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impossível.
política
Considerações
preliminares
à
marca da política está
impressa com tanta força nas múl- tiplas
figuras do mundo em que vivemos
que o apolítismo se configura
Ora, o nascimento
remonta aurora do
mundo, assim que se manifestaram o
comando dos chefes e a organização
da vida comum. Se atualmente, como
no tempo de Platão, a tarefa da
da
sobre
ela
a
que
vida de
cada povo e as relações entre os
diversos povos. O espaço pú-blico,
interno e internacional, não pode
prescindir das estrutu-ras de direito
que fixam seus contextos e constituem
seu arca-bouço, formando assim o que
chamamos de "ordem jurídica". Para
designar essas estruturas reguladoras
que compõem o que Bodin
denominava, no século XVI, o "direito
da república" (res publica), os autores
do século XVII, como Hobbes e Locke,
e depois do século XVIII, como
Burlamaqui e Rousseau, recor-reram
alternadamente às expressões
"direito civil" (jus civile) e "direito
político", às quais atualmente
preferimos a expressão "direito
público".
Antes de empreender qualquer
reflexão sobre os princípios filosóficos
do direito político moderno, é
necessário, neste ca-pítulo preliminar,
precisar o que é o direito político,
destacar sua especificidade no
mundo moderno e indicar as regras me-
todológicas que seguiremos a fim de
apreender suas bases fun-damentais e
seus princípios reguladores.
1. O "direito político"
diversidade
político
que
que sua
um
acompanha
dos poderes
valores e
Conseqüentemente,
longe de
inevitáveis,
condicionado
se
simples potência
exigências
ordenamento
poderia
manifestar
formal-
de
o
como uma
que
vocação é,
primeiro lugar, organizacional:
é portador.
em
e coerente
organização racional
consoante
poder político,
que se exer-ce em
circunstâncias particulares e
contingenciais, em meio a tensões
é, ao mesmo tempo,
e limitado por
ele, já que é nele que encon-tra seus
critérios de validade. Entretanto, o
jurídico da política
significar nem seu
não
formalismo
à
exclusivo - isto é, a ausência
de substância, portanto, a vacuidade -
nem seu imobilismo rígido - a
isto é,
institucionalização estática, portanto, o
caráter definitivo. O direito político
evolui - e deve evoluir - de acordo com
os problemas criados pela movimen-
tação histórica e pelo progresso das
sociedades.
A dupla exigência de ordem e de
movimento que o direito político
acarreta explica que possa ser
considerado na perspec-tiva de uma
periodização histórica, reveladora
tanto de suas constâncias como de suas
variações. O direito político, que é
incumbido de estabelecer a
organização do Estado, de definir
capacidade
dinâ-
mica intrínseca
qual
mantém,
a
político,
governamental,
contém
essencial
de fixar
relações
um
de
de ordem,
graças
política não só se
sociedade
mas também fica aberta
ao progresso por intermedia- ção de
suas instituições. Pela hierarquia
que instaura entre os valores que
pretende fazer respeitar, bem como
pelos procedi-mentos que põe em
ação a fim de assegurar a autoridade
do Poder, o direito político tem a
função não só de sistematizar a vida
política, mas também
permanentemente para seu
de trabalhar
sua
com os
sis-tema
algo vivo. Como
direito polí-tico acrescenta, sua
uma
equilíbrio
tempo,
uma
Poder
Não será
conceito
conotado
compreensão
exercício.
gulamentos
não é
época
o
Por isso
jurídico
à
geral que, ao longo do
sempre tem de ser
reajustado, até mesmo refeito.
descabido
de "instituição política"
pelo direito político
amplitude
das senhorias
"moderna"
atualmente, às vezes
disposição do
as
administrativos,
da Roma
leis,
os re-
mesmo
as
tem
que sua
ser muito
essa noção se
organização do
seu
imperial
o da
que
O
acusado
político
precisar
qual é
política.
político
a
Desenhar
mundo moderno
filósofo
uma
acordo
tarefa
historiadores
do século
moderno,
com o
como para o
em
à
por certos contemporâneos
que se declaram “pós-modernos”.
a aparência de truísmo, essa
observação é fundamentalmente
problemática.
os princípios
Assim,
incômoda.
geralmente
situar
XVII,
para se
filosóficos do direito
é necessário
maior rigor possível
acepção da "modernidade"
2. A "modernidade" do direito
contornos
é, tanto
Se
para o
historiador,
os
do
estão de
na primeira década
até mesmo com o
Sob
estudar
assassinato
o nascimento
modernos",
de Hen-
mais indecisos.
menos
É
rique IV
dos "Tempos
os
em
são
ciosos do que os historiadores de
uma datação, precisa e que buscam
sobretudo
os que, iniciando uma
sinais
ruptura com o cosmologismo do
pensamento antigo e o teologismo do
pensa-mento medieval, anunciam
preocupações ou uma sensibilidade
intelectual novas. Esses sinais só se
deixam decifrar ao longo de uma
progressão histórico-filosófica cujo
percurso devemos refazer em etapas
sucessivas.
Os primeiros sinais da
modernidade política, esparsos e
parcimoniosos, podem ser
descobertos já no final do século XIII
na
Occam
nas
desconfiança
leigos, aliás
a filosofia
século XIV
(1266-1308),
(1275-1343)
que as
e
(1290-1349
O franciscano
à
isolados,
com que alguns
cercaram
de Santo Tomás.
ou 1350)
colocaram em novas vias a filosofia
e, em particular, o pensa-mento
político.
próprias ousadias
especulação metafisica,
e
modelo
Mas foi
obras de Duns Scot
de Marsílio
de Guilherme
de Pádua
de
doctrinale
Guillaume
idées,
Concepts
positions
Origins of the Modem
de Occam,
1970), trad. fr., Payot, 1979.
3. Cf. E. Gilson, Jean Duns Scot, Introduction
ses fonda-mentales, Paris, 1952.
4. Cf. Arquilliere, L 'augustianisme
Paris, 1934.
5. Cf. L. Baudry, Le philosophe
dans Guillaume de Occam, Archives
et littéraire
Paris, 1949-1950;
sa vie,
et le politique
d'histoire
du Moyen Âge, 1939, XIV;
ses oeuvres, ses
C. Bayley, The Pivotal
in the Political Philosophy
de
of
of
Marsílio
independência
Igreja
temporal,
francamente
Esse é, sem
sinal daquilo
denominaram
embora fosse
um
tanto
significado
por seu
prolongamentos,
diante
àà
de Pádua
dúvida
insistiram
da Cidade
e na autonomia do princípio
que contrapunham
autoridade
alguma,
na
em Relação
espiritual:
o
que seus contemporâ-neos
a via moderna. Contudo,
flagrante, destinado,
princípio
de Oxford apelidado
Venerabilis Inceptor,
compreendido
substituiu a
que "ele pode ser
como o teólogo que
metafísica pela lógica”.
de
Entretanto,
sua obra não
A existência
à se atém a isso, pois, não
hesitando em se juntar ao Imperador
Luís da Baviera, tomou o partido dele
no conflito que o opunha ao papa de
Avignon a respeito da questão de sa-
a quem - Igreja ou ao Império
pertencia a plenitudo potestatis.
de um vínculo entre
a teoria nominalis-ta desenvolvida pela
lógica de Occâm e seu pensamento
políti-co constitui um ponto
de controvérsia
-
às "entidades
linguagem
meramente
dos indivíduos.
como esta
PUF, 1990,
8. A "navalha
p.
politique
242.
de Occarn"
de Marsile de Padoue,
Vrin, 1970. 7. M. Bastit, Naissance
se aplica
de Duns Scot", isto é,
conceituai
operatória.
