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MATERIAL DIDÁTICO
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 2
UNIDADE 1 – PROJETOS NA ESCOLA – QUESTÕES NORTEADORAS ............... 4
UNIDADE 2 – UM HISTÓRICO DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS ....................... 12
2.1 Compreensão histórica da Ciência Política ......................................................... 13
UNIDADE 3 – HISTÓRICO DAS LEGISLAÇÕES E DAS RELAÇÕES COM AS
POLÍTICAS PÚBLICAS NO BRASIL ....................................................................... 29
UNIDADE 4 – O PAPEL DA GESTÃO ESCOLAR DEMOCRÁTICA FRENTE AO
PPP ........................................................................................................................... 37
4.1 O PPP na legislação ........................................................................................... 42
UNIDADE 5 – GESTÃO DEMOCRÁTICA E SEUS TIPOS ...................................... 47
UNIDADE 6 – PRINCÍPIOS NORTEADORES E DESAFIOS ENFRENTADOS EM
UMA GESTÃO DEMOCRÁTICA .............................................................................. 53
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 58
INTRODUÇÃO
Antes de qualquer coisa, que tal levantarmos algumas questões para nos
situar frente ao tema de nosso guia? Então vamos lá!
Com essas perguntas, espero ter lançado uma semente. Essa semente, que
vamos cultivar com a leitura deste material, é o pensar crítico por sobre nosso tema
– Projeto Político-Pedagógico (PPP). Assim, não pretendemos responder as
questões acima destacadas, mas, através da leitura deste texto, espero que você
possa alcançar criticamente por concepções de projetos em contextos educacionais
de forma contextualizada com a sua realidade.
Mas, que tal iniciarmos a germinação dessa semente com algumas definições
para podermos munir nosso pensar de bons subsídios básicos?
Com certeza, se você está fazendo este curso, você tem sonhos, objetivos,
metas. Então, você tem projetos! Assim, sem consultar nenhum material, responda
segundo suas concepções, as seguintes questões: Como você lida, por exemplo,
com seus projetos pessoais e profissionais? O planejado é sempre alcançado?
(justifique sua resposta)
Depois de ter realizado a atividade anterior, você deve ter percebido que você
já lida com projetos de alguma forma. Contudo, convidamos você a comparar suas
experiências com projetos aos conceitos a seguir destacados.
No sentido etimológico, a expressão projeto vem do latim projectu, que é o
particípio passado do verbo projicere e que significa “lançado para diante”. Assim, tal
termo nos remete a ideia de executar ou realizar algo, no futuro, tal como um plano,
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recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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Vê-se que estamos lidando com o que se entende por práxis, ou seja, uma
ação humana transformadora e que resulta de um planejamento dialógico. Algo que
se mostra como um movimento de ação-reflexão-ação, no sentido de resistir à
prática educacional burocrática, centralizada, hierárquica e linear. Nessa
perspectiva, o PPP não pode resultar em uma simples aglomeração de planos de
ensino e outras tarefas educacionais e administrativas. Tampouco, não deve ser
visto apenas como uma prova do cumprimento de tarefas burocráticas, no qual se
constrói um texto que se destina ao repouso em prateleiras, nem em arquivos ou
mesmo apenas para o simples atendimento de exigências feitas por autoridades
educacionais.
Para que esse tipo de projeto seja realmente algo, que se propõe
coletivamente a transformar, podemos afirmar que esse é um empreendimento
fundamentalmente participativo. Contudo, para que esse empreendimento seja
realmente participativo, há de se entender que a instituição escolar tenha a
comunidade, não apenas como clientela, mas sim como parte constitutiva de sua
práxis educacional. Uma comunidade que tenha espaço para efetivamente participar
da proposta pedagógica da escola.
Mas você deve estar pensando: essa não é a imagem tradicional de escola
que temos? Realmente não é! Nessa nova concepção de escola, há de se entender
todos os brasileiros devem ter acesso à educação. Por isso ela é gratuita e
obrigatória, para que todos tenham a oportunidade de se formar como cidadãos.
