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UNIVERSIDADE CIDADE DE SÃO PAULO

UNICID

TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE HABILIDADES


MÉDICAS DO CURSO DE GRADUAÇÃO EM MEDICINA (6ª ETAPA)

SÍNDROME DE FRAGILIDADE NO IDOSO

ESTUDANTES: BERNARDETE DE
FREITAS DIAS; EDSON FRANCISCO
BLEFARI JÚNIOR; ROSÂNGELA
PIETRACATELLI CASTRO; VICTOR
CASTILHO BORGES. DOCENTES:
PROFA. DRA. ANA CLÁUDIA PICCOLO;
PROF. DR. EGÍDIO LIMA DÓREA.

SÃO PAULO
2014

0
SUMÁRIO

MÉTODO ..................................................................................................................................... 2

INTRODUÇÃO “O CONCEITO” ............................................................................................. 3

DETERMINAÇÃO DO FENÓTIPO.......................................................................................... 8

O IDOSO FRÁGIL E AS QUEDAS ....................................................................................... 10

O IDOSO FRÁGIL E A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS ........................................ 12

EXERCÍCIOS E PATOLOGIAS ASSOCIADAS ................................................................. 19

SARCOPENIA ...................................................................................................................... 19

EXERCÍCIOS E DISFUNÇÃO NEUROENDÓCRINA E IMUNOLÓGICA .................. 20

ORIENTAÇÕES PARA EXERCÍCIO RESISTIDO EM IDOSOS FRÁGEIS ............... 22

A INCAPACIDADE FUNCIONAL E O IDOSO FRÁGIL .................................................... 26

IDOSO FRÁGIL E O ESTADO NUTRICIONAL .................................................................. 28

CUIDANDO DO IDOSO FRÁGIL .......................................................................................... 31

APOIO SOCIAL, SONO E FRAGILIDADE NO IDOSO..................................................... 35

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 40

1
MÉTODO

 NATUREZA DE PESQUISA: revisão bibliográfica.

 ABORDAGEM DE PESQUISA: não se aplica.

 CARÁTER: exploratório.

 PROCEDIMENTO TÉCNICO: retrospectivo por meio de documentos

primários e secundários sobre a temática designada sob o descritor

“Idoso Fragilizado”. O descritor foi utilizado na base de dados LILACS

e MEDLINE com ativação dos seguintes filtros: texto completo; idoso

fragilizado; português; 2011-2014; artigo. Obteve-se 13 artigos que se

adequavam aos critérios de inclusão associado ao objeto de estudo.

 INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS: documentos primários e

secundários.

 TAMANHO DA AMOSTRA: 13 artigos.

 OBJETO DE ESTUDO: Síndrome da Fragilidade.

2
INTRODUÇÃO “O CONCEITO”

O envelhecimento populacional é um fenômeno mundial com

repercussões em diversos aspectos da sociedade. Dentre as preocupações

geradas pelo aumento da expectativa de vida das pessoas, a qualidade de vida

configura-se como destaque, pois há um considerável aumento no uso contínuo

de medicamentos na velhice em face de elevada prevalência de doenças

crônicas degenerativas(3).

Atualmente no Brasil, existem poucos estudos sobre a síndrome de

fragilidade; em muitos casos, pela ausência de ferramentas apropriadas e

profissionais capacitados para identificar o idoso frágil(11).

Os processos patológicos instalados por si já geram danos e transtornos

aos idosos, entretanto, o maior prejuízo ocorre nas limitações funcionais e na

incapacidade de realizar tarefas sociais da vida diária. A esse conjunto de

aspectos que envolve uma sequência de processos do envelhecimento

condiciona a "síndrome biológica da fragilidade", aqui denominada de

fragilidade(3).

O aumento da proporção de idosos na população mundial faz com que os

gestores públicos aumentem sua atenção e destinem investimentos que

garantam condições de vida com qualidade para essas pessoas na velhice.

3
Nesse sentido, a avaliação da prevalência de fragilidade é fundamental para o

desenvolvimento, implantação e avaliação de políticas públicas na promoção de

saúde para a população idosa(5).

Não há uma definição concisa do que venha ser caracterizado o estado

de fragilidade na pessoa idosa, há balizadores comuns que indicam que esse

conceito é amplo e dinâmico envolvendo aspectos tanto biomédicos como

psicossociais. De um modo geral, é possível afirmar que o estado frágil de uma

pessoa idosa é um processo prolongado de incapacidade que indica

vulnerabilidade, predisposição ao declínio funcional e no estágio mais avançado

a morte(5).

Assim, podemos entender fragilidade como uma síndrome caracterizada

por menor capacidade adaptativa aos eventos agressores, resultando em maior

vulnerabilidade e desfechos adversos, como quedas, hospitalizações,

incapacidade e morte. Entretanto, a definição mais utilizada é a que diz que essa

síndrome é caracterizada pela diminuição da reserva homeostática e redução da

capacidade do organismo resistir ao estresse, resultando em declínios

cumulativos em múltiplos sistemas fisiológicos, causando vulnerabilidade e

efeitos adversos(13).

A fragilidade é considerada uma síndrome clínica muito prevalente que

aumenta com a idade, consequentemente maior vulnerabilidade ao estresse que

4
resultam na diminuição das reservas fisiológicas, reduzindo a eficiência da

homeostase e, portanto, as habilidades para realizar práticas importantes de

atividades de vida diária. Idosos frágeis têm maior risco de quedas,

incapacidade, internações e morte, que requerem cuidados permanentes para

evitar a ocorrência de desfechos clínicos adversos(7).