9. "O nominalismo
estreita
afirma que as preferências
individuais devem
contar." (J. Largeault, Enquête
nominalisme, Paris,
genese
chez Guillaume
sur le
Louvain,
du
à
por um
de l'esprit
1946 (3ª.
de la! oi moderne,
principalmente
a uma
função
Nauwelaerts,
de Occarn, Ar-
chives de philosophie du droit, Sirey, 1964, t. XI,
pp. 97-127.)
Natureza
singulares,
sua
ensinava
homens,
carreira.
expressar
Quando
individuais,
que a
à
nem transcendência
de Deus como autor do mundo poderá
abrir-se a via pela qual se efetuará,
depois de Grotius, a politização do
conceito
lado, os
teológico do Poder. Por outro
por suas vontades
se revelam opostos uns aos
outros e, nessa perspectiva em que se
delineia a eventuali-dade dos conflitos
fratricidas dos quais Hobbes fará a
própria substância da condição natural
dos homens, o individualismo
Guilherme
linguagem,
essências
de sinais ligados
começa
de Occam
não podendo
universais,
a representações
por objetivo mostrar
tinha
que só existem seres singulares. Sem
dúvida, seu pensamento, mesmo em
é feita
seus pontos
mentais
Santo Tomás.
privava
mais críticos,
havia livrado inteiramente
instaurados
Entretanto,
construção convencional
moderno
indica o
a Cidade
caráter
por
perspectiva
se
ainda não
dos hábitos
Aristóteles
isso não
pode perceber
que
autoritário
artifi-
presidirão
do Estado
se mostra, como
o
do Império,
se
à
e
mesmo quando ela não elude a
sacralidade do Poder, como um mal
inevitável. De fato, como o poder
do príncipe não era, na comunidade
política, nada mais do que um poder
mais forte do que o dos indivíduos que a
edificaram, a Cidade, privada de
qualquer ordem; transcendente ou
imanente, é palco de oposi-çõese de
conflitos tanto entre os indivíduos e o
príncipe como entre os próprios
indivíduos. Em todo caso, o importante
é que na livre decisão da vontade dos
indivíduos seja o princípio de
emergência da Cidade.
Esse voluntarismo individualista
quase exclusivo que, se-gundo Occam, na
Cidade sobrepuja qualquer referência
onto-
10. O nascimento da Cidade provém non ex
speciali praecepto divino, sed voluntate humana,
sublinha Occarn na Opus nonaginta dierum, cap.
88.
Pádua um eco profundo no qual
ainda que o paduano jamais tenha
aprovado seu "colega ocasional"
pode ver acentuar-se a tendência
para a via moderna.
qualquer
No Defensor
publicado
Marsílio
ao
eclesiástico
da comunidade
maneira
obediência
um poder
Marsílio se
em Paris
não escondia
papado. Sem dificuldade,
ascendência
sobre
categórica,
o
civil
teocrá- tica,
essencialmente
deliberadamente,
do agosti-
situava assim,
à
em Marsílio de
lógica, iria encontrar
Pacis,
em
que
1324,
sua
do poder
poder temporal
e opu-nha,
autoridade
o
foi
o
-
condenava
monismo de
no extremo oposto
leigo.
de
-
paduano
hostilidade
de
se
nianismo político, cujos representantes,
do século VI ao XIIos -
papas Gregório
Magno (papa de 590 a 604), Gregório
VII (papa de 1073 a 1085) e Inocêncio
III (papa de 1198 a 1216) por urna -,
distorção radical do pensamento de
Santo Agostinho haviam requerido a
submissão do poder temporal dos
príncipes ao poder espiritual dos
papas. A teoria das "duas espadas",
ex-posta nos séculos VI e VII pelos
papas Gelásio e Gregório Magno, era
clara: a plenitudo potestatis pertence
unicamente a Deus; mas Deus dá aos
dois poderes distintos do Pontífice -a
auctoritas - e do rei - a potestas - a
missão de fazer a ordem
divina triunfar neste mundo.
Contudo, na história, as rivalida-des
entre os príncipes, depois de Carlos
Magno, enfraquece- ram os poderes
temporais, enquanto aumentava o
poder da Igreja. O episódio de Canossa,
em 1077, constituiua mais pro-funda
humilhação que o papa Gregório VII
podia infligir ao imperador da
Alemanha, Henrique IV, e a teoria das
duas espa-das foi modificada de modo
que o papado, com a auctoritas,
detivesse a potestas. Todavia, a
resistência dos príncipes, em
um
É
se
naturalista
mesclam
ea
a sólida tradição
visão jurídica
Estado administrativo
centralizador.
trincadas
nova
de caráter
do
utilizados por Guilherme de Occam e
Marsílio de Pádua, bem como
separá-los da realidade política dos
séculos a que perten-
atormentados
cem. Seu enraizamento nas filosofias
de Aristóteles e de Santo Tomás e, mais
ainda, a marca do direito romano e do
direito germânico são tão fortes
nas análises e argumentações, nas quais
se podem descobrir
os indícios prenunciadores da
modernidade,
que é preciso a uma
renunciar
decifração anacrônica na qual se
desenharia o "desencanto com o
mundo": o Príncipe civil con-tinua
sendo, mesmo nos textos de Marsílio
de Pádua, "ministro de Deus"; o Estado
é apresentado como cristão e os
cidadãos são seus "fiéis". Portanto,
ainda que a teocracia esteja abalada,
ainda não chegou a hora em que a
política poderá prescindir de um
horizonte teológico. O "mito da Igreja
primitiva" continua muito forte nesses
séculos em que se percebem os
primeiros movimentos de uma
mutação filosófica da instituição
política. Por conseguinte, é mais "o
esboço de uma doutrina conciliar" que
se encontra na obra do paduano, aliás
concebida explicita-mente para
"resolver os problemas do tempo
presente".
nos anos que se seguiram,
Se,
pesquisarmos, por exemplo, em John
Wycliff, encontraremos nele a mesma
ambivalência: na mesma época em
que São Gregório Magno defendia a
dou-trina universalista da obediência
passiva ao como
rei, saudado "vigário
de Deus", Wycliff pregava,
justamente contra o uni-
XIV
à
PRINCÍPIOS
B) Os difíceis
modernidade
(1337-1453),
propícios
observar
FILOSÓFICOS DO DIREITO
caminhos
No Ocidente
que
de
acesso
jurídico-política
XV correspondem
agitados da Guerra
político, os séculos
aos períodos
dos Cem Anos
É
sobre o direito
inúmeros
que estrutura
e rege seu
As coisas não iam
na Inglaterra, onde o
reino ia de crise em crise: crise social,
Peste Negra em 1348, insurreição
.