Portanto, quando verificamos que a nossa Constituição de 1988 apresenta
esses dispositivos, é como se estivesse fixando a meta de construir uma sociedade
democrática, pois, ao longo da história das constituições, só esta comporta e, ao
mesmo tempo, exige cidadãos ativos.
O que se percebe também é que a Constituição Federal de 1988 é a
expressão dos debates ocorridos, depois de anos de ditadura militar, em relação aos
cidadãos que queremos para o Brasil e como se desenvolve nesse sentido. Um
projeto de sociedade que seja democrática não apenas nas suas relações políticas,
mas também nas suas relações sociais e econômicas é desejo de muitos e está
presente na nossa Constituição.
O fim da Primeira Guerra não trouxe a paz. Anos depois, a Alemanha, domi-
nada pelo pensamento antijudaico sob a liderança de Hitler e seus aliados,
levariam o mundo à Segunda Guerra Mundial, que foi o fato histórico-
político mais importante do século XX. A Ciência Política trabalha com os
cenários atuais, com vistas a uma prospectiva. Nos diferentes momentos
históricos ela se incumbe da crítica aos fatos histórico-sociais, analisando
os que acenam para o futuro e poderão contribuir para o delineamento de
projetos e de ações governamentais e sociais que conduzam ao bem-estar
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Com a chegada dos anos 1980, inicia-se uma revisão do exagero das teorias
reprodutivistas, uma postura menos ingênua e mais realista em relação ao papel
social da Educação. Percebe-se com clareza que há limites econômicos, ideológi-
cos, culturais e de classe, que fazem com que a Educação não possa fazer tudo o
que pensávamos. Há uma distância entre a adesão intelectual às ideias progres-
sistas e a inserção na prática progressista. A mudança só se sela quando a prática
político-pedagógica ultrapassa a reflexão e passa à ação. Assim, o início da década
de 1980 é marcado por movimentos sociais, pela organização de diferentes
categorias em associações, pela mobilização dos professores por melhores salários,
melhores condições de trabalho, melhor formação profissional, melhores escolas.
Surgem, em todo o Brasil, entidades nacionais representativas dos educadores, sem
contar com inúmeros sindicatos e outras associações estaduais, e até municipais,
que passaram a congregar grupos de professores por especificidade de atuação
pedagógica.
As Conferências Brasileiras de Educação (CBE) foram, nos anos 1980 e no
início da década de 1990, fóruns de debates das questões educacionais, nos quais
as políticas educacionais foram temas de simpósios e painéis .
A “década perdida” – como os economistas chamaram os anos 1980 foi,
politicamente falando, para os brasileiros, a década da busca da cidadania. Iniciou-
se com grande movimentação da sociedade civil, organizando-se em sindicatos –
que passaram a liderar as greves e as lutas por melhores salários e condições de
vida. As eleições diretas para governador, após vários anos e eleições indiretas,
fizeram os brasileiros vibrar por seus candidatos. Fato marcante na primeira metade
desta década foi o movimento popular pelas eleições diretas para presidente. A
moeda comum (rublo) continua difícil até hoje. A queda do império soviético,
porém, tem trazido problemas nacionais, étnicos, políticos e econômicos,
recrudescendo os nacionalismos e os ódios religiosos. Depois de um longo
período de crescimento, o mundo socialista mergulhou numa crise que vem
provocando mudanças ideológicas e geopolíticas em todo o mundo. Aqui no
Brasil, no fim do Regime Militar, as discussões sobre as questões
educacionais já haviam perdido o seu sentido pedagógico e assumido um
caráter político. Para isso, contribuiu a participação mais ativa de
pensadores de outras áreas do conhecimento que passaram a falar de
educação num sentido mais amplo do que as questões pertinentes à escola,
à sala de aula, à didática, à relação direta entre professor e estudante e à
