se baseia no conjunto de atividades do professor e dos
recursos teóricos para organizar e articular o processo de alunos, sob a direção do professor, apenas como mediador,
ensino e aprendizagem. para que haja uma assimilação ativa de conhecimentos e
Segundo Libâneo76, o trabalho docente também chamado desenvolvimento das habilidades dos alunos.
de atividade pedagógica tem como objetivos primordiais: Assim, é necessário para o planejamento de ensino que o
professor compreenda as relações entre educação escolar, os
A) Assegurar aos alunos o domínio mais seguro e objetivos pedagógicos e tenha um domínio seguro dos
duradouro possível dos conhecimentos científicos; conteúdos ao qual ele leciona, sendo assim capaz de conhecer
B) Criar as condições e os meios para que os alunos os programas oficiais e adequá-los ás necessidades reais da
desenvolvam capacidades e habilidades intelectuais de modo escola e de seus alunos.
que dominem métodos de estudo e de trabalho intelectual Um professor que aspira ter uma boa didática necessita
visando a sua autonomia no processo de aprendizagem e aprender a cada dia como lidar com a subjetividade do aluno,
independência de pensamento; sua linguagem, suas percepções e sua prática de ensino. Sem
C) Orientar as tarefas de ensino para objetivo educativo de essas condições o professor será incapaz de elaborar
formação da personalidade, isto é, ajudar os alunos a problemas, desafios, perguntas relacionadas com os
escolherem um caminho na vida, a terem atitudes e convicções conteúdos, pois essas são as condições para que haja uma
que norteiem suas opções diante dos problemas e situações da aprendizagem significativa. No entanto para que o professor
vida real. atinja efetivamente seus objetivos, é preciso que ele saiba
realizar vários processos didáticos coordenados entre si, tais
Além dos objetivos da disciplina e dos conteúdos, é como o planejamento, a direção do ensino da aprendizagem e
fundamental que o professor tenha clareza das finalidades que da avaliação.
ele tem em mente, a atividade docente tem a ver diretamente Portanto é a didática que fundamenta a ação docente, é
com “para que educar”, pois a educação se realiza numa através da didática que a teoria e a prática se consolidam de
sociedade que é formada por grupos sociais que tem uma visão forma viável e eficaz, pois ela se ocupa do processo de ensino
diferente das finalidades educativas. nas várias dimensões, não se restringindo apenas a educação
Nota-se que a problemática que permeia a educação em escolar, mas investiga e orienta a formação do educador na sua
torno da didática, consiste na dificuldade de mediar totalidade.
conhecimento prático e teórico, na medida em que muitos
educadores apresentam uma concepção fragmentada e Formação de profissionais da educação: visão crítica e
ambígua desta interação, chegando ao ponto de dissociá-las. perspectiva de mudança
Essa separação entre teoria e prática impossibilita os Há cerca de 20 anos, por iniciativa de movimentos de
profissionais da educação de articular a teoria em proveito da educadores e, em paralelo, no âmbito do Ministério da
prática, pois uma subsidia a outra. Como resultado dessa Educação, iniciava-se um debate nacional sobre a formação de
separação a prática educativa tende a reduzir-se ao extremo pedagogos e professores, com base na crítica da legislação
do praticismo. Nesse sentido a didática visa contribuir para a vigente e na realidade constatada nas instituições formadoras.
superação dessa dificuldade proporcionando ao profissional O marco histórico de detonação do movimento pela
da educação embasamento teórico-prático. reformulação dos cursos de formação do educador foi a I
Os profissionais da educação precisam ter um pleno Conferência Brasileira de Educação realizada em São Paulo em
“domínio das bases teóricas científicas e tecnológicas, e sua 1980, abrindo-se o debate nacional sobre o curso de pedagogia
articulação com as exigências concretas do ensino”, pois é e os cursos de licenciatura. A trajetória desse movimento
através desse domínio que ele poderá estar revendo, destaca-se pela densidade das discussões e pelo êxito na
analisando e aprimorando sua prática educativa. mobilização dos educadores, mas o resultado prático foi
A prática educativa não pode ocorrer de maneira modesto, não se tendo chegado até hoje a uma solução
espontânea, sem planejamento, metas e instrumentos, ela razoável para os problemas da formação dos educadores, nem
deve estabelecer objetivos, os quais devem ser atingidos no âmbito oficial nem no âmbito das instituições
utilizando-se da didática, que certamente facilitará o caminho universitárias.
a ser trilhado segundo meios viáveis e de acordo com cada A discussão sobre a identidade do curso de pedagogia, que
realidade educacional, em proveito da ideia de homem que se remonta aos pareceres de Valnir Chagas77 na condição de
deseja formar, de acordo com a sociedade em que este homem membro do antigo Conselho Federal de Educação, é retomada
está inserido, pois “a didática não se limita só ao fazer, só ação nos encontros do Comitê Nacional Pró-formação do Educador,
prática, mas também se vincula as demais instâncias e mais tarde transformada em Associação Nacional pela
aspectos da educação formal”. Formação dos Profissionais da Educação, e é bastante
recorrente para pesquisadores da área. Estes já apontavam,
Dessa forma, o trabalho do professor é reflexo de uma em meados dos anos 80, a necessidade de se superar a
AÇÃO x REFLEXÃO x AÇÃO, ou seja, é papel do professor fragmentação das habilitações no espaço escolar, propondo a
planejar a aula (AÇÃO), criar condições favoráveis de estudo superação das habilitações e especializações pela valorização
dentro da sala de aula, estimulando a curiosidade e a do pedagogo escolar:

76 LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. 77 CHAGAS, Valnir. Formação do magistério: Novo sistema. São Paulo: Atlas,
1976.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 149


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(...) a posição que temos assumido é a de que a escola pública unidades educacionais da rede pública ou privada ou das
necessita de um profissional denominado pedagogo, pois corporações privadas em que tenham atuado, exclusivamente
entendemos que o fazer pedagógico, que ultrapassa a sala de para atender ao inciso V do caput do art. 36; (Incluído pela lei
aula e a determina, configura-se como essencial na busca de nº 13.415, de 2017)
novas formas de organizar a escola para que esta seja V - profissionais graduados que tenham feito
efetivamente democrática. A tentativa que temos feito é a de complementação pedagógica, conforme disposto pelo Conselho
avançar da defesa corporativista dos especialistas para a Nacional de Educação. (Incluído pela lei nº 13.415, de 2017)
necessidade política do pedagogo, no processo de (...)
democratização da escolaridade.
Art. 62 A formação de docentes para atuar na educação
O curso de pedagogia – sem entrar agora no mérito de sua básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura plena,
função, isto é, de formar professores ou especialistas ou ambos admitida, como formação mínima para o exercício do
– pouco se alterou em relação à Resolução no 252/69. magistério na educação infantil e nos cinco primeiros anos do
Experiências alternativas foram tentadas em algumas ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade
instituições e o antigo CFE expediu alguns pareceres sobre normal. (Redação dada pela lei nº 13.415, de 2017)
“currículos experimentais”, mas nenhum deles, a rigor,
apresenta algo realmente inovador. Possíveis “novidades” no A proposta básica é a de que a formação dos profissionais
chamado “curso de pedagogia” seriam, por exemplo, a da educação para atuação na educação básica far-se-á,
atribuição, ao lado de outras, da formação em nível superior de predominantemente, nas atuais faculdades de educação, que
professores para as séries iniciais do Ensino Fundamental, oferecerão curso de pedagogia, cursos de formação de
supressão das habilitações (administração escolar, orientação professores para toda a educação básica, programa especial de
educacional, supervisão escolar etc.) e alterações na formação pedagógica, programas de educação continuada e de
denominação de algumas disciplinas. Alterações geralmente pós-graduação. As faculdades de educação terão sob sua
inócuas, pois na maior parte dos casos foi mantida a prática da responsabilidade a formulação e a coordenação de políticas e
grade curricular e os mesmos conteúdos das antigas planos de formação de professores, em articulação com as pró-
disciplinas, por exemplo, Organização do trabalho pedagógico reitorias ou vice-reitorias de graduação das universidades ou
manteve o conteúdo da anterior Administração escolar. órgãos similares nas demais Instituições de Ensino Superior,
Em relação aos cursos de licenciatura, também não houve com os institutos/faculdades/departamentos das áreas
nenhuma mudança substantiva desde a Resolução no 292/62 específicas e com as redes pública e privada de ensino.
do CFE, que dispunha sobre as matérias pedagógicas para a O curso de pedagogia destinar-se-á à formação de
licenciatura. O que se tentou foram diferentes formas de profissionais interessados em estudos do campo teórico-
organização do percurso da formação, umas mantendo o 3+1 investigativo da educação e no exercício técnico-profissional
já presente em 1939, outras distribuindo as disciplinas como pedagogos no sistema de ensino, nas escolas e em outras
pedagógicas ao longo do curso específico. Quanto ao local da instituições educacionais, inclusive as não-escolares.
formação pedagógica, em alguns lugares ela foi mantida nas Os cursos de formação de professores e os programas
faculdades de educação, em outros, foi deslocada, total ou mencionados, abrangendo todos os níveis da educação básica,
parcialmente, aos institutos/departamentos/cursos. serão realizados num Centro de Formação, Pesquisa e
Atualmente, a atuação do Ministério da Educação e do CNE Desenvolvimento Profissional de Professores – CFPD, que
na regulamentação da LDB no 9.394/96 tem provocado a integrará a estrutura organizacional das faculdades de
mobilização dos educadores de todos os níveis de ensino para educação e destinar-se-á à formação de professores para a
rediscutir a formação de profissionais da educação. A nosso educação básica, da educação infantil ao Ensino Médio.
ver, não bastam iniciativas de formulação de reformas Distinguindo o curso de pedagogia (stricto sensu) e o curso
curriculares, princípios norteadores de formação, novas de formação de professores para as séries iniciais do Ensino
competências profissionais, novos eixos curriculares, base Fundamental.
comum nacional etc. Faz-se necessária e urgente a definição
explícita de uma estrutura organizacional para um sistema Formação teórico-prática articulada na formação
nacional de formação de profissionais da educação, incluindo inicial e contínua
a definição dos locais institucionais do processo formativo. Na As investigações recentes sobre formação de professores
verdade, reivindicamos o ordenamento legal e funcional de apontam como questão essencial o fato de que os professores
todo o conteúdo do Título VI da Lei de Diretrizes e Bases. desempenham uma atividade teórico-prática. É difícil pensar
na possibilidade de educar fora de uma situação concreta e de
O disposto nos artigos 61 caput e incisos e, 62 caput, da uma realidade definida. A profissão de professor precisa
LDB é o seguinte: combinar sistematicamente elementos teóricos com situações
práticas reais. Por essa razão, ao se pensar um currículo de
Art. 61. Consideram-se profissionais da educação escolar formação, a ênfase na prática como atividade formadora
básica os que, nela estando em efetivo exercício e tendo sido aparece, à primeira vista, como exercício formativo para o
formados em cursos reconhecidos, são: futuro professor. Entretanto, em termos mais amplos, é um
I – professores habilitados em nível médio ou superior para dos aspectos centrais na formação do professor, em razão do
a docência na educação infantil e nos ensinos fundamental e que traz consequências decisivas para a formação profissional.
médio; Atualmente, em boa parte dos cursos de licenciatura, a
II – trabalhadores em educação portadores de diploma de aproximação do futuro professor à realidade escolar acontece
pedagogia, com habilitação em administração, planejamento, após ele ter passado pela formação “teórica”, tanto na
supervisão, inspeção e orientação educacional, bem como com disciplina especifica como nas disciplinas pedagógicas. O
títulos de mestrado ou doutorado nas mesmas áreas; caminho deve ser outro. Desde o ingresso dos alunos no curso,
III – trabalhadores em educação, portadores de diploma de é preciso integrar os conteúdos das disciplinas em situações
curso técnico ou superior em área pedagógica ou afim. da prática que coloquem problemas aos futuros professores e
IV - profissionais com notório saber reconhecido pelos lhes possibilitem experimentar soluções. Isso significa ter a
respectivos sistemas de ensino, para ministrar conteúdos de prática, ao longo do curso, como referente direto para
áreas afins à sua formação ou experiência profissional, contrastar seus estudos e formar seus próprios conhecimentos
atestados por titulação específica ou prática de ensino em e convicções a respeito. Ou seja, os alunos precisam conhecer

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o mais cedo possível os sujeitos e as situações com que irão


trabalhar. Significa tomar a prática profissional como instância
permanente e sistemática na aprendizagem do futuro 03. (UFPE - Pedagogo – COVEST-COPSET). Das
professor e como referência para a organização curricular. alternativas abaixo, assinale a compatível com a didática.
Significa, também, a articulação entre formação inicial e (A) Didática relaciona-se com o estudo dos elementos
formação continuada. Por um lado, a formação inicial estaria substantivos ou nucleares do currículo.
estreitamente vinculada aos contextos de trabalho, (B) Didática é reconhecida como um espaço próprio no
possibilitando pensar as disciplinas com base no que pede a domínio científico da educação.
prática; cai por terra aquela ideia de que o estágio é aplicação (C) Didática é caracterizada como um todo, organizada em
da teoria. Por outro, a formação continuada, a par de ser feita função de propósitos e de saberes educativos.
na escola a partir dos saberes e experiências dos professores (D) Didática é ligada ao estudo dos processos e práticas
adquiridos na situação de trabalho, articula-se com a formação pedagógicas institucionalizadas.
inicial, indo os professores à universidade para uma reflexão (E) Didática está associada ao conteúdo, ao programa dos
mais apurada sobre a prática. Em ambos os casos, estamos processos de formação.
diante de modalidades de formação em que há interação entre
as práticas formativas e os contextos de trabalho. Com isso, 04. (SEDUC/CE - Professor Pleno I – CESPE). Com
institui-se uma concepção de formação centrada na ideia de relação às características e às propriedades relativas à didática
escola como unidade básica da mudança educativa, em que as e à formação dos professores, assinale a opção correta.
escolas são consideradas “espaços institucionais para a (A) A relação entre o professor, o aluno e o ensino de
inovação e a melhoria e, simultaneamente, como contextos conceitos científicos constitui uma tríade na qual convergem
privilegiados para a formação contínua de professores” apenas estudos teóricos de diferentes domínios do
(Escudero e Botia78). conhecimento.
(B) Didática é a articulação entre teoria e prática na
Referência: formação do professor.
SANTOS, E. P. dos; BATISTA, I. C.; M. L. da S.; SILVA, M. de F. (C) A formação do professor de biologia é complexa e
F. da. O processo didático educativo: Uma análise reflexiva envolve inúmeras disciplinas que, pela especificidade de cada
sobre o processo de ensino e a aprendizagem. Disponível em: uma delas, não devem se complementar.
http://meuartigo.brasilescola.uol.com.br/pedagogia/proce (D) Um dos princípios gerais da didática é o foco em
sso-didatico-educativo-analise-reflexiva-sobre-processo- conteúdos e atividades de ensino que tenham sentido
ensino-aprendizagem.htm essencialmente pedagógicos.
LIBANEO, José Carlos; PIMENTA, Selma Garrido. Formação (E) Uma formação global e integral de professores de
de profissionais da educação: visão crítica e perspectiva de biologia requer especialização do professor em determinada
mudança. Educ. Soc., Campinas, v. 20, n. 68, p. 239-277, disciplina do curso.
Dec. 1999.
Respostas
Questões
01. D. / 02. B. / 03. A. / 04. B.
01. (Prefeitura de Alto Piquiri/ PR - Educador Infantil
– KLC). A Didática é um ramo de estudo da Pedagogia que:
(A) investiga a natureza das finalidades da educação numa O currículo e cultura,
sociedade. conteúdos curriculares e
(B) busca em outras ciências os conhecimentos que
esclarecem o fenômeno educativo. aprendizagem, projetos de
(C) estuda a dinâmica das relações sociais e o processo do trabalho;
desenvolvimento humano.
(D) investiga os fundamentos, condições e modos de
realização da instrução e do ensino. Cultura, Diversidade Cultural e Currículo79
(E) nenhuma alternativa está correta
Que entendemos pela palavra cultura? Talvez seja útil
02. (Prefeitura de Nova Friburgo/RJ– Professor- esclarecermos, inicialmente, como a estamos concebendo, já
EXATUS-PR/2015) Em relação à Didática, é incorreto afirmar que seus sentidos têm variado ao longo dos tempos,
que: particularmente no período da transição de formações sociais
(A) contribui para transformar a prática pedagógica da tradicionais para a modernidade. Acreditamos que tal
escola, ao desenvolver a compreensão articulada entre os esclarecimento pode subsidiar a discussão das relações entre
conteúdos a serem ensinados e as práticas sociais. currículo e cultura80e81.
(B) não compete refletir acerca dos objetivos sócio- O primeiro e mais antigo significado de cultura encontra-
políticos e pedagógicos, ao selecionar os conteúdos e métodos se na literatura do século XV, em que a palavra se refere a
de ensino. cultivo da terra, de plantações e de animais. É nesse sentido
(C) realiza-se por meio de ação consciente, intencional e que entendemos palavras como agricultura, floricultura,
planejada, no processo de formação humana, estabelecendo- suinocultura.
se objetivos e critérios socialmente determinados. O segundo significado emerge no início do século XVI,
(D) sua finalidade é converter objetivos sócio-políticos e ampliando a ideia de cultivo da terra e de animais para a mente
pedagógicos em objetivos de ensino, selecionar conteúdos e humana. Ou seja, passa-se a falar em mente humana cultivada,
métodos em função desses objetivos. afirmando-se mesmo que somente alguns indivíduos, grupos

78 ESCUDERO, Juan M. e BOTIA, Bolívar. "Inovação e formação centrada na 80 BOCOCK, R. The cultural formations of modern society. In: HALL, S. e

escola. Uma perspectiva da realidade espanhola". In: AMIGUINHO, Abílio e GIEBEN, B. (Orgs.). Formations of modernity. Cambridge: Polity Press/The Open
CANÁRIO, Rui (orgs.). Escolas e mudança: O papel dos Centros de Formação. University, 1995.
Lisboa: Educa, 1994. 81 CANEN, A. e MOREIRA, A. F. B. Reflexões obre o multiculturalismo na escola
79 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag3.pdf e na formação docente. In: CANEN, A. e MOREIRA, A. F. B. (Orgs.) Ênfases e omissões
no currículo. Campinas: Papirus, 2001.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 151


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ou classes sociais apresentam mentes e maneiras cultivadas e Nesse enfoque, coisas e eventos do mundo natural existem,
que somente algumas nações apresentam elevado padrão de mas não apresentam sentidos intrínsecos: os significados são
cultura ou civilização. No século XVIII, consolida-se o caráter atribuídos a partir da linguagem. Quando um grupo
classista da ideia de cultura, evidente na ideia de que somente compartilha uma cultura, compartilha um conjunto de
as classes privilegiadas da sociedade europeia atingiriam o significados, construídos, ensinados e aprendidos nas práticas
nível de refinamento que as caracterizaria como cultas. O de utilização da linguagem. A palavra cultura implica,
sentido de cultura, que ainda hoje a associa às artes, tem suas portanto, o conjunto de práticas por meio das quais
origens nessa segunda concepção: cultura, tal como as elites a significados são produzidos e compartilhados em um grupo.
concebem, corresponde ao bem apreciar música, literatura, São os arranjos e as relações envolvidas em um evento que
cinema, teatro, pintura, escultura, filosofia. Será que não passam, dominantemente, a despertar a atenção dos que
encontramos vestígios dessa concepção tanto em alguns de analisam a cultura com base nessa quinta perspectiva, passível
nossos atuais currículos como em textos que se escrevem de ser resumida na ideia de que cultura representa um
sobre currículo? Para alguns docentes, o estudo da literatura, conjunto de práticas significantes. Não será pertinente
por exemplo, ainda tende a se restringir a escritores e livros considerarmos também o currículo como um conjunto de
vistos como clássicos. Para alguns estudiosos da cultura e da práticas em que significados são construídos, disputados,
educação, os grandes autores, as grandes obras e as grandes rejeitados, compartilhados? Como entender, então, as relações
ideias deveriam constituir o núcleo central dos currículos de entre currículo e cultura? Quando um grupo compartilha uma
nossas escolas. cultura, compartilha um conjunto de significados, construídos,
Já no século XX, a noção de cultura passa a incluir a cultura ensinados e aprendidos nas práticas de utilização da
popular, hoje penetrada pelos conteúdos dos meios de linguagem. A palavra cultura implica, portanto, o conjunto de
comunicação de massa. Diferenças e tensões entre os práticas por meio das quais significados são produzidos e
significados de cultura elevada e de cultura popular acentuam- compartilhados em um grupo.
se, levando a um uso do termo cultura que se marca por Se entendermos o currículo, como propõe Williams82,
valorizações e avaliações. Será que algumas de nossas escolas como escolhas que se fazem em vasto leque de possibilidades,
não continuam a fechar suas portas para as manifestações ou seja, como uma seleção da cultura, podemos concebê-lo,
culturais associadas à cultura popular, contribuindo, assim, também, como conjunto de práticas que produzem
para que saberes e valores familiares a muitos (as) estudantes significados. Nesse sentido, considerações de Silva83 podem
sejam desvalorizados e abandonados na entrada da sala de ser úteis. Segundo o autor, o currículo é o espaço em que se
aula? Poderia ser diferente? Como? concentram e se desdobram as lutas em torno dos diferentes
Um terceiro sentido da palavra cultura, originado no significados sobre o social e sobre o político. É por meio do
Iluminismo, a associa a um processo secular geral de currículo que certos grupos sociais, especialmente os
desenvolvimento social. Esse significado é comum nas ciências dominantes, expressam sua visão de mundo, seu projeto
sociais, sugerindo a crença em um processo harmônico de social, sua “verdade”. O currículo representa, assim, um
desenvolvimento da humanidade, constituído por etapas conjunto de práticas que propiciam a produção, a circulação e
claramente definidas, pelo qual todas as sociedades o consumo de significados no espaço social e que contribuem,
inevitavelmente passam. Tal processo acaba equivalendo, por intensamente, para a construção de identidades sociais e
“coincidência”, aos rumos seguidos pelas sociedades culturais. O currículo é, por consequência, um dispositivo de
europeias, as únicas a atingirem o grau mais elevado de grande efeito no processo de construção da identidade do(a)
desenvolvimento. estudante.
Há ainda reflexos dessa visão no currículo? Parece-nos que Não se mostra, então, evidente a íntima relação entre
sim. Em alguns cursos de História, por exemplo, as referências currículo e cultura? Se, em uma sociedade cindida, a cultura é
se fazem, dominantemente, às histórias dos povos um terreno no qual se processam disputas pela preservação ou
“desenvolvidos”, o que nos aliena dos esforços e dos rumos pela superação das divisões sociais, o currículo é um espaço
seguidos na maioria dos países que formam o chamado em que esse mesmo conflito se manifesta. O currículo é um
Terceiro Mundo campo em que se tenta impor tanto a definição particular de
Em um quarto sentido, a palavra “culturas” (no plural) cultura de um dado grupo quanto o conteúdo dessa cultura. O
corresponde aos diversos modos de vida, valores e currículo é um território em que se travam ferozes
significados compartilhados por diferentes grupos (nações, competições em torno dos significados. O currículo não é um
classes sociais, grupos étnicos, culturas regionais, geracionais, veículo que transporta algo a ser transmitido e absorvido, mas
de gênero etc) e períodos históricos. Trata-se de uma visão sim um lugar em que, ativamente, em meio a tensões, se
antropológica de cultura, em que se enfatizam os significados produz e se reproduz a cultura. Currículo refere-se, portanto,
que os grupos compartilham, ou seja, os conteúdos culturais. a criação, recriação, contestação e transgressão84.
Cultura identifica-se, assim, com a forma geral de vida de um Como todos esses processos se “concretizam” no
dado grupo social, com as representações da realidade e as currículo? Pode-se dizer que no currículo se evidenciam
visões de mundo adotadas por esse grupo. A expressão dessa esforços tanto por consolidar as situações de opressão e
concepção, no currículo, poderá evidenciar-se no respeito e no discriminação a que certos grupos sociais têm sido
acolhimento das manifestações culturais dos (as) estudantes, submetidos, quanto por questionar os arranjos sociais em que
por mais desprestigiadas que sejam. essas situações se sustentam. Isso se torna claro ao nos
Finalmente, um quinto significado tem tido considerável lembrarmos dos inúmeros e expressivos relatos de práticas,
impacto nas ciências sociais e nas humanidades em geral. em salas de aulas, que contribuem para cristalizar
Deriva da antropologia social e também se refere a significados preconceitos e discriminações, representações estereotipadas
compartilhados. Diferentemente da concepção anterior, e desrespeitosas de certos comportamentos, certos estudantes
porém, ressalta a dimensão simbólica, o que a cultura faz, em e certos grupos sociais. Em Conselhos de Classe, algumas
vez de acentuar o que a cultura é. Nessa mudança, efetua- se dessas visões, lamentavelmente, se refletem em frases como:
um movimento do que para o como. Concebe-se, assim, a “vindo de onde vem, ele não podia mesmo dar certo na
cultura como prática social, não como coisa (artes) ou estado escola!”.
de ser (civilização).

82WILLIAMS, R. The long revolution. Harmondsworth: Penguin Books, 1984 84 MOREIRA, A. F. B. e SILVA, T. T. (Orgs.). Currículo, cultura e sociedade. São
83SILVA, T. T. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do Paulo: Cortez, 1994
currículo. Belo Horizonte: Autêntica, 1999.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 152


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Ao mesmo tempo, há inúmeros e expressivos relatos de pluralidade de valores e universos culturais, para a
práticas alternativas em que professores (as) desafiam as necessidade de um maior intercâmbio cultural no interior de
relações de poder que têm justificado e preservado privilégios cada sociedade e entre diferentes sociedades, para a
e marginalizações, procurando contribuir para elevar a conveniência de resgatar manifestações culturais de
autoestima de estudantes associados a grupos determinados grupos cujas identidades se encontram
subalternizados. O currículo é um campo em que se tenta ameaçadas, para a importância da participação de todos no
impor tanto a definição particular de cultura de um dado grupo esforço por tornar o mundo menos opressivo e injusto, para a
quanto o conteúdo dessa cultura. O currículo é um território urgência de se reduzirem discriminações e preconceitos.
em que se travam ferozes competições em torno dos O objetivo maior concentra-se, cabe destacar, na
significados. Ou seja, no processo curricular, distintas e contextualização e na compreensão do processo de construção
complexas têm sido as respostas dadas à diversidade e à das diferenças e das desigualdades. Nosso propósito é que os
pluralidade que marcam de modo tão agudo o panorama currículos desenvolvidos tornem evidente que elas não são
cultural contemporâneo. naturais; são, ao contrário, “invenções/construções” históricas
Cabe também ressaltar a significativa influência exercida, de homens e mulheres, sendo, portanto, passíveis de serem
junto às crianças e aos adolescentes que povoam nossas salas desestabilizadas e mesmo transformadas. Ou seja, o existente
de aula, pelos “currículos” por eles “vividos” em outros espaços nem pode ser aceito sem questionamento nem é imutável;
socioeducativos (shoppings, clubes, associações, igrejas, meios constitui-se, sim, em estímulo para resistências, para críticas e
de comunicação, grupos informais de convivência etc), nos para a formulação e a promoção de novas situações
quais se fazem sentir com intensidade muitos dos complexos pedagógicas e novas relações sociais.
fenômenos associáveis ao processo de globalização que hoje
vivenciamos. Nesses outros espaços extraescolares, os O currículo como espaço de reconhecimento de nossas
currículos tendem a se organizar com objetivos distintos dos identidades culturais
currículos escolares, o que faz com que valores como Um aspecto a ser trabalhado, que consideramos de
padronização, consumismo, individualismo, sexismo e especial relevância, diz respeito a se procurar, na escola,
etnocentrismo possam entrar em acirrada competição com promover ocasiões que favoreçam a tomada de consciência da
outras metas, visadas por escolas e famílias. Vale perguntar: construção da identidade cultural de cada um de nós, docentes
Como temos, nas salas de aula, reagido a esse “confuso” e gestores, relacionando-a aos processos socioculturais do
panorama em que a diversidade se faz tão presente? contexto em que vivemos e a história de nosso país. O que
Como temos nos esforçado para desestabilizar privilégios e temos constatado é a pouca consciência que, em geral, temos
discriminações? Como temos buscado neutralizar influências desses processos e do cruzamento de culturas neles presente.
“indesejáveis”? Tendemos a uma visão homogeneizadora e estereotipada de
Como temos, na escola, dialogado com os “currículos” desses nós mesmos e de nossos alunos e alunas, em que a identidade
outros espaços? cultural é muitas vezes vista como um dado, como algo que nos
é impresso e que perdura ao longo de toda nossa vida.
Em resumo, o complexo, variado e conflituoso cenário Desvelar essa realidade e favorecer uma visão dinâmica,
cultural em que estamos imersos se reflete no que ocorre em contextualizada e plural das identidades culturais é
nossas salas de aula, afetando sensivelmente o trabalho fundamental, articulando- se as dimensões pessoal e coletiva
pedagógico que nelas se processa. Voltamos a perguntar: desses processos. Constitui um exercício fundamental
tornarmo-nos conscientes de nossos enraizamentos culturais,
Como as diferenças derivadas de dinâmicas sociais como dos processos em que misturam ou se silenciam determinados
classe social, gênero, etnia, sexualidade, cultura e religião têm pertencimentos culturais, bem como sermos capazes de
“contaminado” nosso currículo, tanto o currículo formal quanto reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-los. Constitui um
o currículo oculto? exercício fundamental tornarmo-nos conscientes de nossos
Como temos considerado, no currículo, essa pluralidade, esse enraizamentos culturais, dos processos em que misturam ou
caráter multicultural de nossa sociedade? se silenciam determinados pertencimentos culturais, bem
Como articular currículo e multiculturalismo? como sermos capazes de reconhecê-los, nomeá-los e trabalhá-
Que estratégias pedagógicas podem ser selecionadas? los.
Temos, professores e gestores, reservado tempo e espaço Como favorecer essa tomada de consciência? Alguns
suficientes para que essas discussões aconteçam nas escolas? exercícios podem ser propostos, buscando-se criar
Como nossos projetos político-pedagógicos têm incorporado oportunidades em que o profissional da educação se estimule
tais preocupações? a falar sobre como percebe a construção de sua identidade.
Como temos atendido ao que determina a Lei nº Como vêm sendo criadas nossas identidades de gênero, raça,
10.639/2003, que torna obrigatório, nos estabelecimentos de sexualidade, classe social, idade, profissão? Como temos
ensino fundamental e médio, o ensino sobre História e Cultura aprendido a ser quem somos, como profissionais da educação,
afro-brasileira? brasileiros (as), homens, mulheres, casados (as), solteiros (as),
De que modo os professores se têm inteirado das lutas e negros (as), brancos (as), jovens ou idosos (as)? Nesses
conquistas dos negros, das mulheres, dos homossexuais e de momentos, tem sido bastante frequente a afirmação “nunca
outros grupos minoritários oprimidos? pensei na formação da minha identidade cultural”, ou então
Sem pretender oferecer respostas prontas a serem “me considero uma órfã do ponto de vista cultural”, expressão
aplicadas em quaisquer situações, move-nos a intenção de usada por uma professora jovem, querendo se referir à
apresentar alguns princípios que possam nortear a construção dificuldade de nomear os referentes culturais configuradores
coletiva, em cada escola, de currículos que visem a enfrentar de sua trajetória de vida.
alguns dos desafios que a diversidade cultural nos tem trazido. A socialização em pequenos grupos, entre os (as)
Fundamentamo-nos, nesse propósito, em estudos, pesquisas, educadores (as), dos relatos sobre a construção de suas
práticas e depoimentos de docentes comprometidos com uma identidades culturais pode se revelar uma experiência
escola cada vez mais democrática. Nossa intenção é convidar o profundamente vivida, muitas vezes carregada de emoção, que
profissional da educação a engajar- se no instigante processo dilata tanto a consciência dos próprios processos de formação
de pensar e desenvolver currículos para essa escola. identitária do ponto de vista cultural, quanto a sensibilidade
Desejamos, com os princípios que vamos sugerir, para favorecer esse mesmo dinamismo nas práticas educativas
intensificar a sensibilidade do (a) docente e do gestor para a que organizamos. Nesses processos, podemos nos dar conta da

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 153


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complexidade envolvida na configuração dos distintos traços (e) privilegiamos somente a comunicação verbal,
identitários que coexistem, por vezes contraditoriamente, na desconsiderando outras formas de comunicação humana,
construção das diferenças de que somos feitos. como a corporal, a artística etc.

O currículo como espaço de questionamento de nossas Ao considerarmos o outro como sujeito pleno de uma
representações sobre os “outros” marca cultural, estamos concebendo-o como membro de uma
Junto ao reconhecimento da própria identidade cultural, dada cultura, vista como uma comunidade homogênea de
outro elemento a ser ressaltado relaciona-se às crenças e estilos de vida. O outro, ainda que não seja a fonte de
representações que construímos dos outros, daqueles que todo mal, é diferente de nós, tem uma essência claramente
consideramos diferentes. As relações entre nós e os outros definida, distinta da que nos caracteriza. Na área da educação,
estão carregadas de dramaticidade e ambiguidade. Em essa visão se expressa, por exemplo, quando nos limitamos a
sociedades nas quais a consciência das diferenças se faz cada abordar o outro de forma genérica e “folclórica”, apenas em
vez mais forte, reveste-se de especial importância dias especiais, usualmente incluídos na lista dos festejos
aprofundarmos questões como: quem incluímos na categoria escolares, tais como o Dia do Índio ou Dia da Consciência
nós? Quem são os outros? Quais as implicações dessas Negra.
questões para o currículo? Como nossas representações dos Já a expressão o outro como alguém a tolerar convida tanto
outros se refletem nos currículos? a admitir a existência de diferenças quanto a aceitá-las. Nessa
Esses são temas fundamentais que estamos desafiados a admissão, contudo, reside um paradoxo. Se aceitamos, por
trabalhar nas relações sociais e, particularmente, na educação. princípio, todo e qualquer diferente, deveríamos aceitar os
Nossa maneira de nos situarmos em relação aos outros tende grupos cujas marcas são comportamentos antissociais ou
a construir-se em uma perspectiva etnocêntrica. Quem são os opressivos, como os racistas. Que consequências a adoção
nós? Tendemos a incluir na categoria nós todas aquelas dessa perspectiva pode ter para a prática pedagógica?
pessoas e aqueles grupos sociais que têm referenciais Julgamos que a simples tolerância pode nos situar em uma
semelhantes aos nossos, que têm hábitos de vida, valores, posição débil, evitando que tomemos posição em relação aos
estilos e visões de mundo que se aproximam dos nossos e os valores que dominam a cultura contemporânea. Pode impedir
reforçam. Quem são os outros? Tendem a ser os que entram que polemizemos, levando-nos a assumir a conciliação como
em choque com nossas maneiras de nos situarmos no mundo, valor último. Pode incentivar-nos a não questionar a “ordem”,
por sua classe social, etnia, religião, valores, tradições, vendo-a como comportamentos a serem inevitavelmente
sexualidade etc. cultivados.
Como temos entendido esse outro? Para Skliar e Poderíamos acrescentar outras formas de nos situar diante
Duschatzky85, principalmente de três formas distintas: o outro dos outros. No entanto, acreditamos que a tipologia proposta
como fonte de todo mal, o outro como sujeito pleno de um por Skliar e Duschatzky86 expressa as posições mais presentes
grupo cultural, o outro como alguém a tolerar. na nossa sociedade hoje, evidenciando a complexidade das
A primeira perspectiva, segundo os autores, marcou questões relacionadas à alteridade e à diferença.
predominantemente as relações sociais durante o século XX e O que desejamos destacar é que o modo como concebemos
pode se revestir de diferentes formas, desde a eliminação física a condição humana pode bloquear nossa compreensão dos
do outro, até a coação interna, mediante a regulação de outros. Portanto, é importante promovermos processos
costumes e moralidades. Nesse modo de nos situarmos diante educacionais nos quais identifiquemos e desconstruamos
do outro, assumimos uma visão binária e dicotômica. Em um nossas suposições, em geral implícitas, que não nos permitem
lado separamos os bons, os verdadeiros, os autênticos, os uma aproximação aberta e empática à realidade dos outros.
civilizados, cultos, defensores da liberdade e da paz. Em outro,
deixamos os outros: os maus, os falsos, os bárbaros, os O currículo como um espaço de crítica cultural
ignorantes e os terroristas. Se nos identificamos com os
primeiros, o que temos a fazer é eliminar, neutralizar, dominar Apresentamos agora outro princípio, fortemente
ou subjugar os outros. Caso nos sintamos representados como relacionado aos anteriores: sugerimos que se expandam os
integrantes do polo oposto, ou internalizamos a nossa conteúdos curriculares usuais, de modo a neles incluir alguns
maldade e nos deixamos salvar, passando para o lado dos bons, dos artefatos culturais que circundam o (a) aluno (a). A ideia é
ou nos confrontamos violentamente com eles. tornar o currículo um espaço de crítica cultural.

Como essa primeira perspectiva se traduz na escola? Como fazê-lo?


Mostra-se presente quando: Um dos caminhos é abrir as portas, na escola, a diferentes
(a) atribuímos o fracasso escolar dos (as) alunos (as) às manifestações da cultura popular, além das que compõem a
suas características sociais ou étnicas; chamada cultura erudita. Músicas populares, danças, filmes,
(b) diferenciamos os tipos de escolas segundo a origem programas de televisão, festas populares, anúncios,
social dos (as) estudantes, considerando que alguns têm maior brincadeiras, jogos, peças de teatro, poemas, revistas e
potencial que outros e, para desenvolvermos uma educação de romances precisam fazer-se presentes nas salas de aula. Da
qualidade, não podemos misturar estudantes de diferentes mesma forma, levando-se em conta a importância de ampliar
potenciais; os horizontes culturais dos (as) estudantes, bem como de
(c) nos situamos, como professores (as), diante dos (as) promover interações entre diferentes culturas, outras
alunos (as), com base em estereótipos e expectativas manifestações, mais associadas aos grupos dominantes,
diferenciadas segundo a origem social e as características precisam ser incluídas no currículo.
culturais dos grupos de referência; A intenção é que a cultura dos estudantes e da comunidade
(d) valorizamos exclusivamente o racional e possa interagir com outras manifestações e outros espaços
desvalorizamos os aspectos afetivos presentes nos processos culturais como museus, exposições, centros culturais, música
educacionais; erudita, clássicos da literatura. Se aceitarmos a inexistência, no

85 SKLIAR, C. e DUSCHATZKY, S. O nome dos outros: narrando a alteridade na 86 SKLIAR, C. e DUSCHATZKY, S. O nome dos outros: narrando a alteridade na

cultura e na educação. In: LARROSA, J. e SKLIAR, C. (Orgs.). Habitantes de Babel: cultura e na educação. In: LARROSA, J. e SKLIAR, C. (Orgs.). Habitantes de Babel:
políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001. políticas e poéticas da diferença. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.

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mundo contemporâneo, de qualquer “pureza cultural” 87, se conhecimentos acumulados no campo da História e da
pretendermos abrir espaço na escola para a complexa Geografia, noções e conceitos originários da Antropologia, da
interpenetração das culturas e para a pluralidade cultural, Linguística, da Sociologia, da Psicologia, aspectos referentes a
tanto as manifestações culturais hegemônicas como as Estudos Populacionais, constituem uma base sobre a qual se
subalternizadas precisam integrar o currículo e ser objeto de opera tal reflexão que, ao voltar-se para a atuação na escola,
apreciação e crítica. Talvez fosse útil, para o desenvolvimento deve ter cunho eminentemente pedagógico.
do que sugerimos, que discutíssemos, na escola, com que Acrescenta-se a essa evidente complexidade o fato de que
recursos podemos contar em nossa comunidade e como fazer muitos grupos humanos, de que trata o tema Pluralidade
para que outros recursos venham, de alguma forma, a tornar- Cultural, têm produzido um saber rico e profundo acerca de si
se familiares a nossos (as) alunos (as). Abrir as portas, na mesmos, particularmente no âmbito de movimentos sociais e
escola, a diferentes manifestações da cultura popular, além das de suas organizações comunitárias. Assim, abre-se à escola a
que compõem a chamada cultura erudita. possibilidade de empreender, em seu cotidiano, uma reflexão
Nessa perspectiva, há um ponto que desejamos destacar. que integra, de maneira ímpar, teoria e prática, reflexão e ação.
Ao intentarmos transformar a escola em um espaço cultural, A seguir são apresentadas algumas indicações das
estamos convidando cada professor (a), como intelectual que diferentes contribuições, a título de subsídios chave, a fim de
é, a desempenhar o papel de crítico (a) cultural. Estamos balizar o trabalho pedagógico deste tema, embora não o
considerando que a atividade intelectual implica o esgotem. São pistas que o professor poderá seguir
questionamento do que parece inscrito na natureza das coisas, aprofundando e ampliando conforme as necessidades de seu
do que nos é apresentado como natural, questionamento esse planejamento. Visam, sobretudo, explicitar que tratar do povo
que visa, fundamentalmente, a mostrar que as coisas não são brasileiro, em seus desafios e conquistas do cotidiano e no
inevitáveis. A atividade intelectual centra-se, assim, na crítica processo histórico, exige estudo e preparo cuidadoso que não
da cultura em que estamos imersos. Como se expressa essa se confundem, em hipótese alguma, com o senso comum.
atividade na prática curricular?
Julgamos que cabe à escola, por meio de suas atividades Fundamentos Éticos
pedagógicas, mostrar ao aluno que as coisas não são Uma proposta curricular voltada para a cidadania deve
inevitáveis e que tudo que passa por natural precisa ser preocupar-se necessariamente com as diversidades existentes
questionado e pode, consequentemente, ser modificado. Cabe na sociedade, uma das bases concretas em que se praticam os
à escola levá-lo a compreender que a ordem social em que está preceitos éticos. É a ética que norteia e exige de todos, e da
inserido define-se por ações sociais cujo poder não é absoluto. escola e educadores em particular, propostas e iniciativas que
O que existe precisa ser visto como a condição de uma ação visem à superação do preconceito e da discriminação. A
futura, não como seu limite. Nossos questionamentos devem, contribuição da escola na construção da democracia é a de
então, provocar tensões e desafiar o existente. Podem não promover os princípios éticos de liberdade, dignidade,
mudar o mundo, mas podem permitir que o aluno o respeito mútuo, justiça e equidade, solidariedade, diálogo no
compreenda melhor. Como nos diz Bauman88, “para operar no cotidiano; é a de encontrar formas de cumprir o princípio
mundo (por contraste a ser ‘operado’ por ele) é preciso constitucional de igualdade, o que exige sensibilidade para a
entender como o mundo opera”. questão da diversidade cultural e ações decididas em relação
A crítica de diferentes artefatos culturais na escola pode, aos problemas gerados pela injustiça social.
por exemplo, levar-nos a identificar e a desafiar visões A diferença entre o que se tem historicamente pregado
estereotipadas da mulher propagadas em anúncios; imagens como sendo fins e valores da democracia republicana e
desrespeitosas de homossexuais difundidas em programas práticas sociais marcadas pela dominação, exploração e
cômicos de televisão; preconceitos contra povos não exclusão, torna imperativo o posicionamento ético da escola e
ocidentais evidentes em desenhos animados; mensagens do educador, ao mesmo tempo em que se coloca a superação
encontradas em revistas para adolescentes do sexo feminino dessa situação, no campo educacional, como um dos maiores
(e da classe média) que incentivam o uso de drogas, o desafios da prática pedagógica.
consumismo e o individualismo; estímulos à erotização Num mundo que tende cada vez mais à globalização no
precoce das meninas, visíveis em brinquedos e programas plano econômico, da qual é ainda desconhecido o conjunto de
infantis; presença e aceitação da violência em filmes, jogos e efeitos sociais, é importante perceber o incessante processo de
brinquedos. reposição das diferenças e o ressurgimento de etnicidades. De
Outros exemplos poderiam ser citados, reforçando-nos o um lado, esse processo ensina que o fato de as culturas
ponto de vista de que os produtos culturais à nossa volta nada viverem dinâmicas que resultam em sua modificação
têm de ingênuos ou puros; ao contrário, incorporam intenções constante não quer dizer que o sentido da mudança seja único,
de apoiar, preservar ou produzir situações que favorecem e conduza fatalmente ao modelo de desenvolvimento
certos grupos e outros não. Tais artefatos, como se tem dominante. De outro, apresenta com clareza a necessidade da
insistentemente acentuado, desempenham, junto com o construção de valores e novas práticas de relação social que
currículo escolar, importante papel no processo de formação permitam o reconhecimento e a valorização da existência das
das identidades de nossas crianças e nossos adolescentes, diferenças étnicas e culturais, e a superação da relação de
devendo constituir- se, portanto, em elementos centrais de dominação e exclusão — ao mesmo tempo em que se constitui
crítica em processos curriculares culturalmente orientados. a solidariedade.

Contribuições para o Estudo da Pluralidade Cultural no Conhecimentos Jurídicos


Âmbito da Escola89 Explicitada no contexto dramático do pós-guerra, quando
se indagou como teria sido possível ao ser humano produzir a
Para informar adequadamente a perspectiva de ensino e barbárie do Holocausto e o horror de Nagasaki e Hiroshima, a
aprendizagem é importante esclarecer o caráter Declaração Universal dos Direitos Humanos surgiu como a
interdisciplinar que constitui o campo de estudos teóricos da ponte entre o medo e a esperança. Essa ponte, apenas
Pluralidade Cultural. A fundamentação ética, o entendimento projetada ali, seria preciso ser construída.
de preceitos jurídicos, incluindo o campo internacional,

87 McCARTHY, C. The uses of culture: education and the lilmits of ethnic 89Brasil. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares

affiliation. New York: Routledge, 1998. nacionais: pluralidade cultural, orientação sexual / Secretaria de Educação
88BAUMAN, Z. Em busca da política. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2000. Fundamental.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 155


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Os direitos humanos assumiram, gradativamente, a Não se trata, é claro, de mostrar um Brasil perfeito e irreal,
importância de tema global. Assim como a preservação do mas as possibilidades que se abrem com trabalho, embates e
meio ambiente, os Direitos Humanos colocam-se como entendimentos, mediante a colocação em prática de
assunto de interesse de toda a humanidade. Se o planeta está instrumentos jurídicos já disponíveis.
ameaçado por políticas de desenvolvimento predatórias, da
mesma maneira a miséria e a intolerância em seus diversos Conhecimentos Históricos e Geográficos
matizes promovem no final do século a morte pela fome, a O estudo da ocupação do território nacional e da
marginalidade extrema, migrações em massa, desequilíbrios constituição da população pode ser empreendido por
internos e, no limite, guerras entre grupos humanos que intermédio da trajetória das etnias no Brasil. Tarefa complexa,
outrora conviveram em suposta harmonia. A violência em que esse estudo traz tanto a compreensão da produção das
pode resultar a disputa étnica, religiosa e social, quando a riquezas, da miséria e da injustiça quanto de aspectos que
intolerância e o desequilíbrio são levados ao extremo, tornaram o Brasil internacionalmente reconhecido como
expressa-se em números: sabe-se que 80% das guerras que hospitaleiro.
ocorrem hoje derivam da intolerância étnica e religiosa em Os aspectos históricos e geográficos expõem uma
conflitos internos. diversidade regional marcada pela desigualdade, do ponto de
A ONU, preocupada com a conquista da paz mundial, vista do atendimento pleno dos direitos de cidadania, de
promoveu conferências que buscavam um programa de valorização desigual de práticas culturais. A formação
consenso que orientasse os países e os indivíduos quanto à histórica do Brasil mostra os mecanismos de resistência ao
questão dos direitos humanos. A Conferência de Viena de processo de dominação desenvolvidos pelos grupos sociais em
1993, de cuja declaração o Brasil é signatário, reafirmou a diferentes momentos. Uma das formas de resistência refere-se
universalidade dos direitos humanos e apresentou as ao fato de que cada grupo encontrou maneiras de preservar
condições necessárias para os Estados promoverem, sua identidade cultural, ainda que às vezes de forma
controlarem e garantirem tais direitos. Sabia-se naquele clandestina e precária.
momento que o tratamento adequado do tema da pluralidade A tendência de abafar e encobrir os problemas vividos pela
etnocultural era condição para a democracia e fator primordial diversidade, enquanto se dá destaque apenas à sua
do equilíbrio social e internacional. Firma-se nesse contexto a característica de ser um dos potenciais mais férteis,
responsabilidade do Estado na proteção e promoção das tipicamente brasileiros, levou por muito tempo a acreditar que
identidades étnicas, culturais, linguísticas e religiosas. o racismo era uma mazela social que o Brasil soube evitar. A
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 teoria da integração das raças, tradicionalmente divulgada na
é uma das mais avançadas quanto aos temas do respeito à maioria das escolas de ensino fundamental, deixou pouco ou
diferença e do combate à discriminação. O Brasil teve, por nenhum espaço para que se encarassem as reais dificuldades
outro lado, participação ativa nas reuniões mundiais sobre os das diferentes etnias no contexto social brasileiro.
direitos humanos e sobre minorias. Aqui não se trata, é claro, Para a compreensão da trajetória das etnias é necessário
de exigir conhecimentos próprios do especialista em Direito, tratar de temas básicos: ocupação e conquista, escravização,
mas de saber como se define basicamente a cidadania. imigração, migração. Outro aspecto particularmente relevante
Vale lembrar que dispositivos presentes na Seção “Da refere-se à importância do estudo dos continentes de origem
Educação”, da Constituição Federal, referentes às dos diversos grupos que compõem a população brasileira.
comunidades indígenas, também asseguram “a utilização de Tratar da presença indígena, desde tempos imemoriais em
suas línguas maternas e processos próprios de aprendizagem” território nacional, é valorizar sua presença e reafirmar seus
(art. 210, § 2º), consolidando o reconhecimento de exigências direitos como povos nativos, como tratado na Constituição de
historicamente apresentadas em trabalhos desenvolvidos 1988. É preciso explicitar sua ampla e variada diversidade, de
pelos povos indígenas, em cooperação notadamente com a forma a corrigir uma visão deturpada que homogeneíza as
sociedade civil. sociedades indígenas como se fossem de um único grupo, pela
Alguns aspectos pedagógicos decorrem desse dispositivo. justaposição aleatória de traços retirados de diversas etnias.
O estabelecimento de escolas indígenas, com proposta Nesse sentido, a valorização dos povos indígenas faz-se tanto
pedagógica, organização administrativa e didáticas próprias, pela via da inclusão nos currículos de conteúdos que informem
atende a uma exigência constitucional, traz enriquecimento sobre a riqueza de suas culturas e a influência delas sobre a
pedagógico e introduz exigências adicionais na estruturação sociedade como um todo, quanto pela consolidação das escolas
do sistema nacional de educação. indígenas que destacam, nos termos da Constituição, a
O ensino religioso nas escolas públicas é assunto que exige pedagogia que lhes é própria.
atenção. Tema vinculado, em termos de direito, à liberdade de Compreender a formação das sociedades europeias e das
consciência e de crença, a presença plural das religiões no relações entre sua história, viagens de conquista,
Brasil constitui-se fator de possibilidade de escolha. Ao entrelaçamento de seus processos políticos com os do
indivíduo é dado o direito de ter religião, quando criança, por continente americano, em particular América do Sul e Brasil,
decisão de seus pais, ou, quando adulto, por escolha pessoal; auxiliará professores e alunos a formarem referencial não só
de mudar de religião, por determinação voluntária ao longo da de conteúdos específicos, como também da estruturação de
vida, sem restrições de ordem civil; e de não ter religião, como processos de influenciação recíproca. Isso é particularmente
opção consciente. O que caracteriza, portanto, a inserção social importante para o momento atual, quando o quadro
do cidadão, desse ponto de vista, é o respeito, a abertura e a internacional interfere no cotidiano do cidadão de muitas e
liberdade. variadas formas.
De fato, a configuração laica do Estado é propiciadora O estudo histórico do continente africano, com sua
dessa pluralidade, no plano social, e se caracteriza por ser complexidade milenar, é de extrema relevância como fator de
impeditiva de rótulos, no plano do cidadão. Ou seja, não há informação e de formação voltada para a valorização dos
uma predeterminação que vincule compulsoriamente etnias e descendentes daqueles povos. Significa resgatar a história
religiões, origem de nascimento e percursos de vida. mais ampla, na qual os processos de mercantilização da
É nesse sentido que se define a postura laica da escola escravidão foram um momento, que não pode ser amplificado
pública como imperativo no cumprimento do dever do Estado a ponto que se perca a rica construção histórica da África. O
referente ao estabelecimento pleno de uma educação conhecimento desse processo pode significar o
democrática, voltada para o aprimoramento e a consolidação dimensionamento correto do absurdo, do ponto de vista ético,
de liberdades e direitos fundamentais da pessoa humana.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 156


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da escravidão, de sua mercantilização e das repercussões que A discussão sociológica colabora para a escola e o
os povos africanos enfrentam por isso. professor enfrentarem o desafio que lhes está colocado, qual
Da mesma forma, uma visão histórica da Ásia contribui seja, o de ser parte de certa realidade social injusta, dela sofrer
para a compreensão da formação cultural brasileira, tanto no influências, e, ainda assim, garantir a possibilidade de educar
que se refere às tradições quanto em relação aos processos o aluno como cidadão em formação, de forma que atue como
históricos que levaram seus habitantes a imigrarem para as sujeito sociocultural, voltado para mudanças, para a busca de
Américas, e em particular para o Brasil, em diferentes caminhos de transformação social.
momentos históricos. É relevante, também, o estudo do
Oriente Médio, sua história e suas influências na constituição Conhecimentos Antropológicos
da civilização ocidental. Há relações presentes em diferentes grupos e sociedades
Esses conhecimentos são subsídios para que se possa humanas que não se explicam exclusivamente pelo
compreender o processo de surgimento de tendências, ideias, socioeconômico, nem se reduzem a estados afetivos e
crenças, sistemas de pensamento, seu percurso por diversos psicológicos. São exemplos, a relação do ser humano com a
territórios nacionais e continentais, e a ampliação da organização de seu grupo, com o sagrado, o mágico, o
influência cultural; perceber a criação e recriação constante de sobrenatural, a relação com o patrimônio cultural, tudo o que
tradições, a complexidade da convivência da diversidade em o precede e sucede. Trata-se de fatos que caracterizam a
um mesmo território, nem sempre harmonizada, assim como existência da cultura, especificidade exclusiva da vida humana.
processos internacionais de pressão, e desenvolvimento de A Antropologia caracteriza-se como o estudo das
processos regionais de construção da paz. alteridades, no qual se afirma o reconhecimento do valor
Cada um desses desenvolvimentos poderá estar presente inerente a cada cultura, por se tratar daquilo que é
conforme a necessidade e a oportunidade do trabalho em sala exclusivamente humano, como criação, e próprio de certo
de aula. É claro, contudo, que alguns desenvolvimentos grupo, em certo momento, em certo lugar. Nesse sentido, cada
conceituais mais elaborados poderão ser deixados para as cultura tem sua história, condicionantes, características, não
quintas a oitavas séries, enquanto nas séries iniciais se poderá cabendo qualquer classificação que sobreleve uma em
veicular informações mais simples e promover aproximações detrimento de outra.
conceituais que favorecerão uma futura ampliação em A variabilidade interna presente em cada cultura também
abrangência e profundidade. é objeto de estudo da Antropologia, tornando possível
compreender variáveis formas de organização humana,
Conhecimentos Sociológicos convivendo dentro de visões de mundo semelhantes.
Toda seleção curricular é marcada por determinantes e É também nos conhecimentos antropológicos que se
fatores culturais, sociais e políticos, que podem ser analisados encontram subsídios para entender algumas das questões
de forma isolada, para efeito de estudo, mas que se encontram mais difíceis de nosso tempo, que vai ao encontro do terceiro
amalgamados no social. Conhecimentos sociológicos são milênio. Em particular, a temática étnica, cada vez mais
indispensáveis na discussão da Pluralidade Cultural, pelas presente em um mundo que se complexifica de maneira
possibilidades que abrem de compreensão de processos crescente, sob aparência de homogeneização, assim como o
complexos, onde se dão interações entre fenômenos de estudo das mutações culturais, que se apresentam com ritmos
diferentes naturezas. distintos, em diferentes grupos.
Atuando em campo social marcado historicamente pela Assim, falar de cultura é tratar de permanências e
exclusão de grandes contingentes da população, a escola pode mudanças, de manifestações patentes, que expressam, com
fortalecer sua atuação tanto mais quanto seja conhecedora dos frequência, o latente — atuante, embora nem sempre
problemas presentes na estrutura socioeconômica, de como se perceptível em termos objetivos.
dão as relações de dominação, qual o papel desempenhado É preciso considerar que não se trata, aqui, do sentido mais
pelo universo cultural nesse processo. usual do termo cultura, empregado para definir certo saber,
Embora tenha sido muito salientado o papel de ilustração, refinamento de maneiras. No sentido antropológico
reprodutora de mecanismos de dominação e exclusão, do termo, afirma-se que todo e qualquer indivíduo nasce no
atribuído historicamente à escola, cabe lembrar que contexto de uma cultura, não existindo homem sem cultura,
potencializar suas possibilidades de resistência e mesmo que não saiba ler, escrever e fazer contas. É como se se
transformação depende também, ainda que não pudesse dizer que o homem é biologicamente incompleto: não
exclusivamente, das opções e das práticas dos educadores. sobreviveria sozinho sem a participação das pessoas e do
Nesse sentido, além das diversas contribuições da Sociologia, grupo que o gerou.
aspectos particulares voltados para a discussão curricular têm A cultura é o conjunto de códigos simbólicos reconhecíveis
sido desenvolvidos por autores que se ocupam da Sociologia pelo grupo: neles o indivíduo é formado desde o momento da
da Educação, Sociologia do Currículo. Nesses estudos, os sua concepção; nesses mesmos códigos, durante a sua infância,
vínculos entre escola e democracia, escola e cidadania, e aprende os valores do grupo; por eles são mais tarde
democracia e currículo são analisados, permitindo uma introduzidos nas obrigações da vida adulta, da maneira como
reflexão voltada especificamente para o interior da escola e da cada grupo social as concebe.
sala de aula, no que se refere a esses assuntos. A cultura, como código simbólico, apresenta-se como
Os conhecimentos sociológicos permitem uma discussão dinâmica viva. Todas as culturas estão em constante processo
acurada de como as diferenças étnicas, culturais e regionais de reelaboração, introduzindo novos símbolos, atualizando
não podem ser reduzidas à dimensão socioeconômica de valores. O grupo social transforma e reformula
classes sociais, assim como das formas como ambas se constantemente esses códigos, adaptando seu acervo
retroalimentam. tradicional às novas condições historicamente construídas
A desatenção à questão da diferença cultural tem sido pela sociedade. A cultura não é algo fixo e cristalizado que o
instrumento que reforça e mantém a desigualdade social, sujeito carrega por toda a sua vida como um peso que o
levando a escola a atuar, frequentemente, como mera estigmatiza, mas é elemento que o auxilia a compor sua
transmissora de ideologias. Por outro lado, a injustiça identidade.
socioeconômica se apoia em preconceitos e discriminações de Entretanto, o processo de mudança intrínseco a qualquer
caráter etnocultural de tal forma que, muitas vezes, não é cultura já foi entendido como desfiguração da cultura
possível saber se a discriminação vem pelo fato étnico, pelo tradicional, desvio e perda, o que, do ponto de vista aqui
socioeconômico, ou por ambos. colocado, é uma ideia incorreta. É preciso compreender esse

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 157


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caráter intrínseco da mudança, do ponto de vista dos grupos informações corretas, cooperando no esforço histórico de
culturais, diferente de intromissões de elementos externos superação do racismo e da discriminação.
que sugerem ou impõem fatores estranhos à cultura, ou até de
transplantes culturais.
A cultura pode assumir um sentido de sobrevivência, Linguagens e Representações
estímulo e resistência. Quando valorizada, reconhecida como Trata-se, aqui, de trabalhar diferentes linguagens que
parte indispensável das identidades individuais e sociais, ampliam as possibilidades de expressão para além da verbal,
apresenta-se como componente do pluralismo próprio da vida forma predominante de comunicação na maioria das
democrática. Por isso, fortalecer a cultura própria de cada sociedades. Integrada aos conhecimentos antropológicos,
grupo social, cultural e étnico que compõe a sociedade permitirá o entendimento da importância de diferentes
brasileira, promover seu reconhecimento, valorização e códigos linguísticos, de diferentes manifestações culturais e
conhecimento mútuo, é fortalecer a igualdade, a justiça, a sua compreensão no campo educacional, como fator de
liberdade, o diálogo e, portanto, a democracia. integração e expressão do aluno, respeitando suas origens.
Alguns temas, conceitos e termos da temática da Tratando especificamente da temática das línguas, abrem-
Pluralidade Cultural dependem intrinsecamente de se muitas possibilidades de transversalização com Língua
conhecimentos antropológicos, por referirem-se diretamente Portuguesa, por exemplo, pela valorização de diferentes
à organização humana, na qual se coloca a diversidade. formas de linguagem oral e escrita, pelo respeito às
Assim, o termo “raça”, de uso corriqueiro e banal no manifestações regionais, pela possibilidade de contato e
cotidiano, vem sendo evitado cada vez mais pelas ciências integração com a diversidade de línguas e de linguagens
sociais pelos maus usos a que se prestou. presentes na vida de crianças e adolescentes no Brasil.
Nas ciências biológicas, raça é a subdivisão de uma espécie, Conhecer a existência do uso de outras línguas diferentes
cujos membros mostram com frequência um certo número de da Língua Portuguesa, idioma oficial, significa não só
atributos hereditários. Refere-se ao conjunto de indivíduos ampliação de horizontes, como também compreensão da
cujos caracteres somáticos, tais como a cor da pele, o formato complexidade do País. A escola tem a possibilidade de
do crânio e do rosto, tipo de cabelo, etc., são semelhantes e se trabalhar com esse panorama rico e complexo, referindo-se à
transmitem por hereditariedade. O conceito de raça, portanto, existência, estrutura e uso dessas centenas de línguas. Pode,
assenta-se em um conteúdo biológico, e foi utilizado na com isso, promover não só a reflexão metalinguística, como
tentativa de demonstrar uma pretensa relação de também a compreensão de como se constituem identidades e
superioridade/inferioridade entre grupos humanos. singularidades de diferentes povos e etnias.
A diversidade das sociedades humanas não se explica pela Saber da existência de diferentes formas de bilinguismos e
diferença genética — a variação dos caracteres genéticos multilinguíssimos, presentes em diferentes regiões — assim
internos de qualquer grupo é muito grande —, mas sim pela como ver-se reconhecida e presente neste tema transversal,
cultura. A divisão biológica da espécie humana não implica aberto às suas próprias singularidades regionais, étnicas e
hierarquia, ainda que diferentes visões de mundo expliquem culturais — será extremamente relevante na construção desse
de múltiplas formas a diversidade humana. Do ponto de vista conhecimento e na valorização do que é a pluralidade cultural
de dignidade, de Direitos Universais, há uma só humanidade. brasileira. São exemplos de tais bilinguismos e
Convém lembrar que o uso do termo “raça” no senso multilinguíssimos as vivências de escolas indígenas, escolas de
comum é ainda muito difundido, variando da ideia de regiões de fronteiras geopolíticas do Brasil, escolas vinculadas
reafirmação étnica, de forma a distinguir singularidades de a grupos étnicos, existentes em particular em grandes centros
potencial e demanda, como aquele que é feito comumente por urbanos, regionalismos na fala cotidiana de tantas escolas
movimentos sociais, a usos ostensivamente pejorativos, que espalhadas pelo País.
alimentam racismo e discriminação. Por outro lado, o desenvolvimento de outras linguagens
Cabe, aqui, introduzir o conceito de etnia, que substitui será muito importante, permitindo transversalizar, em
com vantagens o termo “raça”, já que tem base social e cultural. particular, com Educação Física e Arte. A música, a dança, as
“Etnia” ou “grupo étnico” designa um grupo social que se artes em geral, vinculadas aos diferentes grupos étnicos e a
diferencia de outros por sua especificidade cultural. composições regionais típicas, são manifestações culturais que
Atualmente o conceito de etnia se estende a todas as minorias a criança e o adolescente poderão conhecer e vivenciar. Dessa
que mantêm modos de ser distintos e formações que se forma enriquecerão seu conhecimento sobre a diversidade
distinguem da cultura dominante. Assim, os pertencentes a presente no Brasil, enquanto desenvolvem seu próprio
uma etnia partilham de uma mesma visão de mundo, de uma potencial expressivo.
organização social própria, apresentam manifestações
culturais que lhe são características. “Etnicidade” é a condição Conhecimentos Populacionais
de pertencer a um grupo étnico. É o caráter ou a qualidade de Embora estejam presentes ao longo da discussão referente
um grupo étnico, que frequentemente se autodenomina à trajetória das etnias no Brasil, os conhecimentos
comunidade. Já o “etnocentrismo” — tendência de alguém populacionais precisam ser aqui lembrados, por constituírem
tomar a própria cultura como centro exclusivo de tudo, e de fonte de informação relevante, sobretudo a partir do segundo
pensar sobre o outro também apenas a partir de seus próprios ciclo.
valores e categorias — muitas vezes dificulta um diálogo Dados estatísticos sobre a população brasileira conforme
intercultural, impedindo o acesso ao inesgotável aprendizado distribuição regional, densidade demográfica, em relação com
que as diversas culturas oferecem. dados como renda per capita, PIB per capita, fornecem um
Por isso, é errado, conceitual e eticamente, sustentar quadro informativo de como se vive no Brasil. Cotejado com
argumentos de ordem racial/étnica para justificar informações provenientes de levantamentos feitos pelos
desigualdades socioeconômicas, dominação, abuso, próprios alunos (via correspondência, imprensa, etc.),
exploração de certos grupos humanos. Historicamente, no significarão a possibilidade de um conhecimento mais
Brasil, tentou-se justificar, por essa via, injustiças cometidas adequado sobre o Brasil e oportunidade, nas séries finais, de
contra povos indígenas, contra africanos e seus descendentes, discussão, de debates acerca de políticas públicas alternativas
da barbárie da escravidão a formas contemporâneas de que beneficiem a vida da população.
discriminação e exclusão, desses e outros grupos étnicos e Da mesma forma, História e Geografia, Ciências Naturais,
culturais, em diferentes graus e formas. A escola deve Orientação Sexual e Saúde possibilitam discutir dados
posicionar-se criticamente em relação a esses fatos, mediante referentes à mortalidade infantil, abortos e esterilizações, com

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as consequências daí advindas. Um tratamento enriquecedor conhecimentos que os grupos étnicos e sociais têm,
da temática dos direitos reprodutivos propicia também a permitindo, ainda, que se evidencie o saber emergente, aquele
análise da relação com questões de raça/etnia. que está em elaboração como parte do processo social de
A escolha dos conteúdos e abordagens pode nortear-se por conscientização e afirmação de identidades e singularidades.
questões como: quais características são relevantes quanto à No polo em que se encontra aquele que é discriminado, o
relação entre composição populacional, aspectos culturais, medo se apresenta como ameaça permanente, na qual a
distribuição de renda, qualidade de vida e o papel da discriminação se dirige à sua forma extrema, aquela na qual se
educação? Que relações perversas estabeleceram-se, busca eliminar fisicamente quem é discriminado. É importante
historicamente, entre exclusão socioeconômica e observar que a discriminação reveste-se sempre de conteúdos
determinados grupos, que estão exigindo ações específicas? de violência, ainda que em sua forma simbólica. Tal violência
Que dados são relevantes para uma compreensão integrada de provoca o medo da eliminação, seja de forma extrema, seja
áreas sociais, como educação e saúde, por exemplo? manifestada como exclusão. Assim, é decisivo propiciar
Esses conhecimentos poderão, assim, oferecer subsídios elementos ao aluno para que repudie toda forma de exclusão
preliminares que permitam construir a compreensão do social, por meio sobretudo da prática cotidiana de
entrelaçamento de componentes sociais, culturais e procedimentos voltados para o princípio da equidade.
populacionais na definição da qualidade de vida, além de
possíveis formas de ação voltadas para a melhoria dessa Ensino e Aprendizagem na Perspectiva da Pluralidade
qualidade. Cultural

Conhecimentos Psicológicos e Pedagógicos O tema Pluralidade Cultural propõe que sejam revistas e
Alguns aspectos presentes na escola, ligados à questão da transformadas práticas arraigadas, inaceitáveis e
expectativa, da estigmatização, da autoestima, da conduta na inconstitucionais, enquanto se ampliam conhecimentos acerca
atividade educativa, com a necessária reciprocidade entre das gentes do Brasil, suas histórias, trajetórias em território
educador e educando, fazem do tema Pluralidade Cultural fim nacional, valores e vidas. O trabalho volta-se para a eliminação
e meio. de causas de sofrimento, de constrangimento e, no limite, de
Do ponto de vista psicopedagógico, conhecimentos que exclusão social da criança e do adolescente. Além disso, o tema
tragam ao professor a compreensão do fracasso e do sucesso traz oportunidades pedagogicamente muito interessantes,
que se apresentam como sendo mais da escola e de sua motivadoras, que entrelaçam escola, comunidade local e
atividade didática, e não só dos alunos, levam à redefinição de sociedade: ampliando questões do cotidiano para o âmbito
procedimentos em sala de aula. cosmopolita e vice-versa, colocando-se assim,
Evitar atitudes que “produzam” o fracasso escolar é uma simultaneamente, como objetivo e como meio do processo
possibilidade aberta ao professor. Um dos aspectos mais educacional.
complexos quanto ao atendimento adequado à criança e ao Para os alunos, o tema da Pluralidade Cultural oferece
adolescente refere-se às expectativas de homogeneização. oportunidades de conhecimento de suas origens como
Várias contribuições se apresentam para a conduta brasileiro e como participante de grupos culturais específicos.
pedagógica, sendo, porém, a mais decisiva aquela que Ao valorizar as diversas culturas que estão presentes no Brasil,
intervém nas situações de discriminação, seja qual for o propicia ao aluno a compreensão de seu próprio valor,
motivo. promovendo sua autoestima como ser humano pleno de
Com relação à discriminação, sabe-se que um de seus dignidade, cooperando na formação de autodefesas a
fundamentos psicológicos é o medo. Falar sobre isso expectativas indevidas que lhe poderiam ser prejudiciais. Por
explicitamente, como um dos muitos e complexos motivos que meio do convívio escolar possibilita conhecimentos e
levam à discriminação, permite que se possa tratar o medo vivências que cooperam para que se apure sua percepção de
como o que é de fato: manifestação da insegurança, muitas injustiças e manifestações de preconceito e discriminação que
vezes plantada em cada um de maneira arcaica, que pode ser recaiam sobre si mesmo, ou que venha a testemunhar - e para
revertida apenas quando encarada e trabalhada. que desenvolva atitudes de repúdio a essas práticas.
É preciso esclarecer, também, que a discriminação ocorre No âmbito instrumental, o tema permite a explicitação dos
como uma relação em que há dois polos. No polo que direitos da criança e do adolescente referentes ao respeito e à
discrimina, o medo se apresenta como reação ao valorização de suas origens culturais, sem qualquer
desconhecido, visto como ameaçador. Quem tem a cor da pele discriminação. Exige do professor atitudes compatíveis com
diferente, ou fala de tradições — étnicas, religiosas, culturais uma postura ética que valoriza a dignidade, a justiça, a
— desconhecidas, confronta seu interlocutor com sua própria igualdade e a liberdade. Exige, também, a compreensão de que
ignorância de mundos diferentes do seu. É a figura do o pleno exercício da cidadania envolve direitos e
“estranho”, do “estrangeiro”, que, por escapar da apreensão responsabilidades de cada um para consigo mesmo e para com
comum, pode ser rotulado de “esquisito”. os demais, assim como direitos e deveres coletivos. Traz, para
Esse medo se alimenta de si mesmo, ou seja, quanto mais os conteúdos relevantes no conhecimento do Brasil, aquilo que
medo, mais se busca distância do objeto do medo. Há estudos diz respeito à complexidade da sociedade brasileira: sua
que demonstram que nos conflitos inter-étnicos, quanto maior riqueza cultural e suas contradições sociais.
o medo, maior a violência presente nas reações. Ao mostrar as diversas formas de organização social
Uma forma de trabalhar e superar esse tipo de medo é com desenvolvidas por diferentes comunidades étnicas e
informação. Trata-se, portanto, de buscar conhecer aquele que diferentes grupos sociais, explicita que a pluralidade é fator de
atemoriza. Esse conhecimento se dá por intermédio de textos, fortalecimento da democracia pelo adensamento do tecido
fitas de vídeo, jornais e boletins informativos de grupos social que se dá, pelo fortalecimento das culturas e pelo
organizados pelas diferentes comunidades. Contudo, a fonte entrelaçamento das diversas formas de organização social de
mais importante de conhecimento desse “desconhecido que diferentes grupos.
atemoriza” é ele mesmo. Assim, trata-se de, potencializando ao Esse tema necessita, portanto, que a escola, como
máximo a prática da transversalidade, oferecer informações, instituição voltada para a constituição de sujeitos sociais e ao
nas diversas áreas, que permitam esse conhecimento mútuo, afirmar um compromisso com a cidadania, coloque em análise
tanto dos alunos entre si, quanto em relação a concidadãos, suas relações, suas práticas, as informações e os valores que
brasileiros de diferentes origens socioculturais. Trata-se veicula. Assim, a temática da Pluralidade Cultural contribuirá
também de recuperar, de forma não-depreciativa,

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para a vinculação efetiva da escola a uma sociedade Para o aluno, importa ter segurança da aceitação de suas
democrática. características, ter disponível a abertura para que possa dar-
se a conhecer naquelas que sejam experiências particulares
Ensinar Pluralidade Cultural ou viver Pluralidade suas ou do grupo humano a que se vincule e receber incentivo
Cultural? para partilhar com seus colegas a vivência que tenha fora do
Pela educação pode-se combater, no plano das atitudes, a mundo da escola, mas que possa ali ser referida, como
discriminação manifestada em gestos, comportamentos e contribuição sua ao processo de aprendizagem. Resumindo,
palavras, que afasta e estigmatiza grupos sociais. Contudo, ao trata-se de oferecer à criança, e construir junto com ela, um
mesmo tempo em que não se aceita que permaneça a atual ambiente de respeito, pela aceitação; de interesse, pelo apoio
situação, em que a escola é cúmplice, ainda que só por omissão, à sua expressão; de valorização, pela incorporação das
não se pode esquecer que esses problemas não são contribuições que venha a trazer.
essencialmente do âmbito comportamental, individual, mas É claro que aquilo que se apresenta para o aluno é idêntico
das relações sociais, e como elas têm história e permanência. ao que se apresenta para o professor e demais funcionários da
O que se coloca, portanto, é o desafio de a escola se constituir escola: uma organização escolar que saiba estar atenta às
um espaço de resistência, isto é, de criação de outras formas singularidades dos profissionais que ali atuam, respeitando
de relação social e interpessoal mediante a interação entre o suas características próprias, entendendo que esse respeito é
trabalho educativo escolar e as questões sociais, a base para a atuação profissional, e tal respeito não é
posicionando-se crítica e responsavelmente perante elas. incompatível com o respeito às normas institucionais, embora
Assim, cabe à escola buscar construir relações de confiança possa, às vezes, exigir flexibilidade em sua aplicação (por
para que a criança possa perceber-se e viver, antes de mais exemplo, os feriados religiosos).
nada, como ser em formação, e para que a manifestação de Tal atuação não é simples e exige por parte do professor a
características culturais que partilhe com seu grupo de origem consciência de que ele mesmo estará aprendendo, uma vez que
possa ser trabalhada como parte de suas circunstâncias de nessa área a prática do acobertamento é muito mais frequente
vida, que não seja impeditiva do desenvolvimento de suas que a prática do desvelamento.
potencialidades pessoais. A prática do acobertamento é a mais usual, porque assim
É possível identificar no cotidiano as muitas manifestações se estabeleceu no campo social. Vive-se numa realidade na
que permitem o trabalho sobre pluralidade: os fatos da qual a simples menção da palavra discriminação assusta, uma
comunidade ou comunidades do entorno escolar, as notícias vez que se convencionou aceitar sem discussões a ideia de que
de jornal, rádio e TV, as festas das localidades, estratégias de no Brasil todos se entendem e são cordiais e pacíficos (o “mito
intercâmbio entre escolas de diferentes regiões do Brasil, e de da democracia racial”). Mais ainda, muitas vezes a ideia de
diferentes municípios de um mesmo Estado. aceitar que o preconceito existe gera tanto o medo de ser
A escola deve trabalhar atenta às limitações éticas. Assim, acusado de ser preconceituoso como o medo de ser vítima de
quando se fala de alguma comunidade, é preciso ter certeza de preconceito. Essa atitude é o que se chama, popularmente, de
que se referem a conhecimentos reconhecidos por essas “política de avestruz”, na qual, por se fazer de conta que um
comunidades como verdadeiros. Então, como conseguir problema não existe, tem-se a expectativa de que ele deixe, de
informações? Nesse sentido, a prática de intercâmbio escolar fato, de existir.
e da consulta a órgãos comunitários e de imprensa, inclusive Na escola, a prática do acobertamento se dá quando se
das próprias comunidades, é instrumento pedagógico procura diluir as evidências de comportamento
privilegiado. Com isso, será possível transformar a discriminatório, com desculpas muitas vezes evasivas. Um
possibilidade de obter informações das comunidades em fator professor pode ter tratado um aluno mal “porque estava
de corresponsabilização social pelos rumos da discussão, da nervoso”, ou a ofensa de uma criança contra outra é tratada
formação de crianças e adolescentes. como se fosse um simples descuido, uma distração.
É importante abrir espaço para que a criança e o A prática do desvelamento, que é decisiva na superação da
adolescente possam manifestar-se. Viver o direito à voz é discriminação, exige do professor informação, discernimento
experiência pessoal e intransferível, que permite um oportuno diante de situações indesejáveis, sensibilidade ao sentimento
e rico trabalho de Língua Portuguesa. Assim também o do outro e intencionalidade definida na direção de colaborar
exercício efetivo do diálogo, voltado para a troca de na superação do preconceito e da discriminação.
informações sobre vivências culturais e esclarecimentos A informação deverá permitir um repertório básico
acerca de eventuais preconceitos e estereótipos é componente referente à pluralidade étnica suficiente tanto para identificar
fortalecedor do convívio democrático. o que é relevante para a situação escolar como para buscar
O cotidiano da escola permite viver algo da beleza da outras informações que se façam necessárias.
criação cultural humana em sua diversidade e multiplicidade. O discernimento é indispensável, de maneira particular,
Partilhar um cotidiano onde o simples “olhar-se” permite a quando ocorrem situações de discriminação no cotidiano da
constatação de que são todos diferentes traz a consciência de escola. Enfrentar adequadamente o ocorrido, significa tanto
que cada pessoa é única e, exatamente por essa singularidade, não escapar para evasivas quanto não resvalar para o tom de
insubstituível. acusação. Se o professor se cala, ou trata do ocorrido de
O simples fato de os alunos serem provenientes de maneira ambígua, estará reforçando o problema social; se
diferentes famílias, diferentes origens, assim como cada acusa, pode criar sofrimento, rancor e ressentimento. Assim,
professor ter, ele próprio, uma origem pessoal, e os outros discernir o ocorrido, no convívio, é tratar com firmeza a ação
auxiliares do trabalho escolar terem também, cada qual, discriminatória, esclarecendo o que é o respeito mútuo, como
diferentes histórias, permite desenvolver uma experiência de se pratica a solidariedade, buscando alguma atividade que
interação “entre diferentes”, na qual cada um aprende e cada possa exemplificar o que diz, com algo que faça, junto com seus
um ensina. O convívio, aqui, é explicitação de aprendizagem a alunos.
cada momento: o que um gosta e o outro não, o que um aprecia Aqui se coloca a sensibilidade em relação ao outro.
e o outro, talvez, despreze. Compreender que aquele que é alvo da discriminação sofre de
Aprender a posicionar-se de forma a compreender a fato, e de maneira profunda, é condição para que o professor,
relatividade de opiniões, preferências, gostos, escolhas, é em sala de aula, possa escutar até mesmo o que não foi dito.
aprender o respeito ao outro. Ensinar suas próprias práticas, Como a história do preconceito é muito antiga, muitos dos
histórias, gestos, tradições, é fazer-se respeitar ao dar-se a grupos vítimas de discriminação desenvolveram um medo
conhecer. profundo e uma cautela permanente como reação. O professor

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precisa saber que a dor do grito silenciado é mais forte do que (E) Em todos os níveis e modalidades de ensino através da
a dor pronunciada. Poder expressar o que sentiu diante da criação de uma nova disciplina curricular.
discriminação significa a chance de ser resgatado da
humilhação, e de partilhar com colegas seus sentimentos. Ou 02. (UNIRIO - Pedagogo - CESGRANRIO/2016) Os
seja, trata-se de ensinar a dialogar sobre o respeito mútuo, currículos têm uma estreita relação com a história e a
num gesto que pode transformar o significado do sofrimento, sociedade, refletindo questões sociais de um determinado
ao fazer do ocorrido ocasião de aprendizagem. A sensibilidade, momento. Os currículos são produtores de sujeitos dotados de
aqui, exige a atenção para a reação que a criança esteja classe, etnia e gênero. Nessa perspectiva, o papel do pedagogo
apresentando, para sua maior ou menor disposição para tratar na instituição de ensino deve ser o de:
do assunto exatamente no momento ocorrido, ou em situação (A) Premiar os docentes que cumpram o cronograma
posterior. estabelecido.
A intencionalidade se faz necessária como produto de uma (B) Separar os alunos pelas diferenças no seu ritmo de
reflexão que permita ao professor perceber o papel que aprendizagem.
desempenha nessa questão. É também a capacidade de (C) Treinar os professores segundo aulas-padrão.
perceber que tem o que trabalhar em si mesmo, e isso não o (D) Incrementar a competição entre as diferentes
impede de trilhar, junto com seus alunos, o caminho da disciplinas do currículo.
superação do preconceito e da discriminação. Trata-se de ter a (E) Promover a discussão docente sobre o significado dos
certeza de que cada um de seus gestos pode fazer a diferença conteúdos do currículo.
entre o reforço de atitudes inadequadas e a chance de abrir
novas possibilidades de diálogo, respeito e solidariedade. 03. Segundo SILVA (1999), o currículo é o espaço em que
A prática do desvelamento exige perspicácia para os diferentes significados sobre o social e político fazem
responder adequadamente a diferentes situações que serão, sentido. Isso só é possível mediante a um currículo...
na maioria das vezes, imprevisíveis. Devido a essa (A) que tem como cerne os elementos do processo de
imprevisibilidade, a forma de desenvolver tal perspicácia é ensino e aprendizagem, principalmente a didática e a
preparando-se com leituras, buscando informações e avaliação.
vivências, estando atento aos gestos do cotidiano, explicitando (B) no qual possamos identificar grupos prioritários,
valores, refletindo coletivamente na equipe de professores. evidenciando o potencial de um todo.
Desenvolve-se, assim, como uma forma de procurar entender (C) que determinados grupos sociais, expressam sua visão
a complexidade da vida e do comportamento humano. de mundo, seu projeto social, na qual sua representação se dá
Essa informação deve ser buscada de maneira intencional através de um conjunto de práticas que favorecem a produção,
e pode se fazer de maneira lúdica: conhecer os cantos, as evidenciando a construção de identidades sociais e culturais.
lendas, as danças, as peculiaridades nas quais uma criança (D) onde é possível torná-lo em um espaço de crítica
pode ensinar a outra aquilo que é característico do grupo cultural, abrindo as portas, na escola, às diferentes
humano do qual participa. manifestações da cultura popular.
Esse conhecimento recíproco respeitoso é mais que verbal. (E) cuja organização e gestão, as abordagens disciplinares,
Deverá incluir linguagens diversificadas, bem como a pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar possuem
possibilidade de o aluno assumir o papel de educador naquilo papel secundário.
que lhe seja próprio. Nesse sentido, o professor deverá
cooperar, ao mesmo tempo em que aprende com o restante da 04. (ESAF - MF – Pedagogo) Do ponto de vista cultural, a
classe. Observe-se que essa vivência, em si, será extremamente diversidade pode ser entendida como a construção histórica,
importante, por trazer para o aluno a possibilidade de cultural e social das diferenças. As diferenças são também
constatar que a sociedade se apresenta, em sua complexidade, construídas pelos sujeitos sociais ao longo do processo
como um constante objeto de estudo e aprendizagem, onde histórico e cultural, nos processos de adaptação do homem e
todos sempre têm a aprender. da mulher ao meio social e no contexto das relações de poder.
Assim, a problemática que envolve a discriminação étnica, Sendo assim, mesmo os aspectos tipicamente observáveis, que
cultural e religiosa, ao invés de se manter em uma zona de aprendemos a ver como diferentes desde o nosso nascimento,
sombra que leva à proliferação da ambiguidade nas falas e nas só passaram a ser percebidos dessa forma, porque nós, seres
atitudes, alimentando com isso o preconceito, pode ser trazida humanos e sujeitos sociais, no contexto da cultura, assim os
à luz, como elemento de aprendizagem e crescimento do grupo nomeamos e identificamos.
escolar como um todo. Em relação ao conceito de diversidade e sua relação com o
currículo, assinale a opção incorreta.
Ensinar a pluralidade ou viver a pluralidade? (A) A diversidade é permitida na Lei de Diretrizes e Bases
Sem dúvida, pluralidade vive-se, ensina-se e aprende-se. É da Educação Nacional – LDB n. 9.394/96 em função da
trabalho de construção, no qual o envolvimento de todos se dá possibilidade de intervenção das regiões e suas
pelo respeito e pela própria constatação de que, sem o outro, especificidades na criação do currículo escolar.
nada se sabe sobre ele, a não ser o que a própria imaginação (B) Conviver com as diferenças é construir relações de
fornece. respeito e de interpelações que irão contribuir para um espaço
hierarquicamente diferenciado entre os participantes.
Questões (C) A presença da parte diversificada no currículo das
escolas acaba por ocupar lugar menor na relação hierárquica
01. (Prefeitura de Itaquitinga - Pedagogo IDHTEC - com os demais conhecimentos.
2016) A Lei nº 10.639/2003, torna obrigatório o estudo da (D) A diversidade, presente em boa parte dos currículos,
História e Cultura Afro Brasileira e Africana: aparece nos documentos como um tema, deixando de ser um
(A) Nos estabelecimentos oficiais de ensino e nas eixo central de orientação curricular.
comunidades indígenas e quilombolas. (E) A forma como a diversidade é colocada na LDB, apesar
(B) Na Educação infantil e ensino fundamental de escolas de importante, ainda é insuficiente em relação às necessidades
públicas. do tema e sua relevância social.
(C) Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio,
públicos e privados.
(D) Nas escolas confessionais e de movimentos populares.

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05. (IF/PE - Assistente de Alunos -2016) Temos, no Brasil,


uma grande diversidade cultural e racial. Descendentes de Interdisciplinaridade e
povos africanos e de índios brasileiros, de imigrantes
europeus, asiáticos e latino-americanos compõem o cenário
contextualização;
brasileiro. Por conta disso, podemos que afirmar que:
(A) atualmente, o termo “pluralidade cultural” não se
aplica ao Brasil por causa da Globalização. A Contextualização dos Currículos
(B) a mistura de todas estas raças e etnias não caracteriza
a identidade do povo brasileiro. Multidisciplinaridade, Interdisciplinaridade,
(C) o Brasil é um país dotado de uma ampla “pluralidade Transdisciplinaridade90
cultural”, ou seja, diferentes culturas foram e são produzidas A compreensão dos conceitos de multidisciplinaridade,
pelos grupos sociais que fazem parte da nossa história. interdisciplinaridade e transdisciplinaridade e sua
(D) a diversidade cultural e racial não interfere nas formas emergência no campo da educação requer uma atenção ao
com que os habitantes do Brasil organizaram sua vida social e conceito de disciplina e sua centralidade no universo escolar.
política. Uma primeira observação a ser feita sobre o termo
(E) ações racistas e discriminatórias não existem na disciplina diz respeito aos significados que evoca, dentre os
sociedade brasileira por causa da grande diversidade cultural quais, poderíamos destacar os seguintes: ensino e educação
e racial do país. que um discípulo recebia do mestre; obediência às regras e aos
superiores; ordem, bom comportamento; obediência a regras
06. (SME/SP - Professor de Ensino Fundamental II e de cunho interior, firmeza, constância; castigo, penitência,
Médio – Sociologia – FGV/2016) Observe a imagem a seguir: mortificação; ramo do conhecimento, ciência, matéria,
disciplinas: cordas, correias e concorrentes com que os frades,
devotos e penitentes se flagelam. Embora algumas dessas
definições pareçam bastantes distintas entre si, a noção de
disciplina está estritamente vinculada às ideias de controle, de
organização de algo que é múltiplo ou disperso, de imposição
de uma ordem. Foucault91 denomina disciplinas aos métodos
que permitem o controle minucioso das operações de corpo,
que realizam a sujeição constante de suas forças e lhes
impõem uma relação de docilidade-utilidade.
É a partir da segunda metade do século XVIII, nos diz
Foucault, que o corpo é descoberto como objeto e alvo de
poder: algo que se manipula, se modela, treina, que obedece,
que se torna ágil ou cujas forças podem ser multiplicadas, um
corpo máquina, que se submete e se utiliza, um corpo dócil e
manipulável. Tudo isso a favor de uma nova anatomia política
nascente, que é também uma forma de poder que, por meio da
disciplina, fabrica corpos submissos. As prisões, os hospitais,
A partir da imagem, registro de uma atividade realizada no os quartéis, as fábricas e os colégios são os espaços
Ensino Fundamental, é correto afirmar: disciplinares por excelência: na forma de distribuir os
(A) Reforça a hegemonia de um conhecimento em indivíduos, de organizar e controlar as atividades, os espaços
detrimento de outro e cria um imaginário que vê as culturas de e tempos, nos recursos para garantir o bom adestramento,
forma hierarquizada e inferior. dentre os quais ela destaca os exames. O conhecimento, sua
(B) Apresenta uma situação típica do currículo produção e sua divulgação não fogem à lógica do poder que se
monocultural. está constituindo.
(C) Comprova que o processo de hierarquização de No sentido que será aqui abordado – campo de
conhecimentos foi superado. conhecimento, ciência – disciplina refere-se a uma maneira de
(D) Ilustra e introduz uma nova disciplina nos currículos organizar e delimitar um território de trabalho de um corpo de
escolares. conhecimentos e de definir a pesquisa e as experiências dentro
(E) Ilustra a construção de um currículo intercultural, o de um determinado ângulo de visão. Historicamente, a
lugar da diversidade nas práticas curriculares diferenciação do conhecimento em disciplinas autônomas vem
se concretizando desde o início do século XIX.
Respostas Vincula-se ao processo de transformação social que
ocorria nos países em desenvolvimento na Europa, naquele
01. C. / 02. E. / 03. C. / 04. B. / 05. C. / 06. E. momento, e à necessidade de especialização demandada pelo
processo de produção industrial. Nesse contexto, as técnicas e
os saberes foram progressivamente se diferenciando,
configurando campos, com objetos de estudo próprios, marcos
conceituais, métodos e procedimentos específicos. Esse
movimento na produção do conhecimento se deu sob forte
influência do paradigma positivista, o que acabou por
influenciar a própria definição do tipo de conhecimento que
poderia se considerar uma disciplina e, ao mesmo tempo,
destituindo diversas formas de conhecimento do estatuto de
ciência. As universidades são instituições que têm um papel
decisivo na configuração e legitimação do conhecimento
científico, uma vez que sua estrutura, seus departamentos,
suas associações profissionais definem concretamente os

90 SOARES, C.C. Disponível em http://crv.educacao.mg.gov.br/ 91 FOUCAULT, Michel. Vigiar e punir: nascimento da prisão. Trad. Raquel

Ramalhete, 19 ed. Petrópolis: Vozes, 1999.

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objetos de estudo, as linhas de pesquisa para a construção e transdisciplinares podem constituir-se em processos de
formalização do conhecimento. complexificação das áreas de pesquisa e, ao mesmo tempo,
recorrem à poli competência do pesquisador.
E é nesse espaço institucional que se produz um
acúmulo enorme de conhecimentos, fragmentados e E quanto à escola, como é que todo esse movimento de
compartilhamentalizados em diferentes disciplinas e produção do conhecimento se reflete na instituição
especialidades que ignoram, embora muitas vezes, escolar?
trabalhem com o mesmo objeto de estudo, Santomé.92 A lógica de organização do conhecimento por disciplinas
foi incorporada à cultura escolar e passou a ser o critério
Esse paradigma científico, que produziu conhecimentos dominante de estruturação curricular, sobretudo, nos níveis
extremamente relevantes para a humanidade, está hoje sendo de ensino mais elevados, reproduzindo a fragmentação e o
profundamente questionado, por seus limites e distorções, por isolamento das diferentes matérias e campos do
seu reducionismo e determinismo, por sua incapacidade de conhecimento. O questionamento a essa perspectiva, no
abarcar aspectos da realidade que são estranhos aos seus entanto, se faz desde o início do século XX, quando diferentes
marcos conceituais e metodológicos. É nesse contexto que educadores formulam propostas de ensino que têm como
surgem as noções de multidisciplinaridade, objetivo buscar maior unidade no desenvolvimento curricular,
interdisciplinaridade e transdisciplinaridade entre outros, a na organização dos conteúdos de ensino. Ainda assim, a
partir de uma crítica à excessiva compartimentalização do perspectiva disciplinar permanece fortemente arraigada à
conhecimento e à falta de comunicação entre as disciplinas. nossa cultura escolar, tendo chegado ao seu extremo, aqui no
Cada uma dessas perspectivas responde à necessidade de Brasil, nos anos 70, com o tecnicismo. Os anos 80 foram
interação entre diferentes disciplinas e caracteriza-se pelo fecundos em debates, movimentos de renovação pedagógica e
tipo de relação que se vai estabelecer entre elas. Estudiosos do reformas educativas que buscavam novas orientações
tema propõem diferentes modalidades de colaboração entre curriculares, com forte componente político. A noção de
as disciplinas, às vezes, com subdivisões dentro de um mesmo interdisciplinaridade incorpora-se ao discurso e à prática
nível de relação (interdisciplinaridade linear, estrutural, pedagógica, como expressão de uma busca para superar o
restritiva), dentre os quais, Piaget, que apresenta o seguinte isolamento entre as disciplinas e para construir propostas
modelo: multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e educativas mais adequadas aos anseios dos educadores de
transdisciplinaridade. trabalharem a formação para a cidadania, a partir da realidade
do aluno.
- Multidisciplinaridade: corresponde ao nível mais baixo e Diferentes autores teorizam sobre as perspectivas
integração. Caracteriza-se como uma justaposição de educativas de integração curricular. Zabala94 faz uma distinção
disciplinas com a intenção de esclarecer alguns de seus entre os métodos globalizados e os enfoques que trabalham
elementos comuns. diferentes relações entre os conteúdos. Nos primeiros, os
- Interdisciplinaridade: reúne estudos diferenciados de conteúdos de ensino não se apresentam nem se organizam a
diversos especialistas em um contexto coletivo de pesquisa. partir de uma estrutura disciplinar, mas de um tema ou
Implica um esforço por elaborar um contexto mais geral, no qual problema por meio do qual os conteúdos são estudados. O
cada uma das disciplinas é modificada e passa a depender cada referencial organizador do trabalho pedagógico é o aluno e
qual das demais. A interação proporcionará um enriquecimento suas necessidades educativas. Os conteúdos estão
recíproco, com transformações em diferentes aspectos, como, condicionados aos objetivos de formação do aluno. Os
por exemplo, nas suas metodologias de pesquisa, nos seus segundos se caracterizam pelo tipo de relação que se
conceitos, na formulação dos problemas, nos instrumentos de estabelece entre as disciplinas; não se referem a uma
análise, nos modelos teóricos, etc. Os intercâmbios entre as metodologia concreta, mas a uma determinada maneira de
disciplinas são mútuos. A bioquímica, a sociolinguística, as organizar e apresentar os conteúdos, a partir das disciplinas.
neurociências são áreas do conhecimento resultantes de A prioridade básica são matérias e sua aprendizagem. Zabala
trabalhos interdisciplinares. observa que as relações entre as disciplinas constituem um
- Transdisciplinaridade: caracteriza-se como o nível mais problema essencialmente epistemológico e apenas como
alto de interação entre as disciplinas. A interação se dá de tal consequência, uma questão escolar. Este autor apresenta
forma que as fronteiras entre as diferentes disciplinas quatro tipos diferentes de relações entre as disciplinas que
desaparecem e constitui-se um sistema total que ultrapassa o têm aplicação no campo do ensino: multidisciplinaridade,
plano das relações e interações entre as disciplinas, na busca de pluridisciplinaridade, interdisciplinaridade e
objetivos comuns e de um ideal de unificação epistemológica. transdisciplinaridade.
Pode-se falar do aparecimento de uma macrodisciplina.
- Multidisciplinaridade: os conteúdos escolares se
Morin93 nos lembra que o movimento de migrações apresentam como matérias independentes, como um somatório
disciplinares faz parte da história das ciências. As rupturas de de disciplinas, sem explicitação de relação entre si.
fronteiras disciplinares sempre ocorreram paralelamente à - Pluridisciplinaridade: a organização dos conteúdos
consolidação das disciplinas, gerando novos campos de expressa a existência de relações entre disciplinas mais ou
conhecimento. Cita, como exemplo, a biologia molecular, menos afins, como, por exemplo, as diferentes ciências
nascida de transferência entre disciplinas à margem da Física, experimentais.
da Química e da Biologia. A antropologia estrutural de Lévi- - Interdisciplinaridade: é a interação de duas ou mais
Strauss, fortemente influenciada pela linguística estrutural de disciplinas, implicando numa troca de conhecimentos de uma
Jakobon. Ou o movimento da École de Annales, que construiu disciplina à outra (conceitos, leis, etc.), gerando, em alguns
uma história numa perspectiva transdisciplinar, casos, um novo corpo disciplinar. O conhecimento do meio, no
multimensional, em que se acham presentes contribuições da Ensino Fundamental, pode ser um exemplo de
Antropologia, da Economia e da Sociologia entre outras interdisciplinaridade.
disciplinas. Para Morin, esses projetos inter-poli-

92 SANTOMÉ, Jurjo Torres. Globalização e interdisciplinaridade: o currículo 94 ZABALA, Antoni Vidiella. Enfoque globalizador e pensamento

integrado. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. complexo: uma proposta para o currículo escolar. Porto Alegre: Artmed, 2002.ant
93 MORIN, Edgar. A Cabeça bem-feita: repensar a reforma, reformar o

pensamento. 5 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2001.

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- Transdisciplinaridade: é o grau máximo de relações entre Implicações da interdisciplinaridade no processo de


as disciplinas, a busca de uma integração global dentro de um ensino-aprendizagem
sistema totalizador que possibilite uma unidade interpretativa. A escola, como lugar legítimo de aprendizagem, produção
e reconstrução de conhecimento, cada vez mais precisará
Segundo Zabala, a transdisciplinaridade constitui-se mais acompanhar as transformações da ciência contemporânea,
como um desejo do que como uma realidade. adotar e simultaneamente apoiar as exigências
Para Hernández95, a interdisciplinaridade da escola tem interdisciplinares que hoje participam da construção de novos
como objetivo oferecer uma resposta à necessidade de ensinar conhecimentos. A escola precisará acompanhar o ritmo das
aos alunos a unidade do saber. Para isso, os professores mudanças que se operam em todos os segmentos que
organizam o trabalho de modo a colocar em comum a visão de compõem a sociedade. O mundo está cada vez mais
diferentes disciplinas sobre um determinado tema como, por interconectado, interdisciplinarizado e complexo.
exemplo, a Inconfidência Mineira vista numa perspectiva Embora a temática da interdisciplinaridade esteja em
histórica, geográfica, das letras e artes. Uma crítica que esse debate tanto nas agências formadoras quanto nas escolas,
autor tece a essa perspectiva é relativa ao fato de que, de modo sobretudo nas discussões sobre projeto político-pedagógico,
geral, não há intercâmbios relacionais reais entre os saberes, os desafios para a superação do referencial dicotomizador e
já que cada professor costuma dar a uma visão do tema, o que parcelado na reconstrução e socialização do conhecimento
não garantirá que o aluno tenha uma visão relacional do que orienta a prática dos educadores ainda são enormes.
mesmo: o fato de os professores evidenciarem as relações Para Luck,96 o estabelecimento de um trabalho de sentido
entre as disciplinas não garante que os alunos estabeleçam as interdisciplinar provoca, como toda ação a que não se está
conexões necessárias para a compreensão global do tema. habituado, sobrecarga de trabalho, certo medo de errar, de
Para Hernández, esse enfoque é externo à aprendizagem do perder privilégios e direitos estabelecidos. A orientação para o
aluno, resulta do esforço e dos conhecimentos do professor e enfoque interdisciplinar na prática pedagógica implica romper
mantém a centralidade das disciplinas. Para que a escola hábitos e acomodações, implica buscar algo novo e
enfrente as mudanças requeridas no contexto atual, diz ele, a desconhecido. É certamente um grande desafio.
reorganização curricular deve acontecer na perspectiva da A ação interdisciplinar é contrária a qualquer
transdisciplinaridade. homogeneização e/ou enquadramento conceitual. Faz-se
As transformações ocorridas nas últimas décadas no necessário o desmantelamento das fronteiras artificiais do
cenário sociocultural, econômico, político, no campo do conhecimento. Um processo educativo desenvolvido na
conhecimento e das tecnologias, em todo o planeta, e que perspectiva interdisciplinar possibilita o aprofundamento da
transformaram decisivamente as relações entre as pessoas e compreensão da relação entre teoria e prática, contribui para
destas com o conhecimento, demandam da escola mudanças uma formação mais crítica, criativa e responsável e coloca
profundas. Assumir a Transdisciplinaridade como marco para escola e educadores diante de novos desafios tanto no plano
uma organização do currículo escolar integrado significa ontológico quanto no plano epistemológico.
repensar o trabalho educativo em termos da complexidade do Na sala de aula, ou em qualquer outro ambiente de
conhecimento e de sua produção. Nessa perspectiva, aprender aprendizagem, são inúmeras as relações que intervêm no
significa interpretar a realidade, compreendendo seus processo de construção e organização do conhecimento. As
fenômenos e explicando essa compreensão. Isso implica que a múltiplas relações entre professores, alunos e objetos de
escola repense os critérios para a organização de seu currículo, estudo constroem o contexto de trabalho dentro do qual as
o porquê de algumas disciplinas serem nele contempladas e relações de sentido são construídas. Nesse complexo trabalho,
outras não, o significado de conteúdo escolar, os o enfoque interdisciplinar aproxima o sujeito de sua realidade
procedimentos de ensino/aprendizagem, os processos mais ampla, auxilia os aprendizes na compreensão das
educativos como um todo. complexas redes conceituais, possibilita maior significado e
sentido aos conteúdos da aprendizagem, permitindo uma
Para Hernández, são características do currículo formação mais consistente e responsável.
transdisciplinar: De todo modo, o professor precisa tornar-se um
- O trabalho é desenvolvido através de temas ou problemas profissional com visão integrada da realidade, compreender
vinculados ao mundo real, à comunidade; que um entendimento mais profundo de sua área de formação
- O professor é mediador do processo, que é desenvolvido por não é suficiente para dar conta de todo o processo de ensino.
meio de pesquisas, de projetos de trabalho (ver também verbete Ele precisa apropriar-se também das múltiplas relações
Projetos de Trabalho, no Dicionário Tempos e Espaços conceituais que sua área de formação estabelece com as outras
Escolares). ciências. O conhecimento não deixará de ter seu caráter de
- O estudo individual cede lugar ao estudo em pequenos especialidade, sobretudo quando profundo, sistemático,
grupos, nos quais os alunos trabalham por projetos; analítico, meticulosamente reconstruído; todavia, ao educador
- O conhecimento é construído em função da pesquisa que se caberá o papel de reconstruí-lo dialeticamente na relação com
está realizando; seus alunos por meio de métodos e processos
- A avaliação é feita através de portfólios, em que os alunos verdadeiramente produtivos.
sistematizam o conhecimento construído e refletem sobre o seu A escola é um ambiente de vida e, ao mesmo tempo, um
processo de aprendizagem. instrumento de acesso do sujeito à cidadania, à criatividade e
Igualmente importante para se repensar um currículo à autonomia. Não possui fim em si mesma. Ela deve constituir-
integrado, que favoreça a construção de sentido nas se como processo de vivência, e não de preparação para a vida.
aprendizagens, é a noção de conceito estruturador que Por isso, sua organização curricular, pedagógica e didática
permite a concretização da interdisciplinaridade na prática deve considerar a pluralidade de vozes, de concepções, de
escolar. experiências, de ritmos, de culturas, de interesses. A escola
deve conter, em si, a expressão da convivialidade humana,
considerando toda a sua complexidade. A escola deve ser, por
sua natureza e função, uma instituição interdisciplinar.