Ainda por cima,
o mundo ocidental era então, em
seu conjunto, vítima de epidemias que
dizimavam as populações e implantavam
o medo; a Igreja era sacudida por
escândalos e a cris-tandade se
desmembrava; os conflitos entre os
.
príncipes se multiplicavam; a crise
econômica provocava uma recessão ca-
tastrófica verdade que, na França,
os reis Carlos VII (que reinou de 1422
a 1461) e Luís XI
(que reinou de 1461a1483) deram
início a uma reorganização
institucionale a uma refor-ma
financeira que constituíram um passo
decisivo para a uni-
dade do reino e, ao mesmo tempo, para o
absolutismo do Poder; na Inglaterra, os
primeiros Tudores e, na Espanha,
Fernando e Isabel consagraram a
autoridade dos monarcas; na Itália do
século XV deu-se um reerguimento
econômico. Em todo caso, no reino da
França o sentimento nacional, que fora
despertado pela vitória de Bouvines, em
1214, se fortaleceu com firmeza, e a idéia
de pátria (que poderia ser simbolizada
pelo heroísmo exemplar de Joana d'Arc)
logo correspondeu ao ideal deuma
unidade nacional sobre o qual se
começava a pensar que era
engrandecedor servir de forma quase
religiosa: pro patria mori. A criação de
exércitos permanentes e a multiplicação
dos ofi-ciais reais traduziram a orientação
cada vez mais nítida para um governo
centralizador. Entretanto, embora o
mundo ociden-tal fosse, inegavelmente,
nessa época palco de transformações,
era então bem difícil extrair da prática
política uma "doutrina" coerente do
direito político, quer porque ela se
apoiava na rea-lidade histórica para
ressaltar as linhas diretrizes dela, quer
porque, ao contrário, elaborava um
programa de idéias que de-veria ser
transcrito para os fatos. Em
conseqüência, os primei-ros sinais da
"modernidade", que despontam, como
vimos, nas teorias políticas do século
XIII, não parecem, por volta do sé-culo
XV, nem se intensificar nem ser
tematizados. A filosofia política e a
doutrina jurídica estão adormecidas.
Em compensação, o
desenvolvimento delas no século XVI
será imenso e, embora ele não
fosse suficiente para um desa-brochar
de uma teoria "moderna" do direito
político, marcou seu aparecimento ou
primeiro nascimento. Esse primeiro
nascimento, que é uma vitória,
ao mesmo tempo, contra o teo- logismo
medieval e contra a mentalidade feudal,
foi, como ve-remos, difícil. Ele se efetuou
em várias fases, dominadas su-
cessivamente pelas vozes, no século XVI,
de Maquiavel e de Bodin, depois, no
século XVII, pela de Hobbes. Suas obras
examinam o problema do direito
político com ênfases muito
manifestam
modernidade
timidamente
fundador
moderna
a
perturbadoras,
modernidade
O momento
sob esse
para
Não
abrir,
hesitações
os
obstante,
pórtico maquiavélico
as primícias
política
no
quiavel",
é Ma-
da
surgidas
sé-culo XIII. "O
da filosofia política
escreveu Leo
Strauss. "Ele tentou efetuar, e de fato
efetuou, uma ruptura com a tradição
da filosofia política em seu conjunto.
"Comparável a Cristóvão Colombo
avistando o ''Novo Mundo", o que
descobriu foi, para a moral e para a
elas
filosóficas
caminhos
jurídico-política.
maquiavélico
se
mui-tas vezes em
que se
da
polí-tica, um "novo continente".
Arribando sem dificuldades a
não
essas margens novas, de fato
Maquiavel contribui mesmo para
cinzelar a essência da modernidade.
Esse "trabalho da obra" não deixa de
ter pontos obscuros. Mas, no final
das contas, a especificidade do
"moderno" encontra suas primeiras
marcas na ruptura consumada por
Maquiavel, dessa vez para valer,
eternitária
é a
disseca;
homens
política
medieval,
se prende
contraria.: mente
questão de saber
não pede mais nada
tradição clássica,
nem ao horizonte
maneira
teológico-político da escolástica
já que, em seu
pela qual
cumprem a tarefa que lhes
marca,
tese que defende, o
despertar de uma visão nova na
história, do direito político.
Discutiu-se
e como se deve
que
que ele
realismo, ele
a
os
entender essa verdade: assim,
Rousseau, que meditou muito sobre
as lições de Maquiavel nos Discursos
sobre a pri-
meira década de Tito Lívio,
se perguntava, segundo A. Gentili e
Spinoza, se não conviria ler O príncipe
como "o livro dos republicanos". No
fundo, isso não tem muita
importância. Que Maquiavel tenha sido
ou não tenha sido "republicano", e
àà
ou de uma natureza
que carrega os estigmas da
Queda, ele vê no cristianis-mo a
religião que comete o erro de
confundir bondade e fra-queza, virtude
e humildade. Ele supõe, ao contrário,
que existe
..
obrigado, na opressão
de sua pátria,
liberdade
a disfarçar seu amor pela
" (esse texto foi acrescen-tado
edição de 1782 do Contrat social). No mesmo
sentido, cf. Diderot, arti-go Maquiavelismo
da Encyclopédie,
Esse julgamento
Leo Strauss em
t. IX.
é retomado
Thoughts
382: "O livro de Maquiavel
os principados e seu
são ambos republicanos·:
ou
por
Macchiavelli,
sobre
livro sobre
o
as
1958,
repúblicas
elogio das repúblicas
p.
que se exprime no livro sobre elas nunca é
contrariado por um elogio dos principados em
qual-quer umdós dois livros"; cf. também
G. Mounin, op. cit., sobretudo 5ª parte. 26.
Alexandre Passerin d'Entreves, La notion de
l'État (1967), trad. fr., Sirey, 1969, p. 53.
no homem
agressiva
totalmente
Contrariamente
sobre-humano.
como
homens
uma
que se
estranha
medieval, louva
"grandes feras"
assinalará
chama
à
força viva
Considera,
são maus"
Fichte,
-
menos, que há neles suficiente
maldade para que recorram aos
e
virtù e que
retidão bíblica.
ao ca-tolicismo
a força e a audácia
que carregam em
portanto,
que "os
ou, pelo
das
o
da oposição geral, ampliar o Estado.
Num mundo sem ideais e sem valores
parecidos com uma selva, esses são
os meios mais seguros para que um
príncipe ou, da mesma maneira,
uma Re-pública, firme cada vez mais
sua potência não sem se erguer, num
gesto tão belo quanto dramático,
contra a Fortuna, senho-ra do destino.
No caso, o importante é ter êxito-é
preciso pre- servar o Estado, fazê-lo
perdurar aumentando-lhe a grandeza.
Em conseqüência, é total a
ruptura entre a política e a moral
consumada por Maquiavel, Nem
Fichte nem Hegel se enganaram
quando viram em sua obra o
princípio de uma polí-tica de potência
que prefigura a lei de concorrência
vital que regeu a Realpolitiflk. Hegel
em Constituição da Alemanha, su-
blinhou de modo muito especial que
a arte política maquiavé- lica, longe de
se fundar num ideal e de ensinar o
que deve ser, tem como referência
principal -
no entanto sem
qualquer cinis-mo -
o direito do mais
forte tal como ele se exprime na
própria realidade da História. De fato,
segundo a relação da
Maquiavel,
política com a guerra
é inevitável -
a guerra é o meio
de tomar
o poder e a arte de conservá-lo.
Segundo ele, a guerra nem sequer é,
como será segundo Clausewitz, "o
prosseguimento da política por
outros meios"; está inserida,
expressa ou laten-te, na própria
realidade política. Faz parte, de
maneira substan-cial, do direito
político e, como tal, é a trama da
história - de · uma história para
a qual o secretário florentino sabe
muito bem
Maquiavel,
o
essa
sabe que, no andamento
assuntos públicos,
destino de um povo.
dizer
Antigos,
que
vão se
idéia
"o eterno retorno"?
diversas for-mas de
e
dos
significa o próprio
de um
repetindo.
que Maquiavel retorne aos
mas que a política sempre
apresentou, apresenta em seu tempo e
apresentará inces-santemente aos
homens os mesmos problemas
É
do direito político
deste mundo.
não hesita
a
em
por
-
em
governo se
Isso não
ciclo
e
concretos; que, portanto, a arte política
tem - e tem apenas - de parte a parte,
uma vocação prática que compete ao
direito inserir em seu dispositivo
normativo. A evidência dessa vocação
prática culminará, pensa os
ele, quando
príncipes da Itália, depois os
de expulsar
bárbaros, se unirem para formar uma
grande pátria. Por isso não é de es-pantar
que O príncipe, longe de conter longas
tiradas metafísicas ou profissões de fé
ideológica, se limite, com uma
tonalidade absolutamente técnica, a
enunciar regras para o êxito político.
