Você está na página 1de 9

Faculdade de Ciências de Educação

Curso de Licenciatura em Ensino de Português

Marcas do Pan-Africanismo no texto “Voz do sangue” de Agostinho Neto

Nome Completo: Hélder José Ngungulo


Código:41190565

Maxixe, Março de 2023

1
0

Departamento de Ciências de Educação

Licenciatura em Ensino de Português

Marcas do Pan-Africanismo no texto “Voz do sangue” de Agostinho Neto

Trabalho do campo a ser submetido na


coordenação, do curso de Licenciatura em
ensino de Português da disciplina de:
Literaturas Africanas de Língua Portuguesa II
UnISCED.

Nome Completo: Hélder José Ngungulo

Código:41190565

Maxixe, Março de 2023


2
Índice
1.0 Introdução..........................................................................................................................4

2.0Fundamentação teórica............................................................................................................5

2.1 Agostinho Neto sobre a literatura africana.............................................................................5

2.2 Pan-africanismo africano........................................................................................................5

2.0 PAN-AFRICANISMO NO TEXTO “VOZ DO SANGUE” DE AGOSTINHO NETO....6

3.0 Conclusão................................................................................................................................8

4.0Bibliografia..............................................................................................................................9

3
1.0 Introdução
O pan-africanismo inventa uma África para os africanos e propicia a ideia de que este
continente é sinónimo de negro, formada só por um povo, os africanos, além de dispor dos
negros da diáspora como parte deste continente, daí, o fato de terem sido os pan-africanistas
um dos responsáveis pelos movimentos de “retorno” dos negros recém-emancipados, ou já
livres e vivendo há algumas gerações nas Américas para o continente africano. Neste caso, o
presente trabalho foca-se no estudo do Pan-africanismo e extrair suas marcas no poema “Voz
do sangue” de Agostinho Neto. Portanto, o presente estudo foca-se na análise do Pan-
africanismo, extraindo as suas marcas no poema do Agostinho –Neto com o titulo Voz do
sangue. Em relação aos objectivos específicos, o presente estudo, pretende caracterizar o Pan-
Africanismo e extrair marcas do Pan-Africanismo no texto “Voz do sangue” de Agostinho
Neto. A pesquisa realizada neste trabalho foi classificada como descritiva, pois, se buscou para
a construção do referencial teórico explorar o tema a partir de uma pesquisa bibliográfica,
ferramenta que permitiu a exploração mais profunda sobre o tema, como também, buscou-se
realizar uma pesquisa de campo com a finalidade de recolher e registar os dados que
embaçassem mais precisamente o assunto.

4
2.0Fundamentação teórica

2.1 Agostinho Neto sobre a literatura africana.


Agostinho Neto é considerado um herói angolano, altamente prestigiado na luta contra a
desigualdade social e étnica. A década de 1940, principalmente nos pós da segunda guerra
mundial é marcada por uma grande movimentação identitária que provoca uma serie de
emancipações na África, dando um grande empurrão nas independências

O poeta Agostinho Neto escreve versos com pretensão de provocar o leitor no tocante à
submissão e reacção ao colonialismo e mais que isso, o fazer poético é oportunidade para que
ele se veja nas poesias, pois espelha suas raízes. Ainda que escolha não reflectir seu universo
no eu-lírico, o eu-lírico é, de facto, uma das vestes do poeta, ou melhor, uma de suas faces,
forjada ou não. Portanto, sua construção está directamente ligada ao tempo presente em que
vive o poeta. Nas poesias de Agostinho, o eu-lírico não trará visões que contribuam com o
colonizador, já que foram séculos de protagonismo europeu, mas discursos combativos, pois,
como sujeito construído pelo poeta, o eu-lírico será o porta-voz do mundo colonizado com seus
diversos personagens.
As escritas do poeta revelam uma gama de elementos como o humor, a melancolia, a ironia, o
saudosismo, a paixão, a utopia, a consciência política e a consciência intelectual, indicando as
vozes a quem pertencem. Tais características são ensejos para que o eu-lírico seja percebido
como diverso, porque indicam vestígios do poeta, do povo e, consequentemente, toda a
bagagem histórica.

2.2 Pan-africanismo africano


O Pan-africanismo é o nome dado a uma ideologia que acredita que a união dos povos de
todos os países do continente africano na luta contra o preconceito racial e os problemas sociais
é uma alternativa para tentar resolvê-los.

A partir dessa ideologia foi criada a Organização de Unidade Africana (1963), que tem sido
divulgado e apoiado, maioritariamente, por afro descendente que vivem fora da África.

Dentre as propostas da ideologia está a estruturação social do continente por meio de um


remanejamento étnico na África, unindo grupos separados e separando grupos rivais, por
exemplo, tendo em vista que isso aconteceu durante a divisão continental imposta pelos
colonizadores europeus. Além do resgate de práticas religiosas, como culto aos ancestrais e
incentivo ao uso de línguas nativas, anteriormente proibidos pelos colonizadores.

5
Na realidade, o pan-africanismo é um movimento de carácter social, filosófico e político, que
visa promover a defesa dos direitos do povo africano, constituindo um único Estado soberano
para africanos que vivem ou não na África.