A fragilidade é considerada muito prevalente, aumenta com a idade e é

de alto risco para conferir eventos adversos à saúde, resultando, inclusive, em

mortalidade, institucionalização, quedas e hospitalizações (13).

De acordo com um artigo avaliado de revisão sistemática, citamos os

principais indicadores de fragilidade. Assim, de acordo com o estudo realizado,

optou-se por diferentes indicadores, sendo o mais citado o seguinte conjunto:

perda de peso não intencional, exaustão, fraqueza, velocidade de marcha e

baixa atividade física(5).

5
INDICADORES DE Amplitude de
Força Equilíbrio Marcha
FRAGILIDADE Movimento

Velocidade de Análise da Perda de Peso


Coordenação Sensibilidade
Reação Marcha Intencional

Avaliação Avaliação de Alterações


Exaustão Fraqueza
Nutricional Atividade Física Funcionais

Avaliação de Avaliação Atividades de


Doenças Exaustão
Comportamento Cognitiva Vida Diária

Acuidade
Fraqueza Aspectos Sociais Aspectos Mentais Acuidade Visual
Auditiva

Vários instrumentos foram desenvolvidos para operacionalizar a

construção da fragilidade, inclusive índices recentes com base no julgamento

clínico, performance física, acumulação de déficits e avaliação geriátrica (5).

O instrumento mais utilizado para avaliação da fragilidade em idosos foi o

Fenótipo da Fragilidade desenvolvido pelo Cardiovascular Health Study (CHS).

Essa abordagem fenotípica define fragilidade em três níveis: robusto/não frágil,

pré-frágil e frágil, com base em indicadores, tais como perda de peso,

cansaço/exaustão, fraqueza, lentidão na marcha e atividade física reduzida.

Não há um padrão ouro para avaliar a fragilidade humana, o que se

verificou nos trabalhos são instrumentos que utilizam parâmetros diversificados,

6
tanto de desempenho como de percepção, analisados separados ou

conjuntamente. Em geral, as mulheres são mais frágeis do que os homens(5).

7
DETERMINAÇÃO DO FENÓTIPO

Existem dois grupos de investigações internacionais que desenvolvem a

proposta de pesquisa sobre a fragilidade, um deles desenvolvido nos Estados

Unidos da América que destaca os numerosos marcadores que têm sido

propostos para a fragilidade física, que incluem a mensuração da mobilidade e

incapacidade, e o fenótipo operacionalizado por cinco indicadores, entre eles:

perda de peso; exaustão; diminuição da força de apreensão da mão dominante;

baixo nível de atividade física e lentidão medida pela velocidade da marcha

indicada em segundos(11).

O método do Fenótipo da Fragilidade foi proposto por Fried e

colaboradores que expuseram um método operacional para o diagnóstico de

fragilidade. Os critérios considerados são:

1. Perda de peso não intencional, no último ano, igual ou superior a 4,5kg;

2. Exaustão avaliada por auto-relato de fadiga;

3. Fraqueza muscular mensurada através da diminuição da força de

preensão, avaliada com dinamômetro na mão dominante e ajustada ao

sexo e ao IMC;

4. Baixo nível de atividade física medido pelo dispêndio semanal de energia

em kcal, ajustado ao sexo;

5. Lentidão medida pela velocidade da marcha indicada em segundos.

8
Segundo Fried e colaboradores, a fragilidade é considerada uma

síndrome biológica reconhecida por: sarcopenia, exaustão, perda de peso, fraca

força de preensão, lenta velocidade de caminhada, baixo consumo de energia e

baixo índice de atividade física.

Os idosos que não apresentam nenhum dos cinco critérios supracitados

são considerados como não-frágeis; os que possuem um ou dois dos critérios,

são ditos como pré-frágeis; e os que revelam três ou mais critérios, são os

idosos, verdadeiramente frágeis.

NÃO-
FRÁGIL

PRÉ-
FRÁGIL
FRÁGIL

9
O IDOSO FRÁGIL E AS QUEDAS

Uma das principais consequências iatrogênicas no idoso é a queda, um

dos graves problemas de saúde pública nessa população. É considerada a

segunda causa de morte por lesões acidentais e não acidentais(1).

Aproximadamente 28%-35% das pessoas maiores de 65 anos caem por

ano, incrementando-se para 32%-42% em idosos acima dos 70 anos que moram

na comunidade(1).

No Brasil, segundo dados do Ministério da Saúde, 30% dos idosos caem

uma vez por ano. A queda pode gerar diminuição da capacidade funcional para

as atividades cotidianas; além disso, o desenvolvimento da síndrome de

fragilidade pode interferir na qualidade de vida do idoso(1).

A síndrome de fragilidade é uma consequência do envelhecimento

relacionada ao processo da doença crônica. Essa síndrome é caracterizada por

sua multidimensionalidade e implica maior vulnerabilidade para o idoso. Há

diminuição das reservas fisiológicas e aumento do déficit funcional, associados

a mudanças físicas que provocam efeitos adversos, como queda, aumento da

morbidade, incapacidade funcional, institucionalização prolongada e morte (1).

