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CAPÍTULO 40

Métodos de indução do trabalho de parto


1 Introdução gens de uma elevada taxa de fracasso quando o colo é desfa-
2 Métodos mecânicos vorável (baixo escore cervical), e requer monitorização da in-
2.1 Descolamento das membranas fusão intravenosa contínua. A ruptura artificial de membra-
2.2 Outros métodos mecânicos
nas também é menos eficaz ou pode não ser possível quando
3 Amniotomia
3.1 Amniotomia usada isoladamente o colo é desfavorável.
3.2 Amniotomia com ocitócicos versus amniotomia O insucesso da indução do trabalho de parto é mais prová-
isolada vel quando o colo é desfavorável, e, nessa circunstância, as
3.3 Amniotomia com ocitócicos versus ocitócicos isolados preparações de prostaglandinas mostraram ser benéficas. A
3.4 Riscos da amniotomia hiperestimulação uterina foi identificada como potencial pro-
4 Ocitocina blema durante a indução do trabalho de parto com prostaglan-
4.1 Vias e métodos de administração dinas; algumas vezes isso indicou tratamento com tocolíticos
4.2 Riscos da administração de ocitocina
(ver Cap. 39).
5 Prostaglandina E2
5.1 Comparações com placebo
5.2 Prostaglandina E2 versus prostaglandina F 2 Métodos mecânicos
5.3 Vias e métodos de administração
5.4 Riscos da administração de prostaglandina E2 2.1 Descolamento das membranas
6 Prostaglandina E2 versus ocitocina para a indução do O descolamento das membranas (separação digital das mem-
trabalho de parto branas fetais do segmento inferior do útero) foi usado durante
6.1 Efeitos sobre o momento e o modo de parto muitos anos para induzir trabalho de parto ou para evitar a
6.2 Efeitos maternos indução formal do trabalho de parto com ocitocina, prosta-
6.3 Efeitos no lactente glandinas ou amniotomia. Há boas razões teóricas para se su-
6.4 Ruptura de membranas antes do trabalho de parto, a
termo ou quase a termo gerir que pode ser eficaz, porque estimula a síntese intra-
7 Misoprostol uterina de prostaglandinas. Quando o colo está fechado, é
8 Conclusões proposta uma massagem cervical.
Foram realizados estudos para avaliar o descolamento das
membranas, seja como política geral em mulheres a termo ou
quase a termo para evitar gravidez pós-termo ou em um gru-
po selecionado de mulheres que pareciam necessitar de indução
1 Introdução
do trabalho de parto. Os dados disponíveis sugerem que o
Por motivos de ordem prática, a obstetrícia moderna usa ape- descolamento das membranas reduz a duração da gravidez, e
nas três condutas amplas para a indução do trabalho de par- assim a proporção de mulheres que necessita de indução for-
to: métodos mecânicos (como descolamento das membranas mal do trabalho de parto por gravidez “pós-termo”. No caso
ou uso de um dilatador); amniotomia (ruptura artificial das das mulheres que se consideram necessitadas de indução do
membranas); e ocitócicos (ocitocina ou uma prostaglandina). trabalho de parto, poderia ser esperada uma redução do uso
Outros métodos, embora ainda sejam descritos algumas ve- de métodos mais “formais” de indução. Entretanto, não foram
zes, geralmente foram abandonados. Práticas tradicionais, descritos benefícios claros sobre resultados significativos (por
como o uso de óleo de rícino, não foram formalmente avali- ex., cesariana).
adas. O descolamento das membranas provavelmente é seguro,
Foi recomendada a “classificação” padronizada do colo an- desde que a intervenção seja evitada em gestações complica-
tes da indução do trabalho de parto, embora a dilatação das por placenta prévia ou quando há contra-indicações ao
cervical isolada possa ser mais preditiva de indução bem-su- trabalho de parto e/ou parto vaginal. Não há evidências de que
cedida do trabalho de parto. A ocitocina tem as desvanta- o descolamento das membranas aumente o risco de infecção