dinâmica escolar em si mesma. Impedidos de atuarem em suas funções,
por questões políticas durante o Regime Militar, profissionais de outras
áreas, distantes do conhecimento pedagógico, passaram a assumir postos
na área da educação e a concretizar discursos em nome do saber
pedagógico. No bojo da nova Constituição, um Projeto de Lei para uma
nova LDB foi encaminhado à Câmara Federal pelo Deputado Octávio Elísio,
em 1988. No ano seguinte, o Deputado Jorge Hage enviou à Câmara um
substitutivo ao Projeto e, em 1992, o Senador Darcy Ribeiro apresenta um
novo Projeto que acabou por ser aprovado em dezembro de 1996, oito anos
após o encaminhamento do Deputado Octávio Elísio. Neste período, do fim
do Regime Militar aos dias de hoje, a fase politicamente marcante na
educação foi o trabalho do economista e Ministro da Educação Paulo
Renato de Souza. Logo no início de sua gestão, por meio de uma Medida
Provisória, extinguiu o Conselho Federal de Educação e criou o Conselho
Nacional de Educação, vinculado ao Ministério da Educação e Cultura. Esta
mudança tornou o Conselho menos burocrático e mais político. Mesmo que
possamos não concordar com a forma como foram executados alguns
programas, temos que reconhecer que, em toda a História da Educação no
Brasil, contada a partir do descobrimento, jamais houve execução de tantos
projetos na área da educação numa só administração. O mais contestado
deles foi o Exame Nacional de Cursos e o seu ‘Provão’, no qual os alunos
das universidades têm que realizar uma prova ao fim do curso para receber
seus diplomas. Esta prova, em que os alunos podem simplesmente assinar
a ata de presença e se retirar sem responder nenhuma questão, é levada
em consideração como avaliação das instituições. Além do mais, entre
outras questões, o exame não diferencia as regiões do país. Até os dias de
hoje, muito tem se mexido no planejamento educacional, mas a educação
continua a ter as mesmas características impostas em todos os países do
mundo, que é mais o de manter o ‘status quo’, para aqueles que frequentam
os bancos escolares, e menos de oferecer conhecimentos básicos, para
serem aproveitados pelos estudantes em suas vidas práticas (BELLO,
2005).
Acesse os links:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_Brasileira#1824;
http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1824
http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1891
http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1934
http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1937
http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1946
http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1967
http://pt.wikipedia.org/wiki/Constitui%C3%A7%C3%A3o_brasileira_de_1988
O texto a seguir faz uma abordagem dos tempos históricos vividos em nosso
país e complementa o que foi apresentado como rupturas da educação devido às
movimentações políticas do nosso passado, acarretando a constituição do que
somos hoje.
O que vamos discutir é uma adaptação do texto de Teixeira 1.
1
VEREDAS, Formação superior de professores: módulo 2 – volume 1\SEE- MG; organizadoras Maria Umbelina
Caiafa Salgado, Glaura Vasques de Miranda – Belo Horizonte: SEE-MG, 2002.
Constituição de 1937, período identificado como “Estado Novo”, estudado por você,
acima, já que, nesta fase da história das políticas públicas, o Brasil, passava por
grandes transformações políticas e econômicas, a saber:
Bem, podemos fazer uma observação do que é retratado por Teixeira, quando
cita Romanelli (1986) e demonstra que, nesse período, houve um aumento
significativo do número de matrículas no ensino primário. De acordo com a
estatística da época, estima-se que, em 1920, havia 1.033.421 matrículas no ensino
primário. Já em 1940, esse número era de 3.068.269 alunos. Por aí, podemos ter
noção das melhorias educacionais de acesso e oportunidades, mas lembrem-se dos
fatos históricos já estudados e faça a sua reflexão sobre os avanços e os propósitos
políticos. Correto?