95 HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e mudança na educação: os projetos 96LUCK, Heloísa. Pedagogia da interdisciplinaridade. Fundamentos teórico-

de trabalho. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998. metodológicos. Petrópolis: Vozes, 2001.

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A escola precisa acolher diferentes saberes, diferentes meio de uma atitude que pressupõe planejamento sistemático
manifestações culturais e diferentes óticas, empenhar-se para e integrado e disposição para o diálogo.
se constituir, ao mesmo tempo, em um espaço de A transversalidade é entendida como uma forma de
heterogeneidade e pluralidade, situada na diversidade em organizar o trabalho didático-pedagógico em que temas, eixos
movimento, no processo tornado possível por meio de temáticos são integrados às disciplinas, às áreas ditas
relações intersubjetivas, fundamentada no princípio convencionais de forma a estarem presentes em todas elas. A
emancipador. Cabe, nesse sentido, às escolas desempenhar o transversalidade difere-se da interdisciplinaridade e
papel socioeducativo, artístico, cultural, ambiental, complementam-se; ambas rejeitam a concepção de
fundamentadas no pressuposto do respeito e da valorização conhecimento que toma a realidade como algo estável, pronto
das diferenças, entre outras, de condição física, sensorial e e acabado. A primeira se refere à dimensão didático-
sócio emocional, origem, etnia, gênero, classe social, contexto pedagógica e a segunda, à abordagem epistemológica dos
sociocultural, que dão sentido às ações educativas, objetos de conhecimento. A transversalidade orienta para a
enriquecendo-as, visando à superação das desigualdades de necessidade de se instituir, na prática educativa, uma analogia
natureza sociocultural e socioeconômica. Contemplar essas entre aprender conhecimentos teoricamente sistematizados
dimensões significa a revisão dos ritos escolares e o (aprender sobre a realidade) e as questões da vida real
alargamento do papel da instituição escolar e dos educadores, (aprender na realidade e da realidade). Dentro de uma
adotando medidas proativas e ações preventivas. compreensão interdisciplinar do conhecimento, a
Na organização e gestão do currículo, as abordagens transversalidade tem significado, sendo uma proposta didática
disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar que possibilita o tratamento dos conhecimentos escolares de
requerem a atenção criteriosa da instituição escolar, porque forma integrada. Assim, nessa abordagem, a gestão do
revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagógicas conhecimento parte do pressuposto de que os sujeitos são
dos educadores e organizam o trabalho do estudante. agentes da arte de problematizar e interrogar, e buscam
Perpassam todos os aspectos da organização escolar, desde o procedimentos interdisciplinares capazes de acender a chama
planejamento do trabalho pedagógico, a gestão do diálogo entre diferentes sujeitos, ciências, saberes e temas.
administrativo-acadêmica, até a organização do tempo e do Portanto, a interdisciplinaridade é um movimento
espaço físico e a seleção, disposição e utilização dos importante de articulação entre o ensinar e o aprender.
equipamentos e mobiliário da instituição, ou seja, todo o Compreendida como formulação teórica e assumida enquanto
conjunto das atividades que se realizam no espaço escolar, em atitude, tem a potencialidade de auxiliar os educadores e as
seus diferentes âmbitos. As abordagens multidisciplinar, escolas na ressignificação do trabalho pedagógico em termos
pluridisciplinar e interdisciplinar fundamentam-se nas de currículo, de métodos, de conteúdos, de avaliação e nas
mesmas bases, que são as disciplinas, ou seja, o recorte do formas de organização dos ambientes para a aprendizagem.
conhecimento.
Enquanto a multidisciplinaridade expressa frações do Questões
conhecimento e o hierarquiza, a pluridisciplinaridade estuda
um objeto de uma disciplina pelo ângulo de várias outras ao 01. (FUNECE – CE - Técnico em Assuntos
mesmo tempo. Segundo Nicolescu97, a pesquisa Educacionais/2017) Conforme o grau de integração das
pluridisciplinar traz algo a mais a uma disciplina, mas diferentes disciplinas reagrupadas em um determinado
restringe-se a ela, está a serviço dela. A transdisciplinaridade momento, podemos estabelecer diferentes níveis de
refere-se ao conhecimento próprio da disciplina, mas está para interdisciplinaridade. Segundo Piaget (1979), os níveis de
além dela. O conhecimento situa-se na disciplina, nas colaboração e integração entre disciplinas, são:
diferentes disciplinas e além delas, tanto no espaço quanto no (A) Multidisciplinaridade, interdisciplinaridade,
tempo. Busca a unidade do conhecimento na relação entre a transdisciplinaridade.
parte e o todo, entre o todo e a parte. Adota atitude de abertura (B) Pluridisciplinaridade, disciplinaridade cruzada,
sobre as culturas do presente e do passado, uma assimilação multidisciplinaridade.
da cultura e da arte. O desenvolvimento da capacidade de (C) Interdisciplinaridade auxiliar, composta e unificadora.
articular diferentes referências de dimensões da pessoa (D) Pseudo-interdisciplinaridade, interdisciplinaridade
humana, de seus direitos, e do mundo é fundamento básico da estrutural e restritiva.
transdisciplinaridade. De acordo com Nicolescu, para os
adeptos da transdisciplinaridade, o pensamento clássico é o 02. (CESGRANRIO – UNIRIO - Pedagogo/2016) Numa
seu campo de aplicação, por isso é complementar à pesquisa reunião pedagógica, os professores devem refletir sobre o
pluri e interdisciplinar. A interdisciplinaridade pressupõe a limite de suas disciplinas, a relatividade das mesmas e a
transferência de métodos de uma disciplina para outra. necessidade da interdisciplinaridade, que permite:
Ultrapassa-as, mas sua finalidade inscreve-se no estudo (A) Ensinar dentro de uma nova metodologia.
disciplinar. Pela abordagem interdisciplinar ocorre a (B) Hierarquizar melhor as disciplinas.
transversalidade do conhecimento constitutivo de diferentes (C) Organizar melhor os conteúdos de cada disciplina.
disciplinas, por meio da ação didático-pedagógica mediada (D) Passar de um saber setorizado a um conhecimento
pela pedagogia dos projetos temáticos. Estes facilitam a integrado.
organização coletiva e cooperativa do trabalho pedagógico, (E) Maior consenso entre os professores.
embora sejam ainda recursos que vêm sendo utilizados de
modo restrito e, às vezes, equivocados. A interdisciplinaridade 03. (FUNRIO – IFPA - Pedagogo/2016) A
é, portanto, entendida aqui como abordagem teórico- interdisciplinaridade pode ser assim definida:
metodológica em que a ênfase incide sobre o trabalho de (A) Os conteúdos escolares são apresentados por matérias
integração das diferentes áreas do conhecimento, um real ou disciplinas independentes umas das outras. O conjunto de
trabalho de cooperação e troca, aberto ao diálogo e ao matérias é proposto simultaneamente aos estudantes. Trata-
planejamento. Essa orientação deve ser enriquecida, por meio se de uma organização somativa.
de proposta temática trabalhada transversalmente ou em (B) A interação entre duas ou mais disciplinas, que pode ir
redes de conhecimento e de aprendizagem, e se expressa por desde a simples comunicação entre elas até a integração

97NICOLESCU, Basarab. Um novo tipo de conhecimento – transdisciplinaridade. Tradução de Judite Vero, Maria F. de Mello e Américo
transdisciplinaridade. In: NICOLESCU, Basarab et al. Educação e Sommerman. Brasília: UNESCO, 2000. (Edições UNESCO).

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recíproca de conceitos fundamentais podendo implicar, em


alguns casos, em um novo corpo disciplinar.
(C) O grau máximo de relações entre as disciplinas, daí que Multiculturalismo;
supõe uma integração global dentro de um sistema
globalizador, com o propósito de explicar a realidade sem
parcelamento do conhecimento. Multiculturalidade e interculturalidade: abordagens
(D) Uma multiplicidade de disciplinas e, cada uma delas, pedagógicas
em sua especialização, cria um corpo diferenciado, Candau entende o multiculturalismo como uma realidade
determinado por um campo ou objeto material de referência. social, ou seja: a presença de diferentes grupos culturais numa
(E) Temas voltados para a compreensão e para a mesma sociedade. A tomada de consciência desta realidade é
construção da realidade social, que são assim adjetivados por motivada por fatos concretos que explicitam diferentes
não pertencerem a nenhuma disciplina específica, mas por interesses, discriminações e preconceitos presentes no tecido
atravessarem todas elas como se a todas fossem pertinentes. social. Os “outros”, os diferentes se revelam em toda sua
concretude. Esta realidade pode provocar comportamentos e
04. (IDECAN – RN - Professor de Ensino Religioso/2016) dinâmicas sociais que constroem “muros” de forma física,
“Na organização e gestão do currículo, as abordagens afetiva e ideológica; evita-se o contato e criam-se mundos
disciplinar, pluridisciplinar, interdisciplinar e transdisciplinar próprios sem relação com os “diferentes”. A consciência do
requerem a atenção criteriosa da instituição escolar, porque caráter multicultural de uma sociedade não leva espontânea e
revelam a visão de mundo que orienta as práticas pedagógicas necessariamente ao desenvolvimento de uma dinâmica social
dos educadores e organizam o trabalho do estudante. informada pelo caráter intercultural. A partir da explicação da
Perpassam todos os aspectos da organização escolar, desde o autora, percebemos que multiculturalismo é uma realidade
planejamento do trabalho pedagógico, a gestão concreta com diferentes interesses.
administrativo‐acadêmica, até a organização do tempo e do Em recente trabalho apresentado no II Seminário
espaço físico e a seleção, disposição e utilização dos Internacional sobre Educação Intercultural, Gênero e
equipamentos e mobiliário da instituição, ou seja, todo o Movimentos Sociais, promovido pela Universidade Federal de
conjunto das atividades que se realizam no espaço escolar, em Santa Catarina (UFSC), realizado em Florianópolis, entre 08 e
seus diferentes âmbitos." 11 de abril de 2003, foram enumerados alguns desafios que
(Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica, 2013.)
terão que ser enfrentados, se realmente quisermos que se
promova uma educação intercultural na perspectiva crítica
As abordagens multidisciplinar, pluridisciplinar e
emancipatória. Fizemos uma síntese dessas ações propostas
interdisciplinar fundamentam‐se nas mesmas bases, que são
por Candau (2005):
as disciplinas, ou seja, o recorte do conhecimento.
Considerando essas abordagens, analise a afirmativa a seguir.
a) Descontruir: Penetrar no universo de preconceitos e
“A ______ expressa frações do conhecimento e o hierarquiza,
discriminações presentes na sociedade brasileira. Para a
a ______ estuda um objeto de uma disciplina pelo ângulo de
promoção de uma educação intercultural, é necessário
várias outras ao mesmo tempo. A _____ refere‐se ao
reconhecer o caráter desigual, discriminador e racista da nossa
conhecimento próprio da disciplina, mas está para além dela.
sociedade, da educação e de cada um (a) de nós.
O conhecimento situa‐se na disciplina, nas diferentes
b) Questionar o caráter monocultural e o etnocentrismo que,
disciplinas e além delas, tanto no espaço quanto no tempo. A
explícita ou implicitamente, estão presentes na escola e nas
_____ pressupõe a transferência de métodos de uma disciplina
políticas educativas e impregnam os currículos escolares.
para outra. Ultrapassa‐as, mas sua finalidade inscreve‐se no
c) Articular igualdade e diferença: é importante articular no
estudo disciplinar."
nível das políticas educativas, assim como das práticas
Assinale a alternativa que completa correta e
pedagógicas, o reconhecimento e a valorização da diversidade
sequencialmente a afirmativa anterior.
cultural, com as questões relativas à igualdade e ao direito à
(A) Multidisciplinaridade / pluridisciplinaridade /
educação, como direito de todos (as).
transdisciplinaridade / interdisciplinaridade
d) Resgatar os processos de construção das nossas
(B) Transdisciplinaridade / interdisciplinaridade /
identidades culturais tanto no nível pessoal como no coletivo. É
multidisciplinaridade / pluridisciplinaridade
importante que se opere com um conceito dinâmico e histórico
(C) Interdisciplinaridade / multidisciplinaridade /
de cultura capaz de integrar as raízes históricas e as novas
pluridisciplinaridade / transdisciplinaridade
configurações, evitando-se uma visão das culturas como
(D) Pluridisciplinaridade / transdisciplinaridade /
universos fechados e em busca do puro, do autêntico como uma
interdisciplinaridade / multidisciplinaridade
essência preestabelecida e um dado que não está em contínuo
movimento.
05. (FUNIVERSA - Secretaria da Criança – DF -
e) Promover experiências de interação sistemática com os
Especialista Socioeducativo – Pedagogia) Assinale a
“outros” para sermos capazes de relativizar nossa própria
alternativa que apresenta o termo correspondente à definição
maneira de situarmo-nos diante do mundo e atribuir-lhe
a seguir: caracteriza-se como nova concepção de divisão do
sentido; é necessário que experimentemos uma intensa
saber e visa à interdependência, à interação e à comunicação
interação com diferentes modos de viver e expressar-se, numa
existentes entre as áreas do conhecimento. Há a interação e o
dinâmica sistemática de diálogo e construção conjunta entre
compartilhamento de ideias, opiniões e explicações.
diferentes pessoas e/ou grupos de diversas procedências sociais,
(A) Multidisciplinaridade
étnicas, religiosas, culturais etc.
(B) Interdisciplinaridade
f) Reconstruir a dinâmica educacional: a educação
(C) Contextualização
intercultural não pode ser reduzida a algumas situações e/ou
(D) Transdisciplinaridade
atividades realizadas em momentos específicos, nem focalizar
(E) Pluridisciplinaridade
sua atenção exclusivamente em determinados grupos sociais.
Trata-se de um enfoque global que deve afetar todos os atores e
Respostas
a todas as dimensões do processo educativo. No que diz respeito
à escola, afeta a seleção curricular, a organização escolar, as
01. A. / 02. D. / 03. B. / 04. A. / 05. B.
linguagens, as práticas didáticas, as atividades extraclasse, o
papel do professor, a relação com a comunidade etc.

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g) Favorecer processos de “empoderamento”, que começam da sala de aula por meio da linguagem e da experiência. O foco
pela possibilidade de poder que cada pessoa possui, a fim de que é a experiência do estudante:
ela possa ser sujeito de sua vida e ator social. O empoderamento Em primeiro lugar, o conceito de experiência do estudante
tem também uma dimensão coletiva, trabalha com grupos é validado como uma fonte primária de conhecimento, e a
sociais minoritários, discriminados, marginalizados, subjetividade do estudante é vista como um repositório de
favorecendo sua organização e participação ativa na sociedade significados, construído em camadas e muitas vezes
civil. contraditório. [...]Em segundo lugar, tal pedagogia tenta
h) Em síntese, a promoção de uma educação intercultural é oferecer aos estudantes os meios críticos para negociar e
complexa, que exige problematizar diferentes elementos e o traduzir criticamente suas próprias experiências e formas de
modo como concebemos nossas práticas educativas e sociais. conhecimento subordinado. [...]Em terceiro lugar, um discurso
Aposta na relação entre grupos sociais e étnicos. A perspectiva radical de pedagogia deve incorporar uma teoria da leitura
intercultural quer promover uma educação para o crítica viável que enfoque os interesses e pressupostos que
reconhecimento do “outro”, para o diálogo entre os diferentes informam a própria geração do conhecimento. Isso é
grupos sociais e culturais. particularmente importante para o desenvolvimento de uma
pedagogia, como diria Paulo Freire, para ler tanto a palavra
A perspectiva multicultural na abordagem da dinâmica quanto o mundo.
pedagógica constitui uma preocupação recente e crescente em Conforme Mclaren uma pedagogia da linguagem e da
nível internacional. No entanto, a gênese desta preocupação experiência significa ensinar aos estudantes como ler a
em diferentes contextos como o europeu e o norte-americano palavra, a imagem e o mundo de forma crítica, com uma
obedecem a origens e motivações específicas: consciência da codificação cultural e da produção ideológica
nas várias dimensões da vida social. O autor cita a epígrafe de
[...] a educação intercultural surge não somente por razões Scholes que, de forma objetiva, torna claro o que é ensinar os
pedagógicas, mas principalmente por motivos sociais, políticos, estudantes a ler, interpretar e a criticar:
ideológicos e culturais. A origem desta corrente pedagógica Ao ler, produzimos um texto dentro de um texto, ao
pode ser situada aproximadamente há trinta anos, nos Estados interpretar, criamos um texto sobre um texto, e, ao criticar,
Unidos, a partir dos movimentos de pressão e reivindicação de construímos um texto contra um texto. Ler o mundo e a
algumas minorias étnico-culturais, principalmente negras. palavra significa compreender os códigos culturais e genéricos
Segundo Gonçalves e Silva, a ideia de repensar a educação que nos capacitam a construir uma história a partir das
em uma perspectiva do multiculturalismo, nasce da reflexão de palavras – histórias que podemos contar com nossas próprias
professores doutores afroamericanos docentes na área dos palavras e a partir de pontos de vistas diferentes. Interpretar
Estudos Sociais, entre eles: Gwedolyn C. Baker, James A Banks, significa ser capaz de tematizar e de generalizar sobre as
Geneva Gay, Carl A Grant, que foram influenciados, de início, narrativas que constituem a experiência social: em resumo,
pelos precursores dos Estudos Negros e pelo impacto dos Black significa ser capaz de desafiar os pressupostos e os motivos
Studies nas escolas, sendo que, os mesmos têm contribuído para escondidos que constroem nossos sistemas de valores
o desenvolvimento de pesquisas e práticas pedagógicas. De culturais dia-a-dia. Em outras palavras, refere-se ao ato de
modo geral, na visão desses autores, a educação multicultural apropriar-se dos elementos ideológicos de nosso mundo
propõe a reforma das escolas e de outras instituições social. Criticar significa compreender a construção da vida
educacionais com a finalidade de criar iguais oportunidades de social como um modo de produção particular que pode ser
sucesso escolar para todos os alunos, independentemente de seu analisado junto com outros textos culturais que falam para
grupo social, étnico/racial. outros modos de discurso ético e formas de sociabilidade, a
partir dos quais os estudantes podem ser chamados a basear
Dentre os educadores que abordam o sua ação social do mundo.
multiculturalismo e a educação, destacamos Peter James Banks é outro autor do cenário estadunidense
Mclaren e James Banks. profundamente envolvido com a questão das relações entre
Peter Mclaren é canadense (radicado nos EUA), professor multiculturalidade e educação assumindo uma perspectiva de
e um dos representantes da chamada pedagogia crítica. Sendo caráter liberal. Ele é um dos autores que mais tem focalizado
um dos importantes autores que aborda a questão do as questões do multiculturalismo na perspectiva
multiculturalismo a partir da realidade de seu país que, por didáticopedagógica. Seu principal foco de atenção é: a questão
muitas vezes, tem sido palco de tragédias, ligadas muitas vezes do fracasso escolar dos alunos oriundos das camadas
às questões étnicas. Neste contexto, o debate sobre educação populares e grupos étnicos, como os afrodescendentes. Na sua
multicultural, se torna urgente e necessário, sendo análise, privilegia dois paradigmas para enfrentar essa
protagonizado tanto por conservadores, que consideram o problemática, a saber:
multiculturalismo como uma nova forma de racismo, quanto a) privação cultural, parte do pressuposto de que o
por aqueles que o concebem como um princípio orientador da fracasso desses alunos está motivado pela cultura em que
educação para a democracia em um mundo marcado pela foram socializados, que não lhes favoreceu experiências
globalização e pluralismo cultural. fundamentais para o bom desempenho escolar. Os defensores
A linguagem tem papel fundamental para Mclaren. Ela dessa perspectiva consideram o contexto social e a cultura de
precisa ser permanentemente desafiada e questionada para origem dos alunos como o maior problema, e não a cultura da
superar a noção de neutralidade que nos impinge. A língua escola. Privilegiam estratégias educacionais de compensação
constitui a realidade, não apenas a reflete, mas é um meio das deficiências culturais dos alunos. Banks considera essa
simbólico que refrata, molda e transforma o mundo. Indo mais perspectiva como de privação cultural, pois parte do
além, é o meio através do qual as identidades sociais são pressuposto que o fracasso destes alunos está motivado pela
construídas, os agentes sociais são formados e as hegemonias cultura em que foram socializados.
culturais asseguradas. Para entender o processo escolar como b) O segundo paradigma, que Banks intitula de diferença
um empreendimento político culturalmente complexo, é cultural, parte da afirmação de que as diferentes culturas
necessário reconhecer a natureza social da linguagem e seu possuem linguagens, valores, símbolos e estilos de
relacionamento com o poder e suas formas de conhecimento. comportamento diferentes, que tem de ser compreendidos na
O autor oferece uma visão geral de abordagem de ensino a sua originalidade. Informa ainda que as relações entre as
partir da pedagogia crítica, apontando no que ela pode culturas não podem ser analisadas numa perspectiva
contribuir para a formação crítica e sua aplicação no dia-a-dia hierarquizadora.

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O que seria, então, na visão de Banks a educação foram às relacionadas ao empoderamento e à redução de
multicultural? Candau é quem nos informa: preconceito. Quanto às dimensões menos presentes em sala de
aula foram: integração de conteúdo e processo de construção
Na visão de Banks, a educação multicultural é um de conhecimento; estas estão relacionadas com questões
movimento reformador destinado a realizar grandes mudanças inerentes à seleção dos conteúdos escolares, constituição do
no sistema educacional. Concebe como a principal finalidade da conhecimento escolar e transposição didática, constituindo
educação multicultural favorecer que todos os estudantes preocupações importantes para se trabalhar a cultura escolar
desenvolvam habilidades, atitudes e conhecimentos necessários na perspectiva multicultural. Foi possível evidenciar, nas
para atuar no contexto da sua própria cultura étnica, no da categorias de Banks, uma abordagem aditiva, incluindo-se
cultura dominante, assim como para interagir com outras alguns temas específicos em diversas disciplinas.
culturas, e situar-se em contextos diferentes de sua origem
Banks afirma que existem diversas formas de abordar a questão A escola: de uma visão monocultural à uma visão
das relações entre educação e cultura(s) no contexto escolar. multicultural
Identifica dez paradigmas que permeiam os programas e as A escola é uma instituição construída historicamente no
práticas escolares sob o mesmo rótulo de educação contexto da modernidade, considerada como mediadora
multicultural: étnico aditivo, desenvolvimento de autoconceito, privilegiada para desenvolver uma função social fundamental:
privação cultural, linguagem, racismo, radical, genético, transmitir cultura, oferecer às novas gerações o que de mais
pluralismo cultural, diferença cultural, assimilacionismo. significativo produziu a humanidade. Porém, a escola
contemporânea é vista não somente como lugar de instrução,
Conforme Candau, no livro An introduction to mas também, como uma “arena cultural” onde se confrontam
multicultural education de autoria de James Banks, este as diferentes forças sociais, econômicas e culturais em disputa
propõe um modelo próprio de educação multicultural para ser pelo poder. O que está em questão, portanto, é a pluralidade,
um referente no dia-a-dia de salas de aula, baseado em cinco em específico os “outros”, aqueles que consideramos
dimensões interligadas, a saber: diferentes, os de origem popular, afrodescendentes, os
funkeiros, que mesmo quando fracassam e são excluídos, ao
- Integração do conteúdo: lida com as formas pelas quais os penetrarem no universo escolar, desestabilizam sua lógica e
as professores (as) usam exemplos e conteúdos provenientes de instalam outra realidade sociocultural. E como se expressa
culturas e grupos variados para ilustrar os conceitos-chave, os essa nova configuração no sistema escolar?
princípios, as generalizações e teorias nas suas disciplinas ou As interrogações levantadas por Moreira e Candau nos dão
áreas de atuação. conta de mostrar a clientela diversifica e pluricultural
- Processo de construção do conhecimento: propõe formas existente em nossas salas de aula como também dos desafios
por meio das quais os (as) professores (as) ajudam os (as) alunos surgidos a partir desta constatação: como lidar com uma
(as) entender, investigar e determinar como pressupostos criança tão “estranha” e que tem hábitos e costumes tão
culturais implícitos, os quadros de referência, as perspectivas e “diferentes” dos da criança “bem-educada”? Como ensinar os
os vieses dentro de uma disciplina influenciam as formas pelas conteúdos que se encontram nos livros didáticos? Como
quais o conhecimento é construído. “adaptá-la” às normas, condutas e valores vigentes? Essas
- Pedagogia da equidade: existe quando os professores questões, de modo geral, expressam-se em manifestações de
modificam sua forma de ensinar de maneira a facilitar o mal–estar, tensões e conflitos denunciados tanto por docentes
aproveitamento acadêmico dos alunos de diversos grupos quanto por discentes. É o próprio horizonte utópico da escola
sociais e culturais, o que inclui a utilização de uma variedade de que entra em questão: os desafios do mundo atual denunciam
estilos de ensino, coerentes com a diversidade de estilos de a fragilidade e a insuficiência dos ideais modernos e passam a
aprendizagem dos vários grupos étnicos e culturais. exigir e suscitar novas interrogações e buscas. A escola passa
- Redução do preconceito: essa dimensão focaliza atitudes a ser então, mais do que transmissora da cultura, um espaço
dos alunos em relação à raça e como elas podem ser modificadas de cruzamento e diálogo entre diferentes culturas. A escola é
por intermédio de métodos de ensino e determinados materiais uma instituição que faz parte da história de muitas pessoas,
e recursos didáticos. porém não está presente na vida de todos e a luta pela
- Uma cultura escolar e estrutura social que reforcem o universalização de uma escola de qualidade tem sido árdua, e
empoderamento de diferentes grupos: promove um processo de ainda, longe de ser alcançada. É possível afirmar que
reestruturação da cultura e organização da escola, para que os naturalizamos um modo de pensar e organizar a instituição
alunos de diversos grupos étnicos, raciais e sociais, possam escolar e esquecemos de visualizá-la como uma construção
experimentar a equidade educacional e o reforço de seu poder social, fortemente condicionada pelos diferentes momentos
na escola. Candau nos informa que durante uma pesquisa de históricos, sociedades e culturas.
campo, realizada no primeiro semestre de 1999, foram O novo milênio, que há pouco se iniciou, traz questões
observadas as aulas das diversas disciplinas que integram o nascidas na segunda metade do século XX no tocante ao
currículo PVNC, em um dois núcleos situados em diferentes sistema educacional, em específico da América Latina. A
zonas geográficas do Grande Rio, num total de situação educacional vivida no continente latino-americano é
aproximadamente 200 horas. um momento paradoxal e contraditório, não se podendo negar
a expansão do sistema educacional nas últimas décadas, pelo
A autora informa que foi utilizado como critério central de menos com relação à educação básica.
observação um checklist inspirado nas categorias propostas O discurso oficial apresenta a educação como a grande
por Banks para a construção de um currículo multicultural responsável pela modernização de nossas sociedades, por suas
marcando o seu olhar durante a observação das aulas das maiores ou menores possibilidades de integrar-se no mundo
diferentes disciplinas: a) o grau de interação dos conteúdos, b) globalizado, mas a lógica macroestrutural pede pessoas com
o processo de construção de conhecimentos, c) a redução do alto nível de competência e domínio das habilidades de caráter
preconceito, d) a pedagogia da equidade, e) o empoderamento. cognitivo, científico e tecnológico, assim também como o
A autora esclarece que a experiência do PVNC, apesar dos desenvolvimento da capacidade de interação grupal, iniciativa,
limites oriundos do seu caráter exploratório, permitiu algumas criatividade e uma elevada autoestima. Porém, na direção
constatações e suscitou muitas outras questões. Tendo por contrária do discurso oficial temos uma realidade material,
base o modelo de Banks foi possível afirmar que as dimensões concreta a ser analisada.
mais trabalhadas em sala de aula dos núcleos observados

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Em nosso continente, inclusive no Brasil, existe ainda, uma sociedade justa, solidária e inclusiva, onde se articulem
altos índices de analfabetismo, evasão, repetência e políticas de igualdade e de identidade, para nós não existe
desigualdade de oportunidades educacionais; esta é uma educação.
realidade concreta que não se pode negar. No entanto, não se A reflexão atual acerca da relação escola e cultura
pode ignorar, também, que existem experiências e buscas que pressupõe, ainda, a discussão sobre as possibilidades e
se situam em outras perspectivas. A América Latina tem uma modalidades de diálogo, que são ou devem ser estabelecidas,
rica experiência de práticas educativas e de produção de entre os diversos grupos sociais, étnicos e culturais que
conhecimento a partir da perspectiva da educação não formal coexistem em um espaço social de dimensões cada vez mais
e, concretamente, da educação popular. Essa dialética é globais.
especialmente aguda na América Latina, em que o sonho de Lutar contra as desigualdades sociais não basta, é preciso
uma sociedade democrática e igualitária esbarra com o projeto buscar estratégias onde as diferenças culturais possam
neoliberal hegemônico e o avanço de reformas estruturais que coexistir de forma democrática. A dinâmica cristalizada da
acentuam a marginalização e a exclusão, em nome da abertura cultura escolar apresenta uma enorme dificuldade de
dos mercados e do sonho de entrar no primeiro mundo. No incorporar os avanços do desenvolvimento cientifico e
entanto, no meio destas contradições e conflitos, cresce a tecnológico, as diferentes formas de aquisição de
consciência do caráter multicultural do continente. conhecimentos, as diversas linguagens e expressões culturais
Sempre soubemos que a miscigenação é um dos traços da e as novas sensibilidades presentes de modo especial nas
nossa formação histórico-cultural, mas em geral associamos novas gerações e nos diferentes grupos culturais. Conforme
esta realidade a uma equivalência negativa, a algo que nos Candau, os processos de aquisição-construção-desconstrução-
impedia de gerar processos de desenvolvimento e de reconstrução do conhecimento, em profunda crise na
afirmação de identidades próprias em pé de igualdade com sociedade atual, onde caminhos e linguagens diversificadas se
diferentes povos e nações. Porém, esta perspectiva está se impõem, aparecem no dia-a-dia das salas de aula de modo
alterando e vozes anteriormente caladas se fazem ouvir, surda, homogêneo e repetitivo, através de formas estereotipadas, na
clara ou violentamente. Outro grande desafio que se coloca grande maioria das situações.
para a escola é o que se relaciona com a articulação entre
igualdade e diferença. Durante muito tempo, a cultura escolar
se configurou a partir da ênfase na questão da igualdade, o que A escola e o Projeto Político
significou, na prática, a afirmação da hegemonia da cultura
ocidental europeia e a ausência no currículo de outras práticas Pedagógico;
simbólicas presentes na escola; de outras vozes,
particularmente, da cultura negra e de outros grupos
marginalizados de nossa sociedade. Hoje, em nosso Projeto Político-Pedagógico
continente, são cada vez mais numerosos os movimentos
sociais e de caráter identitário que questionam o universo Desde a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases da
escolar assim configurado. Educação Nacional (LDB), em 1996, toda escola precisa ter um
Candau sintetiza suas argumentações com relação à projeto político-pedagógico (o PPP, ou simplesmente Projeto
cultura escolar e apresenta os desafios que a mesma terá que Pedagógico).
enfrentar como partícipe de uma sociedade altamente No sentido etimológico, o termo projeto vem do latim
produtora de conhecimento: projectu, particípio passado do verbo projicere, que significa
A escola está chamada a ser nos próximos anos, mais do lançar para diante. Plano, intento, desígnio. Empresa,
que um lócus de apropriação do conhecimento socialmente empreendimento. Redação provisória de lei. Plano geral de
relevante, o científico, um espaço de diálogo entre diferentes edificação.
saberes-científico, social, escolar, etc. - e linguagens. De análise Segundo Veiga98, ao construirmos os projetos de nossas
crítica, estímulo ao exercício da capacidade reflexiva e de uma escolas, planejamos o que temos intenção de fazer, de realizar.
visão plural e histórica do conhecimento, da ciência, da Lançamo-nos para diante, com base no que temos, buscando o
tecnologia e das diferentes linguagens. É no cruzamento, na possível. É antever um futuro diferente do presente.
interação, no reconhecimento da dimensão histórica e social
do conhecimento que a escola está chamada a se situar. Neste Nas palavras de Gadotti99:
sentido, toda a rigidez de que se reveste em geral a Todo projeto supõe rupturas com o presente e promessas
organização e a dinâmica pedagógica escolares, assim como o para o futuro. Projetar significa tentar quebrar um estado
caráter monocultural da cultura escolar precisam ser confortável para arriscar-se, atravessar um período de
fortemente questionados. Devem ser enfatizados a instabilidade e buscar uma nova estabilidade em função da
dinamicidade, a flexibilidade, a diversificação, as diferentes promessa que cada projeto contém de estado melhor do que o
leituras de um mesmo fenômeno, as diversas formas de presente. Um projeto educativo pode ser tomado com a
expressão, o debate e a construção de uma perspectiva crítica promessa frente a determinadas rupturas. As promessas tornam
plural. visíveis os campos de ação possível, comprometendo seus atores
Desta forma, os processos educativos se desenvolvem a e autores.
partir de diferentes configurações. A pluralidade de espaços,
tempos e linguagens não deve ser apenas reconhecida, como Nessa perspectiva, o Projeto Político-Pedagógico vai além
também, promovida. A educação não pode ser enquadrada de um simples agrupamento de planos de ensino e de
numa lógica unidimensional, aprisionada numa atividades diversas. O projeto não é algo que é construído e em
institucionalização específica. É preciso ter um horizonte de seguida arquivado ou encaminhado às autoridades
sentido; em outras palavras, significa formar pessoas capazes educacionais como prova do cumprimento de tarefas
de serem eles mesmos os sujeitos de suas vidas e, ao mesmo burocráticas. Ele é construído e vivenciado em todos os
tempo, atores sociais comprometidos com um projeto de momentos, por todos os envolvidos com o processo educativo
sociedade e humanidade e também um horizonte utópico pois, da escola.
[...]. Sem horizonte utópico, indignação, admiração e sonho de

98 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da 99 GADOTTI, Moacir. "Pressupostos do projeto pedagógico". In: MEC, Anais

escola: uma construção possível. 14ª edição Papirus, 2002. da Conferência Nacional de Educação para Todos. Brasília, 1994.

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O projeto busca um rumo, uma direção. É uma ação Uma teoria que subsidie o projeto político-pedagógico e,
intencional, com um sentido explícito, com um compromisso por sua vez, a prática pedagógica que ali se processa deve estar
definido coletivamente. Por isso, todo projeto pedagógico da ligada aos interesses da maioria da população. Faz-se
escola é, também, um projeto político por estar intimamente necessário, também, o domínio das bases teórico-
articulado ao compromisso sociopolítico com os interesses metodológicas indispensáveis à concretização das concepções
reais e coletivos da população majoritária. É político no assumidas coletivamente. Mais do que isso, afirma Freitas100
sentido de compromisso com a formação do cidadão para um que:
tipo de sociedade.
As novas formas têm que ser pensadas em um contexto de
“A dimensão política se cumpre na medida em que ela se luta, de correlações de força – às vezes favoráveis, às vezes
realiza enquanto prática especificamente pedagógica”. desfavoráveis. Terão que nascer no próprio “chão da escola”,
com apoio dos professores e pesquisadores. Não poderão ser
Na dimensão pedagógica reside a possibilidade da inventadas por alguém, longe da escola e da luta da escola.
efetivação da intencionalidade da escola, que é a formação do
cidadão participativo, responsável, compromissado, crítico e Se a escola nutre-se da vivência cotidiana de cada um de
criativo. Pedagógico, no sentido de definir as ações educativas seus membros, coparticipantes de sua organização do trabalho
e as características necessárias às escolas de cumprirem seus pedagógico à administração central, seja o Ministério da
propósitos e sua intencionalidade. Educação, a Secretaria de Educação Estadual ou Municipal, não
Político e pedagógico têm assim uma significação compete a eles definir um modelo pronto e acabado, mas sim
indissociável. Neste sentido é que se deve considerar o projeto estimular inovações e coordenar as ações pedagógicas
político-pedagógico como um processo permanente de planejadas e organizadas pela própria escola.
reflexão e discussão dos problemas da escola, na busca de Em outras palavras, as escolas necessitam receber
alternativas viáveis a efetivação de sua intencionalidade, que assistência técnica e financeira decidida em conjunto com as
“não é descritiva ou constatativa, mas é constitutiva”. instâncias superiores do sistema de ensino.
Por outro lado, propicia a vivência democrática necessária Isso pode exigir, também, mudanças na própria lógica de
para a participação de todos os membros da comunidade organização das instâncias superiores, implicando uma
escolar e o exercício da cidadania. Pode parecer complicado, mudança substancial na sua prática. Para que a construção do
mas trata-se de uma relação recíproca entre a dimensão projeto político-pedagógico seja possível não é necessário
política e a dimensão pedagógica da escola. convencer os professores, a equipe escolar e os funcionários a
trabalhar mais, ou mobilizá-los de forma espontânea, mas
O Projeto Político-Pedagógico, ao se constituir em propiciar situações que lhes permitam aprender a pensar e a
processo democrático de decisões, preocupa-se em instaurar realizar o fazer pedagógico de forma coerente.
uma forma de organização do trabalho pedagógico que A escola não tem mais possibilidade de ser dirigida de cima
supere os conflitos, buscando eliminar as relações para baixo e na ótica do poder centralizador que dita as
competitivas, corporativas e autoritárias, rompendo com a normas e exerce o controle técnico burocrático. A luta da
rotina do mando impessoal e racionalizado da burocracia escola é para a descentralização em busca de sua autonomia e
que permeia as relações no interior da escola, diminuindo qualidade.
os efeitos fragmentários da divisão do trabalho que reforça O projeto político-pedagógico não visa simplesmente a um
as diferenças e hierarquiza os poderes de decisão. rearranjo formal da escola, mas a uma qualidade em todo o
processo vivido. Vale acrescentar, ainda, que a organização do
Desse modo, o projeto político-pedagógico tem a ver com a trabalho pedagógico da escola tem a ver com a organização da
organização do trabalho pedagógico em dois níveis: como sociedade. A escola nessa perspectiva é vista como uma
organização da escola num todo e como organização da instituição social, inserida na sociedade capitalista, que reflete
sala de aula, incluindo sua relação com o contexto social no seu interior as determinações e contradições dessa
imediato, procurando preservar a visão de totalidade. sociedade.
Nesta caminhada será importante ressaltar que o projeto Está hoje inserido num cenário marcado pela diversidade.
político-pedagógico busca a organização do trabalho Cada escola é resultado de um processo de desenvolvimento
pedagógico da escola na sua globalidade. de suas próprias contradições. Não existem duas escolas
A principal possibilidade de construção do projeto iguais. Diante disso, desaparece aquela arrogante pretensão de
político-pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, saber de antemão quais serão os resultados do projeto. A
de sua capacidade de delinear sua própria identidade. Isto arrogância do dono da verdade dá lugar à criatividade e ao
significa resgatar a escola como espaço público, lugar de diálogo. A pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da
debate, do diálogo, fundado na reflexão coletiva. história da educação da nossa época. Por isso, não deve existir
Portanto, é preciso entender que o projeto político- um padrão único que oriente a escolha do projeto das escolas.
pedagógico da escola dará indicações necessárias à Não se entende, portanto, uma escola sem autonomia para
organização do trabalho pedagógico, que inclui o trabalho do estabelecer o seu projeto e autonomia para executá-lo e avaliá-
professor na dinâmica interna da sala de aula. lo. A autonomia e a gestão democrática da escola fazem parte
Buscar uma nova organização para a escola constitui uma da própria natureza do ato pedagógico. A gestão democrática
ousadia para os educadores, pais, alunos e funcionários. E para da escola é, portanto uma exigência de seu projeto político-
enfrentarmos essa ousadia, necessitamos de um referencial pedagógico.
que fundamente a construção do projeto político-pedagógico. Ela exige, em primeiro lugar, uma mudança de
A questão é, pois, saber a qual referencial temos que mentalidade de todos os membros da comunidade escolar.
recorrer para a compreensão de nossa prática pedagógica. Mudança que implica deixar de lado o velho preconceito de
Nesse sentido, temos que nos alicerçar nos pressupostos de que a escola pública é apenas um aparelho burocrático do
uma teoria pedagógica crítica viável, que parta da prática Estado e não uma conquista da comunidade.
social e esteja compromissada em solucionar os problemas da
educação e do ensino de nossa escola.

100 FREITAS Luiz Carlos. "Organização do trabalho pedagógico". Palestra

proferida no 11 Seminário Internacional de Alfabetização e Educação. Novo


Hamburgo, agosto de 1991.

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A gestão democrática da escola implica que a dessa intencionalidade. A comunidade escolar então tem que
comunidade, os usuários da escola, sejam os seus dirigentes e estar envolvida na construção e explicitação dessa mesma
gestores e não apenas os seus fiscalizadores ou meros intencionalidade.
receptores dos serviços educacionais. Os pais, alunos,
professores e funcionários assumem sua parte na Processos e Princípios de Construção
responsabilidade pelo projeto da escola. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB 9394/96, no
artigo 12, define claramente a incumbência da escola de
Há pelo menos duas razões, que justificam a implantação elaborar o seu projeto pedagógico.
de um processo de gestão democrática na escola pública: Além disso, explicita uma compreensão de escola para
1º: a escola deve formar para a cidadania e, para isso, ela além da sala de aula e dos muros da escola, no sentido desta
deve dar o exemplo. estar inserida em um contexto social e que procure atender às
2º: porque a gestão democrática pode melhorar o que é exigências não só dos alunos, mas de toda a sociedade.
específico da escola, isto é, o seu ensino. Ainda coloca, nos artigos 13 e 14, como tarefa de
professores, supervisores e orientadores a responsabilidade
A participação na gestão da escola proporcionará um de participar da elaboração desse projeto.
melhor conhecimento do funcionamento da escola e de todos A construção do projeto político-pedagógico numa
os seus atores. Proporcionará um contato permanente entre perspectiva emancipatória se constitui num processo de
professores e alunos, o que leva ao conhecimento mútuo e, em vivência democrática à medida que todos os segmentos que
consequência, aproximará também as necessidades dos compõem a comunidade escolar e acadêmica dele devam
alunos dos conteúdos ensinados pelos professores. participar, comprometidos com a integridade do seu
O aluno aprende apenas quando ele se torna sujeito da sua planejamento, de modo que todos assumem o compromisso
própria aprendizagem. E para ele tornar-se sujeito da sua com a totalidade do trabalho educativo.
aprendizagem ele precisa participar das decisões que dizem Segundo Veiga101, a abordagem do projeto político-
respeito ao projeto da escola que faz parte também do projeto pedagógico, como organização do trabalho da escola como um
de sua vida. todo, está fundada nos princípios que deverão nortear a escola
democrática, pública e gratuita:
A autonomia e a participação - pressupostos do projeto
político-pedagógico da escola, não se limitam à mera Igualdade: de condições para acesso e permanência na
declaração de princípios consignados em alguns documentos. escola. Saviani102 alerta-nos para o fato de que há uma
Sua presença precisa ser sentida no conselho de escola ou desigualdade no ponto de partida, mas a igualdade no ponto
colegiado, mas também na escolha do livro didático, no de chegada deve ser garantida pela mediação da escola. O
planejamento do ensino, na organização de eventos culturais, autor destaca: Portanto, só é possível considerar o processo
de atividades cívicas, esportivas, recreativas. Não basta apenas educativo em seu conjunto sob a condição de se distinguir a
assistir reuniões. democracia com a possibilidade no ponto de partida e
A gestão democrática deve estar impregnada por certa democracia como realidade no ponto de chegada. Igualdade de
atmosfera que se respira na escola, na circulação das oportunidades requer, portanto, mais que a expansão
informações, na divisão do trabalho, no estabelecimento do quantitativa de ofertas; requer ampliação do atendimento com
calendário escolar, na distribuição das aulas, no processo de simultânea manutenção de qualidade.
elaboração ou de criação de novos cursos ou de novas
disciplinas, na formação de grupos de trabalho, na capacitação Qualidade: que não pode ser privilégio de minorias
dos recursos humanos, etc. econômicas e sociais. O desafio que se coloca ao projeto
político-pedagógico da escola é o de propiciar uma qualidade
Então não se esqueça: para todos. A qualidade que se busca implica duas dimensões
1- O projeto político pedagógico da escola pode ser indissociáveis: a formal ou técnica e a política. Uma não está
entendido como um processo de mudança e definição de um subordinada a outra; cada uma delas tem perspectivas
rumo, que estabelece princípios, diretrizes e propostas de ação próprias.
para melhor organizar, sistematizar e significar as atividades
desenvolvidas pela escola como um todo. Sua dimensão Formal ou Técnica - enfatiza os instrumentos e os
política pedagógica pressupõe uma construção participativa métodos, a técnica. A qualidade formal não está afeita,
que envolve ativamente os diversos segmentos escolares e a necessariamente, a conteúdos determinados. Demo103 afirma
própria comunidade onde a escola se insere. que a qualidade formal: “(...) significa a habilidade de manejar
2- Quando a atuação ocorre em um planejamento meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos
participativo, as pessoas ressignificam suas experiências, desafios do desenvolvimento”.
refletem suas práticas, resgatam, reafirmam e atualizam
valores. Explicitam seus sonhos e utopias, demonstram seus Política - a qualidade política é condição imprescindível da
saberes, suas visões de mundo, de educação e o conhecimento, participação. Está voltada para os fins, valores e conteúdos.
dão sentido aos seus projetos individuais e coletivos, Quer dizer “a competência humana do sujeito em termos de se
reafirmam suas identidades estabelecem novas relações de fazer e de fazer história, diante dos fins históricos da sociedade
convivência e indicam um horizonte de novos caminhos, humana”.
possibilidades e propostas de ação. Este movimento visa Nesta perspectiva, o autor chama atenção para o fato de
promover a transformação necessária e desejada pelo coletivo que a qualidade centra-se no desafio de manejar os
escolar e comunitário e a assunção de uma intencionalidade instrumentos adequados para fazer a história humana. A
política na organização do trabalho pedagógico escolar. qualidade formal está relacionada com a qualidade política e
3- Para que o projeto seja impregnado por uma esta depende da competência dos meios.
intencionalidade significadora, é necessário que as partes A escola de qualidade tem obrigação de evitar de todas as
envolvidas na prática educativa de uma escola estejam maneiras possíveis a repetência e a evasão. Tem que garantir
profundamente integradas na constituição e que haja vivencia a meta qualitativa do desempenho satisfatório de todos.

101 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da 102 SAVIANI, Dermeval. "Para além da curvatura da 'vara". In: Revista Ande

escola: uma construção possível. 12ª edição Papirus, 2002. no 3. São Paulo, 1982.
103 DEMO Pedro. Educação e qualidade. Campinas, Papirus,1994.

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Qualidade para todos, portanto, vai além da meta quantitativa pedagógico e na relação destes com o contexto social mais
de acesso global, no sentido de que as crianças, em idade amplo.
escolar, entrem na escola. É preciso garantir a permanência A liberdade deve ser considerada, também, como
dos que nela ingressarem. Em síntese, qualidade “implica liberdade para aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a arte e
consciência crítica e capacidade de ação, saber e mudar”. o saber direcionados para uma intencionalidade definida
O projeto político-pedagógico, ao mesmo tempo em que coletivamente.
exige dos educadores, funcionários, alunos e pais a definição
clara do tipo de escola que intentam, requer a definição de fins. Valorização do magistério: é um princípio central na
Assim, todos deverão definir o tipo de sociedade e o tipo de discussão do projeto político-pedagógico. A qualidade do
cidadão que pretendem formar. As ações especificas para a ensino ministrado na escola e seu sucesso na tarefa de formar
obtenção desses fins são meios. Essa distinção clara entre fins cidadãos capazes de participar da vida socioeconômica,
e meios é essencial para a construção do projeto político- política e cultural do país relacionam-se estreitamente a
pedagógico. formação (inicial e continuada), condições de trabalho
(recursos didáticos, recursos físicos e materiais, dedicação
Gestão Democrática: é um princípio consagrado pela integral à escola, redução do número de alunos na sala de aula
Constituição vigente e abrange as dimensões pedagógica, etc.), remuneração, elementos esses indispensáveis à
administrativa e financeira. Ela exige uma ruptura histórica profissionalização do magistério.
na prática administrativa da escola, com o enfrentamento das O reforço à valorização dos profissionais da educação,
questões de exclusão e reprovação e da não permanência do garantindo-lhes o direito ao aperfeiçoamento profissional
aluno na sala de aula, o que vem provocando a marginalização permanente, significa “valorizar a experiência e o
das classes populares. Esse compromisso implica a construção conhecimento que os professores têm a partir de sua prática
coletiva de um projeto político-pedagógico ligado à educação pedagógica”.
das classes populares.
A gestão democrática exige a compreensão em A formação continuada é um direito de todos os
profundidade dos problemas postos pela prática pedagógica. profissionais que trabalham na escola, uma vez que não só ela
Ela visa romper com a separação entre concepção e execução, possibilita a progressão funcional baseada na titulação, na
entre o pensar e o fazer, entre teoria e prática. Busca resgatar qualificação e na competência dos profissionais, mas também
o controle do processo e do produto do trabalho pelos propicia, fundamentalmente, o desenvolvimento profissional
educadores. dos professores articulado com as escolas e seus projetos.
Implica principalmente o repensar da estrutura de poder A formação continuada deve estar centrada na escola
da escola, tendo em vista sua socialização. A socialização do e fazer parte do projeto político-pedagógico.
poder propicia a prática da participação coletiva, que atenua o Assim, compete à escola:
individualismo; da reciprocidade, que elimina a exploração; da - proceder ao levantamento de necessidades de formação
solidariedade, que supera a opressão; da autonomia, que anula continuada de seus profissionais;
a dependência de órgãos intermediários que elaboram - elaborar seu programa de formação, contando com a
políticas educacionais das quais a escola é mera executora. participação e o apoio dos órgãos centrais, no sentido de
A busca da gestão democrática inclui, necessariamente, a fortalecer seu papel na concepção, na execução e na avaliação
ampla participação dos representantes dos diferentes do referido programa.
segmentos da escola nas decisões/ações administrativo- Daí, passarem a fazer parte dos programas de formação
pedagógicas ali desenvolvidas. Nas palavras de Marques104: A continuada, questões como cidadania, gestão democrática,
participação ampla assegura a transparência das decisões, avaliação, metodologia de pesquisa e ensino, novas
fortalece as pressões para que sejam elas legítimas, garante o tecnologias de ensino, entre outras.
controle sobre os acordos estabelecidos e, sobretudo, Inicialmente, convém alertar para o fato de que
contribui para que sejam contempladas questões que de outra essa tomada de consciência, dos princípios do projeto político-
forma não entrariam em cogitação. pedagógico, não pode ter o sentido espontaneísta de se cruzar
Neste sentido, fica claro entender que a gestão os braços diante da atual organização da escola, que inibe a
democrática, no interior da escola, não é um princípio fácil de participação de educadores, funcionários e alunos no processo
ser consolidado, pois trata-se da participação crítica na de gestão.
construção do projeto político-pedagógico e na sua gestão. É preciso ter consciência de que a dominação no interior
da escola efetiva-se por meio das relações de poder que se
Liberdade: o princípio da liberdade está sempre associado expressam nas práticas autoritárias e conservadoras dos
à ideia de autonomia. O que é necessário, portanto, como ponto diferentes profissionais, distribuídos hierarquicamente, bem
de partida, é o resgate do sentido dos conceitos de autonomia como por meio das formas de controle existentes no interior
e liberdade. A autonomia e a liberdade fazem parte da própria da organização escolar. Por outro lado, a escola é local de
natureza do ato pedagógico. O significado de autonomia desenvolvimento da consciência crítica da realidade.
remete-nos para regras e orientações criadas pelos próprios
sujeitos da ação educativa, sem imposições externas. Estratégia de Planejamento
Definição de marco/referência: é necessário definir o
Para Rios105, a escola tem uma autonomia relativa e a conjunto de ideias, de opções e teorias que orientará a prática
liberdade é algo que se experimenta em situação e esta é da escola. Para tanto, é preciso analisar em que contexto a
uma articulação de limites e possibilidades. Para a autora, a escola está inserida. Para assim definir e explicitar com que
liberdade é uma experiência de educadores e constrói-se na tipo de sociedade a escola se compromete, que tipo de pessoas
vivência coletiva, interpessoal. Portanto, “somos livres com os ela buscará formar e qual a sua intencionalidade político,
outros, não, apesar dos outros”. Se pensamos na liberdade na social, cultural e educativa. Esta assunção permite clarear os
escola, devemos pensá-la na relação entre administradores, critérios de ação para planejar como se deseja a escola no que
professores, funcionários e alunos que aí assumem sua parte se refere à dimensão pedagógica, comunitária e
de responsabilidade na construção do projeto político- administrativa.

104 MARQUES, Mário Osório. "Projeto pedagógico: A marca da escola". In: 105 RIOS, Terezinha. "Significado e pressupostos do projeto pedagógico". In:

Revista Educação e Contexto. Projeto pedagógico e identidade da escola no 18. Série Ideias. São Paulo, FDE,1982.
ljuí, Unijuí, abr./jun. 1990.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 172


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É um momento que requer estudos, reflexões teóricas, diagnóstico da escola e de sua relação com a comunidade
análise do contexto, trabalho individual, em grupo, debates, pode-se definir um plano de ação e as grandes estratégias que
elaboração escrita. Devem ser criadas estratégias para que devem ser perseguidas para atingir a intencionalidade
todos os segmentos envolvidos com a construção do projeto assumida no marco referencial.
político-pedagógico possam refletir, se posicionar acerca do
contexto em que a escola se insere. É necessário partir da Propostas de Ação: este é o momento em que se procura
realidade local, para compreendê-la numa dimensão mais pensar estratégias, linhas de ação, normas, ações concretas
ampla. Então se deve analisar e discutir como vivem as pessoas permanentes e temporárias para responder às necessidades
da comunidade, de onde vieram quais grupos étnicos a apontadas a partir do diagnóstico tendo por referência sempre
compõem, qual o trabalho que realizam como são as relações à intencionalidade assumida. Assim, cada problema
deste trabalho, como é a vida no período da infância, constatado, cada necessidade apontada é preciso definir uma
juventude, idade adulta e a melhor idade (idoso) nesta proposta de ação.
comunidade, quais são as formas de organização desta Esta proposta de ação pode ser pensada a partir de grandes
comunidade, etc. metas. Para cada meta pode-se definir ações permanentes,
A partir da reflexão sobre estes elementos pode-se discutir ações de curto, médio e longo prazo, normas e estratégias para
a relação que eles têm no tempo histórico, no sentido de atingir a meta definida. Além disso, é preciso justificar cada
perceber mudanças ocorridas na forma de vida das pessoas e meta, traçar seus objetivos, sua metodologia, os recursos
da comunidade. Analisar o que tem de comum e tentar fazer necessários, os responsáveis pela execução, o cronograma e
relação com outros espaços, com a sociedade como um todo. como será feita a avaliação.
Discutir como se vê a sociedade brasileira, quais são os valores Com base nesses três momentos que devem estar
que estão presentes, como estes são manifestados, se as dialeticamente articulados elabora-se o projeto político-
pessoas estão satisfeitas com esta sociedade e o seu modo de pedagógico, o qual precisa também de forma coletiva ser
organização. executado, avaliado e (re)planejado.

Para delimitar o marco doutrinal do projeto político- Etapas


pedagógico propõe-se discutir: que tipo de sociedade nós Devemos analisar e compreender a organização do
queremos construir, com que valores, o que significa ser trabalho pedagógico, no sentido de se gestar uma nova
sujeito nesta sociedade, como a escola pode colaborar com organização que reduza os efeitos de sua divisão do trabalho,
a formação deste sujeito durante a sua vida. de sua fragmentação e do controle hierárquico.
Nessa perspectiva, a construção do projeto político-
Para definirmos o marco operativo sugere-se que pedagógico é um instrumento de luta, é uma forma de
analisemos a concepção e os princípios para o papel que a contrapor-se à fragmentação do trabalho pedagógico e sua
escola pode desempenhar na sociedade. rotinização, à dependência e aos efeitos negativos do poder
autoritário e centralizador dos órgãos da administração
Propomos a partir da leitura de textos, da compreensão de central.
cada um, discutir com todos os segmentos como queremos que As etapas de elaboração de um projeto pedagógico podem
seja nossa escola, que tipo de educação precisamos assim ser definidas:
desenvolver para ajudar a construir a sociedade que
idealizamos como entendemos que ser a proposta pedagógica Cronograma de trabalho e definição da divisão de
da escola, como devem ser as relações entre direção, equipe tarefas: definição da periodicidade e das tarefas para a
pedagógica, professores, alunos, pais, comunidade, como a elaboração do projeto pedagógico. Definir um prazo faz com
escola pode envolver a comunidade e se fazer presente nela, que haja organização e compromisso com o trabalho de
analisando qual a importância desta relação para os sujeitos elaboração.
que dela participam.
É importante reiterar que, quando se busca uma nova
Diagnóstico: é o segundo passo da construção do projeto organização do trabalho pedagógico, está se considerando que
e se constitui num momento importante que permite uma as relações de trabalho, no interior da escola deverão estar
radiografia da situação em que a escola se encontra na calçadas nas atitudes de solidariedade, de reciprocidade e de
organização e desenvolvimento do seu trabalho pedagógico participação coletiva, em contraposição à organização regida
acima de tudo, tendo por base, o marco referencial, fazer pelos princípios da divisão do trabalho da fragmentação e do
comparações e estabelecer necessidades para se chegar à controle hierárquico.
intencionalidade do projeto. É nesse movimento que se verifica o confronto de
interesses no interior da escola. Por isso todo esforço de se
O documento produzido sobre o marco referencial deve gestar uma nova organização deve levar em conta as condições
ser lido por todos. Com base neste documento deve-se concretas presentes na escola. Há uma correlação de forças e é
elaborar um roteiro de discussão para comparar todos os nesse embate que se originam os conflitos, as tensões, as
elementos que aparecem no documento com a prática social rupturas, propiciando a construção de novas formas de
vivida, ou seja, discutir como de fato se dá a relação entre relações de trabalho, com espaços abertos à reflexão coletiva
escola e a comunidade, como ela trabalha com os que favoreçam o diálogo, a comunicação horizontal entre os
conhecimentos que os alunos trazem da sua prática social, diferentes segmentos envolvidos com o processo educativo, a
como os conteúdos são escolhidos, como os professores descentralização do poder.
planejam o seu trabalho pedagógico da escola, como e quando
se avalia o trabalho na sala de aula e o trabalho pedagógico da Histórico da instituição: sua criação, ato normativo,
escola, quem participa desta avaliação, como a escola tem origem de seu nome, etc.
definido a sua opção teórica no trabalho pedagógico, como se
dão as relações e a participação de alunos, professores, Abrangência da ação educativa referente:
coordenadores, diretores, pais, funcionários e comunidade na - Nível de ensino e suas etapas;
organização do trabalho pedagógico escolar. - Modalidades de educação que irá atender;
Estes dados precisam ser sistematizados e discutidos por
todos da equipe que elabora o projeto. Com a finalização do

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- Aos profissionais, considerando: à área, o trabalho da Programa de formação continuada: concepção,


equipe pedagógica e administrativa; objetivos, eixos, política e estratégia.
- À comunidade externa: entorno social.
Formas de relacionamento com a comunidade:
Objetivos: gerais, observando os objetivos definidos pela concepção de educação comunitária, princípios, objetivos e
instituição. estratégias.

Princípios legais e norteadores da ação: a instituição Organização do tempo e do espaço escolar: cronograma
deve observar ainda os planos e Políticas (federal, estadual ou de atividades.
municipal) de Educação. A partir da identificação dos - diárias, semanais, bimestrais, semestrais, anuais.
princípios registrados nas legislações em vigor, deve explicitar - estudo, planejamento, enriquecimento curricular, ação
o sentido que os mesmos adquirem em seu contexto de ação. comunitária.
- normas de utilização de espaços comuns da instituição.
Currículo: identificar o paradigma curricular em
concordância com sua opção do método, da teoria que orienta O tempo é um dos elementos constitutivos da organização
sua prática. Implica, necessariamente, a interação entre do trabalho pedagógico. O calendário escolar ordena o tempo:
sujeitos que têm um mesmo objetivo e a opção por um determina o início e o fim do ano, prevendo os dias letivos, as
referencial teórico que o sustente. Na organização curricular é férias, os períodos escolares em que o ano se divide, os
preciso considerar alguns pontos básicos: feriados cívicos e religiosos, as datas reservadas à avaliação, os
períodos para reuniões técnicas, cursos etc.
1º - é o de que o currículo não é um instrumento neutro. O O horário escolar, que fixa o número de horas por semana
currículo passa ideologia, e a escola precisa identificar e e que varia em razão das disciplinas constantes na grade
desvelar os componentes ideológicos do conhecimento escolar curricular, estipula também o número de aulas por professor.
que a classe dominante utiliza para a manutenção de Tal como afirma Enguita106.
privilégios. A determinação do conhecimento escolar, (...) As matérias tornam-se equivalentes porque ocupam o
portanto, implica uma análise interpretativa e crítica, tanto da mesmo número de horas por semana e, são vistas como tendo
cultura dominante, quanto da cultura popular. O currículo menor prestígio se ocupam menos tempo que as demais.
expressa uma cultura.
2º - é o de que o currículo não pode ser separado do A organização do tempo do conhecimento escolar é
contexto social, uma vez que ele é historicamente situado e marcada pela segmentação do dia letivo, e o currículo é,
culturalmente determinado. consequentemente, organizado em períodos fixos de tempo
3º - diz respeito ao tipo de organização curricular que a para disciplinas supostamente separadas. O controle
escola deve adotar. Em geral, nossas instituições têm sido hierárquico utiliza o tempo que muitas vezes é desperdiçado e
orientadas para a organização hierárquica e fragmentada do controlado pela administração e pelo professor.
conhecimento escolar. Em resumo, quanto mais compartimentado for o tempo,
4º - refere-se a questão do controle social, já que o mais hierarquizadas e ritualizadas serão as relações sociais,
currículo formal (conteúdos curriculares, metodologia e reduzindo, também, as possibilidades de se institucionalizar o
recursos de ensino, avaliação e relação pedagógica) implica currículo integração que conduz a um ensino em extensão.
controle. Por outro lado, o controle social é instrumentalizado Para alterar a qualidade do trabalho pedagógico torna-se
pelo currículo oculto, entendido este como as “mensagens necessário que a escola reformule seu tempo, estabelecendo
transmitidas pela sala de aula e pelo ambiente escolar”. períodos de estudo e reflexão de equipes de educadores
fortalecendo a escola como instância de educação continuada.
Assim, toda a gama de visões do mundo, as normas e os É preciso tempo para que os educadores aprofundem seu
valores dominantes são passados aos alunos no ambiente conhecimento sobre os alunos e sobre o que estão
escolar, no material didático e mais especificamente por aprendendo. É preciso tempo para acompanhar e avaliar o
intermédio dos livros didáticos, na relação pedagógica, nas projeto político-pedagógico em ação. É preciso tempo para os
rotinas escolares. Os resultados do currículo oculto estudantes se organizarem e criarem seus espaços para além
“estimulam a conformidade a ideais nacionais e convenções da sala de aula.
sociais ao mesmo tempo que mantêm desigualdades
socioeconômicas e culturais”. Acompanhamento e avaliação do projeto pedagógico:
Orientar a organização curricular para fins emancipatórios parâmetros, mecanismos de avaliação interna e externa,
implica, inicialmente desvelar as visões simplificadas de responsáveis, cronograma.
sociedade, concebida como um todo homogêneo, e de ser Esses são alguns elementos que devem ser abordados no
humano como alguém que tende a aceitar papéis necessários projeto pedagógico.
à sua adaptação ao contexto em que vive. Controle social na Geralmente encontram-se documentos com a seguinte
visão crítica, é uma contribuição e uma ajuda para a organização: apresentação, dados de identificação,
contestação e a resistência à ideologia veiculada por organograma, histórico, filosofia, pressupostos teóricos e
intermédio dos currículos escolares. metodológicos, objetivos, organização curricular, processo de
avaliação da aprendizagem, avaliação institucional, processo
Ensino, aprendizagem e avaliação: orientações didáticas de formação continuada, organização e utilização do espaço
e metodológicas quanto à educação infantil, ensino físico, projetos/programas, referências, anexos, apêndices,
fundamental, ensino médio, educação especial, educação de dentre outros:
jovens e adultos, educação profissional. Mecanismos de
acompanhamento pedagógico, de recuperação paralela, de Finalidades
avaliação: indicadores de aprendizagem, diretrizes, Segundo Veiga107, a escola persegue finalidades. É
procedimentos e instrumentos de recuperação e avaliação. importante ressaltar que os educadores precisam ter clareza
das finalidades de sua escola. Para tanto há necessidade de se

106 ENGUITA, Mariano F. A face oculta da escola: Educação e trabalho no 107 VEIGA, Ilma Passos Alencastro. (org) Projeto político-pedagógico da

capitalismo. Porto Alegre, Artes Médicas, 1989. escola: uma construção possível. 12ª edição Papirus, 2002.

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refletir sobre a ação educativa que a escola desenvolve com conduz a fragmentação e ao consequente controle hierárquico
base nas finalidades e nos objetivos que ela define. As que enfatiza três aspectos inter-relacionados: o tempo, a
finalidades da escola referem-se aos efeitos intencionalmente ordem e a disciplina.
pretendidos e almejados. Nessa trajetória, ao analisar a estrutura organizacional, ao
Alves108 afirma que há necessidade de saber se a escola avaliar os pressupostos teóricos, ao situar os obstáculos e
dispõe de alguma autonomia na determinação das finalidades vislumbrar as possibilidades, os educadores vão desvelando a
e, consequentemente, seu desdobramento em objetivos realidade escolar, estabelecendo relações, definindo
específicos. O autor enfatiza que: interessará reter se as finalidades comuns e configurando novas formas de organizar
finalidades são impostas por entidades exteriores ou se são as estruturas administrativas e pedagógicas para a melhoria
definidas no interior do território social e se são definidas por do trabalho de toda a escola na direção do que se pretende.
consenso ou por conflito ou até se é matéria ambígua, Assim, considerando o contexto, os limites, os recursos
imprecisa ou marginal. disponíveis (humanos, materiais e financeiros) e a realidade
Essa colocação está sustentada na ideia de que a escola escolar, cada instituição educativa assume sua marca, tecendo,
deve assumir, como uma de suas principais tarefas, o trabalho no coletivo, seu projeto político-pedagógico, propiciando
de refletir sobre sua intencionalidade educativa. Nesse consequentemente a construção de uma nova forma de
sentido, ela procura alicerçar o conceito de autonomia, organização.
enfatizando a responsabilidade de todos, sem deixar de lado
os outros níveis da esfera administrativa educacional. Processo de Decisão
A ideia de autonomia está ligada à concepção Na organização formal de nossa escola, o fluxo das tarefas
emancipadora da educação. Para ser autônoma, a escola não das ações e principalmente das decisões é orientado por
pode depender dos órgãos centrais e intermediários que procedimentos formalizados, prevalecendo as relações
definem a política da qual ela não passa de executora. Ela hierárquicas de mando e submissão, de poder autoritário e
concebe seu projeto político-pedagógico e tem autonomia para centralizador.
executá-lo e avaliá-lo ao assumir uma nova atitude de Uma estrutura administrativa da escola adequada à
liderança, no sentido de refletir sobre as finalidades realização de objetivos educacionais, de acordo com os
sociopolíticas e culturais da escola. interesses da população, deve prever mecanismos que
estimulem a participação de todos no processo de decisão.
Estrutura Organizacional Isto requer uma revisão das atribuições especificas e
A escola, de forma geral, dispõe de dois tipos básicos de gerais, bem como da distribuição do poder e da
estruturas: administrativas e pedagógicas. descentralização do processo de decisão. Para que isso seja
possível há necessidade de se instalarem mecanismos
Administrativas - asseguram praticamente, a locação e a institucionais visando à participação política de todos os
gestão de recursos humanos, físicos e financeiros. Fazem envolvidos com o processo educativo da escola.
parte, ainda, das estruturas administrativas todos os
elementos que têm uma forma material como, por exemplo, a Contudo, a participação da coordenação pedagógica
arquitetura do edifício escolar e a maneira como ele se nesse processo é fundamental, pois o trabalho é garantir a
apresenta do ponto de vista de sua imagem: equipamentos e satisfação do bom atendimento em prol de toda a
materiais didáticos, mobiliário, distribuição das dependências instituição.
escolares e espaços livres, cores, limpeza e saneamento básico
(água, esgoto, lixo e energia elétrica). Avaliação
Acompanhar as atividades e avaliá-las levam-nos a
Pedagógicas - que, teoricamente, determinam a ação das reflexão com base em dados concretos sobre como a escola
administrativas, “organizam as funções educativas para que a organiza-se para colocar em ação seu projeto político-
escola atinja de forma eficiente e eficaz as suas finalidades”. As pedagógico. A avaliação do projeto político-pedagógico, numa
estruturas pedagógicas referem-se, fundamentalmente, às visão crítica, parte da necessidade de se conhecer a realidade
interações políticas, às questões de ensino e de aprendizagem escolar, busca explicar e compreender ceticamente as causas
e às de currículo. Nas estruturas pedagógicas incluem-se todos da existência de problemas bem como suas relações, suas
os setores necessários ao desenvolvimento do trabalho mudanças e se esforça para propor ações alternativas (criação
pedagógico. coletiva). Esse caráter criador é conferido pela autocrítica.
Avaliadores que conjugam as ideias de uma visão global,
A análise da estrutura organizacional da escola visa analisam o projeto político-pedagógico, não como algo
identificar quais estruturas são valorizadas e por quem, estanque desvinculado dos aspectos políticos e sociais. Não
verificando as relações funcionais entre elas. É preciso ficar rejeitam as contradições e os conflitos. A avaliação tem um
claro que a escola é uma organização orientada por compromisso mais amplo do que a mera eficiência e eficácia
finalidades, controlada e permeada pelas questões do poder. A das propostas conservadoras. Portanto, acompanhar e avaliar
análise e a compreensão da estrutura organizacional da escola o projeto político-pedagógico é avaliar os resultados da
significam indagar sobre suas características, seus polos de própria organização do trabalho pedagógico.
poder, seus conflitos. Considerando a avaliação dessa forma é possível salientar
Avaliar a estrutura organizacional significa questionar os dois pontos importantes. Primeiro, a avaliação é um ato
pressupostos que embasam a estrutura burocrática da escola dinâmico que qualifica e oferece subsídios ao projeto político-
que inviabiliza a formação de cidadãos aptos a criar ou a pedagógico. Segundo, ela imprime uma direção às ações dos
modificar a realidade social. Para realizar um ensino de educadores e dos educandos.
qualidade e cumprir suas finalidades, as escolas têm que O processo de avaliação envolve três momentos: a
romper com a atual forma de organização burocrática que descrição e a problematização da realidade escolar, a
regula o trabalho pedagógico – pela conformidade às regras compreensão crítica da realidade descrita e problematizada e
fixadas, pela obediência a leis e diretrizes emanadas do poder a proposição de alternativas de ação, momento de criação
central e pela cisão entre os que pensam e executam, que coletiva.

108 ALVES José Matias. Organização, gestão e projeto educativo das escolas.

Porto Edições Asa, 1992.

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A avaliação, do ponto de vista crítico, não pode ser (A) I, II e III.


instrumento de exclusão dos alunos provenientes das classes (B) I e IV.
trabalhadoras. Portanto, deve ser democrática, deve favorecer
o desenvolvimento da capacidade do aluno de apropriar-se de (C) I, II e IV.
conhecimentos científicos, sociais e tecnológicos produzidos (D) I e II
historicamente e deve ser resultante de um processo coletivo
de avaliação diagnóstica. 05. (Pref. Maceió/AL - Professor - Área 1º ao 5º ano -
COPEVE/UFAL/2017) Não se constrói um Projeto Político
Questões Pedagógico sem norte, sem rumo. Por isso, todo projeto
pedagógico da escola é também político (GADOTTI e ROMÃO,
01. (SEDUC-RO - Professor – História – FUNCAB) 1997). Dadas as afirmativas,
Quanto ao Projeto Político-Pedagógico, é INCORRETO afirmar I. O Projeto Político Pedagógico deve ter como marco
que ele: fundamental a participação democrática, o ser multicultural,
(A) deve ser democrático. mantendo o convívio com base em hierarquias fixas.
(B) precisa ser construído coletivamente. II. O Projeto Político Pedagógico deve registrar, orientar,
(C) confere identidade à escola. estabelecer ações, metas e estratégias que tenham como
(D) explicita a intencionalidade da escola. objetivo o disciplinamento dos corpos e das mentes.
(E) mostra-se abrangente e imutável. III. O Projeto Político Pedagógico de uma escola é fruto de
uma ação cotidiana e que precisa tomar decisões para o bem
02. (ABIN - Oficial Técnico de Inteligência – Área de de toda comunidade escolar.
Pedagogia CESPE) Julgue o item a seguir, relativo a projeto
político-pedagógico, que, nas instituições, pode ser Verifica-se que está(ão) correta(s)
considerado processo de permanente reflexão e discussão a (A) I, apenas.
respeito dos problemas da organização, com o propósito de (B) III, apenas.
propor soluções que viabilizem a efetivação dos objetivos (C) I e II, apenas.
almejados. (D) II e III, apenas.
Os pressupostos que norteiam o projeto político- (E) I, II e III.
pedagógico estão desvinculados da proposta de gestão
democrática. Respostas
( ) Certo ( ) Errado
01. E. / 02. Errado. / 03. C. / 04. D. / 05. B.
03. (Prefeitura de Palmas/TO - Professor - Língua
Espanhola – FDC) “O projeto político-pedagógico antecipa um
futuro diferente do presente. Não é algo que é construído e O espaço da sala de aula
arquivado como prova do cumprimento de tarefas
burocráticas.” (Ilma Passos)
como ambiente interativo; a
Segundo a autora, o projeto político-pedagógico, atuação do professor
comprometido com uma educação democrática e de mediador; a atuação do aluno
qualidade, caracteriza- se fundamentalmente como:
(A) atividades articuladas, com temas selecionados
como sujeito na construção do
semestralmente. conhecimento.
(B) planejamento global, com conteúdos selecionados por
série.
(C) ação intencional, com compromisso definido As relações interativas em sala de aula
coletivamente.
(D) plano anual, com objetivos definidos pelos professores. As Relações Interativas em Sala de Aula: o papel dos
(E) instrumento técnico, com definição metodológica. professores e dos alunos109
Para Zabala as relações de que se estabelecem entre os
04. (IFRN - Professor - Didática) A construção do projeto professores, os alunos e os conteúdos de aprendizagem
político-pedagógico da escola exige a definição de princípios, constituem a chave de todo o ensino e definem os diferentes
objetivos, estratégias e, acima de tudo, um trabalho coletivo papéis dos professores e dos alunos. A concepção tradicional
para a sua operacionalização. Numa perspectiva crítica e atribui ao professor o papel de transmissor de conhecimentos
democrática, o projeto político-pedagógico da escola e controlador dos resultados obtidos.
proporciona: Ao aluno cabe interiorizar o conhecimento que lhe é
I - melhoria da organização pedagógica, administrativa e apresentado. A aprendizagem consiste na reprodução da
financeira da escola, bem como o estabelecimento de novas informação. Esta maneira de entender a aprendizagem
relações pessoais e interpessoais na instituição; configura uma determinada forma que relacionar-se em
II - redimensionamento da prática pedagógica dos classe. Na concepção construtivista ensinar envolve
professores e formação continuada do quadro docente. estabelecer uma série de relações que devem conduzir à
III - planejamento a curto prazo para definir aplicação de elaboração, por parte do aprendiz, de representações pessoais
medidas emergenciais na escola, de modo a superar certas sobre o conteúdo.
dificuldades, detectar outras e propor novas ações. Trata-se de um ensino adaptativo, isto é, um ensino com
IV - a superação de práticas pedagógicas fragmentadas e a capacidade para se adaptar às diversas necessidades das
garantia total de um ensino de qualidade. pessoas que o protagonizam. Portanto, os professores podem
assumir desde uma posição de intermediário entre o aluno e a
Assinale a opção em que todas as afirmativas estão cultura, a atenção para a diversidade dos alunos e de situações
corretas: à posição de desafiar, dirigir, propor, comparar. Tudo isso

109 Texto adaptado de CARDOSO, M. A. baseado na obra de ZABALA, Antoni. A

prática educativa: como ensinar.

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sugere uma interação direta entre alunos e professores, dinheiro, preparação de professores ou equipamentos, mas
favorecendo a possibilidade de observar e de intervir de forma principalmente a cultura predominante em nosso país, de que
diferenciada e contingente nas necessidades dos alunos/as. Do o conhecimento não pode ir de encontro a novos métodos de
conjunto de relações necessárias para facilitar a aprendizagem ensino, ficando engessado.
se deduz uma série de funções dos professores, que Zabala É válido destacar que a iniciativa que levou ao
caracteriza da seguinte maneira: desenvolvimento da Peer Instruction foi uma técnica
implantada em sala de aula, onde foi explorada a interação
a) Planejar a atuação docente de uma maneira com cada aluno durante as preleções. Esse método vale-se de
suficientemente flexível para permitir adaptação às apresentações curtas através de pontos-chaves,
necessidades dos alunos em todo o processo de acompanhadas de um conceito que já traz a resposta. Aqui, o
ensino/aprendizagem. Por um lado, uma proposta de aluno traz a resposta e a justificativa para tal, de modo que o
intervenção suficientemente elaborada; e por outro, com uma professor analisa-as e mostra os pontos que precisam ser
aplicação extremamente plástica e livre de rigidez, mas que superados. A isso damos o nome de classrrom feedback
nunca pode ser o resultado da improvisação. systems.
b) Contar com as contribuições e os conhecimentos dos O grande desafio encontrado nas salas de aula é o uso de
alunos, tanto no início das atividades como durante sua tecnologias de baixo custo, valendo-se de smartphones,
realização. tablets, que podem ser utilizados por qualquer aluno com
c) Ajudá-los a encontrar sentido no que estão fazendo para facilidade, proporcionando um ambiente interativo em sala de
que conheçam o que têm que fazer, sintam que podem fazê-lo e aula.
que é interessante fazê-lo. O ensino-aprendizagem que geralmente é utilizado na sala
d) Estabelecer metas ao alcance dos alunos para que possam de aula é aquele em que o professor pergunta e o aluno
ser superadas com o esforço e a ajuda necessários. responde, caso tenha interesse, devendo para isso levantar o
e) Oferecer ajudas adequadas, no processo de construção do braço. Seria ultrapassado ou ineficaz? Alguns defendem que
aluno, para os progressos que experimenta e para enfrentar os não é tão eficaz pelo fato dos alunos mais tímidos não
obstáculos com os quais se depara. conseguirem interagir e até mesmo com a participação de
f) Promover atividade mental autoestruturante que permita todos os alunos fica difícil ficaria difícil a administração da sala
estabelecer o máximo de relações com novo conteúdo, e o tempo despendido para passar todo o plano de aula.
atribuindo-lhe significado no maior grau possível e fomentando Contudo, os alunos podem tirar suas dúvidas com o professor
os processos de meta-cognição que lhe permitam assegurar o em momentos de intervalo.
controle pessoal sobre os próprios conhecimentos e processos
durante a aprendizagem. Como isso acontece na prática? Baseado na obra: O
g) Estabelecer um ambiente e determinadas relações Construtivismo na sala de aula:110
presididos pelo respeito mútuo e pelo sentimento de confiança,
que promovam a autoestima e o autoconceito. Professor: Júlio, responda: por que os judeus foram expulsos
h) Promover canais de comunicação que regulem os da Espanha?
processos de negociação, participação e construção. Júlio: Porque não se deixaram fotografar.
i) Potencializar progressivamente a autonomia dos alunos Professor: Como? De onde você tirou isso?
na definição de objetivos, no planejamento das ações que os Júlio: É o que está no livro.
conduzirão aos objetivos e em sua realização e controle, Professor: Está, é? Onde?
possibilitando que aprendam a aprender. Júlio: Aqui, olhe: "porque não se retrataram".
j) Avaliar os alunos conforme suas capacidades e seus
esforços, levando em conta o ponto pessoal de partida e o É provável que, como professores, se tivéssemos em
processo através do qual adquirem conhecimentos e nossas mãos a lâmpada de Aladim, três desejos não
incentivando a autoavaliação das competências como meio pareceriam suficientes para tentar resolver os problemas que
para favorecer as estratégias de controle e regulação da própria enfrentamos em nossa tarefa cotidiana. No entanto, se nos
atividade. concedessem apenas três oportunidades, é provável que um
dos nossos desejos fosse que a mente de nossos alunos
Concluindo, Zabala afirma que os princípios da concepção estivesse em branco, como uma lousa limpa na qual
construtivista do ensino e da aprendizagem escolar poderíamos ir escrevendo o que queremos que aprendam.
proporcionam alguns parâmetros que permitem orientar a Supondo que este desejo nos fosse concedido, o pobre gênio da
ação didática e que, de maneira específica ajuda a caracterizar lâmpada teria um bom trabalho para ir apagando as lousas de
as interações educativas que estrutura a vida de uma classe, nossos alunos até deixá-las completamente limpas.
estabelecendo as bases de um ensino que possa ajudar os
alunos a se formarem como pessoas no contexto da instituição As mentes de nossos alunos estão bem longe de parecerem
escolar. lousas limpas, e a concepção construtivista assume este fato
A criação de ambientes interativos em sala de aula exige como um elemento central na explicação dos processos de
um contexto de ensino-aprendizagem criativo, aberto e aprendizagem e ensino na sala de aula. Do ponto de vista desta
dinâmico, permitindo que o aluno tenha um papel interativo e concepção, aprender qualquer um dos conteúdos escolares
responsável na sua aprendizagem. pressupõe atribuir um sentido e construir os significados
Desse modo, se faz necessário uma plataforma de trabalho implicados em tal conteúdo.
correspondente. O uso de pedagogias interativas que levem o Pois bem, essa construção não é efetuada a partir do zero,
aluno a desenvolver processos cognitivos e sociais de nem mesmo nos momentos iniciais da escolaridade. O aluno
aprendizagem, contribuem para excelentes resultados de constrói pessoalmente um significado (ou o reconstrói do
aproveitamentos na escola, sendo que os alunos se sentem ponto de vista social) com base nos significados que pôde
mais motivados. construir previamente.
Infelizmente o uso de tecnologias nas escolas não acontece Justamente graças a esta base é possível continuar
na prática, e a culpa disso não é exclusivamente à falta de aprendendo, continuar construindo novos significados.

110 C. Coll, E. Martín, T. Mauri, M. Miras, J. Onrubia, I. Solé, A. Zabala. 6ª edição,

editora: Ática, 2006, págs: 57-58.

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Esta ideia não é propriamente original. Desde Sócrates até ensino consiste em prestar aos alunos a ajuda necessária para
os dias de hoje, ela foi questionada por poucas teorias ou que possam ir construindo-os.
explicações. Entretanto, nem todas explicam do mesmo modo Embora a primeira postura apresente características
em que consiste esta base, quais são as suas características, muito diferentes das duas restantes e mantenha com elas
que papel desempenha na aprendizagem posterior e, escassos pontos de contato, a segunda e a terceira concepções
sobretudo, como podemos ou devemos ensinar coisas novas podem ser relacionadas entre si, pois ambas ocupam-se de
ao aluno a partir desta base (a não ser que decidamos, em um como os alunos adquirem conhecimentos, porém divergem na
exercício de ilusão, que o gênio da lâmpada tornou o nosso explicação desse processo.
desejo realidade).
Conhecer as respostas corretas
A natureza ativa e construtiva do conhecimento111 Os professores (pelo menos em algumas situações que
Sempre que nós, professores e professoras, nos propomos podemos conhecer no papel de alunos) não costumam explicar
ensinar determinados conteúdos escolares aos alunos e alunas a lição.
de nossa classe, colocamos em funcionamento, quase sem Há ocasiões em que nem mesmo a leem ou comentam em
pretender, uma série complexa de ideias sobre o que significa voz alta, dedicando a maior parte do tempo a formular
aprender na escola e sobre como se pode ajudar os estudantes perguntas aos alunos com a finalidade de comprovar se eles
nesse processo. dispõem ou não do repertório adequado de respostas. Sua
Essas ideias, que viemos forjando ao longo de nossa tarefa principal é reforçar positivamente as respostas corretas
atividade educacional, graças à experiência e à reflexão, e sancionar as errôneas.
constituem nossa concepção de aprendizagem e ensino. Esta, A cada aula, antes de terminar, os professores assinalam a
que é nossa própria teoria, atua como referência-chave para a parte do texto que será objeto de perguntas na próxima aula.
tomada de decisões sobre o quê, quando e como ensinar e Na outra aula, depois que alunos e alunas dedicaram os
avaliar. No entanto, nem todos os profissionais de uma mesma momentos iniciais a repassar em silêncio e individualmente a
escola compartilham as mesmas ideias, e por isso, quando é lição, pede-se que alguns deles, seguindo as normas
preciso tomar uma decisão de equipe (por exemplo: quando é estabelecidas, respondam todas aquelas perguntas que o
melhor começar a ler? com que método? que livro didático professor ou a professora desejem formular lhes,
pode ser mais útil para trabalhar Matemática na 5ª série da normalmente em voz alta, diante de toda a classe. Esse sistema
Educação Primária? etc.), costumam misturar-se argumentos de ensino permite que os professores identifiquem, quase
contraditórios, que é melhor compreender e avaliar do que imediatamente, o acerto ou o erro nas respostas dos alunos,
censurar ou simplesmente rejeitar. adjudicando-lhes, também de modo imediato, um prêmio ou
O propósito geral é conseguir interpretar melhor as ideias um castigo.
que professores e alunos têm sobre o processo de Geralmente, estes últimos adotam a forma de uma nota boa
aprendizagem escolar e identificar sua limitação ou não. A ou ruim, que é anotada na lista correspondente, ao lado do
seguir, analisaremos algumas das concepções mais habituais nome do aluno ou da aluna, sem que ninguém possa remediar
entre os docentes sobre esse tema. Em particular, exporemos isso. Quem não lembra da caderneta onde o professor ou
a ideia que têm do aluno e aluna que aprendem, da concepção professora anotava rigorosamente as qualificações resultantes
de aprendizagem e como concebem o papel do ensino nesse das respostas dos alunos?
processo. Esta proposta será o parâmetro para aprofundar a Quem não ficou expectante diante da possibilidade de que
concepção que, a nosso ver, seja mais potente entre todas; e, o dedo do professor se detivesse justo no momento de chamá-
enfim, mais especificamente, tentaremos expor o que implica la entre os "escolhidos" para expor a lição do dia?
para o aluno e a aluna aprender diferentes tipos de conteúdos Nessa concepção, a aprendizagem é vista como aquisição
escolares: conceitos, procedimentos e atitudes. de respostas adequadas graças a um processo mecânico de
reforços positivos ou negativos. Os professores acreditam que
Algumas concepções da aprendizagem e do ensino escolar a conduta que desejam dos alunos (a resposta correta) pode
mais habituais entre os docentes ser determinada externamente mediante o uso do prêmio ou
A maioria dos docentes estaria de acordo em afirmar que do castigo, ou seja, por meio de notas. Nesse sentido, os alunos
aqueles que aprendem são os alunos e alunas de nossas são considerados receptores passivos de reforços.
classes. Os professores entendem que sua tarefa consiste em
Entretanto, longe dessa primeira aproximação geral, a suscitar e ir aumentando o número correto de respostas no
explicação que daríamos dessa afirmação seria muito repertório individual do aluno, e também em avaliar o que e
diferente, como também o seria nossa prática em aula. Como quanto ele responde mais corretamente do que ontem. Nesse
frisamos anteriormente, no intuito de analisar as processo, dificilmente é discutida a relevância do conteúdo
características das concepções de aprendizagem e ensino escolar ou das perguntas do professor, e a resposta correta é
escolar mais difundidas entre os professores, vamos aquela que reproduz fielmente o texto objeto de estudo.
apresentá-las a seguir: Em geral, nesse caso, os professores não costumam
identificar sua função com a de educar, mas com a de um
1. A aprendizagem escolar consiste em conhecer as especialista que conhece a fundo a matéria objeto de estudo e
respostas corretas para as perguntas formuladas pelos que exerce, pela autoridade outorgada por esse fato, um bom
professores. O ensino proporciona aos alunos o reforço controle da conduta dos alunos da classe. Tudo isso faz com
necessário para obter essas respostas. que exista um interesse relativo, entre os docentes, em
2. A aprendizagem escolar consiste em adquirir os conhecer o que o aluno e a aluna fazem 'para conseguir dar as
conhecimentos relevantes de uma cultura. Nesse caso, o respostas adequadas. Não são consideradas relevantes
ensino proporciona aos alunos a informação de que perguntas como: Por que respondem corretamente? Isto se
necessitam. deve a algum processo complexo de elaboração da informação
3. A aprendizagem escolar consiste em construir do texto? É possível influenciá-lo? O que diferencia alunos e
conhecimentos. Os alunos e as alunas elaboram, mediante sua alunas que o conseguem daqueles que quase nunca o
atividade pessoal, os conhecimentos culturais. Por tudo isso, o conseguem? Desse ponto de vista profissional, importante é

111 C. Coll, E. Martín, T. Mauri, M. Miras, J. Onrubia, I. Solé, A. Zabala. 6ª edição,

editora: Ática, 2006, págs: 79-83.

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diferenciar entre os que conseguem ou não ser bem-sucedidos b. Comportar-se de acordo com determinados padrões e
nesse processo, pois a expectativa dos professores é que os normas ou modelos de atitudes, com a intenção, inicialmente,
alunos e alunas que não o conseguirem agora, provavelmente e responder às demandas feitas pelas pessoas pelas quais
nunca o conseguirão. Nesse caso, se forem acumulando notas sentimos afeto, admiração ou respeito e, finalmente, com a
ruins, a atuação habitual dos professores consiste em ideia de demonstrar coerência entre a atitude e a norma que
recomendar-lhes que estudem mais, porém não explicarão mantemos e os valores aos quais concedemos importância
como podem fazê-lo. Se os alunos não conseguem responder pessoal. Ir elaborando, na medida do possível, critérios
adequadamente, continuarão aplicando-lhes sanções na pessoais de comportamento ético para poder dar maior
esperança de que algum dia reajam positivamente. Notas relevância a determinadas normas e atitudes em situações
ruins, ficar sem sair na hora do recreio, expulsão da sala de concretas e progredir na consecução da autonomia pessoal e
aula, copiar cem vezes a resposta correta são exemplos de tudo moral.
isso. E quando isso falha, a sanção torna-se mais rigorosa. Ou 5. Poder aceitar tudo o que implica a mudança de atitude
seja, atua-se aumentando o número de notas ruins pessoais, de com confiança e segurança em si. O fato de poder ou não
recreios perdidos, a quantidade de dias de expulsão ou o mostrar uma atitude determinada não depende apenas de
número de vezes que a resposta correta deve ser copiada. conhecer os argumentos que a sustentam, mas da
Finalmente, se os alunos continuam sem reagir, um mau possibilidade de relacioná-la com determinados afetos,
resultado é augurado diretamente: "Você sabe o que faz, mas emoções e motivos que, as vezes, nos impedem de mudar.
se continuar assim não vai passar de ano". E sem qualquer Toda inovação pessoal implica certo grau de temor e
indicação, exceto a de que estudem mais, exigem que pressupõe a aceitação de algum tipo de risco.
continuem tentando (investindo mais esforço, mais tempo) ou A mudança de atitude na escola é possível se o aluno e a
que pensem em abandonar os estudos, caso isso seja possível. aluna contam com o apoio de um coletivo (como o grupo da
classe) que avalia positivamente essa modificação de atitudes
O que permite aos alunos aprender determinadas e aceita o desafio da mudança constituindo-se como
atitudes?112 referencial e suporte graças à qualidade das relações geradas
Saberes pessoais dos alunos no mesmo. Isto é, os alunos estarão em melhores condições de
1. Estar familiarizado com certas normas e possuir aprender atitudes se a escolha e o grupo de classe permitem a
tendências de comportamento que se manifestam em discussão dos argumentos que as apoiam, regulam as
situações específicas, perante objetos e pessoas concretas que exigências de mudança mediante a participação a cooperação
sirvam de base às novas normas e atitudes objeto de e a responsabilidade de todos os seus membros aceitam o
aprendizagem. conflito como algo necessário e não necessariamente negativo
2. Poder recordar, entre todos os que estão na memória, e enfocam os problemas sem dramatismos exagerados nem
avaliações, juízos ou sentimentos que merecem determinadas culpas desmoralizadoras.
coisas, pessoas, objetos e situações mais relevantes e
especialmente relacionados com a nova norma ou atitude. Intervenção dos professores na construção de atitudes dos
3. Mostrar-se disposto a expressar a outros suas ideias ou alunos
opiniões, por meio da palavra, do gesto ou de qualquer outro 1. O grupo escolar deve ter claramente estabelecidos (e
modo possível, como medida para obter algum grau de compartilhar as normas que os regulam) os critérios de valor
consciência sobre elas e conseguir que outros também as pelos quais é regido. A qualidade da interação que se
conheçam. A consciência pública e privada de uma atitude estabelece na escola e no grupo, tomando como base os valores
constitui um elemento importante para a aprendizagem de estabelecidos, atuará como referencial de ajustamento da
outras novas, porque torna possível, de acordo com as própria ação pessoal e da atividade compartilhada. Isto é,
possibilidades de desenvolvimento e aprendizagem dos alguém se dispõe a comportar-se de uma determinada
alunos, que eles reflitam sobre os próprios comportamentos e maneira ou a acatar uma norma se considerar que há consenso
ideias, analisem suas relações e implicações mútuas e avaliem a respeito entre os membros do grupo, fundamentalmente
o grau de coerência ou discrepância entre, por exemplo, sua entre aqueles que aprecia ou aos quais atribui valor ou
atitude e outras informações novas sobre a realidade, as autoridade.
atitudes ou opiniões de pessoas queridas e significativas e 2. Os professores devem facilitar o conhecimento e a
também entre a própria atitude e a ação ou comportamento análise das normas existentes no centro escolar e no grupo de
próprio. classe pura que os alunos possam compreendê-las e respeitá-
4. Poder elaborar o significado da nova norma ou atitude, las. Também devem ficar claramente estabelecidas as formas
ligando-a ao próprio comportamento e opinião, e internalizá- de participação para que os alunos as conheçam e contribuam
la. Para isso pode ser necessário: para melhorá-las, para trocá-las por outras ou anulá-las, se for
a. Formar para si uma ideia ou representação da norma ou o caso. É importante regular o cumprimento e o
atitude objeto de aprendizagem. Nesse sentido, são atividades desenvolvimento das normas e acordos estabelecidos.
importantes: colocar-se no ponto de vista do outro para 3. É função dos professores ajudar os alunos a
conseguir interpretar suas ideias, tomando consciência do relacionarem significativamente as normas a determinadas
conflito ou da contradição entre tendências de atitude; atitudes que se pretende que desenvolvam em situações
observar o comportamento daqueles que nos inspiram afeto, concretas (no laboratório, no trabalho em grupo, nos espaços
respeito ou admiração; formular perguntas para conseguir comuns da escola, em uma saída, em uma exposição dos
familiarizar-se com determinadas normas e atitudes e professores etc.). Nesse sentido, pode ser útil apresentar as
compreender sua origem e significado. normas e atitudes vinculando-as a situações concretas e
Também pode ser útil participar de atividades para rever, familiares para os alunos, a fim de que possam apreender
redefinir, anular ou substituir uma determinada norma ou claramente os argumentos que as sustentam e alguns dos
defender ou não uma atitude, argumentando com os valores comportamentos que as exemplificam em realidades
em que se sustenta, e aos quais se concede ou não importância concretas.
pessoal. Tudo isso de acordo com o nível de desenvolvimento 4. Facilitar a participação e o intercâmbio entre alunos e
pessoal. alunas para debater opiniões e ideias sobre os diferentes

112 C. Coll, E. Martín, T. Mauri, M. Miras, J. Onrubia, I. Solé, A. Zabala. 6ª edição,

editora: Ática, 2006, págs: 117-121.