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materna e neonatal. Foi observada uma tendência a aumento membranas também pode aumentar a transmissão vertical de
da freqüência de ruptura de membranas antes do trabalho de infecções maternas específicas, como a infecção por HIV.
parto. Deve-se ponderar o desconforto feminino durante o pro-
cedimento e os efeitos colaterais “leves” em relação aos bene- 3.2 Amniotomia com ocitócicos versus amniotomia
fícios esperados antes de se submeter as mulheres a descola- isolada
mento das membranas. A fim de reduzir o intervalo entre amniotomia e parto, os
ocitócicos geralmente são usados no momento de ruptura das
2.2 Outros métodos mecânicos membranas ou após um período de algumas horas se não for
Os métodos mecânicos foram os primeiros métodos desenvol- iniciado o trabalho de parto. Evidências de estudos contro-
vidos para amadurecer o colo ou para induzir trabalho de par- lados mostram que as mulheres que recebem ocitócicos a
to. Os dispositivos usados nesse contexto incluem vários ti- partir do momento da amniotomia são mais propensas a dar
pos de cateteres e laminárias, introduzidos no canal cervical à luz em 12 a 24 horas e menos propensas a necessitar de
ou através do colo no espaço extra-amniótico. Os métodos cesariana ou fórceps do que aquelas submetidas apenas a
mecânicos nunca foram completamente abandonados, mas nas amniotomia.
últimas décadas foram amplamente substituídos por métodos As mulheres que recebem ocitocina precocemente usam
farmacológicos. As possíveis vantagens dos métodos mecâni- menos analgesia do que aquelas que recebem ocitocina mais
cos em relação aos farmacológicos podem incluir simplicida- tarde. Isso não significa necessariamente que a administração
de de uso, menor custo e redução de alguns efeitos colaterais. precoce de ocitocina resulta em trabalho de parto menos do-
Os objetivos dessas intervenções são amadurecer o colo por loroso para essas mulheres; pode refletir apenas o menor in-
dilatação direta do canal ou, indiretamente, por aumento da tervalo entre amniotomia e parto. Os estudos cujos dados es-
secreção de prostaglandinas e/ou ocitocina. Além disso, esses tão disponíveis também sugerem menor incidência de hemor-
métodos podem levar ao início do trabalho de parto. Atual- ragia pós-parto quando a amniotomia é associada à adminis-
mente é usado o cateter de Foley, bem como um cateter com tração precoce de ocitocina.
balão duplo de “Atad” especial. O cateter é introduzido atra- Baixos índices de Apgar são menos freqüentes com uma
vés do canal cervical para chegar ao espaço extra-amniótico. política de uso de ocitocina a partir do momento da amnioto-
A seguir, o balão é insuflado para manter o cateter no lugar. mia. Não foram observadas outras diferenças nos efeitos sobre
Algumas vezes é aplicada tração ao cateter. Além disso, alguns o bebê em estudos controlados.
clínicos injetam solução salina ou prostaglandinas no espaço
extra-amniótico, em uma tentativa de aumentar a eficácia do 3.3 Amniotomia com ocitócicos versus ocitócicos
método. isolados
Laminárias, feitas com algas marinhas estéreis ou material Quando comparada a uma política na qual as membranas são
hidrofílico sintético (por ex., Lamicel), são introduzidas no mantidas íntegras, é mais provável que a amniotomia de roti-
canal cervical para produzir dilatação gradual do colo. Além na no início da administração de ocitócicos para indução do
do efeito local, mecanismos que envolvem reflexos neuroen- trabalho de parto resulte em estabelecimento de trabalho de
dócrinos (o reflexo de Ferguson) podem promover o início de parto horas após o início da indução. O número limitado de
contrações. estudos controlados impede conclusões definitivas sobre ou-
tros resultados, como a probabilidade de parto em 24 horas,
cesariana ou morbidade e mortalidade perinatais.
3 Amniotomia Entretanto, dados observacionais derivados de estudos re-
3.1 Amniotomia usada isoladamente alizados na década de 1960 sugerem que aproximadamente
A amniotomia (ruptura das membranas) pode induzir o tra- um terço das mulheres em que se tenta realizar indução do
balho de parto, mas seu uso indica firme compromisso com o trabalho de parto com administração de ocitocina, porém sem
parto; após romper as membranas, não há volta. A principal amniotomia concomitante, não terá dado à luz 2-3 dias após
desvantagem da amniotomia, quando usada isoladamente para o início da tentativa de indução. Não causa surpresa, diante
indução do trabalho de parto, é o intervalo imprevisível e, dessas observações, que a amniotomia tenha passado a ser usada
algumas vezes, longo até o início das contrações uterinas e, rotineiramente no momento em que é iniciada a ocitocina para
portanto, do parto. Pode aumentar o risco de infecção se o induzir trabalho de parto. A escolha de deixar as membranas
trabalho de parto não ocorrer imediatamente. A ruptura das intactas durante a indução do trabalho de parto só se tornou