A fragilidade associada à queda pode trazer problemas à saúde do idoso,

catalogados como as grandes síndromes geriátricas do século XXI. Essa

10
condição repercute na capacidade funcional e leva à perda de sua

independência e capacidade para o trabalho. São escassos os estudos

nacionais e internacionais que avaliem a fragilidade no idoso e seus fatores

associados, sobretudo na comunidade, e que forneçam subsídios para a

adequação das políticas públicas de saúde a essa população(1).

11
O IDOSO FRÁGIL E A PRÁTICA DE EXERCÍCIOS FÍSICOS

O conceito de atividade física engloba toda contração muscular promovida

de forma voluntária pela musculatura esquelética que resulte em gasto calórico

acima dos níveis de repouso. Pode ser realizada em diferentes contextos: no

trabalho, nos deslocamentos de um lugar a outro, nas tarefas domésticas e nas

atividades de lazer. Dentro do conceito de atividade física, existe um grupo de

atividades que se diferenciam pela sistematização, pela estruturação e pelo

propósito com que são realizadas: os exercícios físicos. Atividade física global

representa o nível de atividade física geral que o indivíduo realiza em todos os

contextos. Entretanto, há forte tendência de avaliar atividade física por meio de

perguntas sobre a prática regular de exercícios físicos e de atividades

esportivas(4).

A necessidade da prática de atividades físicas realizadas por idosos tem

sido tema de interesse para pesquisas, devido à importância da mobilidade na

manutenção da independência e da autonomia. Considerando que a redução

das atividades é um indicador de fragilidade e que a existência desse

componente do fenótipo sugere a condição prévia à síndrome, torna-se

necessário investigar a prevalência desse marcador nos idosos da comunidade.

A atividade física regular tem-se mostrado protetora contra diversos

componentes da síndrome de fragilidade em homens e mulheres mais

12
velhos incluindo a sarcopenia, comprometimento funcional, desempenho

cognitivo e depressão. Mesmo o nível de atividade física sendo comumente

indicado como parte dos balizadores da síndrome de fragilidade, é essencial o

estabelecimento de pontos de corte dos diferentes domínios da atividade física,

em minutos por semana para potencializar a predição da condição frágil do

idoso(3).

A atividade física é um comportamento humano caracterizada por

qualquer movimento corporal da musculatura esquelética que resulte em gasto

energético, sendo possível avaliar nos domínios (ocupacional, transporte, lazer,

atividades domésticas)(3).

À medida que o indivíduo envelhece, ocorre declínio progressivo do

metabolismo celular e do funcionamento dos principais sistemas fisiológicos. O

sistema musculoesquelético é acometido pela sarcopenia, processo de redução

da massa muscular, que diminui a força muscular, a mobilidade, o equilíbrio e a

tolerância aos exercícios. Esse processo predispõe os idosos às quedas e à

inatividade física(5).

Os problemas de saúde podem ser um fator de risco associado à perda

da capacidade funcional, bem como podem trazer limitações ao indivíduo idoso,

resultando no agravamento ou no surgimento de novos problemas. A prática de

atividades físicas preserva a independência nas atividades de vida diária, e

13
contribui para redução e controle de fatores de risco para doenças

cardiovasculares e doenças isquêmicas do coração(5).

O envelhecimento humano direciona para uma diminuição das práticas de

atividades físicas, sendo relatado em estudos maior declínio para as mulheres

quando comparado com os homens. Além desse fato, o domínio doméstico

parecer ter um papel importante na distribuição do tempo destinado a práticas

de atividades físicas nas mulheres. Indiferente do domínio, o aumento no nível

de atividade física é importante à saúde das pessoas entretanto, no domínio do

lazer, os benefícios parecem ser maiores devido a característica lúdica, maior

potencialidade para coletividade e a permanência no estilo de vida ativo (3).

A fragilidade apesar de representar um constructo de difícil compreensão

é um marcador essencial para o diagnóstico da saúde das pessoas,

principalmente para os idosos, independente dos balizadores assumidos. O

diagnóstico da síndrome de fragilidade permite de certo modo antecipar o

declínio da função social que está relacionado com os processos de

incapacidade funcional e de isolamento do idoso no domicílio. Por outro lado, a

avaliação do nível atividade física fornece informações complementares à saúde

do idoso, tanto no que se refere às limitações funcionais como para a

incapacidade funcional(3).

14
Domínios como atividade física (trabalho, transporte, atividade doméstica

e lazer) mostraram-se como potenciais preditores para síndrome de fragilidade.

O aumento no tempo despendido em atividades físicas em qualquer domínio

resulta na maior proteção do organismo à instalação dos processos

incapacitantes e consequentemente a fragilidade. As atividades de lazer, em

geral, estão relacionadas com atividades prazerosas, intensidades mais

elevadas e com maior potencial para interferência profissional(4).

Em geral, os homens quando se aposentam de suas atividades laborais

parecem sofrer um maior prejuízo funcional devido ao rápido declínio de suas

atividades físicas independente do domínio que se analisa, e com isso a maior

dependência para as atividades físicas realizadas no lazer(3). Por outro lado, nas

mulheres idosas a mudança na rotina com o avançar da idade é mais suave,

devido ao intenso volume das atividades físicas realizadas no domínio doméstico

que ocasionam menor dependência para as atividades de lazer, no alcance das

recomendações de atividades físicas(3).