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aspectos que dizem respeito à sua atividade na escola (a assegurar o controle pessoal sobre os próprios conhecimentos
relevância ou não de estudar e aprender determinados e processos durante a aprendizagem.
conteúdos, os objetivos da escola e da sociedade, os costumes
próprios do grupo escolar como microcultura, a 02. (Prefeitura de São José dos Campos/SP - Assistente
regulamentação, gestão e funcionamento do grupo, o uso de em Gestão Municipal – VUNESP). Uso das novas tecnologias
comuns, as notas e avaliações etc.). em sala de aula
5. Uma determinada organização das atividades de Em um mundo tecnológico, integrar novas tecnologias à
aprendizagem de conteúdos na escola facilita a aprendizagem sala de aula ainda é pouco frequente e um desafio para
de determinadas atitudes muito importantes, tais como a docentes. Em muitos casos, a formação não considera essas
cooperação, a solidariedade, a equidade e a fraternidade. No tecnologias, e se restringe ao teórico, ou seja, o professor
entanto, se quisermos que o aluno aprenda essas atitudes e precisa buscar esse conhecimento em outros espaços. Isso
outras, não menos significativas do ponto de vista humano, nem sempre funciona, pois frequentar cursos de poucas horas
não podemos deixar de planejar expressamente sua nem sempre garante ao professor segurança e domínio dessas
aprendizagem (informar sobre suas características, tecnologias.
exemplificar, debater, atribuir-lhes significado identificando Muitos educadores já perceberam o potencial dessas
as em situações cotidianas e reais para os alunos, mostrar ferramentas e procuram levar novidades para a sala de aula,
modelos de comportamento que as incluem e permitir que seja com uma atividade prática no computador, com
sejam exercidas e praticadas na escola). videogame, tablets e até mesmo com o celular.
6. Procurar modelos das atitudes que se pretende que os O fato é que o uso dessas tecnologias pode aproximar
alunos e alunas aprendam na escola e oferecer o apoio e o alunos e professores, além de ser útil na exploração dos
tempo necessário para que possam ensaiar, testar e imitar. conteúdos de forma mais interativa. O aluno passa de mero
Animar, exigir e apoiar os alunos que tentam mudar, tentando receptor, que só observa e nem sempre compreende, para um
fazer com que eles aceitem o apoio dos demais do grupo e sujeito mais ativo e participativo.
avaliem as críticas que recebem, o trabalho realizado e os A tecnologia também auxilia o professor na busca por
sucessos alcançados. Os professores devem estar preparados conteúdos a serem trabalhados. O Google, por exemplo, criou
para apoiar os alunos naqueles momentos em que podem um espaço próprio para a educação, o Google Play for
sentir insegurança ou em que manifestem resistência à Education – cuja versão em português ainda está sem data de
mudança. lançamento. O programa faz uma peneira por disciplina e série
A aprendizagem de atitudes se apoia, como demonstramos para sugerir aplicativos educacionais específicos para tablets.
na elaboração de representações conceituais e no domínio de O professor pode, por exemplo, criar um grupo da sala em que
determinados procedimentos (estratégias de memória, todos os alunos poderão acessar o aplicativo, facilitando a
estratégias de relação com os outros etc.). Por sua vez, as participação.
atitudes estão na base do desenvolvimento pessoal de A ideia não é abandonar o quadro negro, mas hoje, com
estratégias de direção, orientação e manutenção da própria todos os avanços, existe a necessidade de adequação, de
atividade de aprendizagem. Por exemplo, atitudes como o abertura para o novo, a fim de tornar as aulas mais atraentes,
rigor ou a curiosidade baseiam-se no exercício experiente de participativas e eficientes. (Disponível em
certos procedimentos e, por sua vez, ajudam os alunos a http://www.gazetadopovo.com.br. Acesso em 24.10.2014.
perseverar na consecução da qualidade da atividade. Da Adaptado)
mesma forma, o respeito pela diversidade (atitude) permite De acordo com o autor do texto, o uso das tecnologias em
que as pessoas continuem interessadas em conhecer as sala de aula pode contribuir para:
características de outros (conceitos) até conseguir apreciá-los (A) distanciar professores e alunos, dada a atração que os
em toda a sua identidade, sem necessidade de comparações conteúdos digitais exercem sobre os adolescentes.
desqualificadoras e reciprocamente. Poder chegar a conhecer, (B) diminuir o rendimento dos alunos, em face da intensa
apreciar e avaliar outras pessoas por aquilo que elas são interação deles com os conteúdos digitais.
implica também conhecer-se e apreciar-se, em suma, confiar (C) tornar as aulas mais interativas, com o aluno
nas próprias capacidades e autoestima. desempenhando um papel mais ativo na exploração dos
Questões conteúdos.
(D) tumultuar as aulas, diante da dificuldade para
01. (Prefeitura de Juatuba/MG - Professor de Educação disciplinar o uso de aparelhos como tablets e celulares em sala
Básica I – CONSULPLAN). “A concepção construtivista do de aula.
ensino e da aprendizagem e a natureza dos diferentes (E) tornar os alunos mais dispersivos, apenas
conteúdos estabelecem determinados parâmetros nas espectadores de ferramentas com as quais não sabem
atuações e relações que acontecem em aula, envolvendo um interagir.
conjunto de relações interativas necessárias para facilitar a
aprendizagem.” NÃO é uma função dos professores, segundo 03. Grande parte dos professores não costumam
tal concepção: identificar sua função com a de educar, mas com a de um
(A) Contar com as contribuições e os conhecimentos dos especialista que conhece a fundo a matéria objeto de estudo e
alunos, tanto no início das atividades quanto durante sua que exerce, pela autoridade outorgada por esse fato, um bom
avaliação. controle da conduta dos alunos da classe.
(B) Planejar a atuação de uma maneira suficientemente ( ) Certo ( ) Errado
flexível, para permitir adaptação às necessidades dos alunos
em todo o processo educativo.
(C) Avaliar os alunos através de fórmulas em que o Respostas
controle da avaliação recaia em situações e momentos alheios
aos processos individuais de aprendizagem e imprescindíveis 01. C. / 02. C. / 03. Certo.
para promover a capacidade de aprender a aprender.
(D) Promover atividade mental autoestruturante, que
permita estabelecer o máximo de relações com o novo
conteúdo, atribuindo‐lhes significado no maior grau possível e
fomentando os processos de metacognição que lhes permitam

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CONSTRUTIVISMO113 ciência de Epistemologia Genética, que é entendida como


estudo dos mecanismos de formação do conhecimento lógico
A partir da metade do século XX, no Brasil, surgem novas – tais como as noções de tempo, espaço, objeto, causalidade
teorias nas áreas da psicologia educacional. Piaget e Vygotsky, etc. – e da gênese (nascimento) e a evolução do conhecimento
pais da psicologia cognitiva contemporânea, propõem que humano. Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é
conhecimento é construído em ambientes naturais de inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o
interação social, estruturados culturalmente. Cada aluno comportamento é construído numa interação entre o meio e o
constrói seu próprio aprendizado num processo de dentro indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo =
para fora baseado em experiências de fundo psicológico. Os conhecimento; e logia = estudo) é caracterizada como uma
teóricos desta abordagem procuram explicar o visão interacionista do desenvolvimento. A inteligência do
comportamento humano em uma perspectiva em que sujeito e indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está
objeto interagem em um processo que resulta na construção e relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo
reconstrução de estruturas cognitivas. com o meio. Em outras palavras, quanto mais complexa for
“Piaget acrescenta mudanças fundamentais à posição de esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo.
Kant, em relação ao conhecimento, na medida em que em seu
sistema não existe nenhuma categoria de entendimento “a Epistemologia genética: estudo de como se passa de um
priori”. As noções de tempo, espaço e a logicidade de raciocínio conhecimento para outro conhecimento superior.
são construídas pelo indivíduo através da ação em trocas
dialéticas com o meio. – Vygotsky e os outros teóricos russos Interacionismo: teoria psicológica que sustenta que o
enfatizam o papel dos determinantes socioculturais na desenvolvimento do comportamento humano é uma
formação das estruturas comportamentais.” Segundo Mario construção resultante da relação do organismo com o meio em
Carretero114, construtivismo "é a ideia que sustenta que o que está inserido. Esta teoria valoriza igualmente o organismo
indivíduo - tanto nos aspectos cognitivos quanto sociais do e o meio. “Em relação ao conhecimento, indica que é a
comportamento como nos afetivos - não é um mero produto representação da realidade em sistemas organizados de
do ambiente nem um simples resultado de suas disposições elementos que se relacionam entre si. O indivíduo ao longo de
internas, mas, sim, uma construção própria que vai se sua vida, constrói diferentes modelos desta realidade, cada vez
produzindo, dia a dia, como resultado da interação entre esses mais complexos, pois o que tem que entender é que estes
dois fatores. Em consequência, segundo a posição modelos apresentam uma certa estabilidade temporal, mas, ao
construtivista, o conhecimento não é uma cópia da realidade, mesmo tempo, estão submetidos a processos de mudança que
mas, sim, uma construção do ser humano". modificam os sistemas construídos a cada momento.”
Vygotsky vê o sujeito como um ser eminentemente social, “Não existe estrutura sem gênese, nem gênese sem
na linha do pensamento marxista, e ao próprio conhecimento estrutura”115. Ou seja, a estrutura de maturação do indivíduo
como um produto social. Ele sustenta que todos os processos sofre um processo genético e a gênese depende de uma
psicológicos superiores (comunicação, linguagem, raciocínio, estrutura de maturação. Sua teoria nos mostra que o indivíduo
etc.), são adquiridos no contexto social e depois se só recebe um determinado conhecimento se estiver preparado
internalizam. Piaget desenvolveu uma teoria chamada de para recebê-lo. Ou seja, se puder agir sobre o objeto de
Epistemologia Genética ou Teoria Psicogenética, onde explica conhecimento para inseri-lo num sistema de relações. Não
como o indivíduo, desde o seu nascimento, constrói o existe um novo conhecimento sem que o organismo tenha já
conhecimento. Esta teoria é a mais conhecida concepção um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e
construtivista da formação da inteligência. transformá-lo. A interação com o meio, proporciona modelos
Piaget vê o professor mais como um espectador do ou representações básicas a partir de uma estrutura
desenvolvimento e favorecedor dos processos de hereditária já constituída, mas o desenvolvimento do
descobrimento autônomo de conceitos do que como um indivíduo lhe vai dotando de conhecimentos sobre a realidade
agente que pode intervir ativamente na assimilação do que, ao relacionar-se de outra forma entre si, amplia-se e dá
conhecimento. Mario Carretero coloca: "a teoria de Piaget entrada a outros novos conhecimentos, configurando sistemas
continua oferecendo, na atualidade, a visão mais completa de progressivamente diferenciados e característicos de etapas
desenvolvimento cognitivo, tanto pela grande quantidade de que se repetem em todos os indivíduos. Portanto a construção
aspectos que aborda (desenvolvimento cognitivo desde o da inteligência dá-se, em etapas ou estágios sucessivos, com
nascimento até a idade adulta, desenvolvimento moral, noções complexidades crescentes, encadeadas umas às outras. A isto
sociais, lógicas, matemáticas, etc.) como por sua coerência Piaget chamou de construtivismo sequencial.
interna e utilização de uma metodologia que deu origem a
resultados muito produtivos durante cinquenta anos de Construtivismo sequencial: o desenvolvimento da
pesquisa." inteligência faz-se por complexidade crescente, onde um
estágio (nível) é resultante de outro anterior. Estágios:
Pressupostos essenciais do modelo genético-cognitivo patamares de desenvolvimento que se dá por sucessão
de Piaget (organizações de ações e pensamento características de cada
Piaget trabalhou compulsivamente em seu objetivo, de fase do desenvolvimento do indivíduo).
estudar a gênese da inteligência até as vésperas de sua morte,
em 1980, aos oitenta e quatro anos, deixando escritos Estágios do desenvolvimento genético-cognitivo
aproximadamente setenta livros e mais de quatrocentos Piaget, quando descreve a aprendizagem, tem um enfoque
artigos. Desde muito cedo Jean Piaget demonstrou sua diferente do que normalmente se atribui à esta palavra. Piaget
capacidade de observação. Aos onze anos percebeu um melro separa o processo cognitivo inteligente em duas palavras:
albino em uma praça de sua cidade. A observação deste aprendizagem e desenvolvimento. Para Piaget, segundo
pássaro gerou seu primeiro trabalho científico. Formado em Macedo116, a aprendizagem refere-se à aquisição de uma
Biologia interessou-se por pesquisar sobre o desenvolvimento resposta particular, aprendida em função da experiência,
do conhecimento nos seres humanos. Daí o nome dado a sua obtida de forma sistemática ou não. Enquanto que o

113Heloisa ARGENTO, H. Teoria Construtivista 115PIAGET, J, O Nascimento da Inteligência na Criança, 4ª edição, Rio de
114CARRETERO, Mario. Construir e Ensinar as Ciencias Socias/hist. São Paulo: Janeiro, Zahar, 1982
Artmed, 1997 116MACEDO, Lino. Ensaios Construtivistas. 3. Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo,

1994.

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desenvolvimento seria uma aprendizagem de fato, sendo este aqui, uma vez que a proposta é de sintetizar as ideias de Jean
o responsável pela formação dos conhecimentos. Piaget, como por exemplo:
Piaget, quando postula sua teoria sobre o desenvolvimento
da criança, descreve-a, basicamente, em 4 estágios, que ele Antropomorfismo ou Nominalismo: dar nomes às coisas
próprio chama de fases de transição117: das quais não sabe o nome ainda. Superdeterminação:
- Sensório-motor (0 – 2 anos); “teimosia”.
- Pré-operatório (2 – 7 anos);
- Operatório-concreto (7 – 12 anos); Egocentrismo: tudo é “meu”. Neste período já existe um
- Operatório Lógico-Formal (12 – 16 anos); desejo de explicação dos fenômenos. É a “idade dos porquês”,
pois o indivíduo pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia
A - Período Sensório-Motor: do real, podendo dramatizar a fantasia sem que acredite nela.
Do nascimento aos 2 anos, aproximadamente, etapa básica Seu pensamento continua centrado no seu próprio ponto de
manipulativa. A ausência da função semiótica é a principal vista. Já é capaz de organizar coleções e conjuntos sem, no
característica deste período. A inteligência trabalha através entanto incluir conjuntos menores em conjuntos maiores
das percepções (simbólico) e das ações (motor) através dos (rosas no conjunto de flores, por exemplo).
deslocamentos do próprio corpo. Sua linguagem vai da ecolalia
(repetição de sílabas) à palavra-frase ("água" para dizer que Quanto à linguagem, não mantém uma conversação longa,
quer beber água) já que não representa mentalmente o objeto mas já é capaz de adaptar sua resposta às palavras do
e as ações. Sua conduta social, neste período, é de isolamento companheiro.
e indiferenciação (o mundo é ele). Função semiótica:
capacidade que o indivíduo tem de gerar imagens mentais de Intuição: é uma representação construída por meio de
objetos ou ações, e através dela chegar a representação (da percepções interiorizadas e fixas e não chega ainda ao nível da
ação ou do objeto). “A função semiótica começa pela operação. Ou, é um pensamento imaginado. Incide sobre as
manipulação imitativa do objeto e prossegue na imitação configurações de conjunto e não mais sobre simples coleções
interior ou diferida (imagem mental), na ausência do objeto. É sincréticas simbolizadas por exemplares tipos.
a função semiótica que permite o pensamento"118. Neste
estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o bebê Imagem mental: é um produto da interiorização dos atos
começa a construir esquemas de ação para assimilar de inteligência. Constitui num decalque, não do próprio objeto,
mentalmente o meio119. Também é marcado pela construção mas das acomodações próprias da ação que incidem sobre o
prática das noções de objeto, espaço, causalidade e tempo120. objeto. Cópia do objeto realizada através do sensório-motor. É
Segundo Lopes, as noções de espaço e tempo são construídas a imagem criada na mente de um objeto ou ação distante.
pela ação, configurando assim, uma inteligência
essencialmente prática. Conforme Macedo121 é assim que os Animismo: concepção de objetos inanimados com vida,
esquemas vão "pouco a pouco, diferenciando-se e integrando- sentimento ou intencionalidade, sendo uma das manifestações
se, no mesmo tempo em que o sujeito vai se separando dos do egocentrismo infantil.
objetos podendo, por isso mesmo, interagir com eles de forma
mais complexa." Nitzke et alli122 diz-se que o contato com o Egocentrismo: pensamento centrado no ego, no sujeito,
meio é direto e imediato, sem representação ou pensamento. conjunto de atitudes pré-críticas, pré-objetivas, pré-lógicas e
Exemplo: O bebê “pega” o que está em sua mão; "mama" pré-conceituais, seja em relação à natureza, aos outros ou a si
o que é posto em sua boca; "vê" o que está diante de si. mesma.
Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá- É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de
lo e levá-lo a boca. substituir um objeto ou acontecimento por uma
representação123, e esta substituição é possível, conforme
B. Período pré-operatório ou Simbólico ou Intuitivo: Piaget, graças à função simbólica. Assim este estágio é também
Dos 2 anos aos 7 anos, aproximadamente. Etapa intuitiva e muito conhecido como o estágio da Inteligência Simbólica.
de aprendizagem instrumental básica. Neste período surge a Contudo, Macedo124 lembra que a atividade sensório-motor
função semiótica que permite o surgimento da linguagem, do não está esquecida ou abandonada, mas refinada e mais
desenho, da imitação, da dramatização, etc. Podendo criar sofisticada, pois verifica-se que ocorre uma crescente
imagens mentais na ausência do objeto ou da ação é o período melhoria na sua aprendizagem, permitindo que a mesma
da fantasia, do faz de conta, do jogo simbólico. Com a explore melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais
capacidade de formar imagens mentais pode transformar o sofisticados movimentos e percepções intuitivas. Em suma, a
objeto numa satisfação de seu prazer (uma caixa de fósforos criança deste estágio:
em carrinho, por exemplo). É também o período em que o - É egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se
indivíduo “dá alma” (animismo) aos objetos ("o carro do papai colocar, abstratamente, no lugar do outro.
foi 'dormir' na garagem"). A linguagem está em nível de - Não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter uma explicação
monólogo coletivo, ou seja, todos falam ao mesmo tempo sem (é fase dos "por quês").
que respondam as argumentações dos outros. Duas crianças - Já pode agir por simulação, "como se".
“conversando” dizem frases que não têm relação com a frase - Possui percepção global sem discriminar detalhes.
que o outro está dizendo. Sua socialização é vivida de forma - Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos.
isolada, mas dentro do coletivo. Não há liderança e os pares
são constantemente trocados. Existem outras características Exemplos:
do pensamento simbólico que não estão sendo mencionadas Mostram-se para a criança, duas bolinhas de massa iguais
e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança nega que a

117PIAGET, Jean. Como se desarolla la mente del niño. In: PIAGET, Jean et allii. 121MACEDO, Lino. Ensaios Construtivistas. 3. Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo,
Los años postergados: la primera infancia. Paris: UNICEF, 1975 1994.
118LIMA, Lauro de Oliveira. In: MACEDO, Lino de. Ensaios Construtivistas. São 122NITZKE, Julio A.; CAMPOS, M. B. e LIMA, Maria F. P. "Estágios de
Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. Desenvolvimento". PIAGET. 1997
119LOPES, Josiane. Jean Piaget. Nova Escola. a. XI, n. 95, ago. 1996. 123PIAGET, Jean e INHELDER, Bärbel. A psicologia da criança. São Paulo:
120MACEDO, Lino. Ensaios Construtivistas. 3. Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo, DIFEL, 1982.
1994. 124MACEDO, Lino. Ensaios Construtivistas. 3. Ed. São Paulo: Casa do Psicólogo,

1994.

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quantidade de massa continue igual, pois as formas são os possíveis”. A partir desta estrutura de pensamento é
diferentes. Não relaciona as situações. possível a dialética, que permite que a linguagem se dê em
nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua
C. Período Operatório Concreto: organização grupal pode estabelecer relações de cooperação e
Dos 7 anos aos 11 /12anos, aproximadamente. É o período reciprocidade. Logicização: processo de transformar o
em que o indivíduo consolida a construção das operações pensamento simbólico e intuitivo em pensamento operatório.
subjacentes às quais se encontram as possibilidades Segundo Wadsworth126 (1996) é neste momento que as
intelectuais do período. Tais operações são o resultado de estruturas cognitivas da criança alcançam seu nível mais
ações mentais interiorizadas e reversíveis. No início desta fase elevado de desenvolvimento. A representação agora permite à
do pensamento lógico concreto a lógica infantil está, ainda criança uma abstração total, não se limitando mais à
muito dependente da manipulação concreta de objetos, e de representação imediata e nem às relações previamente
relações entre objetos. Entende que as conservações de existentes. Agora a criança é capaz de pensar logicamente,
número, substância, volume e peso não acarretam, formular hipóteses e buscar soluções, sem depender mais só
necessariamente, a mudança de quantidade. Já é capaz de da observação da realidade. Em outras palavras, as estruturas
ordenar elementos por seu tamanho (grandeza), incluindo cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de
conjuntos, organizando então o mundo de forma lógica ou desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio
operatória. Sua organização social é a de bando, podendo lógico a todas as classes de problemas.
participar de grupos maiores, chefiando e admitindo a chefia.
Já podem compreender regras, sendo fiéis a ela, e estabelecer Exemplos:
compromissos. A conversação torna-se possível (já é uma Se lhe pedem para analisar um provérbio como "de grão
linguagem socializada), sem que, no entanto possam discutir em grão, a galinha enche o papo", a criança trabalha com a
diferentes pontos de vista para que cheguem a uma conclusão lógica da ideia (metáfora) e não com a imagem de uma galinha
comum. comendo grãos. A sequência das etapas é sempre invariável,
embora a época em que são alcançadas possa não ser sempre
Reversibilidade: quando a operação deixa de ter um a mesma para todas as crianças. São quatro os fatores básicos
sentido unidirecional. A reversibilidade seria a capacidade de responsáveis pela passagem de uma etapa de
voltar, de retorno ao ponto de partida. Aparece, portanto como desenvolvimento para a seguinte – a maturidade do sistema
uma propriedade das ações do sujeito, possível de se nervoso, a interação social (que se dá através da linguagem e
exercerem em pensamento ou interiormente. Lembramos que da educação), a experiência física com os objetos e,
as operações nunca têm um sentido unidirecional; são principalmente, a equilibração.
reversíveis.
CONCEITOS BÁSICOS DA TEORIA PIAGETIANA
Conservação: uma invariante que permite a formação de
novas estruturas. “A invariância é a conservação. A estrutura é Para se compreender o processo de construção do
apenas um patamar: O funcionamento levará à formação de conhecimento, é necessário evidenciar a configuração dos
novas estruturas"125. sistemas que integram os processos de como o indivíduo se
desenvolve, adquire novos conhecimentos e a importância da
Pode ser observada na área: interação entre o sujeito e o objeto. Para tanto, é necessário
Lógico matemática: conservação dos números, etc. conhecer com clareza o que significa os seguintes conceitos:
Físicas: Substância, peso, volume, etc.
Espaciais: Medida, área, etc. 1 - Organização:
Não pode haver adaptação (assimilação e acomodação)
Conforme Nitzke et alli, neste estágio a criança desenvolve proveniente de uma fonte desorganizada, pois a adaptação
noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade..., tem como base uma organização inicial expressa no esquema
sendo então capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair (ponto de partida para a ação do indivíduo sobre os objetos do
dados da realidade. Apesar de não se limitar mais a uma conhecimento). O pensamento (interiorização da ação) se
representação imediata, depende do mundo concreto para organiza mediante a constituição de esquemas que formam
abstrair. Um importante conceito desta fase é o através do processo de adaptação. A adaptação e organização
desenvolvimento da reversibilidade, ou seja, a capacidade da são os processos indissolúveis do pensamento.
representação de uma ação no sentido inverso de uma
anterior, anulando a transformação observada. 2 - Adaptação:
Exemplos: É um processo dinâmico e contínuo no qual a estrutura
Despeja-se a água de dois copos em outros, de formatos hereditária do organismo interage com o meio externo de
diferentes, para que a criança diga se as quantidades modo a reconstituir-se. Ela é a essência do funcionamento
continuam iguais. A resposta é afirmativa uma vez que a intelectual e biológico. É um movimento de equilíbrio contínuo
criança já diferencia aspectos e é capaz de "refazer" a ação. entre a assimilação e a acomodação, que são processos
distintos, porém indissociáveis que compõem a adaptação,
D. Período Operatório Lógico Formal ou Abstrato processo este que se refere ao restabelecimento de equilíbrio.
Dos 12 aos 16 anos em diante, em que acaba a construção O indivíduo modifica o meio e é também modificado por ele. A
de estruturas intelectuais próprias do raciocínio hipotético- adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio
dedutivo, que é característico nos adultos. É o ápice do progressivo entre um mecanismo assimilador e uma
desenvolvimento da inteligência e corresponde ao nível de acomodação complementar"127.
pensamento hipotético-dedutivo ou lógico-matemático. É
quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade, 3. Assimilação e Acomodação:
libertando-se do concreto em proveito de interesses A assimilação é o processo cognitivo pelo qual uma pessoa
orientados para o futuro. É, finalmente, a “abertura para todos integra (classifica) um novo dado perceptual, motor ou

125LIMA, Lauro de Oliveira. In: MACEDO, Lino de. Ensaios Construtivistas. São 127PIAGET, J, O Nascimento da Inteligência na Criança, 4ª edição, Rio de

Paulo: Casa do Psicólogo, 1994. Janeiro, Zahar, 1982


126WADSWORTH, Barry. Inteligência e Afetividade da Criança. 4. Ed. São

Paulo: Enio Matheus Guazzelli, 1996.

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conceitual às estruturas cognitivas prévias128. Ou seja, quando Esta declaração de Piaget, significa que o meio não provoca
a criança tem novas experiências (vendo coisas novas, ou simplesmente o registro de impressões ou a formação de
ouvindo coisas novas) ela tenta adaptar esses novos estímulos cópias, mas desencadeia ajustamentos ativos. Procurando
às estruturas cognitivas que já possui. O próprio Piaget define elucidar essas declarações, quando se fala que não existe
a assimilação como: ... uma integração às estruturas prévias, assimilação sem acomodação, significa que a assimilação de
que podem permanecer invariáveis ou são mais ou menos um novo dado perceptual, motor ou conceitual se dará
modificadas por esta própria integração, mas sem primeiramente em esquemas já existentes, ou seja,
descontinuidade com o estado precedente, isto é, sem serem acomodados em fases anteriores.
destruídas, mas simplesmente acomodando-se à nova E quando se fala que não existem acomodações sem
situação129. assimilação, significa que um dado perceptual, motor ou
Isto significa que a criança tenta continuamente adaptar os conceitual é acomodado perante a sua assimilação no sistema
novos estímulos aos esquemas que ela possui até aquele cognitivo existente. É neste contexto que Piaget135 fala de
momento. Por exemplo, imaginemos que uma criança está "acomodação de esquemas de assimilação". Partindo da ideia
aprendendo a reconhecer animais, e até o momento, o único de que não existe acomodação sem assimilação, podemos
animal que ela conhece e tem organizado esquematicamente é dizer que esses esquemas cognitivos não admitem o começo
o cachorro. Assim, podemos dizer que a criança possui, em sua absoluto136, pois derivam sempre, por diferenciações
estrutura cognitiva, um esquema de cachorro. sucessivas, de esquemas anteriores. E é dessa maneira que os
Pois bem, quando apresentada, à esta criança, um outro esquemas se desenvolvem por crescentes equilibrações e
animal que possua alguma semelhança, como um cavalo, ela a autorregulações. Segundo Wazlavick 1993), pode-se dizer que
terá também como cachorro (marrom, quadrúpede, um rabo, a adaptação é um equilíbrio constante entre a assimilação e a
pescoço, nariz molhado, etc.). Figura – Ligeira semelhança acomodação.
morfológica entre um cavalo e um cachorro De uma forma bastante simples, Wadsworth escreve que
Notadamente, ocorre, neste caso, um processo de durante a assimilação, uma pessoa impõe sua estrutura
assimilação, ou seja a similaridade entre o cavalo e o cachorro disponível aos estímulos que estão sendo processados. Isto é,
(apesar da diferença de tamanho) faz com que um cavalo passe os estímulos são "forçados" a se ajustarem à estrutura da
por um cachorro em função das proximidades dos estímulos e pessoa. Na acomodação o inverso é verdadeiro. A pessoa é
da pouca variedade e qualidade dos esquemas acumulados "forçada" a mudar sua estrutura para acomodar os novos
pela criança até o momento. A diferenciação do cavalo para o estímulos. Assim, de acordo com a teoria construtivista, a
cachorro deverá ocorrer por um processo chamado de maior parte dos esquemas, em lugar de corresponder a uma
acomodação. Ou seja, a criança, apontará para o cavalo e dirá montagem hereditária acabada, constroem-se pouco a pouco,
"cachorro". Neste momento, um adulto intervém e corrige, e dão lugar a diferenciações, por acomodação às situações
"não, aquilo não é um cachorro, é um cavalo". Quando modificadas, ou por combinações (assimilações recíprocas
corrigida, definindo que se trata de um cavalo, e não mais de com ou sem acomodações novas) múltiplas ou variadas.
um cachorro, a criança, então, acomodará aquele estímulo a
uma nova estrutura cognitiva, criando assim um novo 4 - Esquema:
esquema. Esta criança tem agora, um esquema para o conceito Modelo de atividade que o organismo utiliza para
de cachorro e outro para o conceito de cavalo. Entrando agora incorporar o meio. No ser humano os esquemas iniciais, ponto
na operação cognitiva da acomodação, iniciamos com de partida da interação sujeito e objeto, são os reflexos. Todo
definição dada por Piaget130: Chamaremos acomodação (por novo esquema construído a partir dos esquemas iniciais, é
analogia com os "acomodatos" biológicos) toda modificação ponto de partida para novas interações do indivíduo com o
dos esquemas de assimilação sob a influência de situações meio. A adaptação, resultante dos processos de assimilação e
exteriores (meio) ao quais se aplicam. acomodação, se refere à construção dos esquemas.
Assim, a acomodação acontece quando a criança não Wadsworth define os esquemas como estruturas mentais, ou
consegue assimilar um novo estímulo, ou seja, não existe uma cognitivas, pelas quais os indivíduos intelectualmente se
estrutura cognitiva que assimile a nova informação em função adaptam e organizam o meio.
das particularidades desse novo estímulo 131. Diante deste Assim sendo, os esquemas são tratados, não como objetos
impasse, restam apenas duas saídas: criar um novo esquema reais, mas como conjuntos de processos dentro do sistema
ou modificar um esquema existente. Ambas as ações resultam nervoso. Os esquemas não são observáveis, são inferidos e,
em uma mudança na estrutura cognitiva. Ocorrida a portanto, são constructos hipotéticos. Conforme Pulaski137,
acomodação, a criança pode tentar assimilar o estímulo esquema é uma estrutura cognitiva, ou padrão de
novamente, e uma vez modificada a estrutura cognitiva, o comportamento ou pensamento, que emerge da integração de
estímulo é prontamente assimilado. Wadsworth132 diz que "A unidades mais simples e primitivas em um todo mais amplo,
acomodação explica o desenvolvimento (uma mudança mais organizado e mais complexo. Dessa forma, temos a
qualitativa), e a assimilação explica o crescimento (uma definição que os esquemas não são fixos, mas mudam
mudança quantitativa); juntos eles explicam a adaptação continuamente ou tornam-se mais refinados. Uma criança,
intelectual e o desenvolvimento das estruturas cognitivas. quando nasce, apresenta poucos esquemas (sendo de natureza
"Essa mesma opinião é compartilhada por Nitzke133, que reflexa), e à medida que se desenvolve, seus esquemas tornam-
escreve que os processos responsáveis por mudanças nas se generalizados, mais diferenciados e mais numerosos.
estruturas cognitivas são a assimilação e a acomodação. Nitzke escreve que os esquemas cognitivos do adulto são
Piaget134, quando expõe as ideias da assimilação e da derivados dos esquemas sensório-motores da criança. De fato,
acomodação, no entanto, deixa claro que da mesma forma um adulto, por exemplo, possui um vasto arranjo de esquemas
como não há assimilação sem acomodações (anteriores ou comparativamente complexos que permitem um grande
atuais), também não existem acomodações sem assimilação. número de diferenciações. Estes esquemas são utilizados para

128WADSWORTH, Barry. Inteligência e Afetividade da Criança. 4. Ed. São 133NITZKE, Julio A.; CAMPOS, M. B. e LIMA, Maria F. P. "Teoria de Piaget".

Paulo: Enio Matheus Guazzelli, 1996. PIAGET. 1997a.


129PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. 2ª Ed. Vozes: Petrópolis, 1996. 134PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. 2ª Ed. Vozes: Petrópolis, 1996.
130PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. 2ª Ed. Vozes: Petrópolis, 1996. 135PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. 2ª Ed. Vozes: Petrópolis, 1996.
131NITZKE, Julio A.; CAMPOS, M. B. e LIMA, Maria F. P. "Teoria de Piaget". 136PIAGET, Jean. Biologia e Conhecimento. 2ª Ed. Vozes: Petrópolis, 1996.

PIAGET. 1997 137PULASKI, Mary Ann Spencer. Compreendendo Piaget. Rio de Janeiro: Livros
132WADSWORTH, Barry. Inteligência e Afetividade da Criança. 4. Ed. São Técnicos e Científicos, 1986.
Paulo: Enio Matheus Guazzelli, 1996.

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processar e identificar a entrada de estímulos, e graças a isto o 3 - Transmissão Social:


organismo está apto a diferenciar estímulos, como também Apropriação das experiências histórico-culturais
está apto a generalizá-los. O funcionamento é mais ou menos o (aquisição de valores, linguagem, costumes e padrões culturais
seguinte: uma criança apresenta um certo número de e sociais) que se processará em conformidade com a estrutura
esquemas, que grosseiramente poderíamos compará-los como cognitiva presente (esquema de assimilação). Só se transmite
fichas de um arquivo. Diante de um estímulo, essa criança conhecimento quando há estruturas para assimilá-los.
tenta "encaixar" o estímulo em um esquema disponível. Vemos Estruturas: um conjunto de elementos que se relacionam entre
então, que os esquemas são estruturas intelectuais que si. A modificação de um gera a modificação do outro. Ou ainda,
organizam os eventos como eles são percebidos pelo "é um conjunto de elementos relacionados entre si de tal forma
organismo e classificados em grupos, de acordo com que não se podem definir ou caracterizar os elementos
características comuns. independentemente destas relações".

5 - Experiência Física e Lógico-matemática: 4 - Processo de Equilibração:


O fator essencial na constituição do esquema é a ação do É a essência do processo adaptativo que coordena e regula
sujeito sobre o objeto do conhecimento. Esta ação é os outros três fatores e faz surgir estados progressivos de
representada por dois tipos de experiência, indissociáveis, equilíbrio. Processo de auto regulação interna do organismo,
mas passíveis de serem abordadas didaticamente. Trata-se da que se constitui na busca sucessiva de reequilíbrio após cada
experiência física e da experiência lógico-matemática. desequilíbrio sofrido. “A aparição de conflitos que produzem
desequilíbrios e desajustes nas estruturas construídas pelo
A INTELIGÊNCIA - SEU DESENVOLVIMENTO NA TEORIA indivíduo promove sua modificação, através do mecanismo de
PIAGETIANA equilibração que força a reconstrução dos esquemas
existentes, de acordo com as novas demandas”.
A inteligência para Piaget é o mecanismo de adaptação do
organismo a uma situação nova e, como tal, implica na Desequilíbrio: é a ruptura do estado de equilíbrio do
construção contínua de novas estruturas dotando o indivíduo organismo e provoca a busca no sentido de condutas mais
de uma série de instrumentos para conhecer a realidade e adaptadas ou adaptativas. Assim, educar seria propiciar
relacionar-se com ela, partindo de uma aproximação situações (atividades) adequadas aos estágios de
espontânea que permite os modelos e representações desenvolvimento, como também, provocadoras de conflito
intuitivas. Desta forma, os indivíduos se desenvolvem cognitivo (equilíbrio perturbado), para novas adaptações
intelectualmente a partir de exercícios e estímulos oferecidos (atividades de assimilação e acomodação). O que vale também
pelo meio que os cercam. O que vale também dizer que a simplesmente dizer que educar é desequilibrar o organismo
inteligência humana pode ser exercitada, buscando um (indivíduo).
aperfeiçoamento de potencialidades, que evolui desde o nível
mais elementar da vida do indivíduo, até o nível das trocas Equilibração: sua função é produzir uma coordenação
simbólicas. “O conhecimento se mostra como resultado de balanceada entre assimilação e acomodação. “Piaget concebe
uma construção onde é importante a maturação e a este processo como sendo o mecanismo de crescimento e
experiência do indivíduo, reguladas por um mecanismo aprendizagem no desenvolvimento cognitivo”. (...) “o
interno, que Piaget dá o nome de equilibração, que atua como desenvolvimento é uma equilibração progressiva a partir de
processo autorregulador, para compensar as perturbações um estado inferior até um estado mais elevado de equilíbrio”.
exteriores que rompem o equilíbrio interno. O resultado de Equilibração majorante: mecanismo de evolução ou
cada reequilibração não é a volta ao equilíbrio anterior, e sim desenvolvimento do organismo.
a um novo estado qualitativo diferente”. O desenvolvimento
intelectual é o processo que busca atingir formas de equilíbrio É fundamental para a estruturação da inteligência. Refere-
cada vez melhores ou, em outras palavras, é um processo de se às mudanças sucessivas no sujeito resultantes dos
equilibração sucessiva que tende a uma forma final, ou seja, a processos de assimilação e acomodação, portanto ao aumento
aquisição do pensamento operatório formal. Pode-se dizer do conhecimento. Níveis sucessivos equilibração:
ainda que é a construção de estruturas ou estratégias de - 1º entre objetos esquemas;
comportamento. Gira em torno da atividade do organismo que - 2º entre esquemas;
pode ser motora, verbal e mental. É a evolução (processo de - 3º a elaboração de uma hierarquia de esquemas que
organização em níveis progressivamente superiores.) do permitem articular a relação entre eles.
indivíduo. O processo de desenvolvimento é influenciado por
quatro fatores, a saber: Quando algum destes níveis de equilíbrio se rompe,
provoca o desequilíbrio também entre os restantes.
1 - Maturação:
Base biológica do comportamento, é o amadurecimento de A TEORIA DA EQUILIBRAÇÃO
estruturas biológicas na interação com o meio, através de um
processo interno representando a viabilidade humana de Segundo Piaget, a teoria da equilibração, de uma maneira
adaptação inteligente. geral, trata de um ponto de equilíbrio entre a assimilação e a
acomodação, e assim, é considerada como um mecanismo
2 - Experiência: autorregulador, necessária para assegurar à criança uma
O contato do organismo com a realidade ou a interação do interação eficiente dela com o meio-ambiente. A importância
sujeito com o objeto, que se dão ora no sentido de se extrair da teoria da equilibração, é notada principalmente frente a
suas características (experiência física), ora no sentido de se dois postulados organizados por Piaget138:
extrair propriedades não dos objetos, mas da ação sobre estes Primeiro Postulado: Todo esquema de assimilação tende a
objetos (experiência lógico-matemática). alimentar-se, isto é, a incorporar elementos que lhe são
exteriores e compatíveis com a sua natureza.

138PIAGET, Jean. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro:

Zahar, 1975.

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Segundo Postulado: Todo esquema de assimilação é assimilação, enquanto que a diferenciação pode ser vista como
obrigado a se acomodar aos elementos que assimila, isto é, a uma tarefa de acomodação. Há, contudo, conservação mútua
se modificar em função de suas particularidades, mas, sem do todo e das partes.
com isso, perder sua continuidade (portanto, seu fechamento Embora, Piaget tenha apontando três tipos de
enquanto ciclo de processos interdependentes), nem seus equilibração, lembra que os tipos possuem o comum aspecto
poderes anteriores de assimilação. O primeiro postulado de serem todas relativas ao equilíbrio entre a assimilação e a
limita-se a consignar um motor à pesquisa, e não implica na acomodação, além de conduzir o fortalecimento das
construção de novidades, uma vez que um esquema amplo características positivas pertencentes aos esquemas no
pode abranger uma gama enorme de objetos sem modificá-los sistema cognitivo.
ou compreendê-los. O segundo postulado afirma a necessidade A inteligência atravessa fases qualitativamente distintas. A
de um equilíbrio entre a assimilação e a acomodação na diferença entre um estágio e outro não é número de requisitos
medida em que a acomodação é bem sucedida e permanece que são acumulados, mas o fato de novos esquemas e
compatível com o ciclo, modificado ou não. Em outras estruturas estarem sendo criados/alterados. A construção do
palavras, Piaget define que o equilíbrio cognitivo implica em conhecimento ocorre de acordo com a interação do sujeito
afirmar: com a realidade. Quando o sujeito se depara com algo novo,
1. A presença necessária de acomodações nas estruturas; ocorre uma perturbação, um processo de desequilíbrio nos
2. A conservação de tais estruturas em caso de esquemas já formados pelo sujeito. Quando ocorre este
acomodações bem sucedidas. desequilíbrio o sujeito tende reformular seus esquemas de
forma que atinja novamente um estado de equilíbrio. O
Esta equilibração é necessária porque se uma pessoa só processo cognitivo pode ser visto como uma sucessão de
assimilasse estímulos acabaria com alguns poucos esquemas interações entre os processos de assimilação e acomodação
cognitivos, muito amplos, e por isso, incapaz de detectar com o objetivo de atingir estados de equilíbrio cada vez mais
diferenças nas coisas, como é o caso do esquema "seres", já estáveis e duradouros.
descrito nesta seção. O contrário também é nocivo, pois se uma Raul Waslawick destaca: "a frequência de desequilíbrios
pessoa só acomodasse estímulos, acabaria com uma grande vai diminuindo com o tempo, ou pelo menos a sua força. Isto
quantidade de esquemas cognitivos, porém muito pequenos, acontece porque à medida em que o sujeito constrói novas
acarretando uma taxa de generalização tão baixa que a maioria estruturas cognitivas ele cria um campo maior de abrangência
das coisas seriam vistas sempre como diferentes, mesmo de seu conhecimento, no sentido quantitativo. Além disso, ele
pertencendo à mesma classe. constrói novas formas de estruturas e novos mecanismos
Segundo Wadsworth, uma criança, ao experienciar um capazes de prever certas situações antes que elas aconteçam.
novo estímulo (ou um estímulo velho outra vez), tenta Desta forma, o que aparecia antes uma perturbação, causando
assimilar o estímulo a um esquema existente. Se ela for bem desequilíbrio no sistema, pode ser mais tarde previsto, mesmo
sucedida, o equilíbrio, em relação àquela situação se vier com outras formas variantes, e assim ser tratado de
estimuladora particular, é alcançado no momento. Se a criança maneira menos traumática".
não consegue assimilar o estímulo, ela tenta, então, fazer uma
acomodação, modificando um esquema ou criando um Existem três tipos de equilibração:
esquema novo. Quando isso é feito, ocorre a assimilação do
estímulo e, nesse momento, o equilíbrio é alcançado. Nesta - Equilibração Sujeito/Objeto: equilibração entre a
linha de pensamento em torno da teoria das equilibrações, assimilação dos esquemas e a acomodação dos esquemas ao
Piaget, segundo Lima139, identifica três formas básicas de objeto. Este conceito traz um começo de conservação mútua,
equilibração, são elas: isto é, o objeto é necessário ao desenrolar da ação, e de forma
recíproca, o esquema de assimilação dá significado ao objeto,
1. Em função da interação fundamental de início entre o transformando-o.
sujeito e os objetos, há primeiramente a equilibração entre a
assimilação destes esquemas e a acomodação destes últimos - Equilibração Subsistema/Subsistema: es subsistemas
aos objetos. elaboram-se geralmente com velocidades diferentes, com
defasamentos temporais. Esta elaboração sofre desequilíbrios
2. Há, em segundo lugar, uma forma de equilibração que que necessitam ser controlados
assegura as interações entre os esquemas, pois, se as partes
apresentam propriedades enquanto totalidades, elas - Equilibração Subsistema/Totalidade: esta forma de
apresentam propriedades enquanto partes. Obviamente, as equilibração acrescenta uma hierarquia, o que não ocorria nas
propriedades das partes diferenciam-se entre si. Intervêm equilibrações anteriores. A integração do todo caracteriza a
aqui, igualmente, processos de assimilação e acomodação assimilação e a diferenciação exige a acomodação. Neste caso
recíprocos que asseguram as interações entre dois ou mais existe a conservação mútua do todo e das partes.
esquemas que, juntos, compõem um outro que os integra.
No sistema de equilibração, os desequilíbrios são as fontes
3. Finalmente, a terceira forma de equilibração é a que de progresso do desenvolvimento do conhecimento, pois os
assegura as interações entre os esquemas e a totalidade. Essa desequilíbrios obrigam o sujeito ultrapassar o estado atual a
terceira forma é diferente da Segunda, pois naquela a procura de novas direções. Este é um processo contínuo que
equilibração intervém nas interações entre as partes, dá origem a estados de equilíbrio sucessivos e descontínuos.
enquanto que nesta terceira a equilibração intervém nas Existem tipos diferentes de estados de equilíbrio e estas
interações das partes com o todo. Em outras palavras, na diferenças podem ser especificadas de acordo com um
segunda forma temos a equilibração pela diferenciação; na conjunto de dimensões comuns ao longo das quais os estados
terceira temos a equilibração pela integração. variam. Estas diferenças são ordenadas, pode-se dizer que um
estado é "melhor equilibrado" que outros ou que atingiu um
Dessa forma, podemos ver a integração em um todo, "grau mais alto de equilíbrio".
segundo a teoria da equilibração como uma tarefa de

139LIMA, Lauro de Oliveira. In: MACEDO, Lino de. Ensaios Construtivistas. São

Paulo: Casa do Psicólogo, 1994.

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Em resumo, o estado de equilíbrio se refere a um sistema Operação: (“ação interiorizada (...) que alcançou (...) o
equilibrado de relações entre o sujeito e o objeto, isto é, entre nível operatório mediante reconstruções sucessivas de
a assimilação e acomodação. Quando um desequilíbrio ocorre, complexidade crescente (equilibração majorante)”.
um esquema é ativado. Todo o esquema visa atingir um
objetivo e gera um resultado que serve para realimentar o A importância de se definir os períodos de
esquema. Quando o objetivo não é alcançado é porque o desenvolvimento da inteligência reside no fato de que, em cada
esquema não é apropriado. O resultado pode confirmar os um, o indivíduo adquire novos conhecimentos ou estratégias
objetivos e assim fortalecer o esquema ou pode não estar de de sobrevivência, de compreensão e interpretação da
acordo com as previsões, constituindo uma perturbação. realidade. A compreensão deste processo é fundamental para
que os professores possam também compreender com quem
Existem dois grupos de perturbações: estão trabalhando. A obra de Jean Piaget não oferece aos
- perturbações que se opõe à acomodação, resultando em educadores uma didática específica sobre como desenvolver a
insucessos ou erros, isto é, em feedbacks negativos; inteligência do aluno ou da criança. Piaget nos mostra que cada
- perturbações causadas por lacunas que não satisfazem o fase de desenvolvimento apresenta características e
sistema e que geram uma alimentação insuficiente para o possibilidades de crescimento da maturação ou de aquisições.
esquema. Nem sempre uma lacuna se refere a uma O conhecimento destas possibilidades faz com que os
perturbação. Por exemplo, uma lacuna pode ser considerada professores possam oferecer estímulos adequados a um maior
perturbação quando ocorre a ausência de um objeto ou desenvolvimento do indivíduo. “Aceitar o ponto de vista de
condições insuficientes para realizar uma ação. A lacuna como Piaget, portanto, provocará turbulenta revolução no processo
perturbação gera um feedback positivo. escolar (o professor transforma-se numa espécie de ‘técnico
do time de futebol’, perdendo seu ar de ator no palco). (...)
Segundo Piaget: "feedback negativo, como o próprio nome Quem quiser segui-lo tem de modificar, fundamentalmente,
indica, consiste numa correção supressiva, quer se trate de comportamentos consagrados, milenarmente (aliás, é assim
afastar obstáculos, quer de modificar os esquemas pela que age a ciência e a pedagogia começa a tornar-se uma arte
eliminação de um movimento em proveito de outro, apoiada, estritamente, nas ciências biológicas, psicológicas e
diminuindo sua força e extensão. Quanto ao feedback positivo, sociológicas).
é um reforço e parece, portanto, alheio a qualquer negação." Onde houver um professor ‘ensinando’ ... aí não está
havendo uma escola piagetiana!”. As teorias piagetianas abrem
A reação a uma perturbação é denominada regulação, isto campo de estudo não somente para a psicologia do
é, um processo paralelo que relaciona o sujeito aos objetos ou desenvolvimento, mas também para a sociologia e para a
os esquemas do sujeito entre si. antropologia, além de permitir que os pedagogos tracem uma
No processo de regulação existem dois processos que metodologia baseada em suas descobertas. Piaget situa,
percorrem sentidos contrários: segundo Dolle, o problema epistemológico, o do
- processo retroativo, que conduz o resultado de uma ação conhecimento, ao nível de uma interação entre o sujeito e o
ao seu recomeço; objeto. E “essa dialética resolve todos os conflitos nascidos das
- processo proativo, que leva a uma correção ou a um teorias, associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura,
reforço. estruturalistas sem gênese, etc.... e permite seguir fases
sucessivas da construção progressiva do conhecimento”.
As ações individuais que compõe as regulações são
denominadas compensações. Compensações são ações que AMBIENTE DE APRENDIZAGEM CONSTRUTIVISTA
ocorrem contrárias a determinados efeitos, tendendo a
neutralizá-los ou anulá-los. É importante salientar-se o fato de que, apesar de a
Existem os seguintes tipos de compensações: Epistemologia Genética ser uma teoria que analisa o
- feedbacks negativos comportamento psicológico humano, área normalmente afeta
- Inversão: a perturbação é negada, isto é, o sujeito ignora à Psicologia, e analisa estes aspectos relacionados ao
a perturbação aprendizado, área normalmente afeta à Pedagogia, Piaget não
- Reciprocidade: ocorre a diferenciação do esquema em era psicólogo, nem tampouco pedagogo, porém biólogo. Seu
dois subesquemas, onde um deles trata a perturbação interesse, ao desenvolver sua teoria, era dar uma
- feedbacks positivos, onde existe uma correção que será fundamentação teórica, baseada em uma investigação
realizada em direção a determinada ação. científica, à forma de como se "constrói" o conhecimento no
ser humano. Aí que reside o grande mérito de seus trabalhos,
APRENDIZAGEM ESCOLAR E A TEORIA PIAGETIANA apresentar a primeira explicação científica para a maneira
como o homem passa de um ser que não consegue distinguir-
A aprendizagem é a modificação da experiência resultante se cognitivamente do mundo que o cerca até um outro ser que
do comportamento no sentido restrito (específico) aprender consegue realizar equações complexas que o permitem viajar
que alguma coisa se chama "lua", "macaco", ou no sentido a outros planetas. É obvio que as teorias de Piaget possuem
amplo "aprender a estruturar todos os objetos no universo em aplicação em inúmeros campos de pesquisa, inclusive na
sistemas hierárquicos de classificação"140. Existe uma relação pedagogia, mas é fundamental entender-se que este não era
direta entre o desenvolvimento e a aprendizagem, pois a seu propósito. A Epistemologia Genética e o Construtivismo
aprendizagem de operações, fatos, ações, procedimentos não são uma nova metodologia pedagógica, podem até ser "um
práticos ou leis físicas dependem do nível cognitivo do sujeito, subsídio fundamental para o aperfeiçoamento das técnicas
quer dizer, que o grau de desenvolvimento é determinante e pedagógicas", de acordo com as palavras Franco141, mas
torna inexequível uma nova aquisição a um indivíduo que não reduzir o Construtivismo a esta única dimensão é empobrecê-
está capacitado para ela, porque a compreensão de problemas lo por demais, pois seus horizontes e aplicações são muito
somente é possível no momento evolutivo adequado. mais amplos, como muito bem definiu Becker142,
"Construtivismo, segundo pensamos, é esta forma de conceber

140KAMII, Constance. O Conhecimento Fisico na Educacao Pre-escolar. São 142BECKER, F, O que é Construtivismo? Revista de Educação AEC, Ano 21, Nº

Paulo: Artmed, 1991 23, Abri/Junho de 1992


141FRANCO, S.R.K., Construtivismo e Educação: um encontro importante e

necessário, ReVista, Ano 1, Nº 1, Dez. 1992, Jan, Fev. 1993

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 187


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o conhecimento: sua gênese e seu desenvolvimento. É, por levados em conta, se desejarmos criar um "ambiente
consequência, um novo modo de ver o universo, a vida e o construtivista”.
mundo das relações sociais". A primeira das exigências é que o ambiente permita, e até
obrigue, uma interação muito grande do aprendiz com o objeto
QUESITOS QUE CARACTERIZAM UM AMBIENTE de estudo, integrando o objeto de estudo à realidade do sujeito,
CONSTRUTIVISTA dentro de suas condições, de forma a estimulá-lo e desafiá-lo,
mas ao mesmo tempo permitindo que as novas situações
De acordo com a posição de Tomas Tadeu da Silva, que é criadas possam ser adaptadas às estruturas cognitivas
contra a "moda do construtivismo”, o Construtivismo "aparece existentes, propiciando o seu desenvolvimento. Outro aspecto
como uma teoria educacional progressista, satisfazendo primordial nas teorias construtivistas, é a quebra de
portanto aqueles critérios políticos exigidos por pessoas que, paradigmas que os conceitos de Piaget trazem, é a troca do
em geral, se classificam como de "esquerda". De outro lado, o repasse da informação para a busca da formação do aluno; é a
construtivismo fornece uma direção relativamente clara para nova ordem revolucionária que retira o poder e autoridade do
a prática pedagógica, além de ter como base uma teoria de mestre transformando-o de todo poderoso detentor do saber
aprendizagem e do desenvolvimento humano com forte para um "educador - educando", segundo as palavras de Paulo
prestígio científico." As maiores críticas que ouve-se das Freire, e esta visão deve permear todo um "ambiente
teorias de Piaget são justamente a falta de uma prática construtivista". "Diversas teorias sobre aprendizagem
pedagógica clara e explicita, uma vez que não é a isto que ela parecem concordar com a ideia de que a aprendizagem é um
se propõe. "Antes de tudo, o construtivismo é uma teoria processo construção de relações, em que o aprendiz, como ser
epistemológica. É de suma importância que se afirme isto, de ativo, na interação com o mundo, é o responsável pela direção
modo a poder-se diferenciá-lo de uma teoria psicológica e, e significado do aprendido. O processo de aprendizagem, feitas
principalmente, de uma teoria pedagógica. Afirmar que o estas considerações, se dariam em virtude do fazer e do refletir
construtivismo é uma teoria epistemológica é afirmar que ele sobre o fazer, sendo fundamental no professor o "saber", o
foi concebido como uma forma de explicar a realidade da "saber fazer" e o "saber fazer fazer". Nesta perspectiva o
produção de conhecimento. Mais precisamente o ensino se esvazia de sentido, dando lugar à ideia de
conhecimento científico."143. Ainda, da crítica de Tomaz da facilitação”.
Silva ao construtivismo, além de defini-lo como conservador é Rogers complementa, que mais do que repassar
despolitizado, o que não cabe discutirmos nesta ocasião, ele conhecimentos, a função de um professor que se propõe a ser
discorre que "mesmo como teoria meramente pedagógica, o facilitador seria "liberar a curiosidade; permitir que os
construtivismo de apresenta bastante deficiente para uma indivíduos arremetam em novas direções ditadas pelos seus
teoria que se pretende globalizante e inclusiva. Não existe próprios interesses; tirar o freio do sentido de indagação; abrir
nada no construtivismo, por exemplo, que aponte para alguma tudo ao questionamento e à exploração; reconhecer que tudo
teoria de currículo" Do outro lado, se acha em processo de mudança..."
Fernando Becker afirma que "se é esquisito dizer que um Um ambiente de aprendizagem que pretenda ter uma
método é construtivista, dizer que um currículo é conduta de acordo com as descobertas de Piaget precisa lidar
construtivista é mais esquisito ainda." Isto posto não seria, corretamente com o fator do erro e da avaliação. Em uma
também, ridículo falar-se em um "ambiente construtivista"? abordagem construtivista, o erro é uma importante fonte de
Ou ainda, qual o resultado que será obtido por um aprendizagem, o aprendiz deve sempre questionar-se sobre as
professor cuja concepção do conhecimento for empirista ao consequências de suas atitudes e a partir de seus erros ou
utilizar um "ambiente construtivista" ou sua recíproca, o acertos ir construindo seus conceitos, ao invés de servir
resultado da utilização de um "ambiente empirista" por um apenas para verificar o quanto do que foi repassado para o
professor com uma epistemologia do conhecimento baseada aluno foi realmente assimilado, como é comum nas práticas
nas teses construtivistas? A resposta para esta pergunta pode empiristas. Neste contexto, a forma e a importância da
ser a mesma que foi dada pelo professor David Thornburg, avaliação mudam completamente, em relação às práticas
consultor do governo americano para assuntos educacionais, convencionais.
ao ser questionado se o computador seria a ferramenta para
mudar a escola: " É uma ferramenta importante, mas não é a SALA DE AULA TRADICIONAL X SALA DE AULA
única. O computador deve ser utilizado para coisas novas, não CONSTRUTIVISTA
para reproduzir o antigo. Para mim, a transformação mais
urgente e mais importante é a mudança no pensamento dos A teoria behaviorista popularizada por B.F. Skinner144
professores." Para que um ambiente de ensino seja continua conduzindo a maioria das práticas educacionais. Por
construtivista é fundamental que o professor conceba o mais de um quarto de século, as escolas e os professores
conhecimento sob a ótica levantada por Piaget, ou seja que estabeleceram objetivos e metas. Os currículos foram
todo e qualquer desenvolvimento cognitivo só será efetivo se estabelecidos em uma sequência rigorosa, acreditando que a
for baseado em uma interação muito forte entre o sujeito e o melhor maneira de aprender era através da reunião de
objeto. É imprescindível que se compreenda que sem uma pequenos conteúdos de conhecimento e então integrá-los em
atitude do objeto que perturbe as estruturas do sujeito, este conceitos mais amplos. As práticas de avaliação eram focadas
não tentará acomodar-se à situação, criando uma futura na medida do conhecimento e das habilidades, com pequena
assimilação do objeto, dando origem às sucessivas adaptações ênfase no desempenho ou entendimento.
do sujeito ao meio, com o constante desenvolvimento de seu Por outro lado, os pesquisadores cognitivistas afirmam
cognitivismo, conforme discutido anteriormente. Desta que a melhor maneira de aprender é construindo o seu próprio
forma, apesar de acreditar ser perfeitamente possível a conhecimento. Desta forma, as salas de aula construtivistas
utilização de um "ambiente empirista" por um professor que devem proporcionar um ambiente onde os estudantes
não veja o aluno como "tabula rasa" para o desenvolvimento confrontam-se com problemas cheios de significado porque
de um conhecimento, na forma como Piaget teorizou, existem estão vinculados ao contexto de sua vida real. Resolvendo
alguns pressupostos básicos de sua teoria que devem ser estes problemas, os estudantes são encorajados a explorar
possibilidades, inventar soluções alternativas, colaborar com

143FRANCO, S.R.K., Construtivismo e Educação: um encontro importante e 144apud NCREL. North Central Regional Educational Laboratory (1997)

necessário, ReVista, Ano 1, Nº 1, Dez. 1992, Jan, Fev. 1993 Pathways to school improvement.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 188


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outros estudantes ou especialistas externos), tentar novas Gardner149 afirma que uma forma de integrar os princípios
ideias e hipóteses, revisar seus pensamentos e finalmente construtivistas nas salas de aula é através da realização de
apresentar a melhor solução que eles puderam encontrar. "projetos". Segundo este autor, ao longo das aulas os alunos
Esta abordagem contrasta com as salas de aula realizam milhares de testes e desenvolvem habilidades que
behavioristas, onde os estudantes estão passivamente muitas vezes se tornarão inúteis depois do último dia de aula.
envolvidos em receber toda a informação necessária a partir Em contraste, o desenvolvimento de um projeto envolve a
do professor e do livro texto. Ao invés de inventar soluções e observação da vida fora da escola, propiciando aos estudantes
construir o conhecimento durante estes processos, os a oportunidade de organizar os conceitos e habilidades
estudantes são ensinados a procurar a "resposta certa" previamente estabelecidos, utilizando-os a serviço de um novo
segundo o método do professor. Segundo esta ideia, os objetivo ou empreendimento.
estudantes não precisam nem verificar se o método usado na Em relação à avaliação, Brooks e Brooks afirmam que o
solução dos problemas tem sentido145. Benaim146 salienta o professor, durante uma avaliação numa sala de aula
paradoxo existente entre a filosofia tradicional e a filosofia construtivista, deve preocupar-se mais em entender o
construtivista. Na visão tradicional, o conhecimento é pensamento do aluno sobre o tópico do que dizer "não"
concebido como uma representação do mundo real, existindo quando o aluno não fornece a resposta correta sobre o que está
separado e independentemente da pessoa que o retém. sendo questionado. Os construtivistas acreditam que a
O conhecimento é considerado "verdadeiro" somente se avaliação deva ser usada como uma ferramenta para auxiliar
refletir este mundo independente. O construtivismo, por sua na aprendizagem do aluno e na compressão do professor
vez, escapa desta tradição, desistindo da ideia de sobre o que o aluno está entendendo no momento. Da mesma
conhecimento independente do indivíduo e enfatiza o conceito forma, os pesquisadores afirmam que a avaliação não pode ser
de conhecimento baseado na experiência no mundo real de usada como uma ferramenta que faz com que os estudantes
coisas e relações básicas para nossa adaptação à vida. Benaim sintam-se bem em relação a si mesmos ou provoque
apresentam as visões do aprendiz e do professor, sob o ponto desistências em outros.
de vista construtivista. Para estes autores, o aprendiz, ao invés
de um absorvedor passivo da informação, é visto como um Quadro 1 - Características das Salas de Aula Tradicional X
indivíduo ativamente engajado na construção do Construtivista
conhecimento, trazendo consigo seu conhecimento anterior
para enfrentar as novas situações. Sala de aula Tradicional Sala de aula Construtivista
Os debates entre os alunos são considerados como O currículo é apresentado
oportunidades para desenvolvimento e organização do O currículo é apresentado do
das partes para o todo,
pensamento. O diálogo, os jogos e as pesquisas são valorizadas. todo para as partes, com
com ênfase nas
Existe uma ênfase na colaboração como um meio de estimular ênfase nos conceitos gerais
habilidades básicas
a busca de um consenso entre os vários significados O seguimento rigoroso do Busca pelas questões
encontrados e construídos pelos estudantes. O foco não está currículo preestabelecido levantadas pelos alunos é
mais no que o estudante sabe, mas inclui suas convicções, seus é altamente valorizado altamente valorizada
processos de pensamento e concepções de conhecimento. Por As atividades curriculares
outro lado, o professor é visto tanto como um apresentador do As atividades baseiam-se em
baseiam-se
conhecimento como um facilitador de experiências. Sua tarefa fontes primárias de dados e
fundamentalmente em
pedagógica é criar situações de aprendizagem que facilitem a materiais manipuláveis
livros texto e de exercícios
construção individual do conhecimento. Os estudantes são vistos Os estudantes são vistos
Ao contrário da atividade tradicional de valorizar a como "tábulas rasas" como pensadores com
memorização das "respostas corretas", o professor considera sobre as quais a teorias emergentes sobre o
o conhecimento "preexistente" para mediar o processo de informação é impressa mundo
construção do conhecimento. Além disso, o professor encoraja Os professores geralmente
os estudantes para desenvolverem seus próprios processos de comportam-se de uma Os professores geralmente
busca de novos desafios. Como o conhecimento é adquirido maneira didaticamente comportam-se de maneira
sem um roteiro definido e dificilmente existe uma única adequada, disseminando interativa, mediante o
solução para um problema, as abordagens metodológicas informações aos ambiente para estudantes.
requeridas são mais reflexivas. estudantes ["Um sábio ["Um guia ao lado"]
Finemann e Bootz147 salientam que, na teoria sobre o palco"]
construtivista, ocorre um deslocamento do centro do O professor busca os pontos
conhecimento de uma fonte externa ao aprendiz para um local O professor busca as de vista dos estudantes para
residente em seu interior. A colaboração torna-se crítica respostas corretas para entender seus conceitos
porque é importante reconhecer a perspectiva única de cada validar a aprendizagem presentes para uso nas
estudante e apoiar a negociação social do significado. Quando lições subsequentes
o aprendiz dialoga, cada estudante fica exposto a múltiplas Avaliação da Ao ensino e ocorre através
perspectivas do ambiente, aprofundando seu entendimento aprendizagem é vista da observação avaliação da
através da interação com os outros. O papel do professor como separada do ensino e aprendizagem está
também se desloca da figura autoritária para a figura de ocorre, quase que interligada do professor
mentor. Brooks e Brooks148 fazem uma interessante totalmente, através de sobre o trabalho dos
comparação entre as salas de aula "tradicionais" e as testes estudantes
"construtivistas", apresentadas no quadro 1.

145NCREL. North Central Regional Educational Laboratory (1997) Pathways 148apud DOWLING, Woody. Integrating Constructivist Principles. Art &

to school improvement. Technology Integration ATI Workshop, 1995.


146BENAIM, D. Memorandum for Dalton School's Educational Policy 149apud DOWLING, Woody. Integrating Constructivist Principles. Art &

Committee. nov. 1995 Technology Integration ATI Workshop, 1995.


147FINEMANN, E. e BOOTZ, S. An introduction to constructivism in

Instructional Design. 1995 Technology and Teacher Education Annual. University


of Texas, Austin. 1995.

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Estudantes trabalham Estudantes trabalham III. constrói conhecimentos em situação espontânea, desde
fundamentalmente fundamentalmente em que conviva com o sistema de escrita e obtenha algumas
sozinhos grupos informações sobre seu funcionamento.
Está correto o que se afirma apenas em:
Brooks e Brooks apresentam uma lista dos princípios que (A) l.
devem guiar o trabalho de um professor construtivista. (B) I e II.
Os professores construtivistas: (C) II e III.
1. encorajam e aceitam a autonomia e iniciativa dos (D) I e III.
estudantes (E) III.
2. usam dados básicos e fontes primárias juntamente com
materiais manipulativos, interativos e físicos. 03. (Prefeitura de Nilópolis/RJ – Professor I –
3. usam a terminologia "classificar", "analisar", "predizer" FUNRIO/2016) Emilia Ferreiro se tornou uma espécie de
e "criar" quando estruturam as tarefas referência para o ensino brasileiro e seu nome passou a ser
4. permitem que os estudantes conduzam as aulas, alterem ligado ao construtivismo, campo de estudo inaugurado pelas
estratégias instrucionais e conteúdo descobertas a que chegou o biólogo suíço Jean Piaget (1896-
5. questionam sobre a compreensão do estudante antes de 1980) na investigação dos processos de aquisição e elaboração
dividir seus próprios conceitos sobre o tema. de conhecimento pela criança - ou seja, de que modo ela
6. encorajam os estudantes a dialogar com o professor e aprende. As pesquisas de Emilia Ferreiro, que estudou e
entre si trabalhou com Piaget, concentram o foco nos mecanismos
7. encorajam os estudantes a resolverem problemas cognitivos relacionados à leitura e à escrita.
abertos e perguntarem uns aos outros. Disponível em: http://novaescola.org.br/conteudo/338/emilia-ferreiro-
estudiosa-que-revolucionou-alfabetizacao. Acesso em: 20 out. 2016.
8. estimula que os estudantes assumem responsabilidades
A partir das produções teóricas de Emilia Ferreiro, é
9. envolvem os estudantes em experiências que podem
possível compreender a escrita infantil.
envolver contradições às hipóteses inicialmente estabelecidas
Com base no referencial de Emília Ferreiro, está CORRETA
e estimulam a discussão
a afirmação contemplada na seguinte alternativa:
10. proporcionam um tempo de espera depois de
(A) observa-se que a criança elabora hipóteses acerca da
estabelecer as questões
língua escrita, sendo função da escola promover o avanço
11. proporcionam tempo para que os estudantes
dessas hipóteses até a escrita convencional.
construam relações e metáforas
(B) a criança sempre aprende, naturalmente, a ler e
12. mantém a curiosidade do aluno através do uso
escrever, sem interferência da escola.
frequente do modelo de ciclo de aprendizagem.
(C) desde que viva numa sociedade letrada, a criança
aprenderá a escrita convencional, sem interferência da escola.
Resumindo, pode-se concluir que o quesito mais
(D) somente no ambiente escolar, aplicando-se métodos e
importante para a construção de um "ambiente construtivista"
técnicas de alfabetização, com etapas demarcadas, é possível
é que o professor realmente conscientize-se da importância do
levar a criança ao uso correto da escrita convencional.
"educador-educando", e que todos os processos de
aprendizagem passam necessariamente por uma interação
04. (SEARH/RN – Especialista de Educação - Suporte
muito forte entre o sujeito da aprendizagem e o objeto, aqui
Pedagógico – IDECAN/2016) “Na abordagem _________, o
simbolizando como objeto o todo envolvido no processo, seja
principal nome é o de L. S. Vygotsky, psicólogo russo que viveu
o professor, o computador, os colegas, o assunto. Somente a
e desenvolveu seus estudos durante os anos 30. Esta
partir desta interação completa é que poderemos dizer que
abordagem proposta por Vygotsky tinha como principal veia a
estamos "construindo" novos estágios de conhecimento, tanto
interação entre os indivíduos. No Ocidente, no entanto, sua
no aprendiz como no feiticeiro.
‘teoria’ só ficou conhecida a partir dos anos 80 e 90.”
Assinale a alternativa que completa corretamente a
Questões
afirmativa anterior.
(A) humanista
01. (Prefeitura de São Luís/MA – Técnico Municipal
(B) comportamentalista
Nível Superior – CESPE/2017) De acordo com a teoria
(C) construtivista interacionista
proposta por Piaget, as quatro principais forças que moldam o
(D) construtivista sociointeracionista
desenvolvimento da criança e que trazem implicações
importantes na educação são a equilibração,
05. (Prefeitura de Martinópolis/SP – Professor PEB I –
(A) a interiorização, a experiência pessoal e o meio social.
Big Advice/2017) A concepção de construção de
(B) a maturação, a experiência ativa e a interação social.
conhecimentos pelas crianças em situações de interação social
(C) as forças orgânicas, a consciência e a categorização.
foi pesquisada, com diferentes enfoques e abordagens, por
(D) o construtivismo, o desenvolvimento e a acomodação.
vários autores, dentre eles: Jean Piaget, Lev Semionovitch
(E) a assimilação, os aspectos genéticos e o crescimento.
Vygotsky e Henry Wallon. Nas últimas décadas, esses
conhecimentos que apresentam tanto convergências como
02. (Prefeitura de Rio Branco/AC – Professor de Ensino
divergências, têm influenciado marcadamente o campo da
Fundamental – IBADE/2017) Interpretando os
educação. Sob o nome de _______ reúnem-se as ideias que
desdobramentos do construtivismo, podem-se ressaltar
preconizam tanto a ação do sujeito, como o papel significativo
alguns princípios básicos que levariam o professor a ter outra
da interação social no processo de aprendizagem e
postura perante o aluno. O aprendiz é visto como um sujeito
desenvolvimento da criança. Assinale a alternativa que
que:
preenche corretamente a lacuna:
I. tem acesso à escrita na sociedade antes de passar por um
(A) Construtivista.
processo sistemático de ensino na escola.
(B) Cognitivista.
II. tem um processo abstrato de pensamento, de modo que
(C) Comportamental.
cada “erro” de escrita indica uma hipótese sobre o conteúdo
(D) Humanista.
do sistema alfabético de escrita.
(E) Tecnicista.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 190


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Respostas pessoas, na medida em que elas passam a se interessar e se


sentir responsáveis por tudo que representa interesse comum.
01. B. / 02. D. / 03. A. / 04. D. / 05. A. Assumir responsabilidades, escolher e inventar novas
formas de relações coletivas faz parte do processo de
participação e trazem possibilidades de mudanças que
Planejamento e gestão atendam a interesses mais coletivos.
educacional. Gestão da A participação social começa no interior da escola, por
meio da criação de espaços nos quais professores,
aprendizagem. funcionários, alunos, pais de alunos etc. possam discutir
criticamente o cotidiano escolar. Nesse sentido, a função da
escola é formar indivíduos críticos, criativos e participativos,
Gestão democrática e a mobilização da equipe com condições de participar criticamente do mundo do
escolar150 trabalho e de lutar pela democratização da educação. A escola,
no desempenho dessa função, precisa ter clareza de que o
E por falar em gestão, como proceder de forma mais processo de formação para uma vida cidadã e, portanto, de
democrática nos sistemas de ensino e nas escolas públicas? gestão democrática passa pela construção de mecanismos de
participação da comunidade escolar, como: Conselho Escolar,
A participação é educativa tanto para a equipe gestora Associação de Pais e Mestres, Grêmio Estudantil, Conselhos de
quanto para os demais membros das comunidades escolar e Classes etc.
local. Ela permite e requer o confronto de ideias, de Para que a tomada de decisão seja partilhada e coletiva, é
argumentos e de diferentes pontos de vista, além de expor necessária a efetivação de vários mecanismos de participação,
novas sugestões e alternativas. Maior participação e tais como: o aprimoramento dos processos de escolha ao cargo
envolvimento da comunidade nas escolas produzem os de dirigente escolar; a criação e a consolidação de órgãos
seguintes resultados: colegiados na escola (conselhos escolares e conselho de
classe); o fortalecimento da participação estudantil por meio
- Respeito à diversidade cultural, à coexistência de ideias e da criação e da consolidação de grêmios estudantis; a
de concepções pedagógicas, mediante um diálogo franco, construção coletiva do Projeto Político-Pedagógico da escola;
esclarecedor e respeitoso; a redefinição das tarefas e funções da associação de pais e
- Formulações de alternativas, após um período de mestres, na perspectiva de construção de novas maneiras de
discussões onde as divergências são expostas. se partilhar o poder e a decisão nas instituições.
- Tomada de decisões mediante procedimentos aprovados Não existe apenas uma forma ou mecanismo de
por toda a comunidade envolvida participação. Entre os mecanismos de participação que podem
- Participação e convivência de diferentes sujeitos sociais em ser criados na escola, destacam-se: o conselho escolar, o
um espaço comum de decisões educacionais. conselho de classe, a associação de pais e mestres e o grêmio
A gestão democrática dos sistemas de ensino e das escolas escolar.
públicas requer a participação coletiva das comunidades
escolar e local na administração dos recursos educacionais Conselho escolar
financeiros, de pessoal, de patrimônio, na construção e na O conselho escolar é um órgão de representação da
implementação dos projetos educacionais. comunidade escolar. Trata-se de uma instância colegiada que
Mas para promover a participação e deste modo deve ser composta por representantes de todos os segmentos
implementar a gestão democrática da escola, procedimentos da comunidade escolar e constitui-se num espaço de discussão
prévios podem ser observados: de caráter consultivo e/ou deliberativo. Ele não deve ser o
- Solicitar a todos os envolvidos que explicitem seu único órgão de representação, mas aquele que congrega as
comprometimento com a alternativa de ação escolhida; diversas representações para se constituir em instrumento
- Responsabilizar pessoas pela implementação das que, por sua natureza, criará as condições para a instauração
alternativas acordadas; de processos mais democráticos dentro da escola. Portanto, o
- Estabelecer normas prévias sobre como os debates e as conselho escolar deve ser fruto de um processo coerente e
decisões serão realizados; efetivo de construção coletiva. A configuração do conselho
- Estabelecer regras adequadas à igualdade de participação escolar varia entre os estados, entre os municípios e até
de todos os segmentos envolvidos; mesmo entre as escolas. Assim, a quantidade de
- Articular interesses comuns, ideias e alternativas representantes eleitos, na maioria das vezes, depende do
complementares, de forma a contribuir para organizar tamanho da escola, do número de classes e de estudantes que
propostas mais coletivas. ela possui.
- Esclarecer como a implementação das ações serão
acompanhadas e supervisionadas; Conselho de classe
- Criar formas de divulgação das ideias e alternativas em O conselho de classe é mais um dos mecanismos de
debate como também do processo de decisão. participação da comunidade na gestão e no processo de
ensino-aprendizagem desenvolvido na unidade escolar.
Gestão democrática implica compartilhar o poder, Constitui-se numa das instâncias de vital importância num
descentralizando-o. Como fazer isso? Incentivando a processo de gestão democrática, pois "guarda em si a
participação e respeitando as pessoas e suas opiniões; possibilidade de articular os diversos segmentos da escola e
desenvolvendo um clima de confiança entre os vários tem por objeto de estudo o processo de ensino, que é o eixo
segmentos das comunidades escolar e local; ajudando a central em torno do qual desenvolve-se o processo de trabalho
desenvolver competências básicas necessárias à participação escolar" (DALBEN, 1995). Nesse sentido, entendemos que o
(por exemplo, saber ouvir, saber comunicar suas ideias). A conselho de classe não deve ser uma instância que tem como
participação proporciona mudanças significativas na vida das função reunir-se ao final de cada bimestre ou do ano letivo
para definir a aprovação ou reprovação de alunos, mas deve

150 Dourado, L. F.Progestão: como promover, articular e envolver a ação das

pessoas no processo de gestão escolar? Brasília : CONSED – Conselho Nacional de


Secretários de Educação, 2001.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 191


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APOSTILAS OPÇÃO

atuar em espaço de avaliação permanente, que tenha como - Reconhecer que existe uma discrepância entre a situação
objetivo avaliar o trabalho pedagógico e as atividades da real (o que é) e o que gostaríamos que fosse (o que pode vir a
escola. Nessa ótica, é fundamental que se reveja a atual ser).
estrutura dessa instância, rediscutindo sua função, sua - Identificar possíveis razões para essa discrepância.
natureza e seu papel na unidade escolar. - Elaborar um plano de ação para minimizar ou solucionar
esses problemas.
Associação de pais e mestres
A associação de pais e mestres, enquanto instância de Envolvendo a comunidade na gestão da escola
participação, constitui-se em mais um dos mecanismos de A gestão escolar constitui um modo de articular pessoas e
participação da comunidade na escola, tornando-se uma experiências educativas, atingir objetivos da instituição
valiosa forma de aproximação entre os pais e a instituição, escolar, administrar recursos materiais, coordenar pessoas,
contribuindo para que a educação escolarizada ultrapasse os planejar atividades, distribuir funções e atribuições. Em
muros da escola e a democratização da gestão seja uma síntese, se estabelecem, intencionalmente, contatos entre as
conquista possível. pessoas, os recursos administrativos, financeiros e jurídicos na
construção do projeto pedagógico da escola. A gestão
Grêmio estudantil democrática, por sua vez, requer, dentre outros, a participação
Numa escola que tem como objetivo formar indivíduos da comunidade nas ações desenvolvidas na escola. Envolver a
participativos, críticos e criativos, a organização estudantil comunidades escolar e local é tarefa complexa, pois articula
adquire importância fundamental. interesses, sentimentos e valores diversos. Nem sempre é fácil,
O grêmio estudantil constitui-se em mecanismo de mas compete às equipes gestoras pensar e desenvolver
participação dos estudantes nas discussões do cotidiano estratégias para motivar as pessoas a se envolver e participar
escolar e em seus processos decisórios, constituindo-se num na vida da escola. As possibilidades de motivação são várias,
laboratório de aprendizagem da função política da educação e desde a concepção e o uso dos espaços escolares até a
do jogo democrático. Possibilita, ainda, que os estudantes organização do trabalho pedagógico. A mobilização das
aprendam a se organizarem politicamente e a lutar pelos seus pessoas pode começar quando elas se defrontam com
direitos. situações-problema. As dificuldades nos incentivam a criar
Articulado ao processo de constituição de mecanismos de novas formas de organização, de participar das decisões para
participação colegiada dentro da escola destaca-se também a resolvê-las. Espaços de discussão possibilitam trabalhar ideias
necessidade da participação e acompanhamento da aplicação divergentes na construção do projeto educativo. Como criar,
dos recursos financeiros, tanto na escola como nos sistemas de ou então fortalecer, ambientes que favoreçam a participação?
ensino. A responsabilidade de acompanhar e fiscalizar a Na construção de ambientes de participação e mobilização de
aplicação dos recursos para a educação é de toda a sociedade. pessoas, algumas estratégias tornam-se fundamentais.
Todos os envolvidos direta e indiretamente são chamados a se Vejamos algumas:
responsabilizar pelo bom uso das verbas destinadas à
educação. Nesse sentido, pais, alunos, professores, servidores - Estar atento às solicitações da comunidade.
administrativos, associação de bairros, ou seja, as - Ouvir com atenção o que os membros da comunidade têm
comunidades escolar e local têm o direito de participar, por a dizer.
meio dos diferentes conselhos criados para essa finalidade. - Delegar responsabilidades ao máximo possível de pessoas.
- Mostrar a responsabilidade e a importância do papel de
O processo de participação na escola produz, também, cada um para o bom andamento do processo.
efeitos culturais importantes. Ele ajuda a comunidade a - Garantir a palavra a todos.
reconhecer o patrimônio das instituições educativas – escolas, - Respeitar as decisões tomadas em grupo.
bibliotecas, equipamentos – como um bem público comum, - Criar ambientes físicos confortáveis para assembleias e
que é a expressão de um valor reconhecido por todos, o qual reuniões.
oferece vantagens e benefícios coletivos. Sua utilização por -
algumas pessoas não exclui o uso pelas demais. É um bem de Estimularcadapresentenasreuniõesounasassembléiasaserespon
todos; todos podem e devem zelar pelo seu uso e sua adequada sabilizar por trazer, pelo menos, mais uma pessoa para o
conservação. A manutenção e o desenvolvimento de um bem próximo encontro.
público comum requerem algumas condições: - Tornar a escola um espaço de sociabilidade.
1. Recursos financeiros adequados, regulares e bem - Valorizar o trabalho participativo.
gerenciados, de modo a oferecer as mesmas condições de uso, - Destacar a importância da integração entre as pessoas.
acesso e permanência nas escolas a alunos em condições - Submeter o trabalho desenvolvido na escola às avaliações
sociais desiguais; da comunidade e dos conselhos ou órgãos colegiados.
2. Transparência administrativa e financeira com o - Valorizar a presença de cada um e de todos.
controle público de ações e decisões. Desse modo, cabe ao - Desenvolver projetos educativos voltados para a
gestor informar com clareza e em tempo hábil a relação dos comunidade em geral, não só para os alunos.
recursos disponíveis, fazer prestações de contas, promover o - Ressaltar a importância da comunidade na identidade da
registro preciso e claro das decisões tomadas em reuniões; unidade escolar.
3. Processo participativo de tomada de decisões, - Tornar o espaço escolar disponível para comunidade.
implementação, acompanhamento e avaliação. Ressaltamos
que o cotidiano de trabalho das escolas deve ter por referência Gestão escolar para o sucesso do ensino e da
um projeto pedagógico construído coletivamente e o apreço às aprendizagem151
decisões tomadas pelos órgãos colegiados representativos. Práticas de organização e gestão e escolas bem-
sucedidas
Em síntese, a gestão democrática do ensino pressupõe uma Pesquisas acerca dos elementos da organização escolar
maneira de atuar coletivamente, oferecendo aos membros das que interferem no sucesso escolar dos alunos mostram que o
comunidades local e escolar oportunidades para: modo como funciona uma escola faz diferença em relação aos

151 LIBÂNEO, J. C. Organização e gestão da escola: teoria e prática; 6ª edição,

São Paulo, Heccus Editora, 2013.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 192


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resultados escolares dos alunos. Embora as escolas não sejam participação, separação entre o administrativo e o pedagógico.
iguais, essas pesquisas indicam características organizacionais Abdalla indica os inconvenientes dessa concepção
úteis para compreensão do funcionamento das escolas, funcionalista e produtiva: “A organização se fecha, os
considerados os contextos e as situações escolares específicos. professores se individualizam, as interações se enfraquecem,
Os aspectos a seguir aparecem em várias dessas pesquisas: regras são impostas, potencializa-se o campo do poder com
vistas a controlar as estruturas administrativas e
a) Em relação aos professores: boa formação pedagógicas”.
profissional, autonomia profissional, capacidade de assumir Na perspectiva da escola como organização social, para
responsabilidade pelo êxito ou fracasso de seus alunos, além da visão “administrativa”, as organizações escolares são
condições de estabilidade profissional, formação abordadas como unidades sociais formadas de pessoas que
profissional em serviço, disposição para aceitar inovações atuam em torno de objetivos comuns, portanto, como lugares
com base nos seus conhecimentos e experiências; de relações interpessoais. A escola é uma organização em
capacidade de análise crítico-reflexiva. sentido amplo, uma “unidade social que reúne pessoas que
b) Quanto à estrutura organizacional: sistema de interagem entre si, intencionalmente, e que opera através de
organização e gestão, plano de trabalho com metas bem estruturas e processos próprios, a fim de alcançar os objetivos
definidas e expectativas elevadas; competência específica e da instituição”.
liderança efetiva e reconhecida da direção e coordenação Destas duas perspectivas ampliou-se a compreensão da
pedagógica; integração dos professores e articulação do escola como lugar de aprendizagem, de compartilhamento de
trabalho conjunto e participativo; clima de trabalho saberes e experiências, ou seja, um espaço educativo que gera
propício ao ensino e à aprendizagem; práticas de gestão efeitos nas aprendizagens de professores e alunos. As formas
participativa; oportunidades de reflexão conjunta e trocas de organização e de gestão adquirem dois novos sentidos:
de experiências entre os professores; a) o ambiente escolar é considerado em sua dimensão
c) Autonomia da escola, criação de identidade própria, educativa, ou seja, as formas de organização e gestão, o estilo
com possibilidade de projeto próprio e tomada de decisões das relações interpessoais, as rotinas administrativas, a
sobre problemas específicos; planejamento compatível com organização do espaço físico, os processos de tomada de
as realidades locais; decisão e controle sobre uso de decisões, etc., são também práticas educativas;
recursos financeiros; planejamento participativo e gestão b) as escolas são tidas como instituições aprendentes,
participativa, bom relacionamento entre os professores, portanto, espaço de formação e aprendizagem, em que as
responsabilidades assumidas em conjunto; pessoas mudam com as organizações e as organizações
d) Prédios adequados e disponibilidade de condições mudam com as pessoas.
materiais, recursos didáticos, biblioteca e outros, que
propiciem aos alunos oportunidades concretas para A organização escolar como lugar de práticas
aprender; educativas e de aprendizagem
e) Quanto à estrutura curricular: adequada seleção e A escola entendida como espaço de compartilhamento de
organização dos conteúdos; valorização das aprendizagens idéias, práticas socioculturais e institucionais, valores,
acadêmicas e não apenas das dimensões sociais e atitudes de modos de agir, tem recebido várias denominações,
relacionais; modalidades de avaliação formativa; com diferentes justificativas: comunidade de aprendizagem,
organização do tempo escolar de forma a garantir o comunidade de práticas, comunidade aprendente,
máximo de tempo para as aprendizagens e o clima para o organizações aprendentes, aprendizagem colaborativa, entre
estudo; acompanhamento de alunos com dificuldades de outras. Adotaremos aqui a noção de ensino como “atividade
aprendizagem. situada em contextos”.
f) Participação dos pais nas atividades da escola; Conforme a teoria histórico-cultural da atividade a
investimento em formar uma imagem pública positiva da atividade humana mediatiza a relação entre o ser humano e o
escola. meio físico e social. Esta relação é histórico-social, isto é,
depende das práticas sociais anteriores, de modo que a
Essas características reforçam a ideia de que a qualidade atividade conjunta acumulada historicamente influencia a
de ensino depende de mudanças no âmbito da organização atividade presente das pessoas. Ao mesmo tempo, o ser
escolar, envolvendo a estrutura física e as condições de humano, ao pôr-se em contato com o mundo dos objetos e
funcionamento, a estrutura organizacional, a cultura fenômenos, atua sobre essa realidade modificando-a e
organizacional, as relações entre alunos, professores, transformando-se a si mesmo. Este entendimento decorre da
lei genética do desenvolvimento cultural, segundo a qual
funcionários, as práticas colaborativas e participativas. É a
“todas as funções no desenvolvimento da criança aparecem
escola como um todo que deve responsabilizar-se pela
duas vezes: primeiro, no nível social e, depois, no nível
aprendizagem dos alunos, especialmente em face dos
individual. Primeiro, entre pessoas (interpsicológica) e,
problemas sociais, culturais, econômicos, enfrentados
depois, no interior da criança (intrapsicológica)”. Esse
atualmente.
princípio acentua as origens sociais do desenvolvimento
Ampliando o conceito de organização e de gestão de mental individual, especialmente o peso atribuído às
escolas mediações culturais. Sendo assim, os contextos socioculturais
Para a perspectiva que compreende a escola apenas como e institucionais atuam na formação do pensamento conceitual
organização administrativa, também conhecida como o que, em outras palavras, significa dizer que as práticas
perspectiva técnico-racional, a organização e gestão da escola sociais em que uma pessoa está envolvida influenciam o modo
diz respeito, comumente, à estrutura de funcionamento, às de pensar dessa pessoa.
formas de coordenação e gestão do trabalho, ao
A teoria da atividade, assim, possibilita compreender a
estabelecimento de normas administrativas, ao provimento e
influência das práticas socioculturais e institucionais nas
utilização dos recursos materiais e financeiros, aos
aprendizagens e o papel dos indivíduos em modificar essas
procedimentos administrativos, etc., que formam o conjunto
práticas. De que práticas se trata? Elas referem-se tanto ao
de condições e meios de garantir o funcionamento da escola. A
contexto mais amplo da sociedade (o sistema econômico, as
concepção técnico-racional reduz as formas de organização
contradições sociais, por exemplo), quanto ao contexto mais
apenas a esses aspectos, prevalecendo uma visão burocrática
próximo, por exemplo, a comunidade em que está inserida a
de organização, decisões centralizadas, baixo grau de

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 193


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escola, as práticas de organização e gestão, o tipo de onde se compartilham significados, criam-se outros modos de
relacionamento entre as pessoas da escola, as atitudes dos agir, mudam-se práticas, recria-se a cultura vigente, aprende-
professores, as rotinas cotidianas, o clima organizacional, o se com a participação real de seus membros. As ações
material didático, o espaço físico, o edifício escolar, etc. Desse realizadas na escola nesta perspectiva implicam a adoção de
modo, as práticas sociais e culturais que ocorrem nos vários formas de participação real das pessoas nas decisões em
espaços da escola são, também, mediações culturais, que relação ao projeto pedagógico-curricular, ao desenvolvimento
atuam na aprendizagem das pessoas (professores, do currículo, às formas de avaliação e acompanhamento da
especialistas, funcionários, alunos). aprendizagem escolar, às normas de funcionamento e
Tais práticas institucionais afetam significativamente o convivência, etc.
significado e o sentido, ou seja, atuam, positivamente ou
negativamente, na motivação e na aprendizagem dos alunos, já Para uma revisão das práticas de organização e gestão
que, de alguma forma, eles participam nessas práticas. das escolas
Conclui-se que não é possível à escola atingir seus
O ensino é, portanto, uma atividade situada, ou seja, é uma objetivos de melhoria da aprendizagem escolar dos alunos
prática social que se realiza num contexto de cultura, de sem formas de organização e gestão, tanto como provimento
relações e de conhecimento, histórica e socialmente de condições e meios para o funcionamento da escola, quanto
construídos. Isso significa que não é apenas na sala de aula que como práticas socioculturais e institucionais com caráter
os alunos aprendem, eles aprendem também com os contextos formativo. Uma revisão das práticas de organização e gestão
socioculturais, com as interações sociais, com as formas de precisa considerar cinco aspectos, que apresentamos a seguir:
organização e de gestão, de modo que a escola pode ser vista
como uma organização aprendente, uma comunidade a) As práticas de organização e gestão devem estar
democrática de aprendizagem. As pessoas – alunos, voltadas à aprendizagem dos alunos.
professores, funcionários - respondem, com suas ações, a um As práticas de organização e gestão, a participação dos
contexto institucional e pedagógico preparado para produzir professores na gestão, o trabalho colaborativo, estão a serviço
mudanças qualitativas na sua personalidade e na sua da melhoria do ensino e da aprendizagem. Mencionou-se
aprendizagem. anteriormente que o que faz a diferença entre as escolas é o
grau em que conseguem melhorar a qualidade da
A noção de cultura organizacional é útil para compreender aprendizagem escolar dos alunos. Desse modo, uma escola
melhor o papel educativo das práticas de organização e gestão. bem organizada e gerida é aquela que cria as condições
Ela é constituída do conjunto dos significados, modos de organizacionais, operacionais e pedagógico-didáticas que
pensar e agir, valores, comportamentos, modos de funcionar permitam o bom desempenho dos professores em sala de aula,
que revelam a identidade, os traços característicos, de uma de modo que todos os seus alunos sejam bem sucedidos em
instituição – escola, empresa, hospital, prisão, etc. - e das suas aprendizagens.
pessoas que nela trabalham. A cultura organizacional sintetiza
os sentidos que as pessoas dão às coisas e situações, gerando b) A qualidade do ensino depende do exercício eficaz da
um modo característico de pensar, de perceber coisas e de agir. direção e da coordenação pedagógica
Isso explica, por exemplo, a aceitação ou resistência frente a Há boas razões para crer que a instituição escolar não pode
inovações, certos modos de tratar os alunos, as formas de prescindir de ações básicas que garantem o seu
enfrentamento de problemas de disciplina, a aceitação ou não funcionamento: formular planos, estabelecer objetivos, metas
de mudanças na rotina de trabalho, etc. Segundo o sociólogo e ações; estabelecer normas e rotinas em relação a recursos
francês Forquin “A escola é, também, um mundo social, que tem físicos, materiais e financeiros; ter uma estrutura de
suas características de vida próprias, seus ritmos e seus ritos, sua funcionamento e definição clara de responsabilidades dos
linguagem, seu imaginário, seus modos próprios de regulação e integrantes da equipe escolar; exercer liderança; organizar e
de transgressão, seu regime próprio de produção e de gestão de controlar as atividades de apoio técnico-administrativo;
símbolos”. cuidar das questões da legislação e das diretrizes pedagógicas
Essa afirmação mostra que, nas escolas, para além e curriculares; cobrar responsabilidades das pessoas;
daquelas diretrizes, normas, procedimentos operacionais, organizar horários, rotinas, procedimentos; estabelecer
rotinas administrativas, há aspectos de natureza sociocultural formas de relacionamento entre a escola e a comunidade,
que as diferenciam umas das outras, a maior parte deles pouco especialmente com as famílias; efetivar ações de avaliação do
perceptíveis ou explícitos, traço que em estudos sobre currículo e dos professores; cuidar das condições do edifício
currículo tem sido denominado de “currículo oculto”. Essas escolar e de todo o espaço físico da escola; assegurar materiais
diferenças aparecem nas formas de interação entre as pessoas, didáticos e livros na biblioteca.
nas crenças, valores, significados, modos de agir, configurando
práticas que se projetam nas normas disciplinares, na relação Tais ações representam, sem dúvida, o primeiro conjunto
dos professores com os alunos na aula, na cantina, nos de competências de diretores e coordenadores pedagógicos.
corredores, na preparação de alimentos e distribuição da Falamos da escola como espaço de compartilhamento, lugar de
merenda, nas formas de tratamento com os pais, na aprendizagem, comunidade democrática de aprendizagem,
metodologia de aula etc. gestão participativa, etc., mas as escolas precisam ser
organizadas e geridas como garantia de efetivação dos seus
As atividades compartilhadas entre direção, objetivos. Uma escola democrática tem por tarefa propiciar a
professores e alunos. todos os alunos, sem distinção, educação e ensino de
A cultura organizacional aparece sob duas formas: como qualidade, o que põe a exigência de justiça. Isto supõe
cultura instituída e como cultura instituinte. A cultura estrutura organizacional, regras explícitas e sua aplicação
instituída refere-se a normas legais, estrutura organizacional igual para todos sem privilégios ou discriminações, garantia de
definida pelos órgãos oficiais, rotinas, grade curricular, ambiente de estudo e aprendizagem, tratamento das pessoas
horários, normas disciplinares etc. A cultura instituinte é conforme critérios públicos e justificados. Por mais que tais
aquela que os membros da escola criam, recriam, nas suas exigências pareçam como excesso de “racionalidade”, elas se
relações e na vivência cotidiana, podendo modificar a cultura justificam pelo fato de as escolas serem unidades sociais em
instituída. Neste sentido, as escolas são espaços de que pessoas trabalham juntas em agrupamentos humanos
aprendizagem, comunidades democráticas de aprendizagem intencionalmente constituídos, visando objetivos de

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 194


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aprendizagem. As escolas recebem hoje alunos de diferentes realidade, é preciso que o projeto pedagógico-curricular dê
origens sociais, culturais, familiares, portadores vivos das respostas a esta pergunta: em que comportamentos
contradições da sociedade. É preciso que o grupo de dirigentes cognitivos, afetivos, físicos, morais, estéticos, etc., queremos
e professores definam formas de gestão e de convivência que intervir, de forma a produzir mudanças qualitativas no
regulem a organização da vida escolar e as práticas desenvolvimento e aprendizagem dos alunos?
pedagógicas, precisamente para conter tendências de Além disso, é necessário ter clareza sobre os objetivos da
discriminação e desigualdade social e assegurar a todos o escola que, em minha opinião, é o de garantir a todos os alunos
usufruto da escolarização de qualidade. uma base cultural e científica comum e uma base comum de
formação moral e de práticas de cidadania, baseadas em
c) A organização e a gestão implicam a gestão critérios de solidariedade e justiça, na alteridade, na
participativa e a gestão da participação descoberta e respeito pelo outro, no aprender a viver junto.
A organização da escola requer atender a duas Isto significa: uma escolarização igual, para sujeitos diferentes,
necessidades: a participação na gestão, enquanto requisito por meio de um currículo comum a todos, na formulação de
democrático, e a gestão da participação, como requisito Gimeno Sacristán. A partir de uma base comum de cultura
técnico. Por um lado, as escolas precisam cultivar os processos geral para todos, o currículo para sujeitos diferentes significa
democráticos e colaborativos de trabalho, em função da acolher a diversidade e a experiência particular dos diferentes
convivência e da tomada de decisões. Por outro, precisam grupos de alunos, propiciando na escola e nas salas de aula, um
funcionar bem tecnicamente, a fim de poder atingir espaço de diálogo e comunicação. Um dos mais relevantes
eficazmente seus objetivos, o que implica a gestão da objetivos democráticos no ensino será fazer da escola um lugar
participação. A gestão participativa significa alcançar de forma em que todos os alunos e alunas possam experimentar sua
colaborativa e democrática os objetivos da escola. A própria forma de realização e sucesso. Para tudo isso, são
participação é o principal meio de tomar decisões, de necessárias formas de execução, gestão e avaliação do projeto
mobilizar as pessoas para decidir sobre os objetivos, os pedagógico-curricular.
conteúdos, as formas de organização do trabalho e o clima de
trabalho desejado para si próprias e para os outros. A e) A atividade conjunta dos professores na elaboração e
participação se viabiliza por interação comunicativa, diálogo, avaliação das atividades de ensino
discussão pública, busca de consensos e de superações de A modalidade mais rica e eficaz de formação docente
conflitos. Nesse sentido, a melhor forma de gestão é aquela que continuada ocorre pela atividade conjunta dos professores na
criar um sistema de práticas interativas e colaborativas para discussão e elaboração das atividades orientadoras de ensino.
troca de idéias e experiências para chegar a ideias e ações É assim porque a formação continuada passa a ser entendida
comuns. como um modo habitual de funcionamento do cotidiano da
escola, um modo de ser e de existir da escola. Para Moura, o
Já a gestão da participação implica repensar as práticas de projeto pedagógico se concretiza mediante a realização de
gestão, seja para assegurar relações interativas, democráticas atividades pedagógicas. Para isso, os professores realizam
e solidárias, seja para buscar meios mais eficazes de ações compartilhadas que exigem troca de significados,
funcionamento da escola. A gestão da participação refere-se à possibilitando ampliar o conhecimento da realidade. Desse
coordenação, acompanhamento e avaliação do trabalho das modo, “a coletividade de formação constitui-se ao desenvolver
pessoas, como garantia para assegurar o sistema de relações a ação pedagógica. É essa constituição da coletividade que
interativas e democráticas. Para isso, faz-se necessária uma possibilita o movimento de formação do professor”.
bem definida estrutura organizacional, responsabilidades
claras e formas eficazes de tomada de decisões grupais. As Questões
exigências de gestão e liderança por parte de diretores e
coordenadores se justificam cada vez mais em face de 01. (IF-PI- Pedagogo- FUNRIO) Os estudos sobre a
problemas que incidem no cotidiano escolar: problemas administração escolar não é novo, bem como a da organização
sociais e econômicos das famílias, problemas de disciplina do trabalho aí realizado.
manifestos em agressão verbal, uso de armas, uso de drogas, É sempre útil distinguir, no estudo desta questão, a
ameaças a professores, violência física e verbal. Os problemas existência de duas concepções, que norteiam as análises: a
se acentuam com a inexperiência ou precária formação científico-racional e a crítico, de cunho sócio-político.
profissional de muitos professores que levam a dificuldades no Na primeira delas, que é o modelo mais comum de
manejo da sala de aula, no exercício da autoridade, no diálogo funcionamento das instituições de ensino, as escolas dão muita
com os alunos. Constatar esses problemas implica que não ênfase à estrutura organizacional, que pode ser planejada,
pensemos apenas em mudanças curriculares ou organizada e controlada, de modo a alcançar maiores índices
metodológicas, mas em formas de organização do trabalhado de eficácia e eficiência, uma vez que a organização escolar se
escolar que articulem, eficazmente, práticas participativas e embasa numa percepção de “realidade objetiva, neutra,
colaborativas com uma sólida estrutura organizacional. técnica, que funciona racionalmente".
Na segunda concepção, a organização escolar se estabelece
d) Projeto pedagógico-curricular bem concebido e “basicamente como um sistema que agrega pessoas,
eficazmente executado importando bastante a intencionalidade e as interações
O projeto pedagógico-curricular é uma declaração de sociais, o contexto sócio-político etc., constituindo-se numa
intenções do grupo de profissionais da escola, é expressão da construção social a ser construída pelos professores, alunos,
coletividade escolar. Em sua elaboração, é sumamente pais e integrantes da comunidade próxima, caracterizada pelo
relevante levar-se em conta a cultura da escola ou a cultura interesse público.
organizacional e, também, seu papel de instituidor de outra A visão crítica da escola resulta em diferentes formas de
cultura organizacional. Para isso, uma recomendação inicial é viabilização da...
de que a equipe de dirigentes e professores tenha (A) administração empresarial.
conhecimento e sensibilidade em relação às necessidades (B) administração escolar.
sociais e demandas da comunidade local e do próprio (C) gestão democrática.
funcionamento da escola, de modo a ter clareza sobre as (D) gestão empresarial.
mudanças a serem esperadas nos alunos em relação ao seu (E) administração colegiada.
desenvolvimento e aprendizagem. Com base nos dados da

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 195


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02. (IF-PB- Técnico em Assuntos Educacionais- IF-PB) De acordo com o texto, qual é o modelo de gestão que
Dentre os princípios e características da gestão escolar possibilita a distribuição do poder e incentiva o trabalho
participativa, destaca-se a autonomia como o fundamento da coletivo e as decisões tomadas em conjunto com os
concepção democrático-participativa de gestão escolar. Com envolvidos?
base nessa informação, a autonomia na concepção (A) Gestão participativa
democrático-participativa de gestão escolar está expressa (B) Gestão autoritária
em: (C) Gestão por competência
(A) A faculdade de uma pessoa de autogovernar-se, decidir (D) Gestão mecanicista
sobre o próprio destino, gerenciamento das ações e recursos
financeiros. Respostas
(B) A organização escolar depende exclusivamente de
decisões do poder central. 01. C. / 02. A. / 03. A.
(C) O êxito da gestão da escola está no controle emanado
pelo poder central.
(D) A gestão da autonomia não implica O Professor: formação e
corresponsabilidade dos membros da equipe escolar.
(E) A autonomia é um princípio que implica que um líder profissão.
tome as decisões para que os demais membros possam
participar do processo de gestão.
Uma abordagem sobre o papel do professor152
A inquietação acerca do papel do professor e da atuação da
03. (IF-MT- Auxiliar em Administração- UFMT) escola frente à formação do educando no processo de ensino e
aprendizagem vem, ao longo tempo, gerando estudos entre os
O novo gestor escolar pesquisadores com o objetivo de ressaltar-se a importância do
professor na prática educativa, assim como sua atuação que
Escrito por Roberta Braga deve estar voltada para a produção do conhecimento do aluno.
Publicado em 03, Novembro de 2014. Não existe quem ensina ou quem aprende, mas quem aprende
a aprender.
Considerando-se a escola como o espaço onde acontece a
intervenção pedagógica, e o professor mediador da
formação do aluno, percebe-se a necessidade de se
estabelecer um diálogo entre esses segmentos, objetivando
adequar o conhecimento difundido no contexto escolar as
práticas sociais. O professor deve atuar comprometido com
essa difusão do conhecimento, mas sempre voltado à pesquisa,
socializando suas buscas e experiências durante a prática
educativa, para a melhoria da qualidade de ensino.
Na realidade, o professor é consciente de como é
importante sua atuação na formação de pensadores, contudo
o programa curricular preestabelecido pela escola tem o
propósito de preparar o aluno para ingressar numa
universidade. Com isso o professor não tem a liberdade ou o
As mudanças na sociedade, nas famílias e na forma de as apoio para conduzir suas aulas, então o ensino volta-se para a
pessoas perceberem a vida são constantes. Ideais autoritários transmissão de conteúdos e os alunos permanecem no papel
ficam cada vez mais enfraquecidos, e ações colaborativas de repetidores.
ganham mais força. A escola como ambiente de convívio e Observa-se que a responsabilidade de educar, hoje, recai
educação é impactada por essas mudanças de comportamento. tão somente sobre a escola, especialmente sobre a figura do
Nesse cenário, o gestor escolar passa a ter papel ainda mais professor. Contudo, o ato de educar compete a todas as
importante, uma vez que a maneira como a escola é instituições sociais comprometidas com o desenvolvimento do
administrada pode refletir um melhor ambiente, tanto de país, principalmente a família – uma das instituições mais
trabalho quanto de aprendizagem. antigas – deve ter sua coparticipação junto à escola, uma vez
Apesar de não existir uma receita pronta de administração que é ela que compete a transmissão de valores morais. Essa
que funcione em todas as escolas, alguns princípios ajudam a parceria deve visar à formação do educando, a fim de que este
nortear o trabalho dos gestores [...]. “A tendência é de uma exerça sua autonomia e liberdade frente as suas atividades no
gestão em que o poder é distribuído, em que existe incentivo contexto escolar e no seu convívio em sociedade.
ao trabalho coletivo e às decisões tomadas em conjunto com Dessa forma, falar do papel do professor no processo
os envolvidos", observa Helena Machado de Paula ensino e aprendizagem é mostrar como deve ser permeada sua
Albuquerque, doutora em Educação e coordenadora do curso prática, para que esta não seja como um mero transmissor
de especialização em Gestão Educacional e Escolar da de informações, mas como um gerenciador do
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Para a conhecimento, valorizando a experiência e o conhecimento
especialista, o momento atual pelo qual o sistema de ensino internalizado de seu aluno na busca de sua formação como
passa é o de perceber as novas necessidades e migrar, pouco a pessoa capaz de pensar, criar e vivenciar o novo, assim
pouco, para esse tipo de gestão. “Nós ainda estamos como da formação de sua cidadania.
engatinhando para perceber a escola como ela está e atender
às necessidades reais do processo educativo", considera [...].
(Disponível em http://www.gestaoeducacional.com.br/. Acesso em
13/07/2015.)