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PROSTAGLANDINA E2 207

uma opção razoável com o desenvolvimento de preparações de consistem em estudos que comparam sistemas de infusão au-
prostaglandina. tomática de ocitocina com “esquemas padronizados”. Esses
estudos foram pequenos demais para detectar diferenças em
3.4 Riscos da amniotomia resultados significativos. Os méritos e riscos de sistemas au-
Muitas conseqüências indesejáveis foram atribuídas à ruptu- tomáticos de infusão e posologias alternativas devem ser mais
ra artificial das membranas. Elas incluem: dor e desconforto; bem avaliados antes que se possa determinar se têm lugar, e
infecção intra-uterina (ocasionalmente causando septicemia); qual é ele, na prática clínica.
desacelerações precoces da freqüência cardíaca fetal; prolapso
do cordão umbilical; e hemorragia, seja dos vasos fetais nas 4.2 Riscos da administração de ocitocina
membranas, do colo ou da placenta. Felizmente, as complica- Os possíveis riscos da ocitocina individualmente devem ser
ções graves são raras. distinguidos dos riscos associados a qualquer tentativa de in-
Qualquer instrumento (ou dedo) introduzido na vagina a duzir trabalho de parto e daqueles associados a qualquer
fim de romper o saco amniótico levará consigo parte da flora estimulação artificial das contrações uterinas.
bacteriana vaginal. O risco de infecção intra-uterina clinica- O efeito antidiurético da ocitocina pode resultar em re-
mente significativa após esses procedimentos depende prin- tenção hídrica e hiponatremia, e pode levar a coma, convul-
cipalmente do intervalo entre amniotomia e parto. sões e até mesmo morte materna. Esses riscos estão associa-
A idéia de que a amniotomia predispõe a desacelerações da dos principalmente a infusões de ocitocina em estádios ini-
freqüência cardíaca fetal baseia-se principalmente na possível ciais da gravidez, quando a sensibilidade uterina à ocitocina
compressão do cordão devido à diminuição do volume de líquido é muito menor que a termo, e quando são necessárias doses
amniótico, mas não há indicações de que esse risco seja sufici- muito maiores para estimular as contrações uterinas. Em
entemente importante para ser um determinante principal na mulheres com débito urinário já reduzido, o risco de intoxi-
escolha de um método para a indução de trabalho de parto. cação hídrica é uma consideração importante em qualquer
fase da gestação.
Qualquer agente que cause contrações uterinas, seja uma
4 Ocitocina
droga como a ocitocina ou uma prostaglandina, ou um proce-
4.1 Vias e métodos de administração dimento como a estimulação da papila, também pode causar
Não foram descritas comparações formais entre a via intrave- contratilidade uterina excessiva. Contrações uterinas excessi-
nosa habitual e outras vias de administração. vamente freqüentes ou prolongadas podem afetar o fluxo san-
A ocitocina intravenosa foi administrada de diferentes for- guíneo que entra e sai da placenta, o que, por sua vez, reduzi-
mas, que variam de sistemas simples, ajustados manualmen- rá a oxigenação fetal. A ruptura uterina é outra conseqüência,
te, alimentados pela gravidade, através de bombas de infusão embora muito mais rara, da estimulação excessiva da ativida-
com controle mecânico ou eletrônico, a sistemas automatizados de uterina. A comparação das evidências sugere que a indução
de feedback em alça fechada nos quais a dose de ocitocina é do trabalho de parto com ocitocina aumenta a incidência de
controlada pela intensidade das contrações uterinas. Os siste- hiperbilirrubinemia neonatal.
mas alimentados pela gravidade têm a desvantagem de que
pode ser difícil controlar com precisão a quantidade de
ocitocina infundida, e eles podem variar com a posição da 5 Prostaglandina E2
mulher. Outra desvantagem é que a quantidade de líquido 5.1 Comparações com placebo
administrada por via intravenosa pode ser grande, e assim pode As prostaglandinas foram comparadas a placebo para indução
aumentar o risco de intoxicação hídrica. Em contraste, o equi- do trabalho de parto. Não causa surpresa o fato de as taxas de
pamento automático de infusão de ocitocina administra-a em “fracasso da indução” e a parcela de mulheres que necessitam
velocidade bem controlada, em um pequeno volume de líqui- de uma segunda tentativa de indução serem menores com a
do. Teoricamente, deve otimizar a eficácia e a segurança du- administração de prostaglandinas (em várias doses, formula-
rante a administração de ocitocina, mas não há evidências de ções e vias) que com placebos. Houve menos cesarianas nos
que essas vantagens teóricas confiram qualquer benefício na grupos tratados com prostaglandinas que nos grupos tratados
prática. com placebo nos estudos descritos, mas os índices de parto
As únicas comparações formais de diferentes métodos para vaginal instrumental foram semelhantes. A maioria dos estu-
administração de ocitocina a fim de induzir o trabalho de parto dos mencionou especificamente que não foi observada

