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Revista Acadêmica
RESUMO
Este trabalho busca analisar e discutir a importância do brincar na Escola em face dos estudos da
Neurociência sobre o tema. Para tanto, recorremos aos estudos da Psicologia, da Educação, e da
própria Neurociência, no sentido de se constatar que um ambiente adequado à realidade infantil,
além de aumentar as conexões entre as células cerebrais, promovem uma assimilação mais duradoura
das novas informações. Nesse contexto, mostraremos que o brincar leva a um desenvolvimento tanto
cognitivo como social, de modo que esta atividade pode oferecer muitas e diversificadas experiências
novas, resultando na formação e consolidação de importantes circuitos neurais, interligando áreas
importantes do cérebro relacionadas a distintas competências ou conjuntos de habilidades. Dessa
forma, a tomada de decisões, antes restrita à ação do sistema límbico ou sob comando das emoções,
passa a contar com o apoio do neocórtex e de habilidades racionais.
ABSTRACT
This work seeks to analyze and discuss the importance of the play in school in the face of the neuroscience
studies on the topic. To this end, we resorted to the studies of psychology, education, and the neuroscience,
to note that a suitable environment to children’s reality, in addition to increasing the connections between
brain cells, promote a more long-term assimilation of new information. In this context, we will show
that “the play” leads to a cognitive and social development, so that this activity may offer many and
varied new experiences, resulting in the formation and consolidation of important neural circuits, linking
important areas of the brain related to distinct competencies or skill sets. In this way, making decisions
before restricted to action of the limbic system or under the command of emotions, count on the support
of the neocortex and rational skills.
1. INTRODUÇÃO
Os estudos e descobertas da Neurociência para a prática em sala de aula têm se revelado de
extrema importância, e nosso estudo tem como objetivo refletir sobre as contribuições dessa ciência
para a Pedagogia, tentando buscar suas correspondências e relações com a aprendizagem. No
sentido de estreitar nossa pesquisa, temos ainda como objetivo específico relacionar a Neurociência
e o brincar.
Este tema se justifica tanto pela importância dos estudos e resultados atuais da Neurociência,
bem como, pela necessidade de profissionais da área de Pedagogia terem um novo olhar sobre o
brincar a partir do avanço e descobertas dessa ciência. Nossa hipótese é a de que, as descobertas
da Neurociência sobre o brincar podem ampliar a utilização desse recurso nas práticas escolares e,
dessa forma, tornar as novas informações aprendidas mais duradouras e permanentes na memória
dos aprendizes.
Sabendo disso, se pretende refletir sobre a seguinte problemática: De que forma a Neurociência
está implicada na Pedagogia? Como a Neurociência entende o brincar?
Sendo assim, este trabalho está embasado em pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico em
que abordaremos a importância do brincar na escola e seus vínculos com a aprendizagem. Nessa
linha de pesquisa, o estudo do desenvolvimento humano e os recentes resultados da neurociência
irão corroborar e reforçar nossas considerações sobre o brincar para a aprendizagem.
Nas interações propiciadas pelos jogos ocorrem mediações, pois, no contexto de sala de aula,
o professor media seus alunos e eles mediam uns aos outros. Para Vygotsky (1930/1987) o homem
não tem uma relação direta com o mundo, mas, sim, uma relação mediada com ele.
importantes. Sendo a linguagem mediadora do saber, ela exerce um papel de suma relevância
na transformação de aprendizagem, já que é por meio dela que o professor poderá implementar
suas habilidades e atuar na zona de desenvolvimento proximal (ZDP), i.e., por em prática as
tarefas de ensino na região que intermedia o nível de desenvolvimento da criança e o nível de seu
desenvolvimento potencial.
“é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma
esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não pelo
dos incentivos fornecidos pelos objetos externos.” (VYGOTSKY, 1998, p. 126).
Ao comentar, em uma carta para Elkonin (1978/1998), que também estudou a questão do
jogo, Vygotsky reconhece o papel fundamental da situação imaginária no jogo, mas acrescenta a ele
o papel da imitação:
Que a imaginação nasce no jogo é algo que você expõe como absolutamente
certo, convincente e central por seu significado: antes do jogo não há imaginação.
Mas acrescente outra regra mais, a imitação (que, segundo me parece é tão central
e está igualmente ligada à situação fictícia), e obteremos os principais aspectos do
jogo. (VYGOTSKY, 1933 apud ELKONIN, 1978/1998, p. 4).
