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RPGM
Revista Acadêmica

A NEUROCIÊNCIA DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM

THE NEUROSCIENCE OF THE LEADER IN LEARNING

Adriana Inácio Guimarães1, Carlos Alberto Stechhahn da Silva2

RESUMO
Este trabalho busca analisar e discutir a importância do brincar na Escola em face dos estudos da
Neurociência sobre o tema. Para tanto, recorremos aos estudos da Psicologia, da Educação, e da
própria Neurociência, no sentido de se constatar que um ambiente adequado à realidade infantil,
além de aumentar as conexões entre as células cerebrais, promovem uma assimilação mais duradoura
das novas informações. Nesse contexto, mostraremos que o brincar leva a um desenvolvimento tanto
cognitivo como social, de modo que esta atividade pode oferecer muitas e diversificadas experiências
novas, resultando na formação e consolidação de importantes circuitos neurais, interligando áreas
importantes do cérebro relacionadas a distintas competências ou conjuntos de habilidades. Dessa
forma, a tomada de decisões, antes restrita à ação do sistema límbico ou sob comando das emoções,
passa a contar com o apoio do neocórtex e de habilidades racionais.

Palavras-chave: Neurociência. Brincar. Desenvolvimento. Competências. Habilidades

ABSTRACT
This work seeks to analyze and discuss the importance of the play in school in the face of the neuroscience
studies on the topic. To this end, we resorted to the studies of psychology, education, and the neuroscience,
to note that a suitable environment to children’s reality, in addition to increasing the connections between
brain cells, promote a more long-term assimilation of new information. In this context, we will show
that “the play” leads to a cognitive and social development, so that this activity may offer many and
varied new experiences, resulting in the formation and consolidation of important neural circuits, linking
important areas of the brain related to distinct competencies or skill sets. In this way, making decisions
before restricted to action of the limbic system or under the command of emotions, count on the support
of the neocortex and rational skills.

Keywords: Neuroscience. Playing. Development. Competences. Abilities.

1 EMEI Jardim Felicidade

2 Faculdades Integradas Campos Salles - FICS

Revista de Pós-Graduação Multidisciplinar, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 121-130, mar./jun. 2017.


ISSN 2594-4800 | e-ISSN 2594-4797 | doi: 10.22287/rpgm.v1i1.475
GUIMARÃES, A. I., DA SILVA , C. A. S.: A NEUROCIÊNCIA DO LÚDICO NA APRENDIZAGEM
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1. INTRODUÇÃO
Os estudos e descobertas da Neurociência para a prática em sala de aula têm se revelado de
extrema importância, e nosso estudo tem como objetivo refletir sobre as contribuições dessa ciência
para a Pedagogia, tentando buscar suas correspondências e relações com a aprendizagem. No
sentido de estreitar nossa pesquisa, temos ainda como objetivo específico relacionar a Neurociência
e o brincar.

Este tema se justifica tanto pela importância dos estudos e resultados atuais da Neurociência,
bem como, pela necessidade de profissionais da área de Pedagogia terem um novo olhar sobre o
brincar a partir do avanço e descobertas dessa ciência. Nossa hipótese é a de que, as descobertas
da Neurociência sobre o brincar podem ampliar a utilização desse recurso nas práticas escolares e,
dessa forma, tornar as novas informações aprendidas mais duradouras e permanentes na memória
dos aprendizes.

Sabendo disso, se pretende refletir sobre a seguinte problemática: De que forma a Neurociência
está implicada na Pedagogia? Como a Neurociência entende o brincar?

Sendo assim, este trabalho está embasado em pesquisa qualitativa de cunho bibliográfico em
que abordaremos a importância do brincar na escola e seus vínculos com a aprendizagem. Nessa
linha de pesquisa, o estudo do desenvolvimento humano e os recentes resultados da neurociência
irão corroborar e reforçar nossas considerações sobre o brincar para a aprendizagem.

