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FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE
SOCIEDADE BRASILEIRA GASTROENTEROLOGIA
DE HEPATOLOGIA
Editorial
A Sociedade Brasileira de Hepatologia tem como um de
seus objetivos primordiais a promoção de Educação Médica
Continuada de elevada qualidade científica. Neste projeto
ela se propõe a fazê-lo através de discussão de casos
clínicos, entrevistas e revisões de atualização sobre temas
fundamentais em Hepatologia, abordados por renomados
especialistas da área.
A Zambon participa desta iniciativa, levando à classe
médica a melhor mensagem técnico-científica, com o apoio
da Sociedade Brasileira de Hepatologia.
Nesta edição o médico terá a oportunidade de atualizar
seus conhecimentos através da informação mais precisa e
atual sobre um importante problema: COLESTASE.
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Bibliografia
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Estudo comentado
Prof. Dr. Claudio Augusto Marroni
Professor Associado do Departamento de Medicina Interna-Disciplina de Gastroenterologia- Fundação Faculdade
Federal de Ciências Médicas de Porto Alegre. Hepatologista do Grupo de Transplante Hepático de adultos da
Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre / FFFCMPA
Colestase: diminuição do fluxo biliar e falência em secretar compostos co- elevado, de 1,5% ao ano. Os pacientes com CEP e retocolite ulcerativa
lefílicos na bile; associada com icterícia e prurido, elevação das bilirrubinas, inespecífica (RCUI) têm o mais alto risco de desenvolver carcinoma do
fosfatase alcalina e gamaglutamiltranspeptidase; dano hepático crônico cólon. Os estudos iniciais, observacionais e com pequeno número de pa-
atribuído a acúmulo e retenção de ácidos biliares potencialmente tóxicos cientes demonstraram segurança no uso da droga e melhora laboratorial
nos hepatócitos. e histológica. Um estudo com maior número de pacientes, randomizado e
Inúmeras doenças hepáticas apresentam a síndrome do desapareci- placebo-controlado, no qual se utizaram doses de 13-15 mg/kg/dia du-
mento dos ductos biliares (SDDB), que origina a colestase crônica. Essa rante 2,2 anos, não mostrou benefício clínico. Metanálise que configurou
síndrome é caracterizada pela progressiva perda dos pequenos ductos o uso do AUDC com relação a placebo não evidenciou diferença quanto a
intra-hepáticos e têm implicadas na sua fisiopatogenia mecanismos imu- mortalidade, falha de tratamento, piora histológica e da via biliar. Entretan-
nopatogênicos que envolvem respostas imunes, inatas ou adaptativas, que to, nessa metanálise havia poucos pacientes com doença avançada, que
contribuem para a ductopenia. O prognóstico a longo prazo é a falência foram observados por tempo curto para uma doença crônica com história
hepática ou o transplante hepático. natural de décadas.
O ácido ursodeoxicólico (AUDC) é um ácido biliar fisiológico, presente no O AUDC não influencia as estenoses da via biliar, razão pela qual foram
pool de ácidos biliares humanos, na concentração de 3%. O AUDC dis- analisados trabalhos em que seu uso foi associado a instrumentalização
solve cálculos biliares. Alguns dos pacientes com cálculos biliares também da via biliar (observação de oito anos) e a sobrevida foi significativamente
tinham hepatite crônica. Nesses pacientes, com hepatite crônica,o audc melhor do que sem esse tratamento. Doses maiores de AUDC (20-30
melhorava as chamadas provas de função hepática. mg/kg/dia), em comparação a placebo ou a doses habituais, por perío-
O AUDC têm aumentada a sua absorção intestinal com as refeições e dimi- dos de 1,2 e cinco anos, mostraram melhora em exames laboratoriais,
nui a absorção com a colestase. aparentemente redução na progressão da doença, e boa evolução. O
Segue rota metabólica do pólo sinusoidal para o canalicular, é reabsorvido maior estudo (de 2005), randomizado contra placebo, com seguimento
no íleo distal e entra na circulação entero-hepática. de cinco anos, não evidenciou benefício significante quanto à mortalidade
Como tratamento oral continuado, em doses farmacológicas de 13-15 sem transplante hepático ou à prevenção do colangiocarcinoma. Demons-
mg/kg/dia, o AUDC se torna o ácido biliar predominante no fígado e na trou uma tendência de melhora da sobrevida no grupo tratado com AUDC,
circulação sistêmica, perfazendo 40% a 60% do total dos ácidos biliares. sem grande poder estatístico.
