Você está na página 1de 4

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO

Maria Flávia Cerqueira de Souza

Avaliação

Salvador

2021
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DA
BAHIA DEPARTAMENTO DE ESTUDOS JURÍDICOS
FUNDAMENTAIS
DIRA85 – FILOSOFIA DO DIREITO

Prof. Dr. Caio Santiago F. Santos


Turmas 01 e 02, 2º Sem. 2021

PROVA ASSÍNCRONA – 02/12 a 04/12

Questão 1:

No livro O Conceito de Direito, Hart realiza uma distinção entre Direito e Moral, isto
é, entre práticas jurídicas e práticas morais existentes nas sociedades modernas.

Em relação ao sistema jurídico moderno, Hart afirma:

Se fizermos uma pausa para examinar a estrutura resultante da combinação de


normas primárias de obrigação com as normas secundárias de reconhecimento,
modificação e julgamento, tornar-se-á claro que temos aqui não apenas o cerne
de um sistema jurídico, mas também um poderosíssimo instrumento para a
análise de muitos problemas que têm intrigado tanto os juristas quanto os
teóricos da política.
HART, Herbert. O Conceito de Direito. São Paulo: Martins Fontes, 2012, p.
127 [Capítulo V].

Disserte sobre a diferença entre Direito e Moral em Hart, abrangendo na sua resposta:
a) a definição de “normas secundárias de reconhecimento”; e b) as características das “normas
[jurídicas] primárias de obrigação” que as diferenciam de normas morais.

Herbert Hart, em seu livro Conceito de Direito, delimita e diferencia o direito e a


moral, sendo o primeiro regras jurídicas de caráter coercitivo que contém uma pressão social
para serem cumpridas, podendo, inclusive, se apoiar em força física legitimadas pelo Estado,
como é o caso, por exemplo, de uma multa administrativa ou a perda de liberdade se realizado
algum ato ilícito, o direito penal pode proibir ou impor ordens aos indivíduos, sendo assim,
essenciais e obrigatórias, para Hart, as regras jurídicas são mais relevantes, uma vez que
regulam a vida social e prezam pela manutenção da vida e pela proteção dos bens jurídicos. Já
a moral, o autor, apresenta que, as normas morais apresentam uma pressão menor de serem
cumpridas, uma vez que, não são de natureza obrigatória e não dispõe de poder punitivo e
uma autoridade responsável, e sua sanção acontece de forma difusa ou crítica por meio de um
grupo específico.
“(...) onde existe o direito, a conduta humana se torna, num certo sentido, obrigatória
ou não-opcional.
(…)
Quando a pressão é deste último tipo (que dependa essencialmente da ação de
sentimentos de vergonha, remorso e culpa), talvez prefiramos classificar as normas
como elementos do sistema moral do grupo social, e a obrigação por elas estipulada
como uma obrigação moral.”
A visão de Hart sobre Direito e Moral marca a Filosofia do Direito, pois atribui ao
Direito uma visão, até então, não apresentada por outros filósofos, de um lado o Direito,
coercitivo, que produz normas jurídicas de obrigação e uma sanção física e organizada, de
outro lado, a Moral, incoercível e autônoma.
“Assim, considera-se que as obrigações e os deveres envolvem caracteristicamente o
sacrifício ou a renúncia, e a possibilidade permanente de conflito entre a obrigação ou
o dever e o interesse pessoal está, em todas as sociedades, entre as obviedades
conhecidas tanto do jurista quanto do moralista.”
Essa norma jurídica primária de obrigação deve ser seguida e exigida,
independentemente do comportamento pessoal do agente, pois preza por um bem maior.