Então, refletindo sobre os propósitos da gestão política, por outro lado, a
propaganda de uma escola única, dirigida igualmente a todos os brasileiros como
meio para realizar a educação como direito público, quando assumida pelo Estado
Novo, estava carregada da intenção de formar, entre nós, um pensamento também
único sobre o papel do Estado e como a sociedade deveria organizar-se. Essa era
uma manifestação do autoritarismo da época. Todos deveriam aceitar e concordar
com as diretrizes do Estado para a sociedade, de acordo com quem estava no poder
na época. Findo o Estado Novo, a educação havia se estabelecido como assunto de
política pública setorial. Ou seja, todo um aparato dedicado especificamente a essa
área da atuação estatal foi criado a partir de 1931, quando se fundou o Ministério da
Educação e Saúde, com o Departamento Nacional da Educação. Esse
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A educação, ainda que não fosse o meio de solucionar esses problemas, era
considerada um requisito importante para esse processo de modernização,
principalmente no que diz respeito à sua capacidade de preparar para o trabalho.
Uma população mais escolarizada e qualificada para o trabalho, ao mesmo tempo
em que atenderia às necessidades de mão de obra da produção industrial, poderia
ascender socialmente, consumir mais – o que aqueceria o mercado interno – e
melhorar suas condições de vida. Se na década de 1930, a maior atenção foi dada à
expansão do ensino primário, a partir de meados da década de 1940, os esforços se
voltam para o ensino secundário (compreendendo o ginasial e o colegial) e técnico,
que atenderia à formação de trabalhadores para a moderna indústria pesada que se
instalava no País, e, depois, a indústria automobilística.
Agora, reflita:
a) Qual é a função do Estado em relação ao desenvolvimento do País nos
dois períodos por nós mencionados?
b) Qual foi o papel atribuído à educação nesses dois períodos?
c) O que diferencia a vida política brasileira desses dois períodos e a
possibilidade de a população exercer demandas por educação?
d) Você talvez se lembre ou já tenha lido a respeito do período da História do
Brasil iniciado em 1964. Descreva o que caracterizou aquele período, do
ponto de vista das relações políticas, da garantia de liberdades.
recorria cada vez mais aos recursos financeiros emprestados por outros
países. O Brasil tornou-se, com isso, cada vez mais dependente dos países
desenvolvidos do mundo. A industrialização, que integrava os planos de
desenvolvimento do nosso país, requeria, sempre mais, uma população
escolarizada e qualificada para ocupar postos de trabalho num parque
industrial que se modernizava. Um conjunto de reformas no 1º e 2º graus,
níveis de ensino que seriam correspondentes aos nossos ensinos
fundamental e médio, inicia-se com a Lei de Diretrizes e Bases do Ensino
de 1º e 2º graus, Lei n° 5.692, de 11 de agosto de 1971.
Num mundo cada vez mais integrado, em que a comunicação entre os países
é mais intensa, em que os fatos políticos e econômicos têm consequências para
todos nós, é preciso que tenhamos uma visão sempre mais ampla da realidade.
Como aquela frase que ficou bastante conhecida de uns anos para cá: “agir
localmente, pensar globalmente”. O esforço brasileiro tem-se dado nesse sentido
ultimamente.
Isso acontece acompanhado de uma propalada escassez de recursos
públicos; de um Estado que se diz incapaz de atender a todas as demandas sociais
e busca compartilhar com a sociedade a satisfação das necessidades da população,
concentrando sua atenção naquele nível de ensino considerado o minimamente
necessário: a educação básica, com ênfase no ensino fundamental. Esta é a etapa
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formação da sociedade. Agora, não queremos aqui afirmar que a sociedade deve
lutar contra as organizações econômicas/sociais, não é esta a intenção, mas
devemos sim compreender que formar sujeitos, cidadãos é mais do que isto, é ser
capaz de dar condições de acesso, reflexão e o fundamental, instrumentalizar o
povo para a condição do saber buscar conhecimento e saber optar e opinar.
