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OLHARES URBANOS

A comunicação da cidade de Salvador sob


O viés da cultura, do consumo e do espaço público

esta publicação é produto da disciplina


“comunicação e sociedade” 2017.2 do curso de
comunicação social / Relações Públicas da
Universidade do Estado da Bahia - UNEB
Universidade Do Estado Da Bahia RODRIGO MAURÍCIO FREIRE SOARES (organizador)
prof. José Bittes de carvalho

Departamento De Ciências Humanas


Prof. Flávio Dias Santos Correia

Colegiado De Comunicação Social/relações Públicas


Profª. Cláudia Aragão

Disciplina Comunicação e Sociedade - 2017.2


Prof. Rodrigo Maurício Freire Soares

imagem da capa
OLHARES URBANOS
A comunicação da cidade de Salvador sob
Gabriel Araponga
O viés da cultura, do consumo e do espaço público
Textos e imagens produzidos pelo corpo discente da disciplina:

Adriele Conceição dos Anjos Santos Janaina Vieira Capinan Barbosa


Amanda de Oliveira Santos João Pedro dos Santos Bouças
Ana Caroline dos Santos Bispo José Gabriel Silva Araujo
Ana Victoria Muniz Ribeiro Josenilton Cerqueira Santos
Anderson Alves Doria Késsia Santiago Lopes
Ariadne Joana de Oliveira Salvador Laís Batista de Sá
Beatriz Azevedo dos Reis Baião Lara Mourão Marques
Bruno Freitas de Moraes Laura Carneiro de Cunha
Caio Correia Dos Santos Luã de Sousa Queirós
Claudio Matos Araujo Luan Gomes De Souza
Daiane Santos Cunha Maria Carolina Paraná Souza da Silva
Daniele Souza da Silva Mariana Roberto Teixeira Moreira
Emanuelle da Silva Arraz Millene Conceição dos Santos e Santos
Eva Paula Souza do Nascimento Mina Santana Moura Andrade Lemos
Fernanda Souza Dantas Naiara de Souza Barros
Francine Lopes de Souza Freitas Naila Cassia Reis Menezes de Paulo
Fransuele Santos Oliveira Soares Nathalia Oliveira Santos
Gabriel Araponga Paulo Alberto Moura Marques
Gabriel Vinicius Veiga Valente Silva Rafael Soares de Oliveira
Gabriela Pires Queiroz Sodré Rodrigo De Carvalho Oliveira
Geisa de Souza Rocha Sidney Andrade Matos
Gustavo Arcanjo de Jesus Oliveira Thais Santana Pereira
Isabel Lucila Souto Cordeiro Vitor Araujo Coêlho
Isabela Santana dos Santos Coutinho
SALVADOR-BAHIA
2017
Prefácio
Salvador é o meu mote. A cidade, a minha praça...

Na disciplina Comunicação e Sociedade (2017.2), o professor Rodrigo Maurício Freire


Soares e seus alunos de Relações Públicas colocaram em foco o tema da cultura-
comunicação-consumo, que se articula à ideia de Cidade. Em fotografias e textos,
expressam as peculiaridades de Salvador, Bahia, enquanto “motivo, praça e modelo”.
Cidade é lugar de troca, interação de todas as espécies, inclusive de mercadorias... fumo de
rolo, balaios, o bolinho de feijão – digo: o acarajé –, e o feijão-gourmet.

Dos cliques de jovens imersos nas práticas culturais locais, nasceu este Olhar Urbano, que
revela as tensões entre o público e o privado, características das atividades dos
profissionais de relações públicas. Temos, então, em caleidoscópio, o mercado de
esperanças, o armarinho das diferenças e identidades, as sociabilidades presas aos becos e
aos lugares de passagem, lugares-comuns, lugar-nenhum.

As cenas revelam a polifonia dessa cidade. Olha o carro do ovo! 40 ovos, dez reais! Banana
da prata, banana da terra, batatinha... “Quem vai querer comprar banana”... Ah! Melodia!

A publicação acolhe a proposta interdisciplinar do Curso de Relações Públicas, através do


projeto Veracidade, nascido na Oficina de Produção Textual, com o objetivo de conceber o
espaço urbano como matéria têxtil, que se tece como descrição, narrativa ou dissertação.
Uma cidade que nos modela e pode ser por nós modelada, através dos motivos que
orientam o nosso olhar.

Agora ampliado, o Projeto Veracidade congrega os professores do Curso de Relações


Públicas na prática interdisciplinar, estabelecendo um diálogo que atravessa as disciplinas e
explora as possibilidades oferecidas pelas cidades, como meios de ser e de fazer sociedade,
e, muito especialmente, enquanto meios de comunicação.

Em Olhar Urbano, o diálogo entre cultura, comunicação e consumo, emana do espaço


público, que se concretiza em imagens, interfaces, meios de interação, janelas que se abrem
para ver a cidade.

Cida Ferraz
Professora do Curso de Relações Públicas da UNEB
Olhares discentes sobre o urbano....

A cidade é uma composição imagética em que cada objeto é um signo à caça de um par
de olhos. Salvador se expressa através de seu espaço público, das suas culturas e de
suas práticas, tradicionais ou mercantilizadas.