152 Texto adaptado de Wilandia Mendes de Oliveira, disponível em

https://www.inesul.edu.br

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 196


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O papel do professor no processo de ensino e b) Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a


aprendizagem proposta pedagógica do estabelecimento de ensino;
Durante muito tempo a prática educativa era centrada no c) Zelar pela aprendizagem dos alunos;
professor. Este repassava os conteúdos, os alunos absorviam d) Estabelecer estratégias de recuperação dos alunos de
ou memorizavam sem qualquer reflexão ou indagação. Ao menor rendimento;
final, o conteúdo era cobrado em forma de uma avaliação. Esse e) Ministrar os dias letivos e horas-aula estabelecidos,
tipo de informação, repassada e memorizada, destoa além de participar integralmente dos períodos dedicados ao
completamente da proposta de um novo ensino na busca da planejamento, à avaliação e ao desenvolvimento profissional;
produção do conhecimento. Essa prática pedagógica em nada f) Colaborar com as atividades de articulação da escola
contribui para o aspecto cognitivo do aluno. com as famílias e a comunidade.
Hoje, não se pede um professor que seja mero transmissor
de informações, ou que aprende no ambiente acadêmico o que Percebe-se que o papel do professor, segundo a LDB, é
vai ser ensinado aos alunos, mas um professor que produza o mais do que transmitir informações, em uma gestão
conhecimento em sintonia com o aluno. democrática, ele deve participar da elaboração da
Não é suficiente que ele saiba o conteúdo de sua disciplina, proposta pedagógica do estabelecimento de ensino, como
ele precisa não só interagir com outras disciplinas, como também estabelecer os objetivos, as metas a serem
também conhecer o aluno. Conhecer o aluno faz parte do papel alcançadas, uma vez que é ele que tem maior contato com o
desempenhado pelo professor pelo fato de que ele necessita aluno e é de sua responsabilidade a construção de uma
saber o que ensinar, para que e para quem, ou seja, como o educação cidadã. O artigo também fala com relevância sobre o
aluno vai utilizar o que aprendeu na escola em sua prática que o professor deve priorizar em relação à aprendizagem do
social. aluno, buscando meios que venham favorecer aqueles que
Dessa forma, Libâneo153 afirma que o professor medeia à apresentam dificuldades durante o processo. É importante que
relação ativa do aluno com a matéria, inclusive com os o professor participe das atividades da escola em conjunto
conteúdos próprios de sua disciplina, mas considerando o com as famílias dos alunos e a comunidade.
conhecimento, a experiência e o significado que o aluno traz à Por isso, na sua prática pedagógica, o professor não pode
sala de aula, seu potencial cognitivo, sua capacidade e ser omisso diante dos fatos sócio históricos locais e mundiais,
interesse, seu procedimento de pensar, seu modo de trabalhar. e precisa entender não apenas de sua disciplina, mas também
Nesse sentido o conhecimento de mundo ou o conhecimento como de política, ética, família, para que o processo de ensino
prévio do aluno tem de ser respeitado, explorando e ampliado. e aprendizagem seja efetivado na sua plenitude dentro da
Ensinar bem não significa repassar os conteúdos, mas realidade do aluno.
levar o aluno a pensar, criticar. Percebe-se que o professor tem Reforça Cury155 que os educadores, apesar das suas
a responsabilidade de preparar o aluno para se tornar um dificuldades, são insubstituíveis, porque a gentileza, a
cidadão ativo dentro da sociedade, apto a questionar, debater solidariedade, a tolerância, a inclusão, os sentimentos
e romper paradigmas. Cury154 afirma que a exposição altruístas, enfim todas as áreas da sensibilidade não podem ser
interrogada gera a dúvida, a dúvida gera o estresse positivo, e ensinadas por máquinas, e sim por seres humanos.
este estresse abre as janelas da inteligência. Assim formamos Conclui-se com essa afirmação que o professor é a alma do
pensadores, e não repetidores de informações. estabelecimento de ensino. Ele tem a tarefa importante de
A dúvida nessa exposição é um aspecto positivo, pois gera formar cidadãos e de desenvolver neles a capacidade crítica da
a curiosidade, levando o aluno a refletir e buscar respostas. O realidade, para que possam utilizar o que aprenderam na
autor citado enfatiza que a exposição interrogada escola em diversas situações e/ou lugares.
transforma a informação em conhecimento e esse Se os professores entrassem nos mundos que existem na
conhecimento, em experiência e o melhor, o professor não distração dos seus alunos, eles ensinariam melhor. Tornar-se-
mais é persuasivo, ou o que convence, mas o que provoca e iam companheiros de sonho e invenção. Muitas vezes a
estimula a inteligência. Diante disso, ele desempenha, no distração dos alunos leva-os para outro mundo fora da sala de
processo de ensino e aprendizagem, o papel de gerenciador e aula, mas a um mundo de criações, de sonhos, de desejos de
não de detentor do conhecimento. realização de algo que permeia sua vida. É importante o
Numa sociedade que está sempre em transformação, o professor conhecer o mundo do aluno para dar significado à
professor contribui com seu conhecimento e sua experiência, sua prática educativa. Pois a realização desta se dá quando
tornando o aluno crítico e criativo. Deve estar voltado ao existe o processo de compreensão professor-aluno, aluno-
ensino dialógico, uma vez que os seres humanos aprendem professor. Essa compreensão está no sentido de que ambos
interagindo com os outros. É o processo aprender a aprender. caminham juntos na produção do conhecimento.
O professor deve provocar o aluno passivo para que se Zagury156 afirma que o professor precisa mostrar a beleza
torne num aluno sujeito da ação. e o poder das ideias, mesmo que use apenas os recursos de que
A Lei nº 9.394/96 estabelece as diretrizes e bases da dispõe: quadro-negro e giz. Observa-se nessa afirmação que a
educação nacional, decretando a todo cidadão o direito a aula pode ser bem positiva e agradável, sem os grandes
educação, abrangendo processos formativos que se recursos que permeiam todas as atividades humanas e em
desenvolvem desde a família às manifestações culturais. Esta todos os lugares: os recursos tecnológicos.
Lei disciplina que a educação escolar se desenvolva por meio Antes de qualquer decisão acerca da educação, é preciso
do ensino em instituições próprias, mas devendo vincular-se ouvir o professor. É ele que acompanha o aluno, medeia o
ao mundo do trabalho e às práticas sociais. conhecimento, faz parte do processo pedagógico efetivamente.
É ele que enfrenta as dificuldades de aprendizagem do aluno,
Dessa forma, no artigo 13 da LDB, que tem como título “Da as carências afetivas destes, e principalmente sabe como
Organização da Educação Nacional”, trata-se sobre as funções adequar os conhecimentos prévios dos educandos aos
do professor, como sendo: conteúdos curriculares da escola. Nesse sentido, o professor
a) Participar da elaboração da proposta pedagógica do precisa também sentir-se motivado a caminhar frente às
estabelecimento de ensino; exigências da sociedade. Apoiá-lo nas decisões do que é

153 LIBÂNEO, José Carlos. Adeus professor, adeus professora: novas exigências 155 Idem
educacionais e profissão docente. São Paulo: Cortez, 1998. 156 ZAGURY, Tânia. Fala mestre. In: NOVA ESCOLA, nº 192, p.20-22, maio,
154 CURY, Augusto Jorge. Pais brilhantes, professores fascinantes. Rio de 2006.
Janeiro: Sextante, 2003.

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melhor para o aluno e escutá-lo por sua vez, porque é com ele Para melhor compreensão dessas expressões, utilizaremos
que o aluno passa o tempo em que está na escola. E o educando o entendimento de Freitas (1992)157, que nos parece
precisa ter consciência de sua responsabilidade, respeitando apropriado para isso. Segundo esse autor, profissional da
as exigências da escola. educação é “aquele que foi preparado para desempenhar
determinadas relações no interior da escola ou fora dela,
Questões onde o trato com o trabalho pedagógico ocupa posição de
destaque, constituindo mesmo o núcleo central de sua
01. (Colégio Pedro II – Técnico em assuntos formação”. Portanto, não há identificação de “trabalho
educacionais – AOCP) Um projeto de trabalho docente deve: pedagógico com docência, (...) sendo este um dos aspectos da
(A) Evitar as possibilidades de ruptura com o estabelecido atuação do profissional da educação”. No entanto, ainda de
no processo de ensino e de aprendizagem. acordo com Freitas, há que se reafirmar que a formação do
(B) Prever com certeza os caminhos e os resultados a profissional da educação é a “sua formação como educador,
serem alcançados. com ênfase na atuação como professor”.
(C) Considerar que a vontade e a inteligência são capazes Dessa forma, a Lei coloca como finalidade da formação
de promover mudanças. dos profissionais da educação atender aos objetivos dos
(D) Aumentar a qualidade e a eficácia do ensino. diferentes níveis e modalidades de ensino e às
(E) Opor- se a perspectiva do conhecimento globalizado. características de cada fase de desenvolvimento do
educando.
02. (UTFPR – Assistente de Aluno) Analise as afirmativas Assim, criar condições e meios para se atingir os objetivos
abaixo: da educação básica é a razão de ser dos profissionais da
I) Elaborar e cumprir plano de trabalho, segundo a educação. Formação com tal finalidade terá por fundamentos,
proposta pedagógica do estabelecimento de ensino. segundo a Lei, “a associação entre teorias e práticas, inclusive
II) Zelar pela aprendizagem dos alunos. mediante capacitação em serviço” e “o aproveitamento da
III) Estabelecer estratégias de recuperação para os alunos formação e experiências anteriores”, adquiridas, estas, não só
de menor rendimento. em instituições de ensino, mas também em “outras
atividades”, que não do ensino.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, essas são atribuições dos: 2. Práticas pedagógicas e docência
(A) Docentes. Afinal de contas, o que é uma prática pedagógica? Talvez
(B) Discentes. essa pergunta seja muito frequente entre alunos e professores.
(C) Assistentes de aluno. Percebe-se, em suas falas, certa tendência em considerar como
(D) Monitores. pedagógico apenas o roteiro didático de apresentação de aula,
(E) Educandos ou seja, apenas o visível dos comportamentos utilizados pelo
professor durante uma aula.
03. (CISCOPAR – Pedagogo) A elaboração e o Dessa situação, decorrem alguns questionamentos:
cumprimento do plano de trabalho, segundo a proposta
pedagógica do estabelecimento de ensino é dever do: A) Prática docente é sempre uma prática pedagógica?
(A) Aluno. B) Existe prática pedagógica fora das escolas, além das
(B) Diretor salas de aula?
(C) Secretário. C) O que é, afinal de contas, o pedagógico?
(D) Professor. D) O que caracteriza uma prática pedagógica?
(E) Pedagogo.
Essas similaridades são mais bem compreendidas a partir
Respostas da diferenciação proposta por Carr158 entre o conceito
de poiesis e o de práxis. O autor considera que a primeira é uma
01. D. / 02. A. / 03. D. forma de saber fazer não reflexivo, ao contrário da última, que
é, eminentemente, uma ação reflexiva. Nessa perspectiva, a
prática docente não se fará inteligível como forma de poiesis,
A pesquisa na prática ou seja, como ação regida por fins prefixados e governada por
regras predeterminadas. A prática educativa, de modo amplo,
docente. só adquirirá inteligibilidade quando for regida por critérios
éticos imanentes, que, segundo Carr159, servem para distinguir
uma boa prática de uma prática indiferente ou má.
Práticas pedagógicas É preferível considerar esses critérios éticos, a fim de
distinguir uma prática tecida pedagogicamente - vista como
1. Bases Legais para a Prática Pedagógica na Educação práxis - de outra apenas tecnologicamente tecida - identificada
Básica como poiesis. Assim, realça-se o pressuposto que será o fio
Com a aprovação da Nova Lei de Diretrizes e Bases da condutor do texto: há práticas docentes construídas
Educação Nacional (LDB), o dia 20/12/96 assinala um pedagogicamente e há práticas docentes construídas sem a
momento de transição significativo para a educação brasileira, perspectiva pedagógica, num agir mecânico que desconsidera
o Chefe do Poder Executivo sancionou a Lei 9.394/96, a construção do humano. Esse aspecto é destacado
denominando-a “Lei Darcy Ribeiro”. por Pinto160, ao abordar a técnica como produto do humano,
Assim, a nova LDB, ao estabelecer a finalidade e os diferente da técnica como produtora do humano. Isso remete
fundamentos da formação profissional, utiliza a expressão a uma possível mistificação da técnica no campo pedagógico,
formação de profissionais da educação e, mais adiante, refere- supervalorizando-a como produtora das práticas. Considera-
se à formação de docentes. se que, nas práticas pedagogicamente construídas, há a

157 FREITAS, Luís Carlos. Em direção a uma política para a formação de 159 Idem
professores. Brasília, ano 12, nº 54, abr./jun. 1992. 160 PINTO, A. V. O conceito de tecnologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2005.
158 CARR, W. Una teoria para la educación: hacia una investigación educativa

crítica. Madrid: Morata, 1996.

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mediação do humano e não a submissão do humano a um comunicação. Como pode a Pedagogia mediar tais influências?
artefato técnico previamente construído. Como transformá-las em processos pedagógicos numa
Assim, uma aula ou um encontro educativo tornar-se-á perspectiva emancipadora? Como educar/formar mediando
uma prática pedagógica quando se organizar em torno de tantas influências educacionais? São questões que impõem um
intencionalidades, bem como na construção de práticas que grande desafio às práticas pedagógicas e à Pedagogia: como
conferem sentido às intencionalidades. Será prática incorporar nas práticas escolares essa multiplicidade de
pedagógica quando incorporar a reflexão contínua e coletiva, influências e trabalhar pedagogicamente a partir delas?
de forma a assegurar que a intencionalidade proposta é
disponibilizada a todos; será pedagógica à medida que buscar A.1 Diferentes concepções de pedagogia e de práticas
a construção de práticas que garantam que os pedagógicas
encaminhamentos propostos pelas intencionalidades possam Em pesquisa teórica realizada sobre a epistemologia da
ser realizados. Pedagogia163, observou-se que, desde o século 19, quando
Nesse aspecto, uma prática pedagógica, em seu sentido de Herbart preconiza o princípio de uma cientificidade rígida à
práxis, configura-se sempre como uma ação consciente e Pedagogia, ele também impõe um fechamento epistemológico
participativa, que emerge da multidimensionalidade que cerca a essa ciência, de tal forma que, para ser ciência, teve que
o ato educativo. Como conceito, entende-se que ela se deixar de ser Pedagogia, em seu sentido lato, pois seu objeto -
aproxima da afirmação de Gimeno161 de que a prática a educação - foi se restringindo à instrução, ao visível, ao
educativa é algo mais do que expressão do ofício dos aparente, ao observável do ensino, e, assim, foi apreendida
professores; é algo que não pertence por inteiro aos pela racionalidade científica da época.
professores, uma vez que há traços culturais compartilhados Essa associação da Pedagogia às tarefas apenas
que formam o que pode ser designado por subjetividades instrucionais tem marcado um caminho de impossibilidades à
pedagógicas (Franco162). No entanto, destaca-se que o conceito prática pedagógica. Como teoria da instrução, a Pedagogia
de prática pedagógica poderá variar dependendo da contenta-se com a organização da transmissão de
compreensão de pedagogia e até mesmo do sentido que se informações, e, dessa forma, a prática pedagógica -
atribui a prática. pressuposta a essa perspectiva teórica - será voltada à
transmissão de conteúdos instrucionais. A partir de diferentes
A) Práticas educativas e práticas pedagógicas configurações, essa Pedagogia, de base técnico-científica,
É comum considerar que práticas pedagógicas e práticas alastrou-se pelo mundo com variadas interpretações.
educativas sejam termos sinônimos e, portanto, unívocos. No Quando se afirma que as práticas pedagógicas são práticas
entanto, quando se fala de práticas educativas, faz-se que se realizam para organizar/potencializar/interpretar as
referência a práticas que ocorrem para a concretização de intencionalidades de um projeto educativo, argumenta-se a
processos educacionais, ao passo que as práticas pedagógicas favor de outra epistemologia da Pedagogia: uma epistemologia
se referem a práticas sociais que são exercidas com a crítico-emancipatória, que considera ser a Pedagogia uma
finalidade de concretizar processos pedagógicos. Fala-se, prática social conduzida por um pensamento reflexivo sobre o
então, de práticas da Educação e práticas da Pedagogia. que ocorre nas práticas educativas, bem como por um
Contudo, Pedagogia e Educação são conceitos e práticas pensamento crítico do que pode ser a prática educativa.
distintas? A grande diferença é a perspectiva de ser crítica e não
Trata-se de conceitos mutuamente articulados, porém, normativa; de ser práxis e não treinamento; de ser dialética e
com especificidades diferentes. Pode-se afirmar que a não linear. Nessa perspectiva, as práticas pedagógicas
educação, numa perspectiva epistemológica, é o objeto de realizam-se como sustentáculos à prática docente, num
estudo da Pedagogia, enquanto, numa perspectiva diálogo contínuo entre os sujeitos e suas circunstâncias, e não
ontológica, é um conjunto de práticas sociais que atuam e como armaduras à prática, que fariam com que esta perdesse
influenciam a vida dos sujeitos, de modo amplo, difuso e sua capacidade de construção de sujeitos.
imprevisível. No entanto, constata-se que essa epistemologia crítica da
Por sua vez, a Pedagogia pode ser considerada uma prática Pedagogia tem estado cada vez mais distante das práticas
social que procura organizar/compreender/transformar as educativas contemporâneas. Segundo essa perspectiva, é
práticas sociais educativas que dão sentido e direção às possível falar em esgotamento da racionalidade pedagógica. A
práticas educacionais. Pode-se dizer que a Pedagogia impõe esfera da reflexão, do diálogo e da crítica parece cada vez mais
um filtro de significado à multiplicidade de práticas que ausente das práticas educativas contemporâneas, as quais
ocorrem na vida das pessoas. A diferença é de foco, estão sendo substituídas por pacotes instrucionais prontos,
abrangência e significado, ou seja, a Pedagogia realiza um filtro cuja finalidade é, cada vez mais, preparar crianças e jovens
nas influências sociais que, em totalidade, atuam sobre uma para as avaliações externas, a fim de galgarem um lugar nos
geração. Essa filtragem, que é o mecanismo utilizado pela ação vestibulares universitários. A educação, rendendo-se à
pedagógica, é, na realidade, um processo de regulação e, como racionalidade econômica, não mais consegue dar conta de suas
tal, um processo educativo. possibilidades de formação e humanização das pessoas.
Reitera-se, assim, Pedagogia como prática social, que Como esses dois polos da racionalidade pedagógica são
oferece/impõe/propõe/indica uma direção de sentido às fundamentais à compreensão da variabilidade de
práticas que ocorrem na sociedade, realçando seu caráter interpretação do sentido de prática pedagógica, faz-se aqui
eminentemente político. No entanto, essa direção de sentido uma digressão para especificar suas diferenças, destacando-se
está cada vez mais complexa e difusa na sociedade atual. que, entre ambos os polos, há um continuum de possibilidades:
Processos vinculados a mídias como TV, internet e redes
sociais on-line passam a ter, no século atual, grande influência - Racionalidade pedagógica técnico-científica:
educacional sobre as novas gerações, competindo com as A base teórica desta vertente inicia-se no racionalismo
escolas, que ficam em desigualdade de condições. empirista, encontrando grande expressão no positivismo e em
A escola e suas práticas pedagógicas têm tido dificuldades suas várias vertentes - evolucionismo, pragmatismo,
em mediar e potencializar as tecnologias da informação e tecnicismo, behaviorismo. Com base na confluência de

161 GIMENO SACRISTÁN, J. Poderes instáveis em educação. Porto Alegre: 163 FRANCO, M. A. R. S. A pedagogia como ciência da educação: entre

Artmed, 1999. epistemologia e prática. 2001. 257 f. Tese (Doutorado em Educação) - Faculdade
162 FRANCO, M. A. R. S. Pedagogia e prática docente. 2. ed. São Paulo: Cortez, de Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2001.
2012

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diversas teorias cognitivas do conhecimento (desde Ausubel a enquanto estiver abastecendo e sustentando a práxis,
Piaget, de Bruner e Gagné a Wallon e Vygotsky, entre outros Severino.
autores), há um desvio quer para a tecnologia educacional, A partir de Marx, houve diversos desdobramentos,
quer para uma psicologia genética, que fundamentará a promovidos por autores como Lukács, Althusser, Gramsci, que
questão do construtivismo na aprendizagem, que Severino164 procuraram oferecer diversas perspectivas à dialética
chama de transpositivismo. marxista.
Um estudo dos pressupostos dessa racionalidade mostra O princípio básico dos pressupostos da racionalidade
que, em sua raiz, essa concepção admite como válido apenas o pedagógica crítico-emancipatória é a historicidade enquanto
conhecimento obtido por meio do método experimental- condição para compreensão do conhecimento. Ademais, a
matemático, ocorrendo, portanto, uma ênfase no objeto e no realidade se constitui num processo histórico - atingido, a cada
princípio da objetividade. Abandona-se qualquer momento, por múltiplas determinações -, fruto das forças
possibilidade metafísica, uma vez que é impossível chegar às contraditórias que ocorrem no interior da própria realidade.
essências das coisas; pode-se apenas chegar aos fenômenos, Portanto, sujeito e objeto estão em formação contínua e
em sua manifestação empírica, por meio das luzes da razão. dialética, evoluindo por contradição interna, não de modo
Segundo Severino165, "os diferentes modos de intervenção da determinista, mas por meio da intervenção dos homens
razão na construção do objeto vão marcar as diversas mediante a prática. Marx propõe uma filosofia da práxis, uma
perspectivas das epistemologias que se inserem na tradição vez que o conhecimento, a reflexão e o trabalho não devem ser
positivista". encarados para compreensão de sentido, mas para realização
Essa concepção parte de uma visão mecanicista de mundo de ações concretas com vistas à transformação do social.
e de uma concepção naturalista de homem; busca a No que se refere aos objetivos de sua ação pedagógica, a
neutralidade do pesquisador e tem como foco a explicação dos questão direcionada à Pedagogia será a de formação de
fenômenos. indivíduos "na e para a práxis", conscientes de seu papel na
Em que pesem todas as diferenças das diversas conformação e na transformação da realidade sócio histórica,
abordagens dessa concepção, no estudo dos objetivos de sua pressupondo sempre uma ação coletiva, ideologicamente
ação pedagógica é necessário lembrar que o pressuposto constituída, por meio da qual cada sujeito toma consciência do
positivista surge para laicizar a educação, difundir os valores que é possível e necessário, a cada um, na formação e no
burgueses, organizar a estabilidade social do Estado. Carrega, controle da constituição do modo coletivo de vida. É uma
também, a intenção de organizar os processos de instrução tarefa política, social e emancipatória. A formação humana é
com eficiência e eficácia. Sua perspectiva é de normatizar e valorizada no sentido das condições de superação da opressão,
prescrever a prática, para fins sociais relevantes (fins esses submissão e alienação, do ponto de vista histórico, cultural ou
estabelecidos, em geral, exteriormente aos sujeitos que político. Considere-se que a proposta de projetos político-
aprendem e ensinam). A partir do pragmatismo, são realçadas pedagógicos, como organizadores da esfera pedagógica da
as questões da democracia e do preparo para a vida social, que escola, parte dessa perspectiva teórica.
talvez hoje estejam sendo representadas pelo empenho na Infelizmente, esses projetos, inseridos nessa perspectiva
formação de competências e habilidades, subsidiando um crítica, estão cada vez mais distanciados do coletivo de seus
pressuposto pré-requisito à participação social e às políticas sujeitos e têm se apresentado de forma burocrática e alheia a
de avaliação e de regulação das práticas pedagógicas, agora estes. Veiga169, ao diferenciar projetos pedagógicos de cunho
inseridas na lógica neoliberal, com discursos de inclusão regulatórios ou emancipatórios, afirma que:
social, que, no entanto, vêm fragilizando os processos O projeto político-pedagógico, na esteira da inovação
formativos de construção de humanidade. A dupla lógica de regulatória ou técnica, está voltado para a burocratização da
regulação/mercantilização é bem expressa por Gentili166: instituição educativa, transformando-a em mera cumpridora
Em suma, a saída que o neoliberalismo encontra para a de normas técnicas e de mecanismos de regulação
crise educacional é produto da combinação de uma dupla convergentes e dominadores.
lógica centralizadora e descentralizadora: centralizadora do Percebe-se, portanto, que falar de prática pedagógica é
controle pedagógico (em nível curricular, de avaliação do falar de uma concepção de Pedagogia e, além disso, do papel
sistema e de formação docente) e descentralização dos relacional dessa ciência com o exercício da prática docente.
mecanismos de financiamento e gestão do sistema. Dessa forma, só é possível ajuizar um conceito para práticas
Esta dupla lógica tem se mostrado cruel ao pedagógicas quando for definida a priori a concepção de
desenvolvimento de processos críticos de ensinar/aprender e Pedagogia, de prática docente e, fundamentalmente, a relação
tem produzido rupturas profundas na racionalidade epistemológica entre Pedagogia e prática docente.
pedagógica. No presente artigo, considera-se que a Pedagogia e suas
práticas são fundamentos para o exercício da prática docente.
- Racionalidade pedagógica crítico-emancipatória: Em se considerando a importância de estudos
A base desta concepção vem de Heráclito a Hegel, contemporâneos que reafirmam a nova epistemologia da
chegando a Marx e Engels. Segundo Severino167, Hegel vincula prática, na qual diferentes pesquisadores sublinham a
a historicidade ao logos, concebendo a própria realidade como importância do sujeito-docente que elabora a realidade,
dialética. Feuerbach, Marx e Engels, conhecidos como neo- transformando-a e transformando-se no processo, afirma-se
hegelianos, apropriam-se da metodologia dialética "enquanto neste artigo que a prática pedagógica docente está
lógica e enquanto lei do processo histórico", Severino168. Marx profundamente relacionada aos aspectos multidimensionais
preocupa-se com a história das sociedades e concebe o da realidade local e específica, às subjetividades e à construção
conhecimento em associação às configurações sociais. "Assim, histórica dos sujeitos individuais e coletivos. A prática docente
o marxismo subordina a questão epistemológica à questão é uma prática relacional, mediada por múltiplas
política", afirmando, inclusive, que o logos só se sustenta determinações. Caldeira e Zaidan170, enfatizam os seguintes

164 SEVERINO, A. J. A filosofia contemporânea no Brasil: conhecimento, 168 Idem.


política e educação. Petrópolis: Vozes , 1999. 169 VEIGA, I. P. A. Inovações e projeto político-pedagógico: uma relação
165 SEVERINO, A. J. A filosofia contemporânea no Brasil: conhecimento, regulatória ou emancipatória? Cadernos Cedes, Campinas, v. 23, n. 61, p. 267-281,
política e educação. Petrópolis: Vozes , 1999. dez. 2003.
166 GENTILI, P. A falsificação do consenso: simulacro e imposição na reforma 170 CALDEIRA, A. M. S.; ZAIDAN, S. Prática pedagógica. In: OLIVEIRA, D. A.;

educacional do neoliberalismo. Petrópolis: Vozes, 1998. DUARTE, A. C.; VIEIRA, L. M. F. (Org.). Dicionário: trabalho, profissão e condição
167 Idem. docente. Belo Horizonte: Gestrado/UFMG, 2010.

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aspectos que marcam as particularidades do professor no e expectativas profissionais, além dos processos de formação
contexto geral da prática pedagógica: "sua experiência, sua e dos impactos sociais e culturais do espaço ensinante, entre
corporeidade, sua formação, condições de trabalho e escolhas outros aspectos que conferem uma enorme complexidade a
profissionais". este momento da docência.
O planejamento do ensino, por mais eficiente que seja, não
B) O que são, afinal, práticas pedagógicas? poderá controlar a imensidão de aprendizagens possíveis que
As práticas pedagógicas se organizam intencionalmente cercam um aluno. Como saber o que o aluno aprendeu? Como
para atender a determinadas expectativas educacionais planejar o próximo passo de sua aprendizagem? Precisamos
solicitadas/requeridas por uma dada comunidade social. de planejamento prévio de ensino ou de acompanhamento
Nesse sentido, elas enfrentam, em sua construção, um dilema crítico e dialógico dos processos formativos dos alunos?
essencial: sua representatividade e seu valor advêm de pactos Evidentemente, precisamos de ambos!
sociais, de negociações e deliberações com um coletivo. Ou A contradição sempre está posta nos processos educativos:
seja, as práticas pedagógicas se organizam e se desenvolvem o ensino só se concretiza nas aprendizagens que produz. E as
por adesão, por negociação, ou, ainda, por imposição. Como já aprendizagens, em seu sentido amplo, bem estudadas pelos
foi realçado, essas formas de concretização das práticas pedagogos cognitivistas, decorrem de sínteses interpretativas,
produziram faces diferentes para a perspectiva científica da realizadas nas relações dialéticas do sujeito com seu meio. Não
Pedagogia. são imediatas ou previsíveis; ocorrem mediante interpretação
Mas há que se lembrar de que mesmo as grandes pelo sujeito dos sentidos criados, das circunstâncias atuais e
imposições sobre a organização das práticas têm "tempo de antigas, enfim: não há correlação direta entre ensino e
validade". Se se considerar a realidade social e sua natureza aprendizagem. É quase possível dizer que as aprendizagens
essencialmente dialética, é preciso acreditar na dinâmica ocorrem sempre para além, ou para aquém do planejado;
posta pelas contradições: tudo se transforma; tudo é ocorrem nos caminhos tortuosos, lentos, dinâmicos das
imprevisível; e a linearidade não cabe nos processos trajetórias dos sujeitos. Radicalizando essa posição, Deleuze172
educativos. Certeau171, sabiamente afirma que as práticas afirma que jamais será possível saber e controlar como alguém
nunca são totalmente reflexos de imposições - elas reagem, aprende.
respondem, falam e transgridem. Os processos de concretização das tentativas de ensinar e
Uma questão recorrente que surge entre alunos ou aprender ocorrem por meio das práticas pedagógicas. Estas
participantes de palestras refere-se à seguinte dúvida: Toda são vivas, existenciais, interativas e impactantes, por natureza.
prática docente é prática pedagógica? Nem sempre! A prática As práticas pedagógicas são aquelas que se organizam para
docente configura-se como prática pedagógica quando esta se concretizar determinadas expectativas educacionais. São
insere na intencionalidade prevista para sua ação. Assim, um práticas carregadas de intencionalidade uma vez que o próprio
professor que sabe qual é o sentido de sua aula em face da sentido de práxis se configura por meio do estabelecimento de
formação do aluno, que sabe como sua aula integra e expande uma intencionalidade, que dirige e dá sentido à ação,
a formação desse aluno, que tem a consciência do significado solicitando uma intervenção planejada e científica sobre o
de sua ação, tem uma atuação pedagógica diferenciada: ele objeto, com vistas à transformação da realidade social. Tais
dialoga com a necessidade do aluno, insiste em sua práticas, por mais planejadas que sejam, são imprevisíveis,
aprendizagem, acompanha seu interesse, faz questão de pois nelas "nem a teoria, nem a prática tem anterioridade, cada
produzir o aprendizado, acredita que este será importante uma modifica e revisa continuamente a outra" (Carr173).
para o aluno. Dessa forma é possível perceber o perigo que ronda os
É possível afirmar que o professor que está imbuído de sua processos de ensino quando este se torna excessivamente
responsabilidade social, que se vincula ao objeto do seu técnico, planejado e avaliado apenas em seus produtos finais.
trabalho, que se compromete, que se implica coletivamente ao A educação se faz em processo, em diálogos, nas múltiplas
projeto pedagógico da escola, que acredita que seu trabalho contradições, que são inexoráveis, entre sujeitos e natureza,
significa algo na vida dos alunos, tem uma prática docente que mutuamente se transformam. Medir apenas resultados e
pedagogicamente fundamentada. Ele insiste, busca, dialoga, produtos de aprendizagens, como forma de avaliar o ensino,
mesmo que não tenha muitas condições institucionais para tal. pode se configurar como uma grande falácia.
As práticas pedagógicas devem se estruturar como
B.1 Pedagogia e práticas pedagógicas instâncias críticas das práticas educativas, na perspectiva de
A pedagogia e suas práticas são da ordem da práxis; assim transformação coletiva dos sentidos e significados das
ocorrem em meio a processos que estruturam a vida e a aprendizagens.
existência. A pedagogia caminha por entre culturas, O professor, no exercício de sua prática docente, pode ou
subjetividades, sujeitos e práticas. Caminha pela escola, mas a não se exercitar pedagogicamente. Ou seja, sua prática
antecede, acompanha-a e caminha além. A pedagogia interpõe docente, para se transformar em prática pedagógica, requer,
intencionalidades, projetos alargados; a didática, pelo menos, dois movimentos: o da reflexão crítica de sua
paralelamente, compromete-se a dar conta daquilo que se prática e o da consciência das intencionalidades que presidem
instituiu chamar de saberes escolares. A lógica da didática é a suas práticas. A consciência ingênua de trabalho174 impede-o
lógica da produção da aprendizagem (nos alunos), a partir de de caminhar nos meandros das contradições postas e, além
processos de ensino previamente planejados. A prática da disso, impossibilita sua formação na esteira da formação de
didática é, portanto, uma prática pedagógica, que inclui a um profissional crítico.
didática e a transcende.
Quando se fala em prática pedagógica, refere-se a algo B.2 Princípios da prática pedagógica
além da prática didática, envolvendo: as circunstâncias da É interessante especificar os princípios que organizam
formação, os espaços-tempos escolares, as opções da uma prática pedagógica na perspectiva crítica:
organização do trabalho docente, as parcerias e expectativas - As práticas pedagógicas organizam-se em torno de
do docente. Ou seja, na prática docente estão presentes não só intencionalidades previamente estabelecidas, e tais
as técnicas didáticas utilizadas, mas, também, as perspectivas

171 CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes, 173 CARR, W. Una teoria para la educación: hacia una investigación educativa

1994. crítica. Madrid: Morata, 1996.


172 DELEUZE, G. Diferença e repetição. Tradução Luiz Orlandi e Roberto 174 FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

Machado. Rio de Janeiro: Graal, 2006. 1979.

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intencionalidades serão perseguidas ao longo do processo preparado para isso? A ausência da reflexão, o tecnicismo
didático, de formas e meios variados. exagerado, as desconsiderações aos processos de contradição
Na práxis, a intencionalidade rege os processos. Para a e de diálogo podem resultar em espaços de engessamento das
filosofia marxista, práxis é entendida como a relação dialética capacidades de discutir/propor/mediar concepções didáticas.
entre homem e natureza, na qual o homem, ao transformar a A ausência do espaço pedagógico pode significar o
natureza com seu trabalho, transforma a si mesmo. crescimento do espaço de dificuldade ao diálogo. Sabe-se que
Marx e Engels175 afirmam, "que toda vida social é o diálogo só ocorre na práxis (Freire181), a qual requer e
essencialmente prática. Todos os mistérios que dirigem a promove a ultrapassagem e a superação da consciência
teoria para o misticismo encontram sua solução na práxis ingênua em consciência crítica. Assim, concordando com
humana e na compreensão dessa práxis". A compreensão Freire, é possível acreditar que a superação da contradição "é
dessa práxis é tarefa pedagógica. Kosik realça que a práxis é a o parto que traz ao mundo este homem novo não mais
esfera do ser humano; portanto, não é uma atividade prática opressor; não mais oprimido, mas homem libertando-se"
contraposta à teoria: "é determinação da existência como (Freire182). Talvez a prática pedagógica, absorvendo,
elaboração da realidade"176. Uma intervenção pedagógica, compreendendo e transformando as resistências e
como instrumento de emancipação, considera a práxis uma resignações, possa mediar a superação dessas, em processos
forma de ação reflexiva que pode transformar a teoria que a de emancipação e aprendizagens. É conveniente apreender as
determina, bem como transformar a prática que a concretiza. reflexões de Imbert183, que realçam a distinção entre prática e
Uma característica importante, analisada por Vásquez177, é práxis, reafirmando o que vem sendo dito neste texto e
o caráter finalista da práxis, antecipador dos resultados que se atentando para a questão da autonomia e da perspectiva
quer atingir, e esse mesmo aspecto é enfatizado por Kosik178, emancipatória, inerente ao sentido de práxis:
ao afirmar que na práxis "a realidade humano-social se Distinguir práxis e prática permite uma demarcação das
desvenda como o oposto ao ser dado, isto é, como formadora e características do empreendimento pedagógico. Há, ou não,
ao mesmo tempo forma específica do ser humano". Talvez por lugar na escola para uma práxis? Ou será que, na maioria das
isso o autor afirme que a práxis tanto é objetivação do homem vezes, são, sobretudo, simples práticas que nela se
e domínio da natureza como realização da liberdade humana. desenvolvem, ou seja, um fazer que ocupa o tempo e o espaço,
Realce-se, portanto, que a práxis permite ao homem visa a um efeito, produz um objeto (aprendizagem, saberes) e
conformar suas condições de existência, transcendê-las e um sujeito-objeto (um escolar que recebe esse saber e sofre
reorganizá-las. "Só a dialética do próprio movimento essas aprendizagens), mas que em nenhum momento é
transforma o futuro"179, e essa dialética carrega a portador de autonomia. (Imbert184).
essencialidade do ato educativo, ou seja, a intencionalidade Portanto, só a ação docente, realizada como prática social,
coletivamente organizada e em contínuo ajuste de caminhos e pode produzir saberes, saberes disciplinares, saberes
práticas. Talvez o termo mais adequado seja "insistência". O referentes a conteúdos e sua abrangência social, ou mesmo
professor não pode desistir do aluno; há que insistir, ouvir, saberes didáticos, referentes às diferentes formas de gestão de
refazer, fazer de outro jeito; acompanhar a lógica do aluno; conteúdos, de dinâmicas da aprendizagem, de valores e
descobrir e compreender as relações que esse aluno projetos de ensino. Realça-se o sentido de saberes pedagógicos
estabelece com o saber; mudar o enfoque didático, as (Franco185) como aqueles que permitem ao professor a leitura
abordagens de interação, os caminhos do diálogo. e a compreensão das práticas e que permitem ao sujeito
colocar-se em condição de dialogar com as circunstâncias
dessa prática, dando-lhe possibilidade de perceber e auscultar
- As práticas pedagógicas caminham por entre as contradições e, assim, poder melhor articular teoria e
resistências e desistências; caminham numa perspectiva prática. É possível, portanto, falar em saberes pedagógicos
dialética, pulsional, totalizante. como saberes que possibilitam aos sujeitos construir
Quando o professor chega a um momento de produzir um conhecimentos sobre a condução, a criação e a transformação
ensino em sala de aula, muitas circunstâncias estão presentes: dessas mesmas práticas.
desejos, formação, conhecimento do conteúdo, conhecimento O saber pedagógico só pode se constituir a partir do
das técnicas didáticas, ambiente institucional, práticas de próprio sujeito, que deverá ser formado como alguém capaz de
gestão, clima e perspectiva da equipe pedagógica, organização construção e de mobilização de saberes. A grande dificuldade
espaço-temporal das atividades, infraestrutura, em relação à formação de professores é que, se quisermos ter
equipamentos, quantidade de alunos, organização e interesse bons professores, teremos que formá-los como sujeitos
dos alunos, conhecimentos prévios, vivências, experiências capazes de produzir conhecimentos, ações e saberes sobre a
anteriores, enfim, há muitas variáveis. Muitas dessas prática. Não basta fazer uma aula; é preciso saber por que tal
circunstâncias podem induzir a boa interação e bom interesse aula se desenvolveu daquele jeito e naquelas condições: ou
e diálogo entre as variáveis do processo - aluno, professor e seja, é preciso compreensão e leitura da práxis.
conhecimento -, vistas, na perspectiva de Houssaye180, como o Quando um professor é formado de modo não reflexivo,
triângulo pedagógico. não dialógico, desconhecendo os mecanismos e os
Como atua o professor? Como aproveita os condicionantes movimentos da práxis, não saberá potencializar as
favoráveis e anula os que não ajudarão na hora? Tudo exige do circunstâncias que estão postas à prática. Ele desistirá e
professor reflexão e ação. Tudo exige um comportamento replicará fazeres. O sujeito professor precisa ser dialogante,
compromissado e atuante. Tudo nele precisa de crítico e reflexivo, bem como ter consciência das
empoderamento. As práticas impõem posicionamento, intencionalidades que presidem sua prática. Esse
atitude, força e decisão. Fundamentalmente, é exigido do entendimento está em par com a afirmativa de Imbert186: "o
professor que trabalhe com as contradições. O professor está

175 MARX, K.; ENGELS, F. A ideologia alemã: teses sobre Feuerbach. São Paulo: 181 FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
Moraes, 1994. 1979.
176 KOSIK, K. Dialética do concreto. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra , 1995. 182 FREIRE, P. Ação cultural para a liberdade. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
177 VÁSQUEZ, A. S. Filosofia da práxis. Rio de Janeiro: Paz e Terra , 1968. 1979.
178 KOSIK, K. Dialética do concreto. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra , 1995. 183 IMBERT, F. Para uma práxis pedagógica. Brasília: Plano, 2003.
179 KOSIK, K. Dialética do concreto. 6. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra , 1995. 184 IMBERT, F. Para uma práxis pedagógica. Brasília: Plano, 2003.
180 HOUSSAYE, J. Une illusion pédagogique? Cahiers Pédagogiques, Paris, n. 185 FRANCO, M. A. R. S. A pedagogia como ciência da educação. 3. ed. rev. e
334, p. 28-31, 1995. ampl. Campinas: Cortez, 2013
186 Idem.

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movimento em direção ao saber e à consciência do formador e isso deve pressupor a ação coletiva, dialógica e
não é outro senão o movimento de apropriação de si mesmo". emancipatória entre alunos e professores. Toda ação
- As práticas pedagógicas trabalham com e na educativa traz em seu fazer uma carga de intencionalidade que
historicidade; implicam tomadas de decisões, de posições e integra e organiza sua práxis, convergindo, de maneira
se transformam pelas contradições. dinâmica e histórica, tanto as características do contexto
A questão primacial é que tais práticas não podem ser sociocultural como as necessidades e possibilidades do
congeladas, reificadas e realizadas linearmente, porque são momento, além das concepções teóricas e da consciência das
práticas que se exercem na interação de sujeitos, de práticas e ações cotidianas, num amalgamar provisório que não permite
de intencionalidades. Enquanto o professor desconsiderar as que uma parte seja analisada sem referência ao todo,
especificidades dos processos pedagógicos e tratar a educação tampouco sem este ser visto como síntese provisória das
como produto e resultados, numa concepção ingênua da circunstâncias parciais do momento.
realidade, o pedagógico não irá se instalar, porque nesses É por isso que se reafirma que práticas pedagógicas
processos em que se pasteurizam a vida e a existência não há requerem que o professor adentre na dinâmica e no
espaço para o imprevisível, o emergente, as interferências significado da práxis, de forma a poder compreender as teorias
culturais ou o novo. implícitas que permeiam as ações do coletivo de alunos. A
As práticas pedagógicas estruturam-se em mecanismos prática precisa ser tecida e construída a cada momento e a
paralelos e divergentes de rupturas e conservação. Enquanto cada circunstância, pois, como Certeau189, neste artigo
diretrizes de políticas públicas consideram a prática acredita-se que a vida sempre escapa e se inventa de mil
pedagógica como mero exercício reprodutor de fazeres e ações maneiras não autorizadas, com movimentos táticos e
externos aos sujeitos, estas se perdem e muitos se perguntam: estratégicos.
por que não conseguimos mudar a prática? A prática não muda
por decretos ou por imposições; ela pode mudar se houver o 3. Saberes para a prática educativa - Pedagogia da
envolvimento crítico e reflexivo dos sujeitos da prática.187 Autonomia
Sabe-se que a educação é uma prática social humana; é um A questão da formação docente ao lado da reflexão sobre a
processo histórico, inconcluso, que emerge da dialeticidade prática educativo progressiva em favor da autonomia do ser
entre homem, mundo, história e circunstâncias. Sendo um dos educandos é a temática que se incorpora a análise de
processo histórico, a educação não poderá ser vivenciada por saberes fundamentais àquela prática e aos quais acrescente
meio de práticas que desconsideram sua especificidade. Os alguns que me tenham escapado ou cuja importância não
sujeitos sempre apresentam resistências para lidar com tenha percebido.
imposições que não abrem espaço ao diálogo e à participação. A) Não há docência sem discência
Como alerta188: Ensinar não é transferir conhecimentos e conteúdos, nem
O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença formar é a ação pela qual um sujeito criador dá forma, estilo ou
curiosa do sujeito face ao mundo. Requer sua ação alma a um corpo indeciso e acomodado. Não há docência sem
transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca discência, as duas se explicam, e seus sujeitos, apesar das
constante. Implica em invenção e em reinvenção. Reclama a diferenças, não se reduzem à condição de objeto um do outro.
reflexão crítica de cada um sobre o ato mesmo de conhecer, Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao
pelo qual se reconhece conhecendo e, ao reconhecer-se assim, aprender. Ensinar exige rigorosidade metodológica. Ensinar
percebe o "como" de seu conhecer e os condicionamentos a não se esgota no tratamento do objeto ou do conteúdo,
que está submetido seu ato. superficialmente feito, mas se alonga à produção das
Sabe-se que a educação, como prática social e histórica, condições em que aprender criticamente é possível. E
transforma-se pela ação dos homens e produz transformações estas condições exigem a presença de educadores e de
naqueles que dela participam. Dessa forma, é fundamental que educandos criadores, investigadores, inquietos, curiosos,
o professor esteja sensibilizado a reconhecer que, ao lado das humildes e persistentes.
características observáveis do fenômeno, existe um processo Faz parte das condições em que aprender criticamente é
de transformação subjetiva, que não apenas modifica as possível a pressuposição, por parte dos educandos, de que o
representações dos envolvidos, mas produz uma educador já teve ou continua tendo experiência da produção
ressignificação na interpretação do fenômeno vivido, o que de saberes, e que estes, não podem ser simplesmente
produzirá uma reorientação nas ações futuras. Por isso é transferidos a eles. Pelo contrário, nas condições de
importante que o professor possa compreender as verdadeira aprendizagem, tanto educandos quanto
transformações dos alunos, das práticas, das circunstâncias e, educadores transformam-se em sujeitos do processo de
assim, possa também transformar-se em processo. aprendizagem. Só assim podemos falar realmente de saber
Destaca-se a necessidade de considerar o caráter dialético ensinado, em que o objeto ensinado é aprendido na sua razão
das práticas pedagógicas, no sentido de a subjetividade de ser. Percebe-se, assim, a importância do papel do educador,
construir a realidade, que se modifica mediante a com a certeza de que faz parte de sua tarefa docente não
interpretação coletiva. A educação permite sempre uma apenas ensinar os conteúdos, mas também ensinar a pensar
polissemia em sua função semiótica, ou seja, nunca existe uma certo - um professor desafiador, crítico. Ensinar exige
relação direta entre o significante observável e o significado. pesquisa. Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.
Assim, as práticas pedagógicas serão, a cada momento, Hoje se fala muito no professor pesquisador, mas isto não é
expressão do momento e das circunstâncias atuais e sínteses uma qualidade, pois faz parte da natureza da prática docente a
provisórias que se organizam no processo de ensino. indagação, a busca, a pesquisa.
As situações de educação estão sempre sujeitas às Precisamos que o professor se perceba e se assuma como
circunstâncias imprevistas, não planejadas e, dessa forma, os pesquisador. Pensar certo é uma exigência que os momentos
imprevistos acabam redirecionando o processo e, muitas do ciclo gnosiológico impõem à curiosidade que, tornando-se
vezes, permitindo uma reconfiguração da situação educativa. mais e mais metodologicamente rigorosa, transforma-se no
Portanto, o trabalho pedagógico requer espaço de ação e de que Paulo Freire chama de "curiosidade epistemológica".
análise ao não planejado, ao imprevisto, à desordem aparente, Ensinar exige respeito aos saberes dos educandos. A escola

187 FRANCO, M. A. R. S. Entre a lógica da formação e a lógica das práticas: a 189 CERTEAU, M. A invenção do cotidiano: artes de fazer. Petrópolis: Vozes,
mediação dos saberes pedagógicos. In: REUNIÃO ANUAL DA ANPED, 29., 2006, 1994.
Caxambu. Anais... Caxambu: Anped , 2006 33 FREIRE, P. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática
188 FREIRE, P. Conscientização. São Paulo: Cortez , 1983. educativa. Paz e Terra, 2003.

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deve respeitar os saberes dos educandos socialmente nós mesmos. É isto que o puro treinamento do professor não
construídos na prática comunitária - discutindo, também, com faz, perdendo-se na estreita e pragmática visão do processo.
os alunos, a razão de ser de alguns deles em relação ao ensino
dos conteúdos. B) Ensinar não é transferir conhecimento
Por que não aproveitar a experiência dos alunos que vivem Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
em áreas descuidadas pelo poder público para discutir a possibilidades para a sua própria construção. Quando o
poluição dos riachos e dos córregos e os baixos níveis de bem- educador entra em uma sala de aula, deve estar aberto a
estar das populações, os lixões e os riscos que oferecem à indagações, curiosidade e inibições dos alunos: um ser crítico
saúde? Por que não associar as disciplinas estudadas à e inquiridor, inquieto em face da tarefa que tem - a de ensinar
realidade concreta, em que a violência é a constante e a e não a de transferir conhecimento. Pensar certo é uma
convivência das pessoas com a morte é muito maior do que postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos de
com a vida? Ensinar exige criticidade. A superação, ao invés da assumir diante dos outros e com os outros, em face do mundo
ruptura, se dá na medida em que a curiosidade ingênua, e dos fatos, ante nós mesmos. É difícil, entre outras coisas, pela
associada ao saber comum, se crítica, aproximando-se de vigilância constante que temos de exercer sobre nós mesmos
forma cada vez mais metodologicamente rigorosa do objeto para evitar os simplismos, as facilidades, as incoerências
cognoscível, tornando-se curiosidade epistemológica. grosseiras.
Muda de qualidade, mas não de essência, e essa mudança É difícil porque nem sempre temos o valor indispensável
não se dá automaticamente. Essa é uma das principais tarefas para não permitir que a raiva que podemos ter de alguém vire
do educador progressista - o desenvolvimento da curiosidade raivosidade, gerando um pensar errado e falso. É cansativo,
crítica, insatisfeita, indócil. Ensinar exige estética e ética. A por exemplo, viver a humildade, condição sine qua non do
necessária promoção da ingenuidade à criticidade não pode pensar certo, que nos faz proclamar o nosso próprio equívoco,
ser feita sem uma rigorosa formação ética e estética. Decência que nos faz reconhecer e anunciar a superação que sofremos.
e boniteza andam de mãos dadas. Mulheres e homens, seres Sem rigorosidade metódica não há pensar certo. Ensinar exige
histórico-sociais, tornamo-nos capazes de comparar, de consciência do inacabamento.
valorar, de intervir, de escolher, de decidir, de romper. Por Na verdade, a inconclusão do ser é própria de sua
tudo isso nós fizemos seres éticos. Só somos porque estamos experiência vital. Onde há vida, há inconclusão, embora esta só
sendo. Estar sendo é a condição, entre nós, para ser. Não é seja consciente entre homens e mulheres.
possível pensar os seres humanos longe da ética. Quanto mais A invenção da existência envolve necessariamente a
fora dela, maior a transgressão. Ensinar exige a corporificação linguagem, a cultura, a comunicação em níveis mais profundos
das palavras pelo exemplo. Quem pensa certo está cansado de e complexos do que ocorria e ocorre no domínio da vida, a
saber que palavras sem exemplo pouco ou nada valem. Pensar espiritualização do mundo, a possibilidade não só de
certo é fazer certo (agir de acordo com o que pensa). embelezar, mas também de enfear o mundo; tudo isso
Não há pensar certo fora de uma prática testemunhal, que inscreveria mulheres e homens como seres éticos. Só os seres
o rediz em lugar de desdizê-lo. Não é possível ao professor que se tornaram éticos podem romper com a ética. É
pensar que pensa certo (de forma progressista), e, ao mesmo necessário insistir na problematização do futuro e recusar sua
tempo, perguntar ao aluno se "sabe com quem está falando". inexorabilidade. Ensinar exige o reconhecimento de ser
Ensinar exige risco, aceitação do novo e rejeição a qualquer condicionado "Gosto de ser gente, inacabado, sei que sou um
forma de discriminação. É próprio do pensar certo a ser condicionado, mas, consciente do inacabamento, sei que
disponibilidade ao risco, a aceitação do novo que não pode ser posso ir mais além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser
negado ou acolhido só porque é novo, assim como critério de condicionado e o ser determinado... Afinal, minha presença no
recusa ao velho não é o cronológico. O velho que preserva sua mundo não é a de quem se adapta, mas a de quem nele se
validade encarna uma tradição ou marca uma presença no insere".
tempo continua novo. Faz parte igualmente do pensar certo a E a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas
rejeição mais decidida a qualquer forma de discriminação. também sujeito da história. Histórico-sócio-culturais,
A prática preconceituosa de raças, de classes, de gênero tornamo-nos seres em quem a curiosidade, ultrapassando os
ofende a substantividade do ser humano e nega radicalmente limites que lhe são peculiares no domínio vital, torna-se
a democracia. Ensinar exige reflexão crítica sobre a prática. A fundante da produção do conhecimento. Mais ainda, a
prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o curiosidade é já o conhecimento. Como a linguagem que anima
movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar sobre a curiosidade e com ela se anima, é também conhecimento e
o fazer. É fundamental que, na prática da formação docente, o não só expressão dele. Na verdade, seria uma contradição se,
aprendiz de educador assuma que o indispensável pensar inacabado e consciente do inacabamento, o ser humano não se
certo não é presente dos deuses nem se acha nos guias de inserisse em tal movimento. É neste sentido que, para
professores que, iluminados intelectuais, escrevem desde o mulheres e homens, estar no mundo necessariamente significa
centro do poder. Pelo contrário, o pensar certo que supera o estar com o mundo e com os outros. É na inconclusão do ser,
ingênuo tem de ser produzido pelo próprio aprendiz, em que se sabe como tal, que se funda a educação como processo
comunhão com o professor formador. É preciso possibilitar permanente. Mulheres e homens se tornaram educáveis na
que a curiosidade ingênua, através da reflexão sobre a prática, medida em que se reconheceram inacabados.
vá tornando-se crítica. O ideal é que, na experiência educativa, educandos e
Na formação permanente dos professores, o momento educadores, juntos, transformem este e outros saberes em
fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É pensando sabedoria. Algo que não é estranho a nós, educadores. Ensinar
criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode exige respeito à autonomia do ser educando. O professor, ao
melhorar a próxima prática. O discurso teórico, necessário à desrespeitar a curiosidade do educando, o seu gosto estético,
reflexão crítica, tem de ser de tal modo concreto que quase se a sua inquietude, a sua linguagem, ao ironizar o aluno,
confunda com a prática. Ensinar exige o reconhecimento e a minimizá-lo, mandar que "ele se ponha em seu lugar" ao mais
assunção da identidade cultural. A questão da identidade tênue sinal de sua rebeldia legítima, ao se eximir do
cultural, com sua dimensão individual e da classe dos cumprimento de seu dever de propor limites à liberdade do
educandos, cujo respeito é absolutamente fundamental na aluno, ao se furtar do dever de ensinar, de estar
prática educativa progressista, é problema que não pode ser respeitosamente presente à experiência formadora do
desprezado. Tem a ver diretamente com a assunção de nós por educando, transgride os princípios fundamentalmente éticos
de nossa existência. É neste sentido que o professor autoritário

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afoga a liberdade do educando, amesquinhando o seu direito Exige uma competência geral, um saber de sua natureza e
de ser curioso e inquieto. saberes especiais, ligados à atividade docente. Como
Qualquer discriminação é imoral e lutar contra ela é um professor, se a minha opção é progressista e sou coerente com
dever, por mais que se reconheça a força dos ela, meu papel é contribuir para que o educando, seja o, artífice
condicionamentos a enfrentar. A beleza de ser gente se acha, de sua formação. Devo estar atento à difícil caminhada da
entre outras coisas, nessa possibilidade e nesse dever de heteronomia para a autonomia. "É assim que venho tentando
brigar. Saber que devo respeito à autonomia e à identidade do ser professor, assumindo minhas convicções, disponível ao
educando exige de mim uma prática em tudo coerente com saber, sensível à boniteza da prática educativa, instigado por
este saber. Ensinar exige bom senso O exercício do bom senso, seus desafios..." Ensinar exige alegria e esperança.
com o qual só temos a ganhar, se faz no corpo da curiosidade. O meu envolvimento com a prática educativa jamais
Neste sentido, quanto mais colocamos em prática, de forma deixou de ser feito com alegria, o que não significa dizer que
metódica, a nossa capacidade de indagar, de comparar, de tenha podido criá-la nos educandos. Parece-me uma
duvidar, de aferir, tanto mais eficazmente curiosos nós contradição que uma pessoa que não teme a novidade, que se
podemos tornar e mais crítico se torna o nosso bom senso. sente mal com as injustiças, que se ofende com as
O exercício do bom senso vai superando o que há nele de discriminações, que luta contra a impunidade, que recusa o
instintivo na avaliação que fazemos dos fatos e dos fatalismo cínico e imobilizante não seja criticamente
acontecimentos em que nos envolvemos. O meu bom senso esperançosa. Ensinar exige a convicção de que a mudança é
não me diz o que é, mas deixa claro que há algo que precisa ser possível.
sabido. É ele que, em primeiro lugar, me diz não ser possível o A realidade não é inexoravelmente esta e, está agora, e
respeito aos educandos, se não se levar em consideração as para que seja outra, precisamos lutar, viver a história como
condições em que eles vêm existindo, e os conhecimentos tempo de possibilidade, e não de determinação. O amanhã não
experienciais com que chegam à escola. Isto exige de mim uma é algo já estabelecido, mas um desafio. Não posso, por isso,
reflexão crítica permanente sobre minha prática. O ideal é que cruzar os braços. Esse é, aliás, um dos saberes primeiros,
se invente uma forma pela qual os educandos possam indispensáveis a quem pretende que sua presença se torne
participar da avaliação. E que o trabalho do professor deve ser convivência. O mundo não é. O mundo está sendo. O meu papel
com os alunos e não consigo mesmo. O professor tem o dever no mundo não é só o de quem constata o que ocorre, mas
de realizar sua tarefa docente. também o de quem intervém como sujeito de ocorrências.
Para isso, precisa de condições favoráveis, sem as quais se Constato, não para me adaptar, mas para mudar. No fundo,
move menos eficazmente no espaço pedagógico. O desrespeito as resistências orgânicas e culturais são manhas necessárias à
a este espaço é uma ofensa aos educandos, aos educadores e à sobrevivência física e cultural dos oprimidos. É preciso, porém,
prática pedagógica. Ensinar exige humildade, tolerância e luta que tenhamos na resistência fundamentos para a nossa
em defesa dos direitos dos educadores. Como ser educador rebeldia e não para a nossa resignação em face das ofensas.
sem aprender a conviver com os diferentes? Como posso Não é na resignação que nos afirmamos, mas na rebeldia em
respeitar a curiosidade do educando se, carente de humildade face das injustiças. A rebeldia é ponto de partida, é deflagração
e da real compreensão do papel da ignorância na busca do da justa ira, mas não é suficiente.
saber, temo revelar o meu desconhecimento? A luta dos A rebeldia, enquanto denúncia, precisa se alongar até uma
professores em defesa de seus direitos e de sua dignidade deve posição mais radical e crítica, a revolucionária,
ser entendida como um momento importante de sua prática fundamentalmente anunciadora. Mudar é difícil, mas é
docente, enquanto prática ética. Ainda que a prática possível. Ensinar exige curiosidade. Como professor, devo
pedagógica seja tratada com desprezo, não tenho por que saber que, sem a curiosidade que me move, não aprendo nem
desamá-la e aos educandos. Não tenho por que exercê-la mal. ensino. A construção do conhecimento implica o exercício da
Minha resposta à ofensa à educação é a luta política consciente, curiosidade, o estímulo à pergunta, a reflexão crítica sobre a
crítica e organizada dos professores. própria pergunta.
Os órgãos de classe deveriam priorizar o empenho de O fundamental é que professor e alunos saibam que a
formação permanente dos quadros do magistério como tarefa postura deles é dialógica, aberta, curiosa, indagadora e não
altamente política, e reinventar a forma de lutar. Ensinar exige apassivada. A dialogicidade, no entanto, não nega a validade de
apreensão da realidade. Como professor, preciso conhecer as momentos explicativos, narrativos. O bom professor faz da
diferentes dimensões que caracterizam a essência da minha aula um desafio. Seus alunos cansam, não dormem. Um dos
prática. O melhor ponto de partida para estas reflexões é a saberes fundamentais à prática educativo-crítica é o que me
inconclusão do ser humano. Aí radica a nossa educabilidade, adverte da necessária promoção da curiosidade espontânea
bem como a nossa inserção num permanente movimento de para a curiosidade epistemológica. Resultado do equilíbrio
busca. A nossa capacidade de aprender, de que decorre a de entre autoridade e liberdade, a disciplina implica o respeito de
ensinar, implica a nossa habilidade de apreender a uma pela outra, expresso na assunção que ambas fazem de
substantividade de um objeto. Somos os únicos seres que, limites que não podem ser transgredidos.
social e historicamente, nos tornamos capazes de aprender.
Por isso aprender é uma aventura criadora, muito mais C) Ensinar é uma especificidade humana
rica do que meramente repetir a lição dada. Aprender é Creio que uma das qualidades essenciais que a autoridade
construir, reconstruir, constatar para mudar, o que não se faz docente democrática deve revelar em suas relações com as
sem abertura ao risco e à aventura do espírito. liberdades dos alunos é a segurança em si mesma. É a
Toda prática educativa demanda: segurança que se expressa na firmeza com que atua, com que
decide, com que respeita as liberdades, com que discute suas
A) A existência de sujeitos próprias posições, com que aceita rever-se. Ensinar exige
B) Um que, ensinando, aprende, e outro que, aprendendo, segurança, competência profissional e generosidade - A
ensina (daí seu cunho gnosiológico); segurança com que a autoridade docente se move implica uma
C) A existência de objetos, conteúdos a serem ensinados e outra, fundada na sua competência profissional.
aprendidos; Nenhuma autoridade docente se exerce ausente desta
D) O uso de métodos, de técnicas, de materiais. Esta prática competência. O professor que não leva a sério sua formação,
também implica, em função de seu caráter diretivo, objetivos, que não estuda, que não se esforça para estar à altura de sua
sonhos, utopias, ideais. Daí sua politicidade, daí não ser neutra, tarefa não tem força moral para coordenar as atividades de sua
ser artística e moral. classe. A incompetência profissional desqualifica a autoridade

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do professor. Outra qualidade indispensável à autoridade, em simplesmente da Humanidade, frase de uma qualidade
suas relações com a liberdade, é a generosidade. Não há nada demasiado contrastante com a concretude da prática
que inferiorize mais a tarefa formadora da autoridade do que educativa. Sou professor a favor da decência contra o
a mesquinhez, a arrogância ao julgar os outros e a indulgência despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da
ao se julgar, ou aos seus. autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a
A arrogância que nega a generosidade nega também a ditadura. Sou professor a favor da luta constante contra
humildade. O clima de respeito que nasce de relações justas, qualquer forma de discriminação, contra a dominação
sérias, humildes, generosas, em que a autoridade docente e as econômica dos indivíduos ou das classes sociais, contra a
liberdades dos alunos se assumem eticamente, autentica o ordem vigente que inventou a aberração da miséria na fartura.
caráter formador do espaço pedagógico. A autoridade, Sou professor a favor da esperança que me anima, apesar
coerentemente democrática, está convicta de que a disciplina de tudo. Contra o desengano que consome e imobiliza e a favor
verdadeira não existe na estagnação, no silêncio dos da boniteza de minha própria prática. Tão importante quanto
silenciados, mas no alvoroço dos inquietos, na dúvida que o ensino dos conteúdos é a minha coerência na classe. A
instiga, na esperança que desperta. Um esforço sempre coerência entre o que digo, o que escrevo e o que faço. Ensinar
presente à prática da autoridade coerentemente democrática exige liberdade e autoridade. O problema que se coloca para o
é o que a torna quase escrava de um sonho fundamental - o de educador democrático é como trabalhar no sentido de fazer
persuadir ou convencer a liberdade para a construção da possível que a necessidade do limite seja assumida eticamente
própria autonomia, ainda que reelaborando materiais vindos pela liberdade. Sem os limites, a liberdade se perverte em
de fora de si. licença e a autoridade em autoritarismo. Por outro lado, faz
É com a autonomia, penosamente construída e fundada na parte do aprendizado a assunção das consequências do ato de
responsabilidade, que a liberdade vai preenchendo o espaço decidir.
antes habitado pela dependência. O fundamental no Não há decisão que não seja seguida de efeitos esperados,
aprendizado do conteúdo é a construção da responsabilidade pouco esperados ou inesperados. Por isso a decisão é um
da liberdade que se assume. O essencial nas relações entre processo responsável. É decidindo que se aprende a decidir.
autoridade e liberdade é a reinvenção do ser humano no Não posso aprender a ser eu mesmo se não decido nunca,
aprendizado de sua autonomia. Nunca me foi possível separar porque há sempre a sabedoria e a sensatez de meu pai e de
dois momentos - o ensino dos conteúdos da formação ética dos minha mãe a decidir por mim. Ninguém é autônomo primeiro
educandos. O saber desta impossibilidade é fundamental à para depois decidir. A autonomia vai se construindo na
prática docente. experiência. Ninguém é sujeito da autonomia de ninguém. Por
Quanto mais penso sobre a prática educativa, outro lado, ninguém amadurece de repente. A gente vai
reconhecendo a responsabilidade que ela exige de nós, mais amadurecendo todo dia, ou não. A autonomia é um processo,
me convenço do nosso dever de lutar para que ela seja não ocorre em data marcada. É neste sentido que uma
realmente respeitada: Ensinar exige comprometimento. Não pedagogia da autonomia tem de estar centrada em
posso ser professor sem me pôr diante dos alunos, sem revelar experiências estimuladoras da decisão e da responsabilidade,
com facilidade ou relutância minha maneira de ser, de pensar ou seja, que respeitam a liberdade. Ensinar exige tomada
politicamente. Não posso escapar à apreciação dos alunos. E a consciente de decisões. Voltemos à questão central desta parte
maneira como eles me percebem tem importância capital para do texto - a educação, especificidade humana, como um ato de
o meu desempenho. Daí, então, que uma de minhas intervenção no mundo.
preocupações centrais deva ser a de procurar a aproximação Quando falo em educação como intervenção me refiro
cada vez maior entre o que digo e o que faço, entre o que tanto a que aspira a mudanças radicais na sociedade, no campo
pareço ser e o que realmente estou sendo. Isto aumenta em da economia, das relações humanas, da propriedade, do
mim os cuidados com o meu desempenho. direito ao trabalho, à terra, à educação, à saúde, quanto a que,
Se a minha opção é democrática, progressista, não posso reacionariamente, pretende imobilizar a História e manter a
ter uma prática reacionária, autoritária, elitista. Minha ordem injusta. E que dizer de educadores que se dizem
presença de professor é, em si, política. Enquanto presença, progressistas, mas de prática pedagógica-política
não posso ser uma omissão, mas um sujeito de opções. Devo eminentemente autoritária? A raiz mais profunda da
revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de decidir, politicidade da educação se acha na educabilidade do ser
de optar e de romper, minha capacidade de fazer justiça, de humano, que se funda em sua natureza inacabada e da qual se
não falhar à verdade. Ético, por isso mesmo, tem que ser o meu tornou consciente. Inacabado e consciente disso,
testemunho. Ensinar exige compreender que a educação é uma necessariamente o ser humano se faria um ser ético, um ser de
forma de intervenção no mundo. Outro saber de que 'não opção, de decisão. Um ser ligado a interesses e em relação aos
posso duvidar na minha prática educativo-crítica é que, como quais tanto pode manter-se fiel à ética quanto pode transgredi-
experiência especificamente humana, a educação é uma forma la. Se a educação não pode tudo, pode alguma coisa
de intervenção no mundo. Intervenção esta que, além do fundamental. Se a educação não é a chave das mudanças, não
conhecimento dos conteúdos, bem ou mal ensinados e/ou é também simplesmente reprodutora da ideologia dominante.
aprendidos, implica tanto o esforço da reprodução da O que quero dizer é que a educação nem é uma força
ideologia dominante quanto o seu desmascaramento. imbatível a serviço da transformação da sociedade nem
Nem somos seres simplesmente determinados nem tampouco é a perpetuação do status quo.
tampouco livres de condicionamentos genéticos, culturais, Se, na verdade, o sonho que nos anima é democrático e
sociais, históricos, de classe, de gênero, que nos marcam e a solidário, não é falando aos outros, de cima para baixo,
que nos achamos referidos. Continuo aberto à advertência de sobretudo, como se fôssemos os portadores da Verdade a ser
Marx, a da necessária radicalidade, que me faz sempre transmitida aos demais, que aprendemos a escutar, mas é
desperto a tudo o que diz respeito à defesa dos interesses escutando que aprendemos & falar com eles. Os sistemas de
humanos. Interesses superiores aos de grupos ou de classes de avaliação pedagógica de alunos e de professores vêm se
pessoas. Não posso ser professor se não percebo cada vez assumindo cada vez mais como discursos verticais, de cima
melhor que, por não poder ser neutra, minha prática exige de para baixo, mas insistindo em passar por democráticos. A
mim uma definição, uma tomada de posição, uma ruptura. questão que se coloca a nós é lutar em favor da compreensão
Exige que eu escolha entre isto e aquilo. e da prática da avaliação, enquanto instrumento de apreciação
Não posso ser professor a favor de quem quer que seja e a do que fazer, de sujeitos críticos a serviço, por isso mesmo, da
favor de não importa o quê. Não posso ser professor a favor libertação e não da domesticação. Avaliação em que se

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estimule o falar a como caminho para o falar com. Quem tem o docente e afetividade. A afetividade não se acha excluída da
que dizer, tem igualmente o direito e o dever de dizê-lo. É cognoscibilidade.
preciso, porém, que o sujeito saiba não ser o único a ter algo a O que não posso, obviamente, permitir é que minha
dizer. Mais ainda, que esse algo, por mais importante que seja, afetividade interfira no cumprimento ético de meu dever de
não é a verdade alvissareira por todos esperada. professor no exercício de minha autoridade. Não posso
Por isso é que acrescento, quem tem o que dizer deve condicionar a avaliação do trabalho escolar de um aluno ao
assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, para que maior ou menor bem querer que tenha por ele. É preciso, por
este diga, fale, responda. É preciso enfatizar - ensinar não é outro lado, reinsistir em que não se pense que a prática
transferir a inteligência do objeto ao educando, mas instigá-lo educativa vivida com afetividade e alegria prescinda da
no sentido de que, como sujeito cognoscente, torne-se capaz formação científica séria e da clareza política dos educadores.
de inteligir e comunicar o inteligido. É neste sentido que se Nunca idealizei a prática educativa. Em tempo algum a vi como
impõe a mim escutar o educando em suas dúvidas, em seus algo que, pelo menos, parecesse com um que fazer de anjos.
receios, em sua incompetência provisória. E ao escutá-lo, Jamais foi fraca em mim a certeza de que vale a pena lutar
aprendo a falar com ele. Aceitar e respeitar a diferença é uma contra os descaminhos que nos obstaculizam de ser mais.
das virtudes sem a qual a escuta não pode acontecer. Tarefa Como prática estritamente humana, jamais pude entender
essencial da escola, como centro de produção sistemática de a educação como uma experiência fria, sem alma, em que os
conhecimento, é trabalhar criticamente a i das coisas e dos sentimentos e as emoções, os desejos e os sonhos devessem
fatos e a sua comunicabilidade. Ensinar exige reconhecer que ser reprimidos por uma espécie de ditadura racionalista.
a educação é ideológica Saber igualmente fundamental à Jamais compreendi a prática educativa como uma experiência
prática educativa do professor é o que diz respeito à força, às a que faltasse o rigor em que se gera a necessária disciplina
vezes, maior do que pensamos da ideologia. É o que nos intelectual. Estou convencido de que a rigorosidade, a séria
adverte de suas manhas, das armadilhas em que nos faz cair. disciplina intelectual, o exercício da curiosidade
A ideologia tem a ver diretamente com a ocultação da epistemológica não me fazem necessariamente um ser mal-
verdade dos fatos, com o uso da linguagem para penumbrar ou amado, arrogante, cheio de mim mesmo. Nem a arrogância é
opacizar a realidade, ao mesmo tempo em que nos torna sinal de competência nem a competência é causa de
míopes. No exercício crítico de minha resistência ao poder da arrogância. Certos arrogantes, pela simplicidade, se fariam
ideologia, vou gerando certas qualidades que vão virando gente melhor.
sabedoria indispensável à minha prática docente. A
necessidade desta resistência crítica, por exemplo, me C.1 Ensinar exige segurança, competência profissional
predispõe, de um lado, a uma atitude sempre aberta aos e generosidade
demais, aos dados da realidade; de outro, a uma desconfiança O professor que não leve a sério sua formação, que não
metódica que me defende de tornar-me absolutamente certo estuda, que não se esforce para estar à altura de sua tarefa não
das certezas. Para me resguardar das artimanhas da ideologia tem força moral para coordenar as atividades de sua classe. Há
não posso nem devo me fechar aos outros, nem tampouco me professoras cientificamente preparados mas autoritários a
enclausurar no ciclo de minha verdade. Pelo contrário, o toda prova. O que quero dizer é que a incompetência
melhor caminho para guardar viva e desperta a minha profissional desqualifica a autoridade do professor.
capacidade de pensar certo, de ver com acuidade, de ouvir com Outra qualidade indispensável à autoridade em suas
respeito, por isso de forma exigente, é me deixar exposto às relações com as liberdades é a generosidade, pois a arrogância
diferenças, é recusar posições dogmáticas, em que me admita que nega a generosidade nega também a humildade. A
como dono da verdade. autoridade docente autoritária, rígida, não conta com
Ensinar exige disponibilidade para o diálogo Nas minhas nenhuma criatividade do educando. Não faz parte de sua
relações com os outros, que não fizeram necessariamente as forma de ser, esperar, sequer, que o educando revele o gosto
mesmas opções que fiz, no nível da política, da ética, da de aventurar-se.
estética, da pedagogia, nem posso partir do pressuposto que O educando que exercita sua liberdade ficará tão mais livre
devo conquistá-los, não importa a que custo, nem tampouco quanto mais eticamente vá assumindo a responsabilidade de
temer que pretendam conquistar-me. É no respeito às suas ações. Decidir é romper e, para isso, preciso correr o risco.
diferenças entre mim e eles, na coerência entre o que faço e o Assim, me movo como educador porque, primeiro, me
que digo, que me encontro com eles. O sujeito que se abre ao movo como gente.
mundo e aos outros inaugura, com seu gesto, a relação Ensinar e, enquanto ensino, testemunhar aos alunos o
dialógica em que se confirma como inquietação e curiosidade, quanto me é fundamental respeitá-los e respeitar-me são
como inconclusão em permanente movimento na história. tarefas que jamais dicotomizei. Como professor, tanto lido com
Como ensinar, como formar sem estar aberto ao contorno minha liberdade quanto com minha autoridade em exercício,
geográfico, social, dos educandos? Com relação a meus alunos, mas também diretamente com a liberdade dos educandos, que
diminuo a distância que me separa de suas condições devo respeitar, e com a criação de sua autonomia bem como
negativas de vida na medida em que os ajudo a aprender não com os anseios de construção da autoridade dos educandos.
importa que saber, o do torneio ou do cirurgião, com vistas à
mudança do mundo, à superação das estruturas injustas, C.2 Ensinar exige comprometimento
jamais com vistas à sua imobilização. Debater o que se diz e o Saber que não posso passar despercebido pelos alunos, e
que se mostra e como se mostra na televisão me parece algo que a maneira como me percebam me ajuda ou desajuda no
cada vez mais importante. cumprimento de minha tarefa de professor, aumenta em mim
Como educadores progressistas não apenas não podemos os cuidados com meu desempenho. Se a minha opção é
desconhecer a televisão, mas devemos usá-la, sobretudo, democrática, progressista, não posso ter uma prática
discuti-la. Não podemos nos pôr diante de um aparelho de reacionária, autoritária, elitista. Não posso discriminar o aluno
televisão entregues ou disponíveis ao que vier. Ensinar exige em nome de nenhum motivo.
querer bem aos educandos. O que dizer e o que esperar de Devo revelar aos alunos a minha capacidade de analisar, de
mim, se, como professor, não me acho tomado por este outro comparar, a avaliar, de decidir, de optar, de romper. Minha
saber, o de que preciso estar aberto ao gosto de querer bem, às capacidade de fazer justiça, de não falhar à verdade. Ético, por
vezes, à coragem de querer bem aos educandos e à própria isso mesmo, tem que ser o meu testemunho.
prática educativa de que participo. Na verdade, preciso
descartar como falsa a separação radical entre seriedade

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C.3 Ensinar exige compreender que a educação é uma C.6 Ensinar exige saber escutar
forma de intervenção no mundo Sempre recusei os fatalismos. Prefiro a rebeldia que me
Outro saber de que não posso duvidar um momento sequer confirma como gente e que jamais deixou de provar que o ser
na minha prática educativo-crítica é o de que, como humano é maior do que mecanismos que o minimizam.
experiência especificamente humana, a educação é uma forma Os sistemas de avaliação pedagógica de alunos e de
de intervenção no mundo. professores vêm se assumindo cada vez mais como discursos
Continuo bem aberto à advertência de Marx, a da verticais, de cima para baixo, mais insistindo em passar por
necessária radicalidade que me faz sempre desperto a tudo o democráticos. A questão que se coloca a nós, enquanto
que diz respeito à defesa dos interesses humanos. Interesses professores e alunos críticos e amorosos da liberdade, não é,
superiores aos de puros grupos ou de classes de gente. naturalmente, ficar contra a avaliação, de resto necessária,
Não posso ser professor se não percebo cada vez melhor mas resistir aos métodos silenciadores com que ela vem sendo
que, por não poder ser neutra, minha prática exige de mim às vezes realizada. A questão que se coloca a nós é lutar em
uma definição. (...). Sou professor a favor da decência contra o favor da compreensão e da prática da avaliação enquanto
despudor, a favor da liberdade contra o autoritarismo, da instrumento de apreciação do que fazer de sujeitos críticos a
autoridade contra a licenciosidade, da democracia contra a serviço, por isso mesmo, da libertação e não da domesticação.
ditadura de direita ou de esquerda. Sou professor a favor da Por isso é que, acrescento, quem tem o que dizer deve
luta constante contra qualquer forma de discriminação, contra assumir o dever de motivar, de desafiar quem escuta, no
a dominação econômica dos indivíduos ou das classes sociais. sentido de que, quem escuta diga, fale, responda. É intolerável
Sou professor contra a ordem capitalista vigente que inventou o direito que se dá a si mesmo o educador autoritário de
esta aberração: a miséria na fartura. Sou professor a favor da comportar-se como proprietário da verdade.
esperança que me anima apesar de tudo. Sou professor contra Que me seja perdoada a reiteração, mas é preciso enfatizar,
o desengano que me consome e imobiliza. Sou professor a mais uma vez: ensinar não é transferir a inteligência do objeto
favor da boniteza de minha própria prática, boniteza que dela ao educando mas instigá-lo no sentido de que, como sujeito
some se não cuido do saber que devo ensinar, se não brigo por cognoscente, se torne capaz de inteligir e comunicar o
este saber, se não luto pelas condições materiais necessárias inteligido. É nesse sentido que se impõe a mim escutar o
sem as quais meu corpo, descuidado, corre o risco de se educando em suas dúvidas, em seus receios, em sua
amofinar e de já não ser o testemunho que deve ser de lutador incompetência provisória. E ao escutá-lo, aprendo a falar com
pertinaz, que cansa mas não desiste. Boniteza que se esvai de ele.
minha prática se, cheio de mim mesmo, arrogante e
desdenhoso dos alunos, não canso de me admirar. C.7 Ensinar exige reconhecer que a educação é
ideológica
C.4 Ensinar exige liberdade e autoridade Há um século e meio Marx e Engels gritavam em favor da
O que sempre deliberadamente recusei, em nome do união das classes trabalhadoras do mundo contra sua
próprio respeito à liberdade, foi sua distorção em espoliação. Agora, necessária e urgente se fazem a união e a
licenciosidade. O que sempre procurei foi viver em plenitude a rebelião das gentes contra a ameaça que nos atinge, a dos à
relação tensa, contraditória e não mecânica, entre autoridade "fereza" da ética do mercado.
e liberdade, no sentido de assegurar o respeito entre ambas, Prefiro ser criticado como idealista e sonhador inveterado
cuja ruptura provoca a hipertrofia de uma ou de outra. por continuar, sem relutar, a aposta no ser humano, a me bater
A posição mais difícil, indiscutivelmente correta, é a por uma legislação que o defenda contra as arrancadas
democrata, coerente com seu sonho solidário e igualitário. agressivas e injustas de que transgride a própria ética.
É exatamente por causa de tudo isso que como professor,
C.5 Ensinar exige tomada consciente de decisões devo estar advertido do poder do discurso ideológico,
Voltemos à questão central que venho discutindo nesta começando pelo que proclama a morte das ideologias. Na
parte do texto: a educação, especificidade humana, como um verdade, só ideologicamente posso matar as ideologias, mas é
ato de intervenção não está sendo usado com nenhuma possível que não perceba a natureza ideológica do discurso
restrição semântica. Quando falo em educação como que fala de sua morte. No fundo, a ideologia tem um poder de
intervenção me refiro tanto à que aspira a mudanças radicais persuasão indiscutível. O discurso ideológico nos ameaça de
na sociedade, no campo da economia, das relações humanas, anestesiar a mente, de confundir, das coisas, dos
da propriedade, do direito ao trabalho, à terra, à educação, à acontecimentos.
saúde, quanto à que, pelo contrário, reacionariamente Não podemos escutar, sem um mínimo de reação crítica,
pretende imobilizar a História e manter o ordem injusta. discursos como estes:
A educação não vira política por causa da decisão deste ou
daquele educador. Ela é política. O que devo pretender não é a “O negro é geneticamente inferior ao branco. É uma pena,
neutralidade da educação mas a respeito, a toda prova, aos mas é isso o que a ciência nos diz.”
educandos, aos educadores e às educadoras. O respeito aos “Em defesa de sua honra, o marido matou a mulher.”
educadores e educadoras por parte da administração pública “Que poderíamos esperar deles, uns baderneiros, invasores
ou privada das escolas; o respeito aos educandos assumido e de terra?”
praticado pelos educadores não importa de que escola, “Essa gente é sempre assim: damos-lhe os pés e logo quer as
particular ou pública. É por isto que devo lutar sem cansaço. mãos.”
Lutar pelo direito que tenho de ser respeitado e pelo dever que “Nós já sabemos o que o povo quer e do que precisa.
tenho de reagir a que me destratem. Lutar pelo direito que Perguntar-lhe seria uma perda de tempo.”
você, que me lê, professora ou aluna, tem de ser você mesma e “O saber erudito a ser entregue às massas incultas é a sua
nunca, jamais, lutar por essa coisa impossível, acinzentada e salvação.”
insossa que é a neutralidade. “Maria é negra, mas é bondosa e competente.”
O educador e a educadora críticos não podem pensar que, “Esse sujeito é um bom cara. É nordestino, mas é sério e
a partir do curso que coordenam ou do seminário que lideram, prestimoso”.
podem transformar o país. Mas podem demonstrar que é “Você sabe com quem está falando?”
possível mudar. E isto reforça nele ou nela a importância de “Que vergonha, homem se casar com homem, mulher se
sua tarefa político pedagógica. casar com mulher.”
“É isso, você vai se meter com gentinha, é o que dá.”

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“Quando negro não suja na entrada, suja na saída.” O homem como espécie e um ser natural, isto e, e um ser
“O governo tem que investir mesmo é nas áreas onde mora composto biologicamente, mas que não está acabado, pois sua
gente que paga imposto.” constituição depende das suas relações sociais. A diferença
“Você não precisa pensar. Vote em fulano, que pensa por entre a espécie humana e as outras espécies animais dá-se em
você.” decorrência do trabalho.
“Você, desempregado, seja grato. Vote em quem ajudou Enquanto as outras espécies se adaptam a realidade
você. Vote em fulano de tal.” satisfazendo suas necessidades, o homem modifica a realidade
“Está se vendo, pela cara, que se trata de gente fina, de pelo trabalho, transformando-a para atender suas
trato, que tomou chá em pequeno e não de um pé-rapado necessidades que se vão complexificando na medida do
qualquer.” desenvolvimento de sua realidade. O trabalho, portanto,
“O professor falou sobre a Inconfidência Mineira.” atividade essencialmente humana, e o que caracteriza a
“O Brasil foi descoberto por Cabral.” natureza humana, construindo-a histórica e socialmente.
E a atividade consciente, com finalidade e intencionalidade
Assim, o melhor caminho para guardar viva e desperta a de satisfação de suas necessidades, que o torna um ser
minha capacidade de pensar certo, de ver com acuidade, de humanizado.
ouvir com respeito, por isso de forma exigente, é me deixar Concordando com Engels190: “Os animais só podem
exposto às diferenças, é recusar posições dogmáticas, em que utilizar a natureza e modifica-la apenas porque nela estão
me admita como proprietário da verdade. presentes. Já o homem modifica a natureza e a obriga a
servi-lo, ou melhor: Domina-a. Analisando mais
C.8 Ensinar exige disponibilidade para o diálogo profundamente, não há dúvida de que a diferença
Dessa forma, como professor não se deve poupar fundamental entre os homens e os outros animais está na
oportunidades para testemunhar aos alunos a segurança com forca do trabalho”.
que me comporto ao discutir um tema, ao analisar um fato, ao O trabalho humano pode ser material ou não material. No
expor minha posição em face de uma decisão governamental, caso do trabalho material, sua produção é a garantia de
o mundo encurta, o tempo se dilui: o ontem vira agora; o subsistência, e a produção de objetos tendo o homem como
amanhã já está feito. Tudo muito rápido. Debater o que se diz sujeito. Já a produção não material se caracteriza pelo trabalho
e o que se mostra e como se mostra na televisão me parece algo produtor de ideias, valores, símbolos, conceitos, habilidades.
cada vez mais importante. A educação e trabalho não material: não produz resultados
E como educadores e educadoras progressistas não apenas físicos (objetos) e seu produto não se separa nem de seu
não podemos desconhecer a televisão mas devemos usá-la, produtor, nem de seu consumidor. Significa dizer, portanto,
sobretudo, discuti-la. que a educação depende do educador (produtor) para a
O poder dominante, entre muitas, leva mais uma vantagem consecução do seu objetivo (produção) e não se realiza sem a
sobre nós. É que, para enfrentar o ardil ideológico de que se presença ativa do seu consumidor (educando).
acha envolvida a sua mensagem na mídia, seja nos noticiários, As duas categorias de trabalho (material e não material)
nos comentários aos acontecimentos ou na linha de certos estão intimamente relacionadas, pois o homem planeja,
programas, para não falar na propaganda comercial, nossa antecipa mentalmente sua ação sobre o objeto e, portanto,
mente ou nossa curiosidade teria de funcionar para a realização do trabalho material, o homem realiza um
epistemologicamente todo o tempo. E isso não é fácil. trabalho não material.
No momento em que o modo de produção capitalista
C.9 Ensinar exige querer bem aos educandos inverte a posição do homem em relação ao trabalho, ou seja, o
A afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O homem deixa de ser sujeito e passa a ser objeto, o trabalho se
que não posso obviamente permitir é que minha afetividade torna fragmentado e perde seu sentido humanizado. Estão
interfira no cumprimento ético de meu dever de professor no criadas as condições para o processo de alienação.
exercício de minha autoridade. Não posso condicionar a A separação entre trabalhador e o produto de seu trabalho,
avaliação do trabalho escolar de um aluno ao maior ou menor ou seja, a divisão social do trabalho determina a alienação, pois
bem querer que tenha por ele. torna o trabalho algo empobrecido e que não enriquece o
Assim, a alegria não chega apenas no encontro do achado desenvolvimento humano. Portanto, divisão social do
mas faz parte do processo da busca. E ensinar e aprender não trabalho significa colocar o homem como mercadoria: sua
podem dar-se fora da procura, fora da boniteza e da alegria. produção representa seu valor e seu valor só e
Dessa forma a rigosidade, a séria disciplina intelectual, o considerado quando contribui para a acumulação do
exercício da curiosidade epistemológica não me faz capital.
necessariamente um ser mal-amado, arrogante, cheio de mim Segundo Marx191: “O ser alheio ao qual pertence o trabalho
mesmo. Ou, em outras palavras, não é a minha arrogância e o produto do trabalho, a serviço do qual está o trabalho e
intelectual a que fala de minha rigorosidade científica. Nem a para cuja fruição está o produto do trabalho, só pode ser o
arrogância é sinal de competência nem a competência é causa homem mesmo. Se o produto do trabalho não pertence ao
de arrogância. Não nego a competência, por outro lado, de trabalhador, um poder alheio estando frente a ele, então
certos arrogantes, mas lamento neles a ausência de isto só e possível pôr o produto do trabalho pertencer a
simplicidade que, não diminuindo em nada seu saber, os faria um outro homem fora do trabalhador. Se a sua atividade lhe
gente melhor. Gente mais gente. e tormento, então tem que ser fruição a um outro e a alegria de
viver de um outro. Não os deuses, não a natureza, só o homem
4. Fundamentos da pedagogia histórico-crítica: O mesmo pode ser este poder alheio sobre os homens”.
Homem e o trabalho A sociedade capitalista tem colocado a escola como
Para entender as implicações e as possibilidades de um mecanismo que adapta seus sujeitos a sociedade na qual estão
projeto educativo comprometido com a mudança da inseridos.
sociedade, e preciso ter uma visão de ser humano e sua relação Sendo assim, na sociedade capitalista a escola tem a função
com o trabalho. social de manutenção do sistema por meio das ideias e dos
interesses da classe dominante, ocasionando o esvaziamento

190 ENGELS, F. O papel do trabalho na transformação do macaco em homem. 191 MARX, K. O trabalho alienado, 1844.
Neue Zeit. 1986.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 209


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dos conteúdos adequados e necessários a humanização e de transformadora significa investir no sistema educacional e
métodos igualmente adequados a apropriação da humanidade formar intelectuais orgânicos.
social e historicamente construída. Essa escola do capitalismo Porém, esse não é um projeto capitalista e precisa ser
abre portas a todo tipo de organização não escolar, enfatiza a compreendido em sua essência, pois o neoliberalismo procura
experiência e valoriza por conseguinte o indivíduo particular mascará-lo com os conceitos de globalização, integração,
e sua subjetividade. flexibilidade, competitividade etc., que são uma imposição das
Se por um lado a história de vida é fundamental na novas formas de sociabilidade capitalista tanto para
formação do sujeito em sua totalidade, por outro lado a estabelecer um novo padrão de acumulação quanto para
secundarizarão da educação escolar representa minimizar definir as formas concretas de integração dentro da nova
conteúdos e formas de assimilação dos conhecimentos reorganização da economia mundial.
historicamente construídos. Consequentemente, significa
contribuir para o projeto neoliberal que impede a ação dos B) Escola: Que espaço é esse?
homens na realidade concreta. A escola é uma instituição social, cujo papel especifico
Estas novas referências, apresentadas por discursos consiste em propiciar o acesso ao conhecimento sistematizado
bastante sedutores, sobre valorização da pessoa e sua daquilo que a humanidade já produziu e que e necessário as
subjetividade, sobre a importância dos conhecimentos novas gerações para possibilitar que avancem a partir do que
adquiridos experiencial mente, sobre a criatividade da já foi construído historicamente.
atividade docente, sobre a articulação entre aprendizagem e A escola pode tornar-se espaço de reprodução da
cotidiano, representam, outrossim, estratégias para o mais sociedade capitalista ou pode contribuir na transformação da
absoluto esvaziamento do trabalho educacional. sociedade dependendo do nível de participação nas decisões
Os professores já não mais precisarão aprender o que os envolvidos tem (pais, alunos, professores), da maneira
conhecimento historicamente acumulado, pois já não mais como os conteúdos são selecionados (sua relevância e caráter
precisarão ensina-lo aos seus alunos, e ambos, professores e humanizado), da forma como são discutidos, apresentados e
alunos, cada vez mais empobrecidos de conhecimentos pelos inseridos no planejamento e como são ensinados. O professor
quais possam compreender e intervir na realidade, com maior e, portanto, peça-chave nessa organização e sistematização do
facilidade, adaptar-se-ão a ela pela primazia da alienação. conhecimento.
Nas diferentes teorias educacionais, encontra-se a visão de
A) Alienação docente: Implicações na construção do escola, professor e aluno que norteia cada uma delas e
conhecimento consequentemente e possível reconhecer nesses modelos a
E preciso não perder de vista que a educação, apesar de sua manutenção do status quo ou a luta para fazer da escola um
fundamental importância na conscientização das massas, não espaço democrático e contribuinte para as transformações da
é redentora da humanidade, pois pertence a um sistema de sociedade.
instituições sociais, sendo necessário considerar que todos os
fatores sociais agem (ou deveriam agir) dialeticamente. B.1 Teorias não críticas
Para refletir sobre a atuação do professor, e preciso Na sociedade capitalista, a educação tem duas funções:
considerar as condições concretas de realização de seu
trabalho, pois a idealização deve servir-nos como aquilo que A) Qualificação de mão de obra;
buscamos, mas deve ser pensada a partir daquilo que vivemos. B) Formação para o controle político.
Os esforços em manter o trabalho pedagógico num ideário
que desvaloriza o caráter político da educação imergem o Assim como já descrito anteriormente, essas funções
professor em práticas que, traduzindo sua alienação respondem a sociedade de classes, pois em sua função de
particular, a reproduzem em seus educandos partindo de formação para o controle político serão preparados aqueles
práticas valorativas do cotidiano e que impedem a reflexão que determinarão os rumos da sociedade enquanto a mão de
crítica e transformadora. obra mantem a estrutura social.
E preciso compreender está imersão acrítica em seu Todas as teorias deste grupo desempenharam e ainda
contexto histórico. A partir do final da década de 1980, desempenham grande poder sobre as práticas pedagógicas
aumentou a demanda pela escola, mas sua qualidade não exercidas, tendo a ação da escola como a de adequação do
acompanhou o número de vagas oferecidas, o que fez que os indivíduo a sociedade.
alunos provenientes de melhores condições financeiras A chamada escola tradicional tem o ensino centrado na
migrassem para as escolas privadas; o professor teve sua autoridade do professor, os conteúdos não estão relacionados
formação esvaziada, deixando de ser valorizado socialmente, a realidade e o aluno deve aprender pela repetição e
os salários tiveram queda vertiginosa, o que também memorização. No entanto, ao longo do tempo essa escola foi
contribuiu para a minimização do status do professor. Além sendo progressivamente criticada por não conseguir realizar
disso, a culpabilizacao do professor pelos males da escola seu desiderato de universalização nem todos nela ingressavam
coloca o educador em condição de ser necessário ou e mesmo os que ingressavam nem sempre eram bem-
desnecessário, tanto para a classe dominante como para a sucedidos.
classe trabalhadora, dependendo do projeto com o qual está A educação tradicional esteve ligada a fase revolucionaria
comprometido. Esse comprometimento, por sua vez, depende da burguesia, defendendo o princípio de que todos os seres
do nível de consciência profissional do docente em relação ao humanos nascem essencialmente iguais, ou seja, nascem uma
seu poder de transformação na pratica pedagógica. tabula rasa, que se contrapunha a concepção medieval,
A crise das instituições educacionais é uma crise da segundo a qual os seres humanos nasceriam essencialmente
totalidade dos processos dos quais a educação formal e apenas diferentes e defendia a reforma da sociedade substituindo uma
uma parte. A questão central da atual contestação das sociedade com base num suposto direito natural por uma
instituições educacionais não são simplesmente o tamanho sociedade contratual”
das classes, a inadequação das instalações de pesquisas, mas a Essa escola, estava articulada a um processo político de
razão de ser da própria educação. superação da Idade Média e consolidação da burguesia e sua
A educação, portanto, está diretamente relacionada a ordem democrática no poder.
organização social em suas múltiplas relações. Daí decorrem Não se podem ignorar as insuperáveis limitações da
os interesses políticos e econômicos em manter a educação em pedagogia tradicional, as quais decorrem principalmente do
plano de menor importância. Preocupar-se com a educação fato de que se trata de uma pedagogia burguesa e, como tal,

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desconsidera inteiramente a existência da luta de classes e conteúdos cognitivos para os métodos ou processos
suas implicações para a produção e distribuição social do pedagógicos; do professor para o aluno; do esforço para o
conhecimento, da mesma forma que transforma o interesse; da disciplina para a espontaneidade; do
conhecimento ensinado na escola em algo destituído de diretivíssimo para o não diretivíssimo; da quantidade para a
historicidade. qualidade; de uma pedagogia de inspiração filosófica centrada
Mas não foi por essa razão que a escola tradicional passou, na ciência da lógica para uma pedagogia de inspiração
no final do século XIX e início do século XX, a ser alvo das experimental baseada principalmente nas contribuições da
críticas dos defensores da “nova pedagogia. biologia e da psicologia.
Tais críticas tem sua origem social no fato de que a Esse tipo de escola ficou restrito a pequenos grupos de
burguesia precisava recompor sua hegemonia e, nesse elite e as redes oficiais, apesar de influenciadas por este novo
contexto, tornou-se necessário articular ideologicamente a pensamento, não tinham condições (materiais inclusive) de
escola a uma perspectiva não mais centrada na socialização do acompanhar as características do trabalho escola novista.
conhecimento objetivo sobre a realidade natural e social, mas Como consequência, rebaixou-se o nível de ensino destinado a
sim a uma concepção da escola como espaço de respeito a classe trabalhadora, que não mais tinha na escola o espaço
individualidade, a atividade espontânea e as necessidades da singular de acesso ao conhecimento elaborado, pois este ficou
vida cotidiana dos indivíduos. em segundo plano.
Os ideólogos da burguesia colocavam a necessidade de Na atualidade, remontando ao movimento da pedagogia
educação de forma mais geral e, nesse sentido, cumpriam o nova (ou escolanovismo), as pedagogias do “aprender a
papel de hegemonia, ou seja, de articular toda a sociedade em aprender” tem se firmado hegemonicamente, sendo diferentes
torno dos interesses que se contrapunham a dominação discursos variantes de uma mesma concepção.
feudal. Enquanto a burguesia era revolucionaria, isso fazia O universo ideológico ao qual estão ligadas essas
sentido, quando ela se consolidou no poder, a questão pedagogias e o neoliberalismo e o pós-modernismo. Ainda que
principal já não era superar a velha ordem, o Antigo Regime. os intelectuais pós-modernos não aceitem essa associação, e
Este, com efeito, já fora superado, e a burguesia, em difícil não fazer essa aproximação tendo em vista que
consequência, já se tornara classe dominante; nesse momento, compartilham de diversos aspectos que convergem para a
o problema principal da burguesia passa a ser evitar as ideologia da sociedade capitalista.
ameaças e neutralizar as pressões para que se avance no Um aspecto que pode ser destacado e a concepção de
processo revolucionário e se chegue a uma sociedade conhecimento para o neoliberalismo e para o pós-
socialista. A burguesia, então, torna-se conservadora e passa a modernismo. No caso do primeiro, valoriza-se o conhecimento
ter dificuldades ao lidar com o problema da escola, pois a tácito. Para o segundo, o conhecimento e relativo, trata-se de
verdade e sempre revolucionaria. Enquanto a burguesia era uma construção mental individual ou coletiva que não tem o
revolucionaria, ela possuía interesse na verdade. Quando poder de se apropriar objetivamente da realidade, reduzindo-
passa a ser conservadora, a verdade então a incomoda, choca- se a sinais, convenções e práticas culturalmente justificadas.
se com seus interesses. Isso ocorre porque a verdade histórica Trata-se do discurso de um grupo, um significado
evidencia a necessidade das transformações, as quais, para a compartilhado por um grupo social (daí pensar a escola como
classe dominante - uma vez consolidada no poder -, não são espaço de negociação de significados e conteúdos e não como
interessantes; ela tem interesse na perpetuação da ordem espaço de transmissão assimilação de conhecimento).
existente. Analisando as definições de Vygotsky192 para conceitos
Dessa forma, a burguesia passa a propor uma pedagogia cotidianos e conceitos científicos, explica que os conceitos
que legitima a diferença entre os homens, a pedagogia da cotidianos estão relacionados à aparência, ao imediatamente
existência, que vai contrapor-se ao movimento de libertação observável, que, de forma fragmentada e primária, é a
da humanidade em seu conjunto, vai legitimar as manifestação externa das coisas. Já os conceitos científicos
desigualdades, legitimar a dominação, legitimar a sujeição, estão mediados por um conjunto (sistema) de conceitos e são
legitimar os privilégios. Nesse momento, a classe compreendidos pela “análise científica”. Trata-se da essência
revolucionaria e outra: não e mais a burguesia, e exatamente das coisas de forma complexa em oposição à aparência; é o
aquela classe que a burguesia explora. diferencial da ciência: demonstrar as coisas em sua totalidade
A teoria educacional que toma corpo a partir de então, a e complexidade pelas mediações teóricas abstratas.
pedagogia nova, afirma que os homens não são essencialmente Para Saviani, a escola existe, pois, para propiciar a
iguais; os homens são essencialmente diferentes, e nós temos aquisição dos instrumentos que possibilitam o acesso ao saber
que respeitar as diferenças entre os homens. Então há aqueles elaborado (ciência), bem como o próprio acesso aos
que tem mais capacidade e aqueles que tem menos rudimentos desse saber. As atividades da escola básica devem
capacidade; há aqueles que aprendem mais devagar; há organizar-se a partir dessa questão. Se chamarmos isso de
aqueles que se interessam por isso e os que se interessam por currículo, poderemos então afirmar que é a partir do saber
aquilo. sistematizado que se estrutura o currículo da escola
Em verdade, o que está por trás dessa “aceitação” e a elementar. Ora, o saber sistematizado, a cultura erudita, é uma
validação das desigualdades como algo natural e impossível de cultura letrada.
ser superado. Daí que a primeira exigência para o acesso a esse tipo de
Assim, o eixo da questão pedagógica, antes centrado no saber seja aprender a ler e escrever.
conteúdo, no professor e na defectividade, agora se desloca Além disso, é preciso conhecer também a linguagem dos
para os métodos ou processos pedagógicos, para o aluno e números, a linguagem da natureza e a linguagem da sociedade.
para a não defectividade, tratando-se de uma teoria onde o Está aí o conteúdo fundamental da escola elementar: ler,
importante não e aprender, mas aprender a aprender. escrever, contar, os rudimentos das ciências naturais e das
Segundo os preceitos da Escola Nova, a educação deve ciências sociais (história e geografia humanas).
contribuir para que todos os indivíduos sejam aceitos na O currículo escolar, na perspectiva do “aprender a
sociedade com suas diferenças, sejam elas quais forem. Assim, aprender”, perde referência de quais são os conteúdos a serem
deslocou o eixo da questão pedagógica do intelecto para o ensinados, pois deve voltar-se às vivências e cultura cotidiana
sentimento; do aspecto logico para o psicológico; dos do aluno. Os conhecimentos historicamente construídos e

192 Existem diferentes grafias para o nome de Vigotski. Aqui será adotada esta

forma (“Vigotski”), mas se preservarão as diferentes grafias utilizadas em obras


citadas neste trabalho.

