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1 Introdução
* Especialista em Direito Tributário e graduado em Direito pela Faculdade de Direito Milton Campos (MG).
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A Constituição Federal de 1988 (CF/88) elenca em seu art. 149, caput, três
espécies de contribuições de competência da União, diferenciando‑as conforme a
finalidade a que se destinam: 1. sociais, 2. de intervenção no domínio econômico e
3. de interesse das categorias profissionais ou econômicas (BRASIL, 2012a).
As contribuições sociais são instrumentos tributários que têm como finalidade
o financiamento de atividades da União no campo social, entre elas encontra‑se a
de financiamento da seguridade social (saúde, previdência e assistência social)
(TOMÉ, 2011).
Bergamini et al. (2009, p. 15) assentam o seguinte:
As contribuições sociais, por exigência constitucional, são tributos vinculados a finali‑
dades específicas, devendo sua legislação dispor sobre os contornos não apenas de
sua regra‑matriz de incidência, mas também da finalidade de [sic] será atrelada ao
produto de sua arrecadação no plano legal.
O art. 195, I a III e § 8o, da Carta Magna elenca as possíveis fontes de finan‑
ciamento direto da seguridade social:
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta
e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribui‑
ções sociais:
I – do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, inci‑
dentes sobre:
[...]
b) a receita ou o faturamento (BRASIL, 2012a).
Art. 1o A contribuição para o PIS/Pasep tem como fato gerador o faturamento mensal,
assim entendido o total das receitas auferidas pela pessoa jurídica, independentemen‑
te de sua denominação ou classificação contábil.
§ 1o Para efeito do disposto neste artigo, o total das receitas compreende a receita
bruta da venda de bens e serviços nas operações em conta própria ou alheia e todas
as demais receitas auferidas pela pessoa jurídica (BRASIL, 2002b).
1
A EC fora publicada em 16 de dezembro de 1998, 20 dias após a Lei n. 9.718/98.
2
STF, Plenário, RE n. 390.840/MG, relator ministro Marco Aurélio, Diário da Justiça (DJ) 15. 8.2006, p. 25.
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Art. 8o da IN SRF no 404. Do valor apurado na forma do art. 7o, a pessoa jurídica pode
descontar créditos, determinados mediante a aplicação da mesma alíquota, sobre os
valores:
[...]
§ 4o Para os efeitos da alínea “b” do inciso I do caput, entende‑se como insumos.
I – utilizados na fabricação ou produção de bens destinados à venda:
a) a matéria‑prima, o produto intermediário, o material de embalagem e quaisquer
outros bens que sofram alterações, tais como o desgaste, o dano ou a perda de pro‑
priedades físicas ou químicas, em função da ação diretamente exercida sobre o pro‑
duto em fabricação, desde que não estejam incluídas no ativo imobilizado;
b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou consu‑
midos na produção ou fabricação do produto;
II – utilizados na prestação de serviços:
a) os bens aplicados ou consumidos na prestação de serviços, desde que não estejam
incluídos no ativo imobilizado; e
b) os serviços prestados por pessoa jurídica domiciliada no País, aplicados ou consu‑
midos na prestação do serviço (BRASIL, 2004a, grifo nosso).
de créditos de PIS e Cofins não cumulativos, conceito trazido atualmente pelo art.
