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t 4 . Introdução
Fig. 1.1 Os Três Domínios Predominantes. A divisão do desenvolvimento humano em três domínios predominantes torna mais fácil estudá-lo, mas lembre-
se de que pouquíssimos fatores pertencem exc lusivamente a um domínio ou a outro. O desenvolvimento não se divide em partes, mas é holístico: cada
domín io do desenvolvimento tem relação com todos os três domínios predominantes.
tilidade e a infertilidade, ou as crenças religiosas, ou a aposenta- Por conseguinte, embora o estudo do desenvolvimento seja
doria? Se você acha que devem ser incluídas no domínio biosso- organizado em domínios predominantes e depois segmentado por
cial, no cognitivo e no psicossocial, respectivamente, você está faixa etária, o estudioso do desenvolvimento está sempre cons-
de acordo com a colocação desses tópicos neste livro. Mas você ciente de que o desenvolvimento é holístico. Isto significa que
provavelmente percebeu que sempre existem sobreposições. Por cada pessoa cresce como um todo integrado, embora os diferen-
exemplo, uma pessoa pode aposentar-se por motivos biológicos tes domínios do seu desenvolvimento sejam estudados separa-
e cognitivos ou por questões sociais. damente pelos cientistas em diferentes disciplinas acadêmicas.
CONTEXTOS E SISTEMAS
Com freqüência pensamos no desenvolvimento como tendo ori- os sistemas ecológicos, ou contextuais, em que cada ser humano
gem dentro da pessoa-resultado de fatores internos como pro- tenta desenvolver-se.
gramação genética, maturação física, crescimento cognitivo e in- Esta visão da importância dos sistemas de desenvolvimento
clinação pessoal. No entanto, o desenvolvimento também é am- integra-se à perspectiva da vida em estágios. O psicólogo do
plamente influenciado por forças externas à pessoa, pelas circuns- desenvolvimento Urie Bronfenbrenner foi um dos primeiros a
tâncias físicas e pelas interações sociais que proporcionam in- descrever os vários sistemas que envolvem cada pessoa em de-
~entivos, oportunidades e passagens para o crescimento. Consi- senvolvimento (veja Fig. 1.2). A idéia principal é que as influ-
foradas em conjunto, grupos dessas forças externas formam os ências dentro e entre esses sistemas ou contextos são multidire-
7ontextos, ou sistemas ou ambientes, nos quais o desenvolvimen- cionais e interativas.
:o ocorre. Assim como o naturalista que estuda uma flor ou um Esta idéia é expressa com mais clareza em duas teorias das
Jeixe precisa examinar os ecossistemas que dão suporte a esse ciências naturais, a teoria da complexidade e a teoria do caos.
Jrganismo, os estudiosos do desenvolvimento têm que estudar Essas teorias salientam a imprevisibilidade e o dinamismo de
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1ntrodução 5
FB.milia Sala de
AU.la
Grupo de
Religiosa Colegas ·
Fig. 1.2 O Modelo Ecológico. Segundo o pesquisador do desenvolvimento Urie Bronfenbrenner, toda pessoa é significativamente afetada pelas in teraçõe3
entre alguns ecossistemas que se sobrepõem . Microssistemas são aqueles que de modo detalhado e imediato moldam o desenvolvimento humano. Os
principais microssistemas para as crianças incluem a família, o grupo de colegas , a turma de sala de aula, os vizinhos e, às vezes, uma igreja, um templo
ou uma mesquita . As interações entre os microssistemas, como quando pais e professores coordenam esforços para educar a criança, ocorrem através do
mesossistema. Envolvendo os microssistemas está o exossistema, que inclui todas as redes externas, tal como as estruturas comunitárias e os sistemas
educacionais, médicos, de empregos e de comunicações locais, que exercem influência sobre os microssistemas. Influenciando todos os outros sistemas
está o macrossistema, que engloba valores culturais, filosofias políticas, padrões econômicos e condições sociais. Recentemente, Bronfenbrenner acres-
centou outro sistema, o cronossistema, para salientar a importância do tempo histórico. Juntos, esses sistemas são denominados contexto do desenvolvi-
mento humano.
todos os sistemas naturais. Urna mudança de temperatura no efeito não só em urna pessoa mas também em outra pessoa mui-
oceano Pacífico, por exemplo, pode provocar urna nevasca na to distante. Como disse um cientista:
Nova Inglaterra. Na verdade, consideradas as condições corre-
tas, o bater de asas de urna borboleta em um continente pode Não existe urna forma única de explicar o que é a percepção.
causar um furacão em outro - fenômeno chamado de efeito O sistema próprio de cada indivíduo reflete um número infi-
borboleta. Isto também se !;!Plic~ aos pensamentos e às ações nito de rnicrossistemas fractais e é interligado em cada nível
humanas: uma pequenina modificação pode ter um profundo com outros aspectos da biosfera [Arden, 1998].
CON1EXTOSQUESESOBREPÕEM
Corno se pode imaginar, nem em um livro nem na vida cotidia- bater de asas provoca urna grande mudança, e como um violento
na é possível considerar ao mesmo tempo todos os fatores con- desastre que às vezes não é suficientemente forte para alterar o
textuais que podem apresentar qualquer aspecto particular do de- curso da vida de um indivíduo.
senvolvimento. Ao longo deste livro, examinaremos muitos des- No início, todavia, precisamos descrever e definir três con-
ses fatores, explorando as maneiras pelas quais os contextos es- textos que podem afetar praticamente todos os indivíduos em
pecíficos tendem a impelir o desenvolvimento nesta ou naquela cada fase do seu desenvolvimento: o contexto histórico, o con-
direção. Eles são todos interativos e recíprocos, e com urna pe- texto socioeconôrnico e o contexto cultural. Como a Fig. 1.3 in-
quena modificação tomam-se às vezes corno a borboleta cujo dica, esses três contextos não atuam isolados.
r 6 1.;itrodução
Fig. 1.3 Contextos dentro de Contextos. Três amplos contextos dentro do contexto social - a história, a condição socioeconõmica e a cultura - afetam de
muitas maneiras o desenvolvimento das crianças. As vezes de modo distante, às vezes diretamente, às vezes individualmente e às vezes de maneira com-
binada . Como esses três conceitos se sobrepõem, muitas vezes é impossível determinar se um efeito em particular provém da coorte, da classe social ou
da herança étnica.
vas de dentes ou bicicletas. Em parte, cada coorte está certa; cada 0 CONTEXTO SOCIOECONÔ:MJCO
qual tem sua própria construção social.