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“hipertonia uterina” e/ou “hiperestimulação uterina”, e diver- otomia e em mulheres com colo favorável. Os efeitos colaterais
sos comentaram sobre a baixa incidência de efeitos colaterais gastrointestinais foram comuns, e a administração oral foi
gastrointestinais encontrados. quase totalmente substituída por administração vaginal,
Todos esses estudos descreveram pouquíssimos resultados principalmente desde o surgimento das novas formulações
do lactente. Entre aqueles que descreveram, nenhum mostrou utilizando gel.
quaisquer diferenças entre os grupos tratados com prostaglan- Como as administrações intravenosa, oral e, em parte tam-
dinas e placebo. bém, vaginal de prostaglandinas produzem altos níveis des-
No caso de ruptura de membranas antes do trabalho de sas drogas no sangue, no trato gastrointestinal ou em am-
parto a termo ou quase a termo, a indução de trabalho de par- bos, foram usadas vias intra-uterinas (extra-amnióticas) de
to por prostaglandinas em comparação com a conduta administração na tentativa de reduzir os efeitos colaterais as-
expectante reduz o risco de infecção materna (corioamnioni- sociados às outras vias. A infusão extra-amniótica contínua
te), antibioticoterapia neonatal e internação na unidade de te- ou intermitente de uma solução de PGE2 e a injeção extra-
rapia intensiva neonatal, sem aumentar o índice de cesariana, amniótica de uma suspensão de gel PGE2 foram usadas para
embora esteja associada a maior freqüência de diarréia mater- esse fim.
na e de uso de anestesia e/ou analgesia. Nos estudos que reu- Há uma quantidade limitada de dados controlados com-
niram sistematicamente informações sobre as opiniões femi- parando a via extra-amniótica a outras vias de administração
ninas, as mulheres foram mais propensas a ver seu tratamento de prostaglandinas. Embora sejam limitados demais para uma
positivamente quando o trabalho de parto foi induzido com estimativa precisa, os dados não mostram vantagem da via
prostaglandinas do que na conduta expectante. extra-amniótica mais invasiva, que é incômoda e inconveni-
ente para a mãe.
5.2 Prostaglandina E2 versus prostaglandina F Outra via de administração local, a injeção de PGE2 em gel
Tanto a PGE2 quanto a PGF2␣ (que também são formadas no canal cervical, foi usada principalmente para amadureci-
naturalmente durante o trabalho de parto espontâneo) foram mento do colo, e não para indução. Os méritos e riscos relati-
usadas para a indução do trabalho de parto. vos da administração endocervical em comparação com a ad-
A fim de produzir efeito semelhante sobre a contratilidade ministração vaginal foram avaliados em poucos estudos. Es-
uterina, a PGF2␣ deve ser administrada em uma dose oito a tes não indicaram que qualquer dessas condutas seja claramen-
dez vezes maior que a necessária quando se usa PGE2. Essa te superior à outra, em termos de medidas de resultados im-
diferença da potência aplica-se às propriedades estimulantes portantes. Portanto, é difícil justificar o procedimento mais
dessas substâncias sobre o miométrio. Não se aplica, na mes- complexo e desconfortável de inserção endocervical.
ma proporção, aos efeitos sobre outros sistemas orgânicos,
como o trato gastrointestinal. Conseqüentemente, para se 5.4 Riscos da administração de prostaglandina E2
obter um efeito uterotônico semelhante, a incidência de efei- Os riscos específicos atribuíveis às prostaglandinas individu-
tos colaterais tende a ser maior com a PGF2␣ que com a PGE2. almente estão relacionados principalmente aos seus efeitos no
Por isso, a PGF2␣ não é mais usada, e a PGE2 tornou-se a úni- trato gastrointestinal (náusea, vômito e diarréia). Esses efei-
ca prostaglandina natural usada para a indução do trabalho de tos são mínimos quando as drogas são administradas por via
parto. vaginal, endocervical ou extra-amniótica, e máximos quando
são usadas vias de administração (intravenosa, oral) que pro-
5.3 Vias e métodos de administração duzem altos níveis das drogas no sangue ou no trato
Estudos iniciais das prostaglandinas para a indução de traba- gastrointestinal.
lho de parto usaram a via de administração intravenosa. Esses A febre pode resultar de um efeito direto das prostaglan-
estudos mostraram poucas vantagens, ou nenhuma, das pros- dinas sobre centros termorreguladores no encéfalo. Isso ocorre
taglandinas em relação aos outros métodos. Em comparação particularmente com a administração sistêmica de prosta-
com a ocitocina, não ofereceram benefício real, e seu custo foi glandina E2, e pode levar a se pensar em infecção intra-
bem maior. uterina. Essa preocupação pode ser aumentada por uma ele-
A administração oral de PGE2 (em doses repetidas a partir vação do número de leucócitos, que também pode ser esti-
de 0,5 a 2 mg) tornou-se amplamente usada como alternativa mulada por administração de prostaglandina. A febre rara-
às infusões intravenosas de prostaglandinas para a indução do mente é observada com as novas preparações vaginais e
trabalho de parto, particularmente quando associada à amni- endocervicais.