Na autonomia da ordem
política assim proclamada, na di-
mensão realista atribuída ao Poder, na
preeminência da arte de governar, bem
como na concepção praxiológica da
política e de suas instituições, aloja-se
a indiscutível do olhar que
novidade
Maquiavel lança a coisa
sobre
pública. Essa novidade se concentra na
invenção da palavra Estado e na
conotação que logo lhe é atribuída
num registro que, rejeitando qualquer
ideal contemplativo, situa o seu
conceito no pólo oposto, conjunta-
mente, do idealismo antigo, do
Cristianismo, do estoicismo e, de
maneira mais geral, de qualquer
moralismo. De fato, sob a pena
de Maquiavel,· ainda que sem uma
perfeita constância, a palavra Estado
assume uma conotação
verdadeiramente "mo-
derna". A.
Passerin d'Entreves recorda de modo
judicioso que
ter tido,
amplitude;
os
e
legistas
verdade
as
cristão,
amplamente
que a
não
mesmo
a fazer eco às
que declaravam de
e de sangue".
a refutar, cada vez
com mais vigor, as práticas do feudalismo,
e podem-se discernir em seus textos as
pequenas mudanças prenunciadoras da
concep-ção absolutista e centralizadora
do Poder real que logo vão contrapor a
elas. Mas, impregnadas por múltiplas
É
de
parece
influênéias, suas nem sempre
idéias
eram muito claras: o
romano
direito
ainda estava muito vivo, a herança
escolástica não estava mor-ta; o
humanismo cristão estava em plena
atividade, a religião reformada ganhava
terreno; às esperanças que se
depositavam
blica,
da República.
insólito, pois
políticas
Jean Bodin, "político"
filósofo da política,
na que permitiria
França consolidar
promover a ordem
à
FILOSÓFICOS DO DIREITO
duas formas
haviam desaparecido.
OS PRINCÍP
antes de
quis criar
monarquia
suas bases e
muito
Então,
ser
doutri-
da
e a justiça. Nesse
empreendimento, sente uma
verdadeira admiração pela obra do
florentino, aindaque, em diversos
pontos, não oculte sua discordância.
Recusa-se a buscar no
"constitucionalismo" medieval os
elementos suscetí- veis de assentar
solidamente a Res publica. Na nova
problemá- tica que enuncia, indaga-se
sobre origem do Poder e as for-mas do
"melhor regime'', questões
tradicionais desde Platão. Apaixonado
por históriae utilizando de bom
grado uma con-duta comparatista
constatou que, numa sociedade que
não seja a sociedade doméstica, a
existência de um poder público é
uma necessidade de fato.
A interrogação que formula quando
busca a especificidade desse poder
é verdadeiramente inédita até ele.
Enfim,
1993. -
ternational
PUF, 1996.
com-pleta,
Jean Bodin.
para
pergunta, cria
la philosophie
responder
à
um apara-
a essa
Para
indicamos
op.
Münich, Munique,
inter-disciplinaire
Angers, 1985; Jean Bodin:
histoire, droit et politique
pp.
Jean Bodin et
PUF, 1989; JulianH.
23
to conceitual que dá
a um vocabulário já usual um
alcance se-mântico novo e, precisamente,
"moderno".
Seus talentos de jurista levaram
Bodin a elaborar, pri-
meiro em 1566,
no Methodus adfacilem historiarum
cognitio-nem, depois, dez anos mais
tarde, nos Les six livres de la Ré-publique
(Os seis livros da República), uma teoria
da "potência soberana". Esta é, diz ele,
a "forma" ou a "essência" da Repú-
blica. Como tal, é tão diferente da
soberania medieval que, repelindo o
feudalismo e o sacerdocismo, acaba
por se opor a ela. Essa mutação
profunda da idéia de soberania não
é, evi-
dentemente,
movimento
séculos
pós-feudal";
ousadia
conceito
pública",
primeira
República,
várias
XIV
de
geral
político
ela
intelectual
fato, particular
alheia
dispõe
se
e necessário:
escreve Bodin já na
nem ao
que, no curso
e XV, provocou a
centralização do poder real
e determinou a autoridade deste sobre
as instituições do reino, nem às guerras
civis e religiosas da época. Mas a força
e a ori-ginalidade da teoria de Bodin
.
não resultam apenas da cons-ciência
que ele toma da insuficiência,
hora da crise, das
jurídicas que
na
"prerrogativas
o
"Re-
do
com
aliás,
potência
situação. Seja
que,
doutrina
soberania
sua espe-cificidade,
qualquer
designa
moderno
que
à
pela primeira
república:
política,
conota
esse
soberana".
a essa teorização de
devido
alcance geral que Bodin foi pouco
com-preendido pelo monarca, acima
tudo atento singularidade
como
outra comunidade,
como
faz dela
cuja prerrogativa
os reis da Idade
mas legisladora.
dúvida alguma
Estado
da palavra,
uma
Talvez seja,
da
for, é com Bodin
vez na história da
o conceito
a essência
conceito não
de
da
só define
distinguindo-a
no sentido
o que quer
entidade
já
Média,
de
não é,
que
mas a
política
como para
jurisdicional,
Nesse ponto não há
Bodin
de
dizer
de
39. Bodin estudou direito em Toulouse, onde
predominava a influência de Alciat, Du Moulin
e Cujas.
40. O. Beaud, op. cit., p. 49.
41. J. Bodin, Les six livres de la République, Édition
Du Puys, 1591, p. 1.
24 OS
dúvida
do que
à
Estado moderno
matéria
en-controu sua forma
ao mesmo tempo.
Contudo, o Bodin filósofo é, sem
alguma, menos "moderno"
governo
metapolíticos
não é concebível,
obediência
da natureza",
de fundo de
que
sua constru-
com temas
philoso-phia perennis.
que
de direito" da
segundo
às "leis
constituem
de Deus
o pano
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
25
diatônica
Natureza:
àà
teoria da justiça
e
que,
qual o Número,
Não será
perspectivas
horizontes da
inserida
universal harmonia
deixa de recordar
temas musicológicos do Timeu. Quando,
numa
sábio"
"monarquia
comparável
encarna a
régia", um
soberania; esta é
uma escala
dominan-te de
por sua
magia secreta, dá força e beleza.
Assim, a "justiça harmônica”, como o
canto do mundo, reina no reino em
que as dissonâncias se en-tremeiam
para compor os mais perfeitos
acordes. A política, por suas estruturas
jurídicas, é, como a música por suas
estru-turas harmônicas, um hino
difícil convir
são estranhas
modernidade.
que
aos
.
