Você está na página 1de 54

3

0.0Introdução
A cultura pode ser lida como uma transformação da natureza: descobertas, invenções, produtos,
criação através do imaginário, etc. Nela encontramos a arte, que não passa de uma expressão de
pensamentos, sentimentos e ideias através de códigos culturais e de maneira estética. Ora, uma
das manifestações artísticas, é a Literatura, que pode tomar uma forma de expressão oral ou
escrita.

A África, sendo uma sociedade tradicionalmente ágrafa, a sua cultura e tradição vive na memória
colectiva do seu povo, e são transmitidas de geração em geração, por via oral. Por via de contos
populares, provérbios, canções populares, advinhas, expressões idiomáticas, anedotas, etc, desde
os tempos imemoriais, o homem africano sempre expressou os seus sentimentos.

BILA (2011) revela que a originalidade e pureza das tradições orais só pode ser encontrada no
período pré-colonial, pois com a colonização elas sofreram um ataque, acabando por ficar num
estado latente. Face a isso, desde finais do século XIX, os africanos, inspirados pelos
movimentos pan-africanismo e Negritude, começaram com as manifestações pela valorização da
consciência e cultura negras. Era vontade dos defensores desses movimentos, revitalizar a cultura
africana, incluindo as tradições orais africanas, no plano teórico e conceptual. É nesse mesmo
século que as nações europeias vendo se ameaçadas pela revolução francesa investem-se no
resgate das suas tradições orais como forma de auto afirmarem-se.

Entretanto, a partir do século XX o mundo conhece uma crescente preocupação pelas culturas e
tradições orais, facto incentivado pelas Organização das Nações Unidas (ONU). Por via da
UNESCO, esta organização faz um apela a todo mundo, reclamando o direito dos povos se
expressar, educarem-se e se afirmarem nas suas culturas e tradições originárias (Bila, 2011).

Ao nível de Moçambique, várias tem sido as manifestações sociopolíticas que constituem reação
do governo face a desiderato da UNESCO, uma das quais prende-se com a promoção das línguas
e tradições orais, por via dos Órgãos de Comunicação Social.

Neste contexto, como estudante de uma das línguas bantu (Xichangana), pretendemos estudar as
tradições orais (literatura oral) presentes nos meios de comunicação sociais. Esses meios
afiguram-se como espaços onde a sociedade veicula as suas realizações, incluindo manifestações
4

artístico-culturais do seu dia-a-dia, tal é o caso de produções literárias. Esses órgãos de


comunicação social transformaram-se em instituições dinamizadoras de culturas e tradições orais
locais das comunidades locais, desempenhando um papel fundamental no desafio da
revitalização e preservação do património oral e imaterial.

Estruturalmente, para além desta introdução que faz uma contextualização geral incorporando
aspectos como a delimitação do tema, os objectivos, a problematização, as hipóteses e a
justificativa, o presente trabalho conta com os capítulos sobre: referencial teórico, que relaciona
o nosso estudo com alguns já realizados para além de definir os conceitos-chave da nossa
pesquisa; percurso Metodológico que apresenta para além do tipo de pesquisa os métodos de
abordagem e de procedimento, as técnicas e os respectivos instrumentos de colecta de dados; e o
capítulo de apresentação e análise, parte onde descrevemos e interpretamos os dados recolhidos
no campo.

0.1 Delimitação do Tema


Sabe-se que o mosaico cultural e tradicional presente nos meios de comunicação social é vasto e
diversificado, dado o facto de Moçambique ser um país multicultural, multiétnico e multilingue.
Outrossim, falar dos meios de comunicação social é fazer referência a um leque de instituições
ao serviço da imprensa espalhadas pelo país.

No entanto, neste trabalho importa-nos estudar a literatura oral presente na Rádio Moçambique
(RM) e Televisão de Moçambique (TVM), delegações de Gaza, daí que, definimos como tema a
desenvolver, “A Literatura Oral na TVM e RM-Gaza: Uma Forma de Valorização da Cultura
Bantu”.

Neste contexto, procuraremos estudar a manifestação literária de natureza oral presente nestes
dois órgãos de comunicação social tomando como base o potencial que eles possuem em matéria
de aproveitamento e promoção da cultura bantu.

0.2Objectivos
Tal como afirma AnderEgg (1978:62) Apud MARCONI & LAKATOS (2010:140), toda a
pesquisa deve ter um objectivo determinado para saber o que se vai procurar, o que se pretende
alcançar e deve partir de um objectivo limitado e claramente definido. Assim, constituem
propositos do nosso estudo:
5

0.2.1Geral
 Compreender as formas de apresentação da literatura oral presente na TVM e RM-Gaza.

0.2.2Específicos
 Caracterizar a Literatura oral presente na TVM e RM-Gaza, quanto à sua natureza;
 Descrever os processos de recolha, produção, execução e arquivo da literatura oral usados
pela na TVM e RM-Gaza;
 Relacionar a manifestação literária de base oral desenvolvido pela RM-Gaza com a
desenvolvida pela TVM – Delegação de Gaza.

0.3Problema
Bila (2011), no seu estudo intitulado “ A Literatura Oral no Ensino Básico Moçambicano:
Revalorização da cultura autóctone”, realizado no âmbito da produção de sua Dissertação para a
obtenção do grau de Mestrado, analisa a natureza da literatura oral com foco no Ensino Básico e,
embora não fazendo parte do seu estudo, refere que a Literatura Oral pode ser encontrada,
também, para além do Ensino Básico Moçambicano, em programas da Rádio Moçambique e da
Televisão, o que despertou o nosso interesse em saber o seguinte:

Como se apresenta a Literatura Oral na RM e TVM - Delegações de Gaza, e que função ela
cumpre na vida dos radiouvintes e telespectadores?

0.4Hipótese
Face à questão levantada, avança-se a possibilidade de a literatura presente na RM e TVM,
delegações de Gaza, apresentar-se sob forma de contos populares, provérbios, expressões
idiomáticas, canções populares, advinhas, etc, e que ela tende a perder as propriedades que lhes
confere a sua originalidade e o carácter tradicional, devido à influência da tradição escrita e
efeitos da modernidade. Contudo, essas formas literárias contribuem para uma convivência
harmoniosa das famílias (ouvintes e telespectadores) pelas suas lições morais e educativas que
veiculam

0.5Justificativa
As aulas de minor de Xichangana, ministradas pela Universidade Pedagógica-Gaza, suscitaram
interesse pelo estudo das tradições orais, numa era em que a luta pela revitalização e valorização
da cultura autóctone é bastante intensa.
6

A escolha deste tema está relacionada com dois tipos de motivações, uma de ordem interna e
pessoal, e outra de ordem externa. A motivação pessoal prende-se com a simpatia que temos com
a área das cultura e de literatura, e que pretendemos contribuir através de um estudo que
acreditamos que se reveste de um alto valor simbólico, por explorar aspectos de tradições orais,
que nos parece serem uma matéria pouco aprofundada em pesquisas académicas.

Quanto à motivação externa e académica, decorre do facto de o estudo pretender divulgar


trabalhos ligados a promoção e valorização da cultura bantu, trabalhos esses levados a cabo por
órgãos de comunicação social da praça. A sua relevância reside no facto de os seus resultados
podem subsidiar as aulas de Literatura Bantu, uma cadeira ministrada na Universidade
Pedagógica, assim como auxiliar também na compreensão de alguns conteúdos de literatura oral
integradas em disciplina de Português ao nível do ensino secundário geral e no Ensino Básico
Bilingue.

0.6 Descrição da área de estudo


De forma muito breve vamos descrever os locais de nosso estudo, Rádio Moçambique e
Televisão de Moçambique Delegações de Gaza, uma forma de trazermos a imagem real do local
de pesquisa.

0.6.1Descrição geográfica da Rádio Moçambique - Gaza


A informação que a seguir apresentamos foi-nos facultada pela chefe de Emissões da Rádio
Moçambique - Delegação de Gaza, aquando da entrevista efectuada no âmbito da recolha de
dados desta pesquisa.

A Emissora da Rádio Moçambique, Delegação de Gaza, localiza-se no bairro 11 da cidade de


Xai-Xai, distando aproximadamente 200m da EN1 e a 100m da Escola Secundária Joaquim
Chissano.

Segundo a nossa fonte, a Rádio Moçambique – Emissor Provincial de Gaza surge como
Emissora autónoma em 2002. Até essa altura esta Rádio fazia parte da extinta emissora
interprovincial de Maputo-Gaza.

Além do emissor central sediado na cidade de Xai-Xai, a RM-Gaza possui também emissores
nos distritos de Mapai, Chigubo, Massangena e uma Repetidora na cidade de Chokwé.
7

Desde a sua autonomização, a RM-Gaza emite em três línguas, nomeadamente: Xichangana,


Xicopi e Português, e pela necessidade do próprio ouvinte, Xichangana, língua mais dominante
na província, sempre ocupou maior tempo de emissão. Das dezanove horas de emissão deste
emissor, Xichangana detém dez (10), sendo duas vezes por dias.

É importante transparecermos que a RM-Gaza tem emissões ininterruptas aos finais de semana
(sexta-feira e sábado). Na madrugada de sábado transmite em Xicope, e, em Xichangana na
madrugada de Domingo, o que significa que aos fins se semana Xichangana iniciada as 19h de
sábado estende-se até as 10 de Domingo.

0.6.2Descrição geográfica da Televisão de Moçambique -Gaza.


Em entrevista concedida pelo delegado da Televisão de Moçambique - Delegação de Gaza, no
dia 21 de Setembro de 2017, ficamos a saber:

 Esta instituição pública está localizada no bairro cinco (5), zona de Partido e a menos de
50m da EN1;
 Ela existe desde 2011e aparece como resultado da política de descentralização que tem
vindo a ser implementada pela TVM - central.
 Aquando da sua instalação, a TVM – Gaza contava com apenas com três membros, sendo
que agora já possui um universo de 13 profissionais, entre jornalistas, operadores de
câmara, técnicos e pessoal administrativo.

No que concerne ao funcionamento, a TVM, janela provincial de Gaza está no ar uma (1) hora
por dia, de segunda à sexta-feira. É um canal televisivo que vem transmitindo em três línguas,
nomeadamente, Português, Xichangana e Xichope.
8

CAPÍTULO I: Revisão BiBliografica


No presente capítulo iremos relacionar este estudo com outros já realizados, e por último,
definimos alguns conceitos-chave tidos fundamentais na compreenção do fenómeno “literatura
oral”.

1.1 Enquadramento Teórico


O debate relativo à utilidade da literatura, no geral, para a educação da sociedade emerge na
Grécia Antiga (Bila, 2011). Entretanto, porque o nosso foco é a literatura oral, interessa-nos
apresentar um breve percurso de estudos desenvolvidos sobre esta variante literária em vários
contextos socioculturais.

MONTEIRO (2014: 16), afirma que as sociedades africanas, em geral, e muito em particular a
África subsaariana, são essencialmente sociedades da palavra falada. Mesmo quando a escrita
existe, e apesar de séculos de colonização, a oralidade continua a ser parte integrante da
comunidade e do indivíduo, sendo constitutiva da própria identidade individual e coletiva.
Partindo da posição de Monteiro pode-se considerar que uma das vias de expressão cultural que
a população africana bantu sempre encontrou desde os tempos imemoriais, tem sido a de
literatura oral.