A maior exposição das mulheres às atividades domésticas é positiva

devido ao aumento no dispêndio energético, entretanto, por outro lado essas

mulheres ainda pertencem a uma geração com restrições no trânsito em outros

espaços relacionados ao lazer e ao trabalho, pois as mesmas ainda ficam

vinculadas as responsabilidades dos cuidados domésticos, além de prejuízos na

15
comunicação e na função social devido à tendência de afastamento dos

familiares com a possível saída dos filhos para morar com seus cônjuges e a

morte de amigos do mesmo grupo etário. A prevalência de fragilidade é

semelhante entre os sexos, apesar da maior longevidade das mulheres em

conjunto a maior exposição a comportamento de risco funcional(3).

A queixa de fadiga é mais frequente entre as mulheres, provavelmente

como resultado do imperativo de realizar tarefas domésticas, muitas vezes sob

condições de baixa força muscular. Para os mais velhos, a realização de

atividades menos exigentes, em número e em força envolvida, é suficiente para

que se sintam bem consigo mesmos(4).

A quantidade de atividade física necessária para a preservação das

condições de saúde dos indivíduos é algo que se vem discutindo há algumas

décadas na epidemiologia, com destaque para alguns estudos. Nesses estudos,

foram observados que quanto maior o nível de atividade física menor são as

chances de acometimento de doenças do tipo crônico-degenerativas, sendo que

doses relativamente modestas de atividade física de aproximadamente 150

minutos por semana são suficientes para proporcionar efeitos significativos para

proteção de diversos agravos à saúde(3).

Já, ser sedentário conforme o gasto calórico em exercícios e em tarefas

domésticas associou-se significantemente a baixa força de preensão e lentidão

16
de marcha(4). O alto nível de atividade física global indicado por gasto calórico

foi positivamente associado com maior força de preensão e velocidade de

marcha. Medidas baseadas na prática regular de exercícios físicos não se

mostram associadas com os indicadores de fragilidade(4).

Os benefícios da atividade física para a saúde e longevidade são

consensuais entre os especialistas da gerontologia, sendo gerados

constantemente, por diversas instituições e sociedades científicas

representativas, documentos que enfatizam a importância do estímulo a práticas

de atividades físicas em ações de saúde pública. Da mesma forma, discussões

sobre a temática tem sido frequente nas últimas décadas, a exemplo da

Assembleia Mundial sobre o Envelhecimento, os inúmeros fóruns realizados pela

Organização Mundial da Saúde (OMS), Organização das Nações Unidas (ONU)

e por sociedades de gerontologia e geriatria sediada em diferentes países.

Outro aspecto a ser destacado é a possibilidade dos especialistas da área

transmitir uma mensagem mais clara aos idosos e esses, por sua vez, terem

uma meta mais fácil e prazerosa de ser alcançada, pois o tempo requerido no

dispêndio em atividades de lazer é inferior ao exigido para a soma dos domínios

da atividade física(3). Isso representa uma estimativa de referência para uso em

diagnósticos populacionais, assim como, em ações intervencionistas com a

finalidade de preservar a independência funcional do idoso, porém se faz

17
necessária realização de estudos de coorte, e que possam identificar com maior

precisão a intensidade e o volume de atividades físicas requeridas para

minimizar os impactos do processo de envelhecer(4).

As atividades físicas realizadas no lazer e atividade física total (trabalho,

transporte, atividade doméstica e lazer) podem predizer a ausência de

fragilidade em idosos. Com relação à quantidade necessária para prevenir a

fragilidade, sugere-se para os homens o dispêndio de 140 min/sem e para as

mulheres 145 min/sem de atividades físicas com intensidade moderada a

vigorosa acumuladas nos quatro domínios. Da mesma forma que para o domínio

atividade física de lazer, 85 min/sem para as mulheres e 112,5 min/sem para os

homens seriam suficientes para predição da fragilidade entre os idosos(4).

18
EXERCÍCIOS E PATOLOGIAS ASSOCIADAS

SARCOPENIA

Sarcopenia, termo proposto por Rosenberg em 1989, refere-se

especificamente à perda de massa muscular associada ao envelhecimento(9).

No entanto, esse termo tem sido estendido à perda de força muscular

relacionada com o avançar da idade(9).

A prevalência de sarcopenia é de aproximadamente 12% para adultos de

60 a 70 anos de idade, aumentando para 30% por volta dos 80 anos de idade.

Na maioria dos estudos, o seu desenvolvimento está fortemente associado à

elevada incapacidade, desordens na marcha e no equilíbrio e mortalidade(9).

A causa da sarcopenia é multifatorial, resultante de alterações no sistema

nervoso (perda de unidades motoras alfa), musculares (perda na qualidade e

massa muscular), hormonais (diminuição de hormônios anabolizantes, como

testosterona, estrógeno e GH) e estilo de vida (diminuição da atividade física) (9).

Estudos demonstraram aumento da síntese de proteínas miofibrilares

musculares em jovens e idosos por meio dos exercícios musculares. De acordo

com uma revisão sistemática sobre intervenções para sarcopenia, o exercício

muscular foi considerado o estímulo mais poderoso para a hipertrofia muscular,

quando comparado aos exercícios contínuos(9).

19
Um estudo utilizando 25 idosos saudáveis e 26 adultos jovens verificou

uma diminuição da força muscular e da expressão genética mitocondrial (maior

fator contribuinte da sarcopenia) dos idosos em relação aos jovens. Por meio de

biópsia no vasto lateral dos indivíduos, observou-se também uma modificação

no perfil de expressão genética mitocondrial (jovialização desse perfil) nos

músculos dos idosos saudáveis submetidos a treinamento resistido. Embora a

resposta à hipertrofia seja reduzida em idosos, ocorre um aumento na qualidade

muscular (performance muscular)(9).