2. A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR PARA A APRENDIZAGEM


Pode-se encontrar um número considerável de pesquisadores que dedicaram seus estudos à
reflexão da importância do lúdico (brincadeiras e jogos) para o desenvolvimento da criança. Cientes
disso, iniciamos por fundamentar as ideias nos estudos de Vygotsky (1930/1987), e seus seguidores,
para compor o texto a seguir devido sua inegável contribuição para o tema que queremos desenvolver.

Para Leontiev’ (1934/1987), a brincadeira humana é diferente da dos animais, principalmente


porque o seu conteúdo é determinado pela percepção que a criança tem do mundo, da realidade,
dos objetos e das pessoas que a cercam, o que permite que sua atividade lúdica seja variada e rica
em significados. Essa riqueza e variedade de significados inerente à brincadeira da criança deve-se
ao fato de esta constituir-se em uma atividade mediada pela linguagem. O jogo humano é uma
atividade cuja significação é constituída na linguagem, e esta, por suas muitas peculiaridades, o
diferencia do processo lúdico na filogênese.

Nas interações propiciadas pelos jogos ocorrem mediações, pois, no contexto de sala de aula,
o professor media seus alunos e eles mediam uns aos outros. Para Vygotsky (1930/1987) o homem
não tem uma relação direta com o mundo, mas, sim, uma relação mediada com ele.

Neste sentido, se pode compreender a capacidade da mediação como um instrumento


que permite maior entendimento das transformações de ações empregadas, tanto em nível
interpsicológico como intermental internalizado, Vygotsky (1930/1987). Os signos linguísticos
desempenham um papel fundamental. Na escola ele é um dos elementos mediadores mais

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importantes. Sendo a linguagem mediadora do saber, ela exerce um papel de suma relevância
na transformação de aprendizagem, já que é por meio dela que o professor poderá implementar
suas habilidades e atuar na zona de desenvolvimento proximal (ZDP), i.e., por em prática as
tarefas de ensino na região que intermedia o nível de desenvolvimento da criança e o nível de seu
desenvolvimento potencial.

À proporção que o conhecimento de mundo da criança aumenta, a atividade do brinquedo


torna-se sua atividade principal, essencial para que esta compreenda e domine o mundo que a cerca
e se relacione com ele. Neste contexto (ROLIM et al., 2008) nos esclarece que cada brinquedo orienta
a criança em seu procedimento, ditando o que ela deve fazer, e cita Vygotsky:

“é no brinquedo que a criança aprende a agir numa esfera cognitiva, ao invés de uma
esfera visual externa, dependendo das motivações e tendências internas, e não pelo
dos incentivos fornecidos pelos objetos externos.” (VYGOTSKY, 1998, p. 126).

Vygotsky (1930/1987) atribui ao brinquedo um papel potencialmente criador de possibilidades


de atuações nas ZDP, ou seja, aquilo que a criança é capaz de fazer com a ajuda de um par mais
competente. O rigoroso respeito às regras muitas vezes não é atendido no dia-a-dia, no entanto,
temos no brinquedo uma imensa capacidade de influência na ZDP dos envolvidos nas ações do
brincar. O mestre Vygotsky assinala ainda que a criança já fornece-nos uma pista do palco lúdico
comportamental e orientando o educador em suas situações comportamentais e de caráter do
educando.

Ao comentar, em uma carta para Elkonin (1978/1998), que também estudou a questão do
jogo, Vygotsky reconhece o papel fundamental da situação imaginária no jogo, mas acrescenta a ele
o papel da imitação:

Que a imaginação nasce no jogo é algo que você expõe como absolutamente
certo, convincente e central por seu significado: antes do jogo não há imaginação.
Mas acrescente outra regra mais, a imitação (que, segundo me parece é tão central
e está igualmente ligada à situação fictícia), e obteremos os principais aspectos do
jogo. (VYGOTSKY, 1933 apud ELKONIN, 1978/1998, p. 4).