226 do Decreto n. 7.212/2010:
Art. 226. Os estabelecimentos industriais e os que lhes são equiparados poderão
creditar‑se (Lei n. 4.502, de 1964, art. 25):
I – do imposto relativo a matéria‑prima, produto intermediário e material de embalagem,
adquiridos para emprego na industrialização de produtos tributados, incluindo‑se,
entre as matérias‑primas e os produtos intermediários, aqueles que, embora não se
integrando ao novo produto, forem consumidos no processo de industrialização, salvo
se compreendidos entre os bens do ativo permanente;
II – do imposto relativo a matéria‑prima, produto intermediário e material de embalagem,
quando remetidos a terceiros para industrialização sob encomenda, sem transitar pelo
estabelecimento adquirente;
III – do imposto relativo a matéria‑prima, produto intermediário e material de embalagem,
recebidos de terceiros para industrialização de produtos por encomenda, quando es‑
tiver destacado ou indicado na nota fiscal;
IV – do imposto destacado em nota fiscal relativa a produtos industrializados por en‑
comenda, recebidos do estabelecimento que os industrializou, em operação que dê
direito ao crédito;
V – do imposto pago no desembaraço aduaneiro;
VI – do imposto mencionado na nota fiscal que acompanhar produtos de procedência
estrangeira, diretamente da repartição que os liberou, para estabelecimento, mesmo
exclusivamente varejista, do próprio importador;
VII – do imposto relativo a bens de produção recebidos por comerciantes equiparados
a industrial;
VIII – do imposto relativo aos produtos recebidos pelos estabelecimentos equiparados
a industrial que, na saída destes, estejam sujeitos ao imposto, nos demais casos não
compreendidos nos incisos V a VII;
IX – do imposto pago sobre produtos adquiridos com imunidade, isenção ou suspensão
quando descumprida a condição, em operação que dê direito ao crédito; e
X – do imposto destacado nas notas fiscais relativas a entregas ou transferências
simbólicas do produto, permitidas neste Regulamento.
Parágrafo único. Nas remessas de produtos para armazém‑geral ou depósito fechado,
o direito ao crédito do imposto, quando admitido, é do estabelecimento depositante
(BRASIL, 2010a).
Tal entendimento não se amolda à feição jurídica do PIS/Cofins, eis que seu
fato gerador não se identifica com uma operação em especial, como ocorre com o
ICMS e IPI, mas por uma multiplicidade de operações indistintamente capazes de
gerar a receita.
Trazer esse restrito conceito a tributos cuja legislação própria expôs o termo
em seu sentido amplo e usual, livre de quaisquer exceções, consiste em ilegal cer‑
ceamento de direito constitucionalmente garantido ao contribuinte. Em suma, ao
utilizarem‑se da legislação do IPI para conceituação de insumos para fins de aplica‑
ção ao creditamento do PIS e da Cofins, os atos regulamentares editados pela RFB
violaram a estrita legalidade tributária, vez que inexiste previsão legal nesse sentido.
Ricardo Mariz de Oliveira (2005, p. 44) leciona:
Sem ser necessário entrar em qualquer discussão relativa a extensão dos créditos de
quantificação da COFINS e da contribuição ao PIS, basta ver que, quanto ao IPI, a
redução dos créditos a apenas três grupos de insumos deriva de expresso disposição
da respectiva legislação, enquanto que no ICMS as leis que o regem em disposições
inteiramente diversas das contidas nas Leis no. 10.637 e 10.833.
Além disso, em beneficio da citada instrução normativa sequer existe uma disposição
legal que diga que, para a identificação dos insumos que geram dedução da Cofins e
da contribuição ao PIS, deve ser aplicada subsidiariamente a legislação do IPI, como
ocorre com o crédito presumido estabelecido pela Lei n. 9.363, de 13.12.1996, neste
caso por força de expressa determinação do parágrafo único do art. 3o.
Cofins. Isso ocorre porque o IPI incide sobre operações específicas com produtos
abarcados por aquele processo, ao passo que as contribuições incidem sobre qual‑
quer receita, independentemente da operação que lhes dá origem.
Nesse sentido, assenta Douglas Yamashita (2007, p. 113):
Tampouco se poderia interpretar o conceito de insumos a partir da legislação do IPI ou
ICMS por absoluta falta de remissão legal e em razão da enorme divergência da ma‑
terialidade desses impostos em relação as contribuições sociais em questão.
A interpretação trazida pela Receita Federal nas IN/SRF n. 404 e 247 é de que
os créditos oriundos da própria base de cálculo do tributo são admitidos apenas
quanto ao tributo pago sobre insumos consumidos em uma específica etapa de in‑
dustrialização. Essa conceituação é falha não apenas pela contradição material
entre os tributos analisados, mas também por violar o regime não cumulativo, vez
que seu caráter excessivamente restrito acaba por agravar a carga tributária em
razão da cumulatividade, o que deveria ser afastado nos termos da CF/88 (art. 195,
§ 12) e das leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003.