No contexto africano, registo há de estudos sobre a literatura oral, e parte dessas pesquisas
foram realizadas por alguns estudantes aniversários, casos de Suzana Nunes (2009), Domingos
Monteiro (2014) e outros.
Susana Dolores Nunes (2009) contribuiu com um estudo cujo tema é “A MILENAR ARTE DA
ORATURA ANGOLANA E MOÇAMBICANA”. Nesse trabalho, Nunes fez um estudo
comparatista das narrarivas orais (contos populares) moçambicanas rongas, de Heri alexandre
Junod e angolanas, de Héli Chatelain , tendo concluido:
 O conto popular angolano e moçambicano, ou de outro país qualquer tem uma mesma
estrutura base e os seus elementos constitutivos e as algumas temáticas são universais;
 Em contos populares analisados estavam presentes os temas, os motivos, as tradições, as
formas do imaginário popular.
Por sua vez, Domingos Monteiro, em uma tese dissertativa, contribuiu com o tema, “Tradições
Nacionais e Identidades: Recolha e Estudo de Canções Festivas e de Óbito Kongo e
Ovimbundu”. Nessa Dissertação, este estudante angolano investigou a canção popular dos
9

grupos Kongo e Ovimbundo com o propósito de contribuir para um melhor conhecimento da


literatura oral do seu país. Monteiro concluiu que apesar dos quinhentos anos de colonização, e
dos efeitos da modernização, o povo angolano mantem viva a sua tradição oral e cultura.
Em Moçambique, a natureza multilingue e multiétnica multiculturalidade da maioria da
população faz com que muitos pesquisadores se interessam pela investigação da tradição e
cultura. Assim, depois da independência alguns trabalhos de investigação sobre tradições orais
foram desenvolvidos por intelectuais, maioritariamente docentes universitários, uns por
necessidade de satisfação dos seus compromissos académicos, outros com a intenção de
contribuir na área. Falamos precisamente de pesquisadores como, Orlando Mendes, Gilberto
Matusse, Carla Maciel, Lourenço de Rosário, Teresa Majante dentre outros, e que trabalhos deles
constituem referências nacionais e incontornáveis no estudo da tradição e cultura bantu.
Contudo, o professor doutor Lourenço de Rosário é tido como pioneiro neste campo de estudo
sobre a literaatura oral. Uma das pesquisas de Rosário consistiu no estudo da natureza da
narrativa de tradição oral no Vale do Zambeze. Segundo este autor, estudos do género já tinha
sido feitos por Vladimir Propp, Denise Paulme e outros.

No sector de educação, apenas conhece-se três trabalhos ligados à literatura oral, também
desenvolvidos por docentes universitários (Maciel, Bila e Cossa), e que passamos a descrevé-los
de forma sumária.

(i) Em Tese de doutoramento cujo tema era “Bantu Oral Narratives in the training of
EFL Teachers in Mozambique”, Carla Maciel estudou as narrativas orais
moçambicanas tendo como foco o seu valor cultural. Com este estudo, a autora
pretendia argumentar a favor das potencialidades didáctico-pedagógico das narrativas
orais na formação dos professores de Ingles.
Desta pesquisa Maciel concluiu que a análise das valores contidos nas narrativas orais
bantu capacita os professores a encorajarem os seus alunos no uso da língua materna
permitindo que os professores de ingles desenvolvam a sua sensibilidade sobre a
relacao entre as linguas Bantu, portugues e ingles.
(ii) BILA com a sua Dissertação de mestrado cujo tema era “ A Literatura Oral no
Ensino Básico Escolar Moçambicano: Revitalização da Cultura Autóctone”,
tratou de estudar as potencialidades da Literatura oral no Ensino Básico Escolar tendo
10

concluído que, a expressão em línguas autóctones, possui um valor excepcional, sem


igual. Ela contribui para a revitalização das línguas autóctones, liga o universo da
origem da criança com o novo mundo da ciência tida na escola, reforça a identidade e
auto-estima das criança e educa a criança nos valores da intercompreensão do
pluringuismo e do multiculturalismo.
Este estudo refere que a Literatura Oral pode ser encontrada, também, para além do
Ensino Básico Moçambicano, em programas da Rádio Moçambique e da Televisão,
(iii) António COSSA em uma Tese Dessertativa de Mestrado desenvolveu o tema
“Literatura infantil no Ensino Básico moçambicano: uma estratégia de iniciação
à leitura no I Ciclo”.
Este docente universitario dessertou sobre a aplicabilidade do discurso literário
infantil na aprendizagem da leitura, no âmbito da leccionação da disciplina de
Português e do aproveitamento dos 20% do currículo local no I Ciclo do EB, tendo
concluído que as dificuldades de ensino e de aprendizagem da leitura são um facto e
resultam de diversas razões:
 A grande maioria dos aprendentes do EB é proveniente das zonas rurais com
a sua cultura veiculada pela L1 bantu, e frequentam este ensino numa L2;
 Estas crianças enfrentam dificuldades de aprendizagem da leitura, pela
simultaneidade da aprendizagem da língua de ensino e dos conteúdos
programáticos, que também são de um mundo totalmente distinto do delasos;
 Os textos literários de tradição local, que coincidem com a literatura infantil
apresentam-se como textos propícios para crianças, são ideais para iniciação
à leitura e confirmou-se o desfazamento entre as políticas definidas pelo
PCEB e os conteúdos que os manuais e programas de ensino ostentam neste
subsistema.

De acordo com estudos de BILA (2011), em Moçambique, para além das instituições públicas
como o ministério de cultura através de ARPAC, e ministério de educação, por meio de
educação bilingue, a Rádio Moçambique é tida como um dos órgão de comunicação social
potencialmente forte em matéria recolha, revalorização e promoção do património cultural,
11

Ora, vamos conferir alguns antecedentes históricos que envolveram a Rádio Moçambique no
processo de colecta e conservação da cultura e tradições orais.

Segundo BILA (2011:44) afirma que neste país o processo de recolha, arquivo e socialização
daquilo que ele preferiu denominar “Património Intangível da Humanidade” iniciou logo após a
independência (1979 e 1983) como uma das decisões da 1ª reunião nacional da cultura e
concretização do ideal do então presidente da República, Samora Machel, segundo a qual a
cultura é a base para o povo tomar o puder. Na altura este exercício foi levado a cabo pelo
Ministério da Cultura e outras instituições culturais e, dos materiais recolhidos destacam-se a
música, danças e alguns géneros de literatura oral (contos orais, canções populares, lendas,
provérbios, mitos, etc). Hoje, estes artigos recolhidos e arquivados constituem matéria de ensino
nos currículos de ensino do sistema nacional da educação, para além de que eles preenchem
alguns espaços na grelha de programação em alguns órgãos de comunicação social, tal é o caso
de Rádio Moçambique. Aliás, BILA (2011) informa ainda que por necessidade de uso de línguas
e géneros culturais nas suas emissões radiofónicas, a própria Rádio Moçambique teve que se
envolver na missão de pesquisa e recolha desses artigos, despachando equipas ao campo para
através de gravadores colectar esse conteúdo cultural ou convidava membros da comunidade
para estúdio onde eram feitas gravações e, a informação era arquivada em cassetes, bobines e
fitas magnéticas.

É neste contexto que surge o nosso estudo e que procura compreender a forma de apresentação
da literatura oral na RM e TVM , Delegações de Gaza, com enfoque na função que ela exerce na
vida dos radiouvintes e telespectadores.

1.2 Definição de Conceito


Para uma melhor compreensão do assunto que nos propusemos desenvolver, é fundamental
definirmos alguns conceitos-chave, tais como, Literatura Oral, Género de Literatura, cultura e
cultura Bantu.

1.2.1 Literatura Oral


A Literatura Oral constitui objecto do nosso estudo, sendo por isso, fundamental e pontual a sua
definição e caracterização.
12

Concordando com COSSA (2015), tal como não é pacífico definir a literatura, não o é também
abordar categorias como literatura oral, literatura tradicional, literatura popular, oratura, etc. Esta
Concepção é, também, defendida por NUNES (2009:29) quando diz “são muitos os problemas
terminológicos que se levantam quando se procura designar o corpus de textos orais vinculados
às tradições dos povos africanos”.

Um dos primeiros problemas com que nos deparamos ao analisar expressão Literatura oral é o
facto de ela ser constituida por dois termos antagónicos, literatura que nos submete à escrita
confrontando-se assim, com o item “oral”.

Ora, por considerar que o paradoxo terminológico acima referenciado já foi suficientemente
discutido por muitos teóricos, nós preferimos concentrar-nos no conceito da literatura oral sem
debater o seu carácter polissémico e paradoxal. Para tal, vamos visitar alguns autores que
apresentam propostas do conceito relativo a este fenómeno.

De acordo com Guerreiro e Mesquita (2011) citado por VIEGAS (2015:6), o termo «literatura
oral» foi usado pela primeira vez por Paul Sebillot, etnólogo bretão, na sua obra Littérature Orale
de la Haute Bretagne, de 1881.

BARBOSA (2011: 20) considera que a literatura oral constituiu primeiras formas de de
manisfestacao literarária do homem, que sempre ligava-se ao estado de contemplação do mundo,
marcado muitas vezes por rituais de iniciação e magia, transmitidos através da oralidade, das
canções e declamações espontâneas aos deuses. Ainda adianta, “com o passar do tempo, o povo
começou a externar aquilo que via e ouvia nos rituais sagrados, e, de boca em boca, caiu no
gosto do povo, misturou-se com o povo, passou a ser do povo e para o povo, levada pelos
confins da Terra, e assim, nasce o que alguns chamam, hoje, de literatura oral”.

Assim, a perspectiva de Barbosa advoga que a literatura oral sempre existiu e acompanhou a vida
do homem desde os tempos imemórias, e algumas escritura sagradas existentes derivam desta
forma literária.

Esta visão alinha-se com a de CASCUDO (1984) que considera que a “literatura oral” está
presente na história das sociedades e constitui um conhecimento caracterizado por ser “não-
oficial, tradicional, anônimo e de ensino sistemático”.
13

Mas o que é literatura oral, mesmo? Em busca de resposta a esta questão, vejamos a propostas
trazidas por Mendes e Do Rosário.

Para Mendes apud BILA (2011:23) literatura Oral é aquela que é transmitida de geração em
geração, por via oral, dos mais velhos para os mais novos.

Por outro lado, ROSÁRIO (1989:45), no seu estudo da narrativa oral africana, define literatura
oral como “formas literárias transmitidas pelo sistema verbal oral”.

Portanto, a Literatura Oral pode ser tomada, por um lado, como conjuntos de textos,
correspondentes à tradição oral de um determinado povo, e que são transmitidos por via oral, por
outro, como conjunto de saberes científicos e sistematizados relativos a esses textos.