Nestes termos, a partir da citação acima, se pode perceber a importância da imaginação que
certamente envolverá cada participante dos jogos. No entanto, o fator imitação, não raro, surgirá e
ligar-se-á às diversas situações fictícias que surgirem em campo. O brinquedo suscita a imaginação
e a imitação surge como um gesto de criar uma realidade muitas vezes desenvolvidas pelos adultos.
Vygotsky (1930/1987, p. 124-125) propõe que “não existe brinquedo sem regras. A situação
imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa
não ser um jogo com regras formais estabelecidas a priori”
Sendo assim, a criança pode, por meio da atividade lúdica, desenvolver sua capacidade de
aceitar as regras que são tão necessárias para a convivência social e a vida adulta, ou seja, uma
realidade à qual precisará se ajustar.
Ericson (1963) afirma que o jogo da criança é a forma infantil de dominar a realidade por meio
da experiência e do planejamento. Em jogos, como jogos de papéis de mãe e filha, de escola, entre
outros, somente aquelas ações que se ajustam à situação real representada na atividade lúdica são
aceitáveis. O que diferencia a situação lúdica da situação real é que, normalmente, aquilo que passa
despercebido na vida real, torna-se regra de comportamento no brinquedo. Na situação lúdica, a
criança é levada a agir contra seus impulsos imediatos, pois tem que se subordinar às regras do jogo,
o que faz com que o maior autocontrole da criança ocorra no brinquedo. Ao contrário de outras
situações nas quais se faz necessário que a criança controle seus impulsos e se submeta às regras, na
brincadeira esta subordinação às regras constitui a forma máxima de prazer.
(...) o brinquedo cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina-a a desejar,
relacionando seus desejos a um “eu” fictício, ao seu papel no jogo e suas regras.
Dessa maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no
brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e
moralidade. (VYGOTSKY, 1930/1987, p. 131).
Assim sendo, a ação da criança no brinquedo é responsável pela criação de intenções voluntárias,
formação de planos e motivações volitivas, traços essenciais para o desenvolvimento da consciência e
das formas superiores de pensamento. É nesse prisma que, numa perspectiva vygotskiana, o brinquedo
pode ser considerado uma atividade condutora do desenvolvimento da criança.
Pode se ver até agora a brincadeira do ponto de vista da Psicologia. No item Papel da
Escola, estudaremos a importância do lúdico na esfera escolar, portanto, uma aplicação dessas
ideias na Pedagogia.
3. O BRINCAR NA ESCOLA
Será analisada a seguir, a importância das brincadeiras e jogos para o desenvolvimento infantil
do ponto de vista da Psicologia. Focaremos, agora, na inserção dessas atividades nas escolas, levando
em conta o que diz alguns pesquisadores e os documentos da Secretaria Municipal de Educação.
Kramer (1991, apud Coria-Sabini e Lucena, 2004) e Kramer e Souza (1998, apud Coria-Sabini
e Lucena, 2004) defendem que trabalhar com jogos e brincadeiras nessa fase da educação é uma
forma de resgatar o prazer de aprender, pois a criança quando brinca, deixa refletir não só sua forma
de pensar ou sentir, mas como ela está organizando a realidade.
o poder de tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si, aos outros
e o mundo, de repetir ações prazerosas, de partilhar, expressar sua individualidade
A brincadeira para a criança da fase pré-escolar é tão fundamental que é por meio dela que
os pequenos desenvolvem sua linguagem e, consequentemente, seu pensamento, pois são essas
atividades que proporcionam socialização entre as crianças da mesma idade e/ou de idades diferentes.
É importante observar, nesse contexto, o que dizem as orientações curriculares para a educação
infantil da Secretaria Municipal de Educação (2012).
Na brincadeira com outros ou sozinha, a criança faz uso de todos os seus recursos para explorar
o mundo e se conhecer, construir seu pensamento e trabalhar seus afetos, sua capacidade de ter
iniciativa e ser sensível a cada situação, aprender a viver e se desenvolver.
Para o professor, as brincadeiras são uma excelente oportunidade para observar e registrar
como as crianças organizam-se, suas competências, seus sentimentos, suas dificuldades, seus
comportamentos, como aprendem e o que gostam de fazer.
Essas observações são possíveis mesmo em bebês quando observam e imitam os movimentos
dos parceiros mais experientes por meio de gestos corporais e vocais, e também quando interagem
com parceiros da mesma idade. Além disso, os bebês podem assumir diferentes posições nas
brincadeiras (como a de quem procura alguém e a de quem é procurado, por exemplo).