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acumulados na história humana são caracterizados As condições materiais que estão postas na transformação
negativamente como saberes descontextualizados e da natureza em cultura se dão por meio da ideologia. A
fragmentados, porque não estão relacionados à vida cotidiana. exploração e a dominação de uma classe são veladas, de forma
Para essas pedagogias, portanto, a educação não está que a classe trabalhadora acredita serem valores universais
centrada em adquirir conhecimento (domínio de conteúdos), aqueles impostos pela classe dominante.
mas sim no processo da aprendizagem. Os sujeitos são O Estado, como aparelho repressivo (em que o indivíduo
preparados para serem flexíveis e adaptáveis às necessidades respeita as leis para não ser punido) e ideológico (instituições
do mercado; tornam-se dóceis aos desígnios do capitalismo; a que garantem a dominação pela ideologia), visa garantir a
exploração do homem pelo homem é naturalizada e a classe ordem vigente, tendo como um de seus instrumentos a escola.
dominante isenta-se da responsabilidade de oferecer Roger Establet e Christian Baudelot, utilizando a matriz
condições ao desenvolvimento máximo de todos os indivíduos. teórica marxista, retomando Althusser e criticando Bourdieu e
Em contraposição a esse posicionamento de esvaziamento Passeron em alguns pontos, escrevem sobre a divisão da
do currículo e de distorção das atividades nucleares da escola, escola e desenvolvem a teoria da escola dualista, na qual a
Saviani define currículo como o conjunto das atividades escolarização atende de maneiras diferentes a burguesia e o
nucleares desenvolvidas pela escola. proletariado, tendo, portanto, a escola, a função de reproduzir
E por que isto? Porque se tudo o que acontece na escola é as divisões sociais entre trabalho intelectual e trabalho
currículo, se se apaga a diferença entre curricular e manual.
extracurricular, então tudo acaba adquirindo o mesmo peso; e Esse grupo de teorias deve ser considerado crítico porque
abre-se caminho para toda sorte de tergiversações, inversões compreende a educação em sua relação com a sociedade e
e confusões que terminam por descaracterizar o trabalho influenciou estudos sobre a educação (na América Latina,
escolar. especialmente na década de 1970). Porém, como chegam
Para exemplificar essa descaracterização, o autor recorre invariavelmente à conclusão de que a função própria da
ao dia a dia das escolas, que passam todo o ano letivo se educação consiste na reprodução da sociedade em que ela se
dedicando a atividades que se tornam centrais, quando insere, bem merecem a denominação de ‘teorias crítico-
deveriam apenas servir ao enriquecimento do currículo: reprodutivistas’”. Nesse sentido, essas teorias, ao mesmo
Carnaval, Páscoa, Dia das Mães, Festas Juninas, Folclore, tempo em que desvelaram a articulação da educação com os
Semana da Pátria, Semana da Criança etc. interesses da burguesia, também propagaram o pessimismo
O ano letivo encerra-se e estamos diante da seguinte entre os educadores, impactados com a impossibilidade de
constatação: fez-se de tudo na escola; encontrou-se tempo articular os sistemas de ensino com os esforços de superação
para toda espécie de comemoração, mas muito pouco tempo do problema da marginalidade.
foi destinado ao processo de transmissão-assimilação de
conhecimentos sistematizados. Isto quer dizer que se perdeu B.3 Teorias críticas
de vista a atividade nuclear da escola, isto é, a transmissão dos Designam teorias que fazem uma análise crítica da
instrumentos de acesso ao saber elaborado [idem, ibidem]. sociedade e, consequentemente, da educação, sendo que o
Finalmente, na tendência tecnicista todo o sistema posicionamento delas é de que a educação, como fenômeno
educacional é organizado por especialistas “supostamente social, é determinada pelas classes sociais opostas, com
habilitados, neutros, objetivos, imparciais”, cabendo ao interesses, valores e comportamentos diversos.
professor executar técnicas que garantam a aprendizagem de Podem-se localizar dois grandes grupos nas teorias
conteúdos que estão restritos a informações técnicas, sem críticas. No primeiro grupo, as propostas inspiradas nas
permitirem discussões que considerem outros pontos de vista. concepções libertadora e libertária e no segundo, a pedagogia
Tanto professores quanto alunos não são mais elementos crítico-social dos conteúdos e a pedagogia histórico-crítica.
centrais do processo educativo, pois a organização racional, No caso das teorias do primeiro grupo, pode-se afirmar
que proporcione a eficiência e a produtividade, será o que elas estão centradas “no saber do povo e na autonomia de
componente principal desta pedagogia preocupada em suas organizações [preconizando] uma educação autônoma e
“formar indivíduos eficientes, isto é, aptos a dar sua parcela de até certo ponto, à margem da estrutura escolar”.
contribuição para o aumento da produtividade da sociedade”. Já nas teorias do segundo grupo, a centralidade está na
educação escolar, com valorização do acesso da classe
B.2 Teorias crítico reprodutivistas trabalhadora ao conhecimento sistematizado.
Nas teorias crítico-reprodutivistas, estão as teorias da Assim, essa tendência aglutinou representantes cuja
escola como violência simbólica, da escola como aparelho orientação teórica predominantemente se inspirava no
ideológico do Estado e da escola dualista. marxismo, entendido, porém, com diferentes aproximações:
A violência simbólica é exercida pelo poder de imposição uns mantinham como referência a visão liberal, interpretando
das ideias transmitidas por meio da comunicação cultural, da o marxismo apenas pelo ângulo da crítica às desigualdades
doutrinação política e religiosa, das práticas esportivas, da sociais e da busca de igualdade de acesso e permanência nas
educação escolar. escolas organizadas com o mesmo padrão de qualidade;
Pierre Bourdieu e Jean-Claude Passeron, sociólogos outros se empenhavam em compreender os fundamentos do
franceses, escreveram sobre o fenômeno escolar. Os autores materialismo histórico, buscando articular a educação com
de Os herdeiros (1964) e A reprodução (1970) deixam claro uma concepção que se contrapunha à visão liberal.
que a escola não é desvinculada do contexto social em que está A pedagogia histórico-crítica pertence ao grupo
inserida, mas sim marcada pelo sistema social e, portanto, sob empenhado em fundamentar-se no materialismo histórico,
o véu de neutralidade, acaba por reproduzir as diferenças de contrapondo-se à pedagogia liberal. Visto que este trabalho se
classes, o que se traduz numa violência simbólica. Desta forma, fundamenta nessa concepção, que se estruturou como
a cultura torna-se instrumento de poder, pois legitima a ordem alternativa ao “negativismo pedagógico” que, preocupado em
vigente. denunciar a reprodução capitalista atribuiu ênfase ao papel
A teoria da escola como aparelho ideológico de Estado reprodutor da escola, seus fundamentos serão explicitados.
representa a reflexão feita por Louis Althusser, filósofo A pedagogia histórico-crítica busca compreender a
francês, a partir do pensamento de Marx, sobre a seguridade história a partir do seu desenvolvimento material, da
da produção por meio da garantia de reprodução de suas determinação das condições materiais da existência
condições materiais. humana.

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Nesse sentido, esta teoria pedagógica toma posição na luta reestruturação qualitativa deste conhecimento espontâneo,
de classes aliando-se aos interesses dos dominados e surge em levando o aluno a superá-lo por meio da apropriação do
decorrência de necessidades postas pela prática dos conhecimento científico-teórico.
educadores nas condições atuais. A educação escolar tem
caráter específico e central na sociedade, o papel do professor B) Problematização: Momento de levantar as questões
é fundamental no ensino, o currículo deve ser organizado com postas pela prática social. É a ocasião em que se toma evidente
base nos conteúdos clássicos e a transmissão do conhecimento a relação escola-sociedade com as questões da prática social
é basilar. Desta forma, considera-se que na busca da superação (que precisam ser resolvidas) e os conhecimentos científicos e
das pedagogias tradicional e do “aprender a aprender” a tecnológicos (que devem ser acionados. Trata-se de colocar
pedagogia histórico- crítica se torna referência por sua em xeque a forma e o conteúdo das respostas dadas à prática
coerência teórica e posicionamento ideológico. social, questionando essas respostas, apontando suas
Uma pedagogia articulada com os interesses populares insuficiências e incompletudes; demonstrar que a realidade é
valorizará, pois, a escola; não será indiferente ao que ocorre composta por diversos elementos interligados, que envolvem
em seu interior; estará empenhada em que a escola funcione uma série de procedimentos e ações que precisam ser
bem; portanto, estará interessada em métodos de ensino discutidas.
eficazes. Tais métodos situar-se-ão para além dos métodos No momento da Problematização, o professor precisa ter
tradicionais e novos, superando por incorporação as claro como orientará o desenvolvimento da aprendizagem,
contribuições de uns e de outros. Serão métodos que baseando-se naquilo que já tem como material da etapa
estimularão a atividade e iniciativa dos alunos sem abrir mão, anterior e seus objetivos de ensino. Além disso, seu
porém, da iniciativa do professor; favorecerão o diálogo dos planejamento deve abordar as diversas dimensões do tema e
alunos entre si e com o professor, mas sem deixar de valorizar evidenciar a importância daquele conhecimento, fazendo-o ter
o diálogo com a cultura acumulada historicamente; levarão em sentido para o aluno.
conta os interesses dos alunos, os ritmos de aprendizagem e o
desenvolvimento psicológico, mas sem perder de vista a C) Instrumentalização: Momento de oferecer condições
sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e para que o aluno adquira o conhecimento. Tendo sido
gradação para efeitos do processo de transmissão-assimilação evidenciado o objeto da ação educativa e feita a mobilização
dos conteúdos cognitivos. dos alunos para o conteúdo que está em questão, é preciso
A reflexão desenvolvida pela pedagogia histórico-crítica instrumentalizar os educandos para equacionar os problemas
busca propor novos caminhos, para que a crítica não seja levantados no momento anterior, possibilitando- lhes, de
esvaziada pela falta de soluções e organização metodológica posse dos instrumentos culturais que lhes permitam
do pensamento. compreender o fenômeno em questão de forma mais complexa
Sendo assim, os momentos propostos por esta formulação e sintética, dar novas respostas aos problemas colocados. A
teórica serão a seguir explicitados: apropriação dos instrumentos físicos e psicológicos permite a
objetivação dos indivíduos, tornando “órgãos da sua
A) Ponto de partida da prática educativa (prática individualidade” o que foi construído socialmente ao longo da
social): Etapa na qual se deve levar em conta a realidade social história humana.
do educando. A importância dessa instrumentalização está em
Neste primeiro momento, o professor tem uma “síntese possibilitar o acesso da classe trabalhadora ao nível das
precária”, pois há um conhecimento e experiências em relação relações de elaboração do conhecimento e não somente sua
à prática social, mas seu conhecimento é limitado, pois ele produção.
ainda não tem claro o nível de compreensão dos seus alunos.
Por sua vez, a compreensão dos alunos é sincrética, A produção do saber é social, se dá no interior das
fragmentada, sem a visão das relações que formam a relações sociais.
totalidade. O primeiro momento do método articula--se com o A elaboração do saber implica expressar de forma
nível de desenvolvimento efetivo do aluno, tendo em vista a elaborada o saber que surge da prática social. Essa expressão
adequação do ensino aos conhecimentos já apropriados e ao elaborada supõe o domínio dos instrumentos de elaboração e
desenvolvimento iminente, no qual o ensino deve atuar. Com sistematização. Daí a importância da escola: se a escola não
isso se quer dizer que esse momento deve, com base nas permite o acesso a esses instrumentos, os trabalhadores ficam
demandas da prática social (o que não é sinônimo de bloqueados e impedidos de ascender ao nível da elaboração do
demandas do cotidiano), selecionar os conhecimentos saber, embora continuem, pela sua atividade prática real, a
historicamente construídos que devam ser transmitidos, contribuir para a produção do saber.
traduzidos em saber escolar. O ponto de partida da prática
educativa é a busca pela apropriação, por parte dos alunos, das D) Catarse: Momento culminante do processo educativo,
objetivações humanas. quando o aluno apreende o fenômeno de forma mais
É importante destacar que o saber das crianças, baseado complexa. Há uma transformação e a aprendizagem efetiva
em suas experiências do cotidiano, pode contribuir para a acontece.
estruturação do início da ação pedagógica, mas não é condição É preciso dizer que a catarse não se dá em um ponto
para ela. Isto por duas razões: primeiro, porque as exclusivo, pois se trata da síntese, que vai acontecendo de
experiências dos alunos são baseadas no senso comum, maneira cada vez mais aprofundada. Na verdade, a
referem-se ao conhecimento em si e a forma de conhecimento apresentação de “passos” é um recurso didático que foi
que a escola deve dedicar-se a desenvolver é o conhecimento utilizado para fazer analogia às pedagogias tradicional e nova,
para si. sendo mais adequado à pedagogia histórico-crítica a menção a
A segunda razão, decorrente da primeira, é que a escola, momentos, visto a interdependência existente entre as etapas.
dedicando-se ao saber erudito, nem sempre encontrará nos São, portanto, momentos que se articulam toda vez que se quer
interesses imediatos e nos conhecimentos prévios dos alunos ensinar algo. A Problematização exige a instrumentalização e
os conteúdos que a escola deve transmitir e isso não significa esta nada será se não houver apropriação dos instrumentos.
que por isso não deva criar as necessidades e oferecer os O momento da catarse é parte do processo de
conhecimentos históricos e elaborados. A experiência da vida homogeneização, que se efetiva enquanto superação da
cotidiana da criança deve ser levada em conta no processo de heterogeneidade da vida cotidiana. Assim, a catarse opera uma
ensino-aprendizagem, no entanto o professor deve agir na mudança momentânea na relação entre a consciência

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individual e o mundo, fazendo com que o indivíduo veja o (A) Pedagogia Histórico-Cultural.
mundo de uma maneira diferente daquela própria ao (B) Pedagogia Libertadora.
pragmatismo e ao imediatismo da vida cotidiana”. Essa (C) Pedagogia Histórico-Crítica.
mudança, sendo parte de um processo, é caracterizada pela (D) Pedagogia Tecnicista.
diferença qualitativa entre o antes e o depois da catarse. Sendo
assim, o momento catártico modifica a relação do indivíduo 04. (Prefeitura de Maria Helena/PR – Professor –
com o conhecimento, saindo do sincretismo caótico inicial Educação Fundamental – FAFIPA) “O método da concepção
para uma compreensão sintética da realidade, relacionando-se bancária é a opressão, o antidiálogo. Configura-se então a
intencional e conscientemente com o conhecimento. Para educação exercida como uma prática da dominação, em que a
Saviani, nesse momento ocorre a efetiva incorporação dos única margem de ação que se oferece aos educandos é a de
instrumentos culturais, transformados agora em elementos receberem os depósitos, guardá-los e arquivá-los”. Nesta
ativos da transformação social. citação, Paulo Freire critica a tendência pedagógica:
(A) Pedagogia Histórico-Crítica.
E) Ponto de chegada da prática educativa (prática (B) Pedagogia Tecnicista.
social modificada): O educando, tendo adquirido e (C) Pedagogia Libertadora.
sintetizado o conhecimento, tem entendimento e senso crítico (D) Pedagogia Tradicional.
para buscar seus objetivos de maneira transformadora.
Quando o aluno problematiza a prática social e evolui da Respostas
síncrese para a síntese, está no caminho da compreensão do
fenômeno em sua totalidade. O primeiro e o quinto momento 01. Certo. / 02. C. / 03. C. / 04. D.
são a prática social, mas dilerem no sentido de que ao final do
processo essa prática se modifica em razão da aprendizagem
resultante da prática educativa, produzindo alterações na
qualidade e no tipo de pensamento (do empírico ao teórico).
A educação em sua
É importante que a proposta metodológica da pedagogia dimensão teórico-filosófica:
histórico-crítica não seja incorporada como um receituário, filosofias tradicionais da
desvencilhada de seus fundamentos teóricos, pois seu
embasamento visa garantir aos dominados aquilo que os
Educação e teorias
dominantes dominam, de forma que contribua para a luta pela educacionais
superação de sua condição de exploração, e por isso não é contemporâneas;
concebível utilizar essa metodologia para a manutenção da
ordem vigente.

Questões Educação - Filosofia

01. (FUB – Pedagogo – CESPE) Quando se fala em 1. Elucidações conceituais e articulações


materialismo, a figura de Karl Marx aparece como uma espécie O termo Filosofia é vigente e muito utilizado. Mas sabemos
de mito, pois provocou profundas simpatias ou violentos nós (e sabem todos que usam esse termo) o que significa, de
rancores nos mais variados grupos sociais, em diversos fato, a Filosofia? Será que já nos dedicamos a meditar o que ela
lugares do planeta. (A. B. Carvalho e W. C. L. Silva. Sociologia significa? Nós já nos pusemos a pensar nisto?
da educação. São Paulo: Avercamp, 2006, p. 49 - com Na história do pensamento, que a humanidade vem
adaptações.) construindo ao longo do tempo, muitos foram os pensadores e
Acerca do marxismo e da educação, julgue os próximos pesquisadores que deram uma definição ou um conceito para
itens. a Filosofia. Por vezes, esses conceitos foram complexos, por
Para os marxistas, a prática educativa é uma atividade que vezes simples; por vezes rebuscados e quase
favorece a transformação da sociedade. incompreensíveis. Há, pois, um emaranhado de conceitos.
( ) Certo ( ) Errado Diante deles muitas pessoas se sentem entediadas e, em vez de
enfrentar o problema, preferem descartá-lo, dizendo que a
02. (IF/SP – Técnico em assuntos educacionais – Filosofia é um "jogo inútil e estéril de palavras", ou que é
FUNDEP) Para Freire (2001), a prática educativa é "muito difícil e só serve e interessa a pessoas especiais e muito
compreendida como um exercício contínuo em prol da inteligentes".
produção e do desenvolvimento da autonomia de educadores A expressão mais cabal desse descrédito está numa frase,
e educandos. mais ou menos popular, que anda de boca em boca e diz: "a
Para a prática educativa comprometida com a autonomia, filosofia é uma ciência com a qual ou sem a qual o mundo
é necessário, EXCETO: continua tal e qual". Ou seja, podemos passar muito bem com
(A) Querer bem aos educandos. ou sem a filosofia.
(B) Ter disponibilidade para o diálogo. Fugindo tanto do emaranhado histórico dos conceitos
(C) Reconhecer que somos seres determinados pelos elaborados, quanto do descrédito, maligno ou jocoso, que as
condicionamentos genéticos, sociais e culturais. pessoas lançam em relação à Filosofia, vamos tentar
(D) Reconhecer que a educação é ideológica. conceituá-la de uma forma simples e existencial, de tal forma
que possamos compreender o que ela é e verificar o seu
03. (Prefeitura de Maria Helena/PR – Professor – significado para a vida humana.
Educação Infantil – FAFIPA) “A natureza humana não é dada Vamos começar por dizer que a Filosofia é um corpo de
ao homem mas é por ele produzida sobre a base da natureza conhecimento, constituído a partir de um esforço que o ser
biofísica. Consequentemente, trabalho educativo é o ato de humano vem fazendo de compreender o seu mundo e dar-lhe
produzir, direta e intencionalmente, em cada indivíduo um sentido, um significado compreensivo. Corpo de
singular, a humanidade que é produzida histórica e conhecimentos, em Filosofia, significa um conjunto coerente e
coletivamente pelo conjunto de homens”. Esta citação organizado de entendimentos sobre a realidade.
corresponde à tendência pedagógica: Conhecimentos estes que expressam o entendimento que se
tem do mundo, a partir de desejos, anseios e aspirações.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 214


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APOSTILAS OPÇÃO

Dessa forma, podemos dizer que, a filosofia cria o ideário difícil pelo fato de ser a atividade intelectual própria de uma
que norteia a vida humana em todos os seus momentos e em determinada categoria de cientistas especializados ou de
todos os seus processos. Assim, a filosofia é uma força, é o filósofos profissionais e sistemáticos.
sustentáculo de um modo de agir. É uma arma na luta pela vida Só superando esses preconceitos de dificuldade e de
e pela emancipação humana. especialidade é que podemos nos convencer de que, a
Em síntese, a filosofia é uma forma de conhecimento que, contragosto de muitos governantes e muitos políticos,
interpretando o mundo, cria uma concepção coerente e podemos e devemos nos dedicar ao filosofar. E para dedicar-
sistêmica que possibilita uma forma de ação efetiva. Esta se a esta atividade que vale a pena discutir o método do
forma de compreender o mundo tanto é condicionada pelo filosofar, a fim de que todos nós passemos a praticá-lo
meio histórico, como também é seu condicionante. Ao mesmo cotidianamente.
tempo, pois, é uma interpretação do mundo e é uma força de Já vimos que quando não temos um corpo filosófico que dê
ação. sentido e oriente a nossa vida, assumimos o que é comum e
hegemônico na sociedade, assumimos o “senso comum", que é
2. Aplicações da Filosofia da Educação193 o conjunto de valores assimilados espontaneamente, na
Até aqui acreditamos já ter indicado que a filosofia é um vivência cotidiana.
corpo de entendimentos que compreende e dá significado ao Para iniciar o exercício do filosofar, a primeira coisa a fazer
mundo e à existência, dessa forma, importa saber agora como é admitir que vivemos e vivenciamos valores e que é preciso
é que se constitui a filosofia, como é que se constrói esse corpo saber quais são eles. O primeiro passo do filosofar é
de entendimentos, que poderemos assumir criticamente como inventariar os valores que explicam e orientam a nossa vida, e
aquele que queremos para o direcionamento de nossas a vida da sociedade, e que dimensionam as finalidades da
experiências. prática humana. Assim, é preciso se perguntar quais são os
Para abordar essa questão, em primeiro lugar, temos que valores que dão sentido e orientam a vida familiar, se se estiver
colocar na nossa cabeça que o filosofar, além de não ser inútil, analisando a família; quais valores compreendem e orientam a
não é tão difícil e complicado, como se fosse tarefa só para vida econômica, se se estiver questionando a economia, quais
gente ultra especializada. Sobre isso Gramsci194 nos diz que valores compreendem e orientam a educação, se esta for o
deve-se destruir o preconceito, muito difundido, de que a objeto de estudo e assim por diante. E preciso, pois, tomar
filosofia seja algo muito difícil pelo fato de ser a atividade consciência das ações, do lugar onde se está e da direção que
intelectual própria de uma determinada categoria de cientistas toma a vida. Direção que nasce tanto da consciência popular
especializados ou de filósofos profissionais e sistemáticos. como da sedimentação do pensamento filosófico e político que
Só superando esses preconceitos de dificuldade e de se formulou e se divulgou na sociedade com o passar do tempo.
especialidade é que podemos nos convencer de que, a Feito esse inventário, que certamente nunca será completo
contragosto de muitos governantes e muitos políticos, e é tão abrangente quanto todos os setores da vida, é preciso
podemos e devemos nos dedicar ao filosofar. E para dedicar- passar para um segundo momento – o momento da crítica.
se a esta atividade que vale a pena discutir o método do Tomar esses valores e submetê-los a uma crítica acerba,
filosofar, a fim de que todos nós passemos a praticá-lo questioná-los por todos os ângulos possíveis para verificar se
cotidianamente. são significativos e se, de fato, compõem o sentido que
Já vimos que quando não temos um corpo filosófico que dê queremos dar à existência. O padre Vaz, num artigo sobre a
sentido e oriente a nossa vida, assumimos o que é comum e "Filosofia no Brasil", diz que esse momento do filosofar
hegemônico na sociedade, assumimos o "senso comum", que é assemelha-se a um "tribunal de razão", que faz passar pelo
o conjunto de valores assimilados espontaneamente, na crivo da crítica todos os valores vigentes que dão sentido à
vivência cotidiana. nossa cotidianidade.
Dessa forma, a filosofia fornece a educação uma reflexão A crítica é um modo de penetrar dentro desses valores,
sobre a sociedade na qual está situada, sobre o educando, o descobrindo-lhes sua essência. E uma forma de colocá-los em
educador e para onde esses elementos podem caminhar. O xeque e desvendar-lhes os segredos.
educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no mundo, Contudo, ninguém pode viver exclusivamente da negação,
o educador, quem é, qual o seu papel no mundo; a sociedade, o do processo de "vasculhação" dos valores. Não se vive na
que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade da ação negatividade. Então, importa um terceiro momento do
pedagógica. Esses são alguns problemas que exigem a reflexão filosofar: a construção crítica dos valores que sejam
filosófica. significativos para compreender e orientar nossas vidas
A Filosofia propõe questionar, a interpretação do mundo individuais e dentro da sociedade. Valores que sejam
que temos, e procura buscar novos sentidos e novas suficientemente válidos para guiar a ação na direção que
interpretações de acordo com os novos anseios que possam queremos ir.
ser detectados no seio da vida humana. São, pois, em síntese, três passos: inventariar os valores
vigentes; criticá-los; reconstruí-los. E um processo dialético
A) O processo do filosofar que vai de uma determinada posição para a sua superação
Acreditamos já ter indicado que a filosofia é um corpo de teórico-prática.
entendimentos que compreende e dá significado ao mundo e à Diante do exposto, talvez, estejamos exclamando: "mas é
existência. Importa saber agora como é que se constitui a tão fácil, assim, o filosofar"? É e não é, ao mesmo tempo! É
filosofia, como é que se constrói esse corpo de entendimentos, simples, porém não é mecânico como aparece nesta exposição
que poderemos assumir criticamente como aquele que didática. Na mesma medida em que estamos inventariando os
queremos para o direcionamento de nossas experiências. valores vigentes, estamos criticando-os e reconstruindo-os.
Para abordar essa questão, em primeiro lugar, temos que Isso porque, a não ser para a exposição didática, esses
colocar na nossa cabeça que o filosofar, além de não ser inútil, momentos não são seccionados. Um nasce de dentro do outro.
não é tão difícil e complicado, como se fosse tarefa só para Isso se torna mais compreensível se deixarmos o caso de um
gente ultraespecializada. filósofo individual e tomarmos as correntes teóricas e
Sobre isso Gramsci195 nos diz que deve-se destruir o históricas. Certos entendimentos da modernidade têm
preconceito, muito difundido, de que a filosofia seja algo muito vínculos com a Idade Média, e certos valores, que vivemos

193 LUCKESI, C. Filosofia da Educação – São Paulo: Cortez, 2013 195 Idem
194 GRAMSCI, Antonio. Concepção dialética da história. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1978.

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hoje, tiveram seus prenúncios na Idade Moderna. Algo inclusive, no Ocidente os primeiros a receberem pagamento
semelhante ocorre na vida individual do filósofo. Ele entra para ensinar. Sócrates foi o homem que morreu em função do
num processo de crítica dos valores enquanto estes estão seu ideal de educar os jovens e estabelecer uma moralização
vigentes, mas também enquanto entre eles iniciam-se os do ambiente grego ateniense. Platão foi o que pretendeu dar
prenúncios de certas aspirações e anseios dos seres humanos. ao filósofo o posto de rei, a fim de que este tivesse a
Assim, por exemplo, Herbert Marcuse, um filósofo alemão possibilidade de imprimir na juventude as ideias do bem, da
contemporâneo, criticou os valores da sociedade industrial e justiça, da honestidade.
propôs os valores de uma nova sociedade preocupada com Da mesma maneira, se percorrermos a História da Filosofia
uma vida menos unidirecionada para a produtividade e dos filósofos, vamos verificar que todos eles tiveram uma
econômica e mais voltada para a vida plena, com sentimentos, preocupação com a definição de uma cosmovisão que deveria
emoções, amor, vida etc. Como e por que Marcuse conseguiu ser divulgada através dos processos educacionais.
se posicionar dessa forma? Porque nasceu e viveu após a Filosofia e Educação são dois fenômenos que estão
Revolução Industrial, podendo inventariar e criticar os seus presentes em todas as sociedades. Uma como interpretação
valores. E também por ter vivido num momento histórico em teórica das aspirações, desejos e anseios de um grupo humano,
que os seres humanos estão exaustos desses valores e a outra como instrumento de veiculação dessa interpretação.
aspirando por outros que lhes garantam mais vida. Marcuse A Filosofia fornece à educação uma reflexão sobre a
captou o "espírito" dessa época. O filósofo individual, pois, sociedade na qual está situada, sobre o educando, o educador
entra na corrente do contexto em que vive. Isso não quer dizer e para onde esses elementos podem caminhar.
que ele seja um puro reprodutor dessa época, mas sim um Nas relações entre Filosofia e educação só existem
captador de seu "espírito", como vimos anteriormente. realmente duas opções: ou se pensa e se reflete sobre o que se
É assim que nós vamos filosofar: inventariar conceitos e faz e assim se realiza uma ação educativa consciente; ou não se
valores; estudar e criticar valores; estudar e reconstruir reflete criticamente e se executa uma ação pedagógica a partir
conceitos e valores. Para que isso ocorra, é preciso não só olhar de uma concepção mais ou menos obscura e opaca existente
o dia-a-dia, mas ler e estudar o que disseram os outros na cultura vivida do dia-a-dia – e assim se realiza uma ação
pensadores, os outros filósofos. Eles poderão nos auxiliar, educativa com baixo nível de consciência.
tirando-nos do nosso nível de entendimento e dando-nos O educando, quem é, o que deve ser, qual o seu papel no
outras categorias de compreensão. mundo; o educador, quem é, qual o seu papel no mundo; a
Assim, o nosso exercício do filosofar será um esforço de sociedade, o que é, o que pretende; qual deve ser a finalidade
inventário, crítica e reconstrução de conceitos, auxiliados da ação pedagógica. Estes são alguns problemas que emergem
pelos pensadores que nos antecederam. Eles têm uma da ação pedagógica dos povos para a reflexão filosófica, no
contribuição a nos oferecer, para nos auxiliar em nosso sentido de que esta estabeleça pressupostos para aquela.
trabalho de construir nosso entendimento filosófico do mundo Assim sendo, não há como se processar uma ação
e da ação. pedagógica sem uma correspondente reflexão filosófica. Se a
reflexão filosófica não for realizada conscientemente, ela o
B) Filosofia e Educação será sob a forma do "senso comum", assimilada ao longo da
A educação é um típico "que-fazer" humano, ou seja, um convivência dentro de um grupo. Se a ação pedagógica não se
tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por processar a partir de conceitos e valores explícitos e
uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A conscientes, ela se processará, queiramos ou não, baseada em
educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um conceitos e valores que a sociedade propõe a partir de sua
fim em si mesma, mas sim como um instrumento de postura cultural.
manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela Quando não se reflete sobre a educação, ela se processa
necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e dentro de uma cultura cristalizada e perenizada. Isso significa
orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela admitir que nada mais há para ser descoberto em termos de
está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática. interpretação do mundo. E propriamente a reprodução dos
Não é nem pode ser a prática educacional que estabelece meios de produção.
os seus fins. Quem o faz é a reflexão filosófica sobre a educação "Por mais grandiosa que seja uma cultura — diz Arcângelo
dentro de uma dada sociedade. Buzzi — ela jamais é a interpretação acabada do ser. A ciência,
As relações entre Educação e Filosofia parecem ser quase a moral, a arte, a religião, a política, a economia são expressões
"naturais". Enquanto a educação trabalha com o visíveis, codificadas de uma determinada interpretação, que
desenvolvimento dos jovens e das novas gerações de uma em seu conjunto perfaz aquilo que denominamos cultura ou,
sociedade, a filosofia é a reflexão sobre o que e como devem de modo mais amplo, `mundo'. Estamos tão habituados a
ser ou desenvolver estes jovens e esta sociedade. encarar esse mundo interpretado como natural que não nos
Anísio Teixeira chega a, refletir que "muito antes que as damos conta de que ele é apenas possível e realizada
filosofias viessem expressamente a ser formuladas em interpretação do ser".
sistemas, já a educação, como processo de perpetuação da Inconscientemente, adaptamo-nos a essa interpretação do
cultura, nada mais era do que o meio de se transmitir a visão mundo e ela permanecerá como a única para nós, se não nos
do mundo e do homem, que a respectiva sociedade honrasse e pusermos a filosofar sobre ela, a questioná-la, a buscar-lhe
cultivasse". Evidentemente, nessa afirmação o autor está novos sentidos e novas interpretações de acordo com os novos
tomando filosofia como forma de vida de um povo, e não como anseios que possam ser detectados no seio da vida humana.
sistema filosófico elaborado e explicitado deliberadamente. Filosofia e educação, pois, estão vinculadas no tempo e no
Deve-se mesmo observar que os primeiros filósofos do espaço. Não há como fugir a essa "fatalidade" da nossa
Ocidente, na quase totalidade, tiveram um "preocupar" com o existência. Assim sendo, parecenos ser mais válido e mais rico,
aspecto educacional. Os chamados filósofos pré-socráticos, os para nós e para a vida humana, fazer esta junção de uma
sofistas, Sócrates, Platão foram os intérpretes das aspirações maneira consciente, como bem cabe a qualquer ser humano. E
de seus respectivos tempos e apresentaram-se sempre como a liberdade no seio da necessidade.
educadores.
Por exemplo, os pré-socráticos, pelo que podemos saber C) Pedagogia
por seus fragmentos, dedicavam-se a entender a origem do Uma pedagogia inclui mais elementos que os puros
cosmos e a criar uma compreensão para a educação moral e pressupostos filosóficos da educação, tais como os processos
espiritual dos homens. Os sofistas foram educadores. Foram, socioculturais, a concepção psicológica do educando, a forma

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de organização do processo educacional etc.; porém, esses O ser humano é histórico uma vez que suas características
elementos compõem uma Pedagogia à medida que estão não são fixas nem eternas, mas determinadas pelo tempo, que
aglutinados e articulados a partir de um pressuposto, de um passa a ser constitutivo de si mesmo.
direcionamento filosófico. Em síntese, o ser humano é ativo, vive determinadas
A reflexão filosófica sobre a educação é que dá o tom à relações sociais de produção, num determinado momento do
pedagogia, garantindo-lhe a compreensão dos valores que, tempo. Como consequência disso, cada ser humano é
hoje, direcionam a prática educacional e dos valores que propriamente o conjunto das relações sociais que vive, de
deverão orientá-la para o futuro. Assim, não há como se ter forma prática, social e histórica.
uma proposta pedagógica sem pressuposições (no sentido de O ser humano se torna propriamente humano na medida
fundamentos) e proposições filosóficas, desde que tudo o mais em que, conjuntamente com outros seres humanos, pela ação,
depende desse direcionamento. modifica o mundo externo conforme suas necessidades ao
Para lembrar exemplos corriqueiros, a "Pedagogia mesmo tempo, constrói-se a si mesmo.
Montessori", a "Pedagogia Piagetiana", a "Pedagogia da Assim, enquanto ele humaniza a natureza pelo seu
Libertação" do professor Paulo Freire, e todas as outras trabalho, humaniza-se a si mesmo.
sustentam-se em um pensamento filosófico sobre a educação. Educador e educando, como seres individuais e sociais ao
Se nem sempre esses pressupostos estão tão explícitos, é mesmo tempo, constituídos na trama contraditória de
preciso explicitá-los, desde que eles sempre existem. Por consciência crítica e alienação interagem no processo
vezes, eles estão subjacentes, mas nem por isso inexistentes. O educativo. Eles são sujeitos da história na medida em que a
estudo e a reflexão deverão "obrigá-los" a aparecer, desde que constroem ao lado de outros seres humanos, num contexto
só a partir da tomada de consciência desses pressupostos é socialmente definido.
que se pode optar por escolher uma ou outra pedagogia para QUESTÕES
nortear nossa prática educacional.
01. (TJ/GO – Técnico Judiciário – UEG) “Não é nem pode
D) Educação como transformação da sociedade ser a prática educacional que estabelece os seus fins. Quem o
Não há uma pedagogia que esteja isenta de pressupostos faz é a reflexão filosófica sobre a educação dentro de uma dada
filosóficos. sociedade.” (Luckesi, 1994, p. 31). Com base nesta declaração,
É possível compreender a educação dentro da sociedade, é CORRETO afirmar:
com seus determinantes e condicionantes, mas com a (A) As relações entre Educação e Filosofia são naturais, já
possibilidade de trabalhar pela sua democratização. que a educação é um processo de perpetuação da cultura e à
Para tanto, importa interpretar a educação como uma Filosofia cabe dar sentido a essa cultura.
instância dialética, que serve a um projeto, a um modelo, a um (B) A relação entre Educação e Filosofia é desnecessária,
ideal de sociedade. Ela trabalha para realizar esse projeto na uma vez que a ação educativa consciente se pauta na realidade
prática. Assim, se o projeto for conservador, medeia a histórica e social.
conservação, contudo se o projeto for transformador, medeia (C) A relação entre Educação e Filosofia se dá na reflexão
a transformação; se o projeto for autoritário, medeia a sobre o modelo ideal de homem e de sociedade, que é dado por
realização do autoritarismo; se o projeto for democrático, essa sociedade, cabendo à educação e à Filosofia concretizá-lo.
medeia a realização da democracia. (D) As relações entre Educação e Filosofia são
Do ponto de vista prático trata-se de retomar indissociáveis, pois a educação é uma prática que se
vigorosamente a luta contra a seletividade, a discriminação e o caracteriza por uma preocupação, uma finalidade a ser
rebaixamento do ensino das camadas populares. Lutar contra atingida, enquanto a Filosofia é a reflexão sobre os
a marginalidade, através da escola, significa engajar-se no fundamentos, pressupostos e conceitos que orientam a
esforço para garantir aos trabalhadores um ensino da melhor educação.
qualidade possível nas condições históricas atuais. O papel de
uma teoria crítica da educação é dar substância concreta a essa 02. (IF/SP – Professor - Pedagogia – IF/SP) Saviani, em
bandeira de luta, de modo a evitar que ela seja apropriada e seu trabalho “Educação: do senso comum à consciência
articulada com os interesses dominantes. filosófica" apresenta o conceito de filosofia da educação.
A educação como transformadora da sociedade recusa-se Assinale a alternativa que corresponde corretamente ao
tanto ao otimismo ilusório, quanto ao pessimismo conceito mencionado.
imobilizador. Por isso, propõe-se compreender a educação (A) Filosofia da educação é o campo da filosofia que se
dentro de seus condicionantes e agir estrategicamente para a ocupa em entender e analisar a Pedagogia.
sua transformação. Propõe-se desvendar e utilizar das (B) Filosofia da educação é uma reflexão (radical, rigoroso
próprias contradições da sociedade, para trabalhar e de conjunto) sobre os problemas que a realidade educacional
criticamente pela sua transformação. apresenta.
Quando não pensamos, somos pensados e dirigidos por (C) Filosofia da educação busca colocar questões na
outros. educação de modo a ampliá-la sem necessariamente buscar
respondê-la.
E) Os Sujeitos do Processo Educativo: O Ser Humano (D) Filosofia da educação pretende analisar a escola
O ser humano emerge no seu modo de ser dentro de um tradicional e a escola nova de modo a inseri-las nas teorias
conjunto de relações sociais. pedagógicas contemporâneas.
São as ações, reações, os modos de agir, as condutas (E) Filosofia da educação tem como objeto de estudo o
normatizadas, as censuras, as convivências sadias ou conhecimento, a ciência e toda forma de ensinar.
neuróticas, as relações de trabalho, de consumo etc. que
constituem prática, social e historicamente o ser humano. 03. (Secretaria da Criança/DF – Especialista
O ser humano é prático, pois é através da ação que modifica Socioeducativo – Pedagogia – FUNIVERSA) Ao examinar os
o ambiente, tornando-o satisfatório ás suas necessidades; e fundamentos da educação, não se pode deixar de considerar os
enquanto transforma a realidade, constrói a si mesmo no seio conhecimentos elaborados pela filosofia. Com relação a esse
das relações sociais determinadas. assunto, assinale a alternativa correta.
O ser humano é social na medida em que vive e sobrevive (A) A ação pedagógica prescinde de reflexão filosófica.
socialmente. A sua prática é dimensionada por suas relações (B) A compreensão dos valores e dos conceitos que
com os outros. garantem a ação pedagógica independe da filosofia.

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(C) A estrutura de uma proposta pedagógica deve ser A construção de uma pessoa mais autônoma, no processo
puramente pedagógica. Nesse contexto, as pressuposições e as de aprender, torna-a mais autônoma no processo de viver – de
proposições filosóficas são elementos tangenciais. definir os rumos de sua vida. Mas, para que isso não se
(D) Embora a filosofia forneça sua própria visão acerca do transforme em uma ação individualista, é fundamental
homem, isso não interfere na ação pedagógica. transformar a prática pedagógica em uma prática mediadora,
(E) A filosofia fornece à educação uma reflexão crítica a comprometida, coerente, ao mesmo tempo consciente e
respeito da realidade na qual ela está situada. competente.
A ação educativa – evidenciada a partir de suas práticas –
04. De acordo com a frase: “A educação dentro de uma permite aos alunos avançar em saltos na aprendizagem e no
sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas desenvolvimento. E a ação sobre o que o adulto consegue fazer,
sim como um instrumento de manutenção ou transformação com a ajuda do outro, para que consiga fazê-lo sozinho.
social”. Assinale V para verdadeiro e F para falso. Entretanto, é princípio de toda instituição de ensino
( ) VERDADEIRO ( ) FALSO (principalmente da escola) garantir a aprendizagem a todos,
visto que todos são capazes de aprender.
RESPOSTAS Dentro de uma concepção de aprendizagem como
construção de conhecimento, estudos na linha histórico-
01. Alternativa D. cultural, como os de Vygotsky e de seus precursores Oliveira,
02. Alternativa B. Fontana; Meier e Garcia têm sido foco de muitos estudos,
03. Alternativa E. vários dos quais têm implicações diretas na área da educação,
04. Alternativa Verdadeira. trazendo contribuições indiscutíveis para o processo ensino-
aprendizagem.
Os autores afirmam que o ser humano não é moldado por
As concepções de outros seres humanos, mas modifica-se com os outros,
aprendizagem/aluno/ensino/ trocando experiências, interagindo com o meio social em que
vive. Todo esse processo de transformação ocorre vinculado
professor nessas abordagens ao processo de mediação social.
teóricas. As considerações propostas por Vygotsky revelam que a
mediação possibilita a constituição de processos mentais
superiores. Uma atividade é mediada quando é socialmente
Prezado (a) candidato (a), tais itens já estão sendo
significativa, e a fonte de mediação pode ser um instrumento
abordados no decorrer de nosso material.
que regula a ação do indivíduo sobre objetos externos; um
sistema de símbolos, que medeia processos psicológicos do
Principais Teorias e próprio ser humano; ou a interação com outros seres
humanos.
práticas na educação; As bases Vygotsky deu especial atenção ao estudo de signos como
empíricas, metodológicas e mediadores, entendidos como algo que representa ideias,
epistemológicas das diversas situações ou objetos; o signo tem função de auxiliar a memória
humana, utilizado para lembrar, registrar ou acumular
teorias de aprendizagem; informações. Durante o desenvolvimento cultural da criança, o
Contribuições de Piaget, signo e o instrumento, ambos caracterizados por sua função
Vygotsky e Wallon para a mediadora, se inter-relacionam conforme o homem interage
com o mundo.
psicologia e pedagogia. A teoria sobre a aprendizagem sócio histórica e a produção
do conhecimento esteve, desde a origem, intimamente ligada
ao fato de o homem ser social e histórico e, ao mesmo tempo,
Teorias da Aprendizagem de ser produto e produtor de sua história e de sua cultura
“pela” e na interação social. Tal abordagem abre a
A Aprendizagem na Concepção Histórico Cultural196 possibilidade de redimensionamento da teoria e da prática do
A aprendizagem é um dos principais objetivos de toda estudo das relações entre a escolarização, atividade mental e
prática pedagógica, e a compreensão ampla do que se entende desenvolvimento da criança, ao assumir a natureza mediada
por aprender é fundamental na construção de uma proposta da cognição: a ação do sujeito sobre o objeto é mediada
de educação, também mais aberta e dinâmica, definindo, por socialmente, pelo outro e pelos signos. Daí a relevância e a
consequência, práticas pedagógicas transformadoras. motivação para o presente estudo.
À medida que a sociedade se torna cada vez mais Desse modo, ancorada numa pesquisa bibliográfica com
dependente do conhecimento, é necessário questionar e enfoque na perspectiva histórico-cultural do desenvolvimento
mudar certos pressupostos que fundamentam a educação humano, que considera o processo de conceitualização como
atual. A aprendizagem é uma atividade contínua, iniciando-se uma prática social dialógica “mediada pela palavra”, e
nos primeiros minutos da vida e estendendo-se ao longo dela. pedagógica “mediada pelo outro”, o presente artigo tem como
Isto significa expandir o conceito de aprendizagem: ele não objetivo estudar aspectos práticos da teoria de histórico-
deve estar restrito ao período escolar e pode ocorrer, tanto na cultural, visando aos desdobramentos que essa teoria tem no
infância, quanto na vida adulta. A escola é um – entre muitos cotidiano do processo ensino-aprendizagem.
outros – ambientes em que será possível adquirir
conhecimento. Para tanto, educadores precisam incorporar os Principais teorias de aprendizagem
mais recentes resultados das pesquisas sobre aprendizagem e As principais interpretações das questões relativas à
assumir a função de propiciar oportunidades para o aluno natureza da aprendizagem remetem a um passado histórico da
gerar e não somente consumir conhecimento, desenvolvendo filosofia e da psicologia. Diversas correntes de pensamento se
capacidades internas para poder continuar a aprender ao desenvolveram, definindo paradigmas educacionais como o
longo da vida.

196 LEITE, C. A. R.; LEITE, E. C. R.; PRANDI, L. R. A aprendizagem na concepção

histórico cultural. Akrópolis Umuarama, v. 17, n. 4, p. 203-210, out. / dez. 2009.

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empirismo, o inatismo ou nativismo, os associacionistas, os Segundo Misukami202, uma abordagem cognitivista implica em
teóricos de campo e os teóricos do processamento da estudar cientificamente a aprendizagem como um produto
informação ou psicologia cognitiva. resultante do ambiente, das pessoas ou de fatores externos a
A corrente do empirismo tem como princípio ela. Como as pessoas lidam com estímulos ambientais,
fundamental considerar que o ser humano, ao nascer, é como organizam dados, sentem e resolvem problemas, adquirem
uma "tábula rasa" e tudo deve aprender, desde as capacidades conceitos e empregam símbolos constituem, pois, o centro da
sensoriais mais elementares aos comportamentos investigação. Em essência, na psicologia cognitiva, as
adaptativos, mas complexos Gaonac´h e Golder197. A mente é atividades mentais são o motor dos comportamentos.
considerada inerte, e as ideias vão sendo gravadas a partir das Opondo-se à concepção behavorista, os teóricos
percepções. Baseado neste pressuposto, a inteligência é cognitivos preocupam-se em desvendar a "caixa preta" da
concebida como uma faculdade capaz de armazenar e mente humana. A noção de representação é central nestas
acumular conhecimento. pesquisas. A representação é definida como toda e qualquer
O inatismo ou nativismo argumenta que a maioria dos construção mental efetuada a um dado momento e em um
traços característicos de um indivíduo é fixado desde o certo contexto.
nascimento e que a hereditariedade permite explicar uma Portanto, memória, percepção, aprendizagem, resolução
grande parte das diferenças individuais físicas e psicológicas de problemas, raciocínio e compreensão, esquemas e
Gaonac´h e Golder198. As formas de conhecimento estão pré- arquiteturas mentais são alguns dos principais objetos de
determinadas no sujeito que aprende. investigação da área, cujas aplicações vêm sendo utilizadas na
Para os associacionistas, o principal pressuposto consiste construção de modelos explícitos em formas de programas de
em explicar que o comportamento complexo é a combinação computador (softwares), gráficos, arquiteturas ou outras
de uma série de condutas simples. Como precursores desta esquematizações do processamento mental, em especial nos
corrente são de pensamento pode-se citar Edward L. sistemas de Inteligência Artificial.
Thorndike e B.F. Skinner, Pettenger e Gooding199 e suas Os princípios construtivistas fornecem um conjunto de
respectivas teorias do comportamento reflexo ou estímulo- diretrizes a fim de auxiliar projetistas e professores na criação
resposta. de meios ambientes colaboracionistas direcionados ao ensino,
Para Thorndike apud Pettenger e Gooding, o padrão básico que apoiem experiências autênticas, atraentes e reflexivas. Os
da aprendizagem é uma resposta mecanicista às forças estudantes podem trabalhar juntos na construção do
externas. Um estímulo provoca uma resposta. Se a resposta é entendimento e do significado através de práticas relevantes.
recompensada, é aprendida. O construtivismo é uma filosofia de aprendizagem que
Já para Skinner, a ênfase é dada à questão do controle do descreve o que significa saber alguma coisa, o que é a
comportamento pelos reforços que ocorrem com a resposta ou realidade. As concepções tradicionais de aprendizagem
após a mesma com o propósito de atingir metas específicas ou admitem que o conhecimento é um objeto, algo que pode ser
definir comportamentos manifestos. transmitido do professor para o aluno.
As grandes escolas da corrente dos Teóricos de Campo, são O construtivismo propõe que o aluno participe ativamente
representadas, na Gestalt pelos alemães Wertheimer, Koffka e do próprio aprendizado, mediante a experimentação, a
Köhler, e na Fenomenologia, por Combs e Snygg, Pettenger e pesquisa em grupo, o estimulo a dúvida e o desenvolvimento
Gooding200. Nestas escolas prevalece a concepção de que as do raciocínio, entre outros procedimentos. A partir de sua
pessoas são capazes de pensar, perceber e de responder a uma ação, vai estabelecendo as propriedades dos objetos e
dada situação, de acordo com as suas percepções e construindo as características do mundo.
interpretações desta situação. Diferentemente das primeiras,
em que o comportamento é sequencial, do mais simples ao A abordagem construtivista de Jean Piaget
mais complexo, nesta corrente, o todo ou total é mais que a As respostas às questões sobre a natureza da
soma das partes. aprendizagem de Piaget são dadas à luz de sua epistemologia
Na Gestalt, o paradigma de aprendizagem é a solução de genética, na qual o conhecimento se constrói pouco a pouco, à
problemas e ocorre do total para as partes. Consiste também medida em que as estruturas mentais e cognitivas se
na organização dos padrões de percepção. Segundo Fialho201, organizam, de acordo com os estágios de desenvolvimento da
na Gestalt há duas maneiras de se aprender a resolver inteligência.
problemas: pelo aprendizado conduzido ou pelo aprendizado A inteligência é antes de tudo adaptação. Esta
pelo entendimento. Isto significa que conforme a organização característica se refere ao equilíbrio entre o organismo e o
da situação de aprendizagem, dirigida (instrucionista) ou meio ambiente, que resulta de uma interação entre
autodirigida (ativa), o indivíduo aprende, entretanto, deve-se assimilação e acomodação.
promover situações de aprendizagem que sejam A assimilação e a acomodação são, pois, os motores da
suficientemente ricas para que o aprendiz possa fazer escolhas aprendizagem. A adaptação intelectual ocorre quando há o
e estabelecer relações entre os elementos de uma situação. equilíbrio de ambas.
Escolher entre as quais para ele, aprendiz, conduza a uma Segundo discorre Ulbritch203, a aquisição do conhecimento
estruturação eficaz de suas percepções e significados. cognitivo ocorre sempre que um novo dado é assimilado à
Os teóricos do Processamento da Informação ou estrutura mental existente que, ao fazer esta acomodação
Psicologia Cognitiva, de origem mais recente, reúnem modifica-se, permitindo um processo contínuo de renovação
diversas abordagens. Estes teóricos estudam a mente e a interna. Na organização cognitiva, são assimiladas o que as
inteligência em termos de representações mentais e processos assimilações passadas preparam, para assimilar, sem que haja
subjacentes ao comportamento observável. Consideram o ruptura entre o novo e o velho.
conhecimento como sistema de tratamento da informação.

197 GAONAC’H, Daniel; GOLDER, Caroline. Profession Enseignant: Manual de 201 FIALHO, Francisco Antonio Pereira. Sistemas de Educação à Distância.

Psycolgie.pour Fenseignement. Paris: Hachette Education, 1995. UFSC. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis,
198 GAONAC’H, Daniel; GOLDER, Caroline. Profession Enseignant: Manual de 1998. Notas de aula.
Psycolgie.pour Fenseignement. Paris: Hachette Education, 1995. 202 MISUKAMI, Maria da Graça Nicoletti. Ensino: as Abordagens do Processo.
199 PETTENGER, Owene, GOODING, C. Thomas. Teorias da aprendizagem na Temas Básicos de Educação e Ensino. São Paulo: EPU, 1986.
prática Educacional. São Paulo: EPU, 1977. 203 ULBRICHT, Vânia Ribas. Modelagem de um Ambiente Hipermfdia de
200 PETTENGER, Owene, GOODING, C. Thomas. Teorias da aprendizagem na Construção do Conhecimento em Geometria Descritiva^ Florianópolis, 1997. Tese
prática Educacional. São Paulo: EPU, 1977. (Doutorado em Engenharia de Produção). Coordenadoria de Pós-graduação,
UFSC. p.20-25.

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Pela assimilação, justificam-se as mudanças quantitativas pensar abstratamente, tendo como base proposições e
do indivíduo, seu crescimento intelectual mediante a enunciados. Com o desenvolvimento destas habilidades
incorporação de elementos do meio a si próprio. notamos aparecimento de esquemas conceituais.
Pela acomodação, as mudanças qualitativas de As crianças começam a desenvolver um senso moral,
desenvolvimento modificam os esquemas existentes em juntamente com um código de valores.
função das características da nova situação; juntas justificam a Operatório formal (12 anos em diante)
adaptação intelectual e o desenvolvimento das estruturas Característica essencial a distinção entre o real e o
cognitivas. possível.
No sistema cognitivo do sujeito esses processos estão A criança se torna capaz de raciocinar logicamente, mesmo
normalmente em equilíbrio. A perturbação desse equilíbrio se o conteúdo do seu raciocínio é falso. Logo, surge a
gera um conflito ou uma lacuna diante do objeto ou evento, o determinação da realidade tendo como base
que dispara mecanismos de equilibração. A partir de tais o caráter hipotético-dedutivo, representando a última
perturbações produzem-se construções compensatórias que aquisição mental quando o adolescente se liberta do concreto.
buscam novo equilíbrio, melhor do que o anterior. Assim o jovem obtém a capacidade de pensar abstratamente e
Assim, pode-se distinguir quatro estágios de compreender o conceito de probabilidade.
desenvolvimento lógico: Aparecimento da reversibilidade e sua explicação
mediante inversão ou negação e comparada à reciprocidade de
Sensório Motor (0-2 anos) relações.
Tratando-se da fase inicial do desenvolvimento da vida,
este nível é caracterizado como pré-verbal constituída pela A abordagem sócio construtiva do desenvolvimento
organização reflexiva e pela a inteligência prática. Neste cognitivo de Lev Vygotsky
estágio a criança baseia-se em esquemas motores para As inquietações de Vygotsky sobre o desenvolvimento da
resolver seus problemas, que são essencialmente práticos. aprendizagem e a construção do conhecimento perpassavam
Além disso, o indivíduo vive o momento presente sendo pela produção da cultura, como resultado das relações
incapaz de referir-se ao futuro, ou evocar o passado. humanas. Por conta disso, ele procurou entender o
Durante esta fase os bebês começam a desenvolver desenvolvimento intelectual a partir das relações histórico-
símbolos mentais e utilizar palavras, um processo conhecido sociais, ou seja, buscou demonstrar que o conhecimento é
como simbolização. O bebê relaciona tudo ao seu próprio socialmente construído pelas e nas relações humanas.
corpo como se fosse o centro do mundo Baseado nas teses do materialismo histórico, Vygotsky
destacou que as origens das formas superiores de
Pré-operatório (2-7 anos) comportamento consciente deveriam ser buscadas nas
Este período é o que mais teve atenção de Piaget. É relações sociais que o sujeito mantém com o mundo exterior,
caracterizado pela explosão linguística e a utilização de na atividade prática. Para descobrir as fontes dos
símbolos. Dada a esta capacidade da linguagem, os esquemas comportamentos especificamente humanos, era preciso
de ação são interiorizados (esquemas representativos ou libertar-se dos limites do organismo e empreender estudos
simbólicos). Nota-se ainda a ausência de esquemas que pudessem explicar como os processos maturacionais
conceituais, assim como o predomínio da tendência lúdica. entrelaçam-se aos processos culturalmente determinados
Prevalece nesta fase a transdução, modelo primitivo de para produzir as funções psicológicas superiores típicas do
raciocínio, que se orienta de particular para particular. homem.
A partir dos quatro anos o tipo dominante de raciocínio é Dessa feita, a convivência social é fundamental para
o denominado intuição, fundamentado na percepção e que transformar o homem de ser biológico a ser humano social, e
desconhece a reversibilidade e a conservação. a aprendizagem que advém das relações sociais ajuda a
A criança ainda é incapaz de lidar como dilemas morais, construir os conhecimentos que dão suporte ao
embora possua senso do que é bom ou mal. O indivíduo desenvolvimento.
apresenta um comportamento egocêntrico, tendo um papel Para Vygotsky, o homem possui natureza social, uma vez
limitado e a impossibilidade assumir o papel de outras que nasce em um ambiente carregado de valores culturais: na
pessoas, é rígido (não flexível) que tem como ponto de ausência do outro, o homem não se faz homem. Partindo desse
referência a própria criança. Ainda é latente a incapacidade de pressuposto, o autor criou uma teoria de desenvolvimento da
analisar vários aspectos de uma dada situação. inteligência, na qual afirma que o conhecimento é sempre
Uma consequência deste egocentrismo é a incapacidade da intermediado.
criança de colocar seu próprio ponto de vista como igual aos Nessa perspectiva, a criança nasce apenas com funções
demais. Desconhecendo a opinião alheia, o indivíduo não sente psicológicas elementares e, a partir do aprendizado da cultura,
necessidade de justificar seus raciocínios perante outros. essas funções se transformam em funções psicológicas
superiores. Entretanto, essa evolução não se dá de forma
Operatório concreto (7-11 anos) imediata e direta, as informações recebidas do meio social são
Recebe este nome, já que a criança age sobre o mundo intermediadas, de forma explícita ou não, pelas pessoas que
concreto, real e visível. Surge o declínio do egocentrismo, interagem com as crianças. É essa intermediação que dá às
sendo substituído pelo pensamento operatório (envolvendo informações um caráter valorativo e significados sociais e
vasta gama de informações externas à criança). O indivíduo históricos.
pode, desde já, ver as coisas a partir da perspectiva dos outros. As concepções de Vygotsky sobre o funcionamento do
Surge os processos de pensamento lógico, limitados, cérebro humano fundamentam-se em sua ideia de que as
sendo capazes de serializar, ordenar e agrupar coisas em funções psicológicas superiores são construídas ao longo da
classes, com base em características comuns. Assim como a história social do homem. Na sua relação com o mundo,
capacidade de conservação e reversibilidade através da mediada pelos instrumentos e símbolos desenvolvidos
observação real (o pensamento da criança ainda é de natureza culturalmente, o ser humano cria as formas de ação que o
concreta). distinguem de outros animais.
O pensamento operatório é denominado concreto, pois a Vale dizer que essas informações não são interiorizadas
criança somente pensa corretamente se os exemplos ou com o mesmo teor com que são recebidas, ou seja, elas sofrem
materiais que ela utiliza para apoiar o pensamento existem uma reelaboração interna, uma linguagem específica em cada
mesmo e podem ser observados. Ela ainda não consegue pessoa. Em outras palavras, cada processo de construção de

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conhecimentos e desenvolvimento mental possui Estágio impulsivo-emocional (1°ano de vida): nesta fase
características individuais e particulares. predominam nas crianças as relações emocionais com o
Nesse sentido, significados socioculturais, historicamente ambiente. Trata-se de uma fase de construção do sujeito, em
produzidos, são internalizados pelo homem de forma que a atividade cognitiva se acha indiferenciada da atividade
individual e, por isso, ganham um sentido pessoal; “a palavra, afetiva. Nesta fase vão sendo desenvolvidas as condições
a língua, a cultura relaciona-se com a realidade, com a própria sensório-motoras (olhar, pegar, andar) que permitirão, ao
vida e com os motivos de cada indivíduo”. No processo de longo do segundo ano de vida, intensificar a exploração
internalização, o que é interpessoal, inicialmente, transforma- sistemática do ambiente.
se em intrapessoal.
O nível de desenvolvimento real pode ser entendido Estágio sensório-motor (um a três anos,
como referente àquelas conquistas que já estão consolidadas aproximadamente): ocorre neste período uma intensa
na criança, àquelas funções ou capacidades que ela já exploração do mundo físico, em que predominam as relações
aprendeu e domina, pois já consegue utilizar sozinha, sem cognitivas com o meio. A criança desenvolve a inteligência
assistência de alguém mais experiente da cultura (pai, mãe, prática e a capacidade de simbolizar. No final do segundo ano,
professor, criança mais velha etc.). Este nível indica, assim, os a fala e a conduta representativa (função simbólica)
processos mentais da criança que já se estabeleceram; ciclos confirmam uma nova relação com o real, que emancipará a
de desenvolvimento que já se completaram. inteligência do quadro perceptivo mais imediato. Ou seja, ao
No entendimento de Vygotsky, a zona de falarmos a palavra "bola", a criança reconhecerá
desenvolvimento potencial ou mediador é toda atividade imediatamente do que se trata, sem que precisemos mostrar o
e/ou conhecimento que a criança ainda não domina, mas que objeto a ela. Dizemos então que ela já adquiriu a capacidade de
se espera que ela seja capaz de saber e/ou realizar, simbolizar, sem a necessidade de visualizar o objeto ou a
independentemente de sua etnia, religião ou cultura. É situação a qual estamos nos referindo.
justamente por isso que as relações entre desenvolvimento e
aprendizagem ocupam lugar de destaque em sua obra. Personalismo (três aos seis anos, aproximadamente):
A zona de desenvolvimento proximal é a distância entre nesta fase ocorre a construção da consciência de si, através das
o que a criança já pode realizar sozinha e aquilo que ela interações sociais, dirigindo o interesse da criança para as
somente é capaz de desenvolver com o auxílio de alguém. Na pessoas, predominando assim as relações afetivas. Há uma
zona de desenvolvimento proximal, o aspecto fundamental é a mistura afetiva e pessoal, que refaz, no plano do pensamento,
realização de atividade com o auxílio de um mediador. Por a indiferenciação inicial entre inteligência e afetividade.
isso, segundo Vygotsky, essa é a zona cooperativa do Estágio categorial (seis anos): a criança dirige seu
conhecimento. O mediador ajuda a criança a concretizar o interesse para o conhecimento e a conquista do mundo
desenvolvimento que está próximo, ou seja, ajuda a exterior, em função do progresso intelectual que conseguiu
transformar o desenvolvimento potencial em conquistar até então. Desta forma, ela imprime às suas
desenvolvimento real. relações com o meio uma maior visibilidade do aspecto
Fialho204 destaca que, para Vygotsky, o desenvolvimento cognitivo.
humano compreende um processo dialético, caracterizado Para Wallon, o mérito da Educação é desenvolver o
pela periodicidade, irregularidade no desenvolvimento das máximo as potencialidades de cada indivíduo. É nesse mesmo
diferentes funções, metamorfose ou transformação qualitativa indivíduo que devem ser buscadas as possibilidades de
de uma forma em outra, entrelaçando fatores internos e superação, compensação e equilíbrio funcionais.
externos e processos adaptativos.
Questões
A abordagem de Henri Wallon
A gênese da inteligência para Wallon é genética e 01. (Prefeitura de São Luís/MA - Cargos de Magistério I
organicamente social, ou seja, "o ser humano é organicamente e II - CESPE/2017) Na perspectiva de Jean Piaget, em uma
social e sua estrutura orgânica supõe a intervenção da cultura situação que envolva o cometimento de erro pelo aluno no
para se atualizar" Dantas205. Nesse sentido, a teoria do processo de aprendizagem, o professor deve:
desenvolvimento cognitivo de Wallon é centrada na (A) Corrigir o aluno, dando-lhe, imediatamente, a resposta
psicogênese da pessoa completa. correta.
O estudo de Wallon é evidenciado na criança (B) Punir o aluno, pois essa é a melhor forma de eliminar o
contextualizada, onde o ritmo no qual se sucedem as etapas do erro.
desenvolvimento é descontínuo, marcado por rupturas, (C) Levar o aluno a refletir sobre por que errou, dando-lhe
retrocessos e reviravoltas, provocando em cada etapa a oportunidade de reconstruir a compreensão do
profundas mudanças nas anteriores. conhecimento.
Nesse sentido, a passagem dos estágios de (D) Ignorar o erro, pois, ao longo do tempo, o aluno
desenvolvimento não se dá linearmente, por ampliação, mas descobrirá, sozinho, a compreensão correta do conteúdo.
por reformulação, instalando-se no momento da passagem de (E) Fazer o aluno repetir a resposta certa quantas vezes
uma etapa a outra, crises que afetam a conduta da criança. forem necessárias para que ele consiga decorá-la.
Conflitos se instalam nesse processo e são de origem exógena
quando resultantes dos desencontros entre as ações da criança 02. (Prefeitura de São Luís/MA - Cargos de Magistério I
e o ambiente exterior, estruturado pelos adultos e pela cultura e II - CESPE/2017) Assinale a opção que apresenta o processo
e endógenos e quando gerados pelos efeitos da maturação de resolução dos conflitos cognitivos que, para Jean Piaget,
nervosa, Galvão206. Esses conflitos são propulsores do representa a construção da aprendizagem.
desenvolvimento. (A) Reforço positivo.
(B) Zona de desenvolvimento proximal.

204 FIALHO, Francisco Antonio Pereira. Sistemas de Educação à Distância. 205 DANTAS, Heloysa. Do ato motor ao ato mental: a gênese da inteligência

UFSC. Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção. Florianópolis, segundo Wallon. In: TAILLE,Yves de la e et all. Piaget, Vigotsky, Waalon. Teorias
1998. Notas de aula. Psicogenéticas em Discussão. São Paulo: Summus, 1992.
206 GALVÃO, Izabel. Henri Wallon. Uma concepção dialética do
desenvolvimento infantil. Petrópolis: Vozes,1995.

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(C) Estágios do desenvolvimento sensório-motor, pré- profissional que enfatizam a prevenção e a promoção de saúde
operatório, operatório concreto e formal. fazem com que profissionais de várias áreas busquem na
(D) Aprendizagem condicionada. psicologia do desenvolvimento subsídios teóricos e
(E) Assimilação, acomodação e equilibração. metodológicos para sua prática profissional. O que está em
questão é o desenvolvimento harmônico do indivíduo, que
03. (SEDF - Monitor de Gestão Educacional - integra não apenas um aspecto, mas todas as dimensões do
CESPE/2017) Teóricos como Piaget e Vygotsky evidenciaram desenvolvimento humano sejam elas: biológicas, cognitivas,
que a criança se desenvolve na interação com o meio histórico- afetivas ou sociais.
cultural em que vive. Considerando essa informação e tendo
em vista que a criança precisa do outro, da natureza e da inter- A delimitação conceitual do campo da Psicologia do
relação possível entre esses elementos, julgue o próximo item. Desenvolvimento
Brincar é imprescindível na infância, pois é nessa ação que O desenvolvimento humano envolve o estudo de variáveis
a criança elabora sua forma de estar no mundo, vivencia o afetivas, cognitivas, sociais e biológicas em todo ciclo da vida.
lúdico e desenvolve sua potência de criação. Essa experiência Desta forma faz interface com diversas áreas do conhecimento
proporciona aprendizagem e desenvolvimento. como: a biologia, antropologia, sociologia, educação, medicina
( ) Certo ( ) Errado entre outras.
Tradicionalmente o estudo do desenvolvimento humano
04. (Prefeitura de Lauro Muller/SC - Professor de focou o estudo da criança e do adolescente, ainda hoje muitos
Pedagogia - Instituto Excelência/2017) Sobre os pensadores dos manuais de psicologia do desenvolvimento abordam
da educação, assinale a alternativa CORRETA sobre a teoria de apenas esta etapa da vida dos indivíduos.
Vygotsky: O interesse pelos anos iniciais de vida dos indivíduos tem
(A) Sua teoria mostra que o indivíduo só recebe um origem na história do estudo científico do desenvolvimento
determinado conhecimento se estiver preparado para recebê- humano, que se inicia com a preocupação com os cuidados e
lo. Não existe um novo conhecimento sem que o organismo com a educação das crianças, e com o próprio conceito de
tenha já um conhecimento anterior para poder assimilá-lo e infância como um período particular do desenvolvimento.
transformá-lo. O que implica os dois polos da atividade No entanto, este enfoque vem mudando nas últimas
inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação à medida décadas, e hoje há um consenso de que a psicologia do
que incorpora a seus quadros todo o dado da experiência; é desenvolvimento humano deve focar o desenvolvimento dos
acomodação à medida que a estrutura se modifica em função indivíduos ao longo de todo o ciclo vital. Ao ampliar o escopo
do meio, de suas variações. de estudo do desenvolvimento humano, para além da infância
(B) Construiu sua teoria tendo por base o desenvolvimento e adolescência, a psicologia do desenvolvimento acaba por
do indivíduo como resultado de um processo sócio histórico, fazer interface também com outras áreas da psicologia. Só para
enfatizando o papel da linguagem e da aprendizagem nesse citar algumas áreas temos: a psicologia social, personalidade,
desenvolvimento, sendo essa teoria considerada histórico- educacional, cognitiva.
social. Sua questão central é a aquisição de conhecimentos pela Assim surge a necessidade de se delimitar esse campo de
interação do sujeito com o meio. atuação, definindo o que há de específico na psicologia do
(C) O comportamento é construído numa interação entre o desenvolvimento humano. A necessidade de se integrar ao
meio e o indivíduo. Esta teoria epistemológica é caracterizada estudo do desenvolvimento humano uma perspectiva
como interacionista. interdisciplinar, que adote uma metodologia de pesquisa
(D) Nenhuma das alternativas. própria, faz com que alguns autores sugiram que o estudo
desenvolvimento humano constitua um campo de atuação
05. (DPU - Técnico em Assuntos Educacionais - independente da Psicologia, que tem sido chamado de “Ciência
CESPE/2016) Acerca das teorias psicológicas que do Desenvolvimento Humano”.
fundamentam a aprendizagem humana, julgue o item a seguir. Pesquisadores do desenvolvimento humano concordam
Jean Piaget, que estudou o desenvolvimento da mente que um dos objetos de estudo do psicólogo do
relacionando-o à adaptação biológica, dividiu em fases ou desenvolvimento é o estudo das mudanças que ocorrem na
estágios o desenvolvimento cognitivo da criança e denominou vida dos indivíduos. Papalia e Olds, por exemplo, definem
como estágio pré-conceitual o momento em que a criança desenvolvimento como “o estudo científico de como as pessoas
reconhece um objeto sem, contudo, o diferenciar dos demais mudam ou como elas ficam iguais, desde a concepção até a
da mesma categoria. morte”.
( ) Certo ( ) Errado A definição destes autores salienta o fato de que psicólogos
do desenvolvimento estudam as mudanças, mas não nos
Respostas oferece nenhuma informação sobre questões fundamentais ao
estudo do desenvolvimento humano. O que muda? Como
01. C. / 02. E. / 03. Certo. / 04. B. / 05. Errado. muda? E quando muda? Estas são perguntas frequentes nas
pesquisas sobre o desenvolvimento, e são frequentemente
abordadas de forma distintas pelas diferentes abordagens
Psicologia do teóricas que descrevem o desenvolvimento humano.
desenvolvimento: aspectos Dizer que ao longo do tempo mudanças ocorrem na vida
dos indivíduos não nos esclarece estas questões. O tempo é
históricos e biopsicossociais. apenas uma escala, não é uma variável psicológica. Portanto, é
preciso entender como as condições internas e externas ao
indivíduo afetam e promovem essas mudanças. As mudanças
Psicologia do Desenvolvimento: uma perspectiva no desenvolvimento são adaptativas, sistemáticas e
histórica207 organizadas, e refletem essas situações internas e externas ao
indivíduo que tem que se adaptar a um mundo em que as
No século XXI psicólogos do desenvolvimento enfrentam mudanças são constantes.
novos desafios uma vez que as novas concepções de atuação

207 Texto adaptado de Márcia Elia da Mota, disponível em

http://pepsic.bvsalud.org/

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Variáveis internas podem ser entendidas como aquelas contribuições para os trabalhos de prevenção e promoção de
ligadas à maturação orgânica do indivíduo, as bases genéticas saúde. Aqui a concepção de saúde adquire uma perspectiva
do desenvolvimento. mais ampla e engloba os diversos contextos que fazem parte
Recentemente, os processos inatos que promovem o da vida dos indivíduos (escola, trabalho, família).
desenvolvimento humano voltam a ser discutidos por teóricos
do desenvolvimento humano. O desenvolvimento humano208 se realiza em períodos que
As variáveis externas são aquelas ligadas à influência do se distinguem entre si pelo predomínio de estratégias e
ambiente no desenvolvimento. As abordagens sistêmicas de possibilidades específicas de ação, interação e aprendizagem.
investigação do desenvolvimento humano há muito chamam Os períodos de desenvolvimento são, normalmente,
atenção para a importância de se entender as diversas referidos como infância, adolescência, maturidade e velhice. É
interações que ocorrem nos múltiplos contextos em que o mais adequado, porém, pensarmos o processo de
desenvolvimento se dá. Incluindo-se nesta discussão uma desenvolvimento humano em termos das transformações
análise do momento histórico em que o indivíduo se sucessivas que o caracterizam, transformações que são
desenvolve. marcadas pela evolução biológica (que é constante para todos
Biaggio argumenta que a especificidade da psicologia do os seres humanos) e pela vivência cultural.
desenvolvimento humano está em estudar as variáveis
externas e internas aos indivíduos que levam as mudanças no Plasticidade Cerebral
comportamento em períodos de transição rápida (infância, O cérebro humano apresenta uma grande plasticidade.
adolescência e envelhecimento). Teorias contemporâneas do Plasticidade é a possibilidade de formação de conexões entre
desenvolvimento aceitam que as mudanças são mais marcadas neurônios a partir das sinapses. A plasticidade se mantém pela
em períodos de transição rápida, mas mudanças ocorrem ao vida toda, embora sua amplitude varie segundo o período de
longo de toda a vida do indivíduo, não só nestes períodos. formação humana. Assim é que, quanto mais novo o ser
Portanto, é preciso se ampliar o escopo do entendimento do humano, maior plasticidade apresenta. Certas conexões se
que é o estudo do desenvolvimento humano. fazem com uma rapidez muito grande na criança pequena. É
Para que se leve a termo estas considerações, as pesquisas isto que possibilita o desenvolvimento da linguagem oral, a
em desenvolvimento humano utilizam metodologia específica, aprendizagem de uma ou mais línguas maternas
entre elas a mais comumente usada são os estudos simultaneamente, o domínio de um instrumento musical, o
longitudinais. A “International Society for the Study of desenvolvimento dos movimentos complexos e a perícia de
Behavioral Development” lançou em 2005 uma edição especial alguns deles, como aqueles envolvidos no ato de desenhar, de
intitulada “Longitudinal Research on Human Development: correr, de nadar...
Approachs, Issues and New Directions”. Nesta edição se discute Consequentemente a infância é o período de maior
as contribuições e limitações dos estudos longitudinais para a plasticidade e isto atende, naturalmente, ao processo intenso
produção do conhecimento na psicologia do desenvolvimento. de crescimento e desenvolvimento que ocorre neste período.
Cillessen ressalta que estudos longitudinais se aplicam as Assim, a plasticidade atende às necessidades da espécie.
várias áreas do conhecimento não apenas a Psicologia do Que possibilidades concretas são estas de formação de
Desenvolvimento. Também não se aplicam apenas a estudos conexões? O cérebro humano dispõe de cerca de 100 bilhões
de longo prazo e com muitos indivíduos, mas na psicologia do de neurônios, sendo que cada um pode chegar a estabelecer
desenvolvimento adquirem uma importância fundamental, cerca de 1000 sinapses, em certas circunstâncias ainda
pois permitem que se acompanhe o desenvolvimento dos mais. Desta forma, as possibilidades são de trilhões de
indivíduos ao longo do tempo, ao mesmo tempo em que, conexões, o que significa que a capacidade de aprender de
controlam-se as múltiplas variáveis que afetam o cada um de nós é absolutamente muito ampla.
desenvolvimento. Enquanto espécie, o ser humano apresenta, desde o
Os teóricos que trabalham na abordagem do Curso da Vida, nascimento, uma plasticidade muito grande no cérebro,
chamam atenção para algumas das limitações deste tipo de podendo desenvolver várias formas de comportamento,
abordagem, que estudam apenas uma coorte de cada vez, não aprender várias línguas, utilizar diferentes recursos e
permitindo inferências sobre o comportamento entre estratégias para se inserir no meio, agir sobre ele, avaliar,
gerações. Apontam para a necessidade de incluir outras tomar decisões, defender-se, criar condições de sobrevivência
coortes históricas em estudos sobre o desenvolvimento ao longo de sua vida.
humano, ressaltando a necessidade de estudos longitudinais A plasticidade cerebral também permite que áreas do
de coorte, mais amplos que os estudos longitudinais cérebro destinadas a uma função específica possam assumir
tradicionais. outras funções, como, por exemplo, o córtex visual no caso das
Além da Teoria do Curso da Vida, teóricos de diversas crianças que nascem cegas. Como esta parte do cérebro não
abordagens chamam a atenção para a necessidade de se será “chamada a funcionar”, pois o aparelho da visão apresenta
considerar as questões metodológicas específicas ao estudo do impedimentos (então não manda informação a partir da
desenvolvimento e as limitações das metodologias percepção visual para o cérebro), ela poderá assumir outras
tradicionais Assim, pelas questões acima citadas, funções.
consideramos que uma melhor definição de Psicologia do Plasticidade cerebral é, também, a possibilidade de realizar
Desenvolvimento seria “O estudo, através de metodologia a “interdisciplinaridade” do cérebro: áreas desenvolvidas por
específica e levando em consideração o contexto sócio meio de um tipo de atividade podem ser “aproveitadas” para
histórico, das múltiplas variáveis, sejam elas cognitivas, aprender outros conhecimentos ou desenvolver áreas relativas
afetivas, biológicas ou sociais, internas ou externas ao a outro tipo de atividade. Por exemplo, áreas desenvolvidas pela
indivíduo que afetam o desenvolvimento humano ao música, como a de ritmo, são “aproveitadas” no ato da leitura da
longo da vida”. escrita ou a de divisão do tempo na aprendizagem de
Através da identificação dos fatores que afetam o matemática.
desenvolvimento humano podemos pensar sobre trabalhos de
intervenção mais eficazes, que levem a um desenvolvimento A ação da criança depende da maturação orgânica e das
harmônico do indivíduo. Sendo assim, os conhecimentos possibilidades que o meio lhe oferece: ela não poderá realizar
gerados por essa área da psicologia trazem grandes uma ação para a qual não tenha o substrato orgânico, assim

208 http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/indag1.pdf

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como não fará muitas delas, mesmo que biologicamente apta, desta função que o ser humano pode construir significados e
se a organização do seu meio físico e social não propiciar sua acumular conhecimentos.
realização ou se os adultos não a ensinarem. Todo ensino na escola, de qualquer área do conhecimento,
O ser humano aprende somente as formas de ação que implica na utilização da função simbólica. As atividades que
existirem em seu meio, assim como ele aprende somente a concorrem para a formação da função simbólica variam
língua ou as línguas que aí forem faladas. As estratégias de conforme o período de desenvolvimento. Por exemplo, o
ação e os padrões de interação entre as pessoas são definidos desenho e a brincadeira de faz-de-conta são atividades
pelas práticas culturais. simbólicas próprias da criança pequena, que antecedem a
Isto significa que a cultura é constitutiva dos processos de escrita: na verdade, elas criam as condições internas para que
desenvolvimento e de aprendizagem. a criança aprenda a ler e a escrever.
A criança se constitui enquanto membro do grupo por A linguagem escrita, a matemática, a química, a física, o
meio da formação de sua identidade cultural, que possibilita a sistema de notação da dança, da música são manifestações da
convivência e sua permanência no grupo. Simultaneamente ela função simbólica. As aprendizagens escolares são
constitui sua personalidade que a caracterizará como apropriações de conhecimentos formais, ou seja,
indivíduo único. conhecimentos organizados em sistemas. Sistematizar é
Os comportamentos e ações privilegiados em cada cultura estabelecer conceitos, ordená-los em níveis de complexidade
são, então, determinantes no processo de desenvolvimento da com regras internas que regulam a relação entre os elementos
criança. que os compõem. Todo conhecimento formal é representado,
A vida no coletivo sempre envolve a cultura: as simbolicamente, pela linguagem de cada sistema.
brincadeiras, o faz de conta, as festas, os rituais, as celebrações Por exemplo:
são todas situações em que a criança se constitui como ser de
cultura. a) a2 = b2 + c2
b) 15 + 36 = 51
Desenvolvimento cultural c) O gato correu atrás do cachorro.
O desenvolvimento tecnológico e o processo de
globalização da informação por meio da imagem modificaram
O cachorro correu atrás do gato
os processos de desenvolvimento cultural por introduzirem
novas formas de mediação. As novas gerações desenvolvem-se Em b e c temos uma regra importante que é o valor
com diferenças importantes em relação às gerações posicional: a posição dos elementos simbólicos determina o
precedentes, por meio, por exemplo, da interação com a significado (1 e 5) 15 é diferente de 51. O mesmo se aplica ao
informática, com as imagens presentes por meio urbano gato que corre atrás do cachorro, em que se explicita a ação
(várias formas de propaganda, como cartazes, outdoors inversa do cachorro que corre atrás do gato.
móveis). O mesmo acontece com crianças nas zonas rurais com A função simbólica é a atividade mais básica das ações que
o advento da eletricidade e da TV, ou com crianças indígenas acontecem na escola, tanto do educador como do educando.
que passaram a experienciar o processo de escolarização e, Quando os elementos do currículo não mobilizam
também, em vários casos a presença de novos instrumentos adequadamente o exercício desta função, a aprendizagem não
culturais como o rádio, a TV, câmeras de vídeo, fotografia, se efetua.
entre outros. Nesta dimensão do simbólico, as artes destacam-se, pois
O desenvolvimento do cérebro é função da cultura e dos são elas as formas mais complexas de atividade simbólica
objetos culturais existentes em um determinado período humana. Anteriores aos conhecimentos formais, elas
histórico. Novos instrumentos culturais levam a novos propiciaram a estruturação dos movimentos e das imagens de
caminhos de desenvolvimento. O computador é um bom forma que eles pudessem evoluir culturalmente para sistemas
exemplo: modificou as formas de lidar com informações, de registros.
provocando mudanças nos caminhos da memória. A presença
de novos elementos imagéticos e cinestésicos repercute no Percepção
desenvolvimento de funções psicológicas como a atenção e a A percepção é realizada pelos cinco sentidos externos. O
imaginação. ser humano desenvolve estes sentidos desde que não haja
Considerando, então, que o cérebro se desenvolve do impedimentos nos órgãos dos sentidos ou nas estruturas
diálogo entre a biologia da espécie e a cultura, verifica-se que, cerebrais que processam a percepção de cada um deles.
na escola, o currículo é um fator que interfere no Quando isto acontece, um sentido “compensa” o outro: a
desenvolvimento da pessoa. pessoa desenvolve mais o tato quando não enxerga,
Os “conteúdos” escolhidos para o currículo irão, sem desenvolve mais a visão quando não ouve. Nestes casos,
dúvida, ter um papel importante na formação. As atividades também, o ser humano pode desenvolver os dois subsentidos
para conduzirem às aprendizagens, precisam estar adequadas externos que são a vibração e o calor.
às estratégias de desenvolvimento próprias de cada idade. Em Isso revela que os sentidos funcionam com
outras palavras, a realização do currículo precisa mobilizar interdependência, o que tem uma relevância fundamental para
algumas funções centrais do desenvolvimento humano, como os professores, pois o ensino deve mobilizar várias dimensões
a função simbólica, a percepção, a memória, a atenção e a da percepção para que o aluno possa “guardar” conteúdos na
imaginação. memória de longa duração.
Há maior empenho em perceber algo quando há algum
Linguagem e Imagens mentais: Percepção, Memória e interesse neste “algo”. Por exemplo, quando alguém ouve uma
Imaginação Desenvolvimento da Função Simbólica música de um cantor de quem gosta muito, fica atento e evoca
A partir da sua ação e interação com o mundo (a natureza, a melodia ou a letra. Se for uma canção nova e se reconhece a
as pessoas, os objetos) e das práticas culturais, a criança voz do cantor, mobiliza os processos mentais da memória
constitui o que chamamos de função simbólica, ou seja, a auditiva a partir da percepção auditiva, ou seja, seleciona a
possibilidade de representar, mentalmente, por símbolos o canção, destacando-a das outras informações sonoras e/ou
que ela experiencia, sensivelmente, no real. ruídos presentes no ambiente.
O desenvolvimento da função simbólica no ser humano é Por outro lado, a percepção pode criar um interesse novo.
de extrema importância, uma vez que é por meio do exercício Ao ser introduzida a um conhecimento novo, uma pessoa pode
se interessar ou não por ele, dependendo das estratégias

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utilizadas por quem o introduz. Assim, em sala de aula, não é elementos que se organizam em padrões, que têm regras
somente o conteúdo que motiva, mas, sobretudo, como o próprias em cada forma de arte.
professor trabalha com o conteúdo, seja ele da escrita, artes ou Na escrita, os padrões aparecem nas cinco dimensões da
ciências. linguagem, embora apareçam, mais fortemente, na sintaxe. Por
A percepção visual é o processamento de atributos do isto, a sintaxe é o elemento forte, o instrumentador da língua
objeto como cor, forma e tamanho. Ela acontece em regiões do escrita. A palavra solta é um símbolo, a palavra na construção
córtex cerebral e há fortes indicações de que estas regiões sintática surge como estrutura. Na linguagem oral humana, o
sejam as mesmas ou estejam muito próximas daquelas que eixo forte do padrão é o verbo. Há maior resiliência no cérebro
“guardariam” a memória dos objetos. Desta forma, percepção para os símbolos que representam a ação humana, uma vez
e memória estão muito próximas nas aprendizagens escolares. que o movimento é o grande recurso na espécie para o
desenvolvimento cultural e tecnológico, além de ser a matéria
Memória bruta primeira da comunicação entre humanos e de expressão
Toda aprendizagem envolve a memória. Todo ser humano das emoções.
tem memória e utiliza seus conteúdos a todo o momento. São As pessoas tendem a memorizar, mais facilmente, aquilo
três os movimentos da memória: o de arquivar, o de evocar e em que elas conseguem aplicar padrões. Para as
o de esquecer. Ao entrar em contato com algo novo, o ser aprendizagens escolares isto é fundamental: o ensino bem
humano pode criar novas memórias, ou seja, arquiva este sucedido é aquele que “instrumentaliza” a pessoa para
conhecimento, experiência ou ideia em sua memória de longa construir, aplicar, reconhecer e “manipular” padrões.
duração. As impressões gravadas na memória de longa
duração, a partir das experiências vividas, podem ser Memória operacional
“evocadas”, trazidas à consciência. Outras experiências, Como o próprio nome diz, a memória operacional se ocupa
informações, vivências, imagens e ideias são esquecidas. das operações, ou seja, um sistema de ações organizadas,
Sabemos que estes movimentos têm uma participação do segundo a natureza do comportamento. Por exemplo, está na
sistema límbico no qual se originam nossas emoções. A memória operacional o comportamento de andar, de dirigir,
memória é modulada pela emoção. Isto quer dizer que os de dançar. São comportamentos que se efetuam, muito
estados emocionais podem “interferir”, facilitando ou rapidamente, para os quais não há “tempo” para comandos do
reforçando a formação de novas memórias, assim como cérebro. São comportamentos que têm uma ordem de
podem, também, enfraquecer ou dificultar a formação de uma movimentos a ser seguida e esta ordem já está “fixada” na
nova memória. memória.
Quanto ao tempo, os tipos de memória são muito Na memória operacional estão as conjugações verbais, isto
importantes para o educador, pois as aprendizagens escolares é, os tempos futuro, presente e passado do verbo. Assim, a
dependem da formação de novas memórias de longa duração. organização da ação no tempo se realiza com a participação
Muitas vezes, no entanto, os conteúdos ficam no nível da curta deste tipo de memória. Este fato tem implicações para as
duração e desaparecem rapidamente. O desafio da pedagogia aprendizagens escolares. Com estas descobertas somos
é formular metodologias de ensino que transformem esta levados a rever o ensino da sintaxe em português: a gramática
primeira ação da memória (curta duração) em memórias de é necessária para o aluno, pois fornece estrutura para a
longa duração. É importante mencionar aqui que temos, apropriação e organização da linguagem escrita e a
também, a possibilidade de formar uma memória ultrarrápida organização das informações em todas as matérias.
que desaparece após a sua utilização, como quando, por
exemplo, gravamos um número de telefone para discá-lo e, Imaginação - A Capacidade Imaginativa na Espécie
logo em seguida, já o esquecemos. Humana
Quanto à natureza, temos vários tipos de memória. Temos Se considerarmos a evolução de nossa espécie, veremos
a memória implícita, a memória explícita e a operacional. A que ela é pautada pela invenção, ou seja, pela criação de
memória explícita pode ser semântica ou episódica. objetos, de sistemas, de linguagens, tecnologia, teorias, ciência,
Para as aprendizagens escolares, precisam ser mobilizadas arte, códigos etc. Toda produção cultural é resultante de um
a memória explicita semântica e a memória operacional. processo cumulativo de invenções, pequenas e grandes, que
Para a formação de novas memórias dos conteúdos dão base para as invenções futuras.
escolares ao aluno precisa, desde o início da escolarização, ser A comunicação, atividade primordial da espécie, ganha a
ensinado o que fazer e como para aprender os conhecimentos cada geração novos processos, novas tecnologias. O ser
envolvidos nas aprendizagens escolares. O aluno precisa ser humano dedica grande parte de sua criatividade a ampliar e
capaz de “refazer” o processo da aprendizagem. Refazer desenvolver meios de comunicação e meios de transporte que
implica tanto em recapitular o conteúdo ensinado, como em facilitem os processos comunicativos e que tornem mais ágeis
retomar as atividades (humanas) que o levaram a “guardar” o os deslocamentos das pessoas.
conteúdo na memória de longa duração. A possibilidade de criar depende, na nossa espécie, da
imaginação, função psicológica pela qual nós somos capazes de
Memória explícita semântica unir elementos percebidos e experiências em novas redes de
Também chamada de declarativa, a memória explícita conexão. O funcionamento da imaginação e seu
semântica inclui as memórias que podem ser explicitadas pela desenvolvimento, embora relacionados às outras funções
linguagem. Este tipo de memória engloba aquilo que pode ser psicológicas superiores, têm uma grande autonomia e se
lembrado por meio das imagens, símbolos ou sistemas manifestam tanto na ação como no ato de aprender.
simbólicos. A capacidade da memória declarativa está ligada à Desta forma, podemos dizer que para as aprendizagens
organização de informações em padrão. escolares a imaginação desempenha um papel central e deve
Pesquisas demonstram que o ser humano se lembra “mais ser considerada no planejamento, na alocação de tempo das
facilmente” daquilo que está organizado segundo regras. Isto atividades dentro e fora da sala de aula, nas situações comuns
implica na existência de padrões internos. Todas as linguagens do cotidiano escolar. Os alunos devem, também, ser
são organizadas por padrões: a linguagem das ciências, das acompanhados avaliativamente na evolução de sua
várias áreas do conhecimento, a linguagem escrita, a imaginação.
matemática, a cartográfica, a linguagem da dança, da música.
Toda atividade artística também depende de utilização de

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A ligação entre imaginação e memória imaginação: como será que a energia elétrica surge na
Vygotsky trata da diferença entre reprodução e criação: represa? Como será que a luz chega à lâmpada?
ambas atividades têm apoio na memória, mas diferem pelo Que será que acontece com a semente debaixo da terra?
alcance temporal. Reproduzir algo, mentalmente, se apoia na Como será que o computador guarda tanta informação?
experiência sensível anterior. Por exemplo, construo uma Porque o rio muda de cor?
imagem mental da casa onde moravam meus avós, pelos Levantar hipóteses para qualquer destas questões implica
elementos gravados na memória, mas crio uma imagem em ter liberdade de pensamento. Isto é, a capacidade
mental da casa dos avós de uma personagem em um romance imaginativa no ser humano tem como base a liberação da
a partir dos elementos oferecidos pelo autor. Ou seja, no experiência sensível imediata, desta forma a pessoa pode lidar,
segundo caso uso a imaginação para criar este espaço livremente, com o acervo mental que detém de imagens,
utilizando, com certeza, elementos percebidos, anteriormente, informações, sensações colhidas nas várias experiências de
mas que se combinam entre si, de acordo com a relação vida, juntamente com as emoções e sentimentos que as
dialógica estabelecida com o texto no ato da leitura, acompanharam.
diferentemente, do primeiro caso em que busco a O desenvolvimento humano e a aprendizagem, na escola,
fidedignidade da imagem mental, tendo a casa concreta como envolvem, precisamente, esta dialética de receber informações
referencial. por meio dos sentidos e ter a possibilidade de ir além delas
pelas funções mentais.
Vygotsky coloca que a primeira experiência se apoia na
análise do passado. Ela é uma reprodução do que se viveu, O desenvolvimento humano na teoria de Piaget
enquanto que no segundo é uma realização do presente De acordo com a publicação de Marcia Regina Terra209 o
projetada no futuro. A criação literária dá esta possibilidade de estudo do desenvolvimento do ser humano constitui uma área
partilhamento na criação, pois possibilita ao leitor a superação do conhecimento da Psicologia em que concentram-se no
do texto para a criação das imagens de cada personagem, que esforço de compreender o homem em todos os seus aspectos,
é constituída pelos dados oferecidos de sua personalidade, de englobando fases desde o nascimento até o seu mais completo
suas ações, de suas formas de pensamento, criação de imagens grau de maturidade e estabilidade. Tal esforço, conforme
do contexto. mostra a linha evolutiva da Psicologia, tem culminado na
A imaginação na realidade não se “desprega” da memória, elaboração de várias teorias que procuram reconstituir, a
mas recria com os elementos da memória. Imaginar implica, partir de diferentes metodologias e pontos de vistas, as
portanto, em se liberar das conexões que estão feitas dos condições de produção da representação do mundo e de suas
elementos percebidos, para “reutilizar” estes elementos em vinculações com as visões de mundo e de homem dominantes
outras configurações. em cada momento histórico da sociedade.
Temos aí duas implicações importantes: primeiramente, Assim, dentre essas tantas teorias tem-se a de Jean Piaget,
que a imaginação não é dada na espécie, é construída. Segundo, que, como as demais, busca compreender o desenvolvimento
que ela é parte integrante do processo de aprendizagem, do ser humano. No entanto, ela se destaca de outras pelo seu
porque aprender significa, exatamente, ser capaz de caráter inovador quando introduz uma 'terceira visão'
estabelecer conexões entre informações, construindo representada pela linha interacionista que constitui uma
significado. Podemos ver que, neste segundo caso, a tentativa de integrar as posições dicotômicas de duas
imaginação é base para o estabelecimento destas novas redes, tendências teóricas que permeiam a Psicologia em geral -
uma vez que ela é a função psicológica que estabelece relações o materialismo mecanicista e o idealismo - ambas
significativas entre elementos que não estavam conectados marcadas pelo antagonismo inconciliável de seus
entre si. A imaginação cria condições de aprendizagem. postulados que separam de forma estanque o físico e o
Temos assim que a relação entre imaginação e memória psíquico.
tem sentido duplo: a base para o funcionamento da imaginação Um outro ponto importante a ser considerado, segundo
são os elementos que estão contidos na memória e o próprio estudiosos, é o de que o modelo piagetiano prima pelo rigor
funcionamento da imaginação desenvolve a memória (por científico de sua produção, ampla e consistente ao longo de 70
meio do processo imaginativo, novas mediações semióticas anos, que trouxe contribuições práticas importantes,
são realizadas, dando à pessoa uma maior complexidade aos principalmente, ao campo da Educação - muito embora,
sistemas contidos na memória de longa duração). curiosamente aliás, a intenção de Piaget não tenha
propriamente incluído a ideia de formular uma teoria
Porque a imaginação é importante na aprendizagem? específica de aprendizagem.
Tendo em vista o objetivo da teoria piagetiana que de
1. Ela está na origem da construção do acordo com Coll e Gillièron é "compreender como o sujeito se
conhecimento que vamos ensinar. constitui enquanto sujeito cognitivo, elaborador de
O conhecimento científico e o conhecimento estético conhecimentos válidos" cabe algumas considerações sobre o
foram produzidos a partir do exercício da imaginação método piagetiano sobre o desenvolvimento humano.
humana nos vários períodos históricos.
1. A visão interacionista de Piaget: a relação de
2. Ela está na origem do conhecimento que será interdependência entre o homem e o objeto do
construído pelo aluno. conhecimento
A imaginação motiva. Muitos educadores concordarão Introduzindo uma terceira visão teórica representada pela
que a motivação é um fator importante para o educando linha interacionista, as ideias de Piaget contrapõem-se,
aprender. Motivar implica em mobilização para, interesse conforme mencionamos mais acima, às visões de
em, envolvimento com o objeto de aprendizagem. duas correntes antagônicas e inconciliáveis que permeiam a
Esta disponibilidade para aprender envolve, do ponto Psicologia em geral: o objetivismo e o subjetivismo. Ambas as
de vista psicológico, a imaginação. correntes são derivadas de duas grandes vertentes da Filosofia
(o idealismo e o materialismo mecanicista) que, por sua vez,
Por exemplo, podemos motivar o aluno para um fenômeno são herdadas do dualismo radical de Descartes que propôs a
científico que será estudado com o concurso da mobilização da separação estanque entre corpo e alma, id est, entre físico e

209 http://www.unicamp.br/iel/site/alunos/publicacoes/

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psíquico, ou seja, para ele havia uma ruptura radical entre o 2. O processo de equilibração: a busca pelo
corpo e a alma que eram distintos e independentes entre si. pensamento lógico
Assim sendo, a Psicologia objetivista, privilegia o dado Pode-se dizer que o "sujeito epistêmico" protagoniza o
externo, afirmando que todo conhecimento provém da papel central do modelo piagetiano, pois a grande
experiência; e a Psicologia subjetivista, em contraste, calcada preocupação da teoria é desvendar os mecanismos
no substrato psíquico, entende que todo conhecimento é processuais do pensamento do homem, desde o início da sua
anterior à experiência, reconhecendo, portanto, a primazia do vida até a idade adulta.
sujeito sobre o objeto. Nesse sentido, a compreensão dos mecanismos de
Desta forma as duas teorias distintas entre si privilegiam constituição do conhecimento, na concepção de Piaget,
cada uma a sua proposta ora o subjetivismo, as experiências equivale à compreensão dos mecanismos envolvidos na
internas, as vivências e tudo que é inerente ao indivíduo e ora formação do pensamento lógico, matemático. Como lembra La
o objetivismo com tudo que é externo ao indivíduo não Taille, "(...) a lógica representa para Piaget a forma final do
havendo assim um meio termo entre ambas. equilíbrio das ações. Ela é um sistema de operações, isto é, de
Sendo assim, considerando insuficientes essas duas ações que se tornaram reversíveis e passíveis de serem
posições para explicar o processo evolutivo da filogenia compostas entre si'".
humana, Piaget formula o conceito de epigênese, Com base nisso Piaget sustenta que a gênese do
argumentando que "o conhecimento não procede nem da conhecimento está no próprio sujeito, ou seja, o pensamento
experiência única dos objetos nem de uma programação inata lógico não é inato ou tampouco externo ao organismo mas é
pré-formada no sujeito, mas de construções sucessivas com fundamentalmente construído na interação homem-objeto,
elaborações constantes de estruturas novas". assim o desenvolvimento da filogenia humana se dá através de
Quer dizer, o processo evolutivo da filogenia humana tem um mecanismo auto regulatório que tem como base condições
uma origem biológica que é ativada pela ação e interação do biológicas (que são inatas) e que são ativadas pela ação e
organismo com o meio ambiente - físico e social - que o rodeia, interação do organismo com o meio ambiente tanto físico
significando entender com isso que as formas primitivas da quanto social.
mente, biologicamente constituídas, são reorganizadas pela Está implícito nessa ótica de Piaget que o homem é
psique socializada, ou seja, existe uma relação de possuidor de uma estrutura biológica que o possibilita
interdependência entre o sujeito conhecedor e o objeto a desenvolver o mental, no entanto, esse fato por si só não
conhecer. assegura o desencadeamento de fatores que propiciarão o seu
Esse processo, por sua vez, se efetua através de um desenvolvimento, haja vista que este só acontecerá a partir da
mecanismo auto regulatório que consiste no processo de interação do sujeito com o objeto a conhecer. Por sua vez, a
equilibração progressiva do organismo com o meio em relação com o objeto, embora essencial, da mesma forma
que o indivíduo está inserido. também não é uma condição suficiente ao desenvolvimento
Deste modo considera-se que as experiências internas, cognitivo humano, uma vez que para tanto é preciso, ainda, o
inatas do indivíduo em relação direta com o meio externo exercício do raciocínio. Por assim dizer, a elaboração do
é o que produz o conhecimento, ou seja, o social em pensamento lógico demanda um processo interno de reflexão.
conjunto com o individual é que forma a estrutura Tais aspectos deixam à mostra que, ao tentar descrever a
completa do ser humano e, a cada novo contato com o origem da constituição do pensamento lógico, Piaget focaliza o
meio existem reorganizações para que se atinja processo interno dessa construção.
novamente o estado de equilíbrio o indivíduo com o meio Simplificando ao máximo, o desenvolvimento humano, no
que o cerca. modelo piagetiano, é explicado segundo o pressuposto de que
existe uma conjuntura de relações interdependentes entre o
Psicologia Psicologia sujeito conhecedor e o objeto a conhecer. Esses fatores que são
Interacionismo complementares envolvem mecanismos bastante complexos e
Objetivista Subjetivista
Materialismo intrincados que englobam o entrelaçamento de fatores que são
Idealismo Piaget complementares, tais como: o processo de maturação do
mecanicista
Privilegia o organismo, a experiência com objetos, a vivência social e,
psiquismo, para sobretudo, a equilibração do organismo ao meio.
Privilegia o O conceito de equilibração torna-se especialmente
ela o
dado externo, marcante na teoria de Piaget pois ele representa o fundamento
conhecimento é
assim todo o É um “meio termo” que explica todo o processo do desenvolvimento humano.
anterior à
conhecimento entre o objetivismo Trata-se de um fenômeno que tem, em sua essência, um
experiência, ou
vem da e o subjetivismo. caráter universal, já que é de igual ocorrência para todos os
seja, é o
experiências do indivíduos da espécie humana mas que pode sofrer variações
indivíduo que
indivíduo. em função de conteúdos culturais e do meio em que o
“age” sobre o
indivíduo está inserido. Nessa linha de raciocínio, o trabalho
objeto.
de Piaget leva em conta a atuação de dois elementos básicos ao
É o meio Nessa visão o
desenvolvimento humano: os fatores invariantes e os fatores
ambiente e processo evolutivo
variantes.
objetos que As vivências humano tem uma
cercam o inatas e origem biológica
(a) Os fatores invariantes: Piaget postula que, ao nascer,
indivíduo bem inerentes ao ser que é ativada pela
o indivíduo recebe como herança uma série de estruturas
como suas humano que ação e interação do
biológicas - sensoriais e neurológicas - que permanecem
experiências possibilitam o organismo com o
constantes ao longo da sua vida. São essas estruturas
externas que conhecimento. meio ambiente - biológicas que irão predispor o surgimento de certas
possibilitam o físico e social - que
estruturas mentais. Em vista disso, na linha piagetiana,
conhecimento o rodeia.
considera-se que o indivíduo carrega consigo duas marcas
inatas que são a tendência natural à organização e à adaptação,
significando entender, portanto, que, em última instância, o
'motor' do comportamento do homem é inerente ao ser.