Os ganhos na força muscular podem ser observados nas primeiras

semanas, sendo atingido um platô por volta de 5-6 meses. Esses ganhos na

força refletem adaptações neurais e musculares, com hipertrofia de fibra

muscular, tornando-se dominante com duração de treino prolongado(9).

Em um estudo com homens e mulheres frágeis da comunidade que

realizaram um programa de exercícios resistidos de baixa a moderada

intensidade, observou-se aumento na força muscular isocinética e aumento na

massa magra local e total(9).

EXERCÍCIOS E DISFUNÇÃO NEUROENDÓCRINA E IMUNOLÓGICA

Estudos epidemiológicos demonstram que a função imune, a qual se

encontra prejudicada no envelhecimento, contribui para o aumento da

susceptibilidade a infecções e, também, está associada a várias causas de

20
mortalidade. O exercício físico induz melhora significativa no sistema imune e

pode ser particularmente benéfico para aquelas pessoas com a resposta

imunológica deficiente, como os idosos frágeis(9).

As células do sistema imune que mostram mais resposta aos efeitos do

exercício intenso e prolongado, tanto em termo de número como de função, são

as células NK, neutrófilos e macrófagos(9).

O exercício físico moderado e regular tende a reduzir sintomas de

infecções do trato respiratório, em contraste aos exercícios intensos, que podem

aumentar o risco de infecção no trato respiratório superior(9).

Também tem sido reportado que exercícios intensos de duração

moderada (< 60 min) e intensidade (< 60% do VO2 máx.) são associados com

menores perturbações e menos estresse ao sistema imune do que sessões de

exercícios prolongadas e de alta intensidade. Outro estudo mostrou que a

liberação de cortisol, potencialmente deletéria se encontrada em excesso,

parece estar relacionada à intensidade e à duração do exercício. Exercícios

contínuos que exigem um alto consumo de oxigênio (VO2 máx. > 60%) podem

levar a uma leucocitose por um período curto imediatamente após o exercício (9).

Sabe-se que o processo de envelhecimento é acompanhado por

significativas mudanças hormonais. Em particular, ocorre um importante

21
aumento na resistência à insulina à medida que o indivíduo envelhece com

significante relevância clínica, por ser considerada como um fator de risco para

várias doenças relacionadas ao envelhecimento e estar relacionada a vários

componentes individuais da síndrome da fragilidade(9).

O exercício físico promove aumento da sensibilidade à insulina e esse

benefício pode ser observado tanto com o exercício aeróbio como com o

exercício resistido. Apesar desse claro benefício, há situações em que o

exercício agudo não melhora a sensibilidade à insulina e pode até piorá-la. A

sensibilidade à insulina está diminuída após a corrida de maratona, assim como

após exercício extenuante e excêntrico, como correr numa ladeira. Uma provável

explicação para esse fato é a utilização aumentada e contínua de ácidos graxos

como combustível muscular(9).

As reservas de testosterona são mais baixas em idosos e os baixos níveis

desse hormônio constituem uma importante causa de sarcopenia, podendo, por

essa razão, contribuir para o desenvolvimento da fragilidade em homens

idosos(9).

ORIENTAÇÕES PARA EXERCÍCIOS EM IDOSOS FRÁGEIS

Em geral, a fragilidade não é contraindicação para exercício, embora

algumas modalidades específicas possam ser alteradas para acomodar

indivíduos com incapacidade. A idade também não representa fator de

22
impedimento para melhora da função muscular com exercícios resistidos,

apresentando melhora comparável àquela observada em adultos jovens(9).

Os componentes de uma prescrição de exercícios resistidos dinâmicos

incluem(9):

 Arco de movimento completo (ou máxima amplitude alcançada sem dor)

de um exercício;

 Séries de repetições (8-12 repetições por série) sem interrupção;

 A carga utilizada pode ser determinada pela aproximação sucessiva ou,

até mesmo (menos utilizada);

 A velocidade de movimento deve levar de dois a três segundos para

levantar o peso (contração concêntrica) e de quatro a seis segundos para

baixar o peso (contração excêntrica);

 A duração de uma sessão de treinamento deve ser em torno de 40

minutos.

Um treinamento resistido com frequência de, pelo menos, duas vezes por

semana provê um método seguro e efetivo na melhora da força e resistência

muscular. Recomenda-se que 8-10 exercícios sejam realizados em dois ou mais

dias não consecutivos por semana, sendo utilizando os maiores grupos

musculares(9).

23
Os exercícios devem ser dinâmicos, e não estáticos, englobando os

maiores grupos musculares do corpo e utilizando tanto movimentos concêntricos

(levantando e empurrando) quanto excêntricos (suaves e controlados no

retorno).

Existem algumas recomendações para um treinamento resistido como

realizar mínimo de 1, preferencialmente 2-3 séries por exercícios com 1-2

minutos de descanso entre elas; frequência de 1-3 dias por semana, com mínimo

de 48 horas de descanso entre as sessões; respiração normal durante as

repetições (não prender a respiração para evitar realizar a manobra de Valsalva

- expiração forçada contra a glote fechada)(9).

Indivíduos sintomáticos ou aqueles com quaisquer doenças

cardiovasculares, diabetes, outra doença crônica ou com alguma recomendação

médica, devem consultar um médico antes de iniciar um programa de atividades

vigoras e/ou intensas(9).