Mesmo as idéias mais básicas sobre o desenvolvimento hu- - Uma segunda importante influência contextual é a condição
mano podem mudar. Nosso próprio conceito de infância, por socioeconômica, (doravante abreviada como CSE), às vezes
exemplo, como um estágio precioso e extenso da vida, é uma usada indistintamente como "classe social" (como em "classe
construção social. Em muitos contextos históricos, as crianças média" ou "classe trabalhadora"). A CSE faz parte do contexto
só recebiapi cuidados até poderem cuidar de si mesmas (com social porque influencia muitas das interações sociais e oportu-
cerca de ?-anos de idade). Em seguida, ingressavam no mundo nidades que uma pessoa possa ter.
adulto, trabalhando no campo ou em casa e-despendendo o tem- _A condição s_QcioeconôIDj_ç_a não é simplesmente uma ques-
po de descanso envolvidos nas atividades dos já crescidos. Mais tão de quão rica ou pobre uma pessoa é. A CSE é avaliada com
tarde, a construção social de que as crianças nascem corno "an- maior exatidão por meio de uma combinação de algumas variá-
jinhos" levaria a uma educação infantil inteiramente diferente da veis que se sobrepõem, incluindo a renda familiar, o nível de ins-
idéia antes aceita de que os adultos tinham de "expulsar o demô- trução, o tipo de moradia e a ocupação. A CSE de urna famHia
nio das criancinhas" para torná-las boas, adultos tementes a Deus . americana constituída de, digamos, uma criança, uma mãe de-
(Hwang et al., 1996; Straus, 1994). sempregada e um pai trabalhador que ganha 10.000 dólares por
O conceito histórico de desenvolvimento é, portanto, algo em ano pertenceria à classe baixa se o assalariado fosse um lavador
contínua mudança, porque "diferenças no ano de nascimento ex- de pratos sem instrução, morador de um bairro pobre. Essa mesma
põem as pessoas a ... diferentes prioridades, restrições e opções" farnHia seria de classe média se o assalariado fosse um estudante
(Elder et al., 1995). Se você, por exemplo, foi estudante do se- universitário que vivesse no campus e lecionasse em tempo parci-
gundo grau nos Estados Unidos no final dos anos 1970, você tem al. O ponto principal desse exemplo é que a CSE não é apenas fi-
três vezes mais probabilidades de ter sido usuário regular de nanceira: ela engloba todas as vantagens e desvantagens e todas as
maconha do que se tivesse 18 anos nos Estados Unidos no início oportunidades e limitações que podem estar associadas à condição
dos anos 1990 (Johnston et al., 1997). Os hábitos referentes a do indivíduo. A classe social é muito mais um produto da mente
consumo de drogas se alteram (cada vez mais, em menos tem- do que do bolso, muito mais o resultado das disparidades sociais
po) com cada geração de adolescentes, como explicaremos me- do que da renda pessoal, como explica o boxe Idade e Pobreza.
lhor no Cap. 14. De maneira análoga, cada nova geração define
sua chegada histórica nesta faixa etéria com roupas, modo de 0 CONTEXTO CULTIJRAL
cortar o cabelo, gírias e valores característicos. Músicas popula-
res que já foram o máximo hoje são sucessos do passado. Um A cultura é o terceiro aspecto componente do contexto social.
adolescente de 15 anos que rejeita a orientação de um adulto de Quando empregam o termo cultura, os cientistas sociais estão
30 com a frase "Você não entende; hoje está tudo diferente" se referindo a centenas de manifestações específicas do modo de
expressa algo mais do que um pouco de verdade. vida de um grupo social, desenvolvido durante os anos para pro-
~ig._ 1.4 OInchaço Populacional Causado pela Geração da Explosão Demográfica Pós-Guerra. Diferentemente de épocas anteriores, em que cada geração era
ligeiramente menor que aquel~ que lhe suc_e?ia, cada coorte hoje tem uma posição exclusiva determinada pelos padrões de reprodução da geração pre-
cedente e pelos avanços ocorridos na íl!ed1c1na ao longo do seu período de vida. Em decorrência desses dois fatores, os baby-boomers, nascidos entre
1947 e 1964'. representam um grande inchaço na população dos EUA. Dentro de mais três décadas, a linha de frente da geração do baby-boom em
grande parte intacta, começará a ingressar no grupo etário mais elevado. '
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porcionar uma estrutura social para a vida em comum. A cultura dos. Aqui está um exemplo: em muitas comunidades agrícolas
inclui valores, pressupostos e costumes, bem como coisas físi- em desenvolvimento, as crianças constituem um recurso eco-
cas (vestuário, moradia, modo de preparar a comida, tecnologia, nômico porque trabalham na fazenda da fanu1ia e, mais tarde,
trabalhos artísticos etc.). O termo "cultura" às vezes é utilizado perpetuam a unidade familiar permanecendo na terra, gerando
livremente, como em "a cultura da pobreza'\ "a cultura das cri- e criando seu1-próprios filhos e cuidan?o dos idosos. Desse
anças'', ou em "a cultura da América". Contudo, sempre que a modo, cada bebê que nasce beneficia todo o grupo familiar. Se
cultura é considerada parte do contexto social, a ênfase é posta essa comunidade familiar também for pobre e depender da agri-
mais nos valores, nos comportamentos e nas atitudes do que nos cultura de subsistência, a nutrição e os cuidados médicos são
alimentos, nas roupas e nos objetos do cotidiano. inadequados. Em conseqüência, a mortalidade infantil é eleva-
da - uma séria perda para a unidade familiar. Assim, o cuida-
Culturas: Pobre e Rural, Rica e Urbana. A cultura orienta o do com as crianças destina-se a maximizar a sobrevivência e
desenvolvimento humano em inúmeros rumos inter-relaciona- enfatizar a cooperação familiar. Os aspectos comuns dos cui-
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dados com as crianças nas comunidades rurais pobres abran- Os pais de classe média nos países pós-industriais não preci-
gem: sam ter tanto receio de que seus bebês morram, mas têm outras
preocupações. Eles acham que seus bebês necessitam de berço,
• cuidados físicos intensivos
carrinho, fraldas, cadeira alta, assentos para automóveis e brin-
• amamentação ao peito sempre que solicitada
quedos -}{idos itens bastante caros._Mesmo os alimentos, os
• imediato atendimento ao choro
cuidados infantis e o abrigo são muito mais caros em uma co-
• estreito contato físico
munidade urbana do que em uma rural, e esse é um dos motivos
• manutenção do bebê ao lado da mãe durante a noite
pelos quais a maioria das mulheres dos países desenvolvidos quer
• cuidado constante por parte dos irmãos e de outros parentes
ter apenas um ou dois filhos e as mulheres dos países em desenvol-
Todas essas medidas protegem a criança de morte prematura e vimento desejam três a cinco (Tsui et al., 1997). O resultado para
estabelecem o valor da interdependência entre os membros da os pais urbanos não vem quando a criança começa a cuidar das ove-
farru1ia (LeVine et al., 1994). lhas, e sim quando o rapaz consegue um emprego de prestígio~
•l O Introdução
Desta forma, com a esperança de garantir o sucesso dos fi- Etnia e Cultura. Um grupo étnico é um conjunto de pessoas
lhos em uma sociedade tecnológica e urbanizada, os pais de classe · que compartilham certos atributos, como ancestralidade, nacio-
média concentram seus esforços de educação das crianças em es- nalidade, religião~ou língua. Em conseqüêr~cia, os componen-
timular o crescimento cognitivo e a independência emocional. tes de uri1 grupo ltnico tendem a se reconhecer e se identificar
Eles falam com seus bebês mais do que os tocam, colocam-nos entre si e têm contatos diários semelhantes com o mundo social.
para dormir por si mesmos em seus próprios berços em seus pró- A identidade racial pode ser considerada um elemento da etnia.
prios quartos, e muitas vezes ignoram os queixumes, o choro e Na verdade, algumas pessoas de fora entendem que pessoas de
pedidos de colo para não os "estragar". mesma formação racial também pertencem ao mesmo grupo ét-
Não surpreende que estratégias paternas tão contrastantes nico. Entretanto, como os cientistas sociais ressaltam enfatica-
gerem crianças com capacidades, objetivos e expectativas tão di- mente, características biológicas (como a cor dos cabelos ou da
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pele, traços faciais e aspectos corporais) que distinguem uma raça péia e indígena, unidas por uma língua e uma terra natal comum
de outra são muito menos significativas do que as atitudes e as , como elementos-chave de sua etnia.