Insta salientar que a legislação aplicável ao PIS/Cofins não traz quaisquer
exceções ou diferenciações entre insumo direto e indireto, como fez a RFB ao pos‑
sibilitar o creditamento somente aos insumos aplicados diretamente na produção,
restringindo, desse modo, a aplicação da sistemática da não cumulatividade.
Conforme já destacado, o legislador federal, ao disciplinar a sistemática da
não cumulatividade sobre as contribuições para o PIS e a Cofins, buscou a desone‑
ração da produção e dos investimentos, trazendo, por meio dos diplomas legais
pertinentes, a saber, as leis n. 10.637/2002 e 10.833/2003, o direito à concessão de
crédito sobre todos os “bens e serviços utilizados como insumo na prestação de
serviços e na produção ou fabricação de bens destinados à venda” (art. 3o, II).
Em virtude da ausência de legitimidade do Poder Legislativo para inovar além
do parágrafo 12 do art. 195 da Carta Maior, a não cumulatividade deve então ser
compreendida tendo em vista a materialidade dos tributos em comento.
Como assentado anteriormente, o PIS e a Cofins oneram a receita bruta ob‑
tida na atividade empresarial, desconsiderando seu fato gerador, a natureza do
produto ou serviço prestado, bem como a estrutura ou denominação jurídica do
negócio pelo qual são auferidas as receitas deles decorrentes, independentemente
de sua classificação contábil.
Assim, quando da conceituação do que seja insumo, gerador de crédito no
âmbito do PIS/Cofins, a conclusão lógica é a de que o intérprete deva se dirigir ao
tributo cuja estrutura mais se aproxime à do PIS e da Cofins.
Partindo desse entendimento, dispensável também é a adoção da legislação
do ICMS para solucionar a lacuna existente quanto ao conceito de insumo. Ainda
que tenha o ICMS materialidade mais ampla que a do IPI, vez que envolve qualquer
tipo de mercadorias, e não apenas os produtos industrializados, incidindo também
sobre os serviços, continua sendo mais restrita que a do PIS e da Cofins, pois os
créditos são admitidos em função da essencialidade do insumo para a atividade
produtiva ou quanto à prestação do serviço tributado.
Destarte, para que a admissão de um bem ou serviço enseje crédito de ICMS,
não é necessária a incorporação nem o contato físico com o produto final, e muito
menos seu consumo direto ou indireto na prestação, mas, sim, sua essencialidade e
necessidade para a prestação tributada.
No ICMS, assim como ocorre no IPI, o desconto dos créditos está vinculado
aos tributos efetivamente devidos na etapa anterior, preponderando os créditos físicos,
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Nota‑se que os gastos não contabilizados como custos e que sejam simulta‑
neamente necessários e usuais são passíveis de dedução. Sendo esse, grosso modo,
o conceito de insumo para fins de legislação do Imposto de Renda.
Eis o conceito de custos exposto pelo Regulamento do Imposto de Renda
(RIR) em seu art. 290:
Art. 290. O custo de produção dos bens ou serviços vendidos compreenderá, obriga‑
toriamente (Decreto‑Lei no 1.598, de 1977, art. 13, § 1o):
I – o custo de aquisição de matérias‑primas e quaisquer outros bens ou serviços apli‑
cados ou consumidos na produção, observado o disposto no artigo anterior;
II – o custo do pessoal aplicado na produção, inclusive de supervisão direta, manuten‑
ção e guarda das instalações de produção;
III – os custos de locação, manutenção e reparo e os encargos de depreciação dos
bens aplicados na produção;
IV – os encargos de amortização diretamente relacionados com a produção;
V – os encargos de exaustão dos recursos naturais utilizados na produção.
Parágrafo único. A aquisição de bens de consumo eventual, cujo valor não exceda a
cinco por cento do custo total dos produtos vendidos no período de apuração anterior,
poderá ser registrada diretamente como custo (Decreto‑Lei no 1.598, de 1977, art. 13,
§ 2o) (BRASIL, 1999a).