Os mecanismos de ação do AUDC nas colestases são diversos; compre- Uma ação terapêutica colateral do AUDC foi o efeito quimiopreventivo con-
endem a modificação da composição do pool de ácidos biliares, o efeito tra o câncer de cólon demonstrado em dois estudos clínicos com pacien-
protetor da membrana do hepatócito, o efeito imunomodulador, a hiperco- tes com RCUI e CEP, acompanhados por colonoscopia para detecção de
lerese rica em bicarbonato, o agente sinalizador intra-hepático que induz a displasias colônicas. Esses estudos – um sobre o uso de AUDC e o outro
estimulação da secreção hepática comprometida, o efeito antiapoptótico e duplo-cego com placebo – demonstraram acentuada diminuição do risco
a mediação na ação protetora dos colangiócitos. Os mecanismos de ação relativo de displasias ou câncer intestinal, sugerindo um efeito significativo
podem variar de acordo com o estádio da doença e o seu mecanismo do AUDC de quimioprevenção nesses pacientes.
fisiopatogênico. A Colestase Intra-hepática da Gestação (CIG) é a mais comum desordem
A Cirrose Biliar Primária (CBP) é uma doença hepática colestática crônica hepática da gestação e se expressa como prurido, alteração moderada
caracterizada pela ruptura dos dúctulos intra-hepáticos, com conseqüen- das chamadas provas de função hepática, durante o segundo ou terceiro
te inflamação crônica, que determina progressiva ductopenia com fibrose trimestre, desaparece com o parto e pode ser relacionada a parto prema-
e cirrose biliar. A maioria dos pacientes é assintomática no momento do turo ou morte intra-uterina. O uso do AUDC (8-10 mg/kg dia), comparado
diagnóstico e a doença é detectada pelo perfil laboratorial. A icterícia ocor- com o da colestiramina (8 g/dia), mostrou-se mais eficaz na CIG, com
re tardiamente, com a progressão da doença. O AUDC é a terapêutica fun- melhor tolerabilidade e sem efeitos adversos para a mãe ou o recém-nas-
damental para CBP; inúmeros trabalhos revelam o benefício do tratamen- cido. Houve melhora do prurido, das provas de função hepática e o parto
to com a droga, que melhora o perfil bioquímico e diminui a progressão da foi mais próximo do termo.
fibrose nos estádios iniciais, em comparação com placebo. Quando usado A doença hepática do enxerto contra o hospedeiro (GVHD) é uma compli-
precocemente diminui as lesões necroinflamatórias periportais, melhora a cação freqüente após transplante de medula, associada com colestase,
proliferação ductular e torna mais lenta a progressão dos estádios histo- elevação das bilirrubinas e da fosfatase alcalina, por dano nos pequenos
lógicos. Em doença avançada pode melhorar a inflamação e a proliferação ductos biliares. O uso do AUDC na dose de 10-15 mg/kg/dia por seis
ductular, mas não reverte a fibrose. semanas na GVHD proporcionou melhora nos exames laboratoriais; a des-
O fato mais debatido é o efeito a longo prazo na sobrevida. A análise com- continuidade do tratamento resultou em piora. O AUDC mostrou-se eficaz
binada de três grandes estudos randomizados, com ou sem a medicação, na profilaxia da doença venoclusiva do fígado após transplante alogênico
sugere que em quatro anos a sobrevida livre de transplante hepático é da medula, em comparação a placebo, em estudo descritivo com número
significativamente maior entre os pacientes que receberam AUDC – prin- limitado de pacientes.
cipalmente aqueles com doença moderada ou grave. Nos que apresenta- A Fibrose Cística (FC) é uma desordem autossômica recessiva causada
vam doença mínima não houve diferença, provavelmente pelo pouco tem- por mutação no regulador da condutância transmembrana da fibrose cís-
po da observação (quatro anos). Metanálises mais recentes, com grande tica (CFTR), que determina a secreção de bile viscosa e ocasiona rolhas
número de pacientes e evolução muito longa (>10 anos), não demonstra- biliares nos pequenos ductos biliares, obstrução biliar, fibrose focal a multi-
ram efeito favorável do uso de AUDC sobre a incidência de morte e de lobular e cirrose biliar. As complicações da FC aumentam com a idade; 7%
transplante hepático, ou mesmo sobre as complicações da cirrose. das crianças ou adultos jovens têm cirrose. O uso do AUDC é preconizado
A Colangite Esclerosante Primária (CEP) é uma doença rara que acomete na dose de 15-20 mg/kg/dia, por períodos longos de tempo, e parece
os ductos biliares intra e extra-hepáticos; progressiva, tem evolução cirro- proporcionar benefícios clínicos, bioquímicos, nutricionais e mesmo his-
gênica e tempo médio de vida do diagnóstico à morte ou ao transplante he- tológicos. Não há certeza sobre a modificação da história natural da
pático de 12 anos. Em 70% a 80% dos casos há associação com doença fc,principalmente no que se relaciona à fibrose e a hipertensão portal
inflamatória intestinal. O risco de desenvolver colangiocarcinoma é muito decorrentes e à necessidade de transplante hepático.
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