experiências que podem originar-se da consciência étnica ou A etnia é semelhante à cultura em termos de que abrange pes-
racial, principalmente as que resultam de situações de minoria soas com crenças, valores e pressupostos compartilhados, que po-
ou de maioria (Templeton, 1998). dem afetar significativamente seu próprio desenvolvimento da
A identidade étnica, portanto, não é essencialmente genética; mesma maneira como criam seus filhos. Na verdade, às vezes etnia
ela é um produto do ambiente social e da percepção individual. e cultura se sobrepõem. Contudo, pessoas de muitos grupos étnicos
Duas pessoas podem parecer parentes próximas mas terem for- podem comp~ar uma só cultura e conservar sua identidade ét-
mações, heranças e estruturas comunitárias inteiramente diferen- nica. Dentro dê culturas multiétnicas, como as dos países mais ex-
tes e portanto terem identidades étnicas também completamente tensos de hoje em dia, as diferenças étnicas são mais evidentes em
diferentes. Duas pessoas também podem ser muito diferentes na certos valores e costumes. Alguns exemplos desses valores depen-
aparência mas compartilharem uma identidade étnica. Isso é dem de se os jovens são criados em farru1ias grandes e numer"
bastante evidente em muitos grupos étnicos da América Latina. sas, ou em núcleos familiares menores, e se cada geração v
Esses grupos incluem pessoas de descendência africana, euro- mete à vontade dos mais velhos ou reivindica sua aut-
12 .1ntrodução
ALGUMAS COMPLICAÇÕES
Na .p rática atual, a investigação.científica é menos direta do que 8' Resposta da Pergunta para Profissiona.is da Area de Saúde: Como se pode
essas cinco etapas podem sugerir. Os vínculos entre pergunta, depreender do texto, a principal preocupação da família imigrante deve ser
hipótese, teste e conclusão são muitas vezes indiretos, e o deli- quanto à sobrevivência física; a da família profissionai pode ser quanto à
neamento e a execução da pesquisa são influenciados pelo (falí- realização intelectual. Pensando nisso, é possível inferir outras perspectivas:
os pais imigrantes teriam mais perguntas sobre nutrição, ganho de peso,
vel) julgamento humano (Bauer, 1992; Howard, 1996). Os va- doenças e choro; e os pais profissionais teriam muitas perguntas sobre a
lores humanos tendem a conduzir a escolha dos tópicos a serem possibilidade de retardamento mental, obtenção de bons cuidados infantis,
examinados, dos métodos que serão empregados e de como se- aprendizagem do idjl.ma e brinquedos educativos ..
rão interpretados os resultados. Reduzir os efeitos desses valores
humanos individuais sobre as pesquisas é sempre um desafio.
Além disso, sempre existe a pergunta sobre se os pesquisa-
dores têm conhecimento de todas as variáveis relevantes - o emprego, a história familiar, a personalidade - a lista poderia
quantidades que podem diferir, ou mudar, durante uma investi- continuar indefinidamente. Ademais, os pesquisadores do desen-
gação. As pessoas variam segundo o sexo, a idade, o nível de ins- volvimento têm de lidar com a variação intrapessoal, que é a
trução, a etnia, a situação econômica, a nacionalidade, os valores, variação dentro de uma pessoa no dia-a-dia, e a variação inter-
pessoal, que é a variação entre pessoas ou entre grupos de pes- Cada uma dessas controvérsias é explicada e explorada em mais
soas. Nem sempre é fácil distinguir esses dois tipos de variação. detalhes neste livro.
Em parte devido a essa complexidade, certas controvérsias Duas outras questões parecem controversas para os que não
permeiam o estudo do desenvolvimento, cada vez com diferentes têm familiaridade com o estudo do desenvolvimento, embora não
problemas e perguntas - e muitas vezes com diferentes respostas: sejam problemas para os estudiosos do desenvolvimento:
• Natureza/criação. Quantos e quais aspectos do desenvolvi- • Religião/ciência. Os dogmas da fé religiosa e os métodos da
mento são afetados pelos genes e quantos o são pelo ambiente? ciência entram necessariamente em conflito?
• Continuidade/descontinuidade. Quanto do crescimento huma- • Indivíduo/sociedade. É possível estudar o indivíduo sem es-
no se constrói gradµalmente_no cfesenvolyimento iniçial e qual tudar a farm1ia, a comunidade e a cultura?
é o nível de transformação que ocorre subitamente?
• Diferença/déficit. Quando uma pessoa se desenvolve de maneira Para essas duas perguntas, a resposta dos cientistas que estudam
diferente da maioria das outras pessoas, em que casos essa dife- o desenvolvimento é negativa Religião e ciência são complemen-
rença deve ser considerada uma diversidade a ser celebrada e tares, não conflitantes (Gould, 1999), e os indivíduos estão inex-
quando ela deve ser vista como um problema a ser corrigido? tricavelrnente envolvidos com seu grupo social (Cole, 1999).
MÉTODOS DE PESQUISA
Entre as perguntas apresentadas pelos cientistas do desenvolvi- tas?), a generalidade (ela se aplica a outras populações e situa-
mento e as respostas que eles encontram está a sua metodologia ções?) e a utilidade (ela pode resolver problemas da vida real?)
- não apenas as etapas do método científico, mas também as das conclusões.
estratégias específicas utilizadas para coletar e analisar dados. Algumas estratégias gerais para tornar as pesquisas válidas,
Essas estratégias são essenciais porque "os meios.pelos quais se acuradas e úteis são descritas no Apêndice A, no final deste li-
tenta esclarecer os fenômenos determinam em grande medida o vro. outras estratégias (significância e correlação estatísticas, por
valor da solução" (Cairns & Cairns, 1994). Em outras palavras, exemplo) serão descritas mais adiante. Por ora veremos méto-
a maneira como a pesquisa é delineada afeta a validade (ela mede dos específicos para o teste de hipóteses: observações, experi-
aquilo que pretende medir?), a exatidão (as medições são corre- mentos, levantamentos e estudos de casos.
ÜBSERVAÇÃO
Um excelente método para testar hipóteses relacionadas ao de- são secundária é uma ligeira tendência para diferenças étnicas
senvolvimento humano é a observação científica - isto é, ob- (veja detalhes no boxe Relato de Pesquisa).
servar e registrar, de maneira sistemática e não-tendenciosa, o
que as pessoas fazem. As observações com freqüência ocorrem
UMA LIMITAÇÃO DA ÜBSERVAÇÃO
em um ambiente natural, como uma residência, um local de tra-
balho ou uma via pública. Geralmente, os cientistas que fazem A observação naturalista é um excelente método de pesquisa,
as observações procuram ser o menos importunos possível, de mas apresenta uma grande limitação: não indica o que provoca
modo que as pessoas que estão sendo estudadas (os objetos da o comportamento observado. Se observarmos que uma mãe es-
pesquisa) ajam como sempre fazem normalmente. panca seus filhos e outra não o faz, ou que um empregado traba-
A observação também pode ocorrer em laboratório. Num local lha com afinco enquanto o outro é um relaxado, por que essas
assim, os cientistas às vezes não se fazem visivelmente presentes; diferenças existem? Alguns estudos, inclusive o descrito no boxe
no compartimento de experiências, eles podem se sentar por trás O Envolvimento Social das Crianças de 4 Anos, mostram que as
de um vidro que lhes permite ver o que acontece sem serem perce- crianças de uma formação étnica não se comportam exatamente
bidos, ou podem registrar dados com uma câmera de vídeo instala- como as de outra formação. Essas diferenças são genéticas, his-
da na parede. No laboratório, os cientistas estudam tópicos que vão tóricas, econômicas ou culturais? Mesmo que houvesse profun-
do padrão e da duração do contato visual entre a criança e a pessoa ' das diferenças entre dois grupos étnicos, a observação naturalis-
que cuida dela aos padrões de domínio e submissão que surgem ta nos permite concluir somente que uma variável (herança étni-
quando toda uma familia discute seus planos de férias. . ca no Relato de Pesquisa) está correlacionada com outra variá-
Como já vimos, entre as influências que os cientistas particu- vel (comportamento social) e não que uma cause a outra.
