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Título: Direitos: O Que Eles São e de Onde Eles Vêm?

Autores: Laurence BonJour e Ann Baker


Resenhista: Tiago Schuh Beck

No texto “Direitos: O Que Eles São e de Onde Eles Vêm”, Laurence Bonjour e Ann
Baker procuram fazer uma análise crítica sobre os principais pontos que norteiam noções e
questionamentos sobre direitos. Para isso, é colocada a importância do discurso sobre direitos
- um modo de tentar raciocinar sobre o que os indivíduos e as comunidades devem ou não
fazer -, tendo como resultado a formulação de questões morais, seja envolvendo relações entre
indivíduos ou entre comunidades inteiras.
Ao afirmar que alguém possui um direito, há a implicação sobre o que deve e o que
não deve ser feito. Portanto, falar sobre um direito é falar sobre um ser que age e sofre uma
ação. Este ser é dotado de obrigações, as quais geralmente derivam de um conjunto de regras
fundamentais de conduta, como por exemplo, não roubar e não mentir. Ademais, direitos têm
caráter especial de sobreposição, ou seja, eles têm precedência sobre muitos outros tipos de
consideração moral. Disso decorre que o direito é uma relação entre uma pessoa que tem um
direito e outras que têm obrigações correspondentes de agir ou deixar de agir.
Alguns direitos são verificados por referência a uma regra social, a um sistema de
regras ou a um arranjo institucional. Tais direitos são chamados de direitos convencionais,
tendo em vista que sua existência depende da existência de regras sociais particulares,
sistemas de regras e instituições. Entretanto, existem também pessoas que defendem os
direitos naturais, também chamados de morais ou humanos. Naturais porque a base de tais
direitos está na “natureza humana” – conjunto estável e fundamental de características que se
pensa estar construída dentro de cada ser humano. Humanos, em virtude de direitos que temos
simplesmente porque somos humanos. Morais, tendo em vista que todos deveriam reconhecer
em qualquer lugar e em todas as circunstâncias.
Ao optarem pela expressão “direitos morais”, Laurence BonJour e Ann Baker lançam
a seguinte pergunta: existem direitos morais universais? Aqui, destaca-se a teoria que afirma
que não podemos descrever os elementos essenciais da constituição humana considerando os
indivíduos humanos isolados uns dos outros. O filósofo Bernard Williams afirmou que nas
relações profissionais e no mundo do trabalho, a relação de valoração da perspectiva do outro
está sempre disponível. Além do mais, todos os seres-humanos são centros de experiência e
são capazes de ser identificados e de ter suas perspectivas valoradas. Aqueles que são
retardados ou vivem em dor grave, são centros de experiência e têm um ponto de vista que
outros podem identificar e experienciar como valiosos.
Voltando-se novamente aos tipos de discursos morais, temos também o
consequencialismo, que considera a moralidade das ações dos indivíduos e comunidades em
termos de suas consequências. São as consequências que são a verdadeira base para julgar o
que se deve ou não fazer. Um dos problemas do consequencialismo reside no fato dele não ser
facultativo, de não haver liberdade para condutas alternativas. Também, não há uma
justificação clara para reconhecer um direito quando está claro que as consequências melhores
podem ser alcançadas por meio de sua violação.
Como um dos últimos pontos colocados pelos autores, temos uma discussão sobre
direitos positivos, direitos negativos e libertarianismo. Este considera como regra fundamental
o respeito pela liberdade das pessoas. Não se pode interferir na maneira de agir dos outros
com base em valores próprios. Dessa forma, afirmam que os únicos direitos morais são
negativos, que implicam obrigações da parte dos outros de apenas deixar de interferir. Não
existem direitos morais que sejam positivos, pois são direitos convencionais, baseados em
acordos voluntários para cumprir as obrigações envolvidas.
Todavia, nem todos os juristas concordam com o libertarianismo em relação ao fato de
que os direitos morais são apenas direitos negativos. Alguns defendem que todos os direitos
morais envolvem tanto obrigações “positivas” quanto “negativas”, isto é, obrigações tanto
para agir quanto para deixar de agir. Afirmam que mesmo os direitos que à primeira vista
parecem abranger somente obrigações de não interferência do fato também abrangem
obrigações de agir positivamente para prevenir ou deter interferências em circunstâncias nas
quais elas possivelmente ocorrerão.
Em contraposição ao libertarianismo, alguns teóricos alegam a importância dos
direitos morais positivos. Sustentam que estes são essenciais para o desenvolvimento humano.
Alegam que direitos negativos permitem somente àqueles que são agressivos em perseguir a
sua liberdade e que por acaso têm os recursos necessários para alcançarem o sucesso, muitas
vezes ainda à custa dos outros.
Por fim, em determinadas teorias morais, os direitos morais são a base de todas as
obrigações morais. Uma parcela de juristas têm defendido que não é possível atribuir
prioridades entre os direitos morais mais fundamentais e mais gerais. Um modo de atribuir
prioridade entre os direitos está baseado na afirmação de que há alguns direitos morais que
devem ser satisfeitos antes de quaisquer outros. O filósofo Henry Shue chama tais direitos de
direitos básicos e argumenta que eles incluem os direitos de subsistência e segurança, além de
certas formas de liberdade. Esses direitos devem vim primeiro, porque são precondições de
todos os outros.

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