O aumento da força muscular, secundária a adaptações neurológicas,

metabólicas e à hipertrofia, pode explicar o aumento da resistência muscular (9).

Os idosos constituem uma população bastante heterogênea; apesar de a

maior parte deles ser capaz de realizar suas atividades de vida diária, uma

pequena parcela é constituída por idosos frágeis que representam os maiores

24
usuários do sistema de saúde, ocupando a maior parte dos leitos destinados a

essa faixa etária e ainda utilizando-os por mais tempo.

Conforme recomendação de entidades reconhecidas nacional e

internacionalmente (Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte,

e American College of Sports Medicine), o treinamento resistido, associado a

exercícios aeróbios e de alongamento, deve ser incluído ao menos em duas

sessões semanais em uma prescrição de exercícios visando à promoção da

saúde e à melhora da aptidão física em indivíduos idosos(9).

25
A INCAPACIDADE FUNCIONAL E O IDOSO FRÁGIL

A Organização Mundial da Saúde conceitua o envelhecimento do

indivíduo como "um processo fisiológico que começa na concepção e ocasiona

mudanças, características para a espécie, durante todo o ciclo da vida", além,

de considerar idoso aquele com 60 anos ou mais de idade nos países em

desenvolvimento e 65 anos ou mais nos desenvolvidos(11).

Diante disso, alguns conceitos para avaliar o envelhecimento são

fundamentais, dentre eles, a fragilidade e a incapacidade funcional.

Outro conceito a ser avaliado no idoso é a capacidade funcional que pode

ser definida, como as habilidades físicas e mentais necessárias para uma vida

independente e autônoma para desenvolver as atividades básicas da vida diária

até as ações mais complexas do cotidiano, sem necessidade de ajuda

proporcionando-lhe uma melhor qualidade de vida. Quando essa condição não

é desenvolvida, surge então a incapacidade funcional(11).

Organização Panamericana da Saúde estima que 10% da população no

mundo sofrem e têm deficiências, além do que a metade destas pessoas

apresenta dificuldades físicas e/ou funcionais(11).

26
Os pesquisadores sugeriram que, o início da síndrome da fragilidade,

afeta as atividades mais complexas e em menor proporção as mais simples e

rotineiras(11).

Deve-se destacar ainda que mulheres apresentaram uma dependência

duas vezes maior quando comparadas aos homens(11).

O panorama atual evidencia que a maioria dos idosos frágeis são do sexo

feminino, com maior nível de dependência. Ainda observou-se que quanto

maiores os níveis de fragilidade, idade e número de morbidades maior será o

nível de dependência dos idosos(11).

Avaliar e identificar no idoso a síndrome de fragilidade e a incapacidade

funcional constituem um problema atual para os profissionais de saúde atuarem

na implementação de programas específicos, a fim de minimizar os efeitos de

fragilidade e suas consequências(11).

27
IDOSO FRÁGIL E O ESTADO NUTRICIONAL

O índice de massa corpórea, a circunferência da cintura e a relação

cintura-quadril são medidas realizadas por meio de antropometria, método de

baixo custo, não invasivo e muito útil em estudos populacionais para a avaliação

da composição corporal(12).

O IMC, indicador de adiposidade geral, é utilizado para a identificação do

estado nutricional de indivíduos e populações, e apresenta boa correlação com

o percentual de gordura e com a morbibortalidade. A CC e a RCQ são propostas

para a avaliação da adiposidade abdominal e do risco para o desenvolvimento

de doenças cardiovasculares e distúrbios metabólicos(12).

Em idosos, tais medidas devem ser realizadas e analisadas

cuidadosamente, a partir de pontos de cortes específicos para a idade, já que

essa população apresenta alterações importantes da composição corporal. Além

disso, para uma avaliação mais precisa da obesidade e do risco cardiovascular,

recomenda-se a utilização do IMC em conjunto com outros indicadores, como

CC e RCQ(12).

O baixo peso está associado a pré-fragilidade e a fragilidade, enquanto

que a eutrofia está associada a não-fragilidade e pré-fragilidade. A desnutrição

e a perda ponderal em indivíduos frágeis estão associado à sarcopenia,

28
caracterizada por perda de massa muscular acompanhada por perda de força e

redução da performance física(12).

Condições como caquexia, a desidratação e a anorexia também podem

ser atribuídas a perda de peso e à redução do IMC(12).

A obesidade combinada à sarcopenia com consequente fraqueza

muscular, e às comorbidades crônicas, associa-se ao comprometimento para a

realização das atividades de vida diária, às incapacidades e ao elevado risco de

mortalidade(12).

A relação entre fragilidade e adiposidade abdominal pode ser comparada

a um ciclo vicioso, que compartilhas alguns componentes fisiopatológicos com a

síndrome metabólica. O acúmulo de gordura intra-abdominal associa-se a um

elevado grau de inflamação com liberação de citocinas pró-inflamaórias, e menor

sensibilidade à insulina. A inflamação e a resistência à insulina foram associadas

à fragilidade e podem acelerar a perda de fibras musculares, gerando redução

da força muscular, progressão da sarcopenia e aumento da adiposidade

corporal, além de incapacidade e doenças crônicas(12).

O conhecimento do estado nutricional do idoso permite a elaboração de

protocolos detalhados e um planejamento nutricional individualizado, como uma

das estratégias de prevenção da síndrome de fragilidade, e de interrupção da

29
evolução da pré-fragilidade para a fragilidade e da reversão parcial desta

última(12).