larmente esperam conhecer estão os efeitos da formação cultu-
ral. A observação naturalista é um bom meio de iniciar uma pes-
CORRELAÇÃO
quisa nesse tópico, porque quando pessoas de diferentes etnias
estão no mesmo ambiente, as diversidades étnicas podem mani- Diz-se que há{orrelação entre duas variáveis quando uma delas
festar-se. Por exemplo, quando são estudadas crianças anglo- tem mais - ou menos -probabilidade de ocorrer quando a outra
americanas e mexicano-americanas das mesmas turmas pré-es- variável ocorre. Por exemplo, existe uma correlação entre ter
colares, a descoberta comum de tal pesquisa é que as crianças posses e freqüentar uma faculdade: quanto mais posses tiver SP'
pré-escolares geralmente se comportam de modo semelhante, não famnia, maior é a probabilidade de que você vá para a facv1 -
importando qual seja a sua ascendência: elas brincam juntas mais A interpretação correta das correlações exige que cl' ·
do que quando estão sozinhas e raramente brigam. Uma conclu- sejam lembrados. Primeiro, o fato de duas variáveis:
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. 14 , Introdução
ein'váriós estabêlecinientos pré-escqhrres em niúitàs cigadi;S d9s.es~ ,. lli'úatn dados chillu;ite ·!!$ atividades nprtnais da'Jrréce5çqla: o~ dád,Ps ' .;" ~:' v}
_taâbs Unidos.é dà Europa. Estavam: irtteressadgsnó efeito da quaJi" fórain registrados metodiclllD.eiite: cadâ obse.ry~d!>r 'obSeiv.~V:à'~!k :,: ... ·" .. ~ ºF
dade.do cúidado com as crianças, especiàlmên~e· nas habilidades única criiillǪ dm:anie exatos 30 segimdos e depois gastava ei~tarp.~h- . f;
· soci~s e-lingüístiças tlos, pré~e~(;Olares . . ' . . te 30 Se~db.s para regiStrar O queéaquela criança hà~a ·feitõo-G'.li:(Ía : 1.:
. , De mqdo geral, estudos semelhantes descobriram que a qualida- · obsetvad.or cole~va c!ados sobré unia criança dçrante 1Orriiriutbs ( 1O )_
de do cui<ladô diurno aféta o desenvolvimento.ma&.que os ·reswta::. .. obser-:v.a~ \fe ·30 -~gtin_qos j.nterçé/,Jadas com Çesci;ições .es_ gjRt8 de . . . !:
dos d_~pendem. nã_o só da qualidad.e d?s cui.~cJg~~cg~p tarll~ém_ do ". · 30$egtÍii~()s}e .e~ sê~da'passava p~a out;rà_~aJ}Çli:. de aéó~do com . .,... : · ..:. 1~
respaldo econ()J.IllCo e cultl,J.aj ~ cn~ças (Sca~-,) 9,98t J>or - ~~te Ulllfl ~c?lam~eternru;ia4,a, atéqlJe todas _as cn~_as VIS a~ 1:1,y~_s,e.q:i.- . .., .• I'
m<;itjv~>, antes gue a equipe de' pes91ii.sador\!ffe pu.í!~s';s'e;-repêo/ · ~:~1>_:- sid~: pb~~ry'a~poroitênta per.(ÇJ.los de,30 S,~~~!'?S: é .. _ ,; . -~~, , .. ; . : ;~ : . 1
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sol1tana. desocupada ou empenhada tsoladlifilente em uma.afi- . •: ,. . '··
ionadas não signific(l que elas ocorram juntas em todas as instân- Tabela 1.2 Possíveis Explicações para uma Correlação Positiva
ias. Algumas pessoas abastadas jamais terminam o nível médio, entre Riqueza e Instrução
nquanto muitos estudantes pobres cursam urna faculdade. Possível explicação: Maior renda gera maior instrução.
Segunqo, a corr~l(lção não mostra a causa. Mesmo quando
uas variáveis são estreitamente (ou altamente) correlacionadas, Possível explicação: Maior instrução gera maiqr renda.
ão podemos, e até nem mesmo devemos, dizer que uma delas Possível explicação: Os valores familiares geram renda e instrÍlção.
msa a outra. A correlação entre educação e posses não implica
Conclusão: A correlação indica uma conexão, não a causa.
~cessariamente que possuir mais dillheiro conduza diretamen-
' a maior instrução. O inverso pode ocorrer: pessoas instruídas
Jdem ficar.mais ricas, caso em que a instrução leva a mais pos-
:s,. o que torna a instrução mais acessível aos descendentes de outra. Devido à maneira como a correlação é calculada, o valor
:ssoas ricas. Ou pode haver uma terceira variável, talvez a in- positivo mais elevado de uma correlação é expresso como + 1,0
ligência ou valores familiares, que responda pelos níveis de e o maior valor negativo como -1,0. As correlações mais reais
1ueza e instrução. Essas possibilidades são apresentadas na não são nem tão altas nem tão baixas: uma correlação de 0,5 tem
ibela 1.2. representatividade. Duas variáveis que não são relacionadas en-
Uma correlação é positiva se a ocorrência de uma variável tre si têm correlação zero, ou 0,0 (exatamente entre+ 1,0 e -1,0).
ma mais provável que a outra ocorra, e é negativa se a ocor- No estudo feito na pré-escola descrito detalhadamente no boxe
11cia de uma faz com que seja menos provável a ocorrência da O Envolvimento Social das Crianças de 4 Anos, não temos como
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Introdução 15
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. ; ~penüfaqu~;nêssa sifuação,-ãs rnanças fossem principálm.e1itesol completamente diferente dõ se'u s~ntido)iábifual; ela se refere à va-
'ciãveis, s 0íitiíri~s oir agressivas? Coiiio se·pb<le· ver na Tabela U, tidade dos resuitados êspêCí(icos e rião' a!:> vitlor cientffic6 dó estu-
na foaior'parte do tem~ cisli:s crianças de 4 .anosse relacionavam cfo)De rrio<lo g~ràJ.; ós fêsultàqos ,são êstâtis~camente ~ignificati_.