Nestes termos, a partir da citação acima, se pode perceber a importância da imaginação que
certamente envolverá cada participante dos jogos. No entanto, o fator imitação, não raro, surgirá e
ligar-se-á às diversas situações fictícias que surgirem em campo. O brinquedo suscita a imaginação
e a imitação surge como um gesto de criar uma realidade muitas vezes desenvolvidas pelos adultos.

Vygotsky (1930/1987, p. 124-125) propõe que “não existe brinquedo sem regras. A situação
imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de comportamento, embora possa
não ser um jogo com regras formais estabelecidas a priori”

Sendo assim, a criança pode, por meio da atividade lúdica, desenvolver sua capacidade de
aceitar as regras que são tão necessárias para a convivência social e a vida adulta, ou seja, uma
realidade à qual precisará se ajustar.

Ericson (1963) afirma que o jogo da criança é a forma infantil de dominar a realidade por meio
da experiência e do planejamento. Em jogos, como jogos de papéis de mãe e filha, de escola, entre

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outros, somente aquelas ações que se ajustam à situação real representada na atividade lúdica são
aceitáveis. O que diferencia a situação lúdica da situação real é que, normalmente, aquilo que passa
despercebido na vida real, torna-se regra de comportamento no brinquedo. Na situação lúdica, a
criança é levada a agir contra seus impulsos imediatos, pois tem que se subordinar às regras do jogo,
o que faz com que o maior autocontrole da criança ocorra no brinquedo. Ao contrário de outras
situações nas quais se faz necessário que a criança controle seus impulsos e se submeta às regras, na
brincadeira esta subordinação às regras constitui a forma máxima de prazer.

(...) o brinquedo cria na criança uma nova forma de desejos. Ensina-a a desejar,
relacionando seus desejos a um “eu” fictício, ao seu papel no jogo e suas regras.
Dessa maneira, as maiores aquisições de uma criança são conseguidas no
brinquedo, aquisições que no futuro tornar-se-ão seu nível básico de ação real e
moralidade. (VYGOTSKY, 1930/1987, p. 131).

Assim sendo, a ação da criança no brinquedo é responsável pela criação de intenções voluntárias,
formação de planos e motivações volitivas, traços essenciais para o desenvolvimento da consciência e
das formas superiores de pensamento. É nesse prisma que, numa perspectiva vygotskiana, o brinquedo
pode ser considerado uma atividade condutora do desenvolvimento da criança.

No brinquedo, a criança sempre se comporta além do comportamento habitual de


sua idade, além de seu comportamento diário; no brinquedo, é como se ela fosse
maior do que é na realidade. Como no foco de uma lente de aumento, o brinquedo
contém todas as tendências do desenvolvimento sob forma condensada, sendo,
ele mesmo, uma grande fonte de desenvolvimento.” (VYGOTSKY, 1930/1987, p.
134-135).

A brincadeira, num sentido geral, propicia momentos férteis e de negociação de significados


para o desenvolvimento cognitivo e social da criança.

Pode se ver até agora a brincadeira do ponto de vista da Psicologia. No item Papel da
Escola, estudaremos a importância do lúdico na esfera escolar, portanto, uma aplicação dessas
ideias na Pedagogia.

3. O BRINCAR NA ESCOLA
Será analisada a seguir, a importância das brincadeiras e jogos para o desenvolvimento infantil
do ponto de vista da Psicologia. Focaremos, agora, na inserção dessas atividades nas escolas, levando
em conta o que diz alguns pesquisadores e os documentos da Secretaria Municipal de Educação.

Kramer (1991, apud Coria-Sabini e Lucena, 2004) e Kramer e Souza (1998, apud Coria-Sabini
e Lucena, 2004) defendem que trabalhar com jogos e brincadeiras nessa fase da educação é uma
forma de resgatar o prazer de aprender, pois a criança quando brinca, deixa refletir não só sua forma
de pensar ou sentir, mas como ela está organizando a realidade.