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PEOSTAGLANDINA E2 VERSUS OCITOCINA PARA A INDUÇÃO DO TRABALHO DE PARTO 209

Mais preocupante que os riscos específicos associados às plicação é observada principalmente em instituições com
prostaglandinas é a possibilidade de que a simplicidade de sua pouca experiência no uso de prostaglandinas, e não foi ob-
administração possa incentivar seu uso por indicações triviais servada em muitos estudos. Um diagnóstico de hiperestimu-
ou sem supervisão materno-fetal adequada. lação pode levar a diversas intervenções, que vão desde mu-
danças de posição até coleta de sangue do couro cabeludo
fetal, administração de agentes betamiméticos e cesariana.
6 Prostaglandina E2 versus ocitocina para a
Assim, a hiperestimulação é importante para a mãe, inde-
indução do trabalho de parto
pendentemente de representar ou não risco direto para ela
A questão importante é se a prostaglandina E2 é, considerando- ou para o feto.
se todos os pontos, superior à ocitocina para a indução de traba- Dados sobre a incidência de placenta retida, de hemorra-
lho de parto, particularmente quando o colo é “imaturo”. gia pós-parto e de febre durante o puerpério não mostram
diferença nos efeitos da prostaglandina E2 e da ocitocina.
6.1 Efeitos sobre o momento e o modo de parto Foram descritos poucos dados relativos às opiniões mater-
O trabalho uterino total necessário para o parto é menor com nas sobre a indução, mas eles são uniformemente favoráveis à
a prostaglandina E2 do que com a ocitocina, provavelmente administração de prostaglandina E2, que é considerada mais
porque a primeira também influencia a complacência do te- conveniente, mais natural e menos invasiva que a administra-
cido conjuntivo (“amadurecimento” cervical), enquanto a outra ção intravenosa de ocitocina.
não. As percentagens de mulheres que dão à luz em 12 horas
após o início da indução são semelhantes nas mulheres 6.3 Efeitos no lactente
induzidas com prostaglandina E2 e naquelas induzidas com Em vista da maior incidência de hiperestimulação uterina
ocitocina. Entretanto, em 24 horas, é menor o número de associada à indução utilizando prostaglandina E2, é tranqüili-
mulheres que não deram à luz após indução com prostaglan- zador observar que a incidência de anormalidades da freqüên-
dina E2, e após 48 horas a percentagem de mulheres que não cia cardíaca fetal é semelhante em trabalhos de parto induzi-
deram à luz apresenta uma diferença ainda maior em favor das dos com prostaglandina E2 e em fetos de mulheres que rece-
prostaglandinas. Quando são consideradas apenas mulheres bem ocitocina.
que dão à luz por via vaginal, essa vantagem da prostaglandi- Infelizmente, poucos estudos fornecem dados sobre resul-
na E2 torna-se ainda mais acentuada. tados significativos para o lactente, como ressuscitação do re-
Não há evidências claras de diferença entre os efeitos da cém-nascido, internação em unidade de cuidados especiais ou
prostaglandina E2 e da ocitocina sobre o índice de cesarianas. convulsões neonatais precoces. Mesmo os dados sobre a mor-
O índice de parto vaginal instrumental é menor nas mulheres talidade perinatal só estão disponíveis em metade dos estu-
induzidas com prostaglandinas, assim como a incidência de dos. Nos estudos que fornecem dados, não foram mostradas
parto cirúrgico em geral. Isso pode ser devido parcialmente à diferenças entre os efeitos da prostaglandina E2 e da ocitocina,
influência das prostaglandinas sobre o tecido conjuntivo e em mas a precisão dessas estimativas é extremamente baixa.
parte à maior liberdade de movimento permitida porque não Há um número um pouco maior de dados sobre a incidên-
é administrada por via intravenosa. cia de baixos índices de Apgar no 1.º e no 5.º minuto, mas
eles não mostram diferenças estatisticamente significativas
6.2 Efeitos maternos entre induções por prostaglandina E2 e ocitocina.
Há algumas diferenças importantes entre os efeitos da A incidência de hiperbilirrubinemia (icterícia) neonatal
ocitocina e das prostaglandinas sobre outros órgãos além do parece ser menor em lactentes nascidos após indução de tra-
útero. Maior número de mulheres apresenta efeitos colaterais balho de parto com prostaglandina E2 que naqueles nascidos
gastrointestinais, como náuseas, vômito e diarréia, com o uso após indução com ocitocina, mas a diferença encontrada pode
de prostaglandinas do que de ocitocina para a indução do tra- ter sido casual.
balho de parto. A febre durante o trabalho de parto é mais
provável com prostaglandinas que com ocitocina, embora o 6.4 Ruptura de membranas antes do trabalho de parto,
efeito diferencial seja constatado apenas nos primeiros estu- a termo ou quase a termo
dos da PGE2 intravenosa. A indução de trabalho de parto com prostaglandina E2 aumen-
A hiperestimulação uterina é mais freqüente com a ad- ta o número de exames vaginais e o risco de infecção materna
ministração de prostaglandinas que de ocitocina. Essa com- (corioamnionite).

