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Crise no RJ: benefícios fiscais do governo são questionados Cristiane de Oliveira - Portal
EBC.
O Rio de Janeiro passa por uma crise financeira que afeta diretamente a oferta de serviços
públicos no estado, o que causa reações por parte do funcionalismo nesta semana. Uma das
medidas adotadas pelo governador Luiz Fernando Pezão é o polêmico aumento de 11% para 14%
na contribuição previdenciária dos servidores, ao mesmo tempo em que pretende continuar com
incentivos fiscais para que as empresas se estabeleçam no Rio de Janeiro. No entanto, o
governador admitiu não ter nenhum levantamento sobre o valor da renúncia fiscal dos últimos
anos e nem sobre o real benefício que ela trouxe em termos de arrecadação.
Uma decisão judicial no final de outubro, em ação movida pelo Ministério Público,
suspendeu as concessões de novos benefícios fiscais no estado do Rio. O promotor Vinícius Leal
Cavalleiro, da 8ª Promotoria de Justiça e Tutela Coletiva de Defesa da Cidadania, afirma que não
há um único estudo no Brasil ou no mundo que comprove ou vincule a concessão de benefícios
fiscais às finalidades constitucionais de justiça e igualdade sócio-econômica.
"O Estado é constitucionalmente proibido de interferir no mercado. Os preços são regidos
única e exclusivamente pela lei da oferta e procura", afirma Cavalleiro.
A partir dos princípios e regras de direito financeiro, comente o texto acima.
Ademais, a decisão do Poder Público de estabelecer incentivos fiscais deve observar também
o princípio do equilíbrio orçamentário, o qual busca a equivalência entre o que se gasta (despesas
públicas) e o que se arrecada (receitas públicas), em outras palavras, “esse princípio busca a
igualdade numérica entre as entradas e saídas da administração, afastando-se a presença de déficit
ou superávit” (PISCITELLI, 208, p. 52). É um princípio sem previsão constitucional, porém está
presente no art. 1º, §1º da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) como meta da gestão pública.
Dessa maneira, a LRF determina medidas de controles para o cumprimento desta meta. De
acordo com o art. 5º, II, da referida lei, a administração pública deve estabelecer medidas de
compensação aos efeitos da renúncia fiscal. Além disso, a medida de compensação também está
prevista no art. 14, que determina inclusive a estimativa de impacto orçamentário, porém não há na
LRF a previsão de sanção caso a lei que estipule a renúncia fiscal não tenha tal estimativa, nem exige
a vinculação da receita com a finalidade da renúncia fiscal (ROCHA, 2017, p.11).
No caso em questão, resta evidente que o poder público não observou estas regras, ao
afirmar que não houve um estudo de impacto orçamentário do incentivo fiscal. Com isso, o governo
estadual violou, além das regras orçamentárias antes expostas, o princípio da transparência, um
princípio fundamental para a percepção do trabalho do Estado e do montante total gasto dentro de
um cenário de renúncia fiscal, através da divulgação das finalidades e objetivos das políticas
públicas. Segundo Piscitelli (2018 p. 34), a transparência “é, ao lado da legalidade, requerimento do
Estado Democrático de Direito, na medida em que viabiliza o controle dos gastos públicos pelos
cidadãos”, e rege outras formas de controle das contas públicas previstas no art. 74, §2º da CF, bem
como nos artigos 1º, §1º; 48 e 49 da LFR.
Portanto, erra o governador do estado do Rio de Janeiro ao conceder benefícios fiscais sem
planejamento e transparência, violando o princípio da segurança, e ao majorar a alíquota de
contribuição previdência dos servidores como medida de compensação sem observar as diretrizes
do princípio da capacidade contributiva, de modo a aumentar o desequilíbrio econômico do estado e
colocar em risco a garantia de direitos fundamentais e sociais constitucionais. Erra, igualmente, o
promotor ao dizer que o Estado não pode interferir no mercado, desconhecendo a prerrogativa
constitucional de alteração de alíquotas de tributos extrafiscais. Acerta, contudo, ao falar que a
concessão de benefício fiscal, de um modo geral, não observa os preceitos constitucionais de justiça
e igualdade sócio-econômica por não se materializá-los.