Portanto, as transições e rupturas nas gestões políticas de nosso país. Na
próxima unidade, vamos discutir as gestões políticas atuais, as relações de
liberdade e o seguimento paralelo aos propósitos econômicos mundiais. Vamos ver
as relações entre os níveis escolares e as organizações dos documentos legais que
regulamentam nossa educação.
No livro “Os Intelectuais da Educação”, de Helena Bomeny, você ficará
sabendo mais sobre como os intelectuais da educação, já nas primeiras décadas do
século XX, se mobilizaram na missão de modernizar o país através da Educação.
Eles tinham um projeto de nação para o Brasil, e o Manifesto dos Pioneiros, por eles
redigido e assinado, refletia todos os seus ideais. Personalidades como Anísio
Teixeira, Lourenço Filho, Darcy Ribeiro e Paulo Freire são falados no livro e suas
ideias ainda desafiam nossa luta como cidadãos brasileiros pela construção de um
sistema educacional democrático.
Iremos nesta unidade refletir um pouco sobre gestão escolar. Mas não vamos
abarcar esse tema de forma generalizada, vamos refletir sobre um conceito de
gestão escolar que se afine à ideia da escola como “centro” do sistema educacional,
tal como discutimos na unidade anterior. Uma escola na qual a comunidade que a
circunda é considerada como parte constitutiva da práxis educacional, na qual
escola e comunidade se posicionam como dois sistemas abertos e com uma relação
simbiótica.
Assim, para que tal relação seja realmente percebida, inevitavelmente iremos
trabalhar a democracia como elemento promotor de tal simbiose. A escola, nessa
perspectiva, se mostra como um espaço fundamental para a prática da democracia.
Entretanto, tal prática deve estar presente, e de forma fundamental, no planejar, no
decorrer da construção e na execução do PPP.
Entretanto, essa possibilidade de gestão democrática emerge com a real
inovação na escola brasileira, na qual novos paradigmas educacionais são
efetivamente abraçados não só na teoria (nos documentos e nos discursos), mas
principalmente em uma prática embebida de reflexão.
Mais uma vez estamos lidando com o que se entende por práxis, ou seja,
como uma ação humana transformadora e que resulta de um planejamento
dialógico. Algo que se mostra como um movimento de ação-reflexão-ação.
Essa construção coletiva transformadora não se mostra como uma tarefa
fácil, mas sim como algo que Veiga (1995, p.13) entende por desafiador, tanto para
os educadores quanto para pais, alunos e comunidade. Uma tarefa que constitui um
processo de busca permanente da solução de problemas das escolas.
Assim, para a construção de um PPP transformador, uma gestão escolar
democrática se mostra essencial. Uma gestão na qual haja espaço para um debate
sempre presente vivo e atuante. Um debate sobre a qualidade social da educação,
priorizando o acesso e a permanência na escola de forma democrática, universal e
construtora de autonomia.
Vale lembrar que essa autonomia não se mostra uma tarefa fácil, mas sim,
complexa, já que tal autonomia pode ser confundida como a ideia de liberdade total
ou independência. Mas não é bem isso, pois para a construção da autonomia:
Então, para que se possa ter tal gestão como realmente geradora de
autonomia, há de se considerar, além dos mecanismos legais e institucionais, a
coordenação de ações pelas quais a participação social se mostre como ponto
fundamental para:
Com tudo que já discutimos até este ponto, neste material, podemos entender
que, tal como Libâneo (2004) destaca, o PPP é na verdade um documento que, ao
detalhar objetivos, diretrizes e ações do processo educativo a ser desenvolvido na
escola, expressa por uma síntese das exigências sociais e legais do sistema de
ensino e os propósitos e expectativas da comunidade escolar.
Assim, podemos entender que, legalmente, o PPP deve ser elaborado
coletivamente como um documento norteador para a práxis de se produzir realidade
educacional. Não obstante, para se por em prática tal processo de ação-reflexão-
ação, vemos que se mostra imprescindível o conhecimento íntimo da realidade em
que estamos inseridos para podermos nos direcionar para a realidade almejada.