Para Kishimoto (2010, p. 1)

o poder de tomar decisões, expressar sentimentos e valores, conhecer a si, aos outros
e o mundo, de repetir ações prazerosas, de partilhar, expressar sua individualidade

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e identidade por meio de diferentes linguagens, de usar o corpo, os sentidos, os


movimentos, de solucionar problemas e criar. Ao brincar a criança experimenta o
poder de explorar o mundo dos objetos, das pessoas, da natureza e da cultura, para
compreendê-lo e expressá-lo por meio de variadas linguagens. Mas é no plano da
imaginação que o brincar se destaca pela mobilização dos significados. Enfim, sua
importância se relaciona com a cultura da infância, que coloca a brincadeira como
ferramenta para a criança se expressar, aprender e se desenvolver.

Assim como outros pesquisadores já citados anteriormente, Kishimoto (2010, p. 2) defende


a importância do lúdico e vai além, defendendo que para educar as crianças na educação infantil
é “necessário integrar não apenas a educação ao cuidado, mas também a educação, o cuidado
e a brincadeira.”

Pode se considerar, que a brincadeira é parte integrante do desenvolvimento da criança e


que sem ela os pequenos perdem oportunidades preciosas de aprendizagens fundamentais para a
construção de seu conhecimento.

A brincadeira para a criança da fase pré-escolar é tão fundamental que é por meio dela que
os pequenos desenvolvem sua linguagem e, consequentemente, seu pensamento, pois são essas
atividades que proporcionam socialização entre as crianças da mesma idade e/ou de idades diferentes.

É importante observar, nesse contexto, o que dizem as orientações curriculares para a educação
infantil da Secretaria Municipal de Educação (2012).

Na brincadeira com outros ou sozinha, a criança faz uso de todos os seus recursos para explorar
o mundo e se conhecer, construir seu pensamento e trabalhar seus afetos, sua capacidade de ter
iniciativa e ser sensível a cada situação, aprender a viver e se desenvolver.

A atividade de brincar contribui para que as crianças compartilhem conhecimento, pertençam


a um grupo, construam sua identidade, comuniquem-se consigo mesmas e com os outros,
estabeleçam formas de relação com o outro, se apropriem e produzam cultura, exercitem a tomada
de decisão e criem.

Para o professor, as brincadeiras são uma excelente oportunidade para observar e registrar
como as crianças organizam-se, suas competências, seus sentimentos, suas dificuldades, seus
comportamentos, como aprendem e o que gostam de fazer.

Essas observações são possíveis mesmo em bebês quando observam e imitam os movimentos
dos parceiros mais experientes por meio de gestos corporais e vocais, e também quando interagem
com parceiros da mesma idade. Além disso, os bebês podem assumir diferentes posições nas
brincadeiras (como a de quem procura alguém e a de quem é procurado, por exemplo).

De acordo com o documento da Secretaria Municipal de Educação (2012), os bebês se motivam


em suas brincadeiras com o controle do corpo e movimentos, manuseio de objetos, exploração da
sala, tomar e entregar um objeto a outra pessoa. Ela imita outros, repetindo gestos e vocalizações
o que exige observação, controle corporal e vocal. Após algum tempo, essas atividades avançam e
surgem outras formas de brincar.

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A experiência mostra que uma série de esquemas aplicadas há muito aplicadas às crianças podem e
devem ser aplicadas aos bebês. Para a criança permite desenvolver habilidades, se relacionar, compartilhar
e se divertir com a orientação profissional. Tais esquemas aplicados aos bebês permitirão um sucessivo
conhecimento do meio, desenvolvimento de habilidades e coordenação motora entre outras conquistas
descritas e cientificamente comprovadas pela neurociência, conforme veremos a seguir.

Dessa forma, a educação infantil, fase fundamental da educação, possibilitará que nossas
crianças aprendam e se desenvolvam de modo célere e integrado aos seus pares. Conquistará valores
como respeito, limites, espaço e direito do outro, obediência às regras e organização.

Consideradas as reflexões sobre o lúdico na escola, será tratado a seguir de registrar as


contribuições da Neurociência sobre o assunto, estabelecendo uma relação desta ciência com a
Psicologia e a Pedagogia.