~oéiai.fu.énteliei;D.. Ná·verdàde, a diférenÇa ei:J.'t{e O tempb médio des" . ,- VÓS Se houVei"rnenos de uma
~~ibilid&de em 20 de que tenll~ OCOF
: pendido_em atlviçlades sociais e solitáflas era significativa. Essa des- ·ridO por acàsq.-=:=--jsto é;~•llÍVel de si~c.ância deJ/20; ou0,05;·
co.berta tem PI9P\lbilidade.'de ser encontrada em todos os grµpos pré- :A.Igun~ r~úÍfàdos sã~ sigrtiÍkaiiv,!)sno riívé1 Q-,0 L(somente 1 pos- ' ge
.. -. escolare-s sêmeíhantes. Tambéril 'podeirio_s:,\;erijgeiras 'diferenças · sibilidadeéiri lQO·âe~ OC:ôrrência poracasq}õu no nível .deO,OQl (1
,, Sempre que ehcoqtràm _diferenças entre d01s grupos, os pesgwsad<J'-cas effi:têrinos dê ·s.&:iàoilidade/ OsJatin'O""arirericari6s h:nüiam.wfr ··
~F· ·. : _... )r~ ~êm ~ -c_onsid~rar ~ P§ssi?.ili~_ªd~ de ·9ue .ª · dif~ren_çª teÍlha ocor-.
pouco' ~ais .ª-ffi~r sõ4timC>~"do~~e os e~~~can?~~ :~}rm po~cº ·;_:
::' " ndo puramente por acaso. Por exemplo, se os pesqwsadores desse . : menos a ser socíáveis!'EfuOórà: os índii:e8 de agressão foss em bài- -
dizer o que causou o quê. Por exemplo, aquelas crianças passa- Dado o nosso reconhecimento da importância do contexto
vam a maior parte do tempo brincando alegremente juntas por- social, outra hipótese é que a vizinhança seja a variável princi-
que isso é da natureza das crianças de 4 anos? Ou bons programas pal, e as diferenças dessa vizinhança sejam as causas das dife-
pré-escolares proporcionam .muitas oportunidades de interação renças étnicas. Para responder perguntas sobre causa e efeito, nem
social e conseguem manter a agressividade em um nível míni- a observação nem a correlação são definitivas. Para demonstrar
mo? Além disso, o que causou a tendência nas diferenças étni- causa e efeito, precisamos de um experimento.
cas? Podem ter sido os genes, a família ou a língua. Na verdade,
novos estudos poderiam revelar que se trata de uma variação ale-
atória que desapareceria em vez de se repetir. Como explica o O Especialmente para Cientistas Sociais: Existe uma correlação positiva entre
Relatório de Pesquisa, os testes de significância estatística indi- o número de cegonhas que vivem em certas cidades da França e as taxas
de natalidade nessas cidades. Isso prova que as cegonhas trazem os bebês?
cam a probabilidade de os resultados serem produto do acaso.
0 EXPERIMENTO
Um experimento é uma investigaç~o destinada a identificar mente expõem um grupo de pessoas a um determinado tratamento
causa e efeito. Nas ciências sociais, os experimentadores geral- ou condição para verificar se o comportamento delas se modifi-
r-·· • 16 Introdução .
caem conseqüência disso. Em termos técnicos, os experimenta- tos não reajam de nenhuma dessas maneiras, quase todos os objetos
dores manipulam uma variável independente (o tratamento im- experimentais estão mais nervosos do que normalmente estariam.
posto ou a condição especial). Em seguida observam como essa A última parte do experimento em pré-escola descrito no boxe
mudança afeta o comportamento específico que eles estão estu- Mudança de Política evitou as armadilhas da artificialidade por
dando, que é denominado variável dependente. Desse modo, a ser um "experimento in natura". Utilizando crianças pequenas,
variável dependente é o tratamento novo e especial; a variável ele também reduziu o efeito da conscientização do objeto. Con-
independente é a resposta (que pode ou não ser afetada pelava- tudo, outro problema é que a maioria dos experimentos é de
riável independente). Descobrir quais variáveis independentes duração muito limitada, embora o desenvolvimento humano real
afetam quais variáveis dependentes, e qual a extensão desse efei- leve anos para se formar, modificar e transformar.
to, é o propósito do experimento. (Veja exemplo no boxe Vio- Todas essas limitações acrescentam camadas de artificialida-
lência da Comunidade e Crianças Agressivas.) de potencial à pesquisa experimental. Por esse motivo, um ex-
Comparando as mudànças de uma variável dependente que perimento é mais valioso no estudo do desenvolvimento quando
ocorrem depois que uma variável independente (experimental) combinado com outros métodos em vez de ser realizado de for-
é imposta, os pesquisadores muitas vezes conseguem descobrir ma exclusiva. Na verdade, os resultados do estudo na pré-escola
o vínculo existente entre causa e efeito. Esse é o motivo pelo qual foram reforçados por outras pesquisas, publicadas ou não, ob-
os experimentos são realizados: porque nenhum outro método servacionais e experimentais. Isso é o que os cientistas fazem
de pesquisa pode apontar com tanta exatidão o que conduz a quê. quando se torna importante responder a uma determinada per-
Mas ainda resta uma questão: até que ponto as descobertas gunta: eles combinam observações e experimentos, em condi-
de uma situação experimental artificial se aplicam ao mundo real? ções naturais "de campo" e em condições controladas de labora-
Um problema importante com muitos experimentos é que a si- tório. Os resultados desses vários estudos costumam levar às mes-
tuação controlada, com os cientistas manipulando a variável in- mas conclusões e o processo de descoberta científica se aproxi-
dependente, é, sob aspectos importantes, diferente da vida nor- ma do encontro da resposta da pergunta central (Anderson et al.,
mal diária. 1999). Além disso, os cientistas responsáveis pelo estudo na pré-
Além disso, todos os experimentos (exceto aqueles feitos com escola reexaminaram pessoalmente as mesmas crianças três anos
crianças muito pequenas) são prejudicados quando os participantes mais tarde e descobriram (em pesquisa ainda não publicada) que
sabem que são objetos de pesquisa. Os objetos, em especial adultos o contexto geral da vizinhança afetava o progresso do tempera-
mais velhos, podem tentar produzir os resultados que eles acham mento, das atitudes e os padrões de comportamento das crianças
que o experimentador está procurando, ou, principalmente se forem - conclusão a que também chegaram outros cientistas (Garba-
adolescentes, podem tentar prejudicar o estudo. Ainda que os obje- rino & Kostelny, 1997; Rutter et ai., 1998).
,r
respondeu que sim, sendo os adultos mais jovens ligeiramente porção de adultos de mais idade do segundo como no primeiro
mais dispostos a concordar (veja Tabela 1.3). Em seguida, a grupo concordou (44% contra 43% ). Por que o contraste? O se-
mesma pergunta foi submetida a outra amostra semelhante de gundo grupo foi preparado ao responder antes a outra pergunta:
adultos. O segundo grupo de adultos jovens tinha probabilidade se eles achavam que um país comunista "devia permitir que cor-
muito maior de responder afinnativamente do que o primeiro gru- respondentes americanos fossem lá e enviassem notícias da
po (81 % contra 55%), enquanto mais ou menos a mesma pro- maneira como eles viam as coisas" (Knãuper, 1999).
18 Introdução
Esses resultados indicam que os adultos mais velhos são não nificância estatística dependa desses dados quantitativos, ou nu-
apenas mais conservadores e menos dispostos a ter boa vontade méricos.
como também estão mais dispostos a revelar esses traços? Ou Contudo, a coleta e interpretação das informações dos estu-
será que eles têm a sabedoria da experiência adquirida durante a dos de casos refletem as tendências e o conhecimento do pes-
Guerra Fria, bem como a força de suas convicções? Ou poderia quisador. Mesmo quando um estudo de caso é cuidadosamente
ser que os adultos mais jovens são mais lógicos e coerentes quan- interpretado, as conclusões se aplicam com certeza a apenas uma
do relembrados de suas convicções? Outras pesquisas serão ne- pessoa. Não obstante, o estudo de caso tem três usos importantes:
cessárias para det;mmar ainterpretação correta dos resultados
• fornecer um ponto de partida que sirva de estímulo para ou-
desses levantamentos, mas é evidente que a ordem específica das
tra pesquisa;
perguntas dos levantamentos às vezes faz uma significativa di-
• conhecer muito bem um determinado indivíduo;
ferença nas respostas.