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Também pode aumentar o risco de infecção neonatal, mas Deve-se ter em mente a possibilidade de viés inadvertido de-
o efeito prejudicial da indução de trabalho de parto com pros- vido ao não-mascaramento desses estudos.
taglandina E2 sobre esse resultado pode ser menor que o su- Uma menor dosagem de misoprostol (25 microgramas a
gerido pela revisão Cochrane. Em apenas um estudo a pesquisa cada 6 horas) foi menos eficaz que uma dose maior (25
e a determinação de infecção neonatal foram cegas em relação microgramas a cada 3 horas), com índices possivelmente re-
ao grupo de alocação e à duração da ruptura das membranas. duzidos de hiperestimulação uterina.
A indução de trabalho de parto com prostaglandinas aumen- A observação de aumento significativo do líquido amniótico
ta a taxa de antibioticoterapia neonatal e de internação para meconial com o uso de misoprostol é importante. Um estudo
terapia intensiva neonatal por mais de 24 horas. sugeriu a possibilidade de eliminação de mecônio em resposta
Não há evidências em estudos de alta qualidade de que à hiperestimulação uterina ou de um efeito direto sobre o trato
uma política de indução de trabalho de parto com prosta- gastrointestinal fetal de metabólitos do misoprostol absorvido.
glandina E2 aumente ou diminua o índice de cesarianas, O misoprostol administrado por via oral também é um
embora esteja associada ao uso menos freqüente de analgesia método eficaz de indução do trabalho de parto, e tem a vanta-
peridural e de monitorização interna da freqüência cardíaca gem de ser conveniente e evitar exames internos. Como no
fetal. misoprostol vaginal, foram produzidos dados insuficientes para
se avaliar a segurança dessa conduta.
Assim, embora se mostre promissor como agente altamente
7 Misoprostol
eficaz, de baixo custo e conveniente para a indução do traba-
As preparações de prostaglandinas que foram registradas para lho de parto, o misoprostol não pode ser recomendado para
amadurecimento cervical e indução do trabalho de parto são uso rotineiro neste estádio. Também não tem registro para uso
dispendiosas e instáveis, exigindo armazenamento refrigera- em muitos países.
do. O misoprostol (Cytotec, Searle) é um éster metílico da Devido às enormes vantagens econômicas e possíveis van-
prostaglandina E1 e é comercializado para uso na prevenção e tagens clínicas do misoprostol, é necessário realizar outros
no tratamento da úlcera péptica causada por inibidores da sín- estudos para estabelecer sua segurança.
tese de prostaglandinas. Seu custo é baixo, é facilmente arma-
zenado em temperatura ambiente e tem poucos efeitos
8 Conclusões
colaterais sistêmicos. É rapidamente absorvido por vias oral e
vaginal. O misoprostol foi amplamente usado para indicações A decisão mais importante ao se considerar a indução do tra-