A
na
os
"rei
tais
Éà
política,
permanece
taumaturgia
tal
impenetráveis,
como a pensa
muito afastada;
teorização da idéia
soberania,
moderna
dos artifícios
que, nos sé-culos que se seguirão,
farão a glória da filosofia
verdade que, ao pôr fim
Bodin,
que
da
racionalistas
moderna.
o quanto, no
século
ruptura mental
público,
entre
do Governo,
a
é
forma
con-sumar-se a
XVI, é difícil
que conduz ao
direito político mo-derno. certo que
Maquiavel e Bodin, reconhecendo a
secula-rização e a nacionalização do
Estado, insistindo
República,
naquilo que, na
necessariamente
salientando
do
enfati-
a
Estado
É
dife-rença
e a forma
26 OS
zando o império ao
da lei, exterior
direito natural etc., encami-nham a
doutrina política para a concepção do
Estado moderno. Mas, se Maquiavel
permanecia no limiar da modernidade
jurí-dico-política deixando o
movimento da História marcar com
suas vicissitudes o exercício da
potência do príncipe, Bodin, por sua
vez, ainda não consegue pensar o
direito político inde-pendentemente dos
valores da tradição moral e não o
concebe sem uma referência
fundamental de natureza
metapolítica, o que priva o Estado
soberano de uma auto-suficiência
autêntica e, portanto, da independência
de seu conceito. Mesmo que a
república reta já não se desenhe no
horizonte da respublica christiana, ela
continua que, para além da
tal
obediência dos sú-ditos ao monarca, a
obediência do monarca às leis da
Natureza desejadas por Deus conserva
o valor de uma norma fundamen- tal.
Nem um instante Bodin se pergunta o
que aconteceria com a potência
soberana se Deus não existisse.
tarde Descartes,
rigor analítico
lógica-dedutiva,
matemática,
pensamento
discurso
Em conformidade
metodológica
operacionais,
direito. Além
holandês
di-reito não mais
coisas,
e
provém
disso,
encontra
Hobbes
sintéti- co de
que
liberado
e, por essa
e
ele extrai da
sem
na natureza das
mas na natureza racional do
homem: o direito natural, diz ele,
pertence, a título de dic-tamen rationis,
"natureza humana”.
não cuida de elaborar
sua
dúvida
da retórica do
razão, já
27
Spinoza.
de
"moderno".
racional do
jurisconsulto
o fundamento
um
do
do direito
aliás,
sociedade
de recorrer
político
tão próximo dos pensadores
escolásticos,
política
à
moderno. Ele está,
bitus natural.
Portanto, embora o sistema jurídico de
dará
escolástica.
Não obstante, era na
obra de Grotius que seu con-
Hobbes,
temporâneo, iria encontrar a
consagração jurídica do indivi-dualismo
do qual faz a pedra angular de uma
outra política, que ele quer
decididamente moderna.
O moderno Minotauro
do di-
encaminha,
destinado
se
exaustiva
com o passado ainda lhe
às vezes difícil, formula os
axiomas básicos
reito político
inserirão
direito político
cabimento
qual, aliás,
muitas
deste
46. Da imensa
relativos
Ferdinand
a
a
ve-zes no
estudo.
political philosophy
de um pensamento
que se
dessa vez de verdade,
para o horizonte da modernidade.
Neste capítulo
delinear
os
sofia de
filo-
teremos
massa
Hobbes,
preliminar,
o contexto no
desenvolvimentos
mo-derno, não teria
expor de maneira
Hobbes,
de retomar
prosseguimento
Limitar-nos-emos,
de comentários
retenhamos
do
por-
à
qual
especialmente:
Tõnnies, Thomas Hobbes: der Mann
und der Denker, Leipzig, 1912; Leo Strauss, The
o/Thomas Hobbes,
1936, reeditado
Politique
Hobbes,
Gauthier,
Theorie,
coletivas:
(editado
Bertman
teologia
Nápoles,
(editado
por
e
à
The
1952
et philosophie
Hobbes, phi-
Hobbes: La Ragione
e
Simone
de philoso-phie politique
1983, n? 3; Thomas
physique
e
Hobbes
M. Malherbe),
politica
1990; LePouvoir
por
1961; Raymond
chez Thomas
Logic of Le-viathan,
1969; Bernard Wilms, Die Antwort
Leviathan: Thomas
Goyard-Fabre),
Hobbes:
la politique
(editado
Vrin,
dei Moderno
por
1977; David
politische
Berlim, 1970; Simone Goyard-Fabre,
Le droit et la loi dans la philosophie
1975; Raymond
Dieu et les hommes,
Thomas
PUF,
politique
et juridique,
de la méta-
(editado por
Polin,
Oxford,
der
Hobbes, Vrin,
obras
Cahiers
1989; Thomas
tra
M.
G. Borelli),
et le droit
F. Tricaud), Saint-Étienne,
P.
Caen,
1992;
Politica e diritto (editado por G. Sorgi),
Milão, 1995.
tanto, a indicar o que é, nela, o sinal,
deliberado e flagrante; do surgimento
de um estilo de pensamento
"moderno". Precisamos contudo
assinalar que, em que pese o papel
histórico que Hobbes desempenha
na“segunda onda da
modernidade”e, o que é tante
bas-
surpreendente, apesar do esforço
sintético e sistemático de sua
filosofia, ele não acaba a mutação
jurídico-política do Estado moderno,
assim como, aliás, não determina
plenamente a essência do "moderno".
Seu papel é, porém, capital na mar-cha
filosófica que deixa para trás as
temáticas de uma tradição que suas
"fábulas", diz ele, tomam
politicamente inoperante e
historicamente caduca.
àà
as
"ciência
Como Hobbes
doutrinas políticas
considerava
enun-ciadas
anteriormente não passavam de
"sonhos", declarava-se o fundador da
política", que assimilava
"filosofia po-
sucessivamente
(1640),
afirmaram
medo
em De Cive
Elements
(1642)
Leviatã (1651), não resulta,
certos comentaristas,
que o
que
,
Colombo, que descobriu o continente
sobre o qual Hobbes pôde edificar sua
doutrina" diferentemente de
Maquiavel, Hobbes não foi um filósofo
"engajado"; mesmo que em 1651,
tenha,
oferecido ao jovem Carlos II um
manuscrito de Leviatã (que, de resto, o
rei recusou), o que quis elaborar foi
uma teo-ria explicativa e especulativa da
política, uma obra de "ciência". Se o
vínculo que une num sistema sua
concepção filosófica do direito político
é antes de tudo um vínculo de
método, o cará- ter lógico-dedutivo
do procedimento seguido tem um
alcance muito maior do que
metodológico; comporta uma opção
fun-damental, pela qual se mede a
novidade do olhar lançado sobre a
instituição e a organização jurídica
da coisa política; A pos-tulação
mecanicista do sistema revela logo seu
caráter antiesco-lástico: não só a
"ciência política" se pretende, como
a fisicaou a antropologia, racional,
analítica e sintética, mas também
substitui a linguagem da qualidade
utilizada até então pelas doutrinas
políticas que se situavam, de maneira
mais ou menos consciente, na esteira
de Aristóteles, pela linguagem precisa
e rigorosa da quantidade, como os
esquemas da fisica mecanicis-ta de
Mersenne e de Galileu. Em
conseqüência, enfatizando o elementar -
a partir do qual tudo no mecanismo
universal pode ser composto -, Hobbes
atribui ao indivíduo o estatuto episte-
à
mológico do que é principal. E o
indivíduo é, acima de tudo, potência
(potentia),no que é declarado igual a
qualquer outro em seus fins, bem como
nos meios de que dispõe para atingi-los.
lobos:
ser
àÀ
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
Por conseguinte,
dos indivíduos
homo
mais do
Sua concorrência
é
epistema
Hobbes,
luz do
mecanicista
o es-boço
adotado
por Bodin
traçado
de um direito político, no qual repercu-
tia o canto divino do mundo, assume
uma feição "fabulosa" e, de qualquer
modo, obsoleta. Hobbes considera que
do direito
das
esferas que "os sineiros do mundo"
fazem soar. Para compreender as
natural
dos
relação de forças.