No concernente à sua natureza e caracterização, AGUIAR & SILVA (1984: 137-8) afirma que o
sistema semiótico da literatura oral é composto por diferentes signos paraverbais e extra-verbais
que interagem entre si para garantir a existência do seu objecto. Ela apresenta como uma das
suas peculiaridades, a variação. Cada pessoa vai contando a mesma história de forma diferente,
já que ela tem que contá-la de forma pessoal e não fazer apenas uma repetição mecânica do que
ouviu.

CASCUDO (1984) apresenta quatro características fundamentais da literatura oral,


nomeadamente:

 Antiguidade, ela é impossível delimitar a data do seu surgimento;


 Persistência, pelo facto de ser transmitida da geração em geração através dos séculos,
onde é reformulada, mas não esquecida;
 Anonimato da autoria, pelo facto de não ser de autoria de uma entidade individual
específica;
 Oralidade, voz anónima do povo que tem na sonoridade, na entoação, no rítmo, além dos
gestos, os grandes aliados que reforçam o significado da mensagem.

Olhando para o contexto africano, Ruth Finnegan apud MATUSSE (1998) diz que os autores de
literatura oral servem-se de vasto conjunto de elementos linguísticos das línguas bantu como
instrumentos literários, a exemplo de idiofones, onomatopaicos que tanto contribuem para a
expressividade rítmica desta arte.
14

Na literatura oral, o narrador e o auditório formam um todo e neles se manifestam emoções e


reflexões, “ que ora se ficam em agitação interior, ora se exteriorizam por meio de gestos,
exclamações, risos, comentários” (Sebastião et al, 1999:81). No entender destes teóricos, em
alguns textos de literatura oral, a música e a expressão fisionómica envolvem ininterruptamente a
palavra falada.

De acordo com ROSÁRIO (1989:46), “as obras orais tem um carácter colectivo e oral. Elas
relatam uma série de acontecimentos que tiveram lugar num espaço longínquo e fabuloso e num
tempo incomensurável. Falam-nos de origens e tentam explicar como surgiram determinadas
formas pitorescas evidentes do dia-a-dia, o que vem reforçar a ideia de que as diversas
categorias de narrativas são parentes entre si’’. Estas narrativas orais são parte integrante da
cultura de um povo. Ao serem transmitidas de geração em geração, com acréscimo, omissões e/
ou alterações, tornaram-se uma criação colectiva, espelho do povo que as construiu. Elas estão,
pois, impregnadas da cultura do povo que as elaborou. Normalmente narradas à volta de uma
fogueira, durante os momentos de lazer, tinham como função não só entreter, como também
transmitir essa cultura e esses valores aos mais novos.

De acordo com estudo de BILA (2014), literatura oral pode ser localizada em alguns manuais do
ensino básico moçambicano. Este dado também referenciado por Manjate (2010) apud COSSA
(2015), que adianta “em Moçambique os textos da literatura oral ganharam uma revalorização
através do registo gráfico”.

1.2.1.1Géneros de Literatura Oral


Conforme CASCUDO (1984), a Literatura oral se manifesta mediante um corpus extremamente
amplo e variado: mitos, lendas, contos, adivinhas, canções, rezas, ritos e provérbios, transmitidos
exclusivamente por via oral, de geração para geração.

Para Sebastião et al (1999:82), são géneros de literatura oral, os contos tradicionais, as lendas, os
mitos, as fábulas, os provérbios populares, as advinhas, as anedotas de tradição oral, as narrativas
históricas, as cantigas, os cânticos, os enigmas, etc.

Noutra perspectiva, Hermann Baussinger citado por NUNES (2009) agrupa os géneros de
literatura oral em três categorias: formas e jogos de língua (provérbios, ditos, adivinhas, orações,
15

lengalengas, etc.), formas narrativas (contos, lendas e mitos), formas dramáticas e musicais
(teatro popular, cantigas e romances).

Aqui podemos perceber que classificação proposta por Baussinger foi concebida tendo em conta
a divisão tripartida dos modos literários (lírico, narrativo e dramático).

1.2.3Cultura
Tal como não tem sido fácil definir literatura, pela sua natureza complexa, torna-se difícil
também definir a cultura.

Etimologicamente o termo cultura provém do particípio passivo do verbo latino colo, colis,
colere, colui, cultum que significa: cultivar, cuidar, ter cuidado e prestar atenção. Expressa a
relação dinâmica e estável a um lugar, (Martinez, 2009:44).

Entretanto, BERNARDI (2007:23), afirma que o termo cultura pode ter dois significados:
humanístico e, outro antropológico, sendo que a primeira formulação do conceito antropólogo de
cultura é de pertença de EDWARD B.TYLOR. Portanto, BERNARDI (2007) olha para a cultura
como ‘‘o complexo que inclui o conhecimento, a crença, a arte, a moral, as leis e todas outras
capacidades e hábitos adquiridos pelos homem como membro da sociedade’’

Na óptica de MARTINEZ (2009:48), Cultura é “conjunto de valores, conhecimentos e


experiências presentes nos indivíduos enquanto membros de uma sociedade, bem como a
exteriorização desse conjunto de valores e significados, que formam o património cultural de um
povo. É o que distingue o homem do resto do mundo animal. É uma tarefa social, pertence à
comunidade a que o indivíduo pertence. Sua transmissão é feita pela sociedade, de geração em
geração, e o indivíduo mergulha nesse mar ”.

Noutra perspectiva, Cultura é definida como um conjunto de práticas e de comportamentos social


produzido por um grupo e transmitidos por processos geracionais aos elementos desse mesmo
grupo social: a língua, os ritos e os cultos, a tradição mitológica, o vestuário, o habitat e o
artesanato (Pité, 1997: 38).

Portanto, as diferentes concepções de cultura acima apresentadas têm de comum o seguinte:

i) Consideram o homem como objecto, portanto, sem o homem não haveria cultura, ele
é o protagonista de toda manifestação cultural;
16

ii) Cultura constitui um conjunto de conhecimentos e de valores que caracterizam um


individuo ou uma sociedade.

Contudo, caracterizando a cultura, MARTINEZ (2009:49) afirma que ela é simbólica, social,
estável e dinâmica, selectiva, universal e regional, determinante e determinada.

 A cultura é simbólica: toda realidade cultural pode ser considerada como um conjunto
de sistemas simbólicos, manifestados por meio de uma linguagem que é eminentemente
simbólica.
 - A cultura é social: a pessoa é formada pela cultura e o seu comportamento é pautado
pela cultura interiorizada, visto que a abertura do homem aos seus semelhantes estabelece
as relações sociais.
 - A cultura é estável e dinâmica: a cultura é estável no sentido de conservação de seus
valores autênticos, que vão garantindo a identidade específica dum certo povo. Mas
também a cultura é, sobretudo, dinâmica no sentido da sua permanente vitalidade, que se
manifesta nos seus processos de evolução e de transformação, condicionados pelos sinais
dos tempos.
 A cultura é universal e regional: a cultura é, antes de tudo, um fenómeno universal,
porque não há povos sem cultura, nem homens «incultos». Ela constitui um aspecto
comúm a todas as sociedades. Por sua vez, a cultura é regional, entendida na sua forma
particular e contextual.

Na óptica de MARTINEZ (2009), não há povo sem cultura, nem homens sem cultos. A cultura é
universal pelo facto de haver alguns aspectos comuns em todas culturas denominados universais
culturais. Ela é determinante pois determina por parte, o comportamento humano e dela
depende a sua padronização. O carácter determinante da cultura permite o estudo científico do
comportamento que visa a regularidade ou leis do comportamento humano. Por outro lado, a
cultura é também determinada pelo homem pois ele é o agente activo dela.

Portanto, o conceito de cultura proposto por Bernard considerámo-lo aceitável, primeiro, por
considerar cultura como algo complexo e, segundo, contempla os três elementos incontornáveis
na idealização da cultura: o saber, os valores e o homem.
17

1.2.3.1Cultura Bantu
Conforme NGUNGA (2014), a cunhagem do termo “bantu” é atribuída a Bleek, sendo que coube
lhe a Greenberg a tarefa de classificação das línguas africanas. Segundo Greenberg, as línguas
bantu fazem parte da grande família Congo-kordofoniana, cuja subfamília é Niger-Congo.
Assim, longe de referir a uma família, nem a uma unidade racial, como alguns o consideram, o
termo bantu designa um grupo de línguas pertencente à família Congo-kordofoniana.

Noutra perspectiva, VICENTE (2012:43-44) mostra que o termo Bantu aplica-se a uma
civilização que manteve a sua unidade ou sua herança cultural e que foi desenvolvida por povos
de raça negra. O radical “ntu”, comum para a maioria das línguas bantu, significa homem,
pessoa, ser humano, e o prefixo “ba” forma o plural da palavra “muntu” (homem, pessoa,
personalidade inalienável). Assim, bantu é o plural de “muntu”. O termo «bantu» significa: seres
humanos, homens, pessoas, povos, gente.

Falar dos bantu é falar dos modos de vida, dos sistemas de valores, dos costumes, das crenças, da
organização, da mentalidade, etc., que caracterizam a um grupo social que vêm desde séculos e
chegam até nós com mais ou menos vivência e intensidade (Vicente, 2012).

Portanto, a convivência social, a maneira característica de ser e estar das comunidades


designadas bantu, constituirá a dita cultura Bantu.
18

CAPITULO II: METODOLOGIA


Conforme Galliano citado por DIDIO (2014:25), método constitui “conjunto de estapas,
ordenadamente dispostos a serem vencidas na investigacao da verdade, no estudo de uma
ciência ou para alcançar determinados fins”. Porém, MARCONI & LAKATO (2003:83) olham
para o metodo como conjunto das actividades sistemáticas e racionais que, com maior segurança
e economia, permite alcançar o objectivo e conhecimentos válidos e verdadeiros traçando o
caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista. Assim, de forma
minociosa iremos reflectir toda acção metodogica a seguirmos durante o estudo.

2.1Tipo de Pesquisa
O presente estudo é qualitativo, nele descrevemos de forma qualitativa o fenómeno de literatura
oral presente nos órgãos de comunicação social, RM e TVM, Delegações de Gaza. A nossa
pesquisa preocupa-se com o processo e não simplesmente, com os resultados, sendo que por
conseguinte, apreciamos o desenvolvimento do fenómeno social “ literatura oral”, no campo.

2.2Método de Abordagem
Neste trabalho vai-se privilegiar o método Indutivo, ou seja, partindo da realidade que se
vamos encontrar no terreno, faremos generalizações. Portanto, as constatações particulares sobre
a literatura oral presente na RM e TVM - Delegacoes de Gaza, levar-nos-ão à elaboração de
generalizações.

2.3Método de Procedimento
De acordo com LAKATOS & MARKONI (1991:28) os métodos de procedimento constituem
etapas mais que concretas de investigação, com finalidade mais restrita em termos de explicação
geral de fenómenos menos abstractos. Desta feita, para este estudo iremos previligiar o método
monográfico que consiste no estudo de determinados indivíduos, profissões, condições,
instituições, grupos ou comunidades, com a finalidade de obter generalizações (Marconi &
Lakatos, 2003:109). Assim, partimos de princípio de que o estudo caso de literatura oral usada
pela RM e TVM - Delegações de Gaza, pode representar muitos outros casos do género.
As nossas posições sempre serão fundamentadas pelas teorias tidas a partir da pesquisa
documental, uma fonte de colecta de dados restrita a documentos escritos ou não, construindo o
que se denomina de fontes primárias (Marconi & Lakatos, 2003:174).
19

2.3Técnica de e Instrumentos de recolha de dados


De acordo com GIL (1999:33), a definição do instrumento de coleta de dados dependerá dos
objetivos que se pretende alcançar com a pesquisa e do universo a ser investigado. Assim, como
técnicas de recolha de dados, escolhemos a observação e entrevista.