obstétricas e ginecológicas, apesar de não ter sido registrado balho de parto é se a indução é ou não justificada, e não como
para esse uso. Portanto, não foi submetido aos testes extensos deve ser realizada. Qualquer que seja o método escolhido para
para determinação da dosagem apropriada e da segurança que implementar a decisão de induzir o trabalho de parto, sempre
são necessários para registro. Foram descritos amadurecimento se deve monitorizar cuidadosamente a contratilidade uterina
cervical e indução de trabalho de parto no terceiro trimestre e o bem-estar materno e fetal.
utilizando as vias oral, vaginal e retal. A amniotomia isolada freqüentemente é inadequada para
Os resultados de diversos estudos mostram que o induzir trabalho de parto. Quando a amniotomia é usada para
misoprostol vaginal (em doses que podem ser de 25 induzir trabalho de parto e não causa contratilidade uterina
microgramas a cada 2-3 horas, 50 microgramas a cada 4 ho- adequada imediatamente, devem ser administrados medica-
ras (na maioria dos estudos), e até 100 microgramas a cada 6- mentos ocitócicos. A administração de ocitocina sem amni-
12 horas) parece ser mais eficaz que a ocitocina ou a otomia também está associada a uma taxa de fracasso ina-
dinoprostona nas doses habituais recomendadas para indução ceitável.
do trabalho de parto. Entretanto, está associado a maiores ta- As prostaglandinas são mais propensas que a ocitocina a
xas de líquido amniótico meconial e de hiperestimulação resultar em parto vaginal em um período razoável após o iní-
uterina, com e sem alterações da freqüência cardíaca fetal. As cio da indução e a reduzir o índice de parto cirúrgico associa-
taxas de cesariana foram irregulares, tendendo a ser menores do à indução do trabalho de parto. Não se sabe o grau em que
com o misoprostol. Não foram demonstradas diferenças nos isso pode refletir a maior mobilidade possível com algumas
resultados perinatais ou maternos. Entretanto, os estudos não formas de administração de prostaglandina do que com a
foram suficientemente grandes para avaliar a probabilidade de ocitocina administrada por via intravenosa. Esses efeitos po-
complicações adversas perinatais e maternas graves e raras. sitivos das prostaglandinas devem ser comparados aos seus

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FONTES 211

efeitos negativos, sintomas gastrointestinais incômodos ou


febre, embora esses raramente sejam observados com as novas
formulações de prostaglandina E2 disponíveis agora.
Se for tomada a decisão de usar prostaglandinas para indu-
zir trabalho de parto, a melhor opção parece ser a administra-
ção vaginal de prostaglandina E2 em gel. A PGF2␣ não deve
ser mais usada.
Há pouquíssimas evidências que permitam determinar se
as prostaglandinas são mais ou menos seguras para o bebê que
a ocitocina.

Fontes
Outras fontes
Effective care in pregnancy and childbirth

Biblioteca Cochrane

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