30
CUIDANDO DO IDOSO FRÁGIL

No ambiente familiar, a função de cuidador tende a ser assumida por uma

única pessoa, que assume a responsabilidade pelo cuidado, sem contar, na

maioria das vezes, com a ajuda de outro membro da família ou de profissionais

capacitados. A literatura indica que há um envolvimento maior das mulheres no

processo de cuidar(10).

A experiência de assumir os cuidados de idosos dependentes vem sendo

apresentada pelos cuidadores familiares como uma tarefa que causa estresse e

exaustão, pelo envolvimento afetivo e mudanças de relação, anteriormente de

reciprocidade, para uma relação de dependência, em que o cuidador, ao

desenvolver atividades relacionadas ao bem-estar físico e psicossocial do idoso,

passa a ter restrições em sua própria vida(10).

O cuidador informal expõe-se a uma série de situações estressantes,

como o peso das tarefas e as doenças advindas das exigências do trabalho e

das características do idoso. Além disso, faltam-lhe informações, além de apoio

físico, psicológico e financeiro para enfrentar o cotidiano do cuidar (10).

No exercício de papéis, a mudança é angustiante, em virtude do

envolvimento afetivo entre o idoso e a família, a diminuição do tempo de

relacionamento com amigos e com a vizinhança, a solidão, a sobrecarga do

31
processo de cuidar e a frustração por não conseguir colocar em prática seus

próprios projetos de vida fazem parte das perturbações que, em determinado

momento, podem causar estresse no cuidador(10).

O idoso necessita de condições específicas para seu cuidado, pela

diminuição de algumas capacidades ao longo dos anos, o que torna a presença

do cuidador fundamental para seu cotidiano(10).

A fragilidade nos idosos envolve interações complexas de fatores

biológicos, psicológicos e sociais que interagem entre si e culminam com um

estado de maior vulnerabilidade que passa a ter a aparência de idoso frágil,

levando a situações de dependência(10).

Estudos recentes demonstram que sobre o cuidador informal recai a maior

sobrecarga do cuidado. Sendo assim, ele deve ser alvo de mais atenção, para

que se evitem situações que possam levá-lo a níveis elevados de sobrecarga(10).

O predomínio de mulheres cuidadoras, casadas, que são filhas dos

idosos, também é uma característica frequente encontrada em diversos estudos,

assim, os achados reforçaram o papel social da mulher, historicamente

determinado com a função de provedora de cuidados.

A fragilidade apresentada pelo idoso pode estar relacionada à sobrecarga

de trabalho do cuidador, ou seja, quanto maior a fragilidade do idoso, maior será

32
a sobrecarga de seu cuidador. Isso evidencia a relação da sobrecarga com o

trabalho do cuidador de idosos mais dependentes. A incapacidade cognitiva

também pode trazer implicações no cotidiano do cuidador e contribui para

elevados níveis de sobrecarga e desconforto emocional.

Em estudo realizado com 47 cuidadores de Veranópolis - RS, verificou-se

que os idosos com cuidadores precisavam de mais apoio para realizar suas

atividades de vida diária (AVD), sobretudo os incluídos nos cuidados pessoais.

Isso evidencia a relação de auxílio diário com a necessidade de um

cuidador (10). Sobre o processo de cuidar, verifica-se, que quanto mais

dependente for o idoso, mais ele terá necessidade dos cuidados, o que

sobrecarrega os cuidadores que realizam os cuidados diariamente (10).

Em pesquisa realizada com cuidadores de idosos com doença de

Alzheimer, concluiu-se que houve alteração da qualidade de vida e que, quanto

mais comprometimento funcional o idoso apresentasse, maiores seriam os

escores dos sintomas depressivos. Nesse contexto, os cuidadores apresentaram

índices mais elevados de depressão e outros sintomas psiquiátricos e

mostraram-se mais vulneráveis a problemas relacionados à saúde, quando

comparados a pessoas da mesma idade que não eram cuidadoras, participavam

menos de atividades sociais e tinham mais problemas ocupacionais(10).

33
Avaliar e identificar a sobrecarga do cuidador é um aspecto importante

para o cuidado com o idoso, porquanto, o excesso de sobrecarga pode

comprometer a qualidade do cuidado e interferir nas relações familiares (10).

34
APOIO SOCIAL, SONO E FRAGILIDADE NO IDOSO

Estudos mostram que existe relação significativa entre a influência de

redes sociais e a qualidade de sono entre idosos. A maioria dos idosos que

possuem boas relações familiares e desempenham um papel na sociedade,

juntamente com sua rede de amigos, apresentam melhor desempenho em

relação à qualidade do sono. A essa rede de apoio, constituída por amigos e

familiares, bem como aos recursos materiais e emocionais disponíveis a uma

pessoa, através dos contatos interpessoais, designa-se suporte social. A forma

como uma pessoa reconhece o suporte social disponível para ela é conhecida

como suporte social percebido e pode interferir na capacidade de enfrentamento

de seus problemas de saúde mental e física(6).

O suporte social é apontado como importante variável na manutenção da

saúde. Indivíduos socialmente ativos e que possuem mais relacionamentos

estão expostos a fortes pressões normativas e de controle, por parte de amigos

e familiares, para que demonstrem comportamentos saudáveis e busquem

cuidados à saúde quando necessário. Além disso, a rede de suporte social

contribui com fontes múltiplas de informação, aumentando a probabilidade de

acesso àquelas informações que promovam comportamentos saudáveis e

minimizem situações de risco e estresse(6).