A observação será efectivada de forma directa e terá suporte de instrumentos como bloco de
notas e da memória. Ela visa essencialmente, recolher aspectos relativos à performance dos
fazedores da literatura oral, principalmente na RM – Gaza.

A entrevista aberta terá como instrumentos de recolha, o gravador. Ela perpectiva-se colher a
concepção de todos profissionais envolvidos na produção e realização dos programas ligados à
cultura e literatura oral bantu na RM e TVM - Delegações de Gaza.

2.4.Técnica de Análise dos dados


Na análise e interpretação dos dados do nosso estudo iremos usar o método de análise de
conteúdos, que constitui uma técnica de tratamento e análise de informações constante de um
documento, sob forma de discurso pronunciado em diferentes linguagens: escritas, orais,
imagéticas, gestuais, etc, (Severino, 2007:121).
20

CAPITULO III: Manifestação e Funções da Literatura Oral na RM e TVM – Delegações


de Gaza.
Neste capítulo apresentamos e analisamos de forma interpretativa os dados recolhidos junto a
Rádio Moçambique e Televisão de Moçambique - Delegações de Gaza, nosso campo de estudo.
Os dados em causa foram recolhidos por via de observação dos factos no local de estudo, e por
entrevista aberta aplicada a alguns gestores e jornalistas daqueles dois órgãos de comunicação
social.

Para a análise de dados servimo-nos do método de análise de conteúdos, conforme o preconizado


no projecto deste estudo.

3.1 Manifestação da Literatura Oral


O nosso estudo tem em vista compreender a operacionalização da literatura oral nos dois órgãos
de comunicação social com maior audiência ao nível da província de Gaza (RM e TVM). Assim,
de forma descritiva iremos analisar e interpretar os dados relativos à manifestação de literatura
oral, primeiro, na RM – Gaza e por último, na TVM – Gaza, tendo como focos os programas e
géneros literários.

3.1.1 Manifestação da Literatura Oral na RM – Gaza


Na RM – Gaza, para além do locutor – contador de histórias do programa “Mikaringani”,
entrevistamos a chefe de emissões, em representação do delegado daquela estação emissora.
Numa primeira estância iremos analisar as reacções relativas aos programas culturais cujo
conteúdo são os artigos de literatura oral, e por últimos interpretaremos os dados atinentes aos
géneros presentes nesses programas.

a) Quanto aos programas

À gestora, procuramos saber que programas culturais e conteúdos literários de natureza oral
existiam naquele órgão de comunicação social. Relativamente à questão, a nossa informante
afirmou que existiam vários programas culturais e os mais representativos seriam:

i) “Wundota ni wusungukati” (Transmitido às quintas-feiras, as 20h) – materializada


por debates sobre temas puramente socioculturais. São convidados especialistas para
debater temáticas ligadas a kucinga (purificação), a wunyanga (curandeirismo), a
circuncisão e de assuntos de interesse social;
21

ii) “Minkaringani” (Transmitido às quartas-feiras, as 21h e 10 minutos) – Normalmente


realizada por colaboradores da Rádio, e que narram histórias orais e educativas. Essas
histórias encontram-se inseridas no contexto de sociocultural bantu;
iii) “Muqambhi” – Um programa que retrata a vida e obra de artistas locais. Tem em
vista promover as actividades desenvolvidas por artistas locais
iv) “Ntumbuluku Wathu” (Transmitido de segunda à sexta-feira, às 16h e 10 minutos) –
Um programa que descreve assuntos da cultura chope. Nele são debatidos temas
relacionados com elementos tradicionais e culturais (ritos, hábitos e costumes bantu)
tidos como os que se perdem na amálgama da modernidade.
v) “Tradução de apelidos bantu” ( Transmitido todos os dias as 22h e 30 min)– um
programa no qual são interpretados alguns apelidos de origem bantu.
vi) Música tradicional ( Transmitido todos os dias das 12h às 12 e meia)– programa de
danças, música e instrumentos tradicionais.

É importante sublinharmos que de acordo com a nossa informante a maioria destes programas
são transmitidas em línguas locais (Xichangana e Xichope).

Entretanto, nesse leque de programas culturais, maior destaque vai para o programa
“Minkaringani” cujo conteúdo é basicamente composto por artigos de literatura oral. Aqui,
encontramos narrativas orais que podem ser classificadas em contos populares, fábulas, lendas,
até mesmo em parábolas.

Conforme esclareceu a nossa entrevistada, a categoria canção popular faz parte de matéria ou
conteúdo do programa “Música Tradicional”. Associada ou não às danças tradicionais como
muthimba, makwhayi e outras, a canção popular transfigura-se como uma das componentes que
dá vida a alguns programas anteriormente referenciados.

Ficamos também informados que algumas narrativas orais preenchem o programa infantil
conhecido por “programa da criança”. Por meio desses contos orais as crianças difundem lições
morais úteis à formação da personalidade e bem-estar social.

A operacionalização do conteúdo relativo à literatura oral compreende quatro fases ou


momentos, nomeadamente: a gravação, a análise, execução e arquivo. Gravado o conteúdo,
22

posteriormente passa por uma triagem rigorosa, cujo objectivo é fornecer ao ouvinte produto
com qualidade necessária.

Esclareceu-se também que o processo de preparação e selecção de conteúdos é levado a cabo


por técnicos locais, em parceria com especialistas abalizados na matéria, o que pressupõe
existência de especialistas em tradição oral nesta estação emissora.

a) Quanto aos Géneros

No concernente à questão “ géneros de literatura oral” predominantes na RM-Gaza, a chefe de


emissões deste órgão de comunicação social respondeu nos seguintes termos:

“ para além de contos populares, nós temos as advinhas que passam no programa
da Criança. Agora, provérbios, não tendo um espaço específico, um locutor a
qualquer momento convoca-os. Temos também canções populares que passam no
programa ligado a música tradicional”.

A partir destes pronunciamentos compreende-se que na RM – Gaza a literatura oral presente


apresenta-se sob formas de narrativas, anedotas, advérbios, advinhas, canções populares, etc, que
de seguida passamos a descrever o contexto da ocorrência de cada um:

As histórias de literatura oral que passam no programa “Minkaringani” preferimos chamá-las de


“narrativas orais”, pois bem analisadas elas podem preencher as categorias de contos orais,
fábulas, mitos ate mesmo lendas, como já tínhamos feito menção.

Conforme consta do extracto de entrevista presente em apêndeces, solicitado para identificar os


géneros literários presentes no seu programa, o locutor – contador de histórias do programa
“Minkarigani” experienciou dificuldades. Portanto, essas dificuldades considerámo-las óbvias,
pois a descriminação das narrativas de literatura oral, principalmente em algumas línguas bantu,
impõe dificuldades acrescidas. Por exemplo, para os changanes, todas narrativas orais são
designadas por “svihitane” ou até mesmo por “minkaringani”. Em algum momento fica a
impressão de não existência de subgéneros do modo narrativo na visão do mundo deste grupo
étnico, entretanto alguns encontram diferença entre “nkaringani”, “xitori”, etc.
23

Entretanto, analisando o argumento da nossa entrevistada sobre a categoria “provérbio”, ficamos


com a impressão de que este género literário tem uma ocorrência espontânea, polivalente e
transversal ao nível da RM - Gaza. O provérbio é capitalizado como recurso de sustentação ou
fundamentação de alguns posicionamentos individuais ou colectivas durante a locução. Tomando
um provérbio, o locutor pode transmitir, directa ou indirectamente, um determinado
ensinamento, um aconselho, uma lição advertência, até mesmo uma regra de conduta ou de
convivência social aos seus ouvintes. É normal e comum sempre que quiser argumentar, mesmo
em plena emissão, um locutor proferir expressões tais como, “kuni xihlayahlaya xingo …”,
“kuni xivurisu xingo …” ou ainda “vakhâle vate …” e completar por um advérbio.

No que tange ao género canção popular, os dois nossos entrevistados confirmam que ela existe
nas emissões da RM - Gaza. Ela, tal como os advérbios, são polivalentes podendo ser localizada
em grande medida nos programas “Música Tradicional” e “Ntumbuluku wathu”

Ficamos a saber que na sociedade “changane” as canções populares são interpretadas por alguns
grupos culturais e acompanham eventos de celebrações de nascimento, de casamento, nas festas
de colheita e outras práticas sociais. Neste caso concreto, aponta-se para o grupo polivalente
“Marhangele Zacarias Mawayi”, como o mais sonante e representativo quando se fala canção
popular presente em espaços da Emissora provincial de Gaza.

Segundo a nossa informante, a maior parte de canções populares presentes na RM - Gaza tem a
ver com danças como muthimba, makwayela, xingomana, xigubo, etc, portanto, acompanha as
danças tradicionais bantu.

Portanto, observadas e analisadas algumas canções populares recolhidas e que passam


frequentemente pelas emissões da Rádio Moçambique reconhecemos alguns aspectos
morfológicos técnicos –compositivos que passamos a descrevé-los:

Em termos conteudístico, estas canções retratam o quotidiano da sociedade africana, abordando


temas como a fome, a miséria, a necessidade de combater às doenças tradicionalmente
reconhecidas (HIV-Sida e malária), etc. Por outro lado, em algumas canções do grupo
polivalente Marhangele Mawayi encaramos temas de exaltação à acção heróica do povo
moçambicano na luta de resistência contra a ocupação portuguesa.
24

O rítmo de algumas destas canções contempla alguns elementos linguísticos tais como, os
ideofones e as onomatopeias.

No que tange à melodia, esta é reforçada por aspectos tradicionais como “mikulungwana” e
“svivuvutwana”. As palmas e o improviso são outros elementos capitalizados pelos artistas neste
tipo de canções, e sempre são acompanhadas por instrumentos tradicionais como, batuque,
flauta, chocalho e que conferem mais cor e harmonia melódica a estas canções.

3.1.2 Manifestação da Literatura Oral na TVM – Gaza


Na TVM – Gaza o nosso estudo envolveu, por via de entrevista, o delegado desta instituição
pública, a quem colocamos questões ligadas aos programas com conteúdos culturais e de
literatura oral, aos géneros de literatura oral existentes neste órgão de comunicação social e aos
projectos ligados à literatura oral.

a) Quanto aos Programas

No concernente à questão ligada aos programas ligados a literatura oral, a nossa fonte respondeu
nos seguintes moldes:

Sim, existem! A Televisão está resgatando esses valores culturais. Na verdade se consegue ver,
no final de cada telejornal temos uma página cultural. Isso significa resgatar esses valores
culturais que estão sendo esquecidos. Ee, ao nível local, tínhamos começado um projecto dessa
natureza só que acabou parando por causa do equipamento, a gente dizia “as histórias de
Gaza”, porque são inúmeras.