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(b) Os fatores variantes: são representados pelo conceito de esquema que constitui a unidade básica de pensamento e ação
estrutural do modelo piagetiano, sendo um elemento que se transforma no processo de interação com o meio, visando à adaptação do
indivíduo ao real que o circunda. Com isso, a teoria psicogenética deixa à mostra que a inteligência não é herdada, mas sim que ela é
construída no processo interativo entre o homem e o meio ambiente (físico e social) em que ele estiver inserido.
Em síntese, pode-se dizer que, para Piaget, o equilíbrio é o norte que o organismo almeja mas que paradoxalmente nunca alcança,
haja vista que no processo de interação podem ocorrer desajustes do meio ambiente que rompem com o estado de equilíbrio do
organismo, eliciando esforços para que a adaptação se restabeleça. Essa busca do organismo por novas formas de adaptação envolvem
dois mecanismos que apesar de distintos são indissociáveis e que se complementam: a assimilação e a acomodação.
A assimilação consiste na tentativa do indivíduo em solucionar uma determinada situação a partir da estrutura cognitiva
que ele possui naquele momento específico da sua existência. Representa um processo contínuo na medida em que o indivíduo
está em constante atividade de interpretação da realidade que o rodeia e, consequentemente, tendo que se adaptar a ela. Como o
processo de assimilação representa sempre uma tentativa de integração de aspectos experienciais aos esquemas previamente
estruturados, ao entrar em contato com o objeto do conhecimento o indivíduo busca retirar dele as informações que lhe interessam
deixando outras que não lhe são tão importantes, visando sempre a restabelecer a equilibração do organismo.
A acomodação, por sua vez, consiste na capacidade de modificação da estrutura mental antiga para dar conta de dominar
um novo objeto do conhecimento. Quer dizer, a acomodação representa "o momento da ação do objeto sobre o sujeito"
emergindo, portanto, como o elemento complementar das interações sujeito-objeto.
Em síntese, toda experiência é assimilada a uma estrutura de ideias já existentes (esquemas) podendo provocar uma
transformação nesses esquemas, ou seja, gerando um processo de acomodação.
Como observa Rappaport, os processos de assimilação e acomodação são complementares e acham-se presentes durante toda a
vida do indivíduo e permitem um estado de adaptação intelectual (...) É muito difícil, se não impossível, imaginar uma situação em que
possa ocorrer assimilação sem acomodação, pois dificilmente um objeto é igual a outro já conhecido, ou uma situação é exatamente
igual a outra.
Vê-se nessa ideia de "equilibração" de Piaget a marca da sua formação como biólogo que o levou a traçar um paralelo entre a
evolução biológica da espécie e as construções cognitivas. Tal processo pode ser representado pelo seguinte processo:

Dessa perspectiva, o processo de equilibração pode ser definido como um mecanismo de organização de estruturas cognitivas em
um sistema coerente que visa a levar o indivíduo a construção de uma forma de adaptação à realidade. Haja vista que o "objeto nunca
se deixa compreender totalmente", o conceito de equilibração sugere algo móvel e dinâmico, na medida em que a constituição do
conhecimento coloca o indivíduo frente a conflitos cognitivos constantes que movimentam o organismo no sentido de resolvê-los.
Em última instância, a concepção do desenvolvimento humano, na linha piagetiana, deixa ver que é no contato com o mundo que a
matéria bruta do conhecimento é 'arrecadada', pois que é no processo de construções sucessivas resultantes da relação sujeito-objeto
que o indivíduo vai formar o pensamento lógico.
É bom considerar, ainda, que, na medida em que toda experiência leva em graus diferentes a um processo de assimilação e
acomodação, trata-se de entender que o mundo das ideias, da cognição, é um mundo inferencial. Para avançar no desenvolvimento é
preciso que o ambiente promova condições para transformações cognitivas, id est, é necessário que se estabeleça um conflito cognitivo
que demande um esforço do indivíduo para superá-lo a fim de que o equilíbrio do organismo seja restabelecido, e assim
sucessivamente.
No entanto, esse processo de transformação vai depender sempre de como o indivíduo vai elaborar e assimilar as suas interações
com o meio, isso porque o estado conquistado na equilibração do organismo reflete as elaborações possibilitadas pelos níveis de
desenvolvimento cognitivo que o organismo detém nos diversos estágios da sua vida.
Deste modo, por toda a vida do indivíduo ele passa por processos de assimilação e acomodação buscando atingir o estado de
equilibração, porém a conquista desse estado está diretamente relacionada com os níveis de desenvolvimento do indivíduo nos
diversos estágios de sua vida.
A esse respeito, para Piaget, os modos de relacionamento com a realidade são divididos em 4 períodos distintos, no processo
evolutivo da espécie humana que são caracterizados "por aquilo que o indivíduo consegue fazer melhor" no decorrer das diversas
faixas etárias ao longo do seu processo de desenvolvimento. São eles:

- 1º período: Sensório-motor (0 a 2 anos)


- 2º período: Pré-operatório (2 a 7 anos)
- 3º período: Operações concretas (7 a 11 ou 12 anos)
- 4º período: Operações formais (11 ou 12 anos em diante)

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Cada uma dessas fases é caracterizada por formas representação, e esta substituição é possível, conforme Piaget,
diferentes de organização mental que possibilitam as graças à função simbólica. Assim este estágio é também muito
diferentes maneiras do indivíduo relacionar-se com a conhecido como o estágio da Inteligência Simbólica.
realidade que o rodeia. De uma forma geral, todos os Contudo, Macedo lembra que a atividade sensório-motor
indivíduos passam por esses períodos na mesma sequência, não está esquecida ou abandonada, mas refinada e mais
porém o início e o término de cada uma delas pode sofrer sofisticada, pois verifica-se que ocorre uma crescente
variações em função das características da estrutura biológica melhoria na sua aprendizagem, permitindo que a mesma
de cada indivíduo e da riqueza (ou não) dos estímulos explore melhor o ambiente, fazendo uso de mais e mais
proporcionados pelo meio ambiente em que ele estiver sofisticados movimentos e percepções intuitivas.
inserido. Por isso mesmo é que esta forma de divisão nessas
faixas etárias é uma referência, e não uma norma rígida. A criança deste
3. Os Estágios Cognitivos Segundo Piaget210 estágio:
Piaget, quando descreve a aprendizagem, tem um enfoque
diferente do que normalmente se atribui à esta palavra. Piaget - É egocêntrica, centrada em si mesma, e não consegue se
separa o processo cognitivo inteligente em duas palavras: colocar, abstratamente, no lugar do outro.
aprendizagem e desenvolvimento. Para Piaget, segundo - Não aceita a ideia do acaso e tudo deve ter uma explicação
Macedo, a aprendizagem refere-se à aquisição de uma (é fase dos "por quês").
resposta particular, aprendida em função da experiência, - Já pode agir por simulação, "como se".
obtida de forma sistemática ou não. Enquanto que o - Possui percepção global sem discriminar detalhes.
desenvolvimento seria uma aprendizagem de fato, sendo este - Deixa se levar pela aparência sem relacionar fatos.
o responsável pela formação dos conhecimentos.
Exemplos: Mostram-se para a criança, duas bolinhas de
Sensório-motor massa iguais e dá-se a uma delas a forma de salsicha. A criança
Para Piaget o universo que circunda a criança é nega que a quantidade de massa continue igual, pois as formas
conquistado mediante a percepção e os movimentos (como a são diferentes. Não relaciona as situações.
sucção, o movimento dos olhos, por exemplo).
Neste estágio, a partir de reflexos neurológicos básicos, o Operatório-concreto
bebê começa a construir esquemas de ação para assimilar Conforme Nitzke, neste estágio a criança desenvolve
mentalmente o meio, é nesse período que a criança começa a noções de tempo, espaço, velocidade, ordem, casualidade ,...,
discriminar ainda que de forma pouco desenvolvida o meio sendo então capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair
que o cerca. dados da realidade. Apesar de não se limitar mais a uma
Segundo Lopes, as noções de espaço e tempo são representação imediata, depende do mundo concreto para
construídas pela ação, configurando assim, uma inteligência abstrair.
essencialmente prática, ou seja, é no contato direto com o Um importante conceito desta fase é o desenvolvimento da
objeto que o bebe começa a construir a noção de espaço e de reversibilidade, ou seja, a capacidade da representação de uma
tempo de forma que ainda não há, neste período, uma ação no sentido inverso de uma anterior, anulando a
construção simbólica desenvolvida. transformação observada.
Considerando que esse período é marcado pela construção
prática das noções de objeto, espaço, causalidade e é assim que Exemplos: Despeja-se a água de dois copos em outros, de
os esquemas vão "pouco a pouco, diferenciando-se e formatos diferentes, para que a criança diga se as quantidades
integrando-se, no mesmo tempo em que o sujeito vai se continuam iguais. A resposta é afirmativa uma vez que a
separando dos objetos podendo, por isso mesmo, interagir criança já diferencia aspectos e é capaz de "refazer" a ação.
com eles de forma mais complexa." Nitzke diz que o contato
com o meio é direto e imediato, sem representação ou Operatório-formal
pensamento. De acordo com a tese piagetiana, ao atingir esta fase, o
indivíduo adquire a sua forma final de equilíbrio, ou seja, ele
Exemplos: O bebê pega o que está em sua mão; "mama" o consegue alcançar o padrão intelectual que persistirá durante
que é posto em sua boca; "vê" o que está diante de si. a idade adulta. Isso não quer dizer que ocorra uma estagnação
Aprimorando esses esquemas, é capaz de ver um objeto, pegá- das funções cognitivas, a partir do ápice adquirido na
lo e levá-lo a boca. adolescência, como enfatiza Rappaport, "esta será a forma
predominante de raciocínio utilizada pelo adulto. Seu
Pré-operatório desenvolvimento posterior consistirá numa ampliação de
Para Piaget, o que marca a passagem do período sensório- conhecimentos tanto em extensão como em profundidade,
motor para o pré-operatório é o aparecimento da função mas não na aquisição de novos modos de funcionamento
simbólica ou semiótica, ou seja, é a emergência da linguagem. mental".
Assim, conforme demonstram as pesquisas psicogenéticas, a A representação agora permite à criança uma abstração
emergência da linguagem acarreta modificações importantes total, não se limitando mais à representação imediata e nem às
em aspectos cognitivos, afetivos e sociais da criança, uma vez relações previamente existentes.
que ela possibilita as interações interindividuais e fornece, Agora a criança é capaz de pensar logicamente, formular
principalmente, a capacidade de trabalhar com hipóteses e buscar soluções, sem depender mais só da
representações para atribuir significados à realidade. Tanto é observação da realidade. Em outras palavras, as estruturas
assim, que a aceleração do alcance do pensamento neste cognitivas da criança alcançam seu nível mais elevado de
estágio do desenvolvimento, é atribuída, em grande parte, às desenvolvimento e tornam-se aptas a aplicar o raciocínio
possibilidades de contatos interindividuais fornecidos pela lógico a todas as classes de problemas.
linguagem.
É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de Exemplos: Se lhe pedem para analisar um provérbio como
substituir um objeto ou acontecimento por uma "de grão em grão, a galinha enche o papo", a criança trabalha

210Tafner, M. A construção do conhecimento segundo PIAGET. s/d. Em

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com a lógica da ideia (metáfora) e não com a imagem de uma Em resumo, conforme aponta Coll, as relações entre teoria
galinha comendo grãos. psicogenética x educação, apesar dos complicadores
decorrentes da "dicotomia entre os aspectos estruturais e os
4. As consequências do modelo piagetiano para a ação aspectos funcionais da explicação genética" e da tendência dos
pedagógica projetos privilegiarem, em grande parte, um reducionismo
Conforme mencionado anteriormente, a teoria psicologizante em detrimento ao social, pode-se considerar
psicogenética de Piaget não tinha como objetivo principal assim que a teoria psicogenética trouxe contribuições
propor uma teoria de aprendizagem. A esse respeito, Coll faz a importantes ao campo da aprendizagem escolar.
seguinte observação: "ao que se sabe, ele nunca participou
diretamente nem coordenou uma pesquisa com objetivos Origens do pensamento e da língua e o significado das
pedagógicos". Não obstante esse fato, de forma contraditória palavras e a formação de conceitos de acordo com
aos interesses previstos, portanto, o modelo piagetiano, Vygotsky211
curiosamente, veio a se tornar uma das mais importantes Assim como no reino animal, para o ser humano
diretrizes no campo da aprendizagem escolar, por exemplo, pensamento e linguagem têm origens diferentes. Inicialmente
nos USA, na Europa e no Brasil, inclusive. o pensamento não é verbal e a linguagem não é intelectual.
De acordo com Coll as tentativas de aplicação da teoria Convém ressaltar porém que o desenvolvimento da
genética no campo da aprendizagem são numerosas e linguagem e do pensamento se cruzam, assim com cerca dos
variadas, no entanto os resultados práticos obtidos com tais dois anos de idade as curvas de desenvolvimento do
aplicações não podem ser considerados tão frutíferos. Uma das pensamento e da linguagem, até então separadas, encontram-
razões da difícil penetração da teoria genética no âmbito da se para, a partir daí, dar início a uma nova forma de
escola deve-se, principalmente, segundo o autor, "ao difícil comportamento. É a partir deste ponto que o pensamento
entendimento do seu conteúdo conceitual como pelos método começa a se tornar verbal e a linguagem racional. Inicialmente
de análise formalizante que utiliza e pelo estilo às vezes a criança aparenta usar linguagem apenas para interação
'hermético' que caracteriza as publicações de Piaget". O autor superficial em seu convívio, mas, a partir de certo ponto, esta
ressalta, também, que a aplicação educacional da teoria linguagem penetra no subconsciente para se constituir na
genética tem como fatores complicadores, entre outros: estrutura do pensamento da criança. Sendo assim se torna
possível à criança utilizar a linguagem de forma racional,
a) as dificuldades de ordem técnica, metodológicas e atribuindo-lhe significados.
teóricas no uso de provas operatórias como instrumento de A partir do momento que a criança descobre que tudo tem
diagnóstico psicopedagógico, exigindo um alto grau de um nome, cada novo objeto que surge representa um
especialização e de prudência profissional, a fim de se evitar os problema que a criança resolve atribuindo-lhe um nome.
riscos de sérios erros; Quando lhe falta a palavra para nomear este novo objeto, a
b) a predominância no "como" ensinar coloca o objetivo do criança recorre ao adulto. Esses significados básicos de
"o quê" ensinar em segundo plano, contrapondo-se, dessa forma, palavras assim adquiridos funcionarão como embriões para a
ao caráter fundamental de transmissão do saber acumulado formação de novos e mais complexos conceitos.
culturalmente que é uma função da instituição escolar, por ser
esta de caráter preeminentemente político-metodológico e não Pensamento, linguagem e desenvolvimento
técnico como tradicionalmente se procurou incutir nas ideias da intelectual
sociedade; De acordo com Vygotsky, todas as atividades cognitivas
c) a parte social da escola fica prejudicada uma vez que o básicas do indivíduo ocorrem de acordo com sua história
raciocínio por trás da argumentação de que a criança vai atingir social e acabam se constituindo no produto do
o estágio operatório secundariza a noção do desenvolvimento desenvolvimento histórico-social de sua comunidade.
do pensamento crítico; Portanto, as habilidades cognitivas e as formas de estruturar o
d) a ideia básica do construtivismo postulando que a pensamento do indivíduo não são determinadas por fatores
atividade de organização e planificação da aquisição de congênitos. São, isto sim, resultado das atividades praticadas
conhecimentos estão à cargo do aluno acaba por não dar conta de acordo com os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo
de explicar o caráter da intervenção por parte do professor; se desenvolve. Consequentemente, a história da sociedade na
e) a ideia de que o indivíduo apropria os conteúdos em qual a criança se desenvolve e a história pessoal desta criança
conformidade com o desenvolvimento das suas estruturas são fatores cruciais que vão determinar sua forma de pensar.
cognitivas estabelece o desafio da descoberta do "grau ótimo de Neste processo de desenvolvimento cognitivo, a linguagem
desequilíbrio", ou seja, o objeto a conhecer não deve estar nem tem papel crucial na determinação de como a criança vai
além nem aquém da capacidade do aprendiz conhecedor. aprender a pensar, uma vez que formas avançadas de
Por outro lado, como contribuições contundentes da teoria pensamento são transmitidas à criança através de palavras.
psicogenética podem ser citados, por exemplo: Para Vygotsky, um claro entendimento das relações entre
a) a possibilidade de estabelecer objetivos educacionais uma pensamento e língua é necessário para que se entenda o
vez que a teoria fornece parâmetros importantes sobre o processo de desenvolvimento intelectual. Linguagem não é
'processo de pensamento da criança' relacionados aos estádios apenas uma expressão do conhecimento adquirido pela
do desenvolvimento; criança. Existe uma inter-relação fundamental entre
b) em oposição às visões de teorias behavioristas que pensamento e linguagem, um proporcionando recursos ao
consideravam o erro como interferências negativas no processo outro. Desta forma a linguagem tem um papel essencial na
de aprendizagem, dentro da concepção cognitivista da teoria formação do pensamento e do caráter do indivíduo.
psicogenética, os erros passam a ser entendidos como
estratégias usadas pelo aluno na sua tentativa de aprendizagem Zona de desenvolvimento próximo (ou proximal)
de novos conhecimentos (PCN); Um dos princípios básicos da teoria de Vygotsky é o
c) uma outra contribuição importante do enfoque conceito de "zona de desenvolvimento próximo". Zona de
psicogenético foi lançar luz à questão dos diferentes estilos desenvolvimento próximo representa a diferença entre a
individuais de aprendizagem; (PCN); entre outros. capacidade da criança de resolver problemas por si própria e

211 Texto adaptado disponível em

http://www.ebooksbrasil.org/eLibris/vigo.html

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 230


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a capacidade de resolvê-los com ajuda de alguém. Em outras constitutiva da natureza humana, pois o desenvolvimento
palavras, teríamos uma "zona de desenvolvimento mental humano não é passivo, nem tão pouco independente do
autossuficiente" que abrange todas as funções e atividades que desenvolvimento histórico e das formas sociais da vida. O
a criança consegue desempenhar por seus próprios meios, sem desenvolvimento mental da criança é um processo continuo de
ajuda externa. Zona de desenvolvimento próximo, por sua vez, aquisições, desenvolvimento intelectual e linguístico
abrange todas as funções e atividades que a criança ou o aluno relacionado à fala interior e pensamento e impondo estruturas
consegue desempenhar apenas se houver ajuda de alguém. superiores, ao saber de novos conceitos evita-se que a criança
Esta pessoa que intervém para orientar a criança pode (pais, tenha que reestruturar todos os conceitos que já possui.
professor, responsável, instrutor de língua estrangeira) Vygotsky tinha como objetivo constatar como as funções
quanto um colega que já tenha desenvolvido a habilidade psicológicas, tais como memória, a atenção, a percepção e o
requerida. pensamento aparecem primeiro na forma primária para,
Uma analogia interessante nos vem à mente quando posteriormente, aparecerem em formas superiores, assim é
pensamos em zona de desenvolvimento próximo. Em possível perceber a importante distinção realizada entre as
mecânica, quando regula-se o ponto de um motor a explosão, funções elementares (comuns aos animais e aos humanos) e as
este deve ser ajustado ligeiramente à frente do momento de funções psicológicas superiores (especificamente vinculada
máxima compressão dentro do cilindro, para maximizar a aos humanos).
potência e o desempenho. A terceira tese refere-se a base biológica do funcionamento
A ideia de zona de desenvolvimento próximo é de grande psicológico o cérebro é o órgão principal da atividade mental,
relevância em todas as áreas educacionais. Uma implicação sendo entendido como um sistema aberto, cuja estrutura e
importante é a de que o aprendizado humano é de natureza funcionamento são moldados ao longo da história, podendo
social e é parte de um processo em que a criança desenvolve mudar sem que ajam transformações físicas no órgão.
seu intelecto dentro da intelectualidade daqueles que a A quarta tese faz referência à característica mediação
cercam. De acordo com Vygotsky, uma característica essencial presente em toda a vida humana em que usamos técnicas e
do aprendizado é que ele desperta vários processos de signos para fazermos mediação entre seres humanos e estes
desenvolvimento internamente, os quais funcionam apenas com o mundo. A linguagem é um signo mediador por
quando a criança interage em seu ambiente de convívio. excelência por isso Vygotsky a confere um papel de destaque
no processo de pensamento. Sendo esta uma capacidade
Teoria Vygotskiana212 exclusiva da humanidade. Através da fala podemos organizar
Vygotsky trabalha com teses dentro de suas obras nas as atividades práticas e das funções psicológicas. As pesquisas
quais são possíveis descrever como: à relação indivíduo/ de Vygotsky foram realizadas com a criança na fase em que
sociedade em que afirma que as características humanas não começa a desenvolver a fala, pois se acreditava que a
estão presentes desde o nascimento, nem são simplesmente verdadeira essência do comportamento se dá a partir da
resultados das pressões do meio externo, elas são resultados mesma. É na atividade pratica, ou seja, na coletividade que a
das relações homem e sociedade, pois quando o homem pessoa se aproveita da linguagem e dos objetos físicos
transforma o meio na busca de atender suas necessidades disponíveis em sua cultura, promovendo assim seu
básicas, ele transforma-se a si mesmo. A criança nasce apenas desenvolvimento, dando ênfase aos conhecimentos histórico-
com as funções psicológicas elementares e a partir do cultural, conhecimentos produzidos e já existentes em seu
aprendizado da cultura, estas funções transformam-se em cotidiano.
funções psicológicas superiores, sendo estas o controle
consciente do comportamento, a ação intencional e a liberdade O desenvolvimento e a aprendizagem
do indivíduo em relação às características do momento e do Vygotsky dá um lugar de destaque para as relações de
espaço presente. O desenvolvimento do psiquismo humano é desenvolvimento e aprendizagem dentro de suas obras. Para
sempre mediado pelo outro que indica, delimita e atribui ele a criança inicia seu aprendizado muito antes de chegar à
significados à realidade, dessa forma, membros imaturos da escola, mas o aprendizado escolar vai introduzir elementos
espécie humana vão aos poucos se apropriando dos modos de novos no seu desenvolvimento. A aprendizagem é um
funcionamento psicológicos, comportamento e cultura. Neste processo contínuo e a educação é caracterizada por saltos
caso podemos citar a importância da inclusão de fato, onde as qualitativos de um nível de aprendizagem a outro, daí a
crianças com alguma deficiência interajam com crianças que importância das relações sociais, desse modo dois tipos de
estejam com desenvolvimento além, realizando a troca de desenvolvimento foram identificados: o desenvolvimento real
saberes e experiências, onde ambos passam a aprender junto. que se refere àquelas conquistas que já são consolidadas na
Vygotsky defende a educação inclusiva e acessibilidade criança, aquelas capacidades ou funções que realiza sozinha
para todos. Devido ao processo criativo que envolve o domínio sem auxílio de outro indivíduo, habitualmente costuma-se
da natureza, o emprego de ferramentas e instrumentos, o avaliar a criança somente neste nível, ou seja, somente o que
homem pode ter uma ação indireta, planejada tendo ou não ela já é capaz de realizar e o desenvolvimento potencial que se
deficiência, assim, pessoas com deficiência auditiva, visuais, e refere àquilo que a criança pode realizar com auxílio de outro
outras podem ter um alto nível de desenvolvimento, a escola indivíduo.
deve permitir que dominem depois superem seus saberes do Neste caso as experiências são muito importantes, pois ele
cotidiano. As crianças cegas podem alcançar o mesmo aprende através do diálogo, colaboração, imitação... A
desenvolvimento de uma criança normal, só que de modo distância entre os dois níveis de desenvolvimentos chamamos
diferente, por outra via, é muito importante para o pedagogo de zona de desenvolvimento potencial ou proximal, o período
conhecer essa peculiaridade, é a lei da compensação, não é o que a criança fica utilizando um ‘apoio’ até que seja capaz de
limite biológico que determina o não desenvolvimento do realizar determinada atividade sozinha. Por isso Vygotsky
surdo, cego, mas sim a sociedade que vem criando estes limites afirma que “aquilo que é zona de desenvolvimento proximal
para que os deficientes não se desenvolvam totalmente. hoje será o nível de desenvolvimento real amanhã – ou seja,
A segunda tese refere-se à origem cultural das funções aquilo que uma criança pode fazer com assistência hoje, ela
psíquicas que se originam nas relações do indivíduo e seu será capaz de fazer sozinha amanhã”. O conceito de zona de
contexto social e cultural, isso mostra que a cultura é parte desenvolvimento proximal é muito importante para pesquisar

212 COELHO, L.; PISONI, S. Vygotsky: sua teoria e a influência na educação.

Revista e-Ped- FACOS/ CNEC Osório. Vol 02/2012.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 231


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o desenvolvimento e o plano educacional infantil, porque este Questões


permite avaliar o desenvolvimento individual. Aqui é possível
elaborar estratégias pedagógicas para que a criança possa 01. (Prefeitura de Quixadá/CE - Psicólogo – ACEP).
evoluir no aprendizado uma vez que esta é a zona cooperativa Sobre as fases do desenvolvimento humano e os fatores
do conhecimento, assim, o mediador ajuda a criança a psicológicos do desenvolvimento, assinale a alternativa
concretizar o desenvolvimento que está próximo, ou seja, CORRETA.
ajuda a transformar o desenvolvimento potencial em (A) Freud abordou a construção das estruturas mentais do
desenvolvimento real. pensamento pautadas na epistemologia genética.
O desenvolvimento e a aprendizagem estão inter- (B) A interação e a socialização, segundo Piaget, são
relacionados desde o momento do nascimento, o meio físico mecanismos importantes que favorecem a autorregulação do
ou social influenciam no aprendizado das crianças de modo ser humano.
que chegam as escolas com uma série de conhecimentos (C) No Construtivismo, o período da criança entre 02 a 07
adquiridos, na escola a criança desenvolverá outro tipo de anos caracteriza-se como estágio pré-operacional.
conhecimento. (D) Vygotsky associou o desenvolvimento da inteligência
Assim se divide o conhecimento em dois grupos: aqueles da criança aos processos de assimilação e acomodação.
adquiridos da experiência pessoal, concreta e cotidiana em
que são chamados de ‘conceitos cotidianos ou espontâneos’ 02. (IFB - Psicólogo – FUNIVERSA). Durante o processo
em que são caracterizados por observações, manipulações e de ensino e de aprendizagem, o lúdico contribui para a
vivências diretas da criança já os ‘conceitos científicos’ construção de várias funções no desenvolvimento psicológico
adquiridos em sala de aula se relacionam àqueles não da criança. Em relação ao papel do lúdico no desenvolvimento
diretamente acessíveis à observação ou ação imediata da infantil, especialmente na educação infantil e no ensino
criança. A escola tem papel fundamental na formação dos fundamental, assinale a alternativa correta.
conceitos científicos, proporcionando à criança um (A) Atividades lúdicas são desaconselháveis dentro da sala
conhecimento sistemático de algo que não está associado a sua de aula, pois promovem a indisciplina e o descontrole da
vivência direta principalmente na fase de amadurecimento. organização do trabalho pedagógico.
(B) São prejudiciais ao desenvolvimento mental da criança
O brinquedo é um mundo imaginário onde a criança pode atividades que promovem fantasia e fuga da realidade durante
realizar seus desejos, o ato de brincar é uma importante fonte as brincadeiras.
de promoção de desenvolvimento, sendo muito valorizado na (C) Para estimular, condicionar e controlar processos
zona proximal, neste caso em especial as brincadeiras de ‘faz psicológicos complexos, as atividades lúdicas adequadas são
de conta’. Sendo estas atividades utilizadas, em geral, na exclusivamente as que usam brinquedos pedagógicos.
Educação Infantil fase que as crianças aprendem a falar (após (D) Atividades lúdicas devem fazer parte dos processos de
os três anos de idade), e são capazes de envolver-se numa ensino e de aprendizagem para favorecerem a mediação
situação imaginária. Através do imaginário a criança simbólica entre a realidade e o desenvolvimento da
estabelece regras do cotidiano real. subjetividade da criança.
Mesmo havendo uma significativa distância entre o (E) As brincadeiras de imitação, por não interferirem nos
comportamento na vida real e o comportamento no desenvolvimentos afetivo, cognitivo e psicanalítico, são as
brinquedo, a atuação no mundo imaginário e o mais importantes para a aprendizagem da criança, pois
estabelecimento de regras a serem seguidas criam uma zona determinam como ela irá se adaptar aos limites do mundo e
de desenvolvimento proximal, na medida em que impulsionam dos papéis sociais das suas relações parentais.
conceitos e processos em desenvolvimento.
03. (FUNTELPA - Psicólogo - IDECAN). Sobre o
Vygotsky e a educação desenvolvimento psicológico, Vygotsky afirma que “A
A escola se torna importante a partir do momento que internalização de formas culturais de comportamento envolve
dentro dela o ensino é sistematizado sendo atividades a reconstrução da atividade psicológica...” Tal afirmativa
diferenciadas das extraescolares e lá a criança aprende a ler, denota que:
escrever, obtém domínio de cálculos, entre outras, assim (A) O uso de signos externos é também radicalmente
expande seus conhecimentos. Também não é pelo simples fato reconstruído.
da criança frequentar a escola que ela estará aprendendo, isso (B) Os processos psicológicos permanecem tal como
dependerá de todo o contexto seja questão política, econômica aparecem nos animais.
ou métodos de ensino. Conforme foi visto até aqui, aulas onde (C) As mudanças nas operações linguísticas são tímidas.
o aluno fica ouvindo e memorizando conteúdos não basta para (D) A fala egocêntrica se fortalece fazendo surgir a fala
se dizer que o aprendizado ocorreu de fato, o aprendizado externa.
exige muito mais. O trabalho pedagógico deve estar associado (E) Deixam de ser internalizadas as atividades sociais e
à capacidade de avanços no desenvolvimento da criança, históricas.
valorizando o desenvolvimento potencial e a zona de
desenvolvimento proximal. A escola deve estar atenta ao 04. (Prefeitura de Fortaleza/CE- Psicólogo- Prefeitura
aluno, valorizar seus conhecimentos prévios, trabalhar a partir de Fortaleza/CE-2016) Ao se falar de zona de
deles, estimular as potencialidades dando a possibilidade de desenvolvimento proximal, está-se referindo à teoria de
este aluno superar suas capacidades e ir além ao seu desenvolvimento de:
desenvolvimento e aprendizado. Para que o professor possa (A) Henri Wallon.
fazer um bom trabalho ele precisa conhecer seu aluno, suas (B) Lev Vygotsky.
descobertas, hipóteses, crenças, opiniões desenvolvendo (C) Carl Gustav Jung.
diálogo criando situações onde o aluno possa expor aquilo que (D) Jean Piaget.
sabe. Assim os registros, as observações são fundamentais
tanto para o planejamento e objetivos quanto para a avaliação.

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05. (CEFET/RJ - Psicólogo - CESGRANRIO) A posição de As crianças ou adolescentes que sofrem bullying podem se
Vygotsky sobre a relação entre desenvolvimento e tornar adultos com sentimentos negativos e baixa autoestima.
aprendizagem é que o Tendem a adquirir sérios problemas de relacionamento,
(A) desenvolvimento é dependente da maturação e podendo, inclusive, contrair comportamento agressivo. Em
condiciona o aprendizado. casos extremos, a vítima poderá tentar ou cometer suicídio.
(B) desenvolvimento é definido como a substituição de O(s) autor(es) das agressões geralmente são pessoas que
respostas inatas a partir do aprendizado. têm pouca empatia, pertencentes às famílias desestruturadas,
(C) aprendizado e o desenvolvimento são coincidentes e em que o relacionamento afetivo entre seus membros tende a
contemporâneos. ser escasso ou precário. Por outro lado, o alvo dos agressores
(D) aprendizado alavanca o desenvolvimento devido ao geralmente são pessoas pouco sociáveis, com baixa capacidade
estabelecimento das relações sociais. de reação ou de fazer cessar os atos prejudiciais contra si e
(E) processo de desenvolvimento da criança é possuem forte sentimento de insegurança, o que os impede de
independente do aprendizado. solicitar ajuda.

Respostas No Brasil, uma pesquisa realizada com alunos de escolas


públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do
01. C. / 02. D. / 03. A. / 04. B. / 05. D. bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. As três
cidades brasileiras com maior incidência dessa prática são:
Brasília, Belo Horizonte e Curitiba.
Temas contemporâneos: Os atos de bullying ferem princípios constitucionais –
bullying, o papel da escola, a respeito à dignidade da pessoa humana – e ferem o Código
Civil, que determina que todo ato ilícito que cause danos a
escolha da profissão, outrem gera o dever de indenizar. O responsável pelo ato de
transtornos alimentares na bullying pode também ser enquadrado no Código de Defesa do
adolescência, família, escolhas Consumidor, tendo em vista que as escolas prestam serviço
aos consumidores e são responsáveis por atos de bullying que
sexuais. ocorram dentro do estabelecimento de ensino/trabalho.

Bullying O bullying e os direitos da criança e do adolescente


O Estatuto da Criança e do Adolescente positivou
Bullying213 é um termo da língua inglesa (bully = diversas garantias e medidas protetivas com o propósito
“valentão”) que se refere a todas as formas de atitudes de afiançar um desenvolvimento sadio aos infanto-
agressivas, verbais ou físicas, intencionais e repetitivas, juvenis. O comportamento discriminatório e agressivo
que ocorrem sem motivação evidente e são exercidas por dos bullies atenta acintosamente contra o respeito e a
um ou mais indivíduos, causando dor e angústia, com o dignidade de suas vítimas ferindo os direitos estatutários
objetivo de intimidar ou agredir outra pessoa sem ter a transcritos abaixo: Estatuto.
possibilidade ou capacidade de se defender, sendo
realizadas dentro de uma relação desigual de forças ou Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de
poder. qualquer forma de negligência, discriminação, exploração,
violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer
O bullying se divide em duas categorias: atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais.
a) bullying direto, que é a forma mais comum entre os Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao
agressores masculinos e respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e
b) bullying indireto, sendo essa a forma mais comum entre sociais garantidos na Constituição e nas leis. [...].
mulheres e crianças, tendo como característica o isolamento
social da vítima. Em geral, a vítima teme o(a) agressor(a) em Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da
razão das ameaças ou mesmo a concretização da violência, integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
física ou sexual, ou a perda dos meios de subsistência. abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos
O bullying é um problema mundial, podendo ocorrer em pessoais.
praticamente qualquer contexto no qual as pessoas interajam,
tais como escola, faculdade/universidade, família, mas pode Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e
ocorrer também no local de trabalho e entre vizinhos. Há uma do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento
tendência de as escolas não admitirem a ocorrência do desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.
bullying entre seus alunos; ou desconhecem o problema ou se
negam a enfrentá-lo. Esse tipo de agressão geralmente ocorre A violação de quaisquer desses direitos afeta a dignidade
em áreas onde a presença ou supervisão de pessoas adultas é do infanto-juvenil, incidindo, portanto, em dano moral. Sendo
mínima ou inexistente. Estão inclusos no bullying os apelidos assim, as vítimas de bullying poderão contender judicialmente
pejorativos criados para humilhar os colegas. pelo devido ressarcimento, conforme orienta Mattia: O
As pessoas que testemunham o bullying, na grande atentado ao direito à integridade moral gera a configuração de
maioria, alunos, convivem com a violência e se silenciam em dano moral, que, no caso, será pleiteado pela criança ou
razão de temerem se tornar as “próximas vítimas” do agressor. adolescente através de seu representante legal. A indenização
No espaço escolar, quando não ocorre uma efetiva intervenção por dano moral não mais suscita dúvidas, é a consagração do
contra o bullying, o ambiente fica contaminado e os alunos, dano moral direto, em face dos termos do princípio
sem exceção, são afetados negativamente, experimentando constitucional previsto no art. 5º, X, que dispõe: “São
sentimentos de medo e ansiedade. invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem

213CAMARGO, O."Bullying"; Brasil Escola. Disponível em


http://brasilescola.uol.com.br.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 233


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das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano A solução, dentro do possível, deve ser conseguida
material ou moral decorrente de sua violação.” compartilhando o problema com o grupo de alunos, tendo em
Mas, antes que o dano moral ao infanto-juvenil vista que os alunos tendem a voltar a praticar os atos de
efetivamente ocorra, temos o dever de comunicar essa bullying assim que se colocarem sem supervisão. Sobre a
iminência ao Conselho Tutelar que é o órgão - administrativo, atuação das escolas cabe, também, se necessário, reprimir atos
municipal, permanente e autônomo - encarregado pela de indisciplina praticados por alunos e aplicar as penalidades
sociedade de zelar pelo cumprimento dos direitos da criança e pedagógicas nos casos previstos no regimento escolar ou
do adolescente. O artigo 13 do Estatuto trata dessa interno. Entretanto, deve esgotar todos os recursos
obrigatoriedade de comunicação à autoridade competente no sociopedagógicos a ela inerente, inclusive ter uma equipe
caso de conhecimento de maus tratos perpetrados contra especializada de profissionais, como psicopedagogos e
crianças e adolescentes. Aqueles que não o fizerem incorrerão profissionais afins, para atuar de forma preventiva nos
na pena prevista no art. 245: Estatuto. distúrbios ou problemas de aprendizagem. Porém, sendo
inócua a tentativa de resolver o problema diretamente com os
Art. 13. Os casos de suspeita ou confirmação de castigo físico, alunos e esgotadas todas as possibilidades pertinentes ao caso
de tratamento cruel ou degradante e de maus-tratos contra concreto “é o caso de acionar o Conselho Tutelar e o Ministério
criança ou adolescente serão obrigatoriamente comunicados ao Público.
Conselho Tutelar da respectiva localidade, sem prejuízo de Finalmente, gostaríamos de destacar que, antes que seja
outras providências legais. necessário o acionamento das autoridades competentes, a
prevenção sempre será o melhor a ser feito pelos
Quanto ao contexto em que está inserido o artigo 13 no estabelecimentos de ensino.
Estatuto, Rossato, Lépore e Cunha pontuam que vale ressaltar
que apesar de alocado em meio a dispositivos que versam Questões
sobre o direito à saúde e obrigações dos profissionais dessa
área, o dever de comunicação de maus tratos também se 01. (IFB - Cargos de nível Superior - CESPE) A formação
estende a outros profissionais, a exemplo de professores, das crianças e dos jovens ocorre por meio de sua participação
responsáveis por estabelecimentos de ensino, dentre outros, na rede de relações que constitui a dinâmica social. Na
conforme explicita a redação do art. 245 do Estatuto, que convivência com pessoas, seja com adultos, seja com seus
considera infração administrativa o descumprimento dessa pares, a criança e o jovem se apropriam dos conhecimentos e
determinação legal. Mesmo porque, em se tratando de desenvolvem hábitos e atitudes de convívio social, como a
responsáveis por escolas de ensino fundamental – etapa de cooperação e o respeito humano. Daí a importância do grupo
ensino onde, conforme pesquisa da PLAN BRASIL, se verificou como elemento formador.
a maior incidência de bullying - a lei foi específica ao tratar do Tendo o texto acima como referência inicial, julgue os itens
assunto: que se seguem, relacionados com a sala de aula como espaço
de aprendizagem e interação.
“Art. 56. Os dirigentes de estabelecimentos de ensino O bullying pode-se caracterizar mesmo que o
fundamental comunicarão ao Conselho Tutelar os casos de: comportamento aversivo seja apenas verbal.
I - maus-tratos envolvendo seus alunos; [...].” ( ) Certo ( ) Errado
II - reiteração de faltas injustificadas e de evasão escolar,
esgotados os recursos escolares; 02. (IF-RR - Pedagogo - FUNCAB) O Bullying, praticado
III - elevados níveis de repetência. em muitos espaços escolares, como também em espaços
sociais diversos, tem revelado o quanto alguns atos carregam
Na cartilha lançada pelo Conselho Nacional de Justiça formas preconceituosas de ver e se relacionar com o outro. De
encontramos a seguinte orientação dada aos responsáveis uma maneira geral o Bullying é um ato de:
pelos estabelecimentos de ensino nos casos de bullying: A (A) valorização da diversidade.
escola é corresponsável nos casos de bullying, pois é lá (B) brincadeira.
onde os comportamentos agressivos e transgressores se (C) homofobia.
evidenciam ou se agravam na maioria das vezes. A direção (D) violência.
da escola (como autoridade máxima da instituição) deve (E) racialismo.
acionar os pais, os Conselhos Tutelares, os órgãos de
proteção à criança e ao adolescente etc. Caso não o faça 03. (IFB - Psicólogo - FUNIVERSA) A prática da violência
poderá ser responsabilizada por omissão. Em situações no ambiente escolar não é um fenômeno recente. Apesar de
que envolvam atos infracionais (ou ilícitos) a escola parecer mais frequente, precisa ser percebida como um
também tem o dever de fazer a ocorrência policial. Dessa reflexo das interações sociais mais amplas que envolvem a
forma, os fatos podem ser devidamente apurados pelas família, a escola e a sociedade como um todo. Entre as várias
autoridades competentes e os culpados responsabilizados. formas de violência que acontecem no seio da escola, o bullying
Tais procedimentos evitam a impunidade e inibem o tem-se destacado. Acerca dessa forma de violência, assinale a
crescimento da violência e da criminalidade infanto-juvenil. alternativa incorreta.
No entanto, a intervenção deve ser ponderada, na medida (A) O bullying envolve atitudes agressivas, repetidas e
em que, se, por um lado, deve fazer cessar a humilhação, por intencionais.
outro, deve estimular na vítima do bullying a capacidade de (B) Pode abranger agressão de natureza física, psicológica
autodefesa, evitando uma superproteção prejudicial.” ou sexual.
Considerando o caráter multidisciplinar do tema em questão e (C) Aparecem, entre as ações típicas, xingamentos, elogios,
a necessidade das escolas estarem preparadas para lidar com intimidação, humilhação e discriminação.
a questão, Calhau diz que atualmente um grande número de (D) Identificam-se agressores, vítimas e espectadores
escolas mantém em seus quadros pedagogos e psicólogos, que, como participantes do bullying.
em sendo chamados para ajudar, poderão contribuir muito (E) Acontece sem uma motivação aparente em uma relação
com a solução dos problemas. A orientação deve nortear a ação desigual de força.
desses profissionais. Chamar a polícia e o Ministério Público, a
meu ver, somente nos casos mais graves. Respostas
01. Certo. / 02. D. / 03.C.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 234


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Orientação Vocacional e Profissional Gadotti, "escolher a profissão de professor não é escolher uma
profissão qualquer", pois muitos são os desafios e
A decisão214 em relação a qual atividade seguir começa responsabilidades desta profissão.
geralmente no fim do ensino médio, com a proximidade do Este texto é organizado em três partes, sendo elas:
Vestibular. "Educação e ser professor: breve conceituação e apreciação",
Na escolha da profissão a ser escolhida ter "Uma importante decisão: escolha profissional" e "Ser
autoconhecimento é essencial. É indispensável definir os professor: motivação, expectativas e análise reflexiva".
traços da sua personalidade, suas aptidões, habilidades e
gostos pessoais que definirão os caminhos a serem trilhados. Educação e Ser Professor
Este processo pode ser feito pelo próprio adolescente com Ao pensarmos em educação é correto afirmar que ela
auxílio da família e amigos, mas a ajuda profissional pode existe em todos os lugares e em todos os momentos da vida do
facilitar a escolha. A orientação vocacional ou profissional ser humano. Estamos sempre aprendendo e ensinando desde
pode ser feita por psicólogos, e até mesmo com o auxílio do o momento em que nascemos. "Da família à comunidade, a
orientador educacional. educação existe difusa em todos os mundos sociais, entre as
incontáveis práticas dos mistérios do aprender". Educamo-nos
A escolha de qual profissão seguir deve ser feita a partir do sempre. Ensinamos e aprendemos em todos os espaços que
autorreflexão. Primeiro é preciso conhecer a si mesmo. Saber frequentamos. "A educação é a prática mais humana,
quais seus pontos fortes e fracos, as habilidades, as pretensões considerando-se a profundidade e a amplitude de sua
e os desejos para o futuro. Em seguida procurar saber quais influência na existência dos homens".
são as áreas que mais despertam a atenção ou com as quais se No entanto, existe um lugar onde ensinar e aprender é
tem mais facilidade. razão primordial. Um lugar que é o espaço próprio da
educação formal, apesar de todas as outras maneiras possíveis
Autoconhecimento é determinante para a escolha da para concretizar o ato educativo: a escola! Este estudo é
profissão, pois é onde descubro quais são minhas reais dedicado a esta especificidade educativa, isto é, a educação
habilidades, competências, interesses, descubro qual é a escolar.
minha real personalidade. Objetivando conceituar este importante fenômeno da vida
humana, recorremos à sua origem que, segundo Garcia
Diferença entre orientação vocacional e orientação relaciona-se aos verbos latinos educãre (alimentar, criar),
profissional: significando "algo que se dá a alguém", com o sentido de algo
externo que se acrescenta ao indivíduo e educere com a ideia
Orientação Vocacional Orientação de "conduzir para fora", "fazer sair", "tirar de", que sugere a
Profissional liberação das forças que estão latentes e que dependem de
A orientação vocacional estimulação para virem à tona. Origem esta que nos apresenta
No processo de uma grande contradição: em uma mesma raiz, sentidos
pretende ajudar a pessoa a
orientação profissional diferentes, expressando diferentes concepções de educação.
conhecer o seu perfil e,
busca-se auxiliar o Uma compreendida como a transmissão de conhecimentos e
assim, perceber quais são
indivíduo na descoberta de valores socioculturais às novas gerações, algo externo. Outra
suas áreas de interesse, o
seus conhecimentos e de entendida como processo de desenvolvimento das
que vai bem além dos testes.
suas habilidades, assim potencialidades dos indivíduos, algo interno, que se extrai.
Porém, apresentar apenas
como conhecer as fontes de Diferentes modelos epistemológicos de educação.
essa informação deixa o
treinamento para Em cada uma das definições epistemológicos de educação
jovem perdido em um mar
aprimorar as suas explicitados anteriormente, decorrem concepções e práticas
de opções. Aí que entra a
competências profissionais. de educação escolar específicas. Na concepção em que o centro
orientação profissional.
do processo é o professor, obedecendo ao modelo tradicional
A escolha da profissão - Professor de educação, o professor fala, o aluno escuta, o professor
A escolha profissional215 é umas das mais importantes decide o que fazer, o aluno executa, o professor ensina o aluno
dentre as tantas que realizamos em nosso cotidiano, em nosso aprende. "Segundo a epistemologia deste professor, o
viver. indivíduo, ao nascer, nada tem em termos de conhecimento: é
Várias e diversas são as razões que motivam a escolha de uma folha de papel em branco." E de onde vem o
uma profissão, dentre elas podemos salientar: a possibilidade conhecimento, então? Do meio social. A ação deste professor
de destaque social, a influência familiar, a questão salarial, as não é neutra. O empirismo sustenta suas crenças.
perspectivas do mercado, entre outras. Já nas concepções em que o centro do processo é o aluno,
No contexto sociocultural atual o ser professor/professora o professor é um facilitador, um auxiliar e deve interferir o
não é uma carreira profissional atrativa devido a múltiplos mínimo possível. Pode, no máximo, auxiliar a aprendizagem, já
fatores, destacadamente o fator econômico, isto é, a questão que o aluno possui um saber que ele precisa apenas trazer à
salarial não é atrativa. No entanto, observamos que os cursos consciência. Para os aprioristas que sustentam as crenças
de licenciaturas, ofertados no ensino superior, são procurados deste professor, o indivíduo nasce com o conhecimento já
(obviamente, não como outrora) e cursados. programado na sua herança genética. Aqui, o professor
Considerando a observação exposta acima, passível de renuncia "àquilo que seria a característica fundamental da
constatação, buscamos inquirir o que motiva jovens ação docente: a intervenção na aprendizagem do aluno." E
estudantes a optarem por ser professor, bem como se a escola como avaliar neste modelo epistemológico? O aluno avalia se
é refletida ou meramente, uma aleatória. aprendeu ou não.
A construção de respostas frente à problematização está Porém, nas concepções em que o diálogo é princípio,
na perspectiva da ressignificação da ação docente, pois é no professor e aluno ensinam e aprendem em comunhão
íntimo de cada um, na sua história de vida, que residem as construindo o conhecimento. A relação em uma destas salas de
razões da suas escolhas e sendo a profissão docente de grande aula é horizontal, o professor considera o saber do aluno e
relevância social, optar por ser professor deve ser uma escolha propicia um ambiente favorável para expandir este
consciente e tomada a partir de algumas reflexões. Segundo conhecimento. O aluno, por sua vez, sente-se importante e

214 GONÇALVES, J. Orientação Vocacional. Brasil Escola. 215 ECCO, I. POR QUE SER PROFESSOR? 2010.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 235


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capaz de transformar a realidade. "O resultado desta sala de profissional como um todo, pois, muitos e variados são os
aula é a construção e a descoberta do novo". O construtivismo fatores que influenciam na decisão da carreira. Embora na
sustenta as crenças deste professor. realidade sempre atuem juntos Soares, para fins puramente
A partir do construtivismo conceitua-se educação como didáticos, divide os fatores determinantes na escolha
um processo pelo qual se busca o melhoramento, a excelência profissional em: fatores políticos, fatores econômicos, fatores
do viver. A excelência da família, da escola, da sociedade, do sociais, fatores educacionais, fatores familiares e fatores
mundo. Logo, é processo contínuo de construção e psicológicos.
reconstrução concretizando-se com humanos. Nisso consiste
importância e sua função social, isto é, da responsabilidade de a) Fatores políticos:
formar mentes e ações, sociedades e mundos. É de certa forma fácil identificar o viés da política
A responsabilidade e a importância do professor neste predominante na educação e na preparação do jovem para a
cenário são de grande proporção, pois este se torna, agente da "escolha" do trabalho, observando as tendências pedagógicas.
mudança social e deve primeiramente conscientizar-se de sua Nas tendências liberais o jovem é levado a acreditar que a
função como formador de opinião, de personalidade, de escolha profissional é algo só seu que sua escolha não interfere
caráter. E jamais minimizar sua prática à mera transmissão de em nada na sociedade. Já nas tendências progressistas o jovem
conhecimentos e técnicas prontas. é conscientizado sobre a importância da sua escolha no
O reencantamento da educação requer a união entre contexto social. Cada governo, segundo sua política, seu
sensibilidade social e eficiência pedagógica. Portanto, o interesse, opta por uma estratégia educacional e de preparar
compromisso ético, político do (a) educador (a) deve para a escolha profissional. Exemplo: "Com o regime militar
manifestar-se primordialmente na excelência pedagógica e na elevou-se o número de alunos em todos os níveis desde a pré -
colaboração um clima esperançador no próprio contexto escola até as pós - graduações, mas o funil educacional
escolar. manteve-se um sério problema e a má qualidade de ensino
Estando consciente de que pode influenciar no contexto agravou-se". Nesse período era preciso mostrar ao exterior um
social e sabendo que a transmissão de conhecimentos já não é povo escolarizado e não necessariamente educado. A regra era
suficiente, cabem ao educador muitos e complexos desafios. formar muitos técnicos e nenhum filósofo.
Em nossa concepção, fundamentada no construtivismo,
ser professor vai além de transmitir conhecimentos com b) Fatores econômicos:
técnicas prontas. O professor torna-se educador, pois assume Em relação à escolha profissional é perfeitamente
a tarefa de educar e não somente preparar seus alunos para perceptível a influência das condições econômicas na decisão
algo. "Podemos aprender a ler, escrever sozinhos, podemos do jovem. Aquela pessoa que se obrigou a procurar emprego
aprender geografia e a contar sozinhos, porém não desde muito cedo por necessidade financeira, a não ser que
aprendemos a ser humano sem a relação e o convívio com conte com muita sorte, certamente não escolheu o que fazer.
outros humanos que tenham aprendido essa difícil tarefa." Precisou aceitar o que o mercado de trabalho ofereceu. E assim
Assim, o professor deve ser um constante pesquisador e trabalhar em algo e fazer carreira somente pelo fato de
incentivar seus alunos a serem pesquisadores, também, além sustentar-se. Estes, em muitos casos nem pensam em cursar
de ensiná-los a filtrar as informações e os conhecimentos uma universidade devido aos custos que isto implica.
constatados nesta pesquisa. A criticidade é uma qualidade Para os "sortudos" que trabalham de dia e conseguem
indispensável ao educador responsável. Aceitar tudo como lhe frequentar a universidade à noite, a realidade não é muito mais
é apresentado é uma característica desta sociedade desigual e fácil, já que provavelmente o valor do curso influenciou na
desumanizada presente na atualidade. decisão. Para estes, o fator econômico está também no fato de
O professor-educador deve agir como problematizador, não conseguirem aproveitar tudo que poderiam da aula, pois
instigador, orientador e precisa estar consciente de que a trabalharam o dia inteiro e já estão cansados. Muito melhor
aprendizagem só acontece num clima de liberdade e seria poder somente estudar, até porque seu trabalho difere
questionamento e ela só é efetiva se tem um sentido pessoal. O bastante do que vê em aula.
importante é aprender a aprender e ser professor é criar as
circunstâncias favoráveis para tal. c) Fatores sociais:
Portanto, escolher a profissão docente não é escolher uma Os fatores sociais estão basicamente relacionados à classe
profissão qualquer. E esta decisão deve acontecer em um social na qual o indivíduo pertence e que na maioria das vezes
contexto de reflexão e responsabilidade. O que comumente determina se ele poderá ou não fazer curso superior.
motiva a escolha profissional? Existe reflexão? É realmente Observando os contextos sociais próximos infelizmente
uma "escolha"? podemos perceber que as profissões são divididas por classe
social e que dificilmente esta realidade se altera. Cursar
Escolha Profissional medicina não é uma realidade comum em comunidades
Escolher! Ação comum em nossa vida. Escolhemos roupas, pobres onde os jovens não dispõem do dinheiro e nem do
escolhemos comida, escolhemos filmes, músicas. Porém, em tempo necessário para realizar esta atividade e precisam
certo momento precisamos fazer uma escolha que se difere trabalhar para se sustentar e estudar a noite quando os cursos
destas tantas do cotidiano pela importância. É a escolha oferecidos são outros.
profissional. A convivência social também é determinante na nossa
Este é um momento indiscutivelmente importante na vida escolha, pois somos fruto da sociedade onde vivemos. "É
de qualquer pessoa. É um momento de fazer projetos sobre o impossível se pensar o homem como algo separado de seu
que se pretende ser, o que se pretende fazer, decidir a vida que meio social." As profissões que são valorizadas pela sociedade
se quer levar. Pois passamos no trabalho grande porcentagem em que vivemos certamente estarão em nossa lista de
da nossa existência. Daí a importância de se fazer uma escolha possibilidades. Pois a profissão, também, é vista como uma
consciente e responsável. E se levarmos em consideração que forma de ascensão social importante.
esta é uma decisão que não tomamos sozinhos e que não
afetará somente a nossa vida constata-se a amplitude desta d) Fatores educacionais:
escolha. Os fatores educacionais referem-se ao fato de o sistema
Diante de tais fatos, almejando conhecer o que motiva a educacional como um todo influenciar na escolha profissional.
escolha da profissão docente faz-se necessária também uma Desde que ingressamos na escola estamos sendo influenciados
reflexão sobre os fatores que comumente motivam a escolha pelas pessoas e suas profissões. As meninas da educação

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 236


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infantil já decidiram: vão ser professoras! Os meninos Motivação, Expectativas e Análise Reflexiva
também: bombeiros! Em concordância com o decorrer deste texto, ser professor
A estrutura da educação no país exerce influência sobre a é algo importante e significativo socialmente. Escolher esta
escolha profissional. A escola em si, a maneira como se profissão deve ser uma decisão tomada de forma reflexiva e
organiza, seus métodos e objetivos influenciam. Os consciente porque muitos são os desafios desta carreira.
professores e sua maneira de conduzir a aula despertam Alves afirma que o principal motivo para ser professor é
interesses e também repulsas à sua especialidade. "Amar as crianças e querer tê-las como companheiras."
A escolha profissional não tem sido abordada na escola Maringoni acredita que "Ser Revolucionário. Resgatar o ideal
com a objetividade e o respeito que merece. Na maioria das de transformar o mundo por meio das pessoas e, assim fazer
vezes, esta importante orientação é trabalhada em dois ou três com que as gerações aprendam a respeitar o ser humano e o
períodos nas séries finais do Ensino Fundamental e Ensino planeta em que vivemos" é o principal motivo para escolher a
Médio, ou seja, às vésperas da escolha. O que causa aflição e profissão de professor".
desespero, tornando este momento ainda mais desesperador. Para Chauí o motivo essencial é que "Ser professor é no
Isto é feito por meio de testes vocacionais e rápidas palestras, mínimo uma obrigação política. Não podemos aceitar uma
quando deveria ser uma construção de toda a vida escolar do população de excluídos da educação e da cultura. Nossa
aluno. profissão só tem sentido se despertar a consciência social por
meio do conhecimento e promover o exercício da razão como
e) Fatores familiares: forma de libertação".
Como sabemos, a família é parte importante na vida de Perrenoud motiva a escolha desta profissão com esta
qualquer indivíduo e no momento da escolha profissional este afirmação: "Transmitir conhecimento é uma honra, um dever".
grupo exerce grande influência, seja positiva ou Segundo Freire a dimensão política da profissão é o maior
negativamente. Todo o pai tem projetos para o seu filho e estes motivo para escolhê-la: "A certeza de que faz parte de sua
estão presentes na maneira como acompanha seu tarefa docente não apenas ensinar conteúdos, mas também
desenvolvimento, mesmo sem querer, a família exerce papel ensinar a pensar certo".
decisivo na hora da escolha da carreira. Assaré aponta os motivos para ser professor em forma de
poesia: "Com muita certeza digo. Ele é seu grande amigo. Quem
f) Fatores psicológicos: vive sem professor. Vaga nas trevas sem luz".
Os fatores psicológicos dizem respeito ao conhecimento Raí pensa que ser professor "É uma das profissões mais
que o jovem tem sobre si mesmo. Sobre sua história de vida, bonitas. Só recuperamos nosso país se todas as crianças e
sobre suas preferências, suas aptidões. Fatores que passam jovens tiverem a oportunidade de aprender com professores
despercebidos pela escola e que deveriam ser mais envolvidos de verdade com a educação".
estimulados pela família. Gardner acredita que um motivo importante para ser
Para uma escolha profissional consciente e reflexiva o professor é a oportunidade de "aprimorar-se a cada dia mais e
jovem deve primeiramente conhecer-se. Isto possibilitará que mais a cada dia".
saiba com mais precisão em que profissão terá maior Nowil aponta o motivo essencial para se professor em sua
realização e possibilidade de sucesso. Para tanto, pode-se opinião: "O mundo depende dos mestres para despertar nos
lembrar de situações em que esteve em contato com profissões alunos a compreensão que pode gerar a verdadeira paz e
diferentes e quais suas reações a cada uma delas. justiça entre os homens".
A escolha profissional é uma temática complexa que não é Por fim, os motivos para escolher a profissão docente
determinada por um ou dois fatores. Na verdade, ao escolher resumem-se nas seguintes categorias: amor, identificação,
a profissão estamos evidenciando uma bagagem que compromisso, responsabilidade social, querer formar
acumulamos durante toda a nossa vida e esta decisão não é cidadãos melhores para um mundo melhor.
nada fácil. Fica claro que a escolha profissional é um processo
dinâmico, permeado por fatores subjetivos, emocionais e Questões
pessoais. Fazer uma boa escolha requer conhecimento e
reflexão sobre si mesmo, sobre as profissões, sobre o mundo a 01. (IF-PA- Psicólogo- FUNRIO/2016) Um dos fatores de
nossa volta. A melhor escolha é a realizada de forma mais grande relevância na escolha de uma ocupação profissional diz
consciente, considerando-se o que se quer e pode, respeito a
considerando-se, ainda, as condições sociais, econômicas e (A) capacidade de reação.
políticas em que se vive. Porém, algo é certo e definitivo: (B) critérios financeiros.
escolhida a profissão é preciso ser competente no que se faz. (C) adaptação a valores.
Um profissional competente é o profissional capaz de (D) diferenças de apropriação.
refletir sobre sua profissão de modo a produzir conhecimento, (E) diferenças individuais.
tornando sua atividade algo cada vez mais estimulante e
gratificante, impedindo a massificação e a burocratização de 02. (SEDUC-AM-Pedagogo- CESPE) Julgue o item
seu trabalho. Isto levará consequentemente a lutar por um subsequente, no que se refere às funções do supervisor
mundo melhor. Em se tratando da profissão docente esta escolar.
reflexão e ressignificação faz-se necessária quase que Compete ao supervisor escolar coordenar a orientação
diariamente, pois não lidamos com objetos e sim com seres vocacional do educando, incorporando-a ao processo
humanos. E nossa visão do mundo e da vida é concretizada educativo global.
com pessoas. Por isso, escolher ser professor não é uma ( ) Certo ( ) Errado
escolha qualquer. Deve ser tomada em um contexto de
reflexão e consciência. Na prática, será que isso acontece? O Respostas
que motiva a escolha da profissão docente? Quais fatores 01. E. / 02. Errado.
influenciam nesta decisão?
Em um contexto social e cultural onde ser professor não é TRANSTORNOS ALIMENTARES
uma carreira muito atrativa devido a vários fatores,
observamos que os cursos de licenciaturas assim mesmo são Os transtornos alimentares são qualquer tipo de alteração
procurados. Muitas pessoas ainda objetivam dedicar-se ao relacionada à alimentação de alguma pessoa, essa alteração
educar profissionalmente. Por quê? pode ser devida a fatores metabólicos, fisiológicos,

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 237


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econômicos e psicológicos. Este tipo de transtorno teve um Com essa preocupação excessiva com o peso leva essas
aumento significativo na população após o início da pessoas a ter um grande interesse por tudo sobre os alimentos,
globalização, sendo estudado vários fatores que podem para saber quais são mais calóricos e sempre busca maneira
influenciar na vida dessas pessoas que se tornam vítima do de ingeri-los em uma quantidade mínima. Um dos principais
distúrbio alimentar. Um dos fatores principais são os hábitos de pessoa com essa doença é esconder alimentos nos
socioculturais que atualmente tem uma grande valorização à armários, banheiros, roupas e em caixas, para que possam
magreza, estabelecendo um “padrão de beleza” que é comer sem que as pessoas que convive com ela possa ver, mas
impossível de ser atingido pela maioria, isso leva a sociedade sempre depois de ingeri-los provoca o vômito. Com isso a
rejeita e discrimina pessoas consideradas obesas. Por causa perda de peso é vista como uma conquista notável e como sinal
desse culto a busca pela magreza se torna constante em de extraordinária disciplina, mas com o ganho de peso é
pessoas que ver o “corpo ideal” como o principal incentivo percebido como um inaceitável fracasso do autocontrole. Esse
para o seu sucesso, atratividade e autoestima elevada. aumento de peso ocasiona a baixa autoestima e um controle
O mais belo precioso e resplandecente de todos os mais rígido e perfeccionista, essa preocupação com o peso
objetivos de consumo é o CORPO. A sua redescoberta, após podem apresentar distúrbios emocionais como depressão.
uma era milenária de puritanismo, sob o signo da libertação A falta da ingestão de alimentos provoca a falta excessiva
física e sexual, a sua onipresença (em especial o corpo de nutrientes, levando a desenvolver desnutrição energética
feminino...) na publicidade, na moda e na cultura das massas – proteica e a desregulação dos hormônios, ocasionando a
o culto higiênico, dietético e terapêutico com que se rodeia, a amenorreia que é três períodos menstruais consecutivos.
obsessão pela juventude, elegância, virilidade/ feminilidade, Outros sintomas dessa doença são fraqueza, humor irritável,
cuidados, regimes, praticas sacrificiais que com ele se desidratação, queda de cabelos, nem fome e distúrbios
conectam, o Mito do Prazer que o circunda – tudo hoje gastrointestinais.
testemunha que o corpo se tornou objeto de salvação. A mortalidade varia de 5% a 20%, sendo a arritmia
(BAUDRILLARD, MARLE) cardíaca uma das principais causas da morte súbita nos
As pessoas mais atingidas são adolescentes pacientes anoréticos, além das alterações metabólicas e
principalmente do sexo feminino, pois são mais vulneráveis a eletrolíticas. São indicativos de mortalidade: duração da
insatisfação com a aparência física, o que define a chamada doença, perda intensa de pesa, ausência de suporte da familiar,
distorção da imagem corporal, e também a fatores emocional comportamento compulsivo e recorrências múltiplas.
envolvendo a convivência com os familiares, colega, trabalho e (NÓBREGA, Fernando)
o principal a mídia. A mídia tem um papel fundamental no
desencadeamento desse distúrbio, por ter um acesso imediato Fatores de risco
da exposição de imagens de corpos magros idealizados. As Alguns fatores de risco podem levar pessoas a
famílias que são muitas perfeccionistas e superprotetoras, desenvolveram um quadro de anorexia. Confira:
sempre têm uma preocupação maior com o peso dos filhos, e - Mulheres têm mais chances de desenvolver a doença do
isso muitas vezes pode ocasiona o surgimento dessa doença. que homens, apesar de o número de homens de todas as idades
Os portadores dessas síndromes podem apresentar outros com anorexia ter aumentado nos últimos anos. Uma hipótese
transtornos psiquiátricos associados, especialmente a para justificar isso é que a mídia e a publicidade estejam
transtornos de ansiedade, do controle de impulsos, da influenciando no padrão ideal de beleza masculina cada vez
personalidade, abuso de substancias e do humor. Os com mais frequência e intensidade, mostrando que a pressão
transtornos alimentares podem levar a pessoa à morte, as social sobre a questão da beleza e do corpo magro não faz mais
complicações decorrentes estão associadas ao tempo de tanta distinção de gênero.
evolução da doença, a velocidade da perda de peso, a - Anorexia é um distúrbio muito comum entre
suscetibilidade individual e aos métodos compensatórios adolescentes, principalmente por conta da pressão social
utilizados. Essa perda excessiva de peso pode ocasiona uma existente nessa fase da vida e todas as mudanças que ocorrem
desnutrição e desidratação. Também tem alterações ósseas no corpo e na mente. Entretanto, pessoas de todas as idades
mesmo em adolescentes, como o hipogonadismo que contribui podem desenvolver o problema, sendo considerado raro
para o “envelhecimento ósseo”, a osteopenia e até mesmo somente em indivíduos acima dos 40
osteoporose que favorece para a ocorrência de fraturas - Estudos mostram que alguns genes possam estar
patológicas. Além disso, a mineração óssea fica muito abaixo diretamente relacionados ao desenvolvimento da anorexia
do normal, por causa da falta da ingestão de cálcio, proteínas e - Histórico familiar, ou seja, ter um parente que apresenta
vitaminas D, isso leva a uma diminuição no crescimento linear ou apresentou algum distúrbio alimentar pode aumentar as
desse jovem. Podem ocasiona várias doenças, como obesidade, chances de desenvolver anorexia também
ortorexia e sendo os principais transtornos alimentares a - O ato de perder ou ganhar peso pode desencadear em
bulimia nervosa e anorexia nervosa. reações das mais variadas, desde elogios até críticas. Elas
podem, por isso, levar uma pessoa a recorrer a dietas cada vez
ANOREXIA NERVOSA mais extremas e ao surgimento da anorexia.
Caracteriza pela intensa perda de peso à custa de uma - Grandes mudanças na vida e na rotina podem acarretar
restrição alimentar auto imposta, com ou sem comportamento no desenvolvimento de distúrbios alimentares, entre eles a
bulímicos, em busca desenfreada pela magreza. A anorexia anorexia. Exemplos: mudança de escola, casa ou trabalho,
nervosa ocasiona a distorção da imagem corporal, por sempre morte de um ente querido e términos de relacionamento;
que se olha no espelho afirma que está gorda, mesmo sendo - Pessoas ligadas ao esporte e ao mundo artístico, são mais
percebida por todos a sua intensa magreza. Essa aparência propensas a desenvolver anorexia também, pois trabalham
esquelética é a principal evidencia que pode ser percebida com a própria imagem e sofrem julgamentos por um número
pelos familiares de que essa pessoa possa estar com anorexia. maior de pessoas;
Tem um quadro de restrição alimentar, sendo que muitas - A mídia e a sociedade são grandes responsáveis pela
vezes passam dias sem comer apenas bebendo água, é anorexia. A televisão e revistas de moda, bem como os
frequente o aumento compulsivo de atividades físicas, estereótipos sociais de beleza, despertam nas pessoas a
provocam vômitos após a ingestão de algum alimento e a sensação de que só serão felizes e populares se seguirem um
utilização de substancias, como diuréticos, laxativos e determinado padrão – alimentado diariamente pelos meios de
anorexígenos. comunicação e reproduzido em todos os círculos sociais.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 238


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O tratamento da anorexia nervosa deve ser realizado por ainda não está certo se é um fator genético que predispõe à
uma equipe multidisciplinar. Em primeiro lugar tem que ter o bulimia ou o comportamento familiar que favorece a doença.
restabelecimento do peso e de alguns hábitos alimentares O tratamento da bulimia, se assemelha ao de anorexia
adequados, a médio e longo prazo modificar as alterações nervosa, deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar,
psíquicas. O nutricionista tem como objetivo avaliação e o com a atendimento psiquiátrico, psicológico e nutricional. Mas
monitoramento nutricional, que inclui dietoterapia, devem priorizar três aspectos fundamentais: a regulação de
aconselhamento e uso de suplementos nutricionais hábitos alimentares, diminuição das possibilidades de
específicos, para obter um equilíbrio entre os nutrientes que compulsão e de período de jejum. A conduta nutricional visa
estão em falta no organismo e a educação nutricional com a interromper o ciclo vicioso de episódios de ingestão excessiva
orientação para praticas alimentares adequadas. O principal de alimentos e comportamentos compensatórios inadequados
objetivo a ser alcançado é o peso ideal para a idade do e a trata outras doenças que se desenvolveu por causa do
paciente, para isso deve usar um guia alimentar e um quadro clinico, como diabete, depressão e uso excessivo de
planejamento de refeições são essenciais para fornecer medicamentos. Melhorar os hábitos alimentares como se
escolhas alimentares adequadas, com uma dieta balanceada, alimenta a cada três horas sem ingerir nada entre os intervalos
que atenda às necessidades nutricionais do paciente. das refeições, evitando dietas e além de exercícios excessivos,
tem uma alimentação equilibrada com a ingestão de gorduras
BULIMIA NERVOSA e fibras para promover a saciedade. E estabelecer estratégicas
Caracteriza por períodos de compulsão alimentar, onde de controle, evitando exposição aos riscos, como fazer
tem a ingestão excessiva de alimentos em um curto espaço de compras de alimentos muitos calóricos quando não estiver
tempo com sensação de perda de controle, chamados de com fome. A internação hospitalar é raramente necessária,
episódios bulímicos, que pela tentativa de não ganhar peso é sendo indicadas apenas em casos que tenha sintomas
acompanhado de métodos compensatórios, como vômitos purgativos persistente, como alterações hemodinâmicas,
auto induzido, uso de laxantes, anorexígenos e diuréticos. convulsões e hipocalemia. E o tratamento com psiquiátrica é
Como a anorexia nervosa, tem algumas profissões que indicado quando houver um elevado risco de suicídio.
determina o maior risco de desenvolver bulimia, como atletas,
jóqueis, artistas e profissionais da moda, em que o controle de OBESIDADE
peso é mais exigente. “Cerca de 30% de pacientes que buscam É definida como um distúrbio do metabolismo energético,
tratamento para este transtorno apresentam história anterior doença crônica, complexa de etiologia multifatorial. Sendo que
de anorexia nervosa.” (NÓBREGA, Fernando, p.501). seu desenvolvimento ocorre pela associação de fatores
Os episódios bulímicos está associado a fome exagerada e genéticos e comportamentais.
também para atender estado emocionais ou estressantes, com
isso ingerem alimentos bastantes calóricos e que seja de fácil O que é?
preparo, como pizza, chocolate, sanduiche, bolos e vários Denomina-se obesidade uma enfermidade caracterizada
outros. Esse descontrole é sempre acompanhado pelo acúmulo excessivo de gordura corporal, associada a
posteriormente por sentimento de culpa, angústia e vergonha. problemas de saúde, ou seja, que traz prejuízos à saúde do
Pessoas com bulimia nervosa se diferencia do anoréxico indivíduo.
por ter comportamento que busca apenas não ganhar peso
sem o desejo excessivo de emagrecer, sendo que na maioria Como se desenvolve ou se adquire?
das vezes os bulímicos têm o peso normal, e também por não Nas diversas etapas do seu desenvolvimento, o organismo
tem uma distorção da imagem corporal tão intensa quanto os humano é o resultado de diferentes interações entre o seu
anoréxicos. Com isso é mais difícil de diagnosticar essa doença, patrimônio genético (herdado de seus pais e familiares), o
nem mesmo a família desconfia de que pode estar acontecendo ambiente socioeconômico, cultural e educativo e o seu
algo de errado com os hábitos alimentares dessa adolescente. ambiente individual e familiar. Assim, uma determinada
Apesar de uma aparecia saudável, pessoas com bulimia pessoa apresenta diversas características peculiares que a
nervosa podem diagnostica uma serie de complicações distinguem, especialmente em sua saúde e nutrição.
orgânicas. O mais comum são as inflamações no tubo digestivo A obesidade é o resultado de diversas dessas interações,
provocadas pelo esforço repetido de vomitar, outras doenças nas quais chamam a atenção os aspectos genéticos, ambientais
provocadas são alterações nos dentes por causa do pH ácido e comportamentais. Assim, filhos com ambos os pais obesos
que vem do estômago quando esta vomitando e também apresentam alto risco de obesidade, bem como determinadas
alterações da função intestinal, com presença de diarreia e má mudanças sociais estimulam o aumento de peso em todo um
absorção de agua e sai minerais, levando a desencadear grupo de pessoas. Recentemente, vem se acrescentando uma
desidratação e nas meninas têm a menstruação irregular. O série de conhecimentos científicos referentes aos diversos
uso de excessivo de diuréticos, além de provocar edema, mecanismos pelos quais se ganha peso, demonstrando cada
favorece infecções urinarias e pode levar à insuficiência renal. vez mais que essa situação se associa, na maioria das vezes,
Essas complicações podem desenvolver deficiências de com diversos fatores.
vitaminas e sais minerais, como cálcio, potássio e magnésio, Independente da importância dessas diversas causas, o
que são essenciais para o organismo e também podem surgir ganho de peso está sempre associado a um aumento da ingesta
complicações cardiovasculares. alimentar e a uma redução do gasto energético
correspondente a essa ingesta. O aumento da ingesta pode ser
Fatores de risco decorrente da quantidade de alimentos ingeridos ou de
- Fatores genéticos, psicológicos, traumáticos, familiares, modificações de sua qualidade, resultando numa ingesta
sociais ou culturais podem contribuir para seu calórica total aumentada. O gasto energético, por sua vez, pode
desenvolvimento. A bulimia provavelmente ocorre devido a estar associado a características genéticas ou ser dependente
mais de um fator. de uma série de fatores clínicos e endócrinos, incluindo
- A bulimia afeta muito mais mulheres do que homens e é doenças nas quais a obesidade é decorrente de distúrbios
mais comum em mulheres adolescentes e em jovens adultas. hormonais.
- A genética também pode ser um fator de risco para a
bulimia. Estudos mostram que ter um parente com bulimia O que se sente?
pode favorecer o desenvolvimento da doença. No entanto, O excesso de gordura corporal não provoca sinais e
sintomas diretos, salvo quando atinge valores extremos.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 239


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APOSTILAS OPÇÃO

Independente da severidade, o paciente apresenta Peso


Altura Peso Superior
importantes limitações estéticas, acentuadas pelo padrão Inferior
(cm) (kg)
atual de beleza, que exige um peso corporal até menor do que (kg)
o aceitável como normal. 145 38 52
Pacientes obesos apresentam limitações de movimento,
150 41 56
tendem a ser contaminados com fungos e outras infecções de
pele em suas dobras de gordura, com diversas complicações, 155 44 60
podendo ser algumas vezes graves. Além disso, sobrecarregam 160 47 64
sua coluna e membros inferiores, apresentando a longo prazo
degenerações (artroses) de articulações da coluna, quadril, 165 50 68
joelhos e tornozelos, além de doença varicosa superficial e 170 53 72
profunda (varizes) com úlceras de repetição e erisipela.
A obesidade é fator de risco para uma série de doenças ou 175 56 77
distúrbios que podem ser: 180 59 81
185 62 85
Doenças Distúrbios
Hipertensão 190 65 91
Distúrbios lipídicos
arterial
Doenças A obesidade apresenta ainda algumas características que
Hipercolesterolemia são importantes para a repercussão de seus riscos,
cardiovasculares
dependendo do segmento corporal no qual há predominância
Doenças Diminuição de HDL da deposição gordurosa, sendo classificada em:
cerebrovasculares ("colesterol bom") - Obesidade Difusa ou Generalizada
Diabetes Mellitus - Obesidade Androide ou Troncular (ou Centrípeta), na
Aumento da insulina
tipo II qual o paciente apresenta uma forma corporal tendendo a
maçã. Está associada com maior deposição de gordura visceral
Câncer Intolerância à glicose
e se relaciona intensamente com alto risco de doenças
Distúrbios metabólicas e cardiovasculares (Síndrome Plurimetabólica)
Osteoartrite
menstruais/Infertilidade - Obesidade Ginecoide, na qual a deposição de gordura
Coledocolitíase Apneia do sono predomina ao nível do quadril, fazendo com que o paciente
apresente uma forma corporal semelhante a uma pera. Está
associada a um risco maior de artrose e varizes.
Assim, pacientes obesos apresentam severo risco para
uma série de doenças e distúrbios, o que faz com que tenham Essa classificação, por definir alguns riscos, é muito
uma diminuição muito importante da sua expectativa de vida, importante e por esse motivo fez com que se criasse um índice
principalmente quando são portadores de obesidade mórbida denominado Relação Cintura-Quadril, que é obtido pela
(ver a seguir). divisão da circunferência da cintura abdominal pela
circunferência do quadril do paciente. De uma forma geral se
Como o médico faz o diagnóstico? aceita que existem riscos metabólicos quando a Relação
A forma mais amplamente recomendada para avaliação do Cintura-Quadril seja maior do que 0,9 no homem e 0,8 na
peso corporal em adultos é o IMC (índice de massa corporal), mulher. A simples medida da circunferência abdominal
recomendado inclusive pela Organização Mundial da Saúde. também já é considerado um indicador do risco de
Esse índice é calculado dividindo-se o peso do paciente em complicações da obesidade, sendo definida de acordo com o
quilogramas (Kg) pela sua altura em metros elevada ao sexo do paciente:
quadrado (quadrado de sua altura). O valor assim obtido
estabelece o diagnóstico da obesidade e caracteriza também os Risco
riscos associados conforme apresentado a seguir: Risco
Muito
Aumentado
Aumentado
IMC ( Homem 94 cm 102 cm
Grau de Risco Tipo de obesidade
kg/m²)
18 a 24,9 Peso saudável Ausente Mulher 80 cm 88 cm

25 a 29,9 Moderado Sobrepeso (Pré-Obesidade)


A gordura corporal pode ser estimada também a partir da
30 a 34,9 Alto Obesidade Grau I medida de pregas cutâneas, principalmente ao nível do
35 a 39,9 Muito Alto Obesidade Grau II cotovelo, ou a partir de equipamentos como a Bioimpedância,
a Tomografia Computadorizada, o Ultrassom e a Ressonância
40 ou Obesidade Grau III Magnética. Essas técnicas são úteis apenas em alguns casos,
Extremo
mais ("Mórbida") nos quais se pretende determinar com mais detalhe a
constituição corporal.
Conforme pode ser observado, o peso normal, no indivíduo Na criança e no adolescente, os critérios diagnósticos
adulto, com mais de 20 anos de idade, varia conforme sua dependem da comparação do peso do paciente com curvas
altura, o que faz com que possamos também estabelecer os padronizadas, em que estão expressos os valores normais de
limites inferiores e superiores de peso corporal para as peso e altura para a idade exata do paciente.
diversas alturas conforme a seguinte tabela: De acordo com suas causas, a obesidade pode ainda ser
classificada conforme a tabela a seguir.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 240


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APOSTILAS OPÇÃO

Classificação da Obesidade de Acordo com suas Reeducação Alimentar


Causas: Independente do tratamento proposto, a reeducação
alimentar é fundamental, uma vez que, através dela,
Obesidade por Distúrbio Nutricional reduziremos a ingesta calórica total e o ganho calórico
Dietas ricas em gorduras decorrente. Esse procedimento pode necessitar de suporte
Dietas de lancheiras emocional ou social, através de tratamentos específicos
(psicoterapia individual, em grupo ou familiar). Nessa
Obesidade por Inatividade Física situação, são amplamente conhecidos grupos de reforço
Sedentarismo emocional que auxiliam as pessoas na perda de peso.
Incapacidade obrigatória Independente desse suporte, porém, a orientação dietética
Idade avançada é fundamental.
Dentre as diversas formas de orientação dietética, a mais
Obesidade Secundária a Alterações Endócrinas aceita cientificamente é a dieta hipocalórica balanceada, na
Síndromes hipotalâmicas qual o paciente receberá uma dieta calculada com quantidades
Síndrome de Cushing calóricas dependentes de sua atividade física, sendo os
Hipotireoidismo alimentos distribuídos em 5 a 6 refeições por dia, com
Ovários Policísticos aproximadamente 50 a 60% de carboidratos, 25 a 30% de
Pseudohipaparatireoidismo gorduras e 15 a 20% de proteínas.
Hipogonadismo Não são recomendadas dietas muito restritas (com menos
Déficit de hormônio de crescimento de 800 calorias, por exemplo), uma vez que essas apresentam
Aumento de insulina e tumores pancreáticos produtores riscos metabólicos graves, como alterações metabólicas,
de insulina acidose e arritmias cardíacas.
Obesidades Secundárias Dietas somente com alguns alimentos (dieta do abacaxi,
Sedentarismo por exemplo) ou somente com líquidos (dieta da água)
Drogas: psicotrópicos, corticoides, antidepressivos também não são recomendadas, por apresentarem vários
tricíclicos, lítio, fenotiazinas, ciproheptadina, problemas. Dietas com excesso de gordura e proteína também
medroxiprogesterona são bastante discutíveis, uma vez que pioram as alterações de
Cirurgia hipotalâmica gordura do paciente além de aumentarem a deposição de
gordura no fígado e outros órgãos.
Obesidades de Causa Genética
Autossômica recessiva Exercício
Ligada ao cromossomo X É importante considerar que atividade física é qualquer
Cromossômicas (Prader-Willi) movimento corporal produzido por músculos esqueléticos que
Síndrome de Lawrence-Moon-Biedl resulta em gasto energético e que exercício é uma atividade
física planejada e estruturada com o propósito de melhorar ou
Cabe salientar ainda que a avaliação médica do paciente manter o condicionamento físico.
obeso deve incluir uma história e um exame clínico detalhados O exercício apresenta uma série de benefícios para o
e, de acordo com essa avaliação, o médico irá investigar ou não paciente obeso, melhorando o rendimento do tratamento com
as diversas causas do distúrbio. Assim, serão necessários dieta. Entre os diversos efeitos se incluem:
exames específicos para cada uma das situações. Se o paciente - a diminuição do apetite,
apresentar "apenas" obesidade, o médico deverá proceder a - o aumento da ação da insulina,
uma avaliação laboratorial mínima, incluindo hemograma, - a melhora do perfil de gorduras,
creatinina, glicemia de jejum, ácido úrico, colesterol total e - a melhora da sensação de bem-estar e autoestima.
HDL, triglicerídeos e exame comum de urina.
Na eventual presença de hipertensão arterial ou suspeita O paciente deve ser orientado a realizar exercícios
de doença cardiovascular associada, poderão ser realizados regulares, pelo menos de 30 a 40 minutos, ao menos 4 vezes
também exames específicos (Rx de tórax, eletrocardiograma, por semana, inicialmente leves e a seguir moderados. Esta
ecocardiograma, teste ergométrico) que serão úteis atividade, em algumas situações, pode requerer profissional e
principalmente pela perspectiva futura de recomendação de ambiente especializado, sendo que, na maioria das vezes, a
exercício para o paciente. simples recomendação de caminhadas rotineiras já provoca
A partir dessa abordagem inicial, poderá ser identificada grandes benefícios, estando incluída no que se denomina
também uma situação na qual o excesso de peso apresenta "mudança do estilo de vida" do paciente.
importante componente comportamental, podendo ser
necessária a avaliação e o tratamento psiquiátrico. Drogas
A partir das diversas considerações acima apresentadas, A utilização de medicamentos como auxiliares no
julgamos importante salientar que um paciente obeso, antes tratamento do paciente obeso deve ser realizada com cuidado,
de iniciar qualquer medida de tratamento, deve realizar uma não sendo em geral o aspecto mais importante das medidas
consulta médica no sentido de esclarecer todos os detalhes empregadas. Devem ser preferidos também medicamentos de
referentes ao seu diagnóstico e as diversas repercussões do marca comercial conhecida. Cada medicamento específico,
seu distúrbio. dependendo de sua composição farmacológica, apresenta
diversos efeitos colaterais, alguns deles bastante graves como
Como se trata? arritmias cardíacas, surtos psicóticos e dependência química.
O tratamento da obesidade envolve necessariamente a Por essa razão devem ser utilizados apenas em situações
reeducação alimentar, o aumento da atividade física e, especiais de acordo com o julgamento criterioso do médico
eventualmente, o uso de algumas medicações auxiliares. assistente.
Dependendo da situação de cada paciente, pode estar indicado No que se refere ao tratamento medicamentoso da
o tratamento comportamental envolvendo o psiquiatra. Nos obesidade, é importante salientar que o uso de uma série de
casos de obesidade secundária a outras doenças, o tratamento substâncias não apresenta respaldo científico. Entre elas se
deve inicialmente ser dirigido para a causa do distúrbio. incluem os diuréticos, os laxantes, os estimulantes, os
sedativos e uma série de outros produtos frequentemente

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 241


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APOSTILAS OPÇÃO

recomendados como "fórmulas para emagrecimento". Essa (A) Bulimia Nervosa.


estratégia, além de perigosa, não traz benefícios a longo prazo, (B) Anorexia.
fazendo com que o paciente retorne ao peso anterior ou até (C) Compulsão Alimentar Restritiva.
ganhe mais peso do que o seu inicial. (D) Dunkorexia.
(E) Compulsão Alimentar Simples.
Como se previne?
Uma dieta saudável deve ser sempre incentivada já na 02.(UFGD-Médico Psiquiatra-INSTITUTO AOCP) Em
infância, evitando-se que crianças apresentem peso acima do relação à anorexia, assinale a alternativa correta
normal. A dieta deve estar incluída em princípios gerais de (A) É caracterizada por compulsão alimentar, como ingerir
vida saudável, na qual se incluem a atividade física, o lazer, os mais alimentos do que a maioria das pessoas em
relacionamentos afetivos adequados e uma estrutura familiar circunstâncias similares e em um período semelhante de
organizada. No paciente que apresentava obesidade e obteve tempo, com uma forte sensação de perda de controle.
sucesso na perda de peso, o tratamento de manutenção deve (B) Refere-se a um excesso da adiposidade corporal.
incluir a permanência da atividade física e de uma alimentação (C) É caracterizada por um comportamento obstinado e
saudável a longo prazo. Esses aspectos somente serão proposital direcionado a perder peso, baixo, peso,
alcançados se estiverem acompanhados de uma mudança preocupação com o peso corporal e alimentação, padrões
geral no estilo de vida do paciente. peculiares de manejo dos alimentos, medo intenso de aumento
de peso, alterações da imagem corporal e amenorreia.
ORTOREXIA (D) Sentem seus corpos grotescos e desagradáveis e que os
É um distúrbio muito recente que até poucos anos atrás outros os veem com hostilidade e desprezo. Esse sentimento
não existia e consiste na busca insaciável pelo consumo de está fortemente associado à autoconsciência e ao
alimentos cada vez mais naturais e puros. O primeiro sintoma comprometimento do desempenho social.
que uma pessoa “ortorexia” apresenta é começar sutilmente (E) O aumento da atividade física é recomendado com
diminuindo o consumo de carne, passando a ser vegetariano frequência como parte de um regime de redução de peso,
posteriormente deixando de comer derivados animais, se associado com uma dieta rica em colágeno e glúten.
enquadrando assim das diversas denominações alimentares
em que não se come praticamente nada. Adotando esses 03. (TJ-PE - Analista Judiciário - Medicina –
padrões alimentares, o indivíduo possui uma constante Psiquiátrica – FCC) Com relação à Anorexia Nervosa (AN), é
ingestão de determinados nutrientes porem uma deficiência correto afirmar:
total de muitos outros, que são essenciais para a boa (A) A prevalência gira em torno de 5 a 10% da população
manutenção do organismo e das funções biológicas. Sendo com uma predominância do sexo feminino.
necessário o acompanhamento nutricional e de psicólogos (B) As principais comorbidades associadas a esse quadro
para mostrarem a real imagem dessas pessoas para si mesma. são o transtorno bipolar e quadros psicóticos.
Estudos de amostras clínicas costumam subestimar taxas (C) Os principais transtornos de personalidade associam-
de incidências na população, porque apensa uma minoria de se aos subtipos de AN, havendo uma maior prevalência de
indivíduos com transtornos alimentares busca serviço de transtorno de personalidade borderline no subtipo restrito e
saúde. Segundo o estudo de Nielsen no período de 10 anos de personalidade anancástico e evitativo no subtipo purgativo.
após o transtorno ter sido diagnosticado, os indivíduos com (D) Alguns dos fatores de má evolução da doença podem
bulimia nervosa apresentam chance 1,5 vezes maior de morte, incluir baixo peso no início do tratamento, presença de
comparados a indivíduos saudáveis do mesmo gênero e faixa comorbidades psiquiátricas, uso de métodos purgativos, caos
etária. familiar e demora na busca por tratamento.
O comportamento de dieta exerce um papel na patogênese (E) O tratamento envolve equipe multidisciplinar, sendo o
da anorexia nervosa e da bulimia nervosa, todavia, nem todos principal o uso de medicações que aumentem o apetite como a
os indivíduos que fazem dieta desenvolvem um transtorno olanzapina e a mirtazapina.
alimentar. Precisamos saber quais fatores adicionais são
necessários e suficientes para transformar o comportamento Respostas
de fazer dieta em transtorno alimentar.
Podemos observar que o ideal é termos uma refeição 01. A. / 02. C. / 03.C.
equilibrada, pois numa alimentação a quantidade de alimentos
devem ser suficientes para atender o organismo em todas as Conceito de Família216
suas necessidades, deve ter uma harmonia entre os nutrientes
e a alimentação deve ser apropriada as diferentes fases e De acordo com Caio Mário, família em sentido genérico e
condições de vida, ás variadas atividades, ás circunstancias biológico é o conjunto de pessoas que descendem de tronco
fisiológicas e de doenças. ancestral comum; em senso estrito, a família se restringe ao
É fato que o mundo da moda e da televisão engloba grupo formado pelos pais e filhos; e em sentido universal é
profissões que prometem inclusão social muito rápida. Assim, considerada a célula social por excelência.
adolescentes que buscam notoriedade fazem o que for preciso No que concerne à família, Silvio Rodrigues num conceito
para se encaixar no padrão de beleza vigente e alguns acabam mais amplo, diz ser a formação por todas aquelas pessoas
exagerando. ligadas por vínculo de sangue, ou seja, todas aquelas pessoas
provindas de um tronco ancestral comum, o que inclui, dentro
Questões da órbita da família, todos os parentes consanguíneos. Num
sentido mais estrito, constitui a família o conjunto de pessoas
01. (BANPARÁ-Médico do Trabalho-INAZ do Pará) compreendido pelos pais e sua prole.
Caracteriza-se por uma ingestão descontrolada e Já Maria Helena Diniz discorre sobre família no sentido
compulsiva de alimentos, geralmente seguida por uma amplo como todos os indivíduos que estiverem ligados pelo
purgação: vínculo da consanguinidade ou da afinidade, chegando a
incluir estranhos. No sentido restrito é o conjunto de pessoas

216 Texto baseado na obra de MOTA, T. S.; ROCHA, R. F.; MOTA, G. B. C. Família

– Considerações gerais e historicidade no âmbito jurídico. 2011.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 242


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APOSTILAS OPÇÃO

unidas pelos laços do matrimônio e da filiação, ou seja, mesmo tempo chefe político, sacerdote e juiz, comandava
unicamente os cônjuges e a prole. como um todo, impondo-lhes pena corporal. A mulher vivia
Cezar Fiúza, considera família de modo lato sensu, como subordinada a esta autoridade, em nenhum momento
sendo “uma reunião de pessoas descendentes de um tronco adquirindo autonomia, se passando a função de filho e de
ancestral comum, incluídas aí também as pessoas ligadas pelo esposa sem direitos próprios. Só a esta autoridade pater que
casamento ou pela união estável, juntamente com seus lhe adquiria bens, domínio sobre o patrimônio familiar.
parentes sucessíveis, ainda que não descendentes”, como Com o passar do tempo houve alterações a este rigor
também define em modo stricto sensu dizendo que: “família é conhecendo-se o casamento, a instigação ao patrimônio
uma reunião de pai, mãe e filhos, ou apenas um dos pais com independente para os filhos em relação aos militares
seus filhos”. contraídos como soldado.
Segundo Paulo Nader, Família consiste em "uma Daí podemos falar em poder familiar, como já falamos que
instituição social, composta por mais de uma pessoa física, que no poder familiar não é mais absoluto no sentido do poder que
se irmanam no propósito de desenvolver, entre si, a conferia aos pais sobre domínio dos filhos, mas sim focado no
solidariedade nos planos assistencial e da convivência ou poder afetivo, cabendo aos pais a corresponsabilidade e
simplesmente descendem uma da outra ou de um tronco parceria nos direitos e deveres dos filhos e a missão de
comum". equilibrá-los.
Sintetizando a conceituação desse instituto, Silvio Venosa, Neste contexto, diante da promulgação da nossa Carta
assevera que a Família em um conceito amplo, "é o conjunto Magna, foram devolvidos parâmetros ao reconhecimento da
de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar", família como base da sociedade fundando princípios, efeitos e
em conceito restrito, "compreende somente o núcleo formado as obrigações, incumbindo a responsabilidade de proteção da
por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder". família ao Estado.
Washington de Barros Monteiro ainda menciona que, Portanto o artigo 226 da Carta Magna identifica formas de
enquanto a família num sentido restrito, abrange tão somente entidades familiares diversificadas como a união estável,
o casal e a prole, num sentido mais largo, cinge a todas as sendo reconhecida a união entre homem e mulher com
pessoas ligadas pelo vínculo da consanguinidade, cujo alcance características de duradoura, ininterrupta e com objetivo de
é mais dilatado, ou mais circunscrito. constituir família, devendo a lei facilitar sua conversão em
Finalizando Carlos Roberto Gonçalves traz família de uma casamento, a família monoparental, como comunidade
forma abrangente como “todas as pessoas ligadas por vínculo formada por qualquer dos pais e seus descendentes e o
de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral casamento, a união mais comum, feita em contrato solene.
comum, bem como unidas pela afinidade e pela adoção”. E Segundo Dimitre Soares “as relações de família são,
também de uma forma mais específica como, “parentes portanto, amplamente afetadas pelas transformações da
consanguíneos em linha reta e aos colaterais até o quarto globalização, que abre espaço para as manifestações plurais de
grau”. comportamento”. Ainda fala da necessidade do ordenamento
Dessa forma, a partir do conceito, pode-se perceber que jurídico se adequar a interpretação das relações de família,
família é, unidade básica da sociedade formada por visando a desordem nos “parâmetros tradicionais de
indivíduos com ancestrais em comum ou ligados por laços organização familiar”.
afetivos. Podendo também ser considerada como, um Com relação as modificações do conceito de família e das
conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a diversas formas de constituição de família com o passar dos
interação dos membros da mesma, considerando-a, anos, Soares ainda fala que:
igualmente, como um sistema, que opera através de “O mundo contemporâneo requer a adequação do
padrões transacionais. fenômeno de internacionalização de Direitos Humanos às
normas de direito interno. Assim, novos temas como a
Os Tipos de Família igualdade de gênero, a democratização de uniões livres, a
Por muito tempo, a organização familiar fora comandada reconstrução do parâmetro parental, a socioafetividade, a
pelo modelo matriarcal, ou seja, modelo que surgiu do vínculo inseminação artificial ou as uniões homoafetivas incrementam
sanguíneo, biológico e instintivo da mãe para com o filho. o debate que descamba, necessariamente, na concepção
Nesse modelo a mãe, a figura da mulher no lar, destacava por tradicional dos modelos familiares, passando a ser necessário
sua autoridade. Após a fase utilização de tal modelo, criou-se que se repense os critérios de igualdade e de cidadania
um novo sistema de costumes, ou seja, o das famílias aplicáveis a estes e inúmeros outros casos.”
patriarcais, tendo como característica principal a A partir daí, pode-se concluir que existem novas espécies
inquestionável e arbitrária autoridade do pai. O homem de família como substituta, alternativa, moderna, extensa e
destacou nas atividades do campo, da batalha e da caça, e ampliada, sócioafetiva entre outras.
tornou figura principal.
A família num sentido sociológico recoloca-se em estágios Quadro – tipos de Famílias
de comprovação fática prevalecendo na ocorrência de indução
de fenômenos sociais e políticos de aceitação.
- Família Natural
Para Mac Lennan, Morgan, Spencer, Engels, D’aguano, A família natural é tida como a mais comum, pois é
Westermarck, Gabriel Tarde, Bachofen, em embasamentos de aquela que possui laços sanguíneos, constituída por pais e
monumentos históricos estabelece observância aos filhos, provinda do modelo de família através do
“primitivos atuais”, ou seja, as tribos indígenas, para a casamento ou da união estável.
reconstituição das origens.
Em um período evolutivo como um todo, a mulher este - Família Monoparental
reservada a um lar, fato este, que a família ocidental viveu Família constituída por um de seus genitores e filho, ou
longo período sob forma “patriarcal”.
seja, por mãe e filho, ou pai e filho, decorrente de produção
Como ressalta Caio Mário em que atualmente Cícero alude
independente, separação dos cônjuges, morte, abandono,
à figura valetudinária o tônus emocional com plena autoridade
podendo ser biologicamente constituída e por adoção.
de um patriarcal não se condicionando a idade avançada e a
Reconhecida como entidade familiar na Carta Magna,
quase cegueira.
artigo 226, §4º: “comunidade formada por qualquer dos
Em Roma, a família era organizada em função do princípio
pais e seus descendentes”.
da autoridade abrangendo a eles subordinados. O pater era ao

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 243


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- União Estável - Família Sócioafetiva