• exemplificar verdades generalizadas, como no caso de David.
Lembre-se, entretanto, de que não .existem conclusões seguras
0 ESTUDO DE CASO
sobre pessoas em geral que possam ser extraídas. de uma amos-
Um estudo de caso é o estudo intensivo de um indivíduo. Em tra de tamanho 1, ou mesmo de tamanho 10 ou 20, não impor-
geral, o estudo de caso se fundamenta em entrevistas com o ob- tando quão profundo e detalhado seja o estudo.
jeto do estudo sobre seu retrospecto, seu pensamento atual e suas Evidentemente, existem muitas maneiras de coletar dados con-
ações; pode também utilizar entrevistas com pessoas que conhe- cernentes a desenvolvimento, e cada método compensa as defici-
cem o indivíduo. Outros materiais de estudos de casos podem ências dos outros. Os pesquisadores podem observar pessoas em
ser obtidos por meio de observações, experimentos e testes pa- seu ambiente natural ou em laboratórios, podem extrair reações ex-
dronizados, com<Vinventários de personalidade e testes de inte- perimentalmente em condições controladas ou tirar proveito de
ligência - experimentos naturais incomuns. Eles podem fazer levantamentos
Os estudos de casos podem fornecer um grande número de com centenas e mesmo milhares de pessoas, entrevistar um peque-
detalhes, o que os torna ricos para gerar novas visões. Muitos no número de pessoas em grande profundidade, ou estudar uma só
estudiosos do desenvolvimento preferem os estudos de casos vida em detalhes. Como cada método tem falhas, nenhum deles
exatamente por e~s.e motivo: a complexidade da vida humana fornece dados com escopo e precisão suficientemente amplos piµ-a
é mais fácil de ser compreendida através das ricas informações levar a conclusões cabais. Mas cada um deles leva os pesquisado-
qualitativas, ou descritivas, de um estudo de caso do que por res para mais perto dos problemas e das respostas. Juntos, eles
meio de um estudo que envolva apenas números, embora a sig- podem comprovar ou desmentir teorias e hipóteses.
PEsQUISAS TRANSVERSAIS
O modo mais conveniente, e portanto mais comum, de incluir a
idade em um estudo sobre o desenvolvimento é projetar uma pes-
quisa transversal. Num estudo desse gênero, grupos de pesso-
as que diferem em idade mas compartilham outras característi-
cas importantes (como o nível de instrução, a condição socioe-
conôrnica e a formação étnica) são comparados em relação à
variável que esteja sob investigação. Vimos a discussão sobre o
levantamento de atitudes a respeito da liberdade dos correspon-
dentes. Adultos jovens foram comparados com adultos mais
velhos que erlllJ! semelhantes em outros aspectos além da idade,
como nacionafidade e sexo. Quaisquer diferenças na variável
dependente encontradas entre um grupo etário e outro são, pre-
·'fig. 1.6 Padrões de Crescimento do Desenvolvimento. Muitos padrões de cres- sumivelmente, resultados de processos de desenvolvimento re-
cimento do desenvolvimento foram descobertos por pesquisas cuidadosas. lacionados à idade.
Embora o progresso linear (ou quase-linear) pareça mais comum (as pesso-
as ficam mais espertas quando se tornam mais velhas, não é?), os cientistas·
O projeto transversal parece então bastante simples. Contu-
agora estão descobrindo que quase nenhum aspecto das modificações hu- do, é muito difícil garantir que os diversos grupos que estão sen-
manas segue o padrão linear com exatidão. do comparados sejam semelhantes em todas as variáveis da for-
1ntrod ução 19
mação, exceto quanto à idade. Suponha que se descubra que um • As conseqüências de um atraso precoce nas capacidades
grupo de crianças de 1O anos é aproximadamente 30 centíme- motora ou de linguagem (Os atrasos na capacidade motora
tros mais alto do que um grupo comparável de crianças de 6 anos. com freqüência desaparecem, enquanto os.atrasos na lingua-
Parece razoável concluir que, durante os quatro·anos decorridos gem costumam persistir [Silva, 1996].)
entre os 6 e os 10 anos de idade, as crianças ganhem 30 cm em • Os efeitos do alistamento militar sobre os delinqüentes juve-
altura. Não obstante, mesmo uma conclusão óbvia como esta nis (Surpreendentemente, ocorreu um resultado positivo
pode estar errada. Com efeito, outras pesquisas mostram que a [Sampson & Laub, 1996].)
maioria das crianças cresce menos do que isso - uns 25 centí- • Os efeitos da menopausa (Podem aumentar temporariamente
metros, e não 30 - entre essas idades. Pode ser que as crianças a depressão, mas não em termos longitudinais, e mesmo os
de fó anos do estudo tivessem sido mais biiD afuneiitadas du- efeitos temporários ocorrem em uma mill6na das mulheres
rante sua vida do que as crianças de 6 anos, ou que ·alguma outra [Avis, 1999].)
característica relevante não tenha sido levada em consideração.
Seguramente, se um dos grupos incluísse mais meninos do que Pesquisas longitudinais repetidas podem revelar não só o grau
meninas, ou mais africanos do que asiáticos, a diferença de altu- de modificações mas também o processo dessas modificações.
ra refletiria outros fatores além da idade. As crianças aprendem a ler subitamente, ao "descobrir o códi-
Naturalmente, os bons cientistas tentam formar grupos pare- go", ou aos poucos? A resposta não pode ser encontrada por uma
cidos em todas as variáveis de respaldo relevantes. De qualquer simples comparação de crianças pré-alfabetizadas de 4 anos com
modo, mesmo que dois grupos transversais sejam idênticos, com crianças de 8 anos que lêem fluentemente. Contudo, o acompa-
exceção da idade, eles ainda refletirão diferentes coortes por causa nhamento das crianças mês a mês mostrou que aprender a ler é
das experiências históricas peculiares que afetaram cada grupo um processo gradual, embora certos aspectos possam ser absor-
etário. As modificações na assistência médica (as crianças de hoje vidos repentinamente (Adams et al., 1998).
quase nunca contraem doenças "da infância"), na dieta (menos Evidentemente, a pesquisa longitudinal é "um projeto de es-
carne para as crianças pequenas de hoje), nas condições de mo- colha da perspectiva do desenvolvimento" (Caims & Caims,
radia (o espaço para brincar é mais escasso nas residências mo- 1994). Você poderá ver os resultados de muitos estudos longitu-
dernas) e em outros fatores históricos podem distorcer os resul- dinais ao longo deste livro. Não obstante, esse projeto tem algu-
tados transversais, mesmo no caso de uma variável biológica mas desvantagens. Com o passar do tempo, alguns objetos de
como a altura. Se pessoas de 20 anos de idade desejarem saber pesquisa podem sair do estudo, se mudar ou morrer. Essas mu-
como será sua vida quando estiverem com 80 anos, não devem danças podem distorcer os resultados finais porque aqueles que
simplesmente examinar a vida de um grupo de pessoas de 80 anos saem podem ser diferentes (talvez mais rebeldes, ou de CSE mais
que lhes sejam semelhantes em traços como genética, situação baixa) daqueles que continuam. Além disso, algumas pessoas que
socioeconômica, formação étnica e nível de instrução. Isto se permanecem podem mudar por causa do seu envolvimento na
deve ao fato de que, no ano de 2060, muitos outros fatores se terão pesquisa ("melhorando" depois de uma série de testes, por exem-
modificado e poderão afetar a maneira como as pessoas mais plo, simplesmente porque se tomam familiarizadas com os tes-
idosas estarão vivendo naquela época. tes); isso toma os resultados do estudo menos aplicáveis à pes-
soa em desenvolvimento média, que não participa do estudo.