Portanto, ao nível da TVM – Delegação de Gaza nota-se ainda não possui programas culturais
dignos de menção, não obstante existir projectos virados a essa matéria. Aqui, podemos
depreender que houve uma iniciativa de introdução de programas ligados à cultura e à literatura
oral, com destaque para o programa “Histórias de Gaza”, no entanto, fracassou. Mediante esse
facto, a TVM - Gaza tenta erguer-se desenhando projectos aliados à revitalização das tradições
orais.

Segundo a nossa fonte, com a introdução das línguas bantu neste canal televisivo está no plano
desta instituição incluir-se de um programas de histórias populares. Para esse propósito, a
TVM – Gaza tem vindo a buscar parcerias com instituições vocacionadas nessa matéria.
25

Adiantou-se que já existe uma parceria entre a TVM – Gaza e a Universidade Pedagógica –
Delegação de Gaza.

Portanto, aliado ao dado acima descrito temos a considerar:

A projecção de programa de contos orais visa proporcionar ocasiões de entretimento e


aprendizagem aos telespectadores, e em se tratar de televisão, a performance dos seus fazedores
poderá reflectir a pratica tradicional e original dessas narrativas. A preocupação maior é resgatar
aqueles momentos característicos e típicos dos contos à volta da fongueira, os ditos “xitiko ni
mbawula”, que a cada dia tem ficado para a história. Espera-se que neste programa confira-se
alguns dos elementos que caracterizam os contos orais como tais, pois a realização televisiva tem
possui a vantagem de reportar a expressão prática e real por meio da imagem.

As línguas locais (Xichangana e Xichope) preconizadas para a realização desse programa são
também em elemento que vai contribuir na preservação do carácter tradicional e natureza do
material, visto que a língua é um factor dinamizador da cultura de uma sociedade.

b) Géneros

Pelas buscas e observação de alguns programas existentes nesta instituição de comunicação


social constatou-se que a canção popular, cuja natureza é similar àquela que passa na RM –
Gaza, é a categoria mais predominante. Em programas como “Saber Viver” encontramos este
género a intercalar alguns debates que constituem o conteúdo principal deste espaço televisivo.

3.2 Funções de Literatura

3.2.1 Funções da literatura oral da RM - Gaza


Relativamente à questão sobre que funções a literatura oral da RM – Gaza, os nossos
entrevistados foram unânimes em afirmar que as histórias, provérbios e canções populares aí
veiculados, para além de entreter o radiouvinte, pelos seus ricos conteúdos morais, também o
educam, tal como podemos ver nas palavras da gestora desta estação emissora:

“As histórias do programa “Minkaringani” educam de forma recreativa. A pessoa


aprende enquanto está ali a rir, porque da maneira como se conta “nkaringani” não
algo sério, é divertido”.
26

Portanto, alguns programas como “Minkaringani” podem ser tidos como espaços de recreação e
aprendizagem, por veicularem narrativas orais potencialmente fortes em conteúdo, tal como
afirmara VIEGAS (2015:8), as narrativas orais normalmente narradas à volta de uma fogueira,
durante os momentos de lazer, tinham como função não só entreter, como também transmitir
essa cultura e esses valores aos mais novos.

No final de cada história o contador deixa uma lição moral subjacente na mesma, numa clara
alusão ao papel didáctico – pedagógico que elas detêm. Por essas ricas lições morais acredita-se
que estas histórias contribuem para uma convivência pacífica e harmoniosa das famílias que
vivem e convivem com elas.

Neste contexto, fica explicito que a literatura presente na RM – Gaza cumpre as funções lúdica
(recreação), comunicativa (informa algo sobre a vida) e didáctica- pedagógica (ensina e educa
sobre as regras de conduta aceites pela sociedade bantu).

3.2.2 Funções de Literatura oral na TVM – Gaza


Questionado sobre a função do conteúdo cultural ou literatura oral projectada pela TVM – Gaza,
o nosso entrevistado respondeu que para além de transmitir valores e educar aos telespectadores,
esta conserva funções política e histórica, pois com esse trabalho esta instituição pública tem em
vista imortalizar cultura e tradição bantu.

Assim, podemos afirmar a literatura oral prevista para a TVM – Gaza funciona como
reservatório de valores bantu, legitimando-se assim o posicionamento de ROSÁRIO (1989) as
narrativas de expressão oral são um reservatório dos valores culturais de uma comunidade com
raízes e personalidade regionais, muitas vezes perdidas na amálgama da modernidade.
27

3.3 Processo de Recolha e Arquivo

3.3.1 Recolha e Arquivo de Literatura Oral na RM – Gaza


Tal como advoga Parafita citado por MONTEIRO (2014:16), as tradições orais, contos orais,
lendas, mitos, são saberes da comunidade que o povo guarda-as na memória. Neste contexto, no
processo de difusão da conteúdos literários através da Rádio é fundamental descrever todos
procedimentos de recolha e de arquivar desse material.

a) Recolha

Aos nossos entrevistados quisemos saber como é que a Rádio recolhia este material literário de
natureza oral que cobre alguns programas desta Estação radiofónica. Passamos a apresentar as
respostas fornecidas:

 Parte do material da literatura oral é obtida via colaboradores da Rádio que são
convidados ao estúdio para gravarem, sendo que a outra, consegue-se sempre
que os jornalistas se deslocam aos distritos, onde são interpeladas pessoas
conhecedoras deste conteúdo literário;
 Histórias (narrativas orais) do programa “Minkaringani” são uma herança do
falecido vovô Marhangele Mauai.

Um dos nossos informantes afirmou que uma outra via ou possibilidade de obtenção deste
material de literatura oral, principalmente as narrativas do programa “,Minkaringani” tem sido
por via da composição. Essa composição é feita pelos fazedores do programa partindo das
constatações e/ou ocorrência do dia-a-dia. Uma determinada história deste programa poder ter
sido composto a partir de um acto vivenciado pelo seu compositor na chapa, no mercado ou
mesmo na comunidade.

Ora, analisando o último dado, obtenção de artigos literário por via da composição, que até certo
ponto revela uma criatividade por parte dos executores deste programa, nota-se que nem todas
narrativas do programa “Minkaringani” são de literatura oral, sabido que, pela sua natureza, os
géneros deste tipo de literatura tem uma autoria anónima.

Se reflectirmos sobre o mecanismo de recolha ou colecta destas histórias na RM – Gaza ficamos


com a impressão de que este processo é, por vezes, ocasional e/ou acidental, isto porque nos
28

consta que ao nível desta instituição não exista um plano sistematizado ou cronograma de
actividades destinado à recolha de conteúdos de literatura oral. Em algum momento, este facto
pode implicar insuficiência de conteúdo para a sustentação dos objectivos de programa, uma
realidade que pode propiciar improviso e repetição dos artigos.

b) Arquivo

A Rádio Moçambique é uma das instituições públicas reconhecidamente forte na componente


conservação e arquivo de materiais áudio e sonoro produzido no país. Por exemplo, extractos de
discursos políticos mais importantes proferidos antes ou pouco depois independência, podem ser
encontrados nos arquivos desta Estação Emissora.

Assim, conforme revelou a chefe de emissões da RM – Gaza, nesta instituição pública os artigos
de literatura oral, assim como acontecem com outra informação não cultural, são conservados no
sistema da própria Rádio, em discos, em flashes e em algumas memórias externas. Ficamos
informados que com a evolução tecnológica já se abandonou o sistema de fitas magnéticos dado
facto de já não existir aparelhos a altura de ler esses dispositivos.

Analisando esta forma de arquivo de conteúdos da literatura oral por parte da Rádio, pode-se
afirmar que os diapositivos em uso nesta estação emissora podem não oferecer maior segurança e
consistência, factor que pode resultar na perca deste material literário em algum momento.

3.3.2 Recolha e Arquivo de Literatura Oral na TVM - Gaza


Relativamente à questão de recolha de conteúdos de literatura oral, como canções populares que
já se fez referência anteriormente, o delegado da TVM – Gaza reagiu da seguinte forma:

“Bom, esses contos pode serem feitos através de uma selecção das lideranças
comunitárias porque de facto não é fácil encontrar gente que conta histórias. O que
nós temos estado a fazer em cada distrito, posto ou localidade onde a gente vai,
procuramos encontrar a pessoa mais antiga. Então, é uma selecção que a gente faz e
que com as lideranças comunitárias, através do ARPAC, temos este casamento.”.

A estratégia desenhada pela TVM – Gaza para a recolha de materiais de literatura oral
subscreve-se em contactar as lideranças comunitárias nas comunidades a fim de se localizar os
29

especialistas cultura bantu (griots), traduzindo uma impressão de que maior preocupação é a
originalidade deste corpus da tradição oral a veicular.

Entretanto, neste processo de recolha o alto da TVM – Gaza tem envolvido pessoas mais velhas
dado facto de na sociedade bantu, no geral, e moçambicana, em particular, o papel de contar
histórias é relegado a esta camada social, não obstante o facto de podemos encontrar, em algum
momento, jovens engajados nesta missão. Os contadores de histórias na comunidade (os velhos)
são gente considerada como dinamizadora das actividades ou de eventos culturais contribuindo
significativamente na valorização e imortalização do dito património intangível.

3.4 Relação entre a literatura oral da RM – Gaza e a veiculada pela TVM – Gaza

3.4.1 Aspectos Comuns


Confrontando a literatura oral presente nos dois órgãos de comunicação podemos considerar que
a canção popular e conto oral são géneros mais predominantes e sempre presentes e que
constituem componentes de conteúdo cultural de alguns programas.

Por outro lado, verifica-se uma similaridade no que tange aos processos de recolha de artigos de
literatura oral. Apesar da RM – Gaza possuir colaboradores que se dirigem aos estúdios para
gravarem as suas histórias, a colecta desses materiais junto às comunidades em exercício normal
das suas actividades, constitui via principal de recolha nas duas instituições de comunicação
social.

Ao nível de função desta literatura, nota-se que para além de concorrer para a imortalização da
cultura bantu, ela tem em vista recrear e educar tanto aos radiouvintes quanto aos
telespectadores.

3.4.2 Aspectos diferentes


Apesar de se termos confirmado que tanto a RM quanto a TVM, Delegações de Gaza tem levado
a cabo trabalho de valorização e promoção da cultura bantu por via da literatura oral, pode-se
levantar alguns elementos não comuns nos dois órgãos:

 O trabalho de transmissão da literatura oral afigura-se mais consolidado e desenvolvido


na RM – Gaza que na TVM, até que nesta última instituição alguns programas ainda
30

estão em fase embrionária, uma vez que o próprio órgão ainda está em processo de
instalação;
 Passam mais géneros literários na RM – Gaza que nas emissões da TVM – Gaza, pois o
mecanismo de aquisição desses material por parte da Rádio é simples e menos honoroso
comparativamente ao da Televisão;
 Nos dois órgãos de comunicação social não existem ainda um cronograma de actividade
destinado para o processo de recolha de artigos de literatura oral.
31

Capítulo IV: Conclusões e Sugestões

4.1Conclusões
A preocupação em compreender as formas de apresentação da literatura oral na RM e TVM -
Delegações de Gaza, foi o principal propósito deste estudo. Era oportuno que se percebesse
como é que a literatura oral existente nestes dois órgãos de comunicação social, denunciada por
BILA (2011), manifestava-se.