União estável é entidade familiar, que constitui união Consolida-se a família sócioafetiva como um novo
entre homem e mulher, fora do casamento, sendo esta elemento no Direito Brasileiro contemporâneo,
duradoura, pública, com fins de constituir família, e transpondo os limites fixados pela Constituição Federal de
possuem fidelidade recíproca. 1988, porém incorporados dos seus princípios. Quando
declarada a convivência familiar e comunitária, a não
- Casamento discriminação de filhos, a corresponsabilidade dos pais
Casamento é a terceira e última entidade familiar quanto ao exercício do poder familiar e o núcleo
trazida pelo Constituição Federal de 1988, considerando a monoparental reconhecido como entidade familiar está
mais antiga, mais conhecida e aceita pela sociedade, e a concretizada a chamada família sócioafetiva. Os vínculos
mais formal. de afeto se sobrepõem à verdade biológica, convocando
Conforme Silvio Rodrigues: assim, os pais a uma "paternidade responsável".
“Casamento é o contrato de direito de família que tem
por fim promover a união do homem e da mulher, de Função social da família, da escola e interdependência
conformidade com a lei, a fim de regularem suas relações dos sistemas família e escola217
sexuais, cuidarem da prole comum e se prestarem mútua
Educação e escola têm uma relação estreita, apesar de esta
assistência.”
não configurar uma relação de dependência, pois há uma
Conceito muito comum em relação a nossa legislação
distinção entre a educação escolar e a educação que ocorre
civil. Carlos Roberto Gonçalves diz ser contrato de direito
fora da escola. De acordo com Guzzo, o sentido etimológico da
de família que regula a união entre marido e mulher.
palavra educar significa promover, assegurar o
desenvolvimento de capacidades físicas, intelectuais e morais,
- Família Substituta
sendo que, de forma geral, tal tarefa tem sido de
A família substituta é favorável da família moderna, responsabilidade dos pais.
assim nas palavras de Marlusse Pestana Daher, que De acordo com Bock, Furtado e Teixeira, o grupo familiar
prossegue: “É aquela que se propõe trazer para dentro dos tem uma função social determinada a partir das necessidades
umbrais da própria casa, uma criança ou adolescente que sociais, sendo que entre suas funções está, principalmente, o
por qualquer circunstância foi desprovido da família dever de garantir o provimento das crianças para que possam
natural, para que faça parte integrante dela, nela se exercer futuramente atividades produtivas, bem como o dever
desenvolva e seja”. de educá-las para que "tenham uma moral e valores
Pode-se constatar nestas palavras a apropriada
compatíveis com a cultura em que vivem". Nesse mesmo
natureza da Colocação em Família Substituta, porquanto
sentido, Oliveira resume a função da família dizendo que "a
expõe que é na solidariedade que incide todo o alicerce
educação moral, ou seja, a transmissão de costumes e valores
deste instituto. A necessidade de um, sendo satisfeita pela
de determinada época torna-se, nesta perspectiva, seu
possibilidade de ajuda do outro.
principal objetivo"
A colocação em família substituta pode ocorrer de três
A responsabilidade familiar junto às crianças em
formas: guarda, tutela e adoção.
termos de modelo que a criança terá e do desempenho de
seus papéis sociais é tradicionalmente chamada de
- Família Alternativa educação primária, uma vez que tem como tarefa
Dividida em famílias homossexuais e família principal orientar o desenvolvimento e aquisição de
comunitárias, sendo nesta o papel dos pais e da escola comportamentos considerados adequados, em termos
descentralizado como ocorre nas famílias tradicionais, dos padrões sociais vigentes em determinada cultura.
sendo todos os adultos responsáveis pela educação e A escola é a instituição que tem como função a
criação das crianças e adolescentes; a primeira se trata de socialização do saber sistematizado, ou seja, do
um casal do mesmo sexo que vivem juntos tendo filhos
conhecimento elaborado e da cultura erudita. De acordo
adotados ou biológicos de um dos parceiros ou de ambos.
com Saviani, a escola se relaciona com a ciência e não com
o senso comum, e existe para proporcionar a aquisição de
- Família Moderna
instrumentos que possibilitam o acesso ao saber
E o modelo de família em que o pai perde o
elaborado (ciência) e aos rudimentos (bases) desse saber.
autoritarismo, e mãe deixa de cuidar única e
A contribuição da escola para o desenvolvimento do
exclusivamente da casa e dos filhos e passa a competir com
sujeito é específica à aquisição do saber culturalmente
o homem, sendo assim todos que compõem a família organizado e às áreas distintas de conhecimento. No que
passam a ter influência dentro dos lares, expondo suas diz respeito à família, "um dos seus papéis principais é a
opiniões, participando efetivamente, com base no socialização da criança, isto é, sua inclusão no mundo
respeito, no amor, na afetividade, no carinho, na atenção. cultural mediante o ensino da língua materna, dos
símbolos e regras de convivência em grupo, englobando a
- Família Extensa e Ampliada educação geral e parte da formal, em colaboração com a
O artigo 25, parágrafo único, da Lei 12.010/09, que
escola".
trata da reforma do Estatuto da Criança e do Adolescente,
Escola e família têm suas especificidades e suas
introduz família extensa ou ampliada como sendo espécie
complementariedades. Embora não se possa supô-las como
da família natural, distinta da família substituta, in verbis:
instituições completamente independentes, não se pode
“Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se
perder de vista suas fronteiras institucionais, ou seja, o
estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade
domínio do objeto que as sustenta como instituições.
do casal, formada por parentes próximos com os quais a
Esses dois sistemas têm objetivos distintos, mas que se
criança ou o adolescente convive e mantém vínculos de interpenetram, uma vez que "compartilham a tarefa de
afinidade e afetividade”. preparar as crianças e os jovens para a inserção crítica,
participativa e produtiva na sociedade". A divergência entre

217 Oliveira, C. B. E. de; Marinho-Araújo, C. M. A relação família-escola:

intersecções e desafios. Estud. Psicol.: Campinas vol. 2010.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 244


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escola e família está na tarefa de ensinar, sendo que a primeira um processo naturalizado por todos, a avaliar e analisar o
tem a função de favorecer a aprendizagem dos conhecimentos comportamento dos alunos.
construídos socialmente em determinado momento histórico, Posto desta forma, nota-se que o enfoque sociológico
de ampliar as possibilidades de convivência social e, ainda, de aborda os determinantes ambientais e culturais presentes na
legitimar uma ordem social, enquanto a segunda tem a tarefa relação família-escola, destacando que cabe à escola cumprir
de promover a socialização das crianças, incluindo o as exigências sociais, enquanto o enfoque psicológico
aprendizado de padrões comportamentais, atitudes e valores considera os determinantes psicológicos presentes na
aceitos pela sociedade. estrutura familiar como os grandes responsáveis pelo
Desta forma entende-se que, apesar de escola e família desencontro entre objetivos e valores nas duas instituições.
serem agências socializadoras distintas, as mesmas Assim, em uma espécie de complementaridade, encontra-se
apresentam aspectos comuns e divergentes: compartilham a um velado enfrentamento da escola com a família,
tarefa de preparar os sujeitos para a vida socioeconômica e aparentemente diluído nos grandes projetos de participação e
cultural, mas divergem nos objetivos que têm nas tarefas de de parceria entre esses dois sistemas, podendo-se afirmar que
ensinar. em ambos os enfoques destacam-se dois aspectos principais:

Relação família-escola 1) a incapacidade da família para a tarefa de educar os


Tendo como pano de fundo a divisão de responsabilidades filhos e
no que concerne à educação e socialização de crianças e jovens 2) a entrada da escola para subsidiar essa tarefa,
e a relação que se estabelece entre as instituições familiares e principalmente quando se trata do campo moral.
escolares, pesquisas e levantamentos acerca desta relação
passam a ser objeto de estudo de diversas áreas do A partir destas colocações, vê-se que a relação família-
conhecimento, como a psicologia, a sociologia, a educação, escola está permeada por um movimento de culpabilização e
entre outras. não de responsabilização compartilhada, além de estar
Considerando as várias perspectivas e abordagens marcada pela existência de uma forte atenção da escola
relativas ao tema, os trabalhos e pesquisas sobre a temática da dirigida à instrumentalização dos pais para a ação educacional,
relação família-escola podem ser organizados em dois grandes por se acreditar que a participação da família é condição
grupos, denominados enfoque sociológico e enfoque necessária para o sucesso escolar.
psicológico. A quem caberia a responsabilidade de construir essa
No enfoque sociológico a relação família-escola é vista em relação? No relato de muitos professores há a afirmação de
função de determinantes ambientais e culturais. A relação que, apesar de abrirem as portas da escola à participação dos
entre educação e classe social mostra um certo conflito entre pais, esses são desinteressados em relação à educação dos
as finalidades socializadoras da escola (valores coletivos) e a filhos, na medida em que atribuem à escola toda a
educação doméstica (valores individuais), ou seja, entre a responsabilidade pela educação. Esta argumentação dos
organização da família e os objetivos da escola. As famílias que professores "visa, apenas, culpar a vítima e é uma visão
não se enquadram no suposto modelo desejado pela escola são pessimista das relações escola/pais", a partir da qual não se
consideradas as grandes responsáveis pelas disparidades consegue dar passos positivos para ultrapassar os obstáculos
escolares. Seguindo este enfoque, faz-se necessário, para o à relação família-escola.
bom funcionamento da escola, que as famílias adotem as Ao contrário dos professores que acreditam que os pais é
mesmas estratégias de socialização por elas utilizadas. que devem ir à escola mostrando-se interessados pelo
Assim, a representação de modelo familiar certo/correto desenvolvimento de seus filhos e pela relação entre família e
ganha projeção e se naturaliza, tendo a própria escola como escola, Tancredi e Reali, acreditam que a construção da
disseminadora da ideia de que algumas famílias operam de parceria entre escola e família é função inicial dos professores,
modo diverso do seu objetivo. Em função dessa divergência, as pois eles são elementos-chave no processo de aprendizagem.
estratégias de socialização das famílias passam a ser a Dada a formação profissional específica que têm, as tentativas
preocupação da escola, de forma que esta amplia seus âmbitos de aproximação e de melhoria das relações estabelecidas com
de ação, tentando assumir ou tentando substituir a família em as famílias devem partir, preferencialmente, da escola, pois
sua ampla missão socializadora. Para Oliveira, há uma "transferir essa função à família somente reforça sentimentos
intenção que passa muitas vezes despercebida nessa tentativa de ansiedade, vergonha e incapacidade aos pais, uma vez que
de aproximação e colaboração, que é a de promover uma não são eles os especialistas em educação".
educação para as famílias tidas como "desestruturadas". O Todavia, apesar desse discurso em que se fala que a escola
ambiente escolar exerce um poder de orientação sobre os pais é que deve ir às famílias, os modelos de envolvimento entre as
para que estes possam educar melhor os filhos e estes, por sua famílias e a escola focalizam principalmente os pais e se
vez, possam frequentar a escola. referem pouco às ações dos professores e da escola na
Enquanto no enfoque sociológico a família é promoção da relação família-escola, como mostram os
responsabilizada pela formação social e moral do indivíduo, no modelos propostos por Joyce Epstein, Don Davies e Owen
enfoque psicológico ela é responsabilizada pela formação Heleen.
psicológica. A ideia de que a família é a referência de vida da
criança - o locus afetivo e condição sine qua non de seu Para exemplificar, o modelo de Joyce Epstein defende a
desenvolvimento posterior - será utilizada para manter certa existência de cinco tipos de envolvimento:
ligação entre o rendimento escolar do aluno e sua dinâmica
familiar, colocando, mais uma vez, a família no lugar de a) os pais ajudarem os filhos em casa, que diz respeito à
desqualificada. função dos pais em atender as necessidades básicas dos filhos e
Nesse enfoque, as razões de ordem emocional e afetiva em organizar a rotina familiar diária;
ganham um colorido permanente quanto ao entendimento da b) os professores comunicarem-se com os pais, que se refere
relação família-escola e da ocorrência do fracasso escolar. à função da escola de informar os pais acerca do regulamento
Ganha status natural a crença de que uma "boa" dinâmica interno da escola, dos programas escolares e dos progressos e
familiar é responsável pelo "bom" desempenho do aluno. As dificuldades dos filhos;
descrições centradas no plano afetivo ganham a atenção dos c) envolvimento dos pais na escola, apoiando
professores que, com algum conhecimento de psicologia, voluntariamente a organização de festas e alunos com
levam esse discurso para dentro da sala de aula e passam, em dificuldades de aprendizagem;

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 245


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APOSTILAS OPÇÃO

d) envolvimento dos pais em atividades de aprendizagem, (D) composta pelo homem pai e seus filhos.
em casa, participando da realização de trabalhos, projetos e (E) formado por qualquer dos pais e seus descendentes.
deveres de casa;
e) envolvimento dos pais na direção das escolas, 02. (IF-PR- Assistente de Alunos- CETRO) Além da
influenciando e participando da tomada de decisões, se possível. relação parentalidade/ filiação, outras relações de parentesco
compõem uma família. A família composta pelos avós, tios,
O aspecto mais comum entre os três modelos218 refere-se primos, irmãos, cunhados, estando ou não dentro do mesmo
ao fato de que em todos a ação dos pais é priorizada, seja domicílio, refere-se à
diante de questões pedagógicas (ensino tutorial em casa ou na (A) família natural.
escola, trabalho voluntário dos pais na escola e na sala de aula, (B) família acolhedora.
apoio na realização de tarefas, trabalhos e atividades de (C) família extensa.
aprendizagem) ou de questões políticas (pais com poder (D) família de apoio.
deliberativo na escola, participando e influenciando a tomada (E) família acolhedora.
de decisões). Os modelos pouco se referem às ações da escola
e dos professores no sentido de promover a relação família- 03. (SEE-MG- Professor de Educação Básica- FCC) Para
escola; tais ações são referidas somente nas ocasiões em que estimular a participação das famílias no ambiente escolar, a
cabe à escola informar aos pais acerca do regulamento interno escola deve
da escola, dos programas escolares e de progressos e (A) acolher as famílias para que todas sintam-se bem
dificuldades dos filhos. naquele ambiente e possam expor sua opinião e desenvolver
Ao listar as "16 maneiras de envolver os pais na escola", reuniões para compartilhar o trabalho realizado na escola
Marques fez uma adaptação do trabalho de Joyce Epstein e apresentando sugestões de como os pais podem dar suporte
elaborou uma lista de procedimentos que podem favorecer a para seus filhos.
aproximação das famílias. Entretanto, tal lista menciona, (B) planejar o acolhimento dos pais no início do ano e nas
exclusivamente, ações a serem desencadeadas pelos pais no datas comemorativas e propiciar atendimentos em uma
contexto familiar, sem haver menção à interação família- reunião semestral de pais para explicitar os problemas
escola. disciplinares ou dificuldades de aprendizagem dos alunos.
Além de tais ações se referirem apenas a atitudes a serem (C) realizar reuniões com as famílias no início e no final do
adotadas pelos pais, fica explícita, entre as maneiras listadas, a ano letivo para informar as regras da escola e avaliar os
crença existente acerca da necessidade de orientar e ensinar avanços dos alunos, além de realizar o atendimento individual
aos pais sobre como ensinar seus filhos: "explicar aos pais dos pais cujos filhos apresentam problemas na escola.
certas técnicas de ensino" ou "propor aos pais que treinem os (D) estabelecer regras claras de convivência no espaço
filhos, ajudando-os a fazer exercícios de leitura, matemática, escolar apontando possibilidades e limites da participação dos
etc." pais na unidade e desenvolver um sistema de comunicação
Tais atitudes decorrem da noção da escola de que o eficiente para que os pais estejam bem informados sobre os
envolvimento dos pais aparece relacionado à participação e acontecimentos da escola.
colaboração nas atividades propostas pela escola e no
interesse pelo desempenho de seus filhos. As expectativas Respostas
quanto à participação dos pais envolvem o acompanhamento
da tarefa de casa ou a formação do aluno em termos de 01. E. / 02. C. / 03. A.
disciplina, respeito e comportamento adequado.
Junto a diretores e professores percebe-se, também, a
pouca tendência da escola para buscar uma parceria. É Sexualidade
interessante observar a colocação acerca do posicionamento
contraditório dos diretores e professores que, por um lado, A sexualidade tem grande importância no
"acusaram os pais de falta de compreensão ou aceitação dos desenvolvimento e na vida psíquica das pessoas, pois
problemas das crianças, e o pouco retorno de seus esforços independentemente da potencialidade reprodutiva, relaciona-
para ajudá-los", mas, por outro lado, sentem-se invadidos pela se com a busca do prazer, necessidade fundamental dos seres
presença dos pais, pois consideram que os pais não sabem humanos. Nesse sentido, a sexualidade é entendida como algo
participar com uma relação de colaboração, mas sim de inerente, que se manifesta desde o momento do nascimento
cobrança, uma vez que não entendem do processo de ensino- até a morte, de formas diferentes a cada etapa do
aprendizagem. desenvolvimento. Além disso, sendo a sexualidade construída
À família são impostos limites para entrar em questões ao longo da vida, encontra-se necessariamente marcada pela
próprias da escola, como no campo pedagógico. Mas o mesmo história, cultura, ciência, assim como pelos afetos e
parece não acontecer com a escola em relação à sua entrada na sentimentos, expressando-se então com singularidade em
família, pois aquela acredita estar autorizada a penetrar nos cada sujeito. Indissociavelmente ligado a valores, o estudo da
problemas domésticos e a lidar com eles, além de se considerar sexualidade reúne contribuições de diversas áreas, como
apta a estabelecer os parâmetros para a participação e o Antropologia, História, Economia, Sociologia, Biologia,
envolvimento da família. Medicina, Psicologia e outras mais. Se, por um lado, sexo é
expressão biológica que define um conjunto de
Questões características anatômicas e funcionais (genitais e
extragenitais), a sexualidade é, de forma bem mais ampla,
01. (UFC- Assistente Social- INSTITUTO AOCP) A família expressão cultural. Cada sociedade cria conjuntos de
monoparental é aquela regras que constituem parâmetros fundamentais para o
(A) composta pela união de um homem e uma mulher. comportamento sexual de cada indivíduo. Nesse sentido,
(B) composta por um homem e uma mulher oriundos ou a proposta de Orientação Sexual considera a sexualidade
não de outra relação. nas suas dimensões biológica, psíquica e sociocultural.
(C) composta pela mulher mãe e seus filhos.

218 Modelos de Joyce Epstein, Don Davies e Owen Heleen.

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Sexualidade na infância e na adolescência219 infância, fase pré-escolar, segunda infância, adolescência,


maturidade e terceira idade. Aqui vamos nos ater apenas aos
Os contatos de uma mãe com seu filho despertam nele as três primeiros: primeira infância (0 a 2 anos), fase pré-escolar
primeiras vivências de prazer. Essas primeiras experiências (2 a 6 anos) e segunda infância (6 a 10 anos).
sensuais de vida e de prazer não são essencialmente
biológicas, mas constituirão o acervo psíquico do indivíduo, - Primeira infância (0 a 2 anos):
serão o embrião da vida mental no bebê. A sexualidade infantil
se desenvolve desde os primeiros dias de vida e segue se “A educação sexual começa a partir das atitudes dos pais,
manifestando de forma diferente em cada momento da no momento em que decidem ter filhos”.
infância. A sua vivência saudável é fundamental na medida em As primeiras atitudes dos pais podem proporcionar ou um
que é um dos aspectos essenciais de desenvolvimento global ambiente afetivo e amoroso, ou um ambiente ríspido e
dos seres humanos. tumultuado. Esse ambiente será a primeira influência no
A sexualidade, assim como a inteligência, será construída a desenvolvimento da criança. É “nos primeiros anos de vida que
partir das possibilidades individuais e de sua interação com o se estabelecem as bases do comportamento erótico do adulto
meio e a cultura. Os adultos reagem, de uma forma ou de outra, e se inicia a formação de uma sexualidade saudável”.
aos primeiros movimentos exploratórios que a criança faz em Neste período (0 a 2 anos) a criança começa a explorar seu
seu corpo e aos jogos sexuais com outras crianças. As crianças mundo através de seu corpo, de suas sensações. Será através
recebem então, desde muito cedo, uma qualificação ou do gosto, do cheiro, do toque, do olhar e do ouvir que a criança
“julgamento” do mundo adulto em que está imersa, permeado vai experimentar o prazer. Essa relação com seu corpo e com
de valores e crenças que são atribuídos à sua busca de prazer, os sentidos formará suas atitudes sexuais mais tarde.
o que comporá a sua vida psíquica. A relação que essa criança tem com seus cuidadores
Nessa exploração do próprio corpo, na observação do também será definidor das suas atitudes relacionais. Esse
corpo de outros, e a partir das relações familiares é que a primeiro vínculo é um primeiro passo. Ele será fortalecido, ou
criança se descobre num corpo sexuado de menino ou menina. não, no seu desenvolvimento.
Preocupa-se então mais intensamente com as diferenças entre É nessa fase que começamos a amar e sermos amados. A
os sexos, não só as anatômicas, mas também com todas as nossa capacidade de amar e de se relacionar está diretamente
expressões que caracterizam o homem e a mulher. A ligada a esse aprendizado na infância.
construção do que é pertencer a um ou outro sexo se dá pelo
tratamento diferenciado para meninos e meninas, inclusive - Fase pré-escolar (2 a 6 anos):
nas expressões diretamente ligadas à sexualidade e pelos
padrões socialmente estabelecidos de feminino e masculino. Essa fase tem quatro momentos importantes:
Esses padrões são oriundos das representações sociais e 1. Formação da Identidade de gênero:
culturais construídas a partir das diferenças biológicas dos
sexos e transmitidas pela educação, o que atualmente recebe a A identidade de gênero é a condição de pertencer a um
denominação de relações de gênero. Essas representações sexo. Nesta fase a criança começa a definir-se como menino ou
absorvidas são referências fundamentais para a constituição menina. Os pais e educadores(as) devem, neste momento,
da identidade da criança. favorecer o processo de identificação da criança, através da
brincadeira. Mostrar as diferenças e semelhanças entre ser
As formulações conceituais sobre sexualidade infantil menino e ser menina (evitar ao máximo estereótipos!).
datam do começo deste século e ainda hoje não são conhecidas Reforçar a visão de sexo da criança, sem nunca desvalorizar o
ou aceitas por parte dos profissionais que se ocupam de sexo oposto. A questão não é superioridade/inferioridade, mas
crianças, inclusive educadores. Para alguns, as crianças são sim diferenças.
seres “puros” e “inocentes” que não têm sexualidade a
expressar, e as manifestações da sexualidade infantil possuem 2. Assimilação do papel sexual (social):
a conotação de algo feio, sujo, pecaminoso, cuja existência se
deve à má influência de adultos. Entre outros educadores, no O papel sexual diz respeito ao comportamento que a
entanto, já se encontram bastante difundidas as noções da criança terá diante sua identidade de gênero. Importante
existência e da importância da sexualidade para o evitar a manutenção de preconceitos de comportamentos
desenvolvimento de crianças e jovens. tipicamente masculinos e/ou femininos.
Em relação à puberdade, as mudanças físicas incluem
alterações hormonais que, muitas vezes, provocam estados de 3. Aprendizagem e controle dos esfíncteres
excitação incontroláveis, ocorre intensificação da atividade
masturbatória e instala-se a função genital. É a fase das É a primeira oportunidade da criança de aprender e
descobertas e experimentações em relação à atração e às exercer o autocontrole, através do treinamento do controle
fantasias sexuais. A experimentação dos vínculos tem relação dos esfíncteres.
com a rapidez e a intensidade da formação e da separação de Segundo as considerações de Figueirêdo Netto, a
pares amorosos entre os adolescentes. aprendizagem do controle dos esfíncteres, no que se refere ao
desenvolvimento da sexualidade, tem fundamental
É uma questão bastante atual e presente no cotidiano de importância, pois:
todos os profissionais da educação a postura a ser adotada, a) “As áreas genitais se encontram na mesma zona do
dentro das escolas, em face das manifestações da sexualidade corpo que intervém na excreção. Os músculos que participam
dos alunos. deste ato são exatamente os mesmos que posteriormente
Como dito anteriormente, sexo também é coisa de atuarão na resposta sexual.
criança220. Tendo sempre em mente que cada criança é uma b) O ato de reter e expulsar os excrementos (urina e fezes)
criança, vamos pensar o desenvolvimento sexual da criança. produz prazer sensual, pela tensão e alívio ou relaxamento,
Tomando por base os modos de viver e expressar a que acompanham estes comportamentos.
dimensão humana, temos seis períodos distintos – primeira

219 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares 220 Colunista Portal Educação, 2013 em http://www.portaleducacao.com.br.
Nacionais: Orientação Sexual. Portal MEC.

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APOSTILAS OPÇÃO

c) O controle voluntário desses músculos, assim como as Ainda sobre os jogos sexuais, Suplicy afirma que “os
sensações prazerosas deles resultantes, são associados à professores constataram que em geral os jogos sexuais são
sexualidade”. realizados na hora do recreio. As crianças escolherem um
Para não adiantar nem atrasar esse processo da criança é lugar protegido, fora da vista do adulto; não tiram a roupa e
preciso ter em mente que ele(a) poderá ter este tipo de brincam de médico e de papai-e-mamãe. Se esses jogos forem
controle entre os dois e três anos de idade. Adiantar ou atrasar observados, mas não atrapalharem nenhuma atividade, não
esse momento pode ser prejudicial ao desenvolvimento da precisam ser interrompidos, pois fazem parte do
criança. Importante, ainda, salientar que pais e educadores desenvolvimento sexual da criança. O professor só deve estar
devem evitar relacionar questões negativas (como sujo, feio, atento para que não haja coação nessas brincadeiras”.
associar a castigos e chantagens), no decorrer do treinamento
do controle dos esfíncteres. Sexualidade e escola: um espaço de intervenção221

4. Interesses e curiosidades sexuais: Desde a antiguidade a sexualidade vem gerando polêmicas,


mexendo com a sensação e fantasia das pessoas, associada a
É a conhecida fase dos porquês. Além das perguntas, as coisas feias, inconvenientes e impróprias. Apesar da revolução
crianças querem ver e saber. Com tantas perguntas, é um bom sexual, da globalização e dos meios de comunicação terem
momento para ensinar às crianças os nomes corretos das contribuído para uma modificação nas atitudes morais e nas
partes de seu corpo. questões ligadas ao sexo e sexualidade, esse assunto ainda
Como parte de seu desenvolvimento a masturbação assim continua sendo um tabu.
aparece como curiosidade natural da criança de seu corpo e O estudo da sexualidade envolve o crescimento global do
suas sensações. É um jogo exploratório de sensações. Não tem indivíduo, tanto intelectual, físico, afetivo-emocional e sexual
a mesma conotação da masturbação na adolescência e no propriamente dito. A maioria dos pais acham constrangedor
adulto. Assim, é um bom momento para ensinar às crianças conversar sobre sexo com seus filhos, ora pela educação
sobre a intimidade. O público e o privado. Não precisa recebida de seus pais, ora pela repressão ou por não saberem
problematizar a situação, apenas orientar. A repressão é como abordar o tema. Assim, os filhos na maioria da vezes,
indesejada. ficam sem respostas para suas dúvidas, gerando conflitos ou
Além de se tocarem, as crianças exploram também os acidentes inesperados por terem informações errôneas ao
outros. É a fase da conhecida “brincadeira de médico”. Se a consultar variadas fontes impróprias.
brincadeira for entre crianças da mesma idade não há razão A maior parte dos adolescentes passam seu tempo na
para se preocupar, é conhecimento não abuso. escola onde começam a se sociabilizar, aflorando sua
Nessa fase o pensamento é mágico e fantasioso, por isso sexualidade devido ao desenvolvimento corporal gerado pelos
devem ser evitadas conversas como a da “cegonha” e da hormônios. A escola é o ambiente onde a interação com o
“sementinha”. As respostas devem ser claras e objetivas o mundo ao redor e com as pessoas que o cercam acontece.
suficiente para satisfazer a curiosidade da criança. Ela quer Depois do ambiente familiar é a escola que complementa a
saber do fato, a maldade está na cabeça do(a) adulto(a). Outro educação dada pela família onde são abordados temas mais
cuidado com as histórias fantasiosas é que elas podem gerar complexos que no dia-a-dia não são ensinados e aprendidos,
fantasias negativas, temores e culpas. Desnecessário. tendo esta uma imensa responsabilidade na formação afetiva
e emocional de seus alunos. E quanto ao assunto sexo e
- Segunda Infância (6 a 10 anos): sexualidade? Qual o papel da escola frente a esse tema? A
escola não deve nem vai tomar o lugar da família, mas cabe a
Período no qual a sexualidade entra em latência. Ou seja, ela possibilitar uma aprendizagem correta, já que essa
entra em adormecimento para ser mais bem elaborada. É um instituição visa o crescimento do indivíduo como um todo.
momento de sensualidade, pois as crianças estão aptas a A educação sexual acontece no seio familiar. É uma
experimentar as sensações. Por isso, há muitos jogos sexuais experiência pessoal contida de valores e condutas
nesta fase. O lúdico aparece na imitação de modelos. É um transmitidos pelos pais e por pessoas que o cercam desde
momento em que pais e educadores(as) devem tomar cuidado bebê. Já a Orientação Sexual é dada pela escola onde são feitas
com o que falam e com o que fazem. A criança está em discussões e reflexões à respeito do tema de uma maneira
constante observação. Assim, é um bom momento para formal e sistematizada que constitui em uma proposta objetiva
transmitir informações e valores (confiança, respeito, amor, de intervenção por parte dos educadores.
honestidade, responsabilidade), as crianças estão prestando O que nos cabe é refletir acerca da importância da
atenção. Orientação Sexual na Escola para a construção da cidadania, de
É nesse período que se fortalece a identidade de gênero e uma sociedade livre de falso moralismo e mais feliz. O trabalho
prepara a criança para o próximo período, a puberdade. de Orientação Sexual tem como objetivo principal as
mudanças nos padrões de comportamento, levando-se em
O que são jogos sexuais? conta três aspectos fundamentais: a transmissão de
informações de maneira verdadeira; a eliminação do
Definição: são brincadeiras que ajudam a satisfazer a preconceito e a atuação na área afetivo-emocional. Para se
curiosidade sexual. fazer um bom trabalho de Orientação Sexual dentro da escola
é importante dar atenção a alguns passos:
Alguns tipos: a) apresentar um projeto para a instituição com o objetivo
- Cócegas; do trabalho;
- Pegar nos próprios genitais e nos dos / das coleguinhas; b) fazer uma reunião com os pais e professores para
- Brincadeiras de médico; esclarecer quaisquer dúvidas que possam surgir ao longo do
- Brincadeiras de papai e mamãe. trabalho e explicar o papel de ambos junto à escola neste
projeto;
Atenção: essas brincadeiras devem ser feitas com crianças c) observar a demanda da escola para que se atinja a
da mesma idade. expectativa desta;

221 BERALDO, F. N.de M. Sexualidade e escola: um espaço de intervenção.

Psicol. Esc. Educ. (Impr.) vol.7 no.1 Campinas, 2003.

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d) a partir das séries estabelecidas para o trabalho entrar A faixa etária que corresponde a este período é variável.
em contato com elas para explicar como este será Em geral, a puberdade ocorre nos garotos entre 11 e 13 anos e
administrado; nas garotas entre 10 e 12 anos. É necessário saber que estas
e) colher, por meio de “bilhetinhos sigilosos,” dúvidas e idades não são fixas, podendo variar de pessoa para pessoa.
curiosidades de cada aluno garantindo-lhes total sigilo; Tanto em garotos quanto em garotas ocorre o chamado
f) após levantar as dúvidas e curiosidades fazer uma “estirão”, ou seja, um crescimento do corpo acentuado em um
estruturação do programa a ser cumprido em diferentes séries curto período de tempo. O “estirão” costuma iniciar mais cedo
(conteúdo, horário, encontros, local), para uma maior eficácia; nas meninas que nos meninos, razão pela qual as meninas por
g) estabelecer um contrato (regras sugeridas pelo grupo); volta dos 12 anos de idade são frequentemente mais altas que
h) garantir a ética do trabalho tanto para os alunos como os meninos. Também tanto em garotos quanto em garotas
para os professores; ocorre o aparecimento de pêlos pubianos e axilares. A pele se
i) garantir a liberdade de opinião e o respeito do grupo torna mais oleosa e o corpo, através do suor, passa a ter um
pelas dúvidas de seus colegas, sem monopólio da verdade de cheiro característico de pessoa adulta, diferenciando-se da
ambas as partes. criança.
O primeiro conteúdo indispensável neste trabalho é a
diferenciação de sexo e sexualidade e também de Educação Nos garotos ocorre o aparecimento da barba, e a laringe se
Sexual e Orientação Sexual, que são muito confundidos na alarga provocando a tendência da voz se tornar mais grave.
maioria das vezes. O educador de Orientação Sexual deve ser Também ocorre o aumento da massa muscular, com
uma pessoa aberta, livre de mitos e preconceitos referentes à consequente ampliação da força física, e o aumento do pênis e
sexualidade para melhor ministrar a turma sem causar testículos.
problemas com a instituição, pais, alunos e professores, Nas garotas ocorre o aumento dos seios, quadris, nádegas
podendo abordar os assuntos através de aulas expositivas, e coxas, dando ao corpo o aspecto de mulher em fase adulta. A
dinâmica de grupo, folhetos explicativos, filmes e outros partir da puberdade a garota passa a menstruar, característica
materiais referentes ao tema. O trabalho não envolve nota ou que sinaliza que seu organismo está pronto para gerar filhos.
reprovação. É preciso deixar claro que puberdade não é sinônimo de
Para finalizar seguem dois lembretes essenciais: é adolescência. Puberdade compreende as transformações
necessário ressaltar a importância dos pais nesse processo corporais que tornam o corpo humano adequado para a
para que estes não se acomodem, julgando a escola reprodução, deixando de ser um corpo infantil para tornar-se
responsável pelo processo da educação sexual de seus filhos; um corpo adulto. A adolescência compreende um período mais
não cabe ao professor de Orientação Sexual virar conselheiro extenso e significativo que a puberdade, sendo esta etapa
ou confidente dos alunos. Deve, se necessário, encaminhar constituinte daquela.
para um profissional especializado. O termo adolescência vem do termo latino adolescere, que
significa “crescer, engrossar, tornar maior”. Em relação à
Os jovens e a sexualidade222 dimensão psicológica, segundo Canosa Gonçalves et. al. e
Tavares, as crianças que se tornam adolescentes também
Para realizar uma prática adequada de Orientação Sexual passam por transformações. A principal delas é em relação à
com jovens, é necessário que o profissional conheça o público própria identidade. Neste momento, o adolescente necessita
beneficiário de sua ação, ou seja, de quem e com quem falamos se reconhecer num corpo transformado, que não é mais o
na condição de educadores. corpo infantil que ele tinha, e que agora é um corpo adulto,
visivelmente modificado.
Segundo o Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA (Lei Outro passo importante é a consolidação de si próprio
8.069, de 13 de julho de 1.990 – Art. 2º) “considera-se criança, enquanto pessoa “independente”, sob o ponto de vista da
[...], a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente determinação de suas escolhas pessoais e da responsabilidade
aquela entre doze e dezoito anos de idade” (Brasil, 1990). que elas trazem. É neste momento que pode haver uma
divergência, e até um questionamento, com as regras
Muitos autores que se preocupam com a temática da determinadas pela família e pela sociedade.
infância e juventude afirmam que não é possível definir o Na adolescência é comum ocorrer uma identificação muito
período que compreende a infância e a adolescência apenas intensa do jovem com seu grupo de “iguais”, em geral outros
pela faixa etária. Quando podemos afirmar que uma criança jovens. Não é raro este grupo (galera, turma, etc.) compartilhar
deixou de sê-lo e passou a ser adolescente? Quais um determinado modo de conversar, de se vestir, enfim, de se
comportamentos são considerados infantis, juvenis e/ou comportar. Esta identificação com o grupo é importante na
adultos? Estes são questionamentos complexos. construção da própria identidade (pessoal, sexual, social) do
Em todos os questionamentos que formulamos a respeito adolescente.
dos seres humanos, devemos sempre conceber o homem Em geral, nesta fase do desenvolvimento ocorrem as
enquanto ser integral, biopsicossocial. Desta forma, primeiras manifestações da sexualidade adulta, ou seja, o
precisamos considerar as dimensões biológica, psicológica e primeiro beijo, o “ficar”, o namoro, as primeiras experiências
social das pessoas, compreendendo que estas não são eróticas. Trata-se de uma busca pelo outro para um
separadas, mas integradas na existência humana. relacionamento afetivo-sexual. “A adolescência é uma fase de
Em relação à dimensão biológica, percebemos que uma descobertas, de desafios e a sexualidade humana talvez seja,
criança começa a deixar de sê-lo quando ela vivencia o período para a maioria dos jovens, o aspecto mais interessante desta
do desenvolvimento humano chamado de puberdade. Para jornada”.
esta discussão, tomaremos como referência o trabalho de Em relação à dimensão social, precisamos considerar que
Gewandsznajder. a adolescência enquanto processo de desenvolvimento
Na puberdade, o corpo do menino ou da menina passa por humano não é universal, ou seja, não é igual para todos os
um processo de transformação, deixando de ser um corpo jovens. Cada um vivenciará a sua adolescência de acordo com
infantil para se tornar um corpo adulto, ou seja, pronto para suas condições de vida, o seu lugar de moradia, a dinâmica de
reprodução. sua família de origem, as características de acesso à escola ou

222 BRANCO, M. A. O.; PINTO, M. J. C.; VIANNA, a. M. S. A. Orientação Sexual


com Jovens: Construindo um Exercício Responsável da Sexualidade. Simpósio
Internacional de Educação Sexual da UEM, 2009.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 249


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aos serviços de saúde, as modalidades de lazer a que tem habilidades para a comunicação e a tomada responsável de
acesso, dentre outros condicionantes. Todas as decisões”.
transformações vivenciadas pelo jovem são construídas
mediante as relações sociais que eles estabelecem. Não existe Percebemos a concordância de Suplicy et. al. com Ribeiro
um “padrão”. Cada indivíduo, a partir de sua realidade social, em afirmar que a Orientação Sexual é uma prática
vivenciará sua juventude de forma particular. interventiva sistemática na área da sexualidade. Suplicy et.
Não devemos pensar a juventude como crise, mas como um al., na definição citada, enfatiza que a Orientação Sexual deve
processo do ciclo vital do jovem. Isto quer dizer que devemos ser pensada e executada a partir da consideração do
compreender o jovem não enquanto um “problema” ou um orientando enquanto ser integral, ou seja, devem ser
“fardo”. Deve ser compreendido sempre a partir da sua pessoa consideradas suas dimensões fisiológicas, sociológicas,
em condição peculiar de desenvolvimento inserida num psicológicas e espirituais no exercício de sua sexualidade.
determinado contexto sociocultural. Além disso, a Orientação Sexual deve contemplar diversos
Outro fator importante a ser abordado é o prolongamento aspectos do desenvolvimento sexual dos indivíduos, ou seja,
da juventude. Atualmente vivenciamos uma clara dificuldade saúde reprodutiva, relações interpessoais, afetividade,
em delimitar o término deste período. Não é raro imagem corporal, autoestima e relações de gênero.
encontrarmos pessoas que pretendem terminar seus estudos, Compreende-se o ser humano enquanto ser sexuado inserido
incluindo até cursos de mestrado e doutorado, antes de num meio social, que continuamente se relaciona com outros
decidirem morar sozinhos ou casaram-se, e então deixar de seres humanos. Desta forma, amplia-se o enfoque da
morar com seus pais. Orientação Sexual no Brasil que, no início e meados do século
Partindo da premissa de todas estas transformações XX priorizava a dimensão biológica da sexualidade. No final do
contemporâneas, é interessante tomarmos a definição do século XX e nos dias atuais, deve-se compreender a
Conselho Nacional da Juventude no que diz respeito a estender sexualidade enquanto manifestação humana, com
até os 29 anos a faixa etária das pessoas que são consideradas desdobramentos além da mera reprodução e da possibilidade
jovens. de contágio de doenças sexualmente transmissíveis. Tais
São estes jovens que constituem o público beneficiário da aspectos não devem ser descartados, mas deve-se somar a eles
prática de Orientação Sexual, no enfoque deste trabalho. outros aspectos como o prazer, as relações afetivas e os papéis
sexuais na (re)definição de gênero.
Orientação Sexual X Educação Sexual Neste contexto, Santos e Bruns apontam que um dos
objetivos da Orientação Sexual é levar o indivíduo a valorizar
Os autores que se preocupam atualmente com a temática o prazer, o respeito mútuo, possibilitando-lhe uma vivência
da Orientação Sexual formulam questionamentos a respeito do mais íntegra e feliz.
termo que deve ser utilizado para definir tais práticas. Quando
falamos em Orientação Sexual e em Educação Sexual, Breve histórico da Orientação Sexual no Brasil
utilizamos a mesma definição para as duas expressões?
De acordo com Ribeiro falamos em Educação Sexual No Brasil, a sexualidade tem sido um aspecto polêmico do
quando nos referimos aos “processos culturais contínuos [...] cotidiano das pessoas, desde a época da Colônia do século XVI.
que direcionam os indivíduos para diferentes atitudes e O homem brasileiro branco, nos primeiros anos da
comportamentos ligados à manifestação de sua sexualidade”. colonização, mantinha relações sexuais com várias índias,
Nesta definição, podemos pensar que a educação sexual tem tendo com elas muitos filhos, caracterizando um
seu início no nascimento de cada indivíduo, sendo que o comportamento sexual bastante promíscuo.
processo educacional acontece através da relação deste Com o advento da escravatura, os jovens homens filhos dos
indivíduo com seu meio social. Então, as “atitudes e senhores de engenho eram incentivados a se relacionar
comportamentos ligados à manifestação da sexualidade” são sexualmente com as escravas negras, para provar que eram
construídos por cada pessoa em contato com a sociedade, ou “machos”. As mulheres brancas eram dominadas e submetidas
seja, amigos, grupos religiosos e/ou de convivência, meios de às regras de seus pais, inicialmente, e de seus maridos, após o
comunicação e, principalmente, a família. Portanto, a casamento. Em geral, casavam ainda adolescentes com
sociedade pratica ações educativas em sexualidade em relação homens bem mais velhos que elas. Era-lhes exigido um
aos indivíduos que a constituem. Porém, em grande parte das comportamento acanhado e humilde frente à sociedade.
vezes, estas ações se tornam “deseducativas”, na medida em Tal cenário brasileiro se mantém praticamente o mesmo
que reproduzem e perpetuam tabus, desinformações e durante os séculos XVII, XVIII e XIX. Neste período da História
atitudes repressivas em relação à sexualidade humana. do Brasil não há registros conhecidos de Orientação Sexual
Para Ribeiro, a Orientação Sexual pressupõe uma enquanto intervenção sistematizada.
intervenção institucionalizada, sistematizada e realizada por A preocupação com a Orientação Sexual no Brasil,
profissionais especialmente preparados para exercer esta enquanto tema científico e pedagógico, data do início do século
função. Diferencia-se, portanto, da Educação Sexual, que XX. Neste momento da história brasileira registra-se a
acontece durante toda a vida das pessoas, e que diz respeito ao organização dos primeiros espaços urbanos, que originaram
processo educacional referente às atitudes em relação à as cidades brasileiras. Nestes locais a comunidade científica
sexualidade. Desta forma, podemos pensar a Orientação brasileira se organizava sofrendo forte influência europeia.
Sexual enquanto prática interventiva na vida das pessoas, Barroso e Bruschini afirmam que, no início do século XX,
prática que intervém na Educação Sexual que todas elas esta influência europeia manifesta-se no Brasil através de
receberam em contato com a sociedade em que vivem. algumas correntes médicas e higienistas de sucesso na Europa.
Tais correntes pregavam a necessidade de uma Educação
Citando Suplicy et. al. “Orientação Sexual é um processo de Sexual eficaz no combate à masturbação e às doenças venéreas
intervenção sistemática na área de sexualidade, realizado (termo utilizado na época para referir-se às doenças
principalmente nas escolas e envolve o desenvolvimento sexual sexualmente transmissíveis – DST´s) e que preparasse a
compreendido como: saúde reprodutiva, relações interpessoais, mulher para desempenhar adequadamente seu “nobre papel
afetividade, imagem corporal, autoestima e relações de gênero. de esposa e de mãe”. Notamos que, logo no início de suas
Enfoca as dimensões fisiológicas, sociológicas, psicológicas e atividades no Brasil, a Orientação Sexual carrega uma
espirituais da sexualidade, através do desenvolvimento das característica de incitação do medo aos jovens (combate à
áreas cognitiva, afetiva e comportamental, incluindo as masturbação e às doenças sexualmente transmissíveis –

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DST´s), além de ser impregnada pela chamada ideologia de Municipal de São Paulo implantou projetos de Orientação
gênero machista (preparar a mulher para desempenhar Sexual em três escolas, os quais, posteriormente, foram
adequadamente seu papel de esposa e mãe). ampliados para muitas escolas municipais, envolvendo
Neste momento, emerge a produção de teses, livros e orientadores educacionais e professores de Ciências e
manuais que tratam da Orientação Sexual, todos baseados no Biologia. Em 1979, a rede pública estadual paulista iniciou um
modelo médico higienista vigente. Referenciando este período, trabalho de informação aos estudantes sobre os aspectos
Chauí cita uma obra datada de 1938, de autoria de Oswaldo biológicos da reprodução, por intermédio da disciplina de
Brandão da Silva, intitulada Iniciação Sexual-Educacional. Este Ciências e Programas de Saúde da Secretaria de Educação do
livro, segundo consta, tinha um conteúdo destinado somente Estado de São Paulo.
aos “meninos de valor”. Segundo esta autora, o autor da obra Ao fim da década de 70 e durante a década de 80, surgem
não explica o significado do termo “valor”, mas fica claro que novas ações no plano da Orientação Sexual, como o
as meninas estavam proibidas de ler tal obra, pois deveriam aparecimento de serviços telefônicos, programas de rádio e de
manter-se inocentes e ser iniciadas na vida sexual apenas por televisão, enciclopédias e fascículos, congressos e encontros
seus maridos. Interessante ressaltar que, do grupo de meninas de professores. Proliferam as iniciativas na rede particular de
excluídas do acesso ao conteúdo da obra, não fazem parte as ensino. Nasce nessa época a SBRASH – Sociedade Brasileira de
prostitutas. Estas eram consideradas uma tentação para os Sexualidade Humana.
meninos enquanto aquelas eram chamadas de meninas de
“boa família”. De 1989 a 1992, na cidade de São Paulo, foi desenvolvido
Entre as décadas de 1920 e 1940, mesma época em que foi um abrangente projeto de Orientação Sexual nas escolas
publicado o manual citado por Chauí, foram publicados vários municipais, com a participação do renomado GTPOS (Grupo de
outros livros de orientação sexual cientificamente Trabalho e Pesquisa em Orientação Sexual). Este projeto
fundamentados, escritos por médicos, professores e até atingiu 30.000 alunos e foram capacitados 1.105 professores
sacerdotes. Assim foi criada a sexologia enquanto campo para oferecer ações de orientação sexual nas escolas.
oficial do saber médico. Nota-se que, desde as primeiras experiências de projetos
de Orientação Sexual na década de 1960, não existiram ações
Concomitante à consolidação do conhecimento científico continuadas, sendo que estes projetos historicamente ficaram
da época em relação à sexualidade, a Igreja Católica imprime atrelados às vontades político-partidárias de prefeitos ou
severa repressão às práticas sexuais da população brasileira. governadores.
Desta forma, a década de 50 é considerada pobre no sentido de Ribeiro corrobora dizendo que, somente com a aprovação
não contar com nenhuma iniciativa no campo da Orientação da LDB – Lei de Diretrizes e Bases em 1996 e o
Sexual. estabelecimento dos Parâmetros Curriculares Nacionais em
Na década de 60 surgem as primeiras experiências de 1997 como linhas a serem seguidas para se concretizar a meta
Orientação Sexual nas escolas dos estados de Minas Gerais da educação para o exercício da cidadania, a Orientação Sexual
(Belo Horizonte, em 1963, no Grupo Escolar Barão do Rio teve oficialmente reconhecida sua necessidade e importância
Branco), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, em 1964, no Colégio enquanto ação educativa escolar.
Pedro Alcântara; em 1968, nos colégios Infante Dom Henrique,
Orlando Rouças, André Maurois e José Bonifácio) e São Paulo Os programas de Orientação Sexual
(São Paulo, de 1963 a 1968, no Colégio de Aplicação Fidelino
Figueiredo; de 1961 a 1969, nos Ginásios Vocacionais; de 1966 Podemos constatar na maioria dos programas de
a 1969, no Ginásio Estadual Pluricurricular Experimental). Orientação Sexual executados no Brasil, ainda nos dias atuais,
Estas experiências são realizadas com base na ênfase ao uma tendência de mostrar apenas os problemas e possíveis
aspecto biológico da sexualidade humana, tal qual era o más consequências da sexualidade. Em geral, no conteúdo
tratamento dado a esta questão nos livros que possibilitaram destes programas são enfatizadas (quando não são exclusivas)
o surgimento da sexologia enquanto área do conhecimento da as DST – Doenças Sexualmente Transmissíveis e as gravidezes
medicina. Além disso, estas experiências foram fortemente precoces na adolescência, com maternidade e/ou paternidade
carregadas com as marcas da repressão das manifestações da indesejadas. Este conteúdo não sensibiliza os jovens para a
sexualidade. discussão construtiva do tema sexualidade humana. Eles
costumam não se sentir à vontade para receber uma adequada
Na época das primeiras experiências em Orientação Sexual Orientação Sexual, pois identificam claramente a repressão
nas escolas brasileiras, o país vivia seu período histórico e sexual que experimentam em seu meio social, aqui também
político chamado de ditadura militar. Em 1964, a população reproduzida pelos profissionais orientadores sexuais.
assiste à chegada das forças armadas ao poder da República Em contato com um conteúdo de Orientação Sexual que
Federativa do Brasil, através da imposição do Golpe de Estado. prioriza os problemas advindos de uma vivência inadequada
A partir daí, o regime militar reprime não só as manifestações da sexualidade e não os aspectos afetivos, prazerosos, e de
políticas, mas também as manifestações sexuais e as respeito às relações humanas, os jovens costumam não
implicações nos padrões de comportamento delas perceber uma relação coerente entre o conteúdo abordado e
decorrentes. suas próprias experiências reais concretas. Comenta-se que o
Em 1968, a deputada federal do Rio de Janeiro Júlia sexo traz problemas, mas a maioria dos jovens percebe suas
Steinbruk apresentou um projeto de lei que previa a experiências sexuais como prazerosas, surgindo aí um
introdução obrigatória da Educação Sexual nas escolas paradoxo.
brasileiras. Tal projeto de lei não foi transformado em Desta forma, urge a necessidade da discussão de conteúdos
legislação porque o então Ministério da Educação e Cultura, adequados à realidade dos jovens para que eles possam
através de sua Comissão Moral e Civismo, rejeitou o projeto, realmente tomar atitudes responsáveis na vivência de suas
demonstrando o severo receio por parte dos gestores da sexualidades. Assim, um programa efetivo de Orientação
educação brasileira da época em relação ao tratamento de Sexual deve reconhecer o exercício prazeroso da sexualidade,
questões sexuais com os estudantes. sem deixar de contemplar as medidas de proteção à saúde e os
Na década de 70, cresce a censura do governo militar e há métodos contraceptivos para tornar possível a emergência de
um quase desaparecimento de projetos de Orientação Sexual maternidades e paternidades responsáveis, no momento de
nas escolas brasileiras. Apenas em 1978, com a abertura escolha consciente de cada pessoa que deseje ter filhos.
política trazida pelo presidente Ernesto Geisel, a Prefeitura

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Nos dias atuais, percebe-se a crescente preocupação de Orientação Sexual, os jovens possam formar suas opiniões a
alguns pais e educadores diante do número de gestações na respeito do tema para propiciar um pleno exercício de suas
adolescência. Segundo o Ministério da Saúde, enquanto a taxa sexualidades.
de fecundidade de mulheres adultas tem caído nas últimas Apesar da clara proposição dos PCN de conceber a
quatro décadas, entre as mulheres jovens existe uma relação Orientação Sexual no âmbito escolar enquanto tema
inversamente proporcional. “Desde os anos 90, a taxa de transversal extremamente importante para a formação de
fecundidade entre adolescentes aumentou 26%. valores conscientes pelos jovens em relação à sexualidade,
Tal preocupação mobiliza e estimula o avanço das ações muitas dificuldades têm permanecido no exercício diário desta
em orientação sexual, o que pode ser intensamente benéfico prática educacional. Como sexo é um assunto intensamente
para os jovens, visto que eles poderão ter maior acesso a repleto de repressões em nossa sociedade ocidental, muitos
programas desta natureza. No entanto, cabe questionar se pais educadores não manifestam interesse sobre o tema, deixando
e educadores ainda mantêm seu foco sob uma concepção de buscar formação adequada para o trabalho de Orientação
repressiva da sexualidade humana, desejando que uma Sexual com a juventude.
Orientação Sexual possa produzir uma atitude sexualmente Além dos profissionais diretamente em contato com os
abstinente dos jovens brasileiros, desejo que se mostra jovens, há uma grande parcela de educadores que são
absolutamente inalcançável e indesejável. De outro modo, a dirigentes de estabelecimentos educacionais e, reproduzem as
preocupação advinda dos pais e educadores quanto ao número mesmas repressões sociais em relação à sexualidade, não
de gestações na adolescência pode ser um ponto de partida contribuindo positivamente para a execução de bons
para propiciar espaços abertos de discussão, onde o jovem programas de Orientação Sexual, uma vez que não acreditam
possa refletir sobre sua própria sexualidade, no sentido de que este tema seja importante para a comunidade estudantil
conscientemente poder efetuar escolhas para sua vida, que ou acreditam que falar sobre sexualidade com jovens
incluem ter ou não filhos. Para tal escolha, o jovem, que num estudantes pode induzi-los à prática precoce de relações
futuro próximo se tornará um adulto, deve ter conhecimento e sexuais.
autonomia sobre o uso de métodos contraceptivos. A Orientação Sexual na escola ainda tem um extenso
Outra preocupação de pais e educadores que mobiliza a caminho a ser trilhado para que a sexualidade, presente na
execução de programas de Orientação Sexual são as doenças vida de todas as pessoas, possa ser tratada (e aprendida) pelos
sexualmente transmissíveis uma vez que, ao iniciar a vida profissionais da educação e seus respectivos educandos sem
sexual, muitos jovens, ainda que possuam conhecimento de os massacrantes e silenciadores tabus e com respeito e
prevenção, não utilizam preservativo. propriedade, para inibir práticas inadequadas e produzir
Infelizmente a maioria dos programas brasileiros de práticas saudáveis do exercício da sexualidade.
Orientação Sexual não é contínua. Caracterizam-se muitas
vezes pelo oferecimento de palestras pontuais sobre O Educador/Orientador Sexual
sexualidade. Este tipo de programa não atinge os objetivos de
propiciar elementos para uma construção adequada do Retomando a discussão sobre a definição dos termos
exercício da sexualidade dos jovens. Para trazer efetivos “educação sexual” e “orientação sexual” presente no item
benefícios à juventude, o processo de educação precisa de “Orientação Sexual X Educação Sexual” deste trabalho,
continuidade, de vínculo, de tempo, de reconhecimento. encontramos com maior frequência na literatura especializada
o termo “educador sexual” referindo-se àquele profissional
Orientação Sexual como tema transversal que exerce a prática educacional de Orientação Sexual,
enquanto prática institucionalizada e sistematizada. Desta
O governo federal brasileiro, através do Ministério da forma, neste momento, utilizaremos o termo “educador
Educação - MEC, em seus Parâmetros Curriculares Nacionais sexual” para fazermos referência a este profissional
(1997), estabelece a Orientação Sexual no Ensino especializado e não aos membros da família e demais relações
Fundamental enquanto tema transversal, isto é, um assunto a interpessoais dos jovens, que contribuem para a sua educação
ser trabalhado em todas as disciplinas escolares, por em um sentido mais amplo, conforme Vitiello.
quaisquer professores que se sintam mobilizados, sempre que Segundo Canosa Gonçalves, o desenvolvimento
houver espaço na grade curricular ou em horários psicossexual é um processo único e pessoal, que sofre
extraclasses. transformações ao longo do processo por diversos aspectos do
Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN, comportamento sexual humano sendo eles: constituição
“propõe-se que a Orientação Sexual oferecida pela escola aborde biológica do indivíduo (hereditariedade, níveis hormonais),
com as crianças e os jovens as repercussões das mensagens relações familiares, padrão econômico, características
transmitidas pela mídia, pela família e pelas demais instituições culturais, adoção da fé, entre outros.
da sociedade. Trata-se de preencher lacunas nas informações Portanto, o educador sexual, ao realizar sua prática, está
que a criança e o adolescente já possuem e, principalmente, criar inserido neste complexo contexto do comportamento humano
a possibilidade de formar opinião a respeito do que lhes é ou foi e deve intervir nesta realidade. Os jovens com os quais o
apresentado. A escola, ao propiciar informações atualizadas do educador sexual trabalhará trazem em suas histórias de vida
ponto de vista científico e ao explicitar e debater os diversos diversas realidades, variadas construções biopsicossociais em
valores associados à sexualidade e aos comportamentos sexuais um mesmo grupo de jovens orientandos. Cabe ao educador
existentes na sociedade, possibilita ao aluno desenvolver sexual ter capacidade para perceber tais diferenças e pautar
atitudes coerentes com os valores que ele próprio eleger como suas ações de maneira a privilegiar a diversidade, num
seus”. contexto de respeito às escolhas pessoais de cada jovem. Ao
educador sexual é requerida abertura intelectual, moral e
Percebemos o complexo dever atribuído à Orientação afetiva para tornar possível a realização da Orientação Sexual
Sexual no âmbito escolar na medida em que é sua função a com jovens tão diversos.
reflexão contínua sobre as informações constantes recebidas A Orientação Sexual deve ser uma prática ofertada a todos
pelos jovens em suas relações sociais. Daí decorre a os jovens, mas não uma prática arbitrária e unidimensional,
necessidade de que os profissionais que executam programas que reproduz os preconceitos repressivos de nossa sociedade.
de Orientação Sexual tenham conhecimentos científicos Assim, o educador sexual deve ser flexível em relação às
suficientes e adequados para abordar as demandas cotidianas diversas orientações afetivo-sexuais, às religiosidades, enfim,
da juventude em relação à sexualidade. É preciso que, pela diversas concepções construídas sobre sexualidade na história

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pessoal de cada jovem. Orientação Sexual “se destina à pessoa Conselho Federal de Medicina (CFM) que, por resolução,
humana, com a prerrogativa de igualdade entre os seres retirou a homossexualidade da lista de doença. Sendo
humanos, em primeiro lugar”. importante lembrar que, já em 1973, a American Psychiatric
O educador sexual deve apresentar adequação sexual, isto Association, afirmara que a homossexualidade não tinha
é, reconhecer-se enquanto pessoa sexuada, com suas ligação alguma com qualquer tipo de patologia e propusera a
preferências e limites, e não influenciar as decisões dos jovens sua retirada do Manual de Diagnóstico e Estatística de
a partir destas preferências. Diferenciar-se pessoalmente de Transtornos Mentais (DSM-IV). Já a Organização Mundial de
quem orienta é imprescindível para que o educador sexual Saúde (OMS), somente no dia 17 de maio de 1990, reuniu-se
possa propiciar condições para reflexão ao jovem para que em Assembleia Geral e retirou a homossexualidade de sua lista
este possa realizar suas próprias escolhas. Segundo Canosa de doenças mentais, declarando que ela não constituía um
Gonçalves um bom educador sexual é “aquele que convive distúrbio, uma doença ou perversão. Assim, o que antes tinha
com os jovens no dia-a-dia, que os conhece e é sido classificado, estabelecido e difundido como desvio e
reconhecido por eles, e que tem em sua prática anormalidade, a partir dessa assembleia, seria considerado
profissional os pressupostos da educação”. normal.
Desafiante para o trabalho do educador sexual com Se aceitarmos a sexualidade assim como a experiência
jovens é utilizar métodos e técnicas que prendam a estão condicionadas pela necessidade humana de se construir
atenção deste público, que provoquem reflexão e que nas interações sociais, culturais e históricas, aceitaremos
sejam capazes de fazer com que o jovem se comprometa também que não há uma única sexualidade. A ausência de
consigo próprio e com suas parcerias. liberdade impede o movimento de busca pela completude, na
É imprescindível que o educador sexual possua qual a sexualidade, como dimensão da humanidade, se
conhecimentos científicos adequados sobre desenvolvimento constitui.
humano, constituição dos órgãos sexuais, saúde reprodutiva, Existe um nexo entre a sexualidade, a vida e a curiosidade
métodos de prevenção às DST´s e/ou contraceptivos, pelo saber. Esse movimento infinito em busca de completude
relacionamentos interpessoais e relações de gênero. Não é e em busca de conhecimento é fator que constitui o ser
necessário que o profissional detenha estes conhecimentos em humano e seu desejo de liberdade.
nível de especialista em sexualidade humana, mas deve No entanto, ainda que pareça contraditório, não confiamos
continuar buscar atualizar tais saberes, afim de oferecer uma no desejo como princípio, condição e direito de liberdade. Não
prática de qualidade em relação à Orientação Sexual. cremos, em absoluto, que haja desejo anterior a um conjunto
Nesta realidade, o desafio proposto ao orientador sexual é de normas ou acordos sociais que o faça livre. Nós o pensamos
que, através de seu trabalho, possa propiciar condições para como criado singularmente, mas em redes de relações.
que os jovens reflitam a respeito de suas sexualidades e Sem dúvidas, a compreensão da sexualidade poderá
possam exercê-las de maneira saudável. Segundo Vitiello contribuir, de modo significativo, para novas possibilidades de
educar é dar ao educando condições e meios para que cresça construção de conhecimentos e caminhos de busca do saber.
interiormente. Não se trata, portanto, de aprisioná-la nos discursos sobre o
ato sexual, mas de aproveitá-la em seu potencial
Mas afinal como é diversidade sexual/de gênero no epistemológico. Essa análise é especialmente oportuna e
ambiente escolar? necessária à escola.

Gênero e sexualidade: diálogos e conflitos A discussão na escola


Na escola, as atitudes de hostilidade às identidades sexuais
Marcas epistemológicas dissidentes são capazes de gerar inúmeras situações de
O modo de compreender a diferença evoluiu no sentido de violências homofóbicas. Algumas, que não se encontram na
pensa-la junto com o seu duplo, seu contrário, seu avesso, ou esfera dos números e dados quantitativos, são vivenciadas no
seja, ela é sempre relacional e dificilmente bipolarizada. Esse silêncio e ocultadas na invisibilidade.
modo de compreensão aguça a sensibilidade humana e sua A discriminação afirma o “direito” dos que discriminam e a
condição de experimentar, de se (auto)inventar. subalternidade dos que são discriminados. Nesse sentido, ela
A relevância do debate crítico ancorado no domínio é observada nos espaços-tempos escolares. As identidades
discursivo da heterossexualidade que, pretensiosamente vinculadas às expectativas de gênero e/ou sexo biológico estão
hegemônica e unificada em um modo de ser, desconsidera no interior das hierarquizações e classificações sociais, tanto
outras formas que não atendem às suas práticas discursivas. quanto nos currículos e, mais amplamente, nas ações e
Pensamos que essa situação reflete-se diretamente nas relações do cotidiano escolar.
práticas curriculares, prejudicando o entendimento de A sexualidade, infelizmente, é algo temido e capaz de gerar
diversas relações sociais e culturais presentes na escola, e mais tantos discursos na sociedade, na ciência e na cultura. Sua
amplamente, na sociedade. Estamos entendendo como estreita relação com o conhecimento amedronta os que se
currículos as ações escolares, culturais e tecnológicas nutrem da arrogância, porque fragiliza suas verdades e
(arquitetura, livros didáticos, vestimentas, músicas, conteúdos certezas.
e dizeres científicos, meios midiáticos e outros) que,
significadas na cultura, ensinam e regulam o corpo, Foucault223 nos ajuda a observar que é preciso fortalecer,
produzindo subjetividades e arquitetando formas e aprofundar e prosseguir contra a dicotomia e lógica binária,
configurações de viver na sociedade. até que as oposições binárias deixem de ter sentido e se
consolidem convivências solidárias, em contextos sem
Os equívocos discriminações e violências. Como estratégia para fazer difuso
Recorda-se que, no Brasil, a homossexualidade deixou de o antigo jogo de poder que se instala na relação entre opressor
se configurar como doenças nos instrumentos médicos (mais e oprimido, a proposta foucaultiana é a “proliferação” de
precisamente como desvio mental e transtorno sexual), em saberes sobre os seres humanos e as relações e de poder que
fevereiro de 1985. Essa alteração foi fruto de uma intensa os oprimem, de tal modo que o modelo jurídico de poder como
campanha, liderada pelo antropólogo Luiz Mott, junto com o opressão e regulação deixe de ser hegemônico. Talvez, desse

223 FOUCAULT, M. História da sexualidade – A vontade de saber. Rio de Janeiro:

Graal, 1988.

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significado de “proliferação” de saberes, possamos retirar as compreensão social, culturalmente contextualizada, de


bases para “proliferar” inúmeras e ilimitadas formas de gênero.
compreender os seres humanos, sem as violências, já tantas
vezes vivenciadas, e com tantas exterminações em massa, Identidades sexuais: revisão de perspectivas de
como na Segunda Guerra, devido à não aceitação do “outro”, a desconstrução de estereótipos
quem se atribui dessemelhança e desigualdade, É oportuno indagar se é plausível que a manifestação
potencializando os efeitos destrutivos da xenofobia que, em aparente de identidades sexuais não normativas na escola
todas as suas manifestações, incluindo as homofóbicas, conduz colabore para desajustar dispositivo de rejeição ou, ao
e justifica a aversão, o domínio ou a eliminação dos contrário, para realçá-lo, uma vez que a construção da
“estranhos”, que ameaçam e incomodam o exercício arbitrário heterossexualidade e da homossexualidade tem configurado
do poder. por meio de oposição recíproca. No mesmo sentido, é
apropriado indagar sobre o alcance político de transformação
Diversidade e educação: apontamentos sobre para uma escolarização radicalmente não heterossexista e
sexualidade e gênero na escola excludente, com base na visibilidade dessas identidades.
Desde as décadas de 1960 e 1970, expressivas mudanças Dessa forma, enfatiza-se a relevância da efetivação de
socioculturais e históricas ocorreram, no que se refere às pesquisas sobre a presença de sexualidades não normativas no
perspectivas das relações de gênero e sexualidade. Essas espaço escolar como forma de ampliar vetores de análises dos
mudanças se acentuaram de modo significativo, a partir, não processos educacionais possivelmente geradores de
apenas da atuação de movimentos sociais, mas também da antagonismos e exclusão que se contrapõem a políticas que
emergência da discussão da AIDS nos anos 80. realçam o princípio da autonomia na educação inclusiva e,
Novas maneiras de entender e discutir as questões foram nela, o respeito ao significado plural da diversidade, sem
sendo consideradas, com desdobramentos na esfera social e imposição de uma única identidade central, padrão.
política (por meio de Organizações Não Contudo, o que se espera da escola, no interesse de ensinar
Governamentais/ONGs, de movimentos sociais e de políticas e aprender, mais amplamente, sobre sexualidade, encontra
públicas) e, na esfera acadêmica, com a efetivação de estudos barreiras em processos de atitudes homofóbicas que ainda
em vários campos de conhecimento, que têm direcionado seu permanecem contaminando o seu ambiente.
foco para a sexualidade e as relações de gênero, como
fenômenos a serem conhecidos de modo mais fundamentado, Ninguém pode calar: homossexualidades e homofobia na
expandindo sua discussão para outros aspectos, como os das escola
identidades e seus fundamentos históricos e culturais. Recorda-se que, desde os anos 90, a preocupação com a
Sexo e sexualidade são frequentemente tomados como prevenção da AIDS e da gravidez na adolescência inseriu-se
sinônimos; todavia, sexo admite uma compreensão referida ao nas escolas de modo mais evidente e sistematizado. A ideia era
aspecto natural, biológico, da distinção física entre o homem e a de que várias disciplinas agregassem o assunto de modo
a mulher. No senso comum, o sentido de sexo remete ao ato conectado com outros temas. No entanto, o tratamento
sexual. Já a sexualidade refere-se à esfera mais ampla, dos alicerçado em uma ótica biologizante do sexo prosseguiu,
sentimentos, das interações entre as pessoas. sendo o debate sobre a diversidade de orientação sexual ainda
Recorda-se e reafirma-se, portanto, que a sexualidade, incipiente ou, na melhor das hipóteses, relegado a segundo
como construção social, tem absorvido, historicamente, em plano.
seus significados, elementos das relações de gênero, Espera-se que a instituição escolar, como espaço de
frequentemente submetidas a prescrições de como homens e formação, local onde se formam cidadãos e se estudam e
mulheres devem vivenciá-las. Contudo, apesar da sexualidade consolidam direitos, reconheça o problema da discriminação
estar imbricada, implícita ou explicitamente às relações de gerada pela homofobia em suas salas de aula e perceba a
gênero, essas não são consideradas sinônimas224. A vivência da necessidade de enfrentá-lo, no interesse de que sejam
sexualidade não é determinada por normas padronizadas às superadas a intolerância e a violência, que se multiplicam em
quais homens e mulheres devem se adaptar. Esse é um dos sofrimento, silêncio, invisibilidade, medo e morte física e
princípios que motivam e sustentam significados mas amplos existencial.
da sexualidade e promovem a sua problematização, que
incorpora aportes como os que são revistos nas relações de Para saber mais...
gênero.
A seguir alguns termos relevantes a serem considerados
Problematização das relações de gênero: revisão de dados sobre a diversidade de gênero:
históricos e conceituais
O entendimento das relações de gênero implica a noção de ASSIMETRIAS DE GÊNERO: desigualdades de
que, no decorrer da vida, por intermédio das mais díspares oportunidades, condições e direitos entre homens e mulheres,
instituições e práticas sociais, os sujeitos se constituem como gerando hierarquias. Por exemplo: no mercado de trabalho.
homens e mulheres, em uma ação que não é unidimensional,
coerente ou congruente e que também sempre estará BINARISMO: forma de pensamento que separa e opõe
inacabada ou incompleta. masculino e feminino, apoiando-se numa concepção
Sendo assim, partindo desse pressuposto de incompletude, naturalizante dos corpos biológicos.
encontra-se fundamento para realçar a noção de gênero na
educação, já que essa disposição teórica expande socialmente BISSEXUAL: pessoa que tem desejos, práticas sexuais e
a própria ideia de educação, podendo-se entender que educar relacionamento afetivo-sexual com pessoas de ambos os
envolve um conjunto de forçasse de processos, em cuja sexos;
dinâmica os sujeitos aprendem a se aceitar como homens e
mulheres, na esfera das sociedades e dos grupos que estão CORPO: inclui além das potencialidades biológicas, todas
inseridos. Essa é mais uma premissa que contribui para a as dimensões psicológicas, sociais e culturais do aprendizado
desconstrução de estereótipos que limitam e reduzem a pelo qual as pessoas desenvolvem a percepção da própria

224 LOURO, G.L. Gênero, sexualidade e educação: uma perspectiva pós-

estruturalista. 2 ed., Petrópolis: Vozes, 1998.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 254


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vivência. Não existe um corpo humano universal – mas sim tradicionais da nossa cultura. Um estereótipo comum para
corpos marcados por experiências específicas de classe, de homens homossexuais é de que são efeminados porque
etnia, de raça, de gênero, de idade. Visto que os corpos são utilizam ou exageram comportamentos tidos como femininos,
significados e alterados pelas diferentes culturas, pelos por exemplo.
processos morais, pelos hábitos, pelas distintas opções e
possibilidades de desejo, além das diversas formas de GÊNERO: conceito formulado a partir das discussões
intervenção e produção tecnológica. Por isso, o corpo é uma trazidas do movimento feminista para expressar
produção histórica. contraposição ao sexo biológico e aos termos “sexo” e
Foucault ao analisar instituições como escolas, prisões, “diferença sexual”, distinguindo a dimensão biológica da
hospitais psiquiátricos, fábricas, fala das maneiras como as dimensão sexual e, acentuando através da linguagem, “o
diferentes disciplinas controlam, domesticam, normalizam os caráter fundamentalmente social das distinções baseadas no
corpos. Sua preocupação é com as práticas sociais, sendo que sexo”. Não com a intenção de negar totalmente a biologia dos
é no corpo que se dá o controle da sociedade sobre os corpos, mas para enfatizar a construção social e histórica
indivíduos. Os corpos apresentam as marcas do processo de produzida sobre as características biológicas. Dessa forma,
passar ou não pela escola como o auto disciplinamento, o gênero seria a construção social do sexo anatômico
investimento continuado e autônomo do sujeito sobre si demarcando que homens e mulheres são produtos da
mesmo. realidade social e não decorrência da anatomia dos seus
Louro parte do pressuposto antropológico de que "os corpos.
corpos são o que são na cultura”, isto é, que os corpos
adquirem seu significado apenas através dos discursos na HETERONORMATIVIDADE: termo utilizado para
cultura e na história. Essa vertente se afasta das discussões expressar que existe uma norma social que está relacionada ao
teóricas nas quais o corpo é tido como “natural”, no qual o comportamento heterossexual como padrão. Dessa forma, a
biológico determina o gênero. ideia de que apenas o padrão de conduta heterossexual é
válido socialmente, colocando em desvantagem os sujeitos que
DESIGUALDADE: é um fenômeno social que produz uma possuem uma orientação sexual diferente da heterossexual.
hierarquização entre os indivíduos e/ou grupos que não
permite o tratamento igualitário (em termos de mercado de HETEROSSEXISMO: Se refere à ideia de que a
trabalho, de acesso a bens e recursos, para todos e todas. heterossexualidade é a orientação sexual “normal” e “natural”.
Essa desigualdade existe na divisão dos atributos entre Considerar a heterossexualidade como “natural”, aponta para
homens e mulheres. Esse desnível se evidencia em vários algo inato, instintivo e que não necessita de ser ensinado ou
contextos: familiar, social, escolar, religioso, econômico, aprendido. Ao considerar a heterossexualidade “normal”,
político,... Dessa forma, fica claro que existem fronteiras que contrapõe-se a ideia de que as outras orientações sexuais
separam atitudes e comportamentos tidos como apropriados, (homossexualidade e bissexualidade, por exemplo) são um
válidas e legítimas relacionadas ao sexo masculino e ao desvio à norma e reveladoras de perturbação, não sendo
feminino. encaradas como um dos aspectos possíveis na diversidade das
expressões da sexualidade humana. O heterossexismo
DIFERENÇA: indivíduos e/ou grupos possuem várias funciona através de um sistema de negação e discriminação –
formas de distinção e de semelhanças (cor, sexo, idade, a sociedade tende a negar a existência da homossexualidade,
nacionalidade). A desigualdade pauta-se por essas diferenças tornando-a invisível (em quantos manuais escolares existem
e semelhanças que constituem os indivíduos e/ou grupos. referências neutras ou positivas à homossexualidade?) e tende
a reprimir e discriminar todos aqueles que se tornam visíveis.
DIREITOS SEXUAIS: direitos que asseguram aos indivíduos
a liberdade e a autonomia nas escolhas sexuais, como a de HETEROSSEXUAL: quem tem atração sexual por pessoas
exercer a orientação sexual sem sofrer discriminações ou do sexo oposto ao seu, e relacionamento afetivo-sexual com
violência. Os direitos sexuais englobam múltiplas expressões elas. Heterossexuais não precisam, necessariamente, terem
legítimas da sexualidade, como por exemplo, o direito à saúde vivido experiências sexuais com pessoas do mesmo sexo ou do
– direito de cada pessoa de ver reconhecidos e respeitados o sexo oposto para se identificarem como tal.
seu corpo (autonomia), o seu desejo e o seu direito de amar
(reconhecimento da diversidade sexual). HETEROSSEXUALIDADE COMPULSÓRIA: sistema que
acomoda e hierarquiza as relações de gênero, no qual o homem
DISCRIMINAÇÃO: ação de discriminar, tratar diferente, é o modelo para todas as relações, inclusive aquelas em que ele
excluir, marginalizar. não está presente.

ESTEREÓTIPO: é uma generalização de julgamentos HOMOAFETIVO: é um termo utilizado para descrever


subjetivos feitos a um grupo ou a um indivíduo. Pode ser relações entre pessoas do mesmo sexo e tem relação com os
atribuindo valor negativo desqualificando-os e impondo-lhes aspectos emocionais e afetivos envolvidos na relação amorosa
um lugar inferior, ou simplesmente, reduzindo determinado e sexual entre essas pessoas.
grupo ou indivíduo a algumas características e, assim,
definindo lugares específicos a serem ocupados. HOMOFOBIA: termo usado para descrever vários
fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a
FEMINILIDADE: se refere às características e discriminação e à violência contra os homossexuais (ter
comportamentos considerados por uma determinada cultura desprezo, ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação
associados ou apropriados às mulheres. sexual diferente do padrão heterossexual). O termo, no
Caracterizar os comportamentos como “masculinos” ou entanto, não se refere ao conceito tradicional de fobia,
“femininos” é basear-se nas noções essencialistas do facilmente associável à ideia de doença e tratados com terapias
binarismo mulher/homem, isto quer dizer que, atributos que e antidepressivos. Atualmente, grupos lésbicos, bissexuais e
muitas vezes são considerados femininos podem estar transgêneros, com o intuito de conferir maior visibilidade
baseados no biológico e nas diferenças físicas. Dessa forma, a política à suas lutas e criticar normas e valores postos pela
feminilidade nos homens, bem como a masculinidade nas dominação masculina, propõem, também, o uso dos termos
mulheres, é considerada negativa por agir contra os papéis lesbofobia, bifobia e transfobia.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 255


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Daniel Borrillo faz uma leitura epistemológica e política pessoas que se autodenominam intersexuais podem se
desse conceito, não para compreender a origem e o identificar como homossexuais, heterossexuais ou bissexuais.
funcionamento da homossexualidade, mas para “analisar a
hostilidade provocada por essa forma específica de orientação LESBOFOBIA: termo usado para descrever vários
sexual”. Segundo este autor quando a homossexualidade fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a
requer publicamente sua expressão é que se torna discriminação e à violência contra as lésbicas (ter desprezo,
insuportável, pois rompe com a hierarquia da ordem sexual. ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação sexual
Por isso, a tarefa pedagógica deve ser questionar a diferente do padrão heterossexual). Ver homofobia.
heterossexualidade compulsória e mostrar que a hierarquia de
sexualidades é tão insustentável quanto a de sexos, bem como MACHISMO: é a crença de que os homens são superiores às
incluir a ideia de diversidade sexual em livros e apostilas mulheres. É uma construção cultural que definiu que as
escolares. características atribuídas aos homens, tem um valor maior. Se
pensarmos na educação de meninos e meninas, veremos que
HOMOSSEXUAL: é a pessoa que tem atração sexual e há um tratamento diferenciado que reproduz as manifestações
afetiva por pessoas do mesmo gênero e relacionamento com de machismo nos meninos, e às vezes, nas próprias meninas.
elas. Ao incentivar (infidelidade, violência doméstica, esporte,
diferença de direitos).
HOMOSSEXUALIDADE: é a atração sexual e afetiva por
pessoas do mesmo sexo. Cabe uma ressalva, não é correto o MASCULINIDADE: Faz oposição ao termo feminilidade e
uso do termo homossexualismo, porque reveste de conotação diz respeito a imagem estereotipada de tudo aquilo que seria
negativa, atribuindo-lhe significado de doença e aberração. próprio dos indivíduos homens, ou seja, às características e
Por isso, devemos preferir a utilização dos termos comportamentos considerados por uma determinada cultura
homossexualidade, lesbianidade, bissexualidade, como associados ou apropriados aos homens. Ver
travestilidade, transgeneridade e transexualidade. feminilidade, pois são conceitos relacionais que não passíveis
de serem entendidos separadamente.
IDENTIDADE DE GÊNERO: Expressão utilizada
primeiramente no campo médico-psiquiátrico para designar MASCULINIDADE HEGEMÔNICA: É um modelo construído
os “transtornos de identidade de gênero”, isto é, o desconforto socialmente que controla, domina e substima as diversas
persistente criado pela divergência entre o sexo atribuído ao formas de expressão de outras masculinidades, tornando-se
corpo e a identificação subjetiva com o sexo oposto. um padrão de masculinidade.
Entretanto, atualmente, a identidade de gênero corresponde à
experiência de cada um, que pode ou não corresponder ao sexo MOVIMENTO FEMINISTA: o movimento feminista surgiu
do nascimento. Podemos dizer que a identidade de gênero é a para questionar a organização social, política, econômica,
maneira como alguém se sente e se apresenta para si ou para sexual e cultural de uma sociedade profundamente
os outros na condição de homem ou de mulher, ou de ambos, hierárquica, autoritária, masculina, branca e excludente.
sem que isso tenha necessariamente uma relação direta com o Sendo assim, o feminismo pode ser entendido como uma luta
sexo biológico. É composta e definida por relações sociais e pela transformação da condição das mulheres, que é pública e
moldadas pelas redes de poder de uma sociedade. Os sujeitos também privada. E que pode ser entendida, a partir de três
têm identidades plurais, múltiplas, identidades que se eixos:
transformam, que não são fixas ou permanentes, que podem 1) como movimento social e político;
até ser contraditórias. Os sujeitos se identificam, social e 2) como política social;
historicamente, como masculinos e femininos e assim 3) e como ciência, ampliando os debates teóricos e
constroem suas identidades de gênero. conceituais (derivando a categoria gênero como analítica de
Cabe enfatizar que a identidade de gênero trata-se da sexo).
forma que nos vemos e queremos ser vistos, reconhecidos e Essas vias se entrecruzam, por diversas vezes, para
respeitados, como homens ou mulheres, e não pode ser desestabilizar representações, questionar a divisão sexual da
confundida com a orientação sexual (atração sexual e afetiva sociedade, opor-se à hierarquização dos gêneros e, por isso, as
pelo outro sexo, pelo mesmo sexo ou por ambos). teorias nem sempre podem dissociar-se de suas ações
políticas, e vice-versa.
IDENTIDADE SEXUAL: Identidades sexuais se constituem
através das formas como vivemos nossa sexualidade, e refere- PODER/RELAÇÕES DE PODER: nossas definições, crenças,
se a duas questões diferenciadas: convenções, identidades e comportamentos sexuais têm sido
1) é o modo como a pessoa se percebe em termos de modeladas no interior de relações definidas de poder. Para
orientação sexual; Michel Foucault, o poder está em toda parte; não porque
2) é o modo como ela torna pública (ou não) essa englobe tudo e sim porque provém de todos os lugares. O
percepção de si em determinados ambientes ou situações. poder se exerce de diversas formas: poder de produzir os
Quer dizer, corresponde ao posicionamento (nem sempre corpos que controla, produz sujeitos, fabrica corpos dóceis,
permanente) da pessoa como homossexual, heterossexual, ou induz comportamentos. Foucault propõe que observemos o
bissexual, e aos contextos em que essa orientação pode ser poder como uma rede que, capilarmente, se distribui por toda
assumida pela pessoa e/ou reconhecida em seu entorno. a sociedade. Nas palavras dele: “lá onde há poder, há
resistência e, no entanto (ou melhor, por si mesmo) esta nunca
INTERSEXUAL OU INTERSEX: a palavra intersexual é se encontra em posição de exterioridade em relação ao poder”.
preferível ao termo hermafrodita e é um termo usado para se
referir a uma variedade de condições (genéticas e/ou PRECONCEITO: é um pré-conceito uma opinião que se
somáticas) com que uma pessoa nasce, apresentando uma emite antecipadamente alimentada pelo estereótipo, é um
anatomia reprodutiva e sexual que não se ajusta às definições juízo preconcebido, manifestado geralmente na forma de uma
de masculino e feminino, tendo parcial ou completamente atitude discriminatória perante pessoas, lugares ou tradições
desenvolvidos ambos os órgãos sexuais, ou um predominando considerados diferentes ou "estranhos".
sobre o outro. A intersexualidade, enquanto transgeneridade é
uma condição e não uma orientação sexual. Portanto, as

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 256


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RACISMO: conjunto de princípios que se baseia na Atualmente temos três tipos de orientação sexual:
superioridade de uma raça sobre a outra. A atitude racista é heterossexual, homossexual e bissexual. Contrapõem a OPÇÃO
aquela que atribui qualidades aos indivíduos conforme seu SEXUAL entendida como escolha deliberada e realizada de
suposto pertencimento biológico a uma determinada raça. Não forma autônoma.
é apenas uma reação ao outro, mas é uma forma de
subordinação do outro. VIOLÊNCIA DE GÊNERO: É aquela oriunda do preconceito
e da desigualdade entre homens e mulheres e apoia-se no
SEXISMO: atitude preconceituosa que difere homens de estigma da virilidade masculina (legítima defesa da honra) e
mulheres definindo características específicas para cada um, da submissão feminina.
subordinando o feminino ao masculino. Quando as vítimas são crianças e adolescentes o Art. 245
do ECA, obriga os profissionais da saúde e educadores e
SEXO BIOLÓGICO: é o conjunto de características educadoras a comunicarem o fato aos órgãos competentes. Na
fisiológicas, informações cromossômicas, órgãos genitais, escola a discriminação é manifestada por meio de apelidos,
potencialidade individual para o exercício de qualquer função exclusões, perseguição, agressão física.
biológica que diferencia machos e fêmeas. Entretanto, o sexo
não é simplesmente algo que lhe foi dado pela biologia. Questões
Foucault analisa o sexo biológico como um efeito discursivo. O
poder cria o corpo ao anunciá-lo sexuado, ao fazer de sua 01. (SEDUC-SP- Conhecimentos Pedagógicos- FGV) Leia
constituição biológica um fator natural que carrega o fragmento a seguir. “Além das novas demandas e dos entraves
características específicas e torna indiscutível a divisão dos do cenário escolar e suas próprias condições de vida e de
humanos em dois blocos distintos (homens e mulheres). Isto trabalho, o professor ainda se depara com outras dificuldades
não significa que o corpo não exista de forma sexuada. O que o que complicam a realização das intenções dos PCNs de ênfase
poder cria é outra coisa: é a importância dada a esse fator em parâmetros curriculares não tradicionais, como sexualidade
corporal (biológico). O sexo produz, interdita, possibilita e e gênero”. (Abramovay et al., 2004)
regula o corpo limitando certos tipos de escolhas para a Assinale a alternativa que apresenta a proposta que tem
produção de um corpo sexuado que seja culturalmente como objetivo mitigar o apresentado no fragmento.
aceitável e inteligível. Assim, o sexo é uma norma através da (A) Suspender a aplicação do tema transversal orientação
qual alguém se torna viável. sexual.
(B) Deixar o tema da sexualidade e da afetividade como
SEXUALIDADE: É aprendida, ou melhor, é construída ao responsabilidade exclusiva dos professores da área de
longo de toda a vida, de muitos e diferentes modos, por todos Biologia, já que configuram o “saber competente”.
os sujeitos por isso, é entendida como um conceito dinâmico (C) Capacitar os professores para lidar com o tema
que se modifica conforme as posições do sujeito e suas sexualidade.
disputas políticas. A sexualidade tem a ver tanto com o corpo, (D) Delegar a responsabilidade pela orientação sexual aos
como também com os rituais, o desejo, a fantasia, as palavras, movimentos sociais.
as sensações, emoções, imagens e experiências. Ela não tem (E) Delegar a responsabilidade pela orientação sexual às
ligação somente com a questão do sexo e dos atos sexuais, mas famílias dos alunos.
também com os prazeres e sua relação com o corpo e a cultura
compreendendo o erotismo, o desejo e o afeto; até questões 02. (SEDUC-RJ- Conhecimentos Básicos- Todos os
relativas a reprodução, saúde sexual, utilização de novas cargos- CEPERJ) Uma das questões formativas fundamentais
tecnologias. da vida humana, incorporadas pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais, é a orientação sexual. Segundo os PCNs, as questões
TRANSEXUAL: pessoa que possui uma identidade de relativas à orientação sexual devem constituir:
gênero diferente do sexo designado no nascimento. Homens e (A) uma nova disciplina com horário específico de aulas na
mulheres transexuais podem manifestar o desejo de se escola
submeterem a intervenções médico-cirúrgicas para (B) uma nova área de conhecimento a ser desenvolvida em
realizarem a adequação dos seus atributos físicos de nascença interface com as agências de educação permanente da
(inclusive genitais) à sua identidade de gênero constituída. sociedade
(C) uma área de conhecimento específica do ensino médio
TRANSFOBIA: termo usado para descrever vários e tratada como disciplina
fenômenos sociais relacionados ao preconceito, a (D) um tema específico a ser tratado nas aulas de Biologia
discriminação e à violência contra transexuais (ter desprezo, e Sociologia
ódio, aversão ou medo de pessoas com orientação sexual (E) um tema transversal que permeia as diferentes
diferente do padrão heterossexual). Ver homofobia. disciplinas e áreas de conhecimento

TRANSGÊNEROS OU TRANS: são termos utilizados para 03. (IF-PE- Assistente de alunos- IF-PE/2016) Leia a
reunir, numa só categoria, travestis e transexuais como seguinte sentença: “Temas como gênero, sexualidade e
sujeitos que realizam um trânsito entre um gênero e outro. diversidade sexual estão pautados dentro das políticas sociais
e devem ser discutidos em diferentes instâncias da sociedade”.
TRAVESTI: pessoa que nasce do sexo masculino ou A expressão “gênero”, na sentença transcrita, refere-se
feminino, mas que tem sua identidade de gênero oposta a seu (A) exclusivamente às características físicas e biológicas
sexo biológico, assumindo papéis de gênero diferentes entre o corpo do homem e da mulher, do menino e da menina.
daquele imposto pela sociedade. Muitas travestis modificam (B) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram
seus corpos através de hormonioterapias, aplicações de construídas a partir do século XXI.
silicone e/ou cirurgias plásticas, porém vale ressaltar que isso (C) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram
não é regra para todas (Definição adotada pelo Conferência construídas exclusivamente depois dos movimentos
Nacional LGBT em 2008) feministas.
(D) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram
ORIENTAÇÃO SEXUAL: refere-se ao sexo das pessoas que construídas no decorrer da história da humanidade por meio
elegemos para nos relacionar afetiva e sexualmente.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 257


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dos costumes, ideias, atitudes, crenças e regras criadas pela A capacidade de modificar o comportamento um do outro
sociedade. do ponto de vista da política é diferente em relação à
(E) exclusivamente às características físicas e biológicas intervenção a natureza.
entre o corpo do homem e da mulher, depois que eles atingem A educação é uma dimensão da práxis, entendida em
a maturidade sexual. diferentes componentes: econômico, a questão do trabalho, a
produção da vida material, o político, o que rege as práticas
04. (IF-PE- Assistente de Alunos- IF-PE/2016) Leia a institucionais do poder, e ético o que determinam os valores
seguinte sentença: “Temas como gênero, sexualidade e de tais práticas.
diversidade sexual estão pautados dentro das políticas sociais
e devem ser discutidos em diferentes instâncias da sociedade”. Para Rios a Filosofia da educação atua como instrumento
A expressão “gênero”, na sentença transcrita, refere-se de ajuda as práticas dos sujeitos da educação, na busca da
(A) exclusivamente às características físicas e biológicas superação das contradições, ligando as demais ciências na
entre o corpo do homem e da mulher, do menino e da menina. mesma prática na defesa do mecanismo da educação, no
(B) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram caminho do fazer educativo. Educam-se quando transformam.
construídas a partir do século XXI. Fazer educação no Brasil é antes de tudo compreender a
(C) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram realidade brasileira, sua organização no capitalismo
construídas exclusivamente depois dos movimentos entendendo os mecanismos contraditórios da própria
feministas. realidade, no processo pedagógico.
(D) às diferenças entre o masculino e o feminino que foram Educação é um fenômeno da história política social dentro
construídas no decorrer da história da humanidade por meio do contexto social da cultura produzida, sendo a transmissão
dos costumes, ideias, atitudes, crenças e regras criadas pela da mesma pelo caminho da transformação do homem através
sociedade. do trabalho.
(E) exclusivamente às características físicas e biológicas O mundo apresenta duas realidades, a que se refere ao
entre o corpo do homem e da mulher, depois que eles atingem mundo da natureza, que independe do homem, mais
a maturidade sexual. especificamente as leis naturais, a outra, a produção da cultura
no mundo.
Respostas A cultura é uma construção do homem das necessidades da
natureza humana, formulada pela linguagem. As diferenças do
01.C. / 02. E. / 03. D. / 04. D. mundo natural com mundo artificial ou do mundo da
formulação, sendo o que o último realiza-se pelo ato da
construção e da reconstrução.
Portanto, a cultura é algo inventado, quase sempre
Ética Profissional. ideológica quando justificam fins discriminatórios, a cultura
não é apenas o acúmulo dos processos de sínteses, o que se
denomina de erudição, mas o resultado do trabalho humano,
225A formação do professor é muito precária, sem da ação do homem na transformação da natureza, nesse
dimensão ética no ato de desenvolver a prática pedagógica. sentido que nasce o aspecto da ação política para
Sendo que a mesma cumpre um papel indispensável na transformação do mundo.
educação. A cultura é transmitida por diversos meios entre eles a
O professor precisa levar em consideração dois escola, o que foi acumulado pela sociedade, objetivo do saber
aspectos fundamentais na pedagogia como método do ato científico, contra o saber ideológico e para formar pessoas
de ensinar: a questão técnica e o ato político, são como agentes da construção da sociedade, ação que
diferentes em si, mas articulados na prática pedagógica. necessariamente terá que ser política.
Um terceiro aspecto que não pode ser desconsiderado A escola tradicional tem como objetivo desenvolver uma
refere-se à Ética que é o elemento mediador por meio da educação que sustentam as relações sociais da produção, ou
Filosofia desenvolve a prática problematizadora. seja, na defesa ideológica do capitalismo, dividido em classes
Terezinha destaca a necessidade de compreender de antagônicas: burguesia e o proletariado, sustentado pela
forma científica o mundo político, com a finalidade para principal contradição capital e trabalho.
intervir nas relações na sociedade com a perspectiva de mudar A escola enquanto prática de ensino coloca valores e
o próprio mundo político, visando o estabelecimento das crenças ideologias nas formulações de domínios, valores das
relações justas. representações burguesas que sustentam o capitalismo
Sua prática pedagógica destaca-se em uma educação enquanto forma de dominação.
essencialmente entendida na ação da Filosofia Política e da
Ética, na busca da compreensão entre o conhecimento do A escola brasileira é permeada pela ideologia burguesa
senso comum e do saber científico, sendo que a Filosofia é o liberal, a perspectiva não é a construção da Ética, pelo menos
conhecimento do saber complexo total dos objetos em no caminho da transformação justa, não existe uma crítica ao
estudos. modelo dominante do desenvolvimento da produção
A realização de um saber construído socialmente, na capitalista.
perspectiva dialética do ser e dever ser, ou seja, do ideal de A escola não tem perspectiva de superação das
sociedade que deve ser construída. Portanto, a educação é uma contradições, sem uma análise crítica das ideologias, foi
ação de transformação, uma educação que não transforma não formulada pela escola nova dos anos 30 a 60, uma visão crítica
é educadora. ingênua da educação, como se a escola fosse o mecanismo de
As relações estabelecidas do ponto de vista político são mudança social, se fizesse uma revolução no mundo das ideias,
relações de poder, que estabelecem sujeitos distintos uns a sociedade política seria transformada.
impondo sobre a vontade dos outros por meio do poder O pressuposto dessa ideologia iluminista como se a escola
político. fosse uma instituição fora do mundo da produção, a outra
tendência ingênua pessimista, como se escola apenas

225 VASCONCELOS, E. D. de; Ética e Competência. Resenha do livro de RIOS,

Terezinha. Ética e competência. São Paulo: Cortez, 2003.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 258


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produzisse a reprodução das ideologias capitalistas, portanto O que é Ética: alguns conceitos importantes
a escola não seria de nenhum modo um mecanismo de Ética pode ser entendida como uma reflexão sobre
transformação. comportamentos humanos, de uma maneira diferente do
Um compromisso autêntico pedagogicamente uma escola que fazem os psicólogos, os sociólogos, os biólogos ou
que não defende os compromissos antagônicos, a educação outros estudiosos do comportamento humano227
voltada para desenvolvimento da consciência crítica com
objetivo da mudança política da sociedade, a superação dos A reflexão sobre nossas ações e a própria realização de
modelos de dominação. O educador deve atuar como determinadas ações e não de outras, pode ser denominada
intelectual orgânico no processo da produção da consciência ÉTICA.
crítica.
Uma sociedade dividida em classes em que parte Fazer ética é refletir sobre o comportamento humano,
significativa da sociedade tem o acesso ao saber negado. A buscando identificar o que é bom ou mau, correto ou incorreto,
escola qualifica a pessoa de forma errada, com aquele que é construtivo ou destrutivo, na perspectiva da vida e da
proprietário de um saber que não pode ser compartilhado, qualidade de vida individual e coletiva. De acordo com Valls, os
reforçando as atitudes do individualismo liberal. problemas teóricos da ética podem ser separados
didaticamente em dois campos:
Rios acha que é possível mudar a sociedade mudando a - Os problemas gerais e fundamentais (consciência,
escola numa perspectiva de construção do espaço construindo liberdade, valor, bem, lei, etc.).
uma escola de consenso e persuasão, como explicitação dos - Os problemas específicos de aplicação concreta (ética
elementos da competência e da prática docente. profissional, ética política, ética sexual, bioética, etc.).
O discurso pedagógico dominante oculto nas contradições Na vida real, esses problemas tratados de diferentes
na sua forma axiológica, mas por meio da própria axiologia pontos de vista pelas diferentes áreas do conhecimento
poderá desocultá-las construindo o significado político da humano, não aparecem separadamente. Além disso, ética não
transformação articulado com a questão técnica do método é um conjunto de regulamentos prontos e definitivos que
usado na construção do saber político. podem ser consultados quando temos que decidir sobre
Desse modo numa ação da desconstrução e reconstrução, alguma conduta. Também não é algo que pertence à nossa
o professor é sempre o mediador entre o aprendiz e a natureza: não há uma “natureza humana” que defina o que é
realidade, atuando também para a transformação de todos, bom ou mau, antes da reflexão. Tudo isso depende do conjunto
com objetivo de estabelecer o diálogo entre o aluno e a de regras pertinentes a um grupo social (moral). Vale lembrar
realidade. que as pessoas mudam, assim como os conceitos, os valores e
Na educação é necessária a existência entre competência as culturas se modificam com o tempo.
pedagógica e utopia no caminho da superação do passado e na O que é bom ou mau passa por critérios socioculturais e
construção da nova sociedade política produtiva. A históricos, antes que se tenha um posicionamento individual.
competência é construída no dia a dia ao novo ideal a ser Para Gianotti, existem muitas formas de moralidade, sendo
atingido. A superação dos antagonismos prejudiciais ao que cada grupo social ou profissional tem sua identidade,
humano. delineada por normas consentidas. A infração destas normas
Por fim Terezinha Rios ressalta a necessidade de o gera censura ou mesmo a exclusão daquele grupo
educador compreender a complexidade da sociedade determinado.
capitalista naturalmente para a transformação da mesma em Quando a reflexão e a decisão relacionam-se a condutas
defesa dos direitos fundamentais da humanidade. profissionais, a questão é ainda mais importante, pois implica
Numa profunda articulação entre técnica, a ética e a em se assumir normas de conduta que devem ser postas em
política sem perder o sonho de um mundo melhor para todos. prática no exercício da atividade profissional. Um bom
O que não poderá ser realizado no atual modo capitalista de exercício profissional significa não apenas competência
produção das riquezas. teórico-técnica, mas a capacidade de respeitar e ajudar a
construir a dignidade, a cidadania e o bem-estar daqueles com
Ética Profissional: (Re) Pensando Conceitos e os quais nos relacionamos e que dependem de nossa ação.
Práticas226 A Ética como ramo da Filosofia surgiu com os grandes
Vivemos um momento, num país e num mundo em que as filósofos da antiga Grécia, a partir das reflexões de Sócrates,
pessoas não são incentivadas a refletir sobre seu Platão e Aristóteles, prosseguindo e se modificando com os
comportamento ou sobre o bem coletivo. Época do Romanos e no decorrer de toda a história do conhecimento
individualismo exacerbado, do consumismo desenfreado, da humano.
acumulação de bens e de informações, da busca do sucesso a No século XX, após a Segunda Guerra Mundial, o mundo se
todo custo e do descartável (quem não “serve” = produz bens transformou pelo sofrimento e reflexão gerados por esse
de capital = deve ser descartado). É também a época da conflito armado que afetou valores, conceitos e a vida da
impaciência e da intolerância, onde a legitimação da hipocrisia população mundial.
e da corrupção tem consequências piores do que o próprio ato A Declaração Universal dos Direitos Humanos baseou-se
de corromper e falsificar. em princípios antigos que foram retomados e fortalecidos pela
No entanto, se quisermos sobreviver como seres humanos, Revolução Francesa: Liberdade, Igualdade e Fraternidade
se quisermos continuar habitando este maravilhoso planeta e constituem a fonte na qual nos inspiramos para buscar uma
se quisermos manter a liberdade e a democracia, teremos que vida justa, digna e cidadã, em que as discriminações e os
pensar e fazer ÉTICA, educando para a cidadania e para a preconceitos não tenham mais lugar.
preservação de valores como igualdade, tolerância e
dignidade. A noção ética moderna: a ética e a moral
Ética não se constitui em um catálogo de valores
particulares e alheios à prática dos grupos sociais, das
sociedades e das áreas do saber. Para Chauí, a ética moderna

226 NEME, C. M. B. Ética profissional: repensando conceitos e práticas / 227 VALLS, A.L.M. O que é ética. Coleção Primeiros Passos. São Paulo:

Carmem Maria Bueno Neme, Márcia Cristina Argenti Perez In: Práticas em Brasiliense, 2006.
educação especial e inclusiva na área da deficiência mental / Vera Lúcia Messias
Fialho Capellini (org.). – Bauru: MEC/FC/SEE, 2008.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 259