Os alunos da disciplina “Comunicação e Sociedade ”do curso de Comunicação


Social/Relações Públicas da Universidade do Estado da Bahia dividiram-se em quatro
grupos para fotografarem a cidade de Salvador. Durante o mês de novembro de 2017, a
partir das dimensões de análise discutidas em sala, os temas consumo, cultura, espaço
público e comunicação nortearam o olhar discente.

Os textos sobre consumo e o significado atribuídos aos objetos na contemporaneidade


(BAUDRILLARD,1981; LIPOVETSKY 1989) dialogaram com o momento atual de
volatilidade das relações humanas (BAUMAN, 1999). A cidade é tratada nessa
compilação de imagens e textos produzidos pelos alunos como o lugar de surpresas e
polifonia, sendo, por si só, um movimento de contradições: ordem x caos - público x
privado - indiferença x compromisso cívico.

Muros pichados com dizeres críticos entrelaçam-se com igrejas e rabiscos em paredes
da Universidade, fazendo-nos lembrar do quão plural e heterogêneo são os territórios
que integram a pólis. É a identidade de uma cidade que se comunica de diversas formas,
dando voz a grupos, indivíduos e instituições.

Rodrigo Maurício Freire Soares


Professor do Curso de Relações Públicas da UNEB
A cidade é mais do que
o seu espaço físico,
é o palco vivo da
comunicação

O espaço público é igualmente o espaço da ação e da


palavra, o local dos debates, das discussões da vida e
da interação social. Mas, para além do encontro com o
outro, é também o local de encontro consigo mesmo.

“Intimista”
Rio vermelho - Salvador/Bahia - 2017
Rafael Soares de Oliveira

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“Sob olhares atentos“ Os encontros se renovam cotidianamente. O espaço
Rio vermelho - Salvador/Bahia - 2017 “limpo” para o consumo e turismo refaz-se no início
Rafael Soares de Oliveira de cada dia.

As calçadas tomadas por bares comunicam


diariamente as gentrificações diárias...

...cultura e consumo enamoram-se sob testemunho


daqueles que tão bem comunicaram a Bahia.
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O crescimento urbano acelerado se reflete no aumento das relações sociais
e conexões entre os indivíduos. Salvador situa-se neste espaço relacional de
expressão da transitoriedade, pluralidade e autorreflexão. Desenhos,
rabiscos e palavras soltas em muros, paredes e vidros dão voz à cidade.

“estampas de amor e ódio”


Faculdade de arquitetura da UFBA/FEDERAÇÃO - Salvador/Bahia - 2017
Gabriel Vinicius Veiga Valente Silva

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Artigo 1º da Constituição de 1988 se destaca em meio ao descuido
do espaço público e esvai-se na representação visual das perdas
simbólicas: “Todo poder emana do povo, que o exerce por meio de
representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta Constituição”

“ESTAMPAS JURÍDICAS”
Garibaldi - Salvador/Bahia - 2017
Isabel Lucila Souto Cordeiro
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A cidade está cheia de significados, constanteme
nte transformada e
reconstruída na ânsia por um “novo” cada vez ma
is temporário. É o espaço
modificado pelo poder público, que imprime nas
ruas as suas marcas de
gestão. Os lugares trazem consigo as visões de
cidade da administração
pública e a sua logotipia.

Laura Carneiro de Cunha


Rio vermelho - Salvador/Bahia - 2017
“Marca-Lugar”

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O corpo regula-se como
patrimônio (da cidade) e representa um dos múltiplos
estatutos sociais. A cidade é a vitrine dos corpos em
movimento, que expressam os meandros da história e carregam
consigo uma “magia distintiva”.

Corpo-PATRIMÔNIO.
Rio vermelho - Salvador/Bahia - 2017
Rafael Soares de Oliveira
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“Comunicação-RETRÔ”
or/Bahia - 201
Av. Joana Angélica - Salvad
Luã de Sousa Queirós

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Os espaços das cidades
comunicam sociabilidades

A cidade assemelha-se a um grande teatro no


qual as pessoas representam cotidianamente
múltiplos papéis. Há tempo para sermos
personagens de histórias e memórias que se
constroem em cada beco, em cada esquina.

“BECO DAS MEMÓRIAS”


Rio vermelho - Salvador/Bahia - 2017
22 Rafael Soares de Oliveira 23
Gritos, uso de caixas de sons e de microfones.
Comunicação direta e ao vivo. Essa é a forma de
divulgação bastante utilizada por diversas lojas em
vários pontos da cidade para alcançar os seus clientes.
O contato direto com as pessoas é essencial para
definir o êxito de vendas, tendo como aspecto
negativo a poluição sonora, dificultando a vida de
muitos que frequentam as regiões ou vivem nelas.