Esse conhecimento íntimo deve ser feito através de diagnósticos realizados a
partir de referências quantitativas e, sobretudo, qualitativas. Referências que
contenham propostas de ações para superação de problemas.
Contudo, para o estabelecimento da realidade almejada, pode-se lançar mão
de algumas questões sugeridas por Gandin e Padilha (s.d. apud MEDEL, 2008, p.
10):
• O que é qualidade de ensino?
• Em que consiste o educar e, em consequência, qual o ideal para a
prática educativa da escola?
• Dentre as tendências da sociedade, quais têm maior impacto na
escola?
• Qual o modelo de sociedade que deve servir como ruptura para os
passos dos envolvidos, elaborados e executados do projeto?
• Como se relaciona a escola com o processo transformador da
sociedade?
Considerações para a próxima unidade – para que possamos responder
tais questões de forma crítica, vamos nos direcionar a reflexões que permitam levar
para o PPP, e consequentemente para as salas de aula por uma educação em
valores. Ou seja, uma educação que busque soluções para problemas reais e
pertinentes à vida dos aprendentes. Assim, convidamos lhe à leitura das próximas
unidades, através das quais vamos buscar por reflexões que visam a articulação dos
conteúdos científicos e culturais com o cotidiano social das pessoas.
FATO: à medida que cada ave bate suas asas, ela cria uma sustentação para
a ave seguinte. Voando em formação de V, o grupo inteiro consegue voar pelo
menos 71% a mais do que cada ave voando isoladamente.
VERDADE: pessoas que compartilham uma direção comum com bom senso
de equipe chegam ao seu destino mais depressa e facilmente, porque elas se
apoiam na confiança umas das outras.
FATO: sempre que um ganso sai fora da formação, sente, repentinamente, a
resistência do ar e a dificuldade de tentar só. Rapidamente ele retorna à formação,
para tirar vantagem do poder de sustentação da ave à sua frente.
VERDADE: existe força, poder e segurança no grupo, quando somando na
mesma direção e compartilhando um objetivo comum.
FATO: quando o ganso líder se cansa, ele reveza, indo para a traseira do V,
enquanto outro ganso assume a ponta.
VERDADE: é vantajoso o revezamento quando se necessita fazer um
trabalho árduo.
FATO: os gansos de trás grasnam para encorajar os da frente a manterem o
ritmo e a velocidade.
VERDADE: todos necessitamos ser forçados com apoio ativo e
encorajamento.
FATO: quando um ganso adoece ou se fere e deixa o grupo, dois outros
gansos saem da formação e o seguem para ajudá-lo e protegê-lo. Eles o
2
Disponível em < http://futurolider.blogspot.com/2007/05/sobre-gansos-e-equipes.html>
acessado em 21.12.2011.
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3
PRADO, R. Lições para o resto da vida. Revista Nova Escola. São Paulo: Fundação Victor Civita.
Ano XV, n. 131, abr.\2000.
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seus desejos, restando aos outros que não se sentem contemplados, no que ela
propõe, buscar meios para mudar a realidade naquilo que eles entendem ser
necessário.
Portanto, ao serem aprovadas, as leis são fatos e constituem referências e
obrigações a serem cumpridas pelos cidadãos, na medida em que resultam da
decisão da maioria, considerando-se o princípio da democracia representativa.
Assim, é preciso entender que as leis não fazem milagres, por mais
avançadas que sejam, visto que a realidade social não muda a partir de um passe
de mágica. Por serem pontos de partida para que a realidade seja repensada, a
aprovação das leis constitui apenas o primeiro passo para reorientar as práticas
sociais em geral e as práticas produzidas pela escola, em particular.
Entretanto, falamos até aqui das leis em geral, mas e as orientações legais
relativas à educação? No caso da legislação educacional, não é diferente, pois a Lei
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional/Lei 9.394/96 (LDB), por exemplo, como
lei máxima do nosso sistema educacional, também está no plano da
intencionalidade.