35
A literatura atual aponta que tanto a falta de suporte social como as perturbações

no sono podem se constituir em fatores de risco para doenças de cunho

emocional e físico. Indivíduos que se sentem socialmente isolados mostram

sinais de ativação vascular elevada e fragmentação do sono. Estudo recente

mostrou que pessoas adultas, quando socialmente isoladas, relatavam sono de

má qualidade e sonolência diurna aumentada. Diante de resultados sugestivos

de que a qualidade subjetiva do sono dos indivíduos solitários é prejudicada,

destaca-se que a privação quantitativa e qualitativa do sono gera saúde

deficitária, sendo importante mecanismo pelo qual a solidão prejudica a saúde (6).

Outro estudo verificou que os distúrbios do sono constituem mediadores

na associação entre falta de suporte social e a ocorrência de infarto agudo do

miocárdio, em mulheres adultas. Essa mediação poderia ser devido ao papel

estressor da má qualidade do suporte social, que despertaria respostas

cognitivas e emocionais, levando a estimulação fisiológica excessiva e,

consequentemente, distúrbios do sono(6).

As mudanças no sistema circadiano de temporização são consideradas

um marco do envelhecimento e têm sido apontadas como fatores subjacentes à

reduzida qualidade do sono no idoso. Pode-se supor que os ritmos da rotina de

vida diária, atuando sobre a sincronização dos ritmos circadianos, constituem

mecanismo de proteção que contribui para a manutenção da qualidade do sono.

36
Esses ritmos estão ligados à regularidade do estilo de vida como estabilidade na

frequência e duração das atividades realizadas, tais como alimentação, lazer e

atividades sociais. Explorar as ligações entre a melhor qualidade do suporte

social e a regularidade das rotinas de vida do idoso constituem interessante

vertente de investigação para a compreensão das relações entre o suporte social

percebido e qualidade do sono(6).

Da mesma forma, é possível especular que o cochilo diurno poderia ser

considerado como um item incorporado à rotina do idoso, oriundo de

reorganização dos ritmos circadianos que promovem a redistribuição do sono

nas 24 horas, e não um indicativo de sono insuficiente. Esse aspecto contribuiria

para explicar a ausência de correlação significativa entre a duração do cochilo e

a percepção da qualidade do suporte social percebido, que seria esperada face

às demais diferenças encontradas para os problemas de sono(6).

A fragilidade foi associada à presença de patologias, especialmente HAS,

Diabetes mellitus, AVC e doença cardíaca. Além disso, dados do Cardiovascular

Health Study sugerem que a fragilidade pode contribuir para o desenvolvimento

ou a progressão de doenças crônicas, possivelmente por intermédio dos níveis

mais baixos de atividade, ou mediante outros caminhos que afetam algum

mecanismo biológico básico essencial para a manutenção da homeostase, como

a inflamação o equilíbrio simpático-parassimpático(2).

37
A associação da função cognitiva com a fragilidade corrobora com

achados de outros estudos. Sendo assim, autores sugerem que a função

cognitiva seja incluída nos critérios usados para definir fragilidade. Estes afirmam

que a adição deste critério resulta em uma melhor identificação de idosos com

vulnerabilidade intrínseca, enquanto apenas os domínios de função física são

considerados(2).

Dentre as variáveis sociodemográficas, econômicas e de saúde física,

apenas a idade, o sedentarismo e a saúde percebida insatisfatória foram as que

permaneceram no modelo de regressão logística, com forte associação para a

presença de fragilidade.

Observou-se que vários estudos também encontraram associações entre

a fragilidade e a idade. Considera-se que sua associação com a idade avançada

tem explicação pela própria característica do processo de envelhecimento, uma

vez que todos os sistemas do corpo sofrem perdas tanto nos aspectos estruturais

como funcionais. Quanto à atividade física, verificou-se que idosos sedentários

foram associados significativamente aos indicadores de fragilidade referentes à

baixa força de preensão e lentidão de marcha. Além disto, também já está bem

estabelecido na literatura que a atividade física ajuda na manutenção da saúde

e funcionalidade em idosos(2).

38
Neste sentido, destaca-se a importância da adoção da prática regular de

exercícios físicos, porém sabe-se que esta pode ser questão de oportunidade de

acesso, de valores culturais associados a papéis de gênero, de opção, de

motivação e de crenças acerca de seus benefícios, estas associadas à

educação(2).

Estudiosos afirmaram que a auto-avaliação insatisfatória do estado de

saúde apresentou associações significativas com presença de doenças, o que

pode justificar sua forte relação com a presença de fragilidade em idosos(2).

Evidencia-se fraca correlação entre a vulnerabilidade social e a

fragilidade. Portanto, o apoio social pode não ter sido associado à fragilidade por

esta ser considerada como um declínio cumulativo nas reservas fisiológicas,

porém ainda inexistindo o fator estressante. Além disto, observou-se que os

idosos estão conectados socialmente, com uma maior variedade de contatos e

ajuda oferecida(2).

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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situação de fragilidade. Rev. Saúde Pública, São Paulo, v. 47, n.
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14. Características relacionadas ao perfil de fragilidade no idoso /


Characteristics related to the frailty profile in the elderly. Remor, Camila
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