4. REFLEXÕES DA NEUROCIÊNCIA SOBRE O BRINCAR PARA A APRENDIZAGEM


Foi observado nas seções anteriores, o ponto de vista da Psicologia e Pedagogia sobre o brincar.

Agora se deve buscar entender como a Neurociência leva em consideração tudo o que já foi
registrado anteriormente e amplia nosso olhar sobre o cérebro e seu desenvolvimento.

Primeiro, é necessário expor que o conhecimento advindo dos estudos da Neurociência


sugere novos caminhos para a Educação, no sentido de entender as capacidades individuais, e na
reestruturação do ensino, pois;

A Neurociência é uma área de conhecimento que estuda mais profundamente a


compreensão do cérebro humano, bem como seu desenvolvimento e funcionamento,
envolvendo diferentes profissionais e revolucionando os estudos científicos. Ela dá
respostas confiáveis nas questões sobre a aprendizagem humana, auxiliando na
compreensão daquilo que é comum a todos os cérebros. (SOUSA, et al., 2015).

Segundo os neurocientistas (Sousa, et al., 2015), o cérebro gosta de brincar porque essa
atividade estimula o sistema límbico (responsável pelo processamento das emoções) e produz
bem estar, prazer e alegria. As brincadeiras, por serem significativas para a rede neural, fortalecem
as sinapses (circuitos neurais) que interligam o sistema límbico ao neocórtex, proporcionando a
tomada de decisões, ou seja, habilidades racionais que favorecem a aprendizagem.

As emoções que os eventos provocam no educando auxiliam na gravação das informações no


cérebro. Quanto mais emoção a criança experimentar, dentro de certos limites, as informações irão
se fixar por mais tempo na memória.

Metring (2014, p. 49) afirma:

O lúdico ainda é a melhor maneira de acessar o cérebro por várias vias sensórias,
pois desde muito cedo nosso cérebro gosta de brincar. Isso vale para crianças,
adolescentes e adultos. Na brincadeira, o sistema límbico permite maiores
impressões de prazer do que de desprazer. Portanto, ao lúdico podemos associar
conteúdos importantes para a vida do aprendiz.

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Segundo a neurociência, as brincadeiras liberam transmissores que aperfeiçoam o aprendizado


sem provocar depressões, esgotamentos ou estresses e preparam o educando em novas habilidades
ao longo de sua aprendizagem mais formal. Com o brinca o cérebro libera dopamina, conhecido como
o hormônio do prazer e a noradrenalina. Dessa forma, diversos outros órgãos são ativados e aprimoram
a plasticidade cerebral. Teremos como um efeito global uma ampla colaboração para o aprendizado.

Foi Metring, em 2014, que estabeleceu que a escola precisa estar atenta ao brincar para
possibilitar às crianças um melhor aproveitamento do cérebro para os processos de aprendizagem.

Para Gómez e Teran (2014), brincar para as crianças é uma atividade altamente estimulante
o que permite um maior número de sinapses e, consequentemente, facilita a aprendizagem e a
torna significativa.

Na visão neurocientista,

Em uma espécie como a nossa, em que o desenvolvimento, sobretudo o do cérebro,


demora a acontecer, o brincar ampliaria as oportunidades de convívio com os pares
e de exploração do meio, fornecendo estímulos para que o cérebro humano possa se
desenvolver mais plenamente. A forma como isso acontece é o que genericamente
chamamos em educação de aprendizagem. Ou seja, em uma perspectiva que procura
aliar o conhecimento em biologia evolutiva ao das neurociências, o brincar não se
limitaria apenas a exercitar habilidades motoras, emocionais, sociais ou cognitivas,
como é costume alegar em educação. Teria uma função ainda mais nobre: seria parte
do próprio desenvolvimento humano. (da COSTA, 2013, s/p).