O maior problema de todos talvez seja o fato de que as inves-
PESQUISAS LONGITUDINAIS tigações longitudinais sejam demoradas e dispendiosas. Elas
Como recurso para descobrir se a idade, e não alguma outra va- envolvem maior dedicação dos cientistas e dos órgãos de fman-
riável de formação ou histórica, é de fato o motivo de uma apa- ciamento do que as pesquisas transversais.
rente modificação de desenvolvimento, os pesquisadores podem
estudar os mesmos indivíduos durante um longo espaço de tem- PESQUISA TRANSEQÜENCIAL
po. Como um projeto de pesquisa longitudinal permite que os
pesquisadores comparem informações sobre as mesmas pessoas Como se pode ver, as pesquisas transversal e longitudinal per-
em diferentes idades, ele elimina os efeitos das variáveis relati- mitem que os cientistas examinem o desenvolvimento através do
vas à formação, mesmo aquelas das quais os pesquisadores não tempo, mas cada tipo de estudo tem suas falhas. Como esses dois
estão conscientes. Se soubermos qual era a altura de um grupo métodos tendem a compensar as desvantagens um do outro, os
de crianças aos 6 e aos 1O anos, podemos afirmar sem sombra cientistas criaram diversas maneiras de utilizar os dois juntos
de dúvida quanto elas cresceram, em média, durante os quatro (Hartman & George, 1999). O mais simples é a pesquisa tran-
anos intermediários. seqüencial (também conhecida como seqüencial por coorte ou
A pesquisa longitudinal é especiâlmente útil no estudo do setzüencial por tempo) (Schaie, 1996). Com esse modelo, os pes-
desenvolvimento durante um longo espaço de tempo (Elder, quisadores primeiro estudam vários grupos de pessoas de dife-
1998). Esse tipo de pesquisa tem proporcionado valiosas e às rentes idades (uma abordagem transversal) e depois acompanham
vezes surpreendentes descobertas em muitos tópicos, entre eles esses grupos longitudinalmente.
os seguintes: No modelo transeqüencial, podemos comparar as descober-
tas relativas a um grupo de, digamos, pessoas de 50 anos de ida-
• O ajustamento das crianças ao div6rcio (Os efeitos negati- de com as desco)ertas relativas ao mesmo grupo aos 30 anos,
vos permanecem, principalmente no caso de meninos em ida- bem como com descobertas sobre grupos que tinham 50 anos uma
de escolar e mais velhos [Hetherington & Clingempeel, ou duas década antes e grupos que têm 30 anos agora. Desse
1992].) modo, a pesquisa transeqüencial possibilita que os cientistas se-
• O papel dos pais no desenvolvimento dos filhos (Mesmo há parem diferenças relativas à idade cronológica das diferenças re-
50 anos, os pais tinham uma influência muito maior em rela- lacionadas ao período histórico. Esse método tem fornecido mui-
ção à felicidade futura dos filhos do que o estereótipo do pai tas informações surpreendentes sobre a inteligência adulta (veja
distante implica [Snarey, 1993].) Cap. 21).
26 Introdução
Uma Observação Longitudinal de Kirsten A pesquisa longitudinal é ideal para a realização de descobertas, como a definição de estudo do desenvolvimento,
tratado no início deste capítulo que estabelece: "como e por que as pessoas se modificam e como e por que elas permanecem as mesmas, à medida que
envelhecem." Estas fotografias de Kirsten aos 5 meses, 18 meses, 5 anos, 8 anos e 12 anos ilustram bem este ponto. Sob alguns pontos de vista as mudan-
ças são evidentes- da calvície à longa cabeleira, por exemplo. Modificações semelhantes podem ser vistas em quase todás as crianças, embora o padrão
de Kirsten seja um tanto incomum uma vez que seu cabelo só começou realmente a crescer quando ela já estava com quase 3 anos de idade. Sob outros
aspectos, a continuidade é clara: ela se envolvia emociorialmente em todas as idades. Isto se tornou mais evid ente quando ela começou a andar e escondia
de seus pais alguma coisa proibida, mas também é aparente nas outras fotos.
Agora, aos 13 anos, não é de surpreender que ela seja tão característica em Cõsos previsíveis, como no balé, em seus escritos, na sensibilidade social
e no entusiasmo. Ela também é típica de sua coorte - gosta de rapazes, computadores e televisão - como uma. pesquisa transversal também demons-
traria. As pesquisas longitudinais (e, neste caso, até mesmo fotografias longitudina is) também ajudam a identifica r o impacto de eventos incomuns que não
são típicos de uma determinada criança ou das crianças de modo geral.
ÉTICA E CIÊNCIA
Todo cientista deve 'se preocupar com a ética na condução e na mentos da pesquisa aos pais e ser especialmente sensíveis a
co:triunicáÇfo dos resultãdos dai pesquisas. No nível má.is ele- quaisquer indícios de desconforto na criança ... ·
mentar, os pesquisadores que estudam os humanos devem ga- 11 Os investigadores devem manter em sigi.Jo todas as informa-
rantir que seus objetos não sejam prejudicados pelo processo de ções obtidas sobre os participantes da pesquisa.
pesquisa e que a participação desses objetos seja voluntária e
Esses mesmos princípios gerais - não causar dano, obter o
confidencial. Nos estudos sobre o desenvolvimento, a necessi-
consentimento informando, explicar os procedimentos e manter
dade de proteger os participantes. é especialmente acentuada
o sigilo de todas as informações pessoais sobre os participantes
quando se trata de crianças. Nos Estados Unidos, a Society for
- são endossados pelos pesquisadores que também estudam
Research in Child Development (SCRD, 1996) enumera as se-
adultos; na verdade, são endossados pelos cientistas que estudam
guintes precauções éticas:
qualquer aspecto do comportamento humano. Em termos mun-
11 O investigador não deve realizar qualquer operação de pes- diais, muitos governos e orgamzações profissionais exigem ex-
quisa que possa causar dano físico ou psicológico à criança ... trema atenção ao consentimento, ao sigilo e ·ao bem-estar dos par-
11 Antes de solicitar o consentimento ou a aceitação da criança, ticipantes de pesquips. Nos Estados Unidos, todas as faculda-
o pesquisador deve informá-la sobre todas as características des ou universidades têm um conselho institucional de revisão
da pesquisa que podem afetar a sua disposição de participar e que examina todos os planos de pesquisas antes que qualquer
deve responder a todas as perguntas da criança em termos estudo possa ser iniciado (Fisher, 1999).