A experiência mostra que uma série de esquemas aplicadas há muito aplicadas às crianças podem e
devem ser aplicadas aos bebês. Para a criança permite desenvolver habilidades, se relacionar, compartilhar
e se divertir com a orientação profissional. Tais esquemas aplicados aos bebês permitirão um sucessivo
conhecimento do meio, desenvolvimento de habilidades e coordenação motora entre outras conquistas
descritas e cientificamente comprovadas pela neurociência, conforme veremos a seguir.
Dessa forma, a educação infantil, fase fundamental da educação, possibilitará que nossas
crianças aprendam e se desenvolvam de modo célere e integrado aos seus pares. Conquistará valores
como respeito, limites, espaço e direito do outro, obediência às regras e organização.
Agora se deve buscar entender como a Neurociência leva em consideração tudo o que já foi
registrado anteriormente e amplia nosso olhar sobre o cérebro e seu desenvolvimento.
Segundo os neurocientistas (Sousa, et al., 2015), o cérebro gosta de brincar porque essa
atividade estimula o sistema límbico (responsável pelo processamento das emoções) e produz
bem estar, prazer e alegria. As brincadeiras, por serem significativas para a rede neural, fortalecem
as sinapses (circuitos neurais) que interligam o sistema límbico ao neocórtex, proporcionando a
tomada de decisões, ou seja, habilidades racionais que favorecem a aprendizagem.
O lúdico ainda é a melhor maneira de acessar o cérebro por várias vias sensórias,
pois desde muito cedo nosso cérebro gosta de brincar. Isso vale para crianças,
adolescentes e adultos. Na brincadeira, o sistema límbico permite maiores
impressões de prazer do que de desprazer. Portanto, ao lúdico podemos associar
conteúdos importantes para a vida do aprendiz.
Foi Metring, em 2014, que estabeleceu que a escola precisa estar atenta ao brincar para
possibilitar às crianças um melhor aproveitamento do cérebro para os processos de aprendizagem.
Para Gómez e Teran (2014), brincar para as crianças é uma atividade altamente estimulante
o que permite um maior número de sinapses e, consequentemente, facilita a aprendizagem e a
torna significativa.
Na visão neurocientista,
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática de atividades lúdicas constitui uma das opções mais relevantes para o desenvolvimento
cognitivo e psicossocial da criança. Segundo o referencial teórico deste trabalho, procurou-se
Para a criança será o encontro com a alegria, as novidades, desafios (face aos novos brinquedos
e situações) e oportunidade de interagir com seus novos amigos. Terá ainda de conhecer e lidar
com o respeito as regras, organização com o material, o meio onde ela está inserida e o educador.
Para os pais, o acompanhamento do desenvolvimento e evolução das capacidades intelectuais e
de relacionamento de seus filhos. Por fim, para os professores e educadores, as mediações, com o
emprego dos estudos da Psicologia, da Educação, e da própria Neurociência, na ação do brincar
na escola será a oportunidade de exercer sua experiência profissional com ternura, empenho e
comprometimento. Não estarão livres de lágrimas, mas estas serão, na maior parte das vezes, por
suas alegrias, sucesso e encantamento.
REFERÊNCIAS
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Editora, 2004.
http://www.cienciahoje.org.br/noticia/v/ler/id/4004/n/por_que_brincar_e_importante
ELKONIN, D. B. Psicologia do Jogo. Tradução de Álvaro Cabral. Livraria Martins Fontes, São Paulo, 1998.
GÓMEZ, A. M. S. TÉRAN, N. S. Transtornos de Aprendizagem e Autismo. São Paulo: Cultural S. A., 2014.
Leontiev’, A. N., Vygotsky, L. S., Luria, A.R. Linguagem, Desenvolvimento e Aprendizagem, Editora
da Universidade de São Paulo, 1987. Disponível em:
h t t p s : / / w w w 1 2 . s e n a d o. l e g . b r / i n s t i t u c i o n a l / p r o g r a m a s / p r i m e i r a - i n f a n c i a /
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ROLIM, A. A. M.; GUERRA, S. S. F.; TASSIGNY, M. M. Uma leitura de Vygotsky sobre o brincar na
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VYGOTSKY, L.S. A Formação Social da Mente. (1930). São Paulo: Martins Fontes, 2002. In VIGOTSKY,
L.S. A Formação Social da Mente, 6 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
Carlos Alberto Stechhahn da Silva é doutor em física e professor da Faculdades Integradas Campos
Salles. e-mail:stecphysics@gmail.com