universal é "a guer-ra
por
estruturas
elevar-se
encadeamentos
elementos
cientificismo
hobbesia-na abre
registro
político.
geométrico
paradigmas
e
-
política.
jogos
ao
Em primeiro
entre antropologia
fundamental.
vínculo entre
que
novo para a
à
do Estado, é preciso
conhecimento
necessários
nele .''compõem".
pretendido
Nesse registro
Maquiavel
os caracteres
sua perversidade e sua
da política.
infinitamente
dizer, como
evidência
escrevem-se,
com uma nitidez inci-siva, no passo
do mecanismo, os
da modernidade
e
pela teoria
filosofia
lugar,
política
Hobbes
mais longe: não
Leo Strauss, que
a
co
lógi-
dos
um
relação
entrevira
uma
do homem
virtù
vai
se
ele
e aos
-
e os
pode
O
do direi-to
jurídica
força
o
"retifica" Maquia-vel mediante "uma
obra-prima
de prestidigitação"; de manei-ra muito
mais radical, ele detecta na "natureza
humana" a fonte em que nascem todas
as estruturas de direito da política.
Mais do que isso: a mecânica humana é
o cadinho da máquina polí-tica. Essa
linguagem mecanicista jamais havia
sido usada com a amplitude e a
autoridade que lhe dá Hobbes. Longe
das meta-fisicas naturalistas por que se
pautavam as teorias escolásticas e ainda
Bodin, ele extrai da natureza humana,
examinando-a pela via "resolutiva" no
âmago da hipotética "condição
natural dos homens "todos os
elementos cujas articulações
"compositi-
50. Leo Strauss, Qu'est-ce que la politique?,
trad. citada, p. 51. 51. A primeira parte dos
Elements of Law, intitulada Human Nature, e
o Léviathwi, caps. 1a 4, mostram que tudo no
homem -a sensação, a imagi-
àà
32
PRINCÍPIOS
vas" contribuirão
construtor
jurídico-políticos
conseguinte,
operação
o método,
emprego
Sobre
mecanicista,
racionalista,
nível da
é
FILOSÓFICOS DO DIREITO
para o
dos conceitos
a
modernos.
razão;
como Descartes, confere o estatuto de
um privilégio propriamente humano,
não é um poder ou uma faculdade
inata, mas sim um exercício ou uma
de cálculo
arte ou
indis-pensável
organização estrutural
sociedade
as
política.
bases de sua
indivi-dualista
Hobbes
refle-xão, as
e
antropologia
e
reconstitui,
OS
artificialismo
Por
qual Hobbes,
(computa-tio): ela
indústria cujo
edificação
funcional
formas do político
no
da
é
e
que os homens
experiência:
política",
e os
"no abstrato"
da natureza
constituíram
deplorando
racionais"
que na
sofia civil", enquanto
mostrar
princípios
não são postulados
e os
do mundo
no
"as trevas"
em que os filósofos se deleitaram
séculos a fio, ele deseja, diz, graças a
uma "reflexão industriosa", expor
do poder civil
hora de
"ciência
que os
a "filo-
funda-mentos
político
formulados
mas as linhas de força significativas
que se encontram em qualquer
instituição sociopolítica. Em conse-
qüência, ele se pergunta sobre o Poder
e fala em termos gerais
das leis sem jamais
discorrer "em particular sobre as leis
de nenhum Estado do mundo" nem
a
à
nível da
priori,
"disputar a favor de qualquer seita". Se
não ignora que a ciência, para além da
inteligibilidade dos princípios, pode
trazer, quando
33
Leviatã,
modernidade.
do racionalismo
modernidade
encontra
as
mentais
da física
artificial
à
formas
aplicando-as,
Entretanto,
inovadores
sua
operacionais
do mecanismo
para a esfera do
com maior ou
realidade
galileana"
e sintética
o
apesar
do gesto filosó-
humana.
que
simbolizado
do
espíri-to da
hobbesiano,
dos pontos
fico próprio
jurí-dica-política
realização:
pensa o "deus mortal" que a República é
sob o "Deus imortal". O direito político,
cujo esquema racional ele traça, deita
suas raízes nas "leis naturais" e na
normatividade da obrigação que elas
Hobbes
a
do
Hobbes
não
e as
envol-vem em conformidade com
a vontade divina. De fato, Hobbes explica
que a dedução dessas "leis" depende,
ela também, das potências da razão,
para a qual tudo funciona segundo o
esque-ma da causalidade produtiva e
se traduz de acordo com as figu-ras puras
da geometria. Mas as duas leis naturais
fundamentais - esforçar-se pela paz e
saber se privar, se os outros também o
consentem, do direito que se tem
sobre todas as coisas na me- dida em
que isso seja necessário para a paz
- e todas as que delas decorrem não
deixam de criar um embaraço por
sua origem, sua finalidade, sua
obrigatoriedade, pois elas contêm um
evidente resquício de metafisica. Há
nisso, sem dúvida alguma, o indício
eloqüente da dificuldade encontrada por
qual-quer tentativa inovadora para se
livrar da tradição.
A essência
poderíamos
político
XVIII, quando
desteologizada,
ea exigência
público
acidentados
do século
inflamadas
acompanhando
Hegel sobre
a
àÉ
só
do moderno
racional do direito político
Neste capítulo
XVIII
e
pertencerá
problemática
no
filosofia
buscar
final
retraçar todos
seguidos
a
o
em
combates
na
pelos
meio
do século
do Iluminismo,
a
espaço
organizacional
a parte hominis somente nas
capacidades arquitetôni-cas da razão.
idéia
a
do
catedral
preliminar,
os
de
polêmicas
militantes.
olhar lançado
arquite-
por
ma-
do
do Poder
não
caminhos
filósofos
58. O primeiro
études
Gallimard,
Vrin,
PUF,
sur
Lõwith, De Hegel
philosophie
àà Tratado do
Locke, responde, ponto
Patriarcha de Sir Robert
Hegel,
governo civil,
por ponto, ao
Filmer.
escreveu, entre 1659 e 1670, La Politique tirée
des propres paroles de l'Écriture saifite,
destinado educação do Delfim, de quem era
então preceptor. Fénelon escreveu para seu
aluno, o duque de Borgonha, neto de Luís
XIV, seu célebre Telêmaco,
relativas
seguintes
publi-cado contra
sua vontade em 1699 e que lhe valeu cair em
desgraça. 59. Do enorme conjunto bibliográfico
consagrado filosofia
a seu pensamento
obras: Théo- dore
trad. fr., Payot,
Nietzsche
1969; Éric Weil,Hegel
1950; Eugene Fleischmann,
de Hegel,
Bourgeois, La pensée
Révolutionfrançaise,
Denis Rosenfeld, Politique
1984; André Stangue1111ec,
Plon,
politique
1969; J. Ritter, Hegel et la
Beauchesne,
Bossuet
de Hegel, destaquemos,
político,
Adorno,
as
Trais
1979; K.