Chegado aqui, podemos confirmar as nossas hipóteses iniciais dado que a literatura oral,
sobretudo na RM – Gaza, encontra-se presente sob forma de narrativas orais (contos orais,
lendas, fábulas), advinhas, anedotas e canções populares. São géneros literários que para além de
recrear os ouvintes, cumprem também uma função também didáctica – pedagógica, contribuindo
para uma convivência pacífica e harmoniosa das comunidades.

Maior destaque vai para as categorias, conto oral e a canção popular, géneros com maior
predomínio na Rádio. As narrativas orais podem ser localizadas em programas como
“Minkarinani” e no “programa da criança”, enquanto a canção popular preenche o espaço do
programa “Música Tradicional”.

Contudo, as outras formas literárias (provérbio, anedotas, advinhas, etc) têm uma ocorrência que
podem ser considerada como espontânea e transversal. Em algum momento alguns desses
géneros passam de forma momentânea, assumindo, assim, um carácter polivalente.

Na RM – Gaza a composição de algumas narrativas do programa “Minkaringani”, efectuada por


alguns fazedores do programa, traduz uma ideia de que nem todas histórias que por lá passam
são necessariamente de literatura oral, sabido que, pela sua natureza, os géneros deste tipo de
literatura tem uma autoria anónima.

Na TVM – Gaza, por ainda encontrar em fase de instalação e implementação, nesta intuição
apenas há registo de existência de alguns projectos e parcerias relativos a criação de espaços para
histórias bantu. As primeiras iniciativas de contemplação de programas com conteúdos de
literatura oral fracassaram.
32

O processo de recolha de conteúdos de literatura oral na RM circunscreve-se na comparticipação


e contribuição de alguns colaboradores da Rádio que fornecem materiais, principalmente as
narrativas do programa “Minkangani”. Uma vez gravados, esses artigos são posteriormente
submetidos a um exame de qualidade antes de ser difundidos, e por fim são arquivados no
sistema da rádio, nos discos, em flash e nas memorias externas.

Em termos comparativos, encontrou-se a actividade de aproveitamento e revalorização da cultura


bantu e a literatura oral é consolidada na RM que na TVM. Se ao nível da RM – Gaza a literatura
oral está mais acomodada em programas ou em espaços específicos, alguns com mais de quinze
anos da sua existência, o mesmo já não se pode afirmar em relação a TVM - Gaza. Aqui, os
poucos géneros de literatura oral ainda não têm espaço específico.

Na RM – Gaza evidencia-se mais a componente prática da literatura oral sem, no entanto, ser
complementada pelas teorias correspondentes, razão pela qual alguns conteúdos presentes em
alguns programas não são facilmente interpretadas pelos seus fazedores.

Em suma, podemos afirmar que é uma literatura oral que directa ou indiretamente contribui no
resgate dos valores culturais bantu em um estado de latência desde a época colonial, chegando
mesmo a influenciar a vida dos radiouvintes, principalmente nas zonas rurais onde os serviços da
RM – Gaza têm maior incidência.
33

4.2 Sugestões
Face as contratações elencadas no decurso do nosso estudo, à RM e TVM – Delegações de Gaza
recomenda-se:

 Na sua parceria com a Universidade Pedagógica, Delegação de Gaza, estas instituições de


comunicação social deviam contemplar a componente capacitação dos seus profissionais
ligados aos programas culturais, de forma a aliar-se a teoria à prática já possuída.
 Considerando o avanço técnico-científico que as duas instituições registam ao nível de
uso das línguas autóctones, as narrativas recolhidas podiam ser transcritas ao papel em
línguas bantu, uma outra forma de arquivá-las.
 No âmbito de recolha de artigos de literatura oral, para além de contactar as lideranças
comunitárias, podia-se envolver também algumas instituições culturalmente consagradas
existentes na cidade de Xai- Xai, casos da Casa de cultura, ARPAC, até mesmo algumas
escolas;
 Para a salvaguarda da cultura bantu e maior troca de experiencia, entre a RM – Gaza e a
TVM – Gaza devia existir uma parceria ligada ao aproveitamento e promoção da cultura,
no geral, e da literatura oral, em particular;
 Como de forma de expandir as experiências possuídas em matéria de aproveitamento e
promoção da cultura e literatura bantu aos a outras foras vivas, contribuindo para a
imortalização da cultura, pelo menos a RM - Gaza devia desenhar um projecto de
alocação das suas historias em algumas instituições de ensino para que sejam aprendidas
pelos alunos e/ou estudantes;
 Maior exercício de pesquisa ligada à cultura e literatura bantu devia acontecer ao nível
destas instituição (RM e TVM), como forma de trazer elementos que possam conferir
maior dinâmica ao trabalho de valorização e promoção da cultura bantu, um legado que
se perde na amálgama da modernidade.

Por parte da UP – Gaza, era importante que se buscasse estratégias apropriadas para o
aproveitamento dos artigos de literatura oral existentes na RM – Gaza, pois, achamos que elas
podem contribuir na concretização de aulas em algumas cadeiras.
34

Dentro da parceria em vigor entre RM – Gaza e a UP – Gaza, qualquer das instituições pode
promover intercâmbios culturais, materializados por debates, conferencia, seminários etc, cujos
conteúdos seriam assuntos ligados à literatura oral.

Como forma de aliar a teoria, possuída na academia, à prática, evidente nos serviços prestados
pela RM e TVM – Delegações de Gaza, a partir de conteúdos de alguns programas culturais
referenciados neste estudo, os estudantes podem ser incentivados a produzir Ensaios literários de
base crítica, principalmente na cadeira de Literatura Bantu.
35

5.0Referências Bibliográficas
AGUIAR & SILVA, Teoria de Literatura, 8ª ed., Coimbra, Edições Almeida, 2011.

BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos etno-antropologicos, 1ª ed, Franco Angeli


editoras, 2007.

BILA, P.A. A Literatura Oral no Ensino Básico Moçambicano: Uma Revitalização da cultura
Autóctone, Maputo, 2011.

CASCUDO, Luis da Câmara, Literatura no Brasil, São Paulo, 1984.

COSSA, António, Literatura Infantil no Ensino Basico: Uma Estrategia de Iniciacao à leitura
no I Ciclo, Maputo, 2015.

DIDIO, Lucie. Como Produzir Monografias, Dissertações, Teses, Livros e outros Trabalhos,
São Paulo, Editora Atlas 2014.

GIL, Antonio. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999

LAKATOS, E.M & MARCONI, M.A. Fundamentos de Metodologia Cientifica, 3ª ed., São
Paulo, 1991.

MARCONI & LAKATOS. Fundamentos da Metodologia Científica. 5a edição, São Paulo,


Editora atlas, 2003.

MARCONI & LAKATOS. Fundamentos da Metodologia Científica. 7a edição, São Paulo,


Editora atlas, 2010.

MARCONI & LAKATOS. Metodologia científica. 5a ed, Editora atlas, 2009.

MARTINEZ, Francisco Lerma, Antropologia Cultural, 6ª ed., Maputo , Paulina Editorial 2009.

MATUSSE, Gilberto. A Construção da Imagem de Moçambique em José Craveirinha e Mia


Couto. Maputo, 1998.

MONTEIRO, Domingos, Tradições Nacionais e Identidades: Recolha e Estudo de Canções


Festivas e de Óbito Kongo e Ovimbundu, Porto, 2014.
NGUNGA, Armindo, Introdução à Linguística Bantu, Imprensa Universitária ed., Maputo, 2014
36

NUNES, Suzana D. A milenar Arte de Oratura Angolana e Moçambicana, 1ª ed, Porto, CEAP,
2009.

PITÉ, Jorge. Dicionário breve de sociologia, Lisboa, Editorial presença, 2004

ROSÁRIO, Lourenço. A Narrativa Africana de Expressão Oral, Lisboa, 1989.

SEBASTIÃO et al. Português Textos e Sugestões de Actividades 11ª classe, 2ª ed revista,


Maputo, Diname, 1999.

SEVERINO, António, Metodologia de Trabalho Científico , São Paulo, Cortez editora 2007.

VICENTE, José Armando, A Experiência Salvífica na Religião Tradicional dos Povos bantu e
Teologia do Concilio Vaticano II, Belo Horizonte, 2012.

VIEGAS, Ana.M.L. Contributos da Leitura Recreativa e da Escrita Criativa para o Processo de


Ensino-Aprendizagem de Português Língua Estrangeira, Universidade de Minho, 2015.

VILELA, Mário, Metáforas do nosso Tempo, Lisboa, Livraria Almeida, 2002.


37

Índice
0.0Introdução...................................................................................................................................3

0.1 Delimitação do Tema.............................................................................................................4

0.2Objectivos...............................................................................................................................4

0.2.1Geral.................................................................................................................................5

0.2.2Específicos........................................................................................................................5

0.3Problema.................................................................................................................................5

0.4Hipótese..................................................................................................................................5

0.5Justificativa.............................................................................................................................5

0.6 Descrição da área de estudo...................................................................................................6

0.6.1Descrição geográfica da Rádio Moçambique - Gaza.......................................................6

0.6.2Descrição geográfica da Televisão de Moçambique -Gaza.............................................7

CAPÍTULO I: Revisão BiBliografica.............................................................................................8

1.1 Enquadramento Teórico.........................................................................................................8

1.2 Definição de Conceito..........................................................................................................11

1.2.1 Literatura Oral...............................................................................................................11

1.2.1.1Géneros de Literatura Oral..........................................................................................14

1.2.3Cultura............................................................................................................................15

1.2.3.1Cultura Bantu..............................................................................................................17

CAPITULO II: METODOLOGIA................................................................................................18

2.1Tipo de Pesquisa...................................................................................................................18

2.2Método de Abordagem..........................................................................................................18

2.3Método de Procedimento......................................................................................................18

2.3Técnica de e Instrumentos de recolha de dados....................................................................19

2.4.Técnica de Análise dos dados..............................................................................................19


38

CAPITULO III: Manifestação e Funções da Literatura Oral na RM e TVM – Delegações de


Gaza...............................................................................................................................................20

3.1 Manifestação da Literatura Oral..........................................................................................20

3.1.1 Manifestação da Literatura Oral na RM – Gaza............................................................20

3.1.2 Manifestação da Literatura Oral na TVM – Gaza.........................................................24

3.2 Funções de Literatura...........................................................................................................25

3.2.1 Funções da literatura oral da RM - Gaza.......................................................................25

3.2.2 Funções de Literatura oral na TVM – Gaza..................................................................26

3.3 Processo de Recolha e Arquivo...........................................................................................27

3.3.1 Recolha e Arquivo de Literatura Oral na RM – Gaza...................................................27

3.3.2 Recolha e Arquivo de Literatura Oral na TVM - Gaza.................................................28

3.4 Relação entre a literatura oral da RM – Gaza e a veiculada pela TVM – Gaza...................29

3.4.1 Aspectos Comuns..........................................................................................................29

3.4.2 Aspectos diferentes........................................................................................................29

Capítulo IV: Conclusões e Sugestões............................................................................................31

4.1Conclusões............................................................................................................................31

4.2 Sugestões..............................................................................................................................33

5.0Referências Bibliográficas....................................................................................................35
39

Declaração

Declaro que esta trabalho científica é resultado da minha pesquisa sob orientação do meu
supervisor. O seu conteúdo é original e todas as fontes e consultadas estão devidamente
consultadas e constam das Referências Bibliográficas.