A euforia apoderou-se dos intelectuais africanos que fizeram do pan-africanismo um


movimento de vanguarda: Sékou Touré (Guiné); Jomo Kenyatta (Kennya); Modibo Keita
(Mali) e; Gamel Abd El Nasser (Egipto) impulsionaram o movimento e reivindicaram a
independência de todos os territórios africanos, perspectivando uma unidade federal do
continente. Neste sentido, foi realizada a conferência de Accra de 15 a 22 de Abril e de 6 a 13
de Dezembro de 1958, onde se preconizou uma federação multinacional dos Povos com base
na igualdade e nas solidariedades pan –africanista.

3.0 PAN-AFRICANISMO NO TEXTO “VOZ DO SANGUE” DE AGOSTINHO NETO

Neste poema o líder angolano Agostinho Neto evoca o Pan-africanismo com o objectivo de
solicitar o engajamento dos negros na luta pela sua independência.

Com versos que fogem de uma estrutura metrificada e rimada, o poeta vai reforçando a
intenção de aproximar o eu-lírico do povo comum, mostra a consciência do intelectual por trás
do poeta, que compreende o combate à colonização a partir da presença mais activa da situação
angolana.
A presença do intelectual enquanto sujeito pertencente a uma sociedade colonizada modifica os
versos já dados à poesia, que tematiza a colonização e a ditadura decorrente dela, pois, a
literatura escrita por quem pertencia ao país oprimido possibilita novas versões sobre os fatos,
frequentemente distintas das versões dadas por literaturas que narravam a partir do olhar de
quem pertencia a países opressores, ou que sequer herdaram os resquícios daquela violência.

VOZ DO SANGUE
Palpitam-me
os sons do batuque
e os ritmos melancólicos do blue.
Ó negro esfarrapado
do Harlem
ó dançarino de Chicago
ó negro servidor do South
6
Neste poema Evoca “negros de todo o mundo”, o eu-lírico se coloca modestamente à
disposição para compor o coro à ancestralidade. Ao citar o blues, forma musical originária
da música afroamericana, o “negro esfarrapado/do Harlem”, bairro também afroamericano, o
“dançarino de Chicago” e “o negro servidor do South”, há a potencialização da presença e
importância africana fora do continente, na cultura e na construção de outras sociedades. A voz
poética de “Voz do Sangue”, novamente, reconhece ser parte de um todo, irmanando histórias
e sinalizando a necessidade de uma universalização na luta pela liberdade da opressão,
sintetizando no título e em singular, o que os torna aliados: o sangue, símbolo de vida e de
família.
Percebe-se que Agostinho traz um tom de melancolia pela miséria deixada com a exploração
europeia, paralelo a certo entusiasmo que nasce da esperança por novos tempos. Nos versos
acima, o entusiasmo surge volumosamente nesse formato de paixão e utopia pela irmandade
que trará a consciência política, delineando um mesmo plano de acção e de escrita.
A voz poética de “Voz do Sangue”, reconhece ser parte de um todo, irmanando histórias e
sinalizando a necessidade de uma universalização na luta pela liberdade da opressão,
sintetizando no título e em singular (para enfatizar a unidade), o que os torna aliados: o sangue,
símbolo de vida e de família

No poema“Voz do Sangue” o sujeito poético reforça o sentimento de união (enfatizado pelo


uso do pronome possessivo “nosso”), de construção de uma identidade frente a uma nação
consumida por anos de opressão e de apagamento de suas tradições. Celebram-se as tradições
de seu povo, oprimidas pelo colonizador, destacando, assim, a redescoberta dos valores
culturais.

Eu vos sinto
negros de todo o
eu vivo a vossa Dor
meus irmãos.

Portanto em todos cinco os versos que compõem o poema nota-se marcas claras do pan-
africanismo pois ele retrata da unidade dos africanos, a dor que eles passam juntos devido a
colonização, a não valorização das suas culturas. Neste poema ve-se o pedido da unidade de
modo a vencer a opressão.

7
4.0 Conclusão
Chegando ao fim do estudo, podemos concluir que , embora a denominação Pan-africanismo
remonte necessariamente a uma relação estreita com o continente africano, essa corrente
teórica tem sua origem nos países de colonização inglesa, particularmente nos Estados Unidos
e nas Antilhas Britânicas. Este movimento político pode ser entendido sobre duas perspectivas:
a primeira enquanto projeto de libertação da estrutura eurocêntrica, e a outra enquanto projeto
de integração da população negra nas organizações ocidentais.
Salientar que, no poema voz do sangue de Agostinho, o eu-lírico não trará visões que
contribuam com o colonizador, já que foram séculos de protagonismo europeu, mas discursos
combativos, pois, como sujeito construído pelo poeta, o eu-lírico será o porta-voz do mundo
colonizado com seus diversos personagens. Com versos que fogem de uma estrutura
metrificada e rimada, o poeta vai reforçando a intenção de aproximar o eu-lírico do povo
comum, mostra a consciência do intelectual por trás do poeta, que compreende o combate à
colonização a partir da presença mais activa da situação angolana.

8
5.0Bibliografia
Decraene, P. (1962) O Pan-Africanismo. São Paulo: Difusão europeia do livro.

Kwame N.(1997) A áfrica deve unir-se. lisboa: ulmeiro.

Carilho, Maria, (1975). Sociologia da negritude: edições70.

Ervedosa, Carlos (1997). O roteiro da literatura angolana, 4º ed: união dos escritores
angolanos.
Universidade Aberta Isced (2022). Manual de Metodologias da Investigação Cientifica.1º

Ano. Beira.

Você também pode gostar