(1941), trad. fr.,
et l'État,·
La
1964; Ber-nard
de Hegel,
et li-berté,
Hegel,
1970;
de
Aubier,
critique de
Kant, PUF, 1985;
tura intelectual
que, ao
direito
filosofia
pensa
prendera
talidade
que a
fascinado
parecia,
Um
fio
apreenderemos
modernidade".
de
político,
ele, cheia de
amedrontadoras.
amor
Hegel
harmonia
plenitude
ààdo direito
sua crítica,
"a essência
edificada
do Iluminismo, é
sombras
político
da
A catedral racio-nal do
pela
na
radioso de juventude
"bela to-
grega". Na Cidade antiga,
da vida significava
da comunidade,
pela forma da Polis
na época de Stuttgart
Tübingen, ser o outro da alma alemã
do tempo de crise que via espalhar-se
sua volta e o outro do Estado alemão
a cujo res-peito disse que, na virada
dos séculos XVIII e XIX, ''já nem
verdade,
em
a
Hegel ficava
que lhe
e de
sequer é um Estado” Ao contrário da
Alemanha em decadên- cia, a Politeia
helênica estava impregnada da beleza
alegre e da religiosidade profunda que
pertencem, pensava ele, a tudo o que
está vivo. Ora, esquadrinhando os
dramas que, através do destino do
judaísmo e do cristianismo,
envolveram a consciên- cia histórica
e acabaram por culminar na França
no Terror jaco-bino, Hegel compreendeu
que Espírito e Destino são antagôni-cos;
mais precisamente, que toda unidade de
significado históri- co possui uma face
positiva -
é o Espírito -
e uma face
negativa -
é o Destino. Então, diante do
mundo que o rodeia, descobre "a
infelicidade da consciência'', cujo
dilaceramento cresce com o progresso
da modernidade. Em A fenomenologia
do espírito, Hegel
considerará a modernidade uma
até
doença. Mas, já nas obras de sua
mocidade, procura seus sintomas e
os descobre muito especialmente no
mundo político, onde a decadência do
Estado lhe parece
paroxística. A política moderna por
ele des-crita em A Constituição da
Alemanha se parece muito, na in-
moderna
"moralidade
enquanto
vida que
subjetiva"
e o intercâmbio.
da modernidade.
que,
fato,
diz ele,
Terror, lê-se
negatividade
manifesta
a
sol'', pois
conduz
persegue
a
Revolução
à
como no declínio da Grécia
Tal
antiga, os desvios do Es-tado na época
provocaram a ruina da
objetiva" (Sittlichkeit)
progride
(Moralitat),
senso da ordem pública e do bem
a
Comprova
do destino.
a espe-
perde-se
vitórias individualistas
até
afirmação da sin-gularidade, de modo
no como num
foi "um
a
a
loucura
espelho
Ela
mais alta contradi-ção: de
nascer
o
teimosia
a
do
e,
que,
a
do
61. Jbid., trad. fr., Champ libre, p. 30.
62. Jbid., p. 167.
rança de
(portanto,
pública),
verdadeira
àà
um
individualistas
mundo
comunidade
depois
vocação;
dos
ímpetos
do século
mas
XVIII,
a todos
sua
ela conduziu,
por etapas, destruição das esperanças
àà
filósofos
pode viver
modernos postaram
a legislar sobre
pro-blemas particulares; dessa maneira,
só obtém resultados incoe-rentes,
às vezes até tão discordantes que,
forçado a uma legis-lação minuciosa,
cede inflação dos textos e
multiplicação
63. E. Cassirer, Der Erkenntnis Problem,
1923, t. III, p. 292. 64. Hegel, Différence des
systemes philosophiques de Fichte et de
Schel-ling, in Premieres publications, trad. M.
Méry, Ophrys, 1952, p. 133.
dos tribunais.
refletindo
das
Então, nessa
individualismo
modernidade
raízes na
É
Essa dispersão,
o reinado da multipli-cidade
pessoas privadas, carece da
verdade da "unidade
existência
altera-da pelas rupturas
ética absoluta"
ético-política
e cisões, o
apenas uma figu-ra de
é
cera: falta-lhe a vida; tudo o que era
harmonia e beleza na aurora grega
desapareceu;
Hegel, faz a in-
isso que, segundo
felicidade da
política. Esta tem suas
de
e, na gesta histórica da
decadência,
contrário,
o direito político tem a
feição do negativo.
Hegel certamente
modernidade
uma realidade
inse-re-a,
em toda
Hegel combate-a
é
atingir,
a
não atribui
definitiva.
do próprio
sobre-sunção,
ela
cuja
ultrapassar
insu-ficiência
em razão de
direito público
considerar
revela é
em
neles, em nome de
os
pre-ciso, no dizer de
substancial, as ilusões
não deixam de engendrar. No
o pecado da modernidade que o
o do Aujklärung
sua abstração, ele
não sabe recusar a subordinação do
direito público moral; acredita que o
e a vida política
repousam em princípios puros, o que o
incita a fazer prevalecer a subjetivida- de
do querer e a pensar a exigência
autonomia como princí-pio efetivo da
liberdade (ao passo que eles não
exibem mais do que uma condição
formalmente universal sua). Claro, no
de
sofias
do
moderno,
dos
àà
sua existência
porque ela significa que a
"modernidade" designa o espírito
uma época, que, com seus próprios
limi-tes, pertence
história das
história e
idéias.
podemos ler
princípios
animam;
Através
das filo-
às vezes delirantes da "morte
significado
não
mas se
só
Como,
objetivo
crítica
direito
especificar
à
nesta
dos
político
3. Questões de método
A pesquisa
direito político
ser empreendida
da filosofia.
esses caminhos
obra,
análise
princípios
o aparelho
que empregamos.
consagramos
moderno,
filosóficos
dos princípios
moderno
Tomemos,
parece
tomando-se
diferencia-das da história, da ciência
um de
diversos.
temos
do
poder
as
cada
nosso
metodológico
do
de
vias
e
vez,
A) As estradas da história
cognitionem
comparativo
estudando,
a
direito
partir dessa época,
particular-mente
político
que o
exposição da "sucessão
-a exemplo
Methodus
e
apoiam.
instrutivo
esse percurso em seus meandros, em
pelas
de Jean Bodin
ad facilem historiarum
-, um procedimento
destinado
''juízo crítico": O historiador
ainda, o historiador
aum
retraçar
cronológica"
em
autoridade,
com a
ou as
revoluções, o peso das guerras etc.,
reúnem um material rico ao qual o
direito político, en-quanto província da
cultura, não é indiferente nem na
sua ins-tituição nem na sua evolução.
Todavia, o acúmulo desses
parâmetros, ainda por cima
entremeados com fatores
sociológicos e psicológicos, não bas-ta
para a compreensão do direito
político. Mesmo quando dou-trinas e
teorias organizam e sistematizam os
dados da História, tentando
estabelece-los mediante o
movimento das ideias, elas não
conseguem, em razão de seu
método de trabalho, eviden-ciar a
especificidade do direito político,
nem seus fundamen-
78. Cf. J. Boclin, Methodus adfacilem
historiarum cognitionem, trecho sobre os
filósofos franceses, PUF, 1951, p. 281.
tos, suas linhas de força ou as
condições de sua validade. Como a
história, quaisquer que sejam sua
forma e grau de refinamen-to, não
fornece critério para o que,
distinguir
na esfera da cul-tura, caracteriza o
direito político e o distingue de
outras pro- duções culturais, ela é
incapaz de exibir suas determinações
ternas; Leo Strauss assinalou com
in-
pertinência que, embora a
"historização" do problema da
política e do direito que a estru-tura
seja um procedimento envolto de
"uma certa sedução", nem por-isso
ela deixa de ser deploravelmente
redutora: um "disfarce
ela é, diz ele,
dogmático" que carece de
especificidade e, a fortiori, de
autonomia do campo
jurídico-político. A bem dizer,
historicizar o direito equivale a
negá-lo.