Dito isso, passa‑se à análise das recentes soluções de consultas, bem como
das atuais decisões, tanto em âmbito administrativo quanto na esfera judicial, acer‑
ca do tema.
5 Soluções de consultas
3
Disponível em: <http://decisoes.fazenda.gov.br/netahtml/decisoes/decw/pesquisaSOL.htm>. Acesso em: dez. 2014.
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Lei n.10.833, de 29/12/2003, não está restrito às matérias primas, aos produtos inter‑
mediários e aos materiais de embalagem e outros bens que sofram alterações em
função da ação diretamente exercida sobre o produto em fabricação, desde que não
incluídos no ativo imobilizado, mas, sim, se estende, além desses, àqueles itens que
são capazes de serem perfeitamente identificados com o processo produtivo da em‑
presa (BRASIL, 2012b).
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4
A título de exemplo, cite‑se entendimento do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4a Região, responsável pela jurisdição na Região Sul
do país: “PIS. COFINS. NÃO‑CUMULATIVIDADE. CREDITAMENTO DE INSUMO. LEIS No 10.637/2002 E 10.833/2003. A nova sistemá‑
tica de tributação não‑cumulativa do PIS e da COFINS, prevista nas Leis no 10.637/2002 e 10.833/2003, confere ao sujeito passivo do
tributo o aproveitamento de determinados créditos previstos na legislação, excluídos os contribuintes sujeitos à tributação pelo lucro
presumido. Insumo é tudo aquilo que é utilizado no processo de produção e, ao final, integra‑se ao produto, seja bem ou serviço. Desse
modo, a vigilância e a limpeza, a publicidade, o aluguel e a energia elétrica não são insumos dos prestadores de serviços. Se o legislador
quisesse alargar o conceito de insumo para abranger todas as despesas do prestador de serviço, o artigo 3o das Leis no 10.637/2002 e
10.833/2003 não traria um rol detalhado de despesas que podem gerar créditos ao contribuinte. O conceito de insumo esposado na IN
SRF n.o 404/04 está de acordo com a legislação pertinente, uma vez que restringe o creditamento aos elementos que compõem direta‑
mente o produto ou serviço e não à atividade geral da empresa (TRF4 – AC – APELAÇÃO CÍVEL – 200772010007910 – 21/10/2008)”.
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[...]
Efetivamente, só se pode assegurar a apuração de créditos relativamente a despesas
que, configurando receitas de outras empresas, tenham implicado pagamento de PIS
e de COFINS anteriormente. E só podem apurar créditos aqueles que estão sujeitos
ao pagamento das contribuições PIS e COFINS não cumulativas.
[...]
A coerência de um sistema de não‑cumulatividade de tributo direto sobre a receita
exige que se considere o universo de receitas e o universo de despesas necessárias
para obtêlas [sic], considerados à luz da finalidade de evitar sobreposição das contri‑
buições e, portanto, de eventuais ônus que a tal título já tenham sido suportados pelas
empresas com quem se contratou.
O crédito, em matéria de PIS e COFINS, não é um crédito meramente físico, que
pressuponha, como no IPI, a integração do insumo ao produto final ou seu uso ou
exaurimento no processo produtivo. A perspectiva é mais ampla e disso depende a
razoabilidade do sistema instituído e, após a EC 42/03, o próprio respeito ao critério
constitucional. Tenho que a solução está em atribuir ao rol de dispêndios ensejadores
de créditos constante dos arts. 3o da Lei 10.637/02 e 3o da Lei 8.833/03 e da respecti‑
va regulamentação (e.g., IN 404/04) caráter meramente exemplicativo. Restritivas são
as vedações expressamente estabelecidas por lei (BRASIL, 2012d, grifo nosso).