adequados à compreensão dela. [A criança pode] interrom- Essas diretrizes éticas - desenvolvidas e impostas em parte
per a sua participação a qualquer momento. como resultado de abusos do passado - tratam somente de par-
e ... Os pesquisadores que estiverem trabalhando com crianças te do problema. No caso dos pesquisadores contemporâneos, os
devem envidar especiais esforços para explicar os procedi- problemas mais espinhosos não surgem durante a pesquisa, e sim
r
1
Introdução ::n
antes e depois de sua realização. Todo estudo proposto deve ser velhos podem ficar embaraçados com testes de capacidade intelec-
analisado antecipadamente para se verificar se seus benefícios tual. Muitas vezes, os estudos que têm o maior benefício social po-
superam os custos em termos de tempo, dinheiro e mesmo em tencial envolvem os grupos mais vulneráveis, como crianças que
dificuldades momentâneas. foram maltratadas ou adultos que sofrem de câncer. Na verdade,
No desenvolvimento humano, a possibilidade de ocorrerem re- em pesquisas sobre medicamentos para combater a AIDS, alguns
veses varia com a idade e com as condições do objeto em estudo. grupos (mulheres, crianças e viciados em drogas) foram excluídos
Uma criança pequena pode ficar desorientada ao ser separada, como objetos de pesquisa por causa da possibilidade de que os me-
mesmo que por poucos minutos, do seu responsável; crianças mais dicamentos experimentais pudessem lhes causar algum dano ines-
velhas são mais susceptíveis à perda da auto-estiina e da privacida- perado; em conseqüência, por ironia, os primeiros tratamentos que
-de; ospãisaeaôõlescentes pooem não qüeferque ãlguêm faça â - se mostrarameficazes mmcãforam testados naspessoas quemais
seus filhos perguntas sobre sexo, drogas ou corretivos; adultos mais poderiam precisar delas (Kahn et al.; 1998).
Com o passar dos anos, David tornou-se ~ada vez. mais inte- de impor idéias preconcebidas e pressupostos sobre os resulta-
r
ressado em sua história neste livro. Ele tem sido convidado a dar dos das pesquisas. No caso de David, muito me agrada dizer que,
palestras em minha faculdade para responder perguntas de alu- ano após ano, ele tem ficado orgulhoso por ser incluído. Mas o
nos ·a respeito de sua vida, comparece aos eventos de vendas da pãpel ético do cientista vai muito além de simplesmente não
minha editora, aprendeu sobre edição com meus editores e está causar danos. Ele engloba a consciência das "implicações soci-
ansioso por responder às minhas perguntas para manter atuali- ais; políticas e humanas" da pesquisa. Minha obrigação é a eta-
zada cada edição. pa 5 do método científico: publicar os resultados para que ou-
Uma lição básica sobre ética em pesquisa é olhiµ- com muita tros possam aprender. De acordo com isso, eis aqui a mais re-
atenção as respostas de determinados objetos de estudo, em vez cente atualização da história de David.
CONTEXTOS ESISTEMAS
4. Uma abordagem ecológica ou contextual do:desenvolvimento foca-
OESTUDO DO DESENVOLVIMENTO HUMANO liza as interações entre o indivíduo e as diversas estruturas em que o
desenvolvimento ocorre. Algumas dessas estruturas envolvem os aspec-
1. O estudo do desenvolvimento humano investiga como e por que as tos físicos que interagem com o indivíduo e o circundam - a disposi-
pessoas se modificam e como e por que elas permanecem as mesmas à ção física da vizinhança, a natureza do clima etc. A maioria das estrutu-
medida que envelhecem. O desenvolvimento envolve muitas áreas aca- ras, entretanto, diz respeito à pessoa que cria o contexto social para o
dêmicas e práticas, especialmente biologia, educação e psicologia. desenvolvimento do indivíduo.
2. A perspectiva da vida em estágios vê o desenvolvimento humano 5. Os contextos sociais modificam-se com o tempo, à proporção que
em cada idade como um processo contínuo. Essa perspectiva enfatiza a os eventos históricos e as condições (o contexto histórico) remodelam
natureza multidirecional, multicontextual, multicultural, multidiscipli- as circunstâncias e ª'-'.perspectivas que envolvem o desenvolvimento.
nar e plástica do desenvolvimento. Existe uma grande diferença entre ser criança numa era em que sérias
3. O desenvolvimento pode ser dividido em três domínios: o biossoci- doenças muitas vezes significavam a morte e em outra em que, exceto
al, o cognitivo e o psicossocial. Embora essa divisão tome fácil estudar por acidentes, quase todas as crianças têm possibilidade de alcançar uma
os intricados aspectos do desenvolvimento, os pesquisadores observam idade avançada.
que em cada domínio o desenvolvimento é influenciado pelos outros 6. O desenvolvimento também é bastante afetado pela condição socio-
dois, assim como o corpo, a mente e as emoções sempre afetam uns aos econômica de uma pessoa, pelos seus valores culturais e por sua etnia.
outros. As influências desses contextos sociais muitas vezes se sobrepõem, re-
l_
......1111111111..........................................................................._~rwt---•wrrr~rr=,,__,,._._,..._
Introdução 23
11. As pesquisas sobre o desenvolvimento geralmente são realizadas 2- Como uma perspectiva da vida se aplica ao estudo da inf'ancia ou
para detectar mudanças no decorrer do tempo. Uma pesquisa transver- da adolescência?
sal compara grupos de pessoas de diferentes idades; um projeto longi- 3. Nomeie e descreva os três aspectos predominantes nos quais o es- '
tudinal (que é preferível, mas muito mais difícil de ser realizado) estu- tudo do desenvolvimento humano costuma ser dividido.
da os mesmos indivíduos durante um longo espaço de tempo. Os cien-
tistas combinam os dois métodos na pesquisa transeqüencial, que pode 4. Como o contexto histórico pode diferir para alguém que nasceu em
proporcionar resultados mais abrangentes. 1900 e uma outra pessoa nascida no ano 2000?
5. Quais os três fatores socioeconôrnicos que constituem a CSE, e
como cada um deles pode afetar o desenvolvimento?
ÉTICA ECIÊNCIA
6. Quais as diferenças entre cultura, etnia e raça?
12. A ética na condução e divulgação de pesquisas é uma preocupação
de todo cientista. Antes que um estudo seja iniciado, seus benefícios 7. Quais as vantagens e as dificuldades do método científico?
potenciais devem ser ponderados em relação a seus custos potenciais 8. Quais são as etapas do método científico?
em termos de tempo, dinheiro e embaraços para os participantes. Du-
rante o estudo, o pesquisador tem a obrigação ética de garantir que os 9. Quais as vantagens e desvantagens da pesquisa observacional?
objetos de estudo não sofram dano, que a sua participação seja sempre 10. Quais as vantagens e desvantagens da pesquisa experimental?
voluntária e que todas as informações sobre eles sejam mantidas em
sigilo.
. · 11. Compare os diferentes empregos da pesquisa longitudinal e da pes-
~uisa transversal. Como as vantagens de cada método são combinadas
13. Depois de um estudo ter sido concluído, o pesquisador deve tomar
na pesquisa traiiseqüencial?
providências para garantir que os resultados sejam honestamente divul-
gados e não fiquem sujeitos a interpretações errôneas. Isso nem sempre 12. De Acordo com Sua Experiência Algum dos três aspectos predo-
é feito, em parte porque algumas pessoas às vezes tomam como defini- minantes do desenvolvimento é mais importante em sua própria vida
tivo um resultado preliminar e exageram a sua importância. do que os outros dois? Por quê?
·.: ·: · .. ·
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.·.,. ~· .·
SUMÁRIO
FOCO
Victor, o Menino Selvagem
deAveyron
Como o Estudo do
Desenvolvimento Humano
Evoluiu
Primeiras Abordagens
A Psicologia do
Desenvolvim ento Torna-se
uma Ciência
Estudando o Ciclo de Vida
O Desenvolvimento Humano
Foc o Hoje: Um Campo em
Vi ctor, o Menino Selvagem de fi,veyron* Evolução
-.·• 5 ·