Agora que já ressaltamos o caráter de intencionalidade das leis, que tal
refletir um pouco sobre as referências legais para a gestão democrática da escola?
Buscaremos essas orientações em três instrumentos – a Constituição Federal de
1988, a LDB e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Então, o que nos diz a Constituição Federal sobre o princípio da gestão
democrática do sistema de ensino público brasileiro? Como já visto por nós na
unidade 1, essa Constituição estabelece os princípios fundamentais que definem os
deveres e direitos dos cidadãos, havendo nela uma parte dedicada à educação. Veja
a seguir:
Capítulo III
"Da Educação, da Cultura e do Desporto",
Seção I
Da Educação,
Art. 206 - O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios:
I - Igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
II- Liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar o pensamento, a arte
e o saber.
III- Pluralismo de ideias e de concepções pedagógicas e coexistência de
instituições públicas e privadas de ensino.
VI - Gestão democrática do ensino público, na forma da lei.
VII - Garantia de padrão de qualidade.
À medida que lida com essas duas dimensões, a gestão democrática precisa
levar a escola a apresentar mudanças significativas na cultura autoritária que se tem
mostrado presente na sociedade brasileira e nos sistemas de ensino. A construção
de uma cultura democrática promove o aprendizado coletivo de princípios de
convivência, também democráticos, e contribui para o distanciamento daqueles que
estimulam uma convivência marcada pelo autoritarismo.
Ao analisarmos os princípios que diferenciam uma convivência democrática
de outra de caráter autoritário, no espaço escolar, novamente é possível perceber
suas implicações no cotidiano da sala de aula. Essas implicações manifestam-se de
diversas formas, como, por exemplo, na visão que expressamos sobre currículo,
avaliação, planejamento e relação professor-aluno.
Entretanto, a gestão democrática da escola e da sala de aula não é um
processo tranquilo e harmônico, mas algo que precisa ser construído em meio aos
4
GADOTTI, M. Pressupostos do projeto político-pedagógico. In: O Projeto Político-Pedagógico da
escola. Brasília: MEC\SEF, 1994, p. 21-38.
Todos os direitos reservados ao Grupo Prominas de acordo com a convenção internacional de
direitos autorais. Nenhuma parte deste material pode ser reproduzida ou utilizada seja por meios
eletrônicos ou mecânicos, inclusive fotocópias ou gravações, ou, por sistemas de armazenagem e
recuperação de dados – sem o consentimento por escrito do Grupo Prominas.
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REFERÊNCIAS
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Ática, 1996a.
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3. ed. Rio de Janeiro: Brasília, 1969. 363 p.
PILLETTI, Nelson. Estrutura e funcionamento do ensino de 1o grau. 22. ed. São
Paulo: Ática, 1996.
ROCHA BARROS, Samuel. Estrutura e funcionamento do ensino de 2o grau. 3.
ed. São Paulo: Ática, 1995.
ROMANELLI, Otaíza de Oliveira. História da educação no Brasil. 13. ed.
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SCHNECKENBERG, Marisa Em Aberto, Brasília, v. 17, nº 72, p. 113-124, fev./jun.
2000.
SHIROMA, Eneida Otto; et al (orgs.). Política Educacional. Rio de Janeiro: DP&A,
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SAVIANI, Dermeval. A política e a organização do Brasil. São Paulo: Autores
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TOMMASI, L. de e outros (orgs.). O Banco Mundial e as políticas educacionais.
São Paulo: Cortez, 1998.
VALLE, Bertha de Borja Reis do. Ciências Politicas e Políticas Públicas de
Educação: aspectos históricos.
VEREDAS, Formação superior de professores: módulo 2 – volume 1\SEE- MG;
organizadoras Maria Umbelina Caiafa Salgado, Glaura Vasques de Miranda – Belo
Horizonte: SEE-MG, 2002.