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Cumpre atentar ainda para decisão prolatada pela Egrégia Corte da 1a Região,
ao versar sobre o princípio da isonomia tributária, ferido por restrições aleatórias que
prejudicam a não cumulatividade:
TRIBUTÁRIO. PIS/COFINS. NÃO‑CUMULATIVIDADE. ART. 195, § 12, DA CF/1988
– EC 42/2003. LEIS 10.637/2002, 10.833/2003 e 10.925/2004. VEDAÇÃO DE TRATA‑
MENTO DESIGUAL A CONTRIBUINTES EM SITUAÇÕES EQUIVALENTES. ART. 150,
II, DA CF/1988. 1. A EC 42/2003 – art. 195, § 12, da CF/1988 – e as Leis 10.637/2002,
10.833/2003 e 10.925/2004 estabeleceram hipóteses de não‑cumulatividade para as
contribuições para o PIS e para a COFINS. Essas Leis majoraram significativamente
as alíquotas das contribuições, com a contrapartida da não‑cumulatividade, gerando
hipótese de créditos para os contribuintes. 2. A efetivação da não‑cumulatividade do
PIS e da COFINS pressupõe a necessária previsão de deduções que digam respeito
a operações anteriores do contribuinte, que possam ser aproveitadas posteriormente.
As deduções previstas nas Leis 10.637/2002 e 10.833/2003 não configuram benesse
fiscal, mas verdadeiro pressuposto da não‑cumulatividade, no intuito de compensar o
aumento da alíquota das contribuições para o PIS e a COFINS. 3. O art. 8o da Lei
10.925/2004 previu a não‑cumulatividade para o contribuinte que tenha como insumo
ou matéria‑prima de origem animal ou vegetal previsto no NCM (Nomenclatura Comum
do Mercosul), desde que o produto final seja destinado à alimentação humana ou
animal. 4. Em razão do princípio da isonomia tributária, que veda ao ente tributante
instituir tratamento desigual entre contribuintes que se encontram em situação equiva‑
lente – art. 150, II, da Constituição Federal de 1988 –, não se pode admitir o aumento
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Por fim, cita‑se o julgamento parcial proferido pelo STJ no REsp n. 1246317,
em 16 de junho de 2011, estando atualmente pendente de julgamento definitivo
(BRASIL, 2011c).
No caso em questão, o contribuinte pugnou pelo direito de aproveitamento de
créditos de PIS/Cofins oriundos da aquisição de materiais de limpeza e desinfecção
e serviços de dedetização aplicados no ambiente produtivo de empresa cujo objeto
envolve a indústria alimentícia. Do julgamento, três dos cinco componentes da 2a
Turma deferiram o aproveitamento dos créditos pugnados, o que denota um quanto
à desconsideração da interpretação proposta pelas instruções normativas da RFB.
O referido julgamento trouxe a essencialidade como critério necessário à
percepção do insumo, recepcionando, portanto, o argumento trazido pelo contribuin‑
te de que os serviços de limpeza são essenciais à produção alimentícia, haja vista
as normas sanitárias às quais esta se sujeita.
Da decisão prolatada infere‑se que o STJ entende ser necessária a análise
de caso a caso para verificar a essencialidade de bens e serviços adquiridos para
realização das atividades dos contribuintes.
Destarte, as decisões anteriormente colacionadas demonstram que tanto a
esfera administrativa quanto a judicial vêm se afastando da interpretação restritiva
da RFB do que seja insumo.
7 Conclusão
Abstract: The scope of this paper is to analyze the reach of the non‑cumulative
system of the PIS and Cofins taxes, which was introduced in laws n. 10.637/2002
and 10.833/2003, respectively, and then added to the Constitution through Consti‑
tutional Amendment n. 42/2003. The referred‑to laws establish in their art. 3, sub‑
paragraph II, with identical text in both, the possibility of deducting determined
credits – in accordance with legislation – from tax payable. It so happens that the
referred‑to legal devices, while introducing the possibility of utilizing credits, do not
contain a definition of “inputs” for the purpose of calculating the PIS and Cofins
credits, nor is there any reference to devices external to the legislation governing
these taxes. The Receita Federal do Brasil – RFB (the Brazilian federal tax author‑
ity), with the goal of regulating the law, has adopted an extremely restrictive defini‑
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tion of inputs via normative instructions IN/SRF n.. 404 of 2004 (art. 8, § 4) and 247
of 2002 (art. 66).
Keywords: PIS/Cofins; credit; inputs.
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