2. Diante do aumento expressivo dos casos de corrupção que impactam a capacidade do Estado de
realizar suas obrigações para com a população, o Governo Federal resolveu buscar uma nova fonte
de receitas mediante a criação de dois novos adicionais de Imposto de Renda. A alíquota do
Imposto de Renda das Pessoas Físicas seria majorada em 30% no caso de indivíduos condenados
por corrupção e, no caso de empresas condenadas pelo pagamento de propinas, haverá uma
majoração do Imposto de Renda das Pessoas Jurídicas, igualmente de 30%. Analise a legitimidade
deste tipo de medida, considerando a crise orçamentária pela qual o país vem passando.
Além disso, a solidariedade também está relacionada à forma como o Estado lida com questões
econômicas e sociais, como o combate à pobreza, a promoção do desenvolvimento regional e a
garantia de direitos fundamentais. O Estado deve agir de maneira solidária, implementando políticas
públicas que contribuam para a redução das desigualdades econômicas e sociais, visando à inclusão
e ao bem-estar de todos os cidadãos.
O Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) é um imposto de competência da União, nos termos
do art. 153, IV, da Constituição Federal. Este tributo é considerado com função extrafiscal por ser um
imposto com função regulatória do comportamento da sociedade e de intervenção econômica do
Estado.
o IPI não tem papel exclusivamente extrafiscal por determinação da CF. O que ocorre é que
há um regime específico que permite a utilização do IPI, e outros tributos como II (Imposto de
Importação), IE (Imposto de Exportação) e IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), também para
outros fins, sem retirar-lhes a função fiscal com fins exclusivamente arrecadatórios.
Neste cenário, a renúncia do IPI é utilizada pelo Estado para aquecer determinados setores
industriais ao estimular o consumo. Devido a isto, a Constituição Federal excepcionou a incidência
dos princípios da legalidade e da anterioridade neste tributo (arts. 150, §1 e 153, §1º ) ao permitir a
alteração da alíquota, isto é, para que a alíquota seja alterada, a União está desobrigada de
obedecer a previsão legal e de observar a anterioridade nonagesimal (interstício de 90 dias), dando
agilidade na implementação.
Outrossim, o IPI é um tributo expressamente excepcionado pela Lei de Responsabilidade
Fiscal (LRF), no parágrafo 3º do art. 14. Em outras palavras, é um tributo cuja renúncia está
desobrigada de estimativa do impacto orçamentário bem como de medidas de compensação,
estando à margem do controle estipulado pela legislação.
Apesar da aparente excepcionalidade, o poder Executivo não pode alterar livremente as alíquotas do
IPI e demais impostos listados anteriormente em virtude do art. 4º do Decreto-lei nº 1199/1971.
Diante o exposto, podemos afirmar que o Poder Judiciário pode exercer o controle de
renúncias de receitas por parte do poder Executivo.
Ademais, a renúncia de alíquota deste tributo interfere na transferência de receitas entre
entes federativos. Conforme previsão no art. 159, II e §3º da CF, a União tem que repassar 10% (dez
por cento) do valor arrecadado com o IPI para os estados e estes devem transferir aos Municípios
25% (vinte e cinco por cento) dos 10% recebidos. Ainda, a União deve transferir 21,5% da
arrecadação do IPI ao Fundo de Participação dos Estados (FPF) e 22,5% ao Fundo de Participação dos
Municípios, nos termos do art. 159, I, “a” e “b” da CF. Dessa forma, o IPI tem também um caráter
fiscal, ao fazer parte do orçamento dos entes federativos e uma redução de seu repasse ensejaria
uma afronta ao princípio do equilíbrio orçamentário, como discutido anteriormente.
Ante o exposto, o Ministério Público teria fundamentação para o questionamento da
renúncia do IPI, apesar da exceção na LRF. Entretanto, o Supremo Tribunal Federal, em Recurso
Extraordinário julgado em 20163, decidiu que os repasses aos municípios podem ser impactados com
as desonerações de impostos federais: “É constitucional a concessão regular de incentivos,
benefícios e isenções fiscais relativos ao Imposto de Renda e Imposto sobre Produtos
Industrializados por parte da União em relação ao Fundo de Participação de Municípios e respectivas
quotas devidas às Municipalidades”
Assim, neste aspecto, há razão, em partes, para o questionamento da redução da alíquota
do IPI interposto pelo Ministério Público se dado em favor dos estados, no sentido de diminuição de
receitas e impactos orçamentários a estes entes federativos.