O filósofo, não encontrando no
procedimento historizador referência
nem ponto fixo para pensar o
direito político, fica insatisfeito por
não poder problematizá-lo nem
julgá-lo. Quer dizer que ele deixa de
seguir pela via da ciência ou da
episte-mologia para apreender, com
todo rigor, a natureza e os princí-pios do
direito público do estado moderno?
B) Os caminhos "científicos"
adquiriu
sua
Em
I,passim. _à
ou
e, nas suas margens,
instalaram-se outras disciplinas
independência
nossa
busca
pois
em
como
a "ciência do direito" e a epistemolo-
humaines,
hoje clássicos,
a
Karl
trad. 1956:
Jntroduction
Popper,
um
via de adquirir
epistemológica.
Misere
l'étude
título de eicemplo, os
de G. Burdeau, M. Duverger,
J. Ellul, L. Ramon, G. Lavau, M. Prélot,
deles
des
1883, trad. fr., 1942. 82.
cap.
de
trabalhos;
etc.
CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES
45
de encruzilha-da", fértil
convergência
complementaridade
jurídica,
psicológica
Entretanto,
metodológica
política
e pela
econômica,
à
do universo
pelo fenômeno político do
parece mais bem indicada
para um estudo "funda-mental" do
direito político por ser uma "ciência
pela
político
das abordagens
sociológica,
etc. do direito político.
essa vontade
predis-põe a
de síntese
ou a um vasto sincretismo
ciência
política;
aperfeiçoou
para
tomada
políticos.
à
igualmente assinalar que, no
progresso obtido no decurso do século
XX, a ciência política, a exemplo da
political scien-ce praticada
ao se autonomizar: tomou-se o
conhecimento dos
simultaneamente,
analisar
suas
nos
países anglo-saxões, se transformou
dados
técnicas
principalmente a
de decisões pelos atores
Se formos
interesse
se vin-cularem
ciências
83. G. Burdeau,
corrente
capazes
positivas, eles
Traité
LGDJ, ed. 1966,-t.I, p. 6.
da ativida-de
pes-quisa
de
de apreciar
de tais procedi-mentos, também
veremos rapidamente seus limites.
das
seguramente
de science politique,
84. M. Duverger,
o
Por
Méthodes de la science politique, PUF, p. 1959,
21. 85. "Se a ciência políticaumaapresenta
originalidade, ela reside na sín-tese que se
esforça por realizar entre as contribuições
de diversas procedên- cias" (M. Mede, Revue du
droit public, 1955, p. l 136)
46
PRINCÍPIOS
possuem um
apreciável:
empregados
sondagem,
formalização
dados
direito
fecundidade
possível
político
-
e
apresentados
os
-
e
conferem
interesse
métodos
da política
na
heurística.
isolar os
à
FILOSÓFICOS DO DIREITO
análise,
matemati-zação,
uma
OS
cognitivo
de tra-balho
estatística,
informatização dos
"ciência”
princípios
configuração do saber
assim edificado, segundo
como estabelecendo,
segundo a expres-são de Max
Weber, uma "explicação
compreensiva" que visa a “apreender
por interpretação" o sentido de um
conjunto his-tórico, sociológico ou
inegável
Mas não é
do
do direito
es-quemas
político. Esses princípios são antes
pressupostos pela ciência política do
que estabelecidos por ela. Além disso,
o imenso campo operacional que essa
disciplina investiga não tem
fronteiras bem nítidas, de sorte que,
como esse fato toma a extensão do
direito bastante instável, sua base e
sua função permanecem indecisas.
Será preciso acrescentar que,
atualmente, há certo ceticismo em
tomo do caráter cientí-fico da ciência
política (como, de maneira geral, o
caráter científico das ciências
humanas), ao mesmo tempo porque
ela tem dificuldade para definir seu
objeto próprio e, sobretudo, porque
está mais orientada para a aplicação
do que para a ex-plicação? As
carências teóricas da ciência política
a predis-põem mal para a compreensão
do direito político e, pior ainda, para a
pesquisa seus princípios
de
fundamentais ou diretores.
Contudo, a objetividade obriga a
reconhecer que, no âm- bito geral das
ciências humanas, a ciência do
direito - que os alemães chamam de
Rechtswissenschaft e os anglo-saxões
de
47
disciplinas
estudam
justaposição
racionalidades
determinar
perspectivas
ou
a
do di-
a
Por
mantém
sociologia
ainda mais patente
reito político
uma textura
um
história,
global precisa
especializa-das
esses diferentes domínios,
o que tende a lhe dar uma feição
sincrética que carece de clareza. Por
outro lado, como o recurso a essa
multidisciplinaridade
soma dos
conhecimentos, a ciência
não
do direi-to,
confrontada com a pluralidade das
possíveis,
de maneira
e os câno-nes que
lado,
múltiplas
complexa
moderno
deve
como o
a economia, a
e a psicologia
quando
e sua
recorrer
que
pode visar
seletiva as
são
-,
seus, o que acarreta o risco de
introduzir nela um elemento de
parcialidade. De acordo com os
critérios escolhi-dos, a capacidade de
elucidação que uma ciência assim
possui é seletiva; em conseqüência, é
necessariamente limitada, já que
48 OS
é, no fundo, dependente de
pressupostos, axiológicos ou ideo-
lógicos por exemplo, que puderam
determinar a escolha de seus critérios
e de seus modelos operacionais.
Nessas condições, pode-se indagar se
uma Ciência do direito político não
está con-denada a tropeçar em
"obstáculos epistemológicos"
intranspo-níveis, que afastam os
resultados por ela obtidos do
conheci-mento teórico aprofundado
que buscava. portanto, a
Avaliamos,
ambigüidade com que ela se arrisca
a cercar o próprio pensa-mento do
direito político: ou ela se arrisca,
por preocupação com objetividade, a
àà
reduzir
sua
refugia
o
descrição –
representação
enuncia
domínio
hic
numa
pontualmente
pela ciência
maneira
quase
seus
direito político
ou
geral,
princípios
compensação,
que, em vez
saber, responde
hermenêutica
do
não permitem
conhecimento
de
seja,
-
específico
postulação criteriológica
priva da autonomia
pretendia.
Não
elementos
metalinguagem
se trata
de verdade
pela ciência
a
as
simples
normas que
das
et nunc, ou amplia o
integrando-lhe
"ciências
do direito
fundamentais.
conduta
em busca de
estar
a uma intenção
e a uma reflexão
e se
de subestimar
que a
científica que
trazi-dos
política
direi-to. Entretanto,
humanas"
conduzir
político
fi-
o
Em
losófica
ele
os
até
e
de
crítica, deve per-mitir desvendar as
condições de inteligibilidade do
direito polí-tico e, por conseguinte,
elucidar os princípios sobre os
quais ele se apóia para instituir a
realidade do mundo político moder-no
e dar-lhe vida.
C) A via filosófica
49
primeira
e
segunda
filósofos
dos princípios
manifestados
seu
nós nos
exercício
jurídico-político
consagrada
moderno
e aos
dela
à
que, de Maquiavel
a J. Habermas ou a R. Dworkin,
propuseram uma hermenêutica
ordem jurídico-política.
Depois de examinarmos,
parte, a
no espaço
indagaremos,
parte, sobre
direito político
no
ensinamentos
se
no
excelên- cia da política
Nossa terceira
as
numa
questão da natureza
como
do Poder tais
por sua emergência e
da modernidade,
numa
figuras do
Estado, lugar
parte será
moderna.
crise do direito
mundo
podem extrair.
filosóficos
por
da
político
contemporâneo
que