Segundo da Costa (2013), o brincar, oferece muitas e diversificadas experiências novas,


resultando na formação e consolidação de importantes circuitos neurais, interligando regiões do
cérebro relacionadas a distintas competências ou conjuntos de habilidades. Devido ao brincar a
nossa tomada de decisões, antes restrita à ação do sistema límbico ou sob comando das emoções,
passa a contar com o apoio do neocórtex e de habilidades racionais.

Martins (2011, s/p) afirma que

brincar com objetos coloridos, de diferentes texturas e sons na primeira infância,


pode contribuir para o surgimento de pessoas bem sucedidas e talentosas, fato já
comprovado por pesquisas científicas, em diferentes países.

Segundo a neurociência, a cognição abrange fatores como o pensamento, memória, linguagem,


entre outros. Nosso cérebro possui a capacidade de se moldar e adaptar face às experiências do nosso
cotidiano. Dependendo da situação ele transforma as conexões para se adaptar às necessidades
e ao meio onde estamos inseridos. Seus estudos afirmam que a prática pedagógica promove o
desenvolvimento intelectual e a motivação. O educando tem um melhor aprendizado quando está
motivado e o brincar dilata essa motivação.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A prática de atividades lúdicas constitui uma das opções mais relevantes para o desenvolvimento
cognitivo e psicossocial da criança. Segundo o referencial teórico deste trabalho, procurou-se

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considerar as múltiplas diversidades e possibilidades que as brincadeiras e os jogos oferecem às


crianças quanto ao seu desenvolvimento. Em suma, se tem uma riqueza de significados propiciando
o desenvolvimento de linguagem. A reconstituição da atividade adulta e imitação, ambas calcadas
na realidade de forma que auxilia a criança a dominar a realidade. A interação e mediação pela
linguagem, aprendizagem de regras, desenvolvimento do autocontrole e criação de interações
voluntárias. Tem-se ainda, a formação de planos e motivações volitivas (traços essenciais para o
desenvolvimento da consciência e das formas superiores de pensamento), desenvolvimento da
autonomia, do raciocínio e da capacidade de fazer inferências e observações, gerando a construção
do próprio conhecimento, motivação e prazer.

Além das constatações da Psicologia e da Pedagogia, as evidências neurocientíficas


comprovam o aumento das conexões entre as células cerebrais. Promovem ainda um ambiente
saudável e compatível com a realidade da criança, tornando a aquisição das informações, em sua
forma lúdica, mais permanente e a aprendizagem mais célere quando a criança brinca.

Considerando o papel da escola, torna-se, portanto, indispensável entender o brincar na


escola, com todas suas atividades lúdicas, como um mecanismo técnico, pedagógico e profissional
de se alcançar as mais importantes condições da evolução e integração do educando.

Para a criança será o encontro com a alegria, as novidades, desafios (face aos novos brinquedos
e situações) e oportunidade de interagir com seus novos amigos. Terá ainda de conhecer e lidar
com o respeito as regras, organização com o material, o meio onde ela está inserida e o educador.
Para os pais, o acompanhamento do desenvolvimento e evolução das capacidades intelectuais e
de relacionamento de seus filhos. Por fim, para os professores e educadores, as mediações, com o
emprego dos estudos da Psicologia, da Educação, e da própria Neurociência, na ação do brincar
na escola será a oportunidade de exercer sua experiência profissional com ternura, empenho e
comprometimento. Não estarão livres de lágrimas, mas estas serão, na maior parte das vezes, por
suas alegrias, sucesso e encantamento.

REFERÊNCIAS
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Editora, 2004.

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INFORMAÇÕES DOS AUTORES


Adriana Inácio Guimarães é professora de Educação Infantil e Ensino Fundamental I, formada em
Pedagogia na Faculdade Integrada Campos Salles em 1998. Trabalha na EMEI Jardim Felicidade.
e-mail:adrianaig@gmail.com

Carlos Alberto Stechhahn da Silva é doutor em física e professor da Faculdades Integradas Campos
Salles. e-mail:stecphysics@gmail.com

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