4.Analise o papel do Poder Judiciário na garantia da efetividade dos direitos sociais. (1 ponto)
Tendo em vista que a Constituição Federal de 1988 reservou o início de seus dispositivos
para tratar sobre os direitos e garantias fundamentais, é de se esperar a efetiva promoção de tais
direitos por parte do Estado. Entretanto, como abordado em questões anteriores, o Brasil é uma
estado fiscal cujo financiamento ocorre através de arrecadação de tributos, principalmente de
impostos, e, assim, poder garantir os direitos constitucionalmente previstos. Logo, a efetiva
consolidação dos direitos fundamentais perpassa pela necessidade de uma fonte arrecadadora.
Uma vez violado, o contribuinte pode demandar o Estado ao cumprimento de obrigações estatais,
como saúde (art. 6º c/c art. 196, CF), educação (art. 6º c/c art. 205, CF) e seguridade social (art. 6º
c/c art 194, CF), por exemplo. Esses direitos são definidos pelos doutrinadores como direitos
subjetivos públicos e são passíveis de judicialização, em outras palavras, um direito constitucional
não observado pelo Estado e necessitado pelo cidadão gera um dever do Estado que pode ser
demandado judicialmente.
As despesas públicas com políticas públicas que visam a promoção dos direitos
fundamentais constitucionais são previamente provisionadas com base nas leis orçamentárias e a
destinação desta despesas aprovadas pelo legislativo (arts. 165, §§ 1º, 2º, 5º, 6º e 9º; 167 e 169 da
CF). Contudo, o Estado não pode argumentar a falta de recursos como causa da impossibilidade de
implantar as políticas públicas que assegurem os direitos fundamentais, a chamada cláusula da
reserva do possível, uma vez que a Constituição Federal determina que deve ser observado o
mínimo existencial.
O mínimo existencial consiste na proteção da essência do direito fundamental, pautado na
dignidade da pessoa humana, e funciona como barreira contra ação ou omissão do Estado. A reserva
do possível é o limite ao poder estatal para a concretização das prestações dos direitos
fundamentais, de modo que os direitos sociais serão atendidos dentro do que é possível diante do
orçamento estatal.
Neste sentido, importante ressaltar que, uma vez reconhecido o direito, é necessário ter-se
a fonte de custeio, que pode advir do contribuinte individual. Assim sendo, a interferência do Poder
Judiciário no orçamento público coloca a administração pública em um embate entre os limites
orçamentários aprovados e a prestação dos direitos fundamentais.
Jurisprudencialmente, são diversos os acórdãos que versam sobre o tema. O Superior
Tribunal de Justiça (STJ) decidiu pela observação do mínimo existencial em face da imprevisibilidade
de recursos disponíveis ou da reserva do possível e o Supremo Tribunal Federal (STF) afastou os
argumentos estatais baseado na reserva do possível, bem como consolidou o entendimento de que
o Poder Judiciário pode intervir na execução orçamentária para satisfazer o mínimo existencial do
cidadão (PISCITELLI, 2018, p. 81).
Ante o exposto, o Judiciário tem papel na garantia da efetividade dos direitos sociais em dois
aspectos. Primeiro, sob a luz das separações dos poderes e segundo, sob a perspectiva de seu papel
na execução orçamentária. Obviamente, o Judiciário é um ator secundário na elaboração e definição
do orçamento dos entes federativos. Contudo, uma vez demandado, ele não pode deixar de dar
eficácia aos regramentos constitucionais e, dessa maneira, passa a ter papel ativo na execução
orçamentária dos entes federativos.
Além desses princípios e subprincípios, a segurança orçamentária também envolve outros aspectos,
como a previsibilidade de fontes de financiamento, a capacidade de pagamento das despesas
públicas e o controle rigoroso dos gastos públicos para evitar endividamento excessivo.
Em resumo, o princípio da segurança orçamentária se baseia em garantir que o processo
orçamentário seja transparente, previsível, legal e controlado, assegurando assim a estabilidade
financeira e a responsabilidade na gestão dos recursos públicos.