Além disso das regras primárias, que são as regras relacionadas à conduta humana, por
exemplo, pagar impostos, levando em conta que um sistema jurídico não contém somente
regras primárias, Hart traz ainda em seu livro, as regras secundárias, que se dividem em: a)
regras de como mudar as regras, no ordenamento jurídico vai ser feito de forma legítima e
pré-determinada e no ordenamento moral de forma orgânica e sem determinação prévia; b)
regras de julgamento, que vão definir se as regras jurídicas foram violadas ou não, no
ordenamento jurídico vão ser os magistrados e demais poderes judiciais, enquanto as regras
morais não vão possuir nenhum órgão julgador definido; c) regras de reconhecimento, vão
definir o que é uma regra primária jurídica ou não, nas regras jurídica se tem a Constituição, e
nas regras morais não possuem uma fonte.
“As normas do primeiro tipo impõem deveres; as do segundo tipo outorgam
poderes, sejam estes públicos ou privados. As do primeiro tipo dizem respeito a atos
que envolvem movimento físico ou mudanças físicas; as do segundo dispõem sobre
operações que conduzem não apenas a movimentos ou mudanças físicas, mas também
à criação ou modificação de deveres ou obrigações.”
Para as normas primárias funcionarem de forma plena, a sociedade deve entender,
aceitar e cumprir voluntariamente as regras

Questão 2:

Em A (re)invenção dos Direitos Humanos, Joaquín Herrera Flores apresenta e


desenvolve uma teoria sobre Direitos Humanos com relevantes diferenças em relação a
abordagens jusnaturalistas e positivistas tradicionais. Nesse sentido, Flores propõe uma visão
crítica e emancipadora dos Direitos Humanos.

Em uma das passagens do livro, Flores afirma:


Se não temos em conta em nossas análises tais condições materiais [condições
reais nas quais as pessoas vivem], os direitos aparecem como “ideais abstratos”
universais que emanaram de algum céu estrelado que paira
transcendentalmente sobre nós.
FLORES, Joaquín Herrera. A (re)invenção dos direitos humanos.
Florianópolis: Fundação Boiteux, 2009, p. 31 [Capítulo 1].

Considerando o trecho citado, discorra sobre a visão de Direitos Humanos de Flores,


destacando: a) o papel de grupos e movimentos sociais; e b) sua definição de dignidade
humana.

Herrera Flores, em seu livro A (re)invenção dos direitos humanos, expõe uma visão que os
direitos humanos acontecem na sociedade de forma contextual, ou seja, se relaciona com
contextos específicos histórico-sociais, é necessário uma condição política que faça possível o
pleno exercício dos direitos humanos.
“O “direito” dos direitos humanos é, portanto, um meio – uma técnica –, entre muitos
outros, na hora de garantir o resultado das lutas e interesses sociais e, como tal, não
pode se afastar das ideologias e das expectativas dos que controlam seu
funcionamento tanto no âmbito nacional como no âmbito internacional.”
O sistema jurídico precisa manter as condições necessárias (moradia, alimentação e educação)
e assim manter os direitos humanos salvaguardados. O autor tem uma visão marxista, dessa
maneira, o materialismo está muito presente nesta teoria, de uma forma que, a luta por direitos
se torna parte da luta de grupos sociais que buscam a emancipação, como é o caso dos grupos
e movimentos sociais.
“… o fortalecimento de indivíduos, grupos e organizações na hora de construir um
marco de ação que permita a todos e a todas criar as condições que garantam de um
modo igualitário o acesso aos bens materiais e imateriais que fazem com que a vida
seja digna de ser vivida.”
Assim, a dignidade humana, é, antes de tudo, o resultado destas lutas sociais, ou seja, deveres
autoimpostos, como o próprio autor descreve, que são implementados dentro de contextos de
lutas e compromissos, que vão dar ao indivíduo condições de igualdade acerca de uma vida
digna de ser vivida, sendo alguns exemplos citados por HERRERA, a expressão, convicção
religiosa, educação, moradia, trabalho, meio ambiente, cidadania, alimentação sadia, tempo
para o lazer e formação, patrimônio histórico-artístico, etc.

Você também pode gostar