Declaro ainda que este trabalho ainda não foi apresentado em nenhuma outra instituição.

Xai – Xai, Dezembro de 2017

_________________________________________________________

(Samuel Salito Mutisse Júnior)


40

Lista de Abreviaturas e Siglas

ARPAC – Arquivo de Património Cultural

EB - Ensino Básico

EN1 – Estrada Nacional

L1 – Língua Primeira

L2 - Língua Segunda

LO – Literatura Oral

ONU – Organização das Nações Unidas

RM – Rádio Moçambique

TVM – Televisão de Moçambique

UNESCO – United Nation Educational Scientific and Cultural Organization


41

Agradecimentos

Em primeiro lugar, agradeço a Deus, entidade que inteligentemente cuidou-me durante todo o
percurso da minha formação.

Em segundo plano, agradeço ao meu supervisor, Pedro António Bila, pela competente e
minuciosa orientação desta monografia. Pela sua paciência e tolerância, pelos seus apelos, pelas
sugestões e críticas que me ajudavam a crescer cada vez mais, os meus sinceros agradecimentos.

Agradeço também a todos meus docentes pelo carinho e competência com que me transmitiam a
matéria durante a formação. Os meus agradecimentos são extensivos a todos meus colegas e
amigos do curso que, directa ou indirectamente, contribuíram na minha formação e no meu
desenvolvimento intelectual.

À toda minha família, sem a qual a minha formação não teria sido possível, o meu muito
obrigado.

Finalmente, meu maior apresso e gratidão vai para Narciso Júlio Mutemba e Julieta Boene,
amigos e companheiros, pelo apoio e encorajamento durante toda a minha vida estudantil.
42

Dedicatória

Este trabalho dedico à minha família, especialmente à minha esposa, Vitória David Chaúque, aos
meus filhos Elina Samuel, Aires Mutisse e Dorcídio Mutisse, pela compreensão, paciência e
tolerância demonstrada principalmente nos mementos difíceis desta formação.
43

Resumo

Esta Monografia aborda assuntos sobre a literatura oral na RM e TVM, Delegações de Gaza,
uma forma de Aproveitamento e Revitalização da Cultura Bantu. Ela aparece como mais um
subsídio no campo dos estudos científicos sobre a cultura bantu, no geral, e literatura oral em
particular, um assunto pouco aprofundado nas academias. Tem como objectivo compreender as
formas de apresentação da literatura oral na RM e TVM, Delegações de Gaza e a função que essa
literatura cumpre nos radiouvintes e telespectadores, respectivamente.

Ao longo do trabalho são evidenciados alguns programas potencialmente culturais e os géneros


de literatura oral contidos neles, bem como as funções que essa literatura possui. Finalmente,
confronta-se a literatura dos dois órgãos de comunicação de forma a transparecer aspectos
comuns e diferentes.

Palavras-chave: Literatura oral e cultura bantu

Samuel Salito Mutisse Júnior

Literatura Oral na RM e TVM – Delegações de Gaza: Uma Forma de


Revalorização da Cultura Bantu
44

Licenciatura em Ensino de Português com Habilidade a Xichangana

Universidade Pedagógica de Moçambique

Xai-Xai

2017

Samuel Salito Mutisse Júnior

Literatura Oral na RM e TVM – Delegações de Gaza: Uma Forma de


Revalorização da Cultura Bantu
45

Monografia Cientifica apresentada ao


curso de Português como requisito
parcial para a obtenção de grau
académico de Licenciatura de Português

Supervisor:
MSc. Pedro Bila

Universidade Pedagógica de Moçambique

Xai-Xai

2017

APÊNDICES
46

Tradução de Entrevista concedida por Delegado da TVM - Gaza

Entrevistador: A presente entrevista insere-se no contexto de elaboração de uma Monografia para


a obtenção do grau de Licenciatura na Universidade Pedagógica. Tem como objectivo
compreender as formas de apresentação da literatura oral na TVM e a função que ela cumpre na
vida dos radiouvintes/ telespectadores. Em primeiro lugar gostaríamos de ter o nome completo
do senhor Delegado.

Del: Meu nome é Daniel Cuamba Dikosikosi

Entrevistador: Ano de experiencial profissional?

Del: Anos de experiencial profissional são 34 anos.

Entrevistador: Obrigado! Achamos que basta. Como primeira questão de fundo gostaríamos de
ter um breve historial da TVM- Gaza.
47

Del: Bom, a Delegação de Gaza, como qualquer Delegação, nasce para responder os asseios de
cada província, dos distritos. Porque sabe-se que a televisão é extremamente cara, estando
concentrada, por exemplos, só em Maputo e tirando jornalistas e operadores para fazerem
viagens para reportares ao nível do país, é extremamente honorosos. Nasceu primeiro nas
capitais provinciais, nasceu primeiro em Sofala, depois Nampula e foi crescendo
sucessivamente. A província de Gaza foi uma das últimas a ser implementadas em 2011. A
província de Gaza tem muita matéria e isso originou o surgimento da Delegação.

Entrevistador: Mais ou menos quando?

Del: Se a memória não me falha em 2011. Quando a Delegação nasce apenas tinha apenas 3
elementos, jornalista, operador de câmara e uma ou duas pessoas que faziam parte da
Delegação. Nasce dessa forma porque era o tratamento da notícia e enviada para Maputo.

Entrevistador: Olhando para TVM – Nacional, existem alguns programas culturais que a
televisão leva ao ar?

Del: Sim, existem! A Televisão está resgatando esses valores culturais. Na verdade se consegue
ver no final de cada telejornal temos uma página cultural. Isso significa resgatar esses valores
culturais que estão sendo esquecidos.

Entrevistador: Para além do programa que o senhor Delegado fez menção, há outros artigos
culturais que passam ao nível da televisão?

Del: Sim! Nós temos outros programas culturais. Na verdade há programas específicos, só que
costumamos dizer tudo que tem princípio tem o seu término. Para uma reorganização do
próprio projecto porque também tem a ver com os financiamentos, fazer programas desta
natureza envolve deslocações, envolve investimentos, p. i, se nos queremos, de facto, uma obra
de arte de Chicualacuala nos temos que ter financiamento para irmos fazer trabalho em
Chicualacuala, se nos queremos um artigo em Massangena, temos que estar preparado para ir
fazer trabalho em Massangena, p. i, que se torna muito caro, sobretudo em Televisão, nunca sai
um única pessoa, é diferente da Rádio, uma pessoa com gravador consegue fazer uma
reportagem. Por isso tivemos que reestruturarmos os nossos programas que temos. Por
48

exemplo, nos tínhamos o programa “Masseve” que retratava um pouco da história cultural
nossa, agora, nasceu o programa “Musica tradicional”.

Entrevistador: Gostaríamos de saber com que finalidade a TVM leva ao ar esses programas
culturais.

Del: Objectivo é imortalizar a nossa história.

Entrevistador: Sabe-se que em alguns órgãos de comunicação social há uma manifestação


literária de natureza oral, falamos de contos orais, canções populares, advinhas, provérbios,
mitos, lendas, etc. Quais destas formas que acabamos de referenciar podemos encontrar
frequentemente, nas vossas emissões?

Del: Bom, eu não posso dizer que frequentemente vamos encontrar, porque isto depende de cada
programa de do seu conteúdo, mas eu acredito que com introdução das línguas nós podemos
desenhar aquilo que a gente chama guião do próprio programa. O que é mais fácil introduzir
em Televisão neste momento, são os contos, as pessoas gostam de ouvir histórias, vivem de
histórias, as lendas …

Entrevistador: Com que língua pensa-se transmitir esses programas?

Del: Na província de Gaza são duas línguas temos changana e chope.

Entrevistador: Sabe-se que essas formas literárias encontram-se nas comunidades, vivem na
memória do povo, no projecto da televisão como é que se pensa recolher esses contos?

Del: Bom, esses contos pode serem feitos através de uma selecção das lideranças comunitárias
porque de facto não é fácil encontrar gente que conta histórias. O que nós temos estado a fazer
em cada distrito, posto ou localidade onde a gente vai, procuramos encontrar a pessoa mais
antiga. Ee, tínhamos começado um projecto dessa natureza só que acabou parando por causa
do equipamento, a gente dizia “as histórias de Gaza”, porque são inúmeras. Eu aqui quando
cheguei na Delegação pois os colegas o livro de JUNOD, sobre “usos e costumes dos bantu”,
isso para dar algum alicerce ao pessoal que queiram fazer programas em língua bantu. Então, é
uma selecção que a gente faz e que com as lideranças comunitárias, através do ARPAC, temos
este casamento.
49

Entrevistador: já percebemos que há um projecto tendente a revitalização e revitalização do


património cultural. Para além desse projecto haverá um outro.

Del: Para ser franco nós não gostamos de correr. Nós temos que iniciar com o projecto e
terminar. Enquanto não lançarmos com unhas e garras este projecto, não podemos correr para
outro.

Entrevistador: Talvez para terminar. Que avaliação o sr. Delegado faz da relação com outras
instituições de comunicação social e do trabalho feito por outras intuições no exercício de
revitalização da cultura.

Del: Bom, fazendo uma avaliação nesse âmbito, não seria mesmo justo. As nossas instituições
tem projectos na manga mas talvez não aplicam. Não há um cronograma de actividades a ser
cumprido ao longo do ano.

Entrevistador: Bom, é isto que tínhamos, muito obrigado sr. Delegado.

Del: Obrigado eu!

Tradução da Entrevista à Chefe de Emissões da RM – Gaza

Entrevistador: A presente entrevista insere-se no contexto de elaboração de uma Monografia para


a obtenção do grau de Licenciatura na Universidade Pedagógica. Tem como objectivo
compreender as formas de apresentação a tradições orais, no geral, e da literatura oral na RM –
Gaza em Particular. Em primeiro lugar gostaríamos de ter o nome completo.

CE: Meu nome é Marta Januário Sambo

Entrevistador: Idade?

CE: 47 anos.

Entrevistador: O nível de instrução?

CE: Licenciatura em ensino de Português.

Entrevistador: Anos de experiencia profissional


50

CE: Huu! São 20 anos.

Entrevistador: Obrigado! Indo as questões do estudo. A primeira tem gostaríamos de ter um


breve historial da RM-Gaza, nosso campo de estudo.