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APOSTILAS OPÇÃO

trata de um determinado coletivo, como ele se desenvolveu e Uma boa educação escolar é fundamental para a
como age. Já, a moral – um dos objetos da ética – é um conjunto erradicação da miséria e da ignorância, bem como para a
de regras gerais de uma sociedade que, ao ser introjetada pelas construção de um país melhor. Para isto, é preciso enfrentar os
pessoas, torna-se uma questão de consciência individual. dilemas e as contradições da educação e da escolarização como
Ser moral significa se adequar e viver de acordo com as direito e oportunidade para todos.
normas de uma determinada sociedade. Ser imoral significa
conhecer as normas e não segui-las. O indivíduo considerado As pessoas mudam; a sociedade, os modelos de família,
amoral é o que não segue as normas sociais por desconhecê- as relações entre as pessoas e o estilo de vida mudaram
las ou não compreender os seus valores. muito nas últimas décadas. A escola e o educador precisam
A ética, entretanto, está acima da moral: ela analisa e refletir sobre estas mudanças e repensar valores e ações,
critica a moral, embora com ela se relacione. A moral diz construindo uma nova práxis.
respeito aos conceitos abstratos de certo e errado para
cada consciência, enquanto a ética procura resolver os A ética profissional: a ética do professor
dilemas dos grupos por meio da reflexão e do debate A base de uma sociedade democrática reside na educação
social acerca da ação concreta desta ou daquela pública de qualidade, que ofereça a todos as mesmas
comunidade. A ética, portanto, relaciona-se com o Direito, oportunidades educativas. Esta garantia é fundamental para o
com a Justiça, com a Política, com as Leis e com as práticas bem-estar e o desenvolvimento em todos os sentidos, de todas
científicas e profissionais. as crianças e jovens de uma sociedade.
Todos devem estar seriamente comprometidos com uma
Ser ético significa viver coerentemente com uma linha educação de qualidade que promova o desenvolvimento das
ética, aproximando o que penso daquilo que faço, buscando o capacidades das pessoas, para que possam viver uma vida
benefício e a qualidade de vida de todos, da humanidade. A plena, contribuindo para o bem-estar de toda a sociedade.
finalidade da ética é orientar a prática. O professor e a equipe escolar são elementos-chave para
Mas como encontrar os limites, as sínteses de muitos que os princípios de igualdade de oportunidades, tolerância,
particulares, de muitas determinações; o que é o bem para a justiça, liberdade e confiança na comunidade passem da
coletividade? reflexão à ação, eliminando preconceitos e discriminações que
Ao discutir a existência ética, Chauí trata da diferenciação impedem a vida e a qualidade de vida de tantas crianças e
entre senso e consciência moral. Para a autora, nossos jovens em nossa sociedade. O exercício de critérios
sentimentos e ações, assim como nossas dúvidas acerca da responsáveis está no centro da atividade profissional e das
correção de uma determinada decisão, exprimem nosso senso ações dos professores e equipe escolar.
moral. O julgamento (razão) sobre a decisão a tomar se dá por A Ética profissional começa com a reflexão e deve ser
meio de nossa consciência moral, posta em ação pelo senso iniciada antes da prática profissional. Ao escolher uma
moral. O senso e a consciência moral, desta forma, relacionam- profissão, todo indivíduo passa a ter responsabilidades e
se aos valores (justiça, integridade, generosidade; etc.), aos deveres profissionais obrigatórios. Ser ético é
sentimentos gerados pelos valores (vergonha, culpa, basicamente aprender a agir sem prejudicar os demais,
admiração, raiva, dúvida, etc.), bem como às decisões tomadas pensando também na felicidade e alegria de viver.
(ações e suas consequências individuais e coletivas). Como educador, ser ético é gerar possibilidades de
Portanto, o senso moral e a consciência moral não são escolha, mesmo quando as condições socioculturais são
dados pela natureza: são indissociáveis da cultura, são marcadas pela falta de recursos. É gerar condições para
escolhas das pessoas que vivem numa determinada cultura ou que barreiras possam ser ultrapassadas.
grupo. Para Chauí, os conteúdos dos valores podem variar, mas Nas palavras do educador: “Não se pode oferecer uma
sempre estão ligados a um valor mais profundo: o BEM. Por escola pobre para o pobre, de tal forma que aumentem-se as
meio de nosso juízo de valor é que definimos comportamentos barreiras para a aquisição da cultura”.
como BONS ou MAUS. Nosso juízo ético de valor fundamenta- Diferentes autores definem a ética profissional como
se em normas que determinam o que deve ser feito, quais um conjunto de normas de conduta com uma função
obrigações, intenções e ações são corretas ou incorretas. reguladora da “ética” aplicada ao exercício profissional. A
Embora as pessoas possuam aspectos próprios, ética profissional regularia a relação do profissional com
individuais, particulares, que devem ser levados em conta, têm sua clientela, visando a preservação da dignidade humana
também aspectos comuns, adquiridos na vida coletiva. e do bem-estar no contexto social e cultural no qual a
Ninguém nasce “pai”, “mãe”, “advogado”, “cientista” ou profissão é exercida. Todas as profissões estão vinculadas
“professor”. “Ser” isto ou aquilo, só tem sentido dentro de uma à ética profissional, mesmo que esta não se expresse por
comunidade concreta, que se identifica com determinados um conjunto de normas ou código específico.
paradigmas e que definem a ética de seu grupo. De modo geral, as profissões estão referidas a
Da mesma forma, ninguém nasce cidadão: torna-se regulamentos que determinam sua natureza e seus limites,
cidadão pela educação. É o convívio com os outros que nos com um caráter normativo e até mesmo jurídico.
torna humanos, e é a educação que forma o homem para a vida A ética profissional é construída a partir de questões
social ou comunitária. amplas e muito importantes que vão além do campo
Cidadania, dignidade, autonomia, tolerância e outros profissional específico. Dilemas como o aborto, a pena de
valores éticos não nascem com a gente. É um contínuo morte, a eutanásia, a violência, o suborno, a corrupção, o
processo de aprendizagem; uma busca incessante do homem desemprego, dentre tantas outros que hoje enfrentamos, são
em sua trajetória histórica. Tais valores (abstratos) só se questões morais que pedem uma profunda reflexão ética de
tornam concretos (ética) por meio da análise crítica, da todos os profissionais, em qualquer área da atividade
reflexão e do conhecimento; de sentimentos, da consciência e profissional.
de ações. A ética não pode ficar confinada à dimensão privada e
As questões éticas estão relacionadas à nossa vida individual. Grandes problemas éticos se localizam na família,
intersubjetiva e dependem de nossa consciência moral: na sociedade civil e no Estado. Cada profissional tem
valores e sentimentos; decisões e ações relacionadas aos responsabilidades que extrapolam o individual, configurando-
conceitos de BEM e de MAL, do que é construtivo ou se responsabilidades sociais que envolvem não só os que
destrutivo para as pessoas e para a sociedade. dependem de seu trabalho, mas a sociedade como um todo.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 260


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A ação profissional requer competência e eficiência, além possam alcançar a cidadania plena. Assim sendo, a
de atitudes e condutas consonantes com princípios éticos importância da investigação do assunto é o de apresentar a
essenciais. Uma classe profissional se define pela natureza ética como um dos principais fundamentos da Educação
comum do conhecimento exigido e pela identidade de Infantil, considerando que não pode existir direito nem
habilidades específicas, necessárias ao desempenho de uma respeito, se não for despertada a consciência ética em favor da
determinada profissão dentro de uma sociedade. criança.
O desempenho profissional ético, depende de qualidades
pessoais que podem ser adquiridas com esforço no decorrer O que significa a criança ser reconhecida hoje como sujeito
da atividade profissional e que, integradas ao modo de ser do de direitos? Que direitos possuem as crianças? Em princípio,
profissional, facilitam a incorporação e o desempenho dos pode-se considerar que a noção de direitos remete à ideia de
deveres profissionais. cidadania; ou seja, os cidadãos são sujeitos que possuem
É por meio da compreensão do mundo, dos outros e de nós prerrogativas de uma vida e convivência digna, livre e
mesmos, além das interações entre todos, que nos tornamos igualitária em relação aos seus semelhantes. Os direitos
preparados para o incerto, aprendemos a intervir e humanos referem-se, portanto, à própria sobrevivência e se
estabelecer o alicerce para a cidadania. caracterizam como históricos, inalienáveis, irrenunciáveis,
imprescritíveis, relativos, universais, cuja concretização pode
Ética Profissional: Como é esta reflexão? ser exigida sempre que houver omissão do responsável.
Alguns questionamentos podem ajudar a iniciar esta Os direitos fundamentais dos cidadãos geralmente são
reflexão. prescritos formalmente em leis e no ordenamento jurídico dos
países, e correspondem ao dever do Estado em assegurar que
- Estou agindo coerentemente com os princípios éticos que sejam cumpridos, por meio das políticas públicas. Essas
norteiam minha profissão? políticas devem defender os valores éticos que constituem a
- Estou sendo um bom profissional, agindo com condição essencial de respeito à dignidade humana. Partindo
competência e correção no meu dia-a-dia de trabalho? desses princípios que surge a ética.
- No desempenho de meu trabalho, estou preocupado com
o bem-estar e o desenvolvimento pleno de meus alunos, Sendo assim, é possível observar que hoje, a ética se
disponibilizando oportunidades verdadeiras para que sejam apresenta como uma disciplina de formação moral na
beneficiados por minha ação profissional? Educação. A ética e a educação estão unidas, porque existe a
- Meus relacionamentos profissionais estão voltados para necessidade de se respeitar a cultura da criança,
o respeito à dignidade humana e a construção do bem-estar no acompanhando as transformações que surgiram com seus
contexto sociocultural em que me encontro? conceitos históricos, alcançando os dias atuais.
- O que faço está adequado ao conjunto de valores e de Os profissionais da Educação Infantil promovem no aluno
atitudes essenciais que assumi ao exercer esta profissão? os valores éticos, pois como foi descrito pelos autores
Quais são esses valores e atitudes fundamentais? estudados, o educador deve ter como objetivo oferecer à
- Até que ponto, com minha conduta profissional, estou criança o desenvolvimento da autonomia, capacitando-a a
promovendo a inclusão de meus alunos com necessidades construir as suas próprias normas. Contudo, essa construção
especiais; estou sendo autônomo e promovendo a autonomia deve ser orientada, pois é fundamental à criança nessa fase
e a tolerância; estou dialogando com meus pares estimulando escolar, aprender o que é certo ou errado, o que pode ou não
a ética discursiva, a reflexão ética, a abertura e a empatia? prejudicar o seu semelhante.
- Até que ponto estou agindo eticamente, fazendo o que Assim, verifica-se que essa questão é problema relegado
deve ser feito, independentemente de ter ou não alguém me em relação à sua importância, porque não se cuida da
olhando, me supervisionando ou me elogiando? formação da conduta infantil, mas deixa-se que ela se forme. É
- Para que o professor desempenhe seu relevante papel nesse aspecto que está envolvido um requisito essencial para
social na promoção de uma sociedade ética, é necessário que que a estrutura mental se oriente para uma direção correta: a
assuma compromissos profissionais básicos consigo mesmo, disciplina.
com a prática profissional, seus colegas de profissão, seus Sucede que, a mente da criança se exercita e se forma,
alunos, pais, comunidade e sociedade tomando conformações que jamais se alterarão
substancialmente, pois as estruturas sociais, cognitivas, físicas
A ética na Educação Infantil228 e emocionais se fixam.
As propostas pedagógicas da educação infantil devem Nesse processo da Educação Infantil é necessário ao
buscar a interação entre as diversas áreas de conhecimento e educador compreender a criança em sua individualidade,
aspectos da vida cidadã, com conteúdos básicos para a atendendo a sua formação emocional, mas impor limites, não
construção de conhecimentos, valores, cidadania e ética na esperando pela cristalização prematura da perfeição ética.
criança. Sempre demonstrar que limite não é um castigo, mas ensinar
Recentemente, a legislação educacional brasileira passou a que não se pode fazer tudo o que quer, pois é a partir da
reconhecer a criança, como sujeito de direitos – uma “criança compreensão da norma de convivência que o pequeno
cidadã”. Entre os direitos estão: a educação em pré-escolas, aprende a diferenciar entre o seu pensamento e o dos outros
creches e instituições similares. que o cercam. Essa norma que se deve revelar viva, altiva,
O reconhecimento da importância da infância além do permanente e reguladora de conduta nas mais variadas
contexto familiar insere-se em amplo movimento de luta em situações é denominada de ética.
defesa dos direitos das crianças, com participação de diversos
segmentos sociais de alcance mundial, como a Declaração Concluindo, a ética na Educação Infantil, oportuniza à
Universal dos Direitos da Criança (1959) e Convenção Mundial criança, a fácil integração social do ambiente: a
dos Direitos da Criança (1989), assim como no Brasil, a adaptabilidade no espaço escolar, isentando-a de
Constituição Federal (1988), o Estatuto da Criança e do prejuízos, inibições, constrangimentos e inferiorizações,
Adolescente (1990), a Lei de Diretrizes e Bases (1996). auxiliando-a a conquistar o futuro e a cidadania em sua
Para que os direitos possam ser concretizados é necessária plenitude.
a ética no trabalho da educação infantil para que as crianças

228 SANTOS, P. F. Ética na educação infantil.2012.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 261


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Postura ética dos cuidadores. escolhemos nossos colegas, chefes, clientes ou parceiros; o
outro é que, independentemente do grau de afinidade que
Cuidador Infantil temos com as pessoas do ambiente corporativo, precisamos
Quem é cuidador? funcionar bem com elas para realizar algo juntos.
- Cuidador é um ser humano de qualidades especiais. - Esses ingredientes da convivência no trabalho nos
- Forte traço de amor à humanidade, de solidariedade e de obrigam a lidar com diferenças de opinião, de visão, de
doação. formação, de cultura, de comportamento… Fazer isso pode não
- Zela pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, ser fácil, mas é possível se basearmos nossos relacionamentos
educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida. interpessoais em cinco pilares: autoconhecimento, empatia,
- Atua como elo entre a criança e a família. assertividade, cordialidade e ética.
- Cuidador é um ser humano de qualidades especiais.
- Forte traço de amor a humanidade, de solidariedade e de Autoconhecimento
doação. Fundamental para administrar bem os relacionamentos,
- Zela pelo bem-estar, saúde, alimentação, higiene pessoal, autoconhecimento implica reconhecer nossos traços de
educação, cultura, recreação e lazer da pessoa assistida. comportamento, o impacto que causamos nos outros e que
- Atua como elo entre a criança e a família. comportamentos dos outros nos incomodam
Empatia
O que é cuidar? Trata-se de considerar os outros, suas opiniões,
Cuidar é um ato de preservação, aprendido por meio das sentimentos e motivações. A empatia também nos torna
experiências vividas e dos saberes desenvolvidos pela cultura capazes de enxergar além do próprio umbigo e ampliar nossa
da qual fazemos parte. Este ato se traduz em atitudes e percepção da realidade com os pontos de vista dos outros.
comportamentos relacionados à atenção, ao zelo, ao respeito Entre as várias coisas que se pode fazer para praticá-la, a mais
aos limites, à cautela, tanto frente a si próprio e como frente ao básica é saber ouvir.
outro. O perfil de cuidador é próprio e individual, cujos
conhecimentos e habilidades se refletem nas atitudes de Assertividade
cuidar de si, do outro e na própria disponibilidade interna em Para ter relacionamentos saudáveis, não basta ouvir: é
se deixar cuidar pelo outro. preciso também falar, expressar nossas opiniões, vontades,
dificuldades. É aí que entra a assertividade, a habilidade para
Quais são as tarefas do cuidador? nos expressar de forma franca, direta, clara, serena e
De atuar, com competência e responsabilidade, realizando respeitosa
as atividades com domínio as práticas de cuidados e
desenvolvimento da criança, desde o nascimento até os 6 anos Cordialidade
de idade, tendo os conhecimentos fundamentais para a Tratar as pessoas com cordialidade é ser gentil, solícito e
inserção no mundo do trabalho; atuando no atendimento simpático, é demonstrar consideração pelo o outro de várias
individualizado ou coletivo. A organização curricular, bem formas. Pode ser com o “bom dia” com que saudamos o
como as atividades pedagógicas propostas, visam à destinatário de nossa mensagem de e-mail, com o ato de
preparação de um profissional apto ao desenvolvimento de segurar a porta do elevador para alguém entrar ou apanhar do
cuidados às crianças. chão um objeto que o colega deixou cair. Dizer “obrigado”
olhando a pessoa nos olhos, oferecer-se para prestar uma
A ética profissional ajuda, cumprimentar aquele com quem cruzamos no corredor,
É um conjunto de atitudes e valores positivos aplicados no mesmo saber seu nome… A cordialidade desinteressada, que
ambiente de trabalho. A ética no ambiente de trabalho é de oferecemos por iniciativa própria, sem esperar nada em troca,
fundamental importância para o bom funcionamento das é um facilitador do bom relacionamento no ambiente de
atividades da empresa e das relações de trabalho entre os trabalho
funcionários.
Vantagens da ética aplicada ao ambiente de trabalho: Ética
- Maior nível de produção na empresa; Ser ético é ter atitudes que não prejudiquem os outros, não
- Favorecimento para a criação de um ambiente de quebrem acordos e não contrariem o que se considera certo e
trabalho harmonioso, respeitoso e agradável; justo. Podemos ter muito autoconhecimento, ser altamente
- Aumento no índice de confiança entre os funcionários. empáticos e assertivos, mas, se não nos conduzirmos pela
Exemplos de atitudes éticas num ambiente de trabalho: ética, não conseguiremos manter relacionamentos
- Educação e respeito entre os funcionários; equilibrados.
- Cooperação e atitudes que visam à ajuda aos colegas de Fortalecer esses pilares traz melhorias não só para nossas
trabalho; interações no trabalho, mas também para as de outras áreas
- Divulgação de conhecimentos que possam melhorar o da vida – familiar, afetiva, social, de amizade. Vale a pena
desempenho das atividades realizadas na empresa; investir nisso – afinal, os relacionamentos são a melhor escola
- Respeito à hierarquia dentro da empresa; para o nosso desenvolvimento pessoal.
- Busca de crescimento profissional sem prejudicar outros
colegas de trabalho; Trabalho em equipe
- Ações e comportamentos que visam criar um clima Trabalhar em equipe não é apenas trabalhar em conjunto
agradável e positivo dentro da empresa como, por exemplo, é preciso de compartilhamento. Os resultados nunca são
manter o bom humor; alcançados apenas por uma pessoa, é preciso compartilhar
- Realização, em ambiente de trabalho, apenas de tarefas com o outro para chegar ao objetivo final.
relacionadas ao trabalho; Procurar desenvolver suas habilidades em equipe é se
- Respeito às regras e normas da empresa destacar e dar espaço para a liderança. Empresas valorizam
profissionais capazes de gerir e motivar os colaboradores,
Relação interpessoal buscando sempre o desenvolvimento da equipe e os melhores
Cinco pilares do relacionamento interpessoal no trabalho resultados.
- Entre os relacionamentos que temos na vida, os de Confira algumas habilidades fundamentais para se
trabalho são diferenciados por dois motivos: um é que não trabalhar em equipe:

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 262


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Administrar conflitos: 03. (Prefeitura de Palmas- TO- Técnico Administrativo


É importante saber lidar com os conflitos do dia a dia na Educacional- COPESE-UFT) Sobre ética nas organizações é
empresa. Neste sentido, desenvolver a habilidade de INCORRETO afirmar:
conversar para esclarecer os fatos e conciliar as necessidades (A) Conjunto de princípios básicos que visa disciplinar e
é sempre a melhor opção nesse momento. Assim você gera regular os costumes, a moral e a conduta das pessoas.
confiança e afeição da equipe. (B) O que se denomina ética profissional existe em
praticamente todas as profissões.
Comunicação (C) Os códigos de ética oferecem orientações e
Saber valorizar a comunicação entre você e os outros estabelecem diretrizes para um nível digno de convivência
colaboradores é fundamental para o trabalho em equipe. profissional.
Escutar e falar na hora certa também é uma habilidade (D) Em sentido amplo é utilizada para conceituar deveres
importante para que o ambiente se torne agradável e e estabelecer regras de conduta dos indivíduos no
produtivo. desempenho de suas atividades profissionais.

Proatividade: Respostas

- Tomar atitude é um ponto positivo. Estar sempre 01. Certo. / 02. D. / 03. D.
disposto a ajudar e a resolver os problemas ajuda no seu
desenvolvimento de sua equipe.

Inovar:
- Procurar inovar é sempre importante para o crescimento
da empresa e dos profissionais. Buscar soluções e alternativas Anotações
é fazer com que todos cheguem ao melhor resultado com mais
assertividade e o que é melhor, em pouco tempo.

Confiança:
- É fundamental desenvolver a confiança entre as pessoas
que estão a sua volta. Gerar esse sentimento é ganhar um
espaço maior na equipe, pois você sempre será o apoio de cada
um e saberá quando e como contar com cada colaborador.
- Essas habilidades citadas são formas de aprender a
importância de cada gesto que você desenvolve em sua
empresa. Buscar líderes engajados e que consigam colocar em
prática o seu trabalho em equipe é essencial para o
crescimento das organizações.

Questões

01. (SEE-AL- Professor- CESPE) Em relação aos


compromissos sociais e éticos dos professores, julgue o item a
seguir.
O professor é uma referência ética e moral para o alunado,
por isso suas ações são mais importantes que seus discursos.
Sendo assim, o professor deve dar primazia aos aspectos
sócio-políticos da profissão em detrimento aos aspectos
técnicos.
( ) Certo ( ) Errado

02. (IF-SE- Auxiliar de Biblioteca- IF-SE) Qual é a melhor


definição para Ética Profissional?
(A) É aquela que tem alguns pressupostos acerca do
homem e da natureza baseados na teoria da evolução: a
natureza e o homem são produtos da evolução;
(B) É aquela que na atividade político-partidária o discurso
deve corresponder à práxis (atividade prática), visando
modificar e transformar a sociedade, as relações de produção
e as estruturas sociais;
(C) É aquela que, durante o exercício profissional, respeita
as ideias de seus colegas, os trabalhos e as soluções; porém,
pode usá-los como de sua própria autoria para benefício da
instituição;
(D) É aquela que estabelece um conjunto de princípios a
serem observados pelos indivíduos no exercício de uma
profissão, na defesa do bem comum e da sociedade;
(E) É aquela que opera a partir de diversos pressupostos e
conceitos que acreditam estarem revelados nas Escrituras
Sagradas pelo único Deus verdadeiro.

Conhecimentos Didático-Pedagógicos 263


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Conhecimentos Didático-Pedagógicos 264


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CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

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APOSTILAS OPÇÃO
De acordo com a tonicidade, as palavras são classificadas
como:

Oxítonas – São aquelas cuja sílaba tônica recai sobre a


última sílaba.
Ex.: café – coração – cajá – atum – caju – papel

Paroxítonas – São aquelas em que a sílaba tônica se


evidencia na penúltima sílaba.
Caro(a) Candidato(a), na Matéria de Língua Portuguesa Ex.: útil – tórax – táxi – leque – retrato – passível
onde é comum para todos os cargos, estudamos os seguintes
assuntos: Proparoxítonas - São aquelas em que a sílaba tônica se
evidencia na antepenúltima sílaba.
- Compreensão e interpretação de textos; Ex.: lâmpada – câmara – tímpano – médico – ônibus
- Denotação e conotação;
- Figuras; Como podemos observar, mediante todos os exemplos
- Coesão e coerência; mencionados, os vocábulos possuem mais de uma sílaba, mas
- Tipologia textual; em nossa língua existem aqueles com uma sílaba somente:
- Significação das palavras; são os chamados monossílabos, que, quando pronunciados,
- Emprego das classes de palavras; apresentam certa diferenciação quanto à intensidade.
- Sintaxe da oração e do período;
- Pontuação; Tal diferenciação só é percebida quando os pronunciamos
- Concordância verbal e nominal; em uma dada sequência de palavras. Assim como podemos
- Regência verbal e nominal; observar no exemplo a seguir:
- Estudo da crase;
- Semântica e estilística. “Sei que não vai dar em nada, seus segredos sei de cor”.
- Redação Oficial.
Os monossílabos em destaque classificam-se como tônicos;
Obs: na matéria de Conhecimentos Específicos serão os demais, como átonos (que, em, de).
estudados os seguintes assuntos:
Os Acentos Gráficos
- Compreensão e interpretação de textos;
- Denotação e conotação; acento agudo (´) – Colocado sobre as letras “a”, “i”, “u” e
- Figuras de linguagem; sobre o “e” do grupo “em” - indica que estas letras representam
- Coesão e coerência; as vogais tônicas de palavras como Amapá, caí, público, parabéns.
- Tipologia textual; Sobre as letras “e” e “o” indica, além da tonicidade, timbre aberto. 
- Significação das palavras; Ex.: herói – médico – céu(ditongos abertos)
- Emprego das classes de palavras;
- Sintaxe da oração e do período; acento circunflexo (^) – colocado sobre as letras “a”, “e” e
- Pontuação; “o” indica, além da tonicidade, timbre fechado:
- Concordância verbal e nominal; Ex.: tâmara – Atlântico – pêssego – supôs
- Regência verbal e nominal;
- Estudo da crase; acento grave (`) – indica a fusão da preposição “a” com
- Semântica e estilística; artigos e pronomes.
Ex.: à – às – àquelas – àqueles
Onde podemos notar que são os mesmos assuntos.
Portanto nesta matéria abordaremos os seguintes assuntos: trema (¨) – De acordo com a nova regra, foi totalmente
abolido das palavras. Há uma exceção: é utilizado em palavras
- Acentuação gráfica. derivadas de nomes próprios estrangeiros.
- Ortografia. Ex.: mülleriano (de Müller)
- Elementos da comunicação.
- Funções de linguagem. til (~) – indica que as letras “a” e “o” representam vogais
- Norma culta e variação linguística. nasais.
Ex.: coração – melão – órgão – ímã

Acentuação gráfica. Regras fundamentais:

Palavras oxítonas:
Acentuam-se todas as oxítonas terminadas em: “a”, “e”, “o”,
Acentuação “em”, seguidas ou não do plural(s):
Pará – café(s) – cipó(s) – armazém(s)
A acentuação é um dos requisitos que perfazem as regras
estabelecidas pela Gramática Normativa. Esta se compõe de Essa regra também é aplicada aos seguintes casos:
algumas particularidades, às quais devemos estar atentos,
procurando estabelecer uma relação de familiaridade e, Monossílabos tônicos terminados em “a”, “e”, “o”, seguidos
consequentemente, colocando-as em prática na linguagem ou não de “s”.
escrita. Ex.: pá – pé – dó – há
Regras básicas – Acentuação tônica Formas verbais terminadas em “a”, “e”, “o” tônicos, seguidas
de lo, la, los, las.
A acentuação tônica implica na intensidade com que são respeitá-lo – percebê-lo – compô-lo
pronunciadas as sílabas das palavras. Aquela que se dá de
forma mais acentuada, conceitua-se como sílaba tônica. As Paroxítonas:
demais, como são pronunciadas com menos intensidade, são Acentuam-se as palavras paroxítonas terminadas em:
denominadas de átonas. - i, is

Conhecimentos Específicos 1
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APOSTILAS OPÇÃO
táxi – lápis – júri Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se estiverem
- us, um, uns seguidas do dígrafo nh:
vírus – álbuns – fórum ra-i-nha, ven-to-i-nha.
- l, n, r, x, ps
automóvel – elétron - cadáver – tórax – fórceps Não se acentuam as letras “i” e “u” dos hiatos se vierem
- ã, ãs, ão, ãos precedidas de vogal idêntica:
ímã – ímãs – órfão – órgãos xi-i-ta, pa-ra-cu-u-ba

- Dica: Memorize a palavra LINURXÃO. Para quê? Repare que As formas verbais que possuíam o acento tônico na raiz, com
essa palavra apresenta as terminações das paroxítonas que são “u” tônico precedido de “g” ou “q” e seguido de “e” ou “i” não
acentuadas: L, I N, U (aqui inclua UM =fórum), R, X, Ã, ÃO. Assim serão mais acentuadas. Ex.:
ficará mais fácil a memorização!
Antes Depois
- ditongo oral, crescente ou decrescente, seguido ou não de “s”. apazigúe (apaziguar) apazigue
argúi (arguir) argui
água – pônei – mágoa – jóquei
Acentuam-se os verbos pertencentes à terceira pessoa do
Regras especiais: plural de:

Os ditongos de pronúncia aberta “ei”, “oi” ( ditongos abertos), ele tem – eles têm
que antes eram acentuados, perderam o acento de acordo com ele vem – eles vêm (verbo vir)
a nova regra, mas desde que estejam em palavras paroxítonas.
A regra prevalece também para os verbos conter, obter, reter,
Cuidado: Se os ditongos abertos estiverem em uma deter, abster. 
palavra oxítona (herói) ou monossílaba (céu) ainda são ele contém – eles contêm
acentuados. Mas caso não forem ditongos perdem o acento. ele obtém – eles obtêm
Ex.: ele retém – eles retêm
ele convém – eles convêm
Antes Agora
assembléia assembleia
Não se acentuam mais as palavras homógrafas que antes
idéia ideia
eram acentuadas para diferenciá-las de outras semelhantes
jibóia jiboia
(regra do acento diferencial). Apenas em algumas exceções,
apóia (verbo apoiar) apoia
como:
Quando a vogal do hiato for “i” ou “u” tônicos, acompanhados
A forma verbal pôde (terceira pessoa do singular do
ou não de “s”, haverá acento:
pretérito perfeito do modo indicativo) ainda continua
Ex.: saída – faísca – baú – país – Luís
sendo acentuada para diferenciar-se de pode (terceira
pessoa do singular do presente do indicativo). Ex:
Observação importante:
Não serão mais acentuados “i” e “u” tônicos, formando hiato
Ela pode fazer isso agora.
quando vierem depois de ditongo: Ex.:
Elvis não pôde participar porque sua mão não deixou...
Antes Agora
O mesmo ocorreu com o verbo pôr para diferenciar da
bocaiúva bocaiuva
preposição por.
feiúra feiura
- Quando, na frase, der para substituir o “por” por “colocar”,
O acento pertencente aos encontros “oo” e “ee” foi abolido.
então estaremos trabalhando com um verbo, portanto: “pôr”;
Ex.:
nos outros casos, “por” preposição. Ex:
Antes Agora
Faço isso por você.
crêem creem
Posso pôr (colocar) meus livros aqui?
vôo voo
Questões
- Agora memorize a palavra CREDELEVÊ. São os verbos que,
no plural, dobram o “e”, mas que não recebem mais acento
01. “Cadáver” é paroxítona, pois:
como antes: CRER, DAR, LER e VER.
A) Tem a última sílaba como tônica.
B) Tem a penúltima sílaba como tônica.
Repare:
C) Tem a antepenúltima sílaba como tônica.
1-) O menino crê em você
D) Não tem sílaba tônica.
Os meninos creem em você.
2-) Elza lê bem!
02. Assinale a alternativa correta.
Todas leem bem!
A palavra faliu contém um:
3-) Espero que ele dê o recado à sala.
A) hiato
Esperamos que os dados deem efeito!
B) dígrafo
4-) Rubens vê tudo!
C) ditongo decrescente
Eles veem tudo!
D) ditongo crescente
- Cuidado! Há o verbo vir:
03. Em “O resultado da experiência foi, literalmente,
Ele vem à tarde!
aterrador.” a palavra destacada encontra-se acentuada pelo
Eles vêm à tarde!
mesmo motivo que:
Não se acentuam o “i” e o “u” que formam hiato quando
A) túnel
seguidos, na mesma sílaba, de l, m, n, r ou z:
B) voluntário
C) até
Ra-ul, ru-im, con-tri-bu-in-te, sa-ir, ju-iz
D) insólito
E) rótulos

Conhecimentos Específicos 2
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APOSTILAS OPÇÃO
04. Assinale a alternativa correta. Emprego de X e Ch
A) “Contrário” e “prévias” são acentuadas por serem Emprega-se o X:
paroxítonas terminadas em ditongo. 1) Após um ditongo.
B) Em “interruptor” e “testaria” temos, respectivamente, Exemplos: caixa, frouxo, peixe
encontro consonantal e hiato. Exceção: recauchutar e seus derivados
C) Em “erros derivam do mesmo recurso mental” as palavras
grifadas são paroxítonas. 2) Após a sílaba inicial “en”.
D) Nas palavras “seguida”, “aquele” e “quando” as partes Exemplos: enxame, enxada, enxaqueca
destacadas são dígrafos. Exceção: palavras iniciadas por “ch” que recebem o prefixo
E) A divisão silábica está correta em “co-gni-ti-va”, “p-si-có- “en-”
lo-ga” e “a-ci-o-na”. Exemplos: encharcar (de charco), enchiqueirar (de chiqueiro),
encher e seus derivados (enchente, enchimento, preencher...)
05. Todas as palavras abaixo são hiatos, EXCETO:
A) saúde 3) Após a sílaba inicial “me-”.
B) cooperar Exemplos: mexer, mexerica, mexicano, mexilhão
C) ruim Exceção: mecha
D) creem
E) pouco 4) Em vocábulos de origem indígena ou africana e nas palavras
Respostas inglesas aportuguesadas.
1-B / 2-C / 3-B / 4-A / 5-E Exemplos: abacaxi, xavante, orixá, xará, xerife, xampu

5) Nas seguintes palavras:


Ortografia. bexiga, bruxa, coaxar, faxina, graxa, lagartixa, lixa, lixo, puxar,
rixa, oxalá, praxe, roxo, vexame, xadrez, xarope, xaxim, xícara, xale,
xingar, etc.

Ortografia Emprega-se o dígrafo Ch:


1) Nos seguintes vocábulos:
A ortografia se caracteriza por estabelecer padrões para a bochecha, bucha, cachimbo, chalé, charque, chimarrão,
forma escrita das palavras. Essa escrita está relacionada tanto chuchu, chute, cochilo, debochar, fachada, fantoche, ficha, flecha,
a critérios etimológicos (ligados à origem das palavras) quanto mochila, pechincha, salsicha, tchau, etc.
fonológicos (ligados aos fonemas representados). É importante
compreender que a ortografia é fruto de uma convenção. A Para representar o fonema /j/ na forma escrita, a grafia
forma de grafar as palavras é produto de acordos ortográficos considerada correta é aquela que ocorre de acordo com a origem
que envolvem os diversos países em que a língua portuguesa é da palavra. Veja os exemplos:
oficial. A melhor maneira de treinar a ortografia é ler, escrever e gesso: Origina-se do grego gypsos
consultar o dicionário sempre que houver dúvida. jipe: Origina-se do inglês jeep.

O Alfabeto Emprega-se o G:
O alfabeto da língua portuguesa é formado por 26 letras. Cada 1) Nos substantivos terminados em -agem, -igem, -ugem
letra apresenta uma forma minúscula e outra maiúscula. Veja: Exemplos: barragem, miragem, viagem, origem, ferrugem
Exceção: pajem
a A (á) b B (bê)
c C (cê) d D (dê) 2) Nas palavras terminadas em -ágio, -égio, -ígio, -ógio, -úgio
e E (é) f F (efe) Exemplos: estágio, privilégio, prestígio, relógio, refúgio
g G (gê ou guê) h H (agá)
i I (i) j J (jota) 3) Nas palavras derivadas de outras que se grafam com g
k K (cá) l L (ele) Exemplos: engessar (de gesso), massagista (de massagem),
m M (eme) n N (ene) vertiginoso (de vertigem)
o O (ó) p P (pê)
q Q (quê) r R (erre) 4) Nos seguintes vocábulos:
s S (esse) t T (tê) algema, auge, bege, estrangeiro, geada, gengiva, gibi, gilete,
u U (u) v V (vê) hegemonia, herege, megera, monge, rabugento, vagem.
w W (dáblio) x X (xis)
y Y (ípsilon) z Z (zê) Emprega-se o J:
1) Nas formas dos verbos terminados em -jar ou -jear
Observação: emprega-se também o ç, que representa o Exemplos:
fonema /s/ diante das letras: a, o, e u em determinadas palavras. arranjar: arranjo, arranje, arranjem
despejar: despejo, despeje, despejem
Emprego das letras K, W e Y gorjear: gorjeie, gorjeiam, gorjeando
Utilizam-se nos seguintes casos: enferrujar: enferruje, enferrujem
a) Em antropônimos originários de outras línguas e seus viajar: viajo, viaje, viajem
derivados.
Exemplos: Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Taylor, 2) Nas palavras de origem tupi, africana, árabe ou exótica
taylorista. Exemplos: biju, jiboia, canjica, pajé, jerico, manjericão, Moji

b) Em topônimos originários de outras línguas e seus 3) Nas palavras derivadas de outras que já apresentam j
derivados. Exemplos:
Exemplos: Kuwait, kuwaitiano. laranja- laranjeira loja- lojista lisonja -
lisonjeador nojo- nojeira
c) Em siglas, símbolos, e mesmo em palavras adotadas como cereja- cerejeira varejo- varejista rijo- enrijecer
unidades de medida de curso internacional. jeito- ajeitar
Exemplos: K (Potássio), W (West), kg (quilograma), km
(quilômetro), Watt.

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APOSTILAS OPÇÃO
4) Nos seguintes vocábulos: 5) Nos seguintes vocábulos:
berinjela, cafajeste, jeca, jegue, majestade, jeito, jejum, laje, azar, azeite, azedo, amizade, buzina, bazar, catequizar, chafariz,
traje, pegajento cicatriz, coalizão, cuscuz, proeza, vizinho, xadrez, verniz, etc.

Emprego das Letras S e Z 6) Nos vocábulos homófonos, estabelecendo distinção no


Emprega-se o S: contraste entre o S e o Z
1) Nas palavras derivadas de outras que já apresentam s no Exemplos:
radical cozer (cozinhar) e coser (costurar)
prezar( ter em consideração) e presar (prender)
Exemplos: traz (forma do verbo trazer) e trás (parte posterior)
análise- analisar catálise- catalisador
casa- casinha, casebre liso- alisar Observação: em muitas palavras, a letra X soa como Z. Veja os
exemplos:
2) Nos sufixos -ês e -esa, ao indicarem nacionalidade, título exame exato exausto exemplo existir exótico
ou origem inexorável
Exemplos:
burguês- burguesa inglês- inglesa Emprego de S, Ç, X e dos Dígrafos Sc, Sç, Ss, Xc, Xs
chinês- chinesa milanês- milanesa Existem diversas formas para a representação do fonema /S/.
Observe:
3) Nos sufixos formadores de adjetivos -ense, -oso e -osa
Exemplos: Emprega-se o S:
catarinense gostoso- gostosa amoroso- amorosa Nos substantivos derivados de verbos terminados em
palmeirense gasoso- gasosa teimoso- teimosa “andir”,”ender”, “verter” e “pelir”
Exemplos:
4) Nos sufixos gregos -ese, -isa, -osa expandir- expansão pretender- pretensão verter-
Exemplos: versão expelir- expulsão
catequese, diocese, poetisa, profetisa, sacerdotisa, glicose, estender- extensão suspender- suspensão
metamorfose, virose converter - conversão repelir- repulsão

5) Após ditongos Emprega-se Ç:


Exemplos: Nos substantivos derivados dos verbos “ter” e “torcer”
coisa, pouso, lousa, náusea Exemplos:
ater- atenção torcer- torção
6) Nas formas dos verbos pôr e querer, bem como em seus deter- detenção distorcer-distorção
derivados manter- manutenção contorcer- contorção
Exemplos:
pus, pôs, pusemos, puseram, pusera, pusesse, puséssemos Emprega-se o X:
quis, quisemos, quiseram, quiser, quisera, quiséssemos Em alguns casos, a letra X soa como Ss
repus, repusera, repusesse, repuséssemos Exemplos:
auxílio, expectativa, experto, extroversão, sexta, sintaxe, texto,
7) Nos seguintes nomes próprios personativos: trouxe
Baltasar, Heloísa, Inês, Isabel, Luís, Luísa, Resende, Sousa,
Teresa, Teresinha, Tomás Emprega-se Sc:
Nos termos eruditos
8) Nos seguintes vocábulos: Exemplos:
abuso, asilo, através, aviso, besouro, brasa, cortesia, acréscimo, ascensorista, consciência, descender, discente,
decisão,despesa, empresa, freguesia, fusível, maisena, mesada, fascículo, fascínio, imprescindível, miscigenação, miscível,
paisagem, paraíso, pêsames, presépio, presídio, querosene, plebiscito, rescisão, seiscentos, transcender, etc.
raposa, surpresa, tesoura, usura, vaso, vigésimo, visita, etc.
Emprega-se Sç:
Emprega-se o Z: Na conjugação de alguns verbos
1) Nas palavras derivadas de outras que já apresentam z no Exemplos:
radical nascer- nasço, nasça
Exemplos: crescer- cresço, cresça
deslize- deslizar razão- razoável vazio- esvaziar descer- desço, desça
raiz- enraizar cruz-cruzeiro
Emprega-se Ss:
2) Nos sufixos -ez, -eza, ao formarem substantivos abstratos a Nos substantivos derivados de verbos terminados em “gredir”,
partir de adjetivos “mitir”, “ceder” e “cutir”
Exemplos: Exemplos:
inválido- invalidez limpo-limpeza macio- maciez agredir- agressão demitir- demissão ceder- cessão
rígido- rigidez discutir- discussão
frio- frieza nobre- nobreza pobre-pobreza surdo- progredir- progressão t r a n s m i t i r - t r a n s m i s s ã o
surdez exceder- excesso repercutir- repercussão

3) Nos sufixos -izar, ao formar verbos e -ização, ao formar Emprega-se o Xc e o Xs:


substantivos
Exemplos: Em dígrafos que soam como Ss
civilizar- civilização hospitalizar- hospitalização Exemplos:
colonizar- colonização realizar- realização exceção, excêntrico, excedente, excepcional, exsudar

4) Nos derivados em -zal, -zeiro, -zinho, -zinha, -zito, -zita Observações sobre o uso da letra X
Exemplos: 1) O X pode representar os seguintes fonemas:
cafezal, cafezeiro, cafezinho, arvorezinha, cãozito, avezita /ch/ - xarope, vexame

Conhecimentos Específicos 4
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APOSTILAS OPÇÃO
/cs/ - axila, nexo Observações:
1) No substantivo Bahia, o “h” sobrevive por tradição. Note que
/z/ - exame, exílio nos substantivos derivados como baiano, baianada ou baianinha
ele não é utilizado.
/ss/ - máximo, próximo
2) Os vocábulos erva, Espanha e inverno não possuem a
/s/ - texto, extenso letra “h” na sua composição. No entanto, seus derivados eruditos
sempre são grafados com h. Veja:
2) Não soa nos grupos internos -xce- e -xci- herbívoro, hispânico, hibernal.
Exemplos: excelente, excitar
Emprego das Iniciais Maiúsculas e Minúsculas
Emprego das letras E e I 1) Utiliza-se inicial maiúscula:
Na língua falada, a distinção entre as vogais átonas /e/ e /i / a) No começo de um período, verso ou citação direta.
pode não ser nítida. Observe: Exemplos:
Disse o Padre Antonio Vieira: “Estar com Cristo em qualquer
Emprega-se o E: lugar, ainda que seja no inferno, é estar no Paraíso.”
1) Em sílabas finais dos verbos terminados em -oar, -uar
Exemplos: “Auriverde pendão de minha terra,
magoar - magoe, magoes Que a brisa do Brasil beija e balança,
continuar- continue, continues Estandarte que à luz do sol encerra
As promessas divinas da Esperança…”
2) Em palavras formadas com o prefixo ante- (antes, anterior) (Castro Alves)
Exemplos: antebraço, antecipar
Observações:
3) Nos seguintes vocábulos: - No início dos versos que não abrem período, é facultativo o
cadeado, confete, disenteria, empecilho, irrequieto, mexerico, uso da letra maiúscula.
orquídea, etc.
Por Exemplo:
Emprega-se o I : “Aqui, sim, no meu cantinho,
1) Em sílabas finais dos verbos terminados em -air, -oer, -uir vendo rir-me o candeeiro,
Exemplos: gozo o bem de estar sozinho
cair- cai e esquecer o mundo inteiro.”
doer- dói
influir- influi - Depois de dois pontos, não se tratando de citação direta, usa-
se letra minúscula.
2) Em palavras formadas com o prefixo anti- (contra) Por Exemplo:
Exemplos: “Chegam os magos do Oriente, com suas dádivas: ouro,
Anticristo, antitetânico incenso, mirra.” (Manuel Bandeira)

3) Nos seguintes vocábulos: b) Nos antropônimos, reais ou fictícios.


aborígine, artimanha, chefiar, digladiar, penicilina, privilégio, Exemplos:
etc. Pedro Silva, Cinderela, D. Quixote.

Emprego das letras O e U c) Nos topônimos, reais ou fictícios.


Emprega-se o O/U: Exemplos:
A oposição o/u é responsável pela diferença de significado de Rio de Janeiro, Rússia, Macondo.
algumas palavras. Veja os exemplos:
comprimento (extensão) e cumprimento (saudação, d) Nos nomes mitológicos.
realização) Exemplos:
soar (emitir som) e suar (transpirar) Dionísio, Netuno.

Grafam-se com a letra O: bolacha, bússola, costume, e) Nos nomes de festas e festividades.
moleque. Exemplos:
Natal, Páscoa, Ramadã.
Grafam-se com a letra U: camundongo, jabuti, Manuel, tábua
f) Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais.
Emprego da letra H Exemplos:
Esta letra, em início ou fim de palavras, não tem valor fonético. ONU, Sr., V. Ex.ª.
Conservou-se apenas como símbolo, por força da etimologia e
da tradição escrita. A palavra hoje, por exemplo, grafa-se desta g) Nos nomes que designam altos conceitos religiosos,
forma devido a sua origem na forma latina hodie. políticos ou nacionalistas.
Exemplos:
Emprega-se o H: Igreja (Católica, Apostólica, Romana), Estado, Nação, Pátria,
1) Inicial, quando etimológico União, etc.
Exemplos: hábito, hesitar, homologar, Horácio
Observação: esses nomes escrevem-se com inicial minúscula
2) Medial, como integrante dos dígrafos ch, lh, nh quando são empregados em sentido geral ou indeterminado.
Exemplos: flecha, telha, companhia Exemplo:
Todos amam sua pátria.
3) Final e inicial, em certas interjeições
Exemplos: ah!, ih!, eh!, oh!, hem?, hum!, etc. Emprego FACULTATIVO de letra maiúscula:
a) Nos nomes de logradouros públicos, templos e edifícios.
4) Em compostos unidos por hífen, no início do segundo Exemplos:
elemento, se etimológico Rua da Liberdade ou rua da Liberdade
Exemplos: anti-higiênico, pré-histórico, super-homem, etc. Igreja do Rosário ou igreja do Rosário

Conhecimentos Específicos 5
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APOSTILAS OPÇÃO
Edifício Azevedo ou edifício Azevedo Exemplos:
2) Utiliza-se inicial minúscula: Você ainda tem coragem de
a) Em todos os vocábulos da língua, nos usos correntes. Final de
Por perguntar por quê?
Exemplos: frases e seguidos
Quê
carro, flor, boneca, menino, porta, etc. de pontuação
Você não vai? Por quê?
b) Nos nomes de meses, estações do ano e dias da semana. Não sei por quê!
Exemplos:
janeiro, julho, dezembro, etc. Exemplos:
segunda, sexta, domingo, etc.
Conjunção
primavera, verão, outono, inverno A situação agravou-se
que indica
porque ninguém reclamou.
explicação ou
c) Nos pontos cardeais.
causa
Exemplos: Ninguém mais o espera,
Percorri o país de norte a sul e de leste a oeste. Porque porque ele sempre se atrasa.
Estes são os pontos colaterais: nordeste, noroeste, sudeste,
Conjunção de
sudoeste. Exemplos:
Finalidade –
equivale a “para
Observação: quando empregados em sua forma absoluta, os Não julgues porque não te
que”, “a fim de
pontos cardeais são grafados com letra maiúscula. julguem.
que”.
Exemplos:
Nordeste (região do Brasil) Função de
Exemplos:
Ocidente (europeu) substantivo
Oriente (asiático) – vem
Não é fácil encontrar o
acompanhado
Porquê porquê de toda confusão.
Lembre-se: de artigo ou
Depois de dois-pontos, não se tratando de citação direta, usa- pronome
Dê-me um porquê de sua
se letra minúscula.
saída.
Exemplo:
“Chegam os magos do Oriente, com suas dádivas: ouro, 1. Por que (pergunta)
incenso, mirra.” (Manuel Bandeira) 2. Porque (resposta)
3. Por quê (fim de frase: motivo)
Emprego FACULTATIVO de letra minúscula: 4. O Porquê (substantivo)
a) Nos vocábulos que compõem uma citação bibliográfica.
Exemplos: Emprego de outras palavras
Crime e Castigo ou Crime e castigo
Grande Sertão: Veredas ou Grande sertão: veredas Senão: equivale a “caso contrário”, “a não ser”: Não fazia coisa
Em Busca do Tempo Perdido ou Em busca do tempo perdido nenhuma senão criticar.
Se não: equivale a “se por acaso não”, em orações adverbiais
b) Nas formas de tratamento e reverência, bem como em condicionais: Se não houver homens honestos, o país não sairá
nomes sagrados e que designam crenças religiosas. desta situação crítica.
Exemplos:
Governador Mário Covas ou governador Mário Covas Tampouco: advérbio, equivale a “também não”: Não
Papa João Paulo II ou papa João Paulo II compareceu, tampouco apresentou qualquer justificativa.
Excelentíssimo Senhor Reitor ou excelentíssimo senhor reitor Tão pouco: advérbio de intensidade: Encontramo-nos tão
Santa Maria ou santa Maria. pouco esta semana.

c) Nos nomes que designam domínios de saber, cursos e Trás ou Atrás = indicam lugar, são advérbios.
disciplinas. Traz - do verbo trazer.
Exemplos:
Português ou português Vultoso: volumoso: Fizemos um trabalho vultoso aqui.
Línguas e Literaturas Modernas ou línguas e literaturas Vultuoso: atacado de congestão no rosto: Sua face está
modernas vultuosa e deformada.
História do Brasil ou história do Brasil Questões
Arquitetura ou arquitetura
01. Que mexer o esqueleto é bom para a saúde já virou
Fonte: http://www.soportugues.com.br/secoes/fono/ até sabedoria popular. Agora, estudo levanta hipóteses sobre
fono24.php ........................ praticar atividade física..........................benefícios
Emprego do Porquê para a totalidade do corpo. Os resultados podem levar a novas
terapias para reabilitar músculos contundidos ou mesmo para
Orações
.......................... e restaurar a perda muscular que ocorre com o
Interrogativas Exemplo:
avanço da idade.
(Ciência Hoje, março de 2012)
(pode ser Por que devemos nos
substituído por: preocupar com o meio
As lacunas do texto devem ser preenchidas, correta e
Por por qual motivo, ambiente?
respectivamente, com:
Que por qual razão)
(A) porque … trás … previnir
Exemplo: (B) porque … traz … previnir
Equivalendo (C) porquê … tras … previnir
a “pelo qual” Os motivos por que não (D) por que … traz … prevenir
respondeu são desconhecidos. (E) por quê … tráz … prevenir

Conhecimentos Específicos 6
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APOSTILAS OPÇÃO
02. Assinale a opção que completa corretamente as lacunas comunicação (o meio por onde circula a mensagem, seja por
da frase abaixo: Não sei o _____ ela está com os olhos vermelhos, carta, telefone, comunicado na televisão, etc.).
talvez seja _____ chorou. Nesse processo podem ser identificados os seguintes
(A) porquê / porque; elementos: emissor, receptor, código (sistema de sinais) e canal
(B) por que / porque; de comunicação. Um outro elemento presente no processo
(C) porque / por que; comunicativo é o ruído, caracterizado por tudo aquilo que afeta
(D) porquê / por quê; o canal, perturbando a perfeita captação da mensagem (por
(E) por que / por quê. exemplo, falta de rede no celular).
Quando a comunicação se realiza por meio de uma
03. linguagem falada ou escrita, denomina-se comunicação verbal.
É uma forma de comunicação exclusiva dos seres humanos e a
mais importante nas sociedades humanas.
As outras formas de comunicação que recorrem a sistemas
de sinais não-linguísticos, como gestos, expressões faciais,
imagens, etc., são denominadas comunicação não-verbal.
Alguns ramos da comunicação são: a teoria da informação,
comunicação intrapessoal, comunicação interpessoal,
marketing, publicidade, propaganda, relações públicas, análise
do discurso, telecomunicações e Jornalismo.
O termo “comunicação” também é usado no sentido de
Considerando a ortografia e a acentuação da norma- ligação entre dois pontos, por exemplo, os meios de transporte
padrão da língua portuguesa, as lacunas estão, correta e que fazem a comunicação entre duas cidades ou os meios
respectivamente, preenchidas por: técnicos de comunicação (telecomunicações).
(A) mal ... por que ... intuíto
(B) mau ... por que ... intuito Tipos de comunicação
(C) mau ... porque ... intuíto É possível classificar a comunicação conforme o número de
(D) mal ... porque ... intuito pessoas que estão envolvidas por ela.
(E) mal ... por quê ... intuito
Comunicação Intrapessoal = a pessoa se comunica com
04. Assinale a alternativa que preenche, correta e ela mesma por meio de pensamentos, ou da escrita em diários
respectivamente, as lacunas do trecho a seguir, de acordo com pessoais.
a norma-padrão.
Além disso, ___certamente ____entre nós ____do fenômeno da Comunicação Interpessoal = refere-se à troca de
corrupção e das fraudes. informações entre duas pessoas. Pode ocorrer em conversas
(A) a … concenso … acerca presenciais, por carta, e-mail ou telefone.
(B) há … consenso … acerca
(C) a … concenso … a cerca Comunicação em Grupo = indica o processo de comunicação
(D) a … consenso … há cerca entre três pessoas ou mais. Acontece no ensino, em palestras,
(E) há … consenço … a cerca teleconferências ou discursos.
05. Assinale a alternativa cujas palavras se apresentam Comunicação de Massa = tem a pretensão de atingir um
flexionadas de acordo com a norma-padrão. grande público não especificamente identificado, é realizada de
(A) Os tabeliãos devem preparar o documento. forma coletiva e não focalizada a uma única pessoa. É conhecida
(B) Esses cidadões tinham autorização para portar fuzis. como sendo “um-para-muitos”, possibilitando respostas
(C) Para autenticar as certidãos, procure o cartório local. limitadas do público. Exemplos desse tipo de comunicação:
(D) Ao descer e subir escadas, segure-se nos corrimãos. jornais, revistas, filmes e televisão.
(E) Cuidado com os degrais, que são perigosos!
Comunicação Dirigida = é caracterizada pela seleção prévia
Respostas de públicos (ou segmentos de mercado), ou seja, direciona-se a
01. D/02. B/03. D/4-B/5-D um público homogêneo identificado (por exemplo, mala-direta
para um grupo de gestores).
Elementos da comunicação. Comunicação Integrada = por meio de uma única mensagem
ocorre a utilização de uma forma conjugada de todas as formas
de marketing, sendo elas: Publicidade e Propaganda, Venda
Pessoal, Promoção de Vendas, Relações Públicas, Assessoria
Comunicação de Imprensa, Marketing Direto e Internet. Todas essas áreas do
marketing irão contribuir de forma particular para o alcance dos
Comunicação é uma palavra derivada do termo latino objetivos.
“communicare”, que significa “partilhar, participar algo, tornar A comunicação integrada busca cercar o público-alvo em
comum”. todos os canais comunicativos existentes, por isso utilizam-se
Através da comunicação, os seres humanos e os animais diversos tipos de mídia ao mesmo tempo e de forma conjugada.
partilham diferentes informações entre si, tornando o ato de
comunicar uma atividade essencial para a vida em sociedade. Elementos da comunicação
Desde o princípio dos tempos, a comunicação foi de Todas as formas de comunicação envolvem os seguintes
importância vital, sendo uma ferramenta de integração, elementos:
instrução, de troca mútua e desenvolvimento. O processo de Emissor – quem inicia o processo;
comunicação consiste na transmissão de informação entre Código – sinais para se construir uma mensagem;
um emissor e um receptor que descodifica (interpreta) uma Mensagem – aquilo que se quer comunicar;
determinada mensagem. Canal – o veículo que leva a mensagem;
A mensagem é codificada num sistema de sinais definidos Receptor – quem recebe, decodifica e interpreta o significado.
que podem ser gestos, sons, indícios, uma língua natural Sabe-se que existe hoje um sistema de comunicação
(português, inglês, espanhol, etc.), ou outros códigos que complexo, com transmissões de mensagens através de códigos
possuem um significado (por exemplo, as cores do semáforo), variados, canais e veículos cada vez mais rápidos e eficientes.
e transportada até o destinatário através de um canal de

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APOSTILAS OPÇÃO
Comunicação humana paralingüísticos, da organização espacial e da localização.
Na comunicação humana, o código é a linguagem, que na Estes, que são determinantes de uma relação interpessoal dos
conversação é complementada por elementos da comunicação indivíduos.
não-verbal (gestos, expressões faciais, movimentos dos olhos
e do corpo, etc) e o canal utilizado é o ar que respiramos. No Organização espacial
processo de conversação, existe o feedback, representado pela É a distância que separa o emissor do receptor e se acha
resposta do receptor no momento em que responde, o receptor determinada por um conjunto de regras que refletem a mensagem
inverte o processo e passa a ser o emissor, e aquele que antes e as interações dos interlocutores. O espaço é convencionado
emitia passa a ser o receptor, que irá decodificar e interpretar a por todo um sistema de sinais que varia conforme os grupos
nova mensagem. É esta inversão do processo que permite a uma sociais e culturais.
pessoa saber se a outra entendeu a sua mensagem. A distância é um grau regulador de intimidade na relação
dos interlocutores, ela exerce influência na transmissão da
Linguagem informação pela utilização de diversos canais.
A linguagem é, ao mesmo tempo, uma função e um Localização
aprendizado: uma função no sentido de que todo ser humano A localização é um indicador do tipo de relação que a pessoa
normal fala e a linguagem constitui um instrumento necessário deseja ter com seu interlocutor, ela também modula a mensagem
para ele; um aprendizado, pois o sistema simbólico lingüístico, transmitida e indica status privilegiado. Indica também que
que a criança deve assimilar, é adquirido progressivamente estas pessoas gostariam ou detém um certo prazer no grupo.
pelo contato com o meio. Essa aquisição ocorre durante
toda a infância, no que o aprendizado da linguagem difere, Os gestos
fundamentalmente, do aprendizado da marcha ou da preensão, Os gestos precedem ou acompanham o comportamento
que constituem a seqüência necessária do desenvolvimento verbal. São controlados pelas normas sociais e estão ligados
biológico; A linguagem é um aprendizado cultural e está ligada aos modos. Cada emoção exprime-se num modelo postural que
ao meio da criança. reflete essa tensão ou esse relaxamento. Por exemplo, pessoas
em uma determinada postura que costumam freqüentemente
COMUNICAÇÃO VERBAL mexer um ou os dois pés, é um dos indicativos de ansiedade.
Existem inúmeras formas de se trocar informações, ou seja, Assim como a postura dos braços cruzados é um indicativo de
de se comunicar. Uma das mais eficazes para o ser humano é a fechamento racional.
comunicação verbal, que ocorre quando um grupo de indivíduos
com interesses comuns ou correlatos se reúne. A mímica
As mímicas são os “gestos do rosto”. Um observador pode ver
A comunicação oral no rosto informações sobre a personalidade e a história de seu
Em reuniões sociais, sejam elas formais ou informais, as interlocutor, mas isso gera também muitos erros.
informações são trocadas através da comunicação oral, a mais As mímicas são específicas do meio social, da região em que
importante para a transmissão das idéias. Existe a oportunidade a pessoa foi educada.
de aprofundar os detalhes de maior interesse relacionados Por exemplo, é comum o japonês sorrir quando está
à informação oferecida, bem como a possibilidade de se embaraçado, enquanto no brasileiro o sorrir é uma manifestação
obter a repetição ou o detalhamento de uma informação não comum de alegria.
completamente entendida. Podem também ser apresentadas
observações ou pontos de vista capazes de enriquecer a O olhar
informação inicial, tornado-a mais clara, concisa e completa. A expressão do olhar é tão variada e difícil de controlar que é
O desembaraço na conversa informal do dia a dia, pouco também difícil dominar as intenções mais ocultas.
tem a ver com o desempenho na comunicação verbal, como O olhar parece ter dupla função:
forma de intercambiar informações. É difícil para a maioria dos Indica a quem se dirige a comunicação.
profissionais de qualquer área, utilizar adequadamente essa Constitui um indício da atenção dada.
potente modalidade de comunicação. Isto é conseqüência do Não existe interação na comunicação sem troca de olhar, o
simples fato de que a formação e o treinamento das pessoas são contato com os olhos marca a interação intensa.
incompletos. Nós não somos ensinados a organizar e registrar o Um exemplo de interação feito com o do olhar é o do
nosso trabalho diário, analisá-lo criticamente, tirar conclusões e vendedor frente a seus clientes. Ele fixa o olhar no seu cliente
discuti-las de forma ordenada. submetendo a este uma condição de submissão na comunicação.
De um modo geral, as pessoas evitam falar em público,
por uma série de razões, como vergonha, medo de enfrentar a A voz e os sinais paralinguísticos
audiência, medo de não saber responder a alguma pergunta, A voz transmite aspectos da personalidade assim como
receio de parecer ridículo ou de dizer besteiras, etc. Essas estado de espírito da pessoa que se fala. Um indivíduo traz no
razões, contudo, não tem o menor fundamento; elas apenas seu registro e voz a marca quase irreversível de seu grupo social
servem para esconder a única e real razão: a falta de treino ou e cultural.
de familiaridade com a comunicação verbal. É perfeitamente O timbre de voz, o ritmo, a fluência, a intensidade dependem
normal que algumas pessoas pareçam mais naturais ou à do controle emotivo.
vontade do que outras, ao falar em grupo. A diferença, contudo,
reside apenas no quanto uns conseguem desligar dos falsos e CONCORDÂNCIA E DISCORDÂNCIA ENTRE A COMUNICAÇÃO
infundados receios e concentrar-se na comunicação. VERBAL E A COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL
O código verbal possui o objetivo de transmitir um conteúdo
A comunicação escrita de valor informativo. Já o código não verbal é quase sempre
A leitura, por mais atenta que possa ser, não tem o poder utilizado para manter a relação interpessoal.
de transmissão da informação que a comunicação verbal tem. Se houver concordância entre elas, o impacto da mensagem
Na leitura, o autor é desconhecido ou distante; a sua idéia nem é mais forte e a recepção é melhor.
sempre é claramente entendida e, mais importante, não existe a Se houver discordância entre elas, ocorre uma desorientação
possibilidade do diálogo. A transmissão da informação é passiva. do receptor, o sentido da mensagem é alterado e o conteúdo se
A comunicação verbal, ao contrário é mais poderosa e versátil. torna preponderante.
Exemplo: uma pessoa ao dar um abraço numa criança
COMUNICAÇÃO NÃO-VERBAL demonstrando afeto por ela ao mesmo tempo que chama esta
A comunicação verbal serve para transmitir informações de querida e meiga, fortalece a mensagem. O mesmo não ocorre
entre indivíduos, tendo estas informações um caráter se, ao dar o abraço, a pessoa chama a criança de chata. Para a
informativo. Já a comunicação não-verbal é caracterizada criança, o abraço será mais significativo e ela fará uma distorção
pelo uso de gestos, da mímica, do olhar, da voz e dos sinais da palavra chata.

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APOSTILAS OPÇÃO
Fontes: http://www.portaleducacao.com.br/marketing/ Não se interfere no comportamento das pessoas apenas
artigos/36851/tipos-de-comunicacao#ixzz3zyJfUYMH com a ordem, o pedido, a súplica. Há textos que nos influenciam
http://www.significados.com.br/comunicacao/ de maneira bastante sutil, com tentações e seduções, como
http://pedagogiaaopedaletra.com/comunicacao-verbal-e-nao- os anúncios publicitários que nos dizem como seremos bem
verbal/ sucedidos, atraentes e charmosos se usarmos determinadas
marcas, se consumirmos certos produtos.
Com essa função, a linguagem modela tanto bons cidadãos,
Funções de linguagem. que colocam o respeito ao outro acima de tudo, quanto
espertalhões, que só pensam em levar vantagem, e indivíduos
atemorizados, que se deixam conduzir sem questionar.
Emprega-se a expressão função conativa da linguagem
Funções da Linguagem quando esta é usada para interferir no comportamento das
pessoas por meio de uma ordem, um pedido ou uma sugestão. A
Quando se pergunta a alguém para que serve a linguagem, palavra conativo é proveniente de um verbo latino (conari) que
a resposta mais comum é que ela serve para comunicar. Isso significa “esforçar-se” (para obter algo).
está correto. No entanto, comunicar não é apenas transmitir
informações. É também exprimir emoções, dar ordens, falar A linguagem serve para expressar a subjetividade:
apenas para não haver silêncio. Para que serve a linguagem?
Função Emotiva.
A linguagem serve para informar: Função Referencial.
“Eu fico possesso com isso!”
“Estados Unidos invadem o Iraque”
Nessa frase, quem fala está exprimindo sua indignação
Essa frase, numa manchete de jornal, informa-nos sobre um com alguma coisa que aconteceu. Com palavras, objetivamos
acontecimento do mundo. e expressamos nossos sentimentos e nossas emoções.
Com a linguagem, armazenamos conhecimentos na memória, Exprimimos a revolta e a alegria, sussurramos palavras de
transmitimos esses conhecimentos a outras pessoas, ficamos amor e explodimos de raiva, manifestamos desespero, desdém,
sabendo de experiências bem-sucedidas, somos prevenidos desprezo, admiração, dor, tristeza. Muitas vezes, falamos para
contra as tentativas mal sucedidas de fazer alguma coisa. Graças exprimir poder ou para afirmarmo-nos socialmente. Durante o
à linguagem, um ser humano recebe de outro conhecimentos, governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, ouvíamos
aperfeiçoa-os e transmite-os. certos políticos dizerem “A intenção do Fernando é levar o
Condillac, um pensador francês, diz: “Quereis aprender país à prosperidade” ou “O Fernando tem mudado o país”. Essa
ciências com facilidade? Começai a aprender vossa própria maneira informal de se referirem ao presidente era, na verdade,
língua!” Com efeito, a linguagem é a maneira como aprendemos uma maneira de insinuarem intimidade com ele e, portanto,
desde as mais banais informações do dia a dia até as teorias de exprimirem a importância que lhes seria atribuída pela
científicas, as expressões artísticas e os sistemas filosóficos mais proximidade com o poder. Inúmeras vezes, contamos coisas
avançados. que fizemos para afirmarmo-nos perante o grupo, para mostrar
A função informativa da linguagem tem importância central nossa valentia ou nossa erudição, nossa capacidade intelectual
na vida das pessoas, consideradas individualmente ou como ou nossa competência na conquista amorosa.
grupo social. Para cada indivíduo, ela permite conhecer o mundo; Por meio do tipo de linguagem que usamos, do tom de voz
para o grupo social, possibilita o acúmulo de conhecimentos que empregamos, etc., transmitimos uma imagem nossa, não
e a transferência de experiências. Por meio dessa função, a raro inconscientemente.
linguagem modela o intelecto. Emprega-se a expressão função emotiva para designar a
É a função informativa que permite a realização do trabalho utilização da linguagem para a manifestação do enunciador, isto
coletivo. Operar bem essa função da linguagem possibilita que é, daquele que fala.
cada indivíduo continue sempre a aprender.
A função informativa costuma ser chamada também de A linguagem serve para criar e manter laços sociais:
função referencial, pois seu principal propósito é fazer com
que as palavras revelem da maneira mais clara possível as coisas Função Fática.
ou os eventos a que fazem referência.
__Que calorão, hein?
A linguagem serve para influenciar e ser influenciado: __Também, tem chovido tão pouco.
__Acho que este ano tem feito mais calor do que nos outros.
Função Conativa. __Eu não me lembro de já ter sentido tanto calor.

“Vem pra Caixa você também.” Esse é um típico diálogo de pessoas que se encontram num
elevador e devem manter uma conversa nos poucos instantes
Essa frase fazia parte de uma campanha destinada a em que estão juntas. Falam para nada dizer, apenas porque o
aumentar o número de correntistas da Caixa Econômica Federal. silêncio poderia ser constrangedor ou parecer hostil.
Para persuadir o público alvo da propaganda a adotar esse Quando estamos num grupo, numa festa, não podemos
comportamento, formulou-se um convite com uma linguagem manter-nos em silêncio, olhando uns para os outros. Nessas
bastante coloquial, usando, por exemplo, a forma vem, de ocasiões, a conversação é obrigatória. Por isso, quando não se
segunda pessoa do imperativo, em lugar de venha, forma de tem assunto, fala-se do tempo, repetem-se histórias que todos
terceira pessoa prescrita pela norma culta quando se usa você. conhecem, contam-se anedotas velhas. A linguagem, nesse caso,
Pela linguagem, as pessoas são induzidas a fazer não tem nenhuma função que não seja manter os laços sociais.
determinadas coisas, a crer em determinadas ideias, a sentir Quando encontramos alguém e lhe perguntamos “Tudo bem?”,
determinadas emoções, a ter determinados estados de alma em geral não queremos, de fato, saber se nosso interlocutor está
(amor, desprezo, desdém, raiva, etc.). Por isso, pode-se dizer que bem, se está doente, se está com problemas. A fórmula é uma
ela modela atitudes, convicções, sentimentos, emoções, paixões. maneira de estabelecer um vínculo social.
Quem ouve desavisada e reiteradamente a palavra “negro”, Também os hinos têm a função de criar vínculos, seja entre
pronunciada em tom desdenhoso, aprende a ter sentimentos alunos de uma escola, entre torcedores de um time de futebol
racistas; se a todo momento nos dizem, num tom pejorativo, ou entre os habitantes de um país. Não importa que as pessoas
“Isso é coisa de mulher”, aprendemos os preconceitos contra a não entendam bem o significado da letra do Hino Nacional, pois
mulher. ele não tem função informativa: o importante é que, ao cantá-lo,
sentimo-nos participantes da comunidade de brasileiros.

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APOSTILAS OPÇÃO
Na nomenclatura da linguística, usa-se a expressão função E o bosque estala, move-se, estremece...
fática para indicar a utilização da linguagem para estabelecer ou Da cavalgada o estrépito que aumenta
manter aberta a comunicação entre um falante e seu interlocutor. Perde-se após no centro da montanha...

A linguagem serve para falar sobre a própria linguagem: Apud: Lêdo Ivo. Raimundo Correia: Poesia. 4ª ed.
Função Metalinguística. Rio de Janeiro, Agir, p. 29. Coleção Nossos Clássicos.

Quando dizemos frases como “A palavra ‘cão’ é um Observe-se que a maior concentração de sons oclusivos
substantivo”; “É errado dizer ‘a gente viemos’”; “Estou usando ocorre no segundo verso, quando se afirma que o barulho dos
o termo ‘direção’ em dois sentidos”; “Não é muito elegante usar cavalos aumenta.
palavrões”, não estamos falando de acontecimentos do mundo, Quando se usam recursos da própria língua para acrescentar
mas estamos tecendo comentários sobre a própria linguagem. É sentidos ao conteúdo transmitido por ela, diz-se que estamos
o que chama função metalinguística. A atividade metalinguística usando a linguagem em sua função poética.
é inseparável da fala. Falamos sobre o mundo exterior e o
mundo interior e ao mesmo tempo, fazemos comentários sobre Para melhor compreensão das funções de linguagem, torna-
a nossa fala e a dos outros. Quando afirmamos como diz o se necessário o estudo dos elementos da comunicação.
outro, estamos comentando o que declaramos: é um modo de Antigamente, tinha-se a ideia que o diálogo era desenvolvido
esclarecer que não temos o hábito de dizer uma coisa tão trivial de maneira “sistematizada” (alguém pergunta - alguém espera
como a que estamos enunciando; inversamente, podemos usar ouvir a pergunta, daí responde, enquanto outro escuta em
a metalinguagem como recurso para valorizar nosso modo de silêncio, etc). Exemplo:
dizer. É o que se dá quando dizemos, por exemplo, Parodiando o
padre Vieira ou Para usar uma expressão clássica, vou dizer que
“peixes se pescam, homens é que se não podem pescar”. ELEMENTOS DA COMUNICAÇÃO
Emissor emite, codifica a mensagem
A linguagem serve para criar outros universos.
Receptor recebe, decodifica a mensagem
A linguagem não fala apenas daquilo que existe, fala também Mensagem conteúdo transmitido pelo emissor
do que nunca existiu. Com ela, imaginamos novos mundos,
outras realidades. Essa é a grande função da arte: mostrar que conjunto de signos usado na transmissão e
Código
outros modos de ser são possíveis, que outros universos podem recepção da mensagem
existir. O filme de Woody Allen “A rosa púrpura do Cairo” (1985) Referente contexto relacionado a emissor e receptor
mostra isso de maneira bem expressiva. Nele, conta-se a história
de uma mulher que, para consolar-se do cotidiano sofrido e Canal meio pelo qual circula a mensagem
dos maus-tratos infligidos pelo marido, refugia-se no cinema, Porém, com recentes estudos linguísticos, tal teoria sofreu
assistindo inúmeras vezes a um filme de amor em que a vida certa modificação, pois, chegou-se a conclusão de que ao se
é glamorosa, e o galã é carinhoso e romântico. Um dia, ele sai tratar da parole (sentido individual da língua), entende-se que
da tela e ambos vão viver juntos uma série de aventuras. Nessa é um veículo democrático (observe a função fática), assim,
outra realidade, os homens são gentis, a vida não é monótona, o admite-se um novo formato de locução, ou, interlocução (diálogo
amor nunca diminui e assim por diante. interativo):

A linguagem serve como fonte de prazer: Função Poética.


Locutor quem fala (e responde)
Brincamos com as palavras. Os jogos com o sentido e os sons Locutário quem ouve e responde
são formas de tornar a linguagem um lugar de prazer. Divertimo-
nos com eles. Manipulamos as palavras para delas extrairmos Interlocução diálogo
satisfação.
Oswald de Andrade, em seu “Manifesto antropófago”, diz As respostas, dos “interlocutores” podem ser gestuais, faciais
“Tupi or not tupi”; trata-se de um jogo com a frase shakespeariana etc. por isso a mudança (aprimoração) na teoria.
“To be or not to be”. Conta-se que o poeta Emílio de Menezes, As atitudes e reações dos comunicantes são também
quando soube que uma mulher muito gorda se sentara no banco referentes e exercem influência sobre a comunicação
de um ônibus e este quebrara, fez o seguinte trocadilho: “É a
primeira vez que vejo um banco quebrar por excesso de fundos”. Lembramo-nos:
A palavra banco está usada em dois sentidos: “móvel comprido
para sentar-se” e “casa bancária”. Também está empregado em - Emotiva (ou expressiva): a mensagem centra-se no “eu”
dois sentidos o termo fundos: “nádegas” e “capital”, “dinheiro”. do emissor, é carregada de subjetividade. Ligada a esta função
Observe-se o uso do verbo bater, em expressões diversas, está, por norma, a poesia lírica.
com significados diferentes, nesta frase do deputado Virgílio - Função apelativa (imperativa): com este tipo de
Guimarães: mensagem, o emissor atua sobre o receptor, afim de que
este assuma determinado comportamento; há frequente
“ACM bate boca porque está acostumado a bater: bateu uso do vocativo e do imperativo. Esta função da linguagem é
continência para os militares, bateu palmas para o Collor e quer frequentemente usada por oradores e agentes de publicidade.
bater chapa em 2002. Mas o que falta é que lhe bata uma dor de - Função metalinguística: função usada quando a língua
consciência e bata em retirada.” explica a própria linguagem (exemplo: quando, na análise de
(Folha de S. Paulo) um texto, investigamos os seus aspectos morfo-sintáticos e/ou
semânticos).
Verifica-se que a linguagem pode ser usada utilitariamente - Função informativa (ou referencial): função usada
ou esteticamente. No primeiro caso, ela é utilizada para informar, quando o emissor informa objetivamente o receptor de uma
para influenciar, para manter os laços sociais, etc. No segundo, realidade, ou acontecimento.
para produzir um efeito prazeroso de descoberta de sentidos. - Função fática: pretende conseguir e manter a atenção
Em função estética, o mais importante é como se diz, pois o dos interlocutores, muito usada em discursos políticos e textos
sentido também é criado pelo ritmo, pelo arranjo dos sons, pela publicitários (centra-se no canal de comunicação).
disposição das palavras, etc. - Função poética: embeleza, enriquecendo a mensagem com
Na estrofe abaixo, retirada do poema “A Cavalgada”, de figuras de estilo, palavras belas, expressivas, ritmos agradáveis,
Raimundo Correia, a sucessão dos sons oclusivos /p/, /t/, /k/, etc.
/b/, /d/, /g/ sugere o patear dos cavalos:

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APOSTILAS OPÇÃO
Também podemos pensar que as primeiras falas conscientes fia mais fino. Senta-se ele diante de sua máquina, olha através
da raça humana ocorreu quando os sons emitidos evoluiram da janela e busca fundo em sua imaginação um fato qualquer,
para o que podemos reconhecer como “interjeições”. As de preferência colhido no noticiário matutino, ou da véspera,
primeiras ferramentas da fala humana. em que, com as suas artimanhas peculiares, possa injetar um
sangue novo. Se nada houver, resta-lhe o recurso de olhar em
A função biológica e cerebral da linguagem é aquilo que mais torno e esperar que, através de um processo associativo, surja-
profundamente distingue o homem dos outros animais. lhe de repente a crônica, provinda dos fatos e feitos de sua vida
Podemos considerar que o desenvolvimento desta função emocionalmente despertados pela concentração. Ou então, em
cerebral ocorre em estreita ligação com a bipedia e a libertação última instância, recorrer ao assunto da falta de assunto, já
da mão, que permitiram o aumento do volume do cérebro, a par bastante gasto, mas do qual, no ato de escrever, pode surgir o
do desenvolvimento de órgãos fonadores e da mímica facial. inesperado.
Devido a estas capacidades, para além da linguagem falada
e escrita, o homem, aprendendo pela observação de animais, MORAES, V. Para viver um grande amor: crônicas e poemas.
desenvolveu a língua de sinais adaptada pelos surdos em São Paulo: Cia. das Letras, 1991.
diferentes países, não só para melhorar a comunicação entre
surdos, mas também para utilizar em situações especiais, Predomina nesse texto a função da linguagem que se
como no teatro e entre navios ou pessoas e não animais que constitui
se encontram fora do alcance do ouvido, mas que se podem (A) nas diferenças entre o cronista e o ficcionista.
observar entre si. (B) nos elementos que servem de inspiração ao cronista.
(C) nos assuntos que podem ser tratados em uma crônica.
Questões (D) no papel da vida do cronista no processo de escrita da
crônica.
01. (E) nas dificuldades de se escrever uma crônica por meio de
Alô, alô, Marciano uma crônica.
Aqui quem fala é da Terra
Pra variar, estamos em guerra 04. Sempre que há comunicação há uma intenção, o que
Você não imagina a loucura determina que a linguagem varie, assumindo funções. A
O ser humano tá na maior fissura porque função da linguagem predominante no texto com a respectiva
Tá cada vez mais down o high society [...] característica está expressa em:
(A) referencial – presença de termos científicos e técnicos
LEE, Rita. CARVALHO, Roberto de. Disponível em: http://www. (B) expressiva – predominância da 1ª pessoa do singular
vagalume.com.br/ Acesso em: 30 mar. 2014. (C) fática – uso de cumprimentos e saudações
(D) apelativa – emprego de verbos flexionados no imperativo
Os dois primeiros versos do texto fazem referência à função
da linguagem cujo objetivo dos emissores é apenas estabelecer Respostas
ou manter contato de comunicação com seus receptores. Nesses 01. (E) / 02. (B) / 03. (E) / 04. (D)
versos, a linguagem está empregada em função
(A) expressiva.
(B) apelativa.
Norma culta e variação
(C) referencial. linguística.
(D) poética.
(E) fática.
Norma Culta e Língua-Padrão
02.
SONETO DE MAIO De acordo com M. T. Piacentini, mesmo que não se mencione
(Vinícius de Moraes) terminologia específica, é evidente que se lida no dia-a-dia com
níveis diferentes de fala e escrita. É também verdade que as
Suavemente Maio se insinua pessoas querem “falar e escrever melhor”, querem dominar a
Por entre os véus de Abril, o mês cruel língua dita culta, a correta, a ideal, não importa o nome que se
E lava o ar de anil, alegra a rua lhe dê.
Alumbra os astros e aproxima o céu. O padrão de língua ideal a que as pessoas querem chegar é
Até a lua, a casta e branca lua aquele convencionalmente utilizado nas instâncias públicas de
Esquecido o pudor, baixa o dossel uso da linguagem, como livros, revistas, documentos, jornais,
E em seu leito de plumas fica nua textos científicos e publicações oficiais; em suma, é a que circula
A destilar seu luminoso mel. nos meios de comunicação, no âmbito oficial, nas esferas de
Raia a aurora tão tímida e tão frágil pesquisa e trabalhos acadêmicos.
Que através do seu corpo transparente Não obstante, os linguistas entendem haver uma língua
Dir-se-ia poder-se ver o rosto circulante que é correta mas diferente da língua ideal e
Carregado de inveja e de presságio imaginária, fixada nas fórmulas e sistematizações da gramática.
Dos irmãos Junho e Julho, friamente Eles fazem, pois, uma distinção entre o real e o ideal: a língua
Preparando as catástrofes de Agosto... concreta com todas suas variedades de um lado, e de outro um
Disponível em: http://www.viniciusdemoraes.com.br padrão ou modelo abstrato do que é “bom” e “correto”, o que
conformaria, no seu entender, uma língua artificial, situada num
Em um poema, é possível afirmar que a função de linguagem nível hipotético.
está centrada na: Para os cientistas da língua, portanto, fica claro que há
(A) Função fática. dois estratos diferenciados: um praticamente intangível,
(B) Função emotiva ou expressiva. representado nas normas preconizadas pela gramática
(C) Função conativa ou apelativa. tradicional, que comporta as irregularidades e excrescências da
(D) Função denotativa ou referencial. língua, e outro concreto, o utilizado pelos falantes cultos, qual
seja, a “linguagem concretamente empregada pelos cidadãos
03. O exercício da crônica que pertencem aos segmentos mais favorecidos da nossa
Escrever prosa é uma arte ingrata. Eu digo prosa fiada, como população”, segundo Marcos Bagno.
faz um cronista; não a prosa de um ficcionista, na qual este é Convém esclarecer que para a ciência sociolinguística
levado meio a tapas pelas personagens e situações que, azar somente a pessoa que tiver formação universitária completa
dele, criou porque quis. Com um prosador do cotidiano, a coisa será caracterizada como falante culto(urbano).

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APOSTILAS OPÇÃO
Sendo assim, como são presumivelmente cultos os sujeitos Norma culta, norma padrão e norma popular
que produzem os jornais, a documentação oficial, os trabalhos
científicos, só pode ser culta a sua linguagem, mesmo que a A Norma é um uso linguístico concreto e corresponde ao
língua que tais pessoas falam e os textos que produzem nem dialeto social praticado pela classe de prestígio, representando
sempre se coadunem com as regras rígidas impostas pela a atitude que o falante assume em face da norma objetiva. A
gramática normativa, divulgada na escola e em outras instâncias normatização não existe por razões apenas linguísticas, mas
(de repressão linguística) como o vestibular. também culturais, econômicas, sociais, ou seja, a Norma na
Isso é o que pensam os linguistas. E o povo – saberá ele fazer língua origina-se de fatores que envolvem diferenças de classes,
a distinção entre as duas modalidades e os dois termos que as poder, acesso a educação escrita, e não da qualidade da forma
descrevem? da língua. Há um conceito amplo e um conceito estreito de
Para os linguistas, a língua-padrão se estriba nas normas Norma. No primeiro caso, ela é entendida como um fator de
e convenções agregadas num corpo chamado de gramática coesão social. No segundo, corresponde concretamente aos
tradicional e que tem a veleidade de servir de modelo de usos e aspirações da classe social de prestígio. Num sentido
correção para toda e qualquer forma de expressão linguística. amplo, a norma corresponde à necessidade que um grupo
Querer que todos falem e escrevam da mesma forma e de social experimenta de defender seu veículo de comunicação das
acordo com padrões gramaticais rígidos é esquecer-se que não alterações que poderiam advir no momento do seu aprendizado.
pode haver homogeneidade quando o mundo real apresenta Num sentido restrito, a Norma corresponde aos usos e atitudes
uma heterogeneidade de comportamentos linguísticos, todos de determinado seguimento da sociedade, precisamente aquele
igualmente corretos (não se pode associar “correto” somente a que desfruta de prestígio dentro da Nação, em virtude de razões
culto). políticas, econômicas e culturais. Segundo Lucchesi considera-
Em suma: há uma realidade heterogênea que, por abrigar se que a realidade linguística brasileira deve ser entendida como
diferenças de uso que refletem a dinâmica social, exclui a um contínuo de normas, dentro do quadro de bipolarização do
possibilidade de imposição ou adoção como única de uma Português do Brasil.
língua-modelo baseada na gramática tradicional, a qual, por sua A existência da civilização dá-se com o surgimento da
vez, está ancorada nos grandes escritores da língua, sobretudo escrita. Suas regras são pautadas a partir da Norma Culta. Sendo
os clássicos , sendo pois conservadora. E justamente por se valer esta importante nos documentos formais que exigem a correta
de escritores é que as prescrições gramaticais se impõem mais expressão do Português para que não haja mal entendido algum.
na escrita do que na fala. Ela nada mais é do que a modalidade linguística escolhida pela
“ A cultura escrita, associada ao poder social , desencadeou elite de uma sociedade como modelo de comunicação escrita e
também, ao longo da história, um processo fortemente unificador verbal.
(que vai alcançar basicamente as atividades verbais escritas), A Norma Culta é uma expressão empregada pelos linguistas
que visou e visa uma relativa estabilização linguística, buscando brasileiros para designar o conjunto de variantes linguísticas
neutralizar a variação e controlar a mudança. Ao resultado desse efetivamente faladas, na vida cotidiana pelos falantes cultos,
processo, a esta norma estabilizada, costumamos dar o nome de sendo assim classificando os cidadãos nascidos e criados em
norma-padrão ou língua-padrão” (Faraco, Carlos Alberto). zonas urbanas e com grau de instrução superior completo.
Aryon Rodrigues entra na discussão: “Frequentemente o “Fundamentam-se as regras da Gramática Normativa nas obras
padrão ideal é uma regra de comportamento para a qual tendem dos grandes escritores, em cuja linguagem a classe ilustrada põe
os membros da sociedade, mas que nem todos cumprem, ou não o seu ideal de perfeição, porque nela é que se espelha o que o uso
cumprem integralmente”. Mais adiante, ao se referir à escola, ele idiomático e consagrou”. (ROCHA LIMA).
professa que nem mesmo os professores de Língua Portuguesa Dentre as características que são pertinentes à Norma Culta
escapam a esse destino: “Comumente, entretanto, o mesmo podemos citar que é: a variante de maior prestígio social na
professor que ensina essa gramática não consegue observá-la comunidade, sendo realizada com certa uniformidade pelos
em sua própria fala nem mesmo na comunicação dentro de seu membros do grupo social de padrão cultural mais elevado;
grupo profissional ”. cumpre o papel de impedir a fragmentação dialetal; ensinada
Vamos ilustrar os argumentos acima expostos. Não há pela escola; usada na escrita em gêneros discursivos em que há
brasileiro – nem mesmo professores de português – que não fale maior formalidade aproximando-a dos padrões da prescrição da
assim: gramática tradicional; a mais empregada na literatura e também
– Me conta como foi o fim de semana… pelas pessoas cultas em diferentes situações de formalidade;
– Te enganaram, com certeza! indicada precisamente nas marcas de gênero, número e pessoa;
– Me explica uma coisa: você largou o emprego ou foi usada em todas as pessoas verbais, com exceção, talvez, da 2ª
mandado embora? do plural, sendo utilizada principalmente na linguagem dos
sermões; empregada em todos os modos verbais em relação
Ou mesmo assim: verbal de tempos e modos; possuindo uma enorme riqueza
– Tive que levar os gatos, pois encontrei eles bem de construção sintática, além de uma maior utilização da
machucados. voz passiva; grande o emprego de preposições nas regências
– Conheço ela há muito tempo – é ótima menina. aproveitando a organização gramatical cuidada da frase.
– Acho que já lhe conheço, rapaz. De modo geral, um falante culto, em situação comunicativa
formal, buscará seguir as regras da norma explícita de sua
Então, se os falantes cultos, aquelas pessoas que têm acesso língua e ainda procurará seguir, no que diz respeito ao léxico,
às regras padronizadas, incutidas no processo de escolarização, um repertório que, se não for erudito, também não será vulgar.
se exprimem desse modo, essa é a norma culta. Já as formas Isso configura o que se entende por norma culta. A Norma
propugnadas pela gramática tradicional e que provavelmente só Padrão está vinculada a uma língua modelo. Segue prescrições
se encontrariam na escrita (conta-me como foi /enganaram-te / representadas na gramática, mas é marcada pela língua
explica-me uma coisa / pois os encontrei / conheço-a há tempos produzida em certo momento da história e em uma determinada
/ acho que já o conheço) configuram a norma-padrão ou língua- sociedade. Como a língua está em constante mudança, diferentes
padrão. formas de linguagem que hoje não são consideradas pela Norma
Se para os cientistas da língua, portanto, existe uma Padrão, com o tempo podem vir a se legitimar.
polarização entre a norma-padrão (também denominada Dentro da Norma Padrão define-se um modelo de língua
“norma canônica” por alguns linguistas) e o conjunto das idealizada prescrito pelas gramáticas normativas, como sendo
variedades existentes no Brasil, aí incluída a norma culta, no uma receita que nenhum usuário da língua emprega na fala e
senso comum não se faz distinção entre padrão e culta. Para os raramente utiliza na escrita. Sendo também uma referência
leigos, a população em geral, toda forma elevada de linguagem, para os falantes da Norma Culta, mas não passam de um ideal
que se aproxime dos padrões de prestígio social, configura a a ser alcançado, pois é um padrão extremamente enriquecido
norma culta. de língua. Assim, as gramáticas tradicionais descrevem a Norma
Padrão, não refletindo o uso que se faz realmente do Português

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APOSTILAS OPÇÃO
no Brasil. 02. (EMSERH – Fisioterapeuta – FUNCAB/2016)
Marcos Bagno propõe, como alternativa, uma triangulação:
onde a Norma Popular teria menos prestígio opondo-se à Norma O embondeiro que sonhava pássaros
Culta mais prestigiada, e a Norma Padrão se eleva sobre as duas
anteriores servindo como um ideal imaginário e inatingível. Esse homem sempre vai ficar de sombra: nenhuma memória
A Norma Padrão subdivide-se em: Formal e Coloquial. A será bastante para lhe salvar do escuro. Em verdade, seu astro
Padrão Formal é o modelo culto utilizado na escrita, que segue não era o Sol. Nem seu país não era a vida. Talvez, por razão
rigidamente as regras gramaticais. disso, ele habitasse com cautela de um estranho. O vendedor de
Essa linguagem é mais elaborada, tanto porque o falante pássaros não tinha sequer o abrigo de um nome. Chamavam-lhe
tem mais tempo para se pronunciar de forma refletida como o passarinheiro.
porque é supervalorizada na nossa cultura. É a história do vale o Todas manhãs ele passava nos bairros dos brancos
que está escrito. Já a Padrão Coloquial é a versão oral da língua carregando suas enormes gaiolas. Ele mesmo fabricava aquelas
culta e, por ser mais livre e espontânea, tem um pouco mais de jaulas, de tão leve material que nem pareciam servir de prisão.
liberdade e está menos presa à rigidez das regras gramaticais. Parecia eram gaiolas aladas, voláteis. Dentro delas, os pássaros
Entretanto, a margem de afastamento dessas regras é estreita e, esvoavam suas cores repentinas. À volta do vendedeiro, era uma
embora exista, a permissividade com relação às transgressões é nuvem de pios, tantos que faziam mexer as janelas:
pequena. - Mãe, olha o homem dos passarinheiros!
Assim, na linguagem coloquial, admitem-se sem grandes E os meninos inundavam as ruas. As alegrias se
traumas, construções como: ainda não vi ele; me passe o intercambiavam: a gritaria das aves e o chilreio das crianças.
arroz e não te falei que você iria conseguir?. Inadmissíveis na O homem puxava de uma muska e harmonicava sonâmbulas
língua escrita. O falante culto, de modo geral, tem consciência melodias. O mundo inteiro se fabulava.
dessa distinção e ao mesmo tempo em que usa naturalmente Por trás das cortinas, os colonos reprovavam aqueles
as construções acima na comunicação oral, evita-as na escrita. abusos. Ensinavam suspeitas aos seus pequenos filhos - aquele
Contudo, como se disse, não são muitos os desvios admitidos preto quem era? Alguém conhecia recomendações dele? Quem
e muitas formas peculiares da Norma Popular são condenadas autorizara aqueles pés descalços a sujarem o bairro? Não, não
mesmo na linguagem oral. A Norma Popular é aquela linguagem e não. O negro que voltasse ao seu devido lugar. Contudo, os
que não é formal, ou seja, não segue padrões rígidos, é a pássaros tão encantantes que são - insistiam os meninos. Os pais
linguagem popular, falada no cotidiano. se agravavam: estava dito.
Mas aquela ordem pouco seria desempenhada.
O nível popular está associado à simplicidade da utilização [...]
linguística em termos lexicais, fonéticos, sintáticos e semânticos. O homem então se decidia a sair, juntar as suas raivas com os
Esta decorrerá da espontaneidade própria do discurso oral e da demais colonos. No clube, eles todos se aclamavam: era preciso
natural economia linguística. É utilizado em contextos informais. acabar com as visitas do passarinheiro. Que a medida não podia
ser de morte matada, nem coisa que ofendesse a vista das
Dentre as características da Norma Popular podemos senhoras e seus filhos. 6 remédio, enfim, se haveria de pensar.
destacar: economia nas marcas de gênero, número e pessoa; No dia seguinte, o vendedor repetiu a sua alegre invasão.
redução das pessoas gramaticais do verbo; mistura da 2ª com Afinal, os colonos ainda que hesitaram: aquele negro trazia aves
a 3ª pessoa do singular; uso intenso da expressão a gente em de belezas jamais vistas. Ninguém podia resistir às suas cores,
lugar de eu e nós; redução dos tempos da conjugação verbal e de seus chilreios. Nem aquilo parecia coisa deste verídico mundo.
certas pessoas, como a perda quase total do futuro do presente O vendedor se anonimava, em humilde desaparecimento de si:
e do pretérito-mais-que-perfeito no indicativo; do presente do - Esses são pássaros muito excelentes, desses com as asas
subjuntivo; do infinitivo pessoal; falta de correlação verbal entre todas de fora.
os tempos; redução do processo subordinativo em benefício da Os portugueses se interrogavam: onde desencantava ele tão
frase simples e da coordenação; maior emprego da voz ativa maravilhosas criaturas? onde, se eles tinham já desbravado os
em lugar da passiva; predomínio das regências verbais diretas; mais extensos matos?
simplificação gramatical da frase; emprego dos pronomes O vendedor se segredava, respondendo um riso. Os senhores
pessoais retos como objetos. receavam as suas próprias suspeições - teria aquele negro
direito a ingressar num mundo onde eles careciam de acesso?
Na visão de Preti, os falantes cultos “até em situação de Mas logo se aprontavam a diminuir-lhe os méritos: o tipo
gravação consciente revelaram uma linguagem que, em geral, dormia nas árvores, em plena passarada. Eles se igualam aos
também pertence a falantes comuns”. Sendo mais espontânea e bichos silvestres, concluíam.
criativa, a Norma Popular se afigura mais expressiva e dinâmica. Fosse por desdenho dos grandes ou por glória dos pequenos,
Temos, assim, alguns exemplos: estou preocupado (Norma a verdade é que, aos pouco-poucos, o passarinheiro foi virando
Culta); to preocupado (Norma Popular); to grilado (gíria, limite assunto no bairro do cimento. Sua presença foi enchendo
da Norma Popular). durações, insuspeitos vazios. Conforme dele se comprava, as
casas mais se repletavam de doces cantos. Aquela música se
Não basta conhecer apenas uma modalidade de língua; urge estranhava nos moradores, mostrando que aquele bairro não
conhecer a língua popular, captando-lhe a espontaneidade, pertencia àquela terra. Afinal, os pássaros desautenticavam os
expressividade e enorme criatividade para viver, necessitando residentes, estrangeirando-lhes? [...] O comerciante devia saber
conhecer a língua culta para conviver. que seus passos descalços não cabiam naquelas ruas. Os brancos
se inquietavam com aquela desobediência, acusando o tempo.
Fonte:https://centraldefavoritos.wordpress. [...]
com/2011/07/22/norma-padrao-e-nao-padrao/(Adaptado) As crianças emigravam de sua condição, desdobrando-se
em outras felizes existências. E todos se familiavam, parentes
Questões aparentes. [...]
Os pais lhes queriam fechar o sonho, sua pequena e infinita
01. (Pref. de Florianópolis/SC – Auxiliar de Sala – alma. Surgiu o mando: a rua vos está proibida, vocês não saem
FEPESE/2016) Assinale a alternativa que apresenta incorreção mais. Correram-se as cortinas, as casas fecharam suas pálpebras.
na regência verbal de acordo com a norma culta: COUTO, Mia. Cada homem é uma raça: contosl Mia Couto
a) Quero a Pedro. - 1ª ed. - São Paulo: Companhia das Letras, 2013. p.63 - 71.
b) Custou-lhe aceitar a verdade (Fragmento).
c) Eles se referiram sobre o outro governo.
d) Esta é a cidade com a qual sonhamos. Do ponto de vista da norma culta, a única substituição
e) Assisti à conferência e não gostei. pronominal realizada que feriu a regra de colocação foi:

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a) “ Os brancos se inquietavam com aquela desobediência” = o sofrimento da espera, fome que nasce quando a boca já está
Os brancos inquietavam-se com aquela desobediência. perto da comida. Porque agora estávamos com fome, fome
b) “ O remédio, enfim, se haveria de pensar.” = O remédio, inteira que abrigava o todo e as migalhas. [...]
enfim, haver-se-ia de pensar. E não quero formar a vida porque a existência já existe.
c) “ Eles se igualam aos bichos silvestres, concluíam” = Eles Existe como um chão onde nós todos avançamos. Sem uma
igualam-se aos bichos silvestres, concluíam. palavra de amor. Sem uma palavra. Mas teu prazer entende o
d) “O mundo inteiro se fabulava.” = O mundo inteiro fabulava- meu. Nós somos fortes e nós comemos.
se. Pão é amor entre estranhos.
e) “Chamavam-lhe o passarinho.”= Lhe chamavam o LISPECTOR, Clarice. A legião estrangeira. Rio de Janeiro:
passarinheiro. Rocco, 1999.

03. (SEGEP/MA – Agente Penitenciário – Do ponto de vista da norma culta, a única substituição/
FUNCAB/2016) mudança que poderia ser feita, sem alteração de valor semântico
e linguístico, seria:
A Repartição dos Pães a) ali mesmo ofereci o que eu sentia àquilo que me fazia
sentir.” = ali mesmo ofereci o que eu sentia àquilo que fazia-me
Era sábado e estávamos convidados para o almoço de sentir.
obrigação. Mas cada um de nós gostava demais de sábado para b) “Tudo cortado pela acidez espanhola que se adivinhava
gastá-lo com quem não queríamos. Cada um fora alguma vez nos limões verdes.” = Tudo cortado pela acidez espanhola que
feliz e ficara com a marca do desejo. Eu, eu queria tudo. E nós adivinhava-se nos limões verdes.
ali presos, como se nosso trem tivesse descarrilado e fôssemos c) “Mas cada um de nós gostava demais de sábado para gastá-
obrigados a pousar entre estranhos. Ninguém ali me queria, lo com quem não queríamos.” = Mas cada um de nós gostava
eu não queria a ninguém. Quanto a meu sábado - que fora da demais de sábado para o gastar com quem não queríamos.
janela se balançava em acácias e sombras - eu preferia, a gastá- d) “Só a dona casa não parecia economizar o sábado para
lo mal, fechá-la na mão dura, onde eu o amarfanhava como a usá-lo numa quinta de noite.” = Só a dona da casa não parecia
um lenço. À espera do almoço, bebíamos sem prazer, à saúde do economizar o sábado para usar-lhe numa quinta de noite.
ressentimento: amanhã já seria domingo. Não é com você que e) “Quanto a meu sábado - que fora da janela se balançava em
eu quero, dizia nosso olhar sem umidade, e soprávamos devagar acácias e sombras - eu preferia, a gastá-lo mal.” = Quanto a meu
a fumaça do cigarro seco. A avareza de não repartir o sábado, sábado - que fora da janela se balançava em acácias e sombras -
ia pouco a pouco roendo e avançando como ferrugem, até que eu preferia, do que gastá-lo mal.
qualquer alegria seria um insulto à alegria maior.
Só a dona da casa não parecia economizar o sábado para 04. (CODEBA – Guarda Portuário – FGV/2016)
usá-lo numa quinta de noite. Ela, no entanto, cujo coração
já conhecera outros sábados. Como pudera esquecer que se
quer mais e mais? Não se impacientava sequer com o grupo
heterogêneo, sonhador e resignado que na sua casa só esperava
como pela hora do primeiro trem partir, qualquer trem - menos
ficar naquela estação vazia, menos ter que refrear o cavalo que
correria de coração batendo para outros, outros cavalos.
Passamos afinal à sala para um almoço que não tinha a
bênção da fome. E foi quando surpreendidos deparamos com a
mesa. Não podia ser para nós...
Era uma mesa para homens de boa-vontade. Quem seria o
conviva realmente esperado e que não viera? Mas éramos nós O texto do cartaz apresenta numerosos erros segundo a
mesmos. Então aquela mulher dava o melhor não importava norma culta da Língua Portuguesa.
a quem? E lavava contente os pés do primeiro estrangeiro. Assinale a opção em que o segmento retirado do texto está
Constrangidos, olhávamos. correto.
A mesa fora coberta por uma solene abundância. Sobre a) “O lixo eletrônico contém”.
a toalha branca amontoavam-se espigas de trigo. E maçãs b) “material radioativo que causam danos”.
vermelhas, enormes cenouras amarelas [...]. Os tomates eram c) “causam danos a saúde”.
redondos para ninguém: para o ar, para o redondo ar. Sábado era d) “a saúde e ao meio ambiemte”.
de quem viesse. E a laranja adoçaria a língua de quem primeiro e) “esse material fique jogado por ai”.
chegasse.
Junto do prato de cada mal convidado, a mulher que lavava Resposta
pés de estranhos pusera - mesmo sem nos eleger, mesmo sem 01. C\02. E\03. C\04. A
nos amar - um ramo de trigo ou um cacho de rabanetes ardentes
ou uma talhada vermelha de melancia com seus alegres caroços.
Tudo cortado pela acidez espanhola que se adivinhava nos limões
verdes. Nas bilhas estava o leite, como se tivesse atravessado Ética profissional.
com as cabras o deserto dos penhascos. Vinho, quase negro de
tão pisado, estremecia em vasilhas de barro. Tudo diante de nós.
Tudo limpo do retorcido desejo humano. Tudo como é, não como OBS.: Caro aluno, afim de facilitar seus estudos, e pela
quiséramos. Só existindo, e todo. Assim como existe um campo. repetição de conteúdo, Ética profissional será abordada na
Assim como as montanhas. Assim como homens e mulheres, e parte de Conhecimentos Didáticos-Pedagógicos.
não nós, os ávidos. Assim como um sábado. Assim como apenas
existe. Existe.
Em nome de nada, era hora de comer. Em nome de ninguém,
era bom. Sem nenhum sonho. E nós pouco a pouco a par do dia, Anotações
pouco a pouco anonimizados, crescendo, maiores, à altura da
vida possível. Então, como fidalgos camponeses, aceitamos a
mesa.
Não havia holocausto: aquilo tudo queria tanto ser comido
quanto nós queríamos comê-lo. Nada guardando para o dia
seguinte, ali mesmo ofereci o que eu sentia àquilo que me
fazia sentir. Era um viver que eu não pagara de antemão com

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