“SONORAS DA CIDADE”
avenida joana angélica - Salvador/Bahia - 2017
Gabriel Araponga

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“A CIDADE É UMA PARTICULAR ENCENAÇÃO DAS SOCIEDADES” (innerarity, 2016)

Os espaços nas cidades se


caracterizam por uma arquitetura
''Os signos evoluíram, tomaram conta do repetitivo, que substitui a
do mundo e hoje o domina. Os sistemas unicidade. O factual e o sofisticado
de signos operam no lugar dos objetos e prevalecem sobre o espontâneo, o
progridem exponencialmente em natural. São espaços “fabricados”
representações cada vez mais para o visível
complexas. O objeto é o discurso, que (LEFEBVRE, 1969)
promove intercâmbios virtuais
incontroláveis, para além do objeto.''
(BAUDRILLARD,1968)

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A suposta diversidade nos espaços públicos acontece
no âmbito da encenação, da teatralização da vida
cotidiana – os conflitos são deixados de lado ou
encobertos por uma capa de “estetização do
heterogêneo”.

“RUAS DE CULTURA”
Pelourinho - Salvador/Bahia - 2017
Fernanda Souza Dantas
Balaio “sob as cabeças”
Shopping Center - Salvador/Bahia - 2017
Naiara de Souza Barros

O balaio de palha também se gentrifica, se higieniza, se compra na


Feira para compor o cenário do shopping center. Atrai a classe
média, que nunca enxergaria o mesmo balaio se não fosse no teto
do restaurante. Seria invisível em meio ao caos da Feira, próximo
ao lixo e sem a concordância do decorador.

Balaio “na cabeça”


Feira de São Joaquim - Salvador/Bahia - 2017
Naiara de Souza Barros

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A cidade é um espaço fabricado e não neutro,
criativo e permissivo, cujas manifestações
sociais, religiosas e artísticas integram o
calendário cíclico da cidade. Os objetos de uma
cidade comunicam de diversas formas,
podendo ser prisão e liberdade, morte e vida.

Na feira, a vida comercializada, nas festas, o


signo consumido sob a insígnia da paz.

“Esperança I”
Feira de São Joaquim - Salvador/Bahia - 2017
Naiara de Souza Barros

“Esperança II”
SÃO FRANCISCO DO CONDE - 2017
Naiara de Souza Barros
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“in natura” “feijão gourmet”
Feira de São Joaquim - Salvador/Bahia - 2017 Feira de São Joaquim - Salvador/Bahia - 2017
Naiara de Souza Barros Naiara de Souza Barros

O bolinho de acarajé que se consome nos quatro cantos da Bahia


não saiu da senzala, mas descentralizou-se e se expandiu da favela
para o shopping, para a igreja, para ser o patrimônio cultural.
Fingindo esquecer o seu passado e seu conceito de comida de
santo (não católico), ressignificou-se como as próprias
transformações inerentes à cidade, comunicando novos sentidos.

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Em uma cidade de estrutura urbana tal como a cidade de Salvador, o consumo Eu que compro meu fumo: na Feira, no
é uma exponencial que causa efeitos que vão desde o acúmulo de lixo, do uso rolo, no armazém. O dinheiro é meu. Na
dos objetos de tradição e até a crescente dependência de jovens em drogas.
cidade da pluralidade, isso te incomoda?

“fumo-consumo” “fumo-feira”
Salvador/Bahia - 2017 Salvador/Bahia - 2017
Naiara de Souza Barros Naiara de Souza Barros

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“Toda menina baiana tem um santo que Deus dá”
PELOURINHO - Salvador/Bahia - 2017
Janaina Vieira Capinan Barbosa

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A palavra “Religião” vem do latim Religare, e tem como
significado a retomada da comunicação entre os seres
humanos e suas divindades. A religião é a forma com a qual
alguns indivíduos utilizam para se comunicar com algo maior.
E numa cidade sincrética como Salvador, múltiplas
comunicações são possíveis.

“SINCRETISMO DE TODOS OS SANTOS”


PELOURINHO - Salvador/Bahia - 2017
Eva Paula Souza do Nascimento & Amanda de Oliveira Santos

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A MÍSTICA DA SOLICITUDE i
Salvador/Bahia - 2017
Amanda de Oliveira Santos

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A MÍSTICA DA SOLICITUDE ii Na cidade, não se trocam simplesmente mercadorias.
Salvador/Bahia - 2017
São negociados símbolos, tempo, serviços, informações e sorrisos.
Eva Paula Souza do Nascimento
Na cidade da cultura mercantilizada, tudo tem o seus dois lados.
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Entre os intervalos do metrô, a multidão é guiada pelas
placas e pela programação dos alto-falantes, que
contrastam com o quase ''silêncio'' dos vagões. Essas
regras, ao fim, nos guiam ou nos calam?

“saída do NÃO LUGAR”


metrô - Salvador/Bahia - 2017
Isabel Lucila Souto Cordeiro

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REFERÊNCIAS

BAUDRILLARD, Jean, O sistema dos objetos, 1968.

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade e Ambivalência. Tradução Marcos Penchel. Rio


de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 1999.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes do fazer. trad. de Ephraim


Ferreira Alves. Petrópolis: Vozes, 1994.

INNERARITY, Daniel. O novo espaço público. Lisboa: Teorema, 2010

LEFEBVRE, Henri. Introdução à modernidade. Prelúdios. Notas sobre a cidade


nova. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1969.

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