CE: Boa, a Rádio Moçambique Emissor provincial de Gaza foi criada em 2002, depois de ter
trabalhado em conexão com Emissor Provincial de Maputo. Neste ano cria-se a cisão com
EPM, quando se chamava Emissor interprovincial de Maputo- Gaza. É um que tem 19 horas de
emissão, emite maioritariamente em Xichangana, isto partiu de um estudo feito. Estamos a
trabalhar mais em Xichangana do que em chope e Português por esta ser a língua mais falada.
Trabalhamos inicialmente, aquando da abertura do emissor, abrindo as emissões ate as 10h em
Xichangana depois duas horas em português, transmitirmos em chope e depois voltávamos a
transmitir em Português. Por necessidade do próprio ouvinte, passamos a abrir em Xichangana,
trabalhamos em português das 10 `as 14 horas, em chope das 14h às 19 em chope e das 19 à
meia-noite em Xichangana. Trabalhamos assim, porque o ouvinte assim asseou. Temos
noticiários nestas línguas todas. Sexta-feira e sábado não interrompemos os nossos trabalhos.

Da meia-noite às 4h e 45min de sábado transmitimos em chope e, da meio-noite às 4h e 45 min


de domingo transmitimos em Xichangana.

Entrevistador: mais ou menos com quantos membros a Rádio teve no começo e com quantos
conta agora?

CE: Nessa altura em 2002 posso fazer uma estimativa de mais ou menos 20 profissionais. Neste
momento a RM conta com 70 trabalhadores entre jornalistas, locutores, técnicos, pessoal
administrativo e guardas.

Entrevistador: A cada dia acompanha-se alguma manifestação cultural pelas vossas emissões.
Gostaríamos de saber que programas de matriz cultural passam ao nível da RM-Gaza?

CE: Nós temos programas em língua chope, temos também minkaringani, temos ainda artistas
do dia, muqambi em Xichangana, tudo isto tem a ver com a cultura. Nos programas em língua
chope a tendência é de falarmos das tradições chope; no Muqambi queremos falar da vida de
um determinado artista, se for um musico quando é que começa a cantar, isso tudo; no
programa artista do dia acontece o mesmo, mas já em língua portuguesa no. No Mikaringane
51

trazemos a nossa educação em forma de recreação. Temos os nossos colaborados contam


historias nos nossos espaços. Temos também um programa “Wundota ni wusungati” nalgum
momento falamos de um determinado assunto, kutchinga, circuncisão, curandeirismo, trazemos
um especialistas para nos explica como é isso acontece. Trazemos também como exemplo de
tradicao, o remédio de panelinha.

Entrevistador: Muito Obrigado! Bom, acabou respondendo a questão que tinha a ver com o
conteúdo de cada programa. Gostaríamos de saber com que finalidade a RM transmite esses
programas.

CE: Bom, se nos olharmos para “Wundota ni wusungati”, ele tem em vista a transmissão da
nossa tradição. Os especialistas explicam a fronteira entre a tradição e problemas sociais, como
doenças de HIV e Sida e Tuberculosa. Agora, as histórias do programa “Minkaringani”
educam de forma recreativa. A pessoa prende enquanto está ali a rir, porque da maneira como
se conta “nkaringani” não algo sério, é divertido.

Entrevistador: Falando particularmente da manifestação literária oral, ao falarmos da literatura


oral, estaríamos a falar de contos populares vulgos minkaringanes, as advinhas, os advérbios, os,
mitos, as lendas. Dessas formas literárias quais as que passam na Rádio?

CE: Nós temos as advinhas, provérbios não podemos falar assim tanto porque não temos espaço
especifico, mas as advinhas temos no programa da criança; elas divertem-se, digo programa da
criança em chope, em changana. Elas trazem um ensinamento, trazem uma educação através
dessas advinhas. Agora, provérbios, um locutor facilmente pode trazer durante a sua locução.
Estes provérbios ajudam também a ver que a coisas que acontece que não deviam, quer dizer
dependendo do tipo de provérbio que alguém trás.

Entrevistador: Talvez me tenha esquecido de um dos géneros mais fortes de forma literária, as
canções populares. Não sabemos se existem, passam cá na Rádio, que canções, de que grupos.

CE: Cantos populares, nós temos espaços, é verdade que um locutor estando ai a fazer o seu
trabalho está livre de buscar um tema musical. Então ai o locutor está livre de trazer um canto
popular, pode trazer um coral, um instrumento tradicional. No espaço das 19h as 19 e meia
passamos a instrumentos tradicionais como forma de divulgarmos a nossa tradição. Temos
52

Makwaela, Xingomana, tudo entra neste espaço de música tradicional, chamamos de “musica
Tradicional”.

Entrevistador: Falando dos géneros que por cá passam, o conto populares, as anedotas. Com que
línguas são transmitidos?

CE: Nós transmitimos em chope e changana.

Entrevistador: Em Português não …?

CE: Não!

Entrevistador: Sabe-se também que essas formas literárias são herança do povo, são herança
comunitária, vivem na memória do povo. Como é que a rádio tem recolhido essas formas
literárias?

CE: Nós temos colaboradores que gostam de apresentar esses contos. Então, a tendência de
virem para cá e trabalhos com colegas ligados a esses programas. Eles combinam o dia da
gravação. Mas também como temos tidos muitas saídas para os distritos, quando saímos
também recolhemos desses distritos chegamos aqui organizamos e passamos.

Entrevistador: Para além da recolha temos a componente arquivo. Como é que a Rádio tem
arquivado esse material?

CE: Nós temos uma maneira de conservar, usamos discos, usamos o nosso sistema, é capaz de
conservar esse material, as vozes, é capaz, mas também usamos o flesh, a memória externa. Já
não usamos fitas magnéticas devido a evolução tecnológica, já não tem equipamentos que lê
esse material. Temos contos guardados nestas fitas mas neste momento não temos como ouvi-los
devido a falta de equipamento.

Entrevistador: Bom, já se falou muita coisa a respeito dos programas existentes, haverá outros
projectos de revitalização das tradições orais.

CE: Os projectos que a Rádio tem é mesmo sairmos aos distritos para a recolha desses
materiais, é verdade que temos uma limitação que tem a ver com os fundos.
53

Entrevistador: A Rádio tem duas vertentes, a emissora e a receptora, a da audiência ou dos


radiouvintes. Que impacto esses artigos literários tem na comunidade.

CE: O feed back é positivo, digo isso porque nós temos tido um mecanismo de avaliação. Uma
equipe sai para os distritos para falar com os nossos ouvintes. Mas o sistema de linhas também
nos ajuda. É ai onde o ouvinte critica e nos acolhemos.

Entrevistador: A RM – Gaza não faz este trabalho de forma isolada, que avaliação a Rádio faz do
trabalho do mesmo género levado a cabo por outras instituições como a TVM, Rádio Xai-Xai e
outras.

CE: Bom, é muito difícil avaliar o trabalho de outras instituições, mas acho todos estão para
servir ao ouvinte, ao telespectador, acho todas estão num bom caminho.

Entrevistador: Bom, são estas questões que tínhamos, restam-nos para já agradecer esta pela
cedência deste espaço, muito obrigado.

CE: De nada!

Tradução da Entrevista ao Locutor - Contador de Minkaringani

Entrevistador: vamos iniciar uma entrevista, entrevista essa que se insere no contexto de
elaboração de uma Monografia para a obtenção do grau de Licenciatura na Universidade
Pedagógica. Tem como objectivo compreender as formas de apresentação a tradições orais, no
geral, e da literatura oral na RM – Gaza em Particular. Em primeiro lugar gostaríamos de ter o
nome completo.

LCM: Henriques Fernando Cumbe.

Entrevistador: Obrigado! A idade?

LCM: 47 anos.

Entrevistador: Nível de instrução?

LCM: 10ª classe.

Entrevistador: Ao nível da instituição, quantos anos de experiencia profissional?


54

LCM: 23.

Entrevistador: Consta-nos que trabalha com o programa cultural. Como se chama esse
programa?

LCM: O programa chama-se Nkaringani wa Nkaringani.

Entrevistador: O que é se faz nesse programa?

LCM: No programa “Nkaringani wa Nkaringani” nós falamos é vida das pessoas. Tentamos
informar aos outros o ideal. O programa é educativo.

Entrevistador: Já percebemos que ao nível da RM passam contos orais. No seu programa para
além de minkariganes, haverão outros artigos literários de natureza oral, falamos de contos orais,
canções populares, advinhas, provérbios, mitos, lendas, etc.

LCM: Sim há! Também temos outro programa que `as vezes fazemos nas sextas-feiras, que é o
programa dos tradução dos nossos apelidos, cultura africana.

Entrevistador: muito obrigado, já percebemos que para além de “minkaringani” há outro


programa cultural na Rádio. Em que línguas são transmitidos esses contos?

LCM: Transmitimos em changana e chope. Também temos escrito alguns contos para crianças
do programa da criança.

Entrevistador: Que tipos de personagens podemos encontrar nesses contos?

LCM: Encontramos dois tipos, animais e pessoas. Podemos dar um conto para educar crianças
preguiçosas, que amanhece estão ligadas à televisão e nada sabem fazer.

Entrevistador: Como é que tem conseguido esses minkaringanes, estamos a falar da recolha.

LCM: Isso começou do falecido vovô Marangele Mawayi. Vinha com livros e ensinava-me sem
noção nenhuma que viria a ser útil. Conseguimos também via pessoas que conhece-me lá na
comunidade que o senhor Cumbe conta minkaringanes na Rádio e vem e grava ou por pessoas
de boa vontade que aparecem-nos na Rádio e avaliamos o Nkaringane se dá transmitir ou não.
55

Ao ficamos pode ocorrer coisas no nosso dia-a-dia que possam nos levar a fazer um Nkaringane
educativo.

Entrevistador: Não existe ao nível da Rádio um programa destinado a recolha desses contos
orais?

LCM: Nisso há dificuldades dos meios. Quando falei de um programa que programa“matimu ni
tumbuluku” éramos fornecidos pelos anciãos, pelos líderes, saímos para Chibuto, Zonguene,
então, conseguíamos, mas por falta de meios para a recolha isso fracassou.

Entrevistador: Indo para a parte da operação ou execução. Conta-nos como é que isso tem
acontecido.

LCM: Aqui somos três que produzimos este programa. Quando queremos gravar sentamos e
procuramos saber o que cada um de nos tem. Depois de gravar avaliamos se dá para ir ao ar ou
não. Antes depois de gravar o conteúdo passava para inspecção ao nível da direcção de
emissões. Nos não escrevemos textos, tudo é oral. Neste e ano em Novembro, o programa
completa 15 anos.

Entrevistador: muito obrigado, já percebemos como é se recolhe esses contos. Como são
conservados ou arquivados os minkariganes?

LCM: Estamos num projecto que envolve a ARPAC, projecto esse ligado a produção de um
livro. Aqui agora são conservados em computadores e discos e não são seguros porque os
computadores avariam isto aqui. Temos bons minkaringanes gravados em discos magnéticos
chamados REVOX e também em cassetes.

Entrevistador: Que funções tem esses minkaringanes aqui transmitidos?

LCM: São educativos. Os ouvintes precisam muito deste programa significa que os ouvintes
estão aprendem muito deste programa. Ouve uma altura que paramos por 4 meses mas por
pressão dos ouvintes voltamos a transmitir.

Entrevistador: Então, são estas questões que tínhamos preparado para conversarmos e muito
obrigado.
56

LCM: